Analise Matematica em RN PDF
Analise Matematica em RN PDF
Julho de 2017
Conteúdo
1 Introdução 1
1.1 Corpo dos números reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Generalidades sobre funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3 Estudo das funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.4 Funções elementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.5 Ficha de exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2 Sucessões numéricas 19
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.1.1 Formas de designar uma sucessão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.1.2 Representação gráca de uma sucessão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.2 Princípio de indução matemática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.3 Exemplos Importantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.4 Propriedades principais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.4.1 Sucessão limitada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.4.2 Monotonia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.4.3 Subsucessão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.5 Convergência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.5.1 Sucessão convergente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.5.2 Propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.5.3 Sucessão de Cauchy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.5.4 Critérios de convergência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.6 Limites de sucessões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
2.6.1 A recta acabada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
2.6.2 Indeterminações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.6.3 Cálculo de limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
2.6.4 Limites importantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
2.7 Ficha de exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
ii
3 Séries Numéricas 56
3.1 Somatórios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
3.2 Séries numéricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
3.3 Propriedades gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
3.4 Séries de termos não negativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
3.5 Séries de termos positivos e negativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
3.6 Convergência absoluta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
3.7 Ficha de exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
7 Primitivas 165
7.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
7.2 Primitivas imediatas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166
7.3 Primitivação por partes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 168
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R
8 Integrais 186
8.1 Integral de Riemann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 186
8.2 Propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 190
8.3 Teorema fundamental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 192
8.4 Cálculo de integrais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193
8.5 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195
8.6 Ficha de exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197
Bibliograa 260
2014/2015 iv c HBO
Capítulo 1
Introdução
Neste primeiro capítulo, iremos introduzir os conceitos fundamentais usados no estudo de funções reais
de variável real. Iremos também rever algumas funções elementares estudadas anteriormente. Para o
estudo que iremos fazer, pressupomos que o leitor conhece o corpo dos números reais, bem como as
operações algébricas entre os seus elementos.
N = {1, 2, 3, . . . } .
Este conjunto apareceu das necessidades naturais de contagem do Homem. No entanto, revelou-se insu-
ciente para a operação de subtracção entre números naturais, motivadas essencialmente pelas necessidades
de comércio. Por exemplo, a equação
x+2=1
é impossível de resolver no conjunto N. Assim, nasceu o conjunto dos números inteiros, que, para além
dos naturais, contém o 0 e os inteiros negativos. Denotamos este conjunto por Z e temos
Z = {. . . , −2, −1, 0, 1, 2, . . . } ,
Q = {inteiros} ∪ {fraccões} .
Por m, o conjunto dos números reais R, aparece pela impossibilidade de resolver algumas equações que
envolvem potências no conjunto dos números racionais Q. Por exemplo, em Q, é impossível de resolver
a equação
x3 = 2 .
√
A solução desta equação é a dízima innita não periódica 1.25991050 . . . que se denota por 3 2. Estes
números não podem ser escritos como fracções. Apenas conseguimos escrever, como fracções, dízimas
innitas periódicas como 0.3333333333 . . . que, na forma de fracção, é 13 . Usando a mesma escrita
abreviada, temos
R = {racionais} ∪ {irracionais} .
1
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 1. INTRODUÇÃO
Convém frisar que a sistematização deste conhecimento só foi feito algumas centenas de anos, senão
mesmo milénios, depois do conhecimento ter sido adquirido e difundido. O prosseguimento do raciocínio
anterior, leva-nos a questionar sobre a impossibilidade de resolver equações do tipo
x2 + 1 = 0
em R. De facto, para resolvermos esta equação, temos de a considerar num novo conjunto de números, o
conjunto dos números complexos C. Este conjunto, além dos números reais, contém também os números
designados imaginários. Um número imaginário é denotado por a i, onde a é um número real e i é
denido por i2 = −1. A forma geral de um número complexo é z = x + yi, onde x é a parte real do
número complexo e y (número real) a sua parte imaginária. Os números complexos deram origem a uma
das áreas mais bonitas da Análise Matemática, a Análise Complexa que, por falta de tempo, não poderá
ser abordada no decorrer deste curso.
Os números racionais representam-se numa recta horizontal, orientada da esquerda para a direita e que
se designa por eixo numérico. O zero é esboçado a meio deste eixo, cando os números negativos à
esquerda e os positivos à direita. Para fazer a correspondência de cada ponto do eixo numérico a um
número racional, temos de xar uma unidade de medida. A representação dos irracionais pode ser feita
à custa da representação de números racionais de referência a observações exteriores, por exemplo de
cariz geométrico. De um modo mais simples, fazemos uma aproximação do irracional em questão por
um racional.
Os subconjuntos de R podem ser discretos ou contínuos. Por exemplo, o subconjunto dos naturais é
discreto, embora com cardinalidade innita, e representa-se, como vimos, por
{1, 2, 3, . . . } .
Os subconjuntos contínuos representam-se habitualmente por intervalos ou por reuniões destes. Por
exemplo, [a, b] representa o subconjunto de todos os números reais compreendidos entre a e b, isto é
[a, b] = {x ∈ R : a ≤ x ≤ b} .
Os números a e b são designados por limite inferior e superior, respectivamente, do intervalo. A notação
fechada sobre os limites a e b indica que o intervalo contém estes números e, por isso, se designa de
intervalo fechado. A notação (a, b) indica que o intervalo é aberto, ou seja, que os limites inferior e
superior do intervalo não fazem parte do conjunto considerado, isto é,
Por vezes, os intervalos podem ser fechados num limite e abertos noutro. Por exemplo,
[a, b) = {x ∈ R : a ≤ x < b} ,
(a, b] = {x ∈ R : a < x ≤ b} .
Muitos autores utilizam o parêntesis recto aberto sobre o limite a ou b para indicar que o intervalo é
aberto nesse limite do intervalo. Com esta notação, os intervalos (a, b), [a, b) e (a, b] anteriores escrevem-se
na forma ]a, b[, [a, b[ e ]a, b], respectivamente.
Módulo
No conjunto dos números reais, denimos o módulo, ou valor absoluto, de um número como sendo a
distância desse número à origem. Na denição seguinte denimos este conceito analiticamente.
−x se x < 0
|x| =
x se x ≥ 0 .
2014/2015 2 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 1. INTRODUÇÃO
|x| = max{−x, x} .
2. |x| ≤ a ⇔ x ≥ −a ∧ x ≤ a ⇔ −a ≤ x ≤ a;
3. |x| ≥ a ⇔ x ≤ −a ∨ x ≥ a.
Demonstração: Nesta demonstração iremos usar a denição equivalente de módulo de x como sendo
o máximo entre −x e x.
1. |x| = a ⇔ max{−x, x} = a ⇔ −x = a ∨ x = a ⇔ x = ±a.
Em particular, se a = 0, então |x| = 0 ⇔ max{−x, x} = 0 ⇔ −x = 0 ∨ x = 0 ⇔ x = 0.
2. |x| ≤ a ⇔ max{−x, x} ≤ a ⇔ −x ≤ a ∧ x ≤ a ⇔ x ≥ −a ∧ x ≤ a ⇔ −a ≤ x ≤ a.
3. |x| ≥ a ⇔ max{−x, x} ≥ a ⇔ −x ≥ a ∨ x ≥ a ⇔ x ≤ −a ∨ x ≥ a.
Também poderíamos ter usado a Denição 1.1.1, mas, neste caso, as justicações seriam mais demoradas.
As duas últimas propriedades da proposição anterior, são, ainda, válidas no caso de desigualdades estritas,
ou seja,
|x| < a ⇔ x > −a ∧ x < a ⇔ −a < x < a
e
|x| > a ⇔ x < −a ∨ x > a .
3. Da Denição 1.1.1, sai que −|x| ≤ x ≤ |x| e −|y| ≤ y ≤ |y|. Somando estas duas inequações, obtemos
− (|x| + |y|) ≤ x + y ≤ |x| + |y|, e da Proposição 1.1.1-2 sai que |x + y| ≤ ||x| + |y|| = |x| + |y|.
A última propriedade da proposição anterior, tem o nome de desigualdade triangular, porque, quando
generalizada a dimensões superiores, arma que o comprimento de um lado qualquer de um triângulo é
menor ou igual do que a soma dos comprimentos dos outros dois.
2014/2015 3 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 1. INTRODUÇÃO
Denição 1.2.1. Uma função é uma correspondência entre dois conjuntos, que a cada elemento
de um desses conjuntos, digamos A, faz corresponder um único elemento do outro, digamos B.
As funções são habitualmente denotadas por letras minúsculas, por exemplo f , g , h, etc. O subconjunto
de A onde uma função, digamos f , está denida designa-se por domínio da função e denota-se por
Df . O subconjunto de B onde a função f toma valores designa-se por contra-domínio da função e
denota-se por D0f . Aos elementos do domínio de uma função chamamos objectos e aos elementos do
contra-domínio chamam-se imagens. Se denotarmos uma função por f , os objectos são habitualmente
denotados pelas letras x, y , z , etc. e as respectivas imagens por f (x), f (y), f (z), etc. Dizemos que uma
função é real, se todos os valores que assume são números reais e diz-se de variável real, se o seu
domínio é um subconjunto de R.
Existem diferentes formas de representar uma função. O diagrama sagital ou a tabela de entradas
são os mais indicados para funções cujos domínios e contra-domínios sejam conjuntos nitos.
Exemplo 1.2.1. Consideremos a função f tal que a cada elemento do conjunto de partida A =
{α, β, γ, δ} faz corresponder um elemento do conjunto de chegada B = {
, , 4} da forma seguinte:
α 7→ , β 7→ 4, γ 7→ , δ 7→ .
lbbel=() A função f pode ser representada por meio do diagrama sagital representado na Figura 1.1.
α
β
4
γ
δ
4
α •
β •
γ •
δ •
2014/2015 4 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 1. INTRODUÇÃO
Existem situações em que conseguimos encontrar uma única expressão através da qual podemos rela-
cionar qualquer objecto no domínio da função com a correspondente imagem no contra-domínio. Esta
forma para representar as funções é muito útil, não só como simplicação da escrita, mas também por
impossibilidade de escrever relações entre todos os objectos e imagens correspondentes quando o domínio
ou o contra-domínio são conjuntos com cardinalidade innita. À expressão que nos permite represen-
tar assim uma função, designamos por expressão designatória da função. Por exemplo, a expressão
designatória f (x) = 2x representa a função que a cada objecto x faz corresponder o seu dobro.
Exemplo 1.2.2. Considere a função f tal que a cada elemento do conjunto de partida A =
{−2, −1, 0, 1, 2} faz corresponder um elemento do conjunto de chegada B = {0, 1, 4} da forma
seguinte:
−2 7→ 4, −1 7→ 1, 0 7→ 0, 1 7→ 1, 2 7→ 4,
Indicar uma expressão designatória possível para a função f . Observando que cada imagem é o
quadrado do objecto que lhe corresponde, podemos escrever f (x) = x2 , onde x ∈ A.
A expressão designatória vai ser a forma mais comum de representarmos uma função e, sempre que
não se disser nada em contrário, será esta a forma que iremos considerar. Nesta representação, vamos
considerar todas as funções com conjuntos de partida e de chegada iguais a R. Assim escrevemos para
uma função qualquer f :
f : R −→ R
x 7−→ y = f (x);
onde f (x) indica a expressão designatória da função. Sempre que não haja ambiguidade na escrita,
escrevemos simplesmente a expressão designatória de f (x). Convém referir que, nesta representação, se
faz um pequeno abuso de escrita. O domínio da função não é necessariamente igual ao seu conjunto
de partida, assim como o contra-domínio pode ser diferente do conjunto de chegada. Assim, aquando
do estudo de uma função representada desta forma, o primeiro procedimento a fazer é indicar qual o
domínio de validade da função.
f (x) = 2x + 1 e g(x) = x2 .
Como as operações envolvidas na denição de cada função são possíveis em R, temos que Df = R
e Dg = R. Relativamente ao contra-domínio, sabemos que este será igual ao domínio da função
inversa, quando a função é injectiva, ou da inversa da maior restrição da função que seja injectiva.
No caso de f , temos
y−1 x−1
y = 2x + 1 ⇔ x = ⇒ f −1 (x) = e D0f = Df −1 = R.
2 2
Para a função g , temos
√ −1 √ −1 √
y = x2 ⇔ x = ± y ⇒ f|[0,∞) (x) = x, f|(−∞,0] (x) = − x
e
D0f = Df −1 = Df −1 = [0, ∞).
|[0,∞) |(−∞,0]
A determinação do contra-domínio, pode, por vezes, ser bastante mais simples do que o modo de resolução
habitual. Por exemplo, no caso do exemplo anterior, poderíamos ter observado que
2014/2015 5 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 1. INTRODUÇÃO
Denição 1.2.2. Sejam f1 , f2 duas funções reais de variável real com domínios Df1 e Df2 , respec-
tivamente. Chama-se função soma de f1 com f2 à função denotada por f1 + f2 e que está denida
em Df1 ∩ Df2 por:
(f1 + f2 )(x) = f1 (x) + f2 (x) .
De forma análoga se dene, em Df1 ∩ Df2 , a função diferença f1 − f2 , a função produto f1 f2
e a função quociente f1 /f2 , esta última apenas nos pontos x ∈ Df1 ∩ Df2 tais que f2 (x) 6= 0,
respectivamente, por:
f1 f1 (x)
(f1 − f2 )(x) = f1 (x) − f2 (x), (f1 × f2 )(x) = f1 (x) × f2 (x), (x) = .
f2 f2 (x)
As funções vão ser representadas num referencial cartesiano1 , i.e num sistema de dois eixos ortogonais
com a mesma unidade de medida, um horizontal orientado da esquerda para a direita e outro vertical
orientado de baixo para cima. O eixo horizontal designa-se por eixo das abcissas ou eixo dos xx
e o vertical por eixo das ordenadas ou eixo dos yy . Neste sistema de eixos, qualquer função será
representada por pontos (x, y), onde para cada objecto x, y será a respectiva imagem por meio de f , i.e.
f (x). Deste modo, o referencial cartesiano também é designado por sistema de eixos coordenados.
O ponto (x, y) será designado por ponto de coordenadas de abcissa x e ordenada y . Ao ponto onde os
dois eixos se intersectam, fazemos corresponder os zeros de ambos os eixos e, no plano, este ponto de
intersecção designa-se por origem do referencial cartesiano.
Denição 1.2.3. O gráco de uma função, digamos f , esboçado num referencial cartesiano
consiste no conjunto de todos os pontos do plano correspondentes a pares (x, y), com y = f (x) e
para x ∈ Df . Denotamos o gráco de uma função f por Gra(f ) e representá-mo-lo por:
Observemos que para os propósitos deste curso o que interessa é uma aproximação do gráco da função,
aquilo que designaremos por esboço, e não o gráco mais ou menos exacto obtido por uma calculadora
gráca ou algum programa computacional.
A análise geométrica do esboço do gráco de uma função vai permitir-nos tirar muitas conclusões sobre a
própria função. Por exemplo, podemos dizer que uma correspondência é uma função, se qualquer
recta paralela ao eixo dos yy, e secante ao gráco da correspondência, intersectar esse
gráco num só ponto.
Exemplo 1.2.4. Na Figura 1.2 fazemos a representação gráca das funções f (x) = 2x + 1 e
g(x) = x2 .
No que se segue, estamos a supor que f é uma função real de variável real. O conjunto de partida é A,
o conjunto de chegada é B, o domínio é Df e o contra-domínio é D0f .
Denição 1.2.4. Diz-se que um ponto x ∈ Df é um zero ou uma raiz da função f , se f (x) = 0.
Se uma função f tem um zero num ponto x = a, f (a) = 0 e então o seu gráco intersecta o
eixo dos xx no ponto (a, 0).
1 O nome deve-se ao lósofo, e também matemático, francês René Descartes (1596-1650).
2014/2015 6 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 1. INTRODUÇÃO
y y
1
x x
− 21 −2 2
Denição 1.2.5. Diz-se que f é uma função injectiva, se quaisquer dois objectos distintos,
digamos x1 e x2 , de Df tiverem imagens distintas, isto é, se
De forma equivalente, podemos dizer que f é injectiva se imagens iguais corresponderem ao mesmo
objecto
f (x1 ) = f (x2 ) ⇔ x1 = x2 .
Em termos grácos, vericamos que uma função f é injectiva, se qualquer recta paralela ao eixo dos xx
intersecta o gráco de f em apenas um ponto.
Logo, a função f é injectiva. Se, agora, x1 e x2 forem dois objectos arbitrários no domínio de g ,
temos q
g(x1 ) = g(x2 ) ⇔ x21 = x22 ⇔ x1 = ± x22 = ±|x2 |.
Deste modo, vericamos que dois objectos distintos, x1 = |x2 | e x1 = −|x2 | (com x2 6= 0) têm a
mesma imagem. Assim, a função g não é injectiva.
Denição 1.2.6. Diz-se que f é uma função sobrejectiva, se cada elemento do conjunto de
2014/2015 7 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 1. INTRODUÇÃO
∀ y ∈ B ∃ x ∈ Df : y = f (x).
Esta denição diz-nos que uma função é sobrejectiva, se o contra-domínio coincidir com o conjunto de
chegada, isto é, se D0f = B.
Uma função que seja injectiva e sobrejectiva, diz-se bijectiva. Em termos da notação matemática, uma
função f diz-se bijectiva, se
∀ y ∈ B ∃1 x ∈ Df : y = f (x).
Exemplo 1.2.8. Pelo que foi resolvido nos Exemplos 1.2.6 e 1.2.7, podemos concluir que a função
f (x) = 2x + 1 é bijectiva, mas a função g(x) = x2 não.
Denição 1.2.7. Diz-se que f é uma função par, se para cada x ∈ Df , f (−x) = f (x). A função
f é ímpar, se para cada x ∈ Df , f (−x) = −f (x).
No caso de existir algum x ∈ Df tal que f (−x) 6= f (x) e f (−x) 6= −f (x), dizemos que a função não é par
nem ímpar. Num referencial cartesiano, uma função par é simétrica relativamente ao eixo
dos yy e uma função ímpar é simétrica relativamente à origem do referencial. Esta última
noção quer dizer que existem pontos do gráco da função diametralmente opostos, mas equidistantes, à
origem do referencial.
Exemplo 1.2.9. Estudar as funções f (x) = 2x + 1, g(x) = x2 e h(x) = x3 quanto à paridade. Para
cada uma destas funções tem-se
Denição 1.2.8. Sejam f e g duas funções reais de variáveis reais tais que Df ⊆ D0g . Dene-se a
composição das funções, f com g , à função que a cada elemento x ∈ Dg faz corresponder um único
elemento no conjunto de chegada de f . Denotamos a composição de f com g por f ◦ g , lê-se f após
g e dene-se por
(f ◦ g)(x) = f [g(x)] .
2014/2015 8 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 1. INTRODUÇÃO
Denição 1.3.1. Diz-se que uma função real de variável real f é monótona crescente num
subconjunto D de Df , se f (x1 ) ≤ f (x2 ) para quaisquer x1 , x2 ∈ D tais que x1 ≤ x2 , isto é:
No caso de termos
x1 < x2 ⇒ f (x1 ) < f (x2 ) ∀ x1 , x2 ∈ D,
dizemos que f é monótona crescente em sentido estrito. De forma análoga, se
dizemos que f é monótona decrescente em sentido estrito. Sempre que não se diga mais nada
sobre a monotonia, subentende-se que estamos a falar de monotonia no sentido da denição anterior, o
que muitas vezes e para a distinguir da monotonia estrita nos referimos como sendo monotonia em
sentido lato. Sempre que não se faça menção ao subconjunto Df onde f é monótona, deve entender-se
que f satisfaz essa propriedade em todo o seu domínio.
No que se segue, estamos a supor que f é uma função real de variável real. O conjunto de partida é A,
o conjunto de chegada é B, o domínio é Df e contra-domínio é D0f .
Denição 1.3.2. Diz-se que f é uma função minorada, se f (Df ) é um conjunto minorado, i.e.,
se
∃ m ∈ R : f (x) ≥ m ∀ x ∈ Df .
A função f é majorada, se f (Df ) é um conjunto majorado, i.e.,
∃ M ∈ R : f (x) ≤ M ∀ x ∈ Df .
∃ m, M ∈ R : m ≤ f (x) ≤ M ∀ x ∈ Df ,
2014/2015 9 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 1. INTRODUÇÃO
Proposição 1.3.1. Seja f uma função real de variável real. A função f é limitada se e só se
∃ C ∈ R+ : |f (x)| ≤ C ∀ x ∈ Df . (1.3.4)
Demonstração: Suponhamos que f é uma função limitada. Então, por denição, existem duas cons-
tantes reais, digamos m e M , tais que
m ≤ f (x) ≤ M ∀ x ∈ Df .
−C ≤ f (x) ≤ C ⇔ |f (x)| ≤ C ∀ x ∈ Df .
∃ C ∈ R+ : −C ≤ f (x) ≤ C ∀ x ∈ Df .
Denição 1.3.3. Seja f uma função real de variável real injectiva com domínio Df . Designa-se por
função inversa da função f à função que a cada imagem y = f (x) faz corresponder o respectivo
objecto x que lhe deu origem.
A noção de função inversa está intimamente ligada à propriedade de função injectiva. Se esta não se
vericar, não existe função inversa. Se f não fosse injectiva, então existiriam dois objectos x1 6= x2 em
Df tais que f (x1 ) = f (x2 ). Neste caso, admitindo que era possível inverter a função, então obteríamos
uma correspondência que ao mesmo objecto y = f (x1 ) = f (x2 ) faria relacionar duas imagens distintas
x1 e x2 . No entanto esta correspondência não é uma função como se depreende da Denição 1.2.1
Denição 1.3.4. Seja D um subconjunto do domínio Df de uma função f . Designa-se por imagem
ou transformado do conjunto D por meio de f , e denota-se por f (D), ao conjunto de todos os
valores que f assume em pontos x ∈ D, i.e.
f: R −→ R
x 7−→ y = f (x),
2014/2015 10 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 1. INTRODUÇÃO
f −1 : R −→ R
tal que (f −1 ◦ f )(x) = x e (f ◦ f −1 )(y) = y.
y 7−→ x = f −1 (y),
Df −1 = f (Df ) e D0f −1 = Df ,
Pelo Exemplo 1.2.6, sabemos que a função f é injectiva, mas g não. Por outro lado, vimos no
Exemplo 1.2.3, que, apesar de g não ser injectiva em todo o seu domínio, as suas restrições aos
intervalos [0, ∞) ou (−∞, 0] são injectivas. Temos então
x−1 −1 √ −1 √
f −1 (x) = , g|[0,∞) (x) = x, g|(−∞,0] (x) = − x.
2
O gráco da função inversa f −1 , pode-se obter a partir do gráco da função f fazendo uma simetria em
relação à bissectriz dos quadrantes ímpares (recta y = x).
Proposição 1.3.2. Seja f uma função real de variável real. Se f é uma função monótona e injectiva,
então a função inversa f −1 também é estritamente monótona, crescente ou decrescente, consoante
f.
x1 = f −1 (y1 ) e x2 = f −1 (y2 ).
Admitamos que f é monótona crescente e suponhamos que y1 > y2 . Claramente se tem f −1 (y1 ) >
f −1 (y2 ), pois, caso contrário, teríamos x1 < x2 , o que contraria o facto de f ser monótona crescente.
De forma análoga se prova que f −1 é estritamente decrescente no caso de f ser monótona decrescente.
Observemos que o facto da função f ser injectiva implica que a sua monotonia é estrita.
Proposição 1.3.3. Seja f uma função real de variável real. Se f é uma função ímpar e injectiva,
então a função inversa f −1 também é ímpar.
f (−x) = −f (x) ∀ x ∈ Df
e existe a função inversa f −1 . Logo, se y = f (−x), então x = −f −1 (y). Por outro lado, do facto de f
ser ímpar, resulta que y = −f (x) ⇔ x = f −1 (−y). Assim, temos que f −1 (−y) = −f −1 (y) e, portanto,
f −1 é uma função ímpar.
2014/2015 11 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 1. INTRODUÇÃO
Exemplo 1.3.2. Consideremos as funções do Exemplo 1.3.1. A partir dos grácos destas funções,
podemos esboçar os grácos das funções inversas aí encontradas conforme a Figura 1.3.
y y
y = 2x + 1
y = x2
4
1
x
2
1 y = x−1
2
√
y = x
x
−2 2 4
√
y = − x
√
(a) f −1 (x) = x−1 (b) g −1 (x) = ± x
2
Nesta secção vamos introduzir algumas das funções que mais comummente se utilizam, tanto em Mate-
mática como nas outras ciências fundamentais e também nas aplicações. Estas funções são designadas
por funções elementares no sentido que se podem representar por uma soma nita de expressões designa-
tórias. Observemos que as funções que aqui iremos estudar são funções reais de variável real. Deixaremos
para outro capítulo o estudo das funções exponenciais e trigonométricas, bem como as suas inversas.
Funções polinomiais
Os exemplos mais simples de funções que começamos por estudar, englobam a grande classe de funções
a que habitualmente chamamos polinómios.
Denição 1.4.1. Um polinómio é uma função que é denida por uma equação da forma:
P (x) = an xn + an−1 xn−1 + · · · + a1 x + a0 ;
onde a0 , a1 , . . . , an ∈ R, com an 6= 0, e n ∈ N0 .
Como a equação acima faz corresponder um valor f (x) (ou P (x)) para cada valor de x, o domínio de f
é todo R. Contudo, o contra-domínio pode ser R ou qualquer seu subconjunto.
2014/2015 12 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 1. INTRODUÇÃO
Se n = 1, obtemos a conhecida função am, ou também designada função linear, f (x) = a1 x+a0 ,
que habitualmente se denota por
f (x) = ax + b.
O gráco da função am é uma recta de equação y = ax + b, onde a nos indica o declive da recta e a
ordenada na origem é b.
Tal como para qualquer polinómio, temos Df = R. Se a = 0, recuperamos a função am f (x) = ax + b.
Se a 6= 0, o problema maior que se nos coloca é como calcular os eventuais zeros da função quadrática.
Para este cálculo, tem muito interesse a relação seguinte entre os coecientes da função quadrática,
designada por discriminante:
4 = b2 − 4ac.
b 2 2
Se ∆ < 0, então a equação x + 2a = b 4a−4ac
é impossível em R, pelo que f não tem zeros. Caso
2
b 2 b 2 2
∆ = 0, temos x + 2a = 0 ⇔ x = − 2a . Se ∆ > 0, é possível resolver a equação x + 2a
b
= b 4a−4ac
2
2014/2015 13 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 1. INTRODUÇÃO
• o gráco da função quadrática (com a 6= 0) é uma parábola de eixo vertical e estritamente monótona
em qualquer um dos intervalos
b b
−∞, − e − , +∞ ;
2a 2a
b2
• o ponto de coordenadas − 2a b
, c − 4a é o ponto onde a função quadrática atinge o máximo ou o
mínimo e designa-se por vértice da parábola;
h
b2
• se a > 0, D0f = c − 4a , +∞ e a função atinge o seu mínimo (absoluto) no ponto x = − 2a b
de
b2
valor y = c − 4a . Neste caso, dizemos que o gráco da função tem a concavidade voltada para
cima;
i
b2
• se a < 0, D0f = −∞, c − 4a e a função atinge o seu máximo (absoluto) no ponto x = − 2a
b
de
b2
valor y = c − 4a . Neste caso, dizemos que o gráco da função tem a concavidade voltada para
baixo.
Funções racionais
No sentido mais abrangente possível, função racional é qualquer função em cuja expressão designatória
apenas estão envolvidas operações racionais. Assim, as funções polinomiais, que estudamos na secção
anterior, são os casos mais simples das funções racionais. A extensão natural das operações algébricas
entre números reais aos polinómios resulta, com excepção das divisões que não são exactas, na origem
de novos polinómios. À divisão de polinómios que não der outro polinómio, vamos designar por função
racional propriamente dita.
P (x) = a0 + a1 x + a2 x2 + · · · + an xn e Q(x) = b0 + b1 x + b2 x2 + · · · + bm xm ;
onde n e m são dois inteiros não negativos, não necessariamente iguais. À função R(x) = P (x)/Q(x),
que à luz da notação das funções, denotamos por
a0 + a1 x + a2 x2 + · · · + an xn
f (x) = ,
b0 + b1 x + b2 x2 + · · · + bm xm
designamos por função racional.
Como, em R, não sabemos dividir por 0, a função f (x) = P (x)/Q(x) para estar bem denida, isto é,
para ser uma função, tem de se garantir que Q(x) 6= 0. Deste modo, o domínio de f pode não ser todo
R. Mais exactamente,
Df = {x ∈ R : Q(x) 6= 0} ≡ x ∈ R : b0 + b1 x + b2 x2 + · · · + bm xm 6= 0 .
Os zeros da função racional são dados pelos zeros da função polinomial P (x) (numerador da fracção).
A função tem sinal positivo nos pontos x ∈ R tais que P (x) > 0 e Q(x) > 0, ou P (x) < 0 e Q(x) < 0.
Tem sinal negativo no caso contrário, isto é, quando P (x) e Q(x) têm sinais contrários.
2014/2015 14 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 1. INTRODUÇÃO
1 1
= n ⇔ xn1 = xn2 ⇔ x1 = n xn2 ⇔ x1 = x2 .
p
f (x1 ) = f (x2 ) ⇔ n
x1 x2
1 1
= n ⇔ xn1 = xn2 ⇔ x1 = ± n xn2 ⇔ x1 = ±|x2 |.
p
f (x1 ) = f (x2 ) ⇔ n
x1 x2
Pela análise do contra-domínio feita em a), conclui-se que a função não é sobrejectiva, seja
qual for o valor do inteiro não negativo n.
ldbel=() No caso de n ser par ou ímpar, a função é par ou ímpar, respectivamente, pois
1 − 1 = −f (x) se n é ímpar, ou
f (−x) = = xn
(−x)n 1
= f (x) se n é par
xn
lebel=() Quanto aos grácos, podemos fazer a representação de acordo com a Figura 1.4.
y y
1 1
x x
−1 1 −1 1
Funções inversas
Antes de introduzirmos as inversas das funções até agora estudadas, convém recordar que intimamente
ligada com a noção de função inversa está a noção de função injectiva. Denimos a função inversa
apenas de funções injectivas. No entanto, uma função poderá não ser injectiva em todo o seu domínio,
mas apenas em algum subconjunto estritamente contido no seu domínio. Neste caso, podemos restringir
a função a esse subdomínio e aí considerar a sua inversa.
2014/2015 15 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R Ficha de exercícios no 1
f (x) = y
em ordem a x. Como a função original é injectiva, a resolução desta equação, em ordem a x, dará
origem a uma única expressão designatória em função de y , expressão essa que será nada mais que a
expressão designatória da função inversa procurada. Como convencionamos o eixo dos xx como sendo o
das abcissas e o dos yy como o das ordenadas, convém fazer uma mudança da variável y para a variável
x e obtermos, assim, uma expressão designatória para f −1 (x).
A função constante f (x) = c não tem inversa, excepto se restringirmos o seu domínio a um único ponto.
No caso de polinómios de grau superior ou igual a 2, quando fazemos o mesmo procedimento para obter
as suas inversas, deparamo-nos com o problema de as funções encontradas eventualmente já não serem
funções racionais. Em muitos casos, as expressões designatórias das funções inversas vão fazer envolver,
não só operações racionais, mas também operações irracionais. Nestes casos, as funções encontradas
pertencem à grande classe de funções irracionais. Deste modo, as funções irracionais surgem por uma
necessidade de encontrar as inversas de funções racionais.
A função quadrática f (x) = x2 , é invertível em [0, +∞) e a expressão designatória da sua inversa é dada
por √
−1
f|[0,∞) (x) = x.
onde R(x) é uma função racional. Mais geralmente, designamos por função irracional qualquer função
cuja expressão designatória resulta de aplicarmos operações irracionais a uma ou mais das funções por
último referidas.
(a) Temos
√
se n é ímpar
x= ny
y = f (x) ⇔ xn = y ⇔ x = √
x=±ny se n é par.
√
Se n é ímpar, a função é invertível em todo o seu domínio e tem inversa denida por f −1 (x) = n x.
No caso de n ser par, a função é invertível apenas quando restringida a um√dos intervalos, (−∞,√ 0]
−1 −1
ou [0, ∞), sendo, nesses casos, as inversas denidas por f|(−∞,0] (x) = − n x ou f|[0,∞) (x) = n x,
respectivamente.
(b) Neste caso, os grácos das funções inversas são representados como na Figura 1.5.
2014/2015 16 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R Ficha de exercícios no 1
y y
y = xn
y = xn
√
1 y = nx
x
1
1 √
y = nx
x
1
√
y = − nx
1. Mostre que:
p
(a) x2 + 2px + q = 0 =⇒ x = −p ± p2 − q;
(b) Se x1 e x2 são as raízes da equação: ax2 + bx + c = 0, a 6= 0, então
b c
i. x1 + x2 = − e x1 x2 = (Fórmulas de Viéte)
a a
ii. ax2 + bx + c = a (x − x1 ) (x − x2 )
√
a2 − 4ab + 4b2 8ab 2b a
(c) √ − 2 + = , onde 0 < a < 2b;
a2 + 4ab + 4b2 a − 4b2 a − 2b 2b − a
√ r
x2 + 4x − 5 + (x − 5) x2 − 1 x−1
(d) √ = , onde x > 1;
2
x − 4x − 5 + (x + 5) x − 12 x+1
√
x+1 1
(e) √ √ : 2 √ = x − 1, onde x > 1;
x x+x+ x x − x
2. Determine os conjuntos de soluções das (in)equações seguintes:
3. Mostre que:
(a) |xn | = |x|n para todo n ∈ N;
(b) |x − y| ≥ ||x| − |y|| .
√
4. Determine f (0), f − 34 , f (−y) e f x1 no caso de f (x) = 1 + x2 .
5. Determine f (x + 1) e f x1 se f (x − 1) = x2 .
x + |x| 1 p
i(x) = ; j(x) = x2 + ; k(x) = x − |x| .
2 x
2014/2015 17 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R Ficha de exercícios no 1
11. Recorrendo apenas ao gráco de funções já conhecidas, esboce o gráco das funções seguintes,
assim como o das suas inversas no caso de existirem.
√
(a) f (x) = 2x − 5; x−2 (g) f (x) = x2 ;
3
(d) f (x) = ;
x+2
(b) f (x) = x3 − 3x + 2; 1 1
(e) f (x) = x + 2 ; (h) f (x) = (x + |x|);
x 2
1 1
(c) f (x) = ; (f) f (x) = x + ;
2
(i) f (x) = x4 − 2x + 5.
1−x x
12. Para as funções do exercício anterior e recorrendo simplesmente à análise dos seus grácos, indique,
caso existam, o conjunto de majorantes, de minorantes, o supremo, o ínmo, o máximo e o mínimo.
Soluções
(a) C.S.= {−3, 1}; (b) C.S.= (−1, 0); (c) C.S.= (0, ∞); (d) C.S.= {−2, 2}; (e) C.S.= −∞, 4
∪ (6, ∞); (f)
2:
√ 3
1+x2
C.S.= {−2, 1, 3}; f (0) = 1; f − 4 ; y2 ; ; f (x + 1) = (x + 2)2 ;
3
5
p 1
4: = 4
f (−y) = 1+ f x
= |x|
5:
2
(x+1)
f x = x2 ; 6: f (x) = − 53 x + 13 ; 7: f (x) = 76 x2 − 13
1
x + 1; 8: a) Df = R; Dg = (−2, 0); Dh = R \ {1};
6
Di = R; Dj = R \ {0}; Dk = [0, ∞); b) f e g não têm zeros; h(x) = 0 ⇔ x = −1; i(x) = 0 ⇔ −∞ < x ≤ 0;
j(x) = 0 ⇔ x = −1; k(x) = 0 ⇔ 0 ≤ x < ∞. 9: Pares: g e j ; Ímpares: p i e k; 10: a) p
Injectivas: f , g , h, i, k;
√
Sobrejectivas: f , h, i; b) xf = y−3
2
; x g = 2
y
, y 6
= 0; x h = 3 y; x = 3 1 − y3 ; x =
i j 4 − y 2 para y ∈ [0, 2],
xj = − 4 − y 2 para y ∈ [−2, 0] ; xk = y−1 , .
p
y+1
y 6
= 1
2014/2015 18 c HBO
Capítulo 2
Sucessões numéricas
Neste capítulo, vamos considerar um caso particular de funções reais de variável real que, pela sua
importância em todas as áreas da Matemática, merece ser estudado num capítulo à parte.
2.1 Introdução
Denição 2.1.1 (Sucessão numérica). Uma sucessão numérica innita de termos reais é uma função
de variável natural e com valores reais. Usando a escrita habitual para as funções, uma sucessão,
digamos f , escreve-se da forma seguinte:
f: N −→ R
n 7→ f (n).
Por simplicidade de escrita, iremos designar uma sucessão innita de termos reais apenas por sucessão.
O conjunto de partida da sucessão poderá ser qualquer subconjunto do conjunto dos naturais N =
{1, 2, 3, . . . } ou, ainda, o conjunto dos inteiros não negativos N0 = {0, 1, 2, 3, . . . }. Os valores
f (1), f (2), . . . , f (n), . . .
designam-se por termos da sucessão: primeiro termo, segundo termo, . . . , n-ésimo termo, . . . . O
contra-domínio da função f designa-se por conjunto dos termos da sucessão. Habitualmente, os
termos da sucessão são denotados por letras indexadas nos números naturais. Por exemplo, podemos
denotar os termos da sucessão escrita acima por
u1 , u2 , . . . , un , . . . .
Chama-se termo geral da sucessão à expressão designatória f (n) e, usando a mesma notação indexada,
é habitual denotá-lo por un . Cada termo de uma sucessão, digamos un , tem um termo sucessor, un+1 ,
e, assim, podemos dizer que não existe um último termo da sucessão. As operações algébricas habituais
dos números reais estendem-se naturalmente às sucessões. A soma e diferença de duas sucessões un
e vn denem-se, respectivamente, por:
(u + v)n = un + vn e (u − v)n = un − vn .
O produto e quociente de duas sucessões un e vn denem-se, respectivamente, por:
u un
(u v)n = un vn e = (vn 6= 0 ∀ n ∈ N) .
v n vn
19
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
exemplo, a sucessão cujos três primeiros termos são 1, 3, 5, é escrita do modo seguinte:
1, 3, 5, . . . .
• Fórmula. A forma mais comum para designar uma sucessão, consiste em indicar uma fórmula por
meio da qual se pode obter, para cada natural n, o correspondente n-ésimo termo. Por exemplo, a
fórmula
1
un = , n ∈ N,
n
permite-nos obter a sucessão seguinte de termos ordenados:
1 1
1, , , ... .
2 3
A fórmula
vn = 1, n ∈ N,
representa a sucessão constante com todos os termos iguais a 1, e que, ordenada, se escreve
1, 1, 1, . . . , 1, . . . .
Por vezes, duas ou mais fórmulas podem ser indicadas para designar uma sucessão. Por exemplo,
1
2 se n = 2k − 1
un = n
se n = 2k ,
2
n
onde k ∈ N, dene a sucessão cujos oito primeiros termos ordenados são
1 1 1
1, 4, , 16, , 36, , 64, . . . .
9 25 49
Isto é, a sucessão cujos quatro primeiros termos de ordem ímpar (2k − 1) são
1 1 1
1, , , , ...
9 25 49
e os quatro primeiros termos de ordem par (2k ) são
4, 16, 36, 64, . . . .
• Recorrência. Outra forma de designar uma sucessão, consiste em indicar as instruções de como
obter os termos sucessores conhecido um ou mais dos primeiros termos. Por exemplo, as fórmulas
u1 = u2 = 1, un+1 = un + un−1 , n ∈ N,
denem a sucessão (de Fibonacci1 ) cujos oito primeiros termos ordenados são
1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, . . . .
Uma sucessão determinada por este processo, diz-se uma sucessão denida por recorrência.
Por simplicidade de escrita, denota-se qualquer sucessão por un , qualquer que seja a forma por que é
denida.
2014/2015 20 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
Exemplo 2.1.1. Fazer a representação gráca dos seis primeiros termos da sucessão
(−1)n
un = , n ∈ N.
n
un
1
n
1 2 4 6
−1
Se
(1) P (n) é vericada para n = 1;
(2) P (n) sendo vericada para n = k implicar ser também vericada para o seu sucessor
n = k + 1, com k > 1;
então a armação P (n) é válida para todo o natural n.
O passo 1, em que se estabelece a propriedade para o primeiro dos números naturais, designa-se por base
de indução. O passo 2 designa-se por passo de indução, em que se estabelece que, caso a propriedade
se verique, para um número natural k (hipótese de indução) então ela também é vericada para o
número natural seguinte, k + 1 (tese de indução). A validade de P (n) para todos os números naturais,
depende essencialmente da possibilidade em provar que a observação da propriedade num natural n = k
implica a vericação da mesma propriedade para o natural seguinte, n = k + 1 (passo de indução). Se
isso suceder, podemos então concluir a veracidade de P (n) para todos os números naturais desde que o
primeiro deles (o número 1) a verique. Na realidade, a validade da propriedade para o primeiro natural
(base de indução) implica a sua validade para o segundo (o número 2) e deste para o terceiro (o número
3), e assim sucessivamente, cobrindo-se deste modo a totalidade dos naturais, como peças de um dominó
em linha, em que as quedas das sucessivas peças são provocadas umas a partir das outras após a queda
da primeira peça. Por vezes, certas armações P (n) só são vericadas a partir de um número natural
n1 > 1. Neste caso, temos de substituir, no passo 1, "P (n) é vericada para n1 ". De um modo sucinto,
podemos enunciar o Princípio de Indução Matemática na forma seguinte.
2014/2015 21 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
Exemplo 2.2.1. Mostrar que para todo o natural n a igualdade seguinte é vericada:
1 + 3 + 5 + · · · + 2n − 1 = n2 . (2.2.1)
1 + 3 + 5 + · · · + 2n − 1 + 2(n + 1) − 1 = n2 + 2n + 1 = (n + 1)2 .
Assim, podemos concluir, pelo Princípio de Indução Matemática, que (2.2.1) é vericada para todo
o natural n.
(2.2.2)
n
X n!
= an−k bk . (2.2.3)
k!(n − k)!
k=0
Suponhamos, agora, que a fórmula (2.2.2) é válida para um certo n ∈ N (hipótese de indução) e a partir
daqui tentemos mostrar que também é válida para o seu sucessor n+1 (tese). Temos então, pela hipótese
de indução,
n n
X n! X n!
(a + b)n+1 =(a + b)(a + b)n = an+1−k bk + an−k bk+1
k!(n − k)! k!(n − k)!
k=0 k=0
n n
X n! X n!
= an+1−k bk + a(n+1)−(k+1) bk+1
k!(n − k)! k![(n + 1) − (k + 1)]!
k=0 k=0
n n+1
X n! X n!
=an+1 + an+1−k bk + a(n+1)−k bk
k!(n − k)! (k − 1)![(n + 1) − k]!
k=1 k=1
n
X n! n!
=an+1 + + an+1−k bk + bn+1
k!(n − k)! (k − 1)![(n + 1) − k]!
k=1
2 Isaac Newton (1642-1726), físico, matemático, astrónomo e teólogo natural de Lincolnshire, Inglaterra.
2014/2015 22 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
n+1
X (n + 1)!
= an+1−k bk .
k![(n + 1) − k]!
k=0
n! n! (n + 1)!
+ = ,
k!(n − k)! (k − 1)![(n + 1) − k]! k![(n + 1) − k]!
Um forma prática de se expandir o binómio (a + b)n , consiste em usar o conhecido Triângulo de Pascal3
triângulo de números naturais em que cada linha n, a começar em n = 0, representa os coecientes
do binómio (a + b)n . O triângulo é limitado por 1 nos lados direito e esquerdo, e cada entrada interior
é a soma das duas entradas imediatamente acima. Este triângulo foi popularizado por Pascal nos seus
trabalhos de Cálculo Combinatório, mas existem evidências de que já era conhecido centenas, ou mesmo
milhares, de anos antes por diversas civilizações, como na Antiga Índia, na China Medieval e na Idade de
Ouro Islâmica, até chegar à Itália por volta do Renascimento. Por exemplo, a última linha do Triângulo
de Pascal da Figura 2.1, permite-nos conhecer, de uma forma muito rápida, todos os coecientes da
expansão do polinómio (a + b)8 em potências de a e b:
(a + b)8 = 1 a8 + 8 a7 b + 28 a6 b2 + 56 a5 b3 + 70 a4 b4 + 56 a3 b5 + 28 a2 b6 + 8 ab7 + 1 b8 .
1 1
1 2 1
1 3 3 1
1 4 6 4 1
1 5 10 10 5 1
1 6 15 20 15 6 1
1 7 21 35 35 21 7 1
1 8 28 56 70 56 28 8 1
Outro resultado importante, que se pode demonstrar por indução matemática, é a Desigualdade de
Bernouli4 .
(1 + x)n ≥ 1 + nx . (2.2.4)
3 Blaise Pascal (1623-1662), físico, matemático, lósofo e teólogo, natural de Clermont-Ferrand, França.
4 Jacob Bernoulli (1655-1705), matemático natural de Basileia, Suiça, pertencente a uma família de vários matemáticos
talentosos.
2014/2015 23 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
Demonstração: Para n = 1, é imediato. Suponhamos que a fórmula (2.2.4) é válida para um determi-
nado n ∈ N (hipótese de indução) e a partir daqui tentemos mostrar que também é válida para o seu
sucessor n + 1 (tese). Temos, pela hipótese de indução,
Na verdade, a Desigualdade de Bernoulli é estrita para a maioria dos casos, com excepção de x = 0,
n = 0 e n = 1.
Outra aplicação do Princípio de Indução Matemática reside na conhecida desigualdade da média. Se a1 ,
a2 , . . . , an são números reais não negativos, denimos a média geomégtrica de a1 , a2 , . . . , an por
v
u n
uY
n
Mg := t ai ,
i=1
Suponhamos então que os ai não são todos iguais e usemos indução matemática. Considermos para base
de indução n = 2, pois para n = 1 a (des)igualdade é óbvia. Trata-se então de mostrar que
√ a1 + a2 √ √ 2
a1 a2 ≤ ⇔ ( a1 − a2 ) ≥ 0,
2
o que é verdade, pois estamos a admitir que a1 6= a2 .
Suponhamos agora que a desigualdade é válida para Pum certo n > 2 e tentemos mostrar que também
n+1
vale para o seu sucessor n + 1. Denindo Ma := n+1
1
i=1 ai , sabemos que
min ai ≤ Ma ≤ max ai ,
i∈{1,...,n,n+1} i∈{1,...,n,n+1}
sendo as desigualdades estritas no (nosso) caso dos ai não serem todos iguais. Sem perda de generalidade,
podemos supor que a1 = mini∈{1,...,n,n+1} ai e an+1 = maxi∈{1,...,n,n+1} ai , pelo que
a1 < Ma < an+1 ⇒ (a1 − Ma )(Ma − an+1 ) > 0 ⇔ a1 an+1 < Ma (a1 + an+1 − Ma ). (2.2.5)
2014/2015 24 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
Então Ma é também a média aritmética dos n números a2 ,. . . , an , ãn+1 , onde ãn+1 = a1 + an+1 − Ma .
Por hipótese de indução, temos
v
u n
Y
u
n
t (a1 + an+1 − Ma ) ai ≤ Ma .
i=2
Denição 2.3.1 (Progressão aritmética). Uma progressão aritmética é uma sucessão cuja fórmula
para o seu termo geral é
un = u1 + (n − 1)r, n ∈ N,
onde r 6= 0 é uma constante conhecida que se designa por razão.
Este tipo de sucessões caracteriza-se por a diferença de quaisquer dois dos seus termos sucessivos ser
constante:
un+1 − un = r ∀ n ∈ N (r = constante 6= 0).
Deste modo, podemos denir tal sucessão por recorrência:
u1 = a
un+1 = un + r;
un
5
4
3
2
1
n
1 2 3 4 5 6
Proposição 2.3.1. A soma Sn dos primeiros n termos de uma progressão aritmética un é dada
por
u1 + un
Sn = × n. (2.3.7)
2
2014/2015 25 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
Demonstração: Seja un uma progressão aritmética. Então existem a, r ∈ R, com r 6= 0, tais que
Exemplo 2.3.1. Calcular a soma, S100 , dos primeiros 100 termos da progressão aritmética un = n,
com n ∈ N.
Resolução: De facto, un é uma progressão aritmética de razão r = 1 já que un+1 −un = n+1−n =
1. Assim, por (2.3.7), temos
u1 + u100 1 + 100
S100 = × 100 = × 100 = 5050 .
2 2
Denição 2.3.2 (Progressão geométrica). Uma progressão geométrica é uma sucessão cuja fórmula
para o seu termos geral é
un = u1 rn−1 , n ∈ N,
onde r 6= 1 é uma constante conhecida que se designa por razão.
Esta sucessão caracteriza-se por o quociente entre quaisquer dois dos seus termos sucessivos ser constante:
un+1
=r ∀ n ∈ N (r = constante 6= 1).
un
Podemos, assim, denir tal sucessão também por recorrência:
u1 = a
un+1 = un r;
2014/2015 26 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
un
1
3
1
9
1
27 n
1 2 3 4 5
Proposição 2.3.2. A soma Sn dos primeiros n termos de uma progressão geométrica un de razão
r 6= 1 é dada por
1 − rn
Sn = u1 . (2.3.10)
1−r
Demonstração: Seja un uma progressão geométrica. Então existem a, r ∈ R, com r 6= 1, tais que
= a − arn = u1 (1 − rn )
1 − rn
⇔ Sn = u1 ,
1−r
o que conclui a demonstração.
Exemplo 2.3.2. Calcular a soma dos primeiros 100 termos da progressão geométrica
n
1
un = , n ∈ N.
2
1
Resolução: A sucessão un é uma progressão geométrica de razão r = 2n+1
1 = 2.
1
Assim, de
2n
(2.3.10), temos
100
1 − r100 1 1 − 21 1
S100 = u1 × = × 1 = 1 − 100 .
1−r 2 1− 2 2
∃ L ∈ R : un ≤ L ∀ n ∈ N.
2014/2015 27 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
Uma sucessão diz-se minorada, se o conjunto dos seus termos for minorado, isto é, se existir um real
menor ou igual do que todos os termos da sucessão. Ou seja, un é uma sucessão minorada, se
∃ l ∈ R : un ≥ l ∀ n ∈ N.
∃ L, l ∈ R : l ≤ un ≤ L ∀ n ∈ N. (2.4.12)
(a) un = n, n ∈ N; 1
(b) vn = , n ∈ N.
n
Resolução: (a) A sucessão un é minorada, pois un ≥ 1 para todo o natural n. No entanto, não é
majorada, porque un+1 = n + 1 > n = un para qualquer natural n. Deste modo, un será tão grande
quanto se queira. Assim sendo, a sucessão un não é limitada.
(b) A sucessão vn é minorada, porque trivialmente se tem vn = n1 > 0 para todo o natural n. Por
outro lado, também é majorada já que vn = n1 ≤ 1 para todo n ≥ 1. Deste modo, concluímos que
a sucessão vn é limitada.
∃ C ∈ R+ : |un | ≤ C ∀ n ∈ N. (2.4.13)
Demonstração: Suponhamos que un é limitada. Sendo C = max{|l|, |L|}, concluímos facilmente que
(2.4.12) implica (2.4.13). Reciprocamente, se (2.4.13) é vericada, então
−C ≤ un ≤ C ∀ n ∈ N.
2.4.2 Monotonia
Uma sucessão diz-se monótona crescente, se qualquer dos seus termos for menor ou igual do que o seu
sucessor. Diz-se que uma sucessão é monótona decrescente, se qualquer dos seus termos for maior ou
igual do que o seu sucessor. Uma sucessão diz-se, apenas, monótona, se for monótona crescente ou
decrescente.
2014/2015 28 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
No caso de termos
un < un+1 ∀ n ∈ N,
dizemos que un é uma sucessão monótona estritamente crescente. Se
un > un+1 ∀ n ∈ N,
diz-se que un é uma sucessão monótona estritamente decrescente. Quando houver necessidade de
fazer distinção, iremos referir-nos à monotonia da denição anterior como sendo em sentido lato. As
sucessões que não são monótonas, podem ser constantes ou oscilantes. Convém referir que, por vezes,
a monotonia ou não de uma sucessão só se descortina após um número nito de termos. Neste caso,
diremos que a sucessão é monótona a partir do termo da ordem (número natural, digamos p) em que se
verica a condição da denição. Em termos práticos, para se estudar a monotonia de uma dada sucessão,
determinamos a diferença
un+1 − un
e comparamo-la com 0. Se for maior do que 0, é monótona crescente, caso contrário é monótona decres-
cente. Existem casos em que se torna mais fácil determinar o quociente
un+1
un
e compará-lo com 1. Obviamente, aqui, este quociente só é possível se un 6= 0 para todo n ∈ N. Nesses
casos, a sucessão é crescente se o quociente anterior for maior do que 1 e decrescente se for menor. Esta
forma de estudar a monotonia é mais indicada para progressões geométricas, enquanto que a anterior é
mais apropriada para progressões aritméticas.
(a) un = 2n − 1, n ∈ N; 1
(b) vn = , n ∈ N.
n2
2.4.3 Subsucessão
Uma subsucessão é uma sucessão cujo conjunto dos seus termos é um subconjunto do conjunto dos termos
de dada sucessão. Para a denição de subsucessão, necessitamos de introduzir o conceito de composição
de sucessões, que é um caso particular da composição de funções. Sejam un e vn duas sucessões, a última
das quais de termos naturais. Dene-se a composição das sucessões un e vn como sendo a sucessão
(u ◦ v)n que tem por termo de ordem k o termo de ordem vk (repare que vn é uma sucessão de termos
naturais) da sucessão un . Ou seja,
(u ◦ v)k = uvk .
2014/2015 29 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
Denição 2.4.3 (Subsucessão). Sejam un uma sucessão de termos reais e kn uma sucessão de
termos naturais estritamente crescente. A sucessão composta (u ◦ k)n designa-se por subsucessão
da sucessão un e o seu termo geral é denotado por ukn .
Dada uma sucessão qualquer un de termos reais, podemos considerar sempre as subsucessões seguintes.
vn = un .
vn = u2n
vn = u2n−1 .
Ou seja, podemos também sempre considerar a subsucessão dos termos de ordem ímpar.
Resolução: Uma observação rápida, permite-nos separar esta sucessão nas duas subsucessões:
1 1 1 1 1
−1, − , − , . . . e , , ,... .
3 5 2 4 6
Para encontrarmos os termos gerais destas subsucessões, consideremos primeiro as subsucessões dos
naturais ímpares e dos naturais pares, que são estritamente crescentes:
nk = 2k − 1, k∈N e mk = 2k, k ∈ N.
(−1)nk 1 1 1
unk = (u ◦ n)k = =− para os termos − 1, − , − , . . . ;
nk 2k − 1 3 5
(−1)mk 1 1 1 1
umk = (u ◦ m)k = = para os termos , , ,...;
mk 2k 2 4 6
onde k ∈ N.
2.5 Convergência
2014/2015 30 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
A quanto se queira. Convém ressalvar aqui o caso em que A é innito e a proximidade de innito ser
sempre um abuso de linguagem. Abreviadamente, podemos escrever
un −→ A.
No caso de A ser nito, isto é, um número real, dizemos que a sucessão un converge.
A denição de sucessão convergente anterior, pode ser traduzida do modo seguinte: a partir de certa
ordem (n > p) os termos da sucessão vão estar tão próximos do limite (|un − a| < ε) quanto se queira
(∀ ε). Para percebermos melhor
√ este conceito, consideremos a sucessão de números racionais seguinte
que aproxima o irracional 2:
u0 = 1
u1 = 1.4
u2 = 1.41
u3 = 1.414
u4 = 1.4142
u5 = 1.41421
u6 = 1.414213
u7 = 1.4142135
u8 = 1.41421356
u9 = 1.414213562
···
Escolhendo ε = 10−4 , determinemos, para este ε, a partir de que ordem p a denição anterior se verica.
Resolvendo, temos √
|un − 2| < 10−4 ⇔ un ≥ 1.41421 ⇒ n ≥ 5 .
Deste modo, para o valor de ε = 10−4 , a denição anterior verica-se a partir da ordem p = 5 inclusive
(n ≥ 5). Apesar de ser um indicativo, isto não prova nada. O importante é que para cada ε > 0 que se
escolha, consigamos sempre encontrar uma ordem p a partir da qual a denição anterior seja vericada.
2014/2015 31 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
As sucessões que não são convergentes dizem-se divergentes. Caso particularmente importante das
sucessões divergentes são aquelas que tendem para +∞ ou para −∞. Uma sucessão tende para +∞,
se, a partir de certa ordem, os seus termos são tão grandes quanto se queira. De modo análogo, uma
sucessão tende para −∞, se, a partir de certa ordem, os seus termos são tão pequenos quanto se queira.
Uma sucessão un designa-se por um innitamente grande positivo, se tender para +∞:
un −→ +∞.
2014/2015 32 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
un −→ 0.
O limite de uma subsucessão de uma sucessão é designado por sublimite dessa sucessão.
Denição 2.5.3. O maior dos sublimites de uma sucessão un designa-se por limite superior e
denimo-lo por:
lim sup un = sup{a : a é sublimite de un }.
n→+∞
O menor dos sublimites de uma sucessão un designa-se por limite inferior e denimo-lo por:
lim inf un = inf{a : a é sublimite de un }.
n→+∞
Resulta da denição anterior que, para qualquer sucessão un , no caso de existirem os sublimites,
Tal como para o limite de uma sucessão, podemos, também, estender as noções de limite superior e
inferior a +∞ e a −∞. Isto acontece no caso em que o conjunto dos sublimites da sucessão não é
majorado ou não é minorado, respectivamente.
(−1)n n
un = .
n+1
2.5.2 Propriedades
A armação da proposição seguinte diz-nos que o limite de uma sucessão, a existir, é único.
lim un = a ∧ lim un = b,
n→+∞ n→+∞
2014/2015 33 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
então a = b.
Demonstração: Suponhamos que un era uma sucessão convergente simultaneamente para a e b, núme-
ros reais. Então, por denição, teríamos
|a − b| ≤ 0 ⇒ a − b = 0 ⇔ a = b,
Demonstração: Seja un uma sucessão convergente, digamos para a ∈ R. Então de (2.5.14) sai que
para todo n > p
a − ε < un < a + ε.
Consideremos o conjunto dos p primeiros termos de un , {u1 , u2 , . . . , up }, e sejam
m := min{u1 , u2 , . . . , up }, M := max{u1 , u2 , . . . , up }.
min{a − ε, m} ≤ un ≤ max{a + ε, M },
Resolução: É imediato que un é limitada, pois |un | = |(−1)n | = 1 para todo n ∈ N. A divergência
resulta do facto da subsucessão dos termos ímpares tender para −1 e a dos termos pares tender
para 1:
un = −1 se n = 2k − 1 e un = 1 se n = 2k ,
para k ∈ N.
• se un é crescente, então
lim un = sup{un : n ∈ N};
n→+∞
• se un é decrescente, então
lim un = inf{un : n ∈ N}.
n→+∞
2014/2015 34 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
Demonstração: Seja un uma sucessão monótona e limitada. Admitamos, primeiro, que un é monótona
crescente. Então, usando a monotonia crescente e o facto de un ser limitada, podemos denir
a := sup{un : n ∈ N}.
Exemplo 2.5.5. Usando a proposição anterior, mostrar que a sucessão seguinte é convergente e
calcular o seu limite:
u1 = 1 √
un+1 = 2 + un .
Resolução: 1. Comecemos por mostrar que un é limitada. Uma observação mais atenta permite
sugerir que
1 ≤ un < 2 ∀ n ∈ N .
Mostremos que de facto isto acontece, fazendo uso do Princípio de Indução Matemática. Para
n = 1, temos trivialmente que 1 = u1 < 2. Suponhamos que para n arbitrário se tem 1 ≤ un < 2
(hipótese de indução) e mostremos que então também se tem 1 ≤ un+1 < 2 (tese de indução). Para
isto, observamos que, pela hipótese de indução, se tem
√ √
p q q
1 < un+1 = 2 + un+1 = 2 + 2 + un < 2 + 2 + 2 = 2 ,
como pretendido.
2. Mostremos agora que un é monótona crescente, i.e. que
√
un+1 ≥ un ⇔ 2 + un ≥ un ∀ n ∈ N.
Para tal, façamos un = θn + 1. Como 1 ≤ un < 2, então 0 < θn < 1 para todo o natural n. Ora,
temos √
2 + un ≥ un ∧ un = θn + 1 ⇒ 2 + un ≥ u2n ⇔ 2 ≥ (θn + 1)θn ,
o que é verdade, pois 0 < θn < 1. Assim,
√ √
2 + un ≥ u2n ⇔ − 2 + un ≤ un ≤ 2 + un .
A armação recíproca da proposição anterior é falsa, pois existem sucessões convergentes que não são
monótonas.
2014/2015 35 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
Exemplo 2.5.6. Mostrar que a sucessão seguinte é convergente, mas não é monótona:
(−1)n
un = .
n
Proposição 2.5.4. Uma sucessão un é convergente se e só se qualquer sua subsucessão unk converge
para o mesmo limite.
Demonstração: Suponhamos que un é uma sucessão convergente, digamos para a ∈ R. Seja unk uma
subsucessão de un . Então nk é uma subsucessão de naturais estritamente crescente, pelo que nk ≥ k
para todo k ∈ N. Usando (2.5.14), juntamente com o facto de unk ser uma subsucessão de un , temos
Observe-se que, pela proposição anterior, se uma sucessão tem, pelo menos, duas subsucessões com
limites diferentes, então é divergente. Depois do resultado anterior, levanta-se a questão de saber em que
condições uma sucessão tem subsucessões convergentes.
Proposição 2.5.5. Seja un uma sucessão (de termos reais). Então existe, pelo menos, uma sub-
sucessão unk monótona.
Demonstração: Suponhamos, primeiro, que existem innitos naturais n1 < n2 < n3 < · · · < nk < . . .
tais que, para cada j = 1, . . . , k , unj é maior que qualquer termo na sucessão, i.e.
Então a subsucessão unj é monótona decrescente. Suponhamos, agora, que existe apenas uma quantidade
nita de naturais n1 < n2 < · · · < nN nas condições anteriores. Seja m1 = N + 1. Então, como m1 > N ,
existe m2 > m1 com um2 > um1 . Novamente, como m2 > N , existe m3 > m2 com um3 > um2 .
Repetindo este processo, leva-nos a uma subsucessão (innita) crescente umj como desejado.
Proposição 2.5.6. Seja un uma sucessão limitada. Então un tem, pelo menos, uma subsucessão
unk convergente.
Demonstração: Se un é uma sucessão limitada, então qualquer sua subsucessão também é limitada.
Pela Proposição 2.5.5, sabemos que de un podemos extrair uma subsucessão unk monótona. Então,
sendo unk monótona e limitada, pela Proposição 2.5.3, unk é convergente.
2014/2015 36 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
O resultado da proposição anterior é, por vezes, designado por Teorema de Bolzano5 -Weierstrass6 . Daqui,
resulta que é condição necessária e suciente para uma sucessão limitada un convergir que
−1 , quando n é ímpar
O signicado desta denição é o de que a partir de certa ordem, digamos p (m, n ≥ p), os termos
correspondentes da sucessão (um e un ) estarão tão próximos (|um − un | < ε) quanto se queira (∀ε > 0).
Observe-se que nada se diz sobre a relação de ordem entre m e n.
Tal como para as sucessões convergentes, a proposição abaixo mostra que toda a sucessão de Cauchy é
limitada.
2014/2015 37 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
Em particular,
n > p ⇒ |un | = |up + (un − up )| ≤ |up | + |un − up | < |up | + 1.
Assim, para todo n ∈ N temos
A grande utilidade da noção de sucessão de Cauchy, é provar, de um modo mais simples, que uma dada
sucessão é convergente. O resultado estabelecido na proposição seguinte é, pois, esperado.
Demonstração: Seja un uma sucessão convergente. Então, de (2.5.14), temos para todo m > p e todo
n>p
|um − un | = |um − a − (un − a)| ≤ |um − a| + |un − a| ≤ 2ε.
Portanto, (2.5.18) é vericada e, assim, un é uma sucessão de Cauchy.
Reciprocamente, se un é uma sucessão de Cauchy, vem de (2.5.18) que
ε
∀ ε > 0 ∃ p1 ∈ N : m, n ≥ p ⇒ |um − un | < .
2
Por outro lado, pela Proposição 2.5.7, un é limitada e, pela Proposição 2.5.6, un tem, pelo menos, uma
subsucessão, digamos unk , convergente para algum u ∈ R. Logo
ε
∀ ε > 0 ∃ p2 ∈ N : k ≥ p ⇒ |unk − u| < .
2
Tomemos, agora, p = max{p1 , p2 } e observemos que
Então
ε ε
k > p ⇒ |un − u| ≤ |un − unk | + |unk − u| ≤ + = ε,
2 2
o que mostra que (2.5.14) é vericada e, portanto, un é convergente.
Dada a equivalência entre as noções de sucessão convergente e de sucessão de Cauchy, por vezes a denição
de sucessão de Cauchy é designada por Princípio Geral de Convergência de Cauchy. Existem mesmo
muitos autores que falam de denição de sucessão convergente no sentido de Cauchy. Neste sentido, e
para a distinguir, a primeira (Denição 2.5.1) é designada por noção de sucessão convergente no sentido
de Heine8 . O exemplo seguinte mostra-nos a grande utilidade da noção de sucessão de Cauchy.
Exemplo 2.5.9. Usando a noção de sucessão de Cauchy, mostrar que a sucessão seguinte é diver-
gente:
1 1
sn = 1 + + ··· + .
2 n
2014/2015 38 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
Assim, a distância entre os termos sn e s2n nunca será menor do que 21 , independentemente da
ordem n que se considere. Deste modo, (2.5.18) não é satisfeita para valores de ε : 0 < ε ≤ 12 e para
m = 2n, pelo que a sucessão sn não é de Cauchy e, por consequência, não converge.
Esta proposição tem uma grande aplicação prática no cálculo de limites. Essa aplicação é mais visível
na utilização do seguinte resultado também conhecido por Princípio do Encaixe.
lim un = a = lim xn , a ∈ R,
n→+∞ n→+∞
então vn é convergente e
lim vn = a.
n→+∞
Demonstração: Se un e xn são duas sucessões convergentes, ambas para a, temos, por (2.5.15),
∀ ε > 0 ∃ p1 ∈ N : n > p1 ⇒ a − ε < un < a + ε,
∀ ε > 0 ∃ p2 ∈ N : n > p2 ⇒ a − ε < xn < a + ε.
Suponhamos que
∃ p3 ∈ N : n > p3 ⇒ un ≤ vn ≤ xn .
Denindo p := max{p1 , p2 , p3 }, temos pelo exposto acima
n > p ⇒ a − ε < un ≤ vn ≤ xn < a + ε ⇒ |vn − a| < ε.
Pela denição (2.5.14), sai que vn é uma sucessão convergente para a.
2014/2015 39 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
Exemplo 2.5.10. Usando o critério anterior, mostrar que a sucessão seguinte é convergente e
calcular o seu limite:
1 1
un = 2 + ··· + 2 .
n +1 n +n
O resultado da Proposição 2.5.9 pode estender-se, em determinadas condições, ao caso em que os limites
são innitos
Proposição 2.5.11 (Critério de Comparação). Sejam un e vn sucessões tais que, a partir de certa
ordem, un ≤ vn .
∃ p1 ∈ N : n > p1 ⇒ un ≤ vn .
Exemplo 2.5.11. Usando o critério anterior, mostre que a sucessão un = 2(n + 1)2 tende para
+∞.
2014/2015 40 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
O resultado seguinte diz-nos que a armação recíproca da Proposição 2.5.9 também é válida.
lim un ≤ lim vn .
n→+∞ n→+∞
n > p ⇒ un − vn = un − a + (a − vn ) ≤ un − a + (b − vn )
≤ |un − a| + |vn − b| < 2ε.
A proposição seguinte diz-nos que o produto de um innitésimo por uma sucessão limitada é, ainda, um
innitésimo.
Proposição 2.5.13. Sejam un uma sucessão limitada e vn uma sucessão convergente tal que
lim vn = 0.
n→+∞
lim un vn = 0.
n→+∞
Demonstração: Suponhamos que vn é uma sucessão convergentes para 0. Então de (2.5.14) sai que
Por outro lado, se un é uma sucessão limitada, podemos conjugar a armação anterior com (2.4.13) para
obter
n > p ⇒ |un vn | = |un ||vn | ≤ C|vn | < Cε.
Como Cε é arbitrário, acabamos de mostrar que un vn converge para 0.
Exemplo 2.5.12. Usando a proposição anterior, mostrar que a sucessão seguinte é um innitésimo:
(−1)n
un = .
n
2014/2015 41 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
Como (−1)n é uma sucessão limitada, já que |(−1)n | ≤ 1 para todo o natural n, e, pelo Exem-
plo 2.5.1, n1 −→ 0 quando n → +∞, sai da proposição anterior que limn→+∞ un = 0.
Denição 2.6.1 (Recta acabada). Dene-se a recta acabada e denota-se por R como sendo o
conjunto seguinte:
R = R ∪ {−∞, +∞}.
Com a introdução da recta acabada R, torna-se necessário denir as operações algébricas entre os ele-
mentos desse conjunto. Se os elementos de R forem ainda reais, isto é elementos de R, as operações são
como habitualmente.
Nos casos em que o expoente b é um natural, a potenciação não é mais do que uma multiplicação repetida.
As potências entre números reais denem-se como habitualmente. No caso em que intervêm os elementos
2014/2015 42 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
+∞ e −∞, temos:
se 0 ≤ a < 1 +∞ se 0 ≤ a < 1
+∞ 0 −∞ 1
a = ; a = = ;
+∞ se a > 1 a+∞ 0 se a > 1
se b < 0
b 0
(+∞) =
+∞ se b > 0.
2.6.2 Indeterminações
Pelo exposto acima, verica-se a existência de omissões na denição das operações algébricas entre alguns
elementos de R. Em R já conhecemos as situações seguintes em que as operações não estão denidas:
0
e 00 .
0
Em R, quando não for possível determinar uma operação, diremos que estamos perante uma indeter-
minação.
• ∞−∞
+∞ + (−∞) = +∞ − ∞, +∞ − (+∞) = +∞ − ∞;
• 0×∞
0 × (+∞), 0 × (−∞);
• 1∞
1
1+∞ , 1−∞ = ;
1+∞
• ∞0
(+∞)0 .
Existem outras indeterminações, mas que poderão ser analisadas como casos particulares dos dados na
denição anterior. Esses casos, são as indeterminações dos tipos:
∞
•
∞
∞ 1
= × ∞ = 0 × ∞;
∞ ∞
0
• - já existente em R
0
0 1
= 0 × = 0 × ∞;
0 0
• 00 - já existente em R
0
1 1
00 = = .
+∞ (+∞)0
Convém referir que, como sai da parte nal da secção anterior, não são indeterminações os casos parti-
culares seguintes:
1 1
0+∞ = 0, 0−∞ = +∞ = = +∞;
0 0
1 1
(+∞)+∞ = +∞; (+∞)−∞ = +∞
= = 0.
(+∞) +∞
2014/2015 43 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
lim un = a e lim vn = b.
n→+∞ n→+∞
Demonstração: Suponhamos que un e vn são sucessões convergentes para números reais a e b, respec-
tivamente. Então, por (2.5.14), temos:
(1) Se α e β forem ambos zero, é imediato. Suponhamos então que, pelo menos, um deles, α ou β , é
diferente de zero. Temos assim, para p := max{p1 , p2 },
n > p ⇒ |αun + βvn − (αa + βb)| ≤ |α| |un − a| + |β| |vn − b| < ε
(2) Neste caso, sabemos, pela Proposição 2.5.2, que as sucessões un e vn são limitadas. Então, pela
Proposição 2.4.1, existem constantes positivas Ca e Cb tais que |un | ≤ Ca e |vn | ≤ Cb para todo n ∈ N.
Consideremos também o caso em que a e b são diferentes de zero, pois se a = b = 0, é imediato. Temos
assim, para o mesmo natural p denido em (1), e no caso de b 6= 0,
n > p ⇒ |un vn − ab| = |(un − a)vn + (vn − b)a| ≤ Cb |un − a| + |vn − b| |b| < ε
2014/2015 44 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
(4) Para mostrar esta última propriedade, torna-se substancialmente mais fácil se usarmos as proprieda-
des da função logaritmo. Usando, em particular a continuidade desta função, bem como o facto de un
ser positivo para todo n ∈ N, e ainda a propriedade (2), temos
h i
ln lim (un vn ) = lim [ln (un vn )] = lim [vn ln (un )]
n−→∞ n−→∞ n−→∞
= lim vn ln lim un = b ln (a) .
n−→∞ n−→∞
Por m, calulando a exponencial desta expressão provamos o que queríamos no caso de a > 0. Se a = 0,
podemos sempre escolher δ > 0 e ζ > 0, este último tal que b + ζ > 0, e calcular como anteriormente,
h i
ln lim (un + δ)vn +ζ = lim ln(un + δ) vn +ζ = lim [(vn + ζ) ln ((un + δ))]
n−→∞ n−→∞ n−→∞
= lim (vn + ζ) ln lim un + δ = (b + ζ) ln (a + δ) .
n−→∞ n−→∞
pelo que, fazendo primeiro δ tender para zero, se tem limn−→∞ un vn +ζ = 0, e depois, fazendo ζ tender
para zero, camos com limn−→∞ un vn = 0. Observemos que, do facto de ser b + ζ > 0, também se tem,
pela Proposição 2.5.12, que vn + ζ > 0 a partir de certa ordem.
No cálculo de limites podemos usar a Proposição 5.2.2 sempre que não obtenhamos indeterminações. Mas,
em muitas situações de cálculo de limites, surgem indeterminações. Ao processo de resolver determinada
indeterminação, vamos designar por levantamento da indeterminação.
∞ − ∞,
podem, normalmente, ser levantadas pondo em evidência o termo de maior grau, ou, no caso em
que envolvem raízes, multiplicando pelo conjugado.
√ √
(a) lim (n2 − 2n); (b) lim n+1− n .
n→+∞ n→+∞
2014/2015 45 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
1 1
= lim √ √ =√ √ = 0.
n→+∞ n+1+ n +∞ + 1 + +∞
√
3
n3 + 2 32n − 5n+1
(a) lim ; (b) lim .
n→+∞ n−1 n→+∞ 7n+1 + 22n
Demonstração: Comecemos por mostrar que un é monótona crescente. Pelo Binómio de Newton
(Proposição 2.2.1), temos, depois de simplicarmos,
n
1 1 1 n−1 1 (n − 1)(n − 2) 1 (n − 1)! 1 (n − 1)!
1+ =1+ + + 2
+ ··· + n−2
+
n 1! 2! n 3! n (n − 1)! n n! nn−1
1 1 1 1 1 2
=1+ + 1− + 1− 1− + ···+
1! 2! n 3! n n
2014/2015 46 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
1 1 2 n−2 1 1 2 n−1
1− 1− ··· 1 − + 1− 1− ··· 1 − .
(n − 1)! n n n n! n n n
1 1 1 1 1 2
>1+ + 1− + 1− 1− + ···
1! 2! n−1 3! n−1 n−1
1 1 2 n−2
+ 1− 1− ··· 1 −
(n − 1)! n−1 n−1 n−1
n−1
1 1 n−2 1 (n − 2)(n − 3) 1 (n − 2)! 1
=1+ + + + ··· + = 1+
1! 2! n − 1 3! (n − 1)2 (n − 1)! (n − 1)n−2 n−1
A segunda igualdade resulta do facto de se ter para quaisquer n, k ∈ N, com k + 1 ≤ n,
(n − 1)! (n − 1)(n − 2) · · · (n − k) 1 2 k
= = 1− 1− ··· 1 −
(n − (k + 1))!nk nk n n n
A desigualdade resulta de se ter suprimido o último termo na igualdade imediatamente anterior e de se ter
aumentado todos os subtractivos. A última igualdade resulta da simplicação motivada pelo regresso à
fórmula do Bínómio de Newton para un−1 . Portanto, podemos concluir que un é monótona estritamente
crescente.
Para a segunda parte da proposição, comecemos por observar que da monotonia crescente sai que
un ≥ u1 = 2 ∀n ∈ N ,
o que também pode ser mostrado à custa da Desigualdade de Bernoulli (2.2.4). Por outro lado, a
expansão do Binómio de Newton como foi feita acima e o facto de k! > 2k−1 para todo k ≥ 3, bem como
as propriedades das progressões geométricas, implicam
n
1 1 1 1 1 1 2
1+ =1+ + 1− + 1− 1− + ···
n 1! 2! n 3! n n
1 1 2 n−1
+ 1− 1− ··· 1 − .
n! n n n
1 1 1 1
< 1 + + + + ··· +
1! 2! 3! n! n
1 1 1 1 1 1 − 12 1
< 1 + + + 2 + ··· + n = 2 + 1 = 3 − n < 3.
1 2 2 2 2 1− 2 2
Assim, 2 ≤ un < 3 para todo n ∈ N e, portanto, un é limitada. Nesta primeira parte mostramos que un
é monótona e limitada. Logo, pela Proposição 2.5.3, un é convergente.
Para provar (2.6.22), comecemos por observar que, tal como viramos acima,
n
1 1 1 1 1
1+ < 1 + + + + ··· +
n 1! 2! 3! n!
e
n
1 1 1 1 1 1 2
1+ =1+ + 1− + 1− 1− + ···+
n 1! 2! n 3! n n
1 1 2 k−1 1 1 2 n−1
1− 1− ··· 1 − + ··· + 1− 1− ··· 1 − .
k! n n n n! n n n
Fazendo n → +∞ na última expressão, temos
n
1 1 1 1 1
lim 1+ ≥ 1 + + + + ··· + .
n→+∞ n 1! 2! 3! k!
Pelo exposto, temos então
n
1 1 1 1 1 1 1 1 1
1 + + + + ··· + ≤ lim 1+ < lim 1 + + + + ··· + .
1! 2! 3! k! n→+∞ n n→+∞ 1! 2! 3! n!
2014/2015 47 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
Denição 2.6.4 (Número de Neper). Dene-se o número de Neper e como sendo o limite nito
seguinte: n
1
lim 1+ = e.
n→+∞ n
A existência do limite anterior resulta da proposição seguinte. O valor do número de Neper que habitu-
almente se utiliza é obtido à custa do resultado expresso na proposição anterior. De facto, somando os
cinco primeiros termos da sucessão do segundo membro de (2.6.22), obtemos uma aproximação às casas
das centésimas do número de Neper9
e ' 2, 71 ;
valor este que é o habitualmente usado na grande maioria de cálculos numéricos. O número e, apesar de
já aparecer implícito nos trabalhos de Napier sobre logaritmos, só se tornou conhecido nos trabalhos de
Euler10 sobre a função exponencial. É por isso que denotamos este número com a letra inicial de Euler,
apesar de o designarmos por número de Neper.
Então un
a
lim 1+ = ea . (2.6.23)
n→+∞ un
2014/2015 48 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
Usando o caso anterior, podemos passar ao limite nesta última desigualdade e, usando o Critério da
Sucessão Enquadrada (Proposição 2.5.10), provamos (2.6.23) quando a = 1 e un → +∞.
O caso de un → −∞ e a = 1 reduz-se ao anterior, pois
u n −(un +1)
1 1 1
1+ = 1+ 1+ → e × 1 = e,
un −(un + 1) −(un + 1)
pois un → ∞ implica un
a → ∞ qualquer que seja a ∈ R.
1∞
Para o levantamento de grande parte das indeterminações do tipo ∞0 , introduzimos o resultado seguinte.
un+1
lim = a.
n→+∞ un
Então
√
lim n
un = a.
n→+∞
2014/2015 49 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
un
a−ε< < a + ε ⇔ (a − ε)un−1 < un < (a + ε)un−1
un−1
un−1 un−1
⇔(a − ε) un−2 < un < (a + ε) un−2 ⇒ (a − ε)2 un−2 < un < (a + ε)2 un−2
un−2 un−2
⇔···
up+1 up+1
⇔(a − ε)n−(p+1) up < un < (a + ε)n−(p+1) up ⇒ (a − ε)n−p up < un < (a + ε)n−p up .
up up
Assim,
up up
0 < ε < a ∧ n > p ⇒ (a − ε)n < un < (a + ε)n
(a − ε)p (a + ε)p
√
r r
up up
⇒ (a − ε) n < n
un < (a + ε) n .
(a − ε)p (a + ε)p
Como r r
up up
lim n = lim n = 1,
n→+∞ (a − ε)p n→+∞ (a + ε)p
√
tem-se, pelo Critério da Sucessão Enquadrada (Proposição 2.5.10), que limn→∞ n un = a. A restrição
ε < a pode ser levantada, porque na denição (2.5.14) o que é importante é que ε seja arbitrariamente
pequeno.
Se a = 0, temos
r r
· · · up+1 < εn−p ⇒ −ε n up < √
un un un−1 up
n ≥ p ⇒ = n
un < ε n
.
up un−1 un−2 up εp εp
(+∞)0
2014/2015 50 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 2. SUCESSÕES NUMÉRICAS
un+1 (n + 1)2 + 1 n2 + 2n + 2 ∞
lim = lim = lim = (indeterminação)
n→+∞ un n→+∞ n2 + 1 n→+∞ n2 + 1 ∞
n2 +2n+2 2 2
n2 1 + n2 + n22 1 + +∞ + (+∞) 2
= lim n 2 +1 = lim 1 = 1 = 1.
n→+∞
n2
n→+∞ 1 + n2 1 + (+∞)2
√
Então, pela Proposição 2.6.4, também limn→+∞ n
n2 + 1 = 1.
Existem muitas outras possibilidades de levantar indeterminações. Por exemplo, para levantar indeter-
minações do tipo ∞×0, ∞/∞ ou 0/0, por vezes, temos de conjugar os resultados do Critério da Sucessão
Enquadrada (Proposição 2.5.10) e da Proposição 2.6.4.
np an n!
(a) lim = 0; (b) lim = 0; (c) lim = 0.
n→+∞ an n→+∞ n! n→+∞ nn
Demonstração: (a) Usando a Proposição 2.6.4, podemos mostrar que, dados um real a > 1 e p ∈ N,
se tem p √
√
r
(n + 1)p np n
np
1 n p →1⇒ n
1
p
= 1 + → 1 ⇒ n n
= −→ < 1.
n n a a a
Então para qualquer ε : 0 < ε < 1 existe p∗ ∈ N tal que
r
np np
n > p∗ ⇒ 0 < n n < 1 − ε ⇒ 0 < n < (1 − ε)n −→ 0.
a a
np
Logo, pelo Critério da Sucessão Enquadrada (Proposição 2.5.10), limn→+∞ an = 0.
(b) Novamente pela Proposição 2.6.4, podemos mostrar que para um dado real a > 1 se tem
√
r
(n + 1)! n an a
= n + 1 → +∞ ⇒ n! → +∞ ⇒ n = √n
−→ 0.
n! n! n!
Então para qualquer ε : 0 < ε < 1 existe p∗ ∈ N tal que
r
an an
n > p∗ ⇒ 0 < n <ε⇒0< < εn −→ 0
n! n!
an
e, pelo Critério da Sucessão Enquadrada, limn→+∞ n! = 0.
(c) Observemos que para todo n ≥ 2 se tem
n! n n−1 2 1 nn−1 1
0< n
= × × ··· × × ≤ = −→ 0.
n n n n n nn n
Assim, pelo Critério da Sucessão Enquadrada, limn→+∞ n!
nn = 0.
Outro exemplo para levantar indeterminações do tipo ∞ × 0, ∞/∞ ou 0/0, consiste em usar o conheci-
mento de limites notáveis de funções. Alguns exemplos são descritos na proposição seguinte.
2014/2015 51 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R Ficha de exercícios
os limites (1) e (4) resultam, por exemplo, de aplicar a Regra de Cauchy-L'Hôpital quando se substitui
a variável discreta n por uma variável contínua, digamos x.
Usando, a Proposição 2.6.5, bem como o número (4) da Proposição 2.6.6, podemos estabelecer uma
relação de ordem entre os princiais tipos de innitamente grandes.
ln(n)
lim = 0,
n→+∞ nb
n + (−1)n 1
(a) un = ; (d) yn = ;
n n!
1 1 1 2 3 1
(b) vn = 1 + + · · · + n−1 ; (e) wn = 2 + 2 + 2 + · · · + ;
2 2 n n n n
2 z1 = 1 √
n + 2 (f) zn = .
(c) xn = (−1)n+1 ; zn+1 = 2 + zn
2n + 3
2. Escreva o termo geral das sucessões cujos termos das primeiras ordens são os seguintes:
(a) 2, 5, 8, 11, . . . ; 3 8 13 18
(d) , , , ,...;
1 1 1 7 11 15 19
(b) 1, , , , . . . ; (e) 1, 2, 3, 5, 8, 13 . . . ;
2 4 8
1 1 1 1 3 2 5 4
(c) 1, − , , − , , ...; (f) 0, , , , ,....
4 9 16 25 2 3 4 5
2014/2015 52 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R Ficha de exercícios
n(n + 1)
(a) 1 + 2 + 3 + · · · + n = ;
2
1 1 1 1 n
(b) + + + ··· + = ;
1.3 3.5 5.7 (2n − 1)(2n + 1) 2n + 1
n3
(c) 12 + 22 + 32 + · · · + (n − 1)2 < ∀ n ∈ N;
3
(d) 13 + 23 + 33 + · · · + n3 = (1 + 2 + 3 + · · · + n)2 [Sugestão: Usar a)];
(e) 2 > n
n 2
∀ n ≥ 5.
1 1
(a) un = 1 + + · · · + n−1 ; v1 = 1, v2 = 2,
(b) vn :
2 2 vn+2 = vn +v2 n+1 .
6. Indique quais das sucessões do exercício 1 são majoradas, minoradas e limitadas, indicando, se
possível, o supremo, ínmo, máximo e mínimo.
n+1 n!
(a) sn = ; (d) vn = ;
2n + 4 nn
√ √ 1 1 1
(b) tn = n + 1 − n; (e) xn = 1 + 1 + + + · · · + ;
2 3! n!
n y1 = 1,
(c) un = ; (f) yn : 1
2n yn+1 = 1+y n
.
2014/2015 53 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R Ficha de exercícios
2n + 3
p
(d) n(n − 1) ;
p
(a) lim ; lim n(n + 1) −
n→+∞ 3n − 1 n→+∞
n2 − 1 2n + 1
(b) lim ; (e) lim ;
n→+∞ n4 + 3 n→+∞ 2n − 1
√
n2 + 7n − 1 32n + 4n+1
(c) lim ; (f) lim .
n→+∞ n+2 n→+∞ 5n − 22n
n→+∞ 2n + 3
(d) lim nn (1 + n2 )− 2 .
n→+∞
n + sen(n)
(e) lim ;
n→+∞ n
√
(f) lim n 3n + 5n .
n→+∞
2014/2015 54 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R Ficha de exercícios
Soluções
√ √ √ √
p q p q p
u3 = 23 , u4 = 58 , u5 = 35 ; (f) u1 = 1, u2 = 3, u3 = 2 + 3, u4 = 2 + 2 + 3, u5 = 2 + 2 + 2 + 3.
2: (a) un = 3n − 1; (b) un = 1
2n
; (c) un = (−1)n−1 n12 ; (d) un = 5n−2
4n+3
; (e) u1 = 1, u2 = 2, un+2 = un+1 + un ;
n
n+(−1)
(f) un = n
. 4: (a) S10 = 100; (b) S10 = 3 − 59048
= 19683 ; (c) S10 = 0; (d) S10 = 130
1
39 3
. 5 (a) S5 = 129
16
; (b)
S5 = 8 . 6: (a) 0 ≤ u2k−1 < 1, 1 < u2k ≤ 2 ⇒ 0 ≤ un ≤ 2 ; (b) 1 ≤ vn < 2; (c) Não é majorada nem minorada;
63 3 3
2014/2015 55 c HBO
Capítulo 3
Séries Numéricas
Neste capítulo vamos considerar somas de termos de sucessões, as quais se designam por séries. No
entanto, é habitual designar as séries nitas por somatórios, deixando-se a designação de séries para as
somas innitas.
3.1 Somatórios
Os somatórios surgem como uma necessidade de simplicação da escrita de somas de termos de uma
sucessão.
56
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 3. SÉRIES NUMÉRICAS
Proposição 3.1.1. Sejam uk e vk sucessões de termos reais e c ∈ R. Então são válidas as propri-
edades seguintes:
1. Aditiva n n n
X X X
(uk + vk ) = uk + vk ;
k=1 k=1 k=1
2. Homogénea
n
X n
X
(c uk ) = c uk ;
k=1 k=1
3. Telescópica
n
X
(uk − uk−1 ) = un − u0 .
k=1
A noção de série numérica innita é introduzida para permitir a generalização do conceito de somatório
com uma innidade de parcelas numéricas.
Denição 3.2.1 (Série numérica). Seja un uma sucessão numérica. Designa-se por série numérica
innita o par formado pela sucessão un :
u1 , u2 , . . . , un , . . .
O limite inferior da série poderá ser qualquer outro número natural e, em muitas situações, poderá ser 0.
Por norma, o limite inferior é o menor inteiro não negativo, a partir do qual, o termo geral da sucessão
está denido em R. Para simplicarmos a escrita, iremos designar toda a série numérica innita apenas
por série.
Denição 3.2.2 (Convergência). Seja un uma série e Sn a sucessão das suas somas parciais.
P
2014/2015 57 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 3. SÉRIES NUMÉRICAS
A convergênciaPde uma série reduz-se, portanto, à convergência da sucessão das somas parciais. No caso
em que a série un é convergente, existe, então, um real S tal que
lim Sn = S.
n−→+∞
Denição 3.2.3 (Série nita). Uma série nita é uma série (innita), digamos un , com os termos
P
quase todos nulos, isto é, para a qual:
∃ p ∈ N : n > p ⇒ un = 0.
Proposição 3.2.1. Toda a série nita é convergente e, no caso do Exemplo 3.2.3, a soma da série
é dada por:
p
X
S= un = u1 + u2 + · · · + up .
n=1
+∞
X
(∃ p ∈ N : n > p ⇒ un = 0) ⇒ un = u1 + u2 + · · · + up −→ u1 + u2 + · · · + up = S
n=1
e, portanto, S ∈ R.
Denição 3.2.4 (Série geométrica). Designa-se por série geométrica toda a série da forma:
+∞
X
xn = 1 + x + x2 + · · · + xn + · · · ;
n=0
é convergente para |x| < 1 e divergente para |x| ≥ 1. Mais, no caso em que é convergente, a sua
2014/2015 58 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 3. SÉRIES NUMÉRICAS
Demonstração: Comecemos por observar que a sucessão das somas parciais é dada por
Sn = 1 + x + x2 + · · · + xn .
Sn = 1 + 1 + 1 + · · · + 1 = n + 1 −→ +∞.
1 − xn+1 1 − xn x
(1 − x)Sn = 1 − xn+1 ⇔ Sn = = .
1−x 1−x
A convergência da série vai, assim, depender da convergência de xn . Analisando esta última, temos
Exemplo 3.2.1. Vericar que a série seguinte é convergente e calcular a sua soma:
+∞
X 1
n
.
n=0
3
P+∞ P+∞ n
Como n=0 31n = n=0 31 é uma série geométrica de razão r = 1
3 < 1, a série é convergente.
Assim sendo, a sua some é dada por
1 3
S= 1 = 2 .
1− 3
2014/2015 59 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 3. SÉRIES NUMÉRICAS
Denição 3.2.5 (Série de Mengolia ). Designa-se por série de Mengoli, ou série redutível ou, ainda,
série telescópica, a toda a série da forma:
+∞
X
(un − un+1 ) .
n=1
a Pietro Mengoli (1626-1686), matemático italiano natural de Bolonha.
Proposição 3.2.3. A série de Mengoli (un − un+1 ) é convergente se a sucessão un for conver-
P
gente. É divergente, se o limite de un não existe (ou não é nito). No caso em que é convergente,
a soma é dada por:
S = u1 − lim un+1 .
n−→+∞
Logo
S = lim Sn = u1 − lim un+1
n→+∞ n−→+∞
Dado p ∈ N arbitrário, podemos considerar a série de Mengoli numa forma mais geral:
+∞
X
(un − un+p ) .
n=1
Por um raciocínio indutivo, podemos estender o resultado da proposição anterior a toda a série de Mengoli
desta forma. Assim, a série (un − un+p ) é convergente, se a sucessão un for convergente e divergente
P
se o limite de un não existir. Mais, no caso de convergir, a soma é dada por:
p
X
S= uk − lim un+k = u1 + u2 + · · · + up − lim (un+1 + un+2 + · · · + un+p )
n−→+∞ n−→+∞
k=1
= u1 + u2 + · · · + up − p lim un .
n−→+∞
Exemplo 3.2.2. Mostrar que a série seguinte é convergente e calcular a sua soma:
+∞
X 1
.
n=2
n(n − 1)
Então, a sucessão das somas parciais pode-se simplicar do modo seguinte (para n ≥ 2):
1 1 1 1 1 1 1
Sn = 1 − + − + ··· + − + −
2 2 3 n−2 n−1 n−1 n
1
=1 − −→ 1, quando n → +∞ .
n
2014/2015 60 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 3. SÉRIES NUMÉRICAS
Na maior parte dos casos em estudo, não é possível calcular a soma das séries convergentes. Por isso,
o nosso estudo sobre as séries irá centrar-se essencialmente na natureza das séries, isto é, em saber se
determinada série é convergente ou divergente.
Demonstração: A demonstração usa o conceito de sucessão de Cauchy que, P como vimos no capítulo
anterior, é equivalente ao conceito de sucessão convergente. Portanto, a série un é convergente equivale
a dizer que a sucessão das somas parciais Sn é convergente que, por sua vez, equivale a dizer que Sn é
uma sucessão de Cauchy e esta última é equivalente à armação (3.3.1).
Denição 3.3.1 (Série harmónica). Designa-se por série harmónica, à série seguinte:
+∞
X 1 1 1 1
= 1 + + + ··· + + ··· .
n=1
n 2 3 n
Uma consequência imediata do Critério Geral de Cauchy, é o resultado seguinte que, por vezes, é muito
útil para mostrar a divergência de determinada série.
2014/2015 61 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 3. SÉRIES NUMÉRICAS
Na prática, o mais importante do resultado exposto na proposição anterior, é a informação que nos é
dada pela sua contra-recíproca:
se un 9 0, então un é divergente.
P
Observe-se que se un −→ 0, nada podemos inferir sobre a natureza da série. Vejam-se os exemplos
da série geométrica do Exemplo 3.2.1 e da série harmónica (Exemplo 3.3.1), cujos termos gerais ambos
tendem para 0 e somente a série geométrica é convergente.
1√
r
(n + 1)! n n! n
= n + 1 −→ +∞ ⇒ n
= n! −→ +∞ .
n! 2 2
Daqui podemos inferir que
r
n! n!
> 2 ⇒ n > 2n −→ +∞
n
∃ p0 ∈ N : n > p0 ⇒ n
⇒ lim un = +∞ .
2 2 n→+∞
2014/2015 62 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 3. SÉRIES NUMÉRICAS
De modo análogo, sendo c ∈ R arbitrário e Snc u a sucessão das somas parciais da série (c un ), temos
P
Snc u = c u1 + c u2 + · · · + c un = c (u1 + u2 + · · · + un ) → c Su .
Observe-se que este raciocínio é possível, porque as duas séries obtidas são geométricas de razões
r = 13 < 1 e r = 12 < 1, respectivamente, logo convergentes.
Como consequência da proposição anterior, temos o resultado enunciado a seguir que poderá ser utilizado
para estabelecer a divergência de determinada série.
Proposição 3.3.5. Sejam un uma série convergente e vn uma série divergente. Então a série
P P
(un + vn ) é divergente.
P
A proposição seguinte mostra-nos que séries praticamente iguais têm a mesma natureza.
2014/2015 63 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 3. SÉRIES NUMÉRICAS
∃ k ∈ Z : vn = un+k . (3.3.2)
Demonstração: Sejam SPn e Sn as sucessões das somas parciais das séries un e vn , respectivamente.
u v
P P
Suponhamos que a série un era convergente. Então, pelo Critério Geral de Cauchy,
u
∀ ε > 0 ∃ p ∈ N : m, n > p ⇒ |Sm − Snu | < ε. (3.3.3)
De forma análoga se prova que, nas condições de (3.3.2), se un é divergente, então vn também é
P P
divergente.
+∞ +∞ +∞ +∞
X 1 X 1 X 1 X 1
a) n
e ; b) e .
n=0
2 n=0
2n−1 n=1
n n=0
n + 2
De facto, temos:
+∞ +∞ +∞ +∞ +∞
X 1 X 1 X 1 X 1 X 1
a) =2 ; b) = = − 1;
n=0
2n−1 n=0
2 n
n=0
n + 2 n=2
n n=1
n
pelo que as séries indicadas têm a mesma natureza, sendo convergente em a), porque se tratam de
séries geométricas de razão r = 21 < 1, e divergentes em b), já que são séries harmónicas.
As séries de termos não negativos convêm ser estudadas em separado, uma vez que, neste caso, é mais
fácil estabelecer critérios de convergência. Começamos por observar que, para estas séries, podemos
obter um critério de convergência mais fraco do que o enunciado na Proposição 3.3.1.
Proposição 3.4.1. Seja un uma série de termos não negativos e Sn a respectiva sucessão das
P
somas parciais. Então un é convergente se e só se Sn for limitada.
P
Demonstração: Suponhamos que un é uma série convergente. Então a respectiva sucessão das somas
P
parciais Sn é convergente, logo limitada.
Reciprocamente, suponhamos que Sn é uma sucessão limitada. Como un é uma série de termos não
P
negativos, tem-se que un ≥ 0 para todo n ∈ N. Assim,
2014/2015 64 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 3. SÉRIES NUMÉRICAS
pelo que Sn é uma sucessão monótona crescente. Então, sendo monótona e limitada, Sn é convergente e
tem-se
S = lim Sn = sup{Sn : n ∈ N}.
n→+∞
Como estamos a considerar séries de termos não negativos, podemos dizer que qualquer destas séries
divergente tende automaticamente para +∞.
Exemplo 3.4.1. Usando a proposição anterior, mostrar que a série seguinte é convergente:
+∞
X 1
.
n=0
n!
Considerando a sucessão das somas parciais desta série, observando que para todo n ≥ 2 se tem
n ≤ 2 e usando a soma da progressão geométrica, obtemos:
1 1
1 1 1 1 1
Sn =1 + + + + + ··· +
1 2×1 3×2×1 4×3×2×1 n!
1 1 1 1
≤1 + 1 + + + + ··· +
2 2×2 2×2×2 2 × 2 × 2 × ··· × 2
1
1 1 1 1 1 1 − 2n−1 1
=2 + + 2 + 3 + · · · + n−1 = 2 + 1 = 3 − n−1 < 3 ∀ n ∈ N .
2 2 2 2 2 1− 2 2
Temos, portanto, que 2 ≤ Sn < 3 para todo n ∈ N, pelo que Sn é limitada. Logo, pela proposição
anterior, a série dada é convergente.
Demonstração: Sejam Snu e Snv as sucessões das somas parciais de duas séries, un e vn , de termos
P P
não negativos e suponhamos que
∃ p ∈ N : n > p ⇒ un ≤ vn . (3.4.4)
1. Se vn é convergente, tem-se, pelo facto de vn ser uma série de termos não negativos, que Snv é
P P
crescente e
S v = lim Snv = sup{Snv : n ∈ N} < +∞. (3.4.5)
n→+∞
Por outro lado, pelo facto de un também ser uma série de termos não negativos e por (3.4.4) e (3.4.5),
P
tem-se para todo n > p
Portanto, Snu é uma sucessão limitada e, pela proposição anterior, concluímos que un é convergente.
P
2. Suponhamos, agora, que un é divergente. Então, sendo un uma série de termos não negativos,
P P
Snu é crescente e
S u = lim Snu = sup{Snu : n ∈ N} = +∞. (3.4.6)
n→+∞
2014/2015 65 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 3. SÉRIES NUMÉRICAS
Então, usando o facto de vn também ser uma série de termos não negativos, (3.4.4) e (3.4.6), temos
P
Snv = v1 + · · · + vp + vp+1 + · · · + vn
≥ v1 + · · · + vp + up+1 + · · · + un = v1 + · · · + vp + Snu − (u1 + · · · + up )
−→ u1 + · · · + up + ∞ − (u1 + · · · + up ) = +∞.
Exemplo 3.4.2. Usando a proposição anterior, mostre que as séries seguintes são, respectivamente,
convergente e divergente:
+∞ +∞
X 1 X 1
a) n
; b) √ .
n=1
n n=1
n
O Critério Geral de Comparação permite-nos obter um resultado de mais simples aplicação, que enun-
ciamos na proposição seguinte.
Proposição 3.4.3 (Critério de Comparação). Sejam un uma série de termos não negativos e
P
vn uma série de termos positivos tais que
P
un
lim = L. (3.4.7)
n−→+∞ vn
Se 0 < L < +∞, então as séries un e vn têm a mesma natureza, isto é, são ambas convergentes
P P
ou ambas divergentes.
∃ p ∈ N : n > p ⇒ un ≤ vn .
2014/2015 66 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 3. SÉRIES NUMÉRICAS
∃ p ∈ N : n > p ⇒ un ≥ vn ,
Exemplo 3.4.3. Usar o resultado anterior para mostrar que as séries seguintes são, respectiva-
mente, divergente e convergente:
∞ ∞
X 1 X 1
a) ; b) .
n=1
2n − 1 n=1
n2
a) Como
1
2n−1 n 1
lim 1 = lim =
n→+∞
n
n→+∞ 2n − 1 2
P∞ P∞
e a série n=1 1
n é divergente (série harmónica), pelo Critério de Comparação, a série 1
n=1 2n−1
é divergente.
Exemplo 3.4.4 (Série de Dirichleta ). Designa-se por série de Dirichlet toda a série da forma:
+∞
X 1 1 1 1
α
= 1 + α + α + ··· + α + ··· ;
n=1
n 2 3 n
onde α é um real.
a Johann Peter Gustav Lejeune Dirichlet (1805-1859), matemático alemão com ascendência belga, natural de
Düren.
Observemos que a série harmónica, referida no Exemplo 3.3.1, é um caso particular da série de Dirichlet
com α = 1.
2014/2015 67 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 3. SÉRIES NUMÉRICAS
Suponhamos, agora, que α < 1. Consideremos a sucessão das somas parciais de ordem 2n+1 − 1. Temos:
1 1 1 1 1 1 1
S2n+1 −1 = 1 + + α + α + α + α + α + · · · + n+1
2α 3 4 5 6 7 (2 − 1)α
1 1 1 1 1 1 1
=1+ + α + + α + α + α + · · · + n+1
2α 3 4α 5 6 7 (2 − 1)α
1 1 1 1 1 1
=1+ 1 α
+ 1+1 α
+ 2 α
+ · · · + 2+1 α
+ ··· + n α
+ · · · + n+1 α
.
(2 ) (2 − 1) (2 ) (2 − 1) (2 ) (2 − 1)
Observemos que para cada p ∈ N se tem
p
1 1 1 1
p α
+ · · · + p+1 α
≤ 2p+1 − 2p = .
(2 ) (2 − 1) (2p )α 2α−1
Por outro lado, prova-se facilmente por indução matemática que
2n+1 − 1 > n ∀ n ∈ N.
Temos então, pelo exposto acima e pelo facto de nα ser uma série de termos positivos, que
P 1
2 n
1 1 1
0 < Sn < S2n+1 −1 ≤ 1 + + + ··· + ··· +
2α−1 2α−1 2α−1
+∞ n 1
n
X 1 1 − 2α−1 2α−1
< = lim 1 = .
n=0
2α−1 n→+∞ 1 − α−1
2
2α−1−1
P 1 n
As últimas igualdades resultam do facto de 2α−1 ser uma série geométrica convergente, pois α > 1
implica que 2α−1
1
< 1. Assim, neste caso, a série de Dirichlet é limitada e, tratando-se de uma série de
termos positivos, é convergente.
Pela sua simplicidade no cálculo de limites, utilizam-se muitas vezes as séries de Dirichlet no Critério de
Comparação (Proposição 3.4.3).
Proposição 3.4.5 (Comparação com as séries de Dirichlet). Seja un uma série de termos não
P
negativos. Tem-se:
Exemplo 3.4.5. Usando a proposição anterior, mostrar que as séries seguintes são, respectiva-
mente, convergente e divergente:
+∞ √ +∞ √
X n X n+1
a) 2+1
; b) .
n=1
n n=1
n
2014/2015 68 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 3. SÉRIES NUMÉRICAS
Em muitas situações de aplicação prática torna-se muito complicado utilizar o Critério de Comparação.
Nesses casos, podemos recorrer a um dos dois critérios que enunciamos a seguir e cuja aplicação é mais
fácil.
Proposição 3.4.6 (Critério da Razão - D'Alemberta ). Seja un uma série de termos positivos.
P
Tem-se:
1. Se
un+1
lim sup < 1, (3.4.8)
n−→+∞ un
então a série un é convergente.
P
2. Se
un+1
∃p∈N:n>p⇒ ≥ 1, (3.4.9)
un
então a série un é divergente.
P
a Jean le Rond d'Alembert (1717-1783), lósofo, matemático e físico francês, natural de Paris.
Logo
un+1 un+1 un
∃p∈N:n>p⇒ < r ⇔ n+1 < n ,
un r r
o que quer dizer que a sucessão un
rn é monótona decrescente. Isto implica que
un up∗
∃ p∗ ∈ N : n > p∗ ⇒ < C ⇔ un ≤ Crn , com C = .
rn r p∗
Ora, r é uma série geométrica
P convergente, pois r < 1 por hipótese, pelo que, usando o Critério
P n
Geral de Comparação, a série un também é convergente.
2014/2015 69 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 3. SÉRIES NUMÉRICAS
2. Se (3.4.9) é vericada, então un é uma sucessão monótona crescente a partirPda ordem p. Logo, como
un é uma série de termos positivos, teremos que un 9 0. Portanto, a série un é divergente.
P
Exemplo 3.4.6. Usando a proposição anterior, mostrar que as séries seguintes são, respectiva-
mente, convergente e divergente:
+∞ 2 +∞
X n X n!
a) ; b) .
n=1
2n n=1
3n
a) Como
(n+1)2
n2 un+1 2n+1 (n + 1)2 2n
un = n ⇒ lim = lim n2
= lim
2 n→+∞ un n→+∞
2n
n→+∞ n2 2n+1
2
1 n + 2n + 1 1
= lim = < 1,
2 n→+∞ n2 2
pelo Critério da Razão a série dada é convergente.
Proposição 3.4.7 (Critério da Raiz - Cauchy). Seja un uma série de termos não negativos.
P
Tem-se:
1. Se
√
lim sup n
un < 1 , (3.4.10)
n−→+∞
2. Se
√
lim sup n
un > 1 , (3.4.11)
n−→+∞
o que implica
√
∃p∈N:n>p ⇒ n
un ≤ r ⇒ un ≤ rn .
2014/2015 70 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 3. SÉRIES NUMÉRICAS
Como r éP uma série geométrica convergente, pois r < 1 por hipótese, pelo Critério Geral de Compa-
P n
ração, a série un também é convergente.
Assim, dado que un é uma série de termos não negativos, a sucessão un não tende para 0, pelo que
P
un é divergente.
P
Exemplo 3.4.7. Usando a proposição anterior, mostre que as séries seguintes são, respectivamente,
convergente e divergente:
+∞ 2
+∞ n
X 1 n+1
a) ;
X
b) .
n=1
(n + 1)n n
n=1
b) Aqui,
s
n2 n2 n
n+1 √ n n+1 1
vn = ⇒ lim n
vn = lim = lim 1+ = e > 1.
n n→+∞ n→+∞ n n→+∞ n
Como se observa das respectivas demonstrações, os dois critérios anteriores são consequências do Critério
Geral de Comparação, tal como o Critério de Comparação. O Critério da Razão e o Critério da
Raiz tornam o estudo da natureza das séries de termos não negativos mais simples. No entanto, o preço
a pagar por esta simplicação no estudo, é que, em ambos os critérios, nada se pode concluir se
L = 1.
Exemplo 3.4.8. Verique que, para a série seguinte, a aplicação do Critério da Razão ou do
Critério da Raiz não permite tirar nenhuma conclusão quanto à sua natureza:
+∞ n
X e n!
.
n=1
nn
2014/2015 71 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 3. SÉRIES NUMÉRICAS
Assim, o Critério da Raiz não permite discernir qual a natureza desta série. No entanto e apesar
de ser um exercício mais envolvente, pode-se mostrar que esta série divergea .
a Aplicar o Critério de Raabe. Ver, por exemplo, Creighton Buck p. 233.
Até agora, temos estado a estudar essencialmente séries de termos não negativos. Agora queremos
analisar séries cujos termos possam ser positivos ou negativos. De entre estas, têm particular interesse
as séries de termos alternados.
Denição 3.5.1 (Série alternada). Uma série diz-se alternada, se for possível escrevê-la da forma
seguinte:
+∞
X
(−1)n un = −u1 + u2 − u3 + · · · + (−1)n un + . . . ;
n=1
Observemos que as séries alternadas, como o próprio nome indica, também poderão vir escritas da forma
seguinte:
+∞
X
(−1)n−1 un = u1 − u2 + u3 − · · · + (−1)n−1 un + . . . .
n=1
Proposição 3.5.1 (Critério de Leibniz). Suponhamos que un é uma sucessão monótona decrescente
para 0, isto é:
lim un = 0 e u1 ≥ u2 ≥ u3 ≥ · · · ≥ un ≥ . . . . (3.5.12)
n−→+∞
Vejamos que S2n é uma sucessão monótona decrescente e que S2n−1 é uma sucessão monótona crescente.
De facto, usando a monotonia decrescente de un , temos
= u2n+2 − u2n+1 ≤ 0
1 Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646-1716), advogado, lósofo e matemático alemão, natural de Leipzig.
2014/2015 72 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 3. SÉRIES NUMÉRICAS
e
S2(n+1)−1 − S2n−1 = −u1 + u2 − u3 + · · · + (−1)n un + (−1)n+1 un+1 + · · · − u2n−1 + u2n − u2n+1
− −u1 + u2 − u3 + · · · + (−1)n un + (−1)n+1 un+1 + · · · − u2n−1
= u2n − u2n+1 ≥ 0.
Por outro lado, S2n−1 ≤ S2n para todo n ∈ N, pois, sendo un uma sucessão monótona decrescente para
0, temos
S2n−1 − S2n = −u1 + u2 − u3 + · · · + (−1)n un + (−1)n+1 un+1 + · · · − u2n−1
− −u1 + u2 − u3 + · · · + (−1)n un + (−1)n+1 un+1 + · · · − u2n−1 + u2n
= −u2n ≤ 0.
Pelo exposto acima, temos
S1 ≤ S3 ≤ · · · ≤ S2n−1 ≤ S2n ≤ · · · ≤ S4 ≤ S2 .
Acabamos de provar então que S2n e S2n−1 são sucessões monótonas e limitadas, logo convergentes.
Observe-se que a condição de monotonia decrescente enunciada no Critério de Leibniz é necessária para
a convergência simples de uma série alternada, mas não é suciente. De facto existem séries alternadas
convergentes que não obedecem à condição de monotonia decrescente como é o caso da série
∞
X 1 1
− ,
n=1
(2n − 1)3 (2n)3
2014/2015 73 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 3. SÉRIES NUMÉRICAS
já que o valor absoluto do seu termo geral não é monótono decrescente. Isto será melhor apreendido
mais adiante com o estudo da convergência absoluta das séries.
Para outras séries de termos positivos e negativos, que não as alternadas, torna-se mais complicado
encontrar critérios de convergência. Contudo, para algumas destas séries, podemos ainda usar o resultado
seguinte.
Proposição 3.5.2 (Critério de Dirichlet). Seja un uma série cuja sucessão das somas parciais,
P
digamos Snu , é limitada e seja vn uma sucessão monótona decrescente para 0, isto é:
un = Snu − Sn−1
u
∀ n ∈ N.
Usando os factos de Snu ser uma sucessão limitada e de vn ser uma sucessão monótona decrescente, temos
uv
|Sm − Snu v | ≤ [vn+1 C + (vn+1 − vn+2 )C + · · · + (vm−1 − vm )C + vm C] = 2vn+1 C.
Como vn → 0, a quantidade P uv
|Sm − Snu v | será tão pequena quanto se queira. Desde modo, Snu v é uma
sucessão de Cauchy e a série un vn é convergente.
Observemos que o Critério de Leibniz pode, facilmente, ser demonstrado a partir do Critério de Dirichlet.
Exemplo 3.5.2. Usar o Critério de Dirichlet para justicar que a série seguinte é convergente:
+∞
X cos(n)
.
n=1
n
Sejam
1
vn = e Sn = cos(1) + cos(2) + · · · + cos(n − 1) + cos(n) .
n
Pelo Exemplo 3.5.1 sabemos que vn é monótona decrescente para 0. Mostremos agora que Sn é
uma sucessão limitada. Usando a fórmula trigonométrica
1
sen(α) cos(β) = [ sen(α + β) + sen(α − β)] ,
2
2014/2015 74 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 3. SÉRIES NUMÉRICAS
temos:
1 1 1 1 1
sen Sn = sen cos(1) + sen cos(2) + · · · + sen cos(n − 1) + sen cos(n)
2 2 2 2 2
1 1 1 1 1 1
= sen + 1 + sen −1 + sen + 2 + sen − 2 + ···+
2 2 2 2 2 2
1 1 1 1 1 1
sen + n − 1 + sen − (n − 1) + sen + n + sen −n
2 2 2 2 2 2
1 3 1 1 5 3
= sen − sen + sen − sen + ···+
2 2 2 2 2 2
1 1 3 1 1 1
= sen n − − sen n − + sen n + − sen n −
2 2 2 2 2 2
1 1 1
= sen n + − sen
2 2 2
A convergência absoluta das séries está relacionada com a convergência da série dos módulos. Então,
muitos dos resultados para o estudo das séries de termos não negativos poderão ser aplicados para estudar
a convergência absoluta.
Denição 3.6.1. UmaP série un diz-se absolutamente convergente, se a série |un | é con-
P P
vergente. Diz-se que un é simplesmente convergente ou condicionalmente convergente ,
se un é convergente, mas |un | é divergente.
P P
Já vimos no Exemplo 3.5.1 que esta série é convergente. Mostremos, então, que a série não é
absolutamente convergente. De facto a série dos módulos é a série harmónica, que é divergente:
+∞ +∞
X (−1)n X 1
n = .
n=1 n=1
n
O conceito de convergência absoluta é mais forte do que o de convergência simples, pelo que a pri-
meira implica a segunda. Mas, como mostra o exemplo anterior, existem séries que são simplesmente
convergentes e, por conseguinte, não são absolutamente convergentes.
2014/2015 75 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 3. SÉRIES NUMÉRICAS
+∞ +∞
X X
un ≤ |un |.
n=1 n=1
Então, designando por Snu a sucessão das somas parciais da série un , tem-se
P
u
∀ ε > 0 ∃ p ∈ N : n > p ⇒ |Sn+k − Snu | = |un+1 + un+2 + · · · + un+k |
≤ |un+1 | + |un+2 | + · · · + |un+k | < ε.
Portanto, Snu é uma sucessão de Cauchy e a série un é convergente. Por outro lado,
P
+∞ k
k
k +∞
X X X X X
un = lim un = lim un ≤ lim |un | = |un |,
k→+∞ k→+∞ k→+∞
n=1 n=1 n=1 n=1 n=1
Comecemos por analisar a convergência absoluta. Para tal, consideramos a série dos módulos:
+∞ +∞
X sen(n) X | sen(n)|
n2 = .
n=1 n=1
n2
Como
+∞
| sen(n)| 1 X 1
≤ 2 ∀n∈N e é convergente (série de Dirichlet com α = 2 > 1) ,
n2 n n=1
n 2
pelo Critério Geral de Comparação a série dos módulos é convergente. Por consequência a série
dada é absolutamente convergente.
Pela Proposição 3.6.1, o estudo da convergência de grande parte das séries numéricas irá reduzir-se ao
estudo da convergência de séries de termos não negativos. Deste modo, convém adaptar os Critérios de
Comparação, da Razão e da Raiz para o estudo da convergência absoluta.
Proposição 3.6.2 (Critério de Comparação). Sejam un uma série qualquer e vn uma série
P P
de termos positivos tais que
|un |
lim = L.
n−→+∞ vn
2014/2015 76 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 3. SÉRIES NUMÉRICAS
Repare-se que não faz nenhum sentido fazer uma comparação da divergência da série vn com a de
P
un .
P
Observemos que
cos(n)
n3 |cos(n)|
lim 1 = lim =0
n→+∞
n2
n→+∞ n
P+∞
e a série n=1 n12 é convergente, já que se trata de uma série de Dirichlet com α = 2 > 1. Então,
pelo Critério de Comparação, a série dada é absolutamente convergente.
Proposição 3.6.3 (Critério da Razão - D'Alembert). Seja un uma série de termos não nulos.
P
Tem-se:
1. Se
un+1
lim sup < 1,
n−→+∞ un
então a série un é absolutamente convergente.
P
2. Se
un+1
∃ p ∈ N : n > p ⇒ ≥ 1,
un
então a série un é divergente.
P
Exemplo 3.6.4. Usando o critério anterior, estude a série seguinte quanto à convergência absoluta:
+∞
X n2
(−1)n .
n=1
1 + n2
2014/2015 77 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 3. SÉRIES NUMÉRICAS
Como
(n+1)2
n2 un+1 (−1)n+1 1+(n+1)2 1 + n2 (n + 1)2
un = (−1)n ⇒ un = (−1)n n2
=
1 + n2 1+n2
n2 1 + (n + 1)2
(n + 1)2
1
= 1+ 2 1−
n 1 + (n + 1)2
1 + 2n
=1 + 2 > 1 ∀ n ∈ N,
n [1 + (n + 1)2 ]
pelo Critério da Razão a série dos módulos é divergente. Por consequência, a série dada não
é absolutamente convergente. Também não converge simplesmente, porque, quando n → +∞,
un → −1 se n é ímpar e un → 1 se n é par, o que contraria a Proposição 3.3.3.
Proposição 3.6.4 (Critério da Raiz - Cauchy). Seja un uma série qualquer. Tem-se:
P
1. Se p
n
lim sup |un | < 1 ,
n−→+∞
2. Se p
n
lim sup |un | > 1 ,
n−→+∞
Exemplo 3.6.5. Usando o critério anterior, estude a série seguinte quanto à convergência absoluta:
+∞ n
X 2n + 100
(−1)n .
n=1
3n + 1
Sendo n
n 2n + 100
un = (−1) ,
3n + 1
temos:
s n
p
n 2n + 100
lim n |un | = lim (−1)
n
n→+∞ n→+∞ 3n + 1
s n
n 2n + 100 2n + 100 2
= lim = lim = < 1.
n→+∞ 3n + 1 n→+∞ 3n + 1 3
2014/2015 78 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R Ficha de exercícios
Observemos que, tal como no caso da convergência simples, nada se pode concluir se L = 1 nas Propo-
sições 3.6.3 e 3.6.4.
+∞ +∞ n−1 ∞ n
X
−(5n+1)
X 4 X 2
d) 3 ; e) ; f) .
n=0 n=1
3n n=0
π
3. Usando o conhecimento da soma das séries geométricas, escreva as dízimas innitas periódicas
seguintes na forma de números racionais:
a) 0, 4444 . . . ; b) 1, 9999 . . . ; c) 0, 515151 . . . ; d) 0, 123123123 . . . .
4. Indique as sucessões das somas parciais das séries de Mengoli seguintes e calcule a soma das que
são convergentes:
+∞ +∞ +∞
X 1 X 1 X 1
a) ; b) ; c) √ √ ;
n=1
n(n + 2) n=2
(n − 1)n(n + 1) n=1
n+1+ n
+∞ √ √ +∞ ∞
(−1)n−1 (2n + 1)
X n+1− n X 1 X
d) √ ; e) ln 1 + ; f) .
n=1
n2 + n n=2
n n=1
n(n + 1)
+∞ +∞ +∞
X n! X 1 X 1
d) ; e) ; f) .
2n
p
n=1
(n + 2)! n=1 n(n + 1) n=0
+1
7. Usando o Critério de Comparação com as séries de Dirichlet, estude a natureza das séries seguintes:
+∞ √ +∞ p +∞
X 1+ n X
2
X sen2 (n)
a) ; b) ( n + 1 − n) ; c) ;
n=2
n2 − n n=0 n=1
n2
+∞ √ +∞ +∞ √ √
X n− n X 1 X 1+ 2 + ··· + n
d) e) ; f) .
n=1
n2 + 5n n=0
(4n − 3)(4n − 1) n=0
n2 + 1
2014/2015 79 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R Ficha de exercícios
8. Usando o Critério da Razão (de D'Alembert), estude a natureza das séries seguintes:
+∞ +∞ 2 +∞
X 1 X n X n!
a) ; b) ; c)
n=0
n! n=1
2n n=1
nn
+∞ n +∞ +∞
X (n!)2 15 2 X n X 1.3 . . . (2n + 1)
d) ; e) n2
; f) .
n=1
(2n)! n=1
e n=0
4.8 . . . (4n + 4)
9. Usando o Critério da Raiz (de Cauchy), estude a natureza das séries seguintes:
+∞ +∞ +∞ n(n−1)
X 1 X
−(2n+1)
X 2n − 1
a) n ; b) n2 ; c)
n=1
n2 n=1 n=1
2n + 1
+∞ n2 +∞ n +∞
X n+2 X 2 n! X 1
d) 3n+1 e) ; f) 2n .
n=1
n+3 n=1
nn n
n=1 [3 + (−1) ]
+∞ n +∞ n +∞
(−n)n
X 1 X 2n + 100 X
d) − ; e) (−1)n ; f) .
n=0
2 n=1
3n + 1 n=0
(2n)!
11. Usando o Critério de Dirichlet, mostre que as séries seguintes são convergentes:
+∞ +∞
X sen(n) X cos(nx)
a) ; b) , x ∈ R.
n=1
n n=1
n
12. Estude as séries seguintes quanto à convergência calculando, sempre que possível, a soma das
convergentes:
+∞ n +∞ n +∞
X π − en X 3 n! X √ n
a) ; b) ; c) n
n−1 ;
n=1
4n n=1
nn n=1
+∞ +∞ 1 +∞
X 2n + n2 + n X nn+ n X (−1)n
d) ; e) n ; f) √ √ ;
n=1
2n+1 n(n + 1) n=1
n + n1 n=0
n+1+ n
+∞ 3 √ n +∞ n(n−1) +∞
X n 2 + (−1)n X (−1) 2 X 2.5 . . . (3n + 2)
g) ; h) ; i) .
n=1
3n n=1
2n n=1
2n (n + 1)!
+∞ +∞
X (−1)n X sen(n)
c) √ √ ; d) ;
n=0
n+1+ n n=1
n2
+∞ +∞
(−1)n (−1)n
n−1 3.5.7 . . . (2n + 1)
X X
e) (−1) ; f) 1+ ;
n=1
2.5.8 . . . (3n − 1) n=0
n+1 n+1
+∞ +∞ n2
X 3.7.11 . . . (4n − 1) X n+1
g) (−1)n ; h) (−2)n+1 .
n=1
4.7.10 . . . (3n + 1) n=0
n+2
2014/2015 80 c HBO
Capítulo 4
As funções racionais e irracionais que abordamos no Capítulo 1 são denidas directamente pelas opera-
ções elementares de cálculo. No entanto, existem funções cujas denições transcendem estas operações
elementares de cálculo. Por isso, é frequente designar esta funções por funções transcendentes. As
funções transcendentes, tal como as racionais e irracionais, também pertencem ao grande grupo de fun-
ções elementares no sentido em que se podem escrever como somas nitas de expressões designatórias. A
grande fonte para as funções transcendentes reside na Geometria, a primeira área da Matemática a ser
estudada. Nesta secção iremos falar de praticamente todas as funções transcendentes conhecidas: expo-
nencial, trigonométricas, hiperbólicas, bem como as suas inversas. Em matemática elementar é comum
passar por cima de algumas diculdades inerentes à denição destas funções até se conseguir explicá-las
melhor com métodos de análise matemática que são adquiridos a posteriori.
As primeiras funções transcendentes a serem estudadas são a função exponencial e a sua inversa, a função
logarítmica.
Denição 4.1.1. Seja a um número real positivo. Dene-se a função exponencial de base a
por
f (x) = ax .
• Domínio: Df = R.
• Contra-domínio: D0f = (0, +∞).
• Zeros: não tem.
• Variação de sinal: é sempre positiva.
• Monotonia: é estritamente crescente se a > 1; é estritamente decrescente se 0 < a < 1; é constan-
temente igual a 1 se a = 1.
• Injectividade: é injectiva em todo o seu domínio se a 6= 1.
• Grácos: Ver Figura 4.1.
Observemos que a função exponencial está denida apenas para valores de a positivos. Não pode estar
√
denida para valores de a negativos, porque quando x assume valores como 1/2, a potência a1/2 = a
81
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 4. COMPLEMENTOS DE FUNÇÕES
y y
1 1
x x
não está denida para valores de a negativos. Por outro lado, se a = 0, quando x = 0 não sabemos o
que é 00 .
f (x) = ex .
Por vezes designamos a função exponencial de base e como a função exponencial de base natural.
Como vimos aquando do estudo das séries numéricas, o número e pode ser rigorosamente denido por:
+∞
X 1
e= .
n=0
n!
Pela análise anterior da função exponencial, vericamos que, independentemente da base que se considere,
à excepção de a = 1, esta função é injectiva em todo o seu domínio. Sendo assim, podemos determinar
a sua função inversa.
Denição 4.1.2. Seja a um número real positivo diferente de 1. Dene-se a função logarítmica
de base a por
f (x) = loga x.
2014/2015 82 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 4. COMPLEMENTOS DE FUNÇÕES
• Variação de sinal: Se 0 < a < 1, é negativa para x ∈ (1, +∞) e positiva para x ∈ (0, 1). Se a > 1 é
negativa para x ∈ (0, 1) e positiva para x ∈ (1, +∞);
y y
x x
1 1
y = ax ⇔ x = loga y. (4.1.1)
Tal como para a função exponencial, a base da função logarítmica com mais interesse é a = e, onde e é
o número de Neper:
f (x) = loge x.
Neste caso, designamos a função logarítmica como a função logarítmica de base natural e usamos
a notação ln x em vez de loge x.
x
5. loga = loga x − loga y ;
y
6. loga x = loga b logb x.
Demonstração: A partir da Proposição 4.1.1 e da relação (4.1.1), a demonstração é imediata - ver, por
exemplo, Campos Ferreira, pp. 247-249. Outra possibilidade, é usar noções do Cálculo Diferencial - ver,
por exemplo, Serge Lange, pp. 120-122.
Muitos autores denem primeiro a função logarítmica e só depois a função exponencial como função in-
versa da primeira. Isto deve-se ao facto da demonstração de algumas propriedades da função exponencial
serem mais fáceis de mostrar recorrendo à função logarítmica. Mas aqui temos o problema de ter de usar
métodos da análise matemática que apenas são ensinados a posteriori - ver, por exemplo, Serge Lang.
2014/2015 83 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 4. COMPLEMENTOS DE FUNÇÕES
• Domínio: Df = R.
• Contra-domínio: D0f = [−1, 1].
y
1
x
−2π −π − π2 π π 2π
− 3π
2 2
3π
2
−1
Como resulta das propriedades da função seno, verica-se que esta não é injectiva, se considerarmos
todo o seu domínio. No entanto, observa-se que a função seno é injectiva se a restringirmos a um dos
intervalos da forma
h π
π i π 3π
− + 2kπ, + 2kπ ou + 2kπ, + 2kπ .
2 2 k∈Z 2 2 k∈Z
seno.
Denição 4.2.2. Dene-se a função arco-seno como sendo a inversa da função seno, quando
2014/2015 84 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 4. COMPLEMENTOS DE FUNÇÕES
f (x) = arcsen(x).
π y
2
x
−1 1
− π2
A expressão arcsen(x), lê-se arco cujo seno é x e, fazendo a inversão da Tabela 4.7 dos valores principais
do seno, obtemos a Tabela 4.1 com os valores principais da função arco-seno.
√ √
1 2 3
x 0 1
2 2 2
π π π π
arcsen(x) 0
6 4 3 2
• Domínio: Df = R.
• Contra-domínio: D0f = [−1, 1].
2014/2015 85 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 4. COMPLEMENTOS DE FUNÇÕES
• Zeros: x = π
2 + kπ , k ∈ Z.
• Periodicidade: é uma função periódica de período 2π .
• Variação de sinal: é positiva para x ∈ − π2 + 2kπ, π2 + 2kπ e negativa para x ∈ π
2 + 2kπ ,
2 + 2kπ , com k ∈ Z.
3π
• Monotonia: é estritamente crescente para x ∈ ((2k − 1)π, 2kπ) e estritamente decrescente para
x ∈ (2kπ, (2k + 1)π), com k ∈ Z.
• Extremos: tem o valor máximo y = 1 nos pontos x = 2kπ , k ∈ Z; tem o valor mínimo y = −1 nos
pontos x = (2k + 1)π , k ∈ Z.
y
1
x
−2π −π π π π 2π
− 3π
2 2 2
3π
2
−1
Tal como a função seno, também a função coseno não é injectiva se considerarmos todo o seu domínio.
Contudo, verica-se que a função coseno é injectiva, se a restringirmos a um dos intervalos da forma
Podemos, então, considerar a restrição da função coseno a um destes intervalos e aí vai ser possível
determinar a sua inversa. Ao intervalo [0, π] vamos designar por ramo principal da função coseno.
Denição 4.2.4. Dene-se a função arco-coseno como sendo a inversa da função coseno, quando
restringida ao intervalo [0, π], e denota-se por:
f (x) = arccos(x).
2014/2015 86 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 4. COMPLEMENTOS DE FUNÇÕES
y
π
π
2
x
−1 1
√ √
3 2 1
x 1 0
2 2 2
π π π π
arccos(x) 0
6 4 3 2
A expressão arccos(x) lê-se arco cujo coseno é x e, fazendo a inversão da Tabela 4.7 dos valores principais
do coseno, obtemos a Tabela 4.2 com os valores principais da função arco-coseno.
Proposição 4.2.1. Sempre que as expressões estejam denidas, as igualdades seguintes são veri-
cadas:
√
1. sen(arccos(x)) = cos( arcsen(x)) = 1 − x2 ;
2014/2015 87 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 4. COMPLEMENTOS DE FUNÇÕES
• Domínio: Df = R \ + kπ : k ∈ Z .
π
2
• Contra-domínio: D0f = R.
• Paridade: é uma função ímpar.
• Zeros: x = kπ , k ∈ Z.
• Periodicidade: é uma função periódica de período π .
• Variação de sinal: é positiva para x ∈ kπ, π2 + kπ e negativa para x ∈ − π2 + kπ, kπ , com k ∈ Z.
x
−π − π2 π π
− 3π
2 2
3π
2
Tal como para as funções seno e coseno, também a função tangente não é injectiva em todo o seu domínio.
Mas, restringido-a a um dos intervalos da forma
π π
− + kπ, + kπ ,
2 2 k∈Z
a função tangente é injectiva. Ao intervalo − π2 , π2 vamos designar por ramo principal da função
tangente.
Denição 4.2.6. Dene-se a função arco-tangente como sendo a inversa da função tangente,
quando restringida ao intervalo − π2 , π2 , e denota-se por:
f (x) = arctg(x).
• Domínio: Df = R.
• Contra-domínio: D0f = − π2 , π2 .
2014/2015 88 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 4. COMPLEMENTOS DE FUNÇÕES
y
π
2
x
− π2
A expressão arctg(x) lê-se arco cuja tangente é x e, fazendo a inversão da Tabela 4.8 dos valores principais
da tangente, obtemos a Tabela 4.3 com os valores principais da função arco-tangente.
√
3 √
x 0 1 3
3
π π π
arctg(x) 0
6 4 3
• Contra-domínio: D0f = R.
• Paridade: é uma função ímpar.
• Zeros: x = π
2 + kπ , com k ∈ Z.
• Periodicidade: é uma função periódica de período π .
2014/2015 89 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 4. COMPLEMENTOS DE FUNÇÕES
x
−π − π2 π π
− 3π
2 2
3π
2
Do mesmo modo que a função tangente, também a função cotangente não é injectiva em todo o seu
domínio. Mas, a sua restrição a um dos intervalos da forma
(kπ, (k + 1)π)k∈Z ,
é uma função injectiva. O intervalo (0, π) vai ser designado por ramo principal da função cotangente.
Denição 4.2.8. Dene-se a função arco-cotangente como sendo a inversa da função cotangente,
quando restringida ao intervalo (0, π), e denota-se por:
f (x) = arccotg(x).
• Domínio: Df = R.
• Contra-domínio: D0f = (0, π).
• Paridade: é uma função que não é par nem ímpar.
y
π
π
2
x
A expressão arccotg(x) lê-se arco cuja cotagente é x e, fazendo a inversão da Tabela 4.8 dos valores
principais da cotangente, obtemos a Tabela 4.4 com os valores principais da função arco-cotangente.
2014/2015 90 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 4. COMPLEMENTOS DE FUNÇÕES
√
√ 3
x 3 1 0
3
π π π π
arccotg(x)
6 4 3 2
Da relação entre as funções tangente e cotangente, podemos retirar as propriedades expressas na propo-
sição seguinte.
Proposição 4.2.2. Sempre que as expressões estejam denidas, as igualdades seguintes são veri-
cadas:
1. arccotg(x) = arctg 1
;
x
2. cotg( arctg(x)) = 1
x = tg( arccotg(x)).
• Domínio: Df = R \ + kπ : k ∈ Z .
π
2
• Extremos: tem mínimos locais com valor y = 1 em x = 2kπ , com k ∈ Z; tem máximos locais com
valor y = −1 em x = (2k + 1)π , com k ∈ Z.
2014/2015 91 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 4. COMPLEMENTOS DE FUNÇÕES
1 x
−π − π2 π π
− 3π
2 2
3π
2
Da denição resulta que a secante não é uma função verdadeiramente nova, já que se trata do inverso
multiplicativo da função coseno. Tal como nos casos anteriores, também a função secante não é injectiva
em todo o seu domínio. Mas, a sua restrição a um dos conjuntos da forma
π π
2kπ, + 2kπ ∪ + 2kπ, π + 2kπ ,
2 2 k∈Z
é uma função injectiva. O conjunto (0, π) \ π2 vai ser designado por ramo principal da função
secante.
Denição 4.2.10. Dene-se a função arco-secante como sendo a inversa da função secante,
restringida ao conjunto (0, π) \ π2 , e denota-se por:
f (x) = arcsec(x).
A expressão arcsec(x) lê-se arco cuja secante é x e, fazendo a inversão da Tabela 4.9 dos valores principais
da secante, obtemos a Tabela 4.5 com os valores principais da função arco-secante.
2014/2015 92 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 4. COMPLEMENTOS DE FUNÇÕES
y
π
π
2
x
−1 1
√
2 3 √
x 1 2 2
3
π π π
arcsec(x) 0
6 4 3
• Variação de sinal: é positiva para x ∈ (2kπ, (2k + 1)π) e negativa para x ∈ ((2k − 1)π, 2kπ), com
k ∈ Z.
• Monotonia: é estritamente crescente para x ∈ (2k − 1)π, − π2 + 2kπ ∪ π2 + 2kπ, (2k + 1)π e
Também da denição, observamos que a cosecante não é uma função verdadeiramente nova, pois se pode
escrever como sendo o inverso multiplicativo da função seno. A função cosecante não é injectiva em todo
o seu domínio. Mas, a sua restrição a um dos conjuntos da forma
π π
− + 2kπ, + 2kπ \ {2kπ},
2 2
com k ∈ Z, já é uma função injectiva. O conjunto − π2 , π2 \ {0} vai ser designado por ramo principal
da função cosecante.
Denição 4.2.12. Dene-se a função arco-cosecante como sendo a inversa da função cosecante,
2014/2015 93 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 4. COMPLEMENTOS DE FUNÇÕES
1 x
−π − π2 π π
− 3π
2 2
3π
2
f (x) = arccosec(x).
y
π
2
x
1
− π2
A expressão arccosec(x) lê-se arco cuja cosecante é x e, fazendo a inversão da Tabela 4.9 dos valores
principais da cosecante, obtemos a Tabela 4.6 com os valores principais da função arco-cosecante.
Das relações entre as funções secante e cosecante com as funções trigonométricas anteriormente estudadas,
podemos estabelecer a proposição seguinte.
Proposição 4.2.3. Sempre que as relações estejam denidas, as igualdades seguintes são válidas:
1. arcsec(x) = arccos 1
e arccosec(x) = arcsen 1
;
x x
2014/2015 94 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 4. COMPLEMENTOS DE FUNÇÕES
√
2 3 √
x 1 2 2
3
π π π π
arccosec(x)
2 3 4 6
√
2. tg( arcsec(x)) = x2 − 1 = cotg( arccosec(x));
√
3. sec( arctg(x)) = x2 + 1 = cosec( arccotg(x)).
• Domínio: Df = R.
• Contra-domínio: D0f = R.
• Paridade: é uma função ímpar.
• Zeros: x = 0.
• Variação de sinal: é positiva para x ∈ (0, +∞) e negativa para x ∈ (−∞, 0).
• Monotonia: é estritamente crescente em todo o seu domínio.
• Injectividade: É injectiva.
• Gráco: Ver Figura 4.15
2014/2015 95 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 4. COMPLEMENTOS DE FUNÇÕES
1
x
−1
A função seno hiperbólico, sendo injectiva em todo o seu domínio, vai admitir função inversa sem restri-
ções.
Denição 4.3.2. Dene-se a função argumento do seno hiperbólico como sendo a inversa da
função seno hiperbólico e denota-se por:
f (x) = argsh(x).
• Domínio: Df = R.
• Contra-domínio: Df = R.
• Paridade: é uma função ímpar.
• Zeros: x = 0.
• Variação de sinal: é positiva para x ∈ (0, +∞) e negativa para x ∈ (−∞, 0).
• Monotonia: é estritamente crescente em todo o seu domínio.
• Gráco: Ver Figura 4.16
1
x
−1
2014/2015 96 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 4. COMPLEMENTOS DE FUNÇÕES
• Domínio: Df = R.
• Contra-domínio: Df = [1, +∞).
• Monotonia: é estritamente crescente para x ∈ (0, +∞) e estritamente decrescente para x ∈ (−∞, 0).
• Injectividade: Não é injectiva.
• Gráco: Ver Figura 4.17
1
x
Portanto, a função seno hiperbólico, bem como a sua inversa, não são funções verdadeiramente novas,
pois a sua escrita é feita à custa de funções já conhecidas.
Verica-se que a função coseno hiperbólico é injectiva, se a restringirmos aos intervalos (−∞, 0] ou
[0, +∞). Fixando o intervalo [0, +∞) podemos aí considerar a inversa da função coseno hiperbólico.
Denição 4.3.4. Dene-se a função argumento do coseno hiperbólico como sendo a inversa
da função coseno hiperbólico, restringida ao intervalo [0, +∞), e denota-se por
f (x) = argch(x).
2014/2015 97 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 4. COMPLEMENTOS DE FUNÇÕES
x
1
Na proposição seguinte mostramos qual a relação entre o seno e o coseno hiperbólicos e apresentamos
expressões mais simples para as suas funções inversas.
Proposição 4.3.1. Sempre que as expressões estejam denidas, as igualdades seguintes são válidas:
Para as outras duas expressões, usamos as funções directas e determinamos as suas inversas, mas agora
fazendo uso da exponencial e do logaritmo. Procedendo deste modo, obtemos:
ex − e−x
senh(x) = y ⇔ = y ⇔ (ex )2 − 2yex − 1 = 0
p 2
x 2y ± 4y 2 + 4 p p
⇔e = ⇒ ex = y + y 2 + 1 ⇔ x = ln y + y 2 + 1 ;
2
ex + e−x
cosh(x) = y ⇔ = y ⇔ (ex )2 − 2yex + 1 = 0
p 2
x 2y ± 4y 2 − 4 p p
⇔e = ⇒ ex = y + y 2 − 1 ⇔ x = ln y + y 2 − 1 ;
2
o que conclui a demonstração.
2014/2015 98 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 4. COMPLEMENTOS DE FUNÇÕES
• Domínio: Df = R.
• Contra-domínio: Df = (−1, 1).
• Paridade: é uma função ímpar.
• Zeros: x = 0.
• Variação de sinal: é positiva para x ∈ (0, ∞) e negativa para x ∈ (−∞, 0).
• Monotonia: é estritamente crescente em todo o seu domínio.
• Injectividade: É injectiva.
• Gráco: Ver Figura 4.19
1
x
−1
Como a função tangente hiperbólica é injectiva em todo o seu domínio, vai admitir função inversa sem
qualquer tipo de restrição.
Denição 4.3.6. Dene-se a função argumento da tangente hiperbólica como sendo a função
inversa da função tangente hiperbólica e denota-se por:
f (x) = argtgh(x).
2014/2015 99 c HBO
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 4. COMPLEMENTOS DE FUNÇÕES
x
−1 1
• Domínio: Df = R \ {0}.
• Contra-domínio: (−∞, −1) ∪ (1, +∞).
• Paridade: é uma função ímpar.
• Injectividade: É injectiva.
• Gráco: Ver Figura 4.21
1
x
−1
Como a função cotangente hiperbólica é injectiva no seu domínio, vai ter inversa sem restrição alguma.
f (x) = argcotgh(x).
x
−1 1
Proposição 4.3.2. Sempre que as expressões estejam denidas, as igualdades seguintes são válidas:
1. cotgh(x) = tgh(x) ;
1
2. argtgh(x) = 1
2 ln 1+x
1−x ;
3. argcotgh(x) = 1
2 ln 1+x
x−1 .
ex + e−x 1 1
cotgh(x) = = ex −e−x
= .
ex − e−x ex +e−x
tgh(x)
Observação. Muitos autores designam as inversas das funções hiperbólicas como sendo arcos e denotam-
nas por arcsh(x), arcch(x), arctgh(x) e arcctgh(x), ou algo similar em que aparece o prexo arc. Apesar
de se perceber a analogia destas designações e notações com as das inversas das funções trigonométricas,
convém frisar que as funções hiperbólicas não têm as mesmas motivações geométricas que as funções
trigonométricas. Por isso, a utilização das notações com o prexo arc será, neste caso, um abuso de
escrita.
Seguindo o mesmo procedimento anterior, podemos fazer, também, um estudo análogo para as funções
secante hiperbólica e tangente hiperbólica, bem como as suas inversa.
B θ A
Observe-se que, como sabemos da geometria, a amplitude do um ângulo é medida em graus, xando
que um círculo, ou ângulo giro, mede 360o . Um semi-círculo, ou ângulo raso, mede 180o , um quarto
θ
B A x
1
de círculo, ou ângulo rectângulo mede 90o . No entanto para a análise matemática, torna-se mais útil
introduzir outra medida para medir a amplitude dos ângulos. Esta medida designa-se por radiano e está
relacionada com o grau de tal modo que 2π = 360o e, por consequência, π = 180o e π/2 = 90o .
Designemos agora as coordenadas do vértice C por (x, y). Por uma simples análise, verica-se que x é a
medida do cateto adjacente, lado BA, e y é a medida do cateto oposto, lado CA. Como inscrevemos o
triângulo rectângulo num círculo de raio 1 centrado na origem do referencial, x e y vão variar entre 0 e
1. Com esta notação, temos
sen(θ) = y e cos(θ) = x.
Neste sentido, podemos dizer que o seno se lê no eixo dos yy e o coseno no dos xx. Usando um pouco
de geometria e cálculo numérico, conseguimos obter a Tabela 4.7 dos denominados valores principais
do seno e do coseno.
π π π π
radianos 0
6 4 3 2
√ √
1 2 3
seno 0 1
2 2 2
√ √
3 2 1
coseno 1 0
2 2 2
Esta análise que zemos para o triângulo rectângulo inscrito no primeiro quadrante pode ser estendida
para o mesmo triângulo inscrito em qualquer um dos outros três quadrantes, inscrevendo o lado BA
sobre os semi-eixos positivo dos yy , negativo dos xx, negativo dos yy , ou positivo dos xx. Nestes casos,
−−→
considera-se um ângulo ω compreendido entre o semi-eixo positivo dos xx e a semi-recta BC . Consoante
o ângulo ω atinja o primeiro, segundo, terceiro, ou o quarto quadrante, podemos relacionar ω com um
ângulo θ inscrito no primeiro quadrante. Isto é, se 0 ≤ θ ≤ π/2, temos as possibilidades seguintes para
ω:
• no primeiro quadrante: ω = θ ou ω = π
2 − θ;
• no segundo quadrante: ω= π
2 +θ ou ω = π − θ;
• no terceiro quadrante: ω = π + θ ou ω = 3π
2 − θ;
• no quarto quadrante: ω= 3π
2 +θ ou ω = 2π − θ.
Como vimos acima, no círculo unitário, sen(θ) = y e cos(θ) = x. Então, podemos dizer, que o seno é
positivo nos primeiro e segundo quadrantes e é negativo nos terceiro e quarto quadrantes, tal como y . O
coseno vai ser positivo no primeiro e quarto quadrantes e negativo no segundo e terceiro quadrantes, tal
como x. Desta forma, considerando 0 ≤ θ ≤ π/2, facilmente obtemos as relações seguintes:
π π
• sen 2 − θ = cos(θ), cos 2 − θ = sen(θ) ;
π π
• sen 2 + θ = cos(θ), cos 2 + θ = − sen(θ) ;
3π 3π
• sen 2 − θ = − cos(θ) ; cos 2 − θ = − sen(θ) ;
3π 3π
• sen 2 + θ = − cos(θ) ; cos 2 + θ = sen(θ) ;
Usando o facto de sen(θ) = y e cos(θ) = x e usando, ainda, as relações anteriores, podemos concluir,
também, que:
sen (θ) = 0 ⇔ θ = 0, θ = π ou θ = 2π;
π 3π
cos (θ) = 0 ⇔ θ= ou θ = .
2 2
O seno e o coseno são as expressões trigonométricas mais importantes. No entanto, existem outras
expressões trigonométricas, que, por vezes, são muito úteis. Tenhamos presentes as considerações sobre o
círculo unitário e o triângulo rectângulo nele inscrito feitas acima. Denimos a tangente e a cotangente
do ângulo θ, respectivamente, por:
Existem, ainda, outras expressões trigonométricas que, apesar de não serem tão utilizadas como as
anteriores, têm, também, alguma importância. Novamente, tenhamos presentes as considerações sobre o
círculo unitário e o triângulo rectângulo nele inscrito feitas no início desta secção. Denimos a secante
e a cosecante do ângulo θ, respectivamente, por:
1 1 1 1
sec(θ) = = = = ,
cos(θ) cateto adjacente BA x
π π π π
radianos 0
6 4 3 2
√
3 √
tangente 0 1 3 n.d.
3
√
√ 3
cotangente n.d. 3 1 0
3
1 1 1 1
cosec(θ) = = = = .
sen(θ) cateto oposto CA y
Resulta desta denição que a secante não está denida quando cos(θ) = 0, ou seja, quando θ = π/2 e
θ = 3π/2. A cosecante não está denida para sen(θ) = 0, isto é, quando θ = 0, θ = π e θ = 2π . Também
aqui, da tabela dos valores principais do seno e do coseno, podemos obter os valores principais da
secante e da cosecante, conforme Tabela 4.9.
π π π π
radianos 0
6 4 3 2
√
2 3 √
secante 1 2 2 n.d.
3
√
√ 2 3
cosecante n.d. 2 2 1
3
sen(θ ± φ) = sen(θ) cos(φ) ± sen(φ) cos(θ), cos(θ ± φ) = cos(θ) cos(φ) ∓ sen(φ) sen(θ).
Demonstração: A primeira armação sai imediatamente pelo Teorema de Pitágoras. Para a segunda
armação, a prova mais simples é vericar a identidade entre o comprimento de um dos lados do triângulo
com o comprimento da diferença entre os outros dois. Outro modo, é aplicar o Teorema de Pitágoras. Por
m, a demonstração da terceira armação resulta de denir o seno e o coseno em termos da hipotnusa
e dos catetos e usar simetria geométrica. Ver, por exemplo, Boyce & DiPrima, pp. 46-49.
A Figura 4.25 permite-nos compreender melhor todas as expressões trigonométricas que aqui estuda-
mos. Nesta gura, substituímos as notações dos vértices A, B e C , anteriormente feitas, pelas notações
C , O e P , respectivamente, que são mais habituais no estudo de ângulos inscritos ao centro de uma
circunferência.
A partir da noção trigonométrica do seno, podemos fazer a associação entre o circulo unitário e um
referencial cartesiano como o que apresentamos na Figura 4.26.
y
π
2
2π π 1
3 3
5π π
6 6 1
2
π 2π
θ
1 x π
6
π
3
π
2
2π
3
5π
6
π 7π
6
4π
3
3π
2
5π
3
11π
6
2π
sen(θ)
7π 11π −1
2
6 6
4π 5π
3 3 −1
3π
2
1
Também a partir a noção trigonométrica de coseno, podemos fazer a associação entre o circulo unitário
e um sistema de eixos cartesianos tal como o que apresentamos na Figura 4.27.
y
π
2
2π π 1
3 3
5π π
6 6 1
2
π
cos(θ) 2π
θ
1 x π
6
π
3
π
2
2π
3
5π
6
π 7π
6
4π
3
3π
2
5π
3
11π
6
2π
7π 11π −1
2
6 6
4π 5π
3 3 −1
3π
2
1
As relações trigonométricas estudadas aqui vão dar origem a uma vasta classe de funções trigonométricas
cuja principal característica é o facto de serem periódicas. Além das motivações geométricas, estas novas
funções poderão ter expressão importante na explicação de fenómenos que se repetem.
Denição 4.4.1. Diz-se que f é uma função periódica, se para cada x ∈ Df , o valor de f (x) é o
mesmo de f (x + p), sendo p o menor número real não nulo, denominado período da função, tal
que f (x + p) = f (x) para todo x ∈ Df .
1. Tendo por base de demonstração as fórmulas de duplicação do seno e do coseno, mostre que:
x−t x+t
(m) sen(x) − sen(t) = 2 sen cos ;
2 2
x−t x+t
(n) sen(x) + sen(t) = 2 cos sen .
2 2
10. Usando as denições das funções seno e coseno hiperbólicos, mostre que:
11. Recorrendo apenas ao conhecimento do gráco das funções elementares já estudadas, esboce os
grácos das funções seguintes:
Soluções
ey
2: a) Df = (−∞, −1) ∪ (0, +∞), xf = 2−ey
⇒ D0f = R \ {ln 2}; Dg = R, xg = − arcsen(y 2 − 1) (y ∈
√ cos(y)−1
[−1, 1]) ⇒ D0g = [0, 2]; Dh = (−∞, 0], xh = cos(y)+1 (y ∈ [0, π]) ⇒ D0h = [0, π); Di = R \ k∈Z { π2 + kπ, kπ},
S
Limites e Continuidade
No que se segue, iremos considerar sempre funções reais de uma variável real com domínios contidos em
R. Por exemplo, f será uma função real de variável real com domínio Df ⊆ R.
Denição 5.1.1. Diz-se que um número real b é o limite de uma função f no ponto x = a, ou
quando x tende para a, e escreve-se
lim f (x) = b,
x→a
se
∀ ε > 0 ∃ δ > 0 : ∀ x (x ∈ Df ∧ |x − a| < δ ⇒ |f (x) − b| < ε) . (5.1.1)
Desta forma, o conceito de limite vai ter relevância do ponto de vista microscópico, o qual em Análise
Matemática se diz ponto de vista innitesimal.
Se não existir o número real b da Denição 5.1.1, vamos dizer que a função não tem limite no ponto
x = a. No caso de b = +∞ ou b = −∞, o limite não existe, mas, por vezes, comete-se um abuso de
linguagem e de escrita dizendo que o limite é +∞ ou −∞. Tendo presente que se trata de um abuso de
escrita, podemos adaptar a denição anterior para escrever o seguinte:
1
• lim f (x) = +∞ ⇐⇒ ∀ ε > 0 ∃ δ > 0 : ∀ x x ∈ Df ∧ |x − a| < δ ⇒ f (x) > ;
x→a ε
1
• lim f (x) = −∞ ⇐⇒ ∀ ε > 0 ∃ δ > 0 : ∀ x x ∈ Df ∧ |x − a| < δ ⇒ f (x) < − .
x→a ε
Observe-se que sobre o ponto x = a onde se calcula o limite não impusemos nenhuma condição. A ideia
é que se possa sempre chegar até a por pontos interiores ao domínio Df . Isto corresponde a dizer que
111
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 5. LIMITES E CONTINUIDADE
a é um ponto de acumulação1 do domínio Df . Por isso, convém referir que o ponto x = a não pertence
necessariamente ao domínio Df . Se, porventura, a pertencer a Df , então o cálculo do limite resume-se
a substituir na expressão designatória da função f a variável x por a:
Temos Da) = [−1, 1] e Db) = R, pelo que o ponto x = 0, onde se calcula cada limite, pertence ao
domínio de ambas as funções. Então, temos:
ex − e−x e0 − e−0
1 π
a) lim1 arccos(x) = arccos = e b) lim tgh(x) = lim x −x
= 0 = 0.
x→ 2 2 3 x→0 x→0 e + e e + e−0
No caso do ponto x = a não pertencer ao domínio Df , o cálculo do limite já vai ser mais complicado.
Aqui convém distinguir as situações em que a ∈ R e aquelas quando a = +∞ ou a = −∞. Nestas
últimas, temos de adaptar a Denição 5.1.1 para termos denições de limites apropriadas.
Denição 5.1.2. Diz-se que um número real b é o limite de uma função f quando x tende para
+∞, e escreve-se
lim f (x) = b,
x→+∞
se
1
∀ε>0 ∃δ>0 : ∀x x ∈ Df ∧ x > ⇒ |f (x) − b| < ε . (5.1.2)
δ
Diz-se que um número real b é o limite de uma função f quando x tende para −∞, e escreve-se
lim f (x) = b,
x→−∞
se
1
∀ε>0 ∃δ>0 : ∀x x ∈ Df ∧ x < − ⇒ |f (x) − b| < ε . (5.1.3)
δ
• para qualquer x ∈ Df innitamente grande positivo, no caso de haver limite, vai existir sempre
uma vizinhança de y = b que contém a imagem f (x);
• para qualquer x ∈ Df innitamente grande negativo, no caso de haver limite, vai existir sempre
uma vizinhança de y = b que contém a imagem f (x).
Rera-se que, aqui, não faz sentido dizer que +∞ ou −∞ são pontos de acumulação de Df , a não ser no
sentido de se poder ir para +∞ ou −∞ por pontos interiores a Df .
Se não existir o número real b da Denição 5.1.2, vamos dizer que a função não tem limite no ponto
x = a. No caso de b = +∞ ou b = −∞, o limite não existe, e novamente costuma-se abusar da linguagem
1 Diz-se que a é um ponto de acumulação do conjunto A ⊂ R, se todo o intervalo aberto (a − ε, a + ε), com ε > 0,
contém, pelo menos, um ponto de A distinto de a.
e da escrita dizendo que o limite é +∞ ou −∞. Adaptando a denição anterior, podemos escrever o
seguinte:
1 1
• lim f (x) = +∞ ⇐⇒ ∀ ε > 0 ∃ δ > 0 : ∀ x x ∈ Df ∧ x > ⇒ f (x) > ;
x→+∞ δ ε
1 1
• lim f (x) = +∞ ⇐⇒ ∀ ε > 0 ∃ δ > 0 : ∀ x x ∈ Df ∧ x < − ⇒ f (x) > ;
x→−∞ δ ε
1 1
• lim f (x) = −∞ ⇐⇒ ∀ ε > 0 ∃ δ > 0 : ∀ x x ∈ Df ∧ x < − ⇒ f (x) < − ;
x→−∞ δ ε
1 1
• lim f (x) = −∞ ⇐⇒ ∀ ε > 0 ∃ δ > 0 : ∀ x x ∈ Df ∧ x > ⇒ f (x) < − .
x→+∞ δ ε
Temos Da) = R e Db) = R, pelo que se podem calcular os limites quando x → ±∞. Temos, então:
No caso do ponto x = a, onde se pretende calcular o limite, não pertencer a Df mas pertencer a R, pode
acontecer uma situação completamente diferente. Por exemplo, no caso de existirem pontos x ∈ Df tais
que x > a e x < a. Quando se passa ao limite, convém saber por que valores de x ∈ Df nos vamos
aproximar do ponto x = a: se por valores x > a ou x < a. É que, dependendo da função, o resultado
nal pode ser diferente se nos aproximarmos por valores x > a ou x < a.
Denição 5.1.3. Diz-se que um número real b é o limite de uma função f no ponto x = a, ou
quando x tende para a, por valores à direita de a e escreve-se
lim f (x) = b,
x→a+
se
∀ ε > 0 ∃ δ > 0 : ∀ x (x ∈ Df ∧ a < x < a + δ ⇒ |f (x) − b| < ε) .
Diz-se que um número real b é o limite de uma função f no ponto x = a, ou quando x tende para
a, por valores à esquerda de a e escreve-se
lim f (x) = b,
x→a−
se
∀ ε > 0 ∃ δ > 0 : ∀ x (x ∈ Df ∧ a − δ < x < a ⇒ |f (x) − b| < ε) .
1
• lim f (x) = +∞ ⇐⇒ ∀ ε > 0 ∃ δ > 0 : ∀ x x ∈ Df ∧ a < x < a + δ ⇒ f (x) > ;
x→a+ ε
1
• lim+ f (x) = −∞ ⇐⇒ ∀ ε > 0 ∃ δ > 0 : ∀ x x ∈ Df ∧ a < x < a + δ ⇒ f (x) < − ;
x→a ε
1
• lim− f (x) = +∞ ⇐⇒ ∀ ε > 0 ∃ δ > 0 : ∀ x x ∈ Df ∧ a − δ < x < a ⇒ f (x) > ;
x→a ε
1
• lim− f (x) = −∞ ⇐⇒ ∀ ε > 0 ∃ δ > 0 : ∀ x x ∈ Df ∧ a − δ < x < a ⇒ f (x) < − .
x→a ε
Os limites da Denição 5.1.3 são designados por limites laterais, à direita e à esquerda, e habitual-
mente denotam-se por f (a+ ) e f (a− ), respectivamente:
Neste caso, vamos dizer que a função tem limite no ponto x = a e com valor y = b (a, b ∈ R), se
f (a+ ) = f (a− ) = b. Observe-se que poderão existir os limites laterais f (a+ ) e f (a− ), mas não existir o
limite de f em x = a, por se ter f (a+ ) 6= f (a− ).
Demonstração: Seja f uma função contínua de variável real e a um ponto de acumulação do seu
domínio. Suponhamos que
lim f (x) = b1 e lim f (x) = b2 .
x→a x→a
Proposição 5.2.2. Sejam f e g duas funções reais de uma variável real e x = a um ponto de
acumulação de Df ∩ Dg , ou eventualmente +∞ ou −∞. Suponhamos que existem os limites de f
e g quando x tende para a e se tem
Se g(x) 6= 0 para todo x ∈ Dg e c 6= 0, então também existe o limite de f /g quando x tende para a
e tem-se:
f (x) b
lim = .
x→a g(x) c
e
|f (x) − g(x) − (b − c)| = |f (x) − b + c − g(x)| ≤ |f (x) − b| + |g(x) − c|.
Para a prova do limite do produto, primeiro observamos que, pela propriedade anterior, podemos escrever
lim f (x)g(x) = lim [f (x) − b] [g(x) − c] + lim cf (x) + lim bg(x) − lim bc.
x→a x→a x→a x→a x→a
Como
| [f (x) − b] [g(x) − c] − 0| = |f (x) − b||g(x) − c|,
|cf (x) − cb| = |c||f (x) − b|, |bg(x) − bc| = |b||g(x) − c| e |bc − bc| = 0,
temos
lim f (x)g(x) = 0 + cb + bc − bc = bc.
x→a
f (x) 1
lim = lim f (x) lim
x→a g(x) x→a x→a g(x)
Os resultados expressos na proposição anterior poderão ainda ser generalizados para o caso de f e ou
g terem limites innitos, com excepção dos casos em que se obtêm indeterminações. Obviamente estes
resultados são válidos no caso particular de f ou g serem funções constantes.
Proposição 5.2.3. Sejam f e g duas funções reais de variável real tais que D0g ⊆ Df , x = a
um ponto de acumulação de Dg , eventualmente +∞ ou −∞, e b um ponto de acumulação de Df ,
eventualmente +∞ ou −∞. Suponhamos que existem os limites de g quando x tende para a e de
f quando y tende para b e que se tem:
lim (f ◦ g) (x) = c.
x→a
Em particular,
∃ δg > 0 : ∀ x (x ∈ Dg ∧ |x − a| < δg ⇒ |g(x) − b| < δf ) . (5.2.6)
Conjugando (5.2.6) com (5.2.5), obtemos
Proposição 5.2.4. Sejam a ∈ R, e f , g , h funções reais de variável real cujos domínios contenham
uma vizinhança de x = a e tais que nessa vizinhança se tenha
lim g(x) = b.
x→a
Demonstração: Sejam G(x) = g(x) − f (x) e H(x) = h(x) − f (x). Na vizinhança de x = a onde
f (x) ≤ g(x) ≤ h(x), temos
0 ≤ G(x) ≤ H(x).
Da igualdade dos limites de f (x) e h(x) em x = a, tem-se
Como consequência, o limite de g(x) é igual ao de f (x), e por consequência ao de h(x), todos em
x = a.
Proposição 5.2.5. Sejam a ∈ R, e f , g funções reais de variável real cujos domínios contenham
uma vizinhança de x = a e tais que nessa vizinhança se tenha
f (x) ≤ g(x).
Então
A proposição seguinte é muito importante não só para o cálculo de limites de expressões onde intervém
o logaritmo, como também nos facilita de sobremaneira a demonstração de algumas propriedades dos
limites.
Proposição 5.2.6. Sejam g uma função real de variável real, x = a um ponto de acumulação de
Dg , eventualmente +∞ ou −∞, tal que limx→a g(x) = b. Se c ∈ R+ , então
h i
lim [ln(g(x))] = ln lim g(x) ≡ ln(b).
x→a x→a
Proposição 5.2.7. Sejam f e g duas funções reais de uma variável real e x = a um ponto de
acumulação de Df ∩ Dg , ou eventualmente +∞ ou −∞. Suponhamos que existem os limites de f
e g quando x tende para a e se tem
Se f (x) > 0 para todo x ∈ Df , então também existe o limite de f g quando x tende para a e tem-se:
h i
lim f (x)g(x) = bc .
x→a
A recta acabada surge da necessidade de estender as operações algébricas habituais do conjunto dos
números reais de modo a poder-se operar com os elementos +∞ e −∞. Estes elementos satisfazem a
relação de ordem seguinte:
−∞ < x < +∞ ∀ x ∈ R.
Denição 5.2.1 (Recta acabada). Dene-se a recta acabada e denota-se por R como sendo o
conjunto seguinte:
R = R ∪ {−∞, +∞}.
Com a introdução da recta acabada R, torna-se necessário denir as operações algébricas entre os ele-
mentos desse conjunto. Se os elementos de R forem ainda reais, isto é elementos de R, as operações são
como habitualmente.
Apêndice 2: Indeterminações
Pelo exposto na secção anterior, verica-se a existência de omissões na denição das operações algébricas
entre alguns elementos de R. Em R já conhecemos as situações seguintes em que as operações não estão
denidas:
0
e 00 .
0
Em R, quando não for possível determinar uma operação, diremos que estamos perante uma indeter-
minação.
• ∞−∞
+∞ + (−∞) = +∞ − ∞, +∞ − (+∞) = +∞ − ∞;
• 0×∞
0 × (+∞), 0 × (−∞);
• 1∞
1
1+∞ , 1−∞ = ;
1+∞
• ∞0
(+∞)0 .
Existem outras indeterminações, mas que poderão ser analisadas como casos particulares dos dados na
denição anterior. Esses casos, são as indeterminações dos tipos:
∞
•
∞
∞ 1
= × ∞ = 0 × ∞;
∞ ∞
0
• - já existente em R
0
0 1
= 0 × = 0 × ∞;
0 0
• 00 - já existente em R
0
0 1 1
0 = = .
+∞ (+∞)0
Convém referir que, como sai da parte nal da secção anterior, não são indeterminações os casos parti-
culares seguintes:
1 1
0+∞ = 0, 0−∞ = +∞ = = +∞;
0 0
1 1
(+∞)+∞ = +∞; (+∞)−∞ = = = 0.
(+∞)+∞ +∞
No cálculo de limites, usam-se muitas vezes resultados sobre limites já conhecidos. Pela sua importância
no cálculo de limites, vamos designar estes limites por limites notáveis.
x 1
sen(x) < x < tg(x) ⇔ 1 < < .
sen(x) cos(x)
1 x
tg(x) < x < sen(x) ⇔ < < 1,
cos(x) sen(x)
No cálculo de limites podemos usar a Proposição 5.2.2 sempre que não obtenhamos indeterminações. Mas,
em muitas situações de cálculo de limites, surgem indeterminações. Ao processo de resolver determinada
indeterminação, vamos designar por levantamento da indeterminação.
∞ − ∞,
podem, normalmente, ser levantadas pondo em evidência o termo de maior grau, o que em muitas
situações corresponde a simplicar a expressão. No caso dos limites em que intervêm raízes, basta
multiplicar pelo conjugado.
√
No
√ segundo exemplo,
√ começamos
√ por multiplicar e dividir a expressão pelo conjugado de x+1−
x, i.e. por x + 1 + x, tendo
√ √ 1 1
lim x+1− x = lim √ √ = = 0.
x−→+∞ x−→+∞ x+1+ x ∞
1 − x2 32x − 5x+1
lim − √ e lim .
x−→1 1 − x4 x−→+∞ 4x+1 + 22x
Comecemos por observar que no primeiro caso apenas podemos calcular o limite quando x → 1− ,
pois D = (−1, 1). Neste caso, temos
r
1 − x2 1 − x2 1 − x2
lim − √ = lim − = lim − = 0.
1 + x2
p
x−→1 1 − x4 x−→1 (1 − x2 )(1 + x2 ) x−→1
No segundo exemplo, observamos que o termo com crescimento mais rápido, quando x → ∞, é
32x = 9x . Dividindo o numerador e o denominador por estes termo, temos
x
32x − 5x+1 9x − 5 × 5x 1 − 5 × 59 1−0
lim x+1 2x
= lim x x
= lim 4
x 4
x = = ∞.
x−→+∞ 4 +2 x−→+∞ 4 × 4 + 4 x−→+∞ 4 × + 9 0+0
9
1∞
Como é evidente, sempre que seja possível, podemos usar os limites notáveis conhecidos para levantar
alguma indeterminação. Contudo, existem situações em que se torna muito difícil ou bastante demorado
o cálculo de um limite e o levantamento de uma indeterminação vai originar nova indeterminação. Para
estas situações, temos ainda ao nosso dispor uma técnica muito simples, mas muito poderosa, para o
cálculo de limites. Esta técnica vai envolver o conceito de innitésimos da mesma ordem que denimos
a seguir.
Denição 5.4.1. Seja f uma função real de variável real e x = a um ponto de acumulação do seu
domínio Df , eventualmente +∞ ou −∞. Diz-se que f é um innitésimo quando x tende para a,
se
lim f (x) = 0.
x→a
Sejam, agora, f e g dois innitésimos quando x tende para a. Dizemos que f e g são innitésimos
da mesma ordem, quando x tende para a, se
f (x)
lim = c, com c = constante 6= 0.
x→a g(x)
Exemplo 5.4.4. Quando x tende para 0, temos as funções assimptoticamente iguais seguintes:
x2
sen(x) x; 1 − cos(x) ; ln(1 + x) x; ex − 1 x.
2
De facto, de acordo com os Exemplos 5.3.1, 5.3.2, 5.3.4 e 5.3.5, temos, respectivamente:
senx
lim = 1 ⇔ sen(x) x, quando x → 0;
x→0 x
1 − cos x 1 x2
lim 2
= ⇔ 1 − cos x , quando x → 0;
x→0 x 2 2
ln(1 + x)
lim = 1 ⇔ ln(1 + x) x, quando x → 0;
x→0 x
ex − 1
lim = 1 ⇔ ex − 1 x, quando x → 0.
x→0 x
A utilidade da proposição anterior no cálculo dos limites, reside na possibilidade de, num limite, podermos
substituir uma função por outra mais simples e assimptoticamente igual, quando x tende para o ponto
onde se está a calcular o limite, e, desse modo, simplicar o cálculo do limite.
Exemplo 5.4.5. Recorrendo a relações entre innitésimos da mesma ordem, calcule os limites
seguintes:
sen(3x) sen(5x) 1 − e1−cos(x)
a) lim ; b) lim .
x→0 (x − x3 )2 x→0 ln(1 − x) + ln(1 + x)
sen(3x) sen(5x) 3x × 5x 1
a) lim = lim = 15 lim = 15.
x→0 (x − x3 )2 x→0 (x − x3 )2 x→0 (1 − x2 )2
para obter
x2 2
1 − e1−cos(x) 1−e 2 − x2 1
lim = lim 2
= lim = .
x→0 ln(1 − x) + ln(1 + x) x→0 ln(1 − x ) x→0 −x2 2
Os grácos das funções elementares de que já falamos, no Capítulo 1 e na Secção 1 deste capítulo, exibem
uma propriedade de grande importância em Análise Matemática, a continuidade. A ideia de continuidade
está subjacente na utilização corrente que fazemos de grande parte da matemática elementar. Intuiti-
vamente, a noção de continuidade de uma função, digamos f , signica que uma pequena variação da
variável independente x implica somente uma pequena variação na variável dependente y = f (x).
Denição 5.5.1. Sejam f uma função real de variável real, com domínio Df , e a um ponto de
acumulaçãoa de Df . Diz-se que a função f é contínua no ponto x = a, se
• f (x) difere arbitrariamente muito pouco de f (a) desde que x esteja sucientemente próximo de a.
Para denir a noção de continuidade, também podemos usar a noção de limite de uma função num ponto.
Deste modo, dizemos que a função f é contínua no ponto x = a, se existir o limite limx→a f (x) e se se
tiver
lim f (x) = f (a).
x→a
Vamos dizer que uma função é contínua, sem especicar onde, se for contínua em todos os pontos do
seu domínio. Neste caso, o gráco de uma tal função consiste de uma única curva2 . Do estudo que
zemos das funções elementares, podemos dizer que toda a função elementar é contínua no seu domínio
de denição. Intuitivamente, percebe-se que esta armação é verdadeira. No entanto, para sermos
rigorosos, deveríamos demonstrá-la em cada caso de função elementar, recorrendo à denição anterior.
Os pontos onde a função não for contínua, são designados por pontos de descontinuidade. Os pontos de
descontinuidade de uma função podem ser classicados em três classes distintas:
Existe, ainda, uma quarta classe de pontos de descontinuidade que, apesar de não ser muito comum, tem
também a sua relevância:
Exemplo 5.5.1. Mostrar que as funções seguintes têm, respectivamente, descontinuidades de pri-
meira espécie, de segunda espécie, oscilatória e removível no ponto x = 0:
−1 se x < 0
1
a) f (x) = sinal(x) ≡ 0 se x = 0 b) g(x) = 2 ;
x
1 se x > 0
1 sen(x)
c) h(x) = sen ; d) i(x) = .
x x
De facto, temos:
a) f (0− ) = limx→0− f (x) = −1, f (0+ ) = limx→0+ f (x) = 1 e f (0) = 0, pelo que x = 0 é um ponto
de descontinuidade de 1a espécie da função f ;
b) limx→0 1
x2 = ∞ e x = 0 é um ponto de descontinuidade de 2a espécie da função g ;
c) limx→0 sen x1 = sen(∞) não existe já que, quando x → 0, a função seno vai variando (cada vez
mais rapidamente e de forma contínua) no intervalo [−1, 1], sem se xar. Logo x = 0 é um ponto
de descontinuidade oscilatória da função h;
d) limx→0 senx
x = 1, pelo que x = 0 é um ponto de descontinuidade removível da função i. Neste
caso, é possível redenir a função i de modo a remover este ponto de descontinuidade:
senx
x x 6= 0
i(x) =
1 x = 0.
Proposição 5.6.1. Sejam f uma função real de variável real, com domínio Df , e a um ponto de
acumulação de Df . A função f é contínua no ponto x = a se e só se qualquer que seja a sucessão
un , de termos em Df , convergente para x = a, a sucessão f (un ) converge para f (a).
Demonstração: Suponhamos primeiro que f é uma função contínua no ponto x = a. Seja un uma
sucessão numérica arbitrária tal que un → a quando n → +∞. Então, pela Denição 2.8.1, podemos
escrever
∀ δ > 0 ∃ p ∈ N : n > p ⇒ |un − a| < δ. (5.6.7)
1
∃ u2 ∈ Df : |u2 − a| < e |f (u2 ) − f (a)| > ε.
2
Por este processo, conseguimos construir uma sucessão un convergindo para a, mas cujas imagens f (un )
vão permanecer afastadas de f (a). Portanto, assim não podíamos ter f (un ) a convergir para f (a), o que
é um absurdo.
Proposição 5.6.2. Sejam f e g funções reais de variáveis reais, com domínios Df e Dg , respec-
tivamente. Suponhamos que f e g são funções contínuas num ponto de acumulação a ∈ Df ∩ Dg .
Então, também, são contínuas, em x = a, as funções f + g , f − g , f g . Mais, se g(a) 6= 0, também é
contínua, em x = a, a função f /g .
Proposição 5.6.3. Sejam f e g funções reais de variáveis reais, com domínios Df e Dg , respecti-
vamente, e tais que D0g ⊆ Df . Suponhamos que g é contínua num ponto de acumulação a ∈ Dg e
que f é contínua em d = g(a), sendo d um ponto de acumulação de Df . Então, a função f ◦ g é
contínua em x = a.
Proposição 5.6.4 (Teorema do Valor Intermédio). Sejam f uma função contínua no seu domínio
Df e a e b números reais pertencentes a um intervalo I ⊂ Df tais que f (a) 6= f (b). Então, para
todo ξ entre f (a) e f (b), existe um ponto c entre a e b tal que ξ = f (c).
O Corolário seguinte é um caso particular do resultado anterior e que é muito conveniente para locali-
zarmos raízes de equações que não se resolvam facilmente.
Corolário 5.6.1. Seja f uma função nas condições do Teorema do Valor Intermédio (Proposi-
ção 5.6.4) e tal que
f (a)f (b) < 0 .
Então a função f tem, pelo menos, um zero no intervalo de extremos a e b.
Demonstração: Suponhamos que f (a)f (b) < 0, isto é que f tem valor positivo em x = a e negativo
em x = b, ou vice-versa. Portanto, a imagem ξ = 0 vai estar entre f (a) e f (b). Logo, pelo Teorema do
Valor Intermédio, existe c ∈ [a, b] tal que f (c) = 0.
Exemplo
5.6.1. Mostrar que a função f (x) = sen(2x) + x tem, pelo menos, um zero no intervalo
− π2 , π2 .
intervalo − π2 , π2 , resulta do Teorema de Bolzano que existe, pelo menos, um zero da função f no
intervalo − π2 , π2 .
A proposição seguinte arma-nos algo que já experimentámos no estudo das funções elementares.
Proposição 5.6.5. Seja f uma função real de variável real, com domínio Df , e injectiva num
intervalo I ⊆ Df . Se f é contínua, então a função inversa f −1 também é contínua (em f (I)).
Demonstração: Suponhamos que f contínua num número arbitrário a ∈ I . Então, pela Proposi-
ção 5.6.1, tem-se para qualquer sucessão un de termos em I que
un → a ⇒ f (un ) → f (a).
Consideremos um número arbitrário em f (I) e seja vn uma sucessão qualquer de termos em f (I) tal que
vn → b.
Por outro lado, podemos garantir que existem uma sucessão αn e um número α em I tais que
vn = f (αn ) e b = f (α).
Usando a injectividade de f , podemos inverter estas relações e obter
αn = f −1 (vn ) e α = f −1 (b).
Pela continuidade de f em x = a tem-se necessariamente que
αn → α,
pois, caso contrário, f (αn ) 9 f (α). Portanto, mostramos que
vn → b ⇒ f −1 (vn ) → f −1 (b),
ou seja que f −1 é contínua em y = b.
3 Bernard Placidus Johann Nepomuk Bolzano (17811848), matemático, teólogo e lósofo natural de Praga.
Proposição 5.6.6. Sejam f uma função real de variável real, com domínio Df , e I ⊆ Df um
conjunto limitado e fechado. Se f é contínua em I , então o conjunto f (I) também é limitado e
fechado.
Demonstração: A demonstração deste resultado envolve noções topológicas que não fazem parte do
âmbito deste curso. Ver, por exemplo, Campos Ferreira, p. 319.
Proposição 5.6.7 (Teorema de Weierstrasse). Sejam f uma função real de variável real, com
domínio Df , e I ⊆ Df um conjunto limitado, fechado e não vazio. Se f é contínua em I , então a
função f tem máximo e mínimo em I .
S := {y ∈ R : y = f (x), x ∈ I} .
O facto de I ser um conjunto limitado implica que S também o é. Então, podemos considerar o supremo
de S :
M := sup S.
Se não existirem números x em I tais que f (x) = M , então f (x) < M em I . Por consequência, a função
1
g(x) :=
M − f (x)
é contínua em I . Contudo, para qualquer ε > 0, existe sempre algum x ∈ I tal que M − f (x) < ε, porque
M é o supremo de S . Deste modo,
1
g(x) > ,
ε
o que signica que g(x) não é limitada, contradizendo o facto de g ser contínua (conforme Proposi-
ção 5.6.6). Portanto, tem de existir um ponto x ∈ I tal que f (x) = M , isto é, M é o máximo de f em
I . De forma análoga se mostra que f tem um mínimo m em I .
Limites
1. Calcule os limites seguintes:
√ √
1 − 1 − x2 (t + h)2 − t2 3
x−1
(a) lim ; (c) lim ; (e) lim √ ;
x→0 x2 h→0 h x→1 4 x − 1
√ 2 x2
2x2 − 3x + 1 x−1 x +2
(b) lim ; (d) lim ; (f) lim .
x→1 x−1 x→1 x − 1 x→+∞ 2x2 + 1
tg x arctg(2x)
(a) lim ; (d) lim ;
x→0 sen x x→0 3x
x cos(x) − cos(2x)
(b) lim ; (e) lim ;
x→0 arcsen(2x) x→0 1 − cos(2x)
1 − x2 sen(x) − cos(x)
(c) lim ; (f) limπ ;
x→1 sen(πx) x→ 4 4x − π
sen(x) − cos(x)
1
(g) limπ ; (h) lim x sen .
x→ 4 1 − tg(x) x→0 x
|x|
a) lim ; para a = −1; a = 0; a = −∞; a = +∞ ;
x→a x
x4 − 1
b) lim ; para a ∈ [−∞, +∞] .
x→a x3 − 1
cos(x) − cos(2x)
2
x
(a) lim ; arctg 1−x 2
x→0 1 − cos(2x) (e) lim ;
x→0 1 − e1−cos(x)
ln(3 + x) + ln(3 − x) − 2 ln 3
(b) lim ;
x→0 x2 ln(1 − x)
x (f) lim arcsen(x) ;
arcsen √1−x 2
x→0 e −1
(c) lim ;
x→0 ln(1 − x) 2
x
arcsen √1−x
arctg(2x) 2
(d) lim ; (g) lim .
x→0 sen(3x) x→0 x 1 − e sen(x)
onde
se x < 0
−1
sinal(x) = 0 se x = 0 e [x] designa a parte inteira do número x.
1 se x > 0
Continuidade
1. Estude as funções seguintes quanto à continuidade:
x+1 x
(a) f (x) = ; (c) f (x) = ;
x3 + x |x|
√ 1 |x2 − 1|
(b) f (x) = x − 2 ; (d) f (x) = .
x +x x2 − 1
3x − a
sen(ax)
1−x x≤0
x 6= 0
x
(a) f (x) = (b) f (x) = .
x−1
1 x=0
x > 0;
x+1
3. Determine os valores de a de modo que as funções seguintes sejam contínuas no ponto indicado:
2 2
x −4
arcsen √x
x 6= 2
1−x2
x−2 , x 6= 0
(a) f (x) =
(c) f (x) = x 1−e sen(x)
a x = 2;
a, x = 0;
1−cos(x)
1 1−e
x sen x 6= 0 , x 6= 0
− x) + ln(1 + x)
x (d) f (x) = ln(1
(b) f (x) =
a x = 0; a, x = 0.
6. Mostre que a função f (x) = 2x3 − x2 − 8x + 4 tem, pelo menos, um zero no intervalo [0, 1].
7. Prove que a equação x + senh(x) = 0 tem, pelo menos, uma raiz real.
9. Prove que todo o polinómio de grau ímpar tem, pelo menos, uma raiz real (∗).
10. Mostre que a equação x3 + 3x − 1 = 0 tem uma raiz no intervalo (0, 1).
11. Seja f uma função contínua num intervalo [a, b] tal que f ([a, b]) ⊂ [a, b]. Prove que f tem, pelo
menos, um ponto xo no intervalo [a, b] (∗).
Soluções
3.1 Limites √ √
1: a) 21 , b) 1, c) 2t, d) 12 , e) 43 , f) 0; 2: a) 1, b) 12 , c) π2 , d) 23 , e) 34 , f) 42 , g) − 22 , h) 0; 3: a) e, b) −1, c) −1, d)
1, e) 1, f) e; 5. a) 34 , b) − 91 , c) −1, d) 23 , e) −2, f) −1, g) −1; 6: a) f (−1+ ) = −1, f (−1− ) = 1, b) f (−1+ ) = −1,
f (−1− ) = 1, c) f (2+ ) = 0, f (2− ) = 1, d) f (−1+ ) = 0, f (−1− ) = −1.
3.2 Continuidade
2: a) a = −1, b) a = 1; 3: a) a = 4, b) a = 0, c) a = −1, d) a = 12 ; 4: a) x = 0 é de 1a espécie, b) x = 0 é de
2a espécie, c) x = 0 é removível, d) x = 0 é removível, e) x = 0− e x = 0+ são removíveis; f) x = −1+ é de 2a
espécie e x = −1− é removível.
Cálculo Diferencial
Consideremos uma função real de variável real f , com domínio Df , e seja x = a um ponto interior ao
conjunto Df . Designamos por razão incremental da função f no ponto x = a a expressão seguinte:
f (x) − f (a)
.
x−a
A razão incremental dá-nos a taxa de variação da função f no intervalo de extremos x e a. Geometri-
camente, a razão incremental é interpretada como sendo a tangente trigonométrica do ângulo denido
pela recta secante ao gráco da função f nos pontos x e a e pelo eixo das abcissas.
Tangente
Q Secante
f (x)
f (x) − f (a)
θ
0
θ
f (a)
P x−a
0 a x
Denição 6.0.1. Sejam f uma função real de variável real, com domínio Df , e x = a um ponto
interior ao conjunto Df . Chama-se derivada da função f no ponto x = a, e denota-se por f 0 (a), ao
limite seguinte, quando existe:
f (x) − f (a)
f 0 (a) = lim .
x→a x−a
Portanto, a derivada de uma função num ponto interior ao seu domínio, é o limite da razão incremental da
função nesse ponto. Geometricamente, f 0 (a) representa a tangente trigonométrica do ângulo θ denido
131
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 6. CÁLCULO DIFERENCIAL
pela recta tangente ao gráco da função f no ponto x = a e pelo eixo das abcissas. Na verdade, e de
acordo com a Figura 6.1, temos:
f (x) − f (a)
tg(θ) = lim tg(θ0 ) = lim = f 0 (a) .
Q→P x→a x−a
Assim, temos
tg(θ) = f 0 (a) ⇔ θ = arctg(f 0 (a)) .
Deste modo, a derivada f 0 (a) é interpretada como sendo o declive da recta tangente ao gráco da função
f no ponto x = a.
Como a noção de derivada faz intervir o conceito de limite, também aqui vamos ter as noções de derivadas
laterais.
Denição 6.0.2. Sejam f uma função real de variável real, com domínio Df , e x = a um ponto
interior a Df . Chamam-se, respectivamente, derivada lateral à esquerda de f e derivada lateral à
direita da função f no ponto x = a aos limites seguintes, quando existem:
No caso da denição anterior, vamos dizer que a função tem derivada no ponto x = a, se f 0 (a+ ) = f 0 (a− ).
Neste caso, ou se, no da denição precedente, existir f 0 (a), dizemos que a função f é derivável no ponto
x = a.
Se, na denição de derivada, zermos a mudança de variável x = a + h, obtemos a fórmula seguinte para
f 0 (a), que, por vezes, é mais prática:
f (a + h) − f (a)
f 0 (a) = lim . (6.0.1)
h→0 h
Vamos dizer que uma função é derivável, sem especicar onde, se for derivável em todos os pontos
interiores ao seu domínio. Neste caso, podemos denir a função derivada da função f por f 0 (x). Em
muitas situações podemos usar a notação seguinte para a função derivada da função f :
df
;
dx
onde d f corresponde ao diferencial de f : ∆ f (x) = f (x) − f (a); e d x ao diferencial de x: ∆ x = x − a.
Por vezes, os diferenciais ∆ f e ∆ x são designados por acréscimos de f e x, respectivamente, no intervalo
de extremos x e a. Usando esta notação, pode-se, por vezes, denir a noção de derivada de uma função
f num ponto x = a, recorrendo à seguinte expressão:
f (a + ∆ x) − f (a)
f 0 (a) = lim .
∆ x→0 ∆x
Proposição 6.0.1. Seja f uma função real de variável real, com domínio Df . Se f é derivável num
ponto x = a interior a Df , então f é contínua em x = a.
Demonstração: Suponhamos que f é uma função derivável no ponto x = a. Então, pela Denição 6.0.1,
temos
f (x) − f (a)
f (x) − f (a) = (x − a) → f 0 (a) × 0 = 0, quando x → a.
x−a
Então limx→a f (x) = f (a) e, portanto, f é contínua no ponto x = a.
Exemplo 6.0.1. Mostre que, no ponto x = 0, a função f (x) = |x| é contínua, mas não é derivável.
De acordo com a denição de módulo, sabemos que f (x) = −x se x < 0 e f (x) = x se x ≥ 0. Deste
modo, temos:
f (x) − f (0) x
f 0 (0+ ) = lim = lim = 1;
x→0+ x−0 x→0+ x
f (x) − f (0) −x
f 0 (0− ) = lim = lim = −1 .
x→0 − x−0 x→0 − x
Portanto, a função não é derivável em x = 0.
Nesta secção estabelecemos as regras que nos irão permitir calcular as derivadas das funções elementares
já estudadas.
Proposição 6.1.1.
f (x + h) − f (x) ax+h − ax ah − 1
f 0 (x) = lim = lim = ax lim
h→0 h h→0 h h→0 h
ln(a)h
e − 1
= ln(a) ax lim = ln(a) ax × 1 = ln(a) ax .
h→0 ln(a)h
Na proposição seguinte estabelecemos as regras que nos permitem determinar as derivadas de somas,
produtos e quocientes de funções, quando se conhece a derivada de cada função factor.
Proposição 6.1.2. Sejam f (x) e g(x) duas funções reais de variável real, deriváveis e com funções
derivadas f 0 (x) e g 0 (x). Então:
Demonstração: Nesta demonstração vamos usar, também, a denição de derivada expressa em (6.0.1).
Seja x um ponto arbitrário interior à intercepção dos domínios das funções f e g . Para a derivada da
soma, temos
Para a derivada do quociente, admitimos que g(x) 6= 0 e usamos a regra de derivação do produto para
escrever 0 0 0
f 1 1 1
(x) = f × (x) = f 0 (x) (x) + f (x) (x).
g g g g
Por outro lado,
1 1
0
1 g (x + h) − g (x) 1
g(x+h) 1− 1
g(x) − g(x + h)
g(x)
(x) = lim = lim = lim
g h→0 h h→0 h g(x) h→0 hg(x + h)
0
1 g(x + h) − g(x) 1 g (x)
=− lim lim =− .
g(x) h→0 h h→0 g(x + h) [g(x)]2
Então 0
f 1 g 0 (x) f 0 (x)g(x) − f (x)g 0 (x)
(x) = f 0 (x) − f (x) 2
= ,
g g(x) [g(x)] [g(x)]2
o que termina a demonstração.
Por outro lado, conjugando a derivada da função constante com 2 da proposição anterior, temos para
qualquer constante c ∈ R
(c f )(x) é derivável e (c f )0 (x) = c f 0 (x) .
Com o auxílio das duas proposições precedentes, vamos conseguir provar as regras de derivação das
funções elementares que resultam de operações algébricas entre funções estudadas na Proposição 6.1.1.
0
10 × ax − 1 × (ax )0 − ln(a) ax
−x 0 1 ln(a)
(a ) = = = = − x = − ln(a) a−x .
ax (ax )2 a2x a
Também pela regra de derivação do quociente e usando os factos já demonstrados de que ( sen(x))0 =
cos(x) e (cos(x))0 = − sen(x), e, ainda, a Fórmula Fundamental da Trigonometria, temos
0
( sen(x))0 cos(x) − sen(x)(cos(x))0
0 sen(x)
[ tg(x)] = =
cos(x) [cos(x)]2
sen(x) sen(x) − cos(x)[− cos(x)] 1
= = = sec2 (x),
cos2 (x) cos2 (x)
0
(cos(x))0 sen(x) − cos(x)( sen(x))0
cos(x)
[ cotg(x)]0 = =
sen(x) [ sen(x)]2
− sen(x) sen(x) − cos(x) cos(x) 1
= 2
=− = − cosec2 (x),
sen (x) sen2 (x)
0
10 × cos(x) − 1 × (cos(x))0
1
[sec(x)]0 = =
cos(x) [cos(x)]2
0 × cos(x) + sen(x) sen(x) 1
= 2
= = tg(x) sec(x),
cos (x) cos(x) cos(x)
0
10 × sen(x) − 1 × ( sen(x))0
0 1
[ cosec(x)] = =
sen(x) [ sen(x)]2
0 × sen(x) − cos(x) cos(x) 1
= =− = − cotg(x) cosec(x).
sen2 (x) sen(x) sen(x)
Pela regra de derivação da soma e da diferença e usando os factos já demonstrados de que (ex )0 = ex e
(e−x )0 = −ex , temos
0
e − e−x
x
0 1 x 0 1 x
(e ) − (e−x )0 = e + e−x = cosh(x),
[ senh(x)] = =
2 2 2
0
e + e−x
x
0 1 x 0 1 x
(e ) + (e−x )0 = e − e−x = senh(x),
[cosh(x)] = =
2 2 2
o que conclui a demonstração.
Na proposição seguinte vamos provar o resultado que nos irá permitir estabelecer as regras de derivação
para as funções inversas das funções elementares.
Proposição 6.1.4 (Teorema de derivação da função inversa). Sejam f uma função real de variável
real, injectiva num intervalo I ⊆ Df e f −1 a função inversa de f , quando restringida ao intervalo
I , f −1 : f (I) → I . Se f é derivável num ponto a interior ao intervalo I e f 0 (a) 6= 0, então f −1 é
derivável no ponto b = f (a) e tem-se:
0 1
f −1 (b) = .
f 0 (f −1 (b))
f (x) − f (a)
R(x) = ,
x−a
e a função que resulta da composição desta última com a função inversa f −1 , i.e.
0 f −1 (y) − f −1 (b) 1 1 1
f −1 (b) = lim = lim = 0 = 0 −1
y→b y−b y→b G(y) f (a) f (f (b))
Para usarmos este resultado no cálculo de derivadas de inversas de funções elementares, fazemos primei-
ramente
0 1
f −1 (y) = 0
f (x)
e, só depois, é que passamos à variável original através da relação
1 1
= .
f 0 (x) f 0 (f −1 (y))
Na prática, torna-se mais útil fazer x = f −1 (y), o que equivale a fazer y = f (x), e aplicamos o resultado
anterior na forma seguinte:
1
x0 = 0 ;
y
voltando no nal à variável original. Assim, com o auxílio da proposição anterior e das regras de derivação
já demonstradas, podemos estabelecer as regras de derivação para as inversas das funções elementares
conhecidas.
1 1−k
Proposição 6.1.5.
1
1. Se f (x) = x k , onde k ∈ Z \ {0}, então f 0 (x) = x k ;
k
1 1
2. Se f (x) = loga (x), onde a ∈ R+ , então f 0 (x) = ;
ln a x
1
3. Se f (x) = arcsen(x), então f 0 (x) = √ ;
1 − x2
1
4. Se f (x) = arccos(x), então f 0 (x) = − √ ;
1 − x2
1
5. Se f (x) = arctg(x), então f 0 (x) = ;
1 + x2
1
6. Se f (x) = arccotg(x), então f 0 (x) = − .
1 + x2
Demonstração: 1
Se f (x) = x k , fazemos
1
y = x k ⇔ x = yk
y = loga (x) ⇔ x = ay .
Nestes dois últimos casos, usamos, na parte nal, as relações 1 + tg 2 (x) = sec2 (x) e 1 + cotg 2 (x) =
cosec2 (x).
Observe-se que, da propriedade 1 da proposição anterior, se pode tirar, quando k ∈ N, a relação seguinte
para derivadas de raízes:
√ 1
se f (x) = k x, então f 0 (x) = √k
.
k xk−1
Existem, no entanto, situações em que não é possível obter uma expressão explícita para a inversa de uma
função. Nestes casos, podemos ainda determinar formalmente a derivada da função inversa. De facto,
se f é uma função dada pela relação y = f (x) e admite função inversa, mas não é possível obter uma
expressão explícita sua, então pode-se escrever a derivada da sua inversa do modo abreviado seguinte,
mas bastante sugestivo:
dx 1
= dy .
dy dx
dx
Exemplo 6.1.1. Determine a derivada da função inversa x = x(y) da função y = sen(x)−ex−3 .
dy
Nesta secção vamos apresentar a tabela com as fórmulas de derivação de todas as funções elementares
que estudamos. Aqui, vamos admitir que o argumento das funções elementares pode ser uma função real
de variável real qualquer. Deste modo, subentendemos que as funções que iremos analisar são funções
compostas de, pelo menos, duas funções reais de variável real.
Proposição 6.2.1 (Teorema de derivação da função composta). Sejam f e g duas funções reais de
variável real tais que Df ⊆ D0g . Se g é derivável no ponto x interior a Dg e f é derivável no ponto
y = g(x) interior a Df , então a função composta f ◦ g é derivável em x e tem-se:
0
(f ◦ g)0 (x) ≡ [f (g(x))] = f 0 (g(x)) g 0 (x).
Demonstração: Seja x um ponto interior a Dg e tal que y = g(x) é um ponto interior a Df . Dado que
g é uma função derivável no ponto x, podemos denir uma nova função
g(x + h) − g(x)
v= − g 0 (x) .
h
De modo análogo, sabendo que f é uma função derivável no ponto y = g(x), denimos outra função
f (y + k) − f (y)
w= − f 0 (y) .
k
Observamos que v depende de h e w depende de k , tendo-se
lim v = 0 e lim w = 0 .
h→0 k→0
Observe-se que, no último passo, se usa o facto de h → 0 implicar k = [g 0 (x) + v]h → 0, quando h → 0,
pelo que limh→0 w = 0.
Grosso modo, podemos dizer que a derivada da composição de duas funções é igual ao produto da
derivada da função que está por fora (da composição) pela derivada da que está por dentro.
Ora como sen(0) = 0, temos f 0 (0) = 2 sen(0) cos(0) g 0 ( sen2 (0)) − g 0 (cos2 (0)) = 0.
Nos teoremas principais que iremos considerar aqui nesta secção, vão ter papel de relevo as funções que
são contínuas num intervalo fechado [a, b], com a < b, e deriváveis no intervalo aberto (a, b). Comecemos
por estabelecer um resultado cuja interpretação geométrica é trivial.
Proposição 6.3.1. Seja f uma função real de variável real, derivável num ponto x = a interior a
Df . Se f tem um extremo local em x = a, então f 0 (a) = 0.
Demonstração: Suponhamos que f tem um extremo local num ponto x = a interior a Df . Comecemos
por denir uma nova função
f (x) − f (a)
, x 6= a
g(x) = x−a
f 0 (a), x = a.
Pela derivabilidade de f em x = a, existe f 0 (a), e, como limx→a g(x) = f 0 (a), a função g é contínua no
ponto x = a. Queremos mostrar que f 0 (a) = 0. Pela denição de g , isto é equivalente a mostrar que
g(a) = 0. Mostremos que não pode acontecer g(a) > 0 nem g(a) < 0. Suponhamos, com vista a um
absurdo, que g(a) > 0. Então, pela continuidade de g em x = a, existe um intervalo de centro x = a
onde g(x) > 0. Nesse intervalo temos então, pela denição de g ,
Mas isto contradiz o facto de x = a ser um extremo local de f . Portanto, não se pode ter g(a) > 0.
De modo análogo se mostra que também não se pode ter g(a) < 0. Fica, portanto, demonstrado que
f 0 (a) = 0.
A proposição anterior dá-nos uma condição necessária da existência de extremo, mas que não é
suciente, como iremos ver mais adiante.
Proposição 6.3.2 (Teorema de Rolle). Seja f uma função real de variável real, contínua no intervalo
fechado [a, b] e derivável no intervalo aberto (a, b), tal que f (a) = f (b). Então existe, pelo menos,
um ponto c ∈ (a, b) tal que f 0 (c) = 0.
Demonstração: Supondo que f é uma função contínua num intervalo fechado e limitado [a, b], então,
pelo Teorema de Weiertrasse (Proposição 5.2.7), f tem máximo e mínimo neste intervalo. Se o máximo
e o mínimo são atingidos nos extremos do intervalo [a, b], então, dado que f (a) = f (b), f é uma função
constante neste intervalo. Neste caso, f 0 (x) = 0 em todos os pontos do intervalo [a, b]. Se f (x) 6=
constante no intervalo [a, b], então f tem um máximo ou um mínimo, ou ambos, no intervalo aberto
(a, b). Seja c um ponto de (a, b) onde f tem um máximo ou um mínimo. Então, pelo resultado anterior,
f 0 (c) = 0.
1. c0 = 0, c = constante 2. x0 = 1
u0 1 u0
11. (ln(u))0 = 12. (loga (u))0 =
u ln a u
u0 u0
16. ( tg(u))0 = = u0 sec2 (u) 17. ( cotg(u))0 = − = −u0 cosec 2 (u)
cos2 (u) sen 2 (u)
u0 u0
20. ( arcsen(u))0 = √ 21. (arccos(u))0 = − √
1 − u2 1 − u2
u0 u0
22. ( arctg(u))0 = 23. ( arccotg(u))0 = −
1 + u2 1 + u2
u0 u0
24. ( arcsec(u))0 = √ 25. ( arccosec(u))0 = − √
u 1 + u2 u 1 − u2
u0 u0
28. ( tgh(u))0 = = u0 sech 2 (u) 29. ( cotgh(u))0 = − = −u0 cosech 2 (u)
cosh2 (u) senh 2 (u)
30. ( sech(u))0 = −u0 tgh(u) sech(u) 31. ( cosech(u))0 = −u0 cotgh(u) cosech(u)
u0 u0
32. ( argsh(u))0 = √ 33. ( argch(u))0 = √
u2 + 1 u2 − 1
u0 u0
34. ( argtgh(u))0 = 35. ( argcotgh(u))0 =
1 − u2 1 − u2
u0 u0
36. ( argsech(u))0 = − √ 37. ( argcosech(u))0 = − √
u 1 − u2 u 1 + u2
O teorema de Rolle1 tem muita importância, não só porque nos possibilita demonstrar outros teoremas
fundamentais do cálculo diferencial, mas também porque nos permite mostrar a unicidade de zeros de
uma função, ou a unicidade raízes de uma equação, num dado intervalo.
Corolário 6.3.1 (Teorema de Rolle). Suponhamos que as condições do Teorema de Rolle são
vericadas. Então:
1. Entre dois zeros consecutivos de uma função derivável num intervalo aberto, existe, pelo
menos, um zero da função derivada;
2. Entre dois zeros consecutivos da derivada de uma função derivável num intervalo aberto, não
pode haver mais do que um zero da função.
Demonstração: Seja f uma função nas condições do Teorema de Rolle. Se x1 , x2 ∈ (a, b) são dois
zeros consecutivos de f , aplicamos o Teorema de Rolle no intervalo [x1 , x2 ], dado que f (x1 ) = f (x2 ), e
mostramos que existe, pelo menos, um c ∈ (x1 , x2 ) ⊂ (a, b) tal que f 0 (c) = 0. Para mostrar a segunda
armação, supomos que entre dois zeros consecutivos da derivada, digamos c1 e c2 , existiam dois zeros
da função, digamos x1 e x2 . Admitindo que x1 < x2 , tem-se c1 < x1 < x2 < c2 . Aplicando o Teorema
de Rolle no intervalo [x1 , x2 ], mostra-se que existe um c ∈ (x1 , x2 ) tal que f 0 (c) = 0. Temos então três
zeros da derivada pela ordem c1 < c < c2 . Isto contraria o facto de c1 e c2 serem dois zeros consecutivos
da derivada.
f 0 (x) = 0 ⇔ 3x2 − 3 = 0 ⇔ x = ±1 .
Como os zeros da derivada, x = −1 e x = 1, estão nos extremos do intervalo [−1, 1], o Corolário
2 do teorema de Rolle garante-nos que não pode haver mais do que um zero da função f (x). Por
consequência, a equação referida tem, quanto muito, uma raiz no intervalo [−1, 1].
Em determinadas situações, podemos recorrer ao Teorema do Valor Intermédio para mostrar que a
derivada de uma função tem, pelo menos, um zero num dado intervalo. Neste sentido, se assumirmos
que a derivada f 0 de uma função f é continua num intervalo [a, b] e se f 0 (a) f 0 (b) < 0, então existe, pelo
menos, um zero da função derivada f 0 (x) no intervalo [a, b]. Este resultado é, por vezes, designado na
literatura como o Teorema de Darboux2 .
A derivada de uma função, calculada num ponto, reecte propriedades da função apenas nesse ponto.
Por outro lado, a razão incremental de uma função num ponto vai reectir propriedades da função no
intervalo onde a razão incremental é considerada.
Proposição 6.3.3 (Teorema de Lagrange). Seja f uma função real de variável real, contínua no
intervalo fechado [a, b] e derivável no intervalo aberto (a, b). Então existe, pelo menos, um ponto
c ∈ (a, b) tal que
f (b) − f (a)
= f 0 (c).
b−a
1 Michel Rolle (1652-1719), matemático francês natural de Ambert.
2 Jean Gaston Darboux (1842-1917), matemático francês natural de Nimes.
Sejam x, y ∈ R arbitrários e tais que y < x. Consideremos a função f (t) = sen(t) denida no
intervalo [y, x]. É fácil vericar que esta função satisfaz as condições do Teorema de Lagrange.
Então, por este teorema,
Aplicando módulos na última equação e usando o facto de que | cos(c)| ≤ 1 para todo o c ∈ R,
obtemos
| sen(x) − sen(y)| ≤ |x − y| .
Finalmente, tomando y = 0, obtemos a relação pretendida.
O Teorema de Lagrange tem consequências imediatas no estudo da monotonia das funções que deixaremos
para uma secção mais adiante. Por outro lado, tem também a extensão que apresentamos a seguir e que,
como iremos ver, tem muita utilidade em exercícios práticos de cálculo de limites.
Proposição 6.3.4 (Teorema de Cauchy). Sejam f e g duas funções reais de variável real, contínuas
no intervalo fechado [a, b] e deriváveis no intervalo aberto (a, b). Então existe, pelo menos, um ponto
c ∈ (a, b) tal que
g 0 (c) [f (b) − f (a)] = f 0 (c) [g(b) − g(a)] .
Pelas hipóteses feitas sobre as funções f e g , também a função h é contínua em [a, b] e derivável em (a, b).
Por outro lado,
h(a) = f (b)g(a) − f (a)g(b) = h(b) .
3 Joseph-Louis Lagrange (1736-1813), matemático francês nascido em Itália com o nome de Giuseppe Lodovico Lagrangia.
Em particular, sempre que as divisões sejam possíveis, a fórmula do valor médio expressa no Teorema
de Cauchy, pode ser escrita na forma seguinte:
f (b) − f (a) f 0 (c)
= 0 .
g(b) − g(a) g (c)
Uma das consequências mais importante do Teorema de Cauchy, é uma regra que nos permite calcular
a grande maioria dos limites que dêem indeterminações dos tipos 0/0.
Proposição 6.3.5 (Regra de Cauchy). Sejam f e g duas funções reais de variável real, deriváveis
num intervalo aberto (a, b), com a < b e possivelmente innitos, e x0 um dos extremos do intervalo
(a, b). Suponhamos que:
1. g 0 (x) 6= 0 para todos x ∈ (a, b);
2. lim f (x) = lim g(x) = 0 ou lim g(x) = ∞.
x→x0 x→x0 x→x0
Então,
f (x) f 0 (x)
lim = lim 0 , (6.3.2)
x→x0 g(x) x→x0 g (x)
desde que o limite do segundo membro exista em R.
Demonstração: Sejam f e g duas funções nas condições do enunciado e x0 um dos extremos do in-
tervalo aberto (a, b). Comecemos por considerar o caso x0 = a. Se x0 = b, a demonstração é análoga.
Suponhamos que
f 0 (x)
lim 0 = L. (6.3.3)
x→x0 g (x)
Observe-se que a proposição anterior contém, de modo implícito, o caso de indeterminações do tipo ∞
∞.
Por outro lado, sendo x0 um dos extremos do intervalo (a, b), os limites da Regra de Cauchy são, na
verdade, limites laterais. Observe-se, ainda, que, como x0 pode eventualmente ser innito, a Regra de
Cauchy permanece ainda válida no caso de
Outra regra muito importante, mas que é aplicável somente às indeterminações do tipo 0/0 é a Regra
de L'Hôpital4 .
Proposição 6.3.6 (Regra de L'Hôpital). Sejam f e g duas funções reais de variável real, contínuas
no intervalo fechado [a, b] e deriváveis no intervalo aberto (a, b), com a < b, e seja x0 um dos
extremos do intervalo [a, b]. Suponhamos que f (x0 ) = g(x0 ) = 0 e g 0 (x0 ) 6= 0. Então,
f (x) f 0 (x0 )
lim = 0 .
x→x0 g(x) g (x0 )
Demonstração: Sejam f e g duas funções nas condições do enunciado e x0 um dos extremos do intervalo
aberto (a, b). Se f (x0 ) = g(x0 ) = 0 e g 0 (x0 ) 6= 0, então, pelo Teorema de Cauchy, temos
f (x)−f (x0 )
f (x) f (x) − f (x0 ) x−x0 f 0 (x0 )
lim = lim = lim = ,
x→x0 g(x) x→x0 g(x) − g(x0 ) x→x0 g(x)−g(x0 ) g 0 (x0 )
x−x0
A Regra de L'Hôpital admite, ainda, a extensão g 0 (x0 ) = 0 e f 0 (x0 ) 6= 0. Neste caso, o limite é innito.
Observe-se que a Regra de L'Hôpital não é igual à Regra de Cauchy - as hipóteses são diferentes. Esta
duas regras dão-nos uma das ferramentas mais poderosas da Análise Matemática para o cálculo de limites
de quocientes entre funções elementares. Para o cálculo dos limites, iremos designá-las no único nome
de Regra de Cauchy-L'Hôpital.
x − tg(x)
lim .
x→0 x − sen(x)
4 Guillaume François Antoine (1661-1704), Marquês de L'Hôpital, matemático francês nascido em Paris.
Calculando, obtemos:
x − tg(x) 0
lim = (Indeterminação)
x→0 x − sen(x) 0
0
(x − tg(x))
= lim (Pela Regra de Cauchy-L'Hôpital)
x→0 (x − sen(x))0
1 − cos12 (x) 0
= lim = (Indeterminação)
x→0 1 − cos(x) 0
0
1 − cos−2 (x)
= lim (Pela Regra de Cauchy-L'Hôpital)
x→0 (1 − cos(x))0
Deste modo, podemos usar a Regra de Cauchy-L'Hôpital para a grande maioria das indeterminações.
Para levantar esta indeterminação, vamos calcular o logaritmo deste limite. Atendendo ao facto de
que o logaritmo é uma função contínua, podemos trocar o logaritmo com o limite. Temos então:
1
1
ln(x) +∞
ln lim x x = lim ln x x = lim = (Indeterminação)
x→+∞ x→+∞ x→+∞ x +∞
(ln(x))0
= lim (Pela Regra de Cauchy-L'Hôpital)
x→+∞ x0
1
= lim = 0.
x→+∞ x
Apesar da Regra de Cauchy-L'Hôpital ser muito ecaz no cálculo de limites, existem situações em que a
sua aplicação não permite calcular o limite pretendido.
Exemplo 6.3.5. Mostre que o limite seguinte não pode ser calculado pela Regra de Cauchy-
L'Hôpital. Calcule-o usando outros métodos.
x − sen(x)
lim .
x→+∞ x + cos(x)
Comecemos por ver que a Regra de Cauchy-L'Hôpital não nos ajuda neste caso. Observando que
x − sen(x) +∞
lim = (Indeterminação) ,
x→+∞ x + cos(x) +∞
1 − cos(x) 1 − cos(+∞)
= lim = .
x→+∞ 1 − sen(x) 1 − sen(+∞)
No entanto o limite obtido não existe, no sentido em que não sabemos o que são sen(+∞) e cos(+∞).
Apesar disto, o limite pode facilmente ser calculado usando outras técnicas. Pondo x em evidência,
obtemos
x 1 − x1 sen(x)
x − sen(x) 1−0
lim = lim = = 1.
x→+∞ x + cos(x) x→+∞ x 1 + 1 cos(x) 1+0
x
Seja f uma função real de variável real, derivável e com função derivada f 0 . Se a função f 0 é derivável
num ponto x = a interior a Df 0 ⊆ Df , então dizemos que a função f é duas vezes derivável no ponto
x = a. Esta derivada designa-se por derivada de segunda ordem, ou segunda derivada, da função f em
x = a e dene-se por:
f 0 (x) − f 0 (a)
f 00 (a) = lim .
x→a x−a
Por um processo indutivo, podemos denir a derivada de qualquer ordem superior a 2.
Denição 6.4.1. Sejam f uma função real de variável real e n ∈ N. Diz-se que f é uma função
n-vezes derivável no ponto x = a, se a função f for (n-1)-vezes derivável numa vizinhança do
ponto x = a e se existir o limite
Por convenção, dizemos que a derivada de ordem zero de uma função é a própria função: f (0) (a) = f (a).
Se, para qualquer n ∈ N, f é n-vezes derivável num intervalo I interior ao seu domínio, então f diz-se
uma função indenidamente derivável em I .
Proposição 6.4.1. Sejam f e g duas funções reais de variável real, n-vezes deriváveis num ponto
x = a interior à intercepção dos seus domínios. Então:
1. f + g é n-vezes derivável em x = a e
2. f g é n-vezes derivável em x = a e
n
n
(Regra de Leibniz)
X
(f g)(n) (a) = f (n−k) (a) g (k) (a).
k
k=0
Demonstração: Usemos indução matemática em n para mostrar as duas armações. Comecemos pela
derivada de ordem n da soma entre f e g . Se n = 1, tem-se, pela derivada (de ordem n = 1) da soma
de duas funções que (f + g)0 (a) = f 0 (a) + g 0 (a). Admitindo que a fórmula é válida para n (hipótese de
indução), mostremos que também é verdadeira para n + 1 (tese). De facto, usando a hipótese de indução
e a derivada (de ordem n = 1) da soma, temos
(f + g)(n+1) (a) = [(f + g)(n) (a)]0 = [f (n) (a) + g (n) (a)]0 = f (n+1) (a) + g (n+1) (a).
Vejamos, agora, a derivada do produto. Se n = 1, tem-se, pela derivada (de ordem n = 1) do produto
de duas funções que
1
0 0 0
X 1
(f g) (a) = f (a)g(a) + f (a)g (a) = f (1−k) (a) g (k) (a) .
k
k=0
Suponhamos que a fórmula é válida para n (hipótese de indução) e mostremos que também é verdadeira
para n + 1 (tese). Usando a hipótese de indução, o caso anterior e a derivada (de ordem n = 1), tem-se
" n #0
X n
(f g)(n+1) (a) =[(f g)(n) (a)]0 = f (n−k) (a) g (k) (a)
k
k=0
n h
X n i
= f (n+1−k) (a) g (k) (a) + f (n−k) (a) g (k+1) (a)
k
k=0
n
X n
=f (n+1) (a) g(a) + f (n+1−k) (a) g (k) (a)+
k
k=1
n
X n
f (n+1−k) (a) g (k) (a) + f (a) g (n+1) (a)
k−1
k=1
n+1
X
n+1
= f (n+1−k) (a) g (k) (a) .
k
k=0
Pela proposição anterior, saem facilmente expressões para as derivadas de ordem n da diferença e do
quociente.
Nesta secção vamos desenvolver um método que nos permite calcular os valores das funções elementares
como o seno ou a exponencial. Este método tem por base uma aproximação das funções elementares por
polinómios com um termo que nos dá o erro e que é facilmente estimado.
Comecemos por recordar que a derivada de uma função f num ponto x = a nos dá o declive da recta
tangente ao gráco da função nesse ponto. Muito próximo do ponto x = a a função f e a sua recta
tangente vão ter valores aproximados. Por uma simples análise geométrica da noção de derivada (ver
Figura 6.1), vemos que a expressão designatória da recta tangente ao gráco da função no ponto x = a é
y = f (a) + f 0 (a)(x − a).
Deste modo, numa vizinhança do ponto x = a onde a função f seja derivável, podemos escrever a
igualdade seguinte:
f (x) = f (a) + f 0 (a)(x − a) + r1 (x);
onde r1 (x) é o erro que se comete na aproximação. Se f for duas vezes derivável no ponto x = a, usando
a expressão anterior, podemos escrever:
f 0 (x) = f 0 (a) + f 00 (a)(x − a) + r(x);
onde r(x) é o erro que se comete nesta aproximação. Conjugando as duas expressões anteriores, obtemos
(x − a)2
f (x) = f (a) + f 0 (a)(x − a) + f 00 (a) + r2 (x);
2
onde r2 (x) expressa o erro neste caso. Observe-se que os termos de segunda ordem vêm a dividir por 2,
porque se derivarmos esta última expressão temos de obter a anterior. Prosseguindo com este raciocínio,
podemos generalizar este resultado na proposição seguinte.
Proposição 6.5.1 (Fórmula de Taylor). Seja f uma função denida num intervalo aberto I ⊆ R,
e n vezes derivável num ponto a ∈ I . Tem-se então, para qualquer x ∈ I ,
onde
rn (x − a)
lim = 0. (6.5.7)
x−→a (x − a)n
Observemos que, no caso de n = 0, basta que f seja contínua. A fórmula anterior, chama-se fórmula de
Taylor5 de ordem n da função f no ponto x = a. A função rn (x − a) designa-se por resto de ordem n
e, de entre as várias expressões possíveis, a mais usada é indicada na proposição a seguir.
Proposição 6.5.2. Seja f uma função denida num intervalo aberto I ⊆ R e a ∈ I . Suponhamos
que f e as suas derivadas até à ordem n + 1 são funções contínuas em I . Então existe um ponto ξ
entre a e x ∈ I tal que o resto da Fórmula de Taylor de ordem n de f em x = a é dado por
f (n+1) (ξ)
rn (x − a) = (x − a)n+1 . (6.5.10)
(n + 1)!
O resto da fórmula de Taylor expresso em (9.4.9) é conhecido na literatura como Resto de Lagrange e
a correspondente fórmula de Taylor, como Fórmula de Taylor-Lagrange. Existem diferentes expressões
para o resto da Fórmula de Taylor, mas todas elas satisfazem à condição fundamental (9.4.6) (ver, por
exemplo, Santos Guerreiro, pp. 137-140).
1
1. = 1 + x + x2 + · · · + xn + rn (x);
1−x
x2 xn
2. ex = 1 + x + + ··· + + rn (x);
2 n!
x2 xn
3. ln(1 + x) = x − + · · · + (−1)n−1 + rn (x);
2 n
α α
4. (1 + x)α = 1 + αx + x2 + · · · + xn + rn (x), α ∈ R;
2 n
x3 x5 nπ xn
5. sen(x) = x − + + · · · + sen + rn (x);
3! 5! 2 n!
x2 x4 nπ xn
6. cos(x) = 1 − + + · · · + cos + rn (x).
2! 4! 2 n!
A última igualdade resulta do facto de ξ estar entre 0 e x e de que, por denição da função, x 6= 1.
2. Para f (x) = ex , temos f (n) (x) = ex ⇒ f (n) (0) = 1 para todo n ∈ N. Substituindo em (6.5.12), o
obtemos a fórmula de Maclaurin respectiva. Para ver que (9.4.6) é satisfeita, usamos a denição (9.4.9)
para o resto e obtemos
f (n+1) (ξ) n+1
rn (x) (n+1)! x eξ
lim = lim = lim x = 0.
x−→0 xn x−→0 xn x−→0 (n + 1)!
Falta apenas ver que (9.4.6) é satisfeita. De facto, usando a denição (9.4.9) para o resto, temos
f (n+1) (ξ) n+1
rn (x) (n+1)! x α(α − 1)(α − 2) . . . [α − (n − 1)](1 + ξ)α−n
lim = lim = lim x = 0.
x−→0 xn x−→0 xn x−→0 (n + 1)!
Observe-se que a última igualdade resulta do facto de ξ estar entre 0 e x e de que, por denição da
função, x 6= −1.
Para ver que (9.4.6) é satisfeita, usamos a denição (9.4.9) para obter
1 − cos(2x)
f (x) = sen2 (x) = .
2
Então, usando a Fórmula 6 da Proposição 6.5.3, obtemos
" n # n
2k
1 1 X k (2x)
X 22k−1 2k
f (x) = − (−1) + rn (2x) = (−1)k+1 x + Rn (x) , (6.5.14)
2 2 (2k)! (2k)!
k=0 k=1
onde Rn (x) = − 12 rn (2x). Para ver que (9.4.6) é satisfeita, basta fazer uma mudança de variável
y = 2x para obtermos
No caso particular de f (x) ser um polinómio de grau menor ou igual a n, então rn (x) = 0 em (6.5.12).
A principal aplicação geométrica das derivadas é o estudo gráco de funções. Vamos ver que os resultados
da secção anterior nos vão permitir obter informação, por exemplo, relativamente à monotonia ou aos
extremos de funções.
Denição 6.6.1. Seja f uma função real de variável real, com domínio Df , derivável num ponto
x = a interior a Df e seja b = f (a). A equação da recta tangente ao gráco da função f no
ponto de coordenadas (a, b) é:
y = f (a) + f 0 (a)(x − a).
Chama-se normal ao gráco da função f no ponto de coordenadas (a, b), à recta que passa nesse
ponto e é perpendicular à recta tangente ao gráco de f em (a, b). A equação da recta normal
é dada por:
1
y = f (a) − 0 (x − a), f 0 (a) 6= 0.
f (a)
Se f 0 (a) = 0, a recta normal é x = a.
y
Recta tangente
y = f (x)
f (a)
Recta normal
0 a x
Exemplo
√
6.6.1. Determine
√
as equações das rectas tangente e normal ao gráco da função f (x) =
1− x2 no ponto x = 2 .
2
√ ! u √ !2 √
v
p
2
2 u 2 2
f (x) = 1 − x ⇒ f = 1−
t = ;
2 2 2
√ ! √
0 −2x 0 2 −2 × 22
f (x) = √ ⇒ f =r √ 2 = −1 .
2 1 − x2 2
1 − 22
Assim, temos:
√ ! √ ! √ !
2 2 2 √
yT = f + f0 x− = 2−x
2 2 2
√ ! √ !
2 1 2
yN = f − √ x − = x.
2 f0 2 2
2
Como já abordámos anteriormente, o Teorema de Lagrange, que vimos numa secção anterior, vai-nos
permitir obter informação sobre a monotonia de uma função.
1. Se f 0 (x) = 0 em todos os pontos de (a, b), então f (x) = constante em (a, b).
2. Se f 0 (x) > 0 em todos os pontos de (a, b), então f é estritamente crescente em (a, b).
3. Se f 0 (x) < 0 em todos os pontos de (a, b), então f é estritamente decrescente em (a, b).
Demonstração: Sejam x1 e x2 pontos arbitrários do intervalo (a, b) tais que x1 < x2 . Pelo Teorema de
Lagrange,
f (x2 ) − f (x1 )
∃ c ∈ (x1 , x2 ) : = f 0 (c) .
x2 − x1
Se f 0 (x) = 0 em todos os pontos de (a, b), então f (x2 ) = f (x1 ) para quaisquer pontos x1 , x2 ∈ (a, b).
Logo, f é uma função constante em (a, b). No caso de f 0 (x) > 0 em todos os pontos de (a, b), então
f (x2 ) > f (x1 ) para quaisquer pontos x1 , x2 ∈ (a, b) com x2 > x1 . Portanto, f é estritamente crescente
em (a, b). Por m, se f 0 (x) < 0 em todos os pontos de (a, b), então f (x2 ) < f (x1 ) para quaisquer pontos
x1 , x2 ∈ (a, b) com x2 > x1 . Assim, f é estritamente decrescente em (a, b).
f 0 (x) = 1 − 2 cos(x) .
No corolário seguinte, mostramos como o Teorema de Lagrange pode, ainda, ser aplicado para averiguar
da natureza dos pontos extremos de uma função.
Corolário 6.6.2 (Teorema de Lagrange). Seja f uma função real de variável real, contínua num
intervalo fechado [a, b] e derivável em todos os pontos do intervalo aberto (a, b), com a possível
excepção de um ponto x = c.
1. Suponhamos que f 0 (x) > 0 para todos x < c e f 0 (x) < 0 para todos x > c. Então f tem um
máximo relativo em x = c.
2. Suponhamos que f 0 (x) > 0 para todos x > c e f 0 (x) < 0 para todos x < c. Então f tem um
mínimo relativo em x = c.
Demonstração: Comecemos por mostrar a primeira armação. Se f 0 (x) > 0 para todos x < c, então,
pela Proposição anterior, f é estritamente crescente num intervalo (c − ε, c), com ε > 0. Do mesmo
modo, se f 0 (x) < 0 para todos x > c, então f é estritamente decrescente num intervalo (c, c + ε), com
ε > 0. Por consequência, f tem um máximo relativo em x = c. Para a segunda armação, prosseguimos
com o mesmo raciocínio. Neste caso, se f 0 (x) > 0 para todos x > c, então, pela Proposição anterior,
f é estritamente crescente num intervalo (c, c + ε), com ε > 0. Se f 0 (x) < 0 para todos x < c, então
f é estritamente decrescente num intervalo (c − ε, c), com ε > 0. Por consequência, f tem um mínimo
relativo em x = c.
Pelo exercício anterior, sabemos que a função é crescente quando π3 < x < 5π 3 e é decrescente se
0 < x < π3 ou se 5π
3 < x < 2π . Como a função é contínua em [0, 2π], podemos inferir que x = 5π
3 é
um ponto de máximo local com valor
5π π 5π √
y= − 2 sen = + 3,
3 3 3
e que x = π
3 é um ponto de mínimo local com valor
π π π √
y = − 2 sen = − 3.
3 3 3
Por outro lado, atendendo a que estamos apenas a considerar o intervalo [0, 2π], o ponto x = 0 é
um ponto de máximo local, com valor y = 0 − 2 sen(0) = 0, e y = 2π é um ponto de mínimo local,
com valor y = 2π − 2 sen(2π) = 2π .
Contudo, verica-se que o estudo dos extremos de muitas função, a partir do Teorema de Lagrange, torna-
se demasiado moroso ou, mesmo, não pode ser feito. Por outro lado, sabemos que a Proposição 6.3.1 nos
dá uma condição necessária da existência de extremo. No entanto, este resultado não é suciente para a
existência de extremos, como mostra o contra-exemplo do exercício seguinte.
Exemplo 6.6.4. Verique que, para f (x) = x3 , f 0 (0) = 0, mas f não tem nenhum extremo em
x = 0.
f 0 (x) = 0 ⇔ 3x2 = 0 ⇔ x = 0 .
No entanto, em x = 0 a função não tem nenhum extremo, porque é uma função crescente em todo
o seu domínio. De facto,
f 0 (x) = 3x2 ≥ 0 ∀ x ∈ R .
Portanto, existem pontos onde a derivada de uma função se anula, mas que não são pontos extremos
da função. Os pontos onde a derivada de uma função se anular, vão ser designados por pontos de
estacionariedade ou pontos críticos da função. Os pontos de estacionariedade de uma função que
não forem pontos extremos vão ser pontos onde a concavidade do gráco da função passa de côncava a
convexa, ou vice-versa. Estes pontos, são designados por pontos de inexão da função.
Denição 6.6.2. Sejam f uma função real de variável real, com domínio Df , derivável num ponto
x = a interior a Df . Diz-se que f é uma função convexa no ponto x = a, se, numa vizinhança
de x = a, o gráco de f está por cima da recta tangente ao gráco da função de f em x = a. Se,
numa vizinhança de x = a, o gráco de f está por baixo da recta tangente ao gráco da função de
f em x = a, diz-se que f é uma função côncava em x = a.
Por vezes dizemos que uma função tem a concavidade voltada para cima num ponto, querendo
signicar que ela é convexa nesse ponto. De igual modo, diz-se que uma função tem a concavidade
voltada para baixo num ponto, com o signicado de que ela é côncava nesse ponto.
Proposição 6.6.1. Seja f uma função real de variável real, com domínio Df , e 2-vezes derivável
num intervalo I estritamente contido em Df .
Se f 00 (a) > 0, então f (x) > yT próximo de x = a, pelo que f é convexa em x = a. Já se f 00 (a) < 0, então
f (x) < yT próximo de x = a, pelo que f é côncava em x = a.
Da proposição anterior, sai que, se x = c for um ponto interior a um intervalo [a, b] ⊆ Df tal que
f 00 (x) > 0 para a < x < c e f 00 (x) < 0 para c < x < b, ou vice-versa, então x = c é um ponto de
inexão da função f . Em particular, podemos dizer que, se x = c é um ponto de inexão da função f ,
então f 00 (c) = 0.
A proposição seguinte mostra como, conjugando a Proposição 6.3.1 e a Fórmula de Taylor, é possível
obter uma condição suciente de máximo ou mínimo de uma função, assim como de ponto de inexão.
Proposição 6.6.2. Seja f uma função real de variável real, com domínio Df , n-vezes derivável no
ponto x = a interior a Df . Suponhamos que f (n) (a) é, das sucessivas derivadas de f , a primeira
Nestas condições:
1. Se n é par, f tem um extremo em x = a, que será máximo se f (n) (a) < 0, ou mínimo se
f (n) (a) > 0;
2. Se n é ímpar, f tem um ponto de inexão em x = a.
Exemplo 6.6.5.
2
Determine a natureza dos pontos de estacionariedade da função f (x) = e−x .
Indique os intervalos de convexidade e concavidade.
Então, a função dada tem um máximo (que será absoluto) no ponto x = 0 e com o valor y = 1 .
Para estudar o sentido das concavidades, temos de analisar o sinal da segunda derivada. A função
tem a concavidade voltada para cima (convexa), quando
√ √
00 2 2 2
f (x) > 0 ⇔ 4x − 2 > 0 ⇔ x < − ∨ x> .
2 2
Por complementaridade, a função tem a concavidade voltada para baixo (côncava), quando
√ √
2 2
f 00 (x) < 0 ⇔ − <x< .
2 2
Denição 6.6.3. Seja f uma função real de variável real denida num intervalo não limitado da
forma (a, +∞) ou (−∞, a), com a ∈ R. Diz-se que a recta y = mx + p é uma assímptota não
vertical ao gráco da função f quando x tende para +∞, se
f (x) = mx + p + r(x), lim r(x) = 0.
x→+∞
É uma assímptota não vertical ao gráco da função f quando x tende para −∞, se
f (x)
m = lim , p = lim [f (x) − mx] ;
x→±∞ x x→±∞
com x a tender para +∞ ou −∞ no caso de ser assímptota quando x tende para +∞ ou −∞, respecti-
vamente.
Por complementaridade, diz-se que a recta x = a é uma assímptota vertical quando x tende para a,
se vericar, pelo menos, um dos casos seguintes:
Exemplo 6.6.6.
2
Determine as assímptotas da função f (x) = e−x .
Comecemos por observar que a função não tem assímptotas verticais, porque Df = R.
Procuremos, então, por assímptotas não verticais. Comecemos por ver as assímptotas à direita, i.e.
quando x → ∞. Neste caso, temos:
2
f (x) e−x
m = lim = lim = 0;
x→+∞ x x→+∞ x
2
p = lim [f (x) − mx] = lim e−x = 0 .
x→+∞ x→+∞
Como a função é par, facilmente se mostra que a recta y = 0 também é uma assímptota ao gráco
da função à esquerda, i.e. quando x → −∞.
Derivadas
1. Determine as derivadas das funções seguintes usando a denição:
2. Determine as derivadas laterais das funções seguintes, nos pontos indicados, usando a denição:
3. Deduzir as fórmula aproximadas seguintes (para os valores de |∆x| pequenos em comparação com
x) e com essas fórmulas calcule os valores aproximados das expressões indicadas:
√ √∆x √ √ √
(a) x+ √ ;
x + ∆x ' 5, 15, 70;
2 x
∆x
(b) ln(x + ∆x) ' ln(x) + ; ln(2), ln(3), ln(10);
x
∆x 1 3
(c) arctg(x + ∆x) ' arctg(x) + ; arctg , arctg .
1 + x2 2 2
4. Usando o Teorema de Derivação da Função Composta, determine as derivadas das funções seguintes:
(a) f (x) = sen(ln x); (c) h(x) = ln(cosh x); (e) j(x) = arcsen(cos x);
x2 −1
(b) g(x) = x ; (d) i(x) = cot(sec(5x − 2)); (f) k(x) = ln(x2 + 1).
p
5. Sabendo que f é uma função derivável, calcule o valor da derivada de g(x) no ponto x = 0, se:
2
(a) g(x) = f ( tg 2 x) ; (b) g(x) = f ( senh2 x) + f (cosh2 x) ; (c) g(x) = ef ( sen x)
.
7. Determine o maior domínio onde cada uma das funções seguintes é derivável e, nesse domínio,
indique uma expressão para a respectiva função derivada:
x ln(x + 1)
(a) f (x) = 1 ; (b) g(x) = e−|x| ; (c) h(x) = ;
1+e x x
( x (
ln(x + 1)
( sen x
1 x 6= 0 x 6= 0 ; x 6= 0
(d) i(x) = 1+e x ; (e) j(x) = x (f) k(x) = x
0 x=0 1 x=0 1 x = 0.
(d) i(x) = sen x cos x tg x ; (e) j(x) = e arctg x ; (f) k(x) = cosh(cos x) senh( senx) ;
x−1
(g) l(x) = (ln x)x ; (h) m(x) = cos( arcsenx) ; (i) n(x) = xx .
Teoremas principais
√
1. Verique que o Teorema de Rolle não é válido para a função f (x) = x2 no intervalo [−1, 1].
3
2. Prove que a função x3 + 3x − 1 tem uma única raíz real e que esta pertence ao intervalo (0, 1).
2x − 3x
1 −1 x(1 − ln x)
(a) lim ; (b) lim e x ; (c) lim ;
x→0 x x→0+ x x→0+ ln(1 − x)
1 1 − cos(x2 ) hp
3
i
(d) lim x x ; (e) lim ; (f) (∗) lim x6 + 3x5 − x(1 + x) ;
x→+∞ x→0 x3 sen x x→+∞
sen x + cos x − ex
(g) lim ; (h) lim (cot x) senx ; (i) lim xx .
x→0 ln(1 + x2 ) x→0 x→0+
x2 sen x1
x − senx
(a) lim ; (b) lim ;
x→0 senx x→+∞ x + senx
não podem ser calculados pela Regra de Cauchy-L'Hospital. Calcule-os por outros métodos.
(d) (∗) i(x) = tg(x) ; (e) j(x) = senh(x) ; (f) (∗) k(x) = arcsen(x) .
8. Determine as fórmulas de Taylor de ordem n das funções seguintes em torno dos pontos indicados:
arctgx
(a) f (x) = x ln x , x0 = 1 ; (b) (∗) g(x) = , x0 = 0 ;
x
(x − 1)2
(c) h(x) = , x0 = 1 ; (d) i(x) = sen(x) cos(x) , x0 = 0 ;
x2
r !
1 1+x
(e) j(x) = cosh(2x − 1) , x0 = ; (f) k(x) = ln , x0 = 0 .
2 1−x
10. Duas funções f e g têm primeira e segundas derivadas no ponto x = 0 e satisfazem as relações:
2
f (0) = , f 0 (0) = 2g 0 (0) = 4g(0) , g 00 (0) = 5f 00 (0) = 6f 0 (0) = 3 .
g(0)
a) se h(x) = fg(x)
(x)
, calcule h0 (0).
b) se k(x) = f (x) g(x), calcule k 0 (0).
c) Calcule o limite
g 0 (x)
lim .
x→0 f 0 (x)
Aplicações geométricas
1. Estude as funções seguintes quanto à monotonia e extremos:
x 1 2
(a) f (x) = ; (b) g(x) = ; (c) h(x) = e−x ;
x2 +1 1 + sen2 x
1
(d) i(x) = |x2 − 5x + 6| ; (e) j(x) = |x| ; (f) k(x) = senx + cos x .
e|x−1|
2. Considere a curva:
y = x3 − 6x2 + 8x .
(a) Mostre que a recta y = −x é tangente a esta curva.
(b) Determine o ponto de tangência.
(c) A recta y = −x é tangente à curva em mais algum ponto?
3. Determine as equações das rectas tangentes e das rectas normais às curvas seguintes nos pontos
indicados:
1
(a) y = arcsenx , x0 = ; (b) y = x2 − cos x , x0 = −π ;
2
π
(c) y = x + senx cos x , x0 = ; (d) y = 4x3 + senx , x0 = 0 ;
2
1 + cos x
(e) y = arctgx , x0 = −1 ; (f) y = − ex−π + x − 1 , x0 = π .
eπ
x2 − 4 ex + e−x x2 − 7x + 7
(a) f (x) = ; (b) g(x) = ; (c) h(x) = ;
x ex − e−x x2 − 3x + 3
p ex − e−x
(d) i(x) = arctg(x + x2 − 1) ; (e) j(x) = ln(1 + e−x ) ; (f) k(x) = x .
ex + e−x
Soluções
4.1 Derivadas
1: (a) f 0 (x) = 2; (b) g 0 (x) = 6x2 ; (c) h0 (x) = 3x+1
3
; (d) i0 (x) = 2x cos(x2 ).
2: (a) f 0 (0− ) = −1, f 0 (0+ ) = 1; (b) g 0 (0− ) = g 0 (0+ ) = 0; (c) h0 (2− ) = +∞, h0 (2+ ) = 1; (d) i0 (2− ) = +∞,
√ 2. √
i0 (2+ ) = √ √ √ √
3: (a) = 54 , 15 ' 16 − √1 = 31 , 70 ' 64 + 2√664 = 67 ; (b) ln(2) ' ln(e) − e−2 = 2e ,
1
5 ' 4+ √ 8 8 e
2 4 2 16
1
10−e2
3−e 3
ln(10) ' ln(e2 ) + 10
; (c) arctg 1 π−1
, 3
ln(3) ' ln(e) + e
= e e2
=1+ e2 2
' arctg(1) − 1+12
2
= 4
arctg 2
'
1
arctg(1) + 1+12
2
= π+1
4
.
x2 −1
2
senh(x)
4: (a) f 0 (x) = x1 cos(ln(x)); (b) g 0 (x) = xx −1 2x ln(x) + x
; (c) h0 (x) = cosh(x)
; (d) i0 (x) = −5 sec2 (5x −
2) cosec(5x − 2); j 0 (x) = −1; k0 (x) = √x .
(x2 +1) ln(x2 +1)
5: (a)-(c) = 0.
g 0 (0)
6: (a) f 0 (x) = √ 3
2
; (b) g 0 (x) = ln(10)(x−1)
1
, g 0 (0− ) = 1, g 0 (0+ ) = −1; (c) h0 (x) = 3
9x2 +6x+2
; (d)
(2x−3)23
i0 (x) = √ 5
; (e) j 0 (x) = (x+1) 1 √
x
; (f) k0 (x) = √1
.
25x2 −20x+5 2(x+1) ln(x+1)
1
7: (a) f 0 (x) = 1
1
+ e
x
1 2
se x 6= 0; (b) g 0 (x) = ex se x < 0, g 0 (x) = −e−x se x > 0; (c) h0 (x) =
1+e x x 1+e x
ln(x+1)
1
(x+1)x
− x2
se x ∈ (−1, ∞) \ {0}; (d) i0 (0+ ) = 0, i0 (0− ) = 1; (e) j 0 (0) = − 21 ; (f) k0 (0) = 0.
r 3
[x+cos(x)] cos(x)
8: (a) f 0 (x) = 1
(x+2)2
4 x+2
x−1
; (b) g 0 (x) = 1
cos2 (x)
− 1; (c) h0 (x) = 1 + [1− sen(x)]2
;
arctg(x)
(d) i0 (x) = sen(2x);
(e) j 0 (x) = e 1+x2 ; (f) k0 (x) = − sen (x) senh (cos (x)) senh ( sen (x)) +
cos (x) cosh (cos (x)) cosh ( sen (x)); (g) l0 (x) = (ln (x))x−1 [ln (x) ln (ln (x)) + 1]; (h) m0 (x) = − √ x 2 ; (i)
1−x
xx−1
x−1
h i
n0 (x) = xx xx−1 ln (x) + x−1
.
x
ln (x) + x
M = kπ , m = π2 + k; (c) % (−∞, 0), & (0, +∞), M = 0; (d) % 2, 25 ∪ (3, ∞), & (−∞, 2) ∪ 52 , 3 , M = 52 ,
m = 2, 3; (e) % (−∞, −1) ∪ (0, 1), & (−1, 0) ∪ (1, ∞), M = −1, 1, m = 0; (f) % k∈Z − 3π + 2kπ, π4 + 2kπ ,
S
4
& k∈Z π4 + 2kπ, 5π + 2kπ, , M = π4 + 2kπ , M = − 3π + 2kπ .
S
4 4
2: x = −3. √ √ √ √
3: (a) yT = x + π6 − 33 , yN = − 23 x + π6 + 43 ; (b) yT = −2πx + 1 − π 2 , yN = 2π x + π 2 + 23 ; (c) yT = π2 ,
2 3 1
3
xN = π2 ; (d) yT = x, yN = −x; (e) y = 21 x + 21 − π2 , yN = −2x − 2 − π4 ; (f) yT = π − 2, xN = π .
4: (a) ↑ (0, ∞), ↓ (−∞, 0); (b) ↑ k∈Z kπ, 2 + kπ , ↓ k∈Z 2 π + kπ, π + kπ ; (c) ↑ [5, ∞); (d) ↓ (−∞, −1] ∪
π π
S S
√
4 3
√
4
√
4 3 √
4 3
33
[1, ∞); (e) ↓ (−∞, ∞); (f) ↑ (−∞, −1) ∪ −1, − 3
3
∪ 3
,1 ∪ (1, ∞), ↓ − 3
3
, 3
3
.
5: (a) x → ±∞ : y = x; (b) x → ∞ : y = 1, x → −∞ : y = −1; (c) x → ±∞ : y = 1; (d) x → ±∞ : y = ; (e)
π
2
x → ∞ : y = 0, x → −∞ : y = x; (f) x → ∞ : y = x, x → −∞ : y = −x.
Primitivas
7.1 Introdução
Denição 7.1.1. Seja f uma função denida num intervalo I de R. Chama-se função primitiva
de f em I ou, somente, primitiva de f , a qualquer função g denida em I que verique a equação
g 0 (x) = f (x) ∀ x ∈ I.
Dizemos que uma função f é primitivável em I , se existir, pelo menos, uma função g : I → R tal que
g 0 = f . Denotamos o conjunto de todas as primitivas de uma função f (num intervalo I ) por um dos
símbolos seguintes: Z
f (x) dx ou P [f (x)] (com x ∈ I).
Quando se utiliza a notação f (x) dx para a primitiva de uma função f (x), muitos autores designam as
R
primitivas por integrais indenidos. Resulta desta denição que a primitiva de uma função f , denida
num intervalo I de R, é derivável em todos os pontos interiores a I e, em cada ponto extremo deste
intervalo, tem derivada lateral nita.
Proposição 7.1.1. Seja F uma primitiva de uma função f num intervalo I de R. Então, o conjunto
de todas as primitivas de f em I é constituído por todas as funções da forma
F (x) + c, c = constante.
Demonstração: 0
Se g(x) = F (x) + c, onde c é uma constante, então g 0 (x) = (F (x) + c) = F 0 (x). Logo
g(x) = F (x) + c é, de facto, uma primitiva de f (x). Se h(x) for outra primitiva de f (x), temos, por
denição, h0 (x) = f (x). Como também F 0 (x) = f (x), vem h0 (x) = F 0 (x), pelo que g(x) difere de F (x)
apenas de uma constante. Portanto, todas as primitivas de f (x) têm a forma F (x) + c.
No caso particular de se saber o valor da primitiva num ponto do intervalo I , então tal primitiva é única.
Demonstração: Pela proposição anterior, o conjunto de todas as primitivas de f (x) é dado por F (x)+c,
onde c é uma constante. Suponhamos que existiam duas primitivas F1 (x) = F (x)+c1 e F2 (x) = F (x)+c2
165
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 7. PRIMITIVAS
de f (x) tais que F1 (x0 ) = y0 e F2 (x0 ) = y0 , isto é, F1 (x0 ) = F2 (x0 ). Então F1 (x0 ) = F (x0 )+c1 = y0 +c1
e F2 (x0 ) = F (x0 ) + c2 = y0 + c2 implicam c1 = c2 , pelo que F1 (x) = F2 (x).
Da proposição anterior, resulta que a diferença entre quaisquer duas primitivas de uma mesma função é
constante. Por outro lado, pode-se provar que, dados x0 ∈ I e y0 ∈ R, existe uma única primitiva F da
função f vericando a condição F (x0 ) = y0 .
Proposição 7.1.3 (Propriedade linear). Sejam f e g duas funções primitiváveis num intervalo I
de R e α uma constante real. Então:
Z Z Z
1. [f (x) + g(x)] dx = f (x) dx + g(x) dx;
Z Z
2. [αf (x)] dx = α f (x) dx.
Demonstração: Sejam F (x) + c e G(x) + c os conjuntos de todas as primitivas de f (x) e g(x), respec-
tivamente. Se H(x) + c é o conjunto de todas as primitivas de h(x) = f (x) + g(x), temos, por denição,
H 0 (x) = h(x) = f (x) + g(x) = F 0 (x) + G0 (x), o que prova a primeira armação. De modo análogo, se
I(x) + c é o conjunto de todas as primitivas de i(x) = α f (x), então I 0 (x) = i(x) = α f (x) = α F 0 (x), o
que prova a segunda armação.
Pelo exposto anteriormente, verica-se que a primitivação é, pois, a operação funcional inversa da deriva-
ção. Neste sentido, as primitivas são, por vezes, designadas por anti-derivadas e as primeiras fórmulas
de primitivas são obtidas por inversão das fórmulas de derivação. As primitivas obtidas desta forma (ver
Tabela 7.1) são designadas por primitivas imediatas.
Existem, contudo, funções que não sendo imediatamente primitiváveis, podem ser reduzidas a primitivas
imediatas, usando primeiro propriedades dessas funções. Estão neste caso algumas funções trigonomé-
tricas e hiperbólicas. Estas primitivas são habitualmente designadas por primitivas quase imediatas.
Para as funções trigonométricas, convém utilizar as fórmulas já conhecidas:
sen2 (x) + cos2 (x) = 1, 1 + tg 2 (x) = sec2 (x), 1 + cotg 2 (x) = cosec2 (x).
1 + senh2 (x) = cosh2 (x), 1 − tgh2 (x) = sech2 (x), cotgh2 (x) − 1 = cosech2 (x).
1.
R
0 dx = C
2.
R
1 dx = x + C
3. u0 ur dx = 1 r+1
R
r+1 u + C, r ∈ R, r 6= 1
u0
4.
R
u dx = ln |u| + C
5. u0 eu dx = eu + C
R
6. au u0 dx = 1 u
a ∈ R+
R
ln a a + C,
7. u0 sen(u) dx = − cos(u) + C
R
8. u0 cos(u) dx = sen(u) + C
R
0
17. √u
R
1−u2
dx = arcsen(u) + C = − arccos(u) + C
u0
18.
R
1+u2 dx = arctg(u) + C = − arccotg(u) + C
0
19. √u
R
u u2 −1
dx = arcsec(u) + C = − arccosec(u) + C
0 √
20.
√u
R
u2 +1
dx = argsh(u) + C ≡ ln u + u2 + 1 + C
0 √
21.
√u
R
u2 −1
dx = argch(u) + C ≡ ln u + u2 − 1 + C
u0
22. 1
R 1+u
1−u2 dx = argtgh(u) + C = − argcotgh(u) + C ≡ 2 ln 1−u +C
No segundo, tem-se
cosh2 (x) = 1 + senh2 (x) ⇒ senh3 (x) = senh(x) cosh2 (x) − senh(x),
pelo que
Z Z Z
3 2 1
senh (x) dx = senh(x) cosh (x) dx − senh(x) dx = cosh3 (x) − cosh(x) + C.
3
Para determinar as primitivas de funções que façam envolver secantes e cosecantes, trigonométricas ou
hiperbólicas, precisamos de saber as primitivas dessas funções.
Exemplo 7.2.2. Seja u uma função real de variável real derivável. Mostrar que:
u0
Z Z
1 + sen(u)
a) 0
dx ≡ u sec(u) dx = ln | sec(u) + tg(u)|+ ≡ ln +C;
cos(u) cos(u)
u0
Z Z
1 + cos(u)
b) 0
dx ≡ u cosec(u) dx = − ln | cosec(u) + cotg(u)| + C ≡ − ln +C.
sen(u) sen(u)
Pelas relações 1 + tg 2 (x) = sec2 (x) e 1 + cotg 2 (x) = cosec2 (x), temos:
e, de forma análoga,
u0 cosec(u) cosec2 (u) + cosec(u) cotg(u)
Z Z Z
b) u0 cosec(u) dx = dx = u0 dx
cosec2 (u) − cotg 2 (u) cotg(u) + cosec(u)
= − ln | cosec(u) + cotg(u)| + C;
O denominado método de primitivação por partes dá-nos uma forma de podermos determinar a primitiva
de uma expressão que envolve o produto de duas ou mais funções.
Proposição 7.3.1 (Método de primitivação por partes). Sejam f uma função primitivável num
intervalo I de R e g outra função, derivável no mesmo intervalo. Então a função produto f g é
primitivável no intervalo I e a sua primitiva é determinada da forma seguinte:
Z Z Z Z
0
(f (x) g(x)) dx = f (x) dx g(x) − f (x) dx g (x) dx.
Demonstração: Sejam F (x) e g(x) duas funções deriváveis tais que F 0 = f . Pela Regra de Derivação
do Produto, temos
0
(F g) = F 0 g + F g 0 .
Primitivando esta equação, obtemos
Z Z
0
Fg = F g dx + F g 0 dx .
Ora, como Z
F 0 = f ⇒ F (x) = f (x)dx ,
temos Z Z Z Z Z Z
0 0
F g dx = F g − F g dx ⇔ f g dx = f dx g − f dx g dx ,
A fórmula do método de primitivação por partes, pode, ainda, aparecer numa das formas equivalentes
seguintes: Z Z Z Z
u0 v dx = u v − u v 0 dx; v du = u v − u dv;
De um modo geral, o sucesso da aplicação deste método, reside na escolha da função que se vai derivar.
Regra geral, esta função deve ser escolhida de modo que a expressão, que surge no segundo termo da
fórmula de primitivação por partes, mais se simplique.
a) Escolhendo v = x como função a derivar e u = ex como função a primitivar, temos, pelo Método
de Primitivação por Partes,
Z Z
x ex dx = x ex − ex × 1 dx = xex − ex + C.
Existem outras situações em que é preciso usar o método de primitivação por partes mais do que uma
vez e, mesmo assim, é necessário alguma subtileza para se determinar a primitiva.
sen(x) − cos(x)
Z Z
2 e sen(x) dx = e ( sen(x) − cos(x)) ⇔ ex sen(x) dx = ex
x x
,
2
pelo que
sen(x) − cos(x)
Z
ex sen(x) dx = ex + C.
2
Por m, o método de primitivação pode ser utilizado para determinar as primitivas de expressões que en-
volvam uma só função. Aqui não há dúvidas quanto à função a primitivar ou qual a derivar: escolhemos
para derivar a única função da expressão e para primitivar a função identicamente igual a 1. Este racio-
cínio é particularmente útil para determinar todas as primitivas das inversas das funções trigonométricas
e das funções hiperbólicas, assim como para a função logaritmo.
O método de primitivação por substituição, consiste numa mudança de variável de modo à primitiva
pretendida ser mais fácil de determinar. Este método é uma consequência directa do teorema de derivação
da função composta.
φ ◦ ϕ : J 7→ R .
Seja, agora, f uma função tal que f (x) = φ0 (x) para x ∈ I . Então f é primitivável em I , assim como
f ◦ ϕ ≡ φ0 ◦ ϕ é primitivável em J . Por consequência, podemos escrever
Z Z
f (x) dx = f (ϕ(t))ϕ0 (t) dt ,
Observemos que, depois de determinada a primitiva por este método, voltamos à variável inicial, fazendo
a substituição:
t = ϕ−1 (x).
− dt
Z Z Z
dx dt
= t
=− = − ln |1 + t| + C = − ln(1 + e−x ) + C = x − ln(ex + 1) + C .
x
e +1 e− ln(t) +1 1+t
√
b) Fazendo a substituição x + 1 = t ⇒ x = t2 − 1 ⇒ dx = (t2 − 1)0 dt = 2tdt, temos
Z 2
t −1
Z Z
x 2
√ dx = 2t dt = 2 (t2 − 1) dt = t3 − 2t + C
x+1 t 3
2 √ √ 2 √
= (x + 1) x + 1 − 2 x + 1 + C = (x − 2) x + 1 + C .
3 3
Substituições importantes
Algumas das substituições mais importantes são indicadas a seguir. Se a função a integrar contém o
radical:
√
• a2 − x2 , a = constante, faz-se a substituição
x = a sen(t) ou x = a cos(t),
1 + tg 2 (x) = sec2 (x), 1 + cotg 2 (x) = cosec2 (x) ou 1 + senh2 (x) = cosh2 (x);
√
• x2 − a2 , a = constante, faz-se a substituição
sec2 (x) − 1 = tg 2 (x), cosec2 (x) − 1 = cotg 2 (x) ou cosh2 (x) − 1 = senh2 (x).
−2 cos(t) sen(t) dt √
Z Z Z
dx
p = p = −2 1 dt = −2t + C = arccos( x) + C .
x(1 − x) 2 2
cos (t)[1 − cos (t)]
b) Fazendo x = 3 senh(t) ⇒ dx = 3 cosh(t) dt e usando o facto de que 1 + senh2 (t) = cosh2 (t),
temos
Z Z Z
dx 3 cosh(t) dt x
√ = q = 1 dt = t + C = argsh +C
9 + x2 3
9 + 9 senh2 (t)
x r x 2 p
= ln + 1 + + C = ln x + 9 + x2 + C .
3 3
Em muitas situações, uma mesma primitiva pode ser determinada usando o Método de Primitivação por
Partes ou usando o Método de Primitivação por Substituição.
Exemplo 7.4.3. Determinando a primitiva da Exercício 7.4.1, alínea b), usando o Método de
Primitivação por Partes, temos:
Z Z Z Z Z
x 1 − 12 − 21 0
√ dx = √ × x dx = (x + 1) dx × x − (x + 1) dx × x dx
x+1 x+1
√ √ √
Z
1 4
= 2x x + 1 − 2 (x + 1) 2 dx = 2x x + 1 − (x + 1) x + 1 + C
3
2 √
= (x − 2) x + 1 + C .
3
Existem, contudo, situações em que temos de usar o Método de Primitivação por Partes conjugado com
o Método de Primitivação por Substituição para podermos determinar a primitiva de algumas funções.
Neste caso, começamos por usar o Método de Primitivação por Partes do modo seguinte:
x2
Z Z 2
x 1
x arcsen(x) dx = arcsen(x) − ×√ dx
2 2 1 − x2
Z
1 1 p 1 1
= x2 arcsen(x) + 1 − x2 dx − √ dx
2 2 2 1 − x2
Z p
1 1 1
= x2 arcsen(x) + 1 − x2 dx − arcsen(x) + C .
2 2 2
Pn (x)
f (x) = ,
Qm (x)
onde
Para determinar as primitivas de funções racionais seguimos os passos que a seguir descrevemos.
Neste caso, é possível dividir os polinómios e é isso que se começa por fazer.
x4 − 2 x3
Z Z Z Z
2 1
dx = x dx − 1 dx − dx = − x − arctg(x) + C .
x2 + 1 1 + x2 3
Pn (x)
f (x) = .
(x − x1 )(x − x2 ) · · · (x − xm )
Neste caso, usamos o denominado Método dos Coecientes Indeterminados para decompor a função f (x)
em fracções mais simples:
A1 A2 Am
f (x) = + + ··· + , (7.5.1)
x − x1 x − x2 x − xm
onde A1 , A2 , . . . , Am são os coecientes a determinar.
Pn (x2 )
Pn (x2 ) = A2 (x2 − x1 )(x2 − x3 ) · · · (x2 − xm ) ⇔ A2 = .
(x2 − x1 )(x2 − x3 ) · · · (x2 − xm )
Neste caso em concreto, obviamente que Qm−1 (x) = (x − x1 )(x − x3 ) · · · (x − xm ). Para determinar um
Ai qualquer, substituímos na mesma expressão x por xi e obtemos
De outro modo, podíamos ter determinado os coecientes A e B pelas fórmulas dadas acima. Neste
caso, teríamos
1 1 1 1
A= = e B= =− .
x + 3 x=1 4 x − 1 x=−3 4
pelo que
x−1
Z Z Z Z
1 1 1
dx =5 dx − 2 dx − 10 dx
(x + 1)2 (2x + 3) x+1 (x + 1)2 2x + 3
2
=5 ln |x + 1| + − 5 ln |2x + 3| + C
x + 1
x+1
=5 ln + 2 +C.
2x + 3 x + 1
Aqui, podemos inferir1 que m = 2k , com k ∈ N, e a função a integrar escreve-se na forma seguinte:
Pn (x)
f (x) = , com n < 2k,
(x2 + bx + c)k
e onde b e c são parâmetros conhecidos. Usando o Método dos Coecientes Indeterminados, decompomos
a função f (x) do modo seguinte:
b1 x + c1 b2 x + c 2 bk x + ck
f (x) = + + ··· + 2 .
x2 + bx + c (x2 + bx + c)2 (x + bx + c)k
1 Todo o polinómio de grau ímpar tem, pelo menos, uma raiz real.
Começamos por observar que o polinómio x2 + 2x + 5 não pode ser decomposto, visto que não tem
raízes reais. Neste caso, fazemos a aproximação seguinte
1 1 1 1
= =
x2 + 2x + 5 4 + (x + 1) 2 4 1 + x+1 2
2
No caso de k > 1, a situação é mais delicada, pois necessitamos de saber primitivar as funções do tipo
seguinte:
bi x + ci
g(x) = 2 , qi = k − i ≥ 2 pois i = 1, . . . , k − 2.
(x + bx + c)qi
Nestes casos, a primitiva é determina fazendo uma mudança de variável que nos leva a um novo tipo de
funções a primitivar:
1
h(x) = , onde zemos q = qi .
(1 + x2 )q
As primitivas deste tipo, serão determinadas usando o Método de Primitivação por Partes, como mostra
a proposição seguinte.
x2
Z Z Z
1 1
dx = dx − dx .
(1 + x2 )q (1 + x2 )q−1 (1 + x2 )q
A seguir, admitindo que q ≥ 2, usamos o Método de Primitivação por Partes para decompor a segunda
primitiva do segundo termo,
x2
Z Z
x
dx = × x dx =
(1 + x2 )q (1 + x2 )q
Z Z Z
x(1 + x2 )−q dx × x − x(1 + x2 )−q dx × x0 dx =
1 (1 + x2 )−q+1 (1 + x2 )−q+1
Z
1
x− dx =
2 −q + 1 2 −q + 1
Z
1 x 1 1
− 2 q−1
+ dx .
2(q − 1) (1 + x ) 2(q − 1) (1 + x2 )q−1
h i
x+1 2
Procedendo como no Exemplo 7.5.5, escrevendo x2 +2x+5 = 4 1 + e fazendo a substituição
2
x+1
2 = t, obtemos
Z Z Z
1 1 1 1
dx = i2 dx = dt .
(x + 2x + 5)2
2 8 (1 + t2 )2
h
x+1
2
16 1 + 2
Em muitos exercícios de aplicação prática, temos de percorrer vários passos dos anteriormente descritos
x4
Z
4
dx .
x −1
Começando por dividir os polinómios, temos
x4
Z Z Z Z
1 1
4
dx = 1 dx + 4
dx = x + 4
dx .
x −1 x −1 x −1
Fixemo-nos, agora, na primitiva do segundo membro. Aqui, vamos usar o Método dos Coecientes
Indeterminados para escrever a função racional como soma de outras mais simples:
1 1 A B Cx + D
= = + + 2 .
x4 − 1 (x − 1)(x + 1)(x2 + 1) x−1 x+1 x +1
1 1/4 −1/4 Cx + D
2
= + + 2
(x − 1)(x + 1)(x + 1) x−1 x+1 x +1
1 1
⇔1 = (x + 1)(x + 1) − (x − 1)(x + 1) + (Cx + D)(x2 − 1)
2 2
4 4
3 1 2 1 C=0
⇔1 = Cx + D + x − Cx − D + ⇔
2 2 D = − 12 .
x4
1 x − 1 1
Z
dx = x + ln − arctg(x) + C .
x4 − 1 4 x + 1 2
onde R(x) é uma função racional. Mais geralmente, designamos por função irracional qualquer função
cuja expressão designatória resulta de aplicarmos operações racionais a uma ou mais das funções por
último referidas. Antes de indicarmos métodos de resolver primitivas de funções irracionais, observemos
que a ideia principal é reduzir as primitivas de funções irracionais a primitivas de funções racionais.
Depois, para estas últimas, podemos utilizar os conhecimentos da secção anterior.
De seguida, vamos indicar métodos para determinar as primitivas de alguns tipos de funções irracionais.
1o TIPO Se nos diferentes radicais que intervêm na função irracional surgir sempre a função racional
ax + b
R(x) = ,
cx + d
fazemos a mudança de variável
ax + b
= tn ,
cx + d
onde n é o mínimo múltiplo comum dos diferentes radicais.
x3
Z
√ dx .
1 − x2
Em muitas situações, este tipo de primitivas pode ser determinado usando o Método de
Primitivação por Partes e ou usando o Método de Primitivação por Substituição. Sempre que
seja possível, é preferível usar um destes métodos em vez da identidade (7.6.3). Esta escolha
não é determinada pela maior ou menor rapidez destes métodos, mas sim porque são métodos
mais gerais e aos quais já estamos habituados.
onde a, b, c são coecientes reais, d é uma constante real e n é um natural, fazemos a mudança de
variável seguinte:
1
= t,
x−d
Deste modo, obtemos uma primitiva do tipo 2 acima referida:
tn−1
Z Z
dx
√ =− p ,
(x − d)n ax2 + bx + c αx2 + βx + γ
As primitivas de binómios diferenciais são um vasto grupo de primitivas que incluem primitivas de funções
racionais e primitivas de funções irracionais. Vamos designar por primitiva de um binómio diferencial a
toda a primitiva da forma Z
p
xm (a + bxn ) q dx ,
onde a e b são coecientes reais, m e n são racionais e p e q são inteiros não nulos. As primitivas destas
funções são determinadas da forma seguinte:
(i) Se é um inteiro, então estamos perante uma primitiva de uma função racional e podemos usar os
p
q
métodos descritos na Secção 7.5.
(ii) Se p
q não é um inteiro, mas:
m+1
• é um inteiro ⇒ fazer mudança de variável a + bxn = tq ;
n
m+1 p
• + é um inteiro ⇒ fazer mudança de variável a + bxn = xn tq .
n q
Observe-se que no último caso, podemos fazer a substituição na forma equivalente seguinte
ax−n + b = tq .
Nestes dois casos as primitivas são transformadas em primitivas de funções racionais e, novamente,
podemos usar os métodos descritos na Secção 7.5. Este resultado é conhecido na literatura como
Teorema de Tchebychev.
Se pq , m+1
n e n + q são todos não inteiros, então não é possível determinar a primitiva como combinação
m+1 p
linear nita de funções elementares. Nestas situações especiais, que não iremos tratar neste curso,
as primitivas são determinadas usando o desenvolvimento em série de Taylor da função a primitivar.
Convém ter em mente, que, por vezes, existem substituições mais simples que nos permitem determinar
a primitiva de forma mais célere.
Exemplo 7.7.2. Determine a primitiva da alínea a do Exemplo 7.7.1 usando uma substituição
trigonométrica, ou hiperbólica, conveniente.
Primitivas imediatas
1. Determine as primitivas seguintes:
Z Z
dx
(a) x5 dx ; (i) √ , n ∈ N;
n
x
Z
dx
Z
1−n
(b) ; (j) (nx) n dx , n ∈ N ;
x2
Z Z 3
2 2 2
(c) dx ; (k) a3 − x3 dx, a ∈ R ;
x
√
Z Z
(d) 3
x dx ; (l) sen2 x dx ;
Z Z
(e) (2x2 − 5x + 3) dx ; (m) cosh2 x ;
(x3 − x2 )2
Z Z
(f) (3x + 4)2 dx ; (n) √ dx ;
x
Z Z
(g) x(x + a)(x + b) dx ; (o) tg 2 x sec2 x dx ;
Z Z
(h) (a + bx3 )2 dx , a, b ∈ R ; (p) ex cotg(ex ) dx .
Z
x
(b) F (x) = dx , com F (0) = 1;
1 + x2
Z
(c) F (x) = sen(2x) dx , com F (π) = 0;
Z
1
(d) F (x) = 2−x dx , com F (0) = − ;
ln(2)
Z
(e) F (x) = (2x3 − 5x2 + 3x − 1) dx , com F (1) = 0;
Z π
(f) F (x) = tg(x) dx , com F
= 1 + ln(2);
3
Z
1
(g) F (x) = senh(3x − 1) dx , com F = 1;
3
Z
1 1
(h) F (x) = dx , com F (2) = − .
x3 4
2. Determine as primitivas seguintes usando primitivação por partes e uma substituição adequada:
Z Z p
(a) x arccos(x) dx ; (c) x ln(x + x2 + 1) dx ;
√ √
Z Z p
(b) x arcsen( x) dx ; (d) x ln(x + x2 − 1) dx .
x3 + x + 1
Z
dx
Z
(a) 2
; (i) dx ;
x − 2x + 2 x3 + x
Z
dx
Z
dx
(b) 2
; (j) 3
;
x + 2x x +1
3x − 2
Z
x3
Z
(c) 2
dx ; (k) dx ;
x − 4x + 5 3
x −1
Z
x
Z
dx
(d) dx ; (l) ;
x − 4x2 + 3
4
(x − 4x + 3)(x2 + 4x + 5)
2
Z 4
x − 6x3 + 12x2 + 6 5x2 + 6x + 9
Z
(e) dx ; (m) dx ;
x3 − 6x2 + 12x − 8 (x − 3)2 (x + 1)2
Z
dx Z
x2 + 2x
(f) ; (n) dx .
(x − 1)(x + 2)(x + 3) (x − 1)(x2 − 4x + 5)
2x2 + 41x − 91
Z Z
1
(g) dx ; (o) dx ;
(x − 1)(x + 3)(x − 4) (x2 + 1)(x2 + 2)
x2 − 8x + 7 x2
Z Z
(h) dx ; (p) dx .
(x2 − 3x − 10)2 (x + 1)(x2 + 1)2
3x − 6
Z Z
dx
1. √ ; 8. √ dx ;
1+ x 2
x − 4x + 5
x3
Z
2.
Z
√ dx ; dx
x−1 9. √ ;
Z x − x2
x
3. √
3
dx ; Z
x−4 3
Z √ 10. x3 (1 + 2x2 )− 2 dx ;
4
x
4. √ √ dx ;
x+ 3x Z
dx
√ 11. √ ;
x32+x
Z
x 1 + x2
4
5. √ dx ;
x+ 32+x Z
dx
12.
Z r
x−1 5 ;
6. x dx ; x2 (2 + x3 ) 3
x+1
Z
dx 2x − 8
Z
7. √ √ ; 13. √ dx .
x + 1 + (x + 1) x + 1 1 − x − x2
Soluções
√ tg 3 (x)
1
[x + senh(x) cosh(x)] + C ; (n) x2 x 132 4
x + 25 + C ; (o)
4 3
+ C ; (p) ln | sen (ex ) | + C .
2
x − 11 3
2: (a) F (x) = ln |x| + 1; (b) F (x) = ln(1 + x ) + 1; (c) F (x) = − 2 cos(2x) + 12 ; (d) F (x) = − ln(2) 2−x ; (e)
1 2 1 1
2
F (x) = 2
x − 53 x3 + 32 x2 − x + 32 ;
1 4
(f) F (x) = − ln | cos(x)| + 1; (g) F (x) = 1
3
cosh(3x − 1) + 23 ; (h) F (x) = − 2x12 − 81 .
5.2 Primitivas por partes
√
1: (a) x ln(x) − x + C ; (b) x arctg(x) − 12 ln(1 + x2 ) + C ; (c) x arcsen(x) + 1 − x2 + C ; (d) sen(x) − x cos(x) + C ; (e)
1+x ln(2)
1
cos(x) sen(x) + x2 + C ; (f) − ln2 (2) 2−x + C (g) n n! n−k ex + C ; (h) − 1 ex cos(x) + 1 ex sen(x) + C ; (i)
P
2 k=0 (n−k)! x 2 2
α+1
1
1+ln2 (3)
[ln(3) sen(x) − cos(x)]3x + C ; (j) xα+1 ln(x) − α+1
1
+ C se α 6= −1, 21 ln2 (x) + C ; (k) −(1 + x)e−x + C ;
(l) − 2 cos(ln(x)) + 2 sen(ln(x)) + C ; (m) ln(1 + x ) − x + arctg(x) + C ; (n) − x2 cos2 (x) + 41 cos(x) sen(x) + x4 + C .
x x x 2
Integrais
Denição 8.1.1. Seja [a, b] um intervalo contido em R de extremos a e b, com a < b. Designa-se
por partição do intervalo [a, b] a um conjunto nito de pontos, digamos x0 , x1 , . . . , xn , que
divide [a, b] em subintervalos tais que:
O intervalo considerado pode ser aberto e a partição, denida desta forma, vai ser denotada por P e
escreve-mo-la do modo seguinte:
P : a = x0 < x1 < · · · < xn−1 < xn = b.
Esta partição determina n intervalos [xi−1 , xi ] cujos comprimentos são dados por
4xi = xi − xi−1 .
A localização dos pontos x0 , x1 , . . . , xn , e a consequente divisão do intervalo [a, b] é arbitrária. Em
particular, os subintervalos [xi−1 , xi ] não têm necessariamente o mesmo comprimento.
Denição 8.1.2. Seja f uma função denida num intervalo [a, b] ⊂ R. Designamos por soma de
Riemann da função f no intervalo [a, b] à quantidade seguinte:
n
X
f (ξi )4xi ≡ f (ξ1 )4x1 + f (ξ2 )4x2 + · · · + f (ξn )4xn ;
i=1
Para a noção de integral, interessa-nos que as partições sejam muito nas. Denimos a quantidade que
dene a nura de dada partição P de um intervalo [a, b] ⊂ R por
|P| = max 4xi .
i
186
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 8. INTEGRAIS
f (ξi )
y = f (x)
uma partição arbitrária de [a, b]. Diz-se que a função f é integrável (à Riemann) no intervalo
[a, b], se existir (e for nito) o limite seguinte:
n
X
lim f (ξi )4xi ,
|P|→0
i=1
No caso de existir, o limite da denição anterior designa-se por integral da função f e denota-se por
Z b Z
f (x) dx ou f (x) dx.
a [a,b]
Neste caso, a função f designa-se porR função integranda, a e b são, respectivamente, os limites
inferior e superior de integração, e é o símbolo de integração. A variável x joga o mesmo papel
que o índice dos somatórios e, habitualmente, dizemos que é uma variável muda no sentido que pode ser
substituída por outra variável, não alterando o valor do integral.
A noção de função integrável que acabamos de introduzir, estende-se a qualquer função denida num
conjunto limitado D ⊂ R que não seja propriamente um intervalo. Apenas temos de considerar um
intervalo [a, b] que contenha D e aí fazer a análise anterior. O único cuidado a tomar para a denição
fazer sentido, é xar o valor de f (ξi ) igual a zero quando ξi não pertencer a D.
Usando a noção de limite, dizemos que o número I é o integral (de Riemann) da função f no intervalo
[a, b], se
Xn
∀ ε > 0 ∃ δ > 0 : I − f (ξi )4xi < ε
i=1
para qualquer partição P do intervalo [a, b] tal que |P| < δ e qualquer escolha dos pontos ξi .
Para a demonstração de muitos resultados teóricos, é conveniente a denição equivalente de limite que
usa o denominado Critério de Cauchy.
Denição 8.1.4. Seja f uma função denida num intervalo [a, b] ⊂ R. A função f é integrável (à
Riemann) no intervalo [a, b], se
Xn n
X
∀ε>0 ∃δ>0 : f (ξi1 )4x1i − f (ξi2 )4x2i < ε
i=1 i=1
para quaisquer duas partição P1 e P2 do intervalo [a, b] formadas por pontos distintos e tais que
|P1 | < δ e |P2 | < δ .
Z b
f (x) dx y = f (x)
a
a b x
A questão que agora se coloca é a de saber se é possível indicar condições para dizer se determinada
função é integrável ou não. A proposição seguinte dá-nos uma condição necessária para que uma função
seja integrável.
Proposição 8.1.1. Seja f uma função denida num intervalo [a, b] ⊂ R. Se a função f é integrável
(à Riemann) no intervalo [a, b], então é limitada em [a, b].
Demonstração: Se f não fosse limitada, então para qualquer partição do intervalo [a, b]:
existiria, pelo menos, um intervalo, digamos [xi−1 , xi ], onde f não é limitada. Deste modo, escolhendo o
ponto ξi∗ ∈ [xi−1 , xi ] de modos diferentes, podemos fazer a quantidade
Pn
queira. Logo, a soma de Riemann i=1 f (ξi∗ )4xi vai ser tão grande quanto se queira. Deste modo,
n
X
lim f (ξi∗ )4xi = +∞.
|P|→0
i=1
Então, pela proposição anterior, qualquer função que não seja limitada no respectivo intervalo de inte-
gração, não é integrável nesse intervalo. Como iremos ver a condição necessária de integrabilidade obtida
está longe de ser suciente. Contudo, permite-nos restringir o estudo a funções limitadas. A proposição
seguinte dá-nos uma condição suciente para que uma função seja integrável.
Proposição 8.1.2. Seja f uma função denida num intervalo [a, b]. Se f é contínua em [a, b], então
f é integrável em [a, b].
Para k = 1, 2, temos
l X 2 l l X2 l X 2
X X X X
i i k k i i k i
f (ξ j )∆ x j − f (ξ j )∆ x j =
f (ξ j )∆ xj − f (ξ j )∆ x j
j=1 i=1 j=1 j=1 i=1 j=1 i=1
Observemos que, no caso da proposição anterior, o facto da função ser contínua no intervalo (fechado),
implica que, nesse intervalo, também seja limitada.
Exemplo 8.1.2. Mostre que a função f (x) = 2 é integrável no intervalo [0, 1] e calcule o respectivo
integral.
Proposição 8.1.3. Seja f uma função limitada num intervalo [a, b]. Se f é contínua em [a, b],
excepto, quanto muito, num número nito de pontos, então f é integrável em [a, b].
Neste caso, é necessária a hipótese da função ser limitada, pois poder-se-á dar o caso da função não ser
limitada em algum ponto de descontinuidade.
Exemplo 8.1.3. Mostre que a função seguinte não é integrável no intervalo [0, 1]:
1 se x ∈ [0, 1] ∩ Q
f (x) =
0 se x ∈ [0, 1] \ Q .
Neste último exemplo, observamos que a função não é contínua no domínio considerado. Mais do que
isso, o conjunto dos pontos de descontinuidade desta função tem cardinalidade innita. No entanto, só
por isso, não podemos dizer que uma função com um conjunto de pontos de descontinuidade innito
não seja integrável. A proposição seguinte permite-nos dizer que algumas funções nestas condições são
integráveis.
Proposição 8.1.4. Seja f uma função monótona num intervalo fechado [a, b]. Então f é integrável
em [a, b].
Exemplo 8.1.4. A função seguinte é integrável no intervalo [0, 1] apesar de aí ter um conjunto de
pontos de descontinuidade contavelmente innito:
se 1 − 2n−1
1 1
1 − 2n−1 ≤ x ≤ 1 − 21n , n ∈ N .
f (x) =
1 se x = 1
Todos os resultados anteriores podem ser enunciados para intervalos abertos (a, b), ou semi-abertos [a, b)
e (a, b]. Apenas temos de exigir que a função seja limitada no ou nos extremos do intervalo considerado.
Para concluir esta secção e pelo que foi exposto, podemos dizer que todas as funções elementares conhe-
cidas são integráveis em intervalos limitados contidos nos seus domínios de denição.
8.2 Propriedades
Proposição 8.2.1. Sejam f e g duas funções integráveis num intervalo [a, b] e tais que f (x) = g(x)
para quase todo x ∈ [a, b]. Então
Z b Z b
f (x) dx = g(x) dx.
a a
Demonstração:
O resultado anterior expressa o facto do integral de uma função não ser afectado por uma quantidade
nita de pontos.
Proposição 8.2.2. Sejam f e g duas funções integráveis num intervalo [a, b] e c uma constante
real. Então as funções f + g e c f também são integráveis em [a, b] e tem-se:
Rb Rb Rb
1. a
[f (x) + g(x)] dx = a
f (x) dx + a
g(x) dx;
Rb Rb
2. a
[c g(x)] dx = c a
f (x) dx.
Demonstração:
Esta proposição, diz-nos que o integral é um operador linear, o que é muito útil no cálculo de integrais.
Na proposição seguinte estabelece-se a denominada propriedade aditiva dos integrais.
Proposição 8.2.3. Sejam a, b e c números reais tais que a < c < b. Se dois dos integrais seguintes
existem, o terceiro também existe e tem-se:
Z c Z b Z b
f (x) dx + f (x) dx = f (x) dx.
a c a
Demonstração:
Demonstração:
Ainda como consequência da monotonia dos integrais podemos provar o resultado seguinte que, de
certo modo, está relacionado com o Teorema do Valor Intermédio. Este resultado pode ser interpretado
geometricamente, dizendo que existe sempre um rectângulo de base o intervalo de integração e cuja área
coincide com o integral dado.
Proposição 8.2.5 (Teorema da média do integral). Seja f uma função contínua num intervalo
[a, b], com a < b. Então existe, pelo menos, um ponto c ∈ (a, b) tal que
Z b
1
f (c) = f (x) dx.
b−a a
Demonstração:
Nesta secção, vamos ver como se relaciona a integração de funções com a respectiva derivação. Esta
relação constitui um dos mais importantes teoremas da Análise Matemática e é comummente designado
por Teorema Fundamental da Análise.
a qual é designada por integral indenido da função f . Observe-se que a variável x da função F é
o limite superior do integral indenido e, por isso, tivemos necessidade de alterar a variável muda do
integral.
Proposição 8.3.1. Seja f uma função integrável num intervalo [a, b]. Então, a função
Z x
F (x) = f (s) ds, a ≤ x ≤ b,
a
Demonstração:
Proposição 8.3.2 (Teorema Fundamental). Seja f uma função integrável num intervalo [a, b] e
contínua em (a, b). Então, a função
Z x
F (x) = f (s) ds, a ≤ x ≤ b,
a
Demonstração:
Esta proposição, diz-nos que a integração de uma função f , contínua num intervalo com limite superior
variável x, dá origem a uma função F , que não é mais do que a primitiva da função f .
Proposição 8.3.3 (Fórmula de Newton-Leibniz). Seja f uma função limitada num intervalo [a, b]
e contínua em (a, b). Se F é uma função contínua em [a, b] e tal que
então Z b
f (x) dx = F (b) − F (a).
a
Demonstração:
A fórmula expressa na proposição anterior é, também, muitas vezes designada por Fórmula de Newton-
Leibniz e permite-nos tirar a propriedade seguinte dos integrais:
Z b Z a
f (x) dx = − f (x) dx.
a b
A proposição anterior dá-nos, nalmente, um método ecaz de calcular os integrais de funções contínuas
e limitadas num intervalo.
Como consequência dos resultados anteriores, obtemos o resultado seguinte, por vezes designado por
Teorema de Derivação do Integral Paramétrico.
Corolário 8.3.1. Seja f uma função integrável num intervalo [a, b] e contínua em (a, b). Se ξ e ϕ
são funções deriváveis, então
Z ϕ(t) !
d
f (x) dx = f (ϕ(t))ϕ0 (t) − f (ξ(t))ξ 0 (t).
dt ξ(t)
Para o cálculo de integrais, iremos recorrer ao Teorema Fundamental e à consequente Fórmula de Newton-
Leibniz. O resultado da proposição seguinte conjuga o teorema fundamental com o método de primiti-
vação por partes.
Proposição 8.4.1. Sejam f uma função contínua em [a, b] e g uma função com derivada contínua
Demonstração:
Por vezes, este resultado é referido como o Método de Integração por Partes.
Exemplo 8.4.1. Usando o Método de Integração por Partes, calcule o integral seguinte:
Z 1
x
x
dx.
0 e
Proposição 8.4.2 (Teorema de Mudança de Variável). Sejam f uma função contínua em [a, b] e
ϕ uma aplicação bijectiva sobre [a, b]. Se ϕ é uma função derivável com derivada contínua, então
tem-se: Z −1
Z b ϕ (b)
f (x) dx = f (ϕ(t)) ϕ0 (t) dt.
a ϕ−1 (a)
Demonstração:
O resultado da proposição anterior é muitas vezes designado por Método de Integração por Subs-
tituição.
Exemplo 8.4.2. Usando o Método de Integração por Substituição, calcule o integral seguinte:
Z 2
1
√ dx.
1 x +x
Para a resolução de exercícios, bem como para a demonstração de alguns resultados teóricos, têm interesse
especial as mudanças de variável indicadas a seguir.
Translação: x = t − t0 , em que t0 ∈ R:
Z b Z b+t0
f (x) dx = f (t − t0 ) dt;
a a+t0
Simetria: x = −t: Z b Z −b
f (x) dx = − f (−t) dt;
a −a
Corolário 8.4.1. Seja a um número real não nulo e f uma função integrável no intervalo [−a, a].
Temos:
Ra
1. Se f é uma função ímpar em [−a, a], então −a
f (x) dx = 0 ;
Ra Ra
2. Se f é uma função par em [−a, a], então −a
f (x) dx = 2 0
f (x) dx .
Corolário 8.4.2. Seja f uma função integrável e a ∈ R arbitrário. Se f é uma função periódica de
período T , então
Z T +a Z a
f (x) dx = f (x) dx.
T 0
8.5 Aplicações
Intuitivamente a noção de integral está associada à ideia do cálculo de uma área. Deste modo, a fórmula
expressa na denição seguinte, e que se torna muito útil para o cálculo de áreas, é imediata.
Denição 8.5.1. Seja f uma função contínua e não negativa num intervalo [a, b]. A área da
região R limitada pelas rectas verticais x = a e x = b, pela recta horizontal y = 0 e pelo gráco de
f (x) é dada por:
Z b
A(R) = f (x) dx.
a
No caso de uma função f , eventualmente negativa, ou sem sinal denido, consideramos na fórmula
anterior |f (x)| em vez de f (x). Assim, para uma função contínua f qualquer, a área é dada por:
Z b
A(R) = |f (x)| dx.
a
√
Exemplo 8.5.1. Usando integrais, calcule a área da gura limitada pelas curvas y = 4 − x2 e
y = 0.
Se a região R estiver compreendida entre quaisquer duas funções contínuas f (x) e g(x), com x ∈ [a, b],
então a área de R é dada por
Z b
A(R) = |f (x) − g(x)| dx.
a
y = f (x)
a b x
y = g(x)
√
Exemplo 8.5.2. Usando integrais, calcule a área da gura limitada pelas curvas y = 2 − x2 e
y=x . 2
Outra aplicação dos integrais é o cálculo do comprimento de arco de curvas com derivadas contínuas.
Denição 8.5.2. Seja f uma função derivável com derivada contínua num intervalo [a, b]. O
comprimento de arco s da curva (gráco) y = f (x) entre x = a e x = b é dado por:
Z b q
2
s= 1 + [f 0 (x)] dx.
a
∆ yi
∆ xi
y = f (x)
√
Exemplo 8.5.3. Usando integrais, calcule o comprimento (de arco) da curva y = 4 − x2 entre os
pontos x = 0 e x = 2.
1 √ 1
y2
Z Z
4
x
(g) √ √ dx ; (h) p dy .
0
3
x+ x 0 y6 + 4
5. Justique porque é que não se pode efectuar a mudança de variável x = cos t no integral seguinte:
Z 2p
3
1 − x2 dx .
0
Z x
tf (t) dt = x2 + x senx + cos x − 1.
0
(f) x2 + y 2 = 1;
2 2
(g) x 3 + y 3 = 1;
(h) y = tg(x), y = cotg(x), y = 0, x = 0 e x = 2;
π
√
(i) y = x2 e y = x;
(j) y = sen(x), y = − cos(x), x = 0 e x = π .
11. Calcule os comprimentos de arco das curvas seguintes:
(a) y 2 = x3 entre a origem e x = 4;
(b) y = 41 x2 − 1
2 ln(x) desde x = 1 até x = e;
(c) y = arcsen(e−x ) entre x = 0 e x = 1;
√ √
(d) y = ln x entre x = 3 e x = 8;
(e) x2 + y 2 = 1;
√
(f) 4y 3 = 9x2 entre os pontos de coordenadas (0, 0) e (2, 3
9);
(g) y = 4 − (x − 1)2 entre x = −1 e x = 3.
p
Soluções
√
e2 −1
1: (a) 7
3
; (b) 1 − cos(1); (c) sen(x) − sen(1); (d) ex − e−x ; (e) ln(2); (f) 1; (g) 2e
; (h) ln √ 2 ;
1+
3
(i) π
8
.
2: (a) 21; (b) 0; (c) 3; (d) 41
6
; (e) 0: (f) 3; (g) 1; (h) 21 ; (i) 32 .
√ √ √
e2 +3 2
3: (a) − 1; (b) 1; (c) 8 ; (d) x 2+1 arctg(x) − x2 ; (e) 83 + 12
π
2
π
; (f) 43 ; (g) π+2
8
; (h) ln(1 + 2) − 2 + 1.
√ √ √ √
4: (a) 4−2 ln(3); (b) 44 1052−16
; (c) arctg(e)− π4 ; (d) π4 ; (e) 3 2 3 π +8; (f) ln(1+ 2) (g) 1052 105
−3π ; (h) 13 ln 1+2 5 .
√
3
(a) 93+21 ; (b) − 13 + 12 sen (1) + 12 sen 52 ; (c) 0; (d) 12 + π8 .
6:
4 6 7 7
8:
13
φ(2) = 20 ln (2) − 14 ln (5).
Séries de Funções
9.1 Introdução
Neste capítulo, iremos estudar séries que, no termo geral, para além de envolverem uma parte numérica,
contêm também uma potência que depende de uma variável contínua, digamos x, ou, mais geralmente,
x − x0 , para certo x0 ∈ R xo.
Denição 9.1.1 (Série de potências). Designa-se por série de potências de x toda a série da forma
+∞
X
an xn = a0 + a1 x + a2 x2 + · · · + an xn + . . . ,
n=0
Um facto importante a reter, desde já, é que, se nada for dito em contrário e sempre que o termo
geral da série de potências estiver denido em R, o limite inferior da série será 0. Observemos que,
quando concretizamos a variável x, a série de potências torna-se numa série numérica, tal como iremos
ver mais adiante. Deste modo, muito do que foi dito para as séries numéricas, em particular as noções
de convergência, bem como alguns resultados de convergência, ainda são válidos aqui, com as devidas
adaptações.
No caso da série convergir num ponto x ∈ R, a sucessão de funções das somas parciais converge, nesse
200
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 9. SÉRIES DE FUNÇÕES
ponto, para a designada função soma da série, denotada por S(x), isto é,
lim Sn (x) = S(x).
n−→+∞
Proposição 9.1.1. Seja an xn uma série de potências. Se |an xn | é convergente num ponto
P P
x ∈ R, então também an x é convergente em x e tem-se:
n
P
+∞ +∞
X X
n
an x ≤ |an | |x|n . (9.1.1)
n=0 n=0
Demonstração: Comecemos por considerar as sucessões das somas parciais das séries an xn e |an xn |,
P P
Sn (x) = a0 + a1 x + · · · + an xn ,
Sn|·| (x) = |a0 | + |a1 x| + · · · + |an xn | .
Suponhamos que |an xn | é convergente num ponto x ∈ R. Então, nesse ponto, temos, pelo Critério
P
Geral de Cauchy,
|·|
∀ ε > 0 ∃ p ∈ N : m, n > p ⇒ Sm (x) − Sn|·| (x) < ε .
Ora, como
|Sm (x) − Sn (x)| = |an+1 xn+1 + · · · + am xm | ≤ |an+1 xn+1 | + · · · + |am xm | < ε ,
vem que a série an xn também é convergente no ponto x. Para mostrar (9.1.1), basta observar que
P
X+∞ +∞
X
an x = lim Sn (x) ≤ lim Sn|·| (x) =
n
|an xn | ,
n→+∞ n→+∞
n=0 n=0
Denição 9.1.3 (Série nita). Uma série nita de potências é uma série de potências an xn com
P
os termos quase todos nulos, isto é, tal que
∃ p ∈ N : n > p ⇒ an = 0.
É imediato que qualquer série nita é (absolutamente) convergente para todo x ∈ R. De facto, se n = p
for a ordem da maior potência da série que se supõe nita, então
+∞
X
an xn = a0 + a1 x + a2 x2 + · · · + ap xp .
n=0
Este facto permite-nos dizer que as séries de potências de x podem ser encaradas como uma generalização
dos polinómios em x.
Exemplo 9.1.1. Escrever os polinómios seguintes como séries (nitas) das potências indicadas:
= 2(x − 3)5 + 19(x − 3)4 + 53(x − 3)3 − 10(x − 3)2 − 249(x − 3) − 278 .
Denição 9.1.4 (Série geométrica). Uma série geométrica de potências é uma série de potências
an xn tal que an = 1 para todo n ∈ N:
P
+∞
X
xn = 1 + x + x2 + · · · + xn + . . . .
n=0
Como vimos aquando do estudo das séries numéricas, a série de potências x é absolutamente con-
P n
vergente para |x| < 1 e divergente para |x| ≥ 1. No caso de convergir, a função soma é
1
S(x) =
1−x
e podemos escrever
+∞
X 1
xn = .
n=0
1−x
O problema que se coloca nas séries de potências, é o de saber em que condições a série converge e, além
disso, se convergir, para que valores de x converge. Vamos ver que os Critérios da Razão e da Raiz,
podem-nos ajudar a estudar a natureza das séries de potências.
1 an
R := an+1 = n−→+∞
lim .
an+1
lim
n−→+∞ an
(2) A série an xn diverge se |x| > R, isto é, se x ∈ (−∞, −R) ∪ (R, +∞).
P
Demonstração: Consideremos a série dos módulos |an xn | e seja un = |an xn |, onde, para já, x é um
P
ponto arbitrário de R. Temos
un+1 an+1 xn+1
an+1
lim = lim = lim |x| .
n→+∞ un n→+∞ |an xn | n→+∞ an
un+1 an+1 1 an
lim < 1 ⇔ lim |x| < 1 ⇔ |x| < an+1 = n→+∞
lim =R
n→+∞ un n→+∞ an an+1
lim
n→+∞ an
e é divergente, se
un+1 an+1 an
lim > 1 ⇔ lim
|x| > 1 ⇔ |x| > lim
= R.
n→+∞ un n→+∞ an n→+∞ an+1
O número R, eventualmente +∞, designa-se por raio de convergência da série e o intervalo (−R, R)
por intervalo de convergência (absoluta) da série.
Exemplo 9.2.1. Usando o critério anterior, determinar o raio de convergência da série seguinte:
+∞ n
X x
.
n=1
n
Observe-se que para podermos aplicar o critério anterior, tem de existir, em R, o limite lim aan+1 .
n
1
R := p
n
.
lim sup |an |
n−→+∞
(2) A série an xn diverge se |x| > R, isto é, se x ∈ (−∞, −R) ∪ (R, +∞).
P
Demonstração: Seja x um ponto arbitrário de R e consideremos a série dos módulos |an xn |. Fazendo
P
un = |an xn |, temos
√ p p
lim n un = lim n |an xn | = lim n |an | |x| .
n→+∞ n→+∞ n→+∞
√ p
n 1
lim sup n
un < 1 ⇔ lim sup |an ||x| < 1 ⇔ |x| < p
n
= R,
n→+∞ n→+∞ lim sup |an |
n→+∞
e é divergente se
p
n
an+1 1
lim sup |an ||x| > 1 ⇔ lim
|x| > 1 ⇔ |x| > p = R.
n→+∞ n→+∞ an
lim sup n |an |
n→+∞
Exemplo 9.2.2. Usando o critério anterior, determinar o raio de convergência da série seguinte:
+∞
X
2n xn .
n=1
Resolução: Escrevamos
+∞
X +∞
X
2n xn = an xn , onde an = 2n .
n=1 n=1
|x| = 0 ⇔ x = 0,
pelo que a série é obviamente convergente nesta situação. Se R 6= 0, tem-se no Critério da Razão e no
da Raiz, respectivamente,
an+1
x = 1 e lim sup n |an xn | = 1 .
p
lim
n−→+∞ an n−→+∞
Assim, nada se pode concluir, porque a série pode ser convergente ou divergente. Por isso, torna-se
necessário fazer um estudo da série de potências nos pontos x = ±R, o que nos leva ao estudo de séries
numéricas.
Exemplo 9.2.3. Estudar a natureza da série seguinte quanto à convergência simples e absoluta
em todos os pontos de R:
+∞
X xn
(−1)n √ .
n=1
n
Temos:
1 1 1
R= √
an+1 =
n+1
= = 1.
(−1)
√n+1
n
lim lim √
n−→+∞ an lim n
n−→+∞ n+1
n−→+∞ (−1)
√n
Pelo Critério da Razão, podemos inferir que a série converge absolutamente para |x| < 1 ⇔ −1 <
x < 1 e diverge para |x| > 1 ⇔ x > 1 ∨ x < −1.
Analisemos, agora, o que se passa em x = ±1.
2. Se x = −1, temos:
+∞ +∞ +∞
X xn X (−1)n X 1
(−1)n √ = (−1)n √ = 1 .
n=1
n n=1 n n=1 n
2
Tudo o que foi dito para as séries de potências de x, permanece válido para qualquer série de potências
de (x − x0 ), com x0 ∈ R xo. Em particular, a série
+∞
X
an (x − x0 )n = a0 + a1 (x − x0 ) + a2 (x − x0 )2 + · · · + an (x − x0 )n + . . .
n=0
é convergente para
e divergente para
|x − x0 | = R ⇔ x = x0 ± R,
Exemplo 9.2.4. Estudar a natureza da série seguinte quanto à convergência simples e absoluta
em todos os pontos de R :
+∞
X (x − 3)n
.
n=0
2n
Temos:
1 1 1
R= p
n
= s = 1 = 2.
lim sup |an | 1 2
n−→+∞ lim sup n n
n−→+∞ 2
Pelo Critério da Raiz, a série converge absolutamente para |x − 3| < 2 ⇔ 1 < x < 5 e diverge para
|x − 3| > 2 ⇔ x > 5 ∨ x < 1.
Analisemos, agora, o que se passa em x = 1 e em x = 5.
2. Se x = 1, então
+∞ +∞ +∞
X (x − 3)n X (−2)n X
n
= n
= (−1)n .
n=0
2 n=0
2 n=0
Podemos, ainda, considerar uma série de potências escrita numa forma mais geral:
+∞
X
an (αx + x0 )n = a0 + a1 (αx + x0 ) + a2 (αx + x0 )2 + · · · + an (αx + x0 )n + . . . .
n=0
tem de se fazer um estudo local. Observemos que, se α 6= 0, o estudo desta série pode reduzir-se ao
anterior, fazendo
+∞ +∞
X X x0
an (αx + x0 )n = bn (x − y0 )n , onde bn = an αn , y0 = − .
n=0 n=0
α
Exemplo 9.2.5. Estudar a natureza da série seguinte quanto à convergência simples e absoluta
em todos os pontos de R :
+∞
X (2x + 1)n
(−1)n .
n=1
n
Temos:
1 1 1
R= an+1 =
(−1)n+1 =
n = 1.
lim n+1 lim
n−→+∞ n + 1
n−→+∞ an lim n
n−→+∞ (−1)
n
Pelo Critério da Razão, a série converge absolutamente para |2x + 1| < 1 ⇔ −1 < x < 0 e diverge
para |2x + 1| > 1 ⇔ x > 0 ∨ x < −1.
Analisemos, agora, o que se passa em x = −1 e em x = 0.
2. Se x = −1, temos:
+∞ +∞ +∞
X (2x + 1)n X (−1)n X 1
(−1)n = (−1)n = .
n=1
n n=1
n n=1
n
Logo a série não converge absolutamente em x = 0. Por outro lado, facilmente se mostra que 1
n & 0,
quando n → +∞. Então, pelo Critério de Leibniz, a série é convergente em x = 0.
4. Podemos então concluir que:
9.3 Propriedades
Nesta secção, vamos estabelecer as propriedades mais importantes das séries de potências. Comecemos
por considerar uma série de potências arbitrária
+∞
X
an (x − x0 )n = a0 + a1 (x − x0 ) + a2 (x − x0 )2 + · · · + an (x − x0 )n + . . . ,
n=0
com x0 ∈ R xo. Na proposição seguinte, vamos ver que podemos garantir a continuidade da função
soma no intervalo de convergência da série.
Proposição 9.3.1. Seja S(x) a função soma de uma série de potências an (x − x0 )n de raio
P
de convergência R. Se R > 0, então a função soma S(x) é contínua em qualquer ponto x ∈
(x0 − R, x0 + R).
Observando que
xn − y n = (x − y) xn−1 + yxn−2 + · · · + y n−2 x + y n−1 , (9.3.2)
vem
|x| < ε e |y| < ε ⇒ |an (xn − y n )| < n εn−1 |an | |x − y| .
Então, usando (9.1.1) e (9.3.2), temos
+∞
X +∞
X
|S(x) − S(y)| ≤ |an (xn − y n )| < |x − y| n εn−1 |an | ≤ C |x − y| ,
n=0 n=0
onde C é uma constante positiva. Daqui se deduz P a continuidade de S(x) em y . Para justicar que
C é uma constante positiva, basta vericar que n εn−1 |an | é uma série convergente. De facto, se
bn = n εn−1 |an |, tem-se, pelo Critério da Razão,
(n + 1)εn |an+1 | an −1
bn+1 n+1 = ε < 1,
R 6= 0 ⇒ lim = lim n−1
= ε lim lim
n→+∞ bn n→+∞ nε |an | n→+∞ n n→+∞ an+1 R
A próxima proposição prende-se com a derivada de uma série de potências e da relação desta com a série
original, assim como a derivabilidade da função soma da série de potências.
Proposição 9.3.2. Seja S(x) a função soma de uma série de potências an (x − x0 )n de raio
P
de convergência R. Se R > 0, então a função soma S(x) é derivável em qualquer ponto x ∈
(x0 − R, x0 + R) e tem-se
+∞
X
S 0 (x) = n an (x − x0 )n−1 ∀ x ∈ (x0 − R, x0 + R). (9.3.3)
n=1
x ∈ (−R, R) um ponto arbitrário, queremos mostrar que existe o limite, quando h tende para 0, da
razão incremental de S(x). Usando a denição de limite, isto equivale a mostrar que
S(x + h) − S(x) X +∞
∀ ε > 0 ∃ δ > 0 : |h| < δ ∧ |x| + |h| < R ⇒ − n an x n−1
< ε. (9.3.4)
h n=1
Usando o facto de
n! (n − 2)!
≤ n(n − 1) ,
(k + 2)!(n − 2 − k)! k!(n − 2 − k)!
novamente o Binómio de Newton e a hipótese de |h| < δ , temos
+∞
+∞ n−2
!
S(x + h) − S(x) X X X (n − 2)!
n−1 n−2−k k
− n an x ≤ |an | |h| n(n − 1) |x| |h|
h k!(n − 2 − k)!
n=1 n=0 k=0
+∞
X n−2
= |h| |an | n(n − 1) (|x| + |h|) < δC.
n=0
A série numérica da última desigualdade é convergente pelo Critério da Razão e, portanto, limitada por
uma constante C , pois
n−1
(n + 1)n |an+1 | (|x| + |h|)
R 6= 0 ∧ |x| + |h| < R ⇒ lim n−2 =
n→+∞ n(n − 1) |an | (|x| + |h|)
an −1
(|x| + |h|) lim
n+1
lim = |x| + |h| < 1 .
n→+∞ n − 1 n→+∞ an+1 R
Escolhendo δ = ε/C , concluímos a demonstração de (9.3.4). Daqui se deduz a derivabilidade de S(x),
assim como (9.3.3).
Na proposição seguinte mostramos que a série que tem por função soma S 0 (x) tem o mesmo raio de
convergência da série de soma S(x).
+∞
X
n an (x − x0 )n−1 = a1 + 2a2 (x − x0 ) + 3a2 (x − x0 )2 + · · · + nan (x − x0 )n−1 + . . .
n=1
D
n a n an = lim an lim n
= 1 ⇒ RD = lim Dn = lim
lim = R;
n→+∞ n + 1 n→+∞ a n→+∞ (n + 1) an+1 n→+∞ an+1 n→+∞ n + 1
n+1
√ 1 1 1
lim n n = 1 ⇒ RD = q = p
n
= √ p = R.
n→+∞ n P
lim sup |an | lim sup |n an | lim n
n lim sup n |an |
n→+∞ n→+∞ n→+∞
n→+∞
O resultado anterior ainda é válido no intervalo [x0 − R, x0 + R], desde que a função soma S(x) esteja
denida nos pontos x0 ± R.
Exemplo 9.3.1. Usando a proposição anterior, determinar a soma da série seguinte e indicar o
maior intervalo aberto onde a igualdade é válida:
+∞ n
X x
.
n=1
n
Resolução: Sendo an = n,
1
esta série converge absolutamente para valores de x tais que:
1 1 1
|x| < R = an+1 = 1 = n = 1 ⇔ −1 < x < 1 .
lim lim
n→+∞ an lim n+1 n→+∞ n + 1
n→+∞ 1
n
Considerando a série que se obtém derivando, termo a termo, a série dada e recordando a soma da
série geométrica, obtemos:
+∞ n 0 +∞ +∞
X x X X 1
= xn−1 = xn = .
n=1
n n=1 n=0
1−x
Este desenvolvimento é válido também para valores de x tais que |x| < 1 ⇔ −1 < x < 1. Então:
+∞ n Z x
X x 1
= dt = − ln(1 − x) ∀ x ∈ (−1, 1) .
n=1
n 0 1 − t
+∞
X an a1 a2 an
(x − x0 )n+1 = a0 (x − x0 ) + (x − x0 )2 + (x − x0 )3 + · · · + (x − x0 )n+1 + . . .
n=0
n + 1 2 3 n + 1
aPsérie que se obtém por primitivar, termo a termo e a menos de uma constante aditiva, a série
an (x − x0 )n . Então:
(1) As séries an (x − x0 )n e an
(x − x0 )n+1 têm o mesmo raio de convergência R;
P P
n+1
A segunda armação é imediata, já que, por denição de primitiva e pela Proposição 9.3.2, se tem
Z +∞
0 X
S(x) = S(x) dx = an (x − x0 )n ∀ x ∈ (x0 − R, x0 + R) .
n=0
Exemplo 9.3.2. Usando os resultado da proposição anterior, determinar a soma da série seguinte
e indicar o maior intervalo aberto onde a igualdade é válida:
+∞
X
(n + 1)xn .
n=1
Considerando a série que se obtém primitivando a série dada termo a termo e recordando mais uma
vez a soma da série geométrica, obtemos:
+∞ Z x +∞ +∞
X X X x2
(n + 1)tn dt = xn+1 = x2 xn = .
n=1 0 n=1 n=0
1−x
Este desenvolvimento é válido também para valores de x tais que |x| < 1 ⇔ −1 < x < 1. Então:
+∞ 0
x2 x2
X
n 2x
(n + 1)x = = − ∀ x ∈ (−1, 1) .
n=1
1−x (1 − x)2 (1 − x)2
Nesta secção vamos desenvolver um método que nos permite calcular valores aproximados de funções
elementares e que é muito útil, em particular, para cálculos com funções transcendentes tais como o seno
ou a exponencial. Este método tem por base uma aproximação das funções elementares por polinómios
com um termo que nos dá o erro e que é facilmente estimado.
Comecemos por recordar que a derivada de uma função f num ponto x = x0 nos dá o declive da recta
tangente ao gráco da função nesse ponto. Muito próximo do ponto x = x0 a função f e a sua recta
tangente vão ter valores aproximados. Por uma simples análise geométrica da noção de derivada (ver
Figura 9.1), vemos que a expressão designatória da recta tangente ao gráco da função no ponto x = x0
é
y = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ).
y
y = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 )
y = f (x)
f (x0 )
0 x0 x
Deste modo, numa vizinhança do ponto x = x0 onde a função f seja derivável, podemos escrever a
igualdade seguinte:
f (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) + r1 (x);
onde r1 (x) é o erro que se comete na aproximação. Se f for duas vezes derivável no ponto x = x0 , usando
a expressão anterior, podemos escrever:
f 0 (x) = f 0 (x0 ) + f 00 (x0 )(x − x0 ) + r(x);
onde r(x) é o erro que se comete nesta aproximação. Conjugando as duas expressões anteriores, obtemos
(x − x0 )2
f (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) + f 00 (x0 ) + r2 (x);
2
onde r2 (x) expressa o erro neste caso. Observe-se que os termos de segunda ordem vêm a dividir por 2,
porque se derivarmos esta última expressão temos de obter a anterior. Prosseguindo com este raciocínio,
podemos generalizar este resultado na proposição seguinte.
Proposição 9.4.1 (Fórmula de Taylor). Seja f uma função denida num intervalo aberto I ⊆ R,
e n vezes derivável num ponto x0 ∈ I . Tem-se então, para qualquer x ∈ I ,
(k)
onde Tn (x0 ) denota a derivada de ordem k de Tn (x) no ponto x = x0 . Mostremos que, quando x tende
para x0 , rn (x − x0 ) := f (x) − Tn (x) é um innitésimo quando comparado com (x − x0 )n , i.e. que se
verica (9.4.6). Pelas hipóteses feitas sobre f e tendo em conta (9.4.8), podemos aplicar sucessivamente
a Regra de Cauchy e obtemos
Observemos que, no caso de n = 0, basta que f seja contínua. A fórmula anterior, chama-se fórmula de
Taylor1 de ordem n da função f no ponto x = x0 . A função rn (x − x0 ) designa-se por resto de ordem
n e, de entre as várias expressões possíveis, apresentamos, na proposição seguinte, aquelas que têm mais
interesse neste texto.
Proposição 9.4.2. Seja f uma função denida num intervalo aberto I ⊆ R e x0 ∈ I . Suponhamos
que f e as suas derivadas até à ordem n + 1 são funções contínuas em I . Então existe um ponto ξ
entre x0 e x ∈ I tal que o resto da Fórmula de Taylor de ordem n de f em x = x0 é dado por uma
das fórmulas seguintes:
f (n+1) (ξ)
rn (x − x0 ) = (x − x0 )n+1 , (9.4.9)
(n + 1)!
f (n+1) (ξ)
rn (x − x0 ) = (x − ξ)n (x − x0 ) . (9.4.10)
n!
Por outro lado, derivando (9.4.11) e, depois, usando as propriedades das somas telescópicas, obtemos
n (k+1)
f (k) (t) f (n+1) (t)
X f (t)
F 0 (t) = f 0 (t) + (x − t)k − (x − t)k−1 = (x − t)n . (9.4.13)
k! (k − 1)! n!
k=1
Sem perda de generalidade, consideremos o caso de x > x0 , sendo que o caso x0 < x é inteiramente
análogo. Consideremos, agora, uma função arbitrária G, mas tal que G é contínua em [x0 , x] e derivável
em (x0 , x), e, ainda, tal que G0 (t) 6= 0 para todo t ∈ (x0 , x). Então, pelo Teorema do valor médio de
Cauchy, existe ξ ∈ (x0 , x) tal que
F (x) − F (x0 ) F 0 (ξ)
= 0 (9.4.14)
G(x) − G(x0 ) G (ξ)
Para provarmos (9.4.9) ou (9.4.10), basta considerarmos, em (9.4.14), G(t) = (x − t)n+1 ou G(t) = x − t,
respectivamente, e usar as identidades (9.4.12) e (9.4.13).
Observe-se que a condição de que f (n+1) seja contínua no intervalo I não é de todo necessária para a
demonstração da Proposição 9.4.2. Basta assumir que f (n+1) exista e que f (n) seja contínua, ambas no
intervalo I .
1 Brook Taylor (1685-1731), matemático inglês natural de Londres.
Os restos da fórmula de Taylor expressos em (9.4.9) e em (9.4.10) são conhecidos na literatura, respec-
tivamente, como Resto de Lagrange e Resto de Cauchy. As correspondentes fórmulas de Taylor, são
designadas por Fórmula de Taylor-Lagrange e Fórmula de Taylor-Cauchy, respectivamente. Existem
várias outras possibilidades para expressar o resto da Fórmula de Taylor, mas todas elas devem satisfa-
zer à condição (9.4.6). Tal como iremos ver na demonstração da proposição seguinte, e principalmente
aquando falarmos dos desenvolvimentos em série de Taylor, o resto de Lagrange é útil em situações
em que consigamos majorar |f (n+1) (ξ)| por alguma constante positiva (independente de n), digamos C ,
porque, neste caso, iremos ter
(n+1)
|x − x0 |n+1
f (ξ) n+1
−→ 0, quando n → +∞. (9.4.15)
(n + 1)! (x − x 0 ) ≤ C
(n + 1)!
Por sua vez, o resto de Cauchy permite desbloquear situações em que não conseguimos majorar |f (n+1) (ξ)|,
o que acontece, por exemplo, quando na expressão de f (n+1) (ξ) aparecem expressões do tipo n! no nu-
merador.
No caso particular de x0 = 0, a fórmula de Taylor reduz-se a
f 00 (0) 2 f 000 (0) 3 f (n) (0) n
f (x) = f (0) + f 0 (0)x + x + x + ··· + x + rn (x) , (9.4.16)
2 3! n!
onde
rn (x)
lim = 0. (9.4.17)
xnx→0
1
(1) = 1 + x + x2 + · · · + xn + rn (x);
1−x
x2 xn
(2) ex = 1 + x + + ··· + + rn (x);
2 n!
x2 xn
(3) ln(1 + x) = x − + · · · + (−1)n−1 + rn (x);
2 n
α α
(4) α
(1 + x) = 1 + αx + 2
x + ··· + xn + rn (x), α ∈ R;
2 n
x3 x5 nπ xn
(5) sen(x) = x − + + · · · + sen + rn (x);
3! 5! 2 n!
x2 x4 nπ xn
(6) cos(x) = 1 − + + · · · + cos + rn (x).
2! 4! 2 n!
Na Fórmula Fundamental (4) da proposição anterior, estendemos a notação binomial de números inteiros
não negativos para um número real α qualquer,
α α! α(α − 1)(α − 2) . . . [α − (n − 1)]
= = . (9.4.18)
n n!(α − n)! n!
Observe-se que esta expressão só tem expressão em função de α no caso de n ≥ 1. Por outro lado,
note-se
α
que, tal como iremos ver na demonstração a seguir, no caso de α ∈ N, subentende-se que =0
n
para todo n > α. Usando uma notação mais abreviada, podemos escrever a Fórmula de Taylor (4) na
forma seguinte
n Yk
X xk
(1 + x)α = 1 + [α − (i − 1)] .
i=1
k!
k=1
2 Colin Maclaurin (1698-1746), matemático escocês natural de Kilmodan.
1
f 0 (x) = ⇒ f 0 (0) = 1 ,
(1 − x)2
2
f 00 (x) = ⇒ f 00 (0) = 2 ,
(1 − x)3
2×3
f 000 (x) = ⇒ f 000 (0) = 2 × 3 ,
(1 − x)4
···
(n) n!
f (x) = ⇒ f (n) (0) = n!, n ≥ 0.
(1 − x)n+1
Falta apenas ver que (9.4.6) é satisfeita. De facto, usando a denição (9.4.9) para o resto, temos
f (n+1) (ξ) n+1 (n+1)!
rn (x) (n+1)! x (1−ξ)n+2 x
lim = lim = lim x = lim = 0.
x→0 xn x→0 xn x→0 (n + 1)! x→0 (1 − ξ)n+2
A última igualdade resulta do facto de ξ estar entre 0 e x (que, por denição, é diferente de 1) e, por
isso, ξ −→ 0 quando x −→ 0.
(2) Para f (x) = ex , temos f (n) (x) = ex ⇒ f (n) (0) = 1 para todo n ∈ N. Substituindo em (9.4.16),
obtemos a fórmula de Maclaurin respectiva. Para ver que (9.4.6) é satisfeita, usamos a denição (9.4.9)
para o resto e obtemos
f (n+1) (ξ) n+1
rn (x) (n+1)! x eξ
lim = lim = lim x = 0.
x→0 xn x→0 xn x→0 (n + 1)!
obtemos
α(α − 1) 2 α(α − 1)(α − 2) 3
(1 + x)α =1 + αx + x + x + ...
2 3!
α(α − 1)(α − 2) . . . [α − (n − 1)] n
+ x + rn (x)
n!
α α α
=1 + αx + x2 + x3 + · · · + xn + rn (x) .
2 3 n
Falta apenas ver que (9.4.6) é satisfeita. De facto, usando a denição (9.4.9) para o resto, observando
que x 6= −1 e novamente que ξ −→ 0 quando x −→ 0, temos
f (n+1) (ξ) n+1
rn (x) (n+1)! x α(α − 1)(α − 2) . . . [α − (n − 1)](1 + ξ)α−n
lim = lim = lim x = 0.
x→0 xn x→0 xn x→0 (n + 1)!
π
f 0 (x) = cos(x) = sen x + ⇒ f 0 (0) = 1 ,
2
2π
f 00 (x) = − sen(x) = sen x + ⇒ f 00 (x) = 0 ,
2
3π
f 000 (x) = − cos(x) = sen x + ⇒ f 000 (0) = −1 ,
2
4π
f (iv) (x) = sen(x) = sen x + ⇒ f (iv) (0) = 0 ,
2
5π
f (v) (x) = cos(x) = sen x + ⇒ f (v) (0) = 1 ,
2
...
se n par
(n)
nπ 0,
f (x) = sen x + ⇒ f (n) (0) = , n ≥ 0.
2 ±1 se n ímpar
sen nπ
0 2 −1 3 0 4 1 5
sen(x) =0 + 1 × x + x + x + x + x + ··· + 2
xn + rn (x)
2 3! 4! 5! n!
x3 x5 nπ xn
=x − + + · · · + sen + rn (x) .
3! 5! 2 n!
Vejamos, agora, que (9.4.6) é satisfeita. De facto, usando a denição (9.4.9) para o resto, temos
cos nπ
−1 2 0 3 1 4 0 5
cos(x) =1 + 0 × x + x + x + x + x + ··· + 2
xn + rn (x)
2 3! 4! 5! n!
x2 x4 nπ xn
=1 − + + · · · + cos + rn (x) .
2 4! 2 n!
Para ver que (9.4.6) é satisfeita, usamos a denição (9.4.9) para obter
1 − cos(2x)
f (x) = sen2 (x) = .
2
Então, usando a Fórmula 6 da Proposição 9.4.3, obtemos
" n # n
2k
1 1 X k (2x)
X 22k−1 2k
f (x) = − (−1) + rn (2x) = (−1)k+1 x + Rn (x) , (9.4.19)
2 2 (2k)! (2k)!
k=0 k=1
rn (2x)
onde Rn (x) = − 12 rn (2x), com limx→0 (2x)n = 0. Para ver que (9.4.6) é satisfeita, basta ver que
No caso particular de f (x) ser um polinómio de grau menor ou igual a n, então rn (x) = 0 em (9.4.16).
As funções cujas fórmulas de Taylor, em torno de determinado ponto, têm restos cada vez mais pequenos
à medida que a ordem n aumenta, dizem-se analíticas e serão estudadas na secção seguinte.
Comecemos por observar que quando uma série de potências an (x − x0 )n , com x0 ∈ R, converge,
P
então a série pode ser representada, no intervalo de convergência
P(x0 − R, x0 + R), pela sua função soma,
digamos S(x). Assim, podemos dizer que a série de potências an (x − x0 )n dene a função S(x) cujo
valor, em cada ponto x do seu intervalo de convergência, é dado por
+∞
X
S(x) = an (x − x0 )n .
n=0
(1) O primeiro tem a ver com as propriedades da função soma de uma dada série de potências;
(2) No segundo problema, pretendemos saber em que condições é possível ou não representar uma dada
função por uma série de potências.
O primeiro problema já foi analisado na Secção 9.3 com o estudo das propriedades principais das séries
de potências. Para respondermos ao segundo problema, e que é o mais interessante do ponto de vista
das aplicações, convém ter presente a noção de Fórmula de Taylor de ordem n em torno de um ponto
x = x0 . Na denição seguinte, vamos estender esta noção para qualquer ordem e, assim, escrever uma
fórmula com innitas parcelas.
Denição 9.5.1 (Série de Taylor). Sejam f (x) uma função indenidamente derivável num intervalo
aberto I ⊆ R e x0 ∈ I . Designa-se por série de Taylor de f (x) no ponto x = x0 à série de potências
seguinte:
+∞ (n)
X f (x0 ) f 00 (x0 ) f (n) (x0 )
(x − x0 )n = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) + (x − x0 )2 + · · · + (x − x0 )n + . . . .
n=0
n! 2 n!
Denição 9.5.2 (Função analítica). Seja f (x) uma função denida num intervalo aberto I ⊆ R e
x 0 ∈ I . Diz-se que f (x) é uma função analítica no ponto x = x0 , se existe uma série de potências
an (x − x0 )n tal que, para qualquer x pertencendo a um subintervalo de I contendo x0 , se tem
P
+∞
X
f (x) = an (x − x0 )n .
n=0
A proposição seguinte dá-nos um critério geral de desenvolvimento de uma função em série de Taylor.
Proposição 9.5.1. Seja f (x) uma função denida num intervalo aberto I ⊆ R e indenidamente
derivável em I , e seja x0 ∈ I . Tem-se
+∞ (n)
X f (x0 )
f (x) = (x − x0 )n ∀ x ∈ (x0 − ε, x0 + ε) ⊆ I, ε > 0, (9.5.20)
n=0
n!
lim rn (x − x0 ) = 0 . (9.5.21)
n−→+∞
Demonstração: Consideremos a sucessão Sn (x) das somas parciais de ordem n da série de Taylor
P f (n) (x0 )
n! (x − x0 )n :
rn (x − x0 )
f (x) = Sn (x) + rn (x − x0 ) , onde lim .
x−→x0 (x − x0 )n
Fazendo n → +∞, temos
+∞ (n)
X f (x0 )
f (x) = (x − x0 )n + lim rn (x − x0 ) = 0 .
n=0
n! n→+∞
Assim, a igualdade (9.5.20) acontece se e só se o limite do segundo membro na equação anterior for zero,
ou seja se e só (9.5.21) se vericar.
Convém notar que o limite de rn (x − x0 ) é tomado quando n tende para +∞ e não quando x tende para
x0 , o qual é sempre 0 para todo n. Pelo exposto acima, pode acontecer que, por um lado, determinada
função seja a soma de uma série de potências e, por outro, admita um desenvolvimento em série de
Taylor. Neste caso, a proposição seguinte diz-nos que a série obtida, num caso ou no outro, é a mesma.
Proposição 9.5.2. Sejam x0 ∈ R e ε > 0. Se S(x) éPa soma de uma série de potências
P
an (x −
x0 )n num intervalo (x0 −ε, x0 +ε), e, por outro lado, an (x−x0 )n é a expansão em série de Taylor
de uma função f (x) em torno do ponto x = x0 , então S(x) = f (x) para todo x ∈ (x0 − ε, x0 + ε)
e, em particular,
Demonstração: Suponhamos que num intervalo (x0 − ε, x0 + ε), com ε > 0, se tem
+∞
X
S(x) = an (x − x0 )n = a0 + a1 (x − x0 ) + a2 (x − x0 )2 + · · · + an (x − x0 )n + . . . . (9.5.22)
n=0
Como a série do segundo membro de (9.5.22) é a expansão em série de Taylor de uma função f (x) em
torno do ponto x = x0 , é imediato que S(x) = f (x) para todo x ∈ (x0 − ε, x0 + ε). Observando isto,
sai imediatamente de (9.5.22) que f (x0 ) = a0 . Derivando (9.5.22) e observando que S(x) = f (x) no
intervalo (x0 − ε, x0 + ε), temos
+∞
X
f 0 (x) = nan (x − x0 )n−1 = a1 + 2a2 (x − x0 ) + 3a3 (x − x0 )2 + · · · + nan (x − x0 )n−1 + . . . , (9.5.23)
n=1
e f 00 (x0 ) = 2a2 . Prosseguindo este raciocínio, conseguimos mostrar que f (n) (x0 ) = n! an .
+∞
1 X
(1) = xn = 1 + x + x2 + · · · + xn + . . . , |x| < 1;
1 − x n=0
+∞ n
X x x2 xn
(2) ex = =1+x+ + ··· + + ... , |x| < +∞;
n=0
n! 2 n!
+∞
X xn x2 xn
(3) ln(1 + x) = (−1)n−1 =x− + · · · + (−1)n−1 + ... , |x| < 1;
n=1
n 2 n
+∞
X α α α
(4) (1 + x)α = xn = 1 + αx + x2 + · · · + xn + . . . , |x| < 1;
n 2 n
n=0
+∞
X x2n+1 x3 x5 x2n+1
(5) sen(x) = (−1)n =x− + + · · · + (−1)n + . . . , |x| < +∞;
n=0
(2n + 1)! 3! 5! (2n + 1)!
+∞
X x2n x2 x4 x2n
(6) cos(x) = (−1)n =1− + + · · · + (−1)n + ... , |x| < +∞.
n=0
(2n)! 2! 4! (2n)!
(1 + x)α =
+∞ Y
n +∞
X xn X xn
1+ [α − (k − 1)] =1+ α(α − 1)(α − 2) · · · [α − (n − 1)] = (9.5.24)
n=1 k=1
n! n=1
n!
x2 x3 xn
1 + αx + α(α − 1) + α(α − 1)(α − 2) + · · · + α(α − 1)(α − 2) · · · [α − (n − 1)] + ... .
2! 3! n!
Observe-se que o termo de ordem zero foi separado da série para se garantir que o seu valor é 1. Caso
contrário, podemos usar a notação
+∞ Y
n
X xn
(1 + x)α = [α − (k − 1)]
n=0 k=1
n!
Qn
com o signicado de que k=1 [pk − (p − 1)] = 1 quando n = 0, tal como muitos programas de resolução
numérica o fazem. Tal como para a Fórmula de Taylor respectiva, no caso de α ser um inteiro positivo,
subentende-se que Qn
α [α − (k − 1)]
= k=1 = 0 ∀ n > α.
n n!
No caso particular de α = − p1 , com p ∈ N2 , a expressão (9.5.24) simplica-se do modo seguinte,
+∞ Qn
1 k=1 [pk − (p − 1)] n
X
n
√ =1 + (−1) x
p
1+x n=1
pn n!
+∞
X 1 · (p + 1) · (2p + 1) · (3p + 1) · · · ((n − 1)p + 1) n
=1 + (−1)n x .
n=1
pn n!
+∞ Qn
√ X
n k=1 [pk − (p + 1)]
p
1 + x =1 + (−1) xn
n=1
pn n!
+∞
X (p − 1) · (2p − 1) · (3p − 1) · · · ((n − 1)p − 1) n
=1 + (−1)n+1 x .
n=1
pn n!
Demonstração: Pela Proposição 9.4.3, as fórmulas de Maclaurin de ordem n seguintes são válidas:
1
(1) = 1 + x + x2 + · · · + xn + rn (x);
1−x
x2 xn
(2) ex = 1 + x + + ··· + + rn (x);
2 n!
x2 xn
(3) ln(1 + x) = x − + · · · + (−1)n−1 + rn (x);
2 n
α α
(4) (1 + x)α = 1 + αx + x2 + · · · + xn + rn (x), α ∈ R;
2 n
x3 x5 nπ xn
(5) sen(x) = x − + + · · · + sen + rn (x);
3! 5! 2 n!
x2 x4 nπ xn
(6) cos(x) = 1 − + + · · · + cos + rn (x);
2! 4! 2 n!
Daqui resulta que os desenvolvimentos em série de Maclaurin (1)-(6) são válidos, se conseguirmos mostrar,
em cada caso, que
lim rn (x) = 0
n→+∞
nos domínios de x considerados. Comecemos por mostrar que as séries de Taylor indicadas são con-
vergentes nos domínios correspondentes. Designando por an a parte numérica em cada uma das séries,
temos:
+∞
X an
(1) xn ⇒ R = lim = 1;
n→+∞ an+1
n=0
+∞ n
X x
an 1
(2) = lim 1 = lim (n + 1) = +∞;
n!
⇒ R = lim
n=0
n! n→+∞ an+1 n→+∞
(n+1)!
n→+∞
(−1)n−1
+∞
n
n−1 x
X an n+1
(3) (−1) ⇒ R = lim n
= lim (−1)n = lim = 1;
n=1
n n→+∞ an+1 n→+∞ n→+∞ n
n+1
+∞ α(α−1)(α−2)...[α−(n−1)]
an
α = lim n + 1 = 1;
X
(4) xn
n!
⇒ R = lim = lim
n n→+∞ an+1 n→+∞ α(α−1)(α−2)...(α−n)
n→+∞ |α − n|
n=0 (n+1)!
+∞ 2n+1
(−1)n
X x an (2n+1)!
(5) (−1)n = lim (−1)n+1 = lim (2n + 3)(2n + 2) = +∞;
⇒ R = lim
n=0
(2n + 1)! n→+∞ an+1 n→+∞
n→+∞
(2n+3)!
+∞ 2n
(−1)n
X x an (2n)!
(6) (−1)n = lim (−1)n+1 = lim (2n + 2)(2n + 1) = +∞.
⇒ R = lim
n=0
(2n)! n→+∞ an+1 n→+∞
(2n+2)! n→+∞
Mostremos, então, que limn→+∞ rn (x) = 0 nos domínios de x considerados em cada caso. Para mos-
trarmos isto, vamos considerar a expressão para o resto rn (x) dado pela fórmula de Lagrange (9.4.9)
em todos os desenvovimentos, com excepção de (1). Devido a diculdades técnicas em mostrar que
limn→+∞ rn (x) = 0 no caso (1) quando se considera (9.4.9), vamos usar, em alternativa, a expressão
para o resto de ordem n dada pelo resto de Cauchy (9.4.10). Recorde-se o que abordamos aquando
da explicação de (9.4.15). No exposto a seguir, vamos usar, também, os cálculos para a obtenção das
fórmulas de Maclaurin desenvolvidos na demonstração da Proposição 9.4.3.
1
(1) Se f (x) = e |x| < 1, então, usando (9.4.10), temos
1−x
(n+1)! n
f (n+1) (ξ) xn
(1−ξ)n+2 x−ξ
rn (x) = (x − ξ)n xn = (x − ξ)n xn = (n + 1) −→ 0,
n! n! 1−ξ (1 − ξ)2
porque ξ → 0 e a sucessão (n + 1)an → 0, em ambos quando n → +∞, e a segunda sempre que |a| < 1.
De facto, para a := x−ξ
1−ξ , temos 0 < a < 1 se 0 < ξ < x < 1 e −1 < a < 0 se −1 < x < ξ < 0.
(4) Se f (x) = (1 + x)α e |x| < 1, usamos outra vez (9.4.9) para obter
Exemplo 9.5.1. Determinar a série de Maclaurin de ordem n da função seguinte e indique o maior
intervalo aberto onde o desenvolvimento é válido:
f (x) = arctg(x) , x = 0.
Resolução: De modo análogo ao que zemos no Exemplo 9.4.1, começamos por determinar a série
de Maclaurin de ordem n da derivada de f (x). Usando a fórmula (1) da Proposição 9.5.3 com −x2
em vez de x, temos:
+∞ +∞
1 1 X X
f 0 (x) = = = (−x 2 n
) = (−1)n x2n , |x| < 1 .
1 + x2 1 − (−x2 ) n=0 n=0
e este desenvolvimento também é válido para valores de x tais que |x| < 1 ⇔ −1 < x < 1.
Observe-se que, para determinar a série de Maclaurin de f 0 (x), também poderíamos ter usado a
fórmula (4) da Proposição 9.5.3 com α = −1 e −x2 em vez de x.
Observemos que, em (4) da Proposição 9.5.3, α ∈ R. Se α é um natural, então a série referida tem apenas
um número nito de parcelas. Por outro lado, a expansão em série de Taylor de qualquer polinómio é
uma série nita.
Exemplo 9.5.2. Determine a série de Taylor de ordem n do polinómio seguinte em torno do ponto
referido e indique o maior intervalo aberto onde o desenvolvimento é válido:
g(x) = x3 − 2x2 + 3x + 5 , x = 2.
Resolução: De acordo com o que foi feito no Exemplo 9.4.2, sabemos que g (n) (0) = 0 para todo
n ≥ 4, pelo que
+∞ (n) +∞ (n)
X g (0) X g (0)
g(x) = (x − 2)n = 11 + 7(x − 2) + 4(x − 2)2 + (x − 2)3 + (x − 2)n
n=0
n! n=4
n!
=11 + 7(x − 2) + 4(x − 2)2 + (x − 2)3 .
Mais, este desenvolvimento é válido para todo x ∈ R. Por outro lado, como rn (x − 2) = 0 para todo
n ≥ 4, então trivialmente se tem limn→+∞ rn (x − 2) = 0 para qualquer x ∈ R.
Em vários processos demonstrativos é necessário usar produtos de séries de potências. Por exemplo, a
regra das potências ex ey = ex+y é habitualmente demonstrada expandindo a função exponencial em série
de Taylor e depois usando o produto de séries de potências.
Denição 9.6.1.
P+∞ P+∞
Sejam k=0 ak (x−x0 )k e m=0 bm (x−x0 )m duas séries de potências de x−x0 .
P+∞ P+∞
Dene-se o produto de Cauchy das séries de potências k=0 ak (x − x0 )k e m=0 bm (x − x0 )m da
seguinte forma:
+∞
X +∞
X +∞
X n
X
ak (x − x0 )k × bm (x − x0 )m = cn (x − x0 )n , onde cn = ai bn−i . (9.6.25)
k=0 m=0 n=0 i=0
P+∞
Mais geralmente, o produto de Cauchy de duas séries de potências distintas, digamos k=0 ak (x − x0 )k
P+∞
e m=0 bm (y − y0 )m , dene-se como
+∞
X +∞
X +∞ X
X n
k
ak (x − x0 ) × bm (y − y0 ) m
= ai (x − x0 )i bn−i (y − y0 )n−i . (9.6.26)
k=0 m=0 n=0 i=0
O resultado seguinte diz-nos em que condições converge o produto de Cauchy de duas séries de (as
mesmas) potências.
Proposição 9.6.1.
P+∞ P+∞
Sejam k=0 ak (x − x0 )k e m=0 bm (x − x0 )m duas séries de potências de
x − x0 , com raios de convergência
Pabsoluta Ra e Rb , respectivamente. Então o produto de Cauchy
+∞ P+∞
(9.6.25) das séries de potências k=0 ak (x − x0 )k e m=0 bm (x − x0 )m também converge e tem
raio de convergência
R ≥ min{Ra , Rb }.
Demonstração: O facto de que o produto de Cauchy também converge (absolutamente), é uma con-
sequência directa da Proposição 2.8.2. Por outro lado, admitindo que
+∞
X +∞
X
ak (x − x0 )k = a(x) , |x − x0 | < Ra e bm (x − x0 )m = b(x) , |x − x0 | < Rb ,
k=0 m=0
então, pela Proposição 2.8.2, o produto de Cauchy destas duas séries converge absolutamente para c(x) =
a(x)b(x) sempre que |x − x0 | < Ra ou |x − x0 | < Rb , ou seja para |x − x0 | < R e R ≥ min{Ra , Rb }.
Na proposição seguinte vamos ver como o produto de Cauchy pode ser usado para determinar expansões
em série de potências para algumas funções.
+∞
!2 +∞ X
n +∞
1 X
n
X X
= x = xn = (n + 1)xn
(1 − x)2 n=0 n=0 i=0 n=0
9.7 Aplicações
Como exemplo de aplicação das séries de potências, começamos por ver a sua importante ajuda no cálculo
de valores aproximados dos números irracionais π e e. Para o número π , usamos, por exemplo, a série
de Maclaurin da função arctg(x), com x = 1, obtida no Exemplo 9.5.1:
+∞
X 1 1 1 1 4
π =4 arctg(1) = 4 (−1)n = 4 1 − + − + − ...
n=0
2n + 1 3 5 7 9
4 4 4
=4 − + − + · · · = 4 − 1, 333333333... + 0, 8 − 0, 5714285714 + 0, 4444444444 − · · ·
3 5 7
=3, 339682540 + · · ·
n x2n+1
P+∞
Observe-se que pudemos usar a série n=0 (−1) 2n+1 em x = 1, já que a série daí resultante, i.e.
P+∞
n=0 (−1) 2n+1 é convergente pelo Critério de Leibniz. Esta série vai ter uma convergência muito
n 1
Outra aplicação, é o cálculo de valores aproximados de integrais de potências que não têm primitivas
elementares. Por exemplo, usando a série de Maclaurin da função sen(x), obtida na Proposição 9.5.3,
temos:
Z 1 Z 1 +∞
! +∞
Z 1 X !
2n+1 2n
sen(x) 1 X x x
dx = lim (−1)n dx = lim (−1)n dx
0 x τ →0+ τ x
n=0
(2n + 1)! τ →0+ τ
n=0
(2n + 1)!
+∞ Z 1 +∞ 2n+1 x=1 !
(−1)n (−1)n
X
X
2n x
= lim+ x dx = lim+
n=0
(2n + 1)! τ →0 τ n=0
(2n + 1)! τ →0 2n + 1 x=τ
+∞
X (−1)n
=
n=0
(2n + 1)!(2n + 1)
1 1
=1 − + − · · · = 0, 9461111111 + · · · .
18 600
Mostremos, agora, como a noção de produto de Cauchy denida em (9.6.25) nos permite mostrar a
seguinte propriedade da função exponencial,
ex ey = ex+y ∀ x, y ∈ R .
De facto, usando a fórmula (2) da Proposição 9.5.3 juntamente com a fórmula do Binómio de Newton,
temos
+∞ m
+∞ k X +∞ X n
X x y X xi y n−i
ex ey = =
k! m=0 m! n=0 i=0
i! (n − i)!
k=0
+∞ n +∞
X 1 X n! X 1
= xi y n−i = (x + y)n = ex+y ,
n=0
n! i=0
i!(n − i)! n=0
n!
1. Estude a natureza das séries de potências seguintes e indique, no caso de serem não vazios, os
subconjuntos de R onde são absolutamente convergentes, simplesmente convergentes e divergentes:
+∞ +∞ +∞ n n
xn π [(3n)!]2
X X n+2 n X 4
(a) ; (d) (−2)n x ; (g) x− ;
n=1
n2n n=1
n+1 n=1
(6n)! π
+∞ +∞ +∞
X xn X (x − 1)n X 2 2
(b) ; (e) ; (h) 3n xn ;
n=1
n(n + 1) n=1
2n−1 n=1
+∞ +∞ n n+1 +∞ n
X X [2 + (−1) ] X 4nx2 + x4
(c) n! xn ; (f) (x − 2)2n ; (i) .
n=1 n=1
n+1 n=1
9n + x2
+∞ +∞ +∞
X xn X X
(a) (−1)n−1 ; (c) (−1)n−1 (2n−1)x2n−2 ; (e) n(n + 1)xn−1 ;
n=1
n n=1 n=1
+∞ 2n−1 +∞ n+1 +∞
X x X (−1) X xn+1
(b) ; (d) x2n−1 ; (f) (−1)n .
n=1
2n − 1 n=1
2n − 1 n=1
n(n + 1)
4. Determine as fórmulas de Taylor de ordem n das funções seguintes em torno dos pontos indicados:
6. Usando os desenvolvimentos fundamentais, represente por uma série de Maclaurin as funções se-
guintes, indique o maior intervalo aberto onde cada desenvolvimento é válido e mostre que os limites
notáveis indicados são válidos:
senx senx ex − 1 ex − 1
(a) , lim = 1; (b) , lim = 1;
x x−→0 x x x−→0 x
ln(x + 1) ln(x + 1) a x
(c) , lim =1 e lim 1+ = ea ∀ a ∈ R .
x x−→0 x x−→+∞ x
7. Represente as funções seguintes por uma série de potências indicadas a seguir (série de Taylor) e
indique o maior intervalo aberto onde o desenvolvimento é válido:
(a) 1
x , x − 1; (d) cos2 x , x − π2 ; (g) x ln(x) , x − 1;
√ 2
(b) ln x , x − 1; (e) x , x − 4 ; (h) (x−1)
x2 , x − 1;
(c) e ,x
x + 2; (f) x − 2x − 5x − 2 ,
3 2
x+4; (i) cosh(2x − 1) , x− 1
2 .
8. Usando os desenvolvimentos fundamentais, determine a função soma das séries seguintes e indique
o maior intervalo aberto onde o desenvolvimento é válido:
+∞ +∞
X X (x − 1)n
(a) (−1)n x2n ; (h) ;
n=0 n=0
(n + 2)!
+∞
X 2 n xn +∞
(b) ; X (−1)n x−n
n (i) ;
n=1
n=0
(2n + 1)!
+∞
X x3n
(c) (−1)n ; +∞
n! X (−1)n−1 22n
n=0 (j) (x − π)2n+1 ;
+∞ (2n + 1)!
X (−1)n x2n n=0
(d) ;
22n n! +∞
n=0 X (n + 1)x + (−1)n n! n
+∞ (k) x ;
X (−1)n x2n (n + 1)!
(e) ; n=0
n=0
32n (2n)!
+∞
+∞
X
(x − 1)n (l) 1 + (−1)n 2n+1 xn ;
X
(f) ;
n=1
2n−1 n=0
+∞ +∞
X 1.3.5 . . . (2n − 1) 2n X n + (−1)n
(g) (−1)n x ; (m) (2x + 1)n ;
n=0
2n n! n=2
n
topsep=0pt,1temsep=1ex,p1rtopsep=1ex,p1rsep=1ex topsep=0pt,5temsep=5ex,p5rtopsep=5ex,p5rsep
h(x) =
f (x) = x2 arccos(x) ;
arccotg(x) ;
topsep=0pt,4temsep=4ex,p4rtopsep=4ex,p4rsep=4ex
topsep=0pt,2temsep=2ex,p2rtopsep=2ex,p2rsep=2ex i(x) =
g(x) = topsep=0pt,6temsep=6ex,p6rtopsep=6ex,p6rsep
x+
arcsen(x) ; ln(1−
topsep=0pt,3temsep=3ex,p3rtopsep=3ex,p3rsep=3ex x) ;
10. Usando os desenvolvimentos em série de Maclaurin, calcule valores aproximados às centesimas de:
11. Usando os desenvolvimentos em série de Maclaurin, calcule um valor aproximado às centesimas dos
integrais seguintes:
Z 1 Z 4 √
Z 2
1 2
(a) dx ; (c) x ex dx ; (e) e−x dx ;
0 1 + x10 0 1
Z 1 √
Z 1 Z 1
p ln(1 + x)
(b) x cos(x) dx ; (d) 1 + x3 dx; (f) dx .
3 4
0 0 0 x
Soluções
1: (a) CA: [−2, 2), D: (−∞, −2) ∪ [2, +∞); (b) CA: [−1, 1], D: (−∞, −1) ∪ (1, +∞); (c) CA: {0}, D: R \ {0}; (d)
√ √
CA: − 12 , 21 , D: −∞, − 21 ∪ 12 , +∞ ; (e) CA: 21 , 32 , D: −∞, 21 ∪ 32 , +∞ ; (f) CA: 2 − 33 , 2 + 33 , D:
√ i h √
−∞, 2 − 33 ∪ 2 + 33 , +∞ ; (g) CA: − 60 , 60 , D: −∞, − 60 ∪ π , +∞ ; (h) CA: − 13 , 13 , D: −∞, − 13 ∪
60
π π π
, +∞ ; (i) CA: − 32 , 32 , D: −∞, − 23 ∪ 23 , +∞ . 2: (a) ln(1 + x), |x| < 1; (b) 12 ln 1−x
1+x
, |x| < 1; (c)
1
3
n
1−x2 2k xk
, |x| < 1; (d) arctg(x), |x| < 1; (e) , |x| < 1; (f) x − (1 + x) ln(1 + x), |x| < 1. (a)
X
2
(1+x2 )2 (1−x)3
3: +
k=0
e k!
n n n
1.3.5...(2k − 3) k (−1)k−1 xk (−1)k (k + 1) k
rn (x); (b) ; (c) ; (d) x + rn (x); (e)
X X X
(−1)k k k!
x + +r n (x) k
+ r n (x)
k=0
2 k=1
k2 k=0
k!
n n
x2k+1 (−1)k+2 xk+2
+ r2n+1 (x); (f) x + + rn (x). 4: (a) 43 + 112(x − 2) + 101(x − 2)2 + 38(x − 2)3 +
X X
k=0
(2k + 1)! k=0
(k + 2)(k + 1)
n n
(−1)k+2 (x − 1)k+2 4k 1 2n
5(x − 2) , onde rn (x − 2) = 0 se n > 4; (b) x + + rn (x − 1); (c)
X X
4
x− +
k=0
(k + 2)(k + 1) k=1
(2k)! 2
n +∞
X xn +∞
1
; (d) (−1)k (k − 1)(x − 1)k + rn (x). 5: (a) , |x| < 2; (b) (−1)n (n + 1)xn , |x| < 1;
X X
r2n x − n+1
2 k=2 n=0
2 n=0
+∞ +∞ +∞
1 − (−1)n+1 2n+1 n 1.3.5...(2n − 3) n x2n+1
(c) x , |x| < ; (d) 1 − x − x , |x| < ; (e) , |x| <
X X X
1 1
3 2 n! 2 (2n + 1)!
n=0 n=2 n=0
+∞ +∞ +∞
lnn (2) n 22n−1 2n 2n n
∞; (f) x , |x| < ; (g) x , |x| < ∞; (h) x , |x| < ln(2) ;
X X X
1
ln(2)
(−1)n−1 (−1)n−1 1
n=0
n! n=1
(2n)! n=1
n
+∞ +∞ +∞
xn x2n−1 X xn
2
(i) x2n+1 , |x| < 1; (j) , |x| < 1; (k) −1 + 5 , |x| < 2; (l)
X X
(−1)n−1 +
n=0
2n + 1 n=1
n (2n − 2)! n=0
2n+1
+∞ +∞ +∞ +∞
22n x2n+1 x2n X xn−1 xn−1
, |x| < ∞. (a) , x 6= 0; (b) , x 6= 0; (c) ,
X X X
(−1)n 6: (−1)n (−1)n−1
n=0
(2n + 1)! n=0
(2n + 1)! n=1
n! n=1
n
+∞ +∞ +∞
(x − 1)n X (x + 2)n
|x| < 1 e x 6= 0. (a) (−1)n (x − 1)n , |x − 1| < 1; (b) , |x − 1| < 1; (c) ,
X X
7: (−1)n−1
n=0 n=1
n n=0
n!
+∞ +∞
22n+1
π 2n+2 1 1.3.5...(2n − 3)
|x| < ∞; (d) , |x| < ∞; (e) 2 + (x − 4) +
X X
n
(−1) x− (−1)n−1 (x −
n=0
(2n + 2)! 2 4 n=2
23n−1 n!
+∞
(−1)n+1
4)n , |x − 4| < 1; (f) −78 + 59(x + 4) − 14(x + 4)2 + (x + 4)3 ; (g) (x − 1)n+1 , |x − 1| < 1; (h)
X
n=2
n(n + 1)
+∞ +∞ 2n
4n
1
(−1) (n − 1)(x − 1) , |x − 1| < 1; (i) , |x| < ∞. (a) , |x| < 1; (b) − ln(1 − 2x),
X X
n n 1
x− 8:
1+x2
n=2 n=0
(2n)! 2
3 −x2 2(x−1)
1
; (c) e−x , |x| < ∞; (d) e , |x| < ∞; (e) cos x
, |x| < ∞; (f) , −1 < x < 3; (g) √ 1
,
|x| < 2
4
3 3−x 1+x2
ex−1 −x √
ln(x+1)
|x| < 1; (h) (x−1)2
, x 6= 1; (i) x sen √1
x
, x > 0; (j) − sen(x) cos(x), |x| < ∞; (k) xex + x
, |x| < 1
+∞
x2n+1
e x 6= 0; (l) , ; (m) − 2x+1 − ln(2x + 1), −1 < x < 0. (a) ,
X
2+x
(1−x)(1+2x)
|x| < 1
2 2x
9: (−1)n+1
n=0
(2n + 1)!
+∞ +∞
1.3.5 . . . (2n − 1) x2n+1 π X 1.3.5 . . . (2n − 1) x2n+3
|x| < 1; (b) x + , |x| < 1; (c) x2 − x3 − , |x| < 1; (d)
X
n
2 n! 2n + 1 2 2n n! 2n + 1
n=1 n=1
+∞ +∞ +∞ +∞
xn X (n + 1) X 1.3.5 . . . (2n + 1) (−1)n
, |x| < 1; (e) , ; (f) xn , |x| < . 10: (a)
X X
n 1
− n+2
x |x| < 2 2
' 0.69
n=2
n n=0
2 n=0
n! n=1
n
+∞ +∞ +∞
3n 22n (−1)n
(n = 160); (b) ' 20.08 (n = 11); (c) ' −0.41 (n = 4); (d)
X X X
(−1)n 2n+1
' 0.47
n=1
n! n=0
(2n)! n=0
2 (2n + 1)!
+∞ +∞
π 1 X 1.3.5 . . . (2n − 1) 1 (−1)n+1
(n = 1); (e) ' 1.31 (n = 1); (f)
X
− − n 2n+1 2n+1
' −0.46
2 4 n=1
2 n! 4 (2n + 1) n=0
2 (2n + 1)
+∞ +∞ +∞ 3
(−1)n (−1)n 4n+ 2
(n = 2). (a) ' 0.93; (b) ' 0.60; (c) ' 92.74; (d) 1 +
X X X
11:
4
n=0
10n + 1 n=0
(2n)!(2n + 3 ) n=0
(n)!(n + 32 )
+∞ +∞ +∞
n+1 3 · 7 · 11 · · · (4n − 5) 22n+1 − 1 X (−1)n−1
' 1.05; (e) ' 0.14; (f) ' 0.82.
X X
(−1) n
(−1)n
n=1
4 (3n + 1)n! n=0
(2n + 1)n! n=1
n2
Integrais impróprios
A denição de integral até aqui utilizada tem duas limitações importantes que importa resolver. Vimos,
por um lado, que a função tem de ser limitada no intervalo de integração. Por outro, o próprio intervalo
de integração também tem de ser limitado. No entanto, podemos facilmente estender a noção de integral
para cobrir estes casos.
Denição 10.1.1. Seja f uma função denida no intervalo [a, b), com b eventualmente innito, e
integrável em todo o intervalo [a, τ ] ⊂ [a, b), onde se subentende que a < τ < b. Designa-se por
integral impróprio (de Riemann) da função f sobre o intervalo [a, b) à quantidade seguinte:
Z b Z τ
f (x) dx = lim− f (x) dx .
a τ →b a
De modo análogo para uma função f denida no intervalo (a, b], agora com a eventualmente innito, e
que seja integrável em todo o intervalo [τ, b] ⊂ (a, b], onde se subentende que a < τ < b:
Z b Z b
f (x) dx = lim f (x) dx .
a τ →a+ τ
y y
Z b Z η
f (x) dx f (x) dx
τ a
y = f (x) y = f (x)
−∞ τ b a η +∞
(a) Integral impróprio em x = −∞. (b) Integral impróprio em x = +∞.
Os integrais impróprios herdam todas as propriedades dos integrais denidos, como facilmente se depre-
ende da Denição 10.1.1.
Os integrais impróprios dizem-se convergentes, se existirem (e forem nitos) os limites dados. Caso
contrário, os integrais impróprios dizem-se divergentes. Deste modo, a natureza de um integral
230
ANÁLISE MATEMÁTICA EM R 10. INTEGRAIS IMPRÓPRIOS
Z +∞ Z +∞
dx dx
(a) ; (b) .
1 x 0 1 + x2
Z +∞ Z τ
dx dx x=τ
(a) = lim = lim [ln(x)]x=1 = lim ln(τ ) = +∞;
1 x τ →+∞ 1 x τ →+∞ τ →+∞
Z +∞ Z τ
dx dx x=τ π
(b) = lim = lim [ arctg(x)]x=0 = lim arctg(τ ) = .
0 1 + x2 τ →+∞ 0 1 + x2 τ →+∞ τ →+∞ 2
Nos integrais impróprios de primeira espécie, é habitual aparecer o limite superior de integração como
sendo +∞. No entanto, pode perfeitamente acontecer que seja o limite inferior −∞.
Z −1 Z 0
dx
(a) ; (b) ex dx.
−∞ x −∞
Z −1 Z −1
dx dx x=−1
(a) = lim = lim [ln |x|]x=τ = − lim ln |τ | = −∞;
−∞ x τ →−∞ τ x τ →−∞ τ →−∞
Z 0 Z 0
x=0
(b) ex dx = lim ex dx = lim [ex ]x=τ = 1 − lim eτ = 1.
−∞ τ →−∞ τ τ →−∞ τ →−∞
Resolução: Neste caso, antes de começar a resolver, convém observar que |x| vai ter expressões
diferentes consoante x < 0 ou x > 0:
−x se x < 0
|x| = .
x se x ≥ 0
Então,
Z +∞ Z 0 Z +∞ Z 0 Z η
e−|x| dx = ex dx + e−x dx = lim ex dx + lim e−x dx
−∞ −∞ 0 τ →−∞ τ η→+∞ 0
x=0 −x x=η
= lim [ex ]x=τ + lim −e x=0
= 1 − lim eτ − lim e−η + 1 = 2 .
τ →−∞ η→+∞ τ →−∞ η→+∞
Nos integrais impróprios de segunda espécie, o intervalo de integração é limitado, mas a função
não.
y y
Z b Z η
f (x) dx f (x) dx
τ a
y = f (x) y = f (x)
a τ b x a η b x
Z 1 Z 1
dx dx
(a) ; (b) √ .
0 x 0 1 − x2
Z 1 Z 1
dx dx x=1
(a) = lim = lim [ln(x)]x=τ = − lim ln(τ ) = +∞;
0 x τ →0+ τ x τ →0+ τ →0+
Z 1 Z τ
dx dx x=τ π
(b) √ = lim− √ dx = lim− [ arcsen(x)]x=0 = lim− arcsen(τ ) = .
0 1−x 2 τ →1 0 1−x 2 τ →1 τ →1 2
Na maioria dos casos, e apenas por simplicidade, costuma aparecer a situação em que a função não é
limitada num dos extremos do intervalo. No entanto, pode bem acontecer que a função não seja limitada
em mais do que um ponto e não necessariamente nos extremos do intervalo.
Resolução: Neste caso, temos de separar o integral em dois. Por exemplo, separando em x = 0,
temos:
Z 1 Z 0 Z 1
dx dx dx
√ = √ + √
−1 1 − x2 −1 1−x 2
0 1 − x2
Z 0 Z η
dx dx
= lim √ dx + lim− √ dx
τ →−1+
1−x 2 η→1 1 − x2
τ 0
x=0 x=τ
= lim + [ arcsen(x)]x=τ + lim− [ arcsen(x)]x=0
τ →−1 τ →1
Relativamente aos integrais impróprios de segunda espécie, convém realçar uma situação de falso integral
impróprio. Isto é, existem integrais cujas funções integrandas têm pontos de descontinuidade, mas do
tipo removível. Neste caso, como se sabe, o limite existe e, por isso, o integral não pode ser considerado
impróprio.
No entanto, para o cálculo deste integral, recorremos ao mesmo procedimento dos integrais im-
próprios. Usando integração por partes e novamente a Regra de Cauchy para o cálculo do limite,
temos:
Z 1 Z 1 2 x=1 Z 1
x 1 1
x ln(x) dx = lim+ x ln(x) dx = lim+ ln(x) − lim+ x dx = −
0 τ →0 τ τ →0 2 x=τ 2 τ →0 τ 4
Pode, ainda, acontecer que o intervalo de integração não seja limitado e que a função também não o seja
em algum ponto do interior do intervalo. Estes integrais impróprios são, ao mesmo tempo, de primeira
e de segunda espécie. Por isso, é comum designá-los por integrais impróprio mistos. Estes integrais
são estudados usando a propriedade aditiva dos integrais para os separar em, pelo menos, dois integrais
impróprios: um de primeira espécie e outro de segunda. Estuda-se cada integral separadamente e o
integral impróprio misto será convergente se e só se os dois forem convergentes.
+∞ +∞
sen x1
Z
dx
Z
(a) √ ; (b) dx .
0 x(x + 1) 0 x2
Resolução: Nestes exemplos, temos de separar em, pelo menos, dois integrais impróprios distintos.
√
(a) Fazendo a mudança de variável x = t2 =: ϕ(t) ⇒ ϕ−1 (t) = t, temos:
Z +∞ Z 1 Z +∞
dx dx dx
√ = √ + √
0 x(x + 1) 0 x(x + 1) 1 x(x + 1)
Z 1 Z η
dx dx
= lim+ √ + lim √
τ →0 τ x(x + 1) η→+∞ 1 x(x + 1)
Z 1 Z √η
2tdt 2tdt
= lim+ √ 2
+ lim
τ →0 τ t(t + 1) η→+∞ 1 t(t2 + 1)
√ π π
t=1 t= η
=2 lim+ [ arctg(t)]t=√τ + 2 lim [ arctg(t)]t=1 = + = π;
τ →0 η→+∞ 2 2
Em muitas aplicações é importante uma estensão da noção de integral impróprio de modo a cobrir
algumas situações de integrais impróprios que resultam indeterminados se aplicada a Denição 10.1.1.
Isto acontece, em particular, quando temos um integral impróprio sobre um intervalo simétrico. A
decomposição do integral em, pelo menos dois, resulta, após os cálculos para cada integral impróprio,
numa indeterminação do tipo ∞ − ∞.
Exemplo 10.2.1. Mostrar que os integrais impróprios seguintes têm um valor indenido:
+∞ 1
ex
Z Z
x
(a) dx; (b) dx.
−∞ 1 + x2 −1 ex−1
Na prática, a noção de valor principal de Cauchy vai permitir atribuir um valor a integrais impróprios
que, de outro modo, seriam indeterminados tais como os do exemplo anterior. Vamos considerar as
diferentes situações possíveis que resultam do exemplo anterior.
A situação mais habitual, a que se refere a denição anterior, é aquela que resulta de considerar o
integral, no intervalo (−∞, ∞), de uma função ímpar. Neste caso, tal como mostram a Figura 10.3 e o
Exemplo 10.2.2, o valor principal de Cauchy do integral impróprio em questão será 0.
y
Z τ
y = f (x)
f (x) dx = 0
−τ
−τ
τ x
Denição 10.2.2. Seja f uma função denida em [a, b], com a < b números reais, e suponhamos
que
Z c Z b
∃ c ∈ (a, b) : lim f (x) = ∞, f (x) dx = ±∞, f (x) dx = ∓∞ .
x→c a c
Z b
Designa-se por valor principal de Cauchy do integral impróprio f (x) dx ao limite seguinte, caso
a
exista: "Z #
Z b c−δ Z b
v.p. f (x) dx = lim f (x) dx + f (x) dx .
a δ→0 a c+δ
Observe-se que na denição anterior, o limite faz sentido apenas no caso em que 0 < δ < max{c −
a, b − c}. As situações mais simples deste caso, são aquelas em que o intervalo de integração é simétrico
relativamente a x = 0. No entanto, poder-se-ão considerar situações de simetria para valores de x 6= 0,
como a represntada na Figura 10.4.
Z b
f (x) dx
c+δ
c+δ b
a c−δ x
Z c−δ
f (x) dx y = f (x)
a
Observe que os integrais impróprios calculados no Exemplo 10.2.1, assim como os valores principais
de Cauchy calculados nos Exemplos 10.2.2 e 10.2.3, são simétricos. No entanto, os limites dos Exem-
plos 10.2.2 e 10.2.3 evolvem (em cada exemplo) à mesma taxa, mas os do Exemplo 10.2.1 evolvem (em
cada exercício) a taxas possivelmente distintas.
Denição 10.2.3. Seja f uma função denida em (a, b), com a, b ∈ R e tais que a < b, e
suponhamos que:
Z b
Designa-se por valor principal de Cauchy do integral impróprio f (x) dx ao limite seguinte, caso
a
exista: Z b Z η
v.p. f (x) dx = lim f (x) dx .
a τ → a+ τ
η → b−
Novamente, a situação mais habitual é aquela em que o intervalo é simétrico relativamente a x = 0, não
obstante poderem existir outras situações. No caso de um intervalo simétrico da forma (−a, a), com
a > 0, temos na denição anterior
Z a Z τ
v.p. f (x) dx = lim f (x) dx .
−a τ →a −τ
Na avaliação dos integrais impróprios, sempre que possamos determinar as primitivas envolvidas, é o
que se deve fazer, pois permite avaliar imediatamente se o integral é convergente ou divergente. Nas
situações que resultam indenições, podemos ainda, se necessário, calcular o seu valor próprio de Cauchy.
No entanto, podemos ter situações em que a primitiva se torne muito complicada de determinar, ou seja
mesmo impossível de escrever como uma soma nita de funções elementares e, ainda assim, queiramos
saber se o integral converge ou diverge. Interessa, pois, obter critérios que nos permitam concluir sobre a
convergência ou divergência de um integral impróprio sem determinar a primitiva da função integranda.
Na proposição seguinte apresentamos uma condição necessária e suciente para um integral impróprio
ser convergente, que faz referência ao já conhecido Princípio de Cauchy.
Proposição 10.3.1. Seja f uma função denida num intervalo [a, b), com b eventualmente innito,
e integrável em todo o intervalo fechado [a, τ ] ⊂ [a, b), com a < τ < b. Consideremos o integral
impróprio de f sobre o intervalo [a, b). Então:
Z b
f (x) dx é convergente
a
se e só se
Z z
(10.3.1)
∀ ε > 0 ∃ δ > 0 (δ < b − a) : y, z ∈ (a, b − δ) ⇒ f (x) dx < ε .
y
Demonstração:
Rb
Começamos por observar que a f (x) dx é convergente se e só se existe o limite
limτ →b− F (τ ), onde
Z τ Z b−δ
F (τ ) = f (x) dx = f (x) dx , para δ = b − τ.
a a
Por denição de limite, isto é equivalente a armar que
Exemplo 10.3.1. Usando o Princípio de Cauchy, mostrar que o integral impróprio seguinte é
convergente: Z +∞
dx
.
1 1 + x4
Resolução:
R 1+ τ1
Seja F (τ ) = 1+x4 ,
dx
onde τ > 0. Para quaisquer z, y ∈ 1
, temos,
1
1, 1 + τ
admitindo que z < y ,
Z 1+ z1 Z 1+ z1
dx dx 1 1 1
|F (y) − F (z)| = < = − (x−3 − x−3
y ), onde xz = 1 + , xy = 1 + .
1+ y1 1 + x4 1+ y1 x4 3 z z y
Como é óbvio, o resultado anterior pode ser enunciado, com as devidas adaptações, para uma função f
contínua num intervalo (a, b], agora com a eventualmente innito.
O estudo de integrais impróprios de funções não-negativas torna-se importante, dado que, como iremos
ver adiante, o estudo da convergência absoluta reduz-se ao estudo da convergência dos integrais de
funções não-negativas.
Proposição 10.4.1. Seja f uma função denida num intervalo [a, b), com b eventualmente innito,
tal que
f (x) ≥ 0 para todo x ∈ [a, b)
e f é integrável em todo o intervalo fechado [a, τ ] ⊂ [a, b). Consideremos o integral impróprio de f
Rb
sobre o intervalo [a, b). Então, o integral impróprio a f (x) dx converge se e só se a função
Z x
F (x) = f (t) dt
a
Demonstração: Como f (x) ≥ 0 em [a, b), a função F (x) é monótona crescente. Ora sendo F (x)
também limitada, concluímos que existe o limite
Z b
lim F (x) = f (x) dx .
x→b− a
Resolução:
R τ dx
Neste caso, consideremos a função F (τ ) = 1 1+x 4 , onde τ > 1. Podemos ver que esta
Em muitas situações de exercícios práticos, basta-nos saber a natureza dos integrais impróprios em
consideração, isto é, se são convergentes ou divergentes. Mesmo aqueles integrais impróprios que são
convergentes, por vezes, torna-se difícil calcular o valor do integral. Nestes casos, e como consequência
da Proposição 10.4.1, podemos utilizar o critério de comparação de integrais impróprios seguinte.
Proposição 10.4.2 (Critério Geral de Comparação). Sejam f e g funções denidas num intervalo
[a, b), com b eventualmente innito, e integráveis em todo o intervalo fechado [a, τ ] ⊂ [a, b). Se
então:
Z b Z b
(1) A convergência de g(x) dx implica a convergência de f (x) dx e tem-se:
a a
Z b Z b
f (x) dx ≤ g(x) dx ;
a a
Z b Z b
(2) A divergência de f (x) dx implica a divergência de g(x) dx.
a a
Demonstração: Para mostrar (1), observamos que para todo x ∈ [a, b) se tem
Z x Z x Z b
F (x) = f (t) dt ≤ g(t) dt ≤ g(t) dt .
a a a
Z b
Logo F (x) é limitada e, pela Proposição 10.4.1, o integral impróprio f (x) dx é convergente. Para (2),
a
temos Z b Z b
g(x) dx ≥ f (x) dx ,
a a
Z b
pelo que g(x) dx é divergente.
a
Pode, ainda, ser facilmente adaptada para intervalos de integrabilidade imprópria da forma (a, b], com a
eventualmente innito.
Exemplo 10.4.2. Usando o Critério Geral de Comparação, mostre que os integrais impróprios
seguintes são convergentes:
√ 1
+∞ 3
e−x
Z
x2
Z
(a) √ dx; (b) √ dx .
1 3 + x4 0 x
Então, pelo Critério Geral de Comparação, o integral dado é convergente. Além disso, podemos
dizer que
Z +∞ √ 3
x2
√ dx < 3 .
1 3 + x4
pelo Critério Geral de Comparação, o integral dado é convergente. Podemos também dizer que
Z 1 −x
e
√ dx < 2 .
0 x
Sempre que for possível, podemos usar o resultado seguinte em vez do anterior, pois facilita a comparação
dos integrais impróprios.
Proposição 10.4.3 (Critério de Comparação). Sejam f e g funções denidas num intervalo [a, b),
com b eventualmente innito, e integráveis em todo o intervalo fechado [a, τ ] ⊂ [a, b). Suponhamos
que g(x) > 0, f (x) ≥ 0 para todo x ∈ [a, b) e
f (x)
lim = L.
x→b− g(x)
Então:
Z b Z b
(1) Se L 6= +∞, a convergência de g(x) dx implica a convergência de f (x) dx e tem-se:
a a
Z b Z b
f (x) dx ≤ g(x) dx ;
a a
Z b Z b
(2) Se L 6= 0, a divergência de f (x) dx implica a divergência de g(x) dx.
a a
que
Z b Z ξ Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx
a a ξ
Z ξ Z b
≤ f (x) dx + C g(x) dx
a ξ
Z ξ Z b
≤ f (x) dx + C g(x) dx < ∞ .
a a
Z b Z b
De modo análogo, pela Proposição 10.4.2, o integral impróprio g(x) dx é divergente se f (x) dx for
a a
divergente.
Com ligeiras adaptações, podemos enunciar o resultado anterior para intervalos (a, b], com a eventual-
mente innito. Neste caso, o limite a considerar é
f (x)
lim+ = L.
x→a g(x)
O Critério de Comparação é útil para situações em que, apenas, necessitamos de saber a natureza do
integral impróprio. Tem, por isso, particular importância para integrais impróprios (convergentes) em
que é muito difícil, ou mesmo impossível, determinar as primitivas envolvidas.
Exemplo 10.4.3. Usando o Critério de Comparação, estude a natureza dos integrais impróprios
seguintes:
+∞ 1
e−x
Z Z r
x
(a) dx; (b) dx .
1 1 + x2 0 1 − x2
Resolução: (a)Temos:
e−x
1+x2
lim 1 = lim e−x = 0 .
x→+∞ x→+∞
1+x2
Notemos que estamos no caso limite de L = 0 onde só é possível comparar se o integral de compa-
ração for convergente. De facto, temos
Z +∞ Z τ
dx dx x=τ π π
2
= lim 2
= lim [ arctg(x)]x=1 = lim arctg(τ ) − = .
1 1 + x τ →+∞ 1 1 + x τ →+∞ τ →+∞ 4 4
Como
Z 1 τ √
Z ix=τ
dx 1
h 1
√ = lim (1 − x)− 2 dx = −2 lim (1 − x) 2 = −2 lim− 1 − τ − 1 = 2.
0 1 − x τ →1− 0 τ →1− x=0 τ →1
O estudo da natureza dos integrais impróprios de primeira espécie está intimamente ligado ao estudo da
natureza de séries numéricas. Pela Proposição 10.4.1, podemos estabelecer o resultado seguinte.
Proposição 10.5.1 (Critério do Integral). Seja f uma função denida num intervalo [1, +∞), não-
negativa, monótona decrescente e integrável em todo o intervalo fechado [a, b] ⊂ [1, +∞). Então a
série e o integral seguintes,
+∞
X Z +∞
f (n) e f (x) dx ,
n=1 1
Demonstração: Consideremos uma função monótona decrescente f : [1, +∞) −→ [0, +∞). Então,
para todo o natural n ≥ 1 temos
P+∞ P+∞
Se a série n=1 f (n) = n=1 un é convergente, a sucessão das somas parciais Sn é convergente, logo
R n+1
limitada. Então, por (10.5.3), F (n + 1) = 1 f (x) dx é limitada e, pela Proposição 10.4.1, concluímos
R +∞
que o integral impróprio 1 f (x) dx é convergente.
R +∞ Rn
Reciprocamente, se o integral impróprio 1 f (x) dx é convergente, a função F (n) = 1 f (x) dx é
limitada. Então, por (10.5.4) a sucessão das somas parciais Sn P é limitada e,P pelo conhecimento que
+∞ +∞
temos das séries de termos não negativos, concluímos que a série n=1 f (n) = n=1 un é convergente.
R +∞
De modo inteiramente análogo, podemos tirar conclusões da divergência do integral impróprio 1 f (x) dx
P+∞ P+∞
a partir da divergência da série numérica n=1 f (n) = n=1 un e reciprocamente.
No caso de ambos convergirem, a relação (10.5.2) resulta de fazer n → ∞ em (10.5.3) ou em (10.5.4).
A proposição anterior diz-nos que, se o integral é convergente, ou divergente, então a série é convergente,
ou respectivamente divergente, e reciprocamente. Este resultado é conhecido por Critério do Integral,
porque é mais útil para tirar conclusões da convergência ou divergência de uma série numérica a partir
de um integral impróprio de primeira espécie.
Exemplo 10.5.1. Usando integrais impróprios, estudar a natureza das séries seguintes:
+∞ 1 +∞
X en X 1
(a) ; (b) .
n=1
n2 n=2
n ln(n)
Resolução: (a) Usando o Critério do Integral e procedendo como no Exemplo 10.1.1, obtemos
+∞ 1 Z +∞ 1 Z τ h 1 ix=τ
X en ex 1 1
dx = lim e x dx = − lim ex = e − 1,
n=1
n2 1 x2 τ →+∞ 1 x2 τ →+∞ x=1
Tal como nas séries numéricas, convém ter em mente alguns integrais impróprios que sejam bons candi-
datos para fazer a comparação. Neste sentido, o integral de Dirichlet vai ser muito importante para
o estudo de outros integrais impróprios de primeira espécie.
é convergente para α > 1 e divergente para α ≤ 1. Mais, no caso em que converge, temos:
Z +∞
dx a1−α
α
= .
a x α−1
Na proposição seguinte adaptamos o Critério de Comparação enunciado na Proposição 10.4.3 para com-
parar com o integral de Dirichlet.
Proposição 10.5.3. Seja f uma função denida num intervalo [a, +∞) e integrável em todo o
intervalo fechado [a, τ ] ⊂ [a, +∞). Consideremos o limite seguinte:
f (x)
lim 1 = lim xα f (x) = L .
x→+∞ x→+∞
xα
Z +∞
(1) Se α > 1 e L 6= +∞, então f (x) dx é convergente;
a
Z +∞
(2) Se α ≤ 1 e L 6= 0, então f (x) dx é divergente.
a
Exemplo 10.5.2. Usando o Critério de Comparação com o Integral de Dirichlet, estude a natureza
dos integrais impróprios seguintes:
+∞
√
3 +∞
1 + x2 x−2
Z Z
(a) dx; (b) √ dx.
1 1 + x3 2 x x+1
O estudo da natureza dos integrais impróprios de segunda espécie é análogo ao que foi feito para o
integral impróprio de primeira espécie. Neste caso, vamos considerar o integral impróprio correspondente
ao integral de Dirichlet.
é convergente para α < 1 e divergente para α ≥ 1. Mais, no caso em que converge, temos:
b
b1−α
Z
dx
α
= .
0 x 1−α
Se α = 1, então
Z b Z b
dx dx x=b
= lim+ = lim+ [ln(x)]x=τ = ln(b) − ln(0) = +∞ ,
0 x τ →0 τ x τ →0
Observemos que, para sermos precisos, o integral da Proposição 10.6.1 só é impróprio para valores de
α > 0. De modo inteiramente análogo, se mostra que os integrais impróprios de segunda espécie
Z b Z b
dx dx
e (10.6.6)
a (x − a)α a (b − x)α
Proposição 10.6.2 (Critério de Comparação). Seja f uma função denida num intervalo (0, b],
com b > 0, e integrável em todo o intervalo fechado [τ, b] ⊂ (0, b]. Consideremos o limite seguinte:
f (x)
lim+ 1 = lim+ xα f (x) = L . (10.6.7)
x→0 x→0
xα
Z b
(1) Se α < 1 e L 6= +∞, então f (x) dx é convergente;
0
Z b
(2) Se α ≥ 1 e L 6= 0, então f (x) dx é divergente.
0
Se estivermos perante um intervalo da forma [a, 0), o limite (10.6.7) vem alterado para
f (x)
lim 1 = lim− xα f (x) = L .
x→0− x→0
xα
No caso de intervalos (a, b] e [a, b), e tendo em conta os integrais (10.6.6), o limite (10.6.7) deverá ser
substituído, respectivamente, por
f (x) f (x)
lim 1 = lim+ (x − a)α f (x) = L , lim 1 (b − x)α f (x) = L . (10.6.8)
x→a+ x→a x→b−
(x−a)α (b−x)α
1 1
√
x2 + 1 x x2 + 1
Z Z
(a) √ dx; (b) dx.
0 (x + 1) x 0 1 − x2
R1
Como 0 dx1 é convergente, já que se trata de um integral do tipo (10.6.5) com α = 1
2 < 1, pelo
x2
Critério de Comparação, o integral dado é convergente.
(b) De modo equivalente, observamos que
√ √ √ √ √
2 x x2 +1
x x2 + 1 1−x2 x x2 + 1 2
2
, quando x → 1 −
⇔ lim 1 = lim− = .
1 − x2 1−x x→1−
1−x
x→1 1+x 2
R 1 dx
Como 0 1−x é divergente, já que se trata de um integral do tipo (10.6.6) com α = 1, pelo Critério
de Comparação, o integral dado é divergente.
Nas secções anteriores, vimos que o estudo da natureza de muitos integrais impróprios se reduz ao estudo
de integrais de funções não negativas. É, portanto, natural o estudo de integrais impróprios de funções
integrandas em valor absoluto.
Denição 10.7.1.
Rb
O integral impróprio a
f (x) dx diz-se absolutamente convergente, se o integral
(impróprio)
Z b
|f (x)| dx
a
convergir.
A recíproca da proposição anterior não é verdade, como iremos ver adiante. Os integrais impróprios
que convergem, mas divergem em valor absoluto, dizem-se que convergem simplesmente, ou que
convergem condicionalmente. No entanto, mostrar que um integral impróprio é condicionalmente
convergente, nos casos em que tal acontece, é um exercício mais difícil. A proposição seguinte permite-
nos, em alguns casos, ultrapassar esta diculdade de uma forma subtil.
Proposição 10.7.2 (Critério de Dirichlet). Sejam f e g duas funções denidas num intervalo [a, b),
com b eventualmente innito, tais que:
Z x
(1) f é uma função contínua em [a, b) e a função F (x) = f (t) dt é limitada em [a, b);
a
(2) g 0 é absolutamente integrável (à Riemann) em qualquer intervalo [a, τ ] ⊂ [a, b), com a < τ < b,
e
lim g(x) = 0 .
x→b−
Z b
Então o integral impróprio f (x)g(x) dx é convergente.
a
Demonstração: Sendo τ tal que a ≤ τ < b, temos, por integração por partes,
Z τ Z τ
f (x)g(x) dx = F (τ )g(τ ) − F (a)g(a) − F (x)g 0 (x) dx . (10.7.9)
a a
Rx
Usando a hipótese de que F (x) = a
f (t) dt é limitada em [a, b), obtemos
Z τ Z τ
|F (x)g 0 (x)| dx ≤ C |g 0 (x)| dx , C=Const.>0.
a a
Como |g 0 | é integrável (à Riemann) em [a, b), o integral no segundo membro de (10.7.9) é absolutamente
convergente (logo convergente) quando τ → b− , pela Proposição 10.4.1. Pelo Critério Geral de Compa-
ração (Proposição 10.4.2), também o integral no primeiro membro é convergente quando τ → b− . Deste
modo, passando ao limite τ → b− em (10.7.9) e usando a hipótese de que limx→b− g(x) = 0 , temos
Z b Z b
f (x)g(x) dx = −F (a)g(a) − F (x)g 0 (x) dx .
a a
Como o integral do segundo membro é convergente, concluímos que o integral dado também é convergente.
Observe-se que o Critério de Dirichlet enunciado na proposição anterior é aplicável, quer o integral
impróprio seja de primeira espécie ou de segunda. Neste último caso, estende-se naturalmente a intervalos
da forma (b, a], com as devidas adaptações.
Resolução: Comecemos
Rτ por mostrar que o integral é convergente. Para τ > 1, consideremos a
função F (τ ) = 1 sen(x) dx. Esta função é limitada, pois
x=τ
F (τ ) = [cos(x)]x=1 = cos(1) − cos(τ ) ⇒ |F (τ )| ≤ 2 ∀ τ ∈ R .
Por outro lado, a derivada da função g(x) = x1 é absolutamente integrável em qualquer intervalo da
forma [1, τ ], com τ > 1. De facto, temos:
Z τ Z τ x=τ
1 1 1 1
g 0 (x) = − 2 ⇒ |g 0 (x)| dx = 2
dx = − = 1 − < 1 , pois τ > 1 .
x 1 1 x x x=1 τ
R +∞ 1 R +∞ cos(2x)
os integrais 1 x dx e 1 x dx também seriam convergentes. De facto, por um raciocínio
R +∞ cos(2x)
análogo ao usado na primeira parte deste exemplo, podemos mostrar que 1 x dx é conver-
R +∞ 1
gente. No entanto, sabemos desde o início deste capítulo que 1 x dx é divergente (ver Exem-
plo 10.1.1). Chegámos, portanto, a um absurdo. Logo o integral dado não pode ser absolutamente
convergente, pelo que a sua convergência é apenas condicional.
Por vezes, o Critério de Dirichlet é formulado numa forma mais simples de aplicar, mas mais difícil de
demonstrar.
Proposição 10.7.3. Sejam f e g duas funções denidas num intervalo [a, b), com b eventualmente
innito, tais que:
Z x
(1) f é uma função contínua em [a, b) e a função F (x) = f (t) dt é limitada em [a, b);
a
lim g(x) = 0 .
x→b−
Z +∞
Então o integral impróprio f (x)g(x) dx é convergente.
a
Demonstração: A demonstração desta proposição sai fora do âmbito deste curso, pelo que não a iremos
fazer aqui.
Exemplo 10.7.3. Usando o Critério de Dirichlet, na forma da proposição anterior, mostrar que o
integral impróprio seguinte é convergente:
Z 1 √
sen 3 1 − x
√ dx .
0 1−x
√ √
Resolução: Seja g(x) = sen( 3 1 − x). Temos limx→1− g(x) = limx→1− sen( 3 1 − x) = 0 e mos-
tremos que g é uma função monótona decrescente no intervalo (0, 1). De facto, pelo Teorema de
Lagrange, isto é verdade, porque
√
cos( 3 1 − x) π3
0
g (x) = − 3p < 0 se e só se 1 − < x < 1.
3 (1 − x)2 8
R1
Denamos, agora, a função F (τ ) = τ
√dx ,
1−x
onde 0 < τ < 1. Esta função é limitada, uma vez que
x=1 √ √
pois 0 < τ < 1 .
√
F (τ ) = 2 1 − x x=τ = −2 1 − τ ⇒ |F (τ )| = 2 1 − τ ≤ 2 ,
Então, pelo Critério de Dirichlet expresso na Proposição 10.7.3, o integral dado é convergente.
Nas duas secções nais, apresentamos duas subclasses de integrais impróprios que, pela sua importância
em várias áreas, merecem ser estudados à parte.
Nesta secção, vamos considerar o integral de Euler de segunda espécie. Trata-se de um integral impróprio
cujo valor depende de um parâmetro.
Denição 10.8.1. Designa-se por função Gama ao integral impróprio denido da forma seguinte:
Z +∞
Γ(x) := tx−1 e−t dt . (10.8.10)
0
Observemos que para valores de x ≥ 1 a função Gama é um integral impróprio de primeira espécie. Se
x < 1, então é um integral impróprio misto, portanto de primeira e de segunda espécies.
O primeiro integral é impróprio de segunda espécie apenas para valores de x < 1 e, neste caso, converge
se x > 0, já que Z 1 Z 1
dt 1
x>0⇒ tx−1 e−t dt ≤ 1−x
= .
0 0 t x
Por outro lado, o segundo integral de (10.8.11) é improprio de primeira espécie e converge para qualquer
x, pois t ≥ 1 e Z +∞ Z +∞
x≤1⇒ tx−1 e−t dt ≤ e−t dt = e−1
1 1
ou Z +∞ Z +∞
x−1 − 2t x−1 −t t 2C
x>1⇒∃C>0:t e ≤C⇒ t e dt ≤ C e− 2 dt = √ .
1 1 e
Concluímos que a função Gama é convergente se x > 0.
Pela proposição anterior, torna-se necessário averiguar o que acontece nos limites inferior e superior do
intervalo de convergência da função Gama, isto é, quando x → 0+ e quando x → +∞.
Como
t−1 e−t t−1 e−t
lim 1 = lim e−t = 1 e lim 1 = 1,
t→0+ t→0+ t→+∞
t tet
pela Proposição 10.4.3, os integrais anteriores têm a mesma natureza dos integrais
Z 1 Z +∞
dt t=τ
= +∞ e tet dt = lim et (t − 1) t=1 = +∞ .
0 t 1 τ →+∞
Na proposição seguinte apresentam-se fórmulas que nos permitem calcular a função Gama para alguns
valores de x > 0.
(1) Γ(1) = 1;
Fórmula de recorrência, expressa em (2), resulta de uma integração por partes. De facto, se x > 0 tem-se
( τ )
1 τ x −t
Z
1 x −t 1
Γ(x) = lim lim+ t e + t e dt = Γ(x + 1).
τ →+∞ η→0 x η x η x
A demonstração da Fórmula de Euler, referida em (3), é muito mais delicada, pois usa integrais de linha,
pelo que não cabe no âmbito deste curso (ver e.g. N.N. Lebedev).
A proposição anterior permite tirar os resultados particulares seguintes, muito úteis em diversos cálculos.
Demonstração: A propriedade (1) é uma consequência imediata das duas primeiras armações da
Proposição 10.8.3. De facto, tem-se para todo o inteiro n ≥ 0
Quanto a (2), é uma consequência da terceira armação da Proposição 10.8.3. Na verdade, se aí tomarmos
x = 21 , temos
2
√
1 π 1
Γ = π
⇒ Γ = π.
2 sen 2 2
A propriedade (3) é, agora, uma consequência de (2) conjugada com a Proposição 10.8.3-(2), já que
1 1 1 1 3 3
Γ n+ = n− Γ n− = n− n− Γ n−
2 2 2 2 2 2
1 3 5 3 1 1
=··· = n − × n− × ··· × × × × Γ .
2 2 2 2 2 2
Por m, (4) resulta de (2), pois fazendo a mudança de variável t = s2 temos
Z +∞ −t Z +∞ √
√ √
1 e 2 π
Γ = π⇔ √ dt = π ⇒ e−s ds = ,
2 0 t 0 2
o que conclui a demonstração.
Exemplo 10.8.1. Usando a função Gama, mostrar que os integrais impróprios de primeira espécie
são convergentes e o seu valor é o indicado:
Z +∞ Z +∞ √
15 2 −x2 π
(a) x e 5 −2x
dx = ; (b) x e dx = .
0 8 0 4
√
(b) Neste caso, fazemos a mudança de variável ϕ−1 (x) := x2 = t ⇒ x = t =: ϕ(t) ⇒ dx =
ϕ0 (t)dt = 2√
1
t
dt e obtemos:
Z +∞ Z τ Z ϕ−1 (τ )
2 −x2 2 −x2 1
x e dx = lim x e dx = limte−t √ dt
0 τ →+∞ 0 ϕ−1 (0)τ →+∞ 2 t
Z 2τ Z +∞ √
1 1 1 3 1 3 1 1 1 π
= lim t 2 e−t dt = t 2 −1 e−t dt = Γ = × Γ = .
2 τ →+∞ 0 2 0 2 2 2 2 2 4
A Fórmula de Recorrência expressa na Proposição 10.8.3, permite estender o cálculo da função Gama
para alguns valores de x negativos, escrevendo
Γ(x + 1)
Γ(x) = . (10.8.12)
x
√ 4√
1 3
(a) Γ − = −2 π ; (b) Γ − = π.
2 2 3
Γ − 32 + 1
√ 4√
3 2 1 2
(b) Γ − = =− Γ − = − × (−2 π) = π , por (a).
2 − 23 3 2 3 3
Nesta secção, vamos estudar o designado integral de Euler de primeira espécie. Agora, trata-se de um
integral impróprio cujo valor depende de dois parâmetros.
Observemos que a função Beta é um integral impróprio de segunda espécie e isto acontece somente se
x < 1 ou se y < 1.
tx−1 (1 − t)y−1
é contínua para qualquer t ∈ [0, 1] e o integral dado por (10.9.13) existe no sentido de Riemann e,
portanto, converge. No caso de x < 1 ou y < 1, a função integranda não é limitada em t = 0 ou em
t = 1, respectivamente. Em cada um destes casos, temos
tx−1 (1 − t)y−1
lim 1 = lim (1 − t)y−1 = 1 ,
t→0+ t→0+
t1−x
x−1 y−1
t (1 − t)
lim 1 = lim tx−1 = 1 .
t→1− t→1−
(1−t)1−y
são convergentes para 1 − x < 1 ⇔ x > 0 e para 1 − y < 1 ⇔ y > 0, respectivamente. Então, pelo
Critério de Comparação (ver Proposição 10.6.2), a função Beta é convergente para x > 0 e y > 0.
para quaisquer x e y .
Proposição 10.9.3. A relação entre a função Gama e a função Beta é dada, para quaisquer x > 0
e y > 0, por
Γ(x)Γ(y)
B(x, y) = .
Γ(x + y)
√
1 4 1
(a) B ,2 = ; (b) Γ = π.
2 3 2
Exemplo 10.9.2. Usando a função Beta, juntamente com a função Gama, mostrar que os integrais
seguintes são iguais aos valores indicados:
Z 1 − 12 Z 2
1
7 9 π
(a) π; (b) x(2 − x) dx = .
p
x6 1 − x9 dx =
0 14 0 2
2
ϕ0 (t)dt = 97 t 7 dt, obtemos:
1 ϕ−1 (1)
− 21 9 1 1
Z Z Z
1
7 9 − 21 9 2 −1
x6 1 − x9 dx = t 42 (1 − t) t 7 dt = t 2 (1 − t) 2 dt
0 ϕ−1 (0) 7 7 0
1
9 Γ 23 Γ 12
Z
9 3 1
−1 9 3 1
= t 2 −1 (1 − t) 2 dt = B , =
7 0 7 2 2 7 Γ (2)
9 21 Γ 12 × Γ 12
9
= = π.
7 1! 14
(b) Neste caso, fazemos a mudança de variável ϕ−1 (x) := x2 = t ⇒ x = 2t =: ϕ(t) ⇒ dx = ϕ0 (t)dt =
2 dt e obtemos:
−1
Z 2p √ Z 2 1 x 12 √ Z ϕ (2) 1 1
x(2 − x) dx = 2 x2 1 − dx = 2 (2t) 2 (1 − t) 2 2 dt
0 0 2 −1
ϕ (0)
Γ 32 Γ 32
Z 1
3
−1
3
−1 3 3
=4 t 2 (1 − t) 2
dt = 4 B , =4
0 2 2 Γ (3)
1 1
1 1
Γ × 2Γ 2 π
=4 2 2 = .
2! 2
4. Mostre que os integrais impróprios seguintes têm um valor indenido. Calcule, sempre que possível,
o seu valor principal de Cauchy:
√
+∞ 2
x2 − x + 1
Z 2
Z
x3
Z
(a) x dx; (c) dx; (e) dx;
−∞
√
− 2 x4 − 4 0 x−1
+∞ +∞ 2
4x3
Z Z Z
2x dx
(b) dx; (d) ; (f) dx.
−∞ x2 +1 −∞ x(x + 1) −2 x4−1
5. Usando o Critério de Comparação, estude a natureza dos integrais impróprios de primeira espécie
seguintes:
Z +∞ Z +∞ Z +∞
arctg(x) x
(a) dx; (d) ; (g) 1 + sen(x) dx;
p
√
1 x 0 1 + x4 0
+∞ +∞ +∞
x2
Z Z Z
x+1 dx
(b) dx; (e) dx; (h) ;
0 x2 +x+1 −∞ ex2 −∞ 2 + sen(x)
0 −1 +∞
(x2 + 1) cos2 (x)
Z Z
x
Z
(c) 3
dx; (f) √ dx; (i) √ .
−∞ x −1 −∞ x2 x4 + 1 1
3
x6 + 1
6. Usando o Critério de Comparação, estude a natureza dos integrais impróprios de segunda espécie
seguintes:
Z π2 Z 0 Z π
cos(x) x2 1
(a) dx; (d) √ dx; (g) p dx;
x x sen(x)
0 −1 e x+1 0
Z π Z 1 Z 1 1
sen(x) ln(x) ex
(b) √ dx; (e) dx ; (h) √ dx;
0 x3 0 x+1 −1 1 − x2
Z 1 Z π2 p Z 1
ex 1
(c) √ dx; (f) tg(x) dx; (i) dx.
0 1−x 2
0 0 x + ln(1 − x)
7. Usando o Critério de Comparação, estude a natureza dos integrais impróprios mistos seguintes:
Z +∞ √ Z +∞ Z +∞
4
x+1 dx sen2 (x)
(a) √ dx; (c) ; (e) √ dx;
0 (x + 1) x 2 (x − 2) ln2 (x) 0
3
x4
Z +∞ Z +∞ Z +∞
dx senh(x) dx
(b) √
x x
; (d) dx ; (f) √ .
0 e −∞ x 1 x x 2−1
8. Utilize o Critério do Integral para estudar a natureza de cada série numérica seguinte e, no caso
de convergir, indique uma estimativa superior para a sua soma:
+∞ +∞ +∞
X 1 X 1 X 1
(a) 3
; (d) 2 + 9n + 18
; (g) 1 ;
n=1
n n=1
n 2 n
n=1 n e
+∞ +∞ +∞
X 1 X ln(n) X ln(n)
(b) √ ; (e) ; (h) ;
n=1
3
n+3 n=2
n n=2
n2
+∞ +∞ +∞ 2
X 4n X 1 X n
(c) ; (f) ; (i) .
n=1
(2n + 3)2
2
n=2
n ln2 (n) n=0
en
11. Usando a função Beta, em conjunto com a função Gama, calcule os integrais seguintes:
Z 1r Z 1 Z 1
x 4
32 √
(a) dx; (c) x 1−x 3 dx; (e) (2x − 1) 2 − 2x dx;
0 1 − x 0 1
2
Z 1 Z 1 Z 16 q
2
√ √ dx
q
1 2 3 39 7 3
(b) x3 1 − x3 dx; (d) x 10 (1 − x 5 ) 2 dx; (f) x−2 4− x√ .
0 0 4 x
Soluções
1 1 1
1: (a) +∞; (b) ; (c) +∞; (d) π ; (e) 2π ; (f) ; (g) Indenido; (h) ; (i) ∞. 2: (a) −∞; (b) π ; (c) −∞; (d) 4;
2 2 2
π π2
(e) +∞; (f) −1; (g) +∞; (h) ln(3); (i) . 3: (a) 2; (b) +∞; (c) +∞; (d) −∞; (e) 1; (f) −∞; (g) ; (h) +∞;
√ 2 8
2 3
(i) π . 4: (a) 0; (b) 0; (c) 0; (d) 0; (e) 0; (f) 0; 5: (a) Diverge; (b) Diverge; (c) Converge; (d) Diverge; (e)
3
Converge; (f) Converge; (g) Diverge; (h) Diverge; (i) Converge. 6: (a) Diverge; (b) Converge; (c) Converge; (d)
Converge; (e) Converge; (f) Converge; (g) Converge; (h) Converge; (i) Converge. 7: (a) Converge; (b) Converge;
3
(c) Diverge; (d) Diverge; (e) Converge; (f) Converge. 8: (a) Converge e S ≤ ; (b) Diverge; (c) Converge e
2
9 1 1 7 1 + 2 ln(2)
S≤ ; (d) Converge e S ≤ + ln ; (e) Diverge; (f) Converge e S ≤ ; (g) Converge e S ≤ 1;
25 28 3 4 r 2 ln2 (2)r r
3 1 8 15 π 1 π 1 1155 π
(h) Converge e S ≤ ln(2) + ; (i) Converge e S ≤ 2. 10: (a) ; (b) ; (c) ; (d) ; (e) ;
4 2 81 216 3 12 3 2
5184 3
1 π 27 3 15 2 1 1 1 3 π
(f) ; 11: (a) ; (b) ; (c) ; (d) π ; (e) ; (f) π ; 12: a = 1, b = 4 e c = , B , = .
8 2 80 64 1792 15 2 4 2 2 8
[3] W.E. Boyce, R.C. Diprima. Calculus . John Willey & Sons, 1988.
[5] J. Campos Ferreira. Introdução à Análise Matemática. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1987.
[6] R. Courant e F. John. Introduction to Calculus and Analysis . Volume I. Springer-Verlag, New York,
1989.
[7] B. Demidovitch (sob a redacção). Problemas e Exercícios de Análise Matemática . 6a edição. Editora
Mir, Moscovo, 1987.
[8] M. Krasnov, A. Kiselev, G. Makarenko e E. Shikin. Mathematical Analysis for Engineers . Volume
1. Mir Publishers, Moscow, 1989.
[10] J.E. Marsden e M.J. Homan. Elementary Classical Analysis . Second Edition. W.E. Freeman and
Company, New York, 1995.
[12] J. Santos Guerreiro. Curso de Análise Matemática . Escolar Editora, Lisboa, 1989.
260