UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS
BACHARELADO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
LUCAS BOSCHETTI
AYAHUASCA: UM OLHAR ETNOBOTÂNICO
PORTO ALEGRE
2019
LUCAS BOSCHETTI
AYAHUASCA: UM OLHAR ETNOBOTÂNICO
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado como requisito parcial para a
obtenção do grau de Bacharel em
Ciências Biológicas pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul.
Orientadora: Dr.ª Mara Rejane Ritter.
PORTO ALEGRE
2019
LUCAS BOSCHETTI
AYAHUASCA: UM OLHAR ETNOBOTÂNICO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a
obtenção do grau de Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul.
Aprovado em: ____ de ____________ de _________.
BANCA EXAMINADORA:
________________________________________
Profª Dra. Mara Rejane Ritter
(orientadora)
________________________________________
Prof.
________________________________________
Prof
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a cada pessoa que tiver o interesse em saber mais
sobre esta medicina ancestral, há milênios conhecida pela humanidade, antes
restrita aos limites da selva, mas que recentemente tem se expandido por todo
planeta. A todos os estudantes deste caminho de conhecimento que se abre, a
partir do primeiro contato com este chá, e com as imensidões que ele nos
proporciona reconhecer, ver e sentir. Que todos que receberem o chamado desta
medicina possam ir até ela com respeito para conhecer, humildade para aprender, e
com reverência por toda ancestralidade ligada a ele.
Dedico este estudo aos mantenedores das tradições nativas amazônicas, os
guardiões destes saberes, que comungam deste chá com respeito e reverência,
testemunhas dessa comunhão com uma divindade vegetal, e que nos deixaram
como legado o viver em harmonia com o Todo e o respeito à Mãe Terra.
AGRADECIMENTOS
Agradeço muito ao Grande Espírito, Pai/Mãe de toda Criação por nos dar o
dom da vida, uma família e um planeta maravilhoso para vivermos.
Agradeço em especial à minha família, meu pai Arlindo Boschetti, minha mãe
Ivone Joana Antoniolli Boschetti, que sempre me deu todo apoio e amparo para
seguir este curso até o fim, incentivando-me em momentos difíceis, pelo amor e
cuidado sempre ofertados, e pelo exemplo de honestidade e firmeza perante os
desafios da vida.
Aos meus irmãos Kaciane Boschetti e Juliano Boschetti pela parceria, pelo
exemplos, pelos conselhos e pelos laços de amor que nos unem.
Agradeço todos meus amigos, amigas, irmãos e irmãs de caminhada, por
cada encontro e cada oportunidade de partilhar momentos de nossas vidas,
enriquecendo muito nossa existência, incentivando e dando maior significado à
minha vida.
À Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) pela contribuição à
minha formação acadêmica.
À minha orientadora Professora Mara Rejane Ritter pelas orientações nesse
trabalho, pelas dicas, pela paciência, pela confiança, por seu trabalho de ensino e
pela dedicação às plantas e a todos seus alunos.
A todos os professores que tive o privilégio de ser aluno durante essa
graduação.
A todos os colegas que tive o prazer de conhecer neste curso, a galera do
DAIB, parceiros fundamentais para enfrentar as dificuldades e desafios que
encontramos na vivência acadêmica.
A todos os guias, mestres e professores que tenho encontrado pelo caminho.
“Olhe cada caminho com cuidado e atenção.
Tente-o tantas vezes quantas julgar necessárias...
Então, faça a si mesmo e apenas a si mesmo uma pergunta:
possui esse caminho um coração?
Em caso afirmativo, o caminho é bom.
Caso contrário, esse caminho não possui importância alguma.”
Carlos Castaneda
RESUMO
Este trabalho visa realizar uma revisão sobre alguns aspectos etnobotânicos
das plantas que compõem o composto medicinal indígena Ayahuasca. A ayahuasca,
bebida considerada uma medicina sagrada por inúmeros povos nativos amazônicos,
é resultado da fervura (decocção) do caule e/ou raízes do cipó Banisteriopsis caapi e
das folhas do arbusto Psychotria viridis. Estas espécies, nativas da região
Amazônica, têm enorme significado e importância, fazendo parte do cerne cultural
de inúmeras sociedades tradicionais, e muitas vezes sendo o elemento central do
próprio mito da criação na cosmovisão indígena.
Além de ser a principal via de acesso ao mundo espiritual em muitas culturas,
esta medicina, ou planta professora, também é quem ensina aos pajés e curadores
das tribos sobre as propriedades de todas as plantas da floresta. É utilizada também
em ritos de passagem, festas e em diferentes situações específicas dentro do
contexto tradicional.
Recentemente foi descoberta pelas sociedades urbanas e seu uso tem se
expandido em enorme velocidade por todo planeta, através de religiões organizadas,
grupos independentes e até mesmo pelas mãos de pajés e homens de
conhecimento tradicional que deixam suas tribos para levar esta medicina além de
suas fronteiras habituais. Suas propriedades estão sendo pesquisadas e estudadas
e muito se tem descoberto, embora pareça que estejamos apenas sondando um
mistério maior do que nossa imaginação possa alcançar. Por ser um tema que
apresenta aspectos fascinantes e ao mesmo tempo controversos para um estudo
acadêmico, em virtude de ser vista como uma medicina sagrada e de ter tanto seu
preparo quanto sua utilização originados em contextos espiritualistas, este trabalho
enfocou em apresentar tais questões, atrelando-as ao estudo etnobotânico.
Palavras-chaves: Banisteriopsis caapi; Psychotria viridis; Uni; Yage; Nixi Pae;
Caapi; Chacrona; Medicina Indígena.
LISTA DE FIGURAS
1 INTRODUÇÃO 9
2 MATERIAL E MÉTODOS 13
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 13
3.1 USO TRADICIONAL 13
3.2 BOTÂNICA 18
DESCOBERTA DO USO DA ESPÉCIE 22
CONSTITUINTES QUÍMICOS ATIVOS 24
3.3 O PREPARO DA BEBIDA 26
3.4 DADOS QUÍMICOS E ATIVIDADES BIOLÓGICAS 27
HARMINA 29
3.5 EFEITOS NO ORGANISMO 32
USO CERIMONIAL 34
3.6 REGULAMENTAÇÃO DA AYAHUASCA NO BRASIL 35
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 37
REFERENCIAS 40
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 13
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 13
3.1 USO TRADICIONAL............................................................................................ 13
3.2 BOTÂNICA .......................................................................................................... 18
DESCOBERTA DO USO DA ESPÉCIE .................................................................... 22
CONSTITUINTES QUÍMICOS ATIVOS .................................................................... 24
3.3 O PREPARO DA BEBIDA ................................................................................... 26
3.4 DADOS QUÍMICOS E ATIVIDADES BIOLÓGICAS ............................................ 27
HARMINA .................................................................................................................. 29
3.5 EFEITOS NO ORGANISMO ............................................................................... 32
USO CERIMONIAL ................................................................................................... 34
3.6 REGULAMENTAÇÃO DA AYAHUASCA NO BRASIL ........................................ 35
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 37
REFERENCIAS ......................................................................................................... 40
9
1 INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem por objetivo referenciar um pouco a ancestralidade da
medicina indígena ayahuasca que, em tempos de muito fluxo de informação e hiper
conectividade digital entre as pessoas, vem sendo buscada e, até mesmo, explorada
em circunstâncias diversas das principais tradições.
Este interesse, seguido pela busca dos registros e estudos científicos sobre a
ayahuasca, despertou a partir de vivências pessoais tanto em tribos amazônicas
quanto em comunidades ayahuasqueiras de diferentes tradições e ritualísticas.
Embora esse trabalho não seja etnográfico, é preocupação apontar que a inspiração
para esta investigação tenha surgido daquelas experiências e, por isso, apesar das
várias referências, a abordagem utilizada muitas vezes observa linguagem própria
desta cultura ayahuasqueira.
Sempre tive a convicção de que a linguagem humana não tem alcance
suficiente para descrever as experiências que este chá nos proporciona, mas vejo
que podemos, sim, investigar com métodos científicos e laborar com a linguagem
atual tecendo uma rica rede de conhecimentos empíricos e etnológicos sobre ela,
porém, sempre lembrando que a totalidade dos mundos que ela nos dá acesso está
muito além do alcance da compreensão de nossos mecanismos cognitivos, quiçá da
sua explanação.
Desde os primórdios da humanidade, diferentes rituais têm sido realizados na
tentativa de obter resultados nessa busca incansável pela aproximação e conexão
com o divino, o sagrado, a espiritualidade (OLIVEIRA; AMARAL, 2016).
Para este objetivo, os pajés, xamãs e homens de conhecimento de todas as
épocas utilizam diferentes meios ou técnicas. O antropólogo Mircea Eliade, um dos
mais reconhecidos estudiosos do xamanismo, definiu-as como “Técnicas Arcaicas
do êxtase” (ELIADE, 1975), como dança, canto, jejuns prolongados, práticas
respiratórias, preces, sonhos, entre outros. Assim, outro elemento recorrente de
importância fundamental para esta conexão com o Divino ao longo dos milênios são
as chamadas plantas sagradas, plantas de poder, plantas de conhecimento,
psicodélicos, enteógenos ou até mesmo alucinógenos.
Alucinógeno certamente não é uma nomenclatura apropriada, pois alucinação
é definida como um sintoma da enfermidade mental ou psiquiátrica, que é uma
10
distorção patológica das percepções e uma alteração das capacidades mentais
superiores, juízo e raciocínio (METZNER, 2002).
O termo "psicodélico" vem da raiz etimológica grega: psique (alma) delein
(manifestação), definido pelo psiquiatra Humphry Osmond (1917 - 2004) como
"o que revela a mente". Historicamente foi associado à utilização individual
e lúdica de substâncias sintéticas (principalmente o LSD e MDMA) e ao uso
descontrolado, embora tenha iniciado com sérias pesquisas etnofarmacológicas e
bioquímicas, mais especificamente na área da psicoterapia associadas à descoberta
do LSD (AARONSON; OSMOND, 1970).
O termo mais aceito e utilizado pelos pesquisadores para se referir a estas
plantas é enteógeno. Enteógeno, ou enteogênico é um neologismo criado pelos
pesquisadores Jonathan Ott, Gordon Wasson e Carl A. P. Ruckque, (do grego: 'en':
dentro/interno, 'theo': deus ou divindade, 'genos': gerador) (OTT, 1993), significando
literalmente um gerador da divindade interna. Do ponto de vista farmacológico, é
uma ou mais substâncias atuando em conjunto, capazes de alterar a consciência
sem provocar alucinações e que despertam aspectos religiosos nos indivíduos
(RUCK et al., 1992). O Antropólogo mexicano Julio Glockner (2008) afirma que não
é apenas uma questão de criar mais um termo no vocabulário, mas que a própria
palavra enteógeno aponta para um uso sagrado e respeitoso destas plantas,
enquanto o termo alucinógeno, que significa ofuscar, seduzir ou enganar, acaba
afirmando um caráter pejorativo, que cria uma distorção no entendimento das
cosmovisões indígenas (NEIDI, 2016).
Há também o termo psicointegrador, menos utilizado, mas bastante
apropriado e mais abrangente, significando: “o papel simultaneamente terapêutico,
religioso, espiritual e medicinal destas plantas, que tem implicações para o
entendimento tanto da natureza da consciência humana como para o espiritual”
(WINKELMAN, 1996; LUNA, 2005).
O estudo sobre os entéogenos em seres humanos torna-se importante, pois
tais substâncias afetam uma série de funções no cérebro que normalmente
caracterizam a mente humana, incluindo a cognição, o ego e a autoconsciência. Há
evidências arqueológicas para o uso de substâncias psicoativas que remontam pelo
menos 10.000 anos (RADENKOVA, 2011).
Nos últimos 60 anos, tem-se estudado muito estas plantas e substâncias, não
apenas pelo potencial de uso na psicoterapia e na medicina, como também na
11
expansão da consciência, no desenvolvimento da criatividade e como facilitadores
da investigação espiritual. Nesse sentido, Rose e Langdon (2010) ressaltam que o
uso dos enteógenos no mundo atual fazem uma ligação intima entre espiritualidade
e saúde psíquica, associando essas plantas a noções contemporâneas de
autoconhecimento e terapia.
Cada região do planeta, assim como muitas civilizações antigas, possuía em
sua cultura uma ou mais plantas consideradas sagradas, que permitiam o contato
com o mundo espiritual. Podemos citar como exemplo o cacto Peyote (Lophophora
williamsii) utilizado há milênios por tribos antigas do México e Estados Unidos, e até
hoje utilizado, cujo principal princípio ativo identificado é a mescalina. A Iboga
(Tabernanthe iboga), uma árvore africana cuja raiz contém a substância ibogaína,
faz parte de ritos de passagens e está no centro da religião bwiti, no Gabão e no
Congo. Pode-se citar, ainda, o uso de fungos, como os cogumelos psilocibínicos
(teonanacatl), que eram amplamente utilizados por diversas culturas da América
Central, e povos de amplo conhecimento como os Maias, Astecas e Toltecas
(GROF, 1997; METZNER, 2002). Nos exemplos citados, tratam-se de plantas e
fungos utilizados no âmbito de rituais sagrados, de conexão com a Divindade, com o
Infinito, pautados por cosmologias que lhes conferem sentido.
Como se pode verificar, plantas com propriedades psicoativas vem sendo
utilizadas há milênios, com finalidades místicas e religiosas em diferentes culturas
primitivas. Estas plantas, assim como outras de propriedade similar, são chamadas
de plantas professoras, ou plantas maestras devido às informações e ensinos
compartilhadas por elas a seus usuários (LUNA, 1984). Em todos os lugares do
mundo onde os enteógenos foram utilizados, sempre estiveram ligados à autocura e
à regeneração mágica (MCKENNA, 1992).
Um bom número de cientistas e psicólogos ocidentais admite que tais
substâncias podem propiciar o acesso às dimensões espirituais, ou transpessoais da
consciência, além de terem proporcionado experiências místicas no seio da
religiosidade clássica, tanto no Ocidente como no Oriente (METZNER, 2002).
Esta religiosidade ancestral é atualmente chamada por muitos pesquisadores
de Xamanismo, que pode ser entendido como a primeira forma do ser humano se
conectar ao Sagrado. Suas origens podem ser estipuladas há 40 ou 50 mil anos
atrás, no período Paleolítico. A palavra, em si, tem origem na Sibéria, Saman,
significando “aquele que é inspirado pelos espíritos” e foi amplamente adotada pelos
12
antropólogos para definir um conjunto de práticas ancestrais de cura, êxtase,
devoção e conexão com o transcendente. Esse conjunto de práticas ancestrais
encontrado por todo o planeta, com diferentes expressões, o que o transforma num
fenômeno universal, essencialmente humano. O Xamanismo é a forma mais arcaica
de conhecimento da humanidade, em seus fundamentos está o reconhecimento do
sagrado e do transcendente, a interconectividade de tudo e todos, necessidade de
expansão da consciência humana e a comunicação com outros mundos, dimensões
e realidades (WILLIANS, 2013; FROTA, 2017).
E neste universo das plantas enteógenas, encontram-se as plantas utilizadas
na preparação da Ayahuasca, uma bebida psicoativa milenar utilizada
ritualisticamente por diversas tribos amazônicas. A palavra Ayahuasca é de origem
Quéchua, sendo que Aya significa alma, espírito, e huasca significa cipó, liana.
Assim, a tradução seria algo como: ‘cipó dos mortos’ ou ‘cipó das almas’ ou mesmo
‘vinho das almas’ (SHULTES, 1957; LABATE, 2004). A ayahuasca é resultado da
fervura (decocção) do caule e/ou raízes do cipó Banisteriopsis caapi e das folhas do
arbusto Psychotria viridis, nativas da região Amazônica.
Após centenas de anos, o homem branco começa a mudar a perspectiva
moral e se interessa por conhecer e estudar conhecimentos tradicionais dos povos
nativos e os extraordinários efeitos dessas plantas, até então menosprezadas.
(GERMÁN, 2009)
Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão etnobotânica
abordando diferentes aspectos onde a ayahuasca está tradicionalmente inserida,
buscando conscentizar sobre sua enorme relevância medicinal, cultural, religiosa,
histórica e antropológica nas sociedades tradicionais e contemporânea. Seu estudo
está diretamente ligado á etnobotânica pois as espécies vegetais que a compõem
estão intimamente enraizadas em diversas populações amazônicas à milênios, e
atualmente estão em um processo de contínua expansão e transformação de sua
forma de uso, se adaptando às mais diversas tradiçôes e culturas do planeta. Com o
aumento do consumo e da demanda da ayahuasca em escala global, devemos
também atentar para a conservação dessas espécies, para o plantio sustentável e o
manejo da sua produção.
13
2 MATERIAL E MÉTODOS
Para a busca de dados sobre a Ayahuasca, foram consultados livros e artigos
científicos de autores clássicos, com ampla experiência na área dos enteógenos e
que possuem reconhecimento internacional, como Claudio Naranjo, Ralph Metzner,
Bia Labate, Denis Mckenna & Terence Mckenna, Albert Hofmann e Richard Evans
Schultes. Foram escolhidos estes autores em especial pois eles de fato tiveram
experièncias direta com os enteógenos, e estão mais habilitados a falar sobre o
assunto de forma mais profunda e significativa.
Além do estudo das obras destes autores, foram realizadas pesquisas em
bancos de dados cientificos, como Science Direct 1, SciELO2 e Capes3 com os
termos ayahuasca, Banisteriopsis caapi, Psycotria viridis.
Para compor o trabalho, inicialmente foram elencados os temas a serem
abordados, e então feitas diversas leituras em diferentes fontes e compiladas as
informações mais relevantes e que estavam em sintonia com o restante do trabalho.
Certamente este trabalho não esgota o assunto, pois há ainda muito a se
estudar neste tema, ainda muito pouco explorado.
Também buscou-se informações em alguns sites da internet e bancos de
dados botânicos como o Flora do Brasil.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 USO TRADICIONAL
Segundo Carneiro (2005), ao menos 70 grupos indígenas tradicionais
preparam e utilizam ayahuasca, conhecida também por outros nomes como: Yagé,
na língua tucano; Natema, para os jivaros; Iyona em záparo; Nishi em shipibo
(NARANJO, 2015);Uni, pelo povo Yawanawa, habitantes das margens do rio
Gregório e Nixi Pae pelos Huni Kuins, que habitam as margens do Rio Jordão e
Envira, ambas no estado do Acre (LUZ, 2009).
1
Disponível em: https://www.sciencedirect.com/. Acesso em: 30 mai. 2019.
2
Disponível em: https://www.scielo.org/. Acesso em: 30 mai. 2019.
3
Disponível em: https://www.periodicos.capes.gov.br/. Acesso em: 30 mai. 2019.
14
A ayahuasca constitui um dos elementos centrais nas práticas do xamanismo
indígena amazônico, de curandeirismo mestiço e de religiões sincréticas ao
cristianismo, indigenismo e afro-brasileirismo (FRÓES, 1986). Seu uso ritual é muito
antigo, alguns historiadores e antropólogos, como Labate e Araújo (2002) e Lima e
Naves (1998), que estimam que seu uso ocorre desde tempos pré-colombianos, no
império Inca. Os estudos antropológicos dos últimos 30 anos mostram que, apesar
de mais de quinhentos anos de perseguição, genocídio e barbárie, a sabedoria
xamânica ainda se conserva viva em muitos povos nativos Americanos (GÉRMAN,
2009).
Essa bebida possui inúmeros usos dentro das tradições nativas, sendo
utilizada para cura, como um oráculo vivo e também como um veículo que conduz
ao mundo espiritual. Como ressalta Naranjo (2015), “As culturas xamânicas
compreendem que além da cura de certas enfermidades, o caminho da ayahuasca
serve para aprender a transcender a própria vida”. Neste contexto, é importante
também observarmos que o significado de cura é bem mais amplo, não sendo
simplesmente a solução ou fim de alguma doença específica, mas uma realização
da meta do processo de crescimento integral, pessoal e transpessoal, uma
integração biopsico-sócio-espiritual (BANDEIRA, 2015).
As substâncias químicas da transformação e revelação que abrem os
circuitos da luz, da visão e da comunicação, que nós chamamos de
manifestadoras da mente, eram conhecidas pelos indígenas americanos
como medicinas. Os meios que davam ao homem o poder de curar e
conhecer, de ver e dizer a verdade. (MUNN, 1976, p. 96).
Para compreender a posição que a ayahuasca ocupa dentro das sociedades
tradicionais que fazem seu uso, é necessário estudar e observar todo o contexto da
cultura, da mitologia, e da cosmovisão destas tribos. O universo místico que envolve
o estudo destas espécies é de difícil análise empírica, uma vez que envolve muitos
aspectos subjetivos e não cartesianos (LABATE; ARAÚJO, 2009).
Para o antropólogo Edward Macrae (1992), as plantas que compõem a
ayahuasca são sagradas e estão a serviço das sociedades que dela utilizam.
Representam um elo entre o profano e o sagrado, sendo uma das formas na qual os
homens penetram no mundo dos espíritos.
Algumas etnias brasileiras como os Ashaninka e diversas outras pertencentes
ao tronco linguístico Pano (Jaminawá, Marubo, Katukina, Kaxinawá, Yawanawá,
15
Shawandawa, entre outras) fazem ainda o uso a ayahuasca em rituais de
"pajelança" que está, diretamente, ligada aos “seres encantados”, na compreensão
dos fenômenos naturais e em trabalhos de cura (LUZ, 2009).
Reichel-Dolmatoff (1972), um antropólogo que passou a maior parte de sua
vida entre os índios da Colômbia, Peru e Bolívia, registrou muitas histórias tribais
nas quais a ayahuasca está no centro do mito original da criação. Os Shuaras das
florestas do Equador e do Peru acreditam que a ayahuasca revela a verdadeira
realidade, e até mesmo as crianças pequenas a bebem diluída para ver o mundo
real e se conectar a um espírito ancestral que as ajudará em seus primeiros anos
(PRATT, 2007).
Dentro da tradição Kaxinawa, ou Huni Kuin, presentes no Brasil e Peru, tanto
a ayahuasca como o cipó Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.)Morton são
chamados Nixi pae (KENSINGER, 1973, p.10), que significa “cipó da força”, “cipó
forte”, ou “cipó da embriaguez”.
Segundo Lagrou (1991), para o povo Huni Kuin o conceito de natureza está
próximo ao conceito grego de physis, onde a natureza possui alma, inteligência e
vontade própria. Isso fica evidente quando estudamos o conceito nativo de Yuxin,
para quem o espírito é visto como uma força viva que anima toda existência, uma
força vital que permeia todo fenômeno vivo. Sem Yuxin, tudo seria apenas pó,
matéria, Yuxin preenche a manifestação da matéria de vida. Nesse caso, fica
evidente uma interconectividade de toda a vida, que é animada por uma força que
dá vida a todos, sem distinção.
Na vida cotidiana, no estado ordinário de consciência, podemos perceber
apenas a superfície da manifestação, não se revelando os aspectos mais sutis.
Neste estado conseguimos ver apenas os corpos, a matéria e suas utilidades.
Porém quando se adentra nos níveis expandidos e amplificados de consciência,
através do Nixi Pae, podemos nos defrontar com o outro lado da realidade,
percebendo todo o mundo espiritual e os yuxins, podemos assim também perceber
os seres espirituais como iguais (LUZ, 2009).
Perceber o lado oculto da realidade é a razão pela qual se bebe Nixi Pae.
Outro motivo fundamental pelo qual é feita a ingestão do chá é para preparar-se
para a morte, pois através do acesso ao mundo espiritual, pode-se reconhecer a si
mesmo como aquele que anima o corpo, não como o corpo em si (LUZ, 2009).
16
Dentro da mitologia HuniKuin, é marcante também a presença dos Kenes,
figuras geométricas, simples ou muito complexas, reveladas em visão pelo NixiPae:
Vemos assim a articulação do tempo mítico com o tempo presente, através
dos padrões de uso e finalidade que ainda envolvem o uso do NixiPae.
Demonstrando este fato, a continuidade e a antiguidade dos traços culturais
ligados a ingestão da bebida feita a partir do Banesteriopsis caapi” (LUZ,
2009, p.40).
O Xamã colombiano Siboundoy invariavelmente afirmava que era por meio da
ayahuasca que era possível conhecer o mundo:
O Yagé é a força que tem poder, vontade e conhecimento, com ele
podemos ir às estrelas, entrar nas plantas, nas montanhas, no espírito de
outras pessoas, conhecer o seu desejo de fazer o bem ou o mal, podemos
conhecer o futuro de nossa vida e da dos outros, ver as enfermidades e
curá-las, com ele se pode ir ao céu e ao inferno (JARA et al., 1986, p. 171).
Os Tukano, sociedade tribal localizada na região do Vaupés, Colômbia,
segundo Dolmatoff: “Tomam ayahuasca com o propósito de retornar ao útero, a
fonte e origem de todas as coisas, em que o indivíduo vê as divindades tribais, a
criação dos animais, e o estabelecimento da ordem social” (FURST, 1980, p. 96-97).
Para os Ashaninka, B.caapi é chamado Kamarampi, que é um legado de
Pawa (o Sol) que deixou a bebida para que eles pudessem adquirir conhecimento e
aprendessem como se deve viver na Terra. Com o conhecimento e o aprendizado
xamânicos (sheripiari), obtém-se a resposta a todas as perguntas dos homens. É
através da ayahuasca que os pajés realizam suas viagens aos outros mundos e
adquirem a sabedoria para curar os males e as doenças que afetam a comunidade 4.
Outro termo usado para o cipó é Hananeroca, que significa “cipó do rio celestial”. Em
sua cultura, a planta está etimologicamente ligada ao pós-morte e à eternidade, pois
o rio celestial é o lugar onde a alma dos mortos se banham para trocar de pele,
tornando-as, assim, eternas (LUZ, 2004). Para Weiss (1969), o uso de B.caapi para
os Ashaninka é um dos elementos básicos de sua cosmologia, mitologia e sistema
religioso. Nesta cultura, inclusive, é tradição o fato de deixar uma tigela com
ayahuasca na sepultura dos homens recém-falecidos (WEISS,1969).
4
PIB. Povos Indígenas no Brasil. Povo Ashaninka. Instituto Sócio Ambiental – ISA. Disponível em:
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Ashaninka. Acesso em: 30 mai. 2019.
17
Mendes (1991) compilou várias histórias e mitos Ashaninka, muitas
envolvendo a ayahuasca. Há um que retrata a destruição do mundo por um dilúvio,
onde através de visões e revelações sob efeito do chá, os pajés (sheripiari)
conseguiram prever as chuvas e construir embarcações para salvar os que
acreditavam no que eles haviam previsto.
Um fator em comum em muitas tradições ayahuasqueiras é o uso da voz para
modular a experiência e conduzir as cerimônias. Mckenna (1992) comenta que a
experiência induzida pela ayahuasca inclui tapeçarias extremamente ricas e
sofisticadas de complexos padrões visuais, que são suscetíveis ao som,
especialmente ao som vocal. Assim, um dos grandes legados culturais destes povos
é um imenso repositório de icaros, ou canções mágicas.
As circunstâncias nas quais a ayahuasca é consumida entre os grupos
indígenas Amazónicos variam consideravelmente, e, em certas ocasiões, trata-se de
cerimônias coletivas de caráter mágico-religioso, por exemplo, os ritos de iniciação
dos jovens e os ritos funerários. Outras vezes é um só indivíduo, geralmente um
pajé ou curandeiro, que consome a bebida, seja para fazer o diagnóstico de uma
enfermidade e adivinhar sua cura (NARANJO, 2015).
Além do uso indígena associado ao xamanismo, outra modalidade de
consumo deste cipó é a do Vegetalismo, uma forma de medicina popular à base de
psicoativos vegetais, cantos e dietas específicas. Os vegetalistas são curandeiros
(curadores) de populações rurais do Peru e da Colômbia que mantêm elementos de
antigos conhecimentos indígenas sobre as plantas, ao mesmo tempo em que
absorvem e integram algumas influências do cristianismo, do esoterismo europeu e
do meio urbano local (DOBKIN DE RIOS, 1972; LUNA, 1986).
É comum que os vegetalistas se especializem em algumas poucas plantas
específicas, utilizando-as em suas práticas. Assim, há tabaqueiros, que usam
tabaco, Toeros que usam várias espécies de Toe, Brugmansia sp. Catahueros que
usam resina de Catahua (Hura crepitans), perfumeros que utilizam diversas plantas
com poderosos aromas e perfumes, e, por fim, ayahuasqueros que utilizam a
ayahuasca em seus trabalhos de cura e rituais.
Embora em muitos países da América do Sul, como Peru, Colômbia, Equador
e Bolívia, haja uma tradição do uso de ayahuasca por tribos tradicionais e
vegetalistas, foi somente no Brasil que se desenvolveram religiões que fazem uso
desta bebida. Estas religiões acabam inserindo e agregando outros elementos à
18
tradição ancestral que acompanha o chá. Podemos citar alguns elementos como:
cristianismo, tradições afro-brasileiras, o espiritismo kardecista e o esoterismo
europeu, sobretudo o Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento e Ordem
Rosa Cruz (LABATE, 2009).
A alta do extrativismo na região amazônica (principalmente da borracha), no
fim do século XIX e início do século XX, proporcionou o contato de trabalhadores
vindos de diversas regiões da Colômbia, do Peru e do Brasil com a ayahuasca
(SANTOS, 2007). A partir do encontro entre indígenas e grupos extrativistas, o chá
psicoativo passou a ser utilizado em novos contextos, influenciados pelas mais
variadas formas culturais, dando origem a novas e complexas maneiras do seu uso
(BRITO, 2004; SANTOS, 2007).
3.2 BOTÂNICA
A bebida Ayahuasca é composta por duas espécies que interagem
sinergicamente: as folhas do arbusto Psychotria viridis Ruíz & Pav., da família
Rubiaceae, e o caule e/ou as raízes do cipó Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.)
Morton, da família Malpighiaceae, que juntos passam por um processo longo de
decocção (METZNER, 2002).
As espécies Banisteriopsis caapi e Psychotria viridis não são as únicas
combinações possíveis para o preparo da ayahuasca. Outros cipós da mesma
família podem ser usados na preparação da bebida, por exemplo, B. muricata,
conhecido também como B. argêntea (LUNA, 2005), B. inebrians, B. quitensis,
Mascagnia glandurifera, M. psylophylla var.Tetrapteris methysticae, T. mucronata
(SCHULTES; HOFMANN 2000). Além de Psychotria viridis, podem ser usadas as
folhas de P. carthaginensis e Diplopterys cabrerana (conhecida também como
Banisteriopsis rusbyana). Como o uso destas outras espécies é muito mais raro,
abordam-se aqui as espécies comumente utilizadas, B. caapi e P. viridis.
3.2.1 Caapi: Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) Morton
FIGURA 1 – Fotografia de Banisteriopsis caapi, variedade Caupuri.
19
20
FIGURA 2 – Ilustração do aspecto geral de Banisteriopsis caapi
21
FIGURA 3 - Ilustração de um ramo, flor e fruto de Banisteriopsis caapi
Conhecido por diversos nomes populares como mariri, jagube, caapi, mão-de-
onça, yagê, tiwaco-mariri, o Banisteriospsis caapi, é um cipó, liana ou trepadeira
lenhosa da família Malpighiaceae, robusto, com hastes tortuosas e grossas, e nativo
da região Amazônica. Possui folhas simples pecioladas, glabras, subcoriáceas, de 8
a 12 cm de comprimento, flores rosadas, dispostas em inflorescências axilares e
frutos do tipo sâmara, bialados, de cor paleácea quando maduros. Multiplica-se por
sementes. A floração da planta é rara e exclusiva de climas úmidos e tropicais.
(LORENZI, 2002)
Cresce em floresta de terra firme e com ocorrência geográfica confirmada nas
regiões Norte e Centro Oeste do Brasil, nos estados do Amazonas, Acre, Pará,
Rondônia e Mato Grosso (Flora do Brasil 2020) 5.
5
REFLORA. FLORA DO BRASIL 2020 – Algas, fungos e plantas. Disponível em:
http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/listaBrasil/ConsultaPublicaUC/ResultadoDaConsultaNovaConsult
a.do#CondicaoTaxonCP. Acesso em: 30 mai. 2019.
22
Atualmente, pode ser encontrada em vários estados brasileiros, sendo
cultivado para o preparo da ayahuasca. As denominações ayahuasca e yage são
utilizadas tanto para o cipó quanto para o chá (LABATE, 2009).
FIGURA 4 - Fotografia das Folhas de Caapi
Esta planta é considerada um medicamento pela população indígena, usado
para o tratamento de inúmeras doenças, pois acreditam que conseguem sua força
através da comunicação com o mundo espiritual (LORENZI, 2002). É reconhecida
também como a sua principal fonte de conhecimento botânico, pois, por intermédio
do uso do chá, eles teriam acesso ao conhecimento sobre as demais plantas que
curam (SHANON, 2003; BRITO, 2004).
DESCOBERTA DO USO DA ESPÉCIE
Para a América do Sul, a distribuição do uso do enteógeno baseado em
preparados de Banisteriopsis foi traçada por Friedberg (1965). Fischer (1923) foi o
primeiro pesquisador a isolar da Ayahuasca, um alcaloide cristalino, que foi por ele
denominado de telepatina. Porém, ele não teve o cuidado de fazer a devida
identificação botânica da espécie por ele utilizada. O mesmo ocorreu com outros
investigadores contemporâneos (BARRIGA; VILLALBA, 1925; ALBARRACÍN, 1925;
PERROT; HAMET, 1927). Barriga e Albarracín chamaram yajeína e yajeinina aos
alcaloides por eles isolados.
23
Em 1928, Elger constatou que o alcaloide descrito por Fischer (1923) era
idêntico à harmina, isolada anos antes de um arbusto do Oriente, o Peganum
harmala L. (família Nitrariaceae), ou Arruda da Síria, cujas propriedades psicoativas
eram conhecidas desde a antiguidade (GUNN, 1937). Os termos telepatina, yajeína
ou banisterina, que estavam sendo utilizados pelos pesquisadores, revelaram-se,
pois, em simples sinônimos de harmina.
Posteriormente, foi possível determinar a presença de harmina em B. Caapi
(CHEN; CHEN, 1939) e em B. inebrians (O'CONNELL; LYNN, 1953). Além disso,
Hochstein e Paradies (1957) encontraram outros componentes como harmalina e d-
tetrahidroarmina (BRISTOL, 1966; NARANJO,1967; SCHULTES, 1969).
Existem algumas variedades de B. caapi, que são química e
morfologicamente distintas. Há também outras espécies que são difíceis de
diferenciar, mas possuem nomes locais de acordo com a visão e entendimento
tradicionais. Os índios Tukano distinguem seis tipos diferentes de kahi. Alguns dos
nomes Tukano para ayahuasca, atribuindo efeitos e mirações6 diferentes para cada
um deles (apesar de sua identificação botânica ainda não ter sido possível): (1)
Kahiriáma, a planta mais forte, produz percepções auditivas não usuais; (2) Méné-
kahi-má, produz mirações de serpentes verdes; (3) Suána-kahi-má, kahi do jaguar
vermelho, produz mirações sem vermelho; (4) Kahi-vai bucurarijomá, faz com que os
macacos alucinem e gritem; (5) Ajúwri-kahi-má, e (6) Kahi-somomá ou Kahi-uco,
folha que faz vomitar (SCHULTES; HOFMANN, 2000).
Para o povo Huni Kuin, também há essa diferenciação dos tipos de cipó,
chamado por eles de Huni ou Nixi. Segundo relatos, os cipós não se diferenciam
morfologicamente, mas segundo seu efeito, sobretudo na coloração predominante e
dos motivos que aparecem nas mirações. Há por exemplo, três cipós chamados de
(1) xawanhuni, (2) bakahuni e (3) xanehuni. O Xawanhuni provoca visões de cor
predominantemente vermelha (taxipa), dominadas por motivos de sangue e fogo,
consideradas as mais fortes. As visões provocadas pelo cipó Xanehuni são de cor
azul e verde (nanketapa), relacionadas a aldeias despovoadas. O cipó bakahuni
provoca visões vaporosas-esbranquiçadas (henekexa). As visões de serpentes são
6
Miração é um estado de transe desencadeado pela ayahuasca, onde a pessoa pode ter visões com
intensidade de cor, vidências, estabelecer contatos telepáticos com pessoas distantes, permitindo
uma relação mais sensorial com o ambiente (FRÓES, 1986).
24
consideradas uma constante e variam de cor conforme o cipó utilizado no preparo
(KEIFENHEIM, 2009).
No Peru, nas cidades de Iquitos, Pucallpa e arredores, popularmente se
reconhece alguns tipos de cipós pelos nomes de ayahuasca céu (cielo), ayahuasca
luzeiro (lucero), ayahuasca trovão, ayahuasca sapo, ayahuasca negra, etc., que
possivelmente se referem mais aos efeitos que eles provocam do que diferentes
espécies botânicas (LUNA, 1996).
No Brasil, no contexto das religiões ayahuasqueiras, as variedades de
Banisteriopsis caapi presentes são basicamente duas, conhecidas popularmente
como Tucunacá e Caupurí (ou Tucuní). O Tucunacá é liso, e suas fibras podem ser
lineares ou espiraladas. Já o Caupurí tem grandes internódios onde os ramos são
produzidos. O Tucunacá é um cipó cujos efeitos são percebidos mais suaves no
organismo, principalmente no trato digestivo. O Caupuri é um cipó bem mais forte,
cuja duração do efeito é maior e possui um forte efeito purgativo. As análises
químicas de ambas as lianas demonstram nítida diferença nas concentrações do
alcaloide harmala; assim, comprovou-se que o Caupurí possui uma quantidade
muito maior destes alcaloides que a variedade Tucunacá (CALLAWAY, 2002;
METZNER, 2002). Interessante observar que os relatos de fortes efeitos fisiológicos
como tremor, vômito, diarreia coincidem com os altos teores dos alcaloides harmala
presentes no cipó da variedade Caupurí (METZNER, 2002).
CONSTITUINTES QUÍMICOS ATIVOS
Na sua composição química, destaca-se a harmina, principal alcaloide beta-
carbonílico presente em sua casca, harmalina e tetrahidroharmina, além de outros
constituintes do mesmo grupo, que possuem atividade inibidora da
monoaminoxidase (MAO) (HASHIMOTO; KAWANISHI, 1975; HOCHSTEIN;
PARADIES, 1957; MCKENNA; TOWERS; ABBOT, 1984; CHEN;CHEN, 1939 apud
LORENZI, 2002, p. 352).
25
3.2.2 Chacrona: Psychotria viridis Ruiz & pav.
FIGURA 5– Fotografia das Folhas de Chacrona
FIGURA 6 - Fotografia das Sementes de Psychotria viridis
A Psychotria viridis, conhecida popularmente como chacrona, folha-da-rainha
(ARAÚJO, 2004) é uma planta arbustiva, pertence à família Rubiaceae, comum em
toda a Floresta Amazônica (Brasil, Peru, Bolívia e Equador) e Mata Atlântica,
presente em florestas ciliares, de várzea, ombrófilas ou de galeria. No Brasil, tem
ocorrência confirmada no Norte e Centro Oeste do país, nos estados do Acre,
Amazonas, São Paulo e Minas Gerais (Flora do Brasil 2020). É um arbusto comum
de climas tropicais e úmidos, podendo crescer até tornar-se uma pequena árvore,
tendo, em média, 2 a 3m de altura. As folhas lanceoladas que variam de tons de
verde-claro ao verde-escuro, possuem de 12 a 15cm de comprimento por 4 a 5 cm
de largura, de disposição oposta e cruzada, nervação peninérvea, possuem bainha e
26
pecíolo curto, limbo simples e inteiro, liso na parte superior e com presença de
domácias na parte inferior e apresentam folhas completas e (JOLY, 2002; SOUZA;
LORENZI, 2005).
Embora Psychotria viridis seja a espécie convencional para o preparo da
bebida, e de longe a mais utilizada, há registros de utilização de outras espécies,
como Psychotria carthagenensis Jacq. e P. leiocarpa Mart. (LABATE, 2004). Outra
espécie utilizada na Colômbia (Putumayo e Vaupés) é a Diplopterys
cabrerana (Cuatrec.) B.Gates, popularmente conhecida como chagropanga ou olho
yagé. Segundo os relatos de diferentes grupos indígenas como os Siona, Ingano,
SIbundoy e os Kofán, a chagropanga faz com que o efeito da ayahuasca seja mais
limpo, mais prazeroso, e que, por si só, não produz efeito (NARANJO, 1932).
3.3 O PREPARO DA BEBIDA
O modo de preparação da ayahuasca pode variar de acordo com a
localidade, a tradição de quem a prepara, a concentração da bebida, os
componentes vegetais e a ritualística utilizada durante o feitio (NARANJO, 2013). Os
efeitos da sazonalidade, época de coleta e do tipo de solo em que as espécies
ocorrem são outros importantes fatores que modificam a concentração das
substâncias na dose do chá (MCKENNA et al., 1984).
Pode-se preparar de diferentes formas, macerando os troncos e as raízes do
cipó e fervendo com as folhas de P. viridis, ou mesmo macerando as cascas do cipó,
que concentra a maior parte dos princípios ativos, até virar pó e imergindo em água
fria. No caso do preparo com água fria, a concentração e força do preparado são
mais brandas, havendo necessidade de beber uma dose maior. Esta forma de
preparo é comumente dada aos mais jovens (NARANJO, 1932; HOFMANN;
SCHULTES, 1979).
Há também relatos, dos índios Siona que mascam diretamente as raízes ou
cascas do cipó como estimulante, utilizando, assim, de uma forma mais branda,
antes de batalhas ou caças. Porém, a fervura é a forma mais comum de extrair os
princípios ativos da ayahuasca (NARANJO, 1932). Esta forma de preparo leva
muitas horas, pois são feitas muitas fervuras e depois o chá resultado das mesmas é
apurado ou reduzido, fervendo-se novamente em mais material vegetal até atingir o
ponto de concentração desejado, naturalmente variando o processo de preparo
27
dentro de cada tradição. Ao final do processo, obtém-se como resultado uma bebida
sagrada de tom acastanhado, caracterizada como um psicoativo rico em
dimetiltriptamina e beta-carbolinas, e que possui ação direta sobre o sistema
serotonérgico (PEREIRA, 2014).
Importante citar que tradicionalmente, em algumas ocasiões, os povos
indígenas podem usar diferentes plantas associadas no chá, para diferentes fins e
propósitos específicos, por exemplo, para cantar melhor: Ai Curo (Euphorbia sp.);
para intensificar as visões: Cumala (Virola spp.); contra febres: Pichana (Ocimum
micranthum); para dar um sabor mais doce para a ayahuasca: Kana (Sabicea
amazonensis); contra a debilidade sexual: Pfaffia (Pfaffia iresinoides), entre “cerca
de duzentas espécies documentadas como aditivo para a preparação clássica”
(LUNA, 2005). Ott (1994) cita 98 espécies de 39 famílias de plantas que podem ser
adicionadas à ayahuasca.
3.4 DADOS QUÍMICOS E ATIVIDADES BIOLÓGICAS
Este preparado possui uma fitoquímica muito complexa e específica para que
possa fazer efeito no organismo humano; a Ayahuasca é a única preparação
botânica, no que diz respeito à atividade farmacológica, dependente de uma
interação sinérgica entre os alcaloides ativos existentes em duas plantas (BRITO,
2009).
Banisteriopsis caapi possui β-carbolinas (harmalina, harmina e
tetraidroharmina), que agem como inibidoras reversíveis da enzima
monoaminaoxidase (MAO), e Psychotria viridis contém N,N-dimetiltriptamina (DMT),
que se liga nos mesmos receptores da serotonina e é metabolizada pela MAO.
Dessa forma, B. caapi ao inibir a MAO, torna disponível a DMT por via oral e a
ingestão da bebida proporciona aumento nas concentrações de serotonina no
organismo (CALLAWAY; GROB, 1998; FELIPE, 2015). A tetrahidroharmina, também
presente no cipó, inibe a recaptação de serotonina em sítios pré-sinápticos. Juntas,
ambas ações aumentam as atividades serotoninérgicas central e periférica, além de
facilitar a psicoatividade da DMT no organismo (CALLAWAY et al., 1999).
Interessante observar que as concentrações de alcalóides na bebida ayahuasca são
maiores que as encontradas nas plantas utilizadas para seu preparo (MCKENNA,
2004).
28
Quando combinados, estes princípios ativos, a DMT e a MAO, aumentam a
sensação de bem-estar do usuário, criando condições de felicidade, contentamento,
equilíbrio psicomotor e alterações na consciência (CAZENAVE, 2000; RIBA, 2003).
A DMT constitui um poderoso agente psicodélico (SZÁRA, 1956) e é uma
substância endógena, isto é, também produzida dentro do corpo humano a partir do
aminoácido L-Triptofano. Não se sabe exatamente qual a função da DMT endógena
no cérebro, mas se especula que ela seja responsável pelas visões nos sonhos
(CALLAWAY, 1988 apud METZNER, 2002).
Mckenna (2004) fala que, na verdade, biossinteticamente a DMT está apenas
há duas reações químicas do L-Triptofano, um aminoácido presente em
praticamente todo ser vivo no planeta, assim como as enzimas necessárias para a
biossíntese da DMT em seus organismos são muito abundantes na natureza e
partes fundamentais do metabolismo. A DMT é uma substancia que está presente
em raízes, caules e folhas de diversas plantas, além de tecidos de mamíferos,
animais marinhos e anfíbios (STRASSMAN, 2001).
Strassman (2001) afirma que a síntese da DMT no corpo seria realizada pela
glândula pineal, e que sob diferentes estímulos, como meditação, jejum, cantos e
outras técnicas poderia ocorrer um maior fluxo de DMT endógeno, levando a
estados ampliados de consciência, relacionado com as experiências místicas ou
quase morte (EQM). A DMT seria o composto químico que no cérebro
desencadearia as experiências espirituais, a conexão do corpo com a alma, além de
nos conectar à toda vida no planeta.
A DMT ajusta-se mais adequadamente em certos subconjuntos dos lugares
próprios dos receptores de serotonina no interior do cérebro (CALAWAY,1988;
MCKENNA, 1998). Acredita-se que ela seja capaz de modificar o fluxo de
informação neuronal nestes espaços. A DMT também tem sido identificada como um
componente natural do cérebro de mamíferos sadios (CALLAWAY, 1995), além de
ser encontrada em muitas espécies de plantas (OTT, 1994). Apesar de naturalmente
presente em nosso organismo, o DMT não tem efeitos perceptíveis por normalmente
se encontrar em quantidades ínfimas.
Há também outras fontes botânicas de DMT na América do Sul, como as
sementes de Anadenanthera peregrina (L.) Speg. ou as cascas de caules de Virola
spp., Piptadenia spp, Mimosa hostilis Benth, Diplopterys cabrerana (Cuatrec.)
B.Gates (sin. Banisteriopsis rusbyana) e Lespedeza bicolor Turcz. (THOMPSON et
29
al., 1987). Um outro enteógeno cujo princípio ativo é a DMT e possui um uso
tradicional milenar é a beberagem conhecida como Jurema, ou Vinho de Jurema,
tradicionalmente preparada com as cascas de Mimosa hostilis (HOLMSTEDT, 1995;
METZNER, 2002, p. 248).
HARMINA
Após a descoberta do DMT, atualmente estuda-se muito os efeitos da
Harmina. Tem-se descoberto em pesquisas que ela é a única substância conhecida
com a capacidade de regenerar neurônios. É também um antidepressivo natural,
com potencial para cura do câncer, diabetes e Alzheimer. Tanto a harmina quanto a
harmalina foram obtidas pela primeira vez em meados do séc. XIX, a partir de
sementes de Peganum harmala L. (Arruda da Síria) (NARANJO, 1932).
Naranjo (1979) ressalta a importância das descobertas de que as substâncias
relacionadas com os alcalóides da harmala (harmalina, harmina e harmalol),
presentes em animais de sangue quente, estão relacionadas com o fator neuro-
humoral da serotonina, tendo um importante papel na regulação do sistema nervoso.
Há também a possibilidade de a ayahuasca atuar regularizando os índices de
serotonina em condições de defasagem da modulação em longo prazo. Cogita-se
também que possa ter efeitos imunomodulatórios significativos. Há relatos inclusive
de remissão de cânceres e outros problemas sérios relacionados, através do uso
regular do chá (MCKENNA, 2004).
Metzner (2002) sugere que os efeitos das plantas medicinais que alteram a
consciência e a psicoatividade normal podem ser explicados, em parte, pela notável
semelhança estrutural em relação aos neurotransmissores, inclusive atuando nos
mesmo receptores químicos.
A serotonina é um neurotransmissor produzido no cérebro e no trato
gastrointestinal, também a partir do aminoácido L-triptofano. É responsável por
algumas funções de extrema importância no comportamento, como planejar,
agendar e outras atividades relacionadas ao tempo (METZNER, 2002).Também está
relacionada à “regularização do estado emocional, do humor, da atividade sexual, do
controle motor, da memória, do sonho e de diversas funções cognitivas [...] busca de
padrões, a lucidez mental e ao estado de alerta” (LUNA, 2005). É também
30
precursora metabólica da melatonina, produzida durante o sono, no escuro, que tem
importância vital no funcionamento do organismo.
As deficiências de serotonina e triptofano no organismo têm sido relacionadas
a uma variedade de distúrbios funcionais, comportamentais e neurodegenerativos,
como alcoolismo, depressão, autismo, ansiedade, esquizofrenia, déficit de atenção,
hiperatividade, suicídio e doenças senis (METZNER, 2002; MCKENNA, 2004). O
decréscimo da atividade serotoninérgica pode advir da pouca entrada de triptofano
no cérebro, da síntese escassa de serotonina, da recaptação excessiva da
serotonina na juntasináptica e também da atividade excessiva das enzimas que
metabolizam a serotonina (METZNER, 2002). O uso regular e a longo prazo da
ayahuasca resultaria na modulação da serotonina. Acredita-se que a bebida possa
reverter os déficits de serotonina e, desse modo, controlar essas doenças além de
promover positivas mudanças comportamentais (MCKENNA, 2004).
A maioria dos medicamentos antidepressivos modernos tem como objetivo
primário intensificar a atividade serotoninérgica no organismo (METZNER, 2002).
Neste ponto, podemos aprofundar os estudos sobre a capacidade de a ayahuasca
atuar como um poderoso antidepressivo natural. Já foram realizados alguns estudos
nesta área.
Na Alemanha, estudos com o alcalóide Harmina, revelaram sua utilidade para
a cura da doença de Parkinson, e em outras áreas da Europa vem sendo estudado
para a cura de distúrbios psicológicos, não havendo sido identificado nenhum efeito
colateral prejudicial à saúde (NEIDI, 2016).
Uma pesquisa desenvolvida no Instituto do Cérebro (ICe), da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, testou a ayahuasca como antidepressivo, e obteve
resultados iniciais muito positivos em pessoas que apresentam quadro de depressão
(DAKIC et al., 2016). Outro estudo realizado sobre os efeitos da bebida sugerem
remissão de desordens psíquicas prévias, incluindo ansiedade, depressão e
dependências alcoólica e química, como a da cocaína e a do “crack” (GROB et al.,
1996).
Recentemente, Araújo et al. (2018) coordenou um estudo, que demonstrou a
eficácia terapêutica da ayahuasca no tratamento da depressão. A pesquisa mostra
um efeito antidepressivo rápido em pacientes com depressão que já não respondem
31
a tratamentos convencionais.7 Afirmam que este campo de pesquisa, dos benefícios
do enteógeno, está muito avançado no Brasil, justamente pelo fato de a ayahuasca
ser legalizada em território nacional (DALHANO et al., 2018).
Abaixo, as estruturas químicas dos principais alcalóides presente na
ayahuasca e do neurotransmissor serotonina:
FIGURA 7 - Dimetiltriptamina
Fonte: (METZNER, 2002)
FIGURA 8–Serotonina
Fonte: (METZNER, 2002)
FIGURA 9 - Harmina
7
POR SER LEGAL no Brasil, ayahuasca traz oportunidade de pesquisa única. Globo, Revista Galileu,
2018. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2018/08/por-ser-legal-no-brasil-
ayahuasca-traz-oportunidade-de-pesquisa-
unica.html?utm_source=facebook&fbclid=IwAR0xi65XRbNbHJNfNTimH1tVpPabi9HB4Rjwmoc02zY9
YGQQkK7MifeKuRg. Acesso em: 30 mai. 2019.
32
Fonte: (METZNER, 2002)
FIGURA 10 - Harmalina
Fonte: (METZNER, 2002)
FIGURA 11 - Tetrahidroharmina
Fonte: (METZNER, 2002)
Atualmente, há ampla validação científica dos efeitos benéficos desta
medicina tradicional. Shanon (2002) afirma que do ponto de vista farmacológico, a
ayahuasca parece não induzir dependência fisiológica, nem tolerância ao seu efeito,
além de ser comprovadamente inócua e segura para o consumo humano.
3.5 EFEITOS NO ORGANISMO
Os primeiros efeitos produzidos pelo chá surgem cerca de quase meia hora
após a ingestão e duram cerca de quatro horas. No entanto, os mais intensos efeitos
visionários e físicos já citados ocorrem entre 60 e 120 minutos após a ingestão
(MCKENNA et al., 1998; CALLAWAY et al., 1999; DE SOUZA, 2006).
33
Alterações no processo de pensamento, concentração, atenção, memória e
autoavaliação foram observadas. Ocorrendo variações na percepção da passagem
do tempo, mudanças na percepção corporal, medo de perda do controle e do
contato com a realidade, alterações na expressão emocional, mudanças no
significado de experiências anteriores (insights) e sensação da "alma se
desprendendo do corpo" (CALLAWAY, 1999).
As mirações, ou visões, que são geradas pelo chá são, muitas vezes,
consideradas reais ou instrutivas pelo indivíduo que as observa. Algumas mirações
podem consistir como parte da eficiência nos casos de mudanças de crenças, falhas
de caráter, cura dos vícios (alcoolismo, tabagismo, cocaína) e de reflexões pessoais
(MCKENNA et al., 1998; METZNER, 2002; LABATE, 2009; SANTOS, 2006;
KJELLGREN et al., 2009).
Um processo bastante comum na experiência com a ayahuasca é a chamada
purga, limpeza ou alívio, onde os usuários relatam uma profunda purificação em
diferentes níveis. Tais efeitos fisiológicos são interpretados como uma manifestação
positiva, onde a ayahuasca propiciaria ao usuário uma forma de limpeza gradual do
corpo e do espírito. As impurezas da alma, nosso emocional mal resolvido e mesmo
doenças físicas seriam expurgadas (LABATE, 2002; DE SOUZA, 2006).
As variações dos graus de náuseas, vômitos e, ocasionalmente, simultâneas
diarreias não são incomuns e estão, muitas vezes, relacionados ao teor das
experiências que estão sendo vivenciadas (OTT, 1999). Estes efeitos podem variar
de acordo com a pré-disposição fisiológica do indivíduo, dosagem e a composição
de alcaloides no chá (MCKENNA et al., 1984).
Apesar de não conhecermos completamente o impacto no organismo humano
e o efeito do uso prolongado da ayahuasca, podemos observar e analisar as
populações tradicionais e mestiças da Amazônia. MCKENNA (1992), que esteve
junto às populações nativas amazônicas durante anos, fala que sua experiência o
convenceu que o efeito do uso contínuo e prolongado desta medicina é um estado
extraordinário de saúde e integração.
Terence Mckenna (1995) comenta que os primeiros relatos e descrições dos
efeitos da ayahuasca pareciam bastante exagerados e lúdicos, comparando-os com
as descrições dos primeiros exploradores europeus na América, mas que
gradualmente os relatos de fantasia e aventura cederam lugar aos continentes
explorados e cartografados que hoje conhecemos, sugerindo que há muito a ser
34
explorado e reconhecido dentro dos campos sutis da consciência, os quais a
ayahuasca nos concede acesso.
USO CERIMONIAL
O primeiro relato da utilização da ayahuasca foi no Peru, através dos jesuítas,
que a chamavam “poção diabólica”. O uso cerimonial das plantas de conhecimento
só pode sobreviver, depois de ter sido condenado em 1916 pela Santa Inquisição
Católica, porque se manteve subterrâneo, escondido e camuflado diante da cultura
cristã europeia que o hostilizava violentamente (METZNER, 2002). Apesar de tudo,
sobreviveu o conhecimento desta extraordinária poção vegetal ancestral, chamada
por Hofmann e Shultes (1992) de “planta de Deus”.
Nesse sentido, o fenômeno do surgimento das chamadas religiões
ayahuasqueiras é exclusivo do Brasil, surgiu com o contato de seringueiros com
povos indígenas brasileiros e peruanos. E a partir das religiões brasileiras, o uso
ritual da bebida vem entrando em contato com novas culturas e adquirindo cada vez
mais espaço no cenário brasileiro e mundial, estando presente em praticamente
todos os estados brasileiros e em diversos países do mundo (LIMA, 2004).
Há ainda o chamado ‘‘turismo enteógeno’’, o qual consiste em pacotes de
viagem para aventureiros para diversos pontos da Floresta Amazônica, que buscam
experiências de vida através do uso da ayahuasca em rituais de diferentes tradições
(LABATE, 2004).
Desde a década de 1930, no Brasil, surgiram importantes religiões que
utilizam da ayahuasca como seu sacramento vegetal, dentre as quais podemos citar
o Santo Daime, a União do Vegetal e a Barquinha como principais expoentes desde
movimento (LABATE, 2004). Elas foram iniciadas e organizadas por migrantes que
foram para a Amazônia atraídos pelo mercado extrativista do látex da Hevea
brasiliensis (Willd. ExA.Juss.) Müll.Arg.. Com a queda do preço da borracha no
mercado mundial, instalou-se uma crise na extração do látex e centenas de
seringueiros abandonaram a floresta, retornando às cidades. Neste contexto
histórico surgem essas religiões (CEMIN, 2009).
Estas religiões, como no caso do Buiti no Gabão (que utiliza a iboga,
Tabernate iboga) e da Native American Church (que utiliza o Peiote, Lophopora
wiliamsii) (LANTERNARI, 1974; SAMORINI, 2005) apoiam-se em sistemas de
35
conhecimento tradicionais e incorporam elementos do cristianismo em sua estrutura.
No caso do Brasil, há uma herança do uso da ayahuasca pelos povos nativos
amazônicos e do catolicismo popular, além de influências da tradição afro-brasileira,
do espiritismo e de algumas linhas do esoterismo europeu (principalmente Círculo
Esotérico da Comunhão do Pensamento e movimento Rosa Cruz) (LABATE, 2014).
Atualmente estas religiões possuem milhares de adeptos e estão presentes
em muitos países, principalmente nas Américas e na Europa, e sua expansão segue
crescendo vertiginosamente. Esta expansão certamente causa um impacto
considerável na vida de milhares de pessoas, que ao acessar as dimensões
ancestrais e profundas de conhecimento passam a questionar os valores e o modelo
de vida da sociedade atual. Esta tomada de consciência evoca também, um resgate
de atitudes respeitosas e reverencial para com a Terra e toda a vida, pois nesta
expansão percebe-se a interconexão entre todas as formas de vidas existentes,
auxiliando muito assim na conscientização do cuidado e preocupação com valores
ecológicos e conservacionistas. Este atual movimento pode ser uma resposta
mundial à degradação dos ecossistemas e da biosfera, e tem-se observado que de
alguma forma conduz a movimentos profundamente enraizados na ecologia.
3.6 REGULAMENTAÇÃO DA AYAHUASCA NO BRASIL
Com o aumento do uso e difusão da ayahuasca no Brasil, surgiu a
necessidade de regulamentar sua utilização. 0803 013 00079983-9
No Brasil, o uso da ayahuasca em práticas religiosas é juridicamente
legitimado desde 1986, após rigorosa análise de uma comissão interdisciplinar,
submetido à plenária e aprovado por unanimidade, como afirmam os pareceres do
antigo Conselho Federal de Entorpecentes – Confen (atual Grupo de Trabalho do
Conselho Nacional Antidrogas – Conad) (MACRAE, 1992; SANTOS, 2007).
Conforme relatório do Confen foi concluído que as plantas utilizadas na
elaboração da Ayahuasca ficassem excluídas da lista de produtos proscritos pela
Dimed (Divisão Médica do Confen). O relatório atesta que não há qualquer fato
comprovado de que a Ayahuasca provoque prejuízos sociais.
Um fator importante que ajudou na liberação, é o de que a ayahuasca, em
sua composição farmacológica padrão, tem um percentual de 0,02% de DMT, uma
quantidade 100 vezes menor do que a estipulada por lei para ser considerada uma
36
droga ilícita. Portanto, de acordo com os parâmetros científicos internacionais, a
Ayahuasca não consta da lista de substâncias proscritas pela ANVISA e nem da
Organização das Nações Unidas - ONU.
Em 2006, por ocasião do Seminário da Ayahuasca em Rio Branco do Acre, foi
instituído o Grupo Multidisciplinar de Trabalho para os estudos da Ayahuasca, que
por sua vez, após meses intensos de investigação, implementou o atual "Documento
de Deontologia", que visa trazer ainda mais legalidade as atividades dos grupos
legalmente constituídos. Este relatório final foi aprovado pelo GMT em 23 de
Novembro de 2006.
Finalmente, no dia 26 de Janeiro de 2010, foi publicado no Diário Oficial da
União - No. 17 - na página 58, a Resolução N.1 do CONAD, dando por aprovado o
Relatório Final do GMT.8
Esta atitude do governo brasileiro teve significante implicação sobre a política
do uso de “drogas” em nossa civilização moderna. Tal concessão rompeu
legalmente um jejum de mais de 1.600 anos para o uso e a prática religiosa, para
cidadãos não indígenas, desta bebida considerada uma droga psicodélica pela
sociedade não indígena (MCKENNA et al., 1998; 2004; SANTOS, 2006).
8
PEREIRA, Luis. Legislação Da Ayahuasca No Brasil. Universo Místico. Disponível em:
https://www.universomistico.org/s/ayahuasca/legislacao.html. Acesso em: 30 mai. 2019.
37
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para poder escrever sobre a ayahuasca, é necessária uma clara noção de
limites de quais aspectos queremos abordar, pois são realmente muito vastas as
possibilidades de estudo que a envolvem. Há estudos nas mais diversas áreas
como: antropologia, biologia, ciências sociais, medicina e psiquiatria, por exemplo.
Os compostos químicos presentes nestas plantas tem propriedades muito
significativas. Temos ainda muito a descobrir, mas já há efeitos comprovados em
tratamento de depressão, dependência química, Alzheimer, entre outros. Vejo
muitas possibilidades de estudo em diferentes áreas, principalmente na medicina,
terapias e psiquiatria, além de poder surgir novas formas de tratamento para
problemas sociais que ainda não temos métodos realmente eficientes, como
depressão e dependência química.
Neste trabalho, busquei tratar de temas ligados à sua biologia, como as
espécies botânicas que a compõem, estudos sobre suas propriedades, efeitos,
compostos químicos presentes e aspectos etnobotânicos. Escolhi incluir uma
abordagem etnobotânica, pois esta planta está inserida num contexto tradicional há
milênios, e seus efeitos, usos e propósitos não podem ser estudados em
profundidade sem levar em consideração seu uso tradicional, justamente por ela
estar no centro da cultura e espiritualidade dessas sociedades.
Disso emerge outra questão: qual a visão global ou cosmológica que a
ayahuasca revela a ponto de ser o elemento central da cosmologia e espiritualidade
dessas sociedades tradicionais há tanto tempo, e permanecer viva mesmo depois do
contato com as demais civilizações? E como essa visão global pode interagir com a
atual cultura planetária, quais as possíveis trocas culturais de conhecimento
científico e empírico de diferentes níveis temos para aprender e ensinar com estes
povos?
É realmente fascinante e muito delicado quando uma tradição milenar começa
a interagir com um contexto completamente diferente do qual sempre existiu. Refiro-
me tanto ao contato inicial quanto ao contemporâneo, de modo a imaginar qual o
futuro dessa medicina nas sociedades vindouras.
Outra questão que surge é que, nas sociedades tradicionais, a ayahuasca é
usada para a cura dos mais diversos males e desequilíbrios, porém, ela é a
medicina guia do xamã, ou pajé, que é quem tem o conhecimento para que o uso da
38
medicina seja de fato efetivo. Como é quando as pessoas a bebem sem a presença
de alguém que tenha uma preparação adequada e a experiência para lidar com seus
efeitos? Até onde vai o poder da medicina em si? Como adaptar o seu uso ao
mundo atual, às sociedades atuais?
No estudo da botânica das espécies que compõem o preparado, unindo as
descrições científicas com alguns relatos de populações nativas acerca da mesma
espécie, podemos perceber uma diferença de como as plantas são percebida pelos
botânicos e pelos homens de conhecimento da floresta. Percebo que os povos
nativos tem maior intimidade com o reino vegetal, justamente por permanecerem
conectados a natureza, percebendo as plantas como entidades vivas, dotadas de
espírito e consciência, algo ainda difícil de aceitar para muitos pesquisadores que
não aprofundaram essa relação ou percepção tanto pelo viés exclusivamente
acadêmico quanto pelo olhar de quem está de fora e não submerso a esta cultura de
pajelança.
A ayahuasca é uma medicina tradicional indígena, cultuada há milênios por
muitas tribos amazônicas, pois traz em si um saber vivo, uma sabedoria
inimaginável. Muitos sábios da floresta e pajés dedicam sua vida neste aprendizado
de conhecer os mistérios desta medicina, para assim poder orientar sua tribo, curar
enfermidades, e dar um sentido muito mais amplo à vida de todos.
Em um contexto tribal, tradicional, este preparado está no cerne de cada uma
das culturas que a conhecem, sendo o elo de conexão com o Espírito. É vista como
uma avó que tudo sabe, pois traz em si, em sua memória vegetal, todo o legado da
ancestralidade que ao entrar em comunhão conosco, ajuda-nos a recordar quem
somos. Assim, é chamada pelos nativos amazônicos de abuela, de planta maestra,
que segue ensinando o bem viver, um caminho de harmonia, de clareza e
comunhão com a vida.
Atualmente há muitas pesquisas sobre os benefícios desta medicina,
cientistas têm conseguido desvendar um pouco dos mistérios desta bebida,
descobrindo seus princípios ativos, sua química molecular, sua interação com nosso
organismo biológico e comprovado suas benesses. Mas, é muito importante
ressaltar que os efeitos reais dela se manifestam apenas em quem dela experimenta
e seus benefícios mais importantes comprovam-se na vida de cada um. O que é
sentido e experienciado por cada um ao entrar em contato com esta medicina é
definitivamente impossível de descrever ou colocar em palavras.
39
É muito importante sinalizar sobre o papel dos enteógenos nas culturas
tradicionais e também no mundo contemporâneo. Eles sempre tiveram um papel de
destaque nas sociedades, tratados com a mais alta estima e reverência. E
certamente ainda possuem muita importância em nossos dias atuais, podendo nos
ajudar muito em curas e aberturas de consciência para uma nova realidade.
A ayahuasca e outras medicinas sagradas ancestrais carregam os saberes
antigos, milenares, são como guardiãs da memória viva deste planeta e de toda
natureza. Ao nos aproximarmos delas com respeito e reverência, e com coragem
comungá-las, abertos para receber, podemos recordar nossa verdadeira natureza,
despir-nos do que nos afasta dessa realidade e vivermos uma vida muito mais plena
e completa, integrados à nossa família planetária. Mas para isso, é necessário
humildade, para reconhecer que embora tenhamos desenvolvido muitas tecnologias
e saberes cientificamente comprovados, há muito mais mistérios do que podemos
imaginar, e algumas vezes somente após uma mudança de paradigmas que eles
começam a se apresentar.
40
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