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2020 - Revista Interface

Este artigo discute diretrizes para a construção de trabalhos acadêmicos qualitativos de forma coerente, abordando questões ontológicas, epistemológicas, teóricas, metodológicas, analíticas, políticas e éticas. O artigo argumenta que esses sete níveis devem ser considerados de forma integrada para produzir trabalhos acadêmicos qualitativos coerentes.
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Este artigo discute diretrizes para a construção de trabalhos acadêmicos qualitativos de forma coerente, abordando questões ontológicas, epistemológicas, teóricas, metodológicas, analíticas, políticas e éticas. O artigo argumenta que esses sete níveis devem ser considerados de forma integrada para produzir trabalhos acadêmicos qualitativos coerentes.
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REVISTA INTERFACE

V.17 Nº 2 – Agosto a Dezembro de 2020 | ISSN 2237-7506

QUESTÕES IMPORTANTES NA CONSTRUÇÃO DO TRABALHO


ACADÊMICO: argumentos para uma escrita coesa em trabalhos
qualitativos

IMPORTANT ISSUES TO THE CONSTRUCTION OF ACADEMIC WORK:


arguments to a coherent write in qualitative works

AUTORA:

Fabiana Florio Domingues 1


1
CEPEAD - Centro de Pós-Graduação e Pesquisas em Administração - FACE/UFMG
(http://orcid.org/0000-0003-4791-7070)

RESUMO
ABSTRACT
Este ensaio oferecer diretrizes a serem This essay seeks to offer some
consideradas na construção de trabalhos recommendations to be considered in the
acadêmicos a partir do uso de construction of academic works from the
metodologias qualitativas. Este artigo não use of qualitative methods. This paper does
tem a pretensão de se tornar um guia de not intend to become a research guide, it is
pesquisas, tampouco garantir que ao seguir not a guarantee that when following what
o que foi proposto não haverá was proposed there will be no questioning
questionamentos a um determinado to a particular work. However, we start from
trabalho. Entretanto, partimos do the assumption that the imbrication of the
pressuposto que o encadeamento dos sete seven levels we present - ontological,
níveis que apresentamos aqui – ontológico, epistemological, theoretical,
epistemológico, teórico, metodológico, methodological, analytical, political and
analítico, político e ético – atuem como ethical - act as an element of cohesion in
elemento de coesão na composição de um the composition of a coherent qualitative
trabalho acadêmico qualitativo coeso. Ao academic work. In developing our
desenvolver nossa argumentação, argument, we seek to demonstrate the
buscamos demonstrar a íntima relação close relationship between these seven
entre esses sete níveis que consideramos levels that we consider indispensable, for
indispensáveis, por aproximar pesquisa, bringing closer researchers, subjects and
pesquisador e pesquisados. Em outras survey. In other words, to seek that applied
palavras, buscar que a ciência social a social science, like Administration, can go
aplicada, como a Administração, possa ir beyond "to do science", reaching in fact the
além do “fazer ciência”, chegando à society. In addition, we believe in the
sociedade de fato. Ademais, acreditamos impossibility of conception of a science full
na impossibilidade da concepção de uma of universal concepts and displaced from
ciência repleta de conceitos universais e social life.
deslocada da vida social.
Keywords: Qualitative research.
Palavras-chaves: Pesquisa qualitativa. Organizational Studies. Ontological,
Estudos Organizacionais. Coerência epistemological and methodological
ontológica, epistemológica e metodológica. coherence.

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1 INTRODUÇÃO

“As artes, como as ciências, são os mais altos arcos


do amor de homem de conhecimento, sua imaginação,
e sua capacidade de construir. Através deles nos
tornamos mais completamente conscientes de tudo o
que o homem pode ser, fazer e saber”.
(SUPEK, 1980, p. 14, tradução minha)

O
objetivo deste ensaio teórico é oferecer diretrizes a serem consideradas na
construção de trabalhos acadêmicos a partir do uso de metodologias
qualitativas, respeitando o encadeamento dos sete níveis que consideramos
indispensáveis para compor um trabalho acadêmico coeso; a saber, em nível
ontológico, epistemológico, teórico, metodológico, analítico, político e ético.
Refletir a respeito da prática, do saber e dos objetivos da Administração, nos
auxilia na compreensão da própria “cientificidade” do saber científico. Esse tipo de
discussão torna-se relevante uma vez que, diferentemente de outros saberes
profissionais (das áreas exatas ou naturais, por exemplo), o desempenho do
administrador está centrado na prática organizacional – não individual (MATTOS,
2009). Consequentemente, a primeira definição que precisa estar presente no
desenvolvimento de qualquer trabalho acadêmico, em particular na área de Estudos
Organizacionais, é a definição do tipo de organização que estamos tratando.
A principal razão para essa necessidade está baseada no vasto entendimento
do conceito de organização, uma vez que este se baseia na corrente adotada por cada
autor, dentro do quadro de referência ontológico/epistemológico.
Na perspectiva epistêmica apresentada por Plümacher (2012), sobre conhecer
o mundo a partir de seu lugar de fala, o conhecimento só pode ser compreendido
enquanto processo social, no qual não se pode excluir dele nem a objetividade,
tampouco a subjetividade humana. Assim, contraria-se a forte influência das ciências
naturais, nas quais prevalece a crença do conhecimento como algo objetivo, que se
acumula de forma gradual e homogênea, “imaculado”, livre de aspectos culturais e
subjetivos.
Essa visão, corrobora com a noção tradicional do progresso científico
enquanto uma descoberta acumulativa “da verdade”, que amplia o progresso científico,

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desde que este faça parte de um processo subjetivo de busca de proeminência de dado
paradigma (MATTOS, 2009). Entretanto, há o entendimento de que, a vida
organizacional apresentada está filtrada por lentes teóricas, aplicadas pelo
pesquisador.
A linguagem se torna a incorporação dessa verdade, na qual todas as
estruturas do conhecimento não passam de convenções linguísticas (ASTLEY, 1985).
Böhm (2006), ao discutir a relação entre conhecimento, tecnologia e progresso,
demonstra como estas questões estão envolvidas em uma promessa da renovação
social por meio da racionalidade técnica, que transforma o conhecimento em ativo
corporativo valioso, economicamente viável.
A questão que fica é pensar o quanto os Estudos Organizacionais, ao se
diferenciar de uma Administração hegemonicamente funcionalista quer se descolar do
mainstream1 produzindo conhecimento socialmente relevante. Responder a questões
como essa requer que pensemos na ampliação da noção ontológica do conceito de
organização, abrindo caminho em diferentes sentidos e entendimentos. Passa-se,
portanto, a não ver a organização apenas como algo que está acima dos homens e a
serviço deles, mas olhá-la de maneira “mais humanizada, condizente com a
Administração – uma ciência social aplicada” (SARAIVA; CARRIERI, 2007, p.2).
Nesse sentido, Demo (2000) defende a necessidade de procurar as faces qualitativas
das pesquisas, indo além dos métodos qualitativos. Para o autor, ambos os métodos
são faces de uma mesma moeda e possibilitam a compreensão da realidade complexa
e emergente da vida humana. Contudo, a pesquisa qualitativa procura avançar além
das análises, ou seja, “busca o aprofundamento por familiaridade, convivência,
comunicação” (DEMO, 2000, p. 159).
Isso significa não apenas discutir o dualismo entre as ciências naturais e
sociais, como romper com estruturas positivistas fortemente arraigadas que
constrangem o pesquisador de correntes de pensamento contra hegemônicas a fazer
ressalvas pelo resultado de suas pesquisas (DEMO, 2000). Ou seja, muitos

1
Na Administração, são consideradas pesquisas mainstream aquelas que, em sua maioria, utilizam
metodologias quantitativas com base no paradigma funcionalista-positivista, segundo Demo (2000, p.
139) “um dos problemas centrais do positivismo é o encanto pela formalização, chegando ao ponto de
considerar real apenas o que nele é formalizável”.
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pesquisadores acabam apontando como limitação de seus estudos o método utilizado


e as particularidades apontadas em seus achados.
Para Mattos (2011), o que está por traz da necessidade de deixar registrado
que este ou aquele resultado não pode ser generalizado é a noção de hegemonia e
superioridade do positivismo que passou a dominar as ciências sociais. Ao fazer
ressalvas após conclusão de um trabalho científico, seu autor assume certa
“inferioridade” da pesquisa qualitativa, endossando a suposta superioridade dos
estudos quantitativos-positivistas (MATTOS, 2011). A seguir, buscamos desenvolver
argumentos teóricos que possam apresentar-se como uma alternativa viável em uma
construção consistente de pesquisas qualitativas.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

A partir dos anos 1980, com a publicação da obra Sociological paradigms and
organizational analysis, de Burrell e Morgan (1979), mapeiam as principais pesquisas
em organizações desenvolvidas até então e as classificam em quatro paradigmas:
funcionalista; interpretativista; humanista radical e estruturalista radical. Assim,
estabelecem uma “rede de escolas de pensamento”, sob diferentes olhares tanto
filosóficos, epistemológicos e metodológicos, a fim de possibilitar o entendimento de
fenômenos organizacionais (GODOI; BANDEIRA-DE-MELO; SILVA, 2006). A divisão
paradigmática, segundo Burrell (1999, p.445), toma corpo, uma vez que os estudiosos
da época “buscavam sobrepujar a situação já aceita de heterogeneidade e
fragmentação” de uma ciência unificada. Ao validar diferentes olhares, o que se oferece
são elementos que ampliam a possibilidade de compreensão de um conjunto
diversificado de opções não relacionadas e conversações aparentemente
desconectadas, mas que interligam os ciclos de vida dos indivíduos e os progressos
científicos (BURRELL, 1999, CLEGG; HARDY, 1999).
Destarte, as teorias Administrativas e Organizacionais ditas “tradicionais”
(funcionalistas e positivistas), em sua maioria, não estão preocupadas com a
subjetividade, ou ainda ao lado simbólico da vida organizacional (MORGAN; FROST;
PONDY, 1983). Muito disso decorre do compromisso com a metáfora que entende as

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organizações como máquinas ou organismos adaptativos; contudo, diversos autores


buscam interpretações, ditas alternativas, da realidade organizacional
compreendendo-a como sistemas humanos que manifestam complexos padrões de
atividades culturais. Ainda de acordo com esses autores, cabe ao pesquisador assumir
o papel de examinador, para buscar de forma reflexiva, rever os conceitos e
conhecimentos que produz a partir de suas pesquisas.
De fato, para o pesquisador que se enquadra no paradigma humanista radical,
a preocupação será buscar pelo uso dos símbolos como maneiras de opressão e
alienação das pessoas a fim de potencializar a produtividade da empresa. Já para o
pesquisador estruturalista radical, o âmago da questão está no controle ideológico a
favor das elites e os símbolos utilizados como instrumento de dominação. O
interpretativista se guia pela crença de que as pessoas agem em relação a algo com
base no significado que tal coisa tem para ela. Esse significado não só se origina de
algum tipo de interação social, como também é estabelecido e modificado pela
interpretação das pessoas sobre outras pessoas e coisas. Enquanto isso, o
funcionalista busca a função da informação e do sentido no sistema social estudado
(MORGAN; FROST; PONDY, 1983).
A seguir, reunimos os sete níveis que consideramos necessários na construção
de trabalhos qualitativos para que, mesmo não evitando possíveis críticas à pesquisa
desenvolvida, estas possam demonstrar coesão argumentativa. Sabemos também que
os níveis ontológico, epistemológico, teórico, metodológico, analítico, político e ético
são indissociáveis, e por isso aparecem mesclados nas problematizações que
buscamos empreender.

2.1 ONTOLOGIA

Definir a organização é o ponto de partida da teoria organizacional, mas por


que isso é tão importante? Krijnen (2015) defende que teorizar a organização é, além
de uma prática intelectual controversa, um campo profícuo nos conflitos ideológicos
para a teoria organizacional. Tais conflitos não ocorrem somente por questões
ideológicas, mas por razões científicas, de modo que os conceitos de organização
superem simples escolhas ou crenças do senso comum e sejam aplicados de forma

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inteligível. O conceito de um objeto é claramente parte significativa do conhecimento


sobre este objeto.
Assim, os conceitos fundamentais como o próprio conceito de organização
desempenham um papel determinante, sendo capaz de justificar cientificamente,
apoiados por argumentos extraídos de reflexões filosóficas, questões fundamentais na
construção do conhecimento. Dessa forma, o conceito de organização deixa de ser
uma premissa difusa ou dogmática e passa a ser um ponto de determinação, produto
do pensamento do sujeito sobre o objeto: o cerne de uma discussão ontológica. Essas
reflexões filosóficas são fundamentais, pois evidenciam que, e em que sentido, o
conceito de organização é um pressuposto necessário de compreensão de nós
mesmos e do mundo em que vivemos (KRIJNEN, 2015).
Outra consideração, é que os atores organizacionais nunca agem sozinhos
(BENCHERKI; COOREN, 2011) e que o conceito de um objeto é claramente parte do
significado do conhecimento (KRIJNEN, 2015). Desse modo, é necessário pensar qual
a origem da ação, ou seja, "quem" ou "o que" age quando a organização age? Parte da
ação vem dos grupos que decidem, mas esta é apenas parte da questão. Para
Bencherki e Cooren (2011), essa é uma consideração importante a ser feita, uma vez
que há decisões irracionais, ou, (a) pessoas agem de acordo com identificação com
grupos; ou (b) pessoas agem conforme o sentimento de pertencimento ao todo; ou (c)
há a incorporação das ações pela organização.
Baseados na pergunta recorrente nos Estudos Organizacionais “como pode
uma organização imaterial agir em nosso meio material?” Os autores citados
anteriormente reiteram a importância em se refletir sobre três afirmações: (1)
precisamos não pressupor a organização como sujeito na explicação de sua própria
capacidade de agir; (2) a ação não tem um único autor, pois está presente certa
ambiguidade entre e nos sujeitos; (3) não apenas humanos agem, os não-humanos
(híbridos) não apenas participam, como influenciam no processo da ação (BENCHERKI;
COOREN, 2011).
Compreender a organização como uma prática, pressupõe um conjunto de
outros entendimentos que relacionam diferentes combinações de elementos
organizacionais incorporados nas mentes dos diferentes participantes que consideram
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a dimensão psicológica da vida social. Assim, as práticas são vistas enquanto


fenômenos não individualistas, mas sim pessoas que realizam as ações que compõem
uma prática. Contudo, não se pode pensar que a organização de uma prática se resuma
a um grupo de propriedades de pessoas individuais, mas sim entendê-la como uma
característica da prática, expressa no conjunto aberto de ações que compõem a própria
prática (SCHATZKI, 2005).
Muitas discussões tradicionais a respeito das organizações não
problematizam suas origens e existências, ou seja, não apresentam respaldo
ontológico. Esse tipo de trabalho, apresenta um modelo único de organização que não
está pautado no real, partindo do pressuposto de uma existência organizacional
padronizada. Essas formas hegemonicamente adotadas desconsideram a presença de
temas e práticas locais que produzem o extra local, ou ainda, parte-se do pressuposto
que a complexidade de regras culturais e sociais independem de questões como
tempo, lugar e pessoas envolvidas. Dito de outra forma, consideram apenas o caráter
objetivo das organizações (SMITH, 2001).
Mas qual o erro em se pensar exclusivamente de forma objetiva? A princípio
nenhum, mas há que se considerar que agindo desse modo, limita-se todo
conhecimento àquilo que pode ser visto e em certa medida tocado. Bencherki e Cooren
(2011) nos colocam questões que nos levam a pensar na pluralidade de perspectivas
de compreensão de mundo, em uma construção conjunta que pode reconfigurar as
possibilidades de ação no âmbito organizacional. Da mesma forma, Smith (2001) nos
faz pensar em entidades discursivas produtoras de um espaço tempo abstrato-
conceitual, no qual se torna possível ser sujeito ou objeto de ação, sem referência ao
fator humano. Um artifício que auxilia o processo de abstração, mas que prejudica o
aprofundamento investigativo das ações e atividades diárias, próprias do fenômeno.
Sem dúvida que questões assim é que nos fazem aprofundar a reflexão da construção
de nossas pesquisas.

2.2 EPISTEMOLOGIA

As crenças e os julgamento pertencem a diferentes categorias ontológicas,


nossas “portas” de entrada no mundo. De acordo com Cassam (2012), o julgamento é

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uma ação mental, um processo, enquanto a crença é um estado mental estático. A


crença é ainda um estado de disposição regulado pela verdade, no qual o ponto de
partida é uma verdade, por outro lado, o ponto de julgamento é fazer um marco na
crença de alguém (facultativo, variável), que não garante um estado mental regulado
pela verdade, mas que reconhece uma boa evidência.
Questões levantadas por Alves (2002) em torno da ciência e senso comum,
muito mais que definir, promove uma aproximação entre estes dois temas, procurando
diminuir o descrédito imposto ao senso comum, ao mesmo tempo, busca limpar a lente
ao se olhar para a ciência e a todo “glamour” lhe atribuído. O autor argumenta que tanto
a ciência como o senso comum têm a mesma origem, pois partem da necessidade que
o ser humano possui de tentar compreender o mundo que o cerca.
Então, o que podemos dizer a respeito da tão buscada “neutralidade” da
ciência? É possível colocar entre parênteses o sujeito para considerar apenas o
pesquisador? Segundo Cassam (2012), não. O autor defende a importância de
estarmos conscientes da não racionalidade de nossos pensamentos, atentos às
diversas interferências que nosso "conhecimento" sofre e sobre a relação direta entre
conhecimento, julgamento e crença. Nesse ponto reside a importância do
autoconhecimento que permite ao pesquisador distinguir entre suas crenças (o que
sou), seus julgamentos (como estou) do conhecimento que busca apreender e produzir
(ou ressignificar, no caso da investigação se restringir apenas a um novo olhar sobre
as mesmas coisas).
Por outro lado, autores como Álvarez e Echeverría (2008) afirmam que há
grande variedade de abordagens para diferentes tipos de interações sociais, sendo que
muitas delas partem do pressuposto que existe um ser humano imaginário capaz de
tomar decisões de formas puramente racionais e eficazes. Esse “ser especial” recorre
necessariamente ao que se pode chamar de teoria da cognição humana. Para os
autores, o problema é que essas tendências reducionistas são incapazes de lidar
adequadamente com os problemas epistêmicos, pois estão distantes da compreensão
da racionalidade limitada, ou do que denominam de uma racionalidade processual
(ÁLVAREZ; ECHEVERRÍA, 2008).

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Na perspectiva epistêmica de Plümacher (2012), é necessário que o


pesquisador problematize o mundo a partir de seu lugar de fala. Para a autora não é
possível a existência de um conhecimento puro, objetivo, sem vinculação a um sujeito.
Pensar na possibilidade deste conhecimento isolado, seria o mesmo que considerar
uma “visão de lugar nenhum”. Assim, o conhecimento só pode ser entendido a partir de
um processo social, no qual não se excluí nem a objetividade, nem a subjetividade
humana.
Margolis (2004) defende que não há como separar o ontológico e o
epistemológico, ou seja, o mundo que se acredita ser real é inseparável daquele que se
afirma conhecer. Em outras palavras, todo conhecimento elaborado sobre o mundo
tem por objetivo espelhar o mundo como ele é. Para o autor, todo realismo mesmo para
o mundo físico é um realismo construtivista, construído, projetado e abstraído de dados
epistemológicos, no qual não há separação entre subjetivo e objetivo, ou ainda, entre
idealismo e realismo, uma vez que tal construção é igualmente fruto de formações
sociais e históricas.
A utilização de epistemologias alternativas, como por exemplo as feministas
ou as raciais, buscam romper com a dicotomia melhor/pior, enfatizando a existência
de outras culturas, que expõem igualmente diferenças de pensamentos, compreensões
de mundo e linguagens (MILLS, 1998). Por trás da categorização do melhor e do pior,
esconde-se uma busca pela legitimidade de uma disputa anterior entre as ciências
naturais e as ciências sociais, forçando as Ciências Sociais – como a Administração –
só aceitar como avanço epistemológico se os achados não conduzirem à rejeição de
características fundamentais da própria ciência como objetividade e rigor (AGAZZI,
2008).
A preocupação do pesquisador em enquadrar seu trabalho em tipologias
epistemológicas perfeitas pode limitar as possibilidades de criação de conhecimento
teórico genuinamente novo. Nesse sentido, a fim de buscar avanços para as pesquisas
qualitativas por meio de “reconstruções epistemológicas”, Paula (2013) elabora três

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círculos das matrizes epistemológicas2. A ideia, ao fazer uso deste círculo de matrizes,
é demonstrar a integração do conhecimento e a complementariedade de interesses
presentes na vida social que se pretende investigar.
Ademais, refletir sobre determinada ordem epistemológica é também pensar e
considerar os diferentes pontos de vista que a compõe. Ao se levar em conta
pressupostos e condições constitutivas de um novo ponto de vista integrado, forma-
se novo ordenamento de conhecimento e com isso a possibilidade de geração de nova
contribuição àquela episteme. Há que se considerar ainda, que nosso conhecimento
possa ser completado por outros de abordagens epistemológicas diferentes, mas que
produzam conexões, complementos, distinções e contrastes, na interação entre as
perspectivas, resultando na formação ou reformulação de outras ordens
epistemológicas (PLÜMACHER, 2012), bem como de novas teorias.

2.3 TEORIA

Este tópico não tem a pretensão de definir o que é teoria, mas sim chamar a
atenção aos subentendidos por detrás das teorias, pressupostos que perpetuam um
mesmo discurso para justificar a própria teoria. Atkin, Hassard e Cox (2007)
demonstram como as organizações centradas nelas mesmas, determinam os limites
do próprio discurso, ditam quem está dentro e quem está fora da organização. Desse
modo, criam teorias que reproduzem a própria teoria, em um círculo hermético de
autolegitimação, procurando blindar-se das críticas. No entendimento dos autores, é
preciso prestar atenção às bordas, aos limites em que a organização não consegue
abarcar, dos excessos e resíduos, para que se possa refletir sobre a responsabilidade
no agir em nome daqueles que são outros.
À título de exemplo desses circuitos fechados de autolegitimação estão muitas
teorias da gestão, que solicitam o status de ciência a partir da retórica, das conhecidas
regras e práticas que buscam o sucesso da gestão e de gestores, em livros teóricos

2
Contra a tese da incomensurabilidade paradigmática, apresentaram-se teorias de natureza pluralista e
multiparadigmáticas, com objetivo de legitimar outras posições epistêmicas e defendendo novas
formas de ciência para além das monológicas. Inspirada pelo pensamento de Habermas, Paula (2013)
elabora seu círculo de matrizes epistemológicas: a matriz empírico-analítica tem como fundamento o
interesse técnico; a matriz hermenêutica que privilegia o interesse prático; e a matriz crítica, na qual se
busca atender ao interesse emancipatório.
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largamente utilizados em cursos de gestão e MBA. As técnicas práticas “ensinadas”


têm o compromisso de garantir generalidade, certo grau de aplicabilidade de leis e
teorias com objetivo de convencer o público de que algum fato ou campo está para
além das questões de persuasão. Assim, as teorias, para serem consideradas válidas,
precisam apresentar características de generalidade e de funcionalidade, uma verdade
científica que depende de hipóteses que possam ser facilmente testadas (HARDING,
2003).
Ainda para esse autor, a ciência, em seus próprios termos, é ou deve ser: neutra,
sem valor, racional, cumulativa, universalmente válida, histórica, e possuir padrões
absolutos e objetivos. Uma alegação distorcida do status científico que serve para
fornecer as condições de existência de certas identidades gerenciais de manutenção
da doutrinação e controle tanto de gestores como dos trabalhadores subordinados a
estes gestores (HARDING, 2003). Na mesma lógica, o objetivo político da gestão é
produzir conhecimento que permita a reprodução do capital, tendo na figura do gestor
o responsável por qualificar e quantificar o tempo dos recursos humanos da
organização com claros propósitos de produzir e expandir a mais-valia (BÖHM, 2006).
Os últimos dez anos do discurso hegemônico da gestão do conhecimento
voltou-se para estabelecer uma relação vantajosa entre conhecimento, tecnologia e
progresso, valendo-se da promessa de uma renovação social por meio de uma
racionalidade técnica. Desse modo, o conhecimento passa a ser tratado como recurso,
vantagem competitiva, ou ainda ativo corporativo valioso (BÖHM, 2006). Em seu senso
crítico, é importante que o pesquisador perceba a questão de progresso com muitas
ressalvas. Aquilo que hoje parece progresso, desenvolvimento, pode ser considerado
retrocesso, obsoleto, ou simplesmente não aplicável em determinadas organizações.
Assim, uma argumentação consistente, necessariamente, precisa estar lastreada em
uma teorização que parte de uma abstração, mas ainda assim, apresenta relação com
o real, convertendo-a do particular para um universal (PAÇO-CUNHA, 2010).
Carrieri e Paço-Cunha (2009) sugerem que pensemos as organizações
enquanto relações sociais de produção e reprodução da vida humana, em uma dada
sociedade organizacional. Assim, é preciso ter em mente que o conhecimento íntimo
da realidade investigada não é suficiente, bem como não o é saber a teoria em
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profundidade, uma vez que o objetivo está em apreender as interações do objeto e os


desdobramentos dessas interações. Dito de outro modo, apreender a interação dos
sujeitos em sociedade com outros sujeitos, entendendo que “não há organização real
empírica sem as condições sociais que a tornam possível” (CARRIERI; PAÇO-CUNHA,
2009, p. 14).
Em vista disso, o pesquisador precisa fugir da ideia de uma teoria
organizacional contemporânea do mainstream, que segundo Chia (1997) é dominada
por uma mentalidade que pressupõe tacitamente a necessidade da pré-existência de
um espaço-temporal duradouro e formas físicas de ordem que regem a apresentação
da realidade. Até mesmo porque, se foco é a vida social organizada, não se deve estar
preocupado com a organização formal, aquela, sinônimo de empresa. Contudo, o
pesquisador também precisa estar atento à existência de “gatekeepers3” e
argumentações de seus projetos de padronização de categorias para os estudos em
organizações, afinal de contas, esses projetos partem da noção de que o progresso
científico só pode ser atingido mediante a descoberta acumulativa da verdade (ASTLEY,
1985). Além da coerência ontológica e epistemológica, é preciso que haja conexão
coerente entre a teoria e a metodologia, como veremos a seguir.

2. 3 METODOLOGIA

Pensemos a metodologia como um percurso que nos conduz a compreensão


de determinado objeto, sem perder de vista o objetivo de responder às questões
problematizadas no início da pesquisa. Pois bem, o método não pode ser uma camisa
de força que aprisiona, ao contrário, o pesquisador precisa fazer suas escolhas tendo
em mente de que forma as técnicas de produção dos dados “conversam” com a teoria,
levando em consideração que a metodologia avança para além da técnica.
Nesse sentido, Minayo (2001, p. 16) afirma que metodologia é “o caminho do
pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade”. É nesse ponto, que a
autora consegue aproximar o abstrato ao concreto, o mundo teórico do empírico, ao

3
Astley (1985) descreve os gatekeepers como aqueles pesquisadores seniores que controlam o campo,
responsáveis pelo sistema de avaliação formal de pesquisas, definindo outros trabalhos como
importantes ou insignificantes. Efetivamente, são eles que determinam o que conta ou não como
conhecimento válido.
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mesmo tempo em que abre espaço para que o pesquisador elabore suas técnicas,
combinando diferentes formas de abordagem em sua aproximação com o campo. Ao
elaborar a estratégia metodológica é preciso que o pesquisador tenha consciência das
implicações de suas escolhas, pois estas não apenas precisam dialogar com seu
referencial teórico, mas, principalmente, que o método lhe permita avançar
teoricamente a partir do quadro empírico e análise dos dados emergentes do campo
(EISENHARDT, 1989).
O pesquisador que tem seu interesse centrado em um fato empírico está
guiado por uma estrutura lógica do sistema teórico no qual se apoia ao procurar suas
respostas nos fatos. Contudo, não se pode esquecer que na perspectiva positivista o
tipo de explicação procurada é a descritiva, ou seja, a lei explicando os acontecimentos,
que podem ser previstos, fortemente arraigados em uma constância e repetição dos
dados observados. Para o pensamento contra hegemônico essa ideia configura uma
possibilidade altamente limitante, uma vez que desconsidera a compreensão subjetiva
dos fenômenos, a pesquisa intuitiva e suas essências, circunscrevendo o
conhecimento em simples detalhamento daquilo que é observado (BRUYNE; HERMAN;
SCHOUTHEETE, 1987).
Lather (1986), ao discutir a validade dos achados na pesquisa qualitativa,
repousa sua preocupação na produção de conhecimentos socialmente úteis, na busca
por um mundo mais equitativo. Isso não quer dizer que o rigor e a relevância das
pesquisas qualitativas possam ser postos de lado, muito pelo contrário, a tarefa mais
importante está na construção de procedimentos que protejam o trabalho acadêmico
daquilo que o autor chamou de “nossas paixões”, ou ainda um avanço em direção a
"um novo rigor de suavidade", uma "validade do conhecimento em processo", ou uma
"subjetividade objetiva".
Assim, recuperemos Paulo Freire em seus pensamentos sobre a necessidade
de se ter a convicção que mudar a sociedade é possível no processo ensino-
aprendizagem. Processo este que não requer alto grau de sofisticação, mas requer a
presença de requisitos básicos importantes, tais como estímulo a curiosidade, ter
segurança, competência, generosidade, comprometimento com o outro. Uma pesquisa
pode ser vista como um processo análogo, ou seja, um processo de aprendizagem,
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ensino e desenvolvimento do campo de conhecimento, ou seja, requisitos básicos


necessários para que pesquisa e pesquisador possam se construir mutualmente
(FREIRE, 1996).

2.4 ANÁLISE

A análise é o ponto mais caro em uma pesquisa. É o espaço no qual se procura


responder à pergunta: “por que se analisa algo?”. Partindo do pensamento dialético
uma possibilidade de resposta: é para compreender a “coisa em si” construindo uma
compreensão do real, que considere a totalidade não apenas dinâmica, como em
constante construção social (HASSARD, 1991). Esse autor considera que a atividade
analítico-abstrativa estabelece forte relação entre o fenômeno e a essência, bem como
reflete conexões entre as diferentes formas de pensamento e os sujeitos.
Ao pesquisador cabe assumir o compromisso de desenvolver um referencial
teórico que possibilite não apenas a análise de práticas sociais institucionalizadas, mas
que privilegie uma análise de práticas, de diferenças culturais, identidades e
reconhecimentos (CASEY, 2002a). Para esse autor, o comprometimento do
pesquisador precisa ser maior em relação a subjetividade do que com a racionalidade,
em um movimento contrário à produção de conhecimento dominada por uma
racionalidade instrumental. Entretanto, para isso é necessário reconhecer os limites de
seu campo de atuação, agindo criticamente em relação a eles. Nesse sentido, corrobora
Castro (2006, p. 23): “em ciência definimos o problema que queremos examinar,
decidimos os métodos e fontes de informações a serem usados (...). Daí em diante não
decidimos mais nada. Não somos donos do resultado”.
É na análise que está a possibilidade de oferecer contribuições para o campo
de conhecimento – Estudos Organizacionais – demonstrando lacunas teóricas, que
não respondem ao fenômeno investigado, no qual se pode avançar e qualificar o
trabalho teoricamente. Essa dinâmica, se mantida, rompe com a prática de testar e
desenvolver modelos de sistemas naturais que pretensamente enfatizam a natureza
"inteira" e interdependente do sistema e suas partes, que corroboram a
instrumentalidade racional da organização moderna (CASEY, 2002b). A questão que se
coloca é se é possível romper com a tradição fortemente arraigada, comercialmente

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destacada, de uma ciência que se move ciclicamente na direção do polo dominante,


“limpa”, hegemônica, funcionalista-positivista, pronta para ser “consumida” como um
produto em uma prateleira de supermercado (CASEY, 2002a).
Nesse sentido, chama a atenção quando Casey (2002c) afirma que a
emancipação humana da dominação desafia convenções culturais, formas de
conhecimento dominantes, buscando compreender o mundo real como um campo de
forças concorrentes e demandas contraditórias. O conhecimento utilitarista e
fragmentado repleto de incoerências deslocam tantos conhecimentos socioculturais,
quanto morais das práticas, mantendo-as servas do poder, guiadas por interesses
ideológicos de novas incorporações e colonizações.
Analisar as organizações, a partir de princípios socioculturais que permeiam as
práticas, é diferente de buscar nessas mesmas práticas um novo institucionalismo que
module a teoria e busque apenas resoluções de problemas, ou políticas internas para
que as organizações continuem sendo estruturas burocráticas complexas (CASEY,
2002c). Seguindo esses princípios, o valor de uma teoria organizacional reduzir-se-ia a
prever os fenômenos para poder controla-los, atendendo aos interesses das classes
dominantes em acomodar os conflitos (GABRIEL, 2002).
São os paradigmas que definem fundamentalmente diferentes perspectivas
para análises do fenômeno social. Assim, Hassard (1991) propõe uma outra
metodologia para a análise organizacional, a partir da pesquisa de múltiplos
paradigmas. Da mesma forma, Gabriel (2002) apresenta no uso do recurso de uma
análise paragramática, uma espécie de bricolagem (termo recuperado de Michel de
Certeau4), uma concepção que envolve uma compreensão da inteligência prática no
uso das teorias organizacionais, somada a habilidade de distinguir quando e como
utilizá-las. Um saber prático que envolve a correta teorização aplicada em diferentes
circunstâncias, superando a teorização circunscrita em si mesma.
Nesse ponto, os marxianos apresentam certa vantagem em suas análises,
propiciada pela própria teoria que parte do real, em busca das relações concretas desse
real (aparência) para compreender historicamente os fenômenos. O método dialético

4
CERTEAU, M de. A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer / Michel de Certeau; Tradução de Ephraim
Ferreira Alves. 22ª Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
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contrapõe essência (história) e aparência (presente) o tempo todo, questionando como


a essência se revela e se oculta em determinado fenômeno. Um esforço de abstração
no qual o concreto só pode ser atingido por meio da mediação do pensamento crítico
científico. Contudo, há na dialética o entendimento que as abstrações representam
parcialmente o real, ou seja, o pensamento estabelece uma relação com o real,
apreendendo-o sempre de modo limitado (ZAGO, 2013). Em suma, é na análise que se
evidencia a intrínseca relação entre teoria e prática, possibilitando o avanço no para o
campo de conhecimento.

2.5 POLÍTICA

O que seria afinal de contas o elemento político de uma pesquisa? Aliás, por
que se preocupar com questões políticas? Pois bem, é no nível político que o
pesquisador mobiliza seu trabalho para mudanças, no qual aponta possibilidades, faz
denúncias, assumindo uma agenda de implicações futuras. Ademais, a pesquisa é uma
oportunidade na qual o sujeito pesquisador busca superar suas próprias limitações, –
fantasiosas (advindas de seu conhecimento parco do mundo), ou reais (resultado de
contingências impostas à pesquisa e ao pesquisador) – expandir em conhecimento a
partir das contribuições teóricas, mas ir além oferecendo contribuições práticas à
sociedade.
Apesar de não se deixar cair no relativismo, nem na generalização, não
podemos esquecer que todo conhecimento está apoiado em ideologias legitimadas,
lastreadas por comunidades científicas específicas, resultado de diferentes
perspectivas intelectuais. Em outras palavras, o conhecimento produzido não passa de
um subconjunto das ideias, "visões de mundo" que fornecem interpretações
(pseudo)coerentes do mundo e diretrizes para lidar com ele (BERMAN, 2011).
Podemos pensar em ideologias que competem o tempo todo, mas o que faz
uma prevalecer sobre outra? Para Blith (2011) a resposta está no papel vital das ideias
em produzirem a estabilidade como certa para um mundo dinâmico de desequilíbrio,
resultante de interesses localizados. Dito de outro modo, o que é conhecido, o que não
é conhecido é, por vezes, envolto de uma “cortina de fumaça” em torno de interesses
maiores fortemente dissimulados (MEHTA, 2011). A ciência carrega consigo uma

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imagem de respeito e credibilidade, por isso pode ser usada em diferentes âmbitos com
o intuito de influenciar a sociedade, aumentando o valor atribuído àquilo que foi dito, ou
ainda, de um produto ao qual se pretende comercializar (ALVES, 2002; CASTRO, 2006).
Assim, não se pode ignorar a existência de interesses materiais que buscam
uma simplificação da realidade política e social, com o propósito de tornar essa
realidade mais favorável ao desenvolvimento de uma ciência naturalista e,
especificamente, uma ciência preditiva (HAY, 2011). Blackler (2011) sugere que
devemos estudar a política como uma produção do desenvolvimento coletivo presente
nas práticas cotidianas perpassadas por relações de poder.
No mesmo sentido, Avelino (2017) defende a tese de que a confissão – nos
termos cristãos – é a principal fonte de sujeição das pessoas aos modos de vida
modernos, pois deslocam as conformidades políticas e práticas da vida social do polo
objetivo para o subjetivo. Para o autor, a confissão, realizada em primeira pessoa,
expressa uma relação de poder na qual se impõe ao confessante uma admissão de
culpa, comprovando uma profunda reflexão em relação às crenças calcadas nos
princípios da confissão. Ou seja, um retorno às crenças.
Destarte, precisamos diferenciar nossas considerações para conseguir
distinguir se nossos conhecimentos estão baseados em nossos próprios julgamentos
e inferências, ou se estão baseados em evidências (CASSAM, 2012). Mas, por que isso
é importante? Para o pesquisador consciente de suas limitações, faz-se importante
pensar na possibilidade de produção de um texto que estimule a reflexão, não apenas
sobre o objeto, mas sobre a autoridade da crítica realizada, que igualmente expõe o
posicionamento político de seu produtor. Blackler (2011) questiona ainda o uso e os
entendimentos dos conceitos de “poder” e “política” na teoria da Administração,
argumentando que esses conceitos são utilizados de forma vaga, não criteriosas, e,
consequentemente, não explora a potencialidade e a real presença destes termos no
cotidiano organizacional.
Recordemos então as palavras de Giddens (1991, p. 49) “a reflexividade da vida
social moderna consiste no fato de que as práticas sociais são constantemente
examinadas e reformadas à luz de informação renovada sobre as próprias práticas,
alterando assim constitutivamente seu caráter”. Tanto as práticas sociais, quanto o
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conhecimento dessas práticas, a geração de informação, a produção de saberes está


em constante desdobramento, a cada discurso produzido emergem novas realidades
possíveis a partir do dissenso e não do consenso. Essas “novas realidades” são ricas
fontes para novas investigações as quais o pesquisador social precisa estar atento.

2.6 ÉTICA

Se no nível político da pesquisa já aparecem questões sensíveis que dependem


de decisões do pesquisador, no eixo ético é que tais pontos se tornam ainda mais
evidentes. É nesse tópico que a pesquisa social pode tomar rumos significativos, de um
lado a ciência, do outro a relevância social. Pode a ciência ser livre de valor? Pode, em
nome do desenvolvimento do conhecimento, passar por cima de questões morais?
Existe caminho possível para as ciências sociais, ou este será sempre uma estrada de
mão única?
Rollin (2006) defende que como uma atividade humana, incorporada em um
contexto de cultura e dirigida a problemas humanos reais, a ciência não pode ser livre
de valor, nem mesmo livre de ética. De maneira geral, muitos cientistas afirmam que as
experiências controladas são uma fonte de conhecimento relevante, que ensaios
clínicos duplamente cegos fornecem melhores provas de hipóteses e que ciência é um
caminho melhor para o conhecimento da realidade do que o misticismo. Nessas
afirmações encontramos julgamentos de valor como pressupostos para a ciência, ou
seja, não são juízos de valor éticos, mas sim epistêmicos, suficientes para mostrar que
a ciência depende dos julgamentos de valor.
Dito de outra forma, a escolha do método científico, ou abordagem representa
uma questão de valor, como também o são optar por ideologias enraizadas, atrativas
porque são capazes de fornecer respostas rápidas para perguntas difíceis. Entretanto,
segundo Rollin (2006), a ideologia restringe o pensamento, pois não atinge questões-
chave, nas palavras do autor:

A sutileza intelectual e a poderosa ferramenta da razão são totalmente


perdidas por excessivas simplificações, nos quais os exemplos de
contraposição são ignorados [...] a ideologia domina e ofusca tanto o
senso comum como a decência comum, mesmo entre os mais
civilizados (ROLLIN, 2006, p. 13-14, tradução nossa).

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Responder a essas e tantas outras questões que perpassam o pesquisador e


seu trabalho, estamos colocando em oposição tipos de racionalidades que competem
entre si durante a produção científica. Segundo Nielsen (1983), para que possa haver
uma ciência social que leve em consideração tanto aspectos humanos como rigor e
responsabilidade, algumas questões precisam ser levantadas. A primeira se refere a
como a relação entre pesquisa social e ação política devem ser concebidas, a segunda
trata-se da responsabilidade moral dos cientistas sociais para com a sociedade, e, por
fim, deve-se questionar qual o tipo de racionalidade pode existir nas ciências sociais
para que se favoreça o desenvolvimento de políticas sociais. Reivindicações sobre
conhecimentos e suas metodologias estão longe de estar seguros, uma vez que o
próprio conceito de objetividade é ambíguo e a condição de objetividade nas ciências
sociais pouco clara. Não há nem mesmo consenso sobre a natureza das ciências
sociais, ou do conceito de ciência de modo geral.
Desse modo, Nielsen (1983) discute o conceito de emancipação nas ciências
sociais e suas consequências para a ação política, criticando o cientificismo que se
apresenta como uma ideologia. Para esse autor, o caminho é uma profunda
restruturação do materialismo histórico, enquanto possibilidade para se fazer
julgamentos sobre a evolução social, praticando e defendendo a crítica social como
uma das funções legitimas da pesquisa social. Questiona ainda os padrões sobre o que
é verdadeiro, falso, importante ou não, uma vez que estes padrões se afastam de
objetivos considerados desejáveis, emancipatórios ou mesmo condizentes com a
necessidades e interesses humanos.
Nesse sentido, Schramm (2004) propõe que o papel da ciência é estar atenta à
percepção social e prestação de contas da pesquisa para os indivíduos e sociedade.
Ou ainda, na forma da produção de conhecimento é gerada na junção do (1) saber
teórico (mundo das ideias), com o (2) saber prático (presente nas relações entre os
atores sociais) e o saber poiético (fabricação dos objetos). Dessa forma, todo saber
humano está contido na dialética conflito e cooperação, que molda sociedades
históricas, uma ética do saber prático presente nas inter-relações humanas e,
consequentemente, de implicações em ações morais. Assim, a pesquisa deve ser

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"moralmente aceitável", "socialmente relevante" e ainda "válida do ponto de vista


epistemológico e metodológico" (SCHRAMM, 2004).
Marsiano et al (2008) afirma que é a ética da e na pesquisa é fundamental,
independentemente de seu campo de atuação e da área. Para o autor, nas áreas ligadas
à saúde do ser humano fica mais evidente esta necessidade, uma vez que as pesquisas
podem incorrer em consequências imprevisíveis, bem como afetar a integridade física
e/ou psíquica das pessoas envolvidas. Portanto, é imprescindível que princípios como:
consentimento do sujeito, manutenção da privacidade das informações do sujeito,
aprovação pelos pares e pela comunidade, estejam presentes em quaisquer pesquisas.
A resolução nº 466 de 12 de dezembro de 2012 visa assegurar ao indivíduo e à
coletividade que seus princípios não possam ser feridos, e em caso de violações, que
os responsáveis respondam nos rigores da lei, garantindo assim que não se cometam
abusos em nome do desenvolvimento da ciência (BRASIL, 2013).
Apesar das instâncias oficiais como comitês, comissões e diretrizes de
apreciação, há diferenças substanciais entre ética processual e ética prática. Guerreiro
e Bosi (2015) denunciam discrepâncias presentes nos comitês de ética, que não estão
tão familiarizados com as particularidades das pesquisas qualitativas, voltados muito
mais a uma concepção positivista da ciência. Para as autoras faz-se importante uma
dupla ruptura epistemológica para que, em primeiro lugar, possa haver certo
distanciamento entre ciência e senso comum; para que em seguida o conhecimento
científico possa substituir o senso comum por outra espécie de conhecimento
informado. Outra questão relevante são as avaliações que medem o mérito científico
que, feitas de forma inadequadas, estariam longe de apontar corretamente para
implicações éticas envolvidas nas práticas de pesquisa.
Em sua revisão sobre a institucionalização da regulação ética nas
investigações científicas, nos EUA e Reino Unido, Roriz e Padez (2017), com foco
principal nos debates em torno das práticas etnográficas e investigações sociais,
defendem a incomensurabilidade do modelo atual de regulação dessas práticas. As
autoras, propõem o uso do método etnográfico como uma via alternativa na pesquisa
de campo, entendendo que este favorece a reflexividade, colocando-se como uma
maneira de garantir tanto uma prática de investigação rigorosa, como que esta seja
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igualmente ética. Ademais, como sustentam as autoras, a postura reflexiva do


pesquisador faz com que este não apenas reconheça, mas se sensibilize com as
dimensões éticas no cotidiano da pesquisa.
A discussão da ética na ciência não é assunto novo, entretanto não há como
discuti-la de forma isolada, tampouco pode estar ausente, não apenas na consciência,
como na alma do pesquisador. O tecnicismo, a “pureza” científica não podem ser
usados como desculpa para eximir o pesquisador de sua responsabilidade social, de
suas responsabilidades enquanto ser humano em respeitar o outro. Ou ainda, ser
justificativa para a indiferença que descola o discurso ético da prática da pesquisa.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste ensaio teórico buscamos oferecer diretrizes a serem consideradas na


construção de trabalhos acadêmicos a partir do uso de metodologias qualitativas. O
que procuramos fazer foi, acima de tudo, promover um debate que demonstrasse a
íntima relação entre sete eixos que consideramos indispensáveis na elaboração de
uma pesquisa acadêmica. Ainda que todo o referencial teórico esteja estruturado em
tópicos separados, salientamos que os temas estão intimamente imbricados. Do
mesmo modo, torna-se impossível a concepção de uma ciência repleta de conceitos
universais, mas deslocada da vida social.
O interesse do pesquisador ao fazer ciência não pode estar centrado apenas
no fato, mas também nas razões que o justificam. Assim, problemas, hipóteses e
especificações de pesquisa podem servir enquanto formas de focalização da atenção,
dirigidas para a combinação de várias dimensões de relacionamento entre o prático e
o teórico. Em outras palavras, são a motivação por trás das mudanças nas teorias e
nos modelos, sendo que é a escolha dos métodos e procedimentos que facilitarão a
definição do que pode ser conhecido e revelado (PLÜMACHER, 2012).
A teoria é quem vai explicar as variáveis, organizar os conceitos, a partir da
visão de mundo do pesquisador social. Nesse sentido, um conceito bem construído,
deve partir de um caso particular, ou seja, conter todas as características desse
particular, e, ainda assim, ser capaz de explicar um fenômeno universal. Contudo, assim

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como Zago (2013), é preciso perceber a realidade como infinitamente mais complexa
que a capacidade de descrever ou pensá-la.
Acreditamos que investigar os fenômenos organizacionais de forma isolada é
perder a riqueza das dinâmicas de interação que ocorrem no cotidiano das
organizações. Limita também as discussões que possibilitariam novos olhares e
entendimentos acerca das contradições, de necessidades intelectuais e de pontos de
interseção em um mundo no qual as estruturas estabelecidas estão em constante
movimento de transformação e adaptação.
Desse modo, é preciso acreditar que é possível compreender a vida humana,
socialmente organizada, de forma reflexiva, à medida que se estabelece conexões entre
forças políticas e individuais, entre pesquisador e pesquisados, permitindo que ambos
estejam presentes em igualdade de forças. Em outros termos, de “corpo e alma”. Fácil?
Certamente que não, porém acreditamos nessa possibilidade se a pesquisa for
desenvolvida valendo-se dos cuidados que sugeridos aqui, que demonstram por parte
do sujeito pesquisador seus valores éticos, morais, posicionamento político e, em certa
medida, coragem de assumir a relevância social como objetivo maior que os anseios
pelo fazer ciência.

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