Urgência e Emergência
Urgência e Emergência
Trauma Pediátrico
Introdução
O trauma é a causa mais comum de mortes e sequelas na infância
ABCDE do trauma
Envolver o cirurgião pediátrico precocemente
Particularidades anatômicas
Menor massa corporal, menos gordura, musculatura mais delgada e maior proximidade entre órgãos
o Comum apresentarem lesões múltiplas
o Mais susceptíveis às lesões renais do que os adultos devido a rins “maiores” em relação ao tamanho
do corpo, posição mais inferior do abdome, menor quantidade de gordura perirrenal e musculatura
abdominal mais delgada
Esqueleto em ossificação → pouca proteção aos órgãos intra-cavitários e esqueleto mais maleável
o Esqueleto ósseo é mais flexível e pode não sofrer fraturas, mas lesões internas são frequentes
Crânio mais mole, fontanelas abertas
o Em crianças mais novas, há uma maior incidência de lesões cerebrais por apresentarem o crânio
proporcionalmente maior
Cabeça maior
Tecidos moles da boca são maiores
o Os tecidos moles da orofaringe de um lactente, por exemplo amígdalas e língua, são
proporcionalmente maiores quando comparados aos tecidos da cavidade oral, dificultando a
visualização da laringe
Via aérea mais curta, mais estreita, anteriorizada e em forma de funil
o Laringe forma de funil → facilita o acúmulo de secreções na retrofaringe
o Cordas vocais mais altas
o Traqueia mais curta → risco de intubação seletiva
Aproximadamente 5 cm de comprimento e cresce até 7 cm por volta dos 18 meses de idade
Occipíto proeminente na criança < 3 anos → colocar coxim debaixo do tronco para manter posição
horizontal adequada
Termorregulação
o Maior superfície corpórea
o Pele mais fina
o Metabolismo acelerado
o Menor isolamento pelo tecido subcutâneo
o Prevenir hipotermia!!
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Vias aéreas
Causa mais comum de PCR na criança: hipóxia por falha em obter via aérea e oxigenação inadequada
Apneia, hipoventilação e hipóxia são mais frequentes na criança → deve ser mais agressivo na abordagem da
via aérea
Tubo orofaríngeo (Guedel) deve ser utilizado somente na criança inconsciente
o Não fazer rotação, colocar direto com a concavidade voltada para o palato
o Se colocada em uma criança com reflexo de deglutição intacto, pode provocar vômito
o Pode ocorrer trauma das partes moles da orofaringe, que resulta, por sua vez, em hemorragia
o O emprego de um abaixador de língua pode ser útil
Via aérea definitiva: IOT (método de escolha)
o Antes de tentar uma via aérea definitiva, a criança SEMPRE deve ser pré-oxigenada!
o A intubação nasotraqueal é contraindicada em crianças
Requer um procedimento às cegas na nasofaringe, que tem um ângulo agudo em direção à
glote, de posição anterossuperior, dificultando a progressão do tubo no trajeto
O risco potencial de penetrar a placa crivosa ou de lesão dos tecidos moles mais
proeminentes na nasofaringe (adenoide), causando hemorragia
Indicações de via aérea definitiva na criança
o TCE grave
o Insuficiência respiratória
o Incapacidade de manter a via aérea pérvia
o Hipovolemia significativa com rebaixamento do nível de consciência e necessidade de abordagem
cirúrgica
Opções de via aérea na criança
o Máscara laríngea
o Cricotireoidostomia por punção (temporária)
o Traqueostomia → via aérea cirúrgica preferencial em crianças menores de 12 anos
Contraindicações
o Intubação nasotraqueal
o Cricotireoidostomia cirúrgica (indicada somente em crianças maiores de 12)
OBS: ATLS, 10ª ed.
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o Os tubos orotraqueais sem cuff (balonete) geralmente são usados nos lactentes devido às diferenças
anatômicas
o Atualmente, mesmo em bebês e crianças menores, é seguro e recomendado o uso do tubo com cuff,
tomando o cuidado de manter uma pressão < 30 mmHg
Com o uso do balonete insuflado, há o benefício de prevenir broncoaspiração e melhorar a
ventilação e o controle do CO₂, o que tem impacto positivo na melhora da perfusão cerebral
Intubação assistida por drogas → crianças com estabilidade hemodinâmica
1. Pré-oxigenar + profilaxia com sulfato de atropina (se menor que 1 ano) (0,01 a 0,03 mg/kg)
2. Sedar com: etomidato (0,3 mg/kg) ou midazolam (0,1 mg/kg)
3. Paralisar com: succinilcolina
4. Intubar com lâmina reta
5. Verificar posição do tubo
o Uso profilático do sulfato de atropina → lactentes (< 1 ano) têm reflexo vagal mais acentuado do que
crianças maiores e adultos e podem evoluir com bradicardia devido à estimulação direta da laringe
A atropina diminui as secreções orais e facilita a visualização das referências anatômicas para
intubação
Deve ser administrada de 1 a 2 minutos antes da intubação, com dose única máxima de 0,5 mg
o Sedação
Hipovolêmico: etomidato (0,1 mg/kg) ou midazolam (0,1 mg/kg)
Normovolêmico: etomidato (0,3 mg/kg) ou midazolam (0,1 mg/kg)
o Paralisação
Succinilcolina: < 10 kg → 2mg/kg | > 10kg → 1mg/kg OU
Vecuronio: 0,1mg/kg OU
Rocurônio: 0,6mg/kg
o Escolha do tubo
Cálculo do diâmetro do tubo endotraqueal a ser utilizado na criança
O tamanho do tubo adequado pode ser estimado como equivalente ao diâmetro do quinto dígito da criança
o Se apresentar piora clínica, após intubação → DOPE
Descolamento
Obstrução
Pneumotórax
Equipament failure (falha nos equipamentos)
Ventilação
A hipoventilação causa acidose respiratória, que é a alteração mais comum do equilíbrio acidobásico durante
a reanimação da criança
o A acidose deve ser corrigida com ventilação e hipoperfusão adequadas e não com bicarbonato de
sódio (pode piorar a hipercapnia e a acidose)
Hipoventilação → acidose respiratória → corrigir ventilação e hipoperfusão
Lactentes (< 2 anos) → FR 30-40 irpm |volume corrente 4-6 mL/kg
> 2 anos → FR 15-20 irpm | volume corrente 6-10 mL/kg
Ventilar com ambu e máscara adequados ao tamanho → evitar barotrauma
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Circulação
A criança possui maior reserva fisiológica → suporta perda de até 30% da volemia sem queda da PAS
Taquicardia e diminuição da perfusão periférica são os sinais iniciais do choque
Sinais mais tardios: diminuição dos pulsos periféricos, da pressão de pulso (PAS – PAD) para menos de 20
mmHg, pele pegajosa, extremidades frias e rebaixamento do nível de consciência com resposta lenta a
estímulos dolorosos
PAS normal em criança: 70-90mmHg (varia com a idade)
o 70 + 2x idade da criança e 90 + 2x idade da criança
o Criança de 9 anos: 70 + 18 = 88mmHg e 90 + 18 = 108mmHg
PAD normal deve ser 2/3 da PAS
A hipotensão na criança implica choque descompensado e perda sanguínea superior a 45% da volemia, e
nesse ponto ocorre bradicardia
O choque deve ser tratado com a infusão rápida de cristaloide isotônico aquecido e sangue
o Não deve esperar a PA cair para fazer reanimação volêmica adequada
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O objetivo final da reanimação é restabelecer o volume circulatório, que pode ser estimado da seguinte
maneira:
o Volemia lactente (até 1 ano): 80 mL/kg
o Volemia criança entre 1 e 3 anos: 75 mL/kg
o Volemia criança > 3 anos: 70 mL/kg
Acessos venosos para reposição volêmica → apenas 1 acesso
o 1° - periféricos → fossa antecubital, veia safena
o 2° - punção intraóssea (após 2 tentativas do periférico) → tíbia anteromedial (preferência), fêmur
distal
o 3° - acesso central de veia profunda (veia femoral) ou de veia cervical (veia jugular externa ou
subclávia)
o 4° - dissecção venosa: veia safena (último recurso)
É contraindicada a punção intraóssea em membros fraturados ou com suspeita de fratura
O melhor método para determinar se a reposição volêmica está adequada é por meio da diurese combinada
à concentração urinária
Reposição volêmica
o Solução isotônica cristaloide: 20 mL/kg em bolus - repetir 1 ou 2x
o Protocolo de transfusão maciça pediátrico: 10-20mL/kg de concentrado de hemácias e 10-20 mL/kg
de plasma fresco congelado e plaquetas
Resposta à reposição volêmica
o Diminuição da FC
o Melhor do nível de consciência
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Traumas específicos
Tórax
o Devido à complacência da parede torácica, é comum apresentarem contusões pulmonares sem
fratura de arcos costais
o A mobilidade das estruturas mediastinais torna a criança mais sensível ao pneumotórax
hipertensivo
Pneumotórax hipertensivo é a lesão com risco iminente de vida mais comum na infância
Tratamento
Toracocentese de alívio realizada no 2º espaço intercostal, linha hemiclavicular
Após a punção: drenagem pleural fechada no 5° espaço intercostal, linha axilar
média
Deve-se ter cuidado ao usar cateteres de 14-18 G em lactentes e crianças
mais novas, pois, quanto maior o cateter, maior a chance de causar
pneumotórax, em vez de tratá-lo
Abdome
o A maioria das lesões abdominais decorre de traumas contusos
o Parede muscular mais delgada, fígado e baço mais baixos, bexiga mais elevada
o O órgão mais acometido nos traumas infantis é o baço, assim como nos adultos
o As lesões do intestino delgado, do mesentério e da bexiga são mais comuns na criança
A presença da marca do cinto de segurança e fratura lombar (fratura de Chance) devem
levantar a suspeita de lesão intestinal
o Dificuldade no exame (dor, contração)
o Medidas auxiliares no diagnóstico
FAST e LPD (para crianças instáveis)
TC com contraste endovenoso (para crianças estáveis)
o Na suspeita de uma lesão renal (hematúria macroscópica ou microscópica), tem indicação para
realizar TC com contraste endovenoso (fase arterial, venosa e excretora tardia para avaliar
estruturas urinárias coletoras)
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Armadilhas
Traumas multissistêmicos
Lesão de víscera oca não percebida
Lesões musculoesqueléticas podem ser confundidas por fratura em galho verde, epífises de crescimento
Fraturas de ossos longos e bacia sangram menos em crianças - não gera choque da gravidade do adulto
Peso da criança: cálculo 2x idade da criança + 10 (até 8 anos)
o Melhor forma é informação pela família
Curativos
o Curativo não oclusivo com troca diária, sempre com higiene da lesão com água corrente e sabão
neutro
o Assim que a ferida tiver tecido de granulação ou crostas, não oferecendo risco para infecções
profundas, pode-se realizar a higiene diária sem a necessidade de um curativo
História vacinal do paciente
Medicações
Raiva
Introdução
Doença viral - RNA
Transmitida pela saliva de animais contaminados → mordeduras e arranhaduras
Reservatórios: qualquer mamífero → também adoecem
Período de incubação: 1 semana a 1 ano → depende da natureza/profundidade do ferimento, espécie
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Vigilância epidemiológica
Acidente com animal potencialmente transmissor da raiva (mordedura, arranhadura)
o Notificação compulsória e imediata somente a nível municipal
Raiva humana
o Convulsões, hiperativdade, síndrome paralítica, coma, salivação
o Notificação compulsória e imediata a nível municipal, estadual e federal
Fisiopatologia
Formas clínicas
Período de incubação: 1 semana a 1 ano
Fase prodrômica → febre, tontura, mialgia difusa, cefaleia, náuseas
o 10 dias
o Sintomas inflamatórios
o Acometimento de fusos neuromusculares (miofasciculações, dor na região em que o vírus foi
inoculado)
Fase neurológica aguda → furiosa ou paralítica
o Inflamação encefálica (encefalite rábica) ou inflamação raquimedular (neurite rábica)
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Prevenção
Vacina antirrábica (VAR)
o Vacina de vírus inativado → não causa doença mas gera anticorpos
o Profilaxia pré-exposição
3 doses (0-7-28 dias)
IM → deltoide nos adultos e coxa anterolateral nas crianças
Indicação: profissionais com alto risco (veterinários, biólogos, pesquisadores, funcionários de
zoológico)
Pode ser indicada para pessoas que viajarão para países com alto risco de
transmissão de raiva humana, como a Índia, que tem muitos macacos de rua que
podem transmitir a doença
Dosar anticorpos 2 semanas após o término do esquema, pois a produção de anticorpos
neutralizantes não ocorre sempre
o Profilaxia pós-exposição
Quantidade de doses depende do risco do ferimento
IM ou intradérmica quando há mordedura
Intradérmica não está indicada para pessoas em tratamento imunossupressor (como
o uso de hidroxicloroquina), pelo fato de que a resposta imune é menor nessa via de
administração
Indicação: paciente com ferimentos de risco para a transmissão da raiva humana,
independentemente de quando ocorreram
OBS: Essa doença tem incubação de 1 semana a 1 ano
Na mordedura ou arranhadura, tem-se a porta de entrada e o vírus, mas a
infecção ainda não aconteceu
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A vacina do cão é para o animal, pois reduz a chance de eles adoecerem, mas não previne a transmissão da
raiva para humanos
o A vacina antirrábica para cães e gatos apenas os protege da encefalite rábica, não reduzindo a
chance de transmissão do Lyssavirus nas mordeduras e arranhaduras
o Portanto, não importa se o animal é vacinado ou não: a conduta será a mesma
Tétano
Introdução
Doença imunoprevenível causada pela toxina do Clostridium tetani
Bacilo gram-positivo anaeróbio
Via de infecção: lesões de pele e mucosa
Baixa infectividade → difícil de transmitir entre pessoas (?)
Alta patogenicidade → possivelmente terá sintomas
Alta virulência → alta chance de casos graves e letais
Brasil: mais homens de 35-64 anos, baixa escolaridade e zona rural
Período de incubação
o Acidental: 2 a 21 dias (média 10 dias) - (pode chegar a meses)
o Neonatal: 2 a 28 dias (média 7 dias)
Fisiopatologia
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Formas clínicas
Tétano generalizado
o Forma sintomática mais comum (80%)
o Alta letalidade
o Espasmos começam nos músculos faciais → disseminam-se para outros músculos do corpo
o Tríade: ópistótono, trismo (contração do masseter), riso sardônico
Diagnóstico
É clínico
o Critério do MS → todo paciente acima de 28 dias de vida com um ou mais dos seguintes sintomas:
disfagia de condução, trismo, riso sardônico, opistótono, contraturas musculares localizadas ou
generalizadas com ou sem espasmos
Suspeita independe de situação vacinal
Tétano acidental ou neonatal → notificação obrigatória, imediata e apenas a nível municipal
Diagnóstico diferencial
Intoxicação por estricnina, hipocalcemia, síndromes extrapiramidais → hipertonia generalizada
Abscesso odontogênico, luxação de ATM → trismo e riso sardônico
Abdome agudo → abdome em tábua
Tratamento
Não é consenso
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Paciente Queimado
Introdução
Toda área queimada pode ser dividida em três zonas
o Zona de coagulação: área de destruição tecidual, com necrose de coagulação
o Zona de estase: área mais próxima à zona de coagulação
Há redução da perfusão e lesão tecidual, mas o tecido ainda pode ser salvo
o Zona de hiperemia: circunda a zona de estase e apresenta vascularização aumentada
o As zonas de estase e hiperemia podem se converter em zona de coagulação, mediante insultos
adicionais (hipovolemia, infecção cutânea, sepse ou edema)
Manejo hospitalar
o ABCDE do trauma
1. Via aérea pérvia
2. Ventilação e oxigenação adequadas
3. Reposição volêmica para o choque por queimadura
4. Cuidados iniciais para as áreas queimadas
5. Avaliação da necessidade de transferência para centro especializado
o Via aérea
À medida que os tecidos queimados na via aérea têm sua anatomia distorcida pelo edema, pode
haver obstrução completa à passagem de ar, tornado a ventilação sob máscara, e a intubação
orotraqueal praticamente impossíveis
Quando suspeitar de queimadura em via aérea?
Queimadura em ambientes fechados
Chamuscamento de barba, sobrancelha e vibrissas
Escarro carbonáceo
Rouquidão, estridor
Queimaduras de face, em geral
Sempre considerar intubação precoce:
Sinais de obstrução de vias aéreas: rouquidão, estridor, uso de musculatura acessória e
retração esternal
Queimaduras faciais extensas e profundas
Deglutição difícil: atenção para sialorreia
Sinais de comprometimento respiratório: fadiga respiratória, oxigenação ou ventilação
insuficientes
Diminuição do nível de consciência (Glasgow ≤ 8)
Extensão da queimadura > 40 a 50%
Queimaduras dentro da boca
Edema facial importante
Transferência de grandes queimados, com chance de comprometimento de via aérea, sem
pessoal qualificado para intubação no trajeto
Queimaduras cervicais de espessura total, circunferenciais
o Ventilação e oxigenação
Situações preocupantes em vítimas de queimaduras
Intoxicação por monóxido de carbono
Queimadura de terceiro grau circunferencial de tórax
Lesão bronco-alveolar por inalação de gases tóxicos
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o Circulação
Reposição volêmica em qualquer paciente com SCQ > 20% e pacientes com evidências de inalação
de fumaça
Idosos e crianças: > 10%
Ringer lactato: 1/2 nas primeiras 8 horas após queimadura e 1/2 nas 16 horas subsequentes
O volume de cristaloides administrado no atendimento pré-hospitalar deve ser subtraído do
volume a ser administrado nas primeiras 8 horas
Em bomba de infusão contínua
Não usar coloides nas primeiras 24h
Fórmula de reposição volêmica
o Antibioticoprofilaxia
Não devem receber ATB sistêmica
Com exceção daqueles que estão em vias de ser operados
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ATB tópica está indicada para lesões de espessura parcial profunda (2° grau profundo)
Na prática, também aplica-se para 2° grau superficial e 3° grau
Sulfadiazina de prata ou nitrato de prata ou acetato de mafenide
o Escarotomia
Indicado para todas as queimaduras circunferenciais de espessura total (3º grau)
Nos membros, esse fenômeno pode produzir síndrome compartimental e isquemia distal à
queimadura
No tórax, pode comprometer a ventilação
No abdome, pode favorecer o surgimento da síndrome compartimental abdominal
É sempre um tratamento de urgência
Consiste na realização de incisões nas áreas em que há queimadura de espessura total, até a
exposição do subcutâneo
Tecnicamente, preconiza-se que as incisões sejam realizadas em sentido longitudinal aos membros,
geralmente nas faces lateral e medial
No entanto, nada impede que mais de duas incisões sejam realizadas
Procedimento que pode ser realizado na sala de trauma
o Analgesia
Opioides potentes (fentanil ou morfina) EV
Vias subcutânea e IM podem ter uma absorção errática, em decorrência das alterações
perfusionais relacionadas ao choque por queimadura
Benzodiazepínicos pode ser usado em pacientes ansiosos
O uso de medicações sedativas ou analgésicas, que deprimam o SNC, deve ser iniciado somente após
o manejo adequado da via aérea e ventilação
Para não mascararem situações, como intoxicação por CO
o Profilaxia do tétano
Deve ser revisada para todas as vítimas de queimaduras de 2° e 3° graus
o Profilaxia de tromboembolismo venoso
Indicada no momento da admissão, para todos os pacientes com mais de 20% da SCQ, desde que
não coexistam traumas ou outras condições que contraindiquem a administração de anticoagulantes
o Descompressão gástrica
Sonda nasogástrica
Indicada para todos os pacientes com SCQ acima de 20% ou, ainda, que apresentem distensão
abdominal, náuseas ou vômitos
Queimadura elétrica
Lesões de alta voltagem (> 1000V)
Mecanismo
o O corpo da vítima funciona como um resistor e a passagem da corrente elétrica produz calor
Resistência: ossos > tendões > pele > músculos > vasos > nervos
o Vítimas de queimadura elétrica apresentam uma lesão de entrada e uma lesão de saída da corrente
→ duas lesões são apenas a ponta do iceberg
A lesão muscular extensa, presente nas vítimas de trauma elétrico, é responsável por duas complicações
importantes:
o Rabdomiólise com mioglobinúria
o Síndrome compartimental
Risco de arritmia secundária ao acometimento cardíaco pela corrente elétrica
o Indicada monitorização eletrocardiográfica para todos os pacientes que apresentem lesão por alta
voltagem (>1000V), alterações do ritmo cardíaco no momento da admissão ou, ainda, perda de
consciência
Rabdomiólise e mioglobinúria
o Liberação massiva de elementos intracelulares dos miócitos para a corrente sanguínea
Elevação sérica de potássio e de mioglobina
Deposição de mioglobina nos túbulos renais → necrose tubular aguda → injúria renal aguda
grave
Mioglobinúria → urina castanho-avermelhada
Oliguanúria → aumento da creatinina e ureia séricas
o A melhor forma de prevenir as complicações secundárias à mioglobinúria é a hidratação agressiva
Fórmula de reposição volêmica: Parkland → 4 x SCQ x peso
A diurese é melhor forma de avaliação
Em queimadura elétrica, a diurese alvo para adultos é de 1000mL/h e para crianças < 30kg é
1,5 a 2 mL/kg/h
o Os níveis séricos de potássio e de outros eletrólitos devem ser monitorados, no mínimo, a cada 2 a 4
horas, até atingirem níveis estáveis
Síndrome compartimental
o Edema progressivo da musculatura acometida pela corrente elétrica
Aumento do volume muscular em um compartimento de fáscia muscular inelástica →
elevação crítica da pressão do compartimento → compressão das estruturas
neurovasculares contidas em seu interior → isquemia
o Características
Edema tenso do membro acometido
Dor intensa, com piora à extensão passiva e parestesia
Sinais tardios: palidez, parestesia, fraqueza muscular, alteração de pulso
o Tratamento
Fasciotomia: abertura das fáscias que contêm o compartimento
Complicações de queimaduras
Complicações precoces
o Infecção da área queimada e sepse
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Trauma em Gestante
Introdução
ABCDE
O pneumotórax hipertensivo tem que ser puncionado e drenado
Gestante instável com FAST abdominal positivo tem indicação de laparotomia
O melhor tratamento do feto é a reanimação adequada da mãe!
O cirurgião e o obstetra devem ser chamados assim que possível
Alterações da gestação
Altura do útero
o Até 12ª semana: intrapélvico
o 20ª semana: cicatriz umbilical
o 34ª a 36ª semanas: rebordo costal
o 38-40 semanas: cabeça está encaixada na bacia
Primeiro trimestre
o Útero espessado
o Feto protegido de trauma direto
o Risco de abortamentos e aloimunização
Segundo trimestre
o Útero extrapélvico
o Grande volume de líquido amniótico
o Risco de descolamento de placenta, embolia de líquido amniótico (CIVD), aloimunização
Terceiro trimestre
o Útero de parede fina
o Deslocamento das vísceras abdominais materna
O intestino é deslocado cranialmente e fica parcialmente protegido no trauma abdominal
contuso
As posições do baço e do fígado não se alteram
o Compressão da cava inferior → laterização para lado esquerdo para descomprimir a cava
o Risco de:
Fratura de bacia com hemorragia materna e lesão direta do feto
Descolamento de placenta
Placenta possui elasticidade reduzida → vulnerabilidade às forças de cisalhamento
na interface uteroplacentária → descolamento de placenta
Embolia de líquido amniótico
Aloimunização
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AUMENTA
FR (ventilação minuto) → compressão do diafragma
FC (aumenta 10 a 15 bpm)
DC (aumenta 1 a 1,5L, a partir da 10sem) → ⭡ volume circulante e ⭣ resistência vascular útero-
placenta
Volume plasmático sanguíneo
Leucocitose fisiológica
TFG
Sínfise púbica
Tempo de esvaziamento gástrico → passagem de sonda nasogástrica para prevenir broncoaspiração
Fibrinogênio e outros fatores de coagulação
Alcalose respiratória
DIMINUI
pCO2 = hipocapnia (PaCO₂ de 30mmHg) → 35 a 40 pode indicar iminência de insuficiência respiratória
Hematócrito (normal > 30%)
PA cai no 2° trimestre → retorna ao normal próximo ao parto
Bicarbonato
Volume residual → compressão do diafragma
Ureia e creatinina
Volume e composição do sangue
o O volume plasmático aumenta, porém o aumento do volume de hemácias é proporcionalmente
menor, gerando redução do hematócrito → anemia fisiológica da gravidez
o Gestantes saudáveis podem perder 1200 a 1500 mL de sangue sem ter repercussão hemodinâmica e
sem taquicardia, hipotensão ou outros sinais de hipovolemia
No entanto, essa perda volêmica resulta em sofrimento fetal, evidenciado por uma FCF
anormal
Os vasos placentários são particularmente sensíveis à estimulação por
catecolaminas
Redução abrupta do volume circulante da mãe → aumento da resistência vascular
uterina → reduzindo a oxigenação fetal
o Pode haver diminuição do tempo de protrombina (TP) e tempo de tromboplastina parcial ativada
(TTPA)
o Tempo de sangramento e de coagulação não se alteram
ECG
o O eixo pode estar desviado para a esquerda em cerca de 15 graus
o Achatamento ou inversão da onda T em D3 e nas derivações precordiais pode ser normal
o As extrassístoles podem ocorrer com maior frequência na gestação
Diagnóstico diferencial de eclampsia e TCE
o A eclâmpsia, na qual ocorrem convulsões, pode simular um traumatismo cranioencefálico
Geralmente, na eclâmpsia há hipertensão, hiperreflexia, proteinúria e edema periférico
A TC de crânio deve ser realizada para excluir hemorragia intracraniana
Se usado em uma posição mais alta, sobre o útero, pode provocar lesão uterina por ação
direta
o Cinto de três pontos → reduz a possibilidade de lesão fetal direta ou indireta → aumenta a
superfície por qual se dissipa a força de desaceleração e evita a flexão anterior da mãe sobre o útero
gravídico
Parece não haver nenhum aumento de riscos específicos nas grávidas ocasionados pelo airbag dos veículos
motorizados
o Gestantes sem fator de risco para perda fetal ou descolamento de placenta: monitorização contínua
por 6h
o Gestantes com fator de risco para perda fetal ou descolamento de placenta: monitorização contínua
por 24h
Risco de perda fetal e descolamento de placenta
o FC materna > 110 bpm
o ISS > 9 (índice de gravidade de lesão)
o Evidência de descolamento de placenta
o FC fetal > 160 ou < 110 bpm
o Ejeção do veículo, atropelamento ou colisão de motocicleta
Considerar que há lesão fetal na presença de:
o Sangramento vaginal
o Descolamento de placenta
o Dor à palpação do útero
o Ruptura uterina
o Trabalho de parto
Avaliação secundária
As indicações para FAST, lavado peritoneal diagnóstico (LPD) e TC são as mesmas da paciente não grávida
o Se for indicado o LPD, a incisão deve ser feita acima da cicatriz umbilical para evitar lesões
iatrogênicas
Pode fazer no 1° e 2° trimestres
o A TC de abdome deve ser realizada na paciente estável com suspeita de lesão na cavidade
abdominal
Consultar precocemente cirurgião e obstetra
Tratamento definitivo
Em caso de embolia por líquido amniótico, a evacuação uterina, a transfusão de plaquetas, fibrinogênio e
outros fatores de coagulação são urgentes
o Devido ao risco de vida e CIVD (coagulação intravascular disseminada)
Imunoglobulina anti-D para mães Rh negativas nas primeiras 72h
Abdome Agudo
Introdução
Síndrome dolorosa aguda de intensidade variável, que leva a procura de serviço de urgência
Dor abdominal súbita e não traumática
Características da dor
AA inflamatório → insidiosa, progressiva (visceral → somática)
AA obstrutivo → cólica
AA perfurativo → súbita, difusa precocemente
AA hemorrágico → súbita, difusa
AA vascular → súbito, progressiva ou anginosa, associada às alimentações
Anamnese
Dor é o principal sintoma
o Caracterizar tipo, intensidade, localização, fatores de alívio e piora, progressiva, irradiação
Febre → em afecções inflamatórias e infecciosas
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Náuseas, vômitos, sintomatologias urinárias, trânsito intestinal alterado, sangue nas fezes, anorexia,
hematêmese
Passado médico: doenças prévias, cirurgias, medicação
Álcool, drogas
Quadros clínicos clássicos
o Dor no abdome superior que irradia para dorso, com vômitos importantes → PANCREATITE AGUDA
o Dor contínua > 6h no HCD, irradiação escapular, após alimentação gordurosa → COLESCISTITE
o Dor abdominal súbita, difusa, grande intensidade com defesa e rebote → PERFURAÇÃO
o Dor subesternal, em queimação, que melhora com alimentos ou antiácidos → ÚLCERA DUODENAL
o Dor súbita, mesogástrica, massa pulsátil, hipotensão → RUPTURA DE ANEURISMA DE AORTA
o Dor periumbilical que localiza na fossa ilíaca direita → APENDICITE AGUDA
o Dor abdominal no HCD, febre com calafrios e icterícia (Tríade de Charcot) → COLANGITE AGUDA
o Dor abdominal difusa, desproporcional ao exame físico, acidose metabólica, aumento de FA →
ISQUEMIA MESENTÉRICA
o Dor periumbilical que localiza na fossa ilíaca esquerda → DIVERTICULITE
o Dor abdominal difusa, distensão, hiperperistaltismo (som metálico) → OBSTRUÇÃO
Pistas nas questões
o Dor abdominal + quadro neurológico e/ou psiquiátrico
Intoxicação: exposição?
Metabólico: familiar? Gatilhos?
o Dor abdominal + febre prévia
Infecção
Exame físico
Inspeção → Ausculta → Percussão → Palpação → Toque retal
Decúbito dorsal, com abdome totalmente descoberto
Verificar sinais de peritonite, como a descompressão brusca dolorosa e a defesa muscular involuntária
Na ausculta, RHA diminuídos no abdome agudo inflamatório e aumentados com timbre metálico no
abdome agudo obstrutivo
Examinar as regiões inguinais à procura de hérnias, causa de abdome agudo obstrutivo
Fazer o exame de toque retal para diagnosticar neoplasia colorretal baixa, fecaloma e até um abdome agudo
perfurativo (crepitação em fundo de saco posterior é indicativo de perfuração de víscera oca
retroperitoneal)
Exame ginecológico completo deve ser realizado em mulheres em idade fértil, com queixa de dor pélvica,
para o diagnóstico diferencial de um abdome agudo inflamatório
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Exames complementares
Hemograma → leucocitose com desvio à esquerda nos processos infecciosos
Glicose, ânion-gap e cetonemia → cetoacidose diabética (causa de dor abdominal não cirúrgica)
Amilase → pancreatite, isquemia mesentérica, perfuração intestinal
Lipase → pancreatite
Bilirrubinas, transaminases, fosfatase alcalina → obstruções de vias biliares e doenças hepáticas
Ureia, creatinina, eletrólitos → uremia, desidratação
Beta-HCG → fazer em mulheres na idade fértil com dor abdominal
Lactato, gasometria → isquemia mesentérica
EAS → leucocitúria, bacteriúria (ITU, mas pode estar presente nas apendicites pélvicas), hematúria
(nefrolitíase)
ECG
Exames de imagem: RX, USG, TC, enema
o USG e TC podem ser solicitados de acordo com a suspeita diagnóstica
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o Obstrutivo
Bridas
Neoplasias colorretal
Volvo de sigmoide e de ceco
Hérnia encarcerada
Íleo biliar
Intussuscepção
Doença inflamatória intestinal
o Perfurativo
Úlcera gastrointestinal
Divertículo perfurado
Neoplasias perfuradas
Síndrome de Boerhaave
Perfuração intestinal por corpo estranho
o Vascular
Isquemia mesentérica (embolia/trombose)
Colite isquêmica
Hérnia estrangulada
Torção ovariana
Torção testicular
Doença de Buerger ou tromboangeite obliterante (TAO)
o Hemorrágico
Aneurisma de aorta roto
Gravidez ectópica rota
Cisto ovariano roto
Ruptura esplênica
Pancreatite hemorrágica
o Achados clínicos, radiológicos e laboratoriais que sugerem uma patologia cirúrgica
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Tratamento
Dor abdominal aguda + sinais de peritonite difusa + instabilidade hemodinâmica = LAPAROTOMIA
EXPLORADORA
o Independentemente da causa do abdome agudo
Apendicite aguda
É a causa mais comum em crianças, adolescentes e adultos jovens (homens jovens principalmente)
Anatomia: localizado na base do ceco, sua ponta tem variações variáveis (diversidade de achados no exame
físico)
o Retocecal é a posição mais comum, seguida da subcecal
Fisiopatologia
1. Obstrução do lúmen apendicular por fecalito, tecidos linfoides hiperplásicos, cálculos ou parasitas
2. Aumento da pressão intraluminal, gerando isquemia e desenvolvimento de um processo
inflamatório transluminal
3. Proliferação bacteriana, que se instala pelas paredes apendiculares
Diagnóstico: é clínico
o Dor abdominal inicialmente periumbilical que migra para FID, acompanhada de anorexia, náuseas e
vômitos, com estado subfebril ou ausência de febre no início
o Dor torna-se mais localizada e surge irritação peritoneal local
Exame físico
o Ausculta abdominal com ausência ou diminuição dos RHA
o Percussão dolorosa
o Palpação → dor no ponto de McBurney, sinal de Blumberg
o Posição antálgica
o Sinais propedêuticos
Sinal de Blumberg: descompressão dolorosa do ponto de McBurney → mais sensível para
apendicite
Sinal de Rovsing: palpação do QIE causa dor no QID
Sinal de Dunphy: dor a percussão no ponto de McBurney ou dor ao tossir
Sinal de Lapinsky: dor a compressão do ceco, enquanto o doente eleva o MID estendido
Sinal do Psoas: dor a extensão da coxa direita sobre o quadril contra a resistência em
decúbito lateral esquerdo
Sinal do Obturador: dor a rotação interna do quadril flexionado em decúbito dorsal
o Exames laboratoriais
Inespecíficos
Leucocitose moderada com neutrofilia
PCR elevado
EAS: leucocitúria e hematúria por contiguidade do processo inflamatório ao ureter, e não
por infecção
Em mulheres, solicitar beta-HCG
o Exames de imagem
RX
Dados indiretos: níveis hidroaéreos em FID, apagamento do psoas e gordura pré-
peritoneal, fecalito, alças sentinelas
USG
Excelente no diagnóstico e no diagnóstico diferencial
Apêndice normal: diâmetro < 6mm com parede < 3mm
Presença de apendicolito/fecalito
Fluido ou plastão periapendicular (borramento da gordura - alças sentinelas)
Blumberg ultrassonográfico
TC - é o padrão ouro
Sensibilidade 95%
Especificidade 95%
Contraste VO e EV, cortes 5mm
Avalia diâmetro, borramento da gordura periapendicular, apendicolito
Escala de pontuação para diagnóstico da apendicite - Escore Alvarado
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o Interpretação:
0-3 pontos: apendicite pouco provável, investigar outras patologias
≥ 4: provável apendicite = solicitar exame de imagem se necessário
≥ 7: alto risco de apendicite = cirurgia
Solicitar exame de imagem se necessário (mulheres, idosos, imunocomprometidos,
gestantes)
Tratamento: apendicectomia
o Incisão de McBurney (clássica)
o Outras: Rockey-Davis, Battle (paramediana), mediana
Mediana para casos mais complicados
o Videolaparoscopia: recurso diagnóstico e terapêutico
Indicações: obesos, gestantes, dúvida diagnóstica
Colecistite aguda
Principal causa é litiásica (90-95%) - sexo feminino
Clínica
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Pancreatite aguda
Causas mais importantes: litíase biliar e alcoolismo
Pancreatite aguda biliar
o Incidência
Maior em mulheres brancas com mais de 60 anos e pacientes com cálculos < 5mm ou
microlitíase
o Fisiopatologia
Impactação transitória de pequenos cálculos na ampola de Vater (encontro dos ductos biliar
e pancreático)
Obstrução pelo cálculo ou pelo edema da papila duodenal
Elevação da pressão intraductal
Processo inflamatório
Quadro clínico
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o Biliar: colecistectomia
o Colangiopancreatografia endoscópica retrógrada (CPRE): opção na obstrução das vias biliares e/ou
colangite
o Cirurgia: controversa, pancreatite aguda necro-hemorrágica
Diverticulite aguda
Inflamação dos divertículos
Maioria dos divertículos ocorre no cólon sigmoide
Pedaço de fezes obstrui o divertículo, gerando a inflamação
Quadro clínico
o Dor em FIE
o Febre persistente
Exame físico
o Peritonite em QIE
o Fístulas retovesical
Diagnóstico
o TC é o melhor exame - padrão ouro
Achados: espessamento localizado na parede intestinal (> 4mm), aumento da densidade das
partes moles na gordura pericólica secundário à inflamação e presença de divertículos
colônicos
o Colonoscopia deve ser evitada no quadro agudo, por risco de perfuração (parede inflamada,
sensível)
Deve ser realizada 6 semanas após a recuperação para excluir Ca colorretal
Diagnósticos diferenciais: tumor de cólon, colite pseudomembranosa, apendagite (inflamação do apêndice
epiploico)
Classificação de Hinckey
o Classifica a diverticulite pela localização dos abcessos e a extensão do processo infeccioso
o Auxilia na escolha da conduta
Peritonite secundária a uma perfuração de víscera oca com extravasamento de material para a cavidade
abdominal
Causa mais comum: úlcera péptica
Perfurações do delgado são raras e suspeitam por ingestão de corpo estranho
Perfurações do cólon advém de perfuração por diverticulite ou tumores
Quadro clínico
o Costuma ser semelhante independente da causa
o Dor súbita e intensa, de início bem delimitado
o Queixa de dor no ombro e pescoço devido gás ou irritação do nervo frênico
Dor referida no ombro - sinal de Lafond
o Palidez, sudorese
o Pode evoluir para choque séptico
o Defesa abdominal localizada ou generalizada
o Sinal de Joubert: som timpânico à percussão do hipocôndrio direito pela interposição gasosa
Exames complementares
o TC é o mais sensível
o RX de tórax é o primeiro a ser solicitado - cúpula diafragmática → pneumoperitônio
Tratamento
o A depender da etiologia
o Úlceras devem ser suturadas
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Etiologia
Mais comum no intestino delgado
Acomete todas as faixas etárias
Crianças: hérnias estranguladas, divertículo de Meckel, intussuscepção
Adultos jovens: hérnias, bridas
Idosos: volvo, aderências, íleo biliar, hérnias e tumores
Causas funcionais: sepse, desequilíbrio hidroeletrolítico, opioides, drogas ilícitas
Histórico de cirurgias → pensar em bridas e aderências (mais comuns em delgado)
Fisiopatologia
1. Obstrução mecânica simples
2. Distensão intestinal proximal com acúmulo de líquido e gás
3. Estenose venosa, menor absorção, sequestros intraluminal, intramural e peritoneal
4. Hiperproliferação bacteriana com produção acentuada de gás e piora da distensão gasosa
5. Aumento da pressão intraluminal, permeabilidade aumentada, absorção de toxinas e translocação
bacteriana, êmese, desidratação
6. Comprometimento rápido da viabilidade da alça → isquemia, perfuração, peritonite bacteriana
7. Choque hipovolêmico/séptico
Quadro clínico
Parada de eliminação de gases e fezes
Dor abdominal em cólica, intensidade crescente
Distensão abdominal
Vômitos
o Obstrução alta → precoces → restos alimentares, biliosos
o Obstrução baixa → tardios → fecaloides
Exame físico
Distensão abdominal
Hipertimpanismo
Sinal de Kussmaul (visualização dos movimentos peristálticos)
Ruídos hidroaéreos metálicos (inicial) ou abolidos (tardio)
Toque retal: fezes endurecidas, fecaloma
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Exames complementares
RX, USG, TC
EDA, retossigmoidoscopia, colonoscopia
Hemograma, ureia, creatinina, eletrólitos, glicemia, amilase, gasometria arterial e venosa
Exames de imagem
o Intestino delgado
Válvulas coniventes (empilhamento de moedas) = distensão
Distribuição central das alças
Diâmetro até 3cm
o Intestino grosso
Distribuição periférica das alças
Diâmetro normal até 5cm
Ceco: diâmetro normal até 8cm (risco de perfuração se > 10cm)
o Íleo biliar
Tríade de Rigler - aerobilia, obstrução intestinal, imagem de cálculo na válvula íleo-cecal
o Volvo do sigmoide
Parece um grão de café
Retossigmoidectomia
Sigmoidopexia
Descompressão com colonoscopia
o Tumor de cólon - enema
Imagem de "maça mordida"
o Intussuscepção
Crianças
Ileocecocólica, íleoileal, colocólica
USG: casca de cebola
Alça inviável: enterectomia
o Obstrução intestinal alta
Distensão gasosa intestinal e níveis hidroaéreos
Visualização das pregas coniventes, chamada de “empilhamento de moedas”
Distribuição mais centralizada no abdome
Pouco ar nos cólons
Clinicamente, o paciente apresenta vômitos precoces e biliosos
o Obstrução intestinal baixa
Distensão colônica, com visualização das haustrações colônicas
Localização mais periférica no abdome
Ausência de ar na ampola retal
Válvula ileocecal competente: obstrução em alça fechada e a distensão gasosa limita-se ao
cólon
Válvula incompetente: distensão de intestino delgado e, provavelmente, o paciente
apresentará vômitos fecaloides tardios
Volvo de sigmoide: “sinal do grão de café” ou “sinal do U invertido”
Fecaloma: imagem de “miolo de pão”
Tratamento
Conduta inicial: jejum, SNG, expansão volêmica, antieméticos, ATB, correção dos distúrbios
hidroeletrolíticos, avaliar UTI
Definitivo
o Conservador - endoscópico
Volvo e bridas
o Cirurgia
Depende da causa e das complicações
Ausência de resultado ao tratamento clínico
o Cirurgia de emergência
Colostomia
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Causas mais comuns: gravidez ectópica rota, cisto ovariano, aneurisma de aorta abdominal roto
Outras causas
o Ruptura de aneurismas de artérias viscerais → aneurisma de artéria esplênica é a mais comum
o Ruptura de tumores → adenoma hepático roto, hemangioma
Sinais e sintomas
Dor abdominal de início súbito, difusa, leve a alta intensidade
Alterações hemodinâmicas: taquicardia, queda da PA, palidez, sudorese fria, agitação
Sinais de irritação peritoneal
Massas palpáveis pulsáteis
Sopro na face anterior ou dorso do abdome
Equimose na parede abdominal
Sinal de Lafond (dor referida no ombro) - irritação do nervo frênico
Sinal de Kehr (dor referida na região infra-escapular) - irritação do nervo frênico
Diagnóstico
USG, TC, RM
Tratamento
Gravidez ectópica rota
o Tratamento cirúrgico: anexectomia unilateral ou histerectomia total
Aneurismas rotos
o Via intravascular: próteses, derivações vasculares
Diagnóstico
Dor intensa em epigástrio e mesogástrio
Náuseas, vômitos, diarreia
Sangue oculto retal ou gástrico
Abdome flácido inicialmente
Peritonite em fases tardias
Leucocitose > 20.000
Aumento de CPK em 6h do início do processo
Acidose metabólica
Investigar antecedentes de arritmia cardíaca ou insuficiência vascular periférica
Exames complementares
Arteriografia é o padrão-ouro
USG com Doppler
Angiotomografia
RX: limitada, pode mostrar pneumatose
Tratamento
Objetivos: restabelecer o fluxo sanguíneo, ressecção de segmentos intestinais invariáveis (> 6-8h)
Embolia e trombose
o Embolectomia cirúrgica
o Trombólise endovascular
Sem peritonite
Sem indicação de laparotomia exploradora
o Cirurgia de by pass - safena
Isquemia não oclusiva
o Maioria não cirúrgica
o Tratar fator causal
o Hidratação venosa e melhora da bomba cardíaca
o Papaverina
o Sinais de peritonite → laparotomia exploradora
Revascularização do intestino é indicada até 6-8h do início dos sintomas
A ressecção de alças inviáveis e a revascularização são importantes para evitar a progressão da necrose
Nas fase tardias de infarto maciço, a revascularização não é indicada
Trauma Ocular
Introdução
50% dos traumas oculares acontecem com jovens abaixo de 25 anos
Nas crianças, mais frequentes entre os meninos e provocados por eles próprios ou na disputa em esportes
Atendimento inicial: devem ser avaliadas suas condições clínica e paciente politraumatizado, neurológica
Apenas em um segundo momento deve ser feita avaliação oftalmológica
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É sempre importante fazer uma anamnese detalhada com o paciente e/ou acompanhante, indagando sobre
o tipo de acidente, o uso de óculos ou lente de contato, o material ou a substância química que atingiu o
olho
Anatomia
Túnica fibrosa ou externa: formada pela córnea, limbo e esclera
o Córnea
Estrutura transparente anterior do bulbo
Rica em colágeno, viscoelástica e bastante resistente
Tecido avascular
Inervação ocorre através de fibras do ramo oftálmico do trigêmeo
Extensa inervação → qualquer lesão corneana tende a causar muita dor
o Limbo
Zona de transição entre a esclera e a córnea
Fornece nutrição para a córnea periférica
o Esclera
Parte branca do olho
Função de sustentação do globo ocular
Suprimento nervoso extenso → inflamações geram muita dor
Túnica vascular ou média ou uveal: formada pela íris, corpo ciliar e coroide
o Íris
Possui forame central (pupila), que regula a quantidade de luz que entra no olho
Diâmetro da pupila é determinado pela ação de dois Mm. lisos: m. esfíncter da pupila e m.
dilatador da pupila
M. esfíncter da pupila → inervado pelo SNAp, através do nervo oculomotor (III par
craniano) → miose
M. dilatador da pupila → inervado por fibras simpáticas (adrenérgicas), derivadas do
plexo carotídeo interno, que chegam ao músculo pelos nervos ciliares longos →
midríase
o Corpo ciliar
Participa do processo de acomodação do cristalino
Contém as fibras do músculo ciliar
Inervado por fibras parassimpáticas
o Coroide
Ricamente vascularizada
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Responsável pelo aporte de oxigênio, nutrição das camadas externas da retina, passagem de vasos
que suprem o segmento anterior, manutenção da pressão intraocular, suporte retiniano e controle
térmico ocular
o Músculos extraoculares
6 músculos em cada olho → 4 mm. retos e 2 mm. oblíquos
Reto medial: sua contração move o olho nasalmente (adução) → inervado pelo III par
craniano (oculomotor)
Reto lateral: sua contração move o olho lateralmente (abdução) → inervado pelo VI par
craniano (abducente)
Reto superior: sua contração promove a elevação do olho → inervado pelo III par craniano
(oculomotor)
Reto inferior: sua contração promove a depressão do olho → inervado pelo III par craniano
(oculomotor)
Oblíquo superior: sua contração promove a intorção, ou rotação do olho para dentro →
inervado pelo IV par craniano (troclear)
Oblíquo inferior: sua contração promove a extorsão, ou rotação do olho para fora →
inervado pelo III par craniano (oculomotor)
Anatomia orbitária
o 4 paredes: medial, lateral, superior, inferior (assoalho da órbita)
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Suprimento sanguíneo
o Arterial → ramos da artéria carótida interna → artéria oftálmica
o Drenagem venosa → drena para o seio cavernoso → veia jugular interna
3. 19/100 a 5/200
4. 4/200 a percepção luminosa
5. Sem percepção luminosa
Exames complementares
RX e TC de órbita
USG → detecta presença de corpo estranho e hemorragia no olho
RM → contraindicado se corpo estranho metálico
Queimaduras químicas
11% a 22% dos traumas oculares
Maioria das vítimas é de jovens do sexo masculino e observa-se alta incidência de acidentes de trabalho
Queimaduras com ácidos são mais frequentes
Queimaduras por substâncias alcalinas (soda cáustica, cimentos, gessos, alvejantes, amônia) tendem a ser
mais graves que as queimaduras por substâncias ácidas (ácido de bateria, limpador de piscinas, vinagre)
o Os álcalis promovem uma saponificação das proteínas oculares com maior penetração do produto,
que estende sua ação destrutiva a outros tecidos
o Nas queimaduras por ácidos, a coagulação das proteínas forma uma barreira de proteção,
dificultando a penetração do agente químico
Classificação quanto ao comprometimento da córnea e limbo
o Grau I: lesão do epitélio da córnea sem acometer limbo → bom prognóstico
o Grau II: grau I + edema de córnea + acometimento < 1/3 do limbo → bom prognóstico
o Grau II: grau II + acometimento de 1/3 a 1/2 do limbo → prognóstico reservado
o Grau IV: córnea opaca e acometimento > 1/2 do limbo → prognóstico ruim
Sinais e sintomas
o Queimaduras leves a moderadas
Dor e vermelhidão ocular variável
Fotofobia
Redução da acuidade visual
Ao exame: conjuntiva bulbar hiperemiada, quemose, lesões epiteliais corneanas, focais ou
difusas e reação da câmara anterior
o Queimaduras graves
Não há vermelhidão ocular
Conjuntiva bulbar pode estar branco-acinzentada devido à isquemia perilímbica
Quemose, erosões epiteliais e opacificação da córnea podem estar presentes
Tratamento
o Deve seguir 3 etapas:
Emergencial (lavagem copiosa e remoção de detritos)
Irrigação abundante e imediata com solução salina ou solução de Ringer Lactato por,
pelo menos, 30min
O objetivo da irrigação é alcançar o pH neutro
Pode-se utilizar água potável domiciliar na ausência dessas soluções
Nunca se utilizar soluções ácidas para neutralizar álcalis ou vice versa, pois
as próprias reações ácido-base podem gerar substratos nocivos
Caso esteja à disposição do profissional, pode ser instilado anestésico tópico
antes da irrigação
Everter as pálpebras e remover detritos com swab ou cotonete umedecido
Inicial (promoção da reepitelização e controle da inflamação) → com oftalmologista
Leves: ATB oftálmicos tópicos e colírios cicloplégicos para alívio da dor
Graves: devem ser examinados por um oftalmologista o mais rápido possível, no
máximo em 24h após a exposição
Tardia (reabilitação visual)
o Dependendo do grau de isquemia do limbo
Extensão menor que 1/3 do limbo
ATB, corticoides, cicloplégicos
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Abrasões corneanas
Defeitos epiteliais superficiais autolimitados que coram com fluoresceína
Normalmente, o paciente refere histórico de arranhadura, trauma ocular, uso de lente de contato,
queimadura por solda
Sinais e sintomas
o Dor aguda, fotofobia, sensação de corpo estranho, lacrimejamento, desconforto ao piscar
o Acuidade visual geralmente permanece inalterada
o Ao exame: defeito epitelial que cora com fluoresceína e ausência de opacificação corneana
subjacente
Também pode estar presente hiperemia conjuntival e edema palpebral
o Durante o exame sob lâmpada de fenda, realizar eversão das pálpebras superiores para afastar
presença de corpo estranho, especialmente na presença de abrasões verticais ou lineares
Tratamento
o O epitélio corneano tem grande capacidade regenerativa
Abrasões corneanas não complicadas tendem a resolver se em 24 a 72h
o Uso de pomada ou colírio antibiótico profilático até que o defeito epitelial cicatrize
Usuários de lente de contato necessitam de antibiótico com cobertura para pseudomonas
(pomada de ciprofloxacino 0,3%, 4x ao dia)
o A dor ocular e a fotofobia podem ser aliviadas pelo uso de colírios cicloplégicos
Bloqueiam o espasmo do músculo ciliar e esfíncter da íris
o Tampões oculares podem aumentar o risco de infecção e geralmente não são indicados
Tampões oclusivos são contraindicados em usuários de lente de contato
Se a abrasão corneana for muito extensa e não tiver relação com uso de lente de contato, o
tampão oclusivo pode ser mantido por 24h
Fratura orbitária
Fraturas do assoalho da órbita (fratura em blow-out) e parede medial são as mais comuns
o Os ossos da parede lateral e do teto são frequentemente capazes de resistir ao trauma
Fratura tipo blow-out do assoalho da órbita
o Fratura por explosão ou fratura em blow-out é comum em traumas com objetos pequenos, como
uma bola de tênis ou um punho
o Ocorre quando o olho é atingido de tal forma que a força da pancada é recebida pelo globo ocular e
não é bloqueada pelos ossos fortes que rodeiam o olho
o Sinais e sintomas
Variam de acordo com a gravidade do trauma e o intervalo de tempo entre a lesão e o
exame
Dor ao tentar movimentar o olho
Limitação dos movimentos oculares (oftalmoplegia)
Edema palpebral
Diplopia binocular → devido ao edema ou encarceramento mecânico dos músculos
Crepitação (ocorre por enfisema subcutâneo) → fratura do assoalho faz com que o ar
proveniente do nariz ou dos seios da face entre nos tecidos que rodeiam o olho
Graves: hipoestesia na distribuição do nervo infraorbital (região maxilar e lábio superior
ipsilaterais) e enoftalmo (deslocamento do globo ocular para dentro de sua órbita)
o Excluir uma lesão intraocular e do nervo óptico o mais breve possível em todos os pacientes com
suspeita de fratura orbital
o Em todos os casos suspeitos, deve ser realizada uma TC da órbita e uma porção média da face, que
mostrará quaisquer fraturas, acúmulos de sangue e tecido deslocado ou obstruído
o Tratamento
Minimizar dor e hemorragias nasais
Aplicar bolsa de gelo a cada 1 a 2 horas nas primeiras 24 a 48h ajuda a diminuir a dor
e o inchaço
Manter a cabeça elevada acima do nível do coração para prevenir inchaço posterior
Uso de analgésicos pode ajudar a controlar a dor
Antibióticos orais de amplo espectro podem ser usados, caso uma infecção se
desenvolva
Uso de spray nasal que contraia os vasos sanguíneos (vasoconstritor tópico) durante
2 a 3 dias pode ajudar a minimizar os sangramentos nasais
Reparo cirúrgico
Reparo cirúrgico imediato (dentro de 24 a 74h) é indicado quando existir evidência
clínica de encarceramento muscular e bradicardia, bloqueio cardíaco, náusea,
vômito ou síncope não resolvidos com tratamento clínico
Reparação cirúrgica dos ossos faciais em algumas semanas é indicada se uma fratura
por explosão obstruir os músculos ou tecidos moles da órbita e provocar visão
dupla, ou lesão do nervo, ou afundar o globo ocular
Hifema traumático
Hifema = acúmulo de sangue na câmara anterior → vasos da íris ou corpo ciliar
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Trauma de cristalino
Trauma fechado zona 2
Subluxação - ruptura das fibras da zônula
Cristalino desloca para câmara anterior do olho → obstrução da via de escoamento do humor aquoso →
glaucoma agudo
Emergência oftalmológica
Trauma da íris
Trauma fechado zona 2
Inflamação da íris (irite) → tratar com cicloplégicos e corticoide
Iridodiálise é a ruptura da íris → tratar com fechamento cirúrgico da ruptura
Quadro clínico
Quando evidente:
o Sangramento ativo através do ferimento penetrante
o Hematoma expansível ou pulsátil
o Isquemia óbvia do membro (palidez, parestesia, paralisia, dor, ausência de pulsos e hipotermia)
No trauma contuso, a presença de fratura supracondiliana do úmero deve levantar a suspeita de lesão da
artéria braquial
Na luxação do joelho, há um risco significativo de lesão da artéria poplítea
Lesões arteriais
o Manifestações: síndromes isquêmica, hemorrágica ou tumoral (falso aneurisma)
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o Síndrome isquêmica
Secção completa do vaso com retração dos cotos
Esmagamento
Estiramento
Tríade: palidez distal + diminuição da temperatura + ausência de pulso periférico
Cianose (processo tardio)
Alterações motoras: comprometimento muscular e dos nervos
o Síndrome hemorrágica
Mais frequente nas lesões incompletas
Anemia aguda
Choque hipovolêmico
Pulsos periféricos podem estar presentes
o Síndrome tumoral
Geralmente em lesões arteriais incompletas e puntiformes
Manifestações tardias: claudicação, entre outros
Lesões arteriais e venosas
o Aparecimento de fístulas arteriovenosas (FAV)
o Lesões parciais
o Diagnóstico tardio → sopro sistólico e frêmito - horas ou dias após o trauma
o Redução da perfusão distal → síndrome do roubo
o Isquemia crônica → claudicação intermitente
Lesões venosas
o Menos frequentes
o Diagnóstico no ato operatório
o O ideal é fazer reconstrução para evitar trombose
Exame físico
Choque hemorrágico com hipotensão arterial, taquicardia, rebaixamento do nível de consciência
ABCDE do trauma
Avaliação sensorial e motora completa do membro lesionado e do contralateral
Palpação dos pulsos distais do membro lesionado e do contralateral
o Identificar assimetria ou ausência de pulsos palpáveis e presença de frêmito
o O ecodoppler pode auxiliar quando os pulsos distais estão diminuídos ou ausentes
Avaliação do enchimento capilar
Presença de sopro à ausculta no local da lesão → vaso parcialmente trombosado ou comprimido
Diferença significativa na pressão sistólica (> 10 mmHg) entre as extremidades → lesão vascular
Ficar atento para ausculta de sopro e palpação de frêmitos, bem como para hematomas em expansão ou
pulsátil em ferimentos abertos
Indicativos de lesão arterial: discrepância entre os pulsos, resfriamento, dor, palidez, parestesia, alterações
motoras
o ITB (índice tornozelo-braquial) < 0,9
A presença de pulsos distais normais não exclui lesão vascular, pois pode haver uma lesão arterial parcial
A ausência de pulso não necessariamente indica lesão arterial, ela pode ser decorrente do choque
hemorrágico
Tratamento inicial
Conduta imediata
o Compressão manual externa
o Tamponamento com cateter/balão - folley e fogarty
o Evitar torniquete e pinças hemostáticas
Reanimação agressiva com soluções apropriadas (cristaloides e/ou sangue)
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Torniquete manual ou pneumático (TP): estratégia temporária para controlar a hemorragia nas
extremidades
o Usar quando a pressão direta não é bem-sucedida
Se houver fratura associada, ela deve ser tracionada e realinhada, mantendo o membro imobilizado (??)
Se a fratura for exposta, deve ser realizado curativo compressivo estéril, realinhamento e imobilização do
membro, diminuindo a hemorragia e aliviando a dor do paciente
Vacinação antitetânica para ferimentos penetrantes e antibioticoprofilaxia de amplo espectro para os
pacientes com indicação cirúrgica
Tratamento cirúrgico
A necrose muscular inicia quando há interrupção do fluxo sanguíneo por um período superior a 6 horas
Idealmente, a lesão deve ser identificada e tratada dentro de 6h para minimizar o dano isquêmico
neuromuscular
o O ideal seria uma revascularização realizada dentro de 1h após a lesão para restabelecer o fluxo
arterial
Jamais postergar a cirurgia para realizar exames complementares!
o Quanto maior o tempo de isquemia, maior a probabilidade de perda do membro
o Se for necessária, a arteriografia poderá ser realizada no intraoperatório para esclarecer a anatomia
arterial
Indicação de exploração imediata para lesão vascular - CRITÉRIOS MAIORES
o Sangramento pulsátil
o Hematoma em expansão
o Frêmito palpável ou sopro audível
o Evidência de isquemia da extremidade: palidez, parestesia, paralisia, dor, ausência de pulsos e
poiquilotermia (diminuição da temperatura)
Considerar diagnóstico por imagem posterior e avaliação para lesão vascular - CRITÉRIOS MENORES
o Histórico de hemorragia moderada
o Fratura, luxação ou ferimento penetrante na proximidade
o Pulsos diminuídos, mas palpáveis
o Déficit de nervo periférico na proximidade de grande vaso
o Lesões em proximidade com extremidade em pacientes com choque hemorrágico inexplicável
(trajeto vascular)
Pacientes com sinais maiores de lesão vascular devem ser encaminhados diretamente para a exploração
cirúrgica
Exame inicial indicado para o diagnóstico de uma lesão vascular é a angiotomografia
o Elevada acurácia e alta disponibilidade
A arteriografia convencional por cateter tem boa sensibilidade e especificidade
o Mas exige cateterização arterial e é um exame mais demorado e nem sempre disponível
o Tem a vantagem de realizar o tratamento endovascular, quando indicado
O ecodoppler colorido não é utilizado para avaliar lesão vascular aguda, mas é importante tanto no
acompanhamento de lesões tratadas cirurgicamente quanto para as tratadas de modo conservador
Ferimento com trajeto vascular e paciente estável, assintomático ou sintomas leves → angioTC ou
arteriografia
Etapas da cirurgia
1. Anticoagulação sistêmica
2. Arteriografia intraoperatória
3. Anticoagulação regional
4. Identificação da lesão
5. Rafia ou anastomose primária, enxerto de veia safena se necessário
A veia safena é invertida por causa das válvulas venosas, para não obstruírem o fluxo
sanguíneo arterial
As veias cefálica e safena parva são uma segunda escolha caso não seja possível utilizar a
veia safena interna
6. Fasciotomia profilática
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Deve ser realizada em todas as extremidades de alto risco, que podem incluir pacientes com
lesão significativa por esmagamento e pacientes com isquemia prolongada antes da
reperfusão (superior a seis horas)
A falha em realizar a fasciotomia adequada após a revascularização do membro com
isquemia aguda é a causa mais comum de perda de membro evitável
Pós-operatório
o Avaliação frequente dos sinais vitais, palpação dos pulsos, avaliação com Doppler de onda contínua,
avaliação de tempo de enchimento capilar e de alterações neurológicas da extremidade lesionada
o Geralmente, a falha do reparo vascular por trombose ocorre nas primeiras 48 horas, período em que
a vigilância deve ser rigorosa
o Profilaxia mecânica e farmacológica para tromboembolismo venoso assim que possível
o Anticoagulação sistêmica
o Terapia antiplaquetária
Após os procedimentos de revascularização, os pacientes com lesões vasculares devem ser
mantidos sob medicação antiplaquetária (por exemplo, aspirina) por 6 a 12 semanas até a
íntima cicatrizar nos locais de anastomoses
Síndrome reperfusão
Consequência da recirculação do sangue pelo membro isquêmico, fazendo com que os produtos do
metabolismo anaeróbio e da necrose celular, antes restritos ao membro, ganhem a circulação sistêmica
Quanto maior o tempo de isquemia, maior é o grau de necrose muscular e mais intensa é a síndrome de
reperfusão
Lesões mais proximais tendem a apresentar maiores repercussões clínicas, pois uma maior massa muscular
sofrerá isquemia
Clínica: acidose láctica, hipercalemia, mioglobinúria, síndrome compartimental
Síndrome metabólica mionefrópatica de Haimovici: acidose, hipercalemia e mioglobinúria
o Pacientes com tempo de isquemia prolongada (> 6h) são mais suscetíveis a desenvolver essas 3
alterações
o Metabolismo anaeróbio → ácido láctico
o Necrose muscular → elementos intracelulares dos miócitos (potássio e mioglobina)
Síndrome compartimental
o Mecanismo
1. Reperfusão do membro isquêmico
2. Liberação de substâncias pró-inflamatórias e vasodilatadoras
3. Aumento do volume muscular por edema, no interior de um compartimento de fáscia
muscular inelástica
4. Elevação crítica da pressão dentro desse compartimento
5. Compressão dos vasos e nervos que passam em seu interior
6. Redução do fluxo sanguíneo com novo comprometimento da perfusão tecidual
o Diagnóstico é clínico
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Lesões específicas
Membro superior
o Artérias subclávias
o Artéria braquial
Membro inferior
o Artéria femoral comum
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o Artéria poplítea
Alto risco de síndrome compartimental - pode fazer fasciotomia profilática
Trauma Musculoesquelético
Introdução
Muito frequente
Raramente causam risco imediato de vida, mas podem gerar sequelas graves
A presença dessas lesões significa que o paciente foi submetido a forças significativas, podendo apresentar
lesões associadas no tronco
Fraturas, luxações, lesões musculares, esmagamentos, embolia
o Fraturas pélvicas e de ossos longos → risco de hemorragia abundante
Embolia gordurosa é uma complicação de fraturas de ossos longos altamente letal
o Lesões por esmagamento → risco de insuficiência renal por deposição de mioglobina
o O edema em compartimentos músculo-faciais podem levar à síndrome compartimental
No atendimento intra-hospitalar, já chegam imobilizados
Avaliação
o ABCDE
o Avaliação primária: identificar as lesões que podem colocar a vida em risco
o Avaliação secundária: identificar as lesões que podem colocar o membro em risco
o Reavaliação contínua: revisão sistemática para evitar que quaisquer lesões musculoesqueléticas
passem desapercebidas
O diagnóstico é essencialmente clínico
o Observar, palpar
o Dor, edema, limitação de movimento
o Avaliar circulação dos membros → tempo de enchimento capilar, cianose, palidez, palpação dos
pulsos periféricos
RX e TC tem finalidade de auxiliar
o Determinar o tipo de fratura
o Orientar o tratamento ortopédico
o Na maioria dos casos, não é necessário exame do corpo inteiro, pois isso demanda tempo e custo
Toda fratura sangra → o impacto da hemorragia depende de vários fatores
o Tamanho do osso fraturado
o Fechada ou aberta
o Única ou múltipla
o Uso de anticoagulantes
o Quanto de sangue o paciente suporta perder
Hemorragia grave
o Fratura de fêmur fechada: média de 1500ml
Lesões de extremidade potencialmente fatais (ATLS)
o Hemorragia arterial grave
o Fratura bilateral de fêmur
o Síndrome de Crush ou rabdomiólise traumática
Tratamento
Reconhecer e diagnosticar o trauma
Imobilização primária → princípios da imobilização
Tratamento especializado da ortopedia: fixação da fratura, redução da luxação
Fratura exposta: anestesia, limpeza exaustiva (soro fisiológico), sutura de ferimento, imobilização,
antibioticoprofilaxia, transferência
Diante de um paciente com lesão extensa de partes moles de membros, a conduta é:
1. Limpeza vigorosa da lesão
2. Desbridamento de todos os tecidos desvitalizados. Remover fragmentos ósseos e outros materiais
estranhos.
3. Antibioticoterapia de amplo espectro (se houver grande contaminação, fratura associada).
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4. Vacinação antitetânica. O risco de tétano aumenta em ferimentos que ocorrem há mais de 6 horas,
apresentam contusões e/ou abrasões, apresentam profundidade superior a 1 cm, produzidos por
projéteis de alta velocidade
Complicações
Esmagamento ou politraumatismo → rabdomiólise
Fraturas e luxações
o Embolia aguda
Embolia gordurosa
Manifestam clinicamente 24 a 72h após o trauma
80% são assintomáticas, quando são êmbolos pequenos
10-20% manifestam sintomas → síndrome da embolia gordurosa (manifestação mais grave)
Não possui tratamento específico para os êmbolos gordurosos
Trauma Facial
Introdução
A fratura de face geralmente não é emergência
o É emergência quando for necessário solucionar a fratura para preservar via aérea, controle de
sangramento, preservar visão, prevenção de infecção e por importância estética ao paciente
No atendimento inicial a vítima de trauma de face, a prioridade absoluta é a permeabilidade das vias aéreas
o Permeabilidade de vias aéreas: sonda de guedel
Cartilagem tireoidea (superior)
Ligamento cricotireoideo
Cartilagem cricoidea (inferior)
Cricotireoistomia não deve ser permanente pois está logo abaixo das cordas vogais
Geralmente, espera umas 72h para solucionar a fratura
o Não podendo passar de 7-10 dias, pois vai surgindo fibrose nas áreas lesadas, dificultando a redução
A principal preocupação com as lesões maxilofaciais é o comprometimento da via aérea, mas a hemorragia
também pode ser significativa
Fratura cominutiva deve ser tratada como emergência
o Fratura óssea que ocorre na região do nariz, seio frontal ou seio maxilar e que resulta em múltiplos
fragmentos ósseos
Irrigação da face
As lesões do nervo facial, na porção média da face, anteriores à linha mediopupilar, possuem recuperação
espontânea devido ao caráter plexiforme e profundo dos ramos nessa região
Nas suturas de face, a retirada de pontos deve ser feita no menor tempo possível
o Em geral, pálpebra em 3-5 dias, face 5-7 dias e couro cabeludo 7-9 dias
O exame de escolha para avaliação das fraturas de face é a TC, que deve ser realizada apenas após lesões
que colocam a vida em risco terem sido avaliadas
o TC sem o uso de contraste
o As radiografias da face permitem uma avaliação inicial das fraturas
Apresentam limitações como sobreposição de estruturas anatômicas, limitada visualização
de partes moles e bidimensionalidade
Remove projétil se tiver solto em cavidades, para não gerar infecções
o Se tiver comprimindo raízes nervosas, é importante remover também
o Se tiver superficial pode remover também
Pontos importantes
o Fratura nasal
É a mais comum
Sintomas: equimose palpebral (após 24h), edema, desvio ou afundamento nasal, crepitação
à palpação, epistaxe
Outros: diplopia, telecanto, congestão nasal, anosmia, anormalidade visuais, tontura
Rinorreia → avaliar se corresponde a vazamento de líquor
Tratamento inicial: elevação da cabeça e gelo local
Tratamento cirúrgico de urgência
Fraturas nasais abertas
Associação com fratura na parte anterior da base de crânio
Complicações: lesão de vias lacrimais, hematoma de septo (abscessos septais podem
levar à necrose e à erosão do septo por pressão prolongada), fístula liquórica,
sangramento abundante, alteração visual)
o Fratura de zigomático
Fratura frequente
Sinais e sintomas
Hemorragia subconjuntival e equimose periorbital
Distúrbio da sensação na região do nervo infraorbital
Degraus palpáveis no sulco súperolateral da órbita, inferior da órbita e vestibular
superior
Enfisema dentro da órbita ou tecidos moles sobrejacentes da bochecha
Trismo
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