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Este estudo qualitativo explora as implicações de um nível elevado de alexitimia no processo terapêutico, de acordo com a perspetiva de sete terapeutas. Os resultados sugerem que a alexitimia pode afetar o estabelecimento da relação terapêutica, a manutenção do processo e os resultados da terapia. As estratégias cognitivo-comportamentais e da terapia existencial-humanista são apontadas como potencialmente úteis neste contexto.
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Este estudo qualitativo explora as implicações de um nível elevado de alexitimia no processo terapêutico, de acordo com a perspetiva de sete terapeutas. Os resultados sugerem que a alexitimia pode afetar o estabelecimento da relação terapêutica, a manutenção do processo e os resultados da terapia. As estratégias cognitivo-comportamentais e da terapia existencial-humanista são apontadas como potencialmente úteis neste contexto.
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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

ALEXITIMIA E IMPLICAÇÕES NO PROCESSO


TERAPÊUTICO: A VISÃO DO TERAPEUTA

Patrícia Alexandra Sousa Mata Ribeiro da Silva

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA


Secção de Psicologia Clínica e da Saúde
Núcleo de Psicoterapia Cognitiva-Comportamental e Integrativa

2016
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE PSICOLOGIA

ALEXITIMIA E IMPLICAÇÕES NO PROCESSO


TERAPÊUTICO: A VISÃO DO TERAPEUTA

Patrícia Alexandra Sousa Mata Ribeiro da Silva


Dissertação orientada pela Professora Doutora Ana Catarina Nunes da Silva

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA


Secção de Psicologia Clínica e da Saúde
Núcleo de Psicoterapia Cognitiva-Comportamental e Integrativa

2016
AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Ana Nunes da Silva. Por todo o apoio dado ao longo do último

ano. Pela paciência ao ouvir as minhas dúvidas. Por todas as palavras de motivação. Por

acreditar em mim e me dar força para seguir as minhas ideias. Por despertar o meu interesse

pela investigação e por me ajudar a fazer sempre mais e melhor.

A todos os psicólogos que participaram nesta investigação, pela disponibilidade, pela

simpatia e pelo incentivo. Aos que me tentaram ajudar na procura de mais contactos para

realizar entrevistas. Sem vocês nada disto seria possível.

À Maria. Por todas as chamadas e mensagens trocadas a horas tardias, pela

disponibilidade e amabilidade ao ouvir as minhas preocupações. Por todo o apoio, todas as

palavras de incentivo, por todas as trocas de ideias. Por todos os encontros para trabalhar,

por me dares motivação quando mais precisava. Obrigada por crescermos juntas ao longo

deste ano, não podia ter pedido uma colega de tese melhor.

À minha Carol. Por todos estes cinco anos de partilha. Pela paciência para atenderes

as minhas chamadas, por teres sempre uma palavra querida. Por me acompanhares em todas

as fases deste longo caminho, sempre de mãos dadas. Obrigada pelo apoio incondicional,

pela amizade. Foste o melhor que a faculdade me deu. Que seja para sempre.

Às melhores amigas de sempre, “As do costume”. À Dani por todos os abraços de

saudades e de apoio, por acreditar cegamente em mim. À Rafa por todos os mimos e pelas

palavras de força. À Vanessa por partilhar comigo tantas aventuras e por estar sempre

disponível. À Di por todos os telefonemas, por todo o apoio incondicional, por toda a

motivação, por estar sempre presente ao longo de todos os altos e baixos. Obrigada por toda

a compreensão, por todo o amor.

Aos de sempre. Ao que cresceram comigo e me viram alcançar cada etapa. À Joana,

ao Nuno e à Silvestre por compreenderem as minhas ausências e as minhas falhas. E, em

i
especial, à Isa por todo o apoio, todas as palavras, todos os cafés partilhados ao longo deste

ano. Obrigada por acreditarem em mim.

À minha família da faculdade, “A Ralé de Psicologia”. Ao Sérgio, ao João, à Nicole,

à Tânia, à Catarina, à Patrícia, à Vânia, à Nadine, ao André, à Marta e, especialmente, à Inês

(a primeira pessoa que conheci na faculdade). Por crescerem comigo, por partilharem todos

os altos e baixos, todos os desafios e todos os sucessos a meu lado. Cada um de vocês teve

um contributo particular para este grupo e para o meu crescimento.

A todos os outros amigos que tive o prazer de conhecer na faculdade. Em especial, à

Marta, por todas as aventuras, por todas as palavras. À Beatriz por ser das pessoas mais

queridas e genuínas que conheço. À Ana Rita e à Susana por partilharem comigo este ano e a

experiência do estágio, por todas as conversas e lanches no bar. E ao Tiago, por me ter

ajudado a crescer, por acreditar em mim e me motivar a ser mais e melhor.

À Zé e ao Luís. Por serem os meus segundos pais, por disponibilizarem a vossa casa

para eu trabalhar, por quererem o meu bem e por gostarem tanto de mim.

À minha família. À minha mãe por todo o apoio incondicional desde sempre, por me

querer sempre ajudar a sentir melhor, por me mandar sair de casa para descontrair. Ao meu

pai por todas as palavras de apoio, por ter paciência para mim. Ao meu irmão pela

preocupação, por todos os abraços de apoio, por todos os favores que me faz quando preciso.

À minha irmã por me ajudar sempre que pode, por querer partilhar tanto comigo e por estar

sempre ao meu lado. Obrigada pela paciência, pela compreensão, pela força que me dão.

Obrigada por serem as pessoas que estão sempre disponíveis para mim. Não sei o que faria

sem vocês.

Aos meus avós. À minha avó Teresa por ser a estrela mais brilhante do céu e por

estar sempre a olhar por mim. À minha avó Isaura por todos os mimos e palavras de força

antes de partir. Ao meu avô João por acreditar em mim e por todas as palavras carinhosas.

ii
Obrigada pelo vosso amor, tenho saudades vossas. Ao meu avô Hélder por estar sempre

presente e por querer tanto o meu bem.

Ao Luís. A peça essencial do puzzle. Por toda a paciência nas horas mais difíceis, por

compreender as minhas ausências e por fazer tudo para que eu me sinta bem. Por todo o

amor e apoio incondicional. Por acreditar em mim e estar sempre ao meu lado. Por toda a

motivação e por me ajudar a crescer, a fazer mais e melhor. Sem ti, nada disto fazia sentido.

Obrigada por poder crescer a teu lado. Amo-te.

iii
RESUMO

A alexitimia é definida de acordo com três elementos fundamentais: dificuldade em

identificar emoções, dificuldade em comunicar emoções e pensamento orientado para o

exterior (Taylor, Bagby, & Parker, 1997). Foram realizados estudos que demonstram

algumas conclusões acerca do impacto que um nível elevado de alexitimia pode ter no

processo terapêutico, demonstrando que este tipo de funcionamento pode estar associado a

piores resultados terapêuticos e a sintomas residuais após a terapia (e.g., Ogrodniczuk, Piper,

& Joyce, 2004). O presente estudo, exploratório e qualitativo, visa potenciar o aumento da

compreensão das implicações de um nível elevado de alexitimia no processo terapêutico, de

acordo com a perspetiva do terapeuta.

A recolha de dados baseou-se na realização de entrevistas semiestruturadas a sete

participantes (membros efetivos da Ordem dos Psicólogos Portugueses). A análise temática

dos dados, através da utilização do software QSR NVivo 11, permitiu a criação de um

sistema hierárquico de categorias. Os resultados permitem perceber que os terapeutas estão,

de forma geral, familiarizados com a alexitimia e que têm este conceito em conta na sua

prática terapêutica. As principais implicações de um nível elevado de alexitimia parecem

estar ao nível do estabelecimento inicial da relação terapêutica, da manutenção do processo

terapêutico, da dimensão dos resultados terapêuticos e do impacto no próprio terapeuta.

Foram salientadas estratégias de intervenção da área Cognitivo-Comportamental, da Terapia

Existencial-Humanista e algumas estratégias transversais a diversas orientações teóricas

como potencialmente úteis neste contexto.

Finalmente, apresentam-se algumas limitações do presente estudo e sugestões para

investigações futuras.

Palavras-chave: alexitimia, processo terapêutico, estratégias terapêuticas, estudo qualitativo

iv
ABSTRACT

Alexithymia is defined by three main elements: difficulty in identifying feelings, difficulty in

communicating feelings and externally-oriented thinking (Taylor, Bagby, & Parker, 1997).

Studies show an impact of a high level of alexithymia in the therapeutic process, with worse

therapeutic results and residual symptoms after therapy (e.g., Ogrodniczuk, Piper, & Joyce,

2004). This exploratory and qualitative study aims at increasing the understanding of the

implications a high level of alexithymia has in the therapeutic process, from the therapist’s

perspective.

Data was collected by conducting semi-structured interviews to seven participants (full

members of the Portuguese Order of Psychologists). A thematic analysis was done with QSR

NVivo 11 software and enabled to create a hierarchic category system. The results allowed

to conclude that therapists are generally familiarized with the alexithymia concept and take

this concept into account in their therapeutic praxis. The main implications of a high level of

alexithymia seem to be related to the establishing of the therapeutic relationship, to the

maintenance of the therapeutic process, to the size of the therapeutic results and the impact

on the therapists themselves. We highlighted intervention strategies in the cognitive-

behavioural area, in existential-humanistic therapy and some transversal strategies to several

theoretical orientations as being potentially useful in this context.

Finally, some limitations of this study are referred and future investigations are suggested.

Keywords: alexithymia, therapeutic process, therapeutic strategies, qualitative study

v
ÍNDICE GERAL

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1

Emoção e Regulação Emocional .......................................................................................... 1

Alexitimia ............................................................................................................................. 2

Valor do Constructo de Alexitimia para o Processo Terapêutico ......................................... 4

Impacto na Relação Terapêutica, no Processo Terapêutico e nos Resultados

Terapêuticos…………………………………………………………………………………..4

Estratégias/Soluções psicoterapêuticas…………………………………………………..6

Relevância do Estudo ........................................................................................................... 7

METODOLOGIA .................................................................................................................. 7

Enquadramento Metodológico.............................................................................................. 7

Desenho da Investigação ...................................................................................................... 8

Questão Inicial .................................................................................................................. 8

Objetivos ........................................................................................................................... 8

Caracterização da Amostra ................................................................................................... 8

Instrumentos ......................................................................................................................... 9

Questionário Sociodemográfico ........................................................................................ 9

Guião da Entrevista Semiestruturada ................................................................................ 9

Procedimentos....................................................................................................................... 9

Procedimento de Seleção e Recolha de Dados ................................................................. 9

Procedimento de Análise de Dados……………………………………………………..11

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS................................................. 11

Domínio 1: Conhecimento e definição do constructo de alexitimia................................... 12

Domínio 2: Integração da variável alexitimia na conceptualização de caso ...................... 17

vi
Domínio 3: Implicações de um nível elevado de alexitimia na terapia .............................. 20

Domínio 4: Estratégias de intervenção terapêutica ............................................................ 24

Domínio 5: Influência de outros fatores ............................................................................. 27

Domínio 6: Investigação Futura ......................................................................................... 29

CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 31

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 33

ANEXOS ............................................................................................................................... 40

vii
LISTA DOS ANEXOS

Anexo A – Email enviado aos participantes

Anexo B – Informações sobre o estudo e consentimento informado

Anexo C – Ficha de recolha de dados sociodemográficos

Anexo D – Guião da entrevista semiestruturada

Anexo E – Sistema hierárquico de categorias

viii
UMA PEQUENA TEORIA

As pessoas observam as cores de um dia apenas no seu princípio e fim, mas para mim é

óbvio que um dia se funde numa multitude de tonalidades e entoações, a cada momento que

passa. Uma única hora pode consistir em milhares de cores diferentes. Amarelos ceráceos,

azuis de morrinha. Negros tenebrosos. No meu trabalho, faço questão de os notar.

- Markus Zusak, A Rapariga que Roubava Livros

ix
Introdução

Emoção e Regulação Emocional

A emoção é um estado psicológico complexo que envolve três componentes distintos:

experiência subjetiva, resposta fisiológica e resposta comportamental ou expressiva (e.g.,

Hockenbury & Hockenbury, 2007). As emoções surgem da avaliação automática das

situações em relação às necessidades, objetivos e preocupações (Greenberg, 2004). São uma

fonte de informação que integra a experiência, atribuindo-lhe um significado, valor e direção,

preparando o ser humano para a ação (Greenberg, 2004). As emoções desempenham, assim,

diversas funções a nível da comunicação, da orientação, da prevenção e da sinalização,

permitindo a regulação da satisfação das necessidades e promovendo adaptação e bem-estar

(Vasco, 2009a).

Um constructo que importa então salientar é o constructo de regulação emocional.

Segundo Gross e Muñoz (1995), a regulação emocional pode compreender dois fenómenos: a

regulação de algo através das emoções e a regulação das próprias emoções. Interessa aqui

focar o segundo fenómeno que é definido como um processo de manipulação no próprio ou

nos outros dos antecedentes da emoção ou de um ou mais componentes da resposta

emocional – comportamental, subjetivo ou fisiológico (Gross & Levenson, 1993). Neste

sentido, Gross (1998) postula que a regulação emocional permite ao indivíduo criar um efeito

nas emoções que experiencia (i.e., aumentar, diminuir ou manter as componentes da resposta

emocional), podendo exercer influência nas dimensões do processamento emocional

(comportamental, cognitiva, experiencial, social e fisiológica). Segundo Gratz e Roemer

(2004), a regulação emocional é um conceito multidimensional que está relacionado com a

compreensão e a consciência das próprias emoções, com a aceitação das emoções, com a

capacidade de monotorização e de controlo de comportamentos impulsivos, com a

capacidade de recorrer a estratégias de regulação emocional que modulem as respostas

1
emocionais tendo em conta os objetivos individuais e as situações experienciadas. Quando

uma destas capacidades não é adquirida ou não está presente pode ser indicativo de

dificuldades de regulação emocional (Gratz & Roemer, 2004). Desta forma, a desregulação

emocional envolve a resposta não adaptativa a emoções (Gratz & Roemer, 2008).

Nesta linha de pensamento, pretende-se destacar a alexitimia.

Alexitimia

A desregulação emocional pode estar relacionada com a alexitimia que expressa um

modo de funcionamento caracterizado por dificuldades nos processos de consciência,

experienciação, expressão, diferenciação e regulação emocional, havendo capacidades

reduzidas em atribuir à emoção a sua função comunicativa e de tendência de ação (e.g., Silva

& Vasco, 2010; Taylor, Bagby, & Luminet, 2000). Uma vez que o processo de regulação

emocional possuí um valor adaptativo que permite ao indivíduo lidar com diversas situações

ao longo da vida (e.g., John & Gross, 2004; Vasco, 2009b) e que a alexitimia se refere a

dificuldades de regulação emocional, torna-se relevante estudar este conceito.

A alexitimia é uma palavra que deriva do Grego – a tem um sentido de negação,

significa falta ou ausência, lex significa palavra e thymos significa emoção ou sentimento –

que pode ser traduzida para “sem palavras para os sentimentos” (Freire, 2010). Ao longo das

últimas décadas houve uma evolução na tentativa de conceptualização deste conceito. Foi,

originalmente, utilizado por Sifneos (1973) para designar um conjunto particular de

características cognitivas e afetivas típicas de pacientes com patologia somática que exibiam

dificuldade em representar simbolicamente as suas emoções. Foi a criação deste termo por

Sifneos que despoletou uma grande quantidade de investigação acerca deste constructo,

levando a diversas tentativas de criação de uma conceção de alexitimia.

2
Nesta sequência, Taylor, Bagby e Parker (1997) tentaram chegar a uma definição

consensual de alexitimia. De acordo com estes autores, a alexitimia é definida de acordo com

três fatores fundamentais: dificuldade em identificar sentimentos/emoções, dificuldade em

comunicar sentimentos/emoções e pensamento orientado para o exterior (Taylor, Bagby, &

Parker, 1997). Estes autores propõem que as características associadas ao conceito de

alexitimia refletem défices ao nível do processamento cognitivo e da regulação emocional

(Taylor et al., 1997).

Fazendo uma pequena consideração em relação à investigação na área da etiologia da

alexitimia, salienta-se a vantagem em considerar um modelo de múltiplos fatores para um

aumento da compreensão deste constructo (Silva, Vasco, & Watson, 2013b). Segundo Silva

et al., (2013b) devemos, então, considerar a possibilidade de estarem vários fatores

envolvidos na etiologia da alexitimia: os fatores hereditários (e.g., Jørgensen, Zachariae,

Skytthe, & Kyvik, 2007), a qualidade das relações de vinculação na infância (e.g., Taylor et

al., 1997; Troisi, D’Argenio, Peracchio, & Petti, 2001) e a exposição a acontecimentos

traumáticos (e.g., Freyberger, 1977).

Adicionalmente, através dos estudos realizados, verificou-se que a alexitimia estava

presente em diversas perturbações, como: perturbações alimentares (e.g., Petterson, 2004),

abuso e dependência de substâncias (e.g., Speranza et al., 2004), perturbações de ansiedade e

depressão (e.g., Panayiotu et al., 2015; Zeitlan & McNally, 1993) e perturbação de stress pós-

traumático (e.g., Hyer, Woods, & Boudewyns, 1991). A investigação realizada sugere,

também, uma associação entre alexitimia e perturbações de personalidade, tais como:

perturbação de personalidade borderline, narcísica e anti-social (e.g., Sifneos, 1973; Taylor,

2000). Verificou-se, também, uma associação entre alexitimia e perturbações do espectro do

autismo (Aaron, Benson, & Park, 2015). Destaca-se aqui a importância de olhar para este

3
constructo não como um traço destas perturbações, mas como uma condição co-mórbida

(Taylor, 1984).

O interesse crescente pela alexitimia, ao longo das últimas décadas, conduziu ao

desenvolvimento de diversos instrumentos destinados a avaliar este constructo. Estes são,

essencialmente, de auto ou hétero-relato, como: o Questionário Psicossomático do Hospital

Beth Israel (Sifneos, 1973); a escala de alexitimia do MMPI (Kleiger & Kinsman, 1980); a

Escala de Alexitimia de Toronto (Bagby, Parker, & Taylor, 1994) ou o Questionário de

alexitimia Bermond-Vorst (Bermond, Vorst, Vingerhoets, & Gerritsen, 1999). No entanto, o

uso de auto relatos com pacientes alexitímicos tem sido criticado, devido à possível

dificuldade por parte dos mesmos em aceder ao seu mundo interno (Silva et al., 2013b). De

forma a ultrapassar estas limitações, alguns investigadores aconselham combinar a aplicação

de medidas de auto ou hétero-relato com medidas que avaliem a capacidade de identificar ou

expressar emoções, tais como, observação, entrevista e testes projetivos (e.g., Porcelli &

Mihura, 2010; Silva et al., 2013b).

Por fim, salienta-se a importância e a utilidade, para a psicoterapia, de olhar para a

alexitimia como uma característica psicológica do pensamento, das emoções e dos processos

subjacentes (Ogrodniczuk, Piper, & Joyce, 2005). Ogrodniczuk, Piper e Joyce (2011)

sugerem que a alexitimia é um constructo dimensional (i.e. as pessoas apresentam um nível

ou um grau de alexitimia). Nesta linha de pensamento, Silva, Vasco e Watson (2013a)

propõem o uso do termo funcionamento alexitímico em vez de alexitimia.

Valor do Constructo de Alexitimia para o Processo Terapêutico

Impacto na relação terapêutica, no processo terapêutico e nos resultados terapêuticos.

Apesar da existência de diversos estudos que demonstram que existe uma prevalência elevada

de pacientes com funcionamento alexitímico na população clínica, muito frequentemente esta

4
dimensão não é tida em conta na intervenção terapêutica (Silva et al., 2013b). É de grande

importância ter esta dimensão em conta por diversos motivos. Em primeiro lugar, a

incapacidade que os pacientes alexitímicos têm em transmitir a natureza experiencial dos seus

problemas pode prejudicar a comunicação eficaz das suas dificuldades e, desta forma, pode

ser difícil estabelecer um plano de intervenção adequado (Silva et al., 2013b). Em segundo

lugar, segundo McCallum, Piper, Ogrodniczuk e Joyce (2003), níveis elevados de alexitimia,

em especial a dificuldade em comunicar sentimentos e o pensamento orientado para o

exterior, estão associados a piores resultados terapêuticos. Em terceiro lugar, existe evidência

que a presença de características alexitímicas é preditora de sintomas residuais após a terapia

(Ogrodniczuk, Piper, & Joyce, 2004). Em quarto lugar, tendo em conta que as emoções

permitem aceder a necessidades e que no funcionamento alexitímico o processamento

emocional se encontra comprometido, encontra-se, também, limitada a capacidade de regular

a satisfação das necessidades do indivíduo (e.g. Vasco, 2009a; Vasco 2009b). Isto pode ter

impacto quer a nível do processo terapêutico, quer a nível dos resultados terapêuticos.

Ogrodniczuk, Piper e Joyce (2008) observaram que a reação do terapeuta ao paciente

com funcionamento alexitímico medeia em parte as dificuldades em comunicar sentimentos e

o pensamento orientado para o exterior nos sintomas gerais e nos objetivos terapêuticos. Isto

é, a perceção que os terapeutas têm relativamente aos pacientes pode influenciar os resultados

terapêuticos. Assim os pacientes alexitímicos podem apresentar resultados terapêuticos

insatisfatórios porque os seus terapeutas os percecionam como tendo menos qualidades,

sendo menos compatíveis ou como menos significativos como membros do grupo (em terapia

de grupo) (Ogrodniczuk et al., 2005).

Hesse e Floyd (2011) destacam, em população não clínica, a presença de dificuldades

relacionais em pessoas com funcionamento alexitímico, argumentando que a alexitimia

provoca um défice comunicacional que causa dificuldades relacionais. Neste sentido, as

5
dificuldades relacionais podem expressar-se, também, na relação terapêutica (Ogrodniczuk et

al., 2008).

Segundo Taylor et al. (1997), existe um risco em focar a terapia nas consequências

das dificuldades emocionais, mais do que na origem do problema, parecendo haver uma

necessidade do foco terapêutico ser ao nível das tarefas emocionais ligadas aos processos

emocionais envolvidos no funcionamento alexitímico.

Estratégias/Soluções psicoterapêuticas. Norcross (2002) salienta a importância de

adaptar a intervenção psicoterapêutica às necessidades e às características individuais de cada

paciente. Desta forma, deduz-se a importância de adaptar a intervenção terapêutica ao

indivíduo tendo em consideração o nível de alexitimia. Tendo em conta as limitações

apresentadas anteriormente, alguns autores desenvolveram estudos com o objetivo de

aumentar a compreensão face a uma intervenção psicoterapêutica mais adequada com

pacientes com funcionamento alexitímico.

Existiram tentativas de desenvolver tratamentos específicos para reduzir a alexitimia,

como por exemplo: o Tratamento para a Redução da Alexitimia (Levant, Halter, Hayden, &

Williams, 2009); e uma intervenção de três passos focada em eventos perturbadores

específicos (Vanheule, Verhaeghe, & Desmet, 2010).

Ogrodnickzuk (2007) destaca a relevância de identificar formas de comunicação

terapêutica que reduzam as características alexitímicas. Por sua vez, Taylor (2000) sugere o

recurso a técnicas psicoterapêuticas que promovam a consciência emocional e a integração de

elementos simbólicos de esquemas emocionais de forma a potenciar a redução das

características alexitímicas. Nesta linha de pensamento, Silva et al. (2013b) sugerem que

modelos que promovam exploração e consciência emocional num contexto de segurança,

valorização do outro e confiança podem ser uma solução para o desenvolvimento de

competências emocionais e relacionais no contexto do funcionamento alexitímico. Assim, a

6
focagem (Gendlin, 1998), a escrita expressiva (Pennebaker & Chung, 2007), a mentalização

(Allen, Fonagy, & Bateman, 2008), a terapia comportamental dialética (Lineham, 1993) e

modelos de terapia focada nas emoções (Elliott, Watson, Goldman, & Greenberg, 2004)

parecem ser modelos/técnicas úteis neste contexto indo de encontro às necessidades

salientadas.

Relevância do Estudo

Tendo em conta o que foi referido nos pontos anteriores, parece importante ter em

conta o nível de funcionamento alexitímico no contexto psicoterapêutico.

Ogrodniczuk (2007) salientou a importância da investigação sobre este constructo se

centrar em formas de intervir em contexto terapêutico. Desta forma é relevante estudar a

visão dos terapeutas relativamente às implicações que a alexitimia tem para o processo

terapêutico.

Metodologia

Enquadramento Metodológico

O presente estudo segue uma abordagem de natureza qualitativa, tendo um carácter

descritivo e exploratório que se fundamenta no reconhecimento da necessidade de exploração

de áreas pouco desenvolvidas pretendendo ampliar o conhecimento das mesmas (e.g.,

Silverman, 2000). É, assim, considerada a interatividade do processo de recolha e análise dos

dados, destacando-se a necessidade de flexibilidade do investigador que assume a

responsabilidade das interpretações realizadas (Strauss & Corbin, 1998).

O foco de interesse é a compreensão das perceções dos participantes em relação às

implicações da alexitimia no processo terapêutico, o que é facilitado por uma metodologia

qualitativa.

7
Desenho da Investigação

Questão Inicial. Considerando o carácter exploratório do estudo, a presente

investigação parte da seguinte questão inicial: Qual a visão dos psicólogos acerca do impacto

da alexitimia no processo terapêutico?

Objetivos. De seguida encontram-se listados os objetivos desta investigação:

1. Avaliar o conhecimento do constructo de alexitimia por parte dos psicólogos.

2. Explorar a compreensão que os psicólogos têm acerca deste constructo.

3. Explorar se é realizada e como é realizada a avaliação da alexitimia em contexto

psicoterapêutico por parte dos psicólogos.

4. Explorar as implicações que o funcionamento alexitímico tem para a relação

terapêutica, para o processo terapêutico e para o resultado terapêutico.

5. Perceber quais as estratégias mais utilizadas por parte dos psicólogos para gerir/lidar

com as dificuldades associadas aos fatores/ características da alexitimia.

6. Identificar estratégias consideradas eficazes pelos psicólogos para intervir no contexto

da alexitimia, de forma a potenciar um modelo de intervenção nesta área.

7. Compreender a influência de outros fatores, como a personalidade e a sintomatologia.

Caracterização da Amostra

A amostra do presente estudo é constituída por seis participantes do sexo feminino e

um participante do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 28 e os 37 anos

(M=33, DP=4.062). Os sete participantes são psicólogos de diferentes orientações teóricas

(e.g., Cognitiva, Dinâmica, Cognitivo-Comportamental, Integrativa e Psicanalítica), com

diferentes graus de ensino (dois com Doutoramento, dois com a licenciatura pré-Bolonha e

três com Mestrado Integrado em Psicologia) e com uma média de 10,3 anos de experiência.

Dos participantes cinco frequentam supervisão e seis frequentam ou frequentaram formação

8
em sociedades de psicoterapia (e.g., Associação Portuguesa de Terapia Cognitivo-

Comportamental, Associação Portuguesa de Psicoterapia Psicanalítica, Sociedade Portuguesa

de Psicanálise, Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar e Instituto de Psicologia Aplicada e

Formação).

Instrumentos

Questionário Sociodemográfico. O questionário sociodemográfico (Anexo C) tem

questões que incidem sobres os dados sociodemográficos dos participantes (e.g., sexo, idade,

grau de escolaridade) e dados relativos à sua experiência profissional (e.g., orientação teórica,

número de anos de experiência, número médio de casos acompanhados, frequência de

supervisão, frequência e local de formação). A utilização deste questionário permite

caracterizar os participantes e contextualizar os dados recolhidos.

Guião da entrevista Semiestruturada. Foi utilizado um guião de entrevista

semiestruturada (Anexo D), construído para a presente investigação tendo por base a questão

de investigação, os objetivos enunciados e os princípios propostos pela literatura sobre

investigação qualitativa. Este guião foi organizado por blocos temáticos, permitindo algum

grau de flexibilidade na captação de conteúdos e permitindo a reformulação ou a criação de

questões pertinentes à medida que os dados foram recolhidos (e.g., Daly, 2007).

Procedimentos

Procedimento de Seleção e Recolha de Dados. Após a realização do guião foram

realizados dois pré-testes com o objetivo de testar a estrutura da entrevista, de realizar as

alterações necessárias, aperfeiçoar algumas questões e de estimar um tempo médio da

duração da entrevista. Após esta primeira fase, foi estabelecido o contato com os psicólogos,

através de e-mail (Anexo A) ou por contato telefónico, de forma a convidá-los a participar na

9
investigação. Neste primeiro contato foi enviado um consentimento informado informal (sem

referência ao termo alexitimia).

A amostra foi de conveniência. No entanto, os participantes tinham de preencher

alguns requisitos: ser membros efetivos da Ordem dos Psicólogos Portugueses e ter

acompanhado um mínimo de 10 casos.

Previamente ao início da entrevista procedia-se à apresentação do entrevistador, à

assinatura do consentimento informado (Anexo B), e ao preenchimento do questionário

sociodemográfico (Anexo C). Foi fornecida informação acerca dos objetivos do estudo e da

duração da entrevista. Foi, também, garantida a confidencialidade e os participantes foram

informados da possibilidade de desistência. Foi aplicada uma entrevista semiestruturada a

cada participante, com gravação áudio mediante autorização prévia. De forma a assegurar que

as respostas fossem em função do mesmo constructo foi fornecida uma definição

estandardizada de alexitimia após as primeiras questões (ver Anexo D). Após a realização das

questões procedia-se ao agradecimento pela disponibilidade e pela participação.

Procedimento de Análise de Dados. As entrevistas foram transcritas na sua

totalidade e foram analisadas através do processo de análise temática recorrendo ao software

QSR NVivo 11. A análise temática é um método que permite identificar, analisar e descrever

padrões (temas) presentes nos dados. Adequa-se a estudos de natureza exploratória como o

presente estudo, sendo um processo flexível e independente de uma moldura teórica

constituído por seis fases (Braun & Clarke, 2006). A primeira fase implicou uma

familiarização com os dados (transcrição e leituras repetidas das entrevistas) que permitiu a

criação de ideias iniciais acerca dos mesmos. A segunda fase implicou o processo de

codificação inicial que permitiu a organização dos dados em códigos específicos quando se

observava um dado padrão. Esta organização baseou-se, essencialmente, na análise dos dados

recolhidos nas entrevistas, mas também em conceitos previamente descritos na literatura

10
sobre o tema (e.g., Charmaz, 2006). A terceira fase consistiu na agregação de códigos em

temas potenciais, juntando todos os dados relevantes para cada tema potencial, tornando-se

possível a construção de um sistema de categorias com diversos níveis. A quarta fase

implicou a revisão de todos os temas criados em relação com os respetivos códigos e com

todos os dados. A quinta fase implicou um refinamento das especificidades de cada tema e da

geração de nomes e definições para cada tema. O sistema hierárquico de categorias final é,

assim, o resultado de um processo contínuo de interpretação e recodificação em função de

todos os dados que foram surgindo ao longo da análise, havendo um processo cíclico entre a

codificação e a análise de dados (e.g., Wiggins & Riley, 2011). As categorias não são

mutuamente exclusivas no sentido em que pode encontrar-se o mesmo extrato em diversas

categorias. Importa salientar que a credibilidade das análises realizadas foi assegurada com a

verificação dos resultados por um consultor externo com experiência clínica na área da

alexitimia e com experiência nesta metodologia de investigação. Esta consultoria conduziu ao

reajuste e à renomeação de categorias. A sexta fase consiste na análise final dos dados em

relação com a questão de investigação e a literatura existente, que se encontra descrita na

secção dos resultados e discussão.

Tendo como referência a questão inicial e os objetivos desta investigação considera-se

que, por um lado, a criação das categorias foi realizada através de um processo abdutivo,

integrando a razão e a criatividade de forma a explicar os fenómenos em estudo e, por outro

lado, a relação entre os dados e a teoria foi analisada de forma dedutiva, existindo uma

comparação dos dados obtidos com fenómenos já descritos na literatura (e.g., Daly, 2007).

Apresentação e discussão de resultados

Tendo em conta a natureza exploratória do estudo surgiu um número elevado de

categorias. Na revisão final das categorias, algumas foram renomeadas, outras eliminadas e

11
outras foram agrupadas. Ainda assim, surgem categorias com apenas uma referência. Estas

categorias foram mantidas porque se considera que são relevantes para a análise global dos

resultados e para uma maior discriminação dos temas e dos subtemas. Os critérios de inclusão

em cada uma das categorias foram a revisão de literatura realizada, a referência ao tema pelos

participantes na entrevista e a relevância para os objetivos do presente estudo.

A análise temática das entrevistas resultou em 97 categorias interrelacionadas que

geraram diversos temas e subtemas organizados em seis domínios distintos: (1)

Conhecimento e definição do constructo de alexitimia; (2) Integração da variável alexitimia

na conceptualização de caso; (3) Implicações de um nível elevado de alexitimia na terapia;

(4) Estratégias de intervenção terapêutica; (5) Influência de outros fatores; e (6) Investigação

Futura. Estas categorias foram organizadas num sistema hierárquico de categorias (Anexo E).

De seguida, explicar-se-á cada categoria, recorrendo à apresentação de exemplos de excertos

e à reflexão acerca dos mesmos.

Domínio 1: Conhecimento e definição do constructo de alexitimia

Os psicólogos sabem o que é a alexitimia? Como definem este constructo? Qual a sua

visão do mesmo? Tendo em conta a análise das entrevistas surgiram quatro categorias

distintas neste domínio (Anexo E). Este domínio direciona-se para o primeiro e o segundo

objetivos deste estudo.

1.1.Presença do conhecimento do constructo de alexitimia. Este tema representa o

conhecimento dos participantes em relação ao termo alexitimia. Todos os participantes

afirmaram conhecer o termo alexitimia. Estes resultados (sete referências de sete fontes

diferentes) demonstram que o termo alexitimia é familiar a todos os entrevistados. Isto vai

ao encontro do primeiro objetivo deste estudo e sugere, com base nesta amostra e de

forma cautelosa, que os psicólogos conhecem o termo alexitimia.

12
Entrevistadora: (…) O que eu queria focar aqui é o conceito de alexitimia. (…)

Em primeiro lugar, queria saber se conhece este termo.

Participante 1: Conheço.

1.2.Definição do constructo de Alexitimia. Este tema representa a definição que os

psicólogos têm de alexitimia e está relacionado com o segundo objetivo do estudo. Das

12 referências relativas à definição do constructo de alexitimia surgem quatro temas. O

primeiro subtema refere-se à dificuldade em identificar emoções e é o tema mais referido

(cinco referências). Este subtema corresponde a um dos três componentes da definição de

alexitimia de Taylor et al. (1997).

Entrevistadora: (…) em primeiro lugar queria saber se conhece este termo, ah e

se conhece, qual é a definição que tem na mente dele ou o que é que considera

por alexitimia.

Participante 5: A dificuldade em identificar os seus próprios sentimentos e em

exprimir aos outros o que é que, quais é que eles são.

O segundo subtema que surge é a dificuldade em comunicar emoções, sendo

referenciado três vezes e correspondendo, também, a um dos três componentes da definição

de alexitimia de Taylor et al. (1997).

Participante 4: Ah apesar de não o conhecer muito muito bem. Ah... Aquilo que

eu sei é que tem de facto um bocadinho a ver com essa ideia de identificação e

também comunicação ao outro, não é, das próprias emoções.

O terceiro subtema corresponde à dificuldade de regulação emocional, tendo sido

referenciado três vezes. Este subtema representa uma definição mais abrangente de

alexitimia, mostrando-se menos específica.

Participante 3: Hmm, ok, há aqui assim uma ideia de dificuldade de ler as

emoções, uma dificuldade talvez que é um conceito assim um bocado

13
abrangente, não é? Mas talvez aqui a dificuldade de processar as emoções, de

regulação emocional também.

Por fim, o quarto subtema refere-se à ausência de definição. Apenas um participante

não tem presente uma definição de alexitimia.

Entrevistadora: E desse conceito o que é que tem mais presente? Como é que o

define?

Participante 2: Ah... Ora bem, eu tenho sempre alguma dificuldade em colocar

assim, em trocar por miúdos este tipo de conceitos porque eu utilizo muito (…)

aquilo que eu sinto com a pessoa ou junto da pessoa para trabalhar com isso.

Estes resultados demonstram que a maior parte da amostra consegue definir a

alexitimia com pelo menos um dos componentes da definição de Taylor et al. (1997). No

entanto, não surgiu o terceiro componente: o pensamento orientado para o exterior. Isto

sugere que os participantes não associam este último componente ao constructo de alexitimia.

1.3.Visão do constructo de alexitimia. Este tema representa a forma como os participantes

vêm o constructo de alexitimia. Das sete referências relativas à visão do constructo de

alexitimia, quatro são relativas à visão do constructo em termos de processos subjacentes.

Neste subtema é destacada a forma de olhar para este conceito tendo em conta os

processos subjacentes ao mesmo (e.g., a dificuldade em identificar emoções, a dificuldade

em comunicar emoções, etc.) ao invés de olhar para a alexitimia como um todo.

Participante 1: (…) Se calhar quando eu penso nos casos eu não penso

propriamente em termos da alexitimia, mas penso em termos da identificação

das emoções e da comunicação das emoções, etc. (…). Se calhar, eu penso na

alexitimia não tanto em termos de conceito em si, mas se calhar em termos dos

processos que ela envolve.

14
As restantes três referências são relativas à visão do constructo de alexitimia em

termos de níveis de um contínuo. Este subtema surgiu nas primeiras entrevistas. No entanto,

deve ser analisado com precaução uma vez que acabou por ser induzido pela entrevistadora

nas entrevistas posteriores. Surge nesta secção porque se considerou a relevância da perceção

dos participantes acerca do mesmo. Este subtema acaba por ir ao encontro da noção de

funcionamento alexitímico referido na introdução (Silva, Vasco, & Watson, 2013a).

Entrevistadora: (…) não sei como é que, como é que é o seu olhar para este

conceito. Se é, por exemplo, mais em termos de nível, como um contínuo (…) ou

se olha para ele mais como uma ausência ou presença (…) dessas três

características. (…)

Participante 5: Acho que é um contínuo. Ah, tal como já disse, porque acho que

não só na... Não só nos pacientes, mas em todas as pessoas em geral (…).

Portanto acho que são fatores a ser trabalhados em qualquer paciente. Que

existem como um contínuo sim e acho que existem, também, como contínuo ao

longo da vida, não é? (…) Portanto, acho que existe como, vejo como um

contínuo entre, vá entre o 0 e o 100, seria a utopia e... Acho que vai variando

nos próprios pacientes em função dos momentos (…).

1.4.Hipóteses relativas à etiologia da alexitimia. Este tema representa a perceção dos

participantes relativamente à etiologia da alexitimia. É uma categoria que surgiu no

discurso dos participantes, não existindo questões na entrevista neste sentido. Após

algumas referências dos primeiros participantes decidiu-se questionar os participantes

seguintes. Das 10 referências relativas às hipóteses acerca da etiologia da alexitimia, duas

são referentes à influência das relações precoces no desenvolvimento de características

alexitímicas indo ao encontro da literatura (e.g., Troisi et al., 2001).

15
Participante 3: (…) olhamos muitas vezes para a relação primária, que

naturalmente eu não vou dizer também porque não é a causa de tudo, mas na

verdade é digamos que é a primeira relação, não é, que um bebé tem com a

mãe, ou que tem com o mundo e a forma de muitas vezes também ir vivendo isso

e ir vivenciando isso. E se não existe esse espaço também, se nunca existiu este

espaço para vivenciar as emoções ou se foi também sempre um espaço de... E

nós vemos muito isso em pacientes, não é, na história que às vezes nos trazem,

de que não houve, por exemplo, este espaço relacional, um espaço de afeto (…).

Três das referências estão relacionadas com a influência de vivências traumáticas no

desenvolvimento de características alexitímicas, o que vai, também, ao encontro da literatura

(e.g., Freyberger, 1977).

Participante 2: Normalmente isto está associado a traumas do foro emocional

em idades mais precoces (…). Eu vejo a alexitimia assim muito nesta base, ou

seja, estando diretamente relacionada (…).

Quatro das referências estão relacionadas com a influência dos modelos de

socialização ao longo do desenvolvimento.

Participante 4: (…) porque se calhar são pessoas que não tiveram experiências

de socialização no sentido mais emocional, psicológico, mas mais um

bocadinho no sentido funcional. O que interessava era se calhar um bocadinho

mais em termos de se está bem, fisicamente bem, se como bem, um bocadinho

mais neste sentido funcional e não tanto ‘como é que estás?’, sentar-se ao lado

e brincar, ah..., nomear emoções, não é. (…) Se ninguém nomear (…) também

não vou desenvolver isso em mim, não é?

Por fim, uma das referências nesta categoria refere-se ao subtema da influência dos

mass media.

16
Participante 6: (…) a divulgação ‘mass media’ para a sociedade no geral (…) e

acho que não há muita sensibilidade para abordar as questões emocionais ou

até para desmistificar este estereótipo que é imposto aos homens, por exemplo

do não falar de emoções (…) E acho que este tipo de vocabulário podia ser

trabalhado até em termos de ‘mass media’ e acho que não é (…) não há muita

linguagem emocional, não há, é tudo muito na folia (…).

Domínio 2: Integração da variável alexitimia na conceptualização de caso

Os psicólogos integram a variável alexitimia na conceptualização de caso? Avaliam

esta dimensão? Como realizam esta avaliação? Este domínio vai ao encontro do terceiro

objetivo deste estudo e conta com dois temas principais (Anexo E).

2.1. Avaliação da Alexitimia. Este tema representa a forma como os participantes realizam a

avaliação da alexitimia. Das 14 referências presentes neste tema, 11 são relativas ao

subtema da avaliação clínica. Dentro deste subtema surgem diversos tópicos relevantes

que refletem a forma como os participantes realizam a avaliação da alexitimia. Em

primeiro lugar, surge a auto-observação com duas referências, que se refere à capacidade

do terapeuta refletir sobre si mesmo, sobre o que está a sentir com o paciente e, através

disso, realizar uma avaliação.

Participante 3: (…) e ver uma parte de nós que está ali presente e está a ouvir a

pessoa e está a querer conhecê-la e temos uma outra parte que é quase o que

nós às vezes chamamos o supervisor interno que é um conceito que é

interessante porque é estarmos numa escuta, mesmo numa escuta ativa (…).

Estar a ouvir a pessoa e ao mesmo tempo estar a ouvir-me a mim enquanto

estou a ouvir a pessoa.

De seguida, surge a avaliação a partir da relação estabelecida, com duas referências,

17
que reflete a possibilidade de avaliar a existência de um nível de alexitimia através da

interação na relação.

Participante 6: (…) nós não fazemos um ‘screening’ completo e tal, não é, não

vamos muito por ali, mas eu acho que a interação na relação dá para perceber

se existe ou não algum nível de alexitimia.

Surge, também, a avaliação na supervisão com uma referência, que reflete a

possibilidade de realizar a avaliação com um supervisor.

Entrevistadora: Que tipo de avaliação é que faz?

Participante 3: É que faço? Naturalmente o que eu costumo fazer, portanto,

numa primeira leitura do caso é levá-lo a supervisão (…).

Ainda no subtema da avaliação clínica surge a entrevista clínica como meio de

avaliação da alexitimia. Esta aparenta ser a forma de avaliação preferencial da alexitimia,

contando com cinco referências de quatro fontes.

Participante 6: (…) Normalmente nas primeiras sessões, ah, eu procuro recolher

informação de forma informal no meio da entrevista, ah, explorando, por

exemplo, os exemplos do dia-a-dia que os nossos pacientes trazem, aquelas

queixas muito circunscritas. (…) perceber como é que a pessoa se exprime, se

ativa emoções e se utiliza vocabulário emocional, no fundo. E se o vocabulário

que utiliza bate com as emoções que deveria entre aspas, não é, estar a sentir

naquele momento. (…) E, e através desses exemplos do dia-a-dia, é que eu faço

essa avaliação, durante a entrevista, no meio da conversa, não aplico um

inventário estruturado.

Por fim, surge a observação como fonte potencial de avaliação da alexitimia, sendo

referida apenas uma vez por uma fonte.

18
Participante 7: (…) tal como este conceito, muitos outros, ah… São preocupações

que tenho em contexto de consulta, em termos de observação direta e de

avaliação do discurso que a pessoa tem, da postura. E este é um aspeto que eu

tenho sempre em consideração, ah... Independentemente de o catalogar ou não

como alexitimia. (…) Ah, mas a mim foco-me muito na questão da observação.

O segundo tema que surge é o tema da avaliação formal da alexitimia que inclui dois

subtemas. Das três referências que surgem neste tema, duas são referentes ao subtema da

avaliação da alexitimia através de instrumentos de autorrelato.

Participante 4: (…) passamos sempre um Milllon, portanto, para avaliar aqui os

traços de personalidade e normalmente quando pensamos, portanto, nos

resultados também estas coisas surgem. Portanto de alguma forma isso também

está contemplado.

Surge, também, uma referência relativa à aplicação de técnicas projetivas para realizar

a avaliação da alexitimia.

Participante 2: Eu por norma, ah, com adultos, gosto muito de aplicar o

Rorschach na perspetiva do Exner (…). É, é uma prova que me é muito útil, que

me ajuda a perceber isto e que, também, nos dá indicadores fundamentais.

2.2. Considerações acerca da importância da avaliação da alexitimia. Este tema é

caracterizado por reflexões realizadas pelos participantes acerca da importância da

avaliação da alexitimia. Surgem quatro referências em que os participantes tecem

considerações acerca da importância da mesma e justificam a sua opinião.

Entrevistadora: (…) até que ponto é que consideras importante avaliar este

conceito, seja de que forma for, em clínica?

Participante 6: Eu acho de extrema importância, tendo em conta que o nosso

instrumento, na maior parte dos casos, é a palavra e a interação verbal, se a

19
pessoa tem dificuldade, por exemplo, em comunicar as suas emoções, ah, acho

mais difícil o trabalho. Ou seja, o afinarmos aqui o vocabulário entre nós (…).

Domínio 3: Implicações de um nível elevado de alexitimia na terapia

Quais as implicações de um nível elevado de alexitimia dos pacientes para a relação

terapêutica, para o processo terapêutico e para o resultado terapêutico? Qual o impacto no

próprio terapeuta? Como lidam os terapeutas com as dificuldades sentidas? Este domínio vai

ao encontro do quarto e do quinto objetivo deste estudo e é constituído por quatro temas

principais (Anexo E).

3.1. Impacto negativo na relação terapêutica. Este tema compreende referências acerca do

impacto de um nível elevado de alexitimia na relação terapêutica. Neste tema surgem seis

referências. Quatro delas são relativas ao subtema de dificuldades no estabelecimento da

relação terapêutica que se refere a uma maior dificuldade em estabelecer a relação

terapêutica com pacientes com um nível elevado de alexitimia, o que vai ao encontro da

literatura (e.g., Hesse & Floyd, 2011).

Entrevistadora: (…) em termos de relação sente algum impacto, por exemplo,

com algum paciente que tenha um nível mais elevado de um desses três aspetos,

ou mesmo dos três?

Participante 1: Eu acho que sim, sim, existe essa relação. Ou seja, é óbvio que

um paciente alexitímico vai ter mais dificuldades na relação terapêutica,

digamos.

Surge outro subtema, com duas referências, relativo ao estabelecimento de relações

superficiais com pacientes com um nível elevado de alexitimia (ou um dos componentes

elevado).

20
Participante 1: (…) A alexitimia às vezes ajuda-nos a pensar em termos, ou seja,

por exemplo, deixe-me pensar. Quando a gente tem clientes que têm este

pensamento orientado para o exterior, por exemplo, muitas vezes tendem a

estabelecer relações que são relativamente formais, ou que não são envolvidas,

digamos.

De uma forma geral, os participantes consideram que é possível estabelecer uma

relação terapêutica suficientemente boa com pacientes com características alexitímicas.

No entanto, sugerem que este estabelecimento da relação é moroso e que pode haver

uma tendência a estabelecer relações pouco envolvidas (essencialmente quando o

pensamento orientado para o exterior tem um nível elevado).

3.2.Implicações no processo terapêutico. Este tema representa a perceção dos participantes

acerca das potenciais implicações de um nível elevado de alexitimia para o processo

terapêutico. Conta com 11 referências e com diversos subtemas. O primeiro subtema,

com uma referência, é relativo a dificuldades em partilhar informação relevante, o que vai

ao encontro da revisão de literatura realizada (Silva et al., 2013b).

Participante 2: Uma das dificuldades que nós sentimos com estes pacientes é que

têm uma dificuldade extrema em invocar a sua história de vida (…). E,

portanto, nós temos dificuldade em ter uma visão compreensiva do que trouxe a

pessoa até aqui.

O segundo subtema refere-se aos dropouts, com três referências de três participantes é

o que aparenta ter um maior impacto percebido no processo terapêutico.

Participante 3: (…), às vezes não há tempo porque as pessoas fazem ‘dropouts’,

não é, porque no fundo ou, ah, quando começam a surgir estas questões, se nós

não as identificamos imediatamente as pessoas saem, abandonam.

21
De seguida, surge, com duas referências, o subtema relativo à estrutura das sessões

que é dividido em dois tópicos: falar mais do que os pacientes e foco no conteúdo. Estes

tópicos refletem a perceção de que com estes pacientes se torna necessário falar mais no

início do processo e que o foco nos processos é mais difícil.

Participante 2: O que eu noto em termos de evolução terapêutica com estas

pessoas é que eu falo muito ao início (…) mas tenho que falar mesmo que falar

por eles (…).

Surge um subtema relativo a maiores dificuldades na estruturação da relação (i.e., em

termos de regras), que conta com três referências.

Participante 3: (…) Se nós não identificamos isso a pessoa vai agir e o agir é

muitas vezes falta às sessões, chega tarde, vai embora.

Um subtema que surge com duas referências é relativo à influência na tomada de

decisão e espelha a importância de realizar escolhas tendo em conta o nível de alexitimia e os

objetivos terapêuticos.

Participante 1: Se eu tiver um cliente que tem estas dificuldades, então no fundo,

eu tenho de fazer uma escolha. Que é: ou trabalho com ele a outro nível

digamos, a um nível mais de comportamento ou a um nível mais de estratégias

mais pragmáticas ou então, se quiser ter algum trabalho que de alguma maneira

passa por um trabalho mais emocional, então eu tenho de fazer um trabalho

prévio (…).

Na generalidade, os participantes revelam percecionar algumas implicações de um

nível elevado de alexitimia do paciente em termos de processo terapêutico, tal como referidas

anteriormente. Parece haver uma perceção geral que as características alexitímicas moldam o

processo terapêutico, mas não o impedem.

22
3.3. Impacto nos resultados da terapia. Este tema representa a perceção dos participantes

acerca do impacto de um nível elevado de alexitimia nos resultados terapêuticos. Tem

seis referências, sendo que duas pertencem ao subtema maior dificuldade em atingir

resultados.

Entrevistadora: (…) sente alguma maior dificuldade em atingir os resultados com

este tipo de pacientes?

Participante 2: Sim, é mais lento, é mais lento.

Duas referências pertencem ao subtema dos resultados finais dependem dos objetivos

iniciais.

Participante 1: (…) em última análise os resultados da terapia, definem-se em

função dos objetivos. O que acontece é que, às tantas os objetivos em pessoas

com alexitimia podem ser mais moderados digamos, à partida.

O último subtema deste tema refere-se à menor dimensão dos resultados, com duas

referências.

Participante 1: (…) em termos de resultados se a gente pensasse em termos de

uma lógica absoluta, então os resultados seriam menos ambiciosos ou menos

extensos, digamos do que numa pessoa que sem alexitimia.

De uma forma geral, os participantes percecionam que é possível atingir resultados

terapêuticos satisfatórios com estes pacientes, sendo necessário ter em consideração os

subtemas acima referidos.

3.4. Impacto no terapeuta. Este tema representa a perceção dos participantes acerca do

impacto que um nível elevado de alexitimia pode ter nos terapeutas. É constituído por

dois subtemas. Um deles é referente às dificuldades sentidas pelos terapeutas, com 10

referências, que inclui os seguintes tópicos: cansaço e sono; contra-transferência;

sentimento de culpa; e sentimento de frustração. O sentimento de frustração é a

23
dificuldade mais referida pelos terapeutas (seis referências), parecendo ser a que tem

maior impacto.

Participante 2: (…) São os pacientes que nos frustram mais (…).

O segundo subtema, com seis referências, é referente à forma de lidar com as

dificuldades sentidas com estes pacientes e incluí os seguintes tópicos: aceitação das

dificuldades sentidas; adaptar os horários das sessões; estar atento à estrutura da sessão;

respeito pelos objetivos do paciente; e relevância da supervisão. O último tópico é o único

que conta com duas referências, sendo que todos os outros têm uma referência.

Participante 1: Eu acho que a supervisão é bastante útil, porque de alguma

maneira ter outra pessoa a dizer isto pode ser relevante, também, e ter paciência

e perceber que há clientes que têm os seus ritmos diferentes (…).

Domínio 4: Estratégias de intervenção terapêutica

Que estratégias de intervenção são consideradas mais úteis neste contexto? Quais as

estratégias consideradas menos úteis? Este domínio vai ao encontro do sexto objetivo deste

estudo e conta com dois temas principais (Anexo E).

4.1. Estratégias consideradas pouco úteis com pacientes com um nível elevado

de alexitimia. Este tema representa a perceção dos participantes acerca de estratégias

percecionadas como menos úteis no contexto de um nível elevado de alexitimia no

paciente. É constituído por dois subtemas tendo um total de quatro referências. O

primeiro é relativo a estratégias da área da Gestalt. Segundo dois participantes este tipo de

estratégias não é considerada útil em pacientes com um nível elevado de alexitimia.

Participante 2: Há pessoas a quem eu peço coisas mais de Gestalt, por exemplo,

ou auto-retratos ou coisas mais a nível da expressão plástica e estas pessoas têm

muita dificuldade em entrar por aí (…).

24
O segundo subtema é relativo a interpretações maciças que é considerado pelo

participante 3 algo que não é eficaz com estes pacientes.

Participante 3: (…) Mas, ah, às vezes o que não, não... São interpretações

maciças. Por exemplo, ou seja, eu chegar ali à pessoa e dizer-lhe o que é que ela

está a sentir e ser eu a dar um nome e ser eu quase a fazer uma interpretação e

uma teoria à volta da pessoa.

4.2. Estratégias consideradas úteis com pacientes com um nível elevado de alexitimia.

Este tema representa a perceção dos participantes acerca de estratégias de intervenção

potencialmente úteis neste contexto. Tem um total de 32 referências e engloba cinco

subtemas. Estes subtemas englobam estratégias de intervenção que os participantes

consideram úteis no contexto da alexitimia. Em primeiro lugar, surge o subtema das

estratégias da área da EMDR, referido apenas por um participante.

Participante 2: Começa logo aí. Haver poucas memórias da, da história quer

dizer que houve pouco conteúdo emocional. E, portanto, nós temos dificuldade

em ter uma visão compreensiva do que trouxe a pessoa até aqui. Daí que o

EMDR depois pode ir trabalhar sintomas corporais e não propriamente

memórias visuais.

Em segundo lugar, surge a técnica da caixa de areia, referido apenas por um

participante.

Participante 2: Então é assim, o que eu sinto, é eu com estas pessoas tenho que ir

por estratégias mais expressivas, por exemplo são pessoas com quem eu vou

utilizar a técnica da caixa de areia, por exemplo. Porque não, a pessoa não

precisa de estar a expressar o que é que sente ou a contar sobre o que vai dentro

de si, vai construir.

25
Em terceiro lugar surgem as estratégias da área da Terapia Cognitivo-

Comportamental, com um total de 10 referências. Este subtema engloba as seguintes

estratégias ou técnicas potencialmente úteis no contexto da alexitimia: mindfulness;

modulagem; psicoeducação; questionamento socrático; registos da intensidade da dor; e

treino de assertividade. A psicoeducação e o mindfulness parecem ser as estratégias

percecionadas como mais úteis neste contexto, tendo em conta o número de referências.

Participante 1: Ah, e uma parte mais introspetiva, mais psico-educativa de

facilitar o acesso do cliente às suas próprias emoções.

Participante 2: E eu às vezes, eu já me aconteceu ter pessoas assim que depois

acabamos por acabamos por fazer em ‘mindfulness’. E a pessoa simplesmente

estar ali comigo já é organizador.

Em quarto lugar, surge um subtema relativo a estratégias da área da Terapia

Existencial-Humanista, com cinco referências, que engloba as seguintes estratégias:

consciencialização corporal; exploração de emoções através do canal preferencial do

paciente; exploração dos sentidos; focagem; e utilização de imagens ou metáforas. Alguns

destes resultados vão ao encontro da revisão de literatura realizada (e.g., Taylor, 2000; Silva

et al., 2013b; Gendlin, 1998).

Participante 6: (…) mas este género, ok, de focagem no próprio, de ‘grounding’,

parecem-me técnicas que talvez possam, ah, funcionar para que a pessoa se

sinta.

Em quinto e último lugar, surge o subtema referente a estratégias transversais a

diversas áreas/orientações teóricas, com 13 referências. Este subtema engloba as seguintes

estratégias de intervenção: aumento da consciência; ludoterapia; meta-processamento;

silêncio terapêutico; trabalho na relação terapêutica; e utilização de uma linguagem comum.

Alguns destes resultados coadunam-se com a revisão de literatura (Silva et al., 2013b). Destes

26
tópicos destacam-se, devido ao número de referências, o meta-processamento, o trabalho na

relação terapêutica e a utilização de uma linguagem comum.

Participante 3: Sim. De alguma maneira, uma vez mais, se calhar indicando um

pouco esta pergunta do que é que vai sentindo, perguntando ao paciente um

bocado o indicador o que é que vai sentindo ou que é que está a sentir neste

momento enquanto está a falar disso, eu também devolvendo um pouco o que é

que eu também estou a sentir, fazendo uma ligação se calhar com algumas

sessões passadas em que também já tínhamos falado disso, ah, e por vezes até o

próprio momento de um certo silêncio também (…).

Participante 3: (…) o trabalho na relação é muito importante também para

desenvolver a questão emocional (…)

Participante 4: Porque acho que é mesmo um desafio, ah... Comunicar e chegar à

pessoa numa linguagem que não é bem se calhar a linguagem mais habitual, não

é? (…) muitas vezes estas pessoas vão buscar metáforas daquilo que melhor

conhecem, que é a teoria deles, para explicar aquilo que sentem. Ah... E ir um

bocadinho atrás daquele mundo (…).

Domínio 5: Influência de outros fatores

Os participantes consideram que a personalidade, a sintomatologia, entre outros,

influencia o nível de alexitimia? Este domínio corresponde à consideração da influência de

outros fatores na problemática da alexitimia. Vai, assim, ao encontro do sétimo objetivo deste

estudo e conta com cinco temas principais.

5.1. Personalidade. Três dos participantes consideram que existe uma sobreposição entre

personalidade e alexitimia.

27
Participante 1: Até porque a alexitimia depois sobrepõe-se com outras coisas, em

termos de aquilo que é, mais uma vez, do psicopatológico, sei lá, perturbação

evitante ou esquizóide da personalidade, etc.

5.2. Sintomatologia. Neste tema, surgem quatro subtemas que representam a perceção dos

participantes acerca da influência entre alexitimia e psicose, stress pós-traumático,

sintomatologia ansiosa e sintomatologia depressiva, indo ao encontro da revisão de

literatura realizada (e.g., Panayiotu et al., 2015; Zeitlan & McNally, 1993; Hyer, Woods,

& Boudewyns, 1991).

Participante 1: Eu acho que há uma sobreposição entre estes fatores, ou seja,

aquilo que é a alexitimia muitas vezes traduz-se em sintomatologia e vice-versa.

Por exemplo, sei lá, eu estou a pensar no stress pós-traumático (…).

5.3. Défices Cognitivos. Neste tema surge uma referência acerca da consideração na

influência de défices cognitivos no desenvolvimento de características alexitímicas.

Participante 2: Porque eu já tive alguns casos em que havia de facto um atraso

mental, um comprometimento a nível cognitivo e aqui, eu penso que havia

também uma relação direta, não é. Porque se há uma incapacidade em

compreender o mundo também há uma incapacidade em nomear emoções.

5.4. Medicação. Neste tema surge a questão da medicação promover características

alexitímicas, contando com uma referência.

Participante 2: E que há uma alexitimia virtual, é isso que eu noto às vezes, as

pessoas vêm sobremedicadas e não conseguem pensar. (…) aí não é uma

alexitimia verdadeira, foi induzida por medicamentos em excesso.

5.5. Psicossomática. Neste tema surgem considerações realizadas por um participante em

relação à ligação da psicossomática e da alexitimia.

28
Participante 2: Muito da psicossomática, penso que sim. Sim, eu acho que a

alexitimia também se mascara com alguma psicossomática. Não digo que seja

em todos os casos.

Domínio 6: Investigação Futura

Que necessidades de investigação? O que pode e deve ser melhor estudado e mais

aprofundado? Considerou-se relevante criar este domínio no sentido de inferir possíveis

caminhos de investigação futura através das opiniões dos participantes. Assim, o último

domínio conta com quatro temas, cada um com uma referência, que nos podem sugerir

caminhos a seguir após esta investigação. Apenas quatro participantes teceram considerações

acerca deste tópico. Estes temas representam necessidades dos participantes em termos de

investigação e de conhecimento para a prática clínica (Anexo E).

6.1. Pensar em termos de processos emocionais subjacentes.

Participante 1: Portanto, o que eu acharia mais interessante é de facto pensar na

alexitimia não tanto como um constructo em si, mas em relação a um conjunto

de processos emocionais.

6.2. Pensar em termos da influência da educação.

Participante 5: (…) penso mais a alexitimia nos últimos anos como um constructo

que pode ser útil para pensar vá, ou trabalharmos quase para qualquer pessoa

(…). Mas acho que é um constructo útil para pensar nisso. Ah, até que ponto, a

educação e aquilo que se transmite está a fomentar o desenvolvimento, ah,

destes fatores, ou que por outro lado possa caminhar cada vez mais para ser

cada vez mais patologia desta ordem.

6.3. Pensar em termos de estratégias de intervenção.

29
Participante 6: (…) eu achava que na alexitimia a investigação era mais útil, ah,

quando tremia mais para o nosso trabalho diário, não é, em termos noções de

estratégias e de cautelas e de avisos e desafios que algumas componentes desta,

deste problema, desta componente de comunicação pode surgir e não tanto uma

categoria verdadeiramente.

6.4. Desenvolvimento de uma linguagem comum entre os terapeutas.

Participante 3: Isto sobretudo não tanto no conceito em si mas nestes três pontos,

e que nós às vezes de facto quando vemos e nós que somos de áreas diferentes e

às vezes o problema da linguagem também acho que acontece connosco (…).

Mais literatura sobre isso ou mais comunicação entre nós terapeutas sobre isso

acho que é muito importante.

Através da análise dos resultados torna-se possível refletir acerca dos mesmos.

Importa referir que os resultados vão ao encontro dos objetivos deste estudo. Em primeiro

lugar, os resultados permitem perceber que os terapeutas parecem estar, de forma geral,

familiarizados com a alexitimia e que parecem conseguir defini-la com, pelo menos, um

componente da definição de Taylor et al. (1997), à exceção do componente do pensamento

orientado para o exterior. Em segundo lugar, os resultados permitem refletir acerca da

avaliação que os terapeutas fazem da alexitimia. Neste contexto destaca-se a entrevista

clínica como meio de avaliação da alexitimia. Em terceiro lugar, estes resultados permitem

compreender que são sentidas, pelos terapeutas, implicações de um nível elevado de

alexitimia. Estas parecem estar ao nível do estabelecimento inicial da relação terapêutica e do

estabelecimento de relações menos envolvidas, da dificuldade de manutenção do processo

terapêutico e da forma como as características alexitímicas moldam o processo terapêutico

em termos de tomada de decisão, da maior dificuldade em atingir resultados e da menor

30
dimensão dos mesmos e, por fim, do impacto no próprio terapeuta em termos de dificuldades

sentidas e de como lidam com as mesmas, destacando-se a relevância da supervisão. Em

quarto lugar, estes resultados permitem refletir acerca de algumas estratégias potencialmente

úteis neste contexto, essencialmente ao nível de estratégias de intervenção da área Cognitivo-

Comportamental (e.g., psicoeducação, mindfulness), da Terapia Existencial-Humanista (e.g.,

focagem, consciencialização corporal, etc.) e algumas estratégias transversais a diversas

orientações teóricas (e.g., meta-processamento, trabalho na relação terapêutica, utilização de

uma linguagem comum). Em quinto lugar, estes resultados permitem refletir acerca da

sobreposição da sintomatologia (e.g., depressiva, ansiosa, etc.), da personalidade, de défices

cognitivos, da medicação e da psicossomática com a alexitimia, sendo necessário ter em

consideração esta sobreposição em contexto clínico. Por fim, estes resultados permitiram uma

reflexão acerca das necessidades desta amostra de terapeutas em termos de investigação nesta

área, concentrando-se ao nível do estudo de modelos de intervenção, do estudo em termos de

processos subjacentes, do desenvolvimento de uma linguagem comum entre os terapeutas e

do estudo da influência da educação no desenvolvimento de características alexitímicas.

Importa sublinhar que não é possível realizar inferências destes resultados dada a dimensão

da amostra.

Conclusão

O presente estudo teve como foco a exploração da perceção dos psicólogos face ao

constructo da alexitimia, em termos de definição, de aplicação prática (i.e., avaliação,

implicações na terapia e estratégias utilizadas) e de investigação futura. Permitiu, assim,

aumentar a compreensão sobre a forma como os psicólogos vêem a temática da alexitimia no

contexto terapêutico.

31
Importa salientar algumas limitações desta investigação. Em primeiro lugar, a

amostra reduzida que acaba por não permitir a saturação das categorias. Em segundo lugar, o

facto de ter sido a mesma investigadora a realizar as diversas fases da metodologia: as

entrevistas, as transcrições e as codificações das mesmas. De forma a ultrapassar estas

limitações, seria relevante replicar este estudo com uma amostra maior e com a colaboração

entre vários investigadores em cada uma das fases supramencionadas (possibilitando,

também, o aperfeiçoamento da metodologia). Esta replicação poderia enriquecer o estudo e

aumentar a credibilidade dos resultados (e.g., através do acordo inter-juízes), levando à

possibilidade de abstrair informação adicional dos mesmos.

Salientam-se, também, aspetos positivos do presente estudo: a construção e

aperfeiçoamento do guião da entrevista através dos pré-testes realizados; a utilização de uma

metodologia de análise de dados que permite uma exploração abrangente dos dados; a

inovação do estudo no sentido em que não existe nenhum estudo idêntico em Portugal; e a

possibilidade de abstrair ideias preliminares interessantes dos resultados obtidos. A existência

de investigação neste sentido pode aumentar a compreensão do impacto da alexitimia no

processo psicoterapêutico, bem como a compreensão dos processos subjacentes. Desta forma,

espera-se que este estudo seja um passo para permitir o desenvolvimento de estudos de

modelos mais adequados para se intervir com pacientes com funcionamento alexitímico.

Futuramente, parece, também, interessante realizar estudos no sentido das sugestões

dos participantes: no sentido de pensar em termos da influência que a educação pode ter no

desenvolvimento de características alexitímicas; no sentido de desenvolver uma linguagem

comum entre os terapeutas; no sentido de pensar em termos dos processos subjacentes à

alexitimia; e no sentido de compreender que estratégias são eficazes ou como se deve intervir

neste contexto, o que vai de encontro às necessidades revistas na literatura (e.g.,

Ogrodniczuk, 2007).

32
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39
ANEXOS

40
Anexo A

Email enviado aos participantes


O meu nome é Patrícia Ribeiro Silva e estou a realizar um estudo sobre dificuldades
de regulação emocional e o seu impacto no processo psicoterapêutico no âmbito da minha
dissertação de mestrado em Psicologia Clínica do Núcleo de Psicoterapia Cognitivo-
Comportamental e Integrativa pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, sob
orientação da Professora Doutora Ana Catarina Nunes da Silva.

Venho convidá-lo para participar neste estudo, sendo importante que:

‐ Seja membro efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses


‐ Tenha acompanhado mais de 10 casos

A participação neste estudo consiste numa entrevista, com duração aproximada de


meia hora, gravada através de áudio. O objetivo é aumentar a compreensão da visão dos
terapeutas acerca de dificuldades de regulação emocional e do seu impacto na psicoterapia.

A sua participação é voluntária e confidencial e pode desistir a qualquer momento. Se


o desejar, no final da investigação, ser-lhe-ão enviados os resultados do estudo previamente à
sua publicação.

Disponibilizo-me para qualquer esclarecimento através deste contacto eletrónico. Se


estiver interessado em participar, pode enviar-me o seu contacto telefónico e agendaremos
uma data.

Grata pela disponibilidade.

Pela equipa de investigação,

Ana Catarina Nunes da Silva

Patrícia Ribeiro Silva


Anexo B

Informações sobre o estudo e

consentimento informado
Consentimento Informado

Eu, Patrícia Ribeiro da Silva, venho, por este meio, convidá-lo(a) a participar num estudo
sobre dificuldades de regulação emocional e o seu impacto no processo psicoterapêutico. Este
projeto de investigação insere-se no contexto da realização da dissertação de Mestrado em
Psicologia Clínica, do Núcleo de Psicoterapia Cognitivo-Comportamental e Integrativa pela
Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, sob orientação da Professora Doutora
Ana Catarina Nunes da Silva.

Tendo em conta a temática do estudo, é fundamental a participação de diversos psicólogos


e agradeço, desde já, a sua disponibilidade em colaborar.

Será realizada uma entrevista com o objetivo de aumentar a compreensão da visão dos
terapeutas acerca de dificuldades de regulação emocional e do seu impacto na psicoterapia. A
duração da entrevista será de, aproximadamente, meia hora e esta será gravada através de
áudio.

A sua participação é voluntária e poderá desistir a qualquer momento, se assim o desejar.


A confidencialidade de todos os dados está assegurada, uma vez que não será identificado pelo
seu nome e que após a finalização do estudo as gravações áudio serão destruídas. Os resultados
deste estudo servirão objetivos científicos, podendo simultaneamente contribuir para a
intervenção psicoterapêutica. Após a finalização do estudo, existe a possibilidade de ser
fornecida informação aos participantes acerca dos resultados do mesmo, sendo fornecida
posteriormente uma cópia do artigo a que esta investigação dará origem.

Disponibilizo-me, desde já, para prestar esclarecimentos adicionais através dos seguintes
contactos:
Telemóvel: 915537200
Correio eletrónico: [email protected]
Declaro que estou suficientemente informado acerca da forma como este estudo vai
decorrer e aceito participar:

____________________________________________
(assinatura do participante)

OBRIGADA

Patrícia Ribeiro da Silva

Ana Catarina Nunes da Silva

Faculdade de Psicologia

Universidade de Lisboa
Anexo C

Ficha de recolha de dados

sociodemográficos
Número do participante: ______

Data: ____ /____/_____ Sexo: F  M  Idade:______

Escolaridade: Licenciatura (5 anos)  Mestrado  Doutoramento 

Orientação teórica: _________________________________________________

Anos de experiência: ______

Número médio de casos que já acompanhou: ______

Frequenta supervisão: Sim  Não 

Frequenta ou frequentou formação em sociedade de psicoterapia: Sim  Não 

Se respondeu sim, qual?: ______


Anexo D

Guião da entrevista semiestruturada


Alexitimia e implicações no processo terapêutico: A Visão do terapeuta

Entrevista semiestruturada

1. Tema Geral: Conhecimento e definição do constructo de Alexitimia


Blocos
Objetivos Exemplos de questões
temáticos
Compreender se os participantes Conhece o termo Alexitimia?
Conhecimento
do constructo
de Alexitimia

conhecem este constructo.


Já ouviu falar de alexitimia?

Perceber qual a definição que os Como define a alexitimia?


participantes têm para a
Definição de
Alexitimia

alexitimia.

Perceber que características são Quais os componentes do constructo de


associadas ao conceito de Alexitimia?
Alexitimia.
A alexitimia é definida de acordo com três
estandardizada
de Alexitimia

elementos fundamentais, que incluem:


Definição

Fornecer a definição dificuldade em identificar emoções,


estandardizada de forma a todos dificuldade em comunicar emoções e
os participantes responderem em pensamento orientado para o exterior.
função da mesma definição. (Taylor, Bagby, & Parker, 1997).

2. Tema Geral: Importância e realização da avaliação da alexitimia e da integração


na conceptualização de caso
Blocos
Objetivos Exemplos de questões
temáticos
Compreender se os participantes Considera importante avaliar o nível de
alexitimia dos pacientes
Avaliação do nível de

consideram importante avaliar o alexitimia dos pacientes?


nível de alexitimia.

Compreender se avaliam esta Na sua prática terapêutica, avalia o nível


dimensão. de alexitimia dos pacientes?

Compreender como avaliam esta Como avalia?


dimensão.
Compreender se os participantes Considera importante integrar o nível de
consideram importante a alexitimia dos pacientes da
Conceptualização de caso
integração desta variável na conceptualização de caso?
conceptualização de caso.

Compreender se integram esta Integra esta variável, o nível de alexitimia,


dimensão na conceptualização de na conceptualização de caso?
caso.

Compreender como fazem esta Como faz esta integração? E quando?


integração e quando.

3. Tema Geral: Impacto no processo terapêutico e estratégias utilizadas


Blocos
Objetivos Exemplos de questões
temáticos
Compreender quais as Na sua opinião, quais as implicações de um
implicações de um nível elevado nível de alexitimia elevado para a relação
Implicações de um nível elevado de

de alexitimia dos pacientes para a terapêutica?


relação terapêutica, para o Na sua opinião, quais as implicações de um
processo terapêutico e para o nível de alexitimia elevado para o processo
resultado terapêutico. terapêutico?
alexitimia

Na sua opinião, quais as implicações de


um nível de alexitimia elevado para o
resultado terapêutico?

Compreender como é que o Como se sente face à ineficácia de algumas


participante se sente perante a estratégias? Como lida com esta
ineficácia de algumas estratégias ineficácia?
e como lida com isso.
Compreender se os participantes Na sua opinião considera importante a
consideram relevante a utilização utilização de estratégias de intervenção no
de estratégias terapêuticas neste contexto da alexitimia?
Estratégias de intervenção

contexto e se as utilizam. Utiliza alguma estratégia terapêutica para


intervir no nível de alexitimia elevado dos
pacientes?
Que estratégia (s) utiliza?
Identificar quais as estratégias de
intervenção que os participantes Na sua opinião, quais as estratégias que
percecionam como mais eficazes. considera mais úteis ou eficazes para
Compreender quais as estratégias intervir no contexto de um nível de
de intervenção mais referidas alexitimia elevado?
pelos psicólogos.
Compreender a opinião dos Na sua opinião, existe influência de outros

outros fatores
Influência de psicólogos acerca da possível fatores, tais como a personalidade e a
influência de outros fatores, tais sintomatologia, quer na avaliação do nível
como, a personalidade e a de alexitimia, quer na intervenção, quer no
sintomatologia. impacto no processo terapêutico?
Pode explicitar esta influência?

4. Tema Geral: Necessidades de investigação


Blocos
Objetivos Exemplos de questões
temáticos
Perceber se existem necessidades Há alguma área que gostasse que estivesse
em termos de investigação futura. mais desenvolvida neste contexto? Há
Investigação Futura

alguma lacuna que gostassem de ver


preenchida?

Compreender a opinião dos Na sua opinião, quais deveria ser os


participantes acerca da próximos passos a dar na área de
investigação nesta área. investigação que possam contribuir para
uma maior compreensão desta temática e
do seu impacto no processo terapêutico?
Perceber se há algo a acrescentar Considera relevante acrescentar algo ao
participantes
Questões dos

por parte dos participantes. que foi dito?

Dar a oportunidade aos Há alguma coisa que gostasse de me


participantes de colocarem perguntar?
questões.
Anexo E

Sistema Hierárquico de Categorias


Sistema Hierárquico de Categorias
Categorias Fontes Referências
1. Conhecimento e definição do constructo de Alexitimia 7 36
1.1.Presença do conhecimento do constructo de Alexitimia
7 7
1.2.Definição do constructo de Alexitimia
7 12
Dificuldade em identificar emoções
5 5
Dificuldade em comunicar emoções
3 3
Dificuldade de regulação emocional
3 3
Ausência de definição
1 1
1.3.Visão do constructo de Alexitimia
3 7
Em termos de processos subjacentes
2 4
Em termos de níveis de um contínuo
3 3
1.4. Hipóteses relativamente à etiologia da alexitimia
5 10
Influência das relações precoces
2 2
Influência de vivências traumáticas
2 3
Influência dos modelos de socialização
4 4
Influência dos mass media
1 1
2. Integração da variável Alexitimia na conceptualização de
7 18
caso

2.1.Avaliação da Alexitimia
6 14
Avaliação Clínica
5 11
Auto-observação
1 2
Avaliação a partir da relação estabelecida
2 2
Avaliação na supervisão
1 1
Entrevista clínica
4 5
Observação
1 1
Avaliação Formal da Alexitimia
3 3
Instrumentos de autorrelato
2 2
Técnicas projetivas
1 1
2.2. Considerações acerca da importância da avaliação da
4 4
alexitimia

3. Implicações de um nível elevado de alexitimia na terapia


7 39
3.1.Impacto negativo na relação terapêutica
4 6
Dificuldades no estabelecimento da relação
3 4
terapêutica

Estabelecimento de relações superficiais


2 2
3.2.Implicações para o processo terapêutico
5 11
Dificuldade em partilhar informação relevante
1 1
Dropouts
3 3
Estrutura das sessões
2 2
Falar mais do que os pacientes
1 1
Foco no conteúdo
1 1
Mais dificuldades na estruturação da relação
2 3
Influência na tomada de decisão
1 2
3.3.Impacto nos resultados da terapia
4 6
Maior dificuldade em atingir resultados
2 2
Resultados finais dependem dos objetivos iniciais
2 2
Menor dimensão dos resultados
1 2
3.4.Impacto no terapeuta
5 16
Dificuldades sentidas pelos terapeutas
5 10
Cansaço e sono
1 1
Contra-transferência
2 2
Sentimento de culpa
1 1
Sentimento de frustração
4 6
Formas de lidar com as dificuldades sentidas com
4 6
estes pacientes

Aceitação das dificuldades sentidas


1 1
Adaptar os horários das sessões
1 1
Estar atento à estrutura da sessão
1 1
Respeito pelos objetivos do paciente
1 1
Relevância da supervisão
2 2
4. Estratégias de intervenção terapêutica
7 36
4.1.Estratégias consideradas pouco úteis com pacientes
3 4
com um nível elevado de alexitimia

Estratégias da área da Gestalt


2 3
Interpretações maciças
1 1
4.2.Estratégias consideradas úteis com pacientes com um
7 32
nível elevado de alexitimia

Estratégias da área da EMDR


1 3
Técnica da caixa de areia
1 1
Estratégias da área da Terapia Cognitivo-
4 10
Comportamental

Mindfulness
2 2
Modelagem
1 1
Psicoeducação
3 3
Questionamento socrático
1 1
Registos da intensidade da dor
1 1
Treino de assertividade
1 1
Estratégias da área da Terapia Existencial-
4 5
Humanista

Consciencialização corporal
1 1
Exploração de emoções através do canal
1 1
preferencial do paciente

Exploração dos sentidos


1 1
Focagem
1 1
Utilização de imagens e metáforas
1 1
Estratégias transversais a diversas
6 13
áreas/orientações teóricas

Aumento da consciência
1 2
Ludoterapia
1 1
Meta-processamento
2 2
Silêncio terapêutico
1 1
Trabalho na relação terapêutica
3 4
Utilização de uma linguagem comum
3 3
5. Influência de outros fatores
4 12
5.1.Personalidade
3 3
5.2.Sintomatologia
4 5
Stress Pós-Traumático
1 1
Ansiedade
1 1
Depressão
2 2
Psicose
1 1
5.3.Défices cognitivos
1 2
5.4.Medicação
1 1
5.5.Psicossomática
1 1
6. Investigação Futura
4 4
6.1.Pensar em termos de processos emocionais subjacentes
1 1
6.2.Pensar em termos da influência da educação
1 1
6.3.Pensar em termos de estratégias de intervenção
1 1
6.4.Desenvolvimento de uma linguagem comum entre os
1 1
terapeutas

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