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O documento discute o engano da visão de que o comunismo acabou com a queda da União Soviética. O autor argumenta que, apesar de exultar inicialmente, sua experiência com o comunismo o deixou desconfiado, e que o livro de Fukuyama sobre o fim da história subestimou a capacidade de manipulação e adaptação do comunismo. O autor vê o consenso apontado por Fukuyama como incompatível com sociedades abertas, onde o debate e a discordância são essenciais.

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O documento discute o engano da visão de que o comunismo acabou com a queda da União Soviética. O autor argumenta que, apesar de exultar inicialmente, sua experiência com o comunismo o deixou desconfiado, e que o livro de Fukuyama sobre o fim da história subestimou a capacidade de manipulação e adaptação do comunismo. O autor vê o consenso apontado por Fukuyama como incompatível com sociedades abertas, onde o debate e a discordância são essenciais.

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O

EIXO DO MAL LATINO-AMERICANO


E A NOVA ORDEM MUNDIAL

Heitor de Paola


PREFÁCIO

Olavo de Carvalho



Se o jornal eletrônico Mídia Sem Máscara não servisse para mais nada, só o ter
revelado aos leitores brasileiros o analista político Heitor de Paola já bastaria
para justificar sua existência e torná-la mesmo indispensável. O homem, de fato,
não tem equivalente na "grande mídia" nem – até onde posso enxergar – nas
cátedras universitárias, tal a amplitude do horizonte de informações com que lida
em seus comentários e tal a claridade do olhar que ele lança sobre o vasto,
complexo e móvel panorama da transição revolucionária latino-americana,
reduzindo a sequências causais coerentes a variedade dos fatos em que seus
colegas – digamos que o sejam – não enxergam senão um caos fortuito ou a
imagem projetada de seus próprios sonhos, desejos, preconceitos e temores.

Na pequena e valente equipe de colaboradores da publicação, remunerados a
leite de pato (sim, nós, os cães-de-guarda do capital, não temos capital nenhum,
ao contrário dos pobres e oprimidos que nadam em dinheiro dos ministérios e
das fundações estrangeiras), as felizes coincidências acabaram por produzir uma
divisão de trabalho na qual ninguém tinha pensado de início: se os demais
redatores sondam em profundidade certos aspectos especiais, ou investigam para
trazer ao conhecimento do público fatos que a mídia comprometida ignora por
malícia ou por inépcia genuína, no fim vem o Heitor de Paola e articula tudo em
grandes esquematizações diagnosticas que resumem o sentido do jornal inteiro e
das quais o jornal inteiro, por sua vez, fornece as provas detalhadas. E uma
grande alegria para mim ter sido o pai de um órgão brasileiro de mídia que,
malgrado todas as suas limitações que ninguém nega, permanece o único onde as
notícias não desmentem as análises e as análises não saem voando para longe
das notícias.

Na verdade o jornal revelou Heitor de Paola ao próprio Heitor de Paula,
roubando-o em parte aos clientes do seu consultório de médico e psicanalista e
colocando-o diante do caso clínico mais dramático e desesperador que já passou
pelo divã de um discípulo (não muito fiel) do Dr. Freud: um continente
neurotizado por um intenso tiroteio cruzado de ações camufladas e mentiras
ostensivas que ultrapassa imensuravelmente a capacidade de compreensão da
inteligência popular e a engolfa num abismo de esperanças ilusórias, terrores
sem objeto e ódios sem sentido.

Neurose, dizia um outro ás da clínica psicológica, o meu falecido amigo Juan
Alfredo César Müller, é uma mentira esquecida na qual você ainda acredita. Não
é só uma figura de linguagem. E o resumo compacto de uma ordem causai que a
observação clínica confirma todos os dias. O processo tem três etapas: mentir,
ocultar a mentira de si próprio e, por fim, entregar-se à produção compulsiva de
pretextos, fingimentos e racionalizações sem fim, os mais postiços e
contraditórios, para poder continuar agindo com base naquilo que se nega e ao
mesmo tempo defender-se desesperadamente da revelação dos motivos iniciais
verdadeiros que determinaram o curso inteiro da mutação patológica.

Aplicado ao estudo dos processos histórico-políticos, o conceito tem de ser
ajustado para dar conta de várias sequuências neurotizantes simultâneas e
sucessivas, que, ao entremesclar-se num caleidoscópio de falsificações, tornam a
forma geral do processo totalmente invisível à massa de suas vítimas, ao mesmo
tempo dão visibilidade hipnótica a aspectos isolados e inconexos, artificialmente
dramatizados como "problemas urgentes", fazendo com que do mero caos
mental se passe às ações arbitrárias e desesperadas que complicam o quadro da
vida real até à alucinação completa. Diversamente do que acontece na neurose
individual, onde o autor e a vítima da mentira são a mesma pessoa, as neuroses
coletivas são produzidas desde fora, por grupos de estrategistas e engenheiros
sociais que, ao menos num primeiro momento, imaginam poder controlá- las em
proveito próprio, mas que em geral acabam sendo eles mesmos arrebatados pelo
movimento de destruição que geraram: nunca houve grupo de líderes
revolucionários que não acabasse sendo dizimado pela própria revolução.

No meio desse turbilhão, alguns indivíduos privilegiados conseguem manter-se à
tona no mar de destroços e enxergar, mais ou menos, a direção do abismo para
onde vai a corrente. Não por coincidência, esses observadores realistas são
habitualmente recrutados entre aqueles que definitivamente não gostam do curso
presente das coisas, mas que, por absoluta falta de vocação política, ou por
estarem em minoria infinitesimal sem possibilidade de interferir na situação,
reagem para dentro, intelectualmente, e não produzem planos de ação, mas
diagnósticos da realidade, sem os quais a simples intenção de agir já seria apenas
uma contribuição a mais para a loucura geral.

Heitor de Paola é um desses. Não é só a experiência clínica que o qualifica
especialmente para a função. A inteligência analítica da qual ele dá algumas
amostras notáveis neste livro deve algo à militância revolucionária de juventude
que o torna a seus próprios olhos um pouco culpado por aquilo que na época não
podia prever mas hoje é obrigado a ver. Tanto melhor. Only tbe wounded can
beal, diz um provérbio inglês.

Richmond, VA, 29 de maio de 2008



INTRODUÇÃO

“O bem estar do povo tem sido
particularmente um álibi para tiranos.”
Albert Camus



Tendo sido comunista no passado e pertencido a uma das organizações
clandestinas, a Ação Popular (AP), entre os anos de 1963 e 1968, que abandonei
por não concordar com o desencadeamento da "luta armada contra a ditadura",
inicialmente exultei com o tão propalado "fim do comunismo" com a queda do
Muro de Berlin e a derrocada da União Soviética. Mas, conhecedor do sistema
por dentro, das formas de atuação, das teorias e da ideologia comunista, da
crueldade de seus métodos de conquista e manutenção do poder, da capacidade
de manipulação de mentes e de sua característica amorfa e protéica, restaram-
me a desconfiança e a perplexidade que cresceram na razão inversa do aumento
desta crença entre os liberais e das inúmeras demonstrações de regozijo e
manifestações do triunfo capitalista. O livro de Francis Fukuyama, O Fim da
História e o Último Homem, publicado no Brasil em 1992, causou-me mal estar
e preocupação desde as primeiras páginas. O autor começa argumentando que
"nos últimos anos, surgiu no mundo todo um notável consenso sobre a
legitimidade da democracia liberal como sistema de governo, à medida que ela
conquistava ideologias rivais como a monarquia hereditária, o fascismo e, mais
recentemente, o comunismo". Fukuyama deve ter dormido durante os anos a que
me referirei adiante ou quis aproveitar para faturar alto com o desbaratamento da
URSS. Ou pode tê-lo escrito em função de suas ligações com o (Council on
Forreign Relations, pois seus artigos são regularmente publicados pela Foreign
Affairs e pelo Le Monde Diplomatique, duas Bíblias da esquerda mundial.

Esta visão teleológica da história é de inspiração nitidamente hegeliano-marxista
onde Fukuyama apenas mudou a finalidade do "processo histórico": do
estabelecimento pleno do comunismo e das benesses da máxima marxista de a
ida um de acordo com suas capacidades, a cada um de acordo com suas
necessidades, a imagem do céu na Terra apenas mudava para o pleno
estabelecimento da liberdade de pensamento e iniciativa. Nada mudara, portanto,
não havia nenhum rompimento radical com o pensamento marxista, com a noção
absurda da existência de um "processo histórico" com meios e fins a atingir,
apenas o mesmo estava sendo utilizado para outras finalidades igualmente
fantasiosas e onipotentes. Em segundo lugar, a própria idéia de consenso é
incompatível com a opção por uma sociedade aberta e livre, onde jamais existe
consenso e na qual a discordância é o alimento essencial do debate. Em terceiro
lugar, a afirmação era um verdadeiro despropósito num mundo onde mais da
metade da população continuava submetida às atrocidades dos regimes
comunistas da China, Coréia do Norte, Vietnam, Cuba e em alguns países do
Leste Europeu. Outra grande parcela vivia sob o tacão das botas de tiranos
assassinos, principalmente na África. E outra ainda, submetida às teocracias
islâmicas não menos tirânicas. Fukuyama mostrava ser mais um intelectual
"iluminado" idêntico aos marxistas, sem nenhum compromisso com a realidade.

O que mais me impressionou foi exatamente a não ruptura com o esquema
intelectual marxista. Talvez porque o autor jamais tenha sido comunista. Quem
já o foi, entendeu do que se trata o comunismo, e saiu, naão pode menos do que
tornar-se um anticomunista radical rejeitando inclusive, in totum a concepção
materialista dialética da história. Não resta opção mediana, "deixei de ser
comunista, mas não sou anti porque seria desconhecer os erros e falhas do
capitalismo, da democracia, do laisse faire, que também não resolveram
problemas graves da humanidade como a miséria, a pobreza e a desigualdade".
Quem pensa assim não deu passo algum, sua "saída" da ideologia é apenas um
aulo-engano, continua fisgado pela mesma visão de mundo que supõe ter
abandonado. O liberalismo jamais prometeu coisa alguma, apenas a liberdade de
cada ser humano defender seus próprios interesses. Só que, ao ser bem sucedido,
ele beneficia inúmeros outros seres. Não por ser predestinado, mas por simples
consequência lógica aumenta o número de empregos e melhora o padrão de vida
da coletividade.

Outro ponto fundamental da minha desconfiança do "fim do comunismo" foi a
total ausência de processos contra os facínoras e assassinos apeados do poder –
com a única exceção da Romênia, ainda assim débil – de algo como um Tribunal
de Nüremberg, leis proibindo definitivamente a divulgação das idéias e
publicações comunistas e banindo seus símbolos e bandeiras. Pelo contrário, as
versões marxistas da história e o revisionismo são hegemônicas, bandidos do
tipo Fidel, Che, Allende, Sandino, Lamarca, Marighela e outros são entronizados
no altar dos heróis latino- americanos. É como se, ao invés de atacar e destruir a
Alemanha, o Ocidente tivesse se contentado com "democratizá-la" com a mesma
elite da SS e da GESTAPO no poder (Himmler bem que tentou!).

Camisetas com imagens de Che são vendidas em butiques chiques. Já
imaginaram se tivessem a cara de Adolf Hitler? A Suástica foi banida, embora
seu uso pelos nazistas tenha sido um roubo explícito de antigas tradições – dos
índios Hopi aos Astecas, dos Celtas aos Budistas, dos Gregos aos Hindus – mas
a Foice e o Martelo entrelaçados, símbolo tipicamente comunista, permanece e
até mesmo a bandeira do Exército Russo voltará a usá-la, sendo que a companhia
aérea russa Aeroflot nunca o eliminou. Enquanto se exulta pela queda das soi
disant ditaduras militares da América I.atina, exalta-se o tirano mor e seus
asseclas cubanos. Enquanto a divulgação do Holocausto nazista é milhares de
vezes repetida e ninguém ousa dizer que "o nazismo era até uma boa idéia
desvirtuada pelo hitlerismo", é o que se escuta do comunismo: é uma boa e
generosa "utopia", deturpada pelo stalinismo. O comunismo ainda não foi
atingido e continua uma utopia generosa desvirtuada. Os campos de
concentração nazistas são expostos e execrados, com justiça, enquanto o
GULAG permanece conhecido apenas dos interessados na literatura específica,
se tanto nos livros de Solzhenitsyn e outros dissidentes. Hitler, execrado como o
maior genocida da história matou uns 20 milhões, Mao matou 60 e Stalin uns 50
e são adorados. Pinochet foi responsável pela morte de uns 3.000, largou o poder
quando perdeu um plebiscito, Fidel já ultrapassou a cota dos 100.000 mortos (em
toda a América Latina e na África, em Cuba estimam-se 17.000) e há 2 milhões
de cubanos exilados, não obstante continua lá 49 anos depois (quando o livro foi
para o prelo, Castro já havia se licenciado e assumia seu irmão Raul) Quem o
execrado? Quem o indômito herói?

***

Uma maneira hipócrita de tentar desmoralizar a opção anticomunista dos ex-
comunistas é afirmar a respeito dos mesmos que eles nada mudaram, apenas
trocaram de lado. É preciso esclarecer isto antes de prosseguir. Como, ao longo
do livro ao falar da essência do comunismo, farei inúmeras considerações sobre
o assunto, basta aqui citar Viktor Kravchenko.

Viktor Andreievitch Kravchenko (1905-1966), escreveu suas experiências como
agente soviético no livro I Chose Freedoon. Entrou para o Partido Comunista em
1929 e participou do processo de coletivização forçada do campo na Ucrânia, na
bacia do Don. Inicialmente, ele participara ativamente com muito entusiasmo,
mas testemunhou a morte pela fome de milhões de camponeses em nome dos
quais se fez a Revolução (é a Foice do símbolo), o aprisionamcnto do GULAG
ou a execução sumária dos que esboçavam alguma oposição ou compaixão. Os
víveres eram acumulados com exclusividade para os próceres do Partido local e
os enviados de Moscou. Mostra com crueza o grau de degradação moral e ética,
além da corrupção do processo de pensar, que é necessário para um indivíduo
assistir e aceitar a morte por inanição de milhares de semelhantes... em nome
exatamente da melhora de situação dos seus semelhantes – no futuro. É preciso
atingir um nível de organização mental esquizóide – dois sistemas mentais
incomunicáveis – que impeça o indivíduo de dialogar consigo mesmo e afaste de
si as objeções morais, éticas ou religiosas que o ameaçam com sentimentos de
culpa, compaixão e empatia, conduzindo à corrupção do próprio processo de
pensar, o que torna a verdade cada vez mais persecutória e temida. Como estes
dois sistemas incomunicáveis não conseguem ser tão estanques como seria
desejável, é necessário a reafirmação constante por parte do grupo que partilha
ardorosamente a mesma mentira. Por isto, um comunista não existe senão em
grupo. Se alguém tenta expressar uma verdade num grupo desses desperta
imediatamente intenso ódio e inveja, e maior coesão do grupo – e da mente de
cada um em particular que fica ameaçada de uma cisão terrível – para reforçar o
delírio megalomaníaco e expulsar o caráter perturbador da verdade.

Durante a II Guerra foi nomeado para a Missão Comercial Soviética em
Washington, D.C. e em 1943 pediu asilo político. Apesar do pedido de
extradição da URSS o asilo foi concedido. A publicação do livro gerou intensos
protestos por parte de todos os Partidos Comunistas do mundo, principalmente
pelo Francês que o acusou de mentiroso no semanário Les Lettres Franqaises.
Kravchenko processou-o por difamação. No julgamento em 1949, apesar da
pressão irresistível dos PCs, conseguiu apresentar testemunhas que estiveram
presas, como Margrete Buber-Neumann que, quando do Pacto Molotov-
Ribbentrop foi entregue aos nazistas e internada em Ravensbrück. Kravchenko
ganhou a causa, vindo a morrer por ferimentos a bala de forma misteriosa, mas
dada como suicídio.

Cedo percebi que as organizações "revolucionárias" não passavam de grupelhos
de filhinhos-de-papai com a vida garantidas (inúmeras reuniões de que participei
como Vice Presidente da UNE com o Comando Nacional de AP foram
realizadas em mansões do Morumbi ou dos Jardins, para onde fui levado em
carros importados de luxo, com direito a mordomo e regadas a champanhe
trances ou uísque 25 anos. As militantes de uma organização "co-irmã”, a
Organização Revolucionária Marxista Política Operária (POLOP), eram
conhecidas como loiríssimas, belíssimas e riquíssimas!) que estavam levando de
roldão operários e camponeses os quais depois abandonavam à própria sorte. Fui
o responsável por dois destes casos. Um operário que "ampliei" (termo que se
aplicava ao aumento do número de militantes na organização), e por orientação
da AP promoveu uma greve na fábrica na qual trabalhava, foi despedido e não
mais conseguiu emprego, sua mulher e filhos o abandonaram, começou a beber
cada vez mais e foi abandonado por todos os "companheiros", eu inclusive. Uma
outra “ampliação” minha foi um líder camponês que também abandonou a
família para aderir à "luta armada" e do qual nunca mais ouvi falar.

Todos os militantes eram instigados a abandonar as "noções burguesas de
moralidade religiosa" submetendo-as aos imperativos revolucionários. Assim
eram atingidos os princípios do não roubar, não matar e ser sincero nas relações
humanas. Uma das tareias dos militantes era roubar para a causa qualquer coisa
que estivesse ao seu alcance. Como eu estudava medicina fui instruído a roubar
material de primeiros socorros e instrumental cirúrgico do Hospital Escola, com
vistas às futuras necessidades de estabelecer hospitais clandestinos para as ações
guerrilheiras – ideia delirante que jocosamente passei a chamar de el sueño de
Sierra Maestra. Como minha formação moral me impedia de dar este passo fui
alvo de intensas críticas de desvio ideológico. Obrigado a uma autocrítica tentei
argumentar que o Hospital Escola era uma instituição para o povo que queríamos
ajudar. E foi aí que eu aprendi algo: jamais tentem argumentar com um
comunista em termos lógicos! A lógica é sempre distorcida para justificar,
desonestamente, qualquer coisa. O debate é desigual, pois quem tem limites
lógicos para argumentar já parte em tremenda desvantagem.

Um outro fator a influenciar minha decisão foi quando, numa reunião do
"Comando Zonal Sul – RS" discutia-se o caso de um militante recém "ampliado"
que, por força de nosso apoio tornara-se presidente de um importante Centro
Acadêmico e dava mostras de "fraqueza ideológica" e independência de
pensamento. Passou-se a discutir se num processo revolucionário aberto, que
estava em preparação, alguém teria coragem de matar um "companheiro" ou ao
menos dar a ordem para isto. Eu disse que teria coragem de dar a ordem. No
momento, até a mim mesmo pareceu uma bravata, mas, mais tarde, pensando
comigo mesmo fiquei horrorizado com a possibilidade de chegar a um ponto em
que isto se tornaria inevitável: numa situação plenamente revolucionária pode
chegar o momento do "ou ele ou eu" Isto aconteceu em final de 1967, logo em
janeiro de 1968 fomos informados das preparações para a "luta armada contra a
ditadura". Era a hora de dar o fora, o que fiz não sem sofrer ameaças por parte de
meus antigos "companheiros" – a mudança do termo camarada (do
russo tovarishch) para companheiro foi de uma esperteza genial, não somente
por razões de sigilo, mas para atrair pessoas que tinham algo contra ser capacho
de Moscou. Da mesma forma, comunismo foi substituído por socialismo. Eu
próprio jamais teria entrado para o PCB ou do B, mas a AP "não era comunista,
apenas socialista", me defendia um “socialismo cristão” (fora fundada pelo
pessoal da Juventude Universitária Católica – JUC) e supostamente seguia a
Doutrina Social da Igreja, bem mais palatável, mesmo para não cristãos. Mas o
que não era dito para as "ampliações” e só descoberto depois de certo avanço na
militância, é que o tal Documento Base de AP era apenas um estratagema
sedutor, havia outro secreto, claramente maoísta ao qual só os já confiáveis
podiam ter acesso e neste já constava a adesão ao marxismo-leninismo)
"Socialismo cristão'' não passa de uma isca criada depois da invasão gramscista
da Igreja Católica através da "opção preferencial pelos pobres" e a Teologia da
Libertação, o que será abordado em detalhes ao longo do livro Não se enganem
os leitores, todas estas organizações que não trazem explicitamente o nome
comunista não passam de tentáculos da mesma hidra, organizações auxiliares do
Partido Comunista.

Anos depois, ao reencontrar a esposa de um antigo "companheiro", ela me
contou que o mesmo tinha caído na clandestinidade tornando-se um
revolucionário profissional. Ela o acompanhara até o momento em que ele
mostrou a ela a "necessidade revolucionária" de estar disponível para satisfazer
sexualmente outros militantes clandestinos que não tinha como fazê-lo sem
risco, fora da organização. Profundamente decepcionada ela o abandonara e
voltara para sua cidade e sua família. Mas não pensem os leitores que isto é uma
exceção, é a regra

***

Sustento que não há outra saída do inferno comunista do que a indignação moral,
do confronto consigo mesmo, com a culpa pelo grau de degradação ao qual já se
caiu e que pode aumentar mais porque, como dizem na minha terra “por porteira
que passa boi, passa boiada”. Ou se cai fora ou o abismo é infinito e cada vez
mais auto indulgência é necessária em doses crescentes. Não há argumento
racional, provas científicas da charlatanice marxista, comparação de resultados
econômicos, nada – pois todos que estão dentro sabem muito bem disto! Só vale
a indignação moral, e esta exige que se passe a combater o mal do qual se saiu
com todas as forças, não admite neutralidade nem tolerância. Chamar esta
posição de maniqueísta é outra armadilha do relativismo moral que preceitua que
não existe o mal nem o bem e que não podemos julgar nossos semelhantes pelas
suas opções ideológicas. Podemos sim, se a conhecermos por dentro sabendo do
que se trata. Segundo outro que saiu do inferno, David Horowitz, "contra-
revolucionário é um nome para a sanidade moral e a decência humana, um termo
de resistência para a depredação épica causada por sonhadores" (Politics of Bad
Faith) Quando digo que não confio em comunistas sou criticado como
intolerante, mas sei muito bem que comunista não tem palavra de honra, só
palavra de ordem! O que é dito ou feito é o que convém à 'causa" naquele
momento, o que pode mudar qual piuma al vento ("qual pluma ao vento"). É è
sempre misero chi a lei s affida, chi le confida. mal cauto il cuore (e tem sempre
um destino miserável aquele que nela confia e, ingênuo, espera ganhar seu
coração") (Verdi, La Donna è Mobile – tradução livre).

Desiludam-se os leitores que acreditam que o comunismo é uma utopia, muito
menos uma utopia generosa, um idealismo quixotesco. Não é. Esta "utopia" só
serve para atrair e seduzir simpatizantes – chamados por Lenin de idiotas úteis.
Suspeito que a substituição no Brasil de idiotas por inocentes úteis serve a um
propósito: iludir de que alguém pode simpatizar inocentemente com um regime
comprovadamente assassino e genocida no mais alto grau. Nunca encontrei um
revolucionário comunista autêntico – nem quando eu era um, nem depois – que
acreditasse por um segundo sequer na tal "utopia" que eles usam – nós usávamos
– para enganar os trouxas e imbecis e convertê-los em idiotas úteis Iembro-me
de como eram ridicularizados estes idealistas que serviam de excelente massa de
manobra! Nunca houve esta tal de utopia, ou idealismo utópico – só como
estratégia de doutrinação.
A razão principal pela qual a maioria das pessoas se deixa enganar pelos
embustes comunistas é a ignorância a respeito da essência do comunismo: ser
uma máquina de produção contínua, ininterrupta e eterna de mentiras. Mas
pessoas inocentes fazem perguntas ingênuas e óbvias como: se é tão bom lá,
porque você não vai para lá? Se o comunismo é para salvar a humanidade da
brutalidade capitalista, porque precisam matar tanta gente? Por que as pessoas
que vivem nestes paraísos são proibidas de sair para o exterior – o que jamais
aconteceu nas "terríveis ditaduras militares de direita"? Como não há uma
resposta racional para tais perguntas simples todos os militantes têm, na ponta da
língua, um "você não está entendendo nada" e passam a demonstrar como o
interlocutor é burro, ignorante, tacanho ou está seduzido pela ideologia
"burguesa". É uma das primeiras coisas que o simpatizante precisa aprender para
ser considerado "ampliável". Não, inocentes não caem nesta, é preciso uma
grande dose de malícia que aos poucos se desenvolverá em má-fé.

O primeiro grande falsificador foi Karl Marx, cuja visão fraudulenta da História
– o materialismo histórico – precisava ser provada de qualquer maneira sob pena
de ruir toda a estrutura mentirosa que começara a inventar. Já de início o
comunismo foi baseado numa grotesca falsificação de estatísticas feita pelo
próprio Marx para justificar sua idéia de que a Revolução Industrial e o
desenvolvimento capitalista tinham piorado a situação econômica dos
trabalhadores ingleses. Um grupo de historiadores reunido por Fredrich von
Hayek demonstrou cabalmente esta deturpação. Suas conclusões foram
publicadas no livro Capitalimo e a História: uma defesa do sistema primitivo de
fabricação e suas consequências econômicas e sociais. Re-interpretações
históricas, como O 18 Brumário de Luís Bonaparte demonstram cabalmente
suas intenções. Nesta obra Marx não somente faz uma interpretação dos
acontecimentos de 1848 na França à luz de suas idéias como, retroativa e
ironicamente, distorce o ocorrido nesta data em 1799 quando o tio de Luís,
Napoleão, deu o golpe no Diretório e tornou-se Imperador. Data desta obra a
reinterpretação da falácia hegeliana de que a história se repete: Hegel
demonstrou que todos os fatos e personagens de grande importância na história
do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a
primeira vez como tragédia, a segunda como farsa (Marx, 18 Brumário). Seria
Marx a representação farsesca de Hegel?

O grande arquiteto da desinformação sistemática foi Felix Edmundovitch
Dzerzhinsky, criador da primeira polícia secreta soviética, Tcheka. Quando
Lenin perguntou, ainda em 1918 a Dzerzhinsky, sobre qual a estratégia que
deveria ser adotada para influenciar o resto do mundo, recebeu como resposta:
"diga sempre o que eles querem ouvir, minta, minta sempre e cada vez mais. De
tanto repetir as mentiras elas acabam sendo tomadas como verdades" (Esta
expressão, levemente modificada, foi copiada por Paul Joseph Goebbels,
Ministro da Propaganda e do Esclarecimento do Povo do III Reich a quem foi
atribuída, erroneamente e provavelmente de má-fé, a autoria). A primeira fraude
fotográfica importante de que tenho notícia foi a supressão da imagem de
Trotsky ao lado da tribuna de onde Lenin discursava para as tropas na Praça
Svierdlov em 1920, obra do sucessor de Dzerzhinsky, Lavrenty Pavlovich Bieria
sob as ordens de Stalin.



Interlúdio
A hora de sair fora chegara e felizmente o fiz Restou-me a imensa perplexidade
de como eu poderia ter sido atraído por tal amontoado de mentiras e tolices
propagadas como filosofia e boa ciência econômica. E como tantas pessoas se
deixavam também iludir. Um ano após sair da AP formei-me em medicina e não
tive mais tempo para pensar muito sobre isto, pois minha pós-graduação exigia
enormes esforços de estudo e pesquisa especializados, além de estar recém-
casado e precisando de uma penca de empregos. Era o tempo do então chamado
"milagre brasileiro", que depois do revisionismo histórico e da fábrica de mitos
de que tratarei ao longo do livro, veio a ser chamado de "anos de chumbo". Não
parecia ser esta a opinião do atual Presidente da República quando era um líder
sindical ainda não pervertido pelas idéias comunistas, pois disse daquele
período. "Naquela época, se houvesse eleições, o Médici ganhava (...) A
popularidade do Médici no meio da classe trabalhadora era muito grande. Ora
por quê? Porque era uma época de pleno emprego" (Depoimento a Ronaldo
Costa Couto em Memória viva do regime militar, citado por Raymundo Negrão
Torres no livro 1964. A Revolução Perdida). Talvez seja a única concordância
que eu tenha com Sua Excelência: sobrava emprego, não só para metalúrgicos,
mas também para médicos e outras profissões e o salário mínimo era respeitável.
Os consultórios viviam cheios de pacientes particulares em todas as
especialidades clínicas, cirúrgicas e psicológicas.

Outro autor que não pode ser propriamente chamado de admirador do regime
militar, Elio Gaspari, em A Ditadura Derrotada (pp. 26-27), concorda com Lula
– e comigo: "Médici cavalgava popularidade, progresso e desempenho. Uma
pesquisa do IBOPE realizada em julho de 1971 atribuíra-lhe 82% de aprovação.
Em 1972 a economia cresceria 11,9%, a maior taxa de todos os tempos. Era o
quinto ano consecutivo de crescimento superior a 9%. A renda per capita dos
brasileiros aumentara 50%. Pela primeira vez na história as exportações de
produtos industrializados ultrapassaram um bilhão de dólares. Duplicara a
produção de aço e o consumo de energia, triplicara a de veículos, quadruplicara
a de navios. A (hoje falecida) Bolsa de Valores do Rio de Janeiro tivera em
agosto uma rentabilidade de 9,4%. No eixo Rio-São Paulo executivos ganhavam
mais que seus similares americanos ou europeus. Kombis das empresas de
construção civil recrutavam mão de obra no ABC paulista com alto-falantes
oferecendo bons salários e conforto nos alojamentos. Um metalúrgico
parcimonioso ganhava o bastante para comprar um fusca novo. Em apenas dois
anos os brasileiros com automóvel passaram de 9% para 12% da população e as
casas com televisão de 24% para 34%".

Certamente estes resultados do "capitalismo abjeto" e da "cruel ditadura que nos
oprimia", sentidos no próprio bolso, e a segurança que se gozava no País onde
"polícia era polícia e bandido era bandido" – ninguém tinha medo de sair à noite
em qualquer cidade do País, certa vez, para procurar um marceneiro que nos
devia um móvel, subimos eu e minha mulher uma favela num morro em Olaria,
a pé! – ajudaram em muito a minha "virada" ideológica, obviamente ainda em
termos exclusivamente práticos. Mas comecei a perceber algo estranho, que era
o motivo do regozijo de Giocondo Dias, Secretário Geral do Partido Comunista
Brasileiro quando dizia que "uma das maiores alegrias de um comunista é ver na
boca dos burgueses, nossos adversários, as nossas palavras de ordem": aos
poucos passei a ouvir "os burgueses" usando o linguajar, as doutrinas e palavras
de ordem comunistas, minhas velhas conhecidas dos tempos de ativista. A
princípio timidamente, mas logo com rapidez, certas expressões que antes eram
usadas por comunistas e execradas pelos "burgueses", passaram a ser proferidas
pelos últimos, como igualdade, injustiça social, ódio aos empresários e ao lucro.
Quanto mais a "pequena burguesia" melhorava de vida graças ao "milagre
brasileiro" mais execrava a si mesma, numa reação possivelmente culpada por
poderem usufruir condições econômicas nunca dantes imaginadas, como a
possibilidade de compra de casa própria facilitada pelo hoom imobiliário dos
anos Médici.

A culpa inconsciente pela rápida prosperidade tornava a classe média presa fácil
para a doutrinação invejosa que transforma inicialmente o linguajar e depois as
atitudes e atos das pessoas. Inicialmente foram acusados e depois passaram a se
auto-acusar de "privilegiados" ou "elite privilegiada", sem poderem valorizar que
o que estavam obtendo era fruto de seu trabalho e não de privilégios espúrios.
Em parte porque a busca de satisfações e prazeres sem as correspondentes
obrigações morais a tornava uma classe "postiça, desequilibrada, fútil e baseada
na ingratidão radical para com as gerações anteriores, essa forma de vida
produziu uma tremenda acumulação de culpas inconscientes, as quais, não
podendo recair sobre os culpados autênticos – que toleram a idéia de culpas
ainda menos que a da morte – são projetadas de volta sobre a fonte de seus
benefícios imerecidos" (apud Olavo de Carvalho). Os que ainda não tinham
acesso às boas novas passaram a ser chamados de "despossuídos", "oprimidos",
"vítimas da injustiça social" e da "concentração de renda nas mãos dos
privilegiados”. Esta, contudo, não era a percepção dos operários também
beneficiados, mas somente dos filhinhos-de-papai – estudantes e intelectuais,
o beautiful people da mídia e da moda. Este ódio ao capitalismo é resultado da
projeção psicótica que, "ao negar a realidade manifesta da prosperidade geral
crescente, imputa ao capitalismo até mesmo a miséria dos países socialistas"
(ibid), como atribuir a culpa da miséria de Cuba não à exploração de Castro e
sua quadrilha, mas ao embargo americano.

Observe-se a diferença entre alguém não possuir algo e ser despossuído: a
segunda expressão pressupõe uma ação por parte de outro que o "desapossa", ou
toma posse do que não lhe pertence, para seu próprio usufruto – portanto, de
apropriação indébita. O uso do particípio também do verbo oprimir pressupõe
ação de alguém que oprime. O que este processo visa criar na mente do
indivíduo tem nome: dissonância cognitiva.

Trata se de uma reação disruptiva causada por coerção psicológica que leva a
reagir a uma tensão mental e/ou emocional causada por tentar reconciliar duas
crenças opostas, conflitivas ou inconsistentes entre si. No caso em pauta, o
indivíduo usufrui o que obtém com seu trabalho, mas é bombardeado com a
noção de não passar de um ladrão responsável pela miséria que o circunda. São
clássicas as fotos de crianças morrendo de inanição com a frase "E você, não tem
nada a ver com isto?" para gerar e incrementar a culpa. E preciso estar muito
seguro de seus valores para dizer: não, não tenho nada a ver com isto, mas se
puder ajudar, ajudo, por caridade, não para construir "um mundo melhor
possível". Mas a caridade não é um abominável sentimento pequeno burguês? À
medida que mais e mais indivíduos vão se convencendo, começa a se formar um
consenso que leva a uma pressão grupai insuportável para quem não tem
princípios morais sólidos.

Simultaneamente, um outro fator é extremamente sedutor: o comunismo se
apresenta como a única força político-ideológica que leva em conta o chamado
determinismo histórico, representando o estudo de um suposto fim da história e
o processo necessário para lá chegar. Tudo o que a ela se opõe é contrário à
inevitabilidade do devir histórico e, portanto reacionário – no sentido de "reação
ao progresso inevitável da história rumo ao comunismo". Ao contrário, quem se
dedica àquela nobre causa se sente o sujeito e agente da história, um
progressista, parte de um todo cujo destino sublime é transformar o mundo num
paraíso. Reacionarismo/progressismo (como se disfarçavam os marxistas)
funcionava como uma régua de medir a aceitação das pessoas nos grupos de
"iniciados". Por isto, nunca é demais insistir neste ponto crucial: sempre que se
ouve falar em alguém ou alguma coisa ou uma idéia – o que seja – progressista é
certo de que se está falando de algo que serve aos desígnios comunistas, em
oposição ao conservadorismo retrógrado. Note-se que apesar de que conservar
não retroagir, pelo contrário, é como sinônimo que a esquerda usa as palavras
conservador e/ou reacionário. “Quem domina o passado, domina o presente;
quem domina o presente, domina o futuro". George Orwell reconheceu isto ao
criar o Ministério da Verdade no livro 1984.

O controle do futuro é absolutamente necessário para dar garantia às "profecias"
de Marx em sua rivalidade com Deus e a Bíblia: sua obra deveria substituí-la e,
portanto, deveria ter suas profecias confirmadas, mesmo que à custa de centenas
de milhões de mortos. Mikhail Bakunin dizia que "o Sr. Marx não acredita em
Deus, mas acredita profundamente em si mesmo. Seu coração contém rancor,
não amor. Ele é muito pouco benevolente com os homens e se torna furioso e
maldoso quando alguém ousa questionar a onisciência da divindade adorada por
ele, quer dizer, o próprio Sr. Marx". Pode-se dizer o mesmo dos marxistas de
todos os tempos: não passam de adoradores de si mesmos e de seus delírios de
poder.

Partindo de uma observação acurada da mente humana, Marx percebeu –
consciente ou inconscientemente – a preferência da Humanidade por mentiras
agradáveis a ter que conviver com verdades por vezes dolorosas. Ou pior, a um
estado de dúvida, o mais temido e rechaçado de todos – embora o único que
pode levar à introspecção e ao verdadeiro conhecimento. Substituiu então o
velho lema socialista-a cada um de acordo com seu trabalho – por outro mais
agradável – a cada um segundo suas necessidades. Enquanto o primeiro inclui
necessariamente algum esforço, o segundo acena com um estado de coisas
paradisíaco ou nirvânico no qual todos terão suas necessidades atendidas. A
mudança é sutil, mas fundamental. A recusa a pensar, a enfrentar as inevitáveis
dúvidas morais que assolam sem cessar o ser humano, impede a pessoa de
investigar seu interior e o mundo, e quanto mais cega se torna em relação ao
mundo, mais interessada em modificá-lo à sua imagem e semelhança. Ora, é
exatamente isto que Marx sugere quando dizia que os filósofos até hoje
cuidaram de entender o mundo, trata-se agora de modificá-lo. Modificar sem
conhecer, apenas aderindo a algum tipo de opinião fácil. Que apelo seria melhor
para preguiçosos mentais como nossos "intelectuais" acadêmicos? É o sonho de
todos os bebês: um peito inesgotável a jorrar constantemente o néctar sem
precisar nem sugar!

***

Como a ideologia opera através de um splitting, uma ruptura da personalidade,
permite evitar sentimentos dolorosos como a empatia com os outros e o amor ao
próximo, a misericórdia, a ternura. O amor ao próximo se torna um "amor a toda
a Humanidade", desprezando os seres reais e concretos que, em geral,
incomodam. Não há "amor ao próximo", considerado sentimento burguês, mas
um suposto e idealizado amor a Ioda a humanidade, o que inclui a possibilidade
de que o próximo poderá e deverá ser sacrificado em nome do todo, se assim for
exigido para aprofundar o processo histórico. Há uma verdadeira e profunda
inversão de valores. Além disto, a ideologia fornece elementos para alguns dos
mais baixos sentimentos humanos: a necessidade de projetar a culpa por seus
erros em bodes expiatórios, os burgueses, particularmente na adolescência,
quando o jovem está em pleno conflito com os pais; a inveja, que leva a querer
destruir tudo que é admirado, inclusive a riqueza dos pais, os burgueses, – a
ingratidão pelo recebido deles, a vingança contra tudo e todos que sejam
considerados culpados pelos infortúnios do passado, fornece belas desculpas
para a maldade e a mesquinharia, tornando-as virtudes, – a arrogância: sei tudo,
faço parte de uma elite iluminada, e os demais são uns burros que nada sabem, –
a oportunidade de compartilhar os mesmos sentimentos com um grupo unido
que "pensa" igual, permite o prolongamento das "patotas” da adolescência, é um
potente substitutivo pseudo-científico para as crenças religiosas consideradas "o
ópio do povo” por outra droga, materialista e supostamente demonstrável através
de meios racionais, mas que, como bem o demonstrou Raymond Aron, é o pior e
mais estupefaciente de todos os ópios (O Ópio dos Intelectuais). É irônico que
tenha sido um político a diagnosticar o grande mal psicológico do século e não
as pessoas que deveriam estar mais preparadas para fazê-lo: os psicanalistas e
psiquiatras. Ronald Reagan apontou que o comunismo "não é nem um sistema
político, nem econômico – é uma forma de insanidade – uma aberração
temporária que um dia desaparecerá da face da Terra porque é contrária à
natureza humana. Imagino quanta miséria causará antes de desaparecer" (Reagan
in his own hand).


Uma advertência necessária

Antes de prosseguir é necessária uma advertência. Insisti na indignação moral e
na introspecção com plena aceitação da culpa porque creio que uma outra
tentação se apresenta ao neófito do liberalismo: negar as bases morais e
religiosas judaico-cristãs do liberalismo e cair no extremo oposto, deixando-se
seduzir por esquemas tão amorais quanto o marxismo, como a pseudofilosofia
"Objetivista" de Ayn Rand baseada numa visão do homem como "um ser
heróico, com o único propósito moral de conseguir sua própria felicidade, tendo
como sua mais nobre atividade ser produtivo e bem sucedido, e a Razão como
seu único Absoluto". E por neófitos quero dizer não somente aqueles que saíram
do comunismo, mas também aqueles que, segundo dizem, "já na adolescência
perceberam que Marx estava errado". A não ser que seja um gênio não entendo
como um adolescente possa ter elementos intelectuais suficientes para tal. Estas
pessoas tendem a acreditar que o liberalismo é fruto da Deusa Razão dos
iluministas e que esta, se bem utilizada, como acreditam tê-lo feito, mostrara que
o único caminho é o liberalismo. Enganam se redondamente, pois a Razão gerou
o comunismo, o nazismo e todas as correntes totalitárias que assolaram os dois
séculos passados. A Razão desprovida de princípios gera, paradoxalmente, a
irracionalidade e a insanidade. Desconfio que Fukuyama é um desses seres
iluminados.

A desinformação não permite ver que, se o liberalismo é amoral em si mesmo,
ele é fruto de uma moral que o antecede e lhe dá forma humana sensível e só
pôde se desenvolver a partir dela. Sem o lento desenvolvimento da tradição
ocidental judaico-greco-cristã o homem jamais teria atingido uma concepção de
liberdade individual fundada no "conhece a ti mesmo antes de tudo" e no "ama
ao próximo como a ti mesmo", que é a verdadeira liberdade. Um sistema
baseado exclusivamente num aspecto superficial e parcial da mente humana – o
egoísmo – não pode menos do que sucumbir ao Terror. A negação violenta desta
tradição foi o motivo pelo qual o liberalismo evoluiu para o Terror, na França, e
foi por respeitá-la que os Founding Fathers estabeleceram as bases da
democracia liberal Americana. Se Adam Smith descreveu desapaixonadamente
como se fazem as riquezas das nações, também escreveu uma profunda obra
moral, Teoria dos Sentimentos Morais que inicia com a belíssima afirmação:
"Por mais egoísta que se suponha o homem, evidentemente há alguns princípios
em sua natureza que o fazem interessar-se pela sorte de outros, e considerar a
felicidade deles necessária para si mesmo, embora nada extraia disso senão o
prazer de assistir a ela. Dessa espécie é a piedade, ou compaixão, emoção que
sentimos ante a desgraça dos outros, quer quando a vemos, quer quando somos
levados a imaginá-la de modo muito vivo." Esta é a base da Razão sadia,
propriamente racional, e não insana. Acostumamos-nos a denominar as pessoas
que assim pensam de liberais conservadores. E aos demais de libertários.

Ao longo do livro pretendo demonstrar ser exatamente esta falta de princípios
morais e o desprezo pelos seres humanos que leva à improvável união entre os
comunistas e os metacapitalistas, termo cunhado por Olavo de Carvalho para
designar aqueles empresários e banqueiros que, tendo utilizado a concorrência
proporcionada pelo liberalismo para atingirem uma posição na qual esta não
mais lhes interessa, querem esmagá-la num controle mundial em que evitem
ameaças às suas posições de fortuna e poder. Basta ver o exemplo chinês: depois
de Fukuyama existem os entusiasmados com o que consideram a vitória do
capitalismo e do liberalismo na China com o programa um país, dois sistemas da
reforma de Deng Xiaoping. São na verdade, duas classes, os burocratas
governamentais unidos aos novos multibilionários da franja litorânea a eles
ligados umbilicalmente e um contingente de mais de um bilhão de escravos que
não têm o que comer. Chamar este sistema de liberal só serve para desmoralizar
o liberalismo. Desde a década de 50 do século passado a China é um continente
de escravos miseráveis, mas esta informação vem sendo sonegada e a
desinformação ativa vinha mostrando os "avanços" socialistas do povo. Só agora
passam a aparecer, certamente já como preparação de um futuro fechamento,
com ocorreu com a Nova Política Econômica na URSS, atribuindo ao
liberalismo a "desigualdade” que tinha sido suprimida com o maoísmo.


O recomeço

Contudo, todos estes entendimentos não foram suficientes para que eu
compreendesse uma nova enxurrada vulcânica que se desenrolava à minha volta.
Com o Governo Figueiredo, anistia e redemocratização à vista, o verdadeiro
entulho autoritário marxista que tinha submergido na clandestinidade veio
rapidamente à tona. Perplexo, percebi, inicialmente, como a penetração marxista
tinha sorrateiramente infectado as sociedades psicanalíticas às quais eu
pertencia. Congressos profissionais passaram a ter como norma o convite a
"filósofos" marxistas, cursos de pseudofilosofia com Leandro Konder e Carlos
Nelson Coutinho foram oferecidos, colegas fechavam seus consultórios para ir
ao Galeão receber o “maior brasileiro de todos os tempos”, Luís Carlos Prestes.
Na educação de meus filhos já se infiltravam também lemas da Teologia da
Libertação e interpretações marxistas da história.

O que acabara não era o comunismo, mas o anticomunismo. Criticar o
comunismo ou os comunistas ficara indelevelmente equacionado com defender a
"ditadura" e fazia do sujeito um pária. Note-se este pequeno extrato de
discussão: uma colega recém chegara de um Congresso de Psicologia Marxista
(o que quer que seja isto!) em Havana, um daqueles convescotes convocados
para atacar alguém ou alguma coisa através de manifestos políticos e onde a
ciência passa ao longe. Pois dizia ela entusiasmada que haviam "tirado posições"
radicais contra a ditadura Argentina (gostaria que me explicassem o que isto tem
a ver com Psicologia). Perguntei como se podia falar mal de uma ditadura em
Cuba, sede da pior ditadura da história da América Latina. Resposta: então você
é a favor do genocídio de 30.000 pessoas na Argentina? Concluí que deveria
aprender mais e, já folgado de tempo, esforcei-me por entender que coisa era
aquela! Alguns fatores ajudaram bastante.

Até a gestão do Professor José Carlos de Almeida Azevedo na Reitoria da
Universidade de Brasília, o acesso às obras dos autores liberais eram muito mais
difíceis do que é hoje – as editoras estavam todas nas mãos de comunistas como
Caio Prado Júnior, Enio Silveira e outros, além de que não havendo Internet era
tudo por carta e muito demorado – e eu não sabia nem por onde começar. Foi
quando aconteceu a chamada "crise do Departamento de Filosofia da PUC-RJ".
Pipocavam nos jornais debates entre Professores não marxistas e a Diretoria do
Departamento e a Reitoria sobre a perseguição que vinham sofrendo estes
professores. O estopim foi a recusa em publicar um trabalho de Miguel Reale. O
episódio foi relatado em livro do Professor Antonio Ferreira Paim – Liberdade
Acadêmica e Opcão Totalitária – que ao que eu saiba teve poucas edições e teria
merecido várias. A leitura deste debate memorável, como o denominou o autor,
causou-me na época profunda impressão. No dia 14/03/1979 o Jornal do Brasil
(note-se que a mídia ainda não estava dominada pela esquerda, hoje jamais
sairia) publicou uma carta da Professora Anna Maria Moog Rodrigues
endereçada ao Chefe do Departamento de Filosofia, na qual protestava contra a
censura de um texto do Prof. Miguel Reale – A Filosofia como Autoconsciência
de um Povo – numa coletânea didática para a Disciplina História do
Pensamento. No dia seguinte, o Jornal do Brasil publica uma carta-resposta do
Diretor do Departamento informando que o texto "não fora incluído na apostila
oficial, face ao caráter polêmico e controvertido das atividades políticas do
autor". Dois dias depois, o JB publicava a carta do Reitor justificando a atitude
do Departamento e qualificando de ridículas as alegações da Professora de haver
uma crise na Universidade. Imediatamente a mesma pede exoneração e é
acompanhada pelo autor do livro que dizia que, "sendo oficialmente reconhecida
a censura, não mais poderia permanecer no Departamento".

O debate se estende por muito tempo, incluindo a tomada de posição de três
prestigiosos jornais (JB, Globo, O Estado de São Paulo) a favor dos
demissionários – bons tempos aqueles em que a imprensa cumpria suas funções!
Só para ter idéia dos títulos: Filosofia Intolerante (JB), Discriminação Ideológica
(O Globo), A Opção Totalitária dos Intelectuais (Estadão), etc. Na brilhante
análise que faz da crise, entre outras preciosidades, o Prof. Paim põe o dedo na
ferida: Reale não tinha sido censurado por sua opção integralista de outrora – já
que eram aceitos os pensamentos de outros luminares integralistas como Hélder
Câmara, Alceu Amoroso Lima, Roland Corbisier, etc. – mas sim pelo
culturalismo de Reale que “corresponde à mais cabal refutação de todo tipo de
totalitarismo", e que "impediu a penetração, no Brasil, da denominada filosofia
da libertação (...) tendo que se conformar em se apresentar (aqui) com a forma
mais restrita de teologia da libertação". )livro é uma verdadeira aula de como os
marxistas tomam de assalto uma Universidade – ou qualquer instituição – e
expulsam todos os demais.

A tomada de assalto dos meios de comunicação acabou com esta liberdade de
publicação. A mídia prolífica, fértil e polêmica que tínhamos até então era
combatida como "imprensa burguesa" à qual se opunham os jornais "populares",
que ninguém lia, a não ser os "adeptos", dada a indigência intelectual dos
mesmos. Era preciso mudar este estado de coisas e como de nada adiantava o
combate limpo e aberto, era necessário tomar por dentro, minar a criatividade,
substituindo-a paulatinamente pela massa amorfa em que a máxima divergência
seja a do "sim" com a do "sim, senhor" em que todos concordem quanto aos
slogans fundamentais, palavras que perderam todo significado, como "justiça
social", "cidadania", "progressista", "neoliberal" e tantas outras que conhecemos
muito bem. Não tenho dúvidas de que a obrigação de estudar jornalismo para ser
profissional de imprensa foi um dos golpes mais duros na criatividade, pois os
tais grupos tomaram de assalto as faculdades de jornalismo e passaram a criar
uma choldra que nada mais faz do que repetir uns aos outros como temos hoje
nos principais órgãos de imprensa, rádio e TV no País.

Passei a pesquisar outros livros do autor e através desses entrei em contato com a
Editora da UnB que estava finalmente publicando livros de pensadores liberais e
conservadores, da qual me tornei um dos mais ávidos compradores. Minha
introdução no mundo das diferenças entre sociedades totalitárias e livres se deu
através de Hanna Arendt e, principalmente, Karl Popper. No entanto, me sentia
bastante solitário, pois passei a falar uma linguagem que ninguém entendia, até
meus mais caros amigos – sabidamente não comunistas – passaram a me ver
como paranóico, principalmente depois de 89, afinal o comunismo havia
acabado, todo mundo sabia. A extensão e profundidade da infiltração
gramsciana, como vim mais tarde a descobrir e tratarei adiante, tinha sido tão
grande que a linguagem política e social estava totalmente unificada, para deleite
de Giocondo Dias.

***

Poucos anos depois espocaram em todas as associações profissionais e de ensino
movimentos por maior "democracia", fim da hierarquia com base no
desenvolvimento científico e no mérito, igualdade para todos. As sociedades de
psicanálise foram igualmente afetadas, particularmente aquela à qual eu
pertencia, a Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. A geração
mais velha passou a utilizar os mais jovens para conduzir uma luta que vinha de
anos entre eles. O ataque à hierarquia deveria ser feito contra os Estatutos,
considerados autoritários por estabelecerem diferentes níveis nos quadros
sociais. Alunos, Membros Associados, Membros Titulares e Analistas Didatas
(que são os professores, supervisores e analistas dos alunos), progressão baseada
estritamente em critérios científicos, mas explorada pela ala marxista,
predominante na geração mais velha, como puramente política, autoritária e
fruto da "ditadura". Todos eram ligados direta ou indiretamente ao Partido
Comunista Brasileiro. Conseguido seu intento, como seria de esperar, os alunos
passaram a mandar e desmandar, sendo os verdadeiros donos do poder. Nada
mais insano do que a insanidade se instalar no seio das instituições apropriadas
para combatê-las. Foi a época de ouro da esquerda marxista que alimentava o
ódio entre colegas, chegando a afirmar que era inadmissível um psicanalista não-
marxista! E que se houvesse algum, estava a serviço da ditadura militar!

Chegou-se ao cúmulo de levar a Havana um trabalho em que, deturpando
totalmente o conceito de consideração pelo outro (concern), defendia a quadrilha
de narcotraficantes assassinos que tomou conta de Cuba, qualificando o regime
como uma “experiência enriquecedora, um Estado sério e bem orientado” com
dirigentes verdadeiramente preocupados com a vida e saúde física e mental de
seus reprimidos súditos, permitindo que "crianças atendidas fisiológica e
psicologicamente se desenvolvam em adultos sadios". Ficava implícito neste
trabalho que o povo, ao não reconhecer a bondade extrema de seus governantes,
demonstrava falta de gratidão, justificando, portanto, indiretamente, a repressão.
Chega a dizer que todas as crianças nascidas após a tomada do poder por
Castro são mentalmente sadias, justificando a necessidade de assistência
psicanalítica apenas para os que nasceram antes disto! A ciência se
transformava em política rasteira.

Na área da Psiquiatria a doutrinação antipsiquiátrica se deu preponderantemente
pelo movimento antimanicomial que foi – e é -– "maciça nas escolas de
medicina, enfermagem, psicologia e serviço social, e em alguns meios
"intelectuais". Segundo as palavras da Dra. Iraci Schneidern "hoje em dia, no
imaginário da maior parte das pessoas, a internação psiquiátrica é sinônimo de
tratamento desumano e cruel, e, sobretudo ineficaz". "A doença mental, diziam,
era uma ficção capitalista e burguesa". "Na verdade, não existia a loucura, que
poderia ser vista como uma reação sadia a um sistema que não tolerava
manifestações individuais de liberdade". A loucura era criativa, transgressora,
desafiadora do status quo. (Michel Foucault era o livro de cabeceira). A loucura,
subversiva', criadora, 'de esquerda', desafiava o Poder constituído, representado
pelo hospital psiquiátrico e pela medicação antipsicótica, estes de direita'. Freud
já estaria superado, entronizava-se Lacan". "A luta antimanicomial foi apenas o
pretexto, nada mais do que a mesma política de tomada do poder institucional na
área médica que ocorria em outras especialidades e em todos os estados”. “No
imaginário das pessoas, psiquiatria, internação, hospital psiquiátrico (fala-se
manicômio), tornou-se o local da violência e do horror”.

A verdadeira razão da "superação" de Freud e da entronização de Lacan está no
fato de que Freud demonstrou que em termos psicológicos o marxismo é
incompatível com a natureza humana. Na 35ª Nova Conferência Introdutória,
Freud fala extensamente das diferenças inconciliáveis. Destaco especificamente
estes trechos: "(O marxismo) prevê que no curso de algumas gerações (com as
modificações das condições econômicas) a natureza humana será alterada e a
humanidade conviverá harmonicamente na nova ordem social'' e ' transfere para
outro lugar as restrições instintivas essenciais à sociedade, desvia para fora as
tendências agressivas que ameaçam a humanidade e encontram suporte na
hostilidade dos pobres contra os ricos e dos fracos contra os fortes. Mas uma
transformação da natureza humana como esta é altamente improvável" (p. 180).
A observação de 15 anos de aplicação prática destas idéias levou Freud a
complementar: "(o regime) criou tal proibição de pensamento que é mais cruel
do que as das religiões no passado. Qualquer exame crítico da teoria marxista é
proibido, duvidas sobre sua correção são tratadas como heresias (...) Os escritos
de Marx tomaram o lugar da Bíblia e do Corão como fontes de revelação (...)".

Não bastava, entretanto, "superar” Freud, também era necessário substituí-lo for
um farsante, cujos truques lingüísticos foram amplamente denunciados como
imposturas por Alan Sokal & Jean Bricmont (Impostures Intellectuelles), que
demonstram claramente que seus fundamentos matemáticos não passam de pura
fantasia: "...suas analogias entre psicanálise e as matemáticas são as mais
arbitrárias que se podem imaginar (...) sem que apresente nenhuma justificação
empírica ou conceituai. Finalmente, para aqueles que preferem ostentar erudição
e de manipular frases sem sentido, pensamos que seus textos são suficientemente
eloquentes”. Ao mesmo tempo cria uma nova religião esotérica, "um 'misticismo
laico, onde o discurso não apela nem à razão, nem à estética (...) torna-se cada
vez mais críptico – característica comum a muitos textos sagrados – onde o jogo
de palavras se combina com uma sintaxe fraturada, servem de base para uma
exegese reverenciai dos discípulos ('iniciados). Podemos perguntar, portanto,
legitimamente, se eles não significam a estruturação de uma nova religião". Pois
toda a obra de Freud é hoje apresentada, principalmente no Brasil – e
parcialmente na França – por uma tradução lacaniana hermética que horroriza e
afasta as pessoas que querem pensar e que mais parece um balbuciar de bebês,
permitindo que se afirme qualquer coisa. Como este livro não é sobre psicanálise
espero que estas palavras sirvam de demonstração suficiente. Uma outra
influência nefasta sobre os meios intelectuais é a da Escola de Frankfurt, que
será tratada no Capítulo VIII.

Andava eu em busca de explicações que satisfizessem minha perplexidade
quando me caiu em mãos um livro, “O Imbecil Coletivo", de Olavo de Carvalho.
Em seu prólogo o autor diz: “O imbecil coletivo” não é, de fato, a mera soma de
um certo número de imbecis individuais. É, ao contrário, uma coletividade de
pessoas de inteligência normal ou mesmo superior que se reúnem movidas pelo
desejo comum de imbecilizar-se umas às outras. Se é desejo consciente ou
inconsciente não vem ao caso: o que importa é que o objetivo geralmente é
alcançado. Como? O processo tem três fases. Primeiro, cada membro da
coletividade compromete-se a nada perceber que não esteja também sendo
percebido simultaneamente por todos os outros. Segundo, todos juram crer que o
recorte minimizado assim obtido é o único verdadeiro mundo. Terceiro, todos
professam que o mínimo divisor comum mental que opera esse recorte é
infinitamente mais inteligente do que qualquer indivíduo humano de dentro ou
de fora do grupo, já que, segundo uma autorizada porta-voz dessa entidade
coletiva, "a psicanálise, com o conceito de inconsciente, e o marxismo, com o de
ideologia, estabeleceram limites intransponíveis para a crença no poderio total
da consciência autôno ma, enfatizando seus limites. Assim, se um dos membros
da coletivida de é mordido por um cachorro, deve imediatamente telefonar para
os demais e perguntar-lhes se foi de fato mordido por um cachorro. Se lhe
responderem que se trata de mera impressão subjetiva (o que se dará na maioria
dos casos, já que é altamente improvável que os cachorros entrem num acordo
de só morder as pessoas na presença de uma parcela significativa da comunidade
letrada), ele deve incontinenti renunciar a considerar esse episódio um fato
objetivo, podendo porém continuar a falar dele em público, se o quiser, a título
de expressão pessoal criativa ou de crença religiosa. Para o imbecil coletivo,
tudo o que não possa ser confirmado pelo testemunho unânime da inteligentzia
simplesmente não existe. Compreende-se assim por que o mundo descrito pelos
intelectuais é tão diferente daquele onde vivem as demais pessoas, sobretudo
aquelas que, imersas na ilusão do poderio total da consciência autônoma,
acreditam no que vêem em vez de acreditar no que lêem nos livros dos
professores da USP.

Logo percebi que não estava só e mais: que o autor que escrevera aquelas
palavras tinha experiências parecidas com as minhas, possivelmente estivera
também no mesmo inferno. Eu não me enganara, Olavo fizera parte de um
número restrito de militantes a serviço da mesma causa e por isto era capaz de
entender o que ocorria.
"A inteligentzia, palavra russa, convém lembrar, não abrange em seu significado
todas as pessoas empenhadas em tarefas científicas, filosóficas ou artísticas, mas
somente aquelas que falam com freqüência umas com as outras e se persuadem
mutuamente de estar colaborando para algo que juram ser o progresso social e
político da humanidade. (...) É característico da nossa baixeza intelectual que,
quanto menos alguém compreende o simples enunciado de uma ideia, mais se
julga capacitado a diagnosticar os motivos psicológicos profundos e até mesmo
inconscientes que teriam levado o autor a produzi-la. Isso tem a indiscutível
vantagem de desviar a discussão dos terrenos áridos da filosofia, da ciência, etc.,
para as férteis planícies da psicanálise-de-botequim, onde todo brasileiro se sente
um expert tanto quanto em técnica de futebol, economia política e mecânica de
automóveis".

Também ajudou enormemente meu entendimento a seguinte observação: "O
mais curioso, aí, é que as pessoas deixam de ser marxistas, mas não sabem ser
outra coisa, porque tudo o que leram na vida foi com os olhos de Marx. O
resultado é que esses ex-marxistas continuam raciocinando dentro de um quadro
de referência demarcado pelo materialismo dialético, pela luta de classes e por
todos os demais conceitos clássicos de um marxismo que já não ousa dizer seu
nome".

"Dirijo-me ao que bá de melhor no íntimo do meu leitor, não àquela sua casca
temerosa e servil que diz amém à opinião grupal por medo da solidão. Fazer o
contrário seria um desrespeito". Em mim atingiu certamente o que há de melhor.
Depois de esmiuçar a obra de Olavo e seguir seus passos, passei a investigar por
mim mesmo, embora mantendo a colaboração e a amizade que se desenvolveu
entre nós. Meus conhecimentos sobre Antonio Gramsci eram nulos e sobre a
Escola de Frankfurt, escassos. As conclusões provisórias destas investigações
que deverão se aprofundar é o que ponho à disposição dos leitores a seguir.
Pretendo também que este livro permita aos leitores um contato com bibliografia
e publicações que não estão traduzidas para nosso idioma nem divulgadas aqui –
e, provavelmente, nunca serão, em função da hegemonia editorial e midiática
esquerdista.


CAPÍTULO 1

Erros de metodologia de avaliação
das estratégias comunistas cometidos
pelos serviços de inteligência ocidentais


(…) pessoas bondosas acreditam que pessoas más podem ser
transformadas em boas se as bondosas lhes derem alguma coisa,
principalmente ajuda econômica e uma “colherada” de compreensão
para adoçar sua maldade. Um hall da infâmia poderia ser erguido para
acomodar os líderes políticos, diplomáticos, religiosos, acadêmicos e
intelectuais que têm fé em medidas de apaziguamento para evitar a
guerra, frequentemente se deparando com uma guerra mais violenta
ainda como resultado de sua ingenuidade.
Cal Thomas






Hermann Rauschning (1887-1982), alto prócer nazista, íntimo colaborador,
conselheiro e confidente do Füehrer, tendo atingido o posto de Presidente do
Senado da Cidade Livre de Dantzig (1933-1934), ao perceber o aimo de
terrorismo e chantagem internacional que o regime adotara, foge para o Ocidente
e escreve The Revolution of Nihilism- A Warning to the West. O livro foi
publicado na Europa em 1938 logo após a anexação da Sudetenland, região da
então Tchecoslováquia com população de origem predominantemente
germânica, e em 1939 nos Estados Unidos. Imediatamente considerado pela
imprensa o livro mais importante sobre o Nacional Socialismo depois
deMein Kampf, mostrou ser também profético. Predisse o Pacto Germano-
Soviético (ver Capítulo VI) num momento em que a campanha anti-soviética
pela imprensa oficial alemã estava no seu auge. O Ministro da Propaganda e do
Esclarecimento do Povo, Paul Joseph Goebbels, vociferava pelo rádio e em
artigos no Vöelkischer Beobachter (órgão oficial do Partido Nazista), contra os
comunistas como os maiores inimigos da Vaterland e da construção do nacional
socialismo. Predisse a invasão da Polônia e a anexação da Dinamarca como um
Estado títere de Berlim. Embora valorizado pela imprensa, os políticos com
exceção de Churchill, não lhe deram a devida importância, tão hipnotizados
estavam pela Paz a qualquer preço, que os levava a aceitar as promessas
do Füehrer. Movimentos pacifistas louvavam Hitler como dirigente pacífico e
Churchill como um maldito belicista. Os eternos pacifistas achavam como ainda
hoje, que podem apaziguar os tiranos com promessas e concessões, transformar
pessoas essencialmente más e dispostas a matar, em "boa gente". Lenin foi claro
ao dizer que os liberais do Ocidente, são "idiotas úteis" dos quais é facílimo
esconder os verdadeiros objetivos do comunismo.

A galeria do hall da infâmia sugerido por Cal Thomas já deve preencher um
edifício de vários andares e cresce dia a dia com os que acreditam que entre os
comunistas existem pessoas bem intencionadas e que no dito socialismo "ate que
tem coisas boas". O papel cumprido por Rauschning desta vez coube a alguns
dissidentes soviéticos ou de outros países da Cortina de Ferro. Com o mesmo
resultado, como veremos.


A nova estratégia soviética de dominação mundial

Durante muitos anos Bukovsky tentou alertar os governos americanos de que sua
percepção da Russia sempre foi enganosa. Mas desistiu, pois “os governos não
querem resolver problemas, querem se livrar deles de qualquer maneira, e isto
não é minha especialidade”. Vladimir Konstantinovich Bukovsky é um dos mais
importantes dissidentes da URSS, autor de vários livros e estudos e ativista
anticomunista. “Na verdade, eu deixei há muito tempo de dar conselhos a
governos de qualquer tipo porque aprendi, ao longo dos anos, que isto é uma
tarefa extremamente frustrante e ingrata. Governos são notoriamente incapazes
de operar na base de políticas ou estratégias de longo prazo. Seu processo de
tomada de decisões é,o mais das rezes, reativo, quer dizer, eles sempre reagem a
ocorrências do dia anterior”.

Foi dos primeiros a denunciar o uso da prisão em hospitais psiquiátricos
(psikhushkas) de prisioneiros políticos. Ficou 12 anos nas prisões soviéticas,
campos de trabalho e sob tratamento forçado em diversas psikhushkas. Escreveu,
juntamente com o psiquiatra e também prisioneiro Semyon Gluzman,
um Manual de Psiquiatria para Dissidentes para ajudá-los nos interrogatórios.
Em 1971 conseguiu contrabandear para o Ocidente 150 páginas de documentos
comprovando abusos em instituições psiquiátricas por razões políticas. Em 1976
foi trocado pelo líder comunista chileno Luis Corvalán e deportado.

Em 1992 foi convidado por Yeltsin para depor no julgamento da Corte
Constitucional Russa para determinar se o PCUS tinha sido uma instituição
criminosa e teve acesso a inúmeros documentos secretos e escaneou
secretamente muitos deles, mandando-os para o Ocidente. Desencantou-se
quando percebeu que, o que ele imaginara como um Julgamento de Nüremberg,
só adotou meias medidas e declarou: “Não conseguindo liquidar de forma cabal
o sistema comunista estamos frente ao perigo de integrar o monstro resultante
(destes julgamentos) ao nosso mundo. Não se chamará mais comunismo, mas
terá a maioria de suas perigosas características. Até que se faça um Julgamento
de Nüremberg de todos os crimes cometidos pelo comunismo, ele não morrerá e
a luta não acabará".


As previsões de Anatoly Golitsyn

Certamente o mais importante de todos os desertores foi Anatoliy Colitsyn,
agente graduado do KGB, nascido na Ucrânia em 1926. Foi membro do
Komsomol (Juventude Comunista) desde os 15 anos e tornou-se membro do
Partido Comunista em 1945, imediatamente absorvido pelo KGB onde
permaneceu até emigrar para o Ocidente em 1961, após percorrer todos os
passos dentro dos serviços de contra-informação. Fez parte do chamado KGB
Intento, um departamento super secreto de planejamento estratégico de cuja
existência nem mesmo os agentes ordinários do KGB tinham conhecimento.
Formou-se pela Escola Militar de Contra-Espionagem, pela Universidade de
Marxismo-Leninismo e por correspondência na Escola de Altos Estudos
Diplomáticos.

Exilado nos EUA, passou a estudar atentamente as interpretações ocidentais das
ocorrências no mundo comunista e verificou que os serviços de informação,
como a CIA e o Ml6 britânico, estavam completamente equivocados, vindo a
publicar em 1984, seu primeiro livro New Lies for Old. A história de Golitsyn
entre 1961 e o lançamento do livro, que não tem tanto interesse para o presente
livro, pode ser encontrada no artigo de Edward Jay Epstein, Through the
Looking Glass. Precisando de ajuda para publicar seu primeiro livro, Golitsyn
procurou William F. Buckley, editor da revista conservadora National Review e
seu pedido foi recusado. Esla recusa por um dos maiores conservadores
americanos quase jogou por terra a possibilidade de vir a ser publicado.

A seguir, escreveu inúmeros memorandos para a CIA, denunciando a estratégia
comunista que não estava sendo percebida porque o Ocidente usava métodos
superados de avaliação. Golitsyn previu inclusive a queda do Muro de Berlin, a
"abertura" soviética e outros eventos. Pelas razões expostas por Epstein e porque
os serviços de inteligência não podiam admitir seus erros, suas informações
foram no geral ignoradas. Como os acontecimentos confirmaram suas predições
em 94%, segundo Mark Riebling no livro Wedtje. The Secret War hetween the
FBI and CIA (Alfred A. Knopf, 1994), publicou em 1990 The Perestroika
Deceplion, onde explica o intento secreto por trás da estratégia leninista das
falsas reformas e progresso em direção à democracia dos países comunistas. Na
opinião de William F. Jasper, Editor Senior do The New American e co-Editor
do The Soviet Analyst. Golitsyn é provavelmente o mais importante desertor
soviético que já chegou ao Ocidente porque ele revelou os detalhes de uma
estratégia de dissimulação de longo prazo da qual o Ocidente não tinha nenhum
conhecimento até então. “O mundo ocidental com um todo, e os Estados Unidos
em particular, se equivocaram seriamente sobre a natureza das mudanças no
mundo comunista. Não estamos testemunhando a morte do comunismo, mas
uma nova ofensiva estratégica de desinformação”.

Neste livro baseio-me essencialmente nas análises de Golitsyn acrescentado
outras fontes e minha experiência pessoal, ao aplicá-las ao caso do Brasil e da
América Latina.


A crise do mundo soviético após a morte de Stalin

Entre 1958 e 1960, o Politburo reconhecendo as deficiências industriais e
agrícolas e a crise geral do sistema, inclusive da ideologia em todo o mundo
causada pelo vazamento dos crimes de Stalin, decidiu fazer um estudo
aprofundado para elaborar uma nova estratégia mundial de longo prazo.
O Politburo era o órgão ideológico e administrativo máximo da URSS, presidido
pelo Primeiro Secretário (às vezes Secretário Geral) do PCUS. A estrutura do
Estado e a do Partido, assim como a das Forças Armadas, se confundiam nos
diversos níveis hierárquicos O órgão legislativo máximo era o Soviet Supremo
da URSS (com duas câmaras: o Soviet da União e o Soviet das Nacionalidades),
que elegia o Presidium, o qual nomeava o Conselho de Ministros e o Primeiro
Ministro Os três cargos mais poderosos eram, portanto: o Secretário do Partido,
o Primeiro Ministro e o Presidente do Presidium. Frequentemente eram
ocupados pela mesma pessoa.

Os estudos sobre a nova estratégia foram levados a efeito sob a liderança de
Alieksandr Shieliepin, então à testa do KGB. Shieliepin apresentou um extenso
relatório e mostrou que não mais havia lugar no mundo para levantes populares
violentos e revoluções sangrentas – a tomada de poder em Cuba foi, durante a
fase de estudos, um presente dos céus inesperado, pois o Partido Comunista
Cubano ainda apoiava Fulgencio Batista. Também se tornava cada vez mais
difícil estabelecer regimes comunistas rígidos com estatização total da economia,
comprovada- mente ineficientes. Foi decidido que a nova estratégia de longo
prazo visaria objetivos intermediários que foram amplamente anunciados,
escondendo-se, no entanto, o essencial: o objetivo final continuava a ser o
mesmo, o domínio mundial. No entanto, os serviços de inteligência do Ocidente
continuaram utilizando a mesma metodologia de avaliação que não mais servia.
Por esta razão acreditaram que a Perestroika significava realmente o fim do
comunismo.


O KGB e a Desinformatsiya

O KGB (Komitet Gosudarstviennoy Biezopasnosti – Comitê de Segurança do
Estado) é o sucessor de uma linhagem de serviços secretos (GPU, NVD, NKVD)
que se iniciou pela Tcheka fundada por Féliks Edmundovitch Dzerzhinsky nos
albores do regime bolchevista.

A desinformação, Desinformatsiya, difere da propaganda convencional porque
suas verdadeiras intenções são secretas e as operações sempre envolvem alguma
ação clandestina. O conceito soviético de desinformação, desenvolvido dos
princípios leninistas, é o de que a "desinformação significa a disseminação de
informação falsa ou provocativa". Mas como praticada pelo KGB,
desinformação é mais complexo e amplo do que isto. Inclui a distribuição de
documentos, cartas, manuscritos e fotografias forjadas, a propagação de rumores
enganosos e maliciosos e inteligência errada, ludibriar os visitantes quando
visitando os países comunistas, e ações físicas para fabricar efeitos psicológicos.
Estas técnicas sào usadas de forma variada para influenciar a política dos países
estrangeiros, romper as relações entre as nações, minar a confiança das
populações em seus líderes e instituições, desacreditar indivíduos e grupos que
se opõem às políticas comunistas, enganar a respeito de suas reais intenções e,
aos visitantes estrangeiros, escondei as reais condições de vida nos países
comunistas Muitas vezes serve para esconder atos destrutivos do próprio KGB.
As organizações secretas de inteligência, desde a Tcheka até 1959, possuíam um
Escritório de Desinformação. Naquela data, ano da reorganização do KGB (ver
Capítulo II), foi criado um departamento completo, conhecido como
Departamento D do Primeiro Diretório O primeiro diretor foi o General Ivan
Ivanovich Agayants. Ascético, solene e puritano, possuía um caráter cruel.
Depois da sua morte passou a ser o Departamento A do Diretório de Assuntos
Exteriores e, aumentado sensivelmente de tamanho e poder, passou a atuar com
mais frequência no exterior.

Em 1984 o ex-agente do KGB exilado, Yury Biezmenov explicou, em entrevista
concedida a C. Edward Griffin que o KGB só empregava 15% dos seus esforços
em "espionagem" tradicional. O restante era destinado a "medidas ativas" e de
"influência": um processo de desmoralização e lavagem cerebral dos ocidentais
feito de forma tão gradual e ininterrupta que, ao fim do processo, as pessoas
submetidas a elas agiam como se fossem agentes anticapitalistas ou ao menos
antiamericanos. O processo levava no mínimo três gerações para dar resultado.
O "dar resultado" significava cooptar um número tão grande de simpatizantes
(conscientes ou não do processo) que, quando esta geração galgasse posições de
poder e controle dentro da sociedade, o processo se auto-alimentava, criando
mais e mais "simpatizantes". A profundidade da "estampagem mental" obtida era
tal que, usando as palavras de Biezmenov, argumentou nem m e s m o a verdade,
serviriam para abrir os olhos destes indivíduos Mesmo que se mostrasse um
campo de concentração em pleno funcionamento a toda esta gente, eles nem
assim iriam finalmente acreditar. Conheço muitos indivíduos que visitando a
URSS, mesmo sabendo que todos seus passos eram controlados pela divisão
turística do KBG, a Intourist, voltaram maravilhados e acreditando piamente que
tiveram total liberdade de locomoção e que os lugares proibidos o eram para
"sua segurança pessoal"! Lembro de um meu conhecido, comunista, com quem
eu comentara entusiasmado ter estado no Centro Espacial Lyndon Johnson, em
Houston, Texas, onde se podia entrar na Sala de Controle das Missões Espaciais
e assistir aos trabalhos. Tempos depois, voltando de Moscou, ele
desdenhosamente me disse que tinha feito o mesmo. Eu perguntei, sabendo que
era proibido ir até lá, se ele tinha ido a Baikonour, onde ficava o centro espacial
soviético, e ele respondeu que não, fora em Moscou mesmo, isto é, ele tinha
visitado um museu do espaço, onde nada acontece. Mesmo assim ele não se
convenceu!


A desinformatsiya em ação

Os principais padrões de desinformação levados a efeito logo após a
reestruturação em 1958 foram:

Fraqueza e Evolução: consistiu em subestimar publicamente o poder comunista
e aplacar os temores dos seus adversários por meio da criação de falsas crises e
divulgação de fraquezas e dissidências no mundo comunista.

Fingimento e Força: se um regime comunista é fraco, a desinformação esconde
a crise e suas dimensões, enfatizando outras áreas ou problemas (foi exatamente
na fase de transição, quando estava enfraquecida, que a URSS lançou, com
enormes sacrifícios, o seu Programa Espacial) em outros momentos, quando está
fraco, finge grande força que não tem (ver a Crise dos Mísseis de Cuba, capítulo
VII).

Criação Je falsas divergências entre países comunistas e ocultação das
verdadeiras: adiante me referirei ao falso conflito sino-soviético da década de
60, enquanto as verdadeiras tensões entre os dois países, ocorrida na fase de
transição entre a morte de Stalin e a "normalização" com a posse de Khrushchov
e as "denúncias dos crimes de Stalin" no XX Congresso do PCUS, foi
completamente ocultada. A aplicação deste padrão no interior de cada partido
comunista constitui as falsas dissensões e "rachas", no Brasil, os exemplos mais
recentes foram a dissidência do PSOL e os ataques do MST e da CUT ao PT.

Uso de falsos desertores, de agentes duplos e de agentes infiltrados: uma vez
que um falso desertor seja aceito como genuíno, a posição dominante do KGB
no interior da organização alvo fica demonstrada. A segurança de seus agentes
infiltrados está garantida.

Guerra assimétrica: embora não denominada assim por Golitsyn tem sido
fartamente utilizada. Entende-se este conceito, inspirado na "Arte da Guerra" de
Sun-Tzu, em dar tacitamente a um dos lados beligerantes o direito absoluto de
usar de todos os meios de ação, por mais vis e criminosos, explorando ao mesmo
tempo os compromissos morais e legais que amarram as mãos do adversário. O
exemplo mais gritante da atualidade pode ser estudado na guerra entre Israel e os
terroristas Palestinos: enquanto aos últimos tudo é permitido e aceito – mesmo
os brutais assassinatos de crianças e civis inocentes em bares ou discotecas – dos
primeiros espera-se que conduzam uma espécie de "guerra de cavalheiros" e,
quando reagem com os métodos adequados, infinitamente menos violentos, são
execrados como assassinos cruéis. Mais recentemente, até mesmo as desavenças
entre os palestinos são noticiadas com a velada intenção de culpar Israel e a
Comissão de Diretos Humanos da ONU – onde estão Líbia, Cuba e outros
exemplares defensores dos direitos humanos – decidiu (2007) que somente Israel
continuará a ser investigado.

A Carta dos Direitos do Homem, da ONU , é outra preparação para a guerra
assimétrica: a URSS e os demais países comunistas jamais pretenderam segui-la,
enquanto a usavam para acusar o Ocidente, principalmente os Estados Unidos,
de atentados aos "direitos humanos". No Brasil atual a situação é clara quanto à
ação da polícia sobre a bandidagem: os últimos tudo podem, a polícia tem que
tratá-los com carinho e todos os cuidados; a defesa do Estatuto da Criança e da
Adolescência também é usada no mesmo sentido, assim como a ridícula
maioridade penal somente aos 18 anos.


As principais operações de desinformação

Serão apenas citadas as principais operações de grande envergadura, sem entrar
em detalhes.

1. Disputa URSS X Iugoslávia: a “condenação" de Stalin Josio Broz “Tito”.
2. A falsa evolução dentro da URSS em direção à democracia: abandono da
‘ditadura do proletariado" e sua substituição pelo "Fstado de todas as pessoas'
internas pelo poder e a criação de movimentos falsamente dissidentes.
3. A "disputa e cisão’' Soviético” Albanesa.
4. A falsa cisão Sino-Soviética.
5. A "independência" Romena: o rompimento de Nicolae Ceausescu.
6. A democratização da Tchecoslováquia em 1968, a “Primavera de Praga”
como forma de captar simpatias ocidentais pelo socialismo com face humana",
cuidadosamente preparada pelos Partidos Comunistas Tcheco e Soviético para
evitar e abortar na raíz um levante popular legítimo como o da Hungria em 1956
7. O Eurocomunismo, proposta de Enrico Berlinguer"', endossada por C.eorges
Mar chais, La Passionária (Dolores Ibarruri) e Santiago Carillo: policentrismo
comunista apoiado pelas "dissidentes" Iugoslávia e Romênia.

O impacto no Ocidente foi devastador: "sem que o Ocidente perceba, a ideologia
comunista perdeu sua camisa de força stalinista e retomou a antiga linha
leninista" (Colitsyn). Muito se deveu ao declínio da CIA.


O declínio da CIA

Enquanto isto ocorria no Leste, a CIA entrava em franco declínio, chegando ao
cúmulo de suas "informações" se basearem em panfletos de propaganda
soviética. Lev Navrozov, colunista da NewsMax Magazine refere que "as bases
de informação da CIA eram panfletos dos quais nós ríamos na escola secundária
e que estão disponíveis em livrarias soviéticas em Washington, D.C., por 50
cents. Um deles era sobre o incremento na produção de ovos pelas fazendas
estatais (kolkhozes e sovkhozes) totalmente mentiroso!" O declínio da CIA
começou nos anos 60, quando a investigação sobre um desertor do KGB
chamado Yuri Nosienko tomou um caminho errado e se embrulhou toda. Para
satisfazer burocratas nervosos que queriam encerrar a investigação, pessoal não
especializado recebeu a tarefa de reabilitar Nosienko (qualificá-lo oficialmente
um desertor genuíno e confiável) e isto mesmo depois que ele já tinha
desacreditado a si mesmo completamente. Para acreditar na autenticidade de
Nosienko, a CIA teria de aceitar a idéia de que o "KGB verdadeiramente operava
segundo procedimentos diferentes daqueles descritos por todos os outros
desertores" (anteriores e posteriores). Em termos da grande estratégia russa, a
lenda de Nosienko foi usada para afirmar que Golitsyn estava mentalmente
doente, que suas previsões e análises eram paranóicas e sem valor.

O resultado é dramaticamente descrito por Nyquist’: "O povo americano olha em
volta e se pergunta por que os ambientalistas estão tão fortes, por que o
capitalismo está sob assalto e os direitos de propriedade rural não são mais
seguros. Tentam descobrir por que tantos professores estão ensinando marxismo
nas escolas e universidades. Alguns não podem entender por que nossos líderes
políticos insistem em mais cortes no orçamento militar e continuam a negociar
com os gangsteres de Beijing e Moscou. (...) A resposta mais simples é: nós
fomos subvertidos, infiltrados, ludibriados e manipulados pelos comunistas e
esquerdistas. Estávamos tão ocupados com nossas carreiras e satisfações
pessoais que nem nos demos conta. E agora nosso país tem suas próprias
estruturas comunistas ocultas (ou nem tão ocultas)".


O movimento pela paz mundial

A campanha soviética pela paz foi outro lance genial. Note-se que Manuilsky
falara em 1931 em "vinte ou trinta anos”. Exatamente quando começou o
movimento dos "povos amantes da paz", na década de 60. É mais uma amostra
de como a estratégia comunista sempre foi de longo prazo.

Quem não quer paz? A Humanidade, cansada de duas guerras mundiais que
ceifaram vários milhões de vidas, estava preparada para uma campanha ativa
desta natureza. Lentamente foi-se construindo a imagem da URSS como o farol
para os "países amantes da paz", pois desejava apenas que lhes deixassem
construir em paz a nova sociedade socialista. O alvo principal era a
intelectualidade ocidental, particularmente a norte-americana, com a finalidade
de provocar naquele País uma divisão que ameaçasse sua própria sobrevivência.
No resto do mundo serviu para convencer as populações de que o capitalismo
era o motor das guerras, enquanto o comunismo era essencialmente pacífico. A
guerra passou a ser vista só pelos seus aspectos econômicos – e até hoje alguns
acreditam nesta balela! – como os confrontos imperialistas inevitáveis entre
países capitalistas e que continuarão enquanto o capitalismo não for aniquilado
lá as guerras dos “países amantes da paz”. contra os capitalistas e as dos
"movimentos de libertação nacional" ou a insurreição dos "movimentos sociais",
são guerras justas – em oposição às anteriores, injustas – pois se destinam a
salvar a humanidade das próprias guerras, libertando-a das amarras do
capitalismo.

Lenin em 1922 já dizia que: "O objetivo final da paz é simplesmente chegar ao
controle mundial comunista". Em 1952 Stalin complementou: "A paz será
preservada e reforçada se o povo tomar a causa da paz em suas mãos e defendê-
la até o fim". Aí está o germe dos movimentos internacionais pela paz que,
segundo Bukovsky reúne milhões de comunistas, companheiros de viagem,
intelectuais confusos e atrapalhados, hipócritas buscando popularidade, clérigos
buscando publicidade. Tornou-se moda aderir aos mesmos e é muito arriscado
não fazê-lo. Ainda hoje todo movimento pacifista, seguindo as normas da guerra
assimétrica, é destinado a combater as guerras consideradas injustas e apoiar as
justas: por exemplo, enquanto qualquer ato terrorista contra Israel é justo, toda
ação armada israelense, por mais que respeite os civis, é injusta.

CAPÍTULO 2

A necessidade de uma nova
metodologia de análise

“O método leninista é estar preparado para recorrera todos os
estratagemas, manobras, evasivas e subterfúgios para atingir os
objetivos finais: reforçar o sistema soviético. O lançamentoda NEP foi
baseado nisto não assustar os capitalistas, relegando a um segundo
plano a luta de classes, a violência e o terrorismo. A Perestroika não
passa de uma nova aplicação do mesmo pensamento leninista num
novo contexto, levando ao Segundo Round da Revolução de Outubro.
Tanto é verdade que a reação ocidental é a mesma. Pode-se prever que
o resultado também será o mesmo: soerguimento da economia
soviética, estabilização do poder e ampliação do assalto ideológico
sobre o mundo capitalista. Gorbachov é um convicto leninista.”
Anatoliy Golitsyn – The Perestroika Deception






O grande mérito de Colitsyn, que extrapola o estudo específico da URSS, é o de
fornecer aos analistas políticos de qualquer situação ligada a partidos
comunistas, inclusive no presente, uma nova metodologia de avaliação. Neste
segundo capítulo, portanto, já começo a utilizar as sugestões de Colitsyn para a
América Latina e o Brasil. É preciso levar em consideração estes fatores:

1. O verdadeiro significado da Perestroika, principalmente da reestruturação do
KGB
2. As novas características da guerra
3. As diferenças entre um Partido Comunista e os Partidos democráticos
4. Algumas normas básicas de avaliação já aplicadas ao Brasil atual.
5. A verdadeira meta do comunismo


Significado da reorganização do KGB após a Perestrika

Sakharovsky, um russo até a medula, tinha razão. A renúncia ao marxismo e até
a proibição do Partido Comunista por Yeltsin apenas reforçou o papel do KGB
no aparelho de Estado soviético. Lenin, ao assumir o poder e também sendo um
russo apesar de comunista, sabia muito bem que teria que seguir esta tendência
dos russos dependerem da gosbiezopasnoste criou a Tcheka nos moldes da
Okbrana czarista, como o destacamento armado do Partido, sua Espada e seu
Escudo Como o Partido e o Estado se confundem no regime comunista, o povo
aceitou facilmente a gosbiezopasnost comunista.

Com a fraude chamada Perestroika (ver Capítulo IX) o Ocidente acreditou
piamente que o KGB morreu, sendo substituído por um serviço de inteligência
semelhante aos das democracias, o FSB (Federalnaya Sluzbba Biezopasnosti –
Serviço Federal de Segurança do Estado). Mas o KGB está vivo e passa bem.
Seus métodos continuam incluindo terror, assassinato e subversão (vide o
assassinato do ex-agente do FSB Aliexandr Litvinienko, por meio de substância
radioativa, após ter denunciado o TSB como mandante da morte de Boris
Bierezovsky. listava exilado em Londres depois de ter cumprido pena de prisão).
Seu objetivo é o velho objetivo, – ademais, qualquer relato completo poderia
revelar à CIA o que o KGB fez e fará: uma futura seqüência destrutiva para a
qual os EUA não estão preparados. Na verdade, a própria União Soviética
continua a existir de forma disfarçada. Os países satélites também, disfarçados
sob esfarrapadas fantasias democráticas. Assim, toda a estratégia dos EUA
repousa ainda sobre uma base falsa.

A extinção do Partido Comunista da URSS, sob o comando do KGB, já tinha
sido tramada desde 1958 e serviu aos seguintes propósitos:

1. Criar a impressão de que a burocracia soviética está se tornando mais
democrática e ocidentalizada
2. Através desta falsa mudança, influenciar o Congresso americano a introduzir
mudanças reais na burocracia, inclusive na CIA, e diminuir os orçamentos
militar e de segurança
3. Criar condições para real cooperação do KGB com os serviços ocidentais
correspondentes, infiltrando mais facilmente seus agentes de desinformação.

Apesar da "extinção", os velhos membros do PC e do Komsomol se
incorporaram nas novas estruturas "democráticas", portanto não houve real
extinção do PC, somente uma redistribuirão dos seus quadros. Quanto ao KGB
sofreu apenas reformas cosméticas para criar a impressão de equivalência com
os serviços ocidentais, mas só aparentemente se submetem às críticas e controle
pelo Parlamento – como ocorre nos Estados Unidos e na Europa livre. Na
verdade, seu poder aumentou muito, além de se tornar mais secreto.

Para se ter uma ideia deste poder secreto, só revelado após a abertura parcial dos
Arquivos de Moscou, de acordo com Yevgema Albats, expert em inteligência
russa, a União Soviética, com uma população de 300 milhões, tinha
aproximadamente 700.000 agentes policiais,- a nova Rússia "democrática", com
uma população de 150 milhões, tem 500.000. Se antes havia um agente para
cada 428 soviéticos, existe agora um para cada 300. Além disto,
poucos experts sabem que o KGB guarda os códigos de lançamento de 6.000
mísseis nucleares e que se apossou do processo de desenvolvimento, produção,
armazenagem e guarda das armas de destruição em massa (Weapons
ofMass Destrution – WMD) do país. A ultra-secreta divisão nuclear do KGB
possui cerca de 87 "cidades secretas", algumas ocupando ilhas inteiras, como os
laboratórios secretos em Vozrozhdeniye e Komsomolsk, no Mar de Aral. Estas
cidades não constam nem dos mais avançados mapas militares, como
Chelyabinsk-40, nos Urais, de onde sumiram 27 toneladas de plutônio.

As reformas realizadas sob o comando do KGB tinham como principais
objetivos:

1. Renunciar à repressão aberta, como nos tempos de Stalin;

2. Neutralizar e dissolver movimentos de oposição genuínos;
3. Em seu lugar, criar uma 'oposição política" totalmente controlada. Para isto
recrutou escritores liberais e conservadores, cientistas ‘dissidentes’ com a função
de linha auxiliar para a estratégia de “convergência'' com o Ocidente, diretores a
atores de teatro e cinema sempre disponíveis como idiotas úteis – e jornalistas,
estimulando-os a seguir linhas antes consideradas proibidas para dar a impressão
de abertura real, religiosos, para levar à convergência com as religiões ocidentais
e ampliar a infiltração de agentes, principalmente na Igreja Católica;

4. Usar psiquiatras e instituições psiquiátricas para demonstrar que somente os
doentes mentais não apoiavam o regime (vide minha Introdução, sobre a
infiltração marxista na psicanálise, na psicologia e na psiquiatria no Brasil – já
eram preparações paia agir depois da tomada do poder aqui);

5 Usar a dêtente para demonstrar ao povo soviético que até no Ocidente o regime
estava sendo aceito;

6. Cooperar com os partidos e serviços de segurança dos demais países
comunistas;

Várias funções repressivas foram passadas para um "exército" não regular de
cinco milhões de druzbinii (vigilantes), ativistas do Komsomol liderados por
antigos tchekistas criteriosamente selecionados para tal. Como conseqüência
desta preparação, na década de 80 não havia mais nenhum movimento
democrático ou nacionalista genuíno e o campo estava livre para o lançamento
oficial da Perestroika.
Sob o controle do "extinto" KGB foram introduzidas as seguintes reformas
políticas, estendidas à Polônia e à Alemanha Oriental:

descentralização política e principalmente econômica, com
introdução de incentivos ao lucro, imediatamente agentes do KGB
começaram suas atividades “comerciais” através de firmas
legalizadas ou da Máfia russa, obviamente, os mesmos tinham
preferência na obtenção de licenças e patentes
abertura religiosa, com ativa oposição controlada pelo KGB da Igreja
Ortodoxa Russa que finalmente conseguiu se impor como “única
religião do povo russo” Para ter o direito de existir esta Igreja desde
1917 sofre o controle rígido do Estado
permissão da emigração de judeus para Israel
relaxamento de restrições às viagens ao exterior
permissão da dissidência intelectual controlada
pequena redução do orçamento militar

Todas estas reformas, com a falsa “humanização” do regime (socialismo com
face humana) tinham a função de exercer um impacto anestesiante no Ocidente e
demonstrar que a URSS não e mais uma ameaça.


A nova face da guerra

Como os partidos comunistas encaram a política como o prosseguimento da
guerra por outros meios, invertendo os termos clássicos, e fazem uso de todos os
avanços bélicos, é preciso ainda citar a evolução dos padrões bélicos em direção
à quarta geração da guerra’ e à chamada netwar.
A quarta geração da guerra: a gênese da quarta geração da guerra são as idéias e
não a tecnologia, como nas gerações anteriores, o que pode ser constatado no
terrorismo. Isto não quer dizer que o terrorismo seja a guerra da quarta geração,
mas que seus elementos podem ser sinais indicando a direção da quarta geração.
Não existe ataque frontal, o foco muda da frente para a retaguarda do inimigo. O
terrorismo visa acabar com o inimigo de dentro para fora uma vez que ele conta
com pouca possibilidade (pelo menos no presente) de infligir uma grande
destruição em ataque frontal Portanto, não se preocupa com o exército
adversário, visando diretamente alvos civis. A potência do exército inimigo
passa a ser irrelevante.

Na quarta geração da guerra, como no judô, usa-se a força do inimigo contra ele
mesmo os terroristas usam a liberdade e a abertura de uma sociedade livre como
suas maiores forças contra elas. Eles podem se mover livremente em nossa
sociedade e ao mesmo tempo trabalhar para subvertê-la. Usam os direitos
democráticos não somente para penetrar, mas também para se proteger. Se nós
os tratarmos de acordo com nossas leis, eles ganham muitos adeptos, se
simplesmente atirarmos para matá-los, a mídia pode facilmente fazer com que
eles pareçam vítimas. Os terroristas podem efetivamente travar sua lorma de
guerra enquanto se encontram protegidos pela sociedade que procuram destruir.
Se formos forçados a abandonar nosso sistema de proteção legal para lidar com
os terroristas, eles estarão conquistando um outro tipo de vitória. A base de
operações deixa de ser nacional, mas transnacional, mobilizando muitas nações,
e como ideologia ou religião ou cultura, num ataque direto à cultura e à
organização social do inimigo. Um dos métodos mais utilizados é a Guerra
Psicológica, especialmente através da manipulação da mídia, em particular as
notícias de televisão.

Netwar: de acordo com o memorando Global Trends 2015, do National
Inteligence Council, o crime organizado forma cada vez mais redes de
organizações, tanto entre eles como com os movimentos revolucionários.
Estima-se que poderão corromper os líderes de países instáveis, economicamente
frágeis ou em bancarrota, e se insinuar entre banqueiros e homens de negócio em
situação econômica difícil, para cooperarem no sentido de controlar
consideráveis áreas geográficas. Assim já agem as redes de narcotraficantes,
como as PARC! que controlam grande área geográfica na Colombia e nos
territórios fronteiriços com a Venezuela e Brasil. O crescimento de grupos
terroristas que atuam em rede (networks) é parte de uma mudança mais ampla
que foi chamada netwar (US Dept. of Defense: Networks and Netwars).

O termo netwar se refere a uma nova forma de conflito e crime que envolve
medidas de guerra não-tradicional na qual os protagonistas usam organizações
em rede, de acordo com as doutrinas, estratégias e tecnologias derivadas da era
da informação. Estes protagonistas estão dispersos em pequenos grupos e
conduzem coordenadamente suas campanhas pela internet, sem um centro de
comando preciso. Difere de outras formas de conflito e crime nas quais os
protagonistas preferem organizações, doutrinas e estratégias baseadas em
hierarquias, como os antigos esforços de construir, por exemplo, movimentos
leninistas centralizados ou a Máfia americana e siciliana. O narcotráfico e as
organizações terroristas do Oriente Médio possuem amplas redes de
comunicação entre si e com as máfias italiana e russa. Coordenam ações
terroristas de caráter comunista em todo o mundo.


Diferenças entre um partido comunista e os partidos democráticos

Os comunistas devem estar preparados para todos os sacrifícios e, se
necessário, recorrer a toda sorte de astúcias e estratagemas, empregar
métodos ilegais, evitar e esconder a verdade. A parte pratica da política
comunista e incitar cada (inimigo) contra o outro. Nós comunistas
devemos usar um país contra o outro. Minhas palavras (sempre) foram
calculadas para despertar ódio, aversão e desprezo, não para convencer,
mas para quebrar a elite do oponente, não para corrigir seus erros, mas
para destruí-lo, para exterminar sua organização e eliminá-la da face da
terra. Esta formulação é de natureza e invocar os piores pensamentos,
as piores dúvidas, as maiores suspeitas (dos ainda neutros) em relação
ao oponente.
Vladimir Ilitch Lenin


Quem tentar entender a lógica interna e a atuação política de um partido
comunista ou de linha auxiliar do comunismo com os métodos tradicionais de
análise política, certamente seguirá um caminho errado e ficará exposto a
surpresas e desilusões sem fim. Pois um partido comunista – tenha o nome que
tiver, como Partido dos Trabalhadores (PT) – ou da linha auxiliar ("companheiro
de viagem") como o PSDB, PSB, PPS – não como um partido político comum (a
aliança entre eles será objeto de estudo do capítulo XII).

Os partidos democráticos atuam segundo políticas, geralmente elaboradas com
vistas a aplicação num tempo limitado, pois os mandatos são curtos e estes
partidos admitem e aceitam implicitamente a alternância no poder com outros
partidos democráticos adversários. Já os partidos comunistas não: encaram a
política como guerra de extermínio e para isto se utilizam de métodos estranhos
aos demais partidos, como guerrilha, terrorismo, subversão nas forças armadas
com doutrinação de recrutas e oficiais, etc. Consideram os demais partidos
"burgueses" não como adversários dos quais podem ganhar ou perder, ou com os
quais se alternarem no poder, mas inimigos a serem aniquilados. E atuam com
base em estratégias de longo prazo, pois no cerne da própria estratégia está a
abolição, em algum momento no futuro, dos mecanismos "burgueses" de escolha
dos dirigentes pelos eleitores. Sua luta não e'política, embora dêem esta
impressão: e'contra a própria existência da política e para exterminá-la da vida
na nação.

Assim, ao invés de elaborarem políticas que eventualmente podem ser revertidas
se os eleitores optarem por outras, funcionam com base em estratégias guerreiras
e de engenharia social que pretendem mudar radicalmente e para sempre a
Sociedade. Mas a Sociedade terá que ser enganada até o momento em que se
torne incapaz de mudar seus próprios destinos pela via eleitoral ou que esteja de
tal modo encharcada de lixo marxista que já não reconheça nada diferente. Para
ludibriar a sociedade os partidos comunistas lançam mão de duas táticas
simultâneas: uma política democrática exigindo e se comprometendo com o
maior grau de democracia possível, e uma estratégia de longo prazo que faz uso
das franquias democráticas para acabar com elas.

É preciso diferenciar claramente uma estratégia de uma política. A primeira
contém dentro de si mesma um segredo e uma manobra de
despistamento destinado a pegar o adversário de surpresa e assegurar a vitória
final. Os regimes comunistas são de natureza secreta por imposição de suas
próprias características internas que necessitam de constante dissimulação, pois,
se aberto o horror de suas entranhas, perderia adeptos e companheiros de viagem
fiéis. A dissimulação não é atingida somente pelo mascaramento e segredo, mas
pelo complemento essencial, a desinformação (desinformatsiya), a disseminação
constante de informações falsas para criar no inimigo as reações esperadas,
como já foi examinado. Ora, já antes da tomada do poder os comunistas agem
exatamente assim: seus fins são apresentados como políticas programáticas
claras e abertas ao escrutínio de toda a população. Mas os verdadeiros objetivos
são mascarados e submetidos ao máximo de desinformação. Os programas não
têm a menor importância, mas sim a estratégia dissimulada. Sobretudo, é preciso
convencer os adversários de que não há estratégia alguma por trás da política
programática, isto é, dissimular a própria estratégia de dissimulação, atacando a
existência do anticomunismo como prática de paranóicos, pois não existem as
ameaças denunciadas por estes. É muito difícil para pessoas de boa fé alcançar
tal grau de hipocrisia e canalhice.

Na URSS, as principais decisões para apaziguar o ocidente foram concernentes à
adoção de um padrão de não-violência através da substituição do conceito de
"ditadura do proletariado" por "Governo de todo o povo" (note-se o novo slogan
petista: "Brasil, um país de todos"), o desenvolvimento de novas forças políticas
eliminando a figura do partido único (no Brasil investimento pesado no PT e em
partidos companheiros de viagem como PSDB, PSB e PPS), a preparação de
reformas políticas e econômicas em direção a uma "economia socialista de
mercado" – que não mais prevê a desapropriação violenta dos meios de
produção, mas o aumento progressivo da taxação – como sempre foi sugerido
por Marx – e da dependência de empréstimos governamentais para sobreviver.
"Pluripartidarismo" controlado pelo partido hegemônico, e a propaganda de uma
Revolução mundial não-violenta, eliminando a figura do inimigo para o
Ocidente e consequentemente desmoralização do anticomunismo como paranóia,
Os resultados foram amplamente satisfatórios: o enfrequacimento moral,
político, militar e principalmente ideológico americano e de todo o Ocidente.

Na estratégia secreta existem, no entanto, vários níveis de segredo. Os estratos
mais profundos só são acessíveis aos mais altos próceres partidários, alguns
apenas a um reduzidíssimo número de intelectuais orgânicos (conceito de
Gramsci a ser estudado no próximo capítulo). Atingido o governo não se
pretende largá-lo nunca mais até conseguir o poder totalitário. A grande
vantagem de chegar ao governo é que permite utilizar uma nova tática, antes
impossível: combinar as pres sões "de baixo" com as pressões "de cima".
Enquanto no nível político o governo administra o país e controla a rotina de
governar – sua eficiência ou ineficiência também são reguladas pelas
necessidades de planejamento de longo prazos – no nível estratégico, secreto,
estimula e financia os que pressionam de baixo. A relação dos "de cima" com os
"de baixo" pode variar segundo as circunstâncias de uma franca solida riedade a
uma falsa hostilidade.


Algumas normas de avaliação
Somente entendendo a inserção global dos governos de FHC e de Lula pode-se
fazer uma avaliação mais acurada da crise atual e, ainda assim, levando em
consideração os tópicos que levantei sobre como se comportam os comunistas e
seus partidos. Além do que já foi colocado, vale mencionar algumas normas de
alto valor para para quem precisar discutir com um comunistas ou entender
como o partido funciona no poder ou fora dele.

1. Não acreditar que polêmicas entre comunistas ou entre eles e partidos afins
impliquem em divisão real. Avaliar se há de fato razão suficiente para as
propaladas disputas (no caso atual é só aparência. Lembrar que FHC declarou há
pouco tempo que não bá diferença ideológica entre PT e PSDB, apenas
divergências políticas que se resumem no fato de que, enquanto o primeiro é
marxista, o segundo é Fabiano [ver Capítulo XII], mas a finalidade é exatamente
a mesma). Se os ataques do PSDB ao PT ou ao próprio Lula se intensificarem,
como se pode supor, isto significa rá tão somente o retorno provisório aos
métodos menos dolorosos, mas o rumo continuará o mesmo. O que é preciso é
impedir que surja algum partido ou candidato realmente liberal que revele e
acabe com a estratégia. Pode-se dizer o mesmo das aparentes divergências entre
Lula e Chávez ou entre Lula e Morales. Por mais que os mesmos, pessoalmente,
decla rem que nada os dividirá, a oposição e a sociedade em geral continuam a
acreditar na divisão inexistente.

2. Procurar, por detrás da aparência de desunião, sinais de unidade de ação
(como a operação "abafa" promovida pelo PSDB nas CPIs).

3. Procurar correlações temporais entre a eclosão de polêmicas e as grandes
iniciativas comunistas (por exemplo, o surto de ações espetaculares da Polícia
Federal durante a atual crise de corrupção, – o aumento da repressão da
Venezuela após a "crise" com o Brasil ou o aprofundamento das iniciativas
ditatoriais de Morales após a "crise" das refinarias da Petrobrás, etc.).

4. Considerar sempre a polêmica como parte da operação de desinformação para
confundir a oposição.

5. A causa está acima de tudo, até mesmo dos militantes que podem ser
sacrificados em prol da continuidade do processo. O próprio Lula é descartável
se as circunstâncias exigirem para levar avante a causa.

6. Nunca acreditar em programas, alianças ou tratados com comumstas. pois
para eles (ratados são para serem rompidos – assina-se e depois se joga no lixo
Note-se a facilidade com que, em 2002, o PT mudou o discurso radical que
vinha mantendo ate o início do mesmo ano por um programa que ficou
conhecido como "Lulinha, paz e amor”. Como poderia mudar outras tantas vezes
quantas fossem necessárias, pois programa nada significa senão o engodo, a
falsidade, por trás da qual está a estratégia de tomada do poder. O PT se mostra
tão democrático, aceitando a-s regras do jogo como os demais partidos, que
muitos duvidam que seja um partido comunista. Dirão estes que o PT não
defende nenhuma revolução nem prega a ditadura do proletariado ou a abolição
da propriedade privada. Pois quem não conhece a verdadeira história secreta dos
partidos comunistas, desconhece que a decisão de abandonar estes termos já e
velha de 47 anos (ver análise da Perestroika, acima), adequando-a às sugestões
do comunista italiano Antonio Gramsci (a serem detalhadas no próximo
capítulo).

7. Nunca acreditar que partidos que não tenham o nome comunista como o PT,
não o sejam. Geralmente o nome diferente é pura desinformação. Lembrem que
o PCB – com este nome – não teria ganhado nem mesmo uma prefeitura. Nomes
nada valem – observar os atos, os métodos e as práticas e não os nomes. Note-se
o brutal aumento da carga tributária desde 1994, pelas mãos dos companheiros
de viagem, o PSDB, o crescente – e proposital! – endividamento das empresas
privadas a bancos estatais aumentando de tal modo a dependência dos mesmos
que já hoje os gestores da maioria delas são o BNDES, o Banco do Brasil e a
CEF. Em pouco tempo, a grande maioria das empresas privadas ficará sob o
controle total do governo restando aos empresários razoáveis lucros, garantidos
não via concorrência, mas fixados pelos órgãos estatais, com a finalidade de
torná-los cúmplices da destruição de suas próprias empresas enquanto
organismos decisórios independentes. Decorre também daí a proposta das
Parcerias Público Privadas. Na política, a farsa eleitoral de 2002 em que três
candidatos companheiros de viagem sei viram como "ponto" para o candidato do
partido hegemônico (PT). É exatamente isto que se chama democratismo, um
arremedo de democracia Tudo, portanto dentro da já velha estratégia,
dissimulada por belíssimos discursos democráticos.

8. Nunca acreditarem em história, biografias, etc. publicamente apresentadas,
pelo seu valor de face. São todas forjadas e fomentadas pela massificação
doutrinária através da mídia. Por exemplo, toda a cúpula do PT, e alguns do
PSDB, do PSB e do PPS, é constituída de guerrilheiros, assaltantes de bancos e
terroristas, portanto nada a surpreender na crise atual: a corrupção lhes é
intrínseca. No entanto, nas suas biografias são apresentados como heróis que
arriscaram a própria vida para redemocratizar o Brasil.

9. Ter sempre em mente que os arroubos de democracia e Estado de Direito, são
engodos dos quais se livram assim que puderem. E para chegarem a este estado é
preciso atingir as condições revolucionárias objetivas, combinando as pressões
de baixo: (MST ONGs, “sociedade civil organizada”, movimentos movimentos
“sociais", etc.), com as de cima, até que primeiros tenham força suficiente para o
assalto final ao poder. Por exemplo, o governo petista financia e dá todo amparo
possível ao MST – como já o fizera o PSDB, mas frequentemente o MST
"rompe" com o governo, denunciando o mesmo como traidor das causas
populares, aburguesado, neo-capitalista e outras coisas mais. Isto serve para
manter a ilusão dos fazendeiros e empresários de que há realmente, uma ruptura,
porém não passa de engodo Continuam umbilicalmente ligados, um não vive
sem o outro. O PT sem o MST fica sendo um partido comum, o MST sem o PT
ou o PSDB, que começou a financiá-lo, não sobrevive. Mas até que sejam
atingidas as "condições objetivas" revolucionárias para a tomada do poder total,
continuarão as falsas rupturas e reaproximações num movimento dialético
constante.

10. Idem quanto a alegada defesa da “soberania nacional” que tanto encanta
nossos nacionalistas, os quais se surpreendem quando percebem que jamais
houve em toda a história do Brasil governos mais entreguistas do que nos
últimos 12 anos. Às vergonhosas e escandalosas privatizações com dinheiro
público de FHC seguiram-se as entregas de grande parte do território nacional do
governo Lula às ONG's. Com o discurso de um Chico Mendes, atuam como um
Henry Ford.

11 Não acreditar, como o fazem alguns sinceros críticos liberais, que a
mentalidade comunista é produto de alguma "doença mental" que os faz
acreditar sinceramente no que fazem com o dinheiro público em prol da causa.
Pelo contrário, sabem muito bem que o que fazem é puro roubo e errado
segundo a moral "burguesa", mas distorcem esta moral criando uma outra, que
cinicamente denominam "proletária" – à qual nenhum proletário honesto seguiria
– que não passa de justificativa de caso pensado. Não são pobres doentes que
precisam de hospital psiquiátrico, são gatunos e assassinos que merecem cadeia!

12. Ao avaliar o que é ou não comunista, esquecer os surrados slogans de
ditadura do proletariado, sociedade mais justa, etc. Os objetivos são outros,
todos destinados a liquidar com a civilização ocidental e seus valores: defesa do
aborto, liberação das drogas pesadas, da oficialização das relações homossexuais
– diferente de respeitar os indivíduos homossexuais – movimento feminista
rancoroso, estímulo ao racismo sob o rótulo oposto através por exemplo das
cotas raciais, etc.

13. A campanha pelo desarmamento está em perfeita harmonia com o
sucateamento e desmoralização das Forças Armadas para impedir qualquer
resistência ao domínio da nova classe (ver adiante).

14. Finalmente, nunca o que parece ser, é!


A verdadeira mera comunista: a nova classe

Finalmente, não se pode entender o comunismo sem saber qual é sua verdadeira
meta. Sem isto corre-se o risco de ficar andando em círculos Ao definir a
passagem do Estado Socialista para o futuro Estado Comunista, Marx ressaltou
que a diferença fundamental seria passar de um Estado em que imperasse a cada
um de acordo com seu trabalho, para outro mais desejável no qual imperaria a
cada um segundo suas necessidades Enquanto o primeiro inclui necessariamente
algum esforço, o segundo acena com um estado de coisas paradisíaco ou
nirvânico no qual todos terão suas necessidades atendidas.

O que parece uma loucura não é. Este estado já foi atingido pelos próprios
líderes comunistas, nenhum exerceu qualquer trabalho sistemático por muito
tempo. Marx viveu à custa de sua mulher aristocrática e de Engels. Este nunca
precisou trabalhar. Lenin formou-se em Direito, mas teve uma única causa que
abandonou para viver à custa da irmã, depois de exilados, da mesada do Império
Alemão e finalmente do Estado. Mao exerceu por pouco tempo o magistério,
Zhou Enlai era descendente de riquíssimos mandarins. Fidel só defendeu a si
mesmo e desde então vive sustentado pelo Partido e pelo Estado. Prestes nunca
mais trabalhou desde que desertou de forma desonrosa. Lula trabalhou muito
pouco, passando a viver em casa emprestada, com salário do Sindicato, do
Partido e do Estado.

A lista é infinita e serve para mostrar que, para os mais iguais entre os ‘iguais'
(apud Orwell) a teoria deu certo! Conseguiram recriar o estado aristocrático de
parasitas tão indolentes quanto inúteis! Constituem o verdadeiro fim a que se
propõe a ideologia e a práxis comunista: a construção de uma Nova Classe.
Como bem o disse Milovan Djilas (The New Class): Em contraste com as
antigas revoluções, a comunista, feita em nome da extinção das classes, resultou
na mais completa autoridade de uma nova e única classe". Alegando construir,
"um mundo melhor possível", uma sociedade nova, ideal, mais justa,
"construíram-na para si mesmos do melhor modo que puderam". A Nova Classe
"se interessa pelo proletariado e pelos pobres apenas na medida em que eles lhes
são necessários para o aumento da produção (...) o monopólio que, em nome da
classe trabalhadora, se estabelece sobre toda a sociedade, é exercido
principalmente sobre esta mesma classe trabalhadora". Djilas, que percorreu
todo o caminho da carreira comunista, chegando ao Comitê Central iugoslavo,
denunciou já em 1957 que a Nova Classe se apropria de todos os bens pela
nacionalização e estatização, tornando-se uma classe exploradora.

Mikhail Sergeyevitch Voslensky (A Nomenklatura), que também percorreu toda
a carreira dentro da URSS, usa o termo Nomenklatura para esta nova classe e
complementa mostrando que a propriedade socialista é a propriedade coletiva da
Nomenklatura, pois "sua adesão fingida ao coletivismo obrigou-a a adotar a
forma coletiva de propriedade". Já Bruno Rizzi (The Bureaucratization of lhe
World) citado por Voslensky, mostrava em 1939, dentro de ponto de vista ainda
marxista, que "na sociedade soviética os exploradores não se apropriam da mais-
valia diretamente, como o faz o capitalista quando embolsa os dividendos de sua
empresa. Fazem-no indiretamente através do Estado, que embolsa a mais-valia
nacional e a distribui, então, aos seus funcionários". Estes funcionários
constituem a Nomenklatura, em russo, a lista dos postos mais importantes cujas
candidaturas são sempre por recomendação de algum órgão do Partido. (Será
que isto lembra alguma coisa ao leitor, do que já está ocorrendo no Brasil?).

Conclui Voslensky: “A Nomenklatura é uma classe de exploradores e de
privilegiados. Foi o poder que lhe permitiu ascender à riqueza e não a riqueza
que lhes proporcionou o poder. A Política da Nomenklatura consiste em assentar
seu poder ditatorial no plano interno e ampliá-lo ao mundo inteiro”. Esta nova
classe, que poderia ser chamada de nova casta, é a herdeira direta das antigas
aristocracias e das monarquias absolutistas, às quais tentam substituir desde
1789, passando a ter maior sucesso a partir de 1917.

CAPÍTULO 3

A revolução Cultural:
Antônio Gramsci e
a Escola de Frankfourt






Antonio Grasci e a organização da Cultura

Gramsci nasceu em 1891 e morreu em 1937. Participou da fundação do Partido
Comunista Italiano em 1921. Um ano depois Benito Mussolini assume o poder
com um programa anticomunista e em 1926 endurece o regime fascista. Gramsci
é preso e condenado a mais de 20 anos de prisão pelo Tribunal Especial de
Defesa do Estado. Acometido de tuberculose foi transferido para um Sanatório
especializado. Através de cartas cifradas para escapar à censura da polícia
política fascista OVRA (Organizzazione per la Vigilanza e la Repressione dell
Antifascismo), a maioria destinada à sua cunhada Tatiana Schucht, desenvolve
uma nova teoria sobre a conquista do poder pelos comunistas. Logo após sua
morte em 1937, Tatiana encaminhou seus escritos para Palmiro Togliatti, então
exilado em Moscou. Somente depois do fim da II Guerra Togliatti organizou e
publicou a obra com o título de Cadernos do Cárcere.

Até então, a conquista da hegemonia – entendida como aceitação e concordância
das massas com o comunismo – era resultado da conquista do poder do aparelho
político do Estado pelo "partido de vanguarda" e, depois disto, a imposição pela
força da ideologia totalitária, (Gramsci, percebendo a inutilidade deste esforço
na URSS, onde a repressão era constante e tendia a se eternizar, inverteu a
fórmula: é necessário conquistar a hegemonia antes da tomada do poder que,
neste caso, viria a ser "indolor", pois as massas já estariam pensando e agindo
dentro das amarras comunistas do pensamento e a conquista do poder seria quase
rotineira. Só então o poder político eliminaria todas as resistências "burguesas"
com o pleno apoio das massas, previamente convencidas de que o governo é o
seu legítimo representante. A importância dos intelectuais nesta tarefa de
doutrinação das massas é fundamental.

O foco de "classe" muda completamente dos proletários para os "intelectuais", a
nova "vanguarda revolucionária". Não se trata de uma "revolução proletária",
mas sim de uma revolução dos intelectuais com os proletários a reboque.
Gramsci simplesmente assume o que a revolução comunista sempre foi: uma
revolução de elite travestida de popular. Segundo Suzanne Labin (Em cima da
hora): "Os comunistas se apresentam como agentes da evolução inevitável da
história, mas a verdade é exatamente o oposto é uma tentativa desesperada de
prolongar o absolutismo ancestral, a despeito dos progressos da cultura. Não
marcha 'no rumo da história', mas para tentar para-la. E contra o capitalismo pelo
que tem de avançado – a liberdade – e não pelo que, (segundo seu ponto de
vista) tem de retrógrado, a chamada injustiça social". A meta comunista nào é
bem parar a história, mas revertê-la do estado liberal para o aristocrático, só que
agora não mais uma aristocracia de sangue, mas auto-nomeada e ungida não por
Deus, mas pelos seus pares.

Marx conceituava o sujeito conhecedor não como um indivíduo em contato
consigo mesmo e com sua consciência e elaborando idéias pessoais, mas como
um sujeito coletivo. Define o proletariado como um todo uniforme, com sua
ideologia própria e os burgueses também. Em ambas as classes os indivíduos
isolados que não comungam a ideologia de sua classe são considerados
alienados.

Gramsci mantém a idéia do sujeito conhecedor e pensante coletivo e faz uma
distinção entre o intelectual "orgânico", aqueles conscientes de sua posição de
classe – criado pela classe dos intelectuais, pelo partido-classe – e o intelectual
"tradicional" – aquele que mantém sua autonomia e continuidade histórica. A
organização da cultura é conseguida exatamente através da hegemonia dos
intelectuais orgânicos – organizados, como órgãos de um único organismo, o
Partido-classe, o "intelectual coletivo". Não me refiro aqui ao conceito
tradicional de partido político (ver Capítulo 2). Um intelectual orgânico não
necessariamente integra os quadros de um partido, mas sabe quais são seus
interesses de classe e, por assim dizer, "toca de ouvido": não é preciso uma
partitura para que conheça a "música" que lhe interessa,– na dúvida, basta ouvir
a música que seus pares estão tocando. Cabe a estes homogeneizar a classe que
representam e levá-la à consciência de sua própria função histórica: transformar
uma classe em-si numa classe para-si.

O conceito de intelectual, no entanto, sofre uma ampliação semântica: passa a
ser a totalidade dos indivíduos, com qualquer nível de instrução que possam
atuar na propaganda ideológica. Publicitários, jogadores de qualquer esporte,
professores de qualquer grau, contadores, funcionários públicos graduados ou de
estatais, profissionais da imprensa, do show-business, sambistas, roqueiros. E
impressionante a empáfia com que estes falam, ou melhor, pontificam sobre
qualquer assunto, e é incrível como a população dá tanta importância a eles
permitindo que possam agir como agentes transformadores da consciência e do
senso comum, popularmente conhecidos como "formadores de opinião".

A palavra cultura perde toda a acepção qualitativa e e pedagógica reduzindo-se
ao uso exclusivamente antropológico como denominação neutra e geral das
formas de expressão popular. Até o advento do relativismo cultural, cultura
reteve significados de Paidéia e Areté gregas, isto é, continha um conceito
implícito de valor: existiam pessoas ou povos cultos ou incultos. Algo a ser
adquirido com esforço. O relativismo cultural modificou o conceito de cultura o
qual, de uma alta expectativa de valor, passou a ser um simples conceito
antropológico-descritivo: a totalidade das manifestações e formas de vida de um
povo, mesmo os mais primitivos. Com isto, se obtém um nivelamento por baixo
alarmante. Por exemplo, cultura negra deixa de ser a produção de negros cultos,
dos quais a raça negra deveria se orgulhar e tentar emular, nào, é o funk, música
pornográfica de analfabetos: equipara-se Machado de Assis ao Furacão 2000,
Lima Barreto à Tati Quebra-Barraco. Mais do que isto, embora a maioria diga
isto à boca pequena porque ainda lhes resta uma certa vergonha na cara,
consideram que Machado e Barreto foram negros "submetidos à cultura branca e
não conseguiam se expressar dentro da cultura negra", alienados, portanto.

Esta atividade dos intelectuais, na prática necessita criar uma espécie de escola
de dirigentes, um grupo de intelectuais "especialistas", que servem para orientar
os demais quanto a seus interesses específicos de classe. Note-se que sempre que
ocorre algum fato relevante a imprensa recorre logo a "especialistas", pessoas
designadas pelo intelectual coletivo para dizer como os outros devem pensar a
respeito do assunto. Quem ouse pensar diferente é severamente admoestado
pelos "especialistas", obrigado a uma autocrítica e se reincidir, é posto no
ostracismo e perde o apoio dos companheiros de viagem. Entre estes estão os
intelectuais tradicionais, os alienados da consciência de sua classe. Deve-se
frisar que as palavras desses "especialistas" expressam sempre a opinião que
deverá ser adotada em comum para os interesses exclusivos do Partido-Classe,
do Intelectual Coletivo, mesmo que se apresente como "científica" (o que nunca
é). A proposta de revolução educacional (pedagogia crítica) de Gramsci sugere a
criação de escolas profissionais especializadas, nas quais o destino do aluno e
sua futura atividade serão predeterminados.

Uma das maiores lições de Cramsci aos comunistas foi: não tomem quartéis,
tomem escolas e universidades; não ataquem blindados, ataquem idéias gerando
dúvidas, e propondo o diálogo permanente, nunca apresentando certezas, mas
devem estar preparados para preencher as dúvidas antes que a consciência
individual o faça, não assaltem bancos, assaltem redações de jornais, nào se
mostrem violentos, mas pacifistas e vítimas das violências da "direita".

O controle das consciências, através da modificação do senso comum, deve ser o
objetivo político maior. Entende-se por senso comum um conjunto de idéias
inconscientes ou semi-conscientes com os quais os indivíduos organizam suas
vidas. Representa o conjunto de valores, tradições, filosofias, religiões, etc.,
aceitos consciente ou inconscientemente pela maioria de uma sociedade,
herdadas das gerações mais antigas e dadas como certas em si mesmas. Não
somente as normas morais e éticas, mas também certas crenças e regrinhas
triviais das quais nem nos damos conta.

A modificação do senso comum e o controle das consciências são assegurados
pelo domínio sobre os órgãos educacionais e de informação. O objetivo é o
controle do pensamento na própria fonte, na mente que absorve e processa as
informações e a melhor forma de controlá-lo é modelar palavras e frases da
maneira que sirvam aos propósitos hegemônicos. O controle da mente Ocidental,
além do uso desonesto da linguagem e das informações, é feito também através
da desmoralização proposital do Ocidente por ataques corrosivos contra as
instituições, promovendo ativamente o uso de drogas, o agnosticismo, o
relativismo moral e cognitivo, a permissividade e o estímulo às transgressões
(palavra mágica altamente sedutora, principalmente para os jovens) e ataques
concentrados a família tradicional, promovendo o aborto, as famílias "não-
tradicionais" e as "novas sexualidades".

Desconstruindo o mundo ocidental este ficará presa fácil para a Nova Ordem
Mundial comunista. O "desconstrucionismo" – que fez tanto sucesso no Brasil
através de Jacques Derrida, e espero que tenha morrido junto com ele – é parte
fundamental da estratégia. Vem daí a expressão "pós-moderno", o resultado da
desconstrução até mesmo do próprio "modernismo" burguês. Um outro método
eficiente é a educação "construtivista” que não passa de um desconstrutivismo
radical do senso comum e a introdução na criança daquilo que o intelectual
coletivo quer – via magistério mas de tal modo que a criança pensa estar
construindo seu mundo por si mesmo – e os professores não engajados também.

Gramsci era um mestre da prestidigitação cultural, agindo mais por influência
psicológica sobre a imaginação e os sentimentos, base do senso comum, do que
sobre a racionalidade. Escondendo-se o verdadeiro sentido de determinadas
palavras, elas ficam soltas para o imaginário popular ligá-las com qualquer coisa
que tem mais a ver com os seus próprios desejos do que com o sentido real com
que é usada pelos agentes. Como o prestidigitador que, ao chamar a atenção do
público para uma das suas mãos, coloca com a outra o coelho na cartola para
depois retirá-lo como se nunca tivesse sido posto lá.

Por exemplo, o termo ética tem em Gramsci um sentido totalmente diferente do
que significa para as pessoas em geral acostumadas pelo senso comum com o
"discurso moralístico burguês". Ético é tudo que serve para fazer avançar a
tomada do poder pelo pensamento hegemônico quando atinge o estado de
consenso, em que todos concordam em aceitar sua ideologia de classe.
Portanto, Estado Ético é o estado de perfeita coincidência entre idéias e
interesses de classe, quando realizado numa dada sociedade e cristalizado
em leis que distribuem a cada classe seus direitos e deveres segundo uma clara
delimitação dos respectivos campos ideológicos (apud Olavo de Carvalho) O
Estado ético, na verdade, não apenas é compatível com a total imoralidade,
como na verdade a requer, pois consolida e legitima duas morais antagônicas e
inconciliáveis, onde a luta de classes é colocada acima do bem e do mal e se
torna ela mesma o critério moral supremo (ibid).

Da mesma forma, verdade não mais significa a correspondência entre o lato e a
interpretação, mas adquire um conteúdo meramente utilitário: tal como ética,
verdade é tudo o que impulsiona o processo histórico na direção do comunismo.
A verdade, tal como é conhecida há milênios, nada significa para um comunista,
que a modifica de acordo com as necessidades do momento do processo
revolucionário. Vem daí a infiltração nas universidades, sociedades científicas e
culturais e desde a escola primária, da idéia de pluralismo de idéias como
máxima expressão "democrática". Mao lançou a Revolução Cultural com o moto
"que floresçam mil flores'r, só para descobrir quais as que não interessavam e
podar suas vidas, física ou mentalmente através de grandes humilhações
públicas.

Uma das maiores fraudes inspiradas pelo gramcismo foi negar a existência do
comunismo para liquidar com o anticomunismo. Como o comunismo não existe,
nem todas as atrocidades cometidas nos países dominados por ele, o
anticomunismo não passa de uma "criação na realidade daquilo que mais
amedronta os conservadores", isto é, um delírio alucinatório. Suprime-se da
imprensa, da literatura, do show bussiness qualquer menção à própria palavra
comunismo e quando ela é pronunciada por alguém este é imediatamente taxado
de maluco paranóico.

Cria-se a falsa noção de "sociedade doente" e passa-se a tratá-la de duas
maneiras: os adultos, através de elaboradas técnicas psicoterápicas pervertidas
para inocular a noção de delírio e alucinação quando estas não existem. As
pessoas que enxergam a realidade são convencidas de que deliram e alucinam.
Por outro lado, estimula-se a inveja – a base psicológica de qualquer pensamento
esquerdista e a culpa social” pela 'exclusão" e 'exploração" capitalista,
principalmente com pessoas enriquecidas honestamente, mas que se sentem
culpadas pois sua riqueza, como me referi na Introdução.

Com as crianças, mediante uma combinação cruel de técnicas psicopedagógicas
que enfatizam a "sensibilidade" sobre o aprendizado e a doutrinação explícita
através de modificações curriculares para formarem robôs andróginos incapazes
de pensar por si mesmos. E importante dizer que em 1985 o Departamento de
Estado dos EUA deu à Carnegie Corporation autoridade para negociar com a
Academia Soviética de Ciências – leia-se KGB – o desenvolvimento de novos
currículos e a reestruturação da educação americana visando a convergência com
a soviética. O livro de Berit Kjos, Brave New Schools, é essencial para entender
a perversão das noções educativas que vêem ocorrendo desde a década de 70.

As escolas e as empresas tornam-se centros de "tratamento" psicológico com
dinâmicas de grupos e sobrevalorização do sentir sobre o saber, a eficiência
capitalista e a busca do lucro, enfatizando-se as "funções sociais", também
totalmente deturpadas. É o que Sommers & Satel chamam de terapismo, a ideia
revolucionária de substituir a ética e a religião pela psicologia (One Nation
Under Therapy).

A linguagem precisa ser desconstruída e no seu lugar colocar uma outra, a
linguagem do "politicamente correto". As ciências – fruto exclusivo da
civilização judaico-cristã – também são desmoralizadas pela introdução de
formas "alternativas" (medicinas ou terapias alternativas, superstições orientais
apresentadas como "outras ciências", etc.). São "novas formas de luta pela
hegemonia", alguns são assuntos jamais sonhados por Gramsci, mas que são
desenvolvidas sob sua égide pelo intelectual coletivo. Isto é muito importante:
diferentemente de seus antecessores, Marx, Engels e até certo ponto Lenin,
Gramsci não dá uma receita fechada, mas aberta as modificações necessárias no
futuro. Mas a destruição de toda a tradição filosófica fazia parte integrante do
projeto de Gramsci.

O fundamental a destruição das bases da civilização ocidental judaico-cristã. As
primeiras a serem destruídas devem ser as tradições morais, culturais e
religiosas. Mikhail Gorbachov em 1987, já em pleno processo de Perestroika,
um produto gramscista por excelência, afirmou: "Não pode existir trégua na luta
contra a religião porque enquanto ela existir, o comunismo não prevalecerá.
Devemos intensificar a destruição de todas as religiões aonde for que elas sejam
praticadas ou ensinadas".

O principal meio de destruição das religiões deixa de ser o ataque frontal, que
poucos resultados deu, mas a infiltração nos seminários das idéias marxistas, que
resultou mais tarde na "teologia" da libertação (ver adiante), conforme sugerido
por Gramsci que percebera que a Igreja Católica é indestrutível num confronto
direto. Gramsci dissera que "bater com a cabeça na parede machuca a cabeça, e
não causa nada à parede, é preciso penetrar por trás da mesma e destruí-la por
dentro", isto é, invadindo os seminários e outros centros de formação religiosa.
Um outro meio é o estímulo a crenças e práticas primitivas como o culto a Gaia,
as seitas indígenas primitivas, a teosofia, os cultos orientais.

Note-se que Gramsci enfatizava não a pregação revolucionária aberta, mas a
penetração camuflada e sutil. Pura a revolução gramscista vale menos um
orador, um agitador notório do que um jornalista discreto que, sem tomar
posição explícita, vá delicadamente mudando o teor do noticiário, ou do que um
cineasta cujos filmes, sem qualquer mensagem política ostensiva, afeiçoem o
público a um novo imaginário, gerador de um novo senso comum. "Jornalistas,
cineastas, músicos, psicólogos, pedagogos infantis e conselheiros familiares
representam a tropa de elite do exército gramscista" (...) cuja atuação cria novas
reações, novas atitudes morais que, no momento propício, se integrarão
harmoniosamente na hegemonia comunista (ibid), palavra que é riscada do
dicionário gramscista.

A estratégia política de “transição pacífica para o socialismo” é montada sobre
esta infiltração cultural; por esta razão, é necessária a defesa intransigente do
ambiente mais democrático possível. A diferença com os partidos
verdadeiramente democráticos é que, para estes últimos a democracia é um fim
político em si para florescimento das liberdades de pensamento, religiosa,
econômica. Para o partido-classe, não passa de um meio para acabar com ela
assim que passem ao estágio seguinte: o da hegemonia e do consenso. Por isto,
como já enfatizei no capítulo anterior, esses partidos são os mais intransigentes
defensores da ampliação e aprofundamento das franquias democráticas e de
conceitos tais como cidadania – tão sedutor que é papagaiado até por quem não
concorda com os fins do partido-classe – com a vantagem adicional de
convencer a população de que são realmente os maiores democratas. Quando
cidadania toma o lugar de cidadãos e cidadãs, troca-se o individual pelo coletivo
e cria-se uma categoria de fenômenos sociais para substituir os individuais.

Por democracia entenda-se a ampliação do Estado por via dos organismos
privados de hegemonia, os sindicatos e entidades privadas como as Ong’s. O
ativismo destas últimas as tornam, frequentemente, competidoras do Estado ao
assumir algumas funções estatais, como as relativas a direitos humanos,
ambientalismo, paz, desarmamento, racismo, proteção à infância, às mulheres, às
minorias, defesa do consumidor, etc. No seu conjunto, constituem o que se
chama sociedade civil organizada levando a uma ampliação do Estado, ao
Estado Ampliado, não mais dirigido pela política mas pela ideologia do partido-
classe. Avellar Coutinho (A Revolução Gramscista no Ocidente) sugere que
melhor seria "sociedade ampliada". Sob este conceito o Estado não se limita aos
órgãos do governo, mas abrange diversos organismos sociais. A "sociedade
civil" passa a indicar a direção política e cultural e a exercer algumas das
funções que tradicionalmente cabem ao governo (op. cit.). Passa-se, portanto, ao
largo da esfera legislativa principalmente, passando por cima das decisões do
Congresso Nacional. E também se avilta a ação da justiça levando Juízes e
desembargadores a relativizar a aplicação da lei. Por exemplo, os juízes são
instados a ditar suas sentenças não mais de acordo com a lei tal como votada
pelos legisladores, mas seguindo os ditames das Ongs dos direitos humanos ou
ambientais ou qualquer outra coisa. O conceito de legalidade é substituído
paulatinamente pelo de legitimidade, sendo esta última determinada não pelo
aparelho do Estado, mas pela sociedade civil. Por exemplo, a invasão de terras
embora ilegal é socialmente justa e os juizes são inicialmente forçados a negar as
ações de reintegração de posse. Posteriormente esta idéia se torna consensual.
Elevado às últimas consequências, o Estado Ampliado significa ofim da política
e da justiça, o fim do Estado "burguês".

O consenso torna-se hegemônico quando o senso comum é superado e a
sociedade passa a pensar de forma que acredita ser espontânea e autônoma
aquilo que lhe foi incutido de forma subliminar, lenta e gradual, pelo intelectual
coletivo representados pela "sociedade civil". Estas transformações lentas e
graduais são fundamentais para a tomada pacífica do poder, pois constituem o
cerne da transição pacífica para socialismo, como veremos na terceira parte deste
capítulo.

No momento em que a sociedade política perde o consenso, a hegemonia e a
integração com a sociedade civil, o estado "burguês" fica vulnerável à conquista
e à destruição pelo partido revolucionário. E a chamada crise orgânica ou crise
institucional, com o conseqüente enfraquecimento do Estado (Avellar Coutinho,
op cit).


A influência da Escola de Frankfurt

Não só o gramscismo foi o responsável pela mudança do senso comum e da
criação da fábrica de mitos, também a Escola de Frankfurt teve seu importante
papel, mormente entre as categorias mais intelectualizadas ?

Este termo se aplica indiferentemente a um grupo de intelectuais reunidos
no Institut fur Sozialforschung (Instituto de Pesquisas Sociais) de Frankfurt;
como a uma teoria social e cultural específica: a Teoria Crítica da sociedade
capitalista e das instituições soi-disant burguesas. O estabelecimento do Instituto
se deu pelo encantamento de Félix Weil, filhinho de-papai de uma família
arquimilionária, pela vitória do bolchevismo na Rússia em 1917. Durante a
fracassada Revolução comunista Alemã de 1919, Félix, estudante de economia e
ciências sociais idealizou o Instituto "na esperança de um dia entregá-lo a um
Estado Alemão Soviético triunfante", finalmente fundando-o em 1923, após o
esmagamento da Revolução. Já de início o próprio nome era uma camuflagem,
pois o original era Instituto para o Marxismo e foi iniciado em 1922 num
seminário de uma semana de duração, o Erste Marxistische Arbeitswocbe, com a
fina lidade de juntar diferentes correntes marxistas. Compareceram, entre outros,
Georg Lukács, Karl Korsch, Karl August Wittfogel, Friedrich Pollock. O evento
foi tão bem sucedido que Weil sentiu-se estimulado a fundar o Instituto e
construir um edifício para sede.

Seu pai, o industrial alemão Hermann Weil, explorador do trigo e da mão-de-
obra barata da Argentina retornara à Alemanha depois de se tornar o maior
comerciante de cereais daquele país. Por seus maus conselhos ao Kaiser ficou
conhecido como o “pai da guerra submarina”, pois suas estatísticas otimistas
sobre a produção agrícola alemã recomendaram o torpedeamento dos comboios
de carga americanos destinados à Inglaterra, o que provocou a entrada dos
Estados Unidos na guerra, prolongando desnecessariamente o conflito.

Herniann pai, o verdadeiro financiador da Escola e da "Rwista dePesquisa
Social" jamais poderia imaginar que seu dinheiro fértil se tornaria, em meados
do século XX, propulsor do movimento da contracultura, cujo objetivo final
continua sendo o questionamento e a rejeição dos valores erguidos pela
civilização ocidental e cristã. Os Weil pretendiam ajudar a promover o
"pluralismo de concepções e interpretações da modernidade" sem nenhum parti
pris ideológico ou a predominância de qualquer tipo de doutrina. Em vez disso,
o idiota útil fomentou o fenômeno da contestação cultural e suas distintas formas
de subcultura, tais como, por exemplo, o movimento hippie com o seu
permanente apelo ao consumo da maconha, ácido lisérgico, rock,
vagabundagem, promiscuidade sexual e, mais tarde, no campo do pensamento e
da criação artística, a "desconstrução" dos textos filosóficos e literários caros ao
mundo ocidental. Com efeito, desde o início, a Escola de Frankfurt tinha em
vista a "desestruturação" de idéias e valores até então estabelecidas.

Apesar da imensa fortuna herdada, Félix não se tornou nem um verdadeiro
empresário, nem um verdadeiro sábio, nem um verdadeiro artista, mas um
mecenas da esquerda, o que se chamava na época um "bolchevista de salão",
tornando-se o protótipo do que já foi chamado de "esquerda festiva”, e que
abrange a quase totalidade das esquerdas: um tipo especial de esquerdismo que
veio a se tornar muito popular entre os intelectuais. Pessoas cujas vidas estão,
pelos parâmetros tradicionais, em completa contradição com as idéias que
pregam.

Com a ascensão de Hitler na Alemanha, em 1933, a Escola se transfere para
Genebra, depois para Paris e, finalmente, encontra pouso em Nova York,
afiliado da Columbia University Auferindo contribuições financeiras das
Universidades burguesas os integrantes, bem remunerados e protegidos (em bom
português: faça o que eu digo,mas não faça o que eu faço), puderam dar
continuidade às formulações da Teoria Crítica, de natureza anticapitalista,
originárias das "descobertas" de Marx.

Somente com a nomeação de Max Horkheimer para a direção do Instituto em
1930 é que se estruturou a base mais sólida da Escola de Frankfurt reunindo uma
equipe que incluía Herbert Marcuse, Theodor Adorno Erich Fromm, Max
Horkheimer, Walter Benjamin Jürgen Habermas – alguns filhos de banqueiros,
outros de prósperos comerciantes burgueses como o núcleo dos estudos teóricos.
Com o desenvolvimento destes estudos a Escola de Frankfurt despreza os
achados econômicos de Marx e investe tempo e dinheiro no exame da teoria da
alienação, agora expressa na avaliação do fenômeno da "reificação" dos bens de
produção da sociedade capitalista, na qual o ser humano se transforma em
mercadoria e a sua subjetividade fica reduzida à condição de "mero objeto". Em
cima desse trololó materialista, que despreza a vinculação do homem com a
transcendência, Theodor Adorno, o mais ativo dos intelectuais frankfurtianos,
ensina que no mundo "reificado” pela supremacia do capitalismo, o "homem
perde a consciência de si mesmo e se coisifica" (apud Ipojuca Pontes).

Uma observação de Horkheimer dá o sentido do que realmente significa a tal
"análise crítica da sociedade". Em Dámmerung de 1934 diz literalmente:

Um milionário ou até sua mulher podem dar-se ao luxo de ter um caráter muito
reto e nobre, podem adquirir todas as amáveis qualidades que se possa
imaginar... O pequeno industrial também está em desvantagem nisso. Em sua
própria pessoa, há necessariamente traços de explorador, senão ele não poderia
sobreviver. Este handcap “moral” cresce à medida em que a função ocupada no
processo diminui de importância. A inteligência e todas as outras capacidades se
desenvolvem tanto mais facilmente quanto mais elevado for o padrão de vida
Isso não vale apenas para as competências sociais, mas também para o resto das
qualidades do indivíduo. Encontrar seu prazer nas satisfações medíocres,
agarrar-se estupidamente a posses mesquinhas, mostrar uma vaidade e uma
suscetibilidade cômicas, enfim toda a pobreza própria da existência oprimida
não se encontra lá onde o poder dá uma substância ao homem e o desenvolve. A
organização socialista da sociedade... é historicamente possível, mas ela não será
realizada por uma lógica imanente à história (como pregado por Marx) e sim por
homens formados na teoria, decididos a agir.

A última frase define claramente o que Antonio Gramsci conceituou como um
"intelectual orgânico": um grupo homogêneo de intelectuais especialistas de
nível mais elevado, preparados para a produção das ta refas de crítica e
transformação social em suas respectivas atividades, isto é, para a práxis
marxista. Urgia invadir todas as áreas intelectuais especializadas.

Mais uma vez vou me restringir àquela a que pertenço: a psicanálise, que serve
de padrão para todas as áreas intelectuais. Muito do que se diz hoje deste ofício
não é, em absoluto, obra de Freud. Sucede que Horkheimer era muito
interessado em Freud, e a chave para que ele pudesse traduzir o marxismo de
termos econômicos para termos culturais era essencialmente a sua combinação
com a psicanálise. Como foi julgado que a única psicologia que poderia ser útil à
"teoria crítica da sociedade" era a de Freud, foi designado Eric Fromm para
realizar a "apropriação" e, mais tarde, Marcuse. Fromm tivera seu primeiro
contato com a psicanálise em 1924, quando Frieda Reichmann abriu um
sanatório particular em Heidelberg. Inicialmente um grupo exclusivamente de
judeus, os estudos eram entremeados de orações, razão pela qual o grupo deu a si
mesmo o apelido humorístico de "Torahpeutico". O Instituto Psicanalítico de
Frankfurt, daí derivado, foi o segundo na Alemanha depois do de Berlim e foi
fundado no quadro do Instituto de Pesquisas Sociais e desde então procurou o
"casamento" da psicanálise com a pes quisa social ligada ao materialismo
histórico. Como nào poderia deixai de ser havia pouquíssimo interesse nos
aspectos clínicos da psicanálise, ficando o Instituto centrado no uso da
psicanálise como instrumento de análist e crítica da sociedade burguesa e
capitalista e da sua transformação. Nascia aqui a falácia da psicanálise
"revolucionária", crítica da sociedade burguesa desdenhando-se completamente
o método terapêutico, considerado "alienante" e "burguês".

Um dos livros de Marcuse foi essencial para o processo. Este livro transformou-
se na bíblia do Students for a Democratic Society (ver capítulos 7 e 8) e dos
estudantes rebeldes dos anos 1960. Em Eros and Civilization, Marcuse
argumenta que sob a ordem capitalista (ele disfarça o marxismo: o subtítulo
é Uma Investigação Filosófica de Freud, mas o esqueleto da obra é totalmente
marxista) a repressão é a sua essência, e disso resulta na descrição freudiana: o
indivíduo com todos os complexos e neuroses em função do desejo sexual
reprimido. É possível enxergar um futuro uma vez que se possa destruir a ordem
repressiva vigente na qual, sendo Eros liberado, libera a libido, o que conduz ao
mundo da "perversidade polimórfica" onde "cada um pode fazer o que quiser".
Diga-se de passagem, nesse mundo não haverá mais trabalho, somente diversão.
Marcuse foi o homem que inventou a frase "Faça amor, não faça a guerra". Este
é o germe da defesa da satisfação de quaisquer desejos, mesmo os considerados
pelo homem comum, como perversos, por exemplo, a pedofilia.

Não obstante, Fromm e Marcuse tiveram de enfrentar alguns obstáculos teóricos
bastante importantes começando aí o desmonte e a deturpação da teoria
freudiana para caber no modelito marxista frankfurtiano, prática esta muito
comum: se a realidade dos latos não cabe na teoria, danem-se os fatos! Criaram
uma falsa crise na psicanálise – crise criada por eles mesmos, mas apresentada
com sendo real – entre o determinismo inconsciente e o determinismo histórico,
que nada tem a ver com a psicanálise. Na opinião de Meixner, um marxista, a
psicanálise é incompatível com a análise marxista da sociedade, com o que
concorda o próprio Freud (ver minha Introdução).

Para Freud, a estrutura instintiva do homem – principalmente o instinto de morte
é totalmente a-histórica e socialmente a-crítica. Portanto nada revolucionário,
mas pelo contrário conservador. Não importa o que o homem faça para refrear a
agressão, esta característica indestrutível da natureza humana persistirá, o que
contraria a doutrina marxista de que com a abolição da propriedade privada as
hostilidades sociais cessariam. A teoria freudiana e, com algumas exceções,
descritiva, não crítica nem revolucionária. Para uma apropriação materialista
histórica da teoria freudiana era sine qua non refutar o instinto de morte. Isto foi
tentado por outro filhote de Frankfurt, Wilhelm Reich da forma confusa que lhe
era peculiar, se esforçando para refutar a interpretação dos casos em que a
compulsão parece operar além do princípio do prazer, inclusive a manifestação
mais radical, o suicídio. Reich afirmava que não há nenhuma disposição
biológica envolvida, mas o indivíduo se mata simplesmente porque a 'realidade
social" produziu tensões que se tornaram difíceis de suportar.

Mais difícil ainda seria conciliar a defesa marcusiana da "mais-repressão" para
atingir o mundo ideal, com o fato de Freud considerar a repressão dos impulsos
sexuais e agressivos como a base mesma da civilização. A saída, astuciosamente
marxista, foi sonegar esta informação em seus escritos.

Aqui se encontram mais uma vez os gramscistas e frankfurtianos, aceitando-se
que a base da civilização é universalmente, em qualquer lugar, a repressão dos
instintos deve-se admitir que para a psicanálise existem valores universais. Era
preciso perverter esta noção criando o consenso de que todos os valores
universais são autoritariamente impostos e transmitidos pela família tradicional.
Enfatizou-se, assim, o multiculturalismo que pontifica que cada cultura, cada
povo, cada raça possui diferentes características psicológicas, porque as famílias
transmitem diferentemente as idéias de autoridade, valores, moralidade e ética.
Se os valores universais são falsos e impostos autoritariamente pela família
tradicional, impõem-se modificar o senso comum alterando a estrutura familiar
tradicional, até mesmo destruindo o próprio conceito de família. Hoje em dia a
quase totalidade da população tida como "bem-pensante" e o beautiful
people que adora imitá-la por falta de idéias próprias, pensa assim, com exceção
de alguns extremistas malucos ou fanáticos religiosos que devem ser evitados
como a peste, incluídos aí os psicanalistas que se dedicam à atividade
terapêutica, e não aceitam que a psicanálise seja socialmente crítica.

Através do multiculturalismo insinua-se também uma nova "identidade cultural"
para os diversos grupos e que se extravasa para as chamadas minorias. A Escola
de Frankfurt, após a II Guerra Mundial, trabalhou com organizações judaicas
para criar uma nova identidade judia, não mais ligada às tradições religiosas ou à
riquíssima história de quase 6.000 anos do povo judeu ou às inumeráveis
contribuições judias para a civilização, mas única e exclusivamente em relação
ao Holocausto, como vítimas do genocídio. Através da Teologia da Libertação e
das mudanças litúrgicas do Concilio Vaticano II, a identidade dos cristãos não
mais se definiria como a crença nos Evangelhos e a fé em Jesus Cristo, na
Virgem Maria e na palavra dos Apóstolos, mas pela "opção preferencial pelos
pobres".

Com as "minorias" ocorreu o mesmo. Na década de 60 nos Estados Unidos – e
há duas décadas no Brasil – várias organizações negras foram reprogramadas
para instilar nos negros a crença de que o que define sua identidade é o passado
escravo, imposto pelos brancos. O movimentos feminista foi usado pelos
frankfurtianos para disseminar a crença de que a identidade feminina não tem a
ver com a biologia, mas com a perseguição pelo machismo chauvinista. Não se
pode dizer que exista uma "cultura latino-americana” de tal forma nosso
Continente é uma mistura de europeus, índios, negros e asiáticos – o Brasil
particularmente é talvez o maior país multirracial – mas também foi inventada
uma "identidade latino-americana” que se define pelo ódio ao passado
colonialista. Agora é a vez dos gays como uma minoria vítima da homofobia.

Note-se que em todos estes casos o que é estimulado é o ódio, a paranóia, a
inveja, o desejo de vingança sem os quais a ideologia comunista jamais poderá
predominar.


O triunfo da revolução cultural gramscista e da escola de Frankfurt

Armando Ribas está certíssimo: se o marxismo é como álcool para embebedar, a
sua forma gramscista é um anestésico e estupefaciente que serve para quem está
buscando estupidificar-se, deixar de pensar e adotar respostas prontas. Não é de
admirar-se que o Brasil seja o País em que a infiltração gramscista obteve maior
êxito, conseguindo chegar ao ponto extremo da previsão de Olavo de Carvalho:
“O gramscismo levado às suas últimas conseqüências resultará em varrer a
inteligência da face da Terra, o retorno à barbárie mais primitiva, o fim da
ciência e da filosofia – enquanto busca da verdade – e a paralisação de todo
progresso”. Como bem o disse Reinaldo Azevedo: Ninguém fala tanta bobagem
hoje no Brasil ou sobre o Brasil como os ditos intelectuais. Não todos, é claro.
Apenas a maioria daqueles que gozam da reputação de progressistas e bacanas
(os intelectuais orgânicos), os que, obviamente talvez até aceitassem ser
acusados de poxenetas da pobreza, gigolôs da miséria, poetas da distopia e do
desencanto. Só não podem ser chamados de reacionários. Isso os deixaria
ofendidos.”

São estes os principais agentes de influência dos quais emanam as mais
estapafúrdias palavras de ordem para os idiotas úteis, são os "especialistas" em
direitos humanos e coisas que tais.

Se a guerrilha e o terrorismo foram vencidos no campo militar, os governos que
os enfrentaram descuraram completamente a educação e a cultura, sem
perceberem que aí residia a nova ofensiva que acabou levando os derrotados de
ontem a serem os vencedores de hoje. É bem verdade que os governos militares
tentaram fazer alguma coisa neste sentido, instituindo os cursos de Moral e
Cívica com a intenção de despertar a consciência cívica da juventude e cultuar
os valores cristãos e democráticos. Cedo, entretanto, os agentes gramscistas
perceberam o filão que estes cursos representavam para a doutrinação e neles
começaram a colocar como professores seus agentes de influência e idiotas úteis
para fabricarem mais idiotas úteis desde a infância. Os espaços foram sendo
ocupados também nos cursos das áreas humanas como direito, psicologia,
história, geografia e ciências sociais. Até mesmo centros de excelência em
pesquisas científicas, como o Instituto Osvaldo Cruz, foram dominados. As
faculdades passaram a ser verdadeiras escolas de reformadores sociais,
abandonando por completo a primazia do conhecimento, preconceito burguês
que deveria ser destruído. Não se trata mais de conhecer o mundo – tarefa
primordial da humanidade – mas de modificá-lo, emburricando com isto várias
gerações meramente repetidoras de slogans, incapazes de pensar por si mesmas.

No front externo de Miguel Arraes, Marcio Moreira Alves e outros criaram em
outubro de 1969, em Paris, a Frente Brasileira de Informações (FBI), ligada a
organizações de esquerda, de oposição ao governo militar do Brasil, um
verdadeiro sucessor do Kominform, que tinha por objetivo fundar a filial
brasileira da Fábrica de Mitos, enaltecendo terroristas e satanizando as Forças
Armadas. Os recursos vieram da Argélia, via Miguel Arraes ou eram produtos de
assaltos terroristas no Brasil, como o do grupo terrorista VAR-Palmares, que em
18 de julho de 1969 roubou um cofre em Santa Teresa, Rio de Janeiro, com a
quantia aproximada de 2,5 milhões de dólares e da ALN de Carlos Marighela
que, contando com o ex-ministro da Justiça do governo FF-IC, Aloysio Nunes
Ferreira, assaltou o trem-pagador Santos-Jundiaí, levando 108 milhões de
Cruzeiros Novos. Além da função de propaganda, estes "intelectuais" exilados
tinham profunda e extensa ascendência sobre os agentes de influência no Brasil.

***

Além de oferecer uma falsa moral "alternativa" é preciso ir mais fundo, e como
os países alvos são predominantemente cristãos e, dentre as religiões cristãs, a
católica é a mais unificada e, portanto mais forte isoladamente, foi aí que se deu
o ataque. Mais uma vez, seguindo Gramsci e as orientações do KGB, o ataque
não poderia ser frontal. Com outras palavras Gramsci disse isto: não ataquem a
religião como o "ópio do povo", isto não deu e não dará certo, só reforçará a fé e
a solidariedade interna, penetrem nas Igrejas e substituam os Evangelhos por
nosso próprio ópio, o marxismo, como se Evangelhos fossem!

Certamente uma das influências mais nefastas foi a da 'Teologia da Libertação",
que consistiu num movimento que ultrapassa as letras teológicas e repercute
sobre o conjunto da vida da Igreja católica. A Conferência de Medelín, em 1968,
que reuniu os bispos da América Latina, afirmou a "opção preferencial pelos
pobres" A igreja seria mais profundamente identificada com os "últimos" deste
mundo, que devem ser os "primeiros" no Reino de Deus. Esta afirmação
implicou revisões profundas na imagem da Igreja latino-americana. A
identificação com as "elites coloniais" foi contestada em nome de uma
aproximação com os pobres.

"Ancorados nesta resolução episcopal, teólogos e agentes pastorais
deslancharam um grande movimento de reforma. A Igreja deveria ser re
construída a partir de suas bases locais, enraizadas na experiência popular e
numa nova leitura da Palavra de Deus. Insatisfeitos com a estrutura paroquial,
estes agentes preconizaram a multiplicação de pequenas comunidades de fé,
denominadas "Comunidades Eclesiais de Base" (CEBs) Compensando a
carência de padres, as CEBs seriam animadas por ministros leigos, (muitos
treinados em Cuba e outros países comunistas), apoiados por agentes do clero.
Ao invés da ênfase nos ritos tradicionais, a religiosidade das CEBs deveria
concentrar-se no entendimento da Bíblia e seu significado para o drama histórico
atual. Implicava, portanto, uma estreita associação entre as linguagens da
teologia e da sociologia, sobretudo de orientação marxista. Envolvia, também,
uma aproximação entre as pastorais especializadas e os movimentos sociais.
Missionários foram estimulados a contribuir para as lutas indígenas e pela posse
da terra (através da reforma agrária de cunho nitidamente leninista). Os
instrumentos de ação concreta foram o Conselho Indigenista Missionário (CIMI)
e as Pastorais, da Terra, da Favela, do Menor. Principalmente, os meios sindicais
ganharam uma nova corrente de agentes católicos que participaram da formação
do Partido dos Trabalhadores.

Grande parte do que foi dito no parágrafo acima, com acréscimos meus, foi
retirado de um texto publicado oficialmente pelo Ministério das Relações
Exteriores" de autoria de Rubem César Fernandes, não por coincidência Diretor
Executivo do Movimento Viva Rio, que quer “despossuir” os cidadãos de bem
de suas parcas defesas pessoais. E menos por coincidência ainda, Mestre em
Filosofia pela Universidade de Varsóvoia onde esteve exilado em pleno regime
comunista quando esta Faculdade ensinava exclusivamente marxismo, tanto que
a primeira atitude do Sindicato Solidariedade Estudantil quando da queda do
comunista Jaruszelski, foi mandar os professores de marxismo para casa – e
outros lugares mais adequados – e jogar fora os livros de marxismo. Parece que
o Sr. Fernandes não concordou com esta atitude libertadora. Não é lícito supor
que ele seja um dos principais intelectuais orgânicos e agentes de influência? E
que organização não-governamental é esta cujo Diretor tem um artigo
oficialmente publicado por um órgão governamental? Não é lícito supor também
que o próprio Governo atual não passa de um agente de influência de causas
nada nacionais, o Komintern Latino Americano – o Foro de São Paulo?

Em termos gramscistas o que a Teologia da Libertação faz é "aprofundar a
consciência do povo na ideologia proletária", conscientizar os pobres de sua
condição e da única forma de romper estas amarras: a revolução comunista. O
pobre que ainda insiste em progredir dentro do regime capitalista – comprando
alguma terra, um trator, plantando e vendendo o excedente – é um alienado, um
traidor de sua classe que merece o desprezo, senão castigos piores, até a morte.
Ao mesmo tempo, com ações armadas e invasões, como as do MST, filho dileto
das Comissões Pastorais da Terra (CPT) acirram as contradições entre as classes,
aumentando o fosso entre camponeses e fazendeiros e aprofundando, nestes
últimos também, a consciência de sua própria classe até que não reste mais, de
parte a parte, nenhum sentimento de solidariedade humana – que sejam
transformados em máquinas de matar, pero sin perder Ia ternura jamás!

Já o fato de um órgão governamental, como o Itamaraty, servir de propaganda
revolucionária de uma ONG revolucionária, é o exemplo mais claro do estado
ampliado e do que no capítulo anterior expus como coordenar as pressões "de
baixo" com as pressões "de cima".

Embora a 'Teologia" da Libertação germinasse em toda a América La tina, com
Gustavo Gutierrez, na Colômbia, ou Juan Luis Segundo, 110 Uruguai, foi no
Brasil que este movimento alcançou maiores dimensões Leonardo e Clodovis
Boff, Carlos Meister e "Frei" Beto são alguns nomes de destaque. Mas o
principal agente foi sem dúvida Dom Hélder Câmara. Prossegue o texto de
Fernandes: "Graças aos seus esforços o caráter anti-social do regime militar foi
tornado mais lúcido nos diferenciados centros episcopais brasileiros",
favorecendo o surgimento de uma nova geração de bispos engajada nos ideais
marxistas. O resultado de todo esse trabalho veio à tona, em 1971, com a vitória,
na CNBB, de uma diretoria mais comprometida com os problemas sociais
brasileiros, "evangelicamente em comunhão estreita com os despossuídos".

Em Puebla, 1979, Dom Hélder Câmara novamente desempenhou papel
predominante, desmontando as estruturas preparatórias estabelecidas pelos
conservadores, que tentavam estabelecer uma hegemonia decisória sobre o
temário a ser discutido. Destaque-se a sua atuação articuladora nas sessões que
tratavam da reformulação da Teologia da Libertação.

Datam de 1979 também, dois eventos que denotam a perfeita coordenação entre
os agentes de influência no exterior com os do interior do País e destes para os
idiotas úteis. Estávamos no último governo do ciclo militar, o de João Baptista
Figueiredo, que já assumira com as firmes garantias de redemocratização, com
entrega do poder a um civil e pleno funcionamento dos mecanismos
democráticos. Pois se muitos entraram entusiasmados num novo período de
plena democracia que estava por vir, os mesmos pseudo-democratas
guerrilheiros e terroristas, alguns voltando do exílio, viram nestas franquias a
oportunidade para aprofundar seu criminoso trabalho de minar a tenra
democracia com vistas a liquidá-la e instalar a tão sonhada ditadura do
proletariado.

***

Talvez em nenhum outro setor a população brasileira tenha sido mais ludibriada
pelo gramscismo do que no movimento ética na política. Como já foi visto, o
conceito de ética em Gramsci não corresponde ao do nosso senso comum e,
portanto, diferentemente do que a população depreendeu sobre o "Movimento
pela Ética na Política", carro-chefe da propaganda supostamente anticorrupção
do PT, não se pretendia tornar a política mais ética mas ao contrário politizar a
ética! De modo a canalizar as aspirações morais mais ou menos confusas da
população para que sirvam a objetivos que nada têm a ver com o que um cidadão
comum entende por ética. Lembrando o verdadeiro significado gramscista de
ética e Estado Ético, fica mais claro entender o que se passa hoje em dia no
Brasil: o quadro imoral de corrupção generalizada é o próprio Estado Ético.
Claro está que ele não corresponde aos padrões éticos burgueses nem proletários,
mas nunca se pretendeu isto, pois estes serviam apenas de camuflagem para a
verdadeira estratégia: a adoção de uma ética pseudoproletária inventada pelos
próprios intelectuais e o acirramento das "contradições de classe".

Como corolário posso citar a influência deste movimento nas sociedades
médicas: da ética hipocrática milenar, em que o paciente está em primeiro lugar,
passou-se a uma nova "ética médica" em que predominam as relações entre
colegas e destes com as instituições para calar a boca dos dissidentes. Nas
sociedades da área psi, o uso malévolo dos conhecimentos psicológicos de que
as esquerdas adoram se utilizar contam com a cumplicidade de psicólogos,
psiquiatras, psicoterapeutas e psicanalistas que fazem, de seus consultórios e das
instituições onde trabalham, verdadeiros centros de doutrinação ideológica.
Pervertem-se, assim, as noções éticas tradicionais, que impóem ao prolissional a
não interferência na vida mental do paciente.

***

São inúmeros os exemplos de ação direta dos intelectuais orgânicos. Para ilustrar
cito este: as famosas "Reuniões de Intelectuais" do Teatro Casa Grande, no Rio
de Janeiro, na época do regime militar. Comandadas geralmente por Chico
Buarque, sob o nome de "intelectuais", escondia-se a nata dos comunistas. Na
época das eleições os candidatos apontados pelo PCB em outros partidos, pois
estava na clandestinidade, eram apresentados como "candidatos dos
intelectuais", e todos obedeciam. Para mostrar como as mudanças podem ser
rápidas e como estes indivíduos são incapazes de pensar por si mesmos, somente
obedecer a palavras de ordem: nas eleições legislativas de 1974 o Deputado
Lisâneas Maciel, "autêntico" (quer dizer, esquerdista) do então MDB era o
escolhido, mas em função do radicalismo (que lhe valeria a cassação em 1976)
foi execrado pelos "intelectuais", pois contrariava a estratégia do PCB.
Rapidamente foi convocada nova reunião, e foi "tirada" uma nova resolução:
Lysâneas deveria ser substituído por Edson Khair. Impressionou-me como as
"opiniões" mudaram do dia para a noite!

CAPÍTULO 4

Primeira e Segunda Estratégias


Uma nova ameaça terrorista (…) pode bem vir de um eixoi ncluindo
Cuba de Fidel Castro, o regime de Chávez, na Venezuela, e um recém
eleito presidente radical no Brasil, todos com ligações com Iraque, Irã
e China (…). Isto pode levar a que 300 milhões de pessoas em seis
países caiam sob o controle de regimes radicais anti-EUA (…). Um
eixo Castro-Chávez-da Silva significaria ligar 43 anos de luta
antiamericana de Castro com a riqueza petrolífera da Venezuela e com
o potencial econômico e a incipiente capacidade nuclear, incluindo
mísseis, do Brasil.
Constantine Menges





Quem primeiro usou a expressão "eixo do mal" foi o Professor Constantine
Menges, do Hudson Institute, num artigo para o Washington Times intitulado
“Blocking a new axis of evil", publicado em 07/08/2002, em plena campanha
presidencial brasileira quando todas as pesquisas indicavam a vitória de Lula.
Posteriormente, escreveu vários artigos sobre o tema. Tiveram quase nenhuma
repercussão no governo americano e no Brasil onde somente alguns articulistas
da Internet, principalmente do Mídia Sem Mascara, deram a devida atenção. Nos
EUA a preocupação predominante era com o Oriente Médio. As análises
errôneas sobre a América Latina dos assessores do Secretário de Estado Colin
Powell, notadamente Otto Reich, e a então Embaixadora dos USA em Brasília,
Donna Hrinak – que declarou em junho de 2002 que Lula "encarnava o sonho
americano" – não levaram em conta o apoio de Lula ao terrorismo internacional,
incluindo o islâmico. O que viria a ser confirmado pela seleção de países árabes
a que visitou como Presidente. Denunciava Menges: "este candidato radical é o
promotor do terrorismo internacional por coordenar planos terroristas de
organizações antiamericanas radicais que se reúnem anualmente no Foro de São
Paulo.

Suas observações continuam pertinentes ainda hoje, mas necessitando de
algumas atualizações. A principal delas, a de rastrear a evolução deste Eixo com
as estratégias comunistas de dominação mundial anteriores e inseri-lo em
seu lócus apropriado dentro das mesmas. Para isto, as politicas do Eixo serão
estudadas à luz das contribuições de Anatoliy Golitsyn, reunidos nos livros New
Liesfor Old e The Perestroika Deception.

***

Perguntado em 1994 pelo Deputado americano Clark Bowles, se o objetivo de
longo prazo do movimento comunista continuava a ser o mesmo, de dominação
mundial, Mo Xiusong, Vice Presidente do Partido Comunista Chinês, disse: Sim,
certamente Esta é a única razão pela qual existimos. Note-se que em 1994 já
haviam transcorrido nove anos do início da Perestroika, cinco da Queda do Muro
de Berlim e a China já "se abria" economicamente para o capital internacional. E
o pior é que muitos, alguns ingênuos, outros mal intencionados, ainda acreditam
que esta "abertura" é para valer e não apenas parte de uma estratégia para usar o
capital ocidental – único lugar onde ele existe! – para tornar-se cada vez mais
forte militarmente e mais facilmente destruir o Ocidente. Os mal intencionados
incluem empresários que investem na China pisando lucros espetaculares. Os
chineses mostram que aprenderam a lição leninista: "os capitalistas fornecerão a
corda com que serão enforcados". Já os capitalistas não aprenderam nada, com
sua crença mística no "mercado" onipotente capaz de gerar milagres somente por
seu apelo à liberdade, e estão não apenas fornecendo a corda como financiando a
fábrica de cordas e investindo em suas ações na bolsa para serem destruídos com
o bolso cheio de dinheiro!


A primeira estratégia (1917-1919)

O objetivo desta primeira estratégia era apenas derrubar o Regime Czarista na
Rússia e conquistar o poder para os Bolcheviques. Em 1917, quando da
revolução que acabou com a Monarquia russa, enquanto todos os partidos agiam
às tontas, improvisando, apenas um, o Partido Bolchevique, sabia exatamente o
que queria e já fora definido por Lenin em seu "O que fazer?" publicado em
1902. Na realidade esta primeira estratégia foi preparada durante 20 anos, desde
o final do século XIX, implementada e testada durante a Revolução de 1905 e
acalentada durante todo o tempo de exílio de Lenin.

As repercussões na América Latina foram indiretas. Foram escassos os
interesses na região, Lenin voltou-se para os países ricos na ânsia de conseguir
sobreviver às contradições do regime e à violenta guerra civil que se seguiu à
tomada do poder. Foram fundados partidos comunistas em vários países latino-
americanos – como o Partido Comunista do Brasil – mais por difusão ideológica
do que propriamente por uma ação direta da incipiente URSS. Uma iniciativa
mais séria do Komintern só veio a se desenvolver durante a Segunda Estratégia.


A segunda estratégia (1919-1953)

Seus objetivos principais foram promover o comunismo na Rússia e fomentar a
Revolução Comunista Mundial. Inicialmente, Lenin desenvolveu um ataque
frontal ao mundo capitalista através da fundação do Komintern em 1919.
Posteriormente, para tentar salvar a economia que entrava em colapso
aceleradamente, Lênin lançou a NEP Nova Política Econômica – precursora do
pseudocapitalismo chinês atual, com a promoção de reformas políticas para
tornar o comunismo mais atraente, um limitado capitalismo controlado pelo
Estado visando conseguir créditos e tecnologia do Ocidente, o aumento do
comércio internacional, e atrair capitais de que necessitava desesperadamente.

Com a morte de Lenin, Stalin iniciou a industrialização e coletivização forçadas,
repressão maciça e poder pessoal absoluto, liquidando a NEP em 1928. Na
década de trinta passou a explorar as contradições entre as Grandes Potências –
principalmente através do Pacto Nazi-Soviético (Molotov-Ribbentrop).

Com a ruptura do Pacto por parte de Hitler, Stalin aliou-se com os Estados
Unidos e a Inglaterra para conseguir ajuda militar americana e enfrentar o
Exército alemão. Para enganar aos novos aliados, Churchill e Roosevelt,
mostrou-se apenas um líder nacionalista, sem pretensões expansionistas, às
expensas da ideologia, escondendo a grande estratégia expansionista já em
preparo e posta em prática no pós-Guerra: expansionismo para o Leste Europeu
e a Ásia.

CAPÍTULO 5

Ofensivas na América Durante
a Segunda Estratégias


Para abordar este assunto utilizarei o termo "ofensivas" que facilitará
apresentação didática do assunto. Durante a Segunda Estratégia,
distin go duas ofensivas, separadas pelo período da Segunda Guerra
Mundial.





Primeira Ofensiva (1919-1943)

Com a criação do Komintcrn (Terceira Internacional ou Internacional
Comunista') em 1919, Lenin deu o passo principal no sentido de completar a
tarefa legada por Marx e Engels no Manifesto Comunista: o internacionalismo
proletário. Georgij Mikhailov Dimitrov, o búlgaro que viria a desempenhar
importantes funções no Komintern, sendo Secretário Geral de 1934 até 1943,
num artigo publicado em Sófia em maio de 1919 para o Partido Comunista
Búlgaro, já se referia a duas cartas enviadas por Lenin: uma para os
trabalhadores da América (do Norte) e outra para estes e os trabalhadores
europeus. Na primeira carta Lenin distribuía as principais tarefas do
proletariado mundial, ressaltava o caráter eminentemente pacífico da URSS, a
importância da Ditadura do Proletariado e da Revolução Russa para um novo
mundo. Na segunda, notando o sucesso do proletariado revolucionário em
vários países em sua luta pelo poder político, ele reforçava a importância da
internacional Comunista como meio para atingir os flns da revolução mundial
proletária. A política central do Komintern era estabelecer Partidos Comunistas
em todos os países com esta finalidade.

Sob a direção de Grigoryi Yevseievich Zinovicv, a área principal de atuação do
Komintern foi a Alemanha onde logo após o final da guerra e a queda da
Monarquia Hohenzollern estourou uma revolta popular. A Revolução Alemã de
1918 foi incitada pela Sparlakus Bund (Liga Spartacus), fundada por Rosa
Luxembourg ("Rosa Vermelha") e Karl Licbknccht, e em dezembro deste
mesmo ano mudou o nome para Partido Comunista Alemão aceitando as
condições de filiação do Komintern. Além da Alemanha ser o principal país
onde uma revolução era possível, a Spartakus Bund tinha grande influência nos
sindicatos de marinheiros mercantes, dos mais atuantes em 1918, e o Komintern
anteviu o potencial de disseminação mundial desses marujos. Foi logo fundada
em Hamburgo uma "Casa Liebknecht", na aparência totalmente a partidária, para
"descanso e lazer” dos marujos alemães e de outros países. Estas casas foram
logo espalhadas pelos principais portos europeus, como Rotterdam, Antuérpia,
Le Havre, Marselha, etc., e daí para o mundo. Organizava-se também a estiva
nestes portos.

Na área sindical foi estimulada a filiação das centrais nacionais de trabalhadores
à Internacional Vermelha de Centrais de Trabalhadores, Profintern,
simultaneamente combatendo todos os outros movimentos sindicais, chamados
de anarco-sindicais, por não terem uma direção internacional unificada. Na área
política, principalmente após o Sétimo Congresso do Komintern em 1935, foi
recomendada a política de Frentes Populares com outros partidos
"progressistas", mantendo, no entanto o PC sua plena autonomia como Partido
de Vanguarda. Esta política foi muito bem sucedida na França e na Espanha.
Num memorável artigo Dimitrov resume toda a importância desta política.

Nos Estados Unidos a grande vitória foi a penetração cultural, levada a eleito sob
a direção de Willi Münzenberg. Münzenberg, um radical alemão com grande
talento para trabalhos secretos, foi apresentado por Trotsky a Lenin ainda no
exílio na Suíça e desde 1915 foi seu companheiro fiel. Foi apresentado por Lenin
a Karl Radek, um intelectual radical polonês já do círculo íntimo de Lenin e
protegido de Féliks Dzerzhínsky. Este trio comandou a infiltração na Europa,
nos Estados Unidos e na América Latina.

Münzenberg foi o primeiro grande mestre numa nova forma de serviço secreto: o
front secreto de propaganda e a manipulação de "companheiros de viagem". Seu
objetivo, plenamente alcançado, era criar o principal preconceito político de seu
tempo: a crença de que qualquer opinião que servisse à política externa da URSS
era derivada dos mais essenciais elementos da decência. Conseguiu instilar o
sentimento, que passou a ser tido como a mais pura verdade, de que criticar a
política soviética era típico da maldade, estupidez e da inveja, enquanto apoiar a
URSS era prova de uma mente esclarecida e avançada, comprometida com o que
há de melhor na humanidade e sensibilidade refinada (Stephen Koch, Double
Lines). Todos os "formadores de opinião" foram envolvidos: escritores, artistas,
comentaristas, padres, professores, cientistas, capitães da indústria, psicólogos,
etc. Todos faziam parte do que Münzenberg chamava com desprezo "Clube dos
Inocentes" (daí deriva a expressão inocentes úteis, como adaptação do leninista
idiotas úteis). Estes não faziam parte dos que "sabem das coisas", que conhecem
a agenda secreta, e assim tinha que ser para que defendessem a "causa" com
ardor moralístico e religioso. A lista dos "inocentes" é qualitativamente
impressionante: Ernest Hemingway, John dos Passos, Lillian Hellman, George
Groz, Erwin Piscator, Mary McCarthy, André Malraux, André Gide, Bertold
Brecht, Dorothy Parker, Kim Philby, Guy Borgess, Sir Anthony Blunt, Romain
Rolland, Albert Einstein, Upton Sinclair, George Bernard Shaw, H. G. Wells e
muitos mais.

Em junho de 1933 Münzenberg organizou um encontro de intelectuais europeus
no Congresso Anti fascista Europeu, em Caris que veio a se juntar a outros sob o
nome Comitê de Luta Contra a Guerra e o Fascismo (Cid Powers, Not Without
Honor). A década de 30 foi chamada de "A Década Vermelha" (Lyons, The Red
Decade).

Na América Latina as principais realizações comunistas nesta infiltração foram
em Cuba e no Brasil. Em 1933 em Cuba, seguindo a recomendação
de fronts populares, apoiaram a "Revolta dos Sargentos” liderada por Fulgencio
Batista, o qual se candidatou e foi eleito Presidente em 1940, com pleno apoio
do Partido Comunista Cubano. Exilado em 1944 retornou em 1952 e foi ditador
até a vitória de Fidel Castro em 1959 Durante todo o tempo, até quase a chegada
de Castro a Havana, o Partido Comunista Cubano apoiou Batista4e Castro teve
que se entender diretamente com Moscou.

No Brasil, a primeira grande ofensiva comunista se deu em 1935, na chamada
Intentona, devidamente barrada pela pronta reação militar. Por ser sobejamente
conhecida a sua história, deixo de apresentar detalhes.

CAPÍTULO 6

Interregno a Segunda Guerra Mundial
e o Fim da Aliança Teuto-Soviétca






Em agosto de 1939, uma semana antes da invasão da Polônia, após anos de
propaganda maciça e falsa contra o nazi-fascismo, a URSS assina o Pacto
Molotov-Ribbentrop com o até então propagandeado arquiinimigo dos "povos
amantes da paz”. No entanto, o Pacto que desamarrou as mãos de Hitler para
começar a guerra, apenas culminou uma conspiração secreta muito mais antiga,
iniciada logo após a I Guerra Mundial, que precisava mais do que nunca ser
negada de todas as formas possíveis após a invasão da URSS por Hitler em
1941,já que agora o antigo alia do tornara-se o inimigo temido e odiado.

A história desta aliança de 11 anos (considerando-se oficialmente os anos de
1922 a 1933, mas que na verdade começou em 1919 e só ter minou de fato em
1941) jamais foi contada no Brasil, pois a negação e a desinformação com que
foi dissimulada desde o início, ainda continua vigorando entre nós, apesar da
abertura dos arquivos secretos de Moscou. Já se pode perceber aqui uma das
mais importantes consequências da terceira onda de infiltração que será descrita
adiante: a má fé que faz com que a grande maioria da pseudointelectualidade
brasileira omita, de caso pensado, todos os fatos do mundo comunista e o total
apatetamento e anomia dos demais. Os cursos de história continuam falando de
um antagonismo mortal entre a “esquerda socialista” e a “direita fascista”. Como
está foi uma das mais bem sucedidas operações de desinformação soviéticas,
levantarei uma ponta do véu que a tem encoberto, baseado em relatos de
documentos (Dyakov & Bushueyva The Red Army and the Wermacht) que hoje
estão à disposição de quem quiser ler-se puder se livrar de suas pré-concepções
ideológicas.

***

O já citado Karl Radek foi preso em Berlim em fevereiro de 1919 pela
participação e organização da Revolução de 1918, através da Spartaikus Bund.
Depois da assinatura do Tratado de Versailles, no verão do mesmo ano, Radek
foi transferido de uma cela de segurança máxima para outra extremamente
confortável. Nesta foram realizadas as primeiras reuniões secretas que levaram à
cooperação entre o Exército Vermelho dos Operários e Camponeses e o
Reichswehr (Exército Alemão). Em dezembro do mesmo ano Radek é libertado
sem julgamento e vai a Moscou levando o esboço de um tratado de cooperação
que reativaria o acordo feito por Lenin com o governo do Kaiser que lhe
permitiu passar pelo território alemão para assumir o poder na Rússia em 1917 e
que teve como consequência o cessar fogo e a paz de Brest-Litovsk de 3 de
março de 1918. Durante este intervalo houve realmente antagonismo entre as
forças "de direita", (representada por diversos grupos paramilitares,
principalmente os Stahlhelm – Capacetes de Aço) e a Spartakus Buttd. Os
Stablhelm podem ser considerados o núcleo de onde se ori
ginaram as Sturm Abttilungm (SA), Tropas de Assalto do Partido Nazista.
Esta cooperação era de interesse fundamental para as duas partes. Na URSS,
com a eliminação de quase toda a oficialidade do exército czarista, o recém
fundado Exército Vermelho não passava de um amontoado de amadores
dirigidos por outro amador: Trotsky. Além de tudo, a Rússia estava
diplomaticamente isolada. Já a Alemanha, encontrava-se limitada e humilhada
pelo Tratado de Versailles que impusera pesadíssimas indenizações, mas
sobretudo uma suprema humilhação para os guerreiros prussianos: o Tratado
proibia a Alemanha de possuir uma Força Aérea, submarinos, navios de guerra
de grande tonelagem (cruzadores e encouraçados), proibia ainda a fabricação de
aviões militares, dirigíveis, tanques e blindados em geral, e armas químicas e
limitava os efetivos em 100.000 homens. Portanto, os dois países poderiam ser
chamados apropriadamente de "Párias de Versailles".

Ficou acertado, portanto, que a Rússia incrementaria suas defesas ao receber
capital e assessoria técnica, enquanto a Alemanha poderia fazer uso de bases
altamente secretas no território russo para fabricar armamento ilegal,
principalmente tanques e aviões de guerra, além do fornecimento de metais
como molibdênio, níquel, tungstênio e especialmente manganês, sem o qual a
produção alemã de aço ficaria paralisada. Formou-se uma empresa de fachada
chamada CEFU (Gesellschaft zur Föriderunggewerblicher Untermehmungen –
Companhia para o Desenvolvimento de Empresas Industriais). Finalmente em
1922 foi assinado o Tratado de Rapallo, confirmado pelo Tratado de Berlin de
1926. O Reichswehr foi autorizado a organizar bases militares na URSS para
realizar testes de material, ganhando experiência em táticas e treinamento de
pessoal nos setores proibidos pelo Tratado de Versailles. A Alemanha retribuía
com compensações materiais e com o direito do Exército Vermelho de participar
dos testes e manobras. Uma fábrica de produção de gás mostarda e outra de
munição de grosso calibre foram estabelecidas.

O segredo era total de ambas as partes. Os soldados alemães usavam trajes civis
e não podiam dizer onde estavam nem para seus familiares. Mesmo após a
nazificação da Alemanha e a mudança de nome de Reichswehr para Wermacht a
colaboração continuava. Em 13 de maio de 1933 numa recepção na Embaixada
do Reich em Moscou, Kliment Efriemovitch Voroshilov, comissário do Povo
para Assuntos Militares e navais (ministro da Guerra), falou da operação de
manter boas relações entre os “exércitos amigos" no futuro. E o General Mikhail
Nikolaych Tukhachevsky, Vice Comissário e Chefe do Estado-Maior afirmou
"Não se esqueçam que é nossa política que nos separa, não nossos senti mentos
de amizade entre o Exército Vermelho e a Wermacht (…) vocês e nós,
Alemanha e URSS, podemos ditar nossos termos ao mundo todo se perna
pecermos juntos. Uma das razões para os grandes expurgos de 1936-38, os
chamados "Julgamentos de Moscou", foi para manter o segredo destas operações
altamente secretas. Stalin executou todos os principais artífices soviéticos desta
conspiração, incluindo Tukhachevsky, Radek e Zinoviev. Voroshilov foi um dos
acusadores.

Os dois países encontravam-se unidos contra o mundo ocidental, inde
pendentemente das agitações maquinadas pelo Partido Comunista Ale mão e
pelas divergências internas, o que levou Lloyd George a declarar, no final da
Primeira Guerra: "O maior perigo do momento consiste no fato da Alemanha
unir seu destino com os Bolcheviques e colocar todos os seus recursos materiais
e intelectuais, todo seu talento organizacional ao serviço de fanáticos
revolucionários, cujo sonho é a conquista do mundo pela força das armas. Esta
ameaça não é apenas uma fantasia" A história posterior só fez comprovar a ideia
profética do ex-Primeiro Ministro Britânico.

***

Esta conspiração precisava ser mais dissimulada ainda após as hostilidades e, em
parte, para isto foi fundado em 1943 o Kominform (Bureau Comunista de
Informação) que durou até 1956, quando foi dissolvido na “desestalinização”. O
kominform era coordenado pelo PCUS e pelos partidos comunistas da Bulgária,
Tchecoslováquia, França, Hungria, Itália, Polônia, Romênia e Iugoslávia (esta
última até sua expulsão em junho de 1948). O Kominlorm foi o responsável pela
intensa desinformação durante a guerra e o pós-guerra imediato e através dele
Stalin plantou no Ocidente a falsidade da oposição entre o socialismo – de
esquerda – o bem maior para o qual curvava-se o "processo histórico", e o nazi-
fascismo – de direita – na contramão do "processo histórico". Quando na
realidade ambos são vinho da mesma pipa.

CAPÍTULO 7

Períodos Pós-Guerra e Guerra Fria



“...give me 10 days and I’ll start a war with those God damn Reds and
make it look like their fault. Then we can push the motherfuckers back
into Moscow where they belong (…). If we have to fight them, now is
the time. From now on we will get weaker and they stronger.
General George Patton





À medida que ia conhecendo melhor os soviéticos crescia a forte convicção de
Patton, o mais genial dos generais do front europeu na II Guerra, de que a
melhor atitude seria esmagar o comunismo ali mesmo, enquanto havia chance de
fazê-lo ao menor custo de vidas americanas. Numa reunião com o Secretário da
Guerra Americano, Robert Patterson, em 7 de maio de 1945 na Suíça, Patton
sugeria que, dado o imenso problema de suprimentos que o Exército Vermelho
enfrentava, "não vamos dar tempo a eles de arranjar suprimentos. Se dermos,
teremos apenas vencido e desarmado a Alemanha mas teremos falhado na
libertação da Europa,- teremos perdido a guerra!". Em mais uma de suas grandes
tira das, concluiu: "devemos manter nossas botas polidas, baionetas afiadas, e
apresentarmo-nos fortes perante os russos. Esta é a única linguagem que eles
entendem e respeitam".

Patton foi deixado sem combustível na arrancada final para Berlin, todos os
exércitos ocidentais pararam de avançar, por ordem de Roosevelt através de
Eisenhower, até que os russos chegassem a Berlin, como ficara acertado nas
reuniões entre os Três Grandes em Teheran e Yalta. Já Stalin não cumpriu com
nenhum dos acordos que assinara além de fazer mais exigências em Postdam,
que só foram aceitas pela covardia de Truman, só superada pela de Roosevelt
nas duas anteriores. Roosevelt, um socialista declarado que pela primeira vez
tinha posto a funcionai um programa socialista nos EUA – o New Deal – tinha
tal fascinação pelo ditador soviético que o chamava Uncle Joe, a quem
acreditava que podia manobrar, sem perceber ser ele o habilmente manipulado
pelo titio.

A previsão de Patton não tardou em se realizar. O final da Segunda Guerra
possibilitou o expansionismo da URSS para todos os países conquistados pelo
Exército Vermelho. De comunismo num só país chegou se a um bloco de 12
países submetidos à sovietização forçada na Europa Oriental, o que levou
Churchill, num discurso em Fulton, Missouri, em marçode1946, a criar o
termo"Cortina de Ferro”. Seguiram-se as tentativas de tomada da Grécia, da
Turquia e do Irã. Já salvar a Áustria tinha sido muito difícil. Uncle Joe queria
tudo! Além disto, a recusa da URSS em permitir que os países da Cortina de
Ferro recebessem a ajuda do Plano Marshall, atacado como apenas mais um
plano imperialista, o cerco a Berlin Ocidental e o reforço aos Partidos
Comunistas na França e na Itália acabaram por, finalmente, abrir os olhos do
Secretário de Estado americano George C. Marshall para com que tipo de gente
eslava lidando: como Patton dissera, com gente que só entende a linguagem da
força! Com o início da reação americana estava instalada a chamada Guerra Fria.
Porém, por não seguirem as palavras de Patton, foi preciso pagar o custo de
inúmeras vidas americanas no leste da Ásia, com as tentativas expansionistas
para a Coréia e posteriormente para a Indochina.

No entanto, a fome, a ineficiência administrativa e o fracasso da repressão
maciça, o anti-semitismo declarado (em 1º de dezembro de 1952, numa reunião
do Politburo, Stalin declarava que "todo judeu é um nacionalista e agente
potencial da inteligência americana") levou a uma crise geral no mundo
comunista e ao abandono da segunda estratégia. A economia e a agricultura
estavam em ruínas, o poder total era exercido pela polícia política. Surgiram
guerrilhas nacionalistas nos países da Cortina de Ferro.

A morte de Stalin em 1953 desencadeou uma terrível luta interna 110 PCUS em
que pereceram Lavrientii Bieria, ex-todo poderoso chefe do NKVI), e Andrieij
Zhdanov, criador e diretor do Kominform. Em 1956, no XX Congresso do
Partido, Khrushchov denuncia alguns – não todos! – "crimes de Stalin", com o
duplo objetivo de dar uma aparência de transparência e de salvar a ideologia
comunista bastante desmoralizada pela truculência dos últimos anos, colocando
toda a culpa no ex- ditador. O discurso, considerado secreto, "vazou" para toda a
URSS um mês depois, o que evidencia que o segredo era conto da carochinha.
Liev Navrozov comenta que foram impressas milhares de cópias e o discurso foi
lido em reuniões por quase a metade da população soviética. A CIA não tomou
conhecimento, só vindo a mostrar como "golpe de mestre de espionagem" uma
cópia preparada para consumo ocidental, mesmo assim após a publicação pelo
Nem York Times, seis meses depois. Como Stalin já fizera com Trotsky, sua
imagem some de todas as fotos oficiais. Após uma batalha final na luta pelo
poder em 1957, contra os stalinistas descontentes do chamado "Grupo Anti-
Partido", liderado por Vyachieslav Molotov, Gcorgy Malicnkov e Lazar
Kaganovitch, Nikita Sergeyevitch Khrushchov assume a Primeira Secretaria do
PCUS, elimina o Kominform, completando a conquista do poder em 1958 ao
afastar Malienkov e tomar também o cargo de Primeiro Ministro da URSS. Em
reunião secreta do Politburo em 1958 decidiu-se abandonar esta estratégia e
foram elaboradas as linhas mestras da Terceira, que foi implantada
paulatinamente até a Perestroika em 1985.

Em 1964 Khrushchov é derrotado no Comitê Central e afastado. Foi a primeira
transição pacífica do regime e o primeiro líder soviético a morrer de causas
naturais. Consoante a decisão de voltar à direção colegiada preconizada por
Lenin, assume a “Troika": Leonid Briezhnev, como Primeiro Secretário do
Partido, Alieksier Kosygin, como primeiro Ministro e Nikholai Podgorny como
Presidente do Presidium do Soviet Supremo, cargo que veio a ser tomado por
Briezhnev em 1977 até a sua morte em 1982.


Segunda Ofensiva (Mundial)

Como a guerra atingiu direta ou indiretamente todos os continentes, o pós-guerra
imediato foi um período de acomodação e realinhamento político-ideológico
mundial. Os fatos mais importantes deste período (1945 a 1964) foram:

1. Criação da Organização das Nações Unidas, 1945;

2. Criação do Estado de Israel, 1948;

3. Tomada do poder na China pelos comunistas em 1949;

4 Nasser e os oficiais nacionalistas tomam o poder no Egito, 1952;

5. Criação das bases do Movimento de Países Não-Alinhados na Conferência de
Ban-dung, Indonésia, em 1955 pelos líderes da índia (Jawaharlal Nehru) Egito
(Gamai Abdel Nasser) e Iugoslávia (Josip Broz "Tito");

6 . Guerra da Indochina 1947-53 terminada com a derrota Francesa para o
Exército comunista de Ho Chi Minh e Vo Nguyen Giap, o Viet Minh, na Batalha
de Dien Bien Phu, 1953-54. Criação de dois Vietnams: o do Norte, comunista, e
o do Sul, ainda sob influência européia que, com a retirada francesa, solicita o
envio de "assessores militares" americanos;

7. Revolta da Hungria, 1956;

8 Gamal Abdel Nasser nacionaliza o Canal de Suez, 1956, Inglaterra frança e
Israel invadem o Egito;

9. Castro toma Havana e declara-se comunista, Tratado de Amizade com
Moscou Toma novo impulso a ofensiva comunista na América Latina voltada
principalmente para Venezuela e Brasil;

10. Crise de Berlin, 1961: Khaishchov ameaça interromper o tráfego entre a
cidade de Berlin e a Alemanha Ocidental Kennedy estuda a estratégia de 'First
Strike" (Atacar sem aviso prévio a URSS com mísseis nucleares, caso esta
invadisse Berlin). Início da construção do Muro de Berlin,

11. Crise dos mísseis soviéticos em Cuba, 1961, bloqueio da ilha, retirada dos
mísseis me diante garantia americana de que não interferiria em Cuba,

12. Cuba é expulsa da Organização dos Estados Americanos. 1962.

Em todos estes acontecimentos a URSS esteve presente. Em 10 de fevereiro de
1941 o General Walter Krivitsky, ex-chefe do GRU (Diretório Central de
Inteligência – órgão militar), exilado nos EUA, Foi encontra do morto em Nova
York. As investigações não conseguiram nenhuma evidência de assassinato,
parecia suicídio, mas muito providencial, pois três anos antes de sua morte
Krivitsky havia convencido o membro do Partido Comunista Americano
Whittaker Chambers a reconhecer que o comunismo não passava de mais uma
forma de ditadura sem nenhuma ideologia que não a tomada do poder. Chambers
não só reconheceu como denunciou vários ex-correligionários como Alger Hiss,
funcionário do Departamento de Estado e seu irmão Donald, como membros do
Partido e agentes do GRU, a ninguém menos que o próprio Roosevelt, que riu e
mandou-o a um lugar não publicável. Não só riu como promoveu Hiss.
Tentativas de denunciar a Dean Acheson, Sub-Secretário de Estado, deram no
mesmo.

Na Assembleia de fundação da ONU, o Secretário Geral nomeado por Roosevelt
era exatamente Alger Hiss. A influência de Stalin na fundação da ONU, na
elaboração de sua Carta e na escolha da sede, é inegável A Carta defendendo
direitos humanos que Stalin, assim como seus sucessores, jamais pretenderam
obedecer, servia como uma luva para acusar os países ocidentais quando da
ocorrência de qualquer deslize menor (Sobre Guerra Assimétrica, ver Cap. 2). A
escolha de uma cidade americana, e de preferência próxima a Washington D.C.,
era fundamental para a infiltração de agentes sob o manto da proteção
diplomática. Hiss também havia sido o arquiteto da Conferência de Yalta
(fevereiro de 1945) entre os três grandes, onde desempenhou papel importante
na divisão do mundo em áreas de influência, garantindo à URSS uma parte
leonina. A infiltração de agentes comunistas em postos chave do governo
americano vem, portanto, desde a administração Roosevelt, como foi revelado
pelo Projeto Venona (Haynes & Klehr, Venona) de análise criptográfica dos
documentos de fontes soviéticas que vieram a confirmar também a atuação do
casal Rosenberg na transmissão de informações nucleares americanas para a
URSS. Já aqui funcionou a pleno vapor o aparelho de denúncias de violação dos
direitos humanos, enquanto Stalin prendia, torturava e matava à vontade. O casal
Rosenberg passou por vítima e, como eram judeus, aproveitou-se para acusar as
autoridades americanas de anti-semitismo.

Em 1948, quando trabalhava na revista Time, Chambers foi chamado a de por no
Comitê de Atividades Anti-americanas da Câmara de Representantes (HUAC) e
reafirmou as acusações apresentando evidências inegáveis através de
microfilmes de 65 documentos datilografados por Hiss e sua esposa (a máquina
foi identificada pelos laboratórios do FBI) em 1938, contendo cópias de
documentos secretos roubados pelo próprio. Estes papéis ficaram conhecidos
como os Pumpkin Papers. Chambers reuniu todas as evidências e a história do
período no seu livro Witness e, embora atacadas como mentirosas por toda a
intelectualidade esquerdista da época, têm sido confirmadas uma a uma pela
abertura de outros documentos secretos. Estas revelações e também o
desrespeito por Stalin aos acordos de Yalta, principalmente a prisão dos
membros do Governo Polonês Provisório no Exílio, criaram nos EUA – e no
mundo em geral – um quase consenso anticomunista. Este consenso tinha que
ser destruído e no seu lugar criar um outro: a demonização do anticomunismo.

A mais importante tarefa para desmoralizar o anticomunismo era denunciá-lo
como anacronismo reacionário e obstáculo à reestruturação mundial – leia-se
governo mundial – e à paz. Foram utilizados jornalistas regiamente pagos, como
o australiano Wilfred Burchett que fazia re portagens contra a ação americana no
Vietnam e era considerado como fonte altamente confiável para boa parte da
mídia ocidental e exaltava a maior cultura' dos vietnamitas que estavam apenas
defendendo sua pátria da agressão americana – como já havia feito na Guerra da
Coréia. A fuga de seu agente controlador Yuri Vassilievitch Krotkov, cujo
codinome era George Kalin para a Inglaterra em 1963, revelou ao mundo sua
ação de subverter jornalistas ocidentais e trair diplomatas ocidentais em Berlim,
desde 1946 A abertura dos arquivos de Moscou confirmou e como se não
bastasse, a viúva de Burchett recebeu a comenda Ordem da Amizade da Coreia
do Norte.

Outra frente era conseguir isolar os EUA dos seus tradicionais aliados europeus
e mostrá-los, com seu anacronismo anticomunista, e não a URSS, como a maior
causa da instabilidade internacional e a principal ameaça à paz mundial ou, ao
menos, despertar a cínica tendência de não ver diferenças fundamentais entre os
dois regimes. Para isto foram utilizados diversos “agentes de influência" como,
por exemplo, outro jornalista, Pierre-Charles Path, que por duas décadas
concentrou esforços em minar as relações franco-americanas. Mas ele foi apenas
um entre muitos que influenciaram De Gaulle a retirar a França da participação
militar na OTAN. Quem quer que tenha vivido as décadas de 70 a 90 deve ter
ouvido sempre os mesmos argumentos quando alguém criticava o comunismo:
está bem, mas ninguém é anjo, o capitalismo também tem seus pontos negativos
– ou então, que os americanos também apoiavam regimes ditatoriais – ou foram
os americanos que jogaram as duas únicas bombas atômicas da história – ou os
americanos só pensam nos seus próprios interesses. Coisas óbvias, ainda hoje
ouvidas em quaisquer reuniões de bem-falantes, mas cuja intenção não era
óbvia. Foram inseminadas e se difundiram por via subliminar, de maneira a fazer
com que a pessoa achasse que estava olhando com seus próprios olhos' ou sendo
original. Nada disto: desinformatsiya pura!

O ano de 1948 é o da candidatura radical esquerdista de Henry Wallace à
Presidência dos EUA e das peripécias da esquerda americana que se lhe
seguiram. A infiltração na área cultural americana continuou e se intensificou
seguindo os passos de Münzenberg. De maneira geral, toda a mídia e o show
business americano foram devidamente doutrinados pelos agentes soviéticos e a
grande maioria de escritores, cineastas, redatores da mídia, artistas, etc. se
tornaram facilmente companheiros de viagem. No mês de agosto do mesmo ano
reunia-se em Breslau (hoje Wroclaw), Polônia, a "Conferência Cultural pela
Paz", convocada pelo Kominform através dos companheiros de viagem
europeus, numa"Carta Aberta aos Escritores e Homens de Cultura dos Estados
Unidos". Os americanos que compareceram prepararam imediatamente outra
reunião no Hotel Waldorf Astoria, Nova Iorque em 1949, denominada
"Conferência Cultural e Científica pela Paz Mundial" que contou com o apoio
explícito de Albert Einstein, Charles Chaplin, Leonard Bernstcin, Pablo Picasso
e muitos outros nomes famosos. Um mês depois, reunia-se em Paris, o
Congresso Mundial da Paz. O alvo principal destes movimentos era liquidar o
Plano Marshall que apontava para uma rápida para uma rápida recuperação da
parte da Europa que não estava dominada por Stalin(Gidd Powers, op. cit.), a
qual estagnava num império de repressão, decadência moral e econômica. A
comparação era, obviamente, temida.

Os intelectuais anticomunistas planejaram uma contra ofensiva. Entre eles
estavam George Orwell, Anthur Koestler (que tinha sido garoto propaganda de
Münzenberg), Hanna Arendt, Melvin Lasky, Raymond Aron e Sidney Hook,
Diretor de "Americanos pela LiberdadeIntelectual". Mas a reação era tímida,
pois depois do uivo de Sartre – "todo anticomunista é um rato!" – mesmo os
escritores mais famosos encontravam dificuldade para publicar suas obras.

No movimento anticomunista deve-se destacar a ação do Comitê de Atividades
Antiamericanas (HUAC). Existindo de forma provisória desde 1938 tornou-se
permanente em 1945 quando passou a investigar as atividades comunistas na
indústria cinematográfica. Seu maior feito, como já foi descrito acima foi a
investigação sobre os irmãos Hiss. Mas somente em 1946, como Partido
Republicano assumindo a maioria na Câmara, o Comitê, agora presidido por J.
Parnell Thomas, passou a investigar a fundo a penetração comunista em
Hollywood. Para não entrar em muitos detalhes selecionei o testemunho neste
Comitê da escritora Ayn Rand, russa de nascimento, que fugira em 1926 e
anticomunista convicta. Rand foi uma das denunciantes, e desafiada amostrar o
que via como propaganda na produção cinematográfica deu um impressionante e
arrasador testemunho sobre o filme The Song of Russia, de 1941, estrelado por
Robert Taylor, que vale a pena ser lido na íntegra por todos aqueles que sabem
que as produções artísticas – mormente filmes, teatro e novelas – são
propaganda, mas não têm idéia de como se faz, pois Rand disseca o filme com
excepcional maestria. Rand, sem dúvida uma das maiores defensoras da
liberdade de pensamento, assim se expressou quando foi censurada por
denunciar colegas: “O princípio de liberdade de expressão requer que não
passemos leis proibindo (os comunistas) de falar. Mas este princípio não implica
em que devemos dar a eles emprego e apoio para defenderem nossa destruição
às nossas custas".

Este Comitê é frequentemente – e propositadamente – confundido com o Comitê
sobre Operações Governamentais do Senado a cujo Sub-Comitê Permanente de
Investigações pertencia o Senador Joseph McCarthy. A confusão é de um
primarismo atroz, pois um Senador jamais poderia fazer parte de um Comitê da
Câmara. Apesar disto, colou e até hoje a confusão se mantém. McCarthy foi um
presente dos deuses para os comunistas americanos e de todo o mundo, pois deu
aos inimigos do anticomunismo o que eles vinham esperando desde o início da
Guerra Fria: um nome e uma cara onde colocar o velho estereótipo de fascista
anticomunista histérico. Segundo Powers, McCarthy foi o maior desastre na
desastrada história do anticomunismo da América. McCarthy começou sua
carreira anticomunista em 1950 – três anos após o depoimento de Ayn Rand –
comum discurso em que dizia ter uma lista de 205 nomes de altos funcionários
do governo federal que eram agentes soviéticos. Sua atuação foi de tal modo
histérica que não demorou para que até mesmo republicanos o achassem
exagerado, solidificando a ideia de que o anticomunismo não passava de delírios
furiosos de um maluco. A fábrica de mitos forjou a grande mitologia da "Era
McCarthy', do "macartismo' que teria mergulhado os EUA num reino de terror.
Peter Collier e David Horowtiz (citados por Monica Charen, op. cit.)
descreveramem1989 que"trinta anos após a morte de Joe McCarthy, o
macartismo se tornou sinônimo de autoridade sinistra e repressão política...
indivíduos e partidos (complemento eu: mundo afora) competem em rotular
outros com o macartismo como o trunfo moral com o qual paralisam
automaticamente qualquer argumento". Quem não ouviu alguém dizer, em tom
de suprema indignação moral: isto é macartismo. Enquanto isto Stalin
massacrava dezenas de milhões de russos e europeus orientais e nada se dizia,
silêncio absoluto.

A eficiente contrapropaganda soviética da URSS conseguiu tornar realidade este
mito, confundindo investigações sérias com estridências delirantes, e fez com
que todos os envolvidos tanto em Hollywood como no governo fossem vistos
como pobres vítimas inocentes. A verdade é bem outra. Hollywood estava
mesmo infestada de agentes soviéticos. McCarthy conseguiu acusar poucas
dezenas de funcionários federais. Através do Projeto Venona (op. cit.) e da
abertura dos arquivos secretos soviéticos autorizados por Yeltsin, revelaram-se
mais de 300 agentes soviéticos infiltrados nos governos Roosevelt e Truman.
Ann Coulter (op. dl.) cita no primeiro escalão, além dos irmãos Hiss, Harry
Dexter White, Subsecretário do Tesouro e Assessor de John Maynard Keynes
em Bretton Woods (sobre a filiação dos dois à Sociedade Fabiana, ver Cap.
XIV), Lauchlin Currie, Assistente Administrativo de Roosevelt, Duncan Lee,
Chefe do Estado-Maior do Office of Stralegic Services (OSS) antecessor da CIA,
Harry Hopkins,Assistente Especial de Roosevelt, Henry Wallace, Vice-
Presidente 1940-1944 (depois candidato radical), Harold Ickes, Secretário do
Interior, e muitos, muitos mais.

Antes de passarmos à América Latina é preciso mencionar um movimento
fundado por influência de Moscou, embora aparentasse independência: o
Movimento de Países Não Alinhados (NAM). O termo foi cunhado pelo
Primeiro Ministro da India, Jawaharlal Nehru num discurso no então Ceilão
(hoje Sri Lanka) onde definiu seus cinco pilares: 1. respeito pela integridade
territorial, 2. não agressão mútua, 3. não interferência em assuntos internos dos
outros países, 4. benefícios mútuos e igualitários e 5. coexistência pacífica. Em
1955 em Bandung, Indonésia, são lançadas as bases do movimento, embora
somente em 1961, em Belgrado, Iugoslávia, tenha ocorrido a primeira reunião de
cúpula organizada por Nehru, Nasser e Tito e apoiada por Ahmed Sukarno,
Presidente comunista da Indonésia. Compareceram 25 países da África, Ásia e
Cuba. O movimento – que defendia um distanciamento igual dos dois blocos na
Guerra Fria – existe até hoje com outros propósitos como o Grupo dos 77.

Enquanto durou a Guerra Fria a URSS usou seus fortes laços com Cuba e India e
os da China com o Paquistão, o Vietnam e a Indonésia, para fazer do NAM uma
espécie de amortecedor de suas próprias ações agressivas, principalmente em
referência aos itens 3. e 5. acima, como argumentos utilizados sempre que era
acusada de ferir os "direitos humanos" retrucando que não admitia ingerências
na sua política interna, enquanto frequentemente interferia em diversos países,
como veremos a seguir, especificamente na América Latina.


A Segunda Ofensiva na América Latina

Como no resto do mundo, as Embaixadas Soviéticas eram centros de
espionagem e entre seu pessoal diplomático constava uma riezidientura, uma
"residência" do KGB e outra do GRU( militar). Oriezidient do KGB, chefe da
espionagem no país, tinha funções mais importantes do que o Embaixador e
muitas vezes lhe era secretamente superior. E preciso reafirmar que todos os
órgãos comunistas no exterior – visíveis ou clandestinos – tinham uma única
finalidade estratégica permanente: a conquista mundial, no que difere do serviço
diplomático dos países democráticos, cujos órgãos secretos realizam
principalmente operações de informação e contra informação e só
acessoriamente em casos extremos de intervenção direta nos assuntos internos
dos países em que estão e o m o representantes. O mesmo se pode dizer dos
Partidos Comunistas, tenham o nome que tiverem, que jamais são partidos que
representem interesses nacionais ou mesmo regionais, mas sempre são
representantes do movimento comunista internacional do momento, seja o
Komintern, o Kominform, a OLAS, o Foro de São Paulo, etc. Ainda hoje as
Embaixadas russas têm a mesma função.

Entre 1945 e 1959 a estratégia mundial era baseada na chamada “visão etapista”,
segundo a qual há necessidade de uma etapa nacional-burguesa ou nacional-
desenvolvimentista, que sob a égide e comando da burguesia permitiria a melhor
organização dos trabalhadores e a superação dos óbices históricos do modo de
produção capitalista, em particular, o latifúndio. Era preciso identificar uma
burguesia nacional capaz de contrapor-se aos interesses dos demais países
capitalistas e criar um capitalismo nacional autônomo. Por esta razão o Partido
Comunista Cubano sempre procurou alianças com partidos burgueses tradicional
mente nacionalistas, e como já foi dito, apoiou firmemente o governo de
Fulgencio Batista até sua dissolução com a fuga dos principais líderes e a
chegada iminente de Castro a Havana.

Castro, inicialmente se auto declarava católico (foi criado em colégios jesuítas) e
até pousou para fotos de terço ao pescoço. Para o PCC Castro não passava de um
aventureiro. Membro do Partido Socialista Popular e da Liga Antiimperialista 30
de Setembro desde 1946, viajou para Pana má, Venezuela e Colômbia em 1948
em preparação para o Congresso Latino Americano de Estudantes. Neste último
país, onde se realizava então a Nona Conferência Pan-Americana, logrou
entrevistar-se com o líder do Partido Liberal, Jorge Eliecer Caitán, que horas
depois foi assassinado, iniciando-se o movimento que veio a ser conhecido como
Bogotazo, uma revolta popular que representa um primeiro ataque comunista no
continente, na qual Castro faz seu batismo de logo A intenção era destruir a
Conferência onde se estudavam medidas con tra a ofensiva comunista que se
iniciava na América do Sul e derrubar o Governo conservador colombiano.
Castro, juntamente com Alfredo Guevara, OIivares e Rafael Del Pino tomam
parte ativa no movimen to que também foi apoiado por Rómulo Betancourt,
então ditador da Venezuela. Com a derrota, de volta a Havana, Castro adota
como seu livro de cabeceira o Que Fazer? de Lenin. Em 1953, com a derrota na
tentativa de tomar o Quartel Moncada refugia-se no México aonde vem a
conhecer Ernesto "Che" Guevara, General Bayo e outros comunistas. A tomada
do poder por Castro em 1959 marca uma profunda e radical mudança da
ofensiva comunista na América Latina.

Como relata com rigor histórico Percival Puggina (A Tragédia da Utopia):
"Dissolveu-se o Congresso, desmontaram-se os partidos existentes, cassaram-se
direitos políticos, instalaram-se tribunais revolucionários, cujas sentenças não
estavam sujeitas a recursos, suspendeu-se o direito ao hábeas corpus, emitiram-
se leis que permitiram o sequestro de bens, inclusive bens de cubanos residentes
no exterior que praticassem atos contra a revolução, e instituiu-se a pena de
morte para os delitos contra o novo regime"(p.38). "Nofinaldoanode1959, já não
havia dúvida de que Fidel Castro não era o herói da democracia em que muitos
acreditaram, e sim um ditador comunista. No início do ano seguinte, 1960, o
ditador faz a reforma agrária e a nacionalização de refinarias de petróleo, em
presas comerciais, banco se estabelecimentos industriais. O comunismo chegara
à antiga Pérola do Caribe. Fidel Castro continuou governando o país com mão-
de-ferro por quarenta e cinco anos, num regime de partido único, com a
proibição de qualquer tipo de oposição".

Com esta importante base territorial ao mesmo tempo dentro da América Latina
e a poucas milhas ao sul do execrado inimigo, a URSS se viu subitamente
fortalecida. A estratégia baseou-se fundamentalmente 11a ofensiva contra dois
países chaves da região: Venezuela e Brasil. Chamo aqui atenção para o que está
ocorrendo hoje: não é coincidência que o atual eixo seja novamente Havana-
Caracas-Brasília, é estratégia de longo prazo profundamente estudada e
sistematicamente seguida!

O primeiro país, por estar nadando num mar de petróleo e com isto podia pode
realizar duas tarefas revolucionárias simultâneas: fornecer o petróleo aos aliados
comunistas e negá-lo aos EUA no caso de conflito armado. Contrariando a
tradicional mentira de que os revolucionários sempre lutaram contra as ditaduras
(como em Cuba), a Venezuela gozava da mais ampla democracia sob o governo
agora legitimamente eleito de Rómulo Betancourt (1959-1964) que pusera fim a
60 anos de sucessivas ditaduras, golpes de Estado, "pronunciamientos" e
"governos provisórios". Betancourt foi o segundo Presidente eleito em eleições
di retas no século XX e o quarto em toda a história venezuelana, sendo que o
anterior, Rómulo Gallegos, eleito em 1948, foi derrubado no mesmo ano pelo
Tenente Coronel Carlos Eduardo Chalbaud. Como fosse im possível a infiltração
comunista no governo – embora Betancourt tenha sido acusado de "homem de
Moscou” por ter tomado parte do Bogotazo – os ataques ao país foram violentos.
As praias caribenhas da Venezuela estavam coalhadas por constantes invasões
de barcaças cubanas transportando armas russas e tchecas. Movimentos
guerrilheiros eram estimulados e derrotados pelo governo que continuou a
transição democrática até o golpe de Hugo Chávez.

Já o Brasil, por ser o maior, mais rico em recursos naturais, com uma estrutura
agrária que embora antiquada era extremamente promissora e em vias de
industrialização acelerada no governo desenvolvimentista de Juscelino
Kubitstchek, despertava a cobiça internacional, não só aos comunistas, diga-se
de passagem. Mas aqui foi diferente, pois depois de JK, encontrou um governo
dócil ao comunismo na figura de João Goulart.

O governo Goulart foi fruto de um equívoco da Constituição de setembro de
1946. Recém saídos da ditadura Vargas os Constituintes quiseram estabelecer
uma Constituição a mais democrática possível e incorreram em alguns erros,
sendo um deles a eleição em chapas separadas do Presidente e do Vice-
Presidente. Já no primeiro governo após Dutra quando foi eleito o ex-ditador
Getúlio Vargas, o seu vice foi de outro Partido. Café Filho. Getúlio aproximou-
se muito das esquerdas, principalmente com a nomeação de João Goulart para
Ministro do Trabalho, já então um notório esquerdista. Um ano após o suicídio
de Getúlio este dispositivo já deu problemas pois apesar das eleições terem dado
a vitória a Juscelino Kubitschek e Goulart para Vice (agora numa coligação
PSD/PTB), setores anticomunistas tentaram impedir a posse dos mesmos, que
veio a ser sustentada pelo então Ministro da Guerra Henrique Duffles Teixeira
Lott, com o apoio explícito do General Humberto de Alencar Castello Branco
que veio a romper com o mesmo quando, meses depois, as organizações
sindicais resolveram entregar ao ministro uma espada de ouro.

Delineava-se aí o incremento da ruptura dentro das Forças Armadas que viria a
desabrochar mais tarde. Lott foi o candidato a Presidente pela coligação
PTB/PSD e mais uma vez Goulart a Vice. Nas eleições de 1960 ocorreu o que
poderia ser previsto. Jânio Quadros, candidato apoiado pela UDN – mas contra
alguns de seus principais líderes como Carlos Lacerda – tinha como candidato a
Vice o mineiro Milton Campos. Os eleitores escolheram Jânio e Jango e com a
renúncia do primeiro 7 meses após a posse formou-se a confusão, habilmente
solucionada pela adoção do regime parlamentarista para que Jango fosse aceito
pelos setores anticomunistas. Digo habilmente, mas não eficientemente, pois
desde então até março de 1964 o Brasil foi quase pura agitação. Num plebiscito
de resultados discutíveis em janeiro de 1963, volta-se ao regime presidencialista
e o governo até entnao razoavelmente contido no seu afã esquerdista, entra em
fase de implantação de uma ditadura sindicalista no Brasil. Se as chapas fossem
únicas, com posse de Milton Campos, um valoroso e intransigente democrata, a
história seria bem outra.

Todas as organizações populares fundadas ao longo da ditadura Vargas – sejam
sindicatos, sejam órgãos previdenciários – apesar de terem trazido algum
benefício de curto prazo para a população – tinham a principal finalidade de
funcionar como massa de manobras. A tal ponto que se criou o termo "pelego"
para os líderes sindicais, evidenciando que serviam apenas de suportes para a
sela em que os dirigentes montavam. Estas organizações foram utilizadas por
todos os governos – e ainda o são – mas principalmente na era Goulart serviam
de apoio para os desmandos do governo federal e seus acólitos. Com seu apoio
Goulart tentou passar no Congresso as "Reformas de Base”, passo inicial para
sua futura ditadura personalista sindical com forte influência comunista.

Sucede que o Brasil daquela época contava com líderes anticomunistas civis e
militares de primeira grandeza. Só para citar alguns Governadores: Lacerda no
Rio, Adhemar de Barros em São Paulo, Magalhães Pinto em Minas, Ildo
Meneghetti no Rio Grande do Sul. Possuíam também maioria no Congresso
Nacional, apesar das estridências das esquerdas. As altas patentes militares,
formadas por ex-combatentes da Força Expedicionária Brasileira (FEB) ou seus
discípulos diretos. A Igreja Católica era pré-Teologia da Libertação e
maciçamente se opunha à comunização do País.

O povo brasileiro levantou-se em massa contra os projetos janguistas e
comunistas, principalmente após o apoio do Presidente à insubordinação
hierárquica dos sargentos e fuzileiros e do Comício da Central do Brasil de 13 de
março de 1964, onde Leonel Brizola pregou abertamente o fechamento do
Congresso e o apoio comunista ficou ainda mais patente nos discurso e nas
faixas e cartazes. As Marchas da Família com Deus pela Liberdade, entre as
quais a principal foi em São Paulo, exigiam a manutenção do regime
democrático, no que foram plenamente atendidas pelas forças armadas e pelo
Congresso Nacional onde até mesmo o insuspeito democrata Juscelino
Kubitschek, então senador por Goiás, apoiou o movimento. Não foi, portanto um
Golpe de estado” para implantar uma ditadura “fascista”, mas um legítimo
movimento contra-revolucionário para impedir uma ditadura comunista. Foi
então abortada a primeira leva desta segunda ofensiva não apenas no Brasil, mas
momentaneamente provocou um arrefecimento da ofensiva em todo o
Continente e a necessidade de elaborar uma nova estratégia regional.


Resposta revolucionária: a conferência tricontinental de Havana e a Olas

A resposta foi dada por Cuba através da Conferência Tricontincntal dos Povos
Africanos, Asiáticos e Latino-Americanos reunida em Havana em 3 de janeiro
de 1966. Compareceram 83 grupos de vários países dos três continentes, com
513 Delegados, 64 Observadores e 77 Convida dos. 27 países latino-americanos
estavam representados. A delegação soviética era a maior de todas com 40
membros. Foi estabelecido em Havana o quartel-general para apoiar, dirigir,
intensificar e coordenar operações guerrilheiras e terroristas nos três continentes.
O "imperialismo norte-americano" foi eleito o principal inimigo.

Moscou assume a plena liderança afastando a influência chinesa, mas,
paradoxalmente, o pensamento maoísta se torna predominante. O primeiro
orador foi Nguyen Van Tien, delegado da Frente de Libertação Nacional do
Vietnam do Sul (Viet Cong). O segundo foi Tran Danh Tuyen, representante do
Vietnam do Norte exigindo a imediata rendição das tropas americanas no Sul.

A Resolução geral aprovada incluiu: 1. a condenação do imperialismo ianque; 2.
o imperialismo ianque é o maior inimigo de todos os povos do mundo; 3. o
imperialismo ianque constitui a base para a opressão dos povos; 4. proclamou o
direito dos povos de enfrentar o imperialismo com violência revolucionária, as
“guerras de libertação nacional”; 5. condenou vigorosamente o imperialismo
ianque pela agressão ao Vietnam do Sul; 6. proclamou a solidariedade com a luta
armada dos povos da Guatemala, Venezuela, Peru e Colômbia, 7. condenou a
política agressiva do governo americano e seus aliados "fantoches" contra o
Camboja e outros povos da Indochina, 8. condenou o bloqueio americano contra
Cuba. O brado final foi "formar vários Vietnans em escala tricontinental para a
derrota final do imperialismo".

Como Cuba havia sido expulsa da OEA em 1962, era necessário desmoralizar
esta Organização. Aprovou-se uma resolução dizendo que a O E A "não tem
autoridade legal nem moral para representar as nações latino-americanas. Que a
única organização que poderia representá-las seria uma composta de governos
democráticos e antiimperialistas que fossem o produto genuíno da vontade
soberana de todos os povos da América Latina”. Esta organização já estava para
ser formada poucos dias depois e seria a Organización Latino Americana de
Solidariedad (OLAS).

Mais uma vez chamo a atenção para o seguinte: tal como a fundação do Foro de
São Paulo em 1990 (ver Capítulo XVII), a Conferência Tricontinental foi
convocada para salvar o regime castrista da falência, pois segundo dados
estatísticos e testemunhos como o de Juanita Castro Ruiz, irmã de Fidel que
fugiu de Cuba em 1964, os camponeses se recusavam a trabalhar para o Estado.
Tinham apoiado Fidel por sua promessa de lhes dar títulos de propriedade e o
governo se apossava de todo seu trabalho mediante as cooperativas de tipo
soviético que foram implantadas. Mesmo Fidel tendo obrigado funcionários
públicos, estudantes e até crianças a fazer a colheita que os camponeses
recusavam – é claro que o programa foi apresentado pela amordaçada imprensa
cubana e pelos fantoches da mídia mundial, como exemplo de solidariedade para
ajudar os camponeses numa colheita monstro. Cuba produziu somente 3,5
toneladas de açúcar quando em 1952 os "pobres camponeses expropriados” do
regime capitalista produziram 7 milhões, portanto 100% a menos após a
"libertação" dos camponeses! Em 7 de janeiro do mesmo ano a cota pessoal de
arroz foi baixada pela metade, de 3 para 1,5 quilos por mês. Todo governo
capitalista falido que quer se manter no poder imprime mais dinheiro e gera
inflação, o regime comunista só pode se manter criando escassez e exportando
sua falência para outros países.

O PIB de Cuba em 1957 era o quarto da América Latina, o superávit comercial
era de 34,9 milhões de dólares (807,7 de receita de exportações e 772,8 de
despesas de importações), o Banco Nacional de Cuba possuía as maiores
reservas em ouro da América Latina e o Peso cubano era cotado ao par com o
Dólar americano. Não havia escassez apesar das atribulações políticas. Os
salários eram os maiores da América Latina tanto na indústria como na
agricultura e, relativamente à população, a maior classe média da região. O
número de carros per capita era maior do que da Espanha, da Tchecoslováquia,
Hungria, Grécia, Polônia, Iugoslávia, LIRSS, México e Brasil.

Mesmo nos itens mais propalados pela revolução, saúde e educação, Cuba estava
melhor do que hoje. A mortalidade infantil em 1958 era a menor da América
Latina e menor do que as duas Alemanhas, Itália, Espanha, Áustria, Hungria e
URSS. Estava melhor do que os EUA em números de mortes de causa geral por
1.000 habitantes, assim como no número de médicos por 1.000. O índice de
alfabetização era o quinto na América Latina, o número de estudantes
universitários era superior ao da Noruega, o número de jornais por 1.000
habitantes maior do que a Itália.

As desastrosas políticas industriais e agrícolas desencadeadas pela “revolução
popular” rapidamente levaram p país à pobreza, à escassez e à necessidade de
ajuda soviética maciça. Hoje, depois de milhares de massacrados pelas “causas
populares”, Cuba só rivaliza em miséria com o Haiti Apesar de tudo isto os
comentários dos "intelectuais" sobre o desastre cubano seguem a mesma linha
dos admiradores da URSS e da Europa Oriental e prosseguem os mesmos até
hoje, podendo ser sumariados pela carta raivosa da Professora Harriet E. Cross
ao New York Times, em 7 de janeiro de 1990: "Estes governos (comunistas)
construíram serviços sociais massivos que eliminaram o analfabetismo e a
criminalidade; apesar das desvantagens em consumo de supérfluos sua
população é bem educada e saudável". Como disse o Comandante Fidel,
invertendo a situação de extrema pobreza que leva as universitárias a se
prostituírem: “En Cuba, hasta Ias gineteras tienen grado universitário".


A terceira ofensiva na América Latina:
A luta armada revolucionária no continente e no Brasil

É impossível entender a América Latina atual sem responder com clareza a esta
pergunta crucial, pois da existência de Cuba dependeu – e ainda depende – toda
a estratégia comunista na América Latina, principalmente a ofensiva militar da
luta armada e a ofensiva cultural ainda em curso.

Em 22 de outubro de 1962, o Presidente John Kennedy anunciou publicamente
que a URSS havia posicionado em Cuba mísseis balísticos de alcance médio e
intermediário (MRBM e IRBM) com ogivas nucleares, dizendo que os EUA
consideravam tal atitude intolerável e exigiam a imediata retirada dos mesmos.
Simultaneamente ordenou um bloqueio aeronaval à ilha. A URSS mobilizou
belonaves e tropas e zarpou em direção à mesma. Durante treze dias parecia que
o mundo iria submergir no tão temido combate nuclear. As duas esquadras se
confrontaram ao largo do litoral da Flórida e as manobras russas evidenciavam
que iriam enfrentar a ameaça e abrir fogo para romper o bloqueio. Ao mesmo
tempo, intensas negociações diretas foram encetadas. (Foi aí que se percebeu a
necessidade da instalação do famoso "telefone vermelho", que não era nem
telefone nem vermelho, mas um conjunto de transmissores e receptores de
teletipo de alta velocidade e resolução).

Finalmente,no dia 4 de novembro a esquadra russa fez meia volta e Khrushchov
aceitou negociar a retirada dos mísseis e a permanência de parte das tropas
convencionais. Estas eram constituídas de 45.000 efetivos e uma grande
quantidade de blindados e aviões militares de caça e bombardeio.

Fidel aceitara os mísseis, baseado numa mentira de Khrushchov de que o
número de mísseis balísticos intercontinentais (ICBM) e ogivas nucle res russas
era equivalente ao dos americanos, blefe no qual o mundo todo acreditou na
época. Na verdade, a superioridade americana era da ordem de 17 x 1 (5.000
ogivas nucleares americanas contra aproximadamente 300 soviéticas) (Blight et
al, Cuba on the Brink).

Terminada a crise o mundo respirou aliviado e Kennedy acreditou que havia
vencido a parada e recomendou a seus auxiliares que "não humilhassem
Khrushchov” e em mensagem ao Congresso, disse que “resolvessemos uma das
maiores crises da história da humanidade”. O próprio Khrushchov admitiu que
“fomos obrigados a fazer grandes concessões no interesse da paz”. Mas num
comenário jamais citado no Ocidente acrescentou: “Foi uma grande vitória
nossa, porque conseguimos extrair de kennedy a promessa de que nem a
América, nem seus aliados, invadiriam Cuba”. Num telegrama a Castro disse: "O
inimigo estava preparado para atacar Cuba, mas nós o derive mos... Podemos ver
isto como uma grande vitória". Quaisquer projetos anteriores à crise dos mísseis
de uma nova "Operação Baía dos Porcos" – o fiasco, para não variar, de uma
Administração Democrata, de tentar invadir Cuba com um punhado de homens
numa traineira – foram re legados ao esquecimento, continuando apenas as
palhaçadas da CIA de tentar assassinar Castro.

Toda a operação teria sido montada exclusivamente para arrancar esta concessão
de Kennedy? Os historiadores divergem. Alguns pensam que este era um
objetivo secundário, outros acham que foi apenas oportunismo da cúpula
soviética. Golitsyn, que chegara no ano anterior como exilado aos EUA, afirma
que este era o objetivo principal. Caso Kennedy não reagisse à provocação,
estaria cumprido o secundário, com as mesmas consequências: com a
permanência dos mísseis e efetivos russos os americanos não se atreveriam a
invadir, mas os soviéticos permaneceriam como os invasores aos olhos do
mundo. Como foi, saíram de "amantes da paz" por ela fazendo grandes
concessões, e os EUA como os belicosos, que, com sua reação, expuseram o
mundo à catástrofe nuclear – o que viria a ser intensamente explorado na
ofensiva cultural que se seguiu. No interior do governo soviético, os inimigos de
Khrushchov usaram esta retirada como derrota covarde e, junto com outras
acusações apresentadas pelo principal ideólogo comunista Vladimir Suslov,
apearam-no do poder em 1964. No entanto, Golitsyn aponta o fato desta ter sido
a primeira sucessão sem morte do deposto, na história soviética – Khrushchov
foi mandado para um bom exílio interno, como tinha ocorrido com Sakharov –
como corroboração de sua tese de que tudo não passou de outro grande engodo.


A Luta Armada no Brasileira

As ações armadas que já existiam de forma esporádica antes de 64 – como as
Ligas Camponesas de Francisco Julião e os Grupos dos Onze de Leonel Brizola
– se intensificaram desde então, mas ainda sem as características de ação
coordenada. Já em agosto de 64 descobria-se um plano terrorista de inspiração
brizolista emPorto Alegre, que levava o nome de Operação Pintassilgo, que
previa o ataque a diversos quartéis, a tomada da Base Aérea de Canoas, no Rio
Grande do Sul, e a utilização dos aviões da FAB para o bombardeio aéreo do
Palácio Piratini, visando à morte do Governador Ildo Maneghetti. A prisão em
Porto Alegre, em 26 de novembro de 1964, do capião-aviador, Alfredo Ribeiro
Dault, abortou a operação e iodos os seus planos caíram em poder da polícia.
Diversos militares da Aeronáutica estavam envolvidos. Em novembro houve
explosão de bomba no Cine Bruni no Rio de Janeiro, – em março de 65, nova
tentativa brizolista, agora de uma ação guerrilheira com financiamento castrista,
através do Coronel Jéferson Cardim Osório, também fracassada no Paraná, –
atentado a bomba contra o jornal "O Estado de São Paulo" em abril. Através de
seus contatos na Argélia, Miguel Arraes consegue o apoio de Ahmed Ben Bella
para lançar as bases de um movimento guerrilheiro no Brasil. Mesmo com o
golpe de Estado dado em Argel por Houari Bouniediennc foram mantidas as
garantias.

A manhã de 25 de julho de 1966 pode ser considerada como o marco inicial da
ação terrorista no Brasil, já como primeiro resultado entre nós da Conferência
Tricontincntal, quando três bombas explodiram no Recife, das quais a mais
hedionda foi a do Aeroporto Internacional dos Guararapes, que pretendia
eliminar o candidato a Presidente da República, Marechal Arthur da Costa e
Silva. No total, duas pessoas morreram – um jornalista e um almirante
reformado – e 16 ficaram feridas, das quais 13 eram civis, entre jornalistas,
estudantes, professores, advogados e funcionários públicos, além de uma criança
de 6 anos.

Em 1º de dezembro do mesmo ano Carlos Marighela, pede demissão da
Comissão Executiva do Partido Comunista devido a discordâncias quanto à
manutenção da luta pacífica e parlamentar contra o regime militar. Já no início
do ano havia escrito um panfleto intitulado "A Crise Brasileira" onde deixa claro
que "o Exército Brasileiro terá que ser derrotado e destruído por ser o poder
armado da classe dominante".

No ano de 1967 Marighela vence as eleições internas na Conferência Estadual
do PCB de São Paulo e, em julho, contrariando a orientação de Prestes e de
Moscou comparece à reunião da OLAS que Kossygin tentara adias mas Fidel
confirmara. Sendo desautorizado por Prestes recusa-se a obedercer e é expulso
do PCB em setembr, fundando a Ação Libertadora Nacional (ALN) e dando
início à luta armada organizada seguindo seu “Mini Manual de Guerrilha
Urbana”.

A reunião da OLAS (31/07 a10/08/67) contou com apresença de mais de
setecentos delegados representando movimentos revolucionários de 22 países
latino-americanos. Foi enfatizada a definição de ação contra a intervenção
político-militar e a penetração econômica do imperialismo norte-americano. O
documento final determinava, por consenso, a existência de um Comitê
Permanente, sediado em Havana, que se constituiria na genuína representação
dos povos da América Latina" para desqualificar totalmente a OEA por ter
expulsado Cuba. Este país firmava-se assim como a vanguarda revolucionária na
região. Apesar dc, na aparência, a OLAS se tratar apenas de um órgão de
solidariedade não impositivo, era realmente uma nova Internacional Comunista,
um novo Komintern, dirigido para a área específica da América Latina. À sua
sombra várias organizações terroristas se estabeleceram em todos os países,
sendo as mais importantes da América do Sul:

no Brasil, alem da ALN e das ações armadas do PCB, a Vanguarda
Popular Revolucionária (VPR) de Carlos Lamarca outro terrorista e
desertor, a VAR-Palmares, a Organização Revolucionária Marxista
Política Operária (POLOP), a Ação Popular Marxista-Leninista do
Brasil (APML);

no Uruguai, o Movimiento de Liberación Nacional (TUPAMAROS),
del pueblo;


no Chile o Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR);

no Peru, o Movimiento Revolucionário Tupac Amam (MRTA) e o
Sendero Luminoso;

na Colômbia, Fuerzas Armadas Rcvolucionarias de Colombia
(FARC) e o Ejercito de Liberation Nacional (ELN);


na Bolívia o Ejercito de Liberación Nacional (ELN).

Mais uma vez, a pronta ação militar brasileira, com a edição do Ato Institucional
n° 5 em 13 de dezembro de 1968, que dava mais poderes às forças da lei para
combater o terrorismo e a guerrilha, paralisou momentaneamente a ofensiva. A
violência armada não foi, portanto, como boje se ensina aos jovens, uma reação
ao Ato Institucional n° 5 que "endureceu" o regime. Ela já existia antes, muito
antes mesmo, já nos governos plenamente democráticos de Juscelino, Jânio
Quadros e João Goulart. Pelo contrário, tan to a Contra-Revolução de 64 quanto
o AI-5 foram reações à crescente escalada da luta armada de acordo com as
determinações de Havana.

Mas a ofensiva só amainou, não arrefeceu o ânimo nos de mais países da
América Latina. Antes disto,no mesmo ano de 1968 uma Junta Militar
esquerdista, comandada pelo General Juan Velasco Alvarado, tomou o poder no
Peru, estabelecendo um governo nacionalista e pró-soviético que durou sete
anos. A aproximação com Cuba e a URSS chegou a ponto de equipar as Forças
Armadas Peruanas com armamento exclusivamente soviético (do que o país se
ressente até hoje) e permitiu o estacionamento em seu território de tropas
guerrilheiras de outros países. Em setembro de 1969, outro General nacionalista
Alfredo Ovando Candia depõe o Presidente da Bolívia Luis Adolfo Siles Salinas.
Em setembro de 1970 ganha as eleições chilenas o socialista e idealizador da
OLAS, Salvador Allende Gossens. O Cone Sul, com exceção da Argentina,
encontrava-se nas mãos das esquerdas.


A Fábrica de mitos produz conspirações e Heróis

Basta olhar quem hoje está no poder político de várias nações latino-americanas
(Brasil, Venezuela, Bolívia, Chile, Argentina, Uruguai, Equador e Nicarágua)
para perceber que são os derrotados militarmente na década de sessenta que
venceram a batalha mais importante: a cultural. Refugiando-se nesta área
negligenciada pelos governos militares, e baseando-se na desinformação e nas
teses de Antonio Gramsci e da Escola de Frankfurt, passaram a escrever grande
parte da história, principalmente aquela de alcance público, acadêmico, nas
escolas de todos os níveis e nas novelas e minisséries de TV. Tornaram-se
"donos" dos significados das palavras. Como aprenderam muito bem a lição de
seus mestres do passado, temos hoje muito mais mitologia induzida do que
relato histórico fiel. É trabalho para décadas – se houver liberdade para tanto –
desfazer todos os mitos dos chamados "anos de chumbo". A seguir relato alguns
produtos da fábrica de mitos.


A participação dos Estados Unidos no Movimento de 64

Um dos mais caros mitos da esquerda é o de que militares maldosos, aliados à
"burguesia" nacional "ameaçada em seus privilégios" – e subordinados às
demandas maquiavélicas dos Estados Unidos – resolveram abortar pelas armas a
política conduzida por um governo legítimo e que atendia aos “anseios
populares”. Só depois das declarações de Goslitsyn a respeito do Departamento
D do KGB é que foi possível nos aproximarmos da verdade.

A participação americana no "golpe" de 64, chamada de “Operação Thomas
Mann" (nome do então Secretário de Estado Adjunto para a AL) não passa de
uma peça de desinformação baseada em documentos forjados pelo
Departamento D, através da espionagem Tcheca. Quem montou a operação foi o
espião Ladislav Bittman que em 1985 revelou tudo no seu livro The KGB and
Soviel Disinformation. An Insiders View (Pergamon-Brasseys, Washington, DC,
1985). Segundo suas declarações “A Operação foi projetada para criar no
público latino-americano uma prevenção contra a política "linha dura"
americana, incitar demonstrações mais intensas de sentimentos antiamericanos e
rotular a CIA como notória perpetradora de intrigas antidemocráticas". Outra
fonte é o livro de Phyllis Parker “Brazil and the Quiet Intervention. 1964",
University of Texas Press, 1979, onde fica claro que os EUA acompanhavam a
situação de perto, faziam seus lobbies e sua política com a costumeira
agressividade, e tinham um plano B para o caso de o País entrar em guerra civil.
Entretanto, não há qualquer prova de que os Estados Unidos instigaram,
planejaram, dirigiram ou participaram da execução do “golpe" de 64. Embora as
revelações tenham sido tornadas públicas em 1979 e em 1985, a Revista Veja só
aborda o assunto na sua edição n°1777, de 13/11/2002, com a matéria "O Fator
Jango" de autoria de João Gabriel de Lima. Os demais órgãos da imprensa
brasileira, coniventes com a desinformação, nada publicaram a respeito, não
permitindo que a opinião pública tomasse conhecimento da mentira que durante
anos a enganou.

O Globo do dia 3 de julho de 2007, quando este livro já estava em preparo final,
publicou com grande estardalhaço documentos que eram conhecidos desde 31 de
março de 2004, aos 40 anos do movimento, quando a CIA desclassificou
documentos da época que revelam um grande interesse da Casa Branca, do
Departamento de estado e da CIA no que estava por ocorrer no Brasil. Qual o
interesse de “revelar” documentos já conhecidos há mais de 3 anos como se
novidade fosse? Não sei, mas é mais uma peça de desinformação, pois o que
demonstram e que havia planos para apoiar o movimento militar, o que já era
sabido por todos que viveram aqueles tempos ou se interessaram em estudar.

Não há duvidas de que o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD),
fundado em 1959, e o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), em1961,
receberam dinheiro de empresas multinacionais para financiar candidatos
anticomunistas nas eleições legislativas, através da Ação Democrática Popular
(ADEP). A função do IPES era coordenar a oposição política ao governo Jango,
e para tal tinha financiamento de grandes empresas nacionais e multinacionais.
Como o recebimento de dinheiro do exterior para influenciar eleições era
proibido, o IBAD foi fechado pela justiça em 1963. No entanto, em momento
algum existe referência à maciça intervenção soviética, cubana e chinesa no
Brasil – inclusive com envio de armas tchecas, assessores e agentes secretos,
anterior aos planos americanos. Nenhuma menção jamais foi feita ao Instituto
Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) que agia no sentido exatamente oposto
ao IBAD, através da Liga de Emancipação Nacional, integrada, basicamente, por
comunistas. Esta, em função de suas contundentes proposições nacionalistas, foi
fechada pelo próprio Juscelino, assim que se tornou presidente da República, e
do Grupo Itatiaia, que reunia intelectuais dos estados do Rio de janeiro e de São
Paulo, defensores de um nacionalismo radical. A maioria dos membros do ISEB
era formada por pensadores nacionalistas, influenciados pelas idéias da CFPAL,
entre eles Hélio Jaguaribe, Roland Corbisier, Alberto Guerreiro Ramos, Nelson
Werneck Sodré, Cândido Mendes e Álvaro Vieira Pinto.

A intenção em sonegar um lado da informação e só apresentar o outro, é
obviamente manter vivo o mito de que o Governo Goulart tinha apoio popular
(vide Marchas da Família com Deus pela Liberdade que contrariam esta versão)
e de que militares violentos o derrubaram. O que os documentos provam, no
final de tudo, é que as avaliações americanas estavam erradas e não havia
necessidade de nenhuma intervenção já que o Governo foi derrubado em menos
de 48 horas, sem nenhuma resistência popular – pelo contrário, com grandes
comemorações de júbilo.


Chile: o golpe do Truculento Pinochet
e a morte do “herói” popular Allende

A história do governo Allende e sua deposição por Augusto Pinochet vem sido
contada com as habituais mentiras da esquerda. Allende era o idealizador da
OLAS e um dos principais participantes da Conferência Tricontinental de
Havana. Ganhou as eleições presidenciais de 1970 por uma covardia do Partido
Democrata Cristão. Obteve 36,3 % dos votos, escassos dois terços, contra 34,9%
de Jorge Alessandri, do Partido Nacional (direita) e 27,8% de Radomiro Tomic,
da ala esquerdista da Democracia Cristã, supostamente de centro. A Constituição
vigente, de 1925, exigia que, se nenhum candidato obtivesse maioria absoluta, a
decisão entre os dois mais votados caberia ao Congresso em reunião plena.
Embora sabendo que Allende conduziria o país celeremente a uma situação
revolucionária tendendo à implantação de um regime comunista – fato
sobejamente conhecido pelos chilenos – a Democracia Cristã votou nele. Os
militantes do Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR) – uma
organização fundada em 1965 e voltada para a luta armada – que se encontravam
encarcerados, cumprindo penas, foram imediatamente anistiados por Allende.
Aproveitando a ampliação das liberdades democráticas, o MIR passou a
impulsionar a mobilização de massas. A partir das ações diretas dos índios
mapuches e com o alento do Movimento Camponês Revolucionário (MCR),
foram feitas uma série de invasões de terras, no que foi chamado verão quente de
1971. Também foram impulsionadas as mobilizações sindicais e as ocupações de
indústrias e propiciada a constituição de novos acampamentos de trabalhadores
"sem teto". O MIR aproveitou também a participação de seus militantes em
tarefas da segurança do presidente – Grupo de Amigos do Presidente (GAP) –
para lograr um silencioso avanço em instrução militar, logística e inteligência.
Foi dado um maior impulso à vinculação com setores democráticos das Forças
Armadas e de autodefesa das massas. O MIR, assim, se estendeu organicamente
através do país. O Chile rumava rapidamente para ser uma nova Cuba.

A situação se tornou tão insustentável que o Congresso declarou a 23 de Agosto
de 1973, 18 dias antes da intervenção militar, o grave atentado à democracia na
resoluçãoDeclaración de Quiebre de Ia Democracia Chilena, na qual são
apresentadas, entre outras, vinte acusações de violação da Constituição chilena
por parte do Presidente Allende. Em seu quinto artigo diz ser “um fato que o
atual governo da República, desde o início se empenhou para conquistar o poder
total com o evidente propósito de submeter todas as pessoas ao mais estrito
controle econômico e político por parte do Estado e conseguir, deste modo, a
instauração de um sistema totalitário absolutamente oposto ao sistema
democrático representativo que a Constituição estabelece". Entre as acusações
estavam: usurpar a função legislativa do Congresso, capitanear uma campanha
difamatória contra a Corte Suprema, – burlar a ação da justiça nos casos de
delinqüentes pertencentes a partidos e grupos integrantes do governo da Unidade
Popular,- atentar contra a liberdade de expressão fechando ilegalmente órgãos de
imprensa, rádio e TV, e impondo "cadeias" legais de transmissão, violar o
princípio de igualdade perante a lei mediante discriminações sectárias, formar e
manter uma série de organismos sediciosos como Comandos Comunais,
Conselhos de Camponeses, Comitês de Vigilância, todos destinados a criar o
"Poder Popular" à margem da Constituição, formar e desenvolver grupos
armados. Finalmente, representa ao Presidente, aos Ministros e membros das
Forças Armadas e do Corpo de Carabineiros, a grave quebra da ordem
constitucional e legal da República.


Operação condor: o “complô militar fascita”

Esta operação conjunta dos países do Cone Sul tem sido atacada como um
complô dos militares "fascistas" contra pobres vítimas que apenas queriam
"libertar" seus povos. O desafio terrorista contra os governos do continente, há
25 anos, nada mais era do que uma derivação da Guerra Fria. Em 1974 – menos
de um ano após a deposição do governo marxista de Allende, foi fundada em
Paris uma Junta de Coordenação Revolucionária (JCR), integrada pelo Exército
de Libertação Nacional (ELN) boliviano, o Exército Revolucionário do Povo
(ERP) argentino, o Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros (MLNT)
uruguaio e o Movimento de Esquerda Revolucionário (MIR) chileno. O
secretário geral da JRC era o cubano Fernando Luis Alvarez, membro da
Direção Geral de Inteligênica (DGI) cubana, e casado com Ana Maria Guevara,
irmã de Che Guevara – o que conferia à JCR o caráter de instrumento do Estado
cubano. Sua função era coordenar as ações da esquerda revolucionária latino-
americana, principalmente no Cone Sul. Nos anos 80 a ação armada subversiva
ganhou impulso no Chile, com os sucessivos desembarques de armas realizados
por navios cubanos, em janeiro, junho e julho de 1986: 3.200 fuzis, 114 lança-
foguetes soviéticos RPG-7, 167 foguetes anti-blindagem LAW (alguns utilizados
no atentado contra Pinochet nesse mesmo ano de 1986, que causou a morte de 5
militares de sua escolta), granadas, munições e outras armas. Ou seja, o maior
contrabando de armas jamais registrado na América Latina.

Mais uma vez a história "oficial" esquerdista produzida pela fábrica de mitos
inverte os dados: na realidade a Operação Condor foi uma reação às ações
previamente coordenadas dos movimentos revolucionários e quando existe uma
ameaça terrorista de caráter internacional, os órgãos de segurança dos países
ameaçados se coordenam. Sempre foi assim, e continua sendo. Mas enquanto o
guerrilheiro e terrorista tudo possa alianças internacionais e regionais e troca de
militantes entre os países, as forças da lei devem ficar paralisadas dentro de suas
fronteiras ou se envergonharem como pudicas donzelas que deram um mau
passo.

CAPÍTULO 8
Terceira grande estratégia
(de longo Prazo)


Nossa tragédia nacional é que (tal como outros países comunistas) não
houve uma clara derrota do sistema dominante, nenhum julgamento de
seus crimes ao estilo do de Nüremberg, nenhum processo de depuração
vigorosa (descomunização). O ocidente rapidamente celebrou o fim da
Guerra Fria e a vitória da democracia nos países da antiga Cortina de
ferro, mas na verdade não houve em nenhum deles.
Vladimir Bukowsky






A finalidade essencial da nova estratégia, como já foi mostrado na Primeira
Parte, era aprofundar a propaganda no mundo ocidental de que o comunismo
acabara e a democracia e o liberalismo econômico havia vencido na Europa do
Leste. O anti-stalinismo foi usado como anestesia revisionista para reagrupar
intelectuais ocidentais em torno das idéias leninistas, obviamente sem que os
idiotas úteis tomassem conhecimento da estratégia. Com isto, desmoralizar
qualquer movimento anticomunista como paranóico, reacionário, ultrapassado,
caduco, enfim, não dar ouvidos aos que percebiam a manobra. Pretendia-se
enfraquecer e neutralizar a ideologia anticomunista e sua influência política nos
USA, e no resto do mundo, apresentando-a como anacronismo reacionário
sobrevivente da Guerra Fria e um obstáculo à reestruturação mundial e à paz. O
resultado principal colhido na década de 70 foi a chamada détente, palavra
francesa que significa "relaxamento de tensões” iniciada pelo mais ferrenho
anticomunista das décadas anteriores, Richard Nixon quando de sua viagem a
Moscou em maio de 1972, para o encontro com Leonid Briezhniev e,
posteriormente, com sua ida à China no mesmo ano. A détente demonstrava que
até no Ocidente a "abertura" do regime estava sendo aceita como legítima.

Como isto se pretendia reduzir a influência mundial dos países ocidentais,
inverter o equilíbrio de poder a favor do bloco comunista rompendo as alianças
militares ocidentais, paralisar os programas ocidentais de armamentos e explorar
esta inversão de equilíbrio no sentido da conquista final do mundo capitalista
através de "convergência" em termos comunistas Preparava-se a adoção plena da
Perestroika, segundo as linhas de "convergência", com vistas ao Governo
Mundial.

A estratégia da "convergência" explora a colaboração inconsciente dos inimigos
através de aparentes reformas econômicas e pseudodemocráticas criando uma
falsa oposição controlada dentro da URSS e dos demais países socialistas.
Estimulou-se a crença da existência de três grupos, "liberais", "dogmáticos" e
"pragmáticos", em luta entre si na URSS, para usar a falsa idéia da existência de
conservadores "antiprogressistas" para aliar-se aos USA no combate a estes
grupos nos dois lados, e liquidar com os verdadeiros conservadores no lado
americano. Cabe explicitar que a palavra russa para convergência
é sblizbienie que numa tradução literal significa "aproximar para contato". Esta
aproximação deveria ser feita através da exploração das tendências globalizantes
da elite ocidental (p.ex., Robert Muller, Al Gore, Ramsey Clark, Bill &Hillary
Clinton, Armand Hammer, George Bush Sr, Noam Chomsky, John Kerry – e as
Fundações Ford, Rockfeller, Carnegie Endowment) em íntima colaboração com
os comunistas para estabelecer "Um Só Mundo”, a" Nova Ordem Mundial”.

As propostas foram apresentadas e aprovadas pelo Congresso dos Oitenta e Um
Partidos Comunistas, em Moscou, em 1960. Não foi mera coincidência que neste
mesmo ano foi fundada a Universidade da Amizade entre os Povos, mais
conhecida como Universidade Patrice Lumumba, nome dado um ano após,
destinada a estudantes selecionados pelos partidos comunistas – mesmo os que
estavam na clandestinidade –, para formar líderes fiéis à ideologia comunista em
todos os setores da vida intelectual e acadêmica do ocidente. Já no primeiro ano
foram registrado 539 estudantes de 59 países, mais 57 soviéticos selecionados
pelo KGB. Durante o curso os alunos eram secretamente classificados em quatro
grupos. Aqueles que apresentavam performance ideológica excepcional foram
selecionados para agentes do KGB; os do segundo grupo eram razoavelmente
confiáveis e deveriam retornar aos seus países como agentes dos partidos
comunistas, dependendo do país para atuação aberta ou clandestina, os demais
deviam retornar aos seus países como idiotas úteis para intensificar a propaganda
da URSS “amante da paz” e da humanização do regime – “socialismo com face
humana” – em seus respectivos países. Os que resistiam à doutrinação eram
descartados como irrecuperáveis e muitas vezes não conseguiam sua graduação.
Gozavam de privilégios muito próximos aos dos membros do Partido, mas eram
constantemente vigiados e monitorados e só a poucos do primeiro grupo era
permitido possuir o Passaporte Interno que lhes permitia sair da periferia de
Moscou, mesmo assim sob controle da Intourist.

Ocorreram várias reuniões secretas entre Khrushchov e Mao Tsé-Tung onde
teria ficado decidido um acordo secreto com a China para início da Grande
Estratégia do Bloco, a da tesoura, ou de pinça: para dar credibilidade às
"mudanças" era preciso que Mao se opusesse e, defendendo a herança de Stalin,
"rompesse" com a URSS. Ficou aí definido o "Conflito Sino-Soviético" que viria
a se intensificar no início dos anos 60.

Foram imediatamente abolidas as práticas stalinistas de repressão, restaurado o
estilo leninista de liderança colegiada e iniciada a preparação para introduzira
fase final de reestruturação e"democratização" da URSS. Foram atribuídos
novos papéis ao KGB e adotado um padrão de não violência. A parte secreta da
estratégia incluía a montagem do poderio militar do bloco como um todo sem
que o Ocidente percebesse (por isto o pseudoconflito com a China), um retorno
ao estilo leninista de atividade diplomática contra os principais países inimigos,
o uso de guerra psicológica para desestabilizar o mundo ocidental e suas
instituições. Simultaneamente explorando o potencial dos partidos dos países
comunistas dos partidos comunistas ocidentais e dos “movimentos de libertação”
no Ocidente.

Na Itália, onde estava o maior partido comunista europeu, Palmiro Toglialti, que
substituíra Antonio Gramsci em 1937 como Presidente (no exílio) do Partido e
muito aprendera com seus "Cadernos do Cárcere", como já vimos, começou a
preparar o que mais tarde viria a ser o " Eurocomunismo", uma versão adocicada
e palatável que dava uma aparência civilizada e democrática no sentido de
aceitar o jogo da alternância no poder e apelava para a classe média e os novos
movimentos que estavam surgindo depois da guerra, como o feminismo e pela
"libertação" dos homossexuais. Em 1964 assinou o "Memorando de Yalta "em
que, com secreta aquiescência de Khrushchov, declarava o PCI autônomo de
Moscou e propunha um novo modelo para os países socialistas, o chamado "
Unidade na Diversidade". Em termos internacionais cunhou o termo
"policentrismo" para significar que a unidade socialista mundial não funcionaria
sem que cada partido pudesse se desenvolver de forma autônoma, sem a
interferência de outras fontes. Mas isto era apenas a jogada de um velho
stalinista, na verdade um dos maiores amigos de Stalin durante o exílio. Não por
coincidência , uma das decisões mais importantes tomadas em Moscou foi
recomendada por Togliatti: a de estudar a fundo as teses de Antonio Gramsci.


A terceira ofensiva mundial

A influência sobre o movimento contra a guerra do Vietnam dentro dos EUA e
no resto do mundo foi imensa. A esquerda americana recebia apoio e vultuosas
quantias da URSS, via a rezidientura do KGB em Washington.

Estamos tão acostumados à visão marxista da história que, mesmo os que
rejeitam explicitamente seus demais postulados, tendem a utilizar seu método de
análise – o materialismo histórico – a primazia das “condições materiais de
existência" como determinantes das superestruturas morais e religiosas. Os
comunistas abandonaram o materialismo histórico na prática há muito – só em
alguns países do Ocidente ainda se acredita nesta xaropada. Tendo verificado
que era impossível vencer militar ou economicamente os EUA, só havia este
meio demorado, mas eficaz: desmoralizar e destruir por dentro o american way
of life, a moral e a religião que são a argamassa que mantém o País unido.

Estudando a Guerra Civil Americana, cada vez mais me convenci de que as
razões econômicas eram absolutamente secundárias. O que houve na América,
naquele período, era muito mais o recrudescimento de uma profunda divisão
moral e religiosa acerca principalmente da escravidão, às quais se acrescentaram
razões econômicas – industrialização acelerada e surgimento do operariado
fabril do Norte – como superestrutura que ameaçavam o País de uma ruptura
radical: a Secessão. Já no seu discurso de posse em 1861, Abraham Lincoln
dizia, dirigindo-se principalmente ao Sul: In your hands, my dissatisfied fellow
countrymen, and not in mine, is the momentous issue of civil war. The
Government ivill not assail you... You have no oath registered in Heaven to
destroy the Government, while I shall have the most solemn one to ‘preserve,
protect and defend' it. (Em suas mãos, meus caros compatriotas insatisfeitos, e
não nas minhas, está o tremendo problema da Guerra Civil. O governo não vai
atacá-los… Vocês não têm registrado no Céu nenhum juramento para destruir o
governo, enquanto eu tenho o mais solene, de preservá-lo; protegê-lo e defendê-
lo). Seguia fielmente as palavras constitucionais de seu juramento. Mas já desde
a redação da Constituição havia esta divisão entre os Founding Fathers: os
representantes do Sul, principalmente da Georgia e das Carolinas, acreditavam
que a escravidão era parte normal de suas vidas. Mason e Jefferson, embora
sulistas, a denunciaram como desumana.

Sugiro como hipótese que a Guerra Civil Americana estava entre os assuntos
estudados mais a fundo pelos elaboradores da Grande Estratégia comunista,
chegando à conclusão de que os EUA só se dividem por problemas morais e/ou
religiosos.

As sementes para a futura campanha contra a guerra do Vietnam foram lançadas
durante a já mencionada campanha presidencial de Henry Wallace, candidato do
Partido Progressista em 1948, que afastou do Partido Democrata a esquerda
antiamericana. Esta mesma esquerda constituída de idiotas úteis e agentes
diretos já mencionados como obra brilhante de Münzenberg.

Esta voltaria às suas fileiras durante a campanha do Vietnam. Em junho de 1962
reuniram-se em Port Huron, Michigan, estudantes das mais diversas
universidades americanas para formarem a Students for a Democratic
Society (SDS), inspirada na obra Eros e Civilização de Herbert Marcuse (ver
Capítulos 3 e 11) onde imperavam palavras de ordem pela liberdade sexual
irrestrita, rejeição da América e sua cultura, negação de que a Guerra Fria era
culpa da URSS – essencialmente pacífica pois precisava de tranqüilidade para
desenvolver seu socialismo, um sistema mais humano que o capitalismo
americano. Deste encontro resultou um manifesto baseado num texto elaborado
por Tom Hayden – futuro Senador e futuro marido de Jane Fonda – (baseado nos
escritos do sociólogo radical C. Wright Mills): o Port Huron Statement of the
Students for a Democratic Society, o documento da New Left de maior
circulação na década. Sua importância nunca foi devidamente avaliada mesmo
nos EUA, — aqui no Brasil, que eu saiba, é um ilustre desconhecido de nossas
"elites intelectuais".

Este documento é de enorme relevância para entendermos o que se passa até
hoje nos EUA, pois foi ali que nasceu o movimento contra a guerra do Vietnam
que dividiu a sociedade americana de maneira quase irreversível e lançou no
opróbio as Forças Armadas. Onde também foram lançadas as bases da moderna
versão da New Age e do Governo Mundial, para os quais a divisão da América é
condição sine qua non. As grandes agitações universitárias do final da década
tiveram aí sua origem. Neste mesmo ano ocorreu a primeira manifestação em
Berkeley, Califórnia. Seria ingenuidade não perceber a ação da desinformação
leninista para romper as hostes inimigas, evocando as piores suspeitas e
pensamentos entre eles. É de se notar que o candidato à Presidência derrotado
em 2004, John Kerry, tão logo deu baixa do Vietnam, uniu-se a estes
movimentos, traindo sua condição de veterano de guerra.

Em 1968, Tom Hayden conseguiu tumultuar de tal maneira a Convenção do
Partido Democrata que pôs por terra as chances de Hubert Humphrey, candidato
do então Presidente Johnson e, como ele, a favor da continuação e
aprofundamento da Guerra no Sudeste asiático. Nixon ganhou as eleições e já
em 71 cancelou as convocações obrigatórias – drafts – que eram, na aparência, a
principal reivindicação da juventude. Significou o retorno às Forças Armadas
voluntárias. Embora este ato tenha acalmado um pouco as manifestações, logo a
mentira apareceu: era simplesmente um movimento antiamericano! A vanguarda
do movimento – entre os principais se encontravam nova mente John Kerry,
Tom Hayden e Jane Fonda – fundaram um "tribunal de crimes de guerra",
condenando o papel americano do Vietnam. Não foi coincidência que Bertrand
Russel fundou o Tribunal Internacional com idêntica intenção. Em 1972 os
mesmos ativistas se uniram na campanha do mais radical esquerdista do Partido
Democrata, George McGovern, derrotado pela reeleição de Nixon. McGovern
defendia a supressão total de ajuda ao Vietnam do Sul e ao Camboja abrindo
caminho para a conquista comunista destes países, o que veio a ocorrer quando
Nixon renunciou em 1975 em função do escândalo Watergate. Nixon e os
defensores da guerra alertaram que a queda de qualquer um daqueles países
acarretaria a que da de todos os demais – a famosa "teoria do dominó" – o que
acarretaria um banho de sangue no Sudeste Asiático. A esquerda dizia que era
uma mera desculpa para a agressão imperialista. Porém, foi exatamente o que
aconteceu! É só lembrar Pol Tot e seus milhões de cambojanos barbaramente
assassinados. Segundo David Horowitz (op. cit.): “o tempo provou que os
ativistas contra a guerra (e ele tinha sido um deles) estavam trágica e
catastroficamente errados, mas nunca tiveram a decência de admiti-lo”.


O engajamento da elite americana
na convergência a fábrica de mitos produz um dissidente

Era vital criar a figura de um "dissidente" cujo nome e títulos desse total
credibilidade à ofensiva, liquidando com as desconfianças. Esta surgiu através
do mais brilhante físico nuclear soviético, Andreií Sakharov, conhecido como o
"Pai da Bomba Termonuclear (Bomba H) soviética". Genuinamen te preocupado
com o potencial destrutivo que havia desencadeado, foi presa fácil para os
profissionais da desinformação do KGB. Já em 1961 se opusera veementemente
aos planos de Khrushchov de detonar uma bomba de 100 megatons na atmosfera
(até então os testes haviam sido subterrâneos) Há controvérsias quanto ao grau
de participação consciente de Sakharov nos planos soviéticos. O que é certo é
que um regime policial que executava todos os seus dissidentes permitir a total
liberdade de ex pressão, reunião e saídas do país de que Sakharov gozou de 1961
a 1975 é muito suspeito. Teria sido apenas um idiota útil como Einstein e tantos
outros? Colitsyn afirma que não, que era agente do KGB mesmo.

Em 1968 lança seu famoso "Manifesto", Progress. Coexistence, and Intellectual
Freedom (New York: Norton, 1968), também conhecido como Thougbts on
Progress, Peaceful Coexistence and Inlellectual Freedom. Neste, pela primeira
vez, a palavra sblizbienie, convergência, é mencionada, como "aproximação
entre os regimes socialista e capitalista que eliminasse ou diminuísse
substancialmente os perigos (nucleares). Convergência econômica, social e
ideológica possibilitaria uma sociedade democrática e pluralista, cientificamente
governada (...) uma sociedade humanitária que tomaria conta da Terra e seu
futuro. Note-se que estava lançada a base ideológica para o futuro governo
mundial, objetivo final da ofensiva, por um "dissidente", o que dava maior
credibilidade do que se algum líder do PCUS o fizesse. Esta futura sociedade
global seria cientificamente governada: isto é, eliminando todas as religiões
tradicionais ou as substituindo pela "Religião da Nova Era ".

Em 1970 junta-se a Valiery Chalidzie, Igor Shafarievich, Igor Tvierdokhliebov e
Grigorí Podyapolski para fundar o primeiro "Comitê dos Direitos Humanos” que
se espalhariam como praga em todo o mundo, obviamente por ação dos
operadores do KGB. Em 1975 ganha o Prêmio Nobel da Paz, sob "protestos" do
governo soviético. Em dezembro de 1979 Sakharov critica a invasão soviética do
Afeganistão e o governo, numa operação genial de despistamento, tira todas as
suas medalhas e honrarias e o exila na cidade de Gorky, de onde veio a sair em
1986 para assumir o posto de assessor para a Perestrika no Governo de
Gorbachov.

A importância de Sakharov na ofensiva mundial foi inestimável. No Manifesto,
apresentando-se como porta-voz dos dissidentes, ele fizera diversas previsões
como se fossem wishful thinking) de um idealista, mas que não passavam de um
cronograma para disseminação da estratégia já em curso para orientação da
esquerda ocidental. Divulgados como desenvolvimentos espontâneos e
improvisações, escondiam que era a própria essência da estratégia. "Previu" a
vitória dos "realistas" (reformistas de esquerda) sobre os "conservadores" na
URSS, reforçando do lado americano a preponderância dos "convergentes"
socialistas do Partido Democrata.

O resultado esperado era obviamente aprofundar o enfraquecimento moral,
militar e político americano, conquistando a elite americana para a cooperação
sobre meio-ambiente, espaço, desarmamento e solução conjunta de problemas
sociais, econômicos, etc. Acabar com o consen so do "perigo vermelho" e
desestabilizar o complexo industrial-militar americano. Primordialmente
convencer a elite intelectual americana das semelhanças entre os dois sistemas e
da importância da convergência, o que foi facílimo dentro do Partido Democrata
que sempre tivera uma ala socialista importante, a qual pertencia Jimmy Carter.
Após sua posse na Presidência, em 1977, Sakharov envia uma carta a Carter
expondo o ponto de vista soviético sobre direitos humanos e Carter responde
com uma política nitidamente contrária aos interesses estratégicos americanos
abandonando aliados tradicionais como Anastácio Somoza na Nicarágua e o Xá
Mohammed Reza Pahlevi no Irã, sob a justificativa de defender os direitos
humanos que estavam sendo desrespeitados. É claro que ambos eram autocratas
que governavam com mão de ferro seus países, mas o que veio depois foi
infinitamente pior com os Sandinistas e Aiatolás e de quebra, sofrendo uma
vergonhosa invasão da Embaixada de seu Pais em Teerã. Em abril de 1981, já
fora do poder, sua ex-Embaixadora Permanente fia ONU, Jeane kirkpatrick,
numa conferência no kenyon College com o título de "Establishing
a Viable Human Rights Policy detalha a política de Direitos Humanos de Carter
em perfeita consonância com o "dissidente" Sakharov.

Como parte da guerra assimétrica, esta política se voltou somente para os
regimes de força do Ocidente, muito menos destrutivos e assassinos do que os do
mundo socialista, para os quais bastaram alguns protestos de praxe. Logo após
assumir, Carter havia declarado enfaticamente que os EUA estavam agora
“livres daquele exagerado medo do comunismo que antes nos levava a apoiar
qualquer ditador que tivesse o mesmo medo”. O fato é que a estratégia da
convergência estava dando tão certo que em 1978 Cyrus Vance, Secretário de
Estado, declarou à revista TIME que "o Presidente Carter e o Secretário Geral
Leonid Briezhniev partilham os mesmos sonhos e aspirações" (Monica
Charen, Useful Idiots). É impressionante como tal absurdo foi facilmente aceito:
o Presidente de um Pais democrático e um ditador de um regime totalitário
“partilharem os mesmos sonhos e aspirações”. Tornou-se evidente o acerto da
estratégia de doutrinação gramscista da intelectualidade ocidental.

A elite americana já há muito tempo vinha dividida. Quando Richard Nixon, um
ferrenho anticomunista e defensor da escalada no Vietnam, houve por bem
acabar com a guerra e retirar as tropas, o fez muito mais para pacificar o seu País
do que pela ficção hoje tida como senso comum de que a derrota era inevitável.
Era sim, mas não nas selvas vietnamitas: nas Universidades rebeladas e no
Congresso onde os democratas lhe amarravam as mãos, impedindo o ataque às
linhas de abastecimento do Vietcong na região do Bico de Papagaio do
Camboja. Já em 1964, com a guerra recém começada, Barry Goldwater,
Candidato Republicano a Presidente dos EUA declarava: ''Eu teria dito ao
Vietnam do Norte através de folhetos lançados de nossos bombardeiros B-52:
abandonem a guerra em três dias ou da próxima vez que estes 'bebês voltarem
por aqui, jogarão milhares de bombas, reduzindo o Vietnam do Norte a um
pântano (...) Eu preferiria matar um monte de vietnamitas a um único soldado
americano (...) e já os perdemos demais!" (Ann Coulter, Treason). Mas o
eleitorado preferiu reeleger Lyndon Johnson e sua política de apaziguamento e
em nove anos os EUA afundaram num atoleiro sem fim, tendo todas as chances
de ganhar a guerra. Possivelmente os norte-vietnamitas teriam reagido a
Goldwater da mesma forma que os iranianos fizeram quando Reagan foi eleito
com uma campanha de decidido enfrentamento: liberaram os reféns da
Embaixada americana em Teerã no mesmo dia de sua posse! Como fora previsto
pela teoria do dominó todos os países da Indochina caíram em mãos comunistas:
Além do Vietnam, o Laos e o Camboja, este último nas mãos sangrentas de Pol
Tot.

Em 1972, quando Nixon iniciou a détente com a URSS e depois visitou a China,
o fez sem saber que o conflito sino-soviético era apenas cortina de fumaça para
uma aliança do bloco comunista. Nixon e seu Secretário de Estado Henry
Kissinger pretenderam fazer uma cunha no bloco ao abrir relações diplomáticas
e comerciais com a China. Ambos, segundo Golitsyn, foram iludido pelo
“rompimento” entre a URSS e a China que foi reforçado através dos incidentes
na fronteira Namur-Ussuri de março a setembro de 1969. Os dois maiores
exércitos do mundo mobilizaram não mais que poucos milhares de soldados para
tomar uma ilhota de aproximadamente 3 quilômetros de extensão – Damansky,
para os russos, Zhen Bao para os chineses – sem nenhuma importância
econômica ou estratégica. Mas a propaganda indicava que haveria uma guerra
nuclear entre os dois Países. Muitos analistas dizem que o vencedor do conflito
foi os EUA. "Suspeitando" das intenções da URSS, a China teria iniciado
estrategicamente a incrementar suas relações com Washington o que levou os
líderes soviéticos a relaxar as tensões da guerra fria e, finalmente, à détente. Mas
a estratégia era bem outra, atrair capitais americanos para os dois lados que já
viam a falência à frente e permitir o intercâmbio de estudantes e cientistas que
viessem para o Ocidente e voltassem depois de aprendidas as modernas
tecnologias ocidentais e, ao mesmo tempo, tentar doutrinar os que para lá
fossem. A verdadeira vencedora foi a estratégia comunista da convergência.


Vitória da convergência
entre a intelectualidade americana

Foi arrasadora a vitória da estratégia da convergência entre a intelectualidade
ocidental. Antes de chegar à América Latina, objetivo desta série, é preciso
estudar o efeito na intelectualidade americana, o verdadeiro objetivo final da
estratégia. Deixo de lado a Europa e a influência nefasta da maioria dos
intelectuais da Ecole Normale, principalmente de Jean-Paul Sartre, não sem
recomendar a leitura atenta do livro de Raymond Aron O ópio dos Intelectuais e
para um estudo mais detalhado suas Memórias, o livro de Francois Furet, Le
passé d’une Illusion, bem como para entender o que ocorre hoje, A Obsessão
Antiamericana, de Jean-Francois Revel.

Se defender o comunismo, como o fazia Sartre e seus colegas, era uma atitude
antipática para uma grande parte da intelectualidade americana, fazer a apologia
da paz foi extremamente e ficaz. Não mais se defendia um regime já
reconhecidamente tirânico, mas sim A Paz, não como ausência momentânea de
guerra, mas uma paz absoluta, o bem maior da Humanidade. Quem antes era
visto como adversário passou a ser um possível aliado em direção à
convergência: povos que também amavam a paz e precisavam dela para seu
desenvolvimento. Junto com o "entulho" do anticomunismo, jogavam-se no lixo
também os "belicistas" como Patton e Goldwater e dobrava-se Nixon.

Neste último sentido foi muito importante o trabalho de Henry Kissinger que,
apesar de Republicano, movia-se muito melhor entre os liberais de esquerda
sendo o artífice da tão almejada détente e da abertura para a China. Para isto
abandonou os fiéis aliados de Taiwan obedecendo à exigência de Mao Tsé-Tung,
Zhu Enlai e Lin Piao para estabelecer relações diplomáticas com a China
comunista. Vitória diplomática maior da estratégia comunista, impossível.
Kissinger, como Assessor de Segurança e depois como Secretário de Estado
preparou a vergonhosa capitulação em Saigon – segundo Paul Johnson a mais
grave e humilhante derrota em toda a história americana" (Modern Times) – e o
caminho para a futura vitória de Jimmy Carter, o Neville Chamberlain da década
de 70. Com a renúncia do Vice-Presidente Spiro Agnew em 1973, o Presidente
da Câmara de Representantes Gerald Ford foi eleito para este cargo, vindo a
assumir a Presidência com a renúncia de Nixon em 1974. For, um Presidente
bem intencionado, mas fraco foi totalmente manobrado por Kissinger. Desde
então, e até a posse de Reagan, caíram em mãos comunistas o Iêmen do Sul,
Angola, Etiópia, Moçambique, Granada, Nicarágua e Afeganistão. Mas, as a
side effect, Kissinger e Carter levaram cada um o seu Nobel da Paz e hoje
cobram milhares de dólares por conferência.

A política de apaziguamento de Carter voltou-se exclusivamente para combater
as "violações dos direitos humanos" nos países ocidentais e aliados dos EUA,
países que segundo seu Assessor de Segurança, Zbigniew Brzezinski
buscavam"formas viáveis de governo capazes de lidar com o processo de
modernização". Estas formas viáveis, alternativas à democracia ocidental que os
Presidentes dos EUA juram defender, eram todas "formas" de uma coisa só:
comunistas. E apesar da evidência histórica mostrar que os comunistas jamais
haviam vencido uma eleição livre , a esquerda americana, embalada pelo canto
da sblizbienie, persistiu no argumento de que eles representavam a vontade
popular, e aceitavam, aparentemente com ingenuidade, suas palavras de que
estavam buscando os "interesses populares". Apesar das violações dos tais
direitos por parte de todos os países comunistas, principalmente a URSS que
prendia e internava no GULAG seus dissidentes, e a China que os exterminava,
o argumento básico da esquerda americana era de que os EUA também tinham
sua parte de culpa pelas tensões e conflitos internacionais.

Para a maioria dos intelectuais da esquerda americana a Guerra Fria era – e ainda
é – vista como uma confrontação infantil causada por suspeitas sem fundamento
e paranóia de ambos os lados. Os liberais (esquerda americana) não acreditavam
que o seu País estivesse engajado numa guerra entre liberdade e tirania, ou entre
o bem e o mal, mas que era somente uma loucura na qual dois países igualmente
culpados ameaçavam se destruir – elevar toda a humanidade consigo – sem
nenhuma razão. Uma das frases mais ouvidas era “Não podemos pretender dar
lições de moralidade aos outros enquanto houver em nosso País uma criança
faminta, um adulto pobre ou um imigrante analfabeto em qualquer dos 50
estados”. Robert Heilbroner declarou que “o colapso do sistema soviético,
festejado como vitória da liberdade foi também a derrota das aspirações da
Humanidade" e Tom Wicker, do New York Times observava que os EUA
estavam acossados pelo crime, acidentes de tráfego, vandalismo e tráfico de
drogas, portanto "a liberdade não é uma panaceia, e o fracasso do comunismo
não torna o Ocidente numa alternativa per feita, nem ao menos satisfatória para
milhões que aqui vivem" (citado por Paul Hollander, em Anti-Americanism.
Critiques at Home and Abroad).

Esta tática fez história e ainda hoje é empregada, conscientemente pelos
comunistas e seus companheiros de viagem, e inconscientemente até por pessoas
que são sinceramente anticomunistas, mas que são sutilmente trabalhadas no
sentido de compararem os males do comunismo com os do capitalismo. Na mais
absoluta falta de argumentos que justifiquem as atrocidades por eles cometidas,
só resta aos comunistas o recurso de não responder às mesmas, senão atacar de
volta. Como os defensores da democracia e do liberalismo não almejam a
perfeição, é claro que existem muitas falhas num regime que prioriza a liberdade
individual. E fácil perceber as desigualdades sociais, que são produtos das
naturais e inevitáveis desigualdades entre as pessoas. Mas, maliciosamente
chamadas de "injustiças sociais", ficam caracterizadas como produtos do
“sistema capitalista" e da propriedade privada. Característica desta tática foi a
reação ao lançamento,em 1997, do volume O Livro Negro do Comunismo. Sem
conseguir opor nenhuma objeção racional, sem nenhuma contra-pesquisa que
mostrasse os erros do mesmo, lançaram um violento livro panfletário, O Livro
Negro do Capitalismo no qual atribuem ao capitalismo todos os mortos nas
guerras.

Não havia ingenuidade alguma já que a experiência demonstra dia-a-dia a
mesma coisa e Carter continua fazendo das suas – como a homologação do
plebiscito venezuelano fraudado por Chávez – através do Carter Center “for the
advancing of Human Rights and Allevianting Sufferings” (Centro Carter para o
avanço dos direitos humanos e alívio dos sofrimentos). Dos sofrimentos de
todos, menos dos sofredores da China, de Cuba, da Venezuela, da Coreia do
Norte, etc. Obviamente, esta “defesa dos direitos humanos" seletiva significa a
plena vitória da pregação de Sakharov, não por coincidência enviada a Carter e
não a Nixon nem Ford. Numa crítica a esta política, Reagan dizia, em 1977: "Se
os direitos humanos passarão a ser nossa principal preocupação, deveríamos
defender uma visão única e não dupla". Já em 1975, numa das suas audições de
rádio dizia que "nossos forma dores de opinião estão sempre vendo perigos à
direita e parecem cegos àqueles à esquerda". Sobre o regime d aRevolução dos
Cravos em Portugal, Reagan compara o comportamento da mídia com outros
regimes militares menos repressivos, mas à direita: "A mídia está de tal forma
sob preconceitos (antiamericanos) que nem chega a perceber os próprios
preconceitos. (...) Um simples fator é decisivo para sua tomada de posição: o
regime proscreveu o Partido Comunista? Então é ruim! "Caso contrário, é bom
por definição . Se outros partidos fossem suprimidos, nada se falava!


A mudança estratégica na administração Reagan

Após o fiasco do governo Carter o eleitorado americano mandou outro
"belicista" para a Casa Branca: Ronald Reagan. Já no discurso de posse ele
deixou claro, como a frase em epígrafe, que as coisas iam mudar, que o papel
dos EUA no mundo deixaria de ser o de uma nação acuada pelo comunismo,
como fica claro também no discurso sobre a corrida armamentista, dois anos
depois, perante a Associação Evangélica nacional, quando pela primeira vez se
referiu à URSS como o “império do mal”. Convoco-os a se precaverem contra a
tentação do orgulho – a tentação de tranqüilamente se declararem acima de todos
os demais e rotular os dois lados como culpados, a ignorar os fatos da história e
dos impulsos agressivos do império Jornal, de simplesmente chamar a corrida
armamentista um grande mal-entendido e por isto se retirarem da luta entre o
certo e o errado, entre o bem e o mal".

Monica Charen (op. cit.) relata que o termo impérioJo mal provocou uma
tempestade de desprezo por parte da esquerda americana. Strobe Tal-bot, da
revista TIME, mais tarde Sub-Secretário de Estado de Clinton, pôs o dedo na
ferida: "Quando um Chefe de Estado fala desta maneira, ele mexe com as
inseguranças soviéticas". Mas a insegurança tinha sido mexida muito antes, logo
no primeiro ano da administração. Se gundo Lee Edwards (To Preserve and
Protect) na biografia de Edwin Meese III, um dos mais importantes assessores
de Reagan, "Dois eventos claramente visíveis nos primeiros nove meses da
administração Reagan alertaram a nação e o mundo que havia agora um
Presidente muito diferente. Foram eles a aprovação (pelo Congresso)
do Economic Recovery Tax Act (com um corte geral de impostos da ordem de
25% que reativou a economia estagnada por Carter), e a maneira firme com que
enfrentou a greve dos controladores de tráfego aéreo (fazendo cumprir a lei que
proibia a greve no serviço publico, demitindo sumariamente os faltosos). (...) A
decisão de demitir os controladores de vôo havia tido um efeito de alerta sobre
os líderes soviéticos que perceberam que não apenas por discursos, mas por atos,
Reagan devia ser tratado seriamente como um Presidente que "iria aos limites
extremos para defender seus princípios".

“E um terceiro evento altamente confidencial, pelas suas consequências numa
pequena reunião na Casa Branca sobre as defesas antimísseis”. Desta reunião
altamente secreta na Casa Branca resultou a Strategic Defense Initiative (SDI)
que se tornou mais conhecida pelo nome que lhe deram seus opositores: Guerra
nas estrelas, porque grande parte seria baseada no espaço. Reagan não se sentia
satisfeito em confiar na estratégia que até então imperava, denominada
sugestivamente de MAl), de Mutual Assured Destruction (Garantia de
Destruição Mútua), baseada em manter os dois lados amedrontados de, caso
atacas se, ser retaliado e destruído. O SDI, por outro lado, garantia aos EUA uma
segurança extra, pois permitia destruir os mísseis de um eventual ataque inimigo
antes de atingirem o território e os próprios silos de mísseis americanos. Este
último era o ponto crucial, além de defender a população civil e as cidades, um
ataque bem sucedido aos silos dos ICBM (Intercontinental Ballistic Missiles) –
mísseis balísticos intercontinentais – deixaria os EUA indefesos – seja frente a
uma nova salva de mísseis, seja à invasão por guerra convencional.

Pela primeira vez os EUA desenvolviam uma estratégia anti-soviética, não mais
uma política dissuasiva de duração limitada, pois o desdobramento do complexo
SDI foi planejado para durar várias administrações. Reagan mostrava que só
negociaria partindo de uma posição de força, podendo retaliar quaisquer ataques
traiçoeiros. O Presidente conhecia muito bem o significado de tratados e
conversações para os comunistas: nada mais do que papéis para serem rasgados
tão logo tenham sido úteis aos seus planos. Mas, posteriormente acabou se
deixando ludibriar num ponto crucial: a farsa chamada Perestroika.

CAPÍTULO 9

A última fase da estratégia:
a Perestroika




Uma estratégia de longo prazo não pode prever e muito menos determinar os
acontecimentos de modo que eles "caibam" nos planos, mas sim estar preparada
para a necessária mudança dos planos de acordo com a evolução dos
acontecimentos que lhes são externos. A eventual reeleição de Carter permitiria
que continuasse o mesmo jogo de convergência com o reconhecimento de áreas
de comum acordo. Em 1975, face ao desenvolvimento de novos mísseis
soviéticos de alcance intermediário – com raio de ação que permitia atingir toda
a Europa Ocidental – os SS-20 – a administração Carter entrara em negociações
com a URSS que obviamente não levariam a lugar algum. Reagan não hesitou e
pressionou os países da OTAN a permitirem o posicionamento em seus
territórios, a partir de 1983, de 464 mísseis de cruzeiro (Cruise Missiles) e 108
mísseis balísticos Pershing II, simultaneamente com o estabeleci mento de
reuniões bilaterais para a redução dos dois lados.

Gorbachov no seu livro Perestroika: Novas Ideias para Meu País e o Mundo,
afirma que após uma distensão nas relações entre os dois países na década de
setenta, houvera uma rápida deterioração no início da década de oitenta,
coincidente com a posse de Reagan em 20 de janeiro de 1981. Com esta brusca
virada na estratégia americana, urgia alguma medida que fizesse face a ela, além
do que o lançamento do programa IDS tornava a com petição em armamentos
previamente ganha pelos EUA, pois a URSS não tinha condições econômicas
nem tecnologias de desenvolver um sistema igual. Tentativas neste sentido
exigiram um esforço desproporcional às possibilidades soviéticas, já levadas ao
limite máximo. A URSS estava em vias de um levante popular simplesmente por
falta de comida. E isto revelaria ao mundo que o o governo soviético não
defendia causas populares mas apenas os interesses da casta dirigente,
a Nomenklatura.

Foi aí que se revelou a importância de uma estratégia de longo prazo, pois o
passo já estava previsto desde o início da formulação da estratégia em 1958: o
lançamento de uma vasta campanha de desinformação que mais uma vez
desmoralizasse os sentimentos anticomunistas, novamente em expansão na Era
Reagan. Na verdade, já estava previsto desde a década de trinta, como já vimos
na citação de Dmitrií Manuilsky, tutor de Khrushchov, no Capítulo 2 (A
Campanha Mundial pela Paz).

Os comunistas conhecem muito bem as fraquezas dos regimes democráticos e as
exploram, principalmente duas: a dependência da opinião pública e de eleições
regulares com a mudança periódica de políticas pela mudança de governos.
Como a Nomenklatura não precisa se preocupar com estas bobagens burguesas,
tem tempo de planejar prevendo estas mudanças e inclusive atuar na opinião
pública dos inimigos através dos "formadores de opinião".

E claro que uma parte desta estratégia consistia em convencer o Ocidente de que
não havia estratégia alguma e condenar todos que a isto se referissem como
seguidores de uma ridícula "teoria da conspiração". Reagan já havia percebido
isto, pois numa audição radiofônica de março de 1978 (op. cit.) dizia com sua
fina ironia: "Muitos anos atrás, quando os americanos estavam bem conscientes
das ameaças de subversão comunista, reuniu-se um grande congresso em
Moscou (...) (possivelmente o referido Congresso dos 81 partidos) que adotou
um plano para lutar contra o anticomunismo. Uma parte deste plano era dirigida
aos EUA e sugeria uma campanha sutil que tornasse o anticomunismo fora de
moda (…) até que os anticomunistas viessem a ser ridicularizados como idiotas
caçadores de bruxas que procuram comunistas até embaixo da cama… vocês
podem repetir isto mas, por Deus, não lhe dêem nome de conspiração (…)
Qualquer pessoa que deixe escrever em público que acredita numa ‘teoria da
conspiração’ estará se jogando no mar sem salva-vidas”.

As relações dos EUA com os países comunistas sempre se pautaram pela
oscilação entre enfrentamento e pacificação, correspondendo aproximadamente,
mas não exatamente, às administrações Republicanas e Democratas. Os
soviéticos, e hoje os chineses, estão preparados para mudar sua tática de acordo
com estas mudanças, porém perseguindo os mesmos objetivos estratégicos.

A Perestroika não passou de uma continuação da mesma estratégia que se
desenvolve desde 1958. Como já disse anteriormente, o termo reestruturação não
explica à aparência de "profundas" transformações no mundo comunista, mas
exclusivamente da reestruturação da visão que o Ocidente tem do mundo
comunista, fazendo acreditar na dissolução da ideologia comunista e no lim da
Guerra Fria, removendo o "inimigo soviético" das mentes ocidentais,
principalmente nos EUA. Eliminando-se o anticomunismo elimina-se a
necessidade de armamentos, pois estes não têm sentido sem "inimigos". Golitsyn
já previra em 1961 a possibilidade de ser derrubado o muro de Berlim, uma troca
teatral de dirigentes (a tentativa de golpe contra Gorbachov para dar a ele mais
credibilidade) e a proscrição do PCUS, o que veio a ser feito por Boris Yeltsin.

Estas ações bombásticas serviam primordialmente para criar a impressão de que
a burocracia soviética estava se tornando mais democrática e ocidentalizada,
influenciando o Congresso americano a introduzir mudanças reais na burocracia
americana, inclusive e principalmente na CIA, e diminuir os orçamentos das
Forças Armadas, Estratégicas e de Segurança. Antes de tudo convencer o
Congresso americano a paralisar o programa “Guerra nas Estrelas”, e criar
condições para real cooperação entre o KGB e os serviços ocidentais
correspondentes. Ao final do mandato era imperioso substituir Yeltsin por um
Confiável tchekista que veio a ser Putin. Putin interrompeu a abertura dos
arquivos secretos, liquidando assim com a pérola a ser vendida ao Ocidente:
a glasnost, transparência, que sempre foi muito limitada.

Dentro da URSS nada mudara no essencial. Além da campanha contra o
anticomunismo e o abandono da ditadura do proletariado e sua substituição por
um "governo de todos", houve também uma mudança de foco que ajuda a
confundir a "oposição”, e dissimular a estratégia, fornecendo combustível para
os idiotas úteis continuarem acreditando que o comunismo acabou. Como a
ideologia é totalmente amorfa e protéica, adaptando-se a qualquer necessidade,
pois o que interessa é manter a Nova Classe no poder, o foco classista –
ideologia do – que já havia mudado sutilmente para a "defesa da paz" e
posteriormente para a "defesa dos direitos humanos" – mais uma vez encontra
"excluídos” e "oprimidos” para defender: as "minorias" raciais e sexuais, os
doentes mentais (vide movimento antimanicomial), os aidéticos, os drogados e
quem mais sirva para seus propósitos. Até as minorias religiosas servem, embora
variem de país para país. Acaba se transformando numa "ideologia dos
esquisitos", dos que se sentem anormais – fora das normas sociais – os
alternativos, todos os que odeiam a normalidade e a liberdade e se sentem por
elas oprimidos. Ao invés de tentarem se adaptar ou aceitar o mundo como ele é,
encontram na velha ideologia do proletariado as ferramentas de ataque às
normas para obrigar às maiorias a se curvarem à anormalidade, à esquisitice, a
formas "alternativas" de qualquer coisa, enfim, acreditam que destruindo a tão
odiada normalidade livrar-se-ão do terrível sofrimento que os oprime. Triste
ilusão. E triste fim para a outrora tão "gloriosa e heróica ideologia do
proletariado”!

***

É impressionante o sucesso obtido por esta maluquice em poucas décadas em
todo o Ocidente. Nos EUA onde a estratégia encontrou eco consciente, de má-fé,
numa intelectualidade hipócrita que parou de pensar quando buscou os rendosos
empregos nas Universidades e nas Faculdades, ficando abjetamente aos pés dos
metacapitalistas em busca de poder através da destruição da própria sociedade
que os gerou e agora não mais lhes interessa. Interessa o poder mundial, tomar
conta da ONU e de todos os organismos internacionais. E para tal encontraram
bravos cúmplices na Nova Classe comunista aos quais financiam largamente
através das mesmas Fundações multimilionárias – Ford, Rockfeller, Soros,
Tides, Carnegie Endowment (que já foi presidida pelo espião Alger Hiss),
IANSA. Entre elas a Fundação Internacional para a Sobrevivência e
Desenvolvimento da Humanidade, para pesquisa sobre o meio ambiente,
poluição, direitos humanos,controle de amas – s desarmamento dos cidadãos de
bem – e desenvolvimento econômico socialista, e outras joint-ventures USA-
URSS que persistiram após a 'queda do muro". Basta ver como certos sensos
comuns se solidificaram de tal maneira que parecem sempre haver existido. Por
exemplo, a de que o crescimento econômico só se justifica se houver
"distribuição de renda", eliminando o sentido capitalista anterior de crescimento
pelo desejo do capitalista de possuir mais, o verdadeiro fator que diminuiu a
pobreza no mundo, pois significa investimento produtivo e empregos na
iniciativa privada. Isto ofende àqueles que aspiram ser apenas funcionários
privilegiados da Nova Classe de um opressivo governo mundial. Não passa um
mês sem que a ONU ou suas congênere se afiliadas não publique um relatório
mostrando que, "apesar do crescimento, aumenta a desigualdade e a injustiça
social".

Sua influência se faz sentir desde a infância para formar pequenos robôs a seu
serviço. É estarrecedora a reestruturação da educação americana: incutem desde
os primeiros passos a idéia da necessidade de uma total transformação da
Sociedade, equacionam cidadania americana com interdependência internacional
l, cidadania mundial. global O Bem deixa de ser um alto valor moral tradicional
para ser apenas sinônimo de global.

A expressão pessoal máxima destes fenômenos é Mikhail Sergeycvitch
Gorbachov e sua crescente influência nos negócios mundiais. Mas a ver dade
seja dita: Mikhail Sergeyevitch disse claramente o que pretendia Já nas primeiras
páginas de seu livro deixa claro que a fonte ideológica da Perestroika não é nada
de novo, mas um retorno a Lenin "Lenin continua a viver nas mentes e corações
de milhões de pessoas (...) Voltar-se para Lenin estimulou grandemente o partido
e a sociedade em sua busca por explicações e repostas às questões que surgiam".
Só não leu quem não quis.

CAPÍTULO 10

A primeira etapa:
fase de transição do padrão
de violência para o de
não-violência (1968-1989)


Quem se defende mostra que sua força
é inadequada, quem ataca, mostra que ela é abundante.
Sun Tzu





O Ato Institucional n° 5, de 13 de dezembro de 1968, foi o principal instrumento
para frear a ofensiva guerrilheira e terrorista dando poderes excepcionais aos
governos da Junta Militar, que assumiu por doença do Presidente Arthur da
Costa e Silva, e ao de Emílio Garrastazu Medici (1969-1974). Ao fim do
governo deste último as forças guerrilheiras se encontravam desbaratadas. A
junta Militar assumiu em 31/8/1969 tendo entregado o Governo a Médici, eleito
pelo Congresso, em 30 de outubro do mesmo ano. Neste intervalo, dois grupos
de esquerda, o MR-8 e a ALN sequestram o embaixador dos EUA Charles Burke
Elbrick, exigindo a libertação de 15 presos políticos, exigência conseguida com
sucesso. Neste ano os atos terroristas e a agitação estudantil chegaram ao auge.
Porem, em 18 de setembro, o governo decreta a Lei de Segurança Nacional. Esta
lei previa o exílio e a pena de morte em casos de "guerra psicológica adversa ou
revolucionária, ou subversiva". No final de 1969, o líder da ALN, Carlos
Marighela, foi morto pelas forças policiais em São Paulo. O governo Médici é
considerado o mais duro e repressivo do período. O DOI-Codi (Destacamento de
Operações e Informações-Centro de Operações de Defesa Interna) atuava como
centro de investigação e repressão ao terrorismo do governo militar. Ganha força
no campo a guerrilha rural, principalmente no Araguaia que é fortemente
reprimida pelas forças militares.

Hoje se alardeia que foram "anos de chumbo" (Negrão Torres, O Fascimo dos
Anos de Chumbo) período de uma "feroz ditadura". Sem dúvida o AI-5 e a Lei
de Segurança Nacional foram instrumentos de exceção, ditatoriais Mas não é
pelos seus aspectos ditatoriais que são hoje combatidos pela mídia, mas por seu
caráter anti-revolucionário. O que se faz supor hoje em dia é que o País estava
tranqüilo, vivendo em paz, e um punhado de mal vados resolveu acabar com a
farra e estabelecer uma cruel ditadura. Na verdade, foram instrumentos de
exceção para fazer face a uma situação de exceção, revolucionária, e com isto
negaram aos guerrilheiros e terroristas a possibilidade de utilizar a guerra
assimétrica que sempre os beneficia. Os instrumentos criados pelo governo
cortaram na raiz qualquer possibilidade de se estabelecer uma guerra
assimétrica. O governo não apenas se defendeu, como os guerrilheiros e
terroristas esperavam, mas atacou, se guindo a máxima de Sun-Tzu. O
desbaratamento da guerrilha foi acompanhado acertadamente por um plano
desenvolvimentista que fez o País crescer a taxas aceleradas, trazendo o antídoto
mais eficaz para barrar as idéias comunistas: um povo com emprego e
perspectiva de futuro não dá a mínima para ideais comunistas, com exceção dos
"intelectuais” que não toleram exatamente este estado de coisas, vide a
insignificância do Partido Comunista americano.

Uma outra falácia sobre aqueles anos é a de que o governo combatia defensores
da democracia, que queriam"derrubara ditadura" para transformar o Brasil numa
belíssima democracia. Só os incautos ou mal intencionados não se dão conta de
que tais movimentos eram financiados pelas mais ferozes de todas as ditaduras
da história da humanidade: URSS. Cuba, China, Tchecoslováquia, Alemanha
Oriental, Albânia etc. e o que procuravam implantar no Brasil era um regime
como aqueles que o financiavam. Ou alguém é suficientemente ingênuo para
acreditar que aquelas ditaduras iriam financiar democratas? Mas aqui já estamos
em plena fase de transição para o padrão de não-violência, para a revolução
cultural baseada em Antonio Gramsci.

CAPÍTULO 11

O eixo do mal Latino Americano:
o foro de são Paulo





Ao usar a expressão "eixo do mal", o Prof. Menges certamente usava as mesmas
palavras com que o Presidente George W. Bush havia se referido aos países que
abrigavam terroristas – Iraque, Irã e Coréia do Norte, no discurso State of the
Union de 20 de janeiro do mesmo ano. Porém, a primeira vez que um Presidente
dos EUA havia feito referência a algo do mesmo teor – Império do Mal – foi no
discurso já citado do Presidente Ronald Reagan na National Association of
Evangelicals. Quando Bush usou em 2002 também enfrentou a mesma oposição
tendo Warren Christopher, um dos idealizadores do Diálogo Interamericano, dito
que esta frase "era o sonho de todo escritor de discursos, mas o pesadelo de
qualquer político". Para o ataque a Menges no Brasil foram escalados alguns
intelectuais orgânicos – como Márcio Moreira Alves que no Globo desancou o
artigo do Washington Times como se fosse um jornaleco de segunda categoria –
vende muito mais que o Globo, onde a acusação foi feita.


A existência do Foro

Depois de, juntamente com todos os petistas e aliados, negar peremptoriamente a
existência do Foro de São Paulo e de ter inclusive proibido autoritariamente
Bóris Casoy de mencioná-lo ainda como candidato. Lula com seu canhestro
linguajar abre o jogo. Possivelmente porque a criança já cresceu, é um adulto e
ninguém mais ousará pôr em cheque suas determinações. Com as raízes fincadas
e a árvore bem crescida, é hora colher os frutos já maduros.

Sabe também o Presidente que neste País não existe oposição, mas um grupo de
poltrões que esganiçam suas arengas como velhotas de aldeia, mas nada fazem
se ganharem carguinhos mesmo chinfrins e algumas regalias! Entende-se que o
PSDB, que de oposição não tem nada, pelo contrário é interessado direto, nada
diga. Mas o que dizer do PFL (hoje Partido Democrata) e outros que se dizem
oposicionistas e ficam discutindo chequinhos carregados por secretárias e
dólares em cueca e sequer tentam apurar o que é o Foro? Se alegarem que não
sabem é porque são mentirosos, burros ou só querem mesmo aquilo que o povo
suspeita seja seu único interesse: gritar com o único fito de "se arranjar", de
mamar mais ainda no dinheiro suado dos brasileiros. Que não lessem o que
escrevemos em Mídia Sem Máscara vá lá! Mas nem tomarem conhecimento dos
discursos do próprio Presidente da República? São políticos ou idiotas? Imagine-
se o que dirá um parlamentar europeu ou americano ao saber que seus colegas
(sic) brasileiros não tomam conhecimento do que diz o Primeiro Mandatário?!
Os discursos de Bush, Blair, Chirac, etc., mesmo em quermesses ou em festinhas
de criança, são dissecados pelos jornalistas, políticos e analistas políticos. Ainda
mais quando o discurso é feito numa organização internacional como o Foro.

Pois se tivessem interessado saberiam o que Lula falou sobre a verdadeira
finalidade do Foro: “Foi assim que nós pudemos atuar junto a outros países com
os nossos companheiros do movimento social, dos partidos daqueles países, do
movimento sindical, sempre utilizando a relação construída no Foro de São
Paulo para que pudéssemos conversar sem que parecesse e sem que as pessoas
entendessem qualquer interferência política.”

É dentro desta estratégia que se deve enquadrar o governo petista: não como um
governo nacional simplesmente, mas sim, como engrenagem de um mecanismo
maior com uma estratégia definida de conquista continental para instalação de
uma união de repúblicas socialistas. Como nenhum governo comunista desde
1917 foi um governo nacional normal, mas apenas parte de um todo orgânico
avassalador. A própria política econômica de submissão ao capital internacional,
levada a efeito pelo ex-Ministro, Antonio Palocci – que quando Prefeito de
Ribeirão Preto autorizou a instalação do primeiro escritório de representação das
Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia (FARC), integrante do Foro –
não surpreendeu nem é indício de guinada à direita do regime, já que é apenas
uma fachada de gradualismo que está inserida numa estratégia mais ampla.
Palocci saiu, mas o Presidente do Banco Central, Meirelles, continua mais firme
do que nunca, até com status de Ministro para ter foro privilegiado em caso de
processo.

Esta estratégia precisa ser mantida em segredo e para isto conta com uma mídia
em sua maioria obediente porque ideologicamente cooptada e o restante
manietado por dívidas a órgão oficiais. Chama a atenção que os grandes meios
de comunicação brasileiros, que enviaram dezenas de jornalistas à última
reunião em São Paulo de 1 a 4 de julho, não tenham publicado informações e
comentários sobre esses importante temas ideológicos abordados no FSP, que
são os mais importantes e fundamentais, havendo limitado-se a cobrir o
relacionado com as denúncias de corrupção. Pois nesta reunião, Marco Aurélio
Garcia destacou a irrupção dos chamados “movimentos sociais”enquanto “novos
atores” do cenário político. Elogiou a "efervescência dos mesmos e reconheceu
que via como "positivas" as "grandes desestabilizações" provocadas por esses
"novos atores" nos últimos anos, em países como Bolívia, Equador, Argentina,
Uruguai, etc. Declarou com todas as palavras que "o Estado de Direito não pode
transformar-se em uma camisa de força da democracia" e que, por isso, via as
referidas "desestabilizações" como uma "expansão da democracia", assim como
um instrumento para "quebrar as hegemonias". Portanto, se o marco institucional
que dizem respeitar lhes causa problemas ou lhes põe limitações, então os
"movimentos sociais", que eles mesmos teleguiam se encarregariam de destruí-
lo, por bem ou por mal. É a estratégia das pressões de cima e de baixo descrita
no Capítulo 2. Enquanto os de cima fingem defender as instituições, financiam e
estimulam os de baixo para destruí-las.

Garcia elogiou os movimentos guerrilheiros marxistas da América Central,
dizendo que tinha que "tirar o chapéu" ante os casos da Guatemala, de El
Salvador e da Nicarágua, países nos quais atualmente existiria a democracia
como"resultado de grandes lutas, inclusive armadas". Como se a meta desses
movimentos guerrilheiros tivesse sido a democracia e não o comunismo e a
primeira tendo surgido como resultado da derrubada do último – como na
Nicarágua – ou do esmagamento das forças rebeldes comunistas – como em El
Salvador e Guatemala.

E também foi sonegada a declaração "Valorizamos a materialização e a
perspectiva da Alternativa Bolivariana para a América que já se pode apreciar
em primeiro lugar nos Convênios entre a Venezuela e Cuba, – porém podem
também identificar-se no Convênio Integral de Cooperação entre Argentina e
Venezuela, na aliança estratégica Brasil-Venezuela (…), nos acordos de criação
da TeleSul, Petro Sul e o mais recente ainda, firmado pela Venezuela e os países
do Caribe: Petro Caribe (...)”.

Os leitores que não tiverem suas mentes burrificadas pela doutrinação gramscista
e tiveram a paciência de ler as próximas páginas, entenderão melhor o que se
passa neste país e o interesse do Foro na eleição “do companheiro Lula” e na sua
manutenção no poder.


Os Primórdios

Embora não seja uma organização secreta, a documentação acerca do FSP
jamais teve ampla divulgação, tendo sido inicialmente publicado apenas na
edição domestica do Granma, órgão oficial do Partido Comunista Cubano. Na
edição internacional nada transpirou. Mais tarde, passou a ter algum tipo de
noticiário restrito em poucos jornais de alguns países e, até numa revista, quase
de circulação interna, chamada "América Libre", dirigida por Frei Beto, editada
na Argentina.

O Foro nasceu em julho de 90, mas foi concebido em janeiro de 89, em reunião
de cúpula do PC de Cuba e PT do Brasil, onde ficou estabelecido que, se Lula
não ganhasse as eleições em novembro de 89, deveria ser formada uma
organização para coordenar Ioda a esquerda continental e a liderança do
processo caberia a ele. Collor não tinha surgido. O receio, na ocasião, era de uma
reviravolta a favor de Brizola, não confiável para o projeto que estava delineado
para que "fosse conquistado, na AL, uma espécie de contrapartida, do que já se
antevia, nessa reunião, ou seja, o que a URSS iria perder no Leste Europeu”.
Para Fidel, o Muro já estava balançando, com o que estava ocorrendo na
Polônia, depois da eleição do Papa João Paulo II. Com a vitória de Collor, foi
organizada a primeira reunião da esquerda continental no Hotel Danúbio em SP.
Sua criação, entretanto, foi precedida de algumas visitas estratégicas em Itaici,
sede dos encontros por Frei Beto, levando a cúpula do partido comunista cubano,
que viera à fundação do Foro, a uma reunião com o Cardeal Evaristo Arns, da
qual veio a ser enviada carta de simpatia ao ditador Fidel Castro.


A Fundação

Marco Aurélio Garcia (MAG) é o personagem mais à sombra do governo Lula.
Não obstante, é um dos mais importantes, estando encarregado da formulação da
política externa, pois o Ministro das Relações Exteriores não passa de uma
marionete. Na cerimônia de formatura dos novos diplomatas brasileiros e de
entrega por Lula da Ordem do Rio Branco em 2005, finalmente Lula reconheceu
isto. no seu discurso deixou bem claro que o Brasil tem duas linhas paralelas de
política externa: uma, a oficial, comandada pelo Itamaraty e a outra extra-oficial
e até certo ponto secreta, comandada pelo "companheiro" MAG, que tem
liberdade para conversar com as oposições aos governos constituídos.

"E, para nossa felicidade, muitos companheiros que eram militantes de esquerda
na década de 80 estão se transformando em governo. Então nós passamos a ter
uma relação privilegiada com presidentes e com ministros que eram militantes,
junto conosco, do Foro de São Paulo, tentando encontrar uma saída democrática
para a esquerda na América Latina.

Exilados no Chile e participante ativo do MIR, Movimiento de Izquierda
Revolucionaria, organização terrorista, MAC foi o intermediário entre Allende e
Fidel Castro no contrabando de armas cubanas para "defender a revolução
socialista" no Chile (Estado deSão Paulo, 6/1/2000). Em 1990, por ordem de
Castro, convocou para o encontro já mencionado em São Paulo todos os grupos
esquerdistas da América Latina e do Caribe. Compareceram representantes de 48
partidos comunistas e grupos terroristas que se reuniram no Hotel Danúbio, na
Capital. Estava fundado o Foro de São Paulo, organização que desde então
coordena toda a esquerda na região com a finalidade precípua e declarada de
retomar na AL o que foi perdido no Leste Europeu. Os co-Presidentes são Fidel
Castro e Lula, – MAG é o Secretário Executivo e ocupa um dos principais
gabinetes vizinhos ao de Lula no Palácio do Planalto, de onde controla e
coordena todos os grupos guerrilheiros e terroristas desde o Rio Grande
(fronteira entre EUA e México) até a Patagônia.

Seus contatos com as Fuerzas Armadas Revolucionárias de Colombia (FARC) e
com o Ejército de Liberación Nacional (ELN) são freqüentes, alguns em Havana
com a presença de Fidel. Nas semanas que se seguem a estes encontros houve
um incremento das atividades guerrilheiras. É de sua autoria a resolução de
"ratificar a legitimidade, justiça e necessidade da luta das organizações
revolucionárias colombianas (FARC & ELN) e expressar nossa solidariedade
com elas". Também foi o mesmo Garcia quem, logo após a vitória de Lula,
viajou para Caracas e Havana para fazer seu relatório aos patrões, talvez dizer
“dever cumprido" pois a meta maior de Castro – e também de Chávez – era a
eleição do companheiro Lula para Presidente do mais importante País da AL.
Imediatamente Chávez radicalizou suas ações e estourou a greve da estatal de
petróleo venezuelana PDVESA com a paralização das refinarias. Quem salvou o
dia? O indefectível MAG que conseguiu um petroleiro da Petrobras e promessa
de outros mais.

Alem de ativista é um teórico respeitado nos círculos comunistas inter nacionais.
Um dos seus artigos corre mundo –, "O Manifesto e a Refundação do
Comunismo" (in Teoria e Debate, 26/01/2001) onde declara expressamente: Um
novo pensamento crítico não negará o passado, aprenderá com seus erros, mas
sobretudo saberá resgatar nas experiências das revoluções desses últimos
séculos, as esperanças, a generosidade e o brilbo Que iluminou mesmo as noites
mais escuras. Se esse novo horizonte buscado ainda se chama comunismo, está
na hora de sua refundação.

É hora, portanto, dos anticomunistas fazerem o mesmo: perderem os escrúpulos
de usar a palavra certa – comunista e não socialista ou populista – para os
adversários que não constituem apenas um grupo político como qualquer outro,
mas a quintessência dos impulsos destrutivos contra a civilização ocidental
judaico-cristã que nos legou a liberdade de pensamento, a liberdade econômica,
o regime democrático, o espírito científico, a filosofia, enfim, tudo que
representa um bem para o Ocidente. É preciso também, como dizia Reagan, os
anticomunistas não aceitarem pelo valor de face o argumento relativista de que o
capitalismo também tem suas mazelas, pois nenhum regime é perfeito – mas
compreender que isto não passa de um sofisma e firmemente defenderem-no
como o regime infinitamente melhor do que qualquer outro! É preciso,
finalmente, os anticomunistas romperem as amarras do gramscismo com as
quais estão paralisados e partirem para o ata que – antes que seja impossível
vencer as avalanches catastróficas da maldade comunista.

Uma das principais reuniões do FSP foi o IV Encontro, em 1993, realizado em
Havana depois do Pacto com o Diálogo Interamericano. Embora tivesse se
passado se passado apenas três anos o número de participantes crescera para
112, afora os convidados de outros continentes, e já candidatos a presidente na
maioria dos países onde haveria eleições nos seguintes 20 meses.

As decisões foram, fundamentalmente, três. Primeiro, decisão incondicional de
todas as forças ali reunidas, no sentido de dar todo o apoio a Cuba, durante o
período especial decorrente da cessação do auxílio soviético e do leste europeu,
inclusive com a compra de remédios e estímulo ao turismo. O então Presidente
Itamar Franco, visitado por Lula, adquiriu 300 milhões de dólares em remédios
antiquados que para nada servem alem de encher os bolsos da quadrilha cubana.
Firmou também convênios de assistência médica familiar com Municípios, etc.

Segundo, concentração de esforços de todas as forças do Foro para eleger Lula,
tendo em vista a necessidade de uma base territorial e de um governo de
expressão, para dar suporte ao que viria a ser uma espécie de União ou
Federação (nome dado por Chávez), das Repúblicas Socialistas da AL facilitada
pela quase unidade linguística. No âmbito da imprensa resolveu-se mobilizar
todos os jornalistas de esquerda (a quase unanimidade na AL) para escrever a
favor de Lula maquiando sua imagem. Jorge Castaneda, ex-assessor de Lázaro
Cárdenas, um dos líderes do Foro e ligado aos zapatistas, viria a coordenar
um pool de jornalistas em toda a imprensa latino-americana .

O terceiro objetivo definido era impedir o desenvolvimento da Nafta, tratado de
livre comércio de iniciativa americana, que iria entrar em vigor no dia primeiro
de janeiro de 94, no México, com provável expansão para outros países,
colocando-se a luta dentro do tema do combate ao neoliberalismo por todas as
formas possíveis. Nesse mesmo dia, certamente não por coincidência, ocorreu o
levante zapatista no México. Esta resolução dava força total ao movimento, pois
garantia que todos os países envolvidos o apoiariam contra o governo mexicano.

I Encontro - São Paulo - Brasil - 1990
II Encontro - Cidade do México - México - 1991
III Encontro - Manágua - Nicarágua – 1992
IV Encontro - Havana - Cuba – 1993
V Encontro - Montevidéu - Uruguai - 1995
VI Encontro - San Salvador - El Salvador – 1996
VII Encontro - Porto Alegre - Brasil – 1997
VIII Encontro - Cidade do México - México - 1998
IX Encontro - Manágua - Nicarágua - 2000
X Encontro - Havana - Cuba - 2001
XI Encontro - Antigua - Guatemala - 2002
Seminário em Manágua - 2004
XII Encontro - São Paulo - Brasil - 2005 - com grande festa pelos 15 anos de
existência da Organização.

Nos anos de 1994, 1999 e 2003 não houve encontros. Em 2004 ocorreu um
Seminário, em comemoração aos 25 anos da Revolução Sandinista, mas o Grupo
de Trabalho, que prepara a "pauta" dos próximos encontros reuniu-se, nos dias
17 e 18 de julho de 2004, deliberou e emitiu diversas resoluções.

Em 23 e 24 de abril de 2005, aconteceu a "Reunião da Região Mesoamericana",
na Guatemala, com participação da Frente Farabundo Marti para Ia Liberación
Nacional (FMLN) de El Salvador, Frente Sandinista de Liberación Nacional
(FSLN) da Nicarágua, Partido de Unificación Democrática (UD) de Honduras
e Alianza Nueva NaciónANN e Unidad Revolucionaria Nacional
Guatemalteca (URNG) da Guatemala.


Estratégia atual do gradualismo
para esconder o objetivo final comunista

Pode-se ver claramente que o anunciado por Garcia segue sendo a estratégia
permanente do grupo e já prevista durante a campanha por Menges (e apontada
por mim no Capítulo II): o gradualismo do governo Lula não passa de tática
diversionista, é o significado de "no início ter que aceitar certas coisas". Na
última reunião do FórumSocial Mundial, emPortoAlegreem1995, durante a
palestra de Chávez, uma parte dos presentes em vários momentos vaiou o
presidente Lula, e gritou palavras de ordem acusando-o de traição às suas
promessas eleitorais. Chávez saiu em defesa de Lula, explicando com todo
cuidado que, "nas atuais circunstâncias, o gradualismo é uma estratégia
necessária dos governantes esquerdistas para se fazerem aceitar aos poucos, sem
causar rechaço na população, – e que erros de excessiva velocidade podem ser
fatais para o processo revolucionário. Na Venezuela, em especial nos primeiros
dois anos de governo, as pessoas cobravam mudanças, queriam mais rápido,
mais radical. Considero que não era o momento, porque há fases nos processos,
há ritmos que não têm a ver só com a situação interna do pais. mas com a
situação internacional".

Chávez certamente agradecia o que Lula e o Foro fizeram por ele: "...em janeiro
de 2003, propusemos ao nosso companheiro, presidente Chávez, a criação do
Grupo de Amigos para encontrar uma solução tranqüila que, graças a Deus,
aconteceu na Venezuela. E só foi possível graças a uma ação política de
companheiros. Não era uma ação política de um Estado com outro Estado, ou de
um presidente com outro presidente. Quem está lembrado, o Chávez participou
de um dos foros que fizemos em Havana. E graças a essa relação foi possível
construirmos, com muitas divergências políticas, a consolidação do que
aconteceu na Venezuela, com o referendo que consagrou O Chá vez como
presidente da Venezuela”.

Ao mesmo tempo, o gradualismo permite gerar recursos que possam ser
drenados para aliviar a desesperadora situação de Cuba através de generosos
acordos comerciais e financeiros que permitam a sobrevivência da ditadura nesse
país. Segundo ele, esse seria um primeiro passo de uma aliança estratégica
latino-americana mais ampla com os governos esquerdistas da região (Lula, no
Brasil, Kirchner, na Argentina, Vázquez, no Uruguai, Lagos, no Chile, Correa no
Equador, etc.), em torno do que denominou "Alternativa Bolivariana para a
América Latina e o Caribe" (Alba). O gradualismo também dá fôlego ao plano
de estender a influência esquerdista a outros países da AL com a eleição de
políticos comprometidos com a estratégia, como Evo Morales na Bolívia, e
Daniel Ortega na Nicarágua.

O presidente venezuelano evitou comentar um dos aspectos mais delicados
desses acordos com Cuba, a nova Lei de Assistência Jurídica em Matéria Penal.
Trata-se de um convênio entre ambos os países, oficializado em 22 de dezembro
2004, que permitirá os juízes, funcionários e membros da polícia política do
Estado cubano atuar em território venezuelano com amplas facilidades para
investigar, capturar e até interrogar cuba nos residentes na Venezuela, e
inclusive cidadãos venezuelanos que sejam requeridos pela justiça castrista.
Tudo em cooperação com a polícia política do regime de Hugo Chávez. Ao
mesmo tempo, a Venezuela garante liberdade e proteção aos revolucionários de
outros países, principalmente da vizinha Colômbia, que ser e fugiam no seu
território.

Acrescente se que o Brasil já deu tratamento diferenciado para médicos
formados em Cuba dos quais não era exigida a mesma revalidação aos formados
em outros países. Uma gritaria muito mais corporativista do que política pôs
cobro, momentaneamente, a este procedimento. Os jornais também noticiaram
em 2005 – embora nenhuma confirmação posterior viesse à luz – um acordo
entre a Agência Brasileira de Informações (ABIN) e a Dirección General de
Investigaciones (DGI) cubana para agentes brasileiros serem treinados lá, como
já ocorre com a inteligência venezuelana.

Para não assustar a população, esconde-se frequentemente a ativa participação
guerrilheira e terrorista no Foro, mas no VI Encontro, em El Salvador em 1996,
Raúl Reyes, do Estado Maior das FARC pronunciou extenso discurso cujo
parágrafo final segue abaixo:

As Forças Armadas Revolucionárias da Colombia - Exército do Povo, desde sua
fundação em 27 de maio de 1964, mantém suas armas a bandeiras içadas na
luta pela democracia, pela soberania nacional e pela paz com justiça social, por
uma equitativa distribuição das riquezas nacionais, sustentadas em políticas
independentes dos centros de poder mundial. O movimento guerrilheiro
colombiano, o bastião fundamental da oposição política ao regime das
oligarquias, está com as armas na mão nas montanhas em luta de guerrilhas
móveis, porque o Estado colombiano criou uma máquina de guerra criminosa,
com apoios ideológicos dos Estado Unidos,com princípios antinacionais que
aprofundam o ódio entre compatriotas. E porque na Colombia, aqueles que
governam: a burguesia, os grupos econômicos os donos da terra e
latifundiários, fizeram do protesto social um crime, para assassinar, torturar,
desaparecer, encarcerar e intimidar aos opositores da injustiça, como não existe
espaço para a luta política legal e aberta de massas, reivindicamos a vigência
da luta armada revolucionária do povo, enriquecida com o aprendizado diário
de autores nacionais e estrangeiros, nos inspiramos nos princípios científicos do
marxismo-leninismo e no rico pensamento libertário de Simon Bolívar, para a
luta pelo poder para o povo”.

Outras organizações terroristas que mandam "observadores": Exército
Republicano Irlandês (IRA), a organização separatista
basca Euskadi ta Askatasuna (ETA), a Organização para a Libertação da
Palestina (OLP) e representantes da Líbia, Irã, Síria e, antes da invasão do
Iraque, enviados de Saddam Hussein.

Dentro do gradualismo gramscista parte essencial é o controle cada vez maior
das comunicações. "Enquanto não é possível acabar com os meios existentes é
importante criar um. E providenciar, com urgência, que seja o sistema oficial
utilizado pelas escolas para a educação dos jovens e futuros comunistas. Pronto.
Isto já está feito e estreado: a TV Telesur, custeada e chefiada pelo magnífico
Hugo Chávez, mas concebida no fantástico Foro de São Paulo – informação que
tem sido sonegada – já está no ar. O objetivo da emissora, naturalmente, é
transformar corpos e mentes dos telespectadores latino-americanos. Iniciou sua
transmissão com uma propaganda forte anti-Estados Unidos, mas não vai parar
aí. Para buscar mais adeptos do maquiavelismo, os sócios da nova emissora, –
Brasil, Cuba, Argentina e Uruguai – estão disponibilizando nos seus respectivos
países os sinais da mais nova TV. No Brasil, o sinal da TV Telesur está sendo
transmitido pelas TVs comunitárias”.
A Telesur "É sem dúvida um projeto político e estratégico", admitiu seu diretor,
o uruguaio Aram Aharonian, em várias entrevistas e acrescenta: ‘Trata-se de
recobrar a palavra seqüestrada durante mais de três décadas por ditadores,
políticos corruptos e genuflexos ante o capital”. Seguindo a orientação de Fidel
Castro: "Façamos algo parecido com a CNN". Recentemente, em 2007, Chávez
não renovou a licença para RCTV e já ameaçava a Globovision e a própria
CNN. Repete-se o que ocorria no Chile de Allende.

Investigadores da imprensa colombiana exibiram vários fragmentos das
emissões de prova da Telesur e destacam três episódios específicos. Inicialmente
aparece uma mulher cantando uma canção cujo refrão – da, eta, eta – é uma clara
alusão ao grupo terrorista basco que, coincidentemente, explodiu várias cargas
no dia 13 de julho de 2005 quando os governos da Colômbia e Espanha
atendiam a uma coletiva de imprensa conjunta, sobre acordos binacionais. A
segunda imagem à qual fazem referência mostra o chefe da guerrilha das FARC,
Pedro Antonio Marin, ou Manuel Marulanda Vélez – "Tirofijo" –, como parte da
promoção de um programa denominado "Memórias do fogo" que, segundo o
próprio canal, serão documentários contra o esquecimento. Finalmente, chamam
a atenção sobre as prolongadas imagens de uma manifestação de Primeiro de
Maio – dia mundial do trabalho – na Praça Bolívar em Bogotá. Nelas, os
manifestantes gritam palavras de ordem contra o Governo e mostram cartazes e
faixas nas quais assinalam as Forças Militares como autoras de recentes
massacres e rechaçam políticas governamentais. "Plano Colômbia: guerra e
morte contra o povo", diz uma das faixas que se vê nas imagens de prova.

Os acontecimentos de março de 2008 na Colômbia confirmaram a ação
beligerante dos países governados pelo Foro de São Paulo. Confirmam também a
estreita aliança dos mesmos com as FARC.

CAPÍTULO 12

O pacto entre o Foro de São Paulo
e o diálogo interamericano






Em janeiro de 1993 se encontraram em Princeton – onde FHC foi professor,
quando de seu exílio voluntário durante o regime militar – Lula e Fernando
Henrique Cardoso onde, sob a coordenação de Warren Christhofer, Secretário de
Estado de Clinton, chegaram a um Pacto entre o Foro de São Paulo e o Diálogo
Interamericano, no qual foram ajustadas algumas estratégias para a América
Latina.
O ponto de partida, para o Diálogo, era a certeza de que, com a derrocada da
URSS, a esquerda latino-americana teria necessidade de um novo ponto de
apoio, principalmente de natureza política. Por sua vez, o Diálogo necessitava
uma força com capacidade de mobilização popu lar, que a chamada social
democracia (no Brasil o PSDB) não tinha, para dar suporte aos pontos essenciais
de seu projeto continental, inclusive porque alguns dependiam diretamente da
concordância entre a teoria e a capacidade de mobilização do povo.


Os fundamentos e objetivos do pacto

Limitar a emigração para os Estados Unidos

Para o Diálogo, e para o Departamento de Estado, a maciça imigração de latino-
americanos para os Estados Unidos seria uma das consequências inevitáveis da
guerra revolucionária que esperavam viesse a acontecer. Impunha-se conseguir
que as forças guerrilheiras, ligadas ao Foro, se transformassem em partidos
políticos e passassem a disputar o poder pelo voto. Imaginavam que, ganhando
algumas eleições apoiados pelo Diálogos e convenceriam da vantagem do jogo
democrático, e se tornariam civilizados, mesmo depois de conquistar o poder.

A proposta do Diálogo foi que a esquerda, mesmo radical, guerrilheira,
revolucionária e marxista, abandonasse a forma atual de tomada do poder pela
revolução e optasse pela participação em eleições, oferecendo como
contrapartida o apoio do Diálogo para nele permanecer. Pensavam que, assim,
evitariam as imigrações, pois não haveria repressão interna de caráter totalitário
– nem por parte de governos revolucionários, nem de governos autoritários que
surgissem em reação àqueles, como em 64 no Brasil, 73 no Chile e 76 na
Argentina.

Em contrapartida, haveria total apoio do Diálogo, com sua imensa influência no
Departamento de Estado, contra qualquer tipo de repressão militar ou policial à
esquerda, que também resultava em imigração indesejada, forçada. A tudo, se
acrescia um esforço para que os governos fizessem acordos de paz com os que
atuavam revolucionariamente, colaborando por todas as formas, para que a paz
fosse obtida, de modo a permitir a formação dos partidos políticos de esquerda
revolucionária, como aconteceu com o M-19 e outros movimentos, até quando
não se sabe. Esta é a causa do desmonte, no governo Clinton, do narcotráfico
tradicional da Colômbia e do acordo de paz com a FARC, entregando-lhe um
território à sua administração, incluindo como prêmio o controle total do
narcotráfico.

A influência do Diálogo e do CFR é tão grande dentro do Departamento de
Estado que este Pacto deu origem a uma política americana para a América
Latina que perdura até hoje: a idéia de que existem duas esquerdas: a velha e
revolucionária esquerda radical, chamada "carnívora" e outra, moderna e
pragmática, a esquerda “vegetariana”. A primeira é representada por Chávez e
Morales; a segunda por Lula, o único político de esquerda moderada que pode
enfrentar os populistas.

No Atlas Economic Research Foundation’s Liberty Forum em 2005 era esta a
posição da maioria das autoridades do Departamento de Estado, incluin do o
influente ex-Subsecretário de Estado para a América Latina, Otto Reich, e
continua sendo dos "especialistas em América Latina "Stephen Johnson, Álvaro
Vargas Llosa, Plínio Apulyo Mendoza e Carlos Alberto Montaner. Do último
escutei que José Dirceu teria sofrido uma "mudança ideológica"!


Controle Populacional e Enfraquecimento da Igreja Católica

A outra questão para o Pacto de Princeton era o controle populacional, por
influência do Diálogo, através de formas radicais já em uso em alguns Estados
americanos: a insistência da legalização do aborto, da esteriliza ção em massa e
da legalização da união de homossexuais. As forças de esquerda, no
compromisso com o Diálogo, dariam a sua colaboração para atingir a legislação
necessária a oficializar essas questões, que, evidentemente, teriam,
previsivelmente, a oposição da Igreja Católica. Esta precisaria ser enfraquecida
com a noção de um misticismo individualista, que seria o determinante nas
relações de cada um com Deus, sem necessidade de Igreja, sacramentos ou
sacerdotes, ou, pelo menos, minimizando a presença desses elementos na
população. Frei Beto e Frei Boff seriam os pontas-de-lança desta empreitada.
Formou-se uma Comissão Parlamentar, da qual fazia parte José Jenuíno e
parlamentares de PSDB com vistas à alteração da legislação do aborto,
esterilização em massa e união civil de homossexuais. O programa do PT não
inclui estes pontos mas a Direção permitiu aos parlamentares agirem como
entendessem no Encontro Nacional que se seguiu ao Pacto com o Diálogo.

A aceitação era fundamental porque o assunto faz parte da política ex terna
americana desde 10 de dezembro de 1974 quando o United States National
Security Council promulgou o National Security Study Memorandum 200 –
Implications of Worldioide Population Growth for U.S. Security and Oversea*
Interests (NSSM200) – também conhecido como Relatório Kissinger sobre os
problemas populacionais do planeta. Este documento explicita a estratégia
detalhada pela qual os Estados Unidos promoveriam agressivamente o controle
populacional nos países em desenvolvimento, com a finalidade de regular e ter
maior acesso aos recursos destas nações. O documento está baseado nas idéias
de Malthus e Paul Erlich (do "Crescimento Zero" e da "Bomba Populacional") e
entre as instituições que tomaram parte na sua elaboração estão a Planned
Parenthood Federation of America – que promove mais de 250.000 abortos por
ano nos Estados Unidos – e a International Planned Parenthood Federation.

O documento estabelece a resolução de que a Agency for International
Development (AID) continuará a ser utilizada para providenciar incentivos
financeiros para Países Menos Desenvolvidos (Least developed Countries –
LCD) que desenvolvam programas de controle populacional através de 1)
aborto, 2) esterilização, 3) uso de contraceptivos, 4) doutrinação de crianças
através de educação sexual e coerção para restringir o número de filhos a dois
por casal. É claramente estatuído que "aborto é vital para a solução", pois
"nenhum país reduziu seu crescimento populacional sem recorrer ao aborto" (...)
“não é inteligente restringir o aborto”, pois "na verdade, aborto legal ou ilegal já
se tornou o mais difundido método de controle da fertilidade em todo o mundo".
Recomenda, portanto, a distribuição de equipamento para induzir abortos como
método de planejamento familiar, apoio direto da AID ao aborto nos LDC,–
estimular a informação, educação e treinamento que promovam o aborto como
método de planejamento familiar, – apoio contínuo aos médicos dos LDC para o
uso de modernas técnicas usa das em ginecologia e obstetrícia, desde que
incluam terminação da gravidez no seu currículo, – pagamento direto a mulheres
que desejem abortar como método de planejamento familiar, ou a pessoas que
pratiquem abortos.


Enfraquecimento dos Partidos da "Elite", Denúncias de Corrupção

De outra parte, as questões levantadas, impunham também o enfraquecimento
dos partidos que sempre deram sustentação às chamadas elites dos países, tidos
como responsáveis pela pobreza, que, no caso do Brasil, por conclusão não
declarada, eram o PFL, o PPB, e seus líderes, como ACM, Maluf, etc., além de
empresários e suas bases de sustentação na estrutura de governo. Processos por
corrupção deveriam ser implementados sempre que possível.

Não se podia deixar de ter presente que, nos quinhentos anos de civilização no
continente, os pretendidos suportes das elites, na visão de Princeton, eram forças
Armadas e, especialmente a lgreja Católica, com a exceção da Teologia de
Libertação, que só se diz católica por necessidade de permanecer atuando dentro
dela. Há exceções de praxe, daqueles que se preocupam com a questão social,
sem se recordar da doutrina social da Igreja e da sua atuação através dos séculos,
na defesa da vida, da liberdade e da dignidade do homem, muito acima do que
hoje se entende por direitos humanos. As Santas Casas e as escolas espalhadas
por todo o país, fizeram mais pelo país do que todas as estruturas
governamentais.


Enfraquecimento das Forças Armadas

Como já foi dito no Capítulo anterior este era um dos maiores objetivos do
Diálogo. Redução dos efetivos, nova destinação – transformá-las nas Forças de
Paz da ONU ou a elas submetidas como força de segurança regional – e a
redução da capacidade de decisão política com a criação do Ministério da Defesa
(1999). Este Ministério existe em nada menos do que 162 dos 179 países do
mundo. A maioria se formou após a II Guerra Mundial pela necessidade de
coordenar os três ramos singulares das forças, terrestre, aéreo e marítimo (nos
EUA quatro, com a autonomia dos Marina) e tem se mostrado uma instituição
eficiente. Mas o que levou à sua criação no Brasil não foi a eficiência militar,
mas a necessidade explícita de acabar com a possibilidade de intervenção militar
na política civil. Se fosse por eficiência já existia o Estado Maior das Forças
Armadas (EMFA).

As Forças Armadas tem sua origem na necessidade, em certos mo mentos, de
dar suporte para a diplomacia ou para atacar inimigos que ameaçam o País. Há
também situações internas, que dizem respeito a manutenção da ordem e da lei,
que ultrapassam as condições das polícias, que obrigam a presença das Forças
Armadas. Pergunta Graça Wagner: “quem é o ingênuo que sustentará que
qualquer outro país da AL não poderá passar por situações semelhantes à luta
armada desencadeada por Castro no Brasil e outros países da América Latina?
Como afirmar que, na missão de combater estas forças revolucionárias, as FFAA
não tenham de influenciar a política interna em razão de uma política de defesa,
que exige debates internos, entre civis e militares? Como afirmar que a tradição
da AL não exija, especialmente como mostra a história do Brasil, a necessidade
de se fazer ouvir em certas ocasiões, especialmente em face da qualidade
sofrível da classe política brasileira?".


Guerra Assimétrica. A Política de Dois Pesos, Duas Medidas

De parte do Foro, na reunião de Princeton, foi colocada a questão do Haiti, onde
o comunista Aristide, eleito, tinha sido retirado do poder pelas Forças Armadas,
devendo retornar a ele, o que redundou num fracasso, que se tentou corrigir com
envio de contingentes das FFAA brasileiras, já dentro da nova destinação de
forças regionais de segurança sob o comando da ONU.

Também foi assumido na reunião de Princeton o compromisso de contribuir para
a abertura comercial de Cuba, incluindo o turismo, desde que essa "abertura '
ficasse dentro dos limites que assegurassem a manutenção, sem riscos, do
regime comunista. Seguindo estes mesmo passos – que confirmam a afirmação
já referida de Reagan de que o que importa é defender a existência do
comunismo – a ONU aprovou a intervenção no Haiti, mas não fez o mesmo em
relação a Cuba, apesar de Fidel não ter sido eleito. Pelo contrário, o
fortalecimento de Cuba foi garantido por sua inclusão, suprema ironia, no
Conselho de Direitos Humanos da ONU. Este conselho decidiu em 2007 que
Israel será o único país do mundo cujas violações aos direitos humanos serão
tema permanente na agenda da organização. Além de Cuba, Zimbábue (de
Robert Mugabe Darfur), Irã, Venezuela, China, Coréia do Norte, Belarus ficam
de fora. Esta decisão incluiu também a remoção de Cuba e Belarus, notórios
violadores de direitos humanos, da lista de países sujeitos a investigação
especial. A cereja do bolo foi a nomeação da Líbia – sim, a Líbia, cuja ditadura
manda prender mulheres pelo "crime" de serem estupradas – para chefiar a
comissão anti-racismo do conselho em 2009.

Votaram a favor das resoluções, além dos países árabes e muçulmanos Brasil,
China, Cuba, Equador, México, Rússia, Sri Lanka, Filipinas, Guatemala e índia.
O Canadá votou contra. Os EUA, que não integram o conselho, acusaram o
órgão de ter uma "obsessão patológica" por Israel O secretário-geral da ONU,
Ban Ki-moon, por sua vez, limitou-se a dizer que ficou "desapontado" com a
decisão.

Como já vimos no Capítulo II, é a guerra assimétrica em plena ação.

***

Por final, Lula aceitou, em 1993, convite de Fernando Henrique para entrar no
Diálogo, de que faz parte, com restrições, enquanto o seu introdutor não
consumou a expectativa de apoiar Lula em 1994, que estava no bojo deste Pacto
continental, com repercussões na vida dos países do continente, embora não
implicasse em união forçada dos seus participantes. Com sua nomeação para o
Ministério da Fazenda e o sucesso do Plano Real, FHC anteviu a possibilidade
de se candidatar, deixando Lula a ver navios, mas só decidiu fazê-lo, em
fevereiro de 94, quando teve certeza do apoio de ACM e do PFL.

O Pacto continua de pé, embora fragilizado, inclusive porque, com a eleição de
Chávez, e a atuação da FARC, o Diálogo se sente falando sozinho, embora, em
suas análises, sustente que agora Lula é confiável e até democrata, como se não
continuasse o seu compromisso fundamental com Fidel Castro. Ao mesmo
tempo, os principais representantes de ambas as organizações, FHC e LULA,
aparentam não estarem rezando pela mesma cartilha, pelo menos por enquanto,
mas desde que mante nham certos princípios do Pacto, podem brigar um com o
outro, à von tade, sem causar maiores danos aos verdadeiros objetivos
estratégicos do pacto, o que será abordado a seguir.


O Verdadeiro Pacto Estratégico

Na Primeira Parte foi estudada a diferença fundamental entre política e
estratégia. No caso em questão o Pacto de Princeton nada mais é do que uma
tática política dentro de uma estratégia muito mais antiga e estabelecida para
longo prazo. Reunidos Diálogo Interamericano e Foro de São Paulo estavam
realmente reunidas as correntes socialistas Marxista e Fabiana, para ajustar uma
política comum para o Brasil e a América Latina dentro de objetivos mundiais
de mais longo prazo.

A Fabian Society é o produto de um movimento intelectual socialista britânico
cujo propósito é atingir o mesmo mundo "melhor possível" socialista, defendido
pelos marxistas, porém através de uma ação gradual e reformista rejeitando os
métodos revolucionários. Se a tática é divergente, os objetivos estratégicos são
os mesmos. Foi fundada em 4 de janeiro de 1884 por Sidney e Beatrice Webb
que escreveram diversos artigos críticos sobre a Revolução Industrial, nos quais
sugeriam alternativas nitidamente socialistas. Mais tarde, tornaram-se profundos
admiradores da União Soviética, principalmente na era stalinista, pela eficiência
da economia comunista. Anteriormente já existia uma Irmandade para a Nova
Vida, da qual faziam parte os poetas Edward Carpenter e John Davidson, o
sexologista Henry Havelock Ellis e Edward Pease. Ambas seguiram juntas até a
década de 90 quando a Irmandade se dissolveu e todos os membros passaram a
fazer parte da Sociedade Fabiana, que adquiriu grande influência, inclusive nos
fundamentos do Partido Trabalhista Britânico, em 1900, cuja Carta de fundação
foi escrita por Sidney Webb. Já em 1906 defendia a criação do salário mínimo, a
fundação do National Health Service (Serviço Nacional de Saúde) e a abolição
dos Lordes hereditários. Era contra o livre comércio, pela nacionalização da terra
e defendia o protecionismo e a intervenção do Estado no mer ado,
principalmente nas trocas entre nações.

Seu nome, sugerido por Frank Podmore, é uma homenagem ao General Romano
Quittlus Fabius Maximus, cognominado O Protelador, que advogava nas
Guerras Púnicas, táticas de envolvimento e atrito ao invés de embate direto. O
Símbolo dos Fabianos é a tartaruga.

Logo de início atraiu grande número de intelectuais como George Bernard Shaw,
H. G. Wells, Annie Besant, Graham Wallas, Hubert Bland Edith Nesbit, Sydney
Olivier, Oliver Lodge, Leonard Woolf e Emmeline Pankhurst. Mais tarde
Bertrand Russell também aderiu. Os Delegados americanos à Conferência
Econômica e Financeira da ONU em Bretton Woods, John Maynard Keynes e
Harry Dexter White que decidiu pela fundação do FMI e do Banco Mundial
eram seus membros plenos e ativos. Dexter White, que como vimos no capítulo
4 era agente soviético, foi o verdadeiro inspirador do acordo. Embora execrados
como instituições "imperialistas" – como já vimos – são de inspiração
claramente fabiana. Em certo sentido são realmente imperialistas. Não do
imperialismo definido por Lenin como etapa superior do capita lismo, mas do
futuro império socialista mundial que fabianos e marxistas buscam (ver próxima
seção).

No período entre guerras mundiais do século XX influenciou também a política
das colônias britânicas que, ao se tornarem independentes, adotaram muitas de
suas teses, principalmente a índia e também os Partidos Trabalhistas da
Austrália, Nova Zelândia e Canadá. Jawaharlal Nehru estabeleceu a política
fabiana, seguida até hoje na índia – uma nação que foi permanentemente aliada
da União Soviética – e o fundador do Paquistão, Muhammad Ali Jinnah, era um
de seus membros mais ativos e fanáticos, assim como Lee Kuan Yew, o primeiro
Primeiro Ministro de Singapura, embora posteriormente tenha rejeitado o
fabianismo como um sonho irrealizável. Vários Primeiros Ministros ingleses
vieram de suas fileiras como Ramsay MacDonald, Clement Attlee, Anthony
Crosland, Richard Crossman, Tony Benn, Harold Wilson, Tony Blair e o atual,
Cordon Brown. A London School of Ecnomics foi fundada por fabianos:
Beatrice and Sidney Webb, Graham Wallas, e George Bernard Shaw.


O Maravilhoso Mundo Futuro dos Fabianos Herbert George Wells

H. G. Wells era um destacado escritor de ficção científica e futurista I
considerado por alguns como o precursor deste gênero literário e uma das suas
maiores expressões. Entre seus livros encontram-se cinco sobre o mundo futuro,
os quais, diferentemente dos de Aldous Huxley e George Orwell – escritos como
sinais de alerta – eram anúncios de como o autor e a sua sociedade enxergavam
um futuro melhor para a humanidade. São eles: The Open Conspiracy for World
Government, Imperialism and the Open Conspiracy, After Democracy, The
Shape of Things to Come, The Ultimate Revolution e Science and the World
Mind. Comentarei brevemente sobre o primeiro e o quarto.

Em Open Conspiracy, Wells define este movimento como o caminho para o
estabelecimento de um Diretório Mundial com a finalidade de fundir as
instituições políticas, econômicas e sociais numa entidade mundial única visando
a paz e a melhor organização da humanidade. Wells é citado como um dos
elaboradores dos 14 pontos de Woodrow Wilson (ver Capítulo XIII). É uma
conspiração aberta, sem segredos (como defendiam Kant e Wilson) que prevê o
fim das nações e do próprio con ceito de nacionalidade com o fim de todos os
governos nacionais, tidos como perniciosos e obstrutivos. A Conspiração Aberta
não deve ser en tendida como uma simples organização, mas como uma
concepção de cujos esforços nascerão novas organizações e orientações.
Acreditava Wells que a “comunidade atlântica” poderia estender sua influência e
poder ao resto do mundo, impondo seus princípios de democracia e liberdade de
opinião.

Em The Shape of Things to Come (London, Hutchinson & Co., 1933), é pintado
claramente o mundo que se desenvolverá se a conspiração aberta conseguir seus
intentos – o Governo Socialista Mundial. Inicialmente seria constituído
o Council for World Affairs que delinearia as diretrizes a serem seguidas. Eram
previstos caos e guerra generalizada para as décadas de 50 e 60 pela
incapacidade dos proprietários dos bens de produção e dos legisladores em
manter a paz, regular a produção e distribuição e guiar a vida cotidiana da
humanidade, quando então este conselho criaria o Air and Sea Control (uma
espécie de Ministério do Ar e do Mar). O Conselho emitiria o seguinte
comunicado:

Tomou-se urgente a necessidade de construir uma nova administração
mundial. Por esta razão o Central Council for World Affairs declara-se
o único poder soberano do planeta, eliminando todas as demais formas
de autoridade. Todas estas e todos os direitos de propriedade, que não
se destinem ao bem comum da humanidade, cessam de existir durante
o período de desordem e não poderão ser restaurados. O Council possui
todas as linhas de transporte aéreo e marítimo, os aeroportos, portos,
fábricas, minas, plantações, laboratórios e escolas no mundo todo.
Esses serão administrados por representantes do Council e protegidos
por sua própria polícia, a qual estará instruída a de fender estas
organizações sempre e aonde for necessário contra a agressão de
pessoas não autorizadas. Em todos os centros populacionais existirão
núcleos do Estado Moderno com agentes que conduzirão o trabalho
educativo do Council no sentido de organizar o novo Governo do
Mundo Todo.

Tal como Havelock Ellis, Wells já prenunciava o movimento “verde" e a Nova
Era: será constituído um Bureau de Transição para simplificar e modernizar as
atividades comerciais, os serviços educacionais e de higiene e a preservação da
ordem em nossas casas e nosso jardim comum – a Terra, nossa Mãe Terra, nosso
planeta, A participação de Annie Besant – uma das principais assessoras e
sucessora de Madame Blavatsky e uma das descobridoras de Krishnamurti – na
fundação da Sociedade Fabiana e sua influência junto a Wells são claramente
sugestivas da enorme importância das ideeias teosóficas no movimento.

O controle dos mares já está em franco andamento: o UNCLOS, United Natiom
Convention on the Law of the Sea, que até o momento só despertou oposição dos
conservadores norte americanos, é parte de um plano para Governo Mundial que
incluirá uma Força de Paz da ONU armada com armas nucleares. Para vigilância
dos mares. O Professor de Harvard e especialista em Direito Internacional Louis
Sohn, um dos pais do projeto, declarou que desejava que este futuro governo
dispusesse centenas de milhares de efetivos e bases militares armadas com armas
nucleares, para deter ou suprimir qualquer tentativa de violência internacional
(World Peace Througth World Law). Sohn participou, juntamente com espião
soviético Alger Hiss da conferência que resultou na criação da ONU . O co-autor
do livro, Grenville Clark, pertence a ONG Association of World Federalist, que
advoga a criação da lei e cujo lema é exatamente o título do livro. Harold
Hongju Koh, o Deão da Yale Law School, que poderá ser nomeado para a
Suprema Corte se Hillary Clinton vencer as eleições de 2008, é um entusiasta da
Convenção do Mar.

CAPÍTULO 13

A Colheita: a reconquista na
América Latina do que
foi perdido na Europa do Leste





Alba ou Ursal em marcha

Utilizarei aqui um recurso bastante arriscado: misturarei fatos conheci dos e
comprovados com doses de especulação política e ficção futurista, baseada numa
determinada interpretação dos fatos. Minha pretensão é modesta: apenas prever
um dos futuros imediatos possíveis para a América Latina. Antes, no entanto, é
preciso especular sobre o passado.

Suponhamos que Castro e Lula tivessem um Protocolo Secreto firma do, já que o
Foro, por suas características, deveria ser discreto, mas não poderia ser secreto.
Sua ausência dos noticiários deve ser atribuída à mídia submissa que
transformou as redações dos jornais brasileiros em sucursais do Granma. A
existência de protocolos secretos é a rotina dos tratados internacionais – o
exemplo mais conhecido é o do Pacto Molotov-Ribbentropp que previa
secretamente a partilha da Polônia, entre outras cláusulas. Esta outra
preocupação seria quanto à sua sucessão, poiso príncipe coroado, seu irmão
Raúl, Vice Presidente do Conselho de Estado e Ministro da Defesa, nunca teve a
sua confiança por carecer de carisma e capacidade de liderança. Poderia haver
luta pelo poder que acabaria com o regime comunista. Pode-se alegar que
especulo sobre o nada porque em 1989 Fidel tinha apenas 6 3 anos. Ocorre que
já na década de 90 correram rumores de suas várias doenças e, ademais, é com
tempo que se preparam estas coisas. Fidel estabeleceu em Cuba um regime
stalinista e sabe muito bem o que aconteceu quando Stalin morreu – ou foi
assassinado, nunca se saberá ao certo. A luta pelo poder matou Bieria e
Zhdanov, – Malienkov saiu correndo para sobreviver e quando Khrushchov
assumiu já o fez du rante uma reforma em que o Potibüro, que nunca funcionou
de forma independente nos tempos de Stalin, tornou-se um órgão colegiado onde
se preparavam os sucessores. Fidel, tal como Stalin, liquidou com todos os
possíveis sucessores: Che Guevara, Camillo Cienfuegos e Arnaldo Ochoa
possuíam o que falta a Raúl.

Era necessário encontrar um novo líder da revolução que possuísse aquelas
características. Lula deve ter sido avisado que tirasse o cavalinho da chuva
porque não tinha nem preparo intelectual nem a physique de l’emploi. Havia
tempo suficiente e no processo de tomar toda a América Latina iria certamente
aparecer alguém que servisse. Atualmente, rumores mais sérios sobre sua morte
próxima correm o mundo e as especulações sobre Cuba após sua morte são
disparatadas. Desde uma intervenção América na maciça com uma espécie de
plano Marshall, até a tomada do poder por parte de Raúl ou por um colegiado
comunista.

Os EUA se preparam para gastar 80 milhões de dólares durante dois anos para
encorajar uma Cuba democrática com eleições multipartidárias e livre mercado,
seguindo a idéia errônea de que o sistema se baseia unicamente na pessoa de
Fidel. Um relatório de 93 páginas já foi preparado pela Commission for
Assistence to a Free Cuba, presidida pela Secretária de Estado Condoleezza
Rice, prevendo técnicos americanos reconstituindo escolas, pontes, estradas e
especialistas financeiros planejando um novo sistema de impostos, e os EUA
propondo a entrada de Cuba no FMI. Washington segue apostando num
isolamento de Cuba e de uma mudança por parte da oposição. Não pode haver
política mais absurda, vã e fadada ao fracasso.

Os dissidentes cubanos apreciam a oferta, mas estremecem de medo. Alguns o
consideram um abraço de urso e uma promessa irrealizável. Os 80 milhões
seriam aproveitados, em caso de falha do plano, para os dirigentes comunistas
acusarem os dissidentes de mercenários dos americanos e temem novas prisões.
Aprenderam a lição dos iraquianos quando os americanos se retiraram sem
derrubar Saddam Hussein em 91 e houve um morticínio dos que apareceram
para saudar as "mudanças". Alguns analistas acreditam que ocorrerá uma espécie
de abertura à chinesa, abrindo controladamente o mercado, mas mantendo o
rígido controle político pelo PCC.

Mas, e se a saída for uma outra, já prevista no suposto Protocolo Secreto, com
um novo líder não cubano? Claro está que este substituto já foi encontrado, mora
no Palácio Miraflores, em Caracas, e atende pelo nome de Hugo Rafael Chávez
Frias. Chávez poderia ser o novo Fidel, só que não mais um Fidel que depende
de ajuda para sobreviver, mas um sentado em cima de milhões de barris de
petróleo, com forças armadas reforçadas e no total controle da população de seu
país. Se necessário, Jimmy Carter dará mais uma ajudinha nas próximas eleições
mandando previamente o endosso dos resultados que deixaria em branco para
Chávez preencher. Diferentemente de Lula, Chávez não é um apedeuta. E
Tenente-Coronel de uma tropa de elite, os Paraquedistas, do Exército
venezuelano, tendo feito todos os cursos para tal, que exigem capacidade
intelectual incomum, é mestre em estratégia e o que lhe faltava lhe foi
ministrado pelos melhores professores universitários venezuelanos, enquanto
esteve preso pela tentativa de golpe de Estado em 1992. Sabe o que quer e sabe
como consegui-lo. Sua histeria populista assim como o linguajar aparentemente
simplório são para consumo das massas, e não como os de Lula que representam
os limites de sua capacidade de pensar.

Cada vez mais se percebe a união de interesses entre Chávez e Castro Não falo
de Venezuela e Cuba porque seria um atentado contra os dois povos, dos quais o
primeiro perde a cada dia mais um pouco de sua liberdade e o segundo nào a tem
há muitos anos, já até esqueceram o significado da palavra. A formação de uma
Federação ou Confederação entre os dois países é algo a ser considerado a curto
prazo, já tendo sido tal intento, mencionado por ambos os líderes.

Voltando às minhas especulações: o que impede que esta Federação se torne
rapidamente numa proclamação de união indissolúvel de ambos os países num
único, que chamarei CUBAZUELA , mas que poderia ter um nome mais vistoso
como República Bolivariana del Caribe, pedindo de pronto reconhecimento
internacional e ingresso na ONU? O reconhecimento seria imediato por parte
dos aliados terroristas Irã, Síria, China, Rússia, Líbia e aliados europeus como a
Espanha de Zapatero. No continente teria o apoio do maior número de países já
preparados no Foro de São Paulo para a formação da URSAL – Union de Ias
Republicas Socialistas de America Latina ou manter apenas o título anódino já
proposto de ALBA (Alternativa Bolivariana para Ias Américas). Os votos de
Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia, Equador são certos.

Em 2004, o sociólogo comunista germano-mexicano Heinz Dieterich, guru de
Chávez e Fidel, explicou que a idéia de criar a "Pátria Grande sonhada por
Bolívar, só seria viável se fosse criado um "bloco" com to dos os países de corte
comunista da América Latina (Cuba, Venezuela, Brasil, Argentina, Bolívia,
Chile, Uruguai, Paraguai, Peru e Equador) Para a coordenação de pensamentos e
ações, Chávez criou o projeto do “Bloco de Poder Regional”, onde se unificaram
as Forças Armadas de todos esses países para fazer frente ao inimigo externo,
evidentemente, os Estados Unidos da América.

A lacrimejante visita de Fidel e Chávez à casa em que foi criado Che Guevara,
quando da Cúpula do MERCOSUL na Argentina, foi o ponto alto da reunião.
Ambos foram saudados como irmãos de sangue. E a visita é simbólica: Che era
o segundo homem da revolução cubana sem ser cubano, assim como Chávez. A
sucessão de Fidel por Chávez, mesmo que numa Federação co-presidida por
Raúl Castro, teria o objetivo de impedir qualquer ação americana após a morte
do primeiro já que Cuba não seria um país acéfalo e sim, no gozo de sua plena
soberania, alem de que Chávez colocaria novo vigor na repressão interna em
Cuba.

Ao mesmo tempo, a "contra cúpula" dos povos expressou sua imensa satisfação
com o trabalho de Chávez como sucessor de Fidel. Alardearam especificamente
Chávez ter controlado e dominado facilmente a "classe política" venezuelana o
que lhe credencia para controlar a classe política de toda a América Latina,
iniciando um processo irreversível de integração latino-americana, do qual a
integração comercial em acordos "neoliberais" é apenas o início mais aceitável
para a "comunidade internacional”. Simultaneamente, as FARC reiteraram seu
total apoio a Chávez numa carta ao Partido Comunista Venezuelano durante a
realização de seu XII Congresso em Caracas, ressaltando a "nova onda
revolucionária que se levanta em nossa América”.

Podemos imaginar a seguinte situação geoestratégica: Cuba, Venezuela e
México, as três maiores potências militares do Caribe e os dois primeiros os
maiores produtores de petróleo da região, – Jamaica e Nicarágua dominadas. Os
demais países do istmo da América Central assim como as demais ilhas não
contam para nada, serão facilmente dominados. As potências européias que têm
possessões caribenhas – Inglaterra, França e Holanda – dificilmente interviriam.
Portanto, além do controle quase absoluto da América da Sul, o Caribe torna-se
um verdadeiro Mare Nostrum comunista.

E os Estados Unidos, o que fariam? Se continuarem dando ouvidos, aos
"especialistas em América Latina". Vargas Llosa, Carlos Alberto Montaner e
Otto Reich, provavelmente continuarão apostando na esquerda soft, vegetariana,
representada por Lula, Tabaré Vazquez e Bachelet. Como se sabe, os interesses
americanos ao sul do Rio Grande se esgotam da Província de Yucatán. Pode vir
a se arrepender amargamente deste descaso.
CAPÍTULO 14

A Estratégia dos Grandes
Blocos Regionais



Obviamente não haverá paz nem prosperidade para a humanidade
enquanto ela permanecer dividida entre cinquenta ou sessenta estados
independentes… É também óbvio que não haverá progresso estável no
sentido civilizatório e do desenvolvimento do governo autônomo para
os povos menos desenvolvidos sem algum tipo de sistema internacional
que porá um fim às divergências diplomáticas entre as nações que
tentam fortalecer a segurança… O problema real hoje em dia é o do
governo mundial.

Foreign Affairs
Revista do Council on Foreign Relations






A experiência da União Européia mostrou como é fácil liquidar com a soberania
e o sentimento de nacionalidade até mesmo de nações outrora ciosas de suas
características, como a França e a Alemanha. O Parlamento Europeu tem
poderes de interferir em todas as questões internas dos países membros, com
mínimas restrições. As vantagens econômicas oferecidas tornam tão atraente a
adesão que as considerações culturais e tradicionais são deixadas de lado,
compradas por alguns milhões de Euros, fazendo com que as pessoas nem se
apercebam das imposições, restrições e perdas de direitos a que vão se sub
metendo paulatinamente. A cada renúncia, o controle exercido pelo Parlamento
Europeu aumenta mais. A dissolução dos Parlamentos nacionais e até mesmo
dos governos é uma questão de tempo, pois se tornarão completamente
desnecessários. Poderão até permanecer com um ilusão do que o País ainda
existe, uma espécie de bobos da corte a reverenciarem seus verdadeiros líderes
continentais.

Na esteirada UE já despontam na Ásia três novos grupos, além da já comentada
por mim URSAL (União das Repúblicas Socialistas da América Latina, sob o
comando do Foro de São Paulo, do CFR e da Trilateral Comission). A ASEAN
(Association of Southeast Asian Nations), formada pela Declaração de Bangkok
de 1997, reunindo Brunei, Cambodja. Indonésia, Laos, Malásia, Myanmar,
Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietnam. A SAU (South Asian Union),
reunificando índia e Paquistão e incluindo possivelmente Sri Lanka e
Bangladesh. Os obstáculos culturais são enormes, pois estes países vivem em
guerra e numa corrida armamentista muito perigosa. A Asian Union, reunindo a
força de tra balho da China com o capital do Japão, Coréia do Sul, Taiwan, Hong
Kong e Singapura.

No entanto, nada será conseguido se não acabar com a soberania da única nação
que pode interromper estes planos: os Estados Unidos da América. Sendo uma
nação muito forte e capaz de se defender, só um ataque interno poderá derrubá-la
por suicídio. Abordarei aqui uma dessas tentativas já em fase avançada de
implementação, na qual o Presidente Bush está completamente envolvido,
levando a uma divisão nas hostes republicanas, pois os conservadores se opõem
a ela com todas as forças: o projeto de liquidar com as fronteiras dos EUA com
seus vizinhos da America do Norte.

O plano de unir os EUA com o México e Canadá criando uma União Norte
Americana (North American Union – NAU) é uma idéia globalista bastante
antiga e foi a inspiradora do NAFTA (North American Free Trade Agreement)
entre as três nações, embora aberto a todos os demais países centro e sul-
americanos. As informações sobre sua imple mentação, levadas a efeito
pelo Council on Foreign Relations (CFR), têm sido constantemente sonegadas
pelos principais meios noticiasos americanos. Só muito recentemente
começaram a surgir coberturas jornalísticas sobre este fato. Em 1959, o CFR
emitiu um position paper intitulado Estudo nº 7 Objetivos Básicos da Política
Externa dos Estados Unidos, propondo que os EUA procurassem construir uma
nova ordem internacional e sugeria os seguintes passos:

1. Buscar uma ordem internacional na qual as decisões políticas sejam
tomadas em conjunto com outros Estados livres, com diferentes
sistemas econômicos, políticos e sociais, incluindo aqueles que se
auto intitulam "socialistas".
2. Garantir a segurança dos EUA através da preservação de um sistema
de acordos bilaterais e arranjos regionais.
3. Defender e gradualmente aumentar a autoridade da ONU.
4. Tornar mais efetivo o uso da Corte Internacional de Justiça, cuja
jurisdição deverá ser incrementada pela renúncia às reservas das
naçòes sobre matérias julgadas como sendo de jurisdição doméstica.
Em 1973 Zbigniew Brzezinski, a pedido David Rockfeller e juntamente com o
CFR, a Fundação Ford e o Brookings Institution, forma a já co mentada
(Capítulo XIII) Trilateral Commission. Uma de suas funções é combater o
nacionalismo e a própria noção de "Estados Nacionais" e a criação do conceito
de "interdependência". No ano seguinte, um dos membros desta organização,
Richard Cardner, publica na Revista do CFR um artigo intitulado "The Hard
Road to World Order” onde diz explicitamente que "é necessário erodir o
conceito de soberania nacional, pedaço por pedaço, por dentro, de baixo para
cima, o que será mais produtivo do que um assalto frontal tradicional". Este
assalto seria realizado através de acordos de comércio acertados pela cúpula dos
países, sendo apresentados ao público como fart accompli.

Em janeiro de 1981, o Presidente Reagan propõe a criação de um mercado
comum norte-americano (assim começou a União Europeia). Em janeiro de
1989, após três anos de negociações, torna-se efetivo o Canadá-US Free Trade
Agreement (CUFSTA). Em 1990 os presidentes Bush e Salinas anunciam o
início de discussão do mesmo tratado entre EUA e México e um ano após o
acordo torna-se oficialmente trilateral. Em 1992 os parlamentos dos três países
aprovam o acordo e dois anos depois o NAFTA passa a vigorar plenamente.

Livre Comércio (Free Trade) não é o que aparenta ser – a liberação do comércio
entre países em que todos lucrarão – não passa de um instrumento importante
para a organização da Nova Ordem Mundial que se inicia em vários focos
regionais, mas se expandirá para todo o planeta. É, na realidade, produto do
"capitalismo" corporativista e monopolista transnacional cuja finalidade é
evoluir para um socialismo da super-elite (Ver adiante Uma Aliança Improvável)
que virá a dispor de poder absoluto: econômico, político e cultural. Christopher
S. Bentley no artigo "Immigration and Integration" aponta cinco estágios
principais através dos quais se chegará à integração total:

1. A super-elite cria uma área de livre comércio Nas sombras vão
criando controles políticos e burocráticos;
2. Cria uma união aduaneira Implementa e expande a burocracia;
3. Cria um mercado comum. Fim das restrições à migração de capital e
trabalho Paulatinamente, torna as fronteiras desnecessárias;
4. O MC evolui para uma união econômica. Estrutura legal,
regulamentos e impostos comuns, moeda única. No caso em apreço já
tem nome: Amero;
5. União política, desenvolvida através do sistema de “parcerias
público-privadas” (PPP), uma sínbiose entre banqueiros, corporações
e burocracia estatal.

Acrescenta que "não podemos esquecer que até KarI Marx amava o sistema de
livre comércio' por sua capacidade destrutiva de quebrar as velhas
nacionalidades e acelerar a Revolução Social (Mundial)".

Sob a égide do NAFTA a Casa Branca, através do Departamento de Comércio,
constituiu a Security and Prosperity Partnership of North America que entrou
em vigor em março de 2005, na reunião trilateral de cúpula em Waco, Texas. No
site acima existe uma seção de mitos/fatos onde se afirma que o SPP nada mais é
do que um diálogo para aumentar a segurança e a prosperidade, não um acordo
nem um tratado. Analistas como Jerome R. Corsi consideram que isto é uma
forma da administra ção Bush ludibriar os processos legislativos dando um golpe
executivo, pois um Tratado teria que ser submetido à aprovação pelo voto de 2/3
do Senado. O que realmente estaria havendo é uma reformulação total das leis
administrativas dos EUA para "integrar" ou "harmonizar" com as
correspondentes do México e Canadá, inclusive com a integração das forças
desegurança dos dois países no Department of Homelattd Security americano.

Para completar, ainda está prevista a criação de uma Corte Suprema Norte-
Americana com poderes de revogar quaisquer atos das três Cortes nacionais. E
tudo está acontecendo à revelia do Congresso e do Judiciário e sem nenhuma
divulgação para o público americano, canadense ou mexicano. O que estaria
sendo "harmonizado" não seria o incremento da segurança dos alimentos e
drogas para os povos, mas a facilitação das operações – e aumento dos lucros –
das imensas corporações farmacêuticas e alimentares em conluio com as
burocracias governamentais nas Parcerias Público Privadas (como no Brasil
onde as PPPs são moda). Pergunta Steven Yates com muita propriedade “...se as
super-elites das três nações tivessem como alvo o interesse da população de seus
países, por que o segredo com que tudo está sendo conduzido?"

A North American Union será a correspondente no Norte à integração regional
latino – americana através da URSAI ou da Alba ou que nome venha a ter. E
juntamente com os outros blocos regionais virão oportunamente a se integrar
num Governo Mundial inicialmente comandado pela ONU, mas realmente
dirigido pela super-elite mundial, a Nova Classe ou Nomenklatura mundial. O
germe disto é a chamada “comunidade internacional".

CAPÍTULO 15

A Comunidade Internacional
E A Nova Ordem Mundial






Uma das expressões mais badaladas dos últimos tempos é "comunidade
internacional'’. Sempre que se fala em "comunidade internacional" tem-se a
impressão de que esta se refere a um consenso entre os povos, mas se está re
almente falando é do conjunto destas organizações anteriormente citadas – a
comunidade para elas são elas mesmas, pouco importa os demais habitantes do
planeta. Entenda-se que é totalmente irracional acreditar naquele pretenso
consenso pois, para isto, deveriam ser realizadas pesquisas ou até mesmo
votações em que os povos de todo o mundo participariam. Mas frequentemente a
"comunidade internacional" é contra – ou apóia – algum fato logo depois de
ocorrido. Portanto, o repúdio ou apoio depende do fato em questão estar inserido
ou não num planejamento prévio levado a efeito por aquelas organizações, as
quais já chegaram a um consenso entre elas em função do futuro que querem
implementar para o mundo! Por esta razão as respostas aos acontecimentos são
sempre automáticas: aconteceu algo, lá vêm os comentários da "comunidade
internacional". Depois, só depois, busca-se um arremedo de consenso
internacional através de níveis intermediários de redes de ONGs e massas de
idiotas úteis que reagem como autômatos ou cães de Pavlov. A idéia básica é de
que não se pode deixar para as pessoas comuns escolherem seus destinos, muito
menos organismos eleitos – como Governos e Parlamentos – pois os mesmo são
suscetíveis de influência da vontade popular, mas para uma corporação que
represente a "elite internacional". Esta idéia foi definida pelo Conde Hugo
Lerchenfeld, em 1924, na revista do CFR, Foreign Affairs:

"Não poderia um grupo de homens de mérito e competentes, como sào
encontra dos em todas as nações representando suas mais elevadas
forças morais se encontrarem e tomarem decisões sobre assuntos de
grande importância sobre os quais não haja consenso. Não poderia ser
constituído um conselho cuja alta capacidade de julgamento e
imparcialidade fosse tomada como verdade e que guiaria a opinião
pública em todo o mundo?”

Esta é a essência da Nova Ordem Mundial: um corpo de elite não-eletiva que
tome todas as decisões e depois guie a opinião pública para aceitá-Ias. A
pergunta nunca feita é: e quem não se convencer, isto é quem não concordar com
o "consenso da comunidade internacional"? Para respondê-la basta ver as
experiências com este tipo de governo para saber a reposta: guilhotina, forca,
fuzilamento, campos de concentração e outras que venham a ser inventadas. Mas
a oposição diminui a cada dia mais. Isto porque, antes de tudo, antes da chegada
ao poder, os que não concordam sofrem a ridicularização, a desmoralização e o
desprezo dos gurus, dos maitres à penser que fazem a história dos conceitos e
das ideologias, comandam a mídia e determinam os modismos intelectuais pagos
a peso de ouro pelas fundações interessadas. Quem se atreve a ser contra o
consenso corre o risco, já hoje, de ser estigmatizado como “reacionário" (oh,
horror!), truculento, contra a paz e, se for da área acadêmica ou das associações
profissionais, ostracismo e morte intelectual.


Teorias de Conspiração – a “mão secreta”?

O que afasta muitas pessoas da leitura de artigos e livros sobre este tema é o
medo de encontrarem teorias que falam de sociedades secretas com poderes
malignos que dirigem o mundo através de super-poderes mentais ou máquinas
aterradoras. Algo do tipo Df. Silvana (para os mais velhos que leram as histórias
do Capitão Marvel). Isto é, valem como ficção, mas como explanação da
realidade não passariam de maluquices às quais os leitores sérios não querem dar
a mínima atenção. E com toda razão! Há muitas maluquices por aí e nem sempre
é fácil separar o joio do trigo. Existe ficção apresentada com foros de verdade,
como os livros de Dan Brown. Há livros como o de Daniel Estulin que misturam
verdade com sensacionalismo para efeito de marketing, elevando às alturas o
caráter secreto e o poderio do Clube Bilderberg e, com isto, valorizando sua
própria investigação. Ler este livro exige algum treinamento e muito
conhecimento prévio para separar o joio do trigo.

Existem várias "mãos secretas", cada uma querendo atribuir a si mesma um
poder imenso, e Santo Agostinho dizia que o diabo tem orgasmos quando
alguém exacerba seus próprios poderes. Geralmente tais poderes são
exacerbados também pelos supostos inimigos para posarem de "única solução"
frente a eles. Existem paranóicos para todos os gostos: desde fanáticos
nacionalistas, inventando invasões iminentes do território a fanáticos
anticomunistas que enxergam suas conspirações por detrás de tudo, até fanáticos
comunistas e esquerdistas que vêem como centro de poder mundial os grandes
banqueiros e empresas transnacionais. O corpo de elite não eletivo que é a
essência da Nova Ordem Mundial, possivelmente jamais passará de um ideal
irrealizável tantas são as mãos invisíveis competindo umas com as outras. O que
não quer dizer que o Governo Mundial já não esteja aí, cada vez mais forte. A
consequência da mistura de teorias ridículas com a realidade que já está presente
é fazer com que esta seja descartada junto com as primeiras, como ocorreu nos
EUA quando as denúncias da maciça infiltração comunista na administração
foram ridicularizadas devido à figura patética do fanático Joseph MacCarthy.

No meio de tantas tramas secretas absurdas, as pessoas que se julgam racionais
por rejeitá-las acabam tomando como verdade tudo que tem origem em algum
organismo ao qual atribuem credibilidade sem nem desconfiar e acabam caindo
na própria armadilha da qual fugiam, isto é, do verdadeiro e nada secreto
Governo Mundial já instalado e em franca expansão: a ONU. É claro que
existem mãos invisíveis por trás da ONU , invisíveis só para aqueles que não se
informam a respeito. Nenhuma é propriamente secreta: das três organizações
acima referidas duas (CFR e TC) possuem páginas na Internet, publicações e
livros, comandam Universidades e dominam vários governos nacionais.

Existem, sim, operações e decisões tomadas em sigilo, cuja existência em si não
é segredo para ninguém, só o conteúdo delas. Estas organizações precisam de
financiamentos vultosos e ninguém financia nada que não seja em proveito
próprio. As fundações e corporações, tal como os banqueiros e mega-
empresários, mantêm seus projetos em segredo em função da concorrência.
Obviamente, seus planos de investimento também são elaborados secretamente.
O fato novo nas últimas décadas são as ONGs isentas de impostos que, portanto,
não precisam revelar suas fontes de financiamento. Mesmo assim é difícil, mas
não impossível rastreá-las, como já foi feito no Mídia Sem Máscara no tocante
ao desarmamento e às redes feministas.


A Implementação

A implementação do plano para o Governo Mundial já está em pleno andamento
e para os leitores se daremconta disto, aqui vão alguns dos principais itens e seu
estágio de desenvolvimento atual:

• Formação de uma Força Internacional de Paz permanente sob o tomando da
ONU e aumento do poder da ONU – em ifase adiantada de implementação
Transformação da Assembléia Geral da ONU ampliada num Parlamento
Mundial com poderes de legislar acima dos legislativos nacionais. Ampliação do
Conselho de segurança e dos Membros Permanentes (Brasil candidato) com
eliminação do poder de veto. A crença enraizada de que a Onu é uma
organização empenhada pela paz mundial é no mínimo irracional. Criada uma
burocracia, qual é a sua tendência senão expandir-se indefinidamente? E qual o
meio da ONU se expandir senão se mostrando cada vez mais necessária
fomentando guerras chamadas “limitadas”? É o velho lema das burocracias:
“criar dificuldades para vender facilidades” O conceito de guerra limitada foi
desenvolvido na primeira ação pacifista da ONU a Guerra da Coréia (1950-53).
Os EUA não usaram todo o poderio que tinham, muito superior ao de todos os
países comunistas juntos, porque não estavam lá para ganhar, mas apenas para
"conter os comunistas" que, por sua vez, sabiam que não podiam ganhar já
quando iniciaram as hostilidades Entre os interesses dos dois lados foi decisivo o
de dar credibilidade à ONU como pacificadora. MacArthur' percebeu isto,
protestou e foi despedido por Truman em 1951 Foi recebido com honras pela
população que, enraivecida, enchera a Casa Branca com 125.000 telegramas de
protesto. A tão decantada "paz" será um estado crônico de guerras localizadas.
Sem dúvida vai morrer muito mais gente nesta paz do que nas guerras
convencionais, lutadas para vencer. Mas a elite da comunidade internacional
sabe que ""A Paz", pela qual financiam tantos movimentos e passeatas, não
passa de uma quimera inatingível – salvo nos cemitérios – quimera que a elite
usa para iludir a população mundial.

• Uma Corte Criminal Internacional para proteger os "direitos humanos" e mais
tarde impor seus julgamentos superiores aos das Cortes Nacionais. Tais
"direitos" são sempre enfatizados para bandidos, terroristas, assassinos, o alvo,
os Estados Unidos da América. As exigências de fechamento da base americana
de Guantánamo, enquanto se fazem de desentendidos do genocídio castrista do
outro lado da cerca, é uma ilustração suficiente – esta Corte já está formada:
Tribunal Penal Internacional já em atividade.

• Um sistema global de impostos para sustentar a nova burocracia e o futuro
Exército mundial sob a ostensiva razão de “diminuir as desigualdades entre
países”, redistribuição obrigatória da riqueza e da renda para combater as
desigualdades, perdão unilateral das dívidas externas – já propostas discussão, o
Brasil atual é um dos paladinos desta causa social.

• Uma abordagem global para a doença mais politizada de toda a história da
humanidade: a AIDS. Controle global da saúde determinando, via OMS, o que
podemos ou não comer, ampliar o pânico do fumo, gorduras e o que mais
interesse – já em pleno andamento. Sucesso total quanto ao fumo, parcial quanto
às gorduras. Itens importantes da agenda são a liberação das drogas, do aborto e
da eutanásia.

• Radical feminização do poder segundo a perspectiva de gênero" inventada
pelas feministas radicais americanas – em plena fase de implementação, nos
meios "bem pensantes" entre nós, a palavra sexo foi praticamente abolida e
substituída por gênero. Abordei brevemente este ponto no meu artigo
Desarmamento infantil e androginia Liberação dos casamentos homossexuais e
da possibilidade de adoção de crianças por casais homossexuais, e
descriminação do aborto em qualquer época – em fase de implementação; mais
uma vez o Brasil na vanguarda.

• Educação pública internacionalizada e ações afirmativas internacionais –
praticamente em todo o mundo a UNESCO já é quem dá as cartas na educação,
com exceção de alguns colégios particulares religiosos que ainda resistem nos
USA. Para as bases desta Nova Educação para a Paz a e Cidadania Universal ver
meu True Lies II. Objetivo principal: erradicar completamente as tradições da
civilização ocidental judaico-cristã, substituindo estas religiões pela religião da
Nova Era.

• Registro internacional de armas e restrição ao porte – os eleitores brasileiros
deram uma surra, mas ganhamos apenas uma batalha, a guerra continua e será
cada vez mais árdua, pois o interesse em colocar todas as armas do mundo sob
controle da ONU é avassalador. A lição foi de que no voto podem não levar, o
que só reforça a investida a favor de um grupo não-efetivo. Apesar do resultado
do referendo o Estatuto do Desarmamento, que deveria ter sido extinto após a
manifestação do eleitorado, está sendo usado para ampliar as limitações.

• Pânico ecológico crescente, visando aterrorizar a população com o fim do
mundo para submetê-la totalmente aos burocratas, ativistas e políticos alarmistas
sob o manto da ONU , fazendo com que a população mundial abra cada vez mais
mão de seus direitos cedendo-os aos burocratas globais que passariam a
controlar cada casa, cada meio de transporte, fábrica, negócios, agricultura e
todas as decisões dos consumidores O objetivo mais tenebroso é acabar, para os
cidadãos comuns, com os resultados do progresso capitalista fazendo a
humanidade retornar a um estado anterior de escassez, resultado inevitável da
aplicação do Protocolo de Kyoto. O tom de fim do mundo com que o tema do
clima tem sido abordado e principalmente a atribuição a causas humanas, é
exatamente para impedir as pessoas de pensar e se informar e somente reagir
emocionalmente como num arco reflexo de Pavlov: falou em aquecimento
global a maioria começa caninamente a salivar ódio contra as indústrias
"poluidoras", os carros e aviões que lançam CO2 na atmosfera, enfim, contra o
capitalismo e o "imperialismo norte-americano". As muitas alegações
catastróficas sobre o aquecimento global ser uma consequência direta e
inequívoca da ação do homem, servem como justificativas para o avanço da
agenda política da burocracia global, isto é, é parte integrante e essencial dos
planos de Governo Mundial. São bilhões de dólares escorrendo para os bolsos de
cientistas, ativistas, burocratas, políticos, empresas que vendem novos produtos
“politicamente corre tos" geralmente subsidiados E dinheiro, poder e controle
mundial! Se não houver pânico, não haverá dinheiro.

• Last but not least, destruição da linguagem tradicional em todos os idiomas
substituindo-as pela Novilíngua (apud Orwell), a já instalada linguagem do
politicamente correto.

Todas estas ações são dadas como oriundas da misteriosa "comunidade
internacional" e realizadas através de "formadores de opinião": popstars,
personagens destacadas tipo Al Capone, cineastas, teatrologos, atores de TV,
teatro e cinema, principalmente nos países como o Brasil, em que são
dependentes de verbas federais e das ONG’s globais: uma gente que desde os
tempos de Stalin só pensa em tomar o poder em nome da igualdade e da justiça
social, mas sempre de olho na grana fácil, nos cargos públicos e nas mordomias
sem fim, como bem assinala Ipojuca Pontes, profundo conhecedor do ramo.

Os pontos acima não são sequer discutíveis, são impostos como aceitos “por
todos" consensualmente. Como disse o eco agit prop Al Gore, perante o
Congresso americano, sobre seu filmeco cheio de mentiras convenientes para a
comunidade internacional: “Não há mais lugar para nenhum debate sério sobre
os pontos básicos do consenso sobre aquecimento global", ao que Rush
Limbaugh observou que, "quando os liberais declaram que acabou o debate,
pode apostar que não acabou, eles querem apenas sufocá-lo".

CAPÍTULO 16

Uma Aliança Improvável...
Mas Real!






Uma forte objeção de muitas pessoas quando lêem livros como este sobre uma
Nova Ordem Mundial é que eles soam como pura para nóia pela improvável
aliança a que se referem: fundações bilionárias unidas a comunistas para
conquistar o mundo? Maluquice pura! Tais "maquinações" só podem ter saído de
mentes insanas que melhor fariam se procurassem um psiquiatra. Meu intuito é
tentar esclarecer o que há de realidade nesta aliança, já atuando a pleno vapor há
mais de cem anos.

Uma das principais dificuldades é que a maioria das pessoas tem uma visão de
mundo ultrapassada – a qual, de resto nunca foi nítida – que divide o mundo
político, cultural e econômico entre uma direita – os capitalistas burgueses e as
religiões tradicionais – e uma esquerda – onde ficam os comunistas e socialistas,
uns mais, outros menos revolucionários. Acredita-se que os capitalistas são os
maiores inimigos dos marxistas e socialistas. Esta crença tem sua origem no
próprio Karl Marx que a usou para seus propósitos. Como a maioria dos
historiadores não enxerga um palmo além do que Marx determinou que
enxergassem, por continuarem amarrados à camisa de força do materialismo
histórico, a aliança que sempre existiu entre os capitalistas e os revolucionários
socialistas, para benefício mútuo, tem ficado de fora do escopo dos estudiosos e
da população em geral. Lenin e principalmente Stalin precisavam mantê-la e
estimulá-la pela razão de que a revolução não pode ser feita sem inimigos.
Enquanto isto, como se verá, os bolchevistas se aproveitavam de uma aliança
invisível com os supostos inimigos, utilizando-os para acumular capital antes de
expropriá-los. Stalin é que acelerou a estatização e até hoje a divisão do mundo
em esquerda e direita é baseada numa visão de que o comunismo significa a
expropriação e estatização imediata dos meios de produção.

Mas Lenin estava mais para o espírito da teoria marxista. Se a retórica de Marx
era a da destruição da burguesia, seu entendimento da história era de que a
burguesia não existia como inimiga do proletariado, mas como etapa inevitável
do devir histórico que tinha ademais a importância de ser a parteira do
proletariado, classe que não poderia existir antes do desenvolvimento capitalista.
Com ela se iniciaria a etapa superior da luta de classes com a vitória inevitável
do proletariado por força das contradições internas do capitalismo. Mas a
gestação do proletariado seria lenta e dependeria da acumulação capitalista de
capital. Não se pode esquecer que seu principal aliado e financiador era
Friedrich Engels, um burguês muito bem de vida, com cujo "capital acumulado"
o sustentava. Que aconteceu no interregno histórico entre esta estranha aliança e
o que ocorre hoje na China, onde mega empresários obtêm lucros estonteantes e
o comunismo se gue firme e forte? A mesma coisa, exatamente a mesma coisa,
só que da forma mais velada possível. Uma economia socialista pura é uma
impossibilidade que já foi demonstrada por von Mises. A Perestroika de
Gorbachov nada mais é que um retorno corretivo a Lenin, como ele mesmo
declara.

Para termos um ponto de partida, pode-se dizer que tudo começou em 1909
quando o Congresso dos estados Unidos incluiu na Constituição a segunda
medida sugerida por Marx e Engels no Manifesto do Partido Comunista para a
instalação de um futuro estado comunista:

“2. Criação de um imposto de renda pesado e gradualmente
progressivo”.

Estabelece a XVI Emenda à Constituição dos Estados Unidos:

O Congresso terá poderes para criar e recolher impostos sobre a renda,
de qualquer fonte, sem distribuição proporcional entre os diversos
Estados, e independentemente de qualquer recenseamento ou lista.

Os EUA somente haviam tido imposto sobre a renda durante a Guerra Civil. Em
1895 a Suprema Corte declarara inconstitucional qualquer imposto sobre os
rendimentos cobrado uniformemente em todos os Estados. Por isto foi necessária
uma Emenda Constitucional. A princípio era apenas nominal: 1% da renda
abaixo de US$ 20,000 e a promessa era de que nunca aumentaria. A Emenda foi
ratificada em 1913 e neste mesmo ano o Congresso adotou a quinta sugestão de
Marx, criando o Federal Reserve System, mais conhecido como FED:
centralização do crédito nos bancos estatais, por meio de um banco nacional com
capital estatal e monopólio exclusivo manifesto.

No século XIX, os banqueiros internacionais haviam conseguido criar Bancos
Centrais na Inglaterra, França e Alemanha que nada tinham de estatais como o
nome sugere, eram monopólios privados conseguidos dos chefes de Estado em
troca de empréstimos aos governos – e possivelmente algum grau de corrupção –
segundo a máxima do mais representativo de todos os banqueiros, Meyer
Amschel Rothschild: “Dê-me o controle do dinheiro de uma Nação e pouco me
importa quem faça suas leis”. Os Diretores de tais bancos não tinham poder real
algum, pois nada mais eram do que prepostos dos banqueiros privados. O
objetivo final era estabelecer um Sistema Mundial de Controle Financeiro e
depois da Europa, a possibilidade de continuar pelos EUA seria um manjar dos
deuses.

A primeira tentativa de Rothschild nos EUA falhara redondamente pela
determinação do Presidente Andrew Jackson (1829-1837). Rothschild, através
de dois influentes advogados e políticos poderosos, Henry Clay e Daniel
Webster, fez de tudo para transformar o Second Bank of the United States
(1816-1836), um monopólio patrocinado pelo governo, mas por ele controlado,
num banco central sob controle privado. A pressão foi tanta que Jackson disse a
Martin van Buren, que viria a ser o seu sucessor: "O banco está tentando me
matar, mas eu vou matá-lo antes!” O s advogados conseguiram no Congresso
uma re novação da carta de privilégios do banco e Jackson, que era conhecido
como a "velha nogueira", vetou-a, fechou o banco e ainda o processou por uso
ilegal de privilégio econômico. E declarou. “O grande esforço que o banco fez
para controlar o governo (...) é uma premonição do futuro que cairia sobre o
povo Americano se tivesse sido convencido a perpetuar esta instituição, e que
cairá se permitir o estabelecimento de outra igual no futuro”.

Sobre a criação do FED, manifestou-se então o Senador Charles Lindbergh, Sr.,
pai do famoso aviador do Spirit of St. Louis. "Este ato cria o mais
gigantesco trust; quando o Presidente assinar este ato o poder invisível do
governo financeiro será legalizado e submeterá os poderes executivo e
legislativo da Nação e dos Estados". Lindbergh fazia parte da Comissão
Monetária Nacional, criada pelo pânico de 1907, presidida pelo Senador Nelson
Aldrich, não por coincidência o mesmo que propôs a criação do imposto de
renda. Sua filha casou-se com John Rockfeller Jr., e o filho do casal foi o ex-
Vice Presidente Nelson Aldrich Rockfeller. Apesar de ter o nome de federal, o
FED está sob controle privado incorporado por ações pelos bancos. Dois terços
de seus diretores são indicados pelos bancos privados e seus Chairmen são
escolhidos sempre entre membros da comunidade bancária de New York.


A ideia de uma união de todas as nações
para a paz e o governo mundial

Anos antes daqueles acontecimentos descritos, a idéia de um governo mundial já
era propagada nos EUA pelo Carnegie Edowment for International Peace. Em
1950 investigadores governamentais tiveram acesso aos anti gos registros desta
organização. Bem antes do início das hostilidades da I Guerra Mundial
encontrava-se nestes documentos a necessidade de envolver os EUA numa
guerra generalizada que resultasse num anseio mundial pela paz através da união
de todas as nações, o que abriria o caminho para o governo mundial. Haveria
uma ligação entre estes planos, a criação do FED e do imposto de renda, e o
afundamento no navio americano Lusitania em 4 de maio de 1915, incidente que
despertou um grande sentimento antigermânico no povo americano? Há indícios
de que sim. Embora o navio fosse britânico e transportasse munições americanas
para a Inglaterra, levava 128 cidadãos americanos a bordo. Mesmo assim,
Wilson hesitou e foi reeleito em 1916 com o slogan "Ele nos manteve fora da
guerra".

Suspeita-se que esta hesitação teria a ver com orientação dos grandes banqueiros
internacionais. O principal assessor diplomático do Presidente Woodrow Wilson
era o Coronel Edward M. House, intimamente ligado aos banqueiros. Sua
influência era tanta que fazia sombra ao Secretário de Estado Robert Lansing.
Logo após empossado para o segundo mandato, em 1917, Wilson pronuncia seu
famoso discurso “Peace without victory” e em comunicado ao Kaiser declara
que os EUA não participariam das discussões de paz, exceto quanto ao
estabelecimento de uma "Liga das Nações". Mas em 1º de fevereiro tudo mudou
após a Alemanha ter iniciado a guerra submarina irrestrita, fato sem precedentes,
negligenciando as restrições contidas nas "Rules of Prize Warfare" (Lei das
Presas de Guerra). Do lado alemão, como vimos no Capítulo III, a sugestão de
Hermann Weil foi fundamental.

House também teria instado Wilson a conceder passaporte americano para Leon
Trotsky, então exilado na América, logo após a abdicação do Czar, para que
assumisse seu posto na revolução bolchevique. House também interveio, em 28
de novembro de 1917, 21 dias depois da tomada do poder pelos bolcheviques,
para evitar qualquer menção nos jornais de que a Rússia passara a ser o novo
inimigo. Imediatamente Wilson declara que não haveria interferência e, apesar
das notícias sobre as atrocidades impediram o reconhecimentos formal (que o
Senado jamais aceitaria), Wilson continuou expressando seu apoio.


Wall Street e a revolução bolchevista

Já no verão daquele ano uma missão 'humanitária" da Cruz Vermelha Americana
integrada por 15 financistas de Wall Street liderados pelo Chairman do FED,
William Boyce Thompson, chegou a Petrogrado ostensivamente para ajudar o
governo Kerensky, mas em outubro, com o golpe bolchevique, continuou lá.
Jacob Schiíf, Presidente da casa bancária Kuhn, Loeb & Co. mandou 20 milhões
de dólares para ajudar o assalto final dos bolcheviques. J. P. Morgan mandou 1
milhão de dólares através de Thompson para financiar a divulgação da ideologia
bolchevique. Não é de estranhar que seu banco, o National City Bank, tenha sido
o único a não ser nacionalizado na URSS. O mesmo Thompson fundou a Liga
Americana de Ajuda e Cooperação com a Rússia quando de lá retornou. Fez uma
longa turnê pelos EUA para promover a causa dos bolchevistas e pelo
reconhecimento do novo governo russo. Um outro comitê formado por
banqueiros e executivos de Wall Street, a Junta de Negócios de Guerra,
recomendou ao Departamento de Estado, em junho de 1918, "relações
comerciais mais próximas e amistosas com a Rússia".

A Cruz Vermelha Americana tinha quase falido pelos encargos da 1ª Guerra
Mundial. Foi “salva’ pelo banqueiros nova-iorquinos que viam nela não uma
entidade assistencial, mas um braço do governo americano. Em troca da
“salvação” intervieram no Conselho que ficou parecendo, segundo Antony
Sutton, um “Diretório Central das Diretorias dos Bancos de Noava York”:
tomaram posse representantes de J.P. Morgan, Anaconda Copper, Guarantee
Trust e Rockfeller. A missão da Cruz Vermelha era constituída em sua maioria
de advogados, financistas e seus assistentes e oficiais do Exército americano e
seus ordenanças, e havia apenas cinco médicos. Estes, ao perceberem que se
tratava de uma missão política, nada humanitária nem de assistência médica,
voltaram para os Estados Unidos um mês depois da chegada em sinal de
protesto, liderados pelo Dr. Frank Billings, professor da Universidade de
Chicago.

***

Além de financistas inúmeros empresários foram responsáveis pelo
soerguimento e consequente exploração altamente lucrativa da economia russa
após a tomada de poder pelos bolchevistas. Por razões que ficarão claras abaixo,
limitar-me-ei a Armand Hammer. Seu pai, Julius, médico emigrante russo fizera
amizade com Lenin numa conferência socialista em Berlim em 1907 e adotou
como sobrenome o símbolo do Partido Comunista dos Trabalhadores
Americanos – o braço e o martelo (hammer) – e veio a ser um dos fundadores do
Partido Comunista Americano. Julius aceitou a incumbência de formar uma
célula clandestina de elite de apoio às necessidades de Lenin do movimento
revolucionário russo. Fundou uma pequena cadeia de drogarias que distribuía
cremes para a pele e ervas medicinais, a Allied Drutf and Chemical. Quando os
bolcheviques tomaram o poder total, em 1919, trabalhou com Ludwig Martens,
chefe do Bureau Soviético nos EUA tido como o embaixador soviético de facto
da Rússia, que veio a se tornar o dono efetivo da Allied e a usou para lavagem de
dinheiro procedente do contrabando de diamantes e para exportar secretamente
armamentos para a União Soviética. Julius foi preso em 1921 por prática
clandestina de aborto seguido de morte e condenado a uma sentença de três e
meio a doze anos de trabalhos forçados. Armand assumiu o controle. Na
verdade, Armand tinha sido o autor do aborto ainda como estudante, o que seria
condenação certa e o pai esperava conseguir absolvição.

Lenin usava Hammer como contato com os capitalistas americanos, ingleses e
alemães levando aos mesmos "a imagem de uma Rússia não ameaçadora e uma
fonte potencial de grandes lucros" e contando com que sua ganância servisse de
caminho para pressionar os governos a suspender as restrições ao comércio. A
expansão foi rápida. Hammer persuadiu Henry Ford a ir a Moscou e lá Ford
fundou a fábrica de tratores Fordson. Hammer negociou peles de animais que só
existiam na Rússia e eram altamente valorizados no ocidente e uma fábrica de
lápis de sua propriedade garantiu o monopólio. Em 1929, quando Stalin
expropriou todos os seus bens, como compensação permitiu à sua amante
"contrabandear" artigos de arte antiga da época dos Czares. A abertura recente
dos arquivos de Moscou demonstra que Hammer era muito mais do que um
comerciante desonesto: era de fato agente do Kommtem para cujos cofres
secretos nos EUA iam todos os lucros de suas transações que ele não conseguia
surrupiar. James Jesus Angleton, Chefe da Contra-Inteligência da CIA
denunciara a existência de um agente de influência russo identificado como "o
príncipe capitalista" e evidências de que tal agente seria Hammer foram
encontradas em 1927 em documentos da Arcos, a missão soviética de comércio
em Londres. Seu sócio na Allied, Ludwig Martens declarou perante um Comitê
do Senado que investigava a influência soviética na America, que seus esforços
de propaganda não se dirigiam aos radicais e proletários, mas a ganhar o apoio
dos grandes empresários e industriais. E asseverou que grande número das
famílias de negócio o ajudou a buscar o reconhecimento soviético pelo governo
Americano.


A convergência das dias estratégias

Por que existiu e existe ainda esta aliança entre os super-ricos e os comunistas?
Se os comunistas seguissem sua ideologia como eles a expõem, deveriam
desprezar e atacar os "patrões capitalistas" do proletariado cujas empresas viriam
a ser expropriadas em favor "do povo", e não se aliar a eles. Por sua vez, os
empresários que fizeram suas fortunas no regime de livre concorrência,
deveriam ser enérgicos defensores do capitalismo e se opor aos comunistas. O
que ocorre então?

A resposta, assim como a pergunta, é dupla. Em primeiro lugar, o comunismo,
na prática, é uma cultura e um sistema no qual o poder total está nas mãos do
Estado. Isto inclui o monopólio do poder econômico, político, controle total das
comunicações, da educação, das religiões, da moral, nada escapa ao poder do
Estado, representado pelo Governo e órgãos assessórios. Não é um sistema
anticapitalista, mas no que toca à economia, controlador monopolista da
produção, da distribuição e até do varejo e, para isto, impede a concorrência.

Para Olavo de Carvalho "um século de liberdade econômica e política (foi)
suficiente para tornar alguns capitalistas tão formidavelmente ricos que eles já
não querem se submeter às veleidades do mercado que os enriqueceu. Já não são
megacapitalistas: são metacapitalistas – a classe que transcendeu o capitalismo e
o transformou no único socialismo que algum dia existiu ou existirá, o
socialismo dos grão senhores e dos engenheiros sociais a seu serviço”.

E é exatamente aí que os dois sistemas confluem para a convergência: os
empresários muito ricos fizeram fortuna por meio da livre concorrência, mas
tornaram-se paulatinamente monopolistas. Quando isto ocorre, a livre
concorrência os ameaça com os que estão começando e certamente possuem
maior criatividade. Se não puderem ser comprados – e muitos não se interessam
– devem ser esmagados e suas criações roubadas. John D. Rockfeller dizia: "a
competição é um pecado!”. Não mais querem se submeter, mas controlar o
mercado e os instrumentos para isso são três: o domínio do Estado, para a
implantação das políticas estatizantes necessárias à eternização do oligopólio; o
estímulo aos movimentos socialistas e comunistas, que invariavelmente
favorecem o crescimento do poder estatal; e a arregimentação de um exército de
intelectuais que preparem a opinião pública para dizer adeus às liberdades
burguesas para entrarem alegremente num mundo de repressão onipresente e
obsedante (estendendo-se até aos últimos detalhes da vida privada), apresentado
como um paraíso adornado ao mesmo tempo com a abundância do capitalismo e
a “justiça social” do comunismo.

A única diferença entre metacapitalistas e comunistas é que os últimos defendem
o monopólio do Estado. Mas, se um banqueiro internacional conseguir dominar
o governo comunista instalado, através de em préstimos subsidiados pelos
impostos dos países ricos, – leia-se pelos contribuintes – manipulação do Banco
Central, campanhas políticas comprando votos e corrompendo os políticos para
votarem a lavor de seus desígnios? A diferença desaparece, pois o regime
socialista os atrai exatamente por serem ambos monopolistas!

Entenda-se que anticomunistas são os pequenos e médios empresários, a classe
média e o povo em geral que precisam da concorrência para crescer de status
social. Os primeiros serão fatalmente engolidos – através de compra, fusões, etc.
– e ainda pior, com o dinheiro de seus impostos. Anticapitalistas são os sinceros
comunistas, antes de conhecerem o “espírito da coisa” e os idiotas úteis que
acreditam mas intenções benévolas da utopia ideológica comunista tal como ela
é exposta e não como funciona na prática. Não é por outra razão que são os
primeiros a irem para o paredão, pois seu idealismo ameaça muito mais os donos
do poder do que oposições armadas.

Aos metacapitalistas pouco importa que os demais monopólios – educação,
cultura, religião, etc. – sejam dominados pelos comunistas, desde que estes
estimulem a crença absoluta no regime e anulem as oposições. Perguntado por
um assessor onde ele encontraria a corda para enforcar os capitalistas, Lenin
respondeu: "eles mesmos vão providenciá-la para nós!" Deve-se acrescentar
ainda uma outra força irresistível que também quer dominar o mundo: o Islam,
que está fora do escopo deste livro, mas que momentaneamente se une a um ou
aos dois lados para destruir o inimigo comum aos três: a civilização Ocidental
greco-judaico-cristã e o domínio da liberdade e da individualidade.
Indubitavelmente é uma aliança instável, mas quem vai ganhar no final é outra
história ainda não contada. O resto do mundo sairá perdendo – até mesmo a vida.


O elo com o presente: Hammer, Gore & CO.

Minha escolha de Hammer entre tantos foi devida ao fato de que ele estabelece
um elo bastante nítido com as atividades quinta-coluna da mesma elite
americana no presente. Quando Al Gore Sr., pai do ex-Vice Presidente e
atual enfant gaté do beautiful people e eco agit prop Al Jr., foi eleito pela
primeira vez para a Câmara de Representantes em 1930 ele vivia do salário de
professor no Tennessee e alguns dólares extras tocando violino em festas de
igreja. Mais tarde, como Senador ele passou a viver no luxuoso Fairfaz Hotel e
mandou seu filho estudar na caríssima St. Albans School, frequentada pela alta
sociedade de Washington. Como milagres não acontecem, descobriu-se que o
senador Gore tinha um sócio secreto: Armand Hammer desde 1950 era seu sócio
em comércio de gado e Gore servia de abre-alas no mundo oficial de
Washington, D. C. Sua belíssima recompensa foi uma posição da Occidental
Petroleum que lhe rendia meio milhão de dólares por ano. Sua influência só
entrou em declínio com a posse de Ronald Reagan que havia sido avisado de
suas atividades pelo chefe da Inteligência Francesa, Alexandre de Marenches. O
filho continuou a tradição do pai de colocar o Senado americano a serviço de
Hammer e seus patrões comunistas."

As atividades antiamericanas de Al Gore Jr. continuam. Tendo perdido a
Presidência para Bush em 2000, frustrando todos os antiamericanos do mundo,
elas agora estão mais centradas em provocar o suicídio do seu país através das
"mentiras convenientes" do terrorismo ecológico. Num artigo para o Washington
Times em 28 de Janeiro de 2007, An economic suicide pactfor Europe and the
US. Paulo K. Driessen relata o impacto catastrófico que a redução de emissão de
gases combustíveis exigida pelo Protocolo de Kyoto teria sobre a vida na Terra
tal como a conhecemos hoje. Os países desenvolvidos teriam que reverter aos
estágios anteriores ao uso de motores de combustão interna. Acabariam milhões
de empregos transferindo-os para países em desenvolvimento. Como este artigo
não é sobre o assunto, basta mostrar a conexão de Al Gore e seus cúmplices
atuais, Nancy Pelosi na política, idiotinhas deslumbra dos como Leonardo Di
Caprio e o Príncipe Charles, com a antiga gang comunista de Gore Sr. e
Hammer.

CAPÍTULO 17

As Principais Organizações Globalistas






Neste capítulo serão descritas de forma resumida algumas organizações
globalistas constituídas por pessoas que pretendem trazer paz eterna à Terra –
desde que sob certas condições por eles determinadas. As raízes filosóficas da
Paz Eterna estão em Kant, (Perpetual Peace. A Philosophical Essay. 1795 In
Kant , (Principies of Politics. including his essay on Perpetual Peace. A
Contribution to Political Science) onde o filósofo apresenta os pontos principais
que deveriam ser seguidos para se chegar a este consenso universal. Alguns
destes pontos serão citados brevemente no desenrolar do capítulo.


Woodrow Wilson Internacional Center for Scholars

O Centro Woodrow Wilson foi criado em 1968 pelo Congresso dos EUA, como
"um centro privado de investigação e documentação política”. O Centro é
dirigido por uma junta composta por oito funcionários oficiais, dentre os quais o
Secretário de Estado, e outras 11 personalidades do setor privado, porém
nomeadas pelo governo. Entre essas personalidades figuram luminares das
finanças, como John Reed, presidente do Citibank, Max Kampelman, presidente
honorário da Liga Anti-difamação Bnai Brith, e o presidente do gigantesco cartel
graneleiro Archer Daniels Midland. Condoleezza Rice, Secretária de Estado do
primeiro governo de Obama, é membro do Board of Trustees.

No entanto, o Centro se dedica a um outro tipo de ideologia, baseada no
pacifismo utópico e nas idéias messiânicas do ex-presidente americano que lhe
dá o nome, de reformular o mundo pela remoção do que lhe pareciam as causas
das injustiças e da guerra, considerando uma "missão sagrada" dos EUA a
imposição da democracia, do livre mercado e do liberalismo, uma espécie de
comunismo com o sinal trocado. Segundo Gaddis (We Now Know) a história
subsequente do século XX foi, em grande parte, a repercussão da luta entre estas
duas ideologias – Wilson x Lenin. Na verdade a situação não é bem de oposição,
mas de dois la dos que operam com a estratégia da tesoura.

Logo após o término da I Guerra Mundial, em janeiro de 1918 e apenas dois
meses e meio após o golpe de estado bolchevista, Wilson lança seus famosos 14
pontos como garantia para a Paz entre as Nações. É interessante a coincidência
com os Artigos de Kant, acima referidos, principalmente o início do discurso de
Wilson (It will be our which and purpose that the processes of peace, when they
are begun. Shall be absolutely open and that they shall involve and permit
henceforth no secret understandings of any kind) com o primeiro Artigo de Kant
(No conclusion of Peace shall be held to be valid as such, when it has been made
with the secret reservation os the material for a fortune War).

Chamo a atenção para os seguintes pontos de Wilson que são relevantes para o
estudo posterior:

IV. Deverão ser estabelecidas garantias adequadas de que os armamentos
nacionais serão reduzidos ao mínimo necessário à segurança intenta. (Kant ia
mais longe: Exércitos permanentes deverão ser completamente abolidos no
futuro). Vemos aqui o germe de decisões atualíssimas que estudaremos adiante.

XIV. Uma associação geral de nações deverá ser formada através de contratos
específicos para o propósito de proporcionar garantias mútuas de independência
política e territorial para todos os Estados, independentemente de seu tamanho.
Este ponto serviu de base para a Fundação da falida Liga das Nações e mais
tarde da ONU. Diferentemente da primeira, no entanto, a atual não está nada
propensa a aceitar as garantias asseguradas por Wilson quanto à independência
dos Estados, mas cada vez mais se aproxima da formação de um Governo
Mundial centralizador.


Council on Foreign Relations

Esta organização admite veladamente que a paz mundial será estabelecida
através de um único governo Mundial, embora a descrição de sua "missão" seja
insossa e um primor de inocuidade: O CFR, fundado em 1921,é uma
organização nacional não-partidária, que não visa o lucro,dedicada a promover o
entendimento das relações internacionais e a contribuir com idéias para a
formulação da política extrema dos Estados Unidos. Curiosamente, no entanto,
seus arquivos, que "contém todos os registros históricos das atividades e
crescimento" não podem ser consultados livremente, pois todos ficam
inacessíveis por 25 anos após a data de edição original.

O CFR foi entronizado no governo americano através de Franklin Roosevelt – e
mais tarde profundamente por Kennedy – e desde então seus membros estão
sempre presentes nas administrações democratas bem como na grande mídia,
instituições financeiras, multinacionais, corporações militares e de segurança.
Kennedy nomeou membros ativos do CFR para seus dois principais
Departamentos – de Estado e Defesa – respectivamente Dean Rusk e Robert
McNamara. Nove meses após a posse, em 25 de Setembro de 1961, Kennedy
apresentou ao plenário da ONU uma proposta intitulada Freedom from War. The
United States Program for General and Complete Disarmament in a Peaceful
World (Livre da Guerra: Proposta dos Estados Unidos para Desarmamento Geral
e Completo num Mundo de Paz), que se tornou conhecida como Department of
State Publication 7277.

Este documento servia aparentemente para controlar os armamentos nucleares
estratégicos e o uso pacífico do espaço. Previa uma evolução em três estágios. Já
no primeiro sugeria a redução das tropas conven cionais Americanas e
Soviéticas limitando-as a 2,1 milhões de efetivos respectivamente, proibia testes
nucleares e propunha poderes à ONU para a manutenção da paz, arbitramento de
conflitos, desenvolvimento de legislação internacional prevendo limites de
armamentos para todos os países através de uma Organização Internacional de
Desarmamento (IDO). E da manutenção de uma Força da Paz (Peace Force)
permanente com poder de coerção, estabelecendo regras para todos os países do
mundo. No segundo previa o aprofundamento destas medidas e o fim da
produção de armas químicas, bacteriológicas e radiológicas. No terceiro, várias
medidas são sugeridas. Para o que interessa aqui: redução de todas as tropas e
armamentos convencionais ao nível de garantia da ordem interna em cada País e
proibia a produção de armamentos com exceção da produção destinada à Força
de Paz da ONU, sendo que todos os demais armamentos deveriam ser destruídos
ou convertidos para propósitos pacíficos. Em suma, propunha a castração da
capacidade de defesa e ataque de todos os países do mundo. Este item deixa em
aberto até mesmo as armas de defesa pessoal, a critério da ONU.

Fazem parle do Conselho Administrativo atual do CFR várias personalidades
que já exerceram cargos de primeiro escalão em Administrações Democratas,
como Carla Hills, Robert E. Rubin, Richard N. Haass (atual Presidente), Peter
Ackerman, Madeleine K. Albright e muitos outros. O interessante para nosso
estudo específico é o fato de que o Chairman do Board of Trustees em 2006 era
o brasileiro Luiz Felipe Lampreia que foi Ministro das Relações Exteriores do
Brasil nas duas administrações de Fernando Henrique Cardoso (de 1995 a 2001),
além de ter exercido outros cargos como Representante Permanente junto à
ONU (Genebra, 1993-94), Secretário Geraldo Ministério das Relações
Exteriores (1992-93) e Subsecretário do Ministério das Relações Exteriores
(1988-90). Ocorre que o mesmo Lampreia era simultaneamente o Presidente do
Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI). O CEBRI possui Forças-
Tarefa sobre a ALCA e os EUA. Da primeira fazia parte Marco Aurélio Garcia
(quando era Secretário de Cultura de São Paulo), o então Senador Roberto
Requião e Clovis Brigagão (Universidade Cândido Mendes). Coincidentemente,
mantém estreita ligação com o Movimento Viva Rio com o qual patrocinou,
juntamente com o Center on International Cooperation, seminários sobre
Transformações nos Arranjos Multilaterais de Segurança Perspectivas Latino-
americanas – do qual participaram Antônio Rangel Bandeira, Rubem César
Fernandes e o onipresente Marco Aurélio Garcia.


Trilateral Commission

A Comissão Trilateral (TC) idealizada por Zbignew Brzezinski, Assessor de
Segurança Nacional da Administração Carter, foi criada em 1973 por David
Rockefeller, Presidente do Chase-Manhattan Bank, com a função de coordenar
industrial, econômica e politicamente as atividades dos vários governos da
América do Norte, Ásia e Europa desenvolvendo o conceito de
"interdependência crescente" para intensificar a liderança mundial das nações
industrializadas do Hemisfério Norte. Constitui uma evolução natural das
organizações internacionais de elite do tipo do já descrito CFR, baseado nos
EUA, e do Bilderberg Group, baseado na Europa. No entanto a TC difere
significativamente destas organizações por ter substituído o Atlanticismo pelo
Trilateralismo, com a inclusão do Japão.

A TC pode ser definida como o comitê executivo de assessoria ao capital
financeiro internacional. Segundo Richard Falk, sua perspectiva ideológica
representa a visão de mundo transnacional das corporações multinacionais que
pretendem substituir as políticas territoriais por obetivos econômicos não-
territoriais. Uma de suas funções, portanto, é combater o nacionalismo e a
própria noção de "Estados Nacionais”. A "interdependência crescente" dos anos
70 que motivaram sua fundação – inicialmente por apenas três anos – vem se
aprofundando no sentido de "globalização”. Sua perspectiva vem mudando
paulatinamente, levando em consideração as dramáticas mudanças do sistema
internacional. Segundo o Professor de Economia da Universidade Estadual da
Califórnia – Los Angeles e Pesquisador Senior da Universidade de Stanford –
Dr. Sutton, que rastreou o desenvolvimento da CT desde seus primeiros passos,
ela vem se encaminhando no sentido de dar um impulso final para a criação de
um Governo Mundial, ou Nova Ordem Mundial. Ele afirma que muitos
americanos se deixam enganar ao aceitá-la, pois ela representa uma ameaça
mortal à soberania nacional dos EUA bem como do bem-estar econômico de seu
povo. Imagine-se o que não dizer de países como o Brasil, que nem incluídos
estão nas discussões.

Bom, não é bem assim: o Brasil não, mas alguns de seus políticos sim. Fernando
Henrique Cardoso é o enfant gâté da Comissão Trilateral, onde tem apresentado
vários trabalhos e é incensado por seus membros como a grande esperança de
transformação na América Latina, restaurador da governabilidade democrática e
das políticas dos direitos humanos na região.8Para uma Organização que
defende a globalização e o Governo Mundial é possível avaliar as ações dos oito
anos de Governo do PSDB e concluir com certeza de que não se trata de um
Partido nacional, como já vimos que o PT não é, mas sim um Partido a serviço
das ideologias globalizantes daqueles que se autodenominam “elite”
internacional. Um dos mais importantes documentos da globalização é de autoria
de FHC e ficou conhecido como Cardoso Report, elaborado por um Painel de
Pessoas Eminentes da ONU – Civil Society Relations constituído de mais 12
pessoas.

Como seu irmão siamês, o PT, sua política de privatizações, por exemplo, nada
tinha de capitalista, mas visava a internacionalização da economia nacional para
os grandes cartéis transnacionais. Por esta razão, a criação simultânea das
famigeradas "agências reguladoras" através das quais fica mantido o controle
estatal. Explica também a política externa anti-americana e de apoio total à
ONU, continuada pelo PT.


O Diálogo Interamericano

Em 1982 duas ocorrências levaram pânico aos países ricos: a Guerra das
Malvinas e a crise da dívida externa que apresentava sérios riscos de default.
Aproveitando o caos político e institucional na América Latina, interesses
internacionais moveram-se rapidamente buscando manter seu domínio político e
econômico na região. Desse esforço surgiu o que se convencionou chamar
Diálogo Interamericano. Em junho, julho e agosto de 1982 foram organizados
três seminários para debater as repercussões da guerra das Malvinas nas relações
interamericanas, sob os auspícios do Centro Woodrou’ Wilson.

No primeiro dos três seminários realizados após o término da guerra das
Malvinas, Heraldo Munoz, então professor da Universidade do Chile,
argumentou que o intento (argentino) de recuperar a soberania sobre as ilhas
Malvinas "só foi possível porque não havia um governo democrático na
Argentina”. Munoz, posteriormente, foi nomeado embaixador do Chile perante a
OEA (Organização dos Estados Americanos).

O Diálogo Interamericano propunha estabelecer estruturas supranacionais para
atuar no continente, vigiando as atividades militares e promovendo ações
intervencionistas "sempre que necessário". Dez anos depois – governo Clinton,
um membro ativo dos mais importantes do CFR – o Diálogo Interamericano
anunciou um plano para eliminar, a curto prazo, a soberania dos estados da
América Latina, substituindo suas funções por uma rede de instituições
supranacionais subordinadas aos interesses hegemônicos transnacionais, via
Nações Unidas, FMI, e uma série de Organizações Não Governamentais. Esse
projeto baseava-se no argumento de que a “soberania dos estados nacionais não
poderia constituir-se num escudo atrás do qual governos ou grupos armados
poderiam se esconder”, numa clara menção à ideologia wilsoniana e kantiana.
Não por coincidência movimentos de guerrilha no México, Colômbia, Peru e
Guatemala passaram para a primeira página dos jornais, servindo para estimular
as diretrizes do Diálogo Interamericano, forma de intimidação e erosão dos
Estados Nacionais. Também foram incrementadas campanhas para a formação
de nações indígenas independentes, como no caso dos lanomâmi.

Outras ameaças aos Estados Nacionais foram feitas por parte do Diálogo
Interamericano: suspensão da assistência econômica bilateral, estimulando a
criação de instituições supranacionais e sujeitando a elas a ajuda, embargo de
exportações e importações vitais, suspensão de ajudas militares, de fornecimento
de equipamentos e, finalmente, a possibilidade de intervenções militares. O
modelo também previa a internacionalização das economias nacionais via
privatizações fajutas – como a do discípulo FHC – possibilidade total de
especulação financeira e até recomendação de que deviam ser suspensos os
direitos sociais de algumas constituições de países da América Latina, como
forma de "incrementar investimentos".

Foi questionada a missão dos militares, infensos a aceitar a transformação de
nosso território numa imensa fazenda exportadora de matérias-primas e de
produtos semi-manufaturados e subvalorizados. Foi sugerido então que se
construísse uma "rede democrática" com poderes suficientes para opor-se "aos
comunistas e aos militares", colocados, assim, em pé de igualdade. Daí nasceu a
Resolução da OEA sobre o monitoramento das democracias no continente. O
foco dos países ricos passou a ser não mais somente os movimentos comunistas,
que já não são considerados tão perigosos após o "fim da guerra fria", mas
também as ações dos mili tares do continente em defesa das respectivas
soberanias nacionais.

Para lograr este último objetivo, o documento do diálogo considerou ser urgente
reduzir a participação militar em “assuntos civis. Em fins do ano de 1986, o
Diálogo pôs em marcha um projeto que culminou com a publicação, em 1990,
do chamado Manual Bush (de Bush pai), uma obra antimilitar editada em
espanhol com o título Los Militares y la Democracia: El Futuro de Las
Relaciones Cívico-Militares em America Latina, que sugeria o desencadeamento
de uma guerra econômica contra os militares latino-americanos, assinalando que
“o nível de recursos a ser destinado aos militares”deveria ser questionado e
mudado, como uma das das formas mais efetivas de “conter a influência das
Forças Armadas” dos países ao sul do Rio Grande. O flanco econômica
transformar-se-ia, assim, rapidamente, no ponto forte da guerra contra os
militares da América Latina. A Comissão Trilateral defende substituição das
Forças Armadas dos países subdesenvolvidos, notadamente da América Latina,
por forças regionais de defesa, que por aqui até já tem nome: Força
Interamericana de Defesa.

Um outro fator de risco é o considerado como excessivo crescimento
populacional nos países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, pois "o
excesso populacional agride a natureza e provoca o aquecimento da Terra".
Foram também recomendados pactos mundiais para forçar as nações atrasadas
ao cumprimento de rigorosas medidas protecionistas do meio ambiente, em troca
da promessa de redução de suas dívidas externas. Ao propor a criação de forças
regionais de defesa, foi assinalado que a Guerra Fria acabara e que não havia
mais riscos de comunismo na América Latina. Sobre a eliminação das Forças
Arma das nacionais, a conclusão da Trilateral é a de que em muitos países da
América Latina elas tendem a "ser promotoras institucionais vigorosas de
comportamentos nacionalistas".

Embora reconhecendo que as nações necessitam de Forças Armadas, sugere-se
que elas devam ser "reestruturadas" segundo as normas fixadas pela “Nova
Ordem Mundial”, cortes orçamentários, redução de efetivos, abandono da
missão histórica de defender o Estado Nacional, participação em forças
multinacionais etc. “As Forças Armadas terão de aceitar que as coisas não
podem continuar como até agora; certas mudanças terão de ser feitas porque há
uma mudança muito forte em nível mundial indicando que as grandes
organizações de tipo estatal estão em crise (…). As Forças Armadas, como uma
instituição estatal, sofrem o mesmo destino que todos os demais organismos do
Estado: perdem poder, perdem dinheiro e perdem lugar”.

O desmoronamento dos soldos dos militares e do seu prestígio, através de uma
sistemática campanha para ligá-los à tortura – no Brasil aos "anos de chumbo" –
a par com vultosas indenizações pagas aos guerrilheiros e terroristas por eles
combatidos nas décadas de 60/70 que servem muito mais para dar justificativa à
campanha de desmoralização e só secundariamente ao aumento das suas contas
bancárias – criaram uma "profunda crise de identidade entre os militares no
continente", assegurou que "está crescendo a brecha entre gerações novas e
velhas" na instituição militar, e que "a geração mais jovem está imbuída do
ponto de vista da sociedade civil (...). Ao ir-se ajustando as novas democracias
ao neoliberalismo, os militares tendem a uma visão retrospectiva em busca do
nacionalismo e do regresso à política antiga. Porém, isso mudará, pois a
profissão de militar está a ponto de converter-se em uma profissão como
qualquer outra”.

Um outro perigoso movimento destinado a fragmentar as nações latino-
americanas é o chamado "Movimento pelos Direitos Indígenas”, grupos que
operam em quase todos os países do continente. Onde não há indígenas nativos,
missionários e antropólogos estrangeiros os constituem ou reconstituem. Esse
movimento é financiado, dirigido e promovido desde o exterior como uma força
dirigida explicitamente contra o Estado Nacional. Em fevereiro de 1993, o
Diálogo Interamericano constituiu um grupo de trabalho encarregado de
“Divisões Étnicas e a Consolidação da Democracia nas Américas”, com o
objetivo expresso de “estimular o debate entre os povos do hemisfério sobre a
relação entre os governos e os povos indígenas”, e se propôs emitir aos governos
da região “recomendações programáticas práticas”sobre a matéria.

A Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) – que, em
futuro não muito remoto, se tornará o Ministério do Trabalho do Governo
Mundial – estatui o direito de autodeterminação dos povos indígenas e tribais,
incluindo o direito de fazer leis próprias, regulamentos, convenções, tratados,
etc. E ainda proíbe as operações militares nas reservas em quaisquer
circunstâncias, como ocorreu em março de 2008 quando o Comandante da
Brigada de Infantaria de Selva do Exército brasileiro foi impedido de entrar
numa reserva em Roraima. Em breve os povos indígenas e tribais deverão
constituir-se em Estados independentes dentro dos territórios nacionais.

O Brasil supera todos os demais por uma situação característica de nosso país: a
existência dos Quilombolas. Os descendentes dos habitantes dos antigos
quilombos, redutos de negros refugiados da escravidão, de acordo com o Artigo
68 da Constituição Federal tem o direito de propriedade definitiva dos territórios,
desde que estejam ocupando suas terras. A partir de 2003, o Decreto 4.887
especifica que "para a medição e demarcação das terras serão levados em
consideração os critérios de territorialidade indicados pelos remanescentes das
comunidades quilombolas". Na prática, é a Fundação Palmares, do Ministério da
Cultura, que pode reconhecer como quilombola qualquer comunidade afro-
descendente mesmo as que não estejam ocupando as terras pretendidas. No
entanto, o título de propriedade é coletivo, em nome de uma Associação
obrigatória, pró-indiviso, com obrigatoriedade de cláusula de inalienabilidade,
imprescritibilidade e impenhorabilidade. Na prática, significa a estatização da
terra nos moldes soviéticos.

A OIT é ligada ao World Federalist Movement (WFM) e foi uma das mais
importantes e atuantes organizações pela criação da Corte Criminal
Internacional. Seu principal objetivo de longo prazo é a criação de um Governo
Federalista Mundial. Em curto prazo, trabalha por uma reforma em larga escala
da ONU que transforme a Assembléia Geral num Parlamento Global, pela
criação e reforço da uma Força Internacional de Paz permanente e por um
sistema de impostos internacionais para financiar o desenvolvimento
internacional sob proteção ambiental. O WFM, fundado em 1947, em
Montreaux, define a si mesmo como um movimento internacional de cidadãos
lutando por justiça, paz e prosperidade sustentável, baseado em instituições
mundiais fortes e democráticas para trazer a paz e a justiça para a comunidade
internacional através de instituições globais efetivas e submetidas às leis
internacionais. Apóia a criação de estruturas democráticas globais.


A Sblizhenie na ONU

Em setembro de 2000 reúne-se na sede da ONU o que foi considerado o maior
encontro de Chefes de Estado da história: o United Nations' Millennium
Summit. O s líderes das nações representadas eram pressionados a assinar
diversos tratados de aceitação global, incluindo o controvertido Estatuto de
Roma que abre caminho para a Corte Penal Internacional, feito sob medida para
condenar americanos e israelenses e o Protocolo de Kyoto para paralisar a
indústria americana. "Coincidentemente" do outro lado da ilha de Manhattam, no
New York Hilton Towers reuniu-se o State of the World Forum, convocado por
quem? Ora, quem disse Gorbachov levou o prêmio. Nesse Forum ele exigia um
novo e mais amplo papel para a ONU. O Forum – um projeto iniciando em 1994
pela Gorbachov Fundation-USA – busca o diálogo entre líderes mundias, tanto
dos governos como de setores da sociedade civil organizada na busca de um
novo paradigma para a civilização no limiar do novo milênio Este novo
paradigma inclui uma expansão radical da ONU com maior força de coerçào
sobre os governos nacionais. No seu discurso de abertura ele disse: "Em 1998 eu
falei de um novo papel para a ONU . Além do Conse lho de Segurança, devemos
ter um Conselho Econômico e um Conselho Ambiental, ambos com igual
autoridade ao de Segurança”. Embora tendo negado que estava propondo o
controle sobre a liberdade econômica, sugeria que "o Conselho Econômico
deverá ter direito de desenvolver regras que previnam situações explosivas, pois
o mercado capitalista mundial sem regras nítidas traz a falência das economias
menores e a recessão". Acrescentou que "no final, as corporações internacionais
terão que aceitar este controle", no que um observador questionou se isto não
seria apenas a internacionalização da versão marxista de controle econômico.

O onipresente George Soros, na apresentação dos 500 participantes do Forum,
disse que o mesmo era a quintessência da voz do globalismo enquanto criticava
acerbamente as corporações e o Congresso Americano, controlado pelos
Republicanos. No terceiro dia ficava claro que em todas as sessões cada orador
abordava um novo ângulo da mesma idéia: a ONU deveria coordenara
governança global! Só assim haveria condições para assegurar os direitos
humanos, mercados estáveis e direitos pessoais. Certamente algum mecanismo
de força seria necessário para proteger os direitos de toda a Humanidade.
Obviamente, um exército planetário e transnacional. No principal Painel do
Fórum – co-presidido por John Sweeney, Presidente da central sindical
esquerdista americana AFLCIO, Soros e Gorbachov – foi proposto um novo
globalismo bom em oposição àquele do "consenso de Washington", que trouxe
desigualdade entre as nações e violação dos direitos humanos. O Painel propôs,
entre outras coisas, que os empréstimos do FMI fossem dirigidos diretamente a
indivíduos e ONGs, sem necessidade de garantias nacionais o que certamente
desnacionalizaria o capital, num primeiro passo para a inexorável abolição dos
Estados Nacionais. Pregava-se ainda, a criação de um imposto sobre a circulação
de capital.


As ONG's Globalistas

Cada vez mais as ONG's vão se tornando o maior lobby dentro da ONU.
Calcula-se que sejam mais de 1.000 financiadas, por Fundações americanas e
europeias defendendo a agenda estabelecida naquele Fórum de potencialização
da ONU e contra a soberania americana. Incluem-se aqui, principalmente, as
organizações que exigem o desarmamento da população civil, pois um povo
armado até os dentes como o americano não é fácil de dominar. Os grandes
promotores do governo mundial são preponderantemente grandes corporações e
universidades, think tanks e Fundações isentas de impostos – entre as principais
estão, além das citadas acima, o Bilderberg Group (BG), e o Committee for
Economic Development (CED). O padrão geralmente seguido pela ONU para
aumentar seu poder é, mais uma vez, uma estratégia de pinça ou tesoura: por
"baixo”, congressos, fóruns, manifestações de rua organizadas pelas ONG's para
convencer a maioria da população mundial de que expressam um "consenso da
comunidade internacional", – por "cima", líderes corporativos, políticos e
diplomatas que "apenas" respondem aos clamores de tal vontade da "sociedade
civil organizada".

Porém, mais uma vez sem a cooperação de líderes americanos que desejam
impor esta nova ordem mundial contra seu próprio País, nada seria possível. E é
aí que entra o papel da esquerda do Partido Democrata e a proposta de leis que
atentam contra o Bill of Rights, centradas contra a Segunda Emenda –
principalmente a liberdade do estabelecimento de uma milícia armada e do porte
de armas – e, de maneira cínica, aparentemente defendendo a Primeira – a de
não lesgislar sobre assuntos religiosos. Baseados nisto, surgem os movimentos
ateístas e pagãos que acionam os governos locais e o federal por qualquer coisa
que se refira aos símbolos ou às crenças judaico-cristãs, o seu maior
inimigo. Vale repetir aqui frase de Gorbachov, em 15/12/1987: "Não pode existir
trégua na luta contra a religião porque, enquanto ela existir, o comunismo não
prevalecerá. Devemos intensificar a destruição de todas as religiões aonde for
que elas sejam praticadas ou ensinadas".

Nesta luta contam com a quinta-coluna religiosa, infiltrada nas Igrejas
americanas – tal como a Teologia da Libertação por aqui – através do National
Council of Churches (NCC). Seu Secretário Geral, Rev. Robert Edgar, logo após
a reeleição de Bush, proferiu: Esta eleição confirmou que esta é mesmo uma
nação dividida, não apenas politicamente, mas em termos de nossa interpretação
da vontade de Deus. Seu Programa de Com bate ao Racismo (PCR) é uma das
maiores fontes de financiamento para os movimentos guerrilheiros comunistas
do terceiro mundo. Um exemplo da atitude do NCC em relação à América
Latina é a do Bispo Metodista James Armstrong, após uma visita a Cuba em
1977:

Há uma diferença significativa entre situações aonde as pessoas são
aprisionadas por se oporem a regimes que perpetuam a desigualdade
social, como no Chile e no Brasil, por exemplo, e aquela nas quais são
aprisionadas por se opor a um regime que se propõe eliminar as
desigualdades, como em Cuba, argumento que passou a valer para
todas as esquerdas e ainda hoje leva à execração dos militares chilenos,
brasileiros, argentinos e uruguaios, simultânea com o enaltecimento de
Fidel Castro.
A campanha do NCC para apoiar os ambientalistas que pretendem liquidar a
indústria americana levou o nome ridículo de "O que Jesus gostaria de dirigir?"
(What Jesus would drive?), levada a cabo através do Evangelical Environmental
Network (EEN) que defende que “os problemas ambientais são primariamente
espirituais – contra o planeta que Deus nos deu”.

Outras trincheira religiosa globalista é a United Religous Initiative, fundada pelo
Bispo Willian Swing da Diocese californiana da Igreja Episcopal, “uma
crescente comunidade global dedicada a promover persistente e diariamente a
cooperação inter-fé, o fim da violência religiosamente motivada e criar culturas
da paz, justiça e cura para a Terra e todos os seres vivos’. Para conhecer
profundamente este movimento globalista pseudo-religioso recomendo
fortemente o livro de Lee Penn False Datvn: The United Religions Initiative,
Globalism and the quest for a One-World Religion, Sophia Perennis Ed.,
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