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Calculo Diferencial e Integral I I

O documento apresenta informações sobre o curso de Cálculo Diferencial e Integral II ministrado na Unicesumar de forma híbrida. Contém a apresentação dos professores que ministrarão a disciplina, informações sobre a instituição e a coordenação do curso na modalidade a distância.
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
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Calculo Diferencial e Integral I I

O documento apresenta informações sobre o curso de Cálculo Diferencial e Integral II ministrado na Unicesumar de forma híbrida. Contém a apresentação dos professores que ministrarão a disciplina, informações sobre a instituição e a coordenação do curso na modalidade a distância.
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GRADUAÇÃO

Cálculo Diferencial
e Integral II
DR. RICARDO RAMOS FRAGELLI
DR. RONNI GERALDO GOMES DE AMORIM
DR. VINICIUS DE CARVALHO RISPOLI

Híbrido
GRADUAÇÃO
Cálculo
Diferencial e
Integral II
Dr. Vinicius de Carvalho Rispoli
Dr. Ricardo Ramos Fragelli
Dr. Ronni Geraldo Gomes de Amorim
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos
Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William
Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de
Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a
Distância; RISPOLI, Vinicius de Carvalho; FRAGELLI, Ricardo Ra-
mos; AMORIM, Ronni Geraldo Gomes de. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James
Cálculo Diferencial e Integral II. Vinicius de Carvalho Rispoli;
Ricardo Ramos Fragelli; Ronni Geraldo Gomes de Amorim.
Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação
Maringá-PR.: Unicesumar, 2018. e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de
384 p. Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de
“Graduação - EAD”.
Design Educacional Débora Leite; Head de
1. Cálculo Diferencial. 2. Integral. 3. EaD. I. Título. Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza
Filho; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros;
ISBN 978-85-459-1681-9
CDD - 22 ed. 515.5
Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie
CIP - NBR 12899 - AACR/2 Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel
F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos
Diogo Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria
Impresso por: Carolina Abdalla Normann de Freitas; Supervisão
do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de
Almeida Toledo; Supervisão de Projetos Especiais
Yasminn Talyta Tavares Zagonel; Projeto
Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães
Cripaldi; Fotos Shutterstock
Coordenador de Conteúdo Crislaine Rodrigues Ga-
lan e Fabio Augusto Gentilin .
NEAD - Núcleo de Educação a Distância Designer Educacional Janaína de Souza Pontes e
Yasminn Talyta Tavares Zagonel.
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação
Revisão Textual Érica Fernanda Ortega e Cíntia Pre-
CEP 87050-900 - Maringá - Paraná
zoto Ferreira.
unicesumar.edu.br | 0800 600 6360
Editoração Bruna S. M. Marconato e Isabela M. Belido.
Ilustração Marta Kakitani, Marcelo Goto e Mateus
Calmon.
Realidade Aumentada Kleber Ribeiro, Leandro Nal-
dei e Thiago Surmani.
PALAVRA DO REITOR

Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha-


mos com princípios éticos e profissionalismo, não
somente para oferecer uma educação de qualida-
de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-
-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo-
cional e espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois
cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos
mais de 100 mil estudantes espalhados em todo
o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá,
Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de
300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de
graduação e pós-graduação. Produzimos e revi-
samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil
exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo
MEC como uma instituição de excelência, com
IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os
10 maiores grupos educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos
educadores soluções inteligentes para as ne-
cessidades de todos. Para continuar relevante, a
instituição de educação precisa ter pelo menos
três virtudes: inovação, coragem e compromisso
com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para
os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as
quais visam reunir o melhor do ensino presencial
e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferentes
áreas do conhecimento, formando profissionais
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
BOAS-VINDAS

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co-


munidade do Conhecimento.
Essa é a característica principal pela qual a
Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu-
nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é
importante destacar aqui que não estamos falando
mais daquele conhecimento estático, repetitivo,
local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ-
mico, renovável em minutos, atemporal, global,
democratizado, transformado pelas tecnologias
digitais e virtuais.
De fato, as tecnologias de informação e comu-
nicação têm nos aproximado cada vez mais de
pessoas, lugares, informações, da educação por
meio da conectividade via internet, do acesso
wireless em diferentes lugares e da mobilidade
dos celulares.
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace-
leraram a informação e a produção do conheci-
mento, que não reconhece mais fuso horário e
atravessa oceanos em segundos.
A apropriação dessa nova forma de conhecer
transformou-se hoje em um dos principais fatores de
agregação de valor, de superação das desigualdades,
propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
Logo, como agente social, convido você a saber
cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e
usar a tecnologia que temos e que está disponível.
Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
modificou toda uma cultura e forma de conhecer,
as tecnologias atuais e suas novas ferramentas,
equipamentos e aplicações estão mudando a nossa
cultura e transformando a todos nós. Então, prio-
rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação
a Distância (EAD), significa possibilitar o contato
com ambientes cativantes, ricos em informações
e interatividade. É um processo desafiador, que
ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores
oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida
sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que
a EAD da Unicesumar se propõe a fazer.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você
está iniciando um processo de transformação,
pois quando investimos em nossa formação, seja
ela pessoal ou profissional, nos transformamos e,
consequentemente, transformamos também a so-
ciedade na qual estamos inseridos. De que forma
o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe-
lecendo mudanças capazes de alcançar um nível
de desenvolvimento compatível com os desafios
que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o
Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa-
nhará durante todo este processo, pois conforme
Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na
transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem
dialógica e encontram-se integrados à proposta
pedagógica, contribuindo no processo educa-
cional, complementando sua formação profis-
sional, desenvolvendo competências e habilida-
des, e aplicando conceitos teóricos em situação
de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como
principal objetivo “provocar uma aproximação
entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita
o desenvolvimento da autonomia em busca dos
conhecimentos necessários para a sua formação
pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de
crescimento e construção do conhecimento deve
ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos
pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar
lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu-
deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza-
gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas
ao vivo e participe das discussões. Além disso,
lembre-se que existe uma equipe de professores e
tutores que se encontra disponível para sanar suas
dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren-
dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili-
dade e segurança sua trajetória acadêmica.
APRESENTAÇÃO

Prezado(a) estudante!
Bem-vindo(a) ao curso de Cálculo Diferencial e Integral 2. Iremos, aqui,
continuar o desenvolvimento das ferramentas matemáticas necessárias
para a formação de um bom engenheiro. Este curso é dividido em duas
partes. Na primeira, serão estudados os conceitos de integrais em mais de
um variável e também integrais em campos vetoriais. A segunda parte, por
sua vez, será dedicada às técnicas para resolução de problemas de valor
inicial envolvendo equações diferenciais ordinárias.
Na primeira parte do curso, como citado, serão trabalhados os conceitos
relativos às integrais múltiplas e a integração em campos vetoriais e seus
principais teoremas. A integral de múltiplas variáveis tem um papel muito
importante no desenvolvimento científico e veremos algumas aplicações
simples e também interessantes sobre as integrais múltiplas. Estudaremos,
por exemplo, como calcular a força de sustentação em uma asa que é o
princípio básico de funcionamento de um avião. Por outro lado, a integração
em campos vetoriais é de fundamental importância na física e engenharia,
sendo possível encontrar exemplos aplicados no contexto mais básico até
o mais avançado. As integrais em campos vetoriais correspondem, em sua
maioria, a integrais duplas e triplas de integrandos específicos. Esta unidade
é trabalhada para chegar nos importantes teoremas de Green, Stokes e de
Gauss, teoremas esses que foram fundamentais no desenvolvimento da
teoria eletromagnética e também na mecânica dos fluidos.
Nas segunda parte, o estudo será sobre as equações diferenciais e suas
soluções. As equações diferenciais são fundamentais na ciência, pois elas
permitem modelar fenômenos da ciência aplicada a partir do seu compor-
tamento dinâmico. Desta forma, sabendo o comportamento dinâmico de
um determinado sistema, seremos capazes de prever o seu comportamento
de forma geral. Assim, começamos preparando o terreno com modelos ma-
temáticos simples e as equações de primeira e segunda ordem na Unidade
2. Também estudaremos como utilizar as séries de potências para encontrar
soluções de equações diferenciais.
O uso das séries é interessante quando não temos mais equações diferenciais
com coeficientes constantes e veremos que existem importantes equações
da física-matemática que estão nesse formato. Finalmente, iremos estudar
o conceito das transformadas integrais, em especial a transformada de
Laplace, e como utilizar essa ferramenta para determinar a solução de pro-
blemas de valor inicial. Estudaremos as propriedades, particularidades e a
vantagem do uso das transformadas para encontrar soluções de equações,
principalmente quando temos funções complicadas, e até descontínuas,
envolvidas com a equação diferencial.
Os conhecimentos adquiridos neste curso que está começando farão toda a
diferença na sua formação. Desta forma, desejamos a você um ótimo curso
e que este material possa auxiliá-lo(a) na busca de novos conhecimentos.
CURRÍCULO DOS PROFESSORES

Dr. Vinícius de Carvalho Rispoli


Possui Doutorado (2014) em Engenharia de Sistemas Eletrônicos e Automação pela Universi-
dade de Brasília, com período sanduíche na University of Michigan (EUA). Graduação (2005)
e Mestrado (2007) em Matemática pela Universidade de Brasília. Tem experiência na área de
Matemática Aplicada, com ênfase em Equações Diferenciais, Métodos Numéricos e Otimiza-
ção. Atua na área da Engenharia Biomédica/Matemática Aplicada e é Professor Adjunto II de
Matemática Aplicada na Faculdade UnB Gama, Universidade de Brasília.
Para mais informações, acesse: <http://lattes.cnpq.br/1386396456867682>.

Dr. Ricardo Ramos Fragelli


Possui Doutorado em Ciências Mecânicas (2010) pela Universidade de Brasília (UnB), onde
também fez Mestrado (2003) e Graduação (2000) em Engenharia Mecânica. Professor Adjun-
to da UnB dos cursos de Engenharia da Faculdade UnB Gama e do Mestrado em Design do
Departamento de Design Industrial, onde orienta trabalhos na área de Design Educacional.
Desenvolve pesquisas em Sistemas Tutores Inteligentes e Adaptativos, técnicas, métodos e
tecnologias para Educação. Por meio de suas pesquisas, recebeu onze prêmios nacionais de
Instituições como MEC, MCT, CAPES, ABED, ABMES e Santander Universidades.
Para mais informações, acesse: <http://lattes.cnpq.br/6119310102978688>.

Dr. Ronni Geraldo Gomes de Amorim


Possui Pós-doutorado pela International Centre of Condensed Matter Physics of University
of Brasilia (2012), Doutorado em Física pela Universidade de Brasília (2009), Mestrado em
Física pela Universidade de Brasília (2006), Graduação em Física pela Universidade de Brasília
(2003) e Graduação em Matemática pela Universidade Católica de Brasília (1999). Atualmente
é Professor Adjunto da Universidade de Brasília.
Para mais informações, acesse: <http://lattes.cnpq.br/4086384842130773>.
Integrais Múltiplas
em Coordenadas
Cartesianas

13

Integrais Múltiplas
em Outros Sistemas
de Coordenadas

43

Aplicações das
Integrais Múltiplas

89
Equações
Integrais
Diferenciais
Curvilíneas
de Segunda Ordem

127 249

Integrais de Soluções em Séries


Superfície de Potências

175 289

Equações
Transformadas
Diferenciais de
Integrais
Primeira Ordem

209 339
30 Domínio de integração tridimensional

64 Cunha esférica

111 Gráfico da área de superfície

189 Gráfico da interseção entre as duas funções

Utilize o aplicativo
Unicesumar Experience
para visualizar a
Realidade Aumentada.
Dr. Vinicius de Carvalho Rispoli
Dr. Ricardo Ramos Fragelli
Dr. Ronni Geraldo Gomes de Amorim

Integrais Múltiplas em
Coordenadas Cartesianas

PLANO DE ESTUDOS

Integrais Triplas

Integrais Duplas

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Mostrar as integrais duplas e triplas a partir de suas Somas • Mostrar o Teorema de Fubini e como as integrais duplas
de Riemann. e triplas são calculadas.
• Exemplificar o cálculo dessas integrais.
Integrais
Duplas

Na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I, es-


tudamos as integrais. O estudo delas foi motivado
pela necessidade de encontrar a área de uma figura
geométrica como o círculo e também de regiões
definidas pelos gráficos de funções de uma variá-
vel. No entanto, e se quisermos calcular o volume
de uma figura no espaço? Uma pirâmide, um cone
ou uma esfera, por exemplo? Será que, de alguma
forma, o processo de integração definido na dis-
ciplina de Cálculo I pode ser estendido para um
contexto de mais de uma variável? A resposta é sim!
Nesta unidade, o nosso objetivo principal é
definir o processo de integração de múltiplas va-
riáveis. Começaremos, nesta seção, tratando de
funções z  f  x, y  de duas variáveis. Veremos
como podemos determinar as fórmulas de volu-
me já conhecidas das figuras geométricas citadas
anteriormente utilizando a ideia da integral em
mais de uma variável.
Antes de começarmos, vamos lembrar que já estudamos as funções de uma va-
riável, lembrando que as integrais eram definidas em intervalos da reta, desta forma
faz todo sentido que, ao integrarmos funções de duas variáveis, estaremos trabalhan-
do em regiões do espaço bidimensional 2 .
Vamos, inicialmente, assumir que a região em que desejamos calcular a integral
de uma função z  f  x, y  seja dada pelo retângulo

R   a , b    c, d  .

Iremos considerar, apenas por conveniência, que a função f  x, y  seja não negati-
va. Isso facilitará a compreensão da integral dupla de forma geométrica, mas lembre-
-se que essa não é uma hipótese necessária. A seguir, na Figura 1, vemos o gráfico da
função f  x, y  sobre o domínio retangular R .

c
a d
y
b
R
x

Figura 1 - Gráfico da função z  f  x, y  no domínio R   a, b    c, d 


Fonte: os autores.

O nosso objetivo, aqui, é encontrar o volume abaixo do gráfico desta função. Desta
forma, vamos proceder de forma análoga ao que aprendemos em Cálculo I. Lá, apro-
ximamos a área da figura geométrica por meio de áreas de retângulos. Sendo con-
sistente com a ideia já estudada, vamos, então, aproximar o volume desejado por
volumes de figuras geométricas mais simples, no caso paralelepípedos. Para isso,
vamos dividir o intervalo  a, b  em n subintervalos e o intervalo  c, d  em m subin-
tervalos. Isto irá dividir o domínio R em uma série de retângulos menores de di-
mensões  xi xi xi 1 e  y j y j y j 1. Além disso, em cada um desses retân-
gulos, escolheremos um ponto interior  xi , y j ,. como podemos observar na figura a
a seguir.

UNIDADE I 15
y
(x*i , yj*(
d = ym

yj

c = y0

x
a = x0 x1 xi xn-1 b=x n

Figura 2 - Discretização do domínio R a, b c, d


Fonte: os autores.

Agora, sobre cada um desses retângulos menores, iremos construir um paralelepípedo


cuja altura é dada por f  xi , y j  . Desta forma, teremos que o volume de interesse é
dado, aproximadamente, pela soma dos volumes de todos os paralelepípedos, como
podemos ver na Figura 3.

Figura 3 - Aproximação do volume desejado


Fonte: os autores.
Lembrando que volume do paralelepípedo é o produto entre a área da base pela
altura, então o volume de cada pequeno paralelepípedo é dado por
Vij f xi , y j  xi  y j f xi , y j  Aij ,

em que  Aij é a área do retângulo da base.

16 Integrais Múltiplas em Coordenadas Cartesianas


Temos, então, que o volume abaixo da superfície é dado, aproximadamente, pela
soma de todos os possíveis paralelepípedos que nos fornece a seguinte soma
n m
V f xi , y j Aij ,
i 1j 1

que é conhecida como Soma de Riemann da z f x, y relativa à partição do


intervalo a, b em n subintervalos e do intervalo c, d em m subintervalos.

Finalmente, para conseguirmos a melhor aproximação possível do volume, preci-


samos diminuir a área da base dos retângulos de forma que os paralelepípedos que
aproximam o volume sejam suficientemente finos e assim obtemos
n m
V  lim
n,m
 f  xi , y j  Aij
i 1 j 1

 f x, y dA,
R

que é a definição do volume abaixo do gráfico da função f  x, y  e também a inte-


gral dupla sobre o retângulo R.
Utilizar a definição pura e simples da integral, mesmo no Cálculo 1, para deter-
minar os volumes não é uma forma prática de usar essa ferramenta tão importante.
Desta forma, precisamos de uma maneira prática de calcularmos, de fato, as integrais
duplas. Para tal, utilizaremos o teorema de Fubini (ANTON, 2000).

1 TEOREMA Teorema de Fubini


Se f  x, y  é contínua no retângulo R   a, b    c, d  ,� então a integral dupla na
região R é calculada por meio das integrais iteradas

b d d b
∫∫ f x, y dA f x, y dy dx f x, y dx dy.
R a c c a

UNIDADE I 17
O que esse teorema nos diz é que, para calcularmos uma integral dupla, primeiro re-
solvemos uma integral com relação a uma das variáveis, considerando a outra variável
constante e, em seguida, calculamos a integral restante. Perceba que é um processo
semelhante ao cálculo das derivadas parciais, os quais, no caso, para derivarmos em
uma variável, considerávamos a outra como constante. Vamos, a seguir, conhecer
alguns exemplos para facilitar o entendimento.

1 EXEMPLO Para entendermos o uso do Teorema de Fubini, vamos começar com a seguinte
integral
 2 x xy dA,
R

em que R é o retângulo R  0, 2  1, 3 . Então, pelo teorema de Fubini, temos que
o cálculo do volume desejado é dado pela integral iterada que segue
23
2 x xy dA 2 x xy dydx.
R 01

Escolhemos, inicialmente, esta ordem de integração, pois, pelo teorema, não importa
se integramos primeiro em relação a x ou y . Integrando inicialmente em relação
a y, temos
23
2 x xy dA 2 x xy dydx
R 01
2 3
 xy 2 
   2 xy   dx
 2
0 1
2 2 2
x   3 x   1
  2 x   3   2 x   1   dx
0
2 2 


2
   4 x  4 x  dx
0

 0
2
 4 x2

= 16.

18 Integrais Múltiplas em Coordenadas Cartesianas


Podemos repetir esse exemplo invertendo a ordem de integração escolhida anterior-
mente. Temos que encontrar o mesmo resultado. De fato, temos
32
2 x xy dA 2 x xy dxdy
R 10
3 2
 x2 
  �  2  y    dy
 2 
1  0
3
 2   2  y  dy
1

3
 y2 
 22y  

 2 
1

 32 1
 26   2  

 2 2 

= 16.
Caso 1
y
Claro que nem sempre a nossa região de integração será retangular. Se desejamos
y = g2 ( x )
calcular, por exemplo, o volume de um cone ou esfera, então a região de integração
em ambos será circular. Desta forma, é de nosso interesse entender como calcular as
integrais duplas em regiões de integração que são mais gerais que apenas retângulos.
Em particular, existem dois tipos de regiões que iremos trabalhar na ymaior
= g1 ( xparte
) do
tempo. São regiões que podem ser definidas por meio de funções de uma variável,
x
como podemos ver nas figuras abaixo. a b

y Caso 2
Caso 1
y d
x = h2 (y)
y = g2 ( x )

y = g1 ( x )
x = h1 (y)
c
x
a b x

Figura 4 - Regiões
y de integração
Caso 2 não retangulares
Fonte: os autores.
d
x = h2 (y)

UNIDADE I 19
Utilizando a notação de conjuntos, podemos escrever as regiões mostradas como
Caso 1 e Caso 2 nas seguintes formas, respectivamente

D1   x, y  |a  x  b,� g1  x   y  g2  x 
e
D2 x, y |c y d , h1 y x h2 y

Em cada um dos casos, temos as seguintes integrais duplas


b g2 x

 f x, y d A f x , y dydx
D1 a g1 x

d h2 y

 f x , y dA
c
f x , y dxdy.
D2 h1 y

Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo.


Para acessar, use seu leitor de QR Code.

2 EXEMPLO Com a integral dupla, nós podemos também calcular a área de figuras planas. Vimos
que se f  x, y  é uma função não negativa, então a integral dupla dessa função em
um determinado domínio D , fornece o volume do sólido cuja base é a região no
plano xy D e delimitado pela função f  x, y  . No entanto, se essa função é unitá-
ria, então a integral dupla da função f  x, y   1 fornece a área da região D . A
partir deste exemplo, vamos calcular a área de uma região no plano. Defina a região
D como sendo a região acima do eixo x limitada à esquerda pela função
2
y   x  1

e à direita pela função


x  y  y3

20 Integrais Múltiplas em Coordenadas Cartesianas


Na Figura 5, podemos ver um exemplo da região que desejamos calcular a área.

1.0

0.8

0.6

y
0.4

0.2

0.0
-1.0 -0.5 -0.0 0.5
x

Figura 5 - Região acima do eixo x e entre as curvas � y   x  12 e x  y  y 3


Fonte: os autores.

3
Observe que não será possível escrever a curva à direita do gráfico, x  y  y , como
sendo uma função y  f  x  facilmente. Ela naturalmente viola a definição do que
é uma função. Desta forma, vamos calcular a área dessa região calculando, primeira-
mente, a integral na variável x e, em seguida, integrando em relação a y . Precisamos,
agora, encontrar a variação das variáveis x e y. Podemos verificar graficamente que
a variável y deve satisfazer a seguinte desigualdade
0 ≤ y ≤ 1.
2
Agora, para encontrar a variação em x, precisamos, inicialmente, escrever y   x  1
na forma x  g  y  . Neste caso, não será tão complicado, pois basta tirar a raiz
quadrada dos dois lados para obter
x   y 1.

Neste caso, escolhemos x  y 1 , a nossa função deve satisfazer x  0   1 e tam-


bém x 1  0, como é possível novamente vermos no gráfico da função. Portanto,
a variável x deve satisfazer a seguinte desigualdade

y  1  x  y  y3.

UNIDADE I 21
Finalmente, temos que a área da região é dada por
A 1 dA
D

1 y y3
dx dy
0 y 1

1
y  y3
   x dy
y 1
0
1

  y  y 3  y  1 dy 
0

3 1
 
y 2 4 
y 2y 2
    y
 2 4 3 
 0
1 1 2
   1
2 4 3
7
= .
12
2
Portanto, a área da região limitada pelo eixo x� e as curvas x  y  y e y   x  1 �
3

é A = 7 / 12.

3 EXEMPLO Considere a integral

  xy  4 y  dA,
3

3
em que D é a região limitada pelas curvas y = x e y = x . Para calcularmos a
integral, o nosso primeiro passo é determinar as desigualdades para x e y . Precisa-
mos encontrar a interseção entre as curvas. Para tal, temos
x = x3

 x    x3 
2 2


 x  x6
 x5  x  1  0.

22 Integrais Múltiplas em Coordenadas Cartesianas


Portanto, as curvas se intersectam nos pontos x = 0 e x = 1 .

1.0

0.8

0.6

0.4

0.2

0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

Figura 6 - Domínio de integração formado pelas curvas y = x e y = x3


Fonte: os autores.

Pelo esboço da região, podemos ver que as desigualdades são dadas por
0 ≤ x ≤1

x3 ≤ y ≤ x .

Agora, podemos calcular a integral que é dada por

1 x
xy 4 y 3 d A 3
x y 4 y dydx
3
D 0 x

1 x
 xy 2 
   y 4  dx
 2  3
0 x

1
 x2 x7 
      x12  dx
 2 2 
0 

1
 x3 x8 x13 
   
 6 16 13 
 0

95
 .
624

UNIDADE I 23
4 EXEMPLO Neste exemplo, vamos calcular um volume no caso em que o domínio é circular.
Vamos considerar para tal a função


z  1  x2  y 2 
que define um paraboloide e pode ser vista na figura abaixo.
1,0
y
0,5
0,0
-0,5
-1,0
1,0

0,5

-0,0

-0,5

-1,0
-1,0
-0,5
0,0
x 0,5
1,0

Figura 7 - Paraboloide
Fonte: os autores.

z  1  x2  y 2 
Nosso objetivo é determinar o volume entre o paraboloide e o plano xy . Neste caso,
temos que o domínio de integração é todo o interior do círculo de raio unitário
 
D   x, y  : x2  y 2  1 . Perceba que o círculo que delimita essa região corres-
ponde exatamente à interseção entre o paraboloide e o plano xy . Assim, temos que
o volume desejado é dado por
V  1 x2 y 2 dA
D
Precisamos, agora, reescrever as desigualdades que representam o domínio D para,
finalmente, calcularmos a integral. Nesse caso, temos que

x2  y 2  1   1  x2  y  1  x2 .

Além disso, fazendo y = 0 , podemos encontrar a variação do x que, nesse caso, nos dá
1  x  1.

24 Integrais Múltiplas em Coordenadas Cartesianas


Portanto, 1 x2
1
1 x2 y 2 dA 1 x2 y 2 dy dx
D 1
1 x2

Como a região é simétrica em ambas as variáveis x e y , então podemos reescrever


essa integral em uma forma mais simples usando apenas a parte do círculo no pri-
meiro quadrante, o que nos dá

1 1 x2
1 x2 y 2 dA 1 x2 y 2 dy
D 1
1 x2

1 1 x2
4 1 x2 y 2 dy dx.
0 0

Finalmente, podemos calcular a integral para obter

1 1 x2
1 x2 y 2 dA 4 1 x2 y 2 dy dx
D 0 0

1 1 x2
 2 y3 
 4  y  x y   dx
0
 3 
0

1 3
8
  1  x2
30
  2 dx.

Aparentemente “assustadora”, essa integral pode ser resolvida utilizando uma subs-
tituição trigonométrica. Podemos fazer x  sen  q  e então dx  cos  q  d q. Além
disso, se x  sen  q  então 1  x  cos  q  . Finalmente, quando x = 0 , temos que
2 2
p
q = 0 , pois sen  0   0 ; e quando x = 1, temos que θ = π / 2 , pois sen    1.
2

UNIDADE I 25
Assim, toda a integral pode ser reescrita como
1 3
2 2 8
1 x y dA 1 x2 2 dx
D 30

π
2 3
8

  1  sen2  θ 
30
 2 cos  θ  d θ

π
2
8
  cos 4  θ  d θ
30

π
8 3  4 � cos  2θ   cos  4θ 
2

3 0
 dθ
8

π
2
1
3  4 � cos  2θ   cos  4θ   d θ
3 0 


π
1 sen  4θ   2
  3θ  2 sen  2θ    �
3 4 0

p
= .
2

p
Portanto, o volume desejado é V = .
2

Neste tópico, vimos como determinar o volume abaixo do gráfico de uma função de
duas variáveis utilizando a integral dupla. Além disso, estudamos também como efe-
tivamente fazemos o cálculo dessas integrais. Na próxima aula, iremos estudar como
podemos calcular uma integral em domínios não mais planos e sim tridimensionais.

26 Integrais Múltiplas em Coordenadas Cartesianas


Integrais
Triplas

Agora que sabemos como integrar em uma região


bidimensional, vamos passar para integrais em
uma região tridimensional. Nós usamos uma inte-
gral dupla para calcular a integral de uma função
em uma região bidimensional e, por isso, não deve
ser muito surpreendente, porque iremos utilizar
a integral tripla para integrar funções definidas
em uma região tridimensional.
Para a integral dupla, a interpretação do cál-
culo do volume é natural, assim como na integral
simples era natural o cálculo da área abaixo do
gráfico da função. No entanto, apesar de para as
integrais triplas esse tipo de interpretação não ser
imediata, veremos nas próximas unidades que
existem várias possíveis interpretações físicas para
o uso da integral tripla.
A integral tripla, assim como a integral dupla
e a integral simples, pode ser vista como sendo
o limite das somas de Riemann de uma função
F  x, y, z , definida em uma região E do espaço.

UNIDADE I 27
z

( x k,kk ,zk (
D
∆ zk

∆y
k ∆x
k
x

y
Figura 8 - Domínio de integração tridimensional e elemento de volume
Fonte: os autores.

Isto é, dada a soma de todos os produtos entre a função F e os elementos de volume


Vk mostrados na Figura 8, temos
n
Sn F xk , yk , zk Vk ,
k 1

definimos a integral tripla como sendo o limite dos volumes tendendo a zero
n
I lim F xk , yk , zk Vk
n
k 1

  F  x, y, z � dV
E

A forma de se calcular uma integral tripla é semelhante das integrais duplas, isto é, por
meio de integrais iteradas dadas pelo teorema de Fubini. Neste caso, vamos começar
com nossos domínios de integração da forma mais simples possível, ou seja, quando
eles são na forma de uma caixa
B   a , b    c, d    r , s  .

Observe que, quando utilizamos essa notação, listamos primeiramente a variável x, em


seguida a variável y e, finalmente, a variável z. A integral tripla, neste caso, é escrita
como sendo uma integral iterada dada por
bd s
F x, y, z dV F x y, z dzdydx.
E acr

28 Integrais Múltiplas em Coordenadas Cartesianas


Observe que estamos integrando com relação a z primeiro, em seguida, y e x . No
entanto, quando temos um domínio em forma de um paralelepípedo, a ordem de
integração não importa, da mesma forma que era feito nas integrais duplas. Neste
caso, há seis diferentes ordens de integração possíveis de calcular a integral, e o leitor
pode escolher qualquer uma delas em que achar que facilitará os cálculos. Indepen-
dentemente da ordem de integração, chegaremos certamente ao mesmo resultado
para as seis possíveis integrais.

Vamos, agora, fazer um rápido exemplo deste tipo de integral.

5 EXEMPLO Considere a integral


 8xyz dV
B

cujo domínio é dado pelo paralelepípedo B  2, 3  1, 2  0, 1 . Apenas com o
objetivo de mostrar que a ordem de integração, neste caso, não é importante, vamos
utilizar uma ordem diferente da que foi escrita a integral acima. Faremos a integral
na ordem z → x → y , como podemos ver a seguir

231

 8 xyz � dV  8 xyzdzdxdy


E 120

23
 0 dxdy
1
  4xyz 2
12

23
  4xydxdy
12

2
 2 dy
3
  2x2 y
1

2
 10 ydy
1

= 15.

Esse exemplo é demasiadamente simples, mas antes de passar para as regiões mais
gerais, vamos dar uma interpretação geométrica importante sobre a integral tripla.

UNIDADE I 29
Quando a função dada é unitária, isto é, F  x, y, z   1 em todo o domínio E no
qual ela está definida, então o volume da região tridimensional E é dada pela integral

V   1dV ,
E

que é a mesma interpretação que obtivemos na primeira aula para as integrais duplas.
Vamos, agora, passar as regiões tridimensionais um pouco mais gerais que as caixas.
Temos três possibilidades diferentes para uma região em geral. Abaixo, mostramos
um esboço desta primeira possibilidade, no entanto, as demais possibilidades são
idênticas à menor da ordem das variáveis.

z
z=u2 (x,y)

z=u1 (x,y)

y
D
x
Figura 9 - Domínio de integração tridimensional dado
Domínio de integração tridimensional na forma E { x, y z x, y D, u1 x y z u2 x, y }
Fonte: os autores.

Neste caso, define-se a região de integração E como se segue

E { x, y z x, y D, u1 x y z u2 x, y },

em que  x, y   D � � representa que o ponto  x, y  situa-se na região D do plano xy.

Assim, podemos calcular a integral tripla da seguinte forma,

u2 x , y
f x, y, z dV ∫∫ f x, y, z dz dA.
E D u1 x , y

30 Integrais Múltiplas em Coordenadas Cartesianas


Observe que a integral dupla que surge pode ser calculada com qualquer uma das
técnicas estudadas nas aulas anteriores. Em outras palavras, podemos integrar pri-
meiro em relação à variável x , ou podemos integrar em primeiro lugar com relação
à variável y , ou também podemos usar coordenadas polares quando for necessário.

6 EXEMPLO Neste exemplo, vamos calcular a seguinte integral

  x  y  dV ,
E

em que a região E é definida abaixo do plano 2 x  3 y  z  6 que se encontra


no primeiro octante. Primeiro, temos que definir o que significa a palavra octante.
Assim como o sistema de coordenadas bidimensional é dividido em quatro partes
iguais, chamados de quadrantes, o sistema tridimensional é dividido em oito partes
denominadas de octantes. O primeiro octante é aquele em que as três coordenadas
são positivas. A seguir, temos um esboço do plano no primeiro octante.

z
6

0 y
2 3
0
1
2
3
4 x

Figura 10 - Parte do plano 2 x  3 y  z  6 no primeiro octante


Fonte: os autores.

Para calcularmos a integral, é necessário determinar a região D no plano xy . Uma


forma de olhar a região D é imaginar que se está olhando o objeto de cima para baixo.
O que veremos será a região D no plano xy . Uma forma mais analítica de determinar
a região D é fazer a componente z = 0 na equação do plano dada. Neste caso, temos

2x  3 y  z  6
 2x  3 y  6
2
 y  2  x.
3

UNIDADE I 31
Neste caso, a região D será o triângulo com vértices em  0, 0 ,  3, 0  e  0, 2 . Temos, a
seguir, um esboço da região.

2.0

1.5

1.0

0.5

0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0

Figura 11 - Região D de integração no plano


Fonte: os autores.

Agora, vamos encontrar os limites de integração. Uma vez que estamos na região
abaixo do plano 2 x  3 y  z  6 � e no primeiro octante (então estamos acima do
plano z = 0 ), temos os seguintes limites para z

0 z 6 2x 3 y

Para calcularmos a integral dupla que surge sobre o domínio D , podemos utilizar
qualquer um dos seguintes conjuntos de desigualdades

0≤ x≤ 3

2
0  y   x2
3

ou
3
0  x   y3
2

0 ≤ y ≤ 2.

32 Integrais Múltiplas em Coordenadas Cartesianas


É indiferente qual dos dois conjuntos de desigualdades iremos usar. Neste caso, uti-
lizaremos o primeiro. Finalmente, podemos calcular a integral, como
6 2x 3y
x y dV x y dz dA
E D 0

6 2x 3y
x y z dA
0
D

2
x 2
3 3
x y 6 2 x 3 y dydx
0 0

2
x 2
3 3
6 x 2 x2 6 y 5 xy 3 y 2 dydx
0 0

2
3  x 2
 5 xy 2  3
   6 xy  2 x2 y  3 y 2   y3  dx
 2 
0 0

3
 8 x2 14 x3 
   4  2x    dx
 3 27
0 
3
 8 x3 7 x 4 
  4 x  x2   

 9 54 
0

15
 .
2
Vamos repetir os nossos cálculos para mostrar que, na verdade, é indiferente a escolha
da desigualdade. Assim,
6 2x 3y
x y dV  x y dz dA
E D 0

6 2x 3y
 x y z
0
dA
D

3
y 3
2 2
6 x 2 x2 6 y 5 xy 3 y 2 dxdy
0 0

UNIDADE I 33
3
2  y 3
 2 2 3 5 x2 y  2
   3 x  x  6 xy   3 y2 x  dy
 3 2 
0 0

2
 9 y 9 y2 9 y3 
 9     dy
 2 4 8
0  

2
 9 y2 3 y3 9 y 4 
 9y    

 4 4 32 
0

15
= .
2

7 EXEMPLO Finalmente, neste exemplo, vamos determinar o volume de uma região no espaço
usando a integral tripla. Vamos considerar a região E que é limitada pelos paraboloi-
2 2 2 2
des y  x  z e y  8  x  z . Neste caso, para calcularmos o volume; precisamos
determinar a integral da função unitária F  x, y, z   1. Observe que ambos os para-
boloides estão centrados na origem, mas eles têm como base o plano xz . Precisamos,
então, determinar o domínio plano no qual a nossa integral será calculada. Assim,
para encontrarmos a região no plano, é necessário encontrar a interseção entre os
paraboloides dados, isto é,

x 2  z 2  8  x 2  z 2  x 2  z 2  4.

Portanto, a região que precisamos calcular o volume é dada por

E x, y , z x2 z2 4 x2 z2 y 8 x2 z2

Finalmente, temos que o volume é dado por

V   1dV
E
8 x2 z 2
 2
dy dA
x 2
z 2
4 x z2

8 x2 z 2
 2 2
y x2 z 2
dA
x z 4

 8 2 x2 2 z 2 dA.
x2 z 2 4

34 Integrais Múltiplas em Coordenadas Cartesianas


Observe que essa integral é muito semelhante à integral que resolvemos no último
exemplo da aula anterior. Aqui, não apenas existe a mesma simetria que existia lá, afinal,
estamos calculando uma integral dupla de um parabolóide dentro de um círculo de
raio 2, como também a mudança de variáveis que iremos utilizar para resolver essa
integral é a mesma que utilizamos lá. Desta forma, considerando que o procedimento
é análogo, vamos pular alguns passos no processo de solução. Temos, finalmente, que

V  8 2 x2 2 z 2 dA
x2 z 2 4

2 4 x2

4 8 2 x2 2 z 2 dzdx
0 0

2 3
16
  4  x2
3 0
  2 dx

= 16p.

Nesta unidade, estudamos as integrais duplas e triplas em coordenadas Cartesianas.


Vimos que, na prática, o cálculo das integrais é feito por meio das integrais itera-
das, dadas pelo teorema de Fubini. Nas próximas unidades, iremos verificar como
podemos facilitar o cálculo dessas integrais quando os domínios satisfazem alguns
formatos específicos.

UNIDADE I 35
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

x2
1
2 4
x dydx.
1. Calcule a integral dupla no domínio elíptico a seguir
2 0

1 2 1 x2
2. A integral dydx representa a área entre a parábola 1 − x2 e a reta
1 2 2x

−2x.� Calcule essa área.

3. Determine o volume da cunha limitada pelo cilindro x2  y 2  1 , pelo plano


z   y e z = 0.

2 y2 lnx
4. Calcule a integral
   ye z dzdxdy.
1 y 0

5. Determine o volume da região no primeiro octante limitada pelos planos coor-


denados, pelo plano y = x e pela superfície z  sen  p x  , com 0 ≤ x ≤ 1.
 
 2 

36
WEB

Os limites de integração nas integrais duplas são uma das principais dificuldades
do processo de integração. Por isso, vale a pena assistir a seguinte aula.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

WEB

Exemplos nunca são demais! Assista esta videoaula para mais exemplos sobre
integrais duplas em regiões não retangulares.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

37
ANTON, H. Cálculo: Um novo horizonte. Porto Alegre: Bookman, 2000.Volume 2.

STEWART, J. Cálculo. 6. ed. São Paulo: Pioneira /Thomson Learning, 2011. Volume 2.

38
1. Integrando inicialmente com relação à variável y, temos

x2
1 x2
2 4 2 1
x dydx xy 4 dx
0
2 0 2

2
x2
  x 1 4
dx.
2
2
Fazendo agora uma substituição u 1 x2 / 4, temos que 2du  xdx . Além disso, u  2   1   2  / 4  0 e
2 0
2 x2
u  2   1   2  / 4  0. Logo,  x 1 dx    2 udu = 0.
2
4 0

2. Integrando inicialmente com relação à variável y , temos


1 2 1 x2 1 2
dydx 1 2 x x2 dx
1 2 2x 1 2

8
= 2.
3
3. O volume da região é dado pela integral

1 0 y
Volume dzdydx
1 0
1 x2

1

1
2 1

1  x2 dx 
2
 .
3

39
4. Temos que

2
2 y2 lnx 2 y
z
ye dzdxdy yx y dxdy
1 y 0 1 y

2 y2
 yx2 
   xy  dy
 2 
1 y

47
 .
24

5. O volume da região é dado pela integral

πx
1 x sen
2
Volume dzdydx
0 0 0

1 x
πx
sen dydx
0 0
2

1
 px 
 xsen   dx
0  2 
1
πx πx
2 π x os 4 sen
2 2
π2
0

4
 .
π2

40
41
42
Dr. Vinicius de Carvalho Rispoli
Dr. Ricardo Ramos Fragelli
Dr. Ronni Geraldo Gomes de Amorim

Integrais Múltiplas
em Outros Sistemas
de Coordenadas

PLANO DE ESTUDOS

Integrais Triplas em Mudança de


Coordenadas Cilíndricas Variáveis

Integrais Duplas em Integrais Triplas


Coordenadas Polares em Coordenadas Esféricas

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Estudar como aplicar as coordenadas polares para o cál- • Estudar como aplicar as coordenadas esféricas para o
culo de integrais duplas. cálculo de integrais duplas.
• Estudar como aplicar as coordenadas cilíndricas para o • Estudar o teorema de mudança de variáveis e aplicá-lo
cálculo de integrais triplas. para converter integrais duplas e triplas para quaisquer
sistema de coordenadas.
Integrais Duplas em
Coordenadas Polares

Até este ponto, estudamos algumas integrais du-


plas e, em todos os casos que vimos, a região D
poderia ser facilmente descrita em termos de fun-
ções simples em coordenadas Cartesianas. No
entanto, em vários casos, trabalhar com a região
dada no problema pode ser muito complicado ou
até impossível. Neste contexto, surgem as mudan-
ças de variáveis. Elas são ferramentas que nos
ajudam a reescrever um determinado domínio de
integração e, consequentemente, uma integral, em
uma forma mais simples de lidar. Este é o tópico
desta primeira seção e também desta unidade
como um todo. Veremos como lidar com integrais
duplas e triplas em alguns sistemas diferentes de
coordenadas e veremos exemplos de como as coi-
sas podem simplificar quando se olha o problema
sobre a ótica oportuna.
Começaremos o nosso estudo de mudança de variáveis lidando com as coor-
denadas polares. Observe que, quando a região em questão é, de alguma forma,
circular como um disco, ou um anel, ou uma parte de um disco ou anel, a utilização
das coordenadas cartesianas pode ser, em alguns casos, um pouco complicada. Por
exemplo, suponha que se deseje calcular uma integral como esta:

∫∫D ( x, y ) dA,
em que o domínio D é um círculo de raio 1. Para isso, temos de determinar um
conjunto de desigualdades para x e y que descrevem esta região. Neste caso, as
variações para x e y seriam facilmente escritas e dadas por

1  x  1

 1  x2  y  1  x2 .

Com estes limites descritos. Podemos reescrever a integral desejada na forma iterada
para obter
1 1− x2
∫ ∫D ( x, y ) dA = ∫−1 ∫− 1− x2
f ( x, y ) dydx

Considere, apenas por simplificado, que a função dada fosse unitária, isto é, f  x, y   1
dentro do círculo. Apesar dessa função ser super simples, essa integral seria bem tra-
balhosa de se calcular, pois

1 1 x2 1
1  f  x, y  dydx   2 1  x2 dx.
1 x2 1

Lembre-se que essa integral possui primitiva e que podemos encontrá-la usando o
método da substituição trigonométrica. Apesar de não ser nenhuma tarefa de outro
mundo, isso ainda nos daria algum trabalho para encontrar o valor dessa integral.
Por outro lado, o domínio limitado por um círculo de raio unitário tem equação
dada por
x 2  y 2  1.

Se considerarmos que as variáveis x  x  r ,q  e y  y  r ,q  são funções de r e q


na forma
x  r , q   r cos q

y ( r θ ) = r sen θ ,

UNIDADE II 45
então a região dada pelo círculo unitário pode ser descrita facilmente nesse novo
sistema de coordenadas usando as seguintes desigualdades

0 ≤ θ ≤ 2π
0 ≤ r ≤ 1.
Para verificar esse fato, basta observar que, substituindo x e y na equação � x2  y 2  1, as
desigualdades serão facilmente satisfeitas. Claro que esses novos limites de integração
são bem mais simples que os originais. Além disso, são constantes, o que normalmente
facilita bastante o processo de integração.
Se pudermos, então, transformar a nossa integral dupla em coordenadas Car-
tesianas em alguma forma que envolva as coordenadas polares, é possível que a
nova integral possa ser bem mais simples de se trabalhar, o que é obviamente muito
benéfico para nós.
Considerando que a transformação para coordenadas polares é dada pelas equações
x = rcosθ y = rsenθ,

podemos reescrever uma função z  f  x, y  para coordenadas cartesianas simples-


mente substituindo as novas variáveis para obter

z  f  rcosq , rsenq  .

Observe que, ao calcularmos as integrais duplas em coordenadas Cartesianas, até este


momento, estamos utilizando o fato que um elemento de área é dado por dA = dxdy.
O nosso maior problema é que não podemos simplesmente converter os infinitesimais
dx e dy em um dr e um dq . Uma vez que passamos para o mundo polar o nosso
elemento de área dA , na verdade, é dA ≠ drdθ . Desta forma, é necessário determinar-
mos como é o elemento de área quando passamos para as coordenadas polares, caso
contrário, não podemos reescrever a integral dada nas novas variáveis.
Considere a figura a seguir que traz um esboço de uma região no plano em coor-
denadas polares.

46 Integrais Múltiplas em Outros Sistemas de Coordenadas


θ=β

r = h2 ( θ )

r = h1 ( θ ) θ=α

Figura 1 - Região em coordenadas polares


Fonte: os autores.

A nossa região é definida pelas seguintes desigualdades

α≤θ ≤β

h1  q   r  h2  q  .

Agora, com o objetivo de encontrarmos o elemento de área desejado dA, vamos criar
uma malha dentro desta região polar como mostrada na figura a seguir.

r0Δθ

r1Δθ

Δr

Figura 2 - Malha dentro da região em coordenadas polares


Fonte: os autores.

Estamos, neste caso, dividindo a região em uma malha de linhas radiais e arcos.
Olhando para apenas uma peça da malha, como mostrado na figura, temos uma
região que se assemelha com um retângulo, mas que ainda assim não é um.

UNIDADE II 47
Considere que a área desta pequena região seja ∆ A . Essa região tem comprimento
dado por r  r0  ri , em que ro é o raio do arco exterior e ri é o raio do arco interno.
Da geometria básica, temos que o comprimento da aresta interior é ri ∆θ enquanto
o comprimento do arco de fora é r0 ∆θ , considerando ∆θ como sendo o ângulo
entre as duas linhas radiais que formam os lados dessa região. Agora, suponha que a
malha seja tão pequena que podemos supor que ri  r0  r . Neste caso, esta hipótese
é suficiente para dizer que a área então desejada é dada, aproximadamente, pela área
de um retângulo. A nossa pequena área de interesse é dada por

A  r q r.

Finalmente, supondo que a malha seja fina o suficiente, temos que

dA A dθ θ dr r
Assim, temos que o elemento de área procurado para as coordenadas polares pode
ser escrito como
dA = rdrd q.

Considerando, então, as fórmulas de conversão para coordenadas polares

x  rcosq ,� � y  rsen,q � � r 2  x2  y� 2 ,

podemos reescrever a integral Cartesiana nas novas coordenadas, para uma região
qualquer D no plano, como sendo
β h2 ( θ )
∫∫D f ( x, y ) dA = ∫ ∫h (θ ) rf ( rcosθ, rsenθ ) drd θ.
α 1

É importante observar que não se deve esquecer que o elemento de área em coorde-
nadas polares leva um r , multiplicando os infinitesimais drdq . Desta forma, sempre
que fizer a mudança, não se esqueça do r .

1 EXEMPLO Neste exemplo, vamos determinar o valor da integral a seguir, convertendo-a em


coordenadas polares
D xy dA
em que a região D corresponde à região entre os círculos de raio 1 e raio de 2 cen-
trados na origem no primeiro quadrante, como podemos ver na Figura 3.

48 Integrais Múltiplas em Outros Sistemas de Coordenadas


2.0

1.5

1.0

y
0.5

0.0
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0
x

Figura 3 - Região de integração D


Fonte: os autores.

A utilização das coordenadas polares, neste caso, faz-se interessante, pois em coor-
denadas Cartesianas a mesma integral é escrita como

1 4 x2 2 4 x2
xy dA xydydx xydydx
D 0 1 x2 1 0

Apesar de ser possível calcular essas integrais, o trabalho para fazer essa tarefa não
será pequeno.
Primeiro, vamos reescrever a região D em termos das coordenadas polares. O
círculo de raio 1 é dado pela equação em coordenadas polares r�� =1 e o círculo de
raio 2 é dado por r�� =2 . Queremos calcular a integral na região entre os dois círculos,
desta forma, temos que a variação da variável r é dada por

1 ≤ r ≤ 2.

Além disso, uma vez que a região está no primeiro quadrante, então q varia conforme
π
0≤ θ ≤ .
2

Agora, podemos reescrever a integral em termos das coordenadas polares que é dada por
π
2
xy dA 2 rcosθ rsen θ rdrd θ
D 0 1

UNIDADE II 49
Não podemos nos esquecer de fazer a multiplicação da função por um r extra.
Finalmente, podemos simplificar o integrando utilizando a fórmula do arco duplo
para o seno,
sen  2q   2 senqcosq ,

temos que a integral é dada por


π
1 2 3
D xy � dA  2 02 1 r sen  2θ  drd θ

π 2
1 4 
  8 r sen  2θ   d θ
2
0
1

π
15
  2 sen  2θ  d θ
8 0
π
15   cos  2θ  2
  
8 2 0
15
= .
8

2 EXEMPLO Considere a seguinte integral

x2  y 2
D e dA

em que D é o círculo unitário centrado na origem, isto é, D   x, y  : x2  y2  1 . Neste


2 2
caso, não é possível determinar uma primitiva para a função f  x, y   e x  y em coor-
denadas Cartesianas para nenhuma das variáveis x ou y , pois, caso fosse possível,
deveríamos encontrar uma função tal que

dF  z  2
 ez .
dz
No entanto, como o domínio, nesse caso, é circular, podemos utilizar a transformação
por coordenadas polares e, enfim, será possível determinar o valor desta integral.
Em primeiro lugar, a região D, sendo um círculo unitário, é dada em coordenadas
polares pelas seguintes desigualdades
0 ≤ θ ≤ 2π
0 ≤ r ≤ 1.

50 Integrais Múltiplas em Outros Sistemas de Coordenadas


Em termos de coordenadas polares, a integral pode ser reescrita e calculada como
x2  y 2 2π 1 r 2 cos2 θ  r 2 sen2θ
D e dA  
0 0 re drd θ

2π 1 2
 0 rer drd θ
0

2π 1 1 u
e dud θ faze u r2
0 0 2
1
2π  1 u 
 e dθ
0  2  0
2π 1
  e  1 dθ
0 2
 p  e  1 .

Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo.


Para acessar, use seu leitor de QR Code.

1
3 EXEMPLO Sabemos da geometria espacial que o volume de um cone é dado por do produto
3
entre a área da base do cone e sua altura. Isto é, o volume é dado por

1
V Abase  h.
3

Se o cone tem a base dada por um círculo de raio r , então a fórmula do volume é
dada por
pr 2 h
V= .
3

UNIDADE II 51
Nosso objetivo, aqui, é provar essa fórmula usando as integrais duplas. Para tal,
precisamos de uma função que define o cone. Entretanto, lembre-se que estudamos
essa função na Unidade 7 do Cálculo 1. A equação geral do cone circular é dada por


z 2  k x2  y 2 
que pode ser vista na próxima figura.

y -4
-2
0
2
4 4

0 z

-2

-4
2 4
-2 0
-4 x

Figura 4 - Cone z
Fonte: os autores.
2
 
 k x2  y 2 com k = 1

Tirando a raiz quadrada dos dois lados, podemos escolher a parte positiva para re-
presentar a parte superior do cone mostrado na figura anterior. Além disso, esco-
lhendo a raiz quadrada da constante para ser h , temos que a função
k=
r
h 2
z x  y2
r

nos dá a parte superior do cone com altura h e raio r . Perceba que se calcularmos a

integral desta função dentro do domínio D   x, y  : x2  y 2  r 2 , teremos exata- 
mente o volume da região abaixo do cone. Isto é, se queremos exatamente o volume
do cone, temos que perceber que ele será dado pela diferença entre o volume do
cilindro circular que o contém e a integral citada, logo

52 Integrais Múltiplas em Outros Sistemas de Coordenadas


h
Vcone πr 2 h  r x2 y 2 dA
D

Precisamos, agora, reescrever as desigualdades que representam o domínio D para


finalmente calcularmos a integral. Nesse caso, temos que

x2  y 2  r 2   r 2  x2  y  r 2  x2 .

Além disso, fazendo y = 0, podemos encontrar a variação do x que, nesse caso, nos dá

r  x  r.

Portanto,
h 2 r r 2 x2 h 2
x y 2 dA x y 2 dy dx .
Dr r r 2 x2 r

Como a região é simétrica em ambas as variáveis x e y , então podemos reescrever


essa integral em uma forma mais simples dada por

h 2 2 r r 2 − x2 h 2
∫∫D r x + y dA = ∫−r ∫− 2 2 x + y 2 dy dx
r −x r

4h r r 2 − x2
x2 + y 2 dy dx. .
r ∫0 ∫0
=

A primitiva desta função, com relação às variáveis x ou y , é bem trabalhosa e é uma


ótima sugestão para ser calculada como exercício. Neste caso, é muito mais convenien-
te trabalhar com essa integral fazendo a mudança para coordenadas polares. Como
o domínio agora foi restringido a apenas a parte do círculo no primeiro quadrante,
então nas coordenadas polares

x  ρcos  θ 

y  ρ sen  θ 

temos que
π
0≤ θ ≤
2

0 ≤ ρ ≤ r.

UNIDADE II 53
Além disso, temos também que em coordenadas po-
lares

x2  y 2  ρ 2 cos2 θ  ρ 2 sen2θ  ρ.

Portanto, temos

π
h 2 2 4h r 2
D r x  y � dA  r 02 
0
ρ drd θ

4h p r 3
  
r 2 3

2phr 3
= .
3

Finalmente, temos que o volume do cone é dado por

2 2phr 3
Vcone  pr h 
3

πr 2 h ,
=
3
que é a fórmula que aprendemos lá no ensino médio!
Concluímos que as coordenadas polares podem
ser aplicadas a uma integral dupla sempre que o do-
mínio tiver uma forma circular ou anelar. Neste caso,
a transformação permite reescrever as integrais de
uma forma bem mais simples e até pode permitir
calcular integrais que não seriam possíveis utilizando
outros métodos.

54 Integrais Múltiplas em Outros Sistemas de Coordenadas


Integrais Triplas em
Coordenadas Cilíndricas

Neste tópico, vamos trabalhar com integrais tri-


plas calculadas em coordenadas cilíndricas. As
coordenadas cilíndricas são nada mais que uma
extensão das coordenadas polares, estudadas na
seção anterior, no espaço tridimensional. Assim
como as coordenadas polares permitiam escrever
regiões circulares de forma mais simples no pla-
no, as coordenadas cilíndricas irão nos permitir
escrever regiões cilíndricas de forma mais simples
no espaço. Neste caso, as fórmulas da transforma-
ção para coordenadas cilíndricas são dadas por

x  rcosθ y  rsenθ z  z
Para podermos calcular a integral em coorde-
nadas cilíndricas, é necessário saber como fica o
elemento de volume dV em termos das novas
coordenadas, assim como fizemos para o caso das
coordenadas polares. Nas aulas a seguir, seremos
capazes de mostrar, sem grandes dificuldades, que
o elemento de volume em coordenadas cilíndricas
é dado por
dV = rdzdrd q,

UNIDADE II 55
no entanto, ele nada mais é que o produto do elemento de área em coordenadas
polares e o dz (volume nada mais é que o produto entre a área da base e a altura,
como podemos ver na Figura 5).

r ∆r ∆θ
r ∆θ

∆Z

∆θ

r
∆r

Figura 5 - Elemento de volume em coordenadas cilíndricas


Fonte: os autores.
Neste caso, uma região E no espaço sobre a qual estamos calculando a nossa integral
se torna em coordenadas cilíndricas na forma

E   x, y, z  |  x, y   D,� u1 , x y   z  u2  x, y 

r , θ, z | α θ β h1 θ r h2 θ u1 rcosθ rsenθ z u2 rcosθ, rsenθ .

Note que estamos descrevendo a nova região em coordenadas cilíndricas consi-


derando o conjunto D no plano xy . Contudo, podemos modificar este conjunto
facilmente quando o conjunto D está em algum dos planos xz ou yz .
Em termos das coordenadas cilíndricas, a integral tripla em coordenadas carte-
sianas é reescrita como

β h2  θ  u2  rcosθ ,rsenθ 
D f  x, y, z  dV  α h θ  u  rcosθ,rsenθ  rf  rcosθ, rsenθ, z  dzdrd θ.
1 1

D f  x, y, z  dV
É importante não se esquecer de fazer o produto da função com as novas coordena-
das por r na integral. Além disso, é bom sempre se certificar que todas as variáveis
x e y também foram colocados nas coordenadas cilíndricas.

56 Integrais Múltiplas em Outros Sistemas de Coordenadas


4 EXEMPLO Neste primeiro exemplo, vamos determinar o valor da integral ∫∫∫ ydV , em que E
E
é a região no espaço que se situa abaixo do plano z  2 x  1 , acima do plano xy e
entre os cilindros dados pelas equações x2  y 2  1 e x2  y 2  4. Neste exemplo, não
há muito o que fazer além de converter diretamente a região E e calcular a integral.
Vamos começar obtendo o intervalo de variação da variável z em termos das novas
coordenadas, temos então

0 z 2x 1 0 z 2rcosθ 1 .

Lembre-se que a região está acima do plano xy e, portanto, a variável z deve estar
acima do plano z = 0,� consequentemente z ≥ 0 .
Em seguida, a região D no plano é dada pela região entre os dois círculos
x  y 2  1 e x2  y 2  4 no plano xy , como podemos ver na Figura 6.
2

0
y

-1

-2
-2 -1 0 1 2
x

Figura 6 - Anel que forma a região D no plano


Fonte: os autores.

 
Neste caso, como D   x, y  :1  x2  y 2  4 , então podemos facilmente escrever
as variações do ângulo e da distância em coordenadas cilíndricas que são dadas por

0 ≤ θ ≤ 2π 1 ≤ r ≤ 2

UNIDADE II 57
Finalmente, podemos reescrever a integral em termos das novas coordenadas e assim
2π 2 2 rcosθ −1
∫∫∫E y dV = ∫
0 ∫1 ∫0 ( rsenθ ) rdzdrd θ
2π 2 2
 1 r senθ �  2rcosθ  1 drd θ
0

2π 2
 1 r
3
sen  2θ   r 2 senθ  drd θ
0 

2
2π  1 4 1

0 
r sen  2θ   r 3 senθ  d θ
2 3 1

2 π  15 7 
  2 sen  2θ   senθ  d θ
0 3 

 15 7 
   cos  2θ   cosθ 
 2 3 0

= 0.

5 EXEMPLO Considere, agora, a integral tripla a ser calculada

2 4 y2 x2 y 2
xy dzdxdy
2 4 y2 x2 y 2

Primeiramente, vamos analisar a região de integração dada. Em seguida, vamos


reescrevê-la em coordenadas cilíndricas, o que certamente nos dará uma região
transformada bem mais conveniente para efetuar o cálculo da integral. Observe que
os intervalos de integração em variáveis Cartesianas são dados por

2 ��  y ��  2

 4  � y� 2  �� x  � 4�  y 2

x2 y2 z x2 y2

58 Integrais Múltiplas em Outros Sistemas de Coordenadas


As duas primeiras desigualdades definem a região D no plano xy , que nada mais
é que um círculo de raio 2. Note que da segunda desigualdade

x ��  4  � y 2

podemos, elevando os dois lados ao quadrado, chegar que

x 2  y 2  4.

Desta forma, a região no plano é a parte interna de um círculo de raio 2. Logo, faz-se
conveniente utilizar a mudança para coordenadas cilíndricas e, nesse caso, a região
D fornece as seguintes desigualdades em coordenadas cilíndricas

0 ≤ θ ≤ 2π

0 ≤ r ≤ 2.

Tudo o que resta fazer agora é converter os limites da variável z, mas isso não é di-
fícil, pois

x2  y 2  �� z  � x2  y 2

2 2
  rcosq    rsenq   �� z  �  rcosq 2   rsenq 2

r2 z r.

Vale observar que o limite inferior aqui é um paraboloide e o limite superior é um


cone. Portanto, a região E que está sendo trabalhada é a porção da região entre estas
duas superfícies.

UNIDADE II 59
Finalmente, temos que a integral Cartesiana escrita em coordenadas cilíndricas
toma a forma

2 4 y2 x2  y 2 2π 2r 2 r
2  4 y 2 x  y
2 2 xy � dzdxdy  
0 0 0 r r  rcosθ   rsenθ  dzdrd θ
2

2π 2 rr3

0 0 r2 2 sen  2θ  dzdrd θ
1 2π 2
0  z  r r sen  2θ  drd θ
r 3
2 0
 2

0  r 
1 2π 2 4
 r 5 sen  2θ  drd θ
2 0


2
1 2π  r 5 r 6 
     sen  2θ  d θ
2 0  5 6 
0

6  25  5  26 2π
 0 sen  2θ  d θ
60

 32 
  cos  2θ  
 15 0

= 0.

Neste tópico, estudamos as coordenadas cilíndricas e pudemos observar como ela


é, de fato, uma extensão natural das coordenadas polares para domínios tridimen-
sionais. Veremos nas próximas seções desta unidade como realizar outros tipos de
transformações convenientes para domínios tridimensionais e também como fazer
a sua própria transformação para casos bem específicos.

60 Integrais Múltiplas em Outros Sistemas de Coordenadas


Integrais Triplas em
Coordenadas Esféricas

Para entendermos melhor o que são as coorde-


nadas esféricas, vamos começar escrevendo um
domínio E esférico, que é limitado por uma es-
fera de raio r centrada na origem. Isto é, essa
região é definida pela desigualdade

x2  y 2  z 2  r 2 .

Como, de certa forma, essa figura tem uma base


circular, basta fazer z = 0 , podemos aplicar nela
as coordenadas cilíndricas para obter o seguinte
conjunto de desigualdades
0 ≤ θ ≤ 2π
0≤ r ≤ ρ

 r2  r 2  z  r2  r 2 .

Você deve estar pensando agora que utilizar essa


transformação é bem conveniente e que não tem
nada demais em usá-la, afinal ela facilita, em mui-
to, a escrita da região de integração. Se você pensou
isso, você está totalmente correto! Perceba que,
nessa nova configuração, o domínio no plano qr

UNIDADE II 61
é um domínio retangular, enquanto em z temos apenas essas raízes quadradas um
pouco incômodas, mas que somos totalmente capazes de lidar com elas.
Apesar de que reescrever o domínio em coordenadas cilíndricas já melhora em
lidar com um domínio esférico, fica a seguinte dúvida no ar: será que não tem uma
transformação da esfera que a transforma em um domínio totalmente retangular,
como as coordenadas polares fazem com o círculo? A resposta é: sim, há! O nome
dessa transformação é utilizando o sistema de coordenadas esféricas. Por meio delas,
poderemos reescrever um domínio esférico em um domínio totalmente retangular,
o que nos leva a dizer que as coordenadas esféricas são o equivalente tridimensional
das coordenadas polares.
Agora, precisamos definir como funciona esse novo sistema de coordenadas. Para
tal, vamos utilizar a Figura 7 como referência. Nela podemos ver a relação entre o sis-
tema de coordenadas Cartesianas e o sistema de coordenadas esféricas que desejamos
construir. Além disso, como já havíamos observado anteriormente, as coordenadas
esféricas se assemelham com as coordenadas polares no sentido de que iremos repre-
sentar um ponto no espaço Cartesiano por meio de ângulos e distância até a origem.

( x, y, z ) = ( ρ, θ, φ )

ρ
φ

y
θ r

Figura 7 - Sistema de coordenadas esféricas


Fonte: os autores.

62 Integrais Múltiplas em Outros Sistemas de Coordenadas


Por meio apenas das relações básicas da trigonometria, podemos verificar que um
ponto  x, y, z  no espaço e em coordenadas Cartesianas pode ser reescrito utilizando
uma distância r e os dois ângulos distintos q e j por meio das seguintes relações:

x = ρcosθ senϕ

y = ρ senθ senϕ

z = ρcosϕ

x2  y 2  z 2  r 2 .

Assim como nas coordenadas polares, temos também algumas restrições sobre as
novas coordenadas. Por exemplo, a distância r deve ser sempre positiva e os ângulos
j e q devem satisfazer no máximo as seguintes variações

ρ ≥ 0 0 ≤ ϕ ≤ π 0 ≤ θ ≤ 2π .

Observe que essas variações angulares fazem sentido, pois o ângulo q varia no pla-
no, logo tem que dar uma volta completa. No entanto, o ângulo j não precisa dar
uma volta completa, caso contrário a parametrização que escolhemos daria duas
voltas para cobrir toda a esfera (consegue enxergar isso?). Portanto, esse ângulo só
pode variar até p.
Para facilitar o entendimento e visualização das desigualdades, vamos considerar
a seguinte região E dada por uma cunha esférica. Neste caso, as variações de ângu-
lo e distância são dadas por
a≤ρ≤b
α≤ θ≤ β

δ≤ϕ≤ γ

Na Figura 8, temos um esboço de uma cunha esférica em que o limite inferior para
ambas as variáveis r e j são nulas, isto é, a = 0 e d = 0 nas equações anteriores.
Apesar de estarmos fazendo essa escolha apenas para efeitos de referência, veremos
que boa parte das regiões de integração esféricas que iremos trabalhar se encaixará
neste modelo.

UNIDADE II 63
z

x
Figura 8 - Cunha esférica
Cunha esférica
Fonte: os autores.

Perceba que essa região E nada mais é que a interseção entre uma esfera e um cone.
Assim como mostramos que o elemento de área em coordenadas polares era dado
por dA = rdrd q através da análise de um pequeno elemento de área de um setor
circular, precisamos fazer análise similar também com o novo sistema de coordenadas
esféricas. Veremos que, em coordenadas esféricas, também temos que o elemento
de volume deve satisfazer uma determinada relação nas novas variáveis, neste caso,
diferente daquela obtida para coordenadas polares. Para encontrarmos o elemento
de volume no novo sistema de coordenadas, precisaremos analisar o volume de uma
cunha esférica como mostrado na Figura 9.

z
ρ sin ϕ
ρ ∆ϕ ρ sin ϕ ∆ θ


ρ
y
∆ρ
θ
x θ+ ∆

Figura 9 - Elemento de volume em coordenadas esféricas


Fonte: os autores.

64 Integrais Múltiplas em Outros Sistemas de Coordenadas


Com bastante esforço, é possível verificar geometricamente que o volume da cunha
esférica observada em destaque na Figura 9 é dado por

V  ρ 2 sen ϕ  ρϕθ.

Logo, fazendo o limite para as variações dos ângulos e distância irem a zero, temos
que o elemento de volume em coordenadas esféricas tem que ser dado por

dV  ρ 2 sen ϕ  d ρ d ϕd θ.

Finalmente, dada uma integral tripla de uma função contínua f  x, y, z  em uma


região no espaço E , então em coordenadas esféricas a integral em coordenadas
Cartesianas é reescrita como
β y b 2
∫∫∫ f ( x, y, z ) dV = ∫ ∫ ∫ ρ senϕ f ( ρcosθsen ϕ , senθsenϕ ρcosϕ ) d ρdϕ dθ,
E α δ a

observando que a, b, α,� β ,� γ ,� δ não são, necessariamente, constantes.

É possível definir o ânguloϕ de forma diferente. Em alguns casos, é possível en-


contrar na literatura ϕ como sendo definido entre as retas de comprimento ρ e r,
na Figura 7. Essa outra forma leva a diferentes equações para as coordenadas
esféricas e consequentemente uma integral transformada diferente da encontrada
logo acima. Você consegue mostrar como ficaria a integral nessa nova situação?

Após ver a integral resultante, a mudança para coordenadas esféricas pode não parecer
muito promissora. No entanto, veremos nos exemplos a seguir que essa mudança faz
toda a diferença quando o domínio é esférico.

6 EXEMPLO Como primeiro exemplo, vamos calcular a fórmula do volume de uma esfera de
raio r.� Para tal, precisamos calcular a integral ∫∫∫ 1dV , em que a região no espaço
E
2 2 2 2
E é a região limitada pela esfera de equação x  y  z  r . Estamos escolhendo
uma esfera com centro na origem para facilitar a nossa análise. Entretanto, teori-
camente ,poderia ser uma esfera centrada em qualquer ponto no espaço. Para que
consigamos varrer todos os pontos de E , é necessário que, na mudança para as

UNIDADE II 65
coordenadas esféricas, as variáveis r , q e j satisfaçam as seguintes desigualdades

0≤ ρ≤ r
0 ≤ θ ≤ 2π
0 ≤ ϕ ≤ π.

Lembrando que, após a mudança para coordenadas esféricas, o elemento de volume


Cartesiano é igual a dV  ρ 2 sen ϕ  d ρ d ϕd θ , então o volume da esfera deve ser
dado por

V = ∫∫∫ 1 dV
E

2π π r
 0 0 1  ρ
2
sen ϕ  d ρ d ϕd θ
0

2π π r 2
 0 0 ρ sen ϕ  d ρ d ϕd θ
0

r
2π π  ρ3 
 0   sen ϕ  d ϕd θ
 3 0
0

r3 2π π
 0 cos ϕ   d θ
3 0

r3 2π

3 0  2  d θ
2 2π
 r 3  dθ
3 0

4pr 3
= ,
3

que é a conhecida fórmula do cálculo do volume da esfera!

66 Integrais Múltiplas em Outros Sistemas de Coordenadas


7 EXEMPLO Vamos, agora, considerar a seguinte integral

3
0 0
9 y 2

18 x2  y 2
x2  y 2
 x2  y2  z2  dzdxdy
para entendermos as vantagens do uso das coordenadas esféricas. Inicialmente, vamos
analisar a região de integração para, em seguida, convertê-la para as coordenadas
esféricas. Temos que os limites de integração nas variáveis Cartesianas são dadas por
0≤ y≤3

0  x  9  y2

x2 + y 2 ≤ z ≤ 18 − x2 − y 2 .

As duas primeiras desigualdades dadas nos fornecem as informações necessárias so-


bre a parte da região E no plano xy . A segunda desigualdade, que nos dá a variação
da variável x, nos informa que estamos na metade direita de um círculo de raio 3 com
centro na origem, pois x2  y 2  33. Pela primeira desigualdade, temos que a variável
y está sendo restrita a valores positivos e menores que 3. Desta forma, temos que a
região no plano xy de E é a parte de um disco de raio 3, que se encontra exatamente
no primeiro quadrante do plano xy . Portanto, uma vez que o domínio plano D está
no primeiro quadrante, então a região no espaço E deve estar no primeiro octante.
Além disso, essa informação nos indica que a variável q , das coordenadas esféricas,
deve satisfazer à seguinte desigualdade

0 ≤ θ ≤ π / 2.

Agora, vamos ver o que o intervalo para a variável z nos diz. O limite inferior,
2 2 2
x2 + y 2 , nada mais é que a metade superior de um cone z  x  y , enquanto o
limite superior, � 18 − x2 − y 2 , é a metade superior da esfera,

x2  y 2  z 2  18.

Assim sendo, temos que a variação do raio r é dada por

0  r  18  3 2 .

UNIDADE II 67
Finalmente, o que nos falta é o intervalo de variação para j . Há duas formas de
obtermos esse intervalo. Uma das formas é encontrando a interseção entre o cone e
a esfera. Como a equação do cone é z 2 = x2 + y 2 então, substituindo na equação
da esfera, temos

x2  y 2  z 2  18

 z 2  z 2  18

 2 z 2  18

 z2  9

 z  3.

Observe que podemos assumir que a variável z é positiva, afinal a região E corres-
ponde à parte da esfera sobre o plano xy e no primeiro octante. No ponto de inter-
seção entre a esfera e o cone, temos que r = 3 2 . Além disso, temos que z = 3, e em
coordenadas esféricas a variável z satisfaz z = ρcosϕ, assim substituindo, temos que
o ângulo j deve ser limitado

ρcosϕ = 3

 3 2cosj  3

1 2
 cosj  
2 2

π
ϕ  .
4

Logo, o ângulo j deve satisfazer à seguinte desigualdade

π
0≤ϕ ≤ .
4

68 Integrais Múltiplas em Outros Sistemas de Coordenadas


Finalmente, temos que a integral que desejamos calcular pode ser reescrita em coor-
denadas esféricas em uma forma que ficará muito mais simples, dada por

π π
3
0 0
9 y 2

18 x2  y 2
x2  y 2
x 2 2
y z 2
 dzdxdy    03 2 ρ 4 sen ϕ  d ρddϕd θ
0
2
0
4

π π

  ρ 0
1 3 2
 2 4 5
sen ϕ  d ϕd θ
5 0 0

π π
972 2
   2 4 sen ϕ  d ϕd θ
5 0 0

π π
972 2

5   cosϕ 
0
2 4 �dθ
0

π
972 2  2

5  2 1 
0 
 dθ
2 


972 2  2 p
  1   .
5  2  2

Com isso, concluímos este tópico sobre coordenadas esféricas. No próximo tópico,
mostraremos uma fórmula geral para determinarmos o elemento de volume para
uma transformação qualquer e provaremos, sem necessidade de nenhum argumento
geométrico, como são obtidos os elementos de volume e área para as mudanças de
coordenadas construídas.

UNIDADE II 69
Mudança de
Variáveis

Para entendermos melhor como realizar as mu-


danças de variáveis em integrais múltiplas, vamos,
inicialmente, fazer um paralelo com o Cálculo 1.
Tínhamos, naquele curso, uma regra da substitui-
ção na integral que nos dizia que

b g (b )
a f  g  x    g '  x  dx   f  u  du ,
g (a)

em que u  g  x  . Essencialmente, o que está


acontecendo é que temos uma integral em termos
da variável x e que podemos transformá-la em
uma nova integral apenas na variável u. Assim, se é
conhecida a primitiva da função f  u  , podemos
resolver facilmente o problema dado. No entanto,
perceba que, ao transformar a integral da variável
u em uma integral na variável x , obtemos o fator
g '  x  multiplicando o integrando. Fazendo um
paralelo com as integrais em coordenadas esféri-
cas e cilíndricas, esse du  g '  x  dx seria o equi-
valente aos elementos de área de volume encon-
trados dA = rdrd q e dV  ρ sen ϕ  d ρ d ϕd θ .
2
No caso das integrais múltiplas, embora muitas vezes a razão para a mudança de
variáveis seja obter um integrando que possamos calcular nas novas variáveis, temos
uma outra razão mais importante que é converter uma região dada em outra muito
mais conveniente de se trabalhar. Quando fizemos, nas seções anteriores, as mudan-
ças de variáveis para coordenadas polares, cilíndricas ou esféricas, não estávamos
preocupados com essa mudança no domínio, uma vez que era bem fácil determinar
os novos limites de integração com base na nova região, pois eram todos, de alguma
forma, retangulares. No entanto, isso nem sempre é o caso. Então, antes de se mudar
para novas variáveis n​​ as integrais múltiplas, primeiro precisamos ver como a região
fica nas novas variáveis. Além disso, outro fato importante da mudança de variáveis
nas integrais múltiplas é como determinar o novo elemento de área e volume, como
fizemos para os sistemas de coordenadas polares, cilíndricas e esféricas.

8 EXEMPLO Aqui, começaremos com um exemplo de como uma região se transforma depois de
uma mudança de variáveis. Desta forma, considere uma região, R , nas coordenadas
xy e vamos transformá-la, neste exemplo, em uma nova região S em coordenadas
uv . Isto é, vamos determinar a nova região S obtida por meio da aplicação de uma
transformação dada à região R. Considere a região R como sendo a região fechada
no plano que é delimitada pelas seguintes retas

y  � x  4
y ��  x 1
x 4
y  .
3 3
A região R definida pelas retas pode ser observada na Figura 10:

y
3 ( 32 , 52 (
2
y=-x+4
y=x+1 1
( 4, 0 )
x
-4 -3 -2 -1 1 2 3 4
-1 y= x 4
3 3
-2
( 7 5
2 2 ( -3

Figura 10 - Região R
Fonte: os autores.

UNIDADE II 71
Temos que a região dada é um triângulo. Apesar de não ser uma região complicada,
é possível transformá-la em uma região mais simples. Para tal, vamos considerar a
seguinte

1
x  x  u, v   u  v 
2
1
y  y  u, v   u  v .
2

Queremos saber o que acontece com a região R sujeita à transformação dada. Desta
forma, o que vamos fazer é aplicar a transformação em cada uma das retas que defi-
nem as arestas do triângulo e ver onde chegamos.
Começamos com a reta y   x  4. Substituindo a transformação dada, temos

1 1
u  v    u  v   4
2 2
 u  v  u  v  8
 2u  8
 u  4.

Percebemos que a primeira fronteira transformada é reduzida a uma equação bem


mais simples. Agora, vamos verificar o que acontece com a reta y  x 1, que nos dá

1 1
u  v   u  v   1
2 2
 u v  u v2

 2v  2
 v  1.

Mais uma vez, temos uma equação muito mais simples do que aquela que começamos
a trabalhar. Finalmente, transformando y  x / 3  4 / 3 , obtemos
1 1 1 4
 u  v     u  v   
2 32  3
 3u  3v  u  v  8
 4v  2u  8
u
v  2.
2

72 Integrais Múltiplas em Outros Sistemas de Coordenadas


Neste caso, obtivemos algo semelhante ao que já tínhamos inicialmente, no entanto,
quando olhamos para a região S transformada, percebemos que obtemos um triângulo
bem mais simples de trabalhar que o dado pela região R, como podemos ver na Figura
11, afinal este é retângulo e dois de seus lados são paralelos aos eixos coordenados.

ν
( 4, 4 )
4
3
2 υ=4
ν= υ +2
2 1
υ
-6 -4 -2 2 4
-1
( -6, -1 ) ν = -1 ( 4, -1 )

Figura 11 - Região transformada S


Fonte: os autores.

Note que nem sempre podemos esperar que iremos transformar um tipo específico
de região (um triângulo, por exemplo) para o mesmo tipo de região. É completamente
possível vermos um triângulo se transformar em uma região em que cada uma das
extremidades são curvas e que de forma alguma se assemelha a um triângulo. Vimos
isso na transformação em coordenadas polares e esféricas, em que transformávamos
regiões circulares em regiões retangulares.
Observe que, no exemplo anterior, pegamos uma região bidimensional que teria
sido um pouco mais difícil e trabalhoso de integrar e a convertemos em uma região
que seria possivelmente mais simples à integração. Como observamos no início deste
exemplo, este é, muitas vezes, o objetivo da transformação. Além de simplesmente
converter o integrando em algo mais simples de se trabalhar, é conveniente também,
muitas vezes, transformar a região em uma que é muito mais fácil de lidar.
Agora que nós vimos um exemplo de como as regiões se transformam, precisamos
falar sobre como realmente fazemos a mudança de variáveis d​​ entro da integral. Vamos
começar com as integrais duplas, mesmo porque a versão em integrais triplas é aná-
loga. A fim de realizar a mudança de variáveis ​​em uma integral dupla, precisaremos
do que é conhecido como o Jacobiano da transformação. Dada uma transformação
de variáveis x  g  u , v  e y  h  u , v  , o Jacobiano da transformação é definido
pelo determinante
x x
u v
J .
y y
u v

UNIDADE II 73
De posse do Jacobiano da transformação, podemos apresentar a fórmula para a
mudança de variáveis ​​para uma integral dupla. Suponha que queremos integrar a
função contínua f  x, y  sobre a região R. Assim, considerando a transformação
x  g  u , v  e y  h  u , v , então a região R é transformada em S e a integral se torna

R f  x, y  dA  S f  g  u, v  , h  u, v   J dudv


Note que usamos dudv em vez de dA na integral para deixar claro que estamos agora
com a integração nas novas variáveis u e v . Observe que na fórmula é tomado o
valor absoluto do Jacobiano. Faça o cálculo do Jacobiano para coordenadas esféricas
e verifique que ele, neste caso, é negativo, diferentemente do elemento de volume que
calculamos na seção anterior. Logo, o módulo da fórmula não pode ser esquecido
ou desconsiderado!

9 EXEMPLO Vamos mostrar aqui, usando o teorema da mudança de variáveis, que, na transforma-
ção em coordenadas polares, temos que o elemento de área dA é transformado em
rdrdq, como já havíamos feito na aula sobre coordenadas polares. A transformação
em coordenadas polares é dada por

x = rcosθ e y = rsenθ

Então, seu Jacobiano é

x x
r q
J
y y
r q

cosq rsenq

senq rcosq


 rcos2q  rsen2q 

 r cos2 q  sen2q 
= r.

74 Integrais Múltiplas em Outros Sistemas de Coordenadas


Temos, então que

=dA J=
drd q r drd q = rdrd q.

Assim, a fórmula que usamos na aula sobre integrais em coordenadas polares


estava correta.
Vamos, agora, fazer alguns exemplos com integrais de fato.

10 EXEMPLO Vamos calcular a ∫∫ f ( x y ) dA em que R é um losango com vértices dados pelos


R
pontos  0, 0  ,  5, 0  ,  5 / 2, 5 / 2  e  5 / 2, 5 / 2  , utilizando a transformação x  2u  3v
e y  2u  3v . Começamos com um esboço da região R e vamos determinar as
equações para cada um dos lados do losango.
y
3
( 52 , 52 (
2
y=x y = -x + 5

1
( 5, 0 )
( 0, 0 )
x
1 2 3 4 5

-1
y = -x -5
y = -x
-2

-3 ( 52 , 52 (
Figura 12 - Região de integração R
Fonte: os autores.

Cada uma das equações das retas mostradas na Figura 12 foram encontradas usando
o fato de sabermos dois pontos em cada reta.
Enquanto nós poderíamos calcular essa integral em termos de x e y, o cálculo
envolveria dividir a integral e duas integrais e isso nos daria algum trabalho. Então,
usando a transformação, veremos no que dá. Vamos, assim como no primeiro exemplo,
substituir a transformação em cada uma das equações anteriores e ver o resultado.

UNIDADE II 75
Começamos com y = x, temos

2u  3v  2u  3v

 6v  0

 v  0.

A transformação y   x é semelhante, assim

2u  3v    2u  3v 

 4u  0
 u  0.

Em seguida, transformando � y   x  5 ,

2u  3v    2u  3v   5

 4u  5

5
u  .
4

Finalmente, a reta y  x  5 fica

2u  3v  2u  3v  5

 6v  5

5
v .
6

76 Integrais Múltiplas em Outros Sistemas de Coordenadas


Temos, que a região transformada S é dada por um retângulo cujos lados são u = 0,
v = 0 , u = 5 / 4 e v = 5 / 6 e a variação das variáveis u e v é

5 5
0≤ u≤ e 0≤v ≤
4 6

Agora, o próximo passo é determinar o Jacobiano desta transformação, que é

x x
u v
J
y y
u v
2 3

2 3

 6  6
 12.

Finalmente, temos que a integral é dada por

5 5
∫∫R ( x + y ) dA = ∫ 0
6
∫ ( ( 2u + 3v ) + ( 2u − 3v ) ) −12 dudv
0
4

5 5
 6  4 48u � dudv
0 0

5 5

0
6  24u 2 4
0
 dv

5
75
  v 06
2
125
= .
4

UNIDADE II 77
Vamos brevemente falar sobre as integrais triplas. Suponha que seja dada uma região
R, agora no espaço, e a transformação x  g  u , v, w , y  h  u , v, w  e z  k  u , v, w 
para transformar R na região S . De forma análoga às integrais duplas, temos que
determinar o Jacobiano desta transformação que, neste caso, será um determinante
3 × 3 dado por

x x x
u v w
y y y
J .
u v w
z z z
u v w

Finalmente, a integral relacionada a essa transformação é dada por

R f  x, y, z  dA  S ff  g  u, v, w , h  u, v, w , k (u, v, w J dudvdw.


É um ótimo exercício verificar que o Jacobiano das coordenadas cilíndricas e esfé-
ricas, por exemplo, coincidem com aqueles encontrados nas seções anteriores e são
dados, respectivamente, por

J índricas =r

J esféricas = −ρ2 sen ( ϕ ) .

Encerramos a unidade sobre mudança de variáveis nas integrais múltiplas. Estudamos


as coordenadas polares, cilíndricas, esféricas e também o teorema de mudança de
variáveis. Esses teoremas são de fundamental importância, pois muitos problemas
práticos das ciências aplicadas, como engenharia e física, se passam em sistemas de
coordenadas convenientes e veremos nas unidades a seguir várias aplicações dos
assuntos aqui tratados.

78 Integrais Múltiplas em Outros Sistemas de Coordenadas


Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Utilizando coordenadas polares, calcule a integral a seguir

1
0 
0
1 x2
 
ln x2  y 2 dydx.

2. Use a substituição por coordenadas polares para calcular a integral

3 /3 1/ 3 x2 1
 0 dydx.
3 /3

x2  y 2 1  x2  y 2 

3. Determine o volume da região entre hiperbolóide de uma folha z  x2  y 2  1,


limitada pelos planos z =0 e z =2.

4. Determine o volume da região limitada pelo plano xy e pela superfície


x2 y 2 .
z = 1− −
2 3

5. Considere a região D no primeiro quadrante limitada pelas hipérboles xy = 1


e xy = 4 e pelas retas y = x e y = 4 x. Usando a transformação x = u / v e
y = uv , calcule a integral   y  xy  dA.
 x
D


79
As coordenadas polares são uma ferramenta muito importante na integração dupla e também tripla.
Desta forma, nunca é demais aprofundar-se no assunto.

WEB

Neste primeiro vídeo, é trazida uma introdução às coordenadas polares.


Para acessar, use seu leitor de QR Code.

WEB

Em seguida, tem-se uma continuação da introdução feita no vídeo anterior com


alguns exemplos.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

WEB

Finalmente, aqui tem-se um vídeo com alguns exercícios resolvidos sobre o


assunto.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

80
ANTON, Howard. Cálculo: Um novo horizonte. Porto Alegre: Bookman, 2000. Volume 2.

STEWART, J. Cálculo. 6. ed. São Paulo: Pioneira /Thomson Learning, 2011. Volume 2.

81
1. É possível perceber que a região de integração é um círculo de raio 1 . Neste caso, é conveniente utilizar a
substituição por coordenadas polares e a integral pode ser reescrita como

1
∫0 ∫−
0
1− x 2 ( )
ln x2 + y 2 dydx = ∫
0

π ∫0 ln ( r
1 2
) r dr d θ
2
p
 .
4

2. A região de integração é um círculo de raio 3 / 3 . Utilizando coordenadas polares, a integral pode ser
reescrita como

3 1 2 3
x 1 π 1
 3
0 3 dydx   0 3 rdr � d θ

3
3 2 2

x  y 1 x  y 2 2
 0

r 1  r2 
3
π 1
 0 3 dr � d θ
0

1  r2 
π  3
  arctg   d θ
 3 
0

p2
= .
6

3.
para x2 y2 1

0<z<2
para z 0 x2 y2 1
2 2
para z 2 x y 5

Devido à dificuldade de se calcular o vo-


lume desejado, propomos descontar o
volume de um cilindro com raio 5 que
é o valor para z = 2 e esse volume é cal-
culado como:

∫∫ dVcilindro

82
Com os seguintes limites de integração:

0<z<2
para 0
0 y 5 x
para 0
0 x 5

Logo a Integral obtida será:

2 5 5 x2
0 0 0 dydxdz
Utilizando as seguintes coordenadas cilíndricas:

Obtemos a seguinte equação a ser integrada:


para y  0 r  0
para y 5 r 5
0<r < 5

para x  0 e r  5
sen    1

0    2
2π 5 2
∫0 ∫0 ∫0 rdzdrd θ
Que ao ser integrada resulta no volume do cilindro, cujo valor será:
2π 5 2
0 0 0 rdzdrd θ  10π
Para o volume da Hipérbole, utilizamos a mesma abordagem, com os seguintes limites de integração:

0 z x2 y 1

83
Para z=0

1 x2 y 5 x2
para 0

1 x  5
Logo a Integral obtida será:

5 5 x2 x 2  y 2 1
0  1 x 0 0 2 dxdydz

Utilizando as seguintes coordenadas cilíndricas:

Obtemos a seguinte equação a ser integrada:

0 z r 1
para z  0
0<r < 5
para x  0 e z  2
sen    1

0    2
2π 5 r 2 1
0 1 0 rdzdrd θ

Cujo resultado final da integração será:

2π 5 r 2 1 16π
0 1 0 rdzdrd θ 
3

Logo o volume será dado pela diferença entre o volume do cilindro e o da Hipérbole, dado por:

16p 14 p
10p  
3 3
4. O volume da região é dado pela integral

84
π
2π 1
  0
2 6ρ 2 sen 3ϕd ρd ϕd θ
0 0

π

 6  2 sen 3ϕd ϕ
3 0

p
= 6
3
5. Nas hipérboles, temos
2 2
xy
= u= 1 e xy
= u= 4.
Nas retas, temos
y 2 y 2
= v= 1 e = v= 4.
x x

6. O Jacobiano desta transformação é 2u Assim,


J= .
v

 y  2 2  2u 

∫∫D  x + xy  dA = ∫1 ∫1 ( u + v )   dudv
v 
 

14 ln  2 
 3 .
3

85
86
87
88
Dr. Vinicius de Carvalho Rispoli
Dr. Ricardo Ramos Fragelli
Dr. Ronni Geraldo Gomes de Amorim

Aplicações das
Integrais Múltiplas

PLANO DE ESTUDOS

Momentos de Inércia Sustentação em uma Asa

Massa, Centro de
Área de Superfície
Massa e Centroide

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Trabalhar com os conceitos de massa, centro de massa e • Calcular áreas de superfícies.


centroide para figuras planas e espaciais. • Calcular a sustentação em uma asa usando integral dupla.
• Trabalhar com os momento de inércia para figuras planas
e espaciais.
Massa, Centro de
Massa e Centroide

Assim como a integral de uma variável tem várias


aplicações interessantes na matemática e nas ciên-
cias aplicadas, as integrais duplas e triplas também
têm muitas outras aplicações além do cálculo de
volumes e áreas de regiões planas. Começaremos
esta unidade com algumas dessas aplicações das
integrais duplas e triplas.
Vamos começar as nossas aplicações lidando,
inicialmente, com a integral dupla e, em seguida,
passaremos para as integrais triplas. Neste con-
texto, vamos supor que temos uma lâmina sufi-
cientemente fina que é delimitada por uma região
R no plano xy . Isto é, conforme podemos ver na
figura a seguir, temos um sólido cuja base é dada
pela região R e cuja altura é suficientemente pe-
quena.
z

y
1
R

x
Figura 1 - Sólido que desejamos calcular a massa, centro de massa e centroide
Fonte: os autores.

Inicialmente, com o intuito de realizarmos o cálculo da massa, vamos supor que a


lâmina dada na Figura 1 tenha uma densidade de massa d  x, y  medida em unida-
des de massa por unidade de área. Em particular, suponha que, nas dimensões x e
y, a região R que delimita a lâmina seja particionada em h partes iguais, conforme
podemos observar na Figura 2. Observe que, agora, a lâmina é dividida em várias
pequenas “caixas” de altura infinitesimal. Desta forma, considere que a “caixa” que
contém o ponto  x,� y  tenha uma pequena massa ∆ m e uma pequena base com
área ∆ A. Assim, a função densidade de massa pode ser definida por

m
d  x, y   lim ,
h0 A

isto é, definimos a densidade de massa da região próxima ao ponto  x, y  de modo


que m  d  x, y  A.

z
∆m=δ(x,y)∆ A

x 1

Figura 2 - Partição da lâmina


Fonte: os autores.

UNIDADE III 91
Neste sentido, podemos dizer que a massa M total da lâmina é aproximadamente a
soma das massas ∆ m jk das pequenas “caixas” formadas pela partição; assim, somando
em cada uma das direções, temos que

M  m jk
j k


 d x j , yk A jk . 
j k

Finalmente, para encontrarmos a massa total M , temos que calcular o limite das
aproximações quando h se aproxima de 0 que nos dá a seguinte integral dupla


M  lim d x j , yk A jk
h0

j k

= ∫∫ δ ( x y ) dA.
R

Portanto, a massa total de uma lâmina delimitada por uma região plana R pode
ser calculada por meio da integral dupla da função densidade de massa sobre a
região que define a placa.

1 EXEMPLO Como primeiro exemplo, vamos calcular a massa de uma lâmina quadrada cujos lados
são unitários de tal forma que essa região quadrada esteja no primeiro quadrante e
que duas de suas arestas estejam sobre os eixos coordenados. Logo, a região R é dada
{ }
por R = ( x, y ) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 1 0 ≤ ≤ 1 . Agora, suponha que a densidade desta
lâmina seja dada pela seguinte função: densidade de massa é dada por
d  x, y    2 x  y  1 kg/m2 .

A massa da placa é dada por

M = ∫∫ ( 2 x − y + 1) dA,
R

em que R é o quadrado unitário. Assim,

1 1
M 
0 0  2 x  y  1 dydx
1
1 y2 
   2 xy   y  dx
0 2 
 0

92 Aplicações das
1 1
   2 x   dx
0 2
1
 x
  x2  
 2 0

= 1 5 kg.

2 EXEMPLO Considere, agora, uma lâmina suficientemente fina dada por uma região R delimi-
tada por um círculo de raio 2, cuja função densidade de massa é dada por

δ ( x y ) = 1 + x2 + y 2 kg/m2 .
Podemos calcular a massa dessa placa, que é dada por

M = ∫∫ 1 + x2 + y 2 dA ,
R

em que R é o círculo de raio 2. Neste caso, como o domínio é circular, faz-se conve-
niente utilizar a substituição por coordenadas polares. Assim, temos
2π 2
M  0 r 1  r 2 drd θ
0

5  du 
 2p  u 
1  2 
3 5
2p  2 
 u 
3  
 1
3
2p  2 
  5  1  kg.
3  
 

Vale observar que quando a densidade é unitária, isto é, d  x, y   1 para todos os


pares  x, y  em uma determinada região, então o valor da massa é simplesmente a
área da região R .
Agora que vimos como calcular a massa de uma lâmina de densidade d  x, y  ,
vamos aprender a calcular o centro de massa desta lâmina. O centro de massa de um
objeto é um ponto hipotético, no qual toda a massa do sistema está concentrada. Nos
cursos de física elementar, é mostrado que dados n objetos com massas m1 , ,� mn
nas posições  x1 , y1  , ,  xn , yn  , respectivamente, então, o centro de massa dessa
coleção de objetos é o ponto no plano cartesiano dado pelo seguinte par de médias
ponderadas

UNIDADE III 93
m1 x1 +  + mn xn m y +  + mn yn
x= y= 1 1
m1 +  + mn m1 +  + mn

Se uma placa com densidade de massa d  x, y  é então dividida em n “caixas” com


massas ∆ m1  ∆ mn nas posições  x1 , y1  , ,  xn , yn  , respectivamente, o centro
de massa da placa é dado aproximadamente pelo mesmo centro de massa das “caixas”
que é dado por
∆m1 x1 +  + ∆mn xn ∆m1 y1 +  + ∆mn yn .
x≈ y≈
∆m1 +  + ∆mn ∆m1 +  + ∆mn

No entanto, uma vez que a soma dos elementos de massa é aproximadamente a


massa total, isto é, m1    mn  M , em que M é a massa da placa, e sabendo
 
que o elemento de massa é aproximadamente m j  d x j , y j A j, em que ∆ A j
representa a área da j-ésima “caixa”, assim, a localização do centro de massa das “caixas”
pode ser aproximado por
x1d  x1 , y1  A1    xnd  xn , yn  An
x
M

y1δ ( x1 , y1 ) ∆A1 +  + ynδ ( xn , yn ) ∆An


y≈ .
M
Percebendo que os numeradores dos pontos x � e y são, aproximadamente, somas
de Riemann, somos levados a definir o centro de massa da placa delimitada no pla-
no por uma região R como sendo o ponto no plano x − y com coordenadas

1 1
x=
M ∫∫R x ⋅ δ ( x y ) dA y=
M ∫∫R y ⋅ δ ( x , y ) dA ,
em que M é a massa da placa e calculada como sendo

M = ∫∫ δ ( x y ) dA.
R

As integrais que estão nos numeradores dos pontos do centro de massa  x  d  x, y � dA


R
e  y  d  x, y � dA são conhecidas como os primeiros momentos com relação aos
R
eixos � x e y, respectivamente. Além disso, escrevemos

M y = ∫∫ x ⋅ δ ( x y ) dA e M x = ∫∫ y ⋅ δ ( x y ) dA
R R

e assim podemos reescrever o centro de massa na forma


My Mx
x= e y=
M M

94 Aplicações das
3 EXEMPLO Para exemplificar o cálculo do centro de massa, vamos, agora, determinar o centro
de massa da placa com a mesma função densidade de massa do primeiro exemplo

d  x, y    2 x  y  1 kg/m2 .

Foi calculado que a massa da lâmina é M =1, 5 kg. Desta forma, para calcularmos o
centro de massa, precisamos determinar os primeiros momentos com relação a x e
y . Assim, o primeiro momento com relação a x é dado por

M y   x  d  x, y � dA
R

1 1

0 0 x  2 x  y  1 dydx
1
1 xy 2 2 
  2 x y   xy  dx
0
 2  0

1 x 
  2 x 2   x  dx
0 2 
1
2 x2 x2 
  x3   
 3 4 2 
0

2 1 1 8  3  6 11
    
3 4 2 12 12

De forma totalmente análoga, podemos determinar a coordenada y do centro de


massa calculando o primeiro momento com relação a y . Neste caso, dado por

M x   y  d  x, y � dA
R

1 1

0 0 y  2 x  y  1 dydx
1
1 y3 y2 2
   xy    dx
0
 3 2 
0

1 1
   x   dx
0 6

1
 x2 x  2
   = .
 2 6
 0 3

UNIDADE III 95
Finalmente, podemos calcular o centro de massa que é dado por
17
M y 12 17
=x = =
M 3 18
2

2
Mx 3 4
y =
= = .
M 3 9
2
Se por um lado o centro de massa fornece o ponto no qual toda a massa do objeto
estaria concentrada, por outro lado esse mesmo ponto pode não ser o centro geo-
métrico do objeto. Neste caso, quando a densidade de massa do objeto é constante
em todos os pontos da região R, então, o centro de massa é definido apenas pela
própria região e, neste caso, este ponto é chamado de centroide da região R . De fato,
a massa M da placa se reduz a área A da região R e assim o centroide é dado por

x = 1 ∫∫ x dA y = 1 ∫∫ y dA.
A A

Além disso, se a região é simétrica em torno de uma determinada reta l , então o


centroide da região deve ficar em cima da reta l .
Considere um objeto tridimensional que ocupa uma região D e que possui den-
sidade volumétrica (massa por volume) em cada ponto do seu interior dada por
d  d  x, y , z  .
Para calcularmos z
a massa desse objeto,
podemos proceder de
forma análoga à dis- D
cussão que fizemos
no início dessa seção.
Para tal, suponha que r
o objeto foi particio-
nado em n elementos
de massa semelhantes
aos mostrados na fi- L
gura a seguir. x
y
Figura 3 - Elemento de massa em um volume
Fonte: os autores.

96 Aplicações das
Desta forma, a soma de todos esses elementos de massa fornece, aproximadamente,
a massa do objeto, assim, temos
n
M  lim
n
mk
k 1
n
 lim
n
d  xk , yk , zk  Vk
k 1

= ∫∫∫ δ ( x, y, z ) dV
D

o que é equivalente à fórmula que obtivemos para o cálculo da massa de uma lâmina
fina. Além disso, de forma totalmente análoga aos cálculos feitos para a lâmina no
plano, podemos também definir os primeiros momentos para um objeto no espaço
e com densidade d  d  x, y, z . Neste caso, temos as seguintes fórmulas para os pri-
meiros momentos respectivamente aos eixos coordenados x, y e z

M yz = ∫∫∫ xδ dV M xz = ∫∫∫ yδ dV M xy = ∫∫∫ zδ dV.


D D D

Finalmente, definimos a localização do centro de massa para um objeto no espaço


como sendo
M yz M M xy
x= y = xz e z =
M M M
Também analogamente ao caso bidimensional, temos que, nos casos em que a den-
sidade d é constante em toda a região que define um objeto no espaço, então o
centro de massa deste objeto coincide com o centro geométrico do objeto. Assim, se
d for constante, o centroide pode ser calculado como sendo
1 1 1
x = ∫∫∫ xdV y = ∫∫∫ ydV e z = ∫∫∫ zdV
V R V R V R

em que V é o volume da região R.

4 EXEMPLO Como exemplo do caso tridimensional, vamos determinar o centroide da região no


2 2
espaço definido entre o plano z  2 x  2 y e o paraboloide z  x  y . O primeiro
passo é encontrarmos a região de integração. Para tal, precisamos determinar a in-
terseção no plano xy entre o plano e o paraboloide. Assim, temos

z  x2  y 2
 2 x  2 y  x2  y 2

 x2  2 x  y 2  2 y  0

UNIDADE III 97
 x2  2 x  1  y 2  2 y  1  1  1
2 2
  x  1   y  1  2.

Logo, a região de integração no plano xy é dada pelo círculo de raio 2 , cujo centro
está no ponto 1, 1 .
Como a região é um círculo de raio 2 , então é interessante utilizar uma substi-
tuição por coordenadas polares. No entanto, precisamos colocar o círculo na origem
para que a mudança para coordenadas polares seja eficiente. Neste caso, utilizaremos
a seguinte mudança

x = 1 + rcosθ e y = 1 + rsenθ

Não é difícil perceber que o Jacobiano desta transformação coincide com o Jacobia-
no da transformação por coordenadas polares padrão que é J = r. Além disso, temos
que as variáveis r e q variam de acordo com as seguintes desigualdades
0≤ r≤ 2

0 ≤ θ ≤ 2π.

Portanto, a integral para o volume na forma


2
1 2 1 2 x 1 2 2
V  1   x  1   y  1  2  dydx
1 2 2
2 x 1  

se reduz a

V 
0

0
2
 
 r 2  2 rdrd θ

 2p 
0
2
2r  r 3  dr
2
 r4 
 2p  r 2  

 4 
0

= 2p.
Finalmente, para encontrarmos o centroide precisamos calcular os primeiros mo-
mentos. Vamos calcular apenas o primeiro momento com relação à variável x e
você, estudante, deverá calcular os demais primeiros momentos. Assim, temos que

98 Aplicações das
2
1 2 1 2 x 1 2 x 2 y
M yz   1 2 x  y
2 2 x � dzdydx
1 2 2 x 1

2
1 2 1 2 x 1 2 2
 1   x  1   y  1  2  xdydx
1 2 2 x 1 2 



0 0
2
 
 r 2  2 1  rcosθ  rdrd θ


0

0
2
 2r  r 3  1  rcosθ  drd θ

0  2r  r    2r  r  cosθ  drd θ


2π 2 3 2 4

0

2 2
2π  2 r4  2π  2r 3 r5 
 r   dθ     � cosθd θ
0 
 2  0
 3 5 
0 0

8 2 2π
 2π 
15 0 cosθ d θ

= 2p.

Temos, então, que a coordenada x do centroide da região é dada=


por x M
= yz / V 1.
Agora, fica o seu trabalho de mostrar que y = 1 e que z = 20 / 3.

UNIDADE III 99
Momentos
de Inércia

No tópico anterior, estudamos o centro de massa e


os primeiros momentos de um corpo, os quais for-
necem informações sobre o equilíbrio e também
sobre o torque exercido pelo corpo sobre diferen-
tes eixos em um campo gravitacional. Por outro
lado, o momento de inércia é usado para analisar
rotações em torno de um determinado eixo. Por
exemplo, se o corpo é um cilindro rotativo, esta-
mos mais interessados na quantidade de energia
que é armazenada neste corpo ou sobre quanta
energia vai ser necessária para acelerar o cilindro
com uma determinada velocidade angular. É nesta
situação, então, que levamos em consideração o
segundo momento ou momento de inércia.
Para entender melhor a afirmação, vamos par-
ticionar o cilindro citado em pequenos blocos de
massa ∆ mk que estão a uma distância rk do eixo
de rotação. Se o cilindro gira com a uma velocida-
de angular de ω = d θ / dt � radianos por segundo,
então a velocidade linear deste pequeno bloco será
d
vk   rk θ   rk ω.
dt

100 Aplicações das


∆mk
rkθ
yk
rk θ

eixo
de r
ota
ção

Figura 4 - Cilindro em rotação


Fonte: os autores.

Assim, a energia cinética de cada bloquinho será dada por

mk vk2
Kk 
2

w 2 rk2 mk
 .
2
Logo, a energia cinética total do cilindro será dada, aproximadamente, pela soma de
todas essas contribuições, isto é,
n
w 2 rk2 mk
KT   .
k 1 2

No limite, então, a energia cinética total do cilindro rotativo será


n
w 2 rk2 mk
KT  lim
n
 2
k 1
1 2 2
= ∫∫∫ ω r dm
objeto 2

1
= ω2 ∫∫∫ r 2δ ( x, y, z ) dV .
2 objeto

A integral
I = ∫∫∫ r 2δ ( x, y, z ) dV
objeto

é conhecida como momento de inércia do cilindro com relação ao eixo de rotação.

UNIDADE III 101


Para uma placa fina no plano, definimos os momentos de inércia em relação aos
eixos coordenados x e y , respectivamente, como

I x = ∫∫ y 2δ ( x y ) dA e I y = ∫∫ x2δ ( x y ) dA.
D D

Em torno de uma linha L qualquer, o momento de inércia é definido como sendo


I L   r 2d dA,
D

em que r  r  x, y  representa a distância do ponto  x, y  a reta L. O momento


polar, ou o momento de inércia com relação à origem, é dado por

I0  I x  I y .

Finalmente, podemos definir, também baseados nos momentos de inércia, os raios


de giração, que medem o quão distante de um determinado eixo a massa da placa
deve ser concentrada para que se tenha o mesmo momento de inércia com relação
àquele eixo. Os raios de giração são definidos, respectivamente, aos eixos x, y e a
origem, como
Ix Iy I0
Rx = Ry = e R0 =
M M M

Para um objeto no espaço, os momentos de inércia em relação aos eixos coordenados


x, y e z são definidos, respectivamente, como

I x = ∫∫∫
D
( y2 + z2 ) δdV I y = ∫∫D ( x2 + z2 ) δdV e I z = ∫∫∫D ( x2 + y2 ) δdV
Além disso, em torno de uma linha L, o momento de inércia de um objeto no espa-
ço é definido como
I L = ∫∫∫ r 2δ dV,
D

em que r  r  x, y, z  representa a distância do ponto  x, y, z  a reta L . E, finalmente,


podemos definir o raio de giração em torno da reta L como sendo

IL
RL = .
M

A seguir, veremos alguns exemplos de como usar essas fórmulas.

102 Aplicações das


Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

5 EXEMPLO Considere a placa triangular limitada pelas retas y = 0, x = 3 e y = x no primeiro


quadrante. Além disso, suponha que essa placa tenha densidade dada pela função

d  x , y   x  y  2.

Vamos, neste exemplo, calcular os momentos de inércia desta placa plana e o raio de
giração em torno dos eixos coordenados e também da origem.
Começamos com o momento de inércia com relação ao eixo x. Temos, então

3 x 2
Ix  
0 0
y d  x, y  dydx
3 x
0 y  x  y  2  dydx
2

0

0  xy 
3 x 2
  y 3  2 y 2 dydx
0

x
3  xy 3
y 4 2 y3 
     dx
0
 3 4 3 
0

3 7 2 x3 
   x4   dx
0  12 3 

3
7 x4 
  x5  
 60 6 
0
837
= .
20

De forma análoga, temos que o momento de inércia em torno do eixo y é dado por
3 x 2
Iy  
0 0 x d  x, y  dydx
567
= .
5

UNIDADE III 103


Como temos o momento de inércia com relação aos eixo x e y , podemos determinar
o momento de inércia com relação à origem que é dado por
I0  I x  I y

837 567
 
20 5
621
= .
4

Dessa forma, para encontramos os raios de giração, precisamos determinar a massa


da placa. Temos que a massa é dada por
3 x
M 
0 0 d  x, y  dydx
3 x

0 0  x  y  2  dydx
x
3 y2 
   xy   2 y  dx
0
 2  0

3  3 x2 
   2 x  dx
0 2 
 
3
 x3 
   x2 
 2  0
45
= .
2

Finalmente, podemos determinar os raios de giração com relação aos eixos coorde-
nados e à origem, que são dados por

Ix 837 2 Iy 567 2 I0 621 2


Rx    , Ry    , R0    .
M 20 45 M 5 45 M 4 45

6 EXEMPLO Considere a cunha triangular de densidade

d  x, y, z   xy

dada pela figura a seguir.

104 Aplicações das


z

y
4

x 6
Figura 5 - Cunha triangular
Fonte: os autores.

Vamos verificar, inicialmente, que a distância de um ponto  x, y, z  dentro da cunha


2
até a reta L z = 0 e y = 3 é r   y  3   z . Em seguida, vamos calcular o mo-
2 2

mento de inércia e o raio de giração da cunha em torno da reta L.


Primeiramente, temos que a reta formada por z = 0 e y = 3 é uma reta cujos
pontos são dados por  x, 3, 0  com 0 ≤ x ≤ 4 . Assim, considere um ponto  x, y, z 
no interior da cunha triangular. A distância entre esse ponto e a reta é dada por
2 2 2
r 2   x  x    y  3   z  0 

2
  y  3  z2 .

O momento de inércia em torno da reta L é dada pela seguinte integral tripla


1
4 6  y 3 2
IL  
0 0  0
2 r d  x, y, z  dzdydx
1

0
4 6
0 
 y 3
0
2
 y  3  z  xydzdydx
2 2

1

0
4 6
0 
 y 3
0
2  xy3  6 xy2  9 xy  z2  dzdydx
1
 y 3
4 6 3 2 z3  2
 0  xy z  6 xy z  9 xyz   dydx
0
 3 
0

UNIDADE III 105


 3
 1  
   y  3  

4 6
 xy 3   1 y  3   6 xy 2   1 y  3   9 xy   1 y  3    2   dydx
0 0   2  
 2



 2

 3 
 
 
4 27
 12 x  5  dx
0 10
1566
= .
5

Para podermos calcular o raio de giração, precisamos determinar a massa da cunha.


A massa é dada pela integral da densidade na região, desta forma, temos
1
4 6  y 3
M 
0 0  0
2 d  x, y, z  dzdydx
1
4 6  y 3
 0  2 xydzdydx
0 0

4 6  1 
 0 xy   2 y  3  dydx
0

4 6 1 2 
 0   2 xy  3 xy  dydx
0 
6
14 3 
    xy 3  xy 2  dx
0 6 2 0
4
  18 xdx
0

= 144.

Finalmente, temos que o raio de giração é dado por

IL 1566
RL = = ≈ 1, 49
M 700

106 Aplicações das


Área de
Superfície

No Cálculo 1, começamos os nossos estudos sobre


áreas de superfície quando elas eram obtidas por
meio da revolução de uma função em torno de
um eixo. Agora, vamos trabalhar para um cenário
um pouco mais geral que é calcular a área de uma
superfície dada por uma função de duas variá-
veis, por exemplo, z  f  x, y  . Veremos que as
fórmulas obtidas aqui serão muito parecidas com
aquelas que obtivemos no Cálculo 1.
Queremos encontrar a área de superfície da
superfície dada pela função de duas variáveis
z  f  x, y , em que  x, y  é um ponto dentro de
uma região D no plano x − y . Considere o peque-
no retângulo no plano definido por
R   x0 , x0  x    y0 , y0  y . Como é possível
observar na figura a seguir, os pontos f  x0 , y0 ,
f  x0 , y0  y  , f  x0  x, y0  e f  x0  x, y0  y 
definem um plano no espaço. Vamos considerar
que a área desse plano é, aproximadamente, a área
da função no retângulo R .

UNIDADE III 107


V2

z S
V1
3
1
4
A= II V1 x V2 II
2

y
(x0 , y0 ) (x0 , y0 , ∆y )

(x0 + ∆x, y0 + ∆y )
(x0 + ∆x, y0 )
x

Figura 6 - Superfície z  f  x, y  limitada pelo retângulo R   x0 , x0  x    y0 , y0  y 


Fonte: os autores.
 
Considere os vetores v1 e v2 mostrados na figura, eles são definidos por
  f 
v1   x, 0, f  x0  x, y0   f  x0 , y0     x, 0,  x0 , y0  x 
 x 
  f 
v2   0, y, f  x0 , y0  y   f  x0 , y0     0, y,  x0 , y0  y 
 y 
e a partir deles podemos calcular a área do plano formado pelos pontos f  x0 , y0 ,
f  x0 , y0  y , f  x0  x, y0  e f  x0  x, y0  y . A área desse plano é dada por
 
∆S = v1 × v2 ,
 
em que × representa o produto vetorial entre os vetores v1 e v2, e ⋅ representa o
módulo do vetor. Temos que o produto vetorial é dado por

i j k
 
v1  v2  x 0 z x x
0 y z y y

= − z x ∆x ∆y − z y ∆x ∆yj + ∆x ∆yk

e seu módulo
 
  z x xy 2    z y xy 
2 2
v1  v2    xy 

= 1 + z 2x + z 2y ∆x∆y

108 Aplicações das


Finalmente, para calcularmos a área S da superfície, precisamos repetir essa mesma
soma para todos os possíveis retângulos dentro do domínio da função, isto é

S  S jk
j k

= ∑∑ 1 + z 2x ( ) jk + ( z2y ) jk ∆x j ∆yk
j k

Fazendo as distâncias ∆ xj , ∆yk se aproximarem de zero, temos que a área de uma


superfície é dada por

S= li
∆x j ,∆yk →0
∑∑ ( ) jk + ( z2y ) jk ∆x j ∆yk
1 + z 2x
j k

  1  z 2x  z 2y dA.
D

A seguir vamos aprender como aplicar a fórmula da área da superfície com alguns
exemplos.

7 EXEMPLO Vamos começar determinando a área de uma superfície que surge como a parte do
plano 4 x  3 y  2 z  12 que se encontra no primeiro octante, onde temos que todas
as variáveis são não negativas, isto é, x, y, z ≥ 0 . Perceba que a integral para o cálcu-
lo da área da superfície é uma integral dupla, logo precisamos determinar uma região
D no plano xy para realizarmos o cálculo da área da superfície. Neste caso, a região
D no plano xy é dada pela interseção entre o plano 4 x  3 y  2 z  12 e o plano
z =0.
4

0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0

Figura 7 - Domínio de integral D para a integral de área


Fonte: os autores.

A equação que determina a hipotenusa do triângulo mostrado na Figura 7 pode ser


obtida fazendo z = 0 na equação 4 x  3 y  2 z  12. Isto é,
4
y  4  x.
3

UNIDADE III 109


Observe que, a fim de utilizar a fórmula para determinar a área da superfície, é pre-
ciso que a função esteja na forma z  f  x, y  . Neste caso, resolvendo a equação do
plano para a variável z e calculando as derivadas parciais, temos
3
z  6  2x  y
2
z x  2

3
zy   .
2
Os limites que definem a região de integração D são

4
0 ≤ x ≤ 3 e 0 ≤ y ≤ − x + 4.
3

Finalmente, podemos calcular a área da superfície que é dada por

S   1  z 2x  z 2y dA
D
4
3  x4 2 2
  3 1   2    3 / 2  dydx
0 0
4
29 3  x4

2 0  0
3 dydx.

Note que a integral dupla que apareceu fornece a área do triângulo dado pela Figura
7. A área do triângulo é A = 3 × 4 = 6. Portanto, a área da superfície é
2
29
S  6  3 29.
2

8 EXEMPLO Neste exemplo, vamos determinar a área da superfície da parte da função z = 2 xy que
2 2
se encontra no interior do cilindro de raio unitário x  � y � 1 no primeiro quadrante.
Para esta função dada, temos que as derivadas parciais são facilmente calculadas
e dadas por
zx = 2 y
z y = 2 x.

Assim, neste caso, a integral para a área de superfície será imediata e dada por

S =∫∫D 1 + 4 x2 + 4 y 2 dA.

110 Aplicações das


Falta apenas encontrar o domínio de integra-
ção. Neste caso, ele foi dado e é a parte do disco
unitário que se encontra no primeiro quadrante.
Tendo em vista o caráter circular do domínio,
faz-se útil utilizar uma transformação por coor-
denadas polares. Observe que, como o disco se
encontra no primeiro quadrante, então as se-
guintes desigualdades para as variáveis polares
devem ser satisfeitas

0≤r≤1

π
0 ≤ θ≤ .
2 Gráfico da área de superfície

Assim, a integral da área da superfície é dada por

� S   1  4 x2  4 y 2 dA
D

π
1
 2
0 r 1  4 r 2 drd θ
0

p 2  du 
 
2 1
u 
 8 

3 5
p  2
 u 
24  
 1

3
p 2 
  5  1 .
24  
 

UNIDADE III 111


Sustentação
em uma Asa

Neste último tópico da unidade, vamos utilizar


a integral dupla para um exemplo mais físico e
menos geométrico e que afeta o nosso cotidiano
diretamente. Vamos entender, claro que de uma
forma simplificada, o mecanismo que faz um
avião voar ou um carro de fórmula 1 manter-se
no chão. Claro que nem todos os aspectos dessa
bonita área da engenharia serão feitos aqui. São
muitos detalhes que precisariam de um curso
específico de aerodinâmica para entender todos
os mecanismos. No entanto, esta aula, provavel-
mente, deixará o estudante curioso a respeito de
todo o processo e, certamente, interessado nesse
incrível tópico da ciência.
Antes de começarmos o nosso estudo, preci-
samos definir o que é um campo de vetores, ou
campo vetorial. Um campo vetorial bidimensional

é uma função F que fornece um vetor para cada
ponto do plano  x, y  . Campos vetoriais são nor-
malmente representados por um campo de fle-
chas no plano. Por exemplo, a imagem a seguir é
uma visualização do campo de vetores para

F ( x y ) = ( y − x ) = yi − xj

112 Aplicações das


10

-5

-10

-10 -5 0 5 10

Figura 8 - Campo de vetores


Fonte: os autores.

Podemos pensar em um campo vetorial como sendo a representação do escoamen-



to de um determinado fluido em duas dimensões, de modo que o vetor F  x, y 
representa, então, a velocidade de um fluido no ponto  x, y . Neste caso, chamaremos

F  x, y  de campo de velocidades do fluido.

Para chegarmos no nosso ponto de interesse que é o cálculo da sustentação gera-


da por um escoamento, precisamos de algumas definições. Considere, então, um

campo de velocidades v ( x, y ) = u ( x, y ) i + w ( x, y ) j dado em uma região D fechada
no plano. Definimos a circulação deste campo de velocidades em torno da região
D como sendo a seguinte integral
 ∂w ∂u 
Γ = ∫∫  −  dA.
D
 ∂x ∂y 
Considere que a região fechada D no plano tenha como fronteira uma curva C .
Assim, a integral da circulação mede o quanto o campo de vetores está alinhado
com essa curva C . Isto é, a integral indica o quanto o campo de vetores tende a
circular em torno da curva C . No exemplo que faremos a seguir, essa ideia da
circulação ficará mais clara.

UNIDADE III 113



9 EXEMPLO Considere o campo de velocidades definido por v  x, y   yi  xj. Vamos calcular a
circulação desse campo de velocidades em torno da elipse

x2 y 2
  1.
4 9

Temos que a circulação é dada pela integral

 ∂w ∂u 
Γ = ∫∫D −  dA
 ∂x ∂y 

= ∫∫ ( −1 − 1) dA
D

= −2 ∫∫DdA
= −2 × (Áre da elipse )

 12p.

Na Figura 9, temos o campo de velocidades v  x, y  e a região que estamos calcu-
lando a circulação.

10

-5

-10

-10 -5 0 5 10

Figura 9 - Contorno para o cálculo da circulação


Fonte: os autores.

114 Aplicações das


Perceba que a o campo de velocidades de fato circula com relação à curva que define
a região de integração que, nesse caso, é uma elipse.
Definida a circulação, podemos relacioná-la com a força de sustentação gerada por
um campo de velocidades que passa por um corpo no plano. A força de sustentação é
uma componente de força que é perpendicular ao vento relativo ao corpo. Essa força
surge em virtude da diferença de pressão entre as partes superior e inferior do aerofólio
e tende a empurrá-lo para cima, auxiliada ainda pela reação do ar na parte inferior
dele. Uma representação da força de sustentação pode ser vista na figura a seguir.

Sustentação

Figura 10 - Perfil aerodinâmico


Fonte: os autores.

A relação entre a força de sustentação e a circulação de um campo de velocidades é


dado pelo Teorema de Kutta-Joukowski, dois precursores no estudo da aerodinâmica,
cujas ideias são fundamentais para essa área da ciência.

1 TEOREMA Teorema de Kutta-Joukowski



Considere um campo de velocidades v  x, y  de tal forma que

 
v  v   u , 0  ,

quando  x, y    . Suponha que esse campo de velocidades seja exterior a um


corpo que define uma região B no plano. Então, a força de sustentação exercida
sobre o corpo B é dada por

F  ruC ,

em que r é a densidade do fluido, e C é a circulação em torno da região B .

UNIDADE III 115


10 EXEMPLO Os aerodinamicistas Kutta, na Alemanha, e Joukowski, na Rússia, mostraram de forma
independente o teorema quando ambos trabalhavam para quantificar a sustentação
que surgia quando um fluxo de ar escoava sobre um cilindro giratório.

Sustentação

Figura 11 - Escoamento passando por um cilindro rotativo


Fonte: os autores.

Como todos os efeitos da sustentação aerodinâmica, este também parece um pouco


misterioso. No entanto, ele pode ser visto como um redirecionamento do movimento
do ar. Se o cilindro aprisiona um pouco de ar em uma camada próxima da superfície
do cilindro e o carrega preso com ela, soltando-o apenas quando está na parte de
baixo, então ele fornece ao ar um momento para baixo. Isso age dando ao cilindro
um momento para cima, de acordo com o princípio da conservação do momento, e
gerando, desta forma, a força de sustentação.
Neste caso, o campo de velocidades pode ser encontrado analiticamente. Não é
nosso objetivo, aqui, determinar esse campo, vamos apenas usá-lo para determinar-
mos a força de sustentação no cilindro rotativo de raio R. Considere que, na super-

fície do cilindro, o vetor velocidade v  x, y  do ar possui componentes dadas por

 2u y Γ 
u ( x, y ) = y  2 ∞ 2 + 
x + y 2π R x 2 + y 2 
 

 2u y Γ 
w ( x, y ) = − x  2 ∞ 2 + .
x + y 2π R x 2 + y 2 
 

Vamos calcular a sustentação utilizando o teorema de Kutta-Joukowski. Para tal,


precisamos determinar a circulação em torno do cilindro que é dada por

116 Aplicações das


 ∂w ∂u 
ção = ∫∫  −  dA.
2
x + y ≤R2 2
 ∂x ∂y 

Temos que

 
2u y Γ  4u xy Γx 
wx = − 2 ∞ 2 − + x ∞ + 
 x2 + y 2 2
( )
3
x +y 2π R x 2 + y 2 


2π R x 2 + y 2 ( ) 2 

 
2u∞ y  4u∞ y 2 2u 
uy = 2 + Γ 
+y − − Γy + 2 ∞ 2 .
x + y 2 2π R x 2 + y 2
( )
2 3
 x2 + y 2 x +y 

 (
2π R x +2
y )
2 2


Simplificando a diferença entre essas duas derivadas, temos

2u∞ y Γ
wx − u y = − 2 2
− .
x +y 2π R x 2 + y 2

Finalmente, podemos calcular a circulação que é dada por

 w u 
circulação     dA
x2  y 2  R 2 
 x y 
 2u y 
= ∫∫ 2 2 2  − 2 ∞ 2 − Γ  dA
x + y ≤R  x + y 
 2π R x 2 + y 2 

2π R  2u∞ rsenθ Γ  rdrd θ


= −∫ ∫0  2
+ 
0 r 2π Rr 
2π R Γ 
= −∫ ∫0  2u∞ senθ + 2π R  drd θ
0

2π  Γ  Rd θ
= −∫  2u∞ senθ + 
0  2π R 
2π  Γ  dθ
= −∫  2u∞ Rsenθ + 
0  2π 

 
= −  −2u∞ Rcosθ + Γ θ 
 2π 0

= − Γ.

UNIDADE III 117


Portanto, a força de sustentação gerada pelo es-
coamento sobre o cilindro rotativo é dado pelo
teorema de Kutta-Joukowski que é

F  ruC

= ρu∞ Γ.

Para encontrarmos a força de sustentação em uma


asa, precisaríamos da solução analítica do escoa-
mento em torno desse perfil aerodinâmico. Assim,
poderíamos calcular a circulação em torno desse
perfil e, então, determinarmos a sustentação. A
solução analítica de alguns modelos de asa fogem
do escopo desta aula, que demandam um estudo
mais aprofundado de aerodinâmica.

118 Aplicações das


Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Determine a área da superfície gerada pela interseção entre o plano z 2 x


2 2
e o cilindro x  y  2.

2. Encontre a massa da placa retangular 1  x  2 , 0 ≤ y ≤ 3 de densidade


d  x, y   x 1  y  .
2

x2 y 2 z 2
3. Considere o elipsoide    1 com densidade d constante. Determine
4 4 2
o segundo momento com relação ao eixo z desta esfera.


4. Considere as componentes do vetor velocidade v dadas por vx = x2 y v y = xy.
Determine a circulação desse vetor velocidade sobre o círculo de raio unitário
com centro na origem.

x = 0 e x  1  y 2 com densidade
5. Considere a placa definida pela região entre
d  y  x2 . Determine o segundo momento com relação ao eixo x desta placa.

119
WEB

Para entender melhor as aplicações das integrais duplas e triplas na aerodinâ-


mica, é interessante assistir à seguinte aula sobre aerodinâmica básica.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

120
ANTON, H. Cálculo: Um novo horizonte. Porto Alegre: Bookman, 2000. Volume 2.

STEWART, J. Cálculo. 6. ed. São Paulo: Pioneira /Thomson Learning, 2011. Volume 2.

121
1. A superfície em questão é uma elipse. Temos para essa função que as derivadas parciais são dadas por

z x  1 z y = 0.

A integral para a área de superfície é

2
S   1   1 � dA
D

2π 2
 0 2rdrd θ
0

= 2 2p.� �
2. A massa é dada por

2 3 2
M 
1 0
x 1  y  dydx
3
2 y2 
2
  x  y   � dx
1 
 2 
0

5 3
 1
2
 x
2
45
= .
2

3. Neste caso, faz-se interessante utilizar a substituição por coordenadas esféricas na forma

x = 2rcosθ senϕ y = 2rsenθ senϕz = 2rcosϕ,



cujo Jacobiano é dado por J  4 2r senj. Assim, o segundo momento com relação ao eixo z é dado por
2

M xy = δ ∫∫∫
elipsoide
( x2 + y2 )dV

0  r 
π 1 4
 8 2δπ  sen 3ϕ drd ϕ
0

32 2δπ
 .
15

122
4. Para calcular a circulação, é necessário calcular as derivadas parciais das componentes do vetor veloci-
dade, temos
   
vx   x2 � y  = x2 e também v y   xy  = y.
y y   x x
Portanto,

 
v y  vx  y  x2
x y

e a circulação é dada por

círculo  x v y  y vx  dA  círculo  y  x  dA  02π 01  r 2 senθ  r 3 cos2 θ  drd θ = − π4 .


    2

5. O segundo momento com relação ao eixo y é dado por

Mx   y 2d dA
região


1
1 0
1 y 2
 
y 2 y  x2 dxdy

32
= .
945

123
124
125
126
Dr. Vinicius de Carvalho Rispoli
Dr. Ricardo Ramos Fragelli
Dr. Ronni Geraldo Gomes de Amorim

Integrais Curvilíneas

PLANO DE ESTUDOS

Integral de Linha Teorema de Green e


de Primeira Espécie Independência do Caminho

Curvas Planas e Integral de Linha


Espaciais em campos vetoriais

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Definir o conceito de curva plana e espacial. • Estudar as integrais curvilíneas de segunda espécie.
• Estudar as integrais curvilíneas de primeira espécie. • Estudar o teorema de Green e suas aplicações.
Curvas Planas e
Espaciais

Nesta unidade, iremos estudar as integrais curvilí-


neas e os principais resultados, aplicações e teore-
mas que estão envolvidos com esse assunto. Essas
integrais são importantes, pois elas permitem cal-
cular integrais de funções que variam sobre curvas
no plano ou no espaço. Elas são integrais em uma
variável e diferem das integrais que estudamos
até então por generalizarem os domínios unidi-
mensionais, nas quais as integrais são calculadas.
Neste contexto, podemos, por exemplo, calcular o
trabalho que uma força realiza para movimentar
uma partícula sobre uma trajetória curva. Neste
primeiro tópico, faremos um breve resumo so-
bre as curvas planas e espaciais, para, em seguida,
começarmos o assunto das integrais curvilíneas
ou também conhecidas como integrais de linha.
Em geral, uma função como conhecemos é uma regra que atribui a cada elemen-
to no domínio, um elemento no contradomínio. Uma curva, ou função vetorial, é
simplesmente uma função cujo domínio é um subconjunto dos números reais, e o
contradomínio é um conjunto de vetores. Estamos, aqui, interessados em funções
vetoriais cujos valores são vetores bidimensionais e tridimensionais, isto é, funções
que irão nos fornecer curvas planas e espaciais.
Para uma função vetorial tridimensional, considere f  t  , g  t  e h  t  funções
que são as componentes do vetor r  t , então f , g e h são funções reais chamadas
de funções componentes da curva r e escrevemos uma curva tridimensional, por
exemplo, na forma

r t f t g t ht f t i g t j h t k

No caso de uma curva bidimensional c  t , escrevemos

c t f t g t f t i g t j

Usamos, em geral, a letra t para denotar a variável independente, porque ela repre-
senta o tempo na maioria das aplicações de funções vetoriais.

1 EXEMPLO Vamos considerar, inicialmente, a curva bidimensional

r t ln 3 t t .

Neste caso, as funções componentes são dadas por f t ln 3 t e h  t   t . Pela


nossa convenção usual, o domínio da curva r  t  consiste em todos os valores de t
para os quais as componentes de r  t  estão bem definidas. As expressões ln  3��  t 
e t estão bem definidas quando 3��  t  � 0 e t ≥ 0 . Portanto, o domínio de r  t  é
dado pelo intervalo 0,� 3  .
Podemos, para funções vetoriais, definir os conceitos de limites, continuidade e
derivadas também. O conceito de derivadas, em particular, será muito importante para
o nosso estudo nas seções seguintes do nosso texto. Faremos as definições utilizando
curvas espaciais, mas é importante observar que essas definições são equivalentes
para curvas com duas dimensões.

UNIDADE IV 129
Começaremos com a definição do limite. Dada uma função vetorial r  t  , o
conceito do limite, semelhante ao estudado no Cálculo 1, é definido componente e
a componente. Isto é, se r  t    f  t  , g  t  , h  t   então

lim r  t    lim f  t  , lim g  t  , lim h  t   ,


t a  t a t a t a 

se os limites das componentes existem. É importante observar que os limites das fun-
ções vetoriais obedecem às mesmas regras dos limites das funções com valores reais.

De forma equivalente, podemos definir a continuidade de uma função vetorial. Di-


remos que r  t    f  t  , g  t  , h  t   é contínua no ponto t = a se

lim r  t   r  a  .
t a

Finalmente, podemos definir a derivada ou vetor velocidade de uma curva


r  t    f  t  , g  t  , h  t   como sendo o vetor

r t  k   r t 
r   t   lim
k 0 k

 f t  k   f t  g t  k   g t  h t  k   h t  
  lim , lim , lim 
 k 0 k k 0 k k 0 k 

  f  t  , g t  , h ' t 

considerando que f   t  , g '  t  e h '  t  existem.

Claramente, existe uma conexão próxima entre funções vetoriais contínuas e as


curvas no plano e no espaço. Suponha que f , g e h sejam funções contínuas reais
definidas em um intervalo I . Então, o conjunto C de todos os pontos  x,� y  no
plano, em que x  f  t  e y  g  t  e t varia ao longo do intervalo I , é chamado
de uma curva plana. De forma equivalente, o conjunto D de pontos  x, y, z  no
espaço, em que x  f  t , y  g  t  e z  h  t , com t ∈ I , é chamada de uma curva
espacial.

130 Integrais Curvilíneas


As equações em x  f  t  e y  g  t  ou x  f  t  , y  g  t  e z  h  t  são
chamadas equações paramétricas das curvas C e D, enquanto t é chamado de
parâmetro. O interessante é que podemos pensar em C como sendo uma curva
traçada por uma partícula em movimento, cuja posição no tempo t é dada por
 f  t  ,� g  t  ,� h  t   . Assim, qualquer função vetorial contínua r  t  define uma cur-
va plana ou espacial que é traçada pela ponta do vetor em movimento r  t , como
mostrado na Figura 1 a seguir.

z
P( f(t), g(t), h(t))

r(t) = f(t), g(t), h(t)


0

y
x

Figura 1 - C é uma curva espacial traçada pela ponta do vetor posição r  t  em movimento
Fonte: os autores.

2 EXEMPLO Vamos, neste exemplo, esboçar a curva cuja equação vetorial é dada por

r t cos t i sen t j .

Temos, claramente, que as componentes da curva são dadas por

x co t e y sen t

No entanto, da relação fundamental da trigonometria, temos que

cos2  t   sen2  t   1.

Logo, a curva deve estar na borda de um círculo de raio unitário, pois

x2  y 2  cos2  t   sen2  t   1.

UNIDADE IV 131
Portanto, a curva r t cos t i sen t é a parametrização de um círculo unitário.

3 EXEMPLO Agora, neste exemplo, vamos esboçar a curva cuja equação vetorial é dada por

r  t   cos  t  i  sen  t  j  tk .

Como as componentes planas da curva são dadas por

x co t e y sen t ,

então, a curva espacial r  t  deve estar contida em um cilindro de raio unitário

x 2  y 2  1.

O ponto  x, y, z  ,está diretamente acima do ponto  x, y,0 , que se move no sentido


anti-horário sobre o círculo x2  y 2  1 no plano xy. Como z = t , então a curva
desejada é uma espiral que se move circulando sobre o cilindro no sentido para cima,
como mostrado na Figura 2. Essa curva é chamada de hélice.

(0,1, 2π)
y
(1,0,0)
x

Figura 2 - C é uma hélice que representa o movimento de uma partícula no sentido anti-horário
Fonte: os autores.

132 Integrais Curvilíneas


Integral de Linha
de Primeira Espécie

Uma integral de linha de primeira espécie, in-


tegral curvilínea ou integral de linha de uma
2 3
função escalar, f :  →  , ou g :  →  ,
pode ser pensada como sendo a generalização da
integral de uma função de uma variável em um
intervalo, porém com o intervalo dobrado como
uma curva, no plano ou no espaço. Uma analogia
simples que capta a essência da integral de linha
de primeira espécie é a ideia de calcular a massa
de um fio a partir da sua densidade linear.
Se a densidade linear de um fio for constante,
então o cálculo da massa desse fio pode ser feito
por meio da multiplicação da sua densidade linear
pelo comprimento do arco da curva. Assim, se
c  t  , com a ≤ t ≤ b, representa a parametrização
do fio que possui densidade constante d , então, a
massa é dada por

m  d  s,

b
em que s   c '  t  dt é o comprimento da curva.
a

UNIDADE IV 133
Se, por outro lado, a densidade varia ao longo do fio, isto é, d  d  c  t  , podemos
nos utilizar de um procedimento semelhante ao do cálculo do comprimento de arco
(que fizemos no Cálculo I) para derivar uma fórmula para o cálculo da massa do fio.
Essa fórmula definirá o que entendemos por integral de linha sobre o fio, cuja função,
neste caso, representa a densidade.
Desta forma, o procedimento para deduzirmos a fórmula da integral de linha será
baseado no cálculo da massa de um fio. Assim, considere um fio no plano (ou espaço)
que pode ser descrito de forma parametrizada pela curva c  t   x  t  i  y  t  j , definida
no intervalo t   a, b  , cuja densidade é dada pela função escalar f : 2 →  .

c(t) = x(t)i + y(t)j

a t2 t3 t4 tn-2 t n-1 b
Figura 3 - Aproximação linear do comprimento da curva c t 
Fonte: os autores.

Se dividirmos o intervalo  a, b  em n partes (como na Figura 3), então podemos


calcular aproximadamente a massa do segmento c  t  entre ti e ti+1 , como sendo

   c t
mi  f c ti* i 1   c  ti 

densidad comprimento

Perceba que o ponto t * é um ponto no interior do intervalo ti , ti 1  e que


i

2 2
c  t   x  t   y  t  representa o módulo Euclidiano de um vetor. Desta forma,
a aproximação da massa de todo o fio será o somatório de todas as contribuições de
massa mi , isto é,

134 Integrais Curvilíneas


n
M  mi
i 1

n
  f c ti*
i 1
   c t i 1   c  ti  .

Perceba que a única diferença entre a expressão da massa aproximada obtida e aque-
la que obtivemos para o cálculo do comprimento de uma curva no curso de Cálcu-
  
lo 1 é o aparecimento da função f c ti* , multiplicando o comprimento aproxima-
do da curva. Para transformar essa soma em uma integral, vamos multiplicar e
dividir cada termo do somatório por Dti  ti 1  ti e teremos

n n c ti c ti
1
f c ti* c ti 1 c ti f c ti* ∆ti
i 1 i 1 ∆ti

Considerando que a expressão dentro do módulo ⋅ no limite equivale à derivada da


curva c  t , então, quando fizermos Dti → 0 e, consequentemente, n  �, a soma
de Riemann convergirá para a integral

n b
c ti 1 c ti
li f c ti* ∆ti f c t c ' t dt.
n
i 1 ∆ti a

Lembrando que o comprimento de uma curva c  t  é calculado como


t
s t    c '  t  d t,
a

então podemos escrever o elemento de comprimento como sendo ds  c '  t  d t .


Desta forma, utilizamos a seguinte notação para representar a integral de linha sobre
a curva c  t :

b
f ds f c t c t dt
c a

b
  f  x  t  , y  t   x '  t   y '  t  dt.
2 2

UNIDADE IV 135
É importante notar que essa mesma definição vale para uma curva espacial parame-
trizada por r  t   x  t  i  y  t  j  z  t  k , com t  α, β  , e uma função escalar
g : 3 → , na forma
β

gds  g  r  t   r   t  dt
r α
β
  g  x  t  , y  t  , z  t   x '  t   y '  t   z '  t  dt.
2 2 2

04 EXEMPLO Considere a curva dada por

c t 3t 2 i t 1 j 0 t 2

como sendo a parametrização de um fio. Podemos ver que essa curva é uma reta,
pois sendo a curva dada por x  t   3t  2 e y  t   t 1 , podemos isolar a variável
t em x  t  e obter
x2
t .
3

Substituindo esse valor encontrado em y  t , temos que

x2 x 5
y  y  x  1   .
3 3 3

Portanto, a curva dada representa a reta y  x  5 .


3 3

Agora, suponha que a densidade desse fio no ponto  x, y  seja dada pela função

d  x, y   2 x  y.

A massa do fio nada mais é que a integral da densidade ao longo do fio. Dessa forma,
precisaremos calcular a integral de linha

M  d s.
c

136 Integrais Curvilíneas


O elemento de comprimento, ds, é dado por

ds  c'  t  dt

  x '2   y '2 dt

 32  12 dt

= 10dt.

A função densidade sobre a curva, d  c  t  , é dada por

d c t   2 x t   y t 

 2  3t  2    t  1

 7t  5.

Assim, a integral pode ser calculada como

M  d ds
c

b
 d  c  t   c  t  dt
a

2
   7t  5  10dt
0

2
7 
 10  t 2  5t 
2 0

 4 10 ..

Portanto, se a densidade d é dada em g / cm, e c  t  é dada em cm , então a massa


do fio seria 4 10g .

UNIDADE IV 137
5 EXEMPLO Assim como podemos calcular a massa de um fio bidimensional usando a integral de
linha, podemos também calcular a massa de um fio no espaço tridimensional. Para
tal, considere a hélice circular

r  t   2 cos  3t  i  2 sen  3t  j  3tk ,

com t  0, p  , e suponha que a densidade dessa “mola” seja dada pela função

d  x , y , z   x 2 z.

A seguir, podemos ver um esboço da hélice.

2 -2 -1
1 0
1
0 2
-1
-2

Figura 4 - Hélice definida por r t 2 cos 3t i 2 sen 3t j 3tk no intervalo 0, p 


Fonte: os autores.

Desta forma, a massa M é dada pela integral de linha

M  d ds.
C

138 Integrais Curvilíneas


Primeiro, iremos calcular o elemento de comprimento, ds, para a hélice que é dado por

ds  r   t  dt

  x 2   y 2   z '2 dt
  6sen  3t  2   6 cos  3t  2  32 dt

 36 cos 2  3t   sen2  3t   9dt 
= 45dt

3 5dt.

A função densidade sobre a curva, d  r  t   , é dada por

d  r  t    x  t  z t 
2

 4 cos2  3t  t.

Assim, a integral pode ser calculada como

M δ ds
x
b
  d  r  t   r '  t  dt
a

p 2
  4 cos  3t  3t  3 5dt
0  

p
 36 5 t cos2  3t  dt
0

p 1  cos  6t 
 36 5 t dt
0 2
p
 18 5 t  t cos  6t   dt
0

UNIDADE IV 139
Fazendo a integração por partes de  tcos  6t  dt com f '  cos  6t  e g = t , temos
finalmente que a massa é dada por

 2 p  t � sen 6t p p sen 6t
t
M  18 5    
     dt 
 
 2   6 0 0 6 
 0 

 p2  1  
p
 18 5    cos  6t   
 2  36 0 

= 9 5p 2 .

6 EXEMPLO Vamos, neste exemplo, determinar o centro de massa de um fio formado por um
semicírculo de raio a, cuja parametrização é dada por

c t a cos ti a sin tj 0 t π

e que possui densidade linear dada por d  x, y   x  y 1. Neste caso, o semicírculo
está no semieixo y ≥ 0 , como podemos ver na Figura 5.

1.0
0.8

0.6
0.4
0.2

-1.0 -0.5 0.5 1.0

Figura 5 - Fio em formato de semicírculo de raio a


Fonte: os autores.

As coordenadas do centro de massa de um fio são dadas pela razão entre os primei-
ros momentos com relação a x e y,

My xδ ds Mx yδ ds,
c c

respectivamente, e a massa do fio


M  d ds.
c

140 Integrais Curvilíneas


Neste caso, o elemento de comprimento, ds, é dado por

ds  c'  t  dt

  x '2   y '2 dt

  a sin t 2   a cos t 2 dt

= adt.

A massa, então, pode ser calculada por

M  ds
c

b
 d  c  t   c  t  dt
a

p
 a  a cos t  a sin t  1 dt
0

p
  a2 sin t  a2 cos t  at 
 0

 2a2  ap.

Agora, o momento com relação a x é dado por

My xδ ds
c

b
 x  t  d  c  t   c  t  dt
a
p
   a cos t   a cos t  a sin t  1 a  dt
0

p p p
a3
 a3 cos2 tdt   sin 2tdt  a2 cos tdt
0 0
2 0

UNIDADE IV 141
p p
1  cos 2t  a3 
dt    cos 2t   a2 sin t 0
3 p
a 
0
2  4  0

a 3p
= .
2

Finalmente, o momento com relação a y é dado por

M x   yd ds
c
b
  y  t  d  c  t   c  t  dt
a

p
   a sin t   a cos t  a sin t  1 a  dt
0

π π π
3 2a3
a si tdt sin 2tdt a2 sin tdt
0 0
2 0

p p
1  cos 2t  a3 
dt    cos 2t   a2   cos t 0
3 p
a 
0
2  4  0

a 3p
  2a 2 .
2

Portanto, o centro de massa é dado por


cm   x , y 

 My Mx 
 , 
 M M 
 a 3p 1 a 3p  4 a 2 1 
  2 ,  2 
 2 2 a  ap 2 2a  ap 


 a 2 p a 2 p  2a 

 4 a  2p 4 a  2p 
, .
 

142 Integrais Curvilíneas


Integral de Linha
em Campos Vetoriais

Antes de começarmos o nosso estudo das integrais


de linha de segunda espécie, precisamos definir
(ou relembrar, já que fizemos isso na Unidade 3)
o que é um campo de vetores, ou campo vetorial.
Um campo vetorial bidimensional é uma função
F  x, y  que fornece um vetor para cada ponto
do plano  x, y  . Campos vetoriais bidimensionais
são, normalmente, representados por um campo
de flechas no plano. Por exemplo, a imagem a se-
guir é uma visualização do campo de vetores para

F x y y x yi xj

UNIDADE IV 143
10

-5

-10

-10 -5 0 5 10

Figura 6 - Campo de vetores F x y y x yi xj


Fonte: os autores.

Podemos pensar em um campo vetorial como sendo a representação do escoamento


de um determinado fluido em duas dimensões, por exemplo. De modo que o vetor
F  x, y  representa, então, a velocidade de um fluido no ponto  x, y . Neste caso,
chamaremos F  x, y  de campo de velocidades do fluido. O campo vetorial também
costuma ser usado na física e na engenharia para representar forças de diversos tipos:
elétrica, magnética ou gravitacional, por exemplo.
Nós usaremos, neste momento, a noção de circulação sobre um escoamento de um
fluido para definirmos a nossa integral de linha. Lembrem-se da Unidade 3, em que
usamos a definição de circulação para mostrarmos que a força de sustentação sobre
uma asa era gerada por uma integral dupla. Considere, então, um campo de veloci-
dades F  x, y   P  x, y  i  Q  x, y  j dado em uma região D fechada no plano.
Suponha que essa região seja limitada por uma curva C parametrizada definida por
r  t   x  t  i  y  t  j,

com t   a, b . Definimos, então, a circulação deste campo de velocidades em torno


da curva C como sendo a seguinte integral

  F dr
C

b
 F  r  t    r   t  dt ,
a

144 Integrais Curvilíneas


em que ⋅ representa o produto escalar entre dois vetores. Essa integral da circulação
mede o quanto o campo de vetores está alinhado com essa curva C . Isto é, a integral
indica o quanto o campo de vetores tende a circular em torno da curva fechada C .
No exemplo que faremos a seguir, essa ideia da circulação ficará mais clara.

7 EXEMPLO Considere o campo de velocidades definido por F  x, y   yi  xj , mostrado na


figura anteriormente. Vamos calcular a circulação desse campo de velocidades em
torno da elipse
x2 y 2
  1.
4 9

Esse é o mesmo exemplo que utilizamos na Unidade 3, porém sobre uma outra
ótica. Nosso primeiro passo para calcular a circulação é parametrizar a elipse. Uma
parametrização simples e eficiente, que imediatamente nos fornece o sentido correto
(anti-horário), é

com t  0, 2p  . Perceba que as funções x  t   2 cos t e y  t   3sin t satisfazem a


equação da elipse.

Temos que a circulação é dada pela integral

 C F dr

b
 F  r  t    r   t  dt
a


3 sin ti 2 cos tj 2 sint 3 os tj dt
0

2p
   3 sin t   2 sin t    2 cos t  3 cos t  dt
0

2p
 6  sin 2 t  cos 2t  dt
 
0

 12p.

UNIDADE IV 145
Na Figura 7, temos o campo de velocidades F  x, y  e a região que estamos calcu-
lando a circulação.

10

-5

-10

-10 -5 0 5 10

Figura 7 - Contorno para o cálculo da circulação


Fonte: os autores.

Perceba que o campo de velocidades de fato circula com relação à curva que define
a região de integração que, nesse caso, é uma elipse. Além disso, observe que a para-
metrização escolhida, no sentido anti-horário, é oposta àquela que circula o campo,
por isso o sinal negativo na resposta.
A integral da circulação que definimos anteriormente é o que chamamos de in-
tegral de linha de segunda espécie, ou integral de linha em campos vetoriais. Consi-
derando o campo F  x, y   P  x, y  i  Q  x, y  j , usualmente representamos essa
integral de linha por
b

 F dr F r t r t dt
C a

b
   P  x  t  , y  t   x '  t   Q  x  t  , y  t   y '  t   dt
a

  Pdx  Qdy
C

146 Integrais Curvilíneas


Podemos definir essa mesma integral de linha também para campos de vetores
tridimensionais, isto é, F  x, y, z   P  x, y, z  i  Q  x, y, z  j  R  x, y, z  k . Desta
forma, para uma curva no espaço r  t   x  t  i  y  t  j  z  t  k , com t   a, b  , a
integral de linha de segunda espécie toma a forma

b
 F dr F r t r t dt
C a

b
   P  x  t  , y  t  , z  t   x '  t   Q  x  t  , y  t  , z  t   y '  t   R  x  t  , y  t  , z  t   z '  t   dt
a

  Pdx  Qdy  Rdz.


C

É importante ressaltar que, na definição da integral de linha de um campo vetorial,


a curva não precisa ser fechada. Da mesma forma que utilizamos a circulação como
motivação para definir a integral de linha, e consequentemente usamos uma curva
fechada, podemos defini-la usando a noção do trabalho realizado por uma força,
neste caso, podemos usar uma curva não fechada, como veremos no exemplo a seguir.

8 EXEMPLO Podemos calcular o trabalho que uma força vetorial no espaço tridimensional, por
exemplo, F x, y, z 2 xi xyj zk , realiza ao mover uma partícula do ponto  0, 0, 0 
ao ponto 1, 2, 1 sobre o caminho definido pela curva r  t   t i  2tj  t k . O tra-
2 3

balho que a força realiza é calculado pela integral de linha de segunda espécie

W  F  dr
C

1
 F  r  t    r   t  dt
0

1
   
   2t 2  2t   2t 3  2   t 3 3t 2  dt
    
0

1
 3t 5 dt
0

1
= .
2

UNIDADE IV 147
A diferença deste exemplo para o anterior é apenas que a curva não é fechada, no
entanto, a forma de calcular a integral de linha é a mesma. Existem várias interpre-
tações físicas para as integrais de linha em campos vetoriais ou integrais de linha de
segunda espécie.

9 EXEMPLO Neste exemplo, vamos voltar ao cálculo da força de sustentação que fizemos na
Unidade 3. Lembrem-se que fizemos uma aplicação da integral dupla no cálculo da
força de sustentação em um perfil aerodinâmico.

Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo.


Para acessar, use seu leitor de QR Code.

Existe uma relação entre a força de sustentação gerada pelo escoamento e a integral
de linha definida nesta aula. Ela é feita por meio do Teorema de Kutta-Joukowski que
diz que a força de sustentação é proporcional à circulação do campo de velocidades
de um fluido em torno do perfil aerodinâmico.
Os aerodinamicistas Kutta, na Alemanha, e Joukowski, na Rússia, mostraram
de forma independente o teorema quando ambos trabalhavam para quantificar a
sustentação que surgia quando um fluxo de ar escoava sobre um cilindro giratório.
Esse efeito é conhecido como efeito de Magnus.

Sustentação

Figura 8 - Escoamento passando por um cilindro rotativo


Fonte: os autores.

148 Integrais Curvilíneas


No caso do escoamento de ar sobre um cilindro rotativo, o campo de velocidades
pode ser encontrado analiticamente. Considere o cilindro rotativo de raio R , então,
o campo de velocidades do ar, v  x, y   u  x, y  i  w  x, y  j , possui componentes
dadas por

2u y 
u x, y y
x2 y2 2π R x 2 y2

2u y 
w x, y x 2 2
,
x y 2π R x 2 y2

em que u ∞ e G são constantes. O teorema de Kutta-Joukowski afirma que a força de


sustentação gerada pelo escoamento sobre o cilindro rotativo é dada por

F  ruC ,

em que C é a circulação sobre o cilindro e r a densidade do fluido, no caso ar.


Vamos, agora, determinar a circulação em torno do cilindro que é dada por

circulação ∫ udx wdy.


C

Antes de calcularmos a circulação, precisamos encontrar uma parametrização para


o círculo no sentido anti-horário (contrário ao giro do cilindro, observe o sentido
de rotação na figura). É fácil perceber que a parametrização

r  t   R cos  t  i  Rsen  t  j ,

UNIDADE IV 149
com t  0, 2p , satisfaz essa condição. Substituindo a curva nas componentes do
vetor velocidade, temos

2u y t 
u r t y t 2 2
x t y t 2 2
2π R x t y t

 2u sen  t  G 
 Rsen  t      � � �e
 R 2p R 2 

2u y t 
w r t x t 2 2
x t y t 2 2
2π R x t y t

 2u sen  t  G 
  R cos  t     .
 R 2p R 2 

Como r '  t    Rsen  t  i  R cos  t  j , então a circulação é dada por

 udx wdy v r t r ' t dt


C C

2p
  2u sen  t  G  2  2u sen  t  G  
   R cos  t    
2
     R sen  t     dt
0   R 2p R 2   R 2p R2  

2p
 G
  2u R cos  t   2p  dt
0

 G.

Portanto, a força de sustentação gerada pelo escoamento sobre o cilindro rotativo é

F ρu 

ρu .

150 Integrais Curvilíneas


Como pode ser visto no exemplo anterior, o conceito da circulação é de fundamental
importância na engenharia e sua aplicação está relacionada diretamente ao nosso
cotidiano. Um outro conceito, associado às integrais de linha de segunda espécie
bidimensionais, é o conceito do fluxo exterior à fronteira de uma curva fechada
C . Observa-se que essa definição que se segue vale apenas para curvas e campos
bidimensionais.

ds

Figura 9 - Cálculo do fluxo através da fronteira


Fonte: os autores.

Seja n o vetor normal exterior unitário à curva C , como mostrado na figura apre-
sentada. Suponha que o campo vetorial F  x, y   P  x, y  i  Q  x, y  j represente
o escoamento de um fluido qualquer no plano. Desta forma, sobre um elemento de
comprimento de arco ds da curva C , a vazão de fluido que atravessa esse elemento
de comprimento é dada por

Q  F  nds

 velocidade ��  comprimento.

Assim, se integramos sobre toda a curva, temos o fluxo líquido exterior à fronteira
região delimitada pela curva C , isto é,

F  F  nds.
C

UNIDADE IV 151
Suponha que a curva C tenha parametrização r  t   x  t  i  y  t  j . Sabemos da
geometria analítica que, para uma curva plana, o vetor normal exterior e unitário
pode ser escrito na forma
y ' t  i  x ' t  j
n .
2 2
x ' t   y ' t 

Assim, o fluxo exterior pode ser escrito como sendo

F  F  nds
C

 y ' t  i  x ' t  j
   P  x  t  , y  t   i  Q  x  t  , y  t   j  
2 2
x '  t   y '  t  dt
2 2
C x ' t   y ' t 

    P  x  t  , y  t   y  t   Q  x  t  , y  t   x  t   dt
C

   Qdx  Pdy.
C

10 EXEMPLO Vamos verificar o que acontece quando tentamos calcular o fluxo para um campo
vetorial que circula, como o campo F  x, y   yi  xj . Se considerarmos o círculo
unitário

x2  y 2  1,

como a nossa curva fechada C , o fluxo pode ser facilmente calculado usando a
parametrização c  t   cos  t  i  sen  t  j , com t  0, 2p . Temos, então

F    Qdx  Pdy
C

2p
     x  dx  ydy
0

2p
     cos  t    sen  t    sen  t  cos  t  dt
0

= 0.

Portanto, o fluxo é nulo. Resultado esperado de um campo vetorial que circula. � �

152 Integrais Curvilíneas


Teorema de Green e
Independência do
Caminho

Quando C é uma curva orientada e fechada, a


integral

C F  dr

representa a circulação de F em torno de C . Se


F é o campo de velocidades do escoamento de
água, por exemplo, essa integral nos irá indicar o
quanto de água tende a circular em torno do ca-
minho na direção da sua orientação.

Figura 10 - Curva plana C orientada no sentido anti-horário


Fonte: os autores.

UNIDADE IV 153
Uma forma de calcular a circulação é calcular a integral de linha diretamente. Con-
tudo, se a nossa integral de linha estiver em duas dimensões (isto é, F é um campo
vetorial bidimensional e C é uma curva fechada também plana), então o teorema
de Green se aplica e podemos usa-lo como uma alternativa para calcular a integral
de linha.
O teorema de Green transforma uma integral de linha sobre a curva C em uma
integral dupla na região limitada pela curva C . Entretanto, não é óbvio qual função
devemos integrar dentro da região limitada por C para que tenhamos o mesmo
resultado da integral de linha. Por isso, vamos usar a noção de circulação para nos
ajudar a entender que função deve ser.

Pense que a integral

 F  dr
C

representa a circulação “macroscópica” do campo vetorial F sobre a curva C . Ago-


ra, imagine que você tenha uma versão “microscópica” da circulação em torno de
uma curva. Essa circulação microscópica no ponto  x, y  deve lhe dizer o quanto o
campo de velocidade F deve circular em torno de uma pequena curva fechada
centrada no ponto  x, y . Nós podemos pensar que a circulação microscópica equi-
vale a várias pequenas curvas fechadas (mostradas na imagem a seguir de verde), em
que cada curva representa a tendência daquele campo vetorial de circular naquela
localização (imagine que as pequenas curvas são, de fato, muito pequenas, muito
menores que as mostradas na Figura 11).

“circulação microscópica”

Figura 11 - Circulação microscópica


Fonte: os autores.

154 Integrais Curvilíneas


O teorema de Green é apenas uma relação entre a circulação macroscópica em tor-
no de uma curva C e a soma de toda a circulação microscópica que está no interior
da região limitada por C. Se C é uma curva simples e fechada no plano, então ela
limita um região D no plano (mostrado em vermelho na Figura 12). Para facilitar,
vamos chamar de D o “interior” da curva C .

C
D

Figura 12 - Região D limitada pela curva C


Fonte: os autores.

O teorema de Green nos diz que se somarmos toda a circulação microscópica no


interior de C , então o total é exatamente o mesmo que a circulação macroscópica
em torno da curva C .

Figura 13 - Circulação microscópica dentro do domínio D


Fonte: os autores.

Somar toda a circulação microscópica em D significa calcular a integral dupla da


circulação microscópica em D . Portanto, podemos escrever o teorema de Green
como

∫C F dr
D
“circulação microscópica de F” dA.

UNIDADE IV 155
E o que é a circulação microscópica? Para respondermos a essa pergunta, pri-
meiro precisamos definir o que é o rotacional de um campo vetorial. Con-
sidere, apenas para efeito de definição, o campo vetorial tridimensional
F  x, y, z   P  x, y, z  i  Q  x, y, z  j  R  x, y, z  k, então o rotacional do campo
vetorial F é dado pelo seguinte determinante

i j k
  
 F 
x y z
P Q R

 R Q   P R   Q P 
  i    j    k.
 y z   z x   x y 

Em um ponto  x, y, z  do espaço, a interpretação física do rotacional do campo


vetorial F está relacionada à tendência do campo F de produzir rotação naquele
ponto ou, em outras palavras, o rotacional mede o quanto aquele ponto está girando.
Usando a definição do rotacional e considerando que sua definição está asso-
ciada com a rotação de um ponto no espaço, então podemos dizer que a circulação
microscópica para um campo vetorial bidimensional

F  x, y   P  x, y  i  Q  x, y  j

nada mais é que a componente na direção z do rotacional deste campo vetorial F.


Isto é,

“circulação microscópica F” F k,

em que k é o vetor unitário na direção z. Assim, podemos escrever o teorema de


Green como sendo

k dA.
C F dr
D
F

156 Integrais Curvilíneas


Observe que, no caso de um campo bidimensional, a componente k do campo F é
nula, isto é, R ≡ 0 , e assim a circulação microscópica pode ser reescrita como sendo

“circulação microscópica F
” F k

 Q P 
  k k
 x y 

 Q P 
  ,
 x y 

em outra palavras, temos que o teorema de Green é dado por

Q P
C F dr
D x y
dA.

11 EXEMPLO Vamos, nesse exemplo, calcular a integral de linha

2
C y dx  3 xydy,
em que C é a região limitada pela parte superior do círculo de raio unitário centrado
2 2
na origem x  y  1 , como mostrado na figura a seguir.

C
D

Figura 14 - Região D limitada pelo semicírculo C


Fonte: os autores.

 
O campo vetorial na integral é dado por F  x, y   y , 3 xy . Para usarmos o teorema
2

de Green, precisamos, inicialmente, calcular    F   k que, neste caso, é dado por

Q P
  3y  2y
x y

= y.

UNIDADE IV 157
Como a integral de linha é sobre a fronteira do semicírculo, então a região de inte-
gração é o semidisco D que, neste caso, é descrito por

1  x  1

0  y  1  x2 .

Portanto, pelo teorema de Green, temos

Q P
 F dr
D x y
dA
C

  ydA
D

1 1 x2
ydy dx
1 0

1 1 x2
 y2 
   dx
 2 
1   y 0
1
1

  1  x2 dx
2 1

1
1 x3 
 x  
2  3 
1

1  13   13  
 1    1 
2 3  3 
  
2
= .
3

12 EXEMPLO Normalmente, usamos o teorema de Green para calcular a integral de linha

C F  dr.

158 Integrais Curvilíneas


Será que podemos usá-lo de forma inversa? Isto é, converter uma integral dupla em
uma integral de linha? Se nos for dada uma integral dupla

D f  x, y  dA,
podemos usar o teorema de Green se existir um campo vetorial F  x, y , tal que

Q P
f  x, y    .
x y

No entanto, não aprendemos nenhum método para encontrar esse campo vetorial
F ,, mas existe uma situação em que podemos transformar uma integral dupla em
uma integral de linha: no cálculo da área da região D . A área dessa região é dada por

Área de D = ∫∫D d A = ∫∫D 1d A.

Assim, se f  x, y   1 , então é fácil encontrar o campo vetorial F , tal que

Q P
  f  x , y   1.
x y

Existem vários campos vetoriais F , no entanto, vamos escolher uma bem simples
que é

1
F  x, y     yi  xj .
2

y x
Não é difícil notar que, para P   e Q = , temos
2 2

Q P
  1.
x y

Finalmente, podemos dizer que a área da região D é dada por uma integral de linha
na forma

1
Área de D =
2 ∫C x dy ydx

UNIDADE IV 159
em que C  D corresponde à fronteira da região D orientada no sentido anti-horário.
Suponha, por exemplo, que se queira calcular a área do disco de raio r definido
2
por x2  y 2  r 2 . Sabemos, de antemão, que a área desse disco é A = pr . Neste caso,
a fronteira do disco é o círculo de raio r. Podemos parametrizar esse disco por

c  t    r cos t , r sin t 

com t  0, 2p . Como

c' t r sin t r cos t ,

então, a área é dada por

1
Área de D =
2 ∫ xdy ydx

2p
1

2   r cos t  r cos t    r sin t   r sin t  dt
0

2p

1 2

2 0

r cos2 t  sin 2 t dt 
2p
r2

2  dt
0

= pr 2 .

13 EXEMPLO Dado um campo vetorial F  x, y   P  x, y  i  Q  x, y  j, temos que o fluxo exterior


à fronteira de uma região D limitada pela curva C é dado pela integral de linha

Φ  Qdx Pdy.
C

160 Integrais Curvilíneas


Se aplicarmos o teorema de Green, considerando o campo vetorial
G  x, y   Q  x, y  i  P  x, y  j , então o fluxo exterior à fronteira pode ser calcu-
lado por meio de uma integral dupla, neste caso

Φ  Qdx Pdy
C

 P   Q  
     dA
D x y 

 P Q 
     dA.
D x y 


Veremos, em algumas aulas a partir desta, que essa é a forma do teorema do divergente.

Independência do Caminho
3
Considere uma função escalar f : D     com derivadas suficientemente
regulares e defina o campo vetorial usando o gradiente da função escalar na seguinte
forma
F  x , y , z   f  x , y , z 

f f f
 i j  k.
x y z

Suponha, agora, que seja definida dentro do conjunto D uma curva parametrizada
r  t   x  t  i  y  t  j  z  t  k , com t   a, b  . Pela regra da cadeia, a função com-
posta

g t   f  x t  , y t  , z t 

tem derivada dada por

dg  f  x  t  , y  t  , z  t   x  t   f  x  t  , y  t  , z  t   y  t   f  x  t  , y  t  , z  t   z  t  .
dt x y z

UNIDADE IV 161
O nosso interesse é verificar o que acontece com a integral de linha de um campo
vetorial definido por meio do gradiente de uma função escalar f . Assim, pela defi-
nição, temos

F  dr  f  r '  t  dt
C C

b
 f f f 
    x  t  , y  t  , z  t   x  t    x  t  , y  t  , z  t   y  t    x  t  , y  t  , z  t   z   t   dt
a
x y z 

b
dg
dt pela re da cadeia
a
dt

b
 dg
a

b
  g  t  
a

 g b   g  a 

 f  r b   f  r  a .

Desta forma, se o campo vetorial é definido mediante uma função escalar, então a
integral de linha de segunda espécie é calculada como uma versão aprimorada do
teorema fundamental do cálculo. Inclusive, esse resultado é conhecido como teorema
fundamental das integrais de linha.

Quando um campo vetorial F x, y, z puder ser escrito na forma


F x, y , z f x, y, z , para alguma função apropriada f x, y, z , dizemos
que o campo vetorial é conservativo. Além disso, dizemos que a função escalar
f x, y , z é uma função potencial.

162 Integrais Curvilíneas


A partir do resultado obtido, podemos fazer uma observação imediata. Se a curva
r  t  for fechada, isto é, r  b   r  a , então

 f dr f r b f r a
C

= 0.

Além disso, observamos que se o campo for conservativo, a integral de linha não
depende do caminho definido pela curva r  t , depende apenas dos pontos inicial e
final dela, r  a  e r  b , respectivamente. Diremos, então, que um campo conservativo
tem a sua integral de linha independente do caminho.

Considere a função escalar f  x, y   x  3 y . Para esta função, temos que o campo


2
14 EXEMPLO
conservativo é dado por F  x, y   2 xi  3 j . Considere, agora, as parametrizações
r  t   ti  2tj e c  t   t 2 i  2tj , com t  0, 1, de uma reta e parábola, respectiva-
mente, que ligam os pontos  0, 0  a 1, 2 . Podemos ver que

F  dr  F  t , 2t   1, 2  dt
r 0

1
   2t  6  dt
0

 0
1
 t 2  6t

= 7.

UNIDADE IV 163
Ou pelo caminho c  t  ,
1

F  dc  F  t 
, 2t   2t , 2  dt
2

c 0
1

  4t 3  6 dt 
0

 0
1
 t 4  6t

= 7.

Perceba que, f 1, 2   f  0, 0   12  3  2  7 como esperado. Portanto, o campo vetorial


F  x, y   2 xi  3 j é independente do caminho.
Nesse momento, a pergunta que temos que responder agora é: como saber quan-
do um campo vetorial F dado é conservativo? Nós já sabemos que um campo
conservativo tem sua integral de linha independente do caminho e para qualquer
curva fechada possível  F dr 0 . Vamos, nesse momento, limitar a nossa análise
C

ao plano. Faremos a análise para um campo tridimensional na Unidade 05.

Suponha que um campo vetorial bidimensional qualquer

F  x, y   P  x, y  i  Q  x, y  j

tenha a sua integral de linha independente do caminho, isto é, para uma curva fecha-
da qualquer C

C Pdx Qdy 0.

Por outro lado, pelo teorema de Green, temos que

Q P
C Pdx Qdy
D x y
dA.

Como a região D é qualquer e a integral de linha é nula, então podemos concluir


que um campo vetorial que tem integral de linha independente do caminho deve
satisfazer
Q P
  0.
x y

164 Integrais Curvilíneas


Q P
Portanto, para que o campo seja conservativo, é necessário que  .
x y

15 EXEMPLO 
3 4
 4 3

Considere o campo vetorial F  x, y   2 x y  x i  2 x y  y j. Podemos mos-
trar que esse campo vetorial é conservativo e ainda encontrar a função potencial. É
fácil ver que esse campo vetorial tem o rotacional nulo, pois

Q
Q  2 x4 y3  y   8 x3 y 3
x
P
P  2 x3 y 4  x   8 x3 y 3 .
y

Para encontrar a função potencial, precisamos perceber que se o campo é conser-


vativo, então

f x 4 y 4 x2
P  f  x, y    Pdx  f  x, y     h  y .
x 2 2

Por outro lado, temos que

f x4 y 4 y2
Q  f  x, y    Qdy  f  x, y     g  x.
y 2 2

Portanto, temos que a função potencial é dada por

x 4 y 4 x2 y 2
f  x, y      c,
2 2 2

em que c é uma constante arbitrária.

Finalmente, enunciamos o seguinte teorema. A demonstração foge do contexto desse


material, mas o estudante interessado pode encontrá-la em livros mais avançados
de cálculo.

01 TEOREMA Seja F  x, y   P  x, y  i  Q  x, y  j , F : D  2  2 , um campo vetorial com


derivadas suficientemente regulares e suaves. O campo F é conservativo, isto é,
existe f : D     tal que F  x, y   f  x, y  , se e somente se,
2

Q P
 .
x y

UNIDADE IV 165
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Calcule o valor da integral de linha  xds , em que C é o arco da parábola


C

y = 2 x2 entre os pontos  0, 0  e 1, 2  .

2. Calcule o valor da integral de linha F  dr , em que F é o campo vetorial


C

F  x, y    yi  xj , e C é o círculo x2  y 2  2 .

3. Dado um campo de velocidades u  Mi  Nj , é possível utilizar o teorema de


Green para calcular o fluxo por meio da fronteira de uma região fechada R no
plano como sendo

 M N 
F      dA.
R x y 


y2
Considerando o campo de velocidades u   yxi  j e c  t  a parametriza-
2
ção da curva dada por um círculo de raio 1 centrado na origem, calcule F.

166
4. A massa de um fio de densidade d e descrito por uma curva c  t  pode ser
calculada usando a integral de linha

m  d ds.
C

Considerando um fio de densidade d  x, y   2 x e descrito pela curva

 
c  t   t , t 2 / 2  1 , com t  0, 1 , então calcule sua massa.

5. Reescreva a integral de linha 3 x2 y 1 dx ( y 2 x)dy usando o teorema


de Green. C

167
WEB

É bom quando podemos ver os efeitos físicos ou simplesmente aplicações


práticas das teorias que estudamos. Neste sentido, podemos assistir o efeito
Magnus citado no Tópico 2 no interessante vídeo a seguir.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

168
STEWART, J. Cálculo. 6. ed. São Paulo: Pioneira /Thomson Learning, 2011. Volume 2.

ANTON, H. Cálculo: Um novo horizonte. Porto Alegre: Bookman, 2000. Volume 2.

169
1. Para calcular a integral de linha, temos que calcular, inicialmente, o elemento de comprimento ds. Fazen-

do 
c  t   t ,2t 2  , então c t   1, 4t , e finalmente,
2
ds  12   4t  dt

 1  16t 2 dt.

Assim, a integral pode ser calculada como

1
xds t 1 16t 2 dt u 1 16t 2 du 32t
C 0

17
 du 
  u 
 32 
1

17
 3 
1  u2 
  
32  3 / 2 
 1

1

48

17 17  1 . 
2. A forma mais simples em que podemos parametrizar o círculo é dada por

c  t   2 cos ti  2 sin tj ,

com t  0, 2p  . O vetor velocidade c '  t  pode ser calculado como sendo

c'  t    2senti  2 cos tj.

170
Como F c t   F  
2 cos t , 2sent   2senti  2 cos tj , então, a integral de linha pode ser

calculada como

2p
' t 
F  dr   F c t   c dt
C 0

2p
  [  
2 sin t  2 sin t    2 cos t  
2 cos t ]dt
0
2p

 [2sen  t   2cos  t ]dt


2 2

0

= 4p.

y2
3. Para o campo vetorial dado, temos que M   yx e N = , logo
2
M N    y2 
    yx    
x y x y  2 

 y  y
= 0.

Portanto, o fluxo é dado por

 M N 
F      dA
R x y 


   0  dA
R

= 0.

171
4. O elemento de arco ds, neste caso, é dado por

2 2
ds  x '�  t   y '�  t  dt

 1  t 2 dt.

Sobre a curva dada, a densidade é dada por

d c t   d  x t  , y t 

 t2 
 d  t,  1
 2 
 
 2x  t 
= 2t.
Finalmente, a massa do fio será dada por

m  d ds
C

 d  c  t   ds
C

1
2t 1 t 2 dt u 1 t 2 du 2tdt
0

2
  udu
1

2
 3 
 u2 
 
3 / 2 
 1
2

3

2 2 1 . 

172
5. Dada uma integral de linha Mdx  Ndy em um caminho fechado, o teorema de Green afirma que
C

 N M 
Mdx  Ndy  D  x  y
 dA.

C

Temos que

N  2
 ( y  x)  1
x x

M


y y
 
3 x2 y  1  3 x2 .

Portanto, a resposta correta é

3 x2 y 1 dx ( y 2 x)dy 1 3 x2 dA
D
C

173
174
Dr. Vinicius de Carvalho Rispoli
Dr. Ricardo Ramos Fragelli
Dr. Ronni Geraldo Gomes de Amorim

Integrais de Superfície

PLANO DE ESTUDOS

Teorema de Stokes

Integral de Superfície Teorema do Divergente (Gauss)

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Definir as integrais de superfície. • Estudar o teorema de Gauss.


• Estudar o teorema de Stokes.
Integral de
Superfície

Na disciplina de Cálculo 1, aprendemos como


calcular a área de uma superfície de revolução e,
em Cálculo 2, vimos também na Unidade 3, como
calcular a área de uma superfície mais geral. Neste
tópico, vamos olhar para um cenário um pouco
mais geral definindo uma função que age sobre
a superfície. Qual o objetivo de ter uma função
definida sobre uma superfície? Podemos pensar,
por exemplo, que temos uma carga elétrica dis-
tribuída sobre uma superfície S, definida como
uma superfície de nível da função f  x, y, z   c,
e que a função g  x, y, z  representa a carga por
unidade de área, isto é, a densidade e carga, em
cada ponto de S . Então, se quisermos calcular
a carga total sobre a superfície S, precisaremos
calcular uma integral semelhante àquela que usa-
mos na seção sobre integrais de linha de primeira
espécie, porém não estaremos integrando sobre
um fio, e sim sobre uma superfície.
Suponha que a densidade de carga elétrica q,� medida em Coulombs por unidade
de área, em uma determinada superfície, seja constante. Então, para calcularmos a
carga elétrica total nessa superfície, basta fazermos

Q  q  As ,

em que As representa a área da superfície. Podemos calcular a área AS como fizemos


no Cálculo 2,

As   1  f x2  f y2 dA
S

em que f  x, y  é a função que define a superfície. Agora, se, por outro lado, a densi-
dade de carga varia sobre a superfície S , isto é, q  q  x, y, z  , podemos nos utilizar da
dedução da fórmula para a área de uma superfície para achar a carga elétrica total Q.
Esta fórmula para a carga elétrica total será o que é chamada de integral de superfície.
Suponha que q  x, y, z  defina a densidade de carga elétrica por unidade de área
sobre superfície S definida pela função z  f  x, y . Para tal, iremos determinar a
carga total aproximada em um pequeno retângulo R no plano x − y. Considere o
pequeno retângulo no plano definido por R   x0 , x0  x    y0 , y0  y  . Como é
possível observar na figura a seguir, os pontos f  x0 , y0  , f  x0 , y0  y  ,
f  x0  x, y0  e f  x0  x, y0  y  definem um plano no espaço. Vamos consi-
derar que a área desse plano é, aproximadamente, a área da superfície no retângulo R.

V2

z S
V1
3
1
4
A= II V1 x V2 II
2

y
(x0 , y0 ) (x0 , y0 , ∆y )

(x0 + ∆x, y0 + ∆y )
(x0 + ∆x, y0 )
x
Figura 1 - Superfície z  f  x, y  limitada pelo retângulo R   x0 , x0  x    y0 , y0  y 
Fonte: os autores.

UNIDADE V 177
 
Considere os vetores v1 e v2 mostrados na figura, eles são definidos por
  f 
v1   x, 0, f  x0  x, y0   f  x0 , y0     x, 0,  x0 , y0  x 
 x 

  f 
v2   0, y, f  x0 , y0  y   f  x0 , y0     0, y,  x0 , y0  y 
 y 
e a partir deles podemos calcular a área do plano formado pelos pontos f  x0 , y0 ,
f  x0 , y0  y  , f  x0  x, y0  e f  x0  x, y0  y . A área desse plano é dada por
 
S  v1  v2
 
em que × representa o produto vetorial entre os vetores v1 e v2 e ⋅ representa o
módulo do vetor. Temos que o produto vetorial é dado por

i j k
 
v1  v2  x 0 z x x
0 y z y y

= − z x ∆x ∆y − z y ∆x ∆yj + ∆x ∆yk

e seu módulo

 
  z x xy 2    z y xy 
2 2
v1  v2    xy  = 1 + z 2x + z 2y ∆x∆y

Agora que temos uma aproximação da área da superfície na região R, podemos


calcular a carga total dentro dessa região que será dada por

QR = q ( x, y, z ( x y ) ) 1 + z 2x + z 2y ∆x∆y.

Assim, para calcularmos a carga elétrica total aproximada sobre a superfície S , pre-
cisamos repetir esse mesmo procedimento para todos os possíveis retângulos dentro
do domínio D� da função z  f  x, y , que define a superfície S , isto é
Q  Q jk
j k

 q jk S jk
j k

( (
= ∑∑q x*j yk* , z x*j , yk* )) ( ) jk + ( z2y ) jk ∆x j ∆yk
1 + z 2x
j k

178 Integrais de Superfície


Finalmente, fazendo ∆ x j , ∆ yk se aproximarem de zero, teremos que a carga total
sobre uma superfíce será dada por

Q= lim∑∑q ( x*j , yk* , z ( x*j , yk* ) ) ( ) jk + ( z2y ) jk ∆x j ∆yk


1 + z 2x
∆x ,∆y →0
j k j k

  q  x, y, z  x, y   1  z 2x  z 2y dA.
D

A integral obtida para o cálculo da carga elétrica total sobre a superfície é o que
chamaremos de integral de superfície da função q  x, y, z  sobre a superfície S ,
definida por z  f  x, y .
Dada uma superfície S definida em uma região D ⊂  , pela função z  f  x, y ,
2

é comum denotar a integral de superfície deduzida acima na forma

∫∫S qdS = ∫∫D q ( x, y, z ( x y ) ) 1 + z 2x + z 2y dA.

A seguir, faremos alguns exemplos para fixar a ideia do cálculo da integral de superfície.

1 EXEMPLO Suponha que a superfície dada pela função z = xy tenha como domínio D o interior
3
da região limitada pelo círculo de raio unitário x2  � y 2 � 1 , as retas y = x , y = x e
3
x ≥ 0 . Além disso, suponha que sobre essa superfície esteja definida uma distribuição
z
de carga elétrica q  x, y, z   2 , medida em Coulombs por unidade de área. Nosso ob-
x
jetivo é calcular a carga total sobre essa superfície. Isto é, queremos calcular a integral
Q   qdS
S

  q  x, y, z  1  z 2x  z 2y dA.
D

Para a função que define a superfície, temos que suas derivadas parciais são dadas por
zx = y
z y = x.

Assim, a integral de superfície para o cálculo da carga elétrica total será dada por

Q   q  x, y, z  x, y   1  x2  y 2 dA
D

z  x, y 
  2
1  x2  y 2 dA
D x
z  x, y 
  2
1  x2  y 2 dA.
D x

UNIDADE V 179
Neste caso, como o domínio de integração D é dado pela parte do disco unitário,
na direção x ≥ 0 que está entre os ângulos π ≤ θ ≤ π , então é conveniente utilizar
6 4
coordenadas polares para determinar a solução da integral. Assim, temos
y
Q   1  x 2  y 2 dA
D x
π
1 r sin θ
 4
π 0 r conθ r 1  r 2 drd θ
6
π
 4
π
1
0 tan θ r 1  r 2 drd θ u  1  r 2 , du  rdr 
6
π
2  du 
 4
π 1 tan θ u   dθ
 2 
6

3 π 2
1 2 4
3   π
 u  tan θ d θ
 1 6
3 π
1 2  4
  2  1  π tan θ d θ
3 
  6
3 π
1 2 
  2  1    ln cosθ π4
3 
  6

2 EXEMPLO A área de uma superfície pode ser determinada usando a integral de superfície

∫∫S f dS ,
fazendo f = 1. Desta forma, podemos encontrar a área da superfície gerada pela in-
terseção da esfera

x2  y 2  z 2  1

com o cilindro

x2  y 2  1 / 2,

considerando z ≥ 0. Assim, podemos escrever uma função para a parte da esfera iso-
lando z  1  x2  y 2 . Neste caso, temos que as derivadas parciais são dadas por

180 Integrais de Superfície


x
zx  
1  x2  y 2
y
zy   .
2 2
1 x  y
Logo, a área da superfície da esfera é dada por

Se   1  z 2x  z 2y dA
D

x2 y2
= ∫∫ 1+ + dA
í rculo 1 − x2 − y 2 1 − x2 − y 2

1
= ∫∫ dA
írculo 1 − x − y2
2

Neste ponto, podemos utilizar a substituição por coordenadas polares


=x rcos
= q � � e � � y rsenq

que transformará a integral aparentemente complicada da superfície em algo possível


de calcular. Teremos, então

1
Se = ∫∫ dA
írculo 1 − x − y2
2

1 1
1
=∫
0

∫ ∫
0
2=r
2π 1
2
01 − r0 ∫
2 drd
r θ 2udrd
1− r
= 1θ− r 2u ( ( )
=du1 −= r−22rdr
du = −2rdr )
3
2π 1  du 
 4
   dθ
0 1 u 2 
3
2π 1
   4 � dud θ
0 1 2 u

 3
 2p  1  .
 2 

UNIDADE V 181
Superfícies Parametrizadas

Em alguns casos, é útil trabalhar com uma superfície em sua forma parametrizada.
Normalmente, quando trabalhamos com uma função z  f  x, y  , a integral de
superfície pode ser escrita diretamente na forma

∫ f ( x, y , z ( x y ) ) 1 + z 2x + z 2y dA.
R

No entanto, como afirmado anteriormente, às vezes é interessante trabalhar com a


superfície na sua forma parametrizada
s  u, v   x  u, v  i  y  u, v  j  z  u, v  k ,

com  u, v   D  2. Nesta situação, a integral de superfície que foi definida nesta
seção fica escrita na forma

∫ f ( x ( u, v ) , y ( u, v ) , z ( u, v ) ) su × sv dudv
D

x y z x y z
em que su  u i  u j  u k e sv  i  j  k . O vetor dado pelo produto
v v v
vetorial das derivadas parciais nd  su  sv é o vetor normal à superfície (aquele que
precisamos calcular quando queremos determinar o plano tangente a superfície).
Vamos, agora, fazer um exemplo de como calcular uma integral de superfície
quando ela é dada na forma paramétrica.

2 2 2 2
3 EXEMPLO Considere a equação do cone z  x  y com x  y  1. Podemos parametrizar
facilmente essa superfície na forma
r  x, y   xi  yj  z  x, y  k .

Essa parametrização não nos interessa nesse exemplo, pois já utilizamos ela nos
outros exemplos que fizemos. Então, vamos escrevê-la de forma diferente usando
coordenadas polares, isto é, x  ρ, θ   ρ cos θ e y  ρ, θ   ρsenθ , com r  0, 1 e
θ  0, 2π  . Assim, a parametrização do cone fica escrita na forma

s ( ρ, θ) = ρ cos θi + ρ senθ j + ρk

182 Integrais de Superfície


Com essa parametrização, podemos calcular o vetor normal ao cone. Neste caso,
precisamos determinar as derivadas de s com relação a ρ e θ . Temos, então,

sρ  cos θ i  senθ j  k

sθ  ρsenθ i  ρ cos θ j.

Finalmente, o vetor normal é dado por


nd  sρ  sθ

i j k
 cos θ senθ 1
ρ senθ ρcosθ 0

= −ρ cos θi − ρ senθ j + ρk ,

cujo módulo é fácil ver que nd = ρ 2 . Assim, se quisermos calcular a área lateral
desse cone, basta fazermos

S = ∫ nd dρd θ
S

2π 1
= ∫ ∫ρ 2 d ρdθ
0 0

= 2p.

Isso bate com o resultado esperado, lembrando que a área lateral do cone é

S  p h2  r 2 ,

em que h é a altura e r o raio do cone.

UNIDADE V 183
Teorema
de Stokes

O teorema de Stokes pode ser pensado como uma


generalização do teorema de Green para o mundo
tridimensional, ao contrário do teorema de Green
que é no plano. Na Unidade 4, nós falamos sobre a
relação entre a circulação macroscópica e micros-
cópica de um campo vetorial. Conforme vimos
anteriormente, a relação entre elas é que a circula-
ção macroscópica era equivalente à soma de toda
a circulação microscópica, que ficava evidente na
forma integral dada pelo teorema de Green

∫ F ⋅ dr = ∫∫R ( ∇ × F ) ⋅ k
C
dS

 Q P 
     dA.
R x y
 
No mundo tridimensional, o teorema de Stokes man-
tém o mesmo formato do teorema de Green, isto
é, considerando um campo vetorial tridimensional

F  x, y , z   P  x, y , z  i  Q  x, y , z  j  R  x, y , z  k ,

3
uma superfície no espaço S ⊂  e n o vetor
normal e exterior à superfície S , então o teorema
de Stokes pode ser escrito como

184 Integrais de Superfície


∫ F ⋅ d r =∫∫R( ∇ × F ) ⋅n dS
C

Basicamente, é a mesma coisa do teorema de Green, a principal diferença é que, como


estamos no mundo tridimensional, o vetor normal n agora não é mais o vetor canô-
nico e fixado k. A interpretação deste teorema é semelhante à do teorema de Green,
porém considerando a soma das circulações microscópicas sobre uma superfície
arbitrária, como na figura a seguir.

x
Figura 2 - Circulação microscópica sobre uma superfície
Fonte: os autores.
A relação entre a circulação macroscópica de um campo vectorial F em torno de
uma curva (que aparece em vermelho na borda da superfície) e a circulação micros-
cópica deste mesmo campo vetorial F (ilustrado pelos pequenos círculos em verde
sobre a superfície) deve ser de igualdade, assim como no teorema de Green. Além
disso, independentemente de qual superfície seja escolhida, contanto que a curva da
base seja a mesma da que aparece em vermelho na figura, a soma das circulações
microscópicas deve ser exatamente como a circulação sobre a curva. A vantagem de
utilizar esse teorema é que você pode mudar de uma superfície complicada para uma
que seja mais simples de trabalhar. Além disso, você também pode escolher superfí-
cies que facilitem os cálculos, tendo em vista que o mais importante é a curva da base
da superfície e não a superfície em si.
Vejamos nos exemplos a seguir como aplicar o teorema de Stokes.

UNIDADE V 185
4 EXEMPLO Vamos calcular, agora, a integral de linha da circulação

Γ = ∫ F ⋅ d s,
C

2 2 2
em que C é a curva de interseção entre o cone z  x  y e o plano z = 1, orientada
no sentido anti-horário olhado de z > 0 .

Figura 3 - Curva a ser calculada a circulação


Fonte: os autores.

Pelo teorema de Stokes, essa integral é dada por

∫ F ⋅ d s =∫∫ ∇ × F ⋅ dS .
C S

O problema é: qual é a superfície S que devemos considerar? Neste exemplo, po-


demos ver duas possíveis escolhas naturais para a superfície S . Podemos utilizar a
2 2 2
parte do cone z  x  y , com z ≤ 1 (como mostrado na figura à esquerda) ou a
parte do plano z = 1 (figura da direita).

Figura 4 - Superfícies em que pode ser aplicado o teorema de Stokes


Fonte: os autores.

186 Integrais de Superfície


2 2
Considere P como a porção do plano z = 1 no interior do círculo x  y  1 com
vetor normal apontando na direção do eixo z > 0, pois, pela regra da mão direita,
esse vetor normal indica o sentido de rotação anti-horário. Agora, considere Q como
2 2 2
sendo a parte do cone z  x  y com 0 < z < 1 com vetor normal apontando no
sentido exterior ao cone. Certamente você deve estar se perguntando agora se de fato

P   F  dS  Q   F  dS.


E a resposta é sim, essas duas integrais são iguais independentemente de qual seja o
campo vetorial F dado. Então vamos considerar o seguinte campo vetorial
 y3 x3 
F  x, y, z    sin x  , cos y  , xyz  ,
 3 3 
 

seu rotacional é facilmente calculado e dado por


 
 
 i j k 

 F  

x

y z 
  
   xzi  yzj  x2  y 2 k .

 y3 x3 
sin x  cos y  xyz 
 3 3 

Se começarmos considerando a nossa superfície como o plano z = 1 , temos que o


vetor normal desta superfície coincide com o próprio vetor canônico na direção z,
n = k . Assim, aplicando o teorema de Stokes (que neste caso coincide com o teore-
ma de Green, o estudante consegue saber o porquê?) teremos

S    F   ndS  R  x 


2
 y 2 dA
2π 1
3
  r drd θ
0 0
p
= .
2

Por outro lado, se considerarmos o cone, nosso trabalho será certamente maior. Te-
2 2 2
mos que o cone dado pela equação z  x  y . Desta forma, podemos encontrar
a equação da superfície parametrizada como


r  x, y    x, y , z  x, y    x, y , x 2  y 2 .
UNIDADE V 187
Reescrevendo a superfície em coordenadas polares x = r cos q e y = r � sen
� q , temos

s  r , q    r � cosq , r � senq , r  ,

com θ∈ [0 2 π] e r  0, 1 . Precisamos, agora, encontrar o vetor normal a essa super-


fície, para calculamos as derivadas parciais da equação parametrizada da superfície
com relação às suas variáveis e temos

sr   cos q , senq , 1 sθ = ( −r senθ r cos θ ,0 )

Finalmente, temos que o vetor na direção normal à superfície é dado pelo produto
vetorial entre as derivadas parciais sr e sq que calculamos anteriormente, isto é,

 i j k
sr × sθ =  co θ sen θ 1  = ( − r cos θ , − r sen θ r ) .
 −rsenθ r cos θ 0 

Não é difícil perceber que esse vetor normal aponta para dentro do cone (as compo-
nentes x e y apontam para dentro por causa do sinal negativo, e a componente z
aponta para cima, pois r ≥ 0 ). Desta forma, precisamos mudar o sinal do vetor
normal encontrado, caso contrário, a resposta que iremos achar também terá o sinal
trocado. Nosso vetor normal unitário (lembrando que ele deve ser sempre unitário),
então será dado por
s ×s
n=− r θ
sr × sθ

Lembrando que um elemento de superfície para uma superfície parametrizada é dado por

dS = sr × sθ dA ,

finalmente, podemos aplicar o teorema de Stokes e temos


∫∫S ( ∇ × F ) ndS ∫∫( ∇ × F )( r , θ ) ⋅ n ( r , θ ) dS
2π 1

   x  r , θ   z  r , θ  ,  y  r , θ   z  r , θ  , x  r , θ   y  r , θ     sr  sθ  r , θ  dS
2 2

2π 1 0 0

   x  r , θ   z  r , θ  ,  y  r , θ   z  r , θ  , x  r , θ   y  r , θ     sr  sθ  r , θ  dS
2 2

0 0
2π 1
= ∫ ∫ r
2
cos θ ( r cos θ) − r 2 senθ ( r senθ) + r 3  drd θ

0 0


1 2 2

4  cos θ  sen θ  1 d θ
0

188 Integrais de Superfície



1
  [1  cos 2θ ]d θ
4 0

1 sen  4p  
  2p   0  sen  2  0   = p .
4 2  2

Como esperado!

Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo.


Para acessar, use seu leitor de QR Code.

5 EXEMPLO Vamos, neste exemplo, calcular a circulação usando o teorema de Stokes, a circulação
Γ = ∫ F ⋅ d s,
C

considerando que C é a curva de interseção entre o paraboloide z  1  x  y


2 2
 
e o plano x  y  z  1 , orientada no sentido anti-horário olhado de z > 0 , para o
campo vetorial F  x, y, z   xyi  yzj  xzk .
Primeiramente, observamos que a curva em
questão C é plana. Isto é verdade, pois ela está
contida na interseção entre o plano x  y  z  1
2 2

e o paraboloide z  1  x  y . Desta forma,
no teorema de Stokes, vamos trabalhar com essa
superfície ao invés do paraboloide. Essa escolha
é facilmente justificada pelo fato de que o vetor
normal ao plano é constante e igual a nd = (1, 1, 1).
Assim, a integral de superfície que aparece no
cálculo da circulação ficará muito mais simples.
Para aplicarmos o teorema de Stokes falta, então,
determinarmos o rotacional do campo vetorial
que, neste caso, é dado por
Gráfico da interseção entre as duas funções
i j k
  
 F    yi  zj  xk.
x y z
xy yz xz

UNIDADE V 189
Finalmente, a circulação será dada por

G    xF   ndS
S

 
D
  yi  z  x, y  j  xk    i  j  k  dA
    y  1  x-y   x  dA
D

   dA
D

Isto é, a circulação é menos a área da região que define o domínio de integração.


Neste caso, não é difícil saber quem é a região. Ela é dada pela interseção entre o
paraboloide e o plano. Temos,

1 − x − y = 1 − x2 − y 2

⇒ x2 − x + y 2 − y = 0

2 2 2
 1  1  2 
⇒  x −  +  y −  =   ,
 2  2   2 

que é um círculo de raio 2 / 2 . Portanto, a circulação é

p
G  pR2   .
2

Independência do Caminho (revisitado)

Na Unidade 4, introduzimos o conceito de campos vetoriais conservativos e inde-


pendência do caminho. No entanto, falamos apenas de campos bidimensionais e
relacionamos os resultados com o teorema de Green. Nesse momento, faremos uma
análise similar, levando em conta o teorema de Stokes.

Lembrando que um campo vetorial bidimensional F ( x, y ) é conservativo quando


ele pode ser escrito como F ( x, y ) = ∇f ( x, y ) , em que z = f ( x, y ) é uma função
escalar. Assim, diremos que G ( x, y, z ) é conservativo se existe w = g ( x, y, z ) escalar
tal que G ( x, y, z ) = ∇f ( x, y, z ) .

190 Integrais de Superfície


Novamente, a pergunta que temos que responder é: como saber quando um campo
vetorial G tridimensional dado é conservativo? Considerando um campo vetorial
no espaço qualquer G  x, y, z   P  x, y, z  i  Q  x, y, z  j  R  x, y, z  k tenha
a sua integral de linha independente do caminho, isto é, para uma curva fechada
qualquer C
∫ Pdx + Qdy + Rdz = 0.
C

Por outro lado, pelo teorema de Stokes, temos que

∫ Pdx + Qdy + Rdz =∫∫ ( ∇ × G ) ⋅ n dS ,


C S

em que S é a superfície que define a curva e n o seu vetor normal exterior e uni-
tário. Como a curva C e a superfície S são arbitrárias, e a integral de linha é nula,
podemos concluir que um campo vetorial que tem integral de linha independente
do caminho deverá satisfazer
  G  0.

Observando com cuidado, vemos que é a mesma condição que obtivemos para um
campo bidimensional.

6 EXEMPLO Assim como fizemos na Unidade 4, vamos mostrar que o campo vetorial dado é
conservativo e, em seguida, encontrarmos a função potencial. Para tal, considere o
campo vetorial

    
F  x, y, z   2 xyz 3  ye xy i  x2 z 3  xe xy j  3 x2 yz 2  cos z k . 
Nosso primeiro passo é mostrar que o campo é conservativo, isto é, verificar que o
rotacional do campo é nulo. Neste caso, temos

i j k
  
 F 
x y z
2 xyz 3  ye xy x2 z 3  xe xy 3 x2 yz 2  cos z

     
 3 x2 z 2  3 x2 z 2 i  6 xyz 2  6 xyz 2 j  2 xz 2  e xy  xye xy  2 xz 3  e xy  xye xy k

= 0.

Portanto, o campo vetorial é conservativo. Para acharmos a função potencial, temos


que encontrar uma função f  x, y, z  escalar tal que

UNIDADE V 191
f
 2 xyz 3  ye xy
x
f
 x2 z 3  xe xy
y
f
 3 x2 yz 2  cos z.
z

Integrando cada uma das equações com relação às variáveis x, y e z, respectiva-


mente, temos
f
 2 xyz 3  ye xy  f  x, y, z   x2 yz 3  e xy  g  y, z 
x
f
 x2 z 3  xe xy  f  x, y, z   x2 yz 3  e xy  h  x, z 
y
f
 3 x2 yz 2  cos z  f  x, y, z   x2 yz 3  sen  z   m  x, y  .
z

Comparando as funções obtidas e observando que todas devem ser iguais, vemos
que a função potencial, neste caso, é dada por

f  x, y, z   x2 yz 3  e xy  sen  z   C ,

em que C é uma constante arbitrária que podemos encontrar caso seja dado algum
ponto no qual esse campo vetorial age.
Encerramos mais uma etapa enunciando a versão tridimensional do teorema
sobre campos conservativos enunciado na Unidade 4 para campos bidimensionais.

1 TEOREMA Seja F  x, y, z   P  x, y, z  i  Q  x, y, z  j  R  x, y, z  k , F : D  3  3 , um
campo vetorial com derivadas suficientemente regulares e suaves. O campo F é
conservativo, isto é, existe f : D     tal que F  x, y, z   f  x, y, z  , se e
3

somente se,
  F  0.

192 Integrais de Superfície


Teorema do Divergente
(Gauss)

Assim como o teorema de Green e o teorema


de Stokes, o teorema do divergente (ou também
conhecido como teorema de Gauss) é um teore-
ma que converte tipos diferentes de integrais. Os
teoremas de Green e Stokes convertiam integrais
de linha em campos vetoriais em integrais dupla
e de superfície, respectivamente. O teorema do
divergente fará uma conversão entre uma integral
de superfície e uma integral tripla.
Primeiramente, vamos escrever o teorema e,
em seguida, ver o que ele representa. Considere
3
uma região R ⊂  fechada cuja fronteira é dada
pela superfície S . Além disso, seja

F  x, y , z   P  x, y , z  i  Q  x, y , z  j  R  x, y , z  k

um campo vetorial com derivadas contínuas de-


finido em R. Então,

∫∫S F ⋅ ndS = ∫∫∫R ∇ ⋅ FdV,

UNIDADE V 193
em que n é o vetor normal e exterior à superfície S e
P Q R
F   
x y z

é o chamado divergente do campo vetorial F .


Uma observação muito importante neste momento é que para aplicar o teorema
do divergente é fundamental que tenhamos uma superfície fechada, diferentemente
do teorema de Stokes, que tínhamos uma superfície aberta e, por isso, tínhamos a
curva que precisávamos para calcular a circulação.
A integral de superfície do lado esquerdo ∫∫ S F ⋅ ndS representa o fluxo através da
fronteira do campo vetorial F . Imagine que esse campo F represente um escoa-
mento de um fluido qualquer. Vamos lembrar que a vazão Q� de um fluido pode ser
escrito como sendo
Q = velocidade ×Área.

Considere um elemento de superfície dS, n seu vetor normal exterior unitário e


F� o campo vetorial, como na figura a seguir.
n

F
comp n F

∆S

Figura 5 - Fluxo infinitesimal através da fronteira


Fonte: os autores.

Então, a vazão de fluido que deixa a fronteira dS na direção do vetor n pode ser
escrito como sendo
 compn F  dS   F  n  dS .

Se somarmos a vazão sobre toda a superfície, temos, então, que o fluxo exterior à
fronteira de S é dado por
Q ∫∫S F n S .

194 Integrais de Superfície


6

4
A divergência de um campo ve-
torial é um conceito relativa- 2
mente fácil de compreender in-
tuitivamente. Imagine que o 0
campo vetorial F da Figura 6
represente, novamente, a veloci- -2

dade de algum fluido. Neste caso,


-4
parece que o fluido está expan-
dindo para fora da origem.
-6
-6 -4 -2 0 2 4 6

Figura 6 - Expansão do campo vetorial


Fonte: os autores.

Esta expansão do fluido, que flui


através do campo de velocida- 6
des F , é capturada pelo diver-
gente de F , que denotamos 4
aqui por   F . Neste caso, o
divergente do campo vetorial é 2

positivo, uma vez que o fluido


0
está se expandindo.
Por outro lado, o campo ve-
-2
torial representado na Figura 7
sugere que o fluido está sendo -4
comprimido com relação à ori-
gem. Uma vez que a compres- -6
-6 -4 -2 0 2 4 6
são de um fluido é o oposto da
Figura 7 - Compressão do campo vetorial
expansão, o divergente   F Fonte: os autores.
deste campo vetorial é negativo.

UNIDADE V 195
Desta forma, é natural pensar que a soma de tudo aquilo que flui através da fronteira
corresponde exatamente à soma de tudo que “foge” daquela região. Que é exatamente
o que está afirmando o teorema do divergente.
Este teorema é fundamental, por exemplo, para a mecânica dos fluidos e também
para a teoria do eletromagnetismo na física. Não são apenas essas duas áreas da
ciência que usam esse importante resultado, é possível encontrar aplicações dele em
diversas outras áreas.
Neste momento, é interessante fazermos um breve paralelo com o teorema de Green.
Lembrem-se da Unidade 4 que o fluxo exterior à fronteira de uma região D, limitada
pela curva C , para um campo vetorial bidimensional F  x, y   P  x, y  i  Q  x, y  j
é dada pela integral de linha

∫ F ⋅ dr = ∫ − Qdx + Pdy
C C

 ∂P ∂Q 
= ∫∫  +  dA
D ∂x ∂y 

Observe que, para um campo vetorial bidimensional, o divergente do campo F é
exatamente
P Q
F   .
x y

Desta forma, podemos concluir que o teorema de Green é equivalente ao teorema


do divergente quando estamos restritos ao plano.
Vamos ver como podemos aplicar esse teorema e entender como ele facilita bas-
tante os nossos cálculos.

7 EXEMPLO Vamos, agora, usar o teorema do divergente para calcular o fluxo exterior à fronteira
2 2 2
do campo vetorial F  xy i  yz j  x zk ,� em que a superfície S é dada por uma
esfera de raio 3 centrada na origem. Temos que o fluxo é dado por
F   F  ndS
S

    FdV
E

 
  xy 2
 
       dV
 yz 2

 x2 z
E  x y z 
 
 
E
 x2  y2  z2  dV .
196 Integrais de Superfície
Como a região em que se deseja calcular o fluxo é uma esfera de raio 3, então usaremos
as coordenadas esféricas para calcular a integral. Nas coordenadas esféricas, temos
x  ρ, θ , ϕ   ρ cos θ senϕ

y  ρ , θ , ϕ   ρsenθ senϕ

z  ρ, θ , ϕ   ρ cos ϕ

e também

x2  ρ , θ , ϕ   y 2  ρ , θ , ϕ   z 2  ρ , θ , ϕ   ρ 2 .

Desta forma, em coordenadas esféricas, o domínio de integração da esfera fica

0 ≤ ρ ≤ 3 0 ≤ θ ≤ 2π 0 ≤ ϕ ≤ π

Finalmente, lembrando que o Jacobiano das coordenadas esféricas é

dV = ρ 2 senϕd ρd θ d ϕ,

podemos calcular a integral do fluxo, através do teorema do divergente, como

F  
E
 x2  y 2  z 2  dV
2π π 3

∫ ∫ ∫ (ρ ) ρ2 senϕ dρdϕ dθ
2
=
0 00

2π π 5
3
= ∫∫ 5
senϕ dϕ d θ
00


35 π

5    cos ϕ 0 d θ
0

2  35

5  dθ
0

972p
= .
5
Nós vimos, na seção sobre o teorema de Stokes, como essas integrais de superfície que
possuem um vetor normal para calcular são trabalhosas! Então, é visível a vantagem
de se utilizar esse teorema quando se deseja calcular alguma integral de fluxo.

UNIDADE V 197
3 2 2
8 EXEMPLO Agora, considere a região R em  limitada pelo paraboloide z  x  y e o pla-
no z = 1. Seja S a superfície definida por essa região fechada R. Nosso objetivo é,
novamente, calcular o fluxo exterior à fronteira da superfície S. Para tal, vamos con-
siderar o seguinte campo vetorial

F  x, y, z   yi  xj  z 2 k .

Se fôssemos calcular esse fluxo diretamente através da integral de superfície, teríamos


um trabalho dobrado, pois precisaríamos parametrizar a superfície do paraboloide e,
assim, encontrar o seu vetor normal, repetindo depois o mesmo procedimento para
o plano. Ao usar o teorema do divergente, burlamos isso e podemos calcular apenas
uma integral tripla que, neste caso, não é muito difícil.
Como a região é circular, é conveniente usarmos coordenadas cilíndricas para
descrever a região de integração. Lembre-se que em coordenadas cilíndricas
x ( ρ, θ, z ) = ρ cos θ

y ( ρ, θ, z ) = ρ sen θ
z  ρ , θ , z   z.

Assim, a região R, neste caso, pode ser reescrita em coordenadas cilíndricas na forma
r ∈ [0, 1] , θ ∈ [0 2 π] r 2 ≤ z ≤ 1

como podemos ver na figura a seguir.

z
z=1 ( 1,1 )

z = r²

Figura 8 - Região de integração


Fonte: os autores.

198 Integrais de Superfície


Finalmente, o fluxo é dado pelo teorema do divergente

F   F  ndS
S

    FdV
R

 

   y   x  z
 
2
   dV
R  x y z 
 
  2zdV
R
2π 1 1
    2 zrdzdrd θ
0 0 r2

1
 r
1
 2p  z 2 2
rdr
0
1

 2p  r  r 5 dr 
0

1 1
 2p   
2 6
2p
= .
3

Nesta unidade, estudamos os principais teoremas do cálculo de mais de uma variável,


os teoremas de Gauss e Stokes. Eles são fundamentais para diversas aplicações na física
e engenharia. Nas próximas unidades, estudaremos um outro bonito tópico do cálculo,
também fortemente vinculado às aplicações que são as equações diferenciais. Até já!

UNIDADE V 199
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

∫∫S dS , em que S é a superfície dada pelo


1. Calcule o valor da integral de superfície
2 2
paraboloide z  x y abaixo do plano z = 2 .

2 2

2. Considerando o campo de velocidades u  x, y, z   xi  yj  zk , usando o teore-


ma do divergente, calcule o fluxo exterior à fronteira da esfera x2  y 2  z 2  1.

     
3. Calcule o rotacional do campo vetorial F  x, y, z   x  z 2 i  xy 2 j  x3 z k.

4. Seja F    u , em que u  Mi  Nj  Pk . Calcule o divergente do campo F.

5. Determine a área da superfície do cone parametrizado por


s  u , v   ucos  v  i  usen  v  j  1  u  k , em que u  0, 1 e v  0, 2p .

200
WEB

Há várias aulas sobre os temas abordados nessa unidade na internet e é sempre


bom olhar as coisas sobre uma perspectiva diferente. Desta forma, aqui você
pode assistir uma aula completa sobre as integrais de superfície.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

WEB

Você pode conferir também uma boa aula sobre o teorema de Stokes.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

WEB

E finalmente, uma vídeoaula sobre o teorema do divergente.


Para acessar, use seu leitor de QR Code.

201
ANTON, H. Cálculo: Um novo horizonte. Porto Alegre: Bookman, 2000. Volume 2.

STEWART, J. Cálculo. 6. ed. São Paulo: Pioneira /Thomson Learning, 2011. Volume 2.

202
x2 y2
1. Como a superfície é dada por uma função z  z  x, y   2  2 , então o elemento de superfície é dado por
dS  1  z 2x  z 2y dA

 1  x2  y 2 dA.
Para encontrarmos o domínio de integração, basta determinarmos a interseção entre o plano z = 2 e o
2 2
paraboloide z  x  y . Neste caso, temos
2 2
x2 y 2
  2  x 2  y 2  4.
2 2
Portanto, a região de integração é dada pelo interior do círculo de raio 2. Isto é, o domínio D é dado por

D  x, y   2 : x2  y2  4.
Em coordenadas polares, a região D pode ser escrita de forma simplificada. Lembrando que, em coorde-
nadas polares x  rcos  q  e y  rsin  q  , então o domínio D em coordenadas polares é reescrito como sendo

Dr,θ   r , θ  : 0  r  2, 0  θ  2π.

Finalmente, a integral de superfície é dada por

S dS  D 1  x2  y 2 dA

r 1   rcos  q     rsin  q   dA
2 2
 
Dr ,q

2π 2
= ∫ ∫r 1 + r 2 drd θ (u = 1 + r 2 du = 2r )
0 0

2π 5
1
 2 udud θ
0 1

5
1
= 2π ∫ udud θ pois integral em u nã de θ
1
2

5
 p  udu
1


2p
3  53  1 . 

203
2. O fluxo exterior pode ser calculado de forma mais simples pelo teorema do divergente

S u  ndS  V   u� dV


 x y z 
      dV
V x y z
 

 3 dV .
V

Como a integral tripla da função unitária corresponde ao volume da região V e, neste caso, como a região
é uma esfera, então
4 3
V dV  3 p R ,

em que R é o raio da esfera. Finalmente, como R = 1 , o fluxo exterior é dado por

S u  ndS  3V dV


4 
 3   p  13 
3 
= 4p.

3. O cálculo do rotacional é
i j k
  
 F 
x y z
x  z2 xy 2 x3 z

 3

 y
 
x z 

z
 
xy 2  i  
  
 
z

x  z2  
 3 
x
x z  j
 
 

x
xy 2 

y
  
x  z2  k

 
   
  3 x2 z  2 z j  y 2 k.

4. O campo F é dado por

  
F  Py  N z i   Px  M z  j  N x  M y k . 
Assim, seu divergente é
  
F 
x
 y

Py  N z    Px  M z  
z

Nx  M y 
 Pyx  Pxy  N zx  N zx  M yz  M yz

= 0.

204
5. Dada a parametrização do cone

s  u , v   ucos  v  i  usen  v  j  1  u  k ,
para determinarmos o elemento de superfície dS é necessário encontrar o vetor normal à superfície.
Considerando os vetores tangentes à superfície

su  cos  v  i  sen  v  j  k
sv  usen  v  i  ucos  v  j,

temos que o vetor normal é dado por

i j k
n  cos  v  sen  v  1
usen  v  ucos  v  0

 u cos  v  i  usen  v  j  uk .

Assim, o elemento de superfície é dado por

dS = n dudv

 u 2 cos 2  v   u 2 sen2  v   u 2 dudv

 u 2  u 2 dudv

= u 2dudv.
Finalmente, temos que a área da superfície é dada por

S   dS
D

2p 1
  u 2dudv
0 0

1
 2p u 2du
0

1
 2 2p udu
0

= 2p.

205
206
207
208
Dr. Vinicius de Carvalho Rispoli
Dr. Ricardo Ramos Fragelli
Dr. Ronni Geraldo Gomes de Amorim

Equações
Diferenciais de
Primeira Ordem

PLANO DE ESTUDOS

Equações
diferenciais separáveis

Equações diferenciais Equações


lineares de primeira ordem diferenciais exatas

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Estudar as equações diferenciais ordinárias de primeira • Compreender as equações lineares separáveis.


ordem. • Conhecer as equações lineares exatas.
Equações Diferenciais
Lineares de Primeira Ordem

O estudo das equações diferenciais é um gran-


de e bonito campo de estudos da matemática e
das ciências aplicadas. Essas equações estão as-
sociadas a situações em que se deseja prever o
comportamento de algum sistema físico, tendo
conhecimento sobre como esse sistema varia. Por
exemplo, sabendo como a trajetória de um objeto
varia com o tempo, gostaríamos de saber em qual
posição este objeto se encontra em um determi-
nado instante de tempo t . A ideia das equações
diferenciais é que conhecendo o comportamento
dinâmico de um sistema, então podemos prever
o seu comportamento em todo instante.
Podemos começar o nosso estudo com uma
motivação que está ligada diretamente à indústria
química. Claro que o modelo que iremos apre-
sentar aqui é um modelo simplificado, mas por
meio dele ficará claro o poder dessa ferramenta
que iremos estudar ao longo deste curso. Suponha
que em uma indústria exista um tanque que con-
tém um volume de V litros de água pura em um

210 Equações Diferenciais de Primeira Ordem


determinado momento. Em seguida, inicia-se o bombeamento, para dentro deste
tanque, a uma taxa constante de I litros por minuto, de uma mistura de água salobra
que contém s kg de sal por litro. Considere que, dentro deste tanque, a mistura de
água e água salobra é mantida homogênea por meio de um sistema de pás que mis-
tura os dois líquidos constantemente. Finalmente, suponha que a mistura de líquidos
contida no interior do tanque seja bombeada para fora dele com a mesma taxa de
entrada de água salobra I . A seguir podemos ver um esboço de como seria o sistema.

Figura 1 - Entrada de água salobra em um tanque com água inicialmente limpa


Fonte: os autores.

A nossa pergunta de interesse é: qual é a quantidade de sal dentro deste tanque em


um instante de tempo t . Se considerarmos como y  t  a quantidade de sal no inte-
rior do tanque no instante de tempo t, podemos dizer que a variação, com relação
ao tempo, da quantidade de sal no interior do tanque é dada por
dy
= taxa de entrada de sal - taxa de saída de sal.
dt
A taxa de entrada de sal pode ser determinada observando que se entra I litros de
água salobra por minuto de forma que a água salobra possui s kg de sal por litro
diluído, o produto entre essas duas quantidades dá, precisamente, a quantidade de
sal que entra no tanque e é dada por sI kg/min. Sabemos que a taxa de saída da nova
mistura de água salobra é também de I litros por minuto. Tendo em vista que o
volume de líquido é mantido constante dentro do tanque, neste caso, o volume é V ,
então a razão entre a taxa de saída e o volume dá a porcentagem de sal y  t  que
deixa o tanque por minuto. Desta forma, temos que a taxa de saída de sal é dada por
I
y  t  kg/min. Finalmente, podemos escrever uma equação que nos dá o comporta-
V
mento dinâmico desse sistema, neste caso, a equação é dada por

d I
y  t   sI  y  t  .
dt V

UNIDADE VI 211
Neste caso, considerando que no instante inicial a concentração de sal no interior
do tanque é nula, isto é, y  0   0 , ainda temos uma informação inicial sobre o com-
portamento desse sistema. Se formos capazes de determinar a solução desta equação,
poderemos prever qual a quantidade exata de sal se tem no tanque em um instante
de tempo qualquer t . O nosso foco, a partir deste momento até o fim do curso, está
em determinar soluções para equações desta forma.
A equação diferencial que encontramos na discussão anterior é uma equação
diferencial de primeira ordem e linear. De forma geral, uma equação diferencial de
primeira ordem é uma equação na forma

dy
 f  t , y  ,� �(1)
dt

em que f  t , y  é uma função de duas variáveis definidas em uma região no plano


t − y. Essa é uma equação de primeira ordem, pois ela só envolve derivadas de pri-
meira ordem, no caso dy / dt . Nosso objetivo ao longo das próximas aulas é encon-
trar soluções gerais de equações como a Eq.(1), por exemplo. Bem, mas o que é uma
solução geral para a equação diferencial? Essa resposta é simples, é uma função
y  y  t  diferenciável tal que

d
y t   f t, y t  ,
dt

em algum intervalo I . Isto é, uma solução geral é uma função que satisfaz a equação
diferencial.

Por exemplo, a função y  t   e , t ∈  , satisfaz a equação diferencial


t

d
y  t   y  t   0,
dt

pois

d
y  t   y  t   et  et  0.
dt

Em um outro exemplo, podemos ver também que a função y  t   te é uma solução


t

da equação linear

y  2 y  y  0,

212 Equações Diferenciais de Primeira Ordem


para todo t ∈  . Temos que y '  t   e  te e consequentemente y ''  t   2e  te .
t t t t

Substituindo, então, na equação diferencial,

 
y  2 y  y  2et  tet  2 et  tet  tet  0.

Finalmente, o estudante também pode verificar facilmente que a função

 I
 t
y  t   sV 1  e
 V 
 
 

satisfaz o modelo de mistura

d I
y  t   sI  y  t 
dt V

dado acima.

Em algumas situações, além da equação diferencial, será dada para nós alguma in-
formação sobre o comportamento do nosso sistema em algum instante de tempo t0 ,
como no exemplo em que conhecíamos a quantidade inicial de sal dentro do tanque.
Neste caso, quando tivermos uma equação diferencial

d
y t   f t, y t 
dt

e uma informação prévia y  t0   y0   , diremos que o nosso problema é um pro-


blema de valor inicial ou, simplesmente, PVI.

Começaremos o nosso estudo sobre equações diferenciais com a equação diferencial


de primeira ordem linear. Dizemos que uma equação de primeira ordem, Eq.(1), é
linear se ela pode ser escrita na forma

dy
p t y q t , (2)
dt

em que y  y  t  e as funções p  t  e q  t  são contínuas.

UNIDADE VI 213
Determinar a solução geral de equações como esta pode não parecer, mas é relati-
vamente simples na teoria. A ideia é transformar a soma do lado esquerdo da Eq.(2)
em uma derivada do produto. Isso será suficiente para encontrarmos a função y  t 
que satisfaz a equação diferencial, pois precisaremos resolver apenas uma integral,
como veremos a seguir.

Suponha que exista uma função µ t de tal forma que

dy d
µ t µ t p t y µ t y .
dt dt

Essa função mágica será chamada de fator integrante. Vamos ver como encontrar
o fator integrante para o caso de uma equação diferencial linear de primeira ordem.
Como queremos que o fator integrante satisfaça a relação acima, temos que

dy d dµ
µ t µ t p t y µ t y µ t p t
dt dt dt

Isto é, precisamos encontrar uma função µ t tal que


µ p t dt.

Integrando em ambos os lados, temos que


p t dt
µ

ln µ p t dt

ln µ p t dt
e e

p t dt
µ t e .

Assim, sempre que multiplicamos a equação diferencial pelo fator integrante, temos
dy
 p t  y  q t 
dt
µ t dy µ t p t y µ t q t
dt
d   p t dt 
y  e   q t .
 p t dt
 e
dt 
 


214 Equações Diferenciais de Primeira Ordem


dy
Assim, dada uma equação diferencial na forma p t y q t , a função
p t dt
dt
µ t e será chamada de fator integrante da equação diferencial.

Os exemplos a seguir vão mostrar como a ideia de usar o fator integrante para en-
contrar a solução é uma boa alternativa e faz que o processo de determinar y  t  seja
razoavelmente simples.

1 EXEMPLO Considere a seguinte equação diferencial

dy
 3 y  t.
dt

Nosso primeiro passo é determinar o fator integrante que é dado por


p t dt
µ t e .

Neste caso, temos que a função p  t   3. Portanto,

p t dt 3dt 3t c
µ t e e e ec e 3t
Ke 3t
,

em que K = ec . .Multiplicando o fator integrante em ambos os lados da equação,


temos

 dy 
Ke 3t   3 y   Ke3t t.
 dt 

Observe que o uso da constante K no fator integrante é irrelevante, pois como ela
aparece em ambos os lados da equação, podemos cortar ela sempre. Assim, temos
 dy 
 e3t   3 y   e 3t t
 dt 
d  3t  3t
 e y e t
dt  

 e3t y   e 3t tdt.

UNIDADE VI 215
3t
Fazendo a integração por partes, com f '  e e g = t , temos

 e3t tdt  f  g   f  g ' dt

1
 e3t y   e 3 � t 1  3� t   C
9
1
y t 1 3 t Ce3 t
9

Portanto, a solução da equação diferencial é dada pela função

1
y t 1 3t Ce3 t
9

em que C é uma constante. Na figura a seguir, podemos ver a solução y  t  para


diferentes valores da constante C .

y
40

30

20

10

t
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

dy
Figura 2 - Solução geral da equação  3y  t
Fonte: os autores. dt

2 EXEMPLO Considere a seguinte equação diferencial

dy
 ty  t.
dt

Novamente, nosso primeiro passo é encontrar o fator integrante para esta equação.
Neste caso, temos que a função p  t   t . Portanto, o fator integrante é dado por

t2 t2
p t dt tdt
µ t e e e2 e 2,

216 Equações Diferenciais de Primeira Ordem


observe que a constante de integração foi omitida, pois caso ela seja utilizada quando
multiplicarmos o fator integrante na equação, a constante de integração poderá ser
cancelada, assim como no exemplo anterior. Multiplicando o fator integrante em
ambos os lados da equação, temos
t2 t2
 dy 
e2   ty   te
2
 dt 

 t2  t2
d  2 
 e y  te 2
dt  
 

t2 t2
t2
e2 y te 2 dt u t du tdt
2

t2 t2
e2 y e 2 C

t2

 y  t   1  Ce 2.

Portanto, a solução da equação diferencial é dada pela função


t2

y  t   1  Ce 2,

em que C é uma constante. Na figura a seguir, podemos ver a solução y  t  para


diferentes valores da constante C .

y
1.5

1.0

0.5

t
2 4 6 8 10 12
-0.5

-1.0
Figura 3 - Solução geral da equação dy  ty  t
Fonte: os autores. dt

UNIDADE VI 217
Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

3 EXEMPLO Lei do Resfriamento de Newton


Um exemplo interessante de onde as equações de primeira ordem lineares surgem
é com a Lei do Resfriamento de Newton, que fornece um modelo matemático para
a temperatura T  t  de um objeto em um meio de temperatura A  t  . Essa lei diz
que a taxa de variação da temperatura é diretamente proporcional à diferença de
temperatura entre o objeto e o meio, isto é,

dT
  k T  A  t   ,
dt

em que k > 0 mede a taxa em que o calor é absorvido, ou emitido, pelo objeto.
Para que o exemplo fique mais interessante, vamos supor que T  t  represente a
temperatura de uma igreja sem aquecimento. Neste caso, a função A  t  representa
a temperatura externa à igreja em função do tempo. Podemos resolver essa equação
usando o método do fator integrante sem muitas dificuldades. A equação pode ser
reescrita como

dT
  k T  A  t  
dt
dT
  kT  kA  t  .
dt
Neste caso, o fator integrante é dado por

kdt
µ t e

µ t ekt .

Assim, multiplicando o fator integrante em ambos os lados da equação diferencial,


a equação fica

218 Equações Diferenciais de Primeira Ordem


dT
µ µ kT k µA t
dt


d
dt
 
Tekt  kA  t  ekt ,

que integrando de 0 a t em ambos os lados, fornece

t t
d
 
 ds Te ds  kA  s  e ds
ks ks

0 0

t
 T  t  e  T  0   k  A  s  eks ds
kt

t
 T t   T 0 e  kt
 ke  kt
A  s  e
ks
ds.
0

Agora, vamos supor que a temperatura externa à igreja, A  t  , seja oscilatória em


torno de uma temperatura média Tm . Além disso, iremos considerar que a amplitu-
de dessas oscilações sejam, no máximo, Qm e, no mínimo, - Θm. Finalmente, iremos
considerar que a frequência em que a temperatura externa varia para cada unidade
de tempo é de
ω
fm = m ,

isto é, o período de oscilação é 2π / ωm . Com todas essas hipóteses, podemos escrever


a temperatura externa à igreja, em função do tempo, como sendo

A  t   Tm  Qm cos  wmt  .

UNIDADE VI 219
Então, para essa função A  t  , a solução da equação diferencial será dada por
t
T  t   T0 e kt  ke  kt  Tm  Qm cos  wmt   e ks ds
0

kt kt Θm k
T0 e e Tm ekt 1 2 2
ekt cos ωmt ωm ekt sin ωmt k
k ωm

 Q k2  Q k
 Tm  T0  Tm  2 m 2  e  kt  2 m 2  k cos  wmt   wm sin  wmt   .
 k  wm  k  wm
Essa solução parece bastante complicada, mas se considerarmos cada termo indi-
vidualmente ficará mais fácil de compreender o que essa solução é, na verdade. O
primeiro termo é a temperatura média exterior, o que é razoável de se esperar para
ser a principal contribuição para a temperatura dentro da igreja; o segundo termo
decai exponencialmente, por isso terá muito pouco efeito depois de passado algum
tempo; e os dois últimos termos, ambos oscilam com a mesma frequência que a tem-
peratura externa à igreja. Podemos ver, a seguir, o gráfico de uma solução particular
para esse problema.

t
Figura 4 - Solução particular do problema
Fonte: os autores.

220 Equações Diferenciais de Primeira Ordem


Equações
Diferenciais Separáveis

Agora, vamos começar a olhar para uma classe


específica de equações diferenciais não lineares
de primeira ordem. O primeiro caso de equações
diferenciais de primeira ordem que vamos estudar
são as equações diferenciais separáveis. Uma equa-
ção diferencial separável é qualquer equação dife-
rencial que podemos escrever na seguinte forma

M  y  dy / dt  N  t  .

Observe que, para que uma equação diferencial


possa ser separável, é necessário que todos os ter-
mos que contêm a variável y na equação diferen-
cial devem estar multiplicando a derivada e, de
forma equivalente, todos os termos que contêm
a variável t devem estar do outro lado do sinal
de igualdade. Resolver uma equação diferencial
separável é bastante simples. Primeiramente, rees-
crevemos a equação diferencial na seguinte forma

M  y  dy  N  t  dt

UNIDADE VI 221
e em seguida integramos os dois lados da equação diferencial para obter

 M  y  dy   N  t  dt.

Finalmente, depois de fazer as integrações, teremos uma solução y  t  escrita impli-


citamente. Note-se que nem sempre será possível resolver para obter uma solução
explícita. Vejamos alguns exemplos de como resolver problemas separáveis.

4 EXEMPLO Considere a equação diferencial

dy
  y 2t.
dt

É bem claro ver que esta equação diferencial é separável. Então, vamos separar a
equação diferencial e integrar ambos os lados. Tal como acontece com as equações
lineares de primeira ordem, vamos pegar as constantes de integração de cada uma
das integrais e transformar em uma única constante. Vamos usar uma simples con-
venção que é colocar a constante sempre do lado da variável t . Neste caso, temos

dy
  y 2t
dt

  y 2 dy  tdt

   y 2 dy   tdt

1 t2
  C
y 2

1
 y t   ,
t2
C
2

cuja família de soluções (para diferentes valores da constante C ) pode ser observada
na figura a seguir.

222 Equações Diferenciais de Primeira Ordem


y
2.5
2.0
1.5
1.0
0.5
0.0 t
1 2 3 4

dy
Figura 5 - Solução geral de   y 2t
Fonte: os autores. dt

Considerando o valor inicial y  0   1 , temos

1
y t  
t2
C
2

1
 y 0  2
C
 0
2

1
 1 
C

 C  1.

Portanto, a solução é �

2
y t   2
,
t 2

e o gráfico da solução particular que está bem definida no intervalo t   2 , 2  


é dado pela figura a seguir.

UNIDADE VI 223
y
2

t
-1.5 -1.0 -0.5 0.5 1.0 1.5

-2

-4

-6

Figura 6 - Solução particular do problema


Fonte: os autores.

5 EXEMPLO Vamos, agora, considerar a equação diferencial

dy 3
 t 1  y  ,
dt

com a condição inicial y  0   3. Novamente, é claro perceber que esta equação


diferencial é separável. Então, vamos separar a equação diferencial e integrar ambos
os lados como no exemplo anterior. Neste caso, temos

dy 3
 t 1  y 
dt

dy
  t 3 dt
1 y

dy
 dy   t 3 dt
1 y

t4
  ln 1  y    C
4

t4
 ln 1  y  t      C
4

t4
ln 1 y t C
e e 4

t4

 1  y t   e 4  e C

224 Equações Diferenciais de Primeira Ordem


t4

 1  y  t   Ke 4

t4

⇒ y ( t ) = 1 − Ke 4 ,

em que K  e C . Na figura a seguir, podemos observar, para diferentes valores da


constante K, a família de soluções y  t  .

y
1.0

0.9

0.8
0.7

0.6

t
1 2 3 4

dy 3
Figura 7 - Solução geral do problema  t 1  y 
Fonte: os autores. dt

Agora, considerando o valor inicial y  0   3 dado, temos


t4

y  t   1  Ke 4


 0 4
 y  0   1  Ke 4

 3  1 K

 K  2.

Portanto, a solução particular do problema de valor inicial é �


t4

y  t   1  2e 4.

UNIDADE VI 225
A seguir, temos o gráfico da solução particular para o problema.

3.0

2.5
2.0

1.5

1.0

0.5

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0

Figura 8 - Solução particular do problema


Fonte: os autores.

6 EXEMPLO Equação Logística


A equação logística, também conhecida como modelo de Verhulst, é um famoso
modelo para o crescimento da população de uma espécie qualquer que foi publicado
pelo matemático belga Pierre Verhulst, em 1838. A ideia por trás desta equação é que
o crescimento de todas as espécies (incluindo a nossa) é limitada pela disponibilidade
de recursos naturais. A equação logística é dada por

dN  N
 rN  1   ,
dt  K

em que r é chamado o parâmetro Maltusiano, que fornece a taxa máxima do cres-


cimento da população, K é a chamada capacidade de carga e N  t  representa o
tamanho da população em função do tempo t.
Nesta equação, o crescimento inicial da população não apresenta nenhum impe-
dimento e é modelado pelo primeiro termo rN . Conforme a população aumenta, o
2
termo −r N se torna maior que rN , tendo em vista que os membros da população
K
N interferem uns com os outros, principalmente pela competição pelos recursos
necessários para a sua sobrevivência. Esse efeito antagônico é conhecido como gar-

226 Equações Diferenciais de Primeira Ordem


galo, e dependente do parâmetro K . Desta forma, a competição faz que a taxa com-
binada de crescimento diminua fazendo que a polução N pare de crescer, de forma
que a população chegue no estado conhecido como maturidade.
Como é fácil perceber, a equação logística é uma equação separável. Assim, temos

dN  N
 rN  1  
dt  K
dN
  rdt
N 1  N / K � 

dN
rdt.
N 1 N K
1
Neste momento, podemos notar que o termo pode ser escrito usando
N 1  N / K � 
frações parciais, na forma

1 1 1 1
.
N 1 N K N K 1 N/K

Logo, podemos integrar

dN
   rdt
N 1  N / K � 

1 1 1 
    dN  rt  C
 N K 1  N / K  

 ln N  ln  K  N   rt  C

 N 
 ln    rt  C
KN 
 N 
ln  
 e  K N   ert C
N
  Gert ,
KN
em que Γ  eC . Finalmente, isolando N  t  na equação anterior, temos a solução
que é dada por
K Ge rt
N t   .
1  Gert

UNIDADE VI 227
Note que

K Gert
lim N  t   lim
t  t  1  Ge rt

KG
 lim
t  e  rt G

KG

0G

= K,

que é o limite máximo que a população pode atingir dentro das condições de so-
brevivência.
Se a população inicial é dada, digamos N  0   N0 , então podemos determinar a
constante G ,

KG
N 0 
1 G

 1  G  N0  K G

 G  K  N0   N0

N0
G .
K  N0

Por fim, temos que a solução da equação logística para uma população inicial
N  0   N0 é

KN0 ert
N t   .
 
K  N0 ert  1

228 Equações Diferenciais de Primeira Ordem


A seguir, podemos ver no gráfico o comportamento da solução da equação logística.

2
1

0 2 4 6 8 10
Figura 9 - Solução particular do problema
Fonte: os autores.

UNIDADE VI 229
Equações
Diferenciais Exatas

O próximo tipo de equações diferenciais que ire-


mos trabalhar são as equações diferenciais exatas.
Antes de justificarmos os detalhes e a origem do
que é uma equação exata, vamos começar traba-
lhando com um exemplo. Isso irá nos mostrar
como são os detalhes por trás das soluções que,
normalmente, não vemos durante o processo de
solução.

230 Equações Diferenciais de Primeira Ordem


7 EXEMPLO Vamos resolver a seguinte equação diferencial não linear


2 xy  9 x2  2 y  x2  1  dydx  0.
Suponha que, magicamente, exista no mundo das funções a função Y  x, y  que
se relaciona com a solução y  x  do nosso problema. Imagine que a função que
precisamos seja a função

 
Y  x, y   y 2  x 2  1 y  3 x 3 .

Não se preocupe, neste momento, com a forma que encontramos essa função. Vamos
mostrar como encontramos ela no próximo exemplo; nesse momento, o interesse é
mostrar porque o processo de solução funciona.
Agora, vamos calcular as derivadas parciais da função Y  x, y  que são dadas por

Y x  2 xy  9 x2

Y y  2 y  x 2  1.

Compare, agora, essas derivadas parciais com a equação diferencial e você irá perceber
que podemos escrevê-la na seguinte forma

dy
Yx  Y y  0.
dx

Ora, mas se y  y  x , então o lado esquerdo da equação acima pode ser escrita como
a derivada com relação à variável x da função Y  x, y  x   , isto é,

d dy
 Y  x, y  x     Y x  Y y .
dx dx

Desta forma, a equação diferencial pode, agora, ser reescrita como sendo

d
 Y  x, y  x     0.
dx 

No entanto, se a derivada de uma função é nula, sabemos que essa função é constan-
te, Y  x, y  x    c  constante . Finalmente, podemos dizer que

UNIDADE VI 231
 
y 2  x2  1 y  3 x3  C.

Isso nada mais é que a solução da equação diferencial escrita de forma implícita;
se tivéssemos uma condição inicial, seríamos capazes de determinar o valor da
constante C.
Vamos, então, olhar para as coisas de uma forma mais geral. O que estamos tra-
balhando é com equações diferenciais no formato

dy
M  x, y   N  x, y   0.
dx

Conforme o Exemplo 7, se formos capazes de encontrar uma função Y  x, y  de


tal forma que

ΨΨxx M
M xx yy ee ΨΨyy NN xx yy , ,

então, dizemos que essa equação diferencial é exata. Nesses casos, podemos reescrever
a equação diferencial como
dy
Yx  Y y  0.
dx

Lembrando, como no exemplo, que pela regra da cadeia essa equação corresponde
à derivada
d
 Y  x, y  x     0,
dx 

então a solução da equação diferencial exata é

Y  x, y   C .

Essa é a solução, dada de forma implícita, supondo que sejamos capazes de encontrar
a função Y.

232 Equações Diferenciais de Primeira Ordem


Determinar a função Y  x, y  é claramente a tarefa central ao determinar se a equa-
ção diferencial é exata e determinar a sua solução. Antes de tentar encontrar uma
solução para uma equação diferencial supostamente exata, precisamos de um teste
simples para verificar se a equação é, de fato, exata. Caso ela não seja, a função Y
simplesmente não existirá e obviamente será uma perda de tempo tentar achar uma
função que não existe.
Primeiro, vamos encontrar um teste para verificar se uma dada equação é exata.
Comecemos assumindo que a equação diferencial

dy
M  x, y   N  x, y  0
dx

é exata. Desta forma, existe uma função Y  x, y  que satisfaz

Yx = M

Y y = N.

Agora, supondo que a função Y  x, y  seja contínua e suas derivadas primeiras


também sejam contínuas, sabemos que

Y xy = Y yx .

Entretanto, temos também que

Y xy   Y x  y   M  y  M y

 x   N x  N x .
Y yx  Y y

Portanto, se a equação diferencial é exata e Y  x, y  satisfaz as condições de conti-


nuidade necessárias, então

M y = Nx.

UNIDADE VI 233
Equivalentemente, se essa condição não for verdadeira, então não existe a possibili-
dade da equação diferencial ser exata. Portanto, usaremos a equação anterior como
teste para verificarmos se uma equação é ou não exata. Se ela for verdade, assumire-
mos que a equação diferencial é exata e que Y  x, y  satisfaz as condições de conti-
nuidade necessárias. Voltemos ao Exemplo 7, agora com o intuito de encontrar a
função Y.

8 EXEMPLO Vamos encontrar a solução para o PVI e determinar o intervalo de validade para o
problema


2 xy  9 x2  2 y  x2  1  dydx  0
com y  0   3.

Nosso primeiro passo é identificar, na equação diferencial dada, as funções M  x, y 


e N  x, y  e verificar se a equação é exata. Assim, temos

M  2 xy  9 x2  M y  2 x

N  2 y  x2  1  N x  2 x.

Então, de acordo com o nosso teste, a equação diferencial é exata. Nós já sabíamos
disso, afinal existe Y  x, y  que satisfaz essa equação diferencial. O problema é: como
encontraremos essa função? Se lembrarmos que

Ψx  M e Ψ y  N

então se calcularmos as seguintes integrais

Ψ Mdx ou Ψ Ndy

podemos encontrar a função desejada.

234 Equações Diferenciais de Primeira Ordem


Considere aquela que possui integral com relação a x, temos

Y   Mdx


  2 xy  9 x2 dx
 x2 y  3 x3  h  y  .

Perceba que a constante de integração que surge naturalmente, neste caso, não é uma
constante, mas sim uma função das variáveis restantes, no caso y.
Lembre-se que na integração F  x    f  x  dx nós sempre devemos fazer a
pergunta: qual é a função F  x  que, ao derivarmos, obtemos a função f  x  do
integrando? Como estamos trabalhando com duas variáveis aqui e também com de-
rivada parcial em relação a x, isto significa que qualquer termo que contenha apenas
y será tratado como constante e quando diferenciado sempre dará zero. Portanto,
temos que estar cientes desse fato e adicionarmos sempre uma função de y ao invés
da constante padrão c.
Estamos perto de encontrarmos a função Ψ x, y , precisamos apenas encontrar
a função h  y  e assim estaremos terminados. Nós usamos a equação Y x = M para
encontrarmos grande parte da função Y  x, y  , então usaremos a outra relação
Y y = N para acharmos h  y . Assim, derivando a parte de Y  x, y  que encontra-
mos em relação a y e igualando a função N , teremos

Y y  x2  h  y   2 y  x2  1  N .

Desta forma, vemos que

h '  y   2 y  1.

Como h  y  é uma função apenas de y, podemos integrá-la com relação a y para


obtermos
h  y     2 y  1 dy

 y2  y  k ,

em que k é uma constante real. Finalmente, podemos escrever a função Y  x, y 


que é dada por

UNIDADE VI 235
Y  x, y   x 2 y  3 x 3  y 2  y  k

 
 y 2  x2  1 y  3 x3  k .

Nesse momento, podemos ir direto para a solução implícita que é dada por

 
y 2  x 2  1 y  3 x 3  k  c,

como ambos k e c são constantes desconhecidas, podemos subtraí-las e criar uma


única constante C . Desta forma, teremos

y2 x2 1 y 3 x3 k c

y2 x2 1 y 3 x3 c k

y2 x2 1 y 3 x3 C.

Nosso último passo na solução deste problema é determinar a solução particular, ten-
do em vista que foi dado que y  0   3. Aplicando, então, a condição inicial, teremos

 3 2   0  1  3   3  0 3  C  C  6.

Finalmente, a solução implícita para esse problema é

 
y 2  x 2  1 y  3 x 3  6  0.

9 EXEMPLO Encontre a solução do PVI

 
2 xy 2  4  6  2 x2 y y '

com y  1  8 .

236 Equações Diferenciais de Primeira Ordem


Nosso primeiro passo é escrever a equação diferencial na forma

2 xy2  4  dx  2 x2 y  6  dy  0.
Essa equação é visivelmente não separável, e também não linear. Podemos verificar
se ela é exata. Para tal, fazemos


 2 x2 y  6   4 xy� � �e
x


 2 xy 2  4   4 xy.
y

Como Py = Qx , a equação diferencial em questão é exata. Desta forma, temos que


achar uma função Y  x, y   C , constante, tal que

Y x  P  2 xy 2  4 � � � e

Y y  Q  2 x 2 y  6.

Assim, integrando a primeira equação acima com relação a x, temos

Y  x, y   x 2 y 2  4 x  h  y  ,

que derivando com relação a y nos dá

Y y  2 x 2 y  h '  y   2 x 2 y  6.

Portanto, h '  y   6, isto é, h  y   6 y  k , e finalmente

Y  x, y   x 2 y 2  4 x  6 y  k .

Como Y  x, y   C , constante, e deve satisfazer a condição inicial y  1  8 , temos

 12 (8)2  4  1  6  8   C  C  12.

UNIDADE VI 237
Portanto, a solução do problema de valor inicial é dada por

x2 y 2  4 x  6 y  12

e graficamente pode ser vista a seguir.

-10 -8 -6 -4 -2

Figura 10 - Solução particular do problema


Fonte: os autores.

Nesta unidade, estudamos as equações diferenciais de primeira ordem. Vimos vários


exemplos de EDOs e onde elas surgem nas aplicações. Os métodos estudados nesta
unidade são muito úteis em várias aplicações até mesmo avançadas da matemática
e engenharia. Por isso, dominar os temas estudados nesta unidade é fundamental!
Na próxima unidade, começaremos o estudo dos métodos para resolver as equações
diferenciais de segunda ordem e também veremos exemplos de onde essas equações
podem aparecer.

238 Equações Diferenciais de Primeira Ordem


Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Encontre a solução do problema de valor inicial y '  t   ty  t   0 com y  0   1 .

1 2
2. Encontre a solução geral da equação separável y '  t   y  t   0 .
t

  
3. Encontre a solução da equação diferencial exata 2 xy  9 x2 dx  2 y  x2  1 dy  0 
com y  0   0.

dy y  1
4. Classifique e encontre a solução geral da equação diferencial  .
dt t 2  1

5. Encontre a solução do problema de valor inicial dado pela equação


t 2 y  t   ty  t   t 3  t 2 e condição inicial y 1  0 .

239
WEB

Uma das partes mais interessantes sobre o assunto das equações diferenciais
são as diversas aplicações relacionadas com elas. Assim, sugerimos que você
acesse este conteúdo para encontrar mais algumas aplicações das EDOs de
primeira ordem.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

240
BOYCE, W.; DIPRIMA, R. Equações Diferenciais e Problemas de Valores de Contorno. 9. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 2012.

FIGUEIREDO, D.; NEVES, A. Equações Diferenciais Aplicadas. 3. ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2014.

KREYSZIG, E. Matemática Superior para Engenharia. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009.

ZILL, D. Equações diferenciais com aplicações em modelagem. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011.

241
1. O fator integrante para essa equação é dado por
2
tdt
µ t e et /2
.

Multiplicando pelo fator integrante, a equação diferencial se reduz a

t2
e2  y  t   ty  t    0

 t2 
d 2
 e y  t    0.
dt  
 
Integrando ambos os lados da equação, temos

 t2 
d 2 
 dt  e y  t   dt   0dt
 
t2
e2 y t   c

t2

 y  t   ce 2.

t 2 /2
Portanto, a solução geral é y t ce . Como a solução deve satisfazer y  0   1, então


 0 2
y  0   ce 2

 c  1.
Finalmente, temos que a solução do problema de valor inicial é dado por

t2

y  t   e 2.

242
2. Como é possível perceber, a equação, dada é separável e por ser escrita na forma
dy 1 dy dt
  y2 , ou seja,
2
 .
dt t y t

dy dt
Integrando ambos os lados da equação obtemos   
y2 t
dt
  y 2 dy   
t

y 21
  lnt  c
2  1

1
   ln t  c
y

1
 y t   .
ln t  c

Portanto, a solução geral é dada por

1
y t   .
ln t  c

243
3. Para verificar que a equação diferencial é exata, devemos verificar se


x

2 y  x2  1 

y
 
2 xy  9 x2 . 
Como


x

2 y  x2  1  2 x

y
 
2 xy  9 x2  2 x,

então, a equação diferencial é exata. Como ela é exata, existe uma função Y  x, y , tal que

Y x  2 xy  9 x2 ,

Y y  2 y  x2  1,

d
e
dx
 Y  x, y    0. Isto é Y  x, y   c , constante. Para encontrar Y, podemos integrar Y x com re-

lação a x , para obtermos


Y   2 xy  9 x2 dx 
 x2 y  3 x3  h  y  .

Precisamos, agora, encontrar a função h  y . Para tal, derivamos a expressão encontrada com relação a

y, e igualamos a Y y  2 y  x2  1. Assim, temos

  2
x y  3 x3  h  y    2 y  x2  1
y  

 h  y   2 y  1

 h  y   y2  y  k.

244
Como a função Y  x, y   c  constante , então podemos escrevê-la na forma

Y  x, y   c  x 2 y  3 x 3  y 2  y  k  c  x 2 y  3 x 3  y 2  y  C ,

em que C  c  k . Para encontrarmos a constante C , usamos a condição inicial y  0   0 que nos dá

( 0 )2 ⋅ 0 − 3 (0 )3 + ( 0 )2 + 0 = C,
logo C =0 e, portanto, a solução da equação diferencial é

x 2 y  3 x 3  y 2  y  0.

dy y  1 dy dt
4. Não é difícil perceber que a equação é separável, pois ela pode ser reescrita como  2   2 .
dt t  1 y 1 t 1
Desta forma, a sua solução pode ser calculada integrando os dois lados da equação e assim obtemos

dy dt
 2
y 1 t 1

dy dt
  2
y 1 t 1
 ln  y  1  arctg  t   c.

Aplicando a exponencial em ambos os lados da equação, teremos

ln ( y + 1) = arctg ( t ) + c

e   e
ln y 1 arctg  t  c

arctg  t 
 y  1  ec e .
Portanto, a solução da equação diferencial é dada por

arctg  t 
y  t   ec e  1.

245
5. Primeiramente, começamos simplificando a equação dividindo ela por t 2 , logo
1
y  t   y  t   t  1.
t

Precisamos, agora, encontrar o fator integrante calculando

dt
µ t e t eln t t.

Multiplicando a equação pelo fator integrante, temos

ty  t   y  t   t 2  t

 ty  t    t 2  t.
'

Agora, integrando

'

 ty  t   dt   t 2  t dt 
t3 t2
 ty  t    C
3 2

t2 t C
 y t     .
3 2 t

Usando a condição inicial, temos

y 1  0

1 1
  C  0
3 2
1
C  .
6
Portanto,

t2 t 1
y t     .
3 2 6t

246
247
248
Dr. Vinicius de Carvalho Rispoli
Dr. Ricardo Ramos Fragelli
Dr. Ronni Geraldo Gomes de Amorim

Equações Diferenciais
de Segunda Ordem

PLANO DE ESTUDOS

Equações de Segunda
Ordem Não Homogêneas

Equações de Segunda
Variação de parâmetros
Ordem Homogêneas

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Estudar as equações diferenciais de segunda ordem ho- • Método da variação de parâmetros para encontrar solu-
mogêneas. ções não homogêneas.
• Estudar as equações diferenciais de segunda ordem não
homogêneas.
Equações de Segunda
Ordem Homogêneas

Na Unidade 6, iniciamos os nossos estudos das


equações diferenciais ordinárias. Começamos tra-
balhando com as equações de primeira ordem.
O interessante é que várias equações comuns na
física e engenharia possuem ordem superior a um.
Veremos, nesta unidade, como lidar com equações
de segunda ordem, que surgem naturalmente em
problemas que envolvem a segunda lei de Newton.
Uma equação diferencial é dita de segunda
ordem se ela pode ser escrita como

d2 y  dy 
= g  t , y ,  (1).
dt 2  dt 

Diferentemente das equações de primeira ordem,


em sua forma geral uma equação de segunda or-
dem é relativamente complicada de determinar as
soluções. Por isso, iremos começar com equações
mais tratáveis, que são as equações de segunda or-
dem lineares e homogêneas, mais especificamente
as equações diferenciais lineares com coeficientes
constantes. Uma equação diferencial de segunda
ordem, Eq.(1), é linear se ela puder ser escrita
na forma
d2 y dy
P (t ) 2
+ Q (t ) + R (t ) y = G (t ) (2),
dt dt

em que as funções P ≠ 0, Q , R e G são contínuas em algum intervalo I da reta


real. Quando a função G  t  é nula em todo o intervalo I , dizemos que a Eq.(2) é
homogênea, caso contrário dizemos que ela é não homogênea. Começaremos nos
preocupando com a solução para equações homogêneas, pois, para determinar as
soluções de equações não homogêneas, precisamos primeiro saber as soluções ho-
mogêneas. Temos um processo construtivo, neste caso.
Assim, nesta unidade como um todo, o nosso objetivo é começar por um proble-
ma mais simples que é determinar as soluções de equações diferenciais de segunda
ordem que são homogêneas, lineares e com coeficientes constantes

ay ''+ by '+ cy = 0, (3)

com a ≠ 0. Problemas não lineares, não homogêneos e com coeficientes não cons-
tantes serão tratados na próxima unidade. Aparentemente, simplificar bastante esse
problema, como fizemos, dá a falsa impressão de que as coisas serão fáceis, mas na
verdade não serão. Mesmo esse caso mais simples nos trará bastante informações
sobre as equações de segunda ordem.
Primeiramente, antes de encontrarmos as soluções para Eq.(3), vamos observar
um fato interessante. Suponha que as funções y1  t  e y2  t  sejam soluções da
Eq.(3), isto é,
ay1 ''+ by1 '+ cy1 = 0 ay2 ''+ by2 '+ cy2 = 0.

Então, a função y  t   c1 y1  t   c2 y2  t  , com c1 , c2 ∈ R constantes, também é


solução da equação diferencial

ay  by  cy  0,

pois
'' '
a  c1 y1  c2 y2   b  c1 y1  c2 y2   c  c1 y1  c2 y2  

  
 c1 ay1''  by1'  cy1  c2 ay2''  by2'  cy2 
 c1  0  c2  0
= 0,

considerando que y1 , y2 são solução da equação diferencial. Isto quer dizer que
combinações lineares de soluções das Eq.(3) também é solução dela. Este fato é
conhecido como princípio da superposição.

UNIDADE VII 251


Para começarmos o nosso processo de encontrar a solução para a Eq.(3), vamos
supor que a solução da equação diferencial ay  by  cy  0 seja na forma y  t   e .
rt

Este é um chute que damos, mas vamos ver que é um chute certeiro! Assim, substituindo
essa solução na equação diferencial, temos

     
ay  by  cy  a ert '' b ert ' c e rt

 ar 2 e rt  bre rt  ce rt


 ert ar 2  br  c , 
como ay  by  cy  0, temos, então,

 
ert ar 2  br  c  0.

rt
Como e ≠ 0 para todo t ∈ , temos que a solução da equação diferencial se rela-
ciona com a solução do seguinte polinômio de segundo grau em r,

ar 2  br  c  0.

Este polinômio é especial e será chamado de polinômio característico da equação


homogênea ay  by  cy  0.
O nosso problema, agora, é que o polinômio característico pode ter três tipos pos-
síveis de solução: duas raízes reais distintas, duas raízes iguais e duas raízes complexas
e conjugadas. Consequentemente, é de se esperar que encontremos duas soluções
distintas y1  t  e y2  t  para a Eq.(3) em pelo menos dois desses casos citados.
Começaremos, então, achando as soluções quando o polinômio característico tem
duas raízes reais distintas.

Raízes Reais Distintas


2
O polinômio característico ar  br  c  0 terá duas raízes reais distintas r1 ≠ r2
2
quando o discriminante D  b  4 ac, da equação de segundo grau, for positivo, isto
é, D > 0 . Assim, as duas soluções da equação de segundo grau serão

−b−b+ + ∆∆ −b−b− − ∆∆
r1 r=
1= e r2 r2= = . .
2a2a 2a2a

252 Equações Diferenciais


Desta forma, a equação diferencial terá também duas soluções distintas

y1 ( yt 1) (=t )e r=1t e r1t e y2 (yt 2) (=t )er=2t e. r2t .

Como observamos anteriormente, se cada uma dessas soluções satisfaz a equação di-
ferencial, então qualquer combinação linear dela também satisfaz, ou seja, teremos que

y  t   c1er1t  c2 er2t

também será solução da Eq.(3).


Por exemplo, se considerarmos a equação
y '' y  0,

então substituindo o candidato à solução y  t   e , teremos o polinômio característico


rt

r 2  1  0,
cujas raízes são r  1. Isto é, essa equação terá duas soluções distintas

y1y1( t()t )==etet e y2y2( t()t )==e −et−,t ,

logo, y  t   c1e  c2 e � também será solução de y '' y  0. Abaixo, podemos ver


t t

no gráfico como se comporta a solução y  t  .

20

15

10

-3 -2 -1 1 2 3
Figura 1 - Esboço de uma solução de y  y  0
Fonte: os autores.

UNIDADE VII 253


Raízes Complexas Conjugadas
2
Para que o polinômio característico ar  br  c  0 tenha duas raízes complexas conju-
2
gadas, é necessário que o discriminante D  b  4 ac seja negativo, isto é, D < 0. Assim,
as raízes do polinômio característico serão

−b + i −∆ −b − i −∆
r= r= ,
2a 2a
2
em que i  1 é a unidade imaginária. Para facilitar, vamos chamar r  b / 2a e
ω = −∆ 2a. .Ao substituirmos tanto r quanto o conjugado r no candidato à
solução y  t   e ,,teremos um problema, pois
rt

yr  t   ert

 e
ρ iω t

= eρt ⋅ eiωt ,

ou,

yr  t   e rt

 e
ρ iω t

= eρt ⋅ e−iωt .

Primeiramente, estamos considerando, obviamente, que o nosso problema


ay '' by ' cy  0, seja tal que tenha solução nos reais, não nos complexos. Em se-
± iwt �
gundo: como devemos lidar com as exponenciais complexas e que surgiram?
Neste caso, precisamos utilizar a conhecida fórmula de Euler, que relaciona a ex-
ponencial complexa com as funções trigonométricas seno e cosseno. A fórmula de
Euler é dada por
eiq  cos  q   i sin  q  ,

assim, podemos reescrever as soluções yr  t  e yr  t  nas formas

yr ( t ) = eρt cos ( ωt ) + i sin ( ωt )  e e

yr  t   eρt cos  ωt   i sin  ωt   .

254 Equações Diferenciais


Note que isso ainda não resolveu o nosso problema da solução complexa. Entretanto,
é fácil notar que a parte real e a parte imaginária de cada uma dessas soluções, quando
não é a mesma, difere apenas por um sinal. Isto é,

Re ( yr ( t ) ) = Re ( yr ( t ) ) = eρt ⋅ cos ( ωt ) ee

Im ( yr ( t ) ) = − Im ( yr ( t ) ) = eρt ⋅ sin ( ωt ) .

A princípio, são duas soluções distintas e fica a pergunta: será que cada uma delas
individualmente é solução da equação ay  by  cy  0 ? A resposta é sim! Vamos
mostrar isso com um exemplo, pois fica mais fácil de observar esse fato. No entanto,
para mostrar que y1  t   Re  yr  t   e y2  t   Im  yr  t   são duas soluções dis-
tintas da Eq.(3), basta calcular as derivadas e substituir na equação diferencial. Desta
forma, os candidatos à solução para a Eq.(3) serão

y1 ( t ) = eρt ⋅ cos (ω t ) y2 ( t ) = e ρt ⋅ sin (ω t ) ,

lembre-se que Re  r   r  b / 2a e Im  r   w  D / 2a . Novamente, qualquer


combinação linear dessas duas soluções, também será solução da Eq.(3), ou seja,

y  t   c1eρt  cos  ωt   c2 eρt  sin  ωt 

também é solução de ay  by  cy  0.


Por exemplo, considere a equação y '' y  0. Substituindo o candidato à solução
y  t   ert , teremos o polinômio característico

r 2  1  0.

Neste caso, D  4  1  1  4  0 . Portanto, o polinômio característico tem raízes


complexas dadas por
i   4 
r i
2

e seu conjugado r  i . Assim, os candidatos a soluções serão

y1  t   e   cos  Im  r  t 
Re r t

 e0t cos 1  t 
= cos t

UNIDADE VII 255


e
y2  t   e   sin  Im  r  t 
Re r t

 e0t sin 1  t 

= sin t.

Não é difícil perceber que ambas as soluções y1  t  e y2  t  satisfazem a equação


y '' y  0 e, portanto, a combinação linear

y  t   c1 cos t  c2 sin t

também é solução da equação. Podemos ver, no gráfico da Figura 2, como se com-


porta a solução y  t  .

1.5

1.0

0.5

-6 -4 -2 2 4 6
-0.5

-1.0

-1.5
Figura 2 - Esboço de uma solução de y  y  0
Fonte: os autores.

Raízes Repetidas
2
No nosso último caso, podemos ter um polinômio característico ar  br  c  0
2
que tenha apenas uma raiz real. Isso acontecerá quando o D  b  4 ac  0. Nesta
situação, teremos, na prática, apenas uma raiz real que será

b
r .
2a

256 Equações Diferenciais


Assim, a função y1  t   e
bt / 2 a
será a única solução da equação diferencial
ay '' by ' cy  0 . Contrariando os dois casos anteriores, nessa situação, fomos ca-
pazes de encontrar apenas uma solução para a equação diferencial. Nos outros dois
casos, encontramos duas.
Neste ponto, acredito que você, estudante, esteja se perguntando se agora precisa-
mos encontrar uma ou mais soluções diferentes para a equação diferencial. Como nos
outros casos encontramos duas, fica também a dúvida se duas soluções são suficientes
para equação diferencial, ou existem mais. A resposta é: a equação ay '' by ' cy  0
possui exatamente duas soluções linearmente independentes. Quando falo linear-
mente independentes (LI) me refiro ao mesmo conceito que foi estudado em álgebra
linear. Isto é, duas funções y1  t  e y2  t  serão LI, se não existe constante c ∈ 
tal que y1  t   c  y2  t  . Não é difícil perceber que e e e são linearmente inde-
t −t

pendentes, assim como cos t e sin t também são. Desta forma, como encontramos
apenas uma solução para ay '' by ' cy  0 quando D = 0 , então para que a solução
fique completa é necessário que achemos outra.
Como já encontramos a solução
b
 t
y1  t   e 2a ,

vamos supor que a segunda solução seja na forma y2  t   p  t  y1  t  . Essa forma


de encontrar uma nova solução linearmente independente é chamada de método
da redução de ordem. Derivando o candidato à solução y2  t , teremos
b
y2 '  t   p '  t  e bt / 2 a  p  t  ebt / 2 a
2a

bt
b  b2
y2 ''  t   p ''  t  e bt / 2 a
 p '  t  e 2 a  2 p  t  e bt / 2 a .
a 4a

Ao substituirmos as derivadas na equação diferencial, iremos obter

  b b2   b  
a  p '' p ' 2 p   b  p ' p   cp  ebt / 2 a  0.
  a 4 a   2a  

Cancelando o fator e −bt /2 a que é sempre não nulo e rearranjando os termos, po-
demos ver que
ap '' ( t ) = 0.

UNIDADE VII 257


Assim, integrando duas vezes a função p  t , teremos que ela é dada por

p  t   αt  β.

Desta forma, encontramos a segunda solução linearmente independente, que pode


ser escrita na sua forma mais simples como
b
 t
y2  t   te 2a ,

e a solução geral, neste caso, é dada por


b
 t
y  t    c1  c2t  e 2a .

Por exemplo, a equação diferencial y '' 2 y ' y  0 tem polinômio característico


dado por
r 2  2r  1  0
2
  r  1  0

 r  1.

Logo, esse polinômio característico só tem uma solução r  1 e, portanto, as duas


soluções linearmente independentes, nesse caso, são dadas por
y1 ( t ) = e −t e y1 (yt 2) (=t )e−=t te −t . y2 ( t ) = te−t .

Finalmente, temos que a combinação linear delas

y  t    c1  c2t  et

também satisfaz a equação diferencial. A seguir, podemos ver, no gráfico, como se


comporta a solução y  t  .

0.3

0.2

0.1

1 2 3 4 5 6
Figura 3 - Esboço de uma solução de y  2 y  y  0
Fonte: os autores.

258 Equações Diferenciais


1 EXEMPLO Sistema Massa-Mola
O exemplo clássico de um problema de valor inicial envolvendo uma equação linear
de segunda ordem com coeficientes constantes é o sistema massa-mola. Suponha,
como na figura a seguir, que se tenha uma mola presa ao teto de uma sala e uma bola
de massa m presa à mola. Suponha que essa mola possua constante de Hooke (ou
apenas, constante da mola) igual a k . Primeiramente, vamos considerar que o movi-
mento que esse sistema produzirá será apenas vertical e que a origem desse sistema,
isto é, y = 0 , é equivalente à posição da bola, presa à mola, no repouso. Em seguida,
considere que o sentido positivo de movimento é o sentido para baixo.

mola sem
d0
extensão
(y=0)

sistema em
repouso
sistema em
movimento
Figura 4 - Etapas de um sistema massa-mola
Fonte: os autores.

Quando o sistema está em repouso, então o peso da mola deve ser igual à força elástica
gerada pela mola. Como podemos ver na Figura 4, o deslocamento da mola gerado
pela força do peso leva ao seguinte balanço de forças
ks0 = mg ,

considerando g como sendo a aceleração da gravidade. Quando o sistema está em


movimento, iremos indicar por y  t  a posição da bola com relação ao tempo. Desta
forma, pela segunda lei de Newton, temos que

massa × aceler ção = ∑ ç as.

Neste caso, vamos considerar que quatro forças distintas podem estar influenciando
o movimento da bola, estas são: peso, força elástica, atrito e uma força externa (a
princípio de origem desconhecida). Assim, temos que

massa × aceler ção = peso + ç elástica + atrito + forç externa.

UNIDADE VII 259


Se a posição da bola com relação ao tempo é dada por y  t , então a velocidade é dada
por v  t   y  t  e a aceleração por a  t   y ''  t . A força elástica, nesta situação, é
dada pela lei de Hooke que é

Fe  t   k  d0  y  t   ,

lembrando que o sentido da força elástica é sempre oposto ao do movimento e por


isso o sinal negativo. A força de atrito, resistiva ou de amortecimento, usualmente é
modelada como sendo
Fa  t   g v  t   g y  t  ,

em que g é o que chamaremos de constante de amortecimento. A força de amorteci-


mento também é oposta ao movimento, por isso a constante negativa. Finalmente, a
força externa, que a princípio não tem origem especificada, iremos indicar por Fext  t  .
Desta forma, reescrevendo a segunda lei de Newton usando as forças indicadas, temos

my  t   mg  k  d0  y  t    g y  t   Fext  t 

 my  t   g y  t   ky  t   mg  kd0  Fext  t 

 my  t   g y  t   ky  t   Fext  t  ,

pois, no repouso kd0 = mg , ou seja, mg  kd0  0 .


Apesar de possuir uma modelagem simples, esse sistema é de fundamental im-
portância no nosso cotidiano. Por exemplo, ele modela, simplificadamente, o sistema
de amortecimento de um carro. Você consegue associar qual das soluções possíveis
para o caso homogêneo encontradas neste tópico seria o equivalente para o sistema
de amortecimento de um carro?
Nos próximos tópicos voltaremos com exemplos sobre o sistema massa-mola.

260 Equações Diferenciais


Equações de Segunda
Ordem não Homogêneas

Estudamos as equações homogêneas no primeiro


tópico desta unidade, mas também devemos con-
siderar o estudo das equações diferenciais linea-
res de segunda ordem não homogêneas, pois elas
são de fundamental importância na ciência. Elas
aparecem nas mais diversas aplicações da física e
engenharia. Uma equação de segunda ordem não
homogênea tem a forma

d2 y dy
p (t ) 2
+ q (t ) + r (t ) y = g (t ) , (1)
dt dt

em que as funções p ≠ 0, q , r e g são contínuas


em algum intervalo I da reta real e g ≠ 0. Nós
vamos focar, nesta unidade, nas equações com
coeficientes constantes e escreveremos a Eq.(1)
na forma

d2 y dy
a +b + cy = g ( t ) , (2)
dt 2 dt

UNIDADE VII 261


a, b, c ∈ , a ≠ 0, constantes. Se a função g  t   0, então o nosso estudo do tópico
anterior seria suficiente para resolver a Eq.(2). Contudo, com g ≠ 0 , temos que
tomar alguns cuidados. Começamos supondo que y1  t  e y2  t  sejam soluções
da Eq.(2), isto é,

d 2 y1 dy1 2
a b  cy1  g  t � � e� e a d y2  b dy2  cy2  g  t  .
dt 2 dt dt 2 dt
Se fizermos a diferença entre essas equações, teremos

d 2 ( y1 − y2 ) d ( y1 − y2 )
a 2
+b + c ( y1 − y2 ) = 0 (3)
dt dt

ou seja, a diferença entre as soluções da equação não homogênea é igual a solução da


equação homogênea. Vamos chamar a solução da equação homogênea de yh  t  e
chamaremos a solução da equação não homogênea de solução particular y p  t . Da
Eq.(3), podemos perceber que a solução geral de uma equação diferencial não homo-
gênea é na forma
y  t   yh  t   y p  t  .

Como já falamos, determinar a solução homogênea nós já sabemos, foi o trabalho do


tópico anterior. A nossa dificuldade, neste momento, é encontrar a solução particular.
Iremos descrever duas maneiras diferentes de se encontrar a solução particular, uma
delas é o método dos coeficientes a determinar e o outro é o conhecido método
da variação de parâmetros. Neste tópico, focaremos no método dos coeficientes a
determinar, enquanto o próximo tópico será inteiramente dedicado ao método da
variação de parâmetros.
O método dos coeficientes a determinar é um método muito prático para encon-
trar soluções particulares, no entanto requer um bom chute. Como assim? Tem que
ser um jogador de futebol para encontrar a solução? Quase isso! Vamos ver como o
método funciona com alguns exemplos.

2 EXEMPLO Considere a equação diferencial não homogênea


d2 y dy
2
+ + y=t (4)
dt dt

Nosso objetivo é determinar a solução geral desta equação. Conforme vimos, a so-
lução geral é dividida em dois pedaços: a solução homogênea e a solução particular.
Começamos encontrando a solução homogênea.

262 Equações Diferenciais


Suponha que a solução homogênea seja dada por yh  t   e ,,então substituindo
rt

na equação diferencial (sem o termo do lado direito), temos

r 2  r  1  0.

Para encontrarmos a solução da equação característica, observamos que


2
D  1  4  1  1  3.

Assim, a equação característica tem duas raízes complexas e conjugadas dadas por

1 3
r  i.
2 2

Portanto, a solução da equação homogênea ( y '' y ' y  0) associada à Eq.(4) é


t t
−  3  −  3 
yh ( t ) = c1e 2 cos  t  + c2 e 2 sen  t  .
 2   2 

Como a solução particular é independente da solução homogênea, podemos imaginar


que, neste caso, a solução particular tem a forma

y p  t   At 2  Bt  C.

Substituindo na equação diferencial Eq.(4), temos

 At 2  Bt  C  ''  At 2  Bt  C    At 2  Bt  C   t
'

  2 A  2 At  B  At 2  Bt  C  t

2 A  B  C  0

  2 A  2B  1
 A0

 A  0, B  1, C  1.

Portanto, a solução particular desta equação diferencial é


y p  t   t 1.

Finalmente, a solução geral é dada por

t t
  3    3 
y  t   c1e 2 cos  t   c2 e 2 sen  t   t  1.
 2   2 

UNIDADE VII 263


A seguir, podemos ver a solução para diferentes valores das constantes c1 e c2 .
y
3.0

2.5

2.0

1.5

1.0

t
1 2 3 4
Figura 5 - Solução geral de y  y  y  t
Fonte: os autores.

Neste exemplo, fica claro o porquê foi dito que o método dos coeficientes a determinar
necessita de um bom chute. Neste caso, escolhemos de forma intuitiva qual seria um
bom candidato à solução particular para uma equação diferencial. Claramente este é um
método que será útil apenas para uma classe de funções g  t  relacionadas à equação

d2 y dy
a 2
b  cy  g  t  .
dt dt

Nos exemplos a seguir, vamos mostrar algumas das funções g  t  que usaremos
neste método e como encontrar as soluções.

3 EXEMPLO Agora, vamos determinar a solução geral da seguinte equação diferencial não ho-
mogênea
d2 y dy
2
− 4 − 12 y = 3e5t (5)
dt dt
Assim como no exemplo anterior, vamos começar encontrando a solução do problema
homogêneo associado à equação diferencial. Isto é, vamos resolver

d 2 yh dyh
4  12 yh  0.
dt 2 dt

Supondo que a solução seja, na verdade, dada por

yh  t   ert

encontramos a seguinte equação característica para o problema

r 2  4 r  12  0
  r  2  r  6  0

264 Equações Diferenciais


e portanto as soluções da equação característica são r1  2 e r2 = 6. Finalmente, a
solução homogênea da equação diferencial é dada por

yh  t   c1e2t  c2 e6t .

Como podemos ver, não há nenhuma relação entre a solução homogênea e o termo
não homogêneo g  t   3e . Desta forma, precisamos encontrar um candidato à
5t

solução particular para esse problema. Neste caso, iremos tentar a função
y p  t   Ae5t .

Ao substituirmos esse candidato à solução, obtemos

d2 yp dy p
2
4  12 y p  3e5t
dt dt

 � A  55  e5t  4  A  5  e5t  12  A  e5t  3e�5t


 25 A  20 A  12 A  3
 7 A  3
3
A .
7
Finalmente, temos que a solução geral da equação diferencial Eq.(5) é dada por

3
y  t   c1e2t  c2 e6t  .
7

A seguir, podemos ver o gráfico das soluções desta equação para diferentes valores
das constantes c1 e c2 .

50

40

30

20

10

t
0.2 0.4 0.8 0.8
Figura 6 - Solução geral de y  4 y  12 y  3e5t
Fonte: os autores.

UNIDADE VII 265


Como esse método depende da escolha que fazemos para encontrar a solução parti-
cular, podemos criar uma tabela de funções que iremos escolher para casos específicos
do termo não homogêneo.
g (t ) Candidato a y p ( t )

aebt Aebt
a cos bt A co ( bt ) + B sen ( bt )

asenbt A co ( bt ) + B sen ( bt )

a co bt + c senbt A co ( bt ) + B sen ( bt )
Polinômio de grau n Ant n + An−1t n−1 +  + A1t + A0

4 EXEMPLO Dado o termo não homogêneo

g  t   cos  t   2 sen  t  ,

usando a tabela, podemos encontrar a solução particular do problema

d2 y dy
2  y  g  t  ,� �(6)
dt 2 dt

através da função
y p ( t ) = A co ( t ) + B sen ( t ) .

Se a substituirmos na equação, teremos


d2 yp dy p
2
2  y p  cos  t   2 sen  t 
dt dt

⇒ − ( A co ( t ) + B sen ( t ) ) + 2 ( − A sen ( t ) + B os ( t ) ) + ( A co ( t ) + B sen ( t ) ) =

+ B sen ( t ) ) + 2 ( − A sen ( t ) + B os ( t ) ) + ( A co ( t ) + B sen ( t ) ) = cos ( t ) − 2 sen ( t )


2 A  2

 2B  1
1
A 1,=
= B .
2

Portanto, a solução particular para a Eq.(6) é dada por


1
y p  t   cos  t   sen  t  .
2

266 Equações Diferenciais


5 EXEMPLO Sistema massa-mola com forçamento
Vimos, no tópico anterior, que o movimento de uma bola de massa m, presa a uma
mola de constante k , que está sujeita a uma força resistiva de constante g e também
a uma força externa Fext  t , pode ser modelada por

my  t   g y  t   ky  t   Fext  t  .

Na Figura 7, temos um modelo geral do nosso sistema, considerando que existe uma
força externa sem origem específica agindo sobre o sistema.

k mola

m massa Fext (t)

γ amortecedor

Figura 7 - Sistema massa-mola amortecido


Fonte: os autores.
Vamos supor que, neste caso, a nossa força externa seja dada por

Fext  t   F0 cos  wt  ,

com constantes F0 , w > 0. Se usarmos o método dos coeficientes a determinar, a


solução particular que devemos chutar, neste caso, deve ter a forma

y p  t   α cos  ωt   β sen  ωt  .

Derivando essa função, temos

y 'p  t   ωα sen  ωt   ωβ cos  ωt 

y ''p  t   ω 2α cos  ωt   ω 2 β sen  ωt  .

Substituindo, então, na equação diferencial e ajustando os termos, temos

     
 k  mω 2 α  ωγβ  cos  ωt    ωγα  k  mω 2 β  sen  ωt   F cos  ωt  .
0

UNIDADE VII 267


Ao igualarmos os dois lados, chegamos no seguinte sistema linear em a e b

 
 k  mω 2 α  ωγβ  F
0
.

 2
ωγα  k  mω β  0
 
Com um pouco de paciência, é possível mostrar que a solução desse sistema linear
é dada por
k − mω 2 ωγ
α = F0 β = F0
( k − mω ) 2 2
( k − mω2 )
2
+ ω2 γ 2 + ω2 γ 2

Se, por conveniência, fizermos k / m = w0 , então podemos reescrever a solução


particular na forma

y p  t   F0

m ω02  ω 2  cos  ωt   F0
ωγ
sen  ωt  .
m 2
 ω02 ω 
2 2
ω γ 2 2
m 2
 ω02 ω 
2 2 2 2
ω γ

Partindo dessa solução particular, podemos analisar alguns casos interessantes do


sistema massa-mola com forçamento. Aqui, veremos o caso do “batimento”. No próxi-
mo tópico, falaremos sobre a “ressonância”. Para facilitar, considere que a constante de
amortecimento, neste caso, seja nula, isto é, g = 0. Desta forma, a solução particular
do nosso problema se reduz a
F0
y p t   cos  wt  .

m w02  w 2 
Considerando que o sistema massa-mola é sem amortecimento, podemos encontrar
a solução homogênea deste problema fazendo

myh''  t   kyh  t   0.

Como as constantes m, k > 0 , então o polinômio característico para essa equação


é dada por
mr 2  k  0,

o que nos leva a duas raízes complexas e conjugadas r  i k / m  iw0 . Aqui, é


importante ressaltar que a constante w escolhida deve ser diferente de w0 , isto é,
ω ≠ ω0 . Desta forma, a solução homogênea para esta equação é dada por
yh  t   c1 cos  w0t   c2 sen  w0t  .

268 Equações Diferenciais


Assim, temos que a solução da equação é dada por
y  t   yh  t   y p  t 

F0
 c1 cos  w0t   c2 sen  w0t   cos  wt  .
m  w02  w2 
Se considerarmos as condições iniciais y  0   0 e y '  0   0 , não é difícil verificar
que a solução do problema de valor inicial se reduz a

F0
y t   cos  wt   cos  w0t   .
m  w02  w2 
Finalmente, podemos reescrever a diferença de cossenos na solução usando a seguinte
identidade trigonométrica
1  ab ba
[cos  a   cos  b ]  sen   sen  ,
2  2   2 

para obtermos

2 F0  w  w0  w w 
y t   sen  t  sen  0 t .
m  w02 w 2
  2   2 

Supondo que os números w e w0 estão perto, então a diferença entre eles w0 − w é


um número muito pequeno. Desta forma, o período de oscilação da função

w w 
g  t   sen  0 t
 2 
2π 4π
será muito grande, lembrando que o período é T  freq  ω  ω . A função y  t  apre-
0
sentará um comportamento semelhante ao do gráfico mostrado a seguir. Observe que
a curva pontilhada corresponde ao fator dado pelo primeiro seno da função y  t ,
isto é, a curva pontilhada está relacionada à função h  t   sen  w  w0 t  . Conforme
 2 
dito, esse efeito é conhecido como batimento e pode ser facilmente ouvido quando
se deseja afinar um instrumento de cordas, por exemplo, um violão. À medida que a
frequência de batimentos diminui enquanto o músico gira a tarraxa de uma deter-
minada corda, considerando uma nota afinada de referência, significa que o músico
está se aproximando na nota correta. Sugiro que o estudante, caso tenha um violão
em casa, pegue-o e faça o teste.

UNIDADE VII 269


y

Figura 8 - Efeito do batimento


Fonte: os autores.

Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo.


Para acessar, use seu leitor de QR Code.

270 Equações Diferenciais


Variação de
Parâmetros

Conforme vimos no tópico anterior, é possível re-


solver o problema não homogêneo simplesmente
chutando uma possível solução particular. Termos
não homogêneos, baseados em funções comuns
como seno, cosseno, polinômios, exponencial e
combinação dessas funções citadas, podem ter
suas soluções particulares facilmente encontradas
or meio de um chute para a solução particular. No
entanto, quando o termo não homogêneo deixa
de ser uma função simpática, como as comen-
tadas anteriormente, procurar uma função para
um bom chute pode ser inviável. Por esse moti-
vo, veremos, neste tópico, uma outra alternativa
para encontrar a solução particular de forma mais
geral.
Assim, dado uma equação diferencial não ho-
mogênea

d2 y dy
a  by  g  t  ,
dt 2 dt

UNIDADE VII 271


com a, b ∈ , nosso interesse é encontrar a solução particular y p  t  para funções
mais complicadas que as discutidas até agora. Suponha, então, que a solução particular
da equação diferencial seja na forma
y p  t   u1  t  y1  t   u2  t  y2  t  ,

em que y1  t  e y2  t  são as soluções da equação homogênea. Derivando o candi-


dato y p  t , teremos
dy p
 u1 ' y1  u1 y1 ' u2 ' y2  u2 y2 '.
dt

Para facilitar os nossos cálculos, vamos supor que u1 ' y1  u2 ' y2  0, isso nos dará
condições suficientes para encontrar a solução que queremos. Assim,
 dy p
  u1 y1 ' u2 y2 '
 dt
 2
d yp
 u1 ' y1 ' u1 y1 '' u2 ' y2 ' u2 y2 ''
 dt 2

 u1 y1 '' au1 y1 ' bu1 y1  u2 y2 '' au2 y2 ' bu2 y2 

u1 ' y1 ' u2 ' y2 '  g  t  .

Podemos observar que, na primeira linha (após o sinal de ⇒), é nula, pois ambos
y1 e y2 são solução da equação homogênea. Desta forma, temos o seguinte sistema
para resolver
 u1 ' y1  u2 ' y2  0
 .
u1 ' y1 ' u2 ' y2 '  g  t 

Esse é um sistema linear em u1 ' e u2 ' que é bem simples de resolver e tem soluções
dadas por
y t  g t 
u1 '  t    2
y1 y2 ' y2 y1 '

y1  t  g  t 
u2 '  t   .
y1 y2 ' y2 y1 '

272 Equações Diferenciais


Ao número W ( y1, y2 ) = y1 y2 − y2 y1 , daremos o nome de Wronskiano; ele é impor-
' '

tante nesse contexto, pois as funções procuradas u1 e u2 só irão existir se W ≠ 0.

Ainda não é claro quando esse número será não nulo, mas adiantamos que as soluções
y1 e y2 que encontramos até este momento sempre terão o Wronskiano diferente
de zero. Voltaremos nesse ponto no final deste tópico.
Finalmente, temos que as funções u1 e u2 procuradas satisfazem

y2  t  g  t 
u1  t     dt ,
y1 y2 ' y2 y1 '

y1  t  g  t 
u2  t    dt 
y1 y2 ' y2 y1 '

y2  t  g  t  y t  g t 
y p  t    y1  t   dt  y2  t   1 dt ,
y1 y2 ' y2 y1 ' y1 y2 ' y2 y1 '
que era a solução particular desejada. Acredito que o leitor esteja bastante incomo-
dado com essa solução particular, tendo em vista o trabalho que será para calculá-la
neste caso. Entretanto, veremos nos exemplos a seguir que nem tudo é tão ruim e
desesperador quanto parece.

6 EXEMPLO Vamos considerar a seguinte equação não homogênea

y ''  t   y  t   tan  t  .

Supondo que a solução da equação homogênea seja yh  t   e ,, temos a seguinte


rt

equação característica
r 2  1  0,

que claramente possui as soluções complexas r  i. Desta forma, a solução homo-
gênea desta equação diferencial é dada por
yh  t   c1 cos  t   c2 sen  t  ,

chamaremos então y1  t   cos  t  e y2  t   sen  t  .

UNIDADE VII 273


Tendo em vista que já encontramos a solução homogênea, podemos calcular o Wrons-
kiano que, neste caso, é
co t sent
W ( cos t , sent ) =
− sent os t

 cos2 t  sen2t
= 1.

Agora, podemos calcular a solução particular dada por

y2  t  g  t  y t  g t 
y p  t    y1  t   dt  y2  t   1 dt
W W
sen  t  tan  t  cos  t  tan  t 
  cos t  dt  sent  dt
1 1

sen2 ( t )
= − cos t ∫ dt + sent ∫ sentdt
cos t

1 − cos 2t
= − cos t ∫ dt + sent ( − os t )
cos t

= − cos t ∫ ( sec t − cos t ) dt − cos tsent

= − cos t ( ln cos t + se t − sent ) − co tsent

  cos  t  ln cos  t   sec  t  .

Finalmente, podemos escrever a solução geral que é dada por


y  t   c1 cos  t   c2 sen  t    cos  t  ln cos  t   sec  t  .

Observe que ignoramos, nesse exemplo, as constantes de integração. Nós iremos fazer
isso, pois se usássemos as constantes oriundas de cada integral, teríamos
 y t  g t    y t  g t  
y p  t    y1  t    2 dt  k1   y2  t    1 dt  k2 
 y1 y2 ' y2 y1 '   y1 y2 ' y2 y1 ' 
y2  t  g  t  y t  g t 
 k1 y1  t   k2 y2  t   y1  t   dt  y2  t   1 dt
y1 y2 ' y2 y1 ' y1 y2 ' y2 y1 '

y2  t  g  t  y t  g t 
 yh  t   y1  t   dt  y2  t   1 dt.
y1 y2 ' y2 y1 ' y1 y2 ' y2 y1 '

274 Equações Diferenciais


Como a solução particular é escrita de forma independente da solução homogênea,
que surge naturalmente da solução particular obtida no método da variação de
parâmetros quando usamos as constantes de integração k1 e k2 � das integrais, não
iremos utilizá-las aqui.

7 EXEMPLO Vamos, neste exemplo, encontrar a solução do seguinte problema de valor inicial

et
y ''  t   2 y '  t   y  t   ,
1  t2
1
com y  0   1 e y '  0    .
2
Novamente precisamos encontrar inicialmente a solução da equação homogê-
nea. Assim, supondo que a solução da equação homogênea seja yh  t   e ,,temos
rt

a seguinte equação caraceterística r 2  2r  1  0, que possui raízes repetidas r = 1 .


Neste caso, a solução homogênea desta equação diferencial é dada por
yh ( t ) = c1et + c2t et

chamaremos y1  t   e e y2  t   te .
t t

Nosso próximo passo é calcular o Wronskiano que, neste caso, é dado por
et tet
 t
W e , te  t
 et tet  et


 et tet  et  te2t 
= e2 t .

A solução particular é, então,


y2  t  g  t  y t  g t 
y p  t    y1  t   dt  y2  t   1 dt
W W

tet  et et  et
  et  dt  tet  dt

e2 t 1  t 2  
e2 t 1  t 2 
t 1
  et  dt  tet t  dt
1  t2 1  t2

1
 
  et ln 1  t 2  tet arctan  t  .
2

UNIDADE VII 275


Portanto, a solução geral para a equação não homogênea é

1
( )
y ( t ) = c1et + c2t et − et n 1 + t 2 + tet arctan ( t ) .
2

Para encontrarmos a solução do PVI, basta substituirmos a condição inicial e temos


y  0   1  c1  1

1 3
y  0     c2  
2 2
3
2
1
( )
⇒ y ( t ) = et − t et − et n 1 + t 2 + tet arctan ( t ) .
2

8 EXEMPLO Sistema massa-mola com forçamento


Estudamos, no tópico anterior, o que acontece com o sistema massa-mola sem amor-
tecimento
my  t   ky  t   Fext  t  ,

quando a função de forçamento tem a forma Fext  t   F0 cos  wt  , com ω ≠ ω0 .


Aqui, veremos o que acontece com o sistema quando a frequência da função de força-
mento w coincide com a frequência natural do sistema massa-mola w0 . O efeito que
iremos ver é conhecido como ressonância e é de extrema importância na engenheria.
Vamos supor que, neste caso, a nossa força externa seja dada por

Fext  t   F0 cos  w0t  ,

com constantes F0 , w > 0 . Assim, podemos reescrever a equação diferencial como sendo

F0
y  t   w02 y  t   cos  w0t  ,
m
2
em que w0 = k / m. Para usarmos o método da variação de parâmetros começamos,
encontrando a solução do problema homogêneo

yh''  t   w02 yh  t   0.

Já vimos que a solução homogênea para esta equação é dada por

yh  t   c1 cos  w0t   c2 sen  w0t  .

276 Equações Diferenciais


Para esse par de soluções, temos que o Wronskiano pode ser calculado como

cos  w0t  sen  w0t 


W  cos  w0t  , sen  w0t   
w0 sen  w0t  w0cos  w0t 

= ω0 cos2 ( ω0t ) + ω0 en2 ( ω0t )

= w0 .
Considerando y1  t   cos  w0t  e y2  t   sen  w0t  , então temos que a solução
particular para o problema é dada por

sen  w0t  F0 / m  cos  w0t  cos  w0t   F0 / m  cos  w0t 


y p  t   cos  w0t   dt  sen  w0t   dt
W W
F0 F
 cos  w0t   sen  2w0t  dt  0 sen  w0t   cos2  w0t  dt
2mw0 mw0
F0 F0
 cos  w0t    cos  2w0t    sen  w0t   1  cos  2w0t   dt
4 mw02 2mw0
F0 F0 F0
 cos  w0t  cos  2w0t   sen  w0t  sen  2w0t   tsen  w0t 
4 mw02 4 mw02 2mw0
F0 F0
 cos  w0t   tsen  w0t  .
4 mw02 2mw0

Finalmente, podemos escrever a solução geral desse problema

y  t   yh  t   y p  t 

F0 F0
 c1 cos  w0t   c2 sen  w0t   cos  w0t   tsen  w0t 
4 mw02 2mw0

F0
 k1 cos  w0t   c2 sen  w0t   tsen  w0t  ,
2mw0
F
em que k1  c1  0 2 . O mais importante a ser observado neste caso é o que acontece
4 mw0 F
com a solução particular g  t   0 tsen  w0t  . Quando t   , a função g  t   ,
2mw0
desta forma,
lim y  t   .
t 

O efeito da ressonância faz que a solução cresça sem limites, o que foi um fator fun-
damental para o colapso da ponte Tacoma, nos EUA, em 1940 (você pode assistir o
colapso da ponte nos vídeos sugeridos). A seguir, no gráfico, podemos ver como a
solução particular influencia a solução y  t  .

UNIDADE VII 277


yp

Figura 9 - Efeito da ressonância


Fonte: os autores.

O conhecimento deste efeito é de fundamental importância para prevenir acidentes


como o ocorrido no colapso da ponte.

Independência Linear e o Wronskiano

Provavelmente, em algum momento, você que está acompanhando as aulas deve


ter se perguntado por que uma equação de primeira ordem possui uma solução e
a equação de segunda ordem possui duas soluções. Seguindo a lógica, poderíamos
nos perguntar se uma equação de terceira ordem, por exemplo, tem três soluções. A
resposta é: sim!
Uma equação de segunda ordem possui duas soluções, pois o conjunto de soluções
destas equações constituem um espaço vetorial finito de duas dimensões. Desta forma,
cada uma das soluções faz parte da base do espaço. Lembrem-se que, no curso de
álgebra linear, a dimensão do espaço vetorial corresponde ao número de elementos
que ele possui na sua base. Além disso, os vetores que estão na base de um espaço
vetorial devem ser linearmente independentes, caso contrário eles não são capazes
de gerar todo o espaço, apenas parte dele. Assim, as duas soluções de uma equação de
segunda ordem devem ser linearmente independentes. A dependência linear entre
elas é medida pelo Wronskiano. Isso não é difícil de mostrar.
Considere um problema de valor inicial

d2 y dy
a 2
b  cy  0
dt dt

278 Equações Diferenciais


com y  t0   y0 e y '  t0   z0 . Suponha que y1  t  e y2  t  sejam aquelas que que-
remos verificar se são linearmente independentes. Para que elas sejam linearmente
independentes, é necessário que a única possibilidade da combinação linear
c1 y1  t   c2 y2  t   0

aconteça quando c=
1 c=
2 0 . Se derivarmos essa relação, temos

c1 y1 '  t   c2 y2 '  t   0.

Neste caso, teremos um sistema de duas equações e duas incógnitas c1 e c2 . Escre-


vendo na forma matricial esse sistema linear
 y1 y2   c1  0 
y ' = ,
 1 y2 ' c2  0 

temos que esse sistema será inversível apenas quando o determinante da matriz
y1 y2
≠ 0.
y1 ' y2 '

Quando isso acontece, a solução do sistema linear é c=


1 c=
2 0. Isto é, duas soluções
são linearmente independentes quando seu Wronskiano
y1 y2
W  y1 y2 ' y1 ' y2  0.
y1 ' y2 '

É um ótimo exercício verificar que as soluções possíveis das equações de segun-


da ordem que encontramos nos tópicos anteriores são linearmente independentes
usando o Wronskiano.
Nesta unidade, estudamos como obter soluções para equações de segunda ordem
lineares com coeficientes constantes. Foram estudados também os casos homogêneos
e não homogêneos. Na próxima unidade, continuaremos o estudo dessas equações de
segunda ordem, porém focando em equações com coeficientes variáveis. Veremos que
a teoria para a solução desses problemas é muito diferente dos conceitos trabalhados
aqui. Contudo, como as equações a serem trabalhadas são lineares, muitos conceitos
desta unidade serão úteis para as unidades a seguir.

UNIDADE VII 279


Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Determine a solução geral da equação de segunda ordem y '' y ' 2  0 .

2. Determine a solução particular da equação diferencial não homogênea

d2 y
 y  sen  2t 
dt 2
usando o método dos coeficientes a determinar.

3. Determine a solução particular da equação diferencial não homogênea

d2 y
2
 y  et
dt

usando o método da variação de parâmetros.

4. Suponha que em um sistema massa-mola amortecido, a massa seja dada por


m = 1� kg, a constante de amortecimento γ = 2 kg ⋅ s m e a constante da mola
k = 1 N m. Se essa massa é tirada do equilíbrio considerando uma velocidade
1m
na direção pra cima de − , encontre a função que fornece a posição da massa
s
com relação ao tempo.

5. O método da variação de parâmetros, a princípio, não é muito prático. Para


encontrar a solução particular de um problema não homogêneo, é necessário:
encontrar a solução homogênea, calcular o Wronskiano e, finalmente, calcular
duas integrais. Desta forma, em que situações a sua utilização é recomendada
ou essencial?

280
WEB

Um exemplo bem interessante do que o efeito da ressonância pode causar é o


colapso de alguma estrutura. Esse efeito já foi observado em alguns casos reais
como o colapso da ponte Tacoma Narrows, nos anos 40, nos EUA. Neste vídeo,
é possível ver como o efeito do vento passando pela ponte causou um efeito
de ressonância com a frequência natural da ponte levando-a a seu colapso.

281
BOYCE, W.; DIPRIMA, R. Equações Diferenciais e Problemas de Valores de Contorno. 9. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 2012.

FIGUEIREDO, D.; NEVES, A. Equações Diferenciais Aplicadas. 3. ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2014.

KREYSZIG, E. Matemática Superior para Engenharia. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009.

ZILL, D. Equações diferenciais com aplicações em modelagem. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011.

282
1. A equação dada é uma equação de segunda ordem linear e com coeficientes constantes. Então, a solução
esperada tem a forma y  t   e . Ao substituirmos a provável solução na equação diferencial, teremos
rt

r 2 e rt  rert  2ert  0  r 2  r  2  0.

Precisamos, agora, determinar as raízes da equação característica. Neste caso, o discriminante satisfaz

2
D   1  4  1  2  7.
Como o discriminante é negativo, então as raízes do polinômio característico são complexas conjugadas
e dadas por r  1  7 i e r  1  7 i . Para equações que possuem solução complexa na forma r  α  iβ , então
2 2 2 2
a solução geral é dada por

y  t   c1eαt cos  βt   c2 eαt sen  βt  .

Finalmente, a solução geral para a equação dada é

 7   7 
y  t   c1et / 2 cos  t   c2 et / 2 sen  t  .
 2   2 

2. Usando o método dos coeficientes a determinar, podemos consultar uma tabela e verificarmos que a
solução particular deve ter a forma

y p  t   Asen  2t   Bcos  2t  .

As derivadas para essa solução proposta são dadas por

y 'p  t   2 Acos  2t   2 Bsen  2t 

y ''p  t   4 Asen  2t   4 Bcos  2t  .

283
Substituindo essa solução particular na equação diferencial, temos

y ''p  t   y p  t   sen  2t 

  4 Asen  2t   4 Bcos  2t     Asen  2t   Bcos  2t    sen  2t 

  4 A  A  sen  2t    4 B  B  cos  2t   sen  2t 

  3 A  sen  2t    3 B  cos  2t   sen  2t  .

Comparando os dois lados da equação, chegamos no seguinte sistema

 3 A  1
 .
3 B  0

Portanto,

1
A   ,� B  0
3

e a solução particular para o problema é dada por

1
y p  t    sen  2t  .
3
3. Para usarmos o método da variação de parâmetros, o nosso primeiro passo é determinar as soluções da
equação homogênea associada. As soluções homogêneas desta equação são facilmente calculadas supondo
que yh  t   ert e substituindo na equação diferencial

d 2 yh
 yh  0.
dt 2
Isso nos leva à equação característica r 2  1  0 que possui raízes reais e distintas r  1. Consequentemen-
te, as soluções são dadas por y1  t   e e y2  t   e .
t t

A fórmula do método da variação de parâmetros depende do cálculo do Wronskiano das soluções encon-
tradas. Para essas duas soluções, o Wronskiano é dado por

284
y1 y2

W et , e  t  y1 ' y2 '

et e t

et e  t

  et  e  t  et  e  t
 2.
Pela fórmula da variação de parâmetros, temos

y2  t  g  t  y t  g t 
y p  t   y1  t   dt  y2  t   1 dt
W W

e  t et et et
  et  dt  et  dt
2 2
et e  t 2t
  dt   e dt
2 2

tet e t  e 2t 
   
2 2  2 

tet et
  .
2 4

Como y1  t   e , e esse termo se torna redundante


t
t
na solução da equação, então a solução particular do
problema pode ser reduzida e dada por y p  t   te .
2
4. A dinâmica de um sistema massa-mola é regida pela equação diferencial

my  g y  ky  0,

em que m é a massa, g é a constante de amortecimento e k é a constante da mola. Desta forma, para


encontrarmos a função que dá a posição da massa em função do tempo para esse sistema, precisamos
determinar a solução do problema de valor inicial

y '' 2 y  y  0,

285
com y  0   0 e y '  0   1. Pois o sistema se encontra, inicialmente, em equilíbrio e a velocidade inicial é
na direção contrária ao sistema de coordenadas.

Supondo que a solução da equação seja na forma y  t   ert , então, substituindo na equação diferencial,
encontraremos a seguinte equação característica

r 2  2 r  1  0.

Esse polinômio de segundo grau pode ser reescrito na forma

 r  12  0,

pois este é um quadrado perfeito. Então, temos que o polinômio característico possui raízes repetidas
r  1. Neste caso, a solução geral para a equação diferencial tem a forma

y  t   c1et  c2te t .

Nosso último passo é determinar as constantes c1 e c2 que satisfazem as condições iniciais. Desta forma,
por um lado, temos que o sistema inicialmente está em equilíbrio, isto é, y  0   0, e por outro lado y  0   c1.
Portanto, c1 = 0 . Para encontramos a constante c2 , observamos que, por um lado, y '  0   1 , e por outro lado

y '  t   c2 et  c2te t  y '  0   c2 .

Logo a constante c2  1 . Finalmente, temos que a solução é y  t   te .


t

5. Sendo ela uma fórmula geral para encontrar as soluções particulares, ela se faz útil nos casos em que o
método dos coeficientes a determinar não tem função tabelada. Além disso, o seu valor dentro da teoria das
equações diferenciais é inestimável. Datam do século XVIII as primeiras aparições teóricas deste método.

286
287
288
Dr. Vinicius de Carvalho Rispoli
Dr. Ricardo Ramos Fragelli
Dr. Ronni Geraldo Gomes de Amorim

Soluções em Séries
de Potências

PLANO DE ESTUDOS

Séries Séries de Potências e


Numéricas Séries de Taylor

Sequências de Testes de Método da série


Números Reais Convergência de potências

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Realizar um breve estudo sobre sequências de números • Trabalhar os testes de convergência para séries numéricas.
reais. • Introduzir as séries de potências de funções reais.
• Introduzir e estudar os conceitos relacionados a séries • Aplicar a teoria das séries de potências para encontrar so-
numéricas. luções de equações diferenciais com coeficientes variáveis.
Sequências de
Números Reais

Nosso objetivo, nesta unidade, é lidar com equa-


ções diferenciais de segunda ordem lineares

d2 y dy
P (t ) + Q (t ) + R (t ) y = G (t ) , (1)
dt 2 dt

em que as funções P ≠ 0, Q , R e G são contí-


nuas em algum intervalo I da reta real e que as
funções P, Q e R não sejam constantes. No en-
tanto, para lidar com essa situação, precisaremos
fazer uma digressão e entrar em um assunto apa-
rentemente não relacionado que são as sequências
e séries de números reais. Veremos, ao final da
unidade, que toda essa digressão fará sentido e
poderemos, finalmente, determinar a solução de
equações na forma da Eq.(1), utilizando toda a
teoria estudada nesta unidade.
Uma sequência é uma lista infinita de números
ordenados na forma

a1 , a2 , a3 , , an ,

em que cada um dos an ’s é um número real. Desta


forma, podemos dizer que uma sequência é uma
função f : N → R que a cada n ∈  associa um
número an  f  n  .
Existem várias formas de representar uma sequência. Neste curso, usaremos a
notação do termo geral. Por exemplo,

1
an =
2n

representa a lista
1 1 1 1
, ,  , ,
2 4 6 2n

Por outro lado, a sequência

n
bn   1

representa o conjunto
n
−1 1 −1  ( −1) ,.

Para nós, existirão dois tipos de sequências importantes: as que se aproximam de


algum valor quando o n aumenta e as que não se aproximam de nenhum número.
Nas duas sequências citadas, podemos ver claramente esse comportamento. Os ter-
mos da sequência an diminuem sempre que o valor de n aumenta, se ele aumentar
sem nenhum controle, os termos da sequência ficarão cada vez mais próximos de
zero. Por outro lado, a sequência bn só possui dois valores: −1 e 1. Independente-
mente se o n aumentar ou não, a sequência estará sempre em −1 ou em 1. Desta
forma, fica claro que a sequência bn não se aproxima de nenhum valor.
Quando uma sequência an se aproxima de um número L quando o n aumenta
arbitrariamente, diremos que a sequência converge e escreveremos
li an = L ou an → L
n→∞

Como a noção de aproximação está sempre relacionada ao n   , então a segunda


notação faz bastante sentido. Usaremos as duas ao longo desta unidade.
No outro caso, quando a sequência an não se aproxima de nenhum valor, dizemos
que ela diverge. Nesta situação, podemos ter uma sequência como a do exemplo
anterior, bn   1n , que fica alternando entre −1 e 1 ; e também uma sequência como
cn = n que sempre aumenta quando n   . No segundo caso, escrevemos, então,

li cn = ±∞ ou cn → ±∞
n→∞

UNIDADE VIII 291


A seguir, veremos alguns exemplos de algumas sequências que convergem ou não.

1 EXEMPLO a) an 
 1nbasta notar que, apesar de alternar entre valores positivos e ne-
 0,
n2
gativos, o número fica cada vez menor quando se aumenta o n.

3n 3  n 2  1 3
b) bn    , pois manipulando o termo geral da sequência, podemos
2  7 n3 7
escrever
 1 1  1 1
n3  3   3  3  
3n 3  n 2  1 n n  n n3
  ,
2  7 n3  2  2
n3  3  7   7
n  n3

e, neste caso, quando n  , cada um dos termos no numerador e denomi-


1 1
nador n , n3 e 23 → 0 . Desta forma, temos que
n

1 1
3 
3n 3  n 2  1 n n3 300 3
   .
2  7 n3 2 07 7
3
7
n
2
c) cn  3n  n  1   , ou seja, diverge, pois, claramente, cada parcela da soma
aumenta quando n   .

n 2
d) d n   1 n também é uma sequência divergente. Neste caso, não podemos
escrever que d n   ou d n   , pois para n suficientemente grande, a
sequência sempre estará entre um número muito grande positivo ou outro
negativo. Dizemos apenas que é divergente.

Em muitos casos, é possível associar a convergência de uma sequência à convergência


de uma função real. E isso é ótimo, pois já fizemos esse estudo no Cálculo 1. Na prá-
tica, o cálculo do limite no infinito de uma função real se faz de forma semelhante ao
cálculo do limite de uma sequência. O teorema a seguir nos dá uma ótima ferramenta
para determinar limites de algumas sequências.

1 TEOREMA Sejam f  x  uma função real contínua e an uma sequência tal que bn  f  an 
está bem definida. Se
lim an  L  lim f  an   f  L  .
n n

Em outras palavras,

 
lim f  an   f lim an  f  L  .
n n

292 Soluções em Séries de Potências


2 EXEMPLO Podemos aplicar o resultado do Teorema 1 na sequência

 2 
an  cos  p   .
 3n 

Temos que f  x   cos  x  é uma função contínua. Além disso, é claro que

2
bn  p   p  0  p.
3n

Portanto, a sequência an será convergente e temos

 2    2 
lim cos  p    cos  lim  p     cos  p   1.
n  3n   n  3n  

Outro teorema importante utilizado para verificar limite de sequências é o teorema


do sanduíche. No Cálculo 1, também tínhamos uma versão deste teorema. Ele era
muito útil quando podíamos comparar a sequência de interesse com outras conhe-
cidas e também convergentes.

2 TEOREMA Teorema do Sanduíche: Sejam an , bn e cn sequências tais que an ≤ bn ≤ cn para


todo n ∈  . Se an ,� � cn → L , então bn → L.

3 EXEMPLO Considere a sequência


sen2  n 
an  .
3n

Temos que a 0  sen  n   1 para qualquer n. Desta forma, temos


2

sen2  n  1
0 n
 .
3 3n
1
Sabemos que a sequência zn  0  0 e também que g n  n  0. Portanto, pelo
3
teorema do sanduíche, a sequência an → 0.
Apesar de que, por um momento, o próximo teorema possa parecer com o Teo-
rema 1, eles são, de fato, distintos.

3 TEOREMA Suponha que f  x  seja uma função real tal que a sequência an é definida como
an  f  n  . Então,

lim f  x   L  lim an  L.
x n

UNIDADE VIII 293


A vantagem desse teorema é que podemos usar as regras do Cálculo 1, como a regra
de L’Hôpital, para calcular o limite de alguma sequência.

4 EXEMPLO Considere a sequência


tg 1 / n 
an  .
  1 
ln  sen   
  n 
0
Observe que fazendo n   , temos uma indeterminação do tipo . Então, transfor-

mando a sequência em uma função de x, é conveniente utilizar a regra de L’Hôpital.
Assim, temos
1   1 
tg   tg  x   '
 x   
lim  lim
x  1
   x   
'
ln  sen     1  
 
ln sen   
  x   x  
 

1 1
 lim sec2   tg  
x x x
= 0.

5 EXEMPLO Considere a sequência


n
 1
an   1   .
 n

Claramente há uma indeterminação quando fazemos n  . Desta forma, considere


a sequência

bn  ln  an  .

Para ela, temos


 1
bn  n ln  1   .
 n

294 Soluções em Séries de Potências


Novamente, temos uma indeterminação quando fazemos n   . No entanto, se
considerarmos que
 1
ln  1  
 1 n
n ln  1    
 n 1
n

quando n   temos uma indeterminação do tipo 0 . Desta forma, podemos aplicar


0
a regra de L’Hôpital no limite

 1   1 
ln  1  
x ln  1  x   '
  
lim  lim 
x 1 x 1
'

x  x 

 
 1  1 
 1  2 
1    x 
 lim  x 
x  1 
 2 
 x 
1
 lim
x 1
1
x
= 1.

 1
Se x ln  1  1   1, então bn  n ln  1    1. Levando em consideração a função
 x  n

e x , podemos aplicar o Teorema 1 para obter


n
bn  1
e   1    e1.
 n

UNIDADE VIII 295


Séries
Numéricas

A ideia de trabalhar com as sequências no pri-


meiro tópico desta unidade é para justificar o que
trabalharemos neste tópico. Nosso objetivo é es-
tudar as séries numéricas nada mais é que uma
soma de infinitos termos na forma

an  a1  a2  a3    an  ,
n 1

em que an é uma sequência de termos positivos, de-


finidos com a mesma forma do tópico anterior. Cla-
ramente que precisamos dar um sentido para somas
de infinitos termos e é disso que este tópico se trata.
Bem, mas qual o interesse de estudar uma soma
de infinitos números? Na verdade, nós já traba-
lhamos com somas infinitas várias vezes na nossa
vida sem, ao menos, nos darmos conta. Por exem-
plo, o famoso número p , como você, já deve saber,
é um número irracional, ou seja, sua representação
decimal não fornece nem uma dízima periódica
e nem finita. Normalmente, quando nos tratamos
deste número, o escrevemos na forma

p = 3, 1415926535.

296 Soluções em Séries de Potências


Às vezes com mais casas decimais, às vezes com menos. Contudo, o interessante é
perceber que o número p pode ser escrito como

1 4 1 5 9 2
p  3, 1415926535  3   2  3  4  5  6  .
10 10 10 10 10 10

O número p , na verdade, pode ser representado como uma soma infinita, e o mais im-
pressionante é que essa soma infinita nos fornece um número finito, no caso o p , pois

an
p  3  n
n 1 10

em que o número an varia entre 0 e 9 .

Claramente nem sempre uma soma infinita como essa vai resultar em um número
finito. Não é difícil encontrarmos exemplo deste fato, como a série

n  1  2  3    n    .
n 1

Assim, um dos nossos objetivos daqui em diante é verificar quando uma série infinita
fornece ou não um número finito. Para tal, dada uma série

an  a1  a2  a3    an  
n 1

de termos positivos, vamos criar uma sequência Sk que é a soma dos k primeiros
termos desta série. Isto é, a sequência é dada por
k
Sk  an  a1  a2  a3    ak .
n 1

Observe que esta é uma sequência infinita e que os seus termos são todos dados por
k
a1 ,  a1  a2  ,  a1  a2  a3  , , an ,.
n 1

Quando essa sequência Sk for convergente, isto é, Sk → S , diremos que a série


converge. Quando a sequência Sk � não for convergente, diremos que a série diverge.
A sequência Sk é chamada de sequência das somas parciais da série

an  a1  a2  a3    an  .
n 1

UNIDADE VIII 297


6 EXEMPLO A série geométrica é uma série que surge com muita frequência na matemática e você
provavelmente já encontrou com ela em algum momento da sua vida, lidando com
as progressões geométricas. A série geométrica é dada por


a  ar  ar    ar    ar n ,
2 n

n 0

em que a ≠ 0 e r > 0. Vamos, nesse exemplo, verificar quando essa série é convergente
e qual o valor que essa série converge. Para tal, vamos olhar para a sequência das
somas parciais. Considere, então, Sk como sendo a soma dos k primeiros termos
da série, isto é,
Sk  a  ar  ar 2  ar 3    ar k .

Multiplicando por r os dois lados da última equação, temos

rSk  ar  ar 2  ar 3  ar 4    ar k 1.

Fazendo a diferença entre as duas últimas equações, percebe-se que vários termos
irão se cancelar, desta forma, teremos

Sk  rSk  a  ar k 1 ,

ou seja,

1  r k 1
Sk  a .
1 r

Neste caso, em particular, obtemos uma expressão para as somas parciais da série e
é ela quem nos indicará quando a série geométrica irá convergir ou não. Percebe-se
que r ≠ 1, caso contrário a série será divergente, pois ela será nada mais que a soma
do número a infinitas vezes. O número r também não pode ser maior que 1, caso

seja teremos que a sequência


r k 1  

quando k  . A nossa chance para a convergência é que o número 0 < r < 1 . De


fato, a série será convergente neste caso, pois

298 Soluções em Séries de Potências


r k 1  0

quando k   se 0 < r < 1 . Portanto, a série geométrica é convergente quando


0 < r < 1 e a soma da série é dada por

1  r k 1
Sk  a
1 r
1− 0 a
→a = .
1− r 1− r

Finalmente, temos que



a
ar n  1  r ,
n 0

quando 0 < r < 1 .

7 EXEMPLO Outra série famosa na matemática que podemos determinar o seu limite utilizando
as somas parciais é a série telescópica, dada por

1 1 1 1 1
       .
2 6 12 n  n  1 n 1 n  n  1

Vamos olhar para a sua sequência de somas parciais, que é dada por
1 1 1 1
Sk      
2 6 12 k  k  1

1 1 1 1
     .
1 2 2  3 3  4 k  k  1

Perceba que o termo geral da série se decompõe da forma

1 1 1
  ,
k  k  1 k k  1

para qualquer k . Desta forma, podemos reescrever a sequência de somas parciais como
1 1 1 1
Sk     
1 2 2  3 3  4 k  k  1

1 1   1 1   1 1  1 1 
                
1 2   2 3   3 4   k k 1

UNIDADE VIII 299


1
 1 .
k 1

Assim, fazendo k  , temos

Sk → 1,

pois

1
 0.
k 1

Portanto, a série telescópica é convergente e



1
 n  n  1  1.
n 1

Não é difícil perceber que tentar encontrar uma fórmula para as somas parciais nem
sempre será bem-sucedido. Um exemplo simples é a série

1
 n!.
n 1

A busca por uma fórmula para a sequência de somas parciais certamente será um
trabalho considerável. Por isso, em várias situações, é conveniente saber quando uma
determinada série converge ou não sem precisar encontrar o seu respectivo valor.
Começamos, então, a nossa busca pelos testes de convergência. Dada uma série

an
n 0

podemos escrever o termo geral desta série utilizando a sequência de somas parciais
S _ k na seguinte forma

ak  Sk  Sk 1.

Suponha que essa série seja convergente, isto é, Sk → S quando k  .� Então, no
infinito, temos que

ak  Sk  Sk 1  S  S  0.

Portanto, se uma série for convergente, então o limite do termo geral é sempre zero.

300 Soluções em Séries de Potências


Com isso, escrevemos o nosso primeiro teste de convergência.

8 EXEMPLO Teste do Termo geral


Dada a série

an
n 0

se ela é convergente, então ak → 0 quando k  . Por outro lado, se ak  0


quando k  ,� então a série

an
n 0

diverge.

9 EXEMPLO A série

n 1

n 1 n

é divergente, pois seu termo geral satisfaz

k 1  1
lim  lim  1    1.
k  k k   k

10 EXEMPLO A série

1  n  3n 2
 2 n2  3
n 1

também é divergente, pois seu termo geral satisfaz

1 1 1 1
2 k2 3 3
lim
1 k 3k
lim k2 k
lim k 2 k 3
.
k 2k 2
3 k 3 k 3 2
k2 2 2
k2 k2

É importante observar que o fato de uma série ∑ an ser tal que an → 0 quando
n   não garante sua convergência, como veremos no exemplo a seguir.

UNIDADE VIII 301


11 EXEMPLO O exemplo mais conhecido de uma série divergente, cujo termo geral se anula no
infinito é a série harmônica

1
 n.
n 1

O seu termo geral claramente vai a zero, no entanto, vamos mostrar que essa série é
divergente. Observe que

S2n 1 

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
1+ + + + + + + + + + + n + n +  + n+1
2 3 4 5 8 9 16 2 2 +1 2
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
> 1+ + + + + + + + + + + + + +
2 4 4 8 8 16 16 2n 2 n +1
2n+1
2 vezes 4 vezes 8 vezes 2n vezes

1 1 1 1
 1     
2 
2 
2 
2
n vezez

n 1
 1 
2

quando n   . Portanto, a sequência das somas parciais Sk   quando k  ,


portanto a série harmônica é divergente.

302 Soluções em Séries de Potências


Testes de
Convergência

Foi possível notar, pelos exemplos realizados até


agora, que determinar o valor que uma série tem
não é uma tarefa fácil. Nem sempre é possível de
uma forma direta calcular o limite das somas par-
ciais e, então, encontrar o valor da série. No entan-
to, é possível com bem menos esforço verificar ao
menos se uma determinada série é convergente
ou não. Isso não nos dá o valor da série, mas, pelo
menos, temos uma noção qualitativa do compor-
tamento da série.
No tópico anterior, estudamos o nosso primei-
ro teste de convergência: dada uma série ∑ an, se
an  0, então a série diverge. Este não é um teste
muito bom, pois existem séries divergentes tais
que o termo geral converge para zero, como, por
exemplo, a série harmônica

1
 n  .
n 1

UNIDADE VIII 303


De qualquer forma, é uma primeira abordagem para verificar a convergência sem
precisar calcular o valor da série por meio de suas somas parciais.
Neste tópico, começaremos com o teste mais eficiente de todos, isto é, um teste
que funciona 100% das vezes. Parece ótimo ter um teste que funciona sempre, mas,
como veremos, as coisas nem sempre são tão boas quanto parecem.

12 EXEMPLO Teste da Comparação


Considere as séries ∑ an e ∑ bn, então:
I. se a an ≤ bn , para todo n, e a série ∑ bn converge, então a série ∑ an também
converge;
II. se a bn ≤ an , para todo n, e a série ∑ bn diverge, então a série ∑an também
diverge.

Para uma noção de como utilizar o teste da razão, vamos a alguns exemplos.

13 EXEMPLO Vamos provar utilizando o teste da comparação que a série



1 1 1 1 1
 n !  1  2 !  3!  4 !    n !  
n 1
1
é convergente. Observamos que cada termo da série acima satisfaz an  n 1
, pois
2
1
1  a1  1
20
1 1 1 1
  a2  1 
2 2! 2 2
1 1 1 1
  a3  2 
6 3! 2 4

1 1 1 1
  a4  3 
24 4 ! 2 8

304 Soluções em Séries de Potências


1
A série formada pelos termos bn  n1 é a chamada série geométrica que é conver-
2
gente, como vimos no tópico anterior. Essa série é convergente, pois

1 1 1 1
 2n1  1  2  22  23  
n 1

1

1
1  
2
= 2.


1
Desta forma, pelo teste da razão, temos que a série  n ! é convergente.
n 1

14 EXEMPLO Utilizando a mesma estratégia do exemplo anterior, podemos mostrar que a série

1 1 1 1 1
 2n1  n
 0
2  1
 1
2  2
 2
2  3
 
2 n 1
 n

n 1

n 1 n 1
também é convergente. Note que o número 2  n  2 , para todo n . Assim,
temos que

1 1
an  n 1
 n 1
,
2  n 2

para todo n. No entanto, já sabemos, do exemplo anterior, que


1
 2n1  2.
n 1


1
Portanto, pelo teste da comparação, a série  2n1  n
também é convergente.
n 1

15 EXEMPLO Vamos, agora, ver que a série


2n  1 2  1  1 2  2  1 2  3  1
 2 1

2 1

2 1

2 1

n 1 n  1  2  3 
4 4 4 4

é divergente.

UNIDADE VIII 305


Observe que o termo geral dessa série pode ser reescrito na seguinte forma

2n  1
an 
1
n2 
4

 1
2 n  
 2

 1  1
 n   n  
 2  2

2
 .
1
n
2

Claramente, temos que an → 0. Além disso, temos que

1
n
2n
2 2

ou seja,
2 2
  an
n n1
2

* 1
para todo n. A série formada pelos termos bn = , conhecida como série harmôni-
n
ca, conforme vimos no tópico anterior, é divergente. Desta forma, a série formada
pelos termos bn = 2 também é, pois
n

 
bn  2bn*  2  .
n 1 n 1

Agora, finalmente, utilizando o teste da comparação, podemos afirmar que a série



2n  1 2  1  1 2  2  1 2  3  1
 1

1

1

1

n 1 n2  12  22  32 
4 4 4 4

é divergente, pois bn < an, para todo n, e a série ∑ bn é divergente.

306 Soluções em Séries de Potências


Apesar de ser um teste fantástico, por funcionar em todos os casos, fica claro que
nem sempre seremos capazes de utilizá-lo. Nem sempre será fácil determinar uma
comparação entre duas séries. Por exemplo, qual seria o termo geral apropriado que
deveria ser usado para verificar a convergência da série

 1 
 sen  n2  ?
n 1

Reparem que an → 0, neste caso, então existe a possibilidade dessa série ser conver-
gente. Voltaremos a essa série depois, vamos agora falar sobre um outro teste que,
apesar de ter sua eficiência restrita, oferece uma ótima ferramenta para verificar a
convergência já que ele não necessita do conhecimento de outras séries.

Teste da Razão
a
Considere a série ∑an e suponha que n1  L, então:
an

I. se L < 1 a série converge;


II. se L > 1 a série diverge;
III. se L = 1 o teste é inconclusivo, isto é, não há como saber utilizando este teste
se a série é convergente ou divergente.

Novamente, com o intuito de verificar a convergência de uma série utilizando o teste


da razão, vamos a alguns exemplos.

16 EXEMPLO Vamos considerar a mesma série do Exemplo 13 e verificar como o teste da razão se
aplica. Considerando a série


1 1 1 1 1
 n !  1  2 !  3!  4 !    n !  
n 1

1
temos que o seu termo geral é dado por an = . Precisamos apenas verificar o limi-
n!
te an+1 , assim
an

UNIDADE VIII 307


1
an1

 n  1!
an 1
n!

n!

 n  1!

n!

 n  1 n !

1
 0
n 1

a 1
quando n  . Como n1  0  1 , então a série ∑ é convergente, pelo teste
an n!
da razão.

17 EXEMPLO Considere, agora, a série


 2n  !  2  4 !  6 !     2n  !  
 2
n 1  n !  2!2  3!2  n !2

 2n  !
que possui termo geral an  . Para essa série, temos
 n !2

308 Soluções em Séries de Potências


 2  n  1 !
2
an1  n  1!

an  2n  !
 n !2
2

 n !

 2n  2  !
 n  1!
2
 2n  !
2

 n !

 2n  2   2n  1 2n !
2
 n  1  n !2
 2n  !


 2n  2   2n  1
 n  12
4 n 2  5n  2

n2  2 n  1
 5 1 
n2  4   2 
n n 
 
 2 1 
n2  1   2 
 n n 

5 1
4

n n2
 4
2 1
1  2
n n

a  2n  !
quando n  . Portanto, como n1  4  1, então a série  2
é divergente,
an  n !
pelo teste da razão.

UNIDADE VIII 309


Séries de Potências
e Séries de Taylor

Talvez você já tenha se perguntado sobre como


uma calculadora científica funciona. Bem, calcula-
doras funcionam apenas com as quatro operações:
soma, subtração, divisão e multiplicação. Sabendo
isso, como será que uma calculadora científica
consegue determinar o valor de cos  p / 7  , por
exemplo? Geometricamente falando, o cos  p / 7 
é, na verdade, uma divisão, e esta é a razão entre
o cateto oposto e a hipotenusa (unitária) de um
triângulo retângulo que se encontra dentro do
chamado círculo trigonométrico (se lembra?). De
qualquer forma, não parece ser um argumento
válido no funcionamento de uma calculadora,
pois, dessa forma, a máquina teria que estar pre-
parada para interpretar e entender essas noções
geométricas e realizar as medidas apropriadas.
O que acontece, na verdade, é que funções como
sen  x , cos  x  ou e x , por exemplo, são aproxi-
madas por outras funções que se parecem bastante
com as originais. Essas funções são relativamente
simples em sua estrutura, elas utilizam apenas as
operações básicas citadas. Um exemplo de uma
classe de funções simples que se utilizam apenas
das operações fundamentais são os polinômios

310 Soluções em Séries de Potências


p  x   a0  a1 x  a2 x2    an x n ,

para algum n > 1 natural. Se conseguíssemos escrever, por exemplo, o cos  x  na


forma polinomial, nosso problema de programar a calculadora estaria resolvido, afinal
um polinômio só se utiliza de duas operações: soma e multiplicação. Obviamente,
o cos  x  não é um polinômio; caso fosse, certamente nesse ponto da vida, você já
saberia. No entanto, vou insistir nessa representação polinomial do cos  x . Nós já
imaginamos que a função cos  x  seja

cos  x   a0  a1 x  a2 x2    an x n ,

isto é, diferente de um polinômio finito usual, mas será que conseguimos representar
essa função no formato de um “polinômio” infinito

cos  x   a0  a1 x  a2 x2    an x n  an1 x n1  an2 x n2  ?

A resposta é sim! E é sobre essa representação que trataremos neste tópico.


De forma geral, dada uma função infinitamente diferenciável f  x  , queremos
determinar a sua representação na forma

2 n
f  x   a0  a1  x  x0   a2  x  x0     an  x  x0   

n
 an  x  x0 
n 0

A série que aparece acima é conhecida como uma série de potências, e o nosso ob-
jetivo, neste tópico, é determinar uma forma de encontrar a representação em série
de potências de diversas funções conhecidas.
Para começarmos, considere a seguinte série de potências

 x n  1  x  x2  x3    x n  .
n 0

Como o leitor já deve ter percebido, essa série se parece em muito com a conhecida
série geométrica. No caso desta série, quando 0 < x < 1, temos que ela é convergente e

1
1  x  x2  x3    x n    ,
1 x
1
ou seja, a representação em série de potências da função f  x   é
1 x

UNIDADE VIII 311



1
 xn .
1  x n 0

Voltemos ao nosso caso mais geral: representar a função f  x  na forma

2 n
f  x   a0  a1  x  x0   a2  x  x0     an  x  x0   .

Essa representação se faz, na verdade, determinando os coeficientes apropriados


para cada função. Supondo que essa igualdade seja verdade e que podemos derivar
os dois lados, então temos

2 n 1
f   x   a1  2a2  x  x0   3a3  x  x0     nan  x  x0  

2 n 2
f ''  x   2a2  2  3a3  x  x0   3  4 a4  x  x0  +   n  n  1 an  x  x0  

n 3
f '''  x   2  3a3  2  3  4 a4 �  x  x0  +   n  n  1  n  2  an  x  x0  

�

f    x   n  n  1  n  2  3  2 � an   n  1 n  n  1 3 � 2 an1  x  x0   
n

Observe, agora, que substituindo x = x0 em cada uma dessas equações, teremos


f  x0   a0

f   x0   a1

f ''  x0   2a2

f '''  x0   2  3a3


f    x0   2  3    n  1 n an
n

Portanto, o coeficiente an pode ser calculado a partir das derivadas da função e, logo,
temos que os coeficientes da representação da função f  x  em séries de potências
são dados por
f    x _ 0
n
an  .
n!
Finalmente, podemos escrever a função f  x � como sendo uma série de potências
na forma

312 Soluções em Séries de Potências


f    x0 
 n
f  x    x  x0 n
n 0 n!

que é conhecida como fórmula de Taylor da função f  x .


Vamos, agora, determinar as formas mais usuais das séries de Taylor para algumas
funções conhecidas.

18 EXEMPLO Um ótimo exemplo para começarmos a escrever a série de Taylor de uma função f  x 
é para f  x   e com x0 = 0. Esse é um ótimo exemplo, pois as derivadas de qualquer
x
n
ordem da função exponencial são a própria exponencial, f  x   e . Desta forma,
x
n
temos que f  0   e  1 , para todo n . Assim, a série de Taylor da função exponen-
0

cial pode ser escrita como



1 n
ex   x
n 0 n !

x2 x3 x 4 xn
 1 x       .
2 ! 3! 4 ! n!

19 EXEMPLO Vamos considerar f  x   sen  x  e x0 = 0. Para determinarmos a representação em


série de Taylor para o seno, basta calcularmos as suas derivadas no ponto x0 = 0 . Temos,
f  0   sen  0   0

f   0   cos  0   1

f ''  0    sen  0   0

f '''  0    cos  0   1.

Observe que a derivada do seno se repete sempre de quatro em quatro derivadas, isto
é, f  4   0   0, f 5  0   1 , f 6   0   0 e f 7   0   1. Desta forma, podemos escrever
a série de Taylor do seno como sendo
f ''  0  2 f '''  0  3 f    0  4 f    0 
4 5
f  x   f 0  f  0 x  x  x  x  
2! 3! 4! 5!
0
 0  1 x  x2 
 1 x3  0 x 4  1 x5  
2! 3! 4! 5!
x3 x5 x7
 x   
3! 5! 7 !
n 1


 1
x2 n1.
n 1  2 n  1  !

UNIDADE VIII 313


Portanto, a série de Taylor do seno quando x0 = 0 é dada por
n 1
sen  x   

 1
x2 n1.
n 1  2 n  1  !

20 EXEMPLO Para a função cosseno, o procedimento é muito parecido. Considere agora


f  x   cos  x  e x0 = 0. Para determinarmos a representação em série de Taylor
desta função, basta novamente calcular as suas derivadas no ponto x0 = 0 . Temos,
f  0   cos  0   1

f   0   sen  0   0

f ''  0   cos  0   1

f '''  0   sen  0   0.

Assim como o seno se repete sempre de quatro em quatro derivadas, o cosseno


4 5 6 7 
também o faz, logo f  0   1, f  0   0 , f  0   1 e f  0   0 e assim
por diante. Desta forma, podemos escrever a série de Taylor do cosseno como sendo

f ''  0  2 f '''  0  3 f    0  4 f    0 
4 5
f  x   f 0  f  0 x  x  x  x  
2! 3! 4! 5!

 1  0 x 
 1 x2   0  x3  1 x 4   0  x5  
2! 3! 4! 5!
x2 x 4 x6
 1   
2! 4 ! 6!
n


 1 2 n
x .
n 0  2 n  !

Portanto, a série de Taylor do cosseno quando x0 = 0 é dada por

cos  x   

 1n x2n .
n 0  2 n  !

É interessante observar que o sen  x  que é uma função ímpar na sua representação
em série de potências possui apenas as potências ímpares, e o cos  x  que é uma
função par possui apenas potências pares.
Uma pergunta que podemos fazer agora é: será que essas séries que encontramos
até agora para as funções convergem para todo x ? A resposta é: nem sempre! Basta
olharmos para a série da função

314 Soluções em Séries de Potências



1
 xn
1  x n 0

que não converge para valores de x > 1, por exemplo. Podemos verificar, então, para
quais valores de x uma série converge utilizando uma versão modificada do teste
da razão. O conjunto de todos os valores para o qual a série converge será chamado
de intervalo de convergência da série.

Raio de Convergência
n
Considere a série de potências  an  x  x0  , a série será convergente para valores
a
de x que satisfazem n1 x  x0  L x  x0  1. Neste caso, diremos que a série é con-
an
vergente absolutamente no intervalo de convergência.

Na definição de raio de convergência acima, você pode observar o aparecimento



da expressão: absolutamente convergente. Uma série ∑an é chamada de absoluta-
∞ n =1
mente convergente se a série ∑ an , que contém os seus valores absolutos do termo
n =1

geral, for convergente. A vantagem de lidar com séries que são absolutamente

convergentes é que elas também são convergentes, isto é, se ∑ an converge, então
∞ n =1
∑an converge.
n =1

21 EXEMPLO Vamos determinar o raio de convergência da série de potências


 n
e
  π   x  1n
n 1
n
e
Neste caso, temos an    e precisamos calcular o limite
p
n 1
e
an1   e e
p
lim x  1  lim   n x  1  lim x  1  x 1 ,
n an n  e  n p p
 
p
e
pois o limite lim x 1 não depende de n. O raio de convergência, então, é dado por
n p

e p p
x  1  1, isto é, 1   x  1  .
p e e

UNIDADE VIII 315


Não é difícil verificar, e é um ótimo exercício, que o intervalo de convergência para
as séries do sen  x , cos  x  e e x é todo o conjunto dos números reais  .
Voltamos a pergunta do começo do tópico que é como a calculadora é capaz de
calcular o cosseno de um número real. Vimos que é possível escrever a função cosseno
como um polinômio infinito. Contudo, infelizmente, não podemos programar uma
soma infinita na calculadora. Podemos, no entanto, programar uma versão finita do
polinômio infinito. Vamos chamar a versão finita da série do cosseno de
n
P2 k  x   1 
x2 x 4
  
 1 x2k ,
2! 4 !  2k  !
observe, no gráfico, como os polinômios finitos aproximam do cosseno até certo
ponto. Assim, quanto mais termos utilizarmos, mais próximos estaremos da função
cosseno por um intervalo maior de tempo.

2
P4 P8 P 12 P16
P0
1
y = cos x
x
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
-1
P2 P6 P10 P14 P18
-2
Figura 1 - Aproximação da função cosseno pelas somas parciais de sua série de Taylor
Fonte: os autores.

Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo.


Para acessar, use seu leitor de QR Code.

316 Soluções em Séries de Potências


Método da Série
de Potências

No contexto das equações diferenciais, as séries de


potência representam uma alternativa para deter-
minar soluções de equações que não conseguimos
por meio de métodos mais simples e diretos. Nem
sempre seremos capazes de encontrar para uma
determinada equação diferencial uma solução
fechada em termos de funções conhecidas como
exponenciais, trigonométricas ou polinômios.
Desta forma, a solução, através das séries de po-
tências, apresenta-se como uma alternativa para
esses casos.
Bem, mas como funciona o método de solução
por série de potências? Primeiro, consideremos,
de forma geral, a equação de segunda ordem

p  t  y  t   q  t  y  t   r  t  y  t   0,

de forma que os seguintes limites sejam finitos


q (t ) r (t )
li = p0 < ∞ e lim = p0 < ∞,
t →t0 p (t ) t →t0 p (t )

para algum ponto t = t0. Quando a condição aci-


ma é satisfeita, chamaremos o ponto t = t0 de um

UNIDADE VIII 317


ponto ordinário; caso contrário, chamaremos t = t0 de um ponto singular. Então, a
ideia básica do método da série de potências é supor que a solução da equação dife-
rencial seja dada através de uma série de potências

2 3
y  t   an (t  t0 ) n  a0  a1  t  t0   a2  t  t0   a3  t  t0   
n 0

em torno do ponto ordinário t = t0 e o nosso objetivo se reduz a determinar os coefi-


cientes an’s. Quando fazemos a suposição que a solução da equação diferencial é dada
através de uma série de potências, supomos também que a série seja convergente em
algum intervalo t   a, b  e que seja possível realizar diferenciações termo a termo nas
séries infinitas. Desta forma, podemos obter as derivadas da função y  t  como sendo

2 3
y  t   nan (t  t0 ) n1  a1  2a2  t  t0   3a3  t  t0   4 a4  t  t0   
n 1

2
y  t   n  n  1 an (t  t0 ) n2  2a2  3  2a3  t  t0   4  3a4  t  t0   .
n 2

Nos exemplos a seguir, dedicaremos o nosso tempo a encontrar soluções em séries


de potências para diversas equações diferenciais. Começamos com exemplos mais
simples e iremos evoluir para exemplos um pouco menos óbvios ao final do tópico.

22 EXEMPLO Apenas para ilustrar o processo de solução, vamos começar com um exemplo mais
simples e de primeira ordem, do qual já conhecemos a solução. Assim, considere o
problema de valor inicial dado pela equação
y  t   y  t   0

com y  0   1. Essa é uma equação separável e determinar a solução dela é relativa-


mente simples. Lembrem-se que podemos resolvê-la como

dy
= −y
dt
dy
⇒ = −dt
y
dy
⇒∫ = − ∫ dt
y
ln y = −t + C ⇒ aplicand exponenc em ambo os lados

⇒ y ( t ) = Ke ,
−t

318 Soluções em Séries de Potências


em que K = e . Se substiuirmos a condição inicial y  0   1, então podemos ver de
C

imediato que y  t   e . Bem, vamos agora tentar a nossa outra abordagem usando
t

a série de potências. O objetivo é encontrar a mesma resposta, obviamente, em um


formato diferente. Desta forma, considere que a solução possa ser escrita na forma

y  t   ant n  a0  a1t  a2t 2  
n 0

e, logo, sua derivada



y (t ) = ∑nant n−1 = a1 + 2a2t + 3a3t 2 + 
n =1

Substituindo, então, as séries na equação, temos


 
y  y  nant n1  ant n
n 1 n 0

  
 a1  2a2t  3a3t 2    a0  a1t  a2t 2   
  a0  a1    a1  2a2  t   a2  3a3  t 2   a3  4 a4  t 3  
= 0.

Conforme vemos acima, de um lado da igualdade temos um polinômio (infinito),


enquanto que do outro temos zero. Se lembrarmos que um polinômio só é nulo
quando os seus coeficientes são todos nulos, então devemos ter que

a0  a1  0

a1  2a2  0

a2  3a3  0

an   n  1 an1  0

Na primeira equação, temos que a1  a0 . Se substituirmos isso na segunda equação,


temos

2a2  a1  a2  
a1
 a2  
 a0   a  a0 .
2
2 2 2

UNIDADE VIII 319


Agora, podemos substituir o coeficiente encontrado na terceira equação para ob-
termos
a2 a a
3a3  a2  a3    a3   0   0 .
3 23 3!

Seguindo essa lógica, no próximo coeficiente teríamos


a3 a0
4 a4  a3  a4    .
4 4!

É possível perceber que o n -ésimo coeficiente será dado por

n a0
an   1 .
n!

Logo, temos que a solução deve ser dada por



y  t   ant n
n 0

n a0 n
   1 t
n 0 n!

 a0 

 1n t n
n 0 n!

 a0 

 t n
n 0 n!

 n 
t2 t3
 a0  1  t     
 1 n
t   .
 2 ! 3! n! 
 

Para encontrarmos a constante a0 que surgiu na solução, podemos considerar que


a condição inicial fornecida é y  0   1, então, substituindo na série, teremos

 2 3 n 
y  0   a0 1  0 
 0 0  1 n


    0     = a0 .

2! 3! n!
 

Portanto, a0 = 1 e a solução em série de potências é dada por


n
t2 t3  1 t n     t  .
n 
y t   1  t      
2 ! 3! n! n 0 n !

320 Soluções em Séries de Potências


z n
Se lembrarmos que a série de potências da exponencial e   z / n !, então a solução
encontrada é precisamente o que encontramos anteriormente, pois

 t n
 n!
 e t .
n 0

23 EXEMPLO Vamos considerar um problema de valor inicial com uma equação de segunda ordem
linear e com coeficientes constantes. Novamente, vamos usar uma equação na qual
já sabemos a solução. Desta forma, considere

y  t   y  t   0

com condições iniciais y  0   1 e y  0   0. Para encontrarmos a solução desta


equação, podemos supor que a solução seja dada por y  t   e , e substituindo na
rt

equação diferencial, teremos a seguinte equação característica

r 2  1  0.

Neste caso, o polinômio característico tem soluções complexas e conjugadas dadas por

r  i.

Logo, a solução geral para o caso de raízes complexas, conforme vimos anteriormente,
é dada por

y  t   c1 cos  t   c2 sen  t  .

Substituindo as condições iniciais, temos

y  0   c1 cos  0   c2 sen  0   1  c1  1  c2  0  c1  1.

Derivando y  t  e substituindo t = 0, temos

y  t    sen  t   c2 cos  t   y  0    sen  0   c2 cos  0   c2  0.

Portanto, a solução é

y  t   cos  t  .

UNIDADE VIII 321


Novamente, iremos resolver a equação diferencial usando o método da série de
potências e, como antes, esperamos obter o mesmo resultado. Assim, suponha que a
solução da equação possa ser escrita na forma

y  t   ant n  a0  a1t  a2t 2  .
n 0

Logo, suas derivadas são dadas por



y  t   � � nant n1  a1  2a2t  3a3t 2  
n 1

y t n n 1 ant n 2
2a2 2 3a3t 4 3a4t 2 
n 2

Substituindo as funções na equação diferencial, obtemos


 
y  y  n  n  1 ant n2  ant n
n 2 n 0

  
 2a2  2  3a3t  4  3a4t 2    a0  a1t  a2t 2   
  a0  2a2    a1  3  2a3  t   a2  4  3a4  t 2   a3  5  4 a5  t 3  

= 0.

Igualando cada um dos coeficientes do polinômio a zero, obtemos


a0  2a2  0

a1  3  2a3  0
a2  4  3a4  0
a3  5  4 a5  0

an   n  2   n  1 an2  0

Observando as equações acima, vemos que os coeficientes pares só se relacionam


com os coeficientes pares e, equivalentemente, os ímpares só se relacionam com os
ímpares. Tendo em vista que estamos determinando a solução geral de uma equação
de segunda ordem, neste caso, este é um comportamento esperado, pois a solução

322 Soluções em Séries de Potências


de um equação de segunda ordem possui duas soluções linearmente independentes.
Começando, então, pelos termos pares, temos

a0
a0  2a2  0  a2   .
2

Em seguida,

 a0 
 2 
a2  4  3a4  0  a4  
a2
 a4      a  a0  a0 .
4
4 3 4 3 4  3  2 4!

Seguindo a fórmula,

a4 a
a4  6  5a6  0  a6    a6   0 .
65 6!

Logo, de forma geral, para os números pares, n = 2k , teremos


k
a2 k 
 1 a0
.
 2k  !
Agora, para os coeficientes ímpares, temos

a1
a1  3  2a3  0  a3   .
32

Logo, o próximo coeficiente será,


 a1 
a3   a1 a
32 
a3  5  4 a5  0  a5    a5     a5   1.
54 54 5  4  3  2 5!

De forma intuitiva, podemos perceber que os termos ímpares, n  2k  1 , serão


dados na forma
k
a2 k 1 
 1 a1
.
 2k  1!
Finalmente, substituindo os coeficientes na série, temos

y  t   ant n
n 0

 a0  a1t  a2t 2  a3t 3  a4t 4  a5t 5  

UNIDADE VIII 323


  
 a0  a2t 2  a4t 4    a2 k t 2 k    a1t  a3t 3  a5t 5    a2 k 1t 2 k 1   
  
 a0  a2t 2  a4t 4    a2 k t 2 k    a1t  a3t 3  a5t 5    a2 k 1t 2 k 1   
 a a k a0   a a k
  a0  0 t 2  0 t 4     1 t 2 k      a1t  1 t 3  1 t 5     1
 2! 4!  2k  !   3! 5!  2k
 a a k a0   a a k a1 
  a0  0 t 2  0 t 4     1 t 2 k      a1t  1 t 3  1 t 5     1 t 2 k 1   
 2! 4!  2k  !   3! 5!  2k  1! 
 t2 t 4 k   t3 t5 k 

 a0 1     
 1 2 k
 
t    a1 t     
 1
t 2 k 1   
 2! 4 !
  2k  ! 

 3! 5!
  2k  1! 

 t2 t 4 k   t3 t5 k 

 a0 1     
 1 2 k
 
t    a1 t     
 1
t 2 k 1   
 2! 4 !
  2k  ! 

 3! 5!
  2k  1! 

k k
 a0 
1 t 2 k
 a1 

 1 t 2 k 1
k 0  2 k  ! k 0  2k  1 !

 a0 cos  t   a1sen  t  ,

conforme as séries de potência do seno e cosseno que vimos no tópico anterior. Neste
caso, sabendo que a solução geral é dada pela combinação linear entre senos e cosse-
nos, podemos encontrar as constantes a0 e a1 na mesma forma que fizemos acima.
Observe que em ambos os exemplos dados, e em nenhum outro momento, não
nos preocupamos com o intervalo de convergência da série de potências. Nesses
exemplos, isso não se fez importante, pois sabemos que as séries encontradas, das
funções trigonométricas e também da exponencial, possuem intervalo de convergên-
cia . Ao final do tópico, trataremos de um exemplo cuja solução possui intervalo
de convergência diferente de I =  .
Lembrem-se que é possível encontrar o intervalo de convergência de uma série
de potências ∞
y (t) = an(t-t0)n Σ
n=0

É muito prático utilizar o teste da razão para isso. Apenas para recordar, o teste da
razão para uma série de potências como a escrita acima é baseado no cálculo do limite

an1
lim t  t0  L.
n an

324 Soluções em Séries de Potências


Se L < 1 pelo teste da razão, a série será convergente e assim será possível determinar
o intervalo de convergência da série.

24 EXEMPLO Nosso último exemplo, será determinar a solução geral e o intervalo de convergência
para a equação diferencial

1  t 2  y t   y t   0.
Primeiro, notamos que o ponto t = 0 é um ponto ordinário para essa equação, pois

1
lim  1.
t 0 1  t 2

Supondo que a solução seja na forma



y  t   ant n  a0  a1t  a2t 2  
n 0

então sua segunda derivada é dada por



y′′ ( t ) = ∑n ( n − 1) ant n−2 = 2a2 + 2 ⋅ 3a3t + 4 ⋅ 3a4t 2 + 
n =2

Substituindo as funções na equação diferencial, obtemos

1 t2 y t y t 0

1 t2 n n 1 ant n 2
ant n 0
n 2 n 0

n n 1 ant n 2
n n 1 ant n ant n 0
n 2 n 2 n 0

  
 2a2  a0    3  2a3  a1  t  n  n  1 ant n2  n  n  1 ant n  ant n  0.
n4 n 2 n 2

Nós podemos fazer uma mudança de índices nestas séries dadas e reescrevê-las em
uma única série. Na série mais à esquerda, faremos a mudança n  s  2 . Assim,

UNIDADE VIII 325


2a2 a0 3 2a3 a1 t n n 1 ant n 2
n n 1 an an t n 0
n 4 n 2

2a2 a0 3 2a3 a1 t s 2 s 1 as 2 t s s s 1 1 as t s 0
s 2 s 1

2a2 a0 3 2a3 a1 t s 2 s 1 as 2 s s 1 1 as t s 0.
s 2

Portanto, temos as seguintes relações


2a2  a0  0

3  2a3  a1  0

2
s 1 s
as 2 as s 2.
s 2 s 1

Desta forma, podemos encontrar os coeficientes,

a0
a2  
2
a1
a3  
3!
2
a4 
 2  1  2
a 
3
a0
2
4 3 4!
2
a5 
 3  1  3
a 
7
a1
3
54 5!
2
a6 
 4  1  4
a 
3  13
a0
4
65 6!

e assim por diante. Finalmente, podemos escrever a solução geral como sendo

y  t   a0  a1t  a2t 2  a3t 3  

 1 3 3  13 6   1 7 7  21 7 
 a0  1  t 2  t 4  t     a1  t  t 3  t 5  t   .
 2! 4! 6!   3! 5! 7! 

326 Soluções em Séries de Potências


Para determinar o raio de convergência das séries, podemos usar o teste da razão e
o fato que o termo geral das séries é dado por

as  2  
 s  12  s a  as  2

2
 s  1  s  1
 s  2   s  1 s as  s  2   s  1
quando s  . Portanto, pelo teste da razão, para que a série seja convergente é
necessário que
a 2
lim s 2 t  1,
s  as

portanto o intervalo de convergência t   1, 1 .

25 EXEMPLO Equação de Legendre


A equação de Legendre está entre uma das equações diferenciais ordinárias mais
importantes da física matemática. Ela normalmente surge em aplicações na física
e engenharia envolvendo simetria esférica. Um exemplo muito famoso em que a
equação de Legendre aparece é na mecânica quântica, associada à solução da famosa
equação de Schrödinger.
A equação de Legendre é definida como

1  t 2  y t   2ty t   n n  1 y t   0,
em que o parâmetro n ∈  depende do contexto que relaciona a equação de Legen-
dre ao problema físico. As soluções da equação de Legendre são usualmente chama-
das na literatura de funções de Legendre, e essas funções fazem parte de uma classe
de funções conhecida como funções especiais.
Uma primeira observação que podemos fazer sobre a equação de Legendre está
relacionado ao seu domínio. Observe que essa equação diferencial é uma equação de
segunda ordem quando t  1 . Além disso, nenhum dos dois pontos t = 1 ou t  1
é um ponto ordinário para a equação. Basta perceber, por exemplo, que

2t
lim − = ±∞.
t→1 1 − t2

Portanto, precisamos escolher um dos possíveis domínios em que essa equação é de


segunda ordem para propormos uma solução. Observe que são três possíveis escolhas:
podemos procurar uma solução para t < 1, uma para t > 1 ou uma para t  1 .
Quando se relaciona a equação de Legendre a algum problema físico ou de engenha-

UNIDADE VIII 327


ria, verifica-se que a solução esperada possua t < 1. Desta forma, vamos propor
encontrar a solução da equação de Legendre usando o método da série de potências
em torno do ponto t = 0, isto é, vamos supor que a solução seja dada por

y  t   ant n  a0  a1t  a2t 2  .
n 0

É importante observar que o ponto t = 0 é um ponto ordinário para a equação de


Legendre, pois

2t ν ( ν + 1)
li − 2
=0 e lim = ν ( ν + 1) .
t→ 0 1− t t→ 0 1 − t2

Para encontrarmos a solução da equação de Legendre, começamos denotando a


constante n  n  1 por N . Considerando y  t  como sendo dada pela série acima,
temos que suas derivadas são dadas por

y  t   � � nant n1  a1  2a2t  3a3t 2  
n 1

y′′ ( t ) = ∑n ( n − 1) ant n−2 = 2a2 + 2 ⋅ 3a3t + 4 ⋅ 3a4t 2 + 
n =2

Finalmente, substituindo as expressões na equação diferencial, obtemos

  
1  t 2  y t   2ty t   Ny t   1  t 2  n  n  1 ant n2  2t nant n1  N ant n
n 2 n 1 n 0
2
  
 1  t  2a2  2  3a3t  4  3a4t    2t a1  2a2t  3a3t    N a0  a1t  a2t 2  
2 2
 
   
 4  3a4t 2    2t a1  2a2t  3a3t 2    N a0  a1t  a2t 2   
  2a2  2  3a3t  4  3a4t 2     2a2t 2  2  3a3t 3  4  3a4t 4    2  a1t  2a2t 2  3a3t 3 

4 t     2a2t  2  3a3t  4  3a4 t    2  a1t  2a2t  3a3t    N  a0  a1t  a2t  


2 2 3 4 2 3 2

  2a2  Na0    3  2a3  2a1  Na1  t   4  3a4  2a2  2  2a2  Na2  t 2   5  4 a5  3  2a3 

a1  Na1  t   4  3a4  2a2  2  2a2  Na2  t 2   5  4 a5  3  2a3  2  3a3  Na3  t 3     n  2   n  1 an2   n  n  1  2n  N  an

 2  3a3  Na3  t 3     n  2   n  1 an2   n  n  1  2n  N  an   .

328 Soluções em Séries de Potências


Perceba que os coeficientes pares se relacionam apenas com os coeficientes pares e
os coeficientes ímpares se relacionam apenas com os ímpares. Além disso, é conve-
niente perceber que o termo n  n  1  2n  N pode ser reescrito na forma

n  n  1  2n  N  n  n  1  2n  n  n  1

 n2  n  n  n  1

  n  n   n  n  1 .

Assim, o termo geral da série  n  2   n  1 an2   n  n  1  2n  N  an  0 pode


ser reescrito na forma

an2  
 n  n   n  n  1 a .
 n  2   n  1 n
Usando a relação de recorrência para os termos pares, temos que os coeficientes são
dados por

n  n  1
a2   a0
2!

a4  
 n  2   n  3  a   n  2  n  n  1  n  3  a
2 0
4 3 4!

a6  
 n  4   n  5  a    n  4   n  2  n  n  1  n  3   n  5  a
4 0
64 6!

e assim por diante. Para os coeficientes ímpares, temos

a3  
 n  1  n  2  a
1
3!

a5  
n  3 n  4  a 
 n  3   n  1  n  2   n  4  a
3 1
54 5!

a7  
 n  5   n  6  a    n  5   n  3   n  1  n  2   n  4   n  6  a
5 1
7 6 7!

e assim por diante. Substituindo, então, os coeficientes na série

y  t   a0  a1t  a2t 2  a3t 3  ,

UNIDADE VIII 329


temos as soluções gerais para a equação de Legendre
y  t   a0  a1t  a2t 2  a3t 3  

 n  n  1 2  n  2  n  n  1  n  3  4  n  4   n  2  n  n  1  n  3  n
  a0  a0t  a0t 
 2! 4! 6!

 n  n  1 2  n  2  n  n  1  n  3  4  n  4   n  2  n  n  1  n  3   n  5  6    n  1  n  2  a t 3   n 
 a0  a0t  a0t  a0t     a1t  1
 2! 4! 6!   3!

 a t 4   n  4   n  2  n  n  1  n  3   n  5  a t 6     a t   n  1  n  2  a t 3   n  3   n  1  n  2   n  4  a t 5   n  5   n  3   n  1  n  2  n
0 0   1 1 1
6!   3! 5! 7!


 n  1  n  2  a t 3   n  3   n  1  n  2   n  4  a t 5   n  5   n  3   n  1  n  2   n  4   n  6  a t 7  
1 1 1 
3! 5! 7! 

 a0 y1  t   a1 y2  t  ,

com

n  n  1 2  n  2  n  n  1  n  3  4  n  4   n  2  n  n  1  n  3   n  5  6
y1  t   1  t  t  t 
2! 4! 6!

y2  t   t 
 n  1  n  2  t 3   n  3   n  1  n  2   n  4  t 5   n  5   n  3   n  1  n  2   n  4   n  6  t 7  .
3! 5! 7!

330 Soluções em Séries de Potências


Primeiro passo que vamos observar é que ambas as funções, y1  t  e y2  t , possuem
raio de convergência t < 1. Vamos mostrar essa afirmação para a função y1  t , para
y2  t  os cálculo são análogos. Aqui, vamos usar o teste da razão e, para isso, preci-
samos calcular o limite
a 2
lim 2 n2 t ,
n a2 n

pois a série y1  t  só tem termos com potências pares. Não é difícil perceber que a
razão a2 n+2 / a2 n é dada por

a2 n2

 n  2n   n  2n  1
a2 n  2n  2   2n  1
 n  n 1 
  1 1   
2n   2n 2n 
 
 1  1 
1   1  
 n   2n 

( −1)(1)
=
(1)(1)
= 1,

quando n  . Assim, pelo teste da razão

a2 n2 2 2
lim t t
n a2 n
2
e para que a série seja convergente, é necessário que t < 1, isto é, t < 1 .
Foram estudados brevemente, nesta unidade, os conceitos de sequências e séries
com o objetivo de construir soluções para equações diferenciais ordinárias de segunda
ordem. Os conceitos de séries e sequências são importantíssimos para a matemática
e também para as ciências aplicadas, pois eles permitem representar funções de
formas distintas e, em alguns casos, formas mais simples do que a forma original da
função. Isto tanto é verdade que utilizamos essas representações para encontrar as
soluções de equações diferenciais com coeficientes variáveis. Nas unidades a seguir,
continuaremos nosso estudo de equações diferenciais, mas utilizando a transformada
de Laplace para encontrar as soluções.

UNIDADE VIII 331


Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Determine o limite da sequência dada por


3n 3  2 n  1
an  .
7 n3  4 n2  2


3
2. Encontre o valor para o qual a série  2  5 n 2 converge.
n 0

3. Determine o intervalo de convergência da série de potências abaixo usando o


teste da razão

 n
3
  4   x  1n .
n 0

4. Determine os três primeiros termos de cada uma das séries linearmente inde-
pendentes que formam a base de solução da equação

y  ty  0.

5. Determine os primeiros termos de cada uma das séries linearmente indepen-


dentes que formam a base de solução da equação

 
ty ''  t  t 2 y  0,

em torno do ponto t = 0.

332
WEB

Calcular o valor das séries é uma tarefa muito difícil! Vimos que a sequência de
somas parciais é fácil de lidar apenas para alguns casos muito conhecidos. No
seguinte artigo, que se encontra em inglês, é trazido uma forma bem interes-
sante de provar que a série

333
BOYCE, W.; DIPRIMA, R. Equações Diferenciais e Problemas de Valores de Contorno. 9. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 2012.

FIGUEIREDO, D.; NEVES, A. Equações Diferenciais Aplicadas. 3. ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2014.

KREYSZIG, E. Matemática Superior para Engenharia. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009.

ZILL, D. Equações diferenciais com aplicações em modelagem. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011.

334
1. Colocando o termo n3 em evidência, tanto no numerador quanto no denominador, nos dá
2 1
3
 3
an  n 2
n  3.
4 2 7
7  3
n n

2. Temos que a série pode ser reescrita na forma

 

3 3  52 52 
1 52  1  375
 n 2
  n  3
2 n 0 5 2
 n  3 2  1   8 .
n 0 2  5 n 0 5 1 
 5

3. Pelo teste da razão, temos

an1  3 
 
n 1
4
n
 x  1n1 
3
x 1 .
 
an 4 3  x  1n 4

3 1 7
Para que a série seja convergente, é necessário que x  1  1 , ou seja,   x  .
4 3 3

4. Suponha que a solução seja dada como uma série de potências


y t    amt m .
m 0

Temos que a segunda derivada é dada por


y  t    m  m  1 amt m2 .
m 2

Substituindo na equação diferencial, temos


 
y  ty   m  m  1 amt m2  t  amt m
m 2 m 0

  
 2a2  3  2a3t  4  3a4 t 2  5 4 a5t 3    a0t  a1t 2  a2t 3  a3t 4   
 2a2   3  2a3  a0  t   4  3a4  a1  t 2   5 4 a5  a2  t 3  .

335
Igualando os coeficientes a zero, temos

2a2  0  a2  0
a0
3  2a3  a0  0  a3 
3!
a 2a
4  3a4  a1  0  a4  1   1
43 4!
a2
5 4 a5  a2  0  a5  0
5 4
a3 4 a0
6  5a6  a3  0  a6  
65 6!
a4 10 a0
7  6a7  a4  0  a7  
76 7!

Portanto, a solução é dada por

y  t   a0  a1t  a2t 2  a3t 3  a4t 4  a5t 5  

 1 4   2 10 
 a0  1  t 3  t 6     a1  t  t 4  t 7    .
 3! 6!   4! 7! 
5. É imediato verificar que o ponto t =0 é um ponto ordinário, pois

t  t2
 1 t 1
t
quando t → 0. Logo, suponha que a solução seja dada como uma série de potências

y t    amt m .
m 0

Temos que a segunda derivada é dada por


y  t    m  m  1 amt m2 .
m 2

Substituindo na equação diferencial, temos

336
 
y  1  t  y   m  m  1 amt m2  1  t   amt m
m 2 m 0

    
 2a2  3  2a3t  4  3a4t 2  5  4 a5t 3    a0  a1t  a2t 2  a3t 3    a0t  a1t 2  a2t 3  a3t 4   
  2a2  a0    3  2a3  a0  a1  t   4  3a4  a1  a2  t 2   5  4 a5  a2  a3  t 3  ..

Igualando os coeficientes a zero, temos

a0
2a2  a0  0  a2  
2
a0 a1
3  2a3  a0  a1  0  a3   
3! 3!
a1 a 2a a
4  3a4  a1  a2  0  a4    2  1 0
4 3 4 3 4! 4!

Portanto, a solução é dada por

y  t   a0  a1t  a2t 2  a3t 3  a4t 4  a5t 5  

 1 1 1   1 2 
 a0  1  t 2  t 3  t 4     a1  t  t 3  t 4    .
 2! 3! 4!   3! 4! 

337
338
Dr. Vinicius de Carvalho Rispoli
Dr. Ricardo Ramos Fragelli
Dr. Ronni Geraldo Gomes de Amorim

Transformadas
Integrais

PLANO DE ESTUDOS

Função Impulso e Função Sistema


de Degrau Unitário de EDOs

Transformada Solução de problemas Convolução


de Laplace de valor inicial

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Definir a Transformada de Laplace. • Utilizar a transformada de Laplace para lidar com proble-
• Definir as funções degrau unitário e impulso. mas envolvendo sistemas de EDOs.
• Utilizar a transformada de Laplace para resolver proble- • Aprender como inverter transformadas de Laplace através
mas de valor inicial. da convolução.
Transformada
de Laplace

Neste tópico, assim como nos seguintes, vamos


estudar uma abordagem diferente de como resol-
ver equações diferenciais lineares. Veremos como
podemos usar a transformada de Laplace para
resolver essas equações. Existem diferentes tipos
de transformadas integrais, e as transformadas de
Laplace e de Fourier são, provavelmente, os dois
tipos mais usados e difundidos. De forma geral,
dada uma função f  t , suficientemente regular
e bem comportada, definida no intervalo  a, b ,
então uma transformada integral   f  t   r 
é definida como sendo
b
  f  t   r    f  t  K  r , t  dt ,
a

em que K  r , t  é uma função apropriadamen-


te escolhida e chamada de núcleo, ou kernel, da
transformada. O que diferem os diversos tipos
de transformadas são exatamente o intervalo em que a função f  t  está definida
e o seu núcleo K  r , t . Entretanto, todas elas compartilham algumas propriedades
semelhantes ou iguais que serão de grande valia na hora de resolver problemas en-
volvendo equações diferenciais.
Um dos aspectos mais interessantes das transformadas integrais é que com elas
podemos reduzir uma equação diferencial a um problema totalmente algébrico. O
processo algébrico envolvido na solução, em alguns casos, poderá ser confuso ou
até muito trabalhoso, mas ainda assim existe um ganho principalmente quando se
é necessário resolver integrais complicadas na solução, por exemplo. Veremos, nos
tópicos seguintes, que a transformada de Laplace, por exemplo, pode ser utilizada
para resolver problemas de valor inicial, os quais não somos capazes de resolver com
os métodos estudados até então. Isso é verdade, por exemplo, quando trabalhamos
com equações não homogêneas em que o termo do lado direto é descontínuo.
Para equações diferenciais mais “simples” como várias que estudamos até o mo-
mento o uso da transformada de Laplace no processo de solução pode, em alguns
casos, ser até mais complicado do que precisamos, equações de segunda ordem
homogêneas com coeficientes constantes, por exemplo. Na verdade, para equações
diferenciais não homogêneas, tais como aquelas que estudamos nas Unidades 2 e 3,
o trabalho, em alguns casos, pode ser relativamente maior ao usar a transformada,
principalmente quando o método dos coeficientes a determinar puder ser utilizado.
Quando o método da variação de parâmetros é necessário, talvez seja uma boa al-
ternativa usar a transformada de Laplace para fugir das integrais e dos incontáveis
cálculos necessários.
Neste contexto, a transformada de Laplace (ou outra transformada integral) se faz
necessária principalmente quando o termo não homogêneo na equação diferencial
começa a ficar muito complicado. Vimos, até esse momento, termos não homogêneos
que eram funções contínuas; nesta unidade, em particular, vamos olhar para termos
não homogêneos que podem não ser contínuos e até com interpretações físicas/
matemáticas mais complicadas. São nesses problemas em que as razões para utilizar
as transformadas de Laplace tornam-se claras.
Você, estudante, talvez esteja achando estranho que iremos dedicar um tópico in-
teiro apenas com a definição de um conceito. Talvez pareça, de fato, muito assustador
o formato de uma transformada integral, como vimos acima. No entanto, veremos
que elas são mais inofensivas do que parecem e, na verdade, oferecem uma grande
ajuda quando necessário.

UNIDADE IX 341
Antes de introduzirmos a definição da transformada de Laplace, precisamos de
outra definição importante. Uma função é chamada seccionalmente, ou contínua
por partes, em um dado intervalo  a, b , se esse intervalo puder ser dividido em um
número finito de subintervalos  ai , bi , no qual a função é contínua em cada subin-
tervalo aberto (ou seja, o subintervalo sem os seus pontos de extremidade) e tem um
limite finito nas extremidades de cada subintervalo. Abaixo temos um esboço de uma
função contínua por partes.

Figura 1 - Exemplo de função seccionalmente contínua


Fonte: os autores.

Em outras palavras, uma função contínua por partes é uma função que tem um nú-
mero finito de saltos e não vai ao infinito em nenhum dos saltos. Agora, vamos dar
uma olhada na definição da transformada de Laplace.

1. DEFINIÇÃO

Seja f t uma função contínua por partes. A transformada de Laplace de f  t ,


denotada por   f  t , é definida por

F  s     f  t    f  t  e st dt.
0

Observe que é importante, na definição da transformada de Laplace, que a integral


imprópria associada a ela seja convergente. Então, claramente, não existirá transfor-
mada de Laplace para uma função qualquer e é necessário que ela satisfaça algumas
 st
características. Supondo que s > 0, então sabemos que e  0 quando t  .

342 Transformadas Integrais



1
Além disso, sabemos que a integral e st dt    é finita. Logo, para que uma
0
s

função f  t  possua transformada de Laplace, basta que ela não cresça mais rápido
que a exponencial e . Isto é, se a função f  t  satisfizer a condição f  t   e ,
− st kt

para todo t > 0, com k < s, então podemos garantir a existência da transformada de
Laplace da função f  t ..

1 EXEMPLO a) Considere a função f  t   1, então



 1  e  st dt
0

 e st 
 
  s  0

 1 e  sa 
 lim   
a   s s 

1
= ,
s
se s > 0. É importante que s seja positivo, pois, em caso de s ser negativo, teremos
 sa
que o limite e   quando a aumentar sem limites.
b) Considere a função f  t   e , então a transformada de Laplace da ex-
at

ponencial é dada por



 
 eat  e at e st dt
0


 e   dt
t s  a

0

 e t  s  a  
 
   s  a   0
1
 ,
sa

se s > a, caso contrário, teremos et  s a    com t  .

UNIDADE IX 343
Conforme falamos anteriormente, iremos utilizar a transformada de Laplace para
encontrar a solução de problemas de valor inicial. Desta forma, um aspecto funda-
mental da transformada é a unicidade. Isto é, sejam f  t  e g  t  contínuas em
0,   de forma que suas transformadas sejam convergentes e tais que

  f  t     g  t  ,

então é possível provar que f  t   g  t . Assim, se, por exemplo,

1
  f  t   ,
s

então a única possibilidade para a função f  t  é a função f  t   1, ∀� t . Nesses


casos, dada a transformada F  s     f  t  é comum também usarmos a notação

1 F  s   f  t  ,

isto é, a transformada inversa da função F  s  é f  t  .

A transformada possui várias propriedades que serão necessárias para o nosso traba-
lho, que é determinar a solução de um problema de valor inicial. A seguir, enunciamos
as propriedades mais básicas.

Propriedades
I. A transformada de Laplace é linear, isto é, dadas constantes a, b ∈ , então

 af  t   bg  t   a  f  t   b  g  t 

Demonstração

Considerando a função h  t   af  t   bg  t , temos

344 Transformadas Integrais



 af  t   bg  t     af  t   bg  t   dt
0

 
 a  f  t  dt  b  g  t  dt
0 0

 a  f  t   b  g  t .�

II. Dado a ∈ , então a transformada de Laplace satisfaz a seguinte propriedade


de deslocamento

 
 eat f  t   F  s  a  ,

em que F  s     f  t .

Demonstração

Temos

 
 eat f  t   eat f  t  e  st dt
0

  f  t  e   dt
t s  a

 F  s  a .

III. Dado a ∈ , então a transformada de Laplace satisfaz a propriedade de mu-


dança de escala

1 s
  f  at   F  ,
a a

em que F  s     f  t .

UNIDADE IX 345
Demonstração

Considere a transformada

  f  at    f  at  e st dt
0

 s
 z dz
  f z e a �
0
a

 s
1  z
 
a 0
 f z e a dz

1 s
 F   .�
a a

IV. Sendo   f  t   F  s , então a transformada de Laplace satisfaz

d
 tf  t    F s
ds

Demonstração

A transformada da função f  t  é dada por



F  s    f  t  e st dt ,
0

derivando com relação a s, temos



d
F  s     tf  t  e  st dt
ds 0

  tf  t .

Com as propriedades demonstradas aqui, podemos encontrar as transforma-


das de diversas funções conhecidas.

346 Transformadas Integrais


ebt  e bt
2 EXEMPLO a) Considere senh  bt   , então pela propriedade da linearidade, temos
2
que a transformada do seno hiperbólico é dada por

 ebt  e bt 
 senh  bt     
 2 
1
2
1
 
  ebt   ebt
2
 
1 1 1 1
exem 1b
2s b 2s b
b
 .
s  b2
2

Consequentemente,
 b 
L −1 2 2  = senh ( bt ) .
s −b 

b) Usando a fórmula de Euler, temos que a função cosseno pode ser escrita na
2
forma eibt  e ibt em que i  1, novamente usando a proprie-
cos  bt   ,
2
dade da linearidade, temos
ibt ibt 
 e  e 
 cos  bt     
 2 
1
2
1
 
  eibt   eibt
2
 
1 1 1 1
exem 1b
2 s ib 2 s ib
s
 .
s  b2
2

Logo, também podemos escrever

 s 
1  2 2   cos  bt  .
s b 

UNIDADE IX 347
c) Lembrando que  1  1 / s, então usando a propriedade da derivada, temos
que

 t   t  1

d
  1
ds

d 1
  
ds  s 

1
= .
s2

d) Considerando F  s    cos bt, então usando a propriedade (ii), temos que

 
 eat cos bt  F  s  a 

sa
 .
 s  a 2  b2
possível perceber que utilizando as propriedades da transformada, consegui-
remos obter a transformada de várias outras funções.

Existem outros tipos de transformadas integrais importantes, como a transforma-


da de Fourier e a transformada Wavelets, por exemplo. A diferença entre essas
transformadas e a transformada de Laplace são exatamente o núcleo dessas trans-
formadas. Tanto a transformada de Fourier quanto a transformada Wavelets são
muito utilizadas na engenharia elétrica e eletrônica para análise e processamento
de sinais e imagens. Faça uma pesquisa na internet para conhecer esses diferentes
núcleos e as aplicações diversas que essas outras transformadas podem ter!

348 Transformadas Integrais


Função Impulso e
Função de Degrau Unitário

Conforme adiantamos no tópico anterior, a trans-


formada de Laplace é um método muito útil para
determinar as soluções de equações diferenciais
que possuem um termo não homogêneo des-
contínuo ou até mais complicado. Aqui, veremos
como tratar dois casos específicos de funções não
homogêneas fora do padrão. Uma dessas funções
é a função degrau unitário, ou função de Heavi-
side como também é conhecida. A outra é a fun-
ção impulso, ou função delta de Dirac. Ambas as
funções surgem diretamente em aplicações das
equações diferenciais na física-matemática e tam-
bém na engenharia.
Começaremos introduzindo a função degrau
unitário. A função degrau unitário ou função
de Heaviside u  t  a  é a função dada por

0,� � � set
� a
u t  a    ,
1,� � � set
� a

UNIDADE IX 349
cujo gráfico pode ser visto na figura abaixo.

u (t - α)

0 α t
Figura 2 - Função degrau unitário
Fonte: os autores.

Essa função é muito útil quando, por exemplo, deseja-se determinar a corrente dentro
de um circuito RLC quando uma onda retangular de voltagem V0 é aplicada. Uma
onda retangular de voltagem V0 pode ser vista na figura a seguir.

υ(t)

V
0

0 α b t

Figura 3 - Onda quadrada


Fonte: os autores.

Essa onda retangular pode ser descrita facilmente usando a função de Heaviside na
forma

H  t   V0 u  t  a   u  t  b   .

350 Transformadas Integrais


Desta forma, faz-se importante conhecer como é a transformada de Laplace da função
de Heaviside, tendo em vista as aplicações físicas que surgem naturalmente usando
funções descontínuas. Para tal, podemos usar diretamente a definição e temos

 u  t  a   u  t  a  e st dt
0


 e st dt
a


 e st 
  
 s  a

e as
 ,
s

se s > 0 .

No tópico anterior, vimos uma propriedade da transformada que estava relacionada


ao deslocamento. Considerando F  s     f  t  , então pela propriedade (iii) da aula
anterior, temos que  eat f  t   F  s  a  , isto é, multiplicando a função pela expo-
nencial, produzimos um deslocamento no “mundo da transformada”. Usando a fun-
ção de Heaviside, podemos mostrar uma segunda propriedade de deslocamento, no
entanto, envolvendo o “mundo do tempo”, e não da transformada. Assim, considere
a função deslocada a unidades no tempo,

f  t   f  t  a  u  t  a 
0 set a
.
f t a set a

Supondo que   f  t   F  s  , então a transformada de Laplace da função f  t 


é dada por

 
 f  t     f  t  a  u  t  a 

st
f t a e dt fazendo a mudança z t a
a

  f  z  e   dz
 s z a

UNIDADE IX 351

 e sa  f  z  e  sz dz
0

 e sa F  s  .

Desta forma, um deslocamento no “mundo do tempo” faz que a transformada seja


multiplicada por uma exponencial. Na prática, se soubermos F  s  uma transfor-
− sa
mada de uma função qualquer, então multiplicando pela exponencial e simples-
mente podemos obter a transformada de qualquer função deslocada f  t .

3 EXEMPLO Neste exemplo, nosso objetivo será calcular a transformada da função


π 0 t π
f t t π t 2π .
sen t t 2π

Nosso primeiro passo será escrever a função f  t  usando a função de Heaviside.


Neste caso, temos

f  t   p 1  u  t  2p    t u  t  p   u  t  2p    sen  t  u  t  2p   .

Para que possamos usar a propriedade do deslocamento demonstrada acima, preci-


samos escrever os termos da soma que surgem na função f  t  no formato da
função deslocada f  t  definida anteriormente. Assim, reescrevendo, temos

f  t   p 1  u  t  p    t u  t  p   u  t  2p    sen  t  u  t  2p  

 p  p � u  t  p   tu  t  p   tu  t  2p   sen  t  u  t  2p 

 p  pu  t  p    t  p  p  u  t  p    t  2p  2p  u  t  2p   sen  t  u  t  2p 

 t  p  p  u  t  p    t  2p  2p  u  t  2p   sen  t  u  t  2p 
 p  pu  t  p    t  p  u  t  p   pu  t  p    t  2p  u  t  2p   2pu  t  2p   sen  t  u  t  2p 

p   pu  t  p    t  2p  u  t  2p   2pu  t  2p   sen  t  u  t  2p 

 p  2pu  t  2p    t  p  u  t  p    t  2p  u  t  2p   sen  t  u  t  2p 

 p  2pu  t  2p    t  p  u  t  p    t  2p  u  t  2p   sen  t  2p  u  t  2p  ,

pois sen  t   sen  t  2p  pela sua periodicidade. Finalmente, podemos aplicar a trans-

352 Transformadas Integrais


11 1 1
formada de Laplace na função f  t , lembrando queL Lt t 2 2e L
e Lsensent t 2 2
s s s s1 1
Temos, então,

  f  t    p  2pu  t  2p    t  p  u  t  p    t  2p  u  t  2p   sen  t  2p  u  t  2p 

  p  2p u  t  2p     t  p  u  t  p     t  2p  u  t  2p    sen  t  2p  u  t  2p 

 2p     t  p  u  t  p     t  2p  u  t  2p    sen  t  2p  u  t  2p 

p 2pe2ps eps e 2ps e 2ps


   2  2  2
s s s s s 1

1 1 e2ps
 p  2pe2ps   2 eps  e 2ps   2 .
s  s   s 1

A segunda função que vamos definir aqui é a função delta de Dirac. Essa função está
associada a fenômenos de natureza impulsiva como, por exemplo, forças que são
aplicadas em pequenos intervalos de tempo. Uma martelada é um bom exemplo de
uma força aplicada em um curto intervalo de tempo.
Para modelarmos essa situação, considere a função f k definida em todos os reais
na forma

1
a t a k
fk t a k .
0 caso contrário

Suponha que essa função represente uma força de magnitude 1 / k agindo no in-
tervalo de tempo de � a até a + k , considerando k > 0 um número muito pequeno.

UNIDADE IX 353
Área = 1
1/k

α α+k t
Figura 4 - Onda quadrada de área unitária
Fonte: os autores.

Na física, vimos que a integral da força agindo sobre um intervalo de tempo


a  t  a  k é chamada de impulso da força. Desta forma, para qualquer k > 0,
temos que o impulso é dado por

I k   f k  t  a  dt
0

ak
1
  k
dt
a

= 1.

O nosso interesse é saber o que acontece com a função f k e, consequentemente, com


o impulso I k quando o intervalo de tempo é cada vez menor, isto é, quando k → 0.
Desta forma, iremos definir a função delta de Dirac como sendo

d  t  a   lim f k  t  a 
k 0

t a
.
0 caso contrário

Claramente, essa não é uma função ordinária e definida como estamos acostumados,
essa função é conhecida na matemática como uma função generalizada. Uma pri-
meira propriedade que obtemos da função delta, vem do cálculo do impulso da
função f k , de forma que podemos concluir que


d  t  a  dt  1.
0

354 Transformadas Integrais


Além disso, se considerarmos uma função contínua definida no sentido comum
g  t , é possível mostrar também que vale a propriedade abaixo, conhecida também
como propriedade da peneira,


 g  t  d  t  a  dt  g  a  .
0

Para calcularmos a transformada de Laplace da função delta, vamos partir da defi-


nição da função f k  t  a  que pode ser escrita como sendo

1
fk t  a   u  t  a   u  t   a  k    .
k

Sua transformada, pode ser facilmente calculada e nos dá

1   as  a  k s 
  f k  t  a   e e .
ks  

Se fizermos o limite quando k → 0 e usarmos a regra de L’Hôpital, temos

1   as  a  k s 
 d  t  a   lim e  e
k 0 ks  

s�e  
 ak s
 lim
k 0 s

 e as .

Observe que esse é um resultado da consequência da propriedade da peneira, con-


siderando K  t   e ,,�então
 st


 d  t  a   d  t  a  K  t  dt
0

 K a

 e sa .

UNIDADE IX 355
4 EXEMPLO Considere a função

g  t   d  t  1 arctan  t  .

Para calcularmos a transformada dessa função,


basta usarmos a propriedade da peneira. Assim,
temos

  g  t   d  t  1 arctan  t  e st dt
0


 d  t  1 h  t  dt
0

 h 1

 arctan 1 e s

e s p
 .
4

356 Transformadas Integrais


Solução de Problemas
de Valor Inicial

Finalmente, este tópico será dedicado a resolver


problemas de valor inicial usando a transformada
de Laplace. Veremos que usar o artifício da trans-
formada pode nos trazer um ganho muito grande
na hora de resolver os problemas, principalmente
os problemas não homogêneos.
O benefício do uso da transformada é que as
equações diferenciais se tornam equações algébri-
cas, dessa forma, para encontrar a solução de um
problema de valor inicial, não serão necessários
cálculos de integrais ou derivadas, por exemplo,
o que de certa forma facilita bastante as coisas.
Tendo em mãos uma tabela de transformada, fica
bem simples encontrar tais soluções. Veremos que
o nosso maior problema ao usar a transformada
de Laplace para resolver um problema de valor
inicial é a necessidade de encontrar a decom-
posição em frações parciais de certas razões de
polinômios que iremos encontrar. Apesar de ser
um pouco trabalhoso determinar essas decompo-
sições, ainda é mais simples que resolver integrais.

UNIDADE IX 357
No entanto, antes de começarmos os nossos exemplos de como resolver um PVI
usando a transformada, precisamos das seguintes proposições.

Proposição 1
Seja f  t  uma função diferenciável por partes, cuja transformada de Laplace é dada
por F  s     f  t . Então, a transformada das derivadas da função f  t  satisfaz as
seguintes relações:

  f '  t   sF  s   f  0 

  f ''  t   s 2 F  s   sf  0   f   0  ,

e de forma geral

 
 f    t   s n F  s   s n1 f   0   s n2 f   0     f    0  .
n n 1

Demonstração

Vamos provar só as duas primeiras relações, a fórmula geral, o leitor está convidado
a demonstrar usando indução. Para a primeira derivada, considere

  f '  t    f '  t  e st dt
0



  f  t  e  st      s  f  t  e st dt
 0
0


 s  f  t  e  st  f  0 
0

 sF  s   f  0  .� �

358 Transformadas Integrais


Para provar a transformada para f   t  , podemos usar a fórmula que acabamos de
provar. Assim, temos

  f ''  t   s  f '  t   f   0 

 s  sF  s   f  0    f   0 

 s 2 F  s   sf  0   f   0  .

Fica claro que para mostrar a fórmula geral, basta aplicar a fórmula da derivada
recursivamente.

Proposição 2
Seja f  t  integrável, tal que e g  t   0 quando t → 0, então a transformada
 st


de g  t    f  t  d t é dada por
0

 t  1
  f  t  d t   F  s  .
 0  s

Demonstração

Seja g  t    f  t  d t . Então
0


  g  t    g  t  e st dt
0

 e st g  t   1

   g '  t  e dt
 st
 
 s  0 s 0


1
  f  t  e st dt
s0

1
 F  s  ,�
s

pois g  0   0, e g  t   0 e g '  t   f  t  , pelo teorema fundamental do cálculo.


 st

UNIDADE IX 359
De posse dessas duas proposições, somos capazes de encontrar a transformada de
algumas funções que ainda não encontramos e ainda usar a transformada de Laplace
para encontrar a solução de problemas de valor inicial.

5 EXEMPLO a) Calculamos, no Tópico 1, a transformada da função cos  bt  e usando a pro-


posição 1, podemos encontrar facilmente a transformada da função seno, pois

1
 sen  bt     (cos  bt ) '
b
1
   s cos  bt   cos  0  
b

1 s2 1
 2 2 
b s b b
b
 .
s 2  b2

b) No Tópico 1, calculamos também a transformada da função senh  bt , pode-


mos achar a transformada da função cosh  bt  usando a proposição 2, por
exemplo. Temos que
t
b senh  bt  d t  cosh  bt   1,
0

isto é,
t
cosh  bt   b senh  bt  d t  1.
0

Calculando a transformada de Laplace usando a proposição 2 e a linearidade,


temos

 t 
 cosh  bt    b senh  bt  d t  1
 0 
 t 
 b  senh  bt  d t    1
 0 

360 Transformadas Integrais


1 b2 1
 2 2

s s b s

1 b2 1 s 2  b2
 
s s 2  b2 s s 2  b2

1 s2

s s 2  b2

s
 .
s 2  b2

Vamos, agora, usar a transformada para resolver problemas de valor inicial


de várias ordens diferentes.

6 EXEMPLO Vamos considerar a equação de primeira ordem

y ' 2 y  3t

sujeita a condição inicial y  0   1. Considerando Y  s     y , ao aplicarmos a


transformada de Laplace na equação diferencial, temos

L y ' 2y L 3t

L y' 2L y 3L t

3
sY s y 0 2Y s
s2
3
s 2 Y s 1 pois y 0 1
s2

1 3
Y s   2 .
s  2 s  s  2

Neste ponto, sabemos apenas que  e2t    1


s 2
, mas não sabemos qual função g  t 

3
que transformamos que dá   g  t   . Uma forma de eliminarmos esse
s 2
 s  2
UNIDADE IX 361
3
,
problema é encontrar a decomposição em frações parciais de s 2  s  2  isto é,

queremos encontrar as constantes A, B e C tal que

3 A B C
  2 .
s 2
 s  2 s s s 2

Nós sabemos quais funções tem transformada 1 / s, 1 / s e também 1 /  s  2 . Desta


2

forma, seremos capazes de inverter a transformada e obter a solução do PVI. Para


este caso, temos

A B C As  s  2   B  s  2   Cs 2
  
s s2 s  2 s2  s  2 

s2  A  C   s  B  2 A  2 B
 .
s2  s  2 

Portanto,
2B 3 B 3/2
B 2A 0 A 3 4.
A C 0 C 3/4

Finalmente, temos que

1 3
Y s   2
s  2 s  s  2

1 3/4 3/2 3/4


   2 
s 2 s s s 2

3 3 3
L e2 t L 1 L t L e2 t
4 2 4

7 2t 3 3
L y t L e t .
4 4 2

Portanto, a solução do problema de valor inicial é dado por

7 3 3
y  t   e2 t   t .
4 4 2

362 Transformadas Integrais


7 EXEMPLO Vamos, agora, considerar um PVI não homogêneo com uma equação de segunda
ordem. Seja

y '' 3 y  t 2

com y  0   0 e y '  0   1. Novamente, supondo que Y  s     y  t  ao aplicarmos


a transformada de Laplace na equação diferencial, teremos

  y '' 3 y   t 2 
2
 s 2Y  s   sy  0   y  0   3Y  s  
s3


 s2  3 Y  s   1   2
s3
2 1
 Y s   .

s3 s2  3  2
s 3

Novamente, iremos precisar utilizar o recurso das frações parciais. De imediato, temos
apenas a transformada do seno aparecendo de forma explícita na equação acima. Pois,

3

 sen 3t   2
s 3
.
2
 
Assim, aplicando a decomposição em frações parciais no termo s3 s2  3 , temos
que encontrar os coeficientes A, , E da seguinte decomposição

2 A B C Ds  E
   
s 3
s 2
3  s s2 s3 s2  3


    
As 2 s 2  3  Bs s2  3  C s 2  3   Ds  E  s 3 
s3  s2  3 

s 4  A  D   s 3  B  E   s 2  3 A  C   s  3 B   3C
 .

s3 s2  3 

UNIDADE IX 363
Portanto,

 3C  2  C 2/3
 3B  0  B0
 
3 A  C  0   A  2 / 9 .
 BE 0  E 0
 
 A  D  0  D  2 / 9

Finalmente, temos que

2 1
Y s  

s3 s2  3  s2  3

2 2 2s 1
  3  2
9 s 3s 2

9 s 3 s 3 
2 1 2 1
L 1 L t2 L cos 3t L sen 3t
9 3 9 3

2 1 2 2 1
L y t L t cos 3t sen 3t .
9 3 9 3

Portanto, a solução do problema de valor inicial é dado por

2 1 2 1
y  t     t 2  cos 3t  sen 3t.
9 3 9 3

8 EXEMPLO Podemos usar a transformada para determinar a solução de um sistema massa-mola


sujeito a uma função de forçamento impulsiva. Considere, então, o PVI

y '' 3 y ' 2 y  d  t  1 ,

com y  0   0 e y '  0   0.

364 Transformadas Integrais


Fazendo Y  s     y  t , aplicando a transformada na equação diferencial, temos

  y '' 3 y ' 2 y   d  t  1

 
 s 2  3s  2 Y  s   e  s
s
e
Y s .
s 2 3s 2

Percebendo que s  1 e s  2 são raízes do polinômio de segundo grau


p  s   s 2  3s  2, então

e s
Y s 
 s  1  s  2 
 1 1 
 e s   .
 s 1 s  2 
Assim, pela segunda propriedade do deslocamento tratada no tópico anterior, temos que

 1 1 
Y  s   e s   
 s 1 s  2 


  e  u  t  1  e  u  t  1 .
 t 1 2 t 1

Portanto, a solução da equação diferencial é

y  t   e  u  t  1  e  u  t  1 .
 t 1 2 t 1

UNIDADE IX 365
Sistema de
E.D.O.s

Até este momento, o nosso foco para resolver


equações diferenciais estava voltado a equações
escalares, por exemplo, dada a equação diferen-
cial y '  t   y  t   t queríamos encontrar uma

função y :    que satisfaz essa equação.
No entanto, diversos problemas na engenharia
aparecem como sistemas de equações diferenciais.
Um modelo simples que aparece como sistema
de equações diferenciais é o problema da mistura.
Considere dois tanques interligados T1 e T2 ,
como na figura a seguir, em que cada um deles
contém uma mesma quantidade P litros de lí-
quidos diferentes, água pura e água com uma
concentração de sal, por exemplo. Esses líquidos
serão misturados circulando eles através dos ca-
nos que ligam os tanques. Além disso, suponha
que, dentro de cada tanque, o líquido é misturado
continuamente com uma pá, para manter a mis-
tura uniforme. Suponha que o líquido flua do
tanque T1 para o tanque T2 a uma taxa de a litros
por minuto e que do tanque T2 para o tanque T1
a taxa seja de b litros por minuto. Essa circulação
de líquidos entre os tanques vai fazer que a con-

366 Transformadas Integrais


centração de sal entre eles mude com o tempo, estabilizando-se em algum momen-
to, como podemos ver na Figura 5. Considere, então, y1  t  a quantidade de sal em
T1 e y2  t  a quantidade de sal em T2 . A pergunta a se fazer aqui é: quanto tempo
irá demorar para que a concentração de sal entre os tanques seja a mesma?

y(t)
S

y2 (t)
β l/min

T1 α l/min T2 y1 (t)

0
0 t

Figura 5 - Sistema de tanques integrados


Fonte: os autores.

Para encontrar o modelo diferencial desde problema, o nosso trabalho é verificar que
a variação da quantidade de sal em cada tanque é dada da seguinte forma

β α
variação de sal em T1 y1' t entra sai y2 y1
P P
α β
variação de sal em T2 y2 t entra sai y1 y2
P P

com as condições iniciais y1  0   0 e y2  0   S .

Logo, o modelo matemático para o problema da mistura entre dois tanques nos dá
um sistema acoplado de duas equações diferenciais de primeira ordem. É comum
escrevermos o sistema na forma matricial, isto é, considerando o vetor
T
y  t    y1  t  ,� y2  t   e a matriz

 α β 
 P P 
M  ,
 α 
β
 P P 

então, o sistema pode ser escrito na forma compacta

y '  t   My  t  .

UNIDADE IX 367
Nos exemplos a seguir, iremos apresentar duas formas distintas de resolver um sistema
de equações de primeira ordem. No primeiro exemplo, usaremos aspectos da álgebra
linear, autovalores e autovetores, enquanto no segundo exemplo utilizaremos apenas
a transformada de Laplace para determinar a solução.

9 EXEMPLO Considere o sistema de equações diferenciais

y  2 y  z

z '  y  2z

sujeito às condições iniciais y  0   0 e z  0   1. Faremos esse exemplo de duas for-


mas. Primeiro iremos encontrar a solução usando a abordagem dos autovalores e, em
seguida, usaremos a abordagem da transformada de Laplace. Você deverá escolher
aquela em que se sente mais confortável.
a) Nosso primeiro passo é escrever o sistema de EDOs na forma matricial. Desta
forma, teremos,

d  y  2 1  y 
 ,
dt  z  1 2   z 

ou na forma compacta

d
x = Mx ,
dt
T
em que x  t    y  t  ,� z  t   e

2 1
M  .
1 2 

Para sermos capazes de desacoplar esse sistema, e então obtermos duas equa-
ções de primeira ordem independentes, é preciso determinar os autovalores
e autovetores da matriz M , isto é, precisamos encontrar l e r ≠ 0 tal que

2 1
1 r  lr.
 2 

As soluções não triviais desse sistema acontecem quando det  M  l I   0,

isto é,

368 Transformadas Integrais


2 l 1
0
1 2  l

  2  l  2  l   1  0


  4  l2 �  1  0
 l2  3  0

 l   3.

Portanto, os autovalores dessa matriz são l   3. Para encontrarmos os


autovetores, começamos fazendo l1 = 3 . Temos, então,

2  3 1 a 
   0
 1 2  3   b 


 a 2 3 b  0 
b  a 2 3 .  
Logo, o autovetor r1 associado ao autovalor l1 é igual a r1  1, 2  3  . Para
o autovalor l2   3 , é fácil ver que o autovetor associador é dado por
r2  1, 2  3  . Considere, agora, a matriz P� formada pelos autovetores r1 e

r2 na forma
 1 1 
P   r1 r2    .
2  3 2  3

Da álgebra linear, sabemos que a matriz M é semelhante a uma matriz dia-


1
gonal D formada pelos autovalores da matriz M , isto é, M  PDP . Assim,
substituindo essa matriz na equação diferencial, teremos
d
x  PDP 1 x
dt


d
dt
  
P 1 x  D P 1 x 
d
 w  Dw,
dt
UNIDADE IX 369
T
em que w  t   P 1 x  α  t  , β  t   . Desta forma, temos um sistema de-
sacoplado na forma

d α   3 0  α 
=  
dt  β   0 − 3   β 

 α ' = 3α
⇒
β ' = − 3β

 α ( t ) = k e 3t
 1
⇒ .
β ( t ) = k2e − 3t

Essa é “quase” a solução! É quase, pois queremos a solução x   y, z T e não


T
w  P 1 x  α, β  .. No entanto, esse problema é fácil de resolver. Como
w  P 1 x, então, claramente, x = Pw. Nosso trabalho, agora, é apenas mul-
tiplicar a matriz P pelo vetor w encontrado, e teremos

x  Pw 

 y  1 1   k1e 3t 
z    
  2  3 2  3   k e 3t 
 2 

3t 3t
 k1r1e  k2 r2 e  .

Finalmente, o que nos resta é determinar as constantes k1 e k2 usando as


condicões iniciais. Substituindo t = 0, temos

x  0   k1r1  k2 r2

 0  k1  k2

 
1  2  3 k1  2  3 k2  
 3
k1  
 6
 .
k  3
 2 6

370 Transformadas Integrais


Portanto, a solução do sistema de equações diferenciais é dado por

3 3 
x t    r1e 3t
 r2e 3t
,
6 6

em que r1 e r2 são os autovetores da matriz M .

Este método, apesar de elegante, é muito trabalhoso. São necessários vários


passos para encontrarmos a solução do problema de valor inicial. Então,
vamos à nossa segunda abordagem que é usando a transformada de Laplace.
b) Considere Y  s     y  t  e Z  s     z  t  . Ao aplicarmos a transfor-
mada de Laplace no sistema
y  2 y  z
z '  y  2z

teremos de imediato

  y   2 y  z

  z     y  2 z

sY  s   y  0   2Y  s   Z  s 

sZ  s   z  0   Y  s   2 Z  s 

 s  2Y  s   Z  s   0
.
Y  s    s  2  Z  s   1

Se isolarmos Z  s  na primeira equação e substituirmos na segunda, teremos

Y  s    s  2   s  2  Y  s   1


 Y  s  3  s2  1 
1
Y s 2
.
s 3

1
Nós já sabemos qual função y  t  transformada dá Y  s    s2  3 . Se olhar-
mos a tabela de transformada que construímos até agora, veremos que

Y s  
1
3
  3t .
 senh

UNIDADE IX 371
Além disso, como

Z  s     s  2Y  s 

s 2 s 2
 Z s  2
 2
 2
s 3 s 3 s 3

  3t   23 senh  3t .
 Z  s    cosh

Portanto, temos que a solução do problema de valor inicial é dado por

1 3  3
y t   
3
senh  3t   6
e 3t

6
e 3t

2
z  t   cosh  3t   3
senh  3t    63 2  3  e 3t  63 2  3  e 3t .
Você pode comparar as soluções encontradas aqui, usando apenas proprie-
dades das matrizes. Não é preciso dizer que usar a transformada de Laplace
é um método muito mais prático para encontrar a solução de um sistema de
EDOs de primeira ordem. Veremos, no próximo exemplo, que esse método
da transformada de Laplace é também muito prático mesmo quando temos
um sistema de EDOs não homogêneo.

10 EXEMPLO Considere o sistema não homogêneo de EDOs de primeira ordem

y  y  z  t z '   y  3 z

sujeito às condições iniciais y  0   1 e z  0   1.


Podemos proceder como exemplo anterior e usar os dois métodos para resolver o
PVI. No entanto, ficou claro que é muito mais prático usar a transformada de Laplace
para resolver o problema. Desta forma, vamos aplicar a transformada em ambas as
equações para obter
L y L y z t
L z L y 3z

sY ( s ) − y ( 0 ) = Y ( s ) + Z ( s ) + 1 / s2

sZ ( s ) − z ( 0 ) = −Y ( s ) + 3Z ( s )

( s − 1) Y ( s ) − Z ( s ) = 1 + 1 / s2 .

Y ( s ) + ( s − 3) Z ( s ) = 1

372 Transformadas Integrais


Neste ponto, parece ser uma boa alternativa isolar Y  s  na segunda equação e subs-
tituir na primeira. Assim, obteremos

1
 s  1 1   s  3  Z  s    Z  s   1 
s2

 
  s  1  s2  4 s  3 Z  s   Z  s   1 
1
s2


  s2  4 s  4 Z  s   1  1
s2
  s  1

2 1
  s  2 Z  s    s  2 
s2
1 1
 Z s   .
 s  2  s  s  2 2
2

Aqui, faz-se necessário encontrar a decomposição em frações parciais da transfor-


mada de z  t . Queremos encontrar as constantes A, , D tais que

1 A B C D
2
  2 
s2  s  2  s s s  2  s  2 2

2 2
As  s  2   B  s  2   Cs 2  s  2   Ds2
 2
s2  s  2 


    
A s3  4 s 2  4 s  B s2  4 s  4  C s3  2 s 2  Ds 2  .
2
s2  s  2 

Comparando o lado direito e o lado esquerdo da equação, chegamos no seguinte


sistema linear

 1
C   4
 AC  0 
1
4 A  B  2C  D  0  D 
  4
  .
 4 A  4 B  0  A 1
 4B  1  4
 1
 B
 4

UNIDADE IX 373
Portanto,

1 1
Z s  
 s  2  s2  s  2 2
1 1 1 1 1
   2 
 s  2  4 s 4 s 4  s  2  4  s  2 2
 1 t 5 1 
     e2t  te2t  ,
 4 4 4 4 

d
lembrando que  tf  t     f  t . Logo, temos que
ds

1 t 5 1
z  t      e2t  te2t .
4 4 4 4

Para encontrar y  t , basta notar que usamos

Y  s   1   s  3 Z  s 

 1 1 5 1 
 1   s  3    2   .
 4s 4s 4  s  2  4  s  2 2 
 

Rearranjando os termos, temos que

1 3 3 1
Y s    2 
2� s 4 � s 2  s  2  4  s  2 2

1 3t 3 2t 1 2t
L e te .
2 4 2 4

Finalmente, temos que a solução do sistema de equações é

1 3t 3 1
y  t      e2t  te2t
2 4 2 4
1 t 5 1
z  t      e2t  te2t .
4 4 4 4

374 Transformadas Integrais


Convolução

Em vários momentos nas seções anteriores, de-


paramo-nos com a necessidade de inverter uma
transformada na forma

H  s   F  s   G  s .

Nos exemplos trabalhados anteriormente, resol-


vemos o problema de inverter o produto acima
usando a decomposição em frações parciais, pois
após realizada a decomposição, poderíamos re-
correr a uma tabela de transformadas e, enfim,
encontrar a solução h  t    H  s . O pro-
1

blema é que pode acontecer de não sermos capazes


de encontrar a decomposição em frações parciais
do produto em questão. Desta forma, uma ma-
neira de resolver o problema é usando a integral
de convolução, que iremos definir logo a seguir.

UNIDADE IX 375
2. DEFINIÇÃO

Sejam f  t  e g  t  seccionalmente contínuas, a integral


t
h t    f t  t  g  t  d t
0

é chamada de convolução de f e g e denotamos a função h  t    f * g  t  .

A convolução possui propriedades interessantes e pode ser pensada como se fosse


de fato uma multiplicação ordinária. Ela, inclusive, possui algumas propriedades
em comum com a multiplicação ordinária entre dois números, por exemplo, vale a
comutatividade, isto é,
f *g = g* f ,

que pode ser facilmente provado realizando uma mudança de variáveis na integral
que define a convolução. Ela também é associativa

f *  g * h    f * g  * h.

E possui a propriedade da distributividade como a multiplicação usual, ou seja,

f *  g  h   f * g  f * h,

que é uma propriedade que vem da linearidade da integral. No entanto, a função


unitária g  t   1 não é elemento neutro da convolução. Por exemplo. Supondo que
f  t   t 3 , então

t
3
 f * g  t     t  t  �1d t
0

t
 
  t 3  3t t 2  3t 2t  t 3 d t
0

t
 3 t4 
  t 3 t  t 2 t 2  t 3t  
 2 4 
0

t4
= .
4

376 Transformadas Integrais


Portanto, neste caso, vemos que f 1 ≠ f e, consequentemente, a convolução não
tem a função unitária como elemento neutro.

No entanto, a propriedade mais interessante da convolução e que será de grande valia


para nós é a que vem a seguir em forma de proposição. Ela afirma que a transformada
de uma convolução corresponde ao produto das transformadas. Desta forma, seremos
capazes de lidar com transformadas que surgem como funções que não podem ser
decompostas usando frações parciais.

1 TEOREMA Sejam f  t  e g  t  funções seccionalmente contínuas. Então,

  f * g  t     f  t     g  t .

Demonstração

A demonstração desse teorema utiliza a integração dupla e uma mudança de ordem


de integração na integral dupla. Desta forma, considere a transformada da convolução


  f * g  t     f * g  t  e  st dt
0

 t 
    f  t  t  g  t  d t  � e st dt
 
00 

 t 
    f  t  t  g  t  d t  e  st dt.
 
00 

A nossa região de integração na integral dupla acima pode ser vista na figura a seguir.
Algebricamente, podemos escrever essa região como sendo


R   t , t   2 : 0  t  t , t  0,   .

UNIDADE IX 377
τ

τ=t

t=τ t ∞

τ=0 t

Desta forma, fazendo a mudança na ordem de integração considerando a região dada


na figura acima, temos que ela pode ser reescrita na forma R   t , t   2 : t  t , t  0,  .
Assim, a transformada do produto de convolução pode ser reescrita como

 
  f * g  t      f  t  t  e st dt  g  t  d t
 
0t 

 
    f  w  e   dw  g  t  d t
 s w t
 
00 

 
    f  w  e sw dw  g  t  e  st d t
 
00 

  
   f  w  e sw dw    g  t  e st d t 
  
0  0 

   f  t     g  t .�

Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo.


Para acessar, use seu leitor de QR Code.

378 Transformadas Integrais


11 EXEMPLO Vamos começar com um exemplo simples que é inverter a seguinte transformada

1
H s  .
s 2
 s  1
Podemos resolver esse problema sem grandes dificuldades, utilizando o método das
frações parciais, mas aqui utilizaremos a convolução. Claramente, podemos ver que
função H  s  dada corresponde ao produto

1 1
H s  2

s s 1

em que
1 t 1
L t e L e
s2 s 1

Pelo teorema apresentado, temos que a função h  t  tal que  h  t   H  s  é dada


−t
pela convolução entre as funções t e e . Isto é,

h  t   t * e t

t
   t  t  et d t
0

t t
 t e d t  t et d t
t

0 0

t
t
 t et   t et d t .
 0
0

Para resolver a integral mais à direita, iremos precisar utilizar a integração por partes.
t
Neste caso, escolhendo f   e e g = t temos que
t
t
h  t   t et   t et d t
 0
0

t
 
t
 t e t  1   t e t   e t d t
 0
0

 t  et  1.

UNIDADE IX 379
12 EXEMPLO Podemos usar a integral de convolução para encontrar a inversa da seguinte trans-
formada

1
H s  .
 s  1
2 2

Podemos perceber que a função H  s  dada corresponde ao produto

1 1
H s  2
 2
s 1 s 1

em que

1
 sen  t   .
s2  1

Neste caso, é possível encontrar a inversa usando frações parciais. No entanto, vamos
utilizar a convolução. Pela proposição dada, temos que a função h  t  é dada por

h  t   sen  t  * sen  t 

t
 sen  t  t  sen  t  d t
0

t
   sen  t  cos  t   cos  t  sen  t   sen  t  d t
0

t t
 sen  t  sen  t  cos  t  d t  cos  t  sen2  t  d t
0 0

t t
1  cos  2t    t sen  2t  
 sen  t      cos  t    
2  2 0 2 4 0

1 1 sen 2t
sen t 1 os 2t cos t t
4 2 2

1 1 t
 sen  2t  t   sen  t   cos  t 
4 4 2

1
  sen  t   t cos  t   .
2

380 Transformadas Integrais


13 EXEMPLO Um aspecto interessante da convolução é que ela nos permite resolver um proble-
ma de valor inicial mesmo quando temos funções desconhecidas no problema. Por
exemplo, considere o PVI dado pela equação de segunda ordem

y '' 2 y ' y  g  t 

com y  0   1 e y '  0   0. Usando a convolução, poderemos encontrar a solução


para esse PVI mesmo sem saber quem é a função não homogênea g  t . Considere
Y  s     y  t  e G  s     g  t , então aplicando a transformada na equação
diferencial, temos

  y '' 2 y ' y    g  t 

 s 2Y  s   sy  0   y  0   2 sY  s   2 y  0   Y  s   G  s 

 
 s2  2s  1 Y  s   s  2  G  s 

2
  s  1 Y  s   1   s  1  G  s 

1 1 G s
 Y s    .
s  1  s  12  s  12

Recorde que  et    1


s 1
. Além disso, temos que o segundo termo que aparece em

1 d  1  d
Y s tem a forma
 s  1 2
 
ds  s  1   
 . Lembrando que  tf  t   
ds
 
 f t  ,

então
1
2
 s  1
 
  te t .

Finalmente, podemos escrever a solução do PVI em função de g  t , como sendo

 
y  t   et  tet  te t * g  t 

t
 et  tet  t e t g  t  t  d t .
0

UNIDADE IX 381
Caso seja decidido qual será o termo homogêneo, basta resolver a integral para en-
contrar a solução final da equação diferencial.
Vemos que o método de encontrar a inversa da transformada utilizando a convo-
lução pode ser um pouco mais trabalhoso que o método utilizando a decomposição
em frações parciais. No entanto, é um método importante que nos permite uma
alternativa para solução de problemas de valor inicial utilizando a transformada de
Laplace. No mais, a convolução é muito importante para as engenharias, em particular
para as engenharias elétrica e eletrônica. Muito da teoria do processamento de sinais
está relacionada com o teorema da convolução e muitas implementações práticas do
processamento de sinais também se relaciona com esse teorema.
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Calcule a transformada de Laplace da função

f  t   et cos 2t.

2. Calcule a transformada inversa de Laplace da função

2  e s
F s  .
s2

3. Calcule a transformada da equação y '' 3 y ' y  1 sujeita às condições iniciais

y  0   1 e y '  0   0 .

4. Encontre a solução do problema de valor inicial dado pelo sistema

dy
 yz
dt
dz
 yz
dt

com y 0  0 e z 0  1 .

5. Determine a solução do problema de valor inicial

1
y  y  d  t  1 ,
2

com y  0   0.

383
WEB

Existem diversos tipos de transformadas integrais que podem ser utilizadas para
resolver problemas de valor inicial. A seguir, temos uma aula sobre a transfor-
mada de Fourier. Ela é muito importante para a engenharia e vale a pena dar
uma olhada.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

384
BOYCE, W.; DIPRIMA, R. Equações Diferenciais e Problemas de Valores de Contorno. 9. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 2012.

FIGUEIREDO, D.; NEVES, A. Equações Diferenciais Aplicadas. 3. ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2014.

KREYSZIG, E. Matemática Superior para Engenharia. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009.

ZILL, D. Equações diferenciais com aplicações em modelagem. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011.

385
1. Sabendo que a transformada de Laplace do cos  2t  é

s
 cos  2t   ,
s2  4
então podemos usar a propriedade do deslocamento

 
 eat f  t   F  s  a  .

Assim, a transformada de f  t   et cos 2t é dada por

 s   1 

 et cos 2t  
 s   1 2  4
s 1
 .
 s  12  4

2. A transformada pode ser reescrita como

2  e s
F s 
s2

2 e s
  .
s2 s2
Usando a propriedade do deslocamento

 u  t  a  f  t  a   e as   f  t 

então

2 e s
   2t   u  t  1  t  1 ,
s2 s2
pois 1 . Portanto, a função f (t ) é dada por f  t   2t  u  t  1  t  1 .
 t  2
s

386
3. Fazendo   y  t   F  s  , então a transformada das derivadas são dadas por

  y '  sF  s   y  0   sF  s   1

  y ''  s 2 F  s   sy  0   y  0   s2 F  s   s.

Aplicando a transformada na equação, obtemos

  y  3  y    y   1

1
 s 2 F  s   s  3  sF  s   1  F  s  
s

 
 F  s  s 2  3s  1  s  3 
1
s
1 s3
 F s   .
 2
s s  3s  1  s 2  3s  1

4. Aplicando a transformada de Laplace nas equações, temos

sY  s   Y  s   Z  s 

sZ  s   1  Y  s   Z  s  .

Rearranjando o sistema linear, temos

 s  1 Y  s   Z  s   0
Y  s    s  1 Z  s   1
que pode ser escrito na forma matricial

s  1 1  Y  s   0 
 1  
 s  1  Z  s   1 

387
Para encontrarmos a solução devemos calcular a inversa da matriz à esquerda que chamaremos de M . Primei-
ro calculamos o determinante da matriz M que é dado por

2
det  M    s  1   1

2
  s  1  1.
A inversa da matriz M é dada por

1 s 1 1 
M 1 
det  M   1 s  1
.

Assim, a solução do sistema linear é dado por

 s 1 1 
 2
 2 
Y  s     s  1  1  s  1  1  0 
   1  
 Z  s   1 s 1
 
2 2
  s  1  1  s  1  1 

1 s −1
Y (s) = − 2
e Z (s ) =
( s − 1) +1 ( s − 1)2 + 1
Portanto, conforme podemos ver na tabela, y  t   et � sen  t  e z  t   et cos  t  .

388
5. Considere   y  t   Y  s , então aplicando a transformada de Laplace na equação diferencial, temos

1
  y '    y   d  t  1
2

1
 sY  s   Y  s   e  s
2

 1
  s   Y  s   e s
 2

e s
 Y s  .
1
s
2

6. Lembrando a propriedade do deslocamento

 u  t  a  f  t  a   e as   f (t ) ,

temos que

 t 1 

Y  s    u  t  1 e 2  ,
 

conforme podemos ver na tabela. Portanto, a solução do problema de valor inicial é

t 1
y  t   u  t  1 e2 .

389
390
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CONCLUSÃO

Chegamos ao fim do conteúdo relacionado à disciplina de Cálculo Diferencial


e Integral 2. Esta disciplina foi dividida em duas partes bem determinadas. A
primeira parte surge como uma continuação natural do Cálculo 1, enquanto a
segunda traz novos conceitos relacionados às equações diferenciais ordinárias.
Foram estudados, na primeira metade deste curso, os conceitos das integrais
múltiplas, aplicações das integrais múltiplas, integrais em campos vetoriais e
integrais em superfícies. Todas essas distintas formas de se integrar funções de
mais de uma variável são fundamentais para o desenvolvimento das ciências
aplicadas como física, biologia e engenharia. Neste contexto, vimos exemplos
práticos em que essas teorias de integração estão relacionadas não só à ciência
como também ao esporte.
Por outro lado, estudamos as soluções de diversos casos de equações diferen-
ciais ordinárias. Elas aparecem naturalmente em diversos problemas da física
e engenharia. Muitas delas surgem, por exemplo, em virtude da segunda lei
de Newton e tem como objetivo prever o comportamento dinâmico de uma
determinada quantidade em função do tempo. Neste sentido, foi fundamental
estudar a base das equações diferenciais de primeira e segunda ordem, con-
siderando tanto coeficientes constantes quanto variáveis.
Todos esses conceitos e assuntos estudados neste curso de cálculo formam a
base de um bom curso de exatas e serão muito importantes nas disciplinas
de física e engenharia estudadas ao longo da graduação. Você verá, futura-
mente, nos seus estudos, que os teoremas de Green, Stokes e Gauss serão
fundamentais no estudo de mecânica dos fluidos, por exemplo. Assim como
a transformada de Laplace será muito útil na análise de um circuito elétrico.
Esperamos que você tenha aproveitado ao máximo toda essa viagem que foi
o Cálculo Diferencial e Integral conosco. Agora que os cursos chegaram ao
fim, não deixe de se manter atualizado e praticando sempre que possível os
conceitos estudados. Eles ainda lhe ajudarão muito na longa caminhada do
seu curso superior. Desejamos o melhor e muito sucesso!

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