NOTARIADO
1. O que é a autenticação de documentos? A autenticação de documentos consiste na
confirmação do seu conteúdo perante o notário ou outra entidade que possa exercer essa função notarial,
como o advogado ou o solicitador: artº 150º, nº 1, do C.N. b) Os documentos particulares devem ser
autenticados através da aposição do termo de autenticação (artº 150º, nº 2, do C.N) o qual deve obedecer
aos requisitos e conter os elementos mencionados no 151º do C.N
2. Se numa escritura não ficou mencionado o lugar em que a mesma foi lavrada , o ato
ficou ferido de um vício grave, o qual consiste na nulidade prevista no artº 70º, nº 1, a) do C.N.: “nulidade
por vício de forma”. Esse vício poderia ser sanado, como indica o nº 2 desse artº 70º, nas condições
previstas no nº 7 do artº 132º do C.N. que, em síntese, consistem na possibilidade de, através do contexto
dessa escritura ou de elementos existentes no Cartório, ser possível determinar o lugar da sua
celebração.
3. Diga que tipos de atos notariais existem? Existem os atos lavrados ‘nas notas’, isto é,
nos próprios livros do notário (artº 36º, nº 1 do C.N.) e ‘fora das notas’, isto é, em documento avulso (artº
36º, nº 3 do C.N.). Quanto à espécie documental existem, como refere o artº 35º, nº 1 do C.N., os atos
autênticos, os autenticados e os simplesmente reconhecidos. Autênticos são os elaborados ou exarados
pelo notário, (art.º 35º, nº 2 do C.N.) os autenticados são aqueles em que as partes confirmam o seu
conteúdo perante o notário (art.ºs 35º, nº 3 e 150º do C.N.) e que contêm o ‘termo de autenticação’ (artº
151º, nº 1 do C.N.) e os simplesmente reconhecidos são os que apenas contêm o reconhecimento da
assinatura respetiva numa das modalidades previstas no artº 153º do C.N.
4. Todos os atos lavrados pelo próprio notário são autênticos? Porquê? Todos os atos
lavrados pelo próprio notário são autênticos porque ele goza de ‘fé pública genérica’ e que abrange todo o
seu ‘círculo de atividade’ como resulta do disposto no artº 363º, nº 2 do C.C. Tais atos são mencionados
no artº 36º, nº 2 do C.N.
5. A autenticação de documentos pode ser feita por advogados? A autenticação de
quaisquer atos pode ser feita por advogados, competência essa que lhes foi atribuída pelo artº 38º do
Dec-Lei nº 76-A/2006, de 29 de Março. Nos termos do artigo 150º, nº2 do C.N, verificamos que o ato do
qual consta a autenticação denomina-se ‘termo de autenticação’. Este está sujeito à inserção na base de
dados da O.A. através de registo informático nessa base (imposição da Portaria nº 657-B/2006, de 29/6).
6. Como caracteriza a função notarial especialmente no tocante à elaboração do
documento autentico e ao cumprimento de princípios? A caracterização básica da função notarial- em
especial na elaboração do documento autentico- consiste em assegurar a legalidade dos documentos que
lavra ou autentica e em indignar e interpretar a vontade das partes de modo a que o declarado
corresponde à vontade real das partes e se adeque ao que prevê o ordenamento jurídico (artigo 4º nº1
CN).
7. Quando o outorgante não souber assinar, como proceder? Quando o outorgante não
souber assinar o documento pode ser assinado a rogo, devendo do termo de autenticação constar a
identificação do rogado e a menção de que o rogante confirmou o rogo no ato da autenticação (artº 152º
do C.N.). Identicamente aos reconhecimentos, aplicam-se as regras previstas no artº 154º do C.N
8. Sendo solicitado a um advogado que autentique um documento particular no qual é
formalizado um negócio jurídico nulo, esse advogado deve recusar-se a efetuar tal autenticação? E se o
negócio jurídico for anulável? Em ‘qualquer’ daquelas hipóteses tem de consignar algo na autenticação?
O advogado deve recusar-se a autenticar um ato nulo: artº 173º, nº 1, a) do C.N., (previsto para o notário,
mas também aplicável ao advogado que igualmente pode proceder à autenticação de documentos), mas
nada tem de consignar no documento. Se o ato for anulável o advogado não pode recusar-se a autenticar
o documento (art.º 174º, nº 1, do C.N.), mas deve advertir as partes da existência do vício e consignar no
documento a advertência que tenha feito (art.º 174º, nº 2, do C.N.).
9. Quando se pode dizer que o documento está autenticado? O advogado tem de proceder
a algum registo referente ao documento que autentica? Pode dizer-se que o documento está autenticado
quando as partes confirmam o seu conteúdo perante o advogado (artº 150º, nº 1, do C.N) e tal
confirmação for reduzida a termo (artº 150º, nº 1, do C.N.). O advogado tem de proceder ao registo
informático da autenticação no sítio da Ordem dos Avogados (Portaria nº 657-B/2006, de 29/6).
10. O que são certificados? No seu entender existe alguma semelhança entre os
certificados e as certidões? E entre eles e as públicas formas? Os certificados são documentos autênticos
em que o notário afirma e atesta a existência de determinado facto ou que dele teve conhecimento. Não
há semelhança alguma entre os certificados e as certidões, embora o C.N. inculque o contrário
(nomeadamente na própria epígrafe da Seção IX e no artº 160º). Com efeito, as certidões são cópias (ou
fotocópias) de documentos ‘já existentes’ (mormente no arquivo do cartório), cujo conteúdo é confirmado,
ao passo que os certificados são documentos ‘originais’ que o notário lavra e nos quais consigna diversos
factos (como resulta, em especial, dos art.ºs 161º, 162º. 162º-A e 163º do C.N.).
Assim, pelas referidas razões, não se trata de documentos idênticos. A função das certidões é a
de comprovar a existência e o conteúdo de documentos já existentes e arquivados, enquanto a dos
certificados é a de atestar autenticamente factos novos, presenciados ou averiguados pelo notário.
Noutras legislações denominam-se ‘atas notariais’, o que se afigura uma designação mais apropriada,
precisamente para que o seu nome não se confunda co o de certidão.
11. Nos instrumentos notariais são admitidas a intervir outras pessoas que não os próprios
outorgantes sujeitos da relação jurídica que é titulada nesse instrumento? Como se designam? Devem
ser identificados? Em caso afirmativo poderão desempenhar que espécies de funções? Sim, são
admitidas a intervir pessoas que não os próprios outorgantes do ato. Designam-se como intervenientes
acidentais (Subseção III que antecedo o art.º 65º do C.N.) e devem ser identificados (artº 46º, nº 1, h),
do C.N.).
Podem desempenhar a seguintes espécies de funções: tradutores art.ºs 65º, nºs 1 e 2 do C.N.);
intérpretes de surdos e mudos (art.º66º do C.N.); testemunhas instrumentárias (art.ºs 67º, nº 1, do C.N.);
peritos médicos (art.ºs 67º, nº 4, do C.N.); e abonadores (art.º48º, nº 1, d), do C.N.).
11.1. Quais são as formalidades dos instrumentos notariais? E diga quais as formalidades
relativamente aos documentos em que as partes são representadas? Artigo 46º CN + alínea e)-
representação voluntária (artigo 268º e 269º CC), legal (decorre da própria lei como acontece com os
menores e incapazes- artigo 1878º CC) ou orgânica (artigo 49º CN).
11.2. E nos termos de autenticação podem intervir outras pessoas? Sim, podem intervir os
mesmos “intervenientes acidentais” supra mencionados no artigo 151º nº2 CN.
12. Além das menções gerais que a escritura pública deve contar, haverá algumas outras
que terão de ser aditadas quando é transmitido um imóvel? Artigo 54º e 57º CN.
13. José pretende comprar a Bernardo o prédio “X” que se acha registado a favor de Artur.
O vendedor garante-lhe que é o dono, que comprou o prédio há mais 35 anos, mas já não se lembra onde
foi lavrada a escritura de compra nem encontrou qualquer documento relativo a essa compra.
13.1. Se o José lhe pedisse para lavrar o documento de compra a Bernardo que lhe diria?
Dir-lhe-ia que o documento da compra não podia ser lavrado sem que previamente o prédio “X” fosse
registado a favor de Bernardo como indica artº 54º, nº 2 do Código do Notariado (C.N.), salvo se pudesse
ocorrer uma das excepções previstas no no nº 3 do mesmo artigo ou no artº 55º desse Código.
13.2. Que atos podem ou devem ser praticados? Porquê? Os atos que devem ser praticados
são os necessários para que o prédio fique registado a favor de Bernardo e podem consistir ou na
apresentação do documento de aquisição do Bernardo ao Artur ou, se esse documento não for
encontrado ou não existir, na possibilidade de ser lavrada uma escritura de justificação notarial. Isto
porque é necessário dar cumprimento ao princípio da legitimação dispositiva previsto no citado artº 54º, nº
2, do C.N. (e 9º do C.R.P.).
14. Numa escritura feita no mês passado não ficou mencionado o lugar em que a mesma foi
lavrada. Esse ato ficou ferido de algum vício? Qual? Se sim, pode ser sanado? Se numa escritura não
ficou mencionado o lugar em que a mesma foi lavrada, o ato ficou ferido de um vício grave, o qual
consiste na nulidade prevista no artº 70º, nº 1, a) do C.N.: “nulidade por vício de forma”. Esse vício
poderia ser sanado, como indica o nº 2 desse artº 70º, nas condições previstas no nº 7 do artº 132º do
C.N. que, em síntese, consistem na possibilidade de, através do contexto dessa escritura ou de
elementos existentes no Cartório, ser possível determinar o lugar da sua celebração.
REGISTO CIVIL
1. Quais as espécies de atos de registo civil e quando têm lugar? São os assentos e os
averbamentos (artigo 50º nº1 CRC). Os assentos podem ser lavrados por inscrição nos casos do artigo
52º ou lavrados por transcrição nos casos do artigo 53º CRC. Os averbamentos têm lugar quando deve
ser registada alguma alteração ao conteúdo dos assentos, incluindo o seu cancelamento (artigo 68º
CRC).
2. (A) e (B) pretendem casar mas vêm a saber que são tio e sobrinha. O que têm de fazer?
Existe entre eles um impedimento impediente e, por isso, se pretendem casar devem solicitar dispensa
desse impedimento através do processo do artigo 253º e 254º CRC.
2.1. E se nada fizerem e (C), na pendencia do processo preliminar, comunicar tal parentesco
à conservatória? O que acontece? Há lugar a processo de impedimento previsto no artigo 245º a 252º
CRC.
3. Imagine que no assento de nascimento de Maria Armanda, ficou a constar que era do
sexo masculino quando, através do próprio nome se vê que era do sexo feminino:
Quando estamos perante um caso como o mencionado em cima, estamos perante um erro
(grosseiro) que não suscita dúvidas quanto à identidade da pessoa registada, tanto mais que esse
assento foi lavrado recentemente. Assim, para retificar o erro, não haverá lugar à retificação judicial
prevista no artº 94º do Código do Registo Civil, sendo possível a retificação administrativa presente nos
termos do artº 93º do mesmo Código.
Quando o conservador se apercebeu desse erro, do qual se vê que foram os serviços os
responsáveis, deve-se promover oficiosamente a instauração da retificação (artº 92º, nº 2 CRC). Os
passos necessários a percorrer consistem no levantamento de um “auto de notícia”, no qual o
conservador identifica o erro, a fim de, com base nesse auto apresentassem se instaurasse o competente
processo de justificação administrativa (artº 242º, nº 1, do C.R.C.)
4. Imagine que Eduardo e Gabriela têm um filho e querem divorciar-se por mútuo
consentimento, o que devem fazer?
Devem fazer um requerimento, subscrito por ambos ou por seus procuradores, no qual solicitem
a instauração do processo, e apresentá-lo numa conservatória do Registo Civil.
Como têm um filho menor devem obter o documento (certidão) da decisão judicial que tiver
regulado o exercício das responsabilidades parentais ou homologado o acordo respetivo: artº 272º, nº 1,
c), do C.R.C.
Além disso, devem ainda juntar os documentos referidos nas alíneas b), d) e f) daquele nº 1 do
artº 272º, mas, quanto a estes, podem solicitar que sejam elaborados na conservatória (nº 2 do artº 272º).
Contudo, quanto ao da alínea e), se for o caso, devem também juntá-lo.
5. Presunção paternidade de filho de mulher casada ? Nos termos do disposto na lei civil,
presume-se que o marido de mulher casada é o pai do filho nascido na constância do matrimónio.
Todavia, se ao fazer a declaração de nascimento a mãe declarar que o registando não é filho do marido,
não fica a constar do assento a menção da paternidade presumida (artº 119º, nº 1, do C.R.C.). Contudo,
também não fica a constar a menção da paternidade indicada pela mãe, salvo se a pessoa que afirma ser
o pai reconhecer voluntariamente tal paternidade ou, então, se tiver havido reconhecimento judicial (artº
120º do C.R.C.). Consequentemente, não pode essa pessoa - Abel Silva Costa – que não está presente
ficar indicada no assento como sendo o pai.
Quanto ao nome próprio do registando e aos apelidos também não podem ficar mencionados os
que a mãe pretende, visto que o nome próprio não pode conter 3 vocábulos (só pode conter 2) e os
apelidos são escolhidos entre os que pertençam a ambos ou a um só dos pais e o referido Abel Silva
Costa ainda não está reconhecido como pai. (artº 102º, nº 2, e nº 2, e), do C.R.C.).
6. Em que consiste o princípio da ‘eficácia absoluta’ do registo civil? No seu entender
existem princípios de registo civil que estão enunciados do Código do Registo Civil e outros que o não
estão? Quais e em que consistem? – o princípio da eficácia absoluta do registo civil está consagrado no
artº 2º do C.R.C. e consiste no postulado segundo o qual os factos sujeitos a registo obrigatório não
poderem ser invocados, salvo disposição em contrário, se não estiverem registados.
Os princípios que vêm enunciados no C.R.C. estão referidos nos art.ºs 1º, 2º, 3º e 4º. Contudo,
há outros que não estão expressamente enunciados no Código, mas resultam das disposições nele
contidas. De entre estes, os principais são: o de legalidade, o da instância verbal, o da atualização
oficiosa e o da gratuitidade.
7. O menor Manuel Sousa Oliveira foi adotado plenamente por José Correia e Helena
Azevedo e o tribunal comunicou este facto à conservatória, referindo que os apelidos do menor ficariam a
ser ‘Azevedo Correia’. Que ato ou atos deve a conservatória praticar? A conservatória deve averbar ao
assento de nascimento desse menor a adoção plena (artº 69º, nº 1, d) do C.R.C.). Além disso, no
averbamento de adoção deve também ser referenciada a alteração do nome, a qual nenhuma dúvida
suscita, quer pela própria mudança de nome em si mesma (artº 104º, nº 2, a) do C.R.C.), quer pela
admissibilidade dos apelidos dos adotantes. Estes factos averbados podem ser integrados no próprio
texto do assento, dando lugar à realização de novo assento de nascimento (artº 123º, nº 1, do C.R.C.).
8. O assento de nascimento desse menor deve ser cancelado? Porquê? Em princípio,
quando é feito um novo assento o anterior deve ser cancelado, por ficar duplicado com o novo (art.ºs 91º,
nº 1, c) e 123º, nº 3, do C.R.C.). No entanto, no caso de adoção plena tal não pode ser feito (artº 123º, nº
3, in fine, do C.R.C.) porque não deve deixar de poder sempre ser averiguada (embora secretamente) a
origem biológica do registado, mormente para, em caso de casamento, se saber se existe o impedimento
de parentesco.
10.1 O conservador, que aliás considera estes nubentes credíveis, poderá realizar de
imediato o casamento depois de alegado que um dele não dissolveu casamento anterior ? Porquê? Não
haveria possibilidade de estes nubentes casarem sem que tivesse sido instaurado o processo preliminar?
Não. O conservador, apesar de considerar os nubentes credíveis e o denunciante malévolo, não pode
realizar de imediato o casamento, isto porque, porque foi participada a existência de um impedimento
relativamente a um casamento anterior não dissolvido que obsta à, deste modo à celebração do
casamento.
Tendo em conta isto, o assunto deve de ser averiguado e decidido num processo próprio, ou seja, no
caso deve ser averiguado no processo de impedimento do casamento (art.ºs 245º a 253º do C.R.C.). Por
conseguinte, só se nesse processo se concluir que não existiu casamento anterior e, portanto, inexiste o
citado impedimento, é que o conservador pode realizar o casamento. Contudo, se porventura houvesse
motivo legal para ser celebrado um casamento urgente é que o casamento podia ser celebrado sem
precedência de processo preliminar. Contudo, essa não seria ‘solução’, visto que, depois da celebração
tal processo teria de ser instaurado (artº 159º, nº 1 do C.R.C.) e, caso nele se concluísse que havia o
referido impedimento, o casamento não poderia ser homologado (artº 160º, nº 1, c) do C.R.C.).
9. Se encontrar um recém-nascido abandonado, em termos de registo civil, o que tem de
fazer? E tendo sido possível identificar o pai, mas ainda não a mãe, o que deve ser feito? Se alguém
encontrar um recém-nascido abandonado deve apresentá-lo de imediato -no prazo máximo de 24 horas-,
e com todos os objetos e roupas de que seja portador, à autoridade administrativa ou policial que primeiro
encontre, visto que é a essa autoridade que compete promover o respetivo registo de nascimento (artº
106º, nº 1 do C.R.C.). Sabendo-se a identidade do pai, o auto de ocorrência, que é obrigatoriamente
levantado, devê-lo-á referir, uma vez que é um elemento muito relevante para a pretendida identificação
do abandonado (art. 106º, nº 2 do C.R.C.). Como não se sabe quem é a mãe, quando for lavrado o
assento de nascimento do abandonado a conservatória tem obrigação de remeter ao tribunal certidão de
cópia integral do assento de nascimento, a fim se se proceder à averiguação oficiosa da maternidade (artº
116º e arts. 115º, nº 1 e 117º do C.R.C.).
REGISTO PREDIAL
1. O que é a apresentação?
A apresentação consiste na entrega dos documentos e do pedido de registo a fim de serem
anotados no “diário”: artº 60º, nº 1, do Código do Registo Predial. A apresentação tem o efeito de
comprovar quais os documentos que foram apresentados e de fixar o número de ordem, a data e a hora
rigorosa em que os mesmos foram entregues (apresentados): artº 61º, nº 1, a) do C.R.P.. Esta
determinação tem o fundamental efeito de fixar a prioridade do registo (artº 6º do C.R.P.). A apresentação
não pode ser recusada, mas pode ser rejeitada apenas em determinados casos referidos no artº 66º, nº 1,
do C.R.P.
2. Em que consiste o principio da legitimação dispositiva? Consiste na regra segundo a
qual para alguém poder dispor de um prédio ou onera-lo deve demonstrar que tem o registo definitivo feito
a seu favor (artigo 9º CRP). Este principio visa o cumprimento da idêntica regra do direito substantivo:
ninguém pode dispor de mais direito do que aquele que tem. Este principio tem algumas exceções no
artigo 9º nº2 e nº3 CRP porém não são consideradas verdadeiras exceções uma vez que não impedem o
seu cumprimento.
3. O princípio do trato sucessivo é um dos princípios de registo que se acha consagrado
no Código do Registo Predial. Em que consiste e quais as ‘modalidades’ desse princípio? O princípio do
trato sucessivo consiste na regra segundo a qual o direito do adquirente tem de se basear no do
transmitente e no caso de constituição de encargos exige que os bens estejam registados em nome de
quem onera ou contra quem se pretende inscrever o encargo (artº 34º do C.R.P.). As modalidades
essenciais deste princípio referem-se à da inscrição prévia (que tem lugar quando sobre o prédio ainda
não incide qualquer inscrição de aquisição) e à das inscrições subsequentes (e que alguns autores
consideram ser realmente o princípio do trato sucessivo) no caso de haver, em vigor, uma anterior
inscrição de aquisição.
4. Como se interpreta a parte final do nº 4 do artº 34º do C.R.P. quando diz: “salvo se o
facto for consequência…”? A parte final do nº 4 do artº 34º do C.R.P. interpreta-se como uma confirmação
deste princípio, visto sendo o ato a registar consequência de outro anteriormente registado, o trato
sucessivo radica nesse outro ato, do qual ele é consequência. Trata-se da produção do denominado
‘efeito real’ do registo.
5. Com que fim foram instituídas as justificações? As justificações foram instituídas com o
fim de mais facilmente se poder dar cumprimento ao princípio do trato sucessivo quando existe o direito
na esfera jurídica do interessado, mas este não possui documento que o possa comprovar. A justificação
visa que possa obter essa prova documental, para que possa promover a feitura do registo.
6. A celebrou com B um contrato pelo qual lhe transmitiu a propriedade do prédio X, mas
como era dono de um outro prédio – o prédio Y – que ficava sem qualquer ligação com a via pública, ao
efetuar a venda e no respetivo documento, constituiu uma servidão de passagem através da extrema
nascente do prédio que vendia. B formulou o pedido de registo de aquisição a seu favor, mas declarou
expressamente que apenas pretendia registar essa aquisição e se opunha a que fosse lavrado qualquer
outro registo. Como deve proceder a conservatória? Porquê? A conservatória tem de proceder ao registo
do outro ato titulado – o da servidão de passagem - e que foi constituído simultaneamente com o da
aquisição (artº 97º, nº 1, do C.R.P.). O requerente não pode opor-se à feitura do registo desse outro ato,
visto que a conservatória o tem de lavrar oficiosamente (citado artº 97º, nº 1). Trata-se de uma regra geral
designada como ‘inscrição cumulativa necessária’ que visa respeitar a integral ‘verdade do contrato’.
7. Em determinada conservatória foi recebida a comunicação eletrónica pela qual se
solicitava que fosse efetuado o registo de penhora do prédio X, declarando-se que era executado o
Senhor Rui Abreu. A conservatória verificou que a propriedade desse prédio se encontrava registada a
favor de Fernando Sampaio. Pergunta-se: Como deve ser qualificado esse pedido de registo? Deve ser
qualificado como provisório por natureza nos termos da alínea a) do nº 2 do artº 92º do C.R.P.
7.1. Na sequência da qualificação deve a conservatória adotar algum procedimento
especial? A conservatória deve proceder à imediata comunicação judicial daquele facto, a fim de o titular
inscrito ser citado para no prazo de 10 dias declarar se o prédio lhe pertence (artº 119º, nº 1, do C.R.P.).
8. No caso daquele Fernando Sampaio vir declarar que conserva a propriedade do prédio,
que é seu, pode haver lugar a algum procedimento judicial e, em caso afirmativo, quais as consequências
que a respetiva decisão tem para o registo da penhora? Pode o exequente intentar uma ação declarativa -
ou seja, socorrer-se dos “meios processuais comuns” a que se refere o nº nº 4 do artº 119, do C.R.P. - a
qual, sendo anotada à inscrição da penhora, prorroga o respetivo prazo de vigência. Se o exequente
obtiver ganho de causa, no sentido de ficar demonstrado que o prédio é do executado, o registo é
convertido em definitivo se a respetiva conversão for pedida no prazo de 10 dias a contar do trânsito em
julgado da ação. Se essa demostração não for feita, o registo provisório da penhora caduca (nºs 5 e 6 do
artº 119º do C.R.P.).
9. B vende a C imóvel penhorado. Mesmo imóvel é vendido em sede de processo
executivo a D. D quer registar, mas o bem esta em nome de C que já tinha registado. O funcionário diz a
D que o registo é a seu favor.
O funcionário da conservatória respondeu bem? Porquê? Não. O funcionário da conservatória respondeu-
lhe mal. Porque, a penhora estava registada antes da venda que o Alberto fez ao Bernardo e do
correspondente registo. Ora, tal venda é ineficaz relativamente à execução e o C.R.P. contempla esta
situação na ressalva feita na parte final do nº 4 do artº 34º: a aquisição do Carlos é consequência do outro
ato – a penhora – anteriormente inscrito ingressa definitivamente no registo.
9.1. Que princípio de registo está em causa nesta questão? Está em causa o princípio do
trato sucessivo contemplado no artº 34º: do C.R.P. e o ‘efeito real’ previsto naquela parte final do nº 4
desse artº 34º.
9.2. No caso de o Bernardo ter apenas, naquela data, celebrado e registado um contrato-
promessa de compra e venda com o Alberto esse registo de aquisição era vigente? E a situação do
Carlos seria outra - O registo dessa aquisição por contrato-promessa já teria caducado. Com efeito, seria
provisório por natureza nos termos da al. g) do nº 1 do artº 92º do C.R.P. e o seu prazo de caducidade é
de seis meses (artº 11º+, nº 3, do C.R.P) e, embora pudesse ter sido renovado, a verdade é que não se
diz que o tivesse sido. De qualquer modo, ainda que o tivesse sido, a situação era igual, visto que o
registo a favor do Carlos seria também definitivo.
10. Da ficha de registo referente ao prédio “Y” constam os seguintes registos:
1 – Nº 1: Aquisição a favor de Artur;
2 – Nº 2 - Acão movida por Bento na qual este pede o reconhecimento do direito de
propriedade a seu favor;
3 – Nº 3 - Aquisição provisória por natureza (al g) do nº 1) a favor de Conceição por
promessa de compra a Armando;
4 – Av. nº 1 à inscrição nº 2: Cancelada (pela decisão final que julgou improcedente a
ação).
10.1. Parece-lhe que a qualificação da inscrição nº 3 está correta? Porquê? a qualificação da
inscrição nº 3 não está correta. Com efeito, ela é provisória por natureza nos termos da al g) do nº 1, mas
também nos termos da al b) do nº 2 do mesmo artº 92º do C.R.P., visto que a ‘sorte’ da sua vigência
depende da circunstância de a ação (inscrição nº 2) ser, ou não, julgada procedente. Logo é provisória
por natureza por esses dois motivos.
10.2. Tendo Bernardo feito a escritura de compra a Armando, pode pedir a conversão em
definitiva da inscrição nº 3? Porquê? Pode, em princípio, porque a improcedência da ação anteriormente
registada origina a conversão do registo dependente: a inscrição nº 3. Contudo como esta também é
provisória por outra razão (al. g) do nº 1) pode ter caducado por essa razão se a inscrição não tiver sido
renovada (artº 92º, nº 6, do C.R.P.)
11. Imagine que a sociedade comercial “TAG, Ld.ª”, proprietária do prédio Z, onde possuía
a ‘fábrica de tecidos A.B.C.’, negociou com o Banco Y um financiamento em que o Banco a autorizava a
emitir cheques ‘a descoberto’ até ao montante de 80.000.00 € mediante o pagamento do juro de 7%,
elevável em mais 2% no caso de mora e ainda com a cláusula penal que foi fixada em 5.000,00 €. Aquela
sociedade TAG, Ld.ª” constituiu hipoteca a favor do Banco sobre o prédio Z e sobre a fábrica, com todo o
seu equipamento. Pergunta-se: Que requisitos especiais deve conter a inscrição de hipoteca? Na
resposta indique também os montantes concretos que têm de figurar na inscrição. A inscrição de hipoteca
deve conter os requisitos especiais indicados no art.º 96º, nº 1, do C.R.P., a saber: O fundamento é a
‘abertura de crédito’. Com efeito, o Banco abriu à Sociedade um crédito autorizando-a a emitir cheques ‘a
descoberto’ até ao montante de 80.000.00 €. O crédito é no referido montante de 80.000.00 €., com os
seguintes acessórios: juro de 7%, que é elevável em mais 2% no caso de mora e cláusula penal de
5.000,00 €. O montante máximo assegurado é de 106.600,00 € que corresponde à soma do capital de
80.000.00 €., acrescido dos juros de 3 anos a 9% (7% mais 2%) perfazendo, pois, 21.600,00€ e ainda da
cláusula penal de 5.000,00 €. Como se trata de uma hipoteca sobre a ‘fábrica de tecidos A.B.C.’ a
inscrição deve ainda referir o inventário de onde constem os maquinismos e os móveis afetos à
exploração industrial dessa fábrica (art.º 96º, nº 1, b) do C.R.P.)
12. Sobre o prédio “X” incidem as seguintes inscrições:
1º: em 2010: aquisição a favor de Alberto
2º: em 2013: aquisição a favor de Bernardo.
3º: O solicitador de uma execução em que é executado aquele Alberto fez agora uma comunicação
eletrónica para o registo de uma penhora sobre esse prédio.
Pode este registo ser feito definitivamente? Porquê? Se entender que não, como entende que deve ser
qualificado? O registo não pode ser feito definitivamente porque neste momento o prédio se acha
registado a favor de Bernardo, ou seja, de pessoa diversa daquela contra quem é constituído o encargo (o
Bernardo não intervém na execução), não se cumprindo o princípio do trato sucessivo: artº 34º, nº 4, do
C.R.P. Por isso, e porque o caso está legalmente previsto, o ato deve ser qualificado como provisório por
natureza: artº 92º, nº 2, a), do C.R.P
Qual é o princípio que lhe parece estar aqui em causa? E qual o efeito que visa salvaguardar? Pode ser
desencadeado algum procedimento- e qual- para “sanar” o eventual incumprimento desse princípio? Está
aqui em causa o referido o princípio do trato sucessivo (artº 34º do C.R.P.). O efeito fundamental que este
princípio visa salvaguardar é o de que o direito tem de existir na esfera jurídica de quem transmite, ou
onera, ou é onerado com o encargo. O procedimento que deve ser desencadeado é o previsto no artº
119º do C.R.P. para que, através dos sucessivos passos previstos nos consecutivos números nele
previstos, se verifique o cumprimento ou incumprimento daquele princípio.
13. Sobre o prédio “Y” foram sucessivamente lavradas as seguintes inscrições:
1º: Aquisição a favor de António.
2º: Aquisição provisória por natureza (alínea g) do nº 1) a favor de Bernardo
3º: Aquisição a favor de Carlos
4º: Ação provisória por natureza (alínea a) do nº 1 e alínea b) do nº 2) movida por Carlos contra Bernardo
pedindo que seja declarado nulo o contrato-promessa (a que respeita a inscrição supra, nº 2).
Considera que a qualificação do registo feito sob o nº 4 está correta? Porquê? A qualificação do registo
feito sob o nº 4 está correta porque, como o preceito indica, qualquer ação é provisória por natureza nos
termos alínea a) do nº 1 do artº 92º do C.R.P. Mas, no caso, além dessa provisoriedade própria de
qualquer ação, verifica-se ainda que o demandado é um titular anterior provisoriamente inscrito, pelo que
“a sorte” da ação também está dependente da eventual caducidade desse registo (nº 2), Ora, este é o
pressuposto da provisoriedade prevista na alínea b) do nº 2 do artº 92º do C.R.P.
O registo a favor de Carlos está bem qualificado? Porquê? O registo a favor de Carlos não está bem
qualificado, porque existe registada anteriormente a aquisição provisória por natureza a favor de
Bernardo. Ora, se a promessa de alienação for cumprida por António e este registo (nº 2) for convertido
em definitivo, o Carlos nunca poderia ter o registo a seu favor feito definitivamente, por incumprimento do
princípio do trato sucessivo (artº 34º do C.R.P.).
Se ao registo feito sob o nº2 vier a ser anotada a sua caducidade deve haver alguma consequência no
que toca à inscrição lavrada sob o nº 4? Qual? Há consequência, visto que, se ao registo feito sob o nº 2
vier a ser anotada a sua caducidade, a inscrição lavrada sob o nº 4 deixará de ser provisória por natureza
nos termos da alínea b) do nº 2), dado que a caducidade daquele registo fez cessar (quanto à ação) a
dependência dele: nº 6 do artº 92º do C.R.P. Ficaria provisório por natureza apenas nos termos da alínea
a) do nº 1.
REGISTO COMERCIAL
1. Há algum dos princípios do registo que legislador tenha considerado ser aplicável aos
registos por deposito? E concorda? Salvo no tocante ao princípio da instância- que também não se traduz
num pedido, mas na mero envio de documentos-, não há os essenciais princípios de registo, próprios do
registo comercial, que o legislador tenha considerado aplicáveis aos registos por depósito: art.ºs 11º e 47º
do Código do Registo Comercial (“a contrario”).
Não concordo, porque tais registos por depósito deixam de ter o efeito presuntivo próprio dos
registos (que “valem” essa designação) e também qualquer valor autêntico, visto que nem a legalidade,
nem a validade dos atos é examinada e, assim, os atos podem ser inválidos e estar registados: citados
art.ºs 11º e 47º “a contrario".
2. As inscrições em registo predial e igualmente em registo comercial podem, quanto à sua
espécie, ser qualificadas como inscrições provisórias por natureza ou inscrições provisórias por dúvidas.
Diga em que casos são provisórias por natureza e em que casos são provisórias por dúvidas. São
provisórias por natureza quando o motivo da provisoriedade estiver previsto e tipificado na lei (no caso do
C.R.P. estão-no no artº 92º) e são provisórias por dúvidas quando não estiverem, mas, por outro lado,
exista motivo que impeça que o ato seja registado ‘tal como é pedido’ e tal impedimento não seja motivo
de recusa (como esclarece o artº 70º do C.R.P.).
3. Os atos de registo-tanto no registo predial como no comercial- podem, designadamente,
ser lavrados: a) por inscrição ou transcrição; ou, b) por averbamento. Diga quando devem ser lavrados do
modo indicado na alínea a) e quando o devem ser do modo indicado na alínea b). Os atos de registo
devem do modo indicado na alínea a) quando se pretende registar uma nova situação jurídica sujeita a
registo e do modo indicado na alínea b) quando se pretende completar, atualizar ou restringir a situação
jurídica já inscrita. (art.ºs 91º, nº 1 e 100, nº 1 do C.R.P. e similares disposições do C.R.Com.)
4. Há algum dos “princípios de registo” que o legislador tenha considerado ser aplicável
aos registos por depósito? E concorda? Porquê? Salvo no tocante ao princípio da instância - que também
não se traduz num pedido, mas na mero envio de documentos -, não há os essenciais princípios de
registo, próprios do registo comercial, que o legislador tenha considerado aplicáveis aos registos por
depósito: art.ºs 11º e 47º do Código do Registo Comercial (“a contrario”). Não concordo, porque tais
registos por depósito deixam de ter o efeito presuntivo próprio dos registos (que “valem” essa designação)
e também qualquer valor autêntico, visto que nem a legalidade, nem a validade dos atos é examinada e,
assim, os atos podem ser inválidos e estar registados: citados art.ºs 11º e 47º “a contrario”