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CIAM

Os CIAM (Congressos Internacionais da Arquitetura Moderna) promoveram a arquitetura moderna racional e funcional entre 1928-1959. A Carta de Atenas de 1933 estabeleceu princípios urbanísticos funcionais que influenciaram muito o desenvolvimento de cidades. Posteriormente, os CIAM questionaram o modelo racionalista rigidamente funcional proposto inicialmente.
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Os CIAM (Congressos Internacionais da Arquitetura Moderna) promoveram a arquitetura moderna racional e funcional entre 1928-1959. A Carta de Atenas de 1933 estabeleceu princípios urbanísticos funcionais que influenciaram muito o desenvolvimento de cidades. Posteriormente, os CIAM questionaram o modelo racionalista rigidamente funcional proposto inicialmente.
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HISTÓRIA DA ARQUITECTURA

CONTEMPORÂNEA

Prof: Domilde Pombal


2018
Os CIAM
Os Congressos Internacionais da Arquitetura Moderna (do francês Congrès
Internationaux d'Architecture Moderne ou simplesmente CIAM) constituíram uma
organização e uma série de eventos organizados pelos principais nomes da
arquitetura moderna internacional a fim de discutir os rumos a seguir nos vários
domínios da arquitetura (Paisagismo, Urbanismo, Exteriores, Interiores,
Equipamentos, Utensílios, entre outros).

Fundados em 1928 na Suíça, os CIAM foram responsáveis pela definição daquilo que
costuma ser chamado international style: introduziram e ajudaram a difundir uma
arquitetura considerada limpa, sintética, funcional e racional.
Os CIAM consideravam a arquitetura e urbanismo como um potencial instrumento
político e econômico, o qual deveria ser usado pelo poder público como forma de
promover o progresso social.

Talvez o produto mais influente dos CIAM tenha sido a Carta de Atenas, escrita por Le
Corbusier baseada nas discussões ocorridas na quarta conferência da organização. A
Carta praticamente definiu o que é o urbanismo moderno, traçando diretrizes e
fórmulas que, segundo seus autores, são aplicáveis internacionalmente.

A Carta considerava a cidade como um organismo a ser planeado de modo funcional e


centralmente planeada, na qual as necessidades do homem devem estar claramente
colocadas e resolvidas.
Entre outras propostas revolucionárias da Carta está o de que todo a propriedade de
todo o solo urbano da cidade pertence à municipalidade, sendo, portanto público.

Os CIAM – Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna – constituíram,


segundo definição do José Luis SERT por ocasião do VIII Congresso, um fórum de
constante debate sobre vários temas relacionados à questão da arquiteturae da
urbanística. Estabelecidos em 1928 (FRAMPTON, 1986. p.318), os CIAM
organizaram-se em grupos de trabalho. Cada Congresso elegia um tema para o
Congresso seguinte.

“Os grupos preparam um trabalho sobre tal tema. Esses trabalhos constituem a base
sobre a qual se desenvolvem os debates que darão como resultado um documento no
qual os CIAM expressam suas opiniões em forma de constatações e resoluções que
servirão de diretrizes para os diferentes grupos. Os CIAM não têm grupos nacionais,
pois não acreditam atualmente nesta classificação arbitrária no que se refere ao
trabalho de arquitetos e urbanistas. Não há limitação do número de grupos, a
contribuição para os Congressos em forma de trabalho é a condição de admissão. Os
CIAM admitem somente uma participação ativa; isto limita automaticamente o número
de participantes de cada congresso.” (ROGERS, SERT,TYRWHITT, 1955).
A contribuição dos CIAM foi fundamental para o desenvolvimento da crítica sobre a
produção arquitetónica, especialmente da primeira metade do século XX, em seus
aspetos artístico, estético, Sociológico e econômico, entre outros. Além disso, o
debate conduzido pelos CIAM não se restringiu a abordar a “arquitetura” entendida
como “edificação”; ao contrário, contemplou um abrangente espectro de elementos
das artes aplicadas (entre as quais Ernesto Nathan ROGERS incluía a arquitetura):
“da criação de uma colher até a de uma cidade” (ROGERS, 1965. p.95), “da torneira à
urbanização de toda uma região” (GIEDION, s.d. p.30).

Fundamentalmente sustentando que a arquiteturadeveria estar comprometida com as


condições sociais e econômicas da época, os CIAM rejeitavam, portanto, os métodos
artesanais de produção, buscando ao invés disso o emprego universal demétodos de
produção racionalizados. Com isto procuravam o barateamento da habitação e um
Planeamento econômico capaz de tornar mais eficiente e lucrativa a indústria da
construção civil.

Estavam orientados para a satisfação das necessidades de racionalidade técnica e


econômica da sociedade da época, mas principalmente eram guiados por um ideal
estético mais amplo, que envolvia a pesquisa de novas linguagens plásticas,
coerentes com as possibilidades técnicas à disposição, e que rompesse com a
linguagem acadêmico historicista associada aos métodos
artesanais de construção.

Os arquitetos que comandaram o Movimento Moderno no âmbito dos CIAM fizeram


recorrentes e veementes críticas ao “gosto dominante”, expressão empregada por eles
para designar a preferência pelos estilos ecléticos do século XIX e início do XX
(FRAMPTON, 1986. p.318).

De fato, uma das principais premissas teóricas do Movimento Moderno era, através do
seu trabalho, atender às necessidades humanas de maneira abrangente, e isso
implicava o arquiteto projetar sendo capaz de lidar ao mesmo tempo com questões
que não se limitavam à unidade de habitação (a casa), e tampouco às questões de
“gosto” ou “estilo” (pois essa atitude teria sido responsável por fazer os arquitetos se
afastarem das reais condições da sociedade industrial, limitando sua atuação aos
exercícios de composição de fachadas).
Assim, os arquitetos modernos foram convencidos, pelos mestres do Movimento
Moderno, a crer que a sua atuação não podia se dissociar das condições sociais e
morais da época.
Evocando William MORRIS e elogiando a dedicação daquele à causa da valorização
das artes aplicadas, Giancarlo DE CARLO refere-se à arquitetura como uma missão,
introduzindo nela um fundamento ético:
“Morris, ensinando que a arquitetura não pode se dissociar das condições sociais e
morais da época à qual pertence, restitui ao arquiteto a consciência de sua missão
entre os homens. Com seu trabalho e com o exemplo de sua vida mostrou como era
necessário para quem queria construir para o homem, estar próximo do homem,
participar dos seus problemas e de suas aventuras, lutar ao seu lado para a satisfação
das suas necessidades morais e materiais” (DE CARLO, 1947) necessário para quem
queria construir para o homem, estar próximo do homem, participar dos seus
problemas e de suas aventuras, lutar ao seu lado para a satisfação das suas
necessidades morais e materiais” (DE CARLO, 1947). De acordo com os temas que
dominaram os encontros, FRAMPTON e outros historiadores dividem os CIAM em três
fases, segundo os temas dominantes das discussões de cada 5 encontro:

1928-1933 (pesquisa para a habitação mínima),


1933-1947 (urbanística e racionalismo) e 1947-1959
(revisão do ideário racionalista). 1a . fase (I CIAM, 1928, La Sarraz, Suíça; II CIAM,
1929, Frankfurt; III CIAM, 1929, Bruxelas): segundo FRAMPTON, os quatro primeiros
congressos de arquitetura moderna foram dominados pelas ideias dos arquitetos de
língua germânica de tendência política socialista e defensores da nova objetividade
(Neue Sachlichkeit), voltados para a discussão da habitação mínima (Die Wohnung für
das Existenzminimum) e da pesquisa da racionalização da construção (Rationelle
Bebauungsweisen). Ocupando-se com a otimização dos modos de dispor os volumes
arquitetônicos e da escolha de materiais e processos construtivos mais eficientes,
estes congressos foram os mais dogmáticos. (FRAMPTON, 1982. p.319).
2a . fase (IV CIAM, 1933, Marselha e Atenas; V CIAM, 1937, Paris): Neste período os
CIAM concentraram-se na questão urbanística, diferentemente do período anterior
quando se analisou a unidade habitacional. Com base na análise exaustiva de trinta e
quatro cidades européias, formulou-se ao final do congresso um conjunto de cento e
onze proposições, a Carta de Atenas (1933), que abordava a cidade enquanto
organização de categorias funcionais: habitação, lazer, trabalho, circulação e
patrimônio histórico. Trinta anos depois, Reyner BANHAM se referiria à Carta como
“documento mais olímpico e retórico produzido pelos CIAM”, com “ar de aplicabilidade
universal (...) no qual reconhecemos somente a expressão de uma preferência
estética” (BANHAM citado em FRAMPTON, 1986. p.319).

Tanto BANHAM como FRAMPTON reconhecem que o poder doutrinário da Carta foi
enorme. Seu tom era universalista e generalizante, pois com isso se pretendia a
aplicabilidade em qualquer situação. Propondo um modelo urbanístico único,
composto por grandes blocos habitacionais generosamente distanciados, a Carta teve
ainda a capacidade de paralisar as pesquisas sobre qualquer outra forma de
habitação, segundo BANHAM, empobrecendo as futuras pesquisas sobre habitação.
Contudo, em breve o modelo racionalista viria a ser questionado e avaliado. Já no
congresso em Paris (1937) se levantou o problema do impacto das estruturas
históricas sobre as cidades, assim como as influências regionais (FRAMPTON, 1986).
3a . fase (VI CIAM, 1947, Bridgewater, Inglaterra; VII CIAM, 1949, Bérgamo; VIII
CIAM, 1951, Hoddesdon, Inglaterra; IX CIAM, 1953, Aix-em-Provence; X CIAM, 1959,
Dubrovnik): Os congressos, que passaram a contar com a numerosa presença de
arquitetos das novas gerações, assumem um caráter menos dogmático.

O grupo inglês MARS, desta nova geração, propõe para tema central do VIII CIAM o
“core” (coração, centro, núcleo) da cidade, numa clara demonstração de insatisfação
com o árido modelo urbanístico funcionalista. Coloca-se em dúvida a eficácia do
modelo urbanístico funcionalista, e do próprio racionalismo arquitetónico: a velha
geração dos CIAM (LE CORBUSIER, ROGERS, SERT, Walter GROPIUS) o faz de
forma retórica, apresentando propostas e projetos que, no entanto, continuam
permeadas pelo ideário racionalista. Já a nova geração contribui com novas idéias e
projetos, nos quais se esboçam tentativas de romper com o modelo racionalista:
enquanto parâmetros para intervenções no espaço urbano, as quatro funções da Ville
Radieuse cedem lugar a categorias fenomenológicas presentes na estrutura urbana:
família, casa, rua, bairro, cidade (Alison e Peter SMITHSON)1 .

A cultura e a história passam a ser contemplados nos seus projetos (MILANESI,


1999). Particularmente o VIII CIAM constituiu o ponto de inflexão dos congressos.
Discutiu-se naquela ocasião o “coração” da cidade, a partir do que afloraram as
deficiências da proposta funcionalista, e também a investigação de elementos do
ambiente urbano até então rejeitados pelos arquitetos modernos.
Monumento, monumentalidade, história, símbolos da comunidade e a escala dos
agenciamentos urbanos passaram a fazer parte do discurso e da reflexão dos
arquitetos dos CIAM. Como se vê, a escolha dos temas centrais de cada congresso e
a evolução dos temas ao longo dos anos refletem o próprio desenvolvimento do
movimento moderno. Segundo definição de Siegfried GIEDION, que foi secretário-
geral dos CIAM, a “arquitetura contemporânea” havia passado por três estágios: o
primeiro, preocupado com o ordenamento racional do espaço da moradia mínima; o
segundo, dedicado ao planeamento em grande escala do território; e terceiro, voltado
para a recuperação do sentido de comunidade nas cidades (GIEDION, s.d.).
Ele, assim como vários de seus companheiros da “velha guarda” dos CIAM (LE
CORBUSIER, José Luis SERT, ROGERS) fazem esta análise retrospectiva já no final
dos anos 1950, quando foram levados a reconhecer, pela falência mesma do
Modelo racionalista e pela crítica que lhe foi feitapela nova geração de arquitetos
participantes dos CIAM, que as quatro funções–base do urbanismo, Conforme
delineadas na Carta de Atenas, haviam “perdido o equilíbrio”, que era necessário o
restabelecimento das “relações organizadas” e o retorno à escala humana (GIEDION,
1956.).

Os CIAM foram extintos no encontro de 1959 (Dubrovnik), quando a velha geração de


arquitetos considerou terminada a tarefa de discutir, consolidar e defender as
premissas do movimento moderno naquele fórum.

A presença cada vez mais evidente dos arquitetos da nova geração, com suas
constantes críticas às posições da velha geração, pode ter contribuído
para o fim dos CIAM.

As condições do mundo eram outras, diferentes daquelas que a velha geração havia
encontrado ao iniciar o projeto dos CIAM. Alguns arquitetos remanescentes dos
congressos passaram a constituir grupos que levaram adiante as pesquisas
urbanísticas promovidas pelos CIAM. É o caso do Team X (FRAMPTON, 1986).
2. O VIII CIAM (1951, Hoddesdon).

O texto apresentado ao VIII CIAM por José Luis SERT, então presidente dos CIAM, é
o que resumede forma mais completa as preocupações centrais
daquele encontro.
Para SERT e seus colegas, as cidades modernas não mais favoreciam o contato
humano. No VI CIAM (Bridgewater, 1947) eles já haviam constatado que o centro das
cidades estava deteriorado, os subúrbios inchados, e que deveria haver um
planejamento para a reconstrução dos centros urbanos europeus bombardeados
durante a Segunda Guerra Mundial.

Fazendo um balanço das suas realizações, o VIII CIAM reconheceu que o urbanismo
moderno, tal como os Congressos preconizavam até então, havia resultado em locais
de baixa qualidade de vida, ao contrário do que haviam desejado. Havia um clima
geral de decepção com a mecanização e a estandardização, e a consciência de que a
escala humana, e as necessidades psicológicas do homem haviam sido esquecidos
no processo modernizador racionalista (GIEDION, s.d.; MILANESI, 1999).

O VIII CIAM propunha encontrar uma solução para o problema da desintegração da


vida nas cidades. Tendo como tema central o “coração”, acreditava que um “processo
de recentralização” seria a “solução definitiva” para o problema. Imbuído do mesmo
espírito olímpico que caracterizou o documento de Atenas (1931), SERT discursou na
oportunidade: “Estes Congressos Internacionais vêm estudando
desde 1930, aproximadamente, a integração da urbanística com a arquitetura, por cuja
razão se acham particularmente bem preparados para sugerir programas e soluções
definitivas para os novos Corações das cidades.

Evidentemente não se trata de assunto fácil, e necessita não somente de definição,


mas também de uma cuidadosa análise e esclarecimento de conceitos: esta é a tarefa
que este Congresso se propôs realizar.

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