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Direito Processual Civil STJ

1. O documento resume pontos atualizados de informativos sobre direito processual civil no site Dizer o Direito. 2. Dois princípios são destacados: a fundamentação das decisões judiciais não precisa responder a todos os argumentos das partes, e a "nulidade de algibeira" viola a boa-fé e não é aceita. 3. Dois pontos sobre curador especial são resumidos: a Defensoria Pública não precisa pagar preparo em recursos como curadora, e o curador especial pode apresentar reconvenção.

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Direito Processual Civil STJ

1. O documento resume pontos atualizados de informativos sobre direito processual civil no site Dizer o Direito. 2. Dois princípios são destacados: a fundamentação das decisões judiciais não precisa responder a todos os argumentos das partes, e a "nulidade de algibeira" viola a boa-fé e não é aceita. 3. Dois pontos sobre curador especial são resumidos: a Defensoria Pública não precisa pagar preparo em recursos como curadora, e o curador especial pode apresentar reconvenção.

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RESUMO DOS INFORMATIVOS - SITE DIZER O DIREITO

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Obs.: Com julgados anteriores ao CPC/2015

Atualizado em 02/12/2020: novos julgados + questões de concurso + compatibilização de alguns


antigos com o CPC/2015 (revisão)

Pontos atualizados: nº 12 (Info 655); nº 28 (Info 655); nº 43 (Info 655); nº 12 (Info 656); nº 28
(Info 656); nº 34 (Info 656); nº 43 (Info 656 – 2 julgados); nº 11 (Info 657); nº 25 (Info 658); nº 26
(Info 658); nº 28 (Info 658 – 2 julgados); nº 28 (Info 659 – 2 julgados); nº 22 (Info 637 e Info 660)
nº 43 (Info 660 – 3 julgados); nº 43 (Info 676)

1. PRINCÍPIOS
1.1. FUNDAMENTAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS: Análise do art. 489, § 1º, IV, do
CPC/2015 – (Info 585) – IMPORTANTE!!!

O julgador não está obrigado a responder a todas as questões suscitadas pelas partes, quando já
tenha encontrado motivo suficiente para proferir a decisão.
O julgador possui o dever de enfrentar apenas as questões capazes de infirmar (enfraquecer) a
conclusão adotada na decisão recorrida. Essa é a interpretação que se extrai do art. 489, § 1º, IV,
do CPC/2015.
Assim, mesmo após a vigência do CPC/2015, não cabem embargos de declaração contra a
decisão que não se pronunciou sobre determinado argumento que era incapaz de infirmar a
conclusão adotada.
STJ. 1ª Seção. EDcl no MS 21.315-DF, Rel. Min. Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF
da 3ª Região), j. 8/6/16 (Info 585).
OBS:
Fundamentação das decisões judiciais: O § 1º do art. 489 do CPC 2015 traz importantes regras
sobre a fundamentação da decisão judicial:
Art. 489 (...)
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,
sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua
relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua
incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela
parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do
entendimento.

Vejamos agora um julgado envolvendo o inciso IV. Imagine a seguinte situação hipotética
(diferente do caso concreto apreciado pelo STJ): João propôs ação de cobrança contra Pedro. O juiz
extinguiu o processo com resolução do mérito, nos termos do art. 487, II, do CPC/2015, por
reconhecer que a pretensão do autor estava prescrita. Além disso, o magistrado afirmou que
estava provado que Pedro já pagou o débito, não havendo, portanto, mais qualquer dívida. O
autor não se conformou e interpôs apelação. O Tribunal manteve a sentença, mas se manifestou
apenas sobre a prescrição, reconhecendo que ela estava presente no caso concreto. O acórdão nada
falou sobre o pagamento da dívida que foi reconhecido pelo juiz de 1º grau e questionado por João
no recurso. Diante disso, o autor apresentou embargos de declaração alegando que o acórdão do
Tribunal foi omisso porque não se pronunciou sobre o seu argumento de que o débito ainda não
foi pago e que, portanto, a dívida ainda existe. Assim, para o embargante, o acórdão violou o
inciso IV do § 1º do art. 489 do CPC/2015:
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,
sentença ou acórdão, que:
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador;

Os embargos opostos merecem ser acolhidos? Houve omissão do acórdão do Tribunal? O acórdão
do Tribunal contrariou a regra do art. 489, § 1º, IV, do CPC/2015? NÃO. A prescrição é uma causa
de extinção do processo que, sendo reconhecida, faz com que o julgador não examine mais se a
dívida é ou não devida. Logo, no exemplo hipotético, o Tribunal não tinha razão para se
manifestar sobre a discussão se o débito tinha sido ou não pago.

1.2. Boa-fé Objetiva e a “nulidade a algibeira: Nulidade da decisão do relator que julga o
agravo de instrumento a favor do agravante sem ouvir o agravado – (Info 539) – (MPMS-2015)

A "nulidade de algibeira" ocorre quando a parte se vale da “estratégia” de não alegar a nulidade
logo depois de ela ter ocorrido, mas apenas em um momento posterior, se as suas outras teses
não conseguirem ter êxito. Dessa forma, a parte fica com um trunfo, com uma “carta na manga”,
escondida, para ser utilizada mais a frente, como um último artifício.
Esse nome foi cunhado pelo falecido Ministro do STJ Humberto Gomes de Barros. Algibeira =
bolso. Assim, a “nulidade de algibeira” é aquela que a parte guarda no bolso (na algibeira) para
ser utilizada quando ela quiser.
Tal postura viola claramente a boa-fé processual e a lealdade, que são deveres das partes e de
todos aqueles que participam do processo. Por essa razão, a “nulidade de algibeira” é rechaçada
pela jurisprudência do STJ.
STJ. 3ª Turma. REsp 1372802-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 11/3/14 (Info 539).

2. CURADOR ESPECIAL
2.1. O recurso interposto pela Defensoria, na qualidade de curadora especial, não precisa de
preparo – (Info 641) – IMPORTANTE!!!

Tendo em vista os princípios do contraditório e da ampla defesa, o recurso interposto pela


Defensoria Pública, na qualidade de curadora especial, está dispensado do pagamento de
preparo.
STJ. Corte Especial. EAREsp 978895-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 18/12/18
(Info 641).

2.2. Curador especial pode apresentar reconvenção – (Info 613) – IMPORTANTE!!! – (Anal.
Judic./TRF1-2017)

O curador especial tem legitimidade para propor reconvenção em favor do réu citado por edital,
cujos interesses está defendendo.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.088.068-MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 29/8/17 (Info 613).
OBS:
Curador especial: O CPC prevê que, em determinadas situações, o juiz terá que nomear um
curador especial que irá defender, no processo civil, os interesses do réu. O curador especial
também é chamado de curador à lide.

Hipóteses em que será nomeado curador especial: Estão previstas no art. 72 do CPC. São quatro
situações:
a) Quando o réu for incapaz e não tiver representante legal;
b) Quando o réu for incapaz e tiver representante legal, mas os interesses deste (representante)
colidirem com os interesses daquele (incapaz);
c) Quando o réu estiver preso;
d) Quando o réu tiver sido citado por edital ou com hora certa, enquanto não for constituído
advogado.

Veja a redação legal:


Art. 72. O juiz nomeará curador especial ao:
I - incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses deste colidirem com
os daquele, enquanto durar a incapacidade;
II - réu preso revel, bem como ao réu revel citado por edital ou com hora certa,
enquanto não for constituído advogado.

Quais são os poderes do curador especial? O que ele faz no processo? O curador especial exerce
um múnus público. Sua função é a de defender o réu em juízo naquele processo. Possui os
mesmos poderes processuais que uma “parte”, podendo oferecer as diversas defesas
(contestação, exceção, impugnação etc.), produzir provas e interpor recursos. Por óbvio, o
curador especial não pode dispor do direito do réu (não pode, por exemplo, reconhecer a
procedência do pedido), sendo nulo qualquer ato nesse sentido. Vale ressaltar que, ao fazer a
defesa do réu, o curador especial pode apresentar uma defesa geral (“contestação por negação
geral”), não se aplicando a ele o ônus da impugnação especificada dos fatos (§ único, art. 341 do
CPC). Desse modo, o curador especial não tem o ônus de impugnar pontualmente (de forma
individualizada) cada fato alegado pelo autor.

O curador especial pode apresentar reconvenção? SIM. Como já dito, o curador nomeado tem
como função precípua defender o réu nas hipóteses legais. Por “defesa”, deve-se entender isso de
forma ampla, incluindo também a possibilidade de propor reconvenção. Tal orientação é a que
melhor se coaduna com o direito ao contraditório e à ampla defesa. A doutrina vai além e afirma
que o curador especial pode também propor ações autônomas de impugnação, a exemplo do
mandado de segurança contra ato judicial.

Este art. 72 é aplicável apenas ao processo (fase) de conhecimento? NÃO. O art. 72 deve ser
aplicado em qualquer processo, inclusive no caso de execução.
Súmula 196-STJ: Ao executado que, citado por edital ou por hora certa, permanecer
revel, será nomeado curador especial, com legitimidade para apresentação de
embargos.

O que essa função de curador especial tem a ver com a Defensoria Pública? A Lei Orgânica da
Defensoria Pública (LC 80/94) estabelece o seguinte:
Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:
XVI – exercer a curadoria especial nos casos previstos em lei;

Desse modo, o múnus público de curador especial de que trata o art. 72 do CPC deve ser
exercido pelo Defensor Público. O CPC/2015 afirmou isso expressamente:
Art. 72 (...)
Parágrafo único. A curatela especial será exercida pela Defensoria Pública, nos
termos da lei.

Quando o Defensor Público atua como “curador especial”, ele terá direito de receber honorários?
NÃO. O Defensor Público não faz jus ao recebimento de honorários pelo exercício da curatela
especial por estar no exercício das suas funções institucionais, para o que já é remunerado
mediante o subsídio em parcela única. STJ. Corte Especial. REsp 1.201.674-SP, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, j. 6/6/2012.

Todavia, ao final do processo, se o réu se sagrar vencedor da demanda, a instituição Defensoria


Pública terá direito aos honorários sucumbenciais.

Desse modo, apenas para que fique claro, o que se está dizendo é que o Defensor Público que atua
como curador especial não tem que receber honorários para atuar neste múnus público,
considerando que já se trata de uma de suas atribuições previstas em lei.

O Ministério Público pode exercer a função de curador especial? NÃO.

2.3. Quando o Defensor Público atua como “curador especial”, ele terá direito de receber
honorários? – (SEM INFO) – (DPEMT-2016)

O Defensor Público não faz jus ao recebimento de honorários pelo exercício da curatela
especial por estar no exercício das suas funções institucionais, para o que já é remunerado
mediante o subsídio em parcela única.
STJ. Corte Especial. REsp 1.201.674-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 6/6/2012.
(DPEMT-2016-UFMT): O Defensor Público não faz jus ao recebimento de honorários pelo
múnus de curador especial, por estar no exercício das suas funções institucionais, para o que já
é remunerado mediante o subsídio em parcela única.

OBS: Em linha de princípio, a Defensoria Pública faz jus a honorários sucumbenciais.


 Nessa hipótese, o STJ entende que os honorários sucumbenciais são devidos, salvo se a
ação foi ajuizada contra o próprio ente ao qual pertence a DP (Súmula 421 do STJ: "Os
honorários advocatícios não são devidos à Defensoria Pública quando ela atua contra a
pessoa jurídica de direito público à qual pertença").
 Para o STF, são devidos os honorários sucumbenciais, ainda que a ação seja contra o
ente ao qual vinculada a DP ("Após as ECs 45/04, 74/13 e 80/14, passou a ser permitida
a condenação do ente federativo em honorários advocatícios em demandas patrocinadas
pela Defensoria Pública, diante de autonomia funcional, administrativa e orçamentária da
Instituição. STF. Plenário. AR 1937).
 
Porém, a situação é outra em se tratando de honorários pelo exercício de curadoria especial,
quando, então, aqueles não são devidos. Nesse sentido: "Sendo o exercício da curadoria especial
função institucional da Defensoria Pública, descabe a fixação de honorários advocatícios pelo
exercício do referido encargo" (REsp 1203312).

3. DEPOSITÁRIO JUDICIAL
3.1. Possibilidade de o depositário judicial exercer direito de retenção – (Info 578)

O particular que aceita exercer o múnus público de depositário judicial tem o direito de reter o
depósito até que sejam ressarcidas as despesas com armazenagem e conservação do bem
guardado e pagos os seus honorários.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.300.584-MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 3/3/16 (Info 578).

4. AÇÃO DEMOLITÓRIA
4.1. Litisconsórcio passivo necessário em ação demolitória – (Info 565)

Na hipótese de ser proposta ação real imobiliária, o CPC determina que haja a citação não
apenas do réu, mas também de seu cônjuge. Confira:
 CPC-1973: Art. 10. (...) § 1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para as
ações: I - que versem sobre direitos reais imobiliários;
 CPC 2015: Art. 73 (...) § 1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a
ação: I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de
separação absoluta de bens;
Como a ação de nunciação de obra nova e de ação demolitória, são ações reais imobiliárias, o
réu que for casado deverá ser citado, salvo se, nos termos do novo CPC, o regime de bens for da
separação absoluta (art. 73, § 1º, I, do CPC 2015).
Assim, nos casos de ação de nunciação de obra nova e a ação demolitória haverá litisconsórcio
passivo necessário entre o proprietário do imóvel e seu cônjuge, salvo se eles forem casados sob
o regime de separação absoluta de bens, situação na qual somente será réu o proprietário do
bem.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.374.593-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 5/3/2015 (Info 565).

5. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ
5.1. Para a aplicação da multa por litigância de má-fé não se exige a comprovação de dano –
(Info 601) – IMPORTANTE!!!

O dano processual não é pressuposto para a aplicação da multa por litigância de má-fé prevista
no art. 18 do CPC/1973 (art. 81 do CPC/2015). Trata-se de mera sanção processual, aplicável
inclusive de ofício, e que não tem por finalidade indenizar a parte adversa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.065-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. p/acórdão Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, j. 21/2/2017 (Info 601).
OBS: Para o STJ, uma vez reconhecida a litigância de má-fé, devem ser impostas a multa e a
indenização (perdas e danos), sendo, no entanto, DESNECESSÁRIA a prova do prejuízo sofrido
pela parte adversa. A Corte entende que, em momento algum, o art. 18, caput e § 2º do CPC/1973
(art. 81, caput e § 3º do CPC/2015) exigem que haja prova do prejuízo para que a indenização seja
fixada. Segundo pensa o STJ, para a fixação da indenização, a lei só exige que haja um prejuízo,
mas este pode ser potencial ou presumido (não precisando ser demonstrado em concreto). Outro
argumento do STJ é o de que se fosse exigida comprovação de prejuízo, essa demonstração seria
extremamente difícil de ser feita, o que praticamente impossibilitaria a aplicação de tais sanções,
comprometendo a sua eficácia.

5.2. Para a indenização decorrente de litigância de má-fé não é necessária prova do prejuízo –
(Info 565)
A indenização prevista no art. 18, caput e § 2º, do CPC/73 (art. 81, caput e § 3º do CPC/15) tem
caráter reparatório (ou indenizatório), decorrendo de um ato ilícito processual.
Apesar disso, é desnecessária a comprovação do prejuízo para que haja condenação ao
pagamento da indenização prevista nesse dispositivo.
Em outras palavras, é desnecessária a comprovação de prejuízo para que haja condenação ao
pagamento de indenização por litigância de má-fé (art. 18, caput e § 2º, do CPC/73; art. 81, caput
e § 3º do CPC/15).
STJ. Corte Especial. EREsp 1.133.262-ES, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 3/6/15 (Info 565).

6. JUROS, CORREÇÃO MONETÁRIA, CUSTAS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS


6.1. JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA: Em regra, a instituição bancária não tem
responsabilidade de entregar ao credor os valores depositados em juízo acrescidos de juros
moratórios, salvo se, depois que o dinheiro tiver sido liberado pelo juízo, o banco se recusar ou
demorar a fazer a restituição – (Info 653)

Realizado pelo devedor o depósito da dívida para a garantia do juízo, cessa sua
responsabilidade pela incidência de correção monetária e de juros relativamente ao valor
depositado, passando a instituição financeira depositária a responder pela atualização
monetária, a título de conservação da coisa, e pelos juros remuneratórios, a título de frutos e
acréscimos, sendo indevida a incidência de novos juros moratórios, exceto se a instituição
financeira depositária recusar-se ou demorar injustificadamente na restituição integral do valor
depositado.
STJ. 4ª T. AgInt nos EDcl no REsp 1460908-PE, Rel. Min. Raul Araújo, j. 4/6/19 (Info 653).

6.2. Em caso de sentenças prolatadas a partir de 18/03/16, a condenação em honorários


advocatícios deverá observar o CPC/2015 – (Info 648)

A sentença, como ato processual que qualifica o nascedouro do direito à percepção dos
honorários advocatícios, deve ser considerada o marco temporal para a aplicação das regras
fixadas pelo CPC/2015.
Assim, nos casos de sentença proferida a partir do dia 18/3/16, deverão ser utilizadas as normas
do novo CPC relativas aos honorários sucumbenciais.
Isso se dá em homenagem à natureza híbrida dos honorários (processual e material) e também
tem por objetivo preservar os princípios do direito adquirido, da segurança jurídica e da não
surpresa, de sorte que as normas sobre honorários advocatícios de sucumbência não devem ser
alcançadas pela lei processual nova.
STJ. Corte Especial. EAREsp 1255986/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 20/3/19 (Info 648).

6.3. Honorários devem seguir regra objetiva; equidade é critério subsidiário – (Info 645)

Os honorários advocatícios só podem ser fixados com base na equidade de forma subsidiária,
ou seja:
• quando não for possível o arbitramento pela regra geral; ou
• quando for inestimável ou irrisório o valor da causa.
Assim, o juízo de equidade na fixação dos honorários advocatícios somente pode ser utilizado
de forma subsidiária, quando não presente qualquer hipótese prevista no § 2º do art. 85 do
CPC.
STJ. 2ª S. REsp 1746072-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Raul Araújo, j. 13/2/19
(Info 645).

6.4. É vedada a retenção de honorários advocatícios contratuais sobre crédito relativo a


diferenças do FUNDEF – (Info 643) – IMPORTANTE!!!

É vedada a retenção de honorários advocatícios contratuais sobre crédito relativo a diferenças


do FUNDEF.
Os valores relacionados ao FUNDEF, hoje FUNDEB, encontram-se constitucional e legalmente
vinculados ao custeio da educação básica e à valorização do seu magistério, sendo vedada a sua
utilização em despesa diversa, tais como honorários advocatícios contratuais.
Ex: determinado Município do interior do Estado ingressou com ação contra a União com o
objetivo de conseguir o repasse integral de verbas do FUNDEF. Como o Município não possuía
procuradores municipais concursados, foi contratado um escritório de advocacia privado para
patrocinar a causa. No contrato assinado com os advogados ficou combinado que, se o
Município vencesse a demanda, pagaria 20% do valor da causa ao escritório. O pedido foi
julgado procedente e transitou em julgado. O Município requereu, então, que 20% do valor da
condenação (verbas do FUNDEF a serem pagas pela União) fosse separado para pagamento dos
honorários contratuais dos advogados que atuaram na causa, nos termos do art. 22, § 4º da Lei
8.906/94. Esse pedido não deve ser acolhido. Não é possível a aplicação do art. 22, § 4º, da Lei
8.906/94 nas execuções contra a União em que se persigam quantias devidas ao
FUNDEF/FUNDEB, devendo o advogado credor buscar a satisfação de seu crédito por outros
meios.
STJ. 1ª Seção. REsp 1703697-PE, Rel. Min. Og Fernandes, j. 10/10/18 (Info 643).

6.5. Tribunal deve condenar o apelante em honorários advocatícios em caso de manutenção da


sentença que indeferiu a petição inicial – (Info 640)

Se a petição inicial é indeferida sem que tenha havido citação ou comparecimento espontâneo
do réu, a sentença não deve condenar o autor ao pagamento de honorários advocatícios
considerando que não há advogado constituído nos autos.
No entanto, se o autor recorre, o réu é intimado, apresenta contrarrazões e o Tribunal confirma
a sentença, então, neste caso, será cabível o arbitramento de honorários em prol do advogado do
réu/vencedor.
Dito de outro modo: em caso de indeferimento da petição inicial seguida de interposição de
apelação e a integração do executado à relação processual, mediante a constituição de advogado
e apresentação de contrarrazões, uma vez confirmada a sentença extintiva do processo, é cabível
o arbitramento de honorários em prol do advogado do vencedor (art. 85, § 2º, do CPC).
STJ. 4ª Turma. REsp 1753990-DF, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 9/10/18 (Info 640).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João ajuizou execução de um contrato (título executivo
extrajudicial) contra Pedro. O juiz, antes mesmo de citar Pedro, entendeu que o contrato não era
líquido e, por isso, indeferiu a petição inicial, julgando extinto o processo, nos termos do art. 485, I
c/c art. 924, I, do CPC/2015:
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:
I - indeferir a petição inicial; (...)

Art. 924. Extingue-se a execução quando:


I - a petição inicial for indeferida;

O magistrado condenou o exequente a pagar as custas processuais. Por outro lado, deixou de
condená-lo ao pagamento de honorários advocatícios considerando que não houve contraditório
já que o executado nem sequer chegou a ser citado:
Indeferida a inicial, sem a citação ou o comparecimento espontâneo do executado,
correta a sentença que não arbitrou honorários, dada a ausência de advogado
constituído nos autos. STJ. 4ª Turma. REsp 1753990/DF, Rel. Min. Maria Isabel
Gallotti, julgado em 09/10/2018.

Imagine que João não se conformou e quer recorrer. Qual é o recurso cabível? Qual recurso deve
ser interposto contra a decisão que indefere a petição inicial? A decisão que indefere a petição
inicial é uma sentença e, contra ela, cabe, portanto, apelação.

Existe alguma peculiaridade nesta apelação? SIM. É possível juízo de retratação por parte do
juiz, ou seja, o magistrado que indeferiu a petição inicial, ao ler os argumentos do autor/apelante,
poderá voltar atrás e admitir a exordial que ele havia indeferido:
Art. 331. Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no
prazo de 5 (cinco) dias, retratar-se.

Assim, em regra, não existe juízo de retratação em apelação.

Exceção: é cabível em caso de apelação contra sentença que indefere a petição inicial. Dizemos,
portanto, que a apelação interposta contra a sentença que indefere a petição inicial possui efeito
regressivo (admite juízo de retração).

Citação do réu: Imaginemos que João não se conformou com a sentença e interpôs apelação. O
juiz, por sua vez, não exerceu o juízo de retração, ou seja, manteve a sentença. O CPC prevê que,
se não houver retratação, o juiz deverá mandar citar o réu para responder ao recurso (art. 331, §
1º). Atenção para o fato de que somente agora é que o réu será citado e tomará conhecimento do
que está acontecendo.
Voltando ao nosso exemplo: João ingressou com a execução. O juiz indeferiu a petição inicial. O
exequente interpôs apelação. O juiz manteve a sentença e determinou a citação de Pedro. O
executado apresentou contrarrazões à apelação. O Tribunal de Justiça manteve a sentença,
julgando desprovida a apelação.

Decisão do Tribunal de Justiça quanto aos honorários: O Tribunal de Justiça desproveu a


apelação. No entanto, o TJ deixou de condenar o recorrente ao pagamento de honorários
advocatícios sob o argumento de que estes não seriam devidos na fase recursal, considerando que
não foram fixados em 1ª instância. O TJ utilizou como argumento a redação do art. 85, § 11 do
CPC/15, que afirma que o Tribunal majorará (aumentará) os honorários que já foram fixados na
fase anterior. Veja:
Art. 85 (...)
§ 11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados anteriormente
levando em conta o trabalho adicional realizado em grau recursal (...).

Agiu acertadamente o Tribunal? NÃO.

Em regra, não há honorários recursais se não foram fixados honorários na 1ª instância : O STJ
realmente afirma que os honorários recursais não têm autonomia nem existência independente
da sucumbência fixada na origem e representam um acréscimo (uma “majoração”) em relação
aos honorários que já foram estipulados na fase anterior. Assim, em regra, se não foram fixados
honorários na fase anterior, não há que se falar em condenação em honorários recursais. Nesse
sentido: STJ. 2ª Turma. AREsp 1.050.334/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
28/3/2017.

Não se trata, contudo, de aplicar o § 11 do art. 85: Ocorre que a hipótese em exame não trata dos
honorários recursais a que se refere o §11 do art. 85 do CPC, de modo que há de se fazer a devida
distinção. Aqui são devidos honorários advocatícios, não com base no § 11 do art. 85, mas sim
com fundamento no caput e no § 1º deste artigo:
Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do
vencedor.
§ 1º São devidos honorários advocatícios na reconvenção, no cumprimento de
sentença, provisório ou definitivo, na execução, resistida ou não, e nos recursos
interpostos, cumulativamente.

Não houve arbitramento de verba honorária em primeiro grau de jurisdição unicamente porque
foi proferida a sentença de indeferimento da inicial, sem angularização da relação jurídica
processual. Ora, sem a citação ou o comparecimento espontâneo do réu, não se completou a
formação da relação jurídica processual, não houve resistência ao pedido. Logo, como o réu não
constituiu advogado, não havia motivo para o autor ser condenado a pagar honorários
advocatícios.

Contudo, com a apresentação do recurso de apelação do autor, foi feita a citação do executado,
que constituiu advogado e apresentou contrarrazões ao recurso. A partir de então, o processo
passou a ter os três polos angularizados (autor, juiz e réu) e houve, com o recurso e as respectivas
contrarrazões, pretensão resistida. Com o julgamento da apelação, o Tribunal de Justiça
entendeu indevido o pleito de reforma da sentença, momento a partir do qual passou a estar
configurada a hipótese de estabelecimento de honorários de sucumbência em face da extinção
da execução após a apresentação de defesa pelo executado. Desse modo, o mero fato de não ter
havido, em primeira instância, fixação de verba honorária, não autoriza que deixe de ser
aplicado o art. 85 do CPC a partir da apelação quando, extinta a relação processual, houver
advogado constituído nos autos pela parte vitoriosa.

6.6. Os honorários advocatícios contratuais não se incluem nas despesas processuais do art. 82,
§ 2º, do CPC/2015 – (Info 636)

O § 2º do art. 82 do CPC/2015 prevê que: “a sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor


as despesas que antecipou.”
O sucumbente deve arcar também com os honorários contratuais que foram pagos pela parte
vencedora? Não. O vencido deverá pagar apenas os honorários sucumbenciais.
Os honorários advocatícios contratuais não se incluem nas despesas processuais do art. 82, § 2º,
do CPC/2015 (art. 20 do CPC/1973).
STJ. 3ª Turma. REsp 1571818-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 9/10/18 (Info 636).

6.7. HONORÁRIOS PERICIAIS: Mesmo que o dispositivo da sentença mencione apenas a


condenação em custas processuais, é possível incluir a cobrança dos honorários periciais – (Info
598 e Info 635) – IMPORTANTE!!!

A sentença transitou em julgado condenando a parte a pagar "custas processuais", sem falar
sobre os honorários periciais. É possível que esses honorários periciais sejam cobrados da parte
sucumbente mesmo não tendo sido expressamente mencionados na sentença?
SIM. É adequada a inclusão dos honorários periciais em conta de liquidação mesmo quando o
dispositivo de sentença com trânsito em julgado condena o vencido, genericamente, ao
pagamento de custas processuais. Quem tem razão não deve sofrer prejuízo pelo processo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.558.185-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 2/2/17 (Info 598).
STJ. Corte Especial. EREsp 1519445-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, j.
19/09/2018 (Info 635).

6.8. CAUÇÃO: Não é necessária a prestação da caução do art. 83 do CPC/2015 para o


ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devidamente representada no Brasil –
(Info 632)

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação
do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas
processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/20151).
Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial
estrangeira devidamente representada no Brasil.
Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça
brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a
propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma
agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).
STJ. 3ª Turma.REsp 1584441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 21/8/2018 (Info 632).

6.9. Configura supressão de instância o STJ fixar diretamente os honorários advocatícios que
haviam sido estipulados erroneamente com base no CPC/73 – (Info 617)

Configura supressão de grau de jurisdição o arbitramento no STJ de honorários de


sucumbência com base no CPC/15, na hipótese em que as instâncias ordinárias utilizaram
equivocadamente o CPC/73 para a sua fixação.
Ex: TJ fixou honorários advocatícios com base no CPC/73, mesmo tendo o acórdão sido
prolatado após o CPC/15; no Resp, o STJ deverá reformar o acórdão recorrido e determinar o
retorno dos autos ao TJ para que esta Corte faça um novo julgamento da apelação e analise os
honorários advocatícios de sucumbência com base no CPC/15.
STJ. 1ª Turma. REsp 1647246-PE, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Regina
Helena Costa, j. 21/11/17 (Info 617).

6.10. Para que a cessão do precatório seja válida, é necessário que o crédito cedido esteja
expressamente consignado no precatório – (Info 607)

O cessionário de honorários advocatícios tem legitimidade para se habilitar no crédito


consignado em precatório desde que comprovada a validade do ato de cessão por escritura
pública e seja discriminado o valor devido a título de verba honorária no próprio requisitório ,
não preenchendo esse último requisito a simples apresentação de planilha de cálculo final
elaborada pelo Tribunal de Justiça.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.127.228-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 21/6/17 (Info 607).

6.11. Sentença proferida após o CPC/15 deverá observar as suas regras quanto aos honorários,
ainda a ação tenha sido proposta antes da sua entrada em vigor – (Info 602) – (TJPR-2019)

Os honorários advocatícios nascem contemporaneamente à sentença e não preexistem à


propositura da demanda.

1
Art. 83. O autor, brasileiro ou estrangeiro, que residir fora do Brasil ou deixar de residir no país ao longo
da tramitação de processo prestará caução suficiente ao pagamento das custas e dos honorários de
advogado da parte contrária nas ações que propuser, se não tiver no Brasil bens imóveis que lhes
assegurem o pagamento.
Assim sendo, nos casos de sentença proferida a partir do dia 18/3/2016, deverão ser aplicadas as
normas do CPC/2015.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.636.124-AL, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 6/12/16 (Info 602).
(TJPR-2019-CESPE): Nos processos judiciais, a fixação de honorários advocatícios
sucumbenciais é regida pela lei vigente na data de prolação da sentença. BL: Info 602, STJ.

6.12. Honorários com cláusula ad exitum e renúncia do advogado antes do fim da demanda –
(Info 601) – (TJPR-2017)

Nos contratos em que estipulado o êxito como condição remuneratória dos serviços
advocatícios prestados, a renúncia do patrono originário, antes do julgamento definitivo da
causa, não lhe confere o direito imediato ao arbitramento de verba honorária proporcional ao
trabalho realizado, sendo necessário aguardar o desfecho processual positivo para a apuração
da quantia devida.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.337.749-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 14/2/17 (Info 601).

6.13. Não cabem honorários recursais em recurso envolvendo processo de mandado de


segurança – (Info 592) – IMPORTANTE!!!

Não cabe a fixação de honorários recursais (art. 85, § 11, do CPC/15) em caso de recurso
interposto no curso de processo cujo rito exclua a possibilidade de condenação em honorários.
Em outras palavras, não é possível fixar honorários recursais quando o processo originário não
preveja condenação em honorários.
Assim, suponha que foi proposta uma ação que não admite fixação de honorários advocatícios.
Imagine que uma das partes, no bojo deste processo, interponha recurso extraordinário. O STF,
ao julgar este RE, não fixará honorários recursais, considerando que o rito aplicável ao processo
originário não comporta condenação em honorários advocatícios.
Como exemplo desta situação, podemos citar o mandado de segurança, que não admite
condenação em honorários advocatícios (art. 25 da Lei 12.016/09, súmula 105-STJ e súmula 512-
STF). Logo, se for interposto um recurso ordinário constitucional ou um recurso extraordinário
neste processo, o Tribunal não fixará honorários recursais.
Assim, pode-se dizer que o art. 25 da Lei 12.016/09, que veda a condenação em honorários
advocatícios "no processo mandamental", afasta a incidência do regime do art. 85, § 11, do
CPC/2015.
STJ. 2ª Turma. RMS 52.024-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 6/10/16 (Info 592).
STF. 1ª Turma. ARE 948578 AgR/RS, ARE 951589 AgR/PR e ARE 952384 AgR/MS, Rel. Min.
Marco Aurélio, j. 21/6/16 (Info 831).

6.14. Advogado pode ser obrigado a restituir os honorários advocatícios de sucumbência caso a
sentença seja rescindida – (Info 589)

Advogado recebeu honorários de sucumbência decorrentes de sua atuação em um processo que


transitou em julgado. Posteriormente, esta sentença é rescindida em ação rescisória. O
advogado poderá ser obrigado a devolver os valores que recebeu a título de honorários.
Em um caso concreto, o STJ entendeu que, se a decisão judicial que ensejou a fixação de
honorários de sucumbência for parcialmente rescindida, é possível que o autor da rescisória,
em posterior ação de cobrança, pleiteie a restituição da parte indevida da verba advocatícia,
ainda que o causídico, de boa-fé, já a tenha levantado.
Os honorários são verbas alimentares. O princípio da irrepetibilidade das verbas de natureza
alimentar não proíbe, neste caso, a devolução?
NÃO. O princípio da irrepetibilidade das verbas de natureza alimentar não é absoluto e, no
caso, deve ser flexibilizado para viabilizar a restituição dos honorários de sucumbência já
levantados, tendo em vista que, com o provimento parcial da ação rescisória, não mais subsiste
a decisão que lhes deu causa. Devem ser aplicados os princípios da vedação ao enriquecimento
sem causa, da razoabilidade e da máxima efetividade das decisões judiciais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.549.836-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min.
João Otávio de Noronha, j. 17/5/16 (Info 589).

6.15. Impossibilidade de condenação implícita em honorários advocatícios – (Info 565)

João propôs ação de indenização por danos morais contra Pedro, tendo o juiz julgado o pedido
procedente, condenando o réu ao pagamento de: a) R$ 200 mil a título de danos morais; b)
honorários advocatícios de 10% sobre o valor da condenação; c) custas e despesas processuais.
Pedro interpôs apelação e o Tribunal de Justiça anulou a sentença, extinguindo o processo sem
resolução do mérito. Ao final do voto, o Desembargador escreveu o seguinte: "invertidos os
ônus da sucumbência".
Contra o acórdão do TJ não houve recurso das partes, tendo havido o trânsito em julgado. O
advogado de Pedro, de posse do acórdão do TJ, ingressou com execução de honorários
advocatícios cobrando de João R$ 20 mil reais. Segundo o advogado, o TJ, ao inverter os ônus
da sucumbência, condenou João a pagar o valor que havia sido arbitrado pelo juiz, em 1ª
instância, como honorários advocatícios (10% sobre o valor da condenação).
A execução proposta pelo advogado teve sucesso?
NÃO. Não cabe a execução de honorários advocatícios com base na expressão "invertidos os
ônus da sucumbência" empregada por acórdão que, anulando sentença de mérito que fixara a
verba honorária em percentual sobre o valor da condenação, extinguiu o processo sem
resolução de mérito.
Quando o Tribunal escreve essa expressão "invertidos os ônus da sucumbência", isso não é
suficiente para concluir que ele tenha condenado o vencido a pagar os honorários advocatícios
do vencedor do recurso. Para o STJ, não se pode entender que os honorários advocatícios estão
implicitamente incluídos. Na verdade, entende-se que, neste caso, houve omissão do Tribunal.
Assim, para o STJ, se o Tribunal, ao anular ou reformar a sentença, omite-se quanto à
condenação da parte vencida em honorários advocatícios, deve a parte vencedora opor
embargos de declaração. Não o fazendo, não é possível depois voltar ao tema na fase de
execução, buscando a condenação da parte vencida ao pagamento da referida verba, sob pena
de ofensa à coisa julgada.
O entendimento acima permanece o mesmo com o CPC 2015?
NÃO. O novo CPC traz regra expressa prevendo que, mesmo que a decisão judicial seja omissa
quanto aos honorários, ainda assim será possível cobrá-los mediante ação autônoma. Veja:
Art. 85 (...) § 18. Caso a decisão transitada em julgado seja omissa quanto ao direito aos
honorários ou ao seu valor, é cabível ação autônoma para sua definição e cobrança.
Diante disso, com a entrada do CPC 2015, a súmula 453 do STJ fica SUPERADA.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.285.074-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 23/6/15 (Info 565).

6.16. A execução de contrato de honorários não pode ser proposta contra pessoa jurídica que
não tenha assinado o pacto, mesmo que integrante do mesmo grupo econômico – (Info 555)

Determinado advogado assinou contrato de prestação de serviços advocatícios com a empresa


“A” que, depois de alguns meses, mostrou-se inadimplente.
O advogado ajuíza, então, execução de título extrajudicial contra a empresa “A” e também
contra duas outras pessoas jurídicas “B” e “C”, que têm personalidades jurídicas distintas, mas
que integram o mesmo grupo econômico da empresa “A”.
Ele poderia ter feito isso? As empresas “B” e “C” podem figurar no polo passivo dessa execução
em virtude de fazerem parte do mesmo grupo econômico?
NÃO. Não estão legitimadas a integrar o polo passivo de ação de execução de honorários
advocatícios as sociedades empresárias que não figurarem no título executivo extrajudicial,
ainda que sejam integrantes do mesmo grupo econômico da sociedade empresária que firmou o
contrato de prestação de serviços advocatícios.
O fato de sociedades empresárias pertencerem a um mesmo grupo econômico, por si só, não as
torna automaticamente solidárias nas respectivas obrigações.
Cada pessoa jurídica tem personalidade e patrimônio próprios, distintos, justamente para
assegurar a autonomia das relações e atividades de cada sociedade empresária, ainda que
integrantes de um mesmo grupo econômico. Somente em casos excepcionais essas distinções
podem ser superadas, motivadamente (art. 50 do CC).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.404.366-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 23/10/2014 (Info 555).

6.17. Inexistência de honorários ao perito que elabora os cálculos do credor na chamada


“liquidação por cálculos” – (Info 541) – IMPORTANTE!!!

Na chamada “liquidação por cálculos do credor”, o exequente não pode transferir para o
executado o ônus que ele teve com o pagamento de honorários a um perito para que este
elaborasse a memória de cálculos.
Para o STJ, na liquidação por cálculos do credor, as operações aritméticas necessárias para se
chegar ao quantum debeatur são elementares (soma, subtração, divisão e multiplicação). Por
isso, não há necessidade de o credor contratar um profissional para a sua elaboração. Essa
memória de cálculos deverá ser elaborada diretamente pela parte ou por seu advogado.
Se o credor contratar um expert para elaborar a planilha isso é um problema dele, ou seja, é um
custo extra que o credor decidiu assumir, não havendo previsão no CPC de que esse ônus possa
ser repassado ao devedor.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.274.466-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 14/5/14 (recurso
repetitivo) (Info 541).

7. ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA
7.1. Ônus da sucumbência em caso de sentença de extinção do processo sem resolução do
mérito – (Info 600)

Nas hipóteses de extinção do processo sem resolução de mérito provocada pela perda do
objeto da ação em razão de ato de terceiro e sem que exista a possibilidade de se saber qual
dos litigantes seria sucumbente se o mérito da ação fosse julgado, o pagamento das custas
e dos honorários advocatícios deve ser rateado entre as partes.
Ex: João teve um ataque cardíaco e foi internado em um hospital particular, onde
colocaram um stent no paciente. Inicialmente, o plano de saúde de João recusou-se a pagar
ao hospital os valores despendidos com o stent. Diante disso, o hospital ingressou com
ação cobrando este valor de João. Ocorre que João havia feito um pedido administrativo de
reconsideração ao plano de saúde, que foi acolhido e, assim, o convênio transferiu
espontaneamente o dinheiro do tratamento ao hospital. Neste caso, o juiz deverá extinguir
o processo sem resolução do mérito por perda superveniente do interesse de agir e
condenar as duas partes ao pagamento das custas e dos honorários advocatícios divididos
entre elas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.641.160-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 16/3/17 (Info 600).
OBS: Segundo a jurisprudência do STJ, sendo o processo extinto sem resolução do mérito,
cabe ao juiz investigar, sob a égide do princípio da causalidade, qual parte deu origem à
extinção do processo sem julgamento de mérito ou qual das partes seria sucumbente se o
mérito da ação fosse julgado. No presente caso, a extinção do feito não foi causada por ato
das partes, mas sim por ato de terceiro, que efetuou o pagamento do valor devido. Desse
modo, é impossível dizer qual dos litigantes seria sucumbente se o mérito da ação fosse
julgado. Assim, na situação em tela, é inviável imputar a uma ou a outra parte a
responsabilidade pelos ônus sucumbenciais, mostrando-se adequado que cada uma das
partes suporte os encargos relativos aos honorários advocatícios e às custas processuais,
rateando o quantum estabelecido pela sentença. Vale ressaltar que o plano de saúde é
considerado “terceiro” porque não participava da relação processual.

8. PRECATÓRIOS
8.1. Incidem juros da mora entre a data da realização dos cálculos e a da requisição ou do
precatório – (Info 645)

Incidem os juros da mora no período compreendido entre a data da realização dos cálculos e a
da requisição de pequeno valor (RPV) ou do precatório.
STF. Plenário.RE 579431/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 19/4/17 (repercussão geral) (Info 861).
STJ. Corte Especial. QO no REsp 1665599-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 20/3/19
(recurso repetitivo) (Info 645).

Obs: cuidado para não confundir com a SV 17: Durante o período previsto no parágrafo 1º (obs:
atual § 5º) do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele
sejam pagos. O período de que trata este RE 579431/RS é anterior à requisição do precatório, ou
seja, anterior ao interregno tratado pela SV 17.

8.2. O limite previsto no § 2º do art. 100 da CF/88 é aplicável para cada precatório
individualmente considerado (Info 570) – IMPORTANTE!!!

O § 2º do art. 100 prevê que os débitos de natureza alimentícia que tenham como beneficiários
pessoas com 60 anos de idade ou mais ou portadoras de doenças graves terão uma preferência
ainda maior. É como se fosse uma “fila com superpreferência”.
A superprioridade para créditos alimentares de idosos e portadores de doenças graves (§ 2º) só
vai até 3 vezes o valor da RPV (§ 4º do art. 100). Assim, se o valor a ser recebido pelo idoso ou
doente grave for superior a 3 vezes o que é considerado "pequeno valor" para fins de precatório
(§ 4º), parte dele será paga com superpreferência e o restante será quitado na ordem
cronológica de apresentação do precatório.
Imagine que um idoso possua mais de um precatório para receber. Esse valor máximo para
receber na fila superpreferencial do § 2º é um valor para cada precatório ou para a totalidade
deles? Ex: Pedro tem dois precatórios para receber da União: um no valor de 120 salários-
mínimos e outro no valor de 100 salários-mínimos. Em se tratando da União, o limite de que
trata o § 2º é 180 salários-mínimos (3x60). Pedro poderá receber os dois precatórios na fila
especial do § 2º?
SIM. A limitação de valor para o direito de preferência previsto no art. 100, § 2º, da CF aplica-
se para cada precatório de natureza alimentar, e não para a totalidade dos precatórios
alimentares de titularidade de um mesmo credor preferencial, ainda que apresentados no
mesmo exercício financeiro e perante o mesmo devedor.
A CF/88 não proibiu que a pessoa maior de 60 anos ou doente grave participasse da listagem de
credor superpreferencial do § 2º por mais de uma vez. Ela só proibiu que o precatório recebido
fosse maior do que 3x o valor da RPV. Logo, não cabe ao intérprete criar novas restrições não
previstas no texto constitucional.
Assim, em nosso exemplo, Pedro poderá receber os dois precatórios na fila do § 2º do art. 100.
Isso porque, se considerados individualmente, nenhum dos dois precatórios é superior a 180
salários-mínimos.
STJ. 1ª Turma. RMS 46.155-RO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 22/9/15 (Info 570).

8.3. Cobrança dos honorários por meio de RPV ainda que o crédito dito “principal” seja
executado por meio do regime de precatórios – (Info 539) – IMPORTANTE!!! MUDANÇA DE
ENTENDIMENTO!!!

Se a Fazenda Pública for condenada a pagar dinheiro, deverá o pagamento ser feito, em regra,
por meio de precatório.
Se a quantia for considerada como de “pequeno valor”, não haverá necessidade de precatório.
É possível que a execução de honorários advocatícios devidos pela Fazenda Pública se faça
mediante Requisição de Pequeno Valor (RPV) na hipótese em que os honorários não excedam
o valor limite a que se refere o art. 100, § 3º, da CF, ainda que o crédito dito “principal” seja
executado por meio do regime de precatórios.
Em outras palavras, é possível o fracionamento de precatório para pagamento de honorários
advocatícios.
STF. Plenário. RE 564132/RS, red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia, julgado em 30/10/2014
(repercussão geral) (Info 765).
STJ. 1ª Seção. REsp 1.347.736-RS, Rel. Min. Castro Meira, Rel. para acórdão Min. Herman
Benjamin, j. 9/10/13 (recurso repetitivo) (Info 539).

9. DEPÓSITOS JUDICIAIS
9.1. A correção monetária dos depósitos judiciais deve incluir os expurgos inflacionários –
(Info 607)

A correção monetária dos depósitos judiciais deve incluir os expurgos inflacionários.


STJ. Corte Especial. REsp 1.131.360-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão
Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 3/5/17 (recurso repetitivo) (Info 607).

10. LITISCONSÓRCIO
10.1. O prazo em dobro dos litisconsortes com procuradores diferentes aplica-se aos processos
judiciais eletrônicos? – (Info 560) – IMPORTANTE!!!

Quando houver litisconsórcio, seja ele ativo (dois ou mais autores) ou passivo (dois ou mais
réus), caso os litisconsortes tenham advogados diferentes, os seus prazos serão contados em
dobro. É o que determina o art. 191 do CPC 1973.
O art. 229 do CPC 2015 também traz regra semelhante, exigindo, contudo, que, além de serem
procuradores (advogados) diferentes, os causídicos também sejam de escritórios de advocacia
diferentes: “Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia
distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo
ou tribunal, independentemente de requerimento.”
O benefício do prazo em dobro para os litisconsortes vale para processos eletrônicos?
 No CPC 1973: SIM. O objetivo do prazo em dobro é facilitar o acesso aos autos, já que,
havendo advogados diferentes, eles não poderiam tirar os autos do cartório. Com base
nisso, o STJ entende que não haveria justificativa para o prazo em dobro nos processos
eletrônicos, contudo, como o art. 191 do CPC 1973 não faz qualquer distinção entre
processos físicos e eletrônicos, o STJ afirma que não se pode excluir o prazo em dobro
mesmo nos processos eletrônicos, sob pena de haver uma afronta ao princípio da
legalidade.
 No CPC 2015: NÃO. O § 2º do art. 229 do CPC 2015 “corrige” essa falha da lei e
determina expressamente que não se aplica o prazo em dobro para litisconsortes
diferentes se o processo for em autos eletrônicos. Desse modo, quando o CPC 2015
entrar em vigor, os litisconsortes não terão prazo em dobro no processo eletrônico
mesmo que possuam procuradores diferentes. Até lá, contudo, continua sendo aplicado
o prazo em dobro tanto para processos físicos como eletrônicos.
STJ. 3ª T. REsp 1.488.590-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 14/4/2015 (Info 560).

11. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS


11.1. CUSTUS VULNERABILIS: Admite-se a intervenção da DPU no feito como custos
vulnerabilis nas hipóteses em que há formação de precedentes em favor dos vulneráveis e dos
direitos humanos – (Info 657) – IMPORTANTE!!! ATENÇÃO!!! DPE e DPU!!! – (MPCE-2020)

Custos vulnerabilis significa “guardiã dos vulneráveis” (“fiscal dos vulneráveis”).


Enquanto o MP atua como custos legis (fiscal ou guardião da ordem jurídica), a Defensoria
Pública possui a função de custos vulnerabilis.
Assim, segundo a tese da Instituição, em todo e qualquer processo onde se discuta interesses
dos vulneráveis seria possível a intervenção da Defensoria Pública, independentemente de
haver ou não advogado particular constituído.
Quando a Defensoria Pública atua como custos vulnerabilis, a sua participação processual
ocorre não como representante da parte em juízo, mas sim como protetor dos interesses dos
necessitados em geral.
O STJ afirmou que deve ser admitida a intervenção da Defensoria Pública da União no feito
como custos vulnerabilis nas hipóteses em que há formação de precedentes em favor dos
vulneráveis e dos direitos humanos.
STJ. 2ª S. EDcl no REsp 1712163-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 25/09/2019 (Info 657).
(MPCE-2020-CESPE): Em determinada seção do STJ, durante julgamento de recurso especial
repetitivo acerca de discussão referente ao custeio de medicamento por plano de saúde,
questão que se reflete em diversas demandas de consumidores economicamente vulneráveis,
foi admitido o ingresso da Defensoria Pública da União na qualidade de guardião dos
vulneráveis (custos vulnerablis). Nessa hipótese, de acordo com a jurisprudência atual do STJ, a
atuação como guardião dos vulneráveis representa uma forma interventiva da Defensoria
Pública em nome próprio e em favor de seus interesses institucionais, sendo-lhe permitida a
interposição de recurso. BL: Info 657, STJ.

OBS: O custos vulnerabilis é o mesmo que amicus curiae? NÃO. Vejamos as principais diferenças:
Amicus curiae Custos vulnerabilis
(“amigo do Tribunal”) (“guardiã dos vulneráveis”)
Pode intervir como amicus curiae qualquer pessoa Somente a Defensoria Pública pode intervir
natural ou jurídica, órgão ou entidade como custos vulnerabilis.
especializada, com representatividade adequada.
Em regra, admite-se a intervenção do amicus Admite-se a intervenção do custos vulnerabilis
curiae em qualquer tipo de processo, desde que: em qualquer processo no qual estejam sendo
a) a causa tenha relevância; e discutidos interesses de vulneráveis.
b) a pessoa tenha capacidade de oferecer
contribuição ao processo.
Em regra, o amicus curiae não pode recorrer. O custos vulnerabilis pode interpor qualquer
Exceção 1: o amicus curiae pode opor embargos espécie de recurso.
de declaração em qualquer processo que intervir
(art. 138, § 1º do CPC/2015).
Exceção 2: o amicus curiae pode recorrer da
decisão que julgar o incidente de resolução de
demandas repetitivas (art. 138, § 3º do
CPC/2015).
 
11.2. INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA: Para que
haja o redirecionamento da execução fiscal, é necessária a instauração de incidente de
desconsideração da personalidade jurídica? – (Info 643 e Info 648) – IMPORTANTE!!!

O CPC/15, de forma inovadora, previu, em seus arts. 133 a 137, um incidente de desconsideração
da personalidade jurídica. Indaga-se: Esse incidente aplica-se também para a execução fiscal?
Para que haja o redirecionamento da execução fiscal, é necessária a instauração de incidente de
desconsideração da personalidade jurídica? O tema ainda é polêmico no STJ:

NÃO. Julgado da 2ª Turma do STJ: É prescindível o incidente de desconsideração da


personalidade jurídica para o redirecionamento da execução fiscal na sucessão de empresas
com a configuração de grupo econômico de fato e em confusão patrimonial.
STJ. 2ª T. REsp 1.786.311-PR, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 09/05/2019 (Info 648).
Na ementa, consta, de forma genérica, que o incidente de desconsideração seria incompatível
com a execução fiscal:
“A previsão constante no art. 134, caput, do CPC/2015, sobre o cabimento do incidente de
desconsideração da personalidade jurídica, na execução fundada em título executivo
extrajudicial, não implica a incidência do incidente na execução fiscal regida pela Lei n.
6.830/1980, verificando-se verdadeira incompatibilidade entre o regime geral do Código de
Processo Civil e a Lei de Execuções, que diversamente da Lei geral, não comporta a apresentação
de defesa sem prévia garantia do juízo, nem a automática suspensão do processo, conforme a
previsão do art. 134, § 3º, do CPC/2015. Na execução fiscal a aplicação do CPC é subsidiária, ou
seja, fica reservada para as situações em que as referidas leis são silentes e no que com elas
compatível (...)”
“Evidenciadas as situações previstas nos arts. 124, 133 e 135, todos do CTN, não se apresenta
impositiva a instauração do incidente de desconsideração da personalidade jurídica, podendo o
julgador determinar diretamente o redirecionamento da execução fiscal para responsabilizar a
sociedade na sucessão empresarial.”

SIM, em algumas hipóteses. Julgado da 1ª Turma do STJ: Como foi divulgado no Informativo:
É necessária a instauração do incidente de desconsideração da personalidade da pessoa jurídica
devedora para o redirecionamento de execução fiscal a pessoa jurídica que integra o mesmo
grupo econômico, mas que não foi identificada no ato de lançamento (Certidão de Dívida
Ativa) ou que não se enquadra nas hipóteses dos arts. 134 e 135 do CTN.
STJ. 1ª T. REsp 1.775.269-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 21/02/2019 (Info 643).

Para a 1ª Turma, o incidente somente é necessário em algumas situações de redirecionamento.


Podemos assim resumir:
• Não é necessária a instauração do incidente de desconsideração da personalidade jurídica
(art. 133 do CPC/15) no processo de execução fiscal no caso em que a Fazenda Pública exequente
pretende alcançar pessoa distinta daquela contra a qual, originalmente, foi ajuizada a execução,
mas cujo nome consta na Certidão de Dívida Ativa, após regular procedimento administrativo,
ou, mesmo o nome não estando no título executivo, o Fisco demonstre a responsabilidade, na
qualidade de terceiro, em consonância com os arts. 134 e 135 do CTN.
• Por outro lado, é necessária a instauração do incidente de desconsideração da personalidade
da pessoa jurídica devedora para o redirecionamento de execução fiscal a pessoa jurídica que
integra o mesmo grupo econômico, mas que não foi identificada no ato de lançamento
(Certidão de Dívida Ativa) ou que não se enquadra nas hipóteses dos arts. 134 e 135 do CTN.
STJ. 1ª T. REsp 1775269-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 21/02/2019 (Info 643)

11.3. DENUNCIAÇÃO DA LIDE: Mesmo apresentada fora do prazo, a denunciação da lide


feita pelo réu pode ser admitida se o denunciado comparece apenas para contestar o pedido do
autor – (Info 606)

Não é extinta a denunciação da lide apresentada intempestivamente pelo réu nas hipóteses em
que o denunciado contesta apenas a pretensão de mérito da demanda principal.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.637.108-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 6/6/17 (Info 606).

11.4. CHAMAMENTO AO PROCESSO: Chamamento ao processo e fornecimento de


medicamento – (Info 539) – IMPORTANTE!!! – (MPRO-2013) (DPEPR-2017)

Nas ações para fornecimento de medicamentos, apesar de a obrigação ser solidária entre
Municípios, Estados e União, caso o autor tenha proposto a ação apenas contra o Estado-
membro, não cabe o chamamento ao processo da União, medida que apenas iria protelar a
solução da causa.
STJ. 1ª S. REsp 1.203.244-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 9/4/14 (recurso repetitivo) (Info 539).
(DPEMS-2014-VUNESP): Nas demandas de fornecimento de medicamentos, ajuizadas contra o
Estado, é vedado o chamamento ao processo da União ou do Município, realizado com espeque
na solidariedade. BL: Info 539, STJ.

OBS:
Imagine a seguinte situação: Determinado paciente ingressou com ação de obrigação de entrega
de coisa certa contra o Estado-membro pedindo que este forneça o remédio “X”. Em sua resposta,
o Estado-membro alega que a saúde é um dever constitucional imposto não apenas ao Estado,
como também à União e aos Municípios. Desse modo, formula o chamamento ao processo da
União, com base no art. 130, III, do CPC/2015:
Art. 130. É admissível o chamamento ao processo, requerido pelo réu:
III - dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o
pagamento da dívida comum.

É cabível o chamamento ao processo nesse caso? NÃO. O STJ tem jurisprudência consolidada de
que esse chamamento ao processo não é admitido. Argumentos:
 Este art. 130, III, é típico de obrigações solidárias de pagar quantia, o que não é o caso,
uma vez que as ações para fornecimento de medicamento são para entrega de coisa certa;
 O chamamento ao processo da União por determinado Estado-membro revela-se medida
protelatória, que não traz nenhuma utilidade ao processo, além de atrasar a resolução do
feito, revelando-se meio inconstitucional para evitar o acesso aos remédios necessários
para o restabelecimento da saúde do enfermo.

Atenção: não há qualquer problema se o autor enfermo optar por ajuizar a ação contra o Estado e
a União como litisconsortes passivos. Nesse caso, a demanda será processada na Justiça Federal. O
que não pode é o réu acionado querer impor ao autor que litigue também contra os demais entes
federativos.

Atenção: esse julgado é bem possível de ser cobrado no próximo concurso da Defensoria Pública.

12. COMPETÊNCIA
12.1. Compete à 1ª Seção do STJ (que aprecia matérias de direito público) julgar recurso no
qual se discute a contratação ou não de aprovado em processo seletivo realizado por entidade do
Sistema S (no caso, o SEBRAE) – (Info 656)

Compete à Primeira Seção do STJ processar e julgar feitos relativos à contratação de candidatos
inscritos em processo seletivo público para preenchimento de cargos em entidades do Sistema
S.
O dirigente de entidade do Sistema S, como o Sebrae, ao praticar atos em certame público para
ingresso de empregados, está a desempenhar ato típico de direito público, vinculando-se ao
regime jurídico administrativo.
STJ. Corte Especial. CC 157870-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 21/08/2019 (Info 656).

12.2. JUSTIÇA ESTADUAL: Compete à justiça comum estadual julgar ação de obrigação de
fazer cumulada com reparação de danos materiais e morais ajuizada por motorista de aplicativo
pretendendo a reativação de sua conta Uber para que possa voltar a usar o aplicativo e realizar
seus serviços – (Info 655)

Compete à justiça comum estadual julgar ação de obrigação de fazer, cumulada com reparação
de danos materiais e morais, ajuizada por motorista de aplicativo, pretendendo a reativação de
sua conta UBER para que possa voltar a usar o aplicativo e realizar seus serviços.
As ferramentas tecnológicas disponíveis atualmente permitiram criar uma nova modalidade de
interação econômica, fazendo surgir a economia compartilhada (sharing economy), em que a
prestação de serviços por detentores de veículos particulares é intermediada por aplicativos
geridos por empresas de tecnologia. Nesse processo, os motoristas, executores da atividade,
atuam como empreendedores individuais, sem vínculo de emprego com a empresa proprietária
da plataforma.
STJ. 2ª S. CC 164544-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 28/08/19 (Info 655).
OBS:
O tema está resolvido ou ainda existe possibilidade de novo entendimento? O tema parece estar
resolvido no âmbito do STJ, no entanto, a polêmica ainda persistirá na Justiça do Trabalho. Isso
porque o tema chegou ao STJ, neste caso, porque o autor não pedia o reconhecimento do vínculo
de emprego e Juiz do Trabalho entendeu que não era competente para a causa. No entanto,
existem inúmeras outras situações nas quais o motorista ajuíza a ação diretamente na Justiça do
Trabalho pedindo o reconhecimento do vínculo empregatício. Nestes casos, se o Juiz do Trabalho
reputar que é competente para a causa, a questão não chegará ao STJ e tramitará no âmbito da
Justiça do Trabalho. Vale ressaltar que existem decisões de Tribunais Regionais do Trabalho
afirmando que existe sim vínculo empregatício entre o motorista e a empresa Uber. Desse modo, o
tema só estará mais consolidado quando houver uma manifestação do TST e, principalmente,
do STF a respeito do assunto.

12.3. JUSTIÇA FEDERAL COMUM: Ação de empresas de telefonia contra a Anatel tratando
sobre o valor de uso de rede móvel, sendo que uma das litigantes se encontra em recuperação
judicial: Justiça Federal – (Info 649)

Compete à Justiça Federal processar e julgar ação que envolva concessionárias do serviço de
telefonia e a Anatel a respeito da precificação do VU-M (Valor de Uso de Rede Móvel) ainda
que um dos litigantes se encontre em recuperação judicial.
É competência da Justiça Federal analisar as questões relativas aos contratos de interconexão e
ao valor da interconexão propriamente dita (VU-M).
Reserva-se ao Juízo Estadual da Falência apenas aquilo que é relacionado com a recuperação
judicial (habilitação de crédito, classificação de credores, aprovação de plano). Não se pode,
contudo, admitir que o Juízo da Falência decida sobre questões que são de competência da
esfera federal. Assim, a fixação do VU-M é de competência da Justiça Federal.
STJ. 1ª S. CC 156.064-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Herman Benjamin,
j. 14/11/18 (Info 649).

12.4. CONEXÃO: Para saber se há conexão entre duas medidas cautelares preparatórias
propostas pelo mesmo contribuinte, deve-se analisar o pedido ou a causa de pedir das ações
principais – (Info 644)

O vínculo de conexão a justificar a reunião de medidas cautelares preparatórias está vinculado


com a identidade de objeto e/ou de causa de pedir existente entre as ações principais a serem
propostas e não do processo cautelar em si.
STJ. 1ª T. AREsp 832354-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 21/02/2019 (Info 644).

12.5. Demanda contra as operadoras de plano de saúde de autogestão: Justiça comum – (Info
627)
12.6. Compete à Justiça Estadual julgar ação proposta por ex-empregado para continuar no
plano de saúde de autogestão que era oferecido pela empresa – (Info 620)

Compete à Justiça Comum Estadual o julgamento de demanda com natureza


predominantemente civil entre ex-empregado aposentado ou demitido sem justa causa e
operadoras de plano de saúde na modalidade autogestão vinculadas ao empregador.
STJ. 2ª Seção. CC 157664-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 23/5/18 (Info 627).

Compete à Justiça Comum Estadual o exame e o julgamento de feito que discute direitos de ex-
empregado aposentado ou demitido sem justa causa de permanecer em plano de saúde coletivo
oferecido pela própria empresa empregadora aos trabalhadores ativos, na modalidade de
autogestão.
STJ. 3ª Turma. REsp 1695986-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 27/2/18 (Info 620).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João era empregado do Banco do Brasil e possuía plano de
saúde coletivo oferecido aos funcionários da instituição. Vale ressaltar que se tratava de plano de
saúde de autogestão. No ano de 2010, João foi demitido sem justa causa e pediu para continuar no
plano de saúde com as mesmas condições de cobertura assistencial que gozava, pagando as
mensalidades. O plano de saúde recusou o pedido. Diante disso, João ingressou com ação
requerendo a permanência no plano de saúde com base no art. 30 da Lei 9.656/98 (Lei que trata
sobre os planos de saúde):
Art. 30. Ao consumidor que contribuir para produtos de que tratam o inciso I e o §
1º do art. 1º desta Lei, em decorrência de vínculo empregatício, no caso de rescisão
ou exoneração do contrato de trabalho sem justa causa, é assegurado o direito de
manter sua condição de beneficiário, nas mesmas condições de cobertura assistencial
de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o seu
pagamento integral.

A relação jurídica mantida entre o usuário do plano de saúde e a entidade de autogestão


empresarial não é apenas uma derivação da relação de emprego. O próprio art. 458, § 2º, IV, da
CLT, incluído pela Lei 10.243/01, é expresso em dispor que a assistência médica, hospitalar e
odontológica concedida pelo empregador, seja diretamente ou mediante seguro-saúde, não será
considerada como salário. Isso porque o plano de saúde fornecido pela empresa empregadora,
mesmo a título gratuito, não possui natureza retributiva, não constituindo salário-utilidade
(salário in natura), sobretudo por não ser contraprestação ao trabalho.

Ao contrário, referida vantagem apenas possui natureza preventiva e assistencial, sendo uma
alternativa às graves deficiências do Sistema Único de Saúde (SUS), obrigação do Estado.
Ademais, as entidades de autogestão são enquadradas como operadoras de planos de saúde, de
modo que são reguladas e fiscalizadas pela ANS.

Desse modo, em virtude da autonomia jurídica, as ações originadas de controvérsias entre


usuário de plano de saúde coletivo e entidade de autogestão (empresarial, instituída ou
associativa) não se adequam ao ramo do Direito do Trabalho, tampouco podem ser inseridas em
“outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho” (art. 114, IX, da CF/88), sendo, pois,
predominante o caráter civil da relação entre os litigantes, mesmo porque, como visto, a
assistência médica não integra o contrato de trabalho.

Assim, as ações que discutem abusividade de mensalidades, cobertura de tratamento médico,


deficiência de prestação de serviços suplementares de saúde propostas pelos usuários contra as
operadoras de plano de saúde, incluídas as autogestões, são de competência da Justiça comum
estadual.

Com maior razão, por já ter sido encerrado o seu contrato de trabalho, a pretensão do ex-
empregado de manutenção no plano de assistência à saúde fornecido pela ex-empregadora não
pode ser vista como simples relação de trabalho.

Dessa forma, conclui-se que a Justiça competente para o exame e julgamento de ação fundada
nos arts. 30 e 31 da Lei 9.656/98, que discute direitos de ex-empregado aposentado ou demitido
sem justa causa de permanecer em plano de saúde coletivo oferecido pela própria empresa
empregadora aos trabalhadores ativos, na modalidade de autogestão, é a Justiça Comum
estadual, visto que a causa de pedir e o pedido se originam de relação autônoma nascida com a
operadora de plano de saúde, a qual possui natureza eminentemente civil, envolvendo tão
somente, de maneira indireta, os aspectos da relação de trabalho.

12.7. Não se aplica a regra do art. 53, V, do CPC para a ação de indenização proposta pela
seguradora em caso de acidente de veículo envolvendo o locatário – (Info 604) – IMPORTANTE!!!

A competência para julgar ação de reparação de dano sofrido em razão de acidente de veículos é
do foro do domicílio do autor ou do local do fato (art. 53, V, do CPC/2015).
Contudo, essa prerrogativa de escolha do foro não beneficia a pessoa jurídica locadora de frota
de veículos, em ação de reparação dos danos advindos de acidente de trânsito com o
envolvimento do locatário.
STJ. 4ª Turma. STJ. 4ª Turma. EDcl no AgRg no Ag 1.366.967-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. para
acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, j. 27/4/17 (Info 604).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Pedro, que reside em Fortaleza (CE), estava com seu
veículo no conserto e, por isso, alugou um carro para realizar suas atividades. Determinado dia,
voltando do trabalho, acabou sendo atingido na traseira por outro veículo, conduzido por João,
que não viu o semáforo fechar. Pedro tirou fotos da batida, fez um boletim de ocorrência pela
internet e repassou tudo para a locadora. Cerca de dois meses depois, João, causador do acidente,
recebeu uma citação, em sua casa, em Fortaleza, a respeito de uma ação proposta pela seguradora
cobrando o conserto do veículo. O susto de João foi ainda maior quando ele viu de onde veio a
citação. Isso porque a seguradora propôs a ação em Belo Horizonte (MG), local onde funciona a
sua sede principal da pessoa jurídica. O argumento da seguradora para propor a ação em Belo
Horizonte (MG), e não em Fortaleza (CE), foi o art. 53, V, do CPC/2015:
Art. 53. É competente o foro: (...)
V - de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de reparação de dano
sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive aeronaves.
A tese da seguradora, quanto à competência, foi acolhida pelo STJ? Aplica-se, neste caso, o art.
53, V, do CPC/2015? NÃO.

Razão de ser do art. 53, V, do CPC/2015: Em regra, a ação fundada em direito pessoal ou em
direito real sobre bens móveis será proposta no foro de domicílio do réu (art. 46). Assim, em regra,
uma ação de indenização proposta por alguém que mora em São Paulo (SP) contra outra pessoa
que mora em Florianópolis (SC) deverá ser ajuizada capital catarinense, domicílio do réu. Como
exceção a essa regra, o art. 53, V prevê que, nas ações de reparação de dano sofrido em razão de
delito ou acidente de veículos, será competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato.
Essa exceção foi prevista pelo legislador como uma forma de facilitar o acesso à justiça ao
jurisdicionado, vítima do acidente.

Benefício do art. 53, V, do CPC/2015 não deve ser aplicado para empresas locadoras de veículos:
Como a locadora de veículos pode alugar carros que irão circular por todo o país, é algo normal ao
negócio que possam ocorrer acidentes em qualquer parte do território nacional. Assim, se fosse
permitido que a autora propusesse a ação sempre no seu domicílio, haveria uma deturpação do
objetivo da norma. Haveria um privilégio não razoável em favor de uma empresa especializada e
aparelhada, em detrimento de pessoas que terão sérias dificuldades de se defender em outros
Estados. A escolha dada ao autor de ajuizar a ação de reparação de dano decorrente de acidente
de veículos é exceção à regra geral de competência, definida pelo foro do domicílio do réu. Não se
pode dar à exceção interpretação tão extensiva a ponto de subverter o escopo da regra legal,
especialmente quando importar em privilégio à pessoa jurídica cujo negócio é alugar veículos em
todo território nacional em detrimento da defesa do réu pessoa física.

12.8. É de competência da Justiça Estadual a ação de restituição de indébito proposta pelo


usuário contra a concessionária de energia elétrica – (Info 601)

Não há, em regra, interesse jurídico da ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica – para
figurar como ré ou assistente simples de ação de repetição de indébito relativa a valores
cobrados por força de contrato de fornecimento de energia elétrica celebrado entre usuário do
serviço e concessionária do serviço público.
Em razão disso, essa ação é de competência da Justiça Estadual.
STJ. 1ª S. REsp 1.389.750-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 14/12/16 (recurso repetitivo) (Info
601).
OBS:
O fato de a concessionária do serviço de energia elétrica ser uma sociedade de economia mista
federal não desloca a competência para a Justiça Federal? NÃO. As sociedades de economia
mista, ainda que mantidas pela União, não são julgadas pela Justiça Federal. Houve uma opção do
constituinte de não incluir tais empresas estatais no rol do art. 109 da CF/88. Sobre esse tema
existem três enunciados de súmula do STF:
Súmula 508-STF: Compete à justiça estadual, em ambas as instâncias, processar e
julgar as causas em que for parte o Banco do Brasil S.A.
Súmula 517-STF: As sociedades de economia mista só têm foro na justiça federal,
quando a União intervém como assistente ou opoente.
Súmula 556-STF: É competente a justiça comum para julgar as causas em que é
parte sociedade de economia mista.

Situação parecida com as demandas propostas contra a ANATEL


Súmula vinculante 27: Compete à Justiça Estadual julgar causas entre consumidor e
concessionária de serviço público de telefonia, quando a Anatel não seja litisconsorte
passiva necessária, assistente nem opoente.
Súmula 506-STJ: A Anatel não é parte legítima nas demandas entre a concessionária
e o usuário de telefonia decorrentes de relação contratual.

12.9. É de competência do domicílio do réu a ação pretendendo declarar a violação de direito


autoral e cobrar indenização decorrente deste fato – (Info 599)

O pedido cumulado de indenização, quando mediato e dependente do reconhecimento do


pedido antecedente de declaração da autoria da obra, não afasta a regra geral de competência do
foro do domicílio do réu.
Ex: João lançou um livro. Pedro, alegando que o conteúdo da obra é uma cópia de um livro
escrito por ele anos atrás, ajuíza ação de indenização contra João. A competência, neste caso,
será do domicílio do réu, nos termos do art. 46 do CPC.
A análise do pedido de reparação de danos pressupõe o anterior acolhimento do pedido
declaratório de reconhecimento de autoria da obra. Este é o objeto principal da lide. Em outras
palavras, não se pode condenar o réu a indenizar o autor por violação a direito autoral se, antes,
não for demonstrado que o requerente é o verdadeiro autor da obra. Nesse contexto, a
competência deve ser definida levando-se em conta o pedido principal, de índole declaratória,
de modo que deve incidir a regra geral do art. 46 do CPC.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.138.522-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 8/2/2017 (Info 599).
OBS: Cumulação de pedidos: O pedido de indenização decorre de uma suposta violação dos
direitos autorais do requerente. Desse modo, é indispensável primeiro se reconhecer o ato ilícito
para, depois, verificar a existência ou não de danos (prejuízos) a ressarcir. Portanto, nesse tipo de
demanda há uma "cumulação de pedidos interligados". Essa cumulação é subsidiária sucessiva.
Isso porque a apreciação do segundo pedido depende do acolhimento do primeiro.

Reconhecimento de que houve delito: Desse modo, seria prematuro estabelecer que a competência
desse feito fosse definida pelas regras referentes à reparação de danos. Isso porque a própria
autoria da obra intelectual é matéria controvertida. Se o autor pretende ser reconhecido como
titular de obra utilizada por terceiro, não se pode afirmar – salvo após o julgamento por sentença
de mérito – a existência sequer do ilícito civil, o qual seria o pressuposto para a incidência da regra
especial de competência do parágrafo único do art. 53, V, do CPC.

12.10. Causas que podem produzir reflexos no processo eleitoral são de competência da Justiça
Eleitoral – (Info 596) – IMPORTANTE!!! (Anal. Judic./TRETO-2017)

Em regra, as ações tratando sobre divergências internas ocorridas no âmbito do partido político
são julgadas pela Justiça Estadual.

Exceção: se a questão interna corporis do partido político puder gerar reflexos diretos no
processo eleitoral, então, neste caso a competência será da Justiça Eleitoral.
Assim, compete à Justiça Eleitoral processar e julgar as causas em que a análise da controvérsia
é capaz de produzir reflexos diretos no processo eleitoral.
STJ. 2ª S. CC 148.693-BA, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 14/12/16 (Info 596).
(Anal. Judic./TRETO-2017-CESPE): Determinado cidadão impetrou, na justiça cível estadual,
mandado de segurança contra ato do presidente do partido político ao qual é filiado, que lhe
teria negado o direito de concorrer ao cargo de vereador. Na oportunidade, questionou, ainda,
a validade da convenção partidária na qual foram escolhidos os candidatos do partido. Ao
receber a petição inicial, o juízo declinou sua competência para a justiça eleitoral.
Posteriormente, o juízo da zona eleitoral, por entender que a matéria referente a critérios do
partido político para a escolha de candidatos diz respeito à validade de ato interno do partido,
suscitou conflito de competência por entender que a competência seria do juízo que a havia
declinado. Considerando essa situação hipotética, assinale a opção correta de acordo com a
legislação em vigor e com a jurisprudência dos tribunais superiores: O conflito de competência
deve ser decidido pelo STJ, e a competência para exame do mandado de segurança é da justiça
eleitoral. BL: art. 105, I, “d”, CF e Info 596 do STJ.

OBS:
Quando dois juízes vinculados a “Justiças” diferentes estão divergindo acerca da competência,
quem deverá julgar este conflito? Quem julga o conflito entre um juiz de direito e um juiz
eleitoral? STJ, nos termos do art. 105, I, “d”, da CF/88:
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I - processar e julgar, originariamente: (...)
d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no
art. 102, I, "o", bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes
vinculados a tribunais diversos;

O que o STJ decidiu neste caso concreto? De quem é a competência para julgar esta ação? Justiça
Eleitoral.

12.11. Competência para julgar demanda indenizatória por uso de imagem de jogador de
futebol – (Info 587)

É da Justiça do Trabalho (e não da Justiça Comum) a competência para processar e julgar a ação
de indenização movida por atleta de futebol em face de editora pelo suposto uso indevido de
imagem em álbum de figurinhas quando, após denunciação da lide ao clube de futebol (ex-
empregador), este alegar que recebeu autorização expressa do jogador para ceder o direito de
uso de sua imagem no período de vigência do contrato de trabalho.
Na ementa oficial do julgado, restou assim consignado:
Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar ação indenizatória movida contra editora, por
suposto uso indevido de imagem de atleta de futebol, caracterizado por publicação, sem
autorização, do autor de sua fotografia em álbum de figurinhas, na hipótese de denunciação da
lide pela ré ao clube empregador.
STJ. 2ª Turma. CC 128.610-RS, Rel. Min. Raul Araújo, j. 22/6/16 (Info 587).

12.12. Competência para julgar MS contra ato do chefe do MPDFT no exercício de atividade
submetida à jurisdição administrativa federal – (Info 587) – IMPORTANTE!!!

É do TRF da 1º Região (e não do TJDFT) a competência para processar e julgar mandado de


segurança impetrado contra ato do Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal que
determinou a retenção de Imposto de Renda (IR) e de contribuição ao Plano de Seguridade
Social (PSS) sobre valores decorrentes da conversão em pecúnia de licenças-prêmio.
O Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal, ao determinar a retenção de tributos federais
por ocasião do pagamento de parcelas remuneratórias (conversão de licenças-prêmio em
pecúnia), está no exercício de função administrativa federal, razão pela qual não se pode
reconhecer a competência do Tribunal de Justiça do Distrito Federal para o julgamento de
mandado de segurança impetrado contra tal ato.
Obs: quando o MS é impetrado contra atos praticados pelo PGJ-DF sob jurisdição
administrativa local, a competência será do Tribunal de Justiça do Distrito Federal.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.303.154-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 16/6/16 (Info 587).

12.13. Dever de remessa dos autos ao juízo competente mesmo em caso de processo eletrônico –
(Info 586) – (TJPR-2017)

Se o juízo reconhece a sua incompetência absoluta para conhecer da causa, ele deverá
determinar a remessa dos autos ao juízo competente e não extinguir o processo sem exame do
mérito.
O argumento de impossibilidade técnica do Poder Judiciário em remeter os autos para o juízo
competente, ante as dificuldades inerentes ao processamento eletrônico, não pode ser utilizado
para prejudicar o jurisdicionado, sob pena de configurar-se indevido obstáculo ao acesso à
tutela jurisdicional.
Assim, implica indevido obstáculo ao acesso à tutela jurisdicional a decisão que, após o
reconhecimento da incompetência absoluta do juízo, em vez de determinar a remessa dos autos
ao juízo competente, extingue o feito sem exame do mérito, sob o argumento de
impossibilidade técnica do Judiciário em remeter os autos para o órgão julgador competente,
ante as dificuldades inerentes ao processamento eletrônico.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.526.914-PE, Rel. Min. Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF da
3ª Região), j. 21/6/2016 (Info 586).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João impetrou mandado de segurança na Justiça Federal
de 1ª instância da Seção Judiciária de Recife (PE) contra ato praticado pelo Superintendente de
uma entidade federal. O Juiz Federal entendeu que a autoridade apontada como coatora possui
domicílio funcional em Brasília (DF), de forma que a Justiça Federal da Seção Judiciária de Brasília
(DF) seria competente para conhecer a demanda. Diante disso, o Juiz Federal de Recife, de ofício,
reconheceu sua incompetência para o julgamento da causa.

A incompetência, neste caso, é absoluta ou relativa? Absoluta. Segundo entendimento


consolidado no STJ, “em se tratando de mandado de segurança, a competência para
processamento e julgamento da demanda é estabelecida de acordo com a sede funcional da
autoridade apontada como coatora e a sua categoria profissional, o que evidencia a natureza
absoluta e a improrrogabilidade da competência, bem como a possibilidade de seu conhecimento
ex officio" (STJ. 1ª Seção. CC 41.579/RJ, Rel. Min. Denise Arruda, julgado em 14/09/2005).

Assim, se a parte resolve impetrar mandado de segurança contra uma autoridade federal, será
competente a seção judiciária do local onde esta autoridade tenha sede funcional, ou seja, onde ela
trabalha. Não se aplica ao autor do mandado de segurança a prerrogativa prevista no art. 109, § 2º
da CF/88:
Art. 109 (...)
§ 2º As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária
em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu
origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.
A justificativa dada é a de que, em se tratando de mandado de segurança, é a autoridade
impetrada que será notificada para prestar informações. Logo, se a autoridade possui sede
funcional em Brasília, o mandamus deverá ser impetrado na Seção Judiciária do DF, sendo inviável
que a autoridade que more e resida em um local seja demandada em outro. Diferente seria o caso
se a parte autora tivesse ingressado com uma ação ordinária. Nesta hipótese, ela teria opções e
poderia propor a ação na seção judiciária:
a) onde ela mora;
b) onde o ato ou fato ocorreu;
c) onde esteja situada a coisa;
d) ou no DF.

Tendo a parte optado por ingressar com MS, ela deverá se sujeitar às regras próprias de
competência deste tipo de ação, sendo competente o local da sede funcional da autoridade. Esta
competência é absoluta.

O juiz poderia ter declarado a incompetência de ofício? Sim. A incompetência absoluta pode ser
alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição e deve ser declarada de ofício (art. 64, § 1º do
CPC/2015).

Quando o juiz reconhece a sua incompetência absoluta, qual a providência que ele deve adotar? O
juiz, reconhecendo sua incompetência, deverá remeter os autos ao juízo competente (art. 64, § 3º
do CPC/2015). Vale ressaltar que se o juízo incompetente já tiver praticado atos decisórios, em
regra, eles continuarão produzindo efeitos até que o juízo competente os confirme ou revogue.
Veja:
Art. 64 (...)
§ 4º Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-ão os efeitos de
decisão proferida pelo juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso,
pelo juízo competente.

O juiz deverá remeter os autos ao juízo competente mesmo que a ação proposta tenha sido um
mandado de segurança? O art. 64, § 3º do CPC é aplicado também para os processos de MS? SIM.
Nesse sentido já decidiu o STJ na vigência do CPC passado: STJ. 1ª Seção. MS 21.744/DF, Rel. Min.
Og Fernandes, j. 23/9/15. O mesmo entendimento continua válido com o novo CPC.

Vamos voltar ao nosso exemplo: O Juiz Federal de Recife decidiu que era absolutamente
incompetente para julgar o MS. No entanto, em vez de remeter os autos ao juízo competente, ele
extinguiu o processo sem resolução do mérito. O magistrado argumentou que o processo é
eletrônico e que, como são regiões diferentes (TRF5 e TRF1) existe uma impossibilidade técnica de
enviar os autos para a Seção Judiciária do DF pelo sistema do PJE (Processo Judicial Eletrônico).

O argumento invocado pelo magistrado foi aceito pelo STJ? NÃO.

12.14. Competência internacional e relação de consumo – (Info 580)

A Justiça brasileira é absolutamente incompetente para processar e julgar demanda


indenizatória fundada em serviço fornecido de forma viciada por sociedade empresária
estrangeira a brasileiro que possuía domicílio no mesmo Estado estrangeiro em que situada a
fornecedora, quando o contrato de consumo houver sido celebrado e executado nesse local,
ainda que o conhecimento do vício ocorra após o retorno do consumidor ao território nacional.
A vulneralidade do consumidor, ainda que amplamente reconhecida em foro internacional, não
é suficiente, por si só, para alargar a competência da justiça nacional prevista nos arts. 21 a 23
do CPC 2015.
Nas hipóteses em que a relação jurídica é firmada nos estritos limites territoriais nacionais, ou
seja, sem intuito de extrapolação territorial, o foro competente, aferido a partir das regras
processuais vigentes no momento da propositura da demanda, não sofre influências em razão
da nacionalidade ou do domicílio dos contratantes, ainda que se trate de relação de consumo.
STJ. 3ª T. REsp 1.571.616-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 5/4/16 (Info 580).

12.15. Ação de consignação em pagamento proposta pela União para afastar eventual
responsabilização trabalhista subsidiária -Atenção! Advocacia Pública! - (Info 571)

Imagine a seguinte situação: a União possui um contrato com a empresa privada "XXX
Vigilância Ltda". Por meio deste contrato, a empresa, com seus funcionários, obrigou-se a fazer
a vigilância armada do prédio onde funciona o órgão público federal, recebendo, em
contraprestação, R$ 200 mil mensais. A União, percebendo que a empresa estava atrasando os
salários e com receio de ser condenada por responsabilidade subsidiária (Súmula 331 do TST),
decidiu suspender o pagamento da contraprestação mensal devida e ajuizar ação de
consignação em pagamento a fim de depositar em juízo os R$ 200 mil previstos no contrato.
Surgiu, no entanto, uma dúvida: onde deverá ser proposta essa ação, na Justiça Federal comum
ou na Justiça do Trabalho? Justiça do Trabalho. A Justiça do Trabalho é competente para
processar e julgar ação de consignação em pagamento movida pela União contra sociedade
empresária por ela contratada para a prestação de serviços terceirizados, caso a demanda tenha
sido proposta com o intuito de evitar futura responsabilização trabalhista subsidiária da
Administração nos termos da Súmula 331 do TST.
STJ. 2ª Seção. CC 136.739-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 23/9/2015 (Info 571).

12.16. Foro para o ajuizamento de ação em face de entidade fechada de previdência


complementar – (Info 571)

É possível ao participante ou assistido de plano de benefícios patrocinado ajuizar ação em face


da respectiva entidade fechada de previdência privada nos seguintes lugares:
• no foro do domicílio da ré;
• no eventual foro de eleição do contrato; ou
• no foro onde labora ou laborou para a patrocinadora do plano.
STJ. 2ª S. REsp 1.536.786-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/8/2015 (Info 571).

12.17. Conexão por prejudicialidade – (Info 559) – IMPORTANTE!!!

A conexão entre duas causas ocorre quando elas, apesar de não serem idênticas, possuem um
vínculo de identidade entre si quanto a algum dos seus elementos caracterizadores. São duas
(ou mais) ações diferentes, mas que mantêm um vínculo entre si.
Segundo o texto do CPC 1973, existe conexão quando duas ou mais ações tiverem o mesmo
pedido (objeto) ou causa de pedir.
Quando o juiz verificar que há conexão entre duas causas, ele poderá ordenar, de ofício ou a
requerimento, a reunião delas para julgamento em conjunto. Essa é a regra geral, não sendo
aplicável, contudo, quando a reunião implicar em modificação da competência absoluta.
O conceito de conexão previsto na lei é conhecido como concepção tradicional (teoria
tradicional) da conexão. Existem autores, contudo, que defendem que é possível que exista
conexão entre duas ou mais ações mesmo que o pedido e a causa de pedir sejam diferentes. Em
outras palavras, pode haver conexão em situações que não se encaixem perfeitamente no
conceito legal de conexão. Tais autores defendem a chamada teoria materialista da conexão, que
sustenta que, em determinadas situações, é possível identificar a conexão entre duas ações não
com base no pedido ou na causa de pedir, mas sim em outros fatos que liguem uma demanda à
outra. Eles sustentam, portanto, que a definição tradicional de conexão é insuficiente.
Essa teoria é chamada de materialista porque defende que, para se verificar se há ou não
conexão, o ideal não é analisar apenas o objeto e a causa de pedir, mas sim a relação jurídica de
direito material que é discutida em cada ação. Existirá conexão se a relação jurídica veiculada
nas ações for a mesma ou se, mesmo não sendo idêntica, existir entre elas uma vinculação.
Essa concepção materialista é que fundamenta a chamada “conexão por prejudicialidade”.
Podemos resumi-la em uma frase: quando a decisão de uma causa interferir na solução da
outra, há conexão.
No caso concreto, havia duas ações: em uma delas o autor (empresa 1) executava uma dívida da
devedora (empresa 2). A executada, por sua vez, ajuizou ação declaratória de inexistência da
relação afirmando que nada deve para a empresa 1. Nesta situação, o STJ reconheceu que havia
conexão por prejudicialidade e decidiu o seguinte: “pode ser reconhecida a conexão e
determinada a reunião para julgamento conjunto de um processo executivo com um processo
de conhecimento no qual se pretenda a declaração da inexistência da relação jurídica que
fundamenta a execução, desde que não implique modificação de competência absoluta.”
STJ. 4ª T. REsp 1.221.941-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/2/2015 (Info 559).

12.18. Inaplicabilidade da cláusula de eleição de foro prevista em contrato sem assinatura das
partes – (Info 557)

Nos casos em que a parte questiona a própria validade do contrato, ela não precisará respeitar o
foro de eleição referente a esse ajuste.
Ex: duas empresas fizeram um contrato e elegeram como foro de eleição a comarca de
Florianópolis; ocorre que o contrato, apesar de aprovado, não chegou a ser assinado. Uma das
empresas ajuizou ação questionando a validade desse ajuste pelo fato de ele não ter sido
assinado. Neste caso, em que a própria validade do contrato está sendo objeto de apreciação
judicial pelo fato de que não houve instrumento de formalização assinado pelas partes, a
cláusula de eleição de foro não deve prevalecer, ainda que ela já tenha sido prevista em
contratos semelhantes anteriormente celebrados entre as mesmas partes.
STJ. 3ª T. REsp 1.491.040-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 3/3/2015 (Info 557).

12.19. Competência da Justiça Comum para julgar danos causados a estagiário durante estágio
obrigatório curricular – (Info 543) – IMPORTANTE!!!

Compete à JUSTIÇA COMUM ESTADUAL (e não à Justiça do Trabalho) julgar ação de


reparação de danos materiais e morais promovida por aluno universitário contra
estabelecimento de ensino superior em virtude de danos ocorridos durante o estágio
obrigatório curricular.
STJ. 2ª Seção. CC 131.195-MG, Rel. Min. Raul Araújo, j. 26/2/2014 (Info 543).
OBS:
Tema polêmico: É importante conhecer esse precedente, mas ressalte-se que se trata de tema
polêmico. Isso porque o inciso VI do art. 114 da CF/88, com redação dada pela EC 45/04, prevê a
competência da Justiça do Trabalho para julgamento de “ações de indenização por dano moral ou
patrimonial, decorrentes da relação de TRABALHO”, não se restringindo mais a relações de
emprego. Se for cobrado na prova, contudo, assinale a posição acima explicada do STJ.

12.20. Reconhecimento de incompetência absoluta e prolação de decisão acautelatória – (Info


524)

Ainda que proferida por juízo absolutamente incompetente, é válida a decisão que, em ação
civil pública proposta para a apuração de ato de improbidade administrativa, tenha
determinado — até que haja pronunciamento do juízo competente — a indisponibilidade dos
bens do réu a fim de assegurar o ressarcimento de suposto dano ao patrimônio público.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.038.199-ES, Rel. Min. Castro Meira, j. 7/5/2013 (Info 524).
OBS: O CPC/2015 determina que todas as decisões praticadas pelo juízo incompetente são, em
regra, válidas e eficazes, salvo se o novo juízo (competente) decidir de forma diferente. Veja o que
diz o novo CPC:
Art. 64 (...)
§ 4º Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-ão os efeitos de decisão
proferida pelo juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso, pelo
juízo competente.

12.21. Restituição de indébito relacionada com tarifa de energia elétrica – (Info 516)

É de competência da JUSTIÇA ESTADUAL a ação de restituição de indébito proposta contra a


concessionária de energia elétrica por causa de um aumento ilegal da tarifa de energia. Isso
porque, a princípio, não há nenhum interesse da União ou da Agência Nacional de Energia
Elétrica (ANEEL) que justifique que elas figurem no polo passivo desta demanda.
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1.307.041-RS, Min. Mauro Campbell Marques, j. 18/12/12 (Info 516).

12.22. DEMANDAS CONTRA DIRIGENTE DE INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR

É da Justiça estadual, via de regra, a competência para julgar a ação em que se discute a
legalidade da cobrança de instituição de ensino superior estadual, municipal ou particular de
taxa para expedição de diploma de curso, salvo quando se tratar de mandado de segurança cuja
impetração se volta contra ato de dirigente de universidade pública federal ou de universidade
particular, hipótese de competência da Justiça Federal.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.295.790-PE, Rel. Mauro Campbell Marques, julgado em 6/11/2012.

13. IMPEDIMENTO PARA ADVOCACIA


13.1. Impedimento à advocacia envolvendo parlamentares – (Info 607)

O art. 30, II, da Lei nº 8.906/94, prevê que os membros do Poder Legislativo (Vereadores,
Deputados e Senadores) são impedidos de exercer a advocacia contra ou a favor das pessoas
jurídicas de direito público, empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações
públicas, entidades paraestatais ou empresas concessionárias ou permissionárias de serviço
público.
Essa proibição abrange a advocacia envolvendo qualquer dos entes federativos (União, Estados,
DF e Municípios).
Assim, o desempenho de mandato eletivo no Poder Legislativo impede o exercício da advocacia
a favor ou contra pessoa jurídica de direito público pertencente a qualquer das esferas de
governo – municipal, estadual ou federal.
Ex1: um Deputado Estadual, além de não poder advogar em causas relacionadas com o Estado-
membro, também está impedido de advogar em processos envolvendo os Municípios ou a
União.
Ex2: um Vereador não pode advogar contra o INSS, mesmo sendo esta uma autarquia federal.
Ex3: um Deputado Federal não pode, advogando em causa própria, ajuizar uma ação popular,
qualquer que seja o ente federativo envolvido.
STJ. 1ª Seção. EAREsp 519.194-AM, Rel. Min. Og Fernandes, j. 14/6/17 (Info 607).

14. IMPEDIMENTO
14.1. Decisão que não aprecia o mérito não gera impedimento por parentesco entre magistrados
– (Info 611)

Decisão que não aprecia o mérito não gera impedimento por parentesco entre magistrados.
Ex: em uma ação que tramitava na 1ª instância, o juiz proferiu decisão interlocutória e, contra
ela, o autor interpôs agravo de instrumento. No Tribunal, a relatora deste agravo foi a Des.
Maria. O agravo foi extinto sem julgamento do mérito por um “vício” processual neste recurso.
Passado mais algum tempo, o juiz sentenciou o processo. Contra a sentença, o autor interpôs
apelação e foi sorteado como relator do recurso no Tribunal o Des. João. João é marido de
Maria. Mesmo assim ele não está impedido de julgar porque sua esposa não apreciou o mérito
da causa no julgamento anterior.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.673.327-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12/9/2017 (Info 611).
OBS: art. 147 do CPC/2015 c/c o art. 128 da LOMAN:
Art. 147. Quando 2 (dois) ou mais juízes forem parentes, consanguíneos ou afins, em
linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, o primeiro que conhecer do
processo impede que o outro nele atue, caso em que o segundo se escusará,
remetendo os autos ao seu substituto legal.

Art. 128 - Nos Tribunais, não poderão ter assento na mesma Turma, Câmara ou
Seção, cônjuges e parentes consanguíneos ou afins em linha reta, bem como em
linha colateral até o terceiro grau.
Parágrafo único. Nas sessões do Tribunal Pleno ou órgão que o substituir, onde
houver, o primeiro dos membros mutuamente impedidos, que votar, excluirá a
participação do outro no julgamento.

O STJ, ao julgar controvérsias que versam sobre impedimentos de juízes e desembargadores, tem
adotado postura que busca valorizar a aplicação do princípio da instrumentalidade das formas,
bem como a necessidade de demonstração de prejuízo para que seja decretada qualquer nulidade
(princípio do pas de nullité sans grief).

15. SUSPEIÇÃO
15.1. Suspeição por motivo superveniente não anula atos processuais anteriores – (Info 587) –
IMPORTANTE!!! - (PGM-Fortaleza/CE-2017)

A declaração pelo magistrado ("autodeclaração") de suspeição por motivo superveniente não


tem efeitos retroativos, não importando em nulidade dos atos processuais praticados em
momento anterior ao fato ensejador da suspeição.
STJ. 1ª S. PET no REsp 1.339.313-RJ, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. para acórdão Min. Assusete
Magalhães, j. 13/4/16 (Info 587).

16. CITAÇÃO/INTIMAÇÃO
16.1. INTIMAÇÕES: Na hipótese de duplicidade de intimações, prevalece a intimação
eletrônica sobre aquela realizada por meio do Diário de Justiça – (Info 647) – IMPORTANTE!!!

A partir da leitura da Lei 11.419/06 (art. 5º) em conjunto com o art. 272 do CPC/15 conclui-se que
a comunicação dos atos processuais aos advogados ocorre, em regra, mediante a intimação por
via eletrônica, valorizando-se a informatização dos processos judiciais.
Assim, a intimação eletrônica prevalece sobre a publicação no Diário de Justiça no caso de
duplicidade de intimações.
STJ. 4ª T. AgInt no AREsp 1330052/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 26/3/19 (Info 647).

Vale ressaltar que a posição acima não é pacífica e que existem precedentes em sentido contrário:
STJ. 2ª T. AgInt no AREsp 929.175/RJ, Rel. Min. Og Fernandes, j. 17/8/17; STJ. 3ª T. AgInt no
AREsp 1101413/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/10/2017.

16.2. INTIMAÇÃO: É válida a intimação da ECT na pessoa do advogado que está cadastrado no
PJe, não sendo necessária a intimação em nome da entidade – (Info 644)

É valida a intimação da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT realizada na pessoa


do advogado cadastrado no sistema PJe.
O art. 12 do Decreto-Lei 509/69 atribui à ECT os privilégios concedidos à Fazenda Pública no
concernente, dentre outros, a foro, prazos e custas processuais, não fazendo qualquer referência
à prerrogativa de intimação pessoal.
Em se tratando de processo eletrônico, prevê o § 6º do art. 5º da Lei 11.419/06 que as intimações
feitas por meio eletrônico aos devida e previamente cadastrados, inclusive da Fazenda Pública,
serão consideradas pessoais para todos os efeitos legais. Em outras palavras, a intimação por
meio eletrônico realizada em nome dos advogados e procuradores e previamente cadastrados é
tida como pessoal e se considera realizada no dia em que efetivada a consulta eletrônica ao seu
teor ou no dia em que escoado o prazo de 10 dias corridos para fazê-lo.
Se o advogado, no momento em que ajuizou a ação, fez o cadastro em nome próprio, não pode,
posteriormente, alegar a nulidade da intimação realizada na sua pessoa, e não na da entidade
que representa, para se eximir da responsabilidade de acompanhar o andamento do processo, a
partir da consulta assídua ao sistema PJe.
STJ. 3ª T. REsp 1574008-SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12/03/19 (Info 644).

16.3. INTIMAÇÃO: A habilitação de advogado em autos eletrônicos não é suficiente para a


presunção de ciência inequívoca das decisões, sendo inaplicável a lógica dos autos físicos – (Info
642)

A habilitação de advogado em autos eletrônicos não é suficiente para a presunção de ciência


inequívoca das decisões, sendo inaplicável a lógica dos autos físicos.
A lógica da presunção de ciência inequívoca do conteúdo de decisão constante de autos físicos,
quando da habilitação de advogado com a carga do processo, não se aplica nos processos
eletrônicos.
Para ter acesso ao conteúdo de decisão prolatada e não publicada nos autos eletrônicos, o
advogado deverá acessar a decisão, gerando, automaticamente, informação no movimento do
processo acerca da leitura do conteúdo da decisão.
STJ. 3ª T. AgInt no REsp 1592443-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 17/12/18 (Info 642).

16.4. PRESSUPOSTO PROCESSUAL: Não há motivo para ser citada a sociedade empresária se
todos os sócios fazem parte do processo – (Info 635)

Na ação de cobrança, é desnecessária a citação da sociedade empresária se todos os que


participam do quadro social integram a lide.
STJ. 3ª Turma. REsp 1731464-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 25/9/18 (Info 635).

16.5. Início do prazo em caso de intimação/citação realizadas por correio, oficial de justiça ou
por carta de ordem, precatória ou rogatória – (Info 604) – IMPORTANTE!!! – (TJPR-2019)

Nos casos de intimação/citação realizadas por correio, oficial de justiça, ou por carta de ordem,
precatória ou rogatória, o prazo recursal inicia-se com a juntada aos autos do aviso de
recebimento, do mandado cumprido, ou da juntada da carta.
STJ. Corte Especial. REsp 1.632.777-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 17/5/17 (recurso
repetitivo) (Info 604).

16.6. Intimação eletrônica prevalece sobre o Diário da Justiça Eletrônico – (Info 601)

Na hipótese de duplicidade de intimações, prevalece a intimação eletrônica sobre aquela


realizada por meio do DJe.
STJ. 3ª T. AgInt no AREsp 903.091-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 16/3/17 (Info 601).
16.7. Falta de citação e manifestação do réu em agravo de instrumento – (Info 573)

Não supre a falta de citação em ação revisional de alimentos o comparecimento do réu para
contraminutar agravo de instrumento contra decisão denegatória de tutela antecipada, sem que
haja qualquer pronunciamento na ação principal por parte do demandado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.310.704-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 10/11/15 (Info 573).

16.8. Erro na publicação do nome do advogado – (Info 553) – IMPORTANTE!!!

NÃO há nulidade na publicação de ato processual em razão do acréscimo de uma letra ao


sobrenome do advogado no caso em que o seu prenome, o nome das partes e o número do
processo foram cadastrados corretamente, sobretudo se, mesmo com a existência de erro
idêntico nas intimações anteriores, houve observância aos prazos processuais passados, de
modo a demonstrar que o erro gráfico não impediu a exata identificação do processo.
O entendimento do STJ é no sentido de que o erro insignificante na grafia do nome do
advogado, aliado à possibilidade de se identificar o processo por outros elementos, como o seu
número e o nome da parte, não enseja a nulidade da publicação do ato processual.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.356.168-RS, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min.
Jorge Mussi, julgado em 13/3/2014 (Info 553).

17. REVELIA
17.1. Efeito material da revelia em caso de ação de indenização por danos materiais – (Info 574)
– IMPORTANTE!!!

Em uma ação de indenização, se ocorrer a revelia, deve-se presumir a veracidade quanto aos
danos narrados na petição inicial. No entanto, esta presunção de veracidade não alcança a
definição do quantum indenizatório indicado pelo autor.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.520.659-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 1º/10/2015 (Info 574).
OBS: Assim, o que deve ser considerado "verdadeiro" é a ocorrência do dano. Não se pode,
contudo, confundir a existência do dano com a sua correta quantificação feita pelo autor na
petição inicial. O quantum, ou seja, o valor do dano deve corresponder ao prejuízo efetivamente
sofrido pela parte lesada, sob pena de ocorrer enriquecimento sem causa. Dessa forma,
reconhecida a ocorrência dos alegados danos materiais, foi correta a decisão do magistrado de
determinar que o valor da indenização seja apurado em liquidação.

18. PROCEDIMENTO
18.1. DEVERES DOS SUJEITOS DO PROCESSO: O juiz que conduz o processo não pode ser
apenado com a multa prevista para os casos de cometimento de ato atentatório ao exercício da
jurisdição, prevista no parágrafo único do art. 14, V, § único, do CPC/1973 (art. 77, IV, § 2º, do
CPC/2015) – (Info 653) – IMPORTANTE!!!

A multa prevista no parágrafo único do art. 14 do CPC/73 (art. 77, IV, § 2º, do CPC/15) não se
aplica aos juízes, devendo os atos atentatórios por eles praticados ser investigados nos termos
da Lei Orgânica da Magistratura.
STJ. 4ª T. REsp 1548783-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 11/06/19 (Info 653).

18.2. A prioridade na tramitação do feito é direito subjetivo da pessoa idosa e a lei lhe concede
legitimidade exclusiva para a postulação do requerimento do benefício – (Info 650)

A pessoa com idade igual ou superior a 60 anos que figura como parte ou interveniente na
relação processual possui prioridade na tramitação do feito (arts. 71 da Lei 10.471/03 e art. 1.048
do CPC/2015).
Quem tem legitimidade para postular a prioridade de tramitação do feito atribuída por lei ao
idoso?
O próprio idoso. A pessoa idosa é a parte legítima para requerer a prioridade de tramitação do
processo, devendo, para tanto, fazer prova da sua idade.
A prioridade na tramitação depende, portanto, de manifestação de vontade do interessado, por
se tratar de direito subjetivo processual do idoso. A necessidade do requerimento é justificada
pelo fato de que nem toda tramitação prioritária será benéfica ao idoso, especialmente em
processos nos quais há alta probabilidade de que o resultado lhe seja desfavorável.
A prioridade na tramitação do feito é, portanto, direito subjetivo da pessoa idosa e a lei lhe
concede legitimidade exclusiva para a postulação do requerimento do benefício.
Ex: determinada pessoa jurídica ajuizou execução contra um idoso e pediu prioridade na
tramitação do feito alegando que o executado possui mais de 60 anos. O pleito não foi aceito
considerando que falta legitimidade e interesse à exequente para formular o referido pedido.
STJ. 3ª T. REsp 1801884/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 21/5/19 (Info 650).

18.3. Discussão a respeito da necessidade de arquivamento em “pasta própria” fora dos autos
ou decretação de segredo de justiça – (Sem Info) – (TRF3-2016)

Não há no CPC nenhuma previsão para que se crie "pasta própria" fora dos autos da execução
fiscal para o arquivamento de documentos submetidos a sigilo. Antes, nos casos em que o
interesse público ou social justificar, cabe ao magistrado limitar às partes o acesso aos autos
passando o feito a tramitar em segredo de justiça, na forma do art. 155, I, do CPC/73 (art. 189, I
do CPC/2015).
O STJ firmou a seguinte tese em sede de recurso repetitivo: "As informações sigilosas das
partes devem ser juntadas aos autos do processo que correrá em segredo de justiça, não sendo
admitido o arquivamento em apartado".
STJ, 1ª S. REsp 1349363/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 22/5/13 (recurso repetitivo).
(TRF3-2016): Determinado Juízo aplicou o entendimento, em sede de execução fiscal em que se
realizavam diligências para localização de patrimônio do executado, de que os documentos
sigilosos do executado, que foram requisitados pelo próprio ofício judicante, a pedido da
Fazenda Pública, a terceiros, deveriam, quando aportassem na Secretaria, ser acondicionados
em pasta própria à disposição das partes e de seus procuradores, motivando tal decisão sob o
prisma da publicidade processual. Nesse sentido, ao arquivar os documentos sigilosos em pasta
própria, não haveria necessidade de se limitar a publicidade do processo em andamento
mediante a decretação de segredo de justiça, ao mesmo tempo em que não se verificariam
prejuízos às partes ou à devida instrução processual, porquanto os documentos permaneceriam
acessíveis aos interessados. Essa decisão não encontra abrigo na jurisprudência das Cortes
Superiores, diante da inexistência, no código de processo civil vigente, de previsão para que se
crie pasta própria fora dos autos para tal finalidade. BL: REsp 1349363/SP.

18.4. PRAZO PARA O AUTOR EMENDAR A INICIAL

O prazo para que o autor emende a PI é um prazo dilatório (e não peremptório). Logo, o juiz
poderá aceitar a emenda da PI mesmo fora deste prazo. Este prazo pode ser reduzido ou
ampliado por convenção das partes ou por determinação do juiz.
STJ. 2ª S. REsp 1.133.689-PE, Rel. Min. Massami Uyeda, j. 28/3/12 (recurso repetitivo).

18.5. IMPROCEDÊNCIA LIMINAR – (Info 524) - (DPEPR-2012)

Não é possível a aplicação do art. 285-A do CPC 1973 quando o entendimento exposto na
sentença, apesar de estar em consonância com a jurisprudência do STJ, divergir do
entendimento do tribunal de origem.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.225.227-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 28/5/13 (Info 524).
OBS:
CPC/2015: O Dizer o Direito acredita que o entendimento acima continua válido com o novo CPC.
Veja, no entanto, como tema é tratado agora:
Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da
citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar:
I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de
Justiça;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de
Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de
assunção de competência;
IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.
§ 1º O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar,
desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição.
§ 2º Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da
sentença, nos termos do art. 241.
§ 3º Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 (cinco) dias.
§ 4º Se houver retratação, o juiz determinará o prosseguimento do processo, com a
citação do réu, e, se não houver retratação, determinará a citação do réu para
apresentar contrarrazões, no prazo de 15 (quinze) dias.

19. CONTESTAÇÃO
19.1. Arguição de compensação em contestação – (Info 567) – IMPORTANTE!!!

A compensação de dívida pode ser alegada em contestação.


A compensação é meio extintivo da obrigação, caracterizando-se como defesa substancial de
mérito ou espécie de contradireito do réu.
A compensação pode ser alegada em contestação como matéria de defesa, independentemente
da propositura de reconvenção, em obediência aos princípios da celeridade e da economia
processual.
STJ. 3ª T. REsp 1.524.730-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 18/8/2015 (Info 567).

20. TRANSAÇÃO JUDICIAL


20.1. Possibilidade de transação judicial após a publicação do acórdão – (Info 572) –
IMPORTANTE!!!

Mesmo após a prolação da sentença ou do acórdão que decide a lide, podem as partes
transacionar o objeto do litígio e submetê-lo à homologação judicial. Assim, a publicação do
acórdão que decide a lide não impede que as partes transacionem.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.267.525-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 20/10/15 (Info 572).

21. SUSPENSÃO DO PROCESSO


21.1. A suspensão do processo em razão da paternidade do único patrono da causa se opera tão
logo ocorra o nascimento ou adoção, não sendo necessária a comunicação imediata ao juízo – (Info
645) – IMPORTANTE!!!

O art. 313, X, do CPC/2015 prevê que o advogado que se tornar pai tem direito à suspensão dos
prazos processuais desde que:
a) seja o único patrono da causa; e
b) tenha notificado seu cliente sobre esse fato.
O período de suspensão será de 8 dias, contado a partir da data do parto ou da concessão da
adoção.
Para que esse prazo de suspensão do processo se inicie, é necessário que o advogado informe ao
juízo que nasceu o seu filho? Somente após a comunicação ao juízo é que o processo será
suspenso?
NÃO. A suspensão do processo em razão da paternidade do único patrono da causa se opera tão
logo ocorra o fato gerador (nascimento ou adoção), independentemente da comunicação
imediata ao juízo.
Obs: a mesma conclusão acima exposta pode ser aplicada para o inciso IX do art. 313 do CPC.
STJ. 3ª T. REsp 1799166-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 02/04/2019 (Info 645).

21.2. É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em
execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação – (Info 632)

Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a
habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser
suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para
as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.
O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser
facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para
regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.
Ex: em 04/04/18, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de
citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/18, ou seja, um
mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial
para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1559791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 28/8/18 (Info 632).
OBS:
Se a ação é ajuizada contra um indivíduo que já estava morto, temos aqui um caso de
ilegitimidade passiva. Logo, a providência correta a ser adotada pelo magistrado é de
oportunizar ao autor da ação a possibilidade de emendar a petição inicial para regularizar o
polo passivo, até mesmo porque se o indivíduo já está morto, não haverá possibilidade de
ocorrer citação válida. Desse modo, nesta situação, o aditamento da petição inicial pode ocorrer
inclusive mesmo sem aquiescência (concordância) do réu, conforme autoriza o art. 329, I do
CPC/2015:
Art. 329. O autor poderá:
I - até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, independentemente
de consentimento do réu;

Assim, deverá ser permitido que o autor emende a petição inicial para que o espólio seja o sujeito
passivo da relação jurídico-processual.

Importante recordar que o espólio responde pelas dívidas do falecido, nos termos do art. 796 do
CPC/2015:
Art. 796. O espólio responde pelas dívidas do falecido, mas, feita a partilha, cada
herdeiro responde por elas dentro das forças da herança e na proporção da parte
que lhe coube.

A quem caberá a representação judicial do espólio? Depende:


 Se já houver sido ajuizada a ação de inventário e já houver inventariante
compromissado: a representação judicial do espólio será de responsabilidade do
inventariante;
 Por outro lado, caso ainda não tenha sido ajuizada a ação de inventário ou, mesmo que
proposta, ainda não haja inventariante devidamente compromissado: a representação
judicial do espólio será de responsabilidade do administrador provisório.

21.3. Prejudicialidade externa entre ação reivindicatória e ação de nulidade de negócio jurídico
– (Info 563)

Deve ser suspensa a ação reivindicatória de bem imóvel, pelo prazo máximo de um ano (art.
265, IV, "a", do CPC 1973 / art. 313, V, “a”, do CPC 2015), enquanto se discute, em outra ação, a
nulidade do próprio negócio jurídico que ensejou a transferência do domínio aos autores da
reivindicatória.
STJ. 1ª Turma. EREsp 1.409.256-PR, Rel. Min. Og Fernandes, j. 6/5/2015 (Info 563)

21.4. Prazo máximo para suspensão do processo cível nos casos do art. 110 do CPC 1973 – (Info
555) – IMPORTANTE!!!

O art. 110 do CPC 1973 prevê que, se o resultado do processo (conhecimento da lide) depender
necessariamente da verificação da existência de fato delituoso, o juiz do processo cível pode
mandar sobrestar o andamento do processo até que o juízo criminal decida se houve ou não o
crime.
O STJ decidiu que a suspensão do processo determinada com base no art. 110 do CPC 1973 não
pode superar 1 ano, de modo que, ultrapassado esse prazo, pode o magistrado apreciar a
questão prejudicial (pode o juízo cível decidir se houve ou não crime), que, no entanto, não fará
coisa julgada material.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.198.068-MS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 2/12/2014 (Info 555).
OBS:
Novo CPC: O entendimento acima exposto continua válido com o novo CPC? SIM. Na verdade, o
novo CPC deixa expresso esse prazo de 1 ano. Confira:
CPC 1973 CPC 2015
Art. 110.  Se o conhecimento da lide depender Art. 315. Se o conhecimento do mérito
necessariamente da verificação da existência depender de verificação da existência de fato
de fato delituoso, pode o juiz mandar delituoso, o juiz pode determinar a suspensão
sobrestar no andamento do processo até que do processo até que se pronuncie a justiça
se pronuncie a justiça criminal. criminal.
Parágrafo único.  Se a ação penal não for § 1º Se a ação penal não for proposta no prazo
exercida dentro de 30 (trinta) dias, contados de 3 (três) meses, contado da intimação do ato
da intimação do despacho de sobrestamento, de suspensão, cessará o efeito desse,
cessará o efeito deste, decidindo o juiz cível a incumbindo ao juiz cível examinar
questão prejudicial. incidentemente a questão prévia.
Não havia prazo máximo se a ação já tinha sido § 2o Proposta a ação penal, o processo ficará
ajuizada. Como vimos acima, o STJ entendeu que suspenso pelo prazo máximo de 1 (um) ano,
era 1 ano, com base no art. 265, § 5º. ao final do qual aplicar-se-á o disposto na
parte final do § 1º.
 

22. PROVAS
22.1. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO: É possível o ajuizamento de ação autônoma de exibição
de documentos, sob o rito do procedimento comum, na vigência do CPC/15. Ainda existe a ação
autônoma de exibição de documentos ou coisas no CPC/15 – (Info 660) – IMPORTANTE!!!

É admissível o ajuizamento da ação de exibição de documentos, de forma autônoma, na


vigência do CPC/15.
Admite-se o ajuizamento de ação autônoma para a exibição de documento, com base nos arts.
381 e 396 e seguintes do CPC, ou até mesmo pelo procedimento comum, previsto nos arts. 318 e
seguintes do CPC.
Entendimento apoiado nos enunciados n. 119 e 129 da II Jornada de Direito Processual Civil.
STJ. 3ª T. REsp 1803251-SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 22/10/019 (Info 660).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.774.987-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 8/11/18 (Info 637)
OBS:
Enunciado 119: É admissível o ajuizamento de ação de exibição de documentos, de
forma autônoma, inclusive pelo procedimento comum do CPC (art. 318 e seguintes).
Enunciado 129: É admitida a exibição de documentos como objeto de produção
antecipada de prova, nos termos do art. 381 do CPC.

22.2. Prova emprestada oriunda de processo no qual não figuravam as mesmas partes – (Info
543)

A prova pode ser emprestada mesmo que a parte contra a qual será utilizada não tenha
participado do processo originário onde foi produzida? Ex.: no processo 1, foi produzida
determinada prova. Em uma ação de “A” contra “B” (processo 2), “A” deseja trazer essa prova
emprestada. Ocorre que “B” não participou do processo 1. Será possível trazer essa prova
mesmo assim?
SIM. É admissível, assegurado o contraditório, a prova emprestada vinda de processo do qual
não participaram as partes do processo para o qual a prova será trasladada.
A prova emprestada não pode se restringir a processos em que figurem partes idênticas, sob
pena de se reduzir excessivamente sua aplicabilidade sem justificativa razoável para isso.
Quando se diz que deve assegurar o contraditório, significa que a parte deve ter o direito de se
insurgir contra a prova trazida e de impugná-la.
STJ. Corte Especial. EREsp 617.428-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 4/6/14 (Info 543).

22.3. Consequência pelo descumprimento de determinação de exibição de documento – (Info


539) – IMPORTANTE!!!

Não é cabível a multa cominatória, caso o autor tenha ingressado com pedido, incidental ou
autônomo, de exibição de documento relativo a direito DISPONÍVEL.
Em caso de processos que tratam sobre direitos indisponíveis, o STJ tem admitido a cominação
de astreintes.
Novo CPC: o entendimento acima exposto pode vir a ser alterado. Isso porque a doutrina
afirma que, com a entrada em vigor do CPC 2015, a súmula 372 do STJ está SUPERADA. Nesse
sentido é o enunciado nº 54 do Fórum Permanente de Processualistas Civis.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.333.988-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 9/4/2014
(recurso repetitivo) (Info 539).

22.4. Utilização de provas colhidas em processo criminal como fundamento para condenar o
réu em ação de indenização no juízo cível – (Info 536)

Desde que observado o devido processo legal, é possível a utilização de provas colhidas em
processo criminal como fundamento para reconhecer, no âmbito de ação de conhecimento no
juízo cível, a obrigação de reparação dos danos causados, ainda que a sentença penal
condenatória não tenha transitado em julgado.
Não viola o art. 935 do CC a utilização de provas colhidas no processo criminal como
fundamentação para condenar o réu à reparação do dano no juízo cível.
STJ. 1ª T. AgRg no AREsp 24.940-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 18/2/14 (Info 536).
22.5. Momento da juntada – (Info 516)

Como regra, os documentos devem ser juntados aos autos com a petição inicial (no caso do
autor) ou com a resposta (no caso do réu).
A jurisprudência do STJ admite a juntada de documentos novos após a petição inicial e a
contestação mesmo em situações não previstas na lei desde que:
(i) não se trate de documento indispensável à propositura da ação;
(ii) não haja má fé na ocultação do documento;
(iii) seja ouvida a parte contrária (art. 398 do CPC).

No caso julgado, o STJ afirmou que a mera declaração do juiz de que a prova documental é
intempestiva e, por isso, deve ser desentranhada dos autos, não é capaz de, por si só, impedir o
conhecimento da referida prova pelo Tribunal no julgamento de recurso, tendo em vista a
maior amplitude no processo civil moderno dos poderes instrutórios do juiz, ao qual cabe
determinar, até mesmo de ofício, a produção de provas necessárias à instrução do processo.
Assim, se a prova permaneceu nos autos mesmo tendo sido declarada intempestiva pelo juiz de
1ª instância, poderá o Tribunal analisá-la para fundamentar seu veredicto.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.072.276-RN, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 21/2/13 (Info 516).

23. COISA JULGADA


23.1. RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA INCONSTITUCIONAL: Impossibilidade
de relativizar coisa julgada fundada em lei posteriormente declarada não recepcionada pela
CF/88 – (Info 576)

Não é possível utilizar ação declaratória de nulidade (querela nullitatis) contra título
executivo judicial fundado em lei declarada não recepcionada pelo STF em decisão
proferida em controle incidental que transitou em julgado após a constituição definitiva
do referido título.
A decisão do STF que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de lei ou
ato normativo não produz a automática reforma ou rescisão das sentenças anteriores que
tenham adotado entendimento diferente; para que tal ocorra, será indispensável a
interposição do recurso próprio ou, se for o caso, a propositura da ação rescisória própria,
observado o respectivo prazo decadencial de 2 anos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.237.895-ES, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 15/9/2015 (Info 576).

23.2.Conflito de sentenças transitadas em julgado – (Info 565) – IMPORTANTE!!!


ATUALIZE O INFO 557 DO STJ!!! – (TJRJ-2016)

Caso haja duas sentenças transitadas em julgado envolvendo as mesmas partes, mesma
causa de pedir e mesmo pedido, qual delas deverá prevalecer?
Existem duas correntes na doutrina e no STJ:
1ª) Prevalece a 1ª coisa julgada.
— Posição da 3ª Turma do STJ.
— Na doutrina: Arruda Alvim, Nelson Nery Jr. e Rosa Nery, Araken de Assis, Teresa
Wambier, Sérgio Gabriel Porto, Sálvio de Figueiredo Teixeira.
— A segunda sentença seria inexistente, porque foi proferida numa demanda em que o
autor era carente de ação (por falta de interesse jurídico). A coisa julgada também é um
pressuposto processual negativo (ou extrínseco), de forma que a segunda ação foi proposta
em afronta a esse pressuposto, o que também conduz à inexistência da segunda sentença.
— Para essa corrente, a partir do momento em que se entende que a segunda sentença é
inexistente, não há necessidade de ação rescisória, podendo-se obter a declaração de
inexistência perante o próprio juízo de origem, por meio de ação ou objeção, esteja ou não
transcorrido o prazo decadencial da rescisória. Vale ressaltar, no entanto, que o lesado
poderá perfeitamente alegar o vício por meio de rescisória.
STJ. 3ª T. REsp 1354225-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 24/2/15 (Info 557).

2ª) Prevalece a 2ª coisa julgada, a não ser que ela seja desconstituída por ação rescisória.
— Posição da 2ª Turma do STJ.
— Na doutrina: Pontes de Miranda, Vicente Greco Filho, Barbosa Moreira, Cândido
Rangel Dinamarco, Humberto Theodoro Jr.
— Havendo conflito entre duas coisas julgadas, prevalecerá a que se formou por último,
enquanto não desconstituída mediante ação rescisória. Assim, em regra, prevalece a
segunda sentença transitada em julgado, a não ser que ela seja desconstituída por meio de
ação rescisória. Enquanto não o for, ela é que vale. Se passar o prazo de 2 anos da
rescisória, a segunda valerá para sempre.
— Havendo conflito entre duas coisas julgadas, prevalecerá a que se formou por último,
enquanto não se der sua rescisão para restabelecer a primeira. A exceção de pré-
executividade não serve no caso para substituir a ação rescisória.
STJ. 2ª T. REsp 1524123-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 26/5/15 (Info 565).
STJ. 4ª T. AgInt no REsp 1270008/MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 21/08/18.
(TJRJ-2016-VUNESP): Verificada a existência de decisões conflitantes versando sobre o
mesmo bem jurídico, e ambas transitadas em julgado, prevalece aquela que por último
transitou em julgado. BL: Info 565, STJ.

24. RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA


24.1. Inaplicabilidade da teoria da relativização da coisa julgada inconstitucional para erro
na fixação dos honorários advocatícios – (Info 556)

A mera alegação de que houve um erro de julgamento não é apta a justificar a aplicação da
teoria da relativização da coisa julgada com vistas a desconstituir decisão que fixou
equivocadamente os honorários advocatícios com base no § 3º do art. 20 do CPC, quando
deveria ter utilizado o § 4º do referido dispositivo, ainda que o valor dos honorários seja
excessivo e possa prejudicar os demais credores.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.163.649-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 16/9/14 (Info 556).
OBS:
Novo CPC: A decisão acima foi proferida sob a égide do CPC/1973. Penso que o
entendimento permanece válido com o CPC/2015.

25. TUTELA PROVISÓRIA


25.1. A contestação tem força de impedir a estabilização da tutela antecipada antecedente (art.
303 do CPC) ou somente a interposição de recurso, conforme prevê a redação do art. 304? – (Info
639 e Info 658) – IMPORTANTE!!! Atualize o Info 639!!!

A contestação tem força de impedir a estabilização da tutela antecipada antecedente (art. 303 do
CPC)?
1ª corrente: NÃO. Apenas a interposição de agravo de instrumento contra a decisão
antecipatória dos efeitos da tutela requerida em caráter antecedente é que se revela capaz de
impedir a estabilização, nos termos do disposto no art. 304 do CPC/15.
STJ. 1ª T. REsp 1797365-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. Acd. Min. Regina Helena Costa, j.
3/10/19 (Info 658).

2ª corrente: SIM. A tutela antecipada antecedente (art. 303 do CPC) somente se torna estável se
não houver nenhum tipo de impugnação formulada pela parte contrária, de forma que a mera
contestação tem força de impedir a estabilização. Apesar de o caput do art. 304 do CPC/15 falar
em “recurso”, a leitura que deve ser feita do dispositivo legal, tomando como base uma
interpretação sistemática e teleológica do instituto, é que a estabilização somente ocorrerá se
não houver qualquer tipo de impugnação pela parte contrária. O caput do art. 304 do CPC disse
menos do que pretendia dizer, razão pela qual a interpretação extensiva mostra-se mais
adequada ao instituto, notadamente em virtude da finalidade buscada com a estabilização da
tutela antecipada.
STJ. 3ª T. REsp 1760966-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 04/12/18 (Info 639).

25.2. O ressarcimento dos prejuízos advindos com o deferimento da tutela provisória


posteriormente revogada por sentença que extingue o processo sem resolução de mérito, sempre
que possível, deverá ser liquidado nos próprios autos – (Info 649) – IMPORTANTE!!! – (MPCE-
2020)
O CPC/15, seguindo a mesma linha do CPC/73, adotou a teoria do risco-proveito, ao estabelecer
que o beneficiado com o deferimento da tutela provisória deverá arcar com os prejuízos
causados à parte adversa, sempre que: i) a sentença lhe for desfavorável; ii) a parte requerente
não fornecer meios para a citação do requerido no prazo de 5 dias, caso a tutela seja deferida
liminarmente; iii) ocorrer a cessação da eficácia da medida em qualquer hipótese legal; ou iv) o
juiz acolher a decadência ou prescrição da pretensão do autor (art. 302).
Em relação à forma de se buscar o ressarcimento dos prejuízos advindos com o deferimento da
tutela provisória, o parágrafo único do art. 302 do CPC/15 é claro ao estabelecer que “a
indenização será liquidada nos autos em que a medida tiver sido concedida, sempre que possível ”,
dispensando-se, assim, o ajuizamento de ação autônoma para esse fim.
A obrigação de indenizar a parte adversa dos prejuízos advindos com o deferimento da tutela
provisória posteriormente revogada é decorrência ex lege da sentença de improcedência ou de
extinção do feito sem resolução de mérito, como no caso, sendo dispensável, portanto,
pronunciamento judicial a esse respeito, devendo o respectivo valor ser liquidado nos próprios
autos em que a medida tiver sido concedida, em obediência, inclusive, aos princípios da
celeridade e economia processual.
STJ. 3ª T. REsp 1.770.124-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 21/5/19 (Info 649).
(MPCE-2020-CESPE): Alexandre possui contrato de plano de saúde com uma empresa e, em
razão da negativa de autorização para realização de determinada cirurgia, ajuizou ação contra
ela. Em sua petição inicial, deduziu pedido único principal objetivando a referida autorização e
requereu a concessão de tutela provisória de urgência satisfativa, em caráter incidental. O juiz
concedeu a tutela provisória, determinando seu cumprimento imediato. Realizada a cirurgia,
foi marcada audiência inicial de conciliação, oportunidade em que o autor apresentou pedido
de desistência da ação, sob o argumento de que houvera perda de objeto. Por esse motivo, o
magistrado prolatou sentença terminativa, sem resolução de mérito. Posteriormente, a empresa
apresentou, no mesmo processo, pedido de ressarcimento referente ao valor gasto com a
cirurgia. Nessa situação hipotética, a empresa tem direito ao ressarcimento pleiteado: a
responsabilidade do autor pelo prejuízo do réu é de natureza objetiva e, se possível, a
indenização deverá ser liquidada no processo em que a medida havia sido concedida. BL: Info
649, STJ.

25.3. Bloqueio e sequestro de verbas públicas – (Info 532)

Em ação para fornecimento de medicamentos, o juiz pode determinar o bloqueio e sequestro de


verbas públicas em caso de descumprimento da decisão.
Tratando-se de fornecimento de medicamentos, cabe ao Juiz adotar medidas eficazes à
efetivação de suas decisões, podendo, se necessário, determinar, até mesmo, o sequestro de
valores do devedor (bloqueio), segundo o seu prudente arbítrio, e sempre com adequada
fundamentação.
STJ. 1ª S. REsp 1.069.810-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 23/10/13 (recurso
repetitivo) (Info 532).

26. SENTENÇA
26.1. É dispensável a remessa necessária nas sentenças ilíquidas proferidas em desfavor do
INSS, cujo valor mensurável da condenação ou do proveito econômico seja inferior a mil 1.000
salários mínimos – (Info 658) – IMPORTANTE!!! Divergência 2ª Turma!!! Concursos Federais!!!

Após a entrada em vigor do CPC/15, é dispensável a remessa necessária nas sentenças ilíquidas
proferidas em desfavor do INSS, cujo valor mensurável da condenação ou do proveito
econômico seja inferior a mil salários mínimos.
A Súmula 490-STJ não se aplica às sentenças ilíquidas nos processos de natureza previdenciária
a partir dos novos parâmetros definidos no art. 496, § 3º, I, do CPC/15.
STJ. 1ª T. REsp 1735097-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 08/10/19 (Info 658).

As ações previdenciárias, mesmo nas hipóteses em que reconhecido o direito do segurado à


percepção de benefício no valor do teto máximo previdenciário, não alcançarão valor superior a
1.000 salários mínimos.
Assim, não obstante a aparente iliquidez das condenações em causas de natureza
previdenciária, a sentença que defere benefício previdenciário é espécie absolutamente
mensurável, visto que pode ser aferível por simples cálculos aritméticos, os quais são
expressamente previstos na lei de regência, e, invariavelmente, não alcançará valor superior a
1.000 salários mínimos.
STJ. 1ª T. REsp 1844937/PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 12/11/19.
STJ. 1ª T. REsp 1.859.598/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 03/03/20.

Divergência
Aplica-se a súmula 490 do STJ ainda que às sentenças ilíquidas sejam proferidas nos feitos de
natureza previdenciária, de modo que para atender ao requisito da liquidez, é necessário mais
que estimativa do valor devido, sendo necessário a fixação exata da condenação.
STJ. 2ª T. REsp 1.791.298/RS, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 21/11/19.
STJ. 2ª T. REsp 1819960/AP, Rel. Ministro Og Fernandes, j. 27/08/19.

26.2. Alteração da sentença para correção de erro material – (Info 547)

O magistrado pode corrigir de ofício, mesmo após o trânsito em julgado, erro material
consistente no desacordo entre o dispositivo da sentença que julga procedente o pedido e a
fundamentação no sentido da improcedência da ação.
STJ. 2ª T. RMS 43956-MG, Rel. Min. Og Fernandes, j. 9/9/14 (Info 547).

26.3. Concessão de benefício previdenciário diverso do requerido na petição inicial – (Info 522)

O juiz pode conceder ao autor benefício previdenciário diverso do requerido na inicial, desde
que preenchidos os requisitos legais atinentes ao benefício concedido. Isso porque, tratando-se
de matéria previdenciária, deve-se proceder, de forma menos rígida, à análise do pedido.
Assim, nesse contexto, a decisão proferida não pode ser considerada como extra petita ou ultra
petita.
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1367825-RS, Rel. Min. Humberto Martins, j. 18/4/13 (Info 522).

26.4. Erro material é aquele reconhecido à primeira vista – (Info 507)

O erro material passível de ser corrigido de ofício (art. 463, I, do CPC/73 - art. 494, I, do CPC/15)
e não sujeito à preclusão é o reconhecido primu ictu oculi (à primeira vista, de maneira
evidente), consistente em equívocos materiais sem conteúdo decisório propriamente dito.
STJ. 3ª T. REsp 1151982-ES, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 23/10/12 (Info 507).

27. JULGAMENTO PARCIAL


27.1. (Im) Possibilidade de julgamento parcial de mérito – (Info 562)

É válido o julgamento parcial de mérito?


 CPC 1973: NÃO. Não é permitido o julgamento parcial de mérito. Adotou-se a teoria da
unidade estrutural da sentença, segundo a qual não é possível existir mais de uma
sentença no mesmo processo ou na mesma fase processual de conhecimento ou de
liquidação.
 CPC 2015: SIM. É permitido o julgamento parcial de mérito. O novo CPC introduziu no
sistema processual civil brasileiro a permissão para que o juiz profira julgamento
parcial de mérito (art. 356).

Ex: João ajuizou ação de indenização contra determinada empresa pedindo a condenação da ré
ao pagamento de R$ 100 mil a título de danos emergentes e R$ 200 mil por lucros cessantes.
A empresa apresentou contestação e pediu a realização de perícia para aferir se realmente
houve lucros cessantes e qual seria o seu valor exato. Não foi pedida a realização de instrução
probatória no que tange aos danos emergentes. Sendo permitida sentença parcial de mérito, o
juiz poderá cindir o feito e julgar desde logo o pedido dos danos emergentes, determinando o
prosseguimento do feito quanto ao pedido de lucros cessantes.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.281.978-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 5/5/15 (Info 562).

28. RECURSOS
28.1. INCIDENTE DE ASSUNÇÃO DE COMPETÊNCIA: É inadmissível incidente de assunção
de competência no âmbito do STJ fora das situações previstas no art. 947 do CPC/2015 – (Info 659)
– IMPORTANTE!!!

O incidente de assunção de competência está previsto no art. 947 do CPC/2015:


Art. 947. É admissível a assunção de competência quando o julgamento de recurso, de remessa
necessária ou de processo de competência originária envolver relevante questão de direito,
com grande repercussão social, sem repetição em múltiplos processos.
Assim, cabe o incidente em caso de: a) recurso; b) remessa necessária; c) julgamento de
processo de competência originária do Tribunal.
É inadmissível incidente de assunção de competência fora das situações previstas no art. 947
do CPC/15.
Caso concreto: a parte ajuizou ação rescisória na Turma Recursal do Juizado Especial Cível
estadual, tendo a ação sido indeferida liminarmente. Contra essa decisão, a parte ingressou
com incidente de assunção de competência no STJ; no caso concreto, não se está diante de
recurso, remessa necessária ou processo de competência originária do STJ, sendo, portanto,
manifestamente descabido o pedido. Vale ressaltar que, contra a decisão da Turma Recursal,
nem cabe recurso para o STJ.
STJ. 1ª Seção. AgInt na Pet 12642-SP, Rel. Min. Og Fernandes, j. 14/8/19 (Info 659).

28.2. TÉCNICA DE AMPLIAÇÃO DO COLEGIADO: Aplica-se a técnica de ampliação do


colegiado quando não há unanimidade no juízo de admissibilidade recursal – (Info 659) –
IMPORTANTE!!! – (MPCE-2020)

A técnica de julgamento do art. 942 pode ser aplicada na hipótese em que não houve
unanimidade quanto à preliminar de admissibilidade da apelação adesiva? Ex: o autor interpôs
recurso adesivo endereçado à Câmara Cível do Tribunal de Justiça; 2 Desembargadores
votaram por conhecer do recurso adesivo, mas 1 Desembargador votou pelo não conhecimento
sob o argumento de que não havia pertinência temática; neste caso, deve ser aplicado o art. 942
do CPC, com a convocação de dois novos Desembargadores para votar?
SIM. Aplica-se a técnica de ampliação do colegiado quando não há unanimidade no juízo de
admissibilidade recursal.
O art. 942 do CPC não determina a ampliação do julgamento apenas em relação às questões de
mérito. Na apelação, a técnica de ampliação do colegiado deve ser aplicada a qualquer
julgamento não unânime, incluindo as questões preliminares relativas ao juízo de
admissibilidade do recurso.
STJ. 3ª T. REsp 1798705-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 22/10/19 (Info 659).
(MPCE-2020-CESPE): No julgamento de um recurso de apelação em órgão colegiado de
tribunal de justiça, o relator votou no sentido de não conhecer do recurso por ausência de
requisito de admissibilidade recursal. Posteriormente, houve divergência entre os outros dois
desembargadores que participavam do julgamento: um deles acompanhou o voto do relator;
o outro discordou quanto à admissibilidade porque entendeu pelo conhecimento da apelação.
Nessa situação hipotética, de acordo com o previsto no CPC e com a jurisprudência do STJ, a
técnica de ampliação do colegiado com a participação de outros julgadores deverá ser
aplicada de ofício, sendo possível o prosseguimento do julgamento, na mesma sessão do
tribunal, caso estejam presentes outros julgadores do órgão colegiado aptos a votar. BL: art.
942, caput e §1º, NCPC e Info 659, STJ.

28.3. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO: Cabe agravo de instrumento contra decisão do juízo
de primeiro grau que resolve o requerimento de distinção de processos sobrestados em razão de
recursos repetitivos (art. 1.037, § 13, I, do CPC/2015) – (Info 658)

Cabe agravo de instrumento contra decisão do juízo de primeiro grau que resolve o
requerimento de distinção de processos sobrestados em razão de recursos repetitivos.
Fundamento: art. 1.037, § 13, I, do CPC/2015:
Art. 1.037 (...)
§ 8º As partes deverão ser intimadas da decisão de suspensão de seu processo, a ser proferida
pelo respectivo juiz ou relator quando informado da decisão a que se refere o inciso II do
caput.
§ 9º Demonstrando distinção entre a questão a ser decidida no processo e aquela a ser julgada
no recurso especial ou extraordinário afetado, a parte poderá requerer o prosseguimento do seu
processo.
§ 13. Da decisão que resolver o requerimento a que se refere o § 9º caberá:
I - agravo de instrumento, se o processo estiver em primeiro grau;
II - agravo interno, se a decisão for de relator.
Obs: no CPC/1973, a decisão que determinava o sobrestamento dos recursos extraordinários e
recursos especiais repetitivos não selecionados como paradigmas era irrecorrível.
STJ. 3ª T. REsp 1717387-PB, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 08/10/19 (Info 658).

28.4. NOÇÕES GERAIS: Não cabe a instauração de Incidente de Resolução de Demandas


Repetitivas (IRDR) se, quando a parte requereu o incidente, o Tribunal já havia julgado o mérito
do recurso e estava pendente agora apenas os embargos de declaração contra a decisão – (Info 658)

Não caberá a instauração de IRDR se já encerrado o julgamento de mérito do recurso ou da


ação originária, mesmo que pendente de julgamento embargos de declaração.
STJ. 2ª T. AREsp 1470017-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 15/10/19 (Info 658).

28.5. AGRAVO DE INSTRUMENTO: A parte pede que o juiz suspenda o processo alegando
prejudicialidade externa (art. 313, V, “a”, CPC/15); magistrado indefere; esse pronunciamento não
pode ser equiparado a uma decisão sobre tutela provisória; logo, não cabe agravo de instrumento
contra ele com base no inciso I do art. 1.015 do CPC/15 – (Info 656)

A decisão interlocutória que indefere o pedido de suspensão do processo em razão de questão


prejudicial externa não equivale à tutela provisória de urgência de natureza cautelar e, assim,
não é recorrível por agravo de instrumento.
STJ. 3ª T. REsp 1759015-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 17/09/19 (Info 656).

28.6. AGRAVO DE INSTRUMENTO: A decisão interlocutória que majora a multa fixada para
a hipótese de descumprimento de decisão antecipatória de tutela anteriormente proferida é
recorrível por agravo de instrumento – (Info 655) – IMPORTANTE!!!

A decisão interlocutória que majora a multa que havia sido fixada inicialmente consiste em
uma tutela provisória sendo, portanto, recorrível por agravo de instrumento com base no art.
1.015, I, do CPC/2015:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
Se é concedida uma tutela provisória e, posteriormente, é proferida uma segunda decisão
interlocutória modificando essa tutela provisória, pode-se considerar que esse segundo
pronunciamento jurisdicional se enquadra no conceito de decisão interlocutória que verse
sobre tutela provisória.
STJ. 3ª T. REsp 1827553-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 27/08/19 (Info 655).

28.7. RECURSO ESPECIAL: Não deve ser conhecido o recurso especial tirado de agravo de
instrumento quando sobrevém sentença de extinção do processo sem resolução de mérito que não
foi objeto de apelação – (Info 654)

Não deve ser conhecido o recurso especial tirado de agravo de instrumento quando sobrevém
sentença de extinção do processo sem resolução de mérito que não foi objeto de apelação.
Ex: juiz determinou que os autores fizessem a emenda da petição inicial, sob pena de
indeferimento; os autores não concordaram e interpuseram agravo de instrumento, que não foi
conhecido pelo TJ; contra esta decisão, foi manejado recurso especial; antes que o recurso
especial fosse julgado, o juiz extinguiu o processo sem resolução do mérito indeferindo a
petição inicial pelo fato de não ter sido cumprida a diligência (emenda da petição inicial); neste
caso, os autores deveriam ter interposto apelação contra a sentença; como não interpuseram, o
recurso especial tirado do agravo de instrumento – e que ainda estava pendente de julgamento
– não será conhecido porque houve a formação de coisa julgada.
STJ. 3ª T. REsp 1750079-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 13/08/19 (Info 654).

28.8. AGRAVO DE INSTRUMENTO: Cabe agravo de instrumento contra a decisão


interlocutória que acolhe ou afasta a arguição de impossibilidade jurídica do pedido (mérito do
processo – art. 1.015, II, do CPC/2015) – (Info 654) – IMPORTANTE!!!

Cabe agravo de instrumento contra a decisão interlocutória que acolhe ou afasta a arguição de
impossibilidade jurídica do pedido.
Com o CPC/2015, a possibilidade jurídica do pedido deixou de ser uma condição da ação e
passou ser classificada como “questão de mérito”. Logo, se uma decisão interlocutória acolhe
ou rejeita a arguição de impossibilidade jurídica do pedido, trata-se de decisão que versa sobre
o mérito do processo, sendo cabível a interposição de agravo de instrumento, com fulcro no art.
1.015, II, do CPC:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
II - mérito do processo.
STJ. 3ª T. REsp 1757123-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 13/08/2019 (Info 654).

28.9. NOÇÕES GERAIS: INSS está dispensado do prévio pagamento do porte de remessa e de
retorno, devendo recolher o respectivo valor somente ao final da demanda, acaso vencido – (Info
653)

A teor dos arts. 27 e 511, § 1º, do revogado CPC/73 (arts. 91 e 1.007, § 1º, CPC/15), o Instituto
Nacional do Seguro Social - INSS, nos recursos de competência dos Tribunais de Justiça, está
dispensado do prévio pagamento do porte de remessa e de retorno, enquanto parcela
integrante do preparo, devendo recolher o respectivo valor somente ao final da demanda, acaso
vencido.
STJ. Corte Especial. REsp 1761119-SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 7/8/19 (recurso repetitivo –
Tema 1001) (Info 653).

28.10. AGRAVO DE INSTRUMENTO: Caberá agravo de instrumento contra todas as decisões


interlocutórias proferidas nos processos mencionados no parágrafo único do art. 1.015 do
CPC/2015, não se aplicando ali a taxatividade mitigada do caput do art. 1.015 – (Info 653) –
IMPORTANTE!!!

Cabe agravo de instrumento contra todas as decisões interlocutórias proferidas na liquidação e


no cumprimento de sentença, no processo executivo e na ação de inventário.
Fundamento: Art. 1.015 (...) Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra
decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de
sentença, no processo de execução e no processo de inventário.
STJ. Corte Especial. REsp 1803925-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 1/8/19 (Info 653).

28.11. AGRAVO DE INSTRUMENTO: Não cabe agravo de instrumento contra a decisão que
nega o pedido para que ocorra o julgamento antecipado parcial do mérito – (Info 653) –
IMPORTANTE!!!

Não é cabível agravo de instrumento contra decisão que indefere pedido de julgamento
antecipado do mérito por haver necessidade de dilação probatória.
STJ. 3ª T. AgInt no AREsp 1411485-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 1/7/19 (Info 653).

28.12. AGRAVO DE INSTRUMENTO: Em caso de decisões interlocutórias complexas, qual


critério será adotado para saber se cabe ou não agravo de instrumento? – (Info 651)

Em se tratando de decisão interlocutória com duplo conteúdo, é possível estabelecer como


critérios para a identificação do cabimento do recurso:
a) o exame do elemento que prepondera na decisão;
b) o emprego da lógica do antecedente-consequente e da ideia de questões prejudiciais e de
questões prejudicadas;
c) o exame do conteúdo das razões recursais apresentadas pela parte irresignada.
STJ. 3ª T. REsp 1797991-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 18/6/19 (Info 651).

28.13. RECURSO ESPECIAL: O art. 1.035, § 5º do CPC/15 não determina a suspensão automática
dos processos, devendo esse entendimento ser aplicado aos recursos especiais que impugnam
acórdão publicado e com a repercussão geral reconhecida na vigência do CPC/73 – (Info 650)

O art. 1.035, § 5º do CPC/2015 prevê o seguinte:


§ 5º Reconhecida a repercussão geral, o relator no Supremo Tribunal Federal determinará a
suspensão do processamento de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que
versem sobre a questão e tramitem no território nacional.
A suspensão prevista nesse § 5º não é uma consequência automática e necessária do
reconhecimento da repercussão geral. Em outras palavras, ela não acontece sempre. O Ministro
Relator do recurso extraordinário paradigma tem discricionariedade para determiná-la ou
modulá-la (STF. Plenário. RE 966177 RG/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 7/6/17).
Esse mesmo entendimento deve ser aplicado aos recursos especiais que impugnam acórdão
publicado e que tenha tido repercussão geral reconhecida na vigência do CPC/1973.
Assim, o STJ poderá julgar um recurso especial que esteja naquele Tribunal mesmo que o
tema a ser discutido esteja aguardando para ser julgado pelo STF sob a sistemática da
repercussão geral, salvo, obviamente, se o Ministro Relator do STF determinou a suspensão de
todos os processos pendentes.
STJ. Corte Especial. REsp 1.202.071-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 1/2/19 (Info 650).

28.14. RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL: O juízo de admissibilidade do recurso


ordinário em mandado de segurança é feito pelo STJ (e não pelo TJ ou TRF recorrido) – (Info 646)
– NOVO CPC!!!

Em recurso ordinário em mandado de segurança, o exercício de juízo de admissibilidade por


tribunais federais e estaduais caracteriza usurpação de competência do Superior Tribunal de
Justiça, sendo cabível reclamação.
O recurso ordinário em mandado de segurança deve ser imediatamente remetido pelo TJ ou
TRF ao Tribunal Superior, independentemente de juízo prévio de admissibilidade.
STJ. 2ª S. Rcl 35.958-CE, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 10/4/19 (Info 646).

28.15. RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL: O prazo para interposição de recurso


ordinário em habeas corpus, ainda que se trate de matéria não criminal, é de 5 dias – (Info 646)

O prazo para interposição de recurso ordinário em habeas corpus, ainda que se trate de matéria
não criminal, continua sendo de 5 dias, nos termos do art. 30 da Lei nº 8.038/90, não se
aplicando à hipótese os arts. 1.003, §5º, e 994, V, do CPC/2015.
Ex: recurso ordinário contra decisão do TJ que negou habeas corpus a indivíduo que se
encontra preso em razão de dívida de alimentos.
STJ. 3ª T. RHC 109.330-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 9/4/19 (Info 646).

28.16. AGRAVO DE INSTRUMENTO: É cabível agravo de instrumento contra decisão


interlocutória que defere ou indefere a distribuição dinâmica do ônus da prova ou quaisquer
outras atribuições do ônus da prova distinta da regra geral – (Info 645) – IMPORTANTE!!!

O CPC/2015 prevê que:


Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º;
Esse inciso XI abrange também as decisões interlocutórias que determinem a inversão da prova
com base no art. 6º, VIII, do CDC?
SIM. O art. 373, §1º, do CPC/15, contempla duas regras jurídicas distintas, ambas criadas para
excepcionar a regra geral do caput do art. 373, sendo que a primeira diz respeito à atribuição do
ônus da prova, pelo juiz, em hipóteses previstas em lei, de que é exemplo a inversão do ônus
da prova prevista no art. 6º, VIII, do CDC, e a segunda diz respeito à teoria da distribuição
dinâmica do ônus da prova, incidente a partir de peculiaridades da causa que se relacionem
com a impossibilidade ou com a excessiva dificuldade de se desvencilhar do ônus
estaticamente distribuído ou, ainda, com a maior facilidade de obtenção da prova do fato
contrário.
Em outras palavras, a hipótese do art. 6º, VIII, do CDC está sim tratada no § 1º do art. 373 do
CPC uma vez que esse dispositivo dispõe também a inversão do ônus da prova nos casos
previstos em lei.
Para o STJ, a hipótese do inciso XI do art. 1.015 do CPC deve ser lida em sentido amplo de sorte
que:
É cabível agravo de instrumento contra decisão interlocutória que defere ou indefere a
distribuição dinâmica do ônus da prova ou quaisquer outras atribuições do ônus da prova
distinta da regra geral, desde que se operem ope judicis e mediante autorização legal.
STJ. 3ª T. REsp 1729110-CE, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 2/4/19 (Info 645).

28.17. AGRAVO DE INSTRUMENTO: Cabe agravo de instrumento contra decisão


interlocutória que fixa data da separação de fato do casal para efeitos da partilha dos bens – (Info
645) – IMPORTANTE!!!

Cabe agravo de instrumento, nos termos do art. 1.015, II, do CPC/15, contra decisão
interlocutória que fixa data da separação de fato do casal para efeitos da partilha dos bens.
Trata-se de decisão parcial de mérito, considerando que é uma decisão que resolve uma parcela
do pedido de partilha de bens.
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
II - mérito do processo;
STJ. 3ª T. REsp 1798975-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 2/4/19 (Info 645).
28.18. AGRAVO DE INSTRUMENTO: Cabe agravo de instrumento contra decisão
interlocutória que exclui o litisconsorte; não cabe este recurso contra a decisão que mantém o
litisconsorte – (Info 644) – IMPORTANTE!!!

Segundo o inciso VII do art. 1.015, do CPC/2015: “cabe agravo de instrumento contra as
decisões interlocutórias que versarem sobre exclusão de litisconsorte”.
Essa previsão abrange somente a decisão que exclui o litisconsorte.
Assim, cabe agravo de instrumento contra a decisão interlocutória que exclui o litisconsorte.
Por outro lado, não cabe agravo de instrumento contra a decisão que indefere o pedido de
exclusão de litisconsorte (decisão que mantém o litisconsorte).
STJ. 3ª T. REsp 1724453-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 19/03/2019 (Info 644).
OBS:
Interpretação do inciso VII do art. 1.015: O inciso VII do art. 1.015 prevê que cabe agravo de
instrumento contra “decisões interlocutórias que versarem sobre exclusão de litisconsorte”. O STJ
afirma que essa expressão prevista no inciso VII abrange somente a decisão que exclui o
litisconsorte. Por outro lado, não cabe agravo de instrumento contra a decisão que rejeita a
arguição de ilegitimidade passiva feita pelo réu/litisconsorte (decisão que rejeita a exclusão do
litisconsorte).

Erro na exclusão do litisconsorte fará com que a sentença seja anulada: Imaginemos que, logo
após a contestação, o juiz, por meio de decisão interlocutória, excluiu um litisconsorte.
Suponhamos (para argumentar) que não coubesse agravo de instrumento. O feito prosseguiria
normalmente e seriam praticados vários atos processuais. Ao final, o juiz profere sentença de
procedência condenando os litisconsortes. É interposta apelação. O Tribunal de Justiça conclui que
o juiz errou lá no início do processo ao excluir o litisconsorte e que ele deveria sim ter figurado no
polo passivo da lide. O que aconteceria neste caso? O Tribunal teria que anular a sentença e
todos os atos processuais praticados após a exclusão do litisconsorte. Perceba, portanto, que
haveria um enorme prejuízo. Justamente por essa razão, o inciso VII do art. 1.015 prevê que cabe
agravo de instrumento contra a decisão interlocutória que excluir litisconsorte. Essa decisão
deve ser impugnada imediatamente, devendo ser decidida logo para evitar um grande prejuízo
no futuro caso seja revertida.
 
Erro na manutenção do litisconsorte não faz com que a sentença seja anulada: Imaginemos agora
que, logo após a contestação, o juiz, por meio de decisão interlocutória, rejeitou o pedido de um
dos réus (litisconsorte 2) para ser excluído da lide. Em outras palavras, o juiz manteve o
litisconsorte. Suponhamos que não cabe agravo de instrumento. O feito prossegue normalmente e
são praticados vários atos processuais. Ao final, o juiz profere sentença de procedência
condenando os litisconsortes. É interposta apelação. O Tribunal de Justiça conclui que o juiz
errou lá no início do processo ao não ter excluído o litisconsorte, ou seja, o réu realmente era
parte ilegítima. Haverá nulidade da sentença por conta disso? Não. O Tribunal irá simplesmente
reformar a sentença para julgar improcedente o pedido contra esse litisconsorte 2 . A
manutenção, no processo, de uma parte alegadamente ilegítima não fulmina a sentença de
mérito nele proferida, podendo o Tribunal, por ocasião do julgamento do recurso de apelação,
reconhecer a ilegitimidade da parte e, então, exclui-la do processo. Perceba, portanto, que, ao
contrário da situação anterior, não haverá aqui, para o processo, um enorme prejuízo. Justamente
por essa razão, o STJ diz: neste segundo caso (decisão interlocutória mantendo o litisconsorte) não
cabe agravo de instrumento, sendo possível esperar mais um pouco e que esse tema seja
eventualmente apreciado somente na apelação.
 
Na primeira situação há um prejuízo endoprocessual; na segunda, um prejuízo econômico à parte :
Haverá, não há dúvida, transtornos à parte que será mantida em processo do qual não deveria
participar, mas, evidentemente, esse prejuízo é infinitamente menor do que àquele causado pela
exclusão, prematura e errônea, de quem necessariamente deveria dele participar.
Na primeira hipótese, pode-se cogitar um prejuízo meramente econômico exclusivamente da
parte não excluída. Na segunda hipótese, contudo, haverá um grave prejuízo endoprocessual,
que atingirá todos os sujeitos e invalidará a sentença de mérito, que é o resultado buscado no
processo.

Interpretação teleológica e sistemática: O legislador, quando quis dizer que cabe agravo de
instrumento contra a decisão que acolhe ou rejeita o pedido da parte, ele disse isso expressamente.
Como é o caso, por exemplo, do inciso IX:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre: (...)
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
 
No inciso VII, por outro lado, ele não mencionou isso expressamente, de forma que se deve
interpretar que só cabe o agravo de instrumento se a questão não puder esperar até o
julgamento da apelação.
 
Não cabimento de intepretação extensiva ou analogia no rol do art. 1.015: O STJ, no mesmo
julgamento que definiu que o rol do art. 1.015 é de taxatividade mitigada, também decidiu que
não é possível o uso da interpretação extensiva e da analogia para ampliar as hipóteses de
cabimento do agravo de instrumento.

Cabe agravo de instrumento contra decisão interlocutória envolvendo LITISCONSORTE?


Juiz EXCLUIU o litisconsorte: SIM Juiz MANTEVE o litisconsorte: NÃO
cabe agravo de instrumento Não cabe agravo de instrumento
Há urgência em se definir essa questão Não há urgência em se definir essa questão
imediatamente. Isso porque se o Tribunal imediatamente. Isso porque mesmo que o
determinar o retorno, os atos processuais terão litisconsorte seja excluído mais para frente,
que ser repetidos com a participação do não haverá prejuízo aos atos processuais
litisconsorte. praticados.
   
Há um risco de enorme prejuízo Não há risco de anulação da sentença por esse
endoprocessual com a anulação da sentença. motivo. O prejuízo, se houver, será meramente
econômico da parte que teve que ficar no
processo até o final.

28.19. AGRAVO DE INSTRUMENTO: Como se deve interpretar a expressão “decisões


interlocutórias que versem sobre tutelas provisórias” presente no art. 1.015, I, do CPC/15? – (Info
644) – IMPORTANTE!!!

O conceito de “decisão interlocutória que versa sobre tutela provisória” previsto no art. 1.015, I,
do CPC/2015, abrange as decisões que digam respeito à:
1) à presença ou não dos pressupostos que justificam o deferimento, indeferimento, revogação
ou alteração da tutela provisória (é o chamado núcleo essencial), ou seja, são as interlocutórias
que examinam se estão ou não presentes os pressupostos autorizadores da tutela provisória
pretendida pela parte.
2) ao prazo e ao modo de cumprimento da tutela. Portanto, a decisão interlocutória que se
pronuncia sobre o prazo ou sobre o modo de cumprimento da tutela provisória também se
enquadra no inciso I do art. 1.015 e é recorrível de imediato.
3) à adequação, suficiência, proporcionalidade ou razoabilidade da técnica de efetivação da
tutela provisória, tal como ocorre, por exemplo, na decisão que trata sobre o valor, a
periodicidade ou a eventual limitação quantitativa ou temporal das astreintes ou, ainda, na
decisão que determina a aplicação de técnica indutiva, coercitiva ou sub-rogatória para
cumprimento da tutela provisória, como a busca e apreensão, a proibição de atividade nociva, a
proibição de contratar com o Poder Público ou da suspensão temporária de passaporte, carteira
de habilitação ou cartões de crédito, dentre outras.
4) à necessidade ou dispensa de garantias para a concessão, revogação ou alteração da tutela
provisória. Isso porque tais questões, embora acessórias ao conceito essencial de tutela
provisória, com ele se relacionam diretamente, podendo, inclusive, influenciar o modo pelo
qual se examina a presença dos requisitos autorizadores da tutela pretendida.
STJ. 3ª T. REsp 1752049-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12/03/2019 (Info 644).

Não cabe agravo de instrumento contra a decisão interlocutória que impõe ao beneficiário o
dever de arcar com as despesas da estadia do bem móvel objeto da busca e apreensão em pátio
de terceiro.
Tal situação não pode ser enquadrada no art. 1.015, I, do CPC/2015 porque essa decisão não se
relaciona, de forma indissociável, com a tutela provisória.
Trata-se, na verdade, de decisão que diz respeito a aspectos externos relacionados com a
executoriedade, operacionalização ou implementação fática da busca e apreensão (e não com a
tutela provisória em si).
É um consectário lógico do deferimento da tutela provisória que haverá a necessidade de
recolhimento de taxas, despesas ou custas para a implementação da medida deferida.
STJ. 3ª T. REsp 1752049-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12/03/19 (Info 644).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa “Top Transportes Rodoviários” celebrou, com
o Banco Safra, um contrato de financiamento com alienação fiduciária para aquisição de um
caminhão. A Top deixou de pagar as prestações do mútuo. Diante disso, o Banco ajuizou, contra
Top, ação de busca e apreensão requerendo a entrega do veículo que estava em garantia (art. 3º do
DL 911/69). O juiz concedeu a busca e apreensão de forma liminar (sem ouvir o devedor).
 
Indaga-se: será cabível algum recurso contra esta decisão? SIM. Essa decisão concedeu uma
“tutela provisória”, de forma que, contra ela, é cabível a interposição de agravo de instrumento,
nos termos art. 1.015, I, do CPC/2015:
Art. 1.015.  Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre:
I – tutelas provisórias; (...)
 
Vamos aprofundar um pouco mais sobre a tutela provisória: O Livro V (arts. 294 a 311) do
CPC/2015 é denominado “Da Tutela Provisória”. Tutela provisória é aquela concedida antes da
tutela definitiva, em caráter provisório, com base em uma cognição sumária. A tutela provisória
será sempre substituída por uma tutela definitiva, que a confirmará, revogará ou modificará.
Ex: João ingressa com ação pedindo o fornecimento de determinado medicamento. O juiz profere
decisão interlocutória determinando que o Estado conceda o remédio. Foi concedida, portanto, a
tutela provisória com base em cognição sumária. Ao final, o juiz profere sentença confirmando
que a pessoa tem o direito de receber o medicamento do Poder Público. Logo, nessa sentença, foi
concedida a tutela definitiva, que confirmou a tutela provisória.
 
Espécies de tutela provisória: A TUTELA PROVISÓRIA é o gênero do qual decorrem duas
espécies:
4) Tutela provisória de urgência;

2) Tutela provisória de evidência.

Veja o que diz o CPC/2015:


Art. 294. A tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou evidência.
 
Classificação das tutelas provisórias de URGÊNCIA: O CPC/2015 prevê duas classificações das
tutelas provisórias de urgência:
4) Cautelar e antecipada;

2) Antecedente e incidental.
 
Art. 294 (...)
Parágrafo único. A tutela provisória de urgência, cautelar ou antecipada, pode ser
concedida em caráter antecedente ou incidental.
 
Quanto à satisfatividade: Em uma primeira classificação, a tutela provisória de URGÊNCIA
divide-se em:
1.1) ANTECIPADA (satisfativa): o órgão julgador antecipa aquele direito ou bem
da vida que o autor espera conseguir ao final do processo. Ex: em uma ação de
cobrança, o juiz, entendendo que o autor precisa dos valores para sobreviver,
determina que o réu entregue a quantia pleiteada enquanto se aguarda o desfecho
do processo.
1.2) CAUTELAR: o órgão julgador confere uma medida para assegurar aquele
direito ou bem da vida que o requerente espera obter ao fim do processo. Ex: em
uma ação de cobrança, o juiz, entendendo que há receio de que o réu se desfaça de
seu patrimônio, determina o arresto dos bens do requerido.
 
Voltando ao nosso exemplo: Imaginemos que a Top não interpôs agravo de instrumento contra a
decisão que deferiu liminarmente a busca e apreensão. Foram então praticados diversos atos para
se tentar localizar o veículo e cumprir a decisão (ex: houve várias diligências do oficial de Justiça
na sede da empresa, o juiz expediu ofício aos órgãos de trânsito etc.). Depois de algumas semanas,
a Polícia Rodoviária Federal, em uma blitz de rotina, localizou o caminhão e o levou até o pátio
daquele órgão. Em seguida, a PRF enviou um ofício ao juiz informando que o caminhão estava à
disposição para ser retirado, mas desde que fossem pagas as taxas pelo fato de o veículo ter ficado
no pátio do órgão. Ciente do referido ofício, o Banco requereu a liberação do veículo do pátio da
PRF sem quaisquer custos para si, pedindo que o juiz determinasse à empresa Top que pagasse as
taxas e demais despesas com a guarda do caminhão no pátio do órgão. O juiz proferiu decisão
interlocutória indeferindo o requerimento da instituição financeira sob o argumento de que o
pagamento das despesas e débitos referentes à liberação do veículo devem ser custeadas pelo
proprietário fiduciário (ou seja, pelo Banco) e que, posteriormente, a instituição financeira poderá
buscar o ressarcimento do devedor fiduciante.
O Banco não concordou e interpôs agravo de instrumento contra a decisão. A instituição alegou
que a decisão do juiz que nega o pedido feito pelo credor para que o devedor pague as despesas
relacionadas com a entrega do bem representa uma revogação parcial da liminar anteriormente
deferida, motivo pelo qual caberia agravo de instrumento com base no art. 1.015, I, do CPC:
Art. 1.015.  Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre:
I – tutelas provisórias; (...)
 
Qual é a abrangência do inciso I do art. 1.015 do CPC/15? Como se deve interpretar a expressão
“decisões interlocutórias que versem sobre tutelas provisórias”? O STJ identificou quatro grupos
de decisões que podem ser enquadradas nesta previsão e que, portanto, são recorríveis de
imediato por meio de agravo de instrumento:
 
4) Pressupostos que autorizam a tutela provisória (núcleo essencial) : São as decisões
interlocutórias que examinam se estão ou não presentes os pressupostos autorizadores
da tutela provisória pretendida pela parte. Aqui estão incluídas as decisões de
deferimento, indeferimento, revogação ou alteração da tutela provisória.
 
2) Prazo ou modo de cumprimento da tutela: A decisão interlocutória que se pronuncia sobre o
prazo ou sobre o modo de cumprimento da tutela provisória também se enquadra no inciso I do
art. 1.015 e é recorrível de imediato. Ex: a fixação de um prazo demasiadamente longo para
cumprimento pode acarretar o perecimento do próprio direito que se pretende salvaguardar, ao
passo que a fixação de um prazo insuficiente para o cumprimento pode impor à parte uma
obrigação que ela não conseguirá cumprir, sofrendo os efeitos do inadimplemento, como a multa.
 
3) Definição da técnica de efetivação da tutela: A decisão que analisa a adequação, suficiência,
proporcionalidade ou razoabilidade da técnica de efetivação da tutela também é recorrível por
agravo de instrumento. Ex1: decisão que trata sobre o valor, a periodicidade ou a eventual
limitação quantitativa ou temporal das astreintes. Ex2: decisão que determina a aplicação de
técnica indutiva, coercitiva ou sub-rogatória para cumprimento da tutela provisória, como a
busca e apreensão, a proibição de atividade nociva, a proibição de contratar com o Poder Público
ou da suspensão temporária de passaporte, carteira de habilitação ou cartões de crédito, dentre
outras.
 
4) Necessidade ou dispensa de caução: A decisão que se pronuncie sobre a necessidade ou a
dispensa de caução ou quaisquer garantias para a concessão, revogação ou modificação da
tutela. Isso porque tais questões, embora acessórias ao conceito essencial de tutela provisória, com
ele se relacionam diretamente, podendo, inclusive, influenciar o modo pelo qual se examina a
presença dos requisitos autorizadores da tutela pretendida.
 
Cláusula de cabimento de amplo espectro: Assim, é possível concluir que o art. 1.015, I, do
CPC/15, deve ser lido e interpretado como uma cláusula de cabimento de amplo espectro, de
modo a permitir a recorribilidade imediata das decisões interlocutórias que digam respeito não
apenas ao núcleo essencial da tutela provisória, mas também que se refiram aos aspectos
acessórios que estão umbilicalmente vinculados a ela, porque, em todas essas situações, há
urgência que justifique o imediato reexame da questão em 2º grau de jurisdição. Isso não
significa dizer, todavia, que absolutamente toda e qualquer questão relacionada ao cumprimento,
operacionalização ou implementação fática da tutela provisória se enquadre no conceito de
decisão interlocutória que versa sobre tutela provisória e, consequentemente, possa ser
impugnada de imediato pelo agravo de instrumento.

Agora que já sabemos quais os critérios adotados pelo STJ, pergunto: a tese invocada pelo Banco
foi acolhida? Cabe realmente agravo de instrumento naquela hipótese na qual se discutia a
responsabilidade pelo pagamento das despesas com a armazenagem do bem? NÃO.
Não cabe agravo de instrumento contra a decisão interlocutória que impõe ao
beneficiário o dever de arcar com as despesas da estadia do bem móvel objeto da
busca e apreensão em pátio de terceiro. Tal situação não pode ser enquadrada no
art. 1.015, I, do CPC/2015 porque essa decisão não se relaciona, de forma
indissociável, com a tutela provisória. Trata-se, na verdade, de decisão que diz
respeito a aspectos externos relacionados com a executoriedade, operacionalização
ou implementação fática da busca e apreensão (e não com a tutela provisória em
si). STJ. 3ª T. REsp 1.752.049-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12/3/19 (Info 644).
 
É um consectário lógico do deferimento da tutela provisória que haverá a necessidade de
recolhimento de taxas, despesas ou custas para a implementação da medida deferida . Cabe ao
beneficiário da tutela, por exemplo, custear: (i) a diligência do oficial de justiça, a quem caberá
intimar pessoalmente o réu da tutela provisória deferida; (ii) o cartório, a fim efetivar o registro de
protesto cautelar contra a alienação de bem; (iii) as despesas relacionadas às pesquisas de ativos
financeiros ou bens móveis ou imóveis, quando pretender torná-los indisponíveis; (iv) as despesas
do pátio em que fora estacionado o veículo que fora apreendido em decorrência de ordem de
restrição de circulação por ele requerida.

Tais providências, todavia, não se relacionam, direta e nem mesmo indiretamente, com a tutela
provisória objeto da decisão interlocutória impugnável, mas, sim, com a execução,
operacionalização e implementação fática da providência que já foi requerida e obtida,
descabendo discutir, em âmbito de tutela provisória, a questão relacionada ao fato de a parte
beneficiária da tutela arcar com as despesas e, ao final, ser ressarcida pelo vencido, inclusive como
decorrência lógica da necessidade de plena reintegração que permeia a tutela jurisdicional efetiva.

Conclui-se que a relação estabelecida entre a decisão interlocutória que disciplina o modo de
custeio da execução da tutela provisória e a decisão interlocutória que versa sobre tutela
provisória é, pois, muitíssimo distante e dissociada, quase inexistente, não se podendo enquadrar
a primeira na hipótese de cabimento do art. 1.015, I, do CPC/2015, por mais amplo que seja o seu
espectro.

28.20. AGRAVO DE INSTRUMENTO: A decisão interlocutória que rejeita a ocorrência de


prescrição ou decadência é uma decisão de mérito, que enseja a agravo de instrumento com base
no inciso II do art. 1.015 do CPC/2015 – (Info 643) – IMPORTANTE!!!

A decisão interlocutória que afasta (rejeita) a alegação de prescrição é recorrível, de imediato,


por meio de agravo de instrumento com fundamento no art. 1.015, II, do CPC/2015. Isso porque
se trata de decisão de mérito.
Embora a ocorrência ou não da prescrição ou da decadência possam ser apreciadas somente na
sentença, não há óbice para que essas questões sejam examinadas por intermédio de decisões
interlocutórias, hipótese em que caberá agravo de instrumento com base no art. 1.015, II, do
CPC/2015, sob pena de formação de coisa julgada material sobre a questão.
STJ. 3ª Turma. REsp 1738756-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 19/2/19 (Info 643).
OBS:
Natureza da decisão interlocutória que reconhece a existência da prescrição ou decadência: A
doutrina diverge sobre a natureza da decisão interlocutória que reconhece a existência de
prescrição ou decadência. Podemos apontar três exemplos de enquadramento:
• Cássio Scarpinella Bueno: afirma que se trata de uma “falsa” decisão de mérito;
• Teresa Arruda Alvim: sustenta que consiste em uma “atípica” decisão de mérito;
• Fredie Didier Jr.: ensina que é uma “preliminar” ou “prejudicial” de mérito.

Independentemente da nomenclatura utilizada, o fato indiscutível é que a decisão que pronuncia


a prescrição ou a decadência é uma decisão de mérito. Em outras palavras, a decisão que
reconhece a existência da prescrição ou da decadência é um pronunciamento jurisdicional de
mérito.

E a decisão que REJEITA a ocorrência de prescrição ou decadência? Também se pode dizer que é
uma decisão de mérito?
Decisão interlocutória que REJEITA a ocorrência de
prescrição ou decadência é uma decisão de mérito?
CPC/1973: NÃO CPC/2015: SIM
Havia o entendimento de que não se tratava Não há mais dúvidas de que também se trata
de uma decisão de mérito. Isso por causa da de uma decisão de mérito. Isso por causa da
redação do art. 269, IV, que falava apenas redação expressa que foi dada ao art. 487, II, do
em pronunciar: CPC/2015:
Art. 269. Haverá resolução de mérito: Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o
IV - quando o juiz pronunciar (reconhecer) a juiz:
decadência ou a prescrição; II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a
ocorrência de decadência ou prescrição;
 
O conceito de “decidir sobre a ocorrência” é claramente mais amplo do que apenas
“pronunciar”, motivo pelo qual é correto afirmar que o art. 487, II, do CPC/2015, passou a
abranger, indiscutivelmente, o acolhimento e também a rejeição da alegação de prescrição ou
decadência, com aptidão inclusive para, em ambas as hipóteses, formar coisa julgada material
sobre essas questões.
 
Mas a prescrição ou decadência não tem que ser decididas apenas ao final, na sentença? NÃO.
Embora a ocorrência ou não da prescrição ou da decadência possam ser apreciadas somente por
ocasião da prolação da sentença, não há vedação alguma para que essas questões sejam
antecipadamente examinadas, por intermédio de decisões interlocutórias. A praxe forense, aliás,
revela que as hipóteses de rejeição da alegação de prescrição ou de decadência ou de
reconhecimento de sua ocorrência sobre parte ou sobre algum dos pedidos, na verdade,
normalmente ocorrem antes da sentença, mais precisamente na decisão saneadora, ocasião em que
usualmente são decotadas as questões de fato e de direito relevantes da controvérsia para a
subsequente fase instrutória.
 
Agravo de instrumento com base no inciso II do art. 1.015: Desse modo, a decisão interlocutória
que rejeita a ocorrência de prescrição ou decadência é uma decisão de mérito, que enseja a
interposição de agravo de instrumento com base no inciso II do art. 1.015 do CPC/2015:
Art. 1.015.  Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre: (...)
II - mérito do processo;
 
Se o juiz, por meio de decisão interlocutória, rejeitar a ocorrência de prescrição e decadência, e a
parte prejudicada não interpuser agravo de instrumento, ela poderá impugnar novamente isso no
momento da apelação? NÃO. Se o juiz rejeitar a alegação de prescrição ou decadência por meio de
decisão interlocutória e a parte prejudicada não recorrer de imediato mediante agravo de
instrumento haverá coisa julgada e esse tema não poderá ser novamente debatido na apelação.
Veja a lição da doutrina:
“No curso do procedimento, é possível haver decisões de mérito. O juiz pode, por
exemplo, rejeitar a alegação de prescrição ou de decadência, determinando a
instrução probatória. De decisões assim cabe agravo de instrumento, tal como prevê
o art. 1.015, II, do CPC.
O disposto no art. 1.015, II, do CPC, confirma a possibilidade de ser proferida, no
processo civil brasileiro, decisão interlocutória de mérito definitiva. Se o dispositivo
prevê agravo de instrumento contra decisão de mérito, está, em verdade, a admitir a
existência de decisão interlocutória que trate do mérito com caráter de
definitividade.
Se o agravo de instrumento não for interposto, haverá coisa julgada. Não será
possível impugnar a decisão interlocutória de mérito ou a decisão parcial de mérito
na apelação a ser interposta da sentença que ainda será proferida.” (DIDIER JR.,
Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil: meios de
impugnação às decisões judiciais e processos nos tribunais. 15ª ed. Salvador: Juspodivm,
2018. p. 252/253).

“4.1. Outrossim, as decisões que rejeitarem incidentalmente questões afeitas ao


mérito permitem o manejo do agravo de instrumento. Cogite-se da situação em
que o juiz rejeite a alegação de prescrição em decisão interlocutória, tal provimento
será atacável na via do agravo de instrumento, sob pena de ser coberto pela coisa
julgada no particular.” (GAJARDONI, Fernando da Fonseca; DELLORE, Luiz;
ROQUE, André Vasconcelos; OLIVEIRA JR., Zulmar. Execução e recursos: comentários
ao CPC de 2015. São Paulo: Método, 2017. p. 1.072)

28.21. AGRAVO DE INSTRUMENTO: Se a parte ajuizou ação urgente sem juntar procuração
(art. 37 do CPC/1973), ela também poderá, dentro do prazo de 15 dias previsto neste dispositivo,
interpor recurso sem procuração – (Info 643)

É admissível, em caso de urgência, nos termos do art. 37 do CPC/1973 (art. 104, § 1º, do
CPC/2015), a regularização da representação processual do autor/agravante, em segunda
instância, a partir do translado do instrumento de procuração a ser juntado na origem no prazo
assinado em lei.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1265639-SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 12/12/2018 (Info 643).
OBS:
Art. 104. O advogado não será admitido a postular em juízo sem procuração, salvo
para evitar preclusão, decadência ou prescrição, ou para praticar ato considerado
urgente.
§ 1º Nas hipóteses previstas no caput, o advogado deverá, independentemente de
caução, exibir a procuração no prazo de 15 (quinze) dias, prorrogável por igual
período por despacho do juiz. (...)

28.22. ORDEM DOS PROCESSSOS NOS TRIBUNAIS: Em caso de descumprimento do § 3º do


art. 941 do CPC, haverá nulidade do acórdão, mas não do julgamento – (Info 642) –
IMPORTANTE!!!

O § 3º do art. 941 do CPC/2015 prevê que:


§ 3º O voto vencido será necessariamente declarado e considerado parte integrante do acórdão
para todos os fins legais, inclusive de pré-questionamento.

Há nulidade do acórdão e do julgamento caso o § 3º do art. 941 do CPC seja descumprido? Há


nulidade se o voto vencido não tiver sido juntado ao acórdão?
• Haverá nulidade do acórdão.

• Não haverá nulidade do julgamento (salvo se o resultado proclamado não refletir a vontade
da maioria).
Além disso, a inobservância da regra do § 3º do art. 941 do CPC constitui vício de atividade ou
erro de procedimento (error in procedendo). Isso porque se trata de um vício não relacionado
com o teor do julgamento em si, mas sim com a condução do procedimento de lavratura e
publicação do acórdão.
Em suma: haverá nulidade do acórdão que não contenha a totalidade dos votos declarados; por
outro lado, não haverá nulidade do julgamento se o resultado proclamado refletir, com
exatidão, a conjunção dos votos proferidos pelos membros do colegiado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1729143-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12/02/2019 (Info 642).

28.23. O recurso interposto pela Defensoria, na qualidade de curadora especial, não precisa de
preparo – (Info 641) – IMPORTANTE!!! Concursos DPE!!!

Tendo em vista os princípios do contraditório e da ampla defesa, o recurso interposto pela


Defensoria Pública, na qualidade de curadora especial, está dispensado do pagamento de
preparo.
STJ. Corte Especial. EAREsp 978895-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 18/12/18
(Info 641).
OBS:
Existia uma corrente que defendia que, se a Defensoria Pública interpusesse recurso na condição
de curadora especial seria necessário o prévio preparo tendo em vista que, como a parte é revel,
não seria possível presumir que ela tem direito à gratuidade da justiça. Essa tese prevaleceu no
STJ? Quando a Defensoria Pública vai interpor recurso, na qualidade de curadora especial, é
necessário preparo? NÃO. A posição atual é a de que não é necessário preparo. Se o réu é revel e
está sendo assistido pela Defensoria Pública, a exigência do pagamento das custas processuais
significaria, na prática, tornar impossível a interposição do recurso, uma vez que não se pode
esperar, tampouco exigir que o curador especial efetue o pagamento do preparo por sua conta. Em
outras palavras, não é exigível que o Defensor Público ou a Defensoria Pública utilize seus
próprios recursos para pagar o preparo.

Aliás, não é essa a sua função, não sendo isso exigido pela lei. A Defensoria Pública tem apenas
o múnus público de exercer a curadoria especial, mas não de arcar com as despesas do preparo
em nome da parte. Exigir preparo para o conhecimento de recurso interposto pela Defensoria
Pública, na condição de curadora especial de réu ausente, representa indevido obstáculo ao livre
exercício do múnus público atribuído à instituição. A dispensa do preparo, neste caso, é uma
decorrência do princípio constitucional da ampla defesa, o qual também deve ser assegurado na
instância recursal.

28.24. AGRAVO DE INSTRUMENTO: O rol do art. 1.015 do CPC/2015 é de taxatividade


mitigada – (Info 639) – IMPORTANTE!!! RECURSO REPETITIVO!!!

O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo
de instrumento quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da
questão norecurso de apelação.
STJ. Corte Especial. REsp 1704520/MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 5/12/18 (recurso repetitivo)
(Info 639)

Obs: a tese jurídica fixada e acima explicada somente se aplica às decisões interlocutórias
proferidas após a publicação do REsp 1704520/MT, o que ocorreu no DJe 19/12/18.
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A sociedade empresária “Aqua Modas” celebrou contrato
com a empresa “Terra Confecções”. No pacto, havia a previsão de uma cláusula de eleição de foro:
“8.1. Fica eleito o foro da cidade de São Paulo/SP em detrimento de qualquer outro, por mais privilegiado
que seja, para dirimir quaisquer dúvidas ou controvérsias oriundas do presente instrumento.” Houve uma
divergência entre os contratantes e a empresa “Terra” ajuizou ação de rescisão contratual contra a
“Aqua” na comarca de Porto Alegre (RS), sede da autora.
 
Arguição de incompetência: A empresa “Aqua”contestou a ação e arguiu a incompetência relativa
do foro de Porto Alegre (incompetência territorial) argumentando que a referida cláusula de
eleição de foro é válida e não tem nada de abusiva. Vale lembrar que, com o CPC/15, a
incompetência relativa não é mais alegada por meio de “exceção de incompetência”, mas sim
como um mero tópico da contestação:
Art. 64. A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada como questão
preliminar de contestação.
 
Decisão interlocutória examinando a competência: O juiz deferiu o pedido da empresa “Aqua”,
por entender que a cláusula de eleição de foro é válida. Com isso, o magistrado determinou a
remessa dos autos para o juízo de São Paulo/SP. Contra esta decisão, a autora “Terra” interpôs
agravo de instrumento. O TJSP não conheceu do recurso afirmando que as hipóteses de cabimento
do agravo de instrumento estão previstas taxativamente (exaustivamente) no art. 1.015 do CPC/15 e
que neste rol não existe a previsão de agravo de instrumento contra a decisão relacionada com
definição de competência. Veja a lista do art. 1.015 do CPC/15:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua
revogação;
VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à
execução;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º;
XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de
sentença, no processo de execução e no processo de inventário.
 
Cabe agravo de instrumento neste caso? Na vigência do CPC/15 cabe agravo de instrumento
contra a decisão que examina competência ou se trata de decisão irrecorrível de imediato?
Durante mais de dois anos houve um intenso debate na doutrina e jurisprudência sobre o tema. O
STJ, contudo, pacificou o tema em recurso especial repetitivo. Prevaleceu no STJ o seguinte
entendimento: É cabível a interposição de agravo de instrumento contra decisão relacionada à
definição de competência, a despeito de não previsto expressamente no rol do art. 1.015 do
CPC/2015. Apesar de não previsto expressamente no rol do art. 1.015 do CPC/2015, a decisão
interlocutória que acolhe ou rejeita a alegação de incompetência desafia recurso de agravo de
instrumento.

Vamos entender com calma os motivos.

Correntes de interpretação: Veja novamente o caput do art. 1.015 do CPC/2015:


Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões
interlocutórias que versarem sobre: (...)
 
Surgiram três principais correntes de interpretação a respeito do rol previsto neste artigo:

CORRENTES DE INTERPRETAÇÃO SOBRE O ROL DO ART. 1.015 DO CPC/2015


1) o rol é absolutamente 2) o rol é taxativo,
taxativo (deve ser interpretado mas admite interpretação 3) o rol é exemplificativo
restritivamente) extensiva ou analogia
Houve uma opção consciente Os incisos do art. 1.015 não O rol é exemplificativo, de
do legislador pela podem ser interpretados de modo que a recorribilidade da
enumeração taxativa das forma literal. decisão interlocutória deve
hipóteses. Os incisos devem ser ser imediata, ainda que a
Não se pode ampliar o rol do interpretados de forma situação não conste no art.
art. 1.015, sob pena, inclusive, extensiva para admitir 1.015 do CPC.
de comprometer todo o situações parecidas.  
sistema preclusivo eleito pelo
CPC/2015.
Fernando Gajardoni, Luiz Fredie Didier Jr., Leonardo William Santos Ferreira e José
Dellore, André Roque, da Cunha, Teresa Arruda Rogério Cruz e Tucci.
Zulmar Oliveira Jr. Alvim, Cássio Scarpinella.
 
Critério adotado pelo legislador foi insuficiente: A maioria da doutrina se posicionou no sentido
de que o legislador foi infeliz ao tentar criar um rol exaustivo das hipóteses de cabimento do
agravo de instrumento na fase de conhecimento. Isso porque o rol do art. 1.015 do CPC, como
aprovado e em vigor, é insuficiente, pois deixa de abarcar uma série de questões urgentes e que
demandariam reexame imediato pelo Tribunal. O sistema precisa que exista uma via processual
sempre aberta para que tais questões urgentes sejam desde logo reexaminadas, considerando que
se a sua apreciação for adiada (diferida), isso poderá causar prejuízo às partes e até mesmo a
inutilidade de que o tema seja apreciado no futuro. Em outras palavras, existem questões que
não podem esperar e que não estão no rol do art. 1.015 do CPC. A experiência mostra que o
mandado de segurança, que era muito utilizado na vigência do CPC/39 como sucedâneo recursal
e que foi paulatinamente reduzido pelo CPC/73, não é o meio processual mais adequado para se
rediscutir a decisão interlocutória.
 
Legislador não consegue prever, com rol fechado, todas as hipóteses possíveis: O objetivo do
legislador ao criar o rol do art. 1.015 foi o de prever ali situações urgentes, ou seja, que não
poderiam aguardar para que fossem decididas em eventual recurso de apelação. Ocorre que o
estudo da história do direito demonstra que um rol taxativo não consegue prever todas as
hipóteses possíveis e, situações que têm a mesma razão de existir acabam ficando de fora,
gerando inúmeros problemas. O que se percebe em vários países do mundo é que se adota o
critério da urgência para a recorribilidade das decisões interlocutórias. Assim, em países como
EUA, França, Alemanha, Argentina, com algumas variações, em regra, não se admite recurso
contra decisões interlocutórias, salvo quando a espera da decisão final puder causar dano
irreparável às partes. Se uma decisão interlocutória precisa ser enfrentada imediatamente, sob pena
de a sua espera gerar dano irreparável às partes, deve-se permitir o recurso imediato contra esta
decisão, considerando que isso atende o direito à tutela jurisdicional e de efetivo acesso à justiça
(princípio da inafastabilidade da jurisdição). Dois exemplos de situações urgentes não
contempladas no art. 1.015 e que, se examinadas apenas no recurso de apelação, gerarão
prejuízo irreparável às partes:
 Decisão que decide sobre competência: não é razoável que o processo tramite perante
um juízo incompetente por um longo período e, somente por ocasião do julgamento da
apelação, seja reconhecida a incompetência e determinado o retorno ao juízo competente.
 Decisão que indefere o pedido de segredo de justiça: se o juiz indefere o pedido de
segredo de justiça e a parte prejudicada não pode recorrer de imediato, significa que não
mais adiantará nada rediscutir o assunto na apelação, considerando que todos os detalhes
da intimidade do jurisdicionado já foram expostos pela publicidade.
 
Diante dessa inadequação, qual das três correntes acima expostas foi adotada pelo STJ?
Nenhuma. O STJ entendeu que nenhuma das três correntes acima expostas soluciona
adequadamente a situação, senão vejamos:
 A 1ª corrente (taxatividade com interpretação restritiva) é incapaz de tutelar
adequadamente todas as questões. Isso porque, como vimos, existem decisões
interlocutórias que, se não forem reexaminadas imediatamente pelo Tribunal, poderão
causar sérios prejuízos às partes.
 A 2ª corrente (interpretação extensiva ou analógica) também deve ser afastada. Isso
porque não há parâmetro minimamente seguro e isonômico quanto aos limites que
deverão ser observados na interpretação de cada conceito, texto ou palavra. Além disso,
o uso dessas técnicas hermenêuticas não será suficiente para abarcar todas as situações
em que a questão deverá ser reexaminada de imediato. Um exemplo é a decisão que
indefere o segredo de justiça. Não há nenhum outro inciso do art. 1.015 no qual se possa
aplicar essa hipótese por analogia.
 Por fim, a 3ª corrente (meramente exemplificativo) não pode ser adotada porque ignora
absolutamente a vontade do legislador que tentou, de algum modo, limitar o cabimento
do agravo de instrumento.
 
Qual foi, então, o critério adotado pelo STJ? O STJ construiu a ideia de que o rol do art. 1.015 do
CPC/2015 é de taxatividade mitigada.
 
O que significa isso? Em regra, somente cabe agravo de instrumento nas hipóteses listadas no
art. 1.015 do CPC/2015. Excepcionalmente, é possível a interposição de agravo de instrumento
fora da lista do art. 1.015, desde que preenchido um requisito objetivo: a urgência.
 
O que é urgência? Urgência, para os fins de cabimento de agravo de instrumento, significa que a
decisão interlocutória proferida trouxe, para a parte, uma situação na qual ela não pode
aguardar para rediscutir futuramente no recurso de apelação. Assim, a urgência decorre da
inutilidade do julgamento da questão no recurso de apelação. Em outras palavras, aquilo que foi
definido na decisão interlocutória deverá ser examinado pelo Tribunal imediatamente porque se
for esperar para rediscutir na apelação, o tempo de espera tornará a decisão inútil para a parte. Ela
não terá mais nenhum (ou pouquíssimo) proveito.
 
Por que esse nome “taxatividade mitigada”? Foi uma expressão cunhada pela Min. Nancy
Andrighi. O objetivo da Ministra foi o de dizer o seguinte: o objetivo do legislador foi o de
prever um rol taxativo e isso deve ser, na medida do possível, respeitado. No entanto, trata-se de
uma taxatividade mitigada (suavizada, abrandada, relativizada) por uma “cláusula adicional de
cabimento”. Que cláusula (norma, preceito) é essa? Deve-se também admitir o cabimento do
recurso em caso de urgência. E por que se deve colocar essa “cláusula adicional de cabimento”?
Por que se deve adicionar essa regra extra de cabimento? Porque, se houvesse uma taxatividade
absoluta, isso significaria um desrespeito às normas fundamentaisdo próprio CPC e geraria grave
prejuízo às partes ou ao próprio processo. Logo, tem-se uma taxatividade mitigada pelo requisito
da urgência.
 
Tese fixada pelo STJ: Como o tema foi apreciado pela Corte Especial em sede de recurso
repetitivo, o STJ fixou a seguinte tese:
O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a
interposição de agravo de instrumento quando verificada a urgência decorrente da
inutilidade do julgamento da questão no recurso de apelação. STJ. Corte Especial.
REsp 1704520/MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 5/12/18.
 
Vale ressaltar, mais uma vez, que não é necessário recorrer à analogia ou intepretação extensiva.

O agravo de instrumento será cabível:


1) nos casos previstos expressamente no art. 1.105 do CPC (aqui a urgência foi
presumida pelo legislador);
2) mesmo que a situação esteja fora da lista do art. 1.015, desde que verificada a
urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão no recurso de
apelação (o Tribunal irá analisar se existe urgência ou não para admitir o
conhecimento do agravo).
 
Como fica a questão da preclusão? Se o juiz profere uma decisão interlocutória que se enquadra
em um dos incisos do art. 1.015 do CPC, a parte prejudicada poderia interpor agravo de
instrumento. Imagine que ela o faz. Isso significa que houve preclusão e ela não poderá mais
rediscutir essa decisão em sede de apelação. Por outro lado, se o juiz profere uma decisão
interlocutória que não se amolda em um dos incisos do art. 1.015, o CPC afirma que, neste caso,
como a parte não pode recorrer de imediato, ela não deverá sofrer os efeitos da preclusão. Isso
significa que a parte poderá impugnar essa decisão ao interpor apelação. É isso que estabelece o
art. 1.009, § 1º do CPC:
Art. 1.009 (...)
§ 1º As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não
comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser
suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão
final, ou nas contrarrazões.
 
Assim, pelo art. 1.009, § 1º, haverá preclusão para a parte se preenchidos dois requisitos
cumulativos:
 A decisão interlocutória está expressamente prevista no art. 1.015 do CPC; e
 Apesar disso, a parte não a impugnou por meio de agravo de instrumento.
 
Ex: juiz profere decisão interlocutória excluindo um litisconsorte passivo. Essa decisão se enquadra
no inciso VII do art. 1.015. Imaginemos que o autor decida não interpor o agravo de instrumento.
Significa dizer que houve preclusão e que ele não mais poderá questionar essa exclusão quando for
interpor apelação.
 
Com essa decisão do STJ, existem decisões interlocutórias que poderão, em tese, ser impugnadas
por agravo de instrumento mesmo sem estarem previstas no art. 1.015 do CPC. Como fica a
preclusão em tais casos se a parte decidir não interpor agravo de instrumento? Ex: o réu suscita a
incompetência do juízo; o magistrado rejeita; pelo critério da taxatividade mitigada, a parte
poderia interpor agravo de instrumento mesmo em isso estar previsto no art. 1.015 do CPC;
imaginemos, contudo, que a parte não ingressa com o agravo; ela poderá questionar essa decisão
na apelação ou terá havido preclusão? A parte poderá questionar essa decisão ao interpor
apelação. Não terá havido preclusão. Se o juiz profere uma decisão interlocutória e o conteúdo
desta decisão não está expressamente previsto no roldo art. 1.015 do CPC, a parte não tem o
ônus de ingressar com agravo de instrumento. Mesmo que a decisão interlocutória proferida
gere, em tese, uma situação de urgência, ainda assim será uma opção da parte ingressar com o
agravo de instrumento ou aguardar para impugnar essa decisão.
 
Imagine que o juiz profira uma decisão interlocutória cujo conteúdo não está previsto
expressamente no art. 1.015. A parte entende que há urgência e ingressa com agravo de
instrumento. O Tribunal, contudo, considera que não existe urgência e não conhece do recurso.
Neste caso, terá havido preclusão ou a parte ainda poderá questionar essa decisão na apelação?
A parte poderá questionar essa decisão ao interpor apelação. Não terá havido preclusão. O
cabimento do agravo de instrumento na hipótese excepcional de “urgência” está sujeito a um
duplo juízo deconformidade:
 Um, da parte, que interporá o recurso com a demonstração de seu cabimento
excepcional;
 Outro, do Tribunal, que analisará se existe ou não essa urgência para fins de admitir o
agravo de instrumento fora das hipóteses do art. 1.015.

Se a parte não interpuser o agravo ou se ingressar, mas o Tribunal entender que não há urgência
(e não conhecer do recurso), isso significa que não houve preclusão e a parte poderá questionar a
decisão futuramente na apelação.
 
Modulação dos efeitos: Como havia muita polêmica sobre o tema, o STJ, para fins de garantir a
segurança jurídica, decidiu modular os efeitos da decisão. Desse modo, a tese jurídica fixada e
acima explicada somente se aplicará às decisões interlocutórias proferidas após a publicação do
REsp 1704520/MT, o que ocorreu noDJe 19/12/2018.

28.25. TÉCNICA DE AMPLIAÇÃO DO COLEGIADO: A técnica de ampliação de julgamento


(art. 942 do CPC/2015) deve ser utilizada quando o resultado da apelação for não unânime,
independentemente de ser julgamento que reforma ou mantém a sentença impugnada – (Info 639)
– IMPORTANTE!!!

Assim como ocorria com os embargos infringentes, para a aplicação da técnica de julgamento
do art. 942 do CPC exige-se que a sentença tenha sido reformada no julgamento da apelação?
NÃO. A técnica do julgamento ampliado vale também para sentença mantida pelo Tribunal no
julgamento da apelação por decisão não unânime.
A técnica de ampliação de julgamento prevista no art. 942 do CPC/15 deve ser utilizada quando
o resultado da apelação for não unânime, independentemente de ser julgamento que reforma
ou mantém a sentença impugnada.
Assim, o que importa é que a decisão que julgou a apelação tenha sido por maioria
(julgamento não unânime), não importando que a sentença tenha sido mantida ou reformada.
Obs: cuidado com as hipóteses de cabimento do art. 942 do CPC nos casos de acórdão que julga
agravo de instrumento e ação rescisória.
STJ. 4ª Turma. REsp 1733820-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 2/10/18 (Info 639).
OBS:
Técnica de julgamento do art. 942 do CPC/15: O resultado do julgamento da apelação pode ser
unânime (quando todos os Desembargadores concordam) ou por maioria (quando no mínimo um
Desembargador discorda dos demais). Se o resultado da apelação for não unânime, o julgamento
terá prosseguimento em uma nova sessão, que será marcada e que contará com a presença de
novos Desembargadores que serão convocados, em número suficiente para garantir a
possibilidade de inversão do resultado inicial. Ex: o resultado da apelação foi 2x1; 2
Desembargadores votaram pelo provimento da apelação (em favor de João) e um Desembargador
votou pela manutenção da sentença (em favor de Pedro); significa dizer que deverá ser designada
uma nova sessão e para essa nova sessão serão convocados dois novos Desembargadores que
também irão emitir votos; neste nosso exemplo, foram convocados 2 porque a convocação dos
novos julgadores deverá ser em número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do
resultado inicial (se os dois novos Desembargadores votarem com a minoria, o placar se inverte
para 3x2). Veja a previsão legal:
Art. 942. Quando o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá
prosseguimento em sessão a ser designada com a presença de outros julgadores, que
serão convocados nos termos previamente definidos no regimento interno, em
número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial,
assegurado às partes e a eventuais terceiros o direito de sustentar oralmente suas
razões perante os novos julgadores.
 
A previsão deste art. 942 é chamada de “técnica de complementação de julgamento não
unânime” ou “técnica de ampliação do colegiado”.

Vamos verificar outras informações sobre esta técnica.


 
Prosseguimento na mesma sessão: Sendo possível, o prosseguimento do julgamento pode
ocorrer na mesma sessão, colhendo-se os votos de outros julgadores que porventura
componham o órgão colegiado (§ 1º do art. 942).
 
Juízo de retratação: Os julgadores que já tiverem votado poderão rever seus votos por ocasião
do prosseguimento do julgamento (§ 2º do art. 942). Ex: o resultado da apelação foi 2x1; dois
Desembargadores votaram pelo provimento da apelação (em favor de João); por outro lado, um
Desembargador (Des. Raimundo) votou pelo improvimento da apelação (contra João); designou-
se, então, um novo dia para prosseguimento do julgamento ampliado, tendo sido convocados dois
Desembargadores de uma outra Câmara Cível do Tribunal (Desembargadores Cláudio e Paulo);
logo no início, antes que Cláudio e Paulo votassem, o Des. Raimundo pediu a palavra e disse:
olha, melhor refletindo nesses dias, eu gostaria de evoluir meu entendimento e irei acompanhar a
maioria votando pelo provimento da apelação. Mesmo que isso ocorra, ou seja, que alguém mude
de opinião, ainda assim deverão ser colhidos os votos dos Desembargadores convocados. Nesse
sentido:
Enunciado 599-FFPC: A revisão do voto, após a ampliação do colegiado, não afasta
a aplicação da técnica de julgamento do art. 942.
 
Esse art. 942 é uma espécie de recurso? NÃO. Trata-se de uma “técnica de complementação de
julgamento nas decisões colegiadas não unânimes de segunda instância”.
 
A parte que “perdeu” a apelação precisa pedir a aplicação do art. 942? NÃO. Essa técnica de
julgamento é obrigatória e aplicável de ofício, automaticamente, pelo Tribunal. A parte não
precisa requerer a sua aplicação.
 
A técnica é aplicada antes da conclusão do julgamento: Como não se trata de recurso, a aplicação
da técnica ocorre em momento anterior à conclusão do julgamento, ou seja, não há proclamação
do resultado, nem lavratura de acórdão parcial, antes de a causa ser devidamente apreciada pelo
colegiado ampliado. Tanto isso é verdade que, sendo possível, o prosseguimento do julgamento
pode ocorrer na mesma sessão, colhendo-se os votos de outros julgadores que porventura
componham o órgão colegiado (§ 1º do art. 942). No entanto, mesmo que ocorra em outro dia,
considera-se que houve um só julgamento. Não se encerrou um para começar o outro ampliado.
 
Como ocorre a continuidade do julgamento na hipótese em que houve uma parte unânime e outra
não unânime? Ex: no julgamento de uma apelação contra sentença que havia negado
integralmente a indenização, a Câmara Cível entendeu de forma unânime (3x0) que houve danos
materiais e por maioria (2x1) que não ocorreram danos morais. Foram então convocados dois
Desembargadores para a continuidade do julgamento ampliado (art. 942). Esses dois novos
Desembargadores que chegaram poderão votar também sobre a parte unânime (danos materiais)
ou ficarão restritos ao capítulo não unânime (danos morais)? Poderão analisar de forma ampla, ou
seja, tanto a parte unânime como não unânime. Foi o que decidiu o STJ: O colegiado formado com a
convocação dos novos julgadores (art. 942 do CPC/2015) poderá analisar de forma ampla todo o
conteúdo das razões recursais, não se limitando à matéria sobre a qual houve originalmente
divergência. STJ. 3ª Turma. REsp 1.771.815-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 13/11/18
(Info 638).
  
A técnica do art. 942 do CPC vale apenas para a apelação? NÃO. Além da apelação, a técnica de
julgamento prevista no art. 942 aplica-se também para o julgamento não unânime proferido em:
a) ação rescisória, quando o resultado for a rescisão da sentença, devendo, nesse caso, seu
prosseguimento ocorrer em órgão de maior composição previsto no regimento interno;
b) agravo de instrumento, quando houver reforma da decisão que julgar parcialmente o mérito.
 
Embargos infringentes: Os embargos infringentes eram uma espécie de recurso previsto no
CPC/73. Os embargos infringentes só cabiam para questionar acórdão. Não bastava, contudo, que
fosse acórdão. Era necessário que ele fosse NÃO UNÂNIME, ou seja, acórdão em que houve voto
vencido. A finalidade dos embargos infringentes era a de renovar a discussão para fazer
prevalecer as razões do voto vencido. Segundo o art. 530 do CPC/1973, cabiam embargos
infringentes em duas hipóteses:
1) contra acórdão não unânime (por maioria) que reformasse, em grau de apelação, a
sentença de mérito.
2) contra acórdão não unânime (por maioria) que julgasse procedente a ação
rescisória.
 
O CPC/2015 acabou com a existência dos embargos infringentes, mas criou essa “técnica de
julgamento” do art. 942, que possui algumas semelhanças com os embargos infringentes, mas que
não se trata de recurso. Nesse sentido:
“(...) Esse mecanismo, conquanto não tenha natureza recursal, faz lembrar os
embargos infringentes. Por não ser recurso, no entanto, não depende de
interposição, constituindo apenas uma fase do julgamento da apelação, do agravo
de instrumento contra decisão de mérito e da ação rescisória, não unânime.”
(GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 7. ed.
São Paulo: Saraiva, 2016. p. 885).

Assim como ocorria com os embargos infringentes, para a aplicação da técnica de julgamento do
art. 942 do CPC exige-se que a sentença tenha sido reformada? NÃO. A técnica do julgamento
ampliado vale também para sentença mantida pelo Tribunal no julgamento da apelação por
decisão não unânime. Foi o que decidiu o STJ no Info 639. A técnica de ampliação do julgamento
prevista no CPC/15 possui objetivo semelhante ao que possuíam os embargos infringentes do
CPC/73, que não mais subsistem, qual seja a viabilidade de maior grau de correção e justiça nas
decisões judiciais, com julgamentos mais completamente instruídos e os mais proficientemente
discutidos, de uma maneira mais econômica e célere. Contudo, diferentemente dos embargos
infringentes do CPC/73 - que limitava, no caso da apelação, a incidência do recurso aos
julgamentos que resultassem em reforma da sentença de mérito -, a técnica de julgamento
prevista no CPC/15 deverá ser utilizada quando o resultado da apelação for não unânime,
independentemente de ser julgamento que reforma ou mantém a sentença impugnada.

Quadro-resumo das hipóteses de cabimento:


A técnica do art. 942 do CPC é aplicada em caso de acórdãos não unânimes (por maioria)
proferidos em:
APELAÇÃO AGRAVO DE AÇÃO RESCISÓRIA
INSTRUMENTO
Não importa se o Tribunal Somente se o Tribunal Se o resultado do acórdão for
manteve ou reformou a reformou decisão que julgou a rescisão da sentença.
sentença. Basta que o parcialmente o mérito.
acórdão tenha sido por
maioria.
  
Situações nas quais não se aplicará a técnica de julgamento do art. 942: Não se aplica a técnica de
julgamento do art. 942 do CPC ao julgamento:
I - do incidente de assunção de competência e ao de resolução de demandas repetitivas;
II - da remessa necessária;
III - não unânime proferido, nos tribunais, pelo plenário ou pela corte especial.
 
A técnica de julgamento do art. 942 é aplicada no caso de rescisão apenas parcial do julgado
rescindendo? SIM. Enunciado 63 – Jornada CJF: A técnica de que trata o art. 942, § 3º, I, do CPC
aplica-se à hipótese de rescisão parcial do julgado.
 
A técnica de julgamento do art. 942 é aplicada no julgamento de apelação em processo de
mandado de segurança? SIM. Enunciado 62 – Jornada CJF: Aplica-se a técnica prevista no art. 942
do CPC no julgamento de recurso de apelação interposto em mandado de segurança.
 
A técnica de julgamento do art. 942 é aplicada nos Juizados Especiais? NÃO. É a posição da
doutrina majoritária: Enunciado 552-FPPC: Não se aplica a técnica de ampliação do colegiado em
caso de julgamento não unânime no âmbito dos Juizados Especiais.

28.26. TÉCNICA DE AMPLIAÇÃO DO COLEGIADO: Os novos julgadores convocados na


forma do art. 942 do CPC/2015 poderão analisar todo o conteúdo das razões recursais, não se
limitando à matéria sobre a qual houve divergência – (Info 638) – IMPORTANTE!!!

Como ocorre a continuidade do julgamento na hipótese em que houve uma parte unânime e
outra não unânime? Ex: no julgamento de uma apelação contra sentença que havia negado
integralmente a indenização, a Câmara Cível entendeu de forma unânime (3x0) que houve
danos materiais e por maioria (2x1) que não ocorreram danos morais. Foram então convocados
dois Desembargadores para a continuidade do julgamento ampliado (art. 942). Esses dois
novos Desembargadores que chegam poderão votar também sobre a parte unânime (danos
materiais) ou ficarão restritos ao capítulo não unânime (danos morais)?
O colegiado formado com a convocação dos novos julgadores (art. 942 do CPC/2015) poderá
analisar de forma ampla todo o conteúdo das razões recursais, não se limitando à matéria sobre
a qual houve originalmente divergência.
Constatada a ausência de unanimidade no resultado da apelação, é obrigatória a aplicação do
art. 942 do CPC/2015, sendo que o julgamento não se encerra até o pronunciamento pelo
colegiado estendido, ou seja, inexiste a lavratura de acórdão parcial de mérito.
Os novos julgadores convocados não ficam restritos aos capítulos ou pontos sobre os quais
houve inicialmente divergência, cabendo-lhes a apreciação da integralidade do recurso.
O prosseguimento do julgamento com quórum ampliado em caso de divergência tem por
objetivo a qualificação do debate, assegurando-se a oportunidade para a análise aprofundada
das teses jurídicas contrapostas e das questões fáticas controvertidas, com vistas a criar e
manter uma jurisprudência uniforme, estável, íntegra e coerente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.771.815-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 13/11/18 (Info 638).

28.27. Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um dos litisconsortes haja
sucumbido – (Info 636) – IMPORTANTE!!!

É inaplicável a contagem do prazo recursal em dobro quando apenas um dos litisconsortes com
procuradores distintos sucumbe.
Nesse sentido existe, inclusive, uma súmula do STF, cujo entendimento continua válido com o
CPC/2015:
Súmula 641-STF: Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um dos litisconsortes
haja sucumbido.
Ex: ação de cobrança proposta contra Pedro e Tiago. Na sentença, o juiz julga procedente
quanto a Pedro e improcedente no que tange a Tiago. Pedro, única parte sucumbente, não terá
direito a prazo em dobro.
STJ. 3ª Turma. REsp 1709562-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 16/10/2018 (Info 636).

28.28. É cabível a interposição de agravo de instrumento contra todas as decisões interlocutórias


em processo falimentar e recuperacional – (Info 635) – IMPORTANTE!!!

É cabível a interposição de agravo de instrumento contra decisões interlocutórias em processo


falimentar e recuperacional, ainda que não haja previsão específica de recurso na Lei nº
11.101/2005.
Fundamento: interpretação extensiva do art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015.
STJ. 4ª Turma. REsp 1722866-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 25/9/18 (Info 635).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Nata Indústria S/A ingressou com pedido de recuperação
judicial. O juiz deferiu o processamento. Durante a tramitação do feito, o juiz proferiu decisão
interlocutória determinando que a recuperanda efetuasse o imediato depósito de 40% dos
honorários do administrador judicial. Contra esta decisão, a empresa interpôs agravo de
instrumento. O TJ não conheceu do recurso, afirmando que não cabe agravo de instrumento
contra a decisão do juiz que determina o pagamento da remuneração do administrador judicial.
Para o TJ, não cabe agravo de instrumento porque essa situação não se enquadra em nenhuma das
hipóteses previstas no art. 1.015 do CPC/15. Segundo argumentou o Tribunal, as hipóteses
elencadas nos incisos I a XI, do art. 1015, do CPC/15 são taxativas e não admitem interpretação
extensiva.
 
Agiu corretamente o TJ? NÃO.
 
CPC é norma geral e se aplica ao processo falimentar de forma subsidiária e supletiva: O CPC, na
qualidade de lei geral, é aplicável, forma subsidiária e supletiva, para os processos envolvendo
falência e recuperação judicial. É o que se conclui pelo art. 1.046, § 2º do CPC/2015:
Art. 1.046. (...)
§ 2º Permanecem em vigor as disposições especiais dos procedimentos regulados em
outras leis, aos quais se aplicará supletivamente este Código.
 
A Lei 11.101/05, no mesmo sentido, prevê que se aplica o CPC, “no que couber, aos
procedimentos” de falência e recuperação judicial.
 
Sistema recursal da Lei de Falência: A Lei 11.101/05 trouxe um sistema recursal próprio,
prevendo, para diversas situações específicas, o recurso adequado a desafiar o correspondente
ato judicial. No entanto, conforme já explicado, o CPC deve incidir também no sistema recursal
da Lei de Falência, seja para suprimento, seja para complementação e disciplinamento de lacunas
e omissões, desde que, por óbvio, não conflite com a lei especial.
 
Rol do art. 1.015 do CPC/15 não afasta a incidência das hipóteses previstas na Lei de Falência:
Existem algumas hipóteses em que a própria Lei 11.101/05 fala que cabe agravo. Exemplo:
Art. 100. Da decisão que decreta a falência cabe agravo, e da sentença que julga a
improcedência do pedido cabe apelação.
 
Essas situações trazidas pela Lei 11.101/05 continuam existindo e não foram afetadas pelo novo
CPC, tendo em vista que são previsões de lei específica. O próprio inciso XIII do art. 1.015 do
CPC/2015 determina esse “respeito” pelas leis específicas:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre:
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
 
Assim, havendo disposição expressa da Lei de Recuperação de Empresas e Falência, essa
prevalecerá sobre o dispositivo do CPC, de modo que a aplicação desse Código será apenas para
suprimento de lacunas e omissões.
 
Hipóteses do art. 1.015 do CPC/2015 podem ser levadas para o processo falimentar ou de
recuperação judicial: Se a decisão proferida no âmbito falimentar/recuperacional se enquadrar
em uma das hipóteses do rol do art. 1.015 do CPC/15, também será possível o manejo do agravo
de instrumento.
 
Parágrafo único do art. 1.015 do CPC/15 deve ser aplicado às decisões interlocutórias proferidas
nos processos de falência e recuperação judicial: O art. 1.015, parágrafo único, do CPC/15 prevê o
seguinte:
Art. 1.015 (...)
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de
sentença, no processo de execução e no processo de inventário.
 
Para o STJ, o mesmo raciocínio que inspirou a permissão do agravo de instrumento para o
processo de execução e para o processo de inventário, deve ser aplicado para a aplicação deste
recurso ao processo falimentar e recuperacional.
 
Desse modo, o STJ determinou que o parágrafo único do art. 1.015 do CPC deveria ser
interpretado extensivamente para abranger também as decisões interlocutórias proferidas nos
processos de falência e recuperação judicial. Essa já havia sido a conclusão adotada na I Jornada
de Direito Processual Civil do CJF:
Enunciado nº 69: A hipótese do art. 1.015, parágrafo único, do CPC abrange os
processos concursais, de falência e recuperação.
 
Trata-se da opinião manifestada pela imensa maioria da doutrina especializada:
(...) o entendimento correto é no sentido de continuar sendo possível o agravo de
instrumento, em todos os casos de decisão interlocutória na LREF, aplicando-se
analogicamente ao processo falimentar e recuperacional, a exceção prevista no
parágrafo único do art. 1.015 do CPC.” (BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Lei de
recuperação de empresas e falência. São Paulo: RT, 2018, p. 448)

28.29. É cabível agravo de instrumento contra decisão interlocutória relacionada à definição de


competência – (Info 618) – IMPORTANTE!!!

É cabível a interposição de agravo de instrumento contra decisão relacionada à definição de


competência, a despeito de não previsto expressamente no rol do art. 1.015 do CPC/2015.
Apesar de não previsto expressamente no rol do art. 1.015 do CPC/2015, a decisão interlocutória
que acolhe ou rejeita a alegação de incompetência desafia recurso de agravo de instrumento ,
por uma interpretação analógica ou extensiva da norma contida no inciso III do art. 1.015 do
CPC/2015, já que ambas possuem a mesma ratio -, qual seja, afastar o juízo incompetente para a
causa, permitindo que o juízo natural e adequado julgue a demanda.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.679.909-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 14/11/17 (Info 618)
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João celebrou contrato com a empresa “Gráfica Arco” e
nele havia a previsão de uma cláusula de eleição de foro:
“8.1. Fica eleito o foro da cidade de São Paulo/SP em detrimento de qualquer outro,
por mais privilegiado que seja, para dirimir quaisquer dúvidas ou controvérsias
oriundas do presente instrumento.”

Houve uma divergência entre os contratantes e a empresa ajuizou ação contra João na comarca de
São Paulo. João, que mora em Porto Alegre (RS), arguiu a incompetência relativa do foro de São
Paulo (incompetência territorial) argumentando que a referida cláusula de eleição de foro é
abusiva.

Vale lembrar que, com o CPC/2015, a incompetência relativa não é mais alegada por meio de
“exceção de incompetência”, mas sim como um mero tópico da contestação:
Art. 64. A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada como questão
preliminar de contestação.

O juiz indeferiu o pedido de João por entender que a cláusula é válida. Contra esta decisão, João
interpôs agravo de instrumento. O Tribunal de Justiça não conheceu do recurso afirmando que as
hipóteses de cabimento do agravo de instrumento estão previstas taxativamente (exaustivamente)
no art. 1.015 do CPC/2015 e que neste rol não existe a previsão de agravo de instrumento contra a
decisão relacionada com definição de competência. Veja a lista do art. 1.015 do CPC/2015:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua
revogação;
VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à
execução;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º;
XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de
sentença, no processo de execução e no processo de inventário.
 
Agiu corretamente o Tribunal de Justiça? Qual é o recurso cabível contra a decisão interlocutória
que acolhe ou rejeita a alegação de incompetência formulada pelo réu na contestação? Não agiu
corretamente o TJ. O recurso cabível, neste caso, é realmente o agravo de instrumento.

Agravo de instrumento no CPC/2015: No CPC/1973 era possível a interposição do agravo de


instrumento contra toda e qualquer decisão interlocutória. O CPC/2015, ao contrário, previu que
o agravo de instrumento só será cabível em face das decisões interlocutórias expressamente
listadas pelo legislador.

Intepretação analógica ou extensiva: Apesar de não prevista expressamente no rol do art. 1.015, a
decisão interlocutória, relacionada à definição de competência continua desafiando recurso de
agravo de instrumento, por uma interpretação analógica ou extensiva da norma do inciso III do
art. 1.015:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre:
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;

A possibilidade de imediata recorribilidade da decisão advém de uma interpretação lógico-


sistemática do CPC considerando que o § 3º do art. 64 afirma que “o juiz decidirá imediatamente
a alegação de incompetência” (§ 3º do art. 64).

Esse é também o entendimento da doutrina especializada:


(...) A interpretação extensiva da hipótese de cabimento de agravo de instrumento
prevista no inciso III do art. 1.015 é plenamente aceitável. É preciso interpretar o
inciso III do art. 1.015 do CPC para abranger as decisões interlocutórias que
versam sobre competência. O foro de eleição é um exemplo de negócio jurídico
processual; a convenção de arbitragem, também. Ambos, a sua maneira, são
negócios que dizem respeito à competência do órgão jurisdicional.” (DIDIER JR.,
Fredie. Curso de direito processual civil. V. 1. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 237-238)

Tema correlato: é possível interpor agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito
suspensivo aos embargos à execução: É admissível a interposição de agravo de instrumento
contra decisão que não concede efeito suspensivo aos embargos à execução.
As hipóteses em que cabe agravo de instrumento estão previstas art. 1.015 do
CPC/2015, que traz um rol taxativo. Apesar de ser um rol exaustivo, é possível que
as hipóteses trazidas nos incisos desse artigo sejam lidas de forma ampla, com
base em uma interpretação extensiva.
Assim, é cabível agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito
suspensivo aos embargos à execução com base em uma interpretação extensiva do
inciso X do art. 1.015: “Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões
interlocutórias que versarem sobre: (...) X - concessão, modificação ou revogação do efeito
suspensivo aos embargos à execução; (...)”. STJ. 2ª Turma. REsp 1.694.667-PR, Rel. Min.
Herman Benjamin, j. 05/12/2017 (Info 617).

28.30. É possível interpor agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito
suspensivo aos embargos à execução – (Info 617) – Novo CPC! IMPORTANTE!!!

É admissível a interposição de agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito
suspensivo aos embargos à execução.
As hipóteses em que cabe agravo de instrumento estão previstas art. 1.015 do CPC/2015, que
traz um rol taxativo. Apesar de ser um rol exaustivo, é possível que as hipóteses trazidas nos
incisos desse artigo sejam lidas de forma ampla, com base em uma interpretação extensiva.
Assim, é cabível agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito suspensivo aos
embargos à execução com base em uma interpretação extensiva do inciso X do art. 1.015:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre:
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à
execução;
STJ. 2ª Turma. REsp 1694667-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 5/12/17 (Info 617).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: “FN” ingressou com execução contra “JY”. O devedor
apresentou embargos à execução.
 
Para que o devedor apresente embargos à execução, é necessária garantia do juízo?
Execução “comum”: NÃO Execução fiscal: SIM
O executado, independentemente de Não são admissíveis embargos do
penhora, depósito ou caução, poderá se executado antes de garantida a
opor à execução por meio de embargos execução (art. 16, § 1º, da Lei nº
(art. 914 do CPC/2015). 6.830/80 – Lei de Execução Fiscal).
 
Os embargos à execução possuem efeito suspensivo? Se o devedor apresenta esta espécie de
defesa, a execução deverá ficar paralisada até que os embargos sejam julgados?
 Regra: os embargos à execução não possuem efeito suspensivo. Em outras palavras, a
oposição de embargos à execução não suspende automaticamente os atos executivos.
 Exceção: o juiz poderá atribuir efeito suspensivo aos embargos desde que cumpridos
três requisitos cumulativos:
1) deve haver pedido expresso do embargante (executado);
2) devem estar presentes os requisitos para a concessão da tutela provisória; e
3) a execução precisa estar garantida por penhora, depósito ou caução suficientes.

Veja o texto do CPC/2015:


Art. 919.  Os embargos à execução não terão efeito suspensivo.
§ 1º O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos
embargos quando verificados os requisitos para a concessão da tutela provisória e
desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução
suficientes.
 
Desse modo, pode-se afirmar que os embargos à execução não têm efeito suspensivo ope legis
(por força de lei – efeito suspensivo próprio), mas possuem efeito suspensivo ope iudicis (efeito
suspensivo impróprio), ou seja, por decisão do magistrado, segundo a análise do caso concreto.
 
E como é o efeito suspensivo nos embargos à execução fiscal? Na Lei de Execução Fiscal (Lei nº
6.830/80) não há nenhum dispositivo tratando de forma específica sobre os efeitos dos
embargos à execução. Diante disso, o STJ afirma que deverão ser aplicadas as mesmas regras do
CPC referentes à execução “comum” (STJ. 1ª Seção. REsp 1.272.827-PE, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 22/5/2013). Em outras palavras, o art. 919 do CPC/2015 vale
também para a execução fiscal.
 
Voltando ao nosso exemplo: O devedor apresentou embargos à execução e requereu a atribuição
de efeito suspensivo. O juiz rejeitou o pedido de efeito suspensivo afirmando que não estavam
presentes os requisitos do art. 919, § 1º, do CPC/2015. Inconformado com a decisão, o executado
interpôs agravo de instrumento. O Tribunal de 2ª instância não conheceu do recurso afirmando
que as hipóteses de cabimento do agravo de instrumento estão previstas taxativamente
(exaustivamente) no art. 1.015 do CPC/2015 e que neste rol não existe a previsão de agravo de
instrumento contra a decisão que nega efeito suspensivo aos embargos à execução. O Tribunal
afirmou que o inciso X do art. 1.015 é muito claro ao dizer que cabe agravo de instrumento contra
a decisão que CONCEDE, MODIFICA ou REVOGA efeito suspensivo, não mencionando a
hipótese em que o juiz NÃO CONCEDE (rejeita) o efeito suspensivo. Veja a lista do art. 1.015
do CPC/2015:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua
revogação;
VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à
execução;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º;
XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de
sentença, no processo de execução e no processo de inventário.
 
O executado (embargante/agravante) tem razão? É possível interpor agravo de instrumento
contra decisão que não concede efeito suspensivo aos embargos à execução? SIM. É admissível a
interposição de agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito suspensivo aos
embargos à execução. STJ. 2ª Turma. REsp 1.694.667-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
05/12/2017 (Info 617).
 
Interpretação extensiva: O rol do art. 1.015 do CPC/2015 é realmente taxativo (numerus clausus).
No entanto, apesar disso, é possível que as hipóteses trazidas nos incisos desse artigo sejam
lidas de forma ampla, com base em uma interpretação extensiva. Como explicam Fredie Didier e
Leonardo Cunha:
“As hipóteses de agravo de instrumento estão previstas em rol taxativo. A
taxatividade não é, porém, incompatível com a interpretação extensiva. Embora
taxativas as hipóteses de decisões agraváveis, é possível interpretação extensiva de
cada um dos seus tipos”. (DIDIER, JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da.
Curso de Direito Processual Civil. Vol. 3. 13ª ed., Salvador: Juspodivm, p. 209).

Assim, é cabível agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito suspensivo aos
embargos à execução com base em uma interpretação extensiva do inciso X do art. 1.015 do
CPC/2015.

Como reforço argumentativo, o Min. Herman Benjamin afirmou que o caso poderia se enquadrar
também no inciso I do art. 1.015 do CPC/2015, considerando que o requerimento de concessão de
efeito suspensivo aos embargos à execução pode ser caracterizado como um pedido de tutela
provisória de urgência.

28.31. Se a decisão proferida pelo juiz induzir a parte a interpor o recurso errado, deve-se
reconhecer que houve dúvida objetiva, que justifica o princípio da fungibilidade – (Info 613)

O conceito de "dúvida objetiva", para a aplicação do princípio da fungibilidade recursal, pode


ser relativizado, excepcionalmente, quando o equívoco na interposição do recurso cabível
decorrer da prática de ato do próprio órgão julgador.
STJ. 2ª Seção. EAREsp 230.380-RN, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 13/9/17 (Info 613).
OBS:
Princípio da fungibilidade: O princípio da fungibilidade recursal também é chamado de “teoria
do recurso indiferente”, “teoria do tanto vale”, “princípio da permutabilidade dos recursos” ou
“princípio da conversibilidade dos recursos”.

Qual é o sentido desse princípio? A parte recorrente não será prejudicada se interpôs o recurso
errado, desde que esteja de boa-fé, não tenha sido um erro grosseiro e o recurso incorreto tenha
sido manejado no prazo do recurso certo.

Previsão no CPC: O princípio da fungibilidade não está previsto de forma específica nem genérica
no CPC. Apesar disso, a doutrina admite a sua existência. Nesse sentido:
Enunciado 104-FPPC: O princípio da fungibilidade recursal é compatível com o
CPC e alcança todos os recursos, sendo aplicável de ofício.

Alguns autores afirmam que o CPC/2015 previu o princípio da fungibilidade de forma específica
em dois casos:
 Recebimento de embargos de declaração contra decisão monocrática em tribunal como
agravo interno (art. 1.024, § 3º);
 Recebimento de REsp como RE e vice-versa (arts. 1.032 e 1.033).

Art. 1.024 (...)


§ 3º O órgão julgador conhecerá dos embargos de declaração como agravo interno se
entender ser este o recurso cabível, desde que determine previamente a intimação
do recorrente para, no prazo de 5 (cinco) dias, complementar as razões recursais, de
modo a ajustá-las às exigências do art. 1.021, § 1º.

Art. 1.032. Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o recurso


especial versa sobre questão constitucional, deverá conceder prazo de 15 (quinze)
dias para que o recorrente demonstre a existência de repercussão geral e se
manifeste sobre a questão constitucional.
Parágrafo único. Cumprida a diligência de que trata o caput, o relator remeterá o
recurso ao Supremo Tribunal Federal, que, em juízo de admissibilidade, poderá
devolvê-lo ao Superior Tribunal de Justiça.

Art. 1.033. Se o Supremo Tribunal Federal considerar como reflexa a ofensa à


Constituição afirmada no recurso extraordinário, por pressupor a revisão da
interpretação de lei federal ou de tratado, remetê-lo-á ao Superior Tribunal de
Justiça para julgamento como recurso especial.

Requisitos: Com base na jurisprudência do STJ, para a aplicação do princípio da fungibilidade, é


necessário o preenchimento dos seguintes requisitos:
a) dúvida objetiva a respeito do recurso cabível;
b) inexistência de erro grosseiro;
c) que o recurso interposto erroneamente tenha sido apresentado no prazo daquele que seria o
correto.
Nesse sentido: STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1656690/RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado
em 19/10/2017.

Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação: João, executado, ingressou com uma
espécie de defesa chamada “exceção de pré-executividade”. Podemos vislumbrar dois cenários
mais prováveis neste caso:
1) O juiz acolhe a exceção de pré-executividade e extingue a execução: isso é feito por meio de
sentença e, caso o exequente não se conforme, poderá interpor como recurso a apelação.
2) O juiz rejeita a exceção de pré-executividade e mantém o prosseguimento da execução: isso é
feito por meio de decisão interlocutória e, caso o executado não se conforme, poderá interpor
como recurso o agravo de instrumento.

Suponhamos que o juiz rejeitou a exceção de pré-executividade de João. Qual seria o recurso que
ele deveria interpor? Agravo de instrumento. Ocorre que João se equivocou e interpôs apelação. O
Tribunal de Justiça não conheceu da apelação afirmando justamente que João interpôs o recurso
errado. João não se conformou e interpôs recurso especial contra o acórdão do TJ. No Resp, João
alegou que o TJ deveria ter aplicado o princípio da fungibilidade e que foi induzido em erro pelo
juiz. Isso porque o magistrado nomeou a decisão que rejeitou a exceção de pré-executividade
como “sentença”. Além disso, a Secretaria da vara teria lançado no sistema a decisão como
sentença. Essas circunstâncias geraram uma dúvida objetiva na parte, fazendo com que ela
acabasse concluindo que se tratava realmente de sentença e, contra ela, deveria ser interposta
apelação.

A tese de João foi acolhida pelo STJ? SIM. Para o STJ, há situações em que os termos em que é
redigida a decisão pelo julgador são determinantes para a interposição equivocada do recurso. Na
hipótese analisada, embora a decisão do juiz singular não tenha colocado termo ao processo de
execução, o referido magistrado deu-lhe verdadeiro tratamento de sentença - assim denominando-
a e registrando-a, bem como recebendo e processando o recurso de apelação.

Dessa forma, o juízo colaborou diretamente para o surgimento da dúvida quanto ao recurso
cabível, afastando-se a eventual má-fé da parte na interposição da apelação - o que legitima a
aplicação do princípio da fungibilidade.
Conforme constou em outro precedente, “tem entendido esta Corte que não pode o jurisdicionado
responder por erro induzido pelo magistrado.” (STJ. 2ª Turma. REsp 1349832/RS, Rel. Min. Eliana
Calmon, julgado em 16/05/2013).

28.32. O pedido de antecipação dos efeitos da tutela pode ser feito em sede de sustentação oral –
(Info 608)

É possível o requerimento de antecipação dos efeitos da tutela em sede de sustentação oral.


STJ. 4ª Turma. REsp 1.332.766-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 1/6/17 (Info 608).
OBS:
É possível que a antecipação dos efeitos da tutela seja requerida no recurso? SIM. Essa
possibilidade era admitida pela doutrina e jurisprudência e agora está prevista expressamente no
CPC/2015:
Art. 299. (...)
Parágrafo único. Ressalvada disposição especial, na ação de competência originária
de tribunal e nos recursos a tutela provisória será requerida ao órgão jurisdicional
competente para apreciar o mérito.
A sustentação oral é uma manifestação formal da parte (art. 937 do CPC/2015), podendo isso ser
considerado como requerimento válido para fins de concessão de tutela provisória.

28.33. AGRAVO DE INSTRUMENTO: Se o processo é eletrônico na 1ª instância, mas é físico no


Tribunal, não se aplica a dispensa de juntada de documentos prevista no art. 1.017, § 5º do
CPC/2015 – (Info 605)

A disposição constante do art. 1.017, § 5º, do CPC/2015, que dispensa a juntada das peças
obrigatórias à formação do agravo de instrumento em se tratando de processo eletrônico, exige,
para sua aplicação, que os autos tramitem por meio digital tanto no primeiro quanto no
segundo grau de jurisdição.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.643.956-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 9/5/17 (Info 605)
OBS:
Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída:
I — obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que
ensejou a decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão da respectiva
intimação ou outro documento oficial que comprove a tempestividade e das
procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado;
II — com declaração de inexistência de qualquer dos documentos referidos no inciso
I, feita pelo advogado do agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal;
III — facultativamente, com outras peças que o agravante reputar úteis. (...)
§ 5º Sendo eletrônicos os autos do processo, dispensam-se as peças referidas nos
incisos I e II do caput, facultando-se ao agravante anexar outros documentos que
entender úteis para a compreensão da controvérsia.

28.34. Relator do agravo interno não pode simplesmente "copiar e colar" a decisão agravada –
(Info 592) – IMPORTANTE!!!

É vedado ao relator limitar-se a reproduzir a decisão agravada para julgar improcedente o


agravo interno.
O NCPC proibiu expressamente esta forma de decidir o agravo interno (art. 1.021, § 3º).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.622.386-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 20/10/16 (Info 592).
OBS:
Agravo interno: É um recurso interposto contra decisões monocráticas (unipessoais) proferidas
por Desembargador, Ministro ou juiz da Turma Recursal. O Relator dos processos nos Tribunais
possui autorização para decidir monocraticamente diversos temas, conforme se pode observar
pelo art. 932 do CPC. Contra tais decisões caberá agravo interno. Vale ressaltar que também cabe
agravo interno contra decisões proferidas pelo Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal (ex: cabe
agravo interno contra a decisão do Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal que nega
seguimento a recurso especial se o acórdão atacado está em conformidade com entendimento do
STJ exarado em recurso repetitivo). O objetivo do agravante é fazer com que o colegiado do qual
faz parte este magistrado possa apreciar seus argumentos e, assim, alterar esta decisão que foi
tomada de forma sozinha.

Exemplo de agravo interno: João ajuizou ação contra Pedro. O juiz negou os benefícios da justiça
gratuita que haviam sido formulados pelo autor. Diante disso, João interpôs agravo de
instrumento para o TJ (art. 1.015, V, do CPC). O Desembargador Relator, monocraticamente,
negou provimento ao recurso (art. 932, IV, "a"). Contra esta decisão monocrática, o autor interpôs
agravo interno (art. 1.021):
Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o
respectivo órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras do
regimento interno do tribunal.
§ 1º Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os
fundamentos da decisão agravada.

O Relator do agravo interno será o próprio magistrado que proferiu a decisão. Ele deverá preparar
um voto mantendo ou reformando a sua decisão monocrática e submeter este voto para ser
apreciado pelo colegiado do qual faz parte segundo as competências definidas no regimento
interno do Tribunal (Turma, Câmara, Plenário etc.). Desse modo, no agravo interno existe a
possibilidade de o Relator se retratar em relação à decisão anteriormente proferida:
§ 2º O agravo será dirigido ao relator, que intimará o agravado para manifestar-se
sobre o recurso no prazo de 15 (quinze) dias, ao final do qual, não havendo
retratação, o relator levá-lo-á a julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em
pauta.
O que acontecia muito na prática: Na prática forense, o mais comum era o Desembargador ou
Ministro manter a decisão monocrática que ele havia proferido e simplesmente colar no voto do
agravo a íntegra da manifestação anterior. Exemplo:
"O agravante alega...
Na decisão agravada afirmei que... (transcrição integral da decisão).
Os argumentos trazidos pelo agravante não servem para infirmar o posicionamento já
expendido.
Ante o exposto, mantenho a decisão agravada por seus próprios fundamentos."

Esta forma de decisão continua sendo válida? A 3ª Turma do STJ entendeu que não. Isso porque o
NCPC proibiu expressamente esta forma de decidir o agravo interno. Confira:
Art. 1.021 (...)
§ 3º É vedado ao relator limitar-se à reprodução dos fundamentos da decisão
agravada para julgar improcedente o agravo interno.

O órgão julgador não está obrigado a rebater, com minúcias, cada um dos argumentos deduzidos
pelas partes. Apesar disso, o NCPC, exaltando os princípios da cooperação e do contraditório,
impõe-lhe o dever de enfrentar todas as questões capazes de, por si sós e, em tese, infirmar a sua
conclusão sobre os pedidos formulados, sob pena de se reputar não fundamentada a decisão
proferida. É o que prevê o art. 489, § 1º, IV:
Art. 489 (...)
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela
interlocutória, sentença ou acórdão, que:
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador;

28.35. AGRAVO DE INSTRUMENTO: É possível que as peças do agravo de instrumento sejam


entregues em DVD – (Info 591) – IMPORTANTE!!!

As peças que devem formar o instrumento do agravo podem ser apresentadas em mídia digital
(DVD).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.608.298-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 1/9/2016 (Info 591).
OBS:
O agravo de instrumento é um recurso interposto diretamente no juízo ad quem, ou seja, é
encaminhado diretamente para o Tribunal que irá julgá-lo.

Ex.: “A” ingressa com uma ação de alimentos contra “B” e pede a concessão de alimentos
provisórios no valor de R$ 2 mil. O juiz, em decisão interlocutória, nega a fixação dos alimentos
provisórios. “A” interpõe agravo de instrumento contra a decisão do juiz de 1ª instância (juízo a
quo) diretamente no Tribunal de Justiça (juízo ad quem).

O nome do recurso é agravo de instrumento porque neste tipo de agravo deverá ser formado um
“instrumento”, ou seja, um conjunto de documentos para que o Tribunal analise se as razões
invocadas pelo recorrente são procedentes ou não. Isso ocorre porque o processo continua
tramitando no juízo a quo e, para o juízo ad quem examinar as razões do recurso, será necessário
que ele tenha cópias de alguns documentos presentes naqueles autos originários.

Em nosso exemplo, “A” irá preparar a petição do recurso, tirar cópias de vários documentos dos
autos, juntá-los à petição e protocolá-los, como agravo de instrumento, no Tribunal de Justiça.

E quais são estes documentos? Estão previstos no art. 525 do CPC 1973 (art. 1.017 do CPC 2015).
Fique atento para as partes em cinza porque são novidades:

CPC 1973 CPC 2015


Art. 525. A petição de agravo de instrumento Art. 1.017. A petição de agravo de
será instruída: instrumento será instruída:
I — obrigatoriamente, com cópias da decisão I — obrigatoriamente, com cópias da petição
agravada, da certidão da respectiva intimação inicial, da contestação, da petição que
e das procurações outorgadas aos advogados ensejou a decisão agravada, da própria
do agravante e do agravado; decisão agravada, da certidão da respectiva
II — facultativamente, com outras peças que o intimação ou outro documento oficial que
agravante entender úteis. comprove a tempestividade e das procurações
outorgadas aos advogados do agravante e do
agravado;
II — com declaração de inexistência de
qualquer dos documentos referidos no inciso
I, feita pelo advogado do agravante, sob pena
de sua responsabilidade pessoal;
III — facultativamente, com outras peças que
o agravante reputar úteis.

O que acontece caso a parte agravante não junte algum dos documentos considerados
obrigatórios? Na falta da cópia de qualquer peça ou no caso de algum outro vício que
comprometa a admissibilidade do agravo de instrumento, o relator deverá, antes de considerar
inadmissível o recurso, conceder o prazo de 5 dias ao agravante para que seja sanado vício ou
complementada a documentação exigível (art. 1.017, § 3º do CPC/2015). Caso, mesmo intimado, o
agravante não junte o documento faltante ou corrija o vício, aí sim deverá o relator julgar
inadmissível o agravo de instrumento manejado.

Imagine que o processo é físico (em papel). Mesmo assim, poderá o agravante juntar esses
documentos acima listados em formato digital, ou seja, escaneados e salvos em um DVD? SIM.

O art. 425, VI, do CPC/2015 prevê a validade das reproduções digitalizadas:


Art. 425. Fazem a mesma prova que os originais: (...)
VI - as reproduções digitalizadas de qualquer documento público ou particular,
quando juntadas aos autos pelos órgãos da justiça e seus auxiliares, pelo Ministério
Público e seus auxiliares, pela Defensoria Pública e seus auxiliares, pelas
procuradorias, pelas repartições públicas em geral e por advogados, ressalvada a
alegação motivada e fundamentada de adulteração.

Além disso, o CPC não exige que o agravante junte as peças originais. Desse modo, se ele
apresentar as peças em formato eletrônico (mídia contendo imagens) acompanhada da declaração
de autenticidade pelo advogado, tal apresentação deverá ser considerada válida, salvo se a parte
adversária demonstrar que sejam inautênticas.

28.36. Possibilidade de aplicação da teoria da causa madura em julgamento de agravo de


instrumento – (Info 590)

Admite-se a aplicação da teoria da causa madura (art. 515, § 3º, do CPC/1973 / art. 1.013, § 3º do
CPC/2015) em julgamento de agravo de instrumento.
Ex: o MP ingressou com ação de improbidade contra João, Paulo e Pedro pedindo a
indisponibilidade dos bens dos requeridos. O juiz deferiu a medida em relação a todos eles, no
entanto, na decisão não houve fundamentação quanto à autoria de Pedro. Diante disso, ele
interpôs agravo de instrumento. O Tribunal, analisando o agravo, entendeu que a decisão
realmente é nula quanto a Pedro por ausência de fundamentação. No entanto, em vez de
mandar o juiz exarar nova decisão, o Tribunal decidiu desde lodo o mérito do pedido e deferiu
a medida cautelar de indisponibilidade dos bens de Pedro, apontando os argumentos pelos
quais este requerido também praticou, em tese, ato de improbidade.
STJ. Corte Especial. REsp 1.215.368-ES, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 1/6/16 (Info 590).
OBS:
Julgamento do mérito diretamente pelo Tribunal ("teoria da causa madura"): O CPC/1973, em
seu art. 515, § 3º, permitia que o TJ ou o TRF, ao decidir a apelação interposta contra sentença
terminativa, julgasse ele próprio (o Tribunal) o mérito da ação caso entendesse que o juiz não
deveria ter extinguido o processo sem resolução do mérito.

Ex: João ajuíza ação contra Pedro e o magistrado profere sentença extinguindo o processo sem
resolução do mérito por entender que o autor seria parte ilegítima. João interpõe apelação ao TJ. O
Tribunal analisa o recurso e entende que ele é sim parte legítima, ou seja, não havia razão jurídica
para o magistrado ter extinguido o processo sem examinar o mérito. Em vez de mandar o
processo de volta à 1ª instância, o próprio TJ poderá julgar o mérito da demanda. Para isso, no
entanto, a causa tem que estar em condições de imediato julgamento (ex: se a sentença indeferiu a
petição inicial, não há condições de o Tribunal julgar o mérito; ao contrário, se a sentença foi
proferida após a fase instrutória, em tese, já haveria essa possibilidade).

O CPC/2015 repetiu essa regra do Código revogado e foi além, trazendo mais três hipóteses em
que o Tribunal, ao dar provimento à apelação, poderá julgar diretamente o mérito, sem ter que
devolver a questão ao juiz.
Nomenclatura: Esse julgamento do mérito diretamente pelo Tribunal ficou conhecido na prática
como "teoria da causa madura", ou seja, estando a causa "em condições de imediato julgamento"
(leia-se: madura), o Tribunal já deverá decidir desde logo o mérito.

Comparativo: Com uma melhor redação, o CPC/2015 repetiu a regra do § 3º do art. 515 do
CPC/1973. Além disso, acrescentou três novas hipóteses (incisos II, III e IV). Algumas delas já
eram admitidas pela jurisprudência, mas agora constam expressamente na legislação. Compare:

CPC/1973 CPC/2015
Art. 515 (...) Art. 1.013. (...)
§ 3º Nos casos de extinção do processo sem § 3º Se o processo estiver em condições de
julgamento do mérito (art. 267), o tribunal imediato julgamento, o tribunal deve decidir
pode julgar desde logo a lide, se a causa desde logo o mérito quando:
versar questão exclusivamente de direito e I - reformar sentença fundada no art. 485;
estiver em condições de imediato julgamento. II - decretar a nulidade da sentença por não
ser ela congruente com os limites do pedido
ou da causa de pedir;
III - constatar a omissão no exame de um dos
pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo;
IV - decretar a nulidade de sentença por falta
de fundamentação.

Em provas de concurso, fiquem atentos para a redação dos incisos II a IV do § do art. 1.013 porque
eles serão exaustivamente cobrados.

Feitas estas considerações, imagine agora a seguinte situação hipotética: O MP ingressou com
ação de improbidade contra João, Paulo e Pedro pedindo a indisponibilidade dos bens dos
requeridos. O juiz, por meio de decisão interlocutória, deferiu a indisponibilidade em relação a
todos eles, no entanto, na decisão não houve qualquer fundamentação quanto ao réu Pedro.
Diante disso, ele interpôs agravo de instrumento contra a decisão. O Tribunal, analisando o
agravo, decidiu que a decisão realmente é nula quanto a Pedro por ausência de fundamentação.
No entanto, em vez de mandar o juiz exarar nova decisão, o Tribunal decidiu desde lodo o mérito
do pedido e deferiu a medida cautelar de indisponibilidade dos bens de Pedro, apontando os
argumentos pelos quais este requerido também praticou, em tese, ato de improbidade. Pedro
interpôs recurso especial contra a decisão do Tribunal argumentando que o CPC, ao tratar sobre a
teoria da causa madura, é expresso ao falar em "sentença". Além disso, o parágrafo que trata sobre
esse assunto está inserido dentro do artigo que cuida da apelação. Assim, não seria possível a
aplicação da teoria da causa madura para agravos de instrumento.

Agiu corretamente o Tribunal neste caso? É possível que o Tribunal, ao julgar agravo de
instrumento, aplique a teoria da causa madura e aprecie desde logo o mérito? SIM. É o que foi
decidido no Info 590.

O entendimento adotado pelo STJ é amplamente aceito pela doutrina:


"(...) Está aí, portanto, a questão da dimensão do disposto pelo novo parágrafo do
art. 515 - se ele abrange apenas o recurso de apelação, ou também outros. Figure-se a
hipótese da decisão interlocutória com que o juiz determina a realização de uma
prova e a parte manifesta agravo de instrumento com o pedido de que essa prova
não seja realizada: se o tribunal aceitar os fundamentos do recurso interposto, para
que a prova não se realize, e entender também que nenhuma outra existe a ser
realizada, é de rigor que passe desde logo ao julgamento do meritum causae, porque
assim é o espírito da Reforma - acelerar a oferta da tutela jurisdicional, renegando
mitos seculares, sempre que isso não importe prejuízo à efetividade das garantias
constitucionais do processo nem prejuízo ilegítimo às partes (...)" (DINAMARCO,
Cândido Rangel. A reforma da reforma. 6ª ed., São Paulo: Malheiros, 2003, p. 162-
163).

"Inclinamo-nos pela admissibilidade de aplicação do art. 515, §3º também ao agravo


de instrumento. (...)" (WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Os agravos no CPC
brasileiro. 4ª ed., São Paulo: RT, 2006, p. 350).

"Cumpre esclarecer que o §3º do art. 515 não se restringe ao âmbito do recurso de
apelação, sendo comum a todos os meios de impugnação, tendo em vista que, salvo
exceções, a modificação legislativa não é restritiva, mas sim extensiva a todo o
sistema recursal." (ROGRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de Direito Processual
Civil. 5ª ed., São Paulo, RT, p. 644).

Já sob a égide do novo CPC, Daniel Assumpção Neves também defende o mesmo entendimento:
"Conforme se nota da expressa previsão do art. 1.013, § 3.º, I, do Novo CPC, a norma
diz respeito à apelação, sabidamente uma das espécies recursais. Ocorre, entretanto,
que parcela considerável da doutrina entende ser a regra pertencente à teoria geral
dos recursos. Dessa forma, defende-se a aplicação da regra em todo e qualquer
recurso, em especial no agravo de instrumento (...)" (NEVES, Daniel Amorim
Assumpção. Novo CPC comentado. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 1.680).

28.37. Se a parte interpõe o agravo do art. 1.042 em vez do agravo interno, o STJ não conhecerá
do recurso e não mais aplicará o princípio da fungibilidade – (Info 589) – IMPORTANTE!!! –
(MPF-2017)

O CPC/2015 trouxe previsão legal expressa de que não cabe agravo para o STJ contra decisão
que inadmite recurso especial quando o acórdão recorrido decidiu em conformidade com
recurso repetitivo (art. 1.042). Tal disposição legal aplica-se aos agravos apresentados contra
decisão publicada após a entrada em vigor do NCPC, em conformidade com o princípio tempus
regit actum.
Caso o Tribunal de origem decida em conformidade com entendimento firmado pelo STJ em
recurso repetitivo, a parte deverá interpor agravo interno. Se, em vez disso, a parte interpuser o
agravo em recurso especial para o STJ (art. 1.042), cometerá erro grosseiro.
Chegando ao STJ este agravo, ele não será conhecido e ele não retornará para que seja julgado
pelo Tribunal de origem como agravo interno.
Assim, após a entrada em vigor do CPC/2015, não é mais devida a remessa pelo STJ, ao
Tribunal de origem, do agravo interposto contra decisão que inadmite recurso especial com
base na aplicação de entendimento firmado em recursos repetitivos, para que seja conhecido
como agravo interno.
STJ. 3ª Turma. AREsp 959.991-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 16/8/16 (Info 589).
OBS:
Interposição de REsp e juízo de admissibilidade: A parte que deseja interpor um Recurso Especial
(REsp) deve protocolizá-lo no juízo a quo (recorrido) e não diretamente no juízo ad quem (STJ),
nos termos do art. 1.029 do CPC.

Ex.: TRF1 profere acórdão, por unanimidade, em apelação, afirmando que Gilson, servidor
público federal, não possui determinado direito previsto na Lei 8.112/90. Nessa hipótese, ele
poderá interpor recurso especial contra a decisão, a ser julgado pelo STJ, com base no art. 105, III,
“a”, da CF/88.

O REsp deverá ser protocolizado no próprio TRF1. A recorrida (no caso, a União) será intimada
para apresentar suas contrarrazões. Logo após, o Presidente do Tribunal (ou Vice-Presidente, a
depender do regimento interno), em decisão monocrática, irá fazer um juízo de admissibilidade
do recurso, nos termos do art. 1.030 do CPC.

Se o juízo de admissibilidade for POSITIVO Se o juízo de admissibilidade for NEGATIVO


Significa que o Presidente (ou Vice) do Significa que o Presidente (ou Vice) do
Tribunal entendeu que os pressupostos do Tribunal entendeu que algum pressuposto do
REsp estavam preenchidos e, então, remeterá REsp não estava presente e, então, não
o recurso para o STJ. admitirá o recurso.
Contra esta decisão, não cabe recurso, Contra esta decisão, a parte prejudicada
considerando que o STJ ainda irá reexaminar poderá interpor recurso.
novamente esta admissibilidade.

Motivos da inadmissibilidade: O Presidente (ou Vice) do Tribunal de origem poderá fazer o juízo
negativo de admissibilidade com base em dois fundamentos:

Inciso I do art. 1.030 Inciso V do art. 1.030


O Presidente (ou Vice) negará seguimento ao Este inciso V é utilizado para todas as demais
recurso especial com base neste inciso se o hipóteses de inadmissibilidade. Exs:
acórdão atacado estiver em conformidade cabimento, legitimidade, tempestividade,
com entendimento do STJ exarado em recurso interesse, regularidade formal etc.
repetitivo.
Ex: o STJ, em um recurso repetitivo, disse que Ex: o recorrente interpôs o recurso especial,
os servidores não têm direito à gratificação X. mas não efetuou o preparo. O Presidente do
No caso dos autos, o TRF negou a gratificação Tribunal recorrido negará seguimento ao
X a determinado servidor. Este não se recurso com base no inciso V do art. 1.030.
conformou e interpôs REsp. O Presidente do
TRF negará seguimento ao recurso.
Recurso cabível contra esta decisão: agravo Recurso cabível contra esta decisão: agravo
interno, que será julgado pelo próprio em recurso especial e extraordinário (art.
Tribunal de origem. 1.042).

Veja o que diz o art. 1.042:


Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do
tribunal recorrido que inadmitir recurso extraordinário ou recurso especial (nas
hipóteses genéricas do inciso V do art. 1.030), salvo quando fundada na aplicação de
entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de
recursos repetitivos (situação do inciso I do art. 1.030, quando caberá agravo
interno).

Feitas as devidas considerações, imagine a seguinte situação hipotética: João, servidor público
federal, ingressou com ação pedindo o pagamento da gratificação X. O Juiz Federal julgou
improcedente o pedido, tendo a sentença sido mantida pelo TRF. O acórdão do TRF foi contrário
ao servidor baseando-se no entendimento do STJ que, em recurso repetitivo, já havia decidido que
os servidores públicos federais não têm direito à gratificação X. Mesmo assim, João não se
conformou e interpôs recurso especial contra o acórdão do TRF. O Vice-Presidente do TRF negou
seguimento ao recurso com fundamento no art. 1.030, I, “b”, do CPC/2015:
Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será
intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os
autos serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, que
deverá:
I – negar seguimento:
(...) b) a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão que
esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do
Superior Tribunal de Justiça, respectivamente, exarado no regime de julgamento de
recursos repetitivos;

João continua inconformado e deseja recorrer contra a decisão do Vice-Presidente do TRF. Qual
será o recurso cabível? Agravo interno, que é julgado pelo próprio TRF.

Suponhamos que o advogado de João não seja profundo conhecedor de Processo Civil e cometa o
seguinte erro: em vez de agravo interno no Tribunal de origem, ele interpôs agravo contra
inadmissão de recurso especial (art. 1.042) endereçado ao STJ. Qual a postura do STJ diante desta
situação?

Na época do CPC/1973 Após a entrada em vigor do CPC/2015


O STJ declarava que a parte havia interposto o O STJ não conhece do agravo e não mais
agravo errado. No entanto, o STJ remetia o remete ao Tribunal de origem para que julgue
agravo ao Tribunal de origem para que ele como agravo interno.
apreciasse o recurso como se fosse um agravo O CPC/2015 trouxe previsão legal expressa de
interno. que não cabe agravo para o STJ contra decisão
Como no CPC anterior não havia dispositivo que inadmite recurso especial quando o
legal expresso regulando esta hipótese, o STJ acórdão recorrido decidiu em conformidade
entendia que isso não configurava erro com recurso repetitivo (art. 1.042).
grosseiro. Logo, isso constitui agora erro grosseiro, não
STJ. Corte Especial. AgRg no AREsp 260.033- sendo mais devida a determinação de retorno
PR, Rel. Min. Raul Araújo, j. 5/8/15 (Info 569). dos autos ao Tribunal a quo para que o aprecie
como agravo interno.
Vale ressaltar que este art. 1.042 se aplica aos
agravos apresentados contra decisão
publicada após a entrada em vigor do NCPC,
em conformidade com o princípio tempus regit
actum.
28.38. AGRAVO DE INSTRUMENTO: Comprovação da tempestividade mediante apresentação
do termo de abertura de vista e remessa dos autos à Fazenda Nacional – (Info 577) – (PGM-
Fortaleza/CE-2017)

No agravo de instrumento, em regra, se o agravante não juntou a cópia de certidão de intimação


da decisão agravada, seu recurso não será conhecido em virtude de esta certidão ser prevista
como documento obrigatório (art. 525, I, do CPC 1973 / art. 1.017, I, do CPC 2015). A Lei exige
esse documento para que o Tribunal possa saber quando a parte foi intimada e, assim, ter
certeza que o recurso foi interposto tempestivamente.
Exceção: é possível dispensar a certidão de intimação se existirem outros meios para se aferir a
tempestividade do recurso.
O termo de abertura de vista e remessa dos autos à Fazenda Nacional substitui, para efeito de
demonstração da tempestividade do agravo de instrumento por ela interposto, a apresentação
de certidão de intimação da decisão agravada (art. 525, I, do CPC 73 / art. 1.017, I, do CPC 2015).
STJ. Corte Especial. REsp 1.383.500-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 17/2/16 (recurso
repetitivo) (Info 577).
(PGM-Fortaleza/CE-2017-CESPE): No que concerne aos meios de impugnação das decisões
judiciais, julgue o item a seguir, de acordo com o CPC e com a jurisprudência dos tribunais
superiores: A certidão de concessão de vistas dos autos ao ente público é elemento suficiente
para a demonstração da tempestividade do agravo de instrumento e se equipara à certidão de
intimação da decisão agravada para essa finalidade. BL: Info 577, STJ.

OBS:
AGRAVO DE INSTRUMENTO E DOCUMENTOS OBRIGATÓRIOS E FACULTATIVOS QUE
DEVEM INSTRUIR A PETIÇÃO DO RECURSO
O agravo de instrumento é um recurso interposto diretamente no juízo ad quem (encaminhado
diretamente para o Tribunal que irá julgá-lo).

Ex.: “A” ingressa com uma ação de alimentos contra “B” e pede a concessão de alimentos
provisórios no valor de R$ 2 mil. O juiz, em decisão interlocutória, nega a fixação dos alimentos
provisórios. “A” interpõe agravo de instrumento contra a decisão do juiz de 1ª instância (juízo a
quo) diretamente no Tribunal de Justiça (juízo ad quem).

O nome do recurso é agravo de instrumento porque neste tipo de agravo deverá ser formado um
“instrumento”: é um conjunto de documentos para que o Tribunal analise se as razões invocadas
pelo recorrente são procedentes ou não. Isso ocorre porque o processo continua tramitando no
juízo a quo e, para o juízo ad quem examinar as razões do recurso, será necessário que ele tenha
cópias de alguns documentos presentes naqueles autos originários. Em nosso exemplo, “A” irá
preparar a petição do recurso, tirar cópias de vários documentos dos autos, juntá-los à petição e
protocolá-los, como agravo de instrumento, no Tribunal de Justiça.

E quais são estes documentos? Estão previstos no art. 1.017 do CPC 2015:
Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída:
I — obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que
ensejou a decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão da respectiva
intimação ou outro documento oficial que comprove a tempestividade e das
procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado;
II — com declaração de inexistência de qualquer dos documentos referidos no inciso
I, feita pelo advogado do agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal;
III — facultativamente, com outras peças que o agravante reputar úteis.

CÓPIA DE CERTIDÃO DE INTIMAÇÃO:


Regra: se não foi juntada no recurso, este não será conhecido: Uma das peças consideradas
obrigatórias é a certidão de intimação da decisão agravada (art. 525, I, do CPC 1973 / art. 1.017, I,
do CPC 2015). A Lei exige esse documento para que o Tribunal possa saber quando a parte foi
intimada e, assim, ter certeza de que o recurso foi interposto tempestivamente. Por essa razão, o
agravante deverá juntar, em anexo, uma cópia dessa certidão na petição do agravo de
instrumento. O STJ já editou até um enunciado afirmando isso:
Súmula 223-STJ: A certidão de intimação do acórdão recorrido constitui peça
obrigatória do instrumento de agravo.

Em regra, se o agravante não juntar a certidão de intimação do acórdão recorrido, seu recurso
(agravo de instrumento) não será conhecido.
Exceção: é dispensada a certidão se existir outra prova da tempestividade: O STJ tem abrandado a
regra geral, fixando a seguinte exceção: é possível dispensar a certidão de intimação se existirem
outros meios para se aferir a tempestividade do recurso. Assim, a ausência da cópia da certidão de
intimação da decisão agravada não será óbice (empecilho) ao conhecimento do agravo de
instrumento se, por outros meios inequívocos, for possível aferir a tempestividade do recurso. STJ.
2ª Seção. REsp 1.409.357-SC, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 14/5/2014 (recurso repetitivo)
(Info 541).

Em outras palavras, mesmo que o agravante não tenha juntado a cópia da certidão de intimação,
é possível que o Tribunal releve a ausência dessa peça obrigatória (e conheça o recurso) se existir
nos autos algum outro meio de se ter certeza que o agravo foi interposto dentro do prazo.

Ex.: o agravante não juntou a certidão de intimação, mas pela data da decisão agravada (que está
nos autos) e a data em que foi protocolado o agravo, percebe-se que não se passaram mais que 15
dias (prazo do AI no CPC 2015). É lógico que a intimação ocorreu após a data da decisão, de modo
que está provado que o recurso foi interposto dentro do prazo, mesmo não havendo a certidão.
Esse posicionamento do STJ é aplicado em homenagem ao princípio da instrumentalidade das
formas, para o qual o exagerado processualismo deve ser evitado, de forma a que o processo e seu
uso sejam convenientemente conciliados e realizados.

Novo CPC: O CPC 2015 considerou e positivou, pelo menos em parte, esse correto entendimento
jurisprudencial acima explicado. Com efeito, o inciso I do art. 1.017 prevê que o agravante deverá
juntar cópia da certidão da respectiva intimação ou outro documento oficial que comprove a
tempestividade. A interpretação do STJ vai além do texto do novo CPC e permite que se constate
a tempestividade (dispensando-se a certidão de intimação) por outros meios em geral (não
exigindo, necessariamente, documento oficial).

AI INTERPOSTO PELA FAZENDA NACIONAL E CÓPIA DO TERMO DE ABERTURA DE


VISTA E REMESSA DOS AUTOS:
A certidão de concessão de vista dos autos pode ser considerada como elemento suficiente para
demonstrar se o agravo de instrumento interposto pela Fazenda Nacional foi ou não tempestivo.
Isso porque nela constará a data em que a Fazenda foi intimada da decisão agravada. Perceba,
portanto, que esse “termo de abertura de vista e remessa” cumpre a função da certidão de
intimação.

Considerando a prerrogativa que possui a Fazenda Nacional de ser intimada das decisões por
meio da concessão de vista pessoal e, em atenção ao princípio da instrumentalidade das formas,
pode a certidão de concessão de vistas dos autos ser considerada elemento suficiente à
demonstração da tempestividade do agravo de instrumento, substituindo a certidão de intimação
legalmente prevista.

A decisão acima está em sintonia com o novo CPC que, como vimos, no inciso I do art. 1.017,
prevê que o agravante deverá juntar cópia da certidão da respectiva intimação ou outro
documento oficial que comprove a tempestividade.

28.39. Perda do objeto de agravo de instrumento interposto contra decisão de antecipação de


tutela – (Info 573)

A superveniência de sentença de mérito acarreta a perda do objeto do agravo de instrumento


interposto contra decisão anteriormente proferida em tutela antecipada.
STJ. Corte Especial. EAREsp 488.188-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 7/10/15 (Info 573).

28.40. Comprovação de pagamento de preparo recursal via recibo extraído da internet – (Info
565) – IMPORTANTE!!! – (Anal. Judic./TRF2-2017)

A parte pode pagar o preparo recursal por meio da internet, imprimir essa transação bancária e
juntar no recurso? É válida a prova da realização do preparo recursal mediante a juntada de
comprovante de pagamento emitido via internet?
SIM. O pagamento do preparo recursal pode ser comprovado por intermédio de recibo extraído
da internet, desde que esse meio de constatação de quitação possibilite a aferição da
regularidade do recolhimento.
A guia eletrônica de pagamento via Internet constitui meio idôneo à comprovação do
recolhimento do preparo, desde que preenchida com a observância dos requisitos
regulamentares, permitindo-se ao interessado a impugnação fundamentada.
STJ. 2ª Turma. EAREsp 423.679-SC, Rel. Min. Raul Araújo, j. 24/6/2015 (Info 565).
(Anal. Judic./TRF2-2017-Consulplan): Segundo entendimento adotado pela 2ª Seção do STJ no
EAREsp 423.679-SC, o pagamento do preparo recursal pode ser comprovado por intermédio de
recibo extraído da Internet, desde que esse meio de constatação de quitação possibilite a
aferição da regularidade do recolhimento.

28.41. Insuficiência do preparo e intimação do recorrente para suprir o pagamento – (Info 563)

O recorrente, ao interpor o recurso, deverá comprovar o preparo. No caso do recurso especial, o


preparo engloba o pagamento de custas e de porte de remessa e de retorno.
Se o recorrente pagou apenas a taxa judiciária (não tendo recolhido o valor do porte de remessa
e de retorno), o preparo foi feito, mas em valor insuficiente. Como consequência, o Tribunal de
origem, antes de decretar a deserção, deverá intimar o recorrente para, no prazo de 5 dias, suprir
o valor do porte de remessa e de retorno, complementando o pagamento. Somente se não for
complementado o preparo é que haverá a deserção. Esta solução está prevista no § 2º do art. 511
do CPC 1973 (§ 2º do art. 1.007 do CPC 2015).
Assim, não ocorre a deserção do recurso especial no caso em que o recorrente, recolhidas as
custas na forma devida, mas efetuado o pagamento do porte de remessa e de retorno em valor
insuficiente, realize, após intimado para tanto, a complementação do valor.
STJ. 2ª Turma. EDcl no REsp 1221314-SP, Rel. Min. Castro Meira, j. 21/2/13 (Info 517).
STJ. Corte Especial. REsp 844.440-MS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 6/5/15 (Info 563).

28.42. (Im)possibilidade de prorrogação do termo inicial do prazo recursal diante do


encerramento prematuro do expediente forense – (Info 557) – IMPORTANTE!!!

Se o dia do vencimento do prazo do recurso cair em uma data na qual o expediente forense foi
encerrado mais cedo que o normal, haverá prorrogação para o dia subsequente?
• CPC-1973: SIM
• CPC-2015: SIM (art. 224, § 1º)
Se o dia do início do prazo do recurso cair em uma data na qual o expediente forense foi
encerrado mais cedo que o normal, haverá prorrogação do início para o dia subsequente?
• CPC-1973: NÃO
• CPC-2015: SIM (art. 224, § 1º)
Para o CPC-1973, a prorrogação em razão do encerramento prematuro do expediente forense
aplica-se tão somente em relação ao dies ad quem (dia do vencimento) do prazo recursal, não se
aplicando para o dies a quo (dia de início).
STJ. Corte Especial. EAREsp 185695-PB, Rel. Min. Felix Fischer, j. 4/2/15 (Info 557).

28.43. NOÇÕES GERAIS: Multa e depósito do § 2º do art. 557 do CPC/73 (§ 4º do art. 1.021 do
CPC/15) e sua aplicabilidade à Fazenda Pública – (Info 551) – IMPORTANTE!!!

Se o Poder Público for condenado ao pagamento da multa do § 2º do art. 557 do CPC/73 (§ 4º do


art. 1.021 do CPC/15), a interposição de outros recursos ficará condicionada ao depósito prévio
do respectivo valor?
CPC/73: SIM
Havendo condenação da Fazenda Pública ao pagamento da multa prevista no art. 557, § 2º, do
CPC/73, a interposição de qualquer outro recurso fica condicionada ao depósito prévio do
respectivo valor.
O prévio depósito da multa também é devido pela Fazenda Pública.
STJ. 2ª T. AgRg no AREsp 553.788-DF, Rel. Min. Assusete Magalhães, j. 16/10/14 (Info 551).
STF. 2ª T. ARE 931830 AgR/PB, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 21/8/18 (Info 912).

CPC/15: NÃO
Veja o que diz o CPC/15:
Art. 1.021 (...)
§ 4º Quando o agravo interno for declarado manifestamente inadmissível ou
improcedente em votação unânime, o órgão colegiado, em decisão fundamentada,
condenará o agravante a pagar ao agravado multa fixada entre um e cinco por
cento do valor atualizado da causa.
§ 5º A interposição de qualquer outro recurso está condicionada ao depósito
prévio do valor da multa prevista no § 4º, à exceção da Fazenda Pública e do
beneficiário de gratuidade da justiça, que farão o pagamento ao final.

28.44. AGRAVO: Conhecimento do agravo de instrumento mesmo sem a certidão de intimação


da decisão agravada – (Info 541) – IMPORTANTE!!! – (PGM-Salvador/BA-2015)

A ausência da cópia da certidão de intimação da decisão agravada não será óbice (empecilho) ao
conhecimento do agravo de instrumento se, por outros meios inequívocos, for possível aferir a
tempestividade do recurso.
Em outras palavras, mesmo que o agravante não tenha juntado a cópia da certidão de intimação,
é possível que o Tribunal releve a ausência dessa peça obrigatória (e conheça o recurso) se
existir nos autos algum outro meio de se ter certeza que o agravo foi interposto dentro do prazo.
Ex.: o agravante não juntou a certidão de intimação, mas pela data da decisão agravada (que está
nos autos) e a data em que foi protocolizado o agravo, percebe-se que não se passaram mais que
10 dias. Ora, é lógico que a intimação ocorreu após a data da decisão, de modo que está provado
que o recurso foi interposto dentro do prazo, mesmo não havendo a certidão.
Esse posicionamento do STJ é aplicado em homenagem ao princípio da instrumentalidade das
formas, para o qual o exagerado processualismo deve ser evitado, de forma a que o processo e
seu uso sejam convenientemente conciliados e realizados.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.409.357-SC, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 14/5/14 (recurso repetitivo) (Info 541).
(PGM-Salvador/BA-2015-CESPE): Em cada uma das próximas opções é apresentada uma
situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada a respeito de recursos, reexame
necessário e ação rescisória. Assinale a opção em que a assertiva está correta de acordo com a
legislação processual e com a jurisprudência do STJ: Ao interpor recurso de agravo de
instrumento, o recorrente deixou de juntar cópia da certidão de intimação da decisão agravada.
Nessa situação, o agravo deverá ser conhecido e aplicado o princípio da instrumentalidade das
formas, se, por outro meio inequívoco, for possível comprovar a tempestividade recursal. BL:
Info 541, STJ.

OBS:
Novo CPC: O CPC 2015 considerou e positivou, pelo menos em parte, esse correto entendimento
jurisprudencial acima explicado. Com efeito, o inciso I do art. 1.017 prevê que o agravante deverá
juntar cópia da certidão da respectiva intimação ou outro documento oficial que comprove a
tempestividade. A interpretação do STJ vai além do texto do novo CPC e permite que se constate a
tempestividade (dispensando-se a certidão de intimação) por outros meios em geral (não
exigindo, necessariamente, documento oficial).

28.45. Assinatura eletrônica e assinatura digitalizada – (Info 541)

A assinatura ELETRÔNICA é válida, podendo ser aposta nas petições em geral e nos recursos,
estando regulamentada pela Lei 11.419/2006.
A assinatura DIGITALIZADA (“escaneada”) NÃO é válida. Se for aposta no recurso, este não
será conhecido, sendo reputado inexistente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.442.887-BA, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 6/5/14 (Info 541).

A assinatura digitalizada — ou escaneada —, por se tratar de mera inserção de imagem em


documento, não se confunde com a assinatura digital baseada em certificado digital emitido
por Autoridade Certificadora credenciada, prevista no art. 1º, § 2º, III, a, da Lei nº 11.419/2006.
Com efeito, a inserção de assinatura escaneada em determinado documento, obtida a partir de
outro documento original, não confere nenhuma garantia quanto à sua autenticidade em
relação ao signatário.
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 471037/MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 27/5/14.
OBS:
Não se poderia aplicar, no caso, o princípio da instrumentalidade das formas para se aceitar o
recurso? NÃO. Segundo pontuou a Min. Nancy Andrighi, embora, na moderna ciência processual,
seja consagrado o princípio da instrumentalidade das formas, sua aplicação deve encontrar limites
exatamente no princípio da segurança jurídica. Não se trata de privilegiar a forma pela forma, mas
de conferir aos jurisdicionados, usuários das modernas ferramentas eletrônicas, o mínimo de
critérios para garantir a autenticidade e integridade de sua identificação no momento da
interposição de um recurso ou de apresentação de outra peça processual. Posto isso, considera-se
como inexistente o recurso cuja assinatura para identificação do advogado foi obtida por
digitalização.
28.46. JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM DO RESP E RE: Parte que teve processo
sobrestado não pode intervir como assistente simples – (Info 540)

Quando determinado tema é selecionado para ser julgado sob a sistemática do art. 543-C
(recursos especiais repetitivos), é escolhido um ou alguns recursos para serem analisados pelo
STJ (recursos paradigmas) e os demais que tratem sobre a mesma matéria ficarão suspensos no
tribunal de origem até que o STJ se pronuncie sobre o tema central.
A parte que teve seu processo sobrestado não poderá intervir nem como assistente simples nem
como amicus curiae no recurso especial paradigma que será analisado pelo STJ.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.418.593-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 14/5/14 (Info 540).
OBS: No CPC 2015 o tema é agora tratado nos arts. 1.036 a 1.041.

28.47. APELAÇÃO: Possibilidade de a parte juntar novos documentos em sede de apelação –


(Info 533)

É possível que a parte junte novos documentos em sede de apelação, desde que atendidos os
seguintes requisitos:
a) não se trate de documento indispensável à propositura da ação;
b) não haja indício de má fé;
c) seja ouvida a parte contrária, garantindo-se o contraditório (art. 398 do CPC 1973 / art. 437, §
1º do CPC 2015).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.176.440-RO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 17/9/13 (Info 533).

29. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO


29.1. Embargos de declaração com efeitos infringentes não podem ser recebidos como
pedido de reconsideração – (Info 575) – IMPORTANTE!!! ATUALIZE INFOS 2013!

Os embargos de declaração, ainda que contenham nítido pedido de efeitos infringentes,


não devem ser recebidos como mero "pedido de reconsideração".
Tal proceder é incabível por três razões principais:
a) não atende a nenhuma previsão legal, tampouco aos requisitos de aplicação do princípio
da fungibilidade recursal considerando que pedido de reconsideração nem é previsto na
lei nem pode ser considerado recurso;
b) traz surpresa e insegurança jurídica ao jurisdicionado, pois, apesar de interposto
tempestivamente o recurso cabível, ficará à mercê da subjetividade do magistrado;
c) acarreta ao embargante grave sanção sem respaldo legal, qual seja, a não interrupção de
prazo para posteriores recursos, aniquilando o direito da parte embargante, o que supera a
penalidade objetiva positivada no § 2º do art. 1.022 do CPC 2015.
STJ. Corte Especial. REsp 1.522.347-ES, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 16/9/2015 (Info
575).
OBS:
Três observações importantes sobre o art. 1.022 do CPC 2015:
 Ficou expressamente previsto que cabem embargos de declaração contra qualquer
decisão judicial. Antes, diante da literalidade do art. 535 do CPC 1973, havia
entendimentos de que não caberia embargos de declaração contra decisões
interlocutórias. Com o novo CPC, não há dúvidas de que isso é possível;
 O conceito do que seja “omissão” para fins de embargos de declaração foi ampliado;
 Foi acrescentada uma nova hipótese de embargos de declaração, que já era admitida pela
jurisprudência: situação em que se verifica um “erro material” na decisão.

Os objetivos típicos dos embargos são: a) esclarecer obscuridade; b) eliminar contradição; c)


suprir omissão; d) corrigir erro material.
No entanto, muitas vezes, ao se dar provimento aos embargos, pode acontecer de o resultado
da decisão ser alterado. Quando isso acontece, dizemos que os embargos de declaração
assumem um efeito infringente.

Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de recurso (art. 1.026


do CPC 2015): Ex: juiz prolatou uma sentença. Logo, a parte prejudicada teria o prazo de 15
dias para interpor o recurso cabível para o caso (apelação). No entanto, essa parte vislumbrou
a existência de uma contradição no pronunciamento judicial. Desse modo, antes de interpor a
apelação, decidiu opor embargos de declaração. Somente quando o juiz julgar esses
embargos é que começará a contar o prazo de 15 dias para a apelação. Vale ressaltar que os
embargos de declaração, ainda que rejeitados, interrompem o prazo recursal.

Excepcionalmente, é possível a modificação do julgado por meio dos embargos de


declaração, desde que ele seja omisso, obscuro, contraditório ou tenha algum erro material,
de forma que, a partir de sua integração, o fundamento desta acarrete, necessariamente, a
alteração da decisão.

Multa do art. 1.022, § 2º do CPC 2015: Se não houver vício a ser sanado, mas apenas a
pretensão do recorrente em rediscutir a decisão, o julgador poderá aplicar a multa prevista
no art. 1.022, § 2º, do CPC 2015, desde que fique caracterizado que o embargante estava com
intuito de procrastinar (prolongar indevidamente o processo). Ressalta-se, no entanto, que,
mesmo nessa hipótese do § 2º, haverá interrupção do prazo para os demais recursos.

O que pode ser considerado como embargos de declaração manifestamente protelatórios?


Apontamos 2 hipóteses de embargos de declaração manifestamente protelatórios: 1ª) O
recorrente não aponta, de forma concreta, nenhuma das hipóteses de cabimento
(obscuridade, contradição ou omissão), ficando bem claro que seu objetivo foi apenas o de
prolongar indevidamente o processo; e 2ª) O recorrente visa rediscutir matéria já apreciada e
decidida pela Corte de origem em conformidade com súmula do STJ ou STF ou, ainda,
precedente julgado pelo rito do recurso repetitivo ou da repercussão geral.

Receber os embargos como se fossem pedido de reconsideração é punição muito severa: O


recebimento dos aclaratórios como pedido de reconsideração padece de, ao menos, duas
manifestas ilegalidades, sendo a primeira a ausência de previsão legal para tal sanção
subjetiva, e a segunda a "não interrupção do prazo recursal", aniquilando o direito da parte
embargante e ignorando a penalidade objetiva, estabelecida pelo legislador no § 2º do art.
1.022 do CPC 2015.

Situações em que os embargos de declaração não irão interromper o prazo para os demais
recursos: Há 2 hipóteses em que os embargos declaratórios não deverão ser conhecidos e,
como consequência, não irão interromper o prazo (embargante irá perder o prazo para os
demais recursos). São elas: 1) Quando os embargos de declaração forem intempestivos
(tiverem sido opostos fora do prazo); 2) Não serão admitidos novos embargos de declaração
se a parte já tiver apresentado dois embargos anteriormente e estes tiverem sido
considerados protelatórios (§ 4º do art. 1.026 do CP 2015).

29.2. São protelatórios os Embargos opostos contra acórdão em harmonia com o STF/STJ –
(Info 541) - (PFN-2015)

Caracterizam-se como protelatórios os embargos de declaração que visam rediscutir


matéria já apreciada e decidida pela Corte de origem em conformidade com súmula do STJ
ou STF ou, ainda, precedente julgado pelo rito dos recursos repetitivos ou da repercussão
geral.
STJ. 2ª S. REsp 1.410.839-SC, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 14/5/14 (recurso repetitivo) (Info
541).

29.3. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO MANIFESTAMENTE PROTELATÓRIOS:


aplicação de multa e indenização – (Info 541) – IMPORTANTE!!! - (PFN-2015)

Em caso de embargos de declaração manifestamente protelatórios, é possível aplicar a


multa do art. 538, parágrafo único, do CPC 1973 (art. 1.026, § 2º do CPC 2015), juntamente
com a indenização prevista no art. 18, § 2º do CPC 1973.
A multa prevista no art. 538, parágrafo único, do CPC 1973 (art. 1.026, § 2º do CPC 2015)
tem caráter eminentemente administrativo — punindo conduta que ofende a dignidade do
tribunal e a função pública do processo —, sendo possível sua cumulação com a sanção
prevista nos arts. 17, VII, e 18, § 2º, do CPC 1973 (arts. 80, VII e 81, § 3º), de natureza
reparatória.
STJ. Corte Especial. REsp 1.250.739-PA, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. em 4/12/13 (Info
541).
30. RECURSO ADESIVO
30.1. Recurso adesivo para majorar quantia indenizatória decorrente de dano moral – (Info
562) – IMPORTANTE!!!

João propõe ação de indenização por danos morais contra Pedro pedindo o pagamento de
R$ 30 mil. O juiz julga o pedido procedente, condenando o réu a pagar a indenização por
danos morais, mas fixando o valor em R$ 10 mil. João pensou consigo mesmo: “eu queria
mais, no entanto, prefiro acabar logo com esse processo e receber imediatamente esses R$
10 mil do que ficar tentando R$ 30 mil por mais alguns anos; não vou recorrer”. Ocorre
que, no último dia do prazo, Pedro interpôs apelação.
João foi, então, intimado para apresentar contrarrazões à apelação. Neste momento, ele
pensou: “ah, já que ele recorreu, então agora eu também quero recorrer para aumentar o
valor da indenização; já que vou esperar mesmo, então quero tentar uma quantia maior”.
Diante disso, o advogado de João interpõe recurso adesivo pedindo a majoração do valor
da indenização por danos morais.
Pedro apresenta contrarrazões alegando que o recurso interposto por João é incabível,
considerando que o recurso adesivo só cabe se existir sucumbência recíproca e, no caso,
não houve, conforme preconiza a súmula 326 do STJ: “Na ação de indenização por dano
moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica
sucumbência recíproca.”
A tese de Pedro está correta?
NÃO. O recurso adesivo pode sim ser interposto pelo autor da ação de indenização julgada
procedente, quando arbitrado, a título de danos morais, valor inferior ao que era almejado.
Isso porque, neste caso, estará configurado o interesse recursal do demandante em ver
majorada a condenação, hipótese caracterizadora de sucumbência material.
Realmente, só cabe recurso adesivo se houver sucumbência recíproca, ou seja, se tanto o
autor como o réu perderem na sentença.
Se o autor pediu a condenação do réu em R$ 30 mil a título de danos morais e conseguiu a
condenação em R$ 10 mil, ele ganhou a demanda sob o ponto de vista formal (processual).
Não se pode dizer que houve sucumbência formal, já que a providência processual
requerida foi atendida (o réu foi obrigado a pagar). No entanto, sob o ponto de vista
material, o autor teve sim uma sucumbência parcial (derrota parcial). Isso porque ele não
obteve exatamente o bem da vida que pretendia (queria 30 e só teve 10). Logo, neste caso, o
autor terá interesse em ver majorada a condenação, hipótese caracterizadora, portanto, da
sucumbência material viabilizadora da irresignação recursal.
Não se aplica a Súmula 326 do STJ porque esse enunciado é baseado na definição da
responsabilidade pelo pagamento de despesas processuais e honorários advocatícios. Ele
não está relacionado com interesse recursal. A correta leitura da súmula 326 é a seguinte:
Para fins de definição de quem irá pagar as despesas processuais e os honorários
advocatícios, “na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior
ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca”.
Logo, se o autor pediu uma quantia a título de danos morais e obteve valor inferior ao
desejado, podemos concluir que:
 Sob o ponto de vista formal, ele foi o vencedor da demanda e não terá que pagar as
despesas processuais e os honorários advocatícios do réu (Súmula 326-STJ);
 Sob o ponto de vista material, ele foi sucumbente e terá direito de interpor recurso
(principal ou adesivo), já que não obteve o exato bem da vida pretendido.
STJ. Corte Especial. REsp 1.102.479-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, Corte Especial, j. 4/3/15
(recurso repetitivo) (Info 562).

30.2. Desistência do recurso principal e tutela antecipada concedida no recurso adesivo –


(Info 554)

Em regra, se a parte que interpôs o recurso principal pede a sua desistência, o recurso
adesivo seguirá a mesma sorte, e não será mais conhecido (art. 500, III, do CPC) (art. 997, §
2º, III, do CPC 2015).
Vale ressaltar, ainda, que o recorrente poderá, a qualquer tempo, desistir do recurso,
mesmo que sem a anuência do recorrido (art. 501) (art. 998 do CPC 2015).
No entanto, segundo decidiu o STJ, se já foi concedida antecipação dos efeitos da tutela no
recurso adesivo, não se admite a desistência do recurso principal de apelação.
A apresentação da petição de desistência logo após a concessão dos efeitos da tutela
recursal teve a nítida intenção de esvaziar o cumprimento da determinação judicial, no
momento em que o réu anteviu que o julgamento final da apelação lhe seria desfavorável,
sendo a pretensão, portanto, incompatível com o princípio da boa-fé processual.
STJ. 3ª T. REsp 1.285.405-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 16/12/2014 (Info 554).

31. RECURSO ESPECIAL


31.1. Necessidade de impugnação específica de todos os fundamentos da decisão proferida
pelo Tribunal de origem que inadmite o recurso especial – (Info 638)

A decisão de inadmissibilidade do recurso especial não é formada por capítulos


autônomos, mas por um único dispositivo, o que exige sua impugnação total.
Em outras palavras, o agravante deve atacar, de forma específica, TODOS os fundamentos
da decisão que, na origem, inadmitiu o recurso especial.
STJ. Corte Especial. EAREsp 831.326-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Rel. Acd. Min.
Luis Felipe Salomão, j. 19/09/2018 (Info 638).
OBS:
O julgado acima foi baseado no CPC/73. O entendimento exposto permanece com o CPC/15?
SIM. Existem vários precedentes já na vigência do CPC/2015 aplicando o mesmo
entendimento, com base no art. 933, do CPC vigente e também no Regimento Interno do STJ.
Nesse sentido:
Incumbe ao agravante infirmar, especificamente, todos os fundamentos da
decisão que inadmitiu o Recurso Especial, demonstrando o seu desacerto, de
modo a justificar o processamento do apelo nobre, sob pena de não ser
conhecido o Agravo (art. 932, III, do CPC vigente). STJ. 2ª Turma. AgInt no
AREsp 1122084/RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, j. 5/12/17.

Nos termos da 182 da Súmula desta Corte, é manifestamente inadmissível o


agravo em recurso especial que não impugna, especificamente, todos os
fundamentos da decisão confrontada. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp
915.415/ES, Rel. Min. Nefi Cordeiro, j. 05/09/2017.

31.2. Cabimento de REsp em caso de aplicação de lei nova a situação jurídica já constituída
antes de sua edição – (Info 556)

Cabe recurso especial – e não recurso extraordinário – para examinar se ofende o art. 6º da
Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB) a interpretação feita pelo
acórdão recorrido dos conceitos legais de direito adquirido e de ato jurídico perfeito a qual
ensejou a aplicação de lei nova a situação jurídica já constituída quando de sua edição.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.124.859-MG, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão
Min. Maria Isabel Gallotti, j. 26/11/2014 (Info 556).

32. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO


32.1. Limites do julgamento submetido ao rito do art. 543-C do CPC – (Info 562)

Em julgamentos submetidos ao rito do art. 543-C do CPC/73 (art. 1.036 do CPC/15), cabe ao
STJ traçar as linhas gerais acerca da tese aprovada, descabendo a inserção de soluções
episódicas ou exceções que porventura possam surgir em outros indetermináveis casos,
sob pena de se ter de redigir verdadeiros tratados sobre todos os temas conexos ao objeto
do recurso.
STJ. Corte Especial. EDcl no REsp 1.124.552-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 6/5/15 (Info
562).

32.2. Intervenção da Defensoria Pública como amicus curiae em recursos representativos


de controvérsia – (Infos 537 e 547) – ATENÇÃO! DPU! – (DPEPR-2014) (TJPE-2015)

A DPU e as Defensorias Públicas estaduais podem atuar como amicus curiae em recursos
especiais repetitivos e recursos extraordinários submetidos à repercussão geral, assim como
em processos de controle concentrado de constitucionalidade. Para isso, deverão demonstrar
que possuem legítimo interesse e representatividade para essa atuação como amigo da
Corte.
A mera afirmação de que a Defensoria Pública atua em vários processos que tratam do
mesmo tema versado no recurso representativo da controvérsia a ser julgado não é
suficiente para caracterizar-lhe a condição de amicus curiae.
Dois exemplos em que o STJ não admitiu a intervenção da instituição como amicus curiae:
 Recurso especial repetitivo em que se discutia encargos de crédito rural, destinado
ao fomento de atividade comercial.
 Recurso especial repetitivo em que se debatia a possibilidade de redirecionamento
de execução fiscal em caso de dívidas não-tributárias.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.371.128-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 10/9/14 (Info 547).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.333.977-MT, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 26/2/14 (Info 537).

33. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA


33.1. Cabem embargos de divergência no âmbito de agravo que não admite Resp sob a
alegação de que o mérito do acórdão impugnado está em sintonia com o entendimento do
STJ – (Info 610)

Cabem embargos de divergência no âmbito de agravo que não admite recurso especial com
base na Súmula 83/STJ para dizer que, no mérito, o acórdão impugnado estaria em
sintonia com o entendimento firmado por esta Corte Superior.
STJ. 1ª Seção. EAREsp 200.299-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 23/8/17 (Info 610).
OBS:
Embargos de divergência: Os embargos de divergência são um recurso previsto nos arts.
1.043 e 1.044 do CPC/2015, bem como nos regimentos internos do STF e do STJ.
Este recurso possui dois objetivos:
1) Obter a reforma ou anulação do acórdão embargado;
2) Uniformizar a jurisprudência interna do STF e do STJ, evitando que prevaleçam decisões
conflitantes.

Só cabem os embargos de divergência contra decisão de:


 órgão fracionário do STJ (turma ou seção) em julgamento de Recurso especial;
 órgão fracionário do STF (turma) em julgamento de Recurso extraordinário.

A decisão do órgão fracionário do STJ deve ter sido divergente em relação ao julgamento de
qualquer outro órgão do mesmo tribunal (STJ).
A decisão do órgão fracionário do STF deve ter sido divergente em relação ao julgamento de
qualquer outro órgão do mesmo tribunal (STF).

Veja a redação do CPC:


Art. 1.043. É embargável o acórdão de órgão fracionário que:
I - em recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir do julgamento de
qualquer outro órgão do mesmo tribunal, sendo os acórdãos, embargado e
paradigma, de mérito; (...)
III - em recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir do julgamento
de qualquer outro órgão do mesmo tribunal, sendo um acórdão de mérito e
outro que não tenha conhecido do recurso, embora tenha apreciado a
controvérsia;

Ao propor este recurso, o recorrente deverá realizar uma comparação entre o acórdão
recorrido e um acórdão paradigma do mesmo Tribunal provando que o acórdão recorrido foi
divergente do acórdão paradigma.

Imagine a seguinte situação hipotética: João, servidor público federal, ingressou com ação
pedindo o pagamento da gratificação “X”. O Juiz Federal e, depois, o TRF1 entenderam que
João não teria direito à referida gratificação. Contra o acórdão do TRF1, João interpôs recurso
especial, com fundamento no art. 105, III, da CF/88, alegando que a conclusão do TRF1 se
mostra divergente da interpretação dada por outros Tribunais:
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última
instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do
Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: (...)
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro
tribunal.

Decisão monocrática: Chegando o processo no STJ, foi sorteado um Ministro Relator e este,
monocraticamente, negou seguimento ao Resp alegando que o pleito do recorrente era
manifestamente contrário à jurisprudência do STJ. A decisão monocrática foi baseada Súmula
83 do STJ:
Súmula 83-STJ: Não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a
orientação do tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida.

Decisão da 1ª Turma do STJ: Contra a decisão monocrática, João interpôs agravo interno. A 1ª
Turma do STJ negou provimento ao agravo interno e manteve a decisão monocrática dizendo
que o mérito do acórdão impugnado estava em sintonia com o entendimento do STJ.

Embargos de divergência: Contra o acórdão da 1ª Turma do STJ, João apresentou embargos


de divergência argumentando que a 2ª Turma do STJ entende que é devida a gratificação X
para os servidores públicos federais. A União apresentou contrarrazões dizendo que os
embargos de divergência não deveriam ser conhecidos, aplicando-se o raciocínio contido na
súmula 315 do STJ:
Súmula 315-STJ: Não cabem embargos de divergência no âmbito do agravo de
instrumento que não admite recurso especial.

A pergunta que surge é a seguinte: cabem embargos de divergência neste caso?


SIM. Cabem embargos de divergência no âmbito de agravo que não admite
recurso especial com base na Súmula 83/STJ para dizer que, no mérito, o
acórdão impugnado estaria em sintonia com o entendimento firmado por esta
Corte Superior. STJ. 1ª Seção. EAREsp 200.299-PE, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 23/8/2017 (Info 610).

Neste caso, no agravo que manteve a decisão monocrática houve verdadeiro exame do
mérito do recurso especial, tendo o acórdão da 1ª Turma considerado que os servidores
públicos não têm direito à gratificação X.
Os precedentes que deram origem à súmula 315 do STJ referem-se acerca do não cabimento
de embargos de divergência em sede de agravo de instrumento no recurso especial (atual
agravo em recurso especial) quando o acórdão embargado não tivesse examinado o mérito
do recurso especial, limitando-se a obstar o seu seguimento em razão da existência de
óbices de admissibilidade.
Em outras palavras, a súmula 315-STJ aplica-se a situações em que no julgamento do agravo
não se apreciou o mérito do recurso especial. Por outro lado, se o mérito foi examinado, não
é o caso de incidir a súmula, cabendo, portanto, os embargos de divergência.
Desse modo, o óbice da súmula 315-STJ aplica-se apenas naqueles casos em que a parte
quer apresentar embargos de divergência para rediscutir pressupostos de conhecimento do
recurso especial. Isso porque os embargos de divergência têm por finalidade exclusiva a
uniformização da jurisprudência interna do Tribunal quanto à interpretação do direito em
tese, não servindo para discutir o acerto ou desacerto na aplicação das regras formais de
conhecimento do Resp.
Nos casos em que o acórdão embargado nega seguimento ao Resp com base na Súmula 83-
STJ, o que o acórdão faz é examinar o mérito da controvérsia recursal. Logo, repito, tendo
sido examinado o mérito do recurso, é cabível a interposição de embargos de divergência.

34. AÇÃO RESCISÓRIA


34.1. Juiz que não declara, de ofício, prescrição na ação de cobrança não viola literal disposição
de lei para fins de ação rescisória, com base no art. 485, V, CPC/73 (art. 966, V, CPC/15) – (Info 656)

O fato de o magistrado não reconhecer, de ofício, a prescrição não redunda na ofensa à


literalidade do § 5º do art. 219 do CPC/73, a subsidiar ação rescisória, com fulcro no art. 485, V,
CPC/73 (art. 966, V, CPC/15).
STJ. 3ª T. REsp 1749812-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 17/09/2019 (Info 656).
34.2. Não é cabível ação rescisória contra decisão do Presidente do Tribunal proferida em
suspensão de liminar – (Info 654) – IMPORTANTE!!!

Não é cabível ação rescisória contra decisão do Presidente do STJ proferida em Suspensão de
Liminar e de Sentença, mesmo que transitada em julgado.
STJ. Corte Especial. AR 5857-MA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 7/8/19 (Info 654).

34.3. Quando o inciso VII do art. 966 do CPC/2015 fala que é possível o ajuizamento de ação
rescisória com base em “prova nova”, isso abrange também a prova testemunhal – (Info 645) –
IMPORTANTE!!!

O art. 966, VII, do CPC/15 prevê que cabe rescisória quando o autor obtiver, posteriormente ao
trânsito em julgado, “prova nova” cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz,
por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável.
Quando esse inciso VII fala em prova nova, engloba não apenas a prova documental, mas
qualquer outra espécie de prova, inclusive a prova testemunhal.
Assim, no novo ordenamento jurídico processual, qualquer modalidade de prova, inclusive a
testemunhal, é apta a amparar o pedido de desconstituição do julgado rescindendo na ação
rescisória.
STJ. 3ª T. REsp 1770123-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 26/3/19 (Info 645).

34.4. O pedido de rescisão da sentença, em vez do acórdão que a substituiu, não conduz à
impossibilidade jurídica do pedido, constituindo mera irregularidade formal – (Info 639)

O autor da ação rescisória pediu a rescisão da sentença. Ocorre que essa sentença já havia sido
confirmada pelo Tribunal de Justiça em sede de apelação. Logo, a ação rescisória deveria ter
pedido a rescisão do acórdão do TJ. Esse vício, contudo, constitui-se em mera irregularidade
formal, de modo que o Tribunal não deverá extinguir a ação rescisória por impossibilidade
jurídica do pedido, devendo superar o vício e enfrentar o mérito.
Esse entendimento é reforçado atualmente pela previsão do art. 968, §§ 5º e 6º do CPC/15.
STJ. 3ª Turma. REsp 1569948-AM, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 11/12/18 (Info 639).
OBS: Há um julgado antigo do STF no mesmo sentido:
(...) 2. Ação rescisória. Extinção do feito, sem julgamento do mérito, por
impossibilidade jurídica do pedido. 3. Entendimento no sentido de que o autor
pretendia rescindir a sentença, em vez de buscar a desconstituição do acórdão que a
substituiu. 3. Formalismo excessivo que afeta a prestação jurisdicional efetiva. Erro
no pedido que não gera nulidade, nem causa para o não-provimento. (...) STF. 2ª
Turma. RE 395.662 AgR/RS, Rel. Min. Carlos Velloso, Rel. p/ Acórdão Min. Gilmar
Mendes, j. 16/03/2004.

O presente caso foi analisado sob a ótica do CPC/73. A decisão do STJ seria a mesma caso os
fatos tivessem ocorrido sob a égide do CPC/15? SIM. Com maior razão. Isso porque o CPC/2015
adotou o chamado “princípio da primazia da resolução do mérito” e previu uma hipótese
específica de emenda à petição inicial da ação rescisória, destinada justamente ao saneamento
do vício relacionado à inobservância do efeito substitutivo dos recursos. Veja:
Art. 968 (...)
§ 5º Reconhecida a incompetência do tribunal para julgar a ação rescisória, o autor
será intimado para emendar a petição inicial, a fim de adequar o objeto da ação
rescisória, quando a decisão apontada como rescindenda:
I - não tiver apreciado o mérito e não se enquadrar na situação prevista no § 2º do
art. 966;
II - tiver sido substituída por decisão posterior.
§ 6º Na hipótese do § 5º, após a emenda da petição inicial, será permitido ao réu
complementar os fundamentos de defesa, e, em seguida, os autos serão remetidos ao
tribunal competente.

Veja que o CPC/15 permite a emenda da Inicial mesmo que o Tribunal indicado não seja o
competente. Logo, com maior razão, essa previsão poderia ser utilizada no exemplo dado em que
o TJ continuaria competente.

34.5. Se a ação rescisória busca desconstituir também o capítulo dos honorários advocatícios, o
advogado beneficiado na primeira demanda deverá estar no polo passivo da rescisória – (Info 605)
A ação rescisória, quando busca desconstituir sentença condenatória que fixou honorários
advocatícios sucumbenciais, deve ser proposta não apenas contra o titular do crédito principal
formado em juízo, mas também contra o advogado em favor de quem foi fixada a verba
honorária.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.651.057-CE, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 16/5/17 (Info 605).
OBS:
O CPC não traz nenhuma norma expressa tratando sobre a legitimidade passiva para a ação
rescisória. Diante disso, devem incidir as regras normais da legitimidade passiva extraídas da
teoria geral do processo.

Para saber quem deve figurar como réu, é preciso atentar, portanto, para aquele que terá ou
poderá ter seus direitos, concretamente definidos pela sentença rescindenda, afetados pelo
julgamento a ser proferido.

O principal critério a ser considerado é, portanto, o pedido deduzido no juízo rescisório.

Conforme informado pela teoria da asserção, devem estar no polo passivo da demanda todos
aqueles e somente aqueles que possam ser afetados pelo provimento do pedido.

No caso concreto, a ação rescisória busca desconstituir toda a sentença, inclusive na parte que
fixou os honorários advocatícios. Logo, como a decisão da ação rescisória poderá afetar o crédito
do advogado, ele também deverá constar no polo passivo da demanda.

34.6. Figura do revisor na ação rescisória – (Info 603) – IMPORTANTE!!!

Ainda existe a figura do revisor na ação rescisória?


 Nas rescisórias julgadas pelo TJ e TRF: NÃO. O CPC/2015 eliminou, como regra geral,
a figura do revisor em caso de ação rescisória.

 Nas rescisórias julgadas pelo STJ: SIM. Nas ações rescisórias processadas e julgadas
originariamente no STJ, mesmo após o advento do CPC/2015, continua existindo a
figura do revisor. Isso porque existe previsão específica no art. 40, I da Lei nº 8.038/90,
que continua em vigor.
STJ. Corte Especial. AR 5.241-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 5/4/17 (Info 603).
OBS:
Relator: Quando um processo (recurso ou ação de competência originária) chega ao Tribunal (TJ,
TRF, STJ, STF), é sorteado um magistrado (Desembargador ou Ministro) para exercer a função de
relator deste processo. O relator examina o recurso antes dos demais magistrados e elabora um
relatório e um voto que serão levados ao colegiado para que os demais juízes (em sentido amplo)
decidam se concordam ou não com as conclusões do relator. Em tese, os demais magistrados do
Tribunal somente têm conhecimento detalhado do processo quando este é levado a julgamento
pelo relator. Tirando o relator, os demais magistrados não precisam levar um voto escrito para a
sessão de julgamento.

Revisor: O revisor é um outro magistrado, que tem o dever de examinar o processo antes de ele ir
a julgamento e de elaborar um voto escrito sobre o caso. Assim, depois de o relator elaborar seu
relatório, ele o encaminha ao revisor, que irá analisá-lo e, quando tiver terminado de estudar o
processo, irá liberá-lo para julgamento. O art. 551 do CPC/1973 afirmava que era obrigatória a
figura do revisor em três processos que tramitam nos Tribunais: apelação, embargos infringentes e
ação rescisória.

O que fez o CPC/2015? O CPC/15 não mais previu a figura do revisor. Não existe um dispositivo
semelhante ao art. 551 do CPC/73. Diante disso, em regra, não mais existe revisor.

Por que se falou “em regra”? Porque existe uma exceção: continua existindo a figura do revisor no
caso de ações rescisórias julgadas pelo STJ. Isso se deve ao fato de que há um dispositivo expresso
na Lei nº 8.038/90 prevendo o revisor nestes casos. Confira:
Art. 40. Haverá revisão, no Superior Tribunal de Justiça, nos seguintes processos:
I - ação rescisória;

Mas esse art. 40, I, da Lei nº 8.038/90 não foi revogado pelo CPC/2015? NÃO. O CPC/2015
revogou expressamente onze artigos da Lei 8.038/90, dentre os quais não estava o art. 40. Logo,
conclui-se que, quando o legislador quis revogar algum dispositivo da Lei 8.038/90, ele o fez
expressamente. Dessa forma, o CPC/2015 optou por não revogar o art. 40, I, restando mantida a
figura do revisor no caso de ações rescisórias julgadas pelo STJ.

34.7. Não é cabível a propositura de rescisória fundada no art. 485, V, do CPC/1973 com base
em julgados que não sejam de observância obrigatória – (Info 600)

Nos casos em que se admite a relativização da Súmula 343 do STF, não é cabível propositura da
ação rescisória com base em julgados que não sejam de observância obrigatória. Não há como
autorizar a propositura de ação rescisória - medida judicial excepcionalíssima - com base em
julgados que não sejam de observância obrigatória, sob pena de se atribuir eficácia vinculante a
acórdão que, por lei, não o possui.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.655.722-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 14/3/2017 (Info 600).

Obs: prevalece que a Súmula 343 do STF não está mais válida tendo em vista a previsão contida
no art. 966, V, § 5º e no art. 525, § 15 do CPC/2015.
OBS: O presente julgado foi decidido com base no CPC/1973. Irei explicá-lo segundo o Código
passado e, ao final, informarei como o tema ficará com o CPC/2015.

Rescisória por violação à literal disposição de lei: O art. 485 do CPC/1973 previa as hipóteses em
que a ação rescisória era cabível. O inciso V afirmava que era cabível a ação rescisória quando a
sentença de mérito transitada em julgado tivesse violado literal disposição de lei:
Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
(...)
V — violar literal disposição de lei;

Súmula 343 do STF: Não é raro que uma mesma lei gere interpretações completamente diferentes,
inclusive dentro de um único Tribunal.

Imaginemos, por exemplo, que a 1ª Turma do STJ afirme que o art. XX da Lei nº 8.112/90 confere
determinado direito ao servidor. A 2ª Turma do STJ, por sua vez, interpreta o dispositivo de forma
oposta e entende que a Lei não dá esse direito.

O juiz “A” decidiu com base na interpretação dada pela 1ª Turma do STJ e esta sentença transitou
em julgado. Ocorre que, um ano depois, a 1ª Turma modificou seu entendimento, curvando-se à
posição da 2ª Turma.

Nesse caso, seria possível ajuizar ação rescisória contra a sentença proferida pelo juiz “A”
alegando que ela violou literal disposição do art. XX Lei nº 8.112/90? NÃO. A jurisprudência
entende que, se na época em que a sentença rescindenda transitou em julgado havia divergência
jurisprudencial a respeito da interpretação da lei, não se pode dizer que a decisão proferida tenha
tido um vício. Logo, não caberá ação rescisória. Isso está expresso na súmula 343 do STF:
Súmula 343-STF: Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei,
quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação
controvertida nos tribunais.

O raciocínio que inspirou essa súmula é o seguinte: se há nos tribunais divergência sobre um
mesmo preceito normativo, é porque ele comporta mais de uma interpretação, significando que
não se pode qualificar qualquer dessas interpretações, mesmo a que não seja a melhor, como
ofensiva ao teor literal da norma interpretada. Trata-se da chamada “doutrina da tolerância da
razoável interpretação da norma” (Voto do Ministro Teori Zavascki no RE 590809/RS).

Relativização da Súmula 343-STF: A Min. Nancy Andrighi afirma que, em alguns casos, a
jurisprudência do STJ admite a “relativização” da Súmula 343-STF. Para a Ministra, uma situação
de relativização da súmula seria o caso em que, na época em que foi proferido o acórdão, a
divergência já havia cessado e, mesmo assim, o julgado foi em sentido contrário à jurisprudência
dominante.

Exemplificando o que seria, para a Ministra, um caso de “relativização” da súmula : Um acórdão


do TJMT reconheceu que o índice de correção monetária a ser aplicado em determinada situação
deveria ser o BNTf. Esse acórdão transitou em julgado em 2002. Na época, havia divergência nos
Tribunais sobre o indexador a ser aplicado, se seria o BNTf ou o INPC. Tal divergência somente
veio a ser pacificada pelo STJ em abril de 2003, quando o STJ afirmou que seria aplicado o INPC.
Logo, não cabia ação rescisória contra esse julgado do TJMT, com base no art. 485, V, do
CPC/1973, considerando que o acórdão foi prolatado em 2002, ou seja, ANTES da pacificação da
jurisprudência em sentido contrário. Aplica-se, portanto, o raciocínio da Súmula 343 do STF.
Agora vejamos o contrário: Se o acórdão do TJMT tivesse sido proferido em 2004, ou seja, APÓS a
pacificação, nesse caso seria cabível a ação rescisória. Não se aplicaria a Súmula 343 do STF.

Requisito adicional para permitir a ação rescisória: que o acórdão paradigma do STJ tenha
eficácia vinculante: Para a Ministra, mesmo nos casos em que se admite a não aplicação da
Súmula 343-STF, somente será permitida a propositura da ação rescisória com base no art. 485, V,
do CPC/1973 se o entendimento do STJ que foi desrespeitado tiver sido proferido em um acórdão
com eficácia vinculante.

Voltando ao exemplo dado: em abril de 2003, o STJ decidiu que o índice de correção monetária a
ser aplicado deveria ser o INPC. Em 2004, o TJMT decide que o índice de correção monetária
deveria ser o BNTf, ou seja, decidiu em sentido contrário ao STJ. Esse acórdão do TJMT transitou
em julgado. Somente caberá ação rescisória contra o acórdão do TJMT se a decisão do STJ que
pacificou o tema em 2003 tiver eficácia vinculante.

Quando a decisão do STJ tem eficácia vinculante?


 No CPC/1973, possuem eficácia vinculante apenas os recursos especiais decididos pelo
STJ sob a sistemática dos recursos repetitivos (art. 543-C);
 No CPC/2015, possuem eficácia vinculante:
1) Os acórdãos proferidos pelo STJ em incidente de assunção de competência
2) Os acórdãos proferidos pelo STJ em recurso especial repetitivo e
3) A orientação do plenário ou do órgão especial do STJ (art. 927).

Assim, levando em conta este raciocínio, somente caberia ação rescisória contra o acórdão
proferido pelo TJMT se a decisão do STJ de 2003 tivesse sido prolatada em recurso especial
repetitivo.

Tema era controvertido e foi pacificado. CABE AÇÃO RESCISÓRIA?


Se o acórdão contrário à jurisprudência do STJ Se o acórdão contrário à jurisprudência do STJ
foi prolatado ANTES da pacificação: NÃO foi prolatado APÓS a pacificação: CABE a
cabe ação rescisória. ação rescisória.
Aplica-se a Súmula 343 do STF. Não se aplica a Súmula 343 do STF.
A pacificação pelo STJ deve ter ocorrido pela
prolação de julgado de observância
obrigatória (vinculante).

CPC/2015: A maioria da doutrina afirma que a Súmula 343 do STF não está mais válida, tendo em
vista a previsão contida no art. 966, V, § 5º e no art. 525, § 15 do CPC 2015:
Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
V - violar manifestamente norma jurídica; (...)
§ 5º Cabe ação rescisória, com fundamento no inciso V do caput deste artigo, contra
decisão baseada em enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de
casos repetitivos que não tenha considerado a existência de distinção entre a questão
discutida no processo e o padrão decisório que lhe deu fundamento.

Art. 525 (...)


§ 12. Para efeito do disposto no inciso III do § 1º deste artigo, considera-se também
inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou
ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou
fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo
Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição Federal, em
controle de constitucionalidade concentrado ou difuso. (...)
§ 15. Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito em julgado da decisão
exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da
decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal.

Fredie Didier defende que a Súmula 343-STF continua válida em uma hipótese (letra “a” abaixo):
a) Divergência na interpretação do Direito entre Tribunais, sem que existisse, ao tempo da
prolação da decisão rescindenda, precedente vinculante do STF ou STJ (art. 927, CPC) sobre o
tema: não há direito à rescisão, pois não se configura a manifesta violação de norma jurídica.
Aplica-se o n. 343 da súmula do STF.
b) Divergência na interpretação do Direito entre tribunais, sem que existisse, ao tempo da
prolação da decisão rescindenda, precedente vinculante do STF ou STJ (art. 927, CPC) sobre o
tema; após o trânsito em julgado, sobrevém precedente obrigatório do tribunal superior:
observado o prazo da ação rescisória, há direito à rescisão, com base nesse novo precedente, para
concretizar o princípio da unidade do Direito e a igualdade. Note que o § 15 do art. 525,
examinado mais à frente, reforça a tese de que cabe ação rescisória para fazer prevalecer
posicionamento de tribunal superior formado após a coisa julgada.
c) Divergência na interpretação do Direito entre tribunais, havendo, ao tempo da prolação da
decisão rescindenda, precedente vinculante do STF ou do STJ sobre o tema: se a decisão
rescindenda contrariar o precedente vinculante, há direito à rescisão, pois se configura a manifesta
violação de norma jurídica. Violam-se, a um só tempo, a norma do precedente e a norma que
decorre do art. 927, CPC.
d) Divergência na interpretação do Direito entre tribunais, havendo, ao mesmo tempo da
prolação da decisão rescindenda, precedente vinculante do STF ou STJ; após o trânsito em
julgado, sobrevém novo precedente de tribunal superior, alterando o seu entendimento: não há
direito à rescisão, fundado nesse novo precedente, tendo em vista a segurança jurídica, tal como
decidido pelo STF, no RE n. 590.809, rel. Min. Marco Aurélio, j. em 22.10.2014." (DIDIER JR.,
Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 3., 13ª ed.,
Salvador: Juspodivm, 2016, p. 495-496).

34.8. Valor da causa na ação rescisória – (Info 556) – (PGEBA-2014)

É necessário que o autor da ação rescisória atribua um valor à causa?


SIM. A ação rescisória é uma ação e, portanto, o autor, na petição inicial, deverá indicar o valor
da causa.

Qual é o critério para se atribuir o valor da causa na ação rescisória?


Em regra, o valor da causa na ação rescisória deverá ser o mesmo que foi atribuído para a ação
principal (originária), devidamente atualizado monetariamente (valor da causa da ação
originária + correção monetária).
Exceção: é possível que, mesmo o autor tendo indicado o mesmo valor da ação principal, a parte
ré impugne o valor da causa demonstrando que o benefício econômico pretendido na rescisória
está em descompasso com essa fixação (ex: provando que houve uma excepcional valorização
do bem pretendido na ação rescisória). O impugnante deverá demonstrar, com precisão, o valor
correto que entende devido para a ação rescisória, instruindo a inicial da impugnação com os
documentos necessários à comprovação do alegado.
STJ. 2ª Seção. PET 9.892-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/2/2015 (Info 556).

34.9. Prorrogação do termo final do prazo para ajuizamento da ação rescisória – (Info 553) –
IMPORTANTE!!!

Que dia ocorre o trânsito em julgado?


O trânsito em julgado ocorre no dia imediatamente subsequente ao último dia do prazo para o
recurso em tese cabível.

Qual é o termo inicial do prazo de 2 anos da ação rescisória?


O prazo de 2 anos começa a ser contado do exato dia em que ocorre o trânsito em julgado.
O termo "a quo" para o ajuizamento da ação rescisória coincide com a data do trânsito em
julgado da decisão rescindenda.
Dito de outro modo, o prazo decadencial para a propositura de ação rescisória começa a correr
da data do trânsito em julgado da sentença rescindenda, incluindo-se-lhe no cômputo o dia do
começo.

Se o último dia do prazo da rescisória for sábado, domingo ou feriado, haverá prorrogação para o
primeiro dia útil subsequente?
SIM. O termo final do prazo para o ajuizamento da ação rescisória, embora decadencial,
prorroga-se para o primeiro dia útil subsequente se recair em dia de não funcionamento da
secretaria do Juízo competente.
STJ. Corte Especial. REsp 1.112.864-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, Corte Especial, j. 19/11/14
(recurso repetitivo) (Info 553).

34.10. Início do prazo para a ação rescisória em caso de recursos parciais – (Info 547) –
IMPORTANTE!!! - (PGM-São Paulo/SP-2014)

Impugnada parcialmente a sentença, os capítulos não impugnados transitam em julgado desde


logo ou deve-se aguardar o julgamento do recurso quanto ao restante da sentença?
Em outras palavras, o prazo para a ação rescisória se iniciará para cada capítulo ou deve-se
aguardar que não haja mais a possibilidade de se interpor qualquer recurso?
 STJ: deve-se aguardar o julgamento do recurso quanto ao restante da sentença.
Somente quando não for cabível qualquer recurso, terá início o prazo para a ação
rescisória.
 STF e doutrina: os capítulos não impugnados transitam em julgado desde logo. O
prazo da ação rescisória se iniciará para cada capítulo, à medida que ele transitar em
julgado. Assim, o prazo decadencial da ação rescisória, nos casos de existência de
capítulos autônomos, deve ser contado do trânsito em julgado de cada decisão (cada
capítulo).
STJ. Corte Especial. REsp 736.650-MT, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 20/8/14 (Info 546).
STF. 1ª Turma. RE 666589/DF, rel. Min. Marco Aurélio, j. 25/3/2014 (Info 740).

34.11. Análise do inciso V do art. 485, CPC/73 (art. 966, V, CPC/15) – (Info 547) –
IMPORTANTE!!!

O inciso V do art. 485 do CPC 1973 prevê que é cabível a ação rescisória quando a sentença de
mérito transitada em julgado “violar literal disposição de lei” (o art. 966, V, do CPC fala em
"violar manifestamente norma jurídica").
A jurisprudência entende que, se na época em que a sentença rescindenda transitou em julgado
havia divergência jurisprudencial a respeito da interpretação da lei, não se pode dizer que a
decisão proferida tenha tido um vício. Logo, não caberá ação rescisória. Isso está em um
enunciado do STF:
Súmula 343-STF: Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei, quando a
decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos
tribunais.
Imagine o seguinte exemplo: havia divergência na jurisprudência se o índice de correção índice
de correção monetária a ser aplicado em determinada situação deveria ser o BNTf ou o INPC.
Em 2003, o STJ pacificou que o índice seria o INPC.
 Se o acórdão do TJ transitou em julgado em 2002 aplicando o BNTf , não caberá ação
rescisória porque na época havia divergência. Aplica-se a Súmula 343-STJ.
 Se o acórdão do TJ transitou em julgado em 2004 aplicando o BNTf, caberá ação
rescisória porque na época não mais havia divergência. Não se aplica a Súmula 343-
STJ.
STJ. Corte Especial. REsp 736.650-MT, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 20/8/14 (Info 547).
OBS:
Análise do inciso V: O inciso V do art. 485 prevê que é cabível a ação rescisória quando a sentença
de mérito transitada em julgado “violar literal disposição de lei”. Para incidir essa hipótese, a
violação deve se mostrar aberrante, cristalina, observada primo ictu oculi (STJ. 1ª Turma. REsp
1458607/SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 23/10/2014).

Quando o inciso fala em “lei” abrange também as normas constitucionais? SIM. A palavra “lei”,
nesse caso, deverá ser interpretada em sentido amplo, abrangendo lei ordinária, lei complementar,
medida provisória, norma constitucional, decreto, resolução e qualquer outro ato normativo. Se a
sentença violar literal disposição de lei, de norma constitucional ou de qualquer outra norma
jurídica caberá, em tese, ação rescisória.

Se a sentença violar um princípio, caberá ação rescisória? SIM. A jurisprudência do STJ possui
precedentes reconhecendo o cabimento de ação rescisória por conta de violação a princípios. A
doutrina atual considera que o princípio é uma espécie de norma jurídica. Nesse sentido: STJ. 1ª
Turma. REsp 1458607/SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 23/10/2014.

Se a sentença violar literal disposição de súmula (comum ou vinculante), caberá ação rescisória?
NÃO. Não cabe ação rescisória contra violação de súmula. O inciso V não abrange a contrariedade
à súmula porque não se trata de ato normativo. Conforme prevê o art. 485, V, do CPC, a sentença
pode ser rescindida quando violar literal disposição de lei, hipótese que não abrange a contrariedade à
súmula. Logo, não há previsão legislativa para o ajuizamento de ação rescisória sob o argumento
de violação de súmula (STJ. 3ª Seção. AR 4.112-SC, Min. Rel. Marco Aurélio Bellizze, julgada em
28/11/2012).

O raciocínio que inspirou a Súmula 343 do STF é o seguinte: Se há nos tribunais divergência sobre
um mesmo preceito normativo, é porque ele comporta mais de uma interpretação, significando
que não se pode qualificar qualquer dessas interpretações, mesmo a que não seja a melhor, como
ofensiva ao teor literal da norma interpretada. Trata-se da chamada “doutrina da tolerância da
razoável interpretação da norma” (Voto do Ministro Teoria Zavascki no RE 590809/RS).

34.12. Documento que já existia e que não foi juntado pela parte – (Info 522)

Em regra, se a parte já possuía o documento antes da propositura da ação original (o documento


era preexistente), não tendo sido juntado por desídia, não será permitido, em regra, frise-se, que
ajuíze a ação rescisória trazendo esta prova como documento novo.
De forma excepcional, o STJ entendeu que é possível ao tribunal, na ação rescisória, analisar
documento novo para efeito de configuração de início de prova material destinado à
comprovação do exercício de atividade rural, ainda que esse documento seja preexistente à
propositura da ação em que proferida a decisão rescindenda referente à concessão de
aposentadoria rural por idade.
Nesse caso, é irrelevante o fato de o documento apresentado ser preexistente à propositura da
ação originária, pois devem ser consideradas as condições desiguais pelas quais passam os
trabalhadores rurais, adotando-se a solução pro misero.
STJ. 3ª Seção. AR 3.921-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/4/2013 (Info 522).

34.13. AÇÃO RESCISÓRIA E VIOLAÇÃO DE SÚMULA

Não cabe ação rescisória contra violação de súmula. Conforme o art. 485, V, do CPC, a sentença
pode ser rescindida quando violar literal disposição de lei, hipótese que não abrange a
contrariedade à súmula. Assim, não há previsão legislativa para o ajuizamento de ação
rescisória sob o argumento de violação de súmula.
STJ. 3ª Seção. AR 4.112-SC, Min. Rel. Marco Aurélio Bellizze, julgada em 28/11/2012.

35. AÇÃO ANULATÓRIA


35.1. Ação anulatória proposta por particular com o objetivo de anular acordo firmado com
a Fazenda Pública e homologado judicialmente – (Info 581)

No caso em que particular e Fazenda Pública firmaram, sem a participação judicial, acordo
que tenha sido meramente homologado por decisão judicial - a qual, por sua vez, apenas
extinguiu a relação jurídica processual existente entre as partes, sem produzir efeitos sobre
a relação de direito material existente entre elas -, o prazo decadencial para anular o ajuste
por meio de ação ajuizada pelo particular é de 5 anos, contados da data da celebração da
transação, e não da decisão homologatória.
STJ. 2ª T. REsp 866.197-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 18/2/2016 (Info 581).
OBS:
O prazo para a ação anulatória será de 4 anos, nos termos do art. 178 do CC ("Art. 178. É de
quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico,
contado:")? NÃO. O prazo é de 5 anos, com base no art. 1º do Decreto 20.910/32. Em se
tratando de ação anulatória proposta contra a Fazenda Pública, o prazo decadencial é regido
pelo Decreto 20.910/32, prazo este aplicável em relação a todo e qualquer direito ou ação
exercitável contra a Fazenda Pública (federal, estadual ou municipal), seja qual for a sua
natureza. Logo, não é aplicável o prazo previsto no art. 178 do CC (quatro anos), utilizado
apenas quando a Fazenda Pública não ocupa o polo passivo da ação anulatória.

35.2. A decisão judicial homologatória de acordo entre as partes é impugnável por meio de
ação anulatória – (Info 513)

Se a transação celebrada entre as partes foi objeto de homologação judicial por sentença,
os efeitos deste negócio jurídico podem ser afastados mediante a propositura de ação
anulatória, nos termos do art. 966, § 4º, CPC/15 (art. 486, CPC/73). Se a sentença limita-se a
homologar a transação efetuada, não tratando sobre o conteúdo da pactuação, a forma de
desconstituí-la é por meio da ação anulatória.
STJ. 4ª T. AgRg no REsp 1314900-CE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 18/12/12 (Info 513).
OBS:
No mesmo sentido, vejamos recente julgado do STF, veiculado no Info 916:
A decisão judicial homologatória de acordo entre as partes é impugnável por
meio de ação anulatória (art. 966, § 4º, CPC/15; art. 486, CPC/73). Não cabe
ação rescisória neste caso. Se a parte propôs ação rescisória, não é possível que o
Tribunal receba esta demanda como ação anulatória aplicando o princípio da
fungibilidade. Isso porque só se aplica o princípio da fungibilidade para
recursos (e ação anulatória e a ação rescisória não são recursos). STF. Plenário.
AR 2440 AgR/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 19/9/18 (Info 916).

36. LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA


36.1. É possível a utilização de deduções e presunções na apuração de lucros cessantes –
(Info 590)

É possível ao julgador, na fase de liquidação de sentença por arbitramento, acolher as


conclusões periciais fundadas em presunções e deduções para a quantificação do prejuízo
sofrido pelo credor a título de lucros cessantes.
A utilização de presunções não pode ser afastada de plano, uma vez que esta espécie de
prova é utilizada pelo direito processual nacional como forma de facilitação de provas
difíceis, desde que razoáveis.
Na apreciação de lucros cessantes, o julgador não pode se afastar de forma absoluta de
presunções e deduções, porquanto deverá perquirir acerca dos benefícios legítimos que
não foram realizados por culpa da parte ex adversa. Exigir prova absoluta do lucro que não
ocorreu, seria impor ao lesado o ônus de prova impossível (prova diabólica).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.549.467-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 13/9/16 (Info 590).
OBS:
O que é sentença líquida? Segundo posição majoritária, para o CPC, sentença líquida é aquela
que define o quantum debeatur, ou seja, é aquela que fixa exatamente o valor da obrigação
devida.

Sentença deve ser líquida: Em regra, o juiz deverá prolatar a sentença líquida (art. 491). O
CPC prevê, no entanto, duas situações excepcionais em que será autorizado que o magistrado
profira sentença ilíquida. Confira:
 REGRA (art. 491, caput) : na ação de obrigação de pagar quantia, ainda que a parte
tenha formulado pedido genérico, a decisão deverá definir desde logo a extensão da
obrigação ("quanto se deve"), o índice de correção monetária, a taxa de juros, o termo
inicial de ambos e a periodicidade da capitalização dos juros.
 EXCEÇÕES. Em duas situações será permitido que o magistrado deixe de fixar os
parâmetros acima:
a) quando não for possível determinar, de modo definitivo, na sentença, o
montante devido;
b) quando a apuração do valor devido depender da produção de prova de
realização demorada ou excessivamente dispendiosa, assim reconhecida na
sentença.

Ocorrendo um desses dois casos, o valor devido deverá ser apurado por meio de liquidação
de sentença.

O que é a liquidação da sentença? A liquidação da sentença pode ser conceituada como a


etapa do processo que ocorre após a fase de conhecimento e que se destina a descobrir o
valor da obrigação (quantum debeatur) quando não foi possível fixar essa quantia diretamente
na sentença.

Objetivo da liquidação: Descobrir o quantum debeatur e, assim, permitir o cumprimento da


sentença (execução).

Natureza: A liquidação da sentença não gera um processo autônomo. Trata-se apenas de


uma nova fase do processo. Sua natureza é, portanto, de fase procedimental. A liquidação
tem natureza cognitiva, ou seja, trata-se de uma fase de conhecimento, não sendo
considerada como uma fase executiva (execução).

Espécies: O art. 509 do CPC/15 prevê apenas duas espécies de liquidação:

POR ARBITRAMENTO PELO PROCEDIMENTO COMUM


(antiga liquidação por artigos)
Ocorre quando for necessária a realização Ocorre quando for necessário alegar e
de uma PERÍCIA para se descobrir o provar um FATO NOVO para se descobrir
quantum debeatur. o quantum debeatur.

A liquidação por arbitramento deverá ser É utilizada quando forem necessários


feita quando: outros meios de prova para se determinar o
a) o magistrado assim determinar na valor da condenação, além da perícia. Deve-
sentença; se esclarecer que, na liquidação por artigos,
b) as partes convencionarem que será feito também pode ser realizada perícia se esta
dessa forma; for necessária para provar um fato novo. O
c) a natureza do objeto da liquidação exigir critério que a diferencia da liquidação por
que seja feita dessa forma. arbitramento é que na liquidação por
artigos será necessário provar um fato novo.
Requerida a liquidação por arbitramento, o
juiz nomeará o perito e fixará o prazo para Obs.: fato novo é aquele que não tenha sido
que ele entregue o seu laudo. analisado e decidido durante o processo.
Não significa necessariamente que tenha
surgido após a sentença. Novo = ainda não
apreciado no processo.
Prevista no art. 510: Prevista no art. 511:
Art. 510. Na liquidação por arbitramento, o Art. 511. Na liquidação pelo procedimento
juiz intimará as partes para a apresentação comum, o juiz determinará a intimação do
de pareceres ou documentos elucidativos, requerido, na pessoa de seu advogado ou
no prazo que fixar, e, caso não possa decidir da sociedade de advogados a que estiver
de plano, nomeará perito, observando-se, vinculado, para, querendo, apresentar
no que couber, o procedimento da prova contestação no prazo de 15 (quinze) dias,
pericial. observando-se, a seguir, no que couber, o
disposto no Livro I da Parte Especial deste
Código.
Ex.: João estava construindo um prédio, Ex.: Pedro foi vítima de infecção hospitalar.
tendo essa construção causado danos na O juiz condena o hospital a pagar todas as
estrutura do imóvel vizinho. O juiz condena despesas que ele já teve por conta da
João a indenizar o autor da ação. Na fase de moléstia, bem como as que ainda terá após
liquidação, um engenheiro irá fazer um a sentença. Na fase de liquidação da
laudo dos prejuízos causados. sentença, Pedro irá alegar e provar os gastos
que teve após a sentença.

Algumas vezes a sentença traz todos os parâmetros para se encontrar o quantum debeatur,
mas o valor exato da condenação dependerá de alguns cálculos aritméticos (ex: o juiz
condena o réu a pagar 500 mil, acrescidos de multa de 2%, mais juros legais e correção
monetária). Neste caso, será necessária realizar liquidação? NÃO. Quando a apuração do
valor depender apenas de cálculo aritmético, o credor poderá promover, desde logo, o
cumprimento da sentença (§ 2º do art. 509 do CPC). Nestes casos, o próprio credor (com o
auxílio do seu advogado e de programas existentes na internet) elabora os cálculos e, após
eles estarem prontos, apresenta-os em juízo, instaurando-se logo em seguida o cumprimento
de sentença.

Obs: na época do CPC/1973 isso era chamado de liquidação por mero cálculo aritmético
(liquidação por cálculos do credor). O CPC/2015 deixou claro que esses cálculos aritméticos
não são uma terceira espécie de liquidação e que só existem atualmente duas espécies:
liquidação por arbitramento e pelo procedimento comum.

Feita a revisão acima, imagine agora a seguinte situação hipotética: A indústria "AA"
ingressou com ação de indenização contra a empresa "ZZ" por ela ter fornecido moldes
errados, o que fez com que houvesse um paralisação na sua linha de produção. A demanda
foi julgada procedente, tendo a ré sido condenada a pagar:
a) danos emergentes, no valor de R$ 200 mil;
b) lucros cessantes, a serem calculados em liquidação por arbitramento.

Vale ressaltar que quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, o credor
poderá promover simultaneamente:
1) a execução da parte líquida e
2) a liquidação da outra parte (em autos apartados).

Foi o que fez a indústria "AA". Iniciou-se, então, a liquidação por arbitramento. O perito
nomeado pelo juízo calculou que o prejuízo da autora, a título de lucros cessantes, foi de R$
300 mil. O juiz acatou as conclusões da perícia. A empresa devedora, contudo, não concordou
com a decisão do juiz e recorreu alegando que a perícia chegou a esse valor baseada em
presunções e deduções do quanto seria produzido e vendido e que essa metodologia não
poderia ser aplicada na liquidação.

A tese da empresa devedora foi aceita pelo STJ? NÃO. Os argumentos da empresa devedora
não foram acolhidos pelo STJ e a decisão do juiz que acolheu a perícia foi mantida.

37. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA


37.1. A multa de 10% prevista no art. 523, § 1º, do CPC/2015 NÃO entra no cálculo dos
honorários advocatícios – (Info 636) – IMPORTANTE!!!

A base de cálculo sobre a qual incidem os honorários advocatícios devidos em


cumprimento de sentença é o valor da dívida (quantia fixada em sentença ou na
liquidação), acrescido das custas processuais, se houver, sem a inclusão da multa de 10%
pelo descumprimento da obrigação dentro do prazo legal (art. 523, § 1º, do CPC/2015).
A multa de 10% prevista no art. 523, § 1º, do CPC/2015 NÃO entra no cálculo dos
honorários advocatícios. Em outras palavras, a multa de 10% do art. 523, § 1º, do CPC/2015
não integra a base de cálculo dos honorários advocatícios.
Os 10% dos honorários advocatícios deverão incidir apenas sobre o valor do débito
principal.
Assim, por exemplo, em caso de execução de R$ 10.000,00 (dez mil reais), será adicionado
R$ 1.000,00 (mil reais) a título de multa e R$ 1.000,00 (mil reais) de honorários advocatícios.
Portanto, a base de cálculo da multa e dos honorários advocatícios é a mesma, ou seja,
ambos incidem sobre o débito.
Relembre o que diz o § 1º do art. 523: “(...)§ 1º Não ocorrendo pagamento voluntário no
prazo do caput, o débito será acrescido de multa de dez por cento e, também, de honorários
de advogado de dez por cento.”
STJ. 3ª Turma. REsp 1757033-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 9/10/18 (Info 636).
OBS:
Com idêntico raciocínio, confira a seguinte lição doutrinária: “(...) A base de cálculo sobre a
qual incidem os honorários é o valor da dívida, sem a multa de dez por cento, constante do
demonstrativo discriminado e atualizado do crédito, que instrui o requerimento do
exequente.” (DIDIER JR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno;
OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil. Vol. 5. Execução. 8ª ed.
Salvador: JusPodivm, 2018, p. 437)

Pagamento parcial do débito: Ocorrido o pagamento tempestivo, porém parcial, da dívida


executada, incide, à espécie, o § 2º do art. 523 do CPC/15, devendo incidir a multa de dez
por cento e os honorários advocatícios (no mesmo percentual) tão somente sobre o valor
remanescente a ser pago por qualquer dos litisconsortes. STJ. 4ª Turma. REsp 1.693.784/DF,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 28/11/17.

37.2. Qual é o recurso cabível contra o pronunciamento que julga a impugnação ao


cumprimento de sentença? – (Info 630) – IMPORTANTE!!!

Qual é o recurso cabível contra o pronunciamento que julga a impugnação ao


cumprimento de sentença?
• Se o pronunciamento judicial extinguir a execução: será uma sentença e caberá
APELAÇÃO.
• Se o pronunciamento judicial não extinguir a execução: será uma decisão interlocutória e
caberá AGRAVO DE INSTRUMENTO.
Assim, o recurso cabível contra a decisão que acolhe impugnação ao cumprimento de
sentença e extingue a execução é a apelação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.698.344-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 22/5/18 (Info 630).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João foi condenado a pagar R$ 300 mil a Pedro. A
sentença transitou em julgado.
 
O que acontece agora? Pedro terá que ingressar com uma petição em juízo requerendo o
cumprimento da sentença.
 
O início da fase de cumprimento da sentença pode ser feito de ofício pelo juiz? NÃO. O
cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar quantia, provisório ou definitivo,
só pode ser feito a requerimento do exequente (art. 513, § 1º, CPC/15). Cabe ao credor o
exercício de atos para o regular cumprimento da decisão condenatória, especialmente
requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o montante apurado, consoante
demonstrativo discriminado e atualizado do crédito (art. 524, CPC/15). Em outras palavras,
o início da fase de cumprimento da sentença exige um requerimento do credor:
Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e
no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da
sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado
para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se
houver.
 
Pedro requereu, então, o início do cumprimento de sentença. O que o juiz deve fazer? O juiz
deverá determinar a intimação do devedor para pagar a quantia em um prazo máximo de
15 dias. Não ocorrendo pagamento voluntário neste prazo, o débito será acrescido de multa
de 10% e, também, de honorários de advogado de 10% (art. 523, § 1º, CPC/15).
 
Esse prazo de 15 dias, previsto no art. 523 do CPC/15 (art. 475-J, CPC/73), é contado a partir
de quando? Da intimação do devedor para pagar. Não basta que o devedor já tenha sido
intimado anteriormente da sentença que o condenou. Para começar o prazo de 15 dias para
pagamento, é necessária nova intimação. Assim, a multa de 10% depende de nova
intimação prévia do devedor. A forma dessa intimação está prevista no art. 513 do CPC/15
 
Na fase de cumprimento de sentença existe alguma forma de “defesa” do devedor? João
poderá apresentar alguma defesa? SIM. A defesa típica do devedor executado no
cumprimento de sentença é a chamada impugnação.
 
Para que o devedor apresente impugnação, é indispensável a garantia do juízo, ou seja, é
necessário que haja penhora, depósito ou caução? NÃO. A impugnação independe de prévia
garantia do juízo.
 
Qual é o prazo para a apresentação da impugnação? 15 dias. Se for mais de um executado
(litisconsórcio) e eles tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia
distintos, o prazo para impugnação será em dobro, ou seja, 30 dias (art. 525, § 3º).
 
A partir de quando é contado o prazo para que o executado ofereça impugnação? O prazo de
15 dias para impugnação inicia-se imediatamente após acabar o prazo de 15 dias que o
executado tinha para fazer o pagamento voluntário (art. 525, caput). Não é necessária nova
intimação. Acabou um prazo, começa o outro. Nesse sentido:
Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário,
inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente
de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação.
 
Quais as matérias que poderão ser alegadas na impugnação? O executado poderá alegar (art.
525, § 1º do CPC):
1) falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à
revelia;
2) ilegitimidade de parte;
3) inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
4) penhora incorreta ou avaliação errônea;
5) excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;
6) incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;
7) qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento,
novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes à
sentença.
 
Voltando ao nosso exemplo: Na impugnação, ele alegou nulidade da citação e que, na fase de
conhecimento, o processo corréu à sua revelia (art. 525, §1º, I, CPC/15). O juiz julgou
procedente a impugnação e extinguiu a execução (cumprimento de sentença). Pedro
interpôs agravo de instrumento contra esta decisão do magistrado, fundamentando o
recurso no art. 1.015, parágrafo único, do CPC:
Art. 1.015 (...)
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento
de sentença, no processo de execução e no processo de inventário.
 
Agiu corretamente o credor? NÃO. O recurso cabível contra a decisão que julga a impugnação
ao cumprimento de sentença é o seguinte:
1) Se na decisão que julgou a impugnação o juiz não extinguiu a execução: cabe agravo de
instrumento.
2) Se na decisão que julgou a impugnação o juiz extinguiu a execução: cabe apelação.

Desse modo, se quisermos analisar por outro prisma, podemos afirmar o seguinte:
1) Se o juiz rejeita a impugnação: cabe agravo de instrumento (porque a execução irá
prosseguir);
2) Se o juiz acolhe a impugnação, poderá caber agravo de instrumento ou apelação.
2.1) Se o juiz acolhe a impugnação, mas não extingue a execução (ex: apenas reduz o valor
que estava excessivo): caberá agravo de instrumento;
2.2 ) Se o juiz acolhe a impugnação e extingue a execução (ex: falta de citação): caberá
apelação.
 
No caso concreto, o juiz julgou procedente a impugnação e extinguiu o cumprimento de
sentença. Logo, caberia apelação. É como decidiu o STJ:
O recurso cabível da decisão que acolhe impugnação ao cumprimento de
sentença e extingue a execução é a apelação. STJ. 4ª T. REsp 1.698.344-MG, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, j. 22/5/18 (Info 630).
 
Sentença: São dois os critérios utilizados para definir que um pronunciamento jurisdicional é
sentença:
a) tem conteúdo equivalente a uma das situações previstas nos arts. 485 ou 489
do CPC/15; e
b) determina o encerramento de uma das fases do processo (fase de
conhecimento ou de execução).
 
De acordo com o § 1º do art. 203 do CPC/15, a decisão que extingue a execução é uma
sentença:
Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões
interlocutórias e despachos.
§ 1º Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença
é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e
487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a
execução.
 
Agravo de instrumento: É o recurso cabível, em primeiro grau de jurisdição, contra
específicas decisões interlocutórias previstas em lei (art. 1.015 do CPC/2015). O agravo de
instrumento só cabe contra pronunciamentos decisórios que não encerram a fase cognitiva
nem a fase de execução. É um conceito construído por exclusão:
• se a decisão encerra a fase cognitiva ou a execução, esse pronunciamento é uma sentença.
• caso contrário, ou seja, se a decisão não encerra a fase cognitiva ou a execução, estaremos
diante de uma decisão interlocutória.
 
É o que preconiza o art. 203, § 2º do CPC:
Art. 203 (...)
§ 2º Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza decisória
que não se enquadre no § 1º.
37.3. A Súmula 345 do STJ continua válida mesmo com o art. 85, § 7º, do CPC/2015 – (Info
628) – IMPORTANTE!!!

O art. 85, § 7º, do CPC/15 não afasta a aplicação do entendimento consolidado na Súmula
345 do STJ, de modo que são devidos honorários advocatícios nos procedimentos
individuais de cumprimento de sentença decorrente de ação coletiva, ainda que não
impugnados e promovidos em litisconsórcio.
O art. 85, § 7º, do CPC/15 não se aplica para as execuções individuais, ainda que
promovidas em litisconsórcio, pedindo o cumprimento de julgado proferido em sede de
ação coletiva lato sensu, ação civil pública ou ação de classe.
Em resumo, a Súmula 345 do STJ continua válida mesmo com o art. 85, § 7º, do CPC/15.
Súmula 345-STJ: São devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções
individuais de sentença proferida em ações coletivas, ainda que não embargadas.
Art. 85. (...) § 7º Não serão devidos honorários no cumprimento de sentença contra a
Fazenda Pública que enseje expedição de precatório, desde que não tenha sido impugnada.
STJ. Corte Especial. REsp 1648238-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 20/6/18 (recurso
repetitivo) (Info 628).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A associação dos servidores públicos federais do
Ministério da Saúde ajuizou ação coletiva contra a União pedindo que fosse reconhecida e
paga determinada gratificação devida à classe. A ação foi julgada procedente condenando, de
forma genérica, a União a pagar a referida gratificação em favor dos servidores do Ministério
da Saúde. Houve trânsito em julgado. João é servidor público federal do Ministério da Saúde
e filiado à referida associação. Diante disso, ele propôs execução individual cobrando o
pagamento das verbas relacionadas com a aludida gratificação. A União não apresentou
embargos à execução, ou seja, não se opôs ao pagamento dos valores a João.
 
Além do montante principal, a União terá que pagar honorários advocatícios? SIM.
 
Mas a União não embargou... mesmo assim, ela terá que pagar? SIM. Esse é o entendimento
consolidado do STJ. Confira:
Súmula 345-STJ: São devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas
execuções individuais de sentença proferida em ações coletivas, ainda que não
embargadas.
 
Mas e a regra do art. 1º-D da Lei nº 9.494/97...? O art. 1º-D da Lei nº 9.494/97 preconiza o
seguinte:
Art. 1º-D. Não serão devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas
execuções não embargadas.
 
Por que não se aplica a regra do art. 1º-D da Lei nº 9.494/97 para o exemplo acima dado? O
art. 1º-D da Lei nº 9.494/97 não está em confronto com a Súmula 345-STJ? O STJ entende que
a execução INDIVIDUAL destinada à satisfação do direito reconhecido em sentença
condenatória genérica, proferida em ação civil COLETIVA, não é uma “execução comum”.
Isso porque essa execução individual possui uma elevada carga cognitiva, considerando que
nela:
 Além de ser realizada a individualização e a liquidação do valor devido (definição do
quantum debeatur);
 Irá ser decidido se o exequente é ou não o titular do direito material reconhecido na
ação coletiva.
 
Em outras palavras, trata-se de uma execução na qual se irá discutir se o exequente é ou não
titular do crédito, algo que não se debate em uma execução “comum”, “tradicional”. Veja o
que explicava o Min. Teori Zavascki:
“(...) a despeito de ser conhecida como um processo executivo, a ação em que se
busca a satisfação individual do direito declarado em sentença de ação civil
coletiva não é propriamente uma ação de execução típica. As sentenças
proferidas no âmbito das ações coletivas para tutela de direitos individuais
homogêneos, por força de expressa disposição do Código de Defesa do
Consumidor (Lei nº 8.078/1990, art. 95), são condenatórias genéricas. Nelas não
se especifica o valor da condenação nem a identidade dos titulares do direito
subjetivo. A carga condenatória, por isso mesmo, é mais limitada do que a que
decorre das demais sentenças condenatórias. Sobressai nelas a carga de
declaração do dever de indenizar, transferindo-se para a ação de cumprimento
a carga cognitiva relacionada com o direito individual de receber a
indenização. Assim, a ação de cumprimento não se limita, como nas execuções
comuns, à efetivação do pagamento. Nelas se promove, além da
individualização e liquidação do valor devido, se for o caso, o juízo sobre a
titularidade do exequente em relação ao direito material, para somente então se
passar aos atos propriamente executivos.” (trecho de seu voto no STJ AgRg no
REsp. 489348/PR, DJ 01/09/2003).
 
Súmula 345-STJ e art. 1º-D da Lei 9.494/97 convivem, cada um disciplinando uma situação
diferente: Desse modo, é preciso distinguir as duas situações:
 Súmula 345-STJ: aplica-se para as execuções individuais de sentença proferida em
ações coletivas. Nelas serão devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública,
ainda que esta não tenha apresentado embargos à execução;
 Art. 1º-D da Lei nº 9.494/97: destina-se às execuções típicas do Código de Processo
Civil, não se aplicando à peculiar execução da sentença proferida em ação civil
coletiva (STJ. 1ª S. EREsp 475.566/PR, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ 13/9/04).
 
Art. 85, § 7º, do CPC/2015: A polêmica a respeito da validade ou não da Súmula 345-STJ foi
reacendida com o CPC/2015. Isso porque ele trouxe, de forma genérica, a seguinte regra:
Art. 85. (...)
§ 7º Não serão devidos honorários no cumprimento de sentença contra a
Fazenda Pública que enseje expedição de precatório, desde que não tenha sido
impugnada.
 
Em outras palavras, o § 7º disse que se a Fazenda Pública, devedora, não apresentou
impugnação ao cumprimento de sentença, ela não deverá ser condenada a pagar honorários
advocatícios. Diante disso, a doutrina afirmou que a Súmula 345 do STJ teria sido superada.
Nesse sentido: Leonardo da Cunha.
 
O STJ acolheu a posição da doutrina? A Súmula 345 do STJ perdeu validade com a entrada
em vigor do § 7º do art. 85 do CPC/2015? NÃO. O STJ entende que a súmula continua
válida mesmo após o CPC/2015. Confira:
O art. 85, § 7º, do CPC/2015 não afasta a aplicação do entendimento
consolidado na Súmula 345 do STJ, de modo que são devidos honorários
advocatícios nos procedimentos individuais de cumprimento de sentença
decorrente de ação coletiva, ainda que não impugnados e promovidos em
litisconsórcio.
STJ. Corte Especial. REsp 1.648.238-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em
20/06/2018 (recurso repetitivo) (Info 628).
 
Para o STJ, não houve mudança no ordenamento jurídico, uma vez que o art. 85, § 7º, do
CPC/2015 reproduz basicamente o teor normativo contido no art. 1º-D da Lei 9.494/97,
dispositivo que foi analisado quando da edição da súmula. Conforme já explicado, o
procedimento de cumprimento individual de sentença coletiva não pode receber o mesmo
tratamento pertinente a um procedimento de cumprimento comum, uma vez que traz
consigo a discussão de uma nova relação jurídica. A sentença coletiva gera um título judicial
genérico, no qual não estão definidas a certeza e a liquidez do direito de cada titular do
crédito a ser executado, atributos que somente poderiam ser identificados e dimensionados
mediante a propositura de execuções individuais, nas quais seriam expostas as
peculiaridades de cada demandante, o que implica complexidade diferenciada no processo
executório, a qual persiste mesmo que não tenham sido ajuizados embargos à execução.
 
Apenas para que você entenda melhor (não é tecnicamente correto afirmar isso na prova) : na
execução individual (cumprimento individual) de sentença proferida em ação coletiva, o
advogado do exequente (credor) terá mais “trabalho” do que em uma execução comum
(cumprimento comum). Isso porque ele terá que demonstrar que seu cliente tem direito ao
crédito que foi discutido no processo de conhecimento. Assim, como essa comprovação terá
que ser obrigatoriamente feita, são devidos honorários advocatícios mesmo que a Fazenda
Pública não apresente impugnação a esse cumprimento de sentença.

37.4. É incabível a rejeição do seguro garantia judicial pelo exequente, salvo por
insuficiência, defeito formal ou inidoneidade da salvaguarda oferecida – (Info 615)

Dentro do sistema de execução, a fiança bancária e o seguro garantia judicial produzem os


mesmos efeitos jurídicos que o dinheiro para fins de garantir o juízo, não podendo o
exequente rejeitar a indicação, salvo por insuficiência, defeito formal ou inidoneidade da
salvaguarda oferecida.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.691.748-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 7/11/17 (Info 615).

37.5. Termo inicial do prazo para apresentar impugnação em caso de comparecimento


espontâneo logo após a penhora – (Info 601)

No CPC/1973, o termo inicial do prazo para apresentar impugnação ao cumprimento de


sentença era contado a partir da ciência inequívoca do devedor quanto à penhora “on-line”
realizada, não havendo necessidade de sua intimação formal.
STJ. Plenário. EREsp 1.415.522-ES, Rel. Min. Felix Fischer, j. 29/3/2017 (Info 601).

Obs: esse julgado não tem relevância sob a égide do novo CPC.
No CPC/1973, para que o devedor apresentasse impugnação, era indispensável a garantia do
juízo, ou seja, era necessário que houvesse penhora, depósito ou caução. No CPC/2015 isso
acabou e é possível impugnação mesmo sem garantia do juízo.
No CPC/1973, o prazo de 15 dias para impugnação era contado da intimação do auto de
penhora e avaliação. No CPC/2015, o prazo para impugnação inicia-se imediatamente após
acabar o prazo de 15 dias que o executado tinha para fazer o pagamento voluntário (art. 525,
caput). Não é necessária nova intimação. Acabou um prazo, começa o outro. Logo, para fins
de início do prazo da impugnação, não mais interessa o dia em que ocorreu a penhora. Isso
porque a penhora (garantia do juízo) não é mais um requisito para que haja impugnação no
CPC/2015.

37.6. Se o devedor for assistido da Defensoria, o prazo do art. 475-J do CPC/1973 deverá ser
contado em dobro – (Info 594)

Se o devedor for assistido da Defensoria Pública, o prazo do art. 475-J do CPC/1973 deverá
ser contado em dobro, ou seja, o executado terá 30 dias para o débito.
A prerrogativa da contagem em dobro dos prazos tem por objetivo compensar as
peculiares condições enfrentadas pelos profissionais que atuam nos serviços de assistência
judiciária do Estado, que enfrentam deficiências de material, pessoal e grande volume de
processos.
A intimação para o cumprimento da sentença gera ônus para o representante da parte
vencida, que deverá comunicá-la do desfecho desfavorável da demanda e alertá-la de que a
ausência de cumprimento voluntário implica imposição de sanção processual. Logo, deve
ser aplicado o prazo em dobro nesta situação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.261.856-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 22/11/16 (Info 594).
OBS:
Novo CPC: O julgamento acima foi proferido ainda sob a ótica do CPC/1973, considerando
que os fatos ocorreram na vigência do Código passado. Há dúvidas se o entendimento
permanece válido com o novo CPC. Isso porque o art. 513, § 2º, II, do CPC/2015 determina
que se o devedor for assistido da Defensoria Pública, ele deverá ser intimado para cumprir a
sentença por meio de carta com aviso de recebimento. Essa previsão não existia no
CPC/1973.
Assim, em tese, a intimação para cumprimento da sentença não demandaria mais nenhum
ônus para o Defensor Público. Logo, em princípio, não haveria motivo para se aplicar o prazo
em dobro, já que o cumprimento voluntário teria deixado de ser um ato de natureza dúplice
e seria, agora, um ato a ser praticado apenas pela parte. É preciso, no entanto, aguardar para
se ter certeza. Qualquer novidade, você será alertado no site.

37.7. Inexigibilidade de obrigação fundada em lei não recepcionada pela Constituição –


(Info 588)
Ainda que tenha havido o trânsito em julgado, é inexigível a obrigação reconhecida em
sentença com base exclusivamente em lei não recepcionada pela Constituição.
Fundamento: art. 475-L, II e § 1º, do CPC/1973 (art. 525, § 1º, III e § 12 do CPC/2015).
Obs: existe uma inovação trazida pelo CPC/2015 que é importante ser ressaltada e que
geraria solução diferente ao caso concreto apreciado. Para que o devedor possa alegar a
inexigibilidade da obrigação argumentando que o título é baseado em lei incompatível
com a Constituição, exige-se que a decisão do STF seja anterior à formação da coisa
julgada. Se for posterior, a matéria não poderá ser alegada em impugnação, devendo ser
proposta ação rescisória. É isso que se extrai do art. 525, §§ 14 e 15 do CPC/2015.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.531.095-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 9/8/16 (Info 588).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Em 2008, o jornal "XX" publicou uma reportagem
ofensiva à honra de João. O ofendido ajuizou ação contra o periódico, tendo este sido
condenado a:
a) pagar indenização por danos morais, com fundamento no art. 5º, V e X, da CF/88;
b) publicar no jornal a íntegra da sentença condenatória, conforme autorizava o art. 75 da Lei
nº 5.250/67 (Lei de Imprensa):
Art. 75. A publicação da sentença cível ou criminal, transitada em julgado, na
íntegra, será decretada pela autoridade competente, a pedido da parte
prejudicada, em jornal, periódico ou através de órgão de radiodifusão de real
circulação, ou expressão, às expensas da parte vencida ou condenada.

Houve trânsito em julgado. A partir daí João iniciou o cumprimento de sentença,


considerando que o jornal não cumpriu voluntariamente as obrigações impostas.

Lei de imprensa declarada não recepcionada: Ocorre que, em 2009, antes de o jornal cumprir
a obrigação, o STF decidiu que a Lei de Imprensa, em sua inteireza, não foi recepcionada pela
CF/88, sendo, portanto, inválida: STF. Plenário. ADPF 130, Rel. Min. Carlos Britto, julgado
em 30/04/09.

Desse modo, a partir do julgamento do STF, a jurisprudência passou a entender que o art. 75
da Lei de Imprensa é inaplicável (STJ. 3ª Turma. REsp 1297426/RO, Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 03/11/15).

Voltando ao caso concreto: O jornal pagou a indenização. No entanto, diante da decisão do


STF, apresentou impugnação na qual argumentou que não pode mais ser obrigado a publicar
a sentença condenatória porque o título judicial que a obrigava se fundou em dispositivo
legal (art. 75 da Lei de Imprensa) incompatível com a CF/88, sendo, portanto, inexigível
neste ponto.
João refutou a argumentação afirmando que houve trânsito em julgado e que, portanto, isso
não poderia mais ser questionado.

A tese do jornal foi acolhida pelo STJ? SIM.

Lei de Imprensa é inválida desde a promulgação da Constituição: A Lei de Imprensa foi


declarada não recepcionada (ADPF 130). O STF não modulou os efeitos desta decisão. Isso
significa dizer que a citada norma legal deve ser considerada inteiramente inválida desde a
promulgação da CF/88. Daí porque, desde 05/10/88, o art. 75 da Lei de Imprensa não é
válido.

Título foi fundado unicamente na lei inválida: Se o título judicial foi fundado (baseado)
exclusivamente na aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidos pelo STF como
incompatíveis com a Constituição Federal, será permitido o reconhecimento da
inexigibilidade da obrigação na própria fase de execução. Se a sentença tivesse se baseado no
art. 75 da Lei de Imprensa e em outros dispositivos ainda válidos (ex: no Código Civil ou na
CF/88), a obrigação continuaria sendo exigível. No caso concreto, contudo, a sentença, na
parte que condenou o jornal a publicar a decisão na íntegra, foi fundada unicamente
(exclusivamente) no art. 75.

O caso em tela pode ser enquadrado como "inexigibilidade da obrigação"? SIM. Segundo o §
1º do art. 475-L, do CPC/1973 (§ 12 do art. 525 do CPC/2015), considera-se também
inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial quando este for fundado...
 em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo STF; ou
 em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo STF como
incompatível com a CF.
... em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso.

No caso concreto, a aplicação do art. 75 da Lei de Imprensa foi tida como incompatível com a
CF/88 em controle concentrado de constitucionalidade.

Peculiaridade envolvendo o novo CPC: As redações do antigo e do novo CPC são muito
semelhantes. No entanto, existe uma inovação trazida pelo CPC/2015 que é importante ser
ressaltada e que geraria solução diferente ao caso concreto apreciado. Para que o devedor
possa alegar a inexigibilidade da obrigação argumentando que o título é baseado em lei
incompatível com a Constituição, exige-se que a decisão do STF seja anterior à formação da
coisa julgada. Se for posterior, a matéria não poderá ser alegada em impugnação, devendo
ser proposta ação rescisória. É isso que se extrai do art. 525, §§ 14 e 15 do CPC/2015:
Art. 525 (...)
§ 14. A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 12 deve ser anterior
ao trânsito em julgado da decisão exequenda.
§ 15. Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito em julgado da
decisão exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do trânsito
em julgado da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal.

37.8. Impugnação ao cumprimento de sentença e necessidade de garantia do juízo – (Info


573)

Na fase de cumprimento de sentença, não é cabível a apresentação de impugnação fundada


em excesso de execução (art. 475-L, V, do CPC 1973) antes do depósito da quantia devida
(art. 475-J, caput, do CPC 1973); contudo, se mesmo assim ela for apresentada, não haverá
preclusão da faculdade de apresentar nova impugnação a partir da intimação da penhora
realizada nos autos (art. 475-J, §1º, do CPC 1973).
Com o CPC 2015, essa decisão perde relevância, já que não é mais necessária garantia do
juízo para que o executado apresente impugnação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.455.937-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 3/11/15 (Info 573).

37.9. Multa do art. 475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015) em cumprimento de
sentença arbitral – (Info 569)

No âmbito do cumprimento de sentença arbitral condenatória de prestação pecuniária, a


multa de 10% (dez por cento) do artigo 475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015)
deverá incidir se o executado não proceder ao pagamento espontâneo no prazo de 15
(quinze) dias contados da juntada do mandado de citação devidamente cumprido aos autos
(em caso de título executivo contendo quantia líquida) ou da intimação do devedor, na
pessoa de seu advogado, mediante publicação na imprensa oficial (em havendo prévia
liquidação da obrigação certificada pelo juízo arbitral).
STJ. Corte Especial. REsp 1.102.460-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, Corte Especial, julgado em
17/6/2015 (recurso repetitivo) (Info 569).

37.10.Desnecessidade de exaurimento das vias extrajudiciais para a utilização do sistema


RENAJUD – (Info 568)

Para que o exequente requeira do Poder Judiciário a consulta ao RENAJUD sobre a


existência de veículos em nome do executado, é necessário que comprove que tentou
previamente obter essa informação do DETRAN, mas não conseguiu?
NÃO. A utilização do sistema RENAJUD com o propósito de identificar a existência de
veículos penhoráveis em nome do executado não pressupõe a comprovação do insucesso
do exequente na obtenção dessas informações mediante consulta ao DETRAN.
STJ. 3ª T. REsp 1.347.222-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 25/8/2015 (Info 568).
37.11.Requisitos para a imposição da multa prevista no art. 475-J do CPC (art. 523, §1º do
NCPC) no caso de sentença ilíquida – (Info 560) – IMPORTANTE!!! – (PGM-Salvador/BA-
2015)

O art. 475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015) prevê que o devedor será intimado
para pagar a quantia na qual ele foi condenado no prazo de 15 dias. Caso não pague, o
valor da condenação será acrescido de multa de 10%.
A liquidez da obrigação é pressuposto para o pedido de cumprimento de sentença. Assim,
essa multa do art. 475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015) só será imposta se a
obrigação já estiver líquida, ou seja, se houver o valor certo que o devedor deverá pagar.
Se a sentença foi ilíquida, antes de intimar o devedor para pagar sob pena da multa do art.
475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015), será necessário fazer a sua liquidação.
Desse modo, para fins de recurso especial repetitivo, o STJ fixou a seguinte tese:
No caso de sentença ilíquida, para a imposição da multa prevista no art. 475-J do CPC,
revela-se indispensável (i) a prévia liquidação da obrigação; e, após, o acertamento, (ii) a
intimação do devedor, na figura do seu Advogado, para pagar o quantum ao final definido
no prazo de 15 dias.
Em outras palavras, somente após ter certeza do valor devido (liquidação) é que se poderá
intimar o devedor para pagar. Se ele, mesmo depois de intimado, não quitar a dívida no
prazo de 15 dias, aí sim haverá a imposição da multa de 10% do art. 475-J do CPC 1973 (art.
523, § 1º do CPC 2015).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.147.191-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 4/3/2015
(recurso repetitivo) (Info 560).

37.12.Cumprimento de sentença de improcedência de pedido declaratório – (Info 557) –


(DPU-2015)

No caso em que, em ação declaratória de nulidade de notas promissórias, a sentença, ao


reconhecer subsistente a obrigação cambial entre as partes, atestando a existência de
obrigação líquida, certa e exigível, defina a improcedência da ação, o réu poderá pleitear o
cumprimento dessa sentença, independentemente de ter sido formalizado pedido de
satisfação do crédito na contestação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.481.117-PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 3/3/15 (Info 557).

38. IMPUGNAÇÃO EM CUMPRIMENTO DE SENTENÇA


38.1. Petição da impugnação ao cumprimento de sentença por excesso de execução – (Info
540) – IMPORTANTE!!!

Se o devedor apresentar impugnação ao cumprimento de sentença alegando que há


excesso de execução e que o credor está pleiteando quantia superior à que é devida, ele
deverá apontar, na petição da impugnação, a parcela incontroversa do débito, bem como as
incorreções encontradas nos cálculos do credor. Caso não faça isso, o juiz deverá rejeitar
liminarmente a impugnação (§ 2º do art. 475-L), não sendo permitido que o devedor faça a
emenda da inicial da impugnação para corrigir essa falha.
STJ. Corte Especial. REsp 1.387.248-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 7/5/14
(recurso repetitivo) (Info 540).

38.2. Garantia do juízo

Para que o devedor apresente IMPUGNAÇÃO (na fase de cumprimento de sentença) é


necessária a garantia do juízo, ou seja, é indispensável que haja prévia penhora, depósito
ou caução.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.195.929-SP, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 24/4/2012.

39. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE


39.1. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – (Info 534)

Julgada procedente em parte a exceção de pré-executividade, são devidos honorários de


advogado em favor do excipiente/executado na medida do respectivo proveito econômico.
A procedência do incidente de exceção de pré-executividade, ainda que resulte apenas na
extinção parcial da execução ou redução de seu valor, acarreta a condenação na verba
honorária.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.276.956-RS, Rel. Min. Ari Pargendler, j. 4/2/2014 (Info 534).

40. TÍTULOS EXECUTIVOS


40.1. Contrato eletrônico de mútuo com assinatura digital é título executivo extrajudicial –
(Info 627) – IMPORTANTE!!!

O contrato eletrônico de mútuo com assinatura digital pode ser considerado título
executivo extrajudicial.
Neste caso, não será necessária a assinatura de 2 testemunhas, conforme exige o art. 784,
III, do CPC/2015.
Na assinatura digital de contrato eletrônico, uma autoridade certificadora (terceiro
desinteressado) atesta que aquele determinado usuário realmente utilizou aquela
assinatura no documento eletrônico. Como existe esse instrumento de verificação de
autenticidade e presencialidade do contratante, é possível reconhecer esse contrato como
título executivo extrajudicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1495920-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 15/5/18 (Info 627).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João vai até a agência bancária, conversa com o
gerente e toma emprestado R$ 20 mil. Para tomar o dinheiro emprestado, contudo, João teve
que assinar um contrato de mútuo comprometendo-se a devolver o dinheiro em 6 meses,
acrescido de juros e correção monetária. Esse contrato foi assinado por João e por duas
testemunhas.
 
Caso João não pague o empréstimo, esse contrato poderá ser executado? O contrato de
mútuo constitui-se em título executivo extrajudicial? SIM. O contrato de mútuo, desde que
assinado pelo devedor e por 2 testemunhas, constitui-se em título executivo extrajudicial. É
o que prevê o art. 784, III, do CPC/2015:
Art. 784.  São títulos executivos extrajudiciais: (...)
III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas;
 
Algumas informações sobre o papel dessas 2 testemunhas?
 A assinatura das 2 testemunhas é considerada como “requisito extrínseco à
substância do ato”.
 Seu objetivo é o de aferir a existência e a validade do negócio jurídico. O intuito foi o
de permitir que, se houvesse alguma alegação de nulidade do negócio, as
testemunhas pudessem ser ouvidas para certificar a existência ou não de vício na
formação do instrumento, a ocorrência e a veracidade do ato, com isenção e sem
preconceitos.
 Vale ressaltar que as pessoas que assinam são “testemunhas instrumentárias”, ou
seja, elas apenas expressam a regularidade formal do instrumento particular, mas
não precisam saber a respeito do conteúdo do negócio jurídico.
 Em razão disso, a ausência de alguma testemunha ou a sua incapacidade, por si só,
não ensejam a invalidade do contrato ou do documento, mas apenas a inviabilidade
do título para fins de execução, pela ausência de formalidade exigida em lei.
 Assim, em regra, não havendo a assinatura das 2 testemunhas, o contrato continua
sendo válido, mas não poderá ser considerado como título executivo extrajudicial.
 Algumas vezes a parte alega algum “problema” com a assinatura da testemunha,
mas não aponta nenhum vício de consentimento ou falsidade documental. Só alega
algum “vício” da testemunha. Ex: a testemunha do contrato foi o advogado de uma
das partes contratantes. Isso não pode, considerando que a testemunha deverá ser
alguém desinteressado no contrato. No entanto, se a parte alega apenas isso, mas
não questiona a validade do ajuste, este contrato continua sendo título executivo
extrajudicial (STJ. 4ª Turma. REsp 1453949/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 13/06/2017).
 Da mesma forma, ainda que não se consiga ler direito o nome das testemunhas no
contrato, isso é considerado mera irregularidade e não retira a força executiva do
título, salvo se houver alguma alegação de nulidade (STJ. 3ª Turma. AgRg no
AREsp609.407/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/05/2015).
 
Sem a assinatura das 2 testemunhas, é possível que o contrato seja considerado título
executivo extrajudicial?
 Em regra, para que o instrumento particular sirva como título executivo, é necessário
que seja assinado por 2 testemunhas.
 Excepcionalmente, mesmo sem essas duas assinaturas, é possível que o contrato
continue sendo título executivo se houver outras provas que comprovem a avença.
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp800.028/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
02/02/2016.
 
As testemunhas precisam presenciar as partes assinando o contrato? Todo mundo tem que
assinar no mesmo momento? NÃO.
 
Apenas a título de curiosidade: contrato de locação não precisa das 2 testemunhas:
O contrato de locação não precisa estar assinado por 2 testemunhas para servir
como título executivo extrajudicial. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp
970.755/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 21/03/2017.
 
E se esse contrato for eletrônico? Ex: Pedro celebra contrato de mútuo com uma instituição
financeira; ocorre que o negócio é todo feito por meio de uma página na internet; não há
papel; e a assinatura de mutuário também é digital. Esse contrato pode ser considerado
título executivo extrajudicial? SIM. É o que foi decidido no Info 627 do STJ.

Mas sendo o contrato eletrônico, como fica a exigência da assinatura de 2 testemunhas? O


contrato eletrônico, em face de suas particularidades, por regra, tendo em conta a sua
celebração à distância e eletronicamente, não trará a indicação de testemunhas. Isso, contudo,
não afasta a sua executividade, desde que haja outros meios de se comprovar a sua
existência e validade. Um exemplo disso é o contrato eletrônico com assinatura digital
certificada por autoridade certificadora. Assim, se o contrato eletrônico tiver sido submetido
a uma certificação eletrônica, utilizando-se a assinatura digital devidamente aferida por
autoridade certificadora, mostra-se desnecessária a assinatura das testemunhas.
 
Assinatura digital: Para que o contrato eletrônico possa ser considerado como título
executivo, ele precisa ter sido celebrado com assinatura digital cuja autenticidade possa ser
aferida. Existe uma “lei”, ou melhor dizendo, uma medida provisória que vigora com prazo
indeterminado (art. 2º da EC 32/2001) e que regulamenta como deve ser essa assinatura
digital. Trata-se da MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infraestrutura de Chaves Públicas
Brasileira (ICP-Brasil). Veja o que diz a MP:
Art. 1º Fica instituída a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-
Brasil, para garantir a autenticidade, a integridade e a validade jurídica de
documentos em forma eletrônica, das aplicações de suporte e das aplicações
habilitadas que utilizem certificados digitais, bem como a realização de
transações eletrônicas seguras.
 
Art. 10. Consideram-se documentos públicos ou particulares, para todos os fins
legais, os documentos eletrônicos de que trata esta Medida Provisória.
§ 1º As declarações constantes dos documentos em forma eletrônica produzidos
com a utilização de processo de certificação disponibilizado pela ICP-Brasil
presumem-se verdadeiros em relação aos signatários (...)
 
No Brasil, a infraestrutura de chaves públicas é de responsabilidade de uma autarquia
federal, o ITI - Instituto Nacional de Tecnologia da Informação, ligado à Presidência da
República. Assim, para que o contrato possa ser considerado um documento em forma
eletrônica (contrato eletrônico), ele deve ter a sua validade jurídica atestada por meio da
assinatura digital, na forma da MP 2.200-2/2001.
 
Chave pública: Segundo o glossário da ICP-Brasil, assinatura digital é o “código anexado ou
logicamente associado a uma mensagem eletrônica que permite de forma única e exclusiva a
comprovação da autoria de um determinado conjunto de dados (um arquivo, um e-mail ou
uma transação). A assinatura digital comprova que a pessoa criou ou concorda com um
documento assinado digitalmente, como a assinatura de próprio punho comprova a autoria
de um documento escrito. A verificação da origem do dado é feita com a chave pública do
remetente.” Desse modo, a verificação da autenticidade da assinatura digital é realizada
mediante um sistema denominado “chave pública”. A chave pública adota um padrão de
criptografia assimétrico por meio do qual o usuário assina digitalmente o documento e uma
autoridade certificadora atesta (confirma) a identidade do signatário. Apenas para você
entender, é como se essa autoridade certificadora fizesse o papel de um “cartório”
(tabelionato de notas), mas tudo online e em fração de segundos.
 
Autoridade Certificadora: A Autoridade Certificadora é uma entidade que emite, renova ou
revoga certificados digitais.
 
Assinatura eletrônica é o mesmo que assinatura digital? Não. A relação é de gênero e
espécie. A assinatura digital é uma das espécies de assinatura eletrônica. Assinatura digital é
aquela que utiliza um certificado digital, geralmente um token, que foi certificado por uma
autoridade certificadora.

Exemplo de assinatura eletrônica que não é assinatura digital: o indivíduo assina o


documento em um tablet ou celular que tenha tela touchscreen.

40.2. Construcard não é título executivo – (Info 606) – Atenção! Juiz Federal e DPU!

O contrato particular de abertura de crédito a pessoa física visando financiamento para


aquisição de material de construção – Construcard –, ainda que acompanhado de
demonstrativo de débito e nota promissória, não é título executivo extrajudicial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.323.951-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 16/5/17 (Info 606).

40.3. Acordo de reparação de danos feito no bojo da suspensão condicional do processo é


título executivo judicial – (Info 599)

O ato de composição entre denunciado e vítima visando à reparação civil do dano,


embutido na decisão concessiva de suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei nº
9.099/95), é título judicial apto a lastrear eventual execução.
Ex: João foi denunciado pelo crime do art. 129, § 1º, do CP por ter praticado lesão corporal
contra Pedro. Na audiência, o Promotor ofereceu ao réu proposta de suspensão condicional
do processo, exigindo, no entanto, como uma das condições, que ele pagasse, no prazo de
um mês, R$ 20 mil a título de reparação pelos danos sofridos pela vítima (art. 89, § 1º, I). O
réu e seu advogado concordaram com a proposta. A vítima e seu advogado, que também
estavam presentes, igualmente aceitaram o acordo. Diante disso, o juiz homologou a
suspensão condicional do processo e esse acordo que aconteceu no bojo da proposta. Esse
acordo cível de reparação dos danos é título executivo judicial e poderá ser executado caso
o agente não cumpra o que foi combinado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.123.463-DF, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 21/2/2017 (Info 599).
OBS: Decisão que se amolda ao inciso II do art. 515 do CPC: O ato de composição entre
denunciado e vítima visando à reparação civil do dano embutido na decisão concessiva de
suspensão condicional do processo enquadra-se na previsão do art. 515, II, do CPC:
Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo
com os artigos previstos neste Título: (...)
II - a decisão homologatória de autocomposição judicial;

Decisão concessiva de suspensão condicional do processo não faz coisa julgada para fins
penais: Realmente, o STJ entende que a decisão que concede a suspensão condicional do
processo não faz coisa julgada material. Isso, no entanto, vale apenas para efeitos penais.
Assim, quando o STJ afirma que a decisão concessiva de suspensão condicional do processo
não faz coisa julgada, o que ele quer dizer é que esse benefício poderá ser revogado se o
beneficiário incidir nas hipóteses previstas nos §§ 3º e 4º do art. 89 da Lei 9.099/99 durante o
prazo de suspensão determinado. Neste caso, o processo criminal retoma seu curso. Daí se
dizer que a decisão não faz coisa julgada material. Essa constatação, contudo, é restrita ao
aspecto criminal.

Efeitos cíveis não se confundem com os efeitos penais da suspensão condicional do processo :
Por outro lado, o acordo para a composição dos danos aperfeiçoou-se com a concordância do
denunciado, da vítima e a chancela do Juiz. Esse acordo, homologado pelo juiz, enquadra-se
na previsão do art. 515, II, do CPC:
Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo
com os artigos previstos neste Título: (...)
II - a decisão homologatória de autocomposição judicial;

Assim sendo, o referido acordo deve ser considerado como título executivo judicial, nos
termos do art. 515, II, do CPC, visto que seus efeitos cíveis não se confundem com os efeitos
penais da suspensão condicional do processo oferecida pelo Ministério Público e acatada pelo
acusado. Em suma, não há como se confundir o deferimento da suspensão do processo, que
não faz coisa julgada para extinguir a pretensão punitiva do Estado, com a decisão que
homologa o acordo celebrado pelas partes em juízo, passível de execução por constituir-se
título executivo judicial.

Princípios da confiança, da boa fé e da segurança: A vítima compareceu em juízo e aceitou


proposta de acordo para composição de danos. A ata da audiência foi assinada pelo Juiz,
Promotor de Justiça, denunciado, vítima e advogados. A compreensão de que tal ato não
constituiria título cível em favor da vítima e de que caberia a esta propor ação de
conhecimento contra o ofensor vai de encontro aos princípios da confiança, boa fé e da
segurança, uma vez que ela teria sido induzida a crer, por ato praticado em juízo, que tivera
seus direitos resguardados. Por outro lado, o reconhecimento do acordo celebrado entre o
autor do fato e a vítima na audiência em que deferida a suspensão condicional do processo
como título executivo atende ao intuito da Lei dos Juizados Especiais de primar pela
celeridade e concentração dos atos processuais, assim como pela simplificação dos
procedimentos, a fim de incentivar as partes à realização de autocomposição.

40.4. A sentença, qualquer que seja sua natureza, pode ser título executivo judicial, desde
que estabeleça obrigação certa e exigível – (Info 585) – IMPORTANTE!!! RECURSO
REPETITIVO!!! – (PGM-Fortaleza/CE-2017) (TJRO-2019)

A sentença, qualquer que seja sua natureza, de procedência ou improcedência do pedido,


constitui título executivo judicial, desde que estabeleça obrigação de pagar quantia, de
fazer, não fazer ou entregar coisa, admitida sua prévia liquidação e execução nos próprios
autos.
STJ. Corte Especial. REsp 1324152-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 4/5/16 (recurso
repetitivo) (Info 585).
(TJRO-2019-VUNESP): Com relação ao cumprimento de sentença, é correto afirmar que a
sentença, qualquer que seja sua natureza, de procedência ou improcedência do pedido,
constitui título executivo judicial, desde que estabeleça obrigação de pagar quantia, de
fazer, não fazer ou entregar coisa, admitida sua prévia liquidação e execução nos próprios
autos. BL: Info 585, STJ.

(PGM-Fortaleza/CE-2017-CESPE): De acordo com o STJ, a sentença declaratória que


reconheça a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de
entregar coisa constitui título executivo judicial. BL: Info 585, STJ.

OBS:
Observação preliminar: Este julgado foi proferido segundo a ótica do CPC/73. Vou explicar
o que foi decidido e, após, tecerei algumas considerações sobre o CPC 2015.

Títulos executivos judiciais: No CPC/73, os títulos executivos judiciais estavam previstos no


art. 475-N. Dentre eles, destaca-se o inciso I:
Art. 475-N. São títulos executivos judiciais:
I - a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de
obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia;

O STJ, ao analisar o inciso I do art. 475-N do CPC 1973, entendia que a sentença meramente
declaratória era título executivo judicial? Na égide do CPC 1973 era possível a execução de
sentenças meramente declaratórias? SIM. Para o STJ, o art. 475-N, I, do CPC 1973 autorizava
a execução de sentença meramente declaratória, desde que elas possuíssem exigibilidade e
certeza. Confira:
(...) A Lei 11.232/05, ao revogar o art. 584 e inserir o art. 475-N no CPC, acolheu
o entendimento já esposado por esta Corte de que as sentenças de cunho
declaratório podem ter força executiva se presentes os elementos necessários à
execução, como exigibilidade e certeza da relação.(...) STJ. 3ª T. AgRg no REsp
1384913/ES, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 06/08/15.

Exemplo de sentença meramente declaratória que pode ser executada: Empresa “X”
(contribuinte) ajuíza, contra a União, ação para que seja declarado que ela não mantém
relação jurídico-tributária válida com o ente federal, considerando que o tributo cobrado é
inconstitucional. A empresa “X” requer, ainda, a compensação dos valores já pagos relativos
a esse tributo com outros débitos que ela tem com a União. A sentença que julgar procedente
essa demanda, apesar de declaratória, possui conteúdo nitidamente condenatório e, portanto,
poderá ser executada.

O que importa é o conteúdo e não a classificação da sentença: Para analisar se uma sentença
possui ou não exequibilidade, não se deve levar em consideração a natureza da decisão (se
condenatória, constitutiva, meramente declaratória etc.), até mesmo porque estas
classificações são objeto de polêmicas doutrinárias que nunca se resolvem. Assim, para se
examinar se uma sentença possui ou não exequibilidade, o que importa é analisar o
conteúdo da decisão, ou seja, se ela, em seu conteúdo, reconhece que a parte deverá
cumprir uma prestação de dar, fazer, não fazer ou pagar quantia. Se possuir esta
determinação, deve-se considerá-la como título executivo.

Nem toda sentença declaratória é título executivo: Nem toda sentença declaratória possui
eficácia executiva, mas apenas aquelas que, reconhecendo a existência da obrigação,
contenham, em seu bojo, os pressupostos de certeza e exigibilidade. Desse modo, somente
as sentenças declaratórias que forem certas e exigíveis é que podem ser consideradas como
título executivo. Não há problema se a sentença for certa e exigível, mas não for líquida. Isso
porque na ausência de liquidez, a parte poderá fazer a prévia liquidação para, então,
executá-la.

Inutilidade de nova ação judicial se já há uma sentença declaratória: Outro argumento para
se reconhecer exequibilidade para a sentença declaratória está no fato de que seria uma
enorme perda de tempo e de gastos exigir que a parte que já possui em seu favor uma
sentença declaratória fosse obrigada a ingressar com nova ação, desta feita para obter uma
sentença condenatória. Além disso, esta segunda demanda seria inútil, considerando que, se
a primeira sentença já declarou a existência do direito, a nova sentença a ser prolatada não
poderia nem mesmo contrariar esta conclusão, sob pena de ofensa à coisa julgada.

Este entendimento acima explicado permanece com o novo CPC? Compare abaixo a mudança
na redação da previsão do título executivo judicial:
CPC 1973 CPC 2015
Art. 475-N. São títulos executivos judiciais: Art. 515. São títulos executivos judiciais,
I — a sentença proferida no processo civil cujo cumprimento dar-se-á de acordo com
que reconheça a existência de obrigação de os artigos previstos neste Título:
fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar I — as decisões proferidas no processo civil
quantia; que reconheçam a exigibilidade de
obrigação de pagar quantia, de fazer, de
não fazer ou de entregar coisa;

Diante da alteração na redação acima, alguns autores defenderam que a sentença meramente
declaratória não mais seria título executivo judicial. Nesse sentido: BUENO, Cassio
Scarpinella. Novo Código de Processo Civil anotado. São Paulo: Saraiva, p. 640. A doutrina
majoritária, no entanto, está se formando no sentido de que o CPC/15 prevê que a sentença
meramente declaratória é sim título executivo judicial, desde que reconheça a
exigibilidade de uma obrigação. É a conclusão, por exemplo, de Daniel Amorim Assumpção
Neves (NCPC comentado. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 872). No mesmo sentido, o Min. Rel.
Luis Felipe Salomão em determinado trecho de seu voto dá a entender que o entendimento
do STJ proferido neste julgado continua a vigorar com o CPC 2015.
40.5. Natureza jurídica do termo de acordo de parcelamento para fins de execução – (Info
568)

O Termo de Acordo de Parcelamento que tenha sido subscrito pelo devedor e pela Fazenda
Pública deve ser considerado documento público para fins de caracterização de título
executivo extrajudicial, apto à promoção de ação executiva, na forma do art. 585, II, do CPC
1973 (art. 784, II, do CPC 2015).
Ex: João, servidor de um órgão público federal, causou prejuízos ao erário. Foi aberto um
processo administrativo para apurar o dano, que foi orçado em R$ 60 mil. O servidor
aceitou assinar um termo de acordo de parcelamento no qual confessava a dívida e se
comprometia a pagar o débito em 12 prestações. Esse termo de acordo de parcelamento é
considerado título executivo extrajudicial.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.521.531-SE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 25/8/15 (Info 568).

40.6.Contrato de seguro de automóveis não é título executivo extrajudicial – (Info 553) –


IMPORTANTE!!!

A via adequada para cobrar a indenização securitária fundada em contrato de seguro de


automóvel é a ação de conhecimento sob o rito sumário (e não a ação executiva).
Não é possível propor diretamente a execução nesse caso porque o contrato de seguro de
automóvel não se enquadra como título executivo extrajudicial (art. 585 do CPC).
Por outro lado, os contratos de seguro de vida, por serem dotados de liquidez, certeza e
exigibilidade, são títulos executivos extrajudiciais (art. 585, III), podendo ser cobrados por
meio de ação de execução.
STJ. 3ª T. REsp 1.416.786-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 2/12/2014 (Info 553).

40.7. Sentença declaratória pode ser título executivo

A sentença declaratória que traz definição integral da norma jurídica individualizada é


título executivo judicial. Assim, tem eficácia executiva a sentença ou acórdão que
contenha carga condenatória. A sentença proferida no processo civil que reconhece a
existência de dada obrigação de pagar é título executivo hábil a fundar pedido de
cumprimento pelo réu de pagamento pelo autor da dívida reconhecida.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.100.820-SC, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 18/9/2012.

41. PENHORA
41.1. ADJUDICAÇÃO: Forma preferencial de pagamento ao credor. Momento para
requerimento da adjudicação – (Info 583)

Ao analisar o instituto da adjudicação e em especial a sua preferência sobre outras formas de


expropriação e o momento de realizá-la, o STJ enunciou duas conclusões:
I - A adjudicação é forma preferencial de pagamento ao credor, devendo ser assegurada ao
legitimado que oferecer preço não inferior ao da avaliação. Assim, se um dos legitimados
previstos em lei requereu a adjudicação e ofereceu preço não inferior ao da avaliação, não deve
o magistrado indeferir o pedido e determinar a alienação do bem penhorado.
II - A adjudicação poderá ser requerida após resolvidas as questões relativas à avaliação do
bem penhorado e antes de realizada a alienação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.505.399-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 12/4/16 (Info 583).
OBS:
O que acontece com o bem penhorado? Se o bem penhorado for dinheiro, ele é transferido ao
credor, quitando-se a obrigação. Se o bem penhorado for coisa diferente de dinheiro, ele poderá
ser:
a) adjudicado;
b) alienado;
c) concedido em usufruto ao exequente.

Quando acontece uma dessas três situações acima, dizemos que houve a “expropriação”,
conforme previsto no art. 825 do CPC/2015:
Art. 825. A expropriação consiste em:
I - adjudicação;
II - alienação;
III - apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de
outros bens.

Obs: esses incisos estão organizados segundo uma preferência legal. Em outras palavras, se
houver interessados em adjudicar (inciso I), não será necessário fazer a alienação. Se não ocorrer a
adjudicação, deve-se tentar a alienação (inciso II) antes da apropriação de frutos (inciso III).

Adjudicação (inciso I): A adjudicação ocorre quando a propriedade do bem penhorado (móvel ou
imóvel) é transferida para o exequente (ou para um terceiro legitimado a adjudicar), como forma
de pagamento da dívida que está sendo cobrada em juízo. O instituto encontra-se previsto no art.
876 do CPC/2015, cujo caput estabelece:
Art. 876. É lícito ao exequente, oferecendo preço não inferior ao da avaliação,
requerer que lhe sejam adjudicados os bens penhorados.

O caput do art. 876 fala apenas no exequente, mas o § 5º prevê outros legitimados que também
podem adjudicar. Veja:
§ 5º Idêntico direito pode ser exercido por aqueles indicados no art. 889, incisos II a
VIII, pelos credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, pelo cônjuge,
pelo companheiro, pelos descendentes ou pelos ascendentes do executado.

Essa preferência fica clara ao se ler o art. 880 do CPC/2015, que afirma que a alienação somente
ocorrerá se "não efetivada a adjudicação":
Art. 880. Não efetivada a adjudicação, o exequente poderá requerer a alienação por
sua própria iniciativa ou por intermédio de corretor ou leiloeiro público credenciado
perante o órgão judiciário.

A legislação não estabelece expressamente o limite temporal para requerimento da adjudicação,


mas isso pode ser extraído da redação do art. 880 do CPC/2015.

Podemos concluir que o termo inicial para o pedido de adjudicação é a entrega da avaliação.
Tendo o bem sido avaliado, ele já poderá ser adjudicado. Por outro lado, o termo final da
adjudicação é a realização da alienação. Se a coisa já foi alienada (seja por iniciativa particular,
seja por leilão judicial), não é mais permitida a adjudicação.

Imagine que o exequente, em um primeiro momento, não queira adjudicar o bem. Diante disso,
são iniciados os preparativos para a realização da sua alienação. Ocorre que também não se
consegue vender a coisa. O novo CPC prevê, de forma inovadora, que, nesta situação, será
permitido novamente que o exequente (ou algum legitimado) requeira a adjudicação. Veja do que
estou falando:
Art. 878. Frustradas as tentativas de alienação do bem, será reaberta oportunidade
para requerimento de adjudicação, caso em que também se poderá pleitear a
realização de nova avaliação.

Alienação (inciso II): Segundo o art. 879 do CPC 2015, existem duas espécies de alienação do bem:
a) por iniciativa particular: ocorre quando o próprio exequente (ou algum corretor ou leiloeiro
público credenciado) tenta conseguir um comprador para o imóvel, seguindo determinadas regras
impostas pela lei.
b) leilão judicial (eletrônico ou presencial): é a oferta do bem penhorado aos interessados em
adquiri-lo em um evento organizado pelo Estado-juiz.

Observação: No CPC 2015, o que é chamado atualmente de “leilão judicial” era conhecido como
“hasta pública” (expressão do CPC 1973). Assim, no CPC 1973 existiam duas formas de hasta
pública (art. 686, IV):
a) praça, quando a coisa a ser alienada era bem imóvel;
b) leilão, quando a coisa a ser alienada era bem móvel.

O CPC 2015 não repete tais palavras e não mais faz essa distinção. Agora, fala-se em leilão judicial
tanto para bens móveis como imóveis.

Apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros bens (antigo


“usufruto de bem móvel ou imóvel”) (inciso III): No CPC 1973, isso era tratado como sendo
“usufruto de bem móvel ou imóvel”, expressão que era criticada pela doutrina e que, por isso, foi
substituída no novo Código (art. 867, NCPC).
Art. 867. O juiz pode ordenar a penhora de frutos e rendimentos de coisa móvel ou
imóvel quando a considerar mais eficiente para o recebimento do crédito e menos
gravosa ao executado.

Ex: foi penhorado um apartamento do executado, que se encontra alugado a um terceiro; pode o
juiz determinar que o exequente fique recebendo o valor dos aluguéis até que o débito da
execução seja totalmente pago.

41.2. Possibilidade excepcional de penhora sobre honorários advocatícios – (Info 553) –


IMPORTANTE!!!

Os honorários advocatícios (contratuais ou sucumbenciais) são a remuneração do advogado e,


portanto, possuem caráter alimentar. Logo, são, em princípio, impenhoráveis, com base no art.
649, IV, do CPC.
No entanto, o STJ entende que o art. 649, IV, do CPC não pode ser interpretado de forma literal
ou absoluta. Em determinadas circunstâncias é possível a sua relativização.
Assim, se os honorários advocatícios recebidos são exorbitantes e ultrapassam valores que
seriam razoáveis para sustento próprio e de sua família, a verba perde a sua natureza alimentar
(finalidade de sustento) e passa a ser possível a sua penhora, liberando-se apenas uma parte
desse valor para o advogado.
STJ. 2ª T. REsp 1.264.358-SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 25/11/2014 (Info 553).

41.3. Penhora diretamente sobre bens do espólio – (Info 552)

Em ação de execução de dívida contraída pessoalmente pelo autor da herança, a penhora pode
ocorrer diretamente sobre os bens do espólio, em vez de no rosto dos autos do inventário.
STJ. 3ª T. REsp 1.318.506-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 18/11/2014 (Info 552).

41.4. PENHORA SOBRE FATURAMENTO

É possível, em caráter excepcional, que a penhora recaia sobre o faturamento da empresa, desde
que o percentual fixado não torne inviável o exercício da atividade empresarial. Não há
violação ao princípio da menor onerosidade para o devedor, previsto no art. 620 do CPC 1973
(art. 805 do CPC 2015).
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 242970-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 13/11/12.
OBS: A penhora sobre o faturamento ou renda da sociedade empresária é prevista no CPC e
admitida pelo STJ (art. 655, VII, do CPC/1973) (art. 835, X, do CPC/2015). Entretanto, para que a
penhora sobre faturamento de empresa seja deferida é necessário que se cumpram três requisitos
(STJ. Ag 1380194/SC):
a) que o devedor não possua bens ou, se os tiver, sejam esses de difícil execução ou
insuficientes a saldar o crédito demandado;
b) que seja promovida a nomeação de administrador e que se apresente plano de
pagamento;
c) que o percentual fixado sobre o faturamento não torne inviável o exercício da
atividade empresarial.

42. ARREMATAÇÃO
42.1. Arrematação de bem imóvel mediante pagamento em prestações – (Info 569)

Na segunda praça (CPC 1973) ou no segundo leilão (CPC 2015), o bem poderá ser alienado por
valor inferior ao da avaliação?
1) CPC 1973:
REGRA: SIM. Nesta segunda praça, o bem poderá ser arrematado por preço inferior ao da
avaliação, desde que não seja vil (art. 692 do CPC). Vil = algo de pouco valor, insignificante.
O CPC 1973 não conceituava o que era preço "vil", cabendo essa tarefa à jurisprudência.
EXCEÇÃO: no CPC 1973, havia uma exceção a essa regra. Se o licitante propusesse arrematar o
bem, pagando em prestações (parceladamente), então, neste caso, o valor pago não poderia ser
inferior à avaliação mesmo que fosse a segunda praça (art. 690, § 1º).

2) CPC 2015:
SIM. No CPC 2015, o juiz deverá fixar no edital: o valor de avaliação e o preço mínimo.
O bem pode ser arrematado por preço inferior ao da avaliação já no primeiro leilão. O que não
pode acontecer é o bem ser vendido por valor inferior ao preço mínimo.
Se for realizado um segundo leilão (por ausência de interessados no primeiro), a situação
continua a mesma: o bem poderá ser alienado por valor inferior ao da avaliação, mas não
poderá ser alienado por valor inferior ao preço mínimo.
Assim, a única restrição imposta (tanto na primeira tentativa de leilão, como na segunda) é que
o bem não poderá ser arrematado por preço VIL (art. 891 do CPC 2015).
O CPC 2015 conceitua o que é "vil". Será considerado vil (muito baixo e, portanto, proibido):
• O valor abaixo do preço mínimo fixado pelo juiz; ou
• Se o juiz não fixou preço mínimo, será considerado vil o valor abaixo de 50% da avaliação.
No CPC 2015, mesmo que o alienante proponha pagar em prestações, ainda assim o valor do
bem poderá ser inferior ao da avaliação, desde que não seja vil (art. 895, II).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.340.965-MG, Rel. Min. Raul Araújo, j. 3/9/15 (Info 569).

43. EXECUÇÃO
43.1. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA: Não se pode alterar o índice de correção monetária
fixado na sentença transitada em julgado mesmo que o STF tenha declarado tal índice
inconstitucional posteriormente à sentença – (Info 676) – IMPORTANTE!!!

Na fase de cumprimento de sentença não se pode alterar os critérios de atualização dos cálculos
estabelecidos na decisão transitada em julgado, ainda que para adequá-los ao entendimento do
STF firmado em repercussão geral.
Sem que a decisão acobertada pela coisa julgada tenha sido desconstituída, não é cabível ao
juízo da fase de cumprimento de sentença alterar os parâmetros estabelecidos no título judicial,
ainda que no intuito de adequá-los à decisão vinculante do STF.
STJ. 2ª T. REsp 1861550-DF, Rel. Min. Og Fernandes, j. 16/06/20 (Info 676).

43.2. PENHORA: São penhoráveis as verbas recebidas por escola de samba a título de parceria
público-privada com a administração pública – (Info 660)

São penhoráveis as verbas recebidas por escola de samba a título de parceria público-privada
com a administração pública. A situação NÃO se enquadra na hipótese do art. 833, IX, do CPC:
Art. 833. São impenhoráveis:(...) IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas
para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social;
STJ. 3ª T. REsp 1816095-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 05/11/19 (Info 660).

43.3. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA: A sentença foi prolatada e transitou em julgado


quando ainda vigorava o CPC/13; ocorre que o cumprimento de sentença foi iniciado quando já
estava em vigor o CPC/15; neste caso, esse cumprimento de sentença será regido pelo CPC/15 –
(Info 660)

É aplicável o CPC/15 ao cumprimento de sentença, iniciado sob sua vigência, ainda que a
sentença exequenda tenha sido proferida sob a égide do CPC/73.
STJ. 2ª T. REsp 1815762-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 05/11/2019 (Info 660).

43.4. NOÇÕES GERAIS: A prescrição intercorrente por ausência de localização de bens não
retira o princípio da causalidade em desfavor do devedor, nem atrai a sucumbência para o
exequente – (Info 646 e Info 660)

Declarada a prescrição intercorrente por ausência de localização de bens, incabível a fixação de


verba honorária em favor do executado.
Por força dos princípios da efetividade do processo, da boa-fé processual e da cooperação, não
pode o devedor se beneficiar do não-cumprimento de sua obrigação.
O fato de o exequente não localizar bens do devedor não pode significar mais uma penalidade
contra ele considerando que, embora tenha vencido a fase de conhecimento, não terá êxito
prático com o processo.
Do contrário, o devedor que não apresentou bens suficientes ao cumprimento da obrigação
ainda sairia vitorioso na lide, fazendo jus à verba honorária em prol de sua defesa, o que se
revelaria teratológico, absurdo, aberrante.
Há situações em que, mesmo não sucumbindo no plano do direito material, a parte vitoriosa é
considerada como geradora das causas que produziram o processo e todas as despesas a ele
inerentes.
Assim, a responsabilidade pelo pagamento de honorários e custas deve ser fixada com base no
princípio da causalidade, segundo o qual a parte que deu causa à instauração do processo deve
suportar as despesas dele decorrentes. No entanto, nos casos de execução extinta pela prescrição
intercorrente, o princípio da causalidade incide, portanto, em desfavor do executado. Isso
porque foi ele (devedor) quem deu causa à instauração da execução ao não efetuar o pagamento
de forma espontânea.
STJ. 3ª T. REsp 1835174-MS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 05/11/19 (Info 660).
STJ. 4ª T. REsp 1769201/SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 12/3/19 (Info 646).
STJ. 2ª S. REsp 957.460/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 18/02/20.

43.5. ARREMATAÇÃO: O arrematante do bem é o responsável pelo pagamento da comissão


do leiloeiro, não podendo essa obrigação ser imputada àquele que ofertou a segunda melhor
proposta, porque o vencedor desistiu da arrematação – (Info 656)

O arrematante do bem é o responsável pelo pagamento da comissão do leiloeiro, não podendo


essa obrigação ser imputada àquele que ofertou a segunda melhor proposta, porque o vencedor
desistiu da arrematação.
STJ. 3ª T. REsp 1826273-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 10/09/19 (Info 656).

43.6. EMBARGOS À EXECUÇÃO: A protocolização dos embargos à execução nos autos da


própria ação executiva constitui vício sanável – (Info 656)

Os embargos à execução deverão ser propostos nos próprios autos da execução ou em autos
apartados? Em autos apartados. É o que diz expressamente o § 1º do art. 914 do CPC/2015:
Art. 914 (...)§ 1º Os embargos à execução serão distribuídos por dependência, autuados em
apartado e instruídos com cópias das peças processuais relevantes, que poderão ser declaradas
autênticas pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal.
Se o embargante (executado) apresenta, de forma incorreta, os embargos à execução nos
próprios autos da execução, o juiz não deverá rejeitar liminarmente esses embargos.
O magistrado deverá conceder prazo para que a parte faça o desentranhamento dos embargos e
promova a sua distribuição em autos apartados, por dependência. Isso porque a propositura
dos embargos à execução nos próprios autos da execução configura vício sanável, que pode ser,
portanto, corrigido.
STJ. 3ª T. REsp 1807228-RO, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 03/09/2019 (Info 656).

43.7. PENHORA: A quota-parte do coproprietário ou cônjuge alheio à execução recairá sobre o


produto da avaliação do bem indivisível – (Info 655)

Imagine que um determinado imóvel indivisível pertença a duas pessoas. Uma delas está sendo
executada e a outra não tem nenhuma relação com essa dívida cobrada.
Esse bem é penhorado. Esse imóvel poderá ser alienado, no entanto, depois de vendido deverá
ser entregue ao coproprietário não responsável o valor de sua quota-parte. É o que prevê o
caput do art. 843 do CPC/2015:
Art. 843. Tratando-se de penhora de bem indivisível, o equivalente à quota-parte do
coproprietário ou do cônjuge alheio à execução recairá sobre o produto da alienação do bem.
Vale ressaltar, no entanto, que o bem indivisível somente poderá ser alienado se o valor de
alienação for suficiente para assegurar ao coproprietário não responsável 50% do valor de
avaliação do bem:
Art. 843 (...) § 2º Não será levada a efeito expropriação por preço inferior ao da avaliação na qual
o valor auferido seja incapaz de garantir, ao coproprietário ou ao cônjuge alheio à execução, o
correspondente à sua quota-parte calculado sobre o valor da avaliação.
STJ. 3ª T. REsp 1728086-MS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 27/8/19 (Info 655).

43.8. NOÇÕES GERAIS: A desistência da execução por falta de bens penhoráveis não enseja a
condenação do exequente em honorários advocatícios – (Info 653)

A desistência da execução pelo credor motivada pela ausência de bens do devedor passíveis de
penhora, em razão dos ditames da causalidade, não enseja a condenação do exequente em
honorários advocatícios. Nesse caso, a desistência é motivada por causa superveniente que não
pode ser imputada ao credor.
Ex: Pedro foi condenado a pagar R$ 100 mil em favor de João. O credor ingressou com
cumprimento de sentença. O devedor não pagou espontaneamente o débito. Não foram
localizados bens penhoráveis de Pedro. Diante disso, o credor requereu a desistência da
execução. O juiz irá homologar o pedido de desistência, julgando extinto o feito sem resolução
do mérito (art. 485, VIII, do CPC/15) e não condenará o credor ao pagamento de honorários
advocatícios.
STJ. 4ª T. REsp 1675741-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 11/06/19 (Info 653).
43.9. NOÇÕES GERAIS: Na execução para cobrança das cotas condominiais, o exequente pode
pedir a cobrança não apenas das parcelas vencidas como também das vincendas, ou seja, daquelas
que forem vencendo no curso do processo – (Info 653) – IMPORTANTE!!!

Segundo as regras do CPC/15, é possível a inclusão em ação de execução de cotas condominiais


das parcelas vincendas no débito exequendo, até o cumprimento integral da obrigação no curso
do processo.
Isso porque é possível aplicar o art. 323 do CPC/15 ao processo de execução (art. 318, § único e
art. 771, § único).
Art. 323. Na ação que tiver por objeto cumprimento de obrigação em prestações sucessivas,
essas serão consideradas incluídas no pedido, independentemente de declaração expressa do
autor, e serão incluídas na condenação, enquanto durar a obrigação, se o devedor, no curso do
processo, deixar de pagá-las ou de consigná-las.
STJ. 3ª T. REsp 1756791-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 6/8/19 (Info 653).

43.10. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA: O prazo para cumprimento voluntário de sentença


deverá ser computado em dias úteis – (Info 652) – IMPORTANTE!!!

O prazo previsto no art. 523, caput, do CPC, para o cumprimento voluntário da obrigação,
possui natureza processual, devendo ser contado em dias úteis.
STJ. 3ª T. REsp 1.708.348-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 25/6/19 (Info 652).

No mesmo sentido, ou seja, de que se trata de prazo processual, veja:


O prazo comum para cumprimento voluntário de sentença deverá ser computado em dobro no
caso de litisconsortes com procuradores distintos, em autos físicos.
STJ. 4ª T. REsp 1693784-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 28/11/2017 (Info 619).

43.11. EMBARGOS À EXECUÇÃO: A oposição de embargos do devedor por aquele que


recorreu contra a decisão que incluiu seu nome no polo passivo da execução não representa prática
de ato incompatível com a vontade de recorrer – (Info 652)

Não configura ato incompatível com a vontade de recorrer a oposição de embargos do devedor
pela parte que recorreu contra decisão que incluiu seu nome no polo passivo da execução.
STJ. 3ª T. REsp 1655655-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 25/6/19 (Info 652).

43.12. PENHORA: É possível a penhora no rosto dos autos de procedimento de arbitragem –


(Info 648) – IMPORTANTE!!!

É possível a penhora no rosto dos autos de procedimento de arbitragem para garantir o


pagamento de dívida cobrada em execução judicial.
A penhora no rosto dos autos consiste apenas numa averbação, cuja finalidade é atingida no
exato momento em que o devedor do executado toma ciência de que o pagamento - ou parte
dele - deverá, quando realizado, ser dirigido ao credor deste, sob pena de responder pela
dívida, nos termos do art. 312 do Código Civil.
Assim, é possível aplicar a regra do art. 860 do CPC, ao procedimento de arbitragem, a fim de
permitir que o juiz oficie o árbitro para que este faça constar em sua decisão final, acaso
favorável ao executado, a existência da ordem judicial de expropriação.
Ex: a empresa “A” ajuizou execução de título extrajudicial contra a empresa “B”; a exequente
sabia que a empresa “B” estava em procedimento de arbitragem com a empresa “C” discutindo
um contrato; diante disso, a exequente pediu e o juiz decretou a penhora dos direitos, bens e
valores que a empresa “B” eventualmente venha a receber caso seja vencedora no procedimento
arbitral; assim, se a empresa “C” perder a arbitragem ela irá pagar os valores não para a
empresa “B”, mas sim para a empresa “A”.
STJ. 3ª T. REsp 1.678.224-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 7/5/19 (Info 648).

43.13. EMBARGOS À EXECUÇÃO: É possível a cumulação da verba honorária fixada nos


embargos à execução com a arbitrada na própria execução contra a Fazenda Pública, vedada a
compensação entre ambas – (Info 643) – IMPORTANTE!!! – RECURSO REPETITIVO!!!

Os embargos do devedor são ação de conhecimento incidental à execução, razão porque os


honorários advocatícios podem ser fixados em cada uma das duas ações, de forma
relativamente autônoma, respeitando-se os limites de repercussão recíproca entre elas, desde
que a cumulação da verba honorária não exceda o limite máximo previsto no § 3º do art. 20 do
CPC/1973.
STJ. Corte Especial. REsp 1520710-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 18/12/18 (recurso
repetitivo) (Info 643).

Inexiste reciprocidade das obrigações ou de bilateralidade de créditos (pressupostos do


instituto da compensação, art. 368 do Código Civil), o que implica a impossibilidade de se
compensarem os honorários fixados em embargos à execução com aqueles fixados na própria
ação de execução.
STJ. Corte Especial. REsp 1520710-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 18/12/18 (recurso
repetitivo) (Info 643).
OBS:
CPC/2015: Vale ressaltar que o tema acima foi debatido sob a égide do CPC/1973, não se podendo
afirmar, com certeza, qual seria a solução caso a situação já envolvesse o novo CPC.

43.14. ASTREINTES: A Súmula 410 do STJ continuou válida mesmo após a edição das Leis
11.232/05 e 11.382/06 e mesmo depois que entrou em vigor o CPC/15 – (Info 643) –
IMPORTANTE!!!

É necessária a prévia intimação pessoal do devedor para a cobrança de multa pelo


descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer antes e após a edição das Leis 11.232/05 e
11.382/06, nos termos da Súmula n. 410 do STJ.
Súmula 410-STJ: A prévia intimação pessoal do devedor constitui condição necessária para a
cobrança de multa pelo descumprimento da obrigação de fazer ou não fazer.
STJ. Corte Especial. EREsp 1360577-MG, Rel. Min. Humberto Martins, Rel. Acd. Min. Luis Felipe
Salomão, j. 19/12/18 (Info 643).
OBS:
• Obrigação de pagar quantia certa: a intimação é feita na pessoa do advogado.

• Obrigação de fazer, não fazer e entregar coisa: a intimação deve ser pessoal.

43.15. O agravo de instrumento não pode ser utilizado como meio de impugnação de toda e
qualquer decisão interlocutória proferida no processo de execução – (Info 638)

Não cabe agravo de instrumento contra decisão do juiz que determina a elaboração dos cálculos
judiciais e estabelece os parâmetros de sua realização.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.700.305-PB, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 25/9/18 (Info 638).

43.16. Análise da impenhorabilidade prevista no art. 649, IV do CPC/1973 (art. 833, IV, do
CPC/2015) – (Info 635) – IMPORTANTE!!!

O art. 649, IV, do CP/1973 previa que as verbas de natureza salarial do executado eram
impenhoráveis.
O § 2º do art. 649 previa uma exceção explícita e dizia que era possível a penhora da verba
salarial do devedor para pagamento de prestação alimentícia.
O STJ, interpretando esse dispositivo, afirmou que é possível a penhora das verbas salariais do
devedor para pagamento de outras dívidas, além da prestação alimentícia, desde que essa
penhora preserve um valor que seja suficiente para o devedor e sua família continuarem
vivendo com dignidade.
Nas palavras do STJ: a regra geral da impenhorabilidade de salários, vencimentos, proventos
etc. do devedor (art. 649, IV, do CPC/1973) (art. 833, IV, do CPC/2015), também pode ser
excepcionada quando for preservado percentual de tais verbas capaz de dar guarida à
dignidade do devedor e de sua família.
Ex: Flávio recebe salário de R$ 30 mil por mês. Ricardo ajuizou execução contra Flávio. O juiz
determinou a penhora de 30% do salário de Flávio, todos os meses, até que a dívida que está
sendo executada seja paga. O STJ entendeu que essa penhora é válida e que não violou o art.
649, IV, do CPC/1973.
STJ. Corte Especial. EREsp 1582475-MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 3/10/18 (Info 635).
OBS: Vale ressaltar que o precedente acima foi proferido tomando-se como base o CPC/1973.
Penso, contudo, que é perfeitamente possível aplicar o mesmo entendimento para o art. 833, IV,
do CPC/2015, até mesmo porque a redação do § 2º do art. 833 é mais abrangente, conforme já
vimos.

43.17. Possibilidade de o juízo da execução cível determinar penhora no rosto dos autos de
crédito da execução trabalhista caso o reclamante tenha falecido – (Info 634)
É possível a penhora, determinada por juízo da execução cível, no rosto dos autos de execução
trabalhista de reclamante falecido, devendo a análise da qualidade do crédito e sua eventual
impenhorabilidade ser feita pelo juízo do inventário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1678209-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 2/10/18 (Info 634).
OBS:
O que é a penhora no rosto dos autos? A penhora no rosto dos autos é aquela que recai sobre um
eventual direito do executado que ainda está sendo discutido em outro processo judicial. Em
outras palavras, o executado do processo 1 está pleiteando um crédito no processo 2. Logo, o juiz
do processo 1 pode determinar a penhora no rosto dos autos deste crédito do processo 2. Ex:
Antônio está executando Ricardo no processo 1. Ocorre que Ricardo está pleiteando um crédito
contra Maria em um outro feito (processo2). O juiz poderá determinar a penhora no rosto dos
autos do crédito pleiteado no processo 2.

A penhora no rosto dos autos é disciplinada pelo art. 860 do CPC:


Art. 860. Quando o direito estiver sendo pleiteado em juízo, a penhora que recair
sobre ele será averbada, com destaque, nos autos pertinentes ao direito e na ação
correspondente à penhora, a fim de que esta seja efetivada nos bens que forem
adjudicados ou que vierem a caber ao executado.

Segundo Daniel Assumpção Neves, “essa espécie de penhora se presta a dar ciência ao juízo da
demanda em que se discute o direito, evitando-se a entrega do produto de alienação de bem
penhorado diretamente ao vencedor da ação, considerando-se que esse crédito já está
penhorado em outra demanda judicial.” (Novo CPC comentado. Salvador: Juspodivm, 2017, p.
1366). Essa expressão “no rosto dos autos” era mencionada expressamente pelo art. 674 do
CPC/1973, mas não foi repetida pelo art. 860 do CPC/2015. Apesar disso, essa nomenclatura
continua a ser utilizada pela doutrina e jurisprudência.

43.18. Análise de habeas corpus impetrado contra decisão do juiz que, na execução de título
extrajudicial, determinou a suspensão do passaporte e da CNH do executado – (Info 631) –
IMPORTANTE!!!

Cabe habeas corpus para impugnar decisão judicial que determinou a retenção de passaporte.
Em regra, não se admite a utilização de habeas corpus como substituto de recurso próprio, ou
seja, se cabia um recurso para impugnar a decisão, não se pode aceitar que a parte prejudicada
impetre um HC.
Exceção: se, no caso concreto, a decisão impugnada for flagrantemente ilegal, gerando prejuízo
à liberdade do paciente, o Tribunal deverá conceder o habeas corpus de ofício.
O acautelamento de passaporte é medida que limita a liberdade de locomoção, razão pela qual
pode, no caso concreto, significar constrangimento ilegal e arbitrário, sendo o habeas corpus via
processual adequada para essa análise. Isso vale não apenas para decisões criminais como
também cíveis.
STJ. 4ª Turma. RHC 97876-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 5/6/18 (Info 631).

Não cabe habeas corpus para impugnar decisão judicial que determinou a suspensão de CNH.
A suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) não configura ameaça ao direito de ir e
vir do titular. Isso porque mesmo com a decretação da medida, o sujeito continua com a
liberdade de ir e vir, para todo e qualquer lugar, desde que não o faça como condutor do
veículo.
Logo, não cabe habeas corpus contra decisão que determina a apreensão de CNH.
STJ. 4ª Turma. RHC 97876-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 5/6/18 (Info 631).
STJ. 5ª Turma. HC 383225/MG, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 4/5/17.

É ilegal medida coercitiva de retenção do passaporte em decisão não fundamentada e que não
observou o contraditório, proferida no bojo de execução por título extrajudicial
Revela-se ilegal e arbitrária a medida coercitiva de suspensão do passaporte proferida no bojo
de execução por título extrajudicial (duplicata de prestação de serviço), por restringir direito
fundamental de ir e vir de forma desproporcional e não razoável. Não tendo sido demonstrado
o esgotamento dos meios tradicionais de satisfação, a medida não se comprova necessária.
Para que o julgador se utilize de meios executivos atípicos, a decisão deve ser fundamentada e
sujeita ao contraditório, demonstrando-se a excepcionalidade da medida adotada em razão da
ineficácia dos meios executivos típicos, sob pena de configurar-se como sanção processual.
Vale ressaltar que o juiz até poderá, eventualmente, decretar a retenção do passaporte do
executado desde que:
• seja obedecido o contraditório e
• a decisão proferida seja fundamentada e adequada, demonstrando-se a proporcionalidade
dessa medida para o caso concreto.
STJ. 4ª Turma. RHC 97876-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 5/6/18 (Info 631).

43.19. IMPENHORABILIDADE: Os valores recebidos pelo beneficiário como indenização do


seguro de vida são impenhoráveis, mas até o limite de 40 salários mínimos – (Info 628) –
IMPORTANTE!!!

A impenhorabilidade dos valores recebidos pelo beneficiário do seguro de vida limita-se ao


montante de 40 (quarenta) salários mínimos, por aplicação analógica do art. 833, X, do
CPC/2015, cabendo a constrição judicial da quantia que a exceder.
Cuidado com a redação literal do art. 833, VI, do CPC/2015: “São impenhoráveis: (...) VI - o
seguro de vida”.
STJ. 3ª Turma. REsp 1361354-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 22/5/18 (Info 628).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João fez um seguro de vida. Assim, todos os meses ele
pagava determinada quantia à seguradora (o chamado “prêmio”) e, em caso de sua morte, a
seguradora pagaria uma indenização no valor de R$ 100 mil em favor de sua esposa Maria
(beneficiária). João faleceu e a seguradora depositou os R$ 100 mil na conta corrente de Maria.
Ocorre que Maria era ré em um processo de execução e o juiz determinou a penhora on line dos R$
100 mil. A executada pediu a liberação da quantia alegando que a verba seria impenhorável, nos
termos do art. 833, VI, do CPC/2015:
Art. 833. São impenhoráveis: (...)
VI - o seguro de vida;
 
O que a doutrina entende a respeito desse dispositivo?
1ª corrente: o que se quer dizer com esse dispositivo é que, falecendo o segurado, a indenização
paga ao beneficiário do seguro não poderá ser penhorada, nem para garantir dívidas do
segurado, nem para as dívidas do beneficiário (CÂMARA, Alexandre de Freitas. Lições de Direito
Processual Civil. São Paulo: Atlas. 2012, 21ª ed, vol. 2, p. 314). Se quem estiver sendo executado for
o segurado, o exequente não poderá penhorar os valores do seguro de vida porque esta quantia
não pertence ao segurado, sendo uma estipulação em favor de terceiro (beneficiário). É o que
prevê o art. 794 do Código Civil:
Art. 794. No seguro de vida ou de acidentes pessoais para o caso de morte, o capital
estipulado não está sujeito às dívidas do segurado, nem se considera herança para
todos os efeitos de direito.
 
Logo, a quantia recebida em razão do contrato de seguro de vida é impenhorável.
 
2ª corrente: argumenta que a regra da impenhorabilidade incide apenas enquanto o seguro de
vida for uma expectativa do direito. Depois que o valor fosse pago, não haveria mais a
impenhorabilidade. É a lição de Pontes de Miranda.
 
Qual das posições foi acolhida pelo STJ? Nenhuma das duas. O STJ adotou uma posição
intermediária e afirmou que os valores deixados a título de seguro de vida são impenhoráveis,
mas até o limite de 40 salários mínimos, aplicando-se por analogia o art. 833, X, do CPC/2015:
Art. 833.  São impenhoráveis: (...)
X - a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta)
salários-mínimos;
 
Caráter alimentar: O direito do beneficiário do seguro de vida deve prevalecer sobre o direito do
credor, de modo a preservar o mínimo necessário à sua sobrevivência. Isso porque a finalidade do
seguro de vida é proporcionar um rendimento a alguém, não o deixando à míngua de recursos.
Assim, essa quantia é impenhorável e isso ocorre em virtude do caráter alimentar do benefício.
 
Necessidade de pagamento dos credores: Vale ressaltar, contudo, que também se deve garantir a
efetividade do pagamento dos credores. As verbas alimentares são consideradas impenhoráveis
a fim de garantir a sobrevivência digna do devedor. No entanto, essas verbas alimentares não
podem ser muito altas considerando que o objetivo da impenhorabilidade não é o de fazer com
que o devedor tenha um padrão de vida acima das suas condições, às custas do devedor. Assim,
esse valor de 40 salários mínimos corresponde ao critério que o próprio legislador estabeleceu
como sendo o montante que considera razoável e suficiente para assegurar uma vida digna . A
quantia que exceder esses 40 salários mínimos poderá ser utilizada para saldar os débitos dos
credores do beneficiário do seguro. Essa analogia pode ser feita porque a natureza alimentar da
indenização recebida com o seguro de vida se assemelha às verbas salariais do art. 833, IV, do
CPC/2015, que destaca serem impenhoráveis “as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e
destinadas ao sustento do devedor e de sua família”.  Em nosso exemplo, considerando que 40
salários mínimos equivalem a R$ 35.200,00, esse montante seria impenhorável e, por outro lado, o
credor poderia ficar com R$ 64.800,00.
 
Provas objetivas: Cuidado com as assertivas em caso de provas objetivas. As duas afirmações
abaixo, caso apareçam na sua prova, estarão corretas:
 É impenhorável o seguro de vida;
 Segundo o STJ, a impenhorabilidade dos valores recebidos pelo beneficiário do seguro de
vida limita-se ao montante de 40 (quarenta) salários mínimos.

43.20. IMPENHORABILIDADE: Pacto de impenhorabilidade não pode ser oposto a terceiros –


(Info 625)

O pacto de impenhorabilidade de título patrimonial contido explicitamente em estatuto social


de clube desportivo não pode ser oposto contra exequente/credor não sócio.
O pacto de impenhorabilidade previsto no art. 833, I, do CPC/2015 está limitado às partes que o
convencionaram, não podendo envolver terceiros que não anuíram, salvo exceções previstas em
lei.
STJ. 3ª Turma. REsp 1475745-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 24/4/18 (Info 625).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João foi condenado a pagar R$ 20 mil em favor de Pedro.
O credor iniciou o cumprimento de sentença e o juiz determinou a penhora de um título
patrimonial que João possui no “Iate Clube do Rio de Janeiro”, avaliado em R$ 15 mil. O devedor
impugnou o cumprimento de sentença alegando que esse título é impenhorável, conforme prevê o
art. 4º, § 1º, do Estatuto Social do Iate Clube:
Art. 4º O patrimônio social do Clube é representado por 3.000 (três mil) títulos
patrimoniais pertencentes aos Sócios Proprietários e aos Postulantes a Sócios
Proprietários, 70% (setenta por cento) dos quais, no mínimo, devem ser brasileiros.
§ 1º O título patrimonial é individual, nominativo, impenhorável, privativo de
pessoas físicas, susceptível de compra e venda, transmissível, mas sua posse não
importa, de per si, na outorga da qualidade de Sócio Proprietário ou de Postulante a
Sócio Proprietário ao adquirente ou herdeiro, que só terão essas atribuições se
aprovados pela Comissão Mista, observadas as condições regimentais.

Assim, o executado argumentou que este título é impenhorável, nos termos do art. 833, I, do
CPC/2015:
Art. 833. São impenhoráveis:
I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução;

A tese do executado foi aceita pelo STJ? NÃO. É o que foi decidido no Info 625 do STJ.

A parte final do art. 833, I, do CPC/2015 realmente prevê que atos voluntários declarem a
impenhorabilidade de determinados bens, afastando-os de eventual execução. Permite-se, assim, a
celebração do pacto de impenhorabilidade. No entanto, esse pacto de impenhorabilidade fica
limitado às partes que o convencionaram, não podendo envolver terceiros que não anuíram. Se
assim não fosse, particulares poderiam celebrar convenções de impenhorabilidade com o intuito
de prejudicar a satisfação do crédito de terceiros. “Trata-se de impenhorabilidade relativa,
porque o ajuste não envolve pessoas alheias ao pacto.” (ASSIS, Araken. Manual da Execução.
São Paulo: RT, 2015, p. 267).

Assim, o pacto de impenhorabilidade de título patrimonial, contido explicitamente em estatuto


social do clube desportivo (art. 4º, § 1º), não pode ser oposto contra o exequente (não sócio). Isso
porque as decisões tomadas pela associação somente vinculam os seus respectivos sócios e
associados, além de não haver previsão legal para se reconhecer a eficácia erga omnes de tais
deliberações do clube.

43.21. O prazo para cumprimento voluntário de sentença deverá ser computado em dobro no
caso de litisconsortes com procuradores distintos (art. 229 do CPC) – (Info 619) – IMPORTANTE!!!
- (TJRJ-2019)

Em regra, o prazo para cumprimento voluntário da sentença é de 15 dias úteis (art. 523 do CPC).
Se os devedores forem litisconsortes com diferentes procuradores, de escritórios de advocacia
distintos, este prazo de pagamento deverá ser contado em dobro, nos termos do art. 229 do
CPC/2015, desde que o processo seja físico.
Assim, o prazo comum para cumprimento voluntário de sentença deverá ser computado em
dobro (ou seja, em 30 dias úteis) no caso de litisconsortes com procuradores distintos, em autos
físicos.
STJ. 4ª T. REsp 1693784-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 28/11/17 (Info 619).

43.22. Mesmo que o contrato com a escola particular esteja apenas no nome da mãe, o pai
também responderá solidariamente pelas dívidas – (Info 618) – IMPORTANTE!!!

A execução de título extrajudicial por inadimplemento de mensalidades escolares de filhos do


casal pode ser redirecionada ao outro consorte, ainda que não esteja nominado nos
instrumentos contratuais que deram origem à dívida.
Ex: mãe assina contrato com a escola e termo de confissão de dívida se comprometendo a pagar
as mensalidades; em caso de atraso, a escola poderá ingressar com execução tanto contra a mãe
como contra o pai do aluno, considerando que existe uma solidariedade legal do casal quanto às
despesas com a educação do filho (arts. 1.643 e 1.644 do CC).
STJ. 3ª Turma. REsp 1472316-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 5/12/17 (Info 618).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Lucas é filho de João e Maria. Maria matriculou Lucas em
uma escola particular e, para tanto, teve que assinar um contrato de prestação de serviços
educacionais, comprometendo-se as pagar as mensalidades. O ano terminou e Maria ficou
devendo o pagamento de 5 mensalidades. A escola chamou a mãe de Lucas para renegociar o
débito, tendo ela assinado um termo de confissão de dívida e, em troca, o colégio aceitou receber
apenas 4 parcelas. Ocorre que, passado o prazo, essas 4 prestações também não foram pagas,
razão pela qual a escola ingressou com execução de título executivo extrajudicial contra Maria. No
curso da execução, não foram localizados bens penhoráveis da executada. Diante disso, a escola
(exequente) requereu que a execução fosse redirecionada contra João. O juiz negou o pedido
afirmando que o contrato e o termo de confissão de dívida não foram assinados por João, que nem
sequer constava nesses instrumentos.
 
A questão chegou até o STJ. O pedido formulado pela escola (exequente) pode ser acolhido pelo
STJ? SIM. A execução de título extrajudicial por inadimplemento de mensalidades escolares de
filhos do casal pode ser redirecionada ao outro consorte, ainda que não esteja nominado nos
instrumentos contratuais que deram origem à dívida. STJ. 3ª Turma. REsp 1.472.316-SP, Rel. Min.
Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 05/12/2017 (Info 618).
 
Legitimidade passiva ordinária para a execução: A legitimidade passiva ordinária para a
execução é daquele que estiver nominado no título executivo. Assim, em regra, somente deve
figurar na execução aquele que consta no título executivo. Vale ressaltar, no entanto, que
aqueles que se obrigam, por força da lei ou do contrato, solidariamente à satisfação de
determinadas obrigações, apesar de não nominados no título, possuem legitimidade passiva
extraordinária para a execução.
 
Solidariedade do casal por dívidas contraídas para a administração do lar e para as necessidades da
família: O Código Civil reconheceu a solidariedade entre os cônjuges em relação a determinadas
dívidas, mesmo quando contraídas por apenas um dos consortes. É o que está disposto nos arts.
1.643 e 1.644:
Art. 1.643. Podem os cônjuges, independentemente de autorização um do outro:
I - comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica;
II - obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas possa exigir.
Art. 1.644. As dívidas contraídas para os fins do artigo antecedente obrigam
solidariamente ambos os cônjuges.
 
Nos arts. 1.643 e 1644 do CC/02, o legislador reconheceu que, pelas obrigações contraídas para a
manutenção da economia doméstica, e, assim, notadamente, em proveito da entidade familiar, o
casal responderá solidariamente, podendo-se postular a excussão dos bens do legitimado
ordinário e do coobrigado, extraordinariamente legitimado.

Quando o art. 1.643 estabelece que existe solidariedade entre os cônjuges quanto às dívidas
contraídas para fazer frente à economia doméstica, deve-se entender isso de forma ampla.
Assim, estão abrangidas na locução "economia doméstica" as obrigações assumidas para a
administração do lar e para a satisfação das necessidades da família, o que inclui despesas
alimentares, educacionais, culturais, de lazer, de habitação, etc. Logo, as despesas contraídas por
um dos cônjuges para custear a educação do filho comum também podem ser enquadradas nos
arts. 1.643, I e 1.644 do CC. Desse modo, deve-se entender que a dívida que surge de um contrato
de prestação de serviços educacionais aos filhos é uma dívida comum do casal, havendo
solidariedade entre eles.
 
Há essa solidariedade mesmo havendo somente o nome de um dos cônjuges no contrato? SIM. Em
se tratando de dívida contraída em benefício da família e no cumprimento do dever de ambos os
pais matricularem os seus filhos no ensino regular, não importa que apenas o nome de um dos
cônjuges esteja no contrato ou na confissão de dívida. Isso porque, conforme já vimos, o Código
Civil prevê que existe, neste caso, uma solidariedade do casal.
 
E se os pais estiverem separados/divorciados? Suponhamos que João não mais estivesse casado
(ou nunca tivesse sido casado) com Maria, ainda assim teria legitimidade para figurar na
execução? SIM. Por força do poder familiar. Os pais, detentores do poder familiar, têm o dever de
garantir o sustento e a educação dos filhos, compreendendo, aí, a manutenção do infante em
ensino regular, pelo que deverão, solidariamente, responder pelas mensalidades da escola em
que matriculado o filho. A obrigação relativa à manutenção dos filhos no ensino regular é, sem
dúvida alguma, de ambos os pais, o que é evidenciado pelos arts. 21, 22 e 55 do ECA:
Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela
mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o
direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente
para a solução da divergência.
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos
menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer
cumprir as determinações judiciais.
Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm direitos iguais e deveres e
responsabilidades compartilhados no cuidado e na educação da criança, devendo
ser resguardado o direito de transmissão familiar de suas crenças e culturas,
assegurados os direitos da criança estabelecidos nesta Lei. (...)
Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou
pupilos na rede regular de ensino.
 
No mesmo sentido é o Código Civil:
Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: (...)
IV - sustento, guarda e educação dos filhos;
 
Assim, como já dito, ambos os pais têm o dever de garantir o sustento e a educação dos filhos ,
compreendendo, aí, também a manutenção do infante em ensino regular (art. 55 do ECA), pelo
que deverão, solidariamente, responder pelas mensalidades da escola em que matriculado o
filho. Conforme pontua o Min. Paulo de Tarso Sanseverino:
“Essa mútua responsabilidade, própria das dívidas contraídas por apenas um dos
pais para o sustento do filho, não deixa de estar presente pelo fato de a dívida ter
sido contraída posteriormente à separação/divórcio, pois é no poder familiar que
ela encontra sua gênese.”

43.23. Possibilidade de requerer a alienação em leilão judicial em vez de fazer a alienação por
iniciativa particular – (Info 617)

Se a parte exequente manifestar desinteresse na adjudicação e na alienação particular do


imóvel penhorado, ela poderá, desde logo, requerer sua alienação em leilão judicial (antiga
alienação em hasta pública). Isso porque o CPC confere ao credor a faculdade de se valer da
alienação por iniciativa particular, mas não impede que o credor opte, desde logo, pela
alienação judicial (alienação em hasta pública).
STJ. 1ª Turma. REsp 1312509-RN, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 7/12/17 (Info 617).
OBS:
O que acontece com o bem penhorado? Se o bem penhorado for dinheiro, ele é transferido ao
credor, quitando-se a obrigação. Se o bem penhorado for coisa diferente de dinheiro, ele poderá
ser:
a) adjudicado;
b) alienado;
c) concedido em usufruto ao exequente.
 
Expropriação: Quando acontece uma dessas três situações acima, dizemos que houve a
“expropriação”, conforme previsto no art. 825 do CPC/2015:
Art. 825. A expropriação consiste em:
I - adjudicação;
II - alienação;
III - apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de
outros bens.
 
Atenção: esses incisos estão organizados segundo uma preferência legal. Em outras palavras, se
houver interessados em adjudicar (inciso I), não será necessário fazer a alienação. Se não ocorrer a
adjudicação, deve-se tentar a alienação (inciso II) antes da apropriação de frutos (inciso III).
 
Adjudicação (inciso I): A adjudicação ocorre quando a propriedade do bem penhorado (móvel ou
imóvel) é transferida para o exequente (ou para um terceiro legitimado a adjudicar), como forma
de pagamento da dívida que está sendo cobrada em juízo. O instituto encontra-se previsto no art.
876 do CPC/2015, cujo caput estabelece:
Art. 876. É lícito ao exequente, oferecendo preço não inferior ao da avaliação,
requerer que lhe sejam adjudicados os bens penhorados.
 
O caput do art. 876 fala apenas no exequente, mas o § 5º prevê outros legitimados que também
podem adjudicar. Veja:
§ 5º Idêntico direito pode ser exercido por aqueles indicados no art. 889, incisos II a
VIII, pelos credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, pelo cônjuge,
pelo companheiro, pelos descendentes ou pelos ascendentes do executado.
 
Alienação (inciso II): Segundo o art. 879 do CPC 2015, existem duas espécies de alienação do bem:
a) por iniciativa particular: ocorre quando o próprio exequente (ou algum corretor ou
leiloeiro público credenciado) tenta conseguir um comprador para o imóvel, seguindo
determinadas regras impostas pela lei.
b) leilão judicial (eletrônico ou presencial): é a oferta do bem penhorado aos
interessados em adquiri-lo em um evento organizado pelo Estado-juiz.

Observação importante: No CPC 2015, o que é chamado atualmente de “leilão judicial” era
conhecido como “hasta pública” (expressão do CPC 1973). Assim, no CPC 1973 existiam duas
formas de hasta pública (art. 686, IV):
a) praça, quando a coisa a ser alienada era bem imóvel;
b) leilão, quando a coisa a ser alienada era bem móvel.

O CPC 2015 não repete tais palavras e não mais faz essa distinção. Agora, fala-se em leilão judicial
tanto para bens móveis como imóveis.
 
Apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros bens (antigo
“usufruto de bem móvel ou imóvel”) (inciso III): No CPC 1973, isso era tratado como sendo
“usufruto de bem móvel ou imóvel”, expressão que era criticada pela doutrina e que, por isso, foi
substituída no novo Código. Compare:
CPC 1973 CPC 2015
Art. 716.  O juiz pode conceder ao Art. 867.  O juiz pode ordenar a penhora
exequente o usufruto de móvel ou de frutos e rendimentos de coisa móvel
imóvel, quando o reputar menos ou imóvel quando a considerar mais
gravoso ao executado e eficiente para o eficiente para o recebimento do crédito e
recebimento do crédito. menos gravosa ao executado.
 
Ex: foi penhorado um apartamento do executado, que se encontra alugado a um terceiro; pode o
juiz determinar que o exequente fique recebendo o valor dos aluguéis até que o débito da
execução seja totalmente pago.
 
Feita esta breve revisão, imagine a seguinte situação hipotética: João (credor) ingressou com
cumprimento de sentença contra Pedro (devedor). Pedro não pagou voluntariamente o débito e o
juiz determinou a penhora de um apartamento que está em seu nome. O magistrado determinou a
intimação de João para que se manifestasse sobre seu interesse na adjudicação do bem penhorado
e, caso não o tivesse, informasse as providências necessárias para que efetuasse, por conta própria,
a alienação particular dos bens, na forma do art. 879, I, do CPC/2015 (art. 647, II, do CPC/1973).
João respondeu dizendo que não tinha interesse na adjudicação e que também não desejava fazer
a alienação particular do bem. Diante disso, requereu a alienação judicial do apartamento em
hasta pública, na forma do art. 879, II, do CPC/2015 (art. 647,III, do CPC/1973). O juiz indeferiu o
pedido afirmando que, não ocorrendo a adjudicação, é obrigatório que o credor-exequente tente
fazer a alienação do bem penhorado por iniciativa particular. Somente se não tiver êxito é que
poderia ser feita a alienação judicial (antiga hasta pública). O credor recorreu contra a decisão
alegando que a alienação por iniciativa particular é uma faculdade do credor-exequente, sendo
descabida sua imposição pelo juiz.
 
Agiu corretamente o juiz? NÃO. Analisando o texto do CPC, conclui-se que, não havendo
interesse do exequente na adjudicação do bem penhorado, abre-se a possibilidade de que a
alienação do bem constrito seja feita por iniciativa do próprio credor (alienação por iniciativa
particular). Realmente existe uma ordem de preferência nas formas de expropriação previstas no
CPC. Vale ressaltar, contudo, que esta ordem de preferência não é absoluta. Assim, é possível que
o credor escolha forma de expropriação fora da ordem listada no CPC, de acordo com as
particularidades relacionadas ao bem ou ao próprio credor. Isso porque a execução deve ser
realizada no interesse do exequente, conforme preconiza o art. 797 do CPC/2015 (art. 612 do
CPC/1973).

43.24. Requisitos para a impenhorabilidade da pequena propriedade rural – (Info 616) –


IMPORTANTE!!!

A pequena propriedade rural é impenhorável (art. 5º, XXVI, da CF/88 e o art. 833, VIII, do CPC)
mesmo que a dívida executada não seja oriunda da atividade produtiva do imóvel.
De igual modo, a pequena propriedade rural é impenhorável mesmo que o imóvel não sirva de
moradia ao executado e à sua família.
Desse modo, para que o imóvel rural seja impenhorável, nos termos do art. 5º, XXVI, da CF/88 e
do art. 833, VIII, do CPC, é necessário que cumpra apenas dois requisitos cumulativos:
1) seja enquadrado como pequena propriedade rural, nos termos definidos pela lei; e
2) seja trabalhado pela família.
STJ. 3ª Turma. REsp 1591298-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 14/11/17 (Info 616).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: O filho de João resolveu fazer faculdade na capital. Para
custear as despesas, João tomou um empréstimo bancário e, como garantia do pagamento, assinou
nota promissória no valor de R$ 20 mil. O devedor não efetuou o pagamento na data do
vencimento, razão pela qual o banco ingressou com execução de título extrajudicial, tendo sido
penhorada uma chácara (imóvel rural) que está em nome de João. O executado alegou que o
imóvel em questão é impenhorável, considerando que se trata de pequena propriedade rural onde
pratica agricultura juntamente com a mulher e os filhos. Invocou, para tanto, o art. 5º, XXVI, da
CF/88 e o art. 833, VIII, do CPC, que estabelecem:
CF88. Art. 5º (...)
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada
pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de
sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu
desenvolvimento;

CPC/Art. 833. São impenhoráveis:


VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela
família;

Teses do exequente: O banco refutou a tese de João apresentando dois argumentos:


1) a dívida foi contraída para interesses particulares (e não para promover a atividade produtiva
desenvolvida no imóvel). Logo, como o débito não tem relação com o imóvel, não gera a sua
impenhorabilidade;
2) João e a sua família não moram na chácara que foi penhorada. Eles residem em uma casa
alugada, que fica na vila a alguns minutos do imóvel rural. Dessa forma, incidiria a hipótese do
art. 4º, § 2º, da Lei nº 8.009/90:
Art. 4º (...)
§ 2º Quando a residência familiar constituir-se em imóvel rural, a
impenhorabilidade restringir-se-á à sede de moradia, com os respectivos bens
móveis, e, nos casos do art. 5º, inciso XXVI, da Constituição, à área limitada como
pequena propriedade rural.

A primeira tese do exequente foi aceita pelo STJ? NÃO.


A pequena propriedade rural é impenhorável (art. 5º, XXVI, da CF/88 e o art. 833,
VIII, do CPC) mesmo que a dívida executada não seja oriunda da atividade
produtiva do imóvel. STJ. 3ª Turma. REsp 1.591.298-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 14/11/2017 (Info 616).

Mas o art. 5º, XXVI, da CF/88 fala que “a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde
que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes
de sua atividade produtiva (...)”. Essa parte grifada não exige que os débitos sejam relacionados
com as atividades desenvolvidas no imóvel rural? NÃO. O STJ afirma que essa interpretação
literal não pode ser feita, já que isso:
 não garantiria a máxima efetividade que deve ser dada ao mandamento constitucional;
 conferiria proteção deficiente ao direito fundamental tutelado.

A correta interpretação do dispositivo é, portanto, a seguinte: a CF/88 não permite a penhora da


pequena propriedade rural mesmo que o devedor tenha dado o imóvel em garantia de dívidas
contraídas para assegurar a sua atividade produtiva. Logo, com mais razão, esse imóvel também
é impenhorável com relação a débitos de outra natureza, ou seja, não necessariamente
relacionados com a atividade produtiva da propriedade rural.

Essa interpretação do art. 5º, XXVI, da CF/88 foi adotada pelo legislador infraconstitucional, tanto
que o CPC/1973 e o CPC/2015 não exigem, para conferir a impenhorabilidade, que os débitos
sejam oriundos da atividade produtiva do imóvel.
Conclui-se, portanto, que, nos termos dos arts. 5º, XXVII, c/c o art. 649, VIII, do CPC/1973 (art.
833, VIII, do CPC/2015), a proteção da impenhorabilidade da pequena propriedade rural
trabalhada pela entidade familiar, como direito fundamental que é, não se restringe às dividas
relacionadas à atividade produtiva.

A segunda tese do exequente foi aceita pelo STJ? Também NÃO.


A pequena propriedade rural é impenhorável, nos termos do art.5º, XXVI, da CF/88
e do art. 833, VIII, do CPC, mesmo que o imóvel não sirva de moradia ao executado
e à sua família. STJ. 3ª Turma. REsp 1.591.298-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 14/11/2017 (Info 616).

Impenhorabilidade do art. 833, VIII, do CPC não é o mesmo que a impenhorabilidade do bem de
família rural: Tanto a impenhorabilidade do art. 833, VIII, do CPC como a impenhorabilidade do
bem de família rural estão relacionadas com o princípio da dignidade da pessoa humana,
garantindo-se ao executado a preservação de um patrimônio mínimo, do qual lhe seja possível
extrair condições dignas de subsistência.
Apesar disso, são institutos diferentes com fundamentos diferentes:
 Impenhorabilidade do art. 833, VIII, do CPC: destina-se a garantir o direito fundamental à
moradia;
 Impenhorabilidade do bem de família rural: tem por objetivo assegurar o direito, também
fundamental, de acesso aos meios geradores de renda, no caso, o imóvel rural, de onde a
família do trabalhador rural, por meio do labor agrícola, obtém seu sustento.

O art. 4º, § 2º, da Lei nº 8.009/90 trata sobre bem de família rural (e não sobre a impenhorabilidade
da pequena propriedade rural).

Requisitos: Desse modo, para que o imóvel rural seja impenhorável, nos termos do art. 5º, XXVI,
da CF/88 e do art. 833, VIII, do CPC, é necessário que cumpra apenas dois requisitos cumulativos:
1) seja enquadrado como pequena propriedade rural, nos termos definidos pela lei; e

2) seja trabalhado pela família.

43.25. IMPENHORABILIDADE: Não se pode penhorar FGTS para pagamento de honorários


sucumbenciais – (Info 614) – IMPORTANTE!!!

Não é possível a penhora do saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS para o
pagamento de honorários de sucumbência.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.619.868-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 24/10/17 (Info 614).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João foi condenado a pagar R$ 100 mil a Pedro como
indenização por danos morais e R$ 10 mil a Dr. Ruy, advogado do vencedor, a título de
honorários advocatícios sucumbenciais. Dr. Ruy iniciou a execução dos honorários e o juiz
determinou a penhora do saldo do FGTS de João. João alegou que a penhora foi indevida
considerando que recaiu sobre o seu saldo de FGTS, verba impenhorável, nos termos do art. 833,
IV, do CPC/2015:
Art. 833. São impenhoráveis: (...)
IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os
proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as
quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor
e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional
liberal, ressalvado o § 2º;

O exequente refutou o argumento afirmando que a verba executada (honorários advocatícios)


possui natureza alimentar e, portanto, enquadra-se na exceção prevista no art. 833, § 2º do CPC.
Em outras palavras, em regra, o FGTS é impenhorável, salvo quando se está executando verbas
alimentares. Veja o dispositivo do CPC:
Art. 833 (...)
§ 2º O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese de penhora
para pagamento de prestação alimentícia, independentemente de sua origem, bem
como às importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais,
devendo a constrição observar o disposto no art. 528, § 8º, e no art. 529, § 3º.

Afinal de contas, é possível a penhora de saldo de FGTS para pagamento de honorários


sucumbenciais? NÃO.

O STJ tem dado interpretação extensiva à expressão “prestação alimentícia” constante do § 2º do


art. 833 do CPC, para englobar não somente as “prestações alimentícias” stricto senso (pensão
alimentícia), como também os honorários advocatícios.
Ocorre que, no caso dos autos, a hipótese não é propriamente de penhora de salários e
vencimentos, mas sim de saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS, que tem
regramento próprio. De acordo com o art. 7º, III, da CF/88, o FGTS é um direito de natureza
trabalhista e social. Trata-se de uma poupança forçada do trabalhador, que tem suas hipóteses de
levantamento elencadas na Lei 8.036/90. O rol não é taxativo, tendo sido contemplados casos
diretamente relacionados com a melhora da condição social do trabalhador e de seus
dependentes, mais especificamente em casos de comprometimento de direito fundamental do
titular do fundo.
Nessa linha de entendimento, tem-se admitido a penhora de saldo do FGTS para pagamento de
prestação alimentícia stricto senso, considerando que a dignidade do trabalhador está em risco,
diante da possibilidade de sua prisão, assim como de seus dependentes.
Destaca-se, porém, que a penhora de verbas do FGTS é medida extrema, que só se justifica para
evitar a prisão do devedor de alimentos e atender as necessidades imediatas de sua prole. Dessa
forma, não se justifica a liberação de valores do fundo de garantia fora das hipóteses legais para
o pagamento de dívidas do trabalhador, ainda que tenham natureza alimentar em sentido
amplo, como as decorrentes de honorários sucumbenciais e quaisquer outros honorários
devidos a profissionais liberais.

43.26. IMPENHORABILIDADE: Recursos do FIES transferidos para as instituições de ensino


são impenhoráveis – (Info 614)

São absolutamente impenhoráveis os créditos vinculados ao programa Fundo de


Financiamento Estudantil - FIES constituídos em favor de instituição privada de ensino.
Fundamento: art. 833, IX, do CPC/2015.
O FIES tem por objetivo conceder financiamento a estudantes de cursos superiores que sejam
integrantes de famílias de menor renda.
Se fosse permitida a penhora dos recursos públicos transferidos às instituições particulares de
ensino para custear o FIES, isso poderia frustrar a adesão ao programa e, em consequência, o
atingimento dos objetivos por ele traçados.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.588.226-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 17/10/17 (Info 614).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa “XX” ingressou com execução de título
extrajudicial contra a instituição privada de ensino “ZZZ”. O juízo de primeiro grau deferiu a
penhora de créditos que a instituição de ensino possuía e que eram oriundos do programa Fundo
de Financiamento Estudantil-FIES.

Agiu corretamente o magistrado? NÃO. São absolutamente impenhoráveis os créditos vinculados


ao programa Fundo de Financiamento Estudantil - FIES constituídos em favor de instituição
privada de ensino. STJ. 3ª Turma. REsp 1.588.226-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 17/10/17 (Info
614).
O art. 833, IX, do CPC/2015 (art. 649, IX, do CPC/1973) prevê o seguinte:
Art. 833. São impenhoráveis: (...)
IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação
compulsória em educação, saúde ou assistência social;

O programa Fundo de Financiamento Estudantil-FIES destina-se à concessão de financiamento a


estudantes de cursos superiores não gratuitos, considerando sua renda familiar mensal bruta per
capita, a qual, atualmente, está limitada a 03 (três) salários mínimos. Trata-se, portanto, de
programa que concretiza política pública voltada a promover educação para a população de
menor renda.
Muito mais que constituir simples remuneração por serviços prestados, os créditos recebidos do
FIES retribuem a oportunidade dada aos estudantes de menor renda de obter a formação de nível
superior, de aumentar suas chances de inserção no mercado de trabalho formal e, por conseguinte,
de melhorar a qualidade de vida da família. Como se vê, são recursos vinculados a um fim social,
e, portanto, impenhoráveis.

43.27. Atraso na entrega da coisa e conversão do procedimento para execução por quantia certa –
(Info 614)

É possível a conversão do procedimento de execução para entrega de coisa incerta para execução
por quantia certa na hipótese em que o produto perseguido for entregue com atraso, gerando
danos ao credor da obrigação.
STJ. 3ª T. REsp 1.507.339-MT, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 24/10/17 (Info 614).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A indústria “XX” ajuizou execução de título extrajudicial
para entrega de coisa incerta contra a empresa agropecuária “ZZ” pedindo a entrega de 100 Kg de
soja comercial. Subsidiariamente, a indústria pediu que, em não sendo encontrada a coisa
perseguida, se convertesse a execução para entrega de coisa para execução por quantia certa. Em
2004, a executada ofereceu em juízo os 100 Kg de soja, de determinada espécie, ficando como
depositária da coisa. Ocorre que a exequente alegou que o produto oferecido não se enquadrava
nos padrões de qualidade. Foi, então, requerida perícia judicial. O processo foi se arrastando até
que, em 2009, a executada ofereceu nova espécie de soja. Insatisfeita com esse atraso, a credora
postulou a conversão da execução para entrega de coisa em execução por quantia certa,
argumentando que entre 2004 e 2009 houve depreciação do valor da saca de soja, o que gerou a ela
inúmeros prejuízos.

O pedido da exequente pode ser aceito? SIM.

O art. 809 do CPC/2015 (art. 627 do CPC/1973) autoriza a referida conversão para as hipóteses
de frustração do meio executório, ou seja, nas situações específicas em que:
a) não for encontrada a coisa perseguida;
b) não for entregue;
c) estiver deteriorada a coisa; e
d) não for reclamada de terceiro adquirente.

Art. 809. O exequente tem direito a receber, além de perdas e danos, o valor da coisa,
quando essa se deteriorar, não lhe for entregue, não for encontrada ou não for
reclamada do poder de terceiro adquirente.

Segundo o art. 807 do CPC/2015 (art. 624 do CPC/1973), mesmo satisfeita a obrigação de
entregar a coisa, se “prosseguirá a execução” para o pagamento de frutos e/ou ressarcimento de
prejuízos.
Art. 807. Se o executado entregar a coisa, será lavrado o termo respectivo e
considerada satisfeita a obrigação, prosseguindo-se a execução para o pagamento de
frutos ou o ressarcimento de prejuízos, se houver.

Dessa forma, embora não contido no título, decorre da lei a certeza do direito perseguido, sem a
necessidade de um novo processo cognitivo para se declarar a obrigação que o ordenamento
jurídico já estabeleceu. Ressalta-se, por fim, que o citado ressarcimento dos prejuízos depende
de liquidação incidental no próprio feito executivo convertido, sendo a prévia apuração do
quantum realizada por estimativa do credor ou por arbitramento.
43.28. Penhora de valores depositados em conta bancária conjunta – (Info 539 e Info 613) –
IMPORTANTE!!! – (TJPA-2019)

Se forem penhorados valores que estão depositados em conta-corrente conjunta solidária, o


cotitular da conta, que não tenha relação com a penhora, pode tentar provar que a totalidade do
dinheiro objeto da constrição pertencia a ele.
Se conseguir fazer isso, o numerário será integralmente liberado.
Se não conseguir, presume-se que os valores constantes da conta pertencem em partes iguais
aos correntistas, de forma que se mantém penhorada apenas a parte do cotitular que tenha
relação com a penhora (cotitular devedor/executado).
Ex: João ingressou com execução contra Luciana. Foram penhorados R$ 100 mil da conta
conjunta solidária. Pedro, marido de Luciana, apresentou embargos de terceiro afirmando que
os valores penhorados pertenciam exclusivamente a ele. Se ele tivesse conseguido provar isso,
teria todo o dinheiro liberado. Como não conseguiu fazer essa prova, o juiz deverá considerar
que apenas metade da quantia pertence a ele, liberando R$ 50 mil.
Assim, em se tratando de conta-corrente conjunta solidária, na ausência de comprovação dos
valores que integram o patrimônio de cada um, presume-se a divisão do saldo em partes iguais,
de forma que os atos praticados por quaisquer dos titulares em suas relações com terceiros não
afetam os demais correntistas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.510.310-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 3/10/17 (Info 613).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.184.584-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 22/4/14 (Info 539).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João ingressou com execução contra Luciana. No bojo da
ação, foram penhorados R$ 100 mil que estavam na conta-corrente de Luciana. Pedro, marido de
Luciana, apresentou, então, embargos de terceiro afirmando que o dinheiro foi penhorado em
uma conta bancária conjunta solidária que ele mantém com a esposa. Alegou, ainda, que, apesar
de a mencionada conta ser conjunta, os valores penhorados pertenciam exclusivamente a ele.
Diante disso, pediu a liberação de toda a quantia. Vale ressaltar que Pedro não apresentou
nenhum documento comprovando que o dinheiro pertencia realmente a ele.

O que o juiz deverá decidir nesse caso? O pedido de Pedro poderá ser atendido? Em parte.

Espécies de conta-bancária: Há duas espécies de conta-corrente bancária:


1) individual (ou unipessoal): possui um único titular.
2) coletiva (ou conjunta): possui dois ou mais titulares.

A conta-corrente bancária coletiva ou conjunta, por sua vez, pode ser:


2.a) fracionária: é aquela que é movimentada por intermédio de todos os titulares, isto é, sempre
com a assinatura de todos. Ex: conta aberta em nome de todos os herdeiros, para administrar os
bens do falecido antes da partilha.
2.b) solidária: cada um dos titulares pode movimentar a integralidade dos fundos disponíveis, em
decorrência da solidariedade ativa em relação ao banco.

O que significa essa palavra “solidária”? Quando se fala em conta-corrente conjunta solidária,
isso quer dizer que existe uma relação obrigacional solidária dos correntistas com o banco. Assim,
os correntistas são credores solidários do banco quando há saldo, ou seja, cada um dos dois pode
exigir o dinheiro todo da instituição financeira. Ao mesmo tempo, os correntistas também são
devedores solidários do banco caso exista alguma tarifa ou outra despesa relacionada com a conta.
Vale ressaltar, no entanto, que essa solidariedade não existe em relação a terceiros. Assim, por
exemplo, se um dos correntistas emite um cheque sem fundos, o outro correntista da conta não
tem qualquer responsabilidade perante o beneficiário do cheque. Ele não é devedor solidário
juntamente com o emitente do cheque.

Voltando ao nosso exemplo: é possível a penhora de valores que estejam em uma conta bancária
conjunta mesmo que a dívida seja apenas de um dos correntistas? SIM. A penhora de valores
contidos em conta bancária conjunta é admitida pelo ordenamento jurídico. No entanto, a
constrição não pode se dar em proporção maior que o numerário pertencente ao devedor da
obrigação, devendo ser preservado o saldo dos demais cotitulares. Em outras palavras, deve ser
penhorado apenas o dinheiro que pertence ao executado.

Ônus da prova é do cotitular que não era devedor: Quando se penhora o valor constante em conta
bancária conjunta solidária, deve-se permitir que o cotitular prove que a quantia penhorada
pertence a ele. Logo, Pedro poderia ter provado que o dinheiro penhorado pertencia inteiramente
a ele. Nesse caso, a verba seria integralmente liberada. Ressalto, mais uma vez, o ônus da prova
cabe ao cotitular que não é devedor. O credor consegue a penhora e o cotitular da conta, que não
tinha nada a ver com a dívida, é quem terá que provar que o dinheiro que foi penhorado pertencia
exclusivamente a ele.

E se o cotitular não conseguir provar que o dinheiro pertencia inteiramente a ele, o que
acontecerá? Se o cotitular não executado não conseguir provar que a verba penhorada pertencia
inteiramente a ele, deve-se presumir que a quantia existente na conta bancária era dividida
igualmente entre os cotitulares. Em outras palavras, como Pedro não conseguiu provar que o
dinheiro era todo dele, deve-se considerar que dos R$ 100 mil, R$ 50 mil eram seus e a outra
metade era de Luciana. Dessa forma, em nosso exemplo, como não houve prova de que o dinheiro
era todo do embargante, o juiz deverá manter penhorados R$ 50 mil e desbloquear os R$ 50 mil
que, presumidamente, são de Pedro.

Confira um julgado do STJ que espelha esse entendimento:


A penhora de valores depositados em conta bancária conjunta solidária somente
poderá atingir a parte do numerário depositado que pertença ao correntista que seja
sujeito passivo do processo executivo, presumindo-se, ante a inexistência de prova
em contrário, que os valores constantes da conta pertencem em partes iguais aos
correntistas. STJ. 4ª T. REsp 1.184.584-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 22/4/14
(Info 539).

43.29. Demora de se obter documentos em poder de terceiro e prescrição da execução – (Info 607)

A partir da vigência da Lei 10.444/02, que incluiu o § 1º ao art. 604, dispositivo que foi sucedido,
conforme Lei 11.232/05, pelo art. 475-B, §§ 1º e 2º, todos do CPC/1973, não é mais
imprescindível, para acertamento de cálculos, a juntada de documentos pela parte executada ou
por terceiros, reputando-se correta a conta apresentada pelo exequente, quando a requisição
judicial de tais documentos deixar de ser atendida, injustificadamente, depois de transcorrido o
prazo legal. Assim, sob a égide do diploma legal citado, incide o lapso prescricional, pelo prazo
respectivo da demanda de conhecimento (Súmula 150/STF), sem interrupção ou suspensão, não
se podendo invocar qualquer demora na diligência para obtenção de fichas financeiras ou
outros documentos perante a administração ou junto a terceiros.
STJ. 1ª S. REsp 1.336.026-PE, Rel. Min. Og Fernandes, j. 28/6/17 (recurso repetitivo) (Info 607).

43.30. O fato de ter sido decretada a indisponibilidade do bem não impede que ele seja objeto
de adjudicação decretada em outro processo – (Info 600)

A indisponibilidade de bens do executado deferida em ação civil pública não impede a


adjudicação de um determinado bem ao credor que executa o devedor comum com substrato
em título executivo judicial.
Ex: o MP ajuizou ACP contra a empresa “X”. O juiz determinou a indisponibilidade de todos os
bens da requerida. Alguns meses depois, João ajuizou ação de indenização contra a mesma
empresa. A sentença julgou o pedido procedente, condenando a requerida ao pagamento de R$
100 mil. O juiz determinou a penhora de um imóvel pertencente à devedora. João gostou do
bem penhorado e requereu a sua adjudicação, nos termos do art. 876 do CPC. O fato de este
bem estar indisponível não impede a adjudicação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.493.067-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 21/3/17 (Info 600).

43.31. Quem tem o encargo de provar os requisitos da impenhorabilidade da pequena


propriedade rural? – (Info 596) – IMPORTANTE!!!

O art. 5º, XXVI, da CF/88 e o art. 833, VIII, do CPC preveem que é impenhorável a pequena
propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família. Assim, para que o
imóvel rural seja impenhorável, são necessários dois requisitos:
1) que seja enquadrado como pequena propriedade rural, nos termos definidos pela lei; e
2) que seja trabalhado pela família.

Quem tem o encargo de provar esses requisitos?


 Requisito 1 (pequena propriedade rural): trata-se de ônus do executado (devedor).
 Requisito 2 (propriedade trabalhada pela família): não é necessário que o executado
faça prova disso. Existe uma presunção juris tantum (relativa) de que a pequena
propriedade rural é trabalhada pela família. Tal presunção é relativa e admite prova em
sentido contrário. O ônus dessa prova, no entanto, é do exequente (credor).
Resumindo: no que concerne à proteção da pequena propriedade rural, incumbe ao executado
comprovar que a área é qualificada como pequena, nos termos legais; e ao exequente
demonstrar que não há exploração familiar da terra.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.408.152-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 1/12/16 (Info 596).

43.32. As cotas de fundo de investimento não são consideradas dinheiro para os fins do art. 835,
I, do CPC. Recusa de nomeação à penhora de cotas de fundo de investimento – (Info 589)

A cota de fundo de investimento não se subsume à ordem de preferência legal disposta no


inciso I do art. 835 do CPC/2015 (art. 655 do CPC/1973).
Em outras palavras, as cotas de fundo de investimento não podem ser consideradas como
dinheiro aplicado em instituição financeira.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.388.642-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 3/8/16 (recurso repetitivo)
(Info 589).

Em uma execução contra um banco, o magistrado determinou a penhora de dinheiro constante


de suas agências bancárias para pagamento do credor e negou a nomeação que havia sido feita
pelo banco para que a penhora recaísse sobre cotas de fundo de investimento. O STJ decidiu
que:
A recusa da nomeação à penhora de cotas de fundo de investimento, reputada legítima a partir
das particularidades de cada caso concreto, não encerra, em si, excessiva onerosidade ao
devedor, violação do recolhimento dos depósitos compulsórios e voluntários do Banco Central
do Brasil ou afronta à impenhorabilidade das reservas obrigatórias.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.388.642-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 3/8/16 (recurso repetitivo)
(Info 589).
OBS:
O que é a penhora? Penhorar significa apreender judicialmente os bens do devedor para utilizá-
los, direta ou indiretamente, na satisfação do crédito executado.

Ordem de preferência: O CPC traz uma ordem de preferência para penhora, ou seja, existem bens
que devem ser penhorados antes que outros. Essa lista de prioridades está prevista no art. 835 do
CPC/2015 (art. 655 do CPC/1973):
Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:
I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira;
II - títulos da dívida pública da União, dos Estados e do Distrito Federal com cotação
em mercado;
III - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado;
IV - veículos de via terrestre;
V - bens imóveis;
VI - bens móveis em geral;
VII - semoventes;
VIII - navios e aeronaves;
IX - ações e quotas de sociedades simples e empresárias;
X - percentual do faturamento de empresa devedora;
XI - pedras e metais preciosos;
XII - direitos aquisitivos derivados de promessa de compra e venda e de alienação
fiduciária em garantia;
XIII - outros direitos.
§ 1º É prioritária a penhora em dinheiro, podendo o juiz, nas demais hipóteses,
alterar a ordem prevista no caput de acordo com as circunstâncias do caso concreto.
§ 2º Para fins de substituição da penhora, equiparam-se a dinheiro a fiança bancária
e o seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do débito constante
da inicial, acrescido de trinta por cento. (...)

É possível que esta ordem seja alterada no caso concreto pelo juiz? Ex: existe um bem previsto no
inciso IV, mas o magistrado autoriza que seja penhorado outro do inciso V?
 Nos casos envolvendo dinheiro (inciso I): NÃO. A penhora em dinheiro é prioritária. Isso
significa que, pela redação legal, não se pode penhorar nenhum outro bem se houver
dinheiro disponível.
 Nos casos envolvendo os demais incisos: SIM. O juiz pode, nas demais hipóteses, alterar
a ordem prevista no art. 835 do CPC, desde que existam circunstâncias do caso concreto
que justifiquem a medida.

Assim, em regra, se existe um carro disponível (inciso IV), não se pode penhorar apartamento
(inciso V), salvo se, no caso concreto, houver circunstâncias que justifiquem a alteração da ordem
legal.

A súmula 417 do STJ continua aplicável? Sobre o tema explicado acima, o STJ possui o seguinte
enunciado:
Súmula 417-STJ: Na execução civil, a penhora de dinheiro na ordem de nomeação
de bens não tem caráter absoluto.

Diante da redação do s§ 1º do art. 835 acima transcrito, alguns autores passaram a defender a tese
de que esta súmula deveria ser revista pelo STJ. É o caso de Daniel Assumpção Neves, que
sustenta que, agora, a preferência pela penhora em dinheiro tem caráter absoluto por imposição
legal (NEVES, Daniel Assumpção Neves. Manual de Direito Processual Civil. Salvador:
Juspodivm, 2016, p. 1164).
É preciso, no entanto, aguardar mais um pouco para saber qual será o entendimento do STJ
porque não é improvável que o Tribunal, mesmo com este novo dispositivo, continue entendendo
que não há caráter absoluto, mantendo-se a súmula. Fica, contudo, o alerta para discussão do tema
em uma eventual prova discursiva ou oral.

O inciso I: O inciso I, conforme vimos acima, afirma que a penhora deverá recair,
preferencialmente, sobre dinheiro. Quando o inciso I fala em dinheiro, isso abrange:
 em espécie (ex: dentro de um cofre, "debaixo do colchão"; é o "dinheiro vivo");
 em depósito (ex: na conta corrente do devedor);
 em aplicação em instituição financeira (ex: dinheiro investido em CDB).

Assim, dinheiro aplicado em instituições financeiras continua sendo dinheiro e está enquadrado
no inciso I.

O inciso I abrange também a "cota de fundo de investimento"? As "cotas de fundo de


investimento" também são consideradas "dinheiro", para os fins do inciso I do art. 835 do CPC?
NÃO.

O que são os fundos de investimento? A Instrução Normativa 555/14 da CVM define o fundo de
investimento como sendo "uma comunhão de recursos, constituído sob a forma de condomínio, destinado
à aplicação em ativos financeiros" (art. 3º). No fundo de investimento, várias pessoas se reúnem e
entregam recursos para que um terceiro (pessoa jurídica autorizada pela CVM) aplique esse
dinheiro em carteiras diversificadas disponíveis no mercado. O capital investido é transformado
em cotas, distribuídas proporcionalmente aos investidores, que passam a ter direito apenas sobre
estas frações patrimoniais do fundo (cotas). Quanto maior o dinheiro investido, maior o número
de cotas do indivíduo. Esse dinheiro aplicado gerará, em tese, dividendos que serão distribuídos
entre as pessoas que investiram e que possuem cotas deste fundo. É possível também que dê
prejuízo, a depender da volatilidade do mercado e nível de risco das aplicações escolhidas. Ainda
segundo a IN 555/2014:
Art. 4º O fundo pode ser constituído sob a forma de condomínio aberto, em que os
cotistas podem solicitar o resgate de suas cotas conforme estabelecido em seu
regulamento, ou fechado, em que as cotas somente são resgatadas ao término do
prazo de duração do fundo.

Qual é a natureza jurídica das cotas de fundo de investimento? Segundo o art. 2º, V, da Lei
6.385/76 (Lei da CVM), possuem natureza jurídica de valores mobiliários com cotação em
mercado:
Art. 2º São valores mobiliários sujeitos ao regime desta Lei: (...)
V - as cotas de fundos de investimento em valores mobiliários ou de clubes de
investimento em quaisquer ativos;

As cotas de fundos de investimento encontram-se sujeitas, de forma mais intensa, aos riscos de
mercado, de crédito e de liquidez, circunstâncias que fazem com que elas não possam receber o
mesmo tratamento legal que "dinheiro".

Esse é o entendimento consolidado no STJ:


(...) 2. A expressão "dinheiro em aplicação financeira" não equivale ao valor
financeiro correspondente às cotas de fundos de investimento.
3. Ao se proceder à penhora dinheiro em depósito ou em aplicação financeira, a
constrição processual atinge numerário certo e líquido, que fica bloqueado ou
depositado, à disposição do juízo da execução fiscal. Por sua vez, o valor financeiro
referente a cotas de fundo de investimento não é certo e pode não ser líquido, a
depender de fatos futuros que não podem ser previstos pela parte exequente, ou pela
executada ou pelo juízo da execução.
(...)
5. Conclui-se, portanto, pela impossibilidade jurídica de se equiparar as cotas de
fundos de investimento a "dinheiro em aplicação financeira", embora os fundos de
investimento sejam uma espécie de aplicação financeira. Não há, pois, violação do
art. 655, inciso I, do CPC. (...)
STJ. 1ª Turma. REsp 1346362/RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
04/12/2012).

Em qual inciso se enquadram as cotas de fundo de investimento? No inciso III do art. 835 ("títulos
e valores mobiliários com cotação em mercado").

Imagine a seguinte situação hipotética: O devedor (executado) dispõe de 1 milhão de reais


investido em CDI (uma aplicação bancária). Além disso, ele também possui cotas de fundo de
investimento em igual valor. Diante disso, ele oferece para penhora as cotas de fundo de
investimento alegando que, se tiver que resgatar a aplicação financeira da CDI, haverá uma perda
de rentabilidade, causando prejuízos desnecessários. O juiz nega o pedido e afirma que deverá ser
respeitada a ordem preferencial do art. 835, I, do CPC. O devedor recorre alegando que a decisão
do magistrado violou o princípio da menor onerosidade, previsto no art. 805 do CPC:
Art. 805. Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz
mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado.
Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a medida executiva mais gravosa
incumbe indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de
manutenção dos atos executivos já determinados.

Além disso, como o executado era um banco, ele alegou que, obrigar a retirar o dinheiro da CDI,
significaria violar, por via transversa, o recolhimento dos depósitos compulsórios e voluntários
exigidos pelo Banco Central do Brasil (art. 10, IV, da Lei 4.595/64) ou afrontar a
impenhorabilidade das reservas obrigatórias (art. 68 da Lei 9.069/95):
Art. 68. Os depósitos das instituições financeiras bancárias mantidos no Banco
Central do Brasil e contabilizados na conta "Reservas Bancárias" são impenhoráveis
e não responderão por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal,
previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, contraída por essas instituições ou
quaisquer outras a elas ligadas.
Parágrafo único. A impenhorabilidade de que trata o caput deste artigo não se aplica
aos débitos contratuais efetuados pelo Banco Central do Brasil e aos decorrentes das
relações das instituições financeiras com o Banco Central do Brasil.

As teses do banco executado foram aceitas pelo STJ? NÃO. O art. 805 deve ser observado, mas
não se pode esquecer que o processo executivo se desenvolve segundo os interesses do credor e
com a finalidade de satisfazer a obrigação não paga. Os lucros que a instituição financeira deixaria
de obter não interessam ao exequente nem servem de justificativa idônea para obrigá-lo a aceitar
um bem que não guarda em si a aptidão ideal, segundo as particularidades do caso concreto, para
satisfazer o crédito exequendo. Se a ordem legal for alterada, isso irá beneficiar apenas o banco
executado, podendo prejudicar a satisfação do crédito do exequente.

O banco alega que uma instituição financeira não possui conta-corrente em outros bancos, de
forma que o restrito numerário que possui em suas agências destina-se a fazer frente "às
necessidades de troco e à moeda circulante da população", sendo certo que a quantia que sobeja,
"ou é recolhido ao Banco Central ou é investido em aplicações financeiras".

O argumento do banco não é acolhido pela jurisprudência do STJ considerando que a instituição
financeira dispõe de outros recursos e que os valores penhorados não atingem as reservas
bancárias obrigatórias exigidas pelo Banco Central. Existe até um enunciado sobre o tema:
Súmula 328-STJ: Na execução contra instituição financeira, é penhorável o
numerário disponível, excluídas as reservas bancárias mantidas no Banco Central.

Desse modo, foi lícita a recusa feita pelo magistrado, não havendo violação ao art. 805 do CPC.
Além disso, os valores penhorados recaíram sobre numerário constante de suas agências ou sobre
o produto do capital investido em suas aplicações financeiras, providência que não viola a
intangibilidade dos depósitos mantidos no Banco Central, tampouco a impenhorabilidade das
reservas bancárias.
43.33. Invalidade da penhora sobre a integralidade de imóvel submetido a time sharing – (Info
589) – IMPORTANTE!!!

É inválida a penhora da integralidade de imóvel submetido ao regime de multipropriedade


(time-sharing) em decorrência de dívida de condomínio de responsabilidade do organizador do
compartilhamento.
A multipropriedade imobiliária, mesmo não efetivamente codificada, possui natureza jurídica
de direito real, harmonizando-se com os institutos constantes do rol previsto no art. 1.225 do
Código Civil.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.546.165-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min.
João Otávio de Noronha, j. 26/4/16 (Info 589).

43.34. Competência para cancelar gravame em matrícula de imóvel arrematado – (Info 585)

Arrematado bem imóvel, o Juízo da execução que conduziu a arrematação não pode determinar
o cancelamento automático de constrições determinadas por outros Juízos de mesma hierarquia
e registradas na matrícula do bem, mesmo que o edital de praça e o auto de arrematação tenham
sido silentes quanto à existência dos referidos gravames.
Além de o Juízo da execução não deter competência para o desfazimento ou cancelamento de
constrições e registros determinados por outros Juízos de mesma hierarquia, os titulares dos
direitos decorrentes das decisões judiciais proferidas em outros processos ("credores"), as quais
geraram as constrições e registros imobiliários que o arrematante pretende cancelar, têm direito
ao devido processo legal, com contraditório e ampla defesa a fim de manterem o bem vinculado
a seus interesses.
As possíveis falhas nos atos judiciais que antecederam a arrematação, porque não
mencionavam as outras constrições de outros Juízos sobre o imóvel a ser arrematado, não
possibilitam ao Juízo da arrematação determinar a baixa de outras constrições levadas a efeito
por outros juízos.
STJ. 4ª Turma. RMS 48.609-MT, Rel. Min. Raul Araújo, j. 19/5/16 (Info 585).

43.35. Necessidade de prévia intimação das partes antes de se decretar a prescrição intercorrente
– (Info 584) – IMPORTANTE!!!

Em execução de título extrajudicial, o credor deve ser intimado para opor fato impeditivo à
incidência da prescrição intercorrente antes de sua decretação de ofício.
Esse dever de prévia intimação do credor para decretação da prescrição intercorrente não era
previsto expressamente no CPC/1973, sendo aplicado pelo STJ com base na incidência
analógica do art. 40, §§ 4º e 5º, da Lei nº 6.830/80 (Lei de Execução Fiscal).
O CPC/2015, contudo, resolve a questão e prevê expressamente a prévia oitiva das partes:
Art. 921 (...) § 5º O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15 (quinze) dias, poderá, de
ofício, reconhecer a prescrição de que trata o § 4º e extinguir o processo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.589.753-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 17/5/16 (Info 584).
OBS:
Não localização de bens penhoráveis: João ingressou com execução cobrando R$ 100 mil de
Pedro. O executado não pagou espontaneamente o débito e não foram localizados bens de Pedro
que pudessem ser penhorados. Ocorrendo isso, o juiz deverá proferir uma decisão suspendendo o
processo, nos termos do art. 921, III, do CPC/2015:
Art. 921. Suspende-se a execução: (...)
III - quando o executado não possuir bens penhoráveis;

Hipóteses do inciso III: Vale ressaltar que a suspensão da execução com base no inciso III abrange
três hipóteses:
1ª) quando não é localizado nenhum bem do devedor (não tem nada em seu nome);
2ª) quando são localizados bens, mas estes se classificam como impenhoráveis (exs:
o executado tem uma casa em seu nome, mas é bem de família; o executado possui
uma poupança com menos de 40 salários mínimos depositados);
3ª) quando até foram localizados bens do devedor que podem ser penhorados, mas
se alienados, não pagarão nem as custas da execução, nos termos do art. 836 do
CPC/2015 (ex: o executado possui uma mobilete, ano 1990).

Por quanto tempo este processo ficará suspenso? O juiz suspenderá a execução pelo prazo de 1
ano. Neste período de 1 ano, ficará suspensa também a prescrição (§ 1º do art. 921).
O que acontece se, neste período, for localizado algum bem penhorável? Neste caso, os autos serão
desarquivados para prosseguimento da execução (§ 3º do art. 921).

Depois que passar este prazo de 1 ano, o que acontece? A execução continuará suspensa. No
entanto, o prazo prescricional começará a correr.
Art. 921 (...) § 4º Decorrido o prazo de que trata o § 1º sem manifestação do
exequente, começa a correr o prazo de prescrição intercorrente.

Para que o prazo prescricional comece a correr, é necessária decisão ou despacho do juiz
afirmando isso? NÃO. Depois que transcorrer 1 ano da execução suspensa, o prazo da prescrição
intercorrente começa a correr automaticamente, sem necessidade de decisão ou despacho do
magistrado.
Enunciado 195-FPPC: O prazo de prescrição intercorrente previsto no art. 921, § 4º,
tem início automaticamente um ano após a intimação da decisão de suspensão de
que trata o seu § 1º.

Qual é o nome desta prescrição? Prescrição intercorrente. É assim chamada porque ocorre
durante o processo.

Qual será o prazo prescricional da prescrição intercorrente? Irá variar de acordo com o que está
sendo executado. Isso porque a execução prescreve no mesmo prazo de prescrição da ação
(Súmula 150-STF).
Ex1: João ingressou com execução de um cheque contra Pedro. O prazo para se ingressar com ação
de execução de cheque é de 5 anos. Significa que o prazo da prescrição intercorrente na execução
de um cheque também será de 5 anos. Logo, depois de não se localizarem bens de Pedro, este terá
que esperar 6 anos para se livrar do processo (1 ano de suspensão da prescrição + 5 anos até
prescrever).

Ex2: João ingressou com ação de indenização contra Pedro. O juiz condenou o réu a pagar R$ 100
mil. Houve o trânsito em julgado. O credor iniciou o cumprimento de sentença. Não foram
localizados bens penhoráveis. O prazo para que a pessoa ingresse com ação de reparação civil é de
3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC). Significa que o prazo da prescrição intercorrente no cumprimento
de sentença de uma condenação de reparação civil também será de 3 anos. Logo, depois de não se
localizarem bens de Pedro, este terá que esperar 4 anos para se livrar do processo (1 ano de
suspensão da prescrição + 4 anos até prescrever).

Daí ter sido editado o Enunciado 196-FPPC: O prazo de prescrição intercorrente é o mesmo da
ação.

A prescrição intercorrente pode ser decretada de ofício ou depende de requerimento do executado?


Pode ser decretada de ofício. No entanto, antes de decretar, o juiz deverá intimar as partes para
que se manifestem no prazo de 15 dias:
Art. 921 (...) § 5º O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15 (quinze) dias,
poderá, de ofício, reconhecer a prescrição de que trata o § 4º e extinguir o processo.

O executado normalmente não se manifesta ou simplesmente vai corroborar a ideia de que a


execução deve ser extinta pela prescrição. O exequente, contudo, poderá alegar algum fato que
obste a decretação da prescrição (ex: o juiz contou errado o prazo).

Essas regras acima analisadas valem apenas para a execução de título extrajudicial ou também
para o cumprimento de sentença? Para ambos. As regras da prescrição intercorrente previstas no
art. 921, III e §§ 1º a 5º, do CPC/2015, valem tanto para a execução de título extrajudicial como
para o cumprimento de sentença. Nesse sentido é o Enunciado 194-FPPC: A prescrição
intercorrente pode ser reconhecida no procedimento de cumprimento de sentença.

43.36. ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA: Aplicação da multa do art. 774, IV,
do CPC 2015 é restrita ao processo de execução – (Info 578)

A multa por ato atentatório à dignidade da Justiça, prevista no art. 774, IV, do CPC 2015,
somente pode ser aplicada no processo de execução, em caso de conduta de deslealdade
processual praticada pelo executado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.231.981/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 15/12/2015 (Info 578).
OBS
Sobrepartilha: É uma ação judicial (processo judicial) proposta quando, após ser concluída a
partilha, descobre-se que ainda existem mais bens que pertenciam ao falecido e que deveriam ter
entrado na partilha, mas ficaram de fora indevidamente. A sobrepartilha está prevista nos arts.
669 e 670 do CPC 2015 e segue o mesmo procedimento do inventário e da partilha. Dessa forma, é
como se fosse uma partilha, mas de bens que ficaram de fora.

Imagine a seguinte situação hipotética: Durante um processo judicial de sobrepartilha, o juiz


determinou ao banco que, no prazo de 10 dias, apresentasse extratos de uma aplicação financeira
que estava em nome do falecido. A instituição financeira não apresentou os documentos
requisitados, razão pela qual o magistrado expediu nova intimação ao banco para que fornecesse
os extratos, no prazo de 48 horas, sob pena de multa por ato atentatório ao exercício da jurisdição.
Mesmo sendo novamente intimada, a instituição quedou-se inerte, motivo pelo qual o magistrado
aplicou multa por ato atentatório à dignidade da Justiça, invocando o art. 774, IV, do CPC 2015:
Art. 774. Considera-se atentatória à dignidade da justiça a conduta comissiva ou
omissiva do executado que: (...)
IV - resiste injustificadamente às ordens judiciais;

A decisão do juiz foi tecnicamente correta? NÃO. Desse modo, esta multa não tem aplicação no
caso concreto, que cuidava de pedido incidental de exibição de documentos em autos de ação de
sobrepartilha - demanda tratada como de procedimento especial de jurisdição contenciosa.

Mas existe alguma outra sanção que o magistrado poderia aplicar ao banco recalcitrante? SIM. O
magistrado poderia:
a) determinar a busca e apreensão dos documentos requisitados; e
b) aplicar a multa por ato atentatório à dignidade da justiça (contempt of court) prevista no § 2º do
art. 77 do CPC 2015:
Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de seus
procuradores e de todos aqueles que de qualquer forma participem do processo:
(...)
IV - cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final,
e não criar embaraços à sua efetivação; (...)
§ 1º Nas hipóteses dos incisos IV e VI, o juiz advertirá qualquer das pessoas
mencionadas no caput de que sua conduta poderá ser punida como ato atentatório à
dignidade da justiça.
§ 2º A violação ao disposto nos incisos IV e VI constitui ato atentatório à dignidade
da justiça, devendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais
cabíveis, aplicar ao responsável multa de até vinte por cento do valor da causa, de
acordo com a gravidade da conduta.

Dessa forma, existia a possibilidade de aplicação de multa por ato atentatório à dignidade da
justiça, mas o fundamento legal invocado pelo magistrado foi incorreto.

43.37. Impenhorabilidade da pequena propriedade rural – (Info 574)

A pequena propriedade rural, trabalhada pela família, é impenhorável, ainda que dada pelos
proprietários em garantia hipotecária para financiamento da atividade produtiva.
STJ. 4ª T. REsp 1.368.404-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 13/10/2015 (Info 574).

43.38. É incabível o oferecimento de reconvenção em embargos à execução – (Info 567)

É incabível o oferecimento de reconvenção em embargos à execução.


O processo de execução tem como finalidade a satisfação do crédito constituído, razão pela qual
revela-se inviável a reconvenção, na medida em que, se admitida, ocasionaria o surgimento de
uma relação instrumental cognitiva simultânea, o que inviabilizaria o prosseguimento da ação
executiva.
Assim sendo, a reconvenção somente tem finalidade de ser utilizada em processos de
conhecimento, haja vista que a mesma demanda dilação probatória, exigindo sentença de
mérito, o que vai de encontro com a fase de execução, na qual o título executivo já se encontra
definido. Esse entendimento persiste mesmo com a entrada em vigor do CPC 2015.
STJ. 2ª T. REsp 1.528.049-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 18/8/2015 (Info 567).

43.39. Impenhorabilidade de valores do Fundo Partidário – (Info 562)

Os recursos do Fundo Partidário são absolutamente impenhoráveis, inclusive na hipótese em


que a origem do débito esteja relacionada às atividades previstas no art. 44 da Lei n. 9.096/95.
Fundamento legal: art. 649, XI, do CPC 1973; art. 833, XI, do CPC 2015.
Ex: a empresa de publicidade “XXX” ajuizou ação de cobrança contra o Partido “ZZZ” em
virtude do não pagamento pela prestação de serviços de marketing eleitoral realizados na
campanha. A sentença foi julgada procedente, determinando o pagamento de R$ 100 mil reais.
Como não houve pagamento voluntário após a condenação, iniciou-se a fase de cumprimento
de sentença. O juiz determinou a penhora “on line” e a quantia devida foi penhorada em uma
conta bancária em nome do partido político. Após a penhora, o partido apresentou impugnação
alegando que a conta bancária onde os valores foram penhorados é utilizada exclusivamente
para o recebimento de repasse oriundo do Fundo Partidário e, portanto, trata-se de verba
impenhorável. A alegação do partido política está correta. O CPC estabelece um rol de bens que
não podem ser objeto de penhora. Dentre esses, encontram-se previstos os “recursos do fundo
partidário”.
STJ. 3ª T. REsp 1.474.605-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 7/4/2015 (Info 562).

43.40. Cancelamento da distribuição da impugnação ou dos embargos à execução por falta de


recolhimento das custas – (Info 561)

Sobre o tema, cancelamento da distribuição da impugnação ou dos embargos à execução por


falta de recolhimento das custas, é possível apontar as seguintes conclusões:
No CPC 1973:
1) Cancela-se a distribuição da impugnação ao cumprimento de sentença ou dos embargos à
execução na hipótese de não recolhimento das custas no prazo de 30 dias, independentemente
de prévia intimação da parte.
2) Não se determina o cancelamento da distribuição se o recolhimento das custas, embora
intempestivo, estiver comprovado nos autos.

No CPC 2015:
1) Cancela-se a distribuição da impugnação ao cumprimento de sentença ou dos embargos à
execução na hipótese de não recolhimento das custas no prazo de 15 dias, que só começam a ser
contados depois que a parte for intimada na pessoa de seu advogado (art. 290).
2) Não se determina o cancelamento da distribuição se o recolhimento das custas, embora
intempestivo, estiver comprovado nos autos.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.361.811-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 4/3/2015 (Info 561).

43.41. Arrematação de bem por oficial de justiça aposentado – (Info 561)

Os juízes, servidores do Judiciário, arbitradores, peritos e outros serventuários ou auxiliares da


justiça não podem adquirir bens que estejam sendo leiloados pelo tribunal ou juízo do lugar
onde atuarem (art. 497, III, do CC).
Essa vedação estende-se também para oficiais de justiça aposentados? Eles também estão
proibidos de arrematar?
NÃO. A vedação contida no art. 497, III, do CC não impede o oficial de justiça aposentado de
arrematar bem em hasta pública. A proibição tem como razão de ser o exercício efetivo da
função, a fim de evitar influências ou favorecimentos.
STJ. 2ª T. REsp 1.399.916-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 28/4/2015 (Info 561).

43.42. Execução de título extrajudicial que contenha cláusula compromissória – (Info 560)

Imagine que um contrato preveja uma confissão de dívida (líquida, certa e exigível). Neste
mesmo contrato, há uma cláusula compromissória dizendo que eventuais divergências sobre o
ajuste deverão ser dirimidas via arbitragem.
Se a parte que se obrigou a pagar o valor confessado mostrar-se inadimplente, a parte credora
poderá executar o contrato na via judicial ou terá que instaurar o procedimento arbitral?
Poderá propor diretamente a execução na via judicial. Ainda que possua cláusula
compromissória, o contrato assinado pelo devedor e por duas testemunhas pode ser levado a
execução judicial relativamente à cláusula de confissão de dívida líquida, certa e exigível. Isso
porque o juízo arbitral não possui poderes coercitivos (executivos). Ele não pode penhorar bens
do executado, por exemplo, nem levá-los à hasta pública. Em outras palavras, o árbitro até
decide a causa, mas se a parte perdedora não cumprir voluntariamente o que lhe foi imposto, a
parte vencedora terá que executar esse título no Poder Judiciário. Logo, não há sentido instaurar
a arbitragem para exigir o valor que já está líquido, certo e exigível por força uma confissão de
dívida.
STJ. 3ª T. REsp 1.373.710-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 7/4/2015 (Info 560).
43.43. Penhora de quotas sociais na parte relativa à meação – (Info 559)

João foi casado com Cristina, com quem teve um filho (Arthur). O pai paga pensão alimentícia
em favor do filho. Atualmente, João vive em união estável com Beatriz. Beatriz é sócia,
juntamente com uma amiga, de uma sociedade empresária limitada (empresa XXX). Vale
ressaltar que ela se tornou sócia desta sociedade depois que já vivia em união estável com João.
João deixou de pagar a pensão alimentícia, razão pela qual Arthur ingressou com execução de
alimentos. Ocorre que não foram localizados bens penhoráveis em nome de João.
Diante disso, o exequente pediu que fossem penhoradas 50% das cotas sociais de Beatriz
(companheira do executado) na sociedade empresária “XXX”. A tese do exequente foi a
seguinte: como Beatriz vive em união estável com João, metade do patrimônio dela pertence a
João (direito dele à meação). Logo, ele possui metade das cotas dela na empresa. Sendo esse
patrimônio dele, pode ser penhorado para pagar suas dívidas.
A tese construída pelo exequente é correta?
SIM. Se duas pessoas vivem em união estável, é como se elas fossem casadas sob o regime da
comunhão parcial de bens (art. 1.725 do CC). Por isso, o companheiro (no caso, João) possui
direito à metade dos bens da companheira (Beatriz), incluindo metade das quotas sociais
porque estas foram adquiridas onerosamente durante à união estável, de forma que se
comunicam ao companheiro.

A legislação permite a penhora de quotas sociais?


SIM. Isso está previsto no art. 655, VI, do CPC 1973 (art. 835, IX, do CPC 2015)

No caso concreto, era possível que o juiz já determinasse, como primeira providência, a penhora
da metade das quotas de Beatriz (companheira do devedor)?
NÃO. O STJ entende que a penhora sobre as quotas sociais não deve ser a primeira opção
porque esta medida poderá acarretar o fim da pessoa jurídica e nosso Direito consagra os
princípios da conservação da empresa e da menor onerosidade da execução.
Assim, não se pode autorizar desde logo a penhora sobre as quotas sociais. Cabia ao exequente
requerer, antes disso, a penhora dos lucros relativos às quotas sociais correspondentes à meação
do devedor, não podendo ser deferida, de imediato, a penhora das cotas sociais de sociedade
empresária que se encontra em plena atividade, o que poderia causar prejuízo a terceiros, como
funcionários, fornecedores etc. Somente se não houvesse lucros é que poderia ser feita a
penhora das quotas com a liquidação da sociedade (art. 1.026 do CC).
STJ. 4ª T. REsp 1.284.988-RS, Rel Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/3/2015 (Info 559).

43.44. Responsabilidade do adjudicante por dívidas condominiais pretéritas – (Info 559)

Situação 1. O edital de hasta pública não menciona que o imóvel que está sendo oferecido
possui vários meses de taxa de condomínio atrasados. Se uma pessoa resolver arrematar
(adquirir) esse apartamento, ele ficará responsável pelo pagamento dessas cotas condominiais
que venceram antes da arrematação?
NÃO. As dívidas condominiais anteriores à alienação judicial e que não estavam previstas no
edital não serão de responsabilidade do arrematante, devendo ser quitadas com o valor obtido
com a alienação judicial do imóvel, podendo o arrematante pedir a reserva de parte desse valor
para o pagamento das referidas dívidas (STJ. 3ª Turma. REsp 1092605/SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 28/06/2011).

Situação 2. Houve uma tentativa de alienação judicial do bem, mas não apareceram
interessados. Diante disso, o exequente decidiu adjudicar o apartamento. O exequente ficará
responsável pelo pagamento dessas cotas condominiais que venceram antes da adjudicação?
SIM. O exequente que adjudicou o imóvel deve arcar com as despesas condominiais anteriores
à aquisição, ainda que tais dívidas tenham sido omitidas no edital da hasta pública.
A adjudicação e a arrematação possuem características diversas e, portanto, merecem
tratamento distinto no que diz respeito à vinculação ao edital.
A adjudicação consiste na aquisição espontânea pelo exequente do bem penhorado por preço
não inferior ao da avaliação, não havendo sua subordinação ao edital de praça, haja vista que
essa forma de aquisição da propriedade não se insere no conceito de hasta pública . Logo, não
podem ser aplicados à adjudicação os mesmos dispositivos que tratam sobre a arrematação.
Em outras palavras, os dispositivos do CPC que permitem ao arrematante recusar-se a cumprir
a arrematação caso o edital não esteja completo quanto aos ônus existentes, não pode ser
aplicado ao exequente que faz a adjudicação.
Assim, nada impede que o adjudicante responda pelo pagamento das contribuições
condominiais não pagas no período anterior à adjudicação, aplicando-se o art. 1.345 do CC em
sua íntegra.
STJ. 4ª T. REsp 1.186.373-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 24/3/2015 (Info 559).

43.45. Análise da impenhorabilidade prevista nos incisos IV e X do art. 649 do CPC – (Info 554) –
IMPORTANTE!!! Mudança de entendimento! Atualize o Info 547-STJ - (DPERN-2015)

O art. 649, X, do CPC afirma que “são absolutamente impenhoráveis até o limite de 40
(quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em CADERNETA DE POUPANÇA.”
O STJ confere interpretação extensiva ao inciso X do art. 649 do CPC, permitindo que essa
impenhorabilidade abranja outras aplicações financeiras, além da poupança, como é o caso do
fundo de investimento.
Assim, é impenhorável a quantia oriunda do recebimento, pelo devedor, de verba rescisória
trabalhista posteriormente poupada em mais de um fundo de investimento, desde que a soma
dos valores não seja superior a 40 salários mínimos.
Admite-se, para alcançar o patamar de 40 salários mínimos, que o valor incida em mais de uma
aplicação financeira, desde que respeitado tal limite. Em outras palavras, caso o devedor possua
mais de um fundo de investimento, todas as respectivas contas devem ser consideradas
impenhoráveis, até o limite global de 40 salários mínimos (soma-se todos os fundos de
investimento e o máximo protegido é 40 salários mínimos).
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.330.567-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 10/12/14 (Info 554).

44. ASTREINTES
44.1. É cabível multa cominatória para compelir provedor de acesso à internet ao fornecimento
de dados para identificação de usuário – (Info 652)

É cabível multa cominatória para compelir provedor de acesso a internet ao fornecimento de


dados para identificação de usuário.
STJ. 4ª T. REsp 1560976-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 30/05/2019 (Info 652).

44.2. Ao se calcular os honorários advocatícios sucumbenciais, não se deve incluir o valor das
astreintes – (Info 608) – IMPORTANTE!!! - (MPCE-2020)

O valor da multa cominatória (astreintes) não integra a base de cálculo da verba honorária.
Ex: juiz proferiu sentença condenando o réu a pagar: a) R$ 100 mil a título de danos morais; b)
R$ 40 mil de multa cominatória (astreintes); c) 10% de honorários advocatícios sobre o valor da
condenação. Os 10% do advogado serão calculados sobre R$ 100 mil (e não sobre R$ 140 mil). A
base de cálculo dos honorários advocatícios sucumbenciais na fase de conhecimento é a
condenação referente ao mérito principal da causa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.367.212-RR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 20/6/17 (Info 608).
OBS:
Art. 85. (...)
§ 2º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por
cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo
possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos:
I - o grau de zelo do profissional;
II - o lugar de prestação do serviço;
III - a natureza e a importância da causa;
IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.

O que se entende por valor da condenação? As astreintes estão incluídas no conceito de valor da
condenação para fins de honorários advocatícios sucumbenciais? NÃO. Quando se fala em “valor
da condenação”, na fase de conhecimento do processo, deve-se entender que é o “valor do bem
pretendido pelo demandante”, ou seja, o montante econômico da questão litigiosa conforme o
direito material (Min. Ricardo Villas Bôas Cueva). Assim, a base de cálculo dos honorários
advocatícios sucumbenciais na fase de conhecimento é a condenação referente ao mérito principal
da causa.

Astreintes é um instrumento processual: A multa cominatória constitui instrumento de direito


processual criado para a efetivação da tutela específica perseguida, ou para a obtenção de
resultado prático equivalente, nas ações de obrigação de fazer ou não fazer, constituindo,
portanto, medida de execução indireta. Em virtude de sua natureza inibitória, destina-se a
impedir a violação de um direito, de forma imediata e definitiva.
Ademais, por ser um meio de coerção indireta ao cumprimento do julgado, a decisão que arbitra
astreintes não faz coisa julgada material, podendo, por isso mesmo, ser modificada, a
requerimento da parte ou de ofício, seja para aumentar ou diminuir o valor da multa ou, ainda,
para suprimi-la. Verifica-se, assim, que as astreintes, sendo apenas um mecanismo coercitivo
posto à disposição do Estado-Juiz para fazer cumprir as suas decisões, não ostentam caráter
condenatório, tampouco transitam em julgado, o que as afastam da base de cálculo dos
honorários advocatícios.

O julgado acima comentado permanece válido com o CPC/2015? No entendimento do Dizer o


Direito, sim. A redação do art. 85, § 2º do CPC/2015 também fala em “valor da condenação”, de
forma que deve ser aplicado o mesmo entendimento.

44.3. É possível a imposição de astreintes contra a Fazenda Pública para fornecimento de


medicamento – (Info 606) – IMPORTANTE!!! – (TJPB-2015) (TJDFT-2015)

É permitida a imposição de multa diária (astreintes) a ente público para compeli-lo a fornecer
medicamento a pessoa desprovida de recursos financeiros.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.474.665-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 26/4/17 (recurso repetitivo)
(Info 606).

44.4. É possível que as astreintes sejam alteradas de ofício no recurso, no entanto, para isso, é
indispensável que o recurso tenha sido conhecido – (Info 600)

O valor das astreintes não pode ser reduzido de ofício em segunda instância quando a questão
é suscitada em recurso de apelação não conhecido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.508.929-RN, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 7/3/2017 (Info 600).
OBS:
Astreintes: Multa cominatória, também conhecida como astreinte, é prevista no art. 537 do
CPC/2015:
Art. 537. A multa independe de requerimento da parte e poderá ser aplicada na fase
de conhecimento, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase de execução, desde
que seja suficiente e compatível com a obrigação e que se determine prazo razoável
para cumprimento do preceito.

Assim, a multa coercitiva pode ser aplicada pelo magistrado como uma forma de pressionar o
devedor a cumprir:
 uma decisão interlocutória que concedeu tutela provisória; ou
 uma sentença que julgou procedente o pedido do autor.

Ex: em uma ação envolvendo contrato empresarial, o juiz determinou que a empresa “XX”
entregasse para a empresa “YY” 8 mil sacas de soja em determinado prazo, sob pena de multa
diária de R$ 16 mil reais. Essa multa é chamada de astreinte.

Principais características da multa cominatória (astreinte):


 Essa multa coercitiva tornou-se conhecida no Brasil pelo nome de astreinte em virtude de
ser semelhante (mas não idêntica) a um instituto processual previsto no direito francês e
que lá assim é chamado.
 A finalidade dessa multa é coercitiva, isto é, pressionar o devedor a realizar a prestação.
Trata-se de uma técnica judicial de coerção indireta.
 Apresenta um caráter híbrido, possuindo traços de direito material e também de direito
processual.
 Não tem finalidade ressarcitória, tanto é que pode ser cumulada com perdas e danos.
 Pode ser imposta pelo juiz de ofício ou a requerimento, na fase de conhecimento ou de
execução.
 Apesar de no dia-a-dia ser comum ouvirmos a expressão “multa diária”, essa multa pode
ser estipulada também em meses, anos ou até em horas. O CPC 2015, corrigindo essa
questão, não fala mais em “multa diária”, utilizando simplesmente a palavra “multa”.
 O valor da multa deve ser revertido em favor do credor, ou seja, o destinatário das
astreintes é a pessoa que seria beneficiada com a conduta que deveria ter sido cumprida
(STJ REsp 949.509-RS / art. 537, § 2º do CPC 2015). Geralmente, as astreintes foram
impostas para que o réu cumprisse determinada conduta, de forma que a multa será
revertida em favor do autor. No entanto, é possível imaginar alguma situação na qual,
durante o processo, o juiz imponha uma obrigação ao autor sob pena de multa. Neste
caso, o beneficiário das astreintes seria o réu.
 A parte beneficiada com a imposição das astreintes somente continuará tendo direito ao
valor da multa se sagrar-se vencedora. Se no final do processo essa parte sucumbir, não
terá direito ao valor da multa ou, se já tiver recebido, deverá proceder à sua devolução.

É possível a imposição de astreintes contra a Fazenda Pública? SIM. É perfeitamente possível ao


juiz, de ofício ou a requerimento da parte, fixar multa diária cominatória (astreintes) contra a
Fazenda Pública, em caso de descumprimento de obrigação de fazer (STJ. 2ª Turma. REsp
1654994/SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 06/04/2017).

Pode ser imposta multa ao agente público pelo descumprimento da obrigação de fazer? Depende.
Se ele foi parte na ação, sim. Caso não tenha sido parte, não é possível, por ofensa aos princípios
do contraditório e da ampla defesa. Confira:
(...) 1. O ora agravante, à época Secretário de Estado da Administração e dos
Recursos Humanos do Governo do Rio Grande do Norte, foi condenado, ante sua
responsabilidade pessoal, pela Corte de origem ao pagamento de astreintes devido
ao não cumprimento imediato de determinação judicial no bojo de mandado de
segurança do qual ele foi, efetivamente, parte impetrada. (...)
3. As astreintes podem ser direcionadas pessoalmente às autoridades ou aos agentes
responsáveis pelo cumprimento das determinações judiciais, em particular quando
eles foram parte na ação. (...)
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1388716/RN, Rel. Min. Humberto Martins, j. 23/10/14.

(...) o agente público não pode ser pessoalmente condenado ao pagamento de


astreintes se não figurou como parte na relação processual em que imposta a
cominação, sob pena de afronta ao direito constitucional de ampla defesa.
STJ. 1ª T. REsp 1433805/SE, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/06/2014.

É possível que o juiz, após o devedor já ter descumprido a multa fixada, reduza o seu valor? SIM.
É possível que o juiz, adotando os critérios da razoabilidade e da proporcionalidade, possa limitar
o valor da astreinte, a fim de evitar o enriquecimento sem causa do exequente. Essa possibilidade
está prevista no CPC:
Art. 537 (...)
§ 1º O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a periodicidade
da multa vincenda ou excluí-la, caso verifique que:
I - se tornou insuficiente ou excessiva;
II - o obrigado demonstrou cumprimento parcial superveniente da obrigação ou
justa causa para o descumprimento.

Diante disso, pode-se dizer que a decisão que comina astreintes não preclui e não faz coisa julgada.
Assim, o juiz poderá, mesmo na fase de execução, alterar o valor da multa. Confira:
A decisão que comina astreintes não preclui, não fazendo tampouco coisa julgada.
A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que a multa cominatória não
integra a coisa julgada, sendo apenas um meio de coerção indireta ao cumprimento
do julgado, podendo ser cominada, alterada ou suprimida posteriormente. STJ. 2ª
Seção. REsp 1.333.988-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
9/4/2014 (recurso repetitivo) (Info 539).

Vale ressaltar que, mesmo se a multa foi fixada em sentença transitada em julgado, será possível a
modificação de seu valor e/ou periodicidade, considerando que o que se tornou imutável foi a
obrigação reconhecida na sentença, mas não a multa. Em outras palavras, o que fez coisa julgada
foi a obrigação, sendo a multa apenas uma forma executiva de cumpri-la.

Como é analisado se o valor da multa é excessivo? Para saber se a multa é excessiva, deve-se
analisar o seu valor no momento de sua fixação em comparação com o valor da obrigação
principal. Assim, no momento em que a multa é estipulada, o seu valor não pode ser superior ao
da obrigação principal. Isso porque não é razoável que o acessório (multa) seja maior que o
principal. No entanto, se, no instante em que a multa é fixada, o seu valor é bem abaixo da quantia
principal, mas o devedor demora muito para cumprir a determinação, podemos considerar que,
neste caso, a multa não é excessiva, podendo ser cobrada mesmo que, após longo tempo de atraso,
ela já esteja maior que a obrigação principal. Assim, é possível imaginar situações em que o valor
de multa cominatória pode ser exigido em montante superior ao da obrigação principal.

A apuração da razoabilidade e da proporcionalidade do valor da multa diária deve ser


verificada no momento de sua fixação em cotejo com o valor da obrigação principal. Com efeito,
a redução do montante total a título de astreinte, quando superior ao valor da obrigação principal,
acaba por prestigiar a conduta de recalcitrância do devedor em cumprir as decisões judiciais, bem
como estimula a interposição de recursos com esse fim, em total desprestígio da atividade
jurisdicional das instâncias ordinárias. Em suma, deve-se ter em conta o valor da multa diária
inicialmente fixada e não o montante total alcançado em razão da demora no cumprimento da
decisão. Portanto, a fim de desestimular a conduta recalcitrante do devedor em cumprir decisão
judicial, é possível se exigir valor de multa cominatória superior ao montante da obrigação
principal. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp 1.352.426-GO, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em
5/5/2015 (Info 562).

O autor pode exigir o pagamento das astreintes antes do final do processo (antes do trânsito em
julgado)? Em outras palavras, é possível a execução provisória das astreintes fixadas em tutela
provisória de urgência? Sim, é possível. Neste caso, o devedor da multa será obrigado a depositar
o valor em juízo. Caso não faça voluntariamente, poderão ser tomadas medidas de expropriação
(ex: penhora on line). No entanto, o credor não poderá levantar imediatamente a quantia. O valor
da multa permanecerá depositado em juízo e o credor somente poderá “sacar” a quantia após o
trânsito em julgado da sentença favorável a ele. Veja o dispositivo do CPC/2015 que trata sobre o
tema:
Art. 537. (...)
§ 3º A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento provisório, devendo ser
depositada em juízo, permitido o levantamento do valor após o trânsito em julgado
da sentença favorável à parte. (Redação dada pela Lei nº 13.256/2016)

Para que a multa comece a produzir efeitos, é necessário que o destinatário da ordem seja
intimado. Como é feita esta intimação?

CPC/1973 CPC/2015
Havia a seguinte distinção: Segundo a doutrina, não mais existe essa distinção. O
• Obrigação de pagar quantia devedor será intimado na forma do art. 513, § 2º:
certa: a intimação era feita na I - pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado
pessoa do advogado. constituído nos autos;
• Obrigação de fazer, não fazer e II - por carta com aviso de recebimento, quando
entregar coisa: a intimação deveria representado pela Defensoria Pública ou quando não tiver
ser pessoal. procurador constituído nos autos, ressalvada a hipótese
Súmula 410-STJ: A prévia do inciso IV;
intimação pessoal do devedor III - por meio eletrônico, quando, no caso do § 1º do art.
constitui condição necessária para 246, não tiver procurador constituído nos autos;
a cobrança de multa pelo IV - por edital, quando, citado na forma do art. 256, tiver
descumprimento da obrigação de sido revel na fase de conhecimento.
fazer ou não fazer.
A Súmula 410 do STJ está superada.
Nesse sentido: NEVES, Daniel Amorim Assumpção.
Manual de Direito Processual Civil. Salvador: Juspodivm,
2017, p. 1202.

Feita esta breve revisão sobre astreintes, imagine a seguinte situação hipotética: João foi
condenado a pagar R$ 300 mil a Pedro. Desse valor, R$ 100 mil é referente à obrigação principal e
R$ 200 mil corresponde ao valor das astreintes. A sentença transitou em julgado. O credor iniciou
o cumprimento de sentença. João (devedor), após ser intimado, decidiu não pagar a dívida, tendo
apresentado impugnação ao cumprimento de sentença. Na impugnação, ele alegou que o valor da
multa era excessivo e que deveria ser reduzido, nos termos do art. 537, § 1º, I, do CPC/2015. O juiz
julgou improcedente a impugnação e determinou o prosseguimento da execução. João interpôs
apelação contra esta decisão do magistrado.

Agiu corretamente o devedor? NÃO. O recurso cabível contra a decisão que julga a impugnação ao
cumprimento de sentença é o seguinte:
 Se na decisão que julgou a impugnação o juiz não extinguiu a execução: cabe agravo de
instrumento.
 Se na decisão que julgou a impugnação o juiz extinguiu a execução: cabe apelação.

No caso concreto, o magistrado julgou improcedente a impugnação e não extinguiu a fase


executiva. Logo, João deveria ter interposto agravo de instrumento.

O Tribunal poderia, com base no princípio da fungibilidade, receber a apelação interposta como
se fosse agravo de instrumento?
(...) A decisão que resolve a impugnação sem por fim à execução desafia o recurso de
agravo de instrumento, caracterizando erro grosseiro a interposição de apelação, (...)
STJ. 3ª Turma. EDcl no AgRg no AREsp 209.349/SP, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, DJe 28/3/2016.

O que aconteceu quando a apelação chegou ao Tribunal? O Tribunal negou seguimento (não
conheceu) à apelação, sob o fundamento de que se tratava de recurso incabível na espécie. No
entanto, de ofício, reduziu o valor da multa executada para R$ 100 mil.

Agiu corretamente o Tribunal? NÃO. É o que foi decidido no Info 600 do STJ.

Como vimos acima, é certo que a decisão que fixa a multa cominatória não faz coisa julgada,
podendo ser modificada a qualquer tempo. Assim, é possível a modificação do valor da multa até
mesmo de ofício, a qualquer tempo, inclusive na fase de execução.

Isso, contudo, não quer dizer que o órgão julgador está autorizado a conhecer de ofício do tema
em recurso que não tenha nem sequer ultrapassado a instância de conhecimento, isto é, que não
tenha sido nem mesmo admitido.

No caso concreto, a apelação era incabível, o que significa que ele não poderia ter sido conhecido.
Se o recurso não foi conhecido, conclui-se que não foi aberta a jurisdição recursal, razão pela qual
era impossível que o Tribunal tivesse emitido qualquer pronunciamento sobre o mérito da
questão, ainda que de ofício. Dizer que determinada questão pode ser conhecida de ofício significa
reconhecer que o juiz pode decidi-la independentemente de pedido, mas há de haver um
momento processual adequado para tanto. Nesse sentido, confira outro precedente do STJ:
(...) 4. Pode o órgão julgador conhecer, de ofício, das questões de ordem pública, sem
que isso implique julgamento extra petita ou reformatio in pejus. Precedentes do
STJ.
5. No âmbito do STJ, tal orientação também encontra guarida, consoante prescreve o
art. 257 do RI/STJ. É necessário, porém, que a instância recursal seja aberta, o que
ocorre quando o apelo preenche todos os requisitos de admissibilidade. (...)
STJ. 2ª Turma. AgRg no AgRg no REsp 1.218.791/PE, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 6/9/2011.

Assim, o valor da multa não poderia ter sido reduzido já que a apelação não foi conhecida.

44.5. Exequibilidade de multa cominatória de valor superior ao da obrigação principal – (Info


562)

A depender do caso concreto, o valor de multa cominatória pode ser exigido em montante
superior ao da obrigação principal.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.352.426-GO, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 5/5/15 (Info 562).

44.6. Decisão que fixa valor das astreintes não preclui nem faz coisa julgada – (Info 539)

A decisão que comina astreintes não preclui, não fazendo tampouco coisa julgada.
A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que a multa cominatória não integra a coisa
julgada, sendo apenas um meio de coerção indireta ao cumprimento do julgado, podendo ser
cominada, alterada ou suprimida posteriormente.
STJ. 2ª S. REsp 1.333.988-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 9/4/14 (recurso repetitivo)
(Info 539).

45. FRAUDE À EXECUÇÃO


45.1. Venda do bem pelo sócio antes da desconsideração da personalidade jurídica e do
redirecionamento da execução para a pessoa física – (Info 594) – IMPORTANTE!!!

A fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de disposição do bem for posterior à
citação válida do sócio devedor, quando redirecionada a execução que fora originariamente
proposta em face da pessoa jurídica.
Ex: havia uma execução tramitando apenas contra a sociedade empresária; durante o curso deste
processo, um dos sócios vendeu bem que estava em seu nome; algum tempo depois, o juiz
determinou a desconsideração da personalidade jurídica e o redirecionamento da execução
contra o sócio; esta alienação realizada pelo sócio não ocorreu mediante fraude à execução; isso
porque, quando ele vendeu o bem, ainda não tinha sido citado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.391.830-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 22/11/16 (Info 594).

O entendimento acima exposto permanece válido com o CPC/2015?


Haverá polêmica, mas pela redação literal do novo CPC, não. Isso porque o CPC/2015 traz uma
nova regra, que não havia no Código passado, afirmando que a fraude à execução tem como
marco a data da citação da pessoa jurídica que é objeto da desconsideração:
Art. 792 (...) § 3º Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à
execução verifica-se a partir da citação da parte cuja personalidade se pretende
desconsiderar.

45.2. Requisitos para o reconhecimento da fraude à execução – (Info 552) – IMPORTANTE!!! –


(TJSP-2018)

O STJ, apreciando o tema sob o regime do recurso repetitivo, definiu as seguintes teses sobre
fraude à execução:
1) Em regra, para que haja fraude à execução, é indispensável que tenha havido a citação válida
do devedor.
2) Mesmo sem citação válida, haverá fraude à execução se, quando o devedor alienou ou onerou
o bem, o credor já havia realizado a averbação da execução nos registros públicos (art. 615-A do
CPC). Presume-se em fraude de execução a alienação ou oneração de bens realizada após essa
averbação (§ 3º do art. 615-A do CPC).
3) Persiste válida a Súmula 375 do STJ, segundo a qual o reconhecimento da fraude de execução
depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente.
4) A presunção de boa-fé é princípio geral de direito universalmente aceito, devendo ser
respeitado a parêmia (ditado) milenar que diz o seguinte: “a boa-fé se presume, a má-fé se
prova”.
5) Assim, não havendo registro da penhora na matrícula do imóvel, é do credor o ônus de
provar que o terceiro adquirente tinha conhecimento de demanda capaz de levar o alienante à
insolvência (art. 659, § 4º, do CPC).
STJ. Corte Especial. REsp 956.943-PR, Rel. originária Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min.
João Otávio de Noronha, julgado em 20/8/2014 (recurso repetitivo) (Info 552).
OBS:
Atenção: As teses acima expostas continuam válidas, devendo, no entanto, ser observada também
agora a hipótese do art. 792, § 2º do CPC/2015.

46. EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA


46.1. Descabimento de fixação de honorários advocatícios em execução invertida – (Info
563) – IMPORTANTE!!! – (AGU-2015)

Nas execuções contra a Fazenda Pública são devidos honorários advocatícios?


1) Sistemática dos PRECATÓRIOS:
 Se a Fazenda Pública apresentou embargos à execução: SIM.
 Se a Fazenda Pública não apresentou embargos à execução: NÃO.
Aplica-se aqui a regra do art. 1º-D da Lei 9.494/97.

2) Sistemática da RPV:
 Regra: SIM. Em regra, é cabível a fixação de verba honorária nas execuções contra a
Fazenda Pública, ainda que não embargadas, cujo pagamento da obrigação é feito
mediante RPV.
 Exceção: a Fazenda Pública não terá que pagar honorários advocatícios caso tenha
sido adotada a chamada “execução invertida”.
No caso de RVP, não se aplica o art. 1º-D da Lei 9.494/97.

A execução invertida consiste no seguinte: havendo uma decisão transitada em julgado


condenando a Fazenda Pública ao pagamento de uma quantia considerada como de
“pequeno valor”, o próprio Poder Público (devedor) prepara uma planilha de cálculos com
o valor que é devido e apresenta isso ao credor. Caso este concorde, haverá o pagamento
voluntário da obrigação. Desse modo, a Fazenda Pública, em vez de aguardar que o credor
proponha a execução, ela já se antecipa e apresenta os cálculos da quantia devida. O Poder
Público, sem necessidade de processo de execução, cumpre voluntariamente a condenação.
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 630.235-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 19/5/15 (Info 563).

47. EXECUÇÃO FISCAL


47.1. Na execução fiscal não cabe a retenção de passaporte ou a suspensão da CNH como
forma de compelir o executado a pagar o débito – (Info 654) – IMPORTANTE!!!

Em execução fiscal não cabem medidas atípicas aflitivas pessoais, tais como a suspensão
de passaporte e da licença para dirigir.
STJ. 1ª T. HC 453870-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 25/6/19 (Info 654).

##Atenção: O entendimento acima é diferente no caso da execução “comum”. O STJ possui


julgados dizendo que, na execução “comum”, é possível a adoção de meios executivos
atípicos desde que, verificando-se a existência de indícios de que o devedor possua
patrimônio expropriável, tais medidas sejam adotadas de modo subsidiário, por meio de
decisão que contenha fundamentação adequada às especificidades da hipótese concreta,
com observância do contraditório substancial e do postulado da proporcionalidade. (STJ. 3ª
Turma. REsp 1788950/MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/04/2019).

47.2. Em caso de fraude, é possível que, na medida cautelar de indisponibilidade, seja


decretada a indisponibilidade de bens de participantes do ilícito que não constam na
execução fiscal e essa indisponibilidade não se limite ao ativo permanente do § 1º do art. 4º
da Lei 8.397/92 – (Info 653)

A ocorrência de fraude autoriza a indisponibilidade de bens de participantes do ilícito que


não constam no polo passivo da execução fiscal.
No caso de atos fraudulentos, a indisponibilidade de bens decorrente da medida cautelar
fiscal não encontra limite no ativo permanente a que se refere o § 1º do art. 4º da Lei
8.397/92, podendo atingir quaisquer bens, direitos e ações da pessoa jurídica e,
eventualmente, dos sócios, nos termos do art. 11 da Lei nº 6.830/80.
STJ. 1ª T. REsp 1656172-MG, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 11/6/19 (Info 653).

47.3.O encargo do DL 1.025/69 não foi revogado pelo CPC/15 – (Info 650) –
IMPORTANTE!!! Concursos Federais!!!

O encargo do DL nº 1.025/69, embora nominado de honorários de sucumbência, não tem a


mesma natureza jurídica dos honorários do advogado tratados no CPC/2015, razão pela
qual esse diploma não revogou aquele, em estrita observância ao princípio da
especialidade.
STJ. 1ª T. REsp 1.798.727-RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 9/5/19 (Info 650).

47.4. É possível que seja dispensada a garantia do juízo para o oferecimento dos embargos
à execução se ficar demonstrado que o devedor não possui patrimônio para isso – (Info 650) –
IMPORTANTE!!!

Deve ser afastada a exigência da garantia do juízo para a oposição de embargos à execução
fiscal, caso comprovado inequivocadamente que o devedor não possui patrimônio para
garantia do crédito exequendo.
STJ. 1ª T. REsp 1487772/SE, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 28/05/2019 (Info 650).

47.5. Não cabe mandado de segurança para atacar decisão judicial que se enquadra na
hipótese do art. 34 da Lei nº 6.830/80 – (Info 648) – IMPORTANTE!!!

Segundo o art. 34 da Lei 6.830/80, das sentenças de primeira instância proferidas em


execuções de valor igual ou inferior a 50 Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional -
ORTN, só se admitirão embargos infringentes e de declaração. Em outras palavras, não
cabe apelação.
Essa previsão é constitucional: “É compatível com a Constituição o art. 34 da Lei 6.830/80,
que afirma incabível apelação em casos de execução fiscal cujo valor seja inferior a 50
ORTN” (STF ARE 637.975-RG/MG). Isso porque tal previsão não viola os princípios
constitucionais do devido processo legal, do contraditório, da ampla defesa, do acesso à
jurisdição e do duplo grau de jurisdição.
Vale ressaltar também que, contra essa decisão, cabe recurso extraordinário, nos termos da
Súmula 640 do STF: É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de
primeiro grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de Juizado Especial Cível ou
Criminal.
Considerando que não cabe apelação, seria possível a impetração de mandado de
segurança contra a sentença proferida nos termos do art. 40 da LEF? NÃO. Isso porque é
incabível o emprego do mandado de segurança como sucedâneo recursal.
Diante disso, o STJ fixou a seguinte tese:
Não é cabível mandado de segurança contra decisão proferida em execução fiscal no
contexto do art. 34 da Lei nº 6.830/80.
STJ. 1ª S. IAC no RMS 54.712-SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 10/4/19 (Info 648).

47.6. Juiz pode deferir consulta ao CCS na execução fiscal em busca de bens do devedor –
(Info 645)

É legítimo o requerimento do Fisco ao juízo da execução fiscal para acesso ao Cadastro de


Clientes do Sistema Financeiro Nacional (CCS) como forma de encontrar bens que sejam
capazes de satisfazer a execução de crédito público.
STJ. 1ª T. REsp 1464714-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Benedito
Gonçalves, j. 12/3/19 (Info 645).

47.7. Forma de contagem do prazo da prescrição intercorrente prevista no art. 40, da LEF –
(Info 635) – IMPORTANTE!!! – RECURSO REPETITIVO!!! – (TJPR-2019)

Termo inicial do prazo de 1 ano: data da intimação da Fazenda Pública


O prazo de 1 (um) ano de suspensão do processo e do respectivo prazo prescricional
previsto no art. 40, §§ 1º e 2º da Lei nº 6.830/80 (LEF) tem início automaticamente na data
da ciência da Fazenda Pública a respeito da não localização do devedor ou da inexistência
de bens penhoráveis no endereço fornecido, havendo, sem prejuízo dessa contagem
automática, o dever de o magistrado declarar ter ocorrido a suspensão da execução.
Sem prejuízo do disposto anteriormente:
1.1) nos casos de execução fiscal para cobrança de dívida ativa de natureza tributária (cujo
despacho ordenador da citação tenha sido proferido antes da vigência da Lei
Complementar n. 118/2005), depois da citação válida, ainda que editalícia, logo após a
primeira tentativa infrutífera de localização de bens penhoráveis, o Juiz declarará
suspensa a execução; e,
1.2) em se tratando de execução fiscal para cobrança de dívida ativa de natureza tributária
(cujo despacho ordenador da citação tenha sido proferido na vigência da Lei
Complementar nº 118/2005) e de qualquer dívida ativa de natureza não tributária, logo
após a primeira tentativa frustrada de citação do devedor ou de localização de bens
penhoráveis, o Juiz declarará suspensa a execução.

Encerrado o prazo de 1 ano, inicia-se automaticamente a contagem do prazo prescricional


Havendo ou não petição da Fazenda Pública e havendo ou não pronunciamento judicial
nesse sentido, findo o prazo de 1 (um) ano de suspensão, inicia-se automaticamente o
prazo prescricional aplicável (de acordo com a natureza do crédito exequendo), durante o
qual o processo deveria estar arquivado sem baixa na distribuição, na forma do art. 40, §§
2º, 3º e 4º da Lei n. 6.830/1980 - LEF, findo o qual o Juiz, depois de ouvida a Fazenda
Pública, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-la de imediato.

Para interrupção do prazo prescricional é necessário requerimento da Fazenda Pública que


acarrete efetiva constrição ou efetiva citação
A efetiva constrição patrimonial e a efetiva citação (ainda que por edital) são aptas a
interromper o curso da prescrição intercorrente, não bastando para tal o mero
peticionamento em juízo, requerendo, v.g., a feitura da penhora sobre ativos financeiros
ou sobre outros bens. Os requerimentos feitos pelo exequente, dentro da soma do prazo
máximo de 1 (um) ano de suspensão mais o prazo de prescrição aplicável (de acordo com a
natureza do crédito exequendo) deverão ser processados, ainda que para além da soma
desses dois prazos, pois, citados (ainda que por edital) os devedores e penhorados os bens,
a qualquer tempo - mesmo depois de escoados os referidos prazos -, considera-se
interrompida a prescrição intercorrente, retroativamente, na data do protocolo da petição
que requereu a providência frutífera.

Falta de intimação da Fazenda Pública e efetivo prejuízo


A Fazenda Pública, em sua primeira oportunidade de falar nos autos (art. 278 do
CPC/2015), ao alegar nulidade pela falta de qualquer intimação dentro do procedimento do
art. 40 da LEF, deverá demonstrar o prejuízo que sofreu (exceto a falta da intimação que
constitui o termo inicial - Tema 566, onde o prejuízo é presumido), por exemplo, deverá
demonstrar a ocorrência de qualquer causa interruptiva ou suspensiva da prescrição.

Juiz, ao reconhecer a prescrição intercorrente, deverá demonstrar os marcos que foram


aplicados na contagem
O magistrado, ao reconhecer a prescrição intercorrente, deverá fundamentar o ato judicial
por meio da delimitação dos marcos legais que foram aplicados na contagem do respectivo
prazo, inclusive quanto ao período em que a execução ficou suspensa.
STJ. 1ª Seção. REsp 1340553-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 12/09/18 (recurso
repetitivo) (Info 635).
(TJPR-2019-CESPE): Na execução fiscal, o prazo de um ano de suspensão do processo,
previsto na Lei de Execução Fiscal, e da respectiva prescrição intercorrente se inicia
automaticamente na data de ciência da fazenda pública a respeito da não localização do
devedor ou da inexistência de bens penhoráveis no endereço fornecido. BL: Info 635, STJ.

47.8. O prazo prescricional para cobrança das anuidades dos conselhos somente se inicia
quando se atinge o patamar mínimo do art. 8º da Lei 12.514/11 – (Info 597) – Atenção!
Advocacia Pública Federal!

O prazo prescricional para cobrança das anuidades pagas aos conselhos profissionais tem
início somente quando o total da dívida inscrita, acrescida dos respectivos consectários
legais, atingir o patamar mínimo estabelecido pela Lei 12.514/2011.
Ex: João está devendo as anuidades de 2011, 2012, 2013; as anuidades de 2014, 2015 e 2016
foram pagas; assim, somente em 2017 atingiu-se o valor mínimo exigido pelo art. 8º da Lei,
ocasião em que o Conselho ajuizou a execução; o termo inicial da prescrição somente se
iniciou em 2017.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.524.930-RS, Rel. Min. Og Fernandes, j. 2/2/17 (Info 597).
OBS: Veja o art. 8º da Lei 12.514/2011:
Art. 8º Os Conselhos não executarão judicialmente dívidas referentes a
anuidades inferiores a 4 (quatro) vezes o valor cobrado anualmente da pessoa
física ou jurídica inadimplente.

Desse modo, o art. 8º da Lei acima referida traz uma nova condição para que os Conselhos
profissionais ajuízem execuções fiscais: o total da quantia executada deverá ser, no mínimo,
quatro vezes o valor da anuidade.

Vale ressaltar que no valor correspondente a 4 anuidades no ano do ajuizamento computam-


se também as multas, juros e correção monetária, e não apenas a quantidade de parcelas em
atraso. Assim, o processamento da execução fiscal fica desautorizado somente quando os
débitos exequendos correspondam a menos de 4 vezes o valor cobrado anualmente da pessoa
física ou jurídica inadimplente, tomando-se como parâmetro para definir este piso o valor da
anuidade referente ao ano de ajuizamento, bem como os encargos legais (multa, juros e
correção monetária).

Vale frisar que, mesmo não podendo ajuizar a execução, os Conselhos poderão tomar outras
medidas contra o inadimplente, como, por exemplo, suspender seu exercício profissional.
Veja:
Art. 8º (...) Parágrafo único. O disposto no caput não limitará a realização de
medidas administrativas de cobrança, a aplicação de sanções por violação da
ética ou a suspensão do exercício profissional.

O prazo prescricional para que os Conselhos ajuízem execução cobrando a anuidade é de 5


anos. A contagem desse prazo prescricional se inicia com o vencimento de cada anuidade
não paga ou somente quando a dívida atinge o valor consolidado de quatro anuidades? Ex:
João está devendo as anuidades de 2011, 2012, 2013; as anuidades de 2014, 2015 e 2016 foram
pagas; somente em 2017 atingiu-se o valor mínimo exigido pelo art. 8º da Lei, ocasião em que
o Conselho ajuizou a execução; quando se iniciou o termo inicial da prescrição: no momento
do vencimento de cada anuidade ou somente em 2017? Somente em 2017, ou seja, quando a
dívida atingiu o valor consolidado de quatro anuidades.

Considerando que a limitação de valor mínimo criada pelo art. 8º da Lei 12.514/11 para o
ajuizamento da execução fiscal, o surgimento da prescrição e o início de sua contagem
somente poderão ocorrer quando o crédito se tornar exequível (exigível), ou seja, quando o
total da dívida inscrita, acrescida dos respectivos consectários legais, atingir o patamar
mínimo exigido pela Lei.

Se o Conselho ainda não pode cobrar, ele ainda não goza de pretensão exigível. Logo, não se
pode considerar que já iniciou a contagem do prazo prescricional. O Conselho não está inerte
por vontade própria, mas sim porque a lei não permite que ele execute.

A prescrição tributária é um tema cuja disciplina encontra-se reservada à lei complementar,


conforme dispõe o art. 146, III, "b", da CF/88. No entanto, a Lei 12.514/11 não tratou sobre
prescrição. Ela estabelece uma vedação para o ajuizamento da execução e que gera, por
consequência lógica, a impossibilidade de se iniciar a contagem do prazo prescricional.

Em suma, enquanto os créditos tributários não alcançarem patamar igual ou superior a 4


(quatro) vezes o valor cobrado anualmente da pessoa física ou jurídica inadimplente, não há
que se falar em surgimento ou início de prescrição executória.

47.9. Encargo do art. 1º do DL 1.025/69 incide mesmo em execuções fiscais propostas contra
pessoas jurídicas de direito público – (Info 575)

O encargo previsto no art. 1º do DL 1.025/69 incide nas execuções fiscais promovidas pela
União contra pessoas jurídicas de direito público.
Incide o encargo do art. 1º do DL 1.025/69 nas execuções fiscais promovidas pela União,
independentemente do polo passivo da demanda ser ocupado por particular ou por ente
público
STJ. 2ª Turma. REsp 1.540.855-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 17/12/15 (Info
575).
OBS1: Encargo do art. 1º do DL 1.025/69: Quando os Estados, o DF ou os Municípios
propõem uma ação de execução fiscal, eles irão cobrar, além da dívida principal, juros e
multa moratórios, que serão um percentual sobre o montante principal. O interessante é que,
quando a União ajuíza uma execução fiscal, ela irá cobrar do executado: 1) a dívida principal,
acrescida de juros e multa; e 2) um valor de 20% sobre o montante principal, conhecido na
praxe forense como "encargo de 20%", sendo esta verba prevista no art. 1º do Decreto-lei nº
1.025/69. Esse encargo passa a ser devido a partir do instante em que ocorre a inscrição em
Dívida Ativa da União. Quando a dívida é inscrita, já se acrescenta estes 20% e eles serão
cobrados junto com o principal, os juros e a multa na execução fiscal proposta pela União.
Como este encargo é pouco conhecido, é comum as pessoas que estão sendo executadas pela
União acharem que o valor está maior por conta destes 20%. No entanto, tal encargo possui
previsão no DL 1.025/69, que se encontra em pleno vigor com status de lei ordinária.

OBS2: Se o devedor embargar e os embargos forem rejeitados, ele não terá que pagar
honorários advocatícios, já que o encargo do DL 1.025/69 os substituem: Se a pessoa que está
sendo executada pela União decidir apresentar embargos à execução e estes forem rejeitados,
ela não terá que pagar novos honorários advocatícios. O encargo do DL 1.025/69 já substitui
os honorários. Existe uma súmula do extinto Tribunal Federal de Recursos (que foi
substituído pelo STJ com a CF/88) afirmando isso. É a Súmula 168-TFR: O encargo de 20% do
Dec.-lei 1.025/69, é sempre devido nas execuções fiscais da União e substitui, nos embargos, a
condenação do devedor em honorários advocatícios.

OBS3: Só incide em caso de execuções fiscais propostas pela União: Este encargo só incide
em execuções fiscais promovidas pela União, não sendo aplicado caso a ação executiva seja
proposta por entidades federais (exs: INSS, IBAMA). A Súmula 168 do TFR continua válida,
mas ela só se aplica para execuções fiscais promovidas pela União. Não vale para execuções
fiscais ajuizadas por suas entidades. Se uma entidade federal ajuíza execução fiscal não será
devida a cobrança do encargo. No entanto, se houver embargos à execução fiscal e estes
forem rejeitados, será possível a condenação do executado/embargante em honorários de
sucumbência (STJ. 1ª Seção. REsp 1143320/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 12/05/10).
 Execução fiscal proposta pela União: o executado deverá pagar o encargo do DL
1.025/69 ainda que não ofereça embargos à execução. Se apresentar embargos e estes
forem rejeitados, não será condenado a pagar honorários advocatícios de
sucumbência (Súmula 168-TFR).
 Execução fiscal proposta por entidades federais: o executado não deverá pagar o
encargo do DL 1.025/69. Se apresentar embargos e estes forem rejeitados, será
condenado a pagar honorários advocatícios de sucumbência (REsp 1143320/RS).

OBS4: Destinação dos recursos: Atualmente, os recursos arrecadados com o encargo previsto
no art. 1º do DL 1025/69 são destinados a cobrir as despesas efetuadas para arrecadar
(cobrar) a dívida ativa da União, incluindo projetos de modernização e despesas judiciais
(art. 3º, parágrafo único, da Lei 7711/88). Esse encargo é utilizado para o aparelhamento e
aperfeiçoamento da arrecadação fiscal da União.

OBS5: Natureza jurídica: O encargo do art. 1º do DL 1025/69 possui dupla natureza jurídica:
a) Serve como encargo legal destinado a fomentar, desenvolver e aperfeiçoar os meios para a
arrecadação fiscal (art. 3º, § único da Lei 7711/88). É uma forma de remuneração das
despesas com os atos judiciais para a propositura da execução; e b) Substitui os honorários
sucumbenciais que seriam pagos pelo devedor em favor da Fazenda Nacional caso o
executado apresentasse e perdesse os embargos à execução (Súmula 168-TFR).

OBS6: Se a União ajuizar execução fiscal contra um Estado-membro (fazenda pública


estadual), incidirá também neste caso o encargo do art. 1º do DL 1.025/69? O Estado-
membro executado é obrigado a pagar o referido encargo? O fato de a Fazenda Estadual
estar no polo passivo da execução fiscal não afasta a incidência do encargo contido no art. 1º
do DL 1025/69 porque esta é uma regra especial que prevalece sobre as regras do CPC que
tratam sobre honorários e demais verbas de sucumbência. Ou seja, incide o encargo do art. 1º
do DL 1025/69 nas execuções fiscais promovidas pela União, independentemente do polo
passivo da demanda ser ocupado por particular ou por ente público.

47.10. Substituição de fiança bancária por penhora de depósito de quantia destinada à


distribuição de dividendos – (Info 569)

Em sede de execução fiscal, a Fazenda Pública não tem direito de substituir a fiança
bancária prestada pela sociedade empresária executada e anteriormente aceita pelo ente
público por penhora de depósito de quantia destinada à distribuição de dividendos aos
acionistas da devedora, a não ser que a fiança bancária se mostre inidônea.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.163.553-RJ, Rel. originário e voto vencedor Min. Arnaldo Esteves Lima,
Rel. para o acórdão Min. Mauro Campbell Marques, j. 22/4/15 (Info 569).

47.11. Prazo prescricional para a execução fiscal de crédito rural transferido à União – (Info
565)

Qual é o prazo prescricional para que a União ajuíze execução fiscal cobrando os créditos
rurais que foram a ela transferidos pela MP 2.196-3/2001?
 Crédito rural cujo contrato foi celebrado sob a égide do CC-1916 : 20 anos
(prescrição das ações pessoais - direito pessoal de crédito), a contar da data do
vencimento, consoante o disposto no art. 177 do CC-1916, para que dentro dele
(observado o disposto no art. 2º, § 3º, da LEF) sejam feitos a inscrição e o
ajuizamento da respectiva execução fiscal, sem embargo da norma de transição
prevista no art. 2.028 do CC/2002;
 Crédito rural cujo contrato tenha sido celebrado sob a égide do CC-2002 : 5 anos
(prescrição da pretensão para a cobrança de dívidas líquidas constantes de
instrumento público ou particular), a contar da data do vencimento, consoante o
disposto no art. 206, § 5º, I, do CC/2002, para que dentro dele (observado o disposto
no art. 2º, § 3º, da LEF) sejam feitos a inscrição em dívida ativa e o ajuizamento da
respectiva execução fiscal.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.373.292-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 22/10/15 (Info 565).

47.12. Redirecionamento da execução contra sócio que não era gerente no momento do fato
gerador – (Info 564)

Em 2012, a sociedade empresária "ABC" deixou de pagar determinado imposto, tornando-


se inadimplente com o Fisco. Em 2013, João tornou-se sócio-gerente da sociedade
empresária "ABC". Em 2014, a sociedade empresária "ABC" fechou suas portas sem
observar as formalidades legais, ou seja, foi dissolvida de forma irregular. Em 2015, o Fisco
ajuizou execução fiscal contra a referida sociedade empresária, não tendo, contudo,
encontrado ninguém no endereço onde ela funcionava. A dissolução irregular da
sociedade autoriza o redirecionamento da execução para o sócio-gerente (súmula 435-STJ).
A pergunta que surge, no entanto, é a seguinte:
É possível redirecionar a execução fiscal contra João mesmo sabendo que ele não exercia a
gerência no momento do fato gerador do tributo cobrado? É permitido o redirecionamento da
execução fiscal contra o sócio-gerente que, no momento da dissolução, exercia a gerência,
mas que não era o gerente no momento do fato gerador do tributo?
1ª corrente: NÃO. É a posição tradicional do STJ, ainda adotada pela 1ª Turma. AgRg no
AREsp 729.285/SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 06/08/2015.
2ª corrente: SIM. É a nova posição da 2ª Turma do STJ. REsp 1.520.257-SP, Rel. Min. Og
Fernandes, julgado em 16/6/2015 (Info 564).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.520.257-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 16/6/2015 (Info 564).

47.13. Indeferimento de pedido de penhora com fundamento na potencial iliquidez do bem


– (Info 563)

Na ação de execução fiscal, frustradas as diligências para localização de outros bens em


nome do devedor e obedecida a ordem legal de nomeação de bens à penhora, não cabe ao
magistrado recusar a constrição de bens nomeados pelo credor fundamentando a decisão
apenas na assertiva de que a potencial iliquidez deles poderia conduzir à inutilidade da
penhora. Isso porque, nos termos do art. 612 do CPC 1973 (art. 797 do CPC 2015), a execução
é realizada no interesse do credor que adquire, pela penhora, o direito de preferência sobre
os bens indicados. Ademais, conforme preceitua o art. 591 do CPC 1973 (art. 789 do CPC
2015), todo o patrimônio presente e futuro do devedor pode ser utilizado para pagamento
de débitos.
Ex: a União ajuizou execução fiscal contra João cobrando uma dívida de R$ 20 mil. Foi
tentada a penhora “on line” (via sistema “Bacen Jud”), não tendo sido localizadas contas
bancárias em nome do devedor. Buscou-se também a localização de outros bens
penhoráveis, mas sem sucesso. Diante disso, a União requereu a penhora de um veículo do
executado, qual seja, um Volkswagen SANTANA CD (fabricado em 1985). O juiz
indeferiu a constrição do veículo, sob o argumento de que o bem era muito antigo, o que
ensejaria a inutilidade da penhora. Em uma situação parecida com esta, o STJ deu
provimento ao recurso e determinou que a penhora fosse realizada.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.523.794-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 19/5/15 (Info 563).

47.14. Termo inicial do prazo para o oferecimento de embargos à execução fiscal quando
afastada a necessidade de garantia prévia – (Info 563)

No caso em que a garantia à execução fiscal tenha sido totalmente dispensada de forma
expressa pelo juízo competente - inexistindo, ainda que parcialmente, a prestação de
qualquer garantia (penhora, fiança, depósito, seguro-garantia) -, o prazo para oferecer
embargos à execução deverá ter início na data da intimação da decisão que dispensou a
apresentação de garantia, não havendo a necessidade, na intimação dessa dispensa, de se
informar expressamente o prazo para embargar.
STJ. 2ª T. REsp 1.440.639-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 2/6/2015 (Info 563).

47.15. Oferecimento de seguro garantia em execução fiscal – (Info 559) – IMPORTANTE!!!

A Lei 13.043/2014 alterou o inciso II do art. 7º da Lei 6.830/80 (LEF) e previu expressamente
mais uma forma de garantia do juízo: o SEGURO GARANTIA.
A mudança foi importante porque o STJ possuía entendimento pacífico de que o seguro
garantia não servia como garantia da execução fiscal em virtude da ausência de previsão na
LEF.
A Lei 13.043/2014 entrou em vigor em 14/11/2014; é possível aceitar seguro garantia para
uma execução fiscal que tenha se iniciado antes desta data e que ainda esteja tramitando?
Em outras palavras, a alteração promovida pela Lei 13.043/2014 no que tange ao seguro
garantia aplica-se às execuções fiscais que foram instauradas antes de sua vigência e que
ainda estejam em curso?
SIM. O inciso II do art. 9° da Lei 6.830/80 (LEF), alterado pela Lei 13.043/2014, que faculta
expressamente ao executado a possibilidade de oferecer fiança bancária ou seguro garantia
nas execuções fiscais, possui aplicabilidade imediata aos processos em curso.
A norma que permite a garantia do juízo por meio de seguro garantia é de cunho
processual, de modo que possui aplicabilidade imediata aos processos em curso.
STJ. 2ª T. REsp 1.508.171-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 17/3/2015 (Info 559).

47.16. Dispensabilidade da indicação do RG, CPF ou CNPJ do devedor – (Info 553)

O juiz não pode indeferir a petição inicial em ação de execução fiscal com o argumento de
que não houve indicação do RG, CPF ou CNPJ da parte executada. Isso porque tais
informações não são exigidas pelo art. 6º da Lei nº 6.830/80 (LEF).
O art. 15 da Lei 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrônico) exige que a parte autora informe o
CPF ou CNJP da ré, mas tal Lei não prevalece sobre a LEF, por ser esta norma específica e
aquela norma geral.

Assim, em ações de execução fiscal, descabe indeferir a petição inicial sob o argumento da
falta de indicação do RG, CPF ou CNJP da parte executada (pessoa física ou jurídica), visto
tratar-se de requisito não previsto no art. 6º da Lei 6.830/80 (LEF), cujo diploma, por sua
especialidade, ostenta primazia sobre a legislação de cunho geral, como ocorre frente à
exigência contida no art. 15 da Lei 11.419/06.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.450.819-AM e 1.455.091-AM, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgados em
12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 553).

47.17. Requisitos para a decretação de indisponibilidade de bens e direitos na execução


fiscal – (Info 552) – IMPORTANTE!!!

O art. 185-A do CTN prevê a possibilidade de ser decretada a indisponibilidade dos bens e
direitos do devedor tributário na execução fiscal. Vale ressaltar, no entanto, que a
indisponibilidade de que trata o art. 185-A do CTN só pode ser decretada se forem
preenchidos três requisitos:
1) deve ter havido prévia citação do devedor;
2) o executado deve não ter pago a dívida nem apresentado bens à penhora no prazo legal;
3) não terem sido localizados bens penhoráveis do executado mesmo após a Fazenda
Pública esgotar as diligências nesse sentido.
Obs.: para que a Fazenda Pública prove que esgotou todas as diligências na tentativa de
achar bens do devedor, basta que ela tenha adotado duas providências:
a) pedido de acionamento do Bacen Jud (penhora “on line”) e consequente determinação
pelo magistrado;
b) expedição de ofícios aos registros públicos do domicílio do executado e ao
Departamento Nacional ou Estadual de Trânsito - DENATRAN ou DETRAN.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.377.507-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/11/2014 (recurso
repetitivo) (Info 552).

47.18. O redirecionamento da execução não exclui a responsabilidade tributária da pessoa


jurídica – (Info 550)

Quando ocorre o redirecionamento da execução fiscal para atingir o sócio-gerente, a pessoa


jurídica deixa de responder pelo débito? Tendo havido o redirecionamento, a execução irá
prosseguir apenas contra a pessoa física?
NÃO. Nos casos de dissolução irregular da sociedade empresária, o redirecionamento da
Execução Fiscal para o sócio-gerente não constitui causa de exclusão da responsabilidade
tributária da pessoa jurídica.
Apesar de o art. 135 do CTN falar em “responsabilidade pessoal”, o STJ consolidou o
entendimento de que essa responsabilidade do sócio-gerente, por atos de infração à lei, é
solidária (não excluindo a responsabilidade da empresa). Logo, responderão pelo débito o
sócio-gerente e a pessoa jurídica, figurando ambos na execução fiscal, em litisconsórcio
passivo.
STJ. 2ª T. REsp 1.455.490-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 26/8/2014 (Info 550).

47.19. Extinção da execução por abandono da Fazenda Pública – (Info 549)

Em uma execução fiscal, o juiz determinou a intimação da Fazenda Pública para que se
manifestasse se possuía ainda interesse no prosseguimento do processo, sob pena de
extinção do feito. Mesmo tendo sido regularmente intimada, a Fazenda Pública
permaneceu inerte. Nesse caso, se o devedor não tiver apresentado embargos à execução, o
magistrado poderá, de ofício, extinguir a execução sem resolução do mérito por abandono
do autor, nos termos do art. 267, III, do CPC.
Não se aplica o raciocínio presente na Súmula 240 do STJ, ou seja, não é necessário que
haja requerimento do executado para que o juiz extinga a execução.
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1.450.799-RN, Rel. Min. Assusete Magalhães, j. 21/8/2014 (Info 549).

47.20.Redirecionamento da execução fiscal de dívida ativa não-tributária – (Info 547) –


IMPORTANTE!!! MUDANÇA DE ENTENDIMENTO! ATUALIZAR INFOS 2013!!! - (TJPE-
2015)

Quando a sociedade empresária for dissolvida irregularmente, é possível o


redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente da pessoa jurídica executada
mesmo que se trate de dívida ativa NÃO-TRIBUTÁRIA. Para que seja autorizado esse
redirecionamento, não é preciso provar a existência de dolo por parte do sócio.
Assim, a Súmula 435 do STJ pode ser aplicada tanto para execução fiscal de dívida ativa
tributária como também na cobrança de dívida ativa NÃO-TRIBUTÁRIA.
No caso concreto, a ANATEL estava executando créditos não-tributários que eram devidos
por uma rádio comunitária. Quando o Oficial de Justiça chegou até o endereço da empresa
constatou que ela não mais estava funcionando ali, estando presumidamente extinta. Logo,
caberá o redirecionamento da execução para o sócio-gerente.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.371.128-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 10/9/14 (recurso
repetitivo) (Info 547).
(TJSP-2014-VUNESP) É de se presumir que determinada empresa foi dissolvida
irregularmente quando deixa de funcionar naquele que é o seu domicílio fiscal conhecido,
omitindo-se no dever de efetuar a comunicação da mudança aos órgãos competentes, o
que pode ocasionar o redirecionamento da ação de execução fiscal.
(DPDF-2013-CESPE) De acordo com o STJ, a não localização de determinada sociedade no
domicílio fiscal fornecido gera presunção iuris tantum de dissolução irregular, sendo
possível, nesse caso, o redirecionamento da execução fiscal ao sócio-gerente da sociedade.

OBS1:
Redirecionamento: Quando a Fazenda Pública ajuíza uma execução fiscal contra a “empresa”
(rectius: empresário ou sociedade empresária) e não consegue localizar bens penhoráveis, o
CTN prevê a possibilidade de o Fisco redirecionar a execução para algumas pessoas físicas
que tenham relação com a “empresa” e hajam atuado com excesso de poderes ou infração de
lei, contrato social ou estatutos, nos termos do art. 135 do CTN.

Os sócios, como regra geral, não respondem pessoalmente (com seu patrimônio pessoal)
pelas dívidas da sociedade empresária, já que vigora o princípio da autonomia jurídica da
pessoa jurídica em relação aos seus sócios. A pessoa jurídica possui personalidade e
patrimônio autônomos, que não se confundem com a personalidade e patrimônio de seus
sócios. No entanto, se o sócio praticou atos com excesso de poderes ou infração de lei,
contrato social ou estatutos (art. 135, III), ele utilizou o instituto da personalidade jurídica de
forma fraudulenta ou abusiva, podendo, portanto, ser responsabilizado pessoalmente pelos
débitos. No entanto, o simples fato de a pessoa jurídica estar em débito com o Fisco não
autoriza que o sócio pague pela dívida com seu patrimônio pessoal. É necessário que tenha
praticado atos com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos (art.
135, III).

Nesse sentido, a Súmula 430-STJ: O inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade


não gera, por si só, a responsabilidade solidária do sócio-gerente.

A dissolução irregular da empresa caracteriza infração à lei: Se isso ocorre, a jurisprudência


entende que houve infração à lei (art. 135 do CTN) já que o procedimento para a extinção de
sociedades empresárias é disciplinado na lei, devendo ser cumpridas uma série de
formalidades, de sorte que se essa dissolução ocorre de forma irregular, a legislação está
sendo desrespeitada.

Empresa que deixa de funcionar no seu domicílio fiscal e não comunica aos órgãos
competentes, presume-se que foi dissolvida irregularmente: Domicílio tributário (ou fiscal) é o
lugar, cadastrado na repartição tributária, onde o sujeito passivo poderá ser encontrado pelo
Fisco. Se a Administração Tributária tiver que enviar uma notificação fiscal para aquele
contribuinte, deverá encaminhar para o endereço constante como sendo seu domicílio fiscal.
As regras para a definição do domicílio tributário estão previstas no art. 127 do CTN. Se a
empresa deixa de funcionar no seu domicílio fiscal, presume-se que ela deixou de existir (foi dissolvida) .
E o pior: foi dissolvida de forma irregular, o que caracteriza infração à lei e permite o
redirecionamento da execução.
Assim, em uma execução fiscal, caso não se consiga fazer a citação da empresa porque ela
não mais está funcionando no endereço indicado como seu domicílio fiscal, será possível
concluir que ela foi dissolvida irregularmente, ensejando o redirecionamento da execução,
conforme Súmula 435-STJ: Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de
funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes, legitimando o
redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente.

O redirecionamento é permitido apenas nas execuções fiscais que cobrem débitos


TRIBUTÁRIOS ou também pode ser aplicado a dívidas NÃO-TRIBUTÁRIAS? O STJ decidiu
que, quando a sociedade empresária for dissolvida irregularmente, é possível o
redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente da pessoa jurídica executada
mesmo que se trate de dívida ativa NÃO-TRIBUTÁRIA. Assim, a Súmula 435 do STJ pode ser
aplicada tanto para execução fiscal de dívida ativa tributária como também na cobrança de dívida ativa
NÃO-TRIBUTÁRIA.

47.21. Requisitos do mandado de intimação da penhora – (Info 546)

Na execução fiscal, para o que mandado de intimação da penhora seja válido é necessário
que:
a) a intimação do executado ocorra de forma pessoal; e
b) o mandado contenha expressa menção do prazo legal para o oferecimento de embargos
à execução.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.269.069-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 6/4/14 (Info 546).

47.22. Remessa necessária no caso de sentença que julga procedente exceção de pré-
executividade – (Info 544)

Caso o juiz julgue procedente a exceção de pré-executividade e extinga a execução fiscal


será obrigatória, em regra, a remessa necessária, aplicando-se por analogia o art. 475, II, do
CPC.
Se o executado apresenta exceção de pré-executividade e a Fazenda Pública, ao ser
intimada, concorda com o argumento do excipiente, o juiz irá extinguir a execução. Nesse
caso, a jurisprudência entende que não haverá reexame necessário porque o Poder Público
anuiu.
Se a execução fiscal for extinta porque o Fisco cancelou a inscrição de dívida ativa que
lastreava a execução também não haverá reexame necessário porque a própria Fazenda
Pública reconheceu que não havia título executivo.
No caso concreto julgado pelo STJ, afirmou-se que não se sujeita ao reexame necessário,
ainda que a Fazenda Pública tenha sido condenada a pagar honorários advocatícios, a
sentença que extinguiu execução fiscal em razão do acolhimento de exceção de pré-
executividade pela qual se demonstrara o cancelamento, pelo Fisco, da inscrição em dívida
ativa que lastreava a execução.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.415.603-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 22/5/14 (Info 544).

47.23. Execução fiscal: ausência de impugnação e inexistência de preclusão na alegação


dessas matérias em sede de apelação – (Info 542)

Não implica preclusão a falta de imediata impugnação pela Fazenda Pública da alegação
deduzida em embargos à execução fiscal de que o crédito tributário foi extinto pelo
pagamento integral. A preclusão consiste na simples perda de uma faculdade processual.
Nos casos relacionados a direitos materiais indisponíveis da Fazenda Pública, a falta de
manifestação não autoriza concluir automaticamente que são verdadeiros os fatos alegados
pela parte contrária. Em razão da indisponibilidade do direito controvertido e do princípio
do livre convencimento, nada impede, inclusive, que o juízo examine esse tema.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.364.444-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 8/4/14 (Info 542).

47.24. Garantia do juízo na execução fiscal deve abranger o valor dos honorários
advocatícios – (Info 539)

A garantia do juízo no âmbito da execução fiscal deve abranger honorários advocatícios,


mesmo que eles não estejam previstos na CDA e somente venham a ser arbitrados pelo
juiz ao despachar a petição inicial na execução.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.409.688-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 11/2/14 (Info 542).
OBS: Há situações em que o valor dos honorários advocatícios já consta na própria CDA.
Isso ocorre quando a lei que rege o crédito cobrado permite essa inclusão. Nesses casos, não
há qualquer dúvida de que a garantia oferecida deverá abranger também o montante dos
honorários. Existem, contudo, outras hipóteses em que na CDA não vêm previstos os
honorários e estes são arbitrados pelo juiz ao despachar a petição inicial na execução. Aqui
havia dúvida se a garantia deveria também englobá-los. O STJ entendeu que sim. Isso
porque, como a LEF não trata do assunto, deve-se aplicar subsidiariamente o CPC e este
determina que a penhora de bens seja feita de modo a incluir o principal, os juros, as custas e
os honorários advocatícios. Em resumo, a garantia do juízo no âmbito da execução fiscal deve
abranger honorários advocatícios, sejam eles previstos na CDA ou arbitrados judicialmente.

47.25. Emenda da inicial na execução fiscal para fazer constar que a executada encontra-se
em estado falimentar – (Info 538) – IMPORTANTE!!! - (TCU-2015)

A constatação posterior ao ajuizamento da execução fiscal de que a pessoa jurídica


executada tivera sua falência decretada antes da propositura da ação executiva não implica
a extinção do processo sem resolução de mérito.
Deve ser dada a oportunidade de o exequente retificar a CDA, fazendo constar a
informação de que a parte devedora se encontra em estado falimentar, e emendar a Inicial.
STJ. 1ª S. REsp 1.372.243-SE, Rel. originário Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. p./ ac.
Min. Og Fernandes, j. 11/12/13 (recurso repetitivo) (Info 538)

47.26. Na execução fiscal, exige-se a garantia do juízo para embargar mesmo que o
executado seja beneficiário da AJG – (Info 538) – (DPEPR-2014)

Para que o devedor possa oferecer embargos, exige-se a garantia do juízo mesmo que ele
seja beneficiário da assistência judiciária gratuita?
SIM. O STJ assim entende, com base no princípio da especialidade.
O art. 3º da Lei 1.060/50 (que prevê a assistência judiciária gratuita, correspondendo o atual
art. 98, § 1º do CPC/15) é cláusula genérica, abstrata e visa à isenção de despesas de
natureza processual, como custas e honorários advocatícios, não havendo previsão legal de
isenção de garantia do juízo para embargar.
Desse modo, em conformidade com o princípio da especialidade das leis, o disposto no art.
16, § 1º, da Lei 6.830/80 deve prevalecer sobre o art. 3º, VII, da Lei 1.060/50, o qual
determina que os beneficiários da justiça gratuita ficam isentos dos depósitos previstos em
lei para interposição de recurso, ajuizamento de ação e demais atos processuais inerentes
ao exercício da ampla defesa e do contraditório.
Assim, em regra, exige-se a garantia do juízo mesmo que o executado seja beneficiário da
justiça gratuita.
STJ. 2ª Turma. REsp 1437078-RS, Rel. Min. Humberto Martins, j. 25/3/14 (Info 538).

47.27. Litispendência entre os embargos à execução e a ação anulatória ou declaratória de


inexistência de débito proposta anteriormente ao ajuizamento da execução fiscal – (Sem Info)
– (AGU-2015)

O STJ pacificou o entendimento no sentido de que, deve ser reconhecida a litispendência


entre os embargos à execução e a ação anulatória ou declaratória de inexistência do débito
proposta anteriormente ao ajuizamento da execução fiscal, se identificadas as mesmas
partes, causa de pedir e pedido, ou seja, a tríplice identidade a que se refere o CPC.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.156.545⁄RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 28⁄04⁄2011.

No mesmo sentido: AgRg nos EREsp 1.156.545⁄RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 1ª Seção,
DJe 04⁄10⁄2011; REsp 1.040.781⁄PR, Rel. Min. Eliana Calmon, 2ª Turma, DJe 17⁄3⁄2009; REsp
719.907⁄RS, 1ª Turma, Rel. Min.. Teori Albino Zavascki, DJe de 5.12.2005.
(AGU-2015-CESPE): Acerca da execução no processo civil, julgue o seguinte item
conforme a jurisprudência do STJ: Deve ser reconhecida a litispendência entre os embargos
à execução fiscal e a ação anulatória do débito proposta anteriormente ao ajuizamento da
execução fiscal embargada, se forem identificadas as mesmas partes, a mesma causa de
pedir e o mesmo pedido nas demandas. BL: REsp 1.156.545/RJ, STJ.

47.28. Prescrição intercorrente – (Sem Info) – (PGEMT-2016)

Ainda que a execução fiscal tenha sido arquivada em razão do pequeno valor do débito
executado, sem baixa na distribuição, nos termos do art. 20 da Lei 10.522/2002, deve ser
reconhecida a prescrição intercorrente se o processo ficar paralisado por mais de cinco anos
a contar da decisão que determina o arquivamento, pois essa norma não constitui causa de
suspensão do prazo prescricional.
A mesma razão que impõe à incidência da prescrição intercorrente quando não localizados
o devedor ou bens penhoráveis – impedir a existência de execuções eternas e
imprescritíveis –, também justifica o decreto de prescrição nos casos em que as execuções
são arquivadas em face do pequeno valor dos créditos executados.
O § 1º do art. 20 da Lei 10.522/02 - que permite sejam reativadas as execuções quando
ultrapassado o limite legal – deve ser interpretado em conjunto com a norma do art. 40, §
4º, da LEF – que prevê a prescrição intercorrente -, de modo a estabelecer um limite
temporal para o desarquivamento das execuções, obstando assim a perpetuidade dessas
ações de cobrança.
STJ. 1ª Seção. REsp 1102554/MG, Rel. Ministro Castro Meira, j. 27/05/09.
(PGEMT-2016-FCC): Segundo a jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça
a respeito das execuções fiscais, deve ser reconhecida a prescrição intercorrente caso o
processo fique paralisado por mais de cinco anos após a decisão que determinou o
arquivamento da execução fiscal em razão do pequeno valor do débito executado, sem
baixa na distribuição, uma vez que não há suspensão do prazo prescricional. BL: STJ,
REsp 1102554/MG.

48. AÇÃO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS


48.1. Termo inicial do prazo de 48 horas, previsto no art. 915, § 2º, do CPC/1973, para a
prestação de contas por parte do réu: data da intimação – (Info 647)

O prazo de 48 horas para a apresentação das contas pelo réu, previsto no art. 915, § 2º, do
CPC/1973, deve ser computado a partir da intimação do trânsito em julgado da sentença
que reconheceu o direito do autor de exigir a prestação de contas.
STJ. 3ª T. REsp 1582877-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/04/2019 (Info 647).
CPC/1973: Art. 915 (...)
§ 2º Se o réu não contestar a ação ou não negar a obrigação de prestar contas, observar-se-á
o disposto no art. 330; a sentença, que julgar procedente a ação, condenará o réu a prestar
as contas no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as
que o autor apresentar.

CPC/2015: Art. 550 (...)


§ 5º A decisão que julgar procedente o pedido condenará o réu a prestar as contas no prazo
de 15 (quinze) dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que o autor apresentar.

48.2. Impossibilidade de utilização de ação exibitória como substitutiva de habeas data –


(Info 575)

Não é cabível ação de exibição de documentos que tenha por objeto a obtenção de
informações detidas pela Administração Pública que não foram materializadas em
documentos (eletrônicos ou não), ainda que se alegue demora na prestação dessas
informações pela via administrativa.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.415.741-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 3/12/15 (Info
575).
OBS: A ação de exibição destina-se à obtenção de documentos já existentes que se encontram
em poder da pessoa que se recusa a fornecê-los. Portanto, não há como admitir o pedido de
exibição de documentos que não existem, em que a autora requer a confecção de certidão e
planilha contendo informações que ainda deverão ser apuradas pelo demandado. O verbo
"exibir" não possui o mesmo significado de "expedir" ou "confeccionar".

Repetindo: não é cabível a ação de exibição de documentos que tenha por objeto informação
não materializada em documento (coisa).
Tal entendimento permanece válido com o novo CPC, que trata sobre a ação de exibição de
documento ou coisa nos arts. 396 a 404. Veja que o Código exige que já exista um documento
ou coisa a ser exibido: “Art. 396. O juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou coisa que se
encontre em seu poder.” Não se pode alargar a concepção da ação de exibição de documento
para abarcar informações ainda não materializadas. O direito à informação, neste caso, pode
ser buscado pela via própria, qual seja, o habeas data (art. 5º, LXXII, da CF/88).

49. PROCESSO CAUTELAR


49.1. AÇÃO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS: Cominação de multa diária em ação de
exibição de documentos em face das peculiaridades do caso concreto – (Info 554)

É cabível a cominação de multa diária – astreintes – em ação de exibição de documentos


movida por usuário de serviço de telefonia celular para obtenção de informações acerca do
endereço de IP (Internet Protocol) de onde teriam sido enviadas, para o seu celular,
diversas mensagens anônimas agressivas, por meio do serviço de SMS disponibilizado no
sítio eletrônico da empresa de telefonia.
STJ. 3ª T. REsp 1.359.976-PB, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 25/11/2014 (Info 554).

49.2. Ação cautelar de exibição de documentos bancários – (Info 553)

A propositura de ação cautelar de exibição de documentos bancários (cópias e segunda via


de documentos) é cabível como medida preparatória a fim de instruir a ação principal,
bastando a demonstração da existência de relação jurídica entre as partes, a comprovação
de prévio pedido à instituição financeira não atendido em prazo razoável, e o pagamento
do custo do serviço conforme previsão contratual e normatização da autoridade monetária.
STJ. 2ª S. REsp 1.349.453-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, j. 10/12/14
(recurso repetitivo) (Info 553).

49.3. Requisitos para a propositura de ação de exibição de documentos relativos ao


Crediscore – (Info 553)

Para existir interesse de agir em ação cautelar de exibição de documentos ajuizada por
consumidor com o objetivo de obter extrato contendo sua pontuação no sistema
Crediscore, é necessário que o requerente comprove:
a) que a recusa do crédito se deu em razão da pontuação que lhe foi atribuída pela dita
ferramenta de scoring; e
b) que tenha havido resistência da instituição responsável pelo sistema na
disponibilização das informações requeridas pelo consumidor em prazo razoável.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.268.478-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 18/12/14 (Info 553).

50. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO


50.1. Se ficar comprovada a insuficiência do depósito, a ação deve ser julgada
improcedente – (Info 636) – IMPORTANTE!!!

Em ação consignatória, a insuficiência do depósito realizado pelo devedor conduz ao


julgamento de improcedência do pedido, pois o pagamento parcial da dívida não extingue
o vínculo obrigacional.
STJ. 2ª S. REsp 1108058-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do
TRF da 5ª Região), Rel. Acd. Min. Maria Isabel Gallotti, j 10/10/18 (recurso repetitivo) (Info
636).
OBS:
Se o autor da ação não depositou o valor integral da dívida, a sentença do juiz será de
improcedência ou de procedência parcial? A insuficiência do depósito na ação de
consignação conduz à prolação de improcedência ou à prolação de sentença parcialmente
procedente (porque houve extinção parcial daobrigação até o montante da importância
consignada)? Isso tem grande importância prática. Veja:
 Se o juiz julga improcedente, significa que o autor deverá pagar os ônus da
sucumbência;
 Se o juiz julga parcialmente procedente, a sucumbência será recíproca, ou seja,
deverá ser dividida entre autor e réu.
 
Ademais, em regra, o depósito faz cessar para o devedor os efeitos da mora, inclusive a
fluência de juros de mora, salvo se a demanda for julgada improcedente.

Desse modo, sendo julgada improcedente em razão da insuficiência do depósito, são


restaurados os efeitos da mora, inclusive no que diz respeito à parcela consignada. O autor
terá que pagar os juros e correção monetária do período em que o processo ficou tramitando.
 
Mas e aí, qual é a resposta? A insuficiência do depósito na ação de consignação conduz à
improcedência do pedido ou à procedência parcial? IMPROCEDÊNCIA do pedido. Se ficar
comprovada a insuficiência do depósito, a ação deve ser julgada improcedente e o ônus da
sucumbência deverá ser inteiramente imputado ao autor.
 
Por quê? Ora, se o autor deposita um valor insuficiente, ou seja, uma quantia que não paga
a integralidade da dívida, isso significa que o credor estava correto ao se recusar em receber
o pagamento. Isso porque ninguém pode ser obrigado a receber menos do que aquilo que
foi combinado. Veja o que diz o Código Civil:
Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível [ex:
dinheiro], não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por
partes, se assim não se ajustou.
 
Assim, se o contrato previa o pagamento de R$ 100 mil no dia 02/02, o credor não pode ser
obrigado a receber R$ 80 mil no dia 02/02, com a promessa de que o restante seria pago em
outra data. Se o credor se recusa a receber os R$ 80 mil, esta recusa é por uma “justa causa”.

A consignação em pagamento tem por objetivo exonerar o devedor de sua obrigação,


mediante o depósito da quantia ou da coisa devida. No entanto, essa ação somente poderá
ter força de pagamento se o pagamento for feito de forma correta quanto ao objeto e modo
(deve pagar tudo e do modo certo). É isso que prevê o art. 336 do Código Civil:
Art. 336. Para que a consignação tenha força de pagamento, será mister
concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os requisitos
sem os quais não é válido o pagamento
50.2. Legitimidade do banco de ajuizar ação de consignação em pagamento para pagar
dívida que foi gerada contra cliente em virtude de falha bancária – (Info 636)

A instituição financeira possui legitimidade para ajuizar ação de consignação em


pagamento visando quitar débito de cliente decorrente de título de crédito protestado por
falha no serviço bancário.
STJ. 4ª Turma. REsp 1318747-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 4/10/18 (Info 636).

50.3. Não incidência do prazo do art. 892 do CPC 1973 (art. 541 do CPC/15) para os
depósitos judiciais de tributos – (Info 564)

O prazo de cinco dias previsto no art. 892 do CPC/73 (art. 541 do CPC/15) NÃO se aplica
para depósitos judiciais relacionados com créditos tributários.
O crédito tributário é exigível a partir do dia de seu vencimento. Se ele não é pago nesta
data, deverá ser cobrado acrescido de juros, multa e correção monetária. Isso ocorre por
força de lei.
Para que o depósito judicial possa acarretar a suspensão da exigibilidade do crédito
tributário, ele deve ser feito dentro do prazo de vencimento da obrigação.
Se a tese acima exposta fosse aceita, o contribuinte que ingressasse com ação de
consignação em pagamento passaria a ser agraciado com cinco dias extras para pagar o
tributo pelo simples fato de ter proposto essa ação. Por outro lado, o contribuinte que não
tivesse proposto a ação continuaria tendo que pagar na data do vencimento. Perceba,
portanto, que haveria uma violação ao princípio da isonomia tributária (art. 150, I, da
CF/88), além de estar-se criando uma espécie de moratória tributária, de caráter geral, sem
previsão legal.
Desse modo, o Fisco poderá sim cobrar multa e juros caso o depósito não seja realizado
dentro do prazo para o pagamento do tributo.
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.365.761-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 9/6/15 (Info
564)

51. AÇÃO MONITÓRIA


51.1. Pedido de alongamento da dívida em embargos à monitória – (Info 604)

O pedido de alongamento da dívida originada de crédito rural pode ser feito em sede de
embargos à monitória ou contestação, independentemente de reconvenção.
O preenchimento dos requisitos legais para a securitização da dívida originada de crédito
rural (ou alongamento) constitui matéria de defesa do devedor, passível de ser alegada em
embargos à monitória ou contestação, independentemente de reconvenção.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.531.676-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 18/5/2017 (Info 604).

51.2.Possibilidade de utilização de e-mail para instruir ação monitória – (Info 593) –


IMPORTANTE!!!

O correio eletrônico (e-mail) pode fundamentar a pretensão monitória, desde que o juízo
se convença da verossimilhança das alegações e da idoneidade das declarações.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.381.603-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 6/10/16 (Info 593).
OBS:
Ação monitória: Ação monitória é um procedimento especial, previsto no CPC, por meio do
qual o credor exige do devedor o pagamento de soma em dinheiro ou a entrega de coisa com
base em prova escrita que não tenha eficácia de título executivo.
Ex1: ação monitória para cobrança de cheque prescrito.
Ex2: ação monitória para cobrança de valores baseados em contrato bancário de abertura de
conta-corrente.
O cheque prescrito e o contrato bancário de abertura de conta são provas escritas do débito,
mas que não se constituem em título executivo.
 Se o credor tem título executivo, pode ingressar desde logo com a execução.
 Se o credor não tem nenhuma prova documental, só lhe resta a ação de cobrança.
 Se o credor tem prova escrita que não goza de eficácia de título executivo: cabe ação
monitória.
Imagine agora a seguinte situação hipotética: João vendeu para Pedro um computador por
R$ 3 mil. A venda foi toda negociada por e-mail, tendo João enviado o computador pelos
Correios para Pedro. Este, contudo, não efetuou o pagamento combinado. Os e-mails
trocados demonstram que houve a compra do produto e que Pedro se comprometeu em
efetuar o pagamento dos R$ 3 mil. João imprimiu os e-mails e ajuizou ação monitória contra
Pedro.

É possível que um e-mail seja utilizado para instruir a ação monitória? SIM. Para a
propositura da ação monitória, o legislador exige que o autor comprove a relação jurídica por
meio de prova escrita. O legislador não definiu o que seja "prova escrita", tratando-se,
portanto, de conceito eminentemente doutrinário-jurisprudencial. A prova hábil a instruir a
ação monitória não precisa, necessariamente, ter sido emitida pelo devedor ou nela constar
sua assinatura ou de um representante. Basta que tenha forma escrita e seja suficiente para,
efetivamente, influir na convicção do magistrado acerca do direito alegado. Ademais, para a
admissibilidade da ação monitória, não é imprescindível que o autor instrua a ação com
prova robusta, estreme de dúvida, podendo ser aparelhada por documento idôneo, ainda
que emitido pelo próprio credor, contanto que o magistrado entenda presente o juízo de
probabilidade acerca do direito afirmado.

Nesse sentido:
(...) para a admissibilidade da ação monitória, não é necessária a apresentação
de prova robusta, estreme de dúvida, sendo suficiente a presença de dados
idôneos, ainda que unilaterais, desde que deles exsurja juízo de probabilidade
acerca do direito afirmado.
STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1278643/ES, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j.
23/02/16.

(...) 1. A prova hábil a instruir a ação monitória, a que alude o artigo 1.102-A do
Código de Processo Civil não precisa, necessariamente, ter sido emitida pelo
devedor ou nela constar sua assinatura ou de um representante. Basta que tenha
forma escrita e seja suficiente para, efetivamente, influir na convicção do
magistrado acerca do direito alegado.
2. Dessarte, para a admissibilidade da ação monitória, não é necessário que o
autor instrua a ação com prova robusta, estreme de dúvida, podendo ser
aparelhada por documento idôneo, ainda que emitido pelo próprio credor,
contanto que, por meio do prudente exame do magistrado, exsurja o juízo de
probabilidade acerca do direito afirmado pelo autor. (...
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 289.660/RN, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 04/06/2013.

51.3. Inviabilidade de se analisar matérias de mérito, ainda que de ordem pública, se o réu
se manteve inerte – (Info 574)

Em ação monitória, após o decurso do prazo para pagamento ou entrega da coisa sem a
oposição de embargos pelo réu, o juiz não poderá analisar matérias de mérito, ainda que
conhecíveis de ofício.
STJ. 3ª T. REsp 1.432.982-ES, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 17/11/2015 (Info 574).
OBS: Se o devedor se manteve inerte quando foi citado, haverá a conversão do mandado
monitório em mandado executivo automaticamente, ou seja, por força de lei (ope legis). Isso
significa que nenhuma das matérias que ele poderia alegar em sua defesa nos embargos
poderá ser invocada agora.
O despacho proferido pelo juiz que converte o mandado inicial em mandado executivo não
detém natureza jurídica de sentença nem de decisão. É um mero despacho sem conteúdo
decisório porque esta conversão do mandado monitório em executivo (título executivo)
ocorre por força de lei. Relembre que o § 2º do art. 701 do CPC 2015 falou que a conversão em
título executivo ocorre "independentemente de qualquer formalidade". Como o título
executivo já se formou automaticamente com o fim do prazo do réu, não é mais possível a
análise de matérias de mérito, ainda que sejam de ordem pública (conhecíveis de ofício).

51.4.Demonstrativo de débito atualizado como requisito da petição inicial – (Info 559) –


IMPORTANTE!!!
O CPC 1973 não traz os requisitos da petição inicial da ação monitória.
Apesar disso, a jurisprudência exige que a petição inicial da ação monitória na qual o autor
cobra do réu soma em dinheiro deve ser instruída com demonstrativo de débito atualizado
até a data do ajuizamento.
O STJ entende que esse documento é indispensável para que o devedor possa ter o
conhecimento detalhado da quantia que lhe está sendo cobrada, inclusive com a indicação
dos critérios, índices e taxas utilizados, a fim de que o devedor possa validamente
impugná-los nos embargos.
O CPC 2015 já traz em seu texto os requisitos para a petição inicial da ação monitória. Um
deles é justamente a memória de cálculo da dívida que esteja sendo cobrada. Desse modo,
o entendimento do STJ acima explicado foi incorporado pelo novo CPC (art. 700, § 2º, I).
O que acontece se o autor ajuizar a ação e não juntar esse demonstrativo (ou se o
demonstrativo estiver incompleto)?
O juiz deverá intimá-lo para que corrija esse vício e traga aos autos o demonstrativo
atualizado.
Qual é o prazo que o autor possui para emendar a petição inicial?
 10 dias no CPC 1973 (art. 284);
 15 dias no CPC 2015 (art. 321).

Outra novidade do CPC 2015 é que o juiz, ao determinar que o autor emende ou complete
a petição inicial, deverá indicar, com precisão, o que deve ser corrigido ou completado.
STJ. 2ª S. REsp 1.154.730-PE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 8/4/15 (recurso repetitivo)
(Info 559).

51.5. Inexigibilidade de recolhimento de custas em embargos à monitória – (Info 558)

Ação monitória é um procedimento especial, previsto no CPC, por meio do qual o credor
exige do devedor o pagamento de soma em dinheiro, a entrega de coisa fungível ou a
entrega de determinado bem móvel com base em prova escrita que não tem eficácia de
título executivo.
Obs: com o CPC de 2015, a ação monitória poderá ser utilizada para exigir a entrega de
coisas infungíveis e também para exigir a entrega de bens imóveis, situações que não eram
abarcadas pelo antigo Código. Além disso, o CPC 2015 prevê que a ação monitória serve
também para exigir que o réu cumpra obrigação de fazer ou não fazer sobre a qual ele está
inadimplente.
O réu citado poderá defender-se das alegações do autor. A defesa na ação monitória é
denominada de “embargos à ação monitória”. Os embargos à ação monitória são
classificados como uma forma de defesa, sendo semelhante à contestação.
Para que o réu apresente embargos monitórios, ele precisa pagar previamente as custas?
NÃO. Não se exige o recolhimento de custas iniciais para oferecer embargos à ação
monitória. Isso porque os embargos à monitória têm natureza jurídica de defesa. Vimos
acima que é como se fosse uma contestação e o réu não precisa recolher custas para
apresentar contestação. Isso vale tanto para o CPC 1973 como para o novo CPC.
STJ. 3ª T. REsp 1.265.509-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 19/3/15 (Info 558).

52. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO


52.1. Conceito de documento comum do art. 844, II, do CPC/1973 – (Info 609)

O conceito de documento comum, previsto no art. 844, II, do CPC/1973, não se limita
àquele pertencente a ambas as partes, mas engloba também o documento sobre o qual elas
têm interesse comum, independentemente de o solicitante ter participado de sua
elaboração.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.645.581-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 8/8/17 (Info 609).
OBS: “Documento comum não é, assim, apenas o que pertence indistintamente a ambas as
partes, mas também o que se refere a uma situação que envolva ambas as partes , ou uma das
partes e terceiro”. (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol.
II. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 605)

O CPC/2015 não repetiu esse dispositivo porque não mais tratou sobre procedimentos
cautelares típicos (nominados).

53. AÇÃO DEMARCATÓRIA


53.1. Ação demarcatória parcial e inexistência de litisconsórcio necessário com os
confinantes de imóveis cujos limites não estão sendo discutidos – (Info 586)

Em ação demarcatória de parte de imóvel, é facultativo - e não necessário - o litisconsórcio


passivo entre o réu e os confinantes da área do bem que não é objeto de demarcação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.599.403-MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 23/6/16 (Info 586).

54. REINTEGRAÇÃO DE POSSE


54.1. Conversão da ação reintegratória em indenizatória – (Info 619) – ATENÇÃO!
Concursos MP e Defensoria!

O terreno do proprietário foi invadido por inúmeras pessoas de baixa renda.


O proprietário ingressou com ação de reintegração de posse, tendo sido concedida a
medida liminar, mas nunca cumprida mesmo após vários anos.
Vale ressaltar que o Município e o Estado fizeram toda a infraestrutura para a
permanência das pessoas no local.
Diante disso, o juiz, de ofício, converteu a ação reintegratória em indenizatória
(desapropriação indireta), determinando a emenda da inicial, a fim de promover a citação
do Município e do Estado para apresentar contestação e, em consequência, incluí-los no
polo passivo da demanda.
O STJ afirmou que isso estava correto e que a ação possessória pode ser convertida em
indenizatória (desapropriação indireta) - ainda que ausente pedido explícito nesse sentido
- a fim de assegurar tutela alternativa equivalente (indenização) ao particular que teve
suas térreas invadidas.
STJ. 1ª Turma. REsp 1442440-AC, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 7/12/17 (Info 619).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Em 1990, invasores de baixa renda ocuparam um
terreno enorme de João. O proprietário ingressou com ação de reintegração de posse, tendo
sido deferida liminar em 1991. Ocorre que o mandado não foi cumprido em virtude
inicialmente da propositura de inúmeros incidentes processuais e, em seguida, pela ausência
de força policial para a sua efetivação. Diante da demora para resolver o imbróglio, o
Município e o Estado construíram uma infraestrutura no local para permitir a moradia dos
invasores, fazendo ruas e construindo instalações para órgãos públicos atenderem a
população. O juiz constatou, então, que já não era mais possível devolver a posse do terreno
ao proprietário em virtude de a situação das famílias estar consolidada. Por conta disso, ele
decidiu converter, de ofício, a ação reintegratória em indenizatória (desapropriação indireta),
determinando a emenda da inicial, a fim de promover a citação do Município e do Estado
para apresentar contestação e, em consequência, incluí-los no polo passivo da demanda.
 
Agiu corretamente o magistrado? SIM. A ação possessória pode ser convertida em
indenizatória (desapropriação indireta) - ainda que ausente pedido explícito nesse sentido
- a fim de assegurar tutela alternativa equivalente ao particular, quando a invasão coletiva
consolidada inviabilizar o cumprimento do mandado reintegratório pelo município. STJ. 1ª
Turma. REsp 1.442.440-AC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 07/12/2017 (Info 619).
 
O STJ já se manifestou no sentido da possibilidade de conversão da ação possessória em
indenizatória, em respeito aos princípios da celeridade e economia processuais, a fim de
assegurar ao particular a obtenção de resultado prático correspondente à restituição do bem,
quando situação fática consolidada no curso da ação exigir a devida proteção jurisdicional,
com fulcro nos arts. 461, § 1º, do CPC/1973 (art. 499 do CPC/2015):
Art. 499.  A obrigação somente será convertida em perdas e danos se o autor o
requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção de tutela pelo
resultado prático equivalente.
 
Ultra petita ou extra petita: A conversão operada no caso não configura julgamento ultra
petita ou extra petita, ainda que não haja pedido explícito nesse sentido, diante da
impossibilidade de devolução da posse ao autor, sendo descabido o ajuizamento de outra
ação quando uma parte do imóvel já foi afetada ao domínio público, mediante apossamento
administrativo, sendo a outra restante ocupada de forma precária por inúmeras famílias de
baixa renda com a intervenção do Município, que implantou toda a infraestrutura básica no
local, tornando-se a área bairro urbano.
 
Princípio da congruência: Não há se falar em violação ao princípio da congruência,
devendo ser aplicada à espécie a teoria da substanciação, segundo a qual apenas os fatos
vinculam o julgador, que poderá atribuir-lhes a qualificação jurídica que entender adequada
ao acolhimento ou à rejeição do pedido, como fulcro nos brocardos iura novit curia e mihi
factum dabo tibi ius e no art. 462 do CPC/1973 (art. 493 do CPC/2015):
Art. 493.  Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo,
modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento do mérito, caberá ao
juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no
momento de proferir a decisão.
Parágrafo único.  Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes sobre
ele antes de decidir.
 
Desapropriação indireta: O caso se amolda ao art. 1.228, §§ 4º e 5º, do CC, que trata da
desapropriação judicial, chamada também por alguns doutrinadores de desapropriação por
posse-trabalho ou de desapropriação judicial indireta, cujo instituto autoriza o magistrado,
sem intervenção prévia de outros Poderes, a declarar a perda do imóvel reivindicado pelo
particular em favor de considerável número de pessoas que, na posse ininterrupta de extensa
área, por mais de cinco anos, houverem realizado obras e serviços de interesse social e
econômico relevante. Confira:
Art. 1.228. (...)
§ 4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado
consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco
anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em
conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de
interesse social e econômico relevante.
§ 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida
ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do
imóvel em nome dos possuidores.
 
Os conceitos abertos existentes no art. 1.228 do CC/2002 propiciam ao magistrado uma
margem considerável de discricionariedade ao analisar os requisitos para a aplicação do
referido instituto.
 
Participação do Município e do Estado no caso: Vale ressaltar que, em regra, o STJ entende
que o simples fato de o Estado e o Município terem feito obras de infraestrutura no local
não significa que eles passam a ter responsabilidade pela invasão ou que esta conduta
configure desapropriação indireta. Nesse sentido:
“(...) inexiste desapossamento por parte do ente público ao realizar obras de
infraestrutura em imóvel cuja invasão já se consolidara, pois a simples invasão
de propriedade urbana por terceiros, mesmo sem ser repelida pelo Poder
Público, não constitui desapropriação indireta” (STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp
1.367.002/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 20/06/2013).
 
No entanto, no caso concreto, a situação é um pouco diferente. Isso porque ficou
comprovado que os danos causados ao proprietário do imóvel decorreram de atos
omissivos e comissivos da administração pública, tendo em conta que deixou de fornecer a
força policial necessária para o cumprimento do mandado reintegratório, ainda na fase inicial
da invasão, permanecendo omissa quanto ao surgimento de novas habitações irregulares,
além de ter realizado obras de infraestrutura no local, com o objetivo de garantir a função
social da propriedade, circunstâncias que ocasionaram o desenvolvimento urbano da área
e a desapropriação direta de parte do bem.

Assim, o Município e o Estado são sujeitos passivos legítimos da indenização prevista no


art. 1.228, § 5º, do CC/2002, visto que os possuidores, por serem hipossuficientes, não podem
arcar com o ressarcimento dos prejuízos sofridos pelo proprietário do imóvel. Nesse sentido,
confira:
Enunciado 308 da Jornada de Direito Civil do CJF: A justa indenização devida
ao proprietário em caso de desapropriação judicial (art. 1.228, § 5º) somente
deverá ser suportada pela Administração Pública no contexto das políticas
públicas de reforma urbana ou agrária, em se tratando de possuidores de baixa
renda e desde que tenha havido intervenção daquela nos termos da lei
processual. Não sendo os possuidores de baixa renda, aplica-se a orientação do
Enunciado 84 da I Jornada de Direito Civil.
 
Enunciado 84 da Jornada de Direito Civil do CJF: A defesa fundada no direito
de aquisição com base no interesse social (art. 1.228, §§ 4º e 5º, do novo Código
Civil) deve ser arguida pelos réus da ação reivindicatória, eles próprios
responsáveis pelo pagamento da indenização.

54.2. Não se exige a prévia notificação extrajudicial dos invasores para que se proponha
reintegração de posse – (Info 594) – IMPORTANTE!!!

A notificação prévia dos ocupantes não é documento essencial à propositura da ação


possessória.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.263.164-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 22/11/16 (Info 594).

55. AÇÃO DE EXIGIR CONTAS


55.1. AÇÃO DE EXIGIR CONTAS: Não cabe agravo de instrumento contra a decisão
interlocutória que, na segunda fase da ação de prestação de contas, defere prova pericial –
(Info 654)

A decisão interlocutória que, na segunda fase da ação de prestação de contas, defere a


produção de prova pericial contábil, nomeia perito e concede prazo para apresentação de
documentos, formulação de quesitos e nomeação de assistentes, não é imediatamente
recorrível por agravo de instrumento.
STJ. 3ª T. REsp 1821793-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 20/8/19 (Info 654).

55.2. O recurso cabível contra decisão que julga procedente, na primeira fase, a ação de
exigir contas é o agravo de instrumento – (Info 650) – IMPORTANTE!!!

Cabe agravo de instrumento contra a decisão que julga procedente, na primeira fase, a
ação de exigir contas, condenando o réu a prestar as contas exigidas.
Como essa decisão não gera o encerramento do processo, o recurso cabível será o agravo
de instrumento (arts. 550, § 5º, e 1.015, II).
Por outro lado, se a decisão extinguir o processo, com ou sem resolução de mérito (arts. 485
e 487), aí sim haverá sentença e o recurso cabível será a apelação.
STJ. 4ª T. REsp 1.680.168-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Raul Araújo, j. 9/4/19
(Info 650). STJ. 3ª T. REsp 1746337/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 9/4/19.

55.3. É cabível ação de prestação de contas proposta contra empresa administradora de


consórcio caso a empresa que promoveu as vendas não tenha concordado com os números
apresentados – (Info 636)

É cabível a propositura de ação de prestação de contas para apuração de eventual saldo, e


sua posterior execução, decorrente de contrato relacional firmado entre administradora de
consórcios e empresa responsável pela oferta das quotas consorciais a consumidores.
Caso concreto: a empresa 1 celebrou contrato com a empresa 2, por meio do qual a
empresa 1 organizaria e administraria um consórcio e a empresa 2 ficaria responsável por
oferecer e comercializar as quotas consorciais aos consumidores. Vale ressaltar que,
depois que o consumidor firmava o contrato, ele deveria efetuar os pagamentos das
prestações diretamente para a empresa 1. A empresa 2 seria remunerada com um
percentual dos pagamentos.
Ao se analisar o ajuste celebrado, percebe-se que se trata de relação contratual que
configura típico contrato de agência, previsto no art. 710 do CC.
No contrato de agência, tanto uma parte como a outra possuem o dever de prestar contas.
O vínculo contratual colaborativo originado do contrato de agência importa na
administração recíproca de interesses das partes contratantes, viabilizando a utilização da
ação da prestação de contas e impondo a cada uma das partes o dever de prestar contas a
outra.
Vale ressaltar, por fim, que, mesmo que a empresa 1 já tenha, extrajudicialmente, prestado
contas para a empresa 2, ainda assim persiste o interesse de agir de propor a ação. Isso
porque a apresentação extrajudicial e voluntária das contas não prejudica o interesse
processual da promotora de vendas, na hipótese de não serem elas recebidas como boas,
ou seja, caso ela não tenha concordado com os valores demonstrados.
STJ. 3ª Turma. REsp 1676623-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 23/10/18 (Info 636).

55.4. Impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em ação de prestação de contas –


(Info 592)

Não é possível a revisão de cláusulas contratuais em ação de exigir contas (ação de


prestação de contas).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.497.831-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão
Min. Maria Isabel Gallotti, j. 14/9/16 (recurso repetitivo) (Info 592).

55.5. Não cabimento em caso de contratos de mútuo e financiamento – (Info 558) –


(Proc.MP/TCU-2015) (TRF3-2016) (TJSC-2019)

Nos contratos de mútuo e financiamento, o devedor não possui interesse de agir para a
ação de prestação de contas.
O entendimento acima exposto continua válido com o CPC 2015, mas devem ser feitas
duas observações:
1) O nome da ação passou a ser “ação de exigir contas”;
2) O CPC 2015 não mais fala em “condição da ação”. Essa categoria foi abolida. O interesse
de agir, que era uma condição da ação, continua sendo examinado, mas agora tem natureza
jurídica de requisito de admissibilidade do processo. Trata-se de um pressuposto de
validade objetivo extrínseco.
STJ. 2ª S. REsp 1.293.558-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 11/3/15 (Info 558).

56. EMBARGOS DE TERCEIRO


56.1. Não é cabível a reconvenção apresentada em embargos de terceiro, sob a égide do
CPC/1973 – (Info 628)

Não é cabível a reconvenção apresentada em embargos de terceiro, sob a égide do Código


de Processo Civil de 1973.
STJ. 3ª Turma. REsp 1578848-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 19/6/18 (Info 628).

E sob a égide do CPC/2015? Na vigência do CPC/2015, é possível a apresentação de


reconvenção em embargos de terceiro? O Min. Relator Ricardo Villas Bôas Cueva afirmou
o seguinte em seu voto: (...) anote-se que o Código de Processo Civil de 2015, alterando
profundamente a sistemática anterior, passou a prever, além da possibilidade de
reconvenção e contestação em peça única (artigo 343), a adoção do procedimento comum
após a fase de contestação nos embargos de terceiro (artigo 679), o que certamente
reascenderá a discussão em torno do cabimento da reconvenção nas demandas ajuizadas
sob a égide do novo diploma.”

56.2. Desconstituída penhora indevida, em regra, não haverá condenação do embargado


em honorários se o imóvel ainda estava no nome do antigo proprietário – (Info 591) –
IMPORTANTE!!!

Nos embargos de terceiro cujo pedido foi acolhido para desconstituir a constrição judicial,
os honorários advocatícios serão arbitrados com base no princípio da causalidade,
responsabilizando-se o atual proprietário (embargante), se este não atualizou os dados
cadastrais. Os encargos de sucumbência serão suportados pela parte embargada, porém, na
hipótese em que esta, depois de tomar ciência da transmissão do bem, apresentar ou
insistir na impugnação ou recurso para manter a penhora sobre o bem cujo domínio foi
transferido para terceiro.
Ex: Pedro adquiriu uma casa por meio de contrato de promessa de compra e venda. Ocorre
que não foi até o Registro de Imóveis para providenciar a transcrição do título. O antigo
proprietário do imóvel estava sendo executado e o credor, após consulta no cartório,
indicou a referida casa para ser penhorada, o que foi aceito pelo juiz. Pedro foi informado
da penhora e apresentou embargos de terceiro na execução provando que o referido imóvel
foi por ele adquirido. O juiz acolheu os embargos e determinou o levantamento da
penhora. A parte embargada não se opôs a isso. Na sentença dos embargos, o juiz deverá
condenar Pedro a pagar honorários advocatícios em favor da parte embargada.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.452.840-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 14/9/16 (recurso repetitivo)
(Info 591)
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João era proprietário de um imóvel e fez uma
promessa de compra e venda com Pedro. Por meio do contrato, João (promitente vendedor)
comprometeu-se a vender a Pedro uma casa, localizada na Rua 02, nº 13, Centro. Em
contrapartida, Pedro (promitente comprador) obrigou-se a pagar o valor do imóvel em 24
parcelas. O contrato previa que, após os pagamentos, Pedro deveria fazer a transferência do
bem no Registro de Imóveis para seu nome, havendo, inclusive, uma procuração outorgada
por João conferindo tais poderes. Pedro pagou todas as 24 parcelas e continuou morando na
casa por ele adquirida. Ocorre que acabou esquecendo de ir até o Registro de Imóveis para
providenciar a transcrição do título. Na linguagem popular, ele não foi até o cartório passar a
casa para o seu nome.

Execução contra o antigo proprietário: João, antigo proprietário da casa, possuía débitos com
a União e estava sendo executado. No processo de execução, João foi citado, mas não pagou a
dívida. A Fazenda Nacional consultou os cartórios em busca de bens em nome do devedor. O
Registro de Imóveis informou à União que há uma casa localizada na Rua 02, nº 13, Centro
registrada em nome de João. A exequente requereu, então, a penhora da casa para
pagamento da dívida, o que foi deferido pelo magistrado.

Embargos de terceiro: Pedro, que mora na casa, foi informado da penhora e procurou um
advogado. Este apresentou embargos de terceiro na execução provando que o referido
imóvel foi adquirido por meio de um contrato de promessa de compra e venda e que,
inclusive, todas as parcelas já foram pagas. Sobre o tema, vale a pena lembrar o seguinte
enunciado:
Súmula 84-STJ: É admissível a oposição de Embargos de Terceiro fundados em
alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóveis,
ainda que desprovido do registro.

Vale ressaltar que os órgãos da advocacia pública federal não oferecem impugnação nem
recorrem em tais casos, desde que não caracterizada a má-fé dos contratantes e o intuito de
fraude à execução (IN AGU 05/07). O juiz acolheu os embargos e determinou o levantamento
da penhora incidente sobre a casa. No entanto, condenou Pedro a pagar honorários
advocatícios em favor da União (embargada). A União concordou com a sentença e não
recorreu. Pedro, por outro lado, apresentou recurso afirmando que, se os embargos foram
julgados procedentes, ficando provado que ele estava certo, é a União quem deverá pagar os
honorários advocatícios em favor dele.

A sentença do magistrado foi correta? Afinal de contas, quem deverá pagar os honorários
advocatícios neste caso? SIM. A sentença foi correta e quem deverá pagar os honorários é o
embargante Pedro (atual proprietário).

Princípio da causalidade: O pagamento dos honorários advocatícios baseia-se no princípio


da causalidade, ou seja, esta verba deverá ser paga por aquele que deu causa à propositura
da ação. Assim, a sucumbência, para fins de arbitramento dos honorários advocatícios, tem
por norte a aplicação do princípio da causalidade. No caso dos embargos de terceiro existe
inclusive um enunciado que espelha este entendimento:
Súmula 303-STJ: Em embargos de terceiro, quem deu causa à constrição
indevida deve arcar com os honorários advocatícios.

Normalmente, constata-se que o sucumbente (quem perdeu) foi o responsável pela


propositura da ação. Em outras palavras, como a parte perdeu, em regra, entende-se que foi
ela quem deu causa ao ajuizamento da demanda. O pensamento é o seguinte: se não fosse
ela, a ação não teria que ter existido; foi ela quem criou o "problema". Por essa razão, em
regra, o sucumbente é condenado a pagar os honorários advocatícios. A isso chamamos de
princípio da sucumbência (quem perdeu, paga).

Assim, em geral, os princípios da sucumbência e da causalidade caminham juntos. Diz-se,


inclusive que o princípio da sucumbência é uma forma de se cumprir o princípio da
causalidade. Dito de outro modo: em geral, quem perdeu (princípio da sucumbência) é quem
deu causa à demanda (princípio da causalidade).

Algumas vezes, no entanto, pode-se constatar que a responsável pela existência da causa foi a
parte vencedora. A parte venceu a demanda, mas foi uma atitude dela que fez com que o
problema tenha surgido. Nestes casos, será o vencedor (e não o sucumbente) quem irá pagar
os honorários advocatícios. Dizemos que o princípio da sucumbência cede espaço para o
princípio da causalidade.

Sobre o tema, veja os seguintes julgados do STJ:


(...) O princípio da causalidade não se contrapõe ao princípio da sucumbência.
Antes, é este um dos elementos norteadores daquele, pois, de ordinário, o
sucumbente é considerado responsável pela instauração do processo e, assim,
condenado nas despesas processuais. O princípio da sucumbência, contudo,
cede lugar quando, embora vencedora, a parte deu causa à instauração da lide.
Se o credor indicou à penhora imóvel objeto de contrato de compra e venda não
registrado, é iniludível que a necessidade do ajuizamento dos embargos de
terceiro pelo adquirente é resultado da desídia deste em não promover o
registro, providência que a par da publicidade do ato poderia evitar a
indesejada constrição patrimonial, haja vista a eficácia erga omnes dos atos
submetidos a registro. Assim, face ao princípio da causalidade, cabe ao
terceiro-embargante, adquirente do imóvel, arcar com os consectários da
sucumbência.
STJ. 3ª Turma. REsp 303.597/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 17/04/01.

(...) 1. Em regra, os ônus sucumbenciais devem ser aplicados em conformidade


com o princípio da sucumbência. Entende-se, assim, que o sucumbente é
considerado responsável pelo ajuizamento da ação, de maneira que deve ser
condenado nas despesas processuais. Todavia, há casos em que, embora
sucumbente, a parte não deu causa ao ajuizamento da ação, não devendo, por
conseguinte, sobre ela recair os ônus da sucumbência. Nessas hipóteses, então, o
princípio da sucumbência deve ser aplicado em consonância com o princípio da
causalidade, segundo o qual as despesas processuais e honorários advocatícios
devem ser suportados por quem deu causa à instauração do processo.
2. Em se tratando de embargos de terceiro, deve o magistrado, na condenação
dos ônus sucumbenciais, atentar para os princípios da sucumbência e da
causalidade, pois há casos em que o embargante, embora vencedor na ação, é o
responsável por seu ajuizamento, devendo sobre ele recair as despesas do
processo e os honorários advocatícios. A respeito do tema, a Corte Especial
editou a Súmula 303/STJ, consignando que "em embargos de terceiro, quem
deu causa à constrição indevida deve arcar com os honorários advocatícios". (...)
STJ. 1ª Turma. REsp 724.341/MG, Rel. Min. Denise Arruda, j. 02/10/07.

Embargante foi o responsável pelo fato de o bem ter sido penhorado: O adquirente, ao não
providenciar a transcrição do título na repartição competente, permite que o bem adquirido
fique em risco e possa ser submetido à indevida constrição judicial em ações propostas contra
o antigo proprietário. As diligências realizadas pelo oficial de Justiça ou pela própria parte
credora destinadas à localização de bens, no caso específico de bens sujeitos a registro
(imóveis, veículos), são feitas mediante consulta aos Cartórios de Imóveis (Detran, no caso de
veículos), razão pela qual é evidente que se tais cadastros estiverem com os nomes dos
proprietários desatualizados, fatalmente haverá penhoras indevidas. Isso, não por "culpa" do
credor, mas sim do adquirente. Desse modo, em regra, não pode ser responsabilizado pelos
honorários advocatícios o credor que indica à penhora imóvel transferido a terceiro mediante
compromisso de compra e venda não registrado no Cartório de Imóveis. Com a inércia do
comprador em proceder ao registro, não havia como o exequente tomar conhecimento de
uma possível transmissão de domínio.

Resumindo: Desconstituição de penhora indevida incidente sobre imóvel pertencente a


terceiro:
 REGRA: não haverá condenação da parte embargada a pagar honorários
advocatícios quando verificado que não foi registrada a alteração na titularidade
dominial (no cartório ainda consta o antigo proprietário).
 EXCEÇÃO: a parte embargada terá que pagar honorários advocatícios se, mesmo
ciente de que houve transmissão da propriedade, opuser resistência e defender a
manutenção da penhora (foi explicado no processo que houve a transferência e,
mesmo assim, a parte credora continua insistindo na penhora).

56.3. Cabimento de embargos de terceiro em medida cautelar – (Info 571)

São admissíveis embargos de terceiro em ação cautelar.


O pressuposto para o cabimento dos embargos de terceiro é a existência de uma constrição
judicial que ofenda a posse ou a propriedade de um bem de pessoa que não seja parte no
processo, nos termos do art. 1.046 do CPC 1973 (art. 674 do CPC 2015).
STJ. 4ª Turma. REsp 837.546-MT, Rel. Min. Raul Araújo, j. 1º/10/15 (Info 571).

56.4. Embargos de terceiro não servem para impugnar decisão se o fundamento invocado
pelo autor não é a posse, mas sim, unicamente, a propriedade – (Info 553) – (PGM-Poá/SP-
2016)

O proprietário sem posse a qualquer título não tem legitimidade para ajuizar, com
fundamento no direito de propriedade, embargos de terceiro contra decisão transitada em
julgado proferida em ação de reintegração de posse, da qual não participou, e na qual nem
sequer foi aventada discussão em torno da titularidade do domínio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.417.620-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 2/12/14 (Info
553).

57. ARROLAMENTO SUMÁRIO


57.1. Para que ocorra a homologação da partilha no arrolamento sumário, não se exige
prova do cumprimento das obrigações tributárias principais ou acessórias relativas ao
ITCMD – (Info 634 e Info 636) – NOVO CPC!!!

No arrolamento sumário não se condiciona a entrega dos formais de partilha ou da carta de


adjudicação à prévia quitação dos tributos concernentes à transmissão patrimonial aos
sucessores.
Assim, a homologação da partilha no procedimento do arrolamento sumário não
pressupõe o atendimento das obrigações tributárias principais e tampouco acessórias
relativas ao imposto sobre transmissão causa mortis.
Isso não significa que no arrolamento sumário seja possível homologar a partilha mesmo
sem a quitação dos tributos relativos aos bens do espólio e às suas rendas.
A inovação normativa do § 2º do art. 659 do CPC/15 em nada altera a condição estabelecida
no art. 192 do CTN, de modo que, no arrolamento sumário, o magistrado deve exigir a
comprovação de quitação dos tributos relativos aos bens do espólio e às suas rendas para
homologar a partilha e, na sequência, com o trânsito em julgado, expedir os títulos de
transferência de domínio e encerrar o processo, independentemente do pagamento do
imposto de transmissão.
STJ. 1ª Turma. REsp 1704359-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 28/8/18 (Info 634).
STJ. 2ª Turma. REsp 1751332-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 25/9/18 (Info 636).
OBS:
Inventário: É o procedimento, judicial ou extrajudicial, por meio do qual são arrecadados,
descritos, avaliados e liquidados os bens e outros direitos que pertenciam à pessoa morta,
e, após serem pagas as dívidas do falecido, o eventual saldo positivo será distribuído entre
os seus sucessores (partilha).
 
Espécies de inventário:
• Inventário judicial: é um processo judicial.
• Inventário extrajudicial: é o inventário realizado por meio de escritura pública. Somente
pode ser feito se não houver testamento e se todos os interessados forem capazes e houver
consenso entre eles quanto à divisão dos bens.
 
Inventário judicial: Se o inventário for judicial, poderá ser realizado de três formas:
a) inventário comum;
b arrolamento sumário (arts. 659 do CPC/2015);
c) arrolamento comum (art. 664 do CPC/2015).

O arrolamento sumário e o arrolamento comum são considerados como “formas


simplificadas” de inventário.
 
Quando ocorre o arrolamento sumário? Ocorre em três hipóteses:
a) quando todos os herdeiros forem maiores e capazes e estiverem de acordo quanto à
partilha;
b) quando houver interessado incapaz, desde que concordem todas as partes e o Ministério
Público;
c) quando houver herdeiro único.
 
É possível o arrolamento sumário mesmo que o valor da herança seja elevado? SIM. Não
importa o valor do patrimônio transmitido.
 
Apresentação da partilha: No arrolamento sumário, são os próprios herdeiros que
apresentam ao juiz a partilha, inclusive a quitação de tributos.
 
Há intervenção do Ministério Público? No arrolamento sumário, em regra, não ocorre a
intervenção do Ministério Público, porque não há interesse socialmente relevante nem
direitos individuais indisponíveis. Exceção: se houver interessado incapaz, o arrolamento
sumário somente poderá ser realizado com a concordância do Ministério Público (art. 665
do CPC/2015).
 
Jurisdição voluntária: Como não há conflito de interesses no arrolamento sumário, a
doutrina classifica esse procedimento como sendo de jurisdição voluntária.
 
Petição de inventário por meio de arrolamento sumário: Na petição inicial do inventário, os
herdeiros irão:
1) requerer ao juiz a nomeação do inventariante. Três observações quanto a isso:
a) o nome do inventariante já vem indicado pelos próprios herdeiros na inicial.
b) não há necessidade de aplicação da ordem legal do art. 617 do CPC/2015
(primeiro o cônjuge, depois o herdeiro que estiver na posse dos bens etc.).
c) o inventariante não precisa prestar compromisso.
 
2) declarar os títulos dos herdeiros e os bens do espólio.
 
3) atribuir valor aos bens do espólio, para fins de partilha.
 
Tributos que devem ser “analisados” em uma sucessão causa mortis: A sucessão causa
mortis, independentemente do procedimento processual adotado, abrange:
1) os tributos relativos aos bens do espólio e às suas rendas (esses tributos compõem o
passivo patrimonial deixado pelo de cujus – suas “dívidas”); e

2) constitui fato gerador dos tributos incidentes sobre a transmissão do patrimônio


propriamente dita, dentre eles o ITCM.
ITCMD (ou ITCM) é a sigla de Imposto sobre a transmissão causa mortis e doação. Trata-se
de um imposto de competência dos Estados e do DF, previsto no art. 155, I, da CF/88. O fato
gerador do ITCMD é...
- a transmissão,
- por causa mortis (herança ou legado) ou
- por doação,
- de quaisquer bens ou direitos.
 
A prova de quitação dos tributos relacionados coma transmissão patrimonial aos
sucessores (item 2 acima) é condição necessária prévia para a entrega dos formais de
partilha ou da carta de adjudicação?
CPC/1973: SIM CPC/2015: NÃO
O CPC/73, em seu art. 1.031, em O CPC/15, em seu art. 659, § 2º, trouxe uma
conformidade com o art. 192 do CTN, significativa mudança normativa no tocante
exigia: ao procedimento de arrolamento sumário ao
• a prova de quitação dos tributos deixar de condicionar a entrega dos formais
relativos aos bens do espólio e às suas de partilha ou da carta de adjudicação à
rendas como condição para a prévia quitação dos tributos concernentes à
homologação da partilha e transmissão patrimonial aos sucessores.
• o pagamento de todos os tributos
devidos, aí incluído o ITCMD, para o
encerramento do processo, com a
expedição e a entrega dos formais de
partilha.

É o que foi decidido no Info 634 do STJ:


No arrolamento sumário não se condiciona a entrega dos formais de partilha
ou da carta de adjudicação à prévia quitação dos tributos concernentes à
transmissão patrimonial aos sucessores. STJ. 1ª Turma. REsp 1.704.359-DF, Rel.
Min. Gurgel de Faria, j. 28/08/2018 (Info 634).
 
Veja o dispositivo do CPC/2015:
Art. 659. (...)
§ 2º Transitada em julgado a sentença de homologação de partilha ou de
adjudicação, será lavrado o formal de partilha ou elaborada a carta de
adjudicação e, em seguida, serão expedidos os alvarás referentes aos bens e às
rendas por ele abrangidos, intimando-se o fisco para lançamento
administrativo do imposto de transmissão e de outros tributos porventura
incidentes, conforme dispuser a legislação tributária, nos termos do § 2º do art.
662.
 
Isso significa que no arrolamento sumário é possível homologar a partilha mesmo sem a
quitação dos tributos relativos aos bens do espólio e às suas rendas? NÃO. Não é isso. O
novo CPC apenas desvinculou o encerramento do processo de arrolamento sumário à
quitação dos tributos gerados com a transmissão propriamente dita, permitindo que, com o
trânsito em julgado da sentença homologatória da partilha, sejam expedidos desde logo os
respectivos formais ou a carta de adjudicação.

Contudo, essa inovação normativa do § 2º do art. 659 do CPC/15 em nada altera a condição
estabelecida no art. 192 do CTN, de modo que, no arrolamento sumário, o magistrado deve
exigir a comprovação de quitação dos tributos relativos aos bens do espólio e às suas
rendas para homologar a partilha e, na sequência, com o trânsito em julgado, expedir os
títulos de transferência de domínio e encerrar o processo, independentemente do
pagamento do imposto de transmissão.

Assim, para que haja a homologação da partilha, mesmo no caso de arrolamento sumário,
continua sendo indispensável que haja a prévia quitação dos tributos relativos aos bens do
espólio e às suas rendas. Essa exigência, como já dito, tem como fundamento o art. 192 do
CTN, que continua em vigor e deve ser interpretado em conjunto com o art. 659, § 2º do CPC:
Art. 192. Nenhuma sentença de julgamento de partilha ou
adjudicação será proferida sem prova da quitação de todos os
tributos relativos aos bens do espólio, ou às suas rendas.
 
Desse modo, segundo o que dispõe o art. 192 do CTN, a comprovação da quitação dos
tributos referentes aos bens do espólio e às suas rendas é condição sine qua non
(indispensável) para que o magistrado proceda a homologação da partilha.
58. ARBITRAGEM
58.1. Validade de cláusula arbitral que reserve a solução de determinadas situações para a
via judicial – (Info 577)

É válida a cláusula compromissória que excepcione do juízo arbitral certas situações


especiais a serem submetidas ao Poder Judiciário.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.331.100-BA, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Rel. para acórdão Min.
Raul Araújo, julgado em 17/12/2015 (Info 577).
OBS:
Em que consiste a arbitragem: Representa uma técnica de solução de conflitos por meio da
qual os conflitantes aceitam que a solução de seu litígio seja decidida por uma terceira
pessoa, de sua confiança. É uma forma de heterocomposição (instrumento por meio do qual o
conflito é resolvido por um terceiro).

Regulamentação: É regulada pela Lei 9.307/96, havendo também alguns dispositivos no CPC
versando sobre o tema.

Convenção de arbitragem: As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios


ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem (art. 3º). Convenção de arbitragem é o
gênero, que engloba duas espécies:
 a cláusula compromissória e
 o compromisso arbitral.

Em que consiste a cláusula compromissória: A cláusula compromissória, também chamada


de cláusula arbitral, é...
 uma cláusula prevista no contrato,
 de forma prévia e abstrata,
 por meio da qual as partes estipulam que
 qualquer conflito futuro relacionado àquele contrato
 será resolvido por arbitragem (e não pela via jurisdicional estatal).

A cláusula compromissória está prevista no art. 4º da Lei 9307/96:


Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as
partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os
litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.

Feitos tais esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: A empresa “AA”


celebrou contrato com a empresa “BB”. Ao final do contrato, havia uma cláusula
compromissória dizendo que: “Fica ajustado pelas Partes que qualquer controvérsia ou
reivindicação decorrente ou relativa a este Contrato será dirimida por arbitragem de acordo
com as regras do Centro de Arbitragem e mediação da Câmara de Comércio Brasil-Canadá,
com exceção das causas mencionadas na cláusula oitava, que deverão ser submetidas ao
Poder Judiciário.”

Essa cláusula é válida? É possível que a cláusula compromissória preveja que parte dos
conflitos será resolvido por arbitragem e outras causas pelo Poder Judiciário? SIM. A Lei
9307/96 não exige, como condição de existência da cláusula compromissória, que a
arbitragem seja a única via de resolução admitida pelas partes para todos os litígios e em
relação a todas as matérias. Não pode ser considerada nula a cláusula compromissória
constante de acordo que excepcione ou reserve certas situações especiais a serem submetidas
ao Judiciário, especialmente quando essas demandem tutelas de urgência. A contrario sensu,
nulidade haveria em previsão que vedasse completamente toda e qualquer apreciação de
litígio pelo Judiciário. O convívio harmônico dos juízos arbitrais com os órgãos do Judiciário
constitui ponto fundamental ao prestígio da arbitragem.

58.2. Prazo decadencial para ajuizamento de ação anulatória no procedimento arbitral –


(Info 568)

O art. 32 da Lei nº 9.307/96 elenca hipóteses nas quais a sentença arbitral é nula. Essa
nulidade é declarada pelo Poder Judiciário. Verificando alguma das situações do art. 32, a
parte interessada poderá propor ação de declaração de nulidade da sentença arbitral. A
ação de declaração de nulidade deve ser proposta em, no máximo, 90 dias após o
recebimento da notificação da sentença arbitral.
Imagine agora a seguinte situação: em fevereiro de 2014 foi proferida sentença arbitral
parcial; em abril de 2014, foi prolatada sentença arbitral final. Suponhamos que a parte
interessada deseja anular a sentença arbitral parcial. O prazo para a ação anulatória
começou a correr em fevereiro ou em abril?
Em fevereiro. O prazo decadencial de 90 dias para o ajuizamento de ação anulatória (art.
33, § 1º, da Lei nº 9.307/96) em face de sentença arbitral parcial conta-se a partir do trânsito
em julgado desta (sentença parcial), e não do trânsito em julgado da sentença arbitral final.
Obs: neste julgado o STJ afirmou que, mesmo antes da alteração promovida pela Lei
13.129/2015, era possível a prolação de sentença arbitral parcial, especialmente na hipótese
de as partes signatárias assim convencionarem.
STJ. 3ª T. REsp 1.519.041-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 1º/9/2015 (Info 568).

59. CAUÇÃO
59.1. Possibilidade de dispensa da caução prevista no art. 835 do CPC 1973 (art. 83 do CPC
2015) – (Info 563)

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a
tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as
custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação. Essa caução não será
necessária se o autor possuir bens imóveis no Brasil que possam servir para o pagamento
de tais despesas. Isso está previsto no art. 835 do CPC 1973 (art. 83 do CPC 2015).
Essa caução não tem natureza cautelar, sendo exigível no caso em que se verificar a
presença dos requisitos objetivos e cumulativos elencados na lei, podendo ser dispensada
nas hipóteses previstas no art. 836 do CPC 1973 (art. 83, § 1º do CPC 2015) ou quando, com
base na prova dos autos, as peculiaridades do caso concreto indicarem que a sua exigência
irá obstaculizar o acesso à jurisdição.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.479.051-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 26/5/15 (Info 563).

60. JUSTIÇA GRATUITA


60.1. Caso a parte faça o requerimento da gratuidade da justiça no recurso e o relator
indefira o pedido, deverá intimar o recorrente para realizar o preparo antes de decretar a
deserção – (Info 643) – IMPORTANTE!!!

O interessado deverá ser intimado para a realização do preparo recursal nas hipóteses de
indeferimento ou de não processamento do pedido de gratuidade da justiça.
Nesse sentido é o art. 99, § 7º do CPC/2015:
§ 7º Requerida a concessão de gratuidade da justiça em recurso, o recorrente estará
dispensado de comprovar o recolhimento do preparo, incumbindo ao relator, neste caso,
apreciar o requerimento e, se indeferi-lo, fixar prazo para realização do recolhimento.
STJ. Corte Especial. EAREsp 742240-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 19/9/18 (Info 643).

60.2. Possibilidade de concessão de gratuidade da justiça a estrangeiros não residentes no


Brasil – (Info 622) – IMPORTANTE!!!

O estrangeiro residente no Brasil tem direito à gratuidade da justiça?


SIM. O estrangeiro residente no Brasil possui direito à gratuidade da justiça. Isso é
previsto no CPC/2015 e também já era garantido na Lei nº 1.060/50.

E o estrangeiro não residente no Brasil?


Lei 1.060/50: Não tinha direito. Só poderia ser deferida a gratuidade da justiça para
estrangeiros residentes no Brasil (art. 2º).
CPC/2015: possui o direito. Atualmente, pode ser deferida a gratuidade da justiça para
estrangeiros residentes ou não-residentes no Brasil (art. 98).
A gratuidade da justiça passou a poder ser concedida a estrangeiro não residente no Brasil
após a entrada em vigor do CPC/2015.
STJ. Corte Especial. Pet 9815-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 29/11/2017 (Info 622).
OBS:
Garantia de assistência jurídica integral e gratuita: A CF/88 prevê a garantia da assistência
jurídica integral e gratuita em seu art. 5º, LXXIV: “o Estado prestará assistência jurídica integral e
gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”.

Esse dispositivo constitucional consagra duas garantias:


I – Assistência jurídica integral e gratuita II – Gratuidade da justiça (Assistência
Judiciária Gratuita – AJG).
Fornecimento pelo Estado de orientação e Isenção das despesas que forem necessárias
defesa jurídica, de forma integral e gratuita, para que a pessoa necessitada possa
a ser prestada pela Defensoria Pública, em defender seus interesses em um processo
todos os graus, aos necessitados (art. 134 da judicial.
CF). Era regulada pela Lei nº 1.060/50, mas o
Regulada pela Lei Complementar 80/94. CPC 2015 passou a tratar sobre o tema,
revogando quase toda essa lei.

Quem tem direito à gratuidade da justiça? Tem direito à gratuidade da justiça a pessoa
natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as
custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios (art. 98 do CPC/15).

Quem está abrangido por ela?


 Pessoas físicas (brasileiras ou estrangeiras);
 Pessoas jurídicas (brasileiras ou estrangeiras).

O estrangeiro residente no Brasil tem direito à gratuidade da justiça? SIM. O estrangeiro


residente no Brasil possui direito à gratuidade da justiça. Isso é previsto no CPC/2015 e
também já era garantido na Lei nº 1.060/50.

E o estrangeiro NÃO RESIDENTE no Brasil?


Lei 1.060/50 CPC/2015
Não tinha direito. Possui o direito. Atualmente, pode ser
Só poderia ser deferida a gratuidade da deferida a gratuidade da justiça para
justiça para estrangeiros residentes no estrangeiros residentes ou não-residentes
Brasil. no Brasil.
Art. 2º Gozarão dos benefícios desta Lei os Art. 98. A pessoa natural ou jurídica,
nacionais ou estrangeiros residentes no brasileira ou estrangeira, com insuficiência
país, que necessitarem recorrer à Justiça de recursos para pagar as custas, as
penal, civil, militar ou do trabalho. despesas processuais e os honorários
(Revogado pela Lei 13.105/2015) advocatícios tem direito à gratuidade da
justiça, na forma da lei.
 
E se o pedido de gratuidade foi negado pelo estrangeiro não residente na época do art. 2º da
Lei nº 1.060/50 e o processo perdurou durante o CPC/2015?

Exemplo: Em 2015, antes do NCPC, Juan, nacional da Colômbia, residente em Bogotá, propôs
ação no Brasil e requereu a concessão dos benefícios da gratuidade da justiça. O pedido foi
negado pelo fato de ele não ser residente no Brasil, conforme exigia o art. 2º da Lei nº 1.060/50.
Juan não se conformou e recorreu contra a decisão. Antes que o TJ julgasse o recurso, entrou
em vigor o CPC/2015.

O TJ poderá aplicar a nova regra do art. 98 e conceder a gratuidade da justiça? SIM. Isso
porque se trata de norma de direito processual, portanto, a sua incidência é imediata,
aplicando-se aos processos em curso, consoante dispõe o artigo 14 do CPC/2015:
(...) 1. O artigo 2º da Lei 1.060/50 fora revogado pelo Novo Código de Processo
Civil, cuja matéria passou a ser disciplinada no artigo 98 do CPC/2015 (...)
1.1. Trata-se de norma de direito processual, portanto, a sua incidência é
imediata, aplicando-se aos processos em curso, consoante dispõe o artigo 14 do
CPC/2015.
2. Em que pese à época da apreciação da matéria pelo Tribunal de piso, a
legislação em vigor não prever a possibilidade de concessão da assistência
judiciária ao estrangeiro residente no exterior, com a vigência das novas regras
processuais passou-se a admitir tal hipótese.
2.1. O caput do artigo 98 do Código de Processo Civil vigente ampliou o rol dos
sujeitos que podem ser beneficiados pela concessão da assistência judiciária, em
relação ao disposto no revogado artigo 2º da Lei 1.060/50. Portanto, não há
qualquer impeditivo legal à pessoa estrangeira residente no exterior de postular
a assistência judiciária gratuita e ter deu pedido apreciado pelo juízo. (...)
STJ. 4ª Turma. REsp 1225854/RS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em
25/10/2016.
 
Assim, negado o pedido de gratuidade de justiça, com base no art. 2º da Lei 1.060/50, vigente
à época, o estrangeiro não residente no Brasil pode voltar a formulá-lo, já sob a vigência do
atual CPC.

60.3. Recurso contra a decisão que julga a impugnação à justiça gratuita – (Info 615)

A impugnação à justiça gratuita é feita nos autos do próprio processo ou em autos


apartados?
 Antes do CPC/2015: autos apartados.
 Depois do CPC/2015: nos autos do próprio processo.

Qual é o recurso cabível contra a decisão que acolhe ou rejeita a impugnação à gratuidade
de justiça?
 Antes do CPC/2015: apelação.
 Depois do CPC/2015: agravo de instrumento.

Se a parte ingressou com a impugnação antes do CPC/2015, mas esta somente foi julgada
após a vigência do novo Código, qual é o recurso que deverá ser interposto contra essa
decisão que rejeitou ou acolheu a impugnação?
Agravo de instrumento. Cabe agravo de instrumento contra o provimento jurisdicional
que, após a entrada em vigor do CPC/2015, acolhe ou rejeita incidente de impugnação à
gratuidade de justiça instaurado, em autos apartados, na vigência do regramento anterior.
Aplica-se aqui o princípio do tempus regit actum, no qual se fundamenta a teoria do
isolamento dos atos processuais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.666.321-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 7/11/17 (Info 615).
OBS:
Garantia de assistência jurídica integral e gratuita: A CF/88 prevê a garantia da assistência
jurídica integral e gratuita em seu art. 5º, LXXIV: “o Estado prestará assistência jurídica integral e
gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”.

Esse dispositivo constitucional consagra duas garantias:


I – Assistência jurídica integral e gratuita II – Gratuidade da justiça (Assistência
Judiciária Gratuita – AJG).
Fornecimento pelo Estado de orientação e Isenção das despesas que forem necessárias
defesa jurídica, de forma integral e gratuita, para que a pessoa necessitada possa
a ser prestada pela Defensoria Pública, em defender seus interesses em um processo
todos os graus, aos necessitados (art. 134 da judicial.
CF). Era regulada pela Lei nº 1.060/50, mas o
Regulada pela Lei Complementar 80/94. CPC 2015 passou a tratar sobre o tema,
revogando quase toda essa lei.

Quem tem direito à gratuidade da justiça? Tem direito à gratuidade da justiça a pessoa
natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as
custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios (art. 98 do CPC-2015).

Quem está abrangido por ela?


 Pessoas físicas (brasileiras ou estrangeiras);
 Pessoas jurídicas (brasileiras ou estrangeiras).

A pessoa beneficiada pela justiça gratuita está dispensada do pagamento de quais verbas?
Segundo o § 1º do art. 98 do CPC/2015, a gratuidade da justiça compreende:
I - as taxas ou as custas judiciais;
II - os selos postais;
III - as despesas com publicação na imprensa oficial, dispensando-se a
publicação em outros meios;
IV - a indenização devida à testemunha que, quando empregada, receberá do
empregador salário integral, como se em serviço estivesse;
V - as despesas com a realização de exame de código genético - DNA e de
outros exames considerados essenciais;
VI - os honorários do advogado e do perito e a remuneração do intérprete ou do
tradutor nomeado para apresentação de versão em português de documento
redigido em língua estrangeira;
VII - o custo com a elaboração de memória de cálculo, quando exigida para
instauração da execução;
VIII - os depósitos previstos em lei para interposição de recurso, para
propositura de ação e para a prática de outros atos processuais inerentes ao
exercício da ampla defesa e do contraditório;
IX - os emolumentos devidos a notários ou registradores em decorrência da
prática de registro, averbação ou qualquer outro ato notarial necessário à
efetivação de decisão judicial ou à continuidade de processo judicial no qual o
benefício tenha sido concedido.

Dispensa parcial: A gratuidade da justiça poderá ser concedida em relação a alguns ou a


todos os atos processuais, ou pode consistir apenas na redução percentual das despesas
processuais que o beneficiário tiver de adiantar no curso do procedimento (§ 5º do art. 98 do
CPC/2015).

Parcelamento: A depender do caso concreto, o juiz poderá conceder ao requerente o direito


de parcelar as despesas processuais que tiver de adiantar no curso do procedimento (§ 6º do
art. 98 do CPC/2015).

Despesas processuais e honorários advocatícios de sucumbência: Mesmo sendo beneficiária


da justiça gratuita, a pessoa terá que pagar as despesas processuais e os honorários
advocatícios decorrentes de sua sucumbência (§ 2º do art. 98 do CPC/15). No entanto, as
obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade
e somente poderão ser executadas se, nos 5 anos subsequentes ao trânsito em julgado da
decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de
insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade. Em outras palavras, em
até 5 anos, o credor deverá demonstrar que o devedor passou a ter condições de custear tais
despesas. Passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário são consideradas extintas (§ 3º
do art. 98 do CPC/2015).

Multas processuais: Mesmo sendo beneficiária da justiça gratuita, a pessoa terá o dever de
pagar, ao final, as multas processuais que lhe foram impostas (§ 4º do art. 98 do CPC-2015).
Ex: multa por litigância de má-fé.

O juiz poderá conceder de ofício o benefício da assistência judiciária gratuita? NÃO. É


vedada a concessão “ex officio” do benefício de assistência judiciária gratuita pelo
magistrado. Assim, é indispensável que haja pedido expresso da parte (AgRg nos EDcl no
AREsp 167.623/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 05/02/2013).

Recurso contra a decisão que INDEFERE ou REVOGA o benefício: O juiz pode indeferir por
meio de decisão interlocutória ou na própria sentença.
 Se for por decisão interlocutória: o recurso cabível é o agravo de instrumento.
 Se for por sentença: o recurso será a apelação.

A parte contrária poderá impugnar o pedido de justiça gratuita? SIM. Isso é comumente
chamado de “impugnação à justiça gratuita”, “impugnação à concessão do benefício de
assistência judiciária gratuita” ou “revogação da justiça gratuita”. Veja como o CPC/2015
trata sobre o tema (art. 100):
A parte poderá oferecer impugnação à justiça gratuita na:
 Na contestação;
 Na réplica;
 Nas contrarrazões do recurso; ou
 Nos casos de pedido superveniente ou formulado por terceiro, a impugnação será
feita por meio de petição simples.

Prazo para oferecimento da impugnação: 15 dias.

A impugnação é feita nos autos do próprio processo ou em autos apartados?


 Antes do CPC/2015: deveria ser feita em autos apartados, formando-se um incidente
de impugnação à assistência judiciária (Lei nº 1.050/60).
 Depois do CPC/2015: deve ser feita nos autos do próprio processo.

Qual é o recurso cabível contra a decisão que acolhe ou rejeita a impugnação à gratuidade
de justiça?
 Antes do CPC/2015: apelação.
 Depois do CPC/2015: agravo de instrumento (exceção: se a impugnação for decidida
na própria sentença, como um de seus capítulos).

Veja o texto do CPC/2015:


Art. 101. Contra a decisão que indeferir a gratuidade ou a que acolher pedido de
sua revogação caberá agravo de instrumento, exceto quando a questão for
resolvida na sentença, contra a qual caberá apelação.

Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que


versarem sobre: (...)
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de
sua revogação;

Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação hipotética: João ingressou com ação
contra a empresa “XYZ”. O autor pediu a gratuidade da justiça, o que foi deferido pelo
magistrado. A ré ingressou, então, com impugnação à gratuidade de justiça. Como isso
ocorreu em janeiro/2016, a ré apresentou essa impugnação em autos apartados, conforme
exigia a Lei nº 1.050/60. Em julho/2016, ou seja, já na vigência do CPC/2015, que revogou
quase que integralmente a Lei nº 1.050/60, o juiz acolheu a impugnação oferecida e revogou
o benefício concedido a Joao.

João não se conforma e quer recorrer. Qual deverá ser o recurso interposto por ele para
tentar modificar a decisão que julgou o incidente de impugnação à justiça gratuita? Agravo
de instrumento.

A solução para essa controvérsia envolve a chamada “sucessão de leis processuais no


tempo”. Nesses casos, o STJ adota o princípio do tempus regit actum, no qual se fundamenta
a teoria do isolamento dos atos processuais. Sobre a teoria dos atos processuais isolados,
importante transcrever a lição de Marinoni e Mitidiero:
(...) 3. Isolamento dos atos processuais. A exata compreensão da distinção entre
efeito imediato e efeito retroativo da legislação leva à necessidade de isolamento
dos atos processuais a fim de que saiba se a aplicação da legislação nova
importa efeito imediato ou efeito retroativo. A observação ganha em
importância a propósito da aplicação da lei nova a situações pendentes. O que
interessa é saber se do ato processual advém ou não direito para qualquer dos
participantes do processo. Vale dizer: se há ou não direito adquirido processual.
Nesse caso, a lei nova tem que respeitar a eficácia do ato processual já praticado.
O exemplo clássico encontra-se no direito recursal. A lei do recurso é a lei do
dia em que se tornou recorrível a decisão. A abertura do prazo recursal dá
lugar a uma situação jurídica pendente: aguarda-se a interposição ou não do
recurso. O recorrente tem direito à observação do direito vigente à época da
abertura do prazo recursal. Fora daí há ofensa a direito processual adquirido e
efeito retroativo da legislação. (...) (MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO,
Daniel. Código de Processual Civil - Comentado artigo por artigo. 5ª ed., São
Paulo : RT, 2012, p. 997⁄998).
Assim, de acordo com essa teoria - atualmente positivada no art. 14 do CPC/2015 - a lei
processual nova tem aplicação imediata aos processos em desenvolvimento, resguardando-
se, contudo, a eficácia dos atos processuais já realizados na forma da legislação anterior,
bem como as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada. Veja o
que diz o CPC:
Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos
processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações
jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada.

O STJ, acolhendo esse princípio, decidiu que “a lei a reger o recurso cabível e a forma de sua
interposição é aquela vigente à data da publicação da decisão impugnada, ocasião em que o sucumbente
tem a ciência da exata compreensão dos fundamentos do provimento jurisdicional que pretende
combater” (AgInt nos EDcl no AREsp 949.997/AM, 3ª Turma, DJe de 21/09/2017).

No caso examinado, a impugnação à concessão da assistência judiciária gratuita foi proposta


na vigência da Lei 1.050/60. No entanto, a decisão que acolheu a impugnação e revogou a
gratuidade de justiça anteriormente concedida foi proferida já na vigência do CPC/2015.

Dessa maneira, apesar de instaurado o incidente em autos apartados, o recurso cabível contra
o referido provimento jurisdicional é o agravo de instrumento, segundo a lei processual
vigente à época da prolação da decisão recorrida (CPC/2015).

60.4. O art. 12, § 2º do Estatuto da Cidade estabelece uma presunção relativa de que o autor
da ação de usucapião especial urbana é hipossuficiente – (Info 599) – IMPORTANTE!!!

O Estatuto da Cidade, ao tratar sobre a ação de usucapião especial urbana, prevê que "o
autor terá os benefícios da justiça e da assistência judiciária gratuita, inclusive perante o
cartório de registro de imóveis."
Isso significa que o autor da ação de usucapião especial urbana gozará sempre da
gratuidade da justiça? Há uma presunção absoluta de que este autor não tem recursos
suficientes para pagar as custas? NÃO.
O art. 12, § 2º da Lei 10.257/01 (Estatuto da Cidade) estabelece uma presunção relativa de
que o autor da ação de usucapião especial urbana é hipossuficiente. Isso significa que essa
presunção pode ser ilidida (refutada) a partir da comprovação inequívoca de que o autor
não é considerado "necessitado".
STJ. 3ª Turma. REsp 1.517.822-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 21/2/17 (Info 599).
OBS:
Por que se diz que o art. 12, § 2º, do Estatuto da Cidade prevê apenas uma presunção
relativa? Porque, segundo o STJ, o art. 12, §2º, da Lei 10.257/01 não pode ser lido
isoladamente, devendo ser interpretado em conjunto e harmonia com as regras sobre
gratuidade da justiça, que estão previstas nos arts. 98 a 102 do CPC/2015. A intenção do § 2º
do art. 12 do Estatuto da Cidade foi a de amparar a população de baixa renda, que
normalmente é aquela a quem a ação de usucapião especial urbana visa proteger, além de
criar uma espécie de presunção inicial da hipossuficiência do autor. Apesar de a redação da
norma não ser muito clara, é possível concluir que a presunção de hipossuficiência prevista
no § 2º do art. 12 é relativa. Assim, o juiz, ao receber a inicial da usucapião urbana, deverá
deferir a gratuidade da justiça pelo simples fato de ter sido requerida. No entanto, por outro
lado, deverá negar o benefício se houver comprovação inequívoca de que o autor não poderia
ser considerado "necessitado", ou seja, se não preencher os requisitos do art. 98 do CPC/2015:
Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência
de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários
advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.

Dessa forma, o art. 12, § 2º, da Lei 10.257/01 não criou uma hipótese de concessão de
benefícios da justiça gratuita completamente dissociada das normas processuais que regem o
tema. O referido dispositivo legal, portanto, deve ser interpretado em conjunto e em
harmonia com as disposições dos arts. art. 98 a 102 do CPC/2015.

60.5. Possibilidade de concessão de assistência judiciária gratuita ao contratante de


serviços advocatícios ad exitum – (Info 590)
É possível o deferimento de assistência judiciária gratuita a jurisdicionado que tenha
firmado com seu advogado contrato de honorários com cláusula ad exitum.
Obs: cláusula ad exitum (ou quota litis) é aquela na qual fica previsto que o advogado
somente irá receber de seu cliente os honorários advocatícios contratuais ao final da causa,
se esta for exitosa.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.504.432-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, j. 13/9/16 (Info 590).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João propôs ação contra Pedro. Na petição inicial, o
autor requereu os benefícios da justiça gratuita, ou seja, pediu para não pagar as custas
judiciais e as despesas processuais, conforme previsto no art. 98 do CPC/2015:
Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência
de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários
advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.

O juiz proferiu o seguinte despacho:


"Segundo o art. 98 do CPC/2015, os benefícios da justiça gratuita somente
poderão ser deferidos para o jurisdicionado que não tenha condições de pagar
as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios. Constato que o
autor está sendo assistido juridicamente por advogado particular. Logo,
presume-se que ele está pagando os honorários deste profissional ou que ele
está trabalhando pro bono.
Diante do exposto, como condição para o deferimento do benefício, intime-se o
autor para que apresente declaração do advogado de que não está cobrando
honorários advocatícios do requerente, havendo patrocínio gratuito
incondicional."

O autor respondeu ao despacho afirmando que celebrou com o advogado contrato ad exitum,
ou seja, ele não pagou nada ainda e o profissional só receberá caso a ação seja julgada
procedente, hipótese na qual o requerente entregará um percentual de 30% sobre o que vier a
receber do réu.

O que acontecerá neste caso? O autor terá direito ao benefício da justiça gratuita? SIM. É o
que decidido no Info 590.

O STJ possui entendimento consolidado no sentido de que a parte que celebrou com seu
advogado contrato de honorários com cláusula ad exitum possui direito de receber os
benefícios da justiça gratuita. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp 1.404.556/RS, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 10/6/2014.

Essa solução é consentânea com o propósito da Lei, pois garante ao cidadão de poucos
recursos o direito de escolher o advogado que, aceitando o risco de não auferir remuneração
no caso de indeferimento do pedido, melhor represente seus interesses em juízo.

Além disso, esta exigência feita pelo magistrado de que o advogado deverá apresentar
declaração de patrocínio gratuito incondicional não encontra previsão na lei, tendo sido,
portanto, criado um novo requisito em afronta ao princípio da legalidade (art. 5º, II, da
CF/88).

60.6. Prescindibilidade de preparo para a análise de assistência judiciária gratuita em sede


recursal – (Info 574) – IMPORTANTE!!!

É desnecessário o preparo do recurso cujo mérito discute o próprio direito ao benefício da


assistência judiciária gratuita. Não há lógica em se exigir que o recorrente primeiro recolha
o que afirma não poder pagar para só depois a Corte decidir se faz jus ou não ao benefício.
Assim, não se aplica a pena de deserção a recurso interposto contra o indeferimento do
pedido de justiça gratuita.
Se o recurso diz respeito justamente à alegação do recorrente de que ele não dispõe de
condições econômico-financeiras para arcar com os custos da demanda, não faz sentido
considerá-lo deserto por falta de preparo, uma vez que ainda está sob análise o pedido de
assistência judiciária e, caso seja deferido, neste momento, o efeito da decisão retroagirá
até o período da interposição do recurso e suprirá a ausência do recolhimento e, caso seja
indeferido, deve ser dada oportunidade de regularização do preparo.
STJ. Corte Especial. AgRg nos EREsp 1.222.355-MG, Rel. Min. Raul Araújo, j. 4/11/15 (Info
574).
OBS: O CPC 2015 adota expressamente a conclusão acima exposta e prevê que o recorrente
não precisará fazer o recolhimento das custas até que haja uma decisão do relator sobre a
questão, antes do julgamento do recurso (art. 101, § 1º).

60.7. Pedido de assistência judiciária gratuita em sede recursal pode ser feito na própria
petição recursal – (Info 574) – ATENÇÃO! MUDANÇA DE ENTENDIMENTO! ATUALIZE
INFO 2013!

É possível a formulação de pedido de assistência judiciária gratuita na própria petição


recursal, dispensando-se a exigência de petição avulsa, quando não houver prejuízo ao
trâmite normal do processo.
STJ. Corte Especial. AgRg nos EREsp 1.222.355-MG, Rel. Min. Raul Araújo, j. 4/11/15 (Info
574).
OBS: O CPC 2015 autoriza expressamente que o pedido de assistência judiciária gratuita seja
formulado a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição, na própria petição recursal,
dispensado, com isso, a retrógrada exigência de petição avulsa.

60.8. Eficácia da concessão de assistência judiciária gratuita – (Info 557) – IMPORTANTE!!!

Qual é o momento em que deverá ser formulado o pedido de justiça gratuita?


Normalmente o pedido de justiça gratuita é feito na própria petição inicial (no caso do
autor) ou na contestação (no caso do réu). No entanto, a orientação pacífica da
jurisprudência é de que a assistência judiciária gratuita pode ser pleiteada a qualquer
tempo.

Imagine que o juiz conceda o benefício da justiça gratuita logo no início do processo de
conhecimento (ex: na petição inicial ou na contestação). É necessário que a parte refaça esse
pedido quando se iniciarem as outras fases do processo (ex: na fase de recurso, na fase de
execução etc.) ou caso tenha incidentes processuais?
NÃO. Quando a assistência judiciária gratuita for deferida, a eficácia da concessão do
benefício prevalecerá, independentemente de renovação de seu pedido, em todas as
instâncias e para todos os atos do processo – alcançando, inclusive, as ações incidentais ao
processo de conhecimento, os recursos, as rescisórias, assim como o subsequente processo
de execução e eventuais embargos à execução.
Assim, depois de a justiça gratuita ter sido concedida, ela irá perdurar automaticamente
até o final do processo, e só perderá sua eficácia se o juiz ou o Tribunal expressamente
revogarem caso tenha comprovadamente melhorado a condição econômico-financeira do
beneficiário.
Ex: João ajuizou ação de indenização contra Pedro e pediu o benefício da justiça gratuita,
o que foi deferido pelo magistrado logo na decisão inicial. O juiz julgou o pedido
improcedente. João interpôs apelação. O autor não precisará recolher as custas porque já
lhe foi deferida justiça gratuita (e isso ainda está valendo). No recurso proposto, João não
necessita pedir novamente o benefício. Imaginemos que o Tribunal condene Pedro a
pagar a indenização. No momento do cumprimento de sentença (fase de execução), João
continuará tendo direito à justiça gratuita mesmo que não faça novo pedido nesse sentido.
STJ. Corte Especial. AgRg nos EAREsp 86.915-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em
26/2/2015 (Info 557).

60.9. Beneficiário da justiça gratuita tem direito de requerer auxílio da contadoria judicial
para elaboração de seus cálculos – (Info 540)

O beneficiário da assistência judiciária, ainda que seja representado pela Defensoria


Pública, pode se utilizar do serviço de contador judicial para apuração do crédito que será
objeto de execução, independentemente da complexidade dos cálculos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.200.099-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 6/5/2014 (Info 540).
OBS:
CPC/2015: O professor Márcio Cavalcante acredita que o entendimento acima exposto
permanece válido com o novo CPC, apesar de não existir no CPC/2015 um dispositivo com
redação semelhante ao art. 475-B, § 3º do CPC/1973.

60.10. Concessão de ofício do benefício de assistência judiciária gratuita pelo juiz

É vedada a concessão “ex officio” do benefício de assistência judiciária gratuita pelo


magistrado. Assim, é indispensável que haja pedido expresso da parte.
STJ. AgRg nos EDcl no AREsp 167.623/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 4ª T., j. 5/2/13.

61. PROCESSO COLETIVO


61.1. Transportadora pode ser condenada, em ACP, a não trafegar com excesso de peso nas
rodovias, sob pena de multa civil (astreinte), e, além disso, ser condenada a pagar
indenização por danos morais coletivos e danos materiais – (Info 643)

Transportadora que constantemente descumpre o Código de Trânsito e trafega com seus


veículos com cargas acima do peso permitido pode ser condenada ao pagamento de danos
morais coletivos e danos materiais.
O tráfego de veículos com excesso de peso gera responsabilidade civil em razão dos danos
materiais às vias públicas e do dano moral coletivo consistente no agravamento dos riscos
à saúde e à segurança de todos.
Neste caso, além da condenação a pagar a indenização, a transportadora também poderá
ser condenada a não mais trafegar com excesso de peso, sendo viável a aplicação de multa
civil (astreinte), como medida coercitiva, mesmo que já tenham sido imputadas as multas
administrativas previstas no CTB.
STJ. 2ª Turma. REsp 1574350-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 03/10/2017 (Info 643).

61.2. A Súmula 345 do STJ continua válida mesmo com o art. 85, § 7º, do CPC/2015 – (Info
628) – IMPORTANTE!!!

O art. 85, § 7º, do CPC/2015 não afasta a aplicação do entendimento consolidado na


Súmula 345 do STJ, de modo que são devidos honorários advocatícios nos procedimentos
individuais de cumprimento de sentença decorrente de ação coletiva, ainda que não
impugnados e promovidos em litisconsórcio.
O art. 85, § 7º, do CPC/2015 não se aplica para as execuções individuais, ainda que
promovidas em litisconsórcio, pedindo o cumprimento de julgado proferido em sede de
ação coletiva lato sensu, ação civil pública ou ação de classe.
Em resumo, a Súmula 345 do STJ continua válida mesmo com o art. 85, § 7º, do CPC/2015.
Súmula 345-STJ: São devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções
individuais de sentença proferida em ações coletivas, ainda que não embargadas.
Art. 85. (...) § 7º Não serão devidos honorários no cumprimento de sentença contra a
Fazenda Pública que enseje expedição de precatório, desde que não tenha sido impugnada.
STJ. Corte Especial. REsp 1648238-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 20/6/18 (recurso
repetitivo) (Info 628).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A associação dos servidores públicos federais do
Ministério da Saúde ajuizou ação coletiva contra a União pedindo que fosse reconhecida e
paga determinada gratificação devida à classe. A ação foi julgada procedente condenando, de
forma genérica, a União a pagar a referida gratificação em favor dos servidores do Ministério
da Saúde. Houve trânsito em julgado. João é servidor público federal do Ministério da Saúde
e filiado à referida associação. Diante disso, ele propôs execução individual cobrando o
pagamento das verbas relacionadas com a aludida gratificação. A União não apresentou
embargos à execução, ou seja, não se opôs ao pagamento dos valores a João.
 
Além do montante principal, a União terá que pagar honorários advocatícios? SIM.
 
Mas a União não embargou... mesmo assim, ela terá que pagar? SIM. Esse é o entendimento
consolidado do STJ. Confira:
Súmula 345-STJ: São devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas
execuções individuais de sentença proferida em ações coletivas, ainda que não
embargadas.
 
Mas e a regra do art. 1º-D da Lei nº 9.494/97...? O art. 1º-D da Lei nº 9.494/97 preconiza o
seguinte:
Art. 1º-D. Não serão devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas
execuções não embargadas.
 
Por que não se aplica a regra do art. 1º-D da Lei nº 9.494/97 para o exemplo acima dado? O
art. 1º-D da Lei nº 9.494/97 não está em confronto com a Súmula 345-STJ? O STJ entende que
a execução INDIVIDUAL destinada à satisfação do direito reconhecido em sentença
condenatória genérica, proferida em ação civil COLETIVA, não é uma “execução comum”.
Isso porque essa execução individual possui uma elevada carga cognitiva, considerando que
nela:
 Além de ser realizada a individualização e a liquidação do valor devido (definição do
quantum debeatur);
 Irá ser decidido se o exequente é ou não o titular do direito material reconhecido na
ação coletiva.
 
Em outras palavras, trata-se de uma execução na qual se irá discutir se o exequente é ou não
titular do crédito, algo que não se debate em uma execução “comum”, “tradicional”. Veja o
que explicava o Min. Teori Zavascki:
“(...) a despeito de ser conhecida como um processo executivo, a ação em que se
busca a satisfação individual do direito declarado em sentença de ação civil
coletiva não é propriamente uma ação de execução típica. As sentenças
proferidas no âmbito das ações coletivas para tutela de direitos individuais
homogêneos, por força de expressa disposição do Código de Defesa do
Consumidor (Lei nº 8.078/1990, art. 95), são condenatórias genéricas. Nelas não
se especifica o valor da condenação nem a identidade dos titulares do direito
subjetivo. A carga condenatória, por isso mesmo, é mais limitada do que a que
decorre das demais sentenças condenatórias. Sobressai nelas a carga de
declaração do dever de indenizar, transferindo-se para a ação de cumprimento
a carga cognitiva relacionada com o direito individual de receber a
indenização. Assim, a ação de cumprimento não se limita, como nas execuções
comuns, à efetivação do pagamento. Nelas se promove, além da
individualização e liquidação do valor devido, se for o caso, o juízo sobre a
titularidade do exequente em relação ao direito material, para somente então se
passar aos atos propriamente executivos.” (trecho de seu voto no STJ AgRg no
REsp. 489348/PR, DJ 01/09/2003).
 
Súmula 345-STJ e art. 1º-D da Lei 9.494/97 convivem, cada um disciplinando uma situação
diferente: Desse modo, é preciso distinguir as duas situações:
 Súmula 345-STJ: aplica-se para as execuções individuais de sentença proferida em
ações coletivas. Nelas serão devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública,
ainda que esta não tenha apresentado embargos à execução;
 Art. 1º-D da Lei nº 9.494/97: destina-se às execuções típicas do Código de Processo
Civil, não se aplicando à peculiar execução da sentença proferida em ação civil
coletiva (STJ. 1ª Seção. EREsp 475.566/PR, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ
13/09/2004).
 
Art. 85, § 7º, do CPC/2015: A polêmica a respeito da validade ou não da Súmula 345-STJ foi
reacendida com o CPC/2015. Isso porque ele trouxe, de forma genérica, a seguinte regra:
Art. 85. (...)
§ 7º Não serão devidos honorários no cumprimento de sentença contra a
Fazenda Pública que enseje expedição de precatório, desde que não tenha sido
impugnada.
 
Em outras palavras, o § 7º disse que se a Fazenda Pública, devedora, não apresentou
impugnação ao cumprimento de sentença, ela não deverá ser condenada a pagar honorários
advocatícios. Diante disso, a doutrina afirmou que a Súmula 345 do STJ teria sido superada.
Nesse sentido: Leonardo da Cunha.
 
O STJ acolheu a posição da doutrina? A Súmula 345 do STJ perdeu validade com a entrada
em vigor do § 7º do art. 85 do CPC/2015? NÃO. O STJ entende que a súmula continua
válida mesmo após o CPC/2015. Confira:
O art. 85, § 7º, do CPC/2015 não afasta a aplicação do entendimento
consolidado na Súmula 345 do STJ, de modo que são devidos honorários
advocatícios nos procedimentos individuais de cumprimento de sentença
decorrente de ação coletiva, ainda que não impugnados e promovidos em
litisconsórcio. STJ. Corte Especial. REsp 1.648.238-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria,
j. 20/6/18 (recurso repetitivo) (Info 628).
 
Para o STJ, não houve mudança no ordenamento jurídico, uma vez que o art. 85, § 7º, do
CPC/2015 reproduz basicamente o teor normativo contido no art. 1º-D da Lei 9.494/97,
dispositivo que foi analisado quando da edição da súmula. Conforme já explicado, o
procedimento de cumprimento individual de sentença coletiva não pode receber o mesmo
tratamento pertinente a um procedimento de cumprimento comum, uma vez que traz
consigo a discussão de uma nova relação jurídica. A sentença coletiva gera um título judicial
genérico, no qual não estão definidas a certeza e a liquidez do direito de cada titular do
crédito a ser executado, atributos que somente poderiam ser identificados e dimensionados
mediante a propositura de execuções individuais, nas quais seriam expostas as
peculiaridades de cada demandante, o que implica complexidade diferenciada no processo
executório, a qual persiste mesmo que não tenham sido ajuizados embargos à execução.
 
Apenas para que você entenda melhor (não é tecnicamente correto afirmar isso na prova) : na
execução individual (cumprimento individual) de sentença proferida em ação coletiva, o
advogado do exequente (credor) terá mais “trabalho” do que em uma execução comum
(cumprimento comum). Isso porque ele terá que demonstrar que seu cliente tem direito ao
crédito que foi discutido no processo de conhecimento. Assim, como essa comprovação terá
que ser obrigatoriamente feita, são devidos honorários advocatícios mesmo que a Fazenda
Pública não apresente impugnação a esse cumprimento de sentença.

61.3.Legitimidade do Município para defesa dos consumidores – (Info 626) –


IMPORTANTE!!!

Município tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa de
direitos consumeristas questionando a cobrança de tarifas bancárias.
Em relação ao Ministério Público e aos entes políticos, que têm como finalidades
institucionais a proteção de valores fundamentais, como a defesa coletiva dos
consumidores, não se exige pertinência temática e representatividade adequada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1509586-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/5/18 (Info 626).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: O Município de Brusque (SC) ajuizou ação civil
pública contra o HSBC Bank Brasil S.A. alegando que seria ilegal uma tarifa bancária
denominada “renovação de cadastro” que estava sendo cobrada das contas bancárias. O
banco contestou a demanda alegando, entre outros argumentos, que o Município não tem
legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa de direitos consumeristas
questionando a cobrança de uma tarifa bancária.

O que decidiu o STJ? O Município tem legitimidade? SIM. É o que foi decidido no Info 626
do STJ.

A legitimidade extraordinária dos entes políticos: Os entes federativos ou políticos,


enquanto gestores da coisa pública e do bem comum, são, em tese, os maiores interessados
na defesa dos interesses metaindividuais, considerando que o Estado “tem por fim o bem
comum de um povo situado em um determinado território” (DALLARI, Dalmo de Abreu.
Elementos da teoria geral do estado. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 100). Assim, na defesa do
bem comum do povo, cabe aos órgãos públicos promover a tutela dos interesses da
população. Trata-se, em verdade, de dever-poder, o que impõe aos entes políticos o dever
de agir na defesa de interesses metaindividuais. Ademais, a legitimação dos entes políticos
para a defesa de interesses metaindividuais é justificada pela qualidade de sua estrutura,
capaz de conferir maior probabilidade de êxito na implementação da tutela coletiva.

Pertinência temática e representatividade adequada dos entes políticos: No caso de ação


civil pública proposta por ente político, a pertinência temática ou representatividade
adequada são presumidas. Isso porque não há dúvidas de que os entes políticos possuem,
dentre suas finalidades institucionais, a defesa coletiva dos consumidores. Trata-se, inclusive,
de um comando constitucional:
Art. 5º (...)
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

Aliás, no que se refere especificamente à defesa de interesses individuais homogêneos dos


consumidores, o Município é o ente político que terá maior contato com as eventuais
lesões cometidas contra esses interesses, pois, “por certo, será no Município que esses fatos
ensejadores da ação civil pública se farão sentir com maior intensidade [...] em face da
proximidade, da imediatidade entre ele e seus munícipes” (LEONEL, Ricardo de Barros.
Manual do Processo Coletivo. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 165).

Como foi cobrado em concursos:


 “A ação civil pública não poderá ser proposta pelos Estados e Municípios”. (Analista
Judiciário – TRF3 – FCC- 2007 – Falso)
 “O Município não tem legitimidade para propor ação civil pública”. (Procurador
Municipal de Poá-SP – VUNESP – 2014 – Falso).
 “Têm legitimidade para propor a ação civil pública, dentre outros, os Municípios”.
(Analista Judiciário – TRT 11a – FCC – 2017 – Verdadeiro).

61.4. Associação de defesa do consumidor não tem legitimidade para ajuizar ACP
discutindo DPVAT – (Info 618) – IMPORTANTE!!! – (TJSC-2019) (TJBA-2019)

Uma associação que tenha fins específicos de proteção ao consumidor não possui
legitimidade para o ajuizamento de ação civil pública com a finalidade de tutelar
interesses coletivos de beneficiários do seguro DPVAT. Isso porque o seguro DPVAT não
tem natureza consumerista, faltando, portanto, pertinência temática.
STJ. 2ª S. REsp 1091756-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, j.
13/12/17 (Info 618).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Uma associação chamada “Movimento das donas de
casa e consumidores de Minas Gerais” ajuizou ação civil pública contra a “Sul América Seguros”
alegando que esta seguradora, quando vai pagar as indenizações do DPVAT, não tem
adotado os critérios corretos para o cálculo dos valores, de forma que tem pagado menos do
que os beneficiários teriam direito. A seguradora alegou que a autora seria parte ilegítima
para a causa. Isso porque o estatuto desta associação prevê que a sua finalidade é a defesa
dos consumidores e a relação jurídica dos beneficiários com as seguradoras do DPVAT não é
de consumo. Logo, o pedido formulado pela associação não teria relação com a sua
finalidade estatutária.
 
A tese da seguradora foi aceita pelo STJ? SIM. Uma associação que tenha fins específicos de
proteção ao consumidor não possui legitimidade para o ajuizamento de ação civil pública
com a finalidade de tutelar interesses coletivos de beneficiários do seguro DPVAT. STJ. 2ª
Seção. REsp 1.091.756-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 13/12/2017 (Info 618).
 
DPVAT não é uma relação de consumo: O seguro DPVAT não é baseado em uma relação
jurídica contratual. Trata-se de um seguro obrigatório por força de lei, que tem por objetivo
mitigar os danos advindos da circulação de veículos automotores. Em se tratando de
obrigação imposta por lei, não há, por conseguinte, qualquer acordo de vontade e,
principalmente, voluntariedade entre o proprietário do veículo e as seguradoras
componentes do consórcio do seguro DPVAT, o que, por si, evidencia que não se trata de
contrato. A estipulação da indenização securitária em favor da vítima do acidente, assim
como as específicas hipóteses de cabimento (morte, invalidez permanente, total e parcial, e
por despesas de assistência médica e suplementares) decorrem exclusivamente de imposição
legal, e, como tal, não comportam qualquer temperamento das partes envolvidas. Nesse
contexto, não há, por parte das seguradoras integrantes do consórcio do seguro DPVAT,
responsáveis por realizarem o pagamento, qualquer ingerência nas regras relativas à
indenização securitária. Ao contrário do que ocorre no caso de seguro facultativo (esta, sim,
sujeita ao CDC), a atuação das seguradoras integrantes do consórcio do seguro DPVAT não
é concorrencial nem se destina à obtenção de lucro, na medida em que a respectiva
arrecadação possui destinação legal específica. Tampouco seria possível falar em
vulnerabilidade, na acepção técnico-jurídica, das vítimas de acidente de trânsito - e muito
menos do proprietário do veículo a quem é imposto o pagamento do "prêmio" do seguro
DPVAT - perante as seguradoras, as quais não possuem qualquer margem discricionária para
efetivação do pagamento da indenização securitária, sempre que presentes os requisitos
estabelecidos na lei. Em suma, não há relação de consumo entre as vítimas do acidente ou
beneficiárias e as seguradoras do DPVAT, não se aplicando as normas protetivas do
Código de Defesa do Consumidor. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp 1.635.398-PR, Rel.
Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 17/10/17 (Info 614).
 
Associação tem por finalidade a defesa do consumidor: Como não há, no caso, uma relação
de consumo, não se mostra correto aceitar que uma associação que tem fins específicos de
proteção ao consumidor possa ter legitimidade para propor uma ação civil pública fazendo
pedido relacionado com o tema.

O requisito da “pertinência temática” constitui um dos critérios para verificação da


chamada “representatividade adequada” do grupo lesado, traduzindo-se na necessidade de
que haja uma relação de congruência entre as finalidades institucionais da associação
(expressamente enumeradas no estatuto social) e o conteúdo da pretensão. No presente caso
é muito clara a ausência de pertinência temática considerando que as finalidades
institucionais da associação (defesa do consumidor) não estão relacionadas com o seguro
DPVAT (que não tem natureza consumerista).

61.5. Não se aplica a remessa necessária do art. 19 da LAP para as ações coletivas tutelando
direitos individuais homogêneos – (Info 612)

Não se admite o cabimento da remessa necessária, tal como prevista no art. 19 da Lei
4.717/65, nas ações coletivas que versem sobre direitos individuais homogêneos.
Ex: ação proposta pelo MP tutelando direitos individuais homogêneos de consumidores.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.374.232-ES, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 26/9/17 (Info 612).
OBS:
Noções gerais sobre o reexame necessário: O chamado “reexame necessário” ou “duplo grau
de jurisdição obrigatório” é um instituto previsto no art. 496 do CPC/2015 e em algumas leis
esparsas:
Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão
depois de confirmada pelo tribunal, a sentença:
I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas
respectivas autarquias e fundações de direito público;
II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal.
§ 1º Nos casos previstos neste artigo, não interposta a apelação no prazo legal, o
juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunal, e, se não o fizer, o presidente do
respectivo tribunal avocá-los-á.
§ 2º Em qualquer dos casos referidos no § 1o, o tribunal julgará a remessa
necessária.

Deixa eu explicar melhor:


- Se a sentença proferida pelo juiz de 1ª instância: a) for contra a Fazenda Pública; ou b) julgar
procedentes os embargos do devedor na execução fiscal (o que também é uma sentença
contra a Fazenda Pública);
- Essa sentença deverá ser, obrigatoriamente, reexaminada pelo Tribunal de 2º grau (Tribunal
de Justiça ou Tribunal Regional Federal);
- Mesmo que a Fazenda Pública não recorra;
- E, enquanto não for realizado o reexame necessário, não haverá trânsito em julgado.

Obs: o reexame necessário não possui natureza jurídica de recurso. Desse modo, é
tecnicamente incorreto denominar este instituto de “recurso ex officio”, “recurso de ofício”
ou “recurso obrigatório”.

Exceções ao reexame necessário: O CPC prevê, em dois parágrafos, situações em que, mesmo
a sentença se enquadrando nos incisos do art. 496, não haverá a obrigatoriedade do reexame
necessário:
§ 3º Não se aplica o disposto neste artigo quando a condenação ou o proveito
econômico obtido na causa for de valor certo e líquido inferior a:
I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias e
fundações de direito público;
II - 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as
respectivas autarquias e fundações de direito público e os Municípios que
constituam capitais dos Estados;
III - 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais Municípios e respectivas
autarquias e fundações de direito público.
§ 4º Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver
fundada em:
I - súmula de tribunal superior;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal
de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas
ou de assunção de competência;
IV - entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito
administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer
ou súmula administrativa.

Reexame necessário “invertido” previsto na Lei de Ação Popular: A Lei nº 4.717/65 prevê
que se o juiz concluir pela carência ou pela improcedência da ação popular, essa sentença
estará sujeita ao reexame necessário. Veja:
Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação
está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de
confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação procedente caberá apelação, com
efeito suspensivo.

Assim, quando a sentença da ação popular for procedente, não haverá reexame necessário.
Perceba, portanto, que o art. 19 inverte a lógica da remessa necessária do CPC. Pelo CPC, se a
Fazenda “perde”, haverá reexame. Na ação popular, o reexame necessário ocorre se o
cidadão perde. Em virtude disso, podemos dizer que esse art. 19 traz uma hipótese de duplo
grau de jurisdição invertido, ou seja, um duplo grau que ocorre em favor do cidadão (e não
necessariamente da Fazenda Pública).

É possível aplicar esse art. 19 da Lei nº 4.717/65 para as ações de IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA? SIM. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência de
ação de improbidade administrativa está sujeita ao reexame necessário, com base na
aplicação subsidiária do CPC e por aplicação analógica da primeira parte do art. 19 da Lei
nº 4.717/65. STJ. 1ª S. EREsp 1.220.667-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 24/5/17 (Info 607).

É possível aplicar esse art. 19 da Lei nº 4.717/65 para as AÇÕES CIVIS PÚBLICAS? Em
regra, sim. O STJ entende que é possível aplicar, por analogia, a primeira parte do art. 19 da
Lei nº 4.717/65 para as sentenças de improcedência de ação civil pública. Nesse sentido: STJ.
2ª Turma. AgInt no REsp 1596028/MG, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/09/2017.

Existe, contudo, uma exceção:


Não se admite o cabimento da remessa necessária, tal como prevista no art. 19
da Lei nº 4.717/65, nas ações coletivas que versem sobre direitos individuais
homogêneos. STJ. 3ª Turma. REsp 1.374.232-ES, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 26/09/2017 (Info 612).

Ex: ação proposta pelo Ministério Público pleiteando a defesa dos direitos dos consumidores
contra empresa de seguros.
Se forem analisadas as razões que levaram o STJ a considerar que deveria ser aplicado o art.
19 da Lei da Ação Popular às ações civis públicas, será possível concluir que isso ocorreu em
virtude da transindividualidade dos direitos nela tutelados, de forma que a sua relevância
para a coletividade como um todo justificaria esse cuidado.
No entanto, em caso de ações coletivas que tutelam direitos individuais homogêneos, não
se observa essa necessidade. Isso porque os direitos individuais homogêneos são apenas
acidentalmente coletivos, não sendo transindividuais nem atingindo a coletividade como
um todo.

61.6. MP não pode obter, em ACP, informações bancárias sobre os clientes da instituição
porque estas são protegidas pelo sigilo bancário – (Info 607)

O exercício da legitimação extraordinária, conferida para tutelar direitos individuais


homogêneos em ação civil pública, não pode ser estendido para abarcar a disposição de
interesses personalíssimos, tais como a intimidade, a privacidade e o sigilo bancário dos
substituídos.
Configura quebra de sigilo bancário a decisão judicial que antecipa os efeitos da tutela
para determinar que o banco forneça os dados cadastrais dos correntistas que assinaram
determinado tipo de contrato, a fim de instruir ação civil pública.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.611.821-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 13/6/17 (Info 607).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Segundo indícios que chegaram ao conhecimento do
Ministério Público, o consumidor que procurava o Banco “XXX” para obter um empréstimo
era obrigado a também fazer um contrato de seguro de vida, o que configura venda casada,
prática vedada pelo CDC (art. 39, I). Diante disso, o MP ajuizou ação civil pública contra este
banco pedindo, como tutela provisória de urgência, que a instituição financeira fornecesse os
nomes e endereços dos consumidores que assinaram, nos anos de 2012 e 2013, de forma
simultânea (ou sucessiva), contrato de empréstimo bancário e contrato de seguro de vida.

O magistrado deverá deferir o pedido da instituição financeira? NÃO.

Quebra do sigilo: Fornecer a informação de quem contratou com o banco genericamente


resulta em quebra não autorizada do sigilo bancário dos clientes que sequer participam
diretamente da ação judicial. Os dados cadastrais dos clientes são abrangidos pela proteção
do sigilo bancário, nos termos do que preconiza o art. 1º, da LC 105/2001. Muito embora não
se trate de proteção absoluta, as limitações impostas ao dever legal de sigilo devem ser
interpretadas de forma restritiva e sempre com muita prudência.

Ministério Público, mesmo gozando de legitimidade extraordinária, não pode decidir sobre o
sigilo do consumidor: É certo que o próprio consumidor pode afastar o sigilo, ou seja, ele
mesmo poderia requerer judicialmente as informações bancárias a seu respeito e o banco não
poderia recusar. Por outro lado, não se pode aceitar que o MP, ainda que atuando sob o pálio
da legitimidade extraordinária, queira afastar uma garantia personalíssima dos
consumidores requerendo a divulgação irrestrita de dados protegidos. Ainda que o intuito
declarado pelo Parquet seja tão somente o de colher provas que demonstrem a realização de
venda casada, não se pode aceitar tamanha invasão indiscriminada à intimidade do
consumidor.

Direitos individuais homogêneos: Deve-se ainda ter em mente que a pretensão veiculada na
presente demanda tem por objetivo a tutela de direitos individuais homogêneos – direitos
acidentalmente coletivos – atuando o MP como mero substituto processual das vítimas da
conduta abusiva. Desse modo, enquanto legitimado extraordinário, não lhe é dado atuar de
forma dispositiva, abrindo mão de interesses personalíssimos, em nome de quem é por ele
substituído na demanda.

61.7. Mesmo sem 1 ano de constituição, associação poderá ajuizar ACP para que
fornecedor preste informações ao consumidor sobre produtos com glúten – (Info 591) –
(TJSC-2019)

Como regra, para que uma associação possa propor ACP, ela deverá estar constituída há
pelo menos 1 ano.
Exceção. Este requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz quando haja
manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela
relevância do bem jurídico a ser protegido (§ 4º do art. 5º da Lei nº 7.347/85). Neste caso, a
ACP, mesmo tendo sido proposta por uma associação com menos de 1 ano, poderá ser
conhecida e julgada.
Como exemplo da situação descrita no § 4º do art. 5º, o STJ decidiu que:
É dispensável o requisito temporal (pré-constituição há mais de um ano) para associação
ajuizar ação civil pública quando o bem jurídico tutelado for a prestação de informações
ao consumidor sobre a existência de glúten em alimentos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.600.172-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 15/9/16 (Info 591).
OBS:
Quem são os legitimados para propor ação civil pública? O rol dos legitimados para a ACP
está previsto no art. 5º da Lei nº 7.347/85:
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
I - o Ministério Público;
II - a Defensoria Pública;
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;
V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público
e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre
concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao
patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

Requisito da pré-constituição
 REGRA: como vimos acima, para que uma associação possa propor ACP, ela deverá
estar constituída há pelo menos 1 ano.
 EXCEÇÃO: este requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz
quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica
do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido (§ 4º do art. 5º da Lei
7.347/85). Neste caso, a ACP, mesmo tendo sido proposta por uma associação com
menos de 1 ano, poderá ser conhecida e julgada.

Imagine agora a seguinte situação: Determinada associação de defesa do consumidor ajuizou


ACP contra uma rede de lanchonetes requerendo que ela fosse obrigada a informar, nas
embalagens e rótulos de seus produtos, sempre que houvesse a presença de glúten na
composição. Isso com o objetivo de garantir a segurança dos portadores da doença celíaca. O
juiz extinguiu a ação sem resolução do mérito afirmando que a associação autora não era
parte legítima, já que não cumpriu o requisito do art. 5º, V, "a", da Lei 7.347/85 (pré-
constituição há pelo menos 1 ano). A associação interpôs recurso contra a decisão e o tema
chegou até o STJ.

A decisão do juiz foi correta, segundo o STJ? NÃO. O STJ entendeu que o juiz deveria ter
dispensado o requisito temporal de 1 ano da associação, considerando que está presente no
caso o interesse social evidenciado pela dimensão do dano e pela relevância do bem jurídico
tutelado. É fundamental assegurar os direitos de informação e segurança ao consumidor
celíaco, que se vê forçado a seguir uma dieta isenta de glúten, sob pena de sofrer graves
riscos à saúde. Desse modo, a pretensão veiculada na ACP, em última análise, tem por
objetivo a garantia de uma vida digna para esse grupo de pessoas.

Uma última pergunta correlata. Suponha que determinada associação, quando propôs a
ACP, não tinha ainda 1 ano de constituição. No entanto, ela completa este tempo no curso
do feito, antes que o juiz extinga o processo por ilegitimidade. Neste caso, a falta desse
requisito é suprida? O magistrado poderá continuar com o processo? SIM. Em observância
aos princípios da economia processual e efetividade da jurisdição, deve ser reconhecida a
legitimidade ativa da associação que complete 1 ano de constituição durante o curso do
processo (STJ. 3ª Turma. REsp 705.469/MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 16/06/05).

61.8. Cabe ACP com o objetivo de proibir tráfico de veículos pesados no Município – (Info
591) – IMPORTANTE!!!

É cabível ação civil pública proposta por Ministério Público Estadual para pleitear que
Município proíba máquinas agrícolas e veículos pesados de trafegarem em perímetro
urbano deste e torne transitável o anel viário da região.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.294.451-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 1/9/16 (Info 591).
OBS:
Poder Judiciário pode intervir quando a Administração deixa de promover políticas
públicas: Os Poderes da República são independentes e harmônicos entre si (art. 2º da
CF/88). O Poder Executivo tem prioridade na implementação de políticas públicas. No
entanto, em termos abstratos, o ordenamento jurídico em vigor permite que o Poder
Judiciário seja chamado a intervir em situações nas quais exista uma ação ou uma omissão
ilegítima do administrador público. Assim, não é vedado ao Poder Judiciário debater o
mérito administrativo. Se a Administração deixar de promover políticas públicas, de proteger
hipossuficientes, de garantir o funcionamento dos serviços públicos, haverá vício ou
flagrante ilegalidade a justificar a intervenção judicial (STJ. 2ª T. REsp 1176552/PR, Rel. Min.
Herman Benjamin, j. 22/2/11).

ACP é o meio próprio de se buscar a implementação de políticas públicas com relevante


repercussão social: O STJ tem admitido o debate de políticas públicas no bojo de ações civis
públicas propostas pelo MP:
(...) O MP detém legitimidade ativa para o ajuizamento de ação civil pública que
objetiva a implementação de políticas públicas ou de repercussão social, como o
saneamento básico ou a prestação de serviços públicos. (...) STJ. 1ª T. AgRg no
AREsp 50.151/RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 03/10/13.

No caso dos autos, a relevância social é mais que evidente. Há notícia de que o intenso
trânsito dos caminhões e máquinas pesadas no perímetro urbano tem causado acidentes
fatais e problemas de saúde aos munícipes. O ordenamento do trânsito de veículos no
perímetro das cidades tem importância central nas sociedades modernas e repercute em
inúmeros assuntos de interesse público.

Lei prevê a ACP como meio para discutir ordem urbanística: O art. 1º, VI e o art. 3º da Lei
7.347/85 preveem que a ação civil pública é meio processual adequado para discutir temas
relacionados com a ordem urbanística e para a obtenção de provimento jurisdicional
condenatório de obrigação de fazer:
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as
ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (...)
VI - à ordem urbanística.

Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o


cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.

Existe precedente do STJ afirmando que a ACP é ação adequada para discutir tema
relacionado com a segurança no trânsito: STJ. 1ª Turma. REsp 725257/MG, Rel. Min. José
Delgado, julgado em 10/04/2007.

E quanto ao mérito? A ACP foi julgada procedente? O mérito ainda não foi examinado. O STJ
decidiu apenas que a ACP proposta deverá ser conhecida, considerando que se trata de meio
processual idôneo para veicular este tipo de pretensão. No mérito, ainda serão discutidas
inúmeras outras questões, como por exemplo: saber se o Município dispõe de recursos
suficientes para fazer a obra, se há necessidades ainda mais prementes da população, se
existem formas alternativas de solucionar o problema etc.

61.9. Extensão dos efeitos de coisa julgada coletiva a autores de ações individuais não
suspensas – (Info 585) – IMPORTANTE!!!

Os autores de ações individuais em cujos autos não foi dada ciência do ajuizamento de
ação coletiva e que não requereram a suspensão das demandas individuais podem se
beneficiar dos efeitos da coisa julgada formada na ação coletiva.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.593.142-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 7/6/16 (Info 585).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Os servidores públicos de determinado Estado-
membro possuem direito a uma gratificação que não está sendo paga pela Administração
Pública. Em razão disso, centenas desses servidores ingressaram com ações individuais
contra o Estado-membro, pedindo a concessão da gratificação. Além disso, a associação dos
servidores públicos deste Estado ajuizou uma ação civil pública com o mesmo pedido, ou
seja, que a gratificação seja concedida a todos os servidores integrantes da associação.
O juiz, ao receber a ação coletiva proposta pela associação, poderá determinar a suspensão
das ações individuais que estejam tramitando e que tenham o mesmo objeto? SIM. Segundo
o STJ, ajuizada ação coletiva atinente a macrolide geradora de processos multitudinários,
suspendem-se as ações individuais, no aguardo do julgamento da ação coletiva (STJ. 2ª Seção.
REsp 1110549/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 28/10/2009). Assim, é possível
determinar a suspensão do andamento de processos individuais até o julgamento, no âmbito
de ação coletiva, da questão jurídica de fundo neles discutida, ou seja, até que se decida se a
gratificação é devida ou não.

Imaginemos, no entanto, que o juiz recebeu a ação coletiva, mas não determinou a suspensão
das ações individuais. O que acontece neste caso? Em princípio, a ação coletiva e as ações
individuais continuarão tramitando.

Mas não há, neste caso, litispendência? NÃO. As ações coletivas não induzem (provocam)
litispendência para as ações individuais (art. 104 do CDC).

Mas o resultado da ação coletiva irá beneficiar os autores das ações individuais? Suponha
que a ação coletiva seja julgada antes das ações individuais e a sentença seja procedente.
Esta decisão poderá ser executada pelos autores das ações individuais? Depende. A lei
determina o seguinte: Os autores das ações individuais deverão ser avisados que foi proposta
uma ação coletiva com o mesmo pedido. Depois de serem avisados, os autores individuais
terão que fazer uma opção no prazo de 30 dias:
1) Poderão escolher continuar com a ação individual: neste caso, não poderão
ser beneficiados com eventual decisão favorável no processo coletivo.
2) Poderão pedir a suspensão da ação individual: neste caso, os efeitos da coisa
julgada produzida na ação coletiva beneficiarão os autores das ações
individuais.

Essa regra está prevista no art. 104 do CDC, que é aplicado a todos os processos coletivos
mesmo que não envolvam direito do consumidor. Assim, apesar de estar no CDC, ela é
considerada como norma geral do processo coletivo. Veja o dispositivo:
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II do parágrafo único do
artigo 81, não induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos
da coisa julgada erga omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do
artigo anterior não beneficiarão os autores das ações individuais, se não for
requerida sua suspensão no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da ciência nos
autos do ajuizamento da ação coletiva.

Quem tem o ônus de fazer essa comunicação aos autores individuais de que foi ajuizada
uma ação coletiva com o mesmo pedido? O réu das ações. Assim, em nosso exemplo, o
Estado-membro teria que peticionar em cada uma das ações individuais informando que foi
ajuizada ação coletiva tratando sobre o tema. A partir daí, o autor individual terá o prazo de
até 30 dias para requerer a suspensão do processo individual, nos termos do art. 104 do CDC.
Caso não requeira a suspensão, seu processo individual continua normalmente, mas ele não
poderá se beneficiar da sentença coletiva.

E se o réu não fizer essa comunicação? O processo individual continua a correr normalmente,
mas, se for proferida uma decisão favorável no processo coletivo, o autor individual poderá
se beneficiar dela. Desse modo, se a ação coletiva for julgada procedente e transitar em
julgado, o autor individual que não foi comunicado formalmente pelo réu de que havia sido
ajuizada uma ação coletiva, poderá requerer a desistência da ação individual e pedir a sua
habilitação para promover a execução da sentença coletiva.

Ao disciplinar a execução de sentença coletiva, o art. 104 do CDC dispõe que os autores
devem requerer a suspensão da ação individual que veicula a mesma questão em ação
coletiva, a fim de se beneficiarem da sentença que lhes é favorável no feito coletivo. Todavia,
compete à parte ré dar ciência aos interessados da existência desta ação nos autos da ação
individual, momento no qual começa a correr o prazo de 30 dias para a parte autora
postular a suspensão do feito individual.
Desse modo, constitui ônus do demandado dar ciência inequívoca da propositura da ação
coletiva àqueles que propuseram ações individuais, a fim de que possam fazer a opção pela
continuidade do processo individual, ou requerer a sua suspensão para se beneficiar da
sentença coletiva.

61.10. Necessidade de demonstração de motivos para a formação de litisconsórcio ativo


facultativo entre o MPE e o MPF – (Info 585) – IMPORTANTE!!!

Em ação civil pública, a formação de litisconsórcio ativo facultativo entre o Ministério


Público Estadual e o Federal depende da demonstração de alguma razão específica que
justifique a presença de ambos na lide.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.254.428-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 2/6/16 (Info 585).
OBS:
É possível, em tese, que dois Ministérios Públicos ingressem, em conjunto, com uma ação
civil pública? SIM. Apesar de existirem importantes vozes em sentido contrário, a Lei e a
jurisprudência admitem o litisconsórcio ativo facultativo entre Ministérios Públicos. Isso está
expressamente previsto no art. 5º, § 5º, da Lei 7.347/85:
§ 5º Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da
União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de
que cuida esta lei.

O litisconsórcio ativo facultativo entre os ramos do Ministério Público da União e os


Ministérios Públicos dos Estados, em tese, é possível, sempre que as circunstâncias do caso
recomendem, para a propositura de ações civis públicas que visem à responsabilização por
danos morais e patrimoniais causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de
valor artístico, estético, histórico e paisagístico, à ordem econômica e urbanística, bem como a
qualquer outro interesse difuso ou coletivo, inclusive de natureza trabalhista. Essa atuação
conjunta deve-se ao cunho social do Parquet e à posição que lhe foi erigida pelo constituinte
(de instituição essencial à função jurisdicional do Estado), incumbindo-lhe a defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

O Plenário do STF já reconheceu, em tese, a possibilidade de litisconsórcio entre o MPF e o


MPE: ACO 1.020/SP, Rel. Min. Carmen Lúcia, julgado em 08/10/2008.

Esse litisconsórcio entre os Ministérios Públicos deve ser sempre permitido? NÃO, nem
sempre. O litisconsórcio ativo facultativo entre os ramos do MPU e os MPs dos Estados, em
tese, é possível, mas desde que as circunstâncias do caso recomendem. Essa foi a decisão do
STJ.

61.11. Termo a quo do prazo prescricional das execuções individuais de sentença coletiva –
(Info 580) – (DPERN-2015) (TJSC-2019)

O prazo prescricional para a execução individual é contado do trânsito em julgado da


sentença coletiva, sendo desnecessária a providência de que trata o art. 94 da Lei nº
8.078/90 (CDC), ou seja, a publicação de editais convocando eventuais beneficiários.
STJ. 1ª S. REsp 1.388.000-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min.
Og Fernandes, j. 26/8/15 (recurso repetitivo) (Info 580).
(TJSC-2019-CESPE): O MP ajuizou ação civil pública contra determinada empresa e seus
sócios, visando tutelar direitos de consumidores lesados por contratos celebrados para a
prática de esquema de pirâmide financeira. A sentença condenatória na ação coletiva foi
publicada em 5/1/03 e, após recurso, transitou em julgado em 2/6/05. Em 6/7/12, um
consumidor beneficiário da referida demanda apresentou execução individual da sentença
coletiva. Nessa situação hipotética, de acordo com o entendimento do STJ, é correto
afirmar que, à época da propositura da execução individual pelo beneficiário, a sua
pretensão estava prescrita desde o transcurso de cinco anos após o trânsito em julgado da
sentença coletiva. BL: Info 580, STJ.

OBS:
Sentença coletiva: É aquela proferida em uma ação coletiva. Se a sentença for condenatória,
ela precisará ser executada para satisfazer o direito dos beneficiários. Ex: uma associação de
defesa do consumidor ingressa com ação coletiva contra determinada fabricante de remédios
que colocou em circulação um lote de medicamentos deteriorados. A sentença reconheceu o
ato ilícito e condenou a fornecedora a indenizar os consumidores lesados. Esta sentença
precisará ser executada.

Obs: algumas vezes, antes da execução (cumprimento da sentença coletiva) será


indispensável realizar a liquidação da sentença. É o caso do exemplo dado acima (arts. 95 e
97 do CDC).

Qual é o prazo para que ocorra essa execução? 5 anos, nos termos da jurisprudência
consolidada do STJ:
No âmbito do Direito Privado, é de cinco anos o prazo prescricional para
ajuizamento da execução individual em pedido de cumprimento de sentença
proferida em Ação Civil Pública. (STJ. 2ª Seção. REsp 1273643/PR, Rel. Min.
Sidnei Beneti, julgado em 27/02/2013)

Qual é o termo inicial deste prazo? O prazo prescricional para a execução individual é
contado do trânsito em julgado da sentença coletiva.

Necessidade ou não de comunicação aos eventuais beneficiários para que o prazo comece a
correr: Surgiu uma tese de que a prescrição da execução da sentença condenatória coletiva
somente deveria se iniciar após os eventuais beneficiários serem comunicados de que houve
o trânsito em julgado e que este é favorável a eles. Assim, deveria haver uma comunicação
direta aos beneficiários ou, no mínimo, a publicação de um edital avisando sobre o êxito da
ação, à semelhança do que é previsto no art. 94 do CDC:
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os
interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de
ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de
defesa do consumidor.

Esta tese foi acolhida pelo STJ? Para que comece a correr o prazo prescricional da execução,
é necessário que os eventuais interessados sejam avisados por meio de edital, nos termos do
art. 94 do CDC? NÃO. O STJ entendeu que a tese de que seria necessária nova publicação de
edital após o trânsito em julgado não encontra amparo legal. O art. 94 do CDC trata sobre a
divulgação da notícia da propositura da ação coletiva, para que eventuais interessados
possam intervir no processo ou acompanhar seu trâmite, nada estabelecendo, porém,
quanto à divulgação do resultado do julgamento. Logo, não se pode invocar este
dispositivo para sustentar a tese proposta. Diante disso, o marco inicial do prazo
prescricional aplicável às execuções individuais de sentença prolatada em processo
coletivo é contado, ante a inaplicabilidade do art. 94 do CDC, a partir do trânsito em
julgado da sentença coletiva. Note-se, ainda, que o art. 96 do CDC, que previa que
"transitada em julgado a sentença condenatória, será publicado edital (...)", foi vetado pelo
Presidente da República, de forma que não se pode pretender, por meio de interpretação,
derrubar o veto presidencial ou, eventualmente, corrigir erro formal porventura existente na
norma. Assim, em que pese o caráter social que se busca tutelar nas ações coletivas, não se
afigura possível suprir a ausência de previsão legal quanto à ampla divulgação midiática do
teor da sentença, sem romper a harmonia entre os Poderes.

61.12. Legitimidade ativa de associação para defender os interesses de seus filiados – (Info
579) – IMPORTANTE!!!

A associação não tem legitimidade ativa para defender os interesses dos associados que
vierem a se agregar somente após o ajuizamento da ação de conhecimento.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.468.734-SP, Rel. Min. Humberto Martins, j. 1º/3/16 (Info 579).
OBS:
AÇÃO COLETIVA PROPOSTA POR ASSOCIAÇÃO EM FAVOR DE SEUS FILIADOS
As associações podem propor ações coletivas em favor dos seus associados? SIM. A CF/88
autoriza que as associações façam a defesa, judicial ou extrajudicial, dos direitos e interesses
individuais e coletivos de seus associados (art. 5º, XXI, da CF/88).

A associação precisa da autorização dos associados para propor a ação na defesa de seus
interesses? SIM. O inciso XXI do art. 5º da CF/88 exige que as associações tenham sido
expressamente autorizadas. Veja:
Art. 5º (...)
XXI — as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm
legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;

Qual é a amplitude da locução “expressamente autorizadas”? Essa autorização pode ser


genericamente prevista no estatuto ou deverá ser uma autorização para cada ação a ser
proposta? Para o STF, a autorização estatutária genérica conferida à associação não é
suficiente para legitimar a sua atuação em juízo na defesa de direitos de seus filiados.
Assim, para cada ação a ser proposta, é indispensável que os filiados a autorizem de forma
expressa e específica.

Vejamos o seguinte exemplo (com adaptações): A Associação do Ministério Público de Santa


Catarina (ACMP) ajuizou ação pedindo o pagamento de determinada verba aos seus filiados.
Acompanhando a petição inicial, a ACMP juntou declarações de diversos associados
autorizando que fosse proposta a ação. O pedido foi julgado procedente e transitou em
julgado. Diante disso, vários Promotores de Justiça ingressaram com execuções individuais
cobrando a gratificação reconhecida na sentença. Ocorre que o juiz somente aceitou a
execução proposta pelos filiados que haviam autorizado expressamente o ajuizamento da
ação. Quanto aos associados que não assinaram a autorização, a execução não foi conhecida
pelo juiz sob o argumento de que os efeitos da sentença judicial transitada em julgado
somente alcançam os associados (no caso, Promotores) que, na data da propositura da ação
de conhecimento, autorizaram expressamente que a associação ingressasse com a demanda.
Em suma, para o magistrado, somente tem direito de executar a decisão os filiados que
autorizaram a propositura da ação.

Tese dos associados: Os filiados prejudicados com a decisão recorreram alegando que o
estatuto social já autoriza que a associação ingresse com ações em favor de seus filiados, de
forma que não seria necessária uma autorização específica para cada demanda a ser
proposta. Sustentaram que o art. 5º, XXI, da CF/88 não exige que se colha uma autorização
individual dos filiados para cada ação ajuizada pelas associações, sob pena de se esvaziar a
atribuição de tais entidades na defesa dos seus membros. Aduziram, ainda, que a associação
atuou na qualidade de substituto processual, razão pela qual não seria necessária a
autorização, considerando que isso já consta expressamente de seu estatuto.

O STF concordou com os argumentos invocados pelos filiados? NÃO. Segundo decidiu o
STF, a autorização estatutária genérica conferida à associação não é suficiente para legitimar
a sua atuação em juízo na defesa de direitos de seus filiados. Assim, para cada ação a ser
proposta, é indispensável que os filiados autorizem de forma expressa e específica a
demanda. Essa é a interpretação que deve ser dada ao inciso XXI do art. 5º da CF/88:
Art. 5º (...) XXI — as entidades associativas, quando expressamente autorizadas,
têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;

O tema foi decidido pelo STF em sede de repercussão geral, tendo sido firmada a seguinte
tese:
O disposto no artigo 5º, inciso XXI, da Carta da República encerra representação
específica, não alcançando previsão genérica do estatuto da associação a
revelar a defesa dos interesses dos associados. As balizas subjetivas do título
judicial, formalizado em ação proposta por associação, é definida pela
representação no processo de conhecimento, presente a autorização expressa
dos associados e a lista destes juntada à inicial. STF. Plenário. RE 573232/SC, rel.
orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, j.
14/5/2014 (Info 746).

Como deverá ser feita essa autorização? A autorização poderá ser manifestada:
 por declaração individual do associado; ou
 por aprovação na assembleia geral da entidade.

Logo, no caso concreto, como não foi aprovada na assembleia geral da entidade, somente os
associados que apresentaram, na data da propositura da ação de conhecimento, autorizações
individuais expressas, puderam executar o título judicial proferido na ação coletiva.
Conforme deixou claro o STF, essa autorização é um traço que distingue a legitimidade das
entidades associativas (art. 5º, XXI) em relação à legitimidade das entidades sindicais (art. 8º,
III).

A regra acima exposta apresenta alguma exceção? A associação precisará da autorização


expressa para toda e qualquer ação a ser proposta? Existe exceção. No caso de impetração de
mandado de segurança coletivo, a associação não precisa de autorização específica dos
filiados. Veja o que diz a CF/88:
Art. 5º (...)
LXX — o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: (...)
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída
e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus
membros ou associados;

Súmula 629-STF: A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade


de classe em favor dos associados independe da autorização destes.

Quadro-resumo:

As associações precisam de autorização específica de seus filiados para o ajuizamento


de ações em defesa destes?
Regra geral: SIM Exceção: MS coletivo
A autorização estatutária genérica conferida No caso de impetração de mandado de
à associação não é suficiente para legitimar segurança coletivo, a associação não precisa
a sua atuação em juízo na defesa de direitos de autorização específica dos filiados.
de seus filiados. Para cada ação, é
indispensável que os filiados autorizem, de
forma expressa e específica, a demanda.
O inciso XXI do art. 5º da CF/88 exige O inciso LXX do art. 5º da CF/88 NÃO
autorização expressa. exige autorização expressa.
Trata-se de hipótese de legitimação Trata-se de hipótese de legitimação
processual (a associação defende, em nome extraordinária (substituição processual), ou
dos filiados, direito dos filiados que seja, a associação defende, em nome
autorizaram). próprio, direito dos filiados.

AÇÃO COLETIVA PROPOSTA POR ASSOCIAÇÃO EM FAVOR DE SEUS FILIADOS


ATUAIS E FUTUROS: IMPOSSIBILIDADE
A associação dos Auditores Fiscais ajuizou ação coletiva pedindo que a União fosse
condenada a pagar a gratificação "X" a todos os Auditores filiados à associação, bem como
àqueles que vierem a se associar até o momento da execução do título judicial. Esse pedido
poderá ser conhecido? NÃO. Conforme foi definido pelo STF, "as balizas subjetivas do título
judicial, formalizado em ação proposta por associação, é definida pela representação no
processo de conhecimento, presente a autorização expressa dos associados e a lista destes
juntada à inicial." (STF. Plenário. RE 573232/SC, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red.
p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em 14/5/2014. Info 746).

Em palavras mais simples, no momento em que a associação ajuíza a demanda, ela deverá
juntar aos autos autorização expressa dos associados para a propositura dessa ação e uma
lista com os nomes de todos as pessoas que estão associadas naquele momento.

A associação não tem legitimidade ativa para defender os direitos de pessoas que, depois da
propositura da ação, vierem a se agregar à entidade.

Caso a ação seja julgada procedente, o título executivo irá beneficiar apenas os associados
cujos nomes estão na lista de filiados juntada com a petição inicial. Só essas pessoas é que
poderão executar o título.

61.13. Não é possível a repropositura de ação coletiva de direitos individuais homogêneos


julgada improcedente, ainda que por falta de provas – (Info 575) – IMPORTANTE!!! – (Proc.-
Câm. Marília/SP-2016) (Procurador/IPSM-2018)
Após o trânsito em julgado de decisão que julga improcedente ação coletiva proposta em
defesa de direitos individuais homogêneos, independentemente do motivo que tenha
fundamentado a rejeição do pedido, não é possível a propositura de nova demanda com o
mesmo objeto por outro legitimado coletivo, ainda que em outro Estado da federação.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.302.596-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/12/2015 (Info 575).
(Procurador/IPSM-2018-VUNESP): Transitada em julgado decisão que julga improcedente
ação coletiva proposta em defesa de direitos individuais homogêneos não é possível a
propositura de nova demanda com o mesmo objeto por outro legitimado coletivo. BL: art.
103, §2º c/c art. 103, inciso III do CDC e Info 575 do STJ.

OBS1: Art. 103, III, do CDC: Uma leitura precipitada do inc. III do art. 103 do CDC poderia
levar à equivocada conclusão de que apenas em caso de procedência da ação coletiva seria
proibida a nova propositura de ação coletiva idêntica. Esta, contudo, não é a interpretação
dada pelo STJ. O inc. III deve ser lido em conjunto com o § 2º, que estabelece: “§ 2º Na hipótese
prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os interessados que não tiverem intervindo
no processo como litisconsortes poderão propor ação de indenização a título individual.”

OBS2: Interpretando o inciso III em conjunto com o § 2º do art. 103, o STJ chegou à seguinte
conclusão:
1) Se a ação coletiva envolvendo direitos individuais homogêneos for julgada
PROCEDENTE: a sentença fará coisa julgada erga omnes e qualquer consumidor
pode se habilitar na liquidação e promover a execução, provando o dano sofrido.
2) Se a ação coletiva envolvendo direitos individuais homogêneos for julgada
IMPROCEDENTE (não importa o motivo):
2.a) os interessados individuais que não tiverem intervindo no processo coletivo
como litisconsortes (art. 94 do CDC) poderão propor ação de indenização a título
individual. Ex: os consumidores do medicamento que não tiverem atendido ao
chamado do art. 94 do CDC e não tiverem participado da primeira ação coletiva
poderão ajuizar ações individuais de indenização contra a empresa.
2.b) não cabe a repropositura de nova ação coletiva mesmo que por outro
legitimado coletivo (não importa se ele participou ou não da primeira ação; não
pode nova ação coletiva).

61.14. Legitimidade da Defensoria para propor ACP em defesa de juridicamente


necessitados – (Info 573) - IMPORTANTE!!! – (TJSC-2019)

A Defensoria Pública tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa de
interesses individuais homogêneos de consumidores idosos que tiveram plano de saúde
reajustado em razão da mudança de faixa etária, ainda que os titulares não sejam carentes
de recursos econômicos.
A atuação primordial da Defensoria Pública, sem dúvida, é a assistência jurídica e a
defesa dos necessitados econômicos. Entretanto, também exerce suas atividades em
auxílio a necessitados jurídicos, não necessariamente carentes de recursos econômicos.
A expressão "necessitados" prevista no art. 134, caput, da CF/88, que qualifica e orienta a
atuação da Defensoria Pública, deve ser entendida, no campo da Ação Civil Pública, em
sentido amplo. Assim, a Defensoria pode atuar tanto em favor dos carentes de recursos
financeiros como também em prol do necessitado organizacional (que são os
"hipervulneráveis").
STJ. Corte Especial. EREsp 1.192.577-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 21/10/15 (Info 573)
(TJSC-2019-CESPE): A respeito da defesa do consumidor em juízo, assinale a opção
correta: A Defensoria Pública tem legitimidade para ajuizar ação civil pública em defesa
de direitos individuais homogêneos de consumidores idosos, independentemente da
comprovação de hipossuficiência econômica dos beneficiários. BL: Info 573, STJ.
61.15. Afastamento de ofício da presunção de legitimação de associação para propositura de
ação coletiva – (Info 572) – IMPORTANTE!!!

É possível ao juízo, de ofício, reconhecer a inidoneidade de associação regularmente


constituída para propositura de ação coletiva?
SIM. Quando houver sintomas de que a legitimação coletiva vem sendo utilizada de forma
indevida ou abusiva, o magistrado poderá, de ofício, afastar a presunção legal de
legitimação de associação regularmente constituída para propositura de ação coletiva.

A legitimidade de uma associação para a propositura de ACP pode ser afastada pelo fato de
o estatuto da associação ser exageradamente genérico?
SIM. O argumento de que o estatuto da associação é desmesuradamente genérico tem
respaldo na jurisprudência do STJ. Embora a finalidade da associação, prevista no
estatuto, possa ser razoavelmente genérica, não pode ser, entretanto, desarrazoada, sob
pena de admitirmos a criação de uma associação civil para a defesa de qualquer interesse,
o que desnaturaria a exigência de representatividade adequada do grupo lesado.
STJ. 4ª T. REsp 1.213.614-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 1º/10/2015 (Info 572).

61.16. Alteração de polo ativo de ação civil pública promovida por associação - (Info 570)

Caso ocorra dissolução da associação que ajuizou ação civil pública, não é possível sua
substituição no polo ativo por outra associação, ainda que os interesses discutidos na ação
coletiva sejam comuns a ambas.
STJ. 3ª T. REsp 1.405.697-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 17/9/2015 (Info 570).

61.17.Legitimidade do MP para propor ACP objetivando a liberação de saldo de contas


PIS/PASEP – (Info 568)

O MP tem legitimidade para propor ação civil pública objetivando a liberação do saldo de
contas PIS/PASEP, na hipótese em que o titular da conta - independentemente da obtenção
de aposentadoria por invalidez ou de benefício assistencial - seja incapaz e insusceptível
de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, bem como na
hipótese em que o próprio titular da conta ou quaisquer de seus dependentes for
acometido das doenças ou afecções listadas na Portaria Interministerial MPAS/MS
2.998/2001.
Esse pedido veiculado diz respeito a direitos individuais homogêneos que gozam de
relevante interesse social. Logo, o interesse tutelado referente à liberação do saldo do
PIS/PASEP, mesmo se configurando como individual homogêneo, mostra-se de relevante
interesse à coletividade, tornando legítima a propositura de ação civil pública pelo
Ministério Público, visto que se subsume aos seus fins institucionais.
STJ. 2ª T. REsp 1.480.250-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/8/2015 (Info 568).

61.18. Impossibilidade de execução individual de sentença coletiva por pessoa não filiada à
associação autora da ação coletiva – (Info 565) – TEMA POLÊMICO!!!

A associação dos servidores públicos federais do órgão "XX" ajuizou ação coletiva pedindo
que fosse reconhecida e paga determinada gratificação devida à classe. A ação foi julgada
procedente, tendo transitado em julgado. João é servidor público federal do órgão "XX",
mas não é nem nunca foi filiado à referida associação. Mesmo sem ser associado, João
poderá pegar a sentença proferida na ação coletiva e ajuizar execução individual cobrando
o pagamento das verbas relacionadas com a aludida gratificação?
 Entendimento tradicional do STJ: SIM. Existem diversos julgados do STJ
afirmando que os sindicatos e associações, na qualidade de substitutos
processuais, detêm legitimidade para atuar judicialmente na defesa dos interesses
coletivos de toda a categoria que representam. Nesse sentido: STJ. 1ª Turma. AgRg
no AREsp 454.098/SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
16/09/2014.
 Novo entendimento que ganha força no STJ: NÃO. Em regra, a pessoa não filiada
não detém legitimidade para executar individualmente a sentença de procedência
oriunda de ação coletiva proposta pela associação. Exceção: será possível executar
individualmente mesmo se não for associado, se a sentença coletiva que estiver
sendo executada for mandado de segurança coletivo. Foi o que decidiu a 4ª Turma
do STJ no REsp 1.374.678-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 23/6/2015.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.374.678-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 23/6/2015 (Info 565).

61.19. Legitimidade do MP para ajuizar ACP em defesa dos beneficiários do DPVAT – (Info 563)
– IMPORTANTE!!! - (TJSC-2019) (MPGO-2019)

O MP possui legitimidade para ajuizar ação civil pública em defesa dos direitos individuais
homogêneos dos beneficiários do seguro DPVAT, dado o interesse social qualificado presente
na tutela dos referidos direitos subjetivos.
Está cancelada a súmula 470 do STJ, que tinha a seguinte redação: “O Ministério Público não
tem legitimidade para pleitear, em ação civil pública, a indenização decorrente do DPVAT em
benefício do segurado.”
STJ. 2ª Seção. REsp 858.056/GO, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 27/05/2015 (Info 563).
STF. Plenário. RE 631.111/GO, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 06 e 07/08/14 (Info 753).
(TJSC-2019-CESPE): A propósito de titularidade, âmbito de proteção e conformação
constitucional de ação civil pública, assinale a opção correta: O Ministério Público tem
legitimidade para ingressar com ação civil pública relativa ao pagamento de indenizações do
seguro DPVAT. BL: Info 563, STJ e Info 753, STF.

61.20. Aplicabilidade do art. 18 da LACP para ação civil pública movida por sindicato –
(Info 558) – IMPORTANTE! – (MPRR-2017) (PGEPE-2018)

O art. 18 da Lei 7.347/85 prevê que o autor da ACP, antes de ajuizar a ação, não terá que
adiantar custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem será
condenado em honorários advocatícios, custas e despesas processuais, salvo comprovada
má-fé.
O STJ decidiu que esse art. 18 da Lei 7.347/85 é aplicável também para a ação civil pública
movida por SINDICATO na defesa de direitos individuais homogêneos da categoria que
representa.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.322.166-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
4/3/2015 (Info 558).
(PGEPE-2018-CESPE): O STJ entende que o sindicato possui legitimidade para ajuizar, na
qualidade de substituto processual, ação civil pública para a defesa de direitos individuais
homogêneos da categoria que ele representa. BL: art. 18 da LACP e Info 558, STJ.
(MPRR-2017-CESPE): Julgue o item a seguir, referente à tutela coletiva: Ressalvada a
hipótese de má-fé, o sindicato que propuser ACP não precisará adiantar custas,
emolumentos ou honorários periciais nem será condenado em honorários advocatícios ou
despesas processuais. BL: art. 18 da LACP e Info 558, STJ.

61.21. Alcance da regra de isenção de custas processuais da LACP e do CDC – (Info 556)

O art. 18 da LACP e o art. 87 do CDC preveem que, nas ações de que tratam estas leis, não
haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras
despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários
de advogado, custas e despesas processuais.
O STJ decidiu que essas regras de isenção só se aplicam para as custas judiciais em:
 ações civis públicas (qualquer que seja a matéria);
 ações coletivas que tenham por objeto relação de consumo; e
 na ação cautelar prevista no art. 4º da LACP (qualquer que seja a matéria).
Não é possível estender, por analogia ou interpretação extensiva, essa isenção para outros
tipos de ação (como a rescisória) ou para incidentes processuais (como a impugnação ao
valor da causa), mesmo que tratem sobre direito do consumidor.
STJ. 2ª Seção. PET 9.892-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/2/2015 (Info 556).
61.22. Retenção de honorários contratuais em execução de demanda coletiva – (Info 555)

Na execução de título judicial oriundo de ação coletiva promovida por sindicato na


condição de substituto processual, não é possível destacar os honorários contratuais do
montante da condenação sem que haja autorização expressa dos substituídos ou
procuração outorgada por eles aos advogados.
STJ. 2ª T. REsp 1.464.567-PB, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 3/2/2015 (Info 555).

MP tem legitimidade para ajuizar ACP em defesa de mutuários do SFH – (Info 552) –
61.23.
IMPORTANTE!!! – (TRF2-2009)

O Ministério Público tem legitimidade ad causam para propor ação civil pública com a
finalidade de defender interesses coletivos e individuais homogêneos dos mutuários do
Sistema Financeiro da Habitação.
O STJ entende que os temas relacionados com SFH possuem uma expressão para a
coletividade e o interesse em discussão é socialmente relevante.
STJ. 3ª T. REsp 1.114.035-PR, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min. João
Otávio de Noronha, j. 7/10/14 (Info 552).
(TRF2-2009-CESPE): Acerca dos bens públicos e do SFH, assinale a opção correta: O STJ
entende que o MP tem legitimidade para ajuizar ação civil pública na defesa de mutuários
do SFH. BL: Info 552, STJ.

61.24. Eficácia subjetiva da ACP e art. 16 da Lei 7.347/85 – (Info 552) – TEMA POLÊMICO!!!

O art. 16 da LACP (Lei 7.347/1985), que restringe o alcance subjetivo de sentença civil aos
limites da competência territorial do órgão prolator, tem aplicabilidade nas ações civis
públicas que envolvam direitos individuais homogêneos. Ressalte-se, no entanto, que se
trata de tema ainda polêmico, havendo decisões em sentido contrário.
Imagine agora que o juiz decidiu uma ACP envolvendo direitos individuais homogêneos e
este processo chegou até o STJ, por meio de recurso especial. Após o STJ decidir o recurso,
os efeitos dessa decisão serão nacionais?
NÃO. O simples fato de a causa ter sido submetida à apreciação do STJ, por meio de
recurso especial, não faz com que os efeitos da sentença prolatada na ACP passem a ter
alcance nacional. Assim, os efeitos da ACP continuariam restritos aos limites da
competência territorial do juiz prolator da sentença.
Ex.: se a sentença foi proferida por um juiz de direito de Limeira (SP), os efeitos da decisão
somente valerão para os titulares dos direitos individuais homogêneos de Limeira (SP),
mesmo tendo o STJ confirmado a sentença.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.114.035-PR, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min.
João Otávio de Noronha, julgado em 7/10/2014 (Info 552).

61.25. Eficácia subjetiva em caso de ACP proposta pelo MP no Distrito Federal com a
participação de entidades de âmbito nacional – (Info 552)

Tem abrangência nacional a eficácia da coisa julgada decorrente de ação civil pública
ajuizada pelo Ministério Público, com assistência de entidades de classe de âmbito
nacional, perante a Seção Judiciária do Distrito Federal, e sendo o órgão prolator da
decisão final de procedência o STJ. É o que se extrai da inteligência dos arts. 16 da LACP,
93, II, e 103, III, do CDC.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.319.232-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 4/12/14 (Info
552).

61.26. Termo inicial dos juros de mora na ACP – (Info 549) – IMPORTANTE!!! – (PGM-
Salvador/BA-2015)

Os juros de mora incidem a partir da citação do devedor no processo de


CONHECIMENTO da ação civil pública quando esta se fundar em responsabilidade
contratual, cujo inadimplemento já produza a mora, salvo se a mora já se configurou em
momento anterior à citação.
STJ. Corte Especial. REsp 1.370.899-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 21/5/14 (recurso repetitivo)
(Info 549).

61.27. Litisconsórcio entre Ministérios Públicos – (Info 549) – IMPORTANTE!!!

A Lei e a jurisprudência admitem o litisconsórcio ativo facultativo entre Ministérios


Públicos.
No caso concreto, o STJ admitiu que o MPF, o MPE e o MPT ajuizassem uma ACP em
litisconsórcio. Na situação examinada, a UFRN, por meio do seu hospital universitário,
prestava serviços médicos à população. Ocorre que os médicos que desempenhavam suas
funções não eram concursados. O Estado do RN fez um convênio com a Universidade e
contratava médicos de uma cooperativa para lá trabalharem. Diante disso, o MPF, o MPE e
o MPT ajuizaram, em litisconsórcio ativo, ACP contra a Cooperativa, a União, a UFRN e o
Estado do RN, pedindo que o contrato fosse rescindido e que fosse realizado concurso
público para preencher as vagas de médicos. O STJ entendeu que seria possível o
litisconsórcio ativo nesta ACP, considerando que ela visava a tutela de interesses difusos
que estavam inseridos nas atribuições dos três Ministérios Públicos.
STJ. 1ª T. REsp 1.444.484-RN, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 18/9/2014 (Info 549).

61.28.A associação pode propor ação coletiva contra a União na Justiça Federal do DF
mesmo que os associados residam em outro local – (Info 546)

A entidade associativa (associação), ainda que possua abrangência local – e não âmbito
nacional – poderá, se assim desejar, ajuizar a ação coletiva em favor de seus associados
contra a União na Justiça Federal do DF, independentemente do lugar do território
nacional onde tenha ocorrido a lesão ao direito vindicado.
A Justiça Federal do DF foi escolhida pela CF/88 para funcionar como uma espécie de juízo
universal, sendo competente para apreciar as ações judiciais intentadas contra a União
mesmo que os fatos tratados na demanda não tenham ocorrido lá e ainda que os
beneficiários residam em outro local. Isso está previsto no art. 109, § 2º, da CF/88.
O art. 2º-A da Lei 9.404/97 estabelece que a sentença coletiva “abrangerá apenas os
substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da
competência territorial do órgão prolator”. A Justiça Federal do DF, como visto, tem
competência em todo o território nacional, pois, a critério do autor, pode ser instada a
processar e julgar qualquer demanda ajuizada em desfavor da União (art. 109, § 2º, da
CF/88). Logo, os efeitos da sentença a ser proferida pelo Juízo Federal de Brasília
alcançarão, naturalmente, os associados da autora, mesmo que não morem no Distrito
Federal.
STJ. 1ª Seção. CC 133.536-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j.14/8/14 (Info 546).

61.29. ACP pode servir como instrumento processual para cobrança de valores
indevidamente cobrados de consumidores – (Info 546)

Sobre esse julgado, é importante que sejam destacadas três conclusões:


I – Em sede de ACP ajuizada por associação civil de defesa do consumidor, instituição
financeira pode ser condenada a restituir os valores indevidamente cobrados a título de
Taxa de Emissão de Boleto Bancário (TEB) dos usuários de seus serviços.
II – É possível que sentença condenatória proferida em ACP em que se discuta direito
individual homogêneo contenha determinações explícitas da forma de liquidação e/ou
estabeleça meios tendentes a lhe conferir maior efetividade, desde que essas medidas se
voltem uniformemente para todos os interessados. Ex: determinação de que a ré envie
correspondência aos beneficiários da decisão, publicação da sentença nos jornais etc.
III –O Tribunal não pode, de ofício, fundado na aplicabilidade de prazo prescricional
maior do que o definido em 1ª instância, aumentar o alcance dos efeitos da sentença que
reconheceu o direito a ressarcimento de valores cobrados indevidamente ao longo do
tempo. Ex: o juiz reconheceu que os beneficiários da decisão poderiam receber as verbas
dos últimos 5 anos; o TJ, sem recurso da parte vencedora, ampliou esse prazo para 10 anos,
afirmando que prescrição é matéria de ordem pública e que pode ser reconhecida sem
provocação. Ocorre que somente pode ser reconhecida de ofício se isso gerar a perda da
pretensão, em homenagem à economia processual. No caso concreto, contudo, o
reconhecimento de ofício ampliaria o prazo, o que não é admitido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.304.953-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 26/8/14 (Info 546).

61.30. Ação coletiva proposta por sindicato não precisa descrever todas as situações
individuais – (Info 538)

Na hipótese em que sindicato atue como substituto processual em ação coletiva para a
defesa de direitos individuais homogêneos, não é necessário que a causa de pedir, na
primeira fase cognitiva, contemple descrição pormenorizada das situações individuais de
todos os substituídos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.395.875-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 20/2/2014 (Info 538).

61.24. O beneficiário individual da sentença coletiva pode, inclusive, executar a sentença no


juízo de seu domicílio (Sem Info) – (DPESP-2015) (DPERR-2013)

A liquidação e a execução individual de sentença genérica proferida em ação civil coletiva


pode ser ajuizada no foro do domicílio do beneficiário, porquanto os efeitos e a eficácia da
sentença não estão circunscritos a lindes geográficos, mas aos limites objetivos e
subjetivos do que foi decidido, levando-se em conta, para tanto, sempre a extensão do
dano e a qualidade dos interesses metaindividuais postos em juízo.
STJ. Corte Especial. REsp 1243887/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 19/10/11.
(DPESP-2015): Em julgamento de recurso representativo de controvérsia, o Superior
Tribunal de Justiça assentou que a liquidação e a execução individual de sentença genérica
proferida em ação civil coletiva pode ser ajuizada no foro do domicílio do beneficiário.

61.31. O MP não tem direito a honorários (em ACP) por ser verba destinada a advogado –
(julgados não publicado em Informativos) – (TJRJ-2016)

Na ação civil pública movida pelo Ministério Público, a questão da verba honorária foge
inteiramente das regras do CPC, sendo disciplinada pelas normas próprias da Lei 7.347/85.
Posiciona-se o STJ no sentido de que, em sede de ação civil pública, a condenação do
Ministério Público ao pagamento de honorários advocatícios somente é cabível na
hipótese de comprovada e inequívoca má-fé do Parquet.
Dentro de absoluta simetria de tratamento e à luz da interpretação sistemática do
ordenamento, não pode o parquet beneficiar-se de honorários, quando for vencedor na
ação civil pública. Precedentes.
STJ, ERESP 895530, 1ª Seção, Relatora Ministra ELIANA CALMON, DJE 18/12/2009.

O Ministério Público tem por finalidade institucional a defesa dos interesses coletivos e
individuais indisponíveis (CF, art. 127). A Lei 8.906/94, a seu turno, dispõe que os
honorários sucumbenciais pertencem aos advogados, constituindo-se direito autônomo
(art. 23), determinação que está na base da Súmula STJ/306.
Nessa linha, não há título jurídico que justifique a condenação da parte sucumbente à
remessa dos honorários para o Estado quando não se verifica a atuação de advogados no
pólo vencedor. A par de não exercer advocacia, o Ministério Público é financiado com
recursos provenientes dos cofres públicos, os quais são custeados, por entre outras receitas,
por tributos que a coletividade já suporta.
STJ, REsp 1034012, Rel. Min. Sidnei Beneti, 3a Turma do STJ, DJe 07/10/2009
(TJRJ-2016-VUNESP): O Ministério Público ajuizou ação civil pública em face de ex-
prefeito de município por ato de improbidade administrativa, causador de lesão ao erário
e atentatório aos princípios da Administração Pública, praticado no exercício do mandato
eletivo. A partir desses fatos, assinale a alternativa correta, considerando a jurisprudência
majoritária dos Tribunais Superiores. Se a ação for julgada procedente, como ela foi
proposta pelo Ministério Público, não cabe condenação em honorários advocatícios, por
ser verba destinada a advogado.
62. AÇÃO CIVIL PÚBLICA
62.1. AÇÃO CIVIL PÚBLICA: Legitimidade do MP para pleitear tratamento médico ou entrega
de medicamentos – (Info 624) – IMPORTANTE!!! – (MPPR-2019) (TJSC-2019) (MPCE-2020)

O Ministério Público é parte legítima para pleitear tratamento médico ou entrega de


medicamentos nas demandas de saúde propostas contra os entes federativos, mesmo quando se
tratar de feitos contendo beneficiários individualizados, porque se refere a direitos individuais
indisponíveis, na forma do art. 1º da Lei 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério
Público).
STJ. 1ª S. REsp 1682836-SP, Rel. Min. Og Fernandes, j. 25/4/18 (recurso repetitivo) (Info 624).

O MP é parte legítima para ajuizamento de ação civil pública que vise o fornecimento de
remédios a portadores de certa doença.
STF. Plenário. RE 605533/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 15/8/18 (repercussão geral) (Info 911).
(MPCE-2020-CESPE): Em demanda na qual beneficiários individualizados pretendem o
fornecimento público de medicamento necessário ao próprio tratamento de saúde, o MP é parte
legítima para pleitear a entrega do medicamento, porque se trata de direitos individuais
homogêneos indisponíveis. BL: Info 624, STJ e Info 911, STF.

OBS:
Delimitação da matéria: O presente julgado não trata sobre a possibilidade de o MP propor
demandas envolvendo direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos, até porque
inexiste qualquer dúvida da sua legitimidade nestes casos, sendo tema pacífico. De igual forma,
este julgado não trata sobre a legitimidade do Ministério Público para ajuizar ações em favor de
interesses de menores, incapazes e de idosos em situação de vulnerabilidade . Em tais hipóteses,
a legitimidade do órgão ministerial decorre expressamente da lei (art. 201, VIII, da Lei nº 8.069/90
e art. 74, II e III, da Lei nº 10.741/2003). O presente julgado discute a legitimidade do MP para
ingressar com demandas de saúde, contra os entes federativos, em favor de beneficiários
individuais.

Em outras palavras, o que se discute aqui é o seguinte: o Ministério Público poderia ajuizar uma
ação pedindo tratamento de saúde ou a entrega de medicamento em favor de uma só pessoa? A
resposta é SIM.

Direitos individuais indisponíveis: O MP possui legitimidade para a defesa de direitos


individuais indisponíveis, conforme previsão expressa no art. 127 da CF/88 e no art. 1º da Lei nº
8.625/93:
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Art. 1º O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função


jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

O pedido para tratamento médico ou para a entrega de medicamento em favor de uma pessoa é
uma demanda que envolve direito individual INDISPONÍVEL? SIM. O direito à saúde é um
direito indisponível. Isso porque está relacionado com o próprio direito à vida. O direito à saúde
foi previsto, pela Constituição Federal de 1988, como direito fundamental do cidadão, corolário do
direito à vida, bem maior do ser humano. A propósito do tema, o STF, ao interpretar os arts. 5º,
caput, e 196 da CF/88, consagrou o direito à saúde como consequência indissociável do direito à
vida, assegurado a todas as pessoas (STF. 2ª Turma. ARE 685.230 AgR/MS, Rel. Min. Celso de
Mello, DJe de 25/03/2013). Nesse contexto, conclui-se o caráter indisponível do direito à saúde,
por estar diretamente associado ao direito à vida. Assim, o MP detém legitimidade ad causam
para pleitear tratamento de saúde ou fornecimento de medicamento a beneficiários
individualizados, por força do disposto no art. 1º da Lei 8.625/93, que incumbiu ao Parquet a
defesa dos direitos individuais indisponíveis.

O MP, nestes casos, não estaria “pegando o lugar” da advocacia privada e da Defensoria
Pública? NÃO. Conforme já decidiu o STF:
(...) A Constituição do Brasil, em seu artigo 127, confere expressamente ao Ministério
Público poderes para agir em defesa de interesses sociais e individuais
indisponíveis, como no caso de garantir o fornecimento de medicamentos a
hipossuficiente. 2. Não há que se falar em usurpação de competência da
defensoria pública ou da advocacia privada. (...) STF. 2ª Turma. RE 554088 AgR,
Rel. Min. Eros Grau, j. 3/6/08.

62.2. Emenda da inicial da ACP mesmo após ter sido apresentada contestação – (Info 615)

Admite-se emenda à inicial de ação civil pública, em face da existência de pedido genérico,
ainda que já tenha sido apresentada a contestação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.279.586-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 3/10/17 (Info 615).
OBS:
Em relação às ações individuais, o STJ possui julgados divergentes sobre a possibilidade ou
não de emenda da petição inicial após a apresentação da contestação. Existem julgados
admitindo e outros negando.

No que tange às ações civis públicas, contudo, isso deve ser possível. As ações civis públicas
são instrumentos processuais de ordem constitucional voltados à defesa de interesses
metaindividuais, com relevância social. Em virtude da relevância social do bem envolvido,
de natureza social, para a ação civil pública deverão ser adotados princípios distintos
daqueles previstos pelo CPC para as ações individuais.

Um desses princípios que serve para distinguir o regime da ação civil pública é o princípio da
efetividade.

O princípio da efetividade está intimamente ligado ao valor social e deve ser utilizado pelo
juiz da causa para abrandar os rigores da intelecção vinculada exclusivamente ao Código de
Processo Civil - desconsiderando as especificidades do microssistema regente das ações civis
-, dado seu escopo de servir à solução de litígios de caráter individual.

A ação civil constitui instrumento de eliminação da litigiosidade de massa, capaz de dissipar


infindos processos individuais, evitando, ademais, a existência de diversidade de
entendimentos sobre o mesmo caso, possuindo, ademais, expressivo papel no
aperfeiçoamento da prestação jurisdicional, diante de sua possibilidade de proteger um
número elevado de pessoas mediante um único processo.

62.3. MP tem legitimidade para ACP contra hospital para que este não exija cheque-caução
e para que não cobre valores adicionais de usuários de planos de saúde – (Info 532)

O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública cujos pedidos
consistam em impedir que determinados hospitais continuem a exigir caução para
atendimento médico-hospitalar emergencial e a cobrar, ou admitir que se cobre, dos
pacientes conveniados a planos de saúde, valor adicional por atendimentos realizados por
seu corpo médico fora do horário comercial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.324.712-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 24/9/13 (Info 532).

62.4. MP tem legitimidade para ajuizar ACP relacionada com concurso público – (Info 528)

O MP tem legitimidade para ajuizar ação civil pública com o objetivo de garantir o acesso
a critérios de correção de provas de concurso público.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.362.269-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 16/5/2013 (Info 528).

62.5. MP assumir a titularidade da ACP em caso de vício na representação processual da


associação autora – (Info 524)

Na ação civil pública, reconhecido o vício na representação processual da associação


autora, deve-se, antes de proceder à extinção do processo, conferir oportunidade ao
Ministério Público para que assuma a titularidade ativa da demanda.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.038.199-ES, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 7/5/2013 (Info 524).

62.6. Legitimidade do MP para ACP em benefício de uma só pessoa em questões de saúde


– (Info 523)
O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ACP contra a concessionária de
energia elétrica com a finalidade de evitar a interrupção do fornecimento do serviço à
pessoa carente de recursos financeiros diagnosticada com enfermidade grave e que
dependa, para sobreviver, da utilização doméstica de equipamento médico com alto
consumo de energia.
Conforme entendimento do STJ, o MP detém legitimidade para propor ACP que objetive a
proteção do direito à saúde de pessoa hipossuficiente, porquanto se trata de direito
fundamental e indisponível, cuja relevância interessa à sociedade.
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.162.946-MG, Rel. Ministro Sérgio Kukina, j. 4/6/13 (Info
523).

62.7. ACP proposta pelo MP e defesa da saúde – (Info 517)

O Ministério Público é parte legítima para propor ação civil pública com o objetivo de que
o Poder Público forneça cesta de alimentos sem glúten a portadores de doença celíaca,
como medida de proteção e defesa da saúde.
O direito à vida e à saúde caracterizam-se como direitos individuais indisponíveis. O MP
possui legitimidade para propor ACP na defesa de direitos individuais indisponíveis.
STJ. 2ª T. AgRg no AREsp 91.114-MG, Rel. Min. Humberto Martins, j. 7/2/2013 (Info 517)

62.8. Instauração e prosseguimento de inquérito civil com a finalidade de apurar possível


incompatibilidade entre a evolução patrimonial de vereadores e seus respectivos
rendimentos – (Sem Info)

É possível a instauração e o prosseguimento de inquérito civil com a finalidade de apurar


possível incompatibilidade entre a evolução patrimonial de vereadores e seus respectivos
rendimentos, ainda que o referido procedimento tenha se originado a partir de denúncia
anônima, na hipótese em que realizadas administrativamente as investigações necessárias
para a formação de juízo de valor sobre a veracidade da notícia.
Ressalte-se que o art. 13 da Lei de Improbidade obriga os agentes públicos a
disponibilizarem periodicamente informações sobre seus bens e evolução patrimonial.
Vale destacar que os agentes políticos sujeitam-se a uma diminuição na esfera de
privacidade e intimidade, de modo que se mostra ilegítima a pretensão de não revelar
fatos relacionados à evolução patrimonial.
STJ. 2ª Turma. RMS 38.010-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 4/4/2013.

62.9. Competência para processar e julgar ACP

A competência para processar e julgar ação civil pública é absoluta e se dá em função do


local onde ocorreu o dano.
STJ. 1ª Seção. AgRg nos EDcl no CC 113.788-DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 14/11/12.

62.10. Ação Civil Pública e sua utilização na defesa do erário – (MPSC-2016)

A despeito de ser a ação civil pública, em razão de suas finalidades sociais,


preponderantemente condenatória, implicando na obrigação de fazer ou não fazer, esta
Corte tem-na admitido para defesa do erário.
STJ, REsp 78.916/SP, Rel. Min. Castro Meira, DJ 6.9.2004.
(MPSC-2016): A despeito de ser a ação civil pública, em razão de suas finalidades sociais,
preponderantemente condenatória, implicando na obrigação de fazer ou não fazer, ela
pode ser proposta em defesa do erário. 

63. MANDADO DE SEGURANÇA


63.1. O mandado de segurança deverá ter seu mérito apreciado independentemente de
superveniente trânsito em julgado da decisão questionada pelo mandamus – (Info 650) –
IMPORTANTE!!!
É incabível mandado de segurança contra decisão judicial transitada em julgado (art. 5º, III, da
Lei nº 12.016/2009 e Súmula nº 268-STF).
No entanto, se a impetração do mandado de segurança for anterior ao trânsito em julgado da
decisão questionada, mesmo que venha a acontecer, posteriormente, o mérito do MS deverá ser
julgado, não podendo ser invocado o seu não cabimento ou a perda de objeto.
STJ. Corte Especial. EDcl no MS 22.157-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 14/3/19 (Info 650).

63.2. Nas hipóteses de MS no STJ envolvendo anistia política, só é possível a inclusão de juros
e correção monetária na fase executiva quando houver decisão expressa nesse sentido – (Info 634)

Nos casos de anistia política, em sede de mandado de segurança, só é possível a inclusão de


juros de mora e correção monetária na fase executiva quando houver decisão expressa nesse
sentido.
STJ. 1ª Seção. ExeMS 18782-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 12/9/18 (Info 634).
OBS:
Decisão do STF: Cerca de um mês antes deste julgado do STJ, o STF havia decidido em sentido
aparentemente oposto. Veja:
(...) 2. Havendo condenação da instância inferior ao pagamento de juros de mora e
correção monetária, uma vez mantido o acórdão recorrido, também está
reconhecido o direito ao percebimento de tais valores, ainda que a respeito do tema
não se tenha pronunciado expressamente o STF. 3. Os juros de mora e a correção
monetária constituem consectários legais da condenação, de modo que incidem
independentemente de expresso pronunciamento judicial. 4. Embargos de
declaração acolhidos apenas para esclarecer que os valores retroativos previstos nas
portarias de anistia deverão ser acrescidos de juros moratórios e de correção
monetária. STF. Plenário. RE 553710 ED, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 1/8/18.

O STJ, no entanto, disse que esse julgado do STF não estava em sentido contrário ao seu,
considerando que o Supremo teria analisado a questão sob o ponto de vista da fase cognitiva e o
STJ na fase de execução:
“Não se desconhece que o STF, ao apreciar os Embargos de Declaração no RE
553.710/DF, em 1º/08/18, estabeleceu que “os valores retroativos previstos nas
portarias de anistia deverão ser acrescidos de juros moratórios e de correção
monetária”.
Contudo, essa decisão refere-se a feito julgado na fase de conhecimento (recurso
ordinário interposto em face de acórdão deste Tribunal proferido em sede de
mandado de segurança), cujos efeitos não podem ser ampliados aos feitos que já
se encontram na fase executiva, sob pena de manifesta afronta à coisa julgada.”

63.3. Prazo decadencial para impetrar MS contra redução de vantagem de servidor público –
(Info 578) – (Anal./MPU-2013) (TJCE-2018)

O prazo decadencial para impetrar mandado de segurança contra redução do valor de vantagem
integrante de proventos ou de remuneração de servidor público renova-se mês a mês.
A redução, ao contrário da supressão de vantagem, configura relação de trato sucessivo, pois
não equivale à negação do próprio fundo de direito. Assim, o prazo decadencial para se
impetrar a ação mandamental renova-se mês a mês.
 Ato que SUPRIME vantagem: é ato ÚNICO (o prazo para o MS é contado da data em
que o prejudicado tomou ciência do ato).
 Ato que REDUZ vantagem: consiste em prestação de TRATO SUCESSIVO (o prazo
para o MS renova-se mês a mês).
STJ. Corte Especial. EREsp 1.164.514-AM, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 16/12/15 (Info
578).
Essa distinção já foi exigida em concurso público.
(Analista/MPU-2013-CESPE): Acerca do mandado de segurança, julgue o item abaixo: Segundo
a jurisprudência do STJ, ato administrativo que reduzir os vencimentos de servidor público
incidirá sobre prestação de trato sucessivo, razão por que o prazo decadencial para a
impetração de mandado de segurança contra tal ato renovar-se-á mês a mês. BL: Info 578, STJ.
(TRF2-2011-CESPE): Consoante entendimento do STJ, a supressão, pelo poder público, de
gratificação que esteja sendo paga a servidor público configura ato comissivo, de efeitos
permanentes, e não de trato sucessivo, razão pela qual a impetração de mandado de segurança
para impugnar o ato deve ocorrer no prazo de cento e vinte dias contados da sua edição.
(CERTO)
OBS:
PRAZO DO MS
Prazo para impetração do mandado de segurança: A Lei nº 12.016/09 prevê um prazo para o
ajuizamento do mandado de segurança:
Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120
(cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado.

Novo CPC: O art. 219 do CPC 2015 prevê que "na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei
ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis".

Este art. 219 do CP 2015 é aplicado para o prazo do mandado de segurança? A partir de agora o
prazo de 120 dias deverá ser contado em dias úteis?
 Regra: NÃO. O art. 219 aplica-se apenas aos prazos processuais, ou seja, àqueles prazos
para a prática de atos dentro do processo. O prazo de impetração do MS, em regra, não é
processual, de forma que ele deve ser contado de forma corrida (e não em dias úteis).
 Exceção: no caso de mandado de segurança contra ato judicial, o prazo máximo para
impetração será contado em dias úteis. Isso porque, neste caso, ele terá natureza
processual, já que corre dentro do processo. Assim, por exemplo, se é prolatada uma
decisão judicial irrecorrível, a parte prejudicada terá 120 dias úteis para impetrar
mandado de segurança.

A posição acima é defendida por CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo.
Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 562.

Natureza deste prazo: A posição majoritária afirma que se trata de prazo decadencial. Sendo
prazo decadencial, ele não pode ser suspenso ou interrompido.
Súmula 430-STF: Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o
prazo para o mandado de segurança.

Vale ressaltar, no entanto, que o STJ afirma que se o marco final do prazo do MS terminar em
sábado, domingo ou feriado, deverá haver prorrogação para o primeiro dia útil seguinte. Nesse
sentido: STJ. 1ª Seção. MS 14.828/DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 08/09/2010.

A previsão de um prazo para o MS é constitucional? SIM. Súmula 632-STF: É constitucional lei


que fixa o prazo de decadência para a impetração de mandado de segurança.

Termo inicial do prazo: Em regra, o prazo para impetrar o MS inicia-se na data em que o
prejudicado toma ciência do ato coator praticado.
(...) Considerou, ainda, que a ofensa ao direito líquido e certo não se conta a partir
da expedição da resolução (ato impugnado no mandado de segurança), mas sim do
momento em que produzir efeitos. Tal entendimento harmoniza-se com a
jurisprudência do STJ de que o prazo decadencial no mandado de segurança tem
início na data em que o interessado teve ciência inequívoca do ato atacado. (...) REsp
1.088.620-SP, Rel. para o acórdão Min. Castro Meira, j. 18/11/2008.

Atenção: Vale ressaltar, no entanto, que, se a pessoa estiver sendo prejudicada por uma omissão
do Poder Público, poderá impetrar o MS a qualquer tempo enquanto perdurar a omissão.
Persistindo a omissão, o prazo renova-se dia a dia.

PRAZO DO MS EM CASO DE ATO QUE SUPRIME VANTAGEM PAGA A SERVIDOR


Imagine a seguinte situação hipotética 1:
João, servidor público, recebia há anos a gratificação “X”. A Administração Pública entendeu que
esta gratificação era indevida e deixou de pagá-la a partir do mês de janeiro de 2010. Desse modo,
em janeiro o servidor não mais recebeu a gratificação. Nos meses que se seguiram, ele continuou
sem a verba em seu contracheque. Em outubro de 2010, o advogado do servidor impetrou um
mandado de segurança contra o administrador público alegando que a retirada da gratificação foi
um ato ilegal e requereu a sua reinclusão. A PGE ingressou no feito apresentando contestação (art.
7º, I da Lei nº 12.016/2009) e alegando, como preliminar, que houve decadência do MS porque este
foi proposto mais de 120 dias após a cessação do pagamento da verba (o que ocorreu em janeiro
de 2010). O autor do MS já havia alegado, em sua petição inicial, que não havia decadência
porque, no caso, haveria uma prestação de trato sucessivo, de forma que o ato coator se renovaria
todos os meses. Em outras palavras, para o impetrante, a cada mês que a Administração deixou de
pagar a verba, reiniciou-se o prazo para impetrar mandado de segurança.

Qual das duas teses é acolhida pela jurisprudência do STJ, a do autor ou da Fazenda Pública? A
tese da Fazenda Pública. Assim, houve realmente decadência no caso exposto acima. Nesse
sentido: STJ. Segunda Turma. RMS 34.363-MT, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
6/12/2012.

PRAZO DO MS EM CASO DE ATO QUE REDUZ VANTAGEM PAGA A SERVIDOR


Imagine a seguinte situação hipotética 2: Pedro, servidor municipal, recebia remuneração de R$
13 mil. O Prefeito determinou a redução da remuneração de Pedro para R$ 10 mil (remuneração
do Prefeito e teto do funcionalismo naquele Município). Isso foi em janeiro de 2010. Desse modo,
em fevereiro Pedro recebeu apenas R$ 10 mil. Nos meses que se seguiram, ele continuou
recebendo esta quantia. Em outubro de 2010, o advogado do servidor impetrou um mandado de
segurança contra o Prefeito alegando que a redução da remuneração foi inconstitucional.

Neste caso, pelo fato de já terem se passado mais do que 120 dias da data do ato, houve
decadência? NÃO.

No caso de a Administração Pública ter reajustado a pensão de uma pessoa em valor inferior ao
que seria devido, como é contado o prazo para que a interessada impetre um MS? O prazo renova-
se mês a mês. Segundo entende o STJ, esta hipótese consiste em uma conduta omissiva ilegal da
Administração, que envolve obrigação de trato sucessivo. Logo, o prazo decadencial estabelecido
pela Lei do Mandado de Segurança se renova de forma continuada mês a mês. STJ. 2ª Turma.
AgRg no AREsp 243.070-CE, Rel. Min. Humberto Martins, j. 7/2/2013 (Info 517).

Questão de concurso:
 (DPEDF-2013-CESPE): De acordo com a jurisprudência do STJ, em caso de conduta
omissiva ilegal da administração, envolvendo obrigação de trato sucessivo, o prazo
decadencial estabelecido pela Lei do Mandado de Segurança se renovará de forma
continuada. (VERDADEIRA).

63.4. Efeitos financeiros da concessão de ordem mandamental contra ato de redução de


vantagem de servidor público – (Info 578) – Tema Polêmico!

Em mandado de segurança impetrado contra redução do valor de vantagem integrante de


proventos ou de remuneração de servidor público, os efeitos financeiros da concessão da ordem
retroagem à data do ato impugnado.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.164.514-AM, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 16/12/15 (Info
578).

Observação:
Deve-se ter muito cuidado com este entendimento. Isso porque, apesar de ele ter sido proferido
pela Corte Especial do STJ, ele é contrário às Súmulas 269 e 271 do STF e ao art. 14, § 4º da Lei do
MS:
Súmula 269-STF: O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.
Súmula 271-STF: Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais, em
relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via
judicial própria.
Art. 14 (...) § 4º O pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias assegurados em sentença
concessiva de mandado de segurança a servidor público da administração direta ou autárquica
federal, estadual e municipal somente será efetuado relativamente às prestações que se vencerem
a contar da data do ajuizamento da inicial.

63.5. Parcelas devidas entre a data de impetração e a de implementação da concessão da


segurança devem ser pagas por meio de precatórios – (Info 576) – IMPORTANTE!!! – (PGM-
Fortaleza/CE-2017)

No mandado de segurança impetrado por servidor público contra a Fazenda Pública, as


parcelas devidas entre a data de impetração e a de implementação da concessão da segurança
devem ser pagas por meio de precatórios, e não via folha suplementar.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.522.973-MG, Rel. Min. Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF
da 3ª Região), julgado em 4/2/2016 (Info 576).
(PGM-Fortaleza/CE-2017-CESPE): Situação hipotética: Determinado servidor público
impetrou mandado de segurança com a finalidade de majorar seu vencimento. Após o devido
trâmite, foi prolatada sentença concedendo a segurança pleiteada. Assertiva: Nesse caso, as
parcelas devidas em razão de diferenças salariais entre a data de impetração e a de
implementação da concessão da segurança deverão ser pagas por meio de precatórios. BL: Info
576, STJ.

OBS: O art. 100 da CF/88 determina que os pagamentos devidos pela Fazenda Pública estão
sujeitos ao sistema de precatórios, o que abrange, inclusive, as verbas de caráter alimentar. O
simples fato de se tratar de sentença concessiva de mandado de segurança não serve para afastar a
regra dos precatórios. Nesse sentido: STF. Plenário. RE 889173 RG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado
em 07/08/2015 (repercussão geral). Assim, não se tratando de dívida de pequeno valor (§ 3º do
art. 100, da CF/88), deve-se respeitar a sistemática dos precatórios.

63.6. Indicação errônea da autoridade coatora – (Info 551)

O que o juiz deverá fazer se o autor indicar incorretamente a autoridade coatora na petição
inicial? É possível que o magistrado determine a emenda da petição inicial ou notifique a
autoridade correta?
O tema é polêmico, sendo possível encontrar decisões nos dois sentidos:
1ª) NÃO. Havendo erro na indicação da autoridade coatora, deve o juiz extinguir o processo
sem julgamento do mérito, pela ausência de uma das condições da ação, sendo vedada a
substituição do polo passivo da relação processual (STJ. 1ª T. AgRg no AREsp 188.954/MG, Rel.
Min. Benedito Gonçalves, j. 18/12/2012).
2ª) SIM. Nos casos de equívoco facilmente perceptível na indicação da autoridade coatora, o
juiz competente para julgar o mandado de segurança pode autorizar a emenda da petição inicial
ou determinar a notificação, para prestar informações, da autoridade adequada, desde que seja
possível identificá-la pela simples leitura da petição inicial e exame da documentação anexada
(STJ. 4ª T. RMS 45.495-SP, Rel. Min. Raul Araújo, j. 26/8/2014).
STJ. 4ª Turma. RMS 45.495-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 26/8/2014 (Info 551).

63.7. Desistência do MS mesmo após a sentença de mérito – (Info 533) - (PGEPI-2014)


(Cartórios/TJSE-2014) (DPEPR-2014) (TJAM-2016) (PGM/BH-2017)

O impetrante pode desistir de mandado de segurança sem a anuência do impetrado mesmo


após a prolação da sentença de mérito.
Portanto, em regra, é possível. Existem julgados do STF e STJ admitindo.
STF. RE 669367/RJ, Min. Rosa Weber, j. 02/05/2013.
STJ. 2ª T. REsp 1.405.532-SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 10/12/2013 (Info 533).
(Cartórios/TJSE-2014-CESPE): À luz da jurisprudência do STJ, assinale a opção correta
relativamente ao mandado de segurança: O impetrante poderá desistir de mandado de
segurança sem a anuência do impetrado mesmo após a prolação da sentença de mérito. BL:
Info 533, STJ.

O entendimento acima parecia consolidado. Ocorre que, em um precedente de 2015, o STF


afirmou que não é cabível a desistência de mandado de segurança, nas hipóteses em que se
discute a exigibilidade de concurso público para delegação de serventias extrajudiciais, quando
na espécie já houver sido proferida decisão de mérito, objeto de sucessivos recursos.
No caso concreto, o pedido de desistência do MS foi formulado após o impetrante ter interposto
vários recursos sucessivos (embargos de declaração e agravos regimentais), todos eles julgados
improvidos. Dessa forma, o Ministro Relator entendeu que tudo levaria a crer que o objetivo do
impetrante ao desistir seria o de evitar o fim da discussão com a constituição de coisa julgada.
Com isso, ele poderia propor uma ação ordinária em 1ª instância e, assim, perpetuar a
controvérsia, ganhando tempo antes do desfecho definitivo contrário.
Assim, com base nessas peculiaridades, a 2ª Turma do STF indeferiu o pedido de desistência.
STF. 2ª T. MS 29093 ED-ED-AgR/DF, MS 29129 ED-ED-AgR/DF, MS 29189 ED-ED-AgR/DF, MS
29128 ED-ED-AgR/DF, MS 29130 ED-ED-AgR/DF, MS 29186 ED-ED-AgR/DF, MS 29101 ED-ED-
AgR/DF, MS 29146 ED-ED-AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 14/4/15 (Info 781).
STF. 1ª T. MS 29895 AgR-ED-AgR, Rel. Min Alexandre de Moraes, j. 24/8/18.

63.8. Não há sucessão processual em MS – (Info 528) – (DPEPR-2014) (Cartórios/TJSE-2014)


(DPERN-2015) (TJMSP-2016) (MPGO-2016)

No mandado de segurança, se o impetrante morre, os seus herdeiros não podem se habilitar


para continuar o processo. Assim, falecendo o impetrante, o mandado de segurança será extinto
sem resolução do mérito, ainda que já esteja em fase de recurso. Isso ocorre em razão do caráter
mandamental e da natureza personalíssima do MS.
STJ. 3ª Seção. EDcl no MS 11.581-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/6/2013 (Info 528).
(MPGO-2016): O Mandado de Segurança deve ser extinto, sem resolução do mérito, no caso de
ocorrer o falecimento do impetrante, por não ser permitido que os herdeiros se habilitem. BL:
Info 528, STJ.
(DPERN-2015-CESPE): Com relação ao mandado de segurança, assinale a opção correta
segundo o entendimento do STJ: O direito líquido e certo postulado no mandado de segurança
tem caráter personalíssimo e intransferível, não sendo possível a sucessão de partes. BL: art. 1º,
LMS e Info 528, STJ.
(DPEPR-2014-UFPR): Assinale a alternativa correta, no que diz respeito ao Direito Processual
Público: Não é possível a sucessão de partes em processo de mandado de segurança. BL: Info
528, STJ.

64. PEDIDO DE SUSPENSÃO


64.1. Para a formalização do pedido de suspensão de segurança, basta um requerimento
em simples petição dirigida ao presidente do tribunal, sem maiores formalidades – (Info 644)
– IMPORTANTE!!!

A legislação não prevê requisitos formais no pedido de contracautela (suspensão de


segurança). Para sua análise, exige-se tão somente requerimento da pessoa jurídica que
exerce munus público, formalizado em simples petição dirigida ao presidente do tribunal
ao qual couber o conhecimento do respectivo recurso na causa principal.
STJ. Corte Especial. AgInt no AgInt na SLS 2116-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 7/11/18 (Info
644).
OBS:
Conceito: O pedido de suspensão é
- um instrumento processual (incidente processual)
- por meio do qual as pessoas jurídicas de direito público ou o MP
- requerem ao Presidente do Tribunal que for competente para o julgamento
do recurso
- que suspenda a execução de uma decisão, sentença ou acórdão proferidos,
- sob o argumento de que esse provimento jurisdicional prolatado causa grave
lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas.
 
Nomenclatura: Comumente, esse instituto é chamado de pedido de “suspensão de
segurança”. Isso porque ele foi previsto originalmente na lei apenas para suspender as
decisões liminares ou sentenças proferidas em mandados de segurança. Ocorre que, com o
tempo, foram editadas novas leis trazendo a possibilidade de suspensão para praticamente
toda e qualquer decisão judicial prolatada contra a Fazenda Pública. Por essa razão,
atualmente, além de “suspensão de segurança”, pode-se falar em “suspensão de liminar”,
“suspensão de sentença”, “suspensão de acórdão” etc. Alguns julgados também falam em
“pedido de contracautela”.
 
Previsão legal: Há cinco diferentes dispositivos legais prevendo pedido de suspensão:
• art. 12, § 1º da Lei 7.347/85 (suspensão de liminar em ACP);
• art. 4º da Lei 8.437/92 (suspensão de liminar ou sentença em ação cautelar, em ação
popular ou em ACP). É considerada pela doutrina como a previsão mais geral sobre o
pedido de suspensão;
• art. 1º da Lei 9.494/97 (suspensão de tutela antecipada concedida contra a Fazenda
Pública);
• art. 16 da Lei 9.507/97 (suspensão da execução de sentença concessiva de habeas data);
• art. 15 da Lei 12.016/09 (suspensão de liminar e sentença no mandado de segurança).

Veja as duas previsões mais “importantes” sobre o tema:


Lei nº 8.437/92:
Art. 4º Compete ao presidente do tribunal, ao qual couber o conhecimento do
respectivo recurso, suspender, em despacho fundamentado, a execução da
liminar nas ações movidas contra o Poder Público ou seus agentes, a
requerimento do Ministério Público ou da pessoa jurídica de direito público
interessada, em caso de manifesto interesse público ou de flagrante
ilegitimidade, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à
economia públicas.
§ 1º Aplica-se o disposto neste artigo à sentença proferida em processo de ação
cautelar inominada, no processo de ação popular e na ação civil pública,
enquanto não transitada em julgado. (...)
 
Lei nº 12.016/2009:
Art. 15. Quando, a requerimento de pessoa jurídica de direito público
interessada ou do Ministério Público e para evitar grave lesão à ordem, à saúde,
à segurança e à economia públicas, o presidente do tribunal ao qual couber o
conhecimento do respectivo recurso suspender, em decisão fundamentada, a
execução da liminar e da sentença, dessa decisão caberá agravo, sem efeito
suspensivo, no prazo de 5 (cinco) dias, que será levado a julgamento na sessão
seguinte à sua interposição.
 
Natureza jurídica: Prevalece que se trata de um “incidente processual” (Leonardo José
Carneiro da Cunha).
 
A decisão de suspensão de segurança possui caráter político ou jurisdicional?
1ª corrente: POLÍTICO 2ª corrente: JURISDICIONAL
Trata-se de um juízo político a respeito da A 1ª Turma do STF entendeu que a decisão
lesividade do ato judicial à ordem, à em sede de suspensão de segurança não é
saúde, à segurança e à economia públicas. estritamente política, possuindo conteúdo
É a posição pacífica do STJ. jurisdicional.
É com base nesse entendimento que o STJ Com base nessa compreensão, a 1ª Turma
não admite recurso especial contra decisões do STF chegou à conclusão que é cabível,
proferidas no âmbito do pedido de em tese, recurso especial contra decisões
suspensão de segurança. Segundo o STJ, o proferidas no âmbito do pedido de
recurso especial se destina a combater suspensão de segurança (RE 798740
argumentos que digam respeito a exame AgR/DF).
de legalidade, ao passo que o pedido de  
suspensão ostentaria juízo político.
 
Possibilidade de formular pedido de suspensão e interpor recurso: Contra uma decisão
interlocutória proferida por um juiz, em 1ª instância, poderão ser interpostos o agravo de
instrumento e, concomitantemente, o pedido de suspensão. Isso porque o pedido de
suspensão não é recurso. Logo, não há violação ao princípio da singularidade ou
unirrecorribilidade. Além disso, os objetivos do agravo e do pedido de suspensão são
diferentes. Vale ressaltar que essa possibilidade é prevista expressamente no art. 4º, §6º da
Lei 8.437/92 e no art. 15, §3º da Lei 12.016/09:
Lei nº 8.437/92
Art. 4º (...) § 6º A interposição do agravo de instrumento contra liminar
concedida nas ações movidas contra o Poder Público e seus agentes não
prejudica nem condiciona o julgamento do pedido de suspensão a que se refere
este artigo.
 
Lei nº 12.016/2009
Art. 15 (...) § 3º A interposição de agravo de instrumento contra liminar
concedida nas ações movidas contra o poder público e seus agentes não
prejudica nem condiciona o julgamento do pedido de suspensão a que se refere
este artigo.
 
Legitimidade: Quem pode formular pedido de suspensão?
a) União, Estados, Distrito Federal e Municípios;
b) Autarquias e fundações;
c) Ministério Público;
d) Concessionárias de serviço público (desde que para tutelar o interesse
público primário).
 
Competência:
Decisão prolatada A competência para apreciar o pedido de suspensão é do Presidente
por juiz de 1ª do Tribunal que teria competência para julgar o recurso contra a
decisão.
Ex: concedida liminar por juiz federal do AM, o pedido de
instância: suspensão será julgado pelo Presidente do TRF1.
Ex2: concedida liminar por juiz de direito do AM, o pedido de
suspensão será julgado pelo Presidente do TJAM.
O pedido de suspensão será decidido pelo:
• Presidente do STF: se a matéria for constitucional.
Decisão prolatada
• Presidente do STJ: se a matéria for infraconstitucional.
por membro de TJ
Ex: concedida liminar pelo Desembargador do TJ/AM, o pedido de
ou TRF:
suspensão será dirigido ao Presidente do STF ou do STJ, e não ao
Presidente do TJ/AM (art. 25 da Lei nº 8.038/90).
Se a causa tiver fundamento constitucional, é possível o ajuizamento de
Decisão prolatada
pedido de suspensão dirigido ao Presidente do STF.
por membro de
Se a causa não tiver fundamento constitucional, não há
Tribunal Superior:
possibilidade de pedido de suspensão.
 
Inexistência de requisitos formais para o pedido: A legislação não impõe requisitos formais
rigorosos para a formulação do pedido de suspensão. Conforme explica a doutrina:
“O pedido de suspensão é formulado por meio de uma petição dirigida ao
presidente do Tribunal. (...) Não há requisitos formais previstos em lei para o
pedido de suspensão; exige-se, apenas, que haja requerimento da pessoa
jurídica de direito público interessada”. (A Fazenda Pública em juízo. 13ª ed., Rio
de Janeiro: Forense, 2016, p. 196)
 
É o entendimento também do STJ no julgado veiculado no Info 644 do STJ.

O caso concreto apreciado pelo STJ, com algumas adaptações, foi o seguinte: Em uma ação
ordinária proposta pela União contra o Estado-membro, o Juiz Federal proferiu decisão
liminar contrária ao réu. A fundamentação do magistrado foi toda baseada em uma lei
ordinária federal. Inconformado, o Estado-membro interpôs agravo de instrumento, mas o TRF
manteve na íntegra a decisão. Como a discussão envolve matéria infraconstitucional, contra
esta decisão do TRF era possível, em tese, a interposição de recurso especial para o STJ. Além
do recurso especial era possível que o Estado-membro formulasse pedido de suspensão de
segurança que deveria ser endereçada ao Presidente do Tribunal que seria competente para
julgar o recurso cabível. Como o recurso cabível seria o recurso especial, o pedido de
suspensão deveria ser dirigido ao Presidente do STJ. O Estado-membro optou, então, por
ingressar com pedido de suspensão e o Presidente do STJ acolheu o requerimento deferindo a
suspensão. Contra esta decisão, a União interpôs agravo interno para a Corte Especial do STJ
alegando, dentre outros argumentos, que o pedido de suspensão deveria ter sido formulado
em autos apartados e que não cumpriu as formalidades previstas na legislação. O STJ,
contudo, refutou a tese e disse que é indiferente que o pedido tenha sido formulado nos
próprios autos, na forma de recurso ou que tenha sido requerido em uma autuação em
separado. Isso porque as normas de regência não preveem, para a formulação de pedido de
contracautela, um grande rigor processual. Para a formalização da pretensão e análise do
pedido suspensivo, basta o requerimento em simples petição dirigida ao presidente do
tribunal ao qual couber o conhecimento de recurso na causa principal, formalizado pelo
Ministério Público ou pela pessoa jurídica que exerce munus público. Vale ressaltar que a
lei não estabeleceu um procedimento para o pedido de suspensão, conforme observa Marcelo
Abelha Rodrigues:
“Em se tratando de requerimento de suspensão de execução de decisão judicial
ao presidente do tribunal, nos casos em que a lei admite, não há, num sentido
literal das normas que cuidam do tema, um procedimento típico que nos
permite fazer dele uma uniformidade, o que, de lege ferenda, seria até
recomendável.” (Suspensão de Segurança - Sustação da eficácia de decisão judicial
proferida contra o Poder Público. 3ª ed., São Paulo: RT, 2010, p. 196).
 
Não se examina o mérito no pedido de suspensão: Na análise do pedido de suspensão, é
vedado o exame do mérito da demanda principal. O que será examinado pelo Tribunal é se
a decisão prolatada acarreta risco de grave lesão à:
a) ordem;
b) saúde;
c) segurança; ou
d) economia públicas.
 
A suspensão de liminar e de sentença limita-se a averiguar a possibilidade de
grave lesão à ordem, à segurança, à saúde e à economia públicas. Os temas de
mérito da demanda principal não podem ser examinados nessa medida, que
não substitui o recurso próprio. STJ. Corte Especial. AgRg na SLS 1.135/MA,
Rel. p/ Acórdão Min. Cesar Asfor Rocha, julgado em 12/04/2010.
 
Apesar de não se examinar o mérito, deve ser realizado um juízo mínimo de delibação :
Mesmo sendo vedado ao Presidente do Tribunal examinar o mérito da demanda principal,
é preciso, para que se conceda a suspensão de liminar, que haja um mínimo de
plausibilidade na tese da Fazenda Pública, porque o pedido de suspensão funciona como
uma contracautela, devendo, por isso, demonstrar fumus boni iuris e periculum in mora
inverso:
(...) 1. A jurisprudência pacificada do STF permite o proferimento de um juízo
mínimo de delibação, no que concerne ao mérito objeto do processo principal,
quando da análise do pedido de suspensão de decisão (SS 846-AgR/DF, rel.
Ministro Sepúlveda Pertence, DJ 29.5.96; SS 1.272-AgR, rel. Ministro Carlos
Velloso, DJ 18.5.2001, dentre outros).
(STA 73 AgR, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em
17/03/2008, DJe-078 DIVULG 30-04-2008 PUBLIC 02-05-2008 EMENT VOL-
02317-01 PP-00001)
(...) A natureza excepcional da contracautela permite tão somente juízo mínimo
de delibação sobre a matéria de fundo e análise do risco de grave lesão à ordem,
à saúde, à segurança e à economia públicas.
(STF; SS 5049; Tribunal Pleno; Rel. Min. Presidente; J. 20/4/16; DJE 16/05/2016)
 
Recurso contra a decisão proferida no pedido de suspensão: Da decisão do Presidente do Tribunal
que conceder ou negar a suspensão cabe algum recurso? SIM. Caberá agravo interno para o Plenário
ou Corte Especial do Tribunal.
 
Cabe recurso especial da decisão do Plenário ou da Corte Especial que julga esse agravo?
• Segundo o STJ: NÃO. Não cabe Recurso Especial de decisões proferidas no âmbito do
pedido de suspensão. O recurso especial se destina a combater argumentos que digam
respeito a exame de legalidade, ao passo que o pedido de suspensão ostentaria juízo político.
• Segundo a 1ª Turma do STF: SIM. A 1ª Turma do STF entendeu que a decisão em sede de
suspensão de segurança não é estritamente política, possuindo conteúdo jurisdicional.
Com base nisso, decidiu que é cabível, em tese, recurso especial contra decisões proferidas no
âmbito do pedido de suspensão de segurança (RE 798740 AgR/DF).
 
Novo pedido de suspensão: No entanto, se, na decisão do agravo, não for concedida ou
mantida a suspensão, a Fazenda Pública ainda terá outro instrumento: apresentar novo
pedido de suspensão, desta vez para o STJ ou para o STF, a depender da natureza da matéria
(se infraconstitucional ou constitucional). Nesse sentido, confira o que diz a Lei nº 8.437/92:
Art. 4º (...)
§ 4º Se do julgamento do agravo de que trata o § 3º resultar a manutenção ou o
restabelecimento da decisão que se pretende suspender, caberá novo pedido de
suspensão ao Presidente do Tribunal competente para conhecer de eventual
recurso especial ou extraordinário.
 
Ex1: juiz concede liminar contra a Fazenda Pública, que formula pedido de suspensão para o
Presidente do TJ; este concede a suspensão; a parte autora agrava da decisão do Presidente para
o Plenário, que reforma a decisão do Presidente e restabelece a liminar concedida em primeira
instância. Dessa decisão do Plenário, a Fazenda Pública terá a possibilidade de formular novo
pedido de suspensão para o STJ ou para o STF.

Ex2: juiz concede liminar contra a Fazenda Pública, que formula pedido de suspensão para o
Presidente do TJ; este não concede a suspensão; a Fazenda Pública agrava da decisão do
Presidente para o Plenário, que mantém a decisão do Presidente e a liminar concedida em
primeira instância. Dessa decisão do Plenário, a Fazenda Pública terá a possibilidade de
formular novo pedido de suspensão para o STJ ou para o STF.

A doutrina afirma que se trata de um pedido de suspensão “por salto de instância”.

65. JUIZADOS ESPECIAIS


65.1. Ação proposta por associação de moradores cobrando taxa de manutenção do
loteamento – (Info 627)

O Juizado Especial Cível é competente para o processamento e o julgamento de ação


proposta por associação de moradores visando à cobrança de taxas de manutenção de
loteamento em face de morador não associado.
STJ. 3ª Turma. RMS 53602-AL, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 5/6/18 (Info 627).
OBS: Quanto ao mérito, essa associação de moradores terá êxito? NÃO. O STJ possui o
entendimento consolidado no sentido de que:
As taxas de manutenção criadas por associações de moradores não obrigam os
não associados ou que a elas não anuíram. STJ. 2ª Seção. REsp 1.280.871-SP e
REsp 1.439.163-SP, Rel. Min. Ricardo Villas BôasCueva, Rel. para acórdão Min.
Marco Buzzi, julgados em 11/3/2015 (recurso repetitivo) (Info 562)

65.2. Requisitos para admissibilidade de reclamação e de pedido de uniformização de


jurisprudência – (Info 559) – IMPORTANTE!!!

Não é cabível reclamação, tampouco pedido de uniformização de jurisprudência ao STJ


contra acórdão de Turma Recursal do Juizado Especial da Fazenda Pública sob a alegação
de que a decisão impugnada diverge de orientação fixada em precedentes do STJ.
STJ. 1ª Seção. Rcl 22.033-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 8/4/15 (Info 559).

65.3. Mandado de segurança para controle da competência dos juizados especiais – (Info
533) – (TRF2-2017)

É cabível mandado de segurança, a ser impetrado no Tribunal Regional Federal, com a


finalidade de promover o controle da competência dos Juizados Especiais Federais.
STJ. 2ª Turma. RMS 37.959-BA, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 17/10/2013 (Info
533).

65.4. Defensores públicos não são intimados pessoalmente nos juizados

A jurisprudência do STJ afirma que, no âmbito dos Juizados Especiais, não é necessária a
intimação pessoal dos Defensores Públicos, podendo esta ocorrer até mesmo pela
Imprensa Oficial.
Nesse sentido: HC 241.735/SP, Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6ª T., j. 19/11/12; HC
105.548/ES, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, 5ª T., j. 27/04/2010.

66. FAZENDA PÚBLICA EM JUÍZO


66.1. Índices de juros e correção monetária aplicados para condenações contra a Fazenda
Pública – (Info 620) – IMPORTANTE!!!

O índice de correção monetária previsto no art. 1º-F da Lei 9.494/97 (TR) não pode ser aplicado
para condenações impostas à Fazenda Pública
O art. 1º-F da Lei 9.494/1997 (com redação dada pela Lei 11.960/09), para fins de correção
monetária, não é aplicável nas condenações judiciais impostas à Fazenda Pública,
independentemente de sua natureza.

Os juros de mora previstos no art. 1º-F da Lei 9.494/97 podem ser aplicados para condenações
impostas à Fazenda Pública, com exceção de matéria tributária
O art. 1º-F da Lei 9.494/1997 (com redação dada pela Lei 11.960/09), na parte em que estabelece a
incidência de juros de mora nos débitos da Fazenda Pública com base no índice oficial de
remuneração da caderneta de poupança, aplica-se às condenações impostas à Fazenda Pública,
excepcionadas as condenações oriundas de relação jurídico-tributária.
Ações condenatórias em geral
As condenações judiciais de natureza administrativa em geral sujeitam-se aos seguintes
encargos:
a) até dezembro/2002: juros de mora: de 0,5% ao mês; correção monetária de acordo com os
índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a incidência do
IPCA-E a partir de janeiro/2001;
b) no período posterior à vigência do CC/2002 e anterior à vigência da Lei nº 11.960/2009 : juros
de mora correspondentes à taxa Selic, vedada a cumulação com qualquer outro índice;
c) no período posterior à vigência da Lei nº 11.960/2009: juros de mora: segundo o índice de
remuneração da caderneta de poupança; correção monetária: com base no IPCA-E.

Servidores e empregados públicos


As condenações judiciais referentes a servidores e empregados públicos sujeitam-se aos
seguintes encargos:
a) até julho/2001: juros de mora: 1% ao mês (capitalização simples); correção monetária: índices
previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a incidência do IPCA-E
a partir de janeiro/2001;
b) agosto/2001 a junho/2009: juros de mora: 0,5% ao mês; correção monetária: IPCA-E;
c) a partir de julho/2009: juros de mora: remuneração oficial da caderneta de poupança; correção
monetária: IPCA-E.

Desapropriações
No tocante às condenações judiciais referentes a desapropriações diretas e indiretas,
relativamente à correção monetária, incidem, em síntese, os índices previstos no Manual de
Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a incidência do IPCA-E a partir de janeiro de
2001.
Em relação aos juros de mora, de acordo com o Manual de Cálculos da Justiça Federal, aplicam-
se os seguintes índices:
a) até dezembro/2009: 0,5% (capitalização simples), nos termos do art. 15-B do Decreto-Lei n.
3.365/1941;
b) janeiro/2010 a abril/2012: 0,5% (capitalização simples), nos termos do art. 97, § 16, do ADCT
(incluído pela EC n. 62/2009), combinado com a Lei n. 8.177/1991;
c) a partir de maio/2012: o mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança,
capitalizados de forma simples, correspondentes a:
i) 0,5% ao mês, caso a taxa SELIC ao ano seja superior a 8,5%;
ii) 70% da taxa SELIC ao ano, mensalizada, nos demais casos, nos termos do art. 97, § 16, do
ADCT (incluído pela EC n. 62/2009), combinado com a Lei n. 8.177/1991, com alterações da MP
n. 567/2012 convertida na Lei n. 12.703/2012.
No que concerne aos juros compensatórios, os índices previstos são os seguintes:
a) até 10/06/1997: 1% (capitalização simples), nos termos da Súmula n. 618/STF e Súmula n. 110
do extinto TFR;
b) 11/06/1997 a 13/09/2001: 0,5% (capitalização simples), nos termos do art. 15-A, do Decreto-Lei
n. 3.365/41, introduzido pela MP n. 1.577/97 e suas sucessivas reedições;
c) a partir de 14/09/2001: 1% (capitalização simples), nos termos da ADI 2.332/DF, REsp
1.111.829/SP e Súmula n. 408/STJ.

Matéria previdenciária
As condenações impostas à Fazenda Pública de natureza previdenciária sujeitam-se à
incidência do INPC, para fins de correção monetária, no que se refere ao período posterior à
vigência da Lei nº 11.430/2006, que incluiu o art. 41-A na Lei nº 8.213/91.
Quanto aos juros de mora, no período posterior à vigência da Lei nº 11.960/2009, incidem
segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança.

Indébito tributário
A correção monetária e a taxa de juros de mora incidentes na repetição de indébitos tributários
devem corresponder às utilizadas na cobrança de tributo pago em atraso.
Não havendo disposição legal específica, os juros de mora são calculados à taxa de 1% ao mês
(art. 161, § 1º, do CTN).
Observada a regra isonômica e havendo previsão na legislação da entidade tributante, é
legítima a utilização da taxa Selic, sendo vedada sua cumulação com quaisquer outros índices.
STJ. 1ª S. REsp 1495146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 22/2/18 (recurso repetitivo)
(Info 620).
OBS:
Juros e correção monetária em caso de condenações impostas à Fazenda Pública : Imagine que
determinado indivíduo ingressa com uma ação judicial pedindo que a Fazenda Pública seja
condenada a pagar quantia em dinheiro.
 Ex1: servidor público propõe ação judicial pedindo a condenação da União ao pagamento
de gratificação funcional de forma retroativa desde a data em que foi publicada
determinada lei.
 Ex2: segurado fez requerimento administrativo ao INSS pedindo aposentadoria por
invalidez; como o pedido foi indeferido, o segurado ingressa com ação judicial pleiteando
que o INSS conceda o benefício e que pague os valores de forma retroativa à data do
requerimento administrativo.
 
Levará alguns meses ou anos até que a ação chegue ao fim. Dessa forma, como há essa demora em
o processo terminar, a legislação prevê que o órgão judicial, ao condenar a Fazenda Pública,
deverá determinar que ela pague a quantia principal acrescida de juros e correção monetária.
Assim, em nosso primeiro exemplo, o juiz irá determinar que a União pague as gratificações
atrasadas acrescidas de juros e correção monetária. No segundo exemplo, o magistrado condenará
o INSS a pagar as prestações pretéritas da aposentadoria mais juros e correção monetária.
 
Quais os índices de juros e correção monetária que a Lei prevê para esses casos? O tema é tratado
no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97:
Art. 1º-F. Nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua
natureza e para fins de atualização monetária, remuneração do capital e
compensação da mora, haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento,
dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de
poupança. (Redação dada pela Lei nº 11.960/2009)

Desse modo, de acordo com esse dispositivo, deveriam ser adotados os seguintes parâmetros:
 Correção monetária: índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança (este
índice é chamado de TR — Taxa Referencial);
 Juros de mora: juros simples no mesmo percentual que é pago na poupança (0,5% ao
mês / 6% ao ano).

Assim, de acordo com o texto da Lei, quando a Fazenda Pública estivesse em débito (atraso), a correção
monetária e os juros de mora deveriam adotar os índices e percentuais aplicáveis às cadernetas de
poupança. Esse art. 1ºF da Lei nº 9.494/97 é constitucional? O que decidiu o STF a respeito?
 
Débitos relacionados oriundos de relação jurídico-tributária: Pela redação do art. 1º-F, a correção
monetária e os juros de mora dos débitos da Fazenda Pública deveriam sempre adotar os índices e
percentuais aplicáveis às cadernetas de poupança, independentemente da natureza do débito.
Isso significa dizer que, pela lei, não importava se a dívida fosse relacionada com servidor público
(natureza administrativa), com segurado do INSS (natureza previdenciária) ou com contribuinte
de tributos (natureza tributária). Os índices seriam sempre esses, independentemente da origem
da dívida. Isso estava claro por meio da expressão “independentemente de sua natureza” prevista
no art. 1ºF. O STF, contudo, entendeu que essa previsão é inconstitucional.

Para o Supremo, se as dívidas da Fazenda Pública são relacionadas com débitos de natureza
tributária, deverão ser aplicados os mesmos juros de mora que são exigidos pelo Poder Público
quando ele está cobrando os créditos tributários.

Vamos explicar melhor.

Se o contribuinte não paga um imposto federal, o Fisco irá cobrar dele exigindo, além da quantia
principal, juros e correção monetária calculados com base em um índice chamado SELIC (Sistema
Especial de Liquidação e Custódia). Logo, se o contribuinte pagou um imposto federal que era
indevido, ele tem direito de receber de volta a quantia paga também acrescida de juros e correção
monetária calculados com base na SELIC.

Em suma, em ações de indébito tributário, a Fazenda Pública deverá pagar suas dívidas
segundo o mesmo índice de juros que utiliza para receber os créditos tributários (atualmente, a
SELIC). Isso se justifica em razão do princípio da equidade (isonomia). Não seria isonômico a
Fazenda Pública cobrar os créditos tributários utilizando a SELIC e no momento em que tivesse
que pagar alguma quantia ao contribuinte utilizasse os índices da caderneta de poupança (que são
bem menores que a SELIC). O STF assim decidiu, fixando a seguinte tese:
O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009, na parte
em que disciplina os juros moratórios aplicáveis a condenações da Fazenda
Pública, é inconstitucional ao incidir sobre débitos oriundos de relação jurídico-
tributária, aos quais devem ser aplicados os mesmos juros de mora pelos quais a
Fazenda Pública remunera seu crédito tributário, em respeito ao princípio
constitucional da isonomia (art. 5º, da CF/88).
STF. Plenário. RE 870947/SE, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/9/2017
(repercussão geral) (Info 878).
 
Vale ressaltar que, na tese acima exposta, fala-se apenas em juros de mora. Veja: “aos quais devem
ser aplicados os mesmos juros de mora pelos quais a Fazenda Pública remunera seu crédito
tributário”. Apesar disso, ela abrange juros e correção monetária. Explico.

O índice de juros para débitos tributários é a SELIC. Ocorre que a SELIC é um tipo de índice de
juros moratórios que já abrange juros e correção monetária. Como assim? No cálculo da SELIC
(em sua “fórmula matemática”), além de um percentual a título de juros moratórios, já é embutida
a taxa de inflação estimada para o período (correção monetária). Em outras palavras, a SELIC é
uma espécie de índice que engloba juros e correção monetária. Logo, a SELIC já irá substituir os
dois índices do art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, ou seja, tanto o índice de juros como de correção
monetária.
 
E com relação aos débitos de natureza não-tributária, quais os índices que devem ser aplicados?
O art. 1º-F é constitucional? O art. 1º-F trata sobre juros e também sobre correção monetária. São
institutos distintos. Quanto à CORREÇÃO MONETÁRIA, o STF afirmou que a previsão do art.
1º-F é inconstitucional. A correção monetária é simplesmente uma forma de manter o poder de
compra da moeda. Se uma pessoa tem R$ 100 mil hoje, não significa que daqui a dois anos esses
R$ 100 mil conseguirão comprar as mesmas coisas. O normal é que não, em virtude da inflação.
Logo, a correção monetária tem por objetivo fazer com que o valor de compra da moeda seja
“atualizado” O art. 1º-F afirma que a correção monetária deve ser feita pelo índice oficial da
poupança (que é chamado de TR — Taxa Referencial). Ocorre que isso não consegue evitar a
perda de poder aquisitivo da moeda. Esse índice (TR) é fixado ex ante, ou seja, previamente, a
partir de critérios técnicos não relacionados com a inflação considerada no período . Em outras
palavras, a TR é calculada antes de a inflação ocorrer. Assim, a remuneração da caderneta de
poupança – diferentemente de qualquer outro índice oficial de inflação – é sempre prefixada. Essa
circunstância deixa claro que existe uma desvinculação entre a remuneração da poupança e a
evolução dos preços da economia, isto é, a TR não capta a variação da inflação. A inflação é um
fenômeno tipicamente econômico-monetário e, portanto, mostra-se insuscetível de captação
apriorística (ex ante). Não dá para se ter certeza do quanto será a inflação e estabelecer um índice
antes que ela ocorra. Por essa razão, diz-se que todo índice definido ex ante é incapaz de refletir
a real flutuação de preços apurada no período em referência. É o caso da TR (poupança). Dessa
maneira, como este índice não consegue manter o valor real da condenação, ele afronta à própria
decisão judicial, tendo em vista que o valor real do crédito previsto na condenação judicial não
será o valor que o credor irá receber efetivamente. Este valor terá sido corroído pela inflação. A
finalidade da correção monetária consiste em deixar a parte na mesma situação econômica que se
encontrava antes. Nesse sentido, o direito à correção monetária é um reflexo imediato da
proteção da propriedade.

A título de curiosidade, veja como a TR é um índice completamente injusto e que não garante o
poder de compra: Imaginemos que, em maio de 2009, a pessoa possuía um crédito de R$ 100 mil
para receber da União. Se aplicarmos a TR, em dezembro de 2014 esse crédito estará em R$
103.572,42 (cento e três mil, quinhentos e setenta e dois reais e quarenta e dois centavos). É óbvio
que nesses 5 anos o valor da inflação foi superior a isso, ou seja, mesmo com a correção monetária,
a pessoa perdeu poder de compra. Se aplicarmos o IPCA-E como índice de correção monetária
neste mesmo período, esse crédito será equivalente a R$ 137.913,29 (cento e trinta e sete mil,
novecentos e treze reais e vinte e nove centavos). Perceba que a diferença supera 30%. Em suma, a
taxa básica de remuneração da poupança não mede, de forma adequada, a inflação acumulada
do período e, portanto, não pode servir de parâmetro para a correção monetária.

O STF assim decidiu, fixando a seguinte tese:


O art. 1º-F da Lei 9.494/97, com a redação dada pela Lei 11.960/09, na parte em que
disciplina a atualização monetária das condenações impostas à Fazenda Pública
segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança, revela-se
inconstitucional ao impor restrição desproporcional ao direito de propriedade (art.
5º, XXII, da CF/88), uma vez que não se qualifica como medida adequada a
capturar a variação de preços da economia, sendo inidônea a promover os fins a
que se destina.
STF. Plenário. RE 870947/SE, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/9/2017
(repercussão geral) (Info 878).
 
Quanto aos JUROS DE MORA relacionados com dívidas não-tributárias, o STF afirmou que o
índice previsto no art. 1º-F é válido (constitucional). O STF entendeu que não há qualquer
inconstitucionalidade no fato de a lei ter previsto que os juros moratórios das dívidas não-
tributárias seriam equivalentes aos da caderneta de poupança. Assim, no caso de juros
moratórios quanto a débitos não-tributários da Fazenda Pública, continua sendo aplicado o art.
1º-F. É o que acontece, por exemplo, quando a Fazenda Pública é condenada a pagar benefícios
previdenciários ou verbas a servidores públicos. Em tais situações, os juros moratórios serão os da
poupança.
O STF assim decidiu, fixando a seguinte tese:
Quanto às condenações oriundas de relação jurídica não-tributária, a fixação dos
juros moratórios segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança é
constitucional, permanecendo hígido, nesta extensão, o disposto no art. 1º-F da
Lei 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009.
STF. Plenário. RE 870947/SE, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/9/2017
(repercussão geral) (Info 878).
 
Resumindo:
JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA ENVOLVENDO CONDENAÇÕES DA
FAZENDA PÚBLICA
DÉBITOS DE NATUREZA TRIBUTÁRIA DÉBITOS DE NATUREZA NÃO-
TRIBUTÁRIA
O que previa o art. 1º-F da Lei nº 9.494/97? O que previa o art. 1º-F da Lei nº 9.494/97?
• Correção monetária: índice oficial de • Correção monetária: índice oficial de
remuneração básica da poupança (TR); remuneração básica da poupança (TR);
• Juros de mora: juros no mesmo percentual • Juros de mora: juros no mesmo percentual
que é pago na poupança (0,5% a.m. / 6% a.a.). que é pago na poupança (0,5% a.m. / 6% a.a.).
O que decidiu o STF? O que decidiu o STF?
Essa previsão é inconstitucional. • Quanto à correção monetária: o art. 1º-F é
Tanto os índices de juros como de correção inconstitucional. O índice da poupança não
monetária previstos no art. 1º-F são consegue capturar a variação de preços da
inconstitucionais. economia, não sendo capaz de fazer a correta
  atualização monetária. Logo, há uma violação
do direito à propriedade.
• Quanto aos juros de mora: o art. 1º-F é
constitucional.
 
A decisão do STF acima explicada traz os parâmetros gerais sobre as condenações envolvendo a
Fazenda Pública e declara que a TR é inconstitucional. No entanto, vários temas não foram
enfrentados pelo STF, razão pela qual o STJ teve que se debruçar sobre o assunto.

O trabalho do STJ foi o de esmiuçar quais os índices de correção monetária e taxas de juros
deveriam ser aplicados em cada um dos assuntos. Ex: condenação envolvendo servidores
públicos, desapropriação, matéria tributária etc. Isso porque o STF afirmou que a TR é
inconstitucional, mas não forneceu mais detalhes sobre quais os índices deveriam substitui-la,
apontando, em um trecho do voto do Min. Luiz Fux (RE 870947/SE), que seria o SELIC e o
IPCA-E, mas sem que isso tenha constado expressamente na ementa.

Vejamos o que foi decidido.


 
CORREÇÃO MONETÁRIA
O que decidiu o STF: O art. 1º-F da Lei 9.494/94 (com redação dada pela Lei nº 11.960/2009) prevê
a TR (Taxa Referencial) como índice de correção monetária nas condenações judiciais proferidas
contra a Fazenda Pública. Ocorre que a TR não preserva o patrimônio do credor da Fazenda
Pública, razão pela qual é um índice inconstitucional (viola o direito de propriedade).
 
O que fez, então, o STJ: Concordou com o STF e afirmou o seguinte: como a TR é
inconstitucional, ela não poderá ser utilizada para nenhuma** condenação envolvendo a
Fazenda Pública, não importando a matéria discutida (previdenciário, tributário, administrativo,
servidores públicos etc.). Veja a tese fixada pelo Tribunal:
O art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997 (com redação dada pela Lei nº 11.960/2009), para
fins de correção monetária, não é aplicável nas condenações judiciais impostas à
Fazenda Pública, independentemente de sua natureza.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
22/02/2018 (recurso repetitivo) (Info 620).
 
** Cuidado. O STJ decidiu que o índice de correção monetária aplicável sobre as contas do
FGTS continua sendo a TR e que isso é válido (STJ. 1ª Seção. REsp 1.614.874-SC, Min. Benedito
Gonçalves, jugado em 11/04/2018).
 
JUROS DE MORA
O que decidiu o STF:
 Regra: o índice de juros de mora previsto no art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação dada
pela Lei 11.960/09). Assim, em regra, desde a edição da Lei 11.960/09, em toda
condenação envolvendo a Fazenda Pública deverá ser aplicado o índice oficial de
remuneração da caderneta de poupança.
 Exceção: em caso de condenações contra a Fazenda Pública envolvendo matéria
tributária (ex: indébito tributário), não deverá ser aplicado o art. 1º-F. Esse índice é
inconstitucional em assuntos tributários porque viola o princípio da isonomia. Se a
Fazenda Pública for condenada a pagar ao particular algum valor relacionado com
matéria tributária, os juros aplicados devem ser os mesmos que o Fisco utiliza para cobrar
os contribuintes. Ex: a União cobra os contribuintes utilizando a SELIC; logo, se ela for
condenada a pagar algum valor tributário, também deverá ser aplicada a SELIC (e não o
art. 1º-F).
 
O que fez, então, o STJ: Seguiu o mesmo entendimento e fixou a seguinte tese:
O art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997 (com redação dada pela Lei nº 11.960/2009), na
parte em que estabelece a incidência de juros de mora nos débitos da Fazenda
Pública com base no índice oficial de remuneração da caderneta de poupança,
aplica-se às condenações impostas à Fazenda Pública, excepcionadas as
condenações oriundas de relação jurídico-tributária.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
22/02/2018 (recurso repetitivo) (Info 620).
 
Fixadas as duas premissas acima, vejamos agora como o STJ decidiu em cada uma das matérias
específicas.
 
CONDENAÇÕES JUDICIAIS DE NATUREZA ADMINISTRATIVA EM GERAL
O que são? Quando o STJ fala em “condenações judiciais de natureza administrativa em geral”,
ele está se referindo às “ações condenatórias em geral”. Ex: sentença em ação de responsabilidade
civil do Estado; sentença em ação de cobrança contra o Estado por enriquecimento sem causa. São
as condenações em geral, que não se enquadram em nenhuma das outras hipóteses.
 
Juros de mora: Como não é matéria tributária, pode ser aplicado o art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com
redação dada pela Lei 11.960/09). Assim pode ser aplicado o índice oficial de juros da caderneta
de poupança. Ocorre que essa determinação legal somente foi instituída a partir da Lei
11.960/09. Desse modo, para os períodos anteriores a esse diploma, deverão ser aplicados os
índices de juros previstos nas respectivas leis existentes. Vou fazer um resumo aqui (não precisa
decorar esta tabela):
JUROS DE MORA NAS CONDENAÇÕES JUDICIAIS DE NATUREZA
ADMINISTRATIVA EM GERAL
PERÍODOS ENCARGOS FUNDAMENTO
Arts. 1.062, 1.063 e 1.064 do
CC/1916.
Art. 1.062. A taxa dos juros
Até dezembro/2002 0,5% ao mês (juros simples)
moratórios, quando não
convencionada (art. 1.262), será de
6% (seis por cento) ao ano.
De janeiro/2003 SELIC Art. 406 do CC/2002:
a junho/2009 Art. 406. Quando os juros
moratórios não forem
convencionados, ou o forem sem
taxa estipulada, ou quando
provierem de determinação da lei,
serão fixados segundo a taxa que
estiver em vigor para a mora do
pagamento de impostos devidos à
Fazenda Nacional.
Lei 11.960/2009, que alterou o art.
A partir de julho/2009 Índices oficiais da poupança 1º-F da Lei 9.494/97.
 
Correção monetária: Não pode ser aplicado o art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997 (com redação dada
pela Lei nº 11.960/2009). Assim, não pode ser aplicada a TR em nenhum período. Considerando
que a TR é inconstitucional, qual índice deve ser utilizado então? Aqui nós temos uma sucessão
de índices no tempo. Estes índices foram todos organizados no Manual de Cálculos da Justiça
Federal. O STJ afirmou que os índices ali previstos estão corretos. Não é necessário que você saiba
os detalhes sobre isso. O Manual de Cálculos da Justiça Federal é utilizado para nortear os Juízes,
servidores e partes na elaboração dos cálculos de condenações judiciais envolvendo a Fazenda
Pública federal. Nele constam os índices de juros e correção monetária que espelham o
entendimento do STJ sobre o tema. O referido Manual é aprovado por meio de Resolução do
Conselho da Justiça Federal, que é composto por Ministros do STJ e Desembargadores dos
Tribunais Regionais Federais. O Manual encontra-se disponível neste endereço:
https://www2.jf.jus.br/phpdoc/sicom/sicomIndex.php

Repito: não é necessário que você conheça esses índices acima. Basta que você saiba que o STJ
afirmou que, para fins de correção monetária, deverão ser aplicados os índices de correção
monetária previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal.
 
Conclusões: Esta tabela pode ser cobrada nas provas, em especial na fase de sentença:
CONDENAÇÕES JUDICIAIS DE NATUREZA ADMINISTRATIVA EM GERAL
PERÍODOS ENCARGOS
Juros de mora: 0,5% ao mês.
Até dezembro/2002
Correção monetária: de acordo com o Manual de Cálculos da JF.
Depois do CC/02 e antes Aplica-se apenas a taxa SELIC, vedada a cumulação com qualquer
da Lei 11.960/09 outro índice (isso porquea SELIC inclui juros e correção).
Depois da vigência Juros de mora: índice de remuneração da caderneta de poupança.
da Lei 11.960/09 Correção monetária: IPCA-E
 
A tese ficou assim redigida (a tese também pode ser exigida nas provas):
As condenações judiciais de natureza administrativa em geral sujeitam-se aos
seguintes encargos:
a) até dezembro/2002: juros de mora de 0,5% ao mês; correção monetária de acordo
com os índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal, com destaque
para a incidência do IPCA-E a partir de janeiro/2001;
b) no período posterior à vigência do CC/2002 e anterior à vigência da Lei nº
11.960/2009: juros de mora correspondentes à taxa Selic, vedada a cumulação com
qualquer outro índice;
c) no período posterior à vigência da Lei nº 11.960/2009: juros de mora segundo o
índice de remuneração da caderneta de poupança; correção monetária com base no
IPCA-E.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
22/02/2018 (recurso repetitivo) (Info 620).
 
CONDENAÇÕES JUDICIAIS REFERENTES A SERVIDORES E EMPREGADOS PÚBLICOS
Acima, vimos as condenações em geral da Fazenda Pública (ex: indenização por danos morais).
No caso de condenações referentes a servidores e empregados públicos, existem algumas regras
específicas. Imagine que determinado servidor público ingressa com ação judicial cobrando
determinada gratificação que ele entende devida. Vamos ver abaixo quais os índices de juros e
correção monetária que o magistrado deverá aplicar em caso de condenação.
Veja a tabela abaixo, que pode ser cobrada nas provas, em especial na fase de sentença:
CONDENAÇÕES RELACIONADAS COM VERBAS DE SERVIDORES E EMPREGADOS
PÚBLICOS
PERÍODOS ENCARGOS
Juros de mora: 1% ao mês (capitalização simples).
Até julho/2001
Correção monetária: de acordo com o Manual de Cálculos da JF.
De agosto/2001 Juros de mora: 0,5% ao mês.
a junho/2009 Correção monetária: IPCA-E.
A partir de julho/2009 Juros de mora: índice de remuneração da caderneta de poupança.
Correção monetária: IPCA-E
 
A tese ficou assim redigida:
As condenações judiciais referentes a servidores e empregados públicos sujeitam-
se aos seguintes encargos:
a) até julho/2001: juros de mora: 1% ao mês (capitalização simples); correção
monetária: índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal, com
destaque para a incidência do IPCA-E a partir de janeiro/2001;
b) agosto/2001 a junho/2009: juros de mora: 0,5% ao mês; correção monetária:
IPCA-E;
c) a partir de julho/2009: juros de mora: remuneração oficial da caderneta de
poupança; correção monetária: IPCA-E.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
22/02/2018 (recurso repetitivo) (Info 620).
 
CONDENAÇÕES JUDICIAIS REFERENTES A DESAPROPRIAÇÕES
Correção monetária: Aplicam-se os índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal.
 
Juros de mora: Os juros de mora decorrem da demora no pagamento. Em relação aos juros de
mora, a tabela a seguir, extraída do Manual de Cálculos daJustiça Federal, demonstra os índices
incidentes de acordo com o período respectivo (não precisa memorizar):
JUROS DE MORA NA DESAPROPRIAÇÃO

PERÍODOS ENCARGOS FUNDAMENTO


Art. 15-B do DL 3.365/41
Art. 15-B. Nas ações a que se
refere o art. 15-A, os juros
moratórios destinam-se a
recompor a perda decorrente do
atraso no efetivo pagamento da
0,5% ao mês indenização fixada na decisão
Até dezembro/2009
(capitalização simples) final de mérito, e somente serão
devidos à razão de até seis por
cento ao ano, a partir de 1º de
janeiro do exercício seguinte
àquele em que o pagamento
deveria ser feito, nos termos do
art. 100 da Constituição.
Art. 97, § 16, do ADCT (incluído
pela EC 62/09), combinado com a
Lei 8.177/91
§ 16. A partir da promulgação
desta Emenda Constitucional, a
atualização de valores de
requisitórios, até o efetivo
pagamento, independentemente
De janeiro/2010 0,5% ao mês de sua natureza, será feita pelo
a abril/2009 (capitalização simples) índice oficial de remuneração
básica da caderneta de poupança,
e, para fins de compensação da
mora, incidirão juros simples no
mesmo percentual de juros
incidentes sobre a caderneta de
poupança, ficando excluída a
incidência de juros
compensatórios.
A partir de julho/2009 O mesmo percentual de Art. 97, § 16, do ADCT (incluído
jurosincidentes sobre a pela EC 62/09), combinado com o
caderneta de poupança, art. 12 da Lei 8.177/91, com
capitalizados de formasimples, alterações da MP 567/12
correspondentes a: - 0,5% ao convertida na Lei 12.703/12:
mês, caso a taxa SELIC ao ano Art. 12. Em cada período de
seja superior a 8,5%; rendimento, os depósitos de
- 70% da taxa SELIC ao poupança serão remunerados:
I – como remuneração básica, por
taxa correspondente à
acumulação das TRD, no período
transcorrido entre o dia do último
crédito de rendimento, inclusive,
e o dia do crédito de rendimento,
exclusive;
II – como remuneração adicional,
por juros de:
a) 0,5% (cinco décimos por cento)
ano,mensalizada, nos demais
ao mês, enquanto a meta da taxa
casos.
Selic ao ano, definida pelo Banco
Central do Brasil, for superior a
8,5% (oito inteiros e cinco décimos
por cento); ou
b) 70% (setenta por cento) da meta
da taxa Selic ao ano, definida pelo
Banco Central do Brasil,
mensalizada, vigente na data de
início do período de rendimento,
nos demais casos.
 
Juros compensatórios: O juiz pode autorizar que, antes de a ação de desapropriação chegar ao fim,
o Poder Público já assuma a posse do bem desapropriado. A isso se chama de imissão provisória
na posse. Ocorre que, se o valor da indenização fixada na sentença for maior do que a quantia
oferecida pelo Poder Público, isso significa que o proprietário do bem estava certo ao questionar
esse valor e que ele foi “injustamente” retirado prematuramente da posse de seu bem. Digo
“injustamente” porque o valor oferecido era menor realmente do que o preço devido. Assim, a
legislação, como forma de compensar essa perda antecipada do bem, prevê que o expropriante
deverá pagar juros compensatórios ao expropriado. Desse modo, os juros compensatórios na
desapropriação são aqueles fixados com o objetivo de compensar o proprietário em razão da
ocorrência de imissão provisória na posse. No que concerne aos juros compensatórios, os índices
previstos são os seguintes (não decorar):
JUROS COMPENSATÓRIOS NA DESAPROPRIAÇÃO

PERÍODOS ENCARGOS FUNDAMENTO


Súmula 618 STF: Na
desapropriação, direta ou indireta, a
taxa dos juros compensatórios é de
1% ao mês 12% (doze por cento) ao ano.
Até 10/06/97
(capitalização simples) Súmula 110-TFR: Os juros
compensatórios, na desapropriação,
são calculados à taxa de 12% (doze
por cento) ao ano.
Art. 15-B do DL 3.365/41
Art. 15-B. Nas ações a que se refere
o art. 15-A, os juros moratórios
destinam-se a recompor a perda
decorrente do atraso no efetivo
pagamento da indenização fixada
De 11/06/97 a 0,5% ao mês
na decisão final de mérito, e
13/09/01 (capitalização simples)
somente serão devidos à razão de
até seis por cento ao ano, a partir de
1º de janeiro do exercício seguinte
àquele em que o pagamento deveria
ser feito, nos termos do art. 100 da
Constituição.
A partir de 14/09/01 1% ao mês STF ADI 2.332/DF; STJ REsp
(capitalização simples) 1.111.829/SP
Súmula 408-STJ: Nas ações de
desapropriação, os juros
compensatórios incidentes após a
Medida Provisória n. 1.577, de
11/6/1997, devem ser fixados em
6% ao ano até 13/09/2001, e, a
partir de então, em 12% ao ano, na
forma da súmula n. 618 do
Supremo Tribunal Federal.
 
Como se verifica, no âmbito das condenações judiciais referentes a desapropriações diretas e
indiretas, existem regras específicas no que concerne aos juros moratórios e compensatórios, razão
pela qual não se justifica a incidência do art. 1º-F da Lei Nº 9.494/97 (com redação dada pela Lei
Nº 11.960/2009), nem para compensação da mora (juros de mora)nem para remuneração do
capital (juros compensatórios).
 
Conclusão: Esta tabela pode ser cobrada nas provas, em especial na fase de sentença:
CONDENAÇÕES JUDICIAIS ENVOLVENDO DESAPROPRIAÇÃO
ENCARGOS ÍNDICES
Correção monetária Índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal.
a) até dezembro/2009: 0,5% (capitalização simples);
b) janeiro/2010 a abril/2012: 0,5% (capitalização simples);
c) a partir de maio/2012: juros da caderneta de poupança,
Juros de mora
capitalizados de forma simples, correspondentes a:
c.1) 0,5% ao mês, caso a taxa SELIC ao ano seja superior a 8,5%;
c.2) 70% da taxa SELIC ao ano, mensalizada, nos demais casos.
a) até 10/06/1997: 1% (capitalização simples)
Juros compensatórios b) 11/06/1997 a 13/09/2001: 0,5% (capitalização simples);
c) a partir de 14/09/2001: 1% (capitalização simples).
 
A tese ficou assim redigida:
No tocante às condenações judiciais referentes a desapropriações diretas e
indiretas, relativamente à correção monetária, incidem, em síntese, os índices
previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a
incidência do IPCA-E a partir de janeiro de 2001.
Em relação aos juros de mora, de acordo com o Manual de Cálculos da Justiça
Federal, aplicam-se os seguintes índices:
a) até dezembro/2009: 0,5% (capitalização simples), nos termos do art. 15-B do
Decreto-Lei n. 3.365/1941;
b) janeiro/2010 a abril/2012: 0,5% (capitalização simples), nos termos do art. 97, §
16, do ADCT (incluído pela EC n. 62/2009), combinado com a Lei n. 8.177/1991;
c) a partir de maio/2012: o mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta
de poupança, capitalizados de forma simples, correspondentes a:
i) 0,5% ao mês, caso a taxa SELIC ao ano seja superior a 8,5%;
ii) 70% da taxa SELIC ao ano, mensalizada, nos demais casos, nos termos do art.
97, § 16, do ADCT (incluído pela EC n. 62/2009), combinado com a Lei n.
8.177/1991, com alterações da MP n. 567/2012 convertida na Lei n. 12.703/2012.
No que concerne aos juros compensatórios, os índices previstos são os seguintes:
a) até 10/06/1997: 1% (capitalização simples), nos termos da Súmula n. 618/STF e
Súmula n. 110 do extinto TFR;
b) 11/06/1997 a 13/09/2001: 0,5% (capitalização simples), nos termos do art. 15-A, do
Decreto-Lei n. 3.365/41, introduzido pela MP n. 1.577/97 e suas sucessivas
reedições;
c) a partir de 14/09/2001: 1% (capitalização simples), nos termos da ADI 2.332/DF,
REsp 1.111.829/SP e Súmula n. 408/STJ.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
22/02/2018 (recurso repetitivo) (Info 620).
 
CONDENAÇÕES JUDICIAIS DE NATUREZA PREVIDENCIÁRIA: Como já mencionado, o art.
1º-F da Lei 9.494/97, para fins de correção monetária, não é aplicável nas condenações impostas à
Fazenda Pública, independentemente de sua natureza, o que impede, evidentemente, a sua
utilização para fins de atualização monetária de condenações de natureza previdenciária,
impondo-se a adoção dos seguintes critérios:
 
Correção monetária:
 Antes da Lei nº 11.430/2006: devem ser aplicados os índices previstos no Manual de
Cálculos da JF.
 Depois da Lei nº 11.430/2006: INPC.
 
A Lei nº 11.430/2006 incluiu o art. 41-A na Lei nº 8.213/91 com a seguinte redação:
Art. 41-A. O valor dos benefícios em manutenção será reajustado, anualmente, na
mesma data do reajuste do salário mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas
datas de início ou do último reajustamento, com base no Índice Nacional de Preços
ao Consumidor - INPC, apurado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE. (Incluído pela Lei nº 11.430/2006)

Observação importante: se for benefício assistencial (BPC, também chamado de LOAS), neste
caso, aplica-se o IPCA-E, conforme decidiu o STF no RE 870947/SE. Portanto, não confunda:
 Benefício previdenciário: INPC.
 Benefício assistencial: IPCA-E.
 
Juros de mora:
 Antes da Lei nº 11.960/2009: 1% ao mês, sujeitos à capitalização simples (art. 3º do DL
2.322/87).
 Depois da Lei nº 11.960/2009: juros da poupança (art. 1º-F da Lei 9.494/97, com a redação
dada pela Lei nº 11.960/2009).
 
Conclusão: Veja a tabela abaixo, que pode ser cobrada nas provas, em especial na fase de sentença:
CONDENAÇÕES RELACIONADAS COM VERBAS DE NATUREZA PREVIDENCIÁRIA
PERÍODOS ENCARGOS
Até a vigência da Juros de mora: 1% ao mês.
Lei 11.430/2006 Correção monetária: de acordo com o Manual de Cálculos da JF.
Depois da Lei 11.430/2006 Juros de mora: 1% ao mês.
e antes da Lei 11.960/2009 Correção monetária: INPC.
Período posterior à Juros de mora: índice de remuneração da caderneta de poupança.
Lei 11.960/2009 Correção monetária: INPC.
 
Atualmente, portanto, as condenações da Fazenda Pública envolvendo verbas previdenciárias
devem obedecer aos seguintes encargos:
 Juros de mora: índice da poupança.
 Correção monetária: INPC.
 
A tese ficou assim redigida:
As condenações impostas à Fazenda Pública de natureza previdenciária sujeitam-
se à incidência do INPC, para fins de correção monetária, no que se refere ao
período posterior à vigência da Lei nº 11.430/2006, que incluiu o art. 41-A na Lei
nº 8.213/91.
Quanto aos juros de mora, no período posterior à vigência da Lei nº 11.960/2009,
incidem segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
22/02/2018 (recurso repetitivo) (Info 620).
 
CONDENAÇÕES JUDICIAIS NA REPETIÇÃO DE INDÉBITOS TRIBUTÁRIOS: Em relação às
condenações judiciais de natureza tributária, é ilegítima a aplicação do art. 1º-F da Lei nº
9.494/97, com redação dada pela Lei nº 11.960/2009, tanto em relação à correção monetária
quanto aos juros de mora.
 
Diante da inconstitucionalidade do art. 1º-F, quais serão os índices de correção monetária e juros
a serem aplicados? Em ações de indébito tributário, a Fazenda Pública deverá pagar suas dívidas
segundo o mesmo índice de juros que utiliza para receber os créditos tributários . Isso se
justifica em razão do princípio da isonomia. Não seria isonômico a Fazenda Pública cobrar os
créditos tributários utilizando um índice e no momento em que tivesse que pagar alguma quantia
ao contribuinte utilizasse outros índices menores, como os da poupança.
 
Em suma:
 Correção monetária e juros de mora: são os mesmos utilizados pelo Fisco para a
cobrança de tributo pago em atraso.
 Se o ente tributante adotar a taxa SELIC para cobrança de seus tributos (ex: União):
neste caso, será adotada também a SELIC para a repetição de indébitos tributários.
Como a SELIC já engloba juros e correção monetária, com a sua incidência fica vedada a
cumulação com quaisquer outros índices.
 Se o ente tributante não tiver uma lei definindo a taxa de juros a ser aplicada na
cobrança de tributos: nesta hipótese, os juros de mora são calculados à taxa de 1% ao
mês.
 
A tese ficou assim redigida:
A correção monetária e a taxa de juros de mora incidentes na repetição de
indébitos tributários devem corresponder às utilizadas na cobrança de tributo
pago em atraso.
Não havendo disposição legal específica, os juros de mora são calculados à taxa de
1% ao mês (art. 161, § 1º, do CTN).
Observada a regra isonômica e havendo previsão na legislação da entidade
tributante, é legítima a utilização da taxa Selic, sendo vedada sua cumulação com
quaisquer outros índices.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
22/02/2018 (recurso repetitivo) (Info 620).
 
QUADRO-RESUMO DA SITUAÇÃO ATUAL:
JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA EM CONDENAÇÕES DA FAZENDA PÚBLICA
MATÉRIA ÍNDICES ATUAIS
Condenações judiciais em • Juros de mora: poupança.
geral (ex: danos morais) • Correção monetária: IPCA-E
Verbas de servidores e • Juros de mora: poupança.
empregados públicos Correção monetária: IPCA-E
• Juros de mora: poupança, capitalizados de forma simples,
correspondentes a:
a) 0,5% ao mês, caso a taxa SELIC ao ano seja superior a 8,5%;
Desapropriação
b) 70% da taxa SELIC ao ano, mensalizada, nos demais casos.
• Juros compensatórios: 1% (capitalização simples)
• Correção monetária: Manual de Cálculos da JF
• Juros de mora: poupança.
Benefícios previdenciários
• Correção monetária: INPC.
• Juros de mora: poupança.
Benefícios assistenciais
• Correção monetária: IPCA-E.
• Se o ente tributante adotar a taxa SELIC para cobrança de seus
tributos (ex: União): neste caso, será adotada também a SELIC
para a repetição de indébitos tributários. Como a SELIC já
engloba juros e correção monetária, com a sua incidência fica
vedada a cumulação com quaisquer outros índices.
Indébitos tributários • Se o ente tributante adotar outro índice diferente da SELIC:
este mesmo índice deverá ser utilizado quando esta Fazenda for
condenada em matéria tributária.
• Se o ente tributante não tiver uma lei definindo a taxa de juros
a ser aplicada na cobrança de tributos: nesta hipótese os juros de
mora são calculados à taxa de 1% ao mês.
 

66.2. Interpretação extensiva do art. 19, § 1º, I, da Lei nº 10.522/2002 – (Info 588)

Aplica-se a dispensa de condenação em honorários advocatícios prevista no art. 19, § 1º, I, da


Lei nº 10.522/2002, na hipótese em que a Fazenda Nacional contesta a demanda, mas, ato
contínuo, antes de pronunciamento do juízo ou da parte contrária, apresenta petição em que
reconhece a procedência do pedido e requer a desconsideração da peça contestatória.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.551.780-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 9/8/16 (Info 588).

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