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Ortografia das línguas bantu
O princípio básico na escrita das línguas moçambicanas e: um grafema representa um e
um único som. Independentemente do ambiente de ocorrência, as vogais e as consoantes
são pronunciadas como elas são. Essas particularidades são quase idênticas para todas
as línguas bantu, exceptuando casos específicos em que podem ser o resultado de
adopções e convenções em cada lingua.
As consoantes
Características
Comparando o alfabeto do Português e das línguas moçambicanas, encontramos
algumas semelhanças e diferenças entre elas. Boa parte das diferenças refere-se as
particularidades da representação gráfica das consoantes das línguas moçambicanas que,
de modo geral, segue os seguintes princípios:
(i) Cada consoante representa o mesmo som em qualquer ambiente de ocorrência.
Exemplos 4:
Citshwa: kukuma “encontrar” kukatekisiwa “ser abençoado/a”
Shimakonde: lupapa “asa” kwigwilila “escutar”
Xichangana: kusaseka “ser bonito/a” kucincana “trocar um ao outro/trocar-se”
(ii) Geralmente, as consoantes podem sofrer algumas alterações/modificações.
Estas podem ser por:
a) Pré-nasalização
A nasalização, que na lingua portuguesa é geralmente marcada em vogais, como em
acção, também, funções, etc. nas línguas bantu ocorre frequentemente nas consoantes.
Nas línguas moçambicanas, ela e marcada antepondo m/n antes de uma dada consoante
ou grupo de consoantes. As especificidades ortográficas de cada lingua ditam em que
circunstancias e que tipo de nasalização deve ser marcada.
Exemplos 5:
Cicopi: ngoma “batuque” nkondo “pé”
Ndau: mbuto “lugar” mvura “chuva”
Kimwani: mainsha “vida” mumbu “escroto”
b) Aspiração
A aspiração, que na escrita é marcada por h, é um processo fonológico muito presente
em todas as línguas moçambicanas. A aspiração é, em muitos casos, contrastiva, ou
seja, pode servir para distinguir o significado entre duas ou mais palavras em uma dada
lingua.
Exemplos 6:
Cinyungwe: kutota “molhar-se” vs. kuthotha “expulsar”
Xichangana: kupakela “carregar” vs. kuphakela “distribuir”
c) Labialização
Nas línguas bantu, há um princípio segundo o qual não é regular que duas ou mais
vogais sejam escritas seguidamente em uma dada palavra, como acontece na lingua
portuguesa, em que podemos encontrar a sequência de duas ou três vogais, denominadas
por ditongos e tritongos, respectivamente. Assim, para se evitar a sequência das vogais
u, a, e, i na escrita de uma determinada palavra recorre-se a dois processos,
nomeadamente a labialização e a palatalização.
Exemplos 7:
Cisena: kugwesa “deixar cair” cf: [kuguesa]
Cibalke: hwinga “matrimonio” cf: [huinga]
Cimanyika: imbwa “coa” cf: [imbua]
d) Palatalização
A palatalização é uma estratégia para evitar a sequência de vogais, principalmente de i,
a, e, o. Ela é marcada por inserção de y.
Exemplos 8:
Gitonga: gyanana “criança”; wupya “novo/a” cf: [gianana, wupia]
Cinyanja: kupya “queimar-se”; kudya “comer” cf: [kupia, kudia]
IMPORTANTE
A labialização e a palatalização são estratégias para se evitar a sequência das vogais na
ortografia das línguas moçambicanas. Contudo, em algumas línguas moçambicanas,
onde ainda não existem muitos estudos linguísticos, persistem algumas incoerências na
escrita, como é o caso de ndaenda em Cibalke, em que, obedecendo a regra anunciada
anteriormente, a escrita correcta desta palavra seria ndayenda.