Tess Roberts.
Tudo Menos Você
Copyright © 2019 Tess Roberts.
1ª Edição.
Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,
personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação
da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência. Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua
Portuguesa. É proibido o armazenamento e/ ou a reprodução de qualquer
parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem
o consentimento escrito da autora.
Roberts, Tess.
Tudo Menos Você.
Arte da Capa: T.R. Capas e Banners.
Diagramação: Tess Roberts.
Revisão: Tess Roberts.
Imagens: Freepik
Edição do Kindle.
Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei
n °. 9.610/ 98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Todos os direitos reservados.
“Há mais perigo em teus olhos do que em vinte espadas!”
– William Shakespeare
Sumário
Tudo Menos Você
Prólogo
Capítulo um
Capítulo dois
Capitulo três
Capítulo quatro
Capítulo cinco
Capítulo seis
Capítulo sete
Capítulo oito
Capítulo nove
Capítulo dez
Capítulo Especial
Capítulo onze
Capítulo doze
Capítulo treze
Capítulo quatorze
Capítulo quinze
Capítulo dezesseis
Capítulo dezessete
Segunda parte
Capítulo dezoito
Capítulo dezenove
Capítulo vinte
Capítulo vinte e um
Capítulo vinte e dois
Capítulo vinte e três
Capítulo vinte e quatro
Capítulo vinte e cinco
Capítulo vinte e seis
Capítulo vinte e sete
Capítulo vinte e oito
Capítulo vinte e nove
Epílogo
AGRADECIMENTOS
Prólogo
Dizem que as circunstâncias mudam as pessoas... bem, elas me
mudaram. Não sou mais a mesma de antes. No entanto, quem me fez
enxergar que a vida vai além do talão de cheques do meu pai foi o homem
por quem me apaixonei perdidamente. Mas quando você se apaixona por
quem não dá a mínima se você respira ou decompõe, é isso que acontece.
Você muda. Sofre o inferno e tudo que algum dia foi sua base, seu chão...
desaparece diante dos seus lindos olhinhos. Suas verdades e convicções são o
que vão primeiro, por último, e não menos importante, seu coração....
Tudo aconteceu quando descobri que amava o cara mais ranzinza,
mulherengo, safado, petulante, abusado... lindo e inteligente que já conheci.
Caden emanava sexo puro e selvagem por cada poro. Junte isso a um corpo
cheio de músculos e tatuagens. Juntou? A combinação é quase um coquetel
mortal. Pois bem, o resultado foi meu cheio de amor e frágil coração:
destruído. Ele transformou meu coração em cristal fino e, por fim, o pisoteou
até que não restasse mais nenhum pedacinho inteiro.
AVISO:
Fique bem, bem longe de badboys. Nada de bom pode sair de
qualquer coisa que os envolva. Seu coração pode morrer com um único e
breve flerte.
Capítulo um
Estava com raiva. Com raiva e magoada, para ser honesta. Está certo
que sempre soube que o Caden, meu guarda-costas, não me via sequer como
mulher..., mas me tratar como uma delinquente pervertida era demais. Tudo
estava em perfeita sintonia naquela noite: boate lotada, música alta e uma
paquerinha bem diante dos meus olhos. Seu nariz torcido em sinal de
desaprovação não era novidade, então nem liguei e continuei dançando com o
moreno lindo que havia conhecido por lá. O problema era o armário chamado
Caden sempre fungando no meu cangote. A noite inteirinha! Quando percebi
que ele não me daria uma folguinha sequer para poder dar uns beijos no
senhor bonito que dançava comigo, fiz o que achei certo: beijei o cara bem na
frente do Caden! Não lembro de ter visto sua expressão, apenas não liguei. O
beijo até que durou alguns segundos, mas terminou quando o tal moreno
bonito pegou na minha bunda como se quisesse comer. Depois desse aperto
safado, e que me surpreendeu, o homem desapareceu. Só o vi depois que
Caden o deixou desacordado no chão do lugar.
— Vamos embora! – Sem espera minha resposta, o armário gigante
me rebocou para fora do lugar e levou para casa. Como era de se esperar,
meu dia não podia passar sem que papai e eu brigássemos por algo. E Após
Caden me levar para casa e ter dado um sermão sussurrado no meu ouvido na
porta de entrada, papai entendeu as coisas muito errado. Ele não era muito de
fazer concessões e eu não gostava de dar o braço a torcer. Uma excelente
dupla!
— Não é nada disso, papai! – Implorei com os olhos cheios de
lágrimas, o que na maioria das vezes funcionava.
— Eu não quero você perto daquele rapaz, Ava! – Seu rosto estava
vermelho, mais vermelho do que já tinha visto antes. — O contratei para
fazer sua segurança pessoal, não para dormir com você!
— Não aconteceu nada entre ele e eu. Caden sequer me vê como uma
mulher, não é mesmo? – Relanceei o olhar na direção do armário vestido de
preto. O infeliz me ignorou e revirou os olhos. — Por favor, papai. – Minhas
palavras não adiantariam em nada naquele momento, ou em qualquer outro.
Meu pai se achava superior a todos e não ouvia ninguém. — Caden, espera!
– Não podia acreditar que Caden estava indo embora sem se defender. Que
puta confusão eu tinha metido o pobre coitado.
— Se você for atrás daquele sujeito... – Vociferou meu pai. –
...deixará de ser minha filha! – Meu peito se apertou forte com aquela
ameaça, contudo sequer olhei para trás. Caden já estava adentrando no
estacionamento quando eu, correndo, o alcancei. — CADEN! – Ele nem
olhou para trás, continuou marchando até sua Harley Davidson. — Por favor
me ouça, Caden. – Os músculos dos braços tatuados dele ficaram retesados
sob sua camiseta preta justa, Caden, estava tremendo de raiva.
— O que você quer? Já conseguiu foder com o meu emprego. – Ele
se virou e seus olhos cintilaram com fúria. — Fodeu com a minha cabeça. O
que mais pretende? – Engoli em seco com suas acusações.
— Caden...
— Você já disse o meu nome princesa, prossiga com a missa ou vaza
fora! – Meus olhos pinicaram com lágrimas a beira de transbordarem, mas as
refreei.
— Você sabe que não teve culpa... – Cheguei mais perto e ele cruzou
seus enormes braços tatuados em frente ao peito. — Tem que dizer pro meu
pai, Caden. – E ele sorriu, o sorriso mais frio e petulante que já vi naquela
boca linda.
— E dizer o quê? Que eu gosto de dar porrada em caras nas festas
dos ricos que a filhinha dele vai? – Ele sorriu diante da minha expressão. —
Opa, acho que exagerei, né? Espera aí... – Ele levou um dedo a boca e o
batucou ali. — Era só para prezar a segurança da filhinha mimada do meu
cliente e o meu emprego. – Ele me encarou. — Caso contrário, – O olhar dele
ficou ainda mais frio. — ...pouco me importava para quem a princesinha
estava dando.
— CALA ESSA MALDITA BOCA, CADEN! – Ele estava sendo
um babaca sem precedentes, não que ele tenha agido de forma diferente
antes.
— Não me mande calar a boca, doçura. – Ele se aproximou
perigosamente, me deixando minúscula diante de todo seu tamanho. Caden
acercou-me tanto que eu podia sentir o aroma masculino deixar sua pele e
viajar em ondas quentes até mim. E como que por magnetismo me inclinei
contra seu peito. — O que pensa que está fazendo, doçura? – A pergunta
cheia de diversão me fez cair na realidade. As minhas bochechas se tingiram
de vermelho no mesmo instante, a vergonha consumindo cada centímetro de
pele do meu corpo.
— Você... não vai expor a sua versão dos fatos? – Caden sorriu e me
deu as costas, subiu na moto, ligou e acelerou forte. Aquela havia sido sua
resposta: Vá se ferrar.
Se tivesse sido esbofeteada, teria doído menos. Eu amava o meu
pai.... E ele me colocou para fora da sua vida, simples como um estalar de
dedos. Flap. Eu, a mimada... mimada... Ava Collins estava no olho da rua e
minha única saída era ir atrás daquele segurançazinha ingrato e fazê-lo, ao
menos, aceitar seu pagamento da semana. Eu não era tão idiota a ponto de
achar que ele não precisava do dinheiro. E também tinha o fato de eu não
conhecer ninguém nessa merda de cidade. San Francisco, grande merda.
Preferia toda a poluição e perigo de Manhattan. Estou caminhando há pelo
menos meia hora, indo na direção de um bar que certa vez o vi beber. Claro,
eu não sabia que ele estaria lá no seu dia de folga... o resultado foi eu sendo
escoltada até em casa por aquele homem tatuado e deliciosamente forte. É, eu
tenho um baita tombo por esse tipo. Não que eu tenha tido oportunidades de
ter ficado com alguém ultimamente. A verdade é que sou doidinha por um
único homem tatuado e deliciosamente forte.... Caden. Mas ele é arrogante
demais para me notar. Aquele havia sido o cumulo do absurdo, eu, Ava
Collins, tendo que andar a pé atrás de Caden Lutz. Nunca pensei que meia
hora de caminhada pudesse acabar com os meus pés, estou completamente
exausta quando adentro no grande e agitado bar. Dou uma rápida checada no
meu reflexo em uma das paredes de vidro e seco o suor do meu rosto. Ainda
bem que não estava usando muita maquiagem. O lugar estava realmente
cheio... de homens, e alguns me lançavam sorrisinhos safados dos quais estou
tão acostumada a receber. Cretinos e idiotas. Caminho entre algumas mesas e
avanço até o bar e, meu bom Deus, o barman era um baita de um gostoso e
tinha cara de safado. Ignoro sua beleza pedindo uma cerveja. Estou bem
acomodada em um banco alto enquanto beberico a bebida diretamente na
boca da garrafa e não demora muito para que eu receber uma, desagradável,
companhia. O homem não era feio, era até bonito. O problema era que eu não
estava com o menor humor e paciência para ele. Meu pai não me tinha mais
como filha, meu namorado me traiu com a vagabunda que se dizia minha
melhor amiga.... Ok, isso foi há mais de um ano.... E também precisava
arranjar um emprego urgentemente, o cara por quem sou apaixonada é um
sem coração que não me enxergava como mulher.... Eu estava numa fossa
total. Peço mais uma garrafa de cerveja e entorno a maior quantidade de
líquido que consigo antes de engasgar.
— Assim você acabará se afogando, linda! – Alguém sussurra no
meu ouvido e sorri.
— Não preciso que me alertem sobre os males de beber como um
homem. – Falo me levantando e sentando na outra ponta do bar. Não quero
companhia, só preciso esperar um pouco mais e ver se aquele estúpido
aparecerá. Depois pegaria minhas últimas reservas de dinheiro e pagaria o
que ele foi imbecil demais para receber e deixou para trás. Apenas isso e
estaria livre para voltar a pensar na minha desgraça sem me preocupar com o
dinheiro que poderá estar fazendo falta para ele agora.
— Não fica tão bravinha assim, gracinha. – Sério isso?
— Se você se aproximar novamente eu sou capaz de me transformar
em um verdadeiro demônio de fúria, babaca. – O sorriso dele foi enorme e
seus olhos brilharam com o desafio.... Era só o que me faltava, merda. Calma
Ava, tudo vai ficar bem.
— Nossa, a gatinha é selvagem...
— Mas não sou para o seu bico, idiota! – Ele sorriu e tocou uma
mecha do meu cabelo. Deixei a cerveja pela metade e caminhei a passos
largos para longe do bar, iria embora. Caden que se danasse.
— Não é assim que as coisas funcionam. – Sinto alguém prender meu
braço no momento que ouço a voz do imbecil do bar. — Você não pode
simplesmente ir saindo assim sem mais nem menos, me deixando como bobo
lá dentro.
— Se você não me soltar... – Falei agitando o braço na tentativa de
afastá-lo. — ...vou gritar alto, tão alto quanto os meus pulmões aguentarem.
— Talvez eu goste que você vá gritar. – Ele fala me puxando, pelo
braço e cabelos, para um canto escuro da rua. Ali o babaca tenta me beijar
enquanto resisto firmemente.
— ME SOLTA, IDIOTA! – Grito alto, contudo isso não o detém.
Então continuo. — JÁ PEDI PARA VOCÊ ME SOLTAR. SOCORRO! – O
tapa no meu rosto veio do nada, senti minha boca se umedecer com sangue e
ele sorriu diante do meu súbito silêncio. Ninguém nunca me bateu antes,
ninguém.
— SE VOCÊ NÃO SAIR DE PERTO DELA... – Ah, meu Deus.... É
o Caden, que se cala assim que vê o sangue que escorre do meu lábio inferior
partido.
— Essa já é minha. Caia for... – Caden não o deixa terminar de falar
e o arranca de cima de mim com um, dois, três socos. As minhas pernas já
não podem me sustentar, deixando-me mole enquanto deslizo até o chão frio
e fico ali, apenas observando Caden acertar mais um soco e um chute no
estomago do homem.
— Você está bem, Docinho? – Ele pergunta me erguendo do chão
pelos ombros. Estou tão assustada que não consigo falar nada. — Precisamos
sair daqui. – Caden diz no momento que ouvimos o som de sirenes da polícia
a distância. — Vamos, você precisa vir comigo. – Ele fala colocando um
capacete de viseira escura em mim e me fazendo subir na sua moto, depois
ele acelera antes de partirmos. — Você precisará se segurar, ou acabará
espatifada no asfalto, ok? – Ele não espera pela minha confirmação e passa
meus braços pela sua cintura, depois se precipita para longe daquela confusão
toda. — VOCÊ PRECISARÁ SE SEGURAR FIRME, EU VOU
ACELERAR AQUI. – Ele grita e empina a moto. Eu grudo forte nele como
se eu pudesse absorve-lo. Sinto ele sorrir enquanto vamos a uma velocidade
que deixa o mundo silencioso. Eu já nem sinto mais meu traseiro quando a
moto para. Caden não desce. Ele retira o capacete e me olha pelo retrovisor.
O olhar dele voltou a ser o mesmo de sempre. E não há nem um mínimo traço
de humor por lá. Nos seus lábios, agora, se forma uma linha dura de
desaprovação. Ele me faz sentir uma adolescente que cometeu uma loucura.
Eu só estava procurando por ele.... Eu não estava naquele bar por simples
capricho. Desci da moto e retirei o capacete, entregando em seguida para ele.
— Obrigada. – Falei enquanto ele descia da moto e me olhava sério.
— Que porra você pensa que estava fazendo naquele lugar? – Engoli
em seco com o súbito tom de raiva dele. Eu não respondi e ele me arrastou
pelo braço para dentro de uma casa. Não protestei. — Você não podia esperar
para dar uma de garota mimada e infantil um outro dia em outro lugar? –
Agora as lágrimas que pinicavam os meus olhos deixaram suas barreiras e
caíram livres pelo meu rosto.
— Estava atrás de você....
— E por que diabos você ainda insiste em me perseguir?
— Para te entregar isso! – Falei atirando o dinheiro na cara dele.
Arrogante! — Você não havia pegado o seu pagamento...
— Pare de chorar, Ava.
— E se eu não puder? O corte está doendo, viu? – Choraminguei a
verdade parcial dos fatos.
Capítulo dois
— AI! – Gritei assim que, Caden, encostou o algodão embebido em
álcool na minha ferida.
— Se continuar gritando assim... – Ele se aproximou, muito mesmo,
do meu rosto. — Eu vou ficar surdo, Docinho. – Ele estava muito sério
enquanto falava aquelas coisas para mim. Será que ele tinha ideia do que me
fazia sentir? — Pronto. Agora eu posso te levar embora, de volta para o seu
amado papai. – Ele sorriu dessa vez, um sorriso de escarnio.
— Eu não posso voltar para lá. – Falei baixo, sem olhar para ele.
— Por quê? – Perguntou distraidamente enquanto colocava um
minúsculo curativo sobre o corte na minha boca.
— Por que eu saí atrás de você. – Isso fez com que ele me olhasse e
parasse o que estava fazendo.
— Do que você está falando? Isso não é motivo para você não voltar
para o seu pai, ele é a única família que você possui. – Meus olhos se
encheram de lágrimas novamente.
— Para ele foi motivo mais do que suficiente. – Falei saindo de perto
dele e rumando até a porta. Ali não dava para ficar. — Fui atrás de você
apenas para que não ficasse sem receber seu pagamento. – Antes que eu
chegasse até a porta ele me interceptou.
— Você está me dizendo que o seu pai te colocou para fora, apenas
por ir atrás de um empregado? – Era um sorriso na voz dele? Não podia
ser.... — Eu não acredito que aquele velho realmente pensa que eu iria querer
alguma coisa com a filhinha mimada dele. – Sim, ele estava gargalhando
agora. Foi como levar uma facada no peito. — Só um idiota para pensar que
eu iria querer alguma coisa com você. Não me entenda errado, mas você não
faz meu tipo!
— Aí, se enxerga seu idiota. – Falei com raiva genuína. — Você se acha. Eu
nunca, jamais, desejei um sujeitinho sem procedência... – Isso estava fazendo
o sorriso dele desaparecer. Perfeito. — ...e pobre como você. – O dinheiro
jamais me importou, mesmo que o meu pai tenha me dado de tudo. Eu me
tornaria uma eremita se isso fosse a razão para que Caden pelo menos notasse
que sou mais que a filha mimada do seu chefe. Daria qualquer coisa para que
ele conseguisse ver quem realmente sou por debaixo de toda essa falsa
patricinha desbocada. Que ele enxergasse a mulher que está apaixonada por
ele e que faria de tudo para ele ser feliz.
— Engraçado... – Não havia humor no sorriso dele. — ...não foi o
que me pareceu naquele dia na festa da sua coleguinha de faculdade. –
Maldito dia divisor de águas. — Você não dizia isso enquanto se esfregava
no meu pau, depois me atacou e beijou. – Me lembrava apenas que tentei
beijar ele. Estava sob o efeito do álcool, me deem um desconto!
— Apenas um engano. De todo modo, obrigada por me salvar
daquele verme no bar. – Acenei para ele e saí. Caden veio atrás. Como não?
— Está indo para onde? – Perguntou e decidi ignorar uma pergunta
da qual, nem mesmo eu, sabia a resposta. – Vai ficar calada agora? Vai fazer
pirraça? Grande atitude, Docinho! – Caden sabia como me irritar. Pior, ele
sabia como me fazer abrir as comportas e chorar rios de lágrimas.
— Eu não sei para onde ir nessa merda de cidade, da qual eu não
conheço porra nenhuma! – Explodi em meio as lágrimas. — Sou uma idiota,
Caden. E você tem razão ao dizer que não passo da garotinha do papai, pois é
exatamente assim que me sinto. A não ser pelo fato de o papai ter acabado de
me pôr para fora da própria vida, porque eu fui má e não o obedeci! – Não
sabia de onde tinha vindo aquilo, mas assim que terminei de despejar minha
raiva e revolta, senti braços quentes me envolverem. Caden, pela primeira
vez, estava verdadeiramente me abraçando.
— Não chore, Docinho. – Caden com a voz complacente? Essa eu
nunca tinha ouvido, no entanto, pouco me importei. Afundei meu rosto no
peito largo dele e o deixei me guiar de volta para dentro da casa. — Você
pode passar a noite na minha casa hoje... – Havia uma nota de incerteza na
voz dele, contudo ignorei. Eu realmente precisava de um lugar para passar a
noite e é como dizem: “a cavalo dado não se olham os dentes”.
— Obrigada, Caden. – Falei ainda com o rosto no peito dele, o cheiro
era tão único, tão bom, tão Caden....
— Precisa de um banho? Está com fome? – Ele perguntou em uma
torrente de palavras, me fazendo esquecer os problemas e sorrir internamente.
— Um banho apenas... – Falei levantando a minha cabeça para olhar
para ele.
— Então venha, não posso ficar o resto da noite acordado porque a
princesinha não tomou o seu banho da beleza. Tenho compromissos. – Ele
terminou de falar me empurrando para dentro de um banheiro e fechou a
porta. Eu queria xinga-lo, mas não era uma boa ideia, afinal, Caden estava me
ajudando. Então tirei toda minha roupa e entrei debaixo do chuveiro e...
— DROGA, MERDA, INFERNO! – A água estava gelada. Ele fez
de propósito, só pode. Me lavei rápido, em tempo recorde, e sai de debaixo
daquela água glacial. Acho que nunca tomei banho em uma água tão fria e
como se já não fosse ruim, deixo as minhas roupas caírem no chão.... Não
preciso dizer que elas ficam ensopadas, não é? Merda. Vasculho o pequeno
armário do banheiro e não encontro nenhuma escova de dentes reserva, então
eu uso a que tem ali, suponho que seja a de Caden. A verdade é que viajo na
maionese assim que a coloco na boca. Talvez esse seja o gosto dele, sua
boba. Fico uns bons segundos com a boca na bendita escova para depois cair
na real e puxar uma toalha azul do lado e me envolver com ela. Seria pedir
demais uma das camisetas do Caden para usar?
— E aí, princesa.... – Caden fala quando eu saio do banheiro, ele
estava mexendo em alguma coisa no assoalho do quarto. — O que achou de
um banho frio...? – Ele se interrompe assim que olha para trás e me vê.
Engole em seco e pisca algumas vezes. É, eu sei que devo estar uma
verdadeira bruxa sem a minha maquiagem, mas ele não precisava ficar
encarando daquele jeito, era falta de educação.
— Tudo tem sua primeira vez, Caden. – Respondo me sentindo
exposta. — A minha roupa... – Mostrei o monte encharcado nas minhas
mãos. — ...caiu no chão. Será que você poderia me emprestar uma camiseta?
– Caden se levanta e continua me olhando como se eu fosse uma espécie
diferente. — Prometo que te devolvo, é só até minhas roupas secarem.
— Hum, claro. – Ele faz o que eu menos esperava, arranca a própria
camiseta e me entrega. Eu demoro alguns segundos para registrar que ele está
com a mão estendida para me entregar a roupa. Putz, ele tem o corpo mais
gostoso que eu já vi, não que eu tenha visto muitos homens assim. O idiota
do meu ex não contava! — O que foi Docinho, não quer uma camiseta suada?
– Saí do meu torpor e agarrei a camiseta da sua mão antes que ele a vestisse.
A oportunidade de dormir com o cheiro do Caden envolvendo meu corpo eu
não deixaria passar.
— Obrigada, Caden. – Eu já disse o quanto adoro falar o nome dele?
É a forma que as letras rolam na minha língua, eu acho.... Passei a camiseta
por cima da cabeça e deslizei sobre a toalha. Não pude deixar de notar que ele
acompanhou cada movimento meu com o olhar. Assim que terminei de vestir
deixei a toalha escorregar pelo meu corpo e me abaixei para pega-la. —
Desculpa se incomodo. – Falei entregando a toalha para ele. – Amanhã
estarei indo embora, daí você não precisará se incomodar mais comigo. – Saí
do quarto e fui para sala. Me deitei no sofá e puxei a manta sobre o meu
corpo. Precisava pensar no que iria fazer da minha vida. Em que merda você
foi se enfiar, Ava Collins? Adormeci com o delicioso perfumo do Caden no
meu nariz.
Não sei por quanto tempo posso ter permanecido inconsciente e
adormecida. Sei apenas que acordei ouvindo alguns sons estranhos.... Tá,
merda. Era uma mulher gemendo. Tentei tapar os ouvidos, mas percebi que
era infantil e, no final, se resultou inútil para bloquear os gemidos cada vez
mais intensos. Me levantei de um pulo do sofá e fui pé ante pé até a fonte da
algazarra. Merda, o som vinha do quarto do Caden. E não era para menos eu
ter ouvido, porque a porta não estava fechada... apenas encostada. Sei que era
muita burrice da minha parte, mas sou curiosa e não pude evitar que meus pés
dessem mais alguns passos na direção do quarto. Sem sombra de dúvida, teria
sido melhor se eu não tivesse feito. Aquela cena ficaria gravada eternamente
na minha, estúpida, memória de garota apaixonada. Caden segurava os
cabelos de uma morena escultural enquanto entrava e saia de dentro dela
muito rápido, seu corpo todo trabalhado em músculos e cheio de tatuagens
estava suado e.... E eu não podia acabar assim com o meu coração. Saí
devagar, peguei as minhas roupas e as coloquei em tempo recorde, apesar de
molhadas. Dobrei a camiseta que ele me emprestara, a deixando sobre o sofá.
Com raiva, de mim mesma por ser tão boba e infantil, abri a porta da frente e
fui embora.
Duas bolhas já haviam estourado nos meus pés, nunca havia
caminhado tanto! Malditas sandálias. Tiro-as dos pés e resolvo ir sem
aquelas destruidoras de pele. Pouco me importava se ainda estava escuro,
pelo menos ninguém poderia ver que estava chorando horrores e que meus
olhos estavam vermelhos e inchados por isso. Minha barriga roncou alto de
fome, meu lábio partido reclamava de dor e o meu coração chorava por algo
fora do seu alcance. Ava, a personificação do fracasso. Ando em linha reta,
seguindo em direção a lugar nenhum. Nesse trajeto tomo uma decisão para
minha vida: Não seria a garotinha frágil que não sabe fazer nada e que
depende do papai para tudo. Também não permitiria que homem algum
voltasse a machucar meu coração.... Mas aí eu me dou conta de que esse tipo
de coisa era completamente impossível de cumprir. Não tenho controle sobre
isso. As lágrimas ainda estão presentes nos meus olhos quando alcanço uma
rua movimentada de São Francisco. As pessoas me encaram assistindo ao
meu estado deplorável, contudo não me importo com minha aparência, pela
primeira vez. Ainda estou andando sem rumo quando um anuncio colado
numa parede me chama atenção. Contrata-se atendente para casa noturna.
Não pensei duas vezes quando rasguei o anuncio, trazendo-o comigo. Eu
torcia para que a vaga não tivesse sido preenchida ainda. Iria me manter por
conta própria. Não precisava da ajuda do meu pai.
Capitulo três
CADEN
— Você vai adorar o lugar, mano. – Esse era o animador de humor
fodido, o meu irmão mais velho. — Fui lá na semana passada e, cara, só tem
gostosa. – A conversa já estava começando a me agradar. Caleb percebeu o
meu sorriso e devolveu com o mesmo entusiasmo cretino. Nos dois erámos
muito parecidos, tanto na altura, cor dos cabelos e olhos, quanto nas várias
tatuagens. Muitos perguntam se somos gêmeos, apesar de após darem uma
boa observada e notarem as diferenças. Contudo, Caleb, era o menos ajuizado
dos dois. Eu era malandro, safado, mulherengo e cretinamente cafajeste com
todas as mulheres. Caleb era o tipo safado carinhoso e bom amante depois da
foda. Eu não. Já tive minha porcentagem de coisas melosas. Depois de
Gemma, encerrei a linha para a porra do meu coração. Mulher nenhuma valia
o esforço. A maioria é descarada, egoísta, fria, calculista e só quer ferrar com
você. Até então o bicho papão sou eu, mas aí vinham os vícios do meu
irmão.... — Vai demorar muito para sair desse seu mundinho aí, Caden? –
Recebi um tapa na nuca que me fez dar um passo para frente.
— Filho da ma....
— Te acerto outro se insultar nossa finada mãe. – Engoli em seco
com a menção. A culpa fora minha por ela não estar aqui entre nós.... Talvez
se ela não tivesse engravidado ainda estivesse viva. Ela não teria morrido no
parto.... — Sai dessa Caden....
— Vai se ferrar, Caleb. – Falei passando por ele e indo para a portaria
da casa noturna. Lotado era eufemismo para aquela porra ali. — Nós nunca
vamos entrar antes que essa porra feche. – Cuspi para Caleb que sorria como
se sua diversão consistisse em me assistir perder a paciência.
— Olha como se faz, maninho. – E, Caleb, caminhou até a hostess e
falou alguma coisa no ouvido dela, em seguida apontou para mim. Logo o
segurança do lugar abriu a corrente dando passagem para nós dois. O sorriso
na boca do cretino era enorme, dava vontade de socar para fazer desaparecer.
— Viu só?
— Ah, cala a boca Caleb. – Sorri, para alegria do idiota. Não
demorou muito e estávamos do lado de dentro. O lugar estava uma loucura, a
música ensurdecedora e corpos suados dançando quase colados uns nos
outros. Maravilha, olha só para onde o maluco do meu irmão veio me
arrastar. Caminhamos um pouco mais para a área reservada e um sorriso
cresceu na minha boca. A área era privativa, fechada para aquela bagunça.
— Essa é a parte interessante daqui. – Caleb sorriu para mim,
apontou para uma sala e meu pau pulou feliz com a cena a minha frente,
várias gostosas vestidas em minúsculas roupinhas que ficavam agarradas
deliciosamente em suas curvas. Tô vendo que me tornaria cliente assíduo do
lugar, pensei com um sorriso se curvando na minha boca e observando uma
gostosinha vestida como líder de torcida.
Capítulo quatro
AVA
Estava me sentindo ridícula por ser obrigada a usar aquela minúscula
roupa, mas o que me motivava era o salário. Precisava do dinheiro. Nunca
recorreria ao meu pai. Se o fizesse, apenas demostraria o quão inútil e
dependente eu era. Não quero que me associem a uma patricinha mimada. Eu
sei lutar pelo que preciso. Esse trabalho horrível e deplorável estava pagando
as minhas contas e eu estava feliz... mentirosa! Para completar eu passava
quase todas as noites com aquela maldita cena do Caden no quarto. Estúpida.
Você é uma estúpida, Ava. Quando é que deixará de acreditar em contos de
fadas? Caden não é nenhum príncipe e nunca será! Esqueça aquele idiota
arrogante!
— MESA DEZ, BABY! – Gritou o gerente daquele lugar.
— Estou indo, senhor. – Suspirei frustrada e cansada, ajeitei minha
roupa ridícula de colegial ingênua e fui quase tremula com os meus saltos
altíssimos. Estava exausta, NUNCA havia precisado trabalhar na minha vida.
Não sabia que era tão difícil ou que cansava tanto. Eu só queria ir para o meu
quarto decrepito de motel e dormir por uma semana inteirinha. Meus pés
pareciam pesar uma tonelada cada, contudo me esforço a continuar. Mesa
dez. Nela estão sentados dois homens grandes com uma mulher no colo cada.
Um está de costas para mim, o outro me soa ligeiramente familiar. Vou me
aproximando com as bebidas e a minha respiração fica acelerada. Olhos
claros, cabelos escuros, ombros largos e braços musculosos cobertos por
tatuagens que me faz lembrar uma camisa de manga longa. Aquele sorriso....
ACALME-SE, AVA! Pare de ver o Caden em cada homem grande e tatuado
que encontra. — Mesa dez, duas cervejas e duas águas... – Minha voz vacila
e morre quando o cara que está de costas se vira bruscamente e envolve um
braço na minha cintura. Caden. Não podia ser.
— Ora, querida. – Diz o outro homem. – Sente aqui conosco um
pouquinho. – Nem bem o ouço falar e já sou puxada dos braços tatuados de
Caden para o colo do desconhecido. Me falta reação diante daquilo. No
entanto logo a recobro.
— O que pensa que está fazendo? Não sou como essas duas
vagabundas aí não! – Digo revoltada e do canto de olho vejo Caden se
levantar e uma expressão confusa e atordoada passar por seu rosto bonito. –
Estou trabalhando como garçonete aqui, não acompanhante!
— Vou ser obrigado a quebrar sua cara caso não tire a porra das suas
mãos de cima dela, Caleb. – Caden diz com a voz fria e no mesmo instante o
tal Caleb sorri, me apertando contra seu peito rígido. — Ela não é como essas
duas aqui. – As duas garotas protestam, ele ignora vindo na minha direção,
me avaliando o tempo inteiro, dos pés à cabeça. — Venha comigo, Docinho.
– Caden já vai me puxando, sem ouvir minha resposta.
— Me solta, Caden! – Protesto e tento puxar meu braço do seu
aperto. Estou chocada com a aparição dele ali.
— Não até esclarecermos alguns pontos. – Fala já me empurrando,
sem delicadeza, pela porta de uma das salas privativas e a trancando em
seguida.
— Eu preciso trabalhar! – Digo puxando meu braço, mas ele puxa de
volta me fazendo ir de encontro a seu peito. Com a respiração rápida, ele me
prende contra a parede e me olha nos olhos.
— O que você pensa que está fazendo, trabalhando em um lugar
como esse? – Caden me aperta mais, arrancando meu ar. — Pior, o que pensa
que está fazendo usando essa porra de fantasia? Sabia que todos os homens
dessa porra de lugar estavam te comendo com os olhos? – Sua voz era
indignada, quase com raiva.
— VAI SE FODER CADEN! – Falo furiosa e quase sem folego.
Quem era ele para me dizer o que fazer da minha vida? Ele não trabalhava
mais para o meu pai, ele não era mais o meu guarda-costas.
— Era exatamente isso que aqueles porras queriam fazer com você!
– Sibilou entredentes. — Até o meu irmão quis. – Irmão? Isso explicava
muita coisa.
— Eu mandei você ir se foder.... – Minha raiva sobe a níveis críticos
e justo quando ia acerta um tabefe na cara bonita dele, sou silenciada pela
boca faminta de Caden. Com insistência ele invade minha boca, me
obrigando a abrir passagem para sua língua. Uma língua faminta que
explorou cada canto da minha. Suas duas mãos viajaram pelo meu corpo,
uma apertando forte meu traseiro e me fazendo sentir sua ereção dura na
minha barriga. A outra mão foi até os meus seios e os apertou
simultaneamente. Caden estava me beijando, isso era tudo em que eu
conseguia pensar. Caden... o mesmo Caden que ouvi e vi foder uma morena
há algumas semanas. — JÁ DISSE PARA VOCÊ IR SE FERRAR! – O
empurrei para longe e saí correndo daquele lugar. Quem Caden pensava que
era para me dizer aquilo, ele estava bêbado...? Todos me olhavam com cara
de espanto, como se tivesse enlouquecido. Queria que todos fossem se ferrar.
Puxei minha bolsa de um dos armários destinados aos funcionários e segui
rumo a saída de emergência mais próxima. Só quando cheguei do lado de
fora da casa noturna foi que me dei conta de que ainda estava usando a merda
daquele uniforme minúsculo. Como se já não fosse o suficiente o lugar estava
lotado e para tornar completa a minha desgraça, haviam vários paparazzi
naquela merda de lugar. Meu pai teria um infarto se aparecesse alguma foto
minha usando aquela droga de roupa. Parabéns, Ava! Dando uma de
independente fracassada e matando o pai em menos de um mês após se
rebelar contra o mesmo. Sentia vontade de me estapear. Calma, Ava! É só
manter a calma e andar como qualquer pessoa transitando por ali. Eles não
vão te reconhecer... olhe para si mesma. Um caco da garota cheia de estilo de
antes.
— Olhem, aquela não é Ava Collins? – Não conseguia acreditar. Eu
sabia que aquela vadia sentada no colo do Caden me conhecia, mas jamais
pensei que ela me faria uma dessas. Ela nem precisou terminar a frase, era
como se o simples fato de ter dito meu nome me transformasse em um
outdoor gigante e totalmente iluminado. Todos se viraram na minha direção e
suas câmeras agiam como um tiro. Eu te mato vadia.... Por mais que eu
tentasse desviar não surtia muito progresso... até sentir uma mão quente
envolvendo minha cintura nua, atraindo-me.
— Venha. – Caden! A merda que eu iria com aquele imbecil...
responsável por destruir o meu coração bobo.
— Eu não vou a merda de lugar nenhum com você! – Falei cheia de
irritação e tentei me afastar. – Me solta!
— Quer mesmo que aquelas sanguessugas fotografem os seus peitos
nus?
— Eles não estão...
— Agora estão! – Desgraçado. Estava horrorizada com a ousadia
dele.
— Vou te matar Caden, como pôde rasgar meu uniforme?
— Agora gruda esses peitinhos em mim ou vão aparecer para o país
inteiro poder ver. – Fiquei com tanta raiva naquele momento e tudo que eu
pensava era em como poderia alcançar o pescoço do canalha e apertar até
interromper a passagem de ar. Alguns passos e estávamos de frente com um
carro preto, que Caden abria a porta com a chave para mim. — Entra.
— NÃO, SEU DEPRAVADO! – Gritei com todas as minhas forças
direto na cara linda dele. — EU NÃO VOU A LUGAR ALGUM COM
VOCÊ, SEU... – A frase ficou presa na garganta depois que ele me empurrou
para dentro do carro. — IDIOTA! O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?
— Levando o meu Docinho para casa...
— EU NÃO SOU O SEU DOCINHO, SEU BÊBADO. – O olhar
dele vacilou entre as palavras não e bêbado.
— Para de gritar, porque eu posso te ouvir. – Falou desviando o olhar
do meu rosto para os meus seios, que por causa da raiva eu havia deixado de
cobrir e agora os mamilos apontavam duros para cima. Merda!
— Para de olhar os meus peitos...
— Difícil não fazer. – Sorriu aquele sorriso sacana que só ele sabia
dar. – Eles estão me convidando a olha-los e me incitando a imaginar mil e
uma sacanagens que poderia fazer com eles, a minha boca, língua, mãos e
pau! – O tapa estalou forte no rosto dele. Não pensei, agi. Quem aquele
imbecil pensava que era para fazer aquilo? Havia se passado um ano, duas
semanas e oito horas... esse foi o tempo que ele veio me ignorando e agora
aparecia com isso para o meu lado? Destruiu o meu coração.... Não sou mais
a idiota que vivia babando por ele pelos cantos, eu mudei. Não sou a mesma
Ava.
— Fica longe de mim, Caden. – Foi como se eu dissesse: chega mais
juntinho, Caden. Ele se aproximou mais, até estar completamente a
pouquíssimos centímetros de mim. — Você não me ouviu, idiota? – Quando
ficava nervosa eu cuspia palavras que deixariam uma gangue de motoqueiros
mais do que orgulhosos da minha boca suja.
— Ouvi tudo que você falou, Docinho. – Argh, Caden já estava me
dando nos nervos.
— E por que ainda está perto de mim? Olhando os meus peitos? – Ele
sorriu, olhou o meu rosto e piscou. Dá para acreditar que o cretino teve a
ousadia de piscar para mim?
— É que resolvi ignorar suas palavras. – Falou puxando a sua
camiseta sobre a cabeça. O meu coração estava disparado agora. Oh, meu
Deus! Se Caden era fodidamente lindo usando roupa, sem ele era perfeito.
Seu peitoral e barriga definidos por músculos.... E as tatuagens? Estava meio
escuro e não dava para ver muito bem do que se tratavam os desenhos, mas
eram lindos mesmo que eu não os entendesse. Seus dois braços eram
completamente fechados até o pulso.... Ah, minha nossa senhora, das
calcinhas molhadas.... O desgraçado tinha uma tatuagem que descia do seu
lado direto para o caminho feliz.... Iria até lá? AVA! — Além do mais.... – Ele
sorriu olhando o que tanto eu encarava. — Gosta do que vê? – Falou me
puxando até que nossos peitos se colaram um no outro, eu podia sentir todo
calor escaldante deixando sua pele e entremeando pela minha.
— NÃO, NÃO GOSTO DE NADA EM VOCÊ, SEU IDIOTA! – E o
Oscar de melhor atriz, por sua interpretação impecável de desdém vai para...
AVA COLLINS! O empurrei, sem forças, para longe. Nem preciso dizer que o
longe resultou em alguns centímetros....
— O Caleb vem vindo aí. – Falou colocando de qualquer jeito a
camiseta dele em mim. O cheiro delicioso de Caden invadiu os meus
sentidos, me deixando entorpecida... bom, até eu sentir Caden resvalar um
mamilo meu de mão cheia. Primeiro eu olhei bem dentro daquele par de
olhos claros, depois o tapa estalou forte na face dele.
— CARALHO, O QUE VOCÊ FEZ CADEN? – A cópia do Caden
se pronunciou ao presenciar o estalado tapa que eu dei.
— CUIDA DA SUA VIDA, CALEB! – Me assustei com a raiva
contida nas palavras de Caden, o que me fez encolher no banco de trás do
carro.
— E POR QUE ACHA QUE EU FIZ A PERGUNTA? É DA
MINHA VIDA QUE EU ESTOU CUIDANDO AGORA. – A resposta do tal
Caleb não pareceram surtir muito efeito sob Caden.
— Me deixa sair. – Falei já me movendo para sair do carro.
— De jeito nenhum você vai sair por aí usando essa porra de fantasia.
Aqueles filhos da puta, no raio de quilômetros, vão te ver e querer te tocar...
— Não te interessa o que eu faço da minha vida, Caden. Você não é
mais meu segurança pessoal, não tem nenhuma obrigação comigo ou meu
pai. – O sorriso curvado naquela boca linda me deixou possessa. Me preparei
para descer a mão no rosto dele novamente, mas ele foi mais esperto e ágil do
que eu.
— Acho que já aguentei minha quota de tapas na cara por hoje,
Docinho. – Aquelas últimas palavras me fizeram tremer de raiva. Agora eu já
não tinha tanta certeza se o que sentia por Caden era amor. Ódio, isso sim.
Pelo menos neste momento.
— Você está realmente se achando não é, Caden? – Destilei ácido
nas palavras para me sentir melhor. — Se enxerga. – Falei passando sob o
braço dele e indo para o banco da frente. — Será que você, Caleb, poderia
por favor me deixar a algumas quadras daqui?
— Mas é claro, er...
— Ava, Ava Collins. – Sorri para ele, que era muito bonito por sinal,
mas infelizmente era a cópia do irmão.
— Deixo sim, senhorita Collins. – O sorriso dele foi lindo. Eu ainda
sorria quando Caden raspou a garganta.
— Saia da porra do carro, Caleb! – Definitivamente Caden havia
bebido além da conta.
— Não, quem deveria sair é você Caden. – Falei sem dirigir o olhar
para ele. — Pode ser aqui mesmo, Caleb. – Falei assim que Caden fez
menção de abrir a boca. — Fico muito agradecida pela carona. – Saí do carro
e corri os poucos metros que me separavam do hotel que estava ficando, por
pouco tempo já que na manhã seguinte estaria mudando para o meu próprio
apartamento. Um alivio, não suportava mais ouvir a cama do quarto ao lado
ranger a noite inteira.... O barulho não era o problema principal, o difícil
mesmo eram os gemidos. Ninguém merece!
Capítulo cinco
Por incrível que possa parecer aquela noite havia sido diferente. Não
houveram gemidos ou ranger de cama contra a parede, ou talvez eu estivesse
cansada demais para notar qualquer coisa. A noite foi calma e acabei
acordando tarde na manhã seguinte, entretanto o que me acordou foram as
batidas leves na porta do meu quarto. Arrumadeiras nesse hotel/motel? Sem
chances. Abri a porta sem saber quem estava do outro lado, olho mágico era
um luxo que aquele lugar não oferecia.
— Bom dia, Docinho. – Caden!
— Que diabos você faz aqui? – Eu não podia acreditar que aquele
imbecil estava na porta do meu quarto logo pela manhã. A manhã sagrada de
sábado. A minha folga!
— Cadê suas boas maneiras, Docinho?
— Foi para puta que pariu assim que te vi na minha porta! – Sibilei
da maneira mais fria que pude. Ele ficou parado me encarando e aos poucos
um sorriso sacana foi se curvando naquela boca perfeita. Fiquei encarando
cada nano milímetro de sorriso se curvar ali, lindo, sensual e encantador. Ao
notar a direção do meu olhar ele teve a ousadia de morder o lábio em meio ao
sorriso. Ai, nossa senhora da perdição feminina e das calcinhas molhadas.
Pisquei uma, duas, três vezes para quebrar aquele encanto e me ver livre
daquela visão. — O que você quer, Caden? Não me lembro de ter convidado
você para o meu quarto...
— Tem razão, suas boas maneiras ficaram junto do seu pai! – Para o
meu horror ele foi entrando, me deixando sem reação. — Eu conserto isso
para você, já que se esqueceu de como é que se recebe uma visita.
— EU NÃO TE CONVIDEI, CADEN! SAIA...
— Não sei o motivo dessa gritaria, Docinho. Você fica bem feia
quando faz isso. – FEIA! Ah, mas o Caden estava pedindo para uma
bofetada... que acabou sendo interceptada no meio do caminho. — E pode ir
se acalmando, por que não tenho culpa da sua TPM.
— Vai se ferrar, Caden. Não estou com TPM nenhuma, é você que
me deixa furiosa, que me irrita e não sou feia...
— Eu não disse que você é feia, disse que fica feia. – Bufei nada
elegante e ele fez cara de sério. — Viu só? É disso que estou falando.
— Vai embora, Caden. Não tem nada seu aqui...
— Mas é aí que, a princesinha encrenqueira, se engana. – Falou
apontando para o meu peito. — Minha camiseta novinha está aqui e vim
buscar, ou por acaso pensou que eu viria por você? Comprei essa camiseta
essa semana e não vou deixá-la para você não. – Acho que o choque impresso
no meu rosto era bem visível, porque de repente ele abanou a mão na minha
frente como se para me liberar do transe. Acertei um tapa na mão dele, a
mandando para longe.
— É essa merda de camiseta que você quer? – Ele não respondeu. —
Então fica com essa droga! – Me virei de costas e tirei a blusa jogando para
trás e cobrindo a nudez dos meus seios com as mãos que tremiam de raiva.
Caden sabia como me irritar até que as lágrimas rompessem as barreiras dos
meus olhos. — Agora que já tem sua merda de camiseta pode ir.... – Apertei
ainda mais minhas mãos e senti o corpo quente de Caden atrás de mim. Ele
não me tocou, não falou ou fez nada. Apenas ficou ali alguns segundos
enquanto eu fechava firmemente meus olhos, depois ele foi embora. Avancei
sobre a porta aberta e a bati duas vezes com muita força até que fechasse.
Maldito Caden. Como pode me irritar tanto assim? Ansiava não me sentir tão
atraída por ele. Talvez seja apenas o tempo de satisfazer o desejo insano que
tenho por ele e essa merda de atração desapareceria como surgiu: do nada.
Procuro por algo confortável para usar.... Grande merda, Ava! Você
só tem dez peças de roupa: três calcinhas, um sutiã, uma calça jeans de
segunda mão, duas blusas, uma regata, um vestido e um casaco. Grande
merda se comparado ao meu guarda roupa de antes. A grande, e cheia de
frescuras, Ava Collins reduzida a isto. Não posso me esquecer de um maldito
par de sandálias de salto alto, uma rasteirinha e um tênis.... Decido pelo
vestido e a rasteirinha. Nos cabelos resolvo por um rabo de cavalo alto, para
não atrapalhar na mudança. VOCÊ SÓ VAI CARREGAR A SUA SACOLA
COM AS ROUPAS E PRONTO! Isso nem pode ser chamado de mudança,
Ava. O sorriso irônico e cínico fica curvado na minha boca durante todas as
cinco quadras até o meu novo/velho apartamento. E sim, era um prédio
antigo todo em tijolos vermelhos. Clichê, eu sei, obrigada. Graças ao dinheiro
que apareceu, nada milagrosamente, na minha conta bancaria eu poderia
pagar por esse lugar. Sabia que era meu pai me ajudando e eu não era idiota,
ou tola, o suficiente para ignorar essa ajuda. Mas não mudava minha decisão
de não voltar para casa dele. Eu iria viver minha vida e ser a Ava menos
patricinha.
O lugar era um verdadeiro paraíso, se comparado ao quarto de motel
que eu vinha dormindo. Janelas altas e amplas cobriam todas as paredes,
deixando o lugar bem arejado e livre do maldito mofo. A mobília era antiga,
mas de muito bom gosto, o que me agradou bastante. A primeira coisa que fiz
quando cheguei e me acomodei foi conhecer os vizinhos do apartamento ao
lado do meu. As minhas boas maneiras não ficaram completamente
esquecidas assim, então eu havia comprado alguns cookies de chocolate para
agradar. Meu estomago começou a roncar assim que depositei todo conteúdo
da embalagem dentro do pratinho. Eu amava cookies de chocolate e esses
estavam com a aparência e cheiro tão bons. Não, Ava! São para os vizinhos
do apartamento ao lado. Fui dizendo isso para mim mesma até alcançar a
porta do vizinho. Apertei a campainha e logo uma loira quase nua apareceu.
Ai, merda.
— Er – Olhei para o chão sem jeito de olhar para os peitos da loira
que praticamente pulavam da pequena camiseta. — Sou a nova vizinha e...
— Sua nova vizinha está aqui, lindo! – A mulher gritou para alguém
lá dentro e foi passando por mim com cara de quem estava com pressa e eu
atrapalhava.
— Já estou indo, um momento só. – Isso só podia ser brincadeira!
Será que era castigo? Só podia ser isso, castigo. Se não fosse o que mais
poderia ser ter essa criatura como vizinho? Eu já estava dando meia volta
quando ele segurou o meu braço, me fazendo encara-lo. Não podia ser. Oh,
meu Deus....
Capítulo seis
A descrença era visível no meu rosto, tanto que a bendita peste fez
cara de ofendida. Acredita? Ofendido, ele? Isso parecia até brincadeira, desde
quando o maior safado da face desse planeta se ofendia?
— O que foi, minha linda menina? Surpresa ao me ter como vizinho?
– Os braços de Gabriel envolveram a minha cintura em um abraço gentil e
sensual. Quis esganar ele! — Acho que nem tanto quanto eu por te ver por
aqui. — Aff, ele podia até ter o nome de um anjo, mas de anjo Gabriel tinha
somente o nome, porque estava mais para demônio. Ele era o meu pior
pesadelo durante a infância e adolescência. Um mulherengo sem vergonha do
qual tive o desprazer de namorar.
— Talvez a satã, digo, Sadie não goste da novidade. – Ironizei
acertando vários socos nos braços dele.
— Já te disse que aquela vadia armou aquilo...
— Claro. – Tomei ar de seriedade ao falar naquele momento. — E o
seu pau todo enterrado dentro dela era parte do plano diabólico da miss satã!
– Atirei os cookies na cara dele com prato e tudo e me mandei dali o mais
rápido que consegui. Entrei no meu apartamento e bati forte a porta, a
trancando em seguida. Claro que toda aquela cena de sexo selvagem foi
armação! Vai te lascar, Gabriel. Como é que esse ser desprezível veio parar
justamente ao meu lado. Melhor, como eu vim parar ao lado dele? Se seis
meses de aluguel já não estivessem pagos. DEIXA DE SER ESTÚPIDA,
AVA! Você vai se mudar por causa daquele sacana? Não, eu não iria. De
maneira nenhuma. Isso foi há mais de um ano e meio, eu não ficaria abalada
com a presença daquele imbecil do meu ex-namorado.
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Trabalhar naquela merda de casa noturna não era para mim mesmo!
Foi o que fiquei repetindo internamente ao receber a notícia espetacular de
que os meus serviços não eram mais necessários. Que porra! Tenho certeza
de que foi tudo culpa do showzinho do Caden por lá. Que raiva. Se ele
cruzasse o meu caminho, acertaria as bolas dele. CADEN! Ainda bem que
não fui estúpida ao ponto de rejeitar a grana que o meu pai ainda mantinha na
minha conta bancária, os meus lucros segundo o gerente do banco. Lucros
que eu não sabia do que se tratavam, mas aceitei com um enorme sorriso
estampado na cara. Seis meses de aluguel já pagos e uma parte gorda do
dinheiro ainda estava disponível até eu conseguir arranjar outro emprego.
Abri minha bolsa com violência, sem me atentar para o movimento ao meu
redor. Estava cansada depois da caminhada até a boate e esgotada por me
martirizar durante todo caminho de volta para o apartamento.
— Seu pai pediu que eu entregasse isso para você. – Deixei a bolsa
cair no chão ao ouvir a voz calma de Gabriel ecoar logo a minha frente. Ele
logo atirou uma sacola com algo dentro, me obrigando a pegar no ar.
— Ai, só pode ser sacanagem mesmo. – Esbravejei com as mãos na
cintura enquanto o via recolher as coisas da minha bolsa do chão.
— Uau, preservativos! – Fiquei escandalizada ao ver absorventes e
preservativos nas mãos dele.
— Obrigada, Gabriel. – Falei ironicamente e o empurrei para chegar
até minha porta e abrir. Ao olhar para cima pude ver todo aquele sorriso
safado na cara dele e as minhas mãos coçaram tamanha foi a vontade de
estapear sua cara bonita. E o infeliz realmente era lindo. Cabelos castanho
claro, olhos azuis...
— Precisando estarei aqui para te ajudar com essas belezinhas aí. –
Toda linha de beleza esvaneceu dos meus pensamentos com a sugestão.
— Obrigada, Gabriel. Já tenho quem me auxilie com essa tarefa. –
Menti. — Não necessitarei da sua ajuda com nada. – Dei as costas e bati a
porta para ver se silenciava sua risada divertida, ou que pelo menos tivesse
acertado a cara dele. Infelizmente pelo som das gargalhadas ele esteve bem
longe.
Atirei minha bolsa em um lugar qualquer e me larguei no sofá. Como
esse imbecil pode me tirar tanto do sério assim? Depois de alguns minutos
me lembro da sacola que ele havia arremessado na minha direção. Dentro
havia uma caixa pequena de celular. Pai.... Somente ele para, mesmo depois
de me expulsar de casa, ainda me enviar um celular para manter contato.
Liguei o aparelho e busquei a lista de contato e lá estavam todos os meus
contatos do outro celular. Coloquei o número do meu pai para chamar antes
que pudesse me arrepender. Chamou uma, duas e...
LIGAÇÃO ON
— Ava? Filha, é você? – As lágrimas desceram com gosto ao ouvir a
voz do meu pai. Não tinha me dado conta do quanto sentia falta dele.
— Sou eu, pai. – Falei controlando ao máximo para que minha voz
não soasse chorosa.
— Como você está, princesa? Gabriel falou que vocês...
— Seja lá o que for que Gabriel tenha falado é mentira, pai. – Ouvi o
sorriso dele e sorri também.
— ...são vizinhos agora. Fiquei muito feliz em saber que tem se
mantido sozinha filha. – Fiquei vermelha de vergonha mesmo ele não estando
ali para me ver, por que não era totalmente verdade que eu estivesse me
mantendo somente por mim mesma.
— Eu tenho usado o dinheiro da minha conta no banco... – Ele sorriu.
— E me parece que tem feito um excelente trabalho administrando o
dinheiro, Ava. Se fosse há quatro meses atrás não teria nem mesmo dado para
as suas despesas com roupas e calçados. – Isso só provava o quanto Caden
tinha razão quando dizia que eu era uma mimada desregrada. Isso me deixou
completamente envergonhada.
— É, as coisas são mais complicadas quando temos que comer e
pagar tudo mais com esse dinheiro.
— Isso me deixa orgulhoso, saber que o seu modo de pensar mudou,
minha filha. Saiba que estou aqui se precisar, certo? – Funguei um pouco ao
limpar um pouco mais de lágrimas.
— Eu sei, papai. Só espero não precisar.
— Eu sei, Ava. Eu te amo, filha.
— Te amo, papai.
LIGAÇÃO OFF
Coloco o celular na mesa de centro e recosto aliviada no sofá. Nunca
pensei que fazer as pazes com meu pai pudesse me trazer tanta paz no
coração. Sei que aquela decisão foi feita de cabeça quente e as palavras ditas
da boca para fora, também sei que sou tão ou mais cabeça dura do que ele e o
fato de estarmos nos falando era ótimo. Eu o amava e éramos somente nós
dois, não há mais ninguém por nós. Aos poucos vou ficando sonolenta e os
pensamentos ficam desconexos, estou indo de encontro ao sono, com a
promessa garantida de um torcicolo dos infernos para mais tarde. E eu
adormeço.
Capítulo sete
MEEEEERDA!
Parabéns, Ava!
Torcicolo é uma maravilha. Melhor ainda após acordar no meio da
madrugada, faminta e louca por um banho depois de ter baba até dentro do
ouvido, mas estava tão gostoso naquele sofá.... Tento encontrar algum
analgésico de uso tópico e graças aos céus encontro. Não seria nada
agradável passar o que me resta da noite com o pescoço duro e com dor.
Devo ter caminhado pela casa como um completo zumbi, cabelo
desgrenhado, baba de um lado do rosto, pescoço torto e pés cansados
arrastando. Avabi, a zumbi. Não me contenho e rio de mim mesma. Não sei
como chego até o quarto, mas quando dou por mim estou sob o edredom e
meus olhos se fechando gradativamente. Adorava aqueles analgésicos....
Dou um salto da cama ao ouvir alguém bater na porta do meu
apartamento. Aff, que mania esse povo tinha de me acordar. Olho para a
janela e vejo que o sol não nasceu. Ainda era de madrugada. Arrasto minha
bunda da cama e tropeço por todo o caminho até chegar a porta, passo a mão
pelo rosto na tentativa vã de desamassa-lo, então abro a porta.
— Cadê o Caden? – Caleb entra como se fosse o dono do lugar e
começa a olhar tudo.
— Quê? – Eu só podia estar sonhando. Caso contrário como teria
deixado o irmão lindo do Caden gostoso invadir meu apartamento?
— Ele falou que vinha para cá.... O imbecil não respondeu as minhas
mensagens e nem atende a porra do celular. – Falou caminhando a passos
largos até meu quarto e, para o meu horror, entrou e foi até o banheiro
procurar pelo idiota gostoso do Caden que, infelizmente, não estava por aqui.
— Não sei daquele idiota. Ele não deu as caras. Sequer sabe que eu
moro aqui.... E a propósito, como descobriu meu endereço? – Isso sim era
algo para perguntar.
— Isso é baba seca grudada no seu rosto e cabelo ou é...? – Tenho
certeza de que fiquei vermelha como um tomate no seu auge da maturidade.
Será que ele realmente pensava que aquela baba seca era esperma? Puta
merda....
— O que te interessa? Eu tenho mania de dormir com a boca um
pouquinho aberta. – Falei dando as costas para ele enquanto tentava me
limpar e tenho certeza de que o ouvi dizer “está mais para escancarada”.
Entrei rapidamente no banheiro, lavei meu rosto e escovei meus dentes, me
dando conta tarde demais que deveria estar com mal hálito matinal. Não
respondi aquela ofensa e no final das contas Caleb era um idiota, lindo, como
o irmão. — O imbecil do seu irmão sequer deu as caras por aqui, satisfeito?
Não o vejo desde antes de ontem, quando ele me chamou de ladra de roupa
nova. – Caden não me chamou assim, mas foi como se tivesse feito.
— Ele não apareceu?
— Não. E você não respondeu como descobriu onde eu moro. – Se
ele se achava espertinho por esquivar de perguntas... acabou de encontrar
uma mestra em fazer essas manobras.
— Caden me contou que você se mudou para o apartamento ao lado
do seu antigo namorado sacana... – É Ava, você é uma fodida mesmo.
— Só não entendo o porquê de você dizer que o Caden veio para cá
ontem à noite. – Quem dera, hein, Ava? Ter passado a noite se desvirginando
com o cara gostoso cheio de tatuagens, ao invés de dormindo no sofá.
— Ava? – Saí do meu devaneio com Caleb estalando os dedos na
frente do meu rosto.
— O quê? – Pergunto ríspida.
— Ele me disse que precisava se desculpar por ter sido um idiota
naquela noite na casa noturna.... – Caleb é interrompido pelo toque do seu
celular e sorri aliviado ao ver quem estava ligando. — Finalmente aquele
merda viu minhas chamadas perdidas e mensagens. – Falou para si mesmo.
— Cara, vou te... – Sem mais nem menos Caleb ficou mudo e apenas
escutou, sua expressão se tornou vazia no início, depois apavorada e por
última cheia de dor. — Obrigado, estou indo agora.
— O que aconteceu, Caleb? Qual foi o problema? Cadê o Caden? –
Perguntei quando Caleb ia saindo quase que correndo do meu quarto.
— Encontraram meu irmão caído fora da estrada. Eles acreditam que
o tenham acertado e o tirado para fora da estrada. – O choque ao ouvir aquilo
foi tão grande que no momento paralisei e não consegui mais sair do lugar,
Caleb percebeu e veio até a mim, segurando meus ombros. — Eles levaram o
Caden para o hospital, fizeram exames... – Uma lágrima escorreu por seu
rosto e eu sabia que o pior ainda estava por vir. — Meu irmão está com um
coagulo cerebral e induziram ele ao coma, Ava. – Agora era definitivo, abri
as comportas dos meus olhos e chorei como um bebê. Caleb me abraçou, mas
logo me recompus.
— Precisamos ir para o hospital agora, Caleb. – Falei já puxando a
blusa, não me importando com Caleb, que sequer parecia me notar. Vesti
uma camiseta regata de algodão e uma calça jeans, peguei a bolsa e reboquei
ele de dentro do apartamento. Quando saímos demos de cara com Gabriel. —
NEM PENSE EM ABRIR A BOCA PARA ME INFERNIZAR, GABRIEL.
ESTOU MAIS DO QUE POSSESSA HOJE E SE VOCÊ PELO MENOS
OUSAR ABRIR ESSA MERDA QUE VOCÊ CHAMA DE BOCA, PARTO
ELA EM QUATRO! – Falei já entrando no elevador com Caleb
completamente atordoado. Ele precisava de mim naquele momento e eu de
ver como Caden realmente estava. Ai meu Deus.... Talvez tenham se
confundido. Deixa de ser estúpida, Ava! Como podem ter se confundido
chamando-o pelo nome e ligando do celular dele para Caleb? Uma lágrima
escapou rolando destemida pelo meu rosto, mas a limpei assim que
alcançamos o carro de Caleb na rua. Ele não estava em condições de dirigir,
eu o faria então. Fique bem, Caden. Por favor fica bem! Fique bem, Caden!
Era tudo o que eu pedia em pensamento. Nunca dirigir foi tão tortuoso ou
estressante como naquele momento. Quanto mais eu desejava que o caminho
fosse feito rápido, mais parecia demorar. Um engarrafamento, um idoso
cruzando a faixa de pedestre lentamente e então estávamos estacionando na
frente do hospital. Eu podia conter minha euforia, a expectativa por ver
Caden estava em níveis estratosféricos, mas ao olhar para o lado decidi me
controlar e ser a Ava Collins de antes. A “eu” de antes era controlada e seria,
mesmo que por dentro gritasse a plenos pulmões por libertação... mesmo que
me matasse por dentro.
— Viemos por Caden.... – O alarde nos olhos da mulher da recepção
foi o suficiente para me apavorar. Calma, Ava.
— Eu sou o irmão dele. – Caleb se manifestou pela primeira vez
desde que deixamos meu apartamento.
— E você é o que do paciente? – Questionada sobre isso, o que eu
poderia dizer com coerência desapareceu da minha mente e apenas as partes
estúpidas restaram.
— Eu? – simplesmente desaparecer era eufemismo para o meu estado
de letargia memorial. — Sou a noiva do Caden! – Caleb se virou rápido
demais quase se chocando comigo no movimento.
— Certo.... Mas ele não vai receber nenhuma visita por agora. –
Avistei um médico saindo de um dos quartos e meio que corri na direção
dele, precisava saber como aquele idiota, egoísta, insensível e rude estava.
— Caden Lutz....
— É da família?
— Sou a noiva dele. – Já que a mentira havia saído agora eu a usaria
por mais algum tempo. A mentira em si não me incomodava, o que
incomodava era o quanto eu desejava que aquilo fosse verdade.
— Ele ainda está no centro cirúrgico e seu estado é muito delicado....
— Cirurgia? – Caden passando por uma cirurgia? Ai meu Deus.
Minha visão foi ficando escura. Caden, seu idiota! O que você estava
fazendo? Por que tem sempre que ser um imbecil?
Capítulo oito
Os dias não foram tão breves como de costume. Aquele,
particularmente, pareceu durar uma eternidade. A invasão de Caleb no meu
apartamento, a notícia de que Caden havia sofrido um acidente, eu dirigindo
como louca por São Francisco, a mentira que tanto desejei ser verdade e o
desmaio. Desmaiei como nunca havia feito. Não sei quem amparou minha
eminente queda ou quem me levou para a enfermaria. As únicas coisas das
quais tenho certeza é de que Caleb estava sério, contudo, parecia aliviado. E
eu precisava ver Caden o mais rápido que me permitam fazê-lo.
— Disseram que foi o susto, mas que está tudo bem com você. –
Caleb logo se prontificou a me informar. – Eles acharam melhor te dar um
calmante...
— Está me dizendo que eles me drogaram e que você permitiu?
— Não, ele não. – Quase saltei da cama ao ouvir a voz do meu pai ao
meu lado, eu não o tinha visto ali tão próximo de mim, ou imaginado que ele
viesse parar naquele hospital.
— O que faz aqui, pai? – O horror estava explicito nas minhas
palavras tanto quanto no meu rosto.
— Caden estava aos meus serviços novamente, Ava. – Ah, vá! Ele só
podia estar de brincadeira. Quando?
— Preciso ver como ele está...
— Oh, o seu noivo será transferido para o C.T.I* - Informou a
enfermeira me deixando com a carranca furiosa do meu pai a me encarar.
Ótimo, Ava. Agora enfrente as consequências das suas ideias/mentiras
estúpidas.
— Preciso vê-lo. – Me levantei já no intento de ver como Caden se
encontrava, mas a mão de Caleb me deteve um instante antes de me soltar.
— Ele ainda não está recebendo visitas e não creio que ninguém além
do irmão dele possa fazer. – Juro que tive vontade de esganar aquela mulher.
— Sinto muito. – Ela completou com uma expressão meio que sincera e de
pesar, ponto para ela, e saiu.
— Então Caden é o seu noivo, hein?! – Quem já ouviu aquela
expressão ou já viu um tacho sabe o que é ficar com a cara de tacho.
— Eles não iriam me permitir vê-lo, então eu inventei esse absurdo
estúpido. – Falei já me levantando e ajeitando o meu cabelo em um coque
frouxo. — Cirurgia? De que cirurgia ela estava falando? – Caden importava
mais do que a merda de mentira que meu pai tentava desvendar e se eu
continuasse falando algo mais estúpido... meu pai não era bobo e me
conhecia tão bem quanto a ele próprio.
— Disseram que ele teve uma fratura exposta e que precisaria de uma
cirurgia.... – Caleb estava perdido e senti tanta apatia por ele que logo eu já
havia me jogado em seus braços, me deixando envolver por seu calor tanto
reconfortante quanto consolador para ambos. Eu conhecia o estúpido caçula
dos Lutz a pouco tempo, um ano e meio diários ao seu lado é tempo demais.
Mas apesar do pouco tempo de convivência já faziam cinco anos que eu tinha
total noção da sua existência, até demais. Ava, Ava, Ava.... — Eles não têm
previsão de quando ele sairá do coma. Poderá ser hoje, ou amanhã....
— Ele sairá dessa Caleb. – Eu sabia o quão teimoso Caden era e tinha
certeza absoluta de que ele era forte o suficiente para lutar contra qualquer
coisa. — Ele vai sair dessa e logo estará irritando a todos ao seu redor como
sempre faz. – Consegui um sorriso e isso me deixou um pouquinho mais
aliviada.
— Você está bem e o rapaz encrenqueiro já se encontra estabilizado –
Me virei no instante que meu pai pronunciou as palavras. — ...preciso voltar
ao trabalho, mas podem me chamar ao primeiro sinal de problema....
— O que o senhor anda sabendo que ainda não nos contou, pai? – Ele
sabia de algo mais e disso não tinha dúvida alguma.
— Não cabe a mim contar sobre a vida pessoal do rapaz. –
Simplesmente falou isso e saiu da enfermaria.
— Não me deixe falando sozinha....
— Calma, Ava....
— Calma? Você me pede calma? Não está interessado em saber o
qual foi a causa do acidente do seu irmão? – Eu não estava ouvindo isso,
realmente. — Você já sabe, não é? – Só podia ser isso, Caleb estava sabendo
o motivo.
— É coisa do Caden, não vou me envolver nos problemas dele e
muito menos você deveria. – Sinceramente....
— Vai a merda, Caleb. – Saí daquela aura sufocante de meias
palavras, eu já estava de saco cheio daquilo tudo.
Meio que acampei na sala de espera depois de fazer um suborno
muitíssimo gordo a um dos enfermeiros chefes para poder entrar no quarto de
Caden, isso levou quase uma semana inteira. Quando o dia enfim chegou,
paguei um pouquinho mais para o bom homem. O choque ao ver Caden na
cama foi enorme. Estava pálido e com o corpo cheio de fios ligados a ele, o
tubo que saia da sua boca foi uma das coisas que mais me chocou. Tão frágil,
diferente do homem cheio de marra e arrogância que conheci. Entrei usando
uma roupa especial, ele usava apenas um lençol que o cobria da cintura até a
metade das pernas e uma delas estava suspensa devido a fratura.
— Caden... – Eu queria poder abraça-lo, mas fui advertida a não
fazer. Essa era minha única oportunidade de vê-lo e não a desperdiçaria —
...no que você andou se metendo, seu cabeça dura? – Olhei para os lados e
toquei de leve a mão dele, porém logo me afastei por medo de ser pega em
flagrante. — Você precisa sair dessa, seu idiota. – Funguei as palavras
próximas a ele. — Quem vai ficar me torrando a paciência, dizendo o quanto
sou estúpidamente mimada...? Gosto quando você me chama de Docinho... –
Deus, como eu desejava que ele acordasse. Desejava com todas as minhas
forças que ele acordasse. Eu tinha fé de que aconteceria.
Capítulo nove
Passadas duas semanas e Caden, apesar de uma notável melhora no
seu quadro clinico geral, continuava em inconsciente. Ele já respirava por
conta própria, entretanto.... Os médicos diziam que ele acordaria quando seu
corpo se sentisse pronto. Eu queria que fosse naquele mesmo instante. E com
esse mesmo pensamento eu estava quando vi Caden envolver na dele a mão
que o segurava. Se aquele monitor cardíaco estivesse ligado ao meu coração
os médicos pensariam que eu havia infartado.
— Caden?! – Minha alegria por ver e sentir aquele pequeno
movimento era tanta que logo eu estava o abraçando e chorando. — Eu estou
aqui com você....
— E-Eu sei... e os meus ouvidos pedem clemência, Docinho. – A voz
dele estava rouca e fraca pela falta de uso, juro que não pensei direito só
voltei a pensar quando os meus lábios estavam sobre os dele. Tudo que eu
sempre quis acontecia ali naquele momento de euforia e alegria.
— Quem te autorizou a entrar?! – Me afastei com susto ao ouvir a
enfermeira rabugenta questionar.
— Ele acordou! Ele acordou! – Saltitei ao lado do leito de Caden, o
que rendeu sua completa e total atenção voltada para mim.
— Saia, senhorita Collins! – Vociferou a velha bruxa. — Caso
contrário chamarei a segurança para que a leve embora e se certifiquem de
que a senhorita não veja mais o seu noivo tão cedo. Já te colocamos umas
seis vezes para fora, não se exempla ou tem vergonha?
— Noivo? – Gemeu Caden. — A minha noiva fica....
— Ela não pode senhor Lutz. Agora faça o favor de se retirar
senhorita. – Quis nocautear aquela maldita velhota bastarda. Eu ia me
afastando quando senti o fraco aperto de Caden na minha mão.
— Precisamos conversar, Docinho.... – Os olhos dele foram se
fechando e me deixando em alarde e desespero que seguiu mudando para
raiva ao notar a velha bruxa retirando a agulha de uma das intravenosas de
Caden. Ela deve ter aplicado alguma droga para que Caden dormisse.
— Agora saia, ou chamarei a segurança.
— Vamos ver quem vai ser escoltada pela segurança.... – Saí
resmungando baixo a minha frustração e raiva.
— O que você faz no quarto do Caden, Ava? – Caleb veio com a sua
ladainha fazendo com que eu ficasse ainda mais fula da vida com ele.
— O mesmo que você todos os dias, porra! – Saí indo direto para o
local onde havia deixado a minha bolsa e peguei meu celular. — Pai?!
— Aconteceu algo filha?
— Preciso de acesso total ao quarto do Caden, ele acordou e não
querem me deixar entrar para ver ele. Preciso agora! – Sim, eu estava
bancando a garota mimada, mas que se fodam todos com isso.
— Humm.... Vou desligar e vejo o que consigo... – Desliguei o
celular antes mesmo que ele terminasse de falar, sabia que ele iria conseguir.
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— Eu já pedi para que não entre no quarto, senhorita Collins. – Duas
horas e quarenta minutos depois a enfermeira bruxa ainda me perseguia.
Caden já havia sido enviado para o quarto após alguns exames e se mantinha
dormindo.
— Experimenta me tirar daqui velha bruxa.
— Ora sua insolente...
— Já medicou o senhor Lutz? Então saia, obrigada. – Dei as costas e
me sentei na cadeira ao lado da cama de Caden. Ouvi a porta do quarto se
fechada com pouca suavidade assim que a mulher me deixou sozinha com
aquele idiota lindo e tatuado.
— Uau, desde quando você é tão preocupada com meu irmão? –
Quase gritei ao ouvir a voz de Caleb atrás de mim. Eu não respondi. — Que
tal deixar de bancar a garotinha do papai todo poderoso e ir para casa?
— Eu não vou embora, Caleb.
— Você sabe tão bem quanto eu que o meu irmão não tem o mínimo
interesse em você, não sabe? – Caramba, aquela doeu. — Ok, não responda.
Eu sei a resposta e saiba que o Caden te enxerga como nada além de uma
menininha mimada cheia de revolta e obcecada sexualmente por um cara
cheio de tatuagem e com um piercing no cacete.
— Chega! – Pedi já com um bolo na garganta. Desde quando o Caleb
atencioso havia se transformado naquele ser desprezível e cretino? Eu tinha
perdido alguma coisa?
— Você não é nada para o meu irmão. Você não significa nada para
ele, nem mesmo uma transa para que ele esquente o pau a noite. A verdade é
que ele sempre diz o quão broxante uma mimadinha como você pode ser. –
Meu Deus, ouvir isso foi pior que ver Caden transando com aquela vadia. Um
nó se formou na minha garganta e não deixou nenhuma única palavra sair.
Sem entender o motivo pelo qual Caleb havia se tornado tão rude comigo eu
esperei as lágrimas abandonarem as barreiras que eram as minhas pálpebras.
— Caleb... – A voz fraca de Caden chamou pelo irmão que me
abandonou como seu centro de atenção, para minha não total ruína.
— Fala, cara.... Você se sente bem?
— Saia do quarto e me deixa sozinho com a Ava...
— CARA....
— Por favor.... – O meu coração deu um salto ao ouvir ele me
chamar pelo nome, tenho certeza de que os meus olhos se assemelhavam aos
de um cervo diante do farol pouco antes da colisão fatal. Ainda arfante com a
surpresa de ouvir meu nome ser dito por ele, vi quando Caleb abandonou o
quarto com cara de poucos amigos e por fim me lançando um olhar furioso.
Que ele fosse se foder, eu não me importaria.
— Você é um imbecil, Caden. – Falei dando as costas para ele e
limpando uma lágrima que teimava em rolar livre pelo meu rosto, eu não
queria chorar....
— Ava... – Senti um aperto fraco envolver o meu pulso me
assustando. — ...Ava – Ele estava me chamando pelo nome e isso mexia
muito mais com o meu fracassado e já quebrado coração. Olhei para ele e vi
seus lindos olhos a me fitar diretamente. — Você está bem? Alguém fez
alguma coisa com você?
— Hã? Eu? Quem deveria estar fazendo essas perguntas sou eu. –
Será que a pancada havia surtido alguma sequela? Desde quando Caden
dialogava comigo? — Do que é que você está falando, Caden?
— Ainda bem....
— Mas de que merda você está falando? – Estava chorando naquele
ponto. — O que você andou fazendo para se meter nessa droga toda e acabar
parando num hospital... EM COMA? – Os meus medos afloraram e não me
contive ao ficar cara a cara com ele. — VOCÊ É UM IDIOTA QUE NÃO
PENSA NOS... – Caden não me deixou terminar a frase, envolveu a mão na
minha nuca e me puxou na sua direção. Eu fechei os meus olhos, com o
coração batendo acelerado como um louco, esperei por um beijo que não
veio.
— Você não sabe de nada. – O aperto fraco ficou um pouco mais
forte e um beijo surgiu tão rápido e de maneira que eu nem senti o gosto,
quase nem o calor.
— Já posso ver meu irmão...?
— Eu pedi para que esperasse Caleb? – Estranhei o tom na voz de
Caden ao falar com o irmão....
— Quero essa garota fora de perto de você, Caden.
— Eu ainda estou aqui...
— Então já entendeu o recado, saia! – Saí por dois motivos: vergonha
na cara e para que Caden não se exaltasse mais do que já estava.
— Tchau, Caden! – Falei com um bolo já formado na minha
garganta, dei as costas e saí. Eu não queria mais ouvir aquelas coisas. Como
uma pessoa podia mudar tanto de um dia para o outro?
Sei que adormeci em algum canto do hospital, pois acordei com a
mão pesada de alguém que me sacodiu. Levei cerca de dois minutos para
acordar. Inicialmente fiquei desorientada, depois completamente
envergonhada por ser pega dormindo como uma idiota rechaçada do leito de
seu amado platônico. E aquele beijo? Levo o dedo aos lábios e tento me
lembrar da sensação da boca dele na minha... calor! A boca dele quase não
tocou a minha, mas mesmo assim foi como se tivesse alcançado cada
extensão do meu corpo. Caden.
— O irmão dele não vai aparecer até o horário de visita. – O senhor
chefe de enfermagem “mão molhada” informou, para minha alegria.
— Obrigada, Kevin. – Agradeci já recolhendo a minha bolsa e
marchando para o quarto de Caden.
Acho que nunca me senti tão cansada em toda minha vida. Dormir
nos corredores de um hospital não é nada fácil, e ter alguém à espreita, te
vigiando não é legal. Caleb parece me odiar e não consigo encontrar um
motivo para esse ódio desmedido. Chega a ser absurda as atitudes daquele
imbecil estúpido e arrogante. Como ele pode proibir a minha entrada no
quarto do próprio irmão? Pelo que sei Caden já é bem grandinho para saber o
que quer da vida, não precisa que o irmão decida por ele. Chego ao quarto de
Caden como se fosse cometer um roubo. Estou tão preocupada com quem
possa me ver que ando tão sorrateiramente quanto uma criminosa. Entro no
quarto e encontro Caden acordado, parecendo prever minha chegada. Ele
encarava a porta com seus lindos braços cobertos por tatuagens cruzado sobre
o peito.
— Pensei que não viria mais, Docinho. – Fala com o olhar sério e
cheio de sombras, das quais não compreendi bem a origem. Seria por eu ter
vindo?
— Não me chame de Docinho. – Retruco pela força do hábito. — E
desde quando minha presença é tão esperada por você?
— Desde o minuto que acordei nessa porra de hospital e soube de
você! – Tenho certeza que o meu rosto se tingiu de vermelho diante daquelas
palavras. — Ouvi dizer que receberei alta medica em alguns dias.
— E quem é que vai cuidar de você com essa perna engessada? –
Não percebi o que havia dito até que ele começou a rir. — Quero dizer... seu
irmão não vai saber o que fazer....
— Caleb precisou fazer uma viagem para fora da cidade por algum
tempo. – Declarou interrompendo o que eu falava.
— Você não poderá ficar sozinho... – Como ele faria as coisas com a
perna naquele estado? O Caden não poderia andar por algum tempo....
— Eu me viro, não se preocupe comigo. – Seus olhos me observavam
com atenção.
— Não estou preocupada com você, só não quero a minha
consciência pesada durante a noite. – MENTIROSA!
— Talvez eu contrate alguém para ficar ao meu lado... – Isso mesmo,
Caden! Chama alguma amiguinha vagabunda para te dar "assistência".
Aquela coisinha asquerosa corroeu meu peito.
— Por que está me olhando assim, princesa? – Deboche e a
satisfação em me irritar eram audíveis na voz zombeteira dele.
— Posso cuidar de você até que o babaca do seu irmão retorne. –
Levei as duas mãos à boca assim que as palavras absurdas saíram na
proposta. — Se você não se importar, é claro. – Sorri amarelo na esperança
de que ele entendesse que a proposta era apenas por cortesia.
— Ora, ora. – Mesmo com cara de doente o homem sabia ser sexy.
— A senhorita Collins está se solidarizando com os menos afortunados? Juro
que jamais te imaginei vestindo uma roupa de enfermeira.... Mentira,
imaginei sim! – Notei o brilho dentro dos seus olhos ao dizer aquelas
palavras. — Se bem que eu não reclamaria se o fizesse. – Aquele sorriso
sacana estava lá para me irritar. Dessa vez me aproximei e o olhei nos olhos.
— Que buraquinho é esse na sua sobrancelha? – Ótimo, Ava! Acabou
de se esquecer da boa resposta que daria.
— Ah... – Caden levou o dedo até o ponto e pareceu pensar por um
instante. – Droga! O que eles fizeram com... – Enfiando a cabeça e uma mão
sob a coberta ele começou a tatear o peito e logo depois o seu.... Cristo! Ele
se tocou lá embaixo. — Porra, onde foram parar os meus piercings? – Eu não
acredito que ele realmente tinha um piercing lá. – O que foi, Docinho? Não
sabia deles? – Seu sorriso substituiu a revolta no seu semblante e isso me fez
ficar envergonhada.
— Mas é claro que não, seu estúpido! – Esbravejei dando as costas na
esperança de ocultar o horror e curiosidade estampados na minha face.
— Bem, acho que vou aceitar sua oferta para ser minha doce
enfermeira por alguns dias. – Minha boca se escancarou com aquilo. Ele
havia aceitado. Ele havia aceitado. Parabéns, Collins! — Mas não quero
abusar da sua bondade, linda. Assim que puder sair da cama vou embora para
minha casa.
— Tudo bem. – Falei ao me virar e lançar o sorriso, falso, mais
encantador que possuía comigo. Que ele tenha notado. Que ele tenha notado.
Se ele notou, não demostrou.
Capítulo dez
T RÊS DIAS DEPOIS
— Tem certeza de que está tudo bem, Docinho? – Caden perguntou
enquanto era ajudado, por um brutamontes da enfermaria, a se sentar na
cadeira de rodas.
— Claro que tenho. E não me chame de Docinho! – Cuspi
acidamente próximo ao ouvido dele. Nossa, como o perfume dele era
gostoso. Pode ir parando por aí Ava Collins. Repreensões mentais, ótimo! —
Não se preocupe com isso, Caden.
— Isso fará seu currículo de boa samaritana alcançar um patamar
superior?
— Não comece, Caden. Não comece.... – Será que ele me perturbaria
assim todos os segundos dos meus dias, até que fosse embora? Deus, não
deixe isso acontecer.
O caminho até o prédio em que resido foi feito em silêncio. É, eu
estranhei.... Pensei que ele ficaria me azucrinando até chegar em casa,
contudo isso não ocorreu. Sinto que o fato me decepcionou, mas nem sob
tortura admitiria tal disparate. De soslaio olho para ele, que negou receber
minha ajuda para sair do carro e se acomodar na cadeira de rodas. Nem
mesmo a mochila contendo suas roupas ele me deixou carregar. Bufei alto
para que ele ouvisse. Arrogante ingrato!
— Belo prédio. – E foi tudo que ele disse, sarcasticamente. Nunca
um elevador demorou tanto. Não sendo o bastante me lembrei de quem era o
meu maldito vizinho. Mesmo sob o olhar severo de Caden, me coloquei a
empurrar sua cadeira de rodas o mais rápido que pude. As chaves já em mãos
facilitaram o processo na hora de ser rápida o suficiente para entrar no
apartamento.
— Sinta-se à vontade. – Sorri muito amarelo para ele e tranquei a
porta atrás de mim. — Vou trocar de roupa e... – Ele ficou me olhando sem
piscar, o que me deixou sem jeito. – ...hã venha, vou te mostra seu quarto. –
Ouvi o som da borracha da sua cadeira de rodas logo atrás de mim e o peso
dos olhos dele pareciam me esmagar. — Espero que se sinta em casa. Esse é
o seu quarto. O meu fica de frete e qualquer coisa é só me chamar. – As
palavras pareceram desaparecer da minha mente e já não sabia mais o que
dizer. — Vou trocar de roupa e volto para te ajudar. – Saí o mais rápido que
pude de perto daquele homem, era constrangedor a minha estupidez perante
ele. É só o Caden babaca, Ava. Por isso mesmo estúpida! É só o Caden que
você tanto desejou na vida que está hospedado e aos seus cuidados debaixo
do mesmo teto que você. SOZINHOS!
Demorei mais do que o necessário para atirar longe as minhas calças
jeans e colocar um vestidinho de alças. Eu adorava aquela roupa. Os meus
pés pareciam dois blocos de concreto e o caminho até o quarto em frente ao
meu foi feito lentamente. Maldita hora que fui me oferecer para ajudá-lo. Por
que não deixei que alguma vadia qualquer cuidasse dele? Por quê? Por quê?
— Você não precisa ficar me checando só porque estou preso a uma
cama pelas próximas semanas, Ava. – Aquilo sim me pegou desprevenida.
— Eu disse que cuidaria de você.
— Não sou uma criança. – Deus sabe o quanto sei disso, Sherlock
Holmes!
— Você precisa descansar, Caden. Deixa-me te ajudar a se deitar na
cama pelo menos, ok? – Com certa contrariedade e desconfiança ele
concordou minimamente com um movimento de cabeça. Me aproximei
parando de frente para ele e o olhei. — O que eu faço? – Sorri com vergonha,
pois seria eu a cuidar dele e nem ao menos sabia o que deveria fazer.
— Apenas tire as cobertas pra mim. – Falou e de imediato me
coloquei a fazer o que ele pediu. — Eu consigo sair sozinho dessa cadeira.
— Eu te ajudo, espere. – Dei a volta na cama, às pressas, e segurei
em seu braço para ajudar. Com um movimento ágil ele se içou sobre a cama e
me levou junto no processo. Atordoada com a proximidade imposta
involuntariamente entre nós, fiquei meio sem ar. — Eu disse que conseguia.
— E eu falei que iria te ajudar, Caden. – Ainda com um braço ao meu
redor ele sorriu.
— E ajudou bastante, Docinho. – Segui o olhar dele lentamente e o
que vi me fez saltar da cama e correr para fora do quarto. Meus seios estavam
praticamente à mostra, debaixo do nariz dele. Corri para longe dele como
uma garota boba. Caden devia estar rindo de mim. Estúpida. Você é uma
estúpida, Ava Collins.
Já era noite quando crio coragem para voltar ao quarto do bastardo,
afinal ele não podia morrer de fome. Cozinhar nunca foi muito o meu ponto
forte, por isso, nem morta, iria dispensar a comida de um restaurante durante
essa estadia de Caden ali.
— Caden! – Chamei, mas não obtive resposta. Estaria dormindo? —
Caden! – falei já entrando no quarto e, para minha surpresa, ele não estava na
cama. Ouvi a água do chuveiro ligada e já o imaginei caído, desacordado e se
afogando na água do ralo. Merda, Caden. Não pensei duas vezes e entrei no
banheiro. — Caden! – Contudo, o que encontrei não foi ele se afogando no
ralo, ou caído. Ele estava com um saco plástico enorme envolvido na perna
engessada... e nu. Completamente nu, enquanto tomava banho. — Ai meu
Deus....
— Sou eu mesmo, Docinho. Será que você poderia me ajudar? Acho
que vou acabar caindo nessa água cheia de espuma se você não me ajudar.
— Com você... assim? – Perguntei encarando a parede contraria a
ele.
— Por acaso nunca viu um homem pelado na vida, Ava? – Tenho
certeza de que o meu rosto ficou igual a um farol vermelho. A voz não queria
sair pela minha boca que de repente ficou seca e comecei a suar como um
porco! — Não acredito.... – Ele estava rindo, rindo de mim. Não suporto
quando riem de mim. Com todo meu autocontrole me aproximei dele e tomei
a toalhinha de banho da sua mão.
— Se você não fechar essa maldita boca, vou enfiar essa toalha
dentro para te calar! – Ele fez aquela cara safada, porém se calou. — Por que
veio para o banho se não conseguiria terminar sozinho? – Resmunguei
lavando seu braço coberto de tatuagens sem jamais abandonar seu olhar. Não
desgrudei os olhos dos dele por medo do que encontraria pelo caminho, o que
eu vi já me afetou ao ponto de me deixar necessitada de uma nova calcinha e
da companhia do meu amiguinho de pilhas. – É, vou precisar usá-lo hoje...
— Do que você está falando Docinho? – De repente ele fechou os
olhos e engoliu em seco ao me perguntar sobre a estupidez que a estúpida
acabara de falar. — Ava? – O que ele queria agora? Que eu contasse as
minhas fantasias sexuais para ele? — Ava? – A voz dele estava
estranhamente rouca, foi o que me chamou atenção para o que eu estava
fazendo... esfregando lentamente a...
— AH, MEU Deus – ...a virilha do Caden, provocando uma enorme e
pesada ereção. — Eu sinto muito, Caden. Eu não quis.... – As minhas mãos
tremiam como varas verdes sob o vento. Meu rosto ardia de constrangimento
e eu queria estar longe daquele banheiro.
— Ava. – Segurando meus dois braços ele me obrigou a encará-lo.
Seu olhar estava mais escuro que o normal e a respiração aos resfôlegos de
dentro do seu peito. — Olha para mim. – Eu olhei. — Está tudo bem. – Não,
não estava tudo bem. Eu estava o excitando, involuntariamente, mas estava.
— Foi inocente da sua parte. – E da dele?
— Tá. – Não conseguia dizer outra coisa.
— Será que você poderia me ajudar com a toalha e a cadeira? Depois
posso me virar sozinho. – Nunca pensei que fosse ser tão difícil ajuda-lo.
Aqui está a toalha. – Entreguei e ele se envolveu precariamente com
ela, mesmo tendo o corpo parcialmente coberto por espuma do banho.
— Desculpa. – Olhei de soslaio e o vi sério.
— Sou homem e não tenho controle sobre essa parte do meu corpo,
entende? – Neguei envergonhada, mas o fiz. Ele sorriu. — É que você é
mulher, linda, e estava me tocando em um lugar que as mulheres tocam
geralmente durante o sexo. Não pude evitar ficar duro de tesão, Docinho. –
Fiz menção de sair, porém ele me impediu segurando meu braço e puxando-
me contra seu peito. — Obrigado pela ajuda. – Falou e beijou o canto... tá,
metade dos meus lábios. Depois me soltou e saiu do banheiro na cadeira de
rodas. Permaneci no mesmo lugar por alguns minutos até me dar conta de
que ele estava se deitando na cama.
— Eu trouxe seu jantar, você não pode ir dormir ainda Caden. – Falei
saindo rapidamente do lugar.
— Não estou com fome, Ava. – Sua voz estava meio estranha e os
olhos dele estavam fortemente fechados. Ele estava com dor.
— Avisei que você precisava descansar, Caden. – Me aproximei dele
e vasculhei dentro da sua mochila.
— O que você pensa que está fazendo remexendo nas minhas coisas?
– Ignorei a arrogância dele. – Ei!
— Buscando por seus analgésicos, imbecil.
— Pensei que os analgésicos fossem para ajudar no alivio das
dores....
— Que nesse caso é a dor de um imbecil teimoso! – Saí do quarto e
fui até a cozinha em busca de um copo com água. Quando retornei ao quarto
abri o frasco retirando o comprimido e enfiando dentro da boca do Caden, o
que o pegou de surpresa e assustou. — Beba. – Entreguei o copo com água e
o vi engolir até a última gota. — Da próxima vez que for fazer alguma
loucura, me chame primeiro para que eu possa proibir, ok?
— Você é bem mandona, sabia disso? – Puxando minha mão ele a
depositou contra seu rosto, que para o meu horror, estava muito quente.
— Acho que você está com febre, Caden. – Retirei a mão do seu
rosto e corri até o meu quarto em busca de um termômetro, que eu sabia
existir por lá. Ao encontrar voltei para o quarto do teimoso e constatei minha
suspeita. Febril. — Você está com febre. – Falei colando o meu rosto no
dele.
— O que está fazendo, Docinho? – Exatamente, Ava!
— Sua febre....
— Então fica comigo. – Me puxou para o seu lado na cama e segurou
forte meu corpo, depois ele fechou os olhos e sua respiração ficou lenta. –
Não me deixa morrer durante a noite.... – Não deixar morrer? Ai meu Deus,
Caden havia enlouquecido. Eu não sairia de perto dele por nenhum momento
essa noite. Morrer? Deus o livre.
Capítulo Especial – CADEN
Porra, minha perna estava latejando como o inferno hoje. Ainda meio
desorientado pela incomoda dor, não percebo que tenho companhia na cama.
Sorrio diante da cena ao meu lado. Ava, Ava, Ava... a doce senhorita Collins
agarrada ao corpo nu da criadagem. Tenho vontade de gargalhar ao
imaginar a cara do papai Collins se visse isso. Acho que sei o porquê da
minha perna estar doendo como o inferno em brasas hoje... Ava está com a
dela sobre o gesso. Fecho meus olhos fortemente e torno a abri-los e me
coloco a observar atentamente o rosto dela. Sorrio levemente ao constatar que
ela dorme com a boca aberta e o meu peito está completamente molhado de
baba. Seus deliciosos lábios são rosados e cheios.... Me contenho para não
provar deles novamente. Seus olhos são adornados por cílios espessos e
longos que beijam seu rosto corado mesmo durante o sono.... Pele de
porcelana... fina e delicada como a dona. Pense com a cabeça de cima,
porra! Seguro com a ponta dos dedos uma mecha do seu longo cabelo loiro...
macio. Puxo para perto do meu nariz e cheiro, tem cheiro de morango e Ava.
Meu pau lateja sob a coberta, cacete. Ela se mexe minimamente e resmunga
algo que não entendo. Observo o contraste berrante entre a pele lisinha dela e
a minha coberta de tinta.... Uma maneira de gritar o que sinto dentro de mim,
por isso faço as tatuagens. Acaricio a lateral do seu corpo e os pelos do braço
dela se arrepiam em resposta. Porra, mesmo dormindo ela corresponde ao
meu toque. Respiro fundo inalando seu aroma único e com cuidado cubro a
boca dela com a minha. Tão macia e proibida para mim. O meu fruto
proibido e tudo que mais quero é cair em pecado, como sempre. Nunca fui
bom em seguir as regras, ou fazer o que me mandam. Sorrio já constatando
que a teria cedo ou tarde sob o meu corpo e de preferência comigo enterrado
dentro dela. A fome por seu gosto faz com que eu aprofunde o beijo e ela
acaba acordando parcialmente e correspondendo. Delícia. Ela era muito
gostosa, porra. A puxo sobre mim e seguro firme sua nuca para que ela fique
onde está, necessito prolongar o momento delicioso que estamos tendo. A
boca dela na minha com as nossas línguas duelando em busca de tudo o que
nossos corpos anseiam. Em uma dança sensual rumo ao pecado. Seguro
firme sua nuca e com gosto e prazer aperto aquele traseiro maravilhoso contra
minha ereção. O gemido que escapa dos lábios dela me torna insano e
desesperado por provar bem mais que aqueles lábios. Um outro gemido de
prazer e ela rebola sobre meu colo, fazendo com que eu aperte ainda mais seu
traseiro contra mim.
— Caden... – O som do meu nome, coberto de luxuria, deixando a
boca dela, desperta algo estranho dentro de mim. Contudo ignoro e deixo
para pensar sobre aquilo em outro momento. Tudo que eu queria agora era
sentir o quanto somos perfeitos juntos. O quanto eu sou o que falta do seu
lado.
— Te quero tanto, Docinho. – Digo devorando a pele branquinha e
delicada do seu pescoço, a fazendo gemer em resposta. — Você tem o gosto
mais doce que já provei em uma boca.... – Mas sou interrompido pela porra
de um celular barulhento e da campainha que algum filho da puta está
tocando insistentemente.
— Droga....
— Não vai não, Docinho.... – Falo recomeçando o beijo e deslizando
a minha mão sob a saia do seu vestidinho delicado. Ela corresponde o beijo,
porém o encerra quando a porra da campainha não dá trégua. – Porra de
campainha dos infernos! – Xingo arrancando o sorriso mais lindo que já vi
curvar aquela boca gostosa. Ela gostava quando eu falava obscenidades.
— Tenho que ir ver quem é. – Com cuidado ela sai de cima de mim e
ajeita o vestido no lugar. A campainha continua como se a pessoa tivesse
com a porra do dedo colado nela. – JÁ VAI, MERDA! – Ava grita quando
alcança o corredor. Seja quem for que estivesse na porta deve tê-la ouvido,
pois parou de tocar a merda da campainha no mesmo instante.
Droga, a minha perna parecia estar dando saltos olímpicos dentro do
gesso. Doer era eufemismo para o que eu comecei a sentir. Com cuidado me
arrastei de costas pela cama e peguei minha mochila. Precisava
desesperadamente de um analgésico, ou começaria a gritar de dor. Encontro o
frasco de remédio e tiro logo dois de lá, os jogando direto na boca e
engolindo sem água. Não quero incomodar a Ava mais do que já fiz. Sorrio e
me dou conta de que realmente quero incomodá-la de outras maneiras bem
mais gostosas.
— Não sei qual foi a parte do não te interessa você não entendeu,
Gabriel. – Gabriel? Mas que porra aquele babaca estava fazendo ali? Me
sento rápido, entretanto me lembro de que estou com a perna quebrada e que
não poderei ir muito mais longe que a merda do chão do quarto e, talvez, de
volta para o hospital. Maldita hora que fui participar daquele racha!
— Só perguntei quem está na casa, querida....
— Vou enfiar meu pé no seu traseiro se me chamar de querida
novamente, seu desgraçado. Agora saia da minha casa, ou vou ter que chamar
a segurança. – Sorrio diante do comentário ameaçante dela. O imbecil sabe
bem que ela não tem segurança no apartamento.... A segurança é você idiota!
— Tudo bem, mas não se esqueça de que o seu pai vai vir jantar com
você hoje....
— SAIA, GABRIEL! – Ouvi a porta ser batida com violência e as
vibrações de estremecimento viajaram em ondas pelo ambiente. – SE VOCÊ
SE APROXIMAR DA MINHA PORTA, OU CAMPAINHA HOJE... JURO
QUE CHAMO A POLÍCIA! – Ava ainda gritou depois da porta fechada.
Ouço passos furiosos pelo corredor até que ela entra no quarto em que estou.
— Bom trabalho, Docinho. Nem precisou do seu segurança particular
ir ao seu socorro. – Pronto! Agora eu havia conseguido arrancar aquela
ruguinha de raiva de dentre as sobrancelhas dela.
— Sei muito bem me defender....
— Venha aqui. – Estendi a mão e a convidei para se sentar comigo,
porém ela se negou e foi até o banheiro voltando com duas escovas de dentes.
— Nem morta me aproximo novamente de você antes que eu tenha
escovado meus dentes. – Com cuidado ela puxou a cadeira de rodas para que
eu me sentasse para ir ao banheiro fazer a minha higiene. A dor que senti foi
lancinante, mas não contei a ela. Afinal já havia tomado o analgésico e em
breve surtiria efeito.
Após me deixar sozinho para ir ao seu quarto, Ava, não voltou mais.
Por conta própria me levei até a sala de estar e passei da cadeira para o sofá,
que era de longe menos confortável que a anterior. Olhei ao redor e a mobília
não se diferenciava muito do apartamento anterior, nada de coisas caras.
Eram apenas móveis bonitos e de bom gosto que qualquer lar americano
simples possuía, nada de luxo como aos da casa do pai dela.
— Nossa, vou ter que te amarrar naquela cama? – Abri um sorriso
safado ao me imaginar se preso na cama por ela.
— Talvez eu aprecie essa experiência com você, Docinho. – Ela
fechou a cara e resmungou.
— E talvez eu te amordace também...
— Ah, e como eu iria poder provar seu corpo?
— Não diga nada, Caden! – Ela sorriu e se sentou ao meu lado,
tomando cuidado para não encostar na minha perna engessada.
— Está tudo bem?
— Desde quando se importa tanto comigo? – Desde que você me
agarrou e beijou naquela festa da sua amiga há dois anos atrás. Eu quis
dizer, mas não disse.
— Desde que quero devorar sua boca novamente e provar cada
pedacinho do seu corpo com a língua. – A respiração dela ficou rápida e seus
olhos enormes, me fazendo sorrir para ela.
— Você não vale nada mesmo, não é?
— Nem um pouquinho, mas mesmo assim você me adora. –
Retruquei a fazendo sorrir um pouco mais.
— Não, eu tenho vontade de te esganar, às vezes. – Completou,
contudo, apoiou a cabeça contra meu ombro e permaneceu ali por algum
tempo até falar novamente. – Caden...
— Humm? – Respondo me distraindo ao sentir o aroma inebriante
dos seus cabelos no meu rosto.
— Como você se machucou? – E é home run, princesa.
— Perdi o controle da moto e acabei caindo....
— A polícia disse que você foi jogado para fora da pista.... – Era
verdade, só que não podia concordar com nada disso.
— Somente perdi o controle da moto por estar correndo demais e caí.
Eles não estavam lá e não sabem o que aconteceu. – Completei sendo
grosseiro, o que não queria ser.
— Tive medo que você.... – Continuou ignorando meu tom.
— Morresse? – Terminei para ela e senti algo morno contra a pele
nua do meu ombro. Eram lágrimas. – Você está chorando, Docinho?
— Não! – Mentirosa.
— Ei. – Segurei seu rosto entre as mãos para observa-la melhor. —
Estou bem e pretendo continuar para poder te perturbar alguns dias mais. –
Funcionou, Ava, sorriu e muito devagar ela tocou de leve a minha boca com
a dela. Tão suave que quase não foi sentido.
— Preciso ajeitar as coisas para o jantar de hoje....
— Ainda nem mesmo comemos o café da manhã. – Sorri quando ela
se levantou.
— Caso você ainda não tenha notado que horas são, não teremos um
café da manhã e sim um brunch.
Eu pensava que ela passaria a tarde inteira correndo de um lado para
o outro arrumando as coisas, contudo ela não fez.
— O que foi? – Perguntou quando se sentou ao meu lado e ligou a tv
em um filme qualquer.
— Você não deveria estar preocupada com o jantar do seu pai?
— Ah, isso. Já cuidei de tudo. – Concentrada naquela porcaria sem
graça que estava assistindo, me respondeu.
— Como? – Será que eu teria dormido e não notei que ela preparou
algo?
— Ora, liguei para o restaurante e pedi que entregassem a comida
meia hora antes do meu pai chegar. – Sorri diante daquela resposta. Que ela
era uma negação na cozinha todos os empregados da família Collins sabiam...
desde o fatídico dia em que ela resolveu preparar uma enorme quantidade de
biscoitos. Sinto meu estomago se contorcer apenas com a lembrança.
— Boa ideia.
— O que isso quer dizer? – Indignada ela me encarou com ferocidade
no olhar. Juro que via faíscas saindo daquele belo par de olhos azuis.
— Para que gastar tempo na cozinha se você pode ligar e pedir para
que entreguem? – Me olhando cheia de desconfiança ela concordou com um
movimento de cabeça.
— Eu sou péssima na cozinha, esse é o motivo1 – Sorri e cobri minha
boca com a mão para que ela não percebesse... — Você está rindo de mim,
Caden. – Tarde demais.
— Não, é que passou algo engraçado no filme. – Menti.
— É um drama, Caden. Não tem comédia em nenhum momento
desse filme. – Com ceticismo ela me encarava. — Já assisti três vezes....
— Ah, Docinho...
— Não me chame assim. – Falou apoiando a cabeça no meu ombro e
puxando as pernas para cima do sofá.... E cacete, revelando quase tudo,
menos a calcinha.
— Claro. – Respirei com dificuldade, tentando controlar a vontade de
beijar aquela boca linda, mas como todos sabe aquele era eu. Não me
controlava, não seguia as regras e fazia o que tinha vontade. — Docinho? –
Furiosa, Ava, se virou para rebater, mas tomei seus lábios nos meus a
silenciando. Adoro o gosto daquela boca gostosa. E a patricinha mimada se
derreteu nos meus braços. Em total desapego ela gemia contra minha boca, o
som mais perfeito de se ouvir e que repercutia na minha virilha. Como pude
desperdiçar todo esse tempo longe dela? Ela sempre deixou claro o que sentia
por mim, além da raiva. — E aí, a raiva por mim já passou? – Perguntei
beijando aquele ombro delicado de pele com o cheiro perfeito.
— Você é irritante, Caden. – Sorri contra seu pescoço ao ouvir
aquilo.
— Mas você bem que se delicia quando esse irritante aqui te beija,
não é?
— Você é um pervertido, isso sim. E pare de agir desse modo, me
atacando. – Falou saindo do meu lado no sofá e marchando para seu quarto.
Não preciso dizer que as estruturas do apartamento estremeceram com a força
em que ela bateu a porta....
— Ah, Docinho. – Se você soubesse o que eu há tanto tempo desejo
fazer com você. Se ela soubesse jamais admitiria a minha estadia sob o
mesmo teto que ela....
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Capítulo onze
AVA
Como uma idiota. Sim, isso mesmo. Como uma idiota que sou, ainda
sorrio sob o jato de água do chuveiro. Ele me beijou. Caden me beijou
novamente. Como desejei que isso acontecesse anos atrás. Ah, vá! Faça-me o
favor, Ava. Ele é um safado e está apenas aliviando o tédio de ficar preso
sem poder andar por aí. Logo ele vai ficar bem e tudo vai voltar ao que era.
Um bolo se forma no meu estômago diante de uma lembrança: a maldita
imagem de Caden transando no quarto com uma vadia, enquanto eu dormia
no sofá. Fecho meus olhos com força e respiro fundo. Foi há muito tempo,
Ava. É, e agora ele se sente grato pela sua ajuda. Só gratidão é o que ele
sente e acabou confundindo as bolas um pouco. Logo ele ajeitará as coisas e
sairá daqui. Sorrio com o pensamento e saio do quarto afinal de contas logo o
pessoal do restaurante estaria chegando e não seria aquele pervertido a
receber ninguém.
— Pensei que você iria passar a tarde debaixo daquele chuveiro. –
Aff, Caden... ao vivo e em cores com aquela cara safada sem ao menos se
esforçar para tê-la. — O que foi? O gatinho comeu sua língua, Docinho?
— Será que você poderia fazer o favor de parar de me chamar assim?
– Caden sorriu... aquele sorriso. Um sorriso assim meio de lado, aquele tipo
que deveria ser proibido de tão imoral. Ah, Ava. — Eu não me sinto
confortável com você me chamando assim.
— Acho que a comida ficou pronta, "Docinho doce". – Juro que quis
esganar aquele pescoço musculoso e parcialmente tatuado.
— Obrigada. – Completei a contragosto e sai para atender a porta.
Não sei bem qual foi minha reação ao quase ser atropelada por um batalhão
de gente e por Gabriel. Gabriel.... Gabriel? Mas que merda ele pensava que
estava fazendo ali? — O que você pensa que está fazendo aqui? – Ele se
limitou a sorrir e se acomodou na poltrona de frente para Caden, seu olhar
não se encaixar em nada com aquele sorriso esplendido de cafajeste traidor
filho da mãe.
— Seu pai me convidou para reatar os laços dos longos anos de
amizade entre as nossas famílias, princesa. – Caden se remexeu no sofá e
pude perceber as ondas nada bonitas ou civilizadas de testosterona emanarem
no ar. Pareciam dois animais selvagens demarcando território. Machos se
medindo. Ai meu Deus, era só o que faltava para completar a minha desgraça.
— Vejo que seu pai decidiu manter o segurança – O modo em que a palavra
segurança foi dita, era o mesmo que ele estivesse dizendo: o empregado. —
...por perto, para sua comodidade.
— Olha... – Comecei.
— Não trabalho mais para a família Collins. – Caden me interrompeu
e a irritação subiu em níveis estratosféricos pelas minhas veias naquele
momento. — Ava e eu estamos juntos. – Deus, Deus, Deus, Deus, Deus,
Deus! Meu corpo definitivamente despencou no sofá ao lado de Caden. Isso
não podia estar acontecendo. Não podia. O que o idiota estava fazendo? —
Não é mesmo, Docinho? – O sacana ainda teve coragem de me puxar contra
seu peito e beijar o canto da minha boca, na frente de Gabriel! Mas confesso
que adoraria ter visto a reação do babaca traidor.
— Isso não... – E então sou interrompida por um assalto aos meus
lábios, que repercutiu por todo meu corpo e no segundo seguinte eu estava,
com fervor, correspondendo ao beijo esmagador de Caden.
— Bem – Iniciou Gabriel com a voz surpreendentemente contida. —
...isso o tempo dirá. – Juro que com uma faca em mãos era possível cortar a
nevoa de desafio impregnada naquela atmosfera. Abri a boca para responder
que aquilo não era nada do que parecia, contudo fui emudecida pela voz
gutural do meu pai ecoando pela sala de estar, ele não necessitava de chaves
para entrar na minha casa.
— O cheiro da comida está me deixando faminto, pequena...
— Agora todos os homens resolveram me chamar de uma variedade
grande de doces, menos por Ava. – Cuspi furiosa com a situação e fui até ele
e o abracei. Era tão bom estar nos braços do meu pai, senti muita falta dele
nesses últimos meses.
— Vejo que temos visita para nos acompanhar no jantar.
— Ainda não te apresentaram seu novo genro, Collins? – Deus, como
eu queria ter o poder de disparar raios pelos olhos. Cyclope me empreste o
seu poder! Maldito Gabriel.
— Genro? Vocês voltaram, querida? – A alegria na voz do meu velho
era palpável e completamente constrangedora.
— Não, papai. Eu jamais voltaria a namorar um desgraçado....
— Não, senhor Collins, – Gabriel sorriu e Caden permaneceu sério
como sempre ficava diante de mim anos atrás. — ...trata-se do segurança,
digo, do Lutz. – Os dentes do Caden trincaram e antes que ele fizesse menção
de ficar de pé, se esquecendo da sua condição atual, eu intervi segurando seu
rosto com barba por fazer de dois dias.
— Acho que papai já sabia, Gabriel. – Pisquei para o meu pai que
sorriu ternamente entrando no jogo. Podia sentir a mandíbula de Caden
trincar sob meus dedos.
— Acho que se você não me convidar para comer logo – Declarou
papai. — Eu o farei por conta própria.
— Desde quando deixaram de alimentar o grande e poderoso senhor
Collins? – Brinquei ao mesmo tempo em que puxava a cadeira de Caden para
que ele se acomodasse e me acompanhasse até a sala de jantar. — Venham e
me deixe reverter isso. – Todos sorriram, exceto Caden, que acabava de se
erguer sobre a cadeira e ia para o lado oposto da sala. — Vamos ter o jantar
agora Caden....
— Estou sem fome, Docinho. – Falou sem muita emoção na voz. O
que ele pensava que estava fazendo?
— Só um momento, sim? – Pedi para o meu pai e empurrei, com
violência, a cadeira de rodas do Caden para dentro do meu quarto e tranquei a
porta em seguida. — O que te deu agora?
— Não sei o que quer dizer com isso. – O sorriso arrogante dele
estava de volta.
— Que droga foi aquela de que estamos juntos?
— E que porra foi aquela de que é minha noiva? – Eu engasguei
naquele momento. — Essa história fez com que uma mina gostosa que eu
estava pegando se escafedesse para longe de mim depois de ouvir essa
ladainha em alto e bom som lá na recepção do hospital. – Meu coração estava
acelerado.
— Eles não queriam me deixar te ver....
— Daí você se intitulou minha noiva. – Ele sorria ao dizer.
— Era apenas para que me deixassem passar e ver como era o seu
estado real....
— Mas daí você continuou, gostou quando eu te beijei naquela porra
de quarto de hospital.
— Cala a boca...
— E gostou mais ainda quando eu te beijei ontem e hoje! – Aquilo
era verdade e eu negaria até a morte.
— Isso não é verdade, seu imbecil. Você apenas está confundindo as
coisas....
— Mentirosa! – O sorriso na voz dele me deixava irada e quando eu
avancei com a mão em sua direção para um tapa, ele me agarrou puxando
para seu colo e me segurando forte de modo a imobilizar, então ele devorou
meus lábios, que de prontidão se abriram para receber os dele. O mundo
deixou de existir ao meu redor naquele instante, existia apenas ele e eu.
Todos os sons externos foram engolidos e tudo que eu ouvia era som dos
nossos ofegantes gemidos em estase pela delícia do momento. Com
possessão a boca dele dominava a minha em uma sôfrega e deliciosa dança
erótica de línguas, tudo que eu pensava e precisava naquela hora era dele. Era
do Caden que o meu corpo e coração ansiavam. Eram somente nós dois e o
nosso calor. — Eu sei que você sempre quis que eu te provasse assim. Essa
sua carinha safada não esconde o quanto deseja que eu te foda até te deixar
sem forças! – Ele sussurrou contra minha boca e eu gemi em rendição, mas
me calei ao admitir internamente que essa ainda não era a maneira em que eu
queria ser provada por ele. Eu queria mais, eu queria tudo.
— Precisamos voltar para a sala de jantar. – Gaguejei. — Você
precisa se alimentar para poder tomar o seu remédio. – Falei me afastando do
seu colo, mas não antes que ele abaixasse o rosto até a curva do meu pescoço
e inalasse profundamente o meu cheiro.
— Certo, Docinho. – Não esperei mais por ele e sai do quarto. Para
minha sorte não havia mais ninguém por perto. Idiota. Como você pode ser
tão idiota Caden? Deixa de ser fresca, Ava! Você bem que gosta quando
aquele safado pervertido te beija e passa as mãos pelo seu corpo. Você
sonhou com esse momento durante anos. Deixa as coisas acontecerem.
Aproveite o que a vida tem de melhor a te oferecer. Só tenho medo do meu
coração ficar pedaços dentro do peito. Sim, eu, Ava Collins, amava o idiota
chamado Caden Lutz.
— Está tudo bem com o rapaz, filha? – Sou arrancada dos
pensamentos quando a voz preocupada do meu pai me envolve.
— Oh, sim – Sorrio amarelo para o meu pai. – ...ele só precisava
tomar alguns remédios que estavam passando da hora. – Isso pareceu aliviar
um pouco a expressão preocupada dele e a minha ficou mais branda.
— Desculpe ter feito esperar, senhor Collins. – A voz do Caden veio
logo atrás de mim, me causando um sobressalto.
— Espero que fique melhor logo, rapaz. – A voz grave do meu pai
não deixava dúvida quanto ao lembrete: "e vá embora logo para longe da
minha filha".
— Cozinhando divinamente como sempre, Ava. – Ironizou Gabriel.
— Você e todos nessa mesa, sabem muito bem que sou um desastre
na cozinha, Gabriel. Então não me venha com essas gracinhas de merda, pois
você chegou junto com o pessoal do restaurante.
— Ava Collins! – Meu pai me repreendeu pelo tipo de linguagem que
usei.
— Só quis ser gentil....
— Então não diga asneiras, Tucker. – Caden falou entre um garfada e
outra de comida.
— Obrigada, Caden. – Fechei a cara e olhei fixamente nos olhos dele.
– Contudo, sei me defender sozinha. – A risada de Gabriel balançou a mesa,
mas me neguei a olhar na direção daquele idiota imbecil. Deus, tenho tanta
raiva dele, como ele pode ter a cara de pau de vir na minha casa depois do
que fez?
Acho que tormento define bem o que foi aquele, longo, jantar.
Gabriel e Caden não perdiam a oportunidade de se espetarem com palavras, o
que deixava meu pai com cara de quem estava gostando de tudo...
principalmente quando era Gabriel a alfinetar. Precisei me ausentar da mesa
duas vezes, ou acabaria voando no pescoço daqueles dois imbecis. Caden
parecia se divertir bastante com o fato de estar me usando para se distrair...,
mas eu sairia ganhando nessa história também. Ava, Ava, Ava. Talvez você
não devesse se embrenhar por esse caminho. Quem sabe você não possa
recomeçar tudo e mostrar para esses dois imbecis, e a todos as outras
pessoas que não creem em você, que dar a volta por cima é algo com o qual
você é capaz de lidar com maestria? Caden é tão bom quanto o idiota do meu
ex namorado. Gabriel e Caden fazem uma dupla de destruidores de coração
para dar orgulho a qualquer especialista no assunto. Nunca passei tanto
tempo em silencio quanto durante aquele jantar. O alivio só veio quando, por
fim, meu pai anunciou sua partida. Gabriel o acompanhou, mas não sem antes
me puxar para um abraço seguido de beijo no canto da minha boca. E o que
eu fiz? A desavisada aqui foi pega de surpresa e não reagiu diante da
situação. O sorriso se alargou nos lábios dele quando me soltou. Para não
deixar passar por menos acabei batendo a porta quase na cara dele. Deus, que
eu tenha acertado o nariz. Dê-me essa graça. Porém não sou sortuda o
suficiente para crer em tamanha benção. O mínimo que devo ter conseguido é
que os fios dos cabelos dele se revoltassem no vácuo.
— Quem sabe da próxima vez não tenha um idiota invalido para
atrapalhar vocês. – Sem mais uma palavra Caden se retirou e seguiu em sua
cadeira de rodas para o quarto de hospedes. Do que ele estava falando?
— ERA SÓ O QUE ME FALTAVA AGORA! – Esbravejei e me
enfiei no meu quarto. Queria que Caden fosse se ferrar. Que Gabriel também
fosse. Melhor, que os dois fossem juntinhos se lascarem. Com violência
arranquei minhas roupas e me meti sob as cobertas. "Quem sabe da próxima
vez não tenha um idiota invalido para atrapalhar vocês.". Será que ele
pensava que eu ainda gostava daquele desgraçado traidor?
Capítulo doze
Se aquela noite em que Caden, Gabriel e meu pai se engalfinharam
foi considerada longa, nem vou mencionar o que foi o mês que se seguiu. Do
dia para noite o Caden insuportável e sério havia retornado dos confins do
inferno para me atormentar. Beijos ardentes e pegadas fortes? Nunca mais.
Não vou negar que isso me decepcionou mais do que deveria, já que hora ou
outra isso fosse inevitavelmente ocorrer. Só não pensei que fosse antes de
mim ao menos deixar de ser a patética quase virgem obcecada pelo gostoso
tatuado que, atualmente, dorme no quarto de frente ao meu. Pior foi, na noite
anterior, ter tido o vislumbre de toda sua sexualidade completamente em
haste. Tá, foi sem querer e sai correndo ao vê-lo nu se masturbando
vigorosamente dentro do banheiro sob a água do chuveiro. Ok, talvez não
tenha sido tão sem querer assim.... Ao chegar no meu quarto o ar já havia
abandonado os meus pulmões há tempos e a minha pele ardia mais do que
um dia sem protetor solar na praia. Confesso, também, que alguns minutos
depois precisei da companhia do meu amiguinho de pilhas para poder aliviar
o tesão. Deprimente, Ava. Deprimente mesmo. Vá, continue assim que logo
mais você estará no fundo do poço com sua dignidade. Mais calma
externamente, internamente eu estava um tormento de hormônios, estava ao
lado do Caden no carro. Batucando meus dedos no volante, espero o sinal
vermelho dar passagem ao verde para seguir. Sinto os olhos dele sobre mim,
pesam como um caminhão sobre o meu já fragilizado autocontrole. Era como
se uma fera selvagem estive presa por um pequeno fio de seda dentro de
mim. Os olhos dele parecem não querer abandonar o meu rosto. Batuco um
pouco mais os dedos no couro firme do volante e finalmente vejo o sinal
passar para o verde. Meus nervos estão aos frangalhos quando paro o carro na
porta da casa dele, a mesma casa da qual fugi ao vê-lo foder aquela mulher
desbocada.
— Bem – Começo sem ter muita certeza de que minha voz estaria
estável para tal coisa. — Entregue em casa. Não esqueça que precisa ir para
fisioterapia e.... – Minha voz falhou, como o previsto, ao final.
— Você diz como se isso fosse pior que uma condenação máxima. –
Ele falou puxando as muletas do banco traseiro. — Fico muito agradecido
por ter me acolhido na sua casa em um momento como aquele.... – Parecia
um discurso estúpidamente ensaiado e isso me magoou.
— Esquece isso, Caden. – Sorri o melhor que pude. — Jamais teria
virado as costas para você... que sempre me protegeu.
— Obrigado... – Caden se aproximou de mim e segurou meu rosto. A
essa altura minha respiração estava alta e instável. Ele iria me beijar. Que ele
me beijasse. Meus olhos se fecharam em antecipação assim como meus
lábios se separaram em resposta — ...Docinho. – Como se não tivesse notado
minha reação, ele saiu do carro e se arrastou para longe com suas muletas.
Não se deu ao trabalho nem mesmo de olhar para trás. As lágrimas pinicaram
meus olhos e sem que eu desejasse elas caíram livres e furiosas pela minha
face. Se houvesse acontecido algo a mais você estaria aos pedaços, estúpida.
Como se já não estivesse.
Continuo olhando minhas mãos agarradas fortemente ao volante e,
após o que pareceu uma eternidade, dei partida no carro e saí. Estúpida
mesmo, Ava. Segue a tua vida em frente e esquece aquele babaca. Você não
precisa dele. O duelo que se ergue no meu interior me faz parar de chorar.
Lágrimas estúpidas. Não sendo bastante tudo o que aconteceu, aparece uma
merda de multa no para-brisa do meu carro assim que retorno de uma breve
parada no Starbucks. Olhando de um lado para o outro, busco pelo infeliz que
colou aquela merda de multa ali. Nada. O que você iria fazer? Gritar com o
policial? Dizer que você não estacionou em um local proibido, sendo que o
seu carro está sob a placa de restrição? Com o copo, contendo café, ainda
em mãos, entro no carro e fecho a porta com violência desmedida. Como se o
carro fosse o culpado, estúpida. A desgraça do meu dia fica ainda mais do
que completa quando vejo Gabriel no estacionamento do prédio que
moramos. O filho da mãe estava fodendo uma loirinha do apartamento
inferior. Ótimo! Até o imbecil do meu ex tem vida sexual, gritantemente,
melhor do que a minha.
Meu apartamento nunca pareceu tão silencioso. Caminho por cada
cômodo, na esperança de encontrar um pouquinho do Caden por lá. E eis que
encontro. Como aquele idiota pôde ter se esquecido da mochila com suas
roupas e remédios? Não penso duas vezes e refaço o trajeto até o
estacionamento. Gabriel ainda estava lá. Eca. Poderiam pelo menos ter ido
para o apartamento. E desde quando você sabe sobre os melhores lugares
para prática de atividades sexuais, Ava? Nada, respondo para mim mesma.
Eu não tenho nenhuma experiência com isso. Nunca pensei que pudesse
chegar à casa de Caden tão rápido, mas cheguei, correndo o risco de ganhar
mais uma bela multa de trânsito. Hesitante desci do carro já com a mochila
do desmiolado em mãos. Como ele pôde se esquecer da mochila?
— Ficou com saudades, Docinho? – Caden abriu a porta antes
mesmo que eu tocasse a campainha. — Voltou tão rápido.
— Só vim trazer sua mochila, Caden. – Atirei a mochila contra ele,
me esquecendo temporariamente da sua condição. Contudo, ele agarrou a
mochila no ar com maestria.
— Quanta agressividade, você anda precisando deixar a sua vida
sexual mais feliz! – Juro que quase chutei uma das muletas que ele estava
utilizando.
— E por acaso você estaria se oferecendo para deixá-la mais agitada?
– Colei as duas mãos na boca assim que a última palavra deixou a
abandonou. Um sorriso sacana deixou os lábios dele, que logo deu espaço
para que eu entrasse na casa. O que era aquilo?
— O que está esperando? – Meu coração parecia que iria parar a
qualquer instante, que estúpida sou. Ele está te desafiando, Ava. Ele pensa
que você sairá correndo como sempre faz diante dessa constrangedora
situação. Mas dessa vez isso não aconteceria.
— Claro. – Caden arqueou uma sobrancelha e não disfarçou o sorriso
ainda maior que se a instalou nos seus lábios. — Duvido muito que você,
Caden, possa animar minha vida sexual mais do que ela já está. – Menti sem
remorso e ele ainda sorria quando coçou o queixo com a barba de três dias.
Sim, eu sabia de quantos dias ela estava por fazer. — Ainda mais na situação
em que se encontra e sendo o principal causador da minha falta de atividade.
— Não deixe minha condição física te enganar, princesinha. Ainda
posso te dar muito mais prazer do que qualquer outro homem tenha feito. –
Puta que pariu! Sim, Caden. Você realmente pode fazer muito mais do que
qualquer outro homem tenha feito. Muito mais. Deus!
— Quanta certeza, apesar disso não creio que seja isso tudo. – Deixei
um sorriso desafiador cruzar minha boca e isso fez o dele murchar um pouco.
Só um pouco, mas não ao ponto de desaparecer completamente. Sabia que
havia atingido seu ego como se tivesse acertado um chute nas bolas dele.
— Uau, a gatinha quer arranhar. – Ele estava blefando comigo.
— Talvez eu goste mais do que arranhar. – Dei alguns passos na
direção do sofá e me joguei nele, como se fosse costume o fazer.
— Uma gatinha selvagem, gosto quando elas mordem. – Sorri
internamente, pois esse era o maior discurso feito por ele em quase um mês.
— Talvez eu goste mais do que isso...
— E tenho certeza de que você é boa no blefe...
— Não tanto quanto você. – Sorrio sarcástica quando ele, com
cuidado, se senta ao meu lado no sofá.
— E quem disse que eu estou blefando, Docinho?
— E quer que eu acredite mesmo que você pretende animar a minha
vida sexual? – Continuo sorrindo para o sorriso curvado na boca dele. Caden
era ainda mais lindo quando sorria.
— Talvez animemos ao ponto de ser incomparável. – O cretino
queria me fazer admitir o blefe. Então mostra para ele o quão enganado ele
está! Decidida a arriscar tudo, me arrastei mais para perto dele e enfiei as
minhas mãos sob a sua camiseta.
— Que tal começarmos por agora, hein? – Deslizei ainda mais minha
mão por caminhos exploratórios ali, senti quando a pele dele ficou arrepiada.
Vi ele fechar os olhos com força e abrir.
— É melhor você parar de brincar com fogo, Docinho. Eu posso te
queimar! – A voz dele estava grave e um tanto quanto rouca.
— Gosto do calor. – Que se dane. Sem pensar muito, com cuidado,
me sentei frente para ele no seu colo e rebolei sobre sua ereção
completamente hasteada. — E você, Caden? Gosta? – A pergunta feita
enquanto eu rebolava contra seu membro rijo o fez vacilar e soltar um
gemido baixo e rouco em consentimento. Isso mesmo, "Docinho". Ele sabia
jogar, eu também. Agora dois jogavam.
— Pare com isso, princesa. – Pediu sem muito som na voz. — Não
queira entrar no que você não conhece.... Se meter com quem não deve.
— Eu não me preocupo muito com isso. – Sorri próximo ao ouvido
dele e depois, me afastando, puxei fora minha blusa. — Nunca reclamei de
estar do seu lado. – As mãos dele voaram para minha cintura assim que
recomecei a rebolar sobre seu colo.
— Vou falar novamente, princesa. – Aproximei minha boca do
pescoço dele e passei a língua ali. — Porra....
— O que mesmo que você iria me dizer? – Ele apertou forte as mãos
na carne nua da minha cintura e respirou com dificuldade. – É, acho que não
estou mais tão brava por você me chamar de princesa, ou Docinho. – Passei
meus braços ao redor do seu pescoço, forçando meus seios contra o seu peito.
— Você andou bebendo...? – A pergunta desarticulada me fez soltar
uma gargalhada. Quem diria, Caden Lutz, estava tentando convencer uma
mulher a não transar com ele. Esse dia deveria ser registrado.
— Não muito ultimamente, devo confessar. – Falei passando a língua
por toda extensão do seu pescoço tatuado até o canto da sua boca. Boca, que
devo confessar, estava entreaberta e com a respiração rápida e irregular
passando por ela. — Que tal parar de tentar me fazer desistir e começar a
animar.... – E de repente um pensamento me ocorreu: e se eu não fosse
atraente o suficiente para ele? Eu devia estar fazendo papel de ridícula....
— Vejo que a razão recaiu sobre os ombros da menininha mimada do
papai... – O tapa acertou tão rápido o rosto dele que eu nem percebi o que
tinha feito.
— Desculpa.... – Tentei me puxar para longe, mas fui impedida por
braços forte me prendendo no mesmo lugar. A boca dele veio sobre a minha,
faminta e castigadora ao mesmo tempo. Naquele momento eu nem saberia
responder perguntas simples do tipo: qual era o meu nome.
— Acho que a gatinha selvagem resolveu aparecer, não é mesmo? –
Falou já puxando o fecho frontal do meu sutiã e apertando delicadamente
meus dois mamilos, que ficaram turgidos com o contato imediato. Estava
acontecendo. Gemi involuntariamente contra a boca dele que havia acabado
de tomar posse da minha. A verdade é que eu queria gritar, contudo não me
atrevi. Ele vai te achar um louca, Ava. Milhões de sensações explodiram ao
mesmo tempo dentro de mim e então me deixei consumir por elas de uma
única vez. As mãos experientes de Caden vasculharam cada recanto nu do
meu corpo me enlouquecendo um pouco mais com os seus beijos envolventes
e sensuais.
— Caden... – Era tudo que eu conseguia dizer.
— Pelo visto a monótona vida sexual da princesinha mimada começa
a ficar mais interessante, não é mesmo? – Juro que gostaria de acertar uma
bofetada na cara dele novamente, contudo preferi me perder nas sensações
diversas que dominaram de depravação meu corpo ao ouvi-lo dizer tamanha
verdade. — Gosta quando eu... – Ai, meu Deus! Ele não estava.... Sim, ele
estava me tocando lá! — ...de me sentir tocando o seu corpo desse jeito? –
Gemi desavergonhadamente em resposta, o que o fez sorrir contra minha
boca e não resisti mais. O beijei agarrando as minhas duas mãos aos seus
cabelos e os puxando forte. Ele ainda parecia ter roupas demais e isso não era
justo, eu queria ter aquele glorioso peito definido e tatuado banqueteando os
meus olhos.
— Tire a roupa Caden! – Ordenei e isso o fez sorrir e apertar meu
traseiro com força contra seu membro rijo, não preciso dizer que gemi
descontroladamente contra o pescoço dele, preciso?
— Quem começou a arrancar as roupas aqui foi você, Docinho. –
Como esse homem podia ter a voz tão sexy assim? — Vou deixar por sua
conta, mimadinha. – Sei que ele estava me provocando. Ele tinha certeza de
que eu daria para trás agora. Que eu não seguiria em frente com aquilo, mas
já era tempo demais apenas desejando a distância. Sempre quis esse homem,
merda. E não seria agora que eu o tinha nas minhas mãos, com as mãos em
mim, que eu o deixaria escapar. Com um movimento fluido o livrei da
camiseta e apreciei a vista. A vontade era percorrer a língua por cada lugar e
puxar seus piercings dos mamilos com os dentes.
— Elas são lindas...
— Você que é linda, Docinho! – A voz dele estava diferente, me
fazendo levantar os olhos para olha-lo. Caden me observava com extremo
cuidado e parecia buscar qualquer sinal de que eu estivesse mentindo, mas
não estava. Ele era lindo com todas aquelas tatuagens e algumas cicatrizes.
Onde ele as teria arrumado? As cicatrizes.... A linha de pensamento é
arrancada da minha cabeça assim que ele toma posse de um mamilo meu com
a boca. Tenho certeza de que gritei naquele instante. Sim, eu gritei me
agarrando ao seu cabelo. O atraindo ainda mais para mim. — Preciso saber se
você está certa sobre isso, Docinho.... – A voz rouca dele me deixou ofegante
e louca para que ele voltasse a fazer o que estava fazendo antes. — Vai ser
muito difícil parar depois.... Se é que você me entende. – Não, eu não
entendia. Só queria que ele não se afastasse.
— Eu te quero, Caden! – A voz que deixou meus lábios não parecia a
minha e as palavras que se seguiram eram de uma desconhecida. – Te quero
há tempo demais. – Minha boca foi silenciada por outra que parecia gritar de
tanta fome. Um louco, desvairado a devorar e castigar os meus lábios. Eu
estava desesperada por cada segundo daquela loucura. Senti quando suas
mãos, meio vacilantes, viajaram até o botão do meu jeans e o desfez com
maestria e competência.
— Então não esperemos por mais tempo, minha loirinha. – Com meu
peito acelerado o vi olhar nos meus olhos com extremo cuidado e algo que
não consegui identificar antes que ele assaltasse os meus lábios novamente. O
nosso beijo estava tão intenso e profundo que silenciou o mundo ao nosso
redor. Silêncio, ao ponto de não termos ouvido a porta da sala ser aberta....
— Ah, cara. Já disse para você não comer suas vadias na sala! Eu
gosto de dormir nesse sofá, sabia? – A expressão para descrever o que senti é
"todo o sangue do meu corpo gelou", perfeito. — Você nem chegou em casa
e já....
— SAIA DAQUI CALEB! – A voz furiosa do Caden me assustou
por um instante e me fez afastar momentaneamente, contudo ele me atraiu de
volta contra seu peito e escondeu meu rosto ali enquanto que, com a manta do
sofá, cobria a minha nudez parcial. Acho que nunca me senti tão humilhada
na vida. Caleb havia me chamado de vadia. Talvez eu tivesse agindo como
uma
— Olha como fala comigo, ainda sou teu irmão mais velho....
— Bela bosta, Caleb. – Caden segurou meu rosto com as duas mãos e
me encarou. – Vai para o meu quarto, Docinho. – Completou soltando meu
rosto e fazendo um capuz na minha cabeça com a manta. — Me espere lá, por
favor. – Completou com a voz baixa e gentil. Estava tão envergonhada com
toda aquela situação que, pela primeira vez, fiz o que Caden me pediu sem
reclamar.
— Porra! Ótimo, pela maneira como você a tratou, essa deve ser a
garota riquinha e mimada que você escoltava por aí. Caso contrário teria me
convidado para participar da festinha, para relembrar os velhos tempos. –
Ouvi depois que já tinha fechado a porta do quarto. – O sexo com uma
riquinha é melhor? – Não consegui ouvir a resposta do Caden, apenas o som
de algo se partindo e estilhaçando na sala. — Own, então quer dizer que é
gostoso pra cacete. Só mais uma coisa. – Silêncio. — Você vai me pagar por
esse corte na boca!
— Já estou pagando, Caleb. Olha pra mim, porra! – Caden falava
com uma voz desprovida de emoções, da qual eu nunca havia ouvido. — O
racha que tive que participar para pagar sua conta com aqueles porras não foi
o suficiente? Eles terem vindo atrás de mim depois de eu ter ganhado a merda
toda e me jogado fora da estrada não conta?
— Eu não te pedi para fazer nada por mim, cacete! – Caleb sibilou
com a voz cheia de raiva, sem nenhum arrependimento. O meu corpo inteiro
foi dominado por tremores, da cabeça aos pés eu tremia.
— Eles iam matar a mim e a qualquer outra pessoa que eu gostasse se
você não pagasse, porra. O que você acha que eu faria? Se a opção de te
matar para quitar a dívida estivesse lá seria mais fácil e a minha perna não
estaria quebrada, contudo, eles ameaçaram tirar a minha vida e a de quem,
além de você, fosse minimamente próximo de mim....
— Eles ameaçaram sua mimadinha rica, não foi? – A risada de Caleb
eriçou meu couro cabeludo. Caleb era ruim e acho que nem mesmo Caden
havia se dado conta do tamanho da maldade que o irmão carregava dentro de
si. Olhei ao redor em busca de algo para vestir e, com lágrimas nos olhos,
encontrei uma camiseta de Caden e a vesti em seguida.
— Fica longe ela! – Foi a última coisa que ouvi antes da porta do
quarto ser aberta e fechada com cuidado. Pensei que quando me virasse iria
encontrar um Caden com fúria no olhar, mas tudo que encontrei ali foi
tristeza, mágoa e alívio.
— Eu sinto muito se causei essa briga....
— Não peça desculpa por algo do qual você não teve culpa, Docinho.
– A voz dele estava cansada, enquanto ele fazia algumas caretas de dor ao se
mover com o auxílio das muletas.
— Você não deveria estar se esforçando tanto....
— Posso ficar com você, por essa noite? – A pergunta me pegou
desprevenida e demorei um segundo para responder.
— Claro...
— É só até amanhã. – Completou largando uma muleta apoiada numa
cômoda e coçando a nuca com vigor. — Vou encontrar um apartamento logo
pela manhã....
— Não tem problema, Caden. – Com um sorriso fraco ele alcançou a
muleta que descansava na cômoda e caminhou até mim.
— Obrigado, Docinho. – Completou tocando de leve meus lábios
com os dele. — E me desculpe pelo que o babaca do meu irmão falou... –
Caden parecia lutar pra encontrar as palavras e isso me fez derramar um
pouquinho mais de lágrimas – ...nenhuma mulher, que levei pra cama, chega
aos seus pés. Nem mesmo sei se sou digno de te tocar, Docinho. Parece
errado que alguém como eu te toque. – As palavras eram estranhas e ele fez
uma careta para o que havia acabado de falar. — Quero dizer, você é
diferente... é especial, Docinho. Não quero te magoar com a vida puta que eu
tenho. – Meu coração deu um salto enorme. E como uma idiota que eu sou,
fiquei muda e não falei nada em resposta. Ele sorriu meio sem jeito e me
beijou com carinho. Ele estava diferente. Esse não era mais o Caden que me
ignorava por aí, esse era o Caden pelo qual eu poderia me apaixonar um
pouquinho mais. Esse era o Caden que eu sempre imaginei existir por
debaixo daquela dureza e safadeza. Esse é o homem que sei que amo.
Capítulo treze
O vento levemente morno de São Francisco varria os cabelos do
Caden. Com o carro parado em um sinal vermelho pude observa-lo melhor,
porém não gostei muito do que encontrei ali. Sua mandíbula forte estava
trincada e haviam vincos em sua testa, sua boca que sempre estivera com
aparência debochada estava pressionada em uma linha fina e dura. Caden
estava mergulhado em seus próprios pensamentos e enfrentando seus
demônios interiores. O som de uma buzina irritante me tira do torpor de olhar
para o belo homem tatuado ao meu lado. Caden me olhou, pude notar mesmo
não estando voltada na direção dele. Nenhuma palavra deixou sua boca, que
em seguida se colocou a olhar nada em especial do lado de fora, apenas a
paisagem normal e comum de cada dia naquela cidade. De repente eu não
sentia mais vontade de voltar para casa. A vergonha pelo que aconteceu bateu
com mais força e a realidade me atingiu como um tapa no rosto. Eu havia
agido como uma... uma viciada no Caden. E que deu brechas e motivos mais
do que suficientes para que o irmão, maluco, dele me tratasse como uma das
vadias que o Caden levava para casa. Primeiro: eu estava quase nua sobre o
membro excitado do irmão de Caleb. Segundo: gemíamos como dois atores
em um filme pornô. Terceiro: sim, eu, Ava Collins, assisti a filmes pornô em
algum momento da vida. Quarto e último: eu queria, com todo meu ser, fazer
amor com Caden e sei que ele também estava mais do que disposto a se
divertir um pouquinho. Desvio o olhar momentaneamente da rua e lanço na
direção da minha fonte de amor platônico: Caden. Volto os olhos
rapidamente para pista quando meus olhos encontram os dele a me observar
severamente, mas não de um modo ruim. Ele me observava como se quisesse
desvendar o que eu estava pensando. Agradeça aos céus por telepatia ser algo
impossível entre vocês.
Acho que fiz o caminho mais longo existente para o meu
apartamento. Talvez eu quisesse pensar um pouco mais, ou simplesmente
deixar que o Caden o fizesse. Não importa qual seja o motivo que realmente
me motivou a toma-lo, o que agradeço é que aparentemente tenha
funcionado. Eu estava com um mundo a menos sobre os ombros e Caden
parecia bem menos ranzinza, contudo não menos introspectivo. Tenho
certeza de que não falar muito é uma das características dele, mas isso já era
incomodo. Gostaria de ouvir ele me provocar, dizer que eu sou uma mimada
sem miolos e que vive fazendo loucuras por aí....
— Posso te ajudar com isso. – Digo me referindo a mochila que ele
tentava, sem sucesso, colocar sobre o ombro.
— Obrigado. – Me surpreendi quando ele aceitou ajuda e me
entregou a mochila com seus já conhecidos pertences. Não era muita coisa,
mas, segundo ele, tudo que necessitava para uma breve estadia. O caminho
até o elevador foi feito da mesma maneira que o da casa dele até aqui, em
silêncio. Ver a linha dura comprimindo seus lábios em uma linha era
desconfortável e a necessidade de lhe tirar aquela ruga persistente entre suas
sobrancelhas quase me fez inclinar em sua direção. Todavia não me atrevi. A
vergonha ainda queimava minha pele como brasa.
Ora se não é minha adorável e linda vizinha. – Deus só podia estar
me castigando pelo que ando fazendo. Ter Gabriel me recepcionando a cada
entrada e saída do prédio era demais. Só podia ser castigo.
— Não venha me encher as paciências hoje, Gabriel. – O sorrisinho
debochado na cara dele me fez querer arranca-lo no tapa. IRRITANTE era o
que melhor definia aquele idiota. — Vamos Caden. – Com as mãos tremendo
de raiva consegui abrir a porta do apartamento, mas quando me virei dei de
cara com Gabriel que inesperadamente me deu um selinho. Não sei bem o
que dizer ou pensar em um momento como aquele, apenas que queria aquele
canalha longe de mim. Entretanto não precisei abrir a boca ou agir para ter
meu desejo realizado, pois Caden já havia acertado um soco no rosto de
Gabriel. Que se encontrava caído agora. Com agilidade me abaixei e peguei
as muletas que Caden havia soltado, ele estava se equilibrando em uma perna
só. Sua expressão era impassível.
— Obrigado, Docinho. – Caminhando, sem ao menos olhar para trás,
ele entrou no apartamento. Eu o segui e tranquei a porta. Não queria a
inconveniência de Gabriel por ali. Que merda havia sido aquela? Que já
bastasse o que ocorrera na casa dos irmãos Lutz.
Acendi as luzes da sala e não encontrei Caden em lugar algum.
Porém ao me adiantar para dentro do ambiente pude ouvir o som da geladeira
ser fechada. Segui na direção da cozinha e o encontrei colocando uma das
minhas bolsas de gelo sobre os nós dos dedos. Me aproximei e assumi a
tarefa de colocar a bolsa de gelo sobre seus dedos machucados. Não olhei
para seu rosto, mas podia sentir seu olhar sobre o meu. Era enervante a
sensação de ter Caden me observar com tanta atenção. Ele gemeu baixinho,
quase inaudível, quando usei um pouco mais de pressão sobre o local ferido.
— Me desculpe. – Sorri meio sem graça e, ao olhar para cima, sua
boca encontrou a minha, me surpreendendo. O beijo foi casto e mexeu com
cada pedacinho do meu ser. Tão rápido e surpreendente o beijo se iniciou ele
parou. Caden acariciou minha boca com o polegar, com a expressão muito
séria, ele afastou a sua mão do meu rosto.
— Se aquele bastardo tocar em você novamente – Meu corpo vibrou
diante daquelas palavras. – ...irei providenciar um funeral para ele.
— Gabriel é um imbecil, Caden...
— Ele foi seu namorado! – Sua voz era ainda mais grave e profunda
que antes. — Você ainda gosta dele. – Aquilo não foi uma pergunta.
— Eu odeio ele. Não sinto nada por ele além do desprezo. – Me
apressei em dizer. Um pequeno sorriso atravessou seu rosto, desaparecendo
em seguida.
— Aprecio sua sinceridade, Docinho. – Não, ele não apreciava nada.
Ele não acreditava no que eu tinha acabado de confessar e isso levou lágrimas
aos meus olhos. Com esforço as mantive longe de cair.
— Continue pressionando o gelo mais um pouco. – Entreguei a
pequena bolsa de gelo na mão dele e tentei sorrir. — Caso contrário vai
inchar e doer... – Enxuguei a água das minhas mãos na calça e fiz um sinal
com a mão de que estaria na sala. Acho que a decepção era evidente no meu
olhar, mas ele não disse nada e ficou indiferente a minha dor.
Poderiam ter se passado horas ou mesmo dias desde o momento em
que deixei Caden na cozinha. Se ele queria bancar o babaca que fosse
sozinho. Chuto com força um travesseiro e cubro meus olhos na tentativa vã
de aplacar minha raiva. Alguns segundos depois, sinto o colchão se mover
sob meu peso. Ignoro a aproximação o máximo que consigo e não olho para o
intrometido que se sentou ao meu lado.
— Vai me ignorar, Docinho?
— Odeio que me chamem assim, Caden....
— Eu sei, mas só eu a chamo assim. – Foi o que ele falou.
— Se você precisa descansar, pode usar seu quarto. – Me dou conta
apenas depois do que acabo de falar. — Você sabe, o quarto que vem usando.
— Não estou a fim de descansar, Ava. – Minha pele se arrepiou toda
diante do meu nome saindo da boca dele. Era excitante, era sexy... —
Precisamos conversar. – E lá se foi o arrepio delicioso que percorreu meu
corpo.
— Não vejo motivo para precisarmos conversar por hoje, Caden.
Estou cansada, você está cansado. Estamos os dois esgotados e precisando
dormir.
— Íamos fazer algo muito animado na minha casa hoje mais cedo. –
Com uma leve carícia no pescoço ele me fez abrir os olhos. — Estava ficando
muito interessante, até o babaca do meu irmão chegar... – De repente minha
respiração se tornou acelerada e podia sentir meu rosto ficar corado, isso ele
podia ver claramente e parecia se agradar a cada segundo que passava. —
Lembro que você não estava usando essa blusa e parecia prestes a arrancar
essa coisa. – Disse puxando o cós da minha calça jeans. — E que estava
montada, deliciosamente, sobre o meu pau. Porra, meu pau até doía de tanto
tesão! – Minha boca se escancarou diante da sua afirmação, ele sorriu
divertido com minha reação. — O que foi? Ficou chocada de ouvir isso? – Se
aproximando um pouco mais, ele, cochichou no meu ouvido. – Por acaso é
puritana e nunca ouviu sacanagem durante o sexo? – Mais era nunca, nem em
um bilhão de anos, que eu confessaria a minha virgindade parcial para ele.
— Não sou puritana. – Ele sorriu descaradamente e isso fez com que
eu me esquecesse da raiva que sentia anteriormente.
— Bem que suspeitei disso quando você me desafiou a tornar sua
pouco agitada vida sexual em mais animada e inesquecível...
— Não me lembro de ter dito inesquecível. – Sorri junto com ele.
— Mas essa foi minha contraproposta. – Com o lábio preso entre os
dentes ele sorriu um pouco mais. Caden era lindo. De posse dos meus lábios,
ele não me deixou muita margem para protestos. Uma vez que as nossas
bocas se uniram, tudo que importava era o desfecho do ato. Suas mãos fortes
me puxavam ao seu encontro, mesmo que não restasse mais espaço para tal.
Tudo que precisávamos era diminuir a distância, inexistente, entre nós. Assim
que já não podíamos nos aproximar mais um som rouco de reclamação ecoou
do peito dele. Queríamos mais. Necessitávamos de mais.
— Caden. – Juro que a voz que deixou meus lábios não era minha.
Estava rouca demais, desesperada demais e, acima de tudo, lasciva em
proporções gigantescas. Ele não respondeu, apenas entrou em um frenesi
alucinado para me livrar das minhas roupas. A sua exploração se teve início
assim que fiquei apenas em roupas intimas.
— Já te falei o quão linda você é, Ava? – Gemi escandalosamente em
resposta e agarrei seus lindos braços tatuados com as duas mãos. Eu queria
ele ainda mais próximo, necessitava que o contato entre as nossas peles fosse
ainda mais intenso e espetacular do que no segundo anterior. — Quero ouvir
você clamar meu nome, Docinho. – Uma pequena fagulha de desejo rasgou
meu corpo em antecipação. Não me importava mais em ser chamada de
princesa ou docinho, desde que esse alguém a dizer fosse Caden. Com
movimentos hesitantes, dei início a uma tímida exploração pelo seu corpo.
Seus braços fortes, e lindamente recoberto de tinta, me deixava ainda mais
curiosa por saber qual era a extensão de toda aquela obra de arte. Roupas
demais, ele estava usando roupas demais e isso me deixava em desvantagem!
Sem um momento de hesitação, arranquei a camiseta que Caden usava. Sua
camiseta nem havia tocado o chão quando iniciei uma luta contra os botões
da sua calça jeans, que em nada cooperavam. Quase me levantei em busca de
uma tesoura para ajudar no processo, mas tive medo que acabasse cortando a
parte vital da alegria sexual do Caden.
— Não precisa de pressa, docinho. Ainda temos a noite inteira pela
frente. – A merda que eu iria demorar uma noite inteira para ter Caden dentro
de mim. Se os planos dele eram aqueles.... E fui desligada daquela e de
qualquer linha de pensamento, quando ele deslizou sua língua da linha do
meu umbigo até a renda na lateral da minha calcinha. Tudo que havia
passado pela minha cabeça momentos antes, tinha desaparecido ou sido
reduzidos a nada. Com um movimento fluido e lento, Caden, se livrou da sua
calça e para o meu deleite ele não usava nada por baixo. Agora era apenas a
sua gloriosa nudez diante dos meus olhos e O BENDITO PIERCING! Sim,
Caden, tinha um piercing peniano.
— Gosta do que vê, princesa? – Brincou depois de me pegar
encarando.
— Do que adianta o brinquedo e o adorno ser bonito se ainda não sei
se ele funciona direito? – Sorri em desafio só para receber outro sorriso
sacana vindo da boca dele.
— Boa escolha de palavras.... – Me olhando nos olhos ele deslizou
um dedo na borda da pequena peça de renda, resvalando a umidade que já se
acumulava no meu interior. — Molhadinha.... – E ofeguei alto ao sentir o
calor do seu dedo em contato tão íntimo com meu sexo, que já pulsava em
antecedência. — Já posso sentir seu gosto através do seu delicioso cheiro,
docinho. – Com a voz rouca de desejo, Caden, precipita seu dedo mais a
fundo no meu desejo, tornando ainda mais difícil me manter com coerência.
Queria gritar, me agarrar ao corpo dele e trazer para dentro de mim. Desejava
que ele saciasse meu tormento, que me mostrasse o que era sentir o sublime.
Puxo seus cabelos e isso parece deixar ainda mais evidente seu desejo, pois
sua ereção pulsa forte entre as minhas coxas. Em meio aos meus gemidos de
contentamento, Caden, desliza o fino tecido de renda pelas minhas pernas.
Me livrando da calcinha. Nunca me senti tão exposta em toda minha vida e
antes que pudesse me dar conta de mais alguma coisa, ele me beijou. Beijou
meu sexo como se beijasse minha boca, nesse momento não consigo me
conter e acabo gemendo alto e tinha certeza de que havia sido ouvida no
apartamento vizinho. O contato é tão íntimo e delicioso que tenho vontade de
cravar minhas unhas na carne dos ombros de Caden, e foi o que fiz. Cravei
fundo e forte as minhas unhas. O beijo lento fazia minhas pernas se
movessem involuntariamente para agarrar algo e, como se para me torturar,
ele me segurou firme contra o colchão. Eu não conseguia me conter por
muito mais tempo, picos distantes e indistintos de luz começaram a se formar
na minha visão periférica, uma descarga de adrenalina ameaçou comprimir
meu peito. Pressentia que a qualquer segundo seria atirada contra o
desconhecido e não haveria retorno. Estaria completamente perdida. Com
investidas lentas e sensuais contra o meu sexo, Caden, me levou a borda do
prazer. Com mais algumas lentas e deliciosas pressão, seguida de chupadas
forte contra o meu clitóris, fui atirada da borda e cai em queda livre. Fui
apresentada a um delicioso clímax que fez todo meu corpo estremecer em
resposta. As fagulhas multicoloridas explodiram diante dos meus olhos e a
minha audição pareceu falhar momentaneamente. Caden havia me levado ao
mais alto e privado das sensações do meu corpo. O prazer me tomou de tal
modo que só percebi que Caden havia me penetrado quando um dor
desconfortável me rasgou o baixo ventre. Meu gemido baixo de desconforto
o colocou em alerta total, fazendo com que ele não se movesse mais nem um
centímetro.
— Você era virgem. – A surpresa na sua afirmação fez com que cada
parte de pele do meu corpo ficasse corado. A mortificação na sua voz me fez
empinar o queixo em resposta.
— Claro que não. – Consegui dizer enquanto ele me olhava
estranhamente nos olhos. — Apenas usada duas vezes nos últimos anos.
Brinquei. — Algum problema com isso? – O que era aquele brilho estranho
ali?
— Não. – Sem mais uma única palavra ele me beijou e deu início a
longas, lentas e deliciosas investidas. Com o desconforto ausente pude me
deleitar nas novas sensações impostas pela nova experiência. Ainda com a
boca colada a minha e uma das suas mãos acariciando meu mamilo
incansavelmente, ele estipulou um novo ritmo de movimento dos seus
quadris. Queria gritar uma outra vez, ele já gemia alto e dizia coisas
desconexas. Ou talvez fosse eu, em meio ao ápice do prazer, que não
distinguia muito do que era dito ali. Um momento deliciosamente longo se
passou e, pela segunda vez, fui de encontro ao prazer do clímax. Um pouco
mais profundo e Caden atingiu o ápice com um estrondoso gemido misturado
ao meu nome. Juro que não me cansaria de ouvir o seu desapego ao chamar
por mim enquanto gozava. Não reclamaria de ouvi-lo uma segunda vez.
Capítulo quatorze
Acordo me sentindo devidamente saciada e aquecida. Abro um olho e
encontro-me com o rosto afundado no peito de Caden. Ele havia passado a
noite comigo! Ele havia ficado comigo! Inalo o seu aroma masculino e me
delicio com as sensações. Sempre imaginei ir para cama com esse homem,
mas nunca, nem em meus sonhos, imaginei que fosse sentir tudo que senti.
Só gostaria que ele sentisse o mesmo. Pelo menos ele não te abandonou
sozinha depois da transa, Ava. Pelo menos isso.... Olho mais uma vez o seu
peito tatuado, traço seus desenhos sem tocar-lhe a pele e depois desvio a
atenção para cima, seu rosto. Resfolego alto ao ser pega no flagra. Caden me
observava atentamente, quase com fúria no olhar. Será que estaria
arrependido? Com um palpitar quase doloroso no peito, desvio o olhar.
— Sente-se bem? – Novamente pega de surpresa. Jamais esperava
esse tipo de preocupação vinda de Caden. – Digo, não se sente
desconfortável...?
— Não.... – Consegui dizer sem encarar seu olhar.
— Olhe para mim, Ava. – Suas palavras atravessaram o meu corpo
como se fossem um comando e eu o estivesse atendendo. Me virei e olhei
diretamente em seus olhos. — Eu te machuquei? Fui rápido demais? Você...
...sentiu prazer?
— Foi incrível. – Corei ao dizer rapidamente as palavras. — E você
não me machucou, Caden. Esse negocinho aí – Apontei para sua ereção
matinal sob o lençol. — ...é interessante de sentir. – Ele fechou os olhos
assim que disse seu nome. Parecia querer apreciar as palavras, em um
momento íntimo e secreto. Depois ele sorriu de maneira safada.
— Fico feliz por saber. – Falou e simplesmente me puxou contra o
seu peito tonificado. — Pra mim também foi maravilhoso. – Como se
estivesse galopando, seu coração disparou no meu peito. Esse ser alienígena
que se abraçava ao meu corpo, não podia ser o mesmo Caden que eu
conhecia. Esse homem era diferente, ele era doce, carinhoso e gentil. Eu o
amei um pouco mais do que já amava.
Algum tempo mais tarde, acordo com o som baixo de uma conversa
acalorada do lado de fora do quarto. Me espreguiço e sinto como se fosse um
gato a relaxar os seus gastos músculos. A conversa continua e o tom das
vozes aumenta cada vez mais. Ao notar a súbita mudança na conversa que ia
se tornando discussão, busco por algo para me vestir e corro para fora do
quarto. Não demorou muito para eu me dar conta de que as vozes a discutir
eram respectivamente de Gabriel e Caden. Santo Deus!
— Você pode me explicar que porra de gritos eram aqueles há
algumas horas? – Gabriel estava com a expressão torcida em desgosto.
— Gritos? Não me lembro de ter ouvido nenhum grito, apenas os
gemidos deliciosos de prazer. Parece que seja quem for que tenha
compartilhado a cama com ela – Caden soltou um risinho sarcástico. — ...não
sabia porra nenhuma. O desgraçado aparentemente só pensava no próprio
pau! – Acho que minha boca despencou e caiu no chão naquele instante.
Gabriel havia ouvido tudo. Bela grande boca escandalosa, Ava. Agora todo
prédio sabe da sua vida sexual. Da sua escandalosa vida sexual.
— O que está fazendo na minha casa, imbecil? – Gabriel olhou de
cara feia para o Caden, como se fizesse essa mesma pergunta. — Falo de
você, Gabriel. Já disse que não quero você aqui.
— Belo modo de receber suas visitas, Ava. – Gabriel falou apontando
para a longa camiseta rosa que eu vestia. Minhas bochechas ficaram coradas
de vergonha.
— A casa é minha e me visto como quiser. Agora saia, por favor.
— Vai precisar que eu te parta a cara para entender? – A voz cortante
do Caden irrompeu o silêncio.
— Pare com isso, Caden. – Falo entrando na frente dos dois.
— Calma, porque a segurança pessoal não foi solicitada. Mesmo que
a escoltada tenha dado para você. – O tapa acertou o rosto de Gabriel em um
milésimo de segundo. — Você já fodia com essa aberração quando namorava
comigo, Ava? – Quem me dera! Queria dizer, mas me limitei a tremer de
raiva.
— Saia, Gabriel. – Digo com a voz embargada e indico a porta nas
costas dele. — Faça como eu já te pedi anos antes, desapareça da minha vista.
– Empurro o peito dele, que a contragosto dá dois passos para trás e sai do
meu apartamento. Arremesso a porta contra o batente com tanta força que
uma pequena moldura despenca da parede ao lado. — Sinto muito por isso,
Caden. – Me sinto patética. Com a voz chorosa, o lábio tremendo, com
vergonha e... já falei patética?
— Venha aqui, docinho, e me deixe ver sua mão. – Caden fala já me
puxando pelo braço e examinando a palma da minha mão. — Está vermelha,
muito vermelha. – Sem menos imaginar, ele beija minha palma avermelhada
e em seguida me abraça apertado. — Vamos tomar um banho e preparar algo
para comer. – Sem mais uma única palavra relacionada ao que acabara de
ocorrer entre Gabriel, ele sorri e me ínsita a segui-lo.
— Não sei se consigo... – ...dividir o banho com você. Era o que eu
queria dizer.
— Fizemos amor a poucas horas atrás, Ava. – E lá estava aquele
comichão que percorria minha pele ao ouvir meu nome deixar a boca dele.
— “Fizemos amor"? – Indaguei surpresa com sua descrição do que
aconteceu entre nós. Eu imaginaria tudo que Caden usaria para descrever o
que se passou, mas jamais pensei que ele dissesse que seria amor.
— Claro, docinho. Afinal de contas – Ele sorriu aquele sorriso sacana
e brilhante dele. – ...somos noivos, não é mesmo?
— Sobre isso, eu já te expliquei que...
— Que foi uma desculpa inventada para conseguir acesso a mim. Eu
sei. – Caden desfez o laço que unia meu robe, ele caiu no chão e formou um
amontoado de cetim aos meus pés. — Mas ainda assim, foi amor o que
compartilhei com você.
Na manhã seguinte encontro apenas o vazio do meu lado na cama. Caden já
não estava mais ali e mesmo que eu já esperasse por aquilo, aquela dor
desconfortável no meu peito ainda apareceu. E limpando uma única e teimosa
lágrima que cismou em rolar perdida pelo meu rosto, me levanto e vou até a
cozinha em busca de algo para comer. Eu não estava preparada para o que
encontraria ali e um sorriso bobo surgiu na minha boca. Diante dos meus
olhos havia um pequeno café da manhã sobre a mesa, do lado de um copo
com duas flores, das quais eu sabia pertencerem a pequena plantação da
janela do apartamento ao lado, se encontrava um bilhete escrito a mão.
"Espero que goste de torradas com geleia de morangos".
Não sei por quantas vezes li o recado, mas confesso que aquele sorriso bobo
ainda estava estampado no meu rosto, mesmo depois que saí para o almoço
no trabalho. Jamais imaginei que Caden pudesse ser romântico. Talvez ele
esteja apenas sendo gentil, sua idiota! Balancei a cabeça afastando aquele
pensamento autodestrutivo. Não. Caden fora romântico em cada momento
entre o antes e o depois do que houve entre nós. Tá, ele não havia ligado nem
se manifestado durante o longo do dia, mas eu sabia que hoje ele iria em
busca de um lugar para morar e isso demandava tempo. Merda, ele havia me
preparado um café da manhã.
— Está tudo bem, docinho? – Quase tenho um treco ao ouvir a voz
de Caden no estacionamento. Me viro com rapidez e quase caio de cara no
chão ao pisar em falso.
— Droga. – Digo sorrindo e recolhendo minha bolsa do chão. — Não
tinha te visto aí. – Passo uma mecha do meu cabelo que teimava em ficar
sobre os meus olhos.
— Se machucou? – perguntou caminhando na minha direção.
Caminhando...
— Você retirou o gesso.
— Acho que minha enfermeira fez um bom trabalho. O médico disse
que a cicatrização foi perfeita. – Me aproximo dele ainda meio sem jeito e ele
me puxa para um abraço. — Já agradeci por isso?
— Acho que umas duas vezes. – Sorrio, me aconchegando no seu
peito.
— Meu Deus, que falta de consideração da minha parte. – E ainda
com um sorriso lindo na boca, ele me beija. Um beijo longo e profundo. Esse
Caden era um desconhecido para mim, mas eu poderia me acostumar muito
bem.
— Obrigada pelo café da manhã e pelas flores. – Falo meio sem jeito.
— Ah – Caden coça a nuca e sorri em seguida. — Achei que aquelas
duas tulipas combinavam com você... e elas estavam dando bobeira na janela
ao lado.
— Elas eram lindas, Caden.
Capítulo quinze
Descrever a semana que seguiu seria o mesmo que pedir para uma
criança dizer o que ela mais gostou em uma viagem para Disneylândia. Só
posso dizer que essa fase ao lado de Caden foram os melhores momentos da
minha vida atualmente. Quem diria que o cara cheio de tatuagens, marrento,
encrenqueiro, safado e ranzinza pudesse ser um homem carinhoso, atencioso
e divertido? Sim ela era a pessoa mais engraçada que eu já tive o "prazer" de
conhecer. Muitos diriam que estou mentindo se dissesse que o Caden assistia
a filmes melosos comigo. Não que prestasse muita atenção ao filme, ele
ficava sempre me observando... aguardando o momento que eu fosse chorar e
então ele sorria e dizia que aquele momento não tinha preço. Depois ele me
beijava e acabávamos esquecendo o filme e dando início a algo muito mais
interessante.
Certa madrugada, após a nossa sessão de filme/amassos, Caden, saiu. Sempre
passávamos as noites juntos, ora no meu apartamento, ora no dele. Mas
naquela noite ele saiu às pressas sem me dizer o que havia acontecido, nem
mesmo um recado ele se dignou a enviar. Olho o relógio na mesinha de canto
e respiro fundo ao notar que não passam das três da manhã. Seja o que fosse
era importante. Pauso o dedo sobre o nome de Caden na agenda do meu
celular cinco vezes, antes de criar coragem e colocar para chamar. Ele
atendeu ao primeiro toque.
— Ei, tudo bem? – Ouço a voz de Caleb ao fundo parecendo meio
bêbado e sorrindo.
— Claro que está docinho. – Sua voz parece meio tensa e me sinto
uma intrometida.
— Desculpa intrometer na sua vida assim, mas acordei e não te
encontrei, fiquei preocupada com você...
— Está tudo bem e estou voltando para o seu apartamento. – Caleb
gargalhou alto ao fundo e pareceu quebrar algo. — Até daqui a pouco. –
Antes que eu diga qualquer coisa a linha ficou muda. Problemas com Caleb.
Caden nunca conversava sobre o irmão, que por experiência própria, me
parecia problemático. Talvez não devesse ter ligado para o Caden. Se o irmão
precisava dele eu não poderia ter me metido. As coisas não pareciam ir bem
entre aqueles dois.
Fui acordada por uma deliciosa sensação, que inicialmente me
assustou. Caden deslizando beijos molhados por minha barriga e seguindo em
direção ao meu sexo. Não pensei muito sobre qualquer outra coisa que não
fosse em como a boca dele era quente e hábil. Não levou muito tempo e já
consegui ir de encontro orgasmo.
— Pensei que nunca acordaria. – Disse enquanto deixava outra trilha
de beijos quentes pela minha barriga.
— Talvez você não estivesse se empenhando o suficiente na tarefa. –
Sorrio assim que sua boca encontra meu pescoço e me agarro em seus
ombros quando ele me preenche.
— Vejo que precisarei rever minhas táticas então. – E nesse momento
já não sou mais dona das minhas ações. Tudo que desejo é que aquela noite
jamais tenha fim. Que Caden permaneça ao meu lado até que caiamos
exaustos de prazer. E foi o que aconteceu. Passamos o que restou daquela
noite nos amando. Juro que aquela foi a noite que Caden se mostrou mais
carinhoso e gentil que qualquer outra vez. E a sensação de ter ele junto a mim
era indescritível. Eu estava apaixonada. Era simples. Meu coração dispara
quando me dou conta da intensidade real daquela certeza. Eu amava o Caden.
Amava de verdade. Meu coração ainda parece bater nos meus ouvidos
quando ouço a voz de Caden do lado de fora do quarto.
— Mas que porra, Caleb! – Ouço Caden gritar ao celular. Ele estava
muito nervoso e aparentemente andando de um lado para o outro no corredor.
— Já falei que não vou mais me meter em nenhum caralho de confusão que
arrumar. Não irei participar de nenhum racha para ganhar grana para pagar as
tuas apostas perdidas no jogo! — Eu não acreditava nos meus ouvidos. Me
negava acreditar. — A última vez que me meti nessa merda para pagar uma
dívida sua, eles me jogaram fora da estrada e quebrei A PORRA DA MINHA
PERNA. Será que pelo menos uma vez na sua vida, você poderia agir como
meu irmão mais velho e meter a porra de um juízo nessa sua cabeça...?
Caleb? Caleb? QUE PORRA, CALEB! – Me senti uma intrusa tendo que
ouvir a conversa entre ele e o irmão. Mas não pude evitar.
— Problemas? – Perguntei ao observa-lo da soleira da porta. Caden
encarava o movimento da cidade através da janela e não me respondeu por
um tempo. — Sei que não é da minha conta...
— Não, não é mesmo da sua conta! – Como facas afiadas as palavras
dele foram certeiras. Magoaram.
— Sei que não é da minha conta, mas se precisar desabafar pode
contar comigo... – Com um sorriso cínico nos lábios ele me deu as costas e
continuou, em silêncio, a observar através da janela. Se ele não queria
conversar, não iria obrigar. Caden continuou em silêncio mesmo depois de eu
ter tomado um banho e tomado o café da manhã. Tudo sem a companhia
dele. Entretanto não forcei nada. O que ouvi já era mais do que suficiente
para entender o que se passava na cabeça dele. E ainda havia aquele quê de
raiva pelo irmão.
— Olha... – Caden falou assim que seguíamos para o estacionamento
do prédio. — Sinto muito, por ter agido como um filho da puta com você. –
Falou me encostando contra meu carro e colando seu corpo contra o meu. —
Me perdoa, por favor?
— Não tenho nada do que te perdoar, Caden. – Falei com sinceridade
— Não é da minha conta os seus problemas com o seu irmão...
— Os problemas do meu irmão não, mas minha atitude estúpida e
primitiva sim, é algo que feriu seus sentimentos. – Silenciei ele com um beijo
que começou lento e aos poucos foi evoluindo para o nível arrancarei as
roupas aqui e agora.
— Estamos atrasados... – Me desvencilhei dos seus braços, caso
contrário nunca chegaríamos a tempo no trabalho. — Tenho uma reunião
com o papai agora logo pela manhã.
— Nossa, que mulher pontual. Sabia que você fica sexy pra caralho
nessa sua roupa de escritório? Tenho vontade de arrancar essa sua saia
sempre que te vejo com ela.... – O safado sabia como me deixar com tesão.
— Olha, a vontade de que você cumpra com a realização do seu
desejo é imensa, mas você também está incluso nessa reunião. E a menos que
queira a nós dois no olho da rua é melhor deixar para depois do expediente....
Ou pelo menos para o nosso intervalo. – Sorri ao olhar o volume crescente
sob seu jeans.
— Vamos embora, mulher! – Após acomodar o volume de suas
calças, ele seguiu até sua moto. Uma palavra para definir Caden naquele
momento? Gostoso!
Capítulo dezesseis
UMA SEMANA DEPOIS
— O que está acontecendo? – ele nem mesmo me olhou. Seu olhar,
por um momento parecia perdido, mas não durou muito. — Fale comigo,
Caden. – Já estava assustada. Estávamos almoçando calmamente e do nada,
após um telefonema, ele havia ficado no estado em que se encontrava.
Alcanço seu braço, mas Caden se desvencilha do meu toque e me encara com
receio no olhar. Essa intensidade toda me provocou uma aguda dor no peito.
Aquele Caden diante de mim não era o mesmo homem que há poucas horas
compartilhou planos para o futuro e distribuiu carícias pelo meu corpo. O
homem diante de mim era rancoroso e carregava uma mágoa intensa de
arrependimento no olhar. — Por favor.... – Pedi uma vez mais. Foi mais um
implorar do que um pedido propriamente dito.
— Preciso ir – Caden deixou cair o porta-retratos que eu tinha sobre
o aparador e nem mesmo pareceu se dar conta.
— Ir? Não entendi, alguma coisa errada? – Aquele nó na minha
garganta estava no limite. Eu iria chorar a qualquer instante. Não entendia o
que estava acontecendo. Me levantei rapidamente e o alcancei. Caden estava
meio trêmulo e tive medo. — Por que essa pressa toda?
— Quer saber? – Permaneci em silêncio ou acabaria chorando por
causa da sua reação após aquela ligação. — Acabo de ser informado que meu
único irmão acaba de morrer. Meu irmão está morto, Ava! Ele morreu
enquanto eu estava aqui... me divertindo e brincando de casinha com você! –
Suas palavras vieram como lâminas afiadas contra meu peito. — Satisfeita? –
Caden estava me culpando. Seu olhar duro e gelado não deixava dúvidas
quando a isso. E as lembranças de mim ligando e pedindo para que ele viesse
me encontrar me derrubaram de volta no sofá. Acabei me sentando diante
daquela notícia. Caleb morrera? — Eu deveria ter ficado em casa, ter ficado
lá e vigiado para que o imbecil não fizesse nada mais estúpido enquanto
estava bêbado. E o que eu fiz? Abandonei meu irmão...
— Eu sinto muito, posso te acompanhar....
— Não precisa fazer nada. Não preciso da companhia de ninguém,
muito menos da que é a razão para que eu deixasse meu único irmão morrer!
– Eu já estava com a visão completamente embaçada por conta das lágrimas.
— Você não tem culpa, Caden.... – A gargalhada que saiu da boca
dele deixou até os meus ossos gelados. Era sarcasmo e desdém.
— Acabou, garota! – Ele não podia estar fazendo aquilo comigo. —
Foram bons os momentos que compartilhamos na cama, mas agora vejo que
tudo não passou de um erro enorme! Adeus, Ava.... – Sem mais palavras ele
saiu batendo a porta do apartamento e me deixando na parcial escuridão do
lugar. As lágrimas só rompem a barreira imposta pelas minhas pálpebras
quando ouvi o barulho da moto dele cortar o trânsito. Choro tanto que não
consigo nem ao menos ouvir meu frenético coração se despedaçar em
milhares de pedaços. A dor era maior quando tentava entender as razões para
aquela atitude. Estávamos tão bem antes.... O meu peito, rasgado e tentava se
costurar em meio a minha dor. E o fato de eu saber que ele precisava de mim
em um momento como aquele me deixava ainda mais deprimida. Ele perdeu
sua única família, Caden, precisava de mim.
E eu que sempre tive a língua afiada para dar respostas espertas,
agora estava sem palavras. As únicas que vinham a minha mente eram: como
ele pôde me culpar? Mas eu não sabia a resposta para a questão. Pensei que
estivéssemos indo bem. Que as semanas passadas ao lado um do outro,
estivesse nos levando a um novo patamar. Claro, ele nunca disse que me
amava ou que estivesse apaixonado por mim.... Apenas que gostava de estar
comigo. Limpo suavemente as lágrimas dos meus olhos e busco pelo número
de Caden na agenda do celular, a dor da perda pode nos fazer machucar os
outros, às vezes. Se ele estava sofrendo, eu queria ajudar. O telefone chama
uma. Duas. Três vezes e ele atende, mas ouço apenas sua conversa com outra
pessoa.
— É, eu sei. – Um suspiro alto de Caden é ouvido. — Cale a boca
Charlote, não preciso de ninguém repetindo que se eu não estivesse com o
pau enterrado na riquinha mimada.... – Não consegui ouvir o resto da
conversa. Sim, eu havia ultrapassado as regras e agora estava pagando pela
minha imprudência. Fique bem longe de badboys. Nada de bom pode sair de
qualquer coisa que os envolva.... O seu coração pode morrer com um único e
breve flerte. E foi o que aconteceu. Ele transformou meu coração em cristal
fino e, por fim, o pisoteou até que não restasse mais nenhum pedacinho
inteiro dele. Isso foi o que senti ao ouvir a forma raivosa que ele se referia a
mim.
"Morte por overdose". A notícia saiu no jornal local, mas pouco dei
importância para a mesma. Meu pai, e todas as pessoas ao meu redor, haviam
notado meu desprovimento de emoções. Eu não sorria ou me relacionava
amigavelmente como de costume. Isso há mais de três semanas. Quando
vinham me perguntar se eu estava bem, eu respondia: Claro que estou!
Mentira, eu não estava nada perto de estar bem. A verdade era que eu passava
os dias inteiros na empresa trabalhando e, após o expediente, eu chorava rios
de lágrimas sozinha em casa. Talvez as olheiras profundas e a falta de apetite
houvessem alertado meu pai. Ele apareceu certo dia, do nada, na minha sala e
inquiriu saber o que se passava comigo. A minha resposta foi dizer que
estaria viajando para a casa da mamãe. Ele não esboçou reação de início, mas
depois do que pareceu uma eternidade ele falou.
— Mas isso é na Itália, filha! – E esse era o motivo principal para a
minha decisão. Eu queria me afastar de tudo que me causava dor. E naquele
momento era a cidade inteira.
— Eu sei papai. Mas veja bem – Sorri da melhor maneira que pude
para disfarçar minha dor. — Vai ser só por alguns meses. Estou precisando
de férias. – Ainda sorrindo, pude ver um certo alívio em sua expressão. O que
não ajudou em muita coisa, odiava mentir para meu pai. Eu não voltaria para
São Francisco novamente.
Amava viajar para aquela casa quando mamãe ainda era viva. Papai
dizia ter passado os melhores momentos da vida naquele lugar. A minha
esperança era que pelo menos as vibrações daqueles dias me ajudassem a ser
um terço da mulher que fui um dia.
— Vou sentir sua falta.
— Eu também. – As lágrimas se insinuaram, contudo, não deixei que
elas rompessem as barreiras e caíssem livres. Meu pai não merecia saber que
essa viagem na verdade era apenas uma forma de escape para minha dor.
Capítulo dezessete
ALGUNS DIAS DEPOIS....
E lá estava ele, convencido, como sempre. Caden emanava sua força
em ondas quentes pelo ar. Ah, se toca Ava. Agito minha cabeça de um lado
para o outro na intenção de dissipar o pensamento autodestrutivo que se
formava dentro de mim. Quem disse que ter compartilhado o momento mais
incrível da sua vida te dá algum direito? Como se não fosse suficiente,
depois da morte de Caleb, Caden mudou completamente. Se afastou de
mim.... Como se eu fosse a culpada, de algum modo, pelo que aconteceu.
Talvez, se ele estivesse em casa, com o irmão, o mais velho dos Lutz não
tivesse sofrido uma overdose de heroína e morrido na sala de estar.... Caden
se culpava por estar comigo, e não com o babaca do irmão. Olho uma última
vez na sua direção, talvez eu quisesse memorizar seu rosto um pouquinho
mais, para não esquecer de como era seu meio sorriso... mesmo que esse seja
um pouco triste e não direcionado para mim, mas sim para uma morena
estonteante que o estava passando uma cantada. Flertando com o segurança
do aeroporto de São Francisco, hilário. Empurro os óculos um pouco mais
sobre os olhos e sigo meu caminho. Eu entraria naquele avião e não iria
voltar atrás, seguiria com o planejado e decidido. Morar na Itália não seria tão
ruim. Respiro profundamente, inalando o ar quente e úmido de São
Francisco. Naquela cidade eu não poderia mais colocar os pés sem que aquela
dor lancinante me dividisse em duas, jamais conseguiria viver sem me
lembrar do homem, que em pouco tempo, foi capaz de me fazer a mulher
mais incrível do mundo, para em seguida despedaçar cada mísero resquício
de alegria em mim. As lembranças do que ocorreu entre Caden e eu não
seriam jamais esquecidas, mesmo que um século se passasse. E, com os olhos
imersos em lágrimas, recostei minha cabeça no encosto da poltrona do avião
que me levava para longe de tudo que mais me fez feliz e sofrer ao mesmo
tempo.
Tudo bem se eu chorasse agora. Ninguém mais poderia notar o
quanto meus olhos estavam avermelhados e inchados por chorar. Dentro do
conforto da casa que um dia os meus pais foram felizes e que me trouxeram
ao mundo, solto as amaras que me prendem a vida de incertezas e mágoa.
Ali, na Itália, Caden não poderia me encontrar. Ele não poderia notar o
quanto havia me destruído.
Talvez aquela garota meio mimada e estabanada necessitasse sofrer o
que passou para que pudesse, realmente, enxergar a vida sem as vendas da
soberba. A Ava de antes não existia mais. Ela ficou em São Francisco com
tudo que passou por lá. Responsabilidade é algo que todos devemos assumir
em algum momento das nossas vidas, o meu momento havia chegado. Meio
inesperado, com enjoos e náuseas seguidas por tonturas e desmaios sem
prévio aviso. Uma gravidez inesperada muda a vida de uma mulher e a minha
definitivamente mudou. A cada consulta uma lágrima deixava de rolar
através da minha face. A cada vitrine repleta de pequenos sapatinhos de lã, o
meu peito deixava de doer um pouco mais. Mas todas as angustias
desapareceram em noventa e cinco por cento no dia que o meu pequeno bebê
chutou dentro do meu ventre pela primeira vez. Ainda conseguia lembrar
com clareza daquela noite. Era uma noite fria e eu estava grávida de cinco
meses. Confesso que ainda chorava por tudo que havia acontecido e o fato do
meu pai ter vindo me visitar e ter descoberto, tardiamente, minha gravidez
não ajudava muito. Ele chorou naquele dia. Disse que mataria o maldito
miserável que quebrara meu coração e, também, que o faria assumir a
criança. Em total desespero eu lhe implorei que jamais contasse a Caden que
eu esperava um filho dele. Exigi que o meu pai prometesse nunca procurar
pelo pai do meu pequeno bebê, sob a ameaça de afasta-lo do neto que ele
tanto sonhou, depois de um filho, na vida. Ele cedeu. A contragosto, mas
cedeu.
— Não direi nada para o maledetto. – Dissera em um italiano
carregado de sotaque americano. Minha mãe era a italiana, não ele. Após três
dias ele foi embora. E novamente, sozinha, no meu refúgio impenetrável eu
chorei. Ultimamente era o que mais vinha fazendo. Talvez fossem os
hormônios da gravidez ou a tristeza querendo me devorar por completo e me
levar com ela. Foi naquela noite, em meio ao uivo triste do vento e minhas
lágrimas, que Brian se moveu dentro do meu ventre. De imediato levei um
susto, contudo, após entender o que acontecia as lágrimas secaram dos meus
olhos e não apareceram mais. Sentir aquele pequenino ser se movimentar em
sinal da sua existência dentro de mim, me fez enxergar a vida com outros
olhos. Não havia motivos para que eu carregasse aquele sofrimento como se
carregasse um luto. Que motivos eu teria para chorar se o meu bebê crescia
dentro de mim? Brian era motivo mais do que suficiente para que eu fosse
feliz. Meu filho era a minha vida, a minha alegria em viver agora e por ele eu
faria tudo. Até fingir que meu coração não estava dilacerado com os seus
distantes pontos à beira de se romperem. As lágrimas só voltaram a aparecer
novamente no dia do nascimento do pequeno Brian. Juro que pensava que
estava sendo rasgada de dentro para fora e nem mesmo a acolhedora
companhia do meu pai me ajudou a pensar o contrário. Entretanto, toda dor
se transformou em alegria quanto aquela sala de parto se encheu com o grito
de choro do meu pequenino. A imagem do meu bebê nas mãos daquela
enfermeira jamais iria abandonar minha mente. Naquele momento eu decidi
que tudo que passei naquele quarto de hospital havia valido à pena. A
boquinha trêmula de Brian por chorar logo se transformou em uma linha fina
ao emitir um último e suspirado chorinho, de cortar o coração, após ser
depositado em meus braços. Juro que quando olhei para ele e vi suas
bochechinhas gordinhas eu chorei um pouquinho mais, contudo eram
lágrimas de alegria e naquele momento eu prometera a mim mesma que não
deixaria que nada e nem ninguém me magoasse. Eu seria forte pelo meu filho
e por ele faria o que fosse preciso para ser feliz e encarar o mundo.
Segunda parte
PARTE DOIS – CADEN
Capítulo dezoito
PARTE DOIS – CADEN
Ser o cara certinho e que segue as regras, nunca foi meu forte. Desde
pequeno fui impulsivo e me metia em confusão sempre que podia. O que
posso dizer? Esse era eu, desde criança. O garoto temido pela maioria dos
outros. O desajustado que tatua o corpo como um maluco. Bem, não é bem
assim que me defino. Impulsivo e encrenqueiro? Sim, esse sou eu.
Desajustado? Talvez um pouco. Mas há alguns motivos por trás das obras de
arte que estampam minha pele como a uma tela. Elas não foram feitas ao
acaso, como se eu chegasse e folheasse um portfólio e disse é essa que eu vou
fazer hoje. Não. Tenho uma certa fascinação por relógios antigos, admiro o
fato de eles carregarem tanto o que já se foi, quanto o que está por vir. Para
mim, simboliza a fragilidade das nossas vidas. O tempo irá passar, você
querendo ou não. Então, viva cada segundo como se fosse o último. O tempo
não para, as nossas vidas é que se vão. Queriam um motivo para a bendita
tatuagem no meu braço? Está aí a resposta, assim como as outras possuem
uma. Há mais do que extensos desenhos cobertos de tinta por minha pele,
elas contêm mais dos meus sentimentos do que qualquer outra parte de mim.
E quero é que se fodam aqueles que me olham de cara feia ao nota-las. Quem
tem que gostar e carrega-las o resto da vida sou eu e mais ninguém.
Capítulo dezenove
DIAS ATUAIS
Assim como há um ano atrás, continuo minha busca por Ava. Como
alguém podia desaparecer do mapa daquele jeito? Por mais que eu buscasse
por respostas, nenhuma delas era respondida. Houve momentos, de maior
desespero, em que cheguei a imaginar que ela talvez tivesse morrido e o pai
dela não quisesse me contar nada. Contudo, descartava a ideia assim que ela
me ocorria. Aconteceu de um dia, Gerald, chegar e me perguntar: Você já
pesquisou na internet? Claro que fui em busca das sabias palavras do tio
Google. Uma pena que ele estava tão bem atualizado quanto eu a respeito da
princesinha Collins. Nada. Nada além do que eu já sabia, estava por lá. Por
fim, desisti de olhar a cada uma hora. Uma vez ao dia era mais do que
suficiente. Talvez estivesse deixando algo passar batido. Eu pressentia que
não estava dando atenção a um detalhe crucial para essa minha busca. Mas
por mais que me esforçasse, nada me vinha a mente... até que me recordei de
algo que havia acontecido pouco depois da minha estúpida e vergonhosa
atitude com Ava. Cerca de cinco meses depois da morte de Caleb, o Todo
Poderoso Senhor Collins fez uma breve viagem até a Itália. O fato fora
mencionado em uma revista, mas nada além disso foi dito. ITÁLIA! Como
não havia pensado naquilo? A mãe de Ava era italiana, porra. Talvez ela
possuísse familiares por lá. Agora eu sorria como um imbecil, enquanto
empurrava o carrinho com minha bagagem por todo aeroporto. Como pude
deixar isso passar? Como era mesmo o nome da cidade? Pádua! Região
nordeste do país.... Era para lá que eu iria. Em uma cidade não seria mais
difícil procurar por ela do que foi a busca pelo globo. Uma viagem bem
cansativa... quando você não consegue pregar os olhos de ansiedade. Porra,
eu parecia ter voltado a ter meus dezesseis anos. Com a agitação e tudo que
se tem direito.
Jamais me imaginei viajando para a Itália, muito menos que estivesse
em busca da mulher que um dia deixei para trás. Ava foi meu bode expiatório
em um momento de dor, raiva e confusão emocional. A culpei por algo que
nem mesmo estava sob meu controle. Caleb já havia mergulhado num mundo
autodestrutivo havia alguns anos, eu não sabia mais o que fazer para trazê-lo
de volta. Daí apareceu Ava, linda, encrenqueira, de língua afiada, mimadinha
e meiga, carinhosa, gentil.... Ela fodeu com minha cabeça de uma maneira tão
intensa que quando me dei conta estava de quatro aos pés dela. Caden Lutz
havia se apaixonado e não sabia o que fazer para lidar com o fato. A pior
parte em descobrir que se ama uma pessoa é saber que ela está envolvida em
um relacionamento e é completamente alheia ao seu sentimento. Muitas das
vezes essas pessoas acabam confundindo o nosso amor e ciúmes com raiva e
desprezo. Como a linda Ava estava errada. Ela estava com aquele puto do
Gabriel e não me via como alguém que gostava dela. Sempre que da minha
boca saiam palavras raivosas e cheias de ceticismo, tudo que eu gritava sem
saber como expressar era: Você não consegue ver? Sou completamente louco
por você, garota! Mas tudo que ela notava era minha desaprovação em tudo.
Desde a roupa que ela usava até nas amizades que ela fazia. Que ela era, e é,
rica eu já estava cansado de saber. Que eu era o responsável por manter a
segurança dela e que havia sido contratado por seu pai, preocupado por sua
segurança, eu também sabia. Que ela sentia atração por mim... porra, claro
que eu sabia sim. Mas o que um morto de fome e de reputação duvidável
poderia oferecer para uma garota que já tinha de tudo um pouco? Eu não seria
usado novamente por outra mulher. A minha quota de ser o gigolô já havia se
esgotado anos antes de me tornar o rebelde e sem noção que sou hoje. Emma
já havia feito, muito bem por sinal, o trabalho de me destruir o coração. Não
havia necessidade de deixar que tudo se repetisse e que Ava me fizesse de
bobo como um dia Emma foi capaz de fazer. Emma tinha sido uma
namoradinha de colégio que só havia tido um breve caso sexual comigo para
fazer pirraça para os pais e ciúmes ao namorado de verdade... pobre idiota
iludido havia sido eu.
Com uma careta, retiro os óculos de sol e o coloco sobre o banco do
passageiro. Sorrio para disfarçar meu nervosismo, quando algumas pessoas
começam a me observar como um espécime alienígena em um laboratório.
Porra, são apenas tatuagens! É tinta sobre a pele. Tinta cobrindo desenhos
sobre minha pele. Olho o pequeno pedaço de papel que há dias eu vinha
carregando no meu bolso. O endereço de Ava na Itália. Claro que não era
bem o endereço, era apenas o nome da cidade. Contudo, já era um excelente
começo. Droga, agora tinha medo que ela me odiasse ao ponto de não aceitar
ao menos ouvir o que eu tinha para dizer. Confesso que a cidade era muito
bonita. Estaciono próximo ao endereço do hotel que me hospedaria. Não era
nada muito caro. Eu não tinha grana sobrando e não precisava de luxo. Desço
do carro e me apresento na pequena recepção, sou reconhecido de imediato.
Acho que ter informado que tenho várias tatuagens valeu a pena.
Depois de encher a minha barriga com uma comida caseira divina e
de ter dormido por algumas tantas horas, saio para uma varredura local. O
hotel ficava muito perto de Prato Della Valle, uma das maiores praças da
Europa, de acordo com o que explicava o folheto nas minhas mãos. A praça
era rodeada por palacetes e estatuas, que davam a impressão de que estava
sendo vigiado. Caminho vagarosamente e observo um aglomerado de
pessoas, no que me parece ser uma feira de roupas e alimentos. Há risos,
conversa alta e quando me dou conta estou caminhando por ali. Sorrisos são a
maioria, e o cheiro de comida me faz sentir fome novamente. Caramba, sou
um turista no final das contas. Turistas são atraídos para tudo quanto é
novidade. Estou perto de pedir algo a um vendedor, quando ouço uma risada
tão familiar que faz todo meu estomago parecer um bloco de gelo. Ava. Me
viro na direção do som e vejo esvoaçantes cabelos loiros. Meu coração bate
descompassado, não sei o que fazer. Ensaiei tanto o que faria no dia em que a
encontrasse, mas nada saía. Eu nem mesmo conseguia fazer minhas pernas se
moverem. Eu estava paralisado no lugar, no entanto a letargia evaporou assim
que vejo um homem alto e magro estalar audivelmente um beijo na boca
dela. O meu sangue ferveu na hora. Outro homem acabara de beijar a boca
que um dia foi minha sem restrições. O ciúme me corroía os ossos. Contudo,
eu nada podia fazer. Fora eu quem a abandonara e não o contrário. O fato era
que eu amargaria aquela cena o resto dos meus dias. Com um sorriso imenso
nos lábios ela deu um tapa no ombro do maldito desgraçado. Meus olhos
cintilavam de raiva e meus punhos se fecharam. Não podia fazer nada. Eu era
o responsável pela cena diante dos meus olhos. Sem me dar conta, meus
olhos são atraídos para um bebê sorridente que chacoalhava um brinquedo. A
alegria da criança é tamanha que em um forte impulso ela acaba fazendo o
carrinho se deslocar na breve descida íngreme do lugar. Eu não penso, apenas
corro aqueles um metro e meio que me separava da criança.
— Dio mio, bambino! – Acho que as pessoas ganham super
velocidade em momentos como aquele. Nem havia agarrado o pequeno nos
braços, quando a voz de alguém fica alta como se previssem a queda
eminente da criança. E agora o bebê estava chorando a plenos pulmões, o
menino soluçava com o pequeno rosto contra minha camisa. Ele era tão
pequenino.... O aglomerado razoavelmente grande de pessoas já havia se
formado, mas os meus olhos viram apenas uma pessoa junto a mim. Pálida,
ao ponto de desmaiar e com os olhos cheios de lágrimas.
— Ava... – Como se por milagre o garotinho parou de chorar ao me
ouvir falando primeira vez.
— Ca-Caden?
— Questo ragazzo há salvato il suo bambino, Ava.
— Ai, meu Deus. – Desesperada ela se abaixou na minha direção e
tirou o bebê dos meus braços, o abraçando forte contra o peito. Eu não era
idiota e a essa altura do campeonato já havia calculado a idade estimada da
criança mais o tempo de gestação.
— Quero saber, por que porra você não me contou que tínhamos um
filho? – Seus olhos grandes e azuis brilharam e depois ficaram gelados.
— E quem disse que Brian é seu filho? Não tenho palavras para te
agradecer por ter salvo a vida dele, agora quero que desapareça da minha
vida. – A determinação em seu olhar era assombrosa, mas eu era quem era e
não recuei.
— Querer é uma coisa, docinho. – Mais calmo o pequeno bebê
esticou os bracinhos para que eu o pegasse, mas Ava o puxou delicadamente
para trás e se pôs a andar em direção ao homem que nos observava com
atenção.
— Brian não é seu filho, Caden! – Sua voz era dura e selvagem,
muito diferente da voz delicada e gentil que eu me recordava.
— Quer que te mostre o meu álbum de família, Ava? – Seu rosto estava
pálido. Poderia se cortar um dedo dela sem que nenhuma gota de sangue
saísse. — O pequeno é igual a mim com essa idade....
— Você não tem o direito de aparecer na nossa vida agora, Caden. – Sorrio
diante do aparecimento. Eu tinha um filho.
— Esse não é local para que a vida do seu filho e sua seja discutida,
meu amor. – Minha mandíbula ficou cerrada diante do comentário.
— O seu amigo tem razão, docinho....
— Pare de me chamar assim. E Giuliano não é meu amigo, ele é meu
namorado. – Foi pior do que ver os dois se beijando anteriormente. Uma bola
pesando toneladas se instalou no meu estomago depois da revelação.
— Calma, meu amor. – Precisei fechar meus olhos e contar até dez.
Eu não tinha o direito de acertar a cara dele. Isso era o que eu repetia a mim
mesmo enquanto os seguia pela praça e, em seguida, pela rua lateral a ela. Ela
sequer se virou para me olhar. Nenhuma única vez ela o fez. Você colhe o
que planta!
— Pronto, Caden. Agora você pode me dizer, que diabos veio fazer
aqui. – Ela falou assim que a porta da casa foi fechada.
— Precisamos falar a sós....
— Nada disso. Eu fico. – Dei um passo à frente, a minha vontade era
expulsar aquele miserável com os meus punhos. Mas virava e mexia, me
lembrava de não possuir mais aquele direito.
— Precisamos falar a sós, Ava. – Pude ver seus olhos vacilarem
quando falei seu nome. Talvez eu ainda não tenha chegado tarde demais.
— Tudo bem. Nós iremos ficar bem, Giuliano. – Com uma careta o
imbecil saiu dali, mas estranhamente não havia tocado em Ava ao fazer.
— Deixa-me pegar meu filho, Ava? – Pedi com um certo nó na
garganta, após o infeliz deixar nós três sozinhos. Ela parecia desconfortável
com a possibilidade de que eu tocasse o bebê e isso me magoou. — Não irei
fazer mal algum a ele, Ava. – Falei com evidente mágoa.
— Não seja estúpido, claro que sei disso. O fato é, acreditar que você
tenha tido a cara de pau de vir atrás de mim depois de todo esse tempo....
— E é aí que se engana, docinho.
— Já disse para não me chamar assim. – Ignorei o pedido.
— Tenho procurado você desde que a realidade sobre minha
estupidez recaiu sobre meus pensamentos.
— E desde quando isso, Caden? – Ela não se parecia convencida do
que eu tentava lhe explicar.
— Posso? – Indiquei o bebê gordinho que se esperneava em seus
braços. Ela olhou de um para o outro e, por fim, acabou cedendo.
— Cuidado, ele é bastante agitado pela idade e....
— Não deixarei o nosso filho cair, Ava. – Pronunciar aquela frase
mexeu comigo. Nunca me imaginei sendo pai, entretanto, ali estava eu.
— Não gosto de deixar estranhos segurá-lo....
— Sou o pai dele, Ava.
— Um estranho. Você não me respondeu, Caden.
— Um mês após meu ato estúpido – Caramba, o pequeno era mesmo
muito forte. Sorri ao imaginar que aquelas mãozinhas poderiam esmigalhar o
meu dedinho. — ...me dei conta de que não poderia viver sem você, Ava.
— Tem feito um excelente trabalho.
— Não seja tola. Tenho lhe procurado desde então. Cheguei ao
extremo de pedir ajuda ao seu pai. Agora entendo o motivo para ele me
expulsar da empresa e me ameaçar. – Não dei muita atenção para expressão
de horror em seu rosto. Eu só conseguia olhar para o garotinho nos meus
braços. Agora ele parecia interessado pelos desenhos das tatuagens e, meu
Deus, como bebês possuíam tanta força? Acho que a qualquer instante ele
iria arrancar um pedaço de pele dos meus braços de tanto beliscar com
aqueles dedinhos miúdos.
— Eu o proibi de contar qualquer coisa para você. – Outro golpe.
Abaixei a cabeça contra o corpinho do pequeno e inspirei o cheirinho
delicado e aconchegante de bebê. — Não quero saber de você. Estamos bem,
como pode ver.
— Claro que vi. Giuliano parece bem.
— Não me venha com isso, Caden. Ele esteve ao meu lado, ao
contrário de você.
— Eu poderia estar se você não tivesse desaparecido com o nosso
filho.
— Quem abandonou quem, está bastante claro aqui. – Foi como levar
um soco. Sim estava bastante claro ali.
— Ava – Eu não sabia por onde começar. — ...sei que fui estúpido e
que você não teve culpa pelo que o imbecil do meu irmão fez. Caleb já estava
num caminho sem volta, era questão de tempo para que ele cometesse alguma
besteira com a própria vida. Mas nunca se está preparado o suficiente para
quando isso ocorra. Sinto tanto ter te machucado. Eu... eu te amo!
— Cale-se! – A sua voz embargada indicava que estava à beira das
lágrimas. — Dê-me Brian, Caden. – Sem esperar por minha resposta ela o
tira de mim. — Agora vá. Por favor não volte.
— Brian também é meu filho.
— Poderá continuar sua vida como ela era hoje pela manhã. Sem
filho.
— Você só pode estar de brincadeira. Não irei embora, não depois de
saber que tivemos um filho.
— Eu tive um filho!
— Por favor.... – Me aproximei dela e a mesma se afastou dois
passos para longe do meu alcance. — Não faz isso comigo, me dê a
oportunidade de provar que estou arrependido do que fiz e que sou um
homem diferente agora.
— Não. Não posso. – Ava falou e andou a passos rápidos pela casa.
Eu segui no seu encalço até que ela chegou num quarto e colocou o bebê em
um berço.
— Eu te amo, isso não prova nada?
— Não, não prova. Estou em um novo relacionamento agora, Caden.
— Você não o ama. – Isso a deixou sem palavras enquanto articulava
a boca para dizer algo. Me aproveitei da oportunidade e aproximei dela e,
pela primeira vez em mais de um ano, a toquei. — Você sabe que não.
— Eu-eu.... – Ela continuava sem palavras. Aquilo era um bom sinal,
não era?
— Você ainda me ama, posso ver isso nos seus olhos. São os mesmo
de antes, com o mesmo brilho ao me observar.
— Você matou meu amor por você.
— Não é o que seu coração está dizendo agora. – Falei ao acariciar a
pulsação descontrolada da sua garganta. — Vamos nos dar essa segunda
oportunidade, Ava. – Acaricio o canto da sua boca ao dizer. Não consigo
resistir quanto vejo aqueles perfeitos e convidativos lábios rosados se abrirem
em um sopro delicado, eu a beijo. Devoro. Ela sequer disfarça que não quer
aquele beijo. Sua resposta é imediata e logo estamos os dois sem fôlego.
Tudo que eu desejava era a chance de consertar meus erros. Era de provar
para a Ava que eu havia mudado e que estava disposto a tudo por nós. Em
uma segunda rodada, nosso beijo se torna mais lento e ardente. Era como
antes. Tudo era intenso entre nós. Entretanto, tudo que é bom dura pouco,
não é o que dizem? Com um forte tapa ela me afastou e me encarou com seus
olhos úmidos de lágrimas não derramadas.
— Não faça isso novamente. Não me toque mais, Caden. Se me ama
como diz amar, desapareça da minha vida! – Suas palavras saem duras e
firmes. Acho que nunca ouvi a Ava ser tão concisa com as palavras. Contudo,
não poderia respeitar aquele pedido. Se nós não tivéssemos um filho, eu
poderia ir embora e deixar que ela fosse feliz ao lado daquele Giuliano
desgraçado.... Brian mudava tudo. Eu não iria abandonar meu filho por causa
de um pedido, ou por desavenças entre Ava e eu.
— Brian é meu filho, também. Por essa razão não irei embora! – Seu
resfolegar alto indicava que a notícia não era bem-vinda. Gostei da sua
expressão de indignação. Até me permiti esboçar um breve sorrisinho em
resposta. — Não irei atrapalhar seu relacionamento com esse italiano, Ava.
— Você precisa saber de algo, mesmo que eu não deva uma mísera
satisfação do que eu faço da minha vida para você.
— Entendo.... – Ela sorriu e em seu sorriso havia uma enorme
satisfação mesclada com raiva.
— Giuliano e eu iremos nos casar! — NÃO, EU NÃO ENTENDIA.
PORRA! MINHA DOCE AVA... SE CASANDO COM OUTRO.
BEIJANDO OUTRO HOMEM E FAZENDO AMOR.... Porra. Passei as
duas mãos pelos cabelos e tentei parecer o mais casual possível, mesmo que o
simples fato de eu ter quase ficado careca não consiga disfarçar em nada o
que sentia.
— Gostaria de estar presente na vida do nosso filho, Ava.
— Você vive do outro lado do globo, Caden. Como pensa fazer isso?
– A ironia estava na sua voz, parecia até que a Ava se sentia feliz ao ver
minha agonia.
— Já consegui emprego por aqui. – Menti na maior cara de pau.
— Sei.... Estou cansada e Brian precisa descansar, Caden. – Ela
estava me colocando para fora. Sorri e balancei a cabeça.
— Posso ao menos dar um beijo no Brian?
— Apenas seja rápido. Como eu disse, precisamos descansar.
Capítulo vinte
A semana que se arrastou foi uma das mais duras da minha vida.
Perder meu irmão para as malditas drogas? Aquilo era apenas questão de
tempo. Já me conformei, apesar de não suportar sequer lembrar do fato. Ser
tratado como um ser a margem da sociedade por causa das minhas
tatuagens? Já estou acostumado. Sofrer como um cão? Na vida a gente
aprende se adaptar. Eu só não estava preparado para ter que ver a mulher que
eu amava... ser beijada por outro homem. Eu nada podia fazer, a não ser virar
o rosto e tentar não ouvir o maLDITO DESGRAÇADO DIZER QUE A
AMAVA! PARA ISSO EU NÃO TINHA UMA SOLUÇÃO. Caramba, nem
mesmo tentar ficar com outra mulher para aliviar a tensão sexual funcionou.
Precisei inventar uma desculpa qualquer e voltar para o meu quarto de hotel.
Nem preciso dizer que o caminho de volta foi feito sob uma torrente de
palavrões baixos.... Continuo encarando o nada, enquanto preciso ouvir o
"mimi" meloso do italiano. Trabalhar de garçom era fácil para mim, o difícil
era ter que manter a compostura ao ver o tal Giuliano tentar beijar a boca da
minha garota! Sim, minha garota! Eu não iria perder ela para o italiano...
bom, iria recuperar ela de volta. Nada como inflar meu ego.
Sei que podia parecer estupidez, realmente era uma baita de uma
estupidez da minha parte, puta merda, sim era estúpido o que estava fazendo,
mas não pude evitar. Também sei que poderia ir preso, receber uma medida
restritiva. Ao inferno com tudo! Sem mais pensar nos "nãos" sigo Ava pelas
ruas escuras. Não entendo essa mania dela de sempre preferir ir embora
sozinha para casa, não que a casa fosse longe do restaurante.... Coisas ruins
aconteciam a todo momento e não era uma distância curta, de dois
quarteirões, que mudaria o fato. Continuo caminhando a passos rápidos atrás
dela.
— Mas que merda, Caden! Por acaso anda me perseguindo agora? –
Ela leva a mão juto ao peito, como se massageasse a região.
— Não.
— Então o quê?
— Preciso falar com você, Ava.
— Estávamos no mesmo lugar há cerca de cinco minutos, por que
não veio a mim?
— A merda do seu italiano estava lá.
— Vai se foder, Caden! – Cuspiu as palavras ao mesmo tempo em
que mostrou o dedo do meio para mim. Chocado com sua atitude, permaneci
plantado no mesmo lugar enquanto ela caminhou decidida de volta para casa.
— Uau, grande evolução! – Falei depois de correr e alcança-la junto
a porta.
— Você ouviu o que acabei de lhe dizer? – Seus olhos cintilaram
com um brilho furioso. Ela não estava feliz.
— Claro que ouvi. E vi até. Mas confesso que adoraria que fosse com
você.
— Só nos seus sonhos, Caden. Só nos seus sonhos. – Com um
sorrisinho de deboche ela abriu a porta e entrou. Eu segui o seu rastro,
mesmo que ela quase tenha dado com a porta na minha cara.
— Talvez sonhos se tornem realidade, como acontece nos livros e
nos filmes! – Com ceticismo ela cruzou os braços sobre o peito e me encarou
de cara feia. — Adoro esse seu olhar selvagem! Te deixa muito sexy. – Falei
encarando o grande volume formado sob o tecido fino da sua blusa.
— Tenha um pouco mais de respeito, Caden. Se você entende o que
significa...
— Não me pareceu que você soubesse o significado, quando me
mostrou o dedo. – Eu podia ver sua delicada e deliciosa pele mudando de
tom, para um adorável vermelho. — Nem quando me mandou ir foder.
— Cale a boca! – Ava me deu as costas e saiu para cozinha. — Brian
vai chegar a qualquer instante....
— Cadê o nosso filho?
— O meu filho está sendo cuidado por minha prima. Só para você
saber. Não que seja da sua conta....
— Tudo que tenha relação com o nosso filho, tem a ver comigo.
Inclusive a mãe dele. – Me aproximei dela e acariciei uma mecha do seu
cabelo. — Vocês dois são tudo que me importa.
— Olha, não sei se você me ouviu ou entendeu o que falei naquele
dia. Mas posso dizer novamente. Eu. Vou. Me. Casar. Com o Giuliano.
— Você. Não. O. Ama, Ava! – Seus olhos cintilaram com um brilho
estranho. Parecido com raiva, mágoa. Uma mistura de ambos.
— Você não sabe. – Seu tom era duro, quase acusatório. — Espera,
não sei porque estou te respondendo isso. Não é da sua conta.
— Apenas me responda. – Aproximei ainda mais, a encurralando
entre a parede e os meus braços. – Me diga, olhando nos meus olhos, que
você ama o italiano! – Seus lábios tremeram e ela desviou os olhos dos meus.
— Vou me casar com....
— Essa parte já estou farto de saber. O que perguntei, foi se você o
ama. – Seus olhos ainda se mantiveram distantes dos meus, pareciam querer
evitar um confronto.
— Quero que vá embora, Caden! – Com a voz fraca, o que era apenas
reflexo do seu corpo, ela depositou as mãos no meu peito. O que não surtiu
muito o efeito por ela desejado. Apenas o toque das suas delicadas mãos,
foram o suficiente para arrancar um gemido rouco do fundo da minha
garganta. Um gemido puro, primitivo e retido por tempo demais.
— Talvez eu não queira ir, docinho! – Respondi com a respiração
contra seu delgado e delicado pescoço, fazendo com que a pele suave do
local ficasse arrepiada. — Você ainda não respondeu, amor. – Corri a língua
pelo seu pescoço, e me desviei para o caminho da perdição quando deixei que
minha boca escorregasse um pouco mais abaixo da sua clavícula. Com
pequenos gemidos e suspiros, Ava, se apoiou mais contra o meu corpo. Sim,
eu fazia tudo aquilo com ela. Ela ainda era sensível ao meu toque, minha
presença. Eu estava mais do que consciente da proximidade entre nossas
peles.
— Caden. – Nossas respirações ficavam em sincronia, se misturando,
de tão perto que nossas bocas estavam uma da outra. Cada um implorando
que o outro cobrisse a pequena distância, de centímetros, dos nossos lábios.
— Diga que ainda me ama, amor. – Acho que a dor era palpável nas
minhas palavras roucas e temerosas. — Diga que minha estupidez não foi
capaz de destruir o nosso amor... – Como um selvagem esfomeado, puxei
suas pernas em torno da minha cintura e a pressionei contra parede ao mesmo
tempo que reivindiquei seu lábios com os meus. Ter Ava nos meus braços era
tudo que eu mais precisava naquele momento. Foi tudo que eu desejei desde
o momento que cometi a maior estupidez da minha vida.
— Caden, eu não! – Ofegante e com os lábios inchados pelo nosso
beijo, Ava, jogou a cabeça para trás e lutou em busca de ar. Tudo que eu vi
foi o acesso garantido até seu pescoço e seios, e eu nunca fui muito bom em
agir como um cavaleiro em seu cavalo branco. Eu era mais como o Lobo
Mau das histórias, faminto e louco para devorar. Queria devorar cada
pedacinho da mulher que eu amava. Não me fiz de rogado, com os dentes
puxei o fino tecido do seu delicado vestido para o lado. Jesus, aqueles eram
mesmo os dois gloriosos montes com os quais eu sonhava e, em todas as
vezes, necessitava afastar as cobertas para dar o alívio necessário ao meu
melhor amigo. Sim, eram mesmo os seus deliciosos seios e agora eu
mantinha um mamilo turgido na minha boca enquanto, Ava, choramingava
baixinho de prazer. De relance, olhei na sua direção, apenas para encontrar a
sua boquinha gostosa formando um perfeito O. Puta merda. Meu amigão
latejou e pulsou dolorosamente dentro dos meus jeans. Fazia tempo demais
desde a última vez em que ele esteve mergulhado dentro da macies de uma
mulher. "Da" mulher. Da mulher que eu amava.... Com o desejo revigorado,
suguei seu delicado e turgido mamilo com mais força, enquanto torturava o
outro entre meu polegar e o indicador. Seus gemidos, agora, eram o único
som a preencher todo ambiente. E como se fossem a fonte da saciedade, eu
me luxuriava.
— Diga que ainda me ama, Ava. Diga que tudo que passamos juntos
naquelas semanas não foi em vão....
— Caden, eu.... – Uma batida alta na porta fez com que
congelássemos no lugar. Não que eu tivesse medo, mas imitei a reação de
Ava como resposta a batida na porta.
— Querida, está em casa? – MALDITO ITALIANO.
— Oh meu Deus, é o Giuliano. O que eu estou fazendo? – Sorri, e
mordisquei seu mamilo ao mesmo tempo que esfregava minha dolorosa
ereção contra seu sexo. — Eu sou uma pessoa muito má. Solte-me, Caden! –
Eu não a soltei.
— Querida, está aí? Você esqueceu as flores que lhe dei. – Aquele
italiano ainda tinha sorte de estar respirando. E aproveitando da situação,
escorreguei uma mão para baixo e alcancei a renda já completamente úmida
da pequena calcinha da Ava. Para minha surpresa, ela se rendeu quase que de
imediato ao meu toque e eu sorri. De repente não ouvíamos mais as batidas
na porta da frente e nem a voz do maldito desgraçado.
— Tem certeza de que ama aquele italiano, Ava? – Perguntei
mergulhando um dedo através das suas dobras macias. A sua resposta foi um
gemido abafado por sua mordida em meu ombro. Uma mordida forte, mas
que não me causou dor. Só provocou desejo, tesão! — Diz pra mim, Ava... –
Se contorcendo em busca de mais, ela pressionou sua entrada contra a minha
ereção. Em meio a voz de Giuliano e as batidas na porta, Ava encontrou
minha boca e me beijou com desespero. Suas mãos voaram para os meus
cabelos, enquanto que com os quadris ela instintivamente me cavalgava em
busca de atrito. Em busca de libertação. Meu pau já não podia espera por
mais tempo e, então me livrando do botão e do zíper, a preenchi. Era como
estar em casa. Não consegui segurar o gemido alto que escapou da minha
boca, invadindo a dela. Suas mãos puxavam forte os meus cabelos, e as
minhas mãos apertavam seu glorioso traseiro, o levando para cima e para
baixo em um ritmo frenético. — Aquele maldito te faz sentir isso, docinho?
Te deixa molhada, tão molhada, que te faça implorar para ser preenchida? Ele
te faz gritar de prazer enquanto, descontrolada, busca por sua libertação? Ele
te faz sentir o que eu faço? – As perguntas foram feitas, raivosas, contra sua
boca. Eu queria gritar! — Ele te.... – E com um ritmo desgovernado
chegamos ao ápice, não dando nem mesmo tempo para que a minha pergunta
fosse formulada. Sua voz rouca clamou, baixinho, por meu nome e a minha
pelo dela, o que me fez sorrir. Ela ainda me amava.
— Querida? Está tudo bem? – Abri a boca para gritar para ele ir
embora, mas Ava me silenciou com a dela. Um beijo trêmulo, mas doce. Era
o mesmo beijo de quase dois anos atrás. Era o beijo da minha Ava.
— Acho que ele já foi, carinho. – Sussurrei no seu ouvido.
— Eu não devia ter feito isso! – Foi como levar um tapa na cara. —
Eu traí o meu noivo...
— Se quiser pode me socar na cara também. – Falei com o olhar
magoado em sua direção. Se remexendo, nos meus braços, ela tentou se
libertar, só não permiti. — Talvez me faça sentir melhor do que ouvir você
dizer que se arrependeu de fazer amor comigo.
— Você me deu o pé no traseiro, Caden.
— E jamais irei me perdoar por ter feito você sofrer. Poderá se passar
um, dois anos ou duas, seis décadas. Nunca será tempo suficiente para me
fazer perdoar a mim mesmo. E quando digo que me arrependo com cada
pedaço do meu ser, não é só com o coração que falo, mas com a alma
também. – Com cuidado me retirei de dentro dela e a coloquei sobre as
próprias pernas, ajeitando sua roupa no lugar. Ao terminar, me deixei cair de
joelhos na sua frente e envolvi suas mãos nas minhas. — Ava, me perdoe. Me
deitarei aos seus pés se preciso for. Só me perdoe... – Não percebi que, pela
primeira vez, havia começado a chorar na frente de uma mulher, até que ela
começou a secar minhas lágrimas. — Me perdoe.
— O que passamos juntos, Caden, foi muito intenso e lindo. – Ela
sorriu fracamente. – Pelo menos para mim foi. E não foi o fato de você ter
terminado comigo, que me decepcionou tanto, mas sim o modo como tudo
aconteceu. Você me humilhou, Caden. Você pisou e surrou a coisa mais linda
que eu já dei para alguém. O meu coração, meu amor. Nem mesmo Gabriel
teve o que você recebeu, Caden. – Seu olhar estava distante e suas palavras
pareciam ser ditas com certo constrangimento. — Sei que perder Caleb foi
muito duro para você, caramba, ele era seu único irmão. A sua família. No
entanto, você deveria ter ao menos notado que eu estava ao seu lado. Te daria
todo meu apoio, mesmo que você não quisesse. Não havia necessidade de me
maltratar como fez. Apesar de tudo, já perdoei você há muito tempo. – Senti
desde o arrependimento corroendo a minha alma, até o alívio ao ouvi-la dizer
que já havia me perdoado. — Contudo, o que aconteceu há pouco entre nós
dois, não poderá mais se repetir, entendeu? – Foi como levar outro soco na
cara. Eu não sabia o que dizer. — Foi um maldito erro. Giuliano não merecia
isso, ele me ama...
— Mas você não o ama....
— Ele esteve ao meu lado quando mais precisei de um amigo. As
coisas evoluíram e, agora, estamos juntos. Iremos constituir uma família. –
Ele iria destruir a minha, foi o que entendi num momento mesquinho. —
Estamos noivos e....
— Você já falou isso. Só o que não falou foi se o ama! – Eu podia ver
a veia pulsando rápido no seu pescoço, e o brilho nos seus olhos.
— Eu gosto muito do Giuliano e ele me faz feliz. E o mais
importante, ele ama o Brian! – Minha mandíbula trincou ao ouvir que o
bastardo havia se tornado, praticamente, o pai do meu filho. — Preciso ligar
para o Giuliano e esclarecer as coisas, Caden. Será que você...?
— Não se incomode em me mostrar a saída, já sei onde fica! – E com
um tremendo nó no meu peito, me levantei e beijei o canto da sua boca,
acariciando sua bochecha. — Eu te amo, Ava. Nada do que você fizer ou me
disser irá mudar isso. Venho amanhã para ver o pequeno, ok? – Não esperei
por uma resposta, saí de perto dela e me dirigi até a saída.
Capítulo vinte e um
Ava agia como se nosso momento íntimo, extremamente prazeroso,
não houvesse acontecido. Olho de quando em quando, alternadamente, entre
o italiano e ela. Ava, por sua vez, encontra meu olhar e perde o fio da
conversa com o infeliz a sua frente. Sirvo mais algumas mesas e volto a olhar
na direção de Ava, que sempre aproveitava a distração do noivo para me
mostrar o dedo do meio. Juro que estava adorando aquele jogo de olha e
encara. Sorrio e finjo que fui atingido, dolorosamente, no peito. Ela revira os
olhos e finge rir de alguma idiotice que o babaca fala. Aquela era a rotina,
quase que diária, entre Ava e eu. Se o tal italiano soubesse que trazer a noiva
no restaurante da tia avó dela, era o mesmo que entregá-la ao lobo.... Bem,
não sei se ele ficaria muito feliz. Muito menos contente, se soubesse que sua
linda noiva e eu compartilhamos o corpo um do outro há menos de uma
semana. Será que o babaca ficaria sorrindo como o imbecil que era?
Suponho que não.
— Grita logo que transou com a noiva dele! – Meu sangue gelou ao
ouvir o comentário sussurrado no meu ouvido.
— Não sei do que você está falando. – Menti, tornando dura minhas
palavras. O que menos queria era difamar a mãe do meu filho. A mulher que
eu amava.
— Own, mas eu sim. Como pode negar algo que precisei ouvir aos
gemidos e súplicas? – Puta merda! Porra, do que aquela velhota estava
falando? — Ora, rapaz, não venha enganar a velha Helena. Sou avó da Ava e
a casa sobre a dela, é minha! – Fiquei mudo, sem saber o que dizer. —
Confesso que minha amiguinha, aqui embaixo, até despertou da sua
hibernação, depois de ouvir vocês dois! – Falou me dando tapinhas no ombro
e sorrindo desavergonhadamente. Estava mortificado. Como uma senhora de
oitenta anos podia dizer aquilo? Talvez estivesse ficando senil, ou fosse um
privilégio da idade! — Por que essa cara de espanto, rapaz? Posso ser uma
velha, mas ainda adoro um sexo gostoso e selvagem. – Agora, tenho certeza,
minha boca estava aberta. Uma pista de pouso para mosquitos. Aquela
mulher era fogo. Sorri em meio ao nervosismo.
— Mas o fato não parece ter significado nada para a Ava! – Me
assustei ao ouvir as palavras deixarem minha boca. Ela sorriu em triunfo,
diante da minha confissão.
— Se não tivesse significado, ela não estaria te olhando sob os cílios
o tempo todo. Sabe a moça que quase te lambeu o peito nu, hoje pela manhã?
– Concordei me lembrando da garota tarada e assediadora. — Se tivesse visto
o rosto da minha neta.... Pensei que ela fosse estapear a cara da tarada sem
vergonha. – Eu não havia percebido nada daquilo. — Venha, vamos fazer um
teste. – Inesperadamente, Helena, me arrastou até o canto isolado do
restaurante e chamou Juliette, a garota da recepção. — Anda, menina.
— O que foi, senhora...?
— Oh, cale-se. Te dou cem paus para você agarrar o gostosão tatuado
aqui! – Os olhos da garota brilharam e antes que eu pudesse me opor ao
absurdo daquilo, a boca de Juliette estava na minha. Dá posição em que
estávamos, eu tinha a visão privilegiada da mesa de Ava. Pude ver o
momento que ela me viu agarrado com a garota e, também, ouvi o estrondo
da sua taça de vinho ao cair, quando Ava saiu como um furacão do
restaurante vazio. Não sem o maldito Giuliano no seu encalço.
— Quero meu dinheiro no final do expediente, Helena! – Me senti
usado ali.
— Mas que porra....
— Olha a boca, garoto! – Mordi a língua e engoli os insultos. A velha
sorria de orelha a orelha, com o resultado da sua armação.
— Como pôde pagar Juliette para me agarrar? – Olhei de uma para
outra. — E você? Como pode aceitar?
— Te agarrar e beijar, não foi trabalho algum. Se estiver a fim de
algo mais que as nossas línguas na boca um do outro – Ela sorria. – ..., mas
como Helena me ofereceu grana, a desculpa foi perfeita, para fazer algo que
eu só ousava nas minhas fantasias mais depravadas! – Meu Deus, eu estava
rodeado de malucas.
— Odeio vocês duas! – Falei dando as costas para elas. E se o
showzinho tivesse feito Ava desistir em definitivo de nós, antes mesmo de
aceitar nos dar uma segunda chance?
Não preciso dizer que Juliette ficou me lançando sorrisinhos o tempo
todo, preciso? Qualquer um que olhasse de fora, pensaria que estávamos
trepando o tempo todo. Porra, eu não queria que Ava pensasse aquilo
também. Mas foi exatamente o que ela deve ter pensado, pois não dava as
caras no restaurante fazia uma semana. Contudo, querendo ou não, ela iria ter
que me ver. Uma semana era tempo demais sem ver meu filho. Inadmissível.
Olho de relance, pela milésima vez, o relógio e constato que ainda faltam
duas horas para o final do meu turno. Porra de duas horas que não passavam.
Já sem conseguir mais aguentar os flertes descarados de Juliette, o
fim do meu turno chega como uma benção. Sigo caminhando, o pequeno
percurso, até à casa de Ava. Cerca de cinco minutos. Tenho certeza de que
ela não esperava por mim e sua expressão não me enganava.
— Oi, docinho. – Ela revirou os olhos e, com uma careta, me deu
passagem.
— Vai entrar ou ficar aí?
— Claro, já que insiste tanto. – Sorri maliciosamente para ela.
— Não, eu não insisto. A verdade é que eu desejaria tudo, menos
você na minha casa.
— Nossa, quanta paixão. Tenho certeza que você mente. – Sorri
dando um passo à frente e fechando a porta.
— Não estou...
— Sim, você está mentindo. Seu delicioso lábio inferior está
tremendo minimamente e você começou a corar. – Falei traçando uma linha
invisível sobre seu delicado pescoço com a ponta do dedo.
— O-O que faz aqui? Já estou de saída. Preciso me reunir com a
florista... E Brian está com a tia Helena. Ela cuidará dele para mim.... – Suas
palavras eram desconexas, estava fascinado com o movimento dos seus
lábios.
— Preciso te beijar, Ava! – Avancei contra sua boca e fui recebido de
prontidão por um beijo necessitado e cheio de urgência. Sem que me desse
conta, uma das minhas mãos estava na sua nuca, enquanto que a outra
agarrava firmemente seu traseiro perfeito. Parecia que íamos nos consumir
ali. Toda minha frustração da semana estava se desfazendo.... Até que fui
afastado com um tapa que estalou na pele do meu rosto.
— Não me toque, Caden Lutz! – Limpando a boca com as costas da
mão, Ava, tremia no que parecia ser raiva. — Não encoste em mim após ter
tocado em outra....
— Está louca? – Perguntei ainda ofegante do beijo e com o rosto
ardente pelo tapa. — Eu não fiquei com ninguém.
— Cale a boca. Você pensa que sou cega? Que não vi você é aquela
vagabunda se pegando no restaurante? – As coisas estavam ficando
interessantes.
— Está falando da Juliette?
— A vagabunda agora tem nome... – Os olhos da Ava cintilavam sua
raiva.
— Não me diga que está com ciúmes?
— Dios mio! Claro, que não. Eu vou me casar, Caden. Com
Giuliano...
— Às vezes, tenho a sensação de que você tenta convencer mais a si
mesma do que a mim. Você não ama aquele maldito bastardo, e nós sabemos
disso.
— Eu-eu gosto muito de Giuliano, Caden...
— GOSTAR NÃO É O SUFICIENTE, AVA. GOSTAR NÃO É O
MESMO QUE AMAR! – Sua boca se abriu várias vezes, mas nada disse.
— Oh, acho que... esqueci a bolsa do neném. – Helena apareceu do
nada e agora encarava sua neta com ligeira curiosidade. — Atrapalho? –
SIM! Quis gritar.
— Não, já estou de saída. – Ava beijou carinhosamente o nosso bebê
e quase correu para fora.
— Você é deprimente, rapaz! – Ótimo, agora a velha ia me
atormentar. Havia sido tudo culpa dela aquela maldita situação. – Humm,
pelo inchaço nos seus lábios, a coisa estava quente. Mas temo que o carimbo
na sua cara tenha selado o fogo inicial.
— Agora não, Helena. Não é um bom momento. – Falei pegando
meu garotinho dos seus braços e sentado no chão com ele junto a mim. Brian
me acalmava. E naquele momento, meu filho, era tudo o que eu mais
necessitava ao meu lado. O meu garotinho. O garotinho que jamais pensei
que fosse ter para chamar de filho!
Capítulo vinte e dois
Meu sangue se agitava apenas com a simples lembrança daquela
cadela enganchada e beijando o Caden. Não que eu tivesse alguma coisa com
ele ou com o que quer que ele faça do seu corpo, digo, vida. Há muito o
tranquei fundo no meu coração. Mentirosa. Ele havia me machucado tanto....
E sou tão estúpida, que acabei amolecendo. Quando ele começou a me beijar
naquele dia, foi como se o tempo, e a mágoa, não houvesse nos separado.
Naquele instante, Caden não havia sido o babaca imbecil de algum tempo
atrás. Eu deixei que o meu amor, trancafiado fundo no meu peito, por ele
prevalecesse e me perdi em seus braços. Nós nos perdemos um no outro, na
mais sublime estase. Apenas a voz de Giuliano, pobre Giuliano, me trouxe de
volta a realidade. Uma realidade que me envergonhava de ter traído meu
noivo. O homem que me amava e que sempre esteve ao meu lado quando
precisei. Sim, iria me casar com ele. Contudo, Caden, tinha que aparecer do
nada novamente. Ele tinha que me beijar.... E eu, estúpida como sempre,
ousei retribuir com a maior das fomes suas investidas. O maior desejo no
meu coração machucado era se libertar da prisão da qual era mantido cativo.
Liberdade para se entregar de bandeja ao meu algoz, era o que ele ansiava.
Porque sabia, cedo ou tarde, Caden iria machuca-lo novamente. Eu não
estava disposta a passar por tudo outra vez. Ainda haviam cicatrizes não
curadas....
Após um longo, tedioso e cansativo dia, chego em casa. Louca para
ver o meu pequenino e tomar um demorado banho relaxante. Eu podia estar
preparada para diversas coisas, mas não para encontrar Caden, ainda, na
minha casa e tampouco para a cena dele dormindo dentro do minúsculo berço
de Brian e com o pequeno bebê em seu peito tatuado. As lágrimas vieram
sem dar aviso prévio. Uma comporta havia sido aberta nos meus olhos. Acho
que nunca tinha visto Caden dormir com tamanha serenidade estampada no
seu semblante. Sua expressão feliz... e apaixonada. Não sei por quanto tempo
fiquei no batente da porta observando Caden dormir com Brian nos seus
braços. Talvez vários minutos, ou horas, não sei precisar bem quanto tempo.
Agora não haviam mais lágrimas, era um sorriso que a custo busquei
reprimir. Aquele momento precisava ser eternizado. Pensando assim retirei o
celular da minha bolsa e fiz várias fotos. Uma até bem de pertinho.... Brian se
parecia absurdamente com o pai, até sua feição ao dormir. Chegando mais
perto do rechonchudo rostinho de Brian, noto o motivo para Caden ter tirado
a camiseta. Sorrio. Vários vergões estavam sobre os desenhos das suas
tatuagens. Ele, possivelmente, tirou a camiseta para mostrar os desenhos para
o filho e o pequeno pareceu ter gostado bastante, pois pelo jeito, tentou
arrancá-los do pai. Olho para Caden e não consigo resistir, passo os dedos por
seus cabelos e os tiros dos seus olhos. Deus! Aquela mesma sensação
esmagadora, que me impulsionava a beijá-lo, ainda estava presente em mim.
Suspeitava que ela não iria me abandonar jamais. Ver Caden todo espremido
dentro de um berço faz com que minhas regras aplicadas ao coração,
voltassem à estaca zero.
— Não consigo sentir meus braços. – Me sobressalto com a voz
baixa e rouca de Caden. Era como se eu tivesse sido pega em flagrante,
fazendo algo de errado.
— Espere, vou te ajudar. – Falei depois de sair do torpor. Com
cuidado, pego Brian do peito de Caden, não pude evitar o arrepio que
percorreu o meu corpo quando as nossas peles entraram em contato uma com
a outra.
— Obrigado, docinho! – Desajeitadamente ele sai de dentro do berço
e se joga na minha cama enquanto eu colocava o nosso pequeno de volta ao
aconchego da sua. Brian deveria estar exausto, pois sequer se mexeu. — Ele
estava agitado, chorando, daí resolvi mostrar...
— ...as suas tatuagens. – Completei. — Ele pareceu gostar...
— Pode apostar que sim. – Fez uma careta de dor ao passar o dedo
pelo seu peito nu. Acompanhei o movimento do seu dedo com o olhar, não
consegui evitar o fogo que se espalhou pelo meu baixo ventre. — Sinta. –
Inesperadamente, ele puxou minha mão e me fez contornar os vergões. — O
rapazinho tem muita força. – Caden sorriu distraidamente. Não havia malícia
ou segundas intenções nas suas ações. — Pensei que ele fosse me esfolar
vivo! – Outro sussurro acompanhado de um sorriso e.... Oh, meu Deus! As
minhas pernas estavam bambas e a palma da mão que o tocava, parecia ter
sido incendiada.
— Bem... é... – Eu estava agindo como uma estabanada.
Gaguejando. Mas com um movimento rápido e fluído, Caden, se sentou na
cama e me puxou entre suas pernas. Eu nunca estava preparada para tanta
proximidade.
— Ava, eu te amo. – Falou com muita seriedade e me deu um beijo
casto nos lábios, me afastando em seguida. Depois se levantou e caminhou
até Brian e o tocou na bochecha. Caden foi embora logo em seguida. Saiu do
quarto e da casa, me deixando sem uma única reação. Caden....
Capítulo vinte e três
— Você é mesmo muito burro, rapaz! – Aquela era a décima vez que
Helena passava por mim e beliscava minhas costelas ao falar rispidamente o
quão burro eu era. — E não revire esses lindos olhos para mim... a não ser
que...
— Ok, entendi! – Saio o mais rápido que posso de perto daquela
senhora pervertida. Acho que a alegria dos dias dela consistia em tornar os
meus extremamente cheios de vergonha. Não havia nenhuma outra
explicação para isso.
À tarde que passei ao lado do meu filho, serviu para que eu refletisse
melhor sobre o modo em que as coisas estavam indo. Primeiro de tudo, eu
estava errado desde o início. Se eu era louco por Ava? Completamente, desde
sempre. Para ser sincero, acho que caí de amores por aquela mimadinha
desde a primeira vez que coloquei meus olhos sobre ela. Só que fui um
maldito puto com ela. Egoísta foi o que melhor me definiu. Que eu estava
passando por uma tremenda barra, todos já sabia. E Ava sempre esteve
comigo, me apoiando. Não importando a hora, o dia ou a razão. Ela sempre
estava lá por mim. Mesmo quando eu era o maior filho da mãe. Tudo que ela
queria em troca, sem pedir em palavras, era meu amor. Ela não estava em
busca da minha gratidão. Ela estava passando pelos mesmos pesadelos que
eu, pois me amava. Porém o que dei em troca? Desprezo, mesmo que o meu
coração gritasse surdamente que era amor o que queria demostrar para ela.
Todas as minhas atitudes, contribuíram para a razão de ser tratado, por ela,
como venho sendo. Se eu queria que Ava voltasse para o calor dos meus
braços, eu deveria provar que a amava. Que a amava incondicionalmente e
que foi um dos piores momentos da minha vida, os dias que passei distante
do seu amor. Demostrar que ela poderia contar comigo era essencial. Era
confiança acima de tudo.
— Você tem estado muito calado hoje, Caden. Está a fim de sair para
se divertir? – O sorriso faceiro e malicioso de Juliett estava me deixando à
beira da loucura do estresse. Ô mulher que não largava do meu pé. Parecia
chiclete.
— Já tenho planos com meu filho, Juliett.
— Filho? – A pergunta saiu mais parecida com um guinchado do que
qualquer outra indagação.
— Sim. Filho. Sou pai de um garotinho lindo e adorável.
— Não me lembro de você ter falado nada sobre ficar com Brian
hoje, Caden! – Era o som de um anjo brotando nos meus ouvidos. Era Ava.
— Ava? – Se a pergunta anterior parecia um guinchado, essa
lembrava muito mais a um fraco ganido.
— Oh, ainda não conseguiu aprender meu nome Julieta? – Precisei
morder a língua para não cair na gargalhada. Ava sabia o nome da pobre
mulher, mas havia decidido a esquecer momentaneamente.
— É Juliett...
— Certo Julieta. Agora, Caden, se vai realmente ficar com Brian hoje
– Seus olhos faiscavam com o que me parecia ser raiva. — ...vamos logo. –
Ignorando Juliett completamente, Ava, passou por mim e saiu do restaurante.
Não pude deixar de notar que Helena sorria e me mostrava os dois polegares
voltados para cima. — Meio burra essa sua namorada... – Falou como se
estivesse comentando sobre o tempo.
— Quantas vezes será necessário que eu diga, Ava? Eu não estou em
nenhum tipo de relacionamento com Juliett.
— Isso não é da minha conta, Caden. Pouco me importa com quem
você... humm, sai. – Bufei e revirei os olhos, não respondi. Se respondesse
acabaríamos discutindo a noite toda. Eu não queria bater boca com ela,
desejava poder acertar todos os nossos desentendimentos e ser feliz ao lado
dela.
— Brian estava agitado ontem. – Comecei. — Como ele está hoje?
— Bem – Parecendo surpresa com a mudança brusca de assunto,
Ava, ficou sem jeito. — ...ele tem estado nervoso por conta dos dentinhos
que estão começando a nascer. – Eu não entendia nada sobre aquilo, mas não
tinha dúvidas de que estava doendo. Caso contrário o pequeno não estaria tão
nervoso. — É que coça e dói um pouco. — Explicou ao notar minha
expressão de quem não compreendia o que foi dito.
— E não tem nada para aliviar isso?
— É como eu já disse, ele está melhor. Não se preocupe. –
Estávamos na porta da sua casa quando ela se dispôs a me dizer.
— Sua prima está cuidando dele? – Perguntei, já que Helena estava
no restaurante.
— Não. Giuliano ficou com ele enquanto eu buscava o nosso jantar
no restaurante. – Foi como levar um soco no estômago! — E pode ir
baixando a bola aí encrenqueiro! – Fiquei calado, respirando fundo e
tentando manter a calma. Outro homem estava com a mulher que eu amava e,
agora, também, com meu filho. Aquilo era demais para mim.
— Vamos entrar ou quer que eu vá embora? Não me responda. –
Completei rapidamente ao notar qual seria sua resposta. Nem precisei entrar
na casa para ouvir o chorinho doído e soluçado de Brian. Meu coração se
apertou diante daquele som. Não devo ter pensado muito no que estava
fazendo, pois no segundo seguinte Ava segurava com força as duas mãos
contra meu peito.
— Ei, Brian está agitado por conta dos dentes que estão nascendo.
Porventura acha que eu deixaria nosso filho nas mãos de alguém que eu não
confiasse? – Encarei seus olhos por um longo momento, tentando encontrar
algo que nem mesmo sabia ao certo que estava buscando.
— Não.
— Vejo que o seu papai veio te visitar, bebê! – Ouvi a voz do maldito
Giuliano. E foi-se embora a magia do momento entre Ava e eu.
— Ei pequeno. – Falei me dirigindo ao meu pequenino e ignorando o
italiano. — Vamos, se acalme. — O pequeno chorava a plenos pulmões
agora. — Venha, o papai vai cantar para você! – Estendi as mãos e peguei
meu filho dos braços daquele bastardo. Brian ainda chorava, então me sentei
no sofá e coloquei ele sobre meu colo, arranquei fora a minha camiseta e
puxei o miúdo sobre o meu peito.
— Será que ele precisa mesmo ficar pelado? – Se Giuliano pensava
que eu não entendia italiano.... Porra, ele estava enganado.
— Ele não está nu, Giuliano. Acho que é o momento de você partir! –
Sorri internamente com a breve discussão do casal. Meu sorriso interior se
desfez ao notar que eu havia pensado nos dois como sendo um casal. Porra.
Brian não havia se contentado apenas em beliscar e puxar a pele do
meu peito coberto de tatuagens, ele ainda continuava chorarando. Lembro
que Caleb, quando criança, me acalmava cantando uma música qualquer. Eu
não me lembrava de nenhuma daquelas músicas no momento, mas sabia de
uma que soava perfeita para a mãe do meu pequenino garotinho. Então
comecei a cantar....
Come rain or come shine.
"I'm gonna love you like nobody's loved you,
High as a mountain and deep as a river,
Come rain or come shine.
Well I guess when you met me
That it was just one of those things,
But don't you ever bet me,
'Cause I'm gonna be true if you let me.
You're gonna love me like nobody's loved me,
Come rain or come shine.
Happy together, unhappy together,
Won't that be fine?
Day may be cloudy or sunny,
We're either in or we're out of the money.
I'm with you always.
I'm with you rain or shine.
I'm with you always.
I'm with you rain or shine.
Tradução da música:
Faça chuva ou faça sol (tradução)
Eu irei amar você Como ninguém te amou
Faça chuva ou faça sol
Alto como uma montanha e profundamente como um rio
Faça chuva ou faça sol
Bem, eu acho que quando você me conheceu
Achou que fosse apenas uma dessas coisas
Mas você jamais apostou em mim
Porque eu serei verdadeiro se você me deixar ser
Oh você irá me amar Como ninguém me amou
Faça chuva ou faça sol
Felizes juntos, infelizes juntos
Isso não seria bom?
O dia pode estar nublado ou ensolarado
Nós estamos com ou sem dinheiro
Eu sempre estou com você
Eu estou com você faça chuva ou faça sol
Você irá me amar como ninguém me amou
Faça chuva ou faça sol
Feliz junto infeliz junto
Isso não será bom?
O dia pode estar nublado ou ensolarado
Nós estamos com ou sem dinheiro
Eu sempre estou com você
Eu estou com você na chuva ou no sol
Chova ou faça sol
Eu sempre estou com você
Eu estou com você faça chuva ou faça sol"
Depois de repetir a música umas cinquenta vezes, Brian, caiu num
sono profundo com ocasionais suspiros por conta do seu choro algum tempo
atrás. Ter aquele bebê pequenino nos meus braços, ouvir sua respiração e
poder sentir as rápidas batidas do seu coração... não tinha preço. Um nó se
formou na minha garganta ao sentir o delicado suspiro do meu filho. Sim,
meu filho. Um pedacinho de Ava e meu unidos em um só. Aquela pessoinha
tão inocente era minha única família. Um homem, pai, trancafiado atrás das
grades por espancar os filhos pequenos e assassinar a esposa não era família.
Aperto forte meu filho contra o peito. Eu seria tudo que ele precisasse. Tudo
que jamais recebi de um pai.
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" — Eu tô com muito medo, Cal! – Choraminguei contra o ombro do
meu irmão Caleb. — Por que a mamãe não acorda? Tô com tanto medo...
— Shiii, Caden. Fica calado ou ele vai nos encontrar no
esconderijo...."
●●●●●●●●●●●●●●●●●●●●●●●●●
— Ei, sou eu. – Me assusto ao sentir que Brian desaparecera dos
meus braços.
— Brian!
— Calma ele está no berço, dormindo. – Pisquei várias vezes na
tentativa de afastar a nevoa que o pesadelo havia impregnado na minha
memória. — Você está bem...?
— Só – Procuro não olhar nos seus olhos, pois não queria que ela
notasse a parcial mentira estampada nos meus. — ...um sonho ruim.
— Não queria ter te assustado. – Pesco o celular do bolso da minha
calça e encaro as horas. Puta merda! Uma da manhã.
— Caramba, não percebi que já era tão tarde assim! – Falei
esfregando os olhos e só então notei o que Ava estava usando, ou melhor, o
que ela não estava usando. E a imagem fez com que o pesadelo desaparecesse
da minha mente, pelo menos por enquanto. — Bem.... Humm... – Se ela
pensava que aquele robe fino de seda branca escondia alguma coisa, estava
muitíssimo enganada. Porra, meu pau começava a ganhar uma enérgica vida.
Ficou ainda mais feliz quando notei que um dos ombros de Ava estava
completamente nu, revelando quase o ápice de um mamilo. Porra eu já estava
duro, mas... — Qualquer coisa você pode me ligar. – Cacete, o que eu estava
dizendo? — Tem meu número, certo? – Falei com a respiração pesada e Ava
concordou com um movimento de cabeça. Tudo que eu queria era fazer amor
com ela até o nascer do sol, contudo, me inclinei na sua direção e cobri seu
delicado ombro com o robe. Sua respiração se igualava a minha naquele
instante. Sua pele ficou corada e seus lábios se entreabriram e um convite
silencioso. — Preciso ir, Ava. Amanhã começo cedo no trabalho e preciso
descansar um pouco. – Nem mesmo eu conseguia acreditar no que acabava
de sair da minha boca. Entretanto, não queria que ela me visse como alguém
que só pensava em sexo. Tudo que precisava que ela soubesse era eu a amava
acima de qualquer coisa. Ela e Brian eram as duas pessoas mais importantes e
que eu mais amava nesse mundo. Então dei um beijo leve nos seus lábios,
como sempre, e me despedi de Brian. Fui embora, a deixando sem reação.
Capítulo vinte e quatro
Eu sabia que o tempo estava contra mim. A verdade era que o
casamento de Ava estava cada dia mais próximo da sua realização e eu não
tinha mais o que pensar, além do quanto fui um completo imbecil. Talvez eu
merecesse mesmo aquilo... ficar sozinho, observando a mulher da minha vida
se casar com um babaca chamado Giuliano. Não importava quantas vezes eu
tentasse enfiar na minha cabeça, que o italiano não tinha culpa e que o
responsável por aquilo fui eu... porra! Eu não conseguia. E o fato de saber
que Ava não amava o tal Giuliano, só piorava tudo. Talvez eu devesse tentar
uma última cartada. Se bem que era um tanto bárbaro só pensar. Eu poderia
acabar atrás das grades, por sequestrar ela e o nosso filho antes do
casamento....
— Você vai continuar aí como um idiota ou fará alguma coisa,
rapaz? – Sorrio nervosamente para a senhora ao meu lado. Ava não se parecia
em nada com sua avó. E Deus livre que chegue a saber que a pobre
senhorinha está mancomunada comigo, contra o casamento dela e do italiano
"bom de papo". — Com essa cara de bocó ela vai notar o que estamos
tramando. Ela não é boba, menino. – A única parte que não me fazia relaxar,
era que a velhinha não conseguia manter as mãos por muito tempo longe de
mim. O olhar chocado no rosto das outras pessoas a deixava satisfeita.
Erámos iguais nesse ponto, o centro das atenções indesejadas.
— Não que eu consiga me sentir de modo diferente, vovó. – Faço
uma careta de falso desagrado, o que a deixava toda convencida.
— Ao menos tente disfarçar e pare de encarar o rapaz como se fosse
arrancar-lhe a cabeça fora do corpo! – Vontade não me faltava mesmo. —
Eles não têm culpa se você foi um cretino desalmado, que feriu o coração da
minha menina. O plano é o seguinte. Vou telefonar para que a Ava venha me
encontrar em Capri...
— Mas que diabos a senhora vai fazer em Cap... – Ganho um
peteleco dolorido na cabeça por perguntar.
— Como pode ser tão tolo, rapaz? É óbvio que não estarei em Capri,
mas você sim! – Antes que eu ganhasse um outro cascudo na cabeça, achei
melhor ficar só ouvindo e fechei minha boca. Dona Helena assentiu e me
lançou um lindo sorriso de aprovação, como se dissesse: "Bom, menino. Vejo
que aprendeu a ficar com a merda da tua boca fechada" — Ela irá até minha
casa na Villa e então você terá dois dias para fazer a mágica acontecer. O
sistema de segurança da casa irá trancar tudo, o que deixará a vocês dois
incomunicáveis por dois dias...
— E quanto ao nosso filho...?
— Acaso pensa que não posso cuidar de um bebê? – A voz
enfurecida da senhorinha começava a chamar à atenção para nossa mesa. —
Para a sua informação, eu pari cinco filhos homens e uma mulher, cuidei
deles sozinha! — Havia um brilho de satisfação e orgulho, nos olhos azuis
mar de Helena.
— Eu jamais pensaria o contrário, madame. – Acolhi suas mãos nas
minhas e me propus a conforta-la.
— Espero realmente que esteja dizendo a verdade, rapazinho! —
Sorrio de lado para ela, que logo começa a falar sobre seu plano novamente.
Quanto mais ela falava, mais eu tinha a sensação de que aquela mulher já fez
parte de alguma organização do governo. Até parecia a versão feminina do
007. — O negócio é, vocês dois terão dois dias para se acertarem até que as
portas se abram. E espero que o senhor saiba bem mais do que usar esse seu
"amiguinho" aí para conquistar e prender o coração de uma mulher. – Acho
que nunca havia corado na frente de ninguém. Mas ali estava eu, vermelho
diante do escrutínio da velha senhora. — Ora, rapaz. Sou velha, mas sei
muito bem a mecânica do pênis de um homem! — O sorriso dela era o sorrir
de alguém que estava se recordando do passado... ou talvez não fosse um
passado tão distante assim, dada a maneira lasciva que o sorriso se curvou na
boca da mulher. E eu pedia aos céus para que Ava não ousasse olhar na nossa
direção. Por mais que a cabine que a vovó e eu estivéssemos fosse íntima, o
que ela iria pensar se visse a avó agarrada ao meu corpo e sorrindo como uma
pervertida sexual?
— E quando é, exatamente, que a senhora pretende colocar esse
plano maluco em ação? – Perguntei com genuína curiosidade.
— Oras, amanhã é óbvio. Porventura acha que sou a mulher
maravilha ou a Super Girl? – Não, me precipitei ao dizer que Ava e a avó não
se pareciam. Aquele olhar cheio de sarcasmo, irônico e cético era igual para
ambas. Deve ser alguma coisa genética da família.
— Claro que não, senhora...
— Quantas vezes já pedi para que pare de me chamar senhora? Fale
simplesmente Helena, ou Helen... – Aquela última parte foi dita com luxuria
excessiva. Eu sorri da melhor maneira que pude. Afinal, ela era o mais
próximo de uma avó que eu conheci, e é da família da Ava. Algo a não ser
ignorado.
— Claro, Helena. – Frisei o Helena.
— Bem melhor. – Juro que a noite nunca pareceu mais longa.
Quando o último cliente saiu, eu praticamente corri para fora daquele lugar.
Respirar um pouco de ar me faria bem, ao menos eu esperava que sim. Não
que fosse resolver cem por cento de tudo, contudo....
Encarar o teto, sem o sono me invadir os sentidos, já havia se tornado
hábito. Maldita insônia! Um barulho no quarto vizinho ao meu, chamou
minha atenção. Ótimo! Era só o que faltava. Hóspedes trepando no quarto ao
lado. E se fossem os mesmos da semana passada, o que de acordo com os
gritos confirmava a dúvida, a orgia iria até o sol aparecer no céu. Aperto
fortemente o travesseiro contra minha cabeça, na tentativa vã de banir o som.
Eu poderia ir lá reclamar, mas o que dizer? "Será que daria para vocês
foderem com menos força"?
Helena definitivamente deve ter trabalhado como agente secreto.
Como uma senhora comum poderia arquitetar um plano perfeito como
aquele? Só alguém com vasta experiência no assunto pensaria em coisas
como aquelas ou talvez ela seja apenas a intrometida da família mesmo.
Sorrio diante da segunda opção. Ela era adorável, mas sabia como deixar
qualquer um maluco, em pouquíssimo tempo. E eu, a essa altura, já estava
arrancando os cabelos aos tufos.
— Entendi, Helena. – Falo pelo que pareceu a milionésima vez. — O
sistema de segurança precisa ser armado assim que ela estiver dentro da casa.
— Vê se não fica agindo como um idiota e vá se esquecer do sistema
de segurança. Mais uma coisa – Sorrio nervosamente enquanto piso no
acelerador, rumo a costa. — Só uma motivação extra.
— Sim?
— O casamento foi antecipado para esse final de semana. — Puta
merda. Precisei frear o carro rapidamente, ou acabaria fora da pista.
— Como?
— Ah, faça-me o favor! Você me entendeu, é melhor da audição do
que eu, com meus oitenta e três anos.
— Desculpe. – Aquela senhorinha era fogo!
— Chega de tanto se desculpar, sei que na maioria das vezes o que
você na verdade quer é me mandar para a p...
— Ok, pare! – Ela estava tentando me distrair da desgraça que ela
havia acabado de depositar nos meus ouvidos. A minha Ava, o amor da
minha vida, tinha antecipado a data do seu casamento em quase cinco meses.
E o idiota aqui pensando que estava progredindo com suas demonstrações
sinceras de amor. A merda, Caden. Isso só serviu para fazer com que ela
decidisse se prender ainda mais rápido ao babaca italiano! — Quando foi que
ficou sabendo que, Ava, mudou a data do casamento?
— Eu sou uma das madrinhas dela, delícia! – Como uma senhora
com aquela idade podia ser tão...? — Preciso saber o dia do casamento,
certo?
— Óbvio. – Pude ouvir o sorriso rouco de Helena do outro lado da
linha.
— Acho melhor impedir esse casamento, caso contrário acabarei com
você! – Ela parecia uma mafiosa italiana me ameaçando. A segunda hipótese
para Helena, sendo que a primeira consistia nela ser uma espiã internacional
aposentada, era que ela pertencesse a máfia italiana. Conveniente e mais
certeiro. E se esse fosse o caso eu estaria em apuros. Ou talvez ela estivesse
apenas lendo demais Mario Puzo. Sim, eu Caden, leio também.
— Certo, madame. – Desliguei o celular e liguei o carro, saindo em
seguida. Quando mais tempo eu perdesse parado nesse estacionamento, mais
perto Ava ficava de se casar com o italiano. Acerto diversos socos no volante
do carro e percebendo ser algo inútil... sigo até a Villa. Maldita hora que me
deixei ser influenciado por uma senhora maluca. Penso assim que paro o
carro em frente à casa de Helena. Que convenientemente, ficava a várias
milhas de qualquer vizinho. Fecho a porta do carro com violência
desnecessária e entro na casa. Ava poderia me odiar o resto da vida por isso.
Eu não podia prender ela ali só para que não se casasse. E por mais que me
machucasse, a decisão já estava tomada, eu não iria acionar nenhum sistema
de segurança e nós exilar do mundo por dois dias. Eu poderia conviver vendo
Ava casada com outro homem, mas não com seu desprezo e raiva. Ela era
importante demais para mim para que eu a fizesse infeliz novamente.
Decidido esperei por ela. O que não levou muito tempo. Ouvi primeiro o som
dos pneus do carro contra o cascalho, uma porta sendo aberta e fechada,
depois os passos de Ava. Sim, eu reconhecia até mesmo o som dos seus
passos onde que os ouvisse. Permaneci sentado na poltrona de frente para a
lareira enquanto a ouvia girar a maçaneta da porta para abrir. Continuei no
mesmo lugar quando a porta foi aberta e o susto estampou seu lindo rosto.
— Oi.
— O que está fazendo aqui...? Veio buscar o vestido da vovó Helena?
— Não.
— E o que faz aqui?
— São muitas perguntas, docinho. – Sorri sem humor.
— Não estou para brincadeiras Caden. Muito menos com tempo para
elas.
— Estou ciente disso, amor.
— Já pedi para não se referir a mim assim. Onde está o vestido da
vovó Helena? Preciso voltar rápido porque... porque....
— Está atrasada para a última prova do seu vestido antes do
casamento... amanhã. – Falei tentando engolir o nó na minha garganta e
desesperado para disfarçar a dor na minha voz. Ela ia ficar linda num vestido
de noiva e se casar com outro, não comigo! — O vestido da Helena está com
ela.
— Mas então...
— Foi só um pretexto que ela armou para te fazer vir parar aqui
comigo. Ela possui a tola ilusão de que sou capaz de fazer com que você
mude de ideia quanto a se casar com aquele bastardo. – Ava permaneceu
calada, mas podia notar o leve tremor no seu lábio inferior. — Tudo não
passou de um plano, do qual, acabei sendo meio que obrigado a participar. –
Dei um meio sorriso de lado e fiquei sério. — Você a conhece, talvez até
mesmo melhor do que eu.
— Eu não acredito no que acabei de ouvir! – Sua pele estava
vermelha, sinal indicativo de raiva. — Como pôde fazer isso? Estragar o meu
casamento....
— O seu casamento não foi arruinado, Ava. Ainda dá tempo para que
você volte e se case. — Falei as últimas palavras amargamente.
— Pois é exatamente isso que farei Caden...
— Seja feliz ao lado de alguém que você não ama. E que todos os
dias ao acordar você se lembre da sua decisão. Todas as noites antes de ir
para cama quero que você coloque a sua cabeça no travesseiro e se lembre
que se casou com um homem que não ama porque é teimosa demais para
enxergar o que está debaixo do seu próprio nariz. Que eu te amo! – Ela
permaneceu em silêncio por algum tempo.
— Foi você quem me deixou em primeiro lugar... – Sua voz era
contida e foi crescendo de tom. — ME EXPULSOU DA SUA VIDA COMO
SE EU NÃO VALESSE O CHÃO QUE VOCÊ PISA. EU TE AMAVA....
— Você ainda me ama e sinto muito por tudo que fiz. Já pedi perdão.
— E eu já perdoei. Contudo, perdoar não é esquecer. Não é apagar a
dor que me consumiu durante todo esse tempo. – A àquela altura, as lágrimas
desciam pelos olhos dela como cascatas. Tudo que eu mais queria era
enxugar suas lágrimas e beijar cada pedaço da sua face, mas... não o fiz.
— Você não tem ideia do quanto me arrependo da estupidez que
cometi. Sinto raiva de mim toda vez que me lembro que a fiz sofrer. Que a
magoei. – A sinceridade estava impregnada em cada palavra que deixou
minha boca. — Se pudesse voltar no tempo e não ter te magoado eu o faria.
Mas, como bem sabemos, isso é algo impossível. Tudo que posso fazer é me
martirizar o resto dos meus dias e te pedir perdão. É provar o quanto eu te
amo e que me arrependo. Tudo que preciso é da oportunidade de estar ao seu
lado para que possa tornar você a mulher mais amada do mundo. Para que eu
possa te amar em cada segundo dos meus dias. Te amo tanto Ava, que se
houvesse algum modo de poder prever o dia do seu último suspiro – Uma
lágrima escapou rolando por meu rosto. — ...juro que daria fim ao meu antes,
para que não pudesse viver sem a sua presença. – Sua respiração ficou rápida
e audível, a minha não estava diferente. Me aproximei e toquei seu rosto
molhado por lágrimas. — Eu te amo.
— Não faz isso Caden...
— Dizer que te amo? Que te amo mais do que tudo nesse mundo?
Que você e Brian são as duas pessoas mais importantes da minha vida? –
Tomei seu delicado rosto entre as minhas mãos. — Sinto muito, meu amor,
mas não posso. Não consigo mentir para o meu coração.
— Caden... eu....
— Shii. Não diz nada, meu amor. Só me dê a oportunidade de provar
para você o quanto te amo. Só.... – Inesperadamente nossos lábios se uniram
em um beijo desesperado. Por iniciativa própria, ela, une as nossas bocas. E
como se ela fosse frágil como cristal a seguro contra meu corpo. Tão frágil e
forte que minha necessidade era de que os nossos corpos se unissem em um
único. Seus delicados braços envolveram meu pescoço e me seguraram no
beijo ...como se eu fosse escapar. Jamais! Precisava daquele beijo, a prova de
que tudo que eu disse era a mais pura e límpida verdade. Mas assim como
aquele beijo era minha necessidade, o mais importante era saber se ela havia
realmente compreendido o que eu estava sentindo naquele momento. Então
afastei minha boca da dela. Necessitava saber.... — Ava, eu te amo. Te amo
tanto, meu amor.... – Acariciei sua bochecha com o meu polegar. — Me diz
que não estou alimentando falsas esperanças, me diga que está pensando
seriamente no que te falei.... – Seus lindos olhos pareciam cintilar nos meus.
— Não sei. – Aquilo não era exatamente o que desejei ouvir. — Está
uma bagunça aqui dentro, Caden! – Ela tocou sua própria cabeça ao dizer. —
Estou tão confusa, com medo.... Principalmente com medo, Caden. Tenho
medo de que eu leve outro tapa na cara do destino. Que tudo se repita e que
você me faça sofrer....
— Me dê a oportunidade de te provar que mudei, meu amor. Deixa-
me te amar do modo correto, do jeito que você merece ser amada....
— Preciso pensar, Caden! – Ava se afastou de mim e levou as duas
mãos ao rosto. — Não posso simplesmente fingir que nada aconteceu, que
você não agiu como um maldito cretino comigo. – Ela se virou e me encarou
nos olhos. — Eu não posso simplesmente ligar para o Giuliano e dizer que
não haverá mais casamento. Eu não sou assim, você mais do que ninguém,
deveria saber que possuo princípios. – Era verdade, por mais que me
agradasse a opção de ela ligar e cancelar o maldito casamento.
— Não estou pedindo para você esquecer, ou cancelar o casamento
por telefone sem dar satisfação. Tudo que peço é apenas a oportunidade para
te amar da maneira certa....
— Você só está tornando tudo ainda mais complicado, Caden. Eu
queria poder dizer que te amo e que está tudo bem, que podemos recomeçar
de onde paramos e esquecer o mundo imersos nesse amor....
— Você não me ama mais, é isso? – Aquela dor inconfundível se
alojou dentro do meu peito. — Se esse for o caso, não te importunarei mais.
Mas te peço, por tudo que há de mais sagrado em sua vida, não afaste Brian
de mim.... – Por longos e torturante minutos ela me encarou. Talvez tenham
sido apenas segundos, mas não estava contando para saber. Apenas demorou.
— Não é isso, Caden. Eu...
— Basta dizer, olhando dentro dos meus olhos, que não sente nada
por mim e que não me ama mais....
— Não posso....
— Não pode por que me ama ou por que não...?
— Eu tentei não sentir mais, está bem? – Em uma súbita e brusca
mudança de humor ela esmurrou meu peito, contudo por mais força que ela
empregasse no ato, sua ira não me causava nenhuma dor física. — Lutei
durante meses para poder te esquecer, não te amar. Daí quando eu consigo
seguir com minha vida em frente você aparece do nada. Você surge e faz com
que o meu coração volte a sonhar e a ter esperanças de que tudo pudesse dar
certo. Faz com que ele sinta o que jamais foi capaz de esquecer....
— E o que ele não é capaz de esquecer?
— Que te ama.... – Aquela era a resposta que eu ansiava ouvir há
muito tempo. Tempo demais. Era como se o mundo tivesse sido tirado das
minhas costas. O meu peito parecia querer gritar a alegria que explodia
dentro de si.
— Isso não é algo ruim, docinho.
— É claro que é! E não me chame de docinho, já pedi.
— Não vejo como....
— Mas eu sim, e posso dizer que também senti o quanto isso pode
ser ruim para o meu coração. Não pretendo sofrer novamente, Caden....
— Pois é exatamente isso que você fará ao tal Giuliano se casar com
ele. Você não o ama....
— Caden, eu te odeio.
— Não, não odeia. Acabou de confessar que me ama. — Falei com
um sorriso enorme enquanto a deixava desferir mais alguns socos indolores
contra meu peito.
— Sim, mas ainda te odeio seu cretino de uma figa....
— Eu te amo, docinho.
— Eu sei. – Então lentamente ela deixou sua cabeça repousar contra
meu peito, substituindo os punhos por sua testa. — O que vou fazer? Não
quero fazer Giuliano de bobo....
— Não seria a primeira....
— Ele sabe da minha recaída, Caden! – Puta merda!
— Você contou para ele que nós... o que fizemos naquele dia?
— Por acaso pesa que não diria? Giuliano queria me levar para cama!
Não podia fazer.... – Uau, e é match point! Como levar um soco na cara, no
estômago, ter as bolas esmagadas.... Eu poderia ter ficado sem ouvir. — Foi o
que pensei....
— Por favor, não diga mais que aquele cara dormia com você. Não
suporto saber que outro homem teve o prazer de te ter.
— Essa foi a piada do dia? Por que se for você está de parabéns,
senhor fode meia San Francisco. Não seja tão hipócrita.
— Ok. Vamos parar por aqui, certo? – E então o celular dela
começou a tocar.
— O que eu faço, meu Deus? – Pela maneira que seus olhos estavam
arregalados deveria ser o italiano.
— O que pede seu coração, Ava. – Foi o que disse antes de sair da
sala e deixá-la sozinha com a ligação. Eu não podia fazer mais nada do que
aquilo que já tinha feito. Pressioná-la a fazer o que eu queria não era uma
opção válida. Deixaria que ela se decidisse e seria o que Deus quisesse.
Eu deveria estar nervoso com o que quer que Ava estivesse falando lá
dentro ao celular, contudo, não estava. Por mais que eu desejasse que ela
decidisse por me dar uma chance, a felicidade dela era mais importante para
mim. E se isso significasse que ela iria prosseguir com o casamento, não
havia muito o que eu pudesse fazer. A verdade era que eu não faria. Depois
de tudo que a fiz sofrer ela merecia mais do que ninguém a felicidade. Não
seria um puto como eu que iria privá-la disso. Depois de muitas noites de
sono incômodo, nada melhor do que um lugar silencioso e sem gemidos
alheios para dormir. A cama do quarto de hospedes de Helena parecia me
convidar sedutoramente para seu aconchegante conforto. Eu apenas cedi ao
impulso e me joguei na sua brandura, dando apenas tempo de me livrar do
bendito coturno dos pés. Não percebi o quão cansado estava até que os
sonhos viajaram de um a um em minha mente, confesso que em todos eles
Ava dizia que me amava e começávamos o mais delicioso dos beijos nos
braços um do outro.
Capítulo vinte e cinco
AVA
— Sei que parece loucura, Giuliano! – Falei em meio a um nervoso
sorriso.
— Sim, isso é loucura. Não que eu não goste da ideia...
— Está esfriando os pés?
— Claro que não, mas ambos sabemos o motivo para essa louca
precipitação sua. Caden, o nome dessa sua decisão é seu ex-namorado.
— Eu nunca menti para você, Giuliano. Você sempre soube que
nunca te amei e que meu coração, por mais ferido que estivesse, e está,
pertencia a outro homem.
— E mesmo assim eu assumi o risco, Ava. Assumi, porque te amo e
por mais absurda que a situação pareça eu tenho a esperança de que você
ainda possa, algum dia, vir a me amar.
— Obrigada.
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E foi assim que há três dias tomei a decisão de antecipar o casamento.
Estava confusa naquele dia e estou mil vezes pior agora. Não sei como lidar
com a situação. Com o Caden cretino e imbecil de antes eu sabia lidar, porém
com esse Caden... carinhoso, sincero e cheio de emoções... com esse fico
completamente perdida e não sei o que fazer. Deus! Minha cabeça estava
uma loucura e o meu coração um tormento só. E ainda descubro que a vovó
Helena estava mancomunada com o Caden.... Sim, um verdadeiro inferno é o
que se tornou tudo. E agora estou sozinha ao celular com Giuliano.
— Eu sei que a louca e precipitada decisão foi minha e, sei também,
que você foi contra....
— Uma salva de palmas para ela! – Odiava quando ele era irônico.
— Agora vai me dizer que não haverá casamento? – Fiquei estupefata com a
arrogância dele, mas por mais grosseiro que ele estivesse sendo comigo eu
merecia cada minuto daquilo.
— Sim.
— Sim haverá casamento ou não, não haverá mais a porra de um
casamento?
— NÃO, NÃO HAVERÁ MAIS A PORRA DE UM
CASAMENTO! Satisfeito com minha confissão?
— Confissão? Não me faça rir, a decisão de não haver casamento eu
já havia tomado há cerca de cinco horas atrás quando te ouvi suspirar por
esse maldito arruaceiro americano durante o sono! — Eu não tinha resposta
para aquilo. Eu nem mesmo sabia que havia sonhado e tampouco chamado
por Caden durante o sono.
— Espero que ainda possamos ser amigos Giuliano...
— Cião, Ava! – E a linha ficou silenciosa da voz dele, somente um
longo tuuuuuuuuuuuu eterno. – Foi pior do que poderia ter imaginado. Fiz
um cara legal sofrer e passar por uma situação constrangedora, como não
sendo o bastante agora eu estava chorando copiosamente. O que estava
acontecendo comigo? Dizer que a indecisão regia meus segundos era mera
semelhança. Que estava sem saber qual seria a decisão correta a seguir, era
verdade. Talvez eu estivesse errada o tempo todo, desde o momento que
tentei me obrigar a esquecer do Caden. Talvez eu soubesse que era
impossível tentar amar outro alguém, talvez soubesse inclusive que nada
entre Giuliano desse certo. Os talvez giravam e giravam, me deixando
completamente zonza e ainda mais confusa.
Caminho sem rumo através da casa que um dia fora tão acolhedora
para meu espirito triste. Nada me consola mais ali. Apenas a indecisão e o
medo gritavam dentro de mim. Medo de me ferir novamente. De que tudo
torne a se repetir. Silenciosamente vago cômodo ante cômodo. Sozinha com
meus pensamentos mais próximos do que meu coração anseia como um louco
e desvairado. Caden! É por ele que minha alma grita. Como que por obra do
destino me deparo com a porta de um dos quartos abertas e dentro do mesmo,
a fonte da minha angustia dorme. Posso ouvir sua suave respiração indo e
vindo. Nada mais além de uma suave luz da tarde entrando pela tremula
cortina fina do quarto. Caden dorme tão profundamente que seus lábios estão
afastados um do outro e nada além de uma delicada respiração é ouvida.
— Ava... – Caden chama por mim, mas em sonho. E minha decisão
está tomada.
Capítulo vinte e seis
Ao abrir meus olhos ainda acredito estar sonhando, pois de que outra
maneira Ava estaria junto a mim com meus braços a envolvendo? Seu cheiro
na minha pele.... Há quanto tempo ela estaria ali? Pouco me importava os
segundos, os minutos ou as horas. Tudo que o meu peito gritava sem som era:
Ela está aqui comigo. Aproximo meu rosto um pouco mais dos seus cabelos
e inalo a sua essência. Cheiro de Ava e algo mais, mas não me atento aos
outros perfumes o mais importante eu já tinha sentido e estava impregnado
em grande parte de mim. Se isso fosse um sonho eu não tinha nenhum desejo
de acordar. Eu dormiria para sempre se preciso fosse. E não era sonho, pois
Ava permanecia nos meus braços. Completamente à vontade contra o calor
do meu corpo. Parecia ser muito tarde para que ela ficasse longe do nosso
filho. E se o miúdo estivesse sentindo falta da mãe? Se estivesse com fome?
— Docinho? – Nada. Eu sorri. — Gatinha? — Nada e mais alguns
sorrisos meus. — Docinho, meu amor...
— Humm... – Uma incompreensível resposta.
— Não sei que horas são, mas talvez devêssemos voltar e ver se o
Brian precisa de você! – Ao ouvir o nome do pequeno ela despertou por
completo.
— Aconteceu alguma coisa? A vovó Helena ligou?
— Não é nada disso...
— Não se preocupe, vovó Helena estará cuidando dele até amanhã....
– Eu não sabia muito bem o que aquilo significava, mas deveria ser algo
bom, não é mesmo? Ela ainda estava ali, não me expulsou da casa ou me
afastou quando acordou. Isso deveria ser um bom sinal ou talvez fosse apenas
minha mente me pregando uma peça na nevoa do sono.
— Se você diz...
— Não haverá mais casamento. – Soltou do nada e sem rodeios. —
Giuliano e eu decidimos nos afastar. Bom, a verdade é que ele não quer mais
me ver nem pintada de ouro. – Aquilo soava bem. Muito bem.
— Então isso quer dizer que decidiu nos dar uma segunda chance?
— Talvez.
— O que você quer dizer com isso?
— Vamos nos conhecer Caden, como se fosse a primeira vez. –
Definitivamente isso era meus pedidos sendo atendidos.
— Caden Lutz, loucamente apaixonado por você docinho. – Seu
sorriso era a coisa mais linda que eu via em muitos dias.
— Pare com isso, seu bobo. Sei bem o pervertido que você é.
— Hum, estou gostando do rumo dessa conversa. – Apertei minha
ereção contra seu quadril e ouvi sua delicada risadinha sacana. Essa sim se
parecia com a doce Ava que eu conheci durante aquelas semanas em que
namoramos em San Francisco.
— Eu também. Confesso que gostando mais do que deveria gostar.
— Sorri largamente para ela. — Contudo sou uma garota que só vai pra cama
depois do terceiro encontro. – A diversão na sua voz era um imenso alívio
para minha alma.
— Acho que essa garota é bem mais difícil do que isso. Demorou
cinco anos para que eu conseguisse te levar pra minha cama.
— Verdade. – Agora ela havia ficado seria. Porra. Será que eu tinha
estragado as coisas? — Mas essa de hoje está louca para fazer amor com o
cara que ela ama, apesar de ter negado a si mesma por tanto tempo. – Por
essa eu não esperava.
— Obrigado.
— Pelo quê?
— Por nos dar uma segunda chance. Por me dar a oportunidade de
mostrar que mudei. – Acariciei seu rosto e vi amor nos seus olhos. Como
pude ser tão estúpido e ter feito a mulher mais especial do mundo sofrer? Se
arrependimento matasse.... As carícias vieram lentas, suaves e um tanto
contidas. A suavidade do seu corpo, da sua pele contra a minha, ainda me
fascinavam como na primeira vez que a toquei. Perfeita! Sua boca de curva
sensual veio exigente de encontro a minha. Em um rogo, um pedido
silencioso. E a beijei. A beijei com a ternura e selvageria que nunca antes
havia me atrevido a demostrar para ela. Agora eu me sentia completamente
livre, a fim de lhe mostrar meu verdadeiro eu: o cara marrento e
encrenqueiro, mas que sabe ser carinhoso e gentil. Que é romântico e safado
nas mesmas proporções. O cabeça dura e o brincalhão. O homem que é
completamente louco por aquela mulher. O verdadeiro Caden dentro de mim,
o que ama a Ava e o nosso filho com todas as forças do mundo. Avancei
sobre seu corpo e a despi de suas roupas, que na minha humilde e sincera
opinião eram muitas para meu estado atual. A cada peça a ser removida do
seu corpo, eu parava para beijar e contemplar a mulher linda diante dos meus
olhos. Seus seios fartos, mais beijos... A sua cintura que eu poderia
perfeitamente envolver com as mãos, mais beijos por ali... Sua barriga com
leves estrias. Deus, beijei lentamente cada uma delas e um pouco mais. Elas
eram lindas para mim, um lembrete de que dentro daquela perfeição foi
gerado nosso filho! Seus quadris, minha língua percorrendo languidamente
sua curva e depositando vários beijos... Ah, os seus quadris! Esses me faziam
um completo depravado impaciente por segura-los enquanto eu me enterrava
profundamente dentro dela... de quatro diante de mim. A simples imagem que
permeou meus pensamentos fez com que minha, já pronta, ereção se tornasse
ainda mais dolorida de desejo. Não me senti estúpido e grosseiro ao seguir
com as caricias, agora, desenfreadas. Ava estava no mesmo frenesi que o
meu. Ambos completamente desesperados pelo ponto alto daquele momento.
Suas delicadas mãos desabotoaram meu jeans com facilidade e rapidez. Eles
já se encontravam no chão. A camiseta estava no mesmo lugar e agora a
minha boxer também. Com a ereção no auge diante dos seus olhos, ela sorriu
e a tomou nas mãos. Ava sorriu, eu gemi no mais puro e cru prazer. As
minhas fantasias em forma de lembranças estavam tornando a se repetir
naquele momento. A cada movimento lento e sensual de descer e subir das
suas mãos... mais tesão e próximo da loucura da estase eu estava. Quando,
com lentidão, olhei na sua direção e a vi fazer menção de me colocar contra
seus fartos e macios lábios... não pude mais me conter. A colei com as costas
contra o colchão e mergulhei dentro do seu sexo úmido e quente. Gememos
alto em tom igual, unidos no prazer puro da carne. Não conseguia parar de
contemplar aquela que me fez enxergar o mundo com os olhos que jamais
imaginei que possuísse. A cada gemido cadenciado que abandonava sua
boca, eu ia mais além do limite. A cada instante que minha boca e mãos
exploravam seus turgidos mamilos, ela gritava meu nome. E sendo
consumido a cada segundo pela onda luxuriante do prazer, ia mais rápido,
mais duro e profundo dentro dela. Já prestes a explodir nas inexplicáveis
ondas do orgasmo, a olhei nos olhos...
— Eu te amo, Ava! – Expressei o que gritava meu coração. O som do
seu gozo desencadeou o meu e após ter até minha última gota de prazer
drenada por seu corpo, desabei com cuidado sobre ela que ainda gemia
baixinho seu deleite misturado ao meu nome. Eu não conseguia parar de
depositar beijos por todo seu rosto. Talvez não fosse capaz de me afastar dela
por muito tempo ou fosse medo de que ela desaparecesse como sempre fazia
pelas manhãs assim que eu despertava... dos sonhos.
— O que foi? – Perguntou após alguns minutos.
— É com custo que admito – Sorri constrangido. — ..., mas tenho
medo de que você vá embora como acontecia todas as manhãs quando eu
acordava.
— Estou aqui e não tenho planos de sair por longas e longas horas. –
Sorriu radiante e se inclinando para me beijar. Se aquilo fosse um sonho... eu
jamais queria acordar.
Havia um clima de paz pairando no ar. Algo que não sei se já havia
experimentado antes. Ava sorria e cantava uma música despreocupadamente
enquanto o vento agitava seus cabelos. Ela parecia uma pequena fada saída
dos contos. Eu sorria apenas por ver sua felicidade e ela era tão, tão, linda
que jamais me cansaria. Desviei a atenção para estrada, pois deveria prestar
atenção enquanto dirigia. Contudo vez ou outra a observava. O caminho foi
feito tão rápido, ao contrário da minha ida que acabei me sentindo um tanto
quanto frustrado por aquilo.
— Quais são seus planos, docinho? – Era incrível que estivéssemos
juntos, mas esse era o momento de saber quais seriam os planos dela de agora
em diante.
— Acho que penso em visitar meu pai em San Francisco. – Sua voz
soou melancólica. — É que sinto muito saudades dele. – Completou.
— Então voltamos pra lá! – Não era o lugar que te fazia feliz, mas
sim as pessoas ao seu redor. Por mais que San Francisco só me recordasse de
coisas um tanto quanto desagradáveis, com Ava, eu seria feliz. Com ela e o
nosso filho junto a mim eu seria feliz em qualquer lugar! — Assim que se
sentir preparada partiremos. – Ela sorriu e apertei sua mão na minha em sinal
de compreensão.
Capítulo vinte e sete
O Caden, que todos diziam ser, havia ficado para trás e quem eu
realmente sou havia vindo à tona. Agora sempre penso três vezes antes de
cometer alguma burrice, antes de foder com minha vida. Agora possuo três
vidas a que devo tomar conta e evitar que sejam destruídas. Se antes eu me
considerava homem, hoje sou infinitamente mais do que fui um dia. Fazia
cerca de três meses que havíamos desembarcado no aeroporto de San
Francisco, mas Ava ainda não fora ver o pai. Às vezes, tenho medo de que
ela tenha se arrependido da decisão ou que se envergonhe por estar comigo.
O dinheiro da casa que vendi me rendeu uma grana razoável e a oportunidade
de começar um negócio para mim mesmo, em sociedade com Gerald, é claro.
Gerald, apesar de um maldito puto, era meu único e melhor amigo desde a
adolescência. Trabalhar com ele seria muito bom. Bom para ambos E o sonho
de abrir uma empresa na área da segurança estava se tornando realidade.
Nada incrível e enorme demais. Era algo pequeno, por enquanto, simples e
que os nossos clientes pudessem confiar.
— Finalmente encontrei, meu amor. — Ava havia chegado com
Brian e estava radiante ao dizer o que eu não fazia a mínima ideia do que se
tratava — É perfeita!
— Fico muito contente que tenha encontrado e gostado, apesar de
não ter a menor noção do que você esteja falando, docinho. – Falei após
beijar ela delicadamente nos lábios e dar aquele cheirinho delicioso no nosso
pequeno garotinho.
— Encontrei a casa. – Porra, eu não me sentia nada bem com a ideia
de ela ter que comprar a casa em que iriamos morar. Era machismo, muitos
vão pensar. Mas não era bem assim. Sinto que deveria ser eu a prover isso
para ela ou ao menos nós dois em conjunto a fazer. — Não me faça essa cara
de desagrado, Caden! Você precisou investir cada centavo de dólar no
empreendimento, não me venha com essa torpe ideia de que comprar a casa é
coisa só para o homem se preocupar. Não vivo no século 15, Caden! – E
como um furacão ela deixou o escritório.
— Porra, ela era pior do que me lembrava. – Gerald entrou no mesmo
momento que Ava saía e senti uma imensa necessidade de fazer com que ele
engolisse os dentes por conta da piadinha.
— Cale a boca, Gerald! – Cuspi e continuei a avaliar um possível
contrato com um cliente em potencial. — Ela é impossível, mas a amo
demais! – Confessei com um sorriso meio de lado. Ele balançou a cabeça e
eu o olhei de cara feia, mas bem lá no fundo não estava realmente chateado
com ele.
Os dias se transformaram em semanas e finalmente em meses.
Tínhamos, agora, o antes relutante senhor Collins quase que um hóspede
diário em nossa casa. Sua aversão por mim havia entrado em hibernação e
vivíamos em paz. Confesso que o velho era, no fundo, um cara muito gente
boa e por incrível que possa parecer: engraçado. Bastava ver a felicidade
cintilar naqueles lindos olhos da minha garota para que, tanto o velho quanto
eu, reafirmássemos a nossa recente trégua por um bem maior. Além do mais,
era muito bonito de se ver a intensa relação do homem com o neto. O velhote
venerava o pequeno e isso o fazia ganhar pontos comigo. Contudo, apesar de
todas as bênçãos na minha vida naqueles últimos tempos, havia algo que
estava me deixando completamente apavorado. Toda fonte daquela angustia
era uma carta, uma notificação da penitenciaria da Califórnia. Porra, pensei
que aquele maldito desgraçado iria apodrecer na cadeia. Mas pelo visto eu
não sabia de nada mesmo. O homem que, tanto meu irmão quanto eu,
abominávamos em nossa infância e que havia sido preso sob acusação de
assassinato, havia fugido há cerca de três meses. Como um velho maldito
como aquele havia fugido? Nunca pensei que voltasse a ter notícias do
assassino da minha mãe. Se soubesse que ter deixado meu lindo furacão de
cabelos claros passar por aquelas portas fosse me deixar tão angustiado,
jamais teria permitido sua saída. Uma discussão boba.... Algumas horas mais
tarde, um almoço perdido e sem nenhuma notícia, Ava havia sumido do
mapa, outra vez. Nem mesmo toda uma equipe de homens em sua busca era
suficiente. Liguei para todas as pessoas que considerei serem suas amigas,
mas nada foi relevante. Muitos sequer sabiam que ela havia voltado a São
Francisco. Brian estava com o avô, então Ava saíra sozinha e para minha
raiva e angustia... ela havia driblado os incompetentes que eu colocara em seu
encalço. Era como voltar no passado e vê-la dar um olé na equipe de
segurança que seu pai colocava para protege-la. Fui o único que ela não
conseguiu passar para trás, mas tenho minhas suspeitas. Talvez ela só não
quisesse fugir de mim....
— Não sei se deveríamos ficar tão preocupados. – Minhas mãos se
fecharam em punhos ao ouvir uma merda daquelas. — Talvez ela só tenha se
cansado dessa sua cara feia e tenha decidido curtir uma noite de sexo por aí!
– Eu tentei... Juro que tentei, mas não consegui me segurar. Gabriel havia
pedido por aquilo e meu punho foi certeiro na cara dele. Logo nós dois
estávamos sendo segurados e a briga apartada.
— Vou te matar se falar assim dela outra vez. – Com um sorrisinho
cínico ele cuspiu sangue no chão.
— Isso é uma ameaça, empregadinho?
— Não. É fato! – E mais uma vez os caras precisaram nos separar.
Porra, eu deveria estar procurando por Ava e não brigando com um merda
como Gabriel. As horas, minutos e segundos se passavam sem que nem uma
miséria notícia dela fosse dada.
— Já tentamos o celular, mas ela, como sempre, não estava com ele.
– Porra, já havia me cansado de falar para que ela não esquecesse a droga do
telefone em casa!
— Sr. Collins? – Falei assim que o velho deu as caras no meu
escritório.
— Não faço a mínima ideia de onde minha filha possa estar, filho. –
Suas palavras eram sinceras e sua voz recheada de preocupação. — O que
houve aqui? – Falou apontando para Gabriel e eu.
— Oh, apenas um pequeno desacordo de opiniões, senhor. – Se
adiantou Gabriel, me fazendo trincar os dentes de raiva.
Três horas e meia haviam se passado e eu havia feito ligações até
para hospitais em busca de alguma notícia de Ava, contudo, nada foi de
grande valia. Não havia nenhum rastro ou pista de onde ela pudesse estar. A
cada momento olhando as horas irem embora o pânico crescia um pouco
mais dentro de mim. Eu havia feito de tudo ao meu alcance, talvez um pouco
mais, mas era como se Ava tivesse desparecido no ar. Simplesmente Puff...
onde você está, minha vida? O desespero era tamanho que em algum
momento entre a raiva, o medo e a angústia eu havia começado a chorar. Sim,
eu, Caden. O cara cheio de marra. O Macho alfa. Se muitos desconhecem a
realidade, aqui vai: homens choravam sim. Choravam e eram tão humanos e
vulneráveis quanto uma mulher ou uma garotinha da pré-escola. Somos todos
iguais, não é o que dizem por aí?
— Vamos encontra-la, rapaz! – A empatia na voz do pai dela me
doeu o coração. O velho não era tão ruim. Nunca estivemos tão próximos
quanto naquele momento.
— Me desculpe, é só que... – Limpando grosseiramente as lágrimas
dos meus olhos me levantei e peguei minha jaqueta de couro do encosto da
cadeira. — ...já não sei mais o que fazer. – Dizendo isso, saí do escritório e
segui para a garagem do subsolo. Precisava checar um lugar, mesmo que não
desse em nada. Era apenas um palpite, uma imensa necessidade de que que
aquele pensamento me levasse até ela. Dizem que homens não se lembram
das suas transas e é verdade, em parte. Contudo, se é amor o que aconteceu
entre ambos o homem jamais esquece. Hoje fazia exatamente três anos que
Ava e eu nos entregamos um ao outro. Esse dia eu jamais iria esquecer. Já de
frente para minha moto, subi na mesma e rasguei asfalto rumo ao epicentro
do início do nosso relacionamento: o apartamento dela, onde fiquei
hospedado e sendo cuidado por suas mãos capazes e cheias de carinho. Como
cinco minutos podiam demorar anos? Não sei, mas experimente conversar
durante trinta segundos. Não deu para falar quase nada, não é mesmo? Agora
fique em silêncio pelo mesmo período de tempo. Percebeu a diferença?
Parece uma verdadeira eternidade!
Capítulo vinte e oito
Hesitante, desci da moto no estacionamento e fui saudado por um
generoso sorriso do segurança do lugar. Eu o conhecia, de três anos atrás.
Com uma leve inclinação de cabeça o cumprimentei e saí apressado em busca
do antigo apartamento da Ava. Não demorou para encontrar, eu conhecia o
caminho como a palma da minha mão. Tudo que eu precisava era tirar da
minha cabeça a ideia de que ela estava ali. Talvez o lugar nem fosse mais
dela, ou do pai. Mais dois lances de escada e estou diante do corredor que me
levaria ao lugar das minhas melhores lembranças. Com cinco grandes e
desesperadas passadas já estou diante da porta do apartamento. Sem um
único momento de hesitação, bato na porta e espero. Espero, espero e espero.
Quando, desanimado e decepcionado, me viro para ir ouço o som de
fechaduras serem abertas. Me virando rapidamente espero um estranho me
atender, mas a surpresa é tamanha que sinto que estou sem ar. AVA! Ava
usando apenas uma lingerie vermelha e minúscula vem me cumprimentar.
Cristo! Estou tão aliviado que tudo que consigo fazer é xingar e blasfemar
tudo de baixo e vulgar que tenho no meu vocabulário. Confesso que não era
pequeno.
— Te faço uma surpresa e é assim que sou recebida? – Com
indignação Ava estala para mim.
— Só espere um segundo! – Peço e saco o celular do bolso. Digito o
número do pai dela e espero ele atender. — Encontrei ela.
— Está tudo bem?
— Está, foi só um mal-entendido. Será que o senhor poderia pedir
para que Gerald encerre as buscas?
— BUSCAS? – Grita Ava.
— Sim, é claro.
— Obrigado. – Desligo o celular e entro no apartamento fechando a
porta com um baque surdo. Ava se encontrava indignada diante de mim.
Porra, mesmo que a instantes eu tenha estado preocupado não consigo evitar
o desejo louco e alucinado que percorre minhas veias em uma estase total.
Ela estava sexy pra caralho, usando aquela lingerie.
— Que história é essa de uma equipe de buscas estar atrás de mim? –
Eu só enxergava sua pose de raiva que a deixava ainda mais comestível do
que já era, não a sua fúria assassina nos seus olhos. — Não me diga que não
leu meu recado...?
— Recado? – Agora ela tinha minha mais total atenção para o que
estava sendo dito ali.
— Sim, recado. – Com passos decididos ela se aproximou de mim e
começou a me apalpar. Caralho gostaria que ela descesse as mãos um
pouquinho mais. Tipo em linha reta para o meu pau... — Esse aqui, Caden! –
Porra, era mesmo um pequeno pedaço de papel dobrado no bolso da minha
jaqueta. Com certa raiva ela faltou esfregar o papel na minha cara.
ESPERO-TE PARA A NOSSA PRIMEIRA VEZ!
— Hã, sinto muito? – Ela estalou a língua e me deu as costas já
caminhando para algum lugar no interior do apartamento.
— Vá se foder, Caden! – Gritou e isso me fez sorrir. Era exatamente
isso que eu queria fazer. Foder! De preferência que fodéssemos juntos. Com
passos lentos e decididos segui o mesmo caminho que ela. A encontrei
vasculhando um amontoado de roupas sobre a cama. Parecia que ela estava
indo embora.
— O que você falou?
— Pode ir parando com as gracinhas, Caden! – Sorri e isso a deixou
com um pouco mais de raiva. — Vá se foder! – Era exatamente o que eu
queria ouvir.
— Só se for agora! – Avancei sobre ela e a joguei de costas sobre a
cama. Ela era perfeita sob o meu corpo. — Vamos foder os dois até cairmos
exaustos de tanto prazer. – Sussurrei contra seu ouvido enquanto prendia suas
mãos no alto, longe da oportunidade dela me acerta um soco ou tapa na cara.
Apertei meu quadril contra o dela, que gemeu baixinho ainda com um olhar
furioso.
— Você estragou tudo com essa sua paranoia dos infernos. Era para
ser especial, Caden. Não um movimento que comovesse metade da cidade. –
Ava se contorceu em busca de liberdade.
— Não vejo as coisas por esse ponto de vista. E não vou te soltar,
mas sinta-se à vontade para esfregar as coxas no meu pau por quanto tempo
desejar! – Sorri safado e ela ofegou alto.
— Não estou me esfregando e me solta!
— Sei bem que apenas pelo seu olhar e reação do seu corpo ao meu,
que não é bem essa a sua vontade. – Continuei sorrindo ao mesmo tempo que
deixava uma trilha de beijos por seu pescoço.
— Mentira. – Gemeu baixinho quando mordisquei o lóbulo da sua
orelha.
— Tem certeza? Tem certeza de que estou mentindo, docinho? – Sua
resposta foi adiantar seus lábios nos meus em um beijo. Beijo punitivo e
saqueador. Em questão de segundos eu já não estava mais com minhas roupas
e antes de retornar ao beijo parei um momento, apenas para contemplara sua
beleza unida a lingerie vermelha que contrastava a brancura delicada da sua
pele. Havia momentos que eu ainda me perguntava: será que essa mulher
linda e delicada na minha frente, realmente aceitou ser minha para sempre?
Sou um filho da puta sortudo.
— Você já me deixou esperando tempo demais, Caden. Vai continuar
apenas me observando ou vai cumprir com o que te desafiei? – Seu sorriso
foi mais sacana que o meu e eu amava quando ela estava daquele jeito. A
verdade é que eu a amava até mesmo quando estava me odiando.
— Talvez eu devesse. – Provoquei.
— Pode ir parando de gracinhas, Lutz. Não tenho planos para passar
outra noite sem sexo, só porque você comeu palhacinhos no café da manhã! –
Sorri da expressão e ela permaneceu seria. — Eu tenho planejado essa noite
há vários dias, Caden. – Com o olhar de uma felina, Ava, empurrou meu
peito para que eu caísse de costas ao seu lado na cama. Puta, merda. Será que
aquilo era o fim da noite para mim? Nem concluí o pensamento e ela já havia
me montado, de modo a abraçar minha ereção com suas deliciosas dobras
envoltas pela calcinha vermelha e pequena. Caralho, aquilo estava se
tornando mais do que interessante. Porra, quando estava excitado, tudo que
saia da minha mente e boca, na maioria das vezes, eram palavrões. Não
conseguia evitar.
— Porra, sim! – Ela deu um meio sorriso ao perceber minha
excitação, então começou a se mover lentamente pela minha ereção ainda sob
a cueca. Essa mulher ainda ia me matar. Fechei meus olhos e gemi baixo, em
apreciação. Era como se meses tivessem se passado desde que fizemos amor
pela última vez, não doze ou quinze horas atrás.
— Você gosta disso, não é mesmo? – Agora quem havia tomado a
dianteira nas provocações era ela. — Gosta que o massageie aqui – Insinuou
uma leve cavalgada no meu pau para assinalar o que dizia. — ...não é mesmo,
safado?
— Acho que quem é o safado – Sorri apertando forte seus quadris. –
...está bem claro aqui, docinho.
— Está, você é o safado. Um safado todo tatuado e gostoso que
pretendo que me foda até que não haja amanhã. – Suas palavras eram
certeiras contra o meu tesão. Ava leva a mão sob minha cueca e massageia
toda a extensão do meu pau, tomando seu tempo. Porra, precisei me esforçar
para não acabar gozando antes da hora. No que minha garota havia se
transformado? Em alguma deusa ou Guru do sexo?
— Quem está com a mão dentro da minha cueca e massageando
tentadoramente meu pau é você, docinho. Mudemos as associações para o
termo safado aqui. Você é a safada. E sim, pretendo fode-la duro e forte, até
que se esqueça o do próprio nome. – Rosno ao tempo que me sento com ela
sobre mim e me delicio com seus seios fartos nas minhas mãos. Caralho, ela
era toda perfeita. Seus gemidos e ofegos eram a minha perdição e quando
penso que ela foi além, Ava, vai um pouco mais na borda da minha sanidade.
Com um simples levantar ela se livra da calcinha diante dos meus olhos e a
atira contra meu rosto, não deixo passar a oportunidade e aperto a pequena
peça contra meu nariz, inalando o delicioso aroma almiscarado da sua
excitação, seu olhar se torna selvagem. Poucos segundos depois, Ava, está
tomando dentro de si toda a extensão da minha ereção. Porra, sou apertado
em todas as direções e, novamente, preciso me controlar para não gozar. Com
movimentos cadenciados ela se move em uma dança lenta e sensual. O prazer
vai se transformando, de algo tentador para algo insano, e logo estou com as
duas mãos agarradas ao seu traseiro e levantando-o rapidamente, guiando os
movimentos de penetração profunda. Sei que ela está próxima ao ápice, pois
joga a cabeças para trás e começa a murmurar meu nome em um cântico
incompreensível. Ao tomar um de seus turgidos mamilos na minha boca,
Ava, se deixa ir e acompanhando sua explosão de estase... eu gozo. Forte e
surreal dentro dela enquanto balbucio seu nome contra seus seios. Chegamos
juntos ao clímax e ofegantes encostamos a testa uma na outra, esperando que
nossas respirações se normalizem. Eu poderia permanecer para sempre
mergulhado dentro dela.
— Eu te amo! – Digo entre beijos.
— Também te amo... safado! – Fala com um meio sorriso
zombeteiro.
A semana passa e a notícia de que Justin Morgan, o vizinho assassino da
minha mãe, fora morto em uma briga de bar chega. Não sei o que dizer
quanto a notícia. O agente do estado que viera me dar a notícia parecia estar
esperando por algum tipo de reação da minha parte, mas temo tê-lo
decepcionado. O certo, talvez, fosse eu sentir algum tipo de emoção por saber
que Justin estava morto. Contudo, não senti nada. Nem dor, medo, apatia,
simpatia, raiva. Eu simplesmente não senti nada. Como poderia sentir algo
pelo homem que tirou a vida da minha mãe? Não que Verona fosse a minha
mãe biológica, mas ela fora a única mãe que eu conhecera na minha vida. A
única a aceitar um bebê e um garotinho mortos de fome e sedentos por
carinho. Eu só não conseguia sentir nada pelo demônio que agora jazia nas
chamas do inferno. Se fui na cerimônia de cremação? Definitivamente: não.
Com toda certeza eu teria ido na de execução, se essa tivesse se realizado.
Ava estava ao meu lado quando recebi a informação do ocorrido, mas ela
permaneceu em silêncio. Não falou nada sobre a morte daquele homem,
tampouco mencionou o ocorrido depois. Ela sabia o que aquele que morrera
significava para mim: nada. Talvez eu tivesse compadecido por um completo
estranho. Mas não por Justin Morgan. O mostro que prometeu, um dia, amar
e proteger Verona. Eu queria mais era poder apagar das minhas fracas
memorias o ocorrido. Com o tempo talvez? Não saberia dizer.
Capítulo vinte e nove
Estar presente durante os primeiros passos de Brian era algo que
nenhum dinheiro no mundo pagava. Assistir aos acertos e falhas do meu
pequenino ficaria gravado na minha memória e eu carregaria até meus
últimos suspiros em vida. Não preciso dizer que sou o pai mais babão do
mundo, preciso? O difícil era ter que disputar a atenção de Brian com o pai de
Ava. O velho parecia um chiclete, mas aquilo não me incomodava e até
apreciava a companhia do homem que havia se tornado mais do que um
sogro para mim: um amigo. Surpreendente, já que não nos suportávamos
inicialmente. Talvez ele nem mesmo tenha se dado conta de que mudamos e
nos unimos por dois grandes bens maiores: Ava e Brian.
O dia do casamento estava cada vez mais próximo e nunca desejei
que tudo passasse voando e que Ava e eu fossemos declarados, perante a lei,
marido e mulher. Conheço alguns caras que dispensariam esse meu
entusiasmo, Gerald por exemplo. "Como pode ansiar por se prender a uma
mulher, cara? " Eu não conseguia entender aquela reação, o que mais eu
poderia querer se a mulher em questão era, simplesmente, o amor da minha
vida? Como poderia querer algo diferente de tê-la ao meu lado até o fim?
O fato de Ava estar uma pilha de nervos com os preparativos só me
deixa ainda mais convencido da minha escolha. E ver o quão selvagem ela se
torna na cama ao final do dia para descontar sua ira... Humm, posso me
imaginar deixando-a com raiva... Porra, ela ficava sexy demais.
— Mais do que diabos você está sorrindo com essa cara de tarado,
Lutz? – Gerald me arrancou da linha de pensamento. — Oh, não precisa me
dizer nada!
— Por que é que você não cuida da sua vida, cara? Melhor, porque é
que não vai trabalhar?
— Deixe-me ver, ah, porque fui dispensado para um tal casamento de
um porra qualquer aí? – Jogo um bloco de notas na direção dele, que se
esquiva com agilidade.
— Então busque algo de mais útil para fazer.
— Não vejo nada mais útil do que sacanear você. – Admitiu com um
sorriso sarcástico. — Nada é mais interessante do que te ver vestir um terno
atrás do outro. – Outra vez o sarcasmo.
— Então vai provar roupa também, seu merda! – Sorrio da cara de
descrença dele.
— Bem... só se aquela delícia de atendente me auxiliar. – Fez um
gesto obsceno, como se estivesse tomando uma mulher por trás, e seguiu até
a moça. A mesma parecia ser bastante imune aos sorrisos e encantos de
Gerald. Ele teria bastante trabalho.... Algo que o manteria tempo o suficiente
longe de mim. Porra, adoraria que Ava estivesse aqui... que estivéssemos
dentro de um desses provadores e.... balanço a cabeça para afastar os
pensamentos. Haveria muito tempo para isso depois.
Fazia menos de dez minutos que eu estava de pé em frente ao altar
esperando por Ava. Um minuto mais tarde e já acharia que ela havia desistido
de se casar comigo. Com uns sorrisos tranquilizadores, Gerald e o velhote
Collins, tentavam me acalmar. Porra, e se ela tivesse pensado bem e decidido
que não me amava mais? "É tradição que a noiva se atrase para o próprio
casamento, imbecil". Essa fora a resposta de Helena. Como sempre, um amor
de senhora de oitenta e tantos anos. Puxo de leve o celular do bolso e checo,
pela milésima vez, as horas. Nesse instante a marcha nupcial tem início. O
celular escapa da minha mão e acaba se espatifando no chão, mas não me
importo mais com ele. Meus olhos ficam presos a imagem de um anjo lindo
vestido de branco e com um pequeno buquê de tulipas vermelhas na mão. Oh,
meu Deus! Era Ava. Ela caminhava lentamente agarrada ao braço de seu pai.
Como o velho havia saído sem que eu me desse conta? Os olhos dela estavam
enormes e brilhavam com lágrimas contidas. Eu, por mais incrível ou
estúpido que possa parecer, já não continha mais as minhas. Esse era o
momento mais feliz da minha vida e não me envergonhava em deixar que
todos me vissem chorar de felicidade. Seu sorriso tímido, porém, radiante,
acompanhou Ava até que estivesse entregue a minha mão. Acho que nunca vi
uma mulher mais bela na minha vida. Tampouco amei alguém como amava
Ava. Se houvesse algo que eu deveria me arrepender, era de a ter feito sofrer
e por bancar o idiota por tanto tempo. Quem poderia imaginar que a
felicidade de toda uma vida estivesse bem diante do seu nariz? A minha
esteve diante dos meus olhos por quase cinco anos inteiros. Quando a
cerimônia terminou e a festa se arrastou, não aguentando mais esperar, a
roubei de todos e a levei para longe. Ali, em meio a sorrisos e brincadeiras...
fizemos amor a noite inteira, muito lentamente.
Epílogo
TRÊS ANOS DEPOIS
O sol brilhava através das folhas da árvore sobre as nossas cabeças.
Eu já deixara de sentir minhas pernas horas antes, contudo não me importava
e me recusa a me mover ou tirar Ava dali. Ela era a imagem mais bela e digna
de se apreciar, mesmo que babasse durante o sono. Sorri ao notar a umidade
na minha calça. Acaricio seus cabelos longos e macios, logo sou
recompensado com o sorriso radiante e familiar, mas que me arrancava o
folego sempre que o recebia. Era como o primeiro. Sonolenta ela se
espreguiçou contra mim.
— Sabia que você fica linda após um cochilo? – Ava faz uma careta
ao me ouvir. — Você baba enquanto dorme...
— Mentiroso! – Fala e me acerta um leve tapa meu peito e sorri, pois,
sabia que o que disse era verdade. Ela nunca escondeu isso.
— Mas apesar da falha – Sorrio fazendo o contorno dos seus sábios
com meu indicador. – ...você ainda é a gravida mais linda do mundo! – E era
verdade.
— Mamãe, mamãe! – Brian corria em nossa direção munido de um
dos seus poderosos sorrisos. — Olha só o que encontrei! – Com uma
risadinha de criança levada ele abre as duas mãozinhas rechonchudas,
revelando sua grande descoberta.
— Uma borboleta, meu anjinho! – Ava sorri para mim, que como
sempre estava com a cara de bobo que os pais babões fazem.
— Ela fica ainda mais linda quando está livre, meu pequeno. – Digo
tocando de leve seu nariz pequeno. Com confusão no olhar ele me observa.
— Mas ela é tão linda, papai. E eu amo borboletas....
— Querido – Interveio Ava. – ...até a mais bela das criaturas, quando
presas, se tornam infelizes e o principal, meu anjinho – Ele sorriu. – ...quem
ama sempre deseja o bem e jamais iria querer que seu amado fosse infeliz.
— Não quero que ela fique triste, mamãe! – Com veemência na voz e
decidido, Brian, abre as mãozinhas e liberta a pequena criaturinha que voa
livre ziguezagueando o ar.
— Já viu o quão belas elas são quando voam por aí? – O pequeno
concordou com um movimento de cabeça e saiu, logo em seguida,
perseguindo a borboleta em seu voo preguiçoso pelo jardim.
— Ele está crescendo e já está perdendo as feições de bebê, não vê? –
Ava sorri e encosta a cabeça contra meu ombro.
— Eu vejo e logo mais haverá uma garotinha linda, igual a mãe,
correndo por aí.
— Só espero que ela não seja tão cabeça dura quanto o pai! – Sorrio
levantando as sobrancelhas sucessivas vezes em sinal desafio. — Você sabe o
que essa sua cara de safado faz com meus hormônios de grávida, não sabe? –
Sim, eu sabia.
— O que você acha de irmos brincar um pouquinho de médico e
paciente? – Ela joga a cabeça para trás e sorri daquela maneira que é música
para os meus ouvidos.
— Só espero que o doutor gostoso e tatuado não me dê alta médica
até amanhã pela manhã! – E com um sorriso lascivo nos lábios, ela se levanta
e caminha vagarosamente em direção a casa. Me jogo de costas contra a
grama e sorrio alto. Porra, ela sabia como me deixar duro de desejo. Com
movimentos rápidos me coloco de pé e busco por Helena que cuidava de
Brian. Não preciso nem mesmo chamar por ela, pois a senhora já me
mostrava os dois polegares voltados para cima em sinal de positivo. A mulher
já havia compreendido a deixa que Ava me lançara. Sem perder tempo me
constrangendo pela percepção de Helena, corro atrás da mulher da minha
vida. E eu não teria afobação ao amá-la, a noite seria longa e essa... ah, nem
mesmo havia começado.
FIM.
O fim é apenas o começo de uma nova e inédita história.
TESS ROBERTS.
AGRADECIMENTOS
É com imenso carinho que agradeço a você, leitor, que leu meu livro e
chegou até aqui. Saiba que graças a você parte do meu sonho se realizou!
Agradeço a Deus e também a minha família que tem me apoiado e
incentivado a seguir meus sonhos.
Agradecimentos especiais:
● Tânia Giovanelli.
● Letícia Iacillo.
● Diane Bergher.
● Clarinha Lima.
● Malu Pinheiro.
● Claudete Souza.
● Luh Gomes.
● Cinthia Basso.
● Eugênia Haensel.