Hipnose Apostila 2021-1
Hipnose Apostila 2021-1
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Sumário
Introdução..............................................................................................................4
Conceitos e Mitos..................................................................................................6
O poder especial do hipnotizador..................................................................6
O “controle” do hipnotizador sobre o hipnotizado........................................7
Hipnose e sono...............................................................................................7
Relaxamento e Hipnose.................................................................................7
Estar hipnotizado significa ficar inconsciente...............................................7
Hipnose e Sugestionabilidade........................................................................8
Quem pode ser hipnotizado...........................................................................8
Não “retornar” de um transe ou de uma regressão........................................9
Hipnose é uma forma de terapia....................................................................9
Características do Transe Hipnótico....................................................................10
As Três Leis da Hipnose......................................................................................12
A lei da atenção concentrada.......................................................................12
A lei do efeito reverso..................................................................................12
A lei do efeito dominante.............................................................................13
Indução de Transe................................................................................................14
Sugestões: Como Estruturá-las?......................................................................14
Sugestões diretas..........................................................................................14
Sugestões indiretas.......................................................................................15
Abordagens autoritárias...............................................................................16
Abordagens permissivas..............................................................................16
Sugestões positivas......................................................................................16
Sugestões negativas.....................................................................................17
Sugestões de conteúdo.................................................................................17
Sugestões de processo..................................................................................17
Repetição.....................................................................................................18
O tempo verbal: presente X futuro..............................................................18
O uso das modalidades sensoriais................................................................18
Seguir, seguir, seguir, seguir... conduzir......................................................19
A “dupla ligação” de Erickson.....................................................................19
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Metáforas, histórias, alegorias.....................................................................19
Induções hipnóticas..............................................................................................21
Uma indução hipnótica simples.......................................................................21
Indução rápida de Dave Elman........................................................................25
Respiração manual...........................................................................................27
Indução de regressão através de confusão.......................................................29
Barreira Invisível.............................................................................................30
Relaxamento (Auto Hipnose)..........................................................................31
Conjunto de aprendizagem precoce.................................................................33
Exercícios.............................................................................................................35
Exercício para Fixação de Atenção.................................................................35
Exercício de Dissociação.................................................................................36
Exercício de Aprofundamento: Fracionamento...............................................37
Exercício: indução usando confusão................................................................39
Técnicas específicas.............................................................................................40
Exercício de Regressão....................................................................................40
Cura Rápida de Fobia......................................................................................43
Gerador de novos comportamentos.................................................................46
Remodelagem em Seis Passos.........................................................................47
Metáforas.............................................................................................................49
O Contador de Histórias..................................................................................49
Uma História Sobre Histórias..........................................................................51
Uma fábula sobre a fábula...............................................................................52
A Ruína............................................................................................................55
A abordagem da Utilização..............................................................................57
Intenções Positivas...........................................................................................59
Para começar... (uma indução com sugestões entremeadas)...........................60
Ato de Amor....................................................................................................62
Bibliografia sugerida............................................................................................63
Referências...........................................................................................................65
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Introdução
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ajudando o cliente a melhorar a percepção de si e da realidade que o cerca, quanto na
execução de mudanças comportamentais, resultando na transposição mais adequada das
conquistas feitas na sessão terapêutica para a vida diária do sujeito.
Além disso, a hipnose pode ser usada em diversas áreas da prática profissional,
desde a Medicina e a Odontologia até a Educação, os Esportes e as Artes. Conhecer os
princípios e as técnicas da hipnose, em especial na perspectiva Ericksoniana, pode trazer
grandes benefícios aos profissionais, seja melhorando sua capacidade de comunicarem-
se adequadamente, seja utilizando-se dos benefícios da auto hipnose para melhorarem
seu desempenho.
Esta apostila irá trazer alguns dos aspectos teóricos e alguns exercícios práticos,
porém sem a pretensão de se aprofundar no assunto. O aluno que quiser se aprofundar
poderá recorrer à imensa quantidade de livros e artigos publicados no mundo todo (a
maioria, como é comum em quase todas as áreas da ciência, na língua inglesa). Ao final
da apostila, encontram-se algumas recomendações de livros. Estudar a teoria, no
entanto, nunca será o suficiente: é absolutamente imperativo que se coloquem os
conceitos e técnicas em prática, pois apenas a experiência acumulada pode
verdadeiramente formar um “hipnólogo”.
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Conceitos e Mitos
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chamava de “magnetismo animal”). A visão atual, aceita de modo quase completo pela
comunidade científica, é a de que toda hipnose é, na verdade, uma auto hipnose, estando
todo o “poder”, em última instância, no próprio cliente, e não no hipnotizador.
Hipnose e sono
James Braid, no início do século XIX, cunhou o termo hipnotismo, por
considerar que o transe hipnótico seria uma espécie diferente de sono (hypnos é uma
palavra grega para sono). No entanto, as pesquisas neurofisiológicas são conclusivas em
mostrar que o transe hipnótico, embora às vezes se pareça “exteriormente” com o sono,
não tem correlação com este, estando a mente, fisiologicamente, alerta e concentrada.
Relaxamento e Hipnose
Embora muitos dos métodos de indução de transe envolvam relaxamento, e na
maior parte dos transes haja um relaxamento muscular importante, existem tanto
induções que não usam o relaxamento, quanto transes em que não há relaxamento
muscular.
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pessoa hipnotizada mantém total consciência e alerta, percebendo tudo o que está
acontecendo. Raras vezes, pode ocorrer uma amnésia total do período do transe, dando a
impressão, para o cliente, que houve um “sono”, uma perda de consciência, mas esta é a
exceção e não a regra.
Hipnose e Sugestionabilidade
Um dos mitos mais “escondidos” a respeito da hipnose, pouco mencionado, mas
muito arraigado, é o de que apenas as pessoas de “mente mais fraca”, que se deixam
sugestionar facilmente, poderiam ser hipnotizadas, e de que as pessoas mais inteligentes
teriam maior dificuldade para serem hipnotizadas. Talvez decorrente dos mitos do
“poder do hipnotizador” e do “controle”, este conceito não poderia ser mais falso! Na
realidade, quem tem maior capacidade de concentração tem maior capacidade de se
hipnotizar. Portanto, uma pessoa com um transtorno neurológico que leve a dificuldade
de concentração e dificuldade de aprendizado (ou seja, uma “mente fraca”) teria maior
dificuldade para ser hipnotizada que uma pessoa mais “inteligente”...
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Não “retornar” de um transe ou de uma regressão
Um dos medos mais frequentemente encontrados em relação à hipnose é a
possibilidade de o cliente não “voltar” do transe, ou de “ficar no passado”, durante uma
regressão hipnótica. Tal receio é totalmente sem fundamento, em primeiro lugar porque
a regressão não é uma verdadeira “viagem no tempo” (embora às vezes seja sentida
como tal), e sim um acesso a informações armazenadas no inconsciente – portanto não
existe o perigo de “não voltar”, se a pessoa nunca “foi” a lugar nenhum. Quanto ao
“perigo” de não sair do transe, só aconteceria, no máximo, no caso de o “hipnotizador”
ser muito pouco capacitado, de o transe se prolongar por alguns minutos ou horas,
sendo que, em última instância, a pessoa acabaria entrando em sono fisiológico, do qual
acordaria naturalmente, como todos sempre fazemos.
Quanto ao risco de falecer durante um transe – devido a um “ataque cardíaco”,
por exemplo – embora seja possível, não existem casos descritos em toda a história da
hipnose. Talvez até haja certa “proteção”, uma vez que, entre os fenômenos orgânicos
do transe, estão alterações consideradas “benéficas” nos sistemas cardiovascular,
respiratório e endócrino.
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Características do Transe Hipnótico
Alguns sinais podem ser detectados, num transe hipnótico, e outros tantos sinais
podem ser subjetivamente percebidos, pela pessoa hipnotizada. Segue-se uma lista dos
sinais mais frequentemente encontrados, segundo Weitzenhoffer (2000):
Sinais objetivos:
Fixação do olhar (“olhar de transe”);
Diminuição do piscar;
Dilatação das pupilas;
Imobilidade geral;
Flexibilidade cérea;
Catalepsia de membros (perseveração postural);
Catalepsia das pálpebras;
Retardo psicomotor;
Literalidade;
Perda de iniciativa e espontaneidade;
Perda de “senso de humor”;
“Lógica de transe”;
Aumento da sugestionabilidade;
Anestesia espontânea;
Automatismos;
Amnésia pós-hipnótica espontânea;
Regressão;
Dissociação;
Mudanças localizadas na coloração da face;
Movimentos mastigatórios;
Clonias, contrações musculares localizadas;
Etc.
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Sinais subjetivos:
Sensação de desprendimento;
Alterações sensoriais (exemplo: visão embaçada);
Distorções da imagem corporal;
Estreitamento do campo da consciência (aumento da concentração);
Sensação de desorientação temporo-espacial;
Sensação de “amortecimento”;
Sensação de ter dormido;
Alterações na percepção do tempo;
Sensação de perda do controle voluntário;
Sensações de compulsão;
Etc.
Por sua vez, Yapko (1995) relaciona como mais proeminentes a atenção
seletiva, a dissociação, a resposta aumentada à sugestão, a interpretação subjetiva, a
“lógica de transe”, e o relaxamento. Entre os sinais físicos, que podem indicar o estado
de transe (embora seja enfático em afirmar que não é possível dizer com certeza se um
cliente está em transe), relaciona o relaxamento muscular, os espasmos musculares
(clonias), o lacrimejamento, o fechamento dos olhos com tremor das pálpebras, as
mudanças no ritmo respiratório, as alterações na frequência cardíaca, o relaxamento
da mandíbula, e a catalepsia.
Como se vê, a constelação de fenômenos que ocorrem na hipnose, tanto
objetivos quanto subjetivos, é bastante extensa e cada autor considera como de maior
importância um determinado conjunto destas alterações. Na prática, seguindo o
princípio Ericksoniano de utilização, podemos aproveitar os fenômenos que surgirem
em cada cliente, para o ajudarmos a superar dificuldades e encontrar soluções.
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As Três Leis da Hipnose
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A lei do efeito dominante
Esta lei determina que uma emoção mais forte tende a reprimir ou eliminar uma
outra mais fraca. Esta lei nos leva à prática de ancorar as sugestões que pretendemos
fazer, através de emoções dominantes associadas. Erickson citava um exemplo
corriqueiro, em que dois amigos estão estudando, e um deles, já sentindo que o estudo
não está rendendo, convida o outro para ir ao cinema, acrescentando a pergunta: “Você
se lembra da última vez em que você estudou muito e foi mal no exame?”, ampliando
assim a chance de obter uma resposta positiva ao seu convite.
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Indução de Transe
Sugestões diretas
São as sugestões que lidam com o problema em questão, ou com a resposta
desejada, de modo claro e direto, sem sutilezas ou subterfúgios. Geralmente referem-se
à experiência consciente do cliente, e tipicamente envolvem soluções específicas para os
problemas, e instruções detalhadas sobre o modo de responder.
Exemplificando, sugestões diretas para que o cliente feche os olhos podem ser
dadas assim:
Feche seus olhos.
Por favor, feche seus olhos.
Você pode fechar seus olhos.
Deixe que seus olhos se fechem.
Eu gostaria que você fechasse seus olhos.
As vantagens das sugestões diretas incluem a relevância direta sobre os
problemas em questão, facilitando a confiança do cliente em sua habilidade para lidar
diretamente com eles, a capacidade de manter os objetivos do cliente bem definidos e à
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vista, o envolvimento do cliente de modo ativo no processo terapêutico, e a sua
capacidade de desenvolver um processo cognitivo-comportamental para a solução de
eventuais problemas futuros.
As desvantagens das sugestões diretas estão em sua sustentação no desejo
consciente de segui-las, fazendo pouco uso dos recursos inconscientes, e podendo
suscitar resistências, por lidar tão diretamente com questões potencialmente
assustadoras.
Sugestões indiretas
São aquelas que se relacionam com o problema, ou com a resposta desejada, de
modo disfarçado, indireto, geralmente não se relacionando diretamente com a
experiência consciente do cliente. Sendo relacionadas de modo indireto com sua
experiência, o cliente tem que fazer as interpretações e associações por si mesmo, de seu
modo peculiar, para que aquilo possa ter algum sentido. Enquanto a mente consciente
tenta entender sobre o quê você está falando, a mente inconsciente associa suas palavras
à experiência interna dele, abrindo o caminho para as mudanças necessárias.
Como exemplos, podemos citar algumas sugestões indiretas para o fechamento
dos olhos:
Uma pessoa que quer entrar em transe geralmente começa
fechando os olhos.
Você pode permitir que seus olhos se fechem?
Muitos de meus clientes gostam de sentar nesta cadeira com seus
olhos fechados.
Não é bom não ter que ouvir com seus olhos abertos?
Eu me pergunto o que você irá pensar sobre o que permitirá que você
confortavelmente... FECHE SEUS OLHOS.
As vantagens da abordagem indireta se relacionam com a sua maior utilização
dos recursos inconscientes do cliente, além de ser útil para contornar resistências. As
suas desvantagens estão na possível desconfiança por parte do cliente de que o terapeuta
não sabe (ou não quer) lidar diretamente com os seus problemas, na possível sensação
de estar sendo enganado (o que destruiria o rapport), e no fato de que, quando as
mudanças e soluções ocorrem exclusivamente no nível inconsciente, o cliente pode ficar
sem os recursos cognitivos necessários para resolver outros problemas semelhantes, no
futuro.
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Abordagens autoritárias
São sugestões na forma de comandos, como estas:
Feche seus olhos quando eu contar até três.
Quando eu estalar meus dedos, você terá seis anos de idade.
Quando eu tocar seu ombro, você irá entrar em um estado profundo
de hipnose.
Você achará impossível acender um cigarro.
Você não se lembrará de nada desta experiência.
Abordagens permissivas
São sugestões que enfatizam a possibilidade de o cliente perceber as
possibilidades de respostas significativas, em vez de comandar que tais respostas
apareçam, respeitando a capacidade do cliente de tomar decisões sobre quais sugestões
seguir, quais desprezar. Por exemplo:
Você pode estar interessado em descobrir outra maneira de se
sentir mais confortável.
Eu me pergunto se você considerou a possibilidade de que você
poderia aprender estes métodos mais facilmente do que você pensou, a
princípio.
Eu não sei qual é a posição mais confortável para você se sentar e
relaxar.
Talvez você poderia focalizar mais facilmente com seus olhos
fechados.
Você pode escolher escutar, se você quiser, as coisas que eu
descrever.
Sugestões positivas
São sugestões colocadas de tal forma que mostrem ao cliente a ideia que ele ou
ela pode experimentar ou conquistar algo desejável. As seguintes sugestões estão
estruturadas de modo positivo (e permissivo):
Você pode se sentir mais confortável a cada inspiração.
Você pode se lembrar de um tempo em que você se sentiu muito
orgulhoso de você mesmo.
Você é capaz de descobrir forças internas que você não havia
percebido que tinha.
Você pode perceber como é gostoso relaxar.
Você pode perceber uma sensação suave de calor em suas mãos.
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Sugestões negativas
Quando formuladas no negativo, as sugestões tendem a ter o efeito inverso.
Muitas vezes, as sugestões negativas são empregadas acidentalmente, gerando uma
resposta indesejável, como quando o terapeuta diz ao cliente que “não se preocupe com
isto, apenas tire isto de sua mente”, e o cliente muito provavelmente continua se
preocupando e pensando “nisto”.
No entanto, quando utilizadas de modo adequado, as sugestões negativas, num
efeito de “psicologia reversa”, podem trazer as respostas desejadas. Preste atenção em
sua experiência interna enquanto você lê cada um dos seguintes exemplos:
Não pense em sua cor favorita.
Não se deixe pensar sobre que horas são agora.
Você não deveria estar pensando sobre aquela pessoa especial da
sua adolescência agora.
Por favor, tente não perceber qual de seus amigos é o mais
materialista.
Sugestões de conteúdo
São as sugestões que contém detalhes específicos descrevendo sentimentos,
memórias, pensamentos ou fantasias que o cliente deve experimentar em transe. Isto
pode ter o efeito de ajudar o cliente a ter a experiência de modo mais completo, e assim
com maior satisfação, mas também podem conter os detalhes que o cliente não
escolheria, podendo diferir da real experiência do cliente. Alguns exemplos:
Pense numa rosa vermelha, com pétalas macias e aveludadas, e uma
fragrância doce e suave.
Imagine estar numa praia em um dia claro e brilhante, sentindo o sol
aquecer sua pele, sentindo o cheiro do sal na brisa marinha, e ouvindo o
som das ondas se quebrando na areia.
Você pode se lembrar de como é gostoso morder uma laranja
suculenta, como sua boca fica molhada, e o suco escorre por seus dedos, e
de qual é o gosto da laranja?
Sugestões de processo
Em contraste com as sugestões de conteúdo, as sugestões de processo têm
poucos detalhes, deixando o cliente livre para colocar os detalhes de sua própria
experiência. Assim, uma frase que aparentemente é muito genérica, torna-se específica e
individualizada. Veja os exemplos:
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Você pode ter uma lembrança particular de sua infância, uma em que
você não tem pensado há muito tempo.
Você pode perceber uma certa sensação agradável em seu corpo,
enquanto você permanece sentado confortavelmente.
Você pode se conscientizar de um som específico na sala.
Você pode se lembrar daquela época especial quando você se sentiu
tão bem a seu próprio respeito?
Repetição
Embora a grande maioria dos hipnólogos concorde que a repetição das
sugestões, geralmente várias vezes, seja parte essencial da estruturação da linguagem
hipnótica, na maioria das vezes é melhor usarem-se palavras diferentes para cada
repetição. Na auto hipnose, no entanto, o uso das mesmas frases, repetidas várias vezes,
pode ajudar a manter a focalização da atenção, ajudando também a simplificar o
processo. Émile Coué recomendava aos seus clientes que repetissem vinte vezes pela
manhã e vinte vezes à noite, todos os dias, a frase: “A cada dia, em todos os aspectos,
estou me sentindo cada vez melhor”.
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utiliza mais palavras como “ver”, “imagem”, “foco”, “visão”, “enxergar”, etc. Já uma
pessoa “auditiva” usa mais palavras como “ouvir”, “escutar”, “ruído”, “tom”, etc., e
uma pessoa “sinestésica” utiliza mais “sentir”, “sensação”, “quente”, “frio”, “toque”,
“cheiro”, “gosto”, etc.
Procure utilizar inicialmente as palavras que sejam do mesmo sistema
representacional preferencial do cliente, ou ainda palavras que são neutras, como
“experiência”, “percepção”, etc. Lembre-se que nem todos conseguem fazer facilmente
imagens (visuais), e a insistência em tentar induzir uma experiência visual pode ser
frustrante para o cliente, e inibir o próprio rapport.
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conteúdo simbólico, mostrando que a comunicação em vários níveis é seguramente um
dos melhores meios de se “convencer” um grande número de pessoas, sem despertar
grandes resistências.
Quando usamos uma metáfora, contando uma história ao cliente que não seja
exatamente a história dele, mas que de algum modo faça um paralelo com o seu
problema, estamos de algum modo “contornando” as suas resistências, e entregando as
mensagens desejadas diretamente ao inconsciente, independentemente da percepção
consciente de tais intenções.
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Induções hipnóticas
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escolher ignorá-la e não ter aquela experiência. Mas se quiser experimentar
uma sugestão, você pode achá-la mais fácil de experimentar do que você
jamais pensou ser possível. Então a escolha é sempre sua, e é seguro
entrar em hipnose agora, enquanto você se deixa relaxar.
Enquanto eu falo, você pode se sentir ficando mais e mais relaxado. Mas
não importa quanto você relaxar, você escutará a minha voz, e você será
capaz de responder às minhas sugestões. Se você se sentir
desconfortável, você pode reajustar seu corpo, e sentir-se confortável
novamente, e isso não atrapalhará sua experiência de hipnose. Se você
precisar falar comigo, você será capaz de fazê-lo facilmente, sem
interromper sua experiência hipnótica.
Agora mesmo, você pode querer relaxar ainda mais, e enquanto você relaxa,
você pode sentir um discreto formigamento em seus dedos das mãos... ou
dos pés... e se você sentir, isso pode confortá-lo, pois você saberá que
essa é uma sensação de relaxamento que algumas pessoas sentem
quando começam a experimentar a hipnose. Deixe seu corpo relaxar.
Simplesmente comece a sentir uma sensação de calma se espalhando... de
paz... deixando irem embora todas as suas preocupações e dúvidas, deixe-
as dissiparem-se, como nuvens no vento... dissipando-se... quebrando-se...
simplesmente relaxando... mais e mais... sentindo-se mais e mais em paz...
mais calmo... mais confortável e seguro... nada a aborrecê-lo... nada a
perturbá-lo... mais e mais profundamente relaxado, enquanto você entra
em hipnose, tornando-se tão profundamente envolvido na hipnose que você
pode ter todas as experiências que você quiser... profundo o suficiente
para experimentar o que você quiser experimentar... mas apenas as
experiências que você quiser... apenas as suas próprias experiências.
E você pode focalizar sua atenção em seus dedos dos pés... seu dedão
direito... e seu dedão esquerdo. Deixe relaxar seu dedão direito... relaxe
completamente... e seu dedão esquerdo... deixando seus dedões
relaxarem... mais e mais... mais e mais relaxados. E deixe o relaxamento
espalhar-se de seus dedos para seus pés, e deixe seus pés relaxarem.
Deixe-os tornarem-se mais e mais relaxados... enquanto você pode sentir-
se tão calmo e tranquilo. E agora preste atenção aos seus calcanhares e
às suas pernas. Eu me pergunto se você pode começar a deixar-se ir...
deixar-se ir e relaxar enquanto você sente talvez uma sensação
confortável de calor em seus calcanhares ou suas pernas... ou talvez seja
uma sensação refrescante e tranquila... em sua perna direita ou em sua
perna esquerda. Apenas deixe suas pernas relaxarem... mais e mais
relaxadas... mais e mais completamente relaxadas.
E o relaxamento pode espalhar-se pelas suas coxas... suas coxas podem
relaxar-se mais e mais... simplesmente deixando-se ir. E você pode deixar
sua pelve relaxar... relaxar mais e mais. Relaxe sua barriga. Deixe sua
barriga ficar completamente relaxada. Apenas deixe-a ficar solta e mole...
solta e mole. Perceba como você a sente. Você pode senti-la
completamente relaxada?... Você pode perceber isso agora ou daqui a
alguns instantes? E deixe o relaxamento se espalhar para cima, por seu
peito. Deixe todos os nervos e músculos de seu tórax relaxarem-se
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completamente... relaxado... solto e mole... sinta a paz espalhando-se
enquanto você vai se sentindo tão tranquilo... tão seguro... seu corpo e sua
mente tão relaxados e em paz. E agora suas costas podem relaxar, e seus
ombros. Deixe-se sentir o relaxamento em suas costas e seus ombros...
mais e mais relaxado... solto e mole... completamente relaxado.
Deixe o relaxamento espalhar-se por seus braços, para baixo, até suas
mãos e seus dedos. Focalize nas sensações em seus braços e suas mãos.
Os seus dedos sentem-se mais pesados que leves, ou mais leves que
pesados? Focalize em seu braço direito... antebraço direito... sua mão
direita... e dedos... relaxando completamente... mais e mais relaxado...
completamente relaxado. Eu me pergunto se você pode ir ainda mais fundo
agora. Mais e mais profundo... do jeito que você desejar... apenas tão
confortável e tão profundo quanto você gostaria de ir.
Você não se sentiria até melhor relaxando os músculos de seu pescoço?...
Apenas deixe-se ir e relaxe... solto e mole... completamente relaxado. E
relaxe os músculos de sua mandíbula. Apenas deixe-os ficarem moles.
Todos os nervos e músculos de sua mandíbula relaxando completamente. E
relaxe todos os outros músculos da sua face... sua boca... nariz... olhos...
sobrancelhas... pálpebras... testa... todos os músculos ficando soltos e
moles... completamente relaxados... em paz... calmo e relaxado...
completamente tranquilo.
Você pode gostar de imaginar estar em algum lugar pacífico e relaxante. Eu
gosto de imagina-me deitado em uma praia quieta, em um dia morno de
sol, com um lindo céu azul e apenas algumas pequenas nuvens brancas
flutuando... eu posso imaginar-me sentindo uma brisa suave, gentil...
cheirando o ar salgado do mar... mas você pode imaginar estar em
qualquer lugar que queira. Pode ser um lugar em que você já esteve... ou um
lugar em que você gostaria de estar. Ou apenas um lugar em sua
imaginação... Não importa... tudo o que importa é o seu conforto... sua paz.
Onde quer que seja, é tão pacífico e calmo... um lugar onde você pode
apenas ser você mesmo... onde você pode sentir-se completamente
tranquilo e contente. E você pode imaginar-se realmente estando lá...
vendo, com os olhos de sua mente, as coisas que você veria se estivesse
realmente lá, agora... sentindo as coisas que você sentiria... ouvindo os
sons que você ouviria... sentindo os cheiros.
E enquanto você está em seu lugar perfeito, eu irei contar de um até dez. E
a cada número você pode flutuar mais e mais profundamente em hipnose...
mais e mais capaz de experimentar aquilo que você quiser experimentar.
Um... flutuando... flutue profundamente... dois... mais e mais centrado, e
equilibrado... três... quatro... mais e mais profundo... cinco... quase lá...
seis... sete... mais profundo ainda... tão profundo que você pode
experimentar o que você quiser experimentar... oito... nove... dez... muito
profundo agora... muito profundo... completamente unificado consigo
mesmo... completamente envolvido.
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Esta é uma indução básica, mas completamente adequada, que pode ser usada
individualmente ou em grupos. Ela pode ser memorizada ou lida palavra por palavra por
terapeutas que estiverem praticando hipnose em um workshop ou em um curso, mas,
exceto em situações de pesquisa, é recomendável familiarizar-se com ela e parafraseá-la
improvisadamente. Terapeutas comportamentalistas a reconhecerão como um exercício
simples de relaxamento, com a adição da palavra hipnose. Algumas pesquisas mostram
que induções memorizadas simples desse tipo são tão eficazes quanto as induções
individualizadas mais complicadas aplicadas por hipnoterapeutas altamente qualificados
em seus clientes. O talento hipnótico é uma característica dos hipnotizados, não dos
hipnotizadores.
Adaptado de Kirsch, I., Lynn, S.J. & Rhue, J.W.(1993). Introduction to Clinical Hypnosis. In Rhue, Lynn & Kirsch
(eds.), Handbook of Clinical Hypnosis (p. 11-14). Washington, DC: American Psychological Association.
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Indução rápida de Dave Elman
Dave Elman (1964), um dos maiores divulgadores “não médicos” da hipnose do
século XX, ensinava uma indução rápida e eficaz, que traduzimos a seguir:
Enquanto você está sentado(a) aí, confortavelmente, afundando nesta
cadeira e começando a relaxar o corpo, você pode voltar a sua atenção
para a sua respiração. Inspirando profundamente e segurando um pouco,
agora... e permitindo que suas pálpebras se fechem suavemente, enquanto
você solta o ar. Enquanto você percebe sua respiração se relaxando...
encontrando um ritmo mais confortável, você pode simplesmente deixar
que o resto de seu corpo também relaxe, todos os seus músculos
completamente soltos e gostosamente largados, como se fossem uma
boneca de pano.
E enquanto você aproveita essa sensação confortável, desse relaxamento
se espalhando pelo corpo, volte sua atenção para seus olhos. Sabendo que,
por alguns minutos, você pode relaxar os olhos tão maravilhosamente e
profundamente, que enquanto eles permanecerem relaxados, eles não irão
querer se abrir. As pálpebras tão cansadas e pesadas que elas
simplesmente não se levantam... como se elas estivessem grudadas,
coladas, se você pode imaginá-las assim... de fato, quanto mais você
tentar abri-las, mais firmemente coladas elas se tornam...
Agora tente ver se você pode abrir essas pálpebras tão pesadas, apenas
um pouquinho... [pausa] Muito bom... apenas relaxe, agora, você não precisa
se esforçar para abri-las...
Enquanto você se solta... apenas deixando aquela maravilhosa sensação
de relaxamento se espalhar de seus olhos para baixo, para todo o seu
corpo. E enquanto você percebe essas sensações sutis de relaxamento
físico, aprofundando, e aprofundando... sua mente está relaxando,
desenrolando, aproveitando um agradável transe hipnótico.
Daqui a pouco, para ajudá-lo(a) a realmente aprofundar este transe, você
pode suavemente abrir e fechar esses olhos... enquanto eu conto até três,
você irá abrir seus olhos por um momento, sentindo uma onda de profundo
relaxamento envolvendo seu corpo e sua mente enquanto você o faz...
começando agora: um, dois, três, levantando essas pálpebras pesadas... e
três, dois, um... deixando-as caírem, fecharem-se novamente, relaxando
duas vezes mais, dez vezes mais profundamente...
[Repita várias vezes, com sugestões intermeadas de aprofundamento do transe e
relaxamento.]
Agora que o corpo está tão profundamente relaxado, você pode deixar que
a mente experimente um nível ainda mais profundo de transe... Em alguns
instantes, comece a contar de 100 para baixo, contando em voz alta,
repetindo as palavras “mais profundamente” após cada número. Cada vez
que você disser o número, cada vez que você disser as palavras “mais
profundamente”, sua mente se tornando duas vezes mais relaxada, dez
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vezes mais profundamente relaxada, afundando em um transe
maravilhosamente profundo... Enquanto você faz isso, você achará essa
voz, esses números, relaxando tão profundamente que você pode
rapidamente esquecer os números... perder a habilidade e o desejo de
continuar contando para trás... Começando agora, “100... mais
profundamente...” isso, relaxando essa voz, duas vezes mais profundo, dez
vezes mais profundo, perdendo aqueles números... esquecendo... deixando-
os para trás... voz ficando mais fraca... mais fraca...
[Intermeie sugestões de aprofundamento até que o cliente pare de contar.]
Deixando os números desaparecerem... deixando-os para trás... sua mente
quieta, calma, tranquila... aproveitando o nível mais profundo de transe...
Perdendo aqueles números... você não precisa fazer nada mais por
enquanto exceto sentar silenciosamente, relaxadamente, e aproveitar essa
sensação fascinante de transe profundo, profundamente... profundo...
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Respiração manual
Esta é outra indução, um pouco “diferente” e inusitada, mas que funciona bem
com a maioria das pessoas:
Agora eu pedirei para você se concentrar em sua respiração por alguns
momentos... mas eu me pergunto se você pode imaginar uma ideia
bastante estranha... ume ideia muito estranha mesmo... eu me pergunto se
você pode imaginar que você pode na verdade respirar... pelas pontas de
seus dedos... apenas imagine essa estranha ideia de que você pode mesmo
respirar pelas pontas dos dedos... imagine que você pode sentir o ar se
movendo para dentro de suas mãos... vagarosamente de início... com
apenas uma suave sensação de formigamento que você pode sentir nas
costas das mãos... ou talvez nas palmas... e então apenas imagine essa
sensação movendo-se lentamente pelos seus antebraços... passando pelos
cotovelos... apenas imagine esse fluxo confortante de ar se movendo
vagarosamente através de seus cotovelos para seus braços... e então
para seus ombros... ambos os braços... ambos os ombros... talvez
encontrando aquele suave formigamento novamente... talvez em seus
cotovelos ou antebraços agora... então se movendo por todo o seu corpo...
para baixo, até suas pernas... através das coxas... pelos joelhos, para as
canelas e “batatas” das pernas... e novamente você poderia sentir aquela
sensação de adormecimento, logo aí, logo abaixo dos joelhos... e então
através dos calcanhares, e até os seus pés... até sair pelos seus pés...
E você pode encontrar uma grande calma e tranquilidade... nessa estranha
ideia de que você pode respirar pelos seus dedos... que você pode realmente
sentir o ar se movendo por todo o seu corpo... em um único, confortante,
relaxante... fluxo unidirecional... e porque é um fluxo unidirecional de ar...
movendo-se por todo o seu corpo em um único fluxo acalentador... a calma
e relaxamento que você inspira... simplesmente não se envolve com as
tensões e “stress” que você expira para longe de si... de modo que com
cada inspiração que você tem... com cada palavra que eu falo... você se
percebe ficando cada vez mais... relaxado... com cada inspiração, com cada
palavra... começando, talvez, a perceber o peso de suas costas contra o
recosto da cadeira... se perguntando se esse peso poderia parecer
aumentar gentilmente enquanto você relaxa ainda mais... o peso de seus
pés... se perguntando se também esse peso poderia parecer aumentar
suavemente... e até enquanto você pensa sobre isso... e algumas pessoas
podem encontrar aquela sensação de relaxamento completo... que parece
como se elas estivessem verdadeiramente afundando na cadeira...
começando a afundar mesmo, suavemente, na cadeira... de tal modo que
parece a cadeira está começando a abraçar, a envolver você... você está
tão relaxado... uma sensação gostosa... uma sensação de calma e
segurança... calmamente... que aumenta cada vez que você inspira, com
cada palavra que eu digo... enquanto você continua inspirando pelos seus
dedos... deixando aquele fluxo de ar confortante, relaxante, aconchegante...
mover-se através de todo o seu corpo, e sair pelos seus pés...
27
E isto é algo que você pode fazer por si mesmo quando você quiser...
simplesmente se colocar em uma posição confortável... com seus olhos
fechados... e simplesmente imaginar-se inspirando através dos seus
dedos... imaginar aquele fluxo de ar confortando e relaxando cada parte do
seu corpo... e então expirando pelos seus pés... e cada vez que você expira,
apenas diga a si mesmo: “relaxe... agora...” ... apenas dizendo: “relaxe...
agora...” para si mesmo com cada respiração... será um sinal para sua
mente inconsciente... e na quarta vez que você disser... na quarta vez que
você disser isso... você perceberá que estará mais relaxado... do que você
jamais esteve antes...
28
Indução de regressão através de confusão
Todo mundo sabe como é fácil se tornar confuso com relação aos dias da
semana, confundir um compromisso como de amanhã em vez de ontem, e
se referir ao ano velho ao invés do novo, principalmente em janeiro. E
embora hoje seja Terça, alguém pode pensar que é Quinta, mas desde que
hoje seja Quarta, e desde que não seja importante para a presente
situação que seja Quarta ou Segunda, alguém pode trazer bem claro para
a mente uma experiência de uma Segunda-feira passada, uma experiência
que era já uma repetição de uma experiência de uma Quarta-feira anterior.
Assim, olhando pra dentro, você pode se lembrar de um evento que
aconteceu no seu aniversário em 2015. Nesse tempo você podia somente
especular, mas não sabia sobre o que iria acontecer no seu aniversário de
2019 porque ele não tinha acontecido ainda. Além disso, já que o
aniversário de 2019 não tinha acontecido ainda, não poderia haver
lembranças dele em seu pensamento em 2015.
As pessoas podem lembrar algumas coisas e esquecer de outras. É
frequente alguém esquecer coisas de que ele está certo que vai lembrar,
mas depois não consegue. De fato, existem lembranças da infância que
permanecem muito claras, mais claras que lembranças de anos recentes.
Na verdade, todo dia a gente está esquecendo alguma coisa desde ano, do
ano passado, ou de 2017, ou de 2016, e muito mais, desse jeito, de 2015 e
2014. Enquanto de 2012 apenas certas coisas são lembradas,
identificadas como sendo daquele ano, quanto mais passa o tempo mais
se esquece. Esquecer muitas coisas, naturalmente como todo mundo
esquece fatos do passado, expectativas a respeito do futuro. Mas,
naturalmente, esquecendo coisas que são importantes ou não, só aquelas
coisas que pertencem ao presente, sentimentos, pensamentos,
acontecimentos, ideias que surgem espontaneamente, só essas coisas é
que são claras e importantes.
Pensamentos da idade de 4 ou 5 anos podem ser lembrados tão
claramente que você pode repetir internamente uma experiência gostosa
de vida, uma experiência que você vive de novo... agora...
29
Barreira Invisível
Eu me pergunto se você conhece as cercas, especialmente as cercas
elétricas usadas nos pastos de cavalos. Elas têm alguns fios de arame
nos quais corre uma corrente de energia. Não o tipo de energia que é
perigosa, não o tipo que te dá um choque. Esses arames se esticam pelo
campo e os cavalos andam de um lugar pra outro, e eles rapidamente
aprendem onde podem ir e onde não podem se aventurar. Tudo o que eles
sentem quando tocam nos fios é um atrito, uma faísca rápida, mas
assustadora. E como os animais são muito espertos, aprendem a olhar
sem encostar. Eles aprendem tão bem, na verdade, que depois de um
tempo o fazendeiro pode desligar a eletricidade ou até substituir os fios
por cordas que esses cavalos vão ficar longe, presos por nada, com o
galope interrompido por um pensamento, pelo sentimento de que alguns
lugares estão além do limite, de que onde eles estão é seguro, e eles
simplesmente ficam tranquilos, satisfeitos por estar onde estão. Isso é
uma barreira invisível, um limite criado pela mente.
Mas depois que um cavalo atravessa essa barreira invisível, então todos
os outros vão seguir atrás, com a barreira quebrada e rompida, sem
restrições de onde ir.
Mas aonde ir em seguida é um problema, um problema com que todos se
defrontam e ninguém sabe como resolver. Nós não sabemos o quanto um
cavalo sabe aonde ir, mas nós sabemos, sim, que depois que eles
descobrem onde estão indo, é difícil parar esses cavalos ou dominá-los
porque um cavalo cansado, com fome, vê o curral ou celeiro lá no pé da
montanha, e aí tudo o que você tem que fazer é soltar as rédeas e ele vai
te levar até lá porque ele deseja ficar confortável e ele quer ser alimentado
e depois que ele sabe aonde ir pra conseguir o que quer, mesmo um limite
imaginário pode ser transposto na direção de sua meta.
Pode ser muito interessante relaxar em cima do cavalo e simplesmente
deixá-lo correr, confiando que ele vai te levar até lá, rapidamente e com
muita precisão. É um prazer que qualquer pessoa pode sentir se ela puder
realmente fazer isso.
30
Relaxamento (Auto Hipnose)
Aqui vou dar-lhe algumas técnicas de relaxamento para você começar a
ficar calmo. É o que chamamos de técnicas de auto hipnose. Para outros é
como meditação ou oração.
Ao ler o que vem a seguir, posicione-se confortavelmente, procure ver onde
você está, o que está sentindo, e então comece a ler, procure um lugar, de
preferência, calmo... Há pessoas que gostam de fazer esse relaxamento
ouvindo música suave. É uma excelente ideia... você pode fixar-se na
música.
Eu queria que você olhasse à sua volta... veja se é dia ou se é noite...
procure olhar, se puder ver o céu, como ele está... se de dia, que cor tem o
céu hoje? Azul, cinza, com nuvens branquinhas, ou completamente limpo?
Chove lá fora? Se chove, ouça o barulho da chuva... Se faz sol, onde os raios
de sol batem?... O que mais você pode admirar no minuto em que você
para?... Você acabou de ganhar um minuto de paz... se for de noite... há
tantas noites belas... com estrelas... lua cheia... minguante ou nova... é
sempre uma beleza diferente que podemos admirar... Se cheia... a lua
prateia a redondeza... ilumina a vida... se nova, fica sorridente, e muitas
vezes está acompanhada de uma estrela feliz... olhe, procure... olhe as
estrelas que brilham no céu... quando você parar para observar... faça isso
respirando mais suavemente... protegidamente... calmamente... aproveite
para levar oxigênio a todas as suas células... é vida, e vida inspirada com
paz... que respiração gostosa pode acontecer em mais um minuto... então,
pare e faça... e depois continue... volte a você por um instante... sinta seu
corpo... onde você pode perceber que há tensão... talvez você já esteja
preparado para mudar... meditar significa dar silêncio ao pensamento, você
pode fazê-lo... observe seus cinco sentidos... você já olhou à sua volta?...
como é o ambiente?... talvez o céu que eu lhe falei... olhe à sua volta...
respirando protegidamente... levando oxigênio às suas células...
calmamente... veja se há algo que atraia o seu olhar... pare de ler por um
instante... apenas respire e observe o que há à sua volta... depois retorne
aqui...
Pronto, você ganhou mais um minuto de silêncio... você usou sua visão...
agora feche os olhos por um minuto, depois de ler este trecho, e apenas
sinta-se confortavelmente instalado na poltrona... cama... rede ou o que
for, respirando... protegidamente...
Muito bem, mais outro momento... agora, lendo estas linhas, perceba seus
ouvidos... que sons eles estão captando... às vezes, os sons do dia...
pássaros... carros... vozes... às vezes, os sons da noite... grilos... vento...
ruídos pequenos... escute apenas... inspirando protegidamente o oxigênio
que os seus pulmões necessitam... e solte-se na expiração... aproveite o
som que mais agradar...
Assim, vá soltando seu corpo, da ponta dos pés à cabeça... e você pode ir
sentindo como estão seus pés agora... sinta os dedos... a planta dos pés...
respire... ouça os sons... solte as pernas... sinta-as à vontade... e você pode
31
ir percebendo como uma onda de dominó que vai se encadeando e soltando
você por inteiro... saudavelmente... protegidamente... sensações de
conforto e aconchego... soltando seus quadris... abdômen... e pouco a
pouco você pode ir percebendo as mudanças se instalando... pausa...
conforto... respiração mais suave...soltando o peito... abrindo para uma
nova inspiração... tomando um novo fôlego... e as costas, onde você coloca
tanto peso, podem ir-se faltando... você pode ir sentindo sua coluna
vertebral... soltando-se aliviadamente... peito... costas... braços... e mesmo
lendo... soltando pescoço... cabeça... sentindo a sua nuca... os músculos da
cabeça... e sensação de conforto e aconchego vai-se tornando um todo em
seu corpo...
Respirando novamente... perceba seus batimentos cardíacos...ritmaram-
se... provavelmente houve um maior equilíbrio de entrada de oxigênio...
alimentando suas células de um jeito melhor... um relaxamento progressivo
de toda sua musculatura... pressão sanguínea estabilizada... Ah, como é
gostoso ter este momento curativo de paz... talvez seu corpo queira ficar
assim quieto, por mais algum tempo...memorizando o bem-estar no nível de
suas células... elas vão aprendendo o caminho positivo de sentir-se
protegido... dê-se alguns instantes de olhos fechados, após ler este
trecho... e perceba as sensações que lhe são agradáveis... você pode querer
senti-las novamente... memorize... e quando você quiser se dar um
momento, faça este exercício por sua própria conta... automaticamente...
protegidamente... mas, por hora... pare... feche os olhos... fique quieto,
retomando seu fôlego e, depois de sentir-se recuperado, abra os olhos e
respire por uma, duas ou três vezes revigoradamente bem desperto e cheio
de energia para proteger-se de suas próprias pressões.
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Conjunto de aprendizagem precoce
A indução a seguir é a tradução de uma indução feita por Erickson em uma
psicóloga (“Dra. S”) interessada em aprender hipnoterapia, que se voluntariou para uma
demonstração feita por Erickson para Ernest L. Rossi, incluída no livro “Hypnotic
Realities” (Erickson, Rossi, & Rossi, 1976).
Erickson: Olhe para o canto superior daquela figura.
Agora você (Rossi) repare na face dela.
O canto superior daquela figura
Agora eu vou falar com você.
(pausa)
Quando você começou a ir à pré-escola, no ensino fundamental,
Essa coisa de aprender as letras e números parecia uma tarefa imensa,
intransponível.
Reconhecer a letra A
Diferenciar um Q de um O era muito, muito difícil.
E, também, as letras de fôrma e a escrita cursiva eram tão diferentes.
Mas você aprendeu a formar uma imagem mental de algum tipo.
Você não sabia, na época, mas era uma imagem mental permanente.
E depois, nos anos seguintes, você formou outras imagens mentais de
palavras ou figuras de sentenças.
Você desenvolveu mais e mais imagens mentais sem saber
Que você estava desenvolvendo imagens mentais.
E você pode lembrar-se de todas aquelas imagens.
(pausa)
Agora você pode ir a qualquer lugar que quiser, e transportar-se para
qualquer situação.
Você pode sentir água
Você pode querer nadar nela.
(pausa)
Você pode fazer qualquer coisa que você queira.
Você não precisa nem mesmo ouvir a minha voz
Porque seu inconsciente irá ouvi-la.
Seu inconsciente pode tentar qualquer coisa que ele queira.
Mas sua mente consciente não irá fazer nada de importância.
Você irá perceber que sua mente consciente está de algum modo
preocupada, pois ela fica piscando suas pálpebras.
Mas você alterou o seu ritmo de respiração.
Você alterou o seu pulso.
Você alterou sua pressão arterial.
33
E, sem perceber, você está demonstrando a imobilidade que um sujeito
hipnótico pode mostrar.
Não há nada realmente importante
Exceto a atividade de sua mente inconsciente,
E isso pode ser qualquer coisa que sua mente inconsciente deseja.
Agora o conforto físico existe,
Mas você nem mesmo precisa prestar atenção
Ao seu relaxamento e conforto.
Eu posso dizer para sua mente inconsciente
Que você é um excelente sujeito hipnótico,
E qualquer momento que você precisar ou quiser,
Sua mente inconsciente vai permitir que você use isso.
E ela pode levar tempo, seu próprio tempo
Deixando que você entre em um transe
Ajudando você a entender qualquer coisa razoável
Que eu posso falar para você ou para qualquer pessoa que eu queira,
Mas apenas quando eu falar com você é necessário que você ouça.
Eu posso direcionar minha voz para outro lugar
E você saberá que eu não estou falando com você
Então você não precisará prestar atenção.
34
Exercícios
Frases:
“Você pode ficar absorvido em si mesmo.”
“Você pode facilmente responder a qualquer sugestão de conforto.”
Cliente:
“Eu posso ficar absorvido em mim mesmo.”
“Eu posso facilmente responder a qualquer sugestão de conforto.”
Processo:
A primeira pessoa no lugar de hipnoterapeuta dirá a primeira frase, e em seguida
o cliente a repetirá, usando a primeira pessoa do singular. O segundo hipnoterapeuta
falará a outra frase, e o cliente repetirá a mesma na primeira pessoa do singular, e assim
sucessivamente
35
Exercício de Dissociação
pode estar ouvindo minhas pode estar fazendo alguma porque isto pode ser
1 palavras coisa a mais de bom por você valioso
pode estar interessado em pode estar interessado em
2 aprender uma coisa outra coisa mais importante
porque isto é interessante
continua desenvolvendo um
pode ter alguma dúvida ou
3 preocupação
relaxamento profundamente porque isto é muito natural
confortável
pode não estar interessado,
4 está provavelmente curioso mas capta tudo que for porque isto é muito bom
Enquanto (ou mas) inconscientemente você necessário e proveitoso
pode não fazer muitas coisas tem suas ideias próprias do
5 interessantes que precisa
porque é próprio da mente
pode se fixar e focalizar em está realmente fazendo uma porque isto é muito
7 algum ponto porção de coisas por você importante para você
pode estar interessado num pode desenvolver seu próprio porque isto é bom para sua
8 transe transe profundo saúde
contém uma vasta rede de
pode estar se perguntando aprendizagens e recursos que porque isto é muito
9 sobre certas experiências você pode agora resgatar e saudável
usar no futuro
faz muitas coisas acontecerem
no seu melhor interesse porque isto é bom para
10 pode facilmente distrair-se
captando tudo que for você
importante e necessário
porque é bom, é agradável,
pode estar desperto e ouvir pode estar tranquilo e apenas
11 minhas palavras flutuar
é interessante fazer várias
coisas
porque isto traz
12 pode olhar uma tela vagar para dentro de si
aprendizados valiosos
porque isto é muito fácil de
13 pode ouvir minhas palavras entrar em transe
conseguir
experimentar mudanças mais porque isto é bom,
14 pode sorrir, espirrar, duvidar...
profundas agradável e confortável
pode perceber mudanças no pode experimentar mudanças porque isto é terapêutico e
15 seu corpo mais profundas salutar
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Exercício de Aprofundamento: Fracionamento
(Exercício em duplas)
...E você pode fechar os seus olhos agora... acomodar-se... E assim ver
internamente como se sente entrando dentro de você mesmo...
Concentre sua atenção naquela experiência que você pode ver... sentir...
Onde você pode sentir ainda mais...
E onde você pode ver ainda mais claramente... Talvez coisas mais claras...
ou a escuridão... Talvez cores... ou a ausência de cores...
E poder talvez sentir paz... conforto...
E ouvir o som do silêncio ao seu redor... O ruído do ar condicionado... e
outros ruídos... E ouvir de uma maneira receptiva... como nunca ouvira
antes... de olhos fechados... você pode prestar mais atenção em você
mesmo... entra mais facilmente dentro de si mesmo... e respira
naturalmente... confortavelmente...
E cada vez que você respirar... pode ir mais profundamente em seu
relaxamento...
E pode continuar a ouvir o som da minha voz... os sons da sala, os barulhos
diferentes... o ar condicionado... os ruídos da rua...
Mas os sons de seu interior, da sua vida... agora... se tornam mais
interessantes... e à medida que você respira... você vai se sentindo mais e
mais confortável... sentindo-se muito à vontade nesta experiência de
relaxamento...
Todos os sinais de sua mente, como os sons... os sentimentos... o
relaxamento... vão ficando mais fortes... vão se intensificando... E você vai
se sentindo mais e mais relaxado... confortavelmente...
E eu não sei se você quer deixar seu corpo acordado em transe... Talvez
você possa deixá-lo repousando... quieto... calmamente... tranquilamente...
serenamente... e seu corpo vai permanecendo relaxado... enquanto sua
mente vai se reorientando aqui para a sala... ouvindo claramente os sons
daqui... da minha voz... até voltar a abrir os olhos...
(pausa... silêncio)
Ouça as respostas.
37
Muito bem. Que bom que você está sentindo (inserir de acordo com as respostas
acima)... Você pode, agora, fechar os olhos novamente... E novamente
deixar-se levar para um relaxamento... uma sensação de bem-estar... mais
rapidamente e profundamente...
Cada pessoa relaxa diferente das demais... Umas relaxam uma parte do
corpo... a mão... Você pode ir percebendo como suas mãos vão relaxando
mais e mais... mais...
Eu não estou certo de onde está seu corpo agora... mas você sabe o que
fazer para relaxar ainda mais... sem se preocupar com o que eu estou
dizendo...
Você pode ir mais profundamente dentro de você mesmo, ao seu modo... E
assim você vai se colocando em transe... ao seu modo...
Talvez pelo som da minha voz... pelos seus próprios recursos de bem-
estar... indo mais para dentro... nas sensações... nos sentimentos...
Agora permita-se manter as boas sensações de relaxamento... curta
essas boas sensações... agradavelmente... deixe-se ficar confortavelmente
tranquilo... Isso mesmo... muito bem...
E agora você pode me dizer alguma coisa sobre o que está acontecendo
com você?...
É uma experiência agradável?...
Existe alguma novidade para você?...
Alguma coisa que gostaria de me dizer...
(silêncio... aguarde as possíveis respostas. Depois, utilize o transe para dar sugestões
genéricas de bem-estar e também sugestões para que as próximas experiências sejam
ainda melhores e mais profundas. Por fim, sugira que abra os olhos e volte ao estado de
alerta completo.)
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Exercício: indução usando confusão
Grupos de três
Escolhe-se um sujeito hipnótico, um hipnólogo nº 1 e um hipnólogo nº 2. Os
dois hipnólogos colhem informações sobre como o sujeito hipnótico costuma se desligar
do ambiente, quais imagens costumam construir internamente, que sons costumam vir à
mente, de quais sensações costuma se lembrar quando relaxa, quais os pensamentos que
costuma ter nessas situações. Em seguida, cada um cria duas histórias curtas para usar, e
iniciam o processo:
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Técnicas específicas
Exercício de Regressão
Comece com uma indução simples, do jeito que você achar melhor, ratificando e
aprofundando o transe um pouco. Depois, utilize esse roteiro:
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uma espécie de casulo... uma bolha de luz... e você pode perceber... e sentir...
que está completamente protegido... e desfrutar... desse conforto... dessa
segurança...
E agora... que tal voltar no tempo?... Vamos voltar à sua infância...
Enquanto você está nesse estado de profundo relaxamento... paz e calma...
Deixe sua mente inconsciente... a sua sabedoria interior... escolher uma
lembrança de infância... se você quiser... pode ser uma lembrança feliz...
Mas você pode escolher... Se a qualquer momento você precisar... basta
imaginar... e estará de volta ao seu lugar seguro... repousando...
Se quiser... você pode flutuar sobre a cena... observando... à distância... ou
você pode ficar nela... sentindo... vendo... nitidamente... com cores e
detalhes... ouvindo... com todas as tonalidades... percebendo... com
emoções e sentimentos...
Não há limite para sua memória... Você pode recuar no tempo o quanto
quiser... Não há nenhum limite e você pode lembrar de tudo...
Imagine agora... que você está de volta ao seu lugar seguro... e na sua
frente há um espelho grande e lindo... cheio de luz...
E quando você olha neste espelho... você vê os reflexos de muitos, muitos
espelhos... E em cada um desses espelhos... você está numa época
diferente... num lugar diferente...
Eu vou agora contar de 5 até 1... e você pode sentir todo o seu ser
atraído... puxado para um desses espelhos... um desses reflexos... 5... Seu
ser será atraído... puxado para um desses espelhos... 4... para uma dessas
épocas... desses lugares...
Talvez uma época que ajude a explicar ou compreender um problema... um
sintoma... um talento... um relacionamento... um hábito... um conhecimento
especial... qualquer coisa... 3...
Sinta seu ser atraído... puxado para um desses espelhos ou para vários
desses espelhos... 2... atravesse esse espelho...
Se você sentir qualquer desconforto... flutue sobre a cena e observe-a,
como se estivesse assistindo a um filme...
Mas, se quiser, você pode estar dentro, vivenciando sensivelmente...
1... Você já está lá... Você pode ver... ouvir... sentir... pensar... saber...
E você pode continuar profundamente imerso nessa experiência... e ao
mesmo tempo poderá mover seus lábios, sua boca, sua língua... e descrever
a sua experiência... aquilo que está vindo em sua mente... mesmo que
pareça irrelevante... bobo... ou sem sentido...
O que você está percebendo agora?
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Você pode mover a sua boca e falar... continuando imerso nessa
experiência... Se precisar, você pode umedecer seus lábios com a língua...
isso... O que você percebe?
Espere sempre pela resposta. Caso o cliente diga “nada”, pergunte, por exemplo:
42
Cura Rápida de Fobia
1 Estabeleça rapport e faça duas ressignificações padrão:
3 Dissociação dupla:
Peça ao paciente para que se imagine sentado no meio de uma sala de cinema, vendo na
tela a imagem parada, em preto e branco de si mesmo.
Agora, peça que ele se imagine saindo do seu corpo e indo para a sala de projeção (ou
para uma cadeira no fundo da sala), de onde ele pode se ver sentado na plateia
assistindo a imagem fixa em branco e preto na tela (indique com as mãos claramente os
três diferentes lugares. Mesmo que o paciente esteja com os olhos fechados, os gestos
vão ajudar você a marcar com o tom de voz cada posição).
Assim vai haver agora três posições:
- posição na tela;
- posição na plateia;
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4 Passar o filme em branco e preto:
Peça ao cliente que coloque cores na imagem congelada da última cena, que saia da sala
de projeção voltando para a plateia (aqui se integram a posição da sala de projeções
com a posição da plateia).
Agora peça ao cliente que vá até a tela e entre na imagem fixa final (reassocie),
passando o filme daquela experiência do final para o início (de trás para frente), em
cores, em poucos segundos (sugestão: emita um som que indique a duração).
6 Repetições:
Peça agora para projetar-se no futuro (semanas ou meses), diante da situação que
desencadeava a reação fóbica.
Observe a resposta não verbal e compare com a que você se calibrou anteriormente.
Caso ainda receba a resposta fóbica descubra como a pessoa poderia não ter seguido
suas instruções de maneira correta (a pessoa pode ter colocado ou tirado algumas das
etapas). Pergunte, se necessário: “O que aconteceu quando você fez tal coisa?” Se
ainda tiver, mesmo que só uma parte, da resposta fóbica, faça o cliente voltar e repetir
o procedimento de forma exata, porém de maneira mais rápida, cada vez mais, até que
todas as respostas fóbicas desapareçam.
Quando estiver OK, incorporar a nova resposta.
8 Conclusão:
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Durante o período em que o sujeito esteve fóbico, ele pode ter se mantido afastado
dessas situações específicas de forma que não tenha tido meios ou oportunidades de
aprender sobre elas.
À medida que você começar a encontrar e explorar estas situações no
futuro, você pode ter um certo cuidado, até que aprenda mais sobre elas.
45
Gerador de novos comportamentos
Indicação: técnica mais geral. Para ser utilizada quando se:
5- Ecologia – esse novo comportamento está de acordo com seus valores e respeita a
sua integridade pessoal?
Se não se sentir bem, sente-se de novo na cadeira do diretor e modifique o filme
antes de voltar a entrar nele.
Quando estiver satisfeito com o seu desempenho imaginado, identifique um
sinal interno ou externo que possa usar para disparar esse comportamento.
Ensaie mentalmente a cena em que você observa o sinal e adota o novo
comportamento.
O gerador de novos comportamentos é uma técnica simples, porém muito poderosa,
que pode ser usada para melhorar seu desempenho pessoal e profissional.
Toda experiência será uma oportunidade de aprendizagem. Quanto mais você fizer isso,
mais rápido conseguirá se transformar na pessoa que você realmente quer ser.
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Remodelagem em Seis Passos
Adaptado de: Grinder, J., & Bandler, R. (1984). Atravessando: passagens em psicoterapia (M.
S. Mourão Neto, Trad.). Summus.
pessoa saiba o que há de válido quando ela faz “X”?” Se “sim”, diga: “Vá
em frente e deixe que ela saiba, e quando tiver feito isso, me dê um
sinal de “sim”.” Se “não”, apenas vá em frente.
4º Passo:
Crie novas alternativas.
a Peça à parte que vá até os recursos criativos da pessoa, e obtenha modos novos de
realizar esta função positiva, diferentes de “X”. (Essa parte não tem a obrigação de
aceitar ou usar tais escolhas, apenas encontrá-las).
b Quando você tiver um “sim”, diga-lhe que vá em frente, e que depois lhe dê um
sinal de “sim” quando tiver encontrado dez novas escolhas.
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5º Passo:
Avalie as novas alternativas e escolha uma delas.
a Peça àquela parte que avalie cada nova escolha em termos de se,
inconscientemente, ela acredita que a escolha é pelo menos tão imediata, efetiva e
disponível quanto “X”. Cada vez que a parte houver identificado uma que creia sê-
lo, faça com que lhe dê um sinal de “sim”.
b Se você obtiver menos de três, faça uma reciclagem do 4º passo, e obtenha mais
escolhas.
c Peça à parte que escolha um desses novos modos que considere o mais satisfatório
e o mais disponível para alcançar a função positiva, e que lhe dê um sinal de “sim”
quando o tiver escolhido.
d Peça à parte inconsciente que seja responsável pelo uso desta nova escolha por
aproximadamente três semanas, a fim de avaliar sua eficiência.
6º Passo:
Teste ecológico / ponte para o futuro.
Peça ao inconsciente da pessoa que vá até o futuro, e teste os novos
comportamentos no contexto apropriado. Faça com que o inconsciente notifique você
quanto a estar ou não funcionando, emitindo sinais de “sim” e “não”, respectivamente.
Caso haja alguma objeção, de alguma parte do inconsciente, volte ao 4º passo, e crie novas
alternativas.
Quando o teste mostrar que a alternativa é ecológica, dê sugestões para a
incorporação dos novos padrões de comportamento, e prossiga com o encerramento do
transe.
48
Metáforas
O Contador de Histórias
Conta-se que, certa vez, chegou a uma pequena cidade um viajante, que
trazia consigo uma valise contendo alguns pertences e uns poucos
instrumentos de trabalho, que lhe garantiriam o sustento do dia a dia.
Além de artesão, ele era também um grande contador de histórias. Sendo
assim, instalou-se sem dificuldades naquela comunidade.
Durante o dia trabalhava o barro e com ele produzia objetos magníficos
que lhe possibilitavam a sobrevivência. Ao cair da noite assentava-se sob a
árvore secular da praça e contava histórias a todos que tivessem ouvidos
disponíveis e almas sedentas de aprender com seus personagens.
À medida que o tempo passava, a audiência aumentava, e aqueles que
antes apenas escutavam agora contavam também. Todos começaram a
ficar mais atentos aos próprios sonhos e às coisas que lhes aconteciam
no dia-a-dia, na certeza de que assim teriam também experiências a
trocar, em forma de grandes aventuras.
O tempo passou mais ainda, e pouco a pouco, assim como ele, as pessoas
também foram mudando. Até que chegou o momento em que ninguém mais
se interessava pelas histórias contadas sob a generosa árvore da praça.
O jovem homem de outrora era agora um ancião de cabelos brancos e
costas arqueadas.
Mas sua rotina permanecia a mesma: durante o dia transformava o barro;
ao cair da noite contava histórias. Só que agora as contava para si
mesmo, pois ninguém mais se aproximava.
Todos tinham muito o que fazer em seus pequenos mundos particulares.
Tempo não se trocava mais por experiências e encantamentos; trocava-se
por dinheiro. Assim sendo, ouvir um velho contador de histórias, que falava
de aventuras, de ensinamentos milenares, de heróis que com inteligência
venciam dragões… ah não! Seria perda de tempo. Além disso, é verdade
que as novas lojas da cidade com suas vitrines tentadoras faziam sonhar
mais que as histórias do velho.
Chegou então um inverno rigoroso. Numa boca de noite que se anunciava
gelada, o velho, na mesma hora de sempre, colocou-se a postos e começou
a se contar histórias. Ria sozinho, entristecia sozinho e se surpreendia
sozinho, com tudo o que contava para si mesmo.
As pessoas corriam de um lado para outro sem lhe dar atenção. Foi
quando algumas crianças, incomodadas com a situação do velho,
aproximaram-se dele e disseram:
- Mas vovô, com tanto frio, por que não volta para casa? Não vê que
ninguém mais quer escutar suas histórias? Por que continua contando?
49
- Antes, respondeu o velho, quando era jovem, eu contava histórias para
mudar o mundo; queria torná-lo mais belo. Agora, solitário, eu me conto
histórias para que o mundo não me mude.
Os contadores de histórias são uma espécie de guardiões de tesouros.
Não daqueles que possam comprar o mundo, mas dos tesouros que
ensinam a compreender o mundo e a si mesmo. Eles semeiam sonhos e
esperança, sendo chamados de “gente das maravilhas” pelos árabes.
As histórias falam de ética, de amor, de sabedoria, enfim, da vida e do que
vale a pena ser vivido, apontando um sentido profundo para a existência.
Mas, para compreender sua linguagem, o ouvinte deve ser capaz de
despojar-se da arrogância e tornar-se criança curiosa novamente. Assim,
seus ouvidos estarão abertos para que, generosa e compassivamente, as
histórias o guiem pelos caminhos do coração, enquanto, é claro, também o
divertem.
50
Uma História Sobre Histórias
Conta-se que quando o grande fundador dos modernos Hassidim, Rabbi
Israel Baal Shem Tov, via que a desgraça ameaçava os Judeus, ele ia a um
determinado local da floresta para meditar. Lá ele acendia uma fogueira,
recitava uma certa oração, e o milagre acontecia, revertendo a desgraça
ou problema.
Mais tarde, quando o seu discípulo, o Rabbi Maggid de Mezritch, tinha
necessidade, pelos mesmos motivos, para pedir a intercessão dos céus, ele
ia ao mesmo local na floresta e dizia: “Senhor do Universo, ouça-me! Eu não
sei acender a fogueira, mas eu ainda posso recitar a oração.” E novamente
o milagre acontecia, o desastre era evitado, e a vida seguia com seus altos
e baixos.
Depois ainda, Rabbi Moshe-Leib de Sasov, para salvar seu povo uma vez
mais (desta vez, de si mesmos), ia à floresta e dizia: “Eu não sei acender a
fogueira, e não sei recitar a oração, mas eu sei qual o local, e isso deve ser
suficiente.” Era o suficiente, e o milagre da continuação da vida acontecia.
Então recaiu sobre Rabbi Israel de Rizhyn superar a desgraça. Sentado em
sua casa, com sua cabeça entre as mãos, ele falou a Deus: “Eu não sei
acender a fogueira, eu não conheço a oração, e nem mesmo posso
encontrar o lugar certo na floresta. Só o que posso fazer é contar a
história, e isso deve ser o suficiente.” E foi o suficiente.
Algumas pessoas dizem que Deus fez o homem porque Ele adora histórias.
51
Uma fábula sobre a fábula
(Lenda Oriental)
52
Cobriu as peregrinas formas de um couro grosseiro como os que usam os
pastores e foi novamente bater à porta do suntuoso palácio em que vivia o
glorioso senhor das terras muçulmanas.
Ao ver aquela formosa mulher grosseiramente vestida com peles, o chefe
dos guardas perguntou-lhe:
- Quem és?
- Sou a Acusação! - respondeu ela, em tom severo. - Quero falar ao vosso
amo e senhor, o sultão Harun Al-Raschid, Comendador dos Crentes!
O chefe dos guardas, zeloso da segurança do palácio, correu a entender-se
como o grão-vizir.
- Senhor - disse, inclinando-se humilde, - uma mulher desconhecida, o corpo
envolto em grosseiras peles, deseja falar ao nosso soberano, o sultão
Harun Al-Raschid.
- Como se chama?
- A Acusação!
- A Acusação? - repetiu o grão-vizir, aterrorizado. - A Acusação quer
entrar nesse palácio? Não! Nunca! Que seria de mim, que seria de todos
nós, se a Acusação aqui entrasse! A perdição, a desgraça nossa! Dizei-lhe
que não, que não pode entrar! Dizei-lhe que uma mulher, sob as vestes
grosseiras de um zagal, não pode falar ao Califa, nosso amo e senhor!
Voltou o chefe dos guardas com a proibição do grão-vizir e disse à
Verdade.
- Não podes entrar, minha filha. Com essas vestes grosseiras, próprias de
um beduíno rude e pobre, não poderás falar ao nosso amo e senhor, o
sultão Harun Al-Raschid. Volta, pois, em paz, pelos caminhos de Allah!
Vendo quem não conseguiria realizar o seu intento, ficou ainda mais triste
a Verdade e afastou-se vagarosamente do grande palácio do poderoso
Harun Al-Raschid, cuja cúpula cintilava aos últimos clarões do sol poente.
Mas...
Allahur Akbar! Allahur Akbar!
Quando Deus criou a mulher, criou também o Capricho.
E a Verdade entrou-se do vivo desejo de visitar um grande palácio. E havia
de ser o próprio palácio em que morava o sultão Harun Al-Raschid.
Vestiu-se com riquíssimos trajos, cobriu-se com joias e adornos, envolveu o
rosto em um manto diáfano de seda e foi bater à porta do palácio em que
vivia o glorioso senhor dos Árabes.
Ao ver aquela encantadora mulher, linda como a quarta lua do mês de
Ramadã, o chefe dos guardas perguntou-lhe:
- Quem és?
53
- Sou a Fábula - respondeu ela, em tom meigo e mavioso. - Quero falar ao
vosso amo e senhor, o generoso sultão Harun Al-Raschid, Emir dos
Árabes!
O chefe dos guardas, zeloso da segurança do palácio, correu, radiante, a
falar com o grão-vizir:
- Senhor, - disse, inclinando-se, humilde - uma linda e encantadora mulher,
vestida como uma princesa, solicita audiência de nosso amo e senhor, o
sultão Harun Al-Raschid, Emir dos Crentes.
- Como se chama?
- Chama-se a Fábula!
- A Fábula! - exclamou o grão-vizir, cheio de alegria. - A Fábula quer entrar
neste palácio! Allah seja louvado! Que entre! Bem-vinda seja a encantadora
Fábula: Cem formosas escravas irão recebê-la com flores e perfumes!
Quero que a Fábula tenha, neste palácio, o acolhimento digno de uma
verdadeira rainha!
E abertas de par em par as portas do grande palácio de Bagdá, a formosa
peregrina entrou.
E foi assim, sob o aspecto de Fábula, que a Verdade conseguiu aparecer ao
poderoso califa de Bagdá, o sultão Harun Al-Raschid, Vigário de Allah e
senhor do grande império muçulmano!
Tahan, M. (1957). Minha vida querida. Conquista.
54
A Ruína
Uma metáfora sobre depressão com raiva subjacente
E então, como você sabe, como nos sentimos
a respeito de algo imaginado ou real
cabe realmente a nós mesmos.
Como o homem de quem ouvi falar
que comprou um carro novo,
um carro esporte fantástico,
Que ele lavava e encerava e polia,
Pelo menos uma vez por semana, até mais.
Ele tinha tanto orgulho daquele carro,
até que um dia
alguém bateu nele,
fez um grande amassado,
um risco enorme na lateral,
e ele ficou tão chateado e ressentido,
que ele teve um acesso de raiva inicialmente,
se recusou a dirigi-lo por uma semana,
e quando finalmente dirigiu,
o fez de modo duro e rápido,
e se recusou a lavá-lo ou encerá-lo,
e sempre que olhava aquele amassado,
uma grande depressão na lateral,
ele ficava muito triste e com raiva,
e às vezes até chorava.
Aquilo mudou toda sua vida,
nada mais o fazia feliz,
nada parecia divertido.
Ele continuava olhando aquela depressão,
que o lembrava do quão mal se sentia,
quanto ódio e ressentimento ele tinha.
Toda vez que ele via,
ele sentia uma ferroada por dentro,
e ele pensava consigo mesmo,
“Por que ligar?” “Por que eu?”
“Nada nunca dá certo mesmo.”
Aquele risco amassado começou a enferrujar
e tornou-se um furo horrível
que ele encarava todos os dias
e sentia aquela sensação triste, furiosa de novo.
E após algum tempo,
ele não queria ir a lugar algum,
ele não queria fazer nada,
porque cada vez que ele saía,
ele via aquele furo de novo
e sentia-se mal de novo,
e só queria voltar para dentro e se esconder.
Era como se ele quisesse se sentir mal,
sentisse como se fosse certo,
e ele estava certo
55
mas ele podia ter feito alguma coisa,
porque ele tinha um seguro
diferente daquelas pessoas que vivem próximo aos rios, nos vales que se alagam
aonde tudo é levado embora
sempre que o rio transborda
e eles perdem tudo o que tinham
mas voltam quando as águas baixam
dizendo aos repórteres como são felizes por estarem vivos.
Eu acho que é difícil odiar um rio
ou considerar uma enchente uma agressão pessoal.
Eles dizem que é vontade de Deus
e continuam indo à igreja
onde eles rezam para que nunca mais aconteça,
mas sabem que provavelmente acontecerá
porque os rios transbordam,
como as pessoas cometem erros e fazem coisas erradas.
É da sua natureza, como eles são
e ninguém acha que um rio tem que ser diferente
ou fica com raiva ou ressentido quando ele faz o que faz,
e ninguém se preocupa que eles causaram a chuva,
a chuva que causou a enchente.
Eles simplesmente se mudam de volta
e seguem com suas vidas
e vão nadar ou passear de barco,
gratos porque o sol voltou,
o estrago desfeito.
(ir para sugestões diretas e encerramento do transe)
56
A abordagem da Utilização
Erickson contava sobre um rapaz que atendeu, certa vez, e que logo ao
entrar em seu consultório, começou a falar muito rápido, enquanto andava
de um lado a outro, dizendo que provavelmente ele seria mandado embora,
pois não conseguia ficar parado, e não conseguia sentar-se numa cadeira,
e não conseguia falar dobre o seu problema.
Então, Erickson lhe perguntou: “Você se importa de andar de um lado para
o outro em meu consultório?” O rapaz respondeu: “Se eu me importo? Ah,
você é esperto! Eu lhe disse que se eu não puder andar de um lado para o
outro não ficarei em seu consultório, então você consentiu. Não, eu não me
importo.” Erickson, então perguntou: “Você se importa se eu conversar com
você enquanto está andando?” “Não, é para isso que vim aqui. Mas não me
peça para sentar, nem me pergunte sobre o meu problema, pois não
consigo falar sobre meu problema.”
A conversa prosseguiu nesse tom, e Erickson aproveitava os momentos em
que o rapaz parava para respirar, para dizer: “Venha até essa cadeira”, “Dê
a volta, e vá até aquela cadeira”, “Agora vire-se, e vá até aquela outra”,
“Dê meia-volta, e venha até esta”, e assim por diante. Inicialmente,
Erickson falava rápido, acompanhando o ritmo da fala e dos movimentos
do rapaz, e inicialmente descrevendo os movimentos que o mesmo fazia.
Gradualmente, foi diminuindo um pouco, só um pouco, o ritmo de sua fala,
e passou a guiar os passos do rapaz: “Agora ande até aquela cadeira.
Vire-se e volte para onde você estava. Agora vire-se e volte para aquela
outra. Agora você está no meio. Dê a meia-volta e ande até aquela cadeira.
Vamos! Ande até aquela cadeira.”
O rapaz, então, foi diminuindo o ritmo de sua caminhada, na mesma
proporção. “Agora que chegou e já deu meia-volta, ande até aquela cadeira.
Você chegou até o meio, está no meio da sala, então vá até aquela
cadeira.” Erickson começa a falar cada vez mais devagar, e a respirar
entre uma instrução e outra.
A essa altura, o rapaz se acostumou a ouvir Erickson dizer por onde ele
deve andar, e fica perdido enquanto ele não lhe disser para onde ir. Fica
esperando a próxima instrução, enquanto Erickson respira bem fundo.
Pouco a pouco, Erickson começa a narrar trechos do percurso do rapaz:
“Agora você chegou na metade do caminho; agora, já que percorreu mais
da metade do caminho, dê meia-volta.” O rapaz hesita. Quando já andou
três quartos do caminho, Erickson muda a instrução: “Ande até aquela
outra cadeira.” Erickson dá as instruções por partes, fazendo com que o
rapaz não tenha mais a ideia do todo.
Então Erickson adiciona outro elemento: “Agora olhe para cada uma das
cadeiras, ande em direção a cada uma delas, olhe para elas, e tente
descobrir em qual delas você se sentiria menos desconfortável ao se
sentar.” O rapaz olha para as cadeiras e pensa nisso, enquanto continua
andando. Finalmente, decide que a cadeira onde se sentiria menos
desconfortável era aquela. Erickson então passa a dizer: “Agora dirija-se à
57
cadeira onde se sentiria menos desconfortável ao se sentar; afaste-se da
cadeira onde se sentiria menos desconfortável ao se sentar. Venha até
esta cadeira. Agora dirija-se à cadeira onde você se sentiria menos
desconfortável ao se sentar. Afaste-se da cadeira onde você se sentiria
menos desconfortável ao se sentar. Vá até a cadeira, vá até a cadeira
onde você se sentiria mais confortável ao se sentar. Afaste-se da cadeira
onde você se sentiria mais confortável ao se sentar.” Suavemente,
Erickson troca “menos desconfortável” por “mais confortável”. O rapaz,
aos poucos, passa a hesitar cada vez mais em frente à cadeira, e a se
perguntar quando será que vai poder sentar. Enquanto se dirige e se
afasta dela, hesita e começa a sentar. Erickson diz: “Não se sente ainda.”
O rapaz continua a se aproximar e se afastar da cadeira, hesitando, até
que finalmente senta, e Erickson afirma: “Agora que se sentou na cadeira,
se quiser, entre em transe”.
58
Intenções Positivas
Durante a Segunda Guerra Mundial, no auge da expansão japonesa no
Pacífico, havia pelotões de japoneses em milhares de ilhotas espalhadas
por uma imensa área do oceano. Quando a guerra tomou outro rumo,
muitas dessas ilhotas foram invadidas e ocupadas. Algumas, porém, nem
foram visitadas. Em muitas dessas pequenas ilhas, grupos de soldados,
ou sobreviventes isolados, esconderam-se em cavernas inacessíveis.
Alguns anos depois, a guerra terminou. Porém, como nem sequer tomaram
conhecimento do fato, alguns desses sobreviventes continuaram a lutar,
mantendo suas armas enferrujadas e uniformes rasgados da melhor
maneira que podiam, totalmente isolados, na esperança de voltar a se
reunir ao seu batalhão.
Nos anos que seguiram à guerra, muitos desses soldados foram
descobertos por terem atirado em pescadores ou barcos cheios de
turistas, ou foram encontrados pelos moradores das ilhas. À medida que
os anos passavam, eram descobertos cada vez menos soldados. O último
foi encontrado cerca de trinta anos após o término da guerra.
Imaginem a posição desse soldado. O governo de seu país o havia chamado,
treinado e enviado para uma ilha selvagem, para defender e proteger seu
povo contra uma ameaça externa. Como cidadão leal e obediente, ele
sobreviveu a inúmeras privações e batalhas durante os anos da guerra.
Com o fim do conflito, ele foi deixado para trás, sozinho ou junto com
alguns poucos sobreviventes. Durante todos aqueles anos, levou adiante a
batalha como podia, passando por terríveis privações. Apesar do calor, dos
insetos e das chuvas tropicais, foi em frente, obedecendo às instruções
que lhe foram dadas tantos anos antes.
Como deveria esse soldado ser tratado ao ser encontrado? Seria fácil rir
dele e chamá-lo de estúpido por ter continuado a lutar numa guerra que
terminara há trinta anos.
Sempre que uns desses soldados eram descobertos, porém, o primeiro
contato era sempre feito com muito cuidado. Algum ex-oficial de alta
patente tirava do armário seu velho uniforme e sua espada de samurai e
tomava um antigo navio militar até o local onde o soldado havia sido
localizado. O oficial entrava pela mata, chamando o soldado, até encontrá-
lo. Quando se viam frente a frente, o oficial, com lágrimas nos olhos,
agradecia o soldado sua lealdade e sua coragem por continuar a defender
o seu país durante todos aqueles anos. Em seguida, pedia-lhe que
contasse suas experiências e dava-lhe as boas-vindas. Somente algum
tempo depois, com muita delicadeza, contava-se ao soldado que a guerra
tinha terminado, que o país estava novamente em paz e que não era
necessário que ele continuasse a lutar. Ao voltar para casa, o soldado era
recebido com honras militares, desfiles e medalhas. A multidão agradecia-
lhe sua luta árdua e comemorava sua volta ao seio do seu povo.
59
Para começar... (uma indução com sugestões entremeadas)
Para começar, eu quero convidar vocês a relaxarem mais uma vez, cada um
do seu jeito... cada um de sua maneira... podendo manter os olhos
abertos... ou talvez preferindo fechar os olhos... para ouvirem uma pequena
história, que eu aprendi com meu avô. E aprender uma história envolve
mais do que simplesmente decorar as palavras, como fazem esses cursos
que estão por aí, que em vez de trabalharem com os conceitos que os
alunos precisam para utilizar as palavras que são ditas em seu dia a dia,
ficam apenas repetindo e repetindo, incessantemente, os mesmos velhos
parágrafos, que estão nos mesmos velhos livros, sem perceberem que os
novos meios de comunicação, como os celulares e os computadores de
todos os tamanhos têm facilmente acesso à Internet, e os conhecimentos
estão todos facilmente disponíveis para qualquer um. Talvez esses
métodos tenham sido úteis no passado, quando uma pessoa só podia
contar com a sua mente para gravar e lembrar-se de datas, nomes, fatos,
e outras coisas, e você pode imaginar como era difícil quando uma pessoa
tinha uma doença que a deixava inconsciente, e informações
importantíssimas que só estavam registradas ali, na mente, ficavam
perdidas... Mas quando a pessoa é sábia, deixa todos esses pormenores já
preparados, podendo, por exemplo, manter uma agenda... ou um caderno...
que tem todos os números e contatos... todas as informações... para que
os recursos financeiros e pessoais não fiquem imobilizados... E meu avô...
que não tinha uma educação formal... tendo tido que trabalhar muito
cedo... sem oportunidade para estudar... me contava que ele teve que
transformar suor em recursos financeiros... para superar as suas
dificuldades ao deixar seu país de origem, a Polônia, em meio aos eventos
que antecederam a segunda grande guerra... vindo de navio até o Brasil...
onde encontrou muitos desafios... como uma língua estranha... e um povo
estranho... às vezes nem mesmo conseguindo encontrar o caminho para
retornar para a pequena pensão onde ele morava... depois de um dia árduo
de trabalho... mas ele acreditava que estava buscando as soluções para
conseguir buscar sua esposa... minha avó... que ele havia deixado ali...
naquela pequena vila polonesa... quando eles se casaram... e o sogro
advertiu... para que o genro recém-casado se lembre sempre, todos os
dias, da origem humilde e do compromisso assumido... pois apesar da
dificuldade que fora conseguir uma única passagem... naqueles tempos
difíceis... ele se comprometera a trabalhar na “terra nova”... e depois
comprar uma segunda passagem... para trazer a noiva que ele mal
conhecia... e embora a situação não se resolva imediatamente, ele não
imaginou o quanto teria que ficar dando voltas e mais voltas pela cidade
de São Paulo... buscando novos empregos que possibilitassem um ganho
um pouco melhor... enquanto aprendia os significados das palavras em
português ou se distraia, nos raros momentos de descanso, vendo os
anúncios que prometiam novas maneiras de viver... com invenções que
pareciam mirabolantes... mas que estavam sempre completamente fora de
seu alcance... sem ver as perspectivas de concretizar seu sonho de trazer
a esposa se aproximarem... ainda mais quando seus colegas de trabalho...
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nos finais de tarde das sextas-feiras... aconselhavam: “venha conosco e se
esqueça daquela “polaca”... pegue esse dinheiro que você ganhou e aplique
no seu lazer, no seu descanso!” Mas ele não cedeu a esses conselhos e
essas tentações... e foi adquirindo novas habilidades... e utilizou as
palavras que haviam sido aprendidas para começar a trabalhar por conta
própria... como vendedor ambulante... fazendo aqui no Brasil o seu pé de
meia... sua poupança... aplicando aquele dinheiro ganho com tanto suor
apenas quando e onde sabia que poderia fazê-lo com segurança, até que,
aproximadamente um ano depois de sua chegada, com muito orgulho por
ter conseguido conquistar os recursos para cumprir com sua
responsabilidade, ele comprou e mandou a passagem para a Polônia,
trazendo a esposa antes que os horrores da guerra se iniciassem... E essa
história tem um final feliz... pois eles permaneceram juntos por muitos
anos... tendo cinco filhos... e conseguindo proporcionar estudos a todos
eles... que, cada um a seu modo, prosperaram e criaram as suas próprias
famílias... até aqui... até o presente momento... e vocês podem também ir
voltando... cada um a seu modo... ao presente momento... para terem um
dia maravilhoso... com muita disposição e vontade de aprender. Muito
obrigado por sua presença e sua participação. Vamos começar mais esse
dia de curso!!!
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Ato de Amor
A águia empurra gentilmente seus filhotes para a beirada do ninho. Seu
coração maternal se acelera com as emoções conflitantes, ao mesmo
tempo em que ela sente a resistência dos filhotes aos seus persistentes
cutucões: "Por que a emoção de voar tem que começar com o medo de
cair?", ela pensou. Esta questão secular ainda não estava respondida
para ela.
Como manda a tradição da espécie, o ninho estava localizado bem no alto
de um pico rochoso, nas fendas protetoras de um dos lados dessa rocha.
Abaixo dele, somente o abismo e o ar para sustentar as asas dos filhotes.
"E se justamente agora isto não funcionar?", ela pensou.
Apesar do medo, a águia sabia que aquele era o momento. Sua missão
maternal estava prestes a se completar. Restava ainda uma tarefa final...
o empurrão.
A águia tomou-se da coragem que vinha de sua sabedoria interior.
Enquanto os filhotes não descobrirem suas asas, não haverá propósito
para sua vida.
Enquanto eles não aprenderem a voar, não compreenderão o privilégio que é
nascer uma águia. O empurrão era o maior presente que ela podia oferecer-
lhes. Era seu supremo ato de amor. E então, um a um, ela os empurrou
para o abismo... e eles voaram!
62
Bibliografia sugerida
Trancework: An Introduction to
Michael D. Yapko Routledge Importado
the Practice of Clinical Hypnosis
63
Hipnose Médica e Odontológica - Milton H. Erickson,
Livro Pleno Usado
Aplicações Práticas Seymour H., Irving L.
Manual de Hipnoterapia
Sofia Bauer Wak Novo
Ericksoniana
William H. O'Hanlon,
Em Busca de Soluções Psy Usado
Michele Weiner Davis
64
Referências
Elkins, G. R., Barabasz, A. F., Council, J. R., & Spiegel, D. (2015). Advancing
Research and Practice: The Revised APA Division 30 Definition of
Hypnosis. International Journal of Clinical and Experimental Hypnosis,
63(1), 1-9. DOI: 10.1080/00207144.2014.961870
Erickson, M. H., Rossi, E. L., & Rossi, S. I. (1976). Hypnotic realities: the induction of
clinical hypnosis and forms of indirect suggestion. Irvington.
Rhue, J. W., Lynn, S. J., & Kirsch, I.. (1993). Handbook of Clinical Hypnosis.
American Psychological Association.
Weitzenhoffer, A. M. (2000). The practice of hypnotism (2nd ed.). John Wiley & Sons.
65