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Caps 1 e 2 Psicodiagnóstico HUTZ

Il documento discute il concetto di psicodiagnostico nella pratica psicologica contemporanea in Brasile, evidenziando la confusione terminologica riguardo all'uso di test psicologici. Gli autori sostengono che il termine 'psicodiagnostico' non debba necessariamente implicare l'uso di test, ma piuttosto un processo di valutazione clinica che può avvenire anche senza di essi. Si conclude che è necessario rivedere la definizione di psicodiagnostico per includere diverse modalità di valutazione psicologica, indipendentemente dall'uso di strumenti specifici.

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Caps 1 e 2 Psicodiagnóstico HUTZ

Il documento discute il concetto di psicodiagnostico nella pratica psicologica contemporanea in Brasile, evidenziando la confusione terminologica riguardo all'uso di test psicologici. Gli autori sostengono che il termine 'psicodiagnostico' non debba necessariamente implicare l'uso di test, ma piuttosto un processo di valutazione clinica che può avvenire anche senza di essi. Si conclude che è necessario rivedere la definizione di psicodiagnostico per includere diverse modalità di valutazione psicologica, indipendentemente dall'uso di strumenti specifici.

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1 CONCEITUACAO DE PSICODIAGNO STICO NA ATUALIDADE Jefferson Silva Krug Clarissa Marceli Trentini Denise Ruschel Bandeira comum no Brasil. Ha décadas, muitos profissionais habituaram-se a chamar essa atividade de “psicodiagnéstico”. No entanto, constatamos que 0 uso do termo é mais comm quando. durante o seu desenvolvimento, o profissional se vale de testes psicologicos para coletar informacdes sobre o consultante. Nas avaliagdes em que esses testes nfo sAo empregados ou inexistem para os objetivos do exame, outros termos se destacam, como avalias&io clinica, avaliagio psicologica, entrevistas preliminares, diagndstico psicoldgico, etc. (Krug, 2014). Essa constatagao nos levou a questionar © conceito classico de psicodiagnéstico ¢ a examinar se a compreensio desses profissionais quanto 4 associacdo direta do termo “psicodiagnéstico” com a adnunistracao de testes também é compartilhada pela literatura da area. A avaliag&o psicoldgica clinica com fins diagnésticos 6 uma pratica mito O PSICODIAGNOSTICO EXIGE A APLICACAO DE TESTES PSICOLOGICOS? Ao consultar a literatura, identificamos convergéneias conceituais. Arzeno (1995, p. 5) diz, por exemplo, que “ fazer um diagnéstico psicolégico nao significa necessariamente o mesmo que fazer um psicodiagndstico. Este termo implica automaticamente a admumstracao de testes e estes nem sempre sdo necessarios ou con- venientes”. Portanto, parece claro o entendimento da autora de que toda avaliacio psicologica que nfo utilize testes nao deva ser nomeada de “psicodiagnéstico”. Cunha (2000, p. 23, gfifo nosso), em concordancia, preconiza que “psicodiagnostico” é um termo que designa um tipo de avaliagdo psicologica com propésitos clinicos, em que “. . . ha a utilizacao de testes e de outras estratégias, para avaliar um sujeito de forma sistematica, cientifica, orientada para a resolucao de problemas”. A autora segue afirmando que Psicodiagnéstico é um processo cientifico, limitado no tempo, que utiliza técnicas e testes psicolégicos (input), em nivel individual ou nao, seja para entender problematicas a luz de pressupostos tedricos. identificar e avaliar aspectos especificos, seja para classificar o caso e prever seu curso possivel, commmcando os resultados (ouput), na base dos quais so propostas solugées, se for 0 caso. (Cunha, 2000, p. 26, grifo nosso). Observamos que, em todas as definigdes de Cunha (2000), 0 uso da expresso “e” sugere a obrigatoriedade do uso de testes para que 0 processo de avaliacao psicolégica clinica seja chamado de “psicodiagnéstico”. Aparentemente, Castro, Campezatto e Saraiva (2009) também entendem dessa forma, diferenciando “periodo de avaliagao” de “psicodiagnéstico”. Para as autoras, durante o “period de avaliagdo” que precede a psicoterapia, o psicdlogo podera realizar um “psicodiagnéstico” ou fazer o encamunhamento para outro psicélogo que o realize. quando ocerrer a aplicagao de testes psicolégicos: “. . . a aplicacio de testes pode ser realizada pelo préprio psicoterapeuta, se esse domunar as técmicas necessarias e se sentir confortavel para tal, ou por um colega especializado em psicodiagndstico” (Castro et al., 2009, p. 100). Em Ocampo e Arzeno (1979/2009), também encontramos a ideia de que o processo psicodiagndstico inclu, obrigatoriamente, uma etapa de aplicacdo de testes e técnicas projetivas. Para explicar seu posicionamento, as autoras diferenciam a pratica avaliativa que chamam de “psicodiagnéstico” da pratica avaliativa de psicanalistas em suas primeiras consultas, referindo que, nestas tltimas, se tema possibilidade do uso de entrevistas livres ou totalmente abertas, algo nao viavel no psicodiagndstico devido a limitagao do tempo. Neste debate sobre a terminologia adotada para a atividade avaliativa clinica, observamos que. excluindo-se a necessidade de aplicacao de testes, as descrigdes do processo psicodiagndstico contidas nos manuais citados relatam exatamente o que ¢ feito pelos profissionais que dizem nio realizar psicodiagnéstico. Dito de outra forma, © que diferencia a avaliagao clinica feita por psicdlogos que nomeiam sua pratica de “psicodiagnéstico” da daqueles que nfo a chamam assim é, apenas, o uso de testes psicologicos (Krug. 2014) Parece-nos infrutifera essa distingao terminologica, uma vez que, para nds, o que - define um psicodiagnéstico relaciona-se mais ao carater investigative e ao diagnéstico do que a necessidade do uso de determinado tipo de instrumento de coleta de dados. Diferentemente dos trabalhos citados, encontramos outros autores que defendem a ideia de que o uso de testes pode nao ser necessario em um psicodiagnéstico. Conforme Trinca (1983), por exemplo, o uso ou no de testes depende do psicdlogo e de seu pensamento clinico emrelacao a cada paciente. Tomemos como referéncia para essa reflexao as definigdes feitas pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) para alguns termos conmmente utilizados na area. A definigo de “avaliago psicolégica” do CFP (2013, p. 11), por exemplo, engloba qualquer atividade, com ou semo uso de testes: A avaliacéo psicologica é compreendida como um amplo processo de investigagdo, no qual se conhece o avaliado e sua demanda, com o intuito de programar a tomada de decisio mais apropriada do psicélogo. Mais especialmente, a avaliacao psicoldgica refere-se 4 coleta e interpretacao de dados, obtidos por meio de um conjunto de procedimentos confidveis, entendidos como aqueles reconhecidos pela ciéneia psicologica. Quanto @ diferenga entre “avaliacio psicoldgica” e “testagem psicolégica”, a Cartitha (CFP, 2013, p. 13) diz: A avaliacao psicologica é um processo amplo que envolve a integracao de informagées provementes de diversas fontes. dentre elas, testes, entrevistas, observagées e anilise de documentos, enquanto a testagem psicoldgica pode ser considerada um processo diferente, cuja principal fonte de informacao so os testes psicoldgicos de diferentes tipos ‘Na Cartilha sobre Avaliacao Psicologica, editada em 2007 pelo CFP (2007). nao ha referéncia ao termo “psicodiagndstico”. Ja na Cartilha de 2013 (CFP, 2013, p. 34), ha apenas uma mencdo ao termo. descrito como uma modalidade de avaliacio psicoldgica, sem a especificagao da mecessidade ou nao do uso de testes: “. . . no Ambito da intervencdo profissional, os processos de investigacao psicolégica sao denominados de avaliagdo psicolégica, deseritos em termos de suas modalidades — psicodiagnostico, exame psicologico, psicotécnico ou pericia” (CFP, 2013, p. 34, grifo nosso). Portanto. a partir da reflexio sobre o uso do termo “psicodiagnostico”, podemos fazer os seguinfes questionamentos: as chamadas “entrevistas preliminares”, “entrevistas de avaliacao” ou “entrevistas imiciais”, conduzidas por psicdlogos de diferentes abordagens tedricas antes de indicar ao paciente uma andlise, uma psicoterapia ou qualquer modalidade de tratamento psicologico ou de outra area, nio poderiam ser consideradas uma pratica de avaliagao psicologica? A avaliacao clinica intial feita pelo psicologo com o objetivo de conhecer aspectos psiquicos do paciente & luz da teoria psicanalitica ou de qualquer outra teoria nfo se configura como uma pratica de avaliagao psicolégica? Ou o mais apropriado seria chamar essa pratica psicologica orientada pela teoria psicanalitica de “avaliagao psicanalitica” e a pratica de profissionais orientados pelo comportamentalismo de “avaliacéo comportamental”? Somente quando um psicanalista, um gestaltista ou um comportamentalista aplica testes psicologicos durante o periodo de entrevistas preliminares diagndsticas é que poderiamos chamar essa pratica avaliativa de “psicodiagnéstico”? E, ainda, nao poderemos chamar de “psicodiagnéstico” os processos de avaliacao psicoldgica clinica com pacientes para os quais nao dispomos de testes psicologicos aprovados pelo CFP? Por fim sabendo que o profissional, durante uma avaliagao clinica, tem 0 dever e a liberdade de optar pelas estratégias mais indicadas para realizar o procedimento, caso deseje realizar um psicodiagndstico, tera ele de, obrigatoriamente, aplicar testes psicolégicos? Essa confisdo conceitual é descrita pela literatura (Wainstein, 2011; Wainstein & Bandeira, 2013). Nesses estudos, investigou-se o que profissionais da satide e da educagao entendem e esperam de um processo psicodiagndstico para criangas e adolescentes, assim como de que forma encaminham seus pacientes para esse tipo de avaliacao. Os resultados indicaram que o conceito de “psicodiagndstico” ¢ associado ao uso de algum instrumento psicolégico, mais especificamente testes que avaliam as capacidades cogmitivas, e sugeriram que os profissionais que encaminham seus pacientes nao sabem ao certo a nomenclatura que deve ser utilizada, usando “psicodiagnéstico”, “avaliagdo diagnéstica”, “psicoavaliacao”, “testagem’”, conforme o tipo de interesse (aspectos cogmitivos, aspectos sociais e outros). Essa pesquisa apontou que todas as nomenclaturas usadas representam a avaliagao psicolégica clinica, mas 0 termo que aparenta ser o melhor para esses casos é “psicodiagnéstico”, que tem uma definigdo clara de todo o processo. Para as autoras, no é 0 uso ou nao de testes, ou de determinados tipos de testes, que configura a realizacdo de um psicodiagnéstico, uma vez que, em alguns casos, 0 psicélogo abrira mio do uso de testes. especialmente quando nao houver testes validados no mercado. Lembram que. para a avaliacdo de criancas pré-escolares (0 a 6 anos), a observagio do de- senvolvimento infantil, baseada em critérios, tem sido nmito usada entre os profissionais que costumam trabalhar com essa faixa etaria. Por fim, concluem dizendo que parece nfo haver wm consenso a respeito da nomenclatura utilizada para designar o encaminhamento de um individuo para avaliagao psicolégica. DEFINICAO DE PSICODIAGNOSTICO A definicdo encontrada nos manuais consultados, que associam a pratica de psicodiagnéstico 4 obrigatoriedade de aplicacio de testes psicoldgicos, esta em desacordo com a compreensao de mmitos profissionais da 4rea da avaliacao psicolé- gica sobre o que é um psicodiagnéstico na atualidade. Defendemos a ideia de que a pratica realizada por psicélogos, tanto aqueles que munca se valem de testes psicolégicos quanto aqueles que os usam ocasionalmente, independentemente de sua teoria de base, também possa ser nomeada de “psicodiagnéstico”. Portanto, em nosso entendimento, ha a necessidade de se rever a definicao do termo na atualidade, de maneira a abranger variadas formas de realizacao desse procedimento investigativo clinico, a partir de diferentes teorias psicoldgicas. Compreendemos que o psicodiagnéstico ¢ um procedimento cientifico de investigacao e intervenco clinica, limitado no tempo. que emprega técnicas e/ou testes com 0 propésito de avaliar uma ou mmis caracteristicas psicolégicas. visando um diagnéstico psicolégico (descritivo e/ou dinamico), construido 4 luz de uma orientagao teérica que subsidia a compreensio da situagio avaliada, gerando uma ou mais indicagées terapéuticas e encaminhamentos Assim, 0 psicodiagnéstico pressupée a adocao de um ponto de vista cientifico sobre o fenémeno avaliado. Em psicologia, acreditamos que esse carater cientifico é adquirido por meio de métodos e técnicas de intervencfo, com base em teorias psicolégicas O PSICODIAGNOSTICO NECESSITA DE UMA TEORIA PSICOLOGICA QUE O FUNDAMENTE Felizmente, nas ultimas décadas. a area da avaliagao psicolégica no Brasil tem investido muito no desenvolvimento de instrumentos mais confiaveis. construidos a partir da nossa realidade cultural. E perceptivel o aumento da oferta e da qualidade dos testes em nosso pais, o que proporcionou maior qualificacdo dos servi¢os prestados 4 populacao. Sem diivida, o estudo desses instrumentais qualificou os testes, mas nao o processo psicodiagnéstico. Observamos, na atualidade, uma supervalorizacao dos instrumentos psicométricos e projetivos em detrimento da escuta e da tarefa de sintese compreensiva que deve ser realizada pelo psicélogo a partir de todas as informagdes coletadas durante a avaliacdo. Em alguns casos. a teoria psicolégica tem cada vez menos influéncia no proceso, seja por nao orientar o proprio processo avaliativo, seja por nao estar contemplada na construpao dos instrumentos que s&o utilizados de forma indiscriminada. Veem-se verdadeiros frankensteins técnicos e teéricos quando psicdlogos adotam em seus processos avaliativos técnicas que se estrutram em diferentes teorias (nmitas vezes com concepedes tedricas e epistemoldgicas conflitantes). Assim como avaliar a personalidade de um paciente utilizando, ao mesmo tempo, instrumentos que se alicercam na psicanilise, na psicologia positiva, na gestalt e na neuropsicologia? O resultado é uma total dependéncia do profissional ao resultado do teste, fazendo com que ele construa a conclusio de sua avaliacio desconsiderando os aspectos especificos de cada disciplina tedrica e montando seu diagnéstico de forma ateérica. Entendemos que nao ¢ possivel descuidar da formacao tedrica do profissional que deve escolher, administrar, interpretar e integrar os resultados desses instrumentos em um procedimento clinico como 0 psicodiagnéstico, sob pena de ficarmos reféns dos testes para a realizacdo de qualquer avaliaco. Compreendemos que o aperfeicoamento dos testes, tornando-os muis vilidos e fidedignos para o que se propdem examinar, deve ser acompanhado por uma formacao tedrica que também possibilite um “psicélogo valido” (Bandeira, 2015), capaz de compreender os resultados de um teste ou de uma entrevista com base em uma teoria psicolégica que fundamente o trabalho de qualquer psicélogo. Por esse motivo. defendemos que 0 ensino da avaliagdo psicoldgica nfo pode se abster do aprofimdado estudo das teorias psicolégicas que fundamentam a téenica de coleta e anilise de informagdes adotada em processos avaliativos. No compactuamos com uma proposta de avaliacéo ateérica e nio interventiva por entendermos que qualquer leitura ¢ intervenedo sobre 0 comportamento humano. seia com instrumentos - objetivos, como testes psicommtricos, seja com técnicas menos diretivas, como testes projetivos e entrevistas clinicas, esta embasada em paradigmas teoricos e produz modificagaéo no objeto analisado. Assim, nao existe a possibilidade de o psicdlogo trabalhar sem unm teoria de base, uma vez que os fendmenos sao observados analisados a luz de pressupostos teoricos, em um processo interativo. O PSICODIAGNOSTICO E UMA INTERVENCAO O afastamento, percebido na atualidade, entre a area da avaliacdo psicolégica e as teorias psicoldgicas pode ser compreendido, também, pelas reflexdes de Barbieri (2008, p. 583). Para ela, ..0 predominio do pensamento positivista nas Ciéneias Sociais e Humanas trouxe consigo, ao longo da histéria, uma dissociagéo entre pesquisa académica e pratica profissional. Essa situagdo ocasionou um empobrecimento na produgao de conhecimentos oriundos do trato direto com as pessoas ou a ele destinados, promovendo um distanciamento daquilo que deveria se constituir na meta principal do nosso trabalho como psicdlogos. E perigoso considerar as praticas avaliativas apenas em sua dimensio investigativa, excluindo os aspectos interventivos e terapéuticos que Ihes sfo inerentes. Para Barbieri (2008), a separagao entre as atividades de investigacdo e de intervencao é resultado do olhar positivista, que busca atingir um ideal de objetividade para a pesquisa cientifica. A autora entende que um psicodiasnéstico isento de intervengdes pode trazer ao paciente muitos maleficios. As entrevistas imiciais empregadas sem intervengao, além de nao atingirem seus objetivos de formular o diagndstico e imiciar 0 tratamento, desperdicam a chance de o paciente estabelecer contato com outra pessoa, 0 que pode resultar em uma experiéncia terapéutica negativa. Assim, entende-se que usar 0 termo “psicodiagndstico” apenas para as situacdes em que os testes psicolégicos sao utilizados com a intencao de tornar mais objetiva a avaliacdo parece estar em consonancia com a visdo positivista. Pode-se pensar que a rejei¢ao, por parte de alguns profissionais que realizam avaliagées clinicas, a0 uso tradicional do termo “psicodiagnostico” para a descricao das praticas avaliativas ¢ uma forma de manter-se distante da perspectiva positivista de investigacao do objeto totalmente separada do observador. Além disso, essa nogdo esta em desacordo com as mmitas propostas contemporaneas que debatem a complexidade humana e a intersubjetividade. Portanto, a0 considerarmos as caracteristicas da pesquisa qualitativa e quantitativa pos-moderna associadas 4 pratica avaliativa, pode-se pensar que o uso do termo “psicodiagnéstico” deva incluir a preocupagao clinica nao apenas coma objetividade diagnéstica, mas também com o processo avaliativo. Por meio de relatos, produzidos em entrevistas é/ou como uso de outras técnicas, o sujeito conta sua historia, suas experiéncias, as revive no relacionamento com o psicdlogo, fazendo com que, como afirma Barbieri (2010), possa modificar-se com 0 auxilio das devolugdes. CONSIDERACOES FINAIS psicodiagnéstico abrange qualquer tipo de avaliacao psicolégica de carater clinico que se apoie em uma teoria psicolégica de base e que adote uma ou mais técnicas (observacao, entrevista, testes projetivos, testes psicométricos, etc.) reconhecidas pela ciéncia psicolégica. Nao sugerimos a adocao do termo para situacdes avaliativas em contextos juridicos ou organizacionais, uma vez que, nessas situacdes, estfo presentes outras varidveis geralmente nfo encontradas no contexto clinico, como a simulago ea dissimulacao conscientes. Também nfo compreendemos que o psicodiagnéstico se limite, em todos os casos, a uma avaliacao de sinais e sintomas, tendo com resultado apenas um diagnéstico nosolégico, o que se aproximaria muito de uma avaliagao psiquidtrica. Tampouco entendemos que uma simples aplicacdo de um teste, por mais complexo que ele possa ser, deva ser entendida como psicodiagnéstico. Reservamos 0 termo para deserever um procedimento complexo, interventivo, baseado na coleta de miiltiplas informagdes, que possibilite a elaboragdo de uma hipdtese diagnéstica alicercada em uma compreensfo tedrica. REFERENCIAS ‘Arzeno, ME. G. (1995). Psicodiagnéstico clinico: Novas contribufgBes. Porto Alegre: Artmed Bandera, D.R (2015). Preficio. In S. M. Barroso, F. Scorsolin: Comin, & E. Nascimento (Eds_), Avaliago Psicol6 gica: Da teoria as aplicages. Rio de Janeiro: Vozes. Barbieri, V. (2008), Por uma ciéncia-profissao: O psicodiagnéstice interventivo com o método de investigacio cientific a. Psicologia em Estudo, 13), 515-584. Barbieri, V. 2010). Psicodiagnéstico tradicional e interventivo: Confronto de paradignas? Psicologia: Teoria e Pesqu isa, 26(3). 505-513. Castto,E. K. de, Campezatto, P. V. M., & Saraiva, L. A. (2009), As etapas da psizoterapia com criangas. In M. G. K. Castro, & A. Stirmer (Eds.), Criangas e adoleccentes em psicoterapia: 4 aboniagem psicanalitca. Porto Alegre Armed. Consetho Federal de Poicologia (CFP). (2007). Cartilna sobre avaliaga psicologica. Brasiia: CFP. Recuperado de: bp: te.cfp org. bwp-content uploads/2013/05 Carthia-AvalasC3%A 796C3%%A30 PsicoPo C3%B 3eica pdf Consetho Federal de Psicologia (CFP). (2013). Cartilha avaliagéo psicolégica — 2013. Brastia: CFP. Recuperado 4 e:hitp/'satepsiep.org br/docs/eartiba. pat Cunha, J. A. (2000), Fundamentos do psicodiagnéstco. InJ. A. Cunha (E4), Psicodiagnéstico VS. ed). Porto Aleg re: Artmed Krug. J. 2014). Enrevisia lidica diagnéstica psicanalitica: Fundamentos teéricos, procedimentos téenicos eriterios de andlise do brincar infantil. (Tese de doutorado nao pubbcada, Universidade Federal do Rio Grande do S bl Porto Alegre). ‘Ocampo, ML. S., & Arzeno, M. E. G. (2009). © processo psicodiagnéstico. InM. LS. Ocampo, M. E.G. Arzeno, &E. G Piccolo (Eds ), O proceso psicodiagnéstico e as técnicas projetivas. Sao Paull: Martins Fontes. Publicad © originalmente em 1979. ‘Trinca, W. (1983). O pensamento clinico em diagnéstico da personalidade. Petropolis: Vozes. ‘Wainstein. EA. Z. (2011). Umestudo sabre as formas de encaminhamento, descricéo e esclarecimentos do proc esso psicodiagnéstico para as criancas e adolescentes. (Trabalho de Conchusao de Curso de Especializagio, Unive rsidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre). Wainstein. EA. Z., & Bandera, D.R_ (2013). Psicodiagnéstico: A contribuipio da avaliagdo psicoligica no trabalho ¢ ‘om criangas. In J. Outeiral, & J. Treiguer (Eds.), Psicandlise de criancas e adolescentes. Cusitiba: Maresfield Garde 2 PSICODIAGNOSTICO: FORMAG AO, CUIDADOS ETICOS, AVALIACAO DE DEMANDAE ESTABELECIMENTO DE OBJETIVOS Denise Ruschel Bandeira Clarissa Marceli Trentini Jefferson Silva Krug demanda trazida pelo paciente ou pela fonte de encaminhamento para, a partir disso, realizar consideracées éticas sobre o pedido e. quando essas forem favoraveis, tecer os objetivos de sua realizacdo. Essa tarefa nao é nada simples, uma vez que necessariamente envolve um conjunto de habilidades e competéncias do psicdlogo, inicialmente desenvolvidas no curso de bacharelado em Psicologia, posteriormente aperfeicoadas em outros niveis de ensino, como cursos de extensfio, especializagdes, mestrados e doutorados, sempre perpassando o cuidado com os aspectos pessoais do préprio psicélogo que pretende desenvolver essa atividade profissional. ‘A realizacio do psicodiagnéstico pressupde um preparo pessoal e téenico que inclui o dominio de diferentes saberes psicolégicos e de areas afins. além da capacidade de reflexio quanto aos aspectos éticos inerentes realizacdo da atividade Entendemos que a formagdo ética e técnica para a realizagao do psicodiagnéstico tem sua base na graduagdio, mas alcanga sua real possibilidade a partir do cuidado de cada profissional com sua constante atualizacdo quanto aos instrumentos e processos de avaliacao. Além disso, lembramos que o psicdlogo precisa investir em seu desenvolvimento pessoal, realizando acompanhamento terapéutico, preferencialmente orientado pela teoria psicolégica de base que sustenta seu fazer clinico. Todos esses cuidados, juntamente a experiéncia clinica adquirida com as primeiras avaliagdes supervisionadas, trarao gradativamente ao psicélogo melhores condigdes de avaliar as demandas ¢ definir os objetivos de um psicodiagnéstico. Portanto, neste capitulo, abordaremos aspectos referentes ao psicodiagnéstico em sua dimensio de formacio ética, bem como a avaliacado de demanda e a definicao de objetivos. P ara fazer um psicodiagnéstico, 0 profissional deve saber avaliar com cuidado a FORMACAO EM PSICODIAGNOSTICO E QUESTOES ETICAS Entendemos que o psicdlogo é o profissional que pode desenvolver, durante sua formacdo, a competéncia para realizar um psicodiagndstico. Podemos elencar algunas das competéncias designadas pelo Ministério da Educagao (Brasil, 2011, p. 3) em suas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduacéo em Psicologia envolvidos em processo de psicodiagnostico: I - identificar e analisar necessidades de natureza psicologica, diagnosticar, elaborar projetos. planejar e agir de forma coerente com referenciais tedricos e caracteristicas da populacdo-alvo; IV — identificar, defimr e formular questies de investigacio cientifica no campo da Psicologia, vinculando-as a decisées metodologicas quanto a escolha, coleta e amilise de dados em projetos de pesquisa; V - escolher e utilizar instrumentos € procedimentos de coleta de dados em Psicologia, tendo em vista a sua pertinéneia; VI - avaliar fendmenos humanos de ordem cognitiva, comportamental ¢ afetiva, em diferentes contextos; VII - realizar diagndstico e avaliacio de processos psicologicos de individuos, de grupos e de orgamzacdes; .. . IX — atuar inter e multiprofissionalmente, sempre que a compreensio dos processos e fendmenos envolvidos assim o recomendar; X — relacionar-se com o outro de modo a propiciar o desenvolvimento de vineulos inferpessoais requeridos na sua atuacao profissional; . . . XI - elaborar relatos cientificos, pareceres técmicos, laudos e outras conmmicacdes profissionais, inclusive materiais de divulgagdo; . . . XV — saber buscar e usar 0 conhecimento cientifico necessdrio 4 atuacdo profissional, assim como gerar comhecimento a partir da pratica profissional. Nos cursos de bacharelado em Psicologia no nosso pais, essas competéncias sio tratadas em diferentes disciplinas, como Psicologia do Desenvolvimento, Psicologia da Personalidade, Psicopatologia, Avaliagio Psicologica, Psicometria, Técmcas de Entrevista, Pesquisa em Psicologia. Psicologia Climca, Neuropsicologia, entre outras. Além disso, outras modalidades de ensino-aprendizagem, como estagios basicos e profissionais, costumam incluir a necessidade de realizacao de avaliacdes psicolégicas supervisionadas, entre elas o psicodiagnéstico. Werlang, Argimon e Sa (2015) lembram que essas atividades sempre devem levar em comsideracéo as questies éticas, respeitando tais principios. Nesse sentido, entendemos que o psicédlogo é o profissional com melhor qualificacdo para realizar tal atividade. Contudo, destacamos que nem sempre a graduagdo em Psicologia é suficiente para quem quer trabalhar em avaliagao psicolégica. O aluno de Psicologia necessita de conhecimentos especificos da area. Se considerarmos que, cada vez mais, os cursos de Psicologia vém implementando novos conhecimentos em seus curiculos (Bandeira, 2010). compreenderemos que. frequentemente, um profissional recém-formado nao tem condigdes de realizar todos os tipos de avaliagao psicologica que the sejam solicitadas, wma vez que ainda precisa desenvolver-se tedrica e tecnicamente naquilo que seu curso nao péde enfatizar durante o desenvolvimento curricular. Compreendemos que a ampliagiio das areas de estudo da Psicologia nos cursos de bacharelado também é muito benéfica a area de avaliacao psicolégica, contudo, impée ao profissional a necessidade de constante atualizacao. Ainda, via de regra, percebemos que 0 adequado desenvolvimento da capacidade técnica para realizar um psicodiagnéstico relaciona-se a possibilidade de o profissional seguir supervisionando seus casos e buscando 0 comhecimento que nao pode ser desenvolvido na graduacao e em cursos de pds-graduacdo, sejam eles Jato ou stricto sensu Com relacéo as questées éticas, muito contetido consistente e relevante sobre a atuagao ética do psicdlogo ja foi produzido (p. ex, Anache & Reppold, 2010; Hutz 2015; Wechsler, 2005). Sugerimos a leitura desses materiais, assim como 0 acesso aos textos da The International Test Commission (ITC), associagéo de psicdlogos e profissionais relacionados a area de avaliagao da American Psychological Association. em especial as divisées 5 (Quantitative and Qualitative Methods), 7 (Developmental Psychology), 8 (Society for Personality and Social Psychology), 12 (Society of Clinical Psychology) e 40 (Society for Climcal Neuropsychology) e as resolugdes do Conselho Federal de Psicologia (CFP), érgao que regulamenta a profisso de psicdlogo no Brasil. Todas as resolugdes editadas pelo CFP sao importantes, mas, em relagao a area de avaliacdo psicolégica, recomendamos um estudo aprofundado: a) da aplicag&o dos principios findamentais contidos no Cédigo de Etica Profissional do Psicélogo (Conselho Federal de Psicologia [CFP] 2005); b) da Resolucfo n° 001/2009, que dispde sobre a obrigatoriedade do registro documental decorrente da prestagio de servigos psicolégicos (CFP, 2009); c) da Resolugado n° 016/2000, que aponta a necessidade de regulamentar regras e procedimentos que devem ser reconhecidos e utilizados nas praticas em pesquisa (de laboratério, campo ¢ acdo) (CFP, 2000a); d) da Resolucdo n° 002/2003, que define ¢ regulamenta o uso, a elaboracao e a comerciali- zacao de testes psicoldgicos (CFP, 2003a): ¢) da Resolucdo n° 007/2003, que institui o Manual de Elaboragao de Documentos Eseritos produzidos pelo psicdlogo decorrentes de avaliagao psicolégica (CFP. 2003b): e f) da Resolucdo n° 011/2000. que reflete sobre a oferta de produtos e servicos ao publico (CFP, 2000b). Cabe ressaltar que, no Brasil, tanto o Instituto Brasileiro de Avaliagao Psicologica (IBAP) quanto a Associacao Brasileira de Rorschach e outros Métodos Projetivos (ASBRO) s4o institcdes que se preocupam com questées éticas na avaliacio psicoldgica, assim como com outros temas referentes 4 area. Manter-se em contato com essas © outras instituigdes da area, participar de congressos ou atividades desenvolvidas por elas, ou, ao menos, acompanhar os debates cientificos relatados em - publicages sobre avaliagao psicologica, so cuidados importantes a serem observados pelo profissional que realiza psicodiagnéstico. Além dessas questées, também nos parece adentrar ao campo da ética profissional o necessario cuidado coms aspectos pessoais do psicdlogo. Dessa forma, entendemos como fundamental que todo profissional que realiza psicodiagndstico tenha um espaco particular de reflexao e andlise, diferente do oferecido pela supervisio, no qual possa trabalhar a si mesmo e, como consequéncia, diminuir possiveis pontos cegos que fazem parte de qualquer processo em que o objeto avaliado se assemelha ao objeto que avalia. © tratamento pessoal é extensamente debatido e defendido pelos formadores de psicoterapeutas, mas nao sao encontradas mumitas referéncias ma area de avaliacio psicologica sobre a importancia desse aspecto nas atividades de psicodiagndstico. Entendemos que uma pratica ética e a atualizagdo profissional so ocorrem com a possibilidade de abertura ao novo, com autocritica quanto ao fazer diario, refletindo sobre a relagdo de seus desejos pessoais e suas escolhas profissionais. Tais competéncias nfo s&o aprendidas apenas com leituras ow participagdes em debates clinicos, mas a partir de um profindo processo de autoconhecimento. Atentando para esse aspecto, compreendemos que se ampliam as possibilidades de atualizagio profissional, diminuindo muito as agdes dogmiticas e cartesianas no fazer psicodiagnéstico. Portanto. é s6 a partir dos cuidados descritos que o psicdlogo tera condigdes de realizar uma avaliacdo de demanda trazida pelo paciente ou por alguma fonte de encaminhamento. PSICODIAGNOSTICO: PENSANDO NA DEMANDA Um psicodiagnéstico tem mais chances de ser bem-sucedido quando hi uma boa pergunta a ser respondida. Essa pergunta nem sempre é formulada com clareza pelo paciente que busea avaliagao, uma vez que, em muitas ocasides, ele proprio ndo tem condigdes de perceber as razdes do seu softimento. Em outras oportunidades, deparamo-nos com demandas genéricas relacionadas ao interesse pelo seu proprio funcionamento, como, por exemplo, o interesse em responder 4 pergunta “como eu sou?” ou a ideia de “eu vim aqui para me conhecer melhor”. De modo geral, essas demandas nfo caracterizam uma boa pergunta a ser respondida, por tratar-se de questdes muito amplas. Nessas ocasiées, recomendamos uma primeira reflexdo clinica, a partir das entrevistas uiciais e/ou do contato com a fonte encanunhadora, visando especificar 0 motivo por tras do “interesse em se conhecer™, por exemplo. A partir dessa redefinicdo da demanda, pode-se pensar no planejamento de uma atividade avaliativa. Na realidade, essa reflexio inicial j4 é 0 primeiro momento da avaliacao, e deve ser feita com muito cuidado, uma vez que auxiliara a defimr o que realmente precisard ser avaliado. Como se trata de um processo de carater cientifico, 0 psicadiagndstico nio prescinde da construgao de hipateses. Nesse sentido, boas perguntas so aquelas que auxiliam o profissional a confirmar ou a refutar determinadas lupoteses — por exemplo, em um caso de uma crianga encaminhada para avaliacao por estar com dificuldades de Jeitura e escrita, nao conseguindo acompanhar o desempenho da turma. Aqui temos boas perguntas a responder: teria ela um transtorno especifico de aprendizagem? Questdes emocionais e/ou familiares estatiam interferindo nos processos de aprendizagem de Jeitura e escrita? Haveria alguma questio newrologica envolvida? Poderiamos pensar em transtomo de déficit de atengdo/hiperatividade (TDAH)? Quais demandas psiquicas nao estariam sendo atendidas. gerando. consequentemente, 0 sintoma? Contratempos no encaminhamento do paciente também acontecem. Por vezes, a - fonte encaminhadora nao tem clareza do que envolve um psicodiagnéstico (ver ‘Wainstein & Bandeira. 2013), ou um paciente ¢ encaminhado para um profissional que realiza apenas avaliagdes psicoldgicas quando, devido a agudizagao do quadro, necessitaria de um atendimento psicoterdpico de urgéncia. Como exemplo, temos 0 caso de uma pessoa com perda recente na familia, por acidente de transito, que apresentava Teagdes emocionais muito intensas e desorganizadas. O certo seria encanunha-la a un profissional que ja pudesse realizar uma interven¢ao com foco terapéutico. Sabe-se que toda a intervengo é precedida de uma avaliacdo, mas, como nessa situagdo se esta diante de uma condicao clinica aguda, 0 proceso avaliative deve ser abreviado ou realizado concomitantemente ao processo psicoterapico, exigindo que o profissional também tenha conhecimentos e habilidades voltados a interven¢do no sentido terapéutico. Ainda, sio encaminhados casos de criancas com dificuldades em acompanhar o que esté sendo dado em sala de aula, e, ao recebé-las no consultério, 0 psicélogo percebe que tém dificuldades de visio. Nesse sentido, é fimedo do profissional exercer um papel educativo, orientando toda a rede que faz uso de avaliacdes psicolégicas. Uma das fontes encaminhadoras mais comms nos casos de criancas é a escola. E nela que os adultos (pais ou professores), a0 comparar uma crianga com as demais, percebem suas dificuldades e a encaminham para avaliagao. Nesses casos, o psicdlogo acaba sendo um dos primeiros profissionais a olha-la de forma global. Como o processo de psicodiagnéstico envolve certo nimero de encontros, 0 psicdlogo passa a ter uma visio mais aprofimdada do caso, que vai além de aspectos emocionais & cognitivos. Por isso, é importante que tenha conhecimento de aspectos fisicos, motores e neuroldgicos, a fim de poder encaminhar o paciente de forma correta a outros profissionais. Outro aspecto interessante a ser observado tem relagdo com a demanda para o psicodiagnéstico. HA algumas décadas, a procura por psicodiagnéstico estava relacionada somente com a defimcao de um diagnéstico para o paciente. Atualmente, em grande parte das vezes (dado mais relacionado 4 demanda infantil, conforme Wainstein & Bandeira, 2013), o paciente j4 chega com um diagnéstico, dado por algum médico ou outro profissional da saiide ou, até mesmo. por um professor da escola. Nessas situagdes, deve-se refletir sobre 0 que est sendo solicitado, podendo caber ao psicdlogo, entre outros: a) realizar a avaliacéo da pertinéneia do diagndstico: b) realizar 0 diagndstico diferencial; c) identificar forcas e fraquezas do paciente e de sua rede de atencao visando subsidiar um projeto terapéutico; d) ampliar a compreensao do caso por meio da elaboracdo de um entendimento dinamico, alicercada em teoria psicologica: ¢ e) refletir sobre encaminhamentos necessarios ao caso. Ainda em relagao ao publico encaminhado para psicodiagnéstico/atendimento - psicoldgico, dados de pesquisas em clinicas-escola no Brasil (locais que geralmente publicam estudos sobre o perfil atendido) mostram que a maioria dos individuos encamunhados so criancas (Borsa, Segabinazi, Stenert, Yates. & Bandeira, 2013), meninos em maior frequéncia (Cunha & Benetti, 2009; Rocha & Ferreira, 2006; Santos, 2006; Scortegagna & Levandowski, 2004; Silvares, Meyer, Santos, & Gerencer, 2006) Outras pesquisas indicam que ha certa igualdade entre percentuais de criancas adolescentes ao serem comparados a adultos (Campezatto & Nunes, 2007; Lowzada, 2003; Romaro & Capit&o, 2003). Ja quando as pesquisas envolvema clientela adulta_ o sexo feminino predomina (Campezatto & Nunes, 2007; Maravieski & Serralta, 2011). Qs quadros clinicos mais comumente encaminhados para psicodiagnéstico diferem-se por faixa etaria. No que se refere a criancas e adolescentes. dados de uma pesquisa conduzida no Centro de Avaliaao Psicolégica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Borsa et al., 2013) apontam que prevalecem problemas de atengao, seguidos por problemas de interacao social e de ansiedade e depressdo, segundo dados coletados com o Child Behavior Checklist, Achenbach — CBCL (Achenbach, 2001). Outras pesquisas apontam problemas de aprendizagem como motivos comms de encaminhamento (Gramunha & Martins, 1994; Santos, 2006; Schoen-Ferreira, Silva, Farias, & Silvares, 2002: Scortegagna & Levandoswski. 2004). Problemas afetivos, de agressividade e de comportamento também sao frequentes (Cunha & Benetti, 2009; Santos, 2006). No caso de adultos, costumam aparecer problemas emocionais e de relacionamento familiar (Louzada, 2003; Maravieski & Serralta, 2011). Concomitantemente a definicéo do que se esté recebendo como demanda, das hipéteses e das estratégias de avaliacio, é possivel que haja necessidade de avaliagdes de outros profissionais. Por vezes, sé se consegue completar o processo psicodiagnéstico com avaliagées de outros profissionais, como fonoaudidlogos. neurologistas e psiquiatras. Esse é 0 momento de aproveitar para discutir o caso. Em nossa experiéncia, a troca com outros profissionais tem sido mmito rica, gerando aprofandamento do caso em questio. Portanto. levando em consideracao os aspectos ja expostos. o psicdlogo realizara a avaliago da demanda para, caso se mostre valido, estabelecer os objetivos do psicodiagndstico. So esses objetivos que norteardo a eleigao das téenicas e/ou instrumentos a serem utilizados posteriormente. OBJETIVOS DO PSICODIAGNOSTICO. Entendemos que psicodiagndstico é um procedimento cientifico de investigacio e intervencao clinica, limitado no tempo, que emprega técnicas e/ou testes psicologicos com o propdsito de avaliar uma ou mais caracteristicas psicolégicas visando um diagnéstico psicoldgico (descritivo e/ou dindmico), construido a luz de uma orientagao tedrica que subsidie a compreensdo da situacdo avaliada, gerando uma ou mais indicagdes terapéuticas ¢ encaminhamentos. Levando em consideragéo esse conceito, acreditamos que ele pode ser realizado de diferentes maneiras e com diferentes objetivos. A avaliacdo da demanda indicara qual aspecto avaliativo devera ser priorizado em cada caso, situando-se o objetivo do psicodiagnéstico a partir dessa reflexio inicial. Segundo Cunha (2000), precursora do psicodiagnéstico em nosso meio, os objetivos podem priorizar: a) a classificagao simples; b) a descrigaio: c) a classificagao nosolégica; d) o diagndstico diferencial; 2) a avalia¢io compreensiva: e) 0 entendimento dininuco: f) a prevencdo; g) 0 progndstico; e h) a pericia forense. Concordamos basicamente com Cunha (2000) com relacdo a esse aspecto. Contudo, entendemos que, ao realizar unm pericia forense, ndo necessariamente esta se fazendo um psicodiagndstico. Na pericia forense, o objetivo, na maioria das vezes, é responder a quesitos legais, solicitados pelo juiz (para um leitura mais aprofundada, ver Rovinski, 2013) Conforme Rovinski (2010, p. 95), “. . . a avaliacao forense, mais especificamente, quando exercida como atividade pericial. diferencia-se em muitos aspectos daquela realizada no contexto clinico. A nao diferenciagao de tais padrdes de avaliacao acaba por gerar conflitos de papéis e. consequentemente, condutas antiéticas.”. ‘Uma pessoa que busca auxilio de um psicdlogo para lidar com o sofrimento - geralmente estabelece com o profissional uma relagdo de cooperagao e alianga de trabalho diferente daquele sujeito que é encaminhado para uma pericia em contexto juridico. Neste ultimo, fendmenos como simulacdo e dissimulagdo conscientes, inerentes a essa realidade avaliativa, acabam exigindo cuidados técnicos especificos, que diferem daqueles eminentemente clinicos. Ainda assim reconhecemos a semelhanca entre muitos aspectos técnicos adotados na pericia e no psicodiagnéstico. CONSIDERACOES FINAIS Ressaltamos que o psicodiagnéstico é uma atividade profissional do psicdlogo, cuja formacao durante o periodo de graduacdo é essencial, mas carece de um estudo continuado, especialmente no que tange aos avancos em termos de instrumentos de avaliagdo psicolégica e psicopatologia. O cuidado com aspectos psiquicos da pessoa do psicdlogo é condic&o sine gua non para a abertura a atualizagao e a reflexao técnica eo consequente fazer avaliativo adequado. Assim, os objetivos do psicodiagndstico séo coerentes com essa formagdo e exigem do psicélogo amplo conhecimento de competéncias, além de estudos sobre diversas areas da psicologia. A forma de conduzir um processo psicodiagnéstico sera trabalhada infensamente neste livro, mas, nesse momento, queremos marcar a necessidade de se ter claro, ao inicid-lo, 0 que é esperado, com que tipo de populagao se trabalha e o que é possivel atingir com ele, de forma que sua potencialidade possa ser atingida, reconhecendo-se suas forcas e limitacdes, sempre respeitando os preceitos éticos da profissio. REFERENCIAS Achenbach, T. M. 2001). Manual for the child behavior checklist’6-18 and 2001 profile. Burkngton: University & f Vermont. Amache, A. A., Reppold, C.T_ (2010). Avaliagio psicoligica: Implicagdes éticas. 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