Manual Abordagem Vitima
Manual Abordagem Vitima
à vítima
EMERGÊNCIA MÉDICA
“Viva como se fosse morrer amanhã,
aprenda como se fosse viver para sempre.”
GANDHI
Versão 2.0
1ª Edição, 2012
ISBN 978-989-8646-04-0
9 789898 646040
ABORDAGEM
À VÍTIMA
PREFÁCIO
Prefácio
O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) tem habilitando-os a uma atuação de teor avançado que
feito esforços consideráveis para melhorar a resposta poderá fazer toda a diferença na vida daqueles que
às situações de emergência médica, sobretudo no diariamente assistimos, em cenários muitas vezes
que diz respeito aos tempos de resposta, ao acesso a complexos e hostis.
cuidados de emergência e à eficiência da sua atuação. Nestas páginas pode encontrar o trabalho de uma vasta
Mas, este esforço para que o Sistema Integrado de equipa, nas áreas técnicas, pedagógicas e, também,
Emergência Médica trabalhe cada vez melhor não audiovisuais, que trabalhou afincadamente para lhe
pode ficar apenas por aqui. É também fundamental poder disponibilizar este Manual, que esperamos
melhorar a nossa capacidade de intervenção nos que se venha a revelar como uma ferramenta útil do
CODU, no terreno, as nossas competências técnicas seu processo evolutivo de aquisição de novos e/ou
e actualizar os conhecimentos, de forma permanente melhores conhecimentos. A toda esta equipa, cuja
e continuada, habilitando todos os operacionais a composição encontrará na Ficha Técnica, aqui fica o
intervirem da melhor forma possível. agradecimento do INEM pelo bom trabalho realizado.
Assim, é com grande satisfação que lhe apresentamos Termino, afirmando que o INEM conta com todos e com
o novo Manual de Abordagem da Vitima, onde poderá cada um para garantir uma assistência tecnicamente
encontrar aquelas que são as boas práticas atuais, qualificada, sempre com um elevado respeito e
consensualizadas a nível nacional e internacional, consideração pela vida humana, a todos aqueles
na abordagem inicial às vítimas, seja de trauma seja que possam eventualmente necessitar do nosso
de doença súbita. saber e das nossas competências. Por isso, por essa
responsabilidade acrescida, temos a obrigação de
Todos aqueles que desempenham funções operacionais aproveitar cada dia como uma oportunidade única
na emergência médica pré-hospitalar, têm a perfeita e irrepetível para aprendermos, para melhorarmos.
noção de que é, maioritariamente, nesta abordagem Que este manual seja um dos instrumentos a utilizar
inicial da vítima, bem estruturada e sequencial, que na prossecução desse modo de vida.
muitas vidas podem e devem ser ganhas.
Este Manual destina-se a Enfermeiros e Médicos, Miguel Soares de Oliveira
permitindo-lhes aprofundar conhecimentos previamente Presidente do Conselho Diretivo do INEM
adquiridos e também adquirir novas competências,
ABORDAGEM
À VÍTIMA
ficha tÉcnica
Carlos Luz,
Hospital Garcia de Orta, Médico (Cirurgia)
Daniel Ferreira,
Autores Hospital da Luz, Médico (Cardiologia)
Bruno Brito,
Psicólogo
Sónia Cunha,
INEM (Delegação Regional do Norte), Psicólogo Design e Paginação
David Rafachinho
Daniel Ferreira, Pedro Santos
Hospital da Luz, Médico (Cardiologia)
ÍNDICE
SECÇÃO 1
ABORDAGEM INICIAL DA VÍTIMA (ADULTO)
SECÇÃO 2
ALGORITMOS
1. Dispneia 50
a. Abordagem da vítima com dispneia 50
2. Hipoperfusão e choque 52
a. Abordagem à vítima com hipoperfusão/choque 52
3. Dor toraco-abdominal 54
a. Abordagem à vítima com dor tóraco-abdominal 54
4. Alteração do Estado de Consciência 56
a. Definições 56
b. Anatomia da (in)consciência 56
c. Gradação do nível de consciência 56
d. Etiologias da AEC 56
SECÇÃO 3
TÉCNICAS DE ABORDAGEM À VÍTIMA
SECÇÃO 4
ANEXOS
1. Oximetria 80
a. Oximetria: O que é? 81
b. Oximetria: como funciona? 81
c. Oximetria: como se deve utilizar? 81
d. Oximetria: para que serve? 82
e. Oximetria: Limitações 82
2. Capnografia e Capnometria 84
a. Capnografia e Capnometria: o que é? 85
b. Espaço morto: o que é? 85
c. Fisiologia do dióxido de carbono 86
d. Relevância da monitorizaçãoo por capnografia 86
e. Tecnologia 87
f. Capnograma 88
i. Capnograma normal 88
ii. Capnograma com alterações na forma da onda 88
1. Perda súbita de EtCO2 88
2. Perda gradual de EtCO2 89
3. EtCO2 sustentado baixo 89
4. Aumento gradual de EtCO2 89
5. Elevação de EtCO2 89
6. Aumento da linha de base 89
7. Plateau alveolar ausente 90
8. Curva em forma de “barbatana de tubarão” 90
g. Aplicações clínicas da capnografia no pré-hospitalar 91
i. Vítimas entubadas 91
ii. Vítimas não entubadas 92
3. ECG 12 Derivações 94
a. ECG: Indicações 96
b. ECG: Técnica 96
c. ECG: Considerações 97
d. ECG: Desafios 98
4. Acesso IO 100
a. Indicações 101
b. Contraindicações 102
c. Localização 102
d. Complicações 103
e. Técnica 103
5. Dor 104
a. Caraterização da dor 105
b. Regras para aplicação das escalas da dor 105
6. Sedação e Analgesia 106
a. Terminologia 107
b. Benzodiazepinas 107
c. Sedativos barbitúricos e não barbitúricos 108
d. Analgésicos opióides 108
e. Analgésicos não opióides 109
f. Abordagem da sedação e analgesia 109
g. Antagonistas 110
h. Recomendações 110
7. Fluxos de ativação da UMIPE 112
8. Verificação de cenário com existência de cadáver 118
a. Aspetos legais da verificação da morte 119
b. Cronotanatogenose 120
c. Intervenção em eventos traumáticos com implicações
forenses em ambiente pré-hospitalar 122
SECÇÃO 5
BIBLIOGRAFIA E SIGLAS 124
ABORDAGEM
À VÍTIMA
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SECÇÃO 1
ABORDAGEM
À VÍTIMA
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ABORDAGEM
À VÍTIMA
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SECÇÃO 1
ABORDAGEM
À VÍTIMA
1. ABORDAGEM
INICIAL À VÍTIMA
(ADULTO)
Abordagem inicial à vítima (adulto)
15
etapas:
3. AVALIAÇÃO PRIMÁRIA;
4. AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA;
5. TRANSPORTE;
• Para uma Unidade de Saúde adequada às
necessidades especificas da vítima;
• O início do transporte da vítima para a Unidade
de Saúde deve ser ocorrer o mais precocemente
possível. (Se vítima CRÍTICA até 7-10 minutos);
• Reavaliar a vítima regularmente, seguindo o esquema
ABCDE.
Figura 1
notas:
AVALIAÇÃO DO LOCAL Se a vítima anda, fala, não apresenta alterações
visíveis importantes e tem uma coloração normal
E SEGURANÇA (ausência de palidez e/ou cianose), provavelmente não
apresentará uma condição muito grave nem correrá
A avaliação do local é um processo dinâmico durante risco de vida. No entanto, dada a possibilidade de
todo o processo de avaliação da vítima que procura se verificar uma deterioração da situação, mesmo
dar resposta a 3 questões fundamentais: estas vítimas deverão ser abordadas com cautela, e
submetidas a uma abordagem inicial sistematizada e
1. A apresentação/envolvência da vítima pode metódica, que consiste na avaliação primária (ABCDE)
determinar a utilização de medidas de proteção e na avaliação secundária por segmentos corporais.
universal específicas por parte da equipa de EPH;
2. Identificar riscos de segurança potenciais para a
vítima, terceiros ou para a(s) equipa(s) de EPH;
3. Determinar o número de vítimas e categorizando-a(s)
como: vítima médica (Doença Súbita) ou vítima
de trauma.
17
Número de vítimas: Multivítimas? exsanguinante (lesão de uma artéria de grande calibre), notas:
Perante qualquer situação de exceção o CODU deverá em que a prioridade é o controlo imediato através da
ser informado de imediato. compressão manual direta ou com o uso do garrote
As primeiras equipas no local devem recolher caso a primeira medida se revele ineficaz.
informações rápidas e pertinentes do local/cenário
e colaborar na triagem primária e/ou secundária das A avaliação inicial deve demorar apenas 60-90
vítimas (ver manual de situações de exceção). segundos a realizar, no entanto, se forem necessárias
intervenções e/ou procedimentos poderá levar mais
tempo.
notas:
ABORDAGEM da VÍTIMA
Segurança
Avaliação do Local
Tipo de ocorrência, número de vítimas e sua localização, meios de socorro presentes? Necessidades
especiais? Problemas específicos? Categorizar a Vítima: Doença Súbita ou Trauma
MULTIVÍTIMAS SIM
Triagem:
NÃO START
modificado
Avaliar ao aproximar da vítima:
1. Hemorragia exsanguinante?
2. Via aérea permeável?
3. Vítima ventila?
DOENÇA TRAUMA ?
Manual SÚBITA ? Manual
Emergência Médica Emergência Trauma
NÃO
Avaliação Primária
Transporte
Vítima CRÍTICA ? Se vítima crítica limitar
SIM
Identificação até 90 segundos tempo no local até
7-10minutos
NÃO
Avaliação Secundária
Transporte
Após abordar todas as lesões/queixas e disfunções associadas
Figura 3
Abordagem inicial à vítima (adulto)
19
notas:
As crianças pequenas e as vítimas confusas, desorientadas, com dores intensas ou sob o efeito de
álcool ou drogas podem apresentar-se pouco colaborantes e deverão ser abordadas com cuidados
redobrados.
Perante uma hemorragia exsanguinante (lesão de uma artéria de grande calibre), a prioridade é o
controlo imediato através da compressão manual direta ou com o uso do garrote caso a primeira
medida se revele ineficaz.
ABORDAGEM
À VÍTIMA
20
notas:
ABCDE:
Situações com RISCO de Vida
Circulation
Situações com RISCO de VIDA:
• HIPOVOLÉMIA
• ALTERAÇÕES METABÓLICAS (Hipo/
Hipercaliémia)
• TROMBOEMBOLISMO
• TAMPONAMENTO CARDÍACO
DISABILTY
Situações com RISCO de VIDA:
• TÓXICOS
• ALTERAÇÕES METABÓLICAS
(Hipoglicemia)
• GCS ≤ 8
• TVM COM LESÃO CERVICAL ALTA
• CONVULSÕES (GRANDE MAL)
Exposure
Situações com RISCO de VIDA:
• HIPOTERMIA
• AMPUTAÇÕES
Figura 5
Abordagem inicial à vítima (adulto)
21
Avaliação Primária
SIM HEMORRAGIA
Controlar Hemorragia: exsanguinante?
1. Compressão manual direta
2. Garrote
3. Outras CONSCIENTE ? NÃO Algoritmo de SIV/SAV
Permeabilizar a VA: Remover corpos estranhos, Aspirar, Posicionamento (subluxação da mandíbula, extensão da cabeça e elevação
do mento), uso de adjuvantes básicos da VA e/ou avançados (Dispositivo laríngeo; TET se equipa treinada), Cricotiroidotomia de recurso;
Ponderar sedação e analgesia; IDENTIFICAR/CORRIGIR situação “life-threatening”: OVA
Pesquisar: Movimentos simétricos da parede torácica? Uso de músculos acessórios? (uso excessivo de músculos abdominais, tiragem supra-esternal,
espaços intercostais, supra-clavicular, subcostal, adejo nasal), cianose central?
Inspecionar e Palpar Tórax: Avaliar as caraterísticas da ventilação, Instabilidade da parede torácica? Dor? Deformidades e/ou Crepitações?
Percussão digital torácica (hiper-ressonância ou macicez)
Auscultação: sons respiratórios (presença e caraterísticas) e sons cardíacos
Monitorizar (se disponível): SpO2, Capnografia
Oxigenoterapia (SpO2≥ 95%, se Grávida ≥97%, se DPOC [88,92]%), Ventilação assistida (8cr/min < FR > 35cr/min);
IDENTIFICAR/CORRIGIR situação “life-threatning”: OVA inferior, Pneumotórax hipertensivo, Hemotórax maciço, Tamponamento cardíaco;
Ferida torácica aberta; Retalho costal; Hipóxia
Pesquisar e Inspecionar: identificar Hemorragias Externas; Pele (temperatura, humidade e coloração); pesquisa de hemorragia oculta (tórax,
abdómen, bacia, fémur, úmero); TPC; Palpar Pulsos (Central e Periférico; Avaliar simetria de pulsos radiais e femorais)
Monitorizar (se disponível): Ritmo ECG, FC, TA (critérios para inclusão VVC ou VVS)
Identificar Choque (tipo e classe de choque)
Avaliar: Pupilas (tamanho e reatividade), estado de consciência (GCS), Sinais focais bilateralmente (força muscular e déficits
sensório motores?: músculos da face, membros inferiores e membros superiores, alterações da linguagem), nível da lesão (TVM)
Pesquisar ativamente critérios de inclusão na VVAVC
Avaliar Glicemia capilar
Controlo da Temperatura, Privacidade e dignidade da vítima Pesquisar: outras lesões Marca o início da avaliação secundária
Remover roupa, imobilizações, tratamento de feridas, prevenir hipotermia, preservar membros amputados
Figura 6
ABORDAGEM
À VÍTIMA
22
SECÇÃO 1
ABORDAGEM
À VÍTIMA
1. AirWay:
Permeabilização
da Via Aérea com
controlo da
coluna Cervical
Airway
23
Permeabilizar a VA:
• O aspirador de secreções deverá estar pronto para se proceder à aspiração da cavidade oral (atenção: tentativa de
aspiração além da cavidade oral pode induzir o vómito e/ou o laringoespasmo);
• Considerar o uso de adjuvantes básicos da VA: tubo nasofaríngeo e tubo orofaríngeo;
• Via nasal contraindicada se há suspeita de TCE (se fratura da base do crânio pode gerar falsos trajetos através
da lâmina cribiforme do etmóide). Achados sugestivos de fratura da base do crânio: rinorráquia, otorráquia, lesões
maxilo-faciais ou perinasais, sinal de battle e hematomas periorbitários.
• Considerar a necessidade de estabelecer VA definitiva (dispositivo supra-glótico ou tubo traqueal; considerando a
necessidade de sedação e analgesia prévias) se:
Apneia;
Vítima com GCS≤8;
Lesão da VA superior (risco de OVA);
Risco aumentado de aspiração;
Traumatismo instável da face;
Convulsões mantidas;
Incapacidade de manter VA permeável ou a oxigenação adequada;
Falência respiratória.
• Considerar uma abordagem avançada da VA com dispositivos laríngeos ou tubo endotraqueal;
• A cricotirotomia é uma técnica de recurso. Indicada se:
OVA total;
Impossibilidade de ventilar;
Impossibilidade de entubar;
• Assim que possível colocar uma sonda gástrica (se abordagem da VA avançada).
SECÇÃO 1
ABORDAGEM
À VÍTIMA
1. Breathing:
Ventilação
e Oxigenação
Breathing
25
Uma vez garantida a VA permeável avalia-se a FiO 2; A oximetria de pulso permite monitorizar a notas:
Ventilação da vítima determinando se: oxigenação mas não possui uma relação direta com
1. A Respiração é adequada ou inadequada? a PaO2. Sabendo que no indivíduo saudável a PaO2 é
2. Há necessidade de administração de Oxigénio? >80mmHg, o objetivo, no que se refere à oxigenação do
doente passa por tomar todas as medidas necessárias
Há condições que comprometendo a ventilação para obter uma SpO2≥ 95%.
constituem risco de vida imediato, nomeadamente:
• Apneia;
• OVA inferior (ex. asma grave, edema pulmonar);
• Hipóxia;
• Pneumotórax hipertensivo;
• Tamponamento cardíaco;
• Pneumotórax aberto;
• Hemotórax maciço;
• Retalho costal móvel.
RESPIRAÇÃO E VENTILAÇÃO
Por vezes entendidas como uma mesma entidade são
conceitos que possuem definições diferentes.
O termo Ventilação significa “renovação do ar”, o que
envolve os processos de:
• Entrega de O2 nos alvéolos;
• Remoção do CO2 dos alvéolos. O termo Respiração
significa “função por meio da qual se efetuam as
trocas de gases entre os tecidos e o meio exterior”.
Ou seja não basta que o ar entre e saia dos alvéolos
(Ventilação), é necessário que ocorram trocas
gasosas, quer ao nível da membrana alvéolo- Figura 8: Pulmões
capilar, quer a nível celular. Considerações quanto
ao processo de Respiração (trocas de gases):
notas:
Atuação no B: Ventilação e Oxigenação
Auscultação:
• Auscultação do murmúrio vesicular:
Bilaterais e simétricos? (Audição facilitada ao nível das axilas);
Sinais de consolidação pulmonar (aumento da transmissão das vibrações vocais e/ou sons auscultatórios
(como acontece na pneumonia);
Os síbilos traduzem turbulência do ar a passar pela via aérea devido à redução de calibre e são sinal de
broncoconstrição;
A ausência ou diminuição do murmúrio sugere interposição de ar (pneumotórax) / fluido (derrame pleural,
hemotórax) entre o pulmão e a parede torácica;
• Os profissionais treinados devem fazer a auscultação dos sons cardíacos.
Monitorizar:
• Monitorizar (se disponível): SpO2, Capnografia.
Administrar Oxigénio:
• Em caso de insuficiência respiratória aguda procurar manter a SpO2 (oximetria de pulso ≥95%). No doente em
estado crítico estes objetivos nem sempre se conseguem alcançar. Nestas condições os valores desejáveis
de oximetria de pulso situam-se entre 90-92%;
• Nas Grávidas garantir SpO2 ≥97% ;
• Há doentes que fazem retenção crónica de CO2 (DPOC) nos quais a administração de O2 em doses elevadas
pode deprimir o centro respiratório, pelo que a administração de O2 é necessária mas tem de ser criteriosamente
controlada e monitorizada. O objetivo geral perante uma vítima crítica com DPOC é o de obter uma PaO2 >
60mmHg o que equivale a uma saturação obtida por oximetria de pulso [88,92]%, com a intuito de impedir a
hipóxia grave sem deprimir o centro respiratório.
Ventilação assistida:
• Efetuar ventilação assistida (se 8cr/min < FR > 35cr/min), realizando 1 insuflação em cada 6 segundos no
adulto (10 ventilações por minuto). Na Pediatria efetuar 1 insuflação a cada 3 segundos (20 ventilações por
minuto);
• Se ventilação mecânica: Volume corrente 8-12 mL/Kg, FR 12cr/min e FiO2 50%;
• Uma vez estabelecida uma VA avançada, confirmar a sua correta localização/introdução (auscultação do
murmúrio vesicular, capnografia, movimentos respiratórios) e proceder à fixação adequada. No caso de
proteção da VA com TET excluir possibilidade de intubação seletiva do brônquio principal direito.
Breathing
27
notas:
SECÇÃO 1
ABORDAGEM
À VÍTIMA
1. Circulation:
Assegurar
a circulação
com controlo
da hemorragia
Circulation
29
notas:
notas:
Avaliar a perfusão: Pulso Um TPC > 2 segundos indica uma perfusão inadequada.
Este item é um fraco indicador de gravidade uma
vez que pode ser influenciado por outros fatores,
A avaliação do Pulso, na abordagem inicial, pretende
como exemplos: idade avançada, doenças vasculares
estimar a frequência e avaliar o local onde este é
(arterosclerose), ambiente frio, más condições de
palpável. Dados mais exatos serão obtidos na avaliação
iluminação, uso de fármacos vasodilatadores ou
de sinais vitais.
constritores ou choque neurogénico.
1. Palpar pulso Radial, se ausente palpar pulso
Carotídeo (na ausência deste iniciar RCP);
2. Ao palpar pulso determinar frequência aproximada:
taquicardia (>100 bat/min), normal (60-100 bat/
Atletas, Crianças, Idosos e outros com
min) ou bradicardia (<60 bat/min). Taquicardia
doenças crónicas não respondem a perdas
pode evidenciar choque hipovolémico, arritmia
de volume sanguíneo de forma similar ou
cardíaca, má perfusão, hipóxia, intoxicação,
“normal” , no que se refere ao aumento
febre, distúrbios endócrinos, ansiedade ou dor.
da FC:
Bradicárdia pode indicar arritmia cardíaca, hipóxia
• Idosos: Capacidade limitada para
severa, resposta a determinados fármacos (como
taquicardizar em resposta ao choque;
Beta-Bloqueadores), intoxicações, estímulo vagal,
• Crianças: Reserva fisiológica muito
aumento da pressão intracraniana ou falha de
grande, associada a taquicardia e
Pacemaker definitivo. Arritmias cardíacas são a
vasoconstrição muito eficientes, mas
causa de pulsos irregulares;
quando a deterioração ocorre surge de
3. O pulso é forte ou fraco? Pulso fraco/filiforme
forma abrupta e catastrófica;
está normalmente relacionado com hipotensão ou
• Atletas: Normalmente apresentam
perfusão inadequada. Pulso forte está normalmente
bradicárdia “relativa”, e isso pode ser
associado a débito cardíaco e pressão arterial
um fator que dificulta a avaliação de
adequados.
sinais de choque.
31
notas:
Atuação no C: Assegurar a Circulação com controlo da Hemorragia
Antecipar necessidade de intervenção cirúrgica, o que implica necessidade de transporte imediato para
unidade de saúde com bloco operatório disponível de imediato. Lesões que podem exigir cirurgia imediata:
Hemorragia torácica maciça;
Hemorragia intraperitoneal/retroperitoneal;
Disjunção da bacia com hemorragia não controlada;
Lesões vasculares graves.
Controlar hemorragia:
• Hemorragias internas/ocultas significativas podem ocorrer no tórax, abdómen, pélvis ou ossos longos;
• Estabilizar e imobilizar fraturas: pélvicas, fémur, úmero.
• Se hemorragia externa/visível:
1. Compressão manual direta no local da hemorragia (é a técnica de eleição);
2. Técnica de 2ª linha: Aplicação de garrote em posição proximal relativamente à lesão;
3. Técnicas de 3ª linha:
i. Elevação do membro/extremidade (contraindicada no membro com suspeita de fratura ou luxação);
ii. Pontos de Pressão: aplicação de pressão na artéria próxima da lesão, dessa forma diminuindo a perda
de sangue, pela oclusão da artéria. Os principais pontos de pressão no corpo são a artéria braquial, artéria
axilar, artéria popliteia e a artéria femoral.
notas:
Fluidoterapia:
• Considerar se vítima com sinais indiciadores de choque (alteração do estado de consciência, hipotensão,
palidez, aumento da FC e do TPC);
• Estabelecer acesso venoso periférico (vítima de trauma crítica: 2 de grande calibre):
Colocar acesso vascular curto (porque permite melhores débitos) e de bom calibre (14 ou 16 G);
Colher sangue (hemograma, bioquímica, coagulação e tipagem);
• Considerar a administração rápida de fluidos (a reanimação volémica faz-se administrando primeiro cristalóides
e posteriormente colóides; não há evidência científica sobre a melhoria da sobrevida das vítimas usando um
ou outro tipo; preferencialmente fluidoterapia aquecida) nos doentes com instabilidade hemodinâmica, se não
houver contraindicação (insuficiência cardíaca descompensada), monitorizando em contínuo ou cada 5 min
(quando disponíveis) a pressão arterial, pulso e a perfusão periférica;
• No doente com sinais de edema pulmonar (dispneia, taquipneia, taquicardia e crepitações à auscultação
pulmonar, secreções pulmonares rosadas e arejadas), reduzir os fluidos IV. Pode ser necessário administrar
medicamentos vasoativos (nitratos, aminas) e diuréticos;
• Por norma, os soros administrados na fase pré-hospitalar numa vítima de trauma (adulto) não são suficientes
para originar um edema pulmonar, mesmo em doentes cardíacos. Tratar a hipovolémia agressivamente;
• Nos casos em que há hemorragia significativa não controlada (hemorragia interna com choque), limitar os
fluidos enquanto a causa da hemorragia não estiver controlada (assegurar PAM >60 mmHg, PAS [80,90]
mmHg, caso contrário está comprometida a perfusão dos órgãos);
• Avaliar a resposta à administração do bólus inicial de fluidos:
Nas vítimas que respondem ao bólus com valores de PA normais e se mantém estáveis pode assumir-se
perda ligeira a moderada de volume (15 a 20%);
Nas vítimas com fraca resposta ou sem resposta ao bólus de fluido inicial, a perda sanguínea é extensa
ou contínua, ou o diagnóstico de choque hipovolémico foi tardio.
33
ABORDAGEM
À VÍTIMA
34
SECÇÃO 1
ABORDAGEM
À VÍTIMA
1. Disability:
Disfunção
Neurológica
Disability
35
notas:
A persistência de quadros com alterações do estado Um score <14 na GCS em combinação com avaliação
de consciência, com valores de PA e glicose dentro pupilar anormal pode indicar a presença de lesão
da normalidade sugere patologia intracraniana como: intracraniana.
Hemorragia intracraniana, AVC isquémico, neoplasia, Na vítima colaborante pesquisar alterações na resposta
encefalopatia metabólica (cetoacidose metabólica, motora: músculos da face (pedir para fechar os olhos
urémia). com força; pedir para mostrar os dentes cerrados),
Exemplos de condições que podem influenciar o nível membros superiores (pedir para elevar e manter em
de consciência: posição horizontal e paralela) e membros inferiores
• Fatores ambientais: Hipertemia e Hipotermia; (na posição de deitado pedir para elevar ambos com
• Hipoglicemia; ângulo de 45º na articulação do joelho). Pesquisar
• Hipóxia; alterações da linguagem (afasia de expressão ou
• Hipotensão: disartria).
• Drogas (ex. overdose por opiáceos);
• Álcool;
• Convulsões / Estado pós ictal;
• Encefalopatia (Wernick). A deterioraç ão neurológic a pode
ocorrer rapidamente. O intervalo lúcido
classicamente associado ao hematoma
epidural é o exemplo de uma situação onde
O estado de consciência: a vítima “fala e morre” (“Talk and Die”).
Reavaliações neurológicas frequentes
O nível de consciência deve ser avaliado de acordo
podem detetar precocemente alterações.
com a escala de coma de Glasgow (GCS) ou com a
escala mnemónica de AVDS (A=Alerta, V=Responde a
estímulos Verbais; D=Responde a estímulos Dolorosos;
S=Sem resposta). GCS AVDS
O score máximo na GCS é de 15, indicando uma
15 A TCE MINOR
vítima sem disfunção neurológica, ao invés o score
mais baixo de 3 é um sinal de disfunção. Score ≤8 V
indica lesão major, score [9-12] indica lesão moderada 9 TCE MODERADO
D
e score [13-15] indica lesão minor.
Se a vítima não está consciente, orientada e capaz 3 S TCE GRAVE
de cumprir indicações as pupilas da vítima devem
ser avaliadas (tamanho e simetria): As pupilas estão Tabela 1: Correlação entre GCS e AVDS (Mackay,
iguais e redondas? Reativas à luz (com constrição)? Burke et al, 2000)
ABORDAGEM
À VÍTIMA
36
notas:
ABERTURA RESPOSTA RESPOSTA
dos OLHOS VERBAL MOTORA
CUMPRE ORDENS
ORIENTADA
ESPONTÂNEA 4 5 MOVIMENTOS NORMAIS 6
BALBUCIA
ESPONTÂNEOS
INAPROPRIADA
À DOR 2 3 FUGA À DOR 4
CHORO À DOR
INCOMPREENSÍVEL
AUSENTE 1 2 FLEXÃO ANORMAL 3
GEMIDO À DOR
FACTO Criada em 1974 por dois Neurocirurgiões Escoceses: Graham Teasdale e Bryan Jennet
Disability
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notas:
E4 – Abertura espontânea
E1 – Sem resposta
“diga-me lá o seu nome completo! Sabe onde está? Que dia é hoje?
Resposta incorreta
V4 – Resposta confusa
a ≥ 1 pergunta
V1 – Sem resposta
M1 – Sem resposta
notas:
Lateralização Nível da lesão
da resposta motora vertebro medular
A avaliação deste ponto consiste na comparação da Em vítimas na situação de TVM é fundamental avaliar
mobilidade, força e sensibilidade (MFS) dos membros o nível da lesão (ver manual de trauma), em particular
de um hemicorpo com o outro hemicorpo. Para se nas situações de lesão cervical que podem implicar a
proceder a esta comparação deve-se recorrer a um perda/compromisso da função ventilatória.
estímulo verbal em que se pede à vítima que aperte
simultaneamente as mãos ou que faça força com os
pés. Nas vítimas inconscientes efetua-se através da
estimulação dolorosa (pode ser provocada através
Pupilas: tamanho,
da pressão dos leitos ungueais ou do beliscar o simetria e reatividade
tecido axilar).
Para este efeito (avaliação do MFS) pode utilizar- • Para efetuar esta avaliação deve incidir uma luz
se a escala pré-hospitalar para AVC de Cincinnati, diretamente sobre cada uma das pupilas. Verifique
que utiliza a avaliação de 3 achados físicos: Queda se a reação é idêntica em ambas. Se não existir
facial; Debilidade dos braços; Fala anormal. Vítimas contração pupilar ou se esta for diferente de pupila
com aparecimento súbito de 1 destes 3 achados tem para pupila, poderá indicar sofrimento do sistema
72% de probabilidade de um AVC isquémico, se os 3 nervoso central (SNC);
achados estiverem presentes a probabilidade é >85%. • Em relação ao tamanho podem estar dilatadas
(midríase) ou contraídas (miose);
• Em relação á simetria podem estar simétricas
(isocóricas) ou assimétricas (anisocóricas);
• Em relação à reatividade à luz podem estar reativas
(foto-reativas) ou não reativas (arreativas).
Queda facial
Solicitrar à vítima que sorria ou mostre os dentes;
• Normal: ambos os lados da face movem igualmente (simetria facial mantida)
• Alteração: Um lado da face não se move tão bem quanto o outro
(assimetria facial)
Fala anormal
Pede-se para a vítima repetir: "o rato roeu a rolha do rei da Russia"
• Normal: usa as palavras correctas com pronuncia clara;
• Alteração: pronuncia palavras inteligíveis, usa palavras incorrectas
ou é incapaz de falar (disartria ,afasia, afasia de expressão).
39
notas:
Miose
Anisocória
Midríase
• No caso da vítima apresentar valores de GCS ≤8 (ou na escala AVDS=S) assumir que esta
não consegue proteger a via aérea (pelo relaxamento e perda de controlo muscular na via aérea
superior):
Colocar vítima em PLS (se não houver contraindicações);
Deve ser estabelecida uma VA avançada (dispositivo laríngeo ou tubo endotraqueal) precoce;
• Examinar o tamanho, simetria e reatividade à luz das pupilas;
• Avaliar sinais focais bilateralmente: Procurar ativamente por sinais e sintomas com critério para
VVAVC;
• Se Trauma com condição de TVM: Avaliar nível da lesão vertebro medular;
• Via nasal contraindicada se TCE (sonda gástrica, adjuvantes da VA).
ABORDAGEM
À VÍTIMA
40
SECÇÃO 1
ABORDAGEM
À VÍTIMA
1. Expose/
Environment:
Exposição com
controlo da
temperatura
Expose/Environment
41
Os esforços para prevenir a hipotermia devem ser considerados tão importantes como as intervenções
noutros componentes da avaliação primária.
Celsius é uma unidade de medida de temperatura, nomeada após o astrónomo sueco Anders
Celsius (1701-1744)
notas:
AVALIAÇÃO
SECUNDÁRIA
A avaliação secundaria só deve iniciar-se após • C: Circunstâncias do acidente;
conclusão da avaliação primária, em vítimas estáveis • H: História anterior de doenças e/ou Gravidez;
demonstrando normalização de sinais vitais (quando • A: Alergias;
alterações da ventilação e hipovolémia controladas). • M: Medicação habitual;
• U: Última refeição.
Estes dados poderão ser de importância vital para o
tratamento intra-hospitalar.
Parâmetros vitais Além da recolha de informação junto de pessoas, pode
ser importante recolher outros indícios. Por exemplo,
Devem ser (re)avaliados os parâmetros vitais (FR, FC,
em caso de intoxicação, a recolha de embalagens
PA, SpO2 e EtCO2, sempre que justificado, Temperatura).
de medicamentos ou de outros produtos pode ser
A Dor deve ser igualmente (re)avaliada utilizando escalas
extremamente importante para a identificação de tóxicos
de visuais e analógicas (numérica ou de faces). É
e/ou da quantidade de produto ingerido.
fundamental que a monitorização se faça de uma forma
No entanto, em situações que possam envolver a
organizada, sistematizada e periódica (pelo menos
necessidade de investigação policial, é extremamente
de 5 em 5 minutos para uma vítima crítica e de 15 em
importante respeitar o local da ocorrência, mexendo
15 minutos para uma vítima não crítica). Os dados da
apenas naquilo que é estritamente necessário para se
avaliação inicial e das reavaliações seguintes devem
poderem prestar os cuidados adequados à(s) vítima(s).
ser registados e comunicados à chegada à unidade de
São exemplos as situações de agressão, com ou
saúde. Nas situações de vítimas críticas, estes e outros
sem vítimas mortais e as situações em que a vítima
dados registados devem ser comunicados ao CODU
provavelmente está cadáver e não há causa de morte
para referenciação e preparação da receção hospitalar.
evidente ou existem sinais de morte não natural.
Uma equipa bem treinada deve completar a avaliação da vítima até 7-10 minutos.
A Avaliação Primária pretende identificar situações com risco de vida. A Avaliação Secundária
permite identificar possíveis lesões com risco para os membros e outros problemas menos
significativos.
43
notas:
Avaliação
Secundária
• Quantificar parâmetros vitais: PA, FR, FC, SpO2, (Re) Avaliar Dor
• Concluir recolha de informação: CHAMU
• Exame físico sistematizado
Abertura
dos olhos
Palpar/Pesquisar: Crânio, Face (nariz, boca, região interna e posterior das orelhas, órbitas), região
cervical posterior;
Inspecionar: perda de liquido pelo nariz/olhos/ouvidos, instabilidade dos ossos da face, Hematomas
retro-auriculares e peri-orbitais, alteração dos sons auscultatórios ou rouquidão da voz.
TRAUMA
Tórax
TRAUMA
Abdómen
Inspecionar e Palpar: cicatrizes, distensão abdominal (mulher grávida?), descoloração, palpar quadrantes
abdominais (rigidez? mole/depressível? dor?), sinais de lesão interna (contusões, abrasões e outros)?
Bacia
e Períneo
Inspecionar e Palpar: evidências de trauma (crepitações, dor, movimentos anormais dos ossos e
articulações), equimose, eritema (não usual), coloração função sensório-motor e pulso distal de cada
membro (comparando bilateralmente).
Dorso e Superfícies
Posteriores
notas:
TRANSPORTE
O transporte deverá ser o mais precoce possível (em Outras considerações relacionadas com o transporte são:
segurança) para a unidade hospitalar mais adequada,
de acordo com as indicações do CODU, tendo em conta • Possibilidade de ser necessário transporte imediato
as normas de transporte do doente crítico (ver manual para a unidade de saúde mais próxima;
de transporte do doente crítico). Durante o transporte
dever-se-á manter o doente em vigilância contínua no • Possibilidade de ser efetuado “rendez-vous” com
que se refere ao nível de consciência e parâmetros vitais outros meios (ex. SIV, VMER ou Heli);
através de monitorização contínua de ritmo cardíaco,
FC, PA, EtCO2 e SpO2 conforme indicação e meio • Possibilidade de ser necessário o transporte imediato
assistencial: SIV ou SAV. para centro de Cirurgia/Trauma;
45
ABORDAGEM
À VÍTIMA
46
SECÇÃO 2
ALGORITMOS
Algoritmos
47
ABORDAGEM
À VÍTIMA
48
SECÇÃO 2
algoritmos
1. ALGORITMOS
Algoritmos
49
A abordagem à vítima (incluindo a avaliação primária Para melhor localização, de entre os manuais de notas:
e/ou secundária) permite-nos muitas vezes determinar emergência médica do INEM, cada algoritmo possui
a lesão e/ou desordem que afeta a vítima. As situações uma legenda (figura 20) que remete a procura da lesão/
com risco de vida são mandatórias de exclusão na desordem para o manual respetivo. Tratando-se de
avaliação primária da vítima, mas existem também cursos dirigidos a profissionais de saúde (médicos e
outras situações passíveis de detetar e/ou diagnosticar enfermeiros), algumas desordens e/ou lesões não são
em meio pré-hospitalar. exploradas nos manuais.
Neste capítulo são apresentados 4 algoritmos Os algoritmos não pretendem de forma alguma
diagnósticos, de acordo com 4 apresentações/queixas limitar as opções diagnósticas (lesões/desordens
major : possíveis de encontrar), devem ser considerados
• Dispneia; como guias orientadores, apontando para situações
• Hipoperfusão/Choque; em que o diagnóstico diferencial (ou sua exclusão) são
• Dor toraco-abdominal; fundamentais para a melhoria (ou não agravamento)
• Alteração do estado de consciência. do prognóstico da vítima.
Figura 20
ABORDAGEM
À VÍTIMA
50
notas:
DISPNEIA Abordagem
A sensação de dispneia é definida como uma respiração
da vítima com dispneia
anormal ou desconfortável. Genericamente, a sensação
de dispneia ocorre quando o esforço ventilatório não é As principais causas prováveis de dispneia podem ser
adequado às necessidades metabólicas do organismo. divididas entre: causa cardíaca, causa respiratória,
Vários fatores contribuem para a sensação de dispneia doença neuromuscular e uma variedade de outras
(ex. níveis séricos de pH e/ou Oxigénio). No entanto, causas (ex. anemia, hipertiroidismo). Quadros
é de realçar que não existe uma relação direta entre de hiper ventilação (psicogénicos) devem ser
a sensação de dispneia e o nível de hipóxia. Muitas diagnosticados após exclusão de todas as outras
vítimas hipoxémicas não se queixam de sensação de causas de sensação de dispneia. Doenças específicas
dispneia (ex. doentes com DPOC), enquanto outras que devem ser identificadas e abordadas pelas equipas
com valores normais de PaO2 podem referir dispneia de EPH incluem:
(ex. vítima de TEP). • Doenças reativas da VA (ex. asma, exarcebação
A abordagem inicial à vítima de dispneia pressupõe a aguda de DPOC);
determinação da gravidade das queixas respiratórias e • OVA (ex. resultante de crise anafilática);
o estado geral da vítima. A atuação da equipa de EPH • EAP associado a IC;
deve ser imediata na presença de uma vítima crítica • Dispneia resultante de SCA;
(ex. OVA, anafilaxia), podendo ser mais prolongada • Anafilaxia;
(na obtenção da história e exame físico) na vítima • Pneumotórax hipertensivo.
não crítica.
Se existir uma obstrução da VA, a equipa de EPH
deve determinar rapidamente se a OVA é alta ou
baixa, parcial ou total. Medidas para permeabilizar
a VA com recurso a dispositivos/adjuvantes básicos
e/ou avançados da VA podem ser necessários, bem
como, em alguns casos o início de manobras de RCP.
Depois de assegurada a permeabilidade da VA, a
próxima prioridade é identificar e/ou prevenir a falência
respiratória. Agitação, confusão e valores baixos de
SpO2 sugerem hipóxia. Confusão e sonolência sugerem
retenção de CO2. Os sinais de gravidade na falência
respiratória incluem:
• FR <8 cr/min;
• Bradicardia;
• Hipotensão
Todas as vítimas com queixas de dispneia devem ser avaliadas de forma sistematizada, por forma
a identificar eventual causa “life-threatening” subjacente.
Algoritmos
51
notas:
DISPNEIA
Manual de SAV
FALÊNCIA RESPIRATÓRIA ?
NÃO SIM
• Oxigenoterapia • Oxigenoterapia
(SpO2 ≥95%, se grávida ≥97%, se DPOC [90,92]%) (SpO2≥95%, se grávida ≥97%, se DPOC [90,92]%)
• Posição sentado ou semi-sentado • Ventilação assistida se [ 8cr/min < FR > 35cr/min)
• Não permitir atividade/esforço • Se GCS ≤8 garantir VA (Dispositivo laríngeo/TET)
• Posição sentado ou semi-sentado
• Não permitir atividade/esforço
OUTRAS Causas?
Causa provável Causa provável Hiperventilação
CARDÍACA? RESPIRATÓRIA? (Ansiedade)
Hipertiroidismo
DOENÇA / INFEÇÃO
SCA TVM
Pneumonia, Sépsis, Enfisema
ACIDENTE DE
IC Congestiva / EAP DPOC Agudizado
SUBMERSÃO
Causa METABÓLICA?
Hipertensão
ASMA Cetoacidose?
PULMONAR
Encefalopatia?
Causa provável
TEP Anafilaxia com OVA
NEUROMUSCULAR?
Esclerose Múltipla
Miastenia Gravis
DOR TORACO-
PNEUMOTÓRAX Doença Imunológica
ABDOMINAL
(Guillain-Barré)
LEGENDA
Manual de Emergências Médicas Manual de SAV
Manual de Emergências Trauma Sem referências nos manuais INEM
Figura 21
ABORDAGEM
À VÍTIMA
52
notas:
HIPOPERFUSÃO E CHOQUE Qualquer fator que interfira com a função cardíaca, a
integridade vascular e/ou o volume intravascular podem
causar o choque. O órgão/sistema inicialmente afetado
A perfusão (trocas de oxigénio, nutrientes e produtos
determina habitualmente os sinais e sintomas que
resultantes do metabolismo aeróbio entre o sangue e
se manifestam. Os tipos de choque são identificados
as células) ocorre ao nível tecidular. Para permitir uma
tendo por base quer o órgão primariamente afetado
perfusão adequada, o organismo requer um sistema
(com disfunção) ou pela causa primária de disfunção:
respiratório íntegro (para trocas de O2 e CO2), uma
quantidade suficiente de sangue saturado/rico em
• Choque hipovolémico;
oxigénio e nutrientes, um miocárdio funcionante (para
• Choque distributivo;
bombear o sangue) e um sistema de vasos sanguíneos
• Choque cardiogénico:
íntegros para transportar o sangue. Se algum destes
Causas intrínsecas;
sistemas falhar, a hipoperfusão (choque) pode ocorrer.
Causas extrínsecas.
A hipoperfusão é assim definida como uma perfusão
inadequada dos tecidos.
O estado de hipoperfusão/choque pode resultar da
A hipoperfusão pode ser limitada apenas a um órgão
disfunção de qualquer órgão e/ou sistema. Por exemplo,
ou porção de tecido, como exemplos: oclusão de artéria
uma disfunção neurológica que cause a vasodilatação
coronária, limitada a uma extremidade (síndrome
ou impeça a vasoconstrição, leva a um aumento do
compartimental ou embolia). A hipoperfusão também
espaço vascular, maior do que o volume sanguíneo
pode ser sistémica, o termo choque é sinónimo de
em circulação. Por outro lado a perda significativa de
hipoperfusão sistémica.
sangue implica um volume sanguíneo insuficiente
Choque é um estado que corresponde a perfusão
para preencher o espaço vascular, mesmo com a
insuficiente para fazer face às necessidades
presença de vasoconstrição. Uma falha da bomba
metabólicas do organismo. Pode ter várias causas.
cardíaca interfere no fornecimento de sangue para
Pode resultar de problemas no miocárdio, nos pulmões,
todos os órgãos e tecidos.
nos vasos sanguíneos, no sangue, no sistema nervoso.
Dado que as causas primárias de choque podem ser
Se ocorrer a progressão para choque descompensado,
diferentes e a disfunção nos tecidos orgânicos pode
todos os sistemas e órgãos do corpo serão afetados
estar afetada a diversos níveis (do ponto de vista
e a morte será uma inevitabilidade.
metabólico), os sinais e sintomas de choque variam e
Quando a hipoperfusão se instala, o organismo tenta
por vezes são antagónicos. A coloração da pele pode
compensar. A ação dos mecanismos compensatórios
estar/apresentar-se rosada, pálida ou marmoreada.
produz sinais e sintomas observáveis. Estes sinais
A FC pode ser bradicárdica, normal ou taquicárdica.
e sintomas fornecem pistas acerca da presença
A auscultação pulmonar pode ser normal ou com
de choque e o seu grau de gravidade, indicando
fervores (alvéolos preenchidos com fluidos). A vítima
simultaneamente se o tratamento está ou não a ser
pode apresentar-se hipotérmica, normotérmica ou
adequado.
em hipertermia. A sudorese pode ser generalizada,
No trauma, o choque resulta entre outros fatores do
limitada à cabeça e pescoço ou estar ausente.
mecanismo de lesão e da energia cinética (cinemática).
Nas emergências médicas, os mecanismos incluem
estados de doença. No trauma o mecanismo de
Abordagem à vítima com hipoperfusão/
lesão é súbito, definitivo e habitualmente óbvio
choque
(ex. acidente de automóvel, tiro, queda). A maioria
O choque é o resultado final de uma variedade de
das pistas para identificar o mecanismo de lesão
processos de doença. Alguns tipos de choque podem
encontram-se pela observação do local. No entanto,
ser prevenidos. A equipa de EPH deve reconhecer
numa situação originada por um problema médico, o
a hipoperfusão/choque quando presente e instituir
mecanismo de doença leva tempo a desenvolver-se
precocemente intervenções terapêuticas apropriadas
e é frequentemente mais subtil. A maioria das pistas
ao tratamento/correção da(s) causa(s) subjacentes.
relacionadas com o mecanismo de doença obtêm-se
na colheita da história e requerem um questionário
dirigido.
O tratamento da hipoperfusão requer uma rápida
identificação de forma a implementar uma terapêutica
precoce e apropriada para preservar as funções dos
órgãos e, em última instância, preservar a vida da
vítima.
Algoritmos
53
notas:
HIPOPERFUSÃO (CHOQUE)
TVM Arritmia
Desidratação Pneumotórax
Choque neurogénico, Taquicardia /
Vómitos, Diarreia Hipertensivo
Choque Medular Bradicardia
Descolamento da
PLACENTA Choque Séptico Tamponamento Insuficiência
Cardíaco Cardíaca
Hemorragia
PÓS-PARTO
HEMORRAGIAS
TEP EAM
Externas e
Internas
LESÃO OCULTA
LEGENDA
Manual de Emergências Médicas Manual de SAV
Manual de Emergências Trauma Sem referências nos manuais INEM
Figura 21
ABORDAGEM
À VÍTIMA
54
notas:
DOR TÓRACO-ABDOMINAL
A dor torácica pode estar presente numa grande A dor reflexa é definida como a dor sentida à distância
variedade de situações de doença médica e/ou trauma. do órgão afetado, que resulta do facto de existirem vias
Para além dos processos de doença que afetam aferentes partilhadas, provenientes de localizações
estruturas no tórax, qualquer processo de doença que distintas.
afete estrutura próximas, ou com relação neurológica A vitima com pneumonia poderá apresentar dor
com o tórax podem originar queixas de dor torácica. epigástrica, já que a distribuição de ramificações
Na maioria das situações, os achados físicos são nervosas em T9 é partilhada pelos pulmões e pelo
insuficientes para distinguir as diferentes causas de abdómen. Outros exemplos de dor reflexa incluem
dor torácica. a dor epigástrica associada ao EAM, ou a dor no
A avaliação da dor abdominal aguda representa outro ombro associada a irritação peritoneal (provocada
enorme desafio na emergência pré-hospitalar. As por rotura do baço).
possibilidades de diagnóstico variam desde condições Conhecer as caraterísticas dos diversos tipos de dor
que colocam em risco a vida (ex. aneurisma da abdominal (visceral, parietal e reflexa) é uma mais valia
aorta abdominal) até situações autolimitadas (ex. na avaliação da vitima em ambiente pré-hospitalar.
gastroenterite). Muitas vezes, é difícil em ambiente pré-hospitalar
Embora algumas condições, como uma costocondrite, relacionar a queixa com um órgão lesado e obter
sejam benignas, outras condições, incluindo o EAM e um diagnóstico. É portanto, fundamental determinar
a disseção aórtica, implicam risco de vida. Determinar se existe uma condição com potencial risco de vida,
a causa da dor torácica em ambiente pré-hospitalar através do questionário dirigido (história) e da avaliação
pode ser difícil. Estatisticamente existem estudos que física realizada pela equipa de EPH.
referem que 5% de vítimas de SCA tem alta hospitalar
após avaliação num serviço de urgência (mesmo após Abordagem à vítima
realização de ECG, Rx tórax e avaliações laboratoriais). com dor tóraco-abdominal
Assim sendo, todas as vítimas com queixas de dor Na abordagem da vítima com dor torácica e/
torácica devem ser abordadas como tendo uma ou abdominal, deve-se antes de mais garantir a
situação médica potencialmente grave. permeabilidade da via aérea, a eficácia da ventilação/
Quando a queixa principal é a dor abdominal, a sua oxigenação e assegurar a circulação da vítima
localização e caraterísticas podem indicar a possível (garantir o ABC), identificando se se trata de uma
origem/causa. No entanto, cada indivíduo reage de vítima crítica (instável ou potencialmente instável)
forma diferente, de acordo com uma variedade de ou não crítica (estável). Uma vez garantido o ABC,
fatores (tais como: idade, tolerância, condições pré- devem ser instituídas medidas de suporte (tais como:
existentes, perceção e estado mental). oxigenoterapia, acesso endovenoso, monitorização,
Os mecanismos que podem originar dor abdominal ECG 12 derivações). É essencial identificar a presença
são: processo mecânico, inflamatório ou isquémico. e iniciar a abordagem adequada de:
Um outro mecanismo importante é a dor reflexa (por • SCA/EAM;
causas externas ao abdómen). • Hipoperfusão/choque.
Existem três tipos de dor abdominal: visceral, parietal
e reflexa. A dor visceral é habitualmente causada pela
distensão de órgãos ocos ou pelo estiramento da
cápsula dos órgãos sólidos. Com menor frequência
é causada por isquemia ou inflamação, quando a
congestão dos tecidos sensibiliza a extremidades
nervosas.
A dor visceral envolvendo órgãos ocos tende a ser
mais irritante/incomodativa, tipo cólica e intermitente.
A dor visceral envolvendo órgãos sólidos tende a ser
incomodativa e constante.
A dor parietal ou somática abdominal pode resultar
da isquemia, inflamação ou estiramento do peritoneu
parietal. A dor parietal abdominal localiza-se
frequentemente na região onde é aplicado o estímulo
doloroso e carateriza-se como uma dor aguda, tipo
facada, intensa e constante.
Sinais de irritação peritoneal incluem a vítima deitada
em posição fetal e o agravamento da dor com atividades
que provoquem movimento no peritoneu (ex. tosse,
respiração profunda, posição supina com extensão
das pernas).
Algoritmos
55
notas:
DOR TORACO-ABDOMINAL
Taquicardia
Bradicardia
Tamponamento
PNEUMOTÓRAX TEP
Cardíaco
Dissecção Rotura
SCA
AORTA ESÓFAGO
Pleurite
LEGENDA
Manual de Emergências Médicas Manual de SAV
Manual de Emergências Trauma Sem referências nos manuais INEM
Figura 23
ABORDAGEM
À VÍTIMA
56
notas:
ALTERAÇÃO DO ESTADO Gradação do nível
DE CONSCIÊNCIA (AEC) de consciência
Alterações do estado de consciência são uma causa
frequente de ativação dos meios de emergência. Por Podem ser classificadas quantitativamente em 4 níveis:
definição, AEC é uma alteração (deterioração) do nível • Alerta – estado normal;
de consciência, da capacidade cognitiva ou orientação • Sonolento (letárgico) – necessita de estimulação
no tempo-espaço-pessoa. ligeira para despertar, e quando desperte a resposta
A AEC não é uma doença por si. Mas sim um sinal está lentificada mas é adequada;
de uma anormalidade subjacente que necessita de • Estupor – necessita de estimulação vigorosa para
correção. As doenças e lesões que podem causar o despertar, sendo que recupera temporária ou
uma AEC são numerosas e variadas assim como as parcialmente a resposta. Assim que é removido o
possíveis apresentações. estímulo o doente retorna ao estado prévio;
Uma abordagem lógica, estruturada e eficiente é • Coma – perda completa da capacidade de despertar
fundamental para prevenir e minimizar a lesão cerebral apesar da estimulação, com perda completa do
secundária ou a lesão de outros órgãos e sistemas perceção do doente em relação ao próprio e/ou
(identificando e corrigindo precocemente situações ambiente envolvente.
com risco de vida).
É particularmente importante a descrição detalhada
da reatividade do doente, em relação ao tipo de
57
notas:
Mecanismos do COMA, Estruturais Mecanismos do COMA, Não Estruturais
Distúrbios eletrolíticos
Vascular
• Hipo/hipernatrémia;
• Acidentes vasculares cerebrais isquémicos
• Hipo/hipercalcémia;
(bilaterais, subcorticais);
• Hipofosfatémia;
• Acidentes vasculares cerebrais hemorrágios.
• Hipomagnesémia.
Distúrbios endócrinos
• Hipoglicémia;
Infeccioso
• Coma hiperglicémico hiperosmolar;
• Abcessos intraparenquimatosos;
• Cetoacidose diabética;
• Empiema subdural.
• Mixedema;
• Crise de Addison.
Vascular
• Vasculites*;
Neoplásico
• Coagulação intravascular disseminada*;
• Primário ou metastático.
• Encefalopatia hipertensiva*;
• Purpura trombocitopénica*.
Infeccioso
• Meningite*;
Hipertensão intracraniana
• Encefalite*;
• Diminuição do fluxo sanguíneo cerebral.
• Sepsis/choque sético;
• Malária cerebral.
Iatrogenia medicamentosa
Efeito massa • Ciclosporinas;
• Desvio agudo da linha média; • Isoniazida;
• Herniação por compressão do tronco cerebral • Síndrome maligno dos neurolépticos;
ou efeito massa dos hemisférios cerebrais. • Síndrome anticolinérgico central;
• Síndrome seratoninérgicos.
Carências vitaminosas
• Tiamina - Vit. B1 (encefalopatia de Wernicke);
• Niacina - Vit. B3.
Falência multiorgânica
• Urémia;
• Hipoxémia;
• Encefalopatia hepática*;
• Encefalopatia anóxia (pós paragem
respiratória prolongada, status pós reanimação
cardiorespiratória);
• Narcose por retenção de CO2 .
Epilepsia
• Mal epiléptico;
• Crise convulsiva;
• Status pós ictal.
Hipo ou hipertermia
Coma psicogénico
• Estado vegetativo;
• Mutismo acinético;
• Abulia;
• Síndrome locked in.
notas:
AEC
VA avançada?
GCS ≤ 8 Sedação e
Analgesia
ALTERAÇÃO
Avaliar e corrigir glicemia
DA GLICEMIA
HIPOPERFUSÃO Convulsões /
Estado
HIPOPERFUSÃO?
TCE pós-crítico
TRAUMA? TÓXICOS?
INTOXICAÇÕES
• Álcool
Com base no CHAMU e Exame à Vítima
• Insulina
• Overdose
• Envenenamento
• Entre outras
Iniciar medidas de suporte dirigidas
Causas
SCA SÍNCOPE
Psicogénicas
HIPERTERMIA
HIPOTERMIA
Equilíbrio
ÁCIDO-BASE
Encefalopatia
Hemorragia
Metabólica ou Tumor Intracraniano
Intracraniana
Vascular Cerebral
Infeção do SNC
Alterações Meningite,
METABÓLICAS Encefalite, Abcesso
Cerebral, SÉPSIS
LEGENDA
Manual de Emergências Médicas Manual de SAV
Manual de Emergências Trauma Sem referências nos manuais INEM
Encefalopatia Metabólica:
Alcoolismo, Farmacos/Drogas, Hipoglicemia, Cetoacidose Diabética, Coma Hiperosmolar,
Hipotiroidismo, Coma Hepático, Coma Urémico, Alterações Hidorelectroliticas.
Encefalopatia Vascular Cerebral:
HSA, HIC, Encefalopatia Hipertensiva, Isquémia Cerebro-Vascular, Cefaleia pós-coital.
Algoritmos
59
ABORDAGEM
À VÍTIMA
60
SECÇÃO 3
TÉCNICAS DE
ABORDAGEM À
VÍTIMA
Técnicas de abordagem à vítima
61
ABORDAGEM
À VÍTIMA
62
SECÇÃO 3
TÉCNICAS DE
ABORDAGEM À VÍTIMA
1. TÉCNICAS DE
ABORDAGEM À
VÍTIMA
Técnicas de abordagem à vítima
63
notas:
FACTO
Apesar do stress e danos que a situação de emergência causa às vítimas, um dos aspetos que
estas recordam posteriormente é a forma como foram tratados pelos profissionais da equipa de EPH.
O sucesso da atuação da equipa de Emergência • Ter uma atitude de escuta ativa (ver descrição na
Pré-Hospitalar (EPH) está diretamente relacionado secção seguinte);
com a forma como realizam a abordagem à vítima. • Utilizar linguagem simples e clara;
Esta deverá reger-se por conhecimentos técnicos e • Afastar a vítima de outras vítimas com descontrolo
competências de relacionamento interpessoal, de forma emocional, evitando o fenómeno de contágio;
a respeitar os direitos e necessidades das vítimas, • Afastar do local do incidente e dos meios de
promover a colaboração com as equipas de socorro comunicação social. Quando não for possível
e satisfazer as expetativas de todos os intervenientes, afastar, tentar posicionar de forma a ficarem o
diminuindo, assim, os índices de frustração das equipas menos expostos possível (por ex. de costas para
de socorro e da população. o acidente/vítimas/comunicação social/destruição);
• Criar condições para que a pessoa se sinta segura
e confortável (levar se necessário a vítima para um
Linhas de ação na abordagem à vítima: local seguro e em que não se sinta exposta);
• Identificar-se antes de falar com a vítima ou familiar; • Fornecer informação correta da situação atual (caso
• Questionar se se pode aproximar da vítima, iniciando não saiba, dizer a verdade e que vai tentar recolher
o discurso por ex. “Compreendo que não se esteja essa informação);
a sentir bem, mas estamos aqui para ajudar.”; • Avaliar e existência de familiares ou amigos que se
• Ter uma atitude calma, postura tranquila e estar possam constituir como fator de apoio;
ao mesmo nível; • Evitar fazer julgamentos;
• Evitar gesticulação rápida e excessiva (pode ser • Não fazer promessas que não pode cumprir;
interpretada como uma forma de comunicação • Não utilizar expressões iniciadas com “Porquê”
agressiva); (pois podem ser geradoras de ansiedade);
• Mostrar disponibilidade e empatia (ver definição • Não se colocar numa postura confrontativa (em
na secção seguinte); frente à vítima ou a rodeá-la);
• Utilizar o contacto visual e o toque de forma ponderada • Nunca fique sozinho com a vítima, envolva o colega
(observar a forma como a vítima nos procura). e trabalhem em equipa.
Na utilização do toque, utilizar preferencialmente o
braço (ver descrição na secção seguinte);
O valor da comunicação não está naquilo que se transmite mas sim naquilo que o outro percebe
FACTO
do que nós transmitimos.
ABORDAGEM
À VÍTIMA
64
notas:
ASPETOS FACILITADORES Empatia
Colocar-se no lugar da outra pessoa para tentar
DA COMUNICAÇÃO compreendê-la partindo do ponto de vista e situação
em que se encontra a vítima. Permite ganhar a
Na abordagem à vítima existem aspetos facilitadores confiança do outro, reduzir a tensão e criar
da comunicação que devem ser implementados pelas segurança.
EPH, de modo a cumprirem as linhas de atuação
descritas.
Aspetos facilitadores da
comunicação verbal
Comportamentos de Escuta Ativa:
• Não sobrepor o discurso: Não poderá ouvir
enquanto está a falar;
• Perguntar, quando não entender;
• Não interrompa a pessoa, dê-lhe tempo para dizer
aquilo que tem a dizer;
• Ser diretivo: Conduzir o diálogo de forma clara e
objetiva, focando-se nos aspetos principais;
• Dar feedback verbal com pequenas frases,
expressões de apoio ou de compreensão, ex. “Sim,
sim...”; “Eu compreendo...”; “Entendo...”; “Continue...”
(Certifica que a mensagem foi recebida);
• Resumir por outras palavras o que for ouvindo
(reformular);
• Não provocar ou hostilizar a vítima: Pode fazer
com que a outra pessoa esconda as suas ideias,
emoções e atitudes. Esteja certo da influência que
está a exercer e adapte-se ao funcionamento da
vítima;
• Controlar os juízos de valor: O julgamento pode
prejudicar a relação de confiança.
Figura 25
Atender ao conteúdo da mensagem que é transmitida (as palavras) e à forma como é dita (tom de
voz, agitação, descontrolo, postura).
As pessoas não comunicam apenas por palavras. A comunicação não verbal assume um papel
de extrema relevância e não deve ser descurado na abordagem à vítima.
Técnicas de abordagem à vítima
65
da comunicação não verbal • Mãos devem estar visíveis, evitar braços cruzados,
mãos na cintura, mãos nos bolsos ou atrás das
Expressões faciais costas, gestos bruscos, apontar o dedo.
• Não se esqueça que as primeiras impressões são
baseadas na observação das expressões faciais; Aparência:
• A informação é transmitida sobretudo pelos • Reflete normalmente o tipo de imagem que gostaria
movimentos da boca e colocação das de passar;
sobrancelhas; • Através do vestuário, penteado, maquilhagem,
• O sorriso é adequado em algumas situações, mas apetrechos pessoais, barba e outros, as pessoas
não em exagero e nunca a rir. criam uma imagem de como são e de como
gostariam de ser tratadas;
Comportamento visual • Lembre-se de ter sempre uma aparência cuidada
• Ajuda a manter a atenção; pois é a imagem da sua instituição.
• Um olhar fixo pode ser entendido como ameaça,
provocação. Deve procurar o contacto sem fixar;
Gestos
• Utilizados para exemplificar tamanhos, formas,
movimentos, sensações;
• A gesticulação excessiva pode revelar ansiedade,
tensão, agitação, agressividade;
• Utilizar sempre com moderação e sem afastar muito
os braços do tronco.
Toque
• Pode ser interpretado como invasão do espaço
pessoal;
• Apropriado se usado com adequação. Deixe que
seja a vítima estabelecer o seu espaço e mostrar
como se sente mais confortável;
• Pode demonstrar preocupação e empatia, como
tocar na mão, braços ou ombros. Figura 26
ABORDAGEM
À VÍTIMA
66
notas:
ABORDAGEM A POPULAÇÕES Procedimentos na abordagem a crianças:
• O discurso deve de ser adaptado à criança. Isto
ESPECÍFICAS: não significa que se deva infantilizar mais do que
Crianças e pessoas a idade da criança ou que se deva mentir sobre os
factos;
com necessidades especiais • A presença de um adulto de referência ajuda
a tranquilizar a criança durante o socorro. Se
necessário, peça apoio a esse adulto para
comunicar com a criança, tranquilizando-o
Crianças previamente para não transmitir ansiedade à criança;
• Apresente-se com o primeiro nome e diga qual
O impacto das emergências nas crianças pode
a sua função (ex. médico, enfermeiro). As crianças
ser elevado, pois, ao contrário dos adultos, a sua
conhecem estes papéis sociais;
personalidade ainda está em construção. Para
• A comunicação com crianças deve de ser feita ao
além dos traumas que pode criar, uma emergência
mesmo nível (altura dos olhos);
pode ser significativamente forte para “marcar” uma
• As crianças também têm dúvidas. Pergunte à
criança para a sua vida. A forma como é abordada
criança se quer saber alguma coisa. Responda
pela equipa EPH pode fazer a diferença para um
com honestidade, adequando as suas respostas à
bom prognóstico físico e uma saudável recuperação
idade;
mental após um incidente.
• Nunca prometa o que não pode cumprir;
Se estiverem crianças no local, mesmo que não sejam
• Pequenas coisas como um brinquedo ou um peluche
as vítimas assistidas, a equipa EPH deve sempre ter
podem ajudar a criança a tranquilizar-se. Pergunte à
um cuidado redobrado na sua atuação.
criança se quer levar algo consigo no transporte.
Compreenda também se a criança chorar porque
perdeu um brinquedo ou peluche no acidente.
Pode oferecer algo, como uma luva, desenhando
um boneco, o que funciona como um “prémio” pelo
bom comportamento e um reforço importante.
Figura 27
Técnicas de abordagem à vítima
67
CEGOS
Ao abordar uma vítima cega:
• Falar diretamente e não interpor outra pessoa; Existem muitos pedidos de socorro para
• Utilizar um tom de voz natural, a pessoa cega vítimas idosas, devido à sua situação
não é surda; vulnerável e, normalmente, à agudização
• Não substituir palavras “veja”, “olha” por “oiça”, de estados crónicos. Pelo seu aspeto,
“apalpe”, “verifique”; dificuldades de comunicação ou estado
• Cego e Cegueira são os termos adequados e a confusional, existe uma tendência para
utilizar. ignorar ou condescender a vítima idosa.
• Identificar-se quando se dirige a uma vítima cega
ou quando entra num espaço onde este se encontra;
• Caso não se recorde do nome da vítima tocar
levemente no braço para que saiba que se dirige
a ela;
ABORDAGEM
À VÍTIMA
68
ABORDAGEM EM
notas:
CONTEXTOS ESPECÍFICOS,
URGÊNCIAS
MÉDICO-LEGAIS:
Violência doméstica
Ainda que a forma de violência doméstica mais
prevalente seja a psicológica, aquelas que mais vezes
serão motivo de acionamento e intervenção da equipa
de EPH são as situações de violência física ou sexual.
Podem ainda existir ocorrências nas quais o motivo
de ativação é completamente diferente da situação
encontrada e que suscite dúvidas relativamente à
existência de violência doméstica.
Figura 28
69
Indicadores Comportamentais
• Comportamentos extremos (ex. agressivo ou
Muitos agressores foram igualmente repele os outros de forma exagerada);
vítimas de violência. • Inadequação da explicação dada pelos pais ou
Este pressuposto ajuda a uma intervenção cuidadores sobre os mecanismo de produção da
neutra e imparcial. lesão;
• Inadequação do intervalo de tempo entre a
ocorrência e a procura de cuidados médicos.
notas:
Violação/abuso sexual
71
notas:
Trauma psicológico
Acidentes, morte de um familiar, situações de sobrevivência do indivíduo para fazer face ao evento.
violência ou ameaça, entre outros, são exemplos de Porém, uma evolução patológica desta reação normal
eventos potencialmente traumáticos, que envolvem pode resultar em perturbações de stress, como a
o sentimento de completo desamparo diante de uma Perturbação de Pós-Stress Traumático (PTSD).
ameaça, podendo colocar o indivíduo num estado de
extrema confusão, medo e insegurança. Experiências
potencialmente intensas e devastadoras possuem
efeitos variáveis. Estes acontecimentos potencialmente
traumáticos denominam-se incidente crítico.
Avaliação
A Reação Aguda de Stress (RAS) é uma resposta
normal e esperada a uma situação adversa. Os
sintomas de RAS compreendem manifestações
emocionais, cognitivas, físicas e comportamentais.
Estas reações traduzem o desequilíbrio provocado
pelo incidente crítico, uma vez que representa
algo excecional e que conduz a um mecanismo de
Figura 31
Choque emocional;
Depressão; Atenção dispersa;
Hipertensão arterial;
Ansiedade / Pânico; Dificuldade de
Taquicardia; Luta ou fuga;
Culpa; tomada de decisão;
Dificuldade “Congelado ou imobilizado”;
Raiva; Negação;
respiratória; Obediência automática;
Medo; Alteração da
Fadiga; Alienação;
Desespero; memória;
Hiper-alerta; Agitação;
Irritabilidade; Confusão;
Queixas somáticas; Desconfiança.
Sentimento de luto/ Distorção;
Náuseas.
pesar; Preocupação.
Vulnerabilidade.
73
INFORME – Dê informações curtas mas precisas sobre • Reconhecer reações de stress das vítimas e as notas:
o que está a acontecer, o que está a fazer e o que reações que implicam intervenção imediata do
vai acontecer. Por vezes, informar para qual hospital psicólogo.
o doente irá ser transportado, e o que acontecerá
quando lá chegar, é suficiente para acalmar o doente Cuidar de Agudizados
e familiares, promovendo a colaboração no processo Considera-se uma situação de agudizado se a vítima:
de socorro. • A vítima iniciar um quadro de urgência psiquiátrica
(ex. desenvolver crise de ansiedade ou apresentar
comportamento estranho/bizarro). Nestes casos
proceder conforme o capítulo de urgência
Abordagem à vítima (Primeiros psiquiátrica;
Socorros Psicológicos) obedecem a • Aparentar choque emocional (pode chorar
princípios básicos como: compulsivamente ou estar “parado / imobilizado”
• Proteger; sem reação a estímulos externos).
• Dirigir;
• Conetar; Nestes casos deve-se assegurar:
• Triagem; • Assistência à vítima prestando socorro;
• Cuidar de Agudizados. • Ficar com a vítima até que esteja emocionalmente
estável e com alguém que a acompanhe;
• Solicitar UMIPE (atender ao Protocolo de Ativação).
Abordagem à vitima
(Primeiros socorros psicológicos)
EMPOWERMENT do doente e família:
Objetivos • Peça a colaboração do doente para o
• Oferecer proteção, segurança e confiança às vítimas auxiliar no socorro, envolva a família
e familiares; em pequenas tarefas, principalmente
• Redução do stress das vítimas; a pessoa que lhe pareça melhor
• Minimizar o impacto do incidente crítico; estruturada e mais controlada. Estas
• Mobilizar os recursos sociais; pessoas irão precisar de liderança
durante a situação de crise, por vezes
Na intervenção psicológica em crise, os Primeiros apenas é necessária orientação;
Socorros Psicológicos representam o modo de atuação • Faça a sugestão de apenas alguns
indicado. familiares se deslocarem ou hospital e
não todos, avise sobre os períodos de
Proteger espera;
Promover sentimentos de proteção e segurança em • Aconselhe que se mantenham nutridos
relação ao incidente e/ou a mais ameaças. e hidratados;
• Avaliar o risco de perigo e segurança do local; • Explique as consequências da falta
• Identificar as pessoas mais expostas ao evento; de sono, provocada pela situação (ex.
• Proteger da exposição a estímulos potencialmente dificuldade na condução de veículos,
traumáticos (Imagens, cheiros, ruídos); cansaço, irritabilidade ou choro fácil).
• Afastar do local de impacto;
• Proteger da comunicação social.
Dirigir
Direcionar as vítimas ou familiares sobretudo os que
estão mais descontrolados para:
• Fora do local de destruição;
• Longe das vítimas com ferimentos graves e vítimas
mortais;
• Dirigir para locais seguros;
• Orientar no sentido das suas necessidades.
Conetar
• Reuni-las com as pessoas mais próximas;
Figura 31
• Fornecer informação correta e possível sobre o
incidente e sobre os recursos disponíveis.
notas:
Notificação de Morte Mesmo que não tenha realizado a notificação de morte
propriamente dita, é necessário ter em atenção a sua
postura enquanto membro da equipa de Emergência
Pré-hospitalar (EPH) presente no local. Assim, tenha
em conta os seguintes princípios ao abordar estas
A notificação de mor te adequada situações, que se referem aos momentos de notificação
contempla as seguintes etapas: de morte e aos momentos seguintes em que permanece
com os familiares:
I: Início (Privacidade, contacto visual, • A verificação de óbito é um ato médico, portanto
tempo necessário); deve ser sempre confirmado por um médico;
P: Perceções (O que a pessoa sabe, • Partilhe emoções/pensamentos sobre a situação
corrigir informação errada); com colegas da equipa EPH, antes de estar presente
I: Informação (Dar a informação, notificar na notificação de morte e nos momentos seguintes.
a morte); Sobretudo se a situação for mais exigente (ex.
C: C o n h e c i m e n to (C o n f ir m ar a envolver pessoas conhecidas, crianças, entre
compreensão, evitar confronto excessivo) outros) Ajuda-o a focalizar-se melhor na tarefa ou
E: Emoções (permitir e validar a resposta intervenção;
emocional; empatia); • Local apropriado. Escolher um lugar calmo e com
C: Confronto (Estabilizar e formular privacidade;
estratégias juntamente com o familiar). • Cumprimentar, identificar-se pelo nome e função;
• Posicionar-se adequadamente (ao mesmo nível da
pessoa a notificar);
• Sente-se e peça às pessoas presentes para se
sentarem;
• Certifique-se que a pessoa mais chegada está
A notificação de morte é um momento presente; Não notifique o irmão da pessoa antes
FACTO
particularmente complexo e difícil, tanto de notificar os pais ou o cônjuge;
para a família quanto para os técnicos • Não dê a notícia a uma criança;
envolvidos. • Certifique-se que é um adulto próximo da criança
a dar a notícia;
O mais importante para a família é a atitude • Nunca use uma criança como tradutora.
e atenção dos profissionais, tempo para • Contacto visual. Eventualmente contacto físico;
perguntas, informação correta, linguagem • Notificar de uma forma simples e direta;
clara e privacidade. • Use o nome da vítima e diga: “São os pais, marido/
mulher, família de… (nome da vítima)?”
• Fazer breve resumo do acontecimento:
“Lamento ter de vos informar mas tenho más
notícias para vos dar.”
(Fazer uma pausa por um momento de forma a
É importante transmitir os sentimentos preparar as pessoas para a notícia).
pois exprime emoções em vez de factos, “O … (nome da vitima) esteve envolvido em…
e convida as pessoas a exprimirem os (explicar situação sem muitos detalhes) e morreu.”
seus sentimentos, ajudando-os a enfrentar (Fazer outra pausa breve).
a realidade. Não use expressões como “partiu…”, “passou para
outra vida”, “perderam o... (nome da vítima)...”,
“Tenho muita pena, os meus sentimentos.”
• Continue a usar as palavras “morto” ou “morreu”,
se continuar a conversar com a família; Continue
a usar o nome da vítima e não o “cadáver” ou o
“falecido”;
Se a família pedir para ver o corpo: • Não use expressões ou frases estigmatizadas (ex.:
• Acompanhe o familiar que o vai fazer “tudo vai passar”, “vai correr tudo bem”);
ao local onde se encontra o corpo; • Expressões apropriadas são simples e diretas;
• Prepare-o antes com uma descrição do Exemplos:
local e o que vai encontrar e ver; “Tenho muita pena”;
• Prepare-o para a condição em que “ É normal estar a sentir-se assim e ter esta
vai encontrar o corpo (ex. vai parecer reação. A maior parte das pessoas que passam
pálido); pela mesma situação também reagem assim”;
• Não deixe a pessoa sozinha com o corpo • Não culpabilize a vítima pela situação ter acontecido
a não ser que lhe seja pedido; como aconteceu, mesmo que ela tenha tido culpa;
• Informe que está à porta para o que • Não desvalorize os seus sentimentos e os da família;
seja preciso. • Reações intensas à notícia são normais;
Técnicas de abordagem à vítima
75
Figura 33
ABORDAGEM
À VÍTIMA
76
77
ABORDAGEM
À VÍTIMA
78
SECÇÃO 4
ANEXOS
Anexos
79
ABORDAGEM
À VÍTIMA
80
ANEXO 1
OXIMETRIA
DE PULSO
Oximetria de pulso
81
Figura 1
3. Outros Cuidados
A oxihemoglobina ou hemoglobina saturada Garantir que a superfície onde se coloca o oxímetro de
FACTO pulso se encontra bem profundida, sem vasoconstrição,
absorve mais a luz infravermelha, ou seja,
permite que mais luz vermelha passe fria, sudorética e procure evitar qualquer pressão
através dela. A luz infravermelha situa-se sobre o aparelho.
entre 850 a 1000 nanómetros (nm). Para evitar artefactos, é essencial que a vítima se
A desoxihemoglobina ou hemoglobina mantenha quieta, sem muitos movimentos que podem
reduzida absorve mais a luz vermelha e influenciar a medição da luz emitida e absorvida.
permite que mais luz infravermelha passe
através dela. A luz vermelha situa-se entre
600 a 750 nm.
notas:
OXIMETRIA: Oximetria: limitações
PARA QUE SERVE? O oxímetro de pulso requer um uso correto para que
sejam evitados artefactos desnecessários e que
Respiratório: influenciam as medições de SpO2. É necessário
algum espírito crítico e consciência das limitações ao
Reconhecimento precoce de Hipoxémia: A cianose seu uso (ex. verniz nas unhas, arritmias) para evitar
como uma manifestação clínica de hipoxémia só más interpretações nos resultados. Aconselha-se
acontece para valores de saturação de oxigénio que os dados fornecidos pelo exame objetivo sejam
perigosamente baixos. Apenas quando a concentração coordenados com os obtidos pela oximetria de pulso.
de desoxihemoglobina atinge valores de 4 g/100 mL é A oximetria reflete o estado de oxigenação da
que a cianose se torna detetável. Para esses valores vítima, não o estado de ventilação, níveis de CO2
a saturação de hemoglobina é aproximadamente ou status acido-base. Especialmente nas vítimas a
80% ou menos dependendo da concentração de receber oxigénio, os valores de SpO2 podem estar
hemoglobina no sangue. Estes valores o representam normais, mas o doente pode estar em insuficiência
um risco significativo de complicações relacionadas respiratória, hipercápnia e acidose respiratória. Caso
com a hipoxémia. seja necessário informação sobre a ventilação, deve-se
recorrer à capnografia ou gasimetria arterial.
Fatores físicos
FACTO O reconhecimento de que a cianose como que interferem na leitura:
manifestação clínica de hipoxémia só O oxímetro de pulso apenas funciona quando a luz
aconteceria para valores de saturação de transmitida é detetada no detetor e quando existe uma
O2 perigosamente baixos, data desde 1945. mudança na quantidade de luz transmitida (devido ao
Desde então tem sido feitas sucessivas fluxo sanguíneo arterial). Tudo o que interfira com esta
tentativas de criar métodos e tecnologias relação pode pôr em causa os valores obtidos. Quando
para garantir uma deteção precoce de existe uma inadequada onda de pulso (ex. diminuição
hipoxémia. da perfusão periférica secundária a hipotensão,
O primeiro oxímetro de pulso foi criado hipotermia, vasoconstrição) não se conseguirá obter
para monitorizar a oxigenação dos pilotos um valor satisfatório. Geralmente, nestas condições o
aéreos. oxímetro fornece valores de saturação anormalmente
baixos (falsos).
Artefactos devido ao movimento devem ser evitados.
Caso não se consiga evitar, (ex. durante o transporte
Circulatório: de doentes ou tremores), os valores de oxímetria de
O oxímetro de pulso deve ser colocado em todos as pulso, devem ser interpretados com precaução.
vítimas, como método de monitorização contínua A luz ambiente interfere na leitura do oxímetro de
(avaliação primária, secundária, tentativas de pulso. Considerando que a luz do diodo receptor é
entubação endotraqueal, durante procedimentos recebida após ter passado por um tecido, deve-se
que envolvam sedo-analgesia, durante manobras proteger esta unidade para que não receba mais luz
de ressuscitação cardiorrespiratória e nos cuidados do que aquela transmitida.
pós-reanimação).
• Permite uma monitorização do estado hemodinâmico Fatores fisiológicos
do doente; que interferem na leitura:
• Diagnóstico de ROSC em PCR, pela análise da Tendo em conta o formato sigmoidal da curva de
frequência e amplitude da onda de pulso. dissociação da hemoglobina, para elevadas PaO2
(parte achatada da curva), grandes mudanças na
PaO2, repercutem-se apenas em modificações minor
nos valores de SpO2. Desta forma, o oxímetro de pulso
não é o método ideal de monitorização de vítimas
com hiperóxia.
Para baixos níveis de PaO2 , pequenas alterações na
PaO2 , refletem-se numa diminuição rápida da SpO2.
Por outro lado é importante saber que para valores de
SpO2 de 90%, a PaO2 é aproximadamente 75 mmHg,
Figura 2 contudo, para valores de SpO2 de 80%, a PaO2 é
cerca de 50 mmHg.
83
Carboxihemoglobina
e metahemoglobina:
A carboxihemoglobina e metahemoglobina absorvem
a luz no mesmo comprimento de onda que a
oxihemoglobina. Assim o oxímetro de pulso interpreta a
carboxihemoglobina como oxihemoglobina. Nos casos
de intoxicação por monóxido de carbono podemos ter
valores de saturação de O2 anormalmente elevados
(falsos).
Novos oxímetros de pulso com capacidade de emitir luz
em diversos comprimentos de onda já são capazes de
distinguir a carboxihemoglobina e metahemoglobina.
Contudo, será essencial efetuar na unidade de saúde
o doseamento de monóxido de carbono e de saturação
arterial de O2 por gasimetria arterial, quando se suspeita
de intoxicação por monóxido de carbono.
ANEXO 2
CAPNOMETRIA
e CAPNOGRAFIA
Capnometria e capnografia
85
notas:
CARBONOS
A maioria NITROGÉNIO invasores estão a ligar com
tem tolerando a presença os meus amigos instáveis!
de oxigénio, mas
Isto é a Já não
alguma coisa tem de
atmosfera! reconheço
ser feita a acerca desta
Não é lugar para os vizinhos!
invasão de CARBONO
CARBONO
Sim! Diz a esses
CARBONOS
Para voltarem para
baixo, de onde São todos
vieram!
cegos ao nosso
ódio molecular?
Cala-te
ARGON
Pensas
que és muito
nobre
FISIOLOGIA DO DIÓXIDO
notas:
87
notas:
retilínea. Fica assim demonstrado que a oximetria é
um indicador tardio de alterações respiratórias. A
oxigenação e a ventilação são processos fisiológicos
relacionados mas independentes em que a SpO2
não avalia a ventilação, sendo por isso pertinente a
avaliação conjunta e contínua da EtCO2.
A capnografia, o “sinal vital” da ventilação, que com o
traçado eletrocardiográfico (ECG), a pressão arterial
(PA) e a oximetria de pulso (SpO 2), constitui um
conjunto completo de monitorização hemodinâmica
e respiratória do doente.
TECNOLOGIA
Os aparelhos de capnografia podem utilizar variada
tecnologia que inclui a fotometria de absorção de
infravermelhos, a colorimetria e a espectrometria
de massa. Destes, o que fornece resultados mais
fidedignos é a fotometria por infravermelhos.
Existem dois tipos de capnografos por infravermelhos:
“mainstream” e “sidestream”. O método “mainstream”
foi inicialmente desenvolvido para doentes ventilados;
o sensor é adaptado diretamente ao tubo endotraqueal
e a avaliação é feita na expiração quando o ar expirado
passa diretamente pelo sensor. O tempo de resposta
é muito curto (40ms) e a sua precisão é muito elevada. Figura 4: Solução “MacGiver”
Tem no entanto algumas desvantagens nomeadamente Alternativa para circuito de capnometria
o facto de adicionar espaço morto à via aérea, é difícil (Como alternativa aos óculos nasais com cânula
de calibrar sem ser desconectado e pode ser afetado de capnografia integrada, pode-se improvisar na
pelo vapor da água. sua ausência adaptando uma cânula no circuito de
O método “sidestream” pode ser utilizado em doente capnometria e colocá-lo numa máscara facial ou
entubados ou não entubados, em que uma amostra óculos nasais)
do gás expirado é avaliada por um sensor que se
encontra fora da via aérea. Nos doentes com respiração
espontânea não entubados, a cânula nasal permite
a avaliação do CO 2 expirado pelo nariz e boca.
O tempo de resposta é mais lento e pode entupir devido
à presença de vapor de água e secreções.
notas:
CAPNOGRAMA Capnograma
com alterações
Capnograma na forma da onda
Normal “A avaliação do EtCO2 está para o capnograma como
a frequência cardíaca está para o ECG”. Esta frase
Pela análise do capnograma (que consiste na ilustra claramente a importância da análise da curva
representação gráfica do ciclo respiratório) pode ser produzida pelas variações da pressão do CO2 no ar
efetuada uma avaliação rápida e simples do estado do expirado. As alterações no capnograma traduzem
doente. A presença de ondas no capnograma indicam mudanças na condição clínica do doente. Através
que a via aérea está permeável e que o doente está da interpretação do capnograma é possível não só
a respirar. Um valor de EtCO2 entre 35 e 45 mmHg detetar precocemente as alterações no estado do
indica perfusão adequada dos tecidos. doente, como também suspeitar da causa e instituir
A forma da onda normal representa a evolução rapidamente intervenções, tendo em vista a resolução
da concentração de CO2 durante a expiração e é do problema identificado.
constituída por várias fases:
• Fase 1: Representada pelo segmento AB, Perda súbita de EtCO2
corresponde ao início da expiração em que não A rápida perda da curva e passagem do EtCO2 para
existe troca de gases. Carateriza a linha de base da zero, sem ciclos respiratórios detetados pode ser
onda. Nesta fase o CO2 encontra-se nos alvéolos e devida à deslocação ou exteriorização do tubo traqueal,
o oxigénio nos capilares. Este processo identifica intubação esofágica, à obstrução total da via aérea,
o espaço morto anatómico e a concentração de à desconexão do ventilador, incorreto funcionamento
CO2 é muito próxima de zero, pois esta é a parte do ventilador, pode também significar paragem
do sistema respiratório que não participa nas trocas respiratória ou ciclos respiratórios tão superficiais
gasosas; que não permitem a realização das trocas gasosas.
• Fase 2: Representa a linha ascendente BC em que Pode ainda representar deslocação ou desconexão da
o CO2 existente nos alvéolos começa a chegar à via linha ou dispositivo que faz a colheita do ar expirado,
aérea superior. É a concentração de CO2 na fase no caso de doentes não entubados.
média da expiração, ou seja, a combinação do gás
alveolar com o do espaço morto;
• Fase 3: Durante esta fase, segmento CD (plateau
alveolar), a concentração de CO2 é praticamente
constante ao longo do fluxo de ar. Termina no final
da expiração. O valor de EtCO2 presente no ponto D
é o valor máximo do CO2 expirado e é apresentado
no monitor de capnografia;
• Fase 4: Representa a fase inspiratória, segmento
DE, em que o CO2 diminui até atingir o valor zero.
Figura 8: Capnograma com perda súbita de EtCO2
Figura 7: Capnograma normal (indivíduos com Figura 9: Capnograma com perda gradual de EtCO2
funcionamento pulmonar normal apresentam ondas
de forma normal, independentemente da sua idade)
Capnometria e capnografia
89
Representa uma frequência respiratória elevada O EtCO2 elevado com plateau alveolar e com CO2
com hipocápnia. O doente está a hiperventilar. As de zero na linha de base representa hipoventilação.
causas possíveis da hipocapnia são a hiperventilação, A hipoventilação pode ser causada por alteração do
cetoacidose, hipotermia. Se a frequência respiratória estado de consciência devido a drogas de abuso,
for elevada o doente beneficia em ficar mais calmo sedação, estado pós-crítico, trauma de crânio ou
de forma a regularizar o padrão ventilatório. Se esta síncope. No entanto pode ainda dever-se à elevação
frequência elevada estiver sob controlo do ventilador da temperatura corporal, sépsis, dor ou hipercápnia
será necessário baixar a frequência para que o EtCO2 crónica. Se o EtCO 2 se apresentar >45 mmHg,
possa regressar à normalidade. Pode ser causado pela mantendo-se a zero a linha de base, o doente
ventilação rápida, induzida com insuflador durante o provavelmente necessitará de ventilação assistida.
processo de ventilação assistida. Esta curva, com
EtCO2 igual ou superior a 10 mmHg, é a curva esperada
na realização de compressões torácicas eficazes
durante o processo de reanimação.
• Hipoventilação:
Dor;
TCE;
Síncope;
Status pós-crítico;
Sedação excessiva;
HIPERCÁPNIA
Intoxicação por narcóticos;
Disfunção do SNC;
• Aumento súbito do CO2 (na circulação pulmonar);
• Hipertermia;
• Hipercápnia crónica;
• Sépsis.
91
93
Triagem: identificação
rápida da vítima crítica
A triagem rápida de vítimas de terrorismo químico é
essencial para minimizar a morbilidade e a mortalidade.
A capnografia é considerada por Krauss (2005), como
sendo a única modalidade de monitorização que
permite avaliar o ABC em menos de 15 segundos. De
acordo com o mesmo autor, os agentes químicos são
primariamente absorvidos através da pele e do trato
respiratório e têm os seus principais efeitos ao nível
do sistema nervoso central e sistema respiratório.
A capnografia permite a deteção rápida das
complicações destes agentes químicos, como sejam
a depressão respiratória, obstrução da via aérea
superior, laringospasmo, broncospasmo e falência
respiratória.
ANEXO 3
ECG 12
DERIVAÇÕES
ECG 12
Derivações
95
notas:
O ECG de 12 derivações é um registo gráfico à • Derivações dos membros: I, II, III, aVR, aVR e aVL:
superfície da atividade elétrica do coração, realizado Registam a atividade no plano frontal;
de vários ângulos. Os vários ângulos correspondem • Derivações precordiais V1 a V6: Registam a atividade
às derivações registadas (figura 1), onde: no plano horizontal.
Relacionar a atividade elétrica com a situação clínica,
reconhecendo situações patológicas, é o trabalho de
quem interpreta o ECG e requer, além do registo do
ECG, a recolha de dados clínicos atuais e por vezes
ainda a possibilidade de comparação com ECG prévio
daquele doente.
2º espaço
intercostal
5º espaço
intercostal
Apex
Linha
mediana
notas:
Ecg: indicações
• Dor Torácica;
• Disritmias;
• Dor Abdominal acima da linha umbilical;
• Pós reanimação;
• Vítima de eletrocussão.
Ecg: técnica
1. Explicar o procedimento à vítima e pedir a sua
colaboração;
2. Posicionar a vítima em decúbito dorsal com elevação
da cabeceira de acordo com a sua situação clínica;
3. Proceder à tricotomia se necessário;
4. Limpar a pele com solução desengordurante;
5. Monitorizar a vítima com o cabo de 10 elétrodos,
colocando os elétrodos conforme figuras 2 e 3.
Deixar sempre livre as áreas para colocação dos
elétrodos multifunções; Figura 3– Colocação dos elétrodos. Modificado de
6. Colocação dos elétrodos (figura 2): Ganong WF; Review of Medical Phisyology. 22nd
• aVR – Ombro ou braço direito ou braço direito: Ed. McGraw-Hill
• aVL – Ombro ou braço esquerdo;
• aVF – Crista ilíaca antero-superior esquerda ou
perna esquerda ;
Linha média
• Neutro – Crista ilíaca antero-superior direita ou
clavicular
perna direita;
7. Colocação dos elétrodos (pré-cordiais) (figura 3 e
figura 5):
• V1 – 4º espaço intercostal direito junto ao bordo
do esterno; Ângulo Linha média
• V2 – 4º espaço intercostal esquerdo junto ao de Louis axilar
bordo do esterno;
• V3 – entre V4 e V2, a meio em linha reta;
• V4 – 5º espaço intercostal esquerdo, na linha
médio-clavicular;
• V5 – no mesmo plano horizontal que V4, na linha
axilar anterior;
• V6 – no mesmo plano horizontal que V4 e V5, na
linha axilar média.
Considerações sobre
a obtenção do ECG
• Colocar os elétrodos dos membros preferencialmente • Em algumas situações pode ser necessário registar
sobre estruturas ósseas; ainda as derivações precordiais direitas, mais
• Os movimentos musculares originam correntes frequentemente V3R e V4R. Correspondem às
elétricas que podem ser captadas e registadas pelo localizações simétricas, em relação à linha média,
monitor causando artefactos; das derivações precordiais.
• Verificar a ocorrência das seguintes situações que V3R – Simétrica de V3, isto é entre V4R e V2, a
podem estar na origem de falsos resultados: meio em linha reta;
Colocação incorreta dos elétrodos; V4R – Simétrica de V4, isto é 5º espaço intercostal
As ondas T muito amplas podem duplicar a direito na linha médio-clavicular.
frequência registada no monitor.
Considerações sobre
a interpretação do ECG:
• Num ECG “normal” podem identificar-se (figura 4):
Onda P – despolarização auricular;
Complexo QRS – despolarização ventricular;
Onda T – repolarização ventricular.
• A morfologia e amplitude das ondas é influenciada
pela:
Localização dos elétrodos na superfície cutânea;
Direção do impulso cardíaco em relação à posição Segmento ST
Intervalo
do elétrodo. QRS
Intervalo
• O registo eletrocardiográfico é convencionado e PQ Intervalo
padronizado correspondendo, por defeito: QT
Amplitude - 1 mv / 10 mm;
Velocidade – 25 mm / segundo.
Figura 5: Ondas no ECG
ABORDAGEM
À VÍTIMA
98
notas:
ECG 1
Figura 6
ECG 2
Figura 7
Ecg: desafios
São apresentados agora dois ECG de 12 derivações ECG 2:
realizados por meios INEM, o desafio consiste em RELATÓRIO DO CARDIOLOGISTA
analisar ambos os traçados. Os monitores que equipam (Figura 7)
os meios INEM (SIV e SAV) possuem um software que Ritmo de base poderá ser uma fibrilhação auricular
faz uma análise do traçado, produzindo um relatório. (não são visíveis ondas P e os intervalos RR são muito
Este relatório vem impresso no próprio ECG, no canto irregulares) (seria útil fazer um tira de ritmo).
superior direito. Atenção que o último complexo do traçado parece
Pode consultar aqui o relatório do Cardiologista, corresponder a uma extra-sístole ventricular muito
para cada um dos traçados: prematura (embora não típico, esboça mesmo o
fenómeno R-em-T que comporta um risco muito elevado
ECG 1: de disritmias ventriculares malignas (FV).
RELATÓRIO DO CARDIOLOGISTA Exuberante elevação do ponto J e do segmento ST em
(Figura 6) derivações II, III, aVF e V3-6 com imagem em espelho
Ritmo de base sinusal, 63bpm em precordiais direitas.
Muito discreta elevação do segmento ST em derivações Exame muito sugestivo de EAM combinado em fase
inferiores (cerca de 0,5mm). aguda (possível doença do tronco comum da coronária
Embora não se verifique uma óbvia corrente de lesão, esquerda ou doença multivaso)
em presença dum quadro clínico compatível encarar
a situação como se pudesse corresponder a um EAM NOTA: Este exuberante aspeto de elevação dos ST
com elevação ST da parede inferior. é chamado pelos anglo-saxónicos de “widow-maker”
(os brasileiros dizem “fazedor de viúvas” )
ECG 12
Derivações
99
ABORDAGEM
À VÍTIMA
100
ANEXO 4
ACESSO
INTRAÓSSEO
Acesso intraósseo
101
notas:
A via intraóssea (IO) como via de acesso à circulação venosa foi descrita em inicialmente, em 1922, por Drinker.
FACTO
Em 1934, Josefson publicou um estudo sobre a via IO, como substituto em situações de emergência
para a administração de fluidos em crianças. A técnica passou a ser usada com frequência na década
de 1940 . Com o aparecimento dos cateteres venosos, esta via caiu em desuso até a década de 1980.
notas:
Contraindicação Linha média da face anterior da
Criança tíbia, abaixo da tuberosidade óssea
• Fratura (ou suspeita) do osso longo; [0-6] Anos da tíbia, num ponto geralmente
• Infeção local; localizado 1 cm abaixo desta;
• Punção prévia; Linha média da face anterior da
• Interrupção vascular prévia de origem traumática ou Criança
tíbia, abaixo da tuberosidade óssea
cirúrgica. [6,12]
da tíbia, num ponto geralmente
Anos
localizado 1 a 2 cm abaixo desta;
Outros acessos
O esterno, fémur, calcâneo (maléolo), rádio e a clavícula,
estão também descritos como vias alternativas. Tais
locais de acesso dependem do tipo de dispositivo
utilizado (ex. BIG, EZ-IO).
O osso esterno também se carateriza como local para
a colocação de via IO em adultos, por ser macio, com
bom espaço medular e coberto por uma camada fina de
pele. Associado a maior risco de perfuração transfixiva.
Esta via não deve ser usada em crianças abaixo da Figura 1: Localização do ponto de aplicação da
idade de três anos de idade. Intraóssea na vítima pediátrica (utilização das veias
emissárias que partem da cavidade intramedular
para a circulação geral)
Acesso intraósseo
103
Complicações notas:
Complicações da infusão por via IO não são frequentes, • Imobilizar e apoiar o membro da vítima para que não
no entanto estão descritas as seguintes: se mova durante a técnica, fixando com firmeza o
• Hematoma ou infiltração de fluídos no tecido dispositivo para prevenir o retrocesso ao implantar
subcutâneo (é a mais comum); a cânula;
• Extravasamento de líquidos pelo local de punção e/ • Pressionar com firmeza para disparar/introduzir a
ou a formação de coágulo na agulha; agulha (sistema automático). Introduzir o sistema de
• Necrose tecidual ou Síndrome compartimental podem forma segura e contínua se usar o sistema manual;
ocorrer em situações relacionadas com a inserção • Retirar o mandril segurando a agulha já colocada e
inadequada da agulha e/ou o seu deslocamento para desenroscando o dispositivo de plástico;
outra estrutura; • Aspirar com uma seringa com soro fisiológico até
• Perfuração do osso (perfuração transfixiva), uma obter sangue ou medula;
razão potencial para tal pode ser uma regulação • Conetar a agulha da via intraóssea ao sistema de
inadequada da porção/profundidade a penetrar (caso infusão através de uma torneira de três vias;
da BIG); • Imobilizar e fixar o sistema de punção, com compressas
• Celulite localizada ou abscesso subcutâneo; e adesivo. Se usado o sistema automático, pode
• Embolia gorda; utilizar a pinça de segurança que retirou durante a
• Osteomielite (casos descritos em 0,6 a 1%); preparação, colocando-a sobre a base da via;
• Poucas mortes foram atribuídas ao procedimento e • Na vítima consciente considerar a administração de
todas foram relacionados com punção esternal em 2,5-5 mL de Lidocaína antes de iniciar infusão de
crianças (com <3 anos de idade), que resultaram em fluidos/drogas (analgesia);
mediastinite, hemotórax, ferimentos no coração ou • Recomenda-se injetar um bólus de cloreto de sódio
grandes vasos; 0,9 %, de 5-10 mL, após cada administração de
• Dor (relacionada com o aumento da pressão medicação para acelerar a sua circulação;
intramedular). Nas vítimas conscientes é essencial • Para injetar grandes bólus de fluidos e aumentar
administrar lidocaina antes do inicio da infusão de a velocidade de infusão (no choque hipovolémico)
fluidos (a titulo de exemplo a IZ-IO recomenda: 2,5-5 utilizar pressão manual (manga de pressão).
mL de lidocaina a 1%).
Zona
TÉCNICA Tuberosidade
mediana
Cabeça
tibial distal
(colocação de via IO na Tíbia) mediana
acima
do rádio
do maléolo
Tendo em conta os diversos dispositivos existentes
Adultos
ANEXO 5
DOR
Dor
105
notas:
No século XIX iniciaram-se os avanços científicos para a terapia da Dor. Descobriu-se que ópio,
FACTO
morfina, codeína e cocaína poderiam ser utilizados no tratamento da dor. Essas drogas levaram ao
desenvolvimento da aspirina, até hoje um dos analgésicos mais utilizado. No mesmo século, com o
desenvolvimento da seringa hipodérmica a anestesia geral e local foram aperfeiçoadas e aplicadas
durante cirurgias.
ANEXO 6
SEDAÇÃO E
ANALGESIA
Sedação e analgesia
107
notas:
O alívio da dor e da ansiedade são das atitudes terapêuticas mais importantes que as equipas de
Emergência Pré-Hospitalar podem proporcionar ao doente. Apesar disto, existe uma tendência para não
utilizar com a frequência desejada, agentes analgésicos e ansiolíticos. As razões mais frequentemente
apontadas para este facto são a falta de conhecimento e desconforto na manipulação destes fármacos
ou a existência de ideias pré-concebidas.
Terminologia Benzodiazepinas
• Ansiólise é o aliviar da ansiedade sem alteração do
estado de consciência; Não têm propriedades analgésicas.
• Amnésia refere-se à perda de memória de um evento
ou período de tempo;
• Sedação consiste na depressão do estado da As benzodiazepinas (BZD) são uma classe de fármacos
consciência sobre o ambiente circundante e que atuam através da estimulação dos receptores das
minimização das respostas aos estímulos externos; BZD no sistema nervoso central (SNC), produzindo
• Sedação moderada (“sedação consciente”), refere- ansiólise e sedação. Estes fármacos também têm a
se a uma sedação leve em que o doente mantem capacidade para produzir amnésia e têm atividade anti-
os reflexos da via aérea e a sua capacidade para convulsivante. O efeito secundário mais significativo é
cooperar em tarefas simples; Corresponde à a depressão respiratória. A depressão cardiovascular é
depressão da consciência induzida por drogas, outro efeito secundário, mas infrequente, a não ser que
durante a qual o doente desperta intencionalmente exista hipovolémia associada ou se for administrado
a um comando verbal e/ou um leve estimulo táctil); em conjunto com analgésicos de ação central.
Não é necessária qualquer intervenção para manter É predominantemente utilizado na ansiólise e sedação.
a via aérea permeável e a ventilação espontânea é Em doentes não entubados devem ser utilizadas doses
adequada. A função cardiovascular está preservada; fracionadas, sendo sempre desejável que se inicie a
• Sedação profunda consiste num estado de maior administração pela dose mais baixa recomendada;
depressão de resposta aos estímulos externos, em poder-se-á progredir a administração até atingir o efeito
que os reflexos da via aérea não estão mantidos; desejado.
• Analgesia refere-se ao alívio da dor sem sedação São também fármacos de primeira linha nas convulsões.
ou alteração do estado de consciência.
Diazepam
O Diazepam é uma BZD, com maior duração de ação,
desenvolvida inicialmente para uso EV. A administração
intramuscular deve ser fortemente evitada sendo mesmo
contraindicada nas novas formulações de caráter
lipossolúvel. As formulações oral e rectal também existem
no mercado. A dose intravenosa para o adulto médio é
de 10-20 mg EV. O início de ação é rápido, mas inferior
ao midazolam, e a sua duração de ação é de 2-4 horas.
Tem metabolização hepática e tem metabolitos ativos com
grande semivida (36-90 horas). Por estas razões não é
muito útil para administrações repetidas, especialmente
para perfusões contínuas. Tem uma ação útil no controlo
das convulsões, especialmente nas situações recorrentes.
Pode ser utilizado por via rectal como anti-convulsivante
nas crianças (dose 0,3-0,5mg/Kg).
ABORDAGEM
À VÍTIMA
108
notas:
Sedativos barbitúricos
e não barbitúricos
Tiopental
Sedativo barbitúrico com início de ação rápido (30-60
Não têm propriedades analgésicas.
segundos) e duração de ação entre 20-30 minutos.
Sedativos barbituricos
Tem metabolismo hepático e excreção renal. O fármaco
acumula-se no tecido adiposo podendo ter uma duração
de ação prolongada com administrações repetidas.
Os fármacos desta classe são sedativos potentes, A dose inicial é de 3-5 mg/Kg, podendo também ser
utilizados para sedação para a intubação traqueal utilizado em perfusão contínua.
e sedação emergente. Têm propriedades sedativas Pode ter ação útil como anticonvulsivante e atua
primárias, conferem alguma amnésia. como protetor cerebral, contudo tem efeitos
adversos importantes, nomeadamente depressão
cardiorrespiratória, pelo que deve ser utilizado em
Propofol doses fracionadas.
O Propofol composto do isopropilfenol substituído,
Deve ser evitado nos doentes em crise asmática pelo
preparado em emulsão lipídica a 1 %, é um sedativo não
risco de laringospasmo.
barbitúrico. Foi introduzido como um indutor da anestesia,
mas ganhou grande aceitação como sedativo de curta
duração para administração em bólus ou em perfusão
EV contínua. Tem um rápido início de ação (1-2 minutos) Analgésicos opióides
e uma curta duração de ação (10-20 minutos, mas esta,
dose dependente). É um depressor cardiorrespiratório e Os opióides ou morfinomiméticos são agentes que
vasodilatador, que são os fatores limitantes no seu uso conferem analgesia sistémica, alguma ansiólise e ligeira
em emergência. A administração fracionada em dose sedação. Não dão amnésia digna de registo. Atuam
de 1-3mg/Kg no adulto faz do Propofol um fármaco por ligação e agonismo de receptores específicos no
ideal para procedimentos de curta duração. Pode ser SNC e medula espinal. São os melhores analgésicos à
também usado em perfusão contínua para sedação de disposição para uso intra e extra-hospitalar.
doentes com má adaptação ao ventilador em ventilação
controlada. Esta modalidade poderá ser iniciada a
1.5-4.5mg/kg/h e aumentada de forma gradual até ser
Morfina
Administrada EV tem um início de ação entre 5-10
atingido o efeito desejado. A monitorização da pressão
minutos e uma duração de ação de 4-6 horas.
arterial deve ser instituída sem exceções durante a
A dosagem habitual varia entre 0,1 e 0,15 mg/kg (5
administração em perfusão. O uso prolongado (mais
mg iniciais no adulto médio sem hipovolémia). Pode
de 6 horas) em perfusão em crianças está associado a
ser administrada por via intramuscular (IM), mas
acidose láctica e não é recomendado.
tem menor efeito analgésico e início de ação mais
tardio. A hipotensão e a libertação de histamina são
Etomidato efeitos secundários frequentemente mencionados.
O Etomidato é um composto imidazólico não barbitúrico, A administração lenta minimiza estes efeitos.
que possui propriedades sedativas. Tem um início de A depressão respiratória não é comum nas doses
ação rápido e uma duração de 15-30 minutos. mencionadas, mas pode ser um problema se se associam
A grande vantagem deste fármaco é a conjugação sedativos (ex. Benzodiazepinas). A morfina é o fármaco
dos seus efeitos sedativos com a mínima atividade frequentemente escolhido para analgesia sistémica
cardiovascular que apresenta, pois praticamente não em trauma.
induz hipotensão arterial após a sua administração.
A sua maior aplicação é a sedação profunda para
intubação traqueal, particularmente em doentes
hemodinamicamente instáveis (idosos, politraumatizados,
doentes com hipovolémia, doentes com patologia A morfina é o analgésico mais antigo e mais
cardíaca ou cerebrovascular). As doses recomendadas FACTO
bem conhecido que existe à disposição da
variam entre 0,3-0,4 mg/kg no adulto e na criança. Em classe médica.
doentes críticos esta dose poderá se reduzida até 0,2
mg/kg. Este fármaco produz depressão da função
adrenocortical, contudo este efeito não é clinicamente
significativo durante as administrações de curta duração.
As perfusões contínuas não são recomendadas. Após
administração podem ser observadas fasciculações
generalizadas.
Sedação e analgesia
109
notas:
Antagonistas
Fármacos
(Apresentação Preparação
comercial)
Flumazenil
O Flumazenil é um antagonista competitivo das
Benzodiazepinas. O seu início de ação é de 2 minutos MIDAZOLAM Diluir ampola até
após administração EV, com um pico de efeito aos 10 Ampola 15mg/3mL 15 mL SF (= 1 mg/mL)
minutos. A sua duração de ação é relacionada com a
dose, mas tipicamente inferior à das Benzodiazepinas DIAZEPAM Diluir ampola até
de maior duração de ação, sendo por vezes necessário Ampola 10mg/2mL 10 mL SF (=1 mg/mL)
repetir a dose. A dose inicial no adulto é de 0,2-0,3mg Bisnaga (retal) Bisnaga
em bólus, podendo ser repetido a cada 2/3 minutos
até um máximo de 3 mg/h. Em doentes que fazem
Benzodiazepinas cronicamente pode haver precipitação
PROPOFOL
de convulsões com o uso de Flumazenil.
Ampola Puro (10 mg/mL)
200mg/20mL
Naloxona
A Naloxona é um antagonista dos opióides. O seu início
de ação após administração EV é rápido, produzindo ETOMIDATO
Puro (2 mg/mL)
efeitos aos 2-3 minutos. A duração da ação relaciona-se Ampola 20mg/10mL
com a dose e pode ser inferior à dos opióides de duração
mais longa. A repetição da dosagem e a vigilância são
TIOPENTAL Diluir ampola até
recomendadas. A dose inicial no adulto é de 0,4 mg IV
Ampola 500mg 20mL SF (=25 mg/mL)
podendo ser repetida até aos 2 mg (dose total). Pode
ser administrada por via intramuscular para obtenção
de um efeito mais prolongado. Puro (50 mg/mL)
CETAMINA
Ampola Para analgesia:
500mg/10mL Diluir 2mL da ampola até
Recomendações 5mL SF (=20 mg/mL)
A administração de analgésicos não mascara a dor impossibilitando qualquer exame, por exemplo
FACTO
abdominal, subsequente. Este preconceito surgiu com a monografia do Dr. Cope (1921) sobre o
valor da caraterização da dor abdominal.
111
notas:
EV 2-5 mg
0.15mg/Kg 1-2 min 60-90 min
IM 2.5-10mg
0.05-0.1
EV 0,1-0,15 mg/Kg 5-10 min 4-6h
mg/Kg
EV 0.005-0.01 mg/Kg
0,4 mg 2-3 min 30min
IM 0.2mg/Kg
Tabela 2
Toxicodependência
A dependência resulta da administração crónica de da dor crónica (benigna ou maligna) não devem ser
fármacos com o objetivo de provocar euforia e prazer. recusados analgésicos a doentes que eventualmente
A administração de analgésicos para o controlo da dor em já tenham desenvolvido dependência a determinado
condições agudas NÃO está associado a dependência, fármaco; da continuação do tratamento da dor dependerá
mesmo se forem utilizadas doses elevadas. No âmbito a qualidade de vida daquele doente.
ANEXO 7
Fluxos de Ativação
da UMIPE
Fluxos ativação
Umipe
113
Figura 2
ABORDAGEM
À VÍTIMA
114
notas:
Urgências psiquiátricas •
•
Ansiedade extrema;
Depressão com alteração grave do comportamento;
• Descontrolo emocional intenso;
As Urgências Psiquiátricas representam condições
• Não adesão ao tratamento psiquiátrico / psicológico;
clínicas que não devem, em contexto algum, ser
• Tentativa de suicídio ou intenção suicida;
ignoradas.
• Surtos psicóticos;
Podemos considerar como exemplos de urgências
• Situações de catatonia;
psiquiátricas:
• Perturbações de ajustamento.
Urgência Psiquiátrica
Mas:
Vítima não permite contacto
• Existe risco iminente de suicídio;
(ex: barricado) ou há risco iminente de suicídio
• Já fez tentativa de suicídio e manifesta vontade
ou homicídio (ameaça saltar de uma altura,
de agravar a situação;
disparar uma arma, atirar-se para a linha do
• Intenção suicida e recusa ajuda;
comboio, entre outras).
• Intenção suicida e menores presentes (ou outros)
sem suporte e a necessitar de encaminhamento.
Figura 3
Fluxos ativação
Umipe
115
Urgências Médico-Legais
Se:
• Vítima não permite contacto ou não permite
• Agressão sexual;
avaliação (ex: está barricada);
• Sintomatologia psicológica intensa (intenção
• Situação de agressividade ou violência com
suicida, choque emocional, discurso incoerente
risco iminentemente letal e crianças/outros
e desorganizado);
dependentes no local com necessidade de
• Situação de agressão física, com crianças no
proteção ou referenciação.
local (ou outros dependentes), com necessidade
de proteção ou referenciação.
Figura 3
ABORDAGEM
À VÍTIMA
116
notas:
Trauma Psicológico Como exemplo podemos considerar:
• Vivência ou testemunho de:
Acidentes de viação;
As situações de Trauma Psicológico resultam da vivência
Acidentes de trabalho;
de incidentes potencialmente traumáticos, ou seja,
Incêndios;
situações emocionalmente intensas que desencadeiam
Desabamentos, entre outros;
reações exacerbadas.
• Morte inesperada de familiares ou outros significativos:
Por suicídio / homicídio;
Por afogamento;
Por outra causa traumática (ex. acidente, queda);
Morte súbita.
Trauma Psicológico
SE
Existência de vítimas
encarceradas (por ex.
Presença de envolvidos com Presença de familiares
acidentes de viação,
reações intensas e com emocionalmente instáveis e
acidentes de trabalho),
necessidade de estabilização a necessitar de estabilização
emocionalmente instáveis e
emocional emocional
com socorro previsivelmente
demorado
Figura 5
Fluxos ativação
Umipe
117
ou situações de exceção
Nos incidentes multivítimas ou situações de exceção
a UMIPE integra o dispositivo do INEM. Neste âmbito,
podemos considerar como exemplos:
• Incêndios / Explosões;
• Desabamentos / derrocadas;
• Cheias;
• Acidentes com autocarros ou com múltiplas viaturas;
• Outros.
Figura 6
ABORDAGEM
À VÍTIMA
118
ANEXO 8
VERIFICAÇÃO
DE CENÁRIO
COM EXISTÊNCIA
DE CADÁVER
Verificação de cenário com existência
de cadáver
119
de verificação da morte
A Lei 141/99 de 28 de Agosto (lei geral da República) São sinais certos de morte os seguintes:
estabelece os princípios em que se baseia a verificação • LIVIDEZ CADAVÉRICA (livor mortis, hipostase
da morte. cadavérica ou mancha cadavérica). Aparece na primeira
Define a morte como à cessação irreversível das funções hora depois da paragem cardíaca e é plena às 6-12
do tronco cerebral (artigo 2º) e estabelece a verificação horas. São manchas equimóticas que estão ausentes
da morte como uma competência exclusiva dos médicos. nas zonas de pressão e que desaparecem à pressão
O artigo 3º, refere que cabe à Ordem dos Médicos definir, com o dedo e à vitropressão durante as primeiras 10-12
manter atualizados e divulgar os critérios médicos, horas. Nas primeiras horas podem mudar de posição
técnicos e científicos de verificação da morte. O artigo 4º, com alteração de posição do cadáver, tornando-se
estabelece que a verificação da morte compete ao médico fixas depois das 12 horas. Permitem saber a posição
a quem, no momento, está cometida a responsabilidade do cadáver na altura da PCR e em alguns casos a
pelo doente ou que em primeiro lugar compareça no local, causa da morte. No envenenamento por monóxido
cabendo-lhe lavrar um registo sumário de que conste: de carbono a cor é vermelha viva devido a formação
a) A identificação possível da pessoa falecida, indicando de carboxiemoglobina, em casos de intoxicação por
se foi feita por conferência de documento de cloreto de potássio a coloração é amarelada devido
identificação ou informação verbal; a formação de metahemoglobina;
b) A identificação do médico pelo nome e pelo número • ARREFECIMENTO CADAVÉRICO – O arrefecimento
de cédula da Ordem dos Médicos; do cadáver ocorre 3-4 horas após a morte. A
c) O local, a data e a hora da verificação; temperatura rectal desce 1ºC por hora até se equilibrar
d) Informação clínica ou observações eventualmente com a temperatura do meio ambiente. Deve-se à
úteis. ausência de termo-regulação e à dissipação do
calor por evaporação. É o fenómeno cadavérico
No ponto 3 da mesma Lei é postulado que, fora dos de maior utilidade para a determinação do intervalo
estabelecimentos de saúde o registo pode ser efetuado postmortem nas primeiras 24 horas após a morte.
em papel timbrado do médico, de instituição ou outro, Tempo Postmortem = [36.9 –Temperatura rectal] /
sendo entregue à família ou à autoridade que compareça 0,88;
no local. • RIGIDEZ CADAVÉRICA (ou rigor mortis) aparece entre
a 1ª e a 3ª hora depois da morte, na mandíbula, e
estende-se ao resto do corpo em sentido descendente.
Verificaçao de óbito O máximo é alcançado às 6-12 horas depois da morte
A verificação do óbito destina-se a estabelecer com
e desaparece após o terceiro dia;
segurança que um determinado indivíduo está morto.
• PUTREFAÇÃO CADAVÉRICA: começa ao 2º dia da
Baseia-se na identificação clínica dos sinais negativos
morte, é dependente da temperatura exterior, humidade
de vida (ausência de batimentos cardíacos, ausência
do ar, situação e estado físico do corpo putrefação.
de movimentos respiratórios, ausência de resposta a
reflexos dolorosos profundos) observados durante um
período de tempo apropriado, recorrendo, se necessário,
a exames complementares e/ou testes adequados
ou a sinais positivos de morte. [livor mortis (ou lividez
cadavérica), algor mortis (ou arrefecimento cadavérico)
desidratação, rigor mortis (ou regidez cadavérica),
putrefação)]. Mnemónica da morte: LAR – Livor, Algor
e Rigor.
ABORDAGEM
À VÍTIMA
120
notas:
Cronotanatognose
FACTO
É o estudo do tempo pós mortem tendo em conta as alterações cadavéricas. Para o efeito pode-se
usar os dados macroscópicos de SIMONIN-MULLER.
Tabela 1
Verificação de cenário com existência
de cadáver
121
notas:
CADÁVER
SIM NÃO
Informar CODU
Informar CODU Médico assistente
Solicitar autoridade NÃO
Solicitar autoridade contactável?
SIM
Médico assistente
Aguardar
VMER passa a
autoridade NÃO
Status: Disponível CERTIDÃO do
no local
óbito?
SIM
Entregar
VMER pessoalmente a
Informar CODU
Status: Disponível VERIFICAÇÃO do
óbito
VMER
Status: Disponível
VMER
Retira do local
Figura 1
ABORDAGEM
À VÍTIMA
122
notas:
INTERVENÇÃO EM • A manipulação do cadáver deve ser a mínima possível:
Não deitar fora nada que esteja relacionado com a
EVENTOS TRAUMÁTICOS vítima (ex. roupa, mesmo que esteja suja);
COM IMPLICAÇÕES Não tocar nem mover nada no local, se for necessário
para mobilizar a vítima, registar o cenário inicial e
FORENSES EM AMBIENTE informar as autoridades;
SECÇÃO 5
BIBLIOGRAFIA
E SIGLAS
125
ABORDAGEM
À VÍTIMA
126
SECÇÃO 5
BIBLIOGRAFIA
Bibliografia e siglas
127
Alberto, Isabel Maria Marques (2010). Maltrato e trauma na Infância. 2ª ed – Coimbra – Almedina.
AMLS, Advanced Medical Life Support: An Assessment-Based Approach, NAEMT, Elsevier, 2011
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ABORDAGEM
À VÍTIMA
128
129
ABORDAGEM
À VÍTIMA
130
SECÇÃO 5
siglas
Bibliografia e siglas
131
ABCDE GSA
Mnemónica: Airway, Breathing, Circulation, Disability, Exposure Gasimetria Arterial
AEC HSA
Alteração do estado de consciência Hemorragia sub-aracnóideia
AIT HIC
Acidente isquémico transitório Hemorragia intra-craniana
AVC IC
Acidente vascular cerebral Insuficiência Cardíaca
AVDS IO
Mnemónica: Alerta, Verbal, Dor, Sem resposta Intraóssea
BZD EV
Benzodiazepinas Endovenoso
CDI LED
Cardioversor desfibrilhador implantado Light Emmiting Diode
CHAMU MFS
Mnemónica: Circunstância, História, Antecedentes, Medicação, Mnemónica de Mobilidade, Força e Sensibilidade
Última ingesta
O2
CO2 Oxigénio
Dióxido de carbono
OVA
CODU Obstrução da Via Aérea
Centro de Orientação de Doentes Urgente
PA
CPR Pressão Arterial
Conselho Português de Ressuscitação
PaCO2
ERC Pressão parcial de CO2
European Ressuscitation Council
PAM
DPOC Pressão Arterial Média
Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica
PaO2
EAM Pressão parcial de O2
Enfarte Agudo do Miocárdio
PAS
ECG Pressão arterial sistólica
Eletrocardiograma
PCR
EPH Paragem Cardio Respiratória
Emergência Pré-Hospitalar
PH
ET Pré-hospitalar
Entubação Traqueal
PMD
EtCO2 Pacemaker definifitvo
Fração expirada de dióxido de carbono
RCP
FC Reanimação Cardio-pulmonar
Frequência Cardíaca
ROSC
FR Return Of Spontaneus Circulation
Frequência Respiratória (Recuperação espontânea de sinais de
circulação)
GCS
Glasgow Coma Scale
ABORDAGEM
À VÍTIMA
132
SARA
Sistema Ativador Reticular Ascendente
SAV
Suporte Avançado de Vida
SBV
Suporte Básico de Vida
SC
Subcutânea
SCA
Síndrome coronário agudo
SIV
Suporte Imediato de Vida
SMS
“Short Message Service”, ou serviço de mensagens curtas entre telemóveis
e smartphones
SNC
Sistema Nervoso Central
SPCI
Sociedade Portuguesa de Cuidados
Intensivos
SpO2
Saturação periférica de O2
START (triagem)
Simple Triage and Rapid Treatment
TCE
Trauma Crânio-encefálico
TEP
Tromboembolismo Pulmonar
TET
Tubo endotraqueal
TPC
Tempo de Preenchimento Capilar
TVM
Trauma Vertebro-Medular
VA
Via Aérea
VNI
Ventilação Não Invasiva
VVAVC
Via Verde AVC
VVC
Via Verde Coronária
VVS
Via Verde Sépsis
Bibliografia e siglas
133
ABORDAGEM
À VÍTIMA
Abordagem
à vítima
ISBN 978-989-8646-04-0
Versão 2.0
1ª Edição, 2012
9 789898 646040