Direito Processual Civil STJ
Direito Processual Civil STJ
Pontos atualizados: nº 12 (Info 655); nº 28 (Info 655); nº 43 (Info 655); nº 12 (Info 656); nº 28
(Info 656); nº 34 (Info 656); nº 43 (Info 656 – 2 julgados); nº 11 (Info 657); nº 25 (Info 658); nº 26
(Info 658); nº 28 (Info 658 – 2 julgados); nº 28 (Info 659 – 2 julgados); nº 22 (Info 637 e Info 660)
nº 43 (Info 660 – 3 julgados); nº 43 (Info 676)
1. PRINCÍPIOS
1.1. FUNDAMENTAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS: Análise do art. 489, § 1º, IV, do
CPC/2015 – (Info 585) – IMPORTANTE!!!
O julgador não está obrigado a responder a todas as questões suscitadas pelas partes, quando já
tenha encontrado motivo suficiente para proferir a decisão.
O julgador possui o dever de enfrentar apenas as questões capazes de infirmar (enfraquecer) a
conclusão adotada na decisão recorrida. Essa é a interpretação que se extrai do art. 489, § 1º, IV,
do CPC/2015.
Assim, mesmo após a vigência do CPC/2015, não cabem embargos de declaração contra a
decisão que não se pronunciou sobre determinado argumento que era incapaz de infirmar a
conclusão adotada.
STJ. 1ª Seção. EDcl no MS 21.315-DF, Rel. Min. Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF
da 3ª Região), j. 8/6/16 (Info 585).
OBS:
Fundamentação das decisões judiciais: O § 1º do art. 489 do CPC 2015 traz importantes regras
sobre a fundamentação da decisão judicial:
Art. 489 (...)
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,
sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua
relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua
incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela
parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do
entendimento.
Vejamos agora um julgado envolvendo o inciso IV. Imagine a seguinte situação hipotética
(diferente do caso concreto apreciado pelo STJ): João propôs ação de cobrança contra Pedro. O juiz
extinguiu o processo com resolução do mérito, nos termos do art. 487, II, do CPC/2015, por
reconhecer que a pretensão do autor estava prescrita. Além disso, o magistrado afirmou que
estava provado que Pedro já pagou o débito, não havendo, portanto, mais qualquer dívida. O
autor não se conformou e interpôs apelação. O Tribunal manteve a sentença, mas se manifestou
apenas sobre a prescrição, reconhecendo que ela estava presente no caso concreto. O acórdão nada
falou sobre o pagamento da dívida que foi reconhecido pelo juiz de 1º grau e questionado por João
no recurso. Diante disso, o autor apresentou embargos de declaração alegando que o acórdão do
Tribunal foi omisso porque não se pronunciou sobre o seu argumento de que o débito ainda não
foi pago e que, portanto, a dívida ainda existe. Assim, para o embargante, o acórdão violou o
inciso IV do § 1º do art. 489 do CPC/2015:
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,
sentença ou acórdão, que:
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
Os embargos opostos merecem ser acolhidos? Houve omissão do acórdão do Tribunal? O acórdão
do Tribunal contrariou a regra do art. 489, § 1º, IV, do CPC/2015? NÃO. A prescrição é uma causa
de extinção do processo que, sendo reconhecida, faz com que o julgador não examine mais se a
dívida é ou não devida. Logo, no exemplo hipotético, o Tribunal não tinha razão para se
manifestar sobre a discussão se o débito tinha sido ou não pago.
1.2. Boa-fé Objetiva e a “nulidade a algibeira: Nulidade da decisão do relator que julga o
agravo de instrumento a favor do agravante sem ouvir o agravado – (Info 539) – (MPMS-2015)
A "nulidade de algibeira" ocorre quando a parte se vale da “estratégia” de não alegar a nulidade
logo depois de ela ter ocorrido, mas apenas em um momento posterior, se as suas outras teses
não conseguirem ter êxito. Dessa forma, a parte fica com um trunfo, com uma “carta na manga”,
escondida, para ser utilizada mais a frente, como um último artifício.
Esse nome foi cunhado pelo falecido Ministro do STJ Humberto Gomes de Barros. Algibeira =
bolso. Assim, a “nulidade de algibeira” é aquela que a parte guarda no bolso (na algibeira) para
ser utilizada quando ela quiser.
Tal postura viola claramente a boa-fé processual e a lealdade, que são deveres das partes e de
todos aqueles que participam do processo. Por essa razão, a “nulidade de algibeira” é rechaçada
pela jurisprudência do STJ.
STJ. 3ª Turma. REsp 1372802-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 11/3/14 (Info 539).
2. CURADOR ESPECIAL
2.1. O recurso interposto pela Defensoria, na qualidade de curadora especial, não precisa de
preparo – (Info 641) – IMPORTANTE!!!
2.2. Curador especial pode apresentar reconvenção – (Info 613) – IMPORTANTE!!! – (Anal.
Judic./TRF1-2017)
O curador especial tem legitimidade para propor reconvenção em favor do réu citado por edital,
cujos interesses está defendendo.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.088.068-MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 29/8/17 (Info 613).
OBS:
Curador especial: O CPC prevê que, em determinadas situações, o juiz terá que nomear um
curador especial que irá defender, no processo civil, os interesses do réu. O curador especial
também é chamado de curador à lide.
Hipóteses em que será nomeado curador especial: Estão previstas no art. 72 do CPC. São quatro
situações:
a) Quando o réu for incapaz e não tiver representante legal;
b) Quando o réu for incapaz e tiver representante legal, mas os interesses deste (representante)
colidirem com os interesses daquele (incapaz);
c) Quando o réu estiver preso;
d) Quando o réu tiver sido citado por edital ou com hora certa, enquanto não for constituído
advogado.
Quais são os poderes do curador especial? O que ele faz no processo? O curador especial exerce
um múnus público. Sua função é a de defender o réu em juízo naquele processo. Possui os
mesmos poderes processuais que uma “parte”, podendo oferecer as diversas defesas
(contestação, exceção, impugnação etc.), produzir provas e interpor recursos. Por óbvio, o
curador especial não pode dispor do direito do réu (não pode, por exemplo, reconhecer a
procedência do pedido), sendo nulo qualquer ato nesse sentido. Vale ressaltar que, ao fazer a
defesa do réu, o curador especial pode apresentar uma defesa geral (“contestação por negação
geral”), não se aplicando a ele o ônus da impugnação especificada dos fatos (§ único, art. 341 do
CPC). Desse modo, o curador especial não tem o ônus de impugnar pontualmente (de forma
individualizada) cada fato alegado pelo autor.
O curador especial pode apresentar reconvenção? SIM. Como já dito, o curador nomeado tem
como função precípua defender o réu nas hipóteses legais. Por “defesa”, deve-se entender isso de
forma ampla, incluindo também a possibilidade de propor reconvenção. Tal orientação é a que
melhor se coaduna com o direito ao contraditório e à ampla defesa. A doutrina vai além e afirma
que o curador especial pode também propor ações autônomas de impugnação, a exemplo do
mandado de segurança contra ato judicial.
Este art. 72 é aplicável apenas ao processo (fase) de conhecimento? NÃO. O art. 72 deve ser
aplicado em qualquer processo, inclusive no caso de execução.
Súmula 196-STJ: Ao executado que, citado por edital ou por hora certa, permanecer
revel, será nomeado curador especial, com legitimidade para apresentação de
embargos.
O que essa função de curador especial tem a ver com a Defensoria Pública? A Lei Orgânica da
Defensoria Pública (LC 80/94) estabelece o seguinte:
Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:
XVI – exercer a curadoria especial nos casos previstos em lei;
Desse modo, o múnus público de curador especial de que trata o art. 72 do CPC deve ser
exercido pelo Defensor Público. O CPC/2015 afirmou isso expressamente:
Art. 72 (...)
Parágrafo único. A curatela especial será exercida pela Defensoria Pública, nos
termos da lei.
Quando o Defensor Público atua como “curador especial”, ele terá direito de receber honorários?
NÃO. O Defensor Público não faz jus ao recebimento de honorários pelo exercício da curatela
especial por estar no exercício das suas funções institucionais, para o que já é remunerado
mediante o subsídio em parcela única. STJ. Corte Especial. REsp 1.201.674-SP, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, j. 6/6/2012.
Desse modo, apenas para que fique claro, o que se está dizendo é que o Defensor Público que atua
como curador especial não tem que receber honorários para atuar neste múnus público,
considerando que já se trata de uma de suas atribuições previstas em lei.
2.3. Quando o Defensor Público atua como “curador especial”, ele terá direito de receber
honorários? – (SEM INFO) – (DPEMT-2016)
O Defensor Público não faz jus ao recebimento de honorários pelo exercício da curatela
especial por estar no exercício das suas funções institucionais, para o que já é remunerado
mediante o subsídio em parcela única.
STJ. Corte Especial. REsp 1.201.674-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 6/6/2012.
(DPEMT-2016-UFMT): O Defensor Público não faz jus ao recebimento de honorários pelo
múnus de curador especial, por estar no exercício das suas funções institucionais, para o que já
é remunerado mediante o subsídio em parcela única.
3. DEPOSITÁRIO JUDICIAL
3.1. Possibilidade de o depositário judicial exercer direito de retenção – (Info 578)
O particular que aceita exercer o múnus público de depositário judicial tem o direito de reter o
depósito até que sejam ressarcidas as despesas com armazenagem e conservação do bem
guardado e pagos os seus honorários.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.300.584-MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 3/3/16 (Info 578).
4. AÇÃO DEMOLITÓRIA
4.1. Litisconsórcio passivo necessário em ação demolitória – (Info 565)
Na hipótese de ser proposta ação real imobiliária, o CPC determina que haja a citação não
apenas do réu, mas também de seu cônjuge. Confira:
CPC-1973: Art. 10. (...) § 1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para as
ações: I - que versem sobre direitos reais imobiliários;
CPC 2015: Art. 73 (...) § 1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a
ação: I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de
separação absoluta de bens;
Como a ação de nunciação de obra nova e de ação demolitória, são ações reais imobiliárias, o
réu que for casado deverá ser citado, salvo se, nos termos do novo CPC, o regime de bens for da
separação absoluta (art. 73, § 1º, I, do CPC 2015).
Assim, nos casos de ação de nunciação de obra nova e a ação demolitória haverá litisconsórcio
passivo necessário entre o proprietário do imóvel e seu cônjuge, salvo se eles forem casados sob
o regime de separação absoluta de bens, situação na qual somente será réu o proprietário do
bem.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.374.593-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 5/3/2015 (Info 565).
5. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ
5.1. Para a aplicação da multa por litigância de má-fé não se exige a comprovação de dano –
(Info 601) – IMPORTANTE!!!
O dano processual não é pressuposto para a aplicação da multa por litigância de má-fé prevista
no art. 18 do CPC/1973 (art. 81 do CPC/2015). Trata-se de mera sanção processual, aplicável
inclusive de ofício, e que não tem por finalidade indenizar a parte adversa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.065-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. p/acórdão Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, j. 21/2/2017 (Info 601).
OBS: Para o STJ, uma vez reconhecida a litigância de má-fé, devem ser impostas a multa e a
indenização (perdas e danos), sendo, no entanto, DESNECESSÁRIA a prova do prejuízo sofrido
pela parte adversa. A Corte entende que, em momento algum, o art. 18, caput e § 2º do CPC/1973
(art. 81, caput e § 3º do CPC/2015) exigem que haja prova do prejuízo para que a indenização seja
fixada. Segundo pensa o STJ, para a fixação da indenização, a lei só exige que haja um prejuízo,
mas este pode ser potencial ou presumido (não precisando ser demonstrado em concreto). Outro
argumento do STJ é o de que se fosse exigida comprovação de prejuízo, essa demonstração seria
extremamente difícil de ser feita, o que praticamente impossibilitaria a aplicação de tais sanções,
comprometendo a sua eficácia.
5.2. Para a indenização decorrente de litigância de má-fé não é necessária prova do prejuízo –
(Info 565)
A indenização prevista no art. 18, caput e § 2º, do CPC/73 (art. 81, caput e § 3º do CPC/15) tem
caráter reparatório (ou indenizatório), decorrendo de um ato ilícito processual.
Apesar disso, é desnecessária a comprovação do prejuízo para que haja condenação ao
pagamento da indenização prevista nesse dispositivo.
Em outras palavras, é desnecessária a comprovação de prejuízo para que haja condenação ao
pagamento de indenização por litigância de má-fé (art. 18, caput e § 2º, do CPC/73; art. 81, caput
e § 3º do CPC/15).
STJ. Corte Especial. EREsp 1.133.262-ES, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 3/6/15 (Info 565).
Realizado pelo devedor o depósito da dívida para a garantia do juízo, cessa sua
responsabilidade pela incidência de correção monetária e de juros relativamente ao valor
depositado, passando a instituição financeira depositária a responder pela atualização
monetária, a título de conservação da coisa, e pelos juros remuneratórios, a título de frutos e
acréscimos, sendo indevida a incidência de novos juros moratórios, exceto se a instituição
financeira depositária recusar-se ou demorar injustificadamente na restituição integral do valor
depositado.
STJ. 4ª T. AgInt nos EDcl no REsp 1460908-PE, Rel. Min. Raul Araújo, j. 4/6/19 (Info 653).
A sentença, como ato processual que qualifica o nascedouro do direito à percepção dos
honorários advocatícios, deve ser considerada o marco temporal para a aplicação das regras
fixadas pelo CPC/2015.
Assim, nos casos de sentença proferida a partir do dia 18/3/16, deverão ser utilizadas as normas
do novo CPC relativas aos honorários sucumbenciais.
Isso se dá em homenagem à natureza híbrida dos honorários (processual e material) e também
tem por objetivo preservar os princípios do direito adquirido, da segurança jurídica e da não
surpresa, de sorte que as normas sobre honorários advocatícios de sucumbência não devem ser
alcançadas pela lei processual nova.
STJ. Corte Especial. EAREsp 1255986/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 20/3/19 (Info 648).
6.3. Honorários devem seguir regra objetiva; equidade é critério subsidiário – (Info 645)
Os honorários advocatícios só podem ser fixados com base na equidade de forma subsidiária,
ou seja:
• quando não for possível o arbitramento pela regra geral; ou
• quando for inestimável ou irrisório o valor da causa.
Assim, o juízo de equidade na fixação dos honorários advocatícios somente pode ser utilizado
de forma subsidiária, quando não presente qualquer hipótese prevista no § 2º do art. 85 do
CPC.
STJ. 2ª S. REsp 1746072-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Raul Araújo, j. 13/2/19
(Info 645).
Se a petição inicial é indeferida sem que tenha havido citação ou comparecimento espontâneo
do réu, a sentença não deve condenar o autor ao pagamento de honorários advocatícios
considerando que não há advogado constituído nos autos.
No entanto, se o autor recorre, o réu é intimado, apresenta contrarrazões e o Tribunal confirma
a sentença, então, neste caso, será cabível o arbitramento de honorários em prol do advogado do
réu/vencedor.
Dito de outro modo: em caso de indeferimento da petição inicial seguida de interposição de
apelação e a integração do executado à relação processual, mediante a constituição de advogado
e apresentação de contrarrazões, uma vez confirmada a sentença extintiva do processo, é cabível
o arbitramento de honorários em prol do advogado do vencedor (art. 85, § 2º, do CPC).
STJ. 4ª Turma. REsp 1753990-DF, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 9/10/18 (Info 640).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João ajuizou execução de um contrato (título executivo
extrajudicial) contra Pedro. O juiz, antes mesmo de citar Pedro, entendeu que o contrato não era
líquido e, por isso, indeferiu a petição inicial, julgando extinto o processo, nos termos do art. 485, I
c/c art. 924, I, do CPC/2015:
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:
I - indeferir a petição inicial; (...)
O magistrado condenou o exequente a pagar as custas processuais. Por outro lado, deixou de
condená-lo ao pagamento de honorários advocatícios considerando que não houve contraditório
já que o executado nem sequer chegou a ser citado:
Indeferida a inicial, sem a citação ou o comparecimento espontâneo do executado,
correta a sentença que não arbitrou honorários, dada a ausência de advogado
constituído nos autos. STJ. 4ª Turma. REsp 1753990/DF, Rel. Min. Maria Isabel
Gallotti, julgado em 09/10/2018.
Imagine que João não se conformou e quer recorrer. Qual é o recurso cabível? Qual recurso deve
ser interposto contra a decisão que indefere a petição inicial? A decisão que indefere a petição
inicial é uma sentença e, contra ela, cabe, portanto, apelação.
Existe alguma peculiaridade nesta apelação? SIM. É possível juízo de retratação por parte do
juiz, ou seja, o magistrado que indeferiu a petição inicial, ao ler os argumentos do autor/apelante,
poderá voltar atrás e admitir a exordial que ele havia indeferido:
Art. 331. Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no
prazo de 5 (cinco) dias, retratar-se.
Exceção: é cabível em caso de apelação contra sentença que indefere a petição inicial. Dizemos,
portanto, que a apelação interposta contra a sentença que indefere a petição inicial possui efeito
regressivo (admite juízo de retração).
Citação do réu: Imaginemos que João não se conformou com a sentença e interpôs apelação. O
juiz, por sua vez, não exerceu o juízo de retração, ou seja, manteve a sentença. O CPC prevê que,
se não houver retratação, o juiz deverá mandar citar o réu para responder ao recurso (art. 331, §
1º). Atenção para o fato de que somente agora é que o réu será citado e tomará conhecimento do
que está acontecendo.
Voltando ao nosso exemplo: João ingressou com a execução. O juiz indeferiu a petição inicial. O
exequente interpôs apelação. O juiz manteve a sentença e determinou a citação de Pedro. O
executado apresentou contrarrazões à apelação. O Tribunal de Justiça manteve a sentença,
julgando desprovida a apelação.
Em regra, não há honorários recursais se não foram fixados honorários na 1ª instância : O STJ
realmente afirma que os honorários recursais não têm autonomia nem existência independente
da sucumbência fixada na origem e representam um acréscimo (uma “majoração”) em relação
aos honorários que já foram estipulados na fase anterior. Assim, em regra, se não foram fixados
honorários na fase anterior, não há que se falar em condenação em honorários recursais. Nesse
sentido: STJ. 2ª Turma. AREsp 1.050.334/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
28/3/2017.
Não se trata, contudo, de aplicar o § 11 do art. 85: Ocorre que a hipótese em exame não trata dos
honorários recursais a que se refere o §11 do art. 85 do CPC, de modo que há de se fazer a devida
distinção. Aqui são devidos honorários advocatícios, não com base no § 11 do art. 85, mas sim
com fundamento no caput e no § 1º deste artigo:
Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do
vencedor.
§ 1º São devidos honorários advocatícios na reconvenção, no cumprimento de
sentença, provisório ou definitivo, na execução, resistida ou não, e nos recursos
interpostos, cumulativamente.
Não houve arbitramento de verba honorária em primeiro grau de jurisdição unicamente porque
foi proferida a sentença de indeferimento da inicial, sem angularização da relação jurídica
processual. Ora, sem a citação ou o comparecimento espontâneo do réu, não se completou a
formação da relação jurídica processual, não houve resistência ao pedido. Logo, como o réu não
constituiu advogado, não havia motivo para o autor ser condenado a pagar honorários
advocatícios.
Contudo, com a apresentação do recurso de apelação do autor, foi feita a citação do executado,
que constituiu advogado e apresentou contrarrazões ao recurso. A partir de então, o processo
passou a ter os três polos angularizados (autor, juiz e réu) e houve, com o recurso e as respectivas
contrarrazões, pretensão resistida. Com o julgamento da apelação, o Tribunal de Justiça
entendeu indevido o pleito de reforma da sentença, momento a partir do qual passou a estar
configurada a hipótese de estabelecimento de honorários de sucumbência em face da extinção
da execução após a apresentação de defesa pelo executado. Desse modo, o mero fato de não ter
havido, em primeira instância, fixação de verba honorária, não autoriza que deixe de ser
aplicado o art. 85 do CPC a partir da apelação quando, extinta a relação processual, houver
advogado constituído nos autos pela parte vitoriosa.
6.6. Os honorários advocatícios contratuais não se incluem nas despesas processuais do art. 82,
§ 2º, do CPC/2015 – (Info 636)
A sentença transitou em julgado condenando a parte a pagar "custas processuais", sem falar
sobre os honorários periciais. É possível que esses honorários periciais sejam cobrados da parte
sucumbente mesmo não tendo sido expressamente mencionados na sentença?
SIM. É adequada a inclusão dos honorários periciais em conta de liquidação mesmo quando o
dispositivo de sentença com trânsito em julgado condena o vencido, genericamente, ao
pagamento de custas processuais. Quem tem razão não deve sofrer prejuízo pelo processo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.558.185-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 2/2/17 (Info 598).
STJ. Corte Especial. EREsp 1519445-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, j.
19/09/2018 (Info 635).
Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação
do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas
processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/20151).
Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial
estrangeira devidamente representada no Brasil.
Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça
brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a
propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma
agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).
STJ. 3ª Turma.REsp 1584441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 21/8/2018 (Info 632).
6.9. Configura supressão de instância o STJ fixar diretamente os honorários advocatícios que
haviam sido estipulados erroneamente com base no CPC/73 – (Info 617)
6.10. Para que a cessão do precatório seja válida, é necessário que o crédito cedido esteja
expressamente consignado no precatório – (Info 607)
6.11. Sentença proferida após o CPC/15 deverá observar as suas regras quanto aos honorários,
ainda a ação tenha sido proposta antes da sua entrada em vigor – (Info 602) – (TJPR-2019)
1
Art. 83. O autor, brasileiro ou estrangeiro, que residir fora do Brasil ou deixar de residir no país ao longo
da tramitação de processo prestará caução suficiente ao pagamento das custas e dos honorários de
advogado da parte contrária nas ações que propuser, se não tiver no Brasil bens imóveis que lhes
assegurem o pagamento.
Assim sendo, nos casos de sentença proferida a partir do dia 18/3/2016, deverão ser aplicadas as
normas do CPC/2015.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.636.124-AL, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 6/12/16 (Info 602).
(TJPR-2019-CESPE): Nos processos judiciais, a fixação de honorários advocatícios
sucumbenciais é regida pela lei vigente na data de prolação da sentença. BL: Info 602, STJ.
6.12. Honorários com cláusula ad exitum e renúncia do advogado antes do fim da demanda –
(Info 601) – (TJPR-2017)
Nos contratos em que estipulado o êxito como condição remuneratória dos serviços
advocatícios prestados, a renúncia do patrono originário, antes do julgamento definitivo da
causa, não lhe confere o direito imediato ao arbitramento de verba honorária proporcional ao
trabalho realizado, sendo necessário aguardar o desfecho processual positivo para a apuração
da quantia devida.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.337.749-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 14/2/17 (Info 601).
Não cabe a fixação de honorários recursais (art. 85, § 11, do CPC/15) em caso de recurso
interposto no curso de processo cujo rito exclua a possibilidade de condenação em honorários.
Em outras palavras, não é possível fixar honorários recursais quando o processo originário não
preveja condenação em honorários.
Assim, suponha que foi proposta uma ação que não admite fixação de honorários advocatícios.
Imagine que uma das partes, no bojo deste processo, interponha recurso extraordinário. O STF,
ao julgar este RE, não fixará honorários recursais, considerando que o rito aplicável ao processo
originário não comporta condenação em honorários advocatícios.
Como exemplo desta situação, podemos citar o mandado de segurança, que não admite
condenação em honorários advocatícios (art. 25 da Lei 12.016/09, súmula 105-STJ e súmula 512-
STF). Logo, se for interposto um recurso ordinário constitucional ou um recurso extraordinário
neste processo, o Tribunal não fixará honorários recursais.
Assim, pode-se dizer que o art. 25 da Lei 12.016/09, que veda a condenação em honorários
advocatícios "no processo mandamental", afasta a incidência do regime do art. 85, § 11, do
CPC/2015.
STJ. 2ª Turma. RMS 52.024-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 6/10/16 (Info 592).
STF. 1ª Turma. ARE 948578 AgR/RS, ARE 951589 AgR/PR e ARE 952384 AgR/MS, Rel. Min.
Marco Aurélio, j. 21/6/16 (Info 831).
6.14. Advogado pode ser obrigado a restituir os honorários advocatícios de sucumbência caso a
sentença seja rescindida – (Info 589)
João propôs ação de indenização por danos morais contra Pedro, tendo o juiz julgado o pedido
procedente, condenando o réu ao pagamento de: a) R$ 200 mil a título de danos morais; b)
honorários advocatícios de 10% sobre o valor da condenação; c) custas e despesas processuais.
Pedro interpôs apelação e o Tribunal de Justiça anulou a sentença, extinguindo o processo sem
resolução do mérito. Ao final do voto, o Desembargador escreveu o seguinte: "invertidos os
ônus da sucumbência".
Contra o acórdão do TJ não houve recurso das partes, tendo havido o trânsito em julgado. O
advogado de Pedro, de posse do acórdão do TJ, ingressou com execução de honorários
advocatícios cobrando de João R$ 20 mil reais. Segundo o advogado, o TJ, ao inverter os ônus
da sucumbência, condenou João a pagar o valor que havia sido arbitrado pelo juiz, em 1ª
instância, como honorários advocatícios (10% sobre o valor da condenação).
A execução proposta pelo advogado teve sucesso?
NÃO. Não cabe a execução de honorários advocatícios com base na expressão "invertidos os
ônus da sucumbência" empregada por acórdão que, anulando sentença de mérito que fixara a
verba honorária em percentual sobre o valor da condenação, extinguiu o processo sem
resolução de mérito.
Quando o Tribunal escreve essa expressão "invertidos os ônus da sucumbência", isso não é
suficiente para concluir que ele tenha condenado o vencido a pagar os honorários advocatícios
do vencedor do recurso. Para o STJ, não se pode entender que os honorários advocatícios estão
implicitamente incluídos. Na verdade, entende-se que, neste caso, houve omissão do Tribunal.
Assim, para o STJ, se o Tribunal, ao anular ou reformar a sentença, omite-se quanto à
condenação da parte vencida em honorários advocatícios, deve a parte vencedora opor
embargos de declaração. Não o fazendo, não é possível depois voltar ao tema na fase de
execução, buscando a condenação da parte vencida ao pagamento da referida verba, sob pena
de ofensa à coisa julgada.
O entendimento acima permanece o mesmo com o CPC 2015?
NÃO. O novo CPC traz regra expressa prevendo que, mesmo que a decisão judicial seja omissa
quanto aos honorários, ainda assim será possível cobrá-los mediante ação autônoma. Veja:
Art. 85 (...) § 18. Caso a decisão transitada em julgado seja omissa quanto ao direito aos
honorários ou ao seu valor, é cabível ação autônoma para sua definição e cobrança.
Diante disso, com a entrada do CPC 2015, a súmula 453 do STJ fica SUPERADA.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.285.074-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 23/6/15 (Info 565).
6.16. A execução de contrato de honorários não pode ser proposta contra pessoa jurídica que
não tenha assinado o pacto, mesmo que integrante do mesmo grupo econômico – (Info 555)
Na chamada “liquidação por cálculos do credor”, o exequente não pode transferir para o
executado o ônus que ele teve com o pagamento de honorários a um perito para que este
elaborasse a memória de cálculos.
Para o STJ, na liquidação por cálculos do credor, as operações aritméticas necessárias para se
chegar ao quantum debeatur são elementares (soma, subtração, divisão e multiplicação). Por
isso, não há necessidade de o credor contratar um profissional para a sua elaboração. Essa
memória de cálculos deverá ser elaborada diretamente pela parte ou por seu advogado.
Se o credor contratar um expert para elaborar a planilha isso é um problema dele, ou seja, é um
custo extra que o credor decidiu assumir, não havendo previsão no CPC de que esse ônus possa
ser repassado ao devedor.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.274.466-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 14/5/14 (recurso
repetitivo) (Info 541).
7. ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA
7.1. Ônus da sucumbência em caso de sentença de extinção do processo sem resolução do
mérito – (Info 600)
Nas hipóteses de extinção do processo sem resolução de mérito provocada pela perda do
objeto da ação em razão de ato de terceiro e sem que exista a possibilidade de se saber qual
dos litigantes seria sucumbente se o mérito da ação fosse julgado, o pagamento das custas
e dos honorários advocatícios deve ser rateado entre as partes.
Ex: João teve um ataque cardíaco e foi internado em um hospital particular, onde
colocaram um stent no paciente. Inicialmente, o plano de saúde de João recusou-se a pagar
ao hospital os valores despendidos com o stent. Diante disso, o hospital ingressou com
ação cobrando este valor de João. Ocorre que João havia feito um pedido administrativo de
reconsideração ao plano de saúde, que foi acolhido e, assim, o convênio transferiu
espontaneamente o dinheiro do tratamento ao hospital. Neste caso, o juiz deverá extinguir
o processo sem resolução do mérito por perda superveniente do interesse de agir e
condenar as duas partes ao pagamento das custas e dos honorários advocatícios divididos
entre elas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.641.160-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 16/3/17 (Info 600).
OBS: Segundo a jurisprudência do STJ, sendo o processo extinto sem resolução do mérito,
cabe ao juiz investigar, sob a égide do princípio da causalidade, qual parte deu origem à
extinção do processo sem julgamento de mérito ou qual das partes seria sucumbente se o
mérito da ação fosse julgado. No presente caso, a extinção do feito não foi causada por ato
das partes, mas sim por ato de terceiro, que efetuou o pagamento do valor devido. Desse
modo, é impossível dizer qual dos litigantes seria sucumbente se o mérito da ação fosse
julgado. Assim, na situação em tela, é inviável imputar a uma ou a outra parte a
responsabilidade pelos ônus sucumbenciais, mostrando-se adequado que cada uma das
partes suporte os encargos relativos aos honorários advocatícios e às custas processuais,
rateando o quantum estabelecido pela sentença. Vale ressaltar que o plano de saúde é
considerado “terceiro” porque não participava da relação processual.
8. PRECATÓRIOS
8.1. Incidem juros da mora entre a data da realização dos cálculos e a da requisição ou do
precatório – (Info 645)
Incidem os juros da mora no período compreendido entre a data da realização dos cálculos e a
da requisição de pequeno valor (RPV) ou do precatório.
STF. Plenário.RE 579431/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 19/4/17 (repercussão geral) (Info 861).
STJ. Corte Especial. QO no REsp 1665599-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 20/3/19
(recurso repetitivo) (Info 645).
Obs: cuidado para não confundir com a SV 17: Durante o período previsto no parágrafo 1º (obs:
atual § 5º) do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele
sejam pagos. O período de que trata este RE 579431/RS é anterior à requisição do precatório, ou
seja, anterior ao interregno tratado pela SV 17.
8.2. O limite previsto no § 2º do art. 100 da CF/88 é aplicável para cada precatório
individualmente considerado (Info 570) – IMPORTANTE!!!
O § 2º do art. 100 prevê que os débitos de natureza alimentícia que tenham como beneficiários
pessoas com 60 anos de idade ou mais ou portadoras de doenças graves terão uma preferência
ainda maior. É como se fosse uma “fila com superpreferência”.
A superprioridade para créditos alimentares de idosos e portadores de doenças graves (§ 2º) só
vai até 3 vezes o valor da RPV (§ 4º do art. 100). Assim, se o valor a ser recebido pelo idoso ou
doente grave for superior a 3 vezes o que é considerado "pequeno valor" para fins de precatório
(§ 4º), parte dele será paga com superpreferência e o restante será quitado na ordem
cronológica de apresentação do precatório.
Imagine que um idoso possua mais de um precatório para receber. Esse valor máximo para
receber na fila superpreferencial do § 2º é um valor para cada precatório ou para a totalidade
deles? Ex: Pedro tem dois precatórios para receber da União: um no valor de 120 salários-
mínimos e outro no valor de 100 salários-mínimos. Em se tratando da União, o limite de que
trata o § 2º é 180 salários-mínimos (3x60). Pedro poderá receber os dois precatórios na fila
especial do § 2º?
SIM. A limitação de valor para o direito de preferência previsto no art. 100, § 2º, da CF aplica-
se para cada precatório de natureza alimentar, e não para a totalidade dos precatórios
alimentares de titularidade de um mesmo credor preferencial, ainda que apresentados no
mesmo exercício financeiro e perante o mesmo devedor.
A CF/88 não proibiu que a pessoa maior de 60 anos ou doente grave participasse da listagem de
credor superpreferencial do § 2º por mais de uma vez. Ela só proibiu que o precatório recebido
fosse maior do que 3x o valor da RPV. Logo, não cabe ao intérprete criar novas restrições não
previstas no texto constitucional.
Assim, em nosso exemplo, Pedro poderá receber os dois precatórios na fila do § 2º do art. 100.
Isso porque, se considerados individualmente, nenhum dos dois precatórios é superior a 180
salários-mínimos.
STJ. 1ª Turma. RMS 46.155-RO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 22/9/15 (Info 570).
8.3. Cobrança dos honorários por meio de RPV ainda que o crédito dito “principal” seja
executado por meio do regime de precatórios – (Info 539) – IMPORTANTE!!! MUDANÇA DE
ENTENDIMENTO!!!
Se a Fazenda Pública for condenada a pagar dinheiro, deverá o pagamento ser feito, em regra,
por meio de precatório.
Se a quantia for considerada como de “pequeno valor”, não haverá necessidade de precatório.
É possível que a execução de honorários advocatícios devidos pela Fazenda Pública se faça
mediante Requisição de Pequeno Valor (RPV) na hipótese em que os honorários não excedam
o valor limite a que se refere o art. 100, § 3º, da CF, ainda que o crédito dito “principal” seja
executado por meio do regime de precatórios.
Em outras palavras, é possível o fracionamento de precatório para pagamento de honorários
advocatícios.
STF. Plenário. RE 564132/RS, red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia, julgado em 30/10/2014
(repercussão geral) (Info 765).
STJ. 1ª Seção. REsp 1.347.736-RS, Rel. Min. Castro Meira, Rel. para acórdão Min. Herman
Benjamin, j. 9/10/13 (recurso repetitivo) (Info 539).
9. DEPÓSITOS JUDICIAIS
9.1. A correção monetária dos depósitos judiciais deve incluir os expurgos inflacionários –
(Info 607)
10. LITISCONSÓRCIO
10.1. O prazo em dobro dos litisconsortes com procuradores diferentes aplica-se aos processos
judiciais eletrônicos? – (Info 560) – IMPORTANTE!!!
Quando houver litisconsórcio, seja ele ativo (dois ou mais autores) ou passivo (dois ou mais
réus), caso os litisconsortes tenham advogados diferentes, os seus prazos serão contados em
dobro. É o que determina o art. 191 do CPC 1973.
O art. 229 do CPC 2015 também traz regra semelhante, exigindo, contudo, que, além de serem
procuradores (advogados) diferentes, os causídicos também sejam de escritórios de advocacia
diferentes: “Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia
distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo
ou tribunal, independentemente de requerimento.”
O benefício do prazo em dobro para os litisconsortes vale para processos eletrônicos?
No CPC 1973: SIM. O objetivo do prazo em dobro é facilitar o acesso aos autos, já que,
havendo advogados diferentes, eles não poderiam tirar os autos do cartório. Com base
nisso, o STJ entende que não haveria justificativa para o prazo em dobro nos processos
eletrônicos, contudo, como o art. 191 do CPC 1973 não faz qualquer distinção entre
processos físicos e eletrônicos, o STJ afirma que não se pode excluir o prazo em dobro
mesmo nos processos eletrônicos, sob pena de haver uma afronta ao princípio da
legalidade.
No CPC 2015: NÃO. O § 2º do art. 229 do CPC 2015 “corrige” essa falha da lei e
determina expressamente que não se aplica o prazo em dobro para litisconsortes
diferentes se o processo for em autos eletrônicos. Desse modo, quando o CPC 2015
entrar em vigor, os litisconsortes não terão prazo em dobro no processo eletrônico
mesmo que possuam procuradores diferentes. Até lá, contudo, continua sendo aplicado
o prazo em dobro tanto para processos físicos como eletrônicos.
STJ. 3ª T. REsp 1.488.590-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 14/4/2015 (Info 560).
OBS: O custos vulnerabilis é o mesmo que amicus curiae? NÃO. Vejamos as principais diferenças:
Amicus curiae Custos vulnerabilis
(“amigo do Tribunal”) (“guardiã dos vulneráveis”)
Pode intervir como amicus curiae qualquer pessoa Somente a Defensoria Pública pode intervir
natural ou jurídica, órgão ou entidade como custos vulnerabilis.
especializada, com representatividade adequada.
Em regra, admite-se a intervenção do amicus Admite-se a intervenção do custos vulnerabilis
curiae em qualquer tipo de processo, desde que: em qualquer processo no qual estejam sendo
a) a causa tenha relevância; e discutidos interesses de vulneráveis.
b) a pessoa tenha capacidade de oferecer
contribuição ao processo.
Em regra, o amicus curiae não pode recorrer. O custos vulnerabilis pode interpor qualquer
Exceção 1: o amicus curiae pode opor embargos espécie de recurso.
de declaração em qualquer processo que intervir
(art. 138, § 1º do CPC/2015).
Exceção 2: o amicus curiae pode recorrer da
decisão que julgar o incidente de resolução de
demandas repetitivas (art. 138, § 3º do
CPC/2015).
11.2. INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA: Para que
haja o redirecionamento da execução fiscal, é necessária a instauração de incidente de
desconsideração da personalidade jurídica? – (Info 643 e Info 648) – IMPORTANTE!!!
O CPC/15, de forma inovadora, previu, em seus arts. 133 a 137, um incidente de desconsideração
da personalidade jurídica. Indaga-se: Esse incidente aplica-se também para a execução fiscal?
Para que haja o redirecionamento da execução fiscal, é necessária a instauração de incidente de
desconsideração da personalidade jurídica? O tema ainda é polêmico no STJ:
SIM, em algumas hipóteses. Julgado da 1ª Turma do STJ: Como foi divulgado no Informativo:
É necessária a instauração do incidente de desconsideração da personalidade da pessoa jurídica
devedora para o redirecionamento de execução fiscal a pessoa jurídica que integra o mesmo
grupo econômico, mas que não foi identificada no ato de lançamento (Certidão de Dívida
Ativa) ou que não se enquadra nas hipóteses dos arts. 134 e 135 do CTN.
STJ. 1ª T. REsp 1.775.269-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 21/02/2019 (Info 643).
Não é extinta a denunciação da lide apresentada intempestivamente pelo réu nas hipóteses em
que o denunciado contesta apenas a pretensão de mérito da demanda principal.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.637.108-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 6/6/17 (Info 606).
Nas ações para fornecimento de medicamentos, apesar de a obrigação ser solidária entre
Municípios, Estados e União, caso o autor tenha proposto a ação apenas contra o Estado-
membro, não cabe o chamamento ao processo da União, medida que apenas iria protelar a
solução da causa.
STJ. 1ª S. REsp 1.203.244-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 9/4/14 (recurso repetitivo) (Info 539).
(DPEMS-2014-VUNESP): Nas demandas de fornecimento de medicamentos, ajuizadas contra o
Estado, é vedado o chamamento ao processo da União ou do Município, realizado com espeque
na solidariedade. BL: Info 539, STJ.
OBS:
Imagine a seguinte situação: Determinado paciente ingressou com ação de obrigação de entrega
de coisa certa contra o Estado-membro pedindo que este forneça o remédio “X”. Em sua resposta,
o Estado-membro alega que a saúde é um dever constitucional imposto não apenas ao Estado,
como também à União e aos Municípios. Desse modo, formula o chamamento ao processo da
União, com base no art. 130, III, do CPC/2015:
Art. 130. É admissível o chamamento ao processo, requerido pelo réu:
III - dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o
pagamento da dívida comum.
É cabível o chamamento ao processo nesse caso? NÃO. O STJ tem jurisprudência consolidada de
que esse chamamento ao processo não é admitido. Argumentos:
Este art. 130, III, é típico de obrigações solidárias de pagar quantia, o que não é o caso,
uma vez que as ações para fornecimento de medicamento são para entrega de coisa certa;
O chamamento ao processo da União por determinado Estado-membro revela-se medida
protelatória, que não traz nenhuma utilidade ao processo, além de atrasar a resolução do
feito, revelando-se meio inconstitucional para evitar o acesso aos remédios necessários
para o restabelecimento da saúde do enfermo.
Atenção: não há qualquer problema se o autor enfermo optar por ajuizar a ação contra o Estado e
a União como litisconsortes passivos. Nesse caso, a demanda será processada na Justiça Federal. O
que não pode é o réu acionado querer impor ao autor que litigue também contra os demais entes
federativos.
Atenção: esse julgado é bem possível de ser cobrado no próximo concurso da Defensoria Pública.
12. COMPETÊNCIA
12.1. Compete à 1ª Seção do STJ (que aprecia matérias de direito público) julgar recurso no
qual se discute a contratação ou não de aprovado em processo seletivo realizado por entidade do
Sistema S (no caso, o SEBRAE) – (Info 656)
Compete à Primeira Seção do STJ processar e julgar feitos relativos à contratação de candidatos
inscritos em processo seletivo público para preenchimento de cargos em entidades do Sistema
S.
O dirigente de entidade do Sistema S, como o Sebrae, ao praticar atos em certame público para
ingresso de empregados, está a desempenhar ato típico de direito público, vinculando-se ao
regime jurídico administrativo.
STJ. Corte Especial. CC 157870-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 21/08/2019 (Info 656).
12.2. JUSTIÇA ESTADUAL: Compete à justiça comum estadual julgar ação de obrigação de
fazer cumulada com reparação de danos materiais e morais ajuizada por motorista de aplicativo
pretendendo a reativação de sua conta Uber para que possa voltar a usar o aplicativo e realizar
seus serviços – (Info 655)
Compete à justiça comum estadual julgar ação de obrigação de fazer, cumulada com reparação
de danos materiais e morais, ajuizada por motorista de aplicativo, pretendendo a reativação de
sua conta UBER para que possa voltar a usar o aplicativo e realizar seus serviços.
As ferramentas tecnológicas disponíveis atualmente permitiram criar uma nova modalidade de
interação econômica, fazendo surgir a economia compartilhada (sharing economy), em que a
prestação de serviços por detentores de veículos particulares é intermediada por aplicativos
geridos por empresas de tecnologia. Nesse processo, os motoristas, executores da atividade,
atuam como empreendedores individuais, sem vínculo de emprego com a empresa proprietária
da plataforma.
STJ. 2ª S. CC 164544-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 28/08/19 (Info 655).
OBS:
O tema está resolvido ou ainda existe possibilidade de novo entendimento? O tema parece estar
resolvido no âmbito do STJ, no entanto, a polêmica ainda persistirá na Justiça do Trabalho. Isso
porque o tema chegou ao STJ, neste caso, porque o autor não pedia o reconhecimento do vínculo
de emprego e Juiz do Trabalho entendeu que não era competente para a causa. No entanto,
existem inúmeras outras situações nas quais o motorista ajuíza a ação diretamente na Justiça do
Trabalho pedindo o reconhecimento do vínculo empregatício. Nestes casos, se o Juiz do Trabalho
reputar que é competente para a causa, a questão não chegará ao STJ e tramitará no âmbito da
Justiça do Trabalho. Vale ressaltar que existem decisões de Tribunais Regionais do Trabalho
afirmando que existe sim vínculo empregatício entre o motorista e a empresa Uber. Desse modo, o
tema só estará mais consolidado quando houver uma manifestação do TST e, principalmente,
do STF a respeito do assunto.
12.3. JUSTIÇA FEDERAL COMUM: Ação de empresas de telefonia contra a Anatel tratando
sobre o valor de uso de rede móvel, sendo que uma das litigantes se encontra em recuperação
judicial: Justiça Federal – (Info 649)
Compete à Justiça Federal processar e julgar ação que envolva concessionárias do serviço de
telefonia e a Anatel a respeito da precificação do VU-M (Valor de Uso de Rede Móvel) ainda
que um dos litigantes se encontre em recuperação judicial.
É competência da Justiça Federal analisar as questões relativas aos contratos de interconexão e
ao valor da interconexão propriamente dita (VU-M).
Reserva-se ao Juízo Estadual da Falência apenas aquilo que é relacionado com a recuperação
judicial (habilitação de crédito, classificação de credores, aprovação de plano). Não se pode,
contudo, admitir que o Juízo da Falência decida sobre questões que são de competência da
esfera federal. Assim, a fixação do VU-M é de competência da Justiça Federal.
STJ. 1ª S. CC 156.064-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Herman Benjamin,
j. 14/11/18 (Info 649).
12.4. CONEXÃO: Para saber se há conexão entre duas medidas cautelares preparatórias
propostas pelo mesmo contribuinte, deve-se analisar o pedido ou a causa de pedir das ações
principais – (Info 644)
12.5. Demanda contra as operadoras de plano de saúde de autogestão: Justiça comum – (Info
627)
12.6. Compete à Justiça Estadual julgar ação proposta por ex-empregado para continuar no
plano de saúde de autogestão que era oferecido pela empresa – (Info 620)
Compete à Justiça Comum Estadual o exame e o julgamento de feito que discute direitos de ex-
empregado aposentado ou demitido sem justa causa de permanecer em plano de saúde coletivo
oferecido pela própria empresa empregadora aos trabalhadores ativos, na modalidade de
autogestão.
STJ. 3ª Turma. REsp 1695986-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 27/2/18 (Info 620).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João era empregado do Banco do Brasil e possuía plano de
saúde coletivo oferecido aos funcionários da instituição. Vale ressaltar que se tratava de plano de
saúde de autogestão. No ano de 2010, João foi demitido sem justa causa e pediu para continuar no
plano de saúde com as mesmas condições de cobertura assistencial que gozava, pagando as
mensalidades. O plano de saúde recusou o pedido. Diante disso, João ingressou com ação
requerendo a permanência no plano de saúde com base no art. 30 da Lei 9.656/98 (Lei que trata
sobre os planos de saúde):
Art. 30. Ao consumidor que contribuir para produtos de que tratam o inciso I e o §
1º do art. 1º desta Lei, em decorrência de vínculo empregatício, no caso de rescisão
ou exoneração do contrato de trabalho sem justa causa, é assegurado o direito de
manter sua condição de beneficiário, nas mesmas condições de cobertura assistencial
de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o seu
pagamento integral.
Ao contrário, referida vantagem apenas possui natureza preventiva e assistencial, sendo uma
alternativa às graves deficiências do Sistema Único de Saúde (SUS), obrigação do Estado.
Ademais, as entidades de autogestão são enquadradas como operadoras de planos de saúde, de
modo que são reguladas e fiscalizadas pela ANS.
Com maior razão, por já ter sido encerrado o seu contrato de trabalho, a pretensão do ex-
empregado de manutenção no plano de assistência à saúde fornecido pela ex-empregadora não
pode ser vista como simples relação de trabalho.
Dessa forma, conclui-se que a Justiça competente para o exame e julgamento de ação fundada
nos arts. 30 e 31 da Lei 9.656/98, que discute direitos de ex-empregado aposentado ou demitido
sem justa causa de permanecer em plano de saúde coletivo oferecido pela própria empresa
empregadora aos trabalhadores ativos, na modalidade de autogestão, é a Justiça Comum
estadual, visto que a causa de pedir e o pedido se originam de relação autônoma nascida com a
operadora de plano de saúde, a qual possui natureza eminentemente civil, envolvendo tão
somente, de maneira indireta, os aspectos da relação de trabalho.
12.7. Não se aplica a regra do art. 53, V, do CPC para a ação de indenização proposta pela
seguradora em caso de acidente de veículo envolvendo o locatário – (Info 604) – IMPORTANTE!!!
A competência para julgar ação de reparação de dano sofrido em razão de acidente de veículos é
do foro do domicílio do autor ou do local do fato (art. 53, V, do CPC/2015).
Contudo, essa prerrogativa de escolha do foro não beneficia a pessoa jurídica locadora de frota
de veículos, em ação de reparação dos danos advindos de acidente de trânsito com o
envolvimento do locatário.
STJ. 4ª Turma. STJ. 4ª Turma. EDcl no AgRg no Ag 1.366.967-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. para
acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, j. 27/4/17 (Info 604).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Pedro, que reside em Fortaleza (CE), estava com seu
veículo no conserto e, por isso, alugou um carro para realizar suas atividades. Determinado dia,
voltando do trabalho, acabou sendo atingido na traseira por outro veículo, conduzido por João,
que não viu o semáforo fechar. Pedro tirou fotos da batida, fez um boletim de ocorrência pela
internet e repassou tudo para a locadora. Cerca de dois meses depois, João, causador do acidente,
recebeu uma citação, em sua casa, em Fortaleza, a respeito de uma ação proposta pela seguradora
cobrando o conserto do veículo. O susto de João foi ainda maior quando ele viu de onde veio a
citação. Isso porque a seguradora propôs a ação em Belo Horizonte (MG), local onde funciona a
sua sede principal da pessoa jurídica. O argumento da seguradora para propor a ação em Belo
Horizonte (MG), e não em Fortaleza (CE), foi o art. 53, V, do CPC/2015:
Art. 53. É competente o foro: (...)
V - de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de reparação de dano
sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive aeronaves.
A tese da seguradora, quanto à competência, foi acolhida pelo STJ? Aplica-se, neste caso, o art.
53, V, do CPC/2015? NÃO.
Razão de ser do art. 53, V, do CPC/2015: Em regra, a ação fundada em direito pessoal ou em
direito real sobre bens móveis será proposta no foro de domicílio do réu (art. 46). Assim, em regra,
uma ação de indenização proposta por alguém que mora em São Paulo (SP) contra outra pessoa
que mora em Florianópolis (SC) deverá ser ajuizada capital catarinense, domicílio do réu. Como
exceção a essa regra, o art. 53, V prevê que, nas ações de reparação de dano sofrido em razão de
delito ou acidente de veículos, será competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato.
Essa exceção foi prevista pelo legislador como uma forma de facilitar o acesso à justiça ao
jurisdicionado, vítima do acidente.
Benefício do art. 53, V, do CPC/2015 não deve ser aplicado para empresas locadoras de veículos:
Como a locadora de veículos pode alugar carros que irão circular por todo o país, é algo normal ao
negócio que possam ocorrer acidentes em qualquer parte do território nacional. Assim, se fosse
permitido que a autora propusesse a ação sempre no seu domicílio, haveria uma deturpação do
objetivo da norma. Haveria um privilégio não razoável em favor de uma empresa especializada e
aparelhada, em detrimento de pessoas que terão sérias dificuldades de se defender em outros
Estados. A escolha dada ao autor de ajuizar a ação de reparação de dano decorrente de acidente
de veículos é exceção à regra geral de competência, definida pelo foro do domicílio do réu. Não se
pode dar à exceção interpretação tão extensiva a ponto de subverter o escopo da regra legal,
especialmente quando importar em privilégio à pessoa jurídica cujo negócio é alugar veículos em
todo território nacional em detrimento da defesa do réu pessoa física.
Não há, em regra, interesse jurídico da ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica – para
figurar como ré ou assistente simples de ação de repetição de indébito relativa a valores
cobrados por força de contrato de fornecimento de energia elétrica celebrado entre usuário do
serviço e concessionária do serviço público.
Em razão disso, essa ação é de competência da Justiça Estadual.
STJ. 1ª S. REsp 1.389.750-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 14/12/16 (recurso repetitivo) (Info
601).
OBS:
O fato de a concessionária do serviço de energia elétrica ser uma sociedade de economia mista
federal não desloca a competência para a Justiça Federal? NÃO. As sociedades de economia
mista, ainda que mantidas pela União, não são julgadas pela Justiça Federal. Houve uma opção do
constituinte de não incluir tais empresas estatais no rol do art. 109 da CF/88. Sobre esse tema
existem três enunciados de súmula do STF:
Súmula 508-STF: Compete à justiça estadual, em ambas as instâncias, processar e
julgar as causas em que for parte o Banco do Brasil S.A.
Súmula 517-STF: As sociedades de economia mista só têm foro na justiça federal,
quando a União intervém como assistente ou opoente.
Súmula 556-STF: É competente a justiça comum para julgar as causas em que é
parte sociedade de economia mista.
Reconhecimento de que houve delito: Desse modo, seria prematuro estabelecer que a competência
desse feito fosse definida pelas regras referentes à reparação de danos. Isso porque a própria
autoria da obra intelectual é matéria controvertida. Se o autor pretende ser reconhecido como
titular de obra utilizada por terceiro, não se pode afirmar – salvo após o julgamento por sentença
de mérito – a existência sequer do ilícito civil, o qual seria o pressuposto para a incidência da regra
especial de competência do parágrafo único do art. 53, V, do CPC.
12.10. Causas que podem produzir reflexos no processo eleitoral são de competência da Justiça
Eleitoral – (Info 596) – IMPORTANTE!!! (Anal. Judic./TRETO-2017)
Em regra, as ações tratando sobre divergências internas ocorridas no âmbito do partido político
são julgadas pela Justiça Estadual.
Exceção: se a questão interna corporis do partido político puder gerar reflexos diretos no
processo eleitoral, então, neste caso a competência será da Justiça Eleitoral.
Assim, compete à Justiça Eleitoral processar e julgar as causas em que a análise da controvérsia
é capaz de produzir reflexos diretos no processo eleitoral.
STJ. 2ª S. CC 148.693-BA, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 14/12/16 (Info 596).
(Anal. Judic./TRETO-2017-CESPE): Determinado cidadão impetrou, na justiça cível estadual,
mandado de segurança contra ato do presidente do partido político ao qual é filiado, que lhe
teria negado o direito de concorrer ao cargo de vereador. Na oportunidade, questionou, ainda,
a validade da convenção partidária na qual foram escolhidos os candidatos do partido. Ao
receber a petição inicial, o juízo declinou sua competência para a justiça eleitoral.
Posteriormente, o juízo da zona eleitoral, por entender que a matéria referente a critérios do
partido político para a escolha de candidatos diz respeito à validade de ato interno do partido,
suscitou conflito de competência por entender que a competência seria do juízo que a havia
declinado. Considerando essa situação hipotética, assinale a opção correta de acordo com a
legislação em vigor e com a jurisprudência dos tribunais superiores: O conflito de competência
deve ser decidido pelo STJ, e a competência para exame do mandado de segurança é da justiça
eleitoral. BL: art. 105, I, “d”, CF e Info 596 do STJ.
OBS:
Quando dois juízes vinculados a “Justiças” diferentes estão divergindo acerca da competência,
quem deverá julgar este conflito? Quem julga o conflito entre um juiz de direito e um juiz
eleitoral? STJ, nos termos do art. 105, I, “d”, da CF/88:
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I - processar e julgar, originariamente: (...)
d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no
art. 102, I, "o", bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes
vinculados a tribunais diversos;
O que o STJ decidiu neste caso concreto? De quem é a competência para julgar esta ação? Justiça
Eleitoral.
12.11. Competência para julgar demanda indenizatória por uso de imagem de jogador de
futebol – (Info 587)
É da Justiça do Trabalho (e não da Justiça Comum) a competência para processar e julgar a ação
de indenização movida por atleta de futebol em face de editora pelo suposto uso indevido de
imagem em álbum de figurinhas quando, após denunciação da lide ao clube de futebol (ex-
empregador), este alegar que recebeu autorização expressa do jogador para ceder o direito de
uso de sua imagem no período de vigência do contrato de trabalho.
Na ementa oficial do julgado, restou assim consignado:
Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar ação indenizatória movida contra editora, por
suposto uso indevido de imagem de atleta de futebol, caracterizado por publicação, sem
autorização, do autor de sua fotografia em álbum de figurinhas, na hipótese de denunciação da
lide pela ré ao clube empregador.
STJ. 2ª Turma. CC 128.610-RS, Rel. Min. Raul Araújo, j. 22/6/16 (Info 587).
12.12. Competência para julgar MS contra ato do chefe do MPDFT no exercício de atividade
submetida à jurisdição administrativa federal – (Info 587) – IMPORTANTE!!!
12.13. Dever de remessa dos autos ao juízo competente mesmo em caso de processo eletrônico –
(Info 586) – (TJPR-2017)
Se o juízo reconhece a sua incompetência absoluta para conhecer da causa, ele deverá
determinar a remessa dos autos ao juízo competente e não extinguir o processo sem exame do
mérito.
O argumento de impossibilidade técnica do Poder Judiciário em remeter os autos para o juízo
competente, ante as dificuldades inerentes ao processamento eletrônico, não pode ser utilizado
para prejudicar o jurisdicionado, sob pena de configurar-se indevido obstáculo ao acesso à
tutela jurisdicional.
Assim, implica indevido obstáculo ao acesso à tutela jurisdicional a decisão que, após o
reconhecimento da incompetência absoluta do juízo, em vez de determinar a remessa dos autos
ao juízo competente, extingue o feito sem exame do mérito, sob o argumento de
impossibilidade técnica do Judiciário em remeter os autos para o órgão julgador competente,
ante as dificuldades inerentes ao processamento eletrônico.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.526.914-PE, Rel. Min. Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF da
3ª Região), j. 21/6/2016 (Info 586).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João impetrou mandado de segurança na Justiça Federal
de 1ª instância da Seção Judiciária de Recife (PE) contra ato praticado pelo Superintendente de
uma entidade federal. O Juiz Federal entendeu que a autoridade apontada como coatora possui
domicílio funcional em Brasília (DF), de forma que a Justiça Federal da Seção Judiciária de Brasília
(DF) seria competente para conhecer a demanda. Diante disso, o Juiz Federal de Recife, de ofício,
reconheceu sua incompetência para o julgamento da causa.
Assim, se a parte resolve impetrar mandado de segurança contra uma autoridade federal, será
competente a seção judiciária do local onde esta autoridade tenha sede funcional, ou seja, onde ela
trabalha. Não se aplica ao autor do mandado de segurança a prerrogativa prevista no art. 109, § 2º
da CF/88:
Art. 109 (...)
§ 2º As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária
em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu
origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.
A justificativa dada é a de que, em se tratando de mandado de segurança, é a autoridade
impetrada que será notificada para prestar informações. Logo, se a autoridade possui sede
funcional em Brasília, o mandamus deverá ser impetrado na Seção Judiciária do DF, sendo inviável
que a autoridade que more e resida em um local seja demandada em outro. Diferente seria o caso
se a parte autora tivesse ingressado com uma ação ordinária. Nesta hipótese, ela teria opções e
poderia propor a ação na seção judiciária:
a) onde ela mora;
b) onde o ato ou fato ocorreu;
c) onde esteja situada a coisa;
d) ou no DF.
Tendo a parte optado por ingressar com MS, ela deverá se sujeitar às regras próprias de
competência deste tipo de ação, sendo competente o local da sede funcional da autoridade. Esta
competência é absoluta.
O juiz poderia ter declarado a incompetência de ofício? Sim. A incompetência absoluta pode ser
alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição e deve ser declarada de ofício (art. 64, § 1º do
CPC/2015).
Quando o juiz reconhece a sua incompetência absoluta, qual a providência que ele deve adotar? O
juiz, reconhecendo sua incompetência, deverá remeter os autos ao juízo competente (art. 64, § 3º
do CPC/2015). Vale ressaltar que se o juízo incompetente já tiver praticado atos decisórios, em
regra, eles continuarão produzindo efeitos até que o juízo competente os confirme ou revogue.
Veja:
Art. 64 (...)
§ 4º Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-ão os efeitos de
decisão proferida pelo juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso,
pelo juízo competente.
O juiz deverá remeter os autos ao juízo competente mesmo que a ação proposta tenha sido um
mandado de segurança? O art. 64, § 3º do CPC é aplicado também para os processos de MS? SIM.
Nesse sentido já decidiu o STJ na vigência do CPC passado: STJ. 1ª Seção. MS 21.744/DF, Rel. Min.
Og Fernandes, j. 23/9/15. O mesmo entendimento continua válido com o novo CPC.
Vamos voltar ao nosso exemplo: O Juiz Federal de Recife decidiu que era absolutamente
incompetente para julgar o MS. No entanto, em vez de remeter os autos ao juízo competente, ele
extinguiu o processo sem resolução do mérito. O magistrado argumentou que o processo é
eletrônico e que, como são regiões diferentes (TRF5 e TRF1) existe uma impossibilidade técnica de
enviar os autos para a Seção Judiciária do DF pelo sistema do PJE (Processo Judicial Eletrônico).
12.15. Ação de consignação em pagamento proposta pela União para afastar eventual
responsabilização trabalhista subsidiária -Atenção! Advocacia Pública! - (Info 571)
Imagine a seguinte situação: a União possui um contrato com a empresa privada "XXX
Vigilância Ltda". Por meio deste contrato, a empresa, com seus funcionários, obrigou-se a fazer
a vigilância armada do prédio onde funciona o órgão público federal, recebendo, em
contraprestação, R$ 200 mil mensais. A União, percebendo que a empresa estava atrasando os
salários e com receio de ser condenada por responsabilidade subsidiária (Súmula 331 do TST),
decidiu suspender o pagamento da contraprestação mensal devida e ajuizar ação de
consignação em pagamento a fim de depositar em juízo os R$ 200 mil previstos no contrato.
Surgiu, no entanto, uma dúvida: onde deverá ser proposta essa ação, na Justiça Federal comum
ou na Justiça do Trabalho? Justiça do Trabalho. A Justiça do Trabalho é competente para
processar e julgar ação de consignação em pagamento movida pela União contra sociedade
empresária por ela contratada para a prestação de serviços terceirizados, caso a demanda tenha
sido proposta com o intuito de evitar futura responsabilização trabalhista subsidiária da
Administração nos termos da Súmula 331 do TST.
STJ. 2ª Seção. CC 136.739-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 23/9/2015 (Info 571).
A conexão entre duas causas ocorre quando elas, apesar de não serem idênticas, possuem um
vínculo de identidade entre si quanto a algum dos seus elementos caracterizadores. São duas
(ou mais) ações diferentes, mas que mantêm um vínculo entre si.
Segundo o texto do CPC 1973, existe conexão quando duas ou mais ações tiverem o mesmo
pedido (objeto) ou causa de pedir.
Quando o juiz verificar que há conexão entre duas causas, ele poderá ordenar, de ofício ou a
requerimento, a reunião delas para julgamento em conjunto. Essa é a regra geral, não sendo
aplicável, contudo, quando a reunião implicar em modificação da competência absoluta.
O conceito de conexão previsto na lei é conhecido como concepção tradicional (teoria
tradicional) da conexão. Existem autores, contudo, que defendem que é possível que exista
conexão entre duas ou mais ações mesmo que o pedido e a causa de pedir sejam diferentes. Em
outras palavras, pode haver conexão em situações que não se encaixem perfeitamente no
conceito legal de conexão. Tais autores defendem a chamada teoria materialista da conexão, que
sustenta que, em determinadas situações, é possível identificar a conexão entre duas ações não
com base no pedido ou na causa de pedir, mas sim em outros fatos que liguem uma demanda à
outra. Eles sustentam, portanto, que a definição tradicional de conexão é insuficiente.
Essa teoria é chamada de materialista porque defende que, para se verificar se há ou não
conexão, o ideal não é analisar apenas o objeto e a causa de pedir, mas sim a relação jurídica de
direito material que é discutida em cada ação. Existirá conexão se a relação jurídica veiculada
nas ações for a mesma ou se, mesmo não sendo idêntica, existir entre elas uma vinculação.
Essa concepção materialista é que fundamenta a chamada “conexão por prejudicialidade”.
Podemos resumi-la em uma frase: quando a decisão de uma causa interferir na solução da
outra, há conexão.
No caso concreto, havia duas ações: em uma delas o autor (empresa 1) executava uma dívida da
devedora (empresa 2). A executada, por sua vez, ajuizou ação declaratória de inexistência da
relação afirmando que nada deve para a empresa 1. Nesta situação, o STJ reconheceu que havia
conexão por prejudicialidade e decidiu o seguinte: “pode ser reconhecida a conexão e
determinada a reunião para julgamento conjunto de um processo executivo com um processo
de conhecimento no qual se pretenda a declaração da inexistência da relação jurídica que
fundamenta a execução, desde que não implique modificação de competência absoluta.”
STJ. 4ª T. REsp 1.221.941-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/2/2015 (Info 559).
12.18. Inaplicabilidade da cláusula de eleição de foro prevista em contrato sem assinatura das
partes – (Info 557)
Nos casos em que a parte questiona a própria validade do contrato, ela não precisará respeitar o
foro de eleição referente a esse ajuste.
Ex: duas empresas fizeram um contrato e elegeram como foro de eleição a comarca de
Florianópolis; ocorre que o contrato, apesar de aprovado, não chegou a ser assinado. Uma das
empresas ajuizou ação questionando a validade desse ajuste pelo fato de ele não ter sido
assinado. Neste caso, em que a própria validade do contrato está sendo objeto de apreciação
judicial pelo fato de que não houve instrumento de formalização assinado pelas partes, a
cláusula de eleição de foro não deve prevalecer, ainda que ela já tenha sido prevista em
contratos semelhantes anteriormente celebrados entre as mesmas partes.
STJ. 3ª T. REsp 1.491.040-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 3/3/2015 (Info 557).
12.19. Competência da Justiça Comum para julgar danos causados a estagiário durante estágio
obrigatório curricular – (Info 543) – IMPORTANTE!!!
Ainda que proferida por juízo absolutamente incompetente, é válida a decisão que, em ação
civil pública proposta para a apuração de ato de improbidade administrativa, tenha
determinado — até que haja pronunciamento do juízo competente — a indisponibilidade dos
bens do réu a fim de assegurar o ressarcimento de suposto dano ao patrimônio público.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.038.199-ES, Rel. Min. Castro Meira, j. 7/5/2013 (Info 524).
OBS: O CPC/2015 determina que todas as decisões praticadas pelo juízo incompetente são, em
regra, válidas e eficazes, salvo se o novo juízo (competente) decidir de forma diferente. Veja o que
diz o novo CPC:
Art. 64 (...)
§ 4º Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-ão os efeitos de decisão
proferida pelo juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso, pelo
juízo competente.
12.21. Restituição de indébito relacionada com tarifa de energia elétrica – (Info 516)
É da Justiça estadual, via de regra, a competência para julgar a ação em que se discute a
legalidade da cobrança de instituição de ensino superior estadual, municipal ou particular de
taxa para expedição de diploma de curso, salvo quando se tratar de mandado de segurança cuja
impetração se volta contra ato de dirigente de universidade pública federal ou de universidade
particular, hipótese de competência da Justiça Federal.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.295.790-PE, Rel. Mauro Campbell Marques, julgado em 6/11/2012.
O art. 30, II, da Lei nº 8.906/94, prevê que os membros do Poder Legislativo (Vereadores,
Deputados e Senadores) são impedidos de exercer a advocacia contra ou a favor das pessoas
jurídicas de direito público, empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações
públicas, entidades paraestatais ou empresas concessionárias ou permissionárias de serviço
público.
Essa proibição abrange a advocacia envolvendo qualquer dos entes federativos (União, Estados,
DF e Municípios).
Assim, o desempenho de mandato eletivo no Poder Legislativo impede o exercício da advocacia
a favor ou contra pessoa jurídica de direito público pertencente a qualquer das esferas de
governo – municipal, estadual ou federal.
Ex1: um Deputado Estadual, além de não poder advogar em causas relacionadas com o Estado-
membro, também está impedido de advogar em processos envolvendo os Municípios ou a
União.
Ex2: um Vereador não pode advogar contra o INSS, mesmo sendo esta uma autarquia federal.
Ex3: um Deputado Federal não pode, advogando em causa própria, ajuizar uma ação popular,
qualquer que seja o ente federativo envolvido.
STJ. 1ª Seção. EAREsp 519.194-AM, Rel. Min. Og Fernandes, j. 14/6/17 (Info 607).
14. IMPEDIMENTO
14.1. Decisão que não aprecia o mérito não gera impedimento por parentesco entre magistrados
– (Info 611)
Decisão que não aprecia o mérito não gera impedimento por parentesco entre magistrados.
Ex: em uma ação que tramitava na 1ª instância, o juiz proferiu decisão interlocutória e, contra
ela, o autor interpôs agravo de instrumento. No Tribunal, a relatora deste agravo foi a Des.
Maria. O agravo foi extinto sem julgamento do mérito por um “vício” processual neste recurso.
Passado mais algum tempo, o juiz sentenciou o processo. Contra a sentença, o autor interpôs
apelação e foi sorteado como relator do recurso no Tribunal o Des. João. João é marido de
Maria. Mesmo assim ele não está impedido de julgar porque sua esposa não apreciou o mérito
da causa no julgamento anterior.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.673.327-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12/9/2017 (Info 611).
OBS: art. 147 do CPC/2015 c/c o art. 128 da LOMAN:
Art. 147. Quando 2 (dois) ou mais juízes forem parentes, consanguíneos ou afins, em
linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, o primeiro que conhecer do
processo impede que o outro nele atue, caso em que o segundo se escusará,
remetendo os autos ao seu substituto legal.
Art. 128 - Nos Tribunais, não poderão ter assento na mesma Turma, Câmara ou
Seção, cônjuges e parentes consanguíneos ou afins em linha reta, bem como em
linha colateral até o terceiro grau.
Parágrafo único. Nas sessões do Tribunal Pleno ou órgão que o substituir, onde
houver, o primeiro dos membros mutuamente impedidos, que votar, excluirá a
participação do outro no julgamento.
O STJ, ao julgar controvérsias que versam sobre impedimentos de juízes e desembargadores, tem
adotado postura que busca valorizar a aplicação do princípio da instrumentalidade das formas,
bem como a necessidade de demonstração de prejuízo para que seja decretada qualquer nulidade
(princípio do pas de nullité sans grief).
15. SUSPEIÇÃO
15.1. Suspeição por motivo superveniente não anula atos processuais anteriores – (Info 587) –
IMPORTANTE!!! - (PGM-Fortaleza/CE-2017)
16. CITAÇÃO/INTIMAÇÃO
16.1. INTIMAÇÕES: Na hipótese de duplicidade de intimações, prevalece a intimação
eletrônica sobre aquela realizada por meio do Diário de Justiça – (Info 647) – IMPORTANTE!!!
A partir da leitura da Lei 11.419/06 (art. 5º) em conjunto com o art. 272 do CPC/15 conclui-se que
a comunicação dos atos processuais aos advogados ocorre, em regra, mediante a intimação por
via eletrônica, valorizando-se a informatização dos processos judiciais.
Assim, a intimação eletrônica prevalece sobre a publicação no Diário de Justiça no caso de
duplicidade de intimações.
STJ. 4ª T. AgInt no AREsp 1330052/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 26/3/19 (Info 647).
Vale ressaltar que a posição acima não é pacífica e que existem precedentes em sentido contrário:
STJ. 2ª T. AgInt no AREsp 929.175/RJ, Rel. Min. Og Fernandes, j. 17/8/17; STJ. 3ª T. AgInt no
AREsp 1101413/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/10/2017.
16.2. INTIMAÇÃO: É válida a intimação da ECT na pessoa do advogado que está cadastrado no
PJe, não sendo necessária a intimação em nome da entidade – (Info 644)
16.4. PRESSUPOSTO PROCESSUAL: Não há motivo para ser citada a sociedade empresária se
todos os sócios fazem parte do processo – (Info 635)
16.5. Início do prazo em caso de intimação/citação realizadas por correio, oficial de justiça ou
por carta de ordem, precatória ou rogatória – (Info 604) – IMPORTANTE!!! – (TJPR-2019)
Nos casos de intimação/citação realizadas por correio, oficial de justiça, ou por carta de ordem,
precatória ou rogatória, o prazo recursal inicia-se com a juntada aos autos do aviso de
recebimento, do mandado cumprido, ou da juntada da carta.
STJ. Corte Especial. REsp 1.632.777-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 17/5/17 (recurso
repetitivo) (Info 604).
16.6. Intimação eletrônica prevalece sobre o Diário da Justiça Eletrônico – (Info 601)
Não supre a falta de citação em ação revisional de alimentos o comparecimento do réu para
contraminutar agravo de instrumento contra decisão denegatória de tutela antecipada, sem que
haja qualquer pronunciamento na ação principal por parte do demandado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.310.704-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 10/11/15 (Info 573).
17. REVELIA
17.1. Efeito material da revelia em caso de ação de indenização por danos materiais – (Info 574)
– IMPORTANTE!!!
Em uma ação de indenização, se ocorrer a revelia, deve-se presumir a veracidade quanto aos
danos narrados na petição inicial. No entanto, esta presunção de veracidade não alcança a
definição do quantum indenizatório indicado pelo autor.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.520.659-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 1º/10/2015 (Info 574).
OBS: Assim, o que deve ser considerado "verdadeiro" é a ocorrência do dano. Não se pode,
contudo, confundir a existência do dano com a sua correta quantificação feita pelo autor na
petição inicial. O quantum, ou seja, o valor do dano deve corresponder ao prejuízo efetivamente
sofrido pela parte lesada, sob pena de ocorrer enriquecimento sem causa. Dessa forma,
reconhecida a ocorrência dos alegados danos materiais, foi correta a decisão do magistrado de
determinar que o valor da indenização seja apurado em liquidação.
18. PROCEDIMENTO
18.1. DEVERES DOS SUJEITOS DO PROCESSO: O juiz que conduz o processo não pode ser
apenado com a multa prevista para os casos de cometimento de ato atentatório ao exercício da
jurisdição, prevista no parágrafo único do art. 14, V, § único, do CPC/1973 (art. 77, IV, § 2º, do
CPC/2015) – (Info 653) – IMPORTANTE!!!
A multa prevista no parágrafo único do art. 14 do CPC/73 (art. 77, IV, § 2º, do CPC/15) não se
aplica aos juízes, devendo os atos atentatórios por eles praticados ser investigados nos termos
da Lei Orgânica da Magistratura.
STJ. 4ª T. REsp 1548783-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 11/06/19 (Info 653).
18.2. A prioridade na tramitação do feito é direito subjetivo da pessoa idosa e a lei lhe concede
legitimidade exclusiva para a postulação do requerimento do benefício – (Info 650)
A pessoa com idade igual ou superior a 60 anos que figura como parte ou interveniente na
relação processual possui prioridade na tramitação do feito (arts. 71 da Lei 10.471/03 e art. 1.048
do CPC/2015).
Quem tem legitimidade para postular a prioridade de tramitação do feito atribuída por lei ao
idoso?
O próprio idoso. A pessoa idosa é a parte legítima para requerer a prioridade de tramitação do
processo, devendo, para tanto, fazer prova da sua idade.
A prioridade na tramitação depende, portanto, de manifestação de vontade do interessado, por
se tratar de direito subjetivo processual do idoso. A necessidade do requerimento é justificada
pelo fato de que nem toda tramitação prioritária será benéfica ao idoso, especialmente em
processos nos quais há alta probabilidade de que o resultado lhe seja desfavorável.
A prioridade na tramitação do feito é, portanto, direito subjetivo da pessoa idosa e a lei lhe
concede legitimidade exclusiva para a postulação do requerimento do benefício.
Ex: determinada pessoa jurídica ajuizou execução contra um idoso e pediu prioridade na
tramitação do feito alegando que o executado possui mais de 60 anos. O pleito não foi aceito
considerando que falta legitimidade e interesse à exequente para formular o referido pedido.
STJ. 3ª T. REsp 1801884/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 21/5/19 (Info 650).
18.3. Discussão a respeito da necessidade de arquivamento em “pasta própria” fora dos autos
ou decretação de segredo de justiça – (Sem Info) – (TRF3-2016)
Não há no CPC nenhuma previsão para que se crie "pasta própria" fora dos autos da execução
fiscal para o arquivamento de documentos submetidos a sigilo. Antes, nos casos em que o
interesse público ou social justificar, cabe ao magistrado limitar às partes o acesso aos autos
passando o feito a tramitar em segredo de justiça, na forma do art. 155, I, do CPC/73 (art. 189, I
do CPC/2015).
O STJ firmou a seguinte tese em sede de recurso repetitivo: "As informações sigilosas das
partes devem ser juntadas aos autos do processo que correrá em segredo de justiça, não sendo
admitido o arquivamento em apartado".
STJ, 1ª S. REsp 1349363/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 22/5/13 (recurso repetitivo).
(TRF3-2016): Determinado Juízo aplicou o entendimento, em sede de execução fiscal em que se
realizavam diligências para localização de patrimônio do executado, de que os documentos
sigilosos do executado, que foram requisitados pelo próprio ofício judicante, a pedido da
Fazenda Pública, a terceiros, deveriam, quando aportassem na Secretaria, ser acondicionados
em pasta própria à disposição das partes e de seus procuradores, motivando tal decisão sob o
prisma da publicidade processual. Nesse sentido, ao arquivar os documentos sigilosos em pasta
própria, não haveria necessidade de se limitar a publicidade do processo em andamento
mediante a decretação de segredo de justiça, ao mesmo tempo em que não se verificariam
prejuízos às partes ou à devida instrução processual, porquanto os documentos permaneceriam
acessíveis aos interessados. Essa decisão não encontra abrigo na jurisprudência das Cortes
Superiores, diante da inexistência, no código de processo civil vigente, de previsão para que se
crie pasta própria fora dos autos para tal finalidade. BL: REsp 1349363/SP.
O prazo para que o autor emende a PI é um prazo dilatório (e não peremptório). Logo, o juiz
poderá aceitar a emenda da PI mesmo fora deste prazo. Este prazo pode ser reduzido ou
ampliado por convenção das partes ou por determinação do juiz.
STJ. 2ª S. REsp 1.133.689-PE, Rel. Min. Massami Uyeda, j. 28/3/12 (recurso repetitivo).
Não é possível a aplicação do art. 285-A do CPC 1973 quando o entendimento exposto na
sentença, apesar de estar em consonância com a jurisprudência do STJ, divergir do
entendimento do tribunal de origem.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.225.227-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 28/5/13 (Info 524).
OBS:
CPC/2015: O Dizer o Direito acredita que o entendimento acima continua válido com o novo CPC.
Veja, no entanto, como tema é tratado agora:
Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da
citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar:
I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de
Justiça;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de
Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de
assunção de competência;
IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.
§ 1º O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar,
desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição.
§ 2º Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da
sentença, nos termos do art. 241.
§ 3º Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 (cinco) dias.
§ 4º Se houver retratação, o juiz determinará o prosseguimento do processo, com a
citação do réu, e, se não houver retratação, determinará a citação do réu para
apresentar contrarrazões, no prazo de 15 (quinze) dias.
19. CONTESTAÇÃO
19.1. Arguição de compensação em contestação – (Info 567) – IMPORTANTE!!!
Mesmo após a prolação da sentença ou do acórdão que decide a lide, podem as partes
transacionar o objeto do litígio e submetê-lo à homologação judicial. Assim, a publicação do
acórdão que decide a lide não impede que as partes transacionem.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.267.525-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 20/10/15 (Info 572).
O art. 313, X, do CPC/2015 prevê que o advogado que se tornar pai tem direito à suspensão dos
prazos processuais desde que:
a) seja o único patrono da causa; e
b) tenha notificado seu cliente sobre esse fato.
O período de suspensão será de 8 dias, contado a partir da data do parto ou da concessão da
adoção.
Para que esse prazo de suspensão do processo se inicie, é necessário que o advogado informe ao
juízo que nasceu o seu filho? Somente após a comunicação ao juízo é que o processo será
suspenso?
NÃO. A suspensão do processo em razão da paternidade do único patrono da causa se opera tão
logo ocorra o fato gerador (nascimento ou adoção), independentemente da comunicação
imediata ao juízo.
Obs: a mesma conclusão acima exposta pode ser aplicada para o inciso IX do art. 313 do CPC.
STJ. 3ª T. REsp 1799166-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 02/04/2019 (Info 645).
21.2. É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em
execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação – (Info 632)
Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a
habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser
suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para
as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.
O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser
facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para
regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.
Ex: em 04/04/18, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de
citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/18, ou seja, um
mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial
para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1559791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 28/8/18 (Info 632).
OBS:
Se a ação é ajuizada contra um indivíduo que já estava morto, temos aqui um caso de
ilegitimidade passiva. Logo, a providência correta a ser adotada pelo magistrado é de
oportunizar ao autor da ação a possibilidade de emendar a petição inicial para regularizar o
polo passivo, até mesmo porque se o indivíduo já está morto, não haverá possibilidade de
ocorrer citação válida. Desse modo, nesta situação, o aditamento da petição inicial pode ocorrer
inclusive mesmo sem aquiescência (concordância) do réu, conforme autoriza o art. 329, I do
CPC/2015:
Art. 329. O autor poderá:
I - até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, independentemente
de consentimento do réu;
Assim, deverá ser permitido que o autor emende a petição inicial para que o espólio seja o sujeito
passivo da relação jurídico-processual.
Importante recordar que o espólio responde pelas dívidas do falecido, nos termos do art. 796 do
CPC/2015:
Art. 796. O espólio responde pelas dívidas do falecido, mas, feita a partilha, cada
herdeiro responde por elas dentro das forças da herança e na proporção da parte
que lhe coube.
21.3. Prejudicialidade externa entre ação reivindicatória e ação de nulidade de negócio jurídico
– (Info 563)
Deve ser suspensa a ação reivindicatória de bem imóvel, pelo prazo máximo de um ano (art.
265, IV, "a", do CPC 1973 / art. 313, V, “a”, do CPC 2015), enquanto se discute, em outra ação, a
nulidade do próprio negócio jurídico que ensejou a transferência do domínio aos autores da
reivindicatória.
STJ. 1ª Turma. EREsp 1.409.256-PR, Rel. Min. Og Fernandes, j. 6/5/2015 (Info 563)
21.4. Prazo máximo para suspensão do processo cível nos casos do art. 110 do CPC 1973 – (Info
555) – IMPORTANTE!!!
O art. 110 do CPC 1973 prevê que, se o resultado do processo (conhecimento da lide) depender
necessariamente da verificação da existência de fato delituoso, o juiz do processo cível pode
mandar sobrestar o andamento do processo até que o juízo criminal decida se houve ou não o
crime.
O STJ decidiu que a suspensão do processo determinada com base no art. 110 do CPC 1973 não
pode superar 1 ano, de modo que, ultrapassado esse prazo, pode o magistrado apreciar a
questão prejudicial (pode o juízo cível decidir se houve ou não crime), que, no entanto, não fará
coisa julgada material.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.198.068-MS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 2/12/2014 (Info 555).
OBS:
Novo CPC: O entendimento acima exposto continua válido com o novo CPC? SIM. Na verdade, o
novo CPC deixa expresso esse prazo de 1 ano. Confira:
CPC 1973 CPC 2015
Art. 110. Se o conhecimento da lide depender Art. 315. Se o conhecimento do mérito
necessariamente da verificação da existência depender de verificação da existência de fato
de fato delituoso, pode o juiz mandar delituoso, o juiz pode determinar a suspensão
sobrestar no andamento do processo até que do processo até que se pronuncie a justiça
se pronuncie a justiça criminal. criminal.
Parágrafo único. Se a ação penal não for § 1º Se a ação penal não for proposta no prazo
exercida dentro de 30 (trinta) dias, contados de 3 (três) meses, contado da intimação do ato
da intimação do despacho de sobrestamento, de suspensão, cessará o efeito desse,
cessará o efeito deste, decidindo o juiz cível a incumbindo ao juiz cível examinar
questão prejudicial. incidentemente a questão prévia.
Não havia prazo máximo se a ação já tinha sido § 2o Proposta a ação penal, o processo ficará
ajuizada. Como vimos acima, o STJ entendeu que suspenso pelo prazo máximo de 1 (um) ano,
era 1 ano, com base no art. 265, § 5º. ao final do qual aplicar-se-á o disposto na
parte final do § 1º.
22. PROVAS
22.1. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO: É possível o ajuizamento de ação autônoma de exibição
de documentos, sob o rito do procedimento comum, na vigência do CPC/15. Ainda existe a ação
autônoma de exibição de documentos ou coisas no CPC/15 – (Info 660) – IMPORTANTE!!!
22.2. Prova emprestada oriunda de processo no qual não figuravam as mesmas partes – (Info
543)
A prova pode ser emprestada mesmo que a parte contra a qual será utilizada não tenha
participado do processo originário onde foi produzida? Ex.: no processo 1, foi produzida
determinada prova. Em uma ação de “A” contra “B” (processo 2), “A” deseja trazer essa prova
emprestada. Ocorre que “B” não participou do processo 1. Será possível trazer essa prova
mesmo assim?
SIM. É admissível, assegurado o contraditório, a prova emprestada vinda de processo do qual
não participaram as partes do processo para o qual a prova será trasladada.
A prova emprestada não pode se restringir a processos em que figurem partes idênticas, sob
pena de se reduzir excessivamente sua aplicabilidade sem justificativa razoável para isso.
Quando se diz que deve assegurar o contraditório, significa que a parte deve ter o direito de se
insurgir contra a prova trazida e de impugná-la.
STJ. Corte Especial. EREsp 617.428-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 4/6/14 (Info 543).
Não é cabível a multa cominatória, caso o autor tenha ingressado com pedido, incidental ou
autônomo, de exibição de documento relativo a direito DISPONÍVEL.
Em caso de processos que tratam sobre direitos indisponíveis, o STJ tem admitido a cominação
de astreintes.
Novo CPC: o entendimento acima exposto pode vir a ser alterado. Isso porque a doutrina
afirma que, com a entrada em vigor do CPC 2015, a súmula 372 do STJ está SUPERADA. Nesse
sentido é o enunciado nº 54 do Fórum Permanente de Processualistas Civis.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.333.988-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 9/4/2014
(recurso repetitivo) (Info 539).
22.4. Utilização de provas colhidas em processo criminal como fundamento para condenar o
réu em ação de indenização no juízo cível – (Info 536)
Desde que observado o devido processo legal, é possível a utilização de provas colhidas em
processo criminal como fundamento para reconhecer, no âmbito de ação de conhecimento no
juízo cível, a obrigação de reparação dos danos causados, ainda que a sentença penal
condenatória não tenha transitado em julgado.
Não viola o art. 935 do CC a utilização de provas colhidas no processo criminal como
fundamentação para condenar o réu à reparação do dano no juízo cível.
STJ. 1ª T. AgRg no AREsp 24.940-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 18/2/14 (Info 536).
22.5. Momento da juntada – (Info 516)
Como regra, os documentos devem ser juntados aos autos com a petição inicial (no caso do
autor) ou com a resposta (no caso do réu).
A jurisprudência do STJ admite a juntada de documentos novos após a petição inicial e a
contestação mesmo em situações não previstas na lei desde que:
(i) não se trate de documento indispensável à propositura da ação;
(ii) não haja má fé na ocultação do documento;
(iii) seja ouvida a parte contrária (art. 398 do CPC).
No caso julgado, o STJ afirmou que a mera declaração do juiz de que a prova documental é
intempestiva e, por isso, deve ser desentranhada dos autos, não é capaz de, por si só, impedir o
conhecimento da referida prova pelo Tribunal no julgamento de recurso, tendo em vista a
maior amplitude no processo civil moderno dos poderes instrutórios do juiz, ao qual cabe
determinar, até mesmo de ofício, a produção de provas necessárias à instrução do processo.
Assim, se a prova permaneceu nos autos mesmo tendo sido declarada intempestiva pelo juiz de
1ª instância, poderá o Tribunal analisá-la para fundamentar seu veredicto.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.072.276-RN, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 21/2/13 (Info 516).
Não é possível utilizar ação declaratória de nulidade (querela nullitatis) contra título
executivo judicial fundado em lei declarada não recepcionada pelo STF em decisão
proferida em controle incidental que transitou em julgado após a constituição definitiva
do referido título.
A decisão do STF que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de lei ou
ato normativo não produz a automática reforma ou rescisão das sentenças anteriores que
tenham adotado entendimento diferente; para que tal ocorra, será indispensável a
interposição do recurso próprio ou, se for o caso, a propositura da ação rescisória própria,
observado o respectivo prazo decadencial de 2 anos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.237.895-ES, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 15/9/2015 (Info 576).
Caso haja duas sentenças transitadas em julgado envolvendo as mesmas partes, mesma
causa de pedir e mesmo pedido, qual delas deverá prevalecer?
Existem duas correntes na doutrina e no STJ:
1ª) Prevalece a 1ª coisa julgada.
— Posição da 3ª Turma do STJ.
— Na doutrina: Arruda Alvim, Nelson Nery Jr. e Rosa Nery, Araken de Assis, Teresa
Wambier, Sérgio Gabriel Porto, Sálvio de Figueiredo Teixeira.
— A segunda sentença seria inexistente, porque foi proferida numa demanda em que o
autor era carente de ação (por falta de interesse jurídico). A coisa julgada também é um
pressuposto processual negativo (ou extrínseco), de forma que a segunda ação foi proposta
em afronta a esse pressuposto, o que também conduz à inexistência da segunda sentença.
— Para essa corrente, a partir do momento em que se entende que a segunda sentença é
inexistente, não há necessidade de ação rescisória, podendo-se obter a declaração de
inexistência perante o próprio juízo de origem, por meio de ação ou objeção, esteja ou não
transcorrido o prazo decadencial da rescisória. Vale ressaltar, no entanto, que o lesado
poderá perfeitamente alegar o vício por meio de rescisória.
STJ. 3ª T. REsp 1354225-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 24/2/15 (Info 557).
2ª) Prevalece a 2ª coisa julgada, a não ser que ela seja desconstituída por ação rescisória.
— Posição da 2ª Turma do STJ.
— Na doutrina: Pontes de Miranda, Vicente Greco Filho, Barbosa Moreira, Cândido
Rangel Dinamarco, Humberto Theodoro Jr.
— Havendo conflito entre duas coisas julgadas, prevalecerá a que se formou por último,
enquanto não desconstituída mediante ação rescisória. Assim, em regra, prevalece a
segunda sentença transitada em julgado, a não ser que ela seja desconstituída por meio de
ação rescisória. Enquanto não o for, ela é que vale. Se passar o prazo de 2 anos da
rescisória, a segunda valerá para sempre.
— Havendo conflito entre duas coisas julgadas, prevalecerá a que se formou por último,
enquanto não se der sua rescisão para restabelecer a primeira. A exceção de pré-
executividade não serve no caso para substituir a ação rescisória.
STJ. 2ª T. REsp 1524123-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 26/5/15 (Info 565).
STJ. 4ª T. AgInt no REsp 1270008/MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 21/08/18.
(TJRJ-2016-VUNESP): Verificada a existência de decisões conflitantes versando sobre o
mesmo bem jurídico, e ambas transitadas em julgado, prevalece aquela que por último
transitou em julgado. BL: Info 565, STJ.
A mera alegação de que houve um erro de julgamento não é apta a justificar a aplicação da
teoria da relativização da coisa julgada com vistas a desconstituir decisão que fixou
equivocadamente os honorários advocatícios com base no § 3º do art. 20 do CPC, quando
deveria ter utilizado o § 4º do referido dispositivo, ainda que o valor dos honorários seja
excessivo e possa prejudicar os demais credores.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.163.649-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 16/9/14 (Info 556).
OBS:
Novo CPC: A decisão acima foi proferida sob a égide do CPC/1973. Penso que o
entendimento permanece válido com o CPC/2015.
A contestação tem força de impedir a estabilização da tutela antecipada antecedente (art. 303 do
CPC)?
1ª corrente: NÃO. Apenas a interposição de agravo de instrumento contra a decisão
antecipatória dos efeitos da tutela requerida em caráter antecedente é que se revela capaz de
impedir a estabilização, nos termos do disposto no art. 304 do CPC/15.
STJ. 1ª T. REsp 1797365-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. Acd. Min. Regina Helena Costa, j.
3/10/19 (Info 658).
2ª corrente: SIM. A tutela antecipada antecedente (art. 303 do CPC) somente se torna estável se
não houver nenhum tipo de impugnação formulada pela parte contrária, de forma que a mera
contestação tem força de impedir a estabilização. Apesar de o caput do art. 304 do CPC/15 falar
em “recurso”, a leitura que deve ser feita do dispositivo legal, tomando como base uma
interpretação sistemática e teleológica do instituto, é que a estabilização somente ocorrerá se
não houver qualquer tipo de impugnação pela parte contrária. O caput do art. 304 do CPC disse
menos do que pretendia dizer, razão pela qual a interpretação extensiva mostra-se mais
adequada ao instituto, notadamente em virtude da finalidade buscada com a estabilização da
tutela antecipada.
STJ. 3ª T. REsp 1760966-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 04/12/18 (Info 639).
26. SENTENÇA
26.1. É dispensável a remessa necessária nas sentenças ilíquidas proferidas em desfavor do
INSS, cujo valor mensurável da condenação ou do proveito econômico seja inferior a mil 1.000
salários mínimos – (Info 658) – IMPORTANTE!!! Divergência 2ª Turma!!! Concursos Federais!!!
Após a entrada em vigor do CPC/15, é dispensável a remessa necessária nas sentenças ilíquidas
proferidas em desfavor do INSS, cujo valor mensurável da condenação ou do proveito
econômico seja inferior a mil salários mínimos.
A Súmula 490-STJ não se aplica às sentenças ilíquidas nos processos de natureza previdenciária
a partir dos novos parâmetros definidos no art. 496, § 3º, I, do CPC/15.
STJ. 1ª T. REsp 1735097-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 08/10/19 (Info 658).
Divergência
Aplica-se a súmula 490 do STJ ainda que às sentenças ilíquidas sejam proferidas nos feitos de
natureza previdenciária, de modo que para atender ao requisito da liquidez, é necessário mais
que estimativa do valor devido, sendo necessário a fixação exata da condenação.
STJ. 2ª T. REsp 1.791.298/RS, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 21/11/19.
STJ. 2ª T. REsp 1819960/AP, Rel. Ministro Og Fernandes, j. 27/08/19.
O magistrado pode corrigir de ofício, mesmo após o trânsito em julgado, erro material
consistente no desacordo entre o dispositivo da sentença que julga procedente o pedido e a
fundamentação no sentido da improcedência da ação.
STJ. 2ª T. RMS 43956-MG, Rel. Min. Og Fernandes, j. 9/9/14 (Info 547).
26.3. Concessão de benefício previdenciário diverso do requerido na petição inicial – (Info 522)
O juiz pode conceder ao autor benefício previdenciário diverso do requerido na inicial, desde
que preenchidos os requisitos legais atinentes ao benefício concedido. Isso porque, tratando-se
de matéria previdenciária, deve-se proceder, de forma menos rígida, à análise do pedido.
Assim, nesse contexto, a decisão proferida não pode ser considerada como extra petita ou ultra
petita.
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1367825-RS, Rel. Min. Humberto Martins, j. 18/4/13 (Info 522).
O erro material passível de ser corrigido de ofício (art. 463, I, do CPC/73 - art. 494, I, do CPC/15)
e não sujeito à preclusão é o reconhecido primu ictu oculi (à primeira vista, de maneira
evidente), consistente em equívocos materiais sem conteúdo decisório propriamente dito.
STJ. 3ª T. REsp 1151982-ES, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 23/10/12 (Info 507).
Ex: João ajuizou ação de indenização contra determinada empresa pedindo a condenação da ré
ao pagamento de R$ 100 mil a título de danos emergentes e R$ 200 mil por lucros cessantes.
A empresa apresentou contestação e pediu a realização de perícia para aferir se realmente
houve lucros cessantes e qual seria o seu valor exato. Não foi pedida a realização de instrução
probatória no que tange aos danos emergentes. Sendo permitida sentença parcial de mérito, o
juiz poderá cindir o feito e julgar desde logo o pedido dos danos emergentes, determinando o
prosseguimento do feito quanto ao pedido de lucros cessantes.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.281.978-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 5/5/15 (Info 562).
28. RECURSOS
28.1. INCIDENTE DE ASSUNÇÃO DE COMPETÊNCIA: É inadmissível incidente de assunção
de competência no âmbito do STJ fora das situações previstas no art. 947 do CPC/2015 – (Info 659)
– IMPORTANTE!!!
A técnica de julgamento do art. 942 pode ser aplicada na hipótese em que não houve
unanimidade quanto à preliminar de admissibilidade da apelação adesiva? Ex: o autor interpôs
recurso adesivo endereçado à Câmara Cível do Tribunal de Justiça; 2 Desembargadores
votaram por conhecer do recurso adesivo, mas 1 Desembargador votou pelo não conhecimento
sob o argumento de que não havia pertinência temática; neste caso, deve ser aplicado o art. 942
do CPC, com a convocação de dois novos Desembargadores para votar?
SIM. Aplica-se a técnica de ampliação do colegiado quando não há unanimidade no juízo de
admissibilidade recursal.
O art. 942 do CPC não determina a ampliação do julgamento apenas em relação às questões de
mérito. Na apelação, a técnica de ampliação do colegiado deve ser aplicada a qualquer
julgamento não unânime, incluindo as questões preliminares relativas ao juízo de
admissibilidade do recurso.
STJ. 3ª T. REsp 1798705-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 22/10/19 (Info 659).
(MPCE-2020-CESPE): No julgamento de um recurso de apelação em órgão colegiado de
tribunal de justiça, o relator votou no sentido de não conhecer do recurso por ausência de
requisito de admissibilidade recursal. Posteriormente, houve divergência entre os outros dois
desembargadores que participavam do julgamento: um deles acompanhou o voto do relator;
o outro discordou quanto à admissibilidade porque entendeu pelo conhecimento da apelação.
Nessa situação hipotética, de acordo com o previsto no CPC e com a jurisprudência do STJ, a
técnica de ampliação do colegiado com a participação de outros julgadores deverá ser
aplicada de ofício, sendo possível o prosseguimento do julgamento, na mesma sessão do
tribunal, caso estejam presentes outros julgadores do órgão colegiado aptos a votar. BL: art.
942, caput e §1º, NCPC e Info 659, STJ.
28.3. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO: Cabe agravo de instrumento contra decisão do juízo
de primeiro grau que resolve o requerimento de distinção de processos sobrestados em razão de
recursos repetitivos (art. 1.037, § 13, I, do CPC/2015) – (Info 658)
Cabe agravo de instrumento contra decisão do juízo de primeiro grau que resolve o
requerimento de distinção de processos sobrestados em razão de recursos repetitivos.
Fundamento: art. 1.037, § 13, I, do CPC/2015:
Art. 1.037 (...)
§ 8º As partes deverão ser intimadas da decisão de suspensão de seu processo, a ser proferida
pelo respectivo juiz ou relator quando informado da decisão a que se refere o inciso II do
caput.
§ 9º Demonstrando distinção entre a questão a ser decidida no processo e aquela a ser julgada
no recurso especial ou extraordinário afetado, a parte poderá requerer o prosseguimento do seu
processo.
§ 13. Da decisão que resolver o requerimento a que se refere o § 9º caberá:
I - agravo de instrumento, se o processo estiver em primeiro grau;
II - agravo interno, se a decisão for de relator.
Obs: no CPC/1973, a decisão que determinava o sobrestamento dos recursos extraordinários e
recursos especiais repetitivos não selecionados como paradigmas era irrecorrível.
STJ. 3ª T. REsp 1717387-PB, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 08/10/19 (Info 658).
28.5. AGRAVO DE INSTRUMENTO: A parte pede que o juiz suspenda o processo alegando
prejudicialidade externa (art. 313, V, “a”, CPC/15); magistrado indefere; esse pronunciamento não
pode ser equiparado a uma decisão sobre tutela provisória; logo, não cabe agravo de instrumento
contra ele com base no inciso I do art. 1.015 do CPC/15 – (Info 656)
28.6. AGRAVO DE INSTRUMENTO: A decisão interlocutória que majora a multa fixada para
a hipótese de descumprimento de decisão antecipatória de tutela anteriormente proferida é
recorrível por agravo de instrumento – (Info 655) – IMPORTANTE!!!
A decisão interlocutória que majora a multa que havia sido fixada inicialmente consiste em
uma tutela provisória sendo, portanto, recorrível por agravo de instrumento com base no art.
1.015, I, do CPC/2015:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
Se é concedida uma tutela provisória e, posteriormente, é proferida uma segunda decisão
interlocutória modificando essa tutela provisória, pode-se considerar que esse segundo
pronunciamento jurisdicional se enquadra no conceito de decisão interlocutória que verse
sobre tutela provisória.
STJ. 3ª T. REsp 1827553-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 27/08/19 (Info 655).
28.7. RECURSO ESPECIAL: Não deve ser conhecido o recurso especial tirado de agravo de
instrumento quando sobrevém sentença de extinção do processo sem resolução de mérito que não
foi objeto de apelação – (Info 654)
Não deve ser conhecido o recurso especial tirado de agravo de instrumento quando sobrevém
sentença de extinção do processo sem resolução de mérito que não foi objeto de apelação.
Ex: juiz determinou que os autores fizessem a emenda da petição inicial, sob pena de
indeferimento; os autores não concordaram e interpuseram agravo de instrumento, que não foi
conhecido pelo TJ; contra esta decisão, foi manejado recurso especial; antes que o recurso
especial fosse julgado, o juiz extinguiu o processo sem resolução do mérito indeferindo a
petição inicial pelo fato de não ter sido cumprida a diligência (emenda da petição inicial); neste
caso, os autores deveriam ter interposto apelação contra a sentença; como não interpuseram, o
recurso especial tirado do agravo de instrumento – e que ainda estava pendente de julgamento
– não será conhecido porque houve a formação de coisa julgada.
STJ. 3ª T. REsp 1750079-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 13/08/19 (Info 654).
Cabe agravo de instrumento contra a decisão interlocutória que acolhe ou afasta a arguição de
impossibilidade jurídica do pedido.
Com o CPC/2015, a possibilidade jurídica do pedido deixou de ser uma condição da ação e
passou ser classificada como “questão de mérito”. Logo, se uma decisão interlocutória acolhe
ou rejeita a arguição de impossibilidade jurídica do pedido, trata-se de decisão que versa sobre
o mérito do processo, sendo cabível a interposição de agravo de instrumento, com fulcro no art.
1.015, II, do CPC:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
II - mérito do processo.
STJ. 3ª T. REsp 1757123-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 13/08/2019 (Info 654).
28.9. NOÇÕES GERAIS: INSS está dispensado do prévio pagamento do porte de remessa e de
retorno, devendo recolher o respectivo valor somente ao final da demanda, acaso vencido – (Info
653)
A teor dos arts. 27 e 511, § 1º, do revogado CPC/73 (arts. 91 e 1.007, § 1º, CPC/15), o Instituto
Nacional do Seguro Social - INSS, nos recursos de competência dos Tribunais de Justiça, está
dispensado do prévio pagamento do porte de remessa e de retorno, enquanto parcela
integrante do preparo, devendo recolher o respectivo valor somente ao final da demanda, acaso
vencido.
STJ. Corte Especial. REsp 1761119-SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 7/8/19 (recurso repetitivo –
Tema 1001) (Info 653).
28.11. AGRAVO DE INSTRUMENTO: Não cabe agravo de instrumento contra a decisão que
nega o pedido para que ocorra o julgamento antecipado parcial do mérito – (Info 653) –
IMPORTANTE!!!
Não é cabível agravo de instrumento contra decisão que indefere pedido de julgamento
antecipado do mérito por haver necessidade de dilação probatória.
STJ. 3ª T. AgInt no AREsp 1411485-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 1/7/19 (Info 653).
28.13. RECURSO ESPECIAL: O art. 1.035, § 5º do CPC/15 não determina a suspensão automática
dos processos, devendo esse entendimento ser aplicado aos recursos especiais que impugnam
acórdão publicado e com a repercussão geral reconhecida na vigência do CPC/73 – (Info 650)
O prazo para interposição de recurso ordinário em habeas corpus, ainda que se trate de matéria
não criminal, continua sendo de 5 dias, nos termos do art. 30 da Lei nº 8.038/90, não se
aplicando à hipótese os arts. 1.003, §5º, e 994, V, do CPC/2015.
Ex: recurso ordinário contra decisão do TJ que negou habeas corpus a indivíduo que se
encontra preso em razão de dívida de alimentos.
STJ. 3ª T. RHC 109.330-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 9/4/19 (Info 646).
Cabe agravo de instrumento, nos termos do art. 1.015, II, do CPC/15, contra decisão
interlocutória que fixa data da separação de fato do casal para efeitos da partilha dos bens.
Trata-se de decisão parcial de mérito, considerando que é uma decisão que resolve uma parcela
do pedido de partilha de bens.
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
II - mérito do processo;
STJ. 3ª T. REsp 1798975-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 2/4/19 (Info 645).
28.18. AGRAVO DE INSTRUMENTO: Cabe agravo de instrumento contra decisão
interlocutória que exclui o litisconsorte; não cabe este recurso contra a decisão que mantém o
litisconsorte – (Info 644) – IMPORTANTE!!!
Segundo o inciso VII do art. 1.015, do CPC/2015: “cabe agravo de instrumento contra as
decisões interlocutórias que versarem sobre exclusão de litisconsorte”.
Essa previsão abrange somente a decisão que exclui o litisconsorte.
Assim, cabe agravo de instrumento contra a decisão interlocutória que exclui o litisconsorte.
Por outro lado, não cabe agravo de instrumento contra a decisão que indefere o pedido de
exclusão de litisconsorte (decisão que mantém o litisconsorte).
STJ. 3ª T. REsp 1724453-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 19/03/2019 (Info 644).
OBS:
Interpretação do inciso VII do art. 1.015: O inciso VII do art. 1.015 prevê que cabe agravo de
instrumento contra “decisões interlocutórias que versarem sobre exclusão de litisconsorte”. O STJ
afirma que essa expressão prevista no inciso VII abrange somente a decisão que exclui o
litisconsorte. Por outro lado, não cabe agravo de instrumento contra a decisão que rejeita a
arguição de ilegitimidade passiva feita pelo réu/litisconsorte (decisão que rejeita a exclusão do
litisconsorte).
Erro na exclusão do litisconsorte fará com que a sentença seja anulada: Imaginemos que, logo
após a contestação, o juiz, por meio de decisão interlocutória, excluiu um litisconsorte.
Suponhamos (para argumentar) que não coubesse agravo de instrumento. O feito prosseguiria
normalmente e seriam praticados vários atos processuais. Ao final, o juiz profere sentença de
procedência condenando os litisconsortes. É interposta apelação. O Tribunal de Justiça conclui que
o juiz errou lá no início do processo ao excluir o litisconsorte e que ele deveria sim ter figurado no
polo passivo da lide. O que aconteceria neste caso? O Tribunal teria que anular a sentença e
todos os atos processuais praticados após a exclusão do litisconsorte. Perceba, portanto, que
haveria um enorme prejuízo. Justamente por essa razão, o inciso VII do art. 1.015 prevê que cabe
agravo de instrumento contra a decisão interlocutória que excluir litisconsorte. Essa decisão
deve ser impugnada imediatamente, devendo ser decidida logo para evitar um grande prejuízo
no futuro caso seja revertida.
Erro na manutenção do litisconsorte não faz com que a sentença seja anulada: Imaginemos agora
que, logo após a contestação, o juiz, por meio de decisão interlocutória, rejeitou o pedido de um
dos réus (litisconsorte 2) para ser excluído da lide. Em outras palavras, o juiz manteve o
litisconsorte. Suponhamos que não cabe agravo de instrumento. O feito prossegue normalmente e
são praticados vários atos processuais. Ao final, o juiz profere sentença de procedência
condenando os litisconsortes. É interposta apelação. O Tribunal de Justiça conclui que o juiz
errou lá no início do processo ao não ter excluído o litisconsorte, ou seja, o réu realmente era
parte ilegítima. Haverá nulidade da sentença por conta disso? Não. O Tribunal irá simplesmente
reformar a sentença para julgar improcedente o pedido contra esse litisconsorte 2 . A
manutenção, no processo, de uma parte alegadamente ilegítima não fulmina a sentença de
mérito nele proferida, podendo o Tribunal, por ocasião do julgamento do recurso de apelação,
reconhecer a ilegitimidade da parte e, então, exclui-la do processo. Perceba, portanto, que, ao
contrário da situação anterior, não haverá aqui, para o processo, um enorme prejuízo. Justamente
por essa razão, o STJ diz: neste segundo caso (decisão interlocutória mantendo o litisconsorte) não
cabe agravo de instrumento, sendo possível esperar mais um pouco e que esse tema seja
eventualmente apreciado somente na apelação.
Na primeira situação há um prejuízo endoprocessual; na segunda, um prejuízo econômico à parte :
Haverá, não há dúvida, transtornos à parte que será mantida em processo do qual não deveria
participar, mas, evidentemente, esse prejuízo é infinitamente menor do que àquele causado pela
exclusão, prematura e errônea, de quem necessariamente deveria dele participar.
Na primeira hipótese, pode-se cogitar um prejuízo meramente econômico exclusivamente da
parte não excluída. Na segunda hipótese, contudo, haverá um grave prejuízo endoprocessual,
que atingirá todos os sujeitos e invalidará a sentença de mérito, que é o resultado buscado no
processo.
Interpretação teleológica e sistemática: O legislador, quando quis dizer que cabe agravo de
instrumento contra a decisão que acolhe ou rejeita o pedido da parte, ele disse isso expressamente.
Como é o caso, por exemplo, do inciso IX:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre: (...)
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
No inciso VII, por outro lado, ele não mencionou isso expressamente, de forma que se deve
interpretar que só cabe o agravo de instrumento se a questão não puder esperar até o
julgamento da apelação.
Não cabimento de intepretação extensiva ou analogia no rol do art. 1.015: O STJ, no mesmo
julgamento que definiu que o rol do art. 1.015 é de taxatividade mitigada, também decidiu que
não é possível o uso da interpretação extensiva e da analogia para ampliar as hipóteses de
cabimento do agravo de instrumento.
O conceito de “decisão interlocutória que versa sobre tutela provisória” previsto no art. 1.015, I,
do CPC/2015, abrange as decisões que digam respeito à:
1) à presença ou não dos pressupostos que justificam o deferimento, indeferimento, revogação
ou alteração da tutela provisória (é o chamado núcleo essencial), ou seja, são as interlocutórias
que examinam se estão ou não presentes os pressupostos autorizadores da tutela provisória
pretendida pela parte.
2) ao prazo e ao modo de cumprimento da tutela. Portanto, a decisão interlocutória que se
pronuncia sobre o prazo ou sobre o modo de cumprimento da tutela provisória também se
enquadra no inciso I do art. 1.015 e é recorrível de imediato.
3) à adequação, suficiência, proporcionalidade ou razoabilidade da técnica de efetivação da
tutela provisória, tal como ocorre, por exemplo, na decisão que trata sobre o valor, a
periodicidade ou a eventual limitação quantitativa ou temporal das astreintes ou, ainda, na
decisão que determina a aplicação de técnica indutiva, coercitiva ou sub-rogatória para
cumprimento da tutela provisória, como a busca e apreensão, a proibição de atividade nociva, a
proibição de contratar com o Poder Público ou da suspensão temporária de passaporte, carteira
de habilitação ou cartões de crédito, dentre outras.
4) à necessidade ou dispensa de garantias para a concessão, revogação ou alteração da tutela
provisória. Isso porque tais questões, embora acessórias ao conceito essencial de tutela
provisória, com ele se relacionam diretamente, podendo, inclusive, influenciar o modo pelo
qual se examina a presença dos requisitos autorizadores da tutela pretendida.
STJ. 3ª T. REsp 1752049-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12/03/2019 (Info 644).
Não cabe agravo de instrumento contra a decisão interlocutória que impõe ao beneficiário o
dever de arcar com as despesas da estadia do bem móvel objeto da busca e apreensão em pátio
de terceiro.
Tal situação não pode ser enquadrada no art. 1.015, I, do CPC/2015 porque essa decisão não se
relaciona, de forma indissociável, com a tutela provisória.
Trata-se, na verdade, de decisão que diz respeito a aspectos externos relacionados com a
executoriedade, operacionalização ou implementação fática da busca e apreensão (e não com a
tutela provisória em si).
É um consectário lógico do deferimento da tutela provisória que haverá a necessidade de
recolhimento de taxas, despesas ou custas para a implementação da medida deferida.
STJ. 3ª T. REsp 1752049-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12/03/19 (Info 644).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa “Top Transportes Rodoviários” celebrou, com
o Banco Safra, um contrato de financiamento com alienação fiduciária para aquisição de um
caminhão. A Top deixou de pagar as prestações do mútuo. Diante disso, o Banco ajuizou, contra
Top, ação de busca e apreensão requerendo a entrega do veículo que estava em garantia (art. 3º do
DL 911/69). O juiz concedeu a busca e apreensão de forma liminar (sem ouvir o devedor).
Indaga-se: será cabível algum recurso contra esta decisão? SIM. Essa decisão concedeu uma
“tutela provisória”, de forma que, contra ela, é cabível a interposição de agravo de instrumento,
nos termos art. 1.015, I, do CPC/2015:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre:
I – tutelas provisórias; (...)
Vamos aprofundar um pouco mais sobre a tutela provisória: O Livro V (arts. 294 a 311) do
CPC/2015 é denominado “Da Tutela Provisória”. Tutela provisória é aquela concedida antes da
tutela definitiva, em caráter provisório, com base em uma cognição sumária. A tutela provisória
será sempre substituída por uma tutela definitiva, que a confirmará, revogará ou modificará.
Ex: João ingressa com ação pedindo o fornecimento de determinado medicamento. O juiz profere
decisão interlocutória determinando que o Estado conceda o remédio. Foi concedida, portanto, a
tutela provisória com base em cognição sumária. Ao final, o juiz profere sentença confirmando
que a pessoa tem o direito de receber o medicamento do Poder Público. Logo, nessa sentença, foi
concedida a tutela definitiva, que confirmou a tutela provisória.
Espécies de tutela provisória: A TUTELA PROVISÓRIA é o gênero do qual decorrem duas
espécies:
4) Tutela provisória de urgência;
2) Antecedente e incidental.
Art. 294 (...)
Parágrafo único. A tutela provisória de urgência, cautelar ou antecipada, pode ser
concedida em caráter antecedente ou incidental.
Quanto à satisfatividade: Em uma primeira classificação, a tutela provisória de URGÊNCIA
divide-se em:
1.1) ANTECIPADA (satisfativa): o órgão julgador antecipa aquele direito ou bem
da vida que o autor espera conseguir ao final do processo. Ex: em uma ação de
cobrança, o juiz, entendendo que o autor precisa dos valores para sobreviver,
determina que o réu entregue a quantia pleiteada enquanto se aguarda o desfecho
do processo.
1.2) CAUTELAR: o órgão julgador confere uma medida para assegurar aquele
direito ou bem da vida que o requerente espera obter ao fim do processo. Ex: em
uma ação de cobrança, o juiz, entendendo que há receio de que o réu se desfaça de
seu patrimônio, determina o arresto dos bens do requerido.
Voltando ao nosso exemplo: Imaginemos que a Top não interpôs agravo de instrumento contra a
decisão que deferiu liminarmente a busca e apreensão. Foram então praticados diversos atos para
se tentar localizar o veículo e cumprir a decisão (ex: houve várias diligências do oficial de Justiça
na sede da empresa, o juiz expediu ofício aos órgãos de trânsito etc.). Depois de algumas semanas,
a Polícia Rodoviária Federal, em uma blitz de rotina, localizou o caminhão e o levou até o pátio
daquele órgão. Em seguida, a PRF enviou um ofício ao juiz informando que o caminhão estava à
disposição para ser retirado, mas desde que fossem pagas as taxas pelo fato de o veículo ter ficado
no pátio do órgão. Ciente do referido ofício, o Banco requereu a liberação do veículo do pátio da
PRF sem quaisquer custos para si, pedindo que o juiz determinasse à empresa Top que pagasse as
taxas e demais despesas com a guarda do caminhão no pátio do órgão. O juiz proferiu decisão
interlocutória indeferindo o requerimento da instituição financeira sob o argumento de que o
pagamento das despesas e débitos referentes à liberação do veículo devem ser custeadas pelo
proprietário fiduciário (ou seja, pelo Banco) e que, posteriormente, a instituição financeira poderá
buscar o ressarcimento do devedor fiduciante.
O Banco não concordou e interpôs agravo de instrumento contra a decisão. A instituição alegou
que a decisão do juiz que nega o pedido feito pelo credor para que o devedor pague as despesas
relacionadas com a entrega do bem representa uma revogação parcial da liminar anteriormente
deferida, motivo pelo qual caberia agravo de instrumento com base no art. 1.015, I, do CPC:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre:
I – tutelas provisórias; (...)
Qual é a abrangência do inciso I do art. 1.015 do CPC/15? Como se deve interpretar a expressão
“decisões interlocutórias que versem sobre tutelas provisórias”? O STJ identificou quatro grupos
de decisões que podem ser enquadradas nesta previsão e que, portanto, são recorríveis de
imediato por meio de agravo de instrumento:
4) Pressupostos que autorizam a tutela provisória (núcleo essencial) : São as decisões
interlocutórias que examinam se estão ou não presentes os pressupostos autorizadores
da tutela provisória pretendida pela parte. Aqui estão incluídas as decisões de
deferimento, indeferimento, revogação ou alteração da tutela provisória.
2) Prazo ou modo de cumprimento da tutela: A decisão interlocutória que se pronuncia sobre o
prazo ou sobre o modo de cumprimento da tutela provisória também se enquadra no inciso I do
art. 1.015 e é recorrível de imediato. Ex: a fixação de um prazo demasiadamente longo para
cumprimento pode acarretar o perecimento do próprio direito que se pretende salvaguardar, ao
passo que a fixação de um prazo insuficiente para o cumprimento pode impor à parte uma
obrigação que ela não conseguirá cumprir, sofrendo os efeitos do inadimplemento, como a multa.
3) Definição da técnica de efetivação da tutela: A decisão que analisa a adequação, suficiência,
proporcionalidade ou razoabilidade da técnica de efetivação da tutela também é recorrível por
agravo de instrumento. Ex1: decisão que trata sobre o valor, a periodicidade ou a eventual
limitação quantitativa ou temporal das astreintes. Ex2: decisão que determina a aplicação de
técnica indutiva, coercitiva ou sub-rogatória para cumprimento da tutela provisória, como a
busca e apreensão, a proibição de atividade nociva, a proibição de contratar com o Poder Público
ou da suspensão temporária de passaporte, carteira de habilitação ou cartões de crédito, dentre
outras.
4) Necessidade ou dispensa de caução: A decisão que se pronuncie sobre a necessidade ou a
dispensa de caução ou quaisquer garantias para a concessão, revogação ou modificação da
tutela. Isso porque tais questões, embora acessórias ao conceito essencial de tutela provisória, com
ele se relacionam diretamente, podendo, inclusive, influenciar o modo pelo qual se examina a
presença dos requisitos autorizadores da tutela pretendida.
Cláusula de cabimento de amplo espectro: Assim, é possível concluir que o art. 1.015, I, do
CPC/15, deve ser lido e interpretado como uma cláusula de cabimento de amplo espectro, de
modo a permitir a recorribilidade imediata das decisões interlocutórias que digam respeito não
apenas ao núcleo essencial da tutela provisória, mas também que se refiram aos aspectos
acessórios que estão umbilicalmente vinculados a ela, porque, em todas essas situações, há
urgência que justifique o imediato reexame da questão em 2º grau de jurisdição. Isso não
significa dizer, todavia, que absolutamente toda e qualquer questão relacionada ao cumprimento,
operacionalização ou implementação fática da tutela provisória se enquadre no conceito de
decisão interlocutória que versa sobre tutela provisória e, consequentemente, possa ser
impugnada de imediato pelo agravo de instrumento.
Agora que já sabemos quais os critérios adotados pelo STJ, pergunto: a tese invocada pelo Banco
foi acolhida? Cabe realmente agravo de instrumento naquela hipótese na qual se discutia a
responsabilidade pelo pagamento das despesas com a armazenagem do bem? NÃO.
Não cabe agravo de instrumento contra a decisão interlocutória que impõe ao
beneficiário o dever de arcar com as despesas da estadia do bem móvel objeto da
busca e apreensão em pátio de terceiro. Tal situação não pode ser enquadrada no
art. 1.015, I, do CPC/2015 porque essa decisão não se relaciona, de forma
indissociável, com a tutela provisória. Trata-se, na verdade, de decisão que diz
respeito a aspectos externos relacionados com a executoriedade, operacionalização
ou implementação fática da busca e apreensão (e não com a tutela provisória em
si). STJ. 3ª T. REsp 1.752.049-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12/3/19 (Info 644).
É um consectário lógico do deferimento da tutela provisória que haverá a necessidade de
recolhimento de taxas, despesas ou custas para a implementação da medida deferida . Cabe ao
beneficiário da tutela, por exemplo, custear: (i) a diligência do oficial de justiça, a quem caberá
intimar pessoalmente o réu da tutela provisória deferida; (ii) o cartório, a fim efetivar o registro de
protesto cautelar contra a alienação de bem; (iii) as despesas relacionadas às pesquisas de ativos
financeiros ou bens móveis ou imóveis, quando pretender torná-los indisponíveis; (iv) as despesas
do pátio em que fora estacionado o veículo que fora apreendido em decorrência de ordem de
restrição de circulação por ele requerida.
Tais providências, todavia, não se relacionam, direta e nem mesmo indiretamente, com a tutela
provisória objeto da decisão interlocutória impugnável, mas, sim, com a execução,
operacionalização e implementação fática da providência que já foi requerida e obtida,
descabendo discutir, em âmbito de tutela provisória, a questão relacionada ao fato de a parte
beneficiária da tutela arcar com as despesas e, ao final, ser ressarcida pelo vencido, inclusive como
decorrência lógica da necessidade de plena reintegração que permeia a tutela jurisdicional efetiva.
Conclui-se que a relação estabelecida entre a decisão interlocutória que disciplina o modo de
custeio da execução da tutela provisória e a decisão interlocutória que versa sobre tutela
provisória é, pois, muitíssimo distante e dissociada, quase inexistente, não se podendo enquadrar
a primeira na hipótese de cabimento do art. 1.015, I, do CPC/2015, por mais amplo que seja o seu
espectro.
E a decisão que REJEITA a ocorrência de prescrição ou decadência? Também se pode dizer que é
uma decisão de mérito?
Decisão interlocutória que REJEITA a ocorrência de
prescrição ou decadência é uma decisão de mérito?
CPC/1973: NÃO CPC/2015: SIM
Havia o entendimento de que não se tratava Não há mais dúvidas de que também se trata
de uma decisão de mérito. Isso por causa da de uma decisão de mérito. Isso por causa da
redação do art. 269, IV, que falava apenas redação expressa que foi dada ao art. 487, II, do
em pronunciar: CPC/2015:
Art. 269. Haverá resolução de mérito: Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o
IV - quando o juiz pronunciar (reconhecer) a juiz:
decadência ou a prescrição; II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a
ocorrência de decadência ou prescrição;
O conceito de “decidir sobre a ocorrência” é claramente mais amplo do que apenas
“pronunciar”, motivo pelo qual é correto afirmar que o art. 487, II, do CPC/2015, passou a
abranger, indiscutivelmente, o acolhimento e também a rejeição da alegação de prescrição ou
decadência, com aptidão inclusive para, em ambas as hipóteses, formar coisa julgada material
sobre essas questões.
Mas a prescrição ou decadência não tem que ser decididas apenas ao final, na sentença? NÃO.
Embora a ocorrência ou não da prescrição ou da decadência possam ser apreciadas somente por
ocasião da prolação da sentença, não há vedação alguma para que essas questões sejam
antecipadamente examinadas, por intermédio de decisões interlocutórias. A praxe forense, aliás,
revela que as hipóteses de rejeição da alegação de prescrição ou de decadência ou de
reconhecimento de sua ocorrência sobre parte ou sobre algum dos pedidos, na verdade,
normalmente ocorrem antes da sentença, mais precisamente na decisão saneadora, ocasião em que
usualmente são decotadas as questões de fato e de direito relevantes da controvérsia para a
subsequente fase instrutória.
Agravo de instrumento com base no inciso II do art. 1.015: Desse modo, a decisão interlocutória
que rejeita a ocorrência de prescrição ou decadência é uma decisão de mérito, que enseja a
interposição de agravo de instrumento com base no inciso II do art. 1.015 do CPC/2015:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre: (...)
II - mérito do processo;
Se o juiz, por meio de decisão interlocutória, rejeitar a ocorrência de prescrição e decadência, e a
parte prejudicada não interpuser agravo de instrumento, ela poderá impugnar novamente isso no
momento da apelação? NÃO. Se o juiz rejeitar a alegação de prescrição ou decadência por meio de
decisão interlocutória e a parte prejudicada não recorrer de imediato mediante agravo de
instrumento haverá coisa julgada e esse tema não poderá ser novamente debatido na apelação.
Veja a lição da doutrina:
“No curso do procedimento, é possível haver decisões de mérito. O juiz pode, por
exemplo, rejeitar a alegação de prescrição ou de decadência, determinando a
instrução probatória. De decisões assim cabe agravo de instrumento, tal como prevê
o art. 1.015, II, do CPC.
O disposto no art. 1.015, II, do CPC, confirma a possibilidade de ser proferida, no
processo civil brasileiro, decisão interlocutória de mérito definitiva. Se o dispositivo
prevê agravo de instrumento contra decisão de mérito, está, em verdade, a admitir a
existência de decisão interlocutória que trate do mérito com caráter de
definitividade.
Se o agravo de instrumento não for interposto, haverá coisa julgada. Não será
possível impugnar a decisão interlocutória de mérito ou a decisão parcial de mérito
na apelação a ser interposta da sentença que ainda será proferida.” (DIDIER JR.,
Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil: meios de
impugnação às decisões judiciais e processos nos tribunais. 15ª ed. Salvador: Juspodivm,
2018. p. 252/253).
28.21. AGRAVO DE INSTRUMENTO: Se a parte ajuizou ação urgente sem juntar procuração
(art. 37 do CPC/1973), ela também poderá, dentro do prazo de 15 dias previsto neste dispositivo,
interpor recurso sem procuração – (Info 643)
É admissível, em caso de urgência, nos termos do art. 37 do CPC/1973 (art. 104, § 1º, do
CPC/2015), a regularização da representação processual do autor/agravante, em segunda
instância, a partir do translado do instrumento de procuração a ser juntado na origem no prazo
assinado em lei.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1265639-SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 12/12/2018 (Info 643).
OBS:
Art. 104. O advogado não será admitido a postular em juízo sem procuração, salvo
para evitar preclusão, decadência ou prescrição, ou para praticar ato considerado
urgente.
§ 1º Nas hipóteses previstas no caput, o advogado deverá, independentemente de
caução, exibir a procuração no prazo de 15 (quinze) dias, prorrogável por igual
período por despacho do juiz. (...)
• Não haverá nulidade do julgamento (salvo se o resultado proclamado não refletir a vontade
da maioria).
Além disso, a inobservância da regra do § 3º do art. 941 do CPC constitui vício de atividade ou
erro de procedimento (error in procedendo). Isso porque se trata de um vício não relacionado
com o teor do julgamento em si, mas sim com a condução do procedimento de lavratura e
publicação do acórdão.
Em suma: haverá nulidade do acórdão que não contenha a totalidade dos votos declarados; por
outro lado, não haverá nulidade do julgamento se o resultado proclamado refletir, com
exatidão, a conjunção dos votos proferidos pelos membros do colegiado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1729143-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12/02/2019 (Info 642).
28.23. O recurso interposto pela Defensoria, na qualidade de curadora especial, não precisa de
preparo – (Info 641) – IMPORTANTE!!! Concursos DPE!!!
Aliás, não é essa a sua função, não sendo isso exigido pela lei. A Defensoria Pública tem apenas
o múnus público de exercer a curadoria especial, mas não de arcar com as despesas do preparo
em nome da parte. Exigir preparo para o conhecimento de recurso interposto pela Defensoria
Pública, na condição de curadora especial de réu ausente, representa indevido obstáculo ao livre
exercício do múnus público atribuído à instituição. A dispensa do preparo, neste caso, é uma
decorrência do princípio constitucional da ampla defesa, o qual também deve ser assegurado na
instância recursal.
O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo
de instrumento quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da
questão norecurso de apelação.
STJ. Corte Especial. REsp 1704520/MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 5/12/18 (recurso repetitivo)
(Info 639)
Obs: a tese jurídica fixada e acima explicada somente se aplica às decisões interlocutórias
proferidas após a publicação do REsp 1704520/MT, o que ocorreu no DJe 19/12/18.
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A sociedade empresária “Aqua Modas” celebrou contrato
com a empresa “Terra Confecções”. No pacto, havia a previsão de uma cláusula de eleição de foro:
“8.1. Fica eleito o foro da cidade de São Paulo/SP em detrimento de qualquer outro, por mais privilegiado
que seja, para dirimir quaisquer dúvidas ou controvérsias oriundas do presente instrumento.” Houve uma
divergência entre os contratantes e a empresa “Terra” ajuizou ação de rescisão contratual contra a
“Aqua” na comarca de Porto Alegre (RS), sede da autora.
Arguição de incompetência: A empresa “Aqua”contestou a ação e arguiu a incompetência relativa
do foro de Porto Alegre (incompetência territorial) argumentando que a referida cláusula de
eleição de foro é válida e não tem nada de abusiva. Vale lembrar que, com o CPC/15, a
incompetência relativa não é mais alegada por meio de “exceção de incompetência”, mas sim
como um mero tópico da contestação:
Art. 64. A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada como questão
preliminar de contestação.
Decisão interlocutória examinando a competência: O juiz deferiu o pedido da empresa “Aqua”,
por entender que a cláusula de eleição de foro é válida. Com isso, o magistrado determinou a
remessa dos autos para o juízo de São Paulo/SP. Contra esta decisão, a autora “Terra” interpôs
agravo de instrumento. O TJSP não conheceu do recurso afirmando que as hipóteses de cabimento
do agravo de instrumento estão previstas taxativamente (exaustivamente) no art. 1.015 do CPC/15 e
que neste rol não existe a previsão de agravo de instrumento contra a decisão relacionada com
definição de competência. Veja a lista do art. 1.015 do CPC/15:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua
revogação;
VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à
execução;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º;
XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de
sentença, no processo de execução e no processo de inventário.
Cabe agravo de instrumento neste caso? Na vigência do CPC/15 cabe agravo de instrumento
contra a decisão que examina competência ou se trata de decisão irrecorrível de imediato?
Durante mais de dois anos houve um intenso debate na doutrina e jurisprudência sobre o tema. O
STJ, contudo, pacificou o tema em recurso especial repetitivo. Prevaleceu no STJ o seguinte
entendimento: É cabível a interposição de agravo de instrumento contra decisão relacionada à
definição de competência, a despeito de não previsto expressamente no rol do art. 1.015 do
CPC/2015. Apesar de não previsto expressamente no rol do art. 1.015 do CPC/2015, a decisão
interlocutória que acolhe ou rejeita a alegação de incompetência desafia recurso de agravo de
instrumento.
Se a parte não interpuser o agravo ou se ingressar, mas o Tribunal entender que não há urgência
(e não conhecer do recurso), isso significa que não houve preclusão e a parte poderá questionar a
decisão futuramente na apelação.
Modulação dos efeitos: Como havia muita polêmica sobre o tema, o STJ, para fins de garantir a
segurança jurídica, decidiu modular os efeitos da decisão. Desse modo, a tese jurídica fixada e
acima explicada somente se aplicará às decisões interlocutórias proferidas após a publicação do
REsp 1704520/MT, o que ocorreu noDJe 19/12/2018.
Assim como ocorria com os embargos infringentes, para a aplicação da técnica de julgamento
do art. 942 do CPC exige-se que a sentença tenha sido reformada no julgamento da apelação?
NÃO. A técnica do julgamento ampliado vale também para sentença mantida pelo Tribunal no
julgamento da apelação por decisão não unânime.
A técnica de ampliação de julgamento prevista no art. 942 do CPC/15 deve ser utilizada quando
o resultado da apelação for não unânime, independentemente de ser julgamento que reforma
ou mantém a sentença impugnada.
Assim, o que importa é que a decisão que julgou a apelação tenha sido por maioria
(julgamento não unânime), não importando que a sentença tenha sido mantida ou reformada.
Obs: cuidado com as hipóteses de cabimento do art. 942 do CPC nos casos de acórdão que julga
agravo de instrumento e ação rescisória.
STJ. 4ª Turma. REsp 1733820-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 2/10/18 (Info 639).
OBS:
Técnica de julgamento do art. 942 do CPC/15: O resultado do julgamento da apelação pode ser
unânime (quando todos os Desembargadores concordam) ou por maioria (quando no mínimo um
Desembargador discorda dos demais). Se o resultado da apelação for não unânime, o julgamento
terá prosseguimento em uma nova sessão, que será marcada e que contará com a presença de
novos Desembargadores que serão convocados, em número suficiente para garantir a
possibilidade de inversão do resultado inicial. Ex: o resultado da apelação foi 2x1; 2
Desembargadores votaram pelo provimento da apelação (em favor de João) e um Desembargador
votou pela manutenção da sentença (em favor de Pedro); significa dizer que deverá ser designada
uma nova sessão e para essa nova sessão serão convocados dois novos Desembargadores que
também irão emitir votos; neste nosso exemplo, foram convocados 2 porque a convocação dos
novos julgadores deverá ser em número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do
resultado inicial (se os dois novos Desembargadores votarem com a minoria, o placar se inverte
para 3x2). Veja a previsão legal:
Art. 942. Quando o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá
prosseguimento em sessão a ser designada com a presença de outros julgadores, que
serão convocados nos termos previamente definidos no regimento interno, em
número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial,
assegurado às partes e a eventuais terceiros o direito de sustentar oralmente suas
razões perante os novos julgadores.
A previsão deste art. 942 é chamada de “técnica de complementação de julgamento não
unânime” ou “técnica de ampliação do colegiado”.
Assim como ocorria com os embargos infringentes, para a aplicação da técnica de julgamento do
art. 942 do CPC exige-se que a sentença tenha sido reformada? NÃO. A técnica do julgamento
ampliado vale também para sentença mantida pelo Tribunal no julgamento da apelação por
decisão não unânime. Foi o que decidiu o STJ no Info 639. A técnica de ampliação do julgamento
prevista no CPC/15 possui objetivo semelhante ao que possuíam os embargos infringentes do
CPC/73, que não mais subsistem, qual seja a viabilidade de maior grau de correção e justiça nas
decisões judiciais, com julgamentos mais completamente instruídos e os mais proficientemente
discutidos, de uma maneira mais econômica e célere. Contudo, diferentemente dos embargos
infringentes do CPC/73 - que limitava, no caso da apelação, a incidência do recurso aos
julgamentos que resultassem em reforma da sentença de mérito -, a técnica de julgamento
prevista no CPC/15 deverá ser utilizada quando o resultado da apelação for não unânime,
independentemente de ser julgamento que reforma ou mantém a sentença impugnada.
Como ocorre a continuidade do julgamento na hipótese em que houve uma parte unânime e
outra não unânime? Ex: no julgamento de uma apelação contra sentença que havia negado
integralmente a indenização, a Câmara Cível entendeu de forma unânime (3x0) que houve
danos materiais e por maioria (2x1) que não ocorreram danos morais. Foram então convocados
dois Desembargadores para a continuidade do julgamento ampliado (art. 942). Esses dois
novos Desembargadores que chegam poderão votar também sobre a parte unânime (danos
materiais) ou ficarão restritos ao capítulo não unânime (danos morais)?
O colegiado formado com a convocação dos novos julgadores (art. 942 do CPC/2015) poderá
analisar de forma ampla todo o conteúdo das razões recursais, não se limitando à matéria sobre
a qual houve originalmente divergência.
Constatada a ausência de unanimidade no resultado da apelação, é obrigatória a aplicação do
art. 942 do CPC/2015, sendo que o julgamento não se encerra até o pronunciamento pelo
colegiado estendido, ou seja, inexiste a lavratura de acórdão parcial de mérito.
Os novos julgadores convocados não ficam restritos aos capítulos ou pontos sobre os quais
houve inicialmente divergência, cabendo-lhes a apreciação da integralidade do recurso.
O prosseguimento do julgamento com quórum ampliado em caso de divergência tem por
objetivo a qualificação do debate, assegurando-se a oportunidade para a análise aprofundada
das teses jurídicas contrapostas e das questões fáticas controvertidas, com vistas a criar e
manter uma jurisprudência uniforme, estável, íntegra e coerente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.771.815-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 13/11/18 (Info 638).
28.27. Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um dos litisconsortes haja
sucumbido – (Info 636) – IMPORTANTE!!!
É inaplicável a contagem do prazo recursal em dobro quando apenas um dos litisconsortes com
procuradores distintos sucumbe.
Nesse sentido existe, inclusive, uma súmula do STF, cujo entendimento continua válido com o
CPC/2015:
Súmula 641-STF: Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um dos litisconsortes
haja sucumbido.
Ex: ação de cobrança proposta contra Pedro e Tiago. Na sentença, o juiz julga procedente
quanto a Pedro e improcedente no que tange a Tiago. Pedro, única parte sucumbente, não terá
direito a prazo em dobro.
STJ. 3ª Turma. REsp 1709562-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 16/10/2018 (Info 636).
Houve uma divergência entre os contratantes e a empresa ajuizou ação contra João na comarca de
São Paulo. João, que mora em Porto Alegre (RS), arguiu a incompetência relativa do foro de São
Paulo (incompetência territorial) argumentando que a referida cláusula de eleição de foro é
abusiva.
Vale lembrar que, com o CPC/2015, a incompetência relativa não é mais alegada por meio de
“exceção de incompetência”, mas sim como um mero tópico da contestação:
Art. 64. A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada como questão
preliminar de contestação.
O juiz indeferiu o pedido de João por entender que a cláusula é válida. Contra esta decisão, João
interpôs agravo de instrumento. O Tribunal de Justiça não conheceu do recurso afirmando que as
hipóteses de cabimento do agravo de instrumento estão previstas taxativamente (exaustivamente)
no art. 1.015 do CPC/2015 e que neste rol não existe a previsão de agravo de instrumento contra a
decisão relacionada com definição de competência. Veja a lista do art. 1.015 do CPC/2015:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua
revogação;
VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à
execução;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º;
XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de
sentença, no processo de execução e no processo de inventário.
Agiu corretamente o Tribunal de Justiça? Qual é o recurso cabível contra a decisão interlocutória
que acolhe ou rejeita a alegação de incompetência formulada pelo réu na contestação? Não agiu
corretamente o TJ. O recurso cabível, neste caso, é realmente o agravo de instrumento.
Intepretação analógica ou extensiva: Apesar de não prevista expressamente no rol do art. 1.015, a
decisão interlocutória, relacionada à definição de competência continua desafiando recurso de
agravo de instrumento, por uma interpretação analógica ou extensiva da norma do inciso III do
art. 1.015:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre:
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
Tema correlato: é possível interpor agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito
suspensivo aos embargos à execução: É admissível a interposição de agravo de instrumento
contra decisão que não concede efeito suspensivo aos embargos à execução.
As hipóteses em que cabe agravo de instrumento estão previstas art. 1.015 do
CPC/2015, que traz um rol taxativo. Apesar de ser um rol exaustivo, é possível que
as hipóteses trazidas nos incisos desse artigo sejam lidas de forma ampla, com
base em uma interpretação extensiva.
Assim, é cabível agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito
suspensivo aos embargos à execução com base em uma interpretação extensiva do
inciso X do art. 1.015: “Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões
interlocutórias que versarem sobre: (...) X - concessão, modificação ou revogação do efeito
suspensivo aos embargos à execução; (...)”. STJ. 2ª Turma. REsp 1.694.667-PR, Rel. Min.
Herman Benjamin, j. 05/12/2017 (Info 617).
28.30. É possível interpor agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito
suspensivo aos embargos à execução – (Info 617) – Novo CPC! IMPORTANTE!!!
É admissível a interposição de agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito
suspensivo aos embargos à execução.
As hipóteses em que cabe agravo de instrumento estão previstas art. 1.015 do CPC/2015, que
traz um rol taxativo. Apesar de ser um rol exaustivo, é possível que as hipóteses trazidas nos
incisos desse artigo sejam lidas de forma ampla, com base em uma interpretação extensiva.
Assim, é cabível agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito suspensivo aos
embargos à execução com base em uma interpretação extensiva do inciso X do art. 1.015:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre:
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à
execução;
STJ. 2ª Turma. REsp 1694667-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 5/12/17 (Info 617).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: “FN” ingressou com execução contra “JY”. O devedor
apresentou embargos à execução.
Para que o devedor apresente embargos à execução, é necessária garantia do juízo?
Execução “comum”: NÃO Execução fiscal: SIM
O executado, independentemente de Não são admissíveis embargos do
penhora, depósito ou caução, poderá se executado antes de garantida a
opor à execução por meio de embargos execução (art. 16, § 1º, da Lei nº
(art. 914 do CPC/2015). 6.830/80 – Lei de Execução Fiscal).
Os embargos à execução possuem efeito suspensivo? Se o devedor apresenta esta espécie de
defesa, a execução deverá ficar paralisada até que os embargos sejam julgados?
Regra: os embargos à execução não possuem efeito suspensivo. Em outras palavras, a
oposição de embargos à execução não suspende automaticamente os atos executivos.
Exceção: o juiz poderá atribuir efeito suspensivo aos embargos desde que cumpridos
três requisitos cumulativos:
1) deve haver pedido expresso do embargante (executado);
2) devem estar presentes os requisitos para a concessão da tutela provisória; e
3) a execução precisa estar garantida por penhora, depósito ou caução suficientes.
Assim, é cabível agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito suspensivo aos
embargos à execução com base em uma interpretação extensiva do inciso X do art. 1.015 do
CPC/2015.
Como reforço argumentativo, o Min. Herman Benjamin afirmou que o caso poderia se enquadrar
também no inciso I do art. 1.015 do CPC/2015, considerando que o requerimento de concessão de
efeito suspensivo aos embargos à execução pode ser caracterizado como um pedido de tutela
provisória de urgência.
28.31. Se a decisão proferida pelo juiz induzir a parte a interpor o recurso errado, deve-se
reconhecer que houve dúvida objetiva, que justifica o princípio da fungibilidade – (Info 613)
Qual é o sentido desse princípio? A parte recorrente não será prejudicada se interpôs o recurso
errado, desde que esteja de boa-fé, não tenha sido um erro grosseiro e o recurso incorreto tenha
sido manejado no prazo do recurso certo.
Previsão no CPC: O princípio da fungibilidade não está previsto de forma específica nem genérica
no CPC. Apesar disso, a doutrina admite a sua existência. Nesse sentido:
Enunciado 104-FPPC: O princípio da fungibilidade recursal é compatível com o
CPC e alcança todos os recursos, sendo aplicável de ofício.
Alguns autores afirmam que o CPC/2015 previu o princípio da fungibilidade de forma específica
em dois casos:
Recebimento de embargos de declaração contra decisão monocrática em tribunal como
agravo interno (art. 1.024, § 3º);
Recebimento de REsp como RE e vice-versa (arts. 1.032 e 1.033).
Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação: João, executado, ingressou com uma
espécie de defesa chamada “exceção de pré-executividade”. Podemos vislumbrar dois cenários
mais prováveis neste caso:
1) O juiz acolhe a exceção de pré-executividade e extingue a execução: isso é feito por meio de
sentença e, caso o exequente não se conforme, poderá interpor como recurso a apelação.
2) O juiz rejeita a exceção de pré-executividade e mantém o prosseguimento da execução: isso é
feito por meio de decisão interlocutória e, caso o executado não se conforme, poderá interpor
como recurso o agravo de instrumento.
Suponhamos que o juiz rejeitou a exceção de pré-executividade de João. Qual seria o recurso que
ele deveria interpor? Agravo de instrumento. Ocorre que João se equivocou e interpôs apelação. O
Tribunal de Justiça não conheceu da apelação afirmando justamente que João interpôs o recurso
errado. João não se conformou e interpôs recurso especial contra o acórdão do TJ. No Resp, João
alegou que o TJ deveria ter aplicado o princípio da fungibilidade e que foi induzido em erro pelo
juiz. Isso porque o magistrado nomeou a decisão que rejeitou a exceção de pré-executividade
como “sentença”. Além disso, a Secretaria da vara teria lançado no sistema a decisão como
sentença. Essas circunstâncias geraram uma dúvida objetiva na parte, fazendo com que ela
acabasse concluindo que se tratava realmente de sentença e, contra ela, deveria ser interposta
apelação.
A tese de João foi acolhida pelo STJ? SIM. Para o STJ, há situações em que os termos em que é
redigida a decisão pelo julgador são determinantes para a interposição equivocada do recurso. Na
hipótese analisada, embora a decisão do juiz singular não tenha colocado termo ao processo de
execução, o referido magistrado deu-lhe verdadeiro tratamento de sentença - assim denominando-
a e registrando-a, bem como recebendo e processando o recurso de apelação.
Dessa forma, o juízo colaborou diretamente para o surgimento da dúvida quanto ao recurso
cabível, afastando-se a eventual má-fé da parte na interposição da apelação - o que legitima a
aplicação do princípio da fungibilidade.
Conforme constou em outro precedente, “tem entendido esta Corte que não pode o jurisdicionado
responder por erro induzido pelo magistrado.” (STJ. 2ª Turma. REsp 1349832/RS, Rel. Min. Eliana
Calmon, julgado em 16/05/2013).
28.32. O pedido de antecipação dos efeitos da tutela pode ser feito em sede de sustentação oral –
(Info 608)
A disposição constante do art. 1.017, § 5º, do CPC/2015, que dispensa a juntada das peças
obrigatórias à formação do agravo de instrumento em se tratando de processo eletrônico, exige,
para sua aplicação, que os autos tramitem por meio digital tanto no primeiro quanto no
segundo grau de jurisdição.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.643.956-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 9/5/17 (Info 605)
OBS:
Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída:
I — obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que
ensejou a decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão da respectiva
intimação ou outro documento oficial que comprove a tempestividade e das
procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado;
II — com declaração de inexistência de qualquer dos documentos referidos no inciso
I, feita pelo advogado do agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal;
III — facultativamente, com outras peças que o agravante reputar úteis. (...)
§ 5º Sendo eletrônicos os autos do processo, dispensam-se as peças referidas nos
incisos I e II do caput, facultando-se ao agravante anexar outros documentos que
entender úteis para a compreensão da controvérsia.
28.34. Relator do agravo interno não pode simplesmente "copiar e colar" a decisão agravada –
(Info 592) – IMPORTANTE!!!
Exemplo de agravo interno: João ajuizou ação contra Pedro. O juiz negou os benefícios da justiça
gratuita que haviam sido formulados pelo autor. Diante disso, João interpôs agravo de
instrumento para o TJ (art. 1.015, V, do CPC). O Desembargador Relator, monocraticamente,
negou provimento ao recurso (art. 932, IV, "a"). Contra esta decisão monocrática, o autor interpôs
agravo interno (art. 1.021):
Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o
respectivo órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras do
regimento interno do tribunal.
§ 1º Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os
fundamentos da decisão agravada.
O Relator do agravo interno será o próprio magistrado que proferiu a decisão. Ele deverá preparar
um voto mantendo ou reformando a sua decisão monocrática e submeter este voto para ser
apreciado pelo colegiado do qual faz parte segundo as competências definidas no regimento
interno do Tribunal (Turma, Câmara, Plenário etc.). Desse modo, no agravo interno existe a
possibilidade de o Relator se retratar em relação à decisão anteriormente proferida:
§ 2º O agravo será dirigido ao relator, que intimará o agravado para manifestar-se
sobre o recurso no prazo de 15 (quinze) dias, ao final do qual, não havendo
retratação, o relator levá-lo-á a julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em
pauta.
O que acontecia muito na prática: Na prática forense, o mais comum era o Desembargador ou
Ministro manter a decisão monocrática que ele havia proferido e simplesmente colar no voto do
agravo a íntegra da manifestação anterior. Exemplo:
"O agravante alega...
Na decisão agravada afirmei que... (transcrição integral da decisão).
Os argumentos trazidos pelo agravante não servem para infirmar o posicionamento já
expendido.
Ante o exposto, mantenho a decisão agravada por seus próprios fundamentos."
Esta forma de decisão continua sendo válida? A 3ª Turma do STJ entendeu que não. Isso porque o
NCPC proibiu expressamente esta forma de decidir o agravo interno. Confira:
Art. 1.021 (...)
§ 3º É vedado ao relator limitar-se à reprodução dos fundamentos da decisão
agravada para julgar improcedente o agravo interno.
O órgão julgador não está obrigado a rebater, com minúcias, cada um dos argumentos deduzidos
pelas partes. Apesar disso, o NCPC, exaltando os princípios da cooperação e do contraditório,
impõe-lhe o dever de enfrentar todas as questões capazes de, por si sós e, em tese, infirmar a sua
conclusão sobre os pedidos formulados, sob pena de se reputar não fundamentada a decisão
proferida. É o que prevê o art. 489, § 1º, IV:
Art. 489 (...)
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela
interlocutória, sentença ou acórdão, que:
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
As peças que devem formar o instrumento do agravo podem ser apresentadas em mídia digital
(DVD).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.608.298-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 1/9/2016 (Info 591).
OBS:
O agravo de instrumento é um recurso interposto diretamente no juízo ad quem, ou seja, é
encaminhado diretamente para o Tribunal que irá julgá-lo.
Ex.: “A” ingressa com uma ação de alimentos contra “B” e pede a concessão de alimentos
provisórios no valor de R$ 2 mil. O juiz, em decisão interlocutória, nega a fixação dos alimentos
provisórios. “A” interpõe agravo de instrumento contra a decisão do juiz de 1ª instância (juízo a
quo) diretamente no Tribunal de Justiça (juízo ad quem).
O nome do recurso é agravo de instrumento porque neste tipo de agravo deverá ser formado um
“instrumento”, ou seja, um conjunto de documentos para que o Tribunal analise se as razões
invocadas pelo recorrente são procedentes ou não. Isso ocorre porque o processo continua
tramitando no juízo a quo e, para o juízo ad quem examinar as razões do recurso, será necessário
que ele tenha cópias de alguns documentos presentes naqueles autos originários.
Em nosso exemplo, “A” irá preparar a petição do recurso, tirar cópias de vários documentos dos
autos, juntá-los à petição e protocolá-los, como agravo de instrumento, no Tribunal de Justiça.
E quais são estes documentos? Estão previstos no art. 525 do CPC 1973 (art. 1.017 do CPC 2015).
Fique atento para as partes em cinza porque são novidades:
O que acontece caso a parte agravante não junte algum dos documentos considerados
obrigatórios? Na falta da cópia de qualquer peça ou no caso de algum outro vício que
comprometa a admissibilidade do agravo de instrumento, o relator deverá, antes de considerar
inadmissível o recurso, conceder o prazo de 5 dias ao agravante para que seja sanado vício ou
complementada a documentação exigível (art. 1.017, § 3º do CPC/2015). Caso, mesmo intimado, o
agravante não junte o documento faltante ou corrija o vício, aí sim deverá o relator julgar
inadmissível o agravo de instrumento manejado.
Imagine que o processo é físico (em papel). Mesmo assim, poderá o agravante juntar esses
documentos acima listados em formato digital, ou seja, escaneados e salvos em um DVD? SIM.
Além disso, o CPC não exige que o agravante junte as peças originais. Desse modo, se ele
apresentar as peças em formato eletrônico (mídia contendo imagens) acompanhada da declaração
de autenticidade pelo advogado, tal apresentação deverá ser considerada válida, salvo se a parte
adversária demonstrar que sejam inautênticas.
Admite-se a aplicação da teoria da causa madura (art. 515, § 3º, do CPC/1973 / art. 1.013, § 3º do
CPC/2015) em julgamento de agravo de instrumento.
Ex: o MP ingressou com ação de improbidade contra João, Paulo e Pedro pedindo a
indisponibilidade dos bens dos requeridos. O juiz deferiu a medida em relação a todos eles, no
entanto, na decisão não houve fundamentação quanto à autoria de Pedro. Diante disso, ele
interpôs agravo de instrumento. O Tribunal, analisando o agravo, entendeu que a decisão
realmente é nula quanto a Pedro por ausência de fundamentação. No entanto, em vez de
mandar o juiz exarar nova decisão, o Tribunal decidiu desde lodo o mérito do pedido e deferiu
a medida cautelar de indisponibilidade dos bens de Pedro, apontando os argumentos pelos
quais este requerido também praticou, em tese, ato de improbidade.
STJ. Corte Especial. REsp 1.215.368-ES, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 1/6/16 (Info 590).
OBS:
Julgamento do mérito diretamente pelo Tribunal ("teoria da causa madura"): O CPC/1973, em
seu art. 515, § 3º, permitia que o TJ ou o TRF, ao decidir a apelação interposta contra sentença
terminativa, julgasse ele próprio (o Tribunal) o mérito da ação caso entendesse que o juiz não
deveria ter extinguido o processo sem resolução do mérito.
Ex: João ajuíza ação contra Pedro e o magistrado profere sentença extinguindo o processo sem
resolução do mérito por entender que o autor seria parte ilegítima. João interpõe apelação ao TJ. O
Tribunal analisa o recurso e entende que ele é sim parte legítima, ou seja, não havia razão jurídica
para o magistrado ter extinguido o processo sem examinar o mérito. Em vez de mandar o
processo de volta à 1ª instância, o próprio TJ poderá julgar o mérito da demanda. Para isso, no
entanto, a causa tem que estar em condições de imediato julgamento (ex: se a sentença indeferiu a
petição inicial, não há condições de o Tribunal julgar o mérito; ao contrário, se a sentença foi
proferida após a fase instrutória, em tese, já haveria essa possibilidade).
O CPC/2015 repetiu essa regra do Código revogado e foi além, trazendo mais três hipóteses em
que o Tribunal, ao dar provimento à apelação, poderá julgar diretamente o mérito, sem ter que
devolver a questão ao juiz.
Nomenclatura: Esse julgamento do mérito diretamente pelo Tribunal ficou conhecido na prática
como "teoria da causa madura", ou seja, estando a causa "em condições de imediato julgamento"
(leia-se: madura), o Tribunal já deverá decidir desde logo o mérito.
Comparativo: Com uma melhor redação, o CPC/2015 repetiu a regra do § 3º do art. 515 do
CPC/1973. Além disso, acrescentou três novas hipóteses (incisos II, III e IV). Algumas delas já
eram admitidas pela jurisprudência, mas agora constam expressamente na legislação. Compare:
CPC/1973 CPC/2015
Art. 515 (...) Art. 1.013. (...)
§ 3º Nos casos de extinção do processo sem § 3º Se o processo estiver em condições de
julgamento do mérito (art. 267), o tribunal imediato julgamento, o tribunal deve decidir
pode julgar desde logo a lide, se a causa desde logo o mérito quando:
versar questão exclusivamente de direito e I - reformar sentença fundada no art. 485;
estiver em condições de imediato julgamento. II - decretar a nulidade da sentença por não
ser ela congruente com os limites do pedido
ou da causa de pedir;
III - constatar a omissão no exame de um dos
pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo;
IV - decretar a nulidade de sentença por falta
de fundamentação.
Em provas de concurso, fiquem atentos para a redação dos incisos II a IV do § do art. 1.013 porque
eles serão exaustivamente cobrados.
Feitas estas considerações, imagine agora a seguinte situação hipotética: O MP ingressou com
ação de improbidade contra João, Paulo e Pedro pedindo a indisponibilidade dos bens dos
requeridos. O juiz, por meio de decisão interlocutória, deferiu a indisponibilidade em relação a
todos eles, no entanto, na decisão não houve qualquer fundamentação quanto ao réu Pedro.
Diante disso, ele interpôs agravo de instrumento contra a decisão. O Tribunal, analisando o
agravo, decidiu que a decisão realmente é nula quanto a Pedro por ausência de fundamentação.
No entanto, em vez de mandar o juiz exarar nova decisão, o Tribunal decidiu desde lodo o mérito
do pedido e deferiu a medida cautelar de indisponibilidade dos bens de Pedro, apontando os
argumentos pelos quais este requerido também praticou, em tese, ato de improbidade. Pedro
interpôs recurso especial contra a decisão do Tribunal argumentando que o CPC, ao tratar sobre a
teoria da causa madura, é expresso ao falar em "sentença". Além disso, o parágrafo que trata sobre
esse assunto está inserido dentro do artigo que cuida da apelação. Assim, não seria possível a
aplicação da teoria da causa madura para agravos de instrumento.
Agiu corretamente o Tribunal neste caso? É possível que o Tribunal, ao julgar agravo de
instrumento, aplique a teoria da causa madura e aprecie desde logo o mérito? SIM. É o que foi
decidido no Info 590.
"Cumpre esclarecer que o §3º do art. 515 não se restringe ao âmbito do recurso de
apelação, sendo comum a todos os meios de impugnação, tendo em vista que, salvo
exceções, a modificação legislativa não é restritiva, mas sim extensiva a todo o
sistema recursal." (ROGRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de Direito Processual
Civil. 5ª ed., São Paulo, RT, p. 644).
Já sob a égide do novo CPC, Daniel Assumpção Neves também defende o mesmo entendimento:
"Conforme se nota da expressa previsão do art. 1.013, § 3.º, I, do Novo CPC, a norma
diz respeito à apelação, sabidamente uma das espécies recursais. Ocorre, entretanto,
que parcela considerável da doutrina entende ser a regra pertencente à teoria geral
dos recursos. Dessa forma, defende-se a aplicação da regra em todo e qualquer
recurso, em especial no agravo de instrumento (...)" (NEVES, Daniel Amorim
Assumpção. Novo CPC comentado. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 1.680).
28.37. Se a parte interpõe o agravo do art. 1.042 em vez do agravo interno, o STJ não conhecerá
do recurso e não mais aplicará o princípio da fungibilidade – (Info 589) – IMPORTANTE!!! –
(MPF-2017)
O CPC/2015 trouxe previsão legal expressa de que não cabe agravo para o STJ contra decisão
que inadmite recurso especial quando o acórdão recorrido decidiu em conformidade com
recurso repetitivo (art. 1.042). Tal disposição legal aplica-se aos agravos apresentados contra
decisão publicada após a entrada em vigor do NCPC, em conformidade com o princípio tempus
regit actum.
Caso o Tribunal de origem decida em conformidade com entendimento firmado pelo STJ em
recurso repetitivo, a parte deverá interpor agravo interno. Se, em vez disso, a parte interpuser o
agravo em recurso especial para o STJ (art. 1.042), cometerá erro grosseiro.
Chegando ao STJ este agravo, ele não será conhecido e ele não retornará para que seja julgado
pelo Tribunal de origem como agravo interno.
Assim, após a entrada em vigor do CPC/2015, não é mais devida a remessa pelo STJ, ao
Tribunal de origem, do agravo interposto contra decisão que inadmite recurso especial com
base na aplicação de entendimento firmado em recursos repetitivos, para que seja conhecido
como agravo interno.
STJ. 3ª Turma. AREsp 959.991-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 16/8/16 (Info 589).
OBS:
Interposição de REsp e juízo de admissibilidade: A parte que deseja interpor um Recurso Especial
(REsp) deve protocolizá-lo no juízo a quo (recorrido) e não diretamente no juízo ad quem (STJ),
nos termos do art. 1.029 do CPC.
Ex.: TRF1 profere acórdão, por unanimidade, em apelação, afirmando que Gilson, servidor
público federal, não possui determinado direito previsto na Lei 8.112/90. Nessa hipótese, ele
poderá interpor recurso especial contra a decisão, a ser julgado pelo STJ, com base no art. 105, III,
“a”, da CF/88.
O REsp deverá ser protocolizado no próprio TRF1. A recorrida (no caso, a União) será intimada
para apresentar suas contrarrazões. Logo após, o Presidente do Tribunal (ou Vice-Presidente, a
depender do regimento interno), em decisão monocrática, irá fazer um juízo de admissibilidade
do recurso, nos termos do art. 1.030 do CPC.
Motivos da inadmissibilidade: O Presidente (ou Vice) do Tribunal de origem poderá fazer o juízo
negativo de admissibilidade com base em dois fundamentos:
Feitas as devidas considerações, imagine a seguinte situação hipotética: João, servidor público
federal, ingressou com ação pedindo o pagamento da gratificação X. O Juiz Federal julgou
improcedente o pedido, tendo a sentença sido mantida pelo TRF. O acórdão do TRF foi contrário
ao servidor baseando-se no entendimento do STJ que, em recurso repetitivo, já havia decidido que
os servidores públicos federais não têm direito à gratificação X. Mesmo assim, João não se
conformou e interpôs recurso especial contra o acórdão do TRF. O Vice-Presidente do TRF negou
seguimento ao recurso com fundamento no art. 1.030, I, “b”, do CPC/2015:
Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será
intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os
autos serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, que
deverá:
I – negar seguimento:
(...) b) a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão que
esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do
Superior Tribunal de Justiça, respectivamente, exarado no regime de julgamento de
recursos repetitivos;
João continua inconformado e deseja recorrer contra a decisão do Vice-Presidente do TRF. Qual
será o recurso cabível? Agravo interno, que é julgado pelo próprio TRF.
Suponhamos que o advogado de João não seja profundo conhecedor de Processo Civil e cometa o
seguinte erro: em vez de agravo interno no Tribunal de origem, ele interpôs agravo contra
inadmissão de recurso especial (art. 1.042) endereçado ao STJ. Qual a postura do STJ diante desta
situação?
OBS:
AGRAVO DE INSTRUMENTO E DOCUMENTOS OBRIGATÓRIOS E FACULTATIVOS QUE
DEVEM INSTRUIR A PETIÇÃO DO RECURSO
O agravo de instrumento é um recurso interposto diretamente no juízo ad quem (encaminhado
diretamente para o Tribunal que irá julgá-lo).
Ex.: “A” ingressa com uma ação de alimentos contra “B” e pede a concessão de alimentos
provisórios no valor de R$ 2 mil. O juiz, em decisão interlocutória, nega a fixação dos alimentos
provisórios. “A” interpõe agravo de instrumento contra a decisão do juiz de 1ª instância (juízo a
quo) diretamente no Tribunal de Justiça (juízo ad quem).
O nome do recurso é agravo de instrumento porque neste tipo de agravo deverá ser formado um
“instrumento”: é um conjunto de documentos para que o Tribunal analise se as razões invocadas
pelo recorrente são procedentes ou não. Isso ocorre porque o processo continua tramitando no
juízo a quo e, para o juízo ad quem examinar as razões do recurso, será necessário que ele tenha
cópias de alguns documentos presentes naqueles autos originários. Em nosso exemplo, “A” irá
preparar a petição do recurso, tirar cópias de vários documentos dos autos, juntá-los à petição e
protocolá-los, como agravo de instrumento, no Tribunal de Justiça.
E quais são estes documentos? Estão previstos no art. 1.017 do CPC 2015:
Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída:
I — obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que
ensejou a decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão da respectiva
intimação ou outro documento oficial que comprove a tempestividade e das
procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado;
II — com declaração de inexistência de qualquer dos documentos referidos no inciso
I, feita pelo advogado do agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal;
III — facultativamente, com outras peças que o agravante reputar úteis.
Em regra, se o agravante não juntar a certidão de intimação do acórdão recorrido, seu recurso
(agravo de instrumento) não será conhecido.
Exceção: é dispensada a certidão se existir outra prova da tempestividade: O STJ tem abrandado a
regra geral, fixando a seguinte exceção: é possível dispensar a certidão de intimação se existirem
outros meios para se aferir a tempestividade do recurso. Assim, a ausência da cópia da certidão de
intimação da decisão agravada não será óbice (empecilho) ao conhecimento do agravo de
instrumento se, por outros meios inequívocos, for possível aferir a tempestividade do recurso. STJ.
2ª Seção. REsp 1.409.357-SC, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 14/5/2014 (recurso repetitivo)
(Info 541).
Em outras palavras, mesmo que o agravante não tenha juntado a cópia da certidão de intimação,
é possível que o Tribunal releve a ausência dessa peça obrigatória (e conheça o recurso) se existir
nos autos algum outro meio de se ter certeza que o agravo foi interposto dentro do prazo.
Ex.: o agravante não juntou a certidão de intimação, mas pela data da decisão agravada (que está
nos autos) e a data em que foi protocolado o agravo, percebe-se que não se passaram mais que 15
dias (prazo do AI no CPC 2015). É lógico que a intimação ocorreu após a data da decisão, de modo
que está provado que o recurso foi interposto dentro do prazo, mesmo não havendo a certidão.
Esse posicionamento do STJ é aplicado em homenagem ao princípio da instrumentalidade das
formas, para o qual o exagerado processualismo deve ser evitado, de forma a que o processo e seu
uso sejam convenientemente conciliados e realizados.
Novo CPC: O CPC 2015 considerou e positivou, pelo menos em parte, esse correto entendimento
jurisprudencial acima explicado. Com efeito, o inciso I do art. 1.017 prevê que o agravante deverá
juntar cópia da certidão da respectiva intimação ou outro documento oficial que comprove a
tempestividade. A interpretação do STJ vai além do texto do novo CPC e permite que se constate
a tempestividade (dispensando-se a certidão de intimação) por outros meios em geral (não
exigindo, necessariamente, documento oficial).
Considerando a prerrogativa que possui a Fazenda Nacional de ser intimada das decisões por
meio da concessão de vista pessoal e, em atenção ao princípio da instrumentalidade das formas,
pode a certidão de concessão de vistas dos autos ser considerada elemento suficiente à
demonstração da tempestividade do agravo de instrumento, substituindo a certidão de intimação
legalmente prevista.
A decisão acima está em sintonia com o novo CPC que, como vimos, no inciso I do art. 1.017,
prevê que o agravante deverá juntar cópia da certidão da respectiva intimação ou outro
documento oficial que comprove a tempestividade.
28.40. Comprovação de pagamento de preparo recursal via recibo extraído da internet – (Info
565) – IMPORTANTE!!! – (Anal. Judic./TRF2-2017)
A parte pode pagar o preparo recursal por meio da internet, imprimir essa transação bancária e
juntar no recurso? É válida a prova da realização do preparo recursal mediante a juntada de
comprovante de pagamento emitido via internet?
SIM. O pagamento do preparo recursal pode ser comprovado por intermédio de recibo extraído
da internet, desde que esse meio de constatação de quitação possibilite a aferição da
regularidade do recolhimento.
A guia eletrônica de pagamento via Internet constitui meio idôneo à comprovação do
recolhimento do preparo, desde que preenchida com a observância dos requisitos
regulamentares, permitindo-se ao interessado a impugnação fundamentada.
STJ. 2ª Turma. EAREsp 423.679-SC, Rel. Min. Raul Araújo, j. 24/6/2015 (Info 565).
(Anal. Judic./TRF2-2017-Consulplan): Segundo entendimento adotado pela 2ª Seção do STJ no
EAREsp 423.679-SC, o pagamento do preparo recursal pode ser comprovado por intermédio de
recibo extraído da Internet, desde que esse meio de constatação de quitação possibilite a
aferição da regularidade do recolhimento.
28.41. Insuficiência do preparo e intimação do recorrente para suprir o pagamento – (Info 563)
Se o dia do vencimento do prazo do recurso cair em uma data na qual o expediente forense foi
encerrado mais cedo que o normal, haverá prorrogação para o dia subsequente?
• CPC-1973: SIM
• CPC-2015: SIM (art. 224, § 1º)
Se o dia do início do prazo do recurso cair em uma data na qual o expediente forense foi
encerrado mais cedo que o normal, haverá prorrogação do início para o dia subsequente?
• CPC-1973: NÃO
• CPC-2015: SIM (art. 224, § 1º)
Para o CPC-1973, a prorrogação em razão do encerramento prematuro do expediente forense
aplica-se tão somente em relação ao dies ad quem (dia do vencimento) do prazo recursal, não se
aplicando para o dies a quo (dia de início).
STJ. Corte Especial. EAREsp 185695-PB, Rel. Min. Felix Fischer, j. 4/2/15 (Info 557).
28.43. NOÇÕES GERAIS: Multa e depósito do § 2º do art. 557 do CPC/73 (§ 4º do art. 1.021 do
CPC/15) e sua aplicabilidade à Fazenda Pública – (Info 551) – IMPORTANTE!!!
CPC/15: NÃO
Veja o que diz o CPC/15:
Art. 1.021 (...)
§ 4º Quando o agravo interno for declarado manifestamente inadmissível ou
improcedente em votação unânime, o órgão colegiado, em decisão fundamentada,
condenará o agravante a pagar ao agravado multa fixada entre um e cinco por
cento do valor atualizado da causa.
§ 5º A interposição de qualquer outro recurso está condicionada ao depósito
prévio do valor da multa prevista no § 4º, à exceção da Fazenda Pública e do
beneficiário de gratuidade da justiça, que farão o pagamento ao final.
A ausência da cópia da certidão de intimação da decisão agravada não será óbice (empecilho) ao
conhecimento do agravo de instrumento se, por outros meios inequívocos, for possível aferir a
tempestividade do recurso.
Em outras palavras, mesmo que o agravante não tenha juntado a cópia da certidão de intimação,
é possível que o Tribunal releve a ausência dessa peça obrigatória (e conheça o recurso) se
existir nos autos algum outro meio de se ter certeza que o agravo foi interposto dentro do prazo.
Ex.: o agravante não juntou a certidão de intimação, mas pela data da decisão agravada (que está
nos autos) e a data em que foi protocolizado o agravo, percebe-se que não se passaram mais que
10 dias. Ora, é lógico que a intimação ocorreu após a data da decisão, de modo que está provado
que o recurso foi interposto dentro do prazo, mesmo não havendo a certidão.
Esse posicionamento do STJ é aplicado em homenagem ao princípio da instrumentalidade das
formas, para o qual o exagerado processualismo deve ser evitado, de forma a que o processo e
seu uso sejam convenientemente conciliados e realizados.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.409.357-SC, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 14/5/14 (recurso repetitivo) (Info 541).
(PGM-Salvador/BA-2015-CESPE): Em cada uma das próximas opções é apresentada uma
situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada a respeito de recursos, reexame
necessário e ação rescisória. Assinale a opção em que a assertiva está correta de acordo com a
legislação processual e com a jurisprudência do STJ: Ao interpor recurso de agravo de
instrumento, o recorrente deixou de juntar cópia da certidão de intimação da decisão agravada.
Nessa situação, o agravo deverá ser conhecido e aplicado o princípio da instrumentalidade das
formas, se, por outro meio inequívoco, for possível comprovar a tempestividade recursal. BL:
Info 541, STJ.
OBS:
Novo CPC: O CPC 2015 considerou e positivou, pelo menos em parte, esse correto entendimento
jurisprudencial acima explicado. Com efeito, o inciso I do art. 1.017 prevê que o agravante deverá
juntar cópia da certidão da respectiva intimação ou outro documento oficial que comprove a
tempestividade. A interpretação do STJ vai além do texto do novo CPC e permite que se constate a
tempestividade (dispensando-se a certidão de intimação) por outros meios em geral (não
exigindo, necessariamente, documento oficial).
A assinatura ELETRÔNICA é válida, podendo ser aposta nas petições em geral e nos recursos,
estando regulamentada pela Lei 11.419/2006.
A assinatura DIGITALIZADA (“escaneada”) NÃO é válida. Se for aposta no recurso, este não
será conhecido, sendo reputado inexistente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.442.887-BA, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 6/5/14 (Info 541).
Quando determinado tema é selecionado para ser julgado sob a sistemática do art. 543-C
(recursos especiais repetitivos), é escolhido um ou alguns recursos para serem analisados pelo
STJ (recursos paradigmas) e os demais que tratem sobre a mesma matéria ficarão suspensos no
tribunal de origem até que o STJ se pronuncie sobre o tema central.
A parte que teve seu processo sobrestado não poderá intervir nem como assistente simples nem
como amicus curiae no recurso especial paradigma que será analisado pelo STJ.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.418.593-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 14/5/14 (Info 540).
OBS: No CPC 2015 o tema é agora tratado nos arts. 1.036 a 1.041.
É possível que a parte junte novos documentos em sede de apelação, desde que atendidos os
seguintes requisitos:
a) não se trate de documento indispensável à propositura da ação;
b) não haja indício de má fé;
c) seja ouvida a parte contrária, garantindo-se o contraditório (art. 398 do CPC 1973 / art. 437, §
1º do CPC 2015).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.176.440-RO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 17/9/13 (Info 533).
Multa do art. 1.022, § 2º do CPC 2015: Se não houver vício a ser sanado, mas apenas a
pretensão do recorrente em rediscutir a decisão, o julgador poderá aplicar a multa prevista
no art. 1.022, § 2º, do CPC 2015, desde que fique caracterizado que o embargante estava com
intuito de procrastinar (prolongar indevidamente o processo). Ressalta-se, no entanto, que,
mesmo nessa hipótese do § 2º, haverá interrupção do prazo para os demais recursos.
Situações em que os embargos de declaração não irão interromper o prazo para os demais
recursos: Há 2 hipóteses em que os embargos declaratórios não deverão ser conhecidos e,
como consequência, não irão interromper o prazo (embargante irá perder o prazo para os
demais recursos). São elas: 1) Quando os embargos de declaração forem intempestivos
(tiverem sido opostos fora do prazo); 2) Não serão admitidos novos embargos de declaração
se a parte já tiver apresentado dois embargos anteriormente e estes tiverem sido
considerados protelatórios (§ 4º do art. 1.026 do CP 2015).
29.2. São protelatórios os Embargos opostos contra acórdão em harmonia com o STF/STJ –
(Info 541) - (PFN-2015)
João propõe ação de indenização por danos morais contra Pedro pedindo o pagamento de
R$ 30 mil. O juiz julga o pedido procedente, condenando o réu a pagar a indenização por
danos morais, mas fixando o valor em R$ 10 mil. João pensou consigo mesmo: “eu queria
mais, no entanto, prefiro acabar logo com esse processo e receber imediatamente esses R$
10 mil do que ficar tentando R$ 30 mil por mais alguns anos; não vou recorrer”. Ocorre
que, no último dia do prazo, Pedro interpôs apelação.
João foi, então, intimado para apresentar contrarrazões à apelação. Neste momento, ele
pensou: “ah, já que ele recorreu, então agora eu também quero recorrer para aumentar o
valor da indenização; já que vou esperar mesmo, então quero tentar uma quantia maior”.
Diante disso, o advogado de João interpõe recurso adesivo pedindo a majoração do valor
da indenização por danos morais.
Pedro apresenta contrarrazões alegando que o recurso interposto por João é incabível,
considerando que o recurso adesivo só cabe se existir sucumbência recíproca e, no caso,
não houve, conforme preconiza a súmula 326 do STJ: “Na ação de indenização por dano
moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica
sucumbência recíproca.”
A tese de Pedro está correta?
NÃO. O recurso adesivo pode sim ser interposto pelo autor da ação de indenização julgada
procedente, quando arbitrado, a título de danos morais, valor inferior ao que era almejado.
Isso porque, neste caso, estará configurado o interesse recursal do demandante em ver
majorada a condenação, hipótese caracterizadora de sucumbência material.
Realmente, só cabe recurso adesivo se houver sucumbência recíproca, ou seja, se tanto o
autor como o réu perderem na sentença.
Se o autor pediu a condenação do réu em R$ 30 mil a título de danos morais e conseguiu a
condenação em R$ 10 mil, ele ganhou a demanda sob o ponto de vista formal (processual).
Não se pode dizer que houve sucumbência formal, já que a providência processual
requerida foi atendida (o réu foi obrigado a pagar). No entanto, sob o ponto de vista
material, o autor teve sim uma sucumbência parcial (derrota parcial). Isso porque ele não
obteve exatamente o bem da vida que pretendia (queria 30 e só teve 10). Logo, neste caso, o
autor terá interesse em ver majorada a condenação, hipótese caracterizadora, portanto, da
sucumbência material viabilizadora da irresignação recursal.
Não se aplica a Súmula 326 do STJ porque esse enunciado é baseado na definição da
responsabilidade pelo pagamento de despesas processuais e honorários advocatícios. Ele
não está relacionado com interesse recursal. A correta leitura da súmula 326 é a seguinte:
Para fins de definição de quem irá pagar as despesas processuais e os honorários
advocatícios, “na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior
ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca”.
Logo, se o autor pediu uma quantia a título de danos morais e obteve valor inferior ao
desejado, podemos concluir que:
Sob o ponto de vista formal, ele foi o vencedor da demanda e não terá que pagar as
despesas processuais e os honorários advocatícios do réu (Súmula 326-STJ);
Sob o ponto de vista material, ele foi sucumbente e terá direito de interpor recurso
(principal ou adesivo), já que não obteve o exato bem da vida pretendido.
STJ. Corte Especial. REsp 1.102.479-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, Corte Especial, j. 4/3/15
(recurso repetitivo) (Info 562).
Em regra, se a parte que interpôs o recurso principal pede a sua desistência, o recurso
adesivo seguirá a mesma sorte, e não será mais conhecido (art. 500, III, do CPC) (art. 997, §
2º, III, do CPC 2015).
Vale ressaltar, ainda, que o recorrente poderá, a qualquer tempo, desistir do recurso,
mesmo que sem a anuência do recorrido (art. 501) (art. 998 do CPC 2015).
No entanto, segundo decidiu o STJ, se já foi concedida antecipação dos efeitos da tutela no
recurso adesivo, não se admite a desistência do recurso principal de apelação.
A apresentação da petição de desistência logo após a concessão dos efeitos da tutela
recursal teve a nítida intenção de esvaziar o cumprimento da determinação judicial, no
momento em que o réu anteviu que o julgamento final da apelação lhe seria desfavorável,
sendo a pretensão, portanto, incompatível com o princípio da boa-fé processual.
STJ. 3ª T. REsp 1.285.405-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 16/12/2014 (Info 554).
31.2. Cabimento de REsp em caso de aplicação de lei nova a situação jurídica já constituída
antes de sua edição – (Info 556)
Cabe recurso especial – e não recurso extraordinário – para examinar se ofende o art. 6º da
Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB) a interpretação feita pelo
acórdão recorrido dos conceitos legais de direito adquirido e de ato jurídico perfeito a qual
ensejou a aplicação de lei nova a situação jurídica já constituída quando de sua edição.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.124.859-MG, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão
Min. Maria Isabel Gallotti, j. 26/11/2014 (Info 556).
Em julgamentos submetidos ao rito do art. 543-C do CPC/73 (art. 1.036 do CPC/15), cabe ao
STJ traçar as linhas gerais acerca da tese aprovada, descabendo a inserção de soluções
episódicas ou exceções que porventura possam surgir em outros indetermináveis casos,
sob pena de se ter de redigir verdadeiros tratados sobre todos os temas conexos ao objeto
do recurso.
STJ. Corte Especial. EDcl no REsp 1.124.552-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 6/5/15 (Info
562).
A DPU e as Defensorias Públicas estaduais podem atuar como amicus curiae em recursos
especiais repetitivos e recursos extraordinários submetidos à repercussão geral, assim como
em processos de controle concentrado de constitucionalidade. Para isso, deverão demonstrar
que possuem legítimo interesse e representatividade para essa atuação como amigo da
Corte.
A mera afirmação de que a Defensoria Pública atua em vários processos que tratam do
mesmo tema versado no recurso representativo da controvérsia a ser julgado não é
suficiente para caracterizar-lhe a condição de amicus curiae.
Dois exemplos em que o STJ não admitiu a intervenção da instituição como amicus curiae:
Recurso especial repetitivo em que se discutia encargos de crédito rural, destinado
ao fomento de atividade comercial.
Recurso especial repetitivo em que se debatia a possibilidade de redirecionamento
de execução fiscal em caso de dívidas não-tributárias.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.371.128-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 10/9/14 (Info 547).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.333.977-MT, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 26/2/14 (Info 537).
Cabem embargos de divergência no âmbito de agravo que não admite recurso especial com
base na Súmula 83/STJ para dizer que, no mérito, o acórdão impugnado estaria em
sintonia com o entendimento firmado por esta Corte Superior.
STJ. 1ª Seção. EAREsp 200.299-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 23/8/17 (Info 610).
OBS:
Embargos de divergência: Os embargos de divergência são um recurso previsto nos arts.
1.043 e 1.044 do CPC/2015, bem como nos regimentos internos do STF e do STJ.
Este recurso possui dois objetivos:
1) Obter a reforma ou anulação do acórdão embargado;
2) Uniformizar a jurisprudência interna do STF e do STJ, evitando que prevaleçam decisões
conflitantes.
A decisão do órgão fracionário do STJ deve ter sido divergente em relação ao julgamento de
qualquer outro órgão do mesmo tribunal (STJ).
A decisão do órgão fracionário do STF deve ter sido divergente em relação ao julgamento de
qualquer outro órgão do mesmo tribunal (STF).
Ao propor este recurso, o recorrente deverá realizar uma comparação entre o acórdão
recorrido e um acórdão paradigma do mesmo Tribunal provando que o acórdão recorrido foi
divergente do acórdão paradigma.
Imagine a seguinte situação hipotética: João, servidor público federal, ingressou com ação
pedindo o pagamento da gratificação “X”. O Juiz Federal e, depois, o TRF1 entenderam que
João não teria direito à referida gratificação. Contra o acórdão do TRF1, João interpôs recurso
especial, com fundamento no art. 105, III, da CF/88, alegando que a conclusão do TRF1 se
mostra divergente da interpretação dada por outros Tribunais:
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última
instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do
Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: (...)
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro
tribunal.
Decisão monocrática: Chegando o processo no STJ, foi sorteado um Ministro Relator e este,
monocraticamente, negou seguimento ao Resp alegando que o pleito do recorrente era
manifestamente contrário à jurisprudência do STJ. A decisão monocrática foi baseada Súmula
83 do STJ:
Súmula 83-STJ: Não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a
orientação do tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida.
Decisão da 1ª Turma do STJ: Contra a decisão monocrática, João interpôs agravo interno. A 1ª
Turma do STJ negou provimento ao agravo interno e manteve a decisão monocrática dizendo
que o mérito do acórdão impugnado estava em sintonia com o entendimento do STJ.
Neste caso, no agravo que manteve a decisão monocrática houve verdadeiro exame do
mérito do recurso especial, tendo o acórdão da 1ª Turma considerado que os servidores
públicos não têm direito à gratificação X.
Os precedentes que deram origem à súmula 315 do STJ referem-se acerca do não cabimento
de embargos de divergência em sede de agravo de instrumento no recurso especial (atual
agravo em recurso especial) quando o acórdão embargado não tivesse examinado o mérito
do recurso especial, limitando-se a obstar o seu seguimento em razão da existência de
óbices de admissibilidade.
Em outras palavras, a súmula 315-STJ aplica-se a situações em que no julgamento do agravo
não se apreciou o mérito do recurso especial. Por outro lado, se o mérito foi examinado, não
é o caso de incidir a súmula, cabendo, portanto, os embargos de divergência.
Desse modo, o óbice da súmula 315-STJ aplica-se apenas naqueles casos em que a parte
quer apresentar embargos de divergência para rediscutir pressupostos de conhecimento do
recurso especial. Isso porque os embargos de divergência têm por finalidade exclusiva a
uniformização da jurisprudência interna do Tribunal quanto à interpretação do direito em
tese, não servindo para discutir o acerto ou desacerto na aplicação das regras formais de
conhecimento do Resp.
Nos casos em que o acórdão embargado nega seguimento ao Resp com base na Súmula 83-
STJ, o que o acórdão faz é examinar o mérito da controvérsia recursal. Logo, repito, tendo
sido examinado o mérito do recurso, é cabível a interposição de embargos de divergência.
Não é cabível ação rescisória contra decisão do Presidente do STJ proferida em Suspensão de
Liminar e de Sentença, mesmo que transitada em julgado.
STJ. Corte Especial. AR 5857-MA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 7/8/19 (Info 654).
34.3. Quando o inciso VII do art. 966 do CPC/2015 fala que é possível o ajuizamento de ação
rescisória com base em “prova nova”, isso abrange também a prova testemunhal – (Info 645) –
IMPORTANTE!!!
O art. 966, VII, do CPC/15 prevê que cabe rescisória quando o autor obtiver, posteriormente ao
trânsito em julgado, “prova nova” cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz,
por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável.
Quando esse inciso VII fala em prova nova, engloba não apenas a prova documental, mas
qualquer outra espécie de prova, inclusive a prova testemunhal.
Assim, no novo ordenamento jurídico processual, qualquer modalidade de prova, inclusive a
testemunhal, é apta a amparar o pedido de desconstituição do julgado rescindendo na ação
rescisória.
STJ. 3ª T. REsp 1770123-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 26/3/19 (Info 645).
34.4. O pedido de rescisão da sentença, em vez do acórdão que a substituiu, não conduz à
impossibilidade jurídica do pedido, constituindo mera irregularidade formal – (Info 639)
O autor da ação rescisória pediu a rescisão da sentença. Ocorre que essa sentença já havia sido
confirmada pelo Tribunal de Justiça em sede de apelação. Logo, a ação rescisória deveria ter
pedido a rescisão do acórdão do TJ. Esse vício, contudo, constitui-se em mera irregularidade
formal, de modo que o Tribunal não deverá extinguir a ação rescisória por impossibilidade
jurídica do pedido, devendo superar o vício e enfrentar o mérito.
Esse entendimento é reforçado atualmente pela previsão do art. 968, §§ 5º e 6º do CPC/15.
STJ. 3ª Turma. REsp 1569948-AM, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 11/12/18 (Info 639).
OBS: Há um julgado antigo do STF no mesmo sentido:
(...) 2. Ação rescisória. Extinção do feito, sem julgamento do mérito, por
impossibilidade jurídica do pedido. 3. Entendimento no sentido de que o autor
pretendia rescindir a sentença, em vez de buscar a desconstituição do acórdão que a
substituiu. 3. Formalismo excessivo que afeta a prestação jurisdicional efetiva. Erro
no pedido que não gera nulidade, nem causa para o não-provimento. (...) STF. 2ª
Turma. RE 395.662 AgR/RS, Rel. Min. Carlos Velloso, Rel. p/ Acórdão Min. Gilmar
Mendes, j. 16/03/2004.
O presente caso foi analisado sob a ótica do CPC/73. A decisão do STJ seria a mesma caso os
fatos tivessem ocorrido sob a égide do CPC/15? SIM. Com maior razão. Isso porque o CPC/2015
adotou o chamado “princípio da primazia da resolução do mérito” e previu uma hipótese
específica de emenda à petição inicial da ação rescisória, destinada justamente ao saneamento
do vício relacionado à inobservância do efeito substitutivo dos recursos. Veja:
Art. 968 (...)
§ 5º Reconhecida a incompetência do tribunal para julgar a ação rescisória, o autor
será intimado para emendar a petição inicial, a fim de adequar o objeto da ação
rescisória, quando a decisão apontada como rescindenda:
I - não tiver apreciado o mérito e não se enquadrar na situação prevista no § 2º do
art. 966;
II - tiver sido substituída por decisão posterior.
§ 6º Na hipótese do § 5º, após a emenda da petição inicial, será permitido ao réu
complementar os fundamentos de defesa, e, em seguida, os autos serão remetidos ao
tribunal competente.
Veja que o CPC/15 permite a emenda da Inicial mesmo que o Tribunal indicado não seja o
competente. Logo, com maior razão, essa previsão poderia ser utilizada no exemplo dado em que
o TJ continuaria competente.
34.5. Se a ação rescisória busca desconstituir também o capítulo dos honorários advocatícios, o
advogado beneficiado na primeira demanda deverá estar no polo passivo da rescisória – (Info 605)
A ação rescisória, quando busca desconstituir sentença condenatória que fixou honorários
advocatícios sucumbenciais, deve ser proposta não apenas contra o titular do crédito principal
formado em juízo, mas também contra o advogado em favor de quem foi fixada a verba
honorária.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.651.057-CE, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 16/5/17 (Info 605).
OBS:
O CPC não traz nenhuma norma expressa tratando sobre a legitimidade passiva para a ação
rescisória. Diante disso, devem incidir as regras normais da legitimidade passiva extraídas da
teoria geral do processo.
Para saber quem deve figurar como réu, é preciso atentar, portanto, para aquele que terá ou
poderá ter seus direitos, concretamente definidos pela sentença rescindenda, afetados pelo
julgamento a ser proferido.
Conforme informado pela teoria da asserção, devem estar no polo passivo da demanda todos
aqueles e somente aqueles que possam ser afetados pelo provimento do pedido.
No caso concreto, a ação rescisória busca desconstituir toda a sentença, inclusive na parte que
fixou os honorários advocatícios. Logo, como a decisão da ação rescisória poderá afetar o crédito
do advogado, ele também deverá constar no polo passivo da demanda.
Nas rescisórias julgadas pelo STJ: SIM. Nas ações rescisórias processadas e julgadas
originariamente no STJ, mesmo após o advento do CPC/2015, continua existindo a
figura do revisor. Isso porque existe previsão específica no art. 40, I da Lei nº 8.038/90,
que continua em vigor.
STJ. Corte Especial. AR 5.241-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 5/4/17 (Info 603).
OBS:
Relator: Quando um processo (recurso ou ação de competência originária) chega ao Tribunal (TJ,
TRF, STJ, STF), é sorteado um magistrado (Desembargador ou Ministro) para exercer a função de
relator deste processo. O relator examina o recurso antes dos demais magistrados e elabora um
relatório e um voto que serão levados ao colegiado para que os demais juízes (em sentido amplo)
decidam se concordam ou não com as conclusões do relator. Em tese, os demais magistrados do
Tribunal somente têm conhecimento detalhado do processo quando este é levado a julgamento
pelo relator. Tirando o relator, os demais magistrados não precisam levar um voto escrito para a
sessão de julgamento.
Revisor: O revisor é um outro magistrado, que tem o dever de examinar o processo antes de ele ir
a julgamento e de elaborar um voto escrito sobre o caso. Assim, depois de o relator elaborar seu
relatório, ele o encaminha ao revisor, que irá analisá-lo e, quando tiver terminado de estudar o
processo, irá liberá-lo para julgamento. O art. 551 do CPC/1973 afirmava que era obrigatória a
figura do revisor em três processos que tramitam nos Tribunais: apelação, embargos infringentes e
ação rescisória.
O que fez o CPC/2015? O CPC/15 não mais previu a figura do revisor. Não existe um dispositivo
semelhante ao art. 551 do CPC/73. Diante disso, em regra, não mais existe revisor.
Por que se falou “em regra”? Porque existe uma exceção: continua existindo a figura do revisor no
caso de ações rescisórias julgadas pelo STJ. Isso se deve ao fato de que há um dispositivo expresso
na Lei nº 8.038/90 prevendo o revisor nestes casos. Confira:
Art. 40. Haverá revisão, no Superior Tribunal de Justiça, nos seguintes processos:
I - ação rescisória;
Mas esse art. 40, I, da Lei nº 8.038/90 não foi revogado pelo CPC/2015? NÃO. O CPC/2015
revogou expressamente onze artigos da Lei 8.038/90, dentre os quais não estava o art. 40. Logo,
conclui-se que, quando o legislador quis revogar algum dispositivo da Lei 8.038/90, ele o fez
expressamente. Dessa forma, o CPC/2015 optou por não revogar o art. 40, I, restando mantida a
figura do revisor no caso de ações rescisórias julgadas pelo STJ.
34.7. Não é cabível a propositura de rescisória fundada no art. 485, V, do CPC/1973 com base
em julgados que não sejam de observância obrigatória – (Info 600)
Nos casos em que se admite a relativização da Súmula 343 do STF, não é cabível propositura da
ação rescisória com base em julgados que não sejam de observância obrigatória. Não há como
autorizar a propositura de ação rescisória - medida judicial excepcionalíssima - com base em
julgados que não sejam de observância obrigatória, sob pena de se atribuir eficácia vinculante a
acórdão que, por lei, não o possui.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.655.722-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 14/3/2017 (Info 600).
Obs: prevalece que a Súmula 343 do STF não está mais válida tendo em vista a previsão contida
no art. 966, V, § 5º e no art. 525, § 15 do CPC/2015.
OBS: O presente julgado foi decidido com base no CPC/1973. Irei explicá-lo segundo o Código
passado e, ao final, informarei como o tema ficará com o CPC/2015.
Rescisória por violação à literal disposição de lei: O art. 485 do CPC/1973 previa as hipóteses em
que a ação rescisória era cabível. O inciso V afirmava que era cabível a ação rescisória quando a
sentença de mérito transitada em julgado tivesse violado literal disposição de lei:
Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
(...)
V — violar literal disposição de lei;
Súmula 343 do STF: Não é raro que uma mesma lei gere interpretações completamente diferentes,
inclusive dentro de um único Tribunal.
Imaginemos, por exemplo, que a 1ª Turma do STJ afirme que o art. XX da Lei nº 8.112/90 confere
determinado direito ao servidor. A 2ª Turma do STJ, por sua vez, interpreta o dispositivo de forma
oposta e entende que a Lei não dá esse direito.
O juiz “A” decidiu com base na interpretação dada pela 1ª Turma do STJ e esta sentença transitou
em julgado. Ocorre que, um ano depois, a 1ª Turma modificou seu entendimento, curvando-se à
posição da 2ª Turma.
Nesse caso, seria possível ajuizar ação rescisória contra a sentença proferida pelo juiz “A”
alegando que ela violou literal disposição do art. XX Lei nº 8.112/90? NÃO. A jurisprudência
entende que, se na época em que a sentença rescindenda transitou em julgado havia divergência
jurisprudencial a respeito da interpretação da lei, não se pode dizer que a decisão proferida tenha
tido um vício. Logo, não caberá ação rescisória. Isso está expresso na súmula 343 do STF:
Súmula 343-STF: Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei,
quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação
controvertida nos tribunais.
O raciocínio que inspirou essa súmula é o seguinte: se há nos tribunais divergência sobre um
mesmo preceito normativo, é porque ele comporta mais de uma interpretação, significando que
não se pode qualificar qualquer dessas interpretações, mesmo a que não seja a melhor, como
ofensiva ao teor literal da norma interpretada. Trata-se da chamada “doutrina da tolerância da
razoável interpretação da norma” (Voto do Ministro Teori Zavascki no RE 590809/RS).
Relativização da Súmula 343-STF: A Min. Nancy Andrighi afirma que, em alguns casos, a
jurisprudência do STJ admite a “relativização” da Súmula 343-STF. Para a Ministra, uma situação
de relativização da súmula seria o caso em que, na época em que foi proferido o acórdão, a
divergência já havia cessado e, mesmo assim, o julgado foi em sentido contrário à jurisprudência
dominante.
Requisito adicional para permitir a ação rescisória: que o acórdão paradigma do STJ tenha
eficácia vinculante: Para a Ministra, mesmo nos casos em que se admite a não aplicação da
Súmula 343-STF, somente será permitida a propositura da ação rescisória com base no art. 485, V,
do CPC/1973 se o entendimento do STJ que foi desrespeitado tiver sido proferido em um acórdão
com eficácia vinculante.
Voltando ao exemplo dado: em abril de 2003, o STJ decidiu que o índice de correção monetária a
ser aplicado deveria ser o INPC. Em 2004, o TJMT decide que o índice de correção monetária
deveria ser o BNTf, ou seja, decidiu em sentido contrário ao STJ. Esse acórdão do TJMT transitou
em julgado. Somente caberá ação rescisória contra o acórdão do TJMT se a decisão do STJ que
pacificou o tema em 2003 tiver eficácia vinculante.
Assim, levando em conta este raciocínio, somente caberia ação rescisória contra o acórdão
proferido pelo TJMT se a decisão do STJ de 2003 tivesse sido prolatada em recurso especial
repetitivo.
CPC/2015: A maioria da doutrina afirma que a Súmula 343 do STF não está mais válida, tendo em
vista a previsão contida no art. 966, V, § 5º e no art. 525, § 15 do CPC 2015:
Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
V - violar manifestamente norma jurídica; (...)
§ 5º Cabe ação rescisória, com fundamento no inciso V do caput deste artigo, contra
decisão baseada em enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de
casos repetitivos que não tenha considerado a existência de distinção entre a questão
discutida no processo e o padrão decisório que lhe deu fundamento.
Fredie Didier defende que a Súmula 343-STF continua válida em uma hipótese (letra “a” abaixo):
a) Divergência na interpretação do Direito entre Tribunais, sem que existisse, ao tempo da
prolação da decisão rescindenda, precedente vinculante do STF ou STJ (art. 927, CPC) sobre o
tema: não há direito à rescisão, pois não se configura a manifesta violação de norma jurídica.
Aplica-se o n. 343 da súmula do STF.
b) Divergência na interpretação do Direito entre tribunais, sem que existisse, ao tempo da
prolação da decisão rescindenda, precedente vinculante do STF ou STJ (art. 927, CPC) sobre o
tema; após o trânsito em julgado, sobrevém precedente obrigatório do tribunal superior:
observado o prazo da ação rescisória, há direito à rescisão, com base nesse novo precedente, para
concretizar o princípio da unidade do Direito e a igualdade. Note que o § 15 do art. 525,
examinado mais à frente, reforça a tese de que cabe ação rescisória para fazer prevalecer
posicionamento de tribunal superior formado após a coisa julgada.
c) Divergência na interpretação do Direito entre tribunais, havendo, ao tempo da prolação da
decisão rescindenda, precedente vinculante do STF ou do STJ sobre o tema: se a decisão
rescindenda contrariar o precedente vinculante, há direito à rescisão, pois se configura a manifesta
violação de norma jurídica. Violam-se, a um só tempo, a norma do precedente e a norma que
decorre do art. 927, CPC.
d) Divergência na interpretação do Direito entre tribunais, havendo, ao mesmo tempo da
prolação da decisão rescindenda, precedente vinculante do STF ou STJ; após o trânsito em
julgado, sobrevém novo precedente de tribunal superior, alterando o seu entendimento: não há
direito à rescisão, fundado nesse novo precedente, tendo em vista a segurança jurídica, tal como
decidido pelo STF, no RE n. 590.809, rel. Min. Marco Aurélio, j. em 22.10.2014." (DIDIER JR.,
Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 3., 13ª ed.,
Salvador: Juspodivm, 2016, p. 495-496).
34.9. Prorrogação do termo final do prazo para ajuizamento da ação rescisória – (Info 553) –
IMPORTANTE!!!
Se o último dia do prazo da rescisória for sábado, domingo ou feriado, haverá prorrogação para o
primeiro dia útil subsequente?
SIM. O termo final do prazo para o ajuizamento da ação rescisória, embora decadencial,
prorroga-se para o primeiro dia útil subsequente se recair em dia de não funcionamento da
secretaria do Juízo competente.
STJ. Corte Especial. REsp 1.112.864-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, Corte Especial, j. 19/11/14
(recurso repetitivo) (Info 553).
34.10. Início do prazo para a ação rescisória em caso de recursos parciais – (Info 547) –
IMPORTANTE!!! - (PGM-São Paulo/SP-2014)
34.11. Análise do inciso V do art. 485, CPC/73 (art. 966, V, CPC/15) – (Info 547) –
IMPORTANTE!!!
O inciso V do art. 485 do CPC 1973 prevê que é cabível a ação rescisória quando a sentença de
mérito transitada em julgado “violar literal disposição de lei” (o art. 966, V, do CPC fala em
"violar manifestamente norma jurídica").
A jurisprudência entende que, se na época em que a sentença rescindenda transitou em julgado
havia divergência jurisprudencial a respeito da interpretação da lei, não se pode dizer que a
decisão proferida tenha tido um vício. Logo, não caberá ação rescisória. Isso está em um
enunciado do STF:
Súmula 343-STF: Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei, quando a
decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos
tribunais.
Imagine o seguinte exemplo: havia divergência na jurisprudência se o índice de correção índice
de correção monetária a ser aplicado em determinada situação deveria ser o BNTf ou o INPC.
Em 2003, o STJ pacificou que o índice seria o INPC.
Se o acórdão do TJ transitou em julgado em 2002 aplicando o BNTf , não caberá ação
rescisória porque na época havia divergência. Aplica-se a Súmula 343-STJ.
Se o acórdão do TJ transitou em julgado em 2004 aplicando o BNTf, caberá ação
rescisória porque na época não mais havia divergência. Não se aplica a Súmula 343-
STJ.
STJ. Corte Especial. REsp 736.650-MT, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 20/8/14 (Info 547).
OBS:
Análise do inciso V: O inciso V do art. 485 prevê que é cabível a ação rescisória quando a sentença
de mérito transitada em julgado “violar literal disposição de lei”. Para incidir essa hipótese, a
violação deve se mostrar aberrante, cristalina, observada primo ictu oculi (STJ. 1ª Turma. REsp
1458607/SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 23/10/2014).
Quando o inciso fala em “lei” abrange também as normas constitucionais? SIM. A palavra “lei”,
nesse caso, deverá ser interpretada em sentido amplo, abrangendo lei ordinária, lei complementar,
medida provisória, norma constitucional, decreto, resolução e qualquer outro ato normativo. Se a
sentença violar literal disposição de lei, de norma constitucional ou de qualquer outra norma
jurídica caberá, em tese, ação rescisória.
Se a sentença violar um princípio, caberá ação rescisória? SIM. A jurisprudência do STJ possui
precedentes reconhecendo o cabimento de ação rescisória por conta de violação a princípios. A
doutrina atual considera que o princípio é uma espécie de norma jurídica. Nesse sentido: STJ. 1ª
Turma. REsp 1458607/SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 23/10/2014.
Se a sentença violar literal disposição de súmula (comum ou vinculante), caberá ação rescisória?
NÃO. Não cabe ação rescisória contra violação de súmula. O inciso V não abrange a contrariedade
à súmula porque não se trata de ato normativo. Conforme prevê o art. 485, V, do CPC, a sentença
pode ser rescindida quando violar literal disposição de lei, hipótese que não abrange a contrariedade à
súmula. Logo, não há previsão legislativa para o ajuizamento de ação rescisória sob o argumento
de violação de súmula (STJ. 3ª Seção. AR 4.112-SC, Min. Rel. Marco Aurélio Bellizze, julgada em
28/11/2012).
O raciocínio que inspirou a Súmula 343 do STF é o seguinte: Se há nos tribunais divergência sobre
um mesmo preceito normativo, é porque ele comporta mais de uma interpretação, significando
que não se pode qualificar qualquer dessas interpretações, mesmo a que não seja a melhor, como
ofensiva ao teor literal da norma interpretada. Trata-se da chamada “doutrina da tolerância da
razoável interpretação da norma” (Voto do Ministro Teoria Zavascki no RE 590809/RS).
34.12. Documento que já existia e que não foi juntado pela parte – (Info 522)
Não cabe ação rescisória contra violação de súmula. Conforme o art. 485, V, do CPC, a sentença
pode ser rescindida quando violar literal disposição de lei, hipótese que não abrange a
contrariedade à súmula. Assim, não há previsão legislativa para o ajuizamento de ação
rescisória sob o argumento de violação de súmula.
STJ. 3ª Seção. AR 4.112-SC, Min. Rel. Marco Aurélio Bellizze, julgada em 28/11/2012.
No caso em que particular e Fazenda Pública firmaram, sem a participação judicial, acordo
que tenha sido meramente homologado por decisão judicial - a qual, por sua vez, apenas
extinguiu a relação jurídica processual existente entre as partes, sem produzir efeitos sobre
a relação de direito material existente entre elas -, o prazo decadencial para anular o ajuste
por meio de ação ajuizada pelo particular é de 5 anos, contados da data da celebração da
transação, e não da decisão homologatória.
STJ. 2ª T. REsp 866.197-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 18/2/2016 (Info 581).
OBS:
O prazo para a ação anulatória será de 4 anos, nos termos do art. 178 do CC ("Art. 178. É de
quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico,
contado:")? NÃO. O prazo é de 5 anos, com base no art. 1º do Decreto 20.910/32. Em se
tratando de ação anulatória proposta contra a Fazenda Pública, o prazo decadencial é regido
pelo Decreto 20.910/32, prazo este aplicável em relação a todo e qualquer direito ou ação
exercitável contra a Fazenda Pública (federal, estadual ou municipal), seja qual for a sua
natureza. Logo, não é aplicável o prazo previsto no art. 178 do CC (quatro anos), utilizado
apenas quando a Fazenda Pública não ocupa o polo passivo da ação anulatória.
35.2. A decisão judicial homologatória de acordo entre as partes é impugnável por meio de
ação anulatória – (Info 513)
Se a transação celebrada entre as partes foi objeto de homologação judicial por sentença,
os efeitos deste negócio jurídico podem ser afastados mediante a propositura de ação
anulatória, nos termos do art. 966, § 4º, CPC/15 (art. 486, CPC/73). Se a sentença limita-se a
homologar a transação efetuada, não tratando sobre o conteúdo da pactuação, a forma de
desconstituí-la é por meio da ação anulatória.
STJ. 4ª T. AgRg no REsp 1314900-CE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 18/12/12 (Info 513).
OBS:
No mesmo sentido, vejamos recente julgado do STF, veiculado no Info 916:
A decisão judicial homologatória de acordo entre as partes é impugnável por
meio de ação anulatória (art. 966, § 4º, CPC/15; art. 486, CPC/73). Não cabe
ação rescisória neste caso. Se a parte propôs ação rescisória, não é possível que o
Tribunal receba esta demanda como ação anulatória aplicando o princípio da
fungibilidade. Isso porque só se aplica o princípio da fungibilidade para
recursos (e ação anulatória e a ação rescisória não são recursos). STF. Plenário.
AR 2440 AgR/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 19/9/18 (Info 916).
Sentença deve ser líquida: Em regra, o juiz deverá prolatar a sentença líquida (art. 491). O
CPC prevê, no entanto, duas situações excepcionais em que será autorizado que o magistrado
profira sentença ilíquida. Confira:
REGRA (art. 491, caput) : na ação de obrigação de pagar quantia, ainda que a parte
tenha formulado pedido genérico, a decisão deverá definir desde logo a extensão da
obrigação ("quanto se deve"), o índice de correção monetária, a taxa de juros, o termo
inicial de ambos e a periodicidade da capitalização dos juros.
EXCEÇÕES. Em duas situações será permitido que o magistrado deixe de fixar os
parâmetros acima:
a) quando não for possível determinar, de modo definitivo, na sentença, o
montante devido;
b) quando a apuração do valor devido depender da produção de prova de
realização demorada ou excessivamente dispendiosa, assim reconhecida na
sentença.
Ocorrendo um desses dois casos, o valor devido deverá ser apurado por meio de liquidação
de sentença.
Algumas vezes a sentença traz todos os parâmetros para se encontrar o quantum debeatur,
mas o valor exato da condenação dependerá de alguns cálculos aritméticos (ex: o juiz
condena o réu a pagar 500 mil, acrescidos de multa de 2%, mais juros legais e correção
monetária). Neste caso, será necessária realizar liquidação? NÃO. Quando a apuração do
valor depender apenas de cálculo aritmético, o credor poderá promover, desde logo, o
cumprimento da sentença (§ 2º do art. 509 do CPC). Nestes casos, o próprio credor (com o
auxílio do seu advogado e de programas existentes na internet) elabora os cálculos e, após
eles estarem prontos, apresenta-os em juízo, instaurando-se logo em seguida o cumprimento
de sentença.
Obs: na época do CPC/1973 isso era chamado de liquidação por mero cálculo aritmético
(liquidação por cálculos do credor). O CPC/2015 deixou claro que esses cálculos aritméticos
não são uma terceira espécie de liquidação e que só existem atualmente duas espécies:
liquidação por arbitramento e pelo procedimento comum.
Feita a revisão acima, imagine agora a seguinte situação hipotética: A indústria "AA"
ingressou com ação de indenização contra a empresa "ZZ" por ela ter fornecido moldes
errados, o que fez com que houvesse um paralisação na sua linha de produção. A demanda
foi julgada procedente, tendo a ré sido condenada a pagar:
a) danos emergentes, no valor de R$ 200 mil;
b) lucros cessantes, a serem calculados em liquidação por arbitramento.
Vale ressaltar que quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, o credor
poderá promover simultaneamente:
1) a execução da parte líquida e
2) a liquidação da outra parte (em autos apartados).
Foi o que fez a indústria "AA". Iniciou-se, então, a liquidação por arbitramento. O perito
nomeado pelo juízo calculou que o prejuízo da autora, a título de lucros cessantes, foi de R$
300 mil. O juiz acatou as conclusões da perícia. A empresa devedora, contudo, não concordou
com a decisão do juiz e recorreu alegando que a perícia chegou a esse valor baseada em
presunções e deduções do quanto seria produzido e vendido e que essa metodologia não
poderia ser aplicada na liquidação.
A tese da empresa devedora foi aceita pelo STJ? NÃO. Os argumentos da empresa devedora
não foram acolhidos pelo STJ e a decisão do juiz que acolheu a perícia foi mantida.
Desse modo, se quisermos analisar por outro prisma, podemos afirmar o seguinte:
1) Se o juiz rejeita a impugnação: cabe agravo de instrumento (porque a execução irá
prosseguir);
2) Se o juiz acolhe a impugnação, poderá caber agravo de instrumento ou apelação.
2.1) Se o juiz acolhe a impugnação, mas não extingue a execução (ex: apenas reduz o valor
que estava excessivo): caberá agravo de instrumento;
2.2 ) Se o juiz acolhe a impugnação e extingue a execução (ex: falta de citação): caberá
apelação.
No caso concreto, o juiz julgou procedente a impugnação e extinguiu o cumprimento de
sentença. Logo, caberia apelação. É como decidiu o STJ:
O recurso cabível da decisão que acolhe impugnação ao cumprimento de
sentença e extingue a execução é a apelação. STJ. 4ª T. REsp 1.698.344-MG, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, j. 22/5/18 (Info 630).
Sentença: São dois os critérios utilizados para definir que um pronunciamento jurisdicional é
sentença:
a) tem conteúdo equivalente a uma das situações previstas nos arts. 485 ou 489
do CPC/15; e
b) determina o encerramento de uma das fases do processo (fase de
conhecimento ou de execução).
De acordo com o § 1º do art. 203 do CPC/15, a decisão que extingue a execução é uma
sentença:
Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões
interlocutórias e despachos.
§ 1º Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença
é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e
487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a
execução.
Agravo de instrumento: É o recurso cabível, em primeiro grau de jurisdição, contra
específicas decisões interlocutórias previstas em lei (art. 1.015 do CPC/2015). O agravo de
instrumento só cabe contra pronunciamentos decisórios que não encerram a fase cognitiva
nem a fase de execução. É um conceito construído por exclusão:
• se a decisão encerra a fase cognitiva ou a execução, esse pronunciamento é uma sentença.
• caso contrário, ou seja, se a decisão não encerra a fase cognitiva ou a execução, estaremos
diante de uma decisão interlocutória.
É o que preconiza o art. 203, § 2º do CPC:
Art. 203 (...)
§ 2º Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza decisória
que não se enquadre no § 1º.
37.3. A Súmula 345 do STJ continua válida mesmo com o art. 85, § 7º, do CPC/2015 – (Info
628) – IMPORTANTE!!!
O art. 85, § 7º, do CPC/15 não afasta a aplicação do entendimento consolidado na Súmula
345 do STJ, de modo que são devidos honorários advocatícios nos procedimentos
individuais de cumprimento de sentença decorrente de ação coletiva, ainda que não
impugnados e promovidos em litisconsórcio.
O art. 85, § 7º, do CPC/15 não se aplica para as execuções individuais, ainda que
promovidas em litisconsórcio, pedindo o cumprimento de julgado proferido em sede de
ação coletiva lato sensu, ação civil pública ou ação de classe.
Em resumo, a Súmula 345 do STJ continua válida mesmo com o art. 85, § 7º, do CPC/15.
Súmula 345-STJ: São devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções
individuais de sentença proferida em ações coletivas, ainda que não embargadas.
Art. 85. (...) § 7º Não serão devidos honorários no cumprimento de sentença contra a
Fazenda Pública que enseje expedição de precatório, desde que não tenha sido impugnada.
STJ. Corte Especial. REsp 1648238-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 20/6/18 (recurso
repetitivo) (Info 628).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A associação dos servidores públicos federais do
Ministério da Saúde ajuizou ação coletiva contra a União pedindo que fosse reconhecida e
paga determinada gratificação devida à classe. A ação foi julgada procedente condenando, de
forma genérica, a União a pagar a referida gratificação em favor dos servidores do Ministério
da Saúde. Houve trânsito em julgado. João é servidor público federal do Ministério da Saúde
e filiado à referida associação. Diante disso, ele propôs execução individual cobrando o
pagamento das verbas relacionadas com a aludida gratificação. A União não apresentou
embargos à execução, ou seja, não se opôs ao pagamento dos valores a João.
Além do montante principal, a União terá que pagar honorários advocatícios? SIM.
Mas a União não embargou... mesmo assim, ela terá que pagar? SIM. Esse é o entendimento
consolidado do STJ. Confira:
Súmula 345-STJ: São devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas
execuções individuais de sentença proferida em ações coletivas, ainda que não
embargadas.
Mas e a regra do art. 1º-D da Lei nº 9.494/97...? O art. 1º-D da Lei nº 9.494/97 preconiza o
seguinte:
Art. 1º-D. Não serão devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas
execuções não embargadas.
Por que não se aplica a regra do art. 1º-D da Lei nº 9.494/97 para o exemplo acima dado? O
art. 1º-D da Lei nº 9.494/97 não está em confronto com a Súmula 345-STJ? O STJ entende que
a execução INDIVIDUAL destinada à satisfação do direito reconhecido em sentença
condenatória genérica, proferida em ação civil COLETIVA, não é uma “execução comum”.
Isso porque essa execução individual possui uma elevada carga cognitiva, considerando que
nela:
Além de ser realizada a individualização e a liquidação do valor devido (definição do
quantum debeatur);
Irá ser decidido se o exequente é ou não o titular do direito material reconhecido na
ação coletiva.
Em outras palavras, trata-se de uma execução na qual se irá discutir se o exequente é ou não
titular do crédito, algo que não se debate em uma execução “comum”, “tradicional”. Veja o
que explicava o Min. Teori Zavascki:
“(...) a despeito de ser conhecida como um processo executivo, a ação em que se
busca a satisfação individual do direito declarado em sentença de ação civil
coletiva não é propriamente uma ação de execução típica. As sentenças
proferidas no âmbito das ações coletivas para tutela de direitos individuais
homogêneos, por força de expressa disposição do Código de Defesa do
Consumidor (Lei nº 8.078/1990, art. 95), são condenatórias genéricas. Nelas não
se especifica o valor da condenação nem a identidade dos titulares do direito
subjetivo. A carga condenatória, por isso mesmo, é mais limitada do que a que
decorre das demais sentenças condenatórias. Sobressai nelas a carga de
declaração do dever de indenizar, transferindo-se para a ação de cumprimento
a carga cognitiva relacionada com o direito individual de receber a
indenização. Assim, a ação de cumprimento não se limita, como nas execuções
comuns, à efetivação do pagamento. Nelas se promove, além da
individualização e liquidação do valor devido, se for o caso, o juízo sobre a
titularidade do exequente em relação ao direito material, para somente então se
passar aos atos propriamente executivos.” (trecho de seu voto no STJ AgRg no
REsp. 489348/PR, DJ 01/09/2003).
Súmula 345-STJ e art. 1º-D da Lei 9.494/97 convivem, cada um disciplinando uma situação
diferente: Desse modo, é preciso distinguir as duas situações:
Súmula 345-STJ: aplica-se para as execuções individuais de sentença proferida em
ações coletivas. Nelas serão devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública,
ainda que esta não tenha apresentado embargos à execução;
Art. 1º-D da Lei nº 9.494/97: destina-se às execuções típicas do Código de Processo
Civil, não se aplicando à peculiar execução da sentença proferida em ação civil
coletiva (STJ. 1ª S. EREsp 475.566/PR, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ 13/9/04).
Art. 85, § 7º, do CPC/2015: A polêmica a respeito da validade ou não da Súmula 345-STJ foi
reacendida com o CPC/2015. Isso porque ele trouxe, de forma genérica, a seguinte regra:
Art. 85. (...)
§ 7º Não serão devidos honorários no cumprimento de sentença contra a
Fazenda Pública que enseje expedição de precatório, desde que não tenha sido
impugnada.
Em outras palavras, o § 7º disse que se a Fazenda Pública, devedora, não apresentou
impugnação ao cumprimento de sentença, ela não deverá ser condenada a pagar honorários
advocatícios. Diante disso, a doutrina afirmou que a Súmula 345 do STJ teria sido superada.
Nesse sentido: Leonardo da Cunha.
O STJ acolheu a posição da doutrina? A Súmula 345 do STJ perdeu validade com a entrada
em vigor do § 7º do art. 85 do CPC/2015? NÃO. O STJ entende que a súmula continua
válida mesmo após o CPC/2015. Confira:
O art. 85, § 7º, do CPC/2015 não afasta a aplicação do entendimento
consolidado na Súmula 345 do STJ, de modo que são devidos honorários
advocatícios nos procedimentos individuais de cumprimento de sentença
decorrente de ação coletiva, ainda que não impugnados e promovidos em
litisconsórcio.
STJ. Corte Especial. REsp 1.648.238-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em
20/06/2018 (recurso repetitivo) (Info 628).
Para o STJ, não houve mudança no ordenamento jurídico, uma vez que o art. 85, § 7º, do
CPC/2015 reproduz basicamente o teor normativo contido no art. 1º-D da Lei 9.494/97,
dispositivo que foi analisado quando da edição da súmula. Conforme já explicado, o
procedimento de cumprimento individual de sentença coletiva não pode receber o mesmo
tratamento pertinente a um procedimento de cumprimento comum, uma vez que traz
consigo a discussão de uma nova relação jurídica. A sentença coletiva gera um título judicial
genérico, no qual não estão definidas a certeza e a liquidez do direito de cada titular do
crédito a ser executado, atributos que somente poderiam ser identificados e dimensionados
mediante a propositura de execuções individuais, nas quais seriam expostas as
peculiaridades de cada demandante, o que implica complexidade diferenciada no processo
executório, a qual persiste mesmo que não tenham sido ajuizados embargos à execução.
Apenas para que você entenda melhor (não é tecnicamente correto afirmar isso na prova) : na
execução individual (cumprimento individual) de sentença proferida em ação coletiva, o
advogado do exequente (credor) terá mais “trabalho” do que em uma execução comum
(cumprimento comum). Isso porque ele terá que demonstrar que seu cliente tem direito ao
crédito que foi discutido no processo de conhecimento. Assim, como essa comprovação terá
que ser obrigatoriamente feita, são devidos honorários advocatícios mesmo que a Fazenda
Pública não apresente impugnação a esse cumprimento de sentença.
37.4. É incabível a rejeição do seguro garantia judicial pelo exequente, salvo por
insuficiência, defeito formal ou inidoneidade da salvaguarda oferecida – (Info 615)
Obs: esse julgado não tem relevância sob a égide do novo CPC.
No CPC/1973, para que o devedor apresentasse impugnação, era indispensável a garantia do
juízo, ou seja, era necessário que houvesse penhora, depósito ou caução. No CPC/2015 isso
acabou e é possível impugnação mesmo sem garantia do juízo.
No CPC/1973, o prazo de 15 dias para impugnação era contado da intimação do auto de
penhora e avaliação. No CPC/2015, o prazo para impugnação inicia-se imediatamente após
acabar o prazo de 15 dias que o executado tinha para fazer o pagamento voluntário (art. 525,
caput). Não é necessária nova intimação. Acabou um prazo, começa o outro. Logo, para fins
de início do prazo da impugnação, não mais interessa o dia em que ocorreu a penhora. Isso
porque a penhora (garantia do juízo) não é mais um requisito para que haja impugnação no
CPC/2015.
37.6. Se o devedor for assistido da Defensoria, o prazo do art. 475-J do CPC/1973 deverá ser
contado em dobro – (Info 594)
Se o devedor for assistido da Defensoria Pública, o prazo do art. 475-J do CPC/1973 deverá
ser contado em dobro, ou seja, o executado terá 30 dias para o débito.
A prerrogativa da contagem em dobro dos prazos tem por objetivo compensar as
peculiares condições enfrentadas pelos profissionais que atuam nos serviços de assistência
judiciária do Estado, que enfrentam deficiências de material, pessoal e grande volume de
processos.
A intimação para o cumprimento da sentença gera ônus para o representante da parte
vencida, que deverá comunicá-la do desfecho desfavorável da demanda e alertá-la de que a
ausência de cumprimento voluntário implica imposição de sanção processual. Logo, deve
ser aplicado o prazo em dobro nesta situação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.261.856-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 22/11/16 (Info 594).
OBS:
Novo CPC: O julgamento acima foi proferido ainda sob a ótica do CPC/1973, considerando
que os fatos ocorreram na vigência do Código passado. Há dúvidas se o entendimento
permanece válido com o novo CPC. Isso porque o art. 513, § 2º, II, do CPC/2015 determina
que se o devedor for assistido da Defensoria Pública, ele deverá ser intimado para cumprir a
sentença por meio de carta com aviso de recebimento. Essa previsão não existia no
CPC/1973.
Assim, em tese, a intimação para cumprimento da sentença não demandaria mais nenhum
ônus para o Defensor Público. Logo, em princípio, não haveria motivo para se aplicar o prazo
em dobro, já que o cumprimento voluntário teria deixado de ser um ato de natureza dúplice
e seria, agora, um ato a ser praticado apenas pela parte. É preciso, no entanto, aguardar para
se ter certeza. Qualquer novidade, você será alertado no site.
Lei de imprensa declarada não recepcionada: Ocorre que, em 2009, antes de o jornal cumprir
a obrigação, o STF decidiu que a Lei de Imprensa, em sua inteireza, não foi recepcionada pela
CF/88, sendo, portanto, inválida: STF. Plenário. ADPF 130, Rel. Min. Carlos Britto, julgado
em 30/04/09.
Desse modo, a partir do julgamento do STF, a jurisprudência passou a entender que o art. 75
da Lei de Imprensa é inaplicável (STJ. 3ª Turma. REsp 1297426/RO, Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 03/11/15).
Título foi fundado unicamente na lei inválida: Se o título judicial foi fundado (baseado)
exclusivamente na aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidos pelo STF como
incompatíveis com a Constituição Federal, será permitido o reconhecimento da
inexigibilidade da obrigação na própria fase de execução. Se a sentença tivesse se baseado no
art. 75 da Lei de Imprensa e em outros dispositivos ainda válidos (ex: no Código Civil ou na
CF/88), a obrigação continuaria sendo exigível. No caso concreto, contudo, a sentença, na
parte que condenou o jornal a publicar a decisão na íntegra, foi fundada unicamente
(exclusivamente) no art. 75.
O caso em tela pode ser enquadrado como "inexigibilidade da obrigação"? SIM. Segundo o §
1º do art. 475-L, do CPC/1973 (§ 12 do art. 525 do CPC/2015), considera-se também
inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial quando este for fundado...
em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo STF; ou
em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo STF como
incompatível com a CF.
... em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso.
No caso concreto, a aplicação do art. 75 da Lei de Imprensa foi tida como incompatível com a
CF/88 em controle concentrado de constitucionalidade.
Peculiaridade envolvendo o novo CPC: As redações do antigo e do novo CPC são muito
semelhantes. No entanto, existe uma inovação trazida pelo CPC/2015 que é importante ser
ressaltada e que geraria solução diferente ao caso concreto apreciado. Para que o devedor
possa alegar a inexigibilidade da obrigação argumentando que o título é baseado em lei
incompatível com a Constituição, exige-se que a decisão do STF seja anterior à formação da
coisa julgada. Se for posterior, a matéria não poderá ser alegada em impugnação, devendo
ser proposta ação rescisória. É isso que se extrai do art. 525, §§ 14 e 15 do CPC/2015:
Art. 525 (...)
§ 14. A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 12 deve ser anterior
ao trânsito em julgado da decisão exequenda.
§ 15. Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito em julgado da
decisão exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do trânsito
em julgado da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal.
37.9. Multa do art. 475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015) em cumprimento de
sentença arbitral – (Info 569)
O art. 475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015) prevê que o devedor será intimado
para pagar a quantia na qual ele foi condenado no prazo de 15 dias. Caso não pague, o
valor da condenação será acrescido de multa de 10%.
A liquidez da obrigação é pressuposto para o pedido de cumprimento de sentença. Assim,
essa multa do art. 475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015) só será imposta se a
obrigação já estiver líquida, ou seja, se houver o valor certo que o devedor deverá pagar.
Se a sentença foi ilíquida, antes de intimar o devedor para pagar sob pena da multa do art.
475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015), será necessário fazer a sua liquidação.
Desse modo, para fins de recurso especial repetitivo, o STJ fixou a seguinte tese:
No caso de sentença ilíquida, para a imposição da multa prevista no art. 475-J do CPC,
revela-se indispensável (i) a prévia liquidação da obrigação; e, após, o acertamento, (ii) a
intimação do devedor, na figura do seu Advogado, para pagar o quantum ao final definido
no prazo de 15 dias.
Em outras palavras, somente após ter certeza do valor devido (liquidação) é que se poderá
intimar o devedor para pagar. Se ele, mesmo depois de intimado, não quitar a dívida no
prazo de 15 dias, aí sim haverá a imposição da multa de 10% do art. 475-J do CPC 1973 (art.
523, § 1º do CPC 2015).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.147.191-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 4/3/2015
(recurso repetitivo) (Info 560).
O contrato eletrônico de mútuo com assinatura digital pode ser considerado título
executivo extrajudicial.
Neste caso, não será necessária a assinatura de 2 testemunhas, conforme exige o art. 784,
III, do CPC/2015.
Na assinatura digital de contrato eletrônico, uma autoridade certificadora (terceiro
desinteressado) atesta que aquele determinado usuário realmente utilizou aquela
assinatura no documento eletrônico. Como existe esse instrumento de verificação de
autenticidade e presencialidade do contratante, é possível reconhecer esse contrato como
título executivo extrajudicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1495920-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 15/5/18 (Info 627).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João vai até a agência bancária, conversa com o
gerente e toma emprestado R$ 20 mil. Para tomar o dinheiro emprestado, contudo, João teve
que assinar um contrato de mútuo comprometendo-se a devolver o dinheiro em 6 meses,
acrescido de juros e correção monetária. Esse contrato foi assinado por João e por duas
testemunhas.
Caso João não pague o empréstimo, esse contrato poderá ser executado? O contrato de
mútuo constitui-se em título executivo extrajudicial? SIM. O contrato de mútuo, desde que
assinado pelo devedor e por 2 testemunhas, constitui-se em título executivo extrajudicial. É
o que prevê o art. 784, III, do CPC/2015:
Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais: (...)
III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas;
Algumas informações sobre o papel dessas 2 testemunhas?
A assinatura das 2 testemunhas é considerada como “requisito extrínseco à
substância do ato”.
Seu objetivo é o de aferir a existência e a validade do negócio jurídico. O intuito foi o
de permitir que, se houvesse alguma alegação de nulidade do negócio, as
testemunhas pudessem ser ouvidas para certificar a existência ou não de vício na
formação do instrumento, a ocorrência e a veracidade do ato, com isenção e sem
preconceitos.
Vale ressaltar que as pessoas que assinam são “testemunhas instrumentárias”, ou
seja, elas apenas expressam a regularidade formal do instrumento particular, mas
não precisam saber a respeito do conteúdo do negócio jurídico.
Em razão disso, a ausência de alguma testemunha ou a sua incapacidade, por si só,
não ensejam a invalidade do contrato ou do documento, mas apenas a inviabilidade
do título para fins de execução, pela ausência de formalidade exigida em lei.
Assim, em regra, não havendo a assinatura das 2 testemunhas, o contrato continua
sendo válido, mas não poderá ser considerado como título executivo extrajudicial.
Algumas vezes a parte alega algum “problema” com a assinatura da testemunha,
mas não aponta nenhum vício de consentimento ou falsidade documental. Só alega
algum “vício” da testemunha. Ex: a testemunha do contrato foi o advogado de uma
das partes contratantes. Isso não pode, considerando que a testemunha deverá ser
alguém desinteressado no contrato. No entanto, se a parte alega apenas isso, mas
não questiona a validade do ajuste, este contrato continua sendo título executivo
extrajudicial (STJ. 4ª Turma. REsp 1453949/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 13/06/2017).
Da mesma forma, ainda que não se consiga ler direito o nome das testemunhas no
contrato, isso é considerado mera irregularidade e não retira a força executiva do
título, salvo se houver alguma alegação de nulidade (STJ. 3ª Turma. AgRg no
AREsp609.407/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/05/2015).
Sem a assinatura das 2 testemunhas, é possível que o contrato seja considerado título
executivo extrajudicial?
Em regra, para que o instrumento particular sirva como título executivo, é necessário
que seja assinado por 2 testemunhas.
Excepcionalmente, mesmo sem essas duas assinaturas, é possível que o contrato
continue sendo título executivo se houver outras provas que comprovem a avença.
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp800.028/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
02/02/2016.
As testemunhas precisam presenciar as partes assinando o contrato? Todo mundo tem que
assinar no mesmo momento? NÃO.
Apenas a título de curiosidade: contrato de locação não precisa das 2 testemunhas:
O contrato de locação não precisa estar assinado por 2 testemunhas para servir
como título executivo extrajudicial. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp
970.755/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 21/03/2017.
E se esse contrato for eletrônico? Ex: Pedro celebra contrato de mútuo com uma instituição
financeira; ocorre que o negócio é todo feito por meio de uma página na internet; não há
papel; e a assinatura de mutuário também é digital. Esse contrato pode ser considerado
título executivo extrajudicial? SIM. É o que foi decidido no Info 627 do STJ.
40.2. Construcard não é título executivo – (Info 606) – Atenção! Juiz Federal e DPU!
Decisão concessiva de suspensão condicional do processo não faz coisa julgada para fins
penais: Realmente, o STJ entende que a decisão que concede a suspensão condicional do
processo não faz coisa julgada material. Isso, no entanto, vale apenas para efeitos penais.
Assim, quando o STJ afirma que a decisão concessiva de suspensão condicional do processo
não faz coisa julgada, o que ele quer dizer é que esse benefício poderá ser revogado se o
beneficiário incidir nas hipóteses previstas nos §§ 3º e 4º do art. 89 da Lei 9.099/99 durante o
prazo de suspensão determinado. Neste caso, o processo criminal retoma seu curso. Daí se
dizer que a decisão não faz coisa julgada material. Essa constatação, contudo, é restrita ao
aspecto criminal.
Efeitos cíveis não se confundem com os efeitos penais da suspensão condicional do processo :
Por outro lado, o acordo para a composição dos danos aperfeiçoou-se com a concordância do
denunciado, da vítima e a chancela do Juiz. Esse acordo, homologado pelo juiz, enquadra-se
na previsão do art. 515, II, do CPC:
Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo
com os artigos previstos neste Título: (...)
II - a decisão homologatória de autocomposição judicial;
Assim sendo, o referido acordo deve ser considerado como título executivo judicial, nos
termos do art. 515, II, do CPC, visto que seus efeitos cíveis não se confundem com os efeitos
penais da suspensão condicional do processo oferecida pelo Ministério Público e acatada pelo
acusado. Em suma, não há como se confundir o deferimento da suspensão do processo, que
não faz coisa julgada para extinguir a pretensão punitiva do Estado, com a decisão que
homologa o acordo celebrado pelas partes em juízo, passível de execução por constituir-se
título executivo judicial.
40.4. A sentença, qualquer que seja sua natureza, pode ser título executivo judicial, desde
que estabeleça obrigação certa e exigível – (Info 585) – IMPORTANTE!!! RECURSO
REPETITIVO!!! – (PGM-Fortaleza/CE-2017) (TJRO-2019)
OBS:
Observação preliminar: Este julgado foi proferido segundo a ótica do CPC/73. Vou explicar
o que foi decidido e, após, tecerei algumas considerações sobre o CPC 2015.
O STJ, ao analisar o inciso I do art. 475-N do CPC 1973, entendia que a sentença meramente
declaratória era título executivo judicial? Na égide do CPC 1973 era possível a execução de
sentenças meramente declaratórias? SIM. Para o STJ, o art. 475-N, I, do CPC 1973 autorizava
a execução de sentença meramente declaratória, desde que elas possuíssem exigibilidade e
certeza. Confira:
(...) A Lei 11.232/05, ao revogar o art. 584 e inserir o art. 475-N no CPC, acolheu
o entendimento já esposado por esta Corte de que as sentenças de cunho
declaratório podem ter força executiva se presentes os elementos necessários à
execução, como exigibilidade e certeza da relação.(...) STJ. 3ª T. AgRg no REsp
1384913/ES, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 06/08/15.
Exemplo de sentença meramente declaratória que pode ser executada: Empresa “X”
(contribuinte) ajuíza, contra a União, ação para que seja declarado que ela não mantém
relação jurídico-tributária válida com o ente federal, considerando que o tributo cobrado é
inconstitucional. A empresa “X” requer, ainda, a compensação dos valores já pagos relativos
a esse tributo com outros débitos que ela tem com a União. A sentença que julgar procedente
essa demanda, apesar de declaratória, possui conteúdo nitidamente condenatório e, portanto,
poderá ser executada.
O que importa é o conteúdo e não a classificação da sentença: Para analisar se uma sentença
possui ou não exequibilidade, não se deve levar em consideração a natureza da decisão (se
condenatória, constitutiva, meramente declaratória etc.), até mesmo porque estas
classificações são objeto de polêmicas doutrinárias que nunca se resolvem. Assim, para se
examinar se uma sentença possui ou não exequibilidade, o que importa é analisar o
conteúdo da decisão, ou seja, se ela, em seu conteúdo, reconhece que a parte deverá
cumprir uma prestação de dar, fazer, não fazer ou pagar quantia. Se possuir esta
determinação, deve-se considerá-la como título executivo.
Nem toda sentença declaratória é título executivo: Nem toda sentença declaratória possui
eficácia executiva, mas apenas aquelas que, reconhecendo a existência da obrigação,
contenham, em seu bojo, os pressupostos de certeza e exigibilidade. Desse modo, somente
as sentenças declaratórias que forem certas e exigíveis é que podem ser consideradas como
título executivo. Não há problema se a sentença for certa e exigível, mas não for líquida. Isso
porque na ausência de liquidez, a parte poderá fazer a prévia liquidação para, então,
executá-la.
Inutilidade de nova ação judicial se já há uma sentença declaratória: Outro argumento para
se reconhecer exequibilidade para a sentença declaratória está no fato de que seria uma
enorme perda de tempo e de gastos exigir que a parte que já possui em seu favor uma
sentença declaratória fosse obrigada a ingressar com nova ação, desta feita para obter uma
sentença condenatória. Além disso, esta segunda demanda seria inútil, considerando que, se
a primeira sentença já declarou a existência do direito, a nova sentença a ser prolatada não
poderia nem mesmo contrariar esta conclusão, sob pena de ofensa à coisa julgada.
Este entendimento acima explicado permanece com o novo CPC? Compare abaixo a mudança
na redação da previsão do título executivo judicial:
CPC 1973 CPC 2015
Art. 475-N. São títulos executivos judiciais: Art. 515. São títulos executivos judiciais,
I — a sentença proferida no processo civil cujo cumprimento dar-se-á de acordo com
que reconheça a existência de obrigação de os artigos previstos neste Título:
fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar I — as decisões proferidas no processo civil
quantia; que reconheçam a exigibilidade de
obrigação de pagar quantia, de fazer, de
não fazer ou de entregar coisa;
Diante da alteração na redação acima, alguns autores defenderam que a sentença meramente
declaratória não mais seria título executivo judicial. Nesse sentido: BUENO, Cassio
Scarpinella. Novo Código de Processo Civil anotado. São Paulo: Saraiva, p. 640. A doutrina
majoritária, no entanto, está se formando no sentido de que o CPC/15 prevê que a sentença
meramente declaratória é sim título executivo judicial, desde que reconheça a
exigibilidade de uma obrigação. É a conclusão, por exemplo, de Daniel Amorim Assumpção
Neves (NCPC comentado. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 872). No mesmo sentido, o Min. Rel.
Luis Felipe Salomão em determinado trecho de seu voto dá a entender que o entendimento
do STJ proferido neste julgado continua a vigorar com o CPC 2015.
40.5. Natureza jurídica do termo de acordo de parcelamento para fins de execução – (Info
568)
O Termo de Acordo de Parcelamento que tenha sido subscrito pelo devedor e pela Fazenda
Pública deve ser considerado documento público para fins de caracterização de título
executivo extrajudicial, apto à promoção de ação executiva, na forma do art. 585, II, do CPC
1973 (art. 784, II, do CPC 2015).
Ex: João, servidor de um órgão público federal, causou prejuízos ao erário. Foi aberto um
processo administrativo para apurar o dano, que foi orçado em R$ 60 mil. O servidor
aceitou assinar um termo de acordo de parcelamento no qual confessava a dívida e se
comprometia a pagar o débito em 12 prestações. Esse termo de acordo de parcelamento é
considerado título executivo extrajudicial.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.521.531-SE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 25/8/15 (Info 568).
41. PENHORA
41.1. ADJUDICAÇÃO: Forma preferencial de pagamento ao credor. Momento para
requerimento da adjudicação – (Info 583)
Quando acontece uma dessas três situações acima, dizemos que houve a “expropriação”,
conforme previsto no art. 825 do CPC/2015:
Art. 825. A expropriação consiste em:
I - adjudicação;
II - alienação;
III - apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de
outros bens.
Obs: esses incisos estão organizados segundo uma preferência legal. Em outras palavras, se
houver interessados em adjudicar (inciso I), não será necessário fazer a alienação. Se não ocorrer a
adjudicação, deve-se tentar a alienação (inciso II) antes da apropriação de frutos (inciso III).
Adjudicação (inciso I): A adjudicação ocorre quando a propriedade do bem penhorado (móvel ou
imóvel) é transferida para o exequente (ou para um terceiro legitimado a adjudicar), como forma
de pagamento da dívida que está sendo cobrada em juízo. O instituto encontra-se previsto no art.
876 do CPC/2015, cujo caput estabelece:
Art. 876. É lícito ao exequente, oferecendo preço não inferior ao da avaliação,
requerer que lhe sejam adjudicados os bens penhorados.
O caput do art. 876 fala apenas no exequente, mas o § 5º prevê outros legitimados que também
podem adjudicar. Veja:
§ 5º Idêntico direito pode ser exercido por aqueles indicados no art. 889, incisos II a
VIII, pelos credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, pelo cônjuge,
pelo companheiro, pelos descendentes ou pelos ascendentes do executado.
Essa preferência fica clara ao se ler o art. 880 do CPC/2015, que afirma que a alienação somente
ocorrerá se "não efetivada a adjudicação":
Art. 880. Não efetivada a adjudicação, o exequente poderá requerer a alienação por
sua própria iniciativa ou por intermédio de corretor ou leiloeiro público credenciado
perante o órgão judiciário.
Podemos concluir que o termo inicial para o pedido de adjudicação é a entrega da avaliação.
Tendo o bem sido avaliado, ele já poderá ser adjudicado. Por outro lado, o termo final da
adjudicação é a realização da alienação. Se a coisa já foi alienada (seja por iniciativa particular,
seja por leilão judicial), não é mais permitida a adjudicação.
Imagine que o exequente, em um primeiro momento, não queira adjudicar o bem. Diante disso,
são iniciados os preparativos para a realização da sua alienação. Ocorre que também não se
consegue vender a coisa. O novo CPC prevê, de forma inovadora, que, nesta situação, será
permitido novamente que o exequente (ou algum legitimado) requeira a adjudicação. Veja do que
estou falando:
Art. 878. Frustradas as tentativas de alienação do bem, será reaberta oportunidade
para requerimento de adjudicação, caso em que também se poderá pleitear a
realização de nova avaliação.
Alienação (inciso II): Segundo o art. 879 do CPC 2015, existem duas espécies de alienação do bem:
a) por iniciativa particular: ocorre quando o próprio exequente (ou algum corretor ou leiloeiro
público credenciado) tenta conseguir um comprador para o imóvel, seguindo determinadas regras
impostas pela lei.
b) leilão judicial (eletrônico ou presencial): é a oferta do bem penhorado aos interessados em
adquiri-lo em um evento organizado pelo Estado-juiz.
Observação: No CPC 2015, o que é chamado atualmente de “leilão judicial” era conhecido como
“hasta pública” (expressão do CPC 1973). Assim, no CPC 1973 existiam duas formas de hasta
pública (art. 686, IV):
a) praça, quando a coisa a ser alienada era bem imóvel;
b) leilão, quando a coisa a ser alienada era bem móvel.
O CPC 2015 não repete tais palavras e não mais faz essa distinção. Agora, fala-se em leilão judicial
tanto para bens móveis como imóveis.
Ex: foi penhorado um apartamento do executado, que se encontra alugado a um terceiro; pode o
juiz determinar que o exequente fique recebendo o valor dos aluguéis até que o débito da
execução seja totalmente pago.
Em ação de execução de dívida contraída pessoalmente pelo autor da herança, a penhora pode
ocorrer diretamente sobre os bens do espólio, em vez de no rosto dos autos do inventário.
STJ. 3ª T. REsp 1.318.506-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 18/11/2014 (Info 552).
É possível, em caráter excepcional, que a penhora recaia sobre o faturamento da empresa, desde
que o percentual fixado não torne inviável o exercício da atividade empresarial. Não há
violação ao princípio da menor onerosidade para o devedor, previsto no art. 620 do CPC 1973
(art. 805 do CPC 2015).
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 242970-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 13/11/12.
OBS: A penhora sobre o faturamento ou renda da sociedade empresária é prevista no CPC e
admitida pelo STJ (art. 655, VII, do CPC/1973) (art. 835, X, do CPC/2015). Entretanto, para que a
penhora sobre faturamento de empresa seja deferida é necessário que se cumpram três requisitos
(STJ. Ag 1380194/SC):
a) que o devedor não possua bens ou, se os tiver, sejam esses de difícil execução ou
insuficientes a saldar o crédito demandado;
b) que seja promovida a nomeação de administrador e que se apresente plano de
pagamento;
c) que o percentual fixado sobre o faturamento não torne inviável o exercício da
atividade empresarial.
42. ARREMATAÇÃO
42.1. Arrematação de bem imóvel mediante pagamento em prestações – (Info 569)
Na segunda praça (CPC 1973) ou no segundo leilão (CPC 2015), o bem poderá ser alienado por
valor inferior ao da avaliação?
1) CPC 1973:
REGRA: SIM. Nesta segunda praça, o bem poderá ser arrematado por preço inferior ao da
avaliação, desde que não seja vil (art. 692 do CPC). Vil = algo de pouco valor, insignificante.
O CPC 1973 não conceituava o que era preço "vil", cabendo essa tarefa à jurisprudência.
EXCEÇÃO: no CPC 1973, havia uma exceção a essa regra. Se o licitante propusesse arrematar o
bem, pagando em prestações (parceladamente), então, neste caso, o valor pago não poderia ser
inferior à avaliação mesmo que fosse a segunda praça (art. 690, § 1º).
2) CPC 2015:
SIM. No CPC 2015, o juiz deverá fixar no edital: o valor de avaliação e o preço mínimo.
O bem pode ser arrematado por preço inferior ao da avaliação já no primeiro leilão. O que não
pode acontecer é o bem ser vendido por valor inferior ao preço mínimo.
Se for realizado um segundo leilão (por ausência de interessados no primeiro), a situação
continua a mesma: o bem poderá ser alienado por valor inferior ao da avaliação, mas não
poderá ser alienado por valor inferior ao preço mínimo.
Assim, a única restrição imposta (tanto na primeira tentativa de leilão, como na segunda) é que
o bem não poderá ser arrematado por preço VIL (art. 891 do CPC 2015).
O CPC 2015 conceitua o que é "vil". Será considerado vil (muito baixo e, portanto, proibido):
• O valor abaixo do preço mínimo fixado pelo juiz; ou
• Se o juiz não fixou preço mínimo, será considerado vil o valor abaixo de 50% da avaliação.
No CPC 2015, mesmo que o alienante proponha pagar em prestações, ainda assim o valor do
bem poderá ser inferior ao da avaliação, desde que não seja vil (art. 895, II).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.340.965-MG, Rel. Min. Raul Araújo, j. 3/9/15 (Info 569).
43. EXECUÇÃO
43.1. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA: Não se pode alterar o índice de correção monetária
fixado na sentença transitada em julgado mesmo que o STF tenha declarado tal índice
inconstitucional posteriormente à sentença – (Info 676) – IMPORTANTE!!!
Na fase de cumprimento de sentença não se pode alterar os critérios de atualização dos cálculos
estabelecidos na decisão transitada em julgado, ainda que para adequá-los ao entendimento do
STF firmado em repercussão geral.
Sem que a decisão acobertada pela coisa julgada tenha sido desconstituída, não é cabível ao
juízo da fase de cumprimento de sentença alterar os parâmetros estabelecidos no título judicial,
ainda que no intuito de adequá-los à decisão vinculante do STF.
STJ. 2ª T. REsp 1861550-DF, Rel. Min. Og Fernandes, j. 16/06/20 (Info 676).
43.2. PENHORA: São penhoráveis as verbas recebidas por escola de samba a título de parceria
público-privada com a administração pública – (Info 660)
São penhoráveis as verbas recebidas por escola de samba a título de parceria público-privada
com a administração pública. A situação NÃO se enquadra na hipótese do art. 833, IX, do CPC:
Art. 833. São impenhoráveis:(...) IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas
para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social;
STJ. 3ª T. REsp 1816095-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 05/11/19 (Info 660).
É aplicável o CPC/15 ao cumprimento de sentença, iniciado sob sua vigência, ainda que a
sentença exequenda tenha sido proferida sob a égide do CPC/73.
STJ. 2ª T. REsp 1815762-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 05/11/2019 (Info 660).
43.4. NOÇÕES GERAIS: A prescrição intercorrente por ausência de localização de bens não
retira o princípio da causalidade em desfavor do devedor, nem atrai a sucumbência para o
exequente – (Info 646 e Info 660)
Os embargos à execução deverão ser propostos nos próprios autos da execução ou em autos
apartados? Em autos apartados. É o que diz expressamente o § 1º do art. 914 do CPC/2015:
Art. 914 (...)§ 1º Os embargos à execução serão distribuídos por dependência, autuados em
apartado e instruídos com cópias das peças processuais relevantes, que poderão ser declaradas
autênticas pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal.
Se o embargante (executado) apresenta, de forma incorreta, os embargos à execução nos
próprios autos da execução, o juiz não deverá rejeitar liminarmente esses embargos.
O magistrado deverá conceder prazo para que a parte faça o desentranhamento dos embargos e
promova a sua distribuição em autos apartados, por dependência. Isso porque a propositura
dos embargos à execução nos próprios autos da execução configura vício sanável, que pode ser,
portanto, corrigido.
STJ. 3ª T. REsp 1807228-RO, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 03/09/2019 (Info 656).
Imagine que um determinado imóvel indivisível pertença a duas pessoas. Uma delas está sendo
executada e a outra não tem nenhuma relação com essa dívida cobrada.
Esse bem é penhorado. Esse imóvel poderá ser alienado, no entanto, depois de vendido deverá
ser entregue ao coproprietário não responsável o valor de sua quota-parte. É o que prevê o
caput do art. 843 do CPC/2015:
Art. 843. Tratando-se de penhora de bem indivisível, o equivalente à quota-parte do
coproprietário ou do cônjuge alheio à execução recairá sobre o produto da alienação do bem.
Vale ressaltar, no entanto, que o bem indivisível somente poderá ser alienado se o valor de
alienação for suficiente para assegurar ao coproprietário não responsável 50% do valor de
avaliação do bem:
Art. 843 (...) § 2º Não será levada a efeito expropriação por preço inferior ao da avaliação na qual
o valor auferido seja incapaz de garantir, ao coproprietário ou ao cônjuge alheio à execução, o
correspondente à sua quota-parte calculado sobre o valor da avaliação.
STJ. 3ª T. REsp 1728086-MS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 27/8/19 (Info 655).
43.8. NOÇÕES GERAIS: A desistência da execução por falta de bens penhoráveis não enseja a
condenação do exequente em honorários advocatícios – (Info 653)
A desistência da execução pelo credor motivada pela ausência de bens do devedor passíveis de
penhora, em razão dos ditames da causalidade, não enseja a condenação do exequente em
honorários advocatícios. Nesse caso, a desistência é motivada por causa superveniente que não
pode ser imputada ao credor.
Ex: Pedro foi condenado a pagar R$ 100 mil em favor de João. O credor ingressou com
cumprimento de sentença. O devedor não pagou espontaneamente o débito. Não foram
localizados bens penhoráveis de Pedro. Diante disso, o credor requereu a desistência da
execução. O juiz irá homologar o pedido de desistência, julgando extinto o feito sem resolução
do mérito (art. 485, VIII, do CPC/15) e não condenará o credor ao pagamento de honorários
advocatícios.
STJ. 4ª T. REsp 1675741-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 11/06/19 (Info 653).
43.9. NOÇÕES GERAIS: Na execução para cobrança das cotas condominiais, o exequente pode
pedir a cobrança não apenas das parcelas vencidas como também das vincendas, ou seja, daquelas
que forem vencendo no curso do processo – (Info 653) – IMPORTANTE!!!
O prazo previsto no art. 523, caput, do CPC, para o cumprimento voluntário da obrigação,
possui natureza processual, devendo ser contado em dias úteis.
STJ. 3ª T. REsp 1.708.348-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 25/6/19 (Info 652).
Não configura ato incompatível com a vontade de recorrer a oposição de embargos do devedor
pela parte que recorreu contra decisão que incluiu seu nome no polo passivo da execução.
STJ. 3ª T. REsp 1655655-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 25/6/19 (Info 652).
43.14. ASTREINTES: A Súmula 410 do STJ continuou válida mesmo após a edição das Leis
11.232/05 e 11.382/06 e mesmo depois que entrou em vigor o CPC/15 – (Info 643) –
IMPORTANTE!!!
• Obrigação de fazer, não fazer e entregar coisa: a intimação deve ser pessoal.
43.15. O agravo de instrumento não pode ser utilizado como meio de impugnação de toda e
qualquer decisão interlocutória proferida no processo de execução – (Info 638)
Não cabe agravo de instrumento contra decisão do juiz que determina a elaboração dos cálculos
judiciais e estabelece os parâmetros de sua realização.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.700.305-PB, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 25/9/18 (Info 638).
43.16. Análise da impenhorabilidade prevista no art. 649, IV do CPC/1973 (art. 833, IV, do
CPC/2015) – (Info 635) – IMPORTANTE!!!
O art. 649, IV, do CP/1973 previa que as verbas de natureza salarial do executado eram
impenhoráveis.
O § 2º do art. 649 previa uma exceção explícita e dizia que era possível a penhora da verba
salarial do devedor para pagamento de prestação alimentícia.
O STJ, interpretando esse dispositivo, afirmou que é possível a penhora das verbas salariais do
devedor para pagamento de outras dívidas, além da prestação alimentícia, desde que essa
penhora preserve um valor que seja suficiente para o devedor e sua família continuarem
vivendo com dignidade.
Nas palavras do STJ: a regra geral da impenhorabilidade de salários, vencimentos, proventos
etc. do devedor (art. 649, IV, do CPC/1973) (art. 833, IV, do CPC/2015), também pode ser
excepcionada quando for preservado percentual de tais verbas capaz de dar guarida à
dignidade do devedor e de sua família.
Ex: Flávio recebe salário de R$ 30 mil por mês. Ricardo ajuizou execução contra Flávio. O juiz
determinou a penhora de 30% do salário de Flávio, todos os meses, até que a dívida que está
sendo executada seja paga. O STJ entendeu que essa penhora é válida e que não violou o art.
649, IV, do CPC/1973.
STJ. Corte Especial. EREsp 1582475-MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 3/10/18 (Info 635).
OBS: Vale ressaltar que o precedente acima foi proferido tomando-se como base o CPC/1973.
Penso, contudo, que é perfeitamente possível aplicar o mesmo entendimento para o art. 833, IV,
do CPC/2015, até mesmo porque a redação do § 2º do art. 833 é mais abrangente, conforme já
vimos.
43.17. Possibilidade de o juízo da execução cível determinar penhora no rosto dos autos de
crédito da execução trabalhista caso o reclamante tenha falecido – (Info 634)
É possível a penhora, determinada por juízo da execução cível, no rosto dos autos de execução
trabalhista de reclamante falecido, devendo a análise da qualidade do crédito e sua eventual
impenhorabilidade ser feita pelo juízo do inventário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1678209-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 2/10/18 (Info 634).
OBS:
O que é a penhora no rosto dos autos? A penhora no rosto dos autos é aquela que recai sobre um
eventual direito do executado que ainda está sendo discutido em outro processo judicial. Em
outras palavras, o executado do processo 1 está pleiteando um crédito no processo 2. Logo, o juiz
do processo 1 pode determinar a penhora no rosto dos autos deste crédito do processo 2. Ex:
Antônio está executando Ricardo no processo 1. Ocorre que Ricardo está pleiteando um crédito
contra Maria em um outro feito (processo2). O juiz poderá determinar a penhora no rosto dos
autos do crédito pleiteado no processo 2.
Segundo Daniel Assumpção Neves, “essa espécie de penhora se presta a dar ciência ao juízo da
demanda em que se discute o direito, evitando-se a entrega do produto de alienação de bem
penhorado diretamente ao vencedor da ação, considerando-se que esse crédito já está
penhorado em outra demanda judicial.” (Novo CPC comentado. Salvador: Juspodivm, 2017, p.
1366). Essa expressão “no rosto dos autos” era mencionada expressamente pelo art. 674 do
CPC/1973, mas não foi repetida pelo art. 860 do CPC/2015. Apesar disso, essa nomenclatura
continua a ser utilizada pela doutrina e jurisprudência.
43.18. Análise de habeas corpus impetrado contra decisão do juiz que, na execução de título
extrajudicial, determinou a suspensão do passaporte e da CNH do executado – (Info 631) –
IMPORTANTE!!!
Cabe habeas corpus para impugnar decisão judicial que determinou a retenção de passaporte.
Em regra, não se admite a utilização de habeas corpus como substituto de recurso próprio, ou
seja, se cabia um recurso para impugnar a decisão, não se pode aceitar que a parte prejudicada
impetre um HC.
Exceção: se, no caso concreto, a decisão impugnada for flagrantemente ilegal, gerando prejuízo
à liberdade do paciente, o Tribunal deverá conceder o habeas corpus de ofício.
O acautelamento de passaporte é medida que limita a liberdade de locomoção, razão pela qual
pode, no caso concreto, significar constrangimento ilegal e arbitrário, sendo o habeas corpus via
processual adequada para essa análise. Isso vale não apenas para decisões criminais como
também cíveis.
STJ. 4ª Turma. RHC 97876-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 5/6/18 (Info 631).
Não cabe habeas corpus para impugnar decisão judicial que determinou a suspensão de CNH.
A suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) não configura ameaça ao direito de ir e
vir do titular. Isso porque mesmo com a decretação da medida, o sujeito continua com a
liberdade de ir e vir, para todo e qualquer lugar, desde que não o faça como condutor do
veículo.
Logo, não cabe habeas corpus contra decisão que determina a apreensão de CNH.
STJ. 4ª Turma. RHC 97876-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 5/6/18 (Info 631).
STJ. 5ª Turma. HC 383225/MG, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 4/5/17.
É ilegal medida coercitiva de retenção do passaporte em decisão não fundamentada e que não
observou o contraditório, proferida no bojo de execução por título extrajudicial
Revela-se ilegal e arbitrária a medida coercitiva de suspensão do passaporte proferida no bojo
de execução por título extrajudicial (duplicata de prestação de serviço), por restringir direito
fundamental de ir e vir de forma desproporcional e não razoável. Não tendo sido demonstrado
o esgotamento dos meios tradicionais de satisfação, a medida não se comprova necessária.
Para que o julgador se utilize de meios executivos atípicos, a decisão deve ser fundamentada e
sujeita ao contraditório, demonstrando-se a excepcionalidade da medida adotada em razão da
ineficácia dos meios executivos típicos, sob pena de configurar-se como sanção processual.
Vale ressaltar que o juiz até poderá, eventualmente, decretar a retenção do passaporte do
executado desde que:
• seja obedecido o contraditório e
• a decisão proferida seja fundamentada e adequada, demonstrando-se a proporcionalidade
dessa medida para o caso concreto.
STJ. 4ª Turma. RHC 97876-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 5/6/18 (Info 631).
Assim, o executado argumentou que este título é impenhorável, nos termos do art. 833, I, do
CPC/2015:
Art. 833. São impenhoráveis:
I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução;
A tese do executado foi aceita pelo STJ? NÃO. É o que foi decidido no Info 625 do STJ.
A parte final do art. 833, I, do CPC/2015 realmente prevê que atos voluntários declarem a
impenhorabilidade de determinados bens, afastando-os de eventual execução. Permite-se, assim, a
celebração do pacto de impenhorabilidade. No entanto, esse pacto de impenhorabilidade fica
limitado às partes que o convencionaram, não podendo envolver terceiros que não anuíram. Se
assim não fosse, particulares poderiam celebrar convenções de impenhorabilidade com o intuito
de prejudicar a satisfação do crédito de terceiros. “Trata-se de impenhorabilidade relativa,
porque o ajuste não envolve pessoas alheias ao pacto.” (ASSIS, Araken. Manual da Execução.
São Paulo: RT, 2015, p. 267).
43.21. O prazo para cumprimento voluntário de sentença deverá ser computado em dobro no
caso de litisconsortes com procuradores distintos (art. 229 do CPC) – (Info 619) – IMPORTANTE!!!
- (TJRJ-2019)
Em regra, o prazo para cumprimento voluntário da sentença é de 15 dias úteis (art. 523 do CPC).
Se os devedores forem litisconsortes com diferentes procuradores, de escritórios de advocacia
distintos, este prazo de pagamento deverá ser contado em dobro, nos termos do art. 229 do
CPC/2015, desde que o processo seja físico.
Assim, o prazo comum para cumprimento voluntário de sentença deverá ser computado em
dobro (ou seja, em 30 dias úteis) no caso de litisconsortes com procuradores distintos, em autos
físicos.
STJ. 4ª T. REsp 1693784-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 28/11/17 (Info 619).
43.22. Mesmo que o contrato com a escola particular esteja apenas no nome da mãe, o pai
também responderá solidariamente pelas dívidas – (Info 618) – IMPORTANTE!!!
Quando o art. 1.643 estabelece que existe solidariedade entre os cônjuges quanto às dívidas
contraídas para fazer frente à economia doméstica, deve-se entender isso de forma ampla.
Assim, estão abrangidas na locução "economia doméstica" as obrigações assumidas para a
administração do lar e para a satisfação das necessidades da família, o que inclui despesas
alimentares, educacionais, culturais, de lazer, de habitação, etc. Logo, as despesas contraídas por
um dos cônjuges para custear a educação do filho comum também podem ser enquadradas nos
arts. 1.643, I e 1.644 do CC. Desse modo, deve-se entender que a dívida que surge de um contrato
de prestação de serviços educacionais aos filhos é uma dívida comum do casal, havendo
solidariedade entre eles.
Há essa solidariedade mesmo havendo somente o nome de um dos cônjuges no contrato? SIM. Em
se tratando de dívida contraída em benefício da família e no cumprimento do dever de ambos os
pais matricularem os seus filhos no ensino regular, não importa que apenas o nome de um dos
cônjuges esteja no contrato ou na confissão de dívida. Isso porque, conforme já vimos, o Código
Civil prevê que existe, neste caso, uma solidariedade do casal.
E se os pais estiverem separados/divorciados? Suponhamos que João não mais estivesse casado
(ou nunca tivesse sido casado) com Maria, ainda assim teria legitimidade para figurar na
execução? SIM. Por força do poder familiar. Os pais, detentores do poder familiar, têm o dever de
garantir o sustento e a educação dos filhos, compreendendo, aí, a manutenção do infante em
ensino regular, pelo que deverão, solidariamente, responder pelas mensalidades da escola em
que matriculado o filho. A obrigação relativa à manutenção dos filhos no ensino regular é, sem
dúvida alguma, de ambos os pais, o que é evidenciado pelos arts. 21, 22 e 55 do ECA:
Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela
mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o
direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente
para a solução da divergência.
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos
menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer
cumprir as determinações judiciais.
Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm direitos iguais e deveres e
responsabilidades compartilhados no cuidado e na educação da criança, devendo
ser resguardado o direito de transmissão familiar de suas crenças e culturas,
assegurados os direitos da criança estabelecidos nesta Lei. (...)
Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou
pupilos na rede regular de ensino.
No mesmo sentido é o Código Civil:
Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: (...)
IV - sustento, guarda e educação dos filhos;
Assim, como já dito, ambos os pais têm o dever de garantir o sustento e a educação dos filhos ,
compreendendo, aí, também a manutenção do infante em ensino regular (art. 55 do ECA), pelo
que deverão, solidariamente, responder pelas mensalidades da escola em que matriculado o
filho. Conforme pontua o Min. Paulo de Tarso Sanseverino:
“Essa mútua responsabilidade, própria das dívidas contraídas por apenas um dos
pais para o sustento do filho, não deixa de estar presente pelo fato de a dívida ter
sido contraída posteriormente à separação/divórcio, pois é no poder familiar que
ela encontra sua gênese.”
43.23. Possibilidade de requerer a alienação em leilão judicial em vez de fazer a alienação por
iniciativa particular – (Info 617)
Observação importante: No CPC 2015, o que é chamado atualmente de “leilão judicial” era
conhecido como “hasta pública” (expressão do CPC 1973). Assim, no CPC 1973 existiam duas
formas de hasta pública (art. 686, IV):
a) praça, quando a coisa a ser alienada era bem imóvel;
b) leilão, quando a coisa a ser alienada era bem móvel.
O CPC 2015 não repete tais palavras e não mais faz essa distinção. Agora, fala-se em leilão judicial
tanto para bens móveis como imóveis.
Apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros bens (antigo
“usufruto de bem móvel ou imóvel”) (inciso III): No CPC 1973, isso era tratado como sendo
“usufruto de bem móvel ou imóvel”, expressão que era criticada pela doutrina e que, por isso, foi
substituída no novo Código. Compare:
CPC 1973 CPC 2015
Art. 716. O juiz pode conceder ao Art. 867. O juiz pode ordenar a penhora
exequente o usufruto de móvel ou de frutos e rendimentos de coisa móvel
imóvel, quando o reputar menos ou imóvel quando a considerar mais
gravoso ao executado e eficiente para o eficiente para o recebimento do crédito e
recebimento do crédito. menos gravosa ao executado.
Ex: foi penhorado um apartamento do executado, que se encontra alugado a um terceiro; pode o
juiz determinar que o exequente fique recebendo o valor dos aluguéis até que o débito da
execução seja totalmente pago.
Feita esta breve revisão, imagine a seguinte situação hipotética: João (credor) ingressou com
cumprimento de sentença contra Pedro (devedor). Pedro não pagou voluntariamente o débito e o
juiz determinou a penhora de um apartamento que está em seu nome. O magistrado determinou a
intimação de João para que se manifestasse sobre seu interesse na adjudicação do bem penhorado
e, caso não o tivesse, informasse as providências necessárias para que efetuasse, por conta própria,
a alienação particular dos bens, na forma do art. 879, I, do CPC/2015 (art. 647, II, do CPC/1973).
João respondeu dizendo que não tinha interesse na adjudicação e que também não desejava fazer
a alienação particular do bem. Diante disso, requereu a alienação judicial do apartamento em
hasta pública, na forma do art. 879, II, do CPC/2015 (art. 647,III, do CPC/1973). O juiz indeferiu o
pedido afirmando que, não ocorrendo a adjudicação, é obrigatório que o credor-exequente tente
fazer a alienação do bem penhorado por iniciativa particular. Somente se não tiver êxito é que
poderia ser feita a alienação judicial (antiga hasta pública). O credor recorreu contra a decisão
alegando que a alienação por iniciativa particular é uma faculdade do credor-exequente, sendo
descabida sua imposição pelo juiz.
Agiu corretamente o juiz? NÃO. Analisando o texto do CPC, conclui-se que, não havendo
interesse do exequente na adjudicação do bem penhorado, abre-se a possibilidade de que a
alienação do bem constrito seja feita por iniciativa do próprio credor (alienação por iniciativa
particular). Realmente existe uma ordem de preferência nas formas de expropriação previstas no
CPC. Vale ressaltar, contudo, que esta ordem de preferência não é absoluta. Assim, é possível que
o credor escolha forma de expropriação fora da ordem listada no CPC, de acordo com as
particularidades relacionadas ao bem ou ao próprio credor. Isso porque a execução deve ser
realizada no interesse do exequente, conforme preconiza o art. 797 do CPC/2015 (art. 612 do
CPC/1973).
A pequena propriedade rural é impenhorável (art. 5º, XXVI, da CF/88 e o art. 833, VIII, do CPC)
mesmo que a dívida executada não seja oriunda da atividade produtiva do imóvel.
De igual modo, a pequena propriedade rural é impenhorável mesmo que o imóvel não sirva de
moradia ao executado e à sua família.
Desse modo, para que o imóvel rural seja impenhorável, nos termos do art. 5º, XXVI, da CF/88 e
do art. 833, VIII, do CPC, é necessário que cumpra apenas dois requisitos cumulativos:
1) seja enquadrado como pequena propriedade rural, nos termos definidos pela lei; e
2) seja trabalhado pela família.
STJ. 3ª Turma. REsp 1591298-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 14/11/17 (Info 616).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: O filho de João resolveu fazer faculdade na capital. Para
custear as despesas, João tomou um empréstimo bancário e, como garantia do pagamento, assinou
nota promissória no valor de R$ 20 mil. O devedor não efetuou o pagamento na data do
vencimento, razão pela qual o banco ingressou com execução de título extrajudicial, tendo sido
penhorada uma chácara (imóvel rural) que está em nome de João. O executado alegou que o
imóvel em questão é impenhorável, considerando que se trata de pequena propriedade rural onde
pratica agricultura juntamente com a mulher e os filhos. Invocou, para tanto, o art. 5º, XXVI, da
CF/88 e o art. 833, VIII, do CPC, que estabelecem:
CF88. Art. 5º (...)
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada
pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de
sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu
desenvolvimento;
Mas o art. 5º, XXVI, da CF/88 fala que “a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde
que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes
de sua atividade produtiva (...)”. Essa parte grifada não exige que os débitos sejam relacionados
com as atividades desenvolvidas no imóvel rural? NÃO. O STJ afirma que essa interpretação
literal não pode ser feita, já que isso:
não garantiria a máxima efetividade que deve ser dada ao mandamento constitucional;
conferiria proteção deficiente ao direito fundamental tutelado.
Essa interpretação do art. 5º, XXVI, da CF/88 foi adotada pelo legislador infraconstitucional, tanto
que o CPC/1973 e o CPC/2015 não exigem, para conferir a impenhorabilidade, que os débitos
sejam oriundos da atividade produtiva do imóvel.
Conclui-se, portanto, que, nos termos dos arts. 5º, XXVII, c/c o art. 649, VIII, do CPC/1973 (art.
833, VIII, do CPC/2015), a proteção da impenhorabilidade da pequena propriedade rural
trabalhada pela entidade familiar, como direito fundamental que é, não se restringe às dividas
relacionadas à atividade produtiva.
Impenhorabilidade do art. 833, VIII, do CPC não é o mesmo que a impenhorabilidade do bem de
família rural: Tanto a impenhorabilidade do art. 833, VIII, do CPC como a impenhorabilidade do
bem de família rural estão relacionadas com o princípio da dignidade da pessoa humana,
garantindo-se ao executado a preservação de um patrimônio mínimo, do qual lhe seja possível
extrair condições dignas de subsistência.
Apesar disso, são institutos diferentes com fundamentos diferentes:
Impenhorabilidade do art. 833, VIII, do CPC: destina-se a garantir o direito fundamental à
moradia;
Impenhorabilidade do bem de família rural: tem por objetivo assegurar o direito, também
fundamental, de acesso aos meios geradores de renda, no caso, o imóvel rural, de onde a
família do trabalhador rural, por meio do labor agrícola, obtém seu sustento.
O art. 4º, § 2º, da Lei nº 8.009/90 trata sobre bem de família rural (e não sobre a impenhorabilidade
da pequena propriedade rural).
Requisitos: Desse modo, para que o imóvel rural seja impenhorável, nos termos do art. 5º, XXVI,
da CF/88 e do art. 833, VIII, do CPC, é necessário que cumpra apenas dois requisitos cumulativos:
1) seja enquadrado como pequena propriedade rural, nos termos definidos pela lei; e
Não é possível a penhora do saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS para o
pagamento de honorários de sucumbência.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.619.868-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 24/10/17 (Info 614).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João foi condenado a pagar R$ 100 mil a Pedro como
indenização por danos morais e R$ 10 mil a Dr. Ruy, advogado do vencedor, a título de
honorários advocatícios sucumbenciais. Dr. Ruy iniciou a execução dos honorários e o juiz
determinou a penhora do saldo do FGTS de João. João alegou que a penhora foi indevida
considerando que recaiu sobre o seu saldo de FGTS, verba impenhorável, nos termos do art. 833,
IV, do CPC/2015:
Art. 833. São impenhoráveis: (...)
IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os
proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as
quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor
e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional
liberal, ressalvado o § 2º;
43.27. Atraso na entrega da coisa e conversão do procedimento para execução por quantia certa –
(Info 614)
É possível a conversão do procedimento de execução para entrega de coisa incerta para execução
por quantia certa na hipótese em que o produto perseguido for entregue com atraso, gerando
danos ao credor da obrigação.
STJ. 3ª T. REsp 1.507.339-MT, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 24/10/17 (Info 614).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A indústria “XX” ajuizou execução de título extrajudicial
para entrega de coisa incerta contra a empresa agropecuária “ZZ” pedindo a entrega de 100 Kg de
soja comercial. Subsidiariamente, a indústria pediu que, em não sendo encontrada a coisa
perseguida, se convertesse a execução para entrega de coisa para execução por quantia certa. Em
2004, a executada ofereceu em juízo os 100 Kg de soja, de determinada espécie, ficando como
depositária da coisa. Ocorre que a exequente alegou que o produto oferecido não se enquadrava
nos padrões de qualidade. Foi, então, requerida perícia judicial. O processo foi se arrastando até
que, em 2009, a executada ofereceu nova espécie de soja. Insatisfeita com esse atraso, a credora
postulou a conversão da execução para entrega de coisa em execução por quantia certa,
argumentando que entre 2004 e 2009 houve depreciação do valor da saca de soja, o que gerou a ela
inúmeros prejuízos.
O art. 809 do CPC/2015 (art. 627 do CPC/1973) autoriza a referida conversão para as hipóteses
de frustração do meio executório, ou seja, nas situações específicas em que:
a) não for encontrada a coisa perseguida;
b) não for entregue;
c) estiver deteriorada a coisa; e
d) não for reclamada de terceiro adquirente.
Art. 809. O exequente tem direito a receber, além de perdas e danos, o valor da coisa,
quando essa se deteriorar, não lhe for entregue, não for encontrada ou não for
reclamada do poder de terceiro adquirente.
Segundo o art. 807 do CPC/2015 (art. 624 do CPC/1973), mesmo satisfeita a obrigação de
entregar a coisa, se “prosseguirá a execução” para o pagamento de frutos e/ou ressarcimento de
prejuízos.
Art. 807. Se o executado entregar a coisa, será lavrado o termo respectivo e
considerada satisfeita a obrigação, prosseguindo-se a execução para o pagamento de
frutos ou o ressarcimento de prejuízos, se houver.
Dessa forma, embora não contido no título, decorre da lei a certeza do direito perseguido, sem a
necessidade de um novo processo cognitivo para se declarar a obrigação que o ordenamento
jurídico já estabeleceu. Ressalta-se, por fim, que o citado ressarcimento dos prejuízos depende
de liquidação incidental no próprio feito executivo convertido, sendo a prévia apuração do
quantum realizada por estimativa do credor ou por arbitramento.
43.28. Penhora de valores depositados em conta bancária conjunta – (Info 539 e Info 613) –
IMPORTANTE!!! – (TJPA-2019)
O que o juiz deverá decidir nesse caso? O pedido de Pedro poderá ser atendido? Em parte.
O que significa essa palavra “solidária”? Quando se fala em conta-corrente conjunta solidária,
isso quer dizer que existe uma relação obrigacional solidária dos correntistas com o banco. Assim,
os correntistas são credores solidários do banco quando há saldo, ou seja, cada um dos dois pode
exigir o dinheiro todo da instituição financeira. Ao mesmo tempo, os correntistas também são
devedores solidários do banco caso exista alguma tarifa ou outra despesa relacionada com a conta.
Vale ressaltar, no entanto, que essa solidariedade não existe em relação a terceiros. Assim, por
exemplo, se um dos correntistas emite um cheque sem fundos, o outro correntista da conta não
tem qualquer responsabilidade perante o beneficiário do cheque. Ele não é devedor solidário
juntamente com o emitente do cheque.
Voltando ao nosso exemplo: é possível a penhora de valores que estejam em uma conta bancária
conjunta mesmo que a dívida seja apenas de um dos correntistas? SIM. A penhora de valores
contidos em conta bancária conjunta é admitida pelo ordenamento jurídico. No entanto, a
constrição não pode se dar em proporção maior que o numerário pertencente ao devedor da
obrigação, devendo ser preservado o saldo dos demais cotitulares. Em outras palavras, deve ser
penhorado apenas o dinheiro que pertence ao executado.
Ônus da prova é do cotitular que não era devedor: Quando se penhora o valor constante em conta
bancária conjunta solidária, deve-se permitir que o cotitular prove que a quantia penhorada
pertence a ele. Logo, Pedro poderia ter provado que o dinheiro penhorado pertencia inteiramente
a ele. Nesse caso, a verba seria integralmente liberada. Ressalto, mais uma vez, o ônus da prova
cabe ao cotitular que não é devedor. O credor consegue a penhora e o cotitular da conta, que não
tinha nada a ver com a dívida, é quem terá que provar que o dinheiro que foi penhorado pertencia
exclusivamente a ele.
E se o cotitular não conseguir provar que o dinheiro pertencia inteiramente a ele, o que
acontecerá? Se o cotitular não executado não conseguir provar que a verba penhorada pertencia
inteiramente a ele, deve-se presumir que a quantia existente na conta bancária era dividida
igualmente entre os cotitulares. Em outras palavras, como Pedro não conseguiu provar que o
dinheiro era todo dele, deve-se considerar que dos R$ 100 mil, R$ 50 mil eram seus e a outra
metade era de Luciana. Dessa forma, em nosso exemplo, como não houve prova de que o dinheiro
era todo do embargante, o juiz deverá manter penhorados R$ 50 mil e desbloquear os R$ 50 mil
que, presumidamente, são de Pedro.
43.29. Demora de se obter documentos em poder de terceiro e prescrição da execução – (Info 607)
A partir da vigência da Lei 10.444/02, que incluiu o § 1º ao art. 604, dispositivo que foi sucedido,
conforme Lei 11.232/05, pelo art. 475-B, §§ 1º e 2º, todos do CPC/1973, não é mais
imprescindível, para acertamento de cálculos, a juntada de documentos pela parte executada ou
por terceiros, reputando-se correta a conta apresentada pelo exequente, quando a requisição
judicial de tais documentos deixar de ser atendida, injustificadamente, depois de transcorrido o
prazo legal. Assim, sob a égide do diploma legal citado, incide o lapso prescricional, pelo prazo
respectivo da demanda de conhecimento (Súmula 150/STF), sem interrupção ou suspensão, não
se podendo invocar qualquer demora na diligência para obtenção de fichas financeiras ou
outros documentos perante a administração ou junto a terceiros.
STJ. 1ª S. REsp 1.336.026-PE, Rel. Min. Og Fernandes, j. 28/6/17 (recurso repetitivo) (Info 607).
43.30. O fato de ter sido decretada a indisponibilidade do bem não impede que ele seja objeto
de adjudicação decretada em outro processo – (Info 600)
O art. 5º, XXVI, da CF/88 e o art. 833, VIII, do CPC preveem que é impenhorável a pequena
propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família. Assim, para que o
imóvel rural seja impenhorável, são necessários dois requisitos:
1) que seja enquadrado como pequena propriedade rural, nos termos definidos pela lei; e
2) que seja trabalhado pela família.
43.32. As cotas de fundo de investimento não são consideradas dinheiro para os fins do art. 835,
I, do CPC. Recusa de nomeação à penhora de cotas de fundo de investimento – (Info 589)
Ordem de preferência: O CPC traz uma ordem de preferência para penhora, ou seja, existem bens
que devem ser penhorados antes que outros. Essa lista de prioridades está prevista no art. 835 do
CPC/2015 (art. 655 do CPC/1973):
Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:
I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira;
II - títulos da dívida pública da União, dos Estados e do Distrito Federal com cotação
em mercado;
III - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado;
IV - veículos de via terrestre;
V - bens imóveis;
VI - bens móveis em geral;
VII - semoventes;
VIII - navios e aeronaves;
IX - ações e quotas de sociedades simples e empresárias;
X - percentual do faturamento de empresa devedora;
XI - pedras e metais preciosos;
XII - direitos aquisitivos derivados de promessa de compra e venda e de alienação
fiduciária em garantia;
XIII - outros direitos.
§ 1º É prioritária a penhora em dinheiro, podendo o juiz, nas demais hipóteses,
alterar a ordem prevista no caput de acordo com as circunstâncias do caso concreto.
§ 2º Para fins de substituição da penhora, equiparam-se a dinheiro a fiança bancária
e o seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do débito constante
da inicial, acrescido de trinta por cento. (...)
É possível que esta ordem seja alterada no caso concreto pelo juiz? Ex: existe um bem previsto no
inciso IV, mas o magistrado autoriza que seja penhorado outro do inciso V?
Nos casos envolvendo dinheiro (inciso I): NÃO. A penhora em dinheiro é prioritária. Isso
significa que, pela redação legal, não se pode penhorar nenhum outro bem se houver
dinheiro disponível.
Nos casos envolvendo os demais incisos: SIM. O juiz pode, nas demais hipóteses, alterar
a ordem prevista no art. 835 do CPC, desde que existam circunstâncias do caso concreto
que justifiquem a medida.
Assim, em regra, se existe um carro disponível (inciso IV), não se pode penhorar apartamento
(inciso V), salvo se, no caso concreto, houver circunstâncias que justifiquem a alteração da ordem
legal.
A súmula 417 do STJ continua aplicável? Sobre o tema explicado acima, o STJ possui o seguinte
enunciado:
Súmula 417-STJ: Na execução civil, a penhora de dinheiro na ordem de nomeação
de bens não tem caráter absoluto.
Diante da redação do s§ 1º do art. 835 acima transcrito, alguns autores passaram a defender a tese
de que esta súmula deveria ser revista pelo STJ. É o caso de Daniel Assumpção Neves, que
sustenta que, agora, a preferência pela penhora em dinheiro tem caráter absoluto por imposição
legal (NEVES, Daniel Assumpção Neves. Manual de Direito Processual Civil. Salvador:
Juspodivm, 2016, p. 1164).
É preciso, no entanto, aguardar mais um pouco para saber qual será o entendimento do STJ
porque não é improvável que o Tribunal, mesmo com este novo dispositivo, continue entendendo
que não há caráter absoluto, mantendo-se a súmula. Fica, contudo, o alerta para discussão do tema
em uma eventual prova discursiva ou oral.
O inciso I: O inciso I, conforme vimos acima, afirma que a penhora deverá recair,
preferencialmente, sobre dinheiro. Quando o inciso I fala em dinheiro, isso abrange:
em espécie (ex: dentro de um cofre, "debaixo do colchão"; é o "dinheiro vivo");
em depósito (ex: na conta corrente do devedor);
em aplicação em instituição financeira (ex: dinheiro investido em CDB).
Assim, dinheiro aplicado em instituições financeiras continua sendo dinheiro e está enquadrado
no inciso I.
O que são os fundos de investimento? A Instrução Normativa 555/14 da CVM define o fundo de
investimento como sendo "uma comunhão de recursos, constituído sob a forma de condomínio, destinado
à aplicação em ativos financeiros" (art. 3º). No fundo de investimento, várias pessoas se reúnem e
entregam recursos para que um terceiro (pessoa jurídica autorizada pela CVM) aplique esse
dinheiro em carteiras diversificadas disponíveis no mercado. O capital investido é transformado
em cotas, distribuídas proporcionalmente aos investidores, que passam a ter direito apenas sobre
estas frações patrimoniais do fundo (cotas). Quanto maior o dinheiro investido, maior o número
de cotas do indivíduo. Esse dinheiro aplicado gerará, em tese, dividendos que serão distribuídos
entre as pessoas que investiram e que possuem cotas deste fundo. É possível também que dê
prejuízo, a depender da volatilidade do mercado e nível de risco das aplicações escolhidas. Ainda
segundo a IN 555/2014:
Art. 4º O fundo pode ser constituído sob a forma de condomínio aberto, em que os
cotistas podem solicitar o resgate de suas cotas conforme estabelecido em seu
regulamento, ou fechado, em que as cotas somente são resgatadas ao término do
prazo de duração do fundo.
Qual é a natureza jurídica das cotas de fundo de investimento? Segundo o art. 2º, V, da Lei
6.385/76 (Lei da CVM), possuem natureza jurídica de valores mobiliários com cotação em
mercado:
Art. 2º São valores mobiliários sujeitos ao regime desta Lei: (...)
V - as cotas de fundos de investimento em valores mobiliários ou de clubes de
investimento em quaisquer ativos;
As cotas de fundos de investimento encontram-se sujeitas, de forma mais intensa, aos riscos de
mercado, de crédito e de liquidez, circunstâncias que fazem com que elas não possam receber o
mesmo tratamento legal que "dinheiro".
Em qual inciso se enquadram as cotas de fundo de investimento? No inciso III do art. 835 ("títulos
e valores mobiliários com cotação em mercado").
Além disso, como o executado era um banco, ele alegou que, obrigar a retirar o dinheiro da CDI,
significaria violar, por via transversa, o recolhimento dos depósitos compulsórios e voluntários
exigidos pelo Banco Central do Brasil (art. 10, IV, da Lei 4.595/64) ou afrontar a
impenhorabilidade das reservas obrigatórias (art. 68 da Lei 9.069/95):
Art. 68. Os depósitos das instituições financeiras bancárias mantidos no Banco
Central do Brasil e contabilizados na conta "Reservas Bancárias" são impenhoráveis
e não responderão por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal,
previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, contraída por essas instituições ou
quaisquer outras a elas ligadas.
Parágrafo único. A impenhorabilidade de que trata o caput deste artigo não se aplica
aos débitos contratuais efetuados pelo Banco Central do Brasil e aos decorrentes das
relações das instituições financeiras com o Banco Central do Brasil.
As teses do banco executado foram aceitas pelo STJ? NÃO. O art. 805 deve ser observado, mas
não se pode esquecer que o processo executivo se desenvolve segundo os interesses do credor e
com a finalidade de satisfazer a obrigação não paga. Os lucros que a instituição financeira deixaria
de obter não interessam ao exequente nem servem de justificativa idônea para obrigá-lo a aceitar
um bem que não guarda em si a aptidão ideal, segundo as particularidades do caso concreto, para
satisfazer o crédito exequendo. Se a ordem legal for alterada, isso irá beneficiar apenas o banco
executado, podendo prejudicar a satisfação do crédito do exequente.
O banco alega que uma instituição financeira não possui conta-corrente em outros bancos, de
forma que o restrito numerário que possui em suas agências destina-se a fazer frente "às
necessidades de troco e à moeda circulante da população", sendo certo que a quantia que sobeja,
"ou é recolhido ao Banco Central ou é investido em aplicações financeiras".
O argumento do banco não é acolhido pela jurisprudência do STJ considerando que a instituição
financeira dispõe de outros recursos e que os valores penhorados não atingem as reservas
bancárias obrigatórias exigidas pelo Banco Central. Existe até um enunciado sobre o tema:
Súmula 328-STJ: Na execução contra instituição financeira, é penhorável o
numerário disponível, excluídas as reservas bancárias mantidas no Banco Central.
Desse modo, foi lícita a recusa feita pelo magistrado, não havendo violação ao art. 805 do CPC.
Além disso, os valores penhorados recaíram sobre numerário constante de suas agências ou sobre
o produto do capital investido em suas aplicações financeiras, providência que não viola a
intangibilidade dos depósitos mantidos no Banco Central, tampouco a impenhorabilidade das
reservas bancárias.
43.33. Invalidade da penhora sobre a integralidade de imóvel submetido a time sharing – (Info
589) – IMPORTANTE!!!
43.34. Competência para cancelar gravame em matrícula de imóvel arrematado – (Info 585)
Arrematado bem imóvel, o Juízo da execução que conduziu a arrematação não pode determinar
o cancelamento automático de constrições determinadas por outros Juízos de mesma hierarquia
e registradas na matrícula do bem, mesmo que o edital de praça e o auto de arrematação tenham
sido silentes quanto à existência dos referidos gravames.
Além de o Juízo da execução não deter competência para o desfazimento ou cancelamento de
constrições e registros determinados por outros Juízos de mesma hierarquia, os titulares dos
direitos decorrentes das decisões judiciais proferidas em outros processos ("credores"), as quais
geraram as constrições e registros imobiliários que o arrematante pretende cancelar, têm direito
ao devido processo legal, com contraditório e ampla defesa a fim de manterem o bem vinculado
a seus interesses.
As possíveis falhas nos atos judiciais que antecederam a arrematação, porque não
mencionavam as outras constrições de outros Juízos sobre o imóvel a ser arrematado, não
possibilitam ao Juízo da arrematação determinar a baixa de outras constrições levadas a efeito
por outros juízos.
STJ. 4ª Turma. RMS 48.609-MT, Rel. Min. Raul Araújo, j. 19/5/16 (Info 585).
43.35. Necessidade de prévia intimação das partes antes de se decretar a prescrição intercorrente
– (Info 584) – IMPORTANTE!!!
Em execução de título extrajudicial, o credor deve ser intimado para opor fato impeditivo à
incidência da prescrição intercorrente antes de sua decretação de ofício.
Esse dever de prévia intimação do credor para decretação da prescrição intercorrente não era
previsto expressamente no CPC/1973, sendo aplicado pelo STJ com base na incidência
analógica do art. 40, §§ 4º e 5º, da Lei nº 6.830/80 (Lei de Execução Fiscal).
O CPC/2015, contudo, resolve a questão e prevê expressamente a prévia oitiva das partes:
Art. 921 (...) § 5º O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15 (quinze) dias, poderá, de
ofício, reconhecer a prescrição de que trata o § 4º e extinguir o processo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.589.753-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 17/5/16 (Info 584).
OBS:
Não localização de bens penhoráveis: João ingressou com execução cobrando R$ 100 mil de
Pedro. O executado não pagou espontaneamente o débito e não foram localizados bens de Pedro
que pudessem ser penhorados. Ocorrendo isso, o juiz deverá proferir uma decisão suspendendo o
processo, nos termos do art. 921, III, do CPC/2015:
Art. 921. Suspende-se a execução: (...)
III - quando o executado não possuir bens penhoráveis;
Hipóteses do inciso III: Vale ressaltar que a suspensão da execução com base no inciso III abrange
três hipóteses:
1ª) quando não é localizado nenhum bem do devedor (não tem nada em seu nome);
2ª) quando são localizados bens, mas estes se classificam como impenhoráveis (exs:
o executado tem uma casa em seu nome, mas é bem de família; o executado possui
uma poupança com menos de 40 salários mínimos depositados);
3ª) quando até foram localizados bens do devedor que podem ser penhorados, mas
se alienados, não pagarão nem as custas da execução, nos termos do art. 836 do
CPC/2015 (ex: o executado possui uma mobilete, ano 1990).
Por quanto tempo este processo ficará suspenso? O juiz suspenderá a execução pelo prazo de 1
ano. Neste período de 1 ano, ficará suspensa também a prescrição (§ 1º do art. 921).
O que acontece se, neste período, for localizado algum bem penhorável? Neste caso, os autos serão
desarquivados para prosseguimento da execução (§ 3º do art. 921).
Depois que passar este prazo de 1 ano, o que acontece? A execução continuará suspensa. No
entanto, o prazo prescricional começará a correr.
Art. 921 (...) § 4º Decorrido o prazo de que trata o § 1º sem manifestação do
exequente, começa a correr o prazo de prescrição intercorrente.
Para que o prazo prescricional comece a correr, é necessária decisão ou despacho do juiz
afirmando isso? NÃO. Depois que transcorrer 1 ano da execução suspensa, o prazo da prescrição
intercorrente começa a correr automaticamente, sem necessidade de decisão ou despacho do
magistrado.
Enunciado 195-FPPC: O prazo de prescrição intercorrente previsto no art. 921, § 4º,
tem início automaticamente um ano após a intimação da decisão de suspensão de
que trata o seu § 1º.
Qual é o nome desta prescrição? Prescrição intercorrente. É assim chamada porque ocorre
durante o processo.
Qual será o prazo prescricional da prescrição intercorrente? Irá variar de acordo com o que está
sendo executado. Isso porque a execução prescreve no mesmo prazo de prescrição da ação
(Súmula 150-STF).
Ex1: João ingressou com execução de um cheque contra Pedro. O prazo para se ingressar com ação
de execução de cheque é de 5 anos. Significa que o prazo da prescrição intercorrente na execução
de um cheque também será de 5 anos. Logo, depois de não se localizarem bens de Pedro, este terá
que esperar 6 anos para se livrar do processo (1 ano de suspensão da prescrição + 5 anos até
prescrever).
Ex2: João ingressou com ação de indenização contra Pedro. O juiz condenou o réu a pagar R$ 100
mil. Houve o trânsito em julgado. O credor iniciou o cumprimento de sentença. Não foram
localizados bens penhoráveis. O prazo para que a pessoa ingresse com ação de reparação civil é de
3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC). Significa que o prazo da prescrição intercorrente no cumprimento
de sentença de uma condenação de reparação civil também será de 3 anos. Logo, depois de não se
localizarem bens de Pedro, este terá que esperar 4 anos para se livrar do processo (1 ano de
suspensão da prescrição + 4 anos até prescrever).
Daí ter sido editado o Enunciado 196-FPPC: O prazo de prescrição intercorrente é o mesmo da
ação.
Essas regras acima analisadas valem apenas para a execução de título extrajudicial ou também
para o cumprimento de sentença? Para ambos. As regras da prescrição intercorrente previstas no
art. 921, III e §§ 1º a 5º, do CPC/2015, valem tanto para a execução de título extrajudicial como
para o cumprimento de sentença. Nesse sentido é o Enunciado 194-FPPC: A prescrição
intercorrente pode ser reconhecida no procedimento de cumprimento de sentença.
43.36. ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA: Aplicação da multa do art. 774, IV,
do CPC 2015 é restrita ao processo de execução – (Info 578)
A multa por ato atentatório à dignidade da Justiça, prevista no art. 774, IV, do CPC 2015,
somente pode ser aplicada no processo de execução, em caso de conduta de deslealdade
processual praticada pelo executado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.231.981/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 15/12/2015 (Info 578).
OBS
Sobrepartilha: É uma ação judicial (processo judicial) proposta quando, após ser concluída a
partilha, descobre-se que ainda existem mais bens que pertenciam ao falecido e que deveriam ter
entrado na partilha, mas ficaram de fora indevidamente. A sobrepartilha está prevista nos arts.
669 e 670 do CPC 2015 e segue o mesmo procedimento do inventário e da partilha. Dessa forma, é
como se fosse uma partilha, mas de bens que ficaram de fora.
A decisão do juiz foi tecnicamente correta? NÃO. Desse modo, esta multa não tem aplicação no
caso concreto, que cuidava de pedido incidental de exibição de documentos em autos de ação de
sobrepartilha - demanda tratada como de procedimento especial de jurisdição contenciosa.
Mas existe alguma outra sanção que o magistrado poderia aplicar ao banco recalcitrante? SIM. O
magistrado poderia:
a) determinar a busca e apreensão dos documentos requisitados; e
b) aplicar a multa por ato atentatório à dignidade da justiça (contempt of court) prevista no § 2º do
art. 77 do CPC 2015:
Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de seus
procuradores e de todos aqueles que de qualquer forma participem do processo:
(...)
IV - cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final,
e não criar embaraços à sua efetivação; (...)
§ 1º Nas hipóteses dos incisos IV e VI, o juiz advertirá qualquer das pessoas
mencionadas no caput de que sua conduta poderá ser punida como ato atentatório à
dignidade da justiça.
§ 2º A violação ao disposto nos incisos IV e VI constitui ato atentatório à dignidade
da justiça, devendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais
cabíveis, aplicar ao responsável multa de até vinte por cento do valor da causa, de
acordo com a gravidade da conduta.
Dessa forma, existia a possibilidade de aplicação de multa por ato atentatório à dignidade da
justiça, mas o fundamento legal invocado pelo magistrado foi incorreto.
A pequena propriedade rural, trabalhada pela família, é impenhorável, ainda que dada pelos
proprietários em garantia hipotecária para financiamento da atividade produtiva.
STJ. 4ª T. REsp 1.368.404-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 13/10/2015 (Info 574).
No CPC 2015:
1) Cancela-se a distribuição da impugnação ao cumprimento de sentença ou dos embargos à
execução na hipótese de não recolhimento das custas no prazo de 15 dias, que só começam a ser
contados depois que a parte for intimada na pessoa de seu advogado (art. 290).
2) Não se determina o cancelamento da distribuição se o recolhimento das custas, embora
intempestivo, estiver comprovado nos autos.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.361.811-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 4/3/2015 (Info 561).
43.42. Execução de título extrajudicial que contenha cláusula compromissória – (Info 560)
Imagine que um contrato preveja uma confissão de dívida (líquida, certa e exigível). Neste
mesmo contrato, há uma cláusula compromissória dizendo que eventuais divergências sobre o
ajuste deverão ser dirimidas via arbitragem.
Se a parte que se obrigou a pagar o valor confessado mostrar-se inadimplente, a parte credora
poderá executar o contrato na via judicial ou terá que instaurar o procedimento arbitral?
Poderá propor diretamente a execução na via judicial. Ainda que possua cláusula
compromissória, o contrato assinado pelo devedor e por duas testemunhas pode ser levado a
execução judicial relativamente à cláusula de confissão de dívida líquida, certa e exigível. Isso
porque o juízo arbitral não possui poderes coercitivos (executivos). Ele não pode penhorar bens
do executado, por exemplo, nem levá-los à hasta pública. Em outras palavras, o árbitro até
decide a causa, mas se a parte perdedora não cumprir voluntariamente o que lhe foi imposto, a
parte vencedora terá que executar esse título no Poder Judiciário. Logo, não há sentido instaurar
a arbitragem para exigir o valor que já está líquido, certo e exigível por força uma confissão de
dívida.
STJ. 3ª T. REsp 1.373.710-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 7/4/2015 (Info 560).
43.43. Penhora de quotas sociais na parte relativa à meação – (Info 559)
João foi casado com Cristina, com quem teve um filho (Arthur). O pai paga pensão alimentícia
em favor do filho. Atualmente, João vive em união estável com Beatriz. Beatriz é sócia,
juntamente com uma amiga, de uma sociedade empresária limitada (empresa XXX). Vale
ressaltar que ela se tornou sócia desta sociedade depois que já vivia em união estável com João.
João deixou de pagar a pensão alimentícia, razão pela qual Arthur ingressou com execução de
alimentos. Ocorre que não foram localizados bens penhoráveis em nome de João.
Diante disso, o exequente pediu que fossem penhoradas 50% das cotas sociais de Beatriz
(companheira do executado) na sociedade empresária “XXX”. A tese do exequente foi a
seguinte: como Beatriz vive em união estável com João, metade do patrimônio dela pertence a
João (direito dele à meação). Logo, ele possui metade das cotas dela na empresa. Sendo esse
patrimônio dele, pode ser penhorado para pagar suas dívidas.
A tese construída pelo exequente é correta?
SIM. Se duas pessoas vivem em união estável, é como se elas fossem casadas sob o regime da
comunhão parcial de bens (art. 1.725 do CC). Por isso, o companheiro (no caso, João) possui
direito à metade dos bens da companheira (Beatriz), incluindo metade das quotas sociais
porque estas foram adquiridas onerosamente durante à união estável, de forma que se
comunicam ao companheiro.
No caso concreto, era possível que o juiz já determinasse, como primeira providência, a penhora
da metade das quotas de Beatriz (companheira do devedor)?
NÃO. O STJ entende que a penhora sobre as quotas sociais não deve ser a primeira opção
porque esta medida poderá acarretar o fim da pessoa jurídica e nosso Direito consagra os
princípios da conservação da empresa e da menor onerosidade da execução.
Assim, não se pode autorizar desde logo a penhora sobre as quotas sociais. Cabia ao exequente
requerer, antes disso, a penhora dos lucros relativos às quotas sociais correspondentes à meação
do devedor, não podendo ser deferida, de imediato, a penhora das cotas sociais de sociedade
empresária que se encontra em plena atividade, o que poderia causar prejuízo a terceiros, como
funcionários, fornecedores etc. Somente se não houvesse lucros é que poderia ser feita a
penhora das quotas com a liquidação da sociedade (art. 1.026 do CC).
STJ. 4ª T. REsp 1.284.988-RS, Rel Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/3/2015 (Info 559).
Situação 1. O edital de hasta pública não menciona que o imóvel que está sendo oferecido
possui vários meses de taxa de condomínio atrasados. Se uma pessoa resolver arrematar
(adquirir) esse apartamento, ele ficará responsável pelo pagamento dessas cotas condominiais
que venceram antes da arrematação?
NÃO. As dívidas condominiais anteriores à alienação judicial e que não estavam previstas no
edital não serão de responsabilidade do arrematante, devendo ser quitadas com o valor obtido
com a alienação judicial do imóvel, podendo o arrematante pedir a reserva de parte desse valor
para o pagamento das referidas dívidas (STJ. 3ª Turma. REsp 1092605/SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 28/06/2011).
Situação 2. Houve uma tentativa de alienação judicial do bem, mas não apareceram
interessados. Diante disso, o exequente decidiu adjudicar o apartamento. O exequente ficará
responsável pelo pagamento dessas cotas condominiais que venceram antes da adjudicação?
SIM. O exequente que adjudicou o imóvel deve arcar com as despesas condominiais anteriores
à aquisição, ainda que tais dívidas tenham sido omitidas no edital da hasta pública.
A adjudicação e a arrematação possuem características diversas e, portanto, merecem
tratamento distinto no que diz respeito à vinculação ao edital.
A adjudicação consiste na aquisição espontânea pelo exequente do bem penhorado por preço
não inferior ao da avaliação, não havendo sua subordinação ao edital de praça, haja vista que
essa forma de aquisição da propriedade não se insere no conceito de hasta pública . Logo, não
podem ser aplicados à adjudicação os mesmos dispositivos que tratam sobre a arrematação.
Em outras palavras, os dispositivos do CPC que permitem ao arrematante recusar-se a cumprir
a arrematação caso o edital não esteja completo quanto aos ônus existentes, não pode ser
aplicado ao exequente que faz a adjudicação.
Assim, nada impede que o adjudicante responda pelo pagamento das contribuições
condominiais não pagas no período anterior à adjudicação, aplicando-se o art. 1.345 do CC em
sua íntegra.
STJ. 4ª T. REsp 1.186.373-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 24/3/2015 (Info 559).
43.45. Análise da impenhorabilidade prevista nos incisos IV e X do art. 649 do CPC – (Info 554) –
IMPORTANTE!!! Mudança de entendimento! Atualize o Info 547-STJ - (DPERN-2015)
O art. 649, X, do CPC afirma que “são absolutamente impenhoráveis até o limite de 40
(quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em CADERNETA DE POUPANÇA.”
O STJ confere interpretação extensiva ao inciso X do art. 649 do CPC, permitindo que essa
impenhorabilidade abranja outras aplicações financeiras, além da poupança, como é o caso do
fundo de investimento.
Assim, é impenhorável a quantia oriunda do recebimento, pelo devedor, de verba rescisória
trabalhista posteriormente poupada em mais de um fundo de investimento, desde que a soma
dos valores não seja superior a 40 salários mínimos.
Admite-se, para alcançar o patamar de 40 salários mínimos, que o valor incida em mais de uma
aplicação financeira, desde que respeitado tal limite. Em outras palavras, caso o devedor possua
mais de um fundo de investimento, todas as respectivas contas devem ser consideradas
impenhoráveis, até o limite global de 40 salários mínimos (soma-se todos os fundos de
investimento e o máximo protegido é 40 salários mínimos).
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.330.567-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 10/12/14 (Info 554).
44. ASTREINTES
44.1. É cabível multa cominatória para compelir provedor de acesso à internet ao fornecimento
de dados para identificação de usuário – (Info 652)
44.2. Ao se calcular os honorários advocatícios sucumbenciais, não se deve incluir o valor das
astreintes – (Info 608) – IMPORTANTE!!! - (MPCE-2020)
O valor da multa cominatória (astreintes) não integra a base de cálculo da verba honorária.
Ex: juiz proferiu sentença condenando o réu a pagar: a) R$ 100 mil a título de danos morais; b)
R$ 40 mil de multa cominatória (astreintes); c) 10% de honorários advocatícios sobre o valor da
condenação. Os 10% do advogado serão calculados sobre R$ 100 mil (e não sobre R$ 140 mil). A
base de cálculo dos honorários advocatícios sucumbenciais na fase de conhecimento é a
condenação referente ao mérito principal da causa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.367.212-RR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 20/6/17 (Info 608).
OBS:
Art. 85. (...)
§ 2º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por
cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo
possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos:
I - o grau de zelo do profissional;
II - o lugar de prestação do serviço;
III - a natureza e a importância da causa;
IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.
O que se entende por valor da condenação? As astreintes estão incluídas no conceito de valor da
condenação para fins de honorários advocatícios sucumbenciais? NÃO. Quando se fala em “valor
da condenação”, na fase de conhecimento do processo, deve-se entender que é o “valor do bem
pretendido pelo demandante”, ou seja, o montante econômico da questão litigiosa conforme o
direito material (Min. Ricardo Villas Bôas Cueva). Assim, a base de cálculo dos honorários
advocatícios sucumbenciais na fase de conhecimento é a condenação referente ao mérito principal
da causa.
É permitida a imposição de multa diária (astreintes) a ente público para compeli-lo a fornecer
medicamento a pessoa desprovida de recursos financeiros.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.474.665-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 26/4/17 (recurso repetitivo)
(Info 606).
44.4. É possível que as astreintes sejam alteradas de ofício no recurso, no entanto, para isso, é
indispensável que o recurso tenha sido conhecido – (Info 600)
O valor das astreintes não pode ser reduzido de ofício em segunda instância quando a questão
é suscitada em recurso de apelação não conhecido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.508.929-RN, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 7/3/2017 (Info 600).
OBS:
Astreintes: Multa cominatória, também conhecida como astreinte, é prevista no art. 537 do
CPC/2015:
Art. 537. A multa independe de requerimento da parte e poderá ser aplicada na fase
de conhecimento, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase de execução, desde
que seja suficiente e compatível com a obrigação e que se determine prazo razoável
para cumprimento do preceito.
Assim, a multa coercitiva pode ser aplicada pelo magistrado como uma forma de pressionar o
devedor a cumprir:
uma decisão interlocutória que concedeu tutela provisória; ou
uma sentença que julgou procedente o pedido do autor.
Ex: em uma ação envolvendo contrato empresarial, o juiz determinou que a empresa “XX”
entregasse para a empresa “YY” 8 mil sacas de soja em determinado prazo, sob pena de multa
diária de R$ 16 mil reais. Essa multa é chamada de astreinte.
Pode ser imposta multa ao agente público pelo descumprimento da obrigação de fazer? Depende.
Se ele foi parte na ação, sim. Caso não tenha sido parte, não é possível, por ofensa aos princípios
do contraditório e da ampla defesa. Confira:
(...) 1. O ora agravante, à época Secretário de Estado da Administração e dos
Recursos Humanos do Governo do Rio Grande do Norte, foi condenado, ante sua
responsabilidade pessoal, pela Corte de origem ao pagamento de astreintes devido
ao não cumprimento imediato de determinação judicial no bojo de mandado de
segurança do qual ele foi, efetivamente, parte impetrada. (...)
3. As astreintes podem ser direcionadas pessoalmente às autoridades ou aos agentes
responsáveis pelo cumprimento das determinações judiciais, em particular quando
eles foram parte na ação. (...)
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1388716/RN, Rel. Min. Humberto Martins, j. 23/10/14.
É possível que o juiz, após o devedor já ter descumprido a multa fixada, reduza o seu valor? SIM.
É possível que o juiz, adotando os critérios da razoabilidade e da proporcionalidade, possa limitar
o valor da astreinte, a fim de evitar o enriquecimento sem causa do exequente. Essa possibilidade
está prevista no CPC:
Art. 537 (...)
§ 1º O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a periodicidade
da multa vincenda ou excluí-la, caso verifique que:
I - se tornou insuficiente ou excessiva;
II - o obrigado demonstrou cumprimento parcial superveniente da obrigação ou
justa causa para o descumprimento.
Diante disso, pode-se dizer que a decisão que comina astreintes não preclui e não faz coisa julgada.
Assim, o juiz poderá, mesmo na fase de execução, alterar o valor da multa. Confira:
A decisão que comina astreintes não preclui, não fazendo tampouco coisa julgada.
A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que a multa cominatória não
integra a coisa julgada, sendo apenas um meio de coerção indireta ao cumprimento
do julgado, podendo ser cominada, alterada ou suprimida posteriormente. STJ. 2ª
Seção. REsp 1.333.988-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
9/4/2014 (recurso repetitivo) (Info 539).
Vale ressaltar que, mesmo se a multa foi fixada em sentença transitada em julgado, será possível a
modificação de seu valor e/ou periodicidade, considerando que o que se tornou imutável foi a
obrigação reconhecida na sentença, mas não a multa. Em outras palavras, o que fez coisa julgada
foi a obrigação, sendo a multa apenas uma forma executiva de cumpri-la.
Como é analisado se o valor da multa é excessivo? Para saber se a multa é excessiva, deve-se
analisar o seu valor no momento de sua fixação em comparação com o valor da obrigação
principal. Assim, no momento em que a multa é estipulada, o seu valor não pode ser superior ao
da obrigação principal. Isso porque não é razoável que o acessório (multa) seja maior que o
principal. No entanto, se, no instante em que a multa é fixada, o seu valor é bem abaixo da quantia
principal, mas o devedor demora muito para cumprir a determinação, podemos considerar que,
neste caso, a multa não é excessiva, podendo ser cobrada mesmo que, após longo tempo de atraso,
ela já esteja maior que a obrigação principal. Assim, é possível imaginar situações em que o valor
de multa cominatória pode ser exigido em montante superior ao da obrigação principal.
O autor pode exigir o pagamento das astreintes antes do final do processo (antes do trânsito em
julgado)? Em outras palavras, é possível a execução provisória das astreintes fixadas em tutela
provisória de urgência? Sim, é possível. Neste caso, o devedor da multa será obrigado a depositar
o valor em juízo. Caso não faça voluntariamente, poderão ser tomadas medidas de expropriação
(ex: penhora on line). No entanto, o credor não poderá levantar imediatamente a quantia. O valor
da multa permanecerá depositado em juízo e o credor somente poderá “sacar” a quantia após o
trânsito em julgado da sentença favorável a ele. Veja o dispositivo do CPC/2015 que trata sobre o
tema:
Art. 537. (...)
§ 3º A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento provisório, devendo ser
depositada em juízo, permitido o levantamento do valor após o trânsito em julgado
da sentença favorável à parte. (Redação dada pela Lei nº 13.256/2016)
Para que a multa comece a produzir efeitos, é necessário que o destinatário da ordem seja
intimado. Como é feita esta intimação?
CPC/1973 CPC/2015
Havia a seguinte distinção: Segundo a doutrina, não mais existe essa distinção. O
• Obrigação de pagar quantia devedor será intimado na forma do art. 513, § 2º:
certa: a intimação era feita na I - pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado
pessoa do advogado. constituído nos autos;
• Obrigação de fazer, não fazer e II - por carta com aviso de recebimento, quando
entregar coisa: a intimação deveria representado pela Defensoria Pública ou quando não tiver
ser pessoal. procurador constituído nos autos, ressalvada a hipótese
Súmula 410-STJ: A prévia do inciso IV;
intimação pessoal do devedor III - por meio eletrônico, quando, no caso do § 1º do art.
constitui condição necessária para 246, não tiver procurador constituído nos autos;
a cobrança de multa pelo IV - por edital, quando, citado na forma do art. 256, tiver
descumprimento da obrigação de sido revel na fase de conhecimento.
fazer ou não fazer.
A Súmula 410 do STJ está superada.
Nesse sentido: NEVES, Daniel Amorim Assumpção.
Manual de Direito Processual Civil. Salvador: Juspodivm,
2017, p. 1202.
Feita esta breve revisão sobre astreintes, imagine a seguinte situação hipotética: João foi
condenado a pagar R$ 300 mil a Pedro. Desse valor, R$ 100 mil é referente à obrigação principal e
R$ 200 mil corresponde ao valor das astreintes. A sentença transitou em julgado. O credor iniciou
o cumprimento de sentença. João (devedor), após ser intimado, decidiu não pagar a dívida, tendo
apresentado impugnação ao cumprimento de sentença. Na impugnação, ele alegou que o valor da
multa era excessivo e que deveria ser reduzido, nos termos do art. 537, § 1º, I, do CPC/2015. O juiz
julgou improcedente a impugnação e determinou o prosseguimento da execução. João interpôs
apelação contra esta decisão do magistrado.
Agiu corretamente o devedor? NÃO. O recurso cabível contra a decisão que julga a impugnação ao
cumprimento de sentença é o seguinte:
Se na decisão que julgou a impugnação o juiz não extinguiu a execução: cabe agravo de
instrumento.
Se na decisão que julgou a impugnação o juiz extinguiu a execução: cabe apelação.
O Tribunal poderia, com base no princípio da fungibilidade, receber a apelação interposta como
se fosse agravo de instrumento?
(...) A decisão que resolve a impugnação sem por fim à execução desafia o recurso de
agravo de instrumento, caracterizando erro grosseiro a interposição de apelação, (...)
STJ. 3ª Turma. EDcl no AgRg no AREsp 209.349/SP, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, DJe 28/3/2016.
O que aconteceu quando a apelação chegou ao Tribunal? O Tribunal negou seguimento (não
conheceu) à apelação, sob o fundamento de que se tratava de recurso incabível na espécie. No
entanto, de ofício, reduziu o valor da multa executada para R$ 100 mil.
Agiu corretamente o Tribunal? NÃO. É o que foi decidido no Info 600 do STJ.
Como vimos acima, é certo que a decisão que fixa a multa cominatória não faz coisa julgada,
podendo ser modificada a qualquer tempo. Assim, é possível a modificação do valor da multa até
mesmo de ofício, a qualquer tempo, inclusive na fase de execução.
Isso, contudo, não quer dizer que o órgão julgador está autorizado a conhecer de ofício do tema
em recurso que não tenha nem sequer ultrapassado a instância de conhecimento, isto é, que não
tenha sido nem mesmo admitido.
No caso concreto, a apelação era incabível, o que significa que ele não poderia ter sido conhecido.
Se o recurso não foi conhecido, conclui-se que não foi aberta a jurisdição recursal, razão pela qual
era impossível que o Tribunal tivesse emitido qualquer pronunciamento sobre o mérito da
questão, ainda que de ofício. Dizer que determinada questão pode ser conhecida de ofício significa
reconhecer que o juiz pode decidi-la independentemente de pedido, mas há de haver um
momento processual adequado para tanto. Nesse sentido, confira outro precedente do STJ:
(...) 4. Pode o órgão julgador conhecer, de ofício, das questões de ordem pública, sem
que isso implique julgamento extra petita ou reformatio in pejus. Precedentes do
STJ.
5. No âmbito do STJ, tal orientação também encontra guarida, consoante prescreve o
art. 257 do RI/STJ. É necessário, porém, que a instância recursal seja aberta, o que
ocorre quando o apelo preenche todos os requisitos de admissibilidade. (...)
STJ. 2ª Turma. AgRg no AgRg no REsp 1.218.791/PE, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 6/9/2011.
Assim, o valor da multa não poderia ter sido reduzido já que a apelação não foi conhecida.
A depender do caso concreto, o valor de multa cominatória pode ser exigido em montante
superior ao da obrigação principal.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.352.426-GO, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 5/5/15 (Info 562).
44.6. Decisão que fixa valor das astreintes não preclui nem faz coisa julgada – (Info 539)
A decisão que comina astreintes não preclui, não fazendo tampouco coisa julgada.
A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que a multa cominatória não integra a coisa
julgada, sendo apenas um meio de coerção indireta ao cumprimento do julgado, podendo ser
cominada, alterada ou suprimida posteriormente.
STJ. 2ª S. REsp 1.333.988-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 9/4/14 (recurso repetitivo)
(Info 539).
A fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de disposição do bem for posterior à
citação válida do sócio devedor, quando redirecionada a execução que fora originariamente
proposta em face da pessoa jurídica.
Ex: havia uma execução tramitando apenas contra a sociedade empresária; durante o curso deste
processo, um dos sócios vendeu bem que estava em seu nome; algum tempo depois, o juiz
determinou a desconsideração da personalidade jurídica e o redirecionamento da execução
contra o sócio; esta alienação realizada pelo sócio não ocorreu mediante fraude à execução; isso
porque, quando ele vendeu o bem, ainda não tinha sido citado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.391.830-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 22/11/16 (Info 594).
O STJ, apreciando o tema sob o regime do recurso repetitivo, definiu as seguintes teses sobre
fraude à execução:
1) Em regra, para que haja fraude à execução, é indispensável que tenha havido a citação válida
do devedor.
2) Mesmo sem citação válida, haverá fraude à execução se, quando o devedor alienou ou onerou
o bem, o credor já havia realizado a averbação da execução nos registros públicos (art. 615-A do
CPC). Presume-se em fraude de execução a alienação ou oneração de bens realizada após essa
averbação (§ 3º do art. 615-A do CPC).
3) Persiste válida a Súmula 375 do STJ, segundo a qual o reconhecimento da fraude de execução
depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente.
4) A presunção de boa-fé é princípio geral de direito universalmente aceito, devendo ser
respeitado a parêmia (ditado) milenar que diz o seguinte: “a boa-fé se presume, a má-fé se
prova”.
5) Assim, não havendo registro da penhora na matrícula do imóvel, é do credor o ônus de
provar que o terceiro adquirente tinha conhecimento de demanda capaz de levar o alienante à
insolvência (art. 659, § 4º, do CPC).
STJ. Corte Especial. REsp 956.943-PR, Rel. originária Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min.
João Otávio de Noronha, julgado em 20/8/2014 (recurso repetitivo) (Info 552).
OBS:
Atenção: As teses acima expostas continuam válidas, devendo, no entanto, ser observada também
agora a hipótese do art. 792, § 2º do CPC/2015.
2) Sistemática da RPV:
Regra: SIM. Em regra, é cabível a fixação de verba honorária nas execuções contra a
Fazenda Pública, ainda que não embargadas, cujo pagamento da obrigação é feito
mediante RPV.
Exceção: a Fazenda Pública não terá que pagar honorários advocatícios caso tenha
sido adotada a chamada “execução invertida”.
No caso de RVP, não se aplica o art. 1º-D da Lei 9.494/97.
Em execução fiscal não cabem medidas atípicas aflitivas pessoais, tais como a suspensão
de passaporte e da licença para dirigir.
STJ. 1ª T. HC 453870-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 25/6/19 (Info 654).
47.3.O encargo do DL 1.025/69 não foi revogado pelo CPC/15 – (Info 650) –
IMPORTANTE!!! Concursos Federais!!!
47.4. É possível que seja dispensada a garantia do juízo para o oferecimento dos embargos
à execução se ficar demonstrado que o devedor não possui patrimônio para isso – (Info 650) –
IMPORTANTE!!!
Deve ser afastada a exigência da garantia do juízo para a oposição de embargos à execução
fiscal, caso comprovado inequivocadamente que o devedor não possui patrimônio para
garantia do crédito exequendo.
STJ. 1ª T. REsp 1487772/SE, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 28/05/2019 (Info 650).
47.5. Não cabe mandado de segurança para atacar decisão judicial que se enquadra na
hipótese do art. 34 da Lei nº 6.830/80 – (Info 648) – IMPORTANTE!!!
47.6. Juiz pode deferir consulta ao CCS na execução fiscal em busca de bens do devedor –
(Info 645)
47.7. Forma de contagem do prazo da prescrição intercorrente prevista no art. 40, da LEF –
(Info 635) – IMPORTANTE!!! – RECURSO REPETITIVO!!! – (TJPR-2019)
47.8. O prazo prescricional para cobrança das anuidades dos conselhos somente se inicia
quando se atinge o patamar mínimo do art. 8º da Lei 12.514/11 – (Info 597) – Atenção!
Advocacia Pública Federal!
O prazo prescricional para cobrança das anuidades pagas aos conselhos profissionais tem
início somente quando o total da dívida inscrita, acrescida dos respectivos consectários
legais, atingir o patamar mínimo estabelecido pela Lei 12.514/2011.
Ex: João está devendo as anuidades de 2011, 2012, 2013; as anuidades de 2014, 2015 e 2016
foram pagas; assim, somente em 2017 atingiu-se o valor mínimo exigido pelo art. 8º da Lei,
ocasião em que o Conselho ajuizou a execução; o termo inicial da prescrição somente se
iniciou em 2017.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.524.930-RS, Rel. Min. Og Fernandes, j. 2/2/17 (Info 597).
OBS: Veja o art. 8º da Lei 12.514/2011:
Art. 8º Os Conselhos não executarão judicialmente dívidas referentes a
anuidades inferiores a 4 (quatro) vezes o valor cobrado anualmente da pessoa
física ou jurídica inadimplente.
Desse modo, o art. 8º da Lei acima referida traz uma nova condição para que os Conselhos
profissionais ajuízem execuções fiscais: o total da quantia executada deverá ser, no mínimo,
quatro vezes o valor da anuidade.
Vale frisar que, mesmo não podendo ajuizar a execução, os Conselhos poderão tomar outras
medidas contra o inadimplente, como, por exemplo, suspender seu exercício profissional.
Veja:
Art. 8º (...) Parágrafo único. O disposto no caput não limitará a realização de
medidas administrativas de cobrança, a aplicação de sanções por violação da
ética ou a suspensão do exercício profissional.
Considerando que a limitação de valor mínimo criada pelo art. 8º da Lei 12.514/11 para o
ajuizamento da execução fiscal, o surgimento da prescrição e o início de sua contagem
somente poderão ocorrer quando o crédito se tornar exequível (exigível), ou seja, quando o
total da dívida inscrita, acrescida dos respectivos consectários legais, atingir o patamar
mínimo exigido pela Lei.
Se o Conselho ainda não pode cobrar, ele ainda não goza de pretensão exigível. Logo, não se
pode considerar que já iniciou a contagem do prazo prescricional. O Conselho não está inerte
por vontade própria, mas sim porque a lei não permite que ele execute.
47.9. Encargo do art. 1º do DL 1.025/69 incide mesmo em execuções fiscais propostas contra
pessoas jurídicas de direito público – (Info 575)
O encargo previsto no art. 1º do DL 1.025/69 incide nas execuções fiscais promovidas pela
União contra pessoas jurídicas de direito público.
Incide o encargo do art. 1º do DL 1.025/69 nas execuções fiscais promovidas pela União,
independentemente do polo passivo da demanda ser ocupado por particular ou por ente
público
STJ. 2ª Turma. REsp 1.540.855-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 17/12/15 (Info
575).
OBS1: Encargo do art. 1º do DL 1.025/69: Quando os Estados, o DF ou os Municípios
propõem uma ação de execução fiscal, eles irão cobrar, além da dívida principal, juros e
multa moratórios, que serão um percentual sobre o montante principal. O interessante é que,
quando a União ajuíza uma execução fiscal, ela irá cobrar do executado: 1) a dívida principal,
acrescida de juros e multa; e 2) um valor de 20% sobre o montante principal, conhecido na
praxe forense como "encargo de 20%", sendo esta verba prevista no art. 1º do Decreto-lei nº
1.025/69. Esse encargo passa a ser devido a partir do instante em que ocorre a inscrição em
Dívida Ativa da União. Quando a dívida é inscrita, já se acrescenta estes 20% e eles serão
cobrados junto com o principal, os juros e a multa na execução fiscal proposta pela União.
Como este encargo é pouco conhecido, é comum as pessoas que estão sendo executadas pela
União acharem que o valor está maior por conta destes 20%. No entanto, tal encargo possui
previsão no DL 1.025/69, que se encontra em pleno vigor com status de lei ordinária.
OBS2: Se o devedor embargar e os embargos forem rejeitados, ele não terá que pagar
honorários advocatícios, já que o encargo do DL 1.025/69 os substituem: Se a pessoa que está
sendo executada pela União decidir apresentar embargos à execução e estes forem rejeitados,
ela não terá que pagar novos honorários advocatícios. O encargo do DL 1.025/69 já substitui
os honorários. Existe uma súmula do extinto Tribunal Federal de Recursos (que foi
substituído pelo STJ com a CF/88) afirmando isso. É a Súmula 168-TFR: O encargo de 20% do
Dec.-lei 1.025/69, é sempre devido nas execuções fiscais da União e substitui, nos embargos, a
condenação do devedor em honorários advocatícios.
OBS3: Só incide em caso de execuções fiscais propostas pela União: Este encargo só incide
em execuções fiscais promovidas pela União, não sendo aplicado caso a ação executiva seja
proposta por entidades federais (exs: INSS, IBAMA). A Súmula 168 do TFR continua válida,
mas ela só se aplica para execuções fiscais promovidas pela União. Não vale para execuções
fiscais ajuizadas por suas entidades. Se uma entidade federal ajuíza execução fiscal não será
devida a cobrança do encargo. No entanto, se houver embargos à execução fiscal e estes
forem rejeitados, será possível a condenação do executado/embargante em honorários de
sucumbência (STJ. 1ª Seção. REsp 1143320/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 12/05/10).
Execução fiscal proposta pela União: o executado deverá pagar o encargo do DL
1.025/69 ainda que não ofereça embargos à execução. Se apresentar embargos e estes
forem rejeitados, não será condenado a pagar honorários advocatícios de
sucumbência (Súmula 168-TFR).
Execução fiscal proposta por entidades federais: o executado não deverá pagar o
encargo do DL 1.025/69. Se apresentar embargos e estes forem rejeitados, será
condenado a pagar honorários advocatícios de sucumbência (REsp 1143320/RS).
OBS4: Destinação dos recursos: Atualmente, os recursos arrecadados com o encargo previsto
no art. 1º do DL 1025/69 são destinados a cobrir as despesas efetuadas para arrecadar
(cobrar) a dívida ativa da União, incluindo projetos de modernização e despesas judiciais
(art. 3º, parágrafo único, da Lei 7711/88). Esse encargo é utilizado para o aparelhamento e
aperfeiçoamento da arrecadação fiscal da União.
OBS5: Natureza jurídica: O encargo do art. 1º do DL 1025/69 possui dupla natureza jurídica:
a) Serve como encargo legal destinado a fomentar, desenvolver e aperfeiçoar os meios para a
arrecadação fiscal (art. 3º, § único da Lei 7711/88). É uma forma de remuneração das
despesas com os atos judiciais para a propositura da execução; e b) Substitui os honorários
sucumbenciais que seriam pagos pelo devedor em favor da Fazenda Nacional caso o
executado apresentasse e perdesse os embargos à execução (Súmula 168-TFR).
Em sede de execução fiscal, a Fazenda Pública não tem direito de substituir a fiança
bancária prestada pela sociedade empresária executada e anteriormente aceita pelo ente
público por penhora de depósito de quantia destinada à distribuição de dividendos aos
acionistas da devedora, a não ser que a fiança bancária se mostre inidônea.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.163.553-RJ, Rel. originário e voto vencedor Min. Arnaldo Esteves Lima,
Rel. para o acórdão Min. Mauro Campbell Marques, j. 22/4/15 (Info 569).
47.11. Prazo prescricional para a execução fiscal de crédito rural transferido à União – (Info
565)
Qual é o prazo prescricional para que a União ajuíze execução fiscal cobrando os créditos
rurais que foram a ela transferidos pela MP 2.196-3/2001?
Crédito rural cujo contrato foi celebrado sob a égide do CC-1916 : 20 anos
(prescrição das ações pessoais - direito pessoal de crédito), a contar da data do
vencimento, consoante o disposto no art. 177 do CC-1916, para que dentro dele
(observado o disposto no art. 2º, § 3º, da LEF) sejam feitos a inscrição e o
ajuizamento da respectiva execução fiscal, sem embargo da norma de transição
prevista no art. 2.028 do CC/2002;
Crédito rural cujo contrato tenha sido celebrado sob a égide do CC-2002 : 5 anos
(prescrição da pretensão para a cobrança de dívidas líquidas constantes de
instrumento público ou particular), a contar da data do vencimento, consoante o
disposto no art. 206, § 5º, I, do CC/2002, para que dentro dele (observado o disposto
no art. 2º, § 3º, da LEF) sejam feitos a inscrição em dívida ativa e o ajuizamento da
respectiva execução fiscal.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.373.292-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 22/10/15 (Info 565).
47.12. Redirecionamento da execução contra sócio que não era gerente no momento do fato
gerador – (Info 564)
47.14. Termo inicial do prazo para o oferecimento de embargos à execução fiscal quando
afastada a necessidade de garantia prévia – (Info 563)
No caso em que a garantia à execução fiscal tenha sido totalmente dispensada de forma
expressa pelo juízo competente - inexistindo, ainda que parcialmente, a prestação de
qualquer garantia (penhora, fiança, depósito, seguro-garantia) -, o prazo para oferecer
embargos à execução deverá ter início na data da intimação da decisão que dispensou a
apresentação de garantia, não havendo a necessidade, na intimação dessa dispensa, de se
informar expressamente o prazo para embargar.
STJ. 2ª T. REsp 1.440.639-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 2/6/2015 (Info 563).
A Lei 13.043/2014 alterou o inciso II do art. 7º da Lei 6.830/80 (LEF) e previu expressamente
mais uma forma de garantia do juízo: o SEGURO GARANTIA.
A mudança foi importante porque o STJ possuía entendimento pacífico de que o seguro
garantia não servia como garantia da execução fiscal em virtude da ausência de previsão na
LEF.
A Lei 13.043/2014 entrou em vigor em 14/11/2014; é possível aceitar seguro garantia para
uma execução fiscal que tenha se iniciado antes desta data e que ainda esteja tramitando?
Em outras palavras, a alteração promovida pela Lei 13.043/2014 no que tange ao seguro
garantia aplica-se às execuções fiscais que foram instauradas antes de sua vigência e que
ainda estejam em curso?
SIM. O inciso II do art. 9° da Lei 6.830/80 (LEF), alterado pela Lei 13.043/2014, que faculta
expressamente ao executado a possibilidade de oferecer fiança bancária ou seguro garantia
nas execuções fiscais, possui aplicabilidade imediata aos processos em curso.
A norma que permite a garantia do juízo por meio de seguro garantia é de cunho
processual, de modo que possui aplicabilidade imediata aos processos em curso.
STJ. 2ª T. REsp 1.508.171-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 17/3/2015 (Info 559).
O juiz não pode indeferir a petição inicial em ação de execução fiscal com o argumento de
que não houve indicação do RG, CPF ou CNPJ da parte executada. Isso porque tais
informações não são exigidas pelo art. 6º da Lei nº 6.830/80 (LEF).
O art. 15 da Lei 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrônico) exige que a parte autora informe o
CPF ou CNJP da ré, mas tal Lei não prevalece sobre a LEF, por ser esta norma específica e
aquela norma geral.
Assim, em ações de execução fiscal, descabe indeferir a petição inicial sob o argumento da
falta de indicação do RG, CPF ou CNJP da parte executada (pessoa física ou jurídica), visto
tratar-se de requisito não previsto no art. 6º da Lei 6.830/80 (LEF), cujo diploma, por sua
especialidade, ostenta primazia sobre a legislação de cunho geral, como ocorre frente à
exigência contida no art. 15 da Lei 11.419/06.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.450.819-AM e 1.455.091-AM, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgados em
12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 553).
O art. 185-A do CTN prevê a possibilidade de ser decretada a indisponibilidade dos bens e
direitos do devedor tributário na execução fiscal. Vale ressaltar, no entanto, que a
indisponibilidade de que trata o art. 185-A do CTN só pode ser decretada se forem
preenchidos três requisitos:
1) deve ter havido prévia citação do devedor;
2) o executado deve não ter pago a dívida nem apresentado bens à penhora no prazo legal;
3) não terem sido localizados bens penhoráveis do executado mesmo após a Fazenda
Pública esgotar as diligências nesse sentido.
Obs.: para que a Fazenda Pública prove que esgotou todas as diligências na tentativa de
achar bens do devedor, basta que ela tenha adotado duas providências:
a) pedido de acionamento do Bacen Jud (penhora “on line”) e consequente determinação
pelo magistrado;
b) expedição de ofícios aos registros públicos do domicílio do executado e ao
Departamento Nacional ou Estadual de Trânsito - DENATRAN ou DETRAN.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.377.507-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/11/2014 (recurso
repetitivo) (Info 552).
Em uma execução fiscal, o juiz determinou a intimação da Fazenda Pública para que se
manifestasse se possuía ainda interesse no prosseguimento do processo, sob pena de
extinção do feito. Mesmo tendo sido regularmente intimada, a Fazenda Pública
permaneceu inerte. Nesse caso, se o devedor não tiver apresentado embargos à execução, o
magistrado poderá, de ofício, extinguir a execução sem resolução do mérito por abandono
do autor, nos termos do art. 267, III, do CPC.
Não se aplica o raciocínio presente na Súmula 240 do STJ, ou seja, não é necessário que
haja requerimento do executado para que o juiz extinga a execução.
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1.450.799-RN, Rel. Min. Assusete Magalhães, j. 21/8/2014 (Info 549).
OBS1:
Redirecionamento: Quando a Fazenda Pública ajuíza uma execução fiscal contra a “empresa”
(rectius: empresário ou sociedade empresária) e não consegue localizar bens penhoráveis, o
CTN prevê a possibilidade de o Fisco redirecionar a execução para algumas pessoas físicas
que tenham relação com a “empresa” e hajam atuado com excesso de poderes ou infração de
lei, contrato social ou estatutos, nos termos do art. 135 do CTN.
Os sócios, como regra geral, não respondem pessoalmente (com seu patrimônio pessoal)
pelas dívidas da sociedade empresária, já que vigora o princípio da autonomia jurídica da
pessoa jurídica em relação aos seus sócios. A pessoa jurídica possui personalidade e
patrimônio autônomos, que não se confundem com a personalidade e patrimônio de seus
sócios. No entanto, se o sócio praticou atos com excesso de poderes ou infração de lei,
contrato social ou estatutos (art. 135, III), ele utilizou o instituto da personalidade jurídica de
forma fraudulenta ou abusiva, podendo, portanto, ser responsabilizado pessoalmente pelos
débitos. No entanto, o simples fato de a pessoa jurídica estar em débito com o Fisco não
autoriza que o sócio pague pela dívida com seu patrimônio pessoal. É necessário que tenha
praticado atos com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos (art.
135, III).
Empresa que deixa de funcionar no seu domicílio fiscal e não comunica aos órgãos
competentes, presume-se que foi dissolvida irregularmente: Domicílio tributário (ou fiscal) é o
lugar, cadastrado na repartição tributária, onde o sujeito passivo poderá ser encontrado pelo
Fisco. Se a Administração Tributária tiver que enviar uma notificação fiscal para aquele
contribuinte, deverá encaminhar para o endereço constante como sendo seu domicílio fiscal.
As regras para a definição do domicílio tributário estão previstas no art. 127 do CTN. Se a
empresa deixa de funcionar no seu domicílio fiscal, presume-se que ela deixou de existir (foi dissolvida) .
E o pior: foi dissolvida de forma irregular, o que caracteriza infração à lei e permite o
redirecionamento da execução.
Assim, em uma execução fiscal, caso não se consiga fazer a citação da empresa porque ela
não mais está funcionando no endereço indicado como seu domicílio fiscal, será possível
concluir que ela foi dissolvida irregularmente, ensejando o redirecionamento da execução,
conforme Súmula 435-STJ: Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de
funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes, legitimando o
redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente.
Na execução fiscal, para o que mandado de intimação da penhora seja válido é necessário
que:
a) a intimação do executado ocorra de forma pessoal; e
b) o mandado contenha expressa menção do prazo legal para o oferecimento de embargos
à execução.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.269.069-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 6/4/14 (Info 546).
47.22. Remessa necessária no caso de sentença que julga procedente exceção de pré-
executividade – (Info 544)
Não implica preclusão a falta de imediata impugnação pela Fazenda Pública da alegação
deduzida em embargos à execução fiscal de que o crédito tributário foi extinto pelo
pagamento integral. A preclusão consiste na simples perda de uma faculdade processual.
Nos casos relacionados a direitos materiais indisponíveis da Fazenda Pública, a falta de
manifestação não autoriza concluir automaticamente que são verdadeiros os fatos alegados
pela parte contrária. Em razão da indisponibilidade do direito controvertido e do princípio
do livre convencimento, nada impede, inclusive, que o juízo examine esse tema.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.364.444-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 8/4/14 (Info 542).
47.24. Garantia do juízo na execução fiscal deve abranger o valor dos honorários
advocatícios – (Info 539)
47.25. Emenda da inicial na execução fiscal para fazer constar que a executada encontra-se
em estado falimentar – (Info 538) – IMPORTANTE!!! - (TCU-2015)
47.26. Na execução fiscal, exige-se a garantia do juízo para embargar mesmo que o
executado seja beneficiário da AJG – (Info 538) – (DPEPR-2014)
Para que o devedor possa oferecer embargos, exige-se a garantia do juízo mesmo que ele
seja beneficiário da assistência judiciária gratuita?
SIM. O STJ assim entende, com base no princípio da especialidade.
O art. 3º da Lei 1.060/50 (que prevê a assistência judiciária gratuita, correspondendo o atual
art. 98, § 1º do CPC/15) é cláusula genérica, abstrata e visa à isenção de despesas de
natureza processual, como custas e honorários advocatícios, não havendo previsão legal de
isenção de garantia do juízo para embargar.
Desse modo, em conformidade com o princípio da especialidade das leis, o disposto no art.
16, § 1º, da Lei 6.830/80 deve prevalecer sobre o art. 3º, VII, da Lei 1.060/50, o qual
determina que os beneficiários da justiça gratuita ficam isentos dos depósitos previstos em
lei para interposição de recurso, ajuizamento de ação e demais atos processuais inerentes
ao exercício da ampla defesa e do contraditório.
Assim, em regra, exige-se a garantia do juízo mesmo que o executado seja beneficiário da
justiça gratuita.
STJ. 2ª Turma. REsp 1437078-RS, Rel. Min. Humberto Martins, j. 25/3/14 (Info 538).
No mesmo sentido: AgRg nos EREsp 1.156.545⁄RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 1ª Seção,
DJe 04⁄10⁄2011; REsp 1.040.781⁄PR, Rel. Min. Eliana Calmon, 2ª Turma, DJe 17⁄3⁄2009; REsp
719.907⁄RS, 1ª Turma, Rel. Min.. Teori Albino Zavascki, DJe de 5.12.2005.
(AGU-2015-CESPE): Acerca da execução no processo civil, julgue o seguinte item
conforme a jurisprudência do STJ: Deve ser reconhecida a litispendência entre os embargos
à execução fiscal e a ação anulatória do débito proposta anteriormente ao ajuizamento da
execução fiscal embargada, se forem identificadas as mesmas partes, a mesma causa de
pedir e o mesmo pedido nas demandas. BL: REsp 1.156.545/RJ, STJ.
Ainda que a execução fiscal tenha sido arquivada em razão do pequeno valor do débito
executado, sem baixa na distribuição, nos termos do art. 20 da Lei 10.522/2002, deve ser
reconhecida a prescrição intercorrente se o processo ficar paralisado por mais de cinco anos
a contar da decisão que determina o arquivamento, pois essa norma não constitui causa de
suspensão do prazo prescricional.
A mesma razão que impõe à incidência da prescrição intercorrente quando não localizados
o devedor ou bens penhoráveis – impedir a existência de execuções eternas e
imprescritíveis –, também justifica o decreto de prescrição nos casos em que as execuções
são arquivadas em face do pequeno valor dos créditos executados.
O § 1º do art. 20 da Lei 10.522/02 - que permite sejam reativadas as execuções quando
ultrapassado o limite legal – deve ser interpretado em conjunto com a norma do art. 40, §
4º, da LEF – que prevê a prescrição intercorrente -, de modo a estabelecer um limite
temporal para o desarquivamento das execuções, obstando assim a perpetuidade dessas
ações de cobrança.
STJ. 1ª Seção. REsp 1102554/MG, Rel. Ministro Castro Meira, j. 27/05/09.
(PGEMT-2016-FCC): Segundo a jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça
a respeito das execuções fiscais, deve ser reconhecida a prescrição intercorrente caso o
processo fique paralisado por mais de cinco anos após a decisão que determinou o
arquivamento da execução fiscal em razão do pequeno valor do débito executado, sem
baixa na distribuição, uma vez que não há suspensão do prazo prescricional. BL: STJ,
REsp 1102554/MG.
O prazo de 48 horas para a apresentação das contas pelo réu, previsto no art. 915, § 2º, do
CPC/1973, deve ser computado a partir da intimação do trânsito em julgado da sentença
que reconheceu o direito do autor de exigir a prestação de contas.
STJ. 3ª T. REsp 1582877-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/04/2019 (Info 647).
CPC/1973: Art. 915 (...)
§ 2º Se o réu não contestar a ação ou não negar a obrigação de prestar contas, observar-se-á
o disposto no art. 330; a sentença, que julgar procedente a ação, condenará o réu a prestar
as contas no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as
que o autor apresentar.
Não é cabível ação de exibição de documentos que tenha por objeto a obtenção de
informações detidas pela Administração Pública que não foram materializadas em
documentos (eletrônicos ou não), ainda que se alegue demora na prestação dessas
informações pela via administrativa.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.415.741-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 3/12/15 (Info
575).
OBS: A ação de exibição destina-se à obtenção de documentos já existentes que se encontram
em poder da pessoa que se recusa a fornecê-los. Portanto, não há como admitir o pedido de
exibição de documentos que não existem, em que a autora requer a confecção de certidão e
planilha contendo informações que ainda deverão ser apuradas pelo demandado. O verbo
"exibir" não possui o mesmo significado de "expedir" ou "confeccionar".
Repetindo: não é cabível a ação de exibição de documentos que tenha por objeto informação
não materializada em documento (coisa).
Tal entendimento permanece válido com o novo CPC, que trata sobre a ação de exibição de
documento ou coisa nos arts. 396 a 404. Veja que o Código exige que já exista um documento
ou coisa a ser exibido: “Art. 396. O juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou coisa que se
encontre em seu poder.” Não se pode alargar a concepção da ação de exibição de documento
para abarcar informações ainda não materializadas. O direito à informação, neste caso, pode
ser buscado pela via própria, qual seja, o habeas data (art. 5º, LXXII, da CF/88).
Para existir interesse de agir em ação cautelar de exibição de documentos ajuizada por
consumidor com o objetivo de obter extrato contendo sua pontuação no sistema
Crediscore, é necessário que o requerente comprove:
a) que a recusa do crédito se deu em razão da pontuação que lhe foi atribuída pela dita
ferramenta de scoring; e
b) que tenha havido resistência da instituição responsável pelo sistema na
disponibilização das informações requeridas pelo consumidor em prazo razoável.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.268.478-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 18/12/14 (Info 553).
50.3. Não incidência do prazo do art. 892 do CPC 1973 (art. 541 do CPC/15) para os
depósitos judiciais de tributos – (Info 564)
O prazo de cinco dias previsto no art. 892 do CPC/73 (art. 541 do CPC/15) NÃO se aplica
para depósitos judiciais relacionados com créditos tributários.
O crédito tributário é exigível a partir do dia de seu vencimento. Se ele não é pago nesta
data, deverá ser cobrado acrescido de juros, multa e correção monetária. Isso ocorre por
força de lei.
Para que o depósito judicial possa acarretar a suspensão da exigibilidade do crédito
tributário, ele deve ser feito dentro do prazo de vencimento da obrigação.
Se a tese acima exposta fosse aceita, o contribuinte que ingressasse com ação de
consignação em pagamento passaria a ser agraciado com cinco dias extras para pagar o
tributo pelo simples fato de ter proposto essa ação. Por outro lado, o contribuinte que não
tivesse proposto a ação continuaria tendo que pagar na data do vencimento. Perceba,
portanto, que haveria uma violação ao princípio da isonomia tributária (art. 150, I, da
CF/88), além de estar-se criando uma espécie de moratória tributária, de caráter geral, sem
previsão legal.
Desse modo, o Fisco poderá sim cobrar multa e juros caso o depósito não seja realizado
dentro do prazo para o pagamento do tributo.
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.365.761-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 9/6/15 (Info
564)
O pedido de alongamento da dívida originada de crédito rural pode ser feito em sede de
embargos à monitória ou contestação, independentemente de reconvenção.
O preenchimento dos requisitos legais para a securitização da dívida originada de crédito
rural (ou alongamento) constitui matéria de defesa do devedor, passível de ser alegada em
embargos à monitória ou contestação, independentemente de reconvenção.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.531.676-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 18/5/2017 (Info 604).
O correio eletrônico (e-mail) pode fundamentar a pretensão monitória, desde que o juízo
se convença da verossimilhança das alegações e da idoneidade das declarações.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.381.603-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 6/10/16 (Info 593).
OBS:
Ação monitória: Ação monitória é um procedimento especial, previsto no CPC, por meio do
qual o credor exige do devedor o pagamento de soma em dinheiro ou a entrega de coisa com
base em prova escrita que não tenha eficácia de título executivo.
Ex1: ação monitória para cobrança de cheque prescrito.
Ex2: ação monitória para cobrança de valores baseados em contrato bancário de abertura de
conta-corrente.
O cheque prescrito e o contrato bancário de abertura de conta são provas escritas do débito,
mas que não se constituem em título executivo.
Se o credor tem título executivo, pode ingressar desde logo com a execução.
Se o credor não tem nenhuma prova documental, só lhe resta a ação de cobrança.
Se o credor tem prova escrita que não goza de eficácia de título executivo: cabe ação
monitória.
Imagine agora a seguinte situação hipotética: João vendeu para Pedro um computador por
R$ 3 mil. A venda foi toda negociada por e-mail, tendo João enviado o computador pelos
Correios para Pedro. Este, contudo, não efetuou o pagamento combinado. Os e-mails
trocados demonstram que houve a compra do produto e que Pedro se comprometeu em
efetuar o pagamento dos R$ 3 mil. João imprimiu os e-mails e ajuizou ação monitória contra
Pedro.
É possível que um e-mail seja utilizado para instruir a ação monitória? SIM. Para a
propositura da ação monitória, o legislador exige que o autor comprove a relação jurídica por
meio de prova escrita. O legislador não definiu o que seja "prova escrita", tratando-se,
portanto, de conceito eminentemente doutrinário-jurisprudencial. A prova hábil a instruir a
ação monitória não precisa, necessariamente, ter sido emitida pelo devedor ou nela constar
sua assinatura ou de um representante. Basta que tenha forma escrita e seja suficiente para,
efetivamente, influir na convicção do magistrado acerca do direito alegado. Ademais, para a
admissibilidade da ação monitória, não é imprescindível que o autor instrua a ação com
prova robusta, estreme de dúvida, podendo ser aparelhada por documento idôneo, ainda
que emitido pelo próprio credor, contanto que o magistrado entenda presente o juízo de
probabilidade acerca do direito afirmado.
Nesse sentido:
(...) para a admissibilidade da ação monitória, não é necessária a apresentação
de prova robusta, estreme de dúvida, sendo suficiente a presença de dados
idôneos, ainda que unilaterais, desde que deles exsurja juízo de probabilidade
acerca do direito afirmado.
STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1278643/ES, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j.
23/02/16.
(...) 1. A prova hábil a instruir a ação monitória, a que alude o artigo 1.102-A do
Código de Processo Civil não precisa, necessariamente, ter sido emitida pelo
devedor ou nela constar sua assinatura ou de um representante. Basta que tenha
forma escrita e seja suficiente para, efetivamente, influir na convicção do
magistrado acerca do direito alegado.
2. Dessarte, para a admissibilidade da ação monitória, não é necessário que o
autor instrua a ação com prova robusta, estreme de dúvida, podendo ser
aparelhada por documento idôneo, ainda que emitido pelo próprio credor,
contanto que, por meio do prudente exame do magistrado, exsurja o juízo de
probabilidade acerca do direito afirmado pelo autor. (...
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 289.660/RN, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 04/06/2013.
51.3. Inviabilidade de se analisar matérias de mérito, ainda que de ordem pública, se o réu
se manteve inerte – (Info 574)
Em ação monitória, após o decurso do prazo para pagamento ou entrega da coisa sem a
oposição de embargos pelo réu, o juiz não poderá analisar matérias de mérito, ainda que
conhecíveis de ofício.
STJ. 3ª T. REsp 1.432.982-ES, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 17/11/2015 (Info 574).
OBS: Se o devedor se manteve inerte quando foi citado, haverá a conversão do mandado
monitório em mandado executivo automaticamente, ou seja, por força de lei (ope legis). Isso
significa que nenhuma das matérias que ele poderia alegar em sua defesa nos embargos
poderá ser invocada agora.
O despacho proferido pelo juiz que converte o mandado inicial em mandado executivo não
detém natureza jurídica de sentença nem de decisão. É um mero despacho sem conteúdo
decisório porque esta conversão do mandado monitório em executivo (título executivo)
ocorre por força de lei. Relembre que o § 2º do art. 701 do CPC 2015 falou que a conversão em
título executivo ocorre "independentemente de qualquer formalidade". Como o título
executivo já se formou automaticamente com o fim do prazo do réu, não é mais possível a
análise de matérias de mérito, ainda que sejam de ordem pública (conhecíveis de ofício).
Outra novidade do CPC 2015 é que o juiz, ao determinar que o autor emende ou complete
a petição inicial, deverá indicar, com precisão, o que deve ser corrigido ou completado.
STJ. 2ª S. REsp 1.154.730-PE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 8/4/15 (recurso repetitivo)
(Info 559).
Ação monitória é um procedimento especial, previsto no CPC, por meio do qual o credor
exige do devedor o pagamento de soma em dinheiro, a entrega de coisa fungível ou a
entrega de determinado bem móvel com base em prova escrita que não tem eficácia de
título executivo.
Obs: com o CPC de 2015, a ação monitória poderá ser utilizada para exigir a entrega de
coisas infungíveis e também para exigir a entrega de bens imóveis, situações que não eram
abarcadas pelo antigo Código. Além disso, o CPC 2015 prevê que a ação monitória serve
também para exigir que o réu cumpra obrigação de fazer ou não fazer sobre a qual ele está
inadimplente.
O réu citado poderá defender-se das alegações do autor. A defesa na ação monitória é
denominada de “embargos à ação monitória”. Os embargos à ação monitória são
classificados como uma forma de defesa, sendo semelhante à contestação.
Para que o réu apresente embargos monitórios, ele precisa pagar previamente as custas?
NÃO. Não se exige o recolhimento de custas iniciais para oferecer embargos à ação
monitória. Isso porque os embargos à monitória têm natureza jurídica de defesa. Vimos
acima que é como se fosse uma contestação e o réu não precisa recolher custas para
apresentar contestação. Isso vale tanto para o CPC 1973 como para o novo CPC.
STJ. 3ª T. REsp 1.265.509-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 19/3/15 (Info 558).
O conceito de documento comum, previsto no art. 844, II, do CPC/1973, não se limita
àquele pertencente a ambas as partes, mas engloba também o documento sobre o qual elas
têm interesse comum, independentemente de o solicitante ter participado de sua
elaboração.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.645.581-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 8/8/17 (Info 609).
OBS: “Documento comum não é, assim, apenas o que pertence indistintamente a ambas as
partes, mas também o que se refere a uma situação que envolva ambas as partes , ou uma das
partes e terceiro”. (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol.
II. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 605)
O CPC/2015 não repetiu esse dispositivo porque não mais tratou sobre procedimentos
cautelares típicos (nominados).
54.2. Não se exige a prévia notificação extrajudicial dos invasores para que se proponha
reintegração de posse – (Info 594) – IMPORTANTE!!!
55.2. O recurso cabível contra decisão que julga procedente, na primeira fase, a ação de
exigir contas é o agravo de instrumento – (Info 650) – IMPORTANTE!!!
Cabe agravo de instrumento contra a decisão que julga procedente, na primeira fase, a
ação de exigir contas, condenando o réu a prestar as contas exigidas.
Como essa decisão não gera o encerramento do processo, o recurso cabível será o agravo
de instrumento (arts. 550, § 5º, e 1.015, II).
Por outro lado, se a decisão extinguir o processo, com ou sem resolução de mérito (arts. 485
e 487), aí sim haverá sentença e o recurso cabível será a apelação.
STJ. 4ª T. REsp 1.680.168-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Raul Araújo, j. 9/4/19
(Info 650). STJ. 3ª T. REsp 1746337/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 9/4/19.
Nos contratos de mútuo e financiamento, o devedor não possui interesse de agir para a
ação de prestação de contas.
O entendimento acima exposto continua válido com o CPC 2015, mas devem ser feitas
duas observações:
1) O nome da ação passou a ser “ação de exigir contas”;
2) O CPC 2015 não mais fala em “condição da ação”. Essa categoria foi abolida. O interesse
de agir, que era uma condição da ação, continua sendo examinado, mas agora tem natureza
jurídica de requisito de admissibilidade do processo. Trata-se de um pressuposto de
validade objetivo extrínseco.
STJ. 2ª S. REsp 1.293.558-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 11/3/15 (Info 558).
Nos embargos de terceiro cujo pedido foi acolhido para desconstituir a constrição judicial,
os honorários advocatícios serão arbitrados com base no princípio da causalidade,
responsabilizando-se o atual proprietário (embargante), se este não atualizou os dados
cadastrais. Os encargos de sucumbência serão suportados pela parte embargada, porém, na
hipótese em que esta, depois de tomar ciência da transmissão do bem, apresentar ou
insistir na impugnação ou recurso para manter a penhora sobre o bem cujo domínio foi
transferido para terceiro.
Ex: Pedro adquiriu uma casa por meio de contrato de promessa de compra e venda. Ocorre
que não foi até o Registro de Imóveis para providenciar a transcrição do título. O antigo
proprietário do imóvel estava sendo executado e o credor, após consulta no cartório,
indicou a referida casa para ser penhorada, o que foi aceito pelo juiz. Pedro foi informado
da penhora e apresentou embargos de terceiro na execução provando que o referido imóvel
foi por ele adquirido. O juiz acolheu os embargos e determinou o levantamento da
penhora. A parte embargada não se opôs a isso. Na sentença dos embargos, o juiz deverá
condenar Pedro a pagar honorários advocatícios em favor da parte embargada.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.452.840-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 14/9/16 (recurso repetitivo)
(Info 591)
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João era proprietário de um imóvel e fez uma
promessa de compra e venda com Pedro. Por meio do contrato, João (promitente vendedor)
comprometeu-se a vender a Pedro uma casa, localizada na Rua 02, nº 13, Centro. Em
contrapartida, Pedro (promitente comprador) obrigou-se a pagar o valor do imóvel em 24
parcelas. O contrato previa que, após os pagamentos, Pedro deveria fazer a transferência do
bem no Registro de Imóveis para seu nome, havendo, inclusive, uma procuração outorgada
por João conferindo tais poderes. Pedro pagou todas as 24 parcelas e continuou morando na
casa por ele adquirida. Ocorre que acabou esquecendo de ir até o Registro de Imóveis para
providenciar a transcrição do título. Na linguagem popular, ele não foi até o cartório passar a
casa para o seu nome.
Execução contra o antigo proprietário: João, antigo proprietário da casa, possuía débitos com
a União e estava sendo executado. No processo de execução, João foi citado, mas não pagou a
dívida. A Fazenda Nacional consultou os cartórios em busca de bens em nome do devedor. O
Registro de Imóveis informou à União que há uma casa localizada na Rua 02, nº 13, Centro
registrada em nome de João. A exequente requereu, então, a penhora da casa para
pagamento da dívida, o que foi deferido pelo magistrado.
Embargos de terceiro: Pedro, que mora na casa, foi informado da penhora e procurou um
advogado. Este apresentou embargos de terceiro na execução provando que o referido
imóvel foi adquirido por meio de um contrato de promessa de compra e venda e que,
inclusive, todas as parcelas já foram pagas. Sobre o tema, vale a pena lembrar o seguinte
enunciado:
Súmula 84-STJ: É admissível a oposição de Embargos de Terceiro fundados em
alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóveis,
ainda que desprovido do registro.
Vale ressaltar que os órgãos da advocacia pública federal não oferecem impugnação nem
recorrem em tais casos, desde que não caracterizada a má-fé dos contratantes e o intuito de
fraude à execução (IN AGU 05/07). O juiz acolheu os embargos e determinou o levantamento
da penhora incidente sobre a casa. No entanto, condenou Pedro a pagar honorários
advocatícios em favor da União (embargada). A União concordou com a sentença e não
recorreu. Pedro, por outro lado, apresentou recurso afirmando que, se os embargos foram
julgados procedentes, ficando provado que ele estava certo, é a União quem deverá pagar os
honorários advocatícios em favor dele.
A sentença do magistrado foi correta? Afinal de contas, quem deverá pagar os honorários
advocatícios neste caso? SIM. A sentença foi correta e quem deverá pagar os honorários é o
embargante Pedro (atual proprietário).
Algumas vezes, no entanto, pode-se constatar que a responsável pela existência da causa foi a
parte vencedora. A parte venceu a demanda, mas foi uma atitude dela que fez com que o
problema tenha surgido. Nestes casos, será o vencedor (e não o sucumbente) quem irá pagar
os honorários advocatícios. Dizemos que o princípio da sucumbência cede espaço para o
princípio da causalidade.
Embargante foi o responsável pelo fato de o bem ter sido penhorado: O adquirente, ao não
providenciar a transcrição do título na repartição competente, permite que o bem adquirido
fique em risco e possa ser submetido à indevida constrição judicial em ações propostas contra
o antigo proprietário. As diligências realizadas pelo oficial de Justiça ou pela própria parte
credora destinadas à localização de bens, no caso específico de bens sujeitos a registro
(imóveis, veículos), são feitas mediante consulta aos Cartórios de Imóveis (Detran, no caso de
veículos), razão pela qual é evidente que se tais cadastros estiverem com os nomes dos
proprietários desatualizados, fatalmente haverá penhoras indevidas. Isso, não por "culpa" do
credor, mas sim do adquirente. Desse modo, em regra, não pode ser responsabilizado pelos
honorários advocatícios o credor que indica à penhora imóvel transferido a terceiro mediante
compromisso de compra e venda não registrado no Cartório de Imóveis. Com a inércia do
comprador em proceder ao registro, não havia como o exequente tomar conhecimento de
uma possível transmissão de domínio.
56.4. Embargos de terceiro não servem para impugnar decisão se o fundamento invocado
pelo autor não é a posse, mas sim, unicamente, a propriedade – (Info 553) – (PGM-Poá/SP-
2016)
O proprietário sem posse a qualquer título não tem legitimidade para ajuizar, com
fundamento no direito de propriedade, embargos de terceiro contra decisão transitada em
julgado proferida em ação de reintegração de posse, da qual não participou, e na qual nem
sequer foi aventada discussão em torno da titularidade do domínio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.417.620-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 2/12/14 (Info
553).
Contudo, essa inovação normativa do § 2º do art. 659 do CPC/15 em nada altera a condição
estabelecida no art. 192 do CTN, de modo que, no arrolamento sumário, o magistrado deve
exigir a comprovação de quitação dos tributos relativos aos bens do espólio e às suas
rendas para homologar a partilha e, na sequência, com o trânsito em julgado, expedir os
títulos de transferência de domínio e encerrar o processo, independentemente do
pagamento do imposto de transmissão.
Assim, para que haja a homologação da partilha, mesmo no caso de arrolamento sumário,
continua sendo indispensável que haja a prévia quitação dos tributos relativos aos bens do
espólio e às suas rendas. Essa exigência, como já dito, tem como fundamento o art. 192 do
CTN, que continua em vigor e deve ser interpretado em conjunto com o art. 659, § 2º do CPC:
Art. 192. Nenhuma sentença de julgamento de partilha ou
adjudicação será proferida sem prova da quitação de todos os
tributos relativos aos bens do espólio, ou às suas rendas.
Desse modo, segundo o que dispõe o art. 192 do CTN, a comprovação da quitação dos
tributos referentes aos bens do espólio e às suas rendas é condição sine qua non
(indispensável) para que o magistrado proceda a homologação da partilha.
58. ARBITRAGEM
58.1. Validade de cláusula arbitral que reserve a solução de determinadas situações para a
via judicial – (Info 577)
Regulamentação: É regulada pela Lei 9.307/96, havendo também alguns dispositivos no CPC
versando sobre o tema.
Essa cláusula é válida? É possível que a cláusula compromissória preveja que parte dos
conflitos será resolvido por arbitragem e outras causas pelo Poder Judiciário? SIM. A Lei
9307/96 não exige, como condição de existência da cláusula compromissória, que a
arbitragem seja a única via de resolução admitida pelas partes para todos os litígios e em
relação a todas as matérias. Não pode ser considerada nula a cláusula compromissória
constante de acordo que excepcione ou reserve certas situações especiais a serem submetidas
ao Judiciário, especialmente quando essas demandem tutelas de urgência. A contrario sensu,
nulidade haveria em previsão que vedasse completamente toda e qualquer apreciação de
litígio pelo Judiciário. O convívio harmônico dos juízos arbitrais com os órgãos do Judiciário
constitui ponto fundamental ao prestígio da arbitragem.
O art. 32 da Lei nº 9.307/96 elenca hipóteses nas quais a sentença arbitral é nula. Essa
nulidade é declarada pelo Poder Judiciário. Verificando alguma das situações do art. 32, a
parte interessada poderá propor ação de declaração de nulidade da sentença arbitral. A
ação de declaração de nulidade deve ser proposta em, no máximo, 90 dias após o
recebimento da notificação da sentença arbitral.
Imagine agora a seguinte situação: em fevereiro de 2014 foi proferida sentença arbitral
parcial; em abril de 2014, foi prolatada sentença arbitral final. Suponhamos que a parte
interessada deseja anular a sentença arbitral parcial. O prazo para a ação anulatória
começou a correr em fevereiro ou em abril?
Em fevereiro. O prazo decadencial de 90 dias para o ajuizamento de ação anulatória (art.
33, § 1º, da Lei nº 9.307/96) em face de sentença arbitral parcial conta-se a partir do trânsito
em julgado desta (sentença parcial), e não do trânsito em julgado da sentença arbitral final.
Obs: neste julgado o STJ afirmou que, mesmo antes da alteração promovida pela Lei
13.129/2015, era possível a prolação de sentença arbitral parcial, especialmente na hipótese
de as partes signatárias assim convencionarem.
STJ. 3ª T. REsp 1.519.041-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 1º/9/2015 (Info 568).
59. CAUÇÃO
59.1. Possibilidade de dispensa da caução prevista no art. 835 do CPC 1973 (art. 83 do CPC
2015) – (Info 563)
Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a
tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as
custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação. Essa caução não será
necessária se o autor possuir bens imóveis no Brasil que possam servir para o pagamento
de tais despesas. Isso está previsto no art. 835 do CPC 1973 (art. 83 do CPC 2015).
Essa caução não tem natureza cautelar, sendo exigível no caso em que se verificar a
presença dos requisitos objetivos e cumulativos elencados na lei, podendo ser dispensada
nas hipóteses previstas no art. 836 do CPC 1973 (art. 83, § 1º do CPC 2015) ou quando, com
base na prova dos autos, as peculiaridades do caso concreto indicarem que a sua exigência
irá obstaculizar o acesso à jurisdição.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.479.051-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 26/5/15 (Info 563).
O interessado deverá ser intimado para a realização do preparo recursal nas hipóteses de
indeferimento ou de não processamento do pedido de gratuidade da justiça.
Nesse sentido é o art. 99, § 7º do CPC/2015:
§ 7º Requerida a concessão de gratuidade da justiça em recurso, o recorrente estará
dispensado de comprovar o recolhimento do preparo, incumbindo ao relator, neste caso,
apreciar o requerimento e, se indeferi-lo, fixar prazo para realização do recolhimento.
STJ. Corte Especial. EAREsp 742240-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 19/9/18 (Info 643).
Quem tem direito à gratuidade da justiça? Tem direito à gratuidade da justiça a pessoa
natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as
custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios (art. 98 do CPC/15).
Exemplo: Em 2015, antes do NCPC, Juan, nacional da Colômbia, residente em Bogotá, propôs
ação no Brasil e requereu a concessão dos benefícios da gratuidade da justiça. O pedido foi
negado pelo fato de ele não ser residente no Brasil, conforme exigia o art. 2º da Lei nº 1.060/50.
Juan não se conformou e recorreu contra a decisão. Antes que o TJ julgasse o recurso, entrou
em vigor o CPC/2015.
O TJ poderá aplicar a nova regra do art. 98 e conceder a gratuidade da justiça? SIM. Isso
porque se trata de norma de direito processual, portanto, a sua incidência é imediata,
aplicando-se aos processos em curso, consoante dispõe o artigo 14 do CPC/2015:
(...) 1. O artigo 2º da Lei 1.060/50 fora revogado pelo Novo Código de Processo
Civil, cuja matéria passou a ser disciplinada no artigo 98 do CPC/2015 (...)
1.1. Trata-se de norma de direito processual, portanto, a sua incidência é
imediata, aplicando-se aos processos em curso, consoante dispõe o artigo 14 do
CPC/2015.
2. Em que pese à época da apreciação da matéria pelo Tribunal de piso, a
legislação em vigor não prever a possibilidade de concessão da assistência
judiciária ao estrangeiro residente no exterior, com a vigência das novas regras
processuais passou-se a admitir tal hipótese.
2.1. O caput do artigo 98 do Código de Processo Civil vigente ampliou o rol dos
sujeitos que podem ser beneficiados pela concessão da assistência judiciária, em
relação ao disposto no revogado artigo 2º da Lei 1.060/50. Portanto, não há
qualquer impeditivo legal à pessoa estrangeira residente no exterior de postular
a assistência judiciária gratuita e ter deu pedido apreciado pelo juízo. (...)
STJ. 4ª Turma. REsp 1225854/RS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em
25/10/2016.
Assim, negado o pedido de gratuidade de justiça, com base no art. 2º da Lei 1.060/50, vigente
à época, o estrangeiro não residente no Brasil pode voltar a formulá-lo, já sob a vigência do
atual CPC.
60.3. Recurso contra a decisão que julga a impugnação à justiça gratuita – (Info 615)
Qual é o recurso cabível contra a decisão que acolhe ou rejeita a impugnação à gratuidade
de justiça?
Antes do CPC/2015: apelação.
Depois do CPC/2015: agravo de instrumento.
Se a parte ingressou com a impugnação antes do CPC/2015, mas esta somente foi julgada
após a vigência do novo Código, qual é o recurso que deverá ser interposto contra essa
decisão que rejeitou ou acolheu a impugnação?
Agravo de instrumento. Cabe agravo de instrumento contra o provimento jurisdicional
que, após a entrada em vigor do CPC/2015, acolhe ou rejeita incidente de impugnação à
gratuidade de justiça instaurado, em autos apartados, na vigência do regramento anterior.
Aplica-se aqui o princípio do tempus regit actum, no qual se fundamenta a teoria do
isolamento dos atos processuais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.666.321-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 7/11/17 (Info 615).
OBS:
Garantia de assistência jurídica integral e gratuita: A CF/88 prevê a garantia da assistência
jurídica integral e gratuita em seu art. 5º, LXXIV: “o Estado prestará assistência jurídica integral e
gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”.
Quem tem direito à gratuidade da justiça? Tem direito à gratuidade da justiça a pessoa
natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as
custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios (art. 98 do CPC-2015).
A pessoa beneficiada pela justiça gratuita está dispensada do pagamento de quais verbas?
Segundo o § 1º do art. 98 do CPC/2015, a gratuidade da justiça compreende:
I - as taxas ou as custas judiciais;
II - os selos postais;
III - as despesas com publicação na imprensa oficial, dispensando-se a
publicação em outros meios;
IV - a indenização devida à testemunha que, quando empregada, receberá do
empregador salário integral, como se em serviço estivesse;
V - as despesas com a realização de exame de código genético - DNA e de
outros exames considerados essenciais;
VI - os honorários do advogado e do perito e a remuneração do intérprete ou do
tradutor nomeado para apresentação de versão em português de documento
redigido em língua estrangeira;
VII - o custo com a elaboração de memória de cálculo, quando exigida para
instauração da execução;
VIII - os depósitos previstos em lei para interposição de recurso, para
propositura de ação e para a prática de outros atos processuais inerentes ao
exercício da ampla defesa e do contraditório;
IX - os emolumentos devidos a notários ou registradores em decorrência da
prática de registro, averbação ou qualquer outro ato notarial necessário à
efetivação de decisão judicial ou à continuidade de processo judicial no qual o
benefício tenha sido concedido.
Multas processuais: Mesmo sendo beneficiária da justiça gratuita, a pessoa terá o dever de
pagar, ao final, as multas processuais que lhe foram impostas (§ 4º do art. 98 do CPC-2015).
Ex: multa por litigância de má-fé.
Recurso contra a decisão que INDEFERE ou REVOGA o benefício: O juiz pode indeferir por
meio de decisão interlocutória ou na própria sentença.
Se for por decisão interlocutória: o recurso cabível é o agravo de instrumento.
Se for por sentença: o recurso será a apelação.
A parte contrária poderá impugnar o pedido de justiça gratuita? SIM. Isso é comumente
chamado de “impugnação à justiça gratuita”, “impugnação à concessão do benefício de
assistência judiciária gratuita” ou “revogação da justiça gratuita”. Veja como o CPC/2015
trata sobre o tema (art. 100):
A parte poderá oferecer impugnação à justiça gratuita na:
Na contestação;
Na réplica;
Nas contrarrazões do recurso; ou
Nos casos de pedido superveniente ou formulado por terceiro, a impugnação será
feita por meio de petição simples.
Qual é o recurso cabível contra a decisão que acolhe ou rejeita a impugnação à gratuidade
de justiça?
Antes do CPC/2015: apelação.
Depois do CPC/2015: agravo de instrumento (exceção: se a impugnação for decidida
na própria sentença, como um de seus capítulos).
Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação hipotética: João ingressou com ação
contra a empresa “XYZ”. O autor pediu a gratuidade da justiça, o que foi deferido pelo
magistrado. A ré ingressou, então, com impugnação à gratuidade de justiça. Como isso
ocorreu em janeiro/2016, a ré apresentou essa impugnação em autos apartados, conforme
exigia a Lei nº 1.050/60. Em julho/2016, ou seja, já na vigência do CPC/2015, que revogou
quase que integralmente a Lei nº 1.050/60, o juiz acolheu a impugnação oferecida e revogou
o benefício concedido a Joao.
João não se conforma e quer recorrer. Qual deverá ser o recurso interposto por ele para
tentar modificar a decisão que julgou o incidente de impugnação à justiça gratuita? Agravo
de instrumento.
O STJ, acolhendo esse princípio, decidiu que “a lei a reger o recurso cabível e a forma de sua
interposição é aquela vigente à data da publicação da decisão impugnada, ocasião em que o sucumbente
tem a ciência da exata compreensão dos fundamentos do provimento jurisdicional que pretende
combater” (AgInt nos EDcl no AREsp 949.997/AM, 3ª Turma, DJe de 21/09/2017).
Dessa maneira, apesar de instaurado o incidente em autos apartados, o recurso cabível contra
o referido provimento jurisdicional é o agravo de instrumento, segundo a lei processual
vigente à época da prolação da decisão recorrida (CPC/2015).
60.4. O art. 12, § 2º do Estatuto da Cidade estabelece uma presunção relativa de que o autor
da ação de usucapião especial urbana é hipossuficiente – (Info 599) – IMPORTANTE!!!
O Estatuto da Cidade, ao tratar sobre a ação de usucapião especial urbana, prevê que "o
autor terá os benefícios da justiça e da assistência judiciária gratuita, inclusive perante o
cartório de registro de imóveis."
Isso significa que o autor da ação de usucapião especial urbana gozará sempre da
gratuidade da justiça? Há uma presunção absoluta de que este autor não tem recursos
suficientes para pagar as custas? NÃO.
O art. 12, § 2º da Lei 10.257/01 (Estatuto da Cidade) estabelece uma presunção relativa de
que o autor da ação de usucapião especial urbana é hipossuficiente. Isso significa que essa
presunção pode ser ilidida (refutada) a partir da comprovação inequívoca de que o autor
não é considerado "necessitado".
STJ. 3ª Turma. REsp 1.517.822-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 21/2/17 (Info 599).
OBS:
Por que se diz que o art. 12, § 2º, do Estatuto da Cidade prevê apenas uma presunção
relativa? Porque, segundo o STJ, o art. 12, §2º, da Lei 10.257/01 não pode ser lido
isoladamente, devendo ser interpretado em conjunto e harmonia com as regras sobre
gratuidade da justiça, que estão previstas nos arts. 98 a 102 do CPC/2015. A intenção do § 2º
do art. 12 do Estatuto da Cidade foi a de amparar a população de baixa renda, que
normalmente é aquela a quem a ação de usucapião especial urbana visa proteger, além de
criar uma espécie de presunção inicial da hipossuficiência do autor. Apesar de a redação da
norma não ser muito clara, é possível concluir que a presunção de hipossuficiência prevista
no § 2º do art. 12 é relativa. Assim, o juiz, ao receber a inicial da usucapião urbana, deverá
deferir a gratuidade da justiça pelo simples fato de ter sido requerida. No entanto, por outro
lado, deverá negar o benefício se houver comprovação inequívoca de que o autor não poderia
ser considerado "necessitado", ou seja, se não preencher os requisitos do art. 98 do CPC/2015:
Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência
de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários
advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.
Dessa forma, o art. 12, § 2º, da Lei 10.257/01 não criou uma hipótese de concessão de
benefícios da justiça gratuita completamente dissociada das normas processuais que regem o
tema. O referido dispositivo legal, portanto, deve ser interpretado em conjunto e em
harmonia com as disposições dos arts. art. 98 a 102 do CPC/2015.
O autor respondeu ao despacho afirmando que celebrou com o advogado contrato ad exitum,
ou seja, ele não pagou nada ainda e o profissional só receberá caso a ação seja julgada
procedente, hipótese na qual o requerente entregará um percentual de 30% sobre o que vier a
receber do réu.
O que acontecerá neste caso? O autor terá direito ao benefício da justiça gratuita? SIM. É o
que decidido no Info 590.
O STJ possui entendimento consolidado no sentido de que a parte que celebrou com seu
advogado contrato de honorários com cláusula ad exitum possui direito de receber os
benefícios da justiça gratuita. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp 1.404.556/RS, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 10/6/2014.
Essa solução é consentânea com o propósito da Lei, pois garante ao cidadão de poucos
recursos o direito de escolher o advogado que, aceitando o risco de não auferir remuneração
no caso de indeferimento do pedido, melhor represente seus interesses em juízo.
Além disso, esta exigência feita pelo magistrado de que o advogado deverá apresentar
declaração de patrocínio gratuito incondicional não encontra previsão na lei, tendo sido,
portanto, criado um novo requisito em afronta ao princípio da legalidade (art. 5º, II, da
CF/88).
60.7. Pedido de assistência judiciária gratuita em sede recursal pode ser feito na própria
petição recursal – (Info 574) – ATENÇÃO! MUDANÇA DE ENTENDIMENTO! ATUALIZE
INFO 2013!
Imagine que o juiz conceda o benefício da justiça gratuita logo no início do processo de
conhecimento (ex: na petição inicial ou na contestação). É necessário que a parte refaça esse
pedido quando se iniciarem as outras fases do processo (ex: na fase de recurso, na fase de
execução etc.) ou caso tenha incidentes processuais?
NÃO. Quando a assistência judiciária gratuita for deferida, a eficácia da concessão do
benefício prevalecerá, independentemente de renovação de seu pedido, em todas as
instâncias e para todos os atos do processo – alcançando, inclusive, as ações incidentais ao
processo de conhecimento, os recursos, as rescisórias, assim como o subsequente processo
de execução e eventuais embargos à execução.
Assim, depois de a justiça gratuita ter sido concedida, ela irá perdurar automaticamente
até o final do processo, e só perderá sua eficácia se o juiz ou o Tribunal expressamente
revogarem caso tenha comprovadamente melhorado a condição econômico-financeira do
beneficiário.
Ex: João ajuizou ação de indenização contra Pedro e pediu o benefício da justiça gratuita,
o que foi deferido pelo magistrado logo na decisão inicial. O juiz julgou o pedido
improcedente. João interpôs apelação. O autor não precisará recolher as custas porque já
lhe foi deferida justiça gratuita (e isso ainda está valendo). No recurso proposto, João não
necessita pedir novamente o benefício. Imaginemos que o Tribunal condene Pedro a
pagar a indenização. No momento do cumprimento de sentença (fase de execução), João
continuará tendo direito à justiça gratuita mesmo que não faça novo pedido nesse sentido.
STJ. Corte Especial. AgRg nos EAREsp 86.915-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em
26/2/2015 (Info 557).
60.9. Beneficiário da justiça gratuita tem direito de requerer auxílio da contadoria judicial
para elaboração de seus cálculos – (Info 540)
61.2. A Súmula 345 do STJ continua válida mesmo com o art. 85, § 7º, do CPC/2015 – (Info
628) – IMPORTANTE!!!
Município tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa de
direitos consumeristas questionando a cobrança de tarifas bancárias.
Em relação ao Ministério Público e aos entes políticos, que têm como finalidades
institucionais a proteção de valores fundamentais, como a defesa coletiva dos
consumidores, não se exige pertinência temática e representatividade adequada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1509586-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/5/18 (Info 626).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: O Município de Brusque (SC) ajuizou ação civil
pública contra o HSBC Bank Brasil S.A. alegando que seria ilegal uma tarifa bancária
denominada “renovação de cadastro” que estava sendo cobrada das contas bancárias. O
banco contestou a demanda alegando, entre outros argumentos, que o Município não tem
legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa de direitos consumeristas
questionando a cobrança de uma tarifa bancária.
O que decidiu o STJ? O Município tem legitimidade? SIM. É o que foi decidido no Info 626
do STJ.
61.4. Associação de defesa do consumidor não tem legitimidade para ajuizar ACP
discutindo DPVAT – (Info 618) – IMPORTANTE!!! – (TJSC-2019) (TJBA-2019)
Uma associação que tenha fins específicos de proteção ao consumidor não possui
legitimidade para o ajuizamento de ação civil pública com a finalidade de tutelar
interesses coletivos de beneficiários do seguro DPVAT. Isso porque o seguro DPVAT não
tem natureza consumerista, faltando, portanto, pertinência temática.
STJ. 2ª S. REsp 1091756-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, j.
13/12/17 (Info 618).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Uma associação chamada “Movimento das donas de
casa e consumidores de Minas Gerais” ajuizou ação civil pública contra a “Sul América Seguros”
alegando que esta seguradora, quando vai pagar as indenizações do DPVAT, não tem
adotado os critérios corretos para o cálculo dos valores, de forma que tem pagado menos do
que os beneficiários teriam direito. A seguradora alegou que a autora seria parte ilegítima
para a causa. Isso porque o estatuto desta associação prevê que a sua finalidade é a defesa
dos consumidores e a relação jurídica dos beneficiários com as seguradoras do DPVAT não é
de consumo. Logo, o pedido formulado pela associação não teria relação com a sua
finalidade estatutária.
A tese da seguradora foi aceita pelo STJ? SIM. Uma associação que tenha fins específicos de
proteção ao consumidor não possui legitimidade para o ajuizamento de ação civil pública
com a finalidade de tutelar interesses coletivos de beneficiários do seguro DPVAT. STJ. 2ª
Seção. REsp 1.091.756-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 13/12/2017 (Info 618).
DPVAT não é uma relação de consumo: O seguro DPVAT não é baseado em uma relação
jurídica contratual. Trata-se de um seguro obrigatório por força de lei, que tem por objetivo
mitigar os danos advindos da circulação de veículos automotores. Em se tratando de
obrigação imposta por lei, não há, por conseguinte, qualquer acordo de vontade e,
principalmente, voluntariedade entre o proprietário do veículo e as seguradoras
componentes do consórcio do seguro DPVAT, o que, por si, evidencia que não se trata de
contrato. A estipulação da indenização securitária em favor da vítima do acidente, assim
como as específicas hipóteses de cabimento (morte, invalidez permanente, total e parcial, e
por despesas de assistência médica e suplementares) decorrem exclusivamente de imposição
legal, e, como tal, não comportam qualquer temperamento das partes envolvidas. Nesse
contexto, não há, por parte das seguradoras integrantes do consórcio do seguro DPVAT,
responsáveis por realizarem o pagamento, qualquer ingerência nas regras relativas à
indenização securitária. Ao contrário do que ocorre no caso de seguro facultativo (esta, sim,
sujeita ao CDC), a atuação das seguradoras integrantes do consórcio do seguro DPVAT não
é concorrencial nem se destina à obtenção de lucro, na medida em que a respectiva
arrecadação possui destinação legal específica. Tampouco seria possível falar em
vulnerabilidade, na acepção técnico-jurídica, das vítimas de acidente de trânsito - e muito
menos do proprietário do veículo a quem é imposto o pagamento do "prêmio" do seguro
DPVAT - perante as seguradoras, as quais não possuem qualquer margem discricionária para
efetivação do pagamento da indenização securitária, sempre que presentes os requisitos
estabelecidos na lei. Em suma, não há relação de consumo entre as vítimas do acidente ou
beneficiárias e as seguradoras do DPVAT, não se aplicando as normas protetivas do
Código de Defesa do Consumidor. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp 1.635.398-PR, Rel.
Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 17/10/17 (Info 614).
Associação tem por finalidade a defesa do consumidor: Como não há, no caso, uma relação
de consumo, não se mostra correto aceitar que uma associação que tem fins específicos de
proteção ao consumidor possa ter legitimidade para propor uma ação civil pública fazendo
pedido relacionado com o tema.
61.5. Não se aplica a remessa necessária do art. 19 da LAP para as ações coletivas tutelando
direitos individuais homogêneos – (Info 612)
Não se admite o cabimento da remessa necessária, tal como prevista no art. 19 da Lei
4.717/65, nas ações coletivas que versem sobre direitos individuais homogêneos.
Ex: ação proposta pelo MP tutelando direitos individuais homogêneos de consumidores.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.374.232-ES, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 26/9/17 (Info 612).
OBS:
Noções gerais sobre o reexame necessário: O chamado “reexame necessário” ou “duplo grau
de jurisdição obrigatório” é um instituto previsto no art. 496 do CPC/2015 e em algumas leis
esparsas:
Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão
depois de confirmada pelo tribunal, a sentença:
I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas
respectivas autarquias e fundações de direito público;
II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal.
§ 1º Nos casos previstos neste artigo, não interposta a apelação no prazo legal, o
juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunal, e, se não o fizer, o presidente do
respectivo tribunal avocá-los-á.
§ 2º Em qualquer dos casos referidos no § 1o, o tribunal julgará a remessa
necessária.
Obs: o reexame necessário não possui natureza jurídica de recurso. Desse modo, é
tecnicamente incorreto denominar este instituto de “recurso ex officio”, “recurso de ofício”
ou “recurso obrigatório”.
Exceções ao reexame necessário: O CPC prevê, em dois parágrafos, situações em que, mesmo
a sentença se enquadrando nos incisos do art. 496, não haverá a obrigatoriedade do reexame
necessário:
§ 3º Não se aplica o disposto neste artigo quando a condenação ou o proveito
econômico obtido na causa for de valor certo e líquido inferior a:
I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias e
fundações de direito público;
II - 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as
respectivas autarquias e fundações de direito público e os Municípios que
constituam capitais dos Estados;
III - 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais Municípios e respectivas
autarquias e fundações de direito público.
§ 4º Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver
fundada em:
I - súmula de tribunal superior;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal
de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas
ou de assunção de competência;
IV - entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito
administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer
ou súmula administrativa.
Reexame necessário “invertido” previsto na Lei de Ação Popular: A Lei nº 4.717/65 prevê
que se o juiz concluir pela carência ou pela improcedência da ação popular, essa sentença
estará sujeita ao reexame necessário. Veja:
Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação
está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de
confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação procedente caberá apelação, com
efeito suspensivo.
Assim, quando a sentença da ação popular for procedente, não haverá reexame necessário.
Perceba, portanto, que o art. 19 inverte a lógica da remessa necessária do CPC. Pelo CPC, se a
Fazenda “perde”, haverá reexame. Na ação popular, o reexame necessário ocorre se o
cidadão perde. Em virtude disso, podemos dizer que esse art. 19 traz uma hipótese de duplo
grau de jurisdição invertido, ou seja, um duplo grau que ocorre em favor do cidadão (e não
necessariamente da Fazenda Pública).
É possível aplicar esse art. 19 da Lei nº 4.717/65 para as AÇÕES CIVIS PÚBLICAS? Em
regra, sim. O STJ entende que é possível aplicar, por analogia, a primeira parte do art. 19 da
Lei nº 4.717/65 para as sentenças de improcedência de ação civil pública. Nesse sentido: STJ.
2ª Turma. AgInt no REsp 1596028/MG, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/09/2017.
Ex: ação proposta pelo Ministério Público pleiteando a defesa dos direitos dos consumidores
contra empresa de seguros.
Se forem analisadas as razões que levaram o STJ a considerar que deveria ser aplicado o art.
19 da Lei da Ação Popular às ações civis públicas, será possível concluir que isso ocorreu em
virtude da transindividualidade dos direitos nela tutelados, de forma que a sua relevância
para a coletividade como um todo justificaria esse cuidado.
No entanto, em caso de ações coletivas que tutelam direitos individuais homogêneos, não
se observa essa necessidade. Isso porque os direitos individuais homogêneos são apenas
acidentalmente coletivos, não sendo transindividuais nem atingindo a coletividade como
um todo.
61.6. MP não pode obter, em ACP, informações bancárias sobre os clientes da instituição
porque estas são protegidas pelo sigilo bancário – (Info 607)
Ministério Público, mesmo gozando de legitimidade extraordinária, não pode decidir sobre o
sigilo do consumidor: É certo que o próprio consumidor pode afastar o sigilo, ou seja, ele
mesmo poderia requerer judicialmente as informações bancárias a seu respeito e o banco não
poderia recusar. Por outro lado, não se pode aceitar que o MP, ainda que atuando sob o pálio
da legitimidade extraordinária, queira afastar uma garantia personalíssima dos
consumidores requerendo a divulgação irrestrita de dados protegidos. Ainda que o intuito
declarado pelo Parquet seja tão somente o de colher provas que demonstrem a realização de
venda casada, não se pode aceitar tamanha invasão indiscriminada à intimidade do
consumidor.
Direitos individuais homogêneos: Deve-se ainda ter em mente que a pretensão veiculada na
presente demanda tem por objetivo a tutela de direitos individuais homogêneos – direitos
acidentalmente coletivos – atuando o MP como mero substituto processual das vítimas da
conduta abusiva. Desse modo, enquanto legitimado extraordinário, não lhe é dado atuar de
forma dispositiva, abrindo mão de interesses personalíssimos, em nome de quem é por ele
substituído na demanda.
61.7. Mesmo sem 1 ano de constituição, associação poderá ajuizar ACP para que
fornecedor preste informações ao consumidor sobre produtos com glúten – (Info 591) –
(TJSC-2019)
Como regra, para que uma associação possa propor ACP, ela deverá estar constituída há
pelo menos 1 ano.
Exceção. Este requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz quando haja
manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela
relevância do bem jurídico a ser protegido (§ 4º do art. 5º da Lei nº 7.347/85). Neste caso, a
ACP, mesmo tendo sido proposta por uma associação com menos de 1 ano, poderá ser
conhecida e julgada.
Como exemplo da situação descrita no § 4º do art. 5º, o STJ decidiu que:
É dispensável o requisito temporal (pré-constituição há mais de um ano) para associação
ajuizar ação civil pública quando o bem jurídico tutelado for a prestação de informações
ao consumidor sobre a existência de glúten em alimentos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.600.172-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 15/9/16 (Info 591).
OBS:
Quem são os legitimados para propor ação civil pública? O rol dos legitimados para a ACP
está previsto no art. 5º da Lei nº 7.347/85:
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
I - o Ministério Público;
II - a Defensoria Pública;
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;
V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público
e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre
concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao
patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
Requisito da pré-constituição
REGRA: como vimos acima, para que uma associação possa propor ACP, ela deverá
estar constituída há pelo menos 1 ano.
EXCEÇÃO: este requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz
quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica
do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido (§ 4º do art. 5º da Lei
7.347/85). Neste caso, a ACP, mesmo tendo sido proposta por uma associação com
menos de 1 ano, poderá ser conhecida e julgada.
A decisão do juiz foi correta, segundo o STJ? NÃO. O STJ entendeu que o juiz deveria ter
dispensado o requisito temporal de 1 ano da associação, considerando que está presente no
caso o interesse social evidenciado pela dimensão do dano e pela relevância do bem jurídico
tutelado. É fundamental assegurar os direitos de informação e segurança ao consumidor
celíaco, que se vê forçado a seguir uma dieta isenta de glúten, sob pena de sofrer graves
riscos à saúde. Desse modo, a pretensão veiculada na ACP, em última análise, tem por
objetivo a garantia de uma vida digna para esse grupo de pessoas.
Uma última pergunta correlata. Suponha que determinada associação, quando propôs a
ACP, não tinha ainda 1 ano de constituição. No entanto, ela completa este tempo no curso
do feito, antes que o juiz extinga o processo por ilegitimidade. Neste caso, a falta desse
requisito é suprida? O magistrado poderá continuar com o processo? SIM. Em observância
aos princípios da economia processual e efetividade da jurisdição, deve ser reconhecida a
legitimidade ativa da associação que complete 1 ano de constituição durante o curso do
processo (STJ. 3ª Turma. REsp 705.469/MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 16/06/05).
61.8. Cabe ACP com o objetivo de proibir tráfico de veículos pesados no Município – (Info
591) – IMPORTANTE!!!
É cabível ação civil pública proposta por Ministério Público Estadual para pleitear que
Município proíba máquinas agrícolas e veículos pesados de trafegarem em perímetro
urbano deste e torne transitável o anel viário da região.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.294.451-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 1/9/16 (Info 591).
OBS:
Poder Judiciário pode intervir quando a Administração deixa de promover políticas
públicas: Os Poderes da República são independentes e harmônicos entre si (art. 2º da
CF/88). O Poder Executivo tem prioridade na implementação de políticas públicas. No
entanto, em termos abstratos, o ordenamento jurídico em vigor permite que o Poder
Judiciário seja chamado a intervir em situações nas quais exista uma ação ou uma omissão
ilegítima do administrador público. Assim, não é vedado ao Poder Judiciário debater o
mérito administrativo. Se a Administração deixar de promover políticas públicas, de proteger
hipossuficientes, de garantir o funcionamento dos serviços públicos, haverá vício ou
flagrante ilegalidade a justificar a intervenção judicial (STJ. 2ª T. REsp 1176552/PR, Rel. Min.
Herman Benjamin, j. 22/2/11).
No caso dos autos, a relevância social é mais que evidente. Há notícia de que o intenso
trânsito dos caminhões e máquinas pesadas no perímetro urbano tem causado acidentes
fatais e problemas de saúde aos munícipes. O ordenamento do trânsito de veículos no
perímetro das cidades tem importância central nas sociedades modernas e repercute em
inúmeros assuntos de interesse público.
Lei prevê a ACP como meio para discutir ordem urbanística: O art. 1º, VI e o art. 3º da Lei
7.347/85 preveem que a ação civil pública é meio processual adequado para discutir temas
relacionados com a ordem urbanística e para a obtenção de provimento jurisdicional
condenatório de obrigação de fazer:
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as
ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (...)
VI - à ordem urbanística.
Existe precedente do STJ afirmando que a ACP é ação adequada para discutir tema
relacionado com a segurança no trânsito: STJ. 1ª Turma. REsp 725257/MG, Rel. Min. José
Delgado, julgado em 10/04/2007.
E quanto ao mérito? A ACP foi julgada procedente? O mérito ainda não foi examinado. O STJ
decidiu apenas que a ACP proposta deverá ser conhecida, considerando que se trata de meio
processual idôneo para veicular este tipo de pretensão. No mérito, ainda serão discutidas
inúmeras outras questões, como por exemplo: saber se o Município dispõe de recursos
suficientes para fazer a obra, se há necessidades ainda mais prementes da população, se
existem formas alternativas de solucionar o problema etc.
61.9. Extensão dos efeitos de coisa julgada coletiva a autores de ações individuais não
suspensas – (Info 585) – IMPORTANTE!!!
Os autores de ações individuais em cujos autos não foi dada ciência do ajuizamento de
ação coletiva e que não requereram a suspensão das demandas individuais podem se
beneficiar dos efeitos da coisa julgada formada na ação coletiva.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.593.142-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 7/6/16 (Info 585).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Os servidores públicos de determinado Estado-
membro possuem direito a uma gratificação que não está sendo paga pela Administração
Pública. Em razão disso, centenas desses servidores ingressaram com ações individuais
contra o Estado-membro, pedindo a concessão da gratificação. Além disso, a associação dos
servidores públicos deste Estado ajuizou uma ação civil pública com o mesmo pedido, ou
seja, que a gratificação seja concedida a todos os servidores integrantes da associação.
O juiz, ao receber a ação coletiva proposta pela associação, poderá determinar a suspensão
das ações individuais que estejam tramitando e que tenham o mesmo objeto? SIM. Segundo
o STJ, ajuizada ação coletiva atinente a macrolide geradora de processos multitudinários,
suspendem-se as ações individuais, no aguardo do julgamento da ação coletiva (STJ. 2ª Seção.
REsp 1110549/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 28/10/2009). Assim, é possível
determinar a suspensão do andamento de processos individuais até o julgamento, no âmbito
de ação coletiva, da questão jurídica de fundo neles discutida, ou seja, até que se decida se a
gratificação é devida ou não.
Imaginemos, no entanto, que o juiz recebeu a ação coletiva, mas não determinou a suspensão
das ações individuais. O que acontece neste caso? Em princípio, a ação coletiva e as ações
individuais continuarão tramitando.
Mas não há, neste caso, litispendência? NÃO. As ações coletivas não induzem (provocam)
litispendência para as ações individuais (art. 104 do CDC).
Mas o resultado da ação coletiva irá beneficiar os autores das ações individuais? Suponha
que a ação coletiva seja julgada antes das ações individuais e a sentença seja procedente.
Esta decisão poderá ser executada pelos autores das ações individuais? Depende. A lei
determina o seguinte: Os autores das ações individuais deverão ser avisados que foi proposta
uma ação coletiva com o mesmo pedido. Depois de serem avisados, os autores individuais
terão que fazer uma opção no prazo de 30 dias:
1) Poderão escolher continuar com a ação individual: neste caso, não poderão
ser beneficiados com eventual decisão favorável no processo coletivo.
2) Poderão pedir a suspensão da ação individual: neste caso, os efeitos da coisa
julgada produzida na ação coletiva beneficiarão os autores das ações
individuais.
Essa regra está prevista no art. 104 do CDC, que é aplicado a todos os processos coletivos
mesmo que não envolvam direito do consumidor. Assim, apesar de estar no CDC, ela é
considerada como norma geral do processo coletivo. Veja o dispositivo:
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II do parágrafo único do
artigo 81, não induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos
da coisa julgada erga omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do
artigo anterior não beneficiarão os autores das ações individuais, se não for
requerida sua suspensão no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da ciência nos
autos do ajuizamento da ação coletiva.
Quem tem o ônus de fazer essa comunicação aos autores individuais de que foi ajuizada
uma ação coletiva com o mesmo pedido? O réu das ações. Assim, em nosso exemplo, o
Estado-membro teria que peticionar em cada uma das ações individuais informando que foi
ajuizada ação coletiva tratando sobre o tema. A partir daí, o autor individual terá o prazo de
até 30 dias para requerer a suspensão do processo individual, nos termos do art. 104 do CDC.
Caso não requeira a suspensão, seu processo individual continua normalmente, mas ele não
poderá se beneficiar da sentença coletiva.
E se o réu não fizer essa comunicação? O processo individual continua a correr normalmente,
mas, se for proferida uma decisão favorável no processo coletivo, o autor individual poderá
se beneficiar dela. Desse modo, se a ação coletiva for julgada procedente e transitar em
julgado, o autor individual que não foi comunicado formalmente pelo réu de que havia sido
ajuizada uma ação coletiva, poderá requerer a desistência da ação individual e pedir a sua
habilitação para promover a execução da sentença coletiva.
Ao disciplinar a execução de sentença coletiva, o art. 104 do CDC dispõe que os autores
devem requerer a suspensão da ação individual que veicula a mesma questão em ação
coletiva, a fim de se beneficiarem da sentença que lhes é favorável no feito coletivo. Todavia,
compete à parte ré dar ciência aos interessados da existência desta ação nos autos da ação
individual, momento no qual começa a correr o prazo de 30 dias para a parte autora
postular a suspensão do feito individual.
Desse modo, constitui ônus do demandado dar ciência inequívoca da propositura da ação
coletiva àqueles que propuseram ações individuais, a fim de que possam fazer a opção pela
continuidade do processo individual, ou requerer a sua suspensão para se beneficiar da
sentença coletiva.
Esse litisconsórcio entre os Ministérios Públicos deve ser sempre permitido? NÃO, nem
sempre. O litisconsórcio ativo facultativo entre os ramos do MPU e os MPs dos Estados, em
tese, é possível, mas desde que as circunstâncias do caso recomendem. Essa foi a decisão do
STJ.
61.11. Termo a quo do prazo prescricional das execuções individuais de sentença coletiva –
(Info 580) – (DPERN-2015) (TJSC-2019)
OBS:
Sentença coletiva: É aquela proferida em uma ação coletiva. Se a sentença for condenatória,
ela precisará ser executada para satisfazer o direito dos beneficiários. Ex: uma associação de
defesa do consumidor ingressa com ação coletiva contra determinada fabricante de remédios
que colocou em circulação um lote de medicamentos deteriorados. A sentença reconheceu o
ato ilícito e condenou a fornecedora a indenizar os consumidores lesados. Esta sentença
precisará ser executada.
Qual é o prazo para que ocorra essa execução? 5 anos, nos termos da jurisprudência
consolidada do STJ:
No âmbito do Direito Privado, é de cinco anos o prazo prescricional para
ajuizamento da execução individual em pedido de cumprimento de sentença
proferida em Ação Civil Pública. (STJ. 2ª Seção. REsp 1273643/PR, Rel. Min.
Sidnei Beneti, julgado em 27/02/2013)
Qual é o termo inicial deste prazo? O prazo prescricional para a execução individual é
contado do trânsito em julgado da sentença coletiva.
Necessidade ou não de comunicação aos eventuais beneficiários para que o prazo comece a
correr: Surgiu uma tese de que a prescrição da execução da sentença condenatória coletiva
somente deveria se iniciar após os eventuais beneficiários serem comunicados de que houve
o trânsito em julgado e que este é favorável a eles. Assim, deveria haver uma comunicação
direta aos beneficiários ou, no mínimo, a publicação de um edital avisando sobre o êxito da
ação, à semelhança do que é previsto no art. 94 do CDC:
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os
interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de
ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de
defesa do consumidor.
Esta tese foi acolhida pelo STJ? Para que comece a correr o prazo prescricional da execução,
é necessário que os eventuais interessados sejam avisados por meio de edital, nos termos do
art. 94 do CDC? NÃO. O STJ entendeu que a tese de que seria necessária nova publicação de
edital após o trânsito em julgado não encontra amparo legal. O art. 94 do CDC trata sobre a
divulgação da notícia da propositura da ação coletiva, para que eventuais interessados
possam intervir no processo ou acompanhar seu trâmite, nada estabelecendo, porém,
quanto à divulgação do resultado do julgamento. Logo, não se pode invocar este
dispositivo para sustentar a tese proposta. Diante disso, o marco inicial do prazo
prescricional aplicável às execuções individuais de sentença prolatada em processo
coletivo é contado, ante a inaplicabilidade do art. 94 do CDC, a partir do trânsito em
julgado da sentença coletiva. Note-se, ainda, que o art. 96 do CDC, que previa que
"transitada em julgado a sentença condenatória, será publicado edital (...)", foi vetado pelo
Presidente da República, de forma que não se pode pretender, por meio de interpretação,
derrubar o veto presidencial ou, eventualmente, corrigir erro formal porventura existente na
norma. Assim, em que pese o caráter social que se busca tutelar nas ações coletivas, não se
afigura possível suprir a ausência de previsão legal quanto à ampla divulgação midiática do
teor da sentença, sem romper a harmonia entre os Poderes.
61.12. Legitimidade ativa de associação para defender os interesses de seus filiados – (Info
579) – IMPORTANTE!!!
A associação não tem legitimidade ativa para defender os interesses dos associados que
vierem a se agregar somente após o ajuizamento da ação de conhecimento.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.468.734-SP, Rel. Min. Humberto Martins, j. 1º/3/16 (Info 579).
OBS:
AÇÃO COLETIVA PROPOSTA POR ASSOCIAÇÃO EM FAVOR DE SEUS FILIADOS
As associações podem propor ações coletivas em favor dos seus associados? SIM. A CF/88
autoriza que as associações façam a defesa, judicial ou extrajudicial, dos direitos e interesses
individuais e coletivos de seus associados (art. 5º, XXI, da CF/88).
A associação precisa da autorização dos associados para propor a ação na defesa de seus
interesses? SIM. O inciso XXI do art. 5º da CF/88 exige que as associações tenham sido
expressamente autorizadas. Veja:
Art. 5º (...)
XXI — as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm
legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;
Tese dos associados: Os filiados prejudicados com a decisão recorreram alegando que o
estatuto social já autoriza que a associação ingresse com ações em favor de seus filiados, de
forma que não seria necessária uma autorização específica para cada demanda a ser
proposta. Sustentaram que o art. 5º, XXI, da CF/88 não exige que se colha uma autorização
individual dos filiados para cada ação ajuizada pelas associações, sob pena de se esvaziar a
atribuição de tais entidades na defesa dos seus membros. Aduziram, ainda, que a associação
atuou na qualidade de substituto processual, razão pela qual não seria necessária a
autorização, considerando que isso já consta expressamente de seu estatuto.
O STF concordou com os argumentos invocados pelos filiados? NÃO. Segundo decidiu o
STF, a autorização estatutária genérica conferida à associação não é suficiente para legitimar
a sua atuação em juízo na defesa de direitos de seus filiados. Assim, para cada ação a ser
proposta, é indispensável que os filiados autorizem de forma expressa e específica a
demanda. Essa é a interpretação que deve ser dada ao inciso XXI do art. 5º da CF/88:
Art. 5º (...) XXI — as entidades associativas, quando expressamente autorizadas,
têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;
O tema foi decidido pelo STF em sede de repercussão geral, tendo sido firmada a seguinte
tese:
O disposto no artigo 5º, inciso XXI, da Carta da República encerra representação
específica, não alcançando previsão genérica do estatuto da associação a
revelar a defesa dos interesses dos associados. As balizas subjetivas do título
judicial, formalizado em ação proposta por associação, é definida pela
representação no processo de conhecimento, presente a autorização expressa
dos associados e a lista destes juntada à inicial. STF. Plenário. RE 573232/SC, rel.
orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, j.
14/5/2014 (Info 746).
Como deverá ser feita essa autorização? A autorização poderá ser manifestada:
por declaração individual do associado; ou
por aprovação na assembleia geral da entidade.
Logo, no caso concreto, como não foi aprovada na assembleia geral da entidade, somente os
associados que apresentaram, na data da propositura da ação de conhecimento, autorizações
individuais expressas, puderam executar o título judicial proferido na ação coletiva.
Conforme deixou claro o STF, essa autorização é um traço que distingue a legitimidade das
entidades associativas (art. 5º, XXI) em relação à legitimidade das entidades sindicais (art. 8º,
III).
Quadro-resumo:
Em palavras mais simples, no momento em que a associação ajuíza a demanda, ela deverá
juntar aos autos autorização expressa dos associados para a propositura dessa ação e uma
lista com os nomes de todos as pessoas que estão associadas naquele momento.
A associação não tem legitimidade ativa para defender os direitos de pessoas que, depois da
propositura da ação, vierem a se agregar à entidade.
Caso a ação seja julgada procedente, o título executivo irá beneficiar apenas os associados
cujos nomes estão na lista de filiados juntada com a petição inicial. Só essas pessoas é que
poderão executar o título.
OBS1: Art. 103, III, do CDC: Uma leitura precipitada do inc. III do art. 103 do CDC poderia
levar à equivocada conclusão de que apenas em caso de procedência da ação coletiva seria
proibida a nova propositura de ação coletiva idêntica. Esta, contudo, não é a interpretação
dada pelo STJ. O inc. III deve ser lido em conjunto com o § 2º, que estabelece: “§ 2º Na hipótese
prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os interessados que não tiverem intervindo
no processo como litisconsortes poderão propor ação de indenização a título individual.”
OBS2: Interpretando o inciso III em conjunto com o § 2º do art. 103, o STJ chegou à seguinte
conclusão:
1) Se a ação coletiva envolvendo direitos individuais homogêneos for julgada
PROCEDENTE: a sentença fará coisa julgada erga omnes e qualquer consumidor
pode se habilitar na liquidação e promover a execução, provando o dano sofrido.
2) Se a ação coletiva envolvendo direitos individuais homogêneos for julgada
IMPROCEDENTE (não importa o motivo):
2.a) os interessados individuais que não tiverem intervindo no processo coletivo
como litisconsortes (art. 94 do CDC) poderão propor ação de indenização a título
individual. Ex: os consumidores do medicamento que não tiverem atendido ao
chamado do art. 94 do CDC e não tiverem participado da primeira ação coletiva
poderão ajuizar ações individuais de indenização contra a empresa.
2.b) não cabe a repropositura de nova ação coletiva mesmo que por outro
legitimado coletivo (não importa se ele participou ou não da primeira ação; não
pode nova ação coletiva).
A Defensoria Pública tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa de
interesses individuais homogêneos de consumidores idosos que tiveram plano de saúde
reajustado em razão da mudança de faixa etária, ainda que os titulares não sejam carentes
de recursos econômicos.
A atuação primordial da Defensoria Pública, sem dúvida, é a assistência jurídica e a
defesa dos necessitados econômicos. Entretanto, também exerce suas atividades em
auxílio a necessitados jurídicos, não necessariamente carentes de recursos econômicos.
A expressão "necessitados" prevista no art. 134, caput, da CF/88, que qualifica e orienta a
atuação da Defensoria Pública, deve ser entendida, no campo da Ação Civil Pública, em
sentido amplo. Assim, a Defensoria pode atuar tanto em favor dos carentes de recursos
financeiros como também em prol do necessitado organizacional (que são os
"hipervulneráveis").
STJ. Corte Especial. EREsp 1.192.577-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 21/10/15 (Info 573)
(TJSC-2019-CESPE): A respeito da defesa do consumidor em juízo, assinale a opção
correta: A Defensoria Pública tem legitimidade para ajuizar ação civil pública em defesa
de direitos individuais homogêneos de consumidores idosos, independentemente da
comprovação de hipossuficiência econômica dos beneficiários. BL: Info 573, STJ.
61.15. Afastamento de ofício da presunção de legitimação de associação para propositura de
ação coletiva – (Info 572) – IMPORTANTE!!!
A legitimidade de uma associação para a propositura de ACP pode ser afastada pelo fato de
o estatuto da associação ser exageradamente genérico?
SIM. O argumento de que o estatuto da associação é desmesuradamente genérico tem
respaldo na jurisprudência do STJ. Embora a finalidade da associação, prevista no
estatuto, possa ser razoavelmente genérica, não pode ser, entretanto, desarrazoada, sob
pena de admitirmos a criação de uma associação civil para a defesa de qualquer interesse,
o que desnaturaria a exigência de representatividade adequada do grupo lesado.
STJ. 4ª T. REsp 1.213.614-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 1º/10/2015 (Info 572).
61.16. Alteração de polo ativo de ação civil pública promovida por associação - (Info 570)
Caso ocorra dissolução da associação que ajuizou ação civil pública, não é possível sua
substituição no polo ativo por outra associação, ainda que os interesses discutidos na ação
coletiva sejam comuns a ambas.
STJ. 3ª T. REsp 1.405.697-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 17/9/2015 (Info 570).
O MP tem legitimidade para propor ação civil pública objetivando a liberação do saldo de
contas PIS/PASEP, na hipótese em que o titular da conta - independentemente da obtenção
de aposentadoria por invalidez ou de benefício assistencial - seja incapaz e insusceptível
de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, bem como na
hipótese em que o próprio titular da conta ou quaisquer de seus dependentes for
acometido das doenças ou afecções listadas na Portaria Interministerial MPAS/MS
2.998/2001.
Esse pedido veiculado diz respeito a direitos individuais homogêneos que gozam de
relevante interesse social. Logo, o interesse tutelado referente à liberação do saldo do
PIS/PASEP, mesmo se configurando como individual homogêneo, mostra-se de relevante
interesse à coletividade, tornando legítima a propositura de ação civil pública pelo
Ministério Público, visto que se subsume aos seus fins institucionais.
STJ. 2ª T. REsp 1.480.250-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/8/2015 (Info 568).
61.18. Impossibilidade de execução individual de sentença coletiva por pessoa não filiada à
associação autora da ação coletiva – (Info 565) – TEMA POLÊMICO!!!
A associação dos servidores públicos federais do órgão "XX" ajuizou ação coletiva pedindo
que fosse reconhecida e paga determinada gratificação devida à classe. A ação foi julgada
procedente, tendo transitado em julgado. João é servidor público federal do órgão "XX",
mas não é nem nunca foi filiado à referida associação. Mesmo sem ser associado, João
poderá pegar a sentença proferida na ação coletiva e ajuizar execução individual cobrando
o pagamento das verbas relacionadas com a aludida gratificação?
Entendimento tradicional do STJ: SIM. Existem diversos julgados do STJ
afirmando que os sindicatos e associações, na qualidade de substitutos
processuais, detêm legitimidade para atuar judicialmente na defesa dos interesses
coletivos de toda a categoria que representam. Nesse sentido: STJ. 1ª Turma. AgRg
no AREsp 454.098/SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
16/09/2014.
Novo entendimento que ganha força no STJ: NÃO. Em regra, a pessoa não filiada
não detém legitimidade para executar individualmente a sentença de procedência
oriunda de ação coletiva proposta pela associação. Exceção: será possível executar
individualmente mesmo se não for associado, se a sentença coletiva que estiver
sendo executada for mandado de segurança coletivo. Foi o que decidiu a 4ª Turma
do STJ no REsp 1.374.678-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 23/6/2015.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.374.678-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 23/6/2015 (Info 565).
61.19. Legitimidade do MP para ajuizar ACP em defesa dos beneficiários do DPVAT – (Info 563)
– IMPORTANTE!!! - (TJSC-2019) (MPGO-2019)
O MP possui legitimidade para ajuizar ação civil pública em defesa dos direitos individuais
homogêneos dos beneficiários do seguro DPVAT, dado o interesse social qualificado presente
na tutela dos referidos direitos subjetivos.
Está cancelada a súmula 470 do STJ, que tinha a seguinte redação: “O Ministério Público não
tem legitimidade para pleitear, em ação civil pública, a indenização decorrente do DPVAT em
benefício do segurado.”
STJ. 2ª Seção. REsp 858.056/GO, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 27/05/2015 (Info 563).
STF. Plenário. RE 631.111/GO, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 06 e 07/08/14 (Info 753).
(TJSC-2019-CESPE): A propósito de titularidade, âmbito de proteção e conformação
constitucional de ação civil pública, assinale a opção correta: O Ministério Público tem
legitimidade para ingressar com ação civil pública relativa ao pagamento de indenizações do
seguro DPVAT. BL: Info 563, STJ e Info 753, STF.
61.20. Aplicabilidade do art. 18 da LACP para ação civil pública movida por sindicato –
(Info 558) – IMPORTANTE! – (MPRR-2017) (PGEPE-2018)
O art. 18 da Lei 7.347/85 prevê que o autor da ACP, antes de ajuizar a ação, não terá que
adiantar custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem será
condenado em honorários advocatícios, custas e despesas processuais, salvo comprovada
má-fé.
O STJ decidiu que esse art. 18 da Lei 7.347/85 é aplicável também para a ação civil pública
movida por SINDICATO na defesa de direitos individuais homogêneos da categoria que
representa.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.322.166-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
4/3/2015 (Info 558).
(PGEPE-2018-CESPE): O STJ entende que o sindicato possui legitimidade para ajuizar, na
qualidade de substituto processual, ação civil pública para a defesa de direitos individuais
homogêneos da categoria que ele representa. BL: art. 18 da LACP e Info 558, STJ.
(MPRR-2017-CESPE): Julgue o item a seguir, referente à tutela coletiva: Ressalvada a
hipótese de má-fé, o sindicato que propuser ACP não precisará adiantar custas,
emolumentos ou honorários periciais nem será condenado em honorários advocatícios ou
despesas processuais. BL: art. 18 da LACP e Info 558, STJ.
61.21. Alcance da regra de isenção de custas processuais da LACP e do CDC – (Info 556)
O art. 18 da LACP e o art. 87 do CDC preveem que, nas ações de que tratam estas leis, não
haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras
despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários
de advogado, custas e despesas processuais.
O STJ decidiu que essas regras de isenção só se aplicam para as custas judiciais em:
ações civis públicas (qualquer que seja a matéria);
ações coletivas que tenham por objeto relação de consumo; e
na ação cautelar prevista no art. 4º da LACP (qualquer que seja a matéria).
Não é possível estender, por analogia ou interpretação extensiva, essa isenção para outros
tipos de ação (como a rescisória) ou para incidentes processuais (como a impugnação ao
valor da causa), mesmo que tratem sobre direito do consumidor.
STJ. 2ª Seção. PET 9.892-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/2/2015 (Info 556).
61.22. Retenção de honorários contratuais em execução de demanda coletiva – (Info 555)
MP tem legitimidade para ajuizar ACP em defesa de mutuários do SFH – (Info 552) –
61.23.
IMPORTANTE!!! – (TRF2-2009)
O Ministério Público tem legitimidade ad causam para propor ação civil pública com a
finalidade de defender interesses coletivos e individuais homogêneos dos mutuários do
Sistema Financeiro da Habitação.
O STJ entende que os temas relacionados com SFH possuem uma expressão para a
coletividade e o interesse em discussão é socialmente relevante.
STJ. 3ª T. REsp 1.114.035-PR, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min. João
Otávio de Noronha, j. 7/10/14 (Info 552).
(TRF2-2009-CESPE): Acerca dos bens públicos e do SFH, assinale a opção correta: O STJ
entende que o MP tem legitimidade para ajuizar ação civil pública na defesa de mutuários
do SFH. BL: Info 552, STJ.
61.24. Eficácia subjetiva da ACP e art. 16 da Lei 7.347/85 – (Info 552) – TEMA POLÊMICO!!!
O art. 16 da LACP (Lei 7.347/1985), que restringe o alcance subjetivo de sentença civil aos
limites da competência territorial do órgão prolator, tem aplicabilidade nas ações civis
públicas que envolvam direitos individuais homogêneos. Ressalte-se, no entanto, que se
trata de tema ainda polêmico, havendo decisões em sentido contrário.
Imagine agora que o juiz decidiu uma ACP envolvendo direitos individuais homogêneos e
este processo chegou até o STJ, por meio de recurso especial. Após o STJ decidir o recurso,
os efeitos dessa decisão serão nacionais?
NÃO. O simples fato de a causa ter sido submetida à apreciação do STJ, por meio de
recurso especial, não faz com que os efeitos da sentença prolatada na ACP passem a ter
alcance nacional. Assim, os efeitos da ACP continuariam restritos aos limites da
competência territorial do juiz prolator da sentença.
Ex.: se a sentença foi proferida por um juiz de direito de Limeira (SP), os efeitos da decisão
somente valerão para os titulares dos direitos individuais homogêneos de Limeira (SP),
mesmo tendo o STJ confirmado a sentença.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.114.035-PR, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min.
João Otávio de Noronha, julgado em 7/10/2014 (Info 552).
61.25. Eficácia subjetiva em caso de ACP proposta pelo MP no Distrito Federal com a
participação de entidades de âmbito nacional – (Info 552)
Tem abrangência nacional a eficácia da coisa julgada decorrente de ação civil pública
ajuizada pelo Ministério Público, com assistência de entidades de classe de âmbito
nacional, perante a Seção Judiciária do Distrito Federal, e sendo o órgão prolator da
decisão final de procedência o STJ. É o que se extrai da inteligência dos arts. 16 da LACP,
93, II, e 103, III, do CDC.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.319.232-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 4/12/14 (Info
552).
61.26. Termo inicial dos juros de mora na ACP – (Info 549) – IMPORTANTE!!! – (PGM-
Salvador/BA-2015)
61.28.A associação pode propor ação coletiva contra a União na Justiça Federal do DF
mesmo que os associados residam em outro local – (Info 546)
A entidade associativa (associação), ainda que possua abrangência local – e não âmbito
nacional – poderá, se assim desejar, ajuizar a ação coletiva em favor de seus associados
contra a União na Justiça Federal do DF, independentemente do lugar do território
nacional onde tenha ocorrido a lesão ao direito vindicado.
A Justiça Federal do DF foi escolhida pela CF/88 para funcionar como uma espécie de juízo
universal, sendo competente para apreciar as ações judiciais intentadas contra a União
mesmo que os fatos tratados na demanda não tenham ocorrido lá e ainda que os
beneficiários residam em outro local. Isso está previsto no art. 109, § 2º, da CF/88.
O art. 2º-A da Lei 9.404/97 estabelece que a sentença coletiva “abrangerá apenas os
substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da
competência territorial do órgão prolator”. A Justiça Federal do DF, como visto, tem
competência em todo o território nacional, pois, a critério do autor, pode ser instada a
processar e julgar qualquer demanda ajuizada em desfavor da União (art. 109, § 2º, da
CF/88). Logo, os efeitos da sentença a ser proferida pelo Juízo Federal de Brasília
alcançarão, naturalmente, os associados da autora, mesmo que não morem no Distrito
Federal.
STJ. 1ª Seção. CC 133.536-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j.14/8/14 (Info 546).
61.29. ACP pode servir como instrumento processual para cobrança de valores
indevidamente cobrados de consumidores – (Info 546)
61.30. Ação coletiva proposta por sindicato não precisa descrever todas as situações
individuais – (Info 538)
Na hipótese em que sindicato atue como substituto processual em ação coletiva para a
defesa de direitos individuais homogêneos, não é necessário que a causa de pedir, na
primeira fase cognitiva, contemple descrição pormenorizada das situações individuais de
todos os substituídos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.395.875-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 20/2/2014 (Info 538).
61.31. O MP não tem direito a honorários (em ACP) por ser verba destinada a advogado –
(julgados não publicado em Informativos) – (TJRJ-2016)
Na ação civil pública movida pelo Ministério Público, a questão da verba honorária foge
inteiramente das regras do CPC, sendo disciplinada pelas normas próprias da Lei 7.347/85.
Posiciona-se o STJ no sentido de que, em sede de ação civil pública, a condenação do
Ministério Público ao pagamento de honorários advocatícios somente é cabível na
hipótese de comprovada e inequívoca má-fé do Parquet.
Dentro de absoluta simetria de tratamento e à luz da interpretação sistemática do
ordenamento, não pode o parquet beneficiar-se de honorários, quando for vencedor na
ação civil pública. Precedentes.
STJ, ERESP 895530, 1ª Seção, Relatora Ministra ELIANA CALMON, DJE 18/12/2009.
O Ministério Público tem por finalidade institucional a defesa dos interesses coletivos e
individuais indisponíveis (CF, art. 127). A Lei 8.906/94, a seu turno, dispõe que os
honorários sucumbenciais pertencem aos advogados, constituindo-se direito autônomo
(art. 23), determinação que está na base da Súmula STJ/306.
Nessa linha, não há título jurídico que justifique a condenação da parte sucumbente à
remessa dos honorários para o Estado quando não se verifica a atuação de advogados no
pólo vencedor. A par de não exercer advocacia, o Ministério Público é financiado com
recursos provenientes dos cofres públicos, os quais são custeados, por entre outras receitas,
por tributos que a coletividade já suporta.
STJ, REsp 1034012, Rel. Min. Sidnei Beneti, 3a Turma do STJ, DJe 07/10/2009
(TJRJ-2016-VUNESP): O Ministério Público ajuizou ação civil pública em face de ex-
prefeito de município por ato de improbidade administrativa, causador de lesão ao erário
e atentatório aos princípios da Administração Pública, praticado no exercício do mandato
eletivo. A partir desses fatos, assinale a alternativa correta, considerando a jurisprudência
majoritária dos Tribunais Superiores. Se a ação for julgada procedente, como ela foi
proposta pelo Ministério Público, não cabe condenação em honorários advocatícios, por
ser verba destinada a advogado.
62. AÇÃO CIVIL PÚBLICA
62.1. AÇÃO CIVIL PÚBLICA: Legitimidade do MP para pleitear tratamento médico ou entrega
de medicamentos – (Info 624) – IMPORTANTE!!! – (MPPR-2019) (TJSC-2019) (MPCE-2020)
O MP é parte legítima para ajuizamento de ação civil pública que vise o fornecimento de
remédios a portadores de certa doença.
STF. Plenário. RE 605533/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 15/8/18 (repercussão geral) (Info 911).
(MPCE-2020-CESPE): Em demanda na qual beneficiários individualizados pretendem o
fornecimento público de medicamento necessário ao próprio tratamento de saúde, o MP é parte
legítima para pleitear a entrega do medicamento, porque se trata de direitos individuais
homogêneos indisponíveis. BL: Info 624, STJ e Info 911, STF.
OBS:
Delimitação da matéria: O presente julgado não trata sobre a possibilidade de o MP propor
demandas envolvendo direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos, até porque
inexiste qualquer dúvida da sua legitimidade nestes casos, sendo tema pacífico. De igual forma,
este julgado não trata sobre a legitimidade do Ministério Público para ajuizar ações em favor de
interesses de menores, incapazes e de idosos em situação de vulnerabilidade . Em tais hipóteses,
a legitimidade do órgão ministerial decorre expressamente da lei (art. 201, VIII, da Lei nº 8.069/90
e art. 74, II e III, da Lei nº 10.741/2003). O presente julgado discute a legitimidade do MP para
ingressar com demandas de saúde, contra os entes federativos, em favor de beneficiários
individuais.
Em outras palavras, o que se discute aqui é o seguinte: o Ministério Público poderia ajuizar uma
ação pedindo tratamento de saúde ou a entrega de medicamento em favor de uma só pessoa? A
resposta é SIM.
O pedido para tratamento médico ou para a entrega de medicamento em favor de uma pessoa é
uma demanda que envolve direito individual INDISPONÍVEL? SIM. O direito à saúde é um
direito indisponível. Isso porque está relacionado com o próprio direito à vida. O direito à saúde
foi previsto, pela Constituição Federal de 1988, como direito fundamental do cidadão, corolário do
direito à vida, bem maior do ser humano. A propósito do tema, o STF, ao interpretar os arts. 5º,
caput, e 196 da CF/88, consagrou o direito à saúde como consequência indissociável do direito à
vida, assegurado a todas as pessoas (STF. 2ª Turma. ARE 685.230 AgR/MS, Rel. Min. Celso de
Mello, DJe de 25/03/2013). Nesse contexto, conclui-se o caráter indisponível do direito à saúde,
por estar diretamente associado ao direito à vida. Assim, o MP detém legitimidade ad causam
para pleitear tratamento de saúde ou fornecimento de medicamento a beneficiários
individualizados, por força do disposto no art. 1º da Lei 8.625/93, que incumbiu ao Parquet a
defesa dos direitos individuais indisponíveis.
O MP, nestes casos, não estaria “pegando o lugar” da advocacia privada e da Defensoria
Pública? NÃO. Conforme já decidiu o STF:
(...) A Constituição do Brasil, em seu artigo 127, confere expressamente ao Ministério
Público poderes para agir em defesa de interesses sociais e individuais
indisponíveis, como no caso de garantir o fornecimento de medicamentos a
hipossuficiente. 2. Não há que se falar em usurpação de competência da
defensoria pública ou da advocacia privada. (...) STF. 2ª Turma. RE 554088 AgR,
Rel. Min. Eros Grau, j. 3/6/08.
62.2. Emenda da inicial da ACP mesmo após ter sido apresentada contestação – (Info 615)
Admite-se emenda à inicial de ação civil pública, em face da existência de pedido genérico,
ainda que já tenha sido apresentada a contestação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.279.586-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 3/10/17 (Info 615).
OBS:
Em relação às ações individuais, o STJ possui julgados divergentes sobre a possibilidade ou
não de emenda da petição inicial após a apresentação da contestação. Existem julgados
admitindo e outros negando.
No que tange às ações civis públicas, contudo, isso deve ser possível. As ações civis públicas
são instrumentos processuais de ordem constitucional voltados à defesa de interesses
metaindividuais, com relevância social. Em virtude da relevância social do bem envolvido,
de natureza social, para a ação civil pública deverão ser adotados princípios distintos
daqueles previstos pelo CPC para as ações individuais.
Um desses princípios que serve para distinguir o regime da ação civil pública é o princípio da
efetividade.
O princípio da efetividade está intimamente ligado ao valor social e deve ser utilizado pelo
juiz da causa para abrandar os rigores da intelecção vinculada exclusivamente ao Código de
Processo Civil - desconsiderando as especificidades do microssistema regente das ações civis
-, dado seu escopo de servir à solução de litígios de caráter individual.
62.3. MP tem legitimidade para ACP contra hospital para que este não exija cheque-caução
e para que não cobre valores adicionais de usuários de planos de saúde – (Info 532)
O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública cujos pedidos
consistam em impedir que determinados hospitais continuem a exigir caução para
atendimento médico-hospitalar emergencial e a cobrar, ou admitir que se cobre, dos
pacientes conveniados a planos de saúde, valor adicional por atendimentos realizados por
seu corpo médico fora do horário comercial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.324.712-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 24/9/13 (Info 532).
62.4. MP tem legitimidade para ajuizar ACP relacionada com concurso público – (Info 528)
O MP tem legitimidade para ajuizar ação civil pública com o objetivo de garantir o acesso
a critérios de correção de provas de concurso público.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.362.269-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 16/5/2013 (Info 528).
O Ministério Público é parte legítima para propor ação civil pública com o objetivo de que
o Poder Público forneça cesta de alimentos sem glúten a portadores de doença celíaca,
como medida de proteção e defesa da saúde.
O direito à vida e à saúde caracterizam-se como direitos individuais indisponíveis. O MP
possui legitimidade para propor ACP na defesa de direitos individuais indisponíveis.
STJ. 2ª T. AgRg no AREsp 91.114-MG, Rel. Min. Humberto Martins, j. 7/2/2013 (Info 517)
63.2. Nas hipóteses de MS no STJ envolvendo anistia política, só é possível a inclusão de juros
e correção monetária na fase executiva quando houver decisão expressa nesse sentido – (Info 634)
O STJ, no entanto, disse que esse julgado do STF não estava em sentido contrário ao seu,
considerando que o Supremo teria analisado a questão sob o ponto de vista da fase cognitiva e o
STJ na fase de execução:
“Não se desconhece que o STF, ao apreciar os Embargos de Declaração no RE
553.710/DF, em 1º/08/18, estabeleceu que “os valores retroativos previstos nas
portarias de anistia deverão ser acrescidos de juros moratórios e de correção
monetária”.
Contudo, essa decisão refere-se a feito julgado na fase de conhecimento (recurso
ordinário interposto em face de acórdão deste Tribunal proferido em sede de
mandado de segurança), cujos efeitos não podem ser ampliados aos feitos que já
se encontram na fase executiva, sob pena de manifesta afronta à coisa julgada.”
63.3. Prazo decadencial para impetrar MS contra redução de vantagem de servidor público –
(Info 578) – (Anal./MPU-2013) (TJCE-2018)
O prazo decadencial para impetrar mandado de segurança contra redução do valor de vantagem
integrante de proventos ou de remuneração de servidor público renova-se mês a mês.
A redução, ao contrário da supressão de vantagem, configura relação de trato sucessivo, pois
não equivale à negação do próprio fundo de direito. Assim, o prazo decadencial para se
impetrar a ação mandamental renova-se mês a mês.
Ato que SUPRIME vantagem: é ato ÚNICO (o prazo para o MS é contado da data em
que o prejudicado tomou ciência do ato).
Ato que REDUZ vantagem: consiste em prestação de TRATO SUCESSIVO (o prazo
para o MS renova-se mês a mês).
STJ. Corte Especial. EREsp 1.164.514-AM, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 16/12/15 (Info
578).
Essa distinção já foi exigida em concurso público.
(Analista/MPU-2013-CESPE): Acerca do mandado de segurança, julgue o item abaixo: Segundo
a jurisprudência do STJ, ato administrativo que reduzir os vencimentos de servidor público
incidirá sobre prestação de trato sucessivo, razão por que o prazo decadencial para a
impetração de mandado de segurança contra tal ato renovar-se-á mês a mês. BL: Info 578, STJ.
(TRF2-2011-CESPE): Consoante entendimento do STJ, a supressão, pelo poder público, de
gratificação que esteja sendo paga a servidor público configura ato comissivo, de efeitos
permanentes, e não de trato sucessivo, razão pela qual a impetração de mandado de segurança
para impugnar o ato deve ocorrer no prazo de cento e vinte dias contados da sua edição.
(CERTO)
OBS:
PRAZO DO MS
Prazo para impetração do mandado de segurança: A Lei nº 12.016/09 prevê um prazo para o
ajuizamento do mandado de segurança:
Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120
(cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado.
Novo CPC: O art. 219 do CPC 2015 prevê que "na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei
ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis".
Este art. 219 do CP 2015 é aplicado para o prazo do mandado de segurança? A partir de agora o
prazo de 120 dias deverá ser contado em dias úteis?
Regra: NÃO. O art. 219 aplica-se apenas aos prazos processuais, ou seja, àqueles prazos
para a prática de atos dentro do processo. O prazo de impetração do MS, em regra, não é
processual, de forma que ele deve ser contado de forma corrida (e não em dias úteis).
Exceção: no caso de mandado de segurança contra ato judicial, o prazo máximo para
impetração será contado em dias úteis. Isso porque, neste caso, ele terá natureza
processual, já que corre dentro do processo. Assim, por exemplo, se é prolatada uma
decisão judicial irrecorrível, a parte prejudicada terá 120 dias úteis para impetrar
mandado de segurança.
A posição acima é defendida por CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo.
Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 562.
Natureza deste prazo: A posição majoritária afirma que se trata de prazo decadencial. Sendo
prazo decadencial, ele não pode ser suspenso ou interrompido.
Súmula 430-STF: Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o
prazo para o mandado de segurança.
Vale ressaltar, no entanto, que o STJ afirma que se o marco final do prazo do MS terminar em
sábado, domingo ou feriado, deverá haver prorrogação para o primeiro dia útil seguinte. Nesse
sentido: STJ. 1ª Seção. MS 14.828/DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 08/09/2010.
Termo inicial do prazo: Em regra, o prazo para impetrar o MS inicia-se na data em que o
prejudicado toma ciência do ato coator praticado.
(...) Considerou, ainda, que a ofensa ao direito líquido e certo não se conta a partir
da expedição da resolução (ato impugnado no mandado de segurança), mas sim do
momento em que produzir efeitos. Tal entendimento harmoniza-se com a
jurisprudência do STJ de que o prazo decadencial no mandado de segurança tem
início na data em que o interessado teve ciência inequívoca do ato atacado. (...) REsp
1.088.620-SP, Rel. para o acórdão Min. Castro Meira, j. 18/11/2008.
Atenção: Vale ressaltar, no entanto, que, se a pessoa estiver sendo prejudicada por uma omissão
do Poder Público, poderá impetrar o MS a qualquer tempo enquanto perdurar a omissão.
Persistindo a omissão, o prazo renova-se dia a dia.
Qual das duas teses é acolhida pela jurisprudência do STJ, a do autor ou da Fazenda Pública? A
tese da Fazenda Pública. Assim, houve realmente decadência no caso exposto acima. Nesse
sentido: STJ. Segunda Turma. RMS 34.363-MT, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
6/12/2012.
Neste caso, pelo fato de já terem se passado mais do que 120 dias da data do ato, houve
decadência? NÃO.
No caso de a Administração Pública ter reajustado a pensão de uma pessoa em valor inferior ao
que seria devido, como é contado o prazo para que a interessada impetre um MS? O prazo renova-
se mês a mês. Segundo entende o STJ, esta hipótese consiste em uma conduta omissiva ilegal da
Administração, que envolve obrigação de trato sucessivo. Logo, o prazo decadencial estabelecido
pela Lei do Mandado de Segurança se renova de forma continuada mês a mês. STJ. 2ª Turma.
AgRg no AREsp 243.070-CE, Rel. Min. Humberto Martins, j. 7/2/2013 (Info 517).
Questão de concurso:
(DPEDF-2013-CESPE): De acordo com a jurisprudência do STJ, em caso de conduta
omissiva ilegal da administração, envolvendo obrigação de trato sucessivo, o prazo
decadencial estabelecido pela Lei do Mandado de Segurança se renovará de forma
continuada. (VERDADEIRA).
Observação:
Deve-se ter muito cuidado com este entendimento. Isso porque, apesar de ele ter sido proferido
pela Corte Especial do STJ, ele é contrário às Súmulas 269 e 271 do STF e ao art. 14, § 4º da Lei do
MS:
Súmula 269-STF: O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.
Súmula 271-STF: Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais, em
relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via
judicial própria.
Art. 14 (...) § 4º O pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias assegurados em sentença
concessiva de mandado de segurança a servidor público da administração direta ou autárquica
federal, estadual e municipal somente será efetuado relativamente às prestações que se vencerem
a contar da data do ajuizamento da inicial.
OBS: O art. 100 da CF/88 determina que os pagamentos devidos pela Fazenda Pública estão
sujeitos ao sistema de precatórios, o que abrange, inclusive, as verbas de caráter alimentar. O
simples fato de se tratar de sentença concessiva de mandado de segurança não serve para afastar a
regra dos precatórios. Nesse sentido: STF. Plenário. RE 889173 RG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado
em 07/08/2015 (repercussão geral). Assim, não se tratando de dívida de pequeno valor (§ 3º do
art. 100, da CF/88), deve-se respeitar a sistemática dos precatórios.
O que o juiz deverá fazer se o autor indicar incorretamente a autoridade coatora na petição
inicial? É possível que o magistrado determine a emenda da petição inicial ou notifique a
autoridade correta?
O tema é polêmico, sendo possível encontrar decisões nos dois sentidos:
1ª) NÃO. Havendo erro na indicação da autoridade coatora, deve o juiz extinguir o processo
sem julgamento do mérito, pela ausência de uma das condições da ação, sendo vedada a
substituição do polo passivo da relação processual (STJ. 1ª T. AgRg no AREsp 188.954/MG, Rel.
Min. Benedito Gonçalves, j. 18/12/2012).
2ª) SIM. Nos casos de equívoco facilmente perceptível na indicação da autoridade coatora, o
juiz competente para julgar o mandado de segurança pode autorizar a emenda da petição inicial
ou determinar a notificação, para prestar informações, da autoridade adequada, desde que seja
possível identificá-la pela simples leitura da petição inicial e exame da documentação anexada
(STJ. 4ª T. RMS 45.495-SP, Rel. Min. Raul Araújo, j. 26/8/2014).
STJ. 4ª Turma. RMS 45.495-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 26/8/2014 (Info 551).
O caso concreto apreciado pelo STJ, com algumas adaptações, foi o seguinte: Em uma ação
ordinária proposta pela União contra o Estado-membro, o Juiz Federal proferiu decisão
liminar contrária ao réu. A fundamentação do magistrado foi toda baseada em uma lei
ordinária federal. Inconformado, o Estado-membro interpôs agravo de instrumento, mas o TRF
manteve na íntegra a decisão. Como a discussão envolve matéria infraconstitucional, contra
esta decisão do TRF era possível, em tese, a interposição de recurso especial para o STJ. Além
do recurso especial era possível que o Estado-membro formulasse pedido de suspensão de
segurança que deveria ser endereçada ao Presidente do Tribunal que seria competente para
julgar o recurso cabível. Como o recurso cabível seria o recurso especial, o pedido de
suspensão deveria ser dirigido ao Presidente do STJ. O Estado-membro optou, então, por
ingressar com pedido de suspensão e o Presidente do STJ acolheu o requerimento deferindo a
suspensão. Contra esta decisão, a União interpôs agravo interno para a Corte Especial do STJ
alegando, dentre outros argumentos, que o pedido de suspensão deveria ter sido formulado
em autos apartados e que não cumpriu as formalidades previstas na legislação. O STJ,
contudo, refutou a tese e disse que é indiferente que o pedido tenha sido formulado nos
próprios autos, na forma de recurso ou que tenha sido requerido em uma autuação em
separado. Isso porque as normas de regência não preveem, para a formulação de pedido de
contracautela, um grande rigor processual. Para a formalização da pretensão e análise do
pedido suspensivo, basta o requerimento em simples petição dirigida ao presidente do
tribunal ao qual couber o conhecimento de recurso na causa principal, formalizado pelo
Ministério Público ou pela pessoa jurídica que exerce munus público. Vale ressaltar que a
lei não estabeleceu um procedimento para o pedido de suspensão, conforme observa Marcelo
Abelha Rodrigues:
“Em se tratando de requerimento de suspensão de execução de decisão judicial
ao presidente do tribunal, nos casos em que a lei admite, não há, num sentido
literal das normas que cuidam do tema, um procedimento típico que nos
permite fazer dele uma uniformidade, o que, de lege ferenda, seria até
recomendável.” (Suspensão de Segurança - Sustação da eficácia de decisão judicial
proferida contra o Poder Público. 3ª ed., São Paulo: RT, 2010, p. 196).
Não se examina o mérito no pedido de suspensão: Na análise do pedido de suspensão, é
vedado o exame do mérito da demanda principal. O que será examinado pelo Tribunal é se
a decisão prolatada acarreta risco de grave lesão à:
a) ordem;
b) saúde;
c) segurança; ou
d) economia públicas.
A suspensão de liminar e de sentença limita-se a averiguar a possibilidade de
grave lesão à ordem, à segurança, à saúde e à economia públicas. Os temas de
mérito da demanda principal não podem ser examinados nessa medida, que
não substitui o recurso próprio. STJ. Corte Especial. AgRg na SLS 1.135/MA,
Rel. p/ Acórdão Min. Cesar Asfor Rocha, julgado em 12/04/2010.
Apesar de não se examinar o mérito, deve ser realizado um juízo mínimo de delibação :
Mesmo sendo vedado ao Presidente do Tribunal examinar o mérito da demanda principal,
é preciso, para que se conceda a suspensão de liminar, que haja um mínimo de
plausibilidade na tese da Fazenda Pública, porque o pedido de suspensão funciona como
uma contracautela, devendo, por isso, demonstrar fumus boni iuris e periculum in mora
inverso:
(...) 1. A jurisprudência pacificada do STF permite o proferimento de um juízo
mínimo de delibação, no que concerne ao mérito objeto do processo principal,
quando da análise do pedido de suspensão de decisão (SS 846-AgR/DF, rel.
Ministro Sepúlveda Pertence, DJ 29.5.96; SS 1.272-AgR, rel. Ministro Carlos
Velloso, DJ 18.5.2001, dentre outros).
(STA 73 AgR, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em
17/03/2008, DJe-078 DIVULG 30-04-2008 PUBLIC 02-05-2008 EMENT VOL-
02317-01 PP-00001)
(...) A natureza excepcional da contracautela permite tão somente juízo mínimo
de delibação sobre a matéria de fundo e análise do risco de grave lesão à ordem,
à saúde, à segurança e à economia públicas.
(STF; SS 5049; Tribunal Pleno; Rel. Min. Presidente; J. 20/4/16; DJE 16/05/2016)
Recurso contra a decisão proferida no pedido de suspensão: Da decisão do Presidente do Tribunal
que conceder ou negar a suspensão cabe algum recurso? SIM. Caberá agravo interno para o Plenário
ou Corte Especial do Tribunal.
Cabe recurso especial da decisão do Plenário ou da Corte Especial que julga esse agravo?
• Segundo o STJ: NÃO. Não cabe Recurso Especial de decisões proferidas no âmbito do
pedido de suspensão. O recurso especial se destina a combater argumentos que digam
respeito a exame de legalidade, ao passo que o pedido de suspensão ostentaria juízo político.
• Segundo a 1ª Turma do STF: SIM. A 1ª Turma do STF entendeu que a decisão em sede de
suspensão de segurança não é estritamente política, possuindo conteúdo jurisdicional.
Com base nisso, decidiu que é cabível, em tese, recurso especial contra decisões proferidas no
âmbito do pedido de suspensão de segurança (RE 798740 AgR/DF).
Novo pedido de suspensão: No entanto, se, na decisão do agravo, não for concedida ou
mantida a suspensão, a Fazenda Pública ainda terá outro instrumento: apresentar novo
pedido de suspensão, desta vez para o STJ ou para o STF, a depender da natureza da matéria
(se infraconstitucional ou constitucional). Nesse sentido, confira o que diz a Lei nº 8.437/92:
Art. 4º (...)
§ 4º Se do julgamento do agravo de que trata o § 3º resultar a manutenção ou o
restabelecimento da decisão que se pretende suspender, caberá novo pedido de
suspensão ao Presidente do Tribunal competente para conhecer de eventual
recurso especial ou extraordinário.
Ex1: juiz concede liminar contra a Fazenda Pública, que formula pedido de suspensão para o
Presidente do TJ; este concede a suspensão; a parte autora agrava da decisão do Presidente para
o Plenário, que reforma a decisão do Presidente e restabelece a liminar concedida em primeira
instância. Dessa decisão do Plenário, a Fazenda Pública terá a possibilidade de formular novo
pedido de suspensão para o STJ ou para o STF.
Ex2: juiz concede liminar contra a Fazenda Pública, que formula pedido de suspensão para o
Presidente do TJ; este não concede a suspensão; a Fazenda Pública agrava da decisão do
Presidente para o Plenário, que mantém a decisão do Presidente e a liminar concedida em
primeira instância. Dessa decisão do Plenário, a Fazenda Pública terá a possibilidade de
formular novo pedido de suspensão para o STJ ou para o STF.
65.3. Mandado de segurança para controle da competência dos juizados especiais – (Info
533) – (TRF2-2017)
A jurisprudência do STJ afirma que, no âmbito dos Juizados Especiais, não é necessária a
intimação pessoal dos Defensores Públicos, podendo esta ocorrer até mesmo pela
Imprensa Oficial.
Nesse sentido: HC 241.735/SP, Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6ª T., j. 19/11/12; HC
105.548/ES, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, 5ª T., j. 27/04/2010.
O índice de correção monetária previsto no art. 1º-F da Lei 9.494/97 (TR) não pode ser aplicado
para condenações impostas à Fazenda Pública
O art. 1º-F da Lei 9.494/1997 (com redação dada pela Lei 11.960/09), para fins de correção
monetária, não é aplicável nas condenações judiciais impostas à Fazenda Pública,
independentemente de sua natureza.
Os juros de mora previstos no art. 1º-F da Lei 9.494/97 podem ser aplicados para condenações
impostas à Fazenda Pública, com exceção de matéria tributária
O art. 1º-F da Lei 9.494/1997 (com redação dada pela Lei 11.960/09), na parte em que estabelece a
incidência de juros de mora nos débitos da Fazenda Pública com base no índice oficial de
remuneração da caderneta de poupança, aplica-se às condenações impostas à Fazenda Pública,
excepcionadas as condenações oriundas de relação jurídico-tributária.
Ações condenatórias em geral
As condenações judiciais de natureza administrativa em geral sujeitam-se aos seguintes
encargos:
a) até dezembro/2002: juros de mora: de 0,5% ao mês; correção monetária de acordo com os
índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a incidência do
IPCA-E a partir de janeiro/2001;
b) no período posterior à vigência do CC/2002 e anterior à vigência da Lei nº 11.960/2009 : juros
de mora correspondentes à taxa Selic, vedada a cumulação com qualquer outro índice;
c) no período posterior à vigência da Lei nº 11.960/2009: juros de mora: segundo o índice de
remuneração da caderneta de poupança; correção monetária: com base no IPCA-E.
Desapropriações
No tocante às condenações judiciais referentes a desapropriações diretas e indiretas,
relativamente à correção monetária, incidem, em síntese, os índices previstos no Manual de
Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a incidência do IPCA-E a partir de janeiro de
2001.
Em relação aos juros de mora, de acordo com o Manual de Cálculos da Justiça Federal, aplicam-
se os seguintes índices:
a) até dezembro/2009: 0,5% (capitalização simples), nos termos do art. 15-B do Decreto-Lei n.
3.365/1941;
b) janeiro/2010 a abril/2012: 0,5% (capitalização simples), nos termos do art. 97, § 16, do ADCT
(incluído pela EC n. 62/2009), combinado com a Lei n. 8.177/1991;
c) a partir de maio/2012: o mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança,
capitalizados de forma simples, correspondentes a:
i) 0,5% ao mês, caso a taxa SELIC ao ano seja superior a 8,5%;
ii) 70% da taxa SELIC ao ano, mensalizada, nos demais casos, nos termos do art. 97, § 16, do
ADCT (incluído pela EC n. 62/2009), combinado com a Lei n. 8.177/1991, com alterações da MP
n. 567/2012 convertida na Lei n. 12.703/2012.
No que concerne aos juros compensatórios, os índices previstos são os seguintes:
a) até 10/06/1997: 1% (capitalização simples), nos termos da Súmula n. 618/STF e Súmula n. 110
do extinto TFR;
b) 11/06/1997 a 13/09/2001: 0,5% (capitalização simples), nos termos do art. 15-A, do Decreto-Lei
n. 3.365/41, introduzido pela MP n. 1.577/97 e suas sucessivas reedições;
c) a partir de 14/09/2001: 1% (capitalização simples), nos termos da ADI 2.332/DF, REsp
1.111.829/SP e Súmula n. 408/STJ.
Matéria previdenciária
As condenações impostas à Fazenda Pública de natureza previdenciária sujeitam-se à
incidência do INPC, para fins de correção monetária, no que se refere ao período posterior à
vigência da Lei nº 11.430/2006, que incluiu o art. 41-A na Lei nº 8.213/91.
Quanto aos juros de mora, no período posterior à vigência da Lei nº 11.960/2009, incidem
segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança.
Indébito tributário
A correção monetária e a taxa de juros de mora incidentes na repetição de indébitos tributários
devem corresponder às utilizadas na cobrança de tributo pago em atraso.
Não havendo disposição legal específica, os juros de mora são calculados à taxa de 1% ao mês
(art. 161, § 1º, do CTN).
Observada a regra isonômica e havendo previsão na legislação da entidade tributante, é
legítima a utilização da taxa Selic, sendo vedada sua cumulação com quaisquer outros índices.
STJ. 1ª S. REsp 1495146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 22/2/18 (recurso repetitivo)
(Info 620).
OBS:
Juros e correção monetária em caso de condenações impostas à Fazenda Pública : Imagine que
determinado indivíduo ingressa com uma ação judicial pedindo que a Fazenda Pública seja
condenada a pagar quantia em dinheiro.
Ex1: servidor público propõe ação judicial pedindo a condenação da União ao pagamento
de gratificação funcional de forma retroativa desde a data em que foi publicada
determinada lei.
Ex2: segurado fez requerimento administrativo ao INSS pedindo aposentadoria por
invalidez; como o pedido foi indeferido, o segurado ingressa com ação judicial pleiteando
que o INSS conceda o benefício e que pague os valores de forma retroativa à data do
requerimento administrativo.
Levará alguns meses ou anos até que a ação chegue ao fim. Dessa forma, como há essa demora em
o processo terminar, a legislação prevê que o órgão judicial, ao condenar a Fazenda Pública,
deverá determinar que ela pague a quantia principal acrescida de juros e correção monetária.
Assim, em nosso primeiro exemplo, o juiz irá determinar que a União pague as gratificações
atrasadas acrescidas de juros e correção monetária. No segundo exemplo, o magistrado condenará
o INSS a pagar as prestações pretéritas da aposentadoria mais juros e correção monetária.
Quais os índices de juros e correção monetária que a Lei prevê para esses casos? O tema é tratado
no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97:
Art. 1º-F. Nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua
natureza e para fins de atualização monetária, remuneração do capital e
compensação da mora, haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento,
dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de
poupança. (Redação dada pela Lei nº 11.960/2009)
Desse modo, de acordo com esse dispositivo, deveriam ser adotados os seguintes parâmetros:
Correção monetária: índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança (este
índice é chamado de TR — Taxa Referencial);
Juros de mora: juros simples no mesmo percentual que é pago na poupança (0,5% ao
mês / 6% ao ano).
Assim, de acordo com o texto da Lei, quando a Fazenda Pública estivesse em débito (atraso), a correção
monetária e os juros de mora deveriam adotar os índices e percentuais aplicáveis às cadernetas de
poupança. Esse art. 1ºF da Lei nº 9.494/97 é constitucional? O que decidiu o STF a respeito?
Débitos relacionados oriundos de relação jurídico-tributária: Pela redação do art. 1º-F, a correção
monetária e os juros de mora dos débitos da Fazenda Pública deveriam sempre adotar os índices e
percentuais aplicáveis às cadernetas de poupança, independentemente da natureza do débito.
Isso significa dizer que, pela lei, não importava se a dívida fosse relacionada com servidor público
(natureza administrativa), com segurado do INSS (natureza previdenciária) ou com contribuinte
de tributos (natureza tributária). Os índices seriam sempre esses, independentemente da origem
da dívida. Isso estava claro por meio da expressão “independentemente de sua natureza” prevista
no art. 1ºF. O STF, contudo, entendeu que essa previsão é inconstitucional.
Para o Supremo, se as dívidas da Fazenda Pública são relacionadas com débitos de natureza
tributária, deverão ser aplicados os mesmos juros de mora que são exigidos pelo Poder Público
quando ele está cobrando os créditos tributários.
Se o contribuinte não paga um imposto federal, o Fisco irá cobrar dele exigindo, além da quantia
principal, juros e correção monetária calculados com base em um índice chamado SELIC (Sistema
Especial de Liquidação e Custódia). Logo, se o contribuinte pagou um imposto federal que era
indevido, ele tem direito de receber de volta a quantia paga também acrescida de juros e correção
monetária calculados com base na SELIC.
Em suma, em ações de indébito tributário, a Fazenda Pública deverá pagar suas dívidas
segundo o mesmo índice de juros que utiliza para receber os créditos tributários (atualmente, a
SELIC). Isso se justifica em razão do princípio da equidade (isonomia). Não seria isonômico a
Fazenda Pública cobrar os créditos tributários utilizando a SELIC e no momento em que tivesse
que pagar alguma quantia ao contribuinte utilizasse os índices da caderneta de poupança (que são
bem menores que a SELIC). O STF assim decidiu, fixando a seguinte tese:
O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009, na parte
em que disciplina os juros moratórios aplicáveis a condenações da Fazenda
Pública, é inconstitucional ao incidir sobre débitos oriundos de relação jurídico-
tributária, aos quais devem ser aplicados os mesmos juros de mora pelos quais a
Fazenda Pública remunera seu crédito tributário, em respeito ao princípio
constitucional da isonomia (art. 5º, da CF/88).
STF. Plenário. RE 870947/SE, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/9/2017
(repercussão geral) (Info 878).
Vale ressaltar que, na tese acima exposta, fala-se apenas em juros de mora. Veja: “aos quais devem
ser aplicados os mesmos juros de mora pelos quais a Fazenda Pública remunera seu crédito
tributário”. Apesar disso, ela abrange juros e correção monetária. Explico.
O índice de juros para débitos tributários é a SELIC. Ocorre que a SELIC é um tipo de índice de
juros moratórios que já abrange juros e correção monetária. Como assim? No cálculo da SELIC
(em sua “fórmula matemática”), além de um percentual a título de juros moratórios, já é embutida
a taxa de inflação estimada para o período (correção monetária). Em outras palavras, a SELIC é
uma espécie de índice que engloba juros e correção monetária. Logo, a SELIC já irá substituir os
dois índices do art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, ou seja, tanto o índice de juros como de correção
monetária.
E com relação aos débitos de natureza não-tributária, quais os índices que devem ser aplicados?
O art. 1º-F é constitucional? O art. 1º-F trata sobre juros e também sobre correção monetária. São
institutos distintos. Quanto à CORREÇÃO MONETÁRIA, o STF afirmou que a previsão do art.
1º-F é inconstitucional. A correção monetária é simplesmente uma forma de manter o poder de
compra da moeda. Se uma pessoa tem R$ 100 mil hoje, não significa que daqui a dois anos esses
R$ 100 mil conseguirão comprar as mesmas coisas. O normal é que não, em virtude da inflação.
Logo, a correção monetária tem por objetivo fazer com que o valor de compra da moeda seja
“atualizado” O art. 1º-F afirma que a correção monetária deve ser feita pelo índice oficial da
poupança (que é chamado de TR — Taxa Referencial). Ocorre que isso não consegue evitar a
perda de poder aquisitivo da moeda. Esse índice (TR) é fixado ex ante, ou seja, previamente, a
partir de critérios técnicos não relacionados com a inflação considerada no período . Em outras
palavras, a TR é calculada antes de a inflação ocorrer. Assim, a remuneração da caderneta de
poupança – diferentemente de qualquer outro índice oficial de inflação – é sempre prefixada. Essa
circunstância deixa claro que existe uma desvinculação entre a remuneração da poupança e a
evolução dos preços da economia, isto é, a TR não capta a variação da inflação. A inflação é um
fenômeno tipicamente econômico-monetário e, portanto, mostra-se insuscetível de captação
apriorística (ex ante). Não dá para se ter certeza do quanto será a inflação e estabelecer um índice
antes que ela ocorra. Por essa razão, diz-se que todo índice definido ex ante é incapaz de refletir
a real flutuação de preços apurada no período em referência. É o caso da TR (poupança). Dessa
maneira, como este índice não consegue manter o valor real da condenação, ele afronta à própria
decisão judicial, tendo em vista que o valor real do crédito previsto na condenação judicial não
será o valor que o credor irá receber efetivamente. Este valor terá sido corroído pela inflação. A
finalidade da correção monetária consiste em deixar a parte na mesma situação econômica que se
encontrava antes. Nesse sentido, o direito à correção monetária é um reflexo imediato da
proteção da propriedade.
A título de curiosidade, veja como a TR é um índice completamente injusto e que não garante o
poder de compra: Imaginemos que, em maio de 2009, a pessoa possuía um crédito de R$ 100 mil
para receber da União. Se aplicarmos a TR, em dezembro de 2014 esse crédito estará em R$
103.572,42 (cento e três mil, quinhentos e setenta e dois reais e quarenta e dois centavos). É óbvio
que nesses 5 anos o valor da inflação foi superior a isso, ou seja, mesmo com a correção monetária,
a pessoa perdeu poder de compra. Se aplicarmos o IPCA-E como índice de correção monetária
neste mesmo período, esse crédito será equivalente a R$ 137.913,29 (cento e trinta e sete mil,
novecentos e treze reais e vinte e nove centavos). Perceba que a diferença supera 30%. Em suma, a
taxa básica de remuneração da poupança não mede, de forma adequada, a inflação acumulada
do período e, portanto, não pode servir de parâmetro para a correção monetária.
O trabalho do STJ foi o de esmiuçar quais os índices de correção monetária e taxas de juros
deveriam ser aplicados em cada um dos assuntos. Ex: condenação envolvendo servidores
públicos, desapropriação, matéria tributária etc. Isso porque o STF afirmou que a TR é
inconstitucional, mas não forneceu mais detalhes sobre quais os índices deveriam substitui-la,
apontando, em um trecho do voto do Min. Luiz Fux (RE 870947/SE), que seria o SELIC e o
IPCA-E, mas sem que isso tenha constado expressamente na ementa.
Repito: não é necessário que você conheça esses índices acima. Basta que você saiba que o STJ
afirmou que, para fins de correção monetária, deverão ser aplicados os índices de correção
monetária previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal.
Conclusões: Esta tabela pode ser cobrada nas provas, em especial na fase de sentença:
CONDENAÇÕES JUDICIAIS DE NATUREZA ADMINISTRATIVA EM GERAL
PERÍODOS ENCARGOS
Juros de mora: 0,5% ao mês.
Até dezembro/2002
Correção monetária: de acordo com o Manual de Cálculos da JF.
Depois do CC/02 e antes Aplica-se apenas a taxa SELIC, vedada a cumulação com qualquer
da Lei 11.960/09 outro índice (isso porquea SELIC inclui juros e correção).
Depois da vigência Juros de mora: índice de remuneração da caderneta de poupança.
da Lei 11.960/09 Correção monetária: IPCA-E
A tese ficou assim redigida (a tese também pode ser exigida nas provas):
As condenações judiciais de natureza administrativa em geral sujeitam-se aos
seguintes encargos:
a) até dezembro/2002: juros de mora de 0,5% ao mês; correção monetária de acordo
com os índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal, com destaque
para a incidência do IPCA-E a partir de janeiro/2001;
b) no período posterior à vigência do CC/2002 e anterior à vigência da Lei nº
11.960/2009: juros de mora correspondentes à taxa Selic, vedada a cumulação com
qualquer outro índice;
c) no período posterior à vigência da Lei nº 11.960/2009: juros de mora segundo o
índice de remuneração da caderneta de poupança; correção monetária com base no
IPCA-E.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
22/02/2018 (recurso repetitivo) (Info 620).
CONDENAÇÕES JUDICIAIS REFERENTES A SERVIDORES E EMPREGADOS PÚBLICOS
Acima, vimos as condenações em geral da Fazenda Pública (ex: indenização por danos morais).
No caso de condenações referentes a servidores e empregados públicos, existem algumas regras
específicas. Imagine que determinado servidor público ingressa com ação judicial cobrando
determinada gratificação que ele entende devida. Vamos ver abaixo quais os índices de juros e
correção monetária que o magistrado deverá aplicar em caso de condenação.
Veja a tabela abaixo, que pode ser cobrada nas provas, em especial na fase de sentença:
CONDENAÇÕES RELACIONADAS COM VERBAS DE SERVIDORES E EMPREGADOS
PÚBLICOS
PERÍODOS ENCARGOS
Juros de mora: 1% ao mês (capitalização simples).
Até julho/2001
Correção monetária: de acordo com o Manual de Cálculos da JF.
De agosto/2001 Juros de mora: 0,5% ao mês.
a junho/2009 Correção monetária: IPCA-E.
A partir de julho/2009 Juros de mora: índice de remuneração da caderneta de poupança.
Correção monetária: IPCA-E
A tese ficou assim redigida:
As condenações judiciais referentes a servidores e empregados públicos sujeitam-
se aos seguintes encargos:
a) até julho/2001: juros de mora: 1% ao mês (capitalização simples); correção
monetária: índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal, com
destaque para a incidência do IPCA-E a partir de janeiro/2001;
b) agosto/2001 a junho/2009: juros de mora: 0,5% ao mês; correção monetária:
IPCA-E;
c) a partir de julho/2009: juros de mora: remuneração oficial da caderneta de
poupança; correção monetária: IPCA-E.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
22/02/2018 (recurso repetitivo) (Info 620).
CONDENAÇÕES JUDICIAIS REFERENTES A DESAPROPRIAÇÕES
Correção monetária: Aplicam-se os índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal.
Juros de mora: Os juros de mora decorrem da demora no pagamento. Em relação aos juros de
mora, a tabela a seguir, extraída do Manual de Cálculos daJustiça Federal, demonstra os índices
incidentes de acordo com o período respectivo (não precisa memorizar):
JUROS DE MORA NA DESAPROPRIAÇÃO
Observação importante: se for benefício assistencial (BPC, também chamado de LOAS), neste
caso, aplica-se o IPCA-E, conforme decidiu o STF no RE 870947/SE. Portanto, não confunda:
Benefício previdenciário: INPC.
Benefício assistencial: IPCA-E.
Juros de mora:
Antes da Lei nº 11.960/2009: 1% ao mês, sujeitos à capitalização simples (art. 3º do DL
2.322/87).
Depois da Lei nº 11.960/2009: juros da poupança (art. 1º-F da Lei 9.494/97, com a redação
dada pela Lei nº 11.960/2009).
Conclusão: Veja a tabela abaixo, que pode ser cobrada nas provas, em especial na fase de sentença:
CONDENAÇÕES RELACIONADAS COM VERBAS DE NATUREZA PREVIDENCIÁRIA
PERÍODOS ENCARGOS
Até a vigência da Juros de mora: 1% ao mês.
Lei 11.430/2006 Correção monetária: de acordo com o Manual de Cálculos da JF.
Depois da Lei 11.430/2006 Juros de mora: 1% ao mês.
e antes da Lei 11.960/2009 Correção monetária: INPC.
Período posterior à Juros de mora: índice de remuneração da caderneta de poupança.
Lei 11.960/2009 Correção monetária: INPC.
Atualmente, portanto, as condenações da Fazenda Pública envolvendo verbas previdenciárias
devem obedecer aos seguintes encargos:
Juros de mora: índice da poupança.
Correção monetária: INPC.
A tese ficou assim redigida:
As condenações impostas à Fazenda Pública de natureza previdenciária sujeitam-
se à incidência do INPC, para fins de correção monetária, no que se refere ao
período posterior à vigência da Lei nº 11.430/2006, que incluiu o art. 41-A na Lei
nº 8.213/91.
Quanto aos juros de mora, no período posterior à vigência da Lei nº 11.960/2009,
incidem segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
22/02/2018 (recurso repetitivo) (Info 620).
CONDENAÇÕES JUDICIAIS NA REPETIÇÃO DE INDÉBITOS TRIBUTÁRIOS: Em relação às
condenações judiciais de natureza tributária, é ilegítima a aplicação do art. 1º-F da Lei nº
9.494/97, com redação dada pela Lei nº 11.960/2009, tanto em relação à correção monetária
quanto aos juros de mora.
Diante da inconstitucionalidade do art. 1º-F, quais serão os índices de correção monetária e juros
a serem aplicados? Em ações de indébito tributário, a Fazenda Pública deverá pagar suas dívidas
segundo o mesmo índice de juros que utiliza para receber os créditos tributários . Isso se
justifica em razão do princípio da isonomia. Não seria isonômico a Fazenda Pública cobrar os
créditos tributários utilizando um índice e no momento em que tivesse que pagar alguma quantia
ao contribuinte utilizasse outros índices menores, como os da poupança.
Em suma:
Correção monetária e juros de mora: são os mesmos utilizados pelo Fisco para a
cobrança de tributo pago em atraso.
Se o ente tributante adotar a taxa SELIC para cobrança de seus tributos (ex: União):
neste caso, será adotada também a SELIC para a repetição de indébitos tributários.
Como a SELIC já engloba juros e correção monetária, com a sua incidência fica vedada a
cumulação com quaisquer outros índices.
Se o ente tributante não tiver uma lei definindo a taxa de juros a ser aplicada na
cobrança de tributos: nesta hipótese, os juros de mora são calculados à taxa de 1% ao
mês.
A tese ficou assim redigida:
A correção monetária e a taxa de juros de mora incidentes na repetição de
indébitos tributários devem corresponder às utilizadas na cobrança de tributo
pago em atraso.
Não havendo disposição legal específica, os juros de mora são calculados à taxa de
1% ao mês (art. 161, § 1º, do CTN).
Observada a regra isonômica e havendo previsão na legislação da entidade
tributante, é legítima a utilização da taxa Selic, sendo vedada sua cumulação com
quaisquer outros índices.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
22/02/2018 (recurso repetitivo) (Info 620).
QUADRO-RESUMO DA SITUAÇÃO ATUAL:
JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA EM CONDENAÇÕES DA FAZENDA PÚBLICA
MATÉRIA ÍNDICES ATUAIS
Condenações judiciais em • Juros de mora: poupança.
geral (ex: danos morais) • Correção monetária: IPCA-E
Verbas de servidores e • Juros de mora: poupança.
empregados públicos Correção monetária: IPCA-E
• Juros de mora: poupança, capitalizados de forma simples,
correspondentes a:
a) 0,5% ao mês, caso a taxa SELIC ao ano seja superior a 8,5%;
Desapropriação
b) 70% da taxa SELIC ao ano, mensalizada, nos demais casos.
• Juros compensatórios: 1% (capitalização simples)
• Correção monetária: Manual de Cálculos da JF
• Juros de mora: poupança.
Benefícios previdenciários
• Correção monetária: INPC.
• Juros de mora: poupança.
Benefícios assistenciais
• Correção monetária: IPCA-E.
• Se o ente tributante adotar a taxa SELIC para cobrança de seus
tributos (ex: União): neste caso, será adotada também a SELIC
para a repetição de indébitos tributários. Como a SELIC já
engloba juros e correção monetária, com a sua incidência fica
vedada a cumulação com quaisquer outros índices.
Indébitos tributários • Se o ente tributante adotar outro índice diferente da SELIC:
este mesmo índice deverá ser utilizado quando esta Fazenda for
condenada em matéria tributária.
• Se o ente tributante não tiver uma lei definindo a taxa de juros
a ser aplicada na cobrança de tributos: nesta hipótese os juros de
mora são calculados à taxa de 1% ao mês.
66.2. Interpretação extensiva do art. 19, § 1º, I, da Lei nº 10.522/2002 – (Info 588)