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Relatório INQ 4462

O documento descreve dois casos de solicitação de valores indevidos por autoridades brasileiras a executivos da empreiteira Odebrecht. O relatório analisa as circunstâncias dos pagamentos realizados e as provas coletadas pela investigação.

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Relatório INQ 4462

O documento descreve dois casos de solicitação de valores indevidos por autoridades brasileiras a executivos da empreiteira Odebrecht. O relatório analisa as circunstâncias dos pagamentos realizados e as provas coletadas pela investigação.

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SERViÇO PÚBLICO FEDERAL

MESP • POLíCIA FEDERAL


DICOR • GRUPO DE INQUÉRITOS DO STF

A Sua Excelência, o Senhor

• Ministro EDSON FACHIN


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Praça dos Três Poderes, Brasília/DF

Referência: Inquéríto nO 4462/STF

Investigados:
MICHEL MIGUEL ELIAS TEMER LULIA, Presidente da República;
ELlSEU LEMOS PADILHA, Ministro-Chefe da Casa Civil;
WELLlNGTON MOREIRA FRANCO, Ministro de Minas e Energia.

Senhor Ministro,

• THIAGO MACHADO DELABARY, Delegado de


Federal, no exercício das funções de Polícia Judiciária da União conferidas
pelo art. 144, § 1°, inciso IV, da Constituição Federal, combinado com os
Polícia

termos do art. 230-C do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, este


atualizado com a introdução da Emenda Regimental 44/2011, vem, à
presença de Vossa Excelêncía, apresentar

RELATÓRIO CONCLUSIVO

Na contracapa está disponível um CO contendo a versão deste relatório em formato


digital, permitindo acesso, por hiperlink, a muitos documentos mencionados no corpo do
texto.

1
I. INTRODUÇÃO

o inquérito em referência foi instaurado com o propósito de


apurar o suposto pagamento de vantagens indevidas pelo Grupo ODEBRECHT
às autoridades acima nominadas, em circunstâncias que sinalizam, em tese, a
prática de corrupção passiva e ativa, previstas, respectivamente, nos artigos
317 e 333 do Código Penal, sem prejuízo de eventual ocultação dos
correspondentes valores, hipótese descrita no artigo 1° da Lei 9.613/98 .

• As informações que inicialmente lastreiam tais suspeitas são


provenientes de JOSÉ DE CARVALHO FILH01, CLÁUDIO DE MELO FILH02,
BENEDICTO BARBOSA DA SILVA JÚNIOR 3, PAULO HENYAN YUE
CESENA4, HILBERTO SILVA5 e MARCELO BAHIA ODEBRECHT6, executivos
do citado grupo empresarial que, em sede de acordo de colaboração premiada
firmado com o Ministério Público Federal - e cada qual em seu espectro de
conhecimento e participação - trouxeram relatos e documentos referentes aos
seguintes fatos:

(i) solicitação de R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais) por


WELLlNGTON MOREIRA FRANCO, então Ministro da Aviação
Civil, em contexto relacionado ao programa de concessão de

• aeroportos, valores que teriam sido encaminhados a ELlSEU


PADILHA, seu sucessor naquela pasta, no inicio do ano de
2014, a pretexto de financiar campanha eleitoral do então
PMDB;

(ii) solicitação de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) pelo


Ministro ELlSEU PADILHA, em jantar ocorrido no Palácio do
Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência da República, em
28 de maio de 2014, no qual se fez presente o então Vice-
Presidente da República, MICHEL TEMER. Dos valores

'Termos de Depoimento nO 5 e 6 (colaboração) e Termo de Declaracões de fls. 3041308;


1 Termos de Depoimento nO t 1,12,13 e 14 (cotaboração) e Termo de Declarações de fls. 3101314;
3 Termo de Depoimento n° 22 (colaboração) e Termo de Dectaracões de fls. 11111 t3 e 393;
• Temno de Depoimento nO 2 (colaboração) e Termo de Declaracões de fls. 3211323;
'Temno de Depoimento nO 17 (colaboração);
, Termos de Depoimento n° 21 e 25 (colaboração).

2
12..%

originais, R$ 6.000.000,00 (seis milhões de reais) teriam sido


direcionados á campanha de PAULO SKAF ao Governo do
Estado de São Paulo, nas eleições daquele ano, e R$
4.000.000,00 (quatro milhões de reais) encaminhados a
membros do PMDB indicados pelo Ministro ELlSEU PADILHA,
com o suposto propósito de financiar a campanha eleitoral do
PMDB.


De saída, é importante ressaltar que o crime de corrupção
passiva, previsto no artigo 317 do Código Penal 7 , prevê como condutas
nucleares a solicitacão e/ou o recebimento. A primeira é ato instantâneo e, no
caso vertente, teria se processado em ambientes privados e sem qualquer
registro de áudio ou vídeo que, hoje, permita resgatar detalhes de tais eventos.
O consequente recebimento, porém, ao exigir a prática de atos complexos,
sobretudo no que concerne ás transações financeiras, é mais suscetível de
produzir vestigios. Dessa forma, em que pese a solicitacão de vantagem
indevida seja suficiente para configurar o delito de corrupção passivaS (quando
preenchidos os demais requisitos), os esforços investigativos se voltaram ao
momento consectário do recebimento, dada a maior potencialidade de coleta
probatória .

• A bem de ordenar as informações, o presente relatório


abordará de modo segmentado as mencionadas solicitações de valores, posto
que ocorridas em momentos distintos, muito embora - como será esclarecido -
guardem traços comuns.

Também individualizada será a abordagem dos


desdobramentos de cada solicitação, isto é, a análise das circunstâncias
particulares que revestiram cada pagamento. Para tanto, serão utilizados os

7 "Art. 317 - Solícitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes

de assumi-Ia, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:

Pena - reclusão, da 1 (um) a 8 (oito) anos, a muffa.·

8 ~o crime é de natureza formal. Consuma-se com a simples solicitação da vantagem indevida, com o recebimento
dasta ou com a acedação da promessa. É indiferente qua o ato funcional vanha sar praticado ou não.' (PAGLlARO.
AntôniolCOSTA JR, Paulo José da. Dos crimes contra a administração pública - 4' ed. São Paulo: Atlas, 2009).

3
12.'1+

dados contidos nestes autos principais, os reunidos no bojo da Ação Cautelar


nO 4382 (sigilo de dados telefônicos), os apresentados nos acordos de
colaboração premiada de executivos da ODEBRECHT, do Grupo J & F
Investimentos, dados compartilhados de outros feitos, assim como informações
de domínio público.

11- DOS FATOS

2.1) DOS SISTEMAS DE "CONTABILIDADE PARALELA" DA

• ODEBRECHT

Preliminarmente à abordagem mais detida das informações


atinentes às operações ilícitas que interessam ao caso, é indispensável
compreender como se dava a sistematização dos pagamentos de propina no
seio do Grupo ODEBRECHT.

Segundo informações constantes no processo nO 5019727-


95.2016.404.7000, autuado na 13" Vara Federal de Curitiba, o "Setor de
Operações Estruturadas" da ODEBRECHT9 fora usado pelo grupo empresarial
entre 2006 e 2015, com o propósito específico de operacionalizar e coordenar
os pagamentos de propina, tanto no Brasil como no exterior. Para isso, contava
com funcionários dedicados exclusivamente a tais operações, que utilizavam

• ferramentas informatizadas (sistema Drousys) para comunicação entre eles e


com os operadores financeiros (doleiros e controladores de contas no exterior),
além de um sistema por meio do qual eram geradas e alimentadas planilhas
destinadas a organizar e controlar os pagamentos de vantagens indevidas
(MyWebDay).

Faziam parte desta estrutura paralela os executivos HILBERTO


MASCARENHAS ALVES DA SILVA FILHO, FERNANDO MIGLlACCIO DA
SILVA e LUIZ EDUARDO DA ROCHA SOARES; os funcionários ISAIAS
UBIRACI CHAVES SANTOS, ANGELA PALMEIRA FERREIRA e MARIA

9EVENTO 1 do Processo n' 5019727-95.2016.404.7000 - chave eletrônica 769128226316[denúncia dislribuída por


dependência aos aulos n' 5046271-57.2015.404.7000 (IPL João Sanlana), 5007118-80.2016.404.7000 (IPL Maria
Lucia Tavares e oulros), 5003682-16.2016.404.7000 (Busca e apreensão), 5010479-08.2016.404.7000 (Busca e
apreensão) e conexos].
LUCIA GUIMARÃES TAVARES, bem como os operadores financeiros OlÍVIO
RODRIGUES JUNIOR e MARCELO RODRIGUES.

As demandas encaminhadas ao Setor de Operações


Estruturadas da ODEBRECHT, coordenado por HILBERTO MASCARENHAS
ALVES DA SILVA FILHO, originavam-se de executivos das diversas áreas que
compunham o conglomerado empresarial, denominados "Lideres
Empresariais".


Nessas operações, havia a preocupação com a preservação da
identidade dos destinatários dos valores, os quais eram mencionados
exclusivamente por codinomes. Além disso, era convencionada uma senha
como forma de autenticação entre quem entregava e quem recebia o dinheiro,
que necessariamente deveria ser declinada no momento da entrega.
Ao ser ouvida no ãmbito da Operação Lava Jato, em Curitiba,
MARIA LUCIA TAVARES descreveu o funcionamento desse setor, o que foi
retratado na denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal em
Curitiba/PRlo:

"A fim de viabilizar a comunicação de forma ainda mais dissimulada, as


conversas travadas pelo sistema Drousys eram concretizadas por meio da
utilização de codinomes: MARIA LUCIA TAVARES utilizava o apelido
'TULlA', FERNANDO MIGLlACCIO o de 'WATERLOO'; LUIZ EDUARDO

• SOARES o de 'TOSHIO', ANGELA PALMEIRA o de 'TUMAINE' e HILBERTO


SILVA o de 'CHARLlE'.
Para a viabilização de entregas de propinas em espécie no Brasil, MARIA
LUCIA TAVARES, por ordem de HILBERTO SILVA, LUIZ EDUARDO
SOARES e FERNANDO MIGLlACCIO, estabelecia contato, por meio do
sistema Drousys, com doleiros específicos já engajados no sistema ilícito
montado pela Odebrecht.
Tendo em vista que o volume de propina paga pela Odebrecht era
extremamente elevado e que os locais de pagamento também eram diversos,
o Setor de Operações Estruturadas mantinha contato com doleiros situados
em diversas localidades, como, por exemplo, Rio de Janeiro, São Paulo,
Poria Alegre, Recife. Embora situados em diversas cidades, todos estes
operadores mantinham um relacionamento bastante estreito com o Setor de
Operações Estruturadas, não apenas por serem recorrentes os pedidos de
entrega de vantagens indevidas, mas também por terem instalado em seus
escritórios o sistema Drousys, a fim de viabilizar a comunicação direta e em

10 EVENTO 1 do Processo o' 5019727-95.2016.404.7000 - chave eletrônica 769128226316. Pagina 30/33.

5
linguagem cifrada com os membros do Setor de Operações Estruturadas da
Odebrecht, revelando que este verdadeiro escritório de pagamento e
lavagem de ativos se relacionava e se utilizava, inclusive, com operadores dê
fora da Odebrecht, tendo sua própria organicidade.
Dentro da sistemática estabelecida pelo Setor de Operações Estruturadas,
após a solicitação e o detalhamento dos dados relativos ao pagamento das
vantagens indevidas, cabia ao funcionário UBIRACI SANTOS a inclusão das
requisições de pagamento de propina no sistema MywebDay, preenchendo
os campos das planilhas com o nome da obra, os codinomes dos
destinatários, os valores e a data quando deveriam ser entregues.


Na sequência, a secretária MARIA LUCIA TAVARES - responsável por
organizar os pagamentos de propina realizados em reais - extraía
semanalmente do sistema uma planilha de requisições de pagamento. A
partir desta planilha, MARIA LUCIA somava os valores a serem entregues
em cada um dos locais indicados, verificando qual seria o montante global
que deveria ser disponibilizado em espécie para honrar as requisições de
pagamento. Após efetuar a soma dos valores, MARIA LUCIA comunicava a
FERNANDO MIGLlACCIO, via sistema Drousys, qual seria o montante que
deveria ser disponibilizado em espécie no Brasil para o pagamento dos
valores de propina registrados nas planilhas.
Após avisar FERNANDO MIGLlACCIO, MARIA LUCIA TAVARES
encaminhava aos doleiros (colaboradores) participantes do esquema ilicito,
também por meio do sistema Drousys, uma listagem com o valor total de
propina que deveria ser entregue naquela semana, bem como a senha que
estava associada a cada uma das entregas, colocando ao lado o valor de
cada uma das entregas individuais.


Para concluir a sistemática de entrega da propina, cabia a FERNANDO
MIGLlACCIO levantar com os destinatários o endereço no qual seriam
entregues os valores. Tendo combinado o local com os destinatários,
FERNANDO MIGLlACCIO encaminhava a MARIA LUCIA TAVARES, por
intermédio do sistema Drousys, os endereços dos locais em que os valores
deveriam ser entregues, a fim de que MARIA LUCIA TAVARES
retransmitisse tais informações aos doleiros prestadores de serviço,
utilizando, para tanto, o sistema Drousys.
(.. .)
Para evitar ainda mais o rastreamento dos pagamentos e a identificação dos
beneficiários, FERNANDO MIGLlACCIO e os beneficiários das vantagens
indevidas tinham a cautela de evitar que os endereços de entrega se
repetissem.

Posteriormente à entrega, MARIA LUCIA confirmava com os doleiros


(colaboradores) se os pagamentos haviam sido concrefizados, o que fazia
por meio do sistema Drousys, raramente tendo feito uso de telefone.

6-rf
13,00

A fim de manter o controle sobre os recursos ilícitos pagos e sobre os valores


existentes nas contas mantidas no exterior e com os doleiros, estes
operadores encaminhavam periodicamente a MARIA LUCIA TAVARES
extratos dos pagamentos feitos e recebidos. Para tanto, também faziam
novamente uso do sistema Drousys.
De posse dos extratos e do controle da contabilidade paralela relativa aos
pagamentos de vantagens ilícitas realizadas em reais, MARIA LUCIA
TAVARES encaminhava os dados para FERNANDO MIGLlACCIO, utilizando
o sistema Drousys. "

• Em diligências realizadas no âmbito do Inquérito nO 4267/DF1"


o conhecimento sobre essas operações foi aprofundado, importando grande
proveito ao presente inquérito. Verificou-se que a ODEBRECHT, por seu "Setor
de Operações Estruturadas", valia-se dos serviços da empresa HOYA
CORRETORA DE VALORES E CÂMBIO para consumar a maior parte dos
pagamentos de propina, ou seja, para fazer com que o dinheiro chegasse às
mãos dos destinatários. A HOYA, a seu turno, dispunha, basicamente, de dois
braços operacionais: a empresa TV TRANSNACIONAL TRANSPORTE DE
VALORES SEGURANÇA E VIGILÂNCIA LTOA, para as entregas realizadas
em São Paulo, e a empresa TRANSEXPERT VIGILÂNCIA E TRANSPORTE
DE VALORES, para operações efetuadas no Rio de Janeiro .

• ,,
, .
SÃO PAULO

TRANSNACIONAL
ODEBRECHT
(ÁLVARO NOVIS)
"'.
, ---,
RIO DE JANEIRO
~Dd~
I C===:CI

TRANSEXPERT

Esclarecimentos a esse respeito advieram, incialmente, de


ÁLVARO NOVIS, responsável pela HOYA CORRETOA DE VALORES E
CÂMBIO. Em depoimento de fls. 997/1000, NOVIS, após narrar como se deu o
ingresso de sua empresa nesse contexto, mencionou ter realizado grande parte

H Com decisão de ccmpartilhamenlo de provas accslada às fls. 961/964.

7
l'Sol

das entregas de dinheiro em espécie no interesse da ODEBRECHT, mormente


nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, ressalvando que outros "doleiros"
também atendiam às demandas da construtora.

Acerca da dinâmica das operações, trouxe o seguinte relato:

"QUE as operações da ODEBRECHT se desenrolavam basicamente pelo


sistema DROUSYS, ao qual o declarante acessava sob o codinome 'VINHO',
sendo que, no mais das vezes, as ordens eram geradas por MARIA LÚCIA
TAVARES, codinome 'TULfA'; QUE o declarante realizava as operações, que

• consistiam no recebimento de valores na transportadora TRANSEXPERT, no


Rio de Janeiro, ou na TRANSNACIONAL, em São Paulo, e realizava a
entrega de dinheiro em espécie em locais determinados; QUE a ordem final
para a efetivação dos pagamentos era dada ao declarante por FERNANDO
MIGLfACCIO, também via Drousys, sob o codinome WATERLOO'; QUE,
realizadas as operações, o declarante consolidava os resultados em um
relatório e o enviava via Drousys para MARIA LÚCIA TAVARES e
FERNANDO MIGLfACCIO; QUE, no geral, o ajuste de detalhes acerca das
entregas era feito com MARIA LÚCIA TAVARES, mas, em alguns casos,
quando havia algo especifico a atentar, era FERNANDO MIGLfACCIO quem
entrava em contato; QUE os dados disponibilizados ao declarante para a
realização das entregas eram 'endereço' e 'senha', não havendo qualquer
informação a respeito do beneficiário dos valores; QUE esses dados eram
transmitidos à transportadora TRANSEXPERT via Drousys, pois foi
franqueado acesso ao pessoal da empresa, sob o codinome 'CHOCOLA TE';


QUE, por algum tempo, a TRANSEXPERT operou sem acesso ao Drousys,
época em que o declarante encaminhava a partir de mensagens em papel à
transportadora, contendo os dados necessários às entregas (endereço e
senha); QUE apenas acidentalmente o declarante tomou conhecimento de
alguns destinatários de valores da ODEBRECHT, como foi o caso de JOÃO
SANTANA. em São Paulo, e de JORGE PICCIANI e PAULO MELLO, no Rio
de Janeiro; QUE as entregas realizadas em São Paulo contaram com a
atuação da TRANSNACIONAL em cerca de 100%, havendo casos em que
ROGÉRIO MARTINS, pessoa de confiança do declarante, participava das
operações".

Como pontuado acima, em regra, as operações que envolviam


entregas de valores em espécie eram confiadas pela ODEBRECHT à HOYA
CORRETORA, que se valia das empresas TRANSNACIONAL ou
TRANSEXPERT, a depender do local a ser levado o dinheiro.

Excepcionalmente, porém, quando os endereços de destino


escapavam ao eixo Rio de Janeiro-São Paulo, as operações eram direcionadas

8
l~o2.

ao doleiro CLAUDIO FERNANDO BARBOZA DE SOUZA, conhecido como


"TONY" ou "PETER", segundo os seus próprios termos (fls. 877/888):

'QUE, questionado acerca da dinâmica de funcionamento dos negócios do


declarante com a ODEBRECHT, esclarece que, em 2010, recebeu a
orientação de abastecer ÁL VARO NOVIS com reais, disponibilizando
dinheiro às empresas de transporte de valores TRANSNACIONAL, em São
Paulo, e TRANSEXPERT, no Rio de Janeiro; QUE, além disso, o
declarante era demandado a fazer entregas diretas em locais não
situados nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo: QUE ÁLVARO

• NOV/S não realizava essas operações para a ODEBRECHT: QUE, para


executar essas operações fora do eixo RIO-SÃO PAULO, o declarante
se valia da TRANSEXPERT ou de outro doleiro com quem atuava em
parceriai QUE essa possibilidade de usar outro doleiro evitava o transporte
físico dos valores, sendo, portanto, a alternativa preferida do declarante;
QUE, muitas vezes, dependendo da operação, esses doleiros parceiros não
dispunham de reais em quantidade suficiente, o que era um complicador;
QUE a conta mantida entre o declarante e a ODEBRECHT era denominada
'TUTA', esclarecendo que havia alguns detalhes que indicavam
particularidades das operações, como, por exemplo, 'TUTADHRJ' (operações
com dinheiro no Rio de Janeiro), 'TUTADHSP' (operações com dinheiro em
São Paulo), 'TUTA.N', que indicava a realização de operações com dólares
em espécie;"

Uma vez esclarecido como se processavam genericamente as


operações que envolviam entregas de dinheiro em espécie, passa-se aos fatos

• especificos.

2.2) DOS Ri 4,000,000,00 (QUATRO MILHÕES DE REAIS)


SOLICITADOS PELO MINISTRO MOREIRA FRANCO:

De inicio, cumpre apresentar algumas informações sobre a


ação governamental de conceder à iniciativa privada a gestão e exploração de
alguns aeroportos, eis que em tal contexto se desenrolam os fatos em foco.
Pelo leilão n° 02/2011, a Agência Nacional da Aviação Civil
(ANAC) procedeu à concessão para "ampliação, manutenção e exploração"
dos aeroportos internacionais Governador ANDRÉ FRANCO MONTORO, em
Guarulhos/SP, VIRACOPOS, em Campinas/SP, e Presidente JUCELlNO
KUBISCHEK, em Brasilia/DF, sagrando-se vencedores, respectivamente, os

9
consórcios INVEPAR, AEROPORTOS BRASIL e INFRAMÉRICA
AEROPORTOS. A ODEBRECHT não logrou êxito em suas pretensões.
Na segunda rodada de concessões, conduzida pela ANAC
através do edital 01/2013, foram leiloados os aeroportos internacionais do Rio
de Janeiro/Galeão e Tancredo Neves/Confins. O consórcio AEROPORTOS DO
FUTURO, composto pela ODEBRECHT TRANSPORT AEROPORTOS S/A
(60%) e pela Excelente B. V (40%) foi o arrematante do Aeroporto do Galeão,
com o valor de R$ 19 bilhões. Em 24/01/2014, foi publicado o resultado e, em
02/04/2014, houve a assinatura do contrato.
Segundo as informações fornecidas pelos citados
colaboradores, a solicitação de valores dirigida pelo Ministro MOREIRA
FRANCO à ODEBRECHT teria se dado, justamente, após a confirmação da
empresa como concessionària de serviços públicos, exercendo a liderança do
supradito consórcio.

PAULO HENYAN YUE CESENA, Presidente da ODEBRECHT


TRANSPORT, às fls. 321/323, assegurou que, em face do programa de
concessão de aeroportos, participou de algumas reuniões com MOREIRA
FRANCO, sem perceber qualquer solicitação de valores, mesmo de forma sutil,
por parte dele. Afirmou, porém, que, em reunião com BENEDICTO JÚNIOR,

• Presidente da ODEBRECHT INFRAESTRUTURA, foi informado de que o


pagamento de R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais) já havia sido
autorizado, atendendo à solicitacão de CLÁUDIO MELO FILHO:

"QUE no primeiro semestre de 2014, em uma reunião corriqueira com


BENEDICTO JUNIOR, este lhe comunicou que CLAUDIO ligou dizendo que
havia uma solicitação de Moreira Franco; QUE BENEDICTO disse que já
tinha autorizado o pagamento, pois se tratava de um arrecadador do PMDB,
e que iria alocar a despesa no centro de custos do declarante; QUE
compreendeu, embora ninguém tenha lhe dito isso, que se tratava de
uma contrapartida em razão de alguma atuacão de Moreira Franco
relacionada com a concessão do Galeão; QUE ele acrescentou que já
tinha repassado a autorização para HILBERTO; QUE dessa forma,
compreendeu gue se tratava de pagamento com dinheiro de caixa dois".(sem
grifo no original)

IOf
No tocante à operacionalização dos pagamentos, PAULO
CESENA complementou nos seguintes termos:

"QUE PAULO QUARESMA, funcionário da TRANSPORT, que já havia


trabalhado com BENEDICTO JUNIOR, ficou designado para atender as
demandas internas relacionadas com o pagamento desses valores; QUE
avisou a PAULO QUARESMA a respeito da alocação de 4 milhões de reais
para o codinome PRIMO; QUE PAULO QUARESMA não foi informado sobre
qual o agente político seria PRIMO; QUE foi PAULO QUARESMA que tomou


todas as providências para a operacionalização interna dos pagamentos, no
entanto o declarante não tem conhecimento de nenhum detalhe sobre como
isso ocorreu; QUE havia uma praxe no sentido de enviar e-mail para
HILBERTO, receber informações sobre data de pagamento e senha, mas
que em momento algum tratou desses assuntos com PAULO QUARESMA;
QUE não recebeu nenhuma demanda de PAULO QUARESMA envolvendo o
assunto do pagamento dos 4 milhões a Moreira Franco; QUE PAULO
QUARESMA tratava diretamente com BENEDICTO; QUE foi o próprio
BENEDICTO que comentou ter tratado do assunto com PAUL O
QUARESMA; QUE questionado sobre a participação de ELISEU PADILHA
nos fatos, diz que na época não tomou conhecimento do envolvimento dele;
QUE somente depois que as colaborações se tomaram públicas é que
pesquisou no google o endereço da Rua Siqueira Campos, um dos locais de
entrega do dinheiro, e soube que se tratava de um local ligado a ELISEU
PADILHA".(fls.321/323)

• CLÁUDIO MELO FILHO, Diretor de Relações Institucionais da


ODEBRECHT, às fls. 310/314, disse que, a pedidO de PAULO CESENA,
agendou duas reuniões com o Min. MOREIRA FRANCO destinadas a discutir
questões que envolviam a concessão do Aeroporto do Galeão, cujo leilão havia
sido vencido pela ODEBRECHT e, em uma delas, o Min. MOREIRA FRANCO
dirigiu solicitação de valores a PAULO CESENA, de modo sutil, em termos
aproximados "espero contar com o apoio de vocês na campanha de 2014".
No que se refere à parte operacional, CLÁUDIO MELO FILHO
trouxe detalhes acerca da participação de ELlSEU PADILHA:

"QUE embora não esteja entre suas atribuições, nesse caso específico,
acabou tendo alguma atuação em razão de ter recebido um telefonema de
Eliseu Padilha; QUE Eliseu Padilha pediu uma reunião com o declarante;
QUE questionado se Eliseu Padilha ligou para o telefone pessoal do

11
\~oS

declarante, diz que foi a secretária dele que agendou com a secretária do
declarante; QUE foi ao encontro de Eliseu Padilha no Instituto Ulisses
Guimarães; QUE Eliseu Padilha pediu que o declarante 'visse' para ele algo
relacionado com uma espécie de promessa, conforme conotação dada pelo
próprio Eliseu Padilha, que Paulo Cesena teria feito ao 'Moreira', que é como
ele se referia ao Moreira Franco; QUE a promessa era de doação para a
campanha eleitoral do PMDB em 2014; QUE não sabe dizer se Paulo
Cesena fez algum tipo de promessa a Moreira Franco, porém na
oportunidade em que Moreira Franco solicitou o apoio, conforme mencionou,
não houve qualquer promessa por parte de Paulo Cesana; QUE repassou a

• demanda de Eliseu Padilha inicialmente para Benedicto Junior e num


segundo momento a Paulo Cesena; QUE Benedicto comentou com o
declarante que não haveria jeito de não contribuir, teriam que fazer
alguma contribuição dada a importância dos envolvidos, Eliseu Padilha
e Moreira Franco; QUE depois não tomou mais conhecimento dos fatos e
não teve qualquer participação no processo que levou ao pagamento dos
valores".

BENEDICTO JÚNIOR, às fls. 111/113, confirmou ter sido


procurado por CLÁUDIO MELO FILHO para que autorizasse doação eleitoral
no valor de R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais) ao PMDB, esclarecendo
que se posicionou favoravelmente porque MOREIRA FRANCO era uma
pessoa influente. mantinha proximidade com MICHEL TEMER e estava em
posicão estratégica aos interesses da ODEBRECHT, eis que, na época,


desenrolava-se a concessão do Aeroporto Internacional do Galeão/RJ .

E, sobre as questões operacionais, acrescentou:


"que o Executivo da empresa OTP que foi avisado de que a empresa iria
receber este débito era PAULO HENYAN CESENA QUE; o Codinome
'PRIMO' se refere a MOREIRA FRANCO QUE; havia um outro Codinome,
'ANGORA', mas que neste pagamento especifico não foi utilizado QUE; os
R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais) foram pagos com o Codinome
'PRIMO' QUE; com relação à operacionalização dos pagamentos, o
declarante informa que havia uma pessoa que alinhada ao declarante,
chamada PAULO QUARESMA, o qual foi orientado que receberia demanda
de JOSÉ CARVALHO FILHO, que era alinhado ao CLÁUDIO DE MELO
FILHO, para essas questões".
I~Ob

MARCELO BAHIA ODEBRECHT, Presidente da Holding,


quando questionado sobre o significado do codinome "PRIMO", afirma que foi
atribuido a MOREIRA FRANCO em razão do suposto parentesco com
CLAUDIO MELO FILHO (fls. 889/893).

PAULO HENRIQUE QUARESMA, intimado a prestar


esclarecimentos, manifestou o interesse de manter-se em silêncio, mediante a
justificativa de que aguarda a homologação de adesão a acordo de leniência

• que tramita na 13" Vara Federal de Curitiba/PR (fi. 1081).

E, por fim, JOSÉ DE CARVALHO FILHO, Diretor de Relações


Institucionais da ODEBRECHT, trouxe detalhes sobre os ajustes que lhe coube
estabelecer com ELlSEU PADILHA (fls. 304/308):

"QUE recebeu uma SOlicitação de Benedicto Junior para informar a Eliseu


Padilha no sentido de que havia uma disponibilização de doação de 4
milhões; QUE foi o declarante, pessoalmente, que fez a comunicação a
Eliseu Padilha; QUE explica que, além das duas situações ocorridas em
2014, teve outra situação envolvendo pagamento de verbas de caixa dois a
Eliseu Padilha, contudo se trata de fato ocorrido por volta do ano de 2000;
QUE a primeira situação de 2014, ocorrida por volta do mês de março.
está relacionada com o pedido de Benedicto Junior. e segunda
situação. ocorrida em agosto ou setembro também de 2014. está

• relacionado com um jantar no Palácio do Jaburu; QUE questionado a


respeito da primeira situação do ano de 2014, sobre onde ocorreu o encontro
em que transmitiu a informação passada por Benedicto Junior, diz que foi no
Instituto Ulisses Guimarães, o qual funciona no anexo I da Câmara dos
Deputados; QUE foi sozinho encontrar com Eliseu Padilha; QUE não se
recorda exatamente como se deu o agendamento do encontro, mas
provavelmente fez pessoalmente uma ligação a ele, pois possuía seu
telefone pessoal, ou então o agendamento foi feito através da secretária dele;
QUE já apresentou ao MPF os registros das ligações feitas a partir do seu
terminal telefônico, que é o mesmo que utiliza nos dias de hoje e que foi
informado neste termo; QUE além do telefone celular, também utilizava o
telefone fixo da empresa (61) 3316-2654; QUE não se recorda de nenhum
fato extraordinário relacionado com esse encontro; QUE nesse caso
específico. se recorda que Eliseu Padilha repassou o endereço onde deveria
ser entregue o dinheiro e que o declarante o repassou a Benedicto Junior,
que operacionalizou os pagamentos; QUE não se recorda dos endereços
fornecidos por Eliseu Padilha; QUE obteve alguns endereços que estavam
registrados no sistema Drousys; QUE não foi o declarante que atribuiu o

13
apelido PRIMO a Eliseu Padilha; QUE identificou os pagamentos feffos a
Eliseu Padilha, relacionados com o fato que está relatando, através das datas
de pagamento e também pelo fato de suas iniciais, JCF, constarem no
campo observação das planilhas; QUE no sistema Drousys localizou o
seguinte endereço: Rua Siqueira Campos, 1184, Centro, 128 andar,
observação 'entregar ao Lucian', sendo que a palavra Lucian está cortado;
QUE não localizaram registros de outros endereço".

Os Ministros MOREIRA FRANCO, às fls. 137/138, e ELlSEU

• PADILHA, às fls. 103 e 108, lançaram mão do direito ao silêncio quando


chamados a prestar esclarecimentos.

Diante dessas informações basais, coube escrutinar os


pagamentos propriamente ditos, buscando reunir, sobretudo, eventuais
registros materiais que as operações financeiras clandestinas possam ter
produzido.

Quanto a isso, é oportuno frisar que executivos da


ODEBRECHT ofertaram dados extraídos de sistemas de contabilidade paralela
da empresa 12 (fI. 62), indicando que valores teriam sido levados à Rua Siqueira
Campos, 1184, Centro, 12° andar.


....!,v~,I:JDõp::, SlFl.flnhl.-JN!:I-1I =' ~Q~ HI,Q,..~"~""'::'~f;,~IN .C'~;...:..~ "l(""~W:~"':j "'.!!?. f:m ~~l"" "2.-
ImSnúx .
t

"Segundo informações constantes no processo n° 5019727·95.2016.404.7000, autuado na 13' Vara Federal de


Cuntiba, o "Setor de Operações Estruturadas" da ODEBRECHT12 fora usado pelo grupo empresanal enlre 2006 e
2015, com o propósito especifico de operacionalizar e coordenar os pagamentos de propina, tanto no Brasil como
no exterior. Para tania, contava com funcionários alocados para essa finalidade, que utilizavam ferramentas
informatizadas (sistema Drousys) para comunicação exclusiva entre eles e com os operadores financeiros (doleiras
e controladores de contas no exterior) e um sistema por meio do qual eram geradas e alimentadas planilhas
destinadas a organizar e controlar os pagamentos de vantagens indevidas ('MyWebDay").

14
A esse apontamento soma-se o subsequente, que dá conta do
pagamento de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais) atrelado ao
contato "PAULO HENRIQUE", em presumível alusão a PAULO HENRIQUE
QUARESMA, funcionário que PAULO CESENA teria encarregado de
providenciar os pagamentos.

• Em que pese a aparente autenticidade das planilhas, fez-se


indispensável a aferição desse aspecto no âmbito pericial, providência
requerida pelos expedientes de fls. 676 e 677.

Em resposta, veio aos autos o Laudo nO 631/2018 (fls. 695/721)


compilando resultados de pesquisas realizadas nos sistemas Drousys e
MyWebDay. No que concerne ao caso em tela, ou seja, ao pagamento dos R$
4.000.000,00 (quatro milhões de reais) solicitados pelo Min. MOREIRA
FRANCO, a análise pericial trouxe acréscimos importantes, indicando a
realização de pagamentos em três etapas, todos atrelados ao codinome
"PRIMO". As duas primeiras têm os dados estratificados no recorte abaixo:

• -.labela ~ Resumo dos


L
I··
'~~
::ttrcl<ulos ao codinolllc Primo.
. POR .(17A~4) . I

ENTREGAR NA RUA
SIQUEIRA
CAMP05,1184.
os AEROPORTOS
C.14.415-
PRIMO 1.067.000,00 1.062.000,00 Sardinh<'l lUTAR o CENTRO - 12,
OTP 396833 ANDAR, AO
LUCIANO PAVÃO
(500 DIA 14/3 ·562
11W..
..::.
IR~

os AEROPORTOS
C.14.418-
PRIMO 1.438,000,00 1.438.000,00 Águia
I "",uon", PAULO
OTP
O
396837
I no "'. ".,

15
Resumidamente, os R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais)
teriam sido fracionados em três partes:

VALOR SENHA
R$ 1.062.000,00 "sardinha"
R$ 1.438.000,00 'águia"
R$ 1.500.000,00 'tucano"

• Esses dados de saida - agora


fidedignidade atestadas em análise pericial - na medida em que explorados,
produziram relevantes desdobramentos, que passam a ser expostos de forma
com autenticidade e

individualizada, conforme esclarecido no enunciado.

2.2.1) Entrega de R$ 1.062.000,00 (um milhão e sessenta e


dois mil reais):

Os dados relacionados à operação, contidos no quadro abaixo,


permitiram dedicada análise:

PROGRAMAÇAO SEMANAL POR CIDADE (17 A 21.03.2014t J


, ,. .. ,, , " . . .
..
PQA


.0$
ENTREGAR NA RUA
SIQlIEIRA
CAMPOS.1184·
DS C.14.<115- CENTRO· ]2.
AEROPORTOS PRIMO 1.062.000,00 1.062.000,00 Sardinha TUTAR O
OTP 396833 ANDAR, AO
lUCIANO PAVÃO
/500 DIA 11'1/3 • S62
19/3

Veja-se, inicialmente, que tal pagamento teria se dado no


endereço "Rua Siqueira Campos, 1184, Centro, 12° andar", no qual se situa
o escritório mantido pelo Ministro ELlSEU PADILHA, em Porto Alegre,
segundo indicam a Informação de fls. 105/106. Informacão nO 342/2018 (fls.
129/152. AC 4382) e Informação nO 450 - DELECOR/DRCOR/SR/PF/RS (fls.
1103/1124).

MARIA LÚCIA TAVARES, ex-funcionária da ODEBRECHT,


que atuou intensamente no Setor de Operações Estruturadas, ao ser
questionada sobre apontamentos constantes no quadro acima, aduziu, às fls.

16
678/680, que a conta "TUTAR" é referência ao doleiro de codinome "TUTA",
sendo a letra "R" apenas a indicação da moeda Real. Além disso, MARIA
LÚCIA confirmou ter realizado operações no interesse do codinome "PRIMO",
sem, no entanto, conhecer a verdadeira identidade desse destinatário.

Como já visto, CLAUDIO FERNANDO BARBOZA DE SOUZA,


o "TONY", responsável pela conta "TUTA" ou "TUTAR", era incumbido de
operações realizadas fora do Rio de Janeiro e São Paulo no interesse da

•• ODEBRECHT.

Instado a esclarecer essas operações específicas,


supostamente ocorridas em Porto Alegre, aduziu o quanto segue (fls. 877/888):

"QUE, questionado especificamente se participou de operação envolvendo o


valor de R$ 1.062.000,00 (um milhão e sessenta e dois mil reais) realizada
em Porto Alegre, em março de 2014, a pedido da ODEBRECHT, afirma que
sim; QUE apresenta, neste ato, cópia de extratos contidos no sistema de
controle que o declarante possui sobre suas operações (apreendido no
acordo de colaboração firmado com o Ministério Público Federa no Rio de
Janeiro), que certificam o envio a Paria Alegre de R$ 500.000,00 (quinhentos
mil reais), em 14/0312014, e de R$ 562.000,00 (quinhentos e sessenta e dois
mil reais), em 19/03/2014, a pedida da ODEBRECHT; QUE o sistema do qual
provêm tais documentos é denominado 'sr, e contém todas as operações
de 2011 até a prisão do declarante, ocorrida em março de 2017; QUE, na

• 'folha 1', o declarante comprova a operação com a ODEBRECHT no valor de


R$ 1.062.000,00, correspondente a U$ 496.261,68; QUE, na 'folha 2', há a
comprovação de que os valores negociados foram encaminhados à conta
TUTADH' (operações em dinheiro); QUE, na 'folha 3', constam os dados de
liquidação, ou seja, a transferência dos valores para a conta TUTARS', além
de dados como datas, valores e senhas; QUE o declarante não arquivava os
endereços por motivos de 'segurança da informação'; QUE ambas as
operações foram efetivadas pelo pessoal da TRANSEXPERT, a qual figura
nos documentos ora apresentados como 'CUSEXPEINS', que significa
'custódia na TRANSEXPERr; QUE, na 'folha4', consta o abatimento dos R$
1.062.000,00 do saldo que o declarante mantinha com a TRANSEXPERT,
seguido da inscrição TUTARS'; QUE a primeira operação foi realizada com o
uso da senha 'feijão campeiro' e a segunda com a senha 'feijão preto'; QUE,
na operação especifica, o pessoal da TRANSEXPERT não necessffou
comparecer no escmório do declarante antes de viajar a Porto Alegre, pois
dispunha de saldo do declarante, que foi abatido, segundo demonstra o
extrato da 'folha'; QUE o declarante, mesmo não dispondo de detalhes, tem
conhecimento de que a TRANSEXPERT transportou os valores por via

17
rodoviária, em carros blindados, com placas aleatórias, tal como fazia em
todas as operações realizadas no interesse do declarante fora do Rio de
Janeiro; QUE não houve qualquer peculiaridade dessa operação que tenha
chamado a atenção do declarante, tratando-se de entrega convencional e
rotineira; QUE a TRANSEXPERT já havia realizado entregas de valores em
Porto Alegre, mas acredffa que, no total, as operações não ultrapassaram os
R$ 3 milhões, o que representava pouco diante do todo".

OOl-RJ

••
~Arta-f.ira; 16 d. nOV*mbro d. 2016

eon u.: TUTA Periodo: 13/03/2014 a 31/03/2014


DATA UPO VALOR SALDO CREOlTOS DIA OESITOS DIA

~ . 00
.13;03/:31~ Ir ~$ - -,~ ~-

C'
- I

13/(13/:=!~ I:·~:n.~'ta CC. ,:'0('.8::>


:3/:.'/::14 Ir F:~

"folha 1" - recorte

OOl-RJ ut'RATO - REAL


~ta-f.ir., ld do no~ro ~ 2016 P.lI.'íJ.: 0001/0001

Conu; 'I'O'l'AOH 1'.1'1.0<10: 13/03/2014 a 13/03/2014


DATA 'l'IPO VALOR SALDO CREDI'l'OS DIA DI!lBI'l'OS DIA

1~/O:12014 S;'.L:>O ;"llTEI<':O?. 1,E80,6~O.51


13/02/2014 Ir f'.S l,OO(J,OvO.,J,) Z,6BO,6~O.5L de TUi" (20J FO.:" - SE:'Hi>. FEIJilO r::a-lpE:p,C
1~!03i2C:4 Tr P.S -1.000,00).(0,) 1,f,~O,6:0.51 rJ/ TUT':'.F:S ~201 f'O" - S:;NHJ.. FEn.:}) Ç_~.HEIP.O
13/0::/21)~4 ;1 F'.$ 62,0(0 O) 1,742,610.~1 de TIJ:'.~. [23j PO.',. - '" J"O CAll ~_.
13/03f20j4 Tr ES -(2,.'j'-O.fl'l 1,(,80,610.':>, r,1 T{)T.L.l'.s :23J PO_~. SENt,;.. FEI,id) ("'~.t1PEI?O
1.'./0312014 Si'-.DO FIN.~.L. 1,6~0,6:0.S1 1.0G2,OCO.O~ -1,DG2,OOO.O

"folha 2' - recorte


001-RJ UTM'1'O - RZAL
arQ-:teira, 1tS do novembro elo 20115 Faq.· 0001/0001

conQ: '1'lJ'rAES Per1odo: 13/03/2014 .. 31/03/2014


DATA TIPO VALOR SALDO OEDI1'CIS DIA DMITOS DIA

13/0
,o31Z01~ 11' ?.) :., 000, ~.r)r). 00 1.000,0<;10.00 do TU:'l,DH :20[ roA - .:',ENH.L. rEIJAO <:~rEr?.C>
'l. '1)3120H TI' P.S ';2,000.00 1.0(2,000.00.-:1;;0 TUTM'H [23J 1'0" - SENH,~. FE1J;'.G r;;'.Mf:;:I?(l
13 '.' ~. _ _ .. 1 ')t"2 0'.l0.0!.1 :l~ '(r'l

1~/U~~/201~ S.~.L:o/) i'.::r::?-:O?. 1,O~2,OUO.UU


1~/03120:~ TI' R$ -500,003.30 5E.<..000.00 r.·1 <::reE::-:rEiN3 [2JJ r.'-.p.ro: s::t<H':" FEiJ;"O C;'.I~f'E!RO
H/03120:~ SAL::>/) Fm.'-.~ •...••••••••.. 5(<:,000,00 3.)1) -SJO,rJQrJ.O"

103/:<OH S;',Lr;U i'.~rEk!0?. ~,(2,(")0.00


/03/20:-' TI ?,S -50:2, ,;OC. 00 (0.(00 ~J ~l'SEXrEmS [2?] P?-.P.íE sE:.;:!.:' ~IJ;"O f'R.ETO
103/20:.4 $.:'.LrO frl;.".l.., . . . . . . 0.00 •.... 00 -5E2,OOC·.J-J

"folha 3" - recorte

18
GI-RJ EXTRATO - PJ:.A1,
arta-telra. 16 de nove:lr.bro de 2016 f'a9.: 0001/0002

Conta: CUSUP'EINS Feriodo: lJ/03nOlf oi! 3110312014


DATA TIPO VAI.Q;l, $AWO CPLDlTOS DIA DUITOS DIA

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"folha 4" - recortes

Face ao advento das senhas "feijão campeiro" e "feijão preto",


buscou-se junto à perícia a obtenção de dados complementares porventura
existentes nos sistemas Drousys e MyWebDay (fls. 934/935). Em resposta, foi
elaborado o Laudo nO 1479/2018-SETEC/RS/PF/PR (fls. 1006/1015), que, a par
de conter anotações que corroboram os documentos fornecidos pelo doleiro

• CLAUDIO FERNANDO BARBOZA DE SOUZA - conferindo-lhes credibilidade -


destaca a coincidência com o valor inicialmente atrelado à senha "sardinha".

19
li!.:}.!. Ft?Uáo (·Ol/ll'eil'O

Encolltrou-se um arqui\ (l de cxlcns<1o Ix1. chamado ··Iflflldll 1'.\.1.\1·'. cujo


COllh:udo (. sCIlll:lhalllC a um c(llllroll: Iill<lllcciro. tipo c.'lral0 bancário. que ahrangc () período
lI!: 13.'02.'2014 a O].'1J4.'2014. :'\la dala de 13.103/2014, hô rckl'{'Ill:ias iI exprcssüo ·'FEI.IAO
CAMPEIR()", c(lllfonnc P()(!c ser verifiL:ado 11;1 Figur;1 I.

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fi,gUr<l I - Trechos de arquiv\) de cxtCl1S;ln no qual consl;ll11 rc!(,:rênciíls
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tlllinw I1l\)dilkll~·iin: 12,n5;~o14 21:.~o:nn IJTC

Os valore~ registrados 11a ihtstra(,:.io da Figura I siio compatíveIS com ()


J1l[)nlant~ (s~nhil sardinha) que.' consta da Tah~la .2 do Laudo N" 063 1/201 X-S ETEC/PF/PR.

As evidências acima indicam, com exatidão, ter havido o


encaminhamento a Porto Alegre de duas quantias, em datas distintas: R$


500.000,00 (quinhentos mil reais), em 14/03/2014, e R$ 562.000,00
(quinhentos e sessenta e dois mil reais), em 19/03/2014, ambas pela estrutura
operacional da empresa TRANSEXPERT, sediada no Rio de Janeiro.

o passo seguinte, portanto, consistiu na identificação das


pessoas vinculadas à citada empresa de transporte de valores que foram
incumbidas de conduzir o numerário até a capital gaúcha.

Nessa linha, foi colhido o depoimento de WILDES BESERRA


DE ALMEIDA, que, às fls. 921/924, assegurou ter trabalhado por dez anos na
TRANSEXPERT, realizando, dentre outras tarefas, a entrega de valores em
espécie (de forma descaracterizada), o que ocorria em regra no Rio de Janeiro,
porém, eventualmente, em outras cidades.

Questionado especificamente sobre viagens a Porto Alegre,


apresentou os seguintes esclarecimentos:

20
"QUE se recorda de ter ido a Porto Alegre, em mais de uma oportunidade,
com a finalidade de entregar valores em espécie no interesse da
TRANSEXPERT; QUE não lembra as datas, mas é bem possível que
tenha sido no ano de 2014; QUE nunca foi a Porto Alegre por outros
motivos, que não para entregar valores no interesse da TRANSEXPERT;
QUE não se recorda quanto tempo transcorreu entre uma viagem e outra,
nem das características do local ou locais em que foi fazer as entregas,
tampouco do valor, lembrando apenas que, ao menos um deles, situava-se
no Centro de Porto Alegre; QUE o papel que continha os dados das
entregas, como o endereço, o nome do contato e a senha, era devolvido para
a empresa depois da operação, não possuindo o declarante quaisquer
desses registros; QUE se recorda de ter ido a Porto Alegre em duas
oportunidades, tendo sido acompanhado por WALBER e RICARDO, irmão
de CARLOS 'ALGODÃO'; QUE o nome completo de WALBER é JOSÉ
WALBER FRANCISCO DOS SANTOS, não sabendo o nome completo de
RICARDO; QUE ninguém da TRANSEXPERT comentou quem era o
beneficiário final dessas operações; QUE as entregas fora do Rio de
Janeiro eram realizadas com veículos blindados da TRANSEXPERT, com
carros alugados e até mesmo com carros-fortes; QUE, nas entregas
realizadas em Porto Alegre, o declarante recorda-se de ter alugado veiculo
previamente na empresa Localiza, pois é cliente apenas dessa locadora;
QUE WALBER também pode ter alugado carro para alguma dessas viagens,
mas somente ele poderia esclarecer esses detalhes; QUE, salvo engano,
quando WALBER viajou com o declarante a Porto Alegre era a primeira vez
dele a trabalho naquela capital; QUE possivelmente ele tenha retornàdo,
também a serviço, a Porto Alegre, sem, no entanto, estar acompanhado do

• declarante; QUE a TRANSEXPERT possuia alguns veiculas blindados,


recordando-se dos modelos Corolla (dourado e prata), Fusion (preto) e Pólo
(prata) e New Fiesta (prata), não se recordando de qualquer das placas;
QUE, nas viagens para fora do Rio de Janeiro, o dinheiro era acondicionado
em um malote de plástico e colocado em uma mochila, sendo transportado
por equipes de duas ou três pessoas; QUE, na verdade, em nada diferiam
das operações realizadas no Rio de Janeiro, no tocante à embalagem do
dinheiro; QUE normalmente, as operações eram 'bate-volta', não
necessitando de hospedagem em hotéis; QUE, nas operações realizadas em
Porto Alegre, salvo engano, o declarante ficou hospedado em hotel numa
única oportunidade, não lembrando se na primeira ou segunda viagem,
tampouco do nome do estabelecimento; QUE possivelmente esse hotel
estava situado em local próximo ao da entrega; QUE a hospedagem
provavelmente tenha sido paga em dinheiro, pois o declarante recebia uma
quantia destinada ao custeio de despesas; QUE se recorda que a
hospedagem se fez necessária, pois o declarante e WALBER chegaram em
Porto Alegre bem antes do horário previsto para a entrega e decidiram
descansar um pouco, porque após a entrega do dinheiro iriam retomar ao Rio

21
de Janeiro; QUE, portanto, naquela oportunidade houve um considerável
intervalo entre a chegada em Porto Alegre e a entrega do dinheiro no local
determinado; QUE, para a localização do local de entrega, o declarante e
seus colegas utilizavam um aparelho de GPS que pertencia a RICARDO,
salvo engano; QUE não se recorda especificamente de ter deixado o veículo
alugado em algum estacionamento próximo ao local de entrega, mas não
descarta a possibilidade de que isso tenha ocorrido; QUE a comunicação
com os membros da equipe e com a central de operações da
TRANSEXPERT normalmente era realizada por meio de NEXTEL ou de
telefone particular".


'-' Ao ser confrontado com fotografias do endereço ao qual
supostamente os valores teriam sido endereçados, WILDES declarou não estar
apto ao reconhecimento:

"QUE, ao ser apresentadas ao as fotografias constantes na Informação nO


45012018 - DELECORlDRCORISRIPFIRS, referentes aos endereços Av.
Siqueira Campos, 1184, 12° andar, e Ceará, 447, São João, ambos em Porto
Alegre, o declarante não se vê em condições de reconhecê-Ias como sendo
dos locais em que esteve em Porto Alegre para realizar entregas de dinheiro
no interesse da TRANSEXPERT, esclarecendo que possui dificuldades em
manter o registro desse tipo de imagem, sobretudo porque os eventos
costumavam ser bem rápidos; QUE acrescenta que, não se recordando dos
locais das entregas, é bastante improvável que reconheça as pessoas que

• receberam os valores'.

Em resposta a expediente que lhe foi enviado, a empresa


LOCALIZA RENT A CAR S.A. encaminhou cópia de contratos firmados com
WILDES BESERRA DE ALMEIDA no ano de 2014, dos quais se destaca o
seguinte (fls. 1192/1195):

22
'localiza ~ Contrato de Aluguel de Carros/Proposta de Seguro N° TIJF015795
Fechado
ACTIJ-35607
ClJont.: 03911006 Wl.OES BESERRA DE ALMEIDA

Vcia.rlo: ooT9338 SoflClen:l ~ Indcm~ por CU5tos Opota<:kmail:


Grupo UtlllHclo: F. I~ Danos eo CarTO: 2'000.00
Grupo Cobrado: F - ln1ermedIariD Danos a TCt't:elros: 1000.00
Sak!alvtglnc:b Seguro; 13I03I20'415 J6 ~ Centro Ti;.oca tem: '4.121 T~: 818
RUlomol Vig6nda Seguro: 16I03I2014 12:50 Ãgerldn Centro Tijuc::II Km: 17.371 T.nque: &'8
Utltb:açlo: 2 WriIlS 21 Hem 14 Mnutos Km umlz~: 3.250
Tarifa: 000501 _OlAria Km lMfl
Krn: l./IIre
Fonn. de PagMlonto: A Vistn


Demonstrwtlvo do Valon:s: ValOr Unll~o ~ontl) (%) Onc:onto (RI) V..lor Uqutdo auantid.ca Va10rFlnal
Di',Io 118.00 118.90 ',00 536.70
Pr~ DI6no Total Ctrsco 28.00 28.00 '.00 ".00
Pr~ 0iAn0 Toem RCf 10.00 10.00 ',00 30.00
ConcSu;or Micior1III 1,00 '.00 21.00
Tetal De5ODl11Os
TlIX3de~5'"
TOTAl. GERIU.
VAlOR PAGO PelO CLieNTE
SALDO DEVtDO
.....
-107.34
2822

m,"
O,CO

Portanto, em 13/03/2014, o veículo Renault Sandero, placas


OQT- 9338, foi alugado por WILDES, às 15:36h e devolvido em 16/03/2014, às
12:50h, prevendo como condutor "RICARDO BRAGA DE CASTRO",
mencionado apenas pelo prenome no depoimento acima. Note-se que a
medição de odômetro (3,250 km) é absolutamente compatível com os
deslocamentos de ida e volta a Porto Alegre, a partir do Rio de Janeiro,

• Em atenção ao expediente de fls, 953, a Polícia Rodoviária


Federal informou o seguinte registro de tráfego envolvendo o veículo OOT-
9338 (fls. 954/956):

PLACA ÓQT.9338 (de13M3I2DU o 16103J201')


LOCAL (BR, M_fplD) I:ESTADO SENTIDO DATA .HORA OBSI

Ol BR 116, CURITIBA PR CURn1B~RXSÂOPAULO~ 15M1J2014 2034 •••

02 ~ÃO HÁ INFRAÇAONO PERIODO


1
1

--- NÃO HÁ INFRAÇÃO NO PERfooo


--- -- --
Consíderando que a distância entre a agência em que o carro
foi alugado e o endereço Rua Siqueira Campos, 1184, Centro, Porto Alegre é
de 1.568 km, com tempo de deslocamento aproximado de 19h30min '3 , é

13Conforme dados fornecidos pelo aplicativo GoogleMaps.

23
razoável concluir, tendo em conta o registro de tráfego acima, que a data da
entrega dos valores tenha sido realmente 14/03/2014, uma sexta-feira.

Sobre a segunda viagem, realizada supostamente em


19/03/2014, destinada à entrega de R$ 562.000,00, as informações provieram
de JOSÉ WALBER FRANCISCO DOS SANTOS, que trabalhou na
TRANSEXPERT por cerca de quinze anos. Às fls. 925/929, a par de relatar seu
cotidiano na empresa, apresentando informações sobre locais de entregas e


outros pormenores importantes, WALBER narrou as duas viagens realizadas a
Porto Alegre, uma delas acompanhado de WILDES DE ALMEIDA e outra de
\.I RICARDO BRAGA. Afirmou também que os veiculos utilizados eram alugados
invariavelmente na empresa LOCALIZA, aos moldes do que dissera seu
colega.

Buscando-se, junto á locadora, registros em nome de


WALBER, foi obtido o contrato abaixo, cujos dados também se mostram
absolutamente compatíveis com uma viagem realizada a partir do Rio de
Janeiro até Porto Alegre.

"localiza Imtz Contrato d. Aluguol do CarroS/Proposla do Soguro N° GIGB339173


Fochado
AAGIB·336063

• CliMltII:

Yakulo:
Grupo UtlliRdo:

Salda/Vlgtncl.~
G""", C_o,
001176531 JOSE WAlBER FRANCISCO oos SANTOS

RGtomo/Vfg6nd~: ~T~'~05:3G ~.,


UlI1lzaç.1o:
OONS169 &mdero ~
F - Interme<flano
~ ~ .
:81031201:410:31

o :IaS Z IIUa;
~ropGal!aoSetorB
'~
~Gl'IfI!!aoSetotB
Candu1or: 2925030

Danos ao Carro:
Danos. Terceiros:
Km:
km:
13.552
16.755
Km UtUludo: 3203
RICARDo BRAGA. DE
CASTRO
tndontuçlo Pot Custo. OpmIdoMII:
2000,00
1000.00
Tanqu.: 1118
Tanque: 818

Tarifa: 000501 - Oltnia Km Livre


Km: Uvrc

OemOilSb&lIvo do VIlIoros:
0i4ri&
Prm.io Dürio TQ(aI Casco
Premio Oiario Total RCF
CondulDr Addannl
V~or
99.90
28,00
10,00
7.00
Forma do P"1PII'I1orr1o: A VISta
Unltárfo Desconto (%) Dosconto (RI) Valor Uql,ll!to
99.90
28.00
10,00
-
""... 3.00
3.00
3.00
3.00
V.lor An.,
299.70
".00
30.00
21.00
TotnlOrsoon1os ·25.61
TlIQ de Aluguel 10% <fIO.91
TOTAl GERAL "50,00
VALOR PAGO PELO ClIENTE
SAl..DO DEVIDO
~. 'DíInIo~<U':'I~_RSl50,CO
....
450.00

24
\3,IB

Diante de fotografias do prédio localizado na Rua Siqueira


Campos, 1184, JOSÉ WALBER FRANCISCO DOS SANTOS afirmou não
reconhecer o local.
WILDES BESERRA DE ALMEIDA e JOSÉ WALBER
FRANCISCO DOS SANTOS foram convergentes ao afirmar que estiveram
juntos em Porto Alegre. No entanto, a conjugação dos elementos informativos
reunidos a respeito dessas viagens permite concluir que o comparecimento de
ambos, conjuntamente, na citada capital, não se deu nas operacões que

•• interessam ao presente inquérito.


Além de os contratos de locação de veículos terem consignado
RICARDO BRAGA DE CASTRO como "condutor" nas viagens realizadas nos
períodos de 13 a 16 de março de 2014 e 18 a 21 de março de 2014, os
registros de ERB do terminal telefônico utilizado por WILDES indicam a sua
presença no Rio Grande do Sul apenas em período compreendido pela
primeira viagem (fls. 1127/1129).
Logo, é possível concluir que WILDES e RICARDO se
desincumbiram da primeira remessa de valores, enquanto WALBER e
RICARDO realizaram a segunda, tal como constam nos contratos de locação,
sem prejuízo da provável hipótese de WILDES e WALBER terem viajado a
Porto Alegre em oportunidade estranha ao objeto deste inquérito.

• RICARDO BRAGA DE CASTRO é foragido da Justiça do Rio


de Janeiro, não tendo sido possível, em razão disso, sua localização e
consequente intimação para prestar esclarecimentos.

Pois bem. As evidências apresentadas até o momento


permitem concluir que os valores supostamente endereçados a ELlSEU
PADILHA foram, de fato, transportados até Porto Alegre, o que reforça
sobremaneira a narrativa inicial apresentada por executivos da ODEBRECHT.

25
A par disso, consta no sistema Drousys o nome "LUCIANO
PAVÃO", figurando como emissário para recepcionar os valores originários do
Rio de Janeiro.
Diligências voltadas à identificação de tal pessoa foram
consubstanciadas na Informação n° 342/2018 - DELECOR/DRCORlSR/PF/RS
(fls. 129/152 - AC 4382), indicando que LUCIANO CELARO BEGNI, há longa
data, mantém vínculos próximos com o Ministro ELlSEU PADILHA, inclusive
funcionais.

• JOSÉ WALBER FRANCISCO DOS SANTOS, em suas


declarações, sinaliza ter estado com a pessoa que recebeu os valores, mas o
reconhecimento por fotografia, no entanto, restou inconclusivo:

"QUE apresentada a fotografia de LUCIANO CELARO BEGNI, afirma ser


familiar a fisionomia mas não pode afirmar que foi a pessoa que recebeu
dinheiro em Porto Alegre; QUE pode ter visto a pessoa em algum trabalho
que realizou pela TRANSEXPERT, mas não sabe onde e quando"

Na Ação Cautelar 4382 foram obtidos dados telefônicos de


terminal utilizado por LUCIANO BEGNI à época, os quais permitem indicar a
sua possível localização geográfica nas datas em que teriam ocorrido as
entregas de valores em questão, conforme expõe o Relatório de Análise de

• Policia Judiciária nO 082/2018 - GINQ/STF/DICORlPF (fls. 1151/1213).


No que diz respeito ao dia 14/03/2014, as ERBs captadas pelo
celular utilizado por LUCIANO CELARO BEGNI, no período entre 9h39min e
19h10min, são compatíveis com o endereço da Rua SIQUEIRA CAMPOS,
1184, em destaque no quadro abaixo.

26
", ..
......... J . ,
~~",.,

/ o'·
....


.... • .


. ,- ...

Como antes apontado, a segunda operação ocorreu no dia


19/03/2014, data em que o terminal telefônico LUCIANO CELARO BEGNI
registrou cobertura pela ERB instalada na Av. Siqueira Campos, 1184, no
período entre 10:49h e 12:50h.

Intimado a prestar esclarecimentos, LUCIANO CELARO


BEGNI, por intermédio de seus advogados, exerceu o direito de manter-se
silente (fls. 1095/1096).

• O conjunto de informaçôes acima


peremptoriamente, que LUCIANO CELARO recebeu,
19/03/2014, os valores encaminhados pela ODEBRECHT a Porto Alegre.
não permite afirmar,
em 14/03/2014 e

Nada obstante, os diversos fatos praticados claramente em


cadeia, desde a solicitação do Ministro MOREIRA FRANCO até a chegada dos
valores ao destinatário, em Porto Alegre, com estrita dependência lógica e
conformidade cronológica, moldam circunstâncias que, forte nas disposições
do artigo 239 do Código de Processo Penal 14 , autorizam a presunção de que o
dinheiro tenha sido encaminhado no interesse do Ministro ELlSEU PADILHA e
recebido por alguém à sua ordem.

14 Art. 239. 'Considera-se indicio a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por

indução, concluir..se a existência de outra ou outras circunstâncias."

27
\?:, 2. \

Sintese gráfica do micro caso:

R$ 500.000
14/03/2014

ODEBRECHT
Eli5~U
Padilhll

• RS 562.000
19/03/2014

2.2.2) Entrega de R$ 1.438.000,00 (um milhão e


quatrocentos e trinta e oito mil reais):

As informações de origem emanaram igualmente do Laudo nO


631/2018 (fls. 695/721 l. do qual provém o seguinte excerto:

CONlATO: PAULO
OS
D HENRIQUE
OIP


QUARESMA

A análise dos fatos que permearam essas entregas exige


prévio conhecimento da dinâmica operacional de que a ODEBRECHT se valia.
especialmente no que toca à empresa TRANSNACIONAL, que, como
insistentemente frisado, ocupava-se das entregas de valores realizadas em
São Paulo/SP.

Nesse ponto, torna-se imperioso invocar, por sua importância,


as informações obtidas no bojo do Inquérito 4267'5, originadas notadamente de
esclarecimentos prestados por EDGARD AUGUSTO VENÂNCIO. Gerente de
Operações da TRANSNACIONAL.

"Decisões de compartilhamento - Pel. 56701DF. fls. 959/958 e Pel. 228t 1/2018, fls. 960/971.

28
f'
Em depoimentos colhidos no bojo do Inquérito nO 4267/16, (fls.
972/978), EDGARD descreveu as atividades que desempenhava na empresa,
abordando, inclusive, o que envolvia a entrega de valores em espécie no
interesse da HOYA CORRETORA (e de outros clientes) 16. Fora isso,
apresentou espontaneamente um "HD" contendo, dentre outros dados,
registros de comunicações via Skype estabelecidas entre as centrais
operacionais das empresas TRANSEXPERT e TRANSNACIONAL. Tal mídia
foi formalmente apreendida e submetida a exame periciaJ17 .

• Pela sistemática observada, as demandas da ODEBRECHT,


em regra, eram encaminhadas inicialmente à HOYA CORRETORA, que as
repassava à TRANSEXPERT e esta, guando se tratava de enderecos de São
Paulo, redirecionava à TRANSNACIONAL 18. Esse fluxo de informações da
TRANSEXPERT para a TRANSNACIONAL era feito pelo aplicativo Skype, via
mensagens de texto, entre os usuários "[email protected]" (Rio de

16Termo de Reinquirição de EDGARD VENÂNCIO:


'QUE, em complementação às declarações presladas em 29 de novembro de 2017, faz a entrega,
esponlaneamenle, de um HD (marca Maxlor, n' de série 5LSC4GA4, com capacidade de 80 GB) conlendo
conversas manfidas pela aplicalivo Skype relacionadas a enlregas de valores em espécie realizadas pela empresa
TRANSNACIONAL, em São Paulo!SP; QUE tal midia contém, também, planilha de controle eleborada pelo
declarante e periir das demandas que recebia da empresa TRANS-EXPERT, do Rio de Janeiro, muilas das quais no
inleresse do clienle HOYA CORRETORA DE VALORES, idenfificeda pele letra 'M', em alusão ao codinome 'MAR',
que a identificava; QUE tal planilha passou e ser preenchida pelo declarante a pariir do final do ano de 2013, salvo


engano, em razão da necessidade de registrar o andamento de cada demanda envolvendo entrega de valores, visto
que eram muftas as operações e tal controle, no ãmMo da TRANSNACIONAL, vinha sendo realizado
exclusivamente pela tesouraria: QUE, portanto, como forma de possuir um controle próprio, o declarante recebia as
demandas via Skype e transcrevia os dados nas planilhas; QUE, dessa fonma, quando era questionado acerca do
andamento de alguma entrega, o declarante tinha um acompenhamento que lhe permitia obter tal infonmação; QUE
esclarece que, em alguns casos excepcionais e urgentes. as demandas eram comunicadas ao declarante por
lelefone, sftuações essas que podem não ter sido regislredas nas planilhas de conlrole; QUE o declarente esclarece
que o preenchimento das planilhas era realizado por pessoas da equipe do declarante, seguindo orientações do
declarante; QUE o computador cujo HD o declarante faz a enlrega neste alo ficava instalado na área operacional da
TRANSNACIONAL e era usado por diversas pessoas que lá Irabalhavam, sobretudo por RICARDO CÂNDIDO,
coordenador de operaçiJes; QUE o declaranle não se recorda o nome de usuário do Skype ufilizado para
eslabelecer conversas com o pessoal da TRANS-EXPERT; QUE, do lado da TRANS-EXPERT, os conlatos eram
feftos via Skype por pessoas que lrebalhavam na lesouraria, salvo engano chamadas 'GIL' e 'JOSELAINE'; QUE o
declarante acredita que tais conversas estejam armazenadas no HD que apresenta neste ato, não sabendo se os
trabalhadores que utilizavam o computador estabeleciam conversas por Skype através de outros usuários e com
oulras finalidades'.

17Laudo Pencial n' 259812017 - INC/DITEC/PF, datado de 12 de dezembro de 2017, em que é descrito o material
apreendido como '01(um) disco rigido marca MAXTOR, modelo STM3802110A, número de sério 5LSC4GA4, com
capacidade nominal de 80 Gb' (115. 9811985).

18Em verdade, em que pese constituir pessoas juridicas dislinlas, TRANSNACIONAl e TRANSEXPERT eram
controladas pelas mesmas pessoas, aparentando ser a primeira uma espécie de sucursal da segunda.

29
Janeiro) e "gtnsaopau/o" (São Paulo) e continham diversos dados, como
endereço de entrega, senha, valor, data, etc. O usuário "gtnsaopau/o" (gerência
TRANSNACIONAL São Paulo) era utilizado pelo setor de operações
gerenciado, à época, por EDGARD AUGUSTO VENÂNCIO.

Conforme dá conta a Informação nO 058/2018, (fls. 122/128 -


AC 4382), a busca nos arquivos que contêm as ditas conversas de Skype l9 ,
tendo como critério a senha "águia", resulta em três entregas de valores,

• efetivadas sucessivamente em 19,20 e 21/03/2014, envolvendo R$ 500 mil, R$


500 mil e R$ 438 mil, respectivamente, todas no endereço Rua Juatuba, 68,
São Paulo. Seguem os diálogos:

live:gtnsaopaulo

t~~~~~~~:~~~e~gacy~qt.uo~tem>;,u~a~~~~m~
18/03/2014 1:j.araujo150S
16:39:39 @hotmail.com

~ e engenharia, sr.joão, entregar r$


15 hs, a senha é águia. é bom

OK MARCADO ENTRE 10112


il.


live:gtnsaopaulo NA ENTREGA JUATUBA PODE VERIFICAR PRA MIM

I'tve:g1nsaopaulo A PORTARIA INFORME OUE DESCONHECE

live:gtnsaopaulo

live:gtnsaopaulo

live:glnsaopaulo

live:gtnsaopaulo desconhece a senha

live:gtnsaopaulo ok pode liberar enlao né ao SR JOAO

il.
live:gtnsaopaulo Isso

live:gtnsaopaulo já passaram a senha pra ele

live:gtnsaopaulo ele ainda nao tem a senha

live:gtnsaopaulo pode liberar mesmo assim

19 Arquivo nmgJTEM-01-HO·MAXTOR-l!OGB.E01/vol_voI2/Config.Msi/15f6a4.rbf»Conversa no Skype 51·


[email protected]
19/0312014 1:j.araujo1505
live:glnsaopaulo Pode
16:35:28 , @hotmail.com
19/03/2014 1:j.araujo1505@hot
live:gtnsaopaulo valeo&apos;
16:35:32 mail.com
19/0312014 1:j.araujo1505
live:gtnsaopaulo o cliente disse q pode
16:35:38 [email protected]
19/0312014 1:j.araujo1505@hot
live:gtnsaopaulo finalizoujuatuba entregue 500mil
16:41:58 maiLcom

Resta claro que, em 19/03/2014, os "agentes" da


TRANSNACIONAL compareceram ao endereço Rua Juatuba, 68, com o
intento de entregar R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) a "JOÃO", porém,

• como este não estava no local, houve a necessidade de aguardar o seu


retorno. De salientar, também, que "JOÃO", após ter chegado ao endereço de
entrega, não dispunha da correspondente senha, sendo dispensado de
apresentá-Ia pela central de operações, posto que o "cliente" teria autorizado o
repasse dos valores mesmo sem a senha. Às 16h41min, houve mensagem
confirmando a finalização da operação, ou seja, a entrega dos valores no
local de destino.

No endereço Rua Juatuba, 68, Vila Madalena, São Paulo/SP,


situa-se a sede da empresa ARGEPLAN Arquitetura e Engenharia LIda
(mencionada expressamente no diálogo), que tem como sócio JOÃO
BAPTISTA LIMA FILHO, conhecido como "Coronel LIMA" .

Rua Jualuba, 68, Vila Madalena, São Paulo/SP20

20 htlps ://www.google.com/maps/place/R.+Jualuba. 4i8 .... +Su marezinho, +S%C3%A30+Paulo+-+SP ,-<D5441-D30/@-

23.5434998,-46.6954608 ,3a ,75y ,301.37h ,90Udala=!3m6!1 e1 !3m4! 1sYhllfUCVd

31
Na análise do episódio, é importante considerar os dados
telefônicos disponibilizados no âmbito da AC 4382, pois reforcam a hipótese de
que o dinheiro tenha sido passado às mãos de JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO.

Observe-se que os registros de ERB referentes ao terminal


telefônico n° 11.98398.8998, usado por JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO,
apontam localizações geográficas absolutamente harmônicas com o teor das

• conversas via Skype:

Naquele dia 19/03/2014, foi possivel constatar que, durante o


turno da manhã (entre 08h46min às 12h52min), tal aparelho encontrava-se em
região compatível com o endereço residencial de JOÃO BAPTISTA LIMA
FILHO (Rua Itajara, 299, ap. 211, Vila Andrade - São Paulo/SP) .

• • .~---.

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ÇI •••

"

No diálogo mantido por Skype, a ausência de "JOÃO" na


ARGEPLAN foi comunicada às 10h26min. Ou seja, diante da dificuldade de
consumar a entrega, os agentes da TRANSNACIONAL informaram à central de
operações de São Paulo que a pessoa habilitada a receber o dinheiro não
estava no local e esta, a seu turno, via Skvpe, comunicou o desencontro à

fTF4QRfKUPcw!2e0!7i13312!8i6656!4m5!3m4!1 sOx94ce57c466e0663f:Oxb92bcd40c1 06b2e9!8m2!3d-


23.5434378!4d-46.6955691

32
1~2.b

central do Rio de Janeiro, a qual tinha contato direto com a HOYA


CORRETORA, a "cliente" que havia determinado as operações.

Às 10h36min, também por Skype, a central do Rio de Janeiro


informa que o contato estava no hospital e só chegaria à ARGEPLAN às 15h.
Essa informação encontra explicação nos extratos telefônicos do terminal nO
11.98398.8998, usado por JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO, que registram
chamada de telefone cadastrado em nome da HOYA CORRETORA:

• TERMINAL ORIGEM
21935031950
TERMINAL DESTINO
11983988998
DATA/HORA
19/03/201410:25:19

Corporativo - HOYA Corretora de Valores e Câmbio


www.hoya.com.br/corporativo.html ...
[email protected],br, Tel. (21) 3503-1954. Nossos Endereços _ CEP: 20.091.904. Tel. (+5521)
3503-1950 f 3503-1999. Emarl [email protected]

Tal ligação telefõnica - assim como outras tantas - foi, à época,


gravada pela HOYA CORRETORA DE VALORES E CÂMBIO, sendo o
correspondente registro em áudio" disponibilizado por ÁLVARO NOVIS para a
instrução dos presentes autos (fls. 1264/1269).

• É oportuno esclarecer que o sistema no qual a HOYA mantém


armazenados tais registros fora objeto de apreensão nos autos do processo nO
0100523-32.2017.4.02.0000 (operação "Cadeia Velha"), em trâmite no Tribunal
Regional Federal da 2" Região, de modo que, por razões de cautela,
providenciou-se a autorização de compartilhamento de provas por parte do
Exmo. Sr. Desembargador Federal ABEL GOMES, relator daquele feito, o que
permitiu, de forma subsequente, a extração dos mesmos diálogos por Perito
Criminal Federal, nos termos da documentação acostada às fls. 1276/1283.

" Áudio '001020140319102530_TXE1 B02111983988998D00058.mp3'

33 ~
Segue a transcriçã0 22 : (CLIQUE AQUI PARA OUVIR O DIÁLOGO)

JOÃO-Alô?

EDIMAR23 - Seu João?

JOÃO - Ele mesmo.


EDIMAR - Meu pessoal tá ai ... o senhor já tá no local da ... aquela


encomenda?

JOÃO - Não! Eu tô fora. Não ... nós não falamos antes. Eu tô ai com uns
compromissos agora. Eu só vou estar lá na minha base por volta das 14:30.
Como é que o senhor vê ai? Dá pra passar às 14:30?
EDIMAR - Eu vou ver aqui e retorno. O senhor tá longe de lá, né?

JOÃO - Estou longe. Eu tô aqui pro lado de Santo Amaro, viu? E ... ai com um
compromisso que eu não posso deixar de atender, viu? Então 14:30, 15 horas
é que eu tô chegando lá na minha base.
EDIMAR - Então vou ver se consigo marcar para as 15 horas. Qualquer coisa

JOÃO - Osenhor faz o favor, me dá uma ligada, fá bom?


EDIMAR - Tá bom, tchau!

JOÃO - Obrigado!

• Pelo teor da conversa, resta inconteste que, ao ser informado


sobre a chegada da "encomenda", JOÃO BATISTA LIMA FILHO informou que
estava distante do local, solicitando que o horário fosse remarcado para as
15h, informação essa que acabou se refletindo nos diálogos mantidos via
Skype.

Considerados eventuais desajustes entre os "relógios" que


marcavam as conversas de Skype e os extratos telefônicos (em margem não
superior a alguns minutos), há outros registros que muito contribuem para o
esclarecimento dos fatos:

22Informação n' 118/2018 - fls. 1270/1275.


23Segundo a missiva de ÁLVARO NOVIS (fls. 1264/1265), EDIMAR MOREIRA DANTAS era funcionário da HOYA
CORRETORA DE VALORES E CÂMBIO.

34
\~2.8

Às 10:40h, JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO realizou chamada à


ARGEPLAN, presumivelmente para prestar algum esclarecimento sobre o que
estava ocorrendo.

TERMINAL ORIGEM TERMINAL DESTINO DATA/HORA


11983988998 1136735455 19/03/2014 10:40:37

E, às 10:47h, efetuou chamada telefônica ao terminal de nO

• 61.91230342, mantendo conversa com o interlocutor pelo tempo de 2min24s .


Tal telefone estava cadastrado na Vice-Presidência da República e tinha como
usuária a servidora NARA DE DEUS VIEIRA, que, à época, ocupava o cargo
de Chefe de Gabinete do então Vice-Presidente da República, MICHEL
TEMER. A nomeação da servidora foi publicada na edição de 05/01/2011 do
Diário Oficial da União:

.'\ rRESmv.'T.~ D." RI':Plo"-BLlC .... 1\0 1 .,riOO;,_" N"JO.NO~IE ... R


'lU" UI<" con!n~ " nrt. M. ;"";$0 )"",'Y. do C<o.",jn>io;:~ ,,,>"Ivf
EXONERAR NARA Df! DHUS \li!lRA.
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Mim~'mn <1... R<-lIç11t: E>:k:n~ 00 0'1;0 M Stttelono-C"""I d.:
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DA PRESID~Cl... DA IUWÜBLlCA.lIOltS<I do: ~,,~1~; ~
DIU.IA ROUSSEl'P
J~" F.nuam" Cr",fo;:n 1<'000~' "i:$Ift" dj~:t" n{I tIP. I" do ~<"mQ"" 4.7.U. dt 11 ""


jnnb<o de :OOJ. ="h'e

Em 17 de maio de 2016, NARA DE DEUS VIEIRA foi nomeada


Chefe do Gabinete Pessoal do Presidente da República:

GABINETE PESSOAL
DO PRESIDEl'TE DA REP(JBLlCA
DHClaTQS DE 17 DE :l\lAIO nx 2010

o \lCE-PRESIDE......"TE nA REPÚBUC A, no ('xerdcl" .10


cUFu!;l1: PRF.SIDE..~ DA REPÚBLICA, fI(\ uw da utril:JJiç30 que
lhe clmfcn' 11 nn. ~4. <1tpl\l, inciso XXV. fJn <:un~thuiçio.,. rtWh'c

NOME.U.

NARA De DEUS VIEIRA. p:1:1"3 ~~. o ~JIIl:0 de C"bt-fe do Gn·


b~t~ ~:;:oal 00 Pr~:ldem~ d.1 Ikptiblka.. ficando ~.x0llef1ld.1 do que
nm.,lUI<'llI~ OC"l1pa.

MICHEl... TEMER
E/isn Pfl(/ilhn

35
13,29

A análise das ligações efetuadas por JOÃO BAPTISTA LIMA


FILHO no periodo abrangido pela quebra de sigilo de dados (período de
01/02/2014 a 31/07/2014) acusa a realização de um único contato com o
telefone usado por NARA DE DEUS VIEIRA, o que confere caráter excepcional
à ligacão em análise, indicando, ademais, a sua relação com os valores que,
naquele momento, aportavam na ARGEPLAN, geraram o desencontro já

• descrito .

Ouvida às fls. 1092/1094, NARA DE DEUS VIEIRA confirmou


ter sido usuária do terminal 61.9123.0342 no período em que foi Chefe de
Gabinete do Vice-Presidente da República, recordando-se de ter recebido
telefonemas de JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO, amigo de MICHEL TEMER.

Seguindo-se na análise das ligações efetuadas naquele


momento, cabe destacar que, às 11 :35h, JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO
efetuou chamada com duração de 55 segundos ao termínal de n°
11.3816.3999, cadastrado na Operadora VIVO em nome de MICHEL
TEMER.

Às 11 :37h, JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO recebeu nova

• chamada da HOYA CORRETORA24, do funcionário MÁRCIO JOSÉ FREIRE


DO AMARAL25, desta vez com a finalidade de confirmar a alteração do horário
daquele dia, assim como de ajustar os horários das entregas subsequentes,
restando estabelecido o intervalo entre 12h e 13h. O diálogo é claro nesse
sentido:

" Áudio '001220140319113742_TXE1 B02111983988998D00069.mp3'

" Segundo informação de ÁLVARO NOVIS na petição de fls. 1264/1265.

36
JOÃO-Alô? (CLIQUE AQUI PARA OUVIR O DIÁLOGO)

MÁRCIO - Senhor João?

JOÃO - Ele mesmo!

MÁRCIO - Ah, sim! Bom dia!

JOÃO- Tudo bem!


MÁRCIO - Bem. Hoje então aquela reunião foi adiada, né? Vai ser entre 3 e
5 horas. Das 15 às 17.

JOÃO - Ok. Tô por lá nesse horário.

MÁRCIO - Tá. Só que nós temos 3 etapas dessa reunião, que vai ser 58 e 6"
feira. Agora, 58 e 68eu gos ... bem, eu queria ver com o senhor se pode ser entre 10 e 12 horas,
na 58 e na 68 ?

JOÃO - Veja se vocês podem me fazer isso daí às 12 horas. Eu faço de tudo
para tá às 12 horas. É possível?

MÁRCIO - De 12 ... vamo marcar então de ... é que tem sempre que dar um
espaço de tempo, de 12 até que horas, mais ou menos?

JOÃO - 12 às 13, tudo bem?

MÁRCIO-12às 13. Nos dois dias?

JOÃO-12 às 13. Nos dois dias

• MÁRCIO - Então tá combinado

JOÃO - Combinado, um abraço!

MÁRCIO - Grande abraço, até logo!

JOÃO - Outro! Tchau!

Às 11:51h, o telefone de JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO torna a


realizar chamada ao terminal de nO 11.3816.3999, cadastrado em nome de
MICHEL TEMER, e mantém a ligação por 4min e 58s.

Prosseguindo-se na abordagem da cadeia de fatos, parte-se da


premissa de que novo horário restou ajustado (entre 15h e 17h), conforme a
previsão de chegada de JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO à ARGEPLAN. Porém,

37
houve novo incidente, ocasionado pelo desconhecimento da senha vinculada à
operação, como já mencionado. Vale repisar o ponto específico:

• il.

Conforme antes esclarecido, a apresentação da senha era


requisito indispensável para o recebimento dos valores, vez que consistia
praticamente na única forma de autenticação entre entregador e recebedor.
Pelo exposto no diálogo de Skype, houve flexibilização nesse aspecto pelo
próprio "cliente", no caso, a HOYA CORRETORA, habitualmente mencionada
pelo codinome "MAR".

É de sublinhar que, no momento em que se deu o impasse

• pelo desconhecimento da senha, JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO novamente


recebeu chamada telefônica da HOYA CORRETORA26.

Como se constata pelo teor do diálogo, travado às 15:54h,


houve uma certificação sumária por parte do funcionário da HOYA, diante do
argumento de JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO de que não dispunha de um
"nome". Após isso, houve a notícia nos registros de Skype de que a operação
havia sido autorizada pelo cliente mesmo sem a apresentação da senha.
Segue a transcrição:

2S Áudio "001120140319155421_ TXE1 8021119839889981 D00031.mp3"

38
JOÃO-A/ó? (CLIQUE AQUI PARA OUVIR O DIÁLOGO)

MARCIO - João?

JOÃO- Ele

MARCIO - É o Márcio aqui. Tudo bem?

JOÃO- Tudo bem!

MARCIO - Meu pessoal tá aí com você?

JOÃO - Tá aqui. Ok e ... conforme combinamos.

• MARCIO - Ah, tá. Porque eles disseram que você não sabia o nome, né?

JOÃO - Então, não houve um nome ... só ficou nessa base do ok, .. e nada
mais, ok e ... só isso!

MARCIO - Tá. Ok! Beleza!

JOÃO - Ok, reunião confirmada, só isso!

MARCIO - Tá, murro obrigado!

JOÃO - Obrigado a você. Tchau!

MARCIO - Um abraço! Tchau!

Nesse momento 27 , o terminal de JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO


já se conectava a ERBs compatíveis com o endereço da ARGEPLAN (entre
14h03min e as 21h16min):

, • .lUIItutI.. 1II8· AROEPL.AII

" Segundo a análise apresentada no Relatório de Análise de Policia Judiciana n' 082120t 8 - GINQISTFIDICORIPF
(fls. 115111213)

39
Note-se que, na data da primeira entrega, houve a
concentração de diversas ligações. A imagem abaixo, disposta no modo "linha
do tempo", favorece a visualização:

• i
HOYA I I I •
o S5219]5031~1) 10:25:19 11:37:33
On(,)
15:54;13
o ~I (s)
071 (sl

• i t l t----.
I~
JOAO BAPTISTA UMA


o 551198J988998 10:40:37
'J 7J (s)

• i
ARGEPLAN
t I
o 551136735~SS 10:47:20
o 14f(s)
• i
NARA VIEIRA
i
ll:35:40 11:51:03

o 556I'B2lO}4] 055 ($) o 19!J(s)

• MIOIEL MlGUa ELlAS TEMER lUUA


1 t •
o 5511381619'19

Tais evidências indicam fortemente que, no episódio, os


valores foram recebidos pessoalmente por JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO, na
sede de sua empresa, a ARGEPLAN.

Tal como explicitamente combinado no diálogo mantido ás

• 11:37h do dia 19/03/2014, nova remessa foi realizada no dia seguinte, segundo
aponta o diálogo abaixo:

19/0312014 1:J.araujo1505
live:gtnsaopaul0
17:14:27 @hotmail.com

live:gtnsaopaulo
il.
live:gtnsaopaulo CONFIRMAR os HORARIOS POR FAVOR
ve se consegue agendar nesses horários

juatuba 12 e 14

20/03/2014 1:j.araujo1505
live:gtnsaopaulo
08:26:30 @hotmaiLcom

40
770Sdcb5f7426131df5f8"
timestam p="1395259790"><legacyquote>[ 19/03/20 14
17:09;501 jferreiraferreira; </Iegacyquote>1) rua juatuba, 68,
argeplan arquitetura engenharia, sr.joão, entregar r$
500.000,00. <legacyquote>&It;&lt;&It;
<lIeaacvauote><touote>
<quoteauthor="1 :[email protected]"
authomame='TRANSNAcrONAl SAO PAULO"
conversation="1 :[email protected]"
guid=" x4ee6e394 7a8d9d95483faQ94061 Oad7da9bbfcd731 a7
20/03/2014 1:j.araujo1505 a8f6dd9ed 163d6f6d5aO"
live:gtnsaopaulo
08:27:11 @holmail.com timestam p="1395260752"><legacyq uote>[ 19/03/20 14
17:25:52) TRANSNACIONAL SAO PAULO:
</Iegacyquote>juatuba 12 e 14 campinas 10 e 12 h
ibirarpuera 10 e 12h<legacyquote>&I1;&lt;&II;
<lIeo~cvauote></ouote>
20103/2014 live:gtnsaopaul 1 :j.arauj01505@hot poderia mandar pra min os clientes Por favor EX RUA


08:38:44 o mail.com JUATUBA - MAR
20/0312014 I ~~araujo1505 live:gtnsaopaulo juatuba - mar
..... 08:40:21
20/0312014
hotmail.com
Ilve:gtnsaopaul 1 :j.araujo1505@hot
JUATUBA FINALlZADO&apos;
13:25:35 o mail.com

Às 13h25min houve a confirmação de finalização da


operação, sem qualquer dado adicional.

A análise de dados telefônicos constante no Relatório de


Análise de Polícia Judiciária nO 082/2018 GINQ/STF/DICORlPF (fls.
1151/1213) indica que JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO permaneceu pelo menos
até ás 12h41 min na ARGEPLAN e, tão logo finalizada a entrega, iniciou
deslocamento em direção aos bairros Cerqueira César, Baixo Augusta, Sé e
Centro de São Paulo .

• .. .-. -
.._ ... ~o
.0 -.~" ..... o
- -oo
-''''õ'Q ~,..

. -
C[ln~o
... ~" .... ,.
_ .••.f'.t~. o


• -.
..
'''' .... 0
."

.'''''-
0':;::;:::,--
-,-

Por fim, houve a operação envolvendo os valores residuais, na


importância de R$ 438.000,00 (quatrocentos e trinta e oito mil reais), cuja

41
especificidade se amolda exatamente ao que trouxe à tona o Laudo
Pericial nO 631/2018, constituindo-se quantia complementar àquela
encaminhada ao endereço vinculado ao Ministro ELlSEU PADILHA, no valor de
R$ 1.062.000,00 (um milhão e sessenta e dois mil reais), como já visto,
totalizando R$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil reais).

A seguir, os diálogos via Skype correspondentes:

Data '~ '.',1$' "', ';A",_or,,~:, ,-~, 1\",i',:,Destlno' , j;;i,~ ~I'~;.7~':~ ~'$'~"'~;'" .k~~;· ~;{~';Çon~iído.iJ:,~: - ':( . I


"

<quoleauthor="1 :pretinhocondonga@hotmai'.com~
authomame="[email protected]"
con"ersation=~1 :[email protected]"
9uid=-x 148b12fb257057e76ba452157fdb2160af40ef39 1b1ad
b1619024d3d356b3277"
20/03/2014 1 ;j.araujo1505 ·'Q·1>1 <a
live:gtnsaopaulo timestamo:-"
16:44:49 @hotmail.com
~mailto:[email protected]">preli~1~
[email protected]</a>: </Iegacyquote>1) rua juatuba, 68,

( sr.joão, argeplan arquitetura e engenharia, entregar r$


438.000, das 12 as 13 hs<legacyquote>&It;&It;&It;
~acyquote></quote>ent~ga mar~ amanha 21.03
/' D
<quo _.' .ferreira1"
authomame-~jferreiraferrejra"
conversation="1 :[email protected]
guid="xd 1acd7a 1966901 c12f82ac1 a40f7303e6f1 eb8f428056
b
21/03/2014 1:j.araujo1505 ee9bd6e52574c1eb579
live:gtnsaopaulo
08:42:51 @hotmail.com tlmesta mp=~ 1395344427"> <legacyquole>[20/03/2014
16:40:27] jferreiraferreira: </Iegacyquote>1) rua juatuba, 68,
sr.joão, argeplan arquitetura e engenharia, entregar r$
438.000, das 12 as 13 hs<legacyquote>&It:&lt;&lt;
</legacYQuote></Quote>
21/03/2014 live:gtnsaopaul 1:j.araujo1505@hot
ME AJUDA OE NOVO
12:41 :09 mail.com
21/03/2014
°live:gtnsaopaul 1:j .araujo1505@hot
ENTREGA JUATUBA
12:41:18 o mail.com
21/03/2014 live:gtnsaopaul 1:j.araujo1505@hot
O CONTATO 50 VAI CHEGAR NO LOCAL Á5 14:30h
12:41:37 mail.com
°live:gtnsaopauf


2110312014 1:j.araujo1505@hot
tem outra peSsoa pra recebr&apos;?
12:41:52 o mail.com
21/03/2014 ~~arauj01505 live:gtnsaopaulo pode entrega pra silvia!
12:47:12 hotmail.com
<quoteauthor="1 :[email protected]"
authomame="[email protected]"
conversation=~1 :[email protected]
b

gUid=Mxfbca 3ad 1a5e542e23c6dd4e6 715b3f8c4314f76468dd


21/0312014 1:j.araujo1505 4ea8944fa953febb8459"
live:gtnsaopaulo M
12:49:12 @hotmail.com timestamp="139S416549 ><legacyquote>[12:42:29] <a
href="mailto:[email protected]>pretinhocond
[email protected]</a>: </Iegacyquote>para o sr. silva, o
teu pessoal conheçe ele<legacyquote>&lt;&lt;&It;
<llegac'jquole><lquole>
21/03/2014 1:j.araujo1505
live:gtnsaopaul0 pra entregar pro sr silva pessoal conhece ele
12:49:30 ~hotmail.com
21/0312014 live:gtnsaopaul 1:j.araujo1505@hot
OK JA ESTÃO EM CONTATO COM O MESMO&apos:
12:49:50 mail.com
°live:gtnsaopaul
21/0312014
13:00:21
°
1:j .araujo1505@hot<
mail.com
juatuba finalizado entrega 438mil ::>
Conforme destacado acima, o comando inicial da central de
operações havia sido nos termos "1) rua juatuba, 68, sr.joão, argeplan
arquitetura e engenharia, entregar r$ 438.000, das 12 as 13 hs".

42
Ocorre que, ao chegarem no local, os agentes da
TRANSNACIONAL foram informados de que JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO
somente estaria na ARGEPLAN às 14:30h.

Às 12h31min, JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO recebeu chamada


de telefone cadastrado na ARGEPLAN, ao que tudo indica para ser
comunicado da chegada do pessoal da TRANSNACIONAL. Nessa ligação, a
ERB que deu cobertura ao terminal de JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO aponta
que ele realmente estava em região distante da Rua Juatuba.

Diante do quadro, possivelmente os próprios agentes


consultaram a central sobre a possibilidade de outra pessoa da ARGEPLAN
receber o dinheiro. Tal sugestão seguiu os canais de comunicação já
mencionados e redundou em chamada telefônica efetuada pela HOYA
CORRETORA a JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO às 12:38h2B •

A partir desse diálogo é que surgiu o nome "SILVA" como


pessoa autorizada a receber os valores, com a informação adicional de que os
agentes da TRANSNACIONAL já a conheciam (presume-se que em
decorrência de eventual contato nas operações dos dias anteriores). Às
12:41h, nova ligação telefônica é realizada por JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO


à ARGEPLAN, presumivelmente para comunicar o que recém fora ajustado
com a HOYA, ou seja, que SILVA estava credenciado a receber o dinheiro.

Conforme traz a Informação nO 058/2018 (fls. 122/128 - AC


4382), JOSÉ APARECIDO DA SILVA (falecido em 29/10/2014), foi sócio da
empresa SISTEMA ESMERALDA DE COMUNICAÇÃO LTDA, juntamente com
JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO e CARLOS ALBERTO COSTA (ambos sócios
da ARGEPLAN). Em acréscimo, a Informação nO 116/2018 (fls. 1241/1260)
destaca vínculos mantidos entre JOSÉ APARECIDO DA SILVA e a
ARGEPLAN, inclusive o endereço de e-mail constante do Sistema de
Passaportes:

28o correspondente arquivo de áudio não foi localizado nos dados armazenados pela HOYA CORRETORA DE
VALORES E CÂMBIO.

43
TituloEleitor 001153900116 - Sessào: S44 . Z':·na: 327 - UF: SP
Doe. Militar 315233 - Unid::.de: MINISTF.RIO DO FXERClTO - 2~RI\.1 . L~ CS:\.1 - POEL SM
Estado Civil Casado(a)
End. Rcsldenc.lal AV PAULA FERREIRA, 89 - APTa 32 BLOCO (.. FREGUESIA 00 o - 51\0 PAULO/SP
·1 elefone 113932.2776
(E-mail siJva@al-gepla:l.com.br I
Profissoo AOMINISTRAOOR DE E.MPRESA

• Assim, como JOSÉ APARECIDO DA SILVA, conhecido como


"SILVA", era pessoa próxima a JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO, torna-se válida
a suspeita de que o tenha substituído na tarefa de receber a última parcela dos
valores encaminhados pela ODEBRECHT.

A análise dos registros de ERB correspondentes ao terminal


usado por JOSÉ APARECIDO DA SILVA (11.99629.7998) indica a sua
localização na área em que se situa a ARGEPLAN, justamente no horário
acertado para a efetivação da entrega 29 •

. \'.
\ í
",oç.,'~"
","",~'..,.
P',:\~,;;':,j r.40,"'", ""...""',,""""_
. 9


~~~~
~~~QD:J<'_"'''
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,>,,,-;,.,,,,,,,l1">li

,
.... II<;.~ ...... t
r. .... r.."'!»'\~
"
''\ l\I"""".4pr1<""A''''
~. o Q
\ \ ,
," ,

As operações acima abordadas ocorreram entre quarta-feira


(dia 19) e sexta-feira (dia 21). Na segunda-feira seguinte, dia 24/03/2014,
diante de informações aparentemente desencontradas sobre as operações,
MÁRCIO JOSÉ FREIRE DO AMARAL, funcionário da HOYA, realizou chamada

" RAPJ 082, item 1.7 (1Is.115111213)

44
a JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO, às 15:37h, a fim de confirmar a consumação
e conformidade das entregas. O teor do diálogo 30 - com transcrição
apresentada abaixo - traz claras menções à ação de "entrega", em meio à
inócua codificação, sedimentando as informações expostas ao longo deste
tópico:

JOÃO-Alô? (CLIQUE AQUI PARA OUVIR O DIÁLOGO)

MÁRCIO - João?

• JOÃO-Ele

MÁRCIO - Opa! Aqui é o Márcio. Tudo bom?

JOÃO - Tudo bem, Márcio

MÁRCIO - Eu recebi um recado aqui, sinceramente não tô entendendo, acho


que a pessoa tá se expressando mal aqui, eu não tô entendendo. É ... nós
tivemos 3 reuniões: quarta, quinta e sexta. Fiz uma na quarta, fiz na quinta, e
na sexta você ia demorar me pediu que entregasse ao Silva.

JOÃO -Isto, isto!

MÁRCIO - Então, as três reuniões foram concretizadas.

JOÃO - Tudo bem! Tem alguma previsão pra mais alguma coisa, ou não?

MÁRCIO - Ah, não! É .. não! Ainda não tem informação nenhuma. Mas

• essas 3 foi tudo certinho, né?

JOÃO- Foi.

MÁRCIO - É que o pessoal tá se expressando mal, tá fazendo uma confusão


do cacete.

JOÃO - Tudo bem, tudo bem. A última, a da sexta feira, em que foi entregue
ai ao Silva as atas, elas não foram iguais às atas anteriores, né? Ficou um
pouco abaixo.

MÁRCIO - É! Um pouquinho abaixo, o número era quebrado.

JOÃO - Tá certo, tá certo!

MÁRCIO - Tá bom?

lO Áudio '000620140324153726_TXE 1802111983988998DO0084. mp3'

45
JOÃO - Tá entendido, então!

MARCIO-Ok!

JOÃO - Eu agradeço a tua atenção!

MARCIO - Um abração, Tchau, tchau!

JOÃO - Outro. Obrigado. Um abraço! Tchau!

, Cumpre assinalar que, em 21/03/2018, data da última entrega


de valores, JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO efetuou três chamadas a telefone
vinculado ao Presidente da República MICHEL TEMER31.

No período total abrangido pela quebra do sigilo de dados


telefônicos (07/02/2014 a 30/07/2014) houve o registro de 176 (cento e
setenta e seis) eventos telefônicos32 entre ambos.

JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO, intimado a prestar


esclarecimentos, exerceu o direito de manter-se em silêncio (fls. 1003/1004).

No rol de perguntas encaminhadas ao Exmo. Sr. Presidente da


República pelo expediente de fls. 1082/1088, algumas estavam relacionadas
ao contexto em análise, as quais seguem transcritas, acompanhadas das

• respostas de Sua Excelência:

Qual a relação que Vossa Excelência mantem com JOÃO BAPTISTA LIMA
FILHO?

"Tal como é público e notório Joao Batista Lima Filho é meu conhecido
ha muitos anos. Desde quando trabalhou comigo na Secretaria de
Segurança Pública do Estado de São Paula, em 1984."

31Número 61.9288.8253 (fontes: INO 001/2017/GINO . Laudo 208/2017, AC 4044 - Equipe RJ02 - Laudo
2283/2015 e AC 4328 - Equipe SP04 - Laudo 2167/2017).

32 Considerando-se os números 61.9288.8253 (fontes: INO 001l2017/GINO - Laudo 208/2017, AC 4044 - Equipe

RJ02 - Laudo 2283/2015 e AC 4328 - Equipe SP04 - Laudo 2167/2017), 61.9238.1090 (fontes: INO
001/2017/GINO - Laudo 208/2017 e AC 4328 - Equipe SP04 - Laudo 216712017) e 61.9968.1599 (fontes: AC 4053
- Equipe DF06 - Laudo 051/2016, AC 4005 - Equipe DF11 - Laudo 222/2016 e AC 4044 - Equipe RJ02 - Laudo
2283/2015).

46
JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO já atuou, no interesse de Vossa Excelência,
na arrecadação de valores destinados a campanhas eleitorais?

"Não."

JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO recebeu algum valor em espécie destinado a


Vossa Excelência, no ano de 2014? Em caso de resposta afirmativa, qual o
motivo?

"Apesar de insultuosa a indagação, registro que não haveria nenhum


motivo para tal recebimento. "

Em acréscimo às evidências supra, buscou-se identificar os


agentes da TRANSNACIONAL que participaram das entregas ocorridas na
sede da ARGEPLAN. Nessa senda, obteve-se o depoimento de GERALDO
PEREIRA DE OLIVEIRA (fls. 153/159 - AC 4382) que, além de descrever em
detalhes como se dava a atuação da TRANSNACIONAL, confirmou ter
comparecido na sede da ARGEPLAN:

'QUE demonstrado ao depoente as fotos do imóvel localizado na Rua


Juatuba, 68, Sumarezinho, São Paulo/SP, ora constante do anexo 11 desta
carta precatória, esclarece que o local lhe é familiar, podendo afirmar que
já esteve naquele local umas duas vezes pelo menos, não sabendo dizer
se era para entregar ou recolher dinheiro; QUE esteve naquele local entre o

• final de 2014 e primeiro semes1re de 2015; QUE não se recorda da pessoa


que teria recebido o depoente naquele endereço, nem mesmo se recorda se
foi a mesma pessoa em ambas as vezes que esteve no loca/".

WILSON FRANCISCO ALVES afirmou, à fI. 1079, diante das


fotografias juntadas às fls. 1070/1071, que se recorda de ter entregado valores
no endereço da Rua Juatuba, 68, Sumarezinho, São Paulo. por diversas vezes,
sem reconhecer as pessoas constantes nas fotografias dispostas às fls.
1072/1073.
Adicionalmente, vale referir que executivos do Grupo J & F
Investimentos narraram, em seus acordos de colaboração premiada, conforme
documentos encaminhados pela Procuradoria-Geral da República, (fls.
1101/1102) que, de R$ 15.000.000,00 (quinze milhões de reais) repassados ao

47
então PMDB, de forma não oficial, R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) foram
entregues na sede da ARGEPLAN.

RICARDO SAUD, Diretor de Relações Institucionais, ao


discorrer como se deu a distribuição dos mencionados valores, afirmou ter
encaminhado R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) "conforme indicação
direta e especifica de Temer, em espécie, na Rua Juatuba número 68, Vila
Madalena, em São Paulo, na empresa Argeplan Arquitetura e Engenharia

• Ltda, que fora feito em 02.09.2014, por Florisvaldo, por determinação do


depoente".

FLORISVALDO CAETANO DE OLIVEIRA, responsável pela


entrega, também relatou sua participação no fato em questão:

'QUE em determinada oportunidade por determinação de Ricardo Saud, o


depoente entregou 1 milhão de reais no seguinte endereço: Rua Juatuba, 68,
Vila Madalena São Paulo - SP, num escritório cuja titularidade o depoente
desconhecia; QUE o escritório era conhecido como sendo de alguém ligado a
Michel Temer; QUE Ricardo Saud lhe dizia para entregar os valores nesse
endereço para o 'coronel'; QUE o depoente foi duas vezes ao local; QUE na
primeira vez, apenas conheceu e conversou com a pessoa que chamada de
'coronel' e com ele combinou a forma de entrega dos valores; QUE na
segunda vez, entregou a 'coronel" o valor de 1 milhão de reais;"

• Há, ainda, dados consubstanciados na Informação Policial nO


116 (fls. 1241/1262), apontando laços estreitos e suspeitos entre JOÃO
BAPTISTA LIMA FILHO e o atual Presidente da República, MICHEL TEMER,
com origem no conjunto de elementos reunidos no âmbito do Inquérito nO 4621,
cognominado "Inquérito dos Portos"33

A eloquência dos indícios acima colacionados torna imposítiva


a conclusão de que JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO, no interesse do Exmo. Sr.
Presidente da República, MICHEL TEMER, recebeu os valores encaminhados
pela ODEBRECHT em atenção à solicitação do Ministro MOREIRA FRANCO.

"Com decisão de compartilhamenlo à fI. 1262.

48
Sintese gráfica do microcaso:

R$ 50lJ.00lJ
19/03/2014
~~fL
ARGEPLAN ~
--+ ~bd~ -


OOEBRECHT --+ eHOYA R$50lJ.000. &f.tI
-'.':':':':'!'.:=':"=':
CI==C 20/03/2014
--+
Michel

TRANSNA(ION~ .sl Temer

~
21/0'/2014
Cel. Uma

'-_--./

2.2.3) Entrega de R$ 1.500.000,00 (um milhão e guinhentos


mil reais)
Quanto ao terceiro bloco de entregas, as informações ora
disponiveis se resumem, basicamente, aos achados do Laudo Pericial nO
631/2018.
Em suma, houve a localização de arquivo contendo a

• programação de pagamento de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil


reais) com a senha "tucano", entre 24/03/2014 e 28/03/2014, que estava
anexado à mensagem trocada entre "Tulia" (Maria Lucia Tavares) e "Waterloo"
(Fernando Migliaccio):

49
FI - ,o~, .........,""",_ . . . ~

"ouIP. Q 0><;> ""'Q~vo(~<J~'iiZ~'

, ',=:'''''''PO"~~'
!é~p."po"o~,.T<>d ••
r:l
(l,,,...
~!""., ....-I\" Rlp<d" •
R.. ,,,,, .. , f-.," '10".
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''''

• h,CUlõI IX
:::-\.O,;.2014í'

",I
1I11~h, (I '( (I
"-IIl<lil d:1I(1<l,' d~

1.'~~1)11~1)"111\7~1,~<-.',,11,<11);,
~.I·lI.l 2014

"
A."~II11ln: ··I""/!11l1lIlH.:lin S':IllM1111 I:=!4 a

\1\:' I tl:ll.'lll,ll ,,,I ,,,I.' ~I f.: I"

(!lI im~ n...,rifkac:u•. ~ ~ I" -,,(.1 Il.~; .rl~ I 1('

J.'icul'a 11)
11 11~:a:n::

],anJ,:illlll.:llln
, llC

illl'clndo ,lO (OdilHllllC f-'r(flI(J


I
,~ -
I.ocali".a-·:io: I dl'1I1 Ú da I·i '(Ifi! 1:-;. qf lf>l\ar ~l' d(~ ~lf(Hli,,) '.LIl":\('

Conforme salienta o referido laudo, apontamentos indicam o


pagamento de R$ 1,000,000,00 (um milhão de reais) em duas parcelas iguais,
nos dias 01/04/2014 e 02/04/2014:


registros com o

I'
Se 11 i 11 gS! LlS lIH ri o 2iC(\11 fi g li rcu,:t'x: s Itlll'flK'1
Fi I".'s·e OIll!.!111.1ES/490 RE 7 ARic xtrato bançüriof.:q.x Is
H:lsh: FAC 19fJO~9FFxF(':-:AJ()54rC79C t J2F994
~O':09:.201..l19:5S:24 UTC

Pesquisando tal informação na planilha TRANSMAR, fornecida


por ÁLVARO NOVIS (fi, 945), foi possível localizar as operações em destaque:

50
ilJiJ/b}H I(S.~,aú m.5il,1O r! fli!);;'
ilJWleH llitOa,C~ m.Sl1,1ü n PI"".
ll!03/1JIl lU:4,fll Ul.S1l,1O 00 r!9SBY(J,
~ll!)mH l.OOO.~,OC 1.221.511,10 ~ p/'''';;:I/"I. IUH.
iíl~]/llU m.e:t,c~ U2LSil,lü t1 ,,~[Q.ll,.
Ml/í:(';! íMt~,OO l.m.S1i,I~ V3 m.
JI!(]!2W IOO.Ni,11 LOOl.m,l; L3 fJiJl/.~.
OJ.'WiOU 111.11),00 1.l0Ull,IO ro \1,iIJAlS.
JJla~12JH lU~IM~ 1.1)6.511,'0 " ~]ifA.
OliJi/l0H 6.UOO,OO U16.m,IO &'3 &.m.
.... ,' "
lllNmU ~Jlü,!D
,
J8Ull,U 00 f/RtS\/BJOCcnO GL!m.
d\II'.
v1l1:lN:< m.OCil,OO 1.!16Jl1,1O ~ r"lI.
01fGUN:i lHO,toa UH.jJJ,1O ti M,c·~


i1J~UiU "UI!I l."UJI,U C3 lI!1tAlt
,,,.,':'
'1ICUnil 5aJ.IOO,Cl m.m,u D3 r{W.WI!I~OJffiI GUi30).

l'2{úUZail :1O.OCC,lI UJ,l7l,!O N! fTr:B,


WNm!l llt.rO,to Lil1.5l!,IC !~ P/rlo!l~SillilF. 131l-B.
mWiC:! to.m,1 I.m.S7l,IIOO ffFI-'!.!Jl.J/m. IOH.
'."fll'.'" 'r. .~, "" , .., ", ,. ..,

Em caráter complementar, foi encaminhado o Laudo nO


1479/2018 - SETEC/SRlPF/PR, contendo planilha em que consta o pagamento
de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), ocorrido em 28/05/2014, em São
Paulo, em operação atrelada à senha "biscoito globo". Ainda que
aparentemente possa se tratar de cifra complementar àquelas entregues no
Rio de Janeiro (totalizando os R$ 1.500.000,00 em anàlise) não há, por ora,
elementos que permitam efetivamente vinculá-Ia ao contexto em análise.

• Ademais, não houve a identificação do endereço de entrega ou de eventual


destinatário, já que, ao contrário do que ocorreu em relação às operações da
TRANSNACIONAL, não se logrou aprofundar as informações sobre as
operações da empresa TRANSEXPERT, ocorridas no Rio de Janeiro.

2.3) Dos R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais)


solicitados no Palácio do Jaburu:

Derivam igualmente de executivos da ODEBRECHT as


informações atinentes a este tema.
CLAUDIO MELLO FILHO, às fls. 310/314, asseverou que, em
28/05/2014, participou, juntamente com MARCELO ODEBRECHT, de um
jantar realizado no Palàcio do Jaburu, em que estiveram presentes o então

51
Vice-Presidente da República, MICHEL TEMER, e o então Deputado Federal
ELlSEU PADILHA. Acerca do agendamento desse encontro, disse o seguinte:

"QUE foi a essa reunião por convocação de Marcelo Odebrecht; QUE


questionado se fez algum contato prévio com Eliseu Padilha para tratar
desse jantar, diz que apenas fez um contato no dia anterior, a pedido de
Marcelo Odebrecht, para confirmar se o jantar efetivamente ocorreria; QUE
não participou das tratativas para agendar esse jantar; QUE a secretária de
Marcelo mandou um e-mail para a secretária do declarante chamando para
esse jantar; QUE demorou a responder pois acreditava que não estaria em
Brasília na data; QUE, portanto, não sabe dizer de que forma se deu o

• agendamento desse jantar; QUE no entanto, em razão do fato de Marcelo ter


comentado, quando se dirigiam ao jantar, que se tratava de um assunto entre
ele, Marcelo, e Paulo Skaf, supõe que tal agendamento pode ter ocorrido
com a intervenção de SkaF.

Fora isso, apresentou seus registros de memória sobre os


detalhes do evento:

"QUE chegando no Palácio do Jaburu foram recepcionados por Eliseu


Padilha; QUE se encaminharam a uma espécie de biblioteca, que fica à
direita de quem entra no Palácio; QUE ficaram nessa sala conversando
amenidades, por cerca de quinze minutos, até a chegada do Sr. Michel
Temer; QUE assim que o então vice-presidente chegou, todos se dirigiram a
uma varanda contígua; QUE lá conversaram sobre assuntos diversos, como
por exemplo a Bahia, as dificuldades das eleições, dentre outros; QUE foi

• nesse local, onde estavam presentes apenas as pessoas que já mencionou,


em que ocorreu a con versa relacionada com a doação de 10 milhões para o
PMOB; QUE se recorda perfeitamente sobre como a conversa transcorreu;
QUE Michel Temer, na qualidade de presidente do PMOB, se dirigiu a
Marcelo Odebrecht e disse que gostaria de contar com o apoio do grupo para
as eleições daquele ano; QUE ele não fez nenhuma sugestão de valor; QUE
na sequência, Marcelo disse que estava disposto a fazer uma contribuição
num montante de até 10 milhões; QUE nesse momento Marcelo tentou fazer
com que esses 10 milhões fossem integralmente des1inados a Paulo Skaf,'
QUE houve resistência por parte de Michel Temer e Eliseu Padilha, não se
recordando exatamente como cada um deles reagiu; QUE então ficou
definido que 6 milhões seriam destinados a Paulo Skaf e 4 milhões seriam
entregues a Eliseu Padilha".

No dizer de CLAUDIO MELLO FILHO, tão logo definida a


quantia a ser disponibilizada, determinou a JOSÉ DE CARVALHO FILHO que

52
procurasse ELlSEU PADILHA para tratar das questões operacionais. No
restante, limitou-se a esclarecer um desacerto ocorrido em entrega de valores
que teria sido realizada no interesse de EDUARDO CUNHA, fato que será
aprofundado adiante.

MARCELO BAHIA ODEBRECHT, Presidente da Holding,


apesentou os esclarecimentos abaixo (fls. 889/893):
"QUE, no tocante à solicffação de R$ 10.000.000,00 (dez mifhões de reais)

•• que teria ocorrido, segundo CLAuDIO MELO FILHO, em jantar realizado no


Palácio do Jaburu, em maio de 2014, tem a esclarecer que, na verdade, essa
demanda já havia sido apresentada muito antes ao declarante por CLAuDIO
MELO FILHO; QUE, algumas semanas antes do jantar, CLAUDIO MELO
FILHO relatou ao declarante que havia recebido tal so/icffação do 'grupo de
MICHEL TEMER', possivelmente través de ELlSEU PADILHA; QUE o
declarante, dentro da lógica referida acima, disse a ele que os recursos
deveriam ser buscados junto a executivos da ODEBRECHT que pudessem
ter interesse na atuação do grupo que estava solicitando; QUE, em dado
momento, CLAuDIO MELO FILHO afirmou ao declarante que havia obtido a
autorização para a disponibilização dos recursos; QUE, agora, tendo certeza
de que os recursos foram autorizados pela área de infraestrutura, o
declarante vê como natural esse apoio financeiro, já que a principal área de
influência de MICHEL TEMER naquela época era a de aeroportos,
comandada por MOREIRA FRANCO e, em seguida, por ELISEU PADILHA;
QUE, na impressão do declarante, o apoio prestado pela área de

• infraestrutura ao grupo de MICHEL TEMER era consequência das interações


que a ODEBRECHT vinha tendo com a Secretaria da Aviação Civif, desde as
primeiras licitações de aeroportos, com a apresentacão de diversas
demandas à correspondente área; QUE o referido 'grupo de MICHEL
TEMER' era composto pelo próprio, por ELlSEU PADILHA e por MOREIRA
FRANCO, ao menos assim era conhecido no ãmbito da ODEBRECHT; QUE,
em 2014, o declarante havia recebido pedido de apoio financeiro à campanha
de PAULO SKAF ao Governo do Estado de São Paulo, no valor de R$ 6
milhões; QUE esclareceu a PAULO SKAF que tal so/icffação tinha o valor
muito elevado, o que fugia das referências da empresa no tocante a
contribuições eleitorais; QUE, então, sugeriu a ele que estabelecesse contato
com MICHEL TEMER e obtivesse a autorização para que os R$ 6 mifhões
fossem extraídos dos R$ 10 mifhões que estavam sendo ajustados com
aquele grupo, também do PMDB; QUE, passados alguns dias, o declarante
recebeu ligação telefônica de PAULO SKAF, que estava na presença de
MICHEL TEMER e passou o telefone a ele e ambos passaram a conversar
sobre a importância do apoio à candidatura de SKAF, em tom absolutamente
institucional; QUE o declarante, após isso, entrou em contato com SKAF e

53
disse a ele que aquela sinalização não era suficiente, pois precisava ter a
certeza de que o repasse dos R$ 6 milhões estava autorizado; QUE, então,
pediu a CLÁUDIO MELO FILHO que buscasse obter expressamente de
ELISEU PADILHA essa autorização, o que realmente ocorreu; QUE só então
CLÁUDIO MELO FILHO marcou um encontro com o 'grupo de MICHEL
TEMER' para gue houvesse a confirmação presencial de tal ajuste; QUE, no
jantar, que contou com a presença de MICHEL TEMER, ELISEU PADILHA,
CLAÚDIO MELO FILHO e do declarante, foram abordados diversos temas,
inclusive do apoio financeiro que a ODEBRECHT estava prestando; QUE o
declarante, ainda na presença de MICHEL TEMER, fez considerações sobre

• a candidatura de PAULO SKAF, tudo sem qualquer menção a valores ou


questões operacionais; QUE, no entanto, quando MICHEL TEMER afastou-
se momentaneamente da mesa, o declarante obteve a confirmação explícita,
junto a ELISEU PADILHA, de que dos R$ 10 milhões pleiteados, R$ 6
milhões seriam redirecionados a PAULO SMF, para fins de campanha
eleitoral; QUE o declarante nunca comentou com PAULO SKAF sobre os
motivos que levaram a ODEBRECHT a se comprometer a enviar os R$ 10
milhões ao 'grupo de TEMER"',

Como forma de comprovar a marcação do encontro,


MARCELO ODEBRECHT disponibilizou cópia de sua agenda (anexo 25-B do
Acordo de Colaboração):


Assunto: Bloqueio Jantar MT (BS6): CMF

Inicio: que 28/05/2014 20:30


Fim; qua 28/05/2014 22:30

• Recon~ncia: (nenhuma)

I Status da reunião: Organizador da conferência

Organizador: Marcelo Bahia Odebrecht

CMF confirmou

Claramente, há divergências entre os relatos dos


colaboradores, notadamente nos pontos que concernem à iniciativa da
marcação do encontro e á origem da solicitação de valores, ou seja, em que
momento e de quem partiu o pedidO de dinheiro.

54-zF
Tal dissintonia, inclusive, ensejou a realização de acareação no
âmbito do processo nO 1943-58.2014.6.00.0000IDF, Tribunal Superior Eleitoral,
diligência que, conforme demonstra o correspondente termo (mídia de fi. 1150),
não alcançou o propósíto de suprimir a dúvida.
De qualquer modo, abstraindo-se esse aspecto, cumpre
perscrutar se os valores foram realmente encaminhados aos solicitantes, o que
exige revisitar as informações apresentadas por JOSÉ DE CARVALHO FILHO
a tal respeito, especialmente no tocante aos R$ 4.000.000,00 (subtraindo R$ 6

•• milhões encaminhados a PAULO SKAF) cuja operacionalização lhe teria sido


novamente confiada (fls. 304/308):

"QUE nesse mesmo momento também tomou conhecimento de que seria o


responsável pela operacionalização da entrega dos 4 milhões ao Eliseu
Padilha; QUE Claudio Melo pediu para que o declarante entrasse em contato
com Eliseu Padilha; QUE por voUa de agosto do mesmo ano, após ser
contatado por Lucia Tavares ou alguém do setor, entrou em contato com
Eliseu Padilha; QUE o setor informava o codinome do beneficiário, nesse
caso 'ANGORA', o valor, a data de pagamento e a senha; QUE não se
recorda de que forma soube que o codinome ANGORA identificava
Eliseu Padilha, no entanto, sem nenhuma dúvida, dado aos montantes
repassados, pode afirmar com certeza que esses pagamentos
identificados como sendo feitos a ANGORA, foram pagamentos feitos a


Eliseu Padilha; QUE após receber a informação a respeno da programação
de pagamento, tais como valor, data e senha, repassou pessoalmente a
Eliseu Padilha essas informações; QUE Eliseu Padilha por sua vez entregou
ao declarante o endereço onde o dinheiro deveria ser entregue; QUE em
relação a todos os demais pagamentos ocorreu da mesma forma, ou
seja, o declarante repassava pessoalmente o montante que seria pago,
data e senha a Eliseu Padilha e ele informava o endereço de entrega do
dinheiro; QUE tem certeza de que informou a Eliseu Padilha a ocorrência de
pagamentos no montante de 4 milhões; QUE encontrou nos registros da
empresa alguns endereços informados por Eliseu Padilha para entrega do
dinheiro: Rua Capitão Francisco, 90, Jardim Europa, Sr. Yunes ou Sra. Cida,
ou Rua Geronimo da Veiga 248, apto 1101, Sr. Aftair ou Zabo; QUE
questionado a respeno do endereço de pegamento das datas em que o nome
do declarante aparece no campo observação, diz que não tem como explicar
por qual razão não consta o endereço que informou ao setor".

55
Nas operações em questão, segundo JOSÉ DE CARVALHO
FILHO, teria havido um desentendimento entre EDUARDO CUNHA e a
ODEBRECHT, envolvendo a confirmação do repasse de R$ 500.000,00
(quinhentos mil reais) ao ex-presidente da Cãmara dos Deputados, a pedido de
ELlSEU PADILHA:

"QUE durante o processo de pagamento desses 4 milhões, recebeu uma


ligação do então deputado Eduardo Cunha, o qual reclamava que não havia
sido pago; QUE ele dizia que tinha R$ 500.000,00 para receber e não havia
recebido; QUE como Eliseu Padilha havia informado que esses 4 milhões
seriam distribuídos a outros integrantes do PMOB, supôs que o pagamento
sobre o qual Eduardo Cunha reclamava se referia a uma parte dos 4 milhões;
QUE ligou para Lucia Tavares para confirmar se todos os pagamentos
haviam sido efetivamente feitos; QUE Lucia Tavares confirmou que todos os
valores haviam sido entregues; QUE diante dessa informação, foi,
juntamente com Claudio Melo, falar com Eliseu Padilha; QUE Eliseu Padilha
disse que não era possível, pois se o dinheiro tivesse sido entregue no
escritório de Yunes, o dinheiro ainda estaria lá; QUE Eliseu Padilha disse
que Yunes era um senhor de 70 anos de idade, de confiança e
respeitabilidade, amigo de Michel Temer; QUE em resumo, Eliseu Padilha
afirmou que o dinheiro não havia sido entregue; QUE pelo teor da conversa,
supôs que uma parte do valor entregue no endereço de José Yunes seria
destinado a Eduardo Cunha; QUE a empresa, para evitar mais desgaste,
decidiu fazer um novo aporte no valor de R$ 500.000,00; QUE esses 500 mil
foram também entregues no escritório de José Yunes; QUE em razão dos

• problemas anteriores, pediu que Lucia Tavares tomasse a precaução de


pegar recibo da entrega, o que não era comum; QUE depois da entrega,
Lucia Tavares mostrou ao declarante o recibo da entrega dos 500 mil; QUE
se recorda que no recibo contava o recebimento por uma pessoa de nome
'Cida'; QUE não sabe onde esse recibo pode ser encontrado; QUE esclarece
que nos documentos que entregou quando da colaboração, consta que a
entrega na Rua Capitão Francisco, 90, ocorreu na semana de 1 a 5 de
setembro de 2014, no valor de R$ 1.000.000,00".

Indagações acerca desse contexto foram encaminhadas ao


Exmo. Sr. Presidente da República, MICHEL TEMER, que as respondeu nos
termos abaixo (fls. 1082/1088):

Alguns executivos da ODEBRECHT afirmaram, no âmbito de seus


respectivos acordos de colaboração premiada, que, em meio à segunda
rodada de concessões de aeroportos, receberam do Ministro MOREIRA

S6
FRANCO solicijação de apoio financeiro à campanha do PMDB, o que teria
redundado na disponibilização de R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais)
pela construtora, em recursos não contabilizados. Vossa Excelência teve
ciência da solicitação e do encaminhamento dos valores? Vossa Excelência
foi destinatário de alguma fração desses valores?

"Não tenho a menor ciência do aporte desses recursos. Em razão deste


fato, descabida a segunda parte da questão."

Vossa Excelência participou de jantar realizado no Palácio do Jaburu, em


maio de 2014, no qual estiveram presentes MARCELO ODEBRECHT e
CLAUDIO MELO FILHO? Em caso de resposta afirmativa, quem mais
.--- participou do evento, qual o propósito de sua realização e o que foi
efetivamente tratado?

"Deu-se o jantar. Além dos mencionados na pergunta, o Ministro Eliseu


Padilha. Marcelo Odebrecht comunicou que iria colaborar com vários
candidatos do PMDB, o que fez oficialmente por meio do partido."

Os executivos da ODEBRECHT acima nominados, em declarações


prestadas no âmbito do Inquérito 4462, afirmaram que, no mencionado
jantar, fora objeto de discussão o encaminhamento de R$10.000.000,00 (dez
milhões de reais) ao PMDB pela construtora, dos quais R$ 6.000.000,00 (seis
milhões de reais) seriam direcionados à campanha de PAULO SKAF ao
Governo do Estado de São Paulo, naquelas eleições de 2014. Vossa
Excelência participou de tais tratativas? Ainda que não tenha participado,


Vossa Excelência soube se o tema foi tratado e o que restou acordado, ao
final?

"Não participei dessas eventuais tratativas. Reitero o que já foi


respondido anteriormente, ou seja, Marcelo Odebrecht afirmou que
colaboraria com candidaturas e o faria oficialmente por meio do PMDB."

Pois bem. Com base no teor de depOimentos de


colaboradores, é possivel concluir que, daquele montante inicial de R$
10.000.000,00 (dez milhões de reais), R$ 6.000.000,00 (seis milhões de reais)
teriam sido encaminhados à campanha de PAULO SKAF ao Governo de São
Paulo, R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) direcionado ao escritório de JOSÉ
YUNES e R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) remetidos a EDUARDO
CUNHA, restando pendente a identificação de R$ 2.500.000,00 (dois milhões e
quinhentos mil reais).

57 cf
1~S 1

Mais uma vez, mostram-se oportunas as informações


reveladas pela análise dos sistemas Drousys e MyWebDay, consubstanciadas
no Laudo Pericial nO 631/2018.
Importante achado sugere ter ocorrido, além das operações
acima descritas, a entrega de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil
reais) em Porto Alegre, em 13/08/2014, conforme revela o quadro abaixo:

POR

• , ,

. ,

Figura 2 - Lançamento vinculado ao codinome Al1gO/·ó: RS 1.500.000.00


Llcalização: Idem ao da Figura I por ser arqui,·o anexo.

Em seguida, esclarece o expert que há outro arquivo


relacionado a tal operação sinalizando ter sido o valor de R$ 1.000.000,00 e
não R$ 1.500.000,00:
'Adicionalmente, foi localizado outro arquivo em formato html, provavelmente


uma tela ou relatório extraído do sistema MyWebDay (Figura 3), o qual
possui registro com o mesmo número de requisição (C.14.1325) e mesma
data de programação (13/0812014) do apontamento consignado na Figura 2,
todavia com outros dados divergentes, a começar pelo número do
lançamento (segunda parle do número de requisição). Em vez de trazer o
número 402610, traz o número 403014. O valor também diverge. sendo
este de R$ 1.000.000,00, e não mais R$ 1.500.000,00 como o
anterior. "(sem grifo no original)

Com tal esclarecimento, é permitido sintetizar as operações no


quadro abaixo:
VALOR OBSERVAÇOES
R$ 1.000.000,00 Encaminhados a Porto Alegre/RS, em 13/0812014.
R$ 1.000.000,00 Entregues no escritório de JOS~ YUNES, em São Paulo/SP.
R$ 500.000,00 Entregues em endereço indicado por EDUARDO CUNHA, em
São Paulo/SP.

58
R$ 6.000.000,00 Repassados à campanha de PAULO SKAF.

Previamente ao período em que se desenrolou parte dos


pagamentos - como será demonstrado à frente - houve o envio de e-mail por
PAULO QUARESMA. funcionário da ODEBRECHT TRANSPORT, a ISAIAS
UBIRACI CHAVES SANTOS, do Setor de Operações Estruturadas, solicitando
provisão para a realização de operações que envolviam R$ 3.000.000,00 (três
milhões de reais) em São Paulo, relacionadas a "aeroportos", cuja coordenação
seria feita por JOSÉ DE CARVALHO FILHO junto a MARIA LÚCIA TAVARES:
f::l - t. .......... IIo<f............... ____ ~ _ _ '_1oeI mo"
""- : 0.,.-_ ..... - ........-

t
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'.:,r ......,..,..
"","",0_. , _.'

k •
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Figura 4- E-mui[ com pedido de pmgramaçào de RS 3.000.000,00
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A exposição das respectivas evidências se dará de forma


individualizada, tal como nos eventos anteriores.

2.3.1) R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) em Porto


Alegre:

Na esteira das informações acima, contidas no Laudo Pericial


nO 631/2018, cumpre dar ênfase à denominada "figura 3, extraída do sistema
MyWebDay, cujos dados se referem aos fatos objetos deste tópico:

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f:Ki BCI\lJJX2H '1"(' .'\FIU-' !\~5C!d\.()()( n5.hlm
Hash: J5H61 f)1177FE4N2C0455C1-·A E,\2( -1-"0:-: 11)(1
l:llillUl modifi(,:I~'ãll: 1-l.OK 201-l 19:03:-11 lJTC

Portanto, consta do arquivo a previsão de operação vinculada


ao codinome "ANGORÁ", envolvendo dinheiro de "caixa 2", com valores
originários da ODEBRECHT TRANSPORT (OTP), contendo os dados

• "1.000.000,00 TONICO D POA IR BUSCAR NA AV. CEARÁ, 447 - BAIRRO


SÃO JOÃO, COM ANTÔNIO CLÁUDIO OU FERNANDO (33586307)", que
passam a ser dissecados,
Em depoimento prestado nos autos do processo 5009065-
72,2016.4.04.7000 34, MARIA LÚCIA TAVARES afirmou recordar-se do
prestador "TONICO", em Porto Alegre, e de tê-lo utilizado com menor
frequência. Disse, também, que mantinha contatos exclusivamente por telefone
ou e-mail com a pessoa de ANTÔNIO CLÁUDIO DE ALBERNAZ CORDEIRO,
nome que estava anotado em sua agenda.

No material apreendido na residência de MARIA LÚCIA


TAVARES (fls. 1125/1126), no âmbito das ações cognominadas "Operação
Xepa" (IPL 1985/2015), consta a planilha intitulada "LANÇAMENTOS X SALDO

60~
"Termo de Colaboração n' 06, datado de 02 de março de 2016 (fls. 1001/1002)
(TONICO)" a qual contém anotação referente a R$ 1.000.000,00 (um milhão de
reais) vinculado ao codinome "ANGORÁ".

LANÇAMENTOS X SALDO (TONICO)

... ~,.,,~J~~,Jrm.l1tl1# fDS:~J,I'.


I~'. iff'tt8IDoDE rufAA f 1053JJ,11
'~_.I. RP.CElbOODEfUT~ , 6O~313."
I. Im~,
--+--"'í""il""'iIí.;O:"'I----l~·--~
JII-w-t4 PACAt,(fi'm).C
~I. ~mllWC'''.'I'.C'.,t6$1IGASTOSlOCAlSJ .1IUQI"iIIO - !ll~J33.1f


n ....... f!J PII..r::.AII!:rno.o 1!511AS VfG"~J '~'{"""ro . ~ "J~33.t.1!

ANTÔNIO CLÁUDIO DE ALBERNAZ CORDEIRO, o


"TONICO", teve prisão cautelar decretada pela 13" Vara Federal de Curitiba na
26" fase da Operação Lava-Jato (Xepa), justamente pelos "serviços" que
prestava à ODEBRECHT. Mais recentemente, tomou a ser preso no âmbito da
Operação "câmbio, desligo", por força de mandado expedido pela 7" Vara
Federal do Rio de Janeiro, presumivelmente por sua atuação no mercado ilegal
de câmbio.

No endereço AV. CEARÁ, 447 - BAIRRO SÃO JOÃO


funcionava, em 2014, a empresa PLANITRADE Assessoria Comércio e

• Representação Ltda, da qual TONICO é sócio e cujo telefone era, de fato,


o de nO 51.3358.6307.

Ouvido a respeito dos fatos que interessam especificamente a


esta apuração, ANTÔNIO CLÁUDIO DE ALBERNAZ CORDEIRO disse, às fls.
735/737, ter recebido ligação telefônica de FERNANDO MIGLlACCIO, da
ODEBRECHT, em meados de 2014, solicitando a entrega de valores em Porto
Alegre, no montante de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), em duas
parcelas de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais). Aduziu que se tratou de
operação "atipica" pela urgência e pelas cifras envolvidas (mais elevadas que
as habituais, que ficavam em torno de R$ 100.000,00), tendo inclusive afirmado
a MIGLlACCIO que não conseguiria gerar aqueles valores em espécie em
prazo tão exíguo, ao que lhe foi esclarecido que o dinheiro chegaria até o seu
escritório.

61Lf
I~SS

A par disso, alegou que os serviços prestados á ODEBRECHT


não compreendiam o transporte de valores em espécie até locais
determinados, mas tão-somente a disponibilizacão do dinheiro em seu próprio
escritório, de modo que pudesse ser apanhado por funcionários da própria
ODEBRECHT (entre dois ou três, que se alternavam).

No caso em tela, porém, um terceiro, a quem não conhecia,


estivera em seu escritório para apanhar os valores, em dois dias distintos.


Segue a narrativa, em seus exatos termos:

"QUE, na ocasião das duas entregas de dinheiro, o declarante não


reconheceu quem apanhou os valores em seu escritório, mas
posteriormente, um sobrinho do declarante pesquisou no telefone do
declarante, no aplicativo WhatsApp, a partir da senha 'Angora' (forma como
estava registrado na agenda) e apareceu uma imagem que reconheceu como
sendo da pessoa que buscou as duas parcelas de R$ 500.000,00 no seu
escritório da Av. Ceará; QUE o terminal telefônico cadastrado no aparelho
telefônico do declarante como sendo 'ANGORÁ' é (51/ 995160033: QUE,
tendo aparecido uma fotografia no cadastro 'ANGORÁ', a qual sabe se tratar
da pessoa de IBANEZ, indivíduo conhecido em Porto Alegre por suas
ligações com o Grupo Hospitalar Conceição; QUE o telefone de Ibanez Fiffer,
que foi cadastro no terminal lelefônico do declarante, com a senha
'ANGORÁ', deve ter sido passado por Maria Lúcia Tavares, por e-mail,
tratando-se de mera possibilidade; QUE o declarante sempre teve a palavra


'Angorá' como senha para estas operações, o que era suficiente para
autenticar as pessoas que dela participaram; QUE o declarante recebia da
ODEBRECHT, habitualmente, apenas a senha e os valores; QUE não possui
nenhum outro número telefônico de algum destinatário de valores, até
porque, como já afirmou, não havia contato com tais pessoas, pois os valores
eram disponibilizados ao pessoal da própria ODEBRECHT, no escritório do
declarante e, eventualmente, em outros locais".

FERNANDO MIGLlACCIO DA SILVA, funcionário da


ODEBRECHT que atuou no Setor de Operações Estruturadas, após descrever
sua atividade na empresa, foi confrontado com as declarações de TONICO (fls.
873/876):

"QUE, ao tomar conhecimento das declarações de ANTÓNIO CLÁUDIO


ALBERNAZ CORDEIRO, o TONICO, de fls. 735 e seguintes, o declarante
reafirma que estabelecia contatos com ele e confirma que, em alguns casos,

62
houve demandas que extrapolavam a sua disponibilidade financeira; QUE se
recorda de ter havido operações com valores altos, contrariando o que era
habitual, e que houve a necessidade de fazer aporte de dólares na conta que
ele mantinha no exterior; QUE não se lembra, no entanto, de ter
encaminhado valores em reais a TONICO, o que não impede que outras
pessoas do Setor de Operações Estruturadas, principalmente MARIA LÚCIA
TAVARES, o tenha providenciado; QUE, perguntado por qual razão os
valores não foram encaminhados diretamente ao destinatário, tendo sido
levados a TONICO para só então serem apanhados, o declarante afirma que,
como não se lembra da operação propriamente dita, não se vê em condições


de explicar o que pode ter acontecido; QUE, questionado se os prestadores
vinculados á conta TUTA poderiam ter efetivado a operação em questão,
afirma que desconhece, mas é possível, pois TONY e VINiCIUS CLARET
dispunham de maior abrangência operacional, tendo realizado pagamentos
em Belo Horizonte, Salvador e Brasilia, por exemplo, quando assim
demandados".

Vale enaltecer que, durante o período abrangido pela quebra


de dados telefônicos (01/03/2014 a 31/08/2014 - AC 4382), houve apenas
nove ligaçôes telefônicas entre terminais usados por ANTÔNIO CLÁUDIO DE
ALBERNAZ CORDEIRO e FERNANDO MIGLlACCIO, sendo a maior parte
concentrada exatamente no período em que se desenrolaram as entregas
em questão, o que se coaduna com a narrativa declinada pelo primeiro:

Afora isso, no auto de fls. 738/740, ANTÔNIO CLÁUDIO DE


ALBERNAZ CORDEIRO reconheceu IBANEZ FILTER em fotografias gue
lhe foram apresentadas, como sendo a pessoa que apanhou os valores em
sua empresa, a PLANITRADE.

63
A Informação nO 342/2018 - DELECORlDRCOR/SRlPF/RS (fls.
129/152 - AC 4382), trouxe dados relacionados a IBANEZ FILTER,
demonstrando sua estreita proximidade ao Ministro ELlSEU PADILHA,
decorrente, por exemplo, da composição conjunta do quadro societário da
empresa GAIVOTA PARTICIPAÇÕES LTDA, CNPJ 03.043.063/0001-13,
composto pelo atual Ministro-Chefe da Casa Civil desde 1999 (cuja sede se
situa na Rua Siqueira Campos, 1184, sala 1207 120 andar, Centro Histórico,
Porto Alegre/RS), além da própria vinculação funcional, publicada na edição de

• 19 de maio de 2014 do Diário Oficial da União:

N" 2.885 - NolllCOl•• na forma do anigo <r. in..", 11. d. Lei n° lU 12.
ele 11 de dezembro ele 1\190. IBA..... FZ FERREIRA FlLTF.R p3T1\
=rca. 00 sabinete doCa) Depu'Bdo(.) ELlSEU PADlLlIA. o algo
em oomi,.ao ele Sccn:tório PI1llIllDCllInr. SP22. do Quodro de """001
da ClÍm"", dos Dcplll"""'.

Ouvido às fls. 919/920, IBANEZ FILTER, embora tenha


admitido a relação de proximidade, negou ter apanhadO valores no interesse do
Ministro ELlSEU PADILHA:

"QUE, questionado sobre a relação que mantinha com o Ministro


ELISEU PADILHA em meados de 2014, entre julho e agosto, afirma que
esteve vinculado a ele durante todo o curso do mandato como
Deputado Federal, acreditando, portanto, que tal período tenha
compreendido o ano de 2014; QUE não conhece o 'doleira' ANTÓNIO
CLÁUDIO ALBERNAZ CORDEIRO, conhecido como TONICO; QUE,
perguntado se esteve no escritório de TONICO (Av. Ceará, 447) em duas
oportunidades, em meados de 2014, para o fim de apanhar valores que
teriam sido encaminhados pela ODEBRECHT ao Ministra ELlSEU PADILHA,
afirma que não; QUE não se recorda se, em alguma ocasião, esteve em tal
endereço, podendo afirmar apenas que, se esteve, não foi com o fim de
apanhar valores; QUE, pela leffura dos autos, o declarante tomou
conhecimento das declarações de ANTÓNIO CLÁUDIO ALBERNAZ
CORDEIRO, tendo a afirmar que se trata de uma 'armação'; QUE,
perguntado ao que atribui essa versão artificiosa de TONICO, afirma
desconhecer; QUE reffera nunca ter buscado valores em 'doleira' algum;
QUE a vinculação do nome do declarante ao codinome 'ANGORA', tal como
narrado por ANTÓNIO CLÁUDIO ALBERNAZ CORDEIRO, não tem qualquer
_ _ QUE o...,~,t. 'oo,~. ". ~ 201< .. "","W: ~
terminal telefônico de n° 51.99516.0033; QUE acrescenta que, na época
em que trabalhava com o ELISEU PADILHA, utilizava-se de um terminal
telefônico funcional, o qual devolveu ao desvincular-se da Câmara dos
Deputados; QUE não se recorda do número desse telefone funcional,
podendo afirmar apenas que tinha prefixo 61; QUE não sabe exatamente
quando começou a fazer uso do telefone de n' 51.99516.0033; QUE nunca
estabeleceu qualquer ligação telefônica com TONICO, acrescentando que
sequer tinha ouvido falar nessa pessoa".

• Diante de tais informações, tornou-se necessária a busca de


"rastros" que o fluxo de valores porventura tenha deixado.

Como antes esclarecido, a ODEBRECHT, em regra, utilizava-


se dos serviços da HOYA para efetivar operações com dinheiro ilicito nas
cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Para o encaminhamento de valores a
outras regiões, no entanto, a construtora lançava mão de "doleiros" diversos,
sendo que, em Porto Alegre, tal serviço era prestado ordinariamente por
CLAÚDIO CORDEIRO, o TONICO. Porém, na operação em tela, consistente
na entrega de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), TONICO alegou que não
dispunha do numerário, fazendo necessária a alocação dos correspondentes
valores pelo Setor de Operações Estruturadas.

• Neste ponto surge, uma vez mais, a figura do "doleiro"


CLAUDIO FERNANDO BARBOZA DE SOUZA, o "TONY", com quem a
ODEBRECHT mantinha a conta contábil denominada "TUTA".

Inquirido acerca de sua participação nas operações em foco,


"TONY" narrou o quanto segue (fls. 877/888):

'QUE, questionado se teve participação na operação que envolveu a


remessa de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), possivelmente em agosto
de 2014, igualmente para Porto Alegre, afirma que sim e que também dispõe
de documentos referentes a tal operação; QUE esses documentos foram
também extraídos do sistema de conlrole do declarante ('Sr), já
mencionado, e dão conta do envio de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais),
em 1510812014, a Porto Alegre, e de igual quantia em 1810812014; QUE, na
'folha 5', há a operação de R$ 1 milhão com a ODEBRECHT na conta TUTA,
representando U$ 485.436,89; QUE, na 'folha 6', consta a movimentação de
R$ 1 milhão para a conta 'TUTADH', tendo o declarante aguardado as ~

65 - I
orientações; QUE, na 'folha 7', há a liquidação para a contato TUTAPOA',
conforme as datas já mencionadas, ambas com a senha TONICO'; QUE, na
'folha 8', consta a saída dos valores da conta que o declarante mantinha com
a TRANSEXPERT, indicando que essa empresa de transporte de valores,
mais uma vez, se encarregou de executar a operação; QUE não sabe a
destinação final dos valores, desconhecendo também o endereço e a pessoa
a quem foram entregues; QUE tais dados, a exemplo da operação anterior (e
de outras tantas) certamente chegaram ao declarante, via drousys, e foram
repassados à TRANSEXPERT para possibilnar o êxito da operação; QUE o
declarante preocupava-se em não manter qualquer registro desses dados por


questões de cautela; QUE, perguntado se conhece ANTÓNIO CLAUDIO
ALBERNAZ CORDEIRO, o TONICO', afirma que conheceu apenas de
nome, esclarecendo que conheceu pessoalmente PAULO CORDEIRO, com
quem fez negócios durante muito tempo; QUE PAULO CORDEIRO
comentou com o declarante que TONICO realizava operações para a
ODEBRECHT e que, munas vezes, não dispunha de reais para efetivar as
demandas da construtora; QUE, nesses casos, o declarante era acionado
para fomecer dinheiro em reais a TONICO, para que ele pudesse realizar
operações diversas; QUE, no entanto, a operação acima mencionada, com a
senha TONICO', foi demanda da ODEBRECHT originada de contatos de
MARIA LÚCIA TAVARES; QUE, por desconfiar que a senha TONICO'
pudesse estar relacionada ao irmão de PAULO CORDEIRO, o declarante
entrou em contato com este, que afirmou desconhecer qualquer vinculação:
QUE, possivelmente, PAULO CORDEIRO tenha tentado ocuffar a
participação de seu irmão na operação; QUE, perguntado se se recorda de
ter havido urgência por parte da ODEBRECHT para que os valores fossem


encaminhados a Porto Alegre, afirma que não, mas esclarece que havia
alguns fatores de logística que eram levados em conta para estabelecer as
datas das viagens, independente da urgência: QUE a confirmação do
sucesso da operação foi passada ao declarante por MARIA LÚCIA
TAVARES e não por TONICO'",
OOl-1U
aru.-t",in., 16 d. novoMllbro d. 2016

contlo: TUTA P<IIdoclo: 11/0BJ20U a 01/011/2014


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Folha 5 - recorte

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Folha 6 - recorte


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Folha 7 - recorte
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Folha 8 - recorte

Como se vê, há apontamentos que indicam o transporte de


valores a Porto Alegre nos dias 15/08/2014 e 18/08/2014, o que se harmoniza
com os demais elementos até aqui reunidos_

JOSÉ WALBER FRANCISCO DOS SANTOS, ex-funcionário


da TRANSEXPERT, que havia participado da operação ocorrida em março de
2014 (tópico 2_2_1), novamente trouxe informações importantes (fls_ 925/929):

"QUE as entregas em Porto Alegre foram realizadas em um escritório no


Centro de Porto Alegre, aparentemente o 2° andar de um prédio; QUE na
viagem com WILDES, os dois entregaram juntos e foram embora; QUE na
viagem com RICARDO, fez uma entrega na sexta e outra na segunda feira,

67
ficando sábado e domingo na cidade; QUE RICARDO entregou sozinho em
um dia, e o declarante ficou no veículo, e no outro dia o declarante
entregou sozinho, mas RICARDO ficou aguardando no veículo; QUE
apresentada as imagens do endereço localizado na Rua Siqueira
Campos, 1184, afirma não conhecer tal local; QUE reconhece com
certeza absoluta o endereco da Av. Ceará, 447, São João, Porto Alegre,
como o endereço em que fez entrega de dinheiro com RICARDO; QUE
a entrada era realizada por uma porta do lado, e subia ao segundo
andar; QUE não recorda ao certo o valor, mas geralmente eram entregas
parceladas de 500 mil reais; QUE se recorda de uma pessoa com


cabelos grisalhos, bem aparentado, 'posudo', que recebeu o dinheiro
na Rua Ceará e se parece com a pessoa da fotografia de ISANEZ
FERREIRA FIL TER, mas não é possivel afirmar que seja a pessoa da
foto em anexoi QUE estavam presentes duas ou três pessoas, e uma delas
era essa pessoa de cabelos grisalhos; QUE não se recorda da pessoa
com a fisionomia de ANTONIO CLAUDIO ALBERNAZ CORDEIRO em
anexo".

Pesquisando-se nos contratos fornecidos pela empresa


LOCALIZA, foi identificada a locação, por JOSÉ WALBER, do veículo Renault
Sandero, placas OQZ-1246, pelo período de 14 a 19 de agosto de 2014, com
medição de odômetro em 3.270 km.

• \ Localiza lIflftz

Vctcuto:
Grupo UtUludo:
Contrato do Aluguel do CarroS/Proposta de Soguro

04176531 JOSE WALBER FRANCISCO OOS SANTOS

OOZ1246 S8ndcro ~
F . Intennedi!ttio
CondutO!': 2925030
N· GIGB353146
Fechado
AAGIB-3S1952
RtCAROO 8RAGA DE
CASTRO

b,cktillUçlu pot CustM Operacional.:


D _ ao Carro: 2000.00
Grupo Cobrado: ___~--.J!~~~~
Safd. I Vlgtnc!D 14/081201.'3:00
__"_ Ae!opGaleaoSetor B Dancs.T~:
Km: 20.137
1000,00
Tanque: 818
RIItomolYlQ6ndill : lQ!081201.12:56 AeropGal!aoSetorB Km: 23 407 ,~: BI8
UtlIUelo: li 50 Mfluto6 Krn UtUlUdo: 3.210
TatUa: 000501 • D!ãrIa 1<tn!.Me
Km: Livre
FarYnI do Pepmorrto: Avilta
Ocmonsb.UwodG V.tom.: v.tot UnhtrfO Daaconto {%oI Desconto (M) valor Uqutdo Ouantidado yalot' FInal
....
"'PrenwoDiário "OUII Casco
181.90
28.00
181.90
28.00
5.00
5.00
909.50
1.0.00
PrtmIio Diario Total RCf" 10.00 10.00 5.00 50.00
ConcIuCor Adldonnl ".00 5.00 35.00
T"" o..a.;o. -181.90
T11m di! Aluguel 12% 114.31
TOTAL GERAl. 1QE;6,91
VALOR PAGO PElO CUENTE
$ALOOOEVWO ....
1068,91

68
Pelo expediente de fls. 954/956, a Polícia Rodoviária Federal
forneceu os seguintes registros de tráfego, compatíveis com uma viagem
realizada a Porto Alegre, desde o Rio de Janeiro:

--- PLACA OQZ-1246 (de 1410812014 a19108I2014)


LOCAL (BR, M_lplo) STADO SENTIDO DATA ,!fORA OBS

.M BR 116, CURmBA PR sÃO PAULO/SP x: CURITIBMR 15/0&12014 04:44 ...


I
In BR 116. CURmBA PR CURITmNPR X SÃO PAULOI5P 1008/2014 21 :,;) ...
... ...- ...... _.


NÃO HÁ INFRAÇÃO NO PERlo00 NÃO HÁ INFRAÇÃO NO PERÍODO

Além de ter afirmado categoricamente que a entrega dos


valores ocorreu no escritório do doleiro TONICO (Av. Ceará, 447, São João,
Porto Alegre), JOSÉ WALBER referiu ter se hospedado em hotel próximo a
esse endereço.

Diligências realizadas junto ao aludido estabelecimento (Hotel


Colossi) resultaram na confirmação encaminhada pelo expediente de fls.
948/952:

... ~C •••

I ' . ~
Ocupação
~- ••• ,'o ..,:...~ I' ...!l' "'18. l"~

8~ A.,pl'. t nr"~~
"!h l.,""':'- ;~f.."'1
::~." "'Q,p.~h,
.. ~ 7'
s .. t~" 1'j,vEI.:~' .. ~ ~~
• ·1(l~,,<:O· 4 QEBER lJf.. <:: _,,~_ 'S -4,1J6,"
" '' ,,.


L ,i-!
.. ADn'~' ·'1lSr.~14 ~r<',,1 ~ "o '::a (
.-,
..
1° •
~""_I'
" .....i.E':- ~ "
•.. A;:W!'
I-,,·t .•
~, -r.::.: ,r.
~pqr

~':-
-)'4
., t·~

.r AM.! l ~ "" . .., '~'. q

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Ar/.... il ...... " ''''_ '" '~,,..


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11(.",""
, ,'.' •. ' c
, ~
"
'. ''''''l'E ~ = ('[ M....
. ,). '4 ....·.U~tÁJ;! •.f.< !:_(';"',I::.fE-~
'li. '~ . <I! t.- . ' .

.' c::
'J".
~ f. ,1',,:.... ~Stó'l F~t.lr-.c....:..rx l:(Y. V'-.",.. ~ '.
I-.. :AI-.j._ ..,. ...._ •. _ 0_ .__ • . ,., .... .(. ,.
!~ L>vl,\~LA:,o",rH.... l""" ....kA ',(";8,'. i" ,\..~_r.fll 'u
"
A conjugação de todos esses dados permite estabelecer,
com segurança, como datas das entregas, os dias 15/08/2014 (sexta-feira)
e 18/08/2014 (segunda-feira).

No tocante à participação de IBANEZ FERREIRA FILTER no


episódio, embora a tenha refutado, em suas declarações - atribuindo ao que
chamou de "armação" engendrada por TONICO - há evidências materiais que a
esclarecem suficientemente.

69 -z{P
Em caráter preliminar, há que se pontuar que o terminal
telefônico de nO (51) 995160033 vinha, na época dos fatos, sendo usado por
IBANEZ FILTER (como admitido em seu depoimento), além de constar em seu
nome no cadastro da operadora de telefonia e nas bases de dados do Sistema
Nacional de Passaporte (SINPA) e da Receita Federal do Brasil.

Ao ser questionado sobre a obtenção desse número de


telefone, TONICO cogitou pudesse tê-lo recebido de MARIA LÚCIA TAVARES.
Soa razoável que tal informação tenha lhe sido repassada por algum

• funcionário da ODEBRECHT que atuava no Setor de Operações Estruturadas,


com quem o doleiro mantinha contatos, pela natureza das atividades de que
participava.

Fato é que, nos dados telefônicos da Ação Cautelar nO 4382,


constam registros de ligações mantidas entre os terminais usados por TONICO
e IBANEZ FIL TER, exclusivamente nas datas em que os valores foram
deixados no escritório de TONICO. ou seja, em 15 e 18 de agosto de 2014:

TERMINAL TERMINAL
DATA HORA DURAÇÃO (5)
DE DE
ORIGEM DESTINO
15/08/2014 16:01 60 5195160033 51981630909

• 15/08/2014
18/08/2014
16:04
09:35
61
36
51981630909
5195160033
5195160033
51981630909

A um só tempo, tais registros dão credibilidade à narrativa de


TONICO (que já vinha sendo corroborada nos dados essenciais) e fulminam a
alegada "armação", consolidando a posição destacada de IBANEZ FILTER nos
fatos em questão.

Fora isso, a análise cronológica e associada dos registros


telefônicos (ERB e extratos) desvela a possível mecânica das operações em
exame:

No início da manhã do dia 15/08/2014, o terminal usado por

-or
IBANEZ FILTER localizava-se na região central de Porto Alegre.

70
A partir das 10:02h, os registros de ERB já indicam a
localização nas proximidades do endereço em que o dinheiro foi entregue (Av.
Ceará, 447, São João, Porto Alegre).

A partir de então, desenrola-se a intensa cadeia de ligações


abaixo, flagrantemente relacionada á operação realizada naquele dia, em Porto
Alegre:

TERMINAIS ORIGEM E DESTINO DURAÇÃO (S)


HORA
10:46h CLAUDIO MELO F1LH035 X ELlSEU PADILHA36 19
10:48h CLAUDIO MELO FILHO X ELlSEU PADILHA 110
10:51h IBANEZ FILTER37 X ELlSEU PADILHA 44
10:52h ELlSEU PADILHA X JOSE DE CARVALH038 44
10:53h ELlSEU PADILHA X JOSE DE CARVALHO 41
11 :OOh JOSI: DE CARVALHO X ELlSEU PADILHA 66
11 :55h IBANEZ FIL TER X ELlSEU PADILHA 88
14:50h ELlSEU PADILHA X JOSE DE CARVALHO 12
15:31h JOSI: DE CARVALHO X ELlSEU PADILHA 17
16:01 h IBANEZ FILTER X TONICO (PLANITRADE)39 60
16:03h TONICO (PLANITRADE) X F. MIGLlACCIQ40 33
16:04h TONICO (PLANITRADE) X IBANEZ FILTER 76
16:04h TONICO (PLANITRADE) X IBANEZ FILTER 61
16:56h IBANEZ FILTER X ELlSEU PADILHA 07

No ponto, é importante realçar a narrativa de TONICO a


respeito do atraso que envolveu a remessa do dinheiro pela ODEBRECHT (fls.
1089/1090):

'QUE IBANEZ FIL TER compareceu no escritório do declarante, Av. Ceará,


447, pela parte da manhã e se manteve no aguardo da chegada dos valores;
QUE, ao aproximar-se o meio-dia, IBANEZ FIL TER saiu para almoçar

" 6181178646
36 6199430137
37 5195160033
" 6192730193
" 51981630909
" 11981409595

71
(possivelmente nas proximidades) e retomou ao escritório do declarante;
QUE IBANEZ durante todo o tempo de espera no escritório do declarante
esteve acompanhado de outra pessoa, também desconhecida e cujas
características fisicas o declarante não se recorda; QUE IBANEZ
manifestou-se muito contrariado com o fato de ter que aguardar a
chegada dos valores; QUE o dinheiro chegou efetivamente na parte da
tarde, não se recordando o horário".

• Ao que tudo indica, o atraso na chegada dos valores tenha


desencadeado - no curto espaço de tempo em que se desenrolou a operação -
a acirrada interação entre diversos atores do esquema criminoso em apreço.

OOEa ...O<T - .. ~lO


0 ... "':'....

ru$W '40/1.'" 1~
0'''''.· .. ,,· n'I',l;
0+ "
li 1

.l u,!."
IlI .... U .. lt'P:
0''''.. '-"
to lU.
'T··!.'~· o".,
",0"11
Jl. °t"" o,,~

CO'<'l~"".~C>'T·(~OI':CA ... ·,~l


O""''·"'''

• ....~mtAOI' '~I'
o .~:"".", ...

..IGU'COO
"t'l~'....o
o",,,,,· .....
o:>O€OOO

72

Ressalte-se que as ligações efetuadas por IBANEZ FIL TER no
intervalo das 10:02h e 16:09h foram providas por sinal da mesma ERB,
localizada nas proximidades do local combinado para a retirada dos valores, º
que se mostra absolutamente compativel com a espera descrita por TONICO .

• •...... 0
I
J
f
/
tI[}&>onc_O
f_,,pA~:...... ,~,, •.• ~~9
.~ _~ :_~.'~""O
I ~~~ - - AV. çEARA., 441- PLANITRADE

,.~ ........ .-
I ,."....""._- .....
!~=~ \
i
~
-...........
.. _ -.....
.......... 110<;"' ... . .
.. ",,-.0 ..-
! /0
.......,0 9·"" ..., '-- I<Qr.......... '.Q

73 -cF
Nas ligações seguintes, ocorridas no intervalo entre as 16:36h
e 17:37h, a ERB que deu cobertura ao terminal de IBANEZ FIL TER é
compatível com o endereço do escritório de ELlSEU PADILHA, na Av. Siqueira
Campos, 1184, Centro, Porto Alegre, cabendo ressaltar que a antena de
telefonia (a estação rádio-base propriamente dita) está instalada no prédio que
que se situa o referido escritório, o que confere precisão à informação .

• .'~;;~Q

--
SIQUEIRA CAMPOS, 1184
-.-"P~

lo
--
t.IF"'i~ .:.. ..... n
d.[togo! ...... V ....
~d..l.KRCS
~ E..!Ic.ct..... 2'~. 1,1310
• ,__:;:..
Jo

.._._n'·:.., ",'t,
~
doll
.

• Nas chamadas subsequentes, ocorridas entre 19:25h e 19:39h,


o terminal telefônico de IBANEZ FILTER se utiliza de ERB compatível com o
seu endereço residencial, situado na Rua Fernando Machado, 723, Centro,
Porto Alegre.

Os dados apresentados acíma permítem concluír que


IBANEZ FILTER esteve na PLANITRADE em 15/08/2014 e apanhou os
valores que lá foram entregues pelo agente da TRANSEXPERT, no
interesse da ODEBRECHT.

No dia 18/08/2014, quando a segunda parcela de R$


500.000,00 (quinhentos mil reais) foi disponibilizada naquele mesmo local,

74cr
houve registros telefônicos igualmente ilustrativos:
• i
EUsru PAOIlHA.
o
1-
o ~5{>19g4J01J7 I
15:25:00
1-
15:27:00 15:28:00
039 (5) O ~2 (5) O m(S)

• i l- I f_
ISANEZ fllTER
055519516(0)) 1
09:35:00
036(5)

• i
PLANIlRADE ASSESSOOJA
l- o

O 55S19fl1ó30909 555191992-144 I
11:59:00
01)(5)

• • i
FERNANDO MIGUACOO
O ~SIL98H09595
l- O

Considerando-se a sequência de ligações, é bem provável que


IBANEZ FIL TER, tão logo avisado por TONICO de que os valores já estavam
disponíveis, deslocou-se até a PLANITRADE e retirou o dinheiro. Em seguida,
TONICO infonmou FERNANDO MIGLlACCIO de que a operação havia sido
finalizada.

Uma vez mais, o relato de TONICO sobre o episódio se faz


consentâneo (fls. 1089/1090):

'QUE, na operação realizada na segunda-feira, os valores foram entregues

• pela parte da manhã, não tendo havido nenhum desencontro, como na


ocasião anterior; QUE, nesta segunda ocasião, IBANEZ ficou por pouco
tempo esperando no escritório do declarante, igualmente acompanhado de
um terceiro, não sabendo se era a mesma pessoa da sexta-feira".

Nos moldes do que ocorrera em 15/08/14, os registros de ERB


do terminal usado por IBANEZ FILTER indicam a sua movimentação nas
proximidades em que se situa a PLANITRADE, local em que a segunda
metade dos valores foi deixada naquela manhã de 18/08/14, segunda-feira
(vide RAPJ n° 082/2018, fls. 1151/1213).

7S~
• "Entre 08:34hs e 10:42 a ERB usada (ponto azul) é compativel com o endereço da
Siqueira Campos, 1184;
• Às 11 :32 ocorre uma única ligação com ERB (ponto vermelho) compatível com o
endereço da Av. Ceará, 447;
• Entre as 14:15 e as 15:45hs a ERB (ponto azul) é compatível com o endereço do
escritório de ELlSEU PADILHA;
• Às 17:00hs é utilizada uma ERB (ponto verde) localizada na região do bairro Petrópolis."


Os elementos reunídos a respeito deste episódio mostram-se
suficientes, em sede indiciá ria, para apontar o recebimento pelo Ministro
ELlSEU PADILHA, através de seu assessor IBANEZ FILTER, de R$
1.000.000,00 (um milhão de reais) encaminhados pela ODEBRECHT, em
desdobramento do quanto ajustado em 28/05/2014, em jantar na residência
oficial da Vice-Presidência da República.
1~10

Sintese gráfica do microcaso:

R$ 500.000 I~!,!._I_ ffi!:!r.

15/08/2014
~rL 1
~ PLANITRAOE
~
ODEBRECHT ~
iIIWII
Clludlo Flmerldo
~ ~DDJ-
C=CI
S
iIIWII
BlrOotl de Souz- ~-:ttonl~
Eliseu


(TONY) TRANSEXPERTL C.rto. d• Padilha
AIJJ.rnl1
R 500.000 Cordeiro
(TONleQI
Ib.n •• Fntllr
t
18/08/2014

2.3.2) R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) em São Paulo-


escritório de JOSÉ YUNES:

A par de narrar em seu depoimento que parte dos valores


solicitados no jantar ocorrido no Palácio do Jaburu teria sido deixado no
escritório do advogado JOSÉ YUNES, por orientação de ELlSEU PADILHA,
JOSÉ DE CARVALHO FILHO apresentou registros a esse respeito, abaixo
reproduzidos:

• 05.09.2014 )":
Planilha intitulada "programação semanal por cidade (01 a

Nos resultados da análise pericial dispostos no Laudo nO


631/2018, essas operações foram contempladas. Abaixo, a programação de
pagamento para o periodo de 25 a 29/08/2014, constante de arquivo anexado
a e-mail trocado entre "TU LIA" (MARIA LÚCIA TAVARES) e "WATERLOO"
(FERNANDO MIGLlACCIO):

77
Fig.ura 6 - const.l1l1 rcglslros
vinculados
i> I'

A C D
~reçio _____ ~II:!!I~ _.V!!O!. jS.~~... j~I~~!:.O~" __..__ .__ __ .. ___ . __
PA~I:-IS~NH __ .. _ ..• : J- ___ :. _ J: ._. . __ -o

=--------:-----~-------.-~-:'-----.-- - - - - - - - - - - - - - - - - --1
i:: 14~14~~ :-~~~ --~~o~~lRS -- -~ _-500_~·rlB~e~ -- -;TRE~ NA RUA CAPfT~b F~SCO,9o..iO. E-lJROP~

• i:: :;J;~:;;~~~~Ut~~~ .~. 'f::1Jl j~~'~_:":VRAR~~ J~~YUN~~:"


)C,-f~~!A~CiS'!!.~HJ~ ... :::::1- ·-~t~:~OO=ÕOO,9~~.~- .-=~_
L" ._ _. •___ ,o _ ._1·
Fil!LIr<l 7 - Trccho dc planilha contcndo valor pccuni{lrio c requisição
l.o('ali,.a4;ão: Di~\:o O l-d us ...·rs\p 1346X'·.My 24il11
._L: __ .._..

FilC'~\O(1.0XP.xl~
CIO. _ : : .

.._--

11" C.14.1363~403754
-- ___
f
l

Hll!ih: lhOF940C41I FEI71 FR2M:JDDEAJFB882


tltim:1 modifk:l4;ão: 24/09:'2014 17:23:IO"lJTC

Como tal operação ocorreu na cidade de São Paulo, a


instrução dos presentes autos conta com arquivos que contêm conversas
mantidas por Skype, alusivas à rotina da TRANSNACIONAL, como jà
esclarecido_

Na Informação Policial nO 18/201841 (fls. 27 a 35 - AC 4382)


constam detalhes sobre as quantias direcionadas a JOSÉ YUNES:

• Data
29/08/2014
08:36:35
_.

live:gtnsaopaul0
Autor
-
- ,.Dostlno

1:j.arauj01505@hotmaiLcom
--
i : Co;:rteÓdo
manda pra mim oque temos agendado
Por favor&apos;

1) Rua manguatá 9. broklineduardo


.i

29/08/2014 castro (11) 99988-9929 . senha é bolero


1:[email protected] live:gtnsaopaulo
08:36:55 entregar SOO mil

2) Rua aJberto faria, 646 alto de pinheiros


29/0812014 srgiltel (11) 9S444-9094 a senha é !rator
1:[email protected] live:gtnsaopaulo
08:37:06 entregar 100 mil

3) Rua capitão francisco.90 jardim


29/08/2014 europas~oséyunes ou srcida, senha é
1:j [email protected] live:gtnsaopaulo
08:37:15 pássaro entregar 500 mil

29/08/2014 live:gtnsaopaulo
08:37:36
1:[email protected] entre ' ?o/O"
29/08/2014 arecpçao informa que o seu JOSE
10:58:15
jjve:gtnsaopaulo 1:j.araUj01505@hc:€il.com
YUNES está viaiando&aoos; [)
29/08/2014
1:[email protected] live:gtnsaopaulo p~v
10:58:35

" Arquivo flmgJTEM-01-HO·MAXTOR-80GB.E01/vol. voI2/Config_Msii15f6a4.rbf»Conversa no Skype 51-


[email protected]
~~f:~~"- live:gtnsaopaulo 1 :[email protected] Ibmnao se encontra

~~:~:4ã ,.- live:gtnsaopaulo l:j [email protected] nemla no hotek&apos;

~~~~56 l:j [email protected] Ilve:gtnsaopaulo TAPERAI

,r~~46'4 live:gtnsaopaulo 1 :j.araujol505@hotmaiLcom ,v~/a i

'~";;:;47 ,.- live:gtnsaopauJo 1 :[email protected] ?

~
l:j [email protected] live:gtnsaopaulo TO VENDO

1 :[email protected] live:gtnsaopaulo ~~:;;n~ ~R' FÀVÕ~DA INSIDER DE

• Como rotina, as operações a serem realizadas ao longo do dia


eram listadas no início da manhã e, ao final da tarde, as ações do dia seguinte
eram disponibilizadas, Observe-se que havia três tarefas dessa natureza a
serem cumpridas naquele dia 29/08/2014, sendo que a de número "3" seria
balizada pelos dados "Rua Capitão Francisco, 90, para JOSE YUNES ou
CIDA."
Ao que indica o teor do diálogo, os entrega dores, ao chegarem
no local, receberam a informação de que "JOSÉ YUNES" estava viajando e de
que "CIDA" também estava ausente, Aparentemente, não havia outra pessoa
credenciada a receber as quantias, porém não há elementos que permitam
concluir se a entrega foi ou não efetivada naquele dia, pois a conversa por

• Skype não teve prosseguimento,

Quanto à não localização de JOSÉ YUNES em 29/08/2014, é


válido ressaltar que, conforme acusa o sistema de registros migratórios, ele
esteve fora do Brasil entre 22/08/2014 e 31/08/2014, circunstãncia confirmada
pelo próprio JOSÉ YUNES, no depoimento de fls. 673/675,

Como visto, por volta das 11 h já era sabido que JOSÉ YUNES
não estava no escritório para receber os valores, Interessante notar que, pouco
após, fora desencadeada uma ampla sequência de eventos telefônicos
envolvendo os terminais de ELlSEU PADILHA e JOSÉ DE CARVALHO FILHO,
somando dez chamadas entre 11: 15h e 12:09h,

79 cfP
DATA/HORA TERMINAL ORIGEM TERMINAL DESTINO DURACÃOj&
29/08/201411 :14:52 556192730193 556199430137 15
JOSÉ DE CARVALHO ELlSEU PADILHA
29/08/201411:15:10 556192730193 556199430137 19
JOSÉ DE CARVALHO ELlSEU PADILHA
29/08/201411:15:17 556192730193 556199430137 5
JOSÉ DE CARVALHO ELlSEU PADILHA
29/08/201411:18:38 556199430137 556192730193 131
ELlSEU PADILHA JOSÉ DE CARVALHO
29/08/2014 11 :21 :00 556192730193 556199430137 7
JOSÉ DE CARVALHO ELlSEU PADILHA


29/08/201411 :21 :36 556192730193 556199430137 25
JOSÉ DE CARVALHO ELlSEU PADILHA
29/08/201411 :22:03 556192730193 556199430137 36
JOSÉ DE CARVALHO ELlSEU PADILHA
29/08/201411:22:46 556192730193 556199430137 42
JOSÉ DE CARVALHO ELlSEU PADILHA
29/08/201411:23:24 556192730193 556199430137 38
JOSÉ DE CARVALHO ELlSEU PADILHA
29/08/201412:09:48 556192730193 556199430137 7
JOSÉ DE CARVALHO ELlSEU PADlLHA

Pela duração das chamadas, é possível deduzir que o


executivo JOSÉ DE CARVALHO FILHO tomou a iniciativa de contatar o
Ministro ELlSEU PADILHA e, após três tentativas, obteve retorno em conversa
estabelecida por 131 segundos. Após, sucederam-se outras tentativas elou

• breves diálogos. Deve-se lembrar que JOSÉ DE CARVALHO FILHO, em


depoimento, afirmou que recebia de ELlSEU PADILHA os dados para efetivar
as entregas de valores. Assim, é razoável que o tenha contatado para noticiar o
desencontro ocasionado pela ausência de JOSÉ YUNES em seu escritório,
quando os valores lá estavam.

Pela carência de dados, não é possível tecer qualquer


conclusão sobre o desfecho desta operação prevista para 29/08/2014.

Nada obstante, as conversas de Skype referentes aos dias


seguintes dão conta da programação de nova entrega naquele mesmo
endereço, em 04/09/2014:

02109/2014
15:31 :50
1:[email protected]
live:gtnsaopaul0 C quinta feira 4/09/2014 entregar
1.000.000,00 na rua capitao
Francisco padilha jardim europa entre ~
15 entrega insider ~

80
milhao) Senha
Francisco Padilha, 90. - Jardim
04109l2014 Europa, Sao Paulo. Entre Rua
1:j .araujo [email protected] live:gtnsaopaulo
09:36:24 Baviera e Rua Padre Manuel de
Chavaz Procurar $r. Jose Yunes ou
Shirlei. Entre 14 e 16 hrs.

i i
1:j .araujo1505@hotmaiLcom live:gtnsaopaulo

live:gtnsaopaulo 1 :[email protected] ainda estar no carro forte

live:gtnsaopaulo 1:[email protected] estarv transito aqui em sp

live:gtnsaopaulo 1:[email protected] seraa 2 viagem

• 05/09/2014
1:[email protected]

1 :[email protected]

1:j [email protected]

live:gtnsaopaulo
live:gtnsaopaulo

live:gtnsaopaulo
ok

tem

10:32:56

Note-se que, desta feita, o valor a ser levado ao escritório de


JOSÉ YUNES era de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), transportados ao
local em "duas viagens", segundo as explicações contidas nas mensagens 4 2.

Porém, o que se extrai de mais relevante desses diálogos é a


confirmação de que a operação fora realizada com êxito e que o próprio JOSÉ
YUNES teria recebido os valores, nos exatos termos:

• . "quemrecebeuu foi O Srjoseyunes e shirlel estava os dois no local"


quem assinou foi a shirlel"

Tem-se, assim, importante evidência a indicar que JOSÉ


YUNES, pessoalmente, recebeu valores provenientes da estrutura concebida
pela ODEBRECHT para o pagamento de vantagens indevidas.

A propósito disso, cumpre sublinhar o resultado da análise dos


dados telefônicos de terminal usado por JOSÉ YUNES naquela data.

42 o que se narmoniza com a narrativa de EDGAR O VENÂNCIO, no ponto em que esclareceu que, por norma da
empresa, cada entrega estava limitada ao valor de R$ 500.000,00 (quinnentos mil reais): 'QUE havia a orientação
de que o vatormáximo a ser transporlado por carro leve ara de R$ 500.000,00 (quinhenlos mil raais); QUE os carros
leves trataVBI11-Sa de vaicu/os Volkswagan Pala btindados, adquiridos do Grupo Petrópolis peta TRANSNAC/ONAL,
ocupados por dois homens, sendo um motorista e outro que efetivamente realizava a coleta ou entrega'.

81
l~fS

Conforme estampado no diálogo via Skype, a entrega dos


valores estava prevista para o intervalo entre 14h e 16h, sendo que, por volta
das 15h houve questionamento acerca do andamento da operação, cuja
resposta foi de que estava em andamento, "com os valores ainda no carro-
forte". Ou seja, depreende-se que demandaria mais algum tempo para a sua
efetivação no endereço-alvo.

Os registros de ERB para ligações efetuadas e recebidas no


intervalo entre 11 h25min e 16h40min indicam que o telefone celular de JOSÉ
YUNES localizava-se em área compatível com o endereço da Advocacia José
Yunes e Associados 43 ;

."'~
Q
...
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...."

-
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••

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• 9

Além disso, às 16h26min JOSÉ YUNES realizou chamada ao


terminal de nO 61.9943.0137. utilizado por ELlSEU PADILHA. Muito
provavelmente, tal ligação tenha sido ocasionada pela entrega de valores que
recém havia sido concluída.

DATA/HORA TERMINAL ORIGEM TERMINAL DESTINO


04/09/201416:26:31 5511971004595 556199430137

Cabe pontuar, adicionalmente, que a quebra do sigilo telefônico


dos terminais de JOSÉ YUNES abrange o período de 01/08/2014 a
31/11/2014, no qual houve o registro de chamadas envolvendo terminais

" Relatório de Analise de Polícia Judiciária n' 082/2018 • GINQ/STF/DICORlPF (fls. t 151/1213)
vinculados a ELlSEU PADILHA em apenas cinco datas distintas, excluindo-se
o dia 04/09/2014, o que demonstra que não havia contato frequente entre
ambos, ao menos pelos canais incluidos na referida quebra:

DatalHora Terminal Origem Terminal Destino


19/08/201417:36:57 556199430137 5511971004595
19/08/2014 18:43:39 556199430137 5511971004595
04/09/201416:26:31 5511971004595 556199430137
05/09/2014 11: 16:48 5511971004595 556199430137
05/09/201417:22:24 556199430137 5511971004595

• 18/09/201408:30:53
18/09/201408:31 :51
18/09/201408:32:41
18/09/201409:59:01
18/09/20141032:46
27/09/201414:02:02
556199430137
556199430137
556199430137
5511971004595
5511971004595
556199430137
5511971004595
5511971004595
5511971004595
556199430137
556199430137
5511971004595
01/10/201411 :14:00 5511971004595 556199430137

Saliente-se, ademais, que o propno JOSÉ YUNES, em


depoimento, afirmou não manter relação próxima com ELlSEU PADILHA,
classificando-a como "de conhecimento" e não de amizade 44

Em complementação, passa-se aos depoimentos prestados por


ex-funcionários da empresa TRANSNACIONAL que atuavam no transporte de
valores:

• Às fls. 727/728, ABEL


categoricamente ter estado no endereço em questão:
DE aUEIRÓZ confirmou

"QUE, especificamente sobre o endereço sffuado na Rua Francisco Padilha,


90 (objeto de reconhecimento in loco), o declarante afirma, com absoluta
certeza, que lá esteve em pelo menos duas oportunidades; QUE, salvo
engano, os seus parceiros de trabalho nas operações realizadas em tal
endereço foram OLIVEIRA e ALVES (BILL V), sendo que coube a eles
realizar a operação propriamente dita, ou seja, a entrega do dinheiro ao
destinatário; QUE essas operações ocorreram em datas diferentes; QUE,
perguntado se, em alguma dessas operações houve a impossibilidade de
entrega do dinheiro pela ausência das pessoas credenciadas a recebê-lo,
afirma que isso já ocorreu, poucas vezes, mas não se recorda se foi na
entrega da Rua Francisco Padilha, 90; QUE não lembra se as pessoas

" "QUE perguntado sobre a relação que mantém com o Ministro ELlSEU PADILHA, o daclarante afirma que se
trata de relação amistosa, em razão de afinidade e milítância política, sendo, portanto, uma relação d~
'conhecimento" e não de amizade" (fls. 6731675)

83
indicadas para receber o dinheiro eram 'YUNES' e 'SHIRLE/', pois era o
encarregado que tinha mais contato com esses dados".

No âmbito da diligência policial de fI. 726, ABEL DE QUEIROZ


compareceu no endereço em que se situa o escritório de JOSÉ YUNES e
afirmou, "com certeza e precisão", que estivera no local a serviço da
TRANSNACIONAL.

• Na mesma linha foi o depoimento de WILSON FRANCISCO


ALVES, às fls. 742/745. Após discorrer sobre detalhes de sua atividade no
transporte de valores, WILSON ALVES foi questionado sobre as operações em
análise e declinou os seguintes termos:

QUE recorda-se de ter estado no endereço da Rua Capitão Francisco


Padilha, nO 90, Jardim Europa/SP, para entrega de valores; QUE recorda-se
bem deste local, em razão do muro de vidro do prédio onde ocorreram
entregas de malotes; QUE neste endereço, efetuou três ou quatro entregas
durante uma determinada semana, não se recorda especificamente se em
2013 ou 2014; QUE participou de entregas pontuais neste local;

(..)

QUE mantém contato com colegas que trabalharam na TRANSNACIONAL e,


em conversas com estes colegas, teve conhecimento de que a POlícia
Federal estava questionando se a TRANSNACIONAL fazia entregas em
determinados endereços; QUE, desta forma, decidiu retornar com os colegas
da TRANSNACIONAL aos endereços cffados pela Polícia Federal para ter
certeza de que efetivamente foram feffas entregas naqueles endereços; QUE
desta forma, retornou ao endereço da Rua Capitão Padilha, nO 90, com
colegas que trabalhavam na TRANSNACIONAL, de forma que afirma
com certeza gue esteve algumas vezes neste local para entrega de
valores durante o seu período de trabalho na TRANSNACIONALjQUE
não reconhece com certeza as pessoas cujas fotografias foram apresentadas
nesta audiência, até porque, na maioria das vezes, trabalhava na função de
motorista, ficando a tarefa da entrega com os outros colegas de trabalho;"

o conjunto de dados recém exposto é suficiente para


demonstrar o ingresso do dinheiro ilícíto no escritório de JOSÉ YUNES, com
\~f8

atuação tenha se dado a pedido de ELlSEU PADILHA, como consta dos autos,
é com o Exmo. Sr. Presidente da República, MICHEL TEMER, que JOSÉ
YUNES mantém vinculos estreitos e de longa data.

Pois bem. Neste cenário particular há um desdobramento fático


que envolve a destinação dos valores, já que LÚCIO BOLONHA FUNARO, em
depoimento de fls. 441/445, afirmou ter sido demandado por GEDDEL VIEIRA
LIMA para apanhar determinada quantia no escritório de JOSÉ YUNES e


encaminhá-Ia a Salvador/BA. Seguem-se os termos:

"há cerca de vinte anos atua como operador financeiro, realizando, desde
2002, operações ilicffas no interesse de diversos agentes políticos, como
EDUARDO CUNHA e GEDDEL VIEIRA LIMA, valendo-se, para tanto, de
diversas empresas que controlava, empregadas de forma alternada ao longo
do tempo; QUE, em razão de ter realizado diversas operações financeiras no
interesse de EDUARDO CUNHA, o declarante passou a manter relação
muito próxima com GEDDEL VIEIRA LIMA; QUE as operações realizadas
para EDUARDO CUNHA tinham como beneficiários o próprio ex-parlamentar
e outros políticos, já no tocante a GEDDEL, os valores eram encaminhados a
ele próprio, não sabendo se ele repassava as quantias a terceiros; QUE,
entre o final de agosto e inicio de outubro de 2014, o declarante, quando
estava em seu escritório, em São PaulolSP, recebeu mensagem de GEDDEL
VIEIRA LIMA lhe solicffando que apanhasse R$ 1 milhão que havia obtido da
ODEBRECHT; QUE GEDDEL tinha a liberdade para mencionar a origem dos


valores, pois mantinha com o declarante uma relação de muffa proximidade,
tendo ambos realizado operações de muffos milhões de reais; QUE a
mencionada mensagem foi encaminhada a um telefone que o declarante
utilizava exclusivamente para a troca de dados através de aplicativos
diversos, como Telegram e Wickr; QUE ao confirmar a GEDDEL que tinha a
disponibilidade para apanhar os valores e encaminhá-los a Salvador, tal
como ele havia solicitado, GEDDEL disse ao declarante para aguardar
porque ele ia falar com PADILHA e retornaria; QUE após alguns minutos,
GEDDEL tomou a contatar o declarante, perguntando se o declarante
conhecia JOSÉ YUNES, ao que o declarante respondeu positivamente,
esclarecendo que o conhecia apenas de vista, pois usavam o mesmo
heliponto em São Paulo; QUE GEDDEL forneceu um telefone de YUNES
para que o declarante fizesse contato para ajustar detalhes da retirada dos
valores; QUE ao lígar para YUNES, este orientou o declarante para que
comparecesse ao seu escrffório, sftuado nas proximidades do bar Mercearia
São Roque; QUE o declarante lá compareceu, no mesmo dia, e, ao chegar,
foi atendido por uma recepcionista, que autorizou a entrada do declarante
com o carro na garagem, que ficava ao lado direito do prédio; QUE ~

85 ~
declarante foi encaminhado à sala de YUNES, situada no segundo andar,
onde foi recebido por ele; QUE, na sala, duas coisas chamaram a atenção do
declarante, um diploma de Deputado Federal constituinte e de bacharel em
Direito pela Universidade de São Paulo; QUE ambos permaneceram por
cerca de 15 minutos conversando sobre assuntos diversos, lembrando que
YUNES chegou a convidar o declarante para visitar o late Clube de Ilha Bela,
do qual era Comodoro; QUE, em meio à conversa, YUNES perguntou se o
declarante sabia o que estava indo retirar, referindo-se à quantia, ao que o
declarante respondeu que sim; QUE os valores estavam acondicionados em
uma caixa, com características de uma caixa de sapatos, mas um pouco

• maior, embalada com papel; QUE o declarante entregou a caixa ao motorista


e este a colocou no porta-malas; QUE os valores foram levados inicialmente
ao escritório do declarante e ficaram guardados em local próprio; QUE o
declarante enviou mensagem a GEDDEL e confirmou o sucesso da
operação; QUE, para o encaminhamento dos valores a Salvador, o
declarante entrou em contato com TONY, com quem já tinha realizado
diversas operações; QUE o declarante tomou conhecimento de que TONY,
que atualmente está preso no Uruguai, utilizou-se dos serviços de 'JÚNIOR'
para encaminhar os valores a GEDDEL; QUE não dispõe de maiores
detalhes sobre essa operação de transporte do dinheiro a Salvador, sabendo
apenas, por conta das diversas operações realizadas com TONY, que o
dinheiro era levado em veiculos com compartimentos próprios e ocultos;
QUE o declarante não tem a exata identificação de 'JÚNIOR', pois tal pessoa
era mencionada apenas dessa forma; QUE o declarante tem lançado em sua
contabilidade esse valor de R$ 1 milhão, pelo fato de ter ingressado no caixa
do declarante; QUE o declarante se compromete a entregar, no prazo de 15

• dias, documentos que comprovam esse lançamento contábil; QUE o


declarante tomou conhecimento do teor de depOimento prestado
espontaneamente por JOSÉ YUNES à Procuradoria-Geral da República, no
qual mencionou o episódio da entrega de dinheiro e a participação do
declarante; QUE as declarações de YUNES são absolutamente falsas, pois
atribuem ao declarante a entrega dos valores, o que jamais ocorreu; QUE,
segundo YUNES, o declarante teria participado de operações envolvendo R$
4 milhões, o que também nunca ocorreu; QUE YUNES também afirmou
desconhecer o conteúdo de um envelope que teria recebido a pedido de
ELISEU PADILHA, ao descrever o episódio narrado acima pelo declarante;
QUE YUNES, como dito acima, tinha plena ciência de que estava
repassando ao declarante uma expressiva quantia de dinheiro; QUE o
declarante, inclusive, por seu advogado, enviou um pedido à Procuradoria-
Geral da República no sentido de que promovesse uma acareação com
JOSÉ YUNES e CLAuDIO MELO FILHO, tendo havido resposta no sentido
de que oportunamente tal ato poderia ser realizado, o que não se confirmou".

.~
1~80

Em complementação, FUNARO apresentou os documentos de


fls. 729/733, com o propósito de comprovar o encaminhamento de valores a
GEDDEL VIEIRA LIMA, em Salvador/BA, no dia 03/10/2014.

JOSÉ YUNES, que havia prestado informações


espontaneamente à Procuradoria-Geral da República, apresentou também no
âmbito destes autos sua versâo sobre os fatos (fls. 673/675):

• "QUE perguntado sobre a relação que mantém com o Ministro ELlSEU


PADILHA, o declarante afirma que se trata de relação amistosa, em razão de
afinidade e milffância poli/ica, sendo, porlanto, uma relação de
'conhecimento' e não de amizade; QUE, da mesma forma, o declarante
define a relação que mantém com o Ministro MOREIRA FRANCO; QUE,
quanto a GEDDEL VIEIRA LIMA, o declarante esclarece que o conhecia,
mas não tinha relação próxima como a que mantém com ELlSEU PADILHA e
MOREIRA FRANCO; QUE, com o Presidente da República MICHEL
TEMER, o declarante mantém re/acões de natureza politica. mas
também de amizade. há mais de cinquenta anos; QUE, a convite do
Presidente da República, o declarante ocupou o cargo de Assessor Especial
da Presidência da República por cerca de sete meses, quando pediu
exoneração em razão da exploração jornalistica de fatos que permeiam o
presente inquérito; QUE, conforme narrou à PGR, o declarante, entre
agosto e setembro de 2014, recebeu solicitação de EL/SEU PADILHA,
por telefone, para que recebesse em seu escritório, situado à Rua

• Capitão Francisco Padilha, 90, um documento, sem revelar o conteúdo


ou finalidade, para que uma terceira pessoa o apanhasse logo em
seguida; QUE, transcorridas entre três e quatro semanas da ligação de
ELISEU PADILHA, o declarante foi avisado por sua secretária que havia um
'LÚCIO' no escritório; QUE, então, manteve conversa com ele na sala de
reuniões do escritório, por cerca de não mais que dez minutos, e apanhou o
documento que motivara o encontro; QUE LÚCIO fez a entrega do
documento e saiu do escritório; QUE, solicitado a descrever o documento,
afirma que se tratava de um envelope de pequenas dimensões, muito bem
embalado e sem qualquer inscrição; QUE tal envelope assemelhava·se ao
tamanho de uma folha de papel tipo oficio, com cerca de 5cm de altura; QUE
ELISEU PADILHA não havia mencionado o nome de LÚCIO na conversa em
que solicitara ao declarante o recebimento do documento; QUE o encontro
com LÚCIO não havia sido agendado com o declarante, desconhecendo se
ele realizou ligação telefônica ao escritório para saber se o declarante lá
estava naquela data; QUE o declarante não conhecia LÚCIO até aquela
ocasião e somente soube que se tratava de LÚCIO FUNARO após ter
consultado o Google e visto que a imagem dele correspondia à da pessoa~

87 VI
1~8\

com quem recém havia estado; QUE o declarante não possui um diploma de
parlamentar constituinte em seu escritório; QUE possui em sua sala um
diploma de graduação pela USP; QUE o declarante é Comodoro no late
Clube de Ilha Bela há quatro anos, não se recordando de ter feito
comentários a esse respeito com LÚCIO FUNARO; QUE, ao consultar o
Google, o declarante ficou impressionado com os resultados, especialmente
pelos resultados referentes ao 'mensalão', mas, mesmo assim, não
questionou ELISEU PADILHA por tê-lo enviado ao seu escritório; QUE, aliás,
nunca tratou com ELlSEU PADILHA sobre esse episódio; QUE, como
ELISEU PADILHA é advogado, o declarante imaginou que o envelope

• referido por ele pudesse ter relação com a atividade advocatícia; QUE o
declarante não dispõe da identificação da pessoa que compareceu ao seu
escritório e, após cerca de quarenta minutos da saída de LÚCIO FUNARO,
apanhou o documento; QUE essa retirada do documento ocorreu em horário
de almoço, quando o declarante havia saído do escritório; QUE não há
qualquer sistema de registro de portaria no escritório do declarante; QUE o
declarante confiou à SHIRLEI, sua secretária, a tarefa de entregar o volume à
pessoa que foi apanhá-lo; QUE tal pessoa apenas utilizou-se do nome
'LÚCIO', como forma de se referir a LÚCIO FUNARO; QUE essa tinha sido a
instrução passada pelo próprio LÚCIO FUNARO ao declarante; QUE
SHIRLEI trabalha há mais de quinze anos no escritório do declarante, QUE
não há e nunca houve ninguém com o nome 'CIDA' vinculada ao escritório do
declarante; QUE ELISEU PADILHA nunca havia solicitado ao declarante o
recebimento de documentos em seu escritório; QUE o declarante realizou
viagem ao exterior no final de agosto de 2014; QUE não recorda exatamente
quando recebeu LÚCIO FUNARO em seu escritório, podendo afirmar apenas

• que ocorreu após ter retomado da viagem que havia realizado ao exterior;
QUE, muito tempo depois, o declarante comentou com o Presidente
MICHEL TEMER que havia recebido a visita de LÚCIO FUNARO, tendo Sua
Excelência demonstrado desconhecer que ELlSEU PADILHA havia solicitado
tal favor ao declarante; QUE o declarante nunca recebeu valores em espécie
em seu escritório, em valores aproximados a R$ 500,000,00 (quinhentos mil
reais); QUE tomou conhecimento do teor das declarações prestadas por
LÚCIO FUNARO nestes autos, tenho a dizer, a esse respeito, que houve
uma total inversão dos fatos, narrados totalmente em desacordo com a
verdade dos mesmos; QUE as informações prestadas por LÚCIO FUNARO
não merecem nenhum crédito, em razão do 'currículo' no crime que tal
pessoa ostenta",

SHIRLEY SIQUEIRA GOMES, secretária de JOSÉ YUNES,


disse, às fls, 692/694, que trabalha há dezoito anos naquele escritório,
recordando-se do comparecimento de LÚCIO FUNARO no local, em2014,~

88 l'
Acerca disso, afirmou que tão logo encerrou a conversa com FUNARO, JOSÉ
YUNES a entregou uma sacola contendo um envelope, dizendo que alguém
passaria posteriormente para apanhá-Ia. SHIRLEY afirmou que, após cerca de
uma hora, ela mesma entregou o volume ao "portador" de LÚCIO FUNARO,
não se recordando das características físicas de tal pessoa. Quanto ao
mencionado "documento", descreveu as suas dimensões como próximas ás de
um "envelope de papel tipo ofício, pesando aproximadamente de dois a três
quilos' .

• Fora isso, disse desconhecer se o comparecimento de


FUNARO no escritório foi antecedido de agendamento, afirmando que o
episódio ocorreu logo após o retorno de JOSÉ YUNES de uma viagem
internacional que havia realizado na data de seu aniversário (23 de agosto). E,
noutro giro, nominou funcionários daquele escritório, esclarecendo que não há
e nunca houve ninguém com o nome "CIDA"45 e que a secretária pessoal de
JOSÉ YUNES chama-se CÉLIA.

Por fim, questionada se recebeu algum pacote identificado com


inscrições da empresa TRANSNACIONAL, disse que não e que nunca recebeu
volumes de empresas transportadoras de valores no escritório de JOSÉ
YUNES .

• Ainda que conflitantes em sua maior parte, as narrativas


convergem quanto ao comparecimento de LÚCIO BOLONHA FUNARO no
escritório de JOSÉ YUNES, o que teria se dado, na versão do advogado, a
pedido de ELlSEU PADILHA, com a finalidade de deixar um "documento", que
posteriormente fora apanhado no mesmo local por alguém vinculado ao próprio
FUNARO.

A versão apresentada por JOSÉ YUNES é nitidamente


despojada de qualquer sentido razoável. Evidentemente, LÚCIO FUNARO,
pela natureza das atividades que desempenhava, não teria comparecido ao
escritório de advocacia para apanhar documentos. Ademais, se JOSÉ YUNES
fosse efetivamente o incauto que tentou transparecer em suas declarações,

" Informação que se compatibiliza com o resultado da diligência consubstancia na Informação n' 44/2018 (fls.
7221724). ~

89 ~
não teria sido inserido, mesmo como entreposto, no contexto de flagrante e
comprovado fluxo de dinheiro ilícito. Bastaria que os valores fossem
direcionados ao próprio FUNARO, diretamente, a GEDDEL VIEIRA LIMA,
segundo a hipótese aventada nestes autos, ou a qualquer outro destinatário,
dada a conhecida amplitude operacional da estrutura usada pela
ODEBRECHT. Rigorosamente, a versão apresentada por JOSÉ YUNES de
que recebeu de FUNARO um pacote que, pouco após, foi retirado por alguém
a mando de FUNARO, não merece crédito .

• Como visto, na arguição de LÚCIO FUNARO, a sua presença


naquele escritório de advocacia decorreu de solicitação de GEDDEL VIEIRA
LIMA para que apanhasse R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) e
encaminhasse a Salvador/BA.

As ações operacionais que teriam envolvido a remessa dos


valores a Salvador, segundo o relato de FUNARO, teriam ficado a cargo do
doleiro TONY que, para se desincumbir de tal encargo, teria lançado mão dos
serviços de "JÚNIOR".

Ante tal narrativa, CLAUDIO FERNANDO BARBOZA DE


SOUZA, o TONY, afirmou o seguinte (fls. 877/888):

• "QUE conhece LÚCIO BOLONHA FUNARO desde os anos 90, pois ele
mantinha negócios com os chefes do declarante; QUE, após 2003, o
declarante passou a ter negócios em diversas modalidades com FUNARO,
desde dólar-cabo, troca de recebiveis envolvendo boleto bancário e outros;
QUE o declarante fez negócios com FUNARO até a data em que ele foi
preso, em 2016; QUE, diante da narrativa de LÚCIO FUNARO consignada às
fls. 441/445, renerada nos documentos de fls. 729fl33, no sentido de que o
declarante o teria auxiliado no envio de cerca de R$ 1.000.000,00 (um milhão
de reais) a Salvador, em 2014, valendo-se dos serviços de 'JÚNIOR', tem a
esclarecer que, de fato, foi demandado por FUNARO para realizar
operacão em Salvador. envolvendo duas entreqas de R$ 500.000.00.
mas não tem certeza se coincidem com o contexto relatado por
FUNARO; QUE precisa consultar os registros de seus sistemas para poder
afirmar com certeza; QUE pode adiantar que não teria mencionado a
FUNARO a forma como levaria os valores a Salvador; QUE, fora isso,
estranha o fato de ter recebido 'dinheiro vivo' de FUNARO, o que dificilmente
ocorria; QUE, caso tenha ocorrido a operação descrita por FUNARO,
possivelmente envolveu boletos bancários ou outros doleiros do Rio de ~

90 \.../'1
Janeiro com quem FUNARO dispunha de relacionamento; QUE o declarante
se recorda de ter utilizado, no ano de 2015, os setViços de 'JÚNIOR' para
enviar valores a Salvador a pedido de LÚCIO FUNARO; QUE, salvo engano,
essas entregas foram realizadas em um hangar no aeroporto de Salvador,
local em que o próprio FUNARO costumava entregar dinheiro naquela
capital, segundo comentários feitos por ele ao declarante".

GEOOEL VIEIRA LIMA também foi ouvido a respeito de sua


participação nos fatos e, às fls. 689/691, arguiu que, em 2014, não estava

• ocupando nenhum cargo público e que nunca exerceu qualquer função


relacionada à arrecadação de fundos ao PMDB. Disse, também, que mantém
relação política e de amizade com o Ministro ELlSEU PADILHA e com o
Presidente MICHEL TEMER, sendo que, no tocante a JOSÉ YUNES, a relação
é definida como apenas "de conhecimento". Sobre LÚCIO FUNARO, afirmou
tê-lo conhecido quando seu pai estava enfermo e ele, FUNARO, se prontificou
a prestar ajuda, dando opinião sobre médicos e tratamentos realizados no
Hospital ALBERT EINSTEIN, uma vez que a sua mãe estivera internada por
longo tempo naquele nosocômio. Fora isso, afirmou que não costumava usar
aplicativos de troca de mensagens de texto (como Telegram e Wickr) para se
comunicar com LÚCIO FUNARO, admitindo que eventualmente mantinha
contatos com ele por telefone. Sobre o ponto especifico, aduziu:

• "Questionado se solicitou a LÚCIO FUNARO que apanhasse valores no


escritório de JOSÉ YUNES, em 2014, afirma que 'peremptoriamente não';
QUE acerca das declarações de LúCIO FUNARO no sentido de que, a
pedido do declarante, compareceu no escritório de JOSÉ YUNES, em São
Paulo, apanhou R$ 1.000.000,00 e enviou a Salvador/BA, por pessoa que
conhece apenas por 'JÚNIOR', afirma o declarante que se trata de inverdade;
QUE não conhece nenhuma pessoa chamada 'JÚNIOR', no contexto referido
por LÚCIO FUNARO, QUE, perguntado ao que atribui a narrativa nesse
termos, presume o declarante que LÚCIO FUNARO apresentou informações
falsas para obter beneficios em seu acordo de colaboração; QUE essas
informações falsas é que, em sintese, permitiram a ele a soltura e
conduziram o declarante à prisão".

De resto, afirmou desconhecer a relação mantida por JOSÉ


YUNES com o Ministro ELlSEU PADILHA e com o Presidente MICHEL

TEMER•• "ml"" ,., ."".I.,ô, 000'''' ",.=, ,.,., oom CLÁUO~:~


12>8S

MELO FILHO, executivo da ODEBRECHT, uma vez que o considerava um


amigo. Arguiu que, no ano de 2014, estava rompido politicamente com ELlSEU
PADILHA, MICHEL TEMER e com o PMDB, de forma geral, pois era candidato
ao Senado pela Bahia, compondo chapa com PAULO SOUTO, com apoio á
candidatura de AÉCIO NEVES, adversário do PMDB nas eleições
presidenciais. Em razão dessa oposição á candidatura de DILMA ROUSSEFF
e MICHEL TEMER, coordenada por ELlSEU PADILHA, juntamente com outros
membros do partido, alegou que não faria sentido o encaminhamento a

• Salvador de valores que abasteceriam a campanha do PMDB .

Até aqui, a exposição se ateve a dois momentos: a entrega de


valores no escritório de JOSÉ YUNES e a retirada desse numerário por LÚCIO
FUNARO, com vistas ao envio a Salvador/BA, aos cuidados de GEDDEL
VIEIRA LIMA.

As evidências reunidas acerca desses fatos, reitere-se,


permitem concluir, com elevado nivel de segurança, que os valores
provenientes da ODEBRECHT foram deixados no escritório de JOSÉ YUNES,
em 04/09/2014, tendo o próprio advogado se envolvido diretamente na
operação.

Já no aspecto da destinação, ainda que a versão de LÚCIO

• FUNARO se apresente razoável, inclusive no aspecto de seu comparecimento


ao escritório de JOSÉ YUNES (fato incontroverso l, as indicações a respeito do
envio dos valores a Salvador/BA não se mostram suficientes para confirmar
que GEDDEL VIEIRA LIMA os tenha recepcionado.

Vale destacar, diante da importância da dinâmica das relações


que, como se tratava de periodo pré-eleitoral, em que sabidamente se
intensificam as demandas financeiras, há indicativos, inclusive, de que o
escritório de JOSÉ YUNES tenha sido palco até mesmo de outra operação de
igual valor, mas em contexto diverso, esta segunda, contudo, sem envolver a
ODEBRECHT.

Tal possibilidade se evidencia da leitura do trecho do trecho do


diálogo travado entre o empresário JOESLEY BATISTA e o então Deputado

~
Federal RODRIGO DA ROCHA LOURES, contido na denúncia ofertada pela
Procuradoria-Geral da República no âmbito dos Inquéritos n. 4.327/DF e
4.483/DF46:

"Joesley Batista: ... que trapalhada foi essa do Yunes? Que porra é essa? [..]
RODRIGO LOURES: quando surgiu aquele episódio, aquela delação, ele
ficou pessoalmente muito magoado. Porque [..] ele iria trazer um problema ...
Ele adora o presidente. Ele ama o Temer [...] ele. com o seu gesto [. .. ] no
gabinete, quis [. ..] sinalizar pros demais. Ge... el, Padilha. Moreira, que


aquele [..] gesto que ele tava fazendo era um gesto de grandeza: Olha. eu tô
saindo em [...] homenagem ao nosso amigo principal E saiu. [. ..] confusão ...
Joesley Batista: Pois é, pô. RODRIGO LOURES: E vai derrubar o Padilha.
Joesley Batista: Cá entre nós, eu fiquei com medo. Nó deixamos dois
milhão pra ele. [...J Um milhão uma vez. E um na outra. RODRIGO
LOURES: Lá no escritório dele? Joes/ey Batista: Lá no escritório dele.
RODRIGO LOURES: Aqui em São Paulo? Joes/ey Batista: Naquela
mesma situação. RODRIGO LOURES: Era... mas através do Lú.. ? [. ..]
Joesley Batista.' (Ininteligivel). RODRIGO LOURES: É, então pronto. Joesley
Batista. Através do ... é, mas não corre o risco ... , não corre dele falar? [. ..] Eu
fiquei assustado com esse troço. RODRIGO LOURES: Tudo bem, mas ele
sabe que a [... ] (Ininteligivel), mas ele sabe que .. quem pediu pra ele? Foi na
época do Chalita, não foi? [... ] Joesley Batista: Foi na época do Chalita [. .. ]
Mas ele sabe tudo. RODRIGO LOURES: Não, mas não vejo problema [. .. ]
Joesley Batista: E foi o Padilha que pedia esse dinheiro? No nosso caso não.
RODRIGO LOURES: IIninteligivel) no de vocês ... mas, no caso que ele me
contou é que ... [. .. ] aquilo que ele disse pros jornais é verdade: o Padilha

• ligou, perguntou se ele poderia [...] Joesley Batista: Esse ... ele fez isso ... pra
ele amanhã... e amanhã se esse doido ia lá 'não, o pessoal lá levou também
e tá' [...] A pergunta é: o Michel tá bem com o Yunes? RODRIGO LOURES:
Tá. Joesley Batista: Não corre do Yunes querer fuder o Michel não?
RODRIGO LOURES: Não, não, não, não, não. Não, tá tudo bem. Joesley
Batista: Que o Yunes fudeu o... o Eh ... o Padilha, eu não sei. Agora, vai que
esse doido quer fuder o Michel, me fode junto. RODRIGO LOURES: Não,
não, não. Isso não. [. ..] Joesley Batista: Pronto. RODRIGO LOURES: Eu
acho que... Joesley Batista: Deixa eu falar, desses assuntos ai, enfim, eu
acho que nós temos [. .. ] O negócio do CADE, bem objetivo".

46(Com origem no Inquérito n. 4.483, Laudo n. 1.24712017 - INC/DITEC/DPF, pp. 121/128, Iranscrição do arquivo
PR2 A 13032017.wav.)
Assim, frente á possibilidade de ter havido mais de uma
entrega de valores no escritório de JOSÉ YUNES, em curto intervalo de tempo,
torna-se temerário associar - ao menos em caráter definitivo - a presença de
LÚCIO FUNARO naquele local aos valores encaminhados pela ODEBRECHT.

Por derradeiro, consignem-se os questionamentos


apresentados ao Exmo. Sr. Presidente da República, MICHEL TEMER (fls.
1086/1088) e correspondentes respostas (fls. 1082/1085), no que concerne ao


particular contexto:

Qual a relação mantida entre Vossa Excelência e o advogado JOSÉ


YUNES? É possivel afirmar que JOSÉ YUNES é pessoa da máxima
confiança de Vossa Excelência?

"Conheço-o desde os tempos da Faculdade de Direito do Largo São


Francisco. A confiança é proporcional a esta longa amizade."

JOSÉ YUNES afirmou, em declarações prestadas nos autos do Inquérito nO


4462, que, a pedido do Minislro ELlSEU PADILHA, recebeu uma pessoa em
seu escrilório, em São Paulo, no ano de 2014, a quem posteriormente
identificou tratar-se de LÚCIO FUNARO. Vossa Excelência tomou
conhecimento do episódio, à época? O que tem a dizer a respeito?

"Tomei conhecimento posteriormente."

• São do conhecimento de Vossa Excelência os motivos que determinaram o


envio de LÚCIO FUNARO, pelo Ministro ELlSEU PADILHA, ao escritório de
JOSÉ YUNES?

"Não tenho conhecimento."

Qual a relação mantida entre o Ministro ELlSEU PADILHA e LÚCIO


FUNARO?

"Não tenho a menor ideia."

JOSÉ YUNES, em suas declarações, afirmou que LÚCIO FUNARO ostenta


vasto "curriculo no crime"? Vossa Excelência tinha, à época, conhecimento
dessa circunstância?

"Não. li
Vossa Excelência dispõe de conhecimento que lhe permita descrever a
relação mantida entre o Ministro ELlSEU PADILHA e LÚCIO FUNARO?

'Wão."

No ano de 2014, Vossa Excelência recebeu algum valor em espécie, para


qualquer que seja a destinação, contando com a interposição de JOSÉ
YUNES?

"Pergunta ofensiva. Não merece resposta."

• JOSÉ YUNES já exerceu a função de arrecadador de campanha no interesse


de Vossa Excelência?

Vossa Excelência tomou conhecimento se, no ano de 2014, JOSÉ YUNES


recebeu algum valor da ODEBRECHT endereçado ao Ministro ELlSEU
PADILHA?

"Não."

Vossa Excelência já recebeu valores de empresas do grupo ODEBRECHT?


Se sim, em que contexto?

"Não. O PMDB recebeu contribuições oficiais. "

• A despeito da indefinição quanto ao encaminhamento dos


valores a GEDDEL VIEIRA LIMA, face às razões expostas acima, remanescem
firmes os indicios de que JOSÉ YUNES, em 04/09/2014, recebeu R$
1.000.000,00 (um milhão de reais) enviados a seu escritório pela
ODEBRECHT, em atenção à solicitação do Ministro ELlSEU PADILHA,
havendo a possibilidade, pela natureza da relação pessoal mantida entre
ambos, que JOSÉ YUNES tenha atuado como interposta pessoa no interesse
do Exmo. Sr. Presidente da República, MICHEL TEMER.
Síntese gráfica do micro caso:

~JL
Advoc.ell

~D1
Jo.' Yunfl

ODEBRECHT -> eHOYA -> B$1.000.000.



_,,".,.= Anodldcn ~

...
04/09/2014 Michel
TRANSNACIONAL Temer
~
José
Vunes

• 2.3.3) R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) em São Paulo -


EDUARDO CUNHA.

o fato de o ex-deputado EDUARDO CUNHA ter sido


contemplado com parte daqueles R$ 4 milhões - que supostamente coube ao
Ministro ELlSEU PADILHA gerenciar - foi trazido à tona pelo executivo JOSÉ
DE CARVALHO FILHO (fls. 304/308):

"QUE tem certeza de que informou a Eliseu Padilha a ocorrência de


pagamentos no montante de 4 milhões; QUE encontrou nos registros da
empresa alguns endereços informados por Eliseu Padilha para entrega
do dinheiro: Rua Capitão Francisco, 90, Jardim Europa, Sr. Yunes ou Sra.

• Cida, ou Rua Geronimo da Veiga 248, apto 1101, Sr. Altair ou Zabo; QUE,
questionado a respeffo do endereço de pagamento das datas em que o
nome do declarante aparece no campo observação, diz que não tem
como explicar por qual razão não consta o endereço que informou ao setor;
QUE, durante o processo de pagamento desses 4 milhões, recebeu uma
ligacão do então deputado Eduardo Cunha, o qual reclamava que não
havia sido pago: QUE ele dizia que tinha R$ 500.000,00 para
receber e não havia recebido; QUE como Eliseu Padilha havia informado
que esses 4 milhões seriam disfribuidos a outros integrantes do PMDB,
supôs que o pagamento sobre o qual Eduardo Cunha reclamava se
referia a uma parte dos 4 milhões; QUE ligou para Lucia Tavares para
confirmar se todos os pagamentos haviam sido efetivamente feitos;
QUE Lucia Tavares confirmou que todos os valores haviam sido
entregues; QUE diante dessa informação, foi, juntamente com Claudio
Melo, falar com Eliseu Padilha; QUE Eliseu Padilha disse que não era
possivel, pois se o dinheiro tivesse sido entregue no escritório de Yunes,
o dinheiro ainda estaria lá; QUE Eliseu Padilha disse que Yunes era um~

96 1
I~'io

senhor de 70 anos de idade, de confiança e respeitabilidade, amigo de


Michel Temer; QUE em resumo, Eliseu Padilha afirmou que o dinheiro
não havia sido entregue; QUE pelo teor da conversa, supôs que uma
parte do valor entregue no endereço de José Yunes seria
destinado a Eduardo Cunha; QUE a empresa, para evaar mais
desgaste, decidiu fazer um novo aporte no valor de R$ 500,000,00; QUE
esses 500 mil foram também entregues no escritório de José Yunes; QUE
em razão dos problemas anteriores, pediu que Lucia Tavares tomasse a
precaução de pegar recibo da entrega, o que não era comum; QUE
depois da entrega, Lucia Tavares mostrou ao declarante o recibo da
entrega dos 500 mil; QUE se recorda que no recibo contava o recebimento

• por uma pessoa de nome 'Cida"'.

Tal narrativa conta com a confirmação de CLÁUDIO MELO


FILHO (fls. 310/314), que referiu ter ido ao encontro de ELlSEU PADILHA a fim
de tratar sobre o incidente:

"QUE questionado se, depois de repassar a incumbência a Carvalho, teve


alguma outra participação nesses fatos, diz que sim; QUE isso ocorreu em
razão de uma reclamação feita por Eduardo Cunha a Carvalho; QUE
Eduardo Cunha ligou para Carvalho reclamando que não havia recebido
algum pagamento e, ao que soube, foi bastante rispido; QUE Carvalho
sequer sabia do que se tratava e ficou muito chateado; QUE por isso
entrou em contato com a equipe de Hilberto Silva, do setor operações


estruturadas, para verificar o que havia acontecido; QUE também procurou
Eliseu Padilha, juntamente com Carvalho, para expor a situação; QUE
Elíseu Padílha procurou minimizar os fatos e confirmou que uma parte
do dinheiro seria destinada a Eduardo Cunha; QUE não prosseguiu na
resolução desse problema, tendo ficado a cargo de Carvalho, mas pelo que
soube a empresa acabou fazendo um pagamento extra".

EDUARDO CUNHA, ao ser questionado sobre o ponto


específico, apresentou os seguintes esclarecimentos (fls. 1098/1100):

"QUE indagado se obteve parte desses recursos oriundos da ODEBRECHT,


afirma que não obteve; QUE indagado se conhece o executivo JOst DE
CARVALHO FILHO, da ODEBRECHT, afirmou que sim; QUE indagado sobre
declarações acostadas às fls. 304/308, em que JOst DE CARVALHO FILHO
afirmou que, em 2014, recebeu ligação telefônica do declarante reclamando
do não recebimento de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais). O declarante
confirma esse contato, assim como o seu propósao, afirmou que manteve
contato com JOst DE CARVALHO FILHO, mas não tratou de reclamação:: ~
não recebimento de R$ 500 mil reais; QUE apesar disso, no ano de 2014,
antes do primeiro turno, reconhece que a ODEBRECHT havia doado ao
PMDB em tomo de R$ 1,5 milhões direcionado à campanha de HENRIQUE
ALVES, e doou R$ 5,8 milhões para campanhas de senadores; QUE o
declarante reconhece ter reclamado com JOSÉ DE CARVALHO FILHO, bem
como com BENEDICTO BARBOSA DA SIL VA JÚNIOR, o fato de que a
ODEBRECHT havia destinado mais recursos para o Senado, de maneira que
no segundo turno o total de doações foi destinado à Câmara para
compensar;
(..)
QUE indagado sobre declarações de CLAUDIO MELO FILHO às fls. 310/313,

• no sentido que ELlSEU PADILHA confirmou que parte dos valores


provenientes da ODEBRECHT seria redirecionada ao declarante, afirma o
declarante que especificamente em relação aos R$ 500 mil reais citados, não
reconhece, no entanto, reitera que reclamou com a ODEBRECHT sobre as
doações eleitorais oficiais que deveriam ser direcionadas à Câmara dos
Deputados"

Aos moldes do que se verificou em algumas das operações


retratadas por colaboradores da ODEBRECHT, houve o encaminhamento de
registros encontrados no sistema Drousys como forma de corroboração. No
caso em tela, foi apresentada a planilha intitulada "programação semanal por
cidade (29.09 a 03.10.2014)":

• o Laudo Pericial nO 631/2018, no propósito de verificar a


existência de arquivos relacionados a tal operação, confirmou a programação
desse pagamento:

os
".,."
om I • k~
PROGRA.~A AO SEMANAL POR CIDADE

Codln_
"""'~. """"..
n.ou oi:;iuou
01110/20,. 02t1012t11' ..
,,"', , , ..... C 1.0<

'I
EH'TRE<lAA H./I R\JII
G;~a\O[)A~

" 011'
0'" C I~ 1l6)-41)!9Jl
""'" "'",00 "''''00
""'li" ~ 2-U I>PT "~1 AOSIl

I I' ~~: 00 000 (NO


Figura 15 Trecho de planilha anexa ao I:'muil da Figura 14. na qual cOI1SI"n~slros
vinculados ao codinol11c /ll1!!:()}'ú
LO(,llli1'.açno: Idi.'1ll <10 da Figura 14. por traWr-sc dI.: arqLlivo all..:xo.

Além disso, foi localizada no sistema Drousys a mensagem


transcrita abaixo, estabelecida entre "WATERLOO" (FERNANDO

98
---rJ?
C/~
MIGLlACCIO) e "VINHO" (ÁLVARO NOVIS), que aparenta versar sobre o
desacerto mencionado acima por JOSÉ DE CARVALHO FILHO:

• C' GI

Assunto: Regularização
De: Waterloo [email protected]
Para: 'VInho' [email protected];
I!nvlo: 30/09/201417:12:55

• Rei.
Tem 11m assunto, 5. o bre a senh<J Pás~afO da ..emanl'l pils!Ioi'ulil, lISSlMM.
A .. pnh .. pnt dI-' R$1 MM, fTli-lS <a'l aUlori/,..!. por qllPslnP.s dfo! (:;Ii.ll:::J, pile,",1 R$500 mil.
Peixe colocou no extrato, mas o cliente alega n:lo ter recebido.
Dado o nível da pessoa, tanto do ponto de vista polftico, como do ponto de vista de caráter, n:ia
posso ficar com (!sta (!xposiç30.

I::sta semana estarBo sendo pagos, os RSSOO mil restantes.


Preciso I

Ou seja,
Peço sua ajuda e concéntração na análise dos fatos, pois, repito, ele alega que não recebeu.
Estou torcendo para tar sido um equivoco de extrato.

Falamos.
Obrigado,
AI.II<u;n.
W",I,.,r!oo

I. OI_\{1[2'L~wtlllll:11I:. ;lnd
d~' ['a:-ti.l:-

• Como visto no tópico 2.3.2, os R$ 500.000,00 (quinhentos mil


reais) vinculados á senha "pássaro", segundo o desenrolar das conversas de
Skype, foram transportados até o escritório de JOSÉ YUNES em 29/08/2014,
quando este estava em viagem, não se sabendo se a entrega foi ou não
concretizada, uma vez que não há qualguer indicação nos referidos diálogos
quanto ao desfecho da operação.

Pelo que se depreende da mensagem via e-mail, os valores


teriam sido contabilizados como recebidos pelo destinatário imediato, porém
não teriam chegado a EDUARDO CUNHA.

Vale reiterar a reação do Ministro ELlSEU PADILHA ao ser

. -zf
informado sobre o episódio, assim descrita por JOSÉ DE CARVALHO FILHO:
"QUE Eliseu Padilha disse que não era possível, pois se o dinheiro tivesse
sido entregue no escritório de Yunes, o dinheiro ainda estaria lá; QUE Efiseu
Padifha disse que Yunes era um senhor de 70 anos de idade, de confiança e
respeftabilídade, amigo de Michel Temer; QUE em resumo, Efiseu Padifha
afirmou que o dinheiro não havia sido entregue".

Com base nisso, a ODEBRECHT determinou a realização de


nova operação envolvendo R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), desta vez


direcionada a outro endereço (Rua Jerônimo da Veiga, 248, apto 1101) e tendo
como pessoas de contato "ALTAIR" ou "ZABO", tal como consta na imagem
extraida do Laudo nO 631/2018, acima exposta.

A busca nos arquivos que contêm conversas de Skype"7 trouxe


importantes registros sobre os fatos em análise. Como já dito, ao final de cada
jornada, a central de operações enumerava as tarefas do dia seguinte. Assim
ocorreu no dia 30/09/2014:

Data Autor Destino Conteúdo

3010912014
[ive:glnsaopaulo jferreira .ferreira 1 14/16
16:22:04

3010912014
jferreira.ferreira 1 live:glnsaopaulo entregas mar pl amanha 01/10
16:49:05

• 3010912014
16:50:04

3010912014
16:52:25
jferreira .ferreira1

jferreira Jerreiral
live:gtnsaopaulo 1- rua Quintana 937 . hotel meliasrflavioapt 107 das 11 as 13

live:gtnsao~ ~O
entregar 200 mil com a senha agenda

2- rua geranimo da veiga 248 ap! 1101 srzabo ou altair entregar


mil com a senha pinguim
~
3- avzakinarchiSOO , vila Guilherme, novo hotel center norte, sr
3010912014
jferreiraJerreira 1 live:gtnsaopaulo Luciano Lopes 3 andar, torre 2 apt 2330 entregar 500 mil com a
16:54:06
senha universo na parte da tarde

3010912014 4- avlulzdumont ViUares 400 mercure apartamentos são Paulo


perreira Jerreira1 l'Ive:glnsaopaulo
16:57:23 ,srcleber amaram apl entregar 500 mil com a senha saturno

3010912014 5- rua carlos chagas 71 -A aclimação ,sr Eduardo ou Fabiano


jferreiraJerreira 1 live:glnsaopaulo
16:58:54 entregar 1.000.000,000 com a senha martelo I 8acardi

3010912014 6- alameda jaú ,1817 apt 101 srjamilton entregar 200 mil com a
jferreiraJerreira 1 live:glnsaopaulo
16:59:49 senha salame

" '/img_1 TE M-O 1-H D-MAXTOR-aOG B. EO1/vol_vol2lConfig. Msi/15f6a4. rbf> >Conversa no Skype 15961-~erreira ~
ferreira"

100 """V
30/09/2014
;ferreira.ferreira 1 live:gtnsaopaulo me passa os hor~rios por favor
16:59:54

30109/2014
Jive:gtnsaopaulo jferre'lra .ferreira1 1-10-132-10-133-10-134-10-135-10-136-10-13
17:03:53

30/09/2014
jferreira.ferreira 1 live:gtnsaopaulo Ok
17:04:49

a na entrega 2 o cliente s6 vai estar entre 16/1817:21 e ~4 56


30/09/2014
17:23:39
jferreira .ferreira1 rive:gtns~IO ser na oarte da tarde

• 24774
01/10/2014
08:53:20
No dia seguinte, logo no inicio dos trabalhos, houve a
confirmação da previsão de entrega:

jferreira .ferreira 1 live:gtnsaopaulo bom dia

1- r ">37, hotel mellasrflavloap' ~


<ntregar 200 mil com a senha agenda16:50 2- rua geroni
(
da veiga 248 apt 1101 srzabo ou altair entregar 500 mil com
~ pinguim16:51 3- avzakinarchi SOO, vila Guilherm
novo . sr Luci , torre 2 apt
01/1012014 2330 entregar 500 mil com a senha universo na parte da
24775 jferreira .ferrei ra 1 live:gtnsaopaulo
08:53,50 tarde16:54 4- avluizdumont Villares 400 mercure apartamentos
são Paulo, srcleber amaram apt entregar 500 mil com a senha
saturno 16:56 5- rua carlos chagas 71 -A aclimação, sr
Eduardo ou Fabiano entregar 1.000.000,000 com a senha
martelo I bacardi16:57 6- alamedajaú, 1817 apt 101 s~amilton
entregar 200 mil com a senha 5alame

• Em que pese tal apontamento, a sequência dos diálogos não


oferta qualquer dado referente à operação, o que pode ser atribuido ao horário
previsto para a entrega dos valores (entre 16h e 18h), sendo que as conversas
contidas no arquivo, referentes àquela data, se estenderam apenas até as
17h47min.

No endereço de entrega (Rua Jerônimo da Veiga, 248) situa-se


o Hotel Clarion, pertencente à rede Atlantica Hotels. Em atenção ao expediente
de fi. 1211, tal estabelecimento enviou os registros de ocupação da unidade
1101 para a data em questão (fI. 1212):

J 'r r ,I

-'<, M J~ _ ,,' 1..1.. iIíIIIa


lO:=rr
Pesquisas em sistemas cadastrais indicam que tais pessoas
em nada se relacionam ao contexto em apuração. Ademais, como pode ser
observado, houve a troca de hóspedes na própria data prevista para a entrega,
com ocupação pelo segundo hóspede já no curso do horário previsto para o
recebimento do dinheiro, aspecto que não se coaduna com a necessidade de
prévia indicação da unidade em que os valores deveriam ser direcionados.

Diante disso, foi encaminhado novo ofício ao Hotel Clarion,


desta vez requisitando eventuais registros de hospedagem em nome de

• ALTAIR ALVES PINTO e SIDNEY NORBERTO SZABO, pessoas vinculadas a


EDUARDO CUNHA (como será demonstrado adiante) que, segundo os
apontamentos do Drousys, estariam habilitadas a receber o dinheiro. Em
resposta, o estabelecimento informou que ALTAIR ALVES PINTO residiu no
apartamento 1001 no per iodo de 04/06/2014 à 03/08/2015 .

• IJI11
,.,
,_\rIL'_I~L=~·."_11'.

r C(lrm Ilq, "!1J;:~/,ITill::l \1~r~r1!'i 1~ 1'1 I!M)


111101 r
1.-.. ('(lrm
_.,~ .. , .. .J ...... _ o" '. L . . -' .... _

Conclui-se, portanto, que ocorreu um equívoco na indicação da


unidade do Hotel Clarion referente à entrega de 01/10/2014, constando nos
dados da operação a unidade 1101 em vez de 1001.


Agem em reforço a tal hipótese conversas de Skype que
indicam a efetivação de outra operação, de contexto desconhecido, naquele
mesmo endereço (Rua Jerônimo da Veiga, 248), porém com a especificação
da unidade 1001:

Inicialmente, a previsão de operações para o dia seguinte,


seguindo a praxe operacional:

15110/2014 live:gtnsaopaulo 7- rua alameda itu, 1151 , hotel mercure jardins, sr Arthur
25652 jferreira .ferreira 1
16:41:20 pinto ap! 1 1n'l - L~C mUI melancia
~ -..........
15/10/2014 8- rua jeronimo da veiga, 248 apl 1001 ,allair /
25653 jferreira.ferreira 1 live:gtnsaopaulol
16:43:19 ~ .000.000.00 com a senha mulher

15/10/2014
25654 jferreira. ferreira 1 live:gtnsaopaulo me passa as horários por favor !!
16:43:50

,,,cf
Em seguida, os registros iniciais do próprio dia 16/10/2014:

1- alameda dos anapurus, 1661 thepalace 5 sar hotel. moema


, wiJlian entregar 500 mil com a senha melão ap1130116:29 2-
vamaria -o luiz,
sr bani entregar 500 mil com a senha cuscuz16:32 3- rua da
C ~solação, hotel quality surtes, sr Raimundo junior entregru:"
SOO mil co ,ma
C>
3989 . blue tree hotel, vila olimpiasr lima entregar 300 mil com
16/10/2014 a senha jardineiro16:37 5- rua joão Cachoeira, 107 hotel metia
25680 jferreira ,ferreira1 hve:gtnsaopaulo
09:19:48 jardim europa , Jtaim bibi , andre moreno entregar
1.000.000.000 com a senha pinto16:39 6- rua das olimpíadas,
205 Itaim bibi hotel caesar business , Elizahelh oliveira
entregar 500 mil com a senha vidente16:41 7- rua alameda itu


, 1151 , hotel mercure jardins, sr Arthur pinto apt 1092
entregar 238 mil com a senha melancia16:43 8- rua jeronimo
da veiga, 248 apt 1001 . altair ou zabo entregar 1.000.000.00
com a senha mulher

Reitere-se que os dados acima não se relacionam ás entreqas


de dinheiro que constituem o objeto desta apuracão, servindo meramente para
comprovar que na operação de que se ocupa este tópico (R$ 500.000,00, em
01/10/2014. vinculados á senha "pinguim"l, ocorreu equívoco ao constar a
unidade 1101 e não 1001.

Retomando a análise das evidências relacionadas á entrega de


valores do dia 01/10/2014, é relevante a constatação estampada no Relatório
de Análise de Polícia Judiciária nO 082/2018 - GINQ/STF/DICORlPF (fls.

• 1151/1213) de que o terminal 21.99982.5553, utilizado por ALTAIR ALVES


PINTO, naquela data, ás 11 :10h, conectou-se a ERBs situadas no Rio de
Janeiro, porém, no intervalo compreendido entre 14:17h e as 18:13h, utilizou-
se de ERBs compatíveis com o endereço do HOTEL CLARION FARIA LlMA48
A entrega estava programada para intervalo de 16h e 18h.

"Na operação do dia 16/10/2014, vale ponluar, o lenninal de ALTAIR ALVES PINTO lambém indicou posição
compalivel com o Holel Clarion, porém no intervalo compreendido enlre as 09:17h e 15:16h.

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Em ligação realizada às 19:26h, houve o registro de ERB das


proximidades do Aeroporto de Congonhas e, às 21 :20h, o telefone
21.99982.5553 tornou a conectar-se a ERBs localizadas no Rio de Janeiro,
sendo a primeira delas situada nas imediações do Aeroporto Santos Dumont.

Em expediente de fls. 1203/1205, a empresa LATAM confirmou


a hipótese de que ALTAIR ALVES PINTO deslocou-se a São Paulo e retornou
ao Rio de Janeiro naquela mesma data, viagem possivelmente motivada pela

'. entrega dos valores da ODEBRECHT.

Importa destacar também que ALTAIR, após o período em que


provavelmente tenha se efetivado a entrega, realizou ligações telefônicas para
CLÁUDIA CORDEIRO CRUZ, esposa de EDUARDO CUNHA, e à Cãmara dos
Deputados:
DATA/HORA TERMINAL ORIGEM TERMINAL DESTINO
5521999826767 5521999825553
01/10/201418:05:41 CLAUDIA CORDEIRO CRUZ ALTAIR ALVES PINTO
5521999826767 5521999825553
01/10/201418:13:07 CLAUDIA CORDEIRO CRUZ ALTAIR ALVES PINTO
556198287702 5521999825553
01/10/2014 19:06:59 CAMARA DOS DEPUTADOS ALTAIR ALVES PINTO

Também foi ressaltado no RAPJ nO 082/2018 que o terminal


55'15545'10, cadastrado em nome de EDUARDO CUNHA, vinha sendo
usado, naquela época, por ALTAIR ALVES PINTO, e, durante o periodo de
quebra abrangido pela AC 4382, 01/08/2014 e 30/11/2014, envolveu-se em 565
chamadas (efetuadas e recebidas) ao terminal 55'15545'15, igualmente
cadastrado em nome de EDUARDO COSENTINO DA CUNHA.

.....
_l'lIdo

96/91/2911 94/11/2816 7316876 594-4797178 EDUARDO 5521773992 55·15:145·1 1936499E1 50S 311. BL 1
11:40:23 19:42:59 9 COSENTINO 94 5 APT 684. ASA SUL
DA CLmHA BRASILlAftlf

&6/9112911 94/11/2016 7318847 56<14797170 EDUARDO 5521772883 5S·lSS4S·1 79]64999 50S 311. Bl I
11:]3:43 19:42::)4 9 COSfNTINO 28 8 APT 664, ASA. SUL.
DA (l!miA BRASILIAlDF

Há, inclusive, cinco eventos telefônicos ocorridos no dia

o 01/10/2014:

HORA ORIGEM DESTINO


14:15:34 55'15545'15 55'15545'10
17:31:15 55'15545'15 55'15545'10
18:19:14 55'15545'15 55'15545'10
18:1859 55'15545'10 55'15545'15
18:20:31 55'15545'10 55'15545'15

EDUARDO COSENTINO DA CUNHA, em depoimento de fls.


1098/1100, afirmou que conhece ALTAIR ALVES PINTO há bastante tempo,
tendo o mesmo trabalhado em suas campanhas eleitorais e ocupado cargo
comissionado na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, no

105
gabinete do Deputado Estadual FÁBIO SILVA, que era a sua "dobrada
eleitoral" desde a eleição de 2002. Disse, ainda, ter conhecimento de que
ALTAIR mantinha a locação de um flat no Hotel Clarion, situado Rua Jerônimo
da Veiga, 248, em São Paulo/SP, local em que admitiu ter comparecido.

Sobre o suposto recebimento de valores da ODEBRECHT,


contando com a interposição de ALTAIR, respondeu o que segue:

"QUE, indagado sobre documentos apresentados por executivos da


ODEBRECHT que indicam que os valores destinados ao declarante teriam

• sido levados a AL TAIR, no Hotel Clarion, em outubro de 2014, afirmou que


não recebeu valores por intermédio de AL TAIR em tal endereço; QUE em
nenhum momento ALTAIR ALVES PINTO recebeu algum valor ilícito no
interesse do declarante; QUE o declarante possuía um grupo de terminais
junto à operadora NEXTEL para comunicação entre pessoas do seu grupo,
sendo que o terminal de n° 55'15545'10 era usado por ALTAIR ALVES
PINTO, salvo engano; QUE o terminal utilizado pelo declarante era
55'15545'15; QUE o declarante conheceu SIDNEY SlABO na empresa
ARTHUR ANDERSEN quando o declarante hnha 19 anos, em 1978; QUE
SIDNEY SlABO é contador e economista, bem como perito judicial; QUE o
declarante cedeu uma sala no Edifício De Paoli, na rua Nilo Peçanha, 50,
sala 2909, no Rio de Janeiro, desde 2003, salvo engano; QUE em
contrapartida, SIDNEY prestava serviços eventuais de contabilidade, imposto
de renda, ao declarante; QUE além disso, SIDNEY SZABO trabalhou na
escrituração contábil das campanhas eleitorais do declarante e para tanto


recebia por esses serviços; QUE SIDNEY SZABO".

SIDNEY ROBERTO SZABO, ao ser intimado a prestar


esclarecimentos, optou por exercer o direito ao silêncio (fi. 1285).

ALTAIR ALVES PINTO, conforme narra a Informação nO


1309/2018, fI. 1284, supostamente representado pelo mesmo advogado de
SIDNEY ROBERTO SZABO, permaneceria igualmente em silêncio caso
comparecesse à unidade policial deprecada.

Vale consignar que ALTAIR ALVES PINTO é réu no processo


nO 526-54.2018.4.01.3400, em trâmite na 12" Vara Federal do Distrito Federal,
justamente pela intensa atuação como recebedor de valores no interesse de
EDUARDO CUNHA, identificada no curso de diversas investigaçôes, como as

106
\~OO

denominadas Operação Sépsis (60203-83.2016.4.01.3400), Operação Cui


Bono? (45035-07.2017.4.01.3400) e Operação Patmos (48679-
55.2017.4.01.3400).

A propósito, a correspondente denúncia faz menção a


mensagens telefônicas trocadas entre GEDDEL VIEIRA LIMA e EDUARDO
CUNHA, abordadas às fls. 48/53 destes autos, em que resta acertada a
atuação de emissários de ambos em operação envolvendo o repasse de
valores ilícitos, tendo servido o Hotel Clarion Faria Lima como local de

• encontro:

"Como acertado, o encontro seria no HOTEL CLARION FARIA LIMA, cujo


endereço é Rua Jerônimo da Veiga, nO 248, Jardim Europa, São PaulO/SP,
04536-001, com a participação de ALTAIR AL VES PINTO, indicado por
EDUARDO CUNHA, e uma pessoa de nome 'GUSTAVO', como
representante de GEDDEL LIMA.'

Diante de todo o exposto, é possivel concluir que, em 01/10/14,


houve o recebimento de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) por EDUARDO
CUNHA, através de ALTAIR ALVES PINTO.

Sintese gráfica do microcaso:

• [~rL
Hotel
~
~
ç[aJio_1"!
ODEBRECHT -+ eH9Y~ -+ c==c BS:!ºº.ººO
01/10/2014 ~ -+
&!.lI
Eduardo
TRANSNACIONAl Cunha
..Y..
Alt.lr
Alves
PInto

l07T
2.3.4) R$ 6 milhões de reais - PAULO SKAF

Segundo as declarações de MARCELO BAHIA ODEBRECHT,


o jantar ocorrido no Palácio do Jaburu serviu para confirmar que, dos R$ 10
milhões que seriam pagos ao PMDB, R$ 6.000.000,00 (seis milhões de reais)
reverteriam à campanha eleitoral de PAULO SKAF (fls. 889/893):

"QUE, em 2014, declarante havia recebido pedido de apoio financeiro à


campanha de PAULO SKAF ao Govemo do Estado de São Paulo, no valor
de R$ 6 milhões; QUE esclareceu a PAULO SKAF que tal solicitação tinha o


valor muito elevado, o que fugia das referências da empresa no tocante a
contribuições eleitorais; QUE, então, sugeriu a ele que estabelecesse contato
com MICHEL TEMER e obtivesse a autorização para que os R$ 6 milhões
fossem extraídos dos R$ 10 milhões que estavam sendo ajustados com
aquele grupo, também do PMDB; QUE, passados alguns dias, o declarante
recebeu ligação telefônica de PAULO SKAF, que estava na presença de
MICHEL TEMER e passou o telefone a ele e ambos passaram a conversar
sobre a importância do apoio à candidatura de SKAF, em tom absolutamente
institucional; QUE o declarante, após isso, entrou em contato com SKAF e
disse a ele que aquela sinalização não era suficiente, pois precisava ter a
certeza de que o repasse dos R$ 6 milhões estava autorizado; QUE, então,
pediu a CLÁUDIO MELO FILHO que buscasse obter expressamente de
ELISEU PADILHA essa autorização, o que realmente ocorreu; QUE só então
CLÁUDIO MELO FILHO marcou um encontro com o 'grupo de MICHEL
TEMER' para que houvesse a confirmação presencial de tal ajuste; QUE, no
jantar, que contou com a presença de MICHEL TEMER, EL/SEU PADILHA,

• CLAÚDIO MELO FILHO e do declarante, foram abordados diversos temas,


inclusive do apoio financeiro que a ODEBRECHT estava prestando; QUE o
declarante, ainda na presença de MICHEL TEMER, fez considerações sobre
a candidatura de PAULO SKAF, tudo sem qualquer menção a valores ou
questões operacionais; QUE, no entanto, quando MICHEL TEMER afastou-
se momentaneamente da mesa, o declarante obteve a confirmação explícita,
junto a ELISEU PADILHA de que dos R$ 10 milhões pleiteados, R$ 6 milhões
seriam redirecionados a PAULO SKAF, para fins de campanha eleitoral; QUE
o declarante nunca comentou com PAULO SKAF sobre os motivos que
levaram a ODEBRECHT a se comprometer a enviar os R$ 10 milhões ao
'grupo de TEMER'; QUE, perguntado se conhece o significado do codinome
'PRIMO' afirma que sim, que se relaciona a MOREIRA FRANCO, o que se
atribui ao parentesco que ele supostamente tem com CLAUDIO MELO
FILHO; QUE, na época dos fatos, desconhecia o significado do codinome
'ANGORÁ', tendo tomado conhecimento de que se trata de EL/SEU
PADILHA somente após a assinatura de acordo de colaboração por diversos
executivos da empresa; QUE, por fim, o declarante deseja consignar que as

108
140(.

informações acima prestadas já foram abordadas nos anexos 7 (TC 21) e


8.3 (TC 25), além dos depoimentos prestados no Tribunal Superior Eleitoral
(AIJE nO 1943-58. 2014. 6. 00. OOOOIDF)".

FERNANDO MIGLlACCIO, às fls. 873/876, deu detalhes da


destinação dos valores:

"QUE, indagado sobre pagamentos efetuados pela ODEBRECHT ao


marqueteiro DUDA MENDONÇA, afirma que, em 2014, o declarante foi

• convidado para uma reunião na sede da ODEBRECHT, em São Paulo, em


que estavam presentes HILBERTO SILVA, DUDA MENDONÇA e seu filho,
cujo nome o declarante não recorda; QUE ficou acerlado na reunião que o
declarante iria coordenar a operação que envolvia o pagamento de R$
6.000.000,00 (seis milhões de reais) destinados à campanha eleitoral de
PAULO SKAF ao Governo de São Paulo; QUE o declarante passou a tratar,
desde então, com o filho de DUDA MENDONÇA; QUE foi estabelecido um
cronograma de pagamentos a DUDA MENDONÇA, o qual o declarante
transmitiu a MARIA LÚCIA TAVARES e, por isso, possivelmente esteja no
'drousys'; QUE o declarante se recorda que houve atraso no deco"er dos
pagamentos, o que gerou reclamações por parle do destinatário; QUE, ao
final, o declarante acredita que o valor foi pago integralmente; QUE il2
operações foram realizadas vinculadas ao codinome 'TABULE' ou 'KIBE',
esclarecendo que tomou conhecimento do destinatário final por intermédio de
HILBERTO SILVA, o que pôde confirmar em razão da vinculação entre
DUDA MENDONÇA e a campanha eleitoral de PAULO SKAF; QUE os locais

• de entrega dos valores eram inicialmente fornecidos pelo filho de DUDA


MENDONÇA, sendo que o declarante repassava tais informações a MARIA
LÚCIA TAVARES para que ela as transmitisse aos prestadores".

Em seu acordo de colaboração (Anexo 25-E) MARCELO


ODEBRECHT apresentou cópia de mensagens trocadas via e-mail com
HILBERTO SILVA, responsável pelo Setor de Operações Estruturadas,
abordando tratativas relacionadas aos pagamentos realizados a "DM" (DUDA
MENDONÇA) no interesse de "PS" (PAULO SKAF).

109
+HilbellQ tA A!yo) dfl Sj!Yi! EijtlQ" <!O.OQE8R82:lllQIJ~H.hJ'lGE ADMINISTMTIYE.GlIDUe
IEYOIBOH E23SP.DlT.lICN:::RECIPIENISICN=IUI OpU Q~
TO: Fo!:rnM.,,º...9!lkl!~
CC:
Dato: 09110/201409.01;40
SubJoct: h'lI;I

!nlr.k1 fln mllr.sngem cncamlntliltla

00: Mamnlo BahIa Dlfglllecht ""m\.lillhia®lXIeIlr.eChI.com>


Data: 8 de outubro de 2014 19:21:<l9 ORT


PlIfn: 11,lberto M AIV&S d<1 SIVo1 F~h:l "~el.lfe~tll.conp
CC! Bllncdiclo R3rbo$a dil Silva Junior <:bJlJlliOl@Q(feb.edl1,com).Cllr!os redlgns <eNio!; IRdIQ!'l,®brIlJktm com). CII\uljiO Melo rilhO
[email protected]"

PS IicO\lcom a~ue'e burllCO (lI! I, mlll, cem DM (Mire 011:10::'). Oquo cra obvlU. I1n)lolr. til! rnuftu c/,mo 11:10 tWB f,orno nltl njllflar:nil G()g\lInkJ 11'lha (do::
IM t11~lIm conforto ill:rJ!I qU(l+III01~I'): . V~nlOS ttlmhlnar o r.!)to de O~! VIi:III$ para Icv/15 (tiS· eu di!$e que ve proeurarlll OM pi!lra conf,rmal'}

. r,w com e5!e créd,fO para i!I prOXima. onde ele Mn no, blt!C!I:ln

J:lllbel.to.M Al.vcs .da.~....EIIh9" <jQ=OpEORECHIlO! JcEXCHt\NGE.I.\OMINISTRI\lJV.E_GROVe


From= !FVmaQHE23sppl DICN-RECIPIENI5.r.CN=I:ULUEIUO>
To: :Març.elo B.ahja~ ~Od~

CC;
Date: 111IOf20·'4 19:14:02
SlIbJOCI: Re:


Passei e iA falé1mos com OM

Enviada do meti irhone Gm 11/1012014, Às 18:17, '"Marcelo Bahia Odebrechl" <[email protected]> escreveu:

HS lhe passou um lerna de 4 pflf8 OM (rr.femnl0 <1 PS)?

JOSÉ EDUARDO CAVALCANTI DE MENDONÇA, conhecido


como DUDA MENDONÇA, às fls. 930/932, confirmou ter recebido valores da
ODEBRECHT como parte do pagamento dos serviços prestados à candidatura
de PAULO SKAF ao Governo do Estado de São Paulo, em 2014, alegando,
porém, que a quantia era de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) e não R$
6.000.000,00 (seis milhões de reais) como afirmaram os executivos da
construtora. Veja-se:

110
"QUE trabalhou na campanha de PAULO SKAF ao Governo do Estado de
São Paulo, em 2014, tendo sido contratado pelo próprio candidato; QUE foi
também o próprio candidato quem definiu com o declarante o preço e a forma
de pagamento pelos selViços; QUE, em reunião, após o declarante expor as
diferentes frentes de trabalho, restou acertado que a campanha feria o custo
de R$ 30 milhões (posteriormente reduzido para cerca de R$ 26 milhões);
QUE, na primeira conversa, PAULO SKAF não mencionou como tais valores
seriam pagos; QUE, após isso, PAULO SKAF solicrrou que o declarante
contratasse empresa pertencente a PAULO LUCIANO ROSSI, irmão do
Deputado BALEIA ROSSI e filho de WAGNER ROSSI; QUE o declarante
inicialmente resistiu à ideia, mas, como houve insistência, e após se certificar

• de que a empresa indicada tinha condições técnicas de realizar os selViços,


o declarante acabou acerrando contratar a empresa ILHA PRODUÇÃO
LTOA, da qual PAULO ROSSI era sócio; QUE PAULO SKAF, em conversa
posterior, afirmou ao declarante que R$ 10.000.000,00 (dez milhões de
reaisl correspondentes aos servicos prestados à campanha seriam
pagos pela ODEBRECHT, não fazendo mencão sobre a não oficialidade
desses pagamentos; QUE, de qualquer forma, ficou claro ao declarante
que seriam valores de 'caixa 2'; QUE o restante dos valores foram pagos
diretamente à empresa do declarante ou a alguns prestadores de selViços,
acerca dos quais houve o recolhimento de tributos e emissão de notas
fiscais; QUE PAULO SKAF não mencionou como teria obtido tal contribuição
financeira junto à ODEBRECHT e tampouco o declarante fez qualquer
indagação a esse resperro, tendo acerrado essa forma de pagamento por
conhecer a construtora e seus dirigentes; QUE, seguindo a orientação de
PAULO SKAF, o declarante procurou pela ODEBRECHT para tratar do


assunto, ao que lhe foi recomendado que entrasse em contato com
FERNANDO MIGLlACCIO, a quem conhecia superficialmente; QUE se
reuniu com MIGLlACCIO na sede da ODEBRECHT, em São Paulo, ocasião
em que foi ajustada a dinâmica dos pagamentos; QUE FERNANDO
MIGLlACCIO não adiantou como se dariam as questões operacionais, tendo
o declarante delegado tais tratativas ao seu filho, ALEXANDRE; QUE, pós o
inicio da prestação dos selViços, FERNANDO MIGLlACCIO passou a
informar ALEXANDRE a previsão de pagamentos, fornecendo também o
quanto seria pago e a correspondente senha; QUE ALEXANDRE, a seu
turno, informava o local em que deveria ser levado o dinheiro, salvo engano,
invariavelmente em hoteis de São PaulolSP; QUE os primeiros pagamentos
foram direcionados a PAULO LUCIANO ROSSI, conhecido como PALU, até
totalizar os R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais) que caberiam à
empresa dele, conforme ajuste ferro entre o declarante e PAULO SKAF;
QUE, portanto, PAULO ROSSI recebeu o que lhe cabia para só então o
declarante passar a receber; QUE, em seu acordo de colaboração, o
declarante forneceu documentos contendo locais, datas, valores e senhas, os
quais o declarante se compromete a encaminhar para a instrução dos

111
presentes autos; QUE, dos R$ 6.000.000,00 (seis milhões de reais) restantes
- já descontados os valores de PAULO ROSSI - R$ 2.500.000,00 (dois
milhões e quinhentos mil reais) foram pagos ao declarante também em
hotéis, em parcelas de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), cada; QUE a
comprovação dessas operações consta na documentação que o declarante
se comprometeu a apresentar; QUE as pessoas encarregadas do
recebimento desses valores foram NADJA MORAES VILLAS BOAS e
CRISTINA PASSOS: QUE NADJA é irmã da ex-esposa do declarante e era
do circulo de confiança do declarante; QUE CRISTINA PASSOS Irabalha
diretamente com o declarante há mais de vinte anos; QUE tais pessoas,
quando havia a programação de pagamentos, viajavam de Salvador a São

• Paulo para receber os valores; QUE, além dessas duas pessoas, havia
também MIL TON DOS SANTOS, que morava em São Paulo e recebia o
dinheiro quando CRISTINA e NADJA não tinham disponibilidade para
viajar a São Paulo desde Salvador: QUE MIL TON era pessoa de confiança
de NADJA ou de CRISTINA; QUE os valores recebidos da ODEBRECHT
foram integralmente revertidos ás despesas de campanha de PAULO SKAF;
QUE nunca houve o repasse de valores a PAULO SKAF pelo declarante ou
por pessoas de sua equipe; QUE desconhece se PAULO ROSSI
disponibilizou a PAULO SKAF alguma parcela dos valores destinados a ele;
QUE, perguntado se tem a explicação sobre o fato de os executivos da
ODEBRECHT terem relatado, em seus respectivos acordos de colaboração,
a alocação de apenas R$ 6 milhões e não de R$ 10 milhões, como o
declarante afirma, tem a dizer que, na ODEBRECHT, possivelmente não
tivessem o controle preciso sobre tais valores; QUE acrescenta que teve tal
impressão a partir do momento em que FERNANDO MIGLlACCIO afastou-se


das questões, tendo o declarante dificuldades em tratar dos pagamentos
pendentes no âmbito da ODEBRECHT,' QUE esteve reunido com MARCELO
ODEBRECHT e com um advogado da construtora, ao que concluiu que não
havia controle rigoroso sobre as pendências, tendo o próprio declarante que
fornecer as comprovações dos valores que ainda lhe eram devidos; QUE,
como dito acima, havia uma pendência de R$ 3.500.000,00 ljá que R$
2.500.000,00 haviam sido pago em hoteis), valores que acabaram sendo
somados a outro débffo que a ODEBRECHT mantinha com o declarante, cujo
pagamento se deu através de contrato de consultoria, mais especificamente
de 'gestão de crise', pois MARCELO ODEBRECHT impôs que as pendênCias
não mais fossem pagas 'por fora'; QUE o declarante efetivamente prestou os
serviços contidos no objeto do mencionado contrato; QUE, como a
ODEBRECHT não realizou os pagamentos previstos no contrato, conforme
programado, tal inadimplência ocasionou uma série de desdobramentos,
cujos detalhes foram narrados em Termo de Colaboração que o declarante
prestou em acordo homologado no Supremo Tribunal Federal."
l~Ob

Conforme o Sistema de Prestação de Contas Eleitorais, há


registros de despesas da candidatura de PAULO SKAF com a empresa
VOTEMIM, de DUDA MENDOÇA, no valor de R$ 4.100.000,00 (quatro milhões
e cem mil reais):

VOTEM.M ESCRITÓRIO DE CONSULTORIA LTDA 20.054.506/0001-90 06/08/2014 ServIços prestados por terceiros R$600.000,OO
VOTEM1M ESCRITÓRIO DE CONSULTORIA LTUA 20.G.S4,506/0001-90 18/08/2014 Serviços prestados por terceiros R$600.000,OO
VOTEMIM ESCRITÓRIO DE CONSULTORIA tTDA 20.054.506/0001-90 17/09/2014 serviços prestados por terceiros RS 100.000.00
VOTEMIM ESCRITÓRIO DE CONSULTORIA lTOA 20.054.S06/0001·9Q 08/09/2014 Serviços prestados por terceiros R$6S0.000,OO
VOTEMIM ESCRITÓRIO DE CONSULTORIA LTOA 20.054.506/0001-90 29/08/2014 Serviços prestados por terceiros RS 600.000,00
VOTEMIM ESCRITÓRIO DE CONSULTORIA LTDA 20.054.506/0001-90 19/09/2014 Serviços prestados porlerceiros RS 550.000,00


VOTEMIM ESCRITÓRIO DE CONSULTORIA lTDA 20.054.506/0001-90 18/10/1014 Sf!rvlÇOS prf!stados portf!rcelros RS 1.000.000.00
RS4.100.000,OO

Às fls. 1130/1145, constam os contratos celebrados entre o


candidato e a mencionada empresa, fornecidos por DUDA MENDONÇA para a
instrução destes autos.

Tendo em vista que FERNANDO MIGLlACCIO, em depoimento


transcrito às fls. 40/41, referiu que os pagamentos a PAULO SKAF foram
realizados sob o codinome "KIBE" ou "TABULE", as pesquisas na base de
dados formada por arquivos dos sistemas Drousys e MyWebDay foram
norteadas por tais critérios, com os resultados apresentados no Laudo nO
0631/2018 (fls. 695/721):

113
Sem3n .. 1 (18:11 22.08.14)

'M,


V.mo~ t~r mOilIS:
,ABULE : DID 21/OS - ~$ 500.000 {Senha ; LOCOMOTIVA)
DUI 2Z/oe: - ~S 500.000 (~nh8: TREM)

_ : 0'0121/08- qs 500.000(Sqnh~ : SAL~A)


OI" 22 /06 - R$ 500.000 I R$ 5OO,OOO{~nn,,; SALSA)

Ouanto j ~O Y~mos t~r Que DRUardal 6 <iDrOV,içl!o dos IJS$ 1.SMM. E tem os PR8 + I'RO$ + PC do 8.

Mensagem trocada pelo sistema Drousys entre "MT" (MARIA


LÚCIA TAVARES) e "FM" (FERNANDO MIGLlACCIO) faz menção a
pagamentos programados para a semana de 18 a 22 de agosto de 2014,
incluindo R$ 500,000,00 no dia 21/08/2014 e R$ 500.000,00 no dia 22/08/2014,
ambos vinculados ao codinome "TABULE".

• Os arquivos que contêm


processamento se deu no RAPJ n° 063/2018 (fls. 1018/1036), espelham essa
previsão, indicando, ainda, que havia outra entrega, no valor de R$ 419.160,00,
ligada à senha "cartão", que se vinculava à mesma pessoa da entrega prevista
conversas de Skype, cujo

para a senha "locomotiva", sendo que ambas acabaram sendo canceladas:

20/08/2014
21498 1:[email protected] live:gtnsaopaulo entregas do mar 21/08/2014
17:44:29

1) hotel mercuri são paulofunchal. funchal ,11


20/08/2014
21499 1:j.araujo1505@hotmaiLcom live:gtnsaopaulo vila olimpiacristina a senha locomotiva entregar
17:50:46
500 mil das 15117hs apt te passo amanhã
Q

114 -df
6) avibirapuera, 2577, hotel
20/08/2014
21504 l:j [email protected] live:gtnsaopau)o intercitypremiumibirapueracristina a senha é
18:02:44
cartão entregar 500 mil

20/08/2014
21506 1 :[email protected] live:gtnsaopaulo a entrega num 01) cancelou i!!!
18:04:47

20/08/2014
21507 1 :[email protected] live:gtnsaopaulo a entrega num 6) cancelou
18:22:24

• Registros posteriores apontam que


efetivadas no dia seguinte, ou seja, em 21/08/2014, porém de forma unificada:
as entregas foram

Av. Ibirapuera 2927 ap! 524 hotel


21/08/2014
21581 1 :[email protected] live:gtnsaopaulo bourbonconventionsra Cristina senhas sao
13:42:37
locomotiva e cartaoemtregar 919.160

o horario por favor dessas 2 entregas do mar


21/08/2014
21582 1 :[email protected] live:gtnsaopaulo hoje, ele disse q passou p venancio e ele disse q
13:43:23
p fazer

~
I;ve:gtn~o bourbonconventionsra Cristina senhas s a /
Av. Ibirapuera 2927 apt 524 hotel
21/08/2014
21613 1:[email protected]
16:10:26


omativa e cartaoemtregar 919.160

'.
21/08/2014
21620 IIve:gtnsaapaula 1:[email protected] finalizadaibirapuera 919.160 .....
18:01:31

Segundo consta acima, o dinheiro foi deixado no apartamento


524 do HOTEL BOURBON CONVENTION, situado à Av. Ibirapuera, 2927,
São Paulo/SP.

Em resposta a expediente que requisitou os registros de


ocupação de tal unidade na data de interesse, o hotel informou o quanto segue
(fls. 1039/1045):

l1SofP
BOURBON CONVENTION IBIRAPUEjRA
Dados dos Hóspedes que Efetuaram Check-in

Check-In Hora Check-out UH Tipo Nome Nasc. Docum.

21108/2014 12:18 22/08/2014 0524 4TWS NADIA NADIA NADIA NA!: 30/1211952 07447361534

• E-mal!

)-\aravb@gmên.com
Endereço

Conjunto Vele do JaguarJbe 46 - Patamares - 41 680190


Te!.

0-71-33677238
Cel.

o CPF 074.473.615-34 informado remete ao nome NADJA


NARA MORAES VILLAS BOAS. apontada por DUDA MENDONÇA como uma
das pessoas que recebeu valores provenientes da ODEBRECHT.

A partir dos achados consignados no Laudo nO 0631/2018. foi


identificada nova operação. com os dados constantes no quadro abaixo:

116 -zr-
i410

9 "" ' '" ~ Oh .... _ ""'l


1...- <.,.1 Do9f m.oqo.e_ide>qol....
x- n:~~ -
tl Rf:>POnÕt' 1 1 _ ~' ..
'C' ...
11""0-
hem AI"" ..... ·~h·.." .... _.
McMo< Mole... Ed'llo Z.......

:oc,"

.~ .' .~') .''''''


T

'M.

• --,
l !iIiIil
~iQ!,!.fU

""

""
![)I!o?lqulnl.,-----""IOS,º,'09.lJ!ill

-
""
'4IIm 400 (~!\iI; PAPA)

(~h.t~MATOI

MDI'"IItom,

"

Uma vez mais, MARIA LÚCIA TAVARES solicitou confirmação


a FERNANDO MIGLlACCIO, via Drousys, acerca de duas operações
envolvendo o codinome "TABULE", ambas com o valor de R$ 500.000,00
(quinhentos mil reais), previstas para 03/09/2014 e 04/09/2014, com a mesma

• senha "dormente" .

Observe-se que MARIA LÚCIA TAVARES pede a confirmação


de que se tratava de operações da conta "PAULlSTINHA", o que importa dizer
que as mesmas seriam executadas por ÁLVARO NOVIS. Buscando-se os
correspondentes apontamentos na mencionada planilha, põde-se identificar
ambas as operações:

Além disso, as conversas mantidas por Skype novamente
desvelaram detalhes das operações:

0310912014
22348 1 :[email protected] live:glnsaopaulo Entregas Mar p/amanha 04109
16,50,44

3- alameda dos anapurus 1661


03/09/2014 1 :[email protected] moemathepalace fiai 5 51ar hotel sr
22351 live:gtnsaopaulo
17,02,28 m Milton a senha é dormente entregar
SOO mil

03109/2014 1-10.122-10.123-10.124 -10. ,I


22360 live:gtnsaopaulo 1:[email protected] 13511 e 14-611 e 14 7~14e16 8-
17:46:03
14 e16 9·14 e 17 10 14-e 17 II

0410912014 ve pra mim apartamento da entre


22380 live:gtnsaopaulo 1:[email protected]
10"2,37 numero 3 do mar&apos;

0410912014
22381 live:gtnsaopaulo 1;[email protected] conseguiu?
10;41"0

0410912014 1 :j.araujo1505@hotmaiLco
22383 live:gtnsaopaulo 1109
10;47,34 m

118-ct
04/0912014 ja me ajuda o apartamento 1109
22390 live:gtnsaopaulo 1:[email protected]
11:12:36 está o contato willian

04109/2014 preciso do apartamento que está o


22391 live:gtnsaopaulo 1:[email protected]
11:12:55 MILTON a entrega numero 3

Nos diálogos, consta como responsável pelo recebimento dos

• valores a pessoa denominada "MILTON" .

No endereço da Alameda dos Anapurus, 1661, São Paulo/SP,


localiza-se o THE PALACE FLA T MOEMA, em cuja lista de hóspedes há o
registro de MILTON LUIZ PIAZENTI SANTOS na unidade 0510.

TSUE EMPREENDIMENTOS E PART.LTDA.ME


LISTA DE OCUPANTES· 05/09/2014
Unidlldes do Pool e Condominio

UH Tipo cat Reserva Ocupante Estadia


0510 CS P 0057651 SANTOS,Mll TON LUIZ PIAZENTI MENSAUSTA 19108114 18110/14

• MILTON LUIZ PIAZENTI SANTOS também foi mencionado por


DUDA MENDONÇA como sendo uma das pessoas que, em seu nome,
recebeu valores em espécie encaminhados pela ODEBRECHT.

Seguindo a programação acima referida, nova entrega de R$


500.000,00 (quinhentos mil reais) foi realizada, igualmente no THE PALACE
FLAT MOEMA:

04/09/2014 1:[email protected]
22477 live:gtnsaopaulo entrega mar para amanhã 05/09
16:52:37 m

3) ALAMEDA DOS ANAPURUS.


04/09/2014 1 :j .araujo [email protected]
22480 live:gtnsaopaulo 1661, MOEMA, lHE PALACE FLAT
16:53:42 m
5 STAR HOTEL, APT'" 510, PAULO

119-qr
OU MILTON, A SENHA É
I
DORMENTE, ENTREGAR R$

I I 500.000.00

0410912014 1- 09 e 11 2-10 e 123-10 e 124-


22485 live:gtnsaopaulo 1:[email protected]
17:17:21 11 e 135-11 e 136-13815

05109/2014 na entrega 3 do mar o apto é 1207 e


22501 1 :j.araujo1505@hotmaiLcom live:gtnsaopaulo
10:13:57 o contato s6 é sr Paulo

• 22518
05109/2014
12:02:46
live:gtnsaopaulo 1:[email protected] finalizado entrega 3 entregue 500mll

Atente-se que, no curso da conversa, houve a correção da


unidade em que estaria a pessoa habilitada a receber o dinheiro, passando do
nO 510 (da qual MILTON era hóspede mensalista) para o nO 1207, que, naquela
data, era ocupada por PAULO ROSSI, segundo informou o próprio
estabelecimento:

TSUE EMPREENDIMENTOS E PART.LTDA.ME


LISTA DE OCUPANTES - 05/09/2014

• UH Tipo
unidades do Pool e Condominlo

Cal. Reserva Ocupante Check~n Saldil

1207 LXS P 0058171 ROSSI,PAULO 04109114 06109/14

PAULO LUCIANO TENUTO ROSSI é sócio da empresa ILHA


PRODRUÇÃO LTOA e referido por DUDA MENDONÇA, no depoimento, como
destinatário de R$ 4.000.000,00 dos R$ 10.000.000,00 que envolveram o
ajuste com a ODEBRECHT, em razão da terceirização de serviços de
publicidade realizados na campanha de PAULO SKAF ao Governo de São
Paulo.

12~
I ct I ~

Acerca disso, em pesquisa realizada no portal SPCE WEB49,


sítio do TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL, constata-se que, de fato, a
empresa A ILHA PRODUÇÃO LTDA EPP recebeu um total de R$
3.250.000,00, para fins do serviço de "Produção de programas de rádio,
televisão ou vídeo" á mencionada campanha eleitoral, tratando-se os valores
mencionados por DUDA MENDONÇA, possivelmente, de gastos de campanha
extraoficiais .

• ~/~-.-=~=~=.=.1"'~=!:~=~=;1-.
r"vg"'. -,-G-[O-N-'.-j~----'I"r~"'l"l=""I"'I"""'~~:"'.'!'I~~---=~~
- - = C o n s u l t a aos Dondorcs e Fornecedores de eam anha de Candidatos - v.: 1 . 6 . 6 _

• CandidBOO COmitê Ffnancelro/Direç:ia Partld:flria


TI. . - - - - - - - - - - - - - - - , Filtro por F o m l ! ! a ! d o r - - - - - - - - - - - - - - -

Nome: A ILHA PRODUÇÃO LTDA - EPP

rTiPO de PrestaçAo de Contõll!; CPF ou CNPJ: 02.241.562/0001-52


L 111 Pl!lrdfll 211 PlIrdo/ll • FInei

Selecionar Fornecedor Limpar

~.!i,q3*,r:n <i4tiatií>.II~ CImJ ! iiIW*'!i"'4h;i e ':NiíJrnmmmM,j'6'6',II:J


~~~çÂO ::::~~~~~e rõld.o,' 320.001,),00 PAULO ANTONIO 5KAt- . GOVl:IWAOOII.· PMOO - SI'


Ol.:Nl,;;UOOOI' eM/OYf2014
UDA . fPP tlll'Wlli8fl ou vid",,,

~1l1b6~ç.lIO 02,141.~2JOOOl 06/0611014 ~~~,~~~ ....;dlo. 1QO GOO,OO PAUtO ANTONIO <;KAf . GOVERNADOR· PMDS 'iP
I 1011, FPP le1rvi~Ao (lU v;deQ
li TI HA O] 2-41 562/0001 Proc!UÇ.'l1l ti!!
~~~~ . . 52 . Of,/OBf201~ r;:~:":"d~'O, 300.000,00 PAULO ANTOr-fIO SKfo.t . GOV~RN"'OOR - PHOO - 5P
r.:ltlA I'mclll(,Jode
02 241.S62!0001
PROOUÇÃO OllDaf20J4 ~,oq'amaç de mdoo, 310.000,00 PII.UlO ANTONIO SitA! GOVFI1NAOOIl: PMLJ6 SI'
U[)A - lPI'
A rlH.A
"
m.'41.562.10001.
lclt-.... ,~no 0<1 Vld~o
I'rotll.lt;lI1.1 dE'
PIl.ODUÇÃO 52 j2/0f)12014f;I~~~~U:..d:~~~iO, 750.000,00 PAULO AmONIO SKAf . GOV[n,NAOOR r>MOB 51'
UVA EW
A JlfiA
02.)41.56)/0001 P,O<l,,~!!o rk
PROO1K".,ÃO 04/0'l/201411'(oQfdrn35 <:!! r~dl", ISO 000.00 PAULO ANTONIO SI'.ftr G0VFRNAOOP PMUB SI'
lTO/l· f.Pfl
A JUtA "
O] .2~ 1.562/0001
'("l<'VI~O Ou ... de<>
d~
Produçtlo
pll.OOUçAO 26/09/1014 prno"'m~~ d .. r.idlÕ, ",,?O.OOO.OI) PAULO ANTONIO 5KA,I _ GOVlRNAOOR _ PM[)I) • SI'
ll"O" . EPP
" te'-v,sh ou video

Voltando à pessoa de MILTON LUIZ PIAZENTI SANTOS, uma


vez conhecida a sua participação nos fatos, procedeu-se a pesquisas nos
arquivos que armazenam conversas via Skype com vistas a identificar

"http:/"nterOl.tse.jus.br/spceweb.consulia .receitasdespesas20 14/resumoDespesasByCandidato. action, consultado


em 29/05/2018 ~

121 q
I~ IS

eventuais operações de que tenha participado. Como resultad0 50 , obteve-se os


diálogos que seguem:

16/09/2014
1 :j [email protected] live:gtnsaopaulo entregas mar para amanhã
16:24:47
1) alameda dos anapurus 1661 apt l301 moema lhe
Q

16/09/2014
1:[email protected] Iive:gtnsaopaulo palace fiaI 5 51ar hotel sr 'Nilliam, tel (11) 98078-5115
16:27:16
entregar 1.000.000,00
16/09/2014 2) Rua Pamplona, 63 fiaI lhe universe, apt"1702. sr fabio
1:j [email protected] live:gtnsaopaulo
16:29:09 a senha é vennelho entregar 1.000.000,00
3) Av brigadeiro faria lima vila olimpia apt/205 hotel blue
16/09/2014
1:j [email protected] live:gtnsaopauJo Iree faria lima, sr carlos Henrique vilela senha é
16:31:12
semente entregar 906.000.000,00

• 16/09/2014
16:31 :20
16/09/2014
16:32:49
16/09/2014
1 :[email protected] live:gtnsaopaulo 906 mil

1 :[email protected] live:gtnsaopaulo
4) rua manguata n° g casa ,brooklin, senhor Eduardo
castro senha é cimento entregar 1.000.000,00

1 :[email protected] Ii ... e:gtnsaopaulo coletou Nestor pestana e lavandisca ?


16:35:53
5) Rua Funchal ,111 mercure são Pauto Funchal hotel,
16/09/2014
1:[email protected] li... e:gtnsaopaulo vila olimpia apt0103 ,Ellzabeth oli ...eira a senha é quibe
16:39:19
entregar 500 mil
16/09/2014 6) Av lorena 427 , 5° andar conjunto 51 e 52 senhor
l:j .araujo [email protected] tive:gtnsaopaulo
16:41:21 apolonio a senha é Diamante entregar 240 mil
7)Rua tuim 18 transamérica theb special .moema sr ...........
16/09/2014
16:43:59
1 :[email protected] live:gtn~ulo Milton ou nadia a senha é maquinista entregar 500~)
'o 00'"
8) Rua Henrique fausto lancelotli 633,campo belo hotel
16/09/2014 blue Iree premium cangonhas airport , sr José ,(051)
1 :j,[email protected] live:gtnsaopaulo
16:48:26 9597·1023 a senha é concreto, entregar 1.000.000,00
Q
falta o apt

9) Rua Pedro alvarenga 1256 hotel transamérica


16/09/2014
1 :[email protected] live:gtnsaopaulo executive faria lima Itaim bibik a senha é piscina
16:51:40
entregar 1.000.000,00, falta o nome da pessoa e o aptO

• Tal operação encontra


"paulistinha" (mídia de fls. 946/947), certificando que os valores eram
provenientes da HOYA CORRETORA e, por consequência, da ODEBRECHT.
correspondência na planilha

17/09/2014 1.000.000,00 VERMELHO


c 117/09/2014 500.000,00 MAQUINIST
17/09/2014 1.000.000,00 ASPIRINA
17/09/2014 906.000,00 SEMENTE
17/09/2014 1.000.000,00 CIMENTO
17/09/2014 500.000,00 QUIBE
17/09/2014 500.000,00 ASFALTO
17/09/2014 240.000,00 DIAMANTE

" RAPJ n' 063-A (fls. 1286/1288)

122
Nova operação foi identificada no dia seguinte:

18/09/2014 live:gtnsaopaulo
RESUMO DAS LlQ DE HOJE
jferreira.ferreira 1
09:04:56
1 MAQUINISTA 500.000,00 RUA TUIM, 18, APT" 1708'~F
C TRANSAMÉRICA THE ~,;"E~-;,~' MOEMA, SR. PAUi;Q" R.
RENGA, 1256,
APT' 1210, ITAIM BIBI, HOTEL TRANSAMERICA EXECUTIVE
FARIA LIMA, SR. RICARDO 3 PISCINA 1.000.000,00 RUA
PEDROSO ALVARENGA, 1256, APT" 1202, ITAIM B181, HOTEL
TRANSAMÉRICA EXECUTIVE FARIA LIMA, SR. ALVARO, 4
CAMARÃO 100.000,00 AV. PAULISTA, 726, 17" ANDAR,

• 18/09/2014
09:07:33
CONJUNTO 1707 - D, SR. FABIO FERREIRA, TEL 9 6850 - 4815 5
ALGODÃO 300.000,00 AV. PAULISTA, 1337, CONJUNTO 21, SR.
jferreira.ferreira 1 live:glnsaopaulo EDUARDO 6 CALHAMBEQUE 200.000,00 ALAMEDA LORENA, 521,
HOTEL HB NINETH, APT" 1907, SR. ERON FLAUTA 100.000,00 7
ROTEIRO 387.090,00 RUA DA CONSOLAÇÃO, 2303, APT" HOTEL
IBIS BUDGET SAO PAULO PAULISTA HOTEL, SR. AFONSO
FÁBIO, TEL ~ 61 ) 9666-3315 8 BESOURO 500.000,00 RUA
TAMANDAR ,348,4' ANDAR (ANDAR INTEIRO), LIBERDADE,
SR. EDILSON 9 VELUDO 500.000,00 RUA AUGUSTA, 467, APT"
908, SR. WILSON, TEL ( 11 ) 9 9946-736510 CONCRETO
1.000.000,00 ALAMEDA CASA BRANCA, 799, APT" 23 G ,
JARDINS, SRa CRIS 15:52 11 SENHA FRANELA 500 MIL RUA
MINISTRO GODOY 1131 FLAT RESIDENCIAL APT'93
18/09/2014
live:gtnsaopaulo jferreira .ferrei ra 1 entrega n~1 rua tuin finalizado entregue 500mil
11 :08:41

Os valores envolvidos na operação novamente estão


consignados na planilha "paulistinha":

c: ::.


18/09/2014 500.000,00 MAQUINISTA
18/09/2014 500.000,00 JIBOIA
18/09/2014 1.000.000,00 PISCINA
18/09/2014 100.000,00 CAMARÃO
18/09/2014 300.000,00 ALGODÃO
18/09/2014 200.000,00 CALHAMBEQUE
18/09/2014 100.000,00 FLAUTA
18/09/2014 387.000,00 ROTEIRO
18/09/2014 500.000,00 BESOURO
18/09/2014 500.000,00 VelUDO
18/09/2014 1.000.000,00 CONCRETO
18/09/2014 500.000,00 FLANELA

Instado a encaminhar QS registras de ocupação da unidade


1708. o HOTEL TRANSAMÉRICA EXECUTIVE MOEMA confirmou MILTON
LUIZ PIAZENTI SANTOS como hóspede nas datas de interesse:

12~
Há, ainda, outras remessas de valores passíveis de serem
vinculadas a DUDA MENDONÇA, tendo como fonte primária registros trazidos
pelo Laudo nO 631/2018. Com efeito, consta a previsão de entrega de R$


500.000,00 (quinhentos mil reais), igualmente vinculada ao codinome
"TABULE", destinados a "NADYA ou CRISTINA":

Os mesmos parãmetros foram localizados em outro arquivo,


denominado "EXTRATO BANCÁRIO 01/10/2014 a 03/11/2014":

• EXTRATO BANCARIO
0111012014 a 0311112014
Dala: 0311112014
Pagina 2de 1

I I. .
24'HlralU SNUIifREOP.1"~U]v'm]( RI 000 500,1lll00 -5.2Ilil11l<6
2-411M01' SNlERfREOP14 1l1MCW-mm RI 000 fiI).IlllOO ~/llil11l"
14:IQm", SAlURfREOt.141113lM'mu RI 000 fiI).IlllOO -5.211.(0)46
W1OOQI4 StlXf RF REO C.14 Jli3""" ~1l23 RI 000 1OO.1lll00 , •• llil11l'S
29i10,"!I14 SNU: IifRtOe.maMrN.cQl~ RI 000 500,1lll00 <.9\1,(0)'6
2'lIKm1' SNlEIJREOC.I41T54Wt'm359 RI 000 400.1lll00 ./.311.920"
WJV'm
29:IO'll14 SNU: RfREOR 14.11 RI 000 ~,OOJOO ./.<111.(0)46

Pesquisa realizada nos diálogos mantidos via Skype resultaram


em detalhes adicionais que confirmam a efetivação da operação:

124cr
\~I'3

28/10/2014
26175 jferreira Jerre'lra 1 Uve:gtnsaopaulo entregas mar p/amanha
17;08:57

2-AV. JAMARIS. 100. MERCURE


28/10/2014 APARTAMENTS SP - TIMES SQUARE,
26177 jferreira. ferreira 1 live:gtnsaopauto
17:10:36 entregar SOO mil DAS 12 AS 16 HS, SR.,
senha lentilha

29/10/2014
live:gtnsaop~ na entrega da jamaris é pra procurar nadia


26213 jferreira.ferreira 1
11'.29:01 ou Cristina

29110/2014 VE O AP DA ENTREGA JAMARIS PRA


26219 live:gtnsaopaulo jferreiraJerreira 1
15:42:28 MIM

29110/2014
26222 jferreira .ferreira1 tive:gtnsaopaulo 1405
16:05:52

2911012014 JAMARIS FINALIZAOD 500MIL


26228 live:gtnsaopaulo perreira .ferreira 1
16'.21:57 ENTREGUE

No endereço previsto para a entrega, tal como nas anteriores,


funciona um hotel, o MERCURE TIMES SQUARE, em cuja lista de hóspedes

• referente aos dias 29 e 30/10/2014 e à unidade 1405, mencionada no diálogo,


consta o nome CRISTINA PASSOS.

MERCURE TIMES SOUARE


Mercure
NA32 - Guests In Hou$o by Room Number ·DU·

Room Name Company Arr. Cep. Room AdL ChI. pay Rale
No. Travei Agen! D;'Ite Date TVPe
VIP Block Code 500rce EDT

1405 ·P:tssOS,Crislinól.M T-BOQKING.COMBV 29-1D-1401-1'-14 TWD o Me FlIKO


CEU
141'1

Pelos dados qualificativos encaminhados pelo hotel, verificou-


se, a partir do CPF 391.888.765-00, que a hóspede trata-se de CRISTINA
LAERT COTRIM PASSOS, cujo e-mail [email protected]
(informado ao hotel) remete diretamente a DUDA MENDONÇA. A despeito
disso, o próprio publicitário. em depoimento, confirmou tê-Ia incumbido de
receber valores em espécie.

Conhecendo-se os nomes das pessoas que exerciam a


interposição no interesse de DUDA MENDONÇA, foi possível explorar

• díretamente o conteúdo das conversas mantidas por Skype, resultando no


seguinte:

29/10/2014
26230 jferreira.ferreira 1 live:gtnsaopaulo ENTREGAS MAR P/AMANHA 30/10
17:14:10

6- AV JAMARIS 100. MOEMA.


MERCURE APARTMENTSSP TIME
29/10/2014
26236 jferreira .ferreira 1 live:gtnsaopaulo SOUARE. APT 1405. NADJA / CRISTINA
17:33:07
ENTREGAR 750 MIL COM A SENHA
CASTANHA

29/10/2014
26239 perreira .ferreira1 live:gtnsaopaulo me passa os horários por favor
17:51 :34

• 26240
29/1012014
17:58:34

30/10/2014
Jive:gtnsaopaulo jferreira .ferreira1 10/13 todas

ENTREGA 4 E ENTREGA 6
26276 live:gtnsaopauJo jferreira.ferreira 1
12:15:37 FINALIZADAS

Como já demonstrado, CRISTINA PASSOS ocupava a unidade


1405 do HOTEL MERCURE TIMES SQUARE no dia 30/10/2014.

Na planilha "paulistinha" (mídia de fls. 946/947), a operação em


tela consta com o valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) e não de R$
750.000,00 (setecentos e cinquenta mil reais), sendo este o valor confirmado
no diálogo.

126~
5311 AMIGO
",~
533: CRENTE
534' ClNlA
535, PIQUI
536'

EXTRA
,

• '~OO
~~,'
lO <no 11M,'"
~
crREJA

>ACAIHAII
I,

Quando já consolidadas as informações acima, DUDA


MENDOÇA, na condição de colaborador, apresentou a petição de fls,
1130/1145, na qual contém planilha contemplando o que seria a integralidade
dos valores recebidos da ODEBRECHT,

• I.

, '
l~ 2-\

Partindo-se desses dados, conforme a minudente análise do


Relatório de Análise de Polícia Judiciária nO 88/2018 (fls. 1214/1223), foi
possível identificar mais um recebimento de valores em nome de MILTON
(Hotel Quality Moema, em 10/09/2014), assim como remessa adicional a
PAULO ROSSI (hotel Merak, em 11/09/2014):

A primeira foi objeto das conversas mantidas via Skype, em


seguida confirmadas na planilha "pau listinha":

• 10/0912014
15:48:41
1. . 1505@h t " !
:J.arauJo
r t r 8V rouxinol 57 hotel quality moema sr nilton senha
o mal .com lve:g nsaopau o trilho entregar 500 mil

10/09/2014
15:48:53
1 :[email protected] live:gtnsaopaulo q horas consegue entregar isso hj ?

10/0912014 depois das 19h devido ao recolhimento


live:gtnsaopaulo 1:j,araujo1505@hotmaILcom
15:49:27 dominó 6milhoes
10/09/2014
l:j .araujo [email protected] live:gtnsaopaulo Perai
15:50:42
10/09/2014 o cliente disse q pode ser a pós as 19
1:j .araujo [email protected] live:gtnsaopaulo
15:53:59 hras

10/09/2014 500.000,00 RECEITA


10/09/2014 500.000,00 COENTRO
10/09/2014 500.000,00 MELANCIA


10/09/2014 500.000,00 GATO
10/09/2014 334.000,00 SUBMARINO
10/09/2014 466.000,00 BORRACHA
10/09/2014 500.000,00 TRILHO

A confirmação de hospedagem na data correspondente deu-se


pelo expediente de fls. 1232/1239:

Hóspedes Que utilizaram o hotel passando pelo perfodo de 1010912014

Hóspede Reserva UH I Cheaada I Partida Pernoites


ISANTOS, MILTON 1 662929497 1011011010912014 111109/2014 I 1 I

128 -zf
Quanto ao recebimento de valores por PAULO ROSSI, os
registros iniciais constam na operação nO 10, realizada pela TRANSNACIONAL
naquele dia 11/09/2014:

11/09/2014
1 :[email protected] live:gtnsaopaulo bom diA
09:03:26
11/09/2014 confirma pra mim oque lemos agendado por
live:gtnsaopaul0 1:j [email protected]
09:03:53 favor&apos;
1- hotel rnercure, rua macuco 579 moema
11/09/2014
1 :[email protected] live:gtnsaopaulo apt 2601 rogerio Martins, entregar


09:04:03
1.100.000,000 o mais cedo passrval
2- alameda dos anapurus 1661 moema leh
11/09/2014
1 :[email protected] live:gtnsaopaulo petece flal 5 star hotel apt 1301 willian
09:04:13
entregar 1.000.000,00
11109/2014 3 - rua augusta 467 sala 505 cid oliveira a
1 :[email protected] live:gtnsaopauJo
09:04:23 senha é pedregulho entregar 500 mil

4- rua rocha pombo 94 ,11 0 andar Marcelo


11/09/2014
1 :[email protected] Hve:gtnsaopaulo Cavalcante a senha é Chevrolet entregar
09:04:33
SOOmir
11/09/2014 5- rua alberto faria 646 alto de pinheiros sr
1:[email protected] live:gtnsaopaulo
09:04:44 ágil senha dinossauro entregar 200 mil
0
6- av faria lima 2126 conjunto 202,22
11/09/2014
1 :[email protected] live:gtnsaopaulo andar Pedro ou viclor a senha é tomate
09:04:57
entregar 500 mil
7-alameda santos 1437 hotel tivoli , sr
11/09/2014
l:j [email protected] live:gtnsaopaulo Franklin mandin a senha é amarelo entregar
09:05:07
500 mil
8- rua diogo Moreira 247 hotel quality faria
1110912014
1 :[email protected] live:gtnsaopaulo lima pinheiro, Leonardo senha é sucuri
09:05:18
entregar 360 m
9 - rua augusta 467 hotel braston augusta
11/09/2014
1:[email protected] live:gtnsaopaulo wllyane nunes a senha é ferreiro entregar
09:05:28

• P7.
50 mil
1110912014
09:05:37 1:[email protected] live:gtnsaopaulo ( ~nha
10 - rua lavandisca 262 hotel merak
é trilho entregar 500 mil
1 9/122-,"",_,,,,,, -14/165
1110912014
l:[email protected] live:gtnsaopaulo 13/156 -10/12 7 -11/13 8-13115 9-
09:05:45
11/1310-14/16

11/09/2014 VOU PRECISAR TAMBEM DO


live:gtnsaopaulo l:j [email protected]
14:25:22 APARTAMENTO DA ENTREGA N'10
11/09/2014
l:j [email protected] live:gtnsaopaulo 603
14:26:48

Houve o correspondente apontamento na planilha "paulistinha"


(fls. 946/947):

11/09/2014 750.000,00 MELANCIA


11/09/2014 250.000,00 PAPAGAIO
11/09/2014 500.000,00 RECEITA
11/09/2014 500.000.00 COENTRO
< 11/09/2014 500.000,00 TRILHO >
129-zf?
11/09/2014 500.000,00 PEDREGULHO
11/09/2014 500.000,00 CHEVROLET
11/09/2014 360.000,00 SUCURI
11/09/2014 50.000,00 FERREIRO
11/09/2014 500.000,00 TOMATE/SALADA
11/09/2014 200.000,00 DINOSSAURO
11/09/2014 500.000,00 AMARELO

Por fim, a confirmação de hospedagem na data em que


efetivada a operação (fls. 1225/1230):

R-..rva: 002744 Empr. RctI.: 005134 EXf>EOIA BRASil AGENCIA VIAGENS TURISMO LTOA Garanto H0.5hoW: SIM
,-=-:::-:--
TlpOiMRowrvIo:
HospOdo Pnn~
Gfupodo'IO~"'.
PAULO TENUTO :::> Canel HOt.pedagonI:
Entra$: 11/09.12014 12:00 Provo Salda: 1210912014 12.00 COntato: EXPEDIA T~:,
1nc;luld. por: SUELLEN trlduldll 0fI1: lG10912014oo,00 Ultima Altelaçlo por: SUELLEN UItlIM AItetKIo em: 101091201. 1•. 501
Forma de Conhoclrnonto:
, (O) Utridade(!I) cio TIpo C snuaç.\o PROCESSADA ObIOrvaçjo di Rnarva:
D1âna(s) TRF 2OT,26<-S%1SS COBRAR SOMENTE
fataldeOlimo
DIARIA 00 CARTAO
54050630945689113 VAL:08l17
207~ 201,26
Total do Roonllng HlglIt: 1
R~a.
,'" PERC, VAlOR D.II OIARI" J>ton,. 0dri1I (5,00'lI0)

Portanto, a conjugação das diversas fontes informativas


disponíveis permite concluir que DUDA MENDONÇA recebeu da

• ODEBRECHT, no interesse de PAULO SKAF, R$ 5.169.160,00 (cinco milhões,


cento e sessenta e nove mil e cento e sessenta reais), computados os valores
comprovadamente direcionados a PAULO ROSSI.

DUDA MENDONÇA referiu ter recebido R$ 10.000.000,00, dos


quais R$ 4.000.000,00 teriam sido revertidos a PAULO ROSSI em razão de
serviços prestados à campanha de PAULO SKAF. Muito embora as evidências
reunidas na investigação não contemplem a integralidade de tais pagamentos,
o tanto exposto é suficiente para demonstrar a canalização de valores pela
ODEBRECHT a DUDA MENDONÇA, na forma de contribuicão eleitoral
oficiosa, em absoluta consonância com o ajuste inicial celebrado no Palácio do
Jaburu.
PAULO ANTÔNIO SKAF, ouvido ás fls. 687/688, negou ter
recebido qualquer suporte financeiro extraoficial do Grupo ODEBRECHT,
admitindo o recebimento apenas R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) como
doação oficial da empresa BRASKEM à sua campanha, em 2014, valores
solicitados a MARCELO ODEBRECHT, sem envolver qualquer hipótese de
contrapartida.

De fato, o Sistema de Prestação de Contas Eleitoral confirma


apenas a contribuição originária da BRASKEM:

P~UlO

."
"''''ONIO 1Il,:)_~ .. ""IL '" "

Além disso, confirmou ter contratado DUDA MENDONÇA para


cuidar do marketing da campanha pelo valor de R$ 16.000.000,00 (dezesseis
milhões de reais) e, por fim, arguiu desconhecer a realização do jantar no
Palácio do Jaburu assim como ajustes financeiros que teriam sido feitos
naquela ocasião .

• Apesar de tais alegações, são robustas as evidências a


demonstrar o encaminhamento de valores pela ODEBRECHT a DUDA
MENDONÇA, no interesse da campanha de PAULO SKAF, com a ciência
deste, confirmando a narrativa dos colaboradores MARCELO ODEBRECHT,
FERNANDO MIGLlACCIO e do próprio DUDA MENDONÇA
Sintese gráfica do microcaso:

R$ 4.169.160 Ouda
Mendonça
~
ODEBRECHT _.....·-... .-..- ~DD~
....., --P.·
<®lHOYA....., a=CI_
-
TRANSNACIONAl
-

R~ 1.000.000
Paulo Luclsno
EJSICAF

---1


~!!!JJg. Rossi
(PALU)

111 - DAS CONCLUSÕES

3.1) DO "GRUPO POLíTICO" E DAS SOLICITACÕES DE


VALORES

Como reiteradamente frisado, o objeto da investigação


compreende dois núcleos fáticos: o primeiro, com origem na solicitação de R$
4.000.000,00 (quatro milhões de reais) dirigida á ODEBRECHT pelo Ministro
MOREIRA FRANCO, à época em que comandava a Secretaria da Aviação
Civil; o segundo. decorrente do pedido de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de

• reais), confirmado em jantar realizado no Palácio do Jaburu, do qual


participaram ELlSEU PADILHA e o então Vice-Presidente da República,
MICHEL TEMER.

Tais solicitações foram dirigidas á ODEBRECHT por membros


de um mesmo "grupo político", como descreve CLÁUDIO MELO FILHO, Diretor
de Relações Institucionais da ODEBRECHT, nas informações encaminhadas à
Procuradoria-Geral da República relativas ao seu acordo de colaboração
premiada s1 :

"PMDB na Câmara dos Deputados


O núcleo politico organizado do PMDB na Câmara dos Deputados é
historicamente liderado por Michel Temer, atual Presidente da República.

13~
" Mídía de fl. 62.
À semelhança do que ocorre no Senado Federal, esse grupo é capffaneado
por três nomes: Michel Temer, Eliseu Padilha (atual Ministro-chefe da Casa
Civil) e Moreira Franco (Ministro de Estado do atual Governo). Dedico a
cada um deles anexo próprio, em que relato detalhadarnente os
relacionamentos que mantive com todos.
Pelo gue pude perceber ao longo dos anos, a pessoa mais destacada desse
grupo para falar com agentes privados e centralizar as arrecadações
financeiras é Eliseu Padilha. Ele atua como verdadeiro preposto de Michel
Temer e deixa claro que muitas vezes fala em seu nome. Eliseu Padilha
concentra as arrecadações financeiras desse núcfeo político do PMDB para
posteriores repasses internos.


Michel Temer atua de forma muito mais indireta, não sendo seu papel, em
regra, pedir contribuições financeiras para o partido, embora isso tenha
ocorrido de maneira relevante no ano de 2014, conforme detalharei adiante.
Esse papel de 'arrecadador' cabe primordialmente a Efiseu Padilha e, em
menor escala, a Moreira Franco.
Tanto Moreira Franco como Eliseu Padilha, contudo, valem-se enormemente
da relação de representação/preposição que possuem de Michel Temer, o
que confere peso aos pedidos formulados por eles, pois se sabe que o pleito
solicffado em contrapartida será atendido também por Michel Temer.
Geddel Vieira Lima também possui influência dentro do grupo, interagindo
com agentes privados para atender seus pleffos em troca de pagamentos. "

o conjunto de elementos contidos nos autos realmente


demonstra a atuação consorciada dos investigados, com segmentação de
tarefas e divisão dos valores arrecadados, inclusive .

• solicitados
Observe-se
pelo Ministro
que
MOREIRA
os R$ 4.000.000,00
FRANCO tiveram
operacionais conduzidas pelo Ministro ELlSEU PADILHA. Entretanto, como
(quatro
suas
milhões)
tratativas

evidenciado, os valores não reverteram somente ao atual Ministro-Chefe da


Casa Civil, tendo sido endereçados também ao Exmo. Sr. Presidente da
República, MICHEL TEMER, na pessoa de JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO e,
ainda, a outro beneficiário, com relações no Rio de Janeiro, cuja identificação a
investigação não logrou revelar.

No tocante à destinação dos R$ 10.000.000,00 (dez milhões de


reais), objeto de conversa no Palácio do Jaburu, a dinâmica não foi diversa:
parte dos valores (soliCitados por ELlSEU PADILHA) foi enviada á campanha
de PAULO SKAF ao Governo de São Paulo (mediante a aquiescência do

133~
grupo); outra fração foi revertida a EDUARDO CUNHA (sendo recebida por
ALTAIR ALVES PINTO); R$ 1.000.000,00 foram encaminhados a Porto Alegre,
no interesse de ELlSEU PADILHA, e igual quantia foi entregue no escritório de
JOSÉ YUNES, amigo pessoal do Exmo. Sr. Presidente da República MICHEL
TEMER.

Identifica-se, portanto, a atuação conjunta dos investigados


MICHEL TEMER, MOREIRA FRANCO e ELlSEU PADILHA, cabendo
exclusivamente ao último o trato de questões de ordem operacional, como

• relataram JOSÉ DE CARVALHO FILHO e CLÁUDIO MELO FILHO .

Oportuno mencionar que as autoridades aqui investigadas já


integram o rol de denunciados nos Inquéritos 4327/DF e 4483/DF52 justamente
pela atuação, na forma de organização criminosa, em diversos nichos da
Administração Pública, direta e indireta, como PETROBRAS, FURNAS,
Ministério da Integração Nacional, Caixa Econõmica Federal, Ministério da
Agricultura e outros.

Segundo aquela inicial acusatória (mídia de fI. 1149), a atuação


do grupo conhecido como "PMDB da Câmara" se dava de modo concertado,
com a nomeação e controle de postos-chave dos órgãos acima citados, com
vistas a auferir valores ilicitos decorrentes dos respectivos negócios, contando,

• para tanto, com estrutura operacional baseada em interpostas pessoas,


doleiros, operadores financeiros e, inclusive, com remessas a contas mantidas
no exterior, em alguns casos.

Logo, os fatos aqui apurados - relacionados à Secretaria de


Aviação Civil - refletem a ação do mesmo grupo político, longe de constituírem
eventos episódicos.

Passando-se às especificidades de cada núcleo fático, importa


registrar as declarações de MARCELO BAHIA ODEBRECHT a respeito da
solicitação inicial de R$ 4.000.000,00, em especial o aspecto de sua vinculação

52 Juntamente com EDUARDO CONSENTI NO DA CUNHA, HENRIQUE EDUARDO LYRA ALVES, GEDDEL
QUADRO VIEIRA LIMA, RODRIGO SANTOS DA ROCHA LOURES, JOESLEY MENDONÇA BAPTISTA e
RICARDOSAUD, ~

134 ~
142.8

aos interesses da ODEBRECHT na concessão da exploração do Aeroporto


Internacional Tom Jobim (Galeão) e demais assuntos afetos à Secretaria da
Aviação Civil (fls. 889/893):

"QUE, especificamente sobre os valores que teriam sido solicitados por


MOREIRA FRANCO a PAULO CESENA e a CLÁUDIO MELO FILHO, tem a
dizer que CLÁUDIO MELO FILHO mantinha relação próxima com alguns
agentes pofiticos, dentre os quais MOREIRA FRANCO e ELISEU PADILHA,
sendo que, inclusive, teria relação de parentesco com o primeiro; QUE,
portanto, se houve solicitação dos R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais),

• tal como narrado na colaboração de CLÁUDIO MELO FILHO, tal pedido


obrigatoriamente tem que ter passado pelo próprio CLÁUDIO MELO FILHO,
não acreditando o decfarante que MOREIRA FRANCO teria direcionado tal
solicitação a PAULO CESENA, com quem dispunha de relação meramente
institucional; QUE, em regra, quando CLÁUDIO MEL O FILHO linha alguma
demanda da espécie - solicitação de valores - ele procurava junto ao
executivo do grupo que havia sido ou poderia ser ajudado pelo político
que estava pleiteando os valores; QUE, por isso, acredita que a
solicitação de MOREIRA FRANCO, pela posição que ocupava, deve ter
sido atendida por algum lider da área de infraestrutura, BENEDICTO
JÚNIOR ou PAULO CESENA; QUE essa era a orientação Iransmitida pelo
declaranle a CLÁUDIO MELO FILHO: procurar recursos junto à empresa cuja
alividade eslava relacionada à atuação ou influência do solicitante; QUE o
trabalho de CLÁUDIO MELO FILHO era fazer justamente essa
conjugação de interesses, ou seja, buscar os recursos (pois ele próprio
não os dispunha) junto à empresa da ODEBRECHT que poderia se

• beneficiar da influência ou da própria atuação potitica de guem estava


pedindo os valores: QUE tomou conhecimento dos relatos de BENETICTO
JÚNIOR e PAULO CESENA acerca desse tema, nos quais ambos
asseguram que a solicitação fora atendida em face da influência que
MOREIRA FRANCO tinha no setor de aeroportos, o que, na opinião do
declarante, se faz razoável, uma vez que, por conta do leilão do Galeão e de
outros assuntos da área, a ODEBRECHT tinha importantes interesses
naquele setor; QUE, perguntado se a ODEBRECHT encaminhou
demandas a MOREIRA FRANCO e ELISEU PADILHA, relacionadas a
aeroportos, afirma gue sim, que havia uma constante interlocução em
razão de temas diversos que interessavam à empresa, tais como a
primeira rodada de concessão de aeroportos, a construção do terceiro
aeroporto em São Paulo e, também, os temas relacionados à concessão
do Galeão; QUE, certamente, PAULO CESENA lem condições de enumerar
essas demandas'.
No tocante ao terceiro aeroporto de São Paulo (NASP),
mensagens via e-mail trocadas por MARCELO ODEBRECHT com outros
executivos de sua empresa retratam a intensa articulação promovida em sede
de "bastidores" (fls. 894/918).

PAULO HENYAN YUE CESENA, Presidente da ODEBRECHT


TRANSPORT, em documentos apresentados em seu acordo de colaboraçã0 53 ,
mencionou demandas que teria levado ao Ministro MOREIRA FRANCO:


"No periodo prévio ao leilão do Galeão, durante as reuniões havidas, das
quais participaram Claudio Filho e eu, apresentei argumentos para a
manutenção de condições estabelecidas no edftal e que estavam sendo
questionadas por outros concorrentes:

(i) que o operador aeroportuário membro do consórcio tivesse um atestado


técnico de gestão de aeroportos com movimentação minima de 35 milhões
de passageiros/ano. Neste item o edital final foi alterado e inseriu-se como
exigência de movimentação minima 22 milhões de passageiros/ano, ainda
muito superior aos 5 milhões de passageiro/ano previsto na rodada anterior,
o que atendia o interesse da Odebrecht Transport.

(iiJ que as empresas controladoras dos aeroportos que haviam sido


concessionados na primeira rodada de privatização do setor não
poderiam partiçipar na rodada em questão, Houve qrande pressão neste
item e ao final foi atendido o pleito para restrinqir, da sequinte forma: o
edital final definiu que a participação das empresas que controlavam os
aeroportos já concessionados seria limitada a uma participação de 15%


do capital do consórcio, sendo vedado que participassem do controle
do aeroporto."

Às fls. 321/323, PAULO CESENA reafirmou suas impressões


quanto aos valores disponibilizados pela OTP:

"QUE compreendeu, embora ninguém tenha lhe dito isso, que se tratava
de uma contrapartida em razão de alguma atuação de Moreira Franco
relacionada com a concessão do Galeão".

Além disso, quando questionado acerca de algum beneficio


especifiCO à ODEBRECHT, especialmente no que se refere à segunda rodada
de leilões, ocorrida em 2013, afirmou que:

53 Mídía de fl. 62.


'o edftal acabou sendo conveniente para o grupo, contudo não tem condições
de saber se houve algum tipo de articulação nos bastidores do governo para
que o edftal tivesse sido elaborado da forma como foi; QUE na época do
governo de DILMA ROUSSEF havia uma grande centralização de decisões
na figura da presidente e por isso acredfta que o então Ministro da SAC,
Moreira Franco, não teria poder de decidir ele sozinho como seriam feitas as
concessões; QUE se recorda que a primeira versão do edital previu em uma
de suas cláusulas que, para a habilitação ao leilão, o consórcio, ou uma das
empresas que o compunham, deveria apresentar um atestado de
movimentação de 35 milhões de passageiros por ano; QUE, além disso, era
vedada a participação, nessa segunda rodada, de empresas que tivessem

• sido vencedoras na primeira rodada, ocorrida por volta de 2012; QUE havia
um movimento forte para que essas duas cláusulas fossem alteradas, o que
não era benéfico ao grupo Odebrecht; QUE por essa razão, o objetivo da
primeira rodada de reuniões com o Ministro Moreira Franco, foi
principalmente a apresentação de argumentos para a manutenção do edftal
no formato original;"

CLÁUDIO MELO FILHO, no corpo de documento que compõe


o seu acordo de colaboração premiada 54, também enumerou algumas
demandas relacionadas á área, que teria encaminhado ao Ministro MOREIRA
FRANCO:

'li) Levei a ele a demanda da Odebrecht para que fosse mantido o modelo de

• concessões de aeroportos, que inibia o monopólio, Apesar de muita pressão,


o modelo de concessões não foi alterado;

lii) Levei a ele nova demanda da Odebrecht que tratava sobre a qualificação das
operadoras pretendentes, mais especificamente no que tange à importância da
manutenção da necessidade de experiência anterior com determinado fluxo de
passageiros. Apesar de nosso pedido, o modelo foi mantido, com O relaxamento das
exigências de qualificação das operadoras pretendentes como condição para a
participação no certame;

liii) Em nova oportunidade, Moreira Franco fez muita pressão para que a
Odebrecht assumisse o aeroporto antes do prazo contratual. Certamente
essa pressão era para evftar que a SAC e o Ministro levassem a culpa por
possiveis problemas que surgissem durante a Copa de 2014. Não cedemos,
apesar de tudo, pois tínhamos convicção que sairíamos prejudicados;

" Midia de fI. 62.


(iv) Em outro momento, Moreira Franco pressionou a mim e a Paulo Cesena,
para que o Galeão escolhesse o operador do Free Shop. Não disse a razão,
mas insisffa bastante. Ao que me consta o processo de escolha se deu por
concorrência;

(v) Também foi com Moreira Franco que retomamos a discussão jurídica do
aeroporto de Goiânia, sendo ele o catalizador do acordo assinado entre as
partes. Não participei deste fato, mas a primeira reunião sobre o tema foi
solicitada por mim e liderada pelo DS responsável pelo assunto. Essa
reunião ocorreu a pedido de João Pacífico e foi marcada por minha


secretária, Diva de Souza, com possivelmente, LúcialMarcela, através do
telefone (61) 3311-7195. Esta reunião ocorreu no Centro Cultural do Banco
do Brasil, localizado no Setor de Clubes Sul, Trecho 2, Lote 22, Portaria 1, I'
Andar; e

(vi) Em outra oportunidade levei a ele o tema do novo aeroporto de São


Paulo (NASP), cuja implementação, se ocorresse, poderia prejudicar a
concessão do Galeão. Houve pressões por todos os lados e tivemos a
percepção que Moreira Franco jogou com isso e deixou que o fato fosse
resolvido pelo andar do tempo, de forma que ele saisse bem com todos os
envolvidos. Tive a percepção clara que havia outros interesses de terceiros
envolvidos. "

BENEDICTO BARBOSA DA SILVA JÚNIOR, Presidente da


ODEBRECHT Infraestrutura, também justificou o dispêndio dos valores:


"QUE o entendimento do declarante era de que MOREIRA FRANCO era
uma pessoa influente, pela proximidade de tal pessoa a MICHEL TEMER, e
que não poderia ser negado um pedido de MOREIRA FRANCO, pelo papel
que este tinha, por seu passado, e por tudo o gue representava QUE, pelo
papel de MOREIRA FRANCO e sua importância estratégica o declarante
avaliou que o valor era consentâneo QUE; a alegação objetiva, vinda de
CLÁUDIO MELO, era de que os valores seriam para a Campanha Eleitoral
QUE, os valores para a doação em questão tinham natureza ilicita, de caixa
dois, através do Sistema de Operações Estruturadas situado em Salvador
Bahia QUE, naquele momento WELLlNGTON MOREIRA FRANCO
ocupava posição importante, como Secretário da Aviação Civil, e
naquela oportunidade estava em curso os contratos, ou a Licitação, do
Aeroporto do Galeão/RJ, então havia um interesse claro da empresa em
manter a relação com tal pessoa; QUE, não sabia, não foi informado, de
uma demanda direta, que se relacionasse estreitamente com o pedido da
doação em questão QUE, não sabe, mas avaliou na ocasião, que não havia
nenhum risco de retaliação, por parte de MOREIRA FRANCO, caso não
houvesse o atendimento do pedido dos valores em questão QUE, a

138
sistemática utilizada para a alocação dos valores doados ao PMDB,
solicffados por MOREIRA FRANCO, para fins gerenciais, de avaliação da
equipe, porque havia um sócio estrangeiro que não participava dessa
doação, foi feita na empresa OTP (Odebrecht Transport), porque havia um
negócio de interesse da empresa OTP no Rio de JaneirolRJ, de onde
provinha MOREIRA FRANCO",

No que tange à solicitação de valores havida no Palácio do


Jaburu, a despeito das incongruências entre narrativas de colaboradores, já
realçadas, há aspectos que, no dizer de MARCELO ODEBRECHT,
desnaturam a aparente alocação clandestina de valores para campanha
eleitoral, tratando-se de verdadeiro investimento estratégico junto ao grupo
político que capitaneava a área da aviação civil, justamente pelo potencial
proveito que poderia importar à construtora, nas diversas demandas
relacionadas à concessão do aeroporto do Galeão e temas afins (fls, 889/893):

"QUE, no tocante à solicffação de R$ 10,000,000,00 (dez milhões de reais)


que teria ocorrido, segundo CLÁUDIO MELO FILHO, em jantar realizado no
Palácio do Jaburu, em maio de 2014, tem a esclarecer que, na verdade, essa
demanda já havia sido apresentada muffo antes ao declarante por CLÁUDIO
MEL O FILHO; QUE, algumas semanas antes do jantar, CLÁUDIO MEL O
FILHO relatou ao declarante que havia recebido tal solicitação do 'grupo de


MICHEL TEMER', possivelmente través de ELISEU PADILHA; QUE o
declarante, dentro da lógica referida acima, disse a ele gue os recursos
deveriam ser buscados junto a executivos da ODEBRECHT que pudessem
ter interesse na atuação do grupo Que estava solicitando; QUE, em dado
momento, CLÁUDIO MELO FILHO afirmou ao declarante que havia obtido a
autorização para a disponibilização dos recursos; QUE, agora, tendo
certeza de que os recursos foram autorizados pela área de
infraestrutura, o declarante vê como natural esse apoio financeiro, já
que a principal área de influência de MICHEL TEMER naquela época era
a de aeroportos, comandada por MOREIRA FRANCO e, em seguida, por
ELISEU PADILHA; QUE, na impressão do declarante, o apoio prestado
pela área de infraestrutura ao grupo de MICHEL TEMER era
consequência das interações que a ODEBRECHT vinha tendo com a
Secretaria da Aviação Civil, desde as primeiras licitações de aeroportos,
com a apresentação de diversas demandas à correspondente área; QUE
o referido 'grupo de MICHEL TEMER' era composto pelO próprio, por ELlSEU
PADILHA e por MOREIRA FRANCO, ao menos assim era conhecido no
âmbffo da ODEBRECHT",

13;z;f
Não há, portanto, como desvincular a solicitação de valores e
correspondentes pagamentos da relação que a ODEBRECHT mantinha com a
Secretaria de Aviação Civil, controlada pelas autoridades que compõem o rol
de investigados.

Como visto, a concessão do Aeroporto Internacional do Galeão


foi formalizada em 02/04/2014. Os efeitos da relação estabelecida, a partir de

• então, entre poder concedente e consórcio


transcendem à seara contratual: em sua manifestação pela instauração do
presente inquérito, o Exmo. Sr. Procurador-Geral da República, muito
concessionário, porém,

oportunamente, expôs informaçôes extraidas de terminais telefônicos


apreendidos com ROBERTO ZARDI FERREIRA e BRUNO SEMINO,
executivos da OAS S/A 55 (fi. 11 e seguintes), que revelam a intensa
movimentação de "bastidores" que orbitou o programa de concessão de
aeroportos. Nesse contexto, há claras referências ao empenho que membros
do grupo político 56 liderado pelo então Vice-Presidente da República, MICHEL
TEMER, exerciam em prol de medidas que se alinhavam aos interesses da
ODEBRECHT (antagônicos aos da OAS).

• No mesmo sentido apontam informaçôes extraídas do celular


usado por "LÉO PINHEIRO", executivo da OAS S/A, especialmente no trecho
em que foi cobrado por EDUARDO CUNHA por "ter feito 5 paus para MICHEL
direto de uma vez':

Do, ( 'te 1. ,~ 5 paus "MI MfQ(n IIlrlUl


lJ!o.jlOU. HhJlIi' S5119H1i"l!.LWJuro~p.Itfl li' ... _ ..... , N'btJ.",,", ~ • •tI
[, CUnha b~."~r~rM'~"1

Do,
A,4 ,..~. MDI' .... tt'll'l _ " '.""1
MfIO. dtl)f"fflldldll' vclllo . . . ~
8/f)C/MJ14 U,H:S' SSll'''ISH1'''.lIflYob.".,1\4't lO -""tel __ 1MtJ111I11'1 com ... ~
E, CU,,"" ~nd • • IÓ&'U- NI'IOVI~ Af&ndtll
.t-etc
n/N/101.. lJ14J!6S N.lo IOl'NTWKAOO NlolOl:HTlfKADO ~?H!~n

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D/OIlleU 111"'105 NÃo IOENllflCADO NÃO IDOm1K.AOO li. IPIeltfe IH'nofllfttM1 .. CIta doi
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E,.. tioclut..... ~ Ma... ra
0..
i.«tWfulo •• W( . . . . Mio:tw! S 111'11.' o@ft
u/O&/m.. UlAt,l' SSll ~"l!.,.wh.b.'p.II.1
E.evn'" " Mt*""
j . . .pvIit ...
c_m....-.:ir.VI: •••• _
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Yt. • r~~ud. _ _ .,.. _
Do>
"/08/1014 UI""')
S!tll~"l!.I.""~p.Mt
" .....!~d_t~_ ~

ss Petição 6337
"ELlSEU PADtLHA, GEDDEL VIERA LIMA e MOREIRA FRANCO.
Mais adiante, LÉO PINHEIRO tratou de se desculpar com
GEDDEL VIEIRA LIMA:

0610'/2fl1" 2l:S6 14 To: "S511A2~15o.4M. c....:.,.


IduwdO f." 0Itft0trI ~.o "'rlum
.,xonf_ u" con._c»" Morttn ..
M.... l
GMtIfII de. 1'aI.!!pllar dlflIlMtlfto o
KOf""' s• •tudO o NrM11l!!
Vc. _11'«-' a~ q,.; UMa • .,kt~lo.
Jl't''''~~'''' ....... (~umldfo
""'cO
E.... ~do POOf t·H h n .. 1do
"M~.~lo..n


,.'-"0. na. l...-.o", flnuf'ic., o
f;IC1InlCSo
(IM Ibn~a .. VI!ltGI t 1Ift_,
l"'w.-lro,
07/O'J/1014 12:11.29 r._ ."S11I1l"7lC o.a6t1 0""''"1
[nV'MMNl) ~ CltM ....
,........ " .... IM-.,......IIp1It.I~a.s
Ouve> ........... ctuot. lUa .qNd~tIo'.
""" ,.,,, .. 50. _,fIM frwtran ..... 'cKlt ..
COMlmM com Vir)JO~ONtIIlI"
t&ltllln . . . . . .

....
GOI.tnço,

- -

Conforme o teor das mensagens, a insatisfação de EDUARDO


CUNHA decorria da prioridade que a OAS teria dado ao grupo de MICHEL
TEMER no repasse de valores, em detrimento daqueles que teriam sido


aliados no embate que envolveu a segunda rodada de concessões: "Eles tão
chateados porque Moreira conseguiu de vc para Michel 5 paus e vc já
depositou inteiro e eles que brigaram com Moreira vc adia e isso" (sic).

Questionado acerca de tais fatos, em depoimento de fls.


1097/1100, EDUARDO CUNHA, a par de reconhecer que o significado de "5
paus" era cinco milhões de reais, remeteu as respostas ao depoimento
prestado no ãmbito do processo 0805556-95.2017.4.05.8400, em curso na 14"
Vara Federal de Natal/RN.

"QUE à fi. 26 dos autos, consta trecho de um relatório que contem uma
mensagem enviada de um celular vinculado ao declarante para um executivo
da OAS com o seguinte teor: 'E vc ter feito 5 paus para MICHEL direto de
uma vez antes, todos souberam e da barulho sem resolver os amigos',
indagado se o declarante confirma que o contexto da mensagem envolve o
envio de valores pela OAS a MICHEL TEMER, afirma que remete a resposta
a esta pergunta ao mesmo interrogatório já proferido na ação penal aCima~.-

141 1
mencionada; QUE no mesmo relatório, constam mensagens subsequentes à
anterior: 'Até porque Moreira tem mais rapidez depois de prejudicar vcs do
que os amigos que brigaram com ele por vc, entende a lógica da turma? Ai
inclui Henrique, Geddel, etc' 'Eles tão chateados porque Moreira conseguiu
de vc para Michel 5 paus e vc já depositou inteiro e eles que brigaram com
Moreira vc adia e isso', indagado sobre qual a relação dessas mensagens
com a disputa que ocorrera no âmbito da Secretaria de Aviação Civil entre
DAS e ODEBRECHT, relacionada ao processo de concessão de aeroportos,
afirma que remete a resposta ao interrogatório já prestado nos autos da ação
penal referida; QUE indagado sobre como se deu o prejuizo de MOREIRA

• FRANCO aos interesses da DAS, mencionado pelo declarante na segunda


mensagem, afirmou que o resultado final foi prejudicial à DAS, pois esta não
pode participar da licitação, e remete a resposta também ao interrogatório já
prestado na ação penal referida; QUE na última mensagem, o declarante
aparentemente reitera que '5 paus' foram direcionados pela DAS a MICHEL
TEMER. Indagado se essa expressão significa que R$ 5.000.000,00 (cinco
milhões de reais) foram obtidos por MOREIRA FRANCO junto à DAS, no
interesse de MICHEL TEMER, afirma que os '5 paus' significam, de fato, R$
5 milhões de reais, e supõe que foram obtidos por MOREIRA FRANCO junto
à DAS, no interesse da campanha de MICHEL TEMER e do PMDB, no
entanto, também remete aos termos do interrogatório prestado em juizo para
fomecer uma resposta mais completa a este questionamento;

Muito embora os acontecimentos possivelmente ocorridos e


narrados acima - referentes à suposta participação de outro grupo nas

• "negociações" dos editais de concessão de aeroportos -


propriamente, o objeto desta investigação, importa trazê-los à análise como
forma de demonstrar a existência de elementos circunstanciais que indicam o
não sejam,

quanto parte do escalão máximo do Poder Executivo realmente esteve disposto


e mobilizado para auferir vantagens em troca de influências em contratos
públicos, chegando, inclusive, ao ponto de provocar a insatisfação de
EDUARDO CUNHA e de seus correligionários.
Portanto, reitere-se, as solicitações de valores provindas dos
Ministros MOREIRA FRANCO e ELlSEU PADILHA não podem ser
consideradas à margem dos acontecimentos que permearam a concessão do
Aeroporto do Galeão. Além de a ODEBRECHT ter visto prosperar cláusulas
editalícias favoráveis aos seus interesses - a despeito da disputa
desencadeada em torno do tema - a relação contratual que se inaugurava

14~
traria demandas recíprocas entre as partes, algumas acima descritas, próprias
da relação concedente-concessionário, o que certamente era do conhecimento
de todos os envolvidos. É dizer, não faltavam motivos à ODEBRECHT para
agraciar o grupo politico que dominava a área da aviação civil, naquele
momento em que se inaugurava aquela importante relação contratual em torno
do Aeroporto do Galeão. Tal aspecto, presume-se, não era ignorado por quem
solicitou os valores.

• Tem-se, portanto, um entrelaçamento entre


solicitações de dinheiro (e consequentes recebimentos) e o exercicio da função
pública pelos agentes políticos que detinham o comando da Secretaria de
Aviação Civil.
as ditas

A propósito, o Desembargador Federal JOÃO PEDRO


GEBRAN NETO, em voto proferido na Apelação Criminal nO 5046512-
94.2016.4.04.7000/PR, citando precedentes dessa Suprema Corte, destacou
que ''para a configuração do delito de corrupção, não se exige que o
oferecimento da vantagem indevida guarde relação com as atividades formais
do agente público, bastando que esteja relacionado com seus poderes de
fato. E, no caso de agente politico, esse poder de fato está na capacidade de
indicar ou manter servidores públicos em cargos de altos niveis na estrutura

• direta ou indireta do Poder Executivo, influenciando ou direcionando suas


decisões, conforme venham a atender interesses escusos, notadamente os
financeiros'~ (sem grifo no original)

Há outros julgados na mesma linha, sedimentando o


entendimento dessa Egrégia Corte quanto á extensão dos conceitos "ato de
ofício" e "em razão da função":

"De início, pontuo que a prática do ato de ofício não é elemento do tipo penal
de corrupção passiva, de modo que a sua ausência não implica a atipicidade
da conduta. O que revela para a configuração do crime de corrupção passiva
é que a vantagem indevida seja recebida em razão da função, o que pode
ser evidenciado pelo recebimento de vantagem indevida sem explicação
razoável e pela prática de atos que beneficiam o responsável pelo
pagamento". (Inq 4141, Relator: Min. ROBERTO BARROSO, Primeira
Turma, julgado em 12/12/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-035
DIVULG 22-02-2018 PUBLlC 23-02-2018)

1430r
"33.5. Exige-se, para a configuração do delito, apenas o nexo causal entre a
oferta (ou promessa) de vantagem indevida e a função pública exercida,
sem que necessária a demonstração do mesmo nexo entre a oferta (ou
promessa) e o ato de ofício esperado, seja ele lícito ou ilicito. Ou seja, não é
necessário estabelecer uma subsunção precisa entre um especifico ato de
oficio e as vantagens indevidas, mas sim uma subsunção causal entre as
atribuições do funcionário público e as vantagens indevidas, passando
este a atuar não mais em prol do interesse público, mas em favor de seus

• interesses pessoais .

33.6. Na experiência do direito norte-americano, "As leis e casos de


cOlTupção política deixam alguns princípios dessa área claros (. ..). O acordo
entre o funcionário público e a pessoa que oferece subamo não precisa
explicitar quais pagamentos vinculam específicos atos desse funcionário. Ao
contrário, é suficiente que o funcionário público tenha entendido que era dele
ou dela esperado o exercício de alguma influência em favor daquele que
paga o suborno caso tais oportunidades surgissem (United States v. Abbey,
560 F.3d 513, 518 (6th Ciro 2009); accord Unned States v. Jefferson, 674
F3d 332, 358-59 (4th Ciro 2012); Ryan v. United States, 688 F.3d 845, 852
(7th Ciro 2012); United States v. Ganim, 510 F.3d 134, 147 (2d Ciro 2007). US
v. Terry, (6th Ciro 2013)" (The Honest services of Public Officials" (Criminal
Low series) (English Edftion)" by LandMark publications. Kindle: 2015,
posição 2156) (AP 695, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma,
julgado em 06109/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-263 DIVULG 09-12-

• 2016 PUBLlC 12-12-2016)

Rigorosamente, as informações até aqui expostas delineiam


um quadro aparente de corrupcão passiva, em que agentes públicos, em
episódios inerentes ao exerci cio das funções e no curso de importante ação
estratégica governamental, pleiteiam vantagens a empresários, a pretexto de
financiamento de campanhas eleitorais, cujo atendimento veio a se materializar
em circunstâncias claramente ilicitas, com o manuseio de altas cifras em
espécie, à revelia do sistema financeiro oficial e com o uso de estruturas
especificamente voltadas à prática de ilicitos.

De outro norte, há que se ressaltar a proeminente participação


das pessoas interpostas nos fatos investigados, que serviram de anteparo aos
reais beneficiários de valores. A propósito, o emprego desses intermediários
por altas autoridades é expediente habitual - com farta casuistica - face ~

144 vr
visibilidade que ostentam em razão de suas funções públicas atuais e
pretéritas, não sendo exigível, para a ímputação de responsabilidade penal ao
agente público, deva ser flagrado aventurando-se pessoalmente em tratativas
escusas ou até mesmo em ações de ordem operacional.

Nessa linha, o ensinamento de César Roberto Bíttencourt 57


acerca do tema específico:

"o fato de o sujeito ativo não efetuar pessoalmente a solicitação, recebimento

• ou aceitação da vantagem indevida não desnatura a corrupção, apenas


confirma a regra, valendo-se de interposta pessoa, na tentativa de expor-se o
menos possivel'.

Portanto, afiguram-se essenciais as participações de JOSÉ


YUNES, JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO, IBANEZ FILTER, ALTAIR ALVES
PINTO e outros, pois concentraram em si o encargo de estabelecer o elo entre
os universos origem e destino, tornando viável o recebimento dos valores, com
a pretensa preservação da autoridade destinatária.

Ocorre que a utilização dessas pessoas - cuja função é


popularmente conhecida como "laranja" -, juntamente com a circulação de
cifras exclusivamente em espécie, são elementos aptos a configurar o crime
autônomo de lavagem de dinheiro .

• Não se há de considerar que o uso de tais expedientes


(recebimento de valores em espécie e por terceiros) possa constituir mera
etapa consumativa do delito de corrupção passiva. Com a devida vênia, tal
entendimento implicaria negar a esses artificios a nitida finalidade de
"ocultação", vez que, obviamente, em momento futuro, os valores serão
reinseridos na economia sem as marcas da ilegalidade, pois isentos de
qualquer controle oficial, como antes salientado. Não por outro motivo, nas
etapas finais de seu complexo sistema de pagamento de propina, a
ODEBRECHT impunha o fluxo em "dinheiro vivo", alinhando-se, por certo, ao
interesse dos beneficiários.

145~
"(BITTENCOURT, César Roberto. Código Penal Comentado. 8' ed. Sào Paulo: Saraiva, 2014, pp. 1376)
Quanto à destinação dada aos valores oriundos da
ODEBRECHT, ou seja, se empregados ou não em campanha eleitoral, trata-se
de aspecto de menor relevância. A casuistica - cada vez mais volumosa -
explicita que os pedidos de dinheiro, no mais das vezes, se processam com
motivos de destinação eleitoral e suavizados pelos mais variados eufemismos.
Fato é que, quando o dinheiro ingressa na esfera de disponibilidade do agente
político, desfaz-se qualquer controle sobre a sua real aplicação, aspecto que se
torna um atrativo. Não à toa, o expressivo volume financeiro de idêntico jaez já

• revelado em diversas frentes investigativas da denominada Operação Lava


Jato e de outras que se ocupam de fatos análogos.

Ainda assim cabe pontuar que, na espécie, muito embora a


justificativa da solicitação tenha se dado com viés eleitoral, as pessoas
encarregadas de receber diretamente os valores estão vinculadas à esfera
pessoal dos destinatários, não sendo identificada, no amplo acervo probatório,
a participação de qualquer tesoureiro de campanha, de diretório ou algo do
gênero.

Adicionalmente, tivesse o dinheiro a propalada destinação


eleitoral, havia mecanismos lícitos a acolher a pretensão dos agentes políticos,
permitindo a realização de contribuições oficiais, pelas vias legalmente

• estabelecidas, com possibilidade de rastreio pelo sistema financeiro e eleitoral,


sem a necessidade de emprego de métodos flagrantemente ilícitos ("doleiros,
portadores, valores em espécie, etc), estrutura essa que, inclusive, tornava
mais onerosa a operação em razão dos arriscados serviços que compreendia.

Aqui, o que se vê é um esquema deliberadamente voltado ao


trato de dinheiro marginal, o que serve à necessidade de desassociá-Io de sua
origem espúria, conferindo-lhe, por sua própria fungibilidade, aptidão às mais
amplas possibilidades de fruição, inclusive em campanhas eleitorais. Nestes
autos, aliás, apesar dos veementes indicios de recebimento de vultosas
quantias em espécie por altas autoridades, inexiste qualquer sinalização sobre
o real emprego desses valores, o gue atesta a eficácia do propósito de
oculta cão.

14~
Assim, o conjunto de fatos acima expostos não se limita,
simplesmente, à solicitação de vantagem e colocação da mesma à disposição
dos agentes públicos. À evidência, há uma cadeia de fatos ligados à solicitação
dos valores, seguida de um complexo sistema de pagamento voltado não
apenas à ocultação do dinheiro, mas também à dissimulação de sua origem,
natureza ou mesmo a propriedade, de tal sorte que a análise acurada desse
conjunto de indícios não indica outra conclusão senão a prática autônoma de
lavagem de ativos .

• 3.2)
ENQUANDRAMENTO PENAL
DA INDIVIDUALlZACÃO DAS CONDUTAS E

Frente às evidências detalhadamente expostas, faz-se


impositivo apontar, em sede indiciá ria, as seguintes condutas relevantes e sua
correspondente subsunção, em tese, à lei penal:

WELLlNGTON MOREIRA FRANCO, em data não precisa,


possivelmente no inicio do ano de 2014, solicitou R$ 4.000.000,00 (quatro
milhôes de reais) a executivos da ODEBRECHT, valendo-se da função pública
e em razão dela, valores que, conforme demonstrado, foram encaminhados a
autoridades que compunham o mesmo grupo político, o que se amolda à

• conduta prevista no artigo 317 do Código Penal;

ELlSEU LEMOS PADILHA recebeu vantagens indevidas em


consequência da solicitação acima referida em 14/03/2014 (R$ 500.000,00) e
em 19/03/2014 (R$ 562.000,00), em Porto Alegre. Em 28/05/2014, solicitou
diretamente a executivos da ODEBRECHT, em jantar realizado na residência
oficial da Vice-Presidência da República, na condição de Deputado Federal e
liderança do PMDB, R$ 10.000.000,00 a pretexto de contribuição à sigla, dos
quais recebeu, por seu assessor IBANEZ FILTER, em Porto Alegre, R$
1.000.000,00, sendo R$ 500.000,00 em 15/08/2014 e R$ 500.000,0 em
18/08/2014; e, por fim, solicitou a JOSÉ YUNES que albergasse valores
ilegitimos (R$ 1.000.000,00), fato que se consumou em 04/09/2014, como
demonstrado, todos os episódios, portanto, com o emprego de dinheiro em
espécie e de pessoas interpostas, condutas que determinam o enquadramento
típíco no artigo 317 do Código Penal e no artigo 1° da leí 9.613/98;

MICHEL MIGUEL ELIAS TEMER LULlA recebeu, em razão da


função, por intermédío de JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO, em São Paulo/SP,
R$ 500.000,00 em 19/03/2014, R$ 500.000,00 em 20/03/2014 e R$ 438.000,00
em 21/03/2014, totalizando R$ 1.438.000,00, decorrentes da solicitação dirigida
por MOREIRA FRANCO a executivos da ODEBRECHT, além de ser o possível

• destinatário dos valores recebidos por JOSÉ YUNES em 04/09/2014, em seu


escritório de advocacia, fatos que, somados ao invariável emprego de dinheiro
em espécie e de pessoas interpostas, espelham as condutas insculpidas no
artigo 317 do Código Penal e no artigo 1° da lei 9.613/98;

EDUARDO COSENTINO DA CUNHA - recebeu R$


500.000,00 em 01/10/2014, em São Paulo/SP, através de ALTAIR ALVES
PINTO, em razão dos poderes inerentes à função parlamentar, valendo-se da
interposição de terceiros e com o uso de dinheiro em espécie, o que se
enquadra no disposto no artigo 317 do Código Penal e no artigo 1° da lei
9.613/98;

PAULO ANTÔNIO SKAF - recebeu R$ 5.169.160,00 (cinco

• milhões, cento e sessenta e nove mil e cento e sessenta reais) entre


21/08/2014 e 30/10/2014, em São Paulo/RS, através de JOSÉ EDUARDO
CAVALCANTI DE MENDONÇA, o "DUDA MENDONÇA", como forma de
custear gastos em sua campanha eleitoral, valores inequivocamente omitidos
na prestação de contas à Justiça Eleitoral, o que lhe torna incurso na previsão
do artigo 350 do Código Eleitoral 58 .

58 "Art. 350. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer
inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, para fins eleitorais:

Pena - reclusão até cinco anos e pagamento de 5 a 15 dias-multa, se o documento é público, e reclusão até tres
anos e pagamento de 3 a 10 dias-mut1a se o documento é particutar.

Parágrafo único. Se o agente da falsidade documental é funcionário público e comete o crime prevalecendcrse do
cargo ou se a falsificação ou alteração é de assentamentos de registro civil, a pena é agravada.~

148~
JOSÉ EDUARDO CAVALCANTI DE MENDONÇA - recebeu
valores destinados ao custeio dos serviços prestados á campanha eleitoral de
PAULO SKAF ao Governo de São Paulo, no valor total de R$ 5.169.160,00
(cinco milhões, cento e sessenta e nove mil e cento e sessenta reais), entre os
dias 21/08/2014 e 30/10/2014, ciente de que tais valores não seriam incluídos
na obrigatória declaração de despesas á Justiça Eleitoral, conduta que
contribuiu, na forma do artigo 29 do Código Penal, para que se perfectibilizasse
a omissão prevista artigo 350 do Código Eleitoral.

• IBANEZ FERREIRA FILTER -

15/08/2014 e R$ 500.000,0
recebeu, no interesse de
ELlSEU LEMOS PADILHA, R$ 1.000.000,00, em Porto Alegre, sendo R$
500.000,00 em em 18/08/2014, conduta
indispensável á consolidação dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro,
o que lhe confere, portanto, enquadramento conforme as previsões do artigo
317 do Código Penal e artigo 1° da lei 9.613/98, ambos combinados com o
artigo 29 do Código Penal.

JOÃO BATISTA LIMA FILHO - recebeu, em nome do Exmo.


Sr. Presidente da República, MICHEL TEMER, em São Paulo/SP, R$
500.000,00 em 19/03/2014, R$ 500.000,00 em 20/03/2014 e R$ 438.000,00 em
21/03/2014, totalizando R$ 1.438.000,00, demonstrando-se essencial para a

• consumação dos delitos previstos no artigo 317 do Código Penal e artigo 1° da


lei 9.613/98, ambos combinados com o artigo 29 do Código Penal.

JOSÉ YUNES - recebeu, a pedido de ELlSEU LEMOS


PADILHA, e no possível interesse do Exmo. Sr. Presidente da República
MICHEL TEMER, R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), em seu escritório, em
São Paulo, em 04/09/2014, o que torna a sua conduta decisiva para a
efetivação dos crimes previstos no artigo 317 do Código Penal e artigo 1° da lei
9.613/98, ambos combinados com o artigo 29 do Código Penal.

ALTAIR ALVES PINTO - recebeu, no interesse de EDUARDO


COSENTINO DA CUNHA, R$ 500.000,00, em São Paulo, em 01/10/2014,
contribuindo, assim, para que fossem perpetrados os delitos previstos no artigo
317 do Código Penal e artigo 1° da lei 9.613/98, pelo que lhe cabe o

149 c:r=
enquadramento em tais dispositivos, na modalidade de participação, nos
termos do artigo 29 do Código Penal.

No outro polo da corrupção, restam identificadas as condutas


de alguns executivos da ODEBRECHT que entabularam ajustes financeiros
com os agentes públicos, visando à obtenção de benefícios, os quais
redundaram no pagamento de vantagens indevidas.

MARCELO BAHIA ODEBRECHT - prometeu, em 28/05/2014,

• R$ 10.000.000,00 (ou reiterou a oferta) ao Ministro ELlSEU PADILHA e ao


grupo político que ele representava, visando a posterior obtenção de
vantagens, praticando, assím, a conduta prevista no artigo 333 do Código
Penal.

CLÁUDIO MELO FILHO - nos meses iniciais do ano de 2014,


deu encaminhamento à solicitação de valores pelo Ministro MOREIRA
FRANCO, o que redundou no pagamento de R$ 4.000.000,00 ao grupo político
que aquela autoridade compunha, na forma explicitada acima, tudo com vistas
à obtenção posterior de vantagens no âmbito da Secretaria de Aviação Civil.
Além dísso, prometeu, conjuntamente com MARCELO ODEBRECHT, em
28/05/2014, R$ 10.000.000,00 (ou reiterou a oferta) ao Ministro ELlSEU

• PADILHA e ao grupo político que ele representava, visando a posterior


obtenção de vantagens ao grupo empresarial, notadamente na área da aviação
civil, condutas que lhe tornam aptos ao enquadramento no artigo 333 do
Código Penal.

BENEDICTO BARBOSA DA SILVA JÚNIOR e PAULO


HENYAN YUE CESENA, pelas posições que ocupavam na ODEBRECHT, e
conforme as suas próprias declarações, tinham ciência da correspondência
entre o dispêndio de valores e as pretensões da empresa na área da aviação
civil, o que se faz bastante para o enquadramento no artigo 333 do Código
Penal.

Quanto aos executivos JOSÉ DE CARVALHO FILHO, PAULO


HENRIQUE QUARESMA e FERNANDO MIGLlACCIO DA SILVA, ainda que
tenham perpetrado condutas relevantes no aspecto prático, ao darem

150~
seguimento às solicitações de vantagens indevidas - seguindo a sistemática
própria da empresa - tais atos, por se revestirem de caráter meramente
instrumental, tomam dificultada a aferição do elemento subjetivo indispensável
à configuração do delito de corrupção ativa, motivo pelo qual, nesta esfera
indiciária, não tiveram capituladas as suas respectivas condutas.

IV) DAS CONSIDERAÇÕES FINAIS

• Neste momento em que são apresentadas as conclusões sobre


os fatos postos à investigação, faz-se oportuno salientar a contribuição efetiva
de alguns colaboradores para tal desfecho.

CLÁUDIO MELO FILHO, em que pesem alguns pontos de


conflito com as narrativas de MARCELO ODEBRECHT e PAULO HENYAN
YUE CESENA, trouxe elementos iniciais sem os quais, possivelmente, os fatos
descortinados teriam se perpetuado às sombras.

MARCELO BAHIA ODEBRECHT, além das narrativas iniciais,


relatou fatos com desenvoltura, inclusive acompanhados de elementos de
corroboração, o que muito contribuiu para as conclusões apresentadas neste
relatório, especialmente no que concerne à natureza das solicitações de

• valores dirigidas à ODEBRECHT pelos investigados .

JOSÉ DE CARVALHO FILHO, pela atuação nas etapas


operacionais, pôde acrescentar detalhes sobre a realização dos pagamentos,
contribuindo para a confirmação dos mesmos.

Outros executivos igualmente vinculados grupo ODEBRECHT


também apresentaram informações úteis ao deslinde do caso, limitadas às
suas esferas de conhecimento e participação, como PAULO HENYAN YUE
CESENA, BENEDICTO BARBOSA DA SILVA JÚNIOR, FERNANDO
MIGLlACCIO DA SILVA e MARIA LÚCIA TAVARES.

É de ressaltar, ainda, a efetividade da colaboração de


CLAUDIO FERNANDO BARBOZA DE SOUZA, que apresentou informações e

-zr
documentos referentes às operaçôes financeiras abarcadas pelo objeto do

151
inquérito, as quais foram determinantes para a demonstração do
encadeamento fático.

Por fim, insta registrar que, mesmo desprovido das garantias


jurídicas inerentes aos acordos de colaboração premiada, ANTÔNIO CLÁUDIO
DE ALBERNAZ CORDEIRO trouxe voluntariamente aos autos informações
decisivas para o esclarecimento de alguns fatos.


Sendo essas as informações que cumpria apresentar, sem
prejuízo da realização de diligências adicionais, tal como prevê o artigo 231, §
1°, do RISTF, remeto o presente feito à consideração de Vossa Excelência,
para que, ao final, seja tomada a decisão que melhor atenda aos imperativos
de Justiça.

Respeitosamente,

Brasília/DF, 04 de setembro de 2018.

• ado de Polícia Feder

152
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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL


MSP - POLÍCIA FEDERAL
DIRETORIA DE INVESTIGAÇÃO E COMBATE AO CRIME ORGANIZADO
SERVIÇO DE INQUÉRITOS (SINQ/DICOR)

REMESSA

• Ao(s) 05/09/2018, em atenção ao disposto no item 01 d


despacho de íI(s) 1293, faço a REMESSA dos autos dest
Registro Especial nO 0038/2017-1 - SINQ (INQ. n. o 446
- STF), composto por 5 Volume(s)Principalais)e 4 Apenso(s
cada um com ao SUPREMO TRIBUNA
FEDERAL Eu, fo4"'----I RE LUIS ACOSTA DO
SANTOS, EbiãO a Federal, Matr. 8.676, que
lavrei .

RE N' 0038/2017-1 fis. 1 /1

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