2014 FernandoCunhaCores
2014 FernandoCunhaCores
Brası́lia - DF
2014
Fernando Cunha Córes
Brası́lia-DF
2014
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da Universidade de
Brasília. Acervo 1016145.
Có r es , Fe r nando Cunha .
C797a Ar gumen t os comb i na t ó r i os pa r a i den t i dades envo l vendo
núme r os b i nomi a i s , de F i bonacc i e de Lucas / Fe r nando
Cunha Có r es . - - 2014 .
80 f . : i l . ; 30 cm.
4
Agradecimentos
Agradeço a Deus, pela vida e famı́lia que tenho, pelos amigos que fiz e principal-
mente pelos pais amorosos que tive e que me ensinaram muito sobre a vida.
Em especial, agradeço aos meus pais, Almyr e Nelzira, onde quer que estejam espero
nunca decepcioná-los. Eu os amo. A minha amada esposa Ionélia e as minhas amadas
filhas Juliane e Fernanda por compreenderem os momentos de ausência e apoiar nos
momentos de desânimo.
Aos meus companheiros de mestrado Murilo Roballo, Daniel Mendes, George Wes-
ley, Luiz Fernando Costa e em especial Antonio Simões Gaspar pela ajuda inestimável
na conclusão deste trabalho.
Ao meu orientador e grande matemático Diego Marques Ferreira pelo apoio e com-
preensão nos momentos difı́ceis e pela confiança depositada neste trabalho. Aos pro-
fessores Kellcio Oliveira Araújo, da UnB, e Paulo Henrique de Azevedo Rodrigues, da
UFG, por aceitarem fazer parte da Banca Examinadora.
Aos professores do PROFMAT /UnB e ao Coordenador Rui Seimetz pela dedicação
demonstrada ao longo dos dois anos de convivência.
Aos idealizadores do PROFMAT e à CAPES pela iniciativa de levar aos professores
do Brasil capacitação para o exercı́cio da profissão.
“Os números governam o mundo.”
Platão
“Deus existe, visto que a matemática é consistente, e o Diabo existe, visto que não
podemos prová-lo.”
André Weil
Bertrand Russel
“Não há ramo da matemática, por abstrato que seja, que não possa um dia vir a ser
aplicado aos fenômenos do mundo real.”
Lobachevsky
“De que me irei ocupar no céu, durante toda a eternidade, se não me derem uma
infinidade de problemas de Matemática para resolver?”
“As pessoas que amamos são como flores, passam em nossa vida, mas eternamente
seu perfume estará conosco.”
Desconhecido
6
Resumo
7
Abstract
Consider Fibonacci numbers (Fn), Lucas numbers (Ln) and binomial numbers (C(n,
k)) and the several identities involving these numbers. Following the work of Arthur
Benjamin and Jennifer Quinn [1], we will demonstrate some identities by showing that
it is possible to count the same situation in two different ways. Firstly, we will study
binomial numbers (which are more common in high school) which belongs to the context
of Combinatorics, considered by most students and teachers as the most difficult subject
to understand and teach. Then we will work on combinatorial approaches of some
identities involving Fibonacci and Lucas numbers by studying coverings of a 1 × n
board, binary words, and compositions of a positive integer. About compositions, our
work will be based on the study by Hoggatt [7] to demonstrate some of the proposed
identities. Also, shall present new identities for Fibonacci and Lucas numbers. Finally,
we shall make a proposal for a teaching sequence to be applied in basic education as a
motivator for the study of Combinatorics and Fibonacci numbers.
8
Lista de Figuras
9
Sumário
Introdução 12
1 Coeficientes Binomiais 14
1.1 Definições iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.2 Identidades envolvendo coeficientes binomiais . . . . . . . . . . . . . . 19
1.3 Coeficientes binomiais e Teoria dos Números . . . . . . . . . . . . . . . 28
2 Números de Fibonacci 42
2.1 Interpretações Combinatórias para os números de Fibonacci . . . . . . 43
2.2 Identidades envolvendo os Números de Fibonacci . . . . . . . . . . . . 48
3 Números de Lucas 64
3.1 Interpretações Combinatórias para os números de Lucas . . . . . . . . . 65
3.2 Identidades envolvendo os Números de Lucas . . . . . . . . . . . . . . . 66
4 Sequência Didática 71
4.1 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
4.1.1 Atividade 1: Trabalhando com bijeções. . . . . . . . . . . . . . . 71
4.1.2 Cobrindo tabuleiros 1 × n. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
4.1.3 Atividade 3: Utilizando argumentos combinatórios . . . . . . . . 72
4.2 Respostas das atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.2.1 Atividade 1: Trabalhando com bijeções. . . . . . . . . . . . . . . 73
4.2.2 Cobrindo tabuleiros 1 × n. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
4.2.3 Atividade 3: Utilizando argumentos combinatórios. . . . . . . . 76
Considerações Finais 77
10
Referências Bibliográficas 79
11
Introdução
Contar é, certamente, junto com a linguagem, uma das primeiras ferramentas abs-
tratas de que o homem se apropria. De acordo com Elon Lages Lima [10], os números
são um dos dois objetos de que se ocupa a Matemática, o outro é o espaço. Números,
segundo o mesmo autor, são entes abstratos desenvolvidos pelo homem como mode-
los que permitem contar e medir. Portanto contar parece-nos algo natural e um bem
comum da sociedade.
Porém os assuntos ligados à combinatória estão entre os que mais trazem dificul-
dades para os alunos. Não é de se espantar que, em recente artigo da revista Cálculo,
professores incluam-na entre os tópicos que não gostam de ensinar. O Binômio de
Newton é acusado, pelos mesmos professores, de ser extremamente desconexo com a
realidade e de não ter significado para o aluno. Como uma ferramenta que leva o nome
de um dos maiores gênios da humanidade pode receber tal culpa? Em [1], Arthur Ben-
jamim diz como a apresentação combinatória do binômio de Newton, por seu professor,
fez toda a diferença para ele.
Eugene Paul Wigner [3], ganhador do Prêmio Nobel de Fı́sica em 1963 e ganhador
da Eötvos Competition, disse certa vez:
Minha própria história começa no ensino médio na Hungria onde meu pro-
fessor de matemática, [László] Rátz, incentivou – me a ler livros e despertou
em mim um sentimento pela beleza do seu objeto.
Da mesma forma, J.G. Kemeny [3], quando perguntado sobre a razão pela qual
houve tantos grandes matemáticos na Hungria, respondeu que o bom ensino é uma das
razões. Ele recordou:
Eu já havia passado por sete anos e meio de ensino na Hungria. Eu tinha um
professor de matemática que teria sido bem qualificado para ensinar em uma
boa faculdade. Ele fez um enorme esforço para reforçar o meu interesse pela
matemática. . . estar interessado e sabendo alguma coisa é muito diferente.
12
Este professor era melhor do que qualquer professor que tive no ensino médio
nos Estados Unidos, realmente significativamente melhor.
13
Capı́tulo 1
Coeficientes Binomiais
O termo coeficiente binomial foi introduzido pelo matemático alemão Michel Stifel
(1486-1567). A notação atual para o coeficiente binomial, utilizando parênteses, foi
introduzida pelo matemático e fı́sico alemão Barão Andreas von Ettinghausen (1796-
1878) [2].
Neste capı́tulo estudaremos algumas identidades envolvendo os coeficientes binomi-
ais. Definiremos uma notação para o coeficiente binomial e a seguir mostraremos que
esse coincide com o número de combinações de n objetos escolhidos k a k. Definire-
mos, também, o que é uma prova por argumento combinatório e uma prova algébrica.
Demonstraremos algumas identidades usando um argumento combinatório e um argu-
mento algébrico, finalizando com o problema do mastro da bandeira.
Além disso, mostraremos alguns resultados de Teoria dos Números que envolvem
os coeficientes binomiais.
14
n
(i) C(n, r) = .
r
(ii) n! = n · (n − 1) · . . . · 2 · 1 para n ≥ 2 e 0! = 1! = 1.
(1 + x)n = (1 + x) · (1 + x) · . . . · (1 + x) . (1.1.1)
| {z }
n f atores
n f atores
z }| { r
x
| · x ·
{z. . . · x · · · ·
} | {z } = x com r = 0, 1, 2, . . . , n.
1 1 . . . 1 (1.1.2)
r f atores n−r f atores
n
X
n
(1 + x) = C(n, r)xr .
r=0
15
k
X
Definição 1.2. Seja n = αi , onde n, α1 , α2 , . . . , αk são inteiros não negativos.
i=1
n n!
Definiremos o coeficiente multinominal como = .
α1 !α2 ! . . . αk !
α1 , α2 , . . . , αk
X n
(x1 + x2 + . . . + xp )n =
α1 α2 α
x1 x2 . . . xp p
α1 , α2 , ..., αp α1 , α2 , . . . , αp
n f atores
x1 · x1 · . . . · x1 · x2 · x2 · . . . · x2 · . . . · xp · xp · . . . · xp = xα1 1 · xα2 2 · . . . · xαp p
z }| {
(1.1.3)
| {z } | {z } | {z }
α1 f atores α2 f atores αp f atores
n
α1
16
(2) Número de maneiras de escolher α2 letras x2 em n − α1 dos n polinômios:
n − α1
α2
n − α1 − α2
α3
.. .. .. ..
. . . .
αp
αp
n n − α1 n − α1 − α2 n − α1 − α2 − . . . − αp αp
... =
α1 α2 α3 αp−1 αp
17
n! (n − α1 )! (n − α1 − α2 )! αp !
= · · ... ·
α1 !(n − α1 )! α2 !(n − α1 − α2 )! α3 !(n − α1 − α2 − α3 )! αp !0!
n! n
= =
α1 !α2 ! . . . αp !
α1 , α2 , . . . , αp
Definição 1.3. Sejam X e Y dois conjuntos finitos e seja f : X → Y uma função tal
que
18
1.2 Identidades envolvendo coeficientes binomiais
Identidade 1. Para 0 ≤ r ≤ n, temos que
n!
C(n, r) = .
(n − r)!r!
19
Demonstração. (PAC) De acordo com a definição, C(n, r) conta o número de
subconjuntos com r elementos de um conjunto com n objetos distintos. Por outro
lado, podemos contar os subconjuntos olhando para um objeto particular x. Podemos
classificar os r − subconjuntos de uma das duas seguintes maneiras:
(n − 1)! (n − 1)!
C(n − 1, r) + C(n − 1, r − 1) = +
(n − r − 1)!r! (n − r)!(r − 1)!
(n − 1)! 1 1
= · + =
(n − r − 1)!(r − 1)! r n−r
(n − 1)! n
= ·
(n − r − 1)!(r − 1)! r(n − r)
n!
= = C(n, r).
(n − r)!r!
n n − 1
r = n .
r r−1
20
a mesma coisa.
n n! n(n − 1)! (n − 1)! n − 1
r· =r· = =n· =n· .
(n − r)!r! (n − r)!(r − 1)! (n − r)!(r − 1)!
r r−1
n n
r = (n − r + 1) .
r r−1
n n!
r· =r·
(n − r)!r!
r
n!
=
(n − r)!(r − 1)!
21
n−r+1 (n − 1)!
= ·
n − r + 1 (n − r)!(r − 1)!
n
= (n − r + 1) · .
r−1
n m n n − r
= .
m r r m−r
n m
Demonstração. (PAC) Observe que conta o número de maneiras de
m r
se escolher uma comissão de m membros dentre n pessoas e, para cada uma dessas
comissões, escolhemos r, entre as m pessoas da comissão, para formar um comitê exe-
cutivo. Por outro lado, podemos escolher r pessoas entre as n pessoas para formar o
comitê executivo e m − r pessoas entre as n −r pessoas
restantes
para completar a
n n − r
comissão de m membros. Isso pode ser feito de maneiras. Logo o lado
r m−r
esquerdo e o lado direito contam a mesma coisa.
n m n! m! n!
= · =
m!(n − m)! r!(m − r)! r!(n − m)!(m − r)!
m r
n! (n − r)! n n − r
= · = .
r!(n − r)! (n − m)!(m − r)!
r m−r
22
Identidade 7. Para inteiros n e r tais que 0 ≤ r ≤ n, temos que
n
X n n
=2 .
r=0 r
n
X n
2n = .
r=0 r
n n
X X n
2n = (1 + 1)n = C(n, r) · 1r = .
r=0 r=0 r
n
X i n + 1
= .
i=0 r r+1
23
Demonstração. (PAC) O lado direito da igualdade conta a quantidade de (r + 1)−
subconjuntos do conjunto A = {1, 2, 3, . . . , n + 1}. O lado esquerdo
conta os sub-
r
conjuntos de acordo com seu maior elemento. Ou seja, existem subconjuntos de
r
r + 1
A que têm r + 1 elementos cujo maior elemento é r + 1; existem subconjuntos
r
de Aque têm
r + 1 elementos cujo maior elemento é r + 2. De maneira geral, exis-
r + i
tem subconjuntos de A que têm r+1 elementos cujo maior elemento é r+i+1.
r
n−1
X i n
= ,
i=0 r r+1
n n−1
X i X i n
= +
i=0 r i=0 r r
n n
= + (Hipótese de indução)
r+1 r
n + 1
= (Teorema 1).
r+1
24
Identidade 9. (Convolução de Vandermond) Para todos os inteiros não negati-
vos m, n e r, temos que
n
X n m n + m
= .
r=0 r k−r k
n
lhemos r elementos dos n primeiros, o que pode ser feito de maneiras e depois
r
m
escolhemos k − r dos m elementos seguintes, o que pode ser feito de manei-
k−r
n m
ras, logo o número de maneiras de formar k − subconjuntos é igual a .
r k−r
Agora basta variar r de 0 a k. Portanto o lado esquerdo e o lado direito contam a
mesma quantidade.
e segue a identidade.
2 2 2
n n n 2n
+ + ... + = .
0 1 n n
25
Demonstração. (PAC) O lado direito conta o número de n − subconjuntos de um
conjunto com 2n objetos. O lado esquerdo conta os mesmos subconjuntos de acordo
com o número de elementos escolhidos dos n primeiros. De fato, primeiro escolhemos
0 elementos dos n primeiros e n elementos dos n seguintes, isto pode ser feito de
2
n n n
· = .
0 n 0
Identidade 11. Para todos os inteiros não negativos n e k, com 1 ≤ k ≤ n, vale que
n
X n
k = n · 2n−1 .
k=1 k
n
Demonstração. (PAC) Observe que k conta o número de comissões de k
k
membros nas quais um será escolhido presidente da dita comissão. Fazendo k variar
de 1 a n, temos o total de comissões com
um presidente que se podem formar em um
n
X n
grupo de n pessoas, ou seja, há k total de comissões. Por outro lado, pode-
k=1 k
mos contar tais comissões escolhendo o presidente entre as n pessoas e, em seguida,
um subconjunto das n − 1 pessoas restantes para formar a comissão com o presidente
escolhido, i.e., há n · 2n−1
comissões.
Portanto, como os dois
números
contam a mesma
n n
X n X n
coisa, temos que k = n · 2n−1 , ou seja, 2n−1 k .
k=1 k k=1 k
26
n
X n k n
(PA) Como x = (1 + x) , derivando os dois lados da igualdade, na
k=0 k
variável x (para x = 1) obtemos o resultado.
n−1
X k n − 1 − k n
= .
k=0 q r q+r+1
27
Considere n blocos idênticos, cada um dos quais pode suportar um mastro ou servir
de ancoragem para um arame de sustentação. Vamos determinar o total de confi-
gurações nas quais a bandeira é fixada em um bloco e amarrada por q arames azuis à
direita, fixados em q blocos distintos, e r arames vermelhos à esquerda, fixados em r
blocos distintos. Para isso, basta escolhermos q + r + 1 blocos entre os n blocos, utili-
zando os q blocos iniciais para os arames azuis, o (q + 1) − ésimo bloco para o mastro
e os
blocos restantes
para os r arames vermelhos. O total de tais configurações é igual
n
a . Por outro lado, suponha que o mastro esteja no (k + 1) − ésimo bloco,
q+r+1
k
0 ≤ k ≤ n − 1. Existem maneiras de escolher os blocos para fixarmos os q arames
q
n − 1 − k
azuis à direita do mastro e maneiras de escolher os blocos para fixarmos
r
os r arames vermelhos à esquerda do mastro. O total de tais configurações é igual a
n−1
X k n − 1 − k
.
k=0 q r
n n!
nomial = é inteiro.
r!(n − r)!
r
28
n
Demonstração. (PA) Vamos definir f (n, r) = e provar por indução sobre
r
n + r que f (n, r) é sempre inteiro positivo:
0
(i) (Base de indução) Se n + r = 0, então r = n = 0 e f (0, 0) = = 1 é inteiro.
0
n
(ii) (Hipótese de indução) Suponha que, para n + r ≤ k, o número é inteiro.
r
Como para r ≤ n, pela identidade 3, temos que: f (n, r) = f (n − 1, r) + f (n −
1, r − 1). Segue que
n n
(a) Se r = n, então = = 1.
r n
n n − 1 n − 1
(b) Se r < n e r + n = k + 1, então = + é inteiro,
r r r−1
n − 1 n − 1
pois pela hipótese de indução e são inteiros. Portanto
r r−1
f (n, r) é inteiro para quaisquer inteiros não negativos n e r com r ≤ n.
(m + r) · . . . · (m + 2)(m + 1) (m + r) · . . . · (m + 2) · (m + 1) · m · (m − 1) · . . . · 2 · 1
=
r! r! · m · (m − 1) · . . . · 2 · 1
(m + r)! m + r
= =
r! · m!
r
29
m + r
Como é inteiro, segue que r! divide o produto (m + 1) · (m + 2) · . . . · (m + r).
r
p
Teorema 1.4. Se p é primo, então p divide para todo r tal que 0 < r < p.
r
p p − 1
Demonstração. Pela identidade 4, temos que: r = p
r r−1
p
Como mdc(p, r) = 1, temos que p divide .
r
p
Demonstração. De acordo com a proposição 1, temos (a + b)p = ap + ap−1 b +
1
p p−2 2 p p−1
a b + ... + ab + bp .
2 p−1
p
Para r ∈ {1, . . . , p − 1}, temos que ≡ 0 (mod p), logo ap +bp ≡ (a + b)p (mod p).
r
30
(i) (Base de indução) A afirmação é verdadeira para a = 0 e a = 1.
(ii) (Hipótese de indução) Suponha que, a > 1 e que a afirmação é verdadeira para
a − 1, ou seja, (a − 1)p ≡ a − 1(mod p), então, de acordo com o corolário anterior,
temos
ap = (a − 1 + 1)p ≡ (a − 1)p + 1p ≡ a − 1 + 1 = a (mod p) .
pn + r n q
com 0 ≤ q < p e 0 ≤ r < p, então ≡ (mod p)
pm + r m r
n
(a + b)pn+q = ((a + b)p ) (a + b)q ≡ (ap + bp )n (a + b)q (mod p)
Mas,
n q n q
(ap + bp ) (a + b) = apn + . . . + apm bp(n−m) + . . . + bpn · aq + . . . + ar bq−r + . . . + bq
m r
31
pm+r p(n−m)+(q−r)
Temos que otermo
a b aparece uma única vez acompanhado do
n q
coeficiente e temos que
m r
pn + r n q
≡ (mod p) .
pm + r m r
1 2n
Proposição 1.1. O número Cn = , chamado número de Catalan de
n+1
n
ordem n, é inteiro para todo n ∈ N.
1 2n 1 2n − n + 1 2n 1 2n
= · · = · (identidade 5)
n+1 n+1 n n
n n−1 n−1
1 2n 1 2n
⇒ = ·
n+1 n
n n−1
n 2n 2n
⇒ =
n+1
n n−1
2n 2n
Como n e n + 1 são coprimos e é inteiro segue que n + 1| .
n−1 n
32
A resposta a esse problema é
(13!)4
.
(3!)12 (4!)3
Olhando apenas para essa fração podemos nos perguntar se esse quociente é inteiro.
De fato, trata-se de um inteiro e poderı́amos dar essa resposta através de um argumento
combinatório. Como ele conta o número de distribuições de 52 cartas entre 4 jogadores,
fica claro que
(13!)4
(3!)12 (4!)3
é inteiro e igual a 49965764397515366400000000.
A seguir vamos apresentar alguns resultados que envolvem quocientes inteiros de
fatoriais. Em [4] encontramos mais problemas dessa natureza.
(2n)!
Basta demonstrar que n ∈ N. Para tal considere 2n jogadores que devem
2 n!
ser divididos emn duplas
para a disputa de um torneio. A primeira dupla pode
2n
ser escolhida de maneiras. Para cada uma dessas, a segunda dupla pode ser
2
2n − 2 2n − 4
escolhida de , a terceira de e assim sucessivamente até que a
2 2
2
última dupla pode ser escolhida de . Portanto o total de maneiras de dividir os
2
jogadores em n duplas é igual a
33
2n 2n − 2 4 2
· · ... · ·
2 2 2 2 (2n)!
= ∈ N.
n! 2n n!
(mn)!
Proposição 1.3. O número é inteiro para todos m, n ∈ N.
(m!)n n!
Demonstração. Considere o conjunto Imn = {1, 2, 3, . . . , mn}. Vamos particioná-
lo em n subconjuntos A1 , A2 , , An , tais que |Ai | = m e
Ai ∩
Aj = ∅, para todo i e j.
mn
Para a escolha dos m primeiros números, temos possibilidades; para a
m
m(n − 1) m(n − 2)
escolha dos m seguintes, temos ; para os m seguintes , e
m m
assim sucessivamente
até que tenhamos escolhido m últimos números o que pode ser
m
feito de . Note que temos n! maneiras de escolhermos essa partição, pois isso
m
depende da ordem como os conjuntos são escolhidos. Portanto o total de maneiras de
particionar o conjunto Imn é igual a
1 mn m(n − 1) m(n − 2) m
... =
n!
m m m m
34
[(mn)!]2
Proposição 1.4. O número é inteiro para todos m, n ∈ N.
(m!)n+1 (n!)m+1
Demonstração. Observe inicialmente que
(mn)!
Daı́ temos que, de acordo com a proposição anterior, é o total de maneiras
(m!)n n!
de particionarmos o conjunto Imn = {1, 2, 3, . . . , mn} em n subconjuntos dois a
(mn)!
dois disjuntos, todos com m elementos cada. E é o total de maneiras de
(n!)m m!
particionarmos o conjunto Imn = {1, 2, 3, . . . , mn} em subconjuntos disjuntos, todos
com n elementos cada.
Portanto
[(mn)!]2
(m!)n+1 (n!)m+1
é inteiro.
(2m)!(3n)!
Proposição 1.5. O número é inteiro para todos m, n ∈ N.
(m!)2 (n!)3
(2m)!(3n)! (2m)! (3n)! 2m 3n
Demonstração. Observe que 2 3 = 2 · 3 = .
(m!) (n!) (m!) (n!) m n, n, n
2m
Temos que conta o número de subconjuntos de um conjunto com 2m objetos
m
3n
e conta o número de maneiras de colocarmos em fila 3n objetos, sendo n
n, n, n
idênticos do tipo I, n idênticos do tipo II e n idênticos do tipo III. De fato, primeiro
3n
escolhemos os n lugares para os n objetos do tipo I, o que pode ser feito de
n
maneiras. Para cada uma dessas podemos escolher os n lugares para os objetos do tipo
35
2n
II de maneiras e finalmente podemos escolher os n lugares para os objetos do
n
n
tipo III de . Logo, pelo Princı́pio Fundamental da Contagem podemos formar:
n
3n 2n n (3n)! (2n)! n! (3n)! 3n
= · · = =
n!(2n)! n!n! n!0! n!n!n!
n n n n, n, n
2m 3n (2m)!(3n)!
Portanto ∈ N e ∈ N e como consequência ∈ N.
m n, n, n (m!)2 (n!)3
2n
Proposição 1.6. O coeficiente é um inteiro par.
n
2n 2n 2n − 1 2n − 1
= = 2 .
n
n n−1 n−1
0 (mod 2) , se n é par e r é ímpar.
n
=
bn/2c
r (mod 2) , caso contrário.
br/2c
36
Caso 1: n é par e r é ı́mpar. Da identidade 4 temos que:
n n − 1
r = n .
r r−1
n
ı́mpar, segue que é par.
r
n n · (n − 1) · (n − 2) · . . . · (n − r + 1)
=
1 · 2 · 3 · ... · r
r
(n − 1) · (n − 3) · . . . · (n − r + 1) n · (n − 2) · . . . · (n − r + 2)
= ·
1 · 3 · 5 · . . . · (r − 1) 2 · 4 · 6 · ... · r
r/ n
(n − 1) · (n − 3) · . . . · (n − r + 1) 2 2 · 2 · ( n2 − 1) · . . . · ( n2 − 2r + 1)
⇒ · r .
1 · 3 · 5 · . . . · (r − 1) 2 /2 · 1 · 2 · 3 · . . . · 2r
r
(n − 1) · (n − 3) · . . . · (n − r + 1) 2 /2 · n2 · ( n2 − 1) · . . . · ( n2 − 2r + 1)
⇒ · r
1 · 3 · 5 · . . . · (r − 1) 2 /2 · 1 · 2 · 3 · . . . · 2r
(n − 1) · (n − 3) · . . . · (n − r + 1) n/2
= · .
1 · 3 · 5 · . . . · (r − 1)
r/2
n n/2
1 · 3 · 5 · . . . · (r − 1) · = (n − 1) · (n − 3) · . . . · (n − r + 1) · .
r r/2
n n/2 bn/2 c
≡ ≡ (mod 2).
r r/2 br/2 c
37
Caso 3: n é ı́mpar e r é ı́mpar. Da identidade 4, temos que
n n − 1
r = n .
r r−1
n n − 1
≡ (mod 2).
r r−1
n − 1 bn/2 c
≡ (mod 2).
r−1 br/2 c
Logo,
n bn/2 c
≡ (mod 2).
r br/2 c
n n n−1 n − 1
(n − r) = (n − r) e n = n
r n−r n−r−1 r
.
Da identidade 4, temos
n n−1
(n − r) = n
n−r n−r−1
38
e portanto
n n − 1
(n − r) = n .
r r
n n − 1
≡ (mod 2).
r r
n bn − 1/2 c
≡ (mod 2),
r br/2 c
ou seja,
n bn/2 c
≡ (mod 2).
r br/2 c
39
Para o que segue, utilizaremos os seguintes fatos:
(i) Se um número inteiro é par, então, em sua expansão binária o bit mais à direita
é zero e, se é ı́mpar, o bit mais a direita é igual a 1.
n
expansão de n, temos 2ω possibilidades de valores para k tal que é ı́mpar.
k
302
Exemplo. Já vimos que é par. Vamos observar as expansões binárias de 302
180
e 180.
(302)10 = 1 0 0 1 0 1 1 1 0
2
l l l l l l l l l
(180)10 = 0 1 0 1 1 0 1 0 0
2
O quinto
bit contado
da direita para esquerda é 0 para n = 302 e 1 para k = 180.
302
Portanto é par.
180
40
Corolário 4. Se n = 2k −1, então todos os coeficientes da n−ésima linha do triângulo
de Pascal são ı́mpares.
41
Capı́tulo 2
Números de Fibonacci
(1) Cada par de recém-nascidos, macho e fêmea, demora um mês para se tornar
adulto;
(2) Dois meses após seu nascimento, e mensalmente, um par de coelhos adultos gera,
no inı́cio de cada mês, um novo par de coelhos, macho e fêmea.
42
21, 34, 55, . . . , que hoje conhecemos com sequência de Fibonacci. O nome Fibonacci é
uma contração das palavras Filius Bonacci, em português Filho de Bonacci [5]. Esse
nome foi dado pelo matemático francês Edouard Anatole Lucas.
(1) F1 = 1 e F2 = 1;
de Fibonacci
Nessa Seção estudaremos algumas interpretações combinatórias para os números de
Fibonacci. Para o que segue usaremos as seguintes definições:
(a) Tipo 1: sequências (ou palavras) binárias que não têm dois bits 1 conse-
cutivos.
(b) Tipo 2: sequências binárias que começam por 0 e não têm dois bits 1
consecutivos.
(c) Tipo 3: sequências binárias que começam por 0 e terminam por 0 e não
têm dois bits 1 consecutivos.
43
(d) Tipo 4: sequências binárias que começam por 1 e não têm dois bits 1
consecutivos.
(e) Tipo 5: sequências binárias que começam por 1 e terminam por 1 e não
têm dois bits 1 consecutivos.
(f) Tipo 6: sequências binárias que não têm dois bits 1 consecutivos e não têm
o bit 1 simultaneamente nas posições 1 e n. Chamaremos essas palavras de
palavras binárias circulares.
(vi) Justapor duas sequências significa colocá-las lado a lado (uma após a outra).
Basta observar agora que, se retirarmos o último 1 de cada sequência de Sn(1) , obteremos
as composições formadas com 10 s e 20 s, cuja soma é igual a n − 1. Similarmente,
se adicionarmos um 1 ao final de cada sequência, cuja soma é n − 1, obteremos as
composições que terminam em 1 e cuja soma é n . Então S (1) = |Sn−1 |. Analogamente,
n
e 20 s, cuja soma é n − 2, teremos que Sn(2) = |Sn−2 |. Portanto |Sn | = Sn(1) + Sn(2) =
|Sn−1 |+|Sn−2 |, que satisfaz à recorrência de Fibonacci e como |S1 | = 1 e |S2 | = 2 temos
que |Sn | = Fn+1 .
44
resultante será uma sequência de inteiros positivos ı́mpares cuja soma é igual a n + 1.
Similarmente, se trocarmos cada inteiro positivo ı́mpar 2k + 1 ≥ 3 em um elemento
. . . 2} , teremos uma sequência formada por 10 s e 20 s, cuja
de Tn+1 pela sequência 1 |22 {z
k termos 20 s
soma é igual a n + 1. Portanto |Tn+1 | = |Sn | = Fn+1 .
45
dois bits 1 consecutivos. De fato, para formarmos os subconjuntos de In que não têm
dois números consecutivos, marcamos cada elemento selecionado com o bit 1 e os não
selecionados com o bit 0. Com isso temos uma correspondência biunı́voca entre os
subconjuntos de In (incluindo o vazio) e as palavras binárias de comprimento n do tipo
1.
46
Demonstração. De fato, as palavras do tipo 5 têm o primeiro e o último bit fixos
e iguais a 1, então os bits nas posições 2 e n − 1 devem ser iguais a 0. Logo o total
de palavras do tipo 5 é igual ao total de palavras do tipo 3 de comprimento n − 2.
Portanto temos Fn−2 palavras do tipo 5.
47
2.2 Identidades envolvendo os Números de Fibo-
nacci
A seguir demonstraremos identidades envolvendo números de Fibonacci utilizando
as interpretações combinatórias apresentadas na seção anterior.
Identidade 13. n
X
Fk =F1 + F2 + . . . + Fn = Fn+2 − 1.
k=1
i=0: (Sn−1 ) 2
i=1: (Sn−2 ) 21
i = n − 2 : (S1 ) 2 11111
| {z. . . 1}
n−2 parcelas
i = n − 1 : 2 11111
| {z. . . 1}
n−1 parcelas
48
(i) Basta observar que F1 = F3 − 1. Logo nossa identidade é verdadeira para n = 1.
= (Fk+2 − 1) + Fk+1
= (Fk+2 + Fk+1 ) − 1
= Fk+3 − 1.
Logo, pelo Princı́pio da Indução, a identidade é verdadeira para todo inteiro positivo.
Identidade 14.
n+1
X
F2k−1 =F1 + F3 + . . . + F2n+1 = F2n+2 .
k=1
(S2n ) 1
(S2n−2 ) 12
(S2n−4 ) 122
.. .. ..
. . .
49
.. .. ..
. . .
(S2 ) 1 222
| {z. . . 22}
n−1 parcelas
1 222
| {z. . . 22}
n parcelas
Como o número de casos em cada configuração acima é F2k−1 , para k ∈ {1, 2, 3, . . . , n + 1},
temos que o total de casos é
n+1
X
F1 + F3 + . . . + F2n+1 = F2k−1 .
k=1
F1 = F2
F3 = F4 − F2
F5 = F6 − F4
..
.
n
X
Somando as equações acima temos F2i−1 =F2n .
i=1
Identidade 15. n
X
F2k =F2 + F4 + . . . + F2n = F2n+1 − 1.
k=1
50
como soma de parcelas iguais a 1 e 2 excetuando-se uma possibilidade. A possibilidade
que será excluı́da é aquela em que todas as parcelas são iguais a 2. Por outro lado,
podemos escrever 2n como soma de parcelas iguais a 1 e 2 fixando-se uma parcela
igual a 1. Observe que nesse caso em cada sequência teremos os elementos do conjunto
S2n−2i−1 , com i ∈ {0, 1, 2, . . . , 2n − 2}, a parcela 1 fixa e i parcelas iguais a 2. Veja
o esquema a seguir.
(S2n−1 ) 1
(S2n−3 ) 12
(S2n−5 ) 122
.. .. ..
. . .
(S3 ) 1 222
| {z. . . 22}
n−2 parcelas
(S1 ) 1 222
| {z. . . 22}
n−1 parcelas
Observe que temos todas as configurações de 10 s e 20 s tais que sua soma é sem-
pre igual a 2n. Como o número de casos em cada configuração acima é F2k , para
n
X
k ∈ {1, 2, 3, . . . , n}, temos que o total de casos é F2 + . . . + F2n = F2k . Portanto
k=1
o lado direito e o lado esquerdo contam a mesma coisa.
n
X 2n
X n
X
F2i = Fi − F2i−1 = (F2n+2 − 1) − F2n = (F2n+2 − F2n ) − 1 = F2n+1 − 1
i=1 i=1 i=1
51
comprimento m + n do tipo 3, ou seja, Fm+n . Por outro lado, podemos contar essas
sequências dividindo-as em dois conjuntos, A e B, onde A é o conjunto das sequências
binárias do tipo 3 de comprimento m + n que possuem o bit 1 fixo na m − ésima
posição e B é o conjunto das sequências binárias do tipo 3 de comprimento m + n e que
possuem o bit 0 fixo na m − ésima, observe o esquema abaixo. Temos que A ∪ B = P3
e A ∩ B = ∅, ou seja, A e B formam uma partição de P3 e, com isso, |P3 | = |A| + |B|.
Observe agora que todas as sequências de A têm o bit 1 fixo na posição m e o total de
tais sequências é igual Fm−1 × Fn , pois os bits que ocupam as posições de 1 a m − 1
são iguais a 0 e os bits que ocupam as posições de m + 1 a m + n também são iguais
a 0. As sequências de B têm o bit 0 fixo na posição m e o total de tais sequências é
igual a Fm × Fn+1 , pois o bit que ocupa a posição m + 1 é igual a 0 ou 1 e o bit que
ocupa a posição m + n é igual a 0. Logo são formadas sequências do tipo 2. Portanto
|P3 | = Fm−1 × Fn + Fm × Fn+1 e o lado direito e o lado esquerdo contam a mesma coisa.
tipo 3 tipo 3
z }| { z }| {
Conjunto A: 00 . . . 0} 1 0| .{z
| {z . . 0}
m−1 bits n bits
tipo 3 tipo 2 tipo 3 tipo 2
z }| { z }| { z }| { z }| {
Conjunto B: 00 . . . 0} 00
| {z . . . 0} e 00
| {z . . . 0} 10
| {z . . . 0}
| {z
m bits n bits m bits n bits
(PA) Vamos provar, para cada valor fixo de m, por indução sobre n , que Fm+n =
Fm−1 × Fn + Fm × Fn+1 , para m ≥ 2 e n ≥ 1.
52
Ou seja:
tipo 3 tipo 3
z }| { z }| {
0| . .{z. 0 1} 0| .{z
. . 0} .
n bits n+1 bits
tipo 3 tipo 3
z }| { z }| {
0| .{z
. . 0} 1| 0{z
. . . 0} .
n bits n+1 bits
53
(PA) Basta fazer m = n + 1 na identidade 4. De fato, se m = n + 1, temos que
Fn2 + Fn−1
2
= Fn−2 × Fn + Fn−1 × Fn+1 .
ou Fn2 + Fn−1
2
= Fn−2 × Fn + Fn−1 × Fn+1 .
Fn2 + Fn−1
2
= F2n−1 .
54
anterior pode ser reescrita como
Fn2 + Fn−1
2
= Fn−1 × Fn+1 + Fn−2 × Fn = F2n−1 .
2
Fn−1 − Fn × Fn−2 = (−1)n .
2
Observe que Fn × Fn−2 é o total de sequências excluı́das de J1 e Fn−1 é o total de
sequências excluı́das de J2 . Vamos dividir nossa prova em dois casos, conforme a
paridade de n:
Caso 1 : n par. Nesse caso as Fn × Fn−2 sequências, que são justaposições de
sequências do tipo 3 de comprimento n e sequências do tipo 3 de comprimento n − 2
n−2 n−4 2
têm + + 1 = n − 2 bits 1. As Fn−1 sequências, que são justaposições de
2 2
n−1−1 n−1−1
sequências do tipo 3 de comprimento n − 1, têm + + 1 = n − 1 bits
2 2
1. Portanto há uma, e exatamente uma, sequência a mais retirada de J2 em relação às
2
que são retiradas de J1 . Ou seja, Fn × Fn−2 − Fn−1 = −1.
Caso 2 : n ı́mpar. Nesse caso as Fn × Fn−2 sequências, que são justaposições
de sequências do tipo 3 de comprimento n e sequências do tipo 3 de comprimento
n−1 n−2−1 2
n − 2, têm no máximo + + 1 = n − 1 bits 1. As Fn−1 sequências,
2 2
que são justaposições de sequências do tipo 3 de comprimento n, têm no máximo
n−1−2 n−1−2
+ + 1 = n − 2 bits 1. Portanto há uma, e exatamente uma,
2 2
55
sequência a mais retirada de J1 em relação às que são retiradas de J2 . Ou seja,
2
Fn × Fn−2 − Fn−1 = 1.
2
Fn−1 − Fn × Fn−2 = (−1)n .
56
3n, que possuem o bit 0 fixo nas posições n, n+1, 2n e 2n+1. Por outro lado, podemos
contar as justaposições de três sequências de comprimento n excluindo das sequências
de comprimento 3n as sequências que têm o bit 1 em pelo menos uma das posições n,
n + 1, 2n ou 2n + 1. Vamos dividir essa contagem em quatro casos:
Caso 1 : sequências com os bits 1 e 0 fixos nas posições n e n + 1. Nesse caso o
total de sequências é igual a Fn−1 × F2n . Observe o esquema abaixo.
2n bits
n−1 bits z }| {
z }| {
0| . .{z
. 00 1} 0 . . . 0 0 . . . 0
n bits | {z } | {z }
n bits n bits
Portanto temos F3n −Fn−1 ×F2n −Fn ×F2n−1 −2Fn2 ×Fn−1 sequências de comprimento
3n que possuem o bit 0 fixo nas posições n, n + 1, 2n e 2n + 1. Logo o lado esquerdo e
o lado direito contam a mesma coisa.
57
Identidade 23. Para n ≥ 1, temos que
2
Demonstração. Utilizando a identidade anterior e lembrando que Fn−1 +Fn2 = F2n−1
(identidade 19) e F2n = Fn2 + 2Fn × Fn−1 (identidade 20), temos que
k
X
Fni−1 Fn−1 · F(k−i)n + Fn · F(k−i)n−1 .
Fkn =
i=1
58
a i − ésima sequência de comprimento n − 1 e uma sequência de comprimento (k − i)n.
Portanto o total de justaposições de k sequências do tipo 3 de comprimento n é igual a
k−1
X
Fni−1 Fn−1 · F(k−i)n + Fn · F(k−i)n−1 .
Fkn −
i=1
k
X
Fnk Fp Fni−1 Fn F(k−i)n+p−1 + Fn−1 F(k−i)n+p
Fkn+p = +
i=1
Demonstração. (PAC) De fato, basta observar que a exemplo do que fizemos an-
teriormente temos que
k
X
Fnk Fp Fni−1 Fn F(k−i)n+p−1 + Fn−1 F(k−i)n+p
= Fkn+p −
i=1
59
k
X
Fni−1 Fn−1 · F(k−i)n+p + Fn · F(k−i)n+p−1 .
Fkn+p −
i=1
k
X
Fnk Fp Fni−1 Fn F(k−i)n+p−1 + Fn−1 F(k−i)n+p .
Fkn+p = +
i=1
X X n − i n − j
= F2n+2 .
i≥0 j≥0 j i
n − j
i
60
maneiras de posicionar as i parcelas à direita da mediana. Logo há
n − i n − j
j i
X X n − i n − j
.
i≥0 j≥0 j i
n
0
1
1 1 1
2
1 2 1
3 1 3 3 1
4
1 4 6 4 1
5
1 5 10 10 5 1
6
1 6 15 20 15 6 1
7
1 7 21 35 35 21 7 1
8
1 8 28 56 70 56 28 8 1
61
a) Se n é ı́mpar,
n n − 1 n − 2 (n − 1)/2
Fn+1 = + + + ... + .
0 1 2 (n − 1)/2
b) Se n é par,
n n − 1 n − 2 n/2
Fn+1 = + + + ... + .
0 1 2 (n − 1)/2
n n − 1 n − 2
+ + + . . . = Fn+1 .
0 1 2
62
0
(i) (Base de indução) Para n = 0, temos que = F1 .
0
(ii) (Hipótese de indução) Suponha o resultado para n ≤ k, então temos que para
n = k + 1, Fk+2 = Fk+1 + Fk (Recorrência de Fibonacci) Como, pela hipótese de
indução
k k − 1 k − 2
Fk+1 = + + + ...
0 1 2
k − 1 k − 2 k − 3
Fk = + + + ...
0 1 2
temos que
k k − 1 k − 2 k − 1 k − 2 k − 3
Fk+2 = + + + ...+ + + + ...
0 1 2 0 1 2
| {z } | {z }
Fk+1 Fk
k k k − 1
Fk+2 = + + + ... (Identidade 3).
0 1 2
Como
k + 1 k
= ,
0 0
segue que
k + 1 k k − 1
Fk+1 = + + + ....
0 1 2
63
Capı́tulo 3
Números de Lucas
François Edouard Anatole Lucas nasceu em Amiens, França, em 1842. Após com-
pletar seus estudos na École Normale em Amiens, ele trabalhou como assistente no ob-
servatório de Paris [9]. Ele serviu como oficial de artilharia na guerra franco-prussiana
e, em seguida, tornou-se professor de matemática no Liceu Saint-Louis e Liceu Harle-
magne, os dois em Paris. Era um professor talentoso e divertido. Lucas morreu devido
a um acidente em um banquete; sofreu um corte no rosto por um estilhaço de vidro que
voou de uma placa que caiu acidentalmente. Ele morreu de infecção em poucos dias,
em 3 de outubro de 1891. Lucas adorava computação e desenvolveu planos para um
computador, mas que nunca se materializou. Além de suas contribuições para a Teoria
dos Números, ele é conhecido por seu clássico de quatro volumes sobre matemática re-
creativa. O mais conhecido entre os problemas que ele desenvolveu é a Torre de Hanói
[9].
Usando a recorrência de Fibonacci com condições iniciais diferentes, definimos a
sequência de Lucas. Seja Ln o n − ésimo termo da sequência de Lucas, com L0 = 2,
L1 = 1 e Ln = Ln−1 + Ln−2 , para n ≥ 2. Com isso, obtemos os termos da sequência de
Lucas: 2, 1, 3, 4, 7, 11, 18, . . .
64
3.1 Interpretações Combinatórias para os números
de Lucas
Para o que segue, suponha que a sequência 1, 2, 3, . . . , n esteja disposta sobre
uma circunferência como indica a Figura 3.1. Observe que nessa disposição os números
1 e n são consecutivos.
65
Logo bn = bn−1 + bn−3 = Fn+1 + Fn−1 , com condições iniciais iguais a b1 = 1 e
b2 = 3. Como bn−1 = Fn + Fn−2 e bn−2 = Fn−1 + Fn−3 , observe que:
= Fn+1 + Fn−1 = bn .
Proposição 3.2. O número de palavras binárias circulares nas quais não existem dois
bits 1 consecutivos é igual a Ln .
Identidade 28.
Ln = Fn+1 + Fn−1 ,
para n ≥ 1.
66
Identidade 29.
Ln = Fn+2 − Fn−2 ,
para n ≥ 2.
L2 = F4 − F0 = 3 − 0 = 3 e L3 = F5 − F1 = 5 − 1 = 4
Logo, pelo Princı́pio da Indução, a identidade é verdadeira para todo inteiro posi-
tivo.
F2n = Fn Ln .
67
Demonstração. (PAC) O lado esquerdo conta o total de sequências do tipo 3 de
comprimento 2n , isto é, F2n . Por outro lado, podemos contar tais sequências justa-
pondo uma sequência binária de comprimento n do tipo 3 e uma sequência binária
de comprimento n do tipo 6. Pelo princı́pio fundamental da contagem, isso é igual a
Fn Ln . Porém, observe que ao justapormos as sequências do tipo 3 e do tipo 6, obtemos
sequências binárias que terminam pelo bit 1 e estas sequências não são do tipo 3. Então
devemos excluir de nossa contagem Fn × Fn−1 . Observe ainda que as sequências que
têm o bit 1 na n − ésima posição não figuram entre as Fn Ln justaposições anteriores.
As sequências que possuem o bit 1 na n − ésima são em número de Fn−1 × Fn . Observe
o esquema abaixo.
68
10 . . . 0 0 . . . 1
| {z } | {z }
n bits n bits
Caso 2 : (justaposições que serão incluı́das). São aquelas que possuem simultanea-
mente o bit 1 nas posições 1 e n e nas posições n + 1 e 2n. O total de tais justaposições
é 2Fn−2 × Fn .
1 ... 10 ... 0
| {z } | {z }
n bits n bits
0 ... 01 ... 1
| {z } | {z }
n bits n bits
Identidade 32.
X n n − i
Ln = .
n−i
0≤i≤n/2 i
n − i − 1
.
i−1
69
(ii) Conjuntos nos quais não figura o número 1. Devemos escolher i elementos de
{2, 3, . . . , n}, sem que haja números consecutivos, o que pode ser feito de
n − i
.
i
Como o total de casos pode ser dividido nos casos (i) e (ii), então o total de subcon-
juntos de In = {1, 2, 3, . . . , n} que não possuem números consecutivos, considerando-
se 1 e n como consecutivos, é igual a:
n − i − 1 n − i (n − i − 1)! (n − i)!
+ = +
(i − 1)!(n − 2i)! i!(n − 2i)!
i−1 i
(n − i − 1)!i + (n − i)!
=
i!(n − 2i)!
i+n−i
= (n − i − 1)!
i!(n − 2i)!
(n − i − 1)!
=n·
i!(n − 2i)!
n (n − i)!
= ·
n − i i!(n − 2i)!
n n − i
= ·
n−i
i
X n n − i
.
n−i
0≤i≤n/2 i
70
Capı́tulo 4
Sequência Didática
Neste capı́tulo vamos propor algumas atividades que podem ser desenvolvidas por
professores em sala de aula com o objetivo de desenvolver o raciocı́nio combinatório de
seus alunos. Antes de qualquer coisa, é preciso que o professor apresente, em linguagem
clara e precisa, os conceitos iniciais de Combinatória. A exposição contextualizada e
metódica dos princı́pios da adição e da multiplicação permite ao aluno construir uma
base sólida, evita problemas futuros e permite o bom desenvolvimento do conteúdo.
Não se deve privilegiar a memorização das fórmulas em detrimento da criatividade.
Associar os principais sı́mbolos e fórmulas a casos concretos permitem que o aluno
desenvolva o bom hábito de contar com bijeções, o que nos parece mais natural.
A seguir apresentamos uma série de exercı́cios, acerca do tema tratado neste traba-
lho, que podem ser propostos pelo professor em sala de aula. Essas atividades podem
ser executadas em grupo ou individualmente.
4.1 Atividades
71
3) Determine a quantidade de subconjuntos de {1, 2, 3, . . . , n}.
72
n n − 1
(c) k = n .
k k−1
n n n n n n n n 2n
(d) + + ... + + = .
0 n 1 n−1 n−1 1 n 0 n
000 . . . 0 − − − − − − − − → ∅
100 . . . 0 − − − − − − − − → {1}
010 . . . 0 − − − − − − − − → {2}
001 . . . 0 − − − − − − − − → {3}
.. .. ..
. . .
111 . . . 1 − − − − − − − − → {1, 2, 3, . . . , n}
2) O total de sequências binárias que podemos formar é igual a 2n , pois cada posição
na sequência pode ser ocupada pelo bit 1 ou pelo bit 0.
73
bits 1 consecutivos.
0000 . . . 0 − − − − − − − − → ∅
1000 . . . 0 − − − − − − − − → {1}
0100 . . . 0 − − − − − − − − → {2}
0010 . . . 0 − − − − − − − − → {3}
.. .. ..
. . .
1010 . . . 0 − − − − − − − − → {1, 3}
1001 . . . 0 − − − − − − − − → {1, 4}
.. .. ..
. . .
1010 . . . − − − − − − − − → {1, 3, 5, . . .}
74
2)
75
4.2.3 Atividade 3: Utilizando argumentos combinatórios.
a) O lado esquerdo conta o número de k−subconjuntos de um conjunto com objetos.
E o lado direito conta o número de (n − k) − subconjuntos de um conjunto com
n. Agora observe que podemos estabelecer uma correspondência um a um entre
os k − subconjuntos e os (n − k) − subconjuntos. Portanto lado direito e lado
esquerdo contam a mesma coisa.
n
um conjunto com n objetos distintos, isto é, . Podemos contar os subconjun-
k
n − 1
tos de acordo com a presença de um elemento x. Existem subconjuntos
k
n − 1
nos quais x não é elemento de qualquer subconjunto e em x é elemento
k−1
de cadaum dossubconjuntos.
Logo o total de subconjuntos com k objetos é
n − 1 n − 1
igual a + . Portanto lado esquerdo e lado direito contam a
k k−1
mesma coisa.
76
n n
seguintes, que pode ser feito de . E assim sucessivamente, até que
1 n−1
tenhamos escolhido
npessoas
das n primeiras e 0 pessoas das n seguintes, o que
n n
pode ser feito de . Logo o total de comissões é
n 0
n n n n n n n n
+ + ... + + .
0 n 1 n−1 n−1 1 n 0
77
Considerações Finais
Neste trabalho apresentamos uma abordagem pouco comum aos livros tradicionais
do Ensino Médio que tratam de Combinatória. Está claro que cada professor, dentro
de sua realidade, procura as melhores formas de apresentar assunto tão espinhoso aos
seus alunos. Mas também é claro que o uso excessivo de fórmulas e a mecanização do
raciocı́nio são as práticas mais comuns em nossas escolas. Tais práticas trazem prejuı́zo
incalculável aos nossos discentes, que formam opinião errônea sobre um dos temas mais
importantes da Matemática.
Buscar o entendimento e a clareza do raciocı́nio por parte dos alunos é o desafio que
os docentes têm em sua labuta diária. Aperfeiçoar os métodos ou até mesmo mudá-los
para atingir os objetivos pode ser um dos caminhos. Trazer novas abordagens para a
sala de aula com a finalidade de buscar o entendimento e desmistificar determinados
assuntos deve estar em nossa pauta.
Devemos mudar a má fama da Combinatória e torná-la assunto agradável e de
interesse dos alunos. Dentro dessa perspectiva, apresentar a resolução de identidades
através de argumentos combinatórios parece-nos uma boa prática para sala de aula.
Por outro lado, aproveitando o viés dos métodos de contagem, a inclusão dos números
de Fibonacci e de Lucas nesse contexto é um incremento para despertar o interesse dos
discentes. Temas que parecem distantes, mas que guardam relação engenhosa.
Portanto, esperamos que esse trabalho possa contribuir para a melhoria das práticas
docentes sempre com a consciência de que este é apenas uma gota no oceano. Mas o
que é um oceano senão um número infinitamente grande de gotas?
78
Referências Bibliográficas
[7] HOGGATT, V.E. Jr. Lind, D.A. Compositions and Fibonacci Numbers.
The Fibonacci Quaterly 7, no 3 (1969): 253-266.
[8] HOGGATT, V.E. Jr. Fibonacci and Lucas Numbers. Boston: Houghton
Mifflin, 1969.
79
[10] LIMA, E. L. A Matemática do Ensino Médio. Vol. 2. Rio de Janeiro: SBM,
1999.
[13] NELSEN, R.B. Proof Without Words II: More Exercises in Visual Thin-
king, Classroom Resource Materials. MAA, Washington, D.C., 2000.
[17] VADJA, S. Fibonacci & Lucas Numbers, and the Golden Section: The-
ory and Applications. John Wiley & Sons, Inc., New York, 1989.
80