0% acharam este documento útil (0 voto)
51 visualizações90 páginas

Papel Da Saliva Na Cavidade Oral

Enviado por

Vicente Sousa
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (0 voto)
51 visualizações90 páginas

Papel Da Saliva Na Cavidade Oral

Enviado por

Vicente Sousa
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 90

INSTITUTO UNIVERSITÁRIO EGAS MONIZ

MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA DENTÁRIA

PAPEL DA SALIVA NA IMUNIDADE DA CAVIDADE ORAL

Trabalho submetido por


João Manuel Benevides Gomes
para a obtenção do grau de Mestre em Medicina Dentária

setembro de 2021
INSTITUTO UNIVERSITÁRIO EGAS MONIZ

MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA DENTÁRIA

PAPEL DA SALIVA NA IMUNIDADE DA CAVIDADE ORAL

Trabalho submetido por


João Manuel Benevides Gomes
para a obtenção do grau de Mestre em Medicina Dentária

Trabalho orientado por


Dr. José Manuel Feliz

setembro de 2021
“O conhecimento dirige a prática; no entanto, a prática aumenta o conhecimento.”

Thomas Fuller
AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, professor Dr. José Manuel Feliz, por ter aceitado orientar este
trabalho, pela sua simpatia, constante disponibilidade e apoio na realização deste projeto
e, logo desde o início, quando me ajudou na escolha do tema.

Aos professores do Instituto Universitário Egas Moniz, pela importante transmissão de


conhecimentos no decorrer destes cinco anos do curso de Mestrado Integrado em
Medicina Dentária, que contribuíram para a minha formação e aquisição de competências
essenciais a nível profissional.

Aos meus pais, que sempre me apoiaram e motivaram ao longo deste percurso académico,
o que permitiu que conseguisse atingir os meus objetivos.

Aos meus avós, tios e primas, que sempre acreditaram nas minhas capacidades, sendo
elementos fundamentais durante este marcante trajeto.

Aos meus amigos e colegas que me acompanharam nestes anos de vida universitária, pela
simpatia demonstrada e considerável partilha de conhecimentos. Foram indispensáveis
para alcançar esta etapa com sucesso.

Muito obrigado a todos os que estiveram presentes.


RESUMO

A cavidade oral é uma estrutura biológica complexa com uma anatomofisiologia


característica.

A saliva total é um fluido biológico secretado pelas glândulas salivares major (parótida,
submandibular e sublingual) e por algumas glândulas salivares minor ao qual se junta o
fluido crevicular. Apresenta uma variedade de compostos, nomeadamente: água,
eletrólitos, enzimas e proteínas, algumas destas com propriedades imunológicas. Este
biofluido desempenha múltiplas funções na cavidade oral, tais como: proteção/defesa
antibacteriana, manutenção do pH oral, integridade dentária e da mucosa oral, ajuda na
lubrificação, mastigação, deglutição, digestão e solubilização de alimentos. Além disso,
a saliva pode ser também utilizada nas várias ciências “ómicas”, para uma medicina mais
personalizada: genómica, transcriptómica, proteómica, metabolómica, interactómica e
fisiómica que, no caso específico da cavidade oral, se designa por oralómica.

O sistema imunitário é constituído por várias moléculas, células, tecidos e órgãos que, no
seu conjunto, identificam e atuam contra ameaças ao organismo. Existem dois
importantes tipos de imunidade: a imunidade inata, que forma a primeira e imediata linha
de defesa do organismo, em que atuam diversos mediadores celulares e moleculares; e a
imunidade adaptativa, também designada de adquirida ou específica, que desencadeia
respostas mediadas por células B e T e anticorpos, de modo a produzir uma resposta
protetora mais específica, eficaz e duradoura.

A saliva tem uma importante influência a nível da imunidade da cavidade oral, sendo que
existem na sua composição determinados biomarcadores imunológicos, nomeadamente:
citocinas, proteína C-reativa (PCR), metaloproteinases da matriz (MMPs) e
imunoglobulinas (Ig). Nesta classe, evidencia-se a presença da IgA, que se encontra em
elevada quantidade na saliva. Este anticorpo atua na proteção da mucosa oral, com
importantes propriedades antimicrobianas.

Palavras-chave: saliva, imunidade, biomarcadores imunológicos, cavidade oral.

1
2
ABSTRACT

The oral cavity is a complex biological structure with a characteristic anatomophysiology.

Whole saliva is a biological fluid secreted by the major salivary glands (parotid,
submandibular and sublingual) and by some minor salivary glands to which crevicular
fluid is added. It presents a variety of compounds, namely: water, electrolytes, enzymes
and proteins, some of which have immune properties. This biofluid performs multiple
functions in the oral cavity, such as: antibacterial protection/defence, maintenance of oral
pH, dental integrity and oral mucosa, helps with lubrication, chewing, swallowing,
digestion and solubilization of food. In addition, saliva can also be used in the various
“omics” sciences, for a more personalized medicine: genomics, transcriptomics,
proteomics, metabolomics, interactomics and physiomics which, in the specific case of
the oral cavity, is called oralomics.

The immune system is made up of several molecules, cells, tissues and organs that, as a
whole, identify and act against threats to the body. There are two important types of
immunity: innate immunity, which forms the the body's first and immediate line of
defense, in which several cellular and molecular mediators act; and adaptive immunity,
also called acquired or specific immunity, which triggers responses mediated by B and T
cells and antibodies, in order to produce a more specific, effective and lasting protective
response.

Saliva has an important influence on the immunity of the oral cavity, with certain immune
biomarkers in its composition, namely: cytokines, C-reactive protein (PCR), matrix
metalloproteinases (MMPs) and immunoglobulins (Ig). In this class, the presence of IgA
is evident, which is found in high amounts in saliva. This antibody acts to protect the oral
mucosa, with important antimicrobial properties.

Keywords: saliva, immunity, immune biomarkers, oral cavity.

3
4
ÍNDICE GERAL

I. INTRODUÇÃO ..........................................................................................................11

II. DESENVOLVIMENTO...........................................................................................13

1. Biologia da cavidade oral ......................................................................................13

1.1. Estruturas anatómicas da cavidade oral .......................................................13

1.1.1. Lábios e bochechas ..................................................................................14

1.1.2. Palato e amígdalas faríngeas...................................................................14

1.1.3. Língua .......................................................................................................15

1.1.4. Dentes e periodonto .................................................................................16

1.1.5. Mucosa oral ..............................................................................................18

1.1.6. Glândulas salivares ..................................................................................19

1.2. Saliva ................................................................................................................23

1.2.1. Definição ...................................................................................................23

1.2.2. Secreção ....................................................................................................23

1.2.3. Composição e características ..................................................................25

1.2.4. Funções .....................................................................................................27

1.2.5. Comparação com o fluido crevicular gengival ......................................32

1.2.6. Oraloma ....................................................................................................35

2. Imunologia da cavidade oral .................................................................................39

2.1. Sistema imunitário ..........................................................................................39

2.1.1. Definição, características gerais e funções .............................................39

2.1.2. Principais tipos de órgãos e tecidos ........................................................40

2.1.3. Principais tipos de células .......................................................................41

2.1.3.1. Células fagocitárias ...................................................................41

2.1.3.2. Linfócitos ...................................................................................42

2.1.3.3. Células que auxiliam no controlo da inflamação ...................44

5
2.2. Tipos de imunidade .........................................................................................45

2.2.1. Imunidade inata .......................................................................................48

2.2.2. Imunidade adaptativa .............................................................................50

2.3. Influência da saliva na imunidade oral .........................................................53

2.3.1. Biomarcadores imunológicos presentes na saliva .................................53

2.3.1.1. Citocinas.....................................................................................53

2.3.1.2. Proteína C-reativa .....................................................................56

2.3.1.3. Metaloproteinases da matriz ....................................................57

2.3.1.4. Imunoglobulinas ........................................................................57

2.3.2. Outras proteínas da saliva ......................................................................60

2.3.2.1. Histatinas ...................................................................................60

2.3.2.2. Cistatinas ...................................................................................60

2.3.2.3. Mucinas ......................................................................................60

2.3.2.4. Estaterinas .................................................................................61

2.3.2.5. Defensinas ..................................................................................61

2.3.2.6. Lisozima .....................................................................................61

2.3.2.7. Lactoferrina ...............................................................................61

2.3.2.8. Peroxidase ..................................................................................62

2.3.2.9. α-amilase ....................................................................................62

2.3.2.10. Aglutinina ................................................................................62

2.3.2.11. Calprotectina ...........................................................................62

2.3.2.12. Catelicidina ..............................................................................63

2.3.2.13. Proteínas ricas em prolina......................................................63

2.4. Importância da Imunologia na saúde oral e geral .......................................64

III. CONCLUSÃO .........................................................................................................67

IV. BIBLIOGRAFIA .....................................................................................................69

6
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Desenho esquemático da cavidade oral. Adaptado de VanPutte et al., 2020.


.........................................................................................................................................13

Figura 2 – Desenho esquemático de um dente e periodonto. Adaptado de Husain, 2017.


.........................................................................................................................................17

Figura 3 – Representação da localização das glândulas salivares major e percentagens


aproximadas da contribuição salivar das glândulas major e minor. Adaptado de Vila et
al., 2019. ..........................................................................................................................20

Figura 4 – Representação esquemática geral das células acinares e ductais que existem
numa glândula salivar major. Adaptado de Bowers et al., 2015. ....................................21

Figura 5 – Principais componentes da saliva total. Adaptado de Hernández & Taylor,


2020. ................................................................................................................................26

Figura 6 – Componentes da saliva glandular e do fluido crevicular gengival que


contribuem para a imunidade da cavidade oral. Adaptado de Cruchley & Bergmeier,
2018. ................................................................................................................................33

Figura 7 – Níveis de organização da informação biológica, por ordem crescente de


complexidade. Adaptado de Rosa, 2011. ........................................................................35

Figura 8 – Principais características gerais das imunidades inata e adaptativa. Adaptado


de Tomar & De, 2014. .....................................................................................................46

Figura 9 – Imunidade adaptativa: ativação e principais funções dos linfócitos B e T.


Adaptado de Marshall et al., 2018. ..................................................................................52

Figura 10 – Representação esquemática geral da estrutura de uma imunoglobulina.


Adaptado de Murphy & Weaver, 2017. ..........................................................................58

7
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 – Funções da saliva relacionadas com os seus componentes e o respetivo modo


de ação. Adaptado de Pedersen et al., 2018.....................................................................30

Tabela 2 – Biomarcadores salivares associados à periodontite. Adaptado de Zhang et al.,


2015. ................................................................................................................................37

Tabela 3 – Principais vantagens e desvantagens da utilização da saliva como meio de


diagnóstico. Adaptado de Javaid et al., 2016 e Woźniak et al., 2019. ............................38

Tabela 4 – Funções dos órgãos linfoides primários e secundários. Adaptado de Scully et


al., 2017. ..........................................................................................................................40

Tabela 5 – Etapas da resposta imunitária. Adaptado de Murphy & Weaver, 2017. .......47

Tabela 6 – Principais tipos de células que intervêm na imunidade inata. Adaptado de


Marshall et al., 2018. .......................................................................................................48

Tabela 7 – Principais citocinas, respetivas células produtoras e funções. Adaptado de


McComb et al., 2019. ......................................................................................................56

Tabela 8 – Principais funções associadas à IgA, IgG e IgM. Adaptado de Marshall et al.,
2018. ................................................................................................................................59

Tabela 9 – Proteínas da saliva. Adaptado de Patel & Barros, 2015. ..............................64

8
LISTA DE ABREVIATURAS

BCR – Recetor de célula B

Ca2+ – Ião cálcio

CAM – Complexo de ataque à membrana

Cl- – Ião cloreto

CNK – Células natural killer

DNA – Ácido desoxirribonucleico

EGF – Fator de crescimento epidérmico

FGF – Fator de crescimento de fibroblastos

HCO3- – Ião bicarbonato

IFN – Interferão

Ig – Imunoglobulina

IL – Interleucina

K+ – Ião potássio

LTC – Linfócitos T citotóxicos

LTh1 – Linfócitos T helper ou auxiliares do tipo 1

LTh2 – Linfócitos T helper ou auxiliares do tipo 2

LTreg – Linfócitos T reguladores

MALT – Tecido linfoide associado à mucosa

MMPs – Metaloproteinases da matriz

MUC – Mucina

Na+ – Ião sódio

PAMPs – Padrões moleculares associados a agentes patogénicos

PCR – Proteína C-reativa

9
PMNs – Neutrófilos polimorfonucleares

PRRs – Recetores de reconhecimento de padrões

RNA – Ácido ribonucleico

TCR – Recetor de célula T

TNF – Fator de necrose tumoral

10
Introdução

I. INTRODUÇÃO

Anteriormente, o conhecimento acerca do corpo humano era baseado apenas na sua


anatomia. Não existiam técnicas de microscopia que permitissem a sua exploração
detalhada, a nível histológico, celular e molecular. Mais tarde, com o incremento do
conhecimento, já se tornou possível compreender muitos dos mecanismos que ocorrem a
nível microscópico (Rosa, 2011).

A cavidade oral, também designada de boca, é uma estrutura do corpo humano com uma
organização anatómica e fisiológica bastante complexa. Para além dos seus componentes
anatómicos, visíveis macroscopicamente, existem, também, diversos elementos
moleculares, que se encontram essencialmente na saliva (Rosa, 2011).

A saliva total é o somatório do fluido produzido e secretado pelas glândulas salivares e


do fluido crevicular gengival. Apresenta uma composição diversificada e desempenha um
conjunto de funções biológicas importantes para o bom funcionamento do organismo
humano (Roblegg et al., 2019).

Está descrito que a saliva, sendo um fluido biológico multifuncional, tem uma grande
aplicabilidade prática, nomeadamente ao nível da genómica, transcriptómica, proteómica,
metabolómica, interactómica e fisiómica (Rosa, 2011). Atualmente, evidencia-se a sua
utilização em testes genéticos laboratoriais. São efetuadas análises às amostras de
material genético existente na saliva (ácido desoxirribonucleico (DNA) e ácido
ribonucleico (RNA), proteínas e outros metabolitos), de modo a detetar doenças genéticas
e metabólicas, como a periodontite e a gengivite. Os testes realizados à saliva, pela sua
facilidade na colheita, apresentam um conjunto de vantagens, sendo que constituem um
meio importante para elaborar um diagnóstico acerca das condições em que a cavidade
oral se encontra. Permitem, também, avaliar a presença de determinados elementos,
designados de biomarcadores, que fornecem informações relevantes acerca do estado de
saúde geral do organismo (Woźniak et al., 2019).

É importante referir que o meio oral constitui a porta de entrada de vários agentes externos
ao próprio organismo humano, entre os quais se destacam os microrganismos, que
contribuem para a alteração da homeostasia da cavidade oral (Vila et al., 2019).

Muitas das espécies microbiológicas que invadem o ambiente oral, nomeadamente


bactérias e vírus prejudiciais, são responsáveis pelo aparecimento e desenvolvimento de

11
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

múltiplas doenças orais e também sistémicas. A saúde oral está diretamente relacionada
com a saúde geral de um indivíduo, sendo que, quando surge alguma perturbação a nível
oral, esta pode dar origem a patologias nos restantes sistemas orgânicos (Kane, 2017).

De modo a garantir a integridade fisiológica da cavidade oral e evitar a ocorrência de


doenças orais e sistémicas, é fundamental o papel que a saliva desempenha na proteção
das estruturas orais (Pedersen et al., 2018).

A saliva tem uma importante ação imunológica. Na sua composição, existem proteínas
que apresentam propriedades antimicrobianas, essenciais para a defesa da cavidade oral
contra os agentes patogénicos. Muitas destas proteínas imunológicas intervêm nos
processos de imunidade inata e adaptativa e pertencem ao grupo dos biomarcadores
salivares (Ahsan, 2018).

As imunidades inata e adaptativa constituem os componentes principais do sistema


imunitário. Atuam de forma associada e dinâmica, com o intuito de desencadear respostas
imunológicas eficazes (Medina, 2016).

Este trabalho de revisão narrativa tem como objetivo atualizar o conhecimento relativo
às diversas propriedades da saliva, mais especificamente, a sua influência na proteção
imunológica da cavidade oral.

Relativamente às referências bibliográficas, foi efetuada uma revisão da literatura


científica, através da pesquisa de fontes obtidas nas plataformas PubMed, Medline, B-on
e Google Scholar. Foram utilizados documentos de várias tipologias, nomeadamente:
artigos científicos, teses e livros sobre os assuntos abordados neste trabalho. Foi dada
preferência aos documentos mais recentes, principalmente dos últimos cinco anos, mas
também a outros anteriores com conteúdo científico relevante.

12
Desenvolvimento

II. DESENVOLVIMENTO

1. Biologia da cavidade oral

A Biologia Oral dedica-se ao estudo dos vários processos biológicos que ocorrem na
cavidade oral. É importante abordar a cavidade oral como um todo. Assim, deve-se ter
em consideração não só as suas estruturas anatómicas, mas também a saliva, o seu fluido
envolvente, onde ocorrem diversos mecanismos a nível molecular (Rosa, 2011).

1.1. Estruturas anatómicas da cavidade oral

Em termos anatómicos, a cavidade oral (Figura 1) é constituída por várias estruturas


principais a considerar, designadamente: lábios, bochechas, palato, amígdalas, língua,
dentes, periodonto, mucosa oral e glândulas salivares (Madani et al., 2014; Rosa, 2011;
VanPutte et al., 2020). Além disso, pode ser dividida em duas partes: o vestíbulo, que
corresponde à área localizada entre os lábios ou bochechas e os dentes; e a cavidade oral
propriamente dita, que se encontra medialmente aos dentes (VanPutte et al., 2020).

Lábio superior
Vestíbulo superior
Freio labial superior
Gengiva

Palato duro

Palato mole

Úvula
Bochecha
Língua

Freio lingual
Dentes

Vestíbulo inferior Freio labial inferior


Lábio inferior

Figura 1 – Desenho esquemático da cavidade oral. Adaptado de VanPutte et al., 2020.

13
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

A cavidade oral apresenta os seguintes limites anatómicos: os lábios, como limite


anterior; a orofaringe, como limite posterior; as bochechas, como limites laterais; o palato,
como limite superior; e o pavimento da boca, como limite inferior (Madani et al., 2014).

1.1.1. Lábios e bochechas

Os lábios são elementos musculares constituídos pelo músculo orbicular da boca, tecido
conjuntivo e vasos sanguíneos. Devido à sua vascularização, apresentam uma coloração
característica, que varia desde o rosa-avermelhado ao vermelho escuro. A superfície
labial externa é revestida por pele, com epitélio estratificado queratinizado; e a margem
labial interna é contínua com a mucosa da cavidade oral. Além disso, os lábios superior
e inferior têm pregas mucosas associadas, designadas de freios (VanPutte et al., 2020).

Os lábios são formados por quatro camadas de tecido: cutâneo, muscular, glandular e
mucoso. Os pontos de união das extremidades dos lábios superior e inferior
denominam-se de comissuras labiais (Madani et al., 2014).

As bochechas correspondem às estruturas laterais da cavidade oral. A parte externa é


revestida por pele; e a parte interna é constituída por mucosa com epitélio pavimentoso
estratificado. Na sua composição, encontra-se, também, o músculo bucinador e uma parte
adiposa, que contribui para o formato facial (VanPutte et al., 2020).

É importante referir que os lábios e as bochechas intervêm em dois processos biológicos


fundamentais, nomeadamente: na mastigação, em que ajudam a manter os alimentos no
interior da cavidade oral, enquanto os dentes exercem a sua ação; e na fala, com grande
influência na articulação das palavras (VanPutte et al., 2020).

1.1.2. Palato e amígdalas faríngeas

O palato consiste na estrutura superior da cavidade oral. É constituído por duas partes:
uma região anterior, designada de palato duro, formada por osso; e uma região posterior,
denominada de palato mole, não óssea, composta por músculo esquelético e tecido
conjuntivo. Apresenta, também, um prolongamento a nível posterior, que corresponde à
úvula. Além disso, o palato forma uma barreira entre as cavidades oral e nasal. Desta
forma, impede que os alimentos passem de uma região para a outra, durante os processos
de mastigação e deglutição (Madani et al., 2014; VanPutte et al., 2020).

De referir, também, que o palato pode apresentar diferentes formas, tais como em U ou
em V. Na linha média, existe uma elevação, designada de rafe palatina e, na região mais
14
Desenvolvimento

anterior do palato, é possível encontrar rugosidades, denominadas de rugas palatinas


(Madani et al., 2014).

As amígdalas faríngeas são constituídas pelas amígdalas palatinas, amígdalas linguais e


adenoides que, no seu conjunto, formam o designado anel de Waldeyer (Coleman et al.,
2018; McHanwell, 2016).

As amígdalas palatinas correspondem a duas estruturas com formato oval, localizadas


uma em cada lado da região posterior da cavidade oral, ao nível da orofaringe. São
constituídas por agregados de tecido linfoide (McDonald, 2016; VanPutte et al., 2020).
Além disso, desempenham importantes funções, designadamente, na proteção contra
bactérias e outras substâncias prejudiciais que entrem na faringe, a partir da cavidade oral
ou da região nasal (VanPutte et al., 2020).

As amígdalas linguais são estruturas constituídas por pequenas glândulas e por uma
grande quantidade de tecido linfoide. Localizam-se na parte posterior do dorso da língua
(VanPutte et al., 2020). Apresentam um tamanho variável e estendem-se até à região da
epiglote (Costello et al., 2016). Tal como as amígdalas palatinas, desempenham, também,
funções protetoras contra os agentes patogénicos que invadem a mucosa oral (Coleman
et al., 2018).

As adenoides consistem em massas de tecido linfoide, localizadas no teto e na parede


posterior da nasofaringe. Apresentam um formato aproximadamente triangular, com o
seu ápex a apontar para o septo nasal (McHanwell, 2016). Desempenham funções
semelhantes às amígdalas, na defesa imunológica das mucosas (Chaker, 2016).

1.1.3. Língua

A língua é uma estrutura muscular que ocupa uma grande parte da cavidade oral. A sua
porção posterior encontra-se fixa, enquanto que a sua parte anterior é relativamente
móvel. Apresenta uma união ao pavimento da cavidade oral, através de uma prega de
tecido, designada de freio lingual (Madani et al., 2014; VanPutte et al., 2020).

A língua é constituída por dois tipos de músculos, nomeadamente: os músculos


intrínsecos, que se encontram na própria língua, e atuam nos processos de deglutição, ao
permitirem o seu achatamento e elevação; e os músculos extrínsecos, localizados fora da
língua, mas associados, e permitem o seu movimento em várias direções (McDonald &
Creanor, 2016; VanPutte et al., 2020).

15
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

Além disso, a língua encontra-se coberta por epitélio pavimentoso estratificado e está
dividida em duas partes pelo sulco terminal. Os dois terços anteriores da superfície da
língua são constituídos por papilas, sendo que algumas apresentam recetores gustativos.
O terço posterior não é composto por papilas, tendo somente alguns terminais gustativos.
É constituído por pequenas glândulas e por um conjunto de tecido linfoide, que forma a
amígdala lingual (VanPutte et al., 2020).

As papilas conferem a textura característica da superfície dorsal da língua. Existem


diferentes tipos de papilas, nomeadamente: circunvaladas, em forma de V, localizadas no
terço posterior; foliadas, situadas nas superfícies laterais; filiformes, com formato fino e
longo, presentes em toda a superfície dorsal; e fungiformes, em forma de cogumelo, que
se encontram na ponta e nas superfícies laterais (Madani et al., 2014; Qin et al., 2017).

A língua desempenha importantes funções. Permite a movimentação dos alimentos no


interior da cavidade oral e, juntamente com os lábios e as gengivas, ajuda a manter os
alimentos em posição, durante o processo de mastigação. Intervém, também, no processo
de deglutição. De referir, ainda, que se trata de uma estrutura sensorial do paladar e é
fundamental para a fala (Madani et al., 2014; McDonald & Creanor, 2016; Qin et al.,
2017; VanPutte et al., 2020).

1.1.4. Dentes e periodonto

A cavidade oral é constituída por duas arcadas dentárias: superior/maxilar e


inferior/mandibular. Além disso, pode ser dividida em quatro quadrantes: superior direito,
superior esquerdo, inferior direito e inferior esquerdo (Creanor, 2016; VanPutte et al.,
2020).

Existem dois tipos de dentição: a dentição decídua, também conhecida como dentição de
leite ou primária; e a dentição permanente, também designada de adulta ou secundária. A
dentição decídua é, normalmente, constituída por vinte dentes, sendo que existem em
cada quadrante um incisivo central, um incisivo lateral, um canino e dois molares. A
dentição permanente é, geralmente, composta por trinta e dois dentes, sendo que existem
em cada quadrante um incisivo central, um incisivo lateral, um canino, dois pré-molares
e três molares. Muitas vezes, os terceiros molares estão ausentes na arcada dentária,
devido à necessidade de terem sido extraídos, por exemplo, em situações de falta de
espaço para erupcionarem, dor, irritação e infeção (Husain, 2017; Madani et al., 2014;
VanPutte et al., 2020).

16
Desenvolvimento

Em termos anatómicos, um dente é uma estrutura constituída por uma coroa, um colo e
uma raiz. A coroa apresenta uma ou mais cúspides (pontas), sendo designada, na sua
totalidade, por coroa anatómica. A parte da coroa que se encontra exposta na cavidade
oral, que é visível, denomina-se de coroa clínica. O colo refere-se à porção do dente
situada entre a coroa e a raiz. A raiz corresponde à parte maior do dente, que permite a
sua fixação na arcada dentária (VanPutte et al., 2020).

Está descrito que existem variações morfológicas da coroa e da raiz, de acordo com o tipo
de dente e a sua localização na cavidade oral. Um dente pode apresentar apenas uma raiz
ou mais do que uma raiz (Creanor, 2016; Husain, 2017). Cada dente é composto por
quatro ou cinco faces, sendo que todos têm as faces vestibular, palatina ou lingual, mesial
e distal. No caso dos posteriores, existe, também, a face oclusal (Husain, 2017).

Um dente (Figura 2) é constituído por quatro tecidos dentários principais: o esmalte, a


dentina, o cemento e a polpa. O periodonto refere-se ao conjunto de elementos ao redor
do dente, que lhe conferem suporte: a gengiva, o ligamento periodontal e o osso alveolar
(Husain, 2017; Madani et al., 2014).

Esmalte

Dentina

Polpa
Gengiva

Cemento
Ligamento
periodontal

Osso alveolar

Figura 2 – Desenho esquemático de um dente e periodonto. Adaptado de Husain, 2017.

A polpa dentária é um tecido mole, não mineralizado, localizado no interior do dente, que
contém vasos sanguíneos e nervos. Apresenta funções nutritivas e sensoriais; sendo
constituída por duas partes: a câmara pulpar e o canal radicular. A câmara pulpar
localiza-se no centro da coroa do dente (Husain, 2017). O canal radicular refere-se à

17
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

região pulpar situada dentro da raiz, que termina num orifício, o forâmen apical, por onde
saem os vasos e os nervos (Husain, 2017; VanPutte et al., 2020). A polpa é revestida por
uma camada de células e tecido calcificado, designada de dentina. Ao nível da coroa, a
dentina encontra-se recoberta por uma substância com elevada dureza e acelular, o
esmalte, que atua na proteção do dente. Ao nível da raiz, a dentina é recoberta por uma
outra substância, o cemento radicular, que contribui para a fixação do dente no osso
alveolar (VanPutte et al., 2020). O esmalte, a dentina e o cemento são tecidos duros,
mineralizados (Husain, 2017).

O ligamento periodontal atua na fixação dos dentes em cavidades no osso alveolar,


designadas de alvéolos dentários, na mandíbula e na maxila (VanPutte et al., 2020).

A gengiva corresponde ao tecido mole que reveste o osso alveolar e encontra-se


diretamente associada às raízes dos dentes (Husain, 2017; Madani et al., 2014). É
constituída por tecido conjuntivo denso e epitélio pavimentoso estratificado (VanPutte et
al., 2020). Além disso, apresenta duas porções: a gengiva inserida e a gengiva livre. Entre
a gengiva livre e o dente existe um espaço, designado de sulco gengival, no qual se
encontra presente um líquido, o fluido crevicular (Yu et al., 2019).

Os dentes desempenham importantes funções, nomeadamente: na mastigação, em que


atuam na trituração dos alimentos; na fala, com influência na articulação das palavras
(Creanor & Ali, 2016; VanPutte et al., 2020); e na estética (Creanor & Ali, 2016).

1.1.5. Mucosa oral

A mucosa oral corresponde a uma estrutura húmida que reveste o interior da cavidade
oral. É constituída por epitélio pavimentoso estratificado, tecido conjuntivo e vasos
sanguíneos; e tem, normalmente, uma cor rosa (Ali, 2016; Cruchley & Bergmeier, 2018).

No entanto, a coloração da mucosa pode ser variável, devido a determinados fatores, tais
como: o grau de vascularização, queratinização e a espessura do epitélio. Geralmente, em
situações de inflamação, apresenta uma cor mais avermelhada. Relativamente ao seu
aspeto, a mucosa é mais lisa do que a pele, exceto na parte dorsal da língua, na gengiva e
na região das rugas palatinas (Cruchley & Bergmeier, 2018).

Está descrito que, em determinados indivíduos, pode existir na mucosa das bochechas
uma linha branca de tecido queratinizado, designada de linha alba. Esta linha situa-se na

18
Desenvolvimento

direção do plano oclusal dos dentes; e pode ser causada por situações de mordida ou pela
ação abrasiva de restaurações dentárias rugosas (Cruchley & Bergmeier, 2018).

Existem três tipos de mucosa oral, de acordo com a sua localização na cavidade oral,
designadamente: mucosa mastigatória, mucosa de revestimento e mucosa especializada.
A mucosa mastigatória localiza-se no palato duro e na gengiva; sendo queratinizada, de
modo a resistir às forças da mastigação. A mucosa de revestimento encontra-se nas
bochechas, na superfície labial interna, no palato mole, no pavimento da boca, na
superfície ventral/inferior da língua e na mucosa alveolar; sendo macia e não
queratinizada. A mucosa especializada situa-se na superfície dorsal da língua; sendo
constituída por uma grande quantidade de papilas gustativas e terminações nervosas
sensoriais (Ali, 2016; Cruchley & Bergmeier, 2018).

A mucosa oral tem um papel relevante na defesa da cavidade oral contra microrganismos,
substâncias prejudiciais e lesões mecânicas. Esta capacidade protetora é possível, devido
à estrutura do epitélio e à presença de componentes da imunidade. Além disso, apresenta
funções sensoriais relacionadas com determinados estímulos, tais como: a dor, o toque, a
temperatura e o paladar (Cruchley & Bergmeier, 2018).

1.1.6. Glândulas salivares

As glândulas salivares (Figura 3) são estruturas exócrinas que produzem saliva. Podem
ser divididas em glândulas salivares major e minor. Existem três pares de glândulas
salivares major, com uma localização bilateral, nomeadamente: a parótida, a
submandibular e a sublingual, que produzem cerca de 90% do total da saliva. As
glândulas salivares minor são responsáveis pela secreção de aproximadamente 10% do
total da saliva (Patel & Barros, 2015; Pedersen et al., 2018; Vila et al., 2019).
Relativamente à contribuição salivar de cada uma das glândulas major, a parótida produz
cerca de 20% do total da saliva glandular, a submandibular cerca de 65% e a sublingual
aproximadamente 5% (Vila et al., 2019).

19
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

Glândulas
minor
Sublingual

Parótida
Submandibular

Parótida

Sublingual
Submandibular

Figura 3 – Representação da localização das glândulas salivares major e percentagens aproximadas


da contribuição salivar das glândulas major e minor. Adaptado de Vila et al., 2019.

A parótida corresponde à maior glândula salivar, sendo constituída por uma cápsula com
fibras de tecido conjuntivo. Apresenta um canal excretor, designado de canal de Stensen,
com a sua abertura localizada ao nível do segundo molar superior (Patel & Barros, 2015).
Situa-se à frente e abaixo da orelha (Vila et al., 2019). Pesa entre 15 a 30 gramas,
aproximadamente (Chojnowska et al., 2018).

A submandibular consiste numa glândula com cerca de metade do tamanho da parótida,


sendo revestida por uma cápsula. Tem um canal excretor, denominado de canal de
Wharton, com a sua abertura situada na região anterior do pavimento da cavidade oral
(Patel & Barros, 2015). Localiza-se na área abaixo da mandíbula (Vila et al., 2019). Pesa,
aproximadamente, entre 7 a 16 gramas (Chojnowska et al., 2018).

20
Desenvolvimento

A sublingual é a glândula salivar major mais pequena e, ao contrário da parótida e da


submandibular, não é encapsulada. Possui entre 8 a 20 canais excretores, designados de
canais de Rivinus, com a sua abertura localizada ao nível do freio lingual. Vários destes
canais podem-se juntar, formando um canal comum, denominado de canal de Bartholin,
que, por sua vez, pode estar associado ao canal de Wharton (Patel & Barros, 2015).
Encontra-se na região abaixo da língua (Vila et al., 2019). Pesa cerca de 3 a 5 gramas
(Chojnowska et al., 2018).

As glândulas salivares minor são mais simples, sendo que apresentam um único canal
excretor. Existem cerca de 600 a 1000 glândulas minor, que se encontram distribuídas na
mucosa oral, em várias estruturas, tais como: nos lábios, nas bochechas, no palato, na
língua e nas superfícies retromolares (Bowers et al., 2015; Hernández & Taylor, 2020;
Patel & Barros, 2015; Pedersen et al., 2018). Podem, também, ser encontradas no
pavimento da boca, na úvula, na faringe e na laringe (Patel & Barros, 2015).

De referir que, na língua, existem três tipos de glândulas minor, designadamente: as


glândulas de Weber, localizadas ao longo do bordo lateral da língua; as glândulas de von
Ebner, que se encontram ao redor das papilas circunvaladas; e as glândulas de Blandin e
Nuhn, situadas na região anterior da superfície ventral da língua (Bowers et al., 2015).

A nível histológico, as glândulas salivares major são constituídas por dois tipos de células:
as células acinares e as células ductais (Figura 4), que atuam de forma dinâmica, desde a
produção do fluido salivar até à sua libertação na cavidade oral (Bowers et al., 2015;
Hernández & Taylor, 2020; Roblegg et al., 2019).

Células ductais estriadas

Células
Células ductais
acinares
intercaladas Células ductais
interlobulares
ou excretoras

Figura 4 – Representação esquemática geral das células acinares e ductais que existem numa
glândula salivar major. Adaptado de Bowers et al., 2015.

21
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

As células acinares são responsáveis pela produção da saliva, sendo que formam
conjuntos, designados de ácinos, que correspondem às unidades de secreção da glândula
salivar. Podem ser divididas em dois tipos: as células serosas, que produzem uma saliva
mais fluida, rica em água e enzimas; e as células mucosas, que produzem uma saliva mais
espessa, rica em glicoproteínas salivares, as mucinas (Bowers et al., 2015; Hernández &
Taylor, 2020).

As células ductais formam um sistema com ramificações, que permite a modificação da


saliva e o seu transporte desde os ácinos até à cavidade oral, onde é libertada. Podem ser
divididas em três tipos: as células intercaladas, as células estriadas e as células
interlobulares ou excretoras que pertencem, respetivamente, à primeira, segunda e
terceira partes do ducto (Bowers et al., 2015; Hernández & Taylor, 2020). De acordo com
o tipo de glândula salivar, os ductos podem apresentar variações nas suas dimensões,
nomeadamente ao nível do comprimento e do diâmetro (Pedersen et al., 2018).

Está, também, descrito que existem células ao redor dos ácinos e dos ductos intercalados,
designadas de células mioepiteliais. Estas células encontram-se organizadas de forma
diferente nas várias glândulas salivares e têm a capacidade de contração (Pedersen et al.,
2018). De referir que auxiliam a glândula no processo de transporte do fluido salivar até
à cavidade oral (Roblegg et al., 2019).

De mencionar que as glândulas salivares major têm uma composição diversificada. Para
além dos vários tipos de células constituintes, são, também, formadas por um conjunto de
vasos sanguíneos e nervos (Pedersen et al., 2018).

As glândulas salivares major podem ser classificadas quanto ao tipo de células acinares
que apresentam. Assim sendo, a parótida é serosa, constituída por células serosas; a
submandibular é mista, composta por células serosas e mucosas, no entanto, tem maior
quantidade de células serosas; e a sublingual é, também, mista, mas com maior número
de células mucosas (Chojnowska et al., 2018; VanPutte et al., 2020).

Alguns autores classificaram, também, os três tipos de glândulas minor que existem na
língua. Está descrito que as de Weber são mucosas; as de von Ebner são serosas; e as de
Blandin e Nuhn são mistas (Bowers et al., 2015).

De modo a facilitar a execução de funções como a mastigação e a fala, é importante que


a cavidade oral se mantenha húmida, sendo fundamental o papel das glândulas salivares

22
Desenvolvimento

major e minor. As secreções salivares produzidas, que podem ser serosas, mucosas ou
seromucosas, permitem a hidratação dos tecidos orais (Qin et al., 2017). O fluido salivar
libertado pelas várias glândulas confere proteção às estruturas dentárias e à mucosa oral
(Proctor, 2018).

1.2. Saliva

1.2.1. Definição

Relativamente à sua origem, a saliva glandular consiste num fluido biológico produzido
e libertado pelas glândulas salivares major e minor na cavidade oral. Apresenta uma
variedade de componentes e de funções (Castañeda & Moya, 2012; Chojnowska et al.,
2018; Fatima et al., 2020; Rathnayake et al., 2017; Slowey, 2015; Sousa et al., 2019).

A saliva produzida nas glândulas salivares é estéril, mas deixa de o ser, assim que é
libertada na cavidade oral. A sua composição é alterada imediatamente, devido à mistura
que ocorre com os componentes existentes no meio oral (Castañeda & Moya, 2012).
Deste modo, a saliva total pode ser definida, no seu todo, como uma solução complexa,
constituída pela secreção proveniente das glândulas salivares, bem como por fluido
crevicular gengival (Zhang et al., 2016).

Além disso, é possível definir dois tipos de saliva: a saliva não estimulada e a saliva
estimulada. A saliva não estimulada refere-se ao fluido produzido em repouso, sem
estímulos, principalmente a partir da região abaixo da língua; e tem como objetivo manter
a lubrificação das várias estruturas da cavidade oral. A saliva estimulada é o fluido cuja
produção ocorre mediante estímulos, por exemplo, musculares ou olfativos; e
corresponde à maior quantidade da saliva secretada diariamente (Fatima et al., 2020).

1.2.2. Secreção

A secreção salivar glandular consiste num processo controlado pelo sistema nervoso
autónomo (Castañeda & Moya, 2012; Pedersen et al., 2018; Woźniak et al., 2019). De
referir que a sua regulação é efetuada através de vias reflexas, sendo que existe uma via
aferente, o centro salivar e uma via eferente (Pedersen et al., 2018).

O reflexo salivar pode ser desencadeado pelo paladar e pela mastigação, bem como por
estímulos associados ao olfato, à dor, à temperatura e ao pensamento. Relativamente ao
paladar, o reflexo resulta da ativação de quimiorrecetores presentes nas papilas gustativas
da língua. Em relação à mastigação, o reflexo ocorre devido à ativação de
23
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

mecanorrecetores que existem ao nível do ligamento periodontal e, ainda, pela ativação


de outros recetores que se encontram na cavidade oral. Os núcleos sensoriais transmitem
esse conjunto de informações ao centro salivar, localizado no cérebro; e as vias reflexas
conduzem os impulsos sensoriais para se iniciar a secreção salivar (Pedersen et al., 2018).

Mediante um estímulo, os impulsos nervosos aferentes são conduzidos para o centro


salivar e para as estruturas cerebrais superiores. A partir daqui, são enviados impulsos
eferentes para as células das glândulas salivares, através da via eferente. Esta via é
constituída por neurónios parassimpáticos e simpáticos, que atuam de forma associada e
são responsáveis pela inervação das glândulas salivares. De modo geral, os neurónios
parassimpáticos predominam sobre os simpáticos. Assim que as glândulas recebem a
informação, iniciam a secreção do fluido salivar (Pedersen et al., 2018).

Está descrito que a atividade parassimpática contribui para a produção de uma grande
quantidade de saliva, com baixa concentração de proteínas; enquanto que a atividade
simpática é responsável por uma menor secreção de saliva, com elevada concentração de
proteínas (Pedersen et al., 2018). A saliva produzida pela ação do sistema parassimpático
é mais fluida e, no caso do sistema simpático, é mais viscosa (Castañeda & Moya, 2012).

A secreção do fluido salivar é um mecanismo ativo, dependente de energia, no qual as


células acinares são responsáveis (Ekström et al., 2017). Este processo ocorre em duas
etapas, designadamente: a formação da saliva primária e a sua modificação a nível ductal
(Castañeda & Moya, 2012; Pedersen et al., 2018).

Numa situação de repouso, sem estimulação das glândulas salivares, existe uma elevada
concentração de iões potássio (K+) e cloreto (Cl-) nas células acinares (Patel & Barros,
2015).

Quando se inicia a estimulação glandular, ocorre a libertação de neurotransmissores.


Estes ligam-se aos respetivos recetores, localizados na membrana da célula acinar, sendo
ativada uma cascata de reações bioquímicas (Patel & Barros, 2015; Pedersen et al., 2018).
Relativamente ao sistema parassimpático, o principal neurotransmissor é a acetilcolina,
que se liga aos recetores colinérgicos muscarínicos dos tipos M1 e M3. Em relação ao
sistema simpático, o principal neurotransmissor é a noradrenalina, que se liga aos
recetores adrenérgicos dos tipos α1 e β1. De referir que a secreção de proteínas é induzida
pela ligação da noradrenalina a recetores β1, enquanto que a libertação do líquido que

24
Desenvolvimento

funciona como transportador dessas proteínas ocorre devido à ligação a recetores α1


(Pedersen et al., 2018).

No interior da célula, há um aumento da concentração de cálcio (Ca2+), que conduz à


ativação de canais iónicos de K+ e de Cl-. Através destes canais, o K+ e o Cl- saem do
citoplasma da célula para o interstício e para o lúmen, respetivamente. O aumento da
concentração de Cl- no lúmen desencadeia o transporte de sódio (Na+) do interstício para
o lúmen, de modo a estabelecer uma neutralização. A pressão osmótica permite o
transporte da água para o lúmen, com a formação de uma secreção isotónica, designada
de saliva primária, que possui uma composição idêntica à do plasma (Ekström et al., 2017;
Patel & Barros, 2015; Pedersen et al., 2018).

Posteriormente, a saliva primária é transportada e sofre alterações ao nível dos ductos


estriados, nos quais a permeabilidade à água, é baixa. Nestes ductos, devido ao gradiente
de concentração, há reabsorção dos iões Na+ e Cl-, enquanto que os iões bicarbonato
(HCO3-) e K+ são adicionados. Forma-se, assim, uma saliva hipotónica, que é libertada
na cavidade oral (Ekström et al., 2017; Patel & Barros, 2015; Pedersen et al., 2018).

A saliva resultante do fluido crevicular gengival é um transudado com composição


semelhante ao plasma. Em situações de gengivite/periodontite, aumentam os
componentes celulares, sobretudo os neutrófilos, e moleculares, assumindo
características inflamatórias compatíveis com exsudado (Hernández & Taylor, 2020).

Existem determinados fatores que podem afetar a secreção salivar, tais como: o grau de
hidratação corporal, em que foi demonstrado que a desidratação aguda está relacionada
com a diminuição da secreção de saliva; o tamanho das glândulas salivares; e a perda de
ácinos secretores (Pedersen et al., 2018).

1.2.3. Composição e características

A saliva é constituída por cerca de 99% de água e 1% de componentes inorgânicos e


orgânicos. Os componentes inorgânicos são os eletrólitos, como sódio, potássio, cloreto,
cálcio, bicarbonato, fosfato, flúor, magnésio, entre outros. Os componentes orgânicos
consistem em proteínas, enzimas, imunoglobulinas, fatores antimicrobianos, compostos
azotados, entre outros (Ahsan, 2018; Castañeda & Moya, 2012; Khurshid et al., 2016;
Zhang et al., 2016). Existem vários constituintes proteicos, como por exemplo: amilase
salivar, mucinas, histatinas, cistatinas e lisozimas (Roblegg et al., 2019).

25
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

Na composição da saliva, é possível encontrar elementos como DNA, RNA e proteínas,


que pertencem ao grupo dos biomarcadores (Ahsan, 2018; Kaczor-Urbanowicz et al.,
2016; Khurshid et al., 2016; Roblegg et al., 2019; Wang et al., 2016; Zhang et al., 2016).

De mencionar, ainda, a presença de outros componentes que se misturam com a saliva


(glandular) na cavidade oral, tais como: fluido crevicular gengival, restos de alimentos,
microrganismos e células descamativas da mucosa oral (Bowers et al., 2015; Castañeda
& Moya, 2012). Todos estes elementos, bem como metabolitos de medicamentos
formam, no seu conjunto, a saliva total (Figura 5), que é, também, constituída pela saliva
não estimulada e estimulada (Hernández & Taylor, 2020).

Saliva não estimulada

Fluido crevicular Microrganismos


gengival
Saliva
total

Metabolitos de
Restos de alimentos medicamentos

Saliva estimulada

Figura 5 – Principais componentes da saliva total. Adaptado de Hernández & Taylor, 2020.

A composição da saliva total de cada indivíduo pode apresentar variações, devido a


determinados fatores, nomeadamente: os hábitos de higiene oral; a prática de atividade
física; o tipo de alimentos ingeridos; a presença de patologias sistémicas; e a constituição
genética e imunológica individual (Hernández & Taylor, 2020).

Relativamente aos componentes salivares, é referido que o fluido salivar proveniente da


glândula parótida contém elevada quantidade de bicarbonato e amilase, enquanto que a
secreção com origem na glândula submandibular apresenta um alto teor de cálcio e
mucinas (Castañeda & Moya, 2012).

Em condições normais, a saliva caracteriza-se por ser um fluido incolor e sem cheiro
(Zhang et al., 2016). É ligeiramente ácida, com um valor de pH normal entre 6 e 7

26
Desenvolvimento

(Kaczor-Urbanowicz et al., 2016; Kerr & Tribble, 2015; Khurshid et al., 2016; Roblegg
et al., 2019; Wang et al., 2016).

Num indivíduo saudável, a quantidade de saliva produzida diariamente varia entre 0,5 e
1,5 litros (Bowers et al., 2015; Castañeda & Moya, 2012; Kaczor-Urbanowicz et al., 2016;
Khurshid et al., 2016; Rathnayake et al., 2017; Roblegg et al., 2019). A sua produção
oscila ao longo do dia (Castañeda & Moya, 2012).

Além disso, é possível comparar os dois tipos de saliva, não estimulada e estimulada,
relativamente a determinados parâmetros. Está descrito que a saliva não estimulada é
bastante hipotónica, com um pH neutro ou ligeiramente ácido; enquanto que a saliva
estimulada é menos hipotónica, com um pH alcalino (Hernández & Taylor, 2020). Numa
situação normal, no indivíduo adulto, a saliva não estimulada tem um fluxo salivar
contínuo de cerca de 0,25 a 0,35 mililitros por minuto; e a saliva estimulada apresenta um
fluxo de 1 a 3 mililitros por minuto, aproximadamente. Estes valores podem variar de
indivíduo para indivíduo (Almeida et al., 2008).

A concentração de proteínas existentes na composição da saliva é inversamente


proporcional à taxa de fluxo salivar. Quando há uma elevada taxa de fluxo salivar, a saliva
produzida apresenta uma menor concentração de proteínas, sendo mais isotónica em
relação ao plasma. Nas situações em que há uma baixa taxa de fluxo salivar, a saliva
libertada tem uma maior concentração de proteínas, sendo mais hipotónica relativamente
ao plasma (Hernández & Taylor, 2020).

1.2.4. Funções

A saliva desempenha um conjunto de funções (Tabela 1), fundamentais para manter uma
boa saúde oral e geral. É importante referir que estas funções se encontram relacionadas
com os vários componentes salivares, os quais apresentam um determinado modo de ação
(Hernández & Taylor, 2020; Pedersen et al., 2018).

Função Componentes Modo de ação


Manutenção da
saúde oral
Lubrificação das Mucinas São proteínas bastante glicosiladas que
superfícies orais Proteínas ricas em formam uma rede hidrofílica. Dos vários
prolina glicosiladas tipos de mucinas, a MUC5B é a primeira

27
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

Água mucina que forma gel; a MUC7 tem


menor eficiência como lubrificante.
Conferem à saliva textura e viscosidade.
Clearance oral Água Eliminação de microrganismos, açúcares
e ácidos provenientes da dieta por diluição
e deglutição.
Capacidade Bicarbonato Neutralização de ácidos provenientes da
tampão Fosfato dieta e da fermentação de açúcares, com o
Proteínas objetivo de manter o pH neutro, diminuir
a desmineralização dentária e promover o
equilíbrio da microbiota oral.
Formação da Proteínas salivares - Interagem entre si, com as superfícies
película salivar exemplos: mucinas, mucosas e dentárias e com
proteínas ricas em microrganismos, alterando as suas
prolina, α-amilase, propriedades e a capacidade de modular a
cistatinas, estaterinas, colonização microbiana na cavidade oral.
lisozimas, lactoferrina, As MUC1 e MUC4 atuam na sinalização
IgA celular e interagem com outras proteínas
salivares.
Mineralização Proteínas ricas em Têm elevada afinidade pela
dentária prolina hidroxiapatite, ligam-se ao cálcio e inibem
Cistatinas a precipitação espontânea de sais de
Estaterinas fosfato de cálcio da superfície dentária,
essencial para a integridade dos dentes.
Ação Mucinas Promovem a agregação de
antimicrobiana microrganismos, principalmente a MUC7;
antibacteriano, antifúngico e antiviral.
Histatinas Antifúngico e antibacteriano (moderado).
Cistatinas Antibacteriano, antifúngico e antiviral.
Estaterinas Antibacteriano, antifúngico e antiviral.
Proteínas ricas em Antibacteriano (gram-negativo) e
prolina antiviral.

28
Desenvolvimento

Peroxidases Catalisam a oxidação do tiocianato em


hipotiocianato por peróxido de
hidrogénio; antibacteriano e antifúngico.
α-amilase Antibacteriano; fornecem nutrição para
determinadas bactérias, através da
hidrólise do amido/glicogénio.
Lisozima Hidrólise da camada de polissacáridos da
parede celular bacteriana gram-positiva;
antibacteriano, antifúngico e antiviral.
Lactoferrina Ligação e captação de ferro, privando os
microrganismos de ferro; antibacteriano,
antifúngico e antiviral.
Imunoglobulinas, Inibem a adesão microbiana, aumentam a
predominantemente fagocitose, agregam microrganismos nas
IgA interações com outras proteínas.
Antibacteriano, antifúngico e antiviral.
Defensinas Péptidos antimicrobianos.
Reparação dos Fatores de crescimento O fator de crescimento epidérmico (EGF)
tecidos promove a proliferação e migração das
células do epitélio oral para a cicatrização
de feridas. O fator de crescimento de
fibroblastos (FGF) promove a cicatrização
de feridas e a reparação dos tecidos.
Água Protegem a mucosa orofaríngea de lesões.
Mucinas
Funções
digestivas
Paladar Água Dissolução e transporte de substâncias
Mucinas gustativas para as papilas gustativas.
Gustina Crescimento e desenvolvimento das
papilas gustativas; integridade da
sensibilidade gustativa.

29
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

Proteínas salivares A composição da saliva tem influência na


perceção gustativa.
Eletrólitos
Proteínas ricas em Precipita taninos e contribui para a
prolina sensação de adstringência.
Digestão inicial α-amilase Quebra as ligações α-1,4 – glicosídicas do
Mastigação amido/glicogénio em maltose, maltotriose
e dextrinas.
Lipase Hidrolisa os triglicéridos em glicéridos
parciais e ácidos gordos livres.
Formação do Água Promove e facilita a formação do bolo
bolo alimentar Mucinas alimentar e a deglutição.
Deglutição
Articulação da Água Facilita na articulação da fala.
fala Mucinas

Tabela 1 – Funções da saliva relacionadas com os seus componentes e o respetivo modo de ação.
Adaptado de Pedersen et al., 2018.

A lubrificação é uma função fundamental para assegurar a hidratação das superfícies


dentárias e da mucosa oral (Dawes et al., 2015; Fatima et al., 2020; Patel & Barros, 2015;
Pedersen et al., 2018; Rathnayake et al., 2017; Sousa et al., 2019). Assim, permite uma
menor suscetibilidade à abrasão durante a mastigação e a deglutição; e auxilia na limpeza
da cavidade oral (Dawes et al., 2015). De referir, também, que o fluxo contínuo de saliva
não estimulada contribui para evitar infeções causadas por microrganismos nos canais
das glândulas salivares (Dawes et al., 2015; Fatima et al., 2020; Qin et al., 2017).

A clearance oral consiste numa das funções mais importantes da saliva. Está descrito que
este fluido tem a capacidade de eliminação de restos de alimentos, açúcares, ácidos e
microrganismos existentes na cavidade oral (Dawes et al., 2015; Fatima et al., 2020;
Pedersen et al., 2018; Proctor, 2018; Rathnayake et al., 2017; Zhang et al., 2016).

A capacidade tampão da saliva trata-se de uma função indispensável para a neutralização


de ácidos, com o objetivo de manter um pH neutro na cavidade oral (Almeida et al., 2008;
Carbone et al., 2016; Dodds et al., 2015; Pedersen et al., 2018; Roblegg et al., 2019).
Além disso, confere proteção contra o aparecimento de lesões de cárie dentária. É referido

30
Desenvolvimento

que o bicarbonato é o componente com maior ação, seguido dos péptidos ricos em
histidina, da ureia e do fosfato (Roblegg et al., 2019). De salientar que a saliva é
fundamental na prevenção da desmineralização dentária (Kaczor-Urbanowicz et al.,
2016; Malathi et al., 2014; Pedersen et al., 2018; Proctor, 2018; Qin et al., 2017).

A película salivar adquirida é essencial para a homeostasia dos dentes, sendo que confere
proteção físico-química das superfícies dentárias e previne a adesão e colonização de
bactérias (Ahsan, 2018; Carbone et al., 2016; Fábián et al., 2012; Pedersen et al., 2018).
Esta estrutura consiste numa camada de proteínas que protege as superfícies dentárias de
alterações estruturais, como atrição, abrasão e erosão, e também do aparecimento de cárie
dentária (Dawes et al., 2015; Fatima et al., 2020; Proctor, 2018).

A mineralização dentária é uma função assegurada por um conjunto de proteínas


salivares. Estes componentes apresentam elevada afinidade pela hidroxiapatite, ligam-se
ao cálcio e inibem a precipitação espontânea de sais de fosfato de cálcio da superfície
dentária, o que contribui para a integridade das estruturas dentárias (Pedersen et al., 2018).
De mencionar que a saliva intervém no processo de remineralização dentária, devido a
alguns dos seus componentes, como o cálcio, o fosfato e as estaterinas (Patel & Barros,
2015).

A ação antimicrobiana da saliva está relacionada com vários dos seus componentes
proteicos, apresentados, anteriormente, na Tabela 1. Destes constituintes, é de salientar a
presença das imunoglobulinas. Neste grupo, destaca-se a IgA secretora, que é
predominante na saliva glandular e a IgG proveniente do plasma, no fluido crevicular
gengival (Almeida et al., 2008; Castañeda & Moya, 2012; Dawes et al., 2015; Pedersen
et al., 2018; Roblegg et al., 2019).

Relativamente à IgA, esta desempenha importantes funções, designadamente: a


capacidade de agregar microrganismos e evitar que estes possam colonizar e aderir às
superfícies da cavidade oral durante os processos inflamatórios e neutralizar toxinas
libertadas por bactérias e vírus, impedindo a sua ligação aos recetores celulares (Roblegg
et al., 2019).

A reparação dos tecidos é outra das funções desempenhadas pela saliva (Almeida et al.,
2008; Castañeda & Moya, 2012; Dawes et al., 2015; Dodds et al., 2015; Fatima et al.,
2020; Pedersen et al., 2018). A cavidade oral é frequentemente suscetível a diversos
fatores traumáticos, tais como mordidas na bochecha, causadas pelo próprio indivíduo e,

31
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

também, extrações dentárias (Dawes et al., 2015; Fatima et al., 2020). Na composição da
saliva, existem determinados fatores de crescimento, tais como o fator de crescimento
epidérmico (EGF) e o fator de crescimento de fibroblastos (FGF), que promovem a
cicatrização de feridas (Pedersen et al., 2018).

O paladar é uma função na qual a saliva tem um papel relevante. Este fluido tem a
capacidade de dissolução dos alimentos, distribuindo-os para as papilas gustativas, onde
existem quimiorrecetores para as substâncias gustativas (Almeida et al., 2008; Dawes et
al., 2015; Fatima et al., 2020; Patel & Barros, 2015; Pedersen et al., 2018).

A digestão inicial e a mastigação são funções em que a saliva tem uma ação fundamental.
Neste fluido, existem enzimas digestivas, tais como: a α-amilase, que é responsável pela
quebra das ligações α-1,4 – glicosídicas do amido; e a lipase. Além disso, a saliva
participa ativamente na formação do bolo alimentar e na deglutição, devido à presença de
água e mucinas (Dawes et al., 2015; Ekström et al., 2017; Pedersen et al., 2018).

A articulação da fala é um processo facilitado pela ação da saliva, devido à capacidade


de manter a cavidade oral húmida (Carbone et al., 2016; Patel & Barros, 2015; Pedersen
et al., 2018; Qin et al., 2017; Rathnayake et al., 2017).

1.2.5. Comparação com o fluido crevicular gengival

Tal como referido anteriormente, o fluido crevicular gengival consiste num líquido que
se encontra presente no sulco gengival. Mistura-se com a saliva (glandular) na cavidade
oral e corresponde, assim, a um dos componentes da saliva total (Hernández & Taylor,
2020). No entanto, é possível comparar os dois fluidos, quanto à sua composição e
funções (Cruchley & Bergmeier, 2018).

Numa situação normal, o sulco gengival produz uma quantidade mínima de fluido
crevicular. Na periodontite, a área deste sulco pode aumentar dez vezes mais, produzindo
um maior volume de fluido. Surgem alterações ao nível da microcirculação, com o
desenvolvimento de pequenos vasos sanguíneos. Consequentemente, dá-se a
vasodilatação das arteríolas, havendo um aumento do fluxo sanguíneo. Assim, a
permeabilidade vascular torna-se aumentada, o que desencadeia a libertação de plasma,
células inflamatórias e proteínas imunológicas, havendo exsudação de fluido crevicular
em maior quantidade (Bibi et al., 2021).

32
Desenvolvimento

Relativamente à composição do fluido crevicular, está descrito que alguns dos seus
constituintes são semelhantes aos da saliva (Hernández & Taylor, 2020). É importante
salientar que, no fluido crevicular, existem vários componentes que contribuem para a
imunidade da cavidade oral (Figura 6), tais como: IgA, IgG (principal), IgM, lisozima,
peroxidase e leucócitos. Na saliva glandular, estão presentes alguns destes, como IgA,
lisozima e peroxidase, mas também outros compostos, como por exemplo: mucina e
lactoferrina (Cruchley & Bergmeier, 2018).

Saliva glandular Fluido crevicular


gengival

Imunidade oral

IgA IgA, IgG, IgM


Lisozima Lisozima
Peroxidase Peroxidase
Mucina Leucócitos
Lactoferrina Fluido oral

Figura 6 – Componentes da saliva glandular e do fluido crevicular gengival que contribuem para a
imunidade da cavidade oral. Adaptado de Cruchley & Bergmeier, 2018.

Para além das células, proteínas e enzimas que pertencem à composição do fluido
crevicular, existem outros elementos, nomeadamente: hidratos de carbono, lípidos, e
eletrólitos como cálcio, sódio, potássio, flúor e magnésio. De mencionar, também, que
podem ser adicionados ao fluido crevicular produtos provenientes do metabolismo dos
microrganismos, que se depositam no sulco gengival (Saloom & Carpenter, 2018).

33
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

No que se refere ao conteúdo proteico destes dois fluidos orais, estudos realizados
demonstraram que, comparativamente com a saliva proveniente das glândulas salivares,
o fluido crevicular apresenta uma maior quantidade de proteínas (Heller et al., 2016;
Odanaka et al., 2020).

No que diz respeito às funções do fluido crevicular, estas encontram-se diretamente


relacionadas com os seus componentes. Ambos os fluidos são fundamentais para a
imunidade da cavidade oral, principalmente devido à sua capacidade de auxiliar na
limpeza dos restos de alimentos e à sua ação antimicrobiana (Hernández & Taylor, 2020).
De referir que as proteínas presentes na saliva total atuam na neutralização dos
microrganismos prejudiciais e dos respetivos produtos (Saloom & Carpenter, 2018).

Em relação à secreção do fluido crevicular, é referido que esta é maior durante o período
diurno, quando comparado com o noturno (Hernández & Taylor, 2020). Numa situação
em que o sulco gengival se encontra saudável, este fluido é libertado a uma taxa de
aproximadamente 3 microlitros por hora. No entanto, em condições de inflamação, como
na periodontite, a sua produção está, geralmente, aumentada. Assim sendo, de acordo com
o grau de inflamação, o fluxo pode ir até cerca de 44 microlitros por hora (Saloom &
Carpenter, 2018).

Existem outras situações em que a produção do fluido crevicular pode estar aumentada,
tais como: após a realização de procedimentos periodontais; durante o processo de
mastigação; em indivíduos fumadores; e na mulher, devido a alterações hormonais
(Hernández & Taylor, 2020).

Além disso, o fluido crevicular pode ser útil como meio auxiliar no diagnóstico da doença
periodontal, na avaliação dos resultados dos tratamentos efetuados e na determinação do
risco de desenvolver esta patologia (Quesada & Álvarez, 2017).

De referir que a colheita do fluido crevicular para análise pode ser feita, por exemplo,
com a utilização de micropipetas, tubos capilares ou tiras de papel absorvente. O último
destes métodos é considerado o menos traumático, fácil e rápido, se a técnica de recolha
for executada corretamente, com a tira de papel bem colocada no sulco gengival (Saloom
& Carpenter, 2018).

34
Desenvolvimento

1.2.6. Oraloma

As várias ciências “ómicas” como a genómica, a transcriptómica, a proteómica, a


metabolómica, a interactómica e a fisiómica permitem o diagnóstico especializado de
doenças e o desenvolvimento de estratégias terapêuticas mais eficazes, ou seja, uma
medicina personalizada. Para tal, estas ciências recorrem a bases de dados, de forma a
organizar e analisar dados biológicos, bioquímicos, clínicos, entre outros (Rosa, 2011).

Em cada um dos níveis de organização da informação biológica (Figura 7), existem


determinados elementos, sendo eles, por ordem crescente de complexidade: os genes, as
proteínas, as células, os tecidos, os órgãos e os sistemas/organismo (Rosa, 2011).

Genes Proteínas Células Tecidos Órgãos Sistemas

Figura 7 – Níveis de organização da informação biológica, por ordem crescente de complexidade.


Adaptado de Rosa, 2011.

É importante referir quais os elementos estudados por cada uma das ciências “ómicas”.
Assim, a genómica dedica-se ao estudo do conjunto de todos os genes humanos; a
transcriptómica ao conjunto de RNA; a proteómica às diversas proteínas; a metabolómica
aos vários metabolitos orgânicos; a interactómica às interações entre todas as moléculas
que pertencem ao sistema biológico; e a fisiómica relacionada com o contexto
morfológico, fisiológico e patológico do organismo humano (Rosa, 2011).

No caso da cavidade oral, a fisiómica recebe a designação específica de oralómica. Assim


sendo, foi elaborado o conceito de oraloma, também conhecido como fisioma oral. O
oraloma é constituído pelos vários elementos celulares e moleculares que pertencem à
composição da saliva total. Destaca-se a presença das várias proteínas salivares, cujas
funções, características e processos de sinalização celular em que intervêm podem ser
estudados (Rosa, 2011).

35
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

De modo a integrar toda a informação celular e molecular da cavidade oral, foi


desenvolvida uma aplicação denominada de OralCard. Trata-se de uma ferramenta
bioinformática para a pesquisa científica em saúde oral. Consiste num banco de dados em
formato digital que contém informações relativas ao proteoma da cavidade oral,
juntamente com o proteoma de origem microbiana, ou seja, as proteínas produzidas pelos
microrganismos que, geralmente, podem conduzir ao desenvolvimento de doenças orais
e sistémicas. Com o recurso ao OralCard, é possível a interpretação mais facilitada dos
mecanismos que ocorrem no meio oral e a análise mais eficaz dos biomarcadores que
podem indicar a presença de condições patológicas (Arrais et al., 2013).

A saliva é um material biológico que apresenta múltiplas aplicações, constituindo um


importante meio de diagnóstico. É considerada uma boa alternativa a outros fluidos como
o sangue (Chojnowska et al., 2018; Malathi et al., 2014; Nemoda, 2020; Saloom &
Carpenter, 2018; Sun & Reichenberger, 2014; Wang et al., 2016).

Atualmente, destaca-se a utilização da saliva em testes genéticos, na medida em que


possui, na sua composição, material genético, nomeadamente DNA, que apresenta um
nível de qualidade relativamente elevado (Dawes & Wong, 2019; Nemoda, 2020; Nunes
et al., 2015; Roi et al., 2019).

O DNA presente na composição da saliva constitui um biomarcador fundamental. Um


biomarcador, também designado de marcador biológico, consiste num elemento que pode
ser medido no organismo e que tem como objetivo informar acerca dos processos
biológicos normais, das condições de uma determinada doença ou de respostas
farmacológicas a uma terapêutica estabelecida. Os biomarcadores podem ser de vários
tipos, como anticorpos, material genético, metabolitos e proteínas; e permitem relacionar
o estado de saúde individual com fatores genéticos, imunológicos, ambientais, entre
outros (Ahsan, 2018; Khan et al., 2017; Roi et al., 2019; Yoshizawa et al., 2013).

De modo a efetuar um diagnóstico eficaz a partir da saliva, é necessário haver uma seleção
adequada dos biomarcadores salivares, ou seja, devem ser corretamente identificados e
validados (Khan et al., 2017; Schafer et al., 2014). No que diz respeito às condições
patológicas da cavidade oral, evidencia-se a periodontite que apresenta um conjunto de
biomarcadores salivares associados (Tabela 2) (Zhang et al., 2015).

36
Desenvolvimento

Biomarcadores Modo de ação Tipo de periodontite


salivares
IgA, IgG, IgM Interferem na adesão e no metabolismo Crónica, agressiva
bacteriano.
Mucinas Interferem com a colonização Agressiva
bacteriana.
Lisozima Regula a acumulação de biofilme. Crónica

Lactoferrina Inibe o crescimento dos microrganismos. Agressiva

Histatinas Neutralizam os lipopolissacáridos. Crónica, agressiva

Peroxidase Interfere com a acumulação de biofilme. Crónica

Proteína C-reativa Apresenta concentrações aumentadas no Crónica, agressiva


soro e na saliva em indivíduos com
periodontite.

Tabela 2 – Biomarcadores salivares associados à periodontite. Adaptado de Zhang et al., 2015.

Os testes genéticos têm como principais objetivos: detetar a presença de polimorfismos


genéticos; identificar fatores de risco hereditário para doenças específicas, de origem
genética, de modo a facilitar o seu diagnóstico; e associar fatores genéticos e condições
médicas individuais a patologias mais frequentes, como por exemplo diabetes mellitus,
hipertensão e doença de Alzheimer (Nemoda, 2020). De mencionar que os polimorfismos
genéticos correspondem a variações ao nível dos genes (Dawes & Wong, 2019; Nemoda,
2020).

Está descrito que existem vários tipos de testes genéticos, nos quais a saliva pode ser
utilizada, designadamente: para determinação de risco genético a nível familiar; para
deteção de mutações genéticas em células orais pré-cancerosas; em pesquisas forenses; e
em estudos epidemiológicos, a nível populacional (Nemoda, 2020).

Além disso, é importante salientar que a saliva possui determinadas vantagens como meio
de diagnóstico (Tabela 3), tais como: apresenta boa estabilidade; tem elevada

37
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

disponibilidade; é constituída por um conjunto de biomarcadores relevantes; a colheita de


amostras é efetuada de modo não invasivo, simples, rápido e confortável para os
pacientes; o método de análise é fácil; e não requer equipamentos especializados e de
elevado custo (Javaid et al., 2016; Khurshid et al., 2016; Nunes et al., 2015; Wang et al.,
2016; Woźniak et al., 2019). De referir, ainda, que os procedimentos de manipulação da
saliva são mais seguros, sem utilização de agulhas e há um menor risco de infeção cruzada
(Javaid et al., 2016; Kaczor-Urbanowicz et al., 2016).

No entanto, deve-se ter em consideração que a utilização da saliva apresenta, também,


algumas desvantagens (Tabela 3), como por exemplo: a quantidade de biomarcadores
disponíveis é mais reduzida, comparativamente com os tecidos e sangue e são mais
suscetíveis a alteração dos resultados, na presença de inflamação na cavidade oral
(Woźniak et al., 2019).

Utilização da saliva como meio de diagnóstico


Vantagens Desvantagens
Boa estabilidade Quantidade de biomarcadores mais
reduzida, em comparação com os
tecidos/sangue
Elevada disponibilidade Alteração dos resultados, na inflamação
na cavidade oral
Presença de biomarcadores relevantes

Colheita de amostras de modo não


invasivo, simples, rápido e confortável
Método de análise fácil

Não requer equipamentos especializados


e de elevado custo
Procedimentos de manipulação mais
seguros, sem agulhas
Menor risco de infeção cruzada

Tabela 3 – Principais vantagens e desvantagens da utilização da saliva como meio de diagnóstico.


Adaptado de Javaid et al., 2016 e Woźniak et al., 2019.

38
Desenvolvimento

2. Imunologia da cavidade oral

A cavidade oral é uma estrutura anatómica suscetível ao aparecimento e desenvolvimento


de infeções bacterianas, virais e fúngicas, responsáveis por múltiplas doenças orais
(Taylor, 2018). É uma porta de entrada de microrganismos e outras substâncias
prejudiciais que necessitam de ser removidos do organismo (Yu et al., 2019).

A Imunologia Oral é fundamental para compreender os vários processos imunológicos


que atuam na proteção da cavidade oral contra os agentes patogénicos; e na resolução de
possíveis infeções que possam ocorrer. Estes mecanismos de defesa têm como objetivo
manter o equilíbrio do meio oral, sendo de elevada importância o papel da saliva a este
nível (Taylor, 2018).

2.1. Sistema imunitário

2.1.1. Definição, características gerais e funções

O sistema imunitário consiste num mecanismo complexo que permite ao organismo


humano distinguir o self, ou seja, o que pertence a si próprio, do non-self, isto é, os agentes
externos (Catanzaro et al., 2018; Delves et al., 2017; Dembic, 2015; Doan et al., 2013;
McComb et al., 2019; Nicholson, 2016; Sattler, 2017). Trata-se de um sistema biológico
dinâmico que permite assegurar a integridade orgânica (Delves et al., 2017; Yu et al.,
2019).

Este sistema é constituído por um conjunto de várias moléculas, células, tecidos e órgãos
especializados, que têm como principal função, a proteção do organismo (Aounallah et
al., 2020; Catanzaro et al., 2018; Male et al., 2013; Marshall et al., 2018; Medina, 2016;
McComb et al., 2019). Tem a capacidade de impedir infeções, de forma coordenada,
devido à ação das células efetoras e das proteínas imunológicas que neutralizam os
agentes patogénicos (Abbas et al., 2019; Atkinson et al., 2015; Murphy & Weaver, 2017;
Nicholson, 2016; Sattler, 2017; Scully et al., 2017; Tomar & De, 2014).

Dos vários tipos de agentes nocivos que necessitam de ser eliminados, estes podem ser
externos ao organismo, tais como bactérias e vírus; e internos, como por exemplo células
tumorais (Bergthaler & Menche, 2017; Doan et al., 2013). É fundamental a resposta eficaz
do organismo às ameaças, que tem como objetivo prevenir doenças ou, no caso de alguma
doença já se encontrar instalada, tentar impedir o seu desenvolvimento (Kelley, 2007).

39
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

É importante mencionar que o sistema imunitário apresenta uma estratégia de tolerância


imunológica, que se refere ao conjunto de mecanismos de proteção que evitam que uma
determinada resposta imunológica seja desencadeada contra o próprio organismo
(Murphy & Weaver, 2017).

É referido, também, que o sistema imunitário pode apresentar variações de indivíduo para
indivíduo, de acordo com determinados fatores, tais como: a idade, o género, a presença
de patologias e as influências genéticas e ambientais (Brodin & Davis, 2016).

2.1.2. Principais tipos de órgãos e tecidos

Relativamente à organização do sistema imunitário, este é composto por órgãos linfoides


primários e secundários, que possuem determinadas funções (Tabela 4). Nos órgãos
linfoides primários, como a medula óssea e o timo, ocorre a produção das células
imunológicas; enquanto que nos órgãos linfoides secundários, como os gânglios
linfáticos, o baço, as amígdalas e as placas de Peyer no intestino delgado, ocorre o
contacto das células imunológicas com o antigénio (Catanzaro et al., 2018; McComb et
al., 2019; Scully et al., 2017; Yatim & Lakkis, 2015).

Órgãos linfoides Funções


Primários
Medula óssea Hematopoiese: produção de células imunológicas;
desenvolvimento dos linfócitos B
Timo Desenvolvimento dos linfócitos T
Secundários
Baço Monitorização da integridade das células sanguíneas; local
favorável para se desencadearem respostas imunológicas em
relação a antigénios transportados no sangue
Vasos linfáticos Remoção do excesso de fluidos dos tecidos; transporte de
lipidos; circulação de células imunológicas
Gânglios linfáticos Filtração do fluido proveniente dos vasos linfáticos aferentes
que, posteriormente, é conduzido para os vasos linfáticos
eferentes; circulação de células imunológicas e resposta a
antigénios transportados pela linfa

Tabela 4 – Funções dos órgãos linfoides primários e secundários. Adaptado de Scully et al., 2017.

40
Desenvolvimento

Na pele e nas mucosas, existem estruturas linfoides e células imunológicas amplamente


distribuídas que atuam como barreira contra os agentes patogénicos, como por exemplo
o tecido linfoide associado à mucosa (MALT) que desempenha uma ação essencial de
defesa das mucosas (Abbas et al., 2019; Murphy & Weaver, 2017; Scully et al., 2017).

2.1.3. Principais tipos de células

No que diz respeito à produção das células imunológicas, esta ocorre pela diferenciação
das células-tronco hematopoiéticas na medula óssea (Abbas et al., 2019; Catanzaro et al.,
2018; Delves et al., 2017; Lewis & Blutt, 2019; McComb et al., 2019; Murphy & Weaver,
2017; Rich & Chaplin, 2019).

As células imunológicas produzidas são transportadas por todo o organismo, através do


sangue e da linfa (McComb et al., 2019; Scully et al., 2017). A linfa corresponde a um
fluido, rico em proteínas, proveniente do fluido intersticial dos tecidos e circula nos vasos
linfáticos (McComb et al., 2019).

Existem vários tipos de células que intervêm na resposta imunitária, tais como: as células
fagocitárias, os linfócitos e as células que auxiliam no controlo da inflamação. Muitas são
responsáveis pela secreção de moléculas com funções essenciais nos mecanismos de
imunidade, designadas por citocinas (Male et al., 2013).

2.1.3.1. Células fagocitárias

As células fagocitárias têm a capacidade de digerir e eliminar agentes patogénicos e


moléculas estranhas ao organismo. São as mais abundantes no sangue e incluem os
monócitos e os neutrófilos (Abbas et al., 2019; Catanzaro et al., 2018; Male et al., 2013).
Este processo de eliminação de partículas e microrganismos por estas células designa-se
de fagocitose (Abbas et al., 2019; Male et al., 2013; Taylor, 2018).

Os monócitos, quando migram do sangue para os tecidos, diferenciam-se em macrófagos


(Abbas et al., 2019; Male et al., 2013). Dos vários tipos de leucócitos, os neutrófilos são
os mais abundantes em circulação e intervêm nos processos inflamatórios, sobretudo
agudos (Abbas et al., 2019).

Os macrófagos, para além de intervirem no processo de fagocitose, atuam na reparação


de lesões em tecidos, porque têm a capacidade de estimular a angiogénese, que consiste
no crescimento de novos vasos sanguíneos e a fibrose, que corresponde à síntese da matriz
extracelular de colagénio (Abbas et al., 2019). Estas células permanecem nos tecidos e
41
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

apresentam um tempo de vida maior do que os neutrófilos (McComb et al., 2019; Taylor,
2018).

Além disso, no grupo das células fagocitárias, incluem-se, também, as células dendríticas.
Estas células participam no processo de fagocitose, no entanto, esta não é a sua principal
função no sistema imunitário. É referido que, quando identificam agentes patogénicos,
são responsáveis pela produção de citocinas que vão ativar outras células imunológicas,
como por exemplo os linfócitos T (Delves et al., 2017; Murphy & Weaver, 2017).
Relativamente à sua morfologia, estas células possuem vários prolongamentos que
facilitam o seu contacto com os antigénios do meio circundante (Delves et al., 2017).

2.1.3.2. Linfócitos

Os linfócitos são células fundamentais na resposta imunitária adaptativa, a infeções e,


também, intervêm como mediadores na rejeição de transplantes e na autoimunidade.
Correspondem às segundas mais abundantes e integram os linfócitos B e os linfócitos T
(Catanzaro et al., 2018). De referir que estas células consistem num tipo especializado de
leucócitos (Male et al., 2013) que têm a capacidade de reconhecer antigénios (Abbas et
al., 2019; Male et al., 2013).

Os linfócitos B e T podem ser distinguidos entre si, através da estrutura do recetor de


antigénio que expressam (Murphy & Weaver, 2017). De acordo com a sua designação,
apresentam recetores específicos B e T, respetivamente BCR e TCR (Delves et al., 2017).

Os linfócitos B têm como função a produção de anticorpos, as imunoglobulinas, que vão


atuar contra os agentes patogénicos extracelulares. Assim, apresentam na sua superfície
recetores específicos para os antigénios, o BCR (Male et al., 2013; Taylor, 2018). O
processo de maturação destas células ocorre na medula óssea (Abbas et al., 2019).

De mencionar que podem existir células B que produzem autoanticorpos, os quais reagem
contra o próprio organismo. Assim, para que não sejam libertados, há mecanismos para
selecionar e eliminar este tipo de células indesejadas (Tomar & De, 2014).

Os linfócitos T estão associados a respostas aos agentes patogénicos intracelulares, tais


como os vírus e, também, intervêm na regulação das células B e nos mecanismos de
imunidade em geral (Male et al., 2013). Têm origem em células precursoras na medula
óssea, que migram para o timo, onde ocorre o seu processo de maturação (Abbas et al.,
2019).

42
Desenvolvimento

Além disso, podem ser divididos em vários tipos que desempenham diferentes funções,
nomeadamente: linfócitos T helper ou auxiliares dos tipos 1 e 2; linfócitos T citotóxicos
e linfócitos T reguladores (Male et al., 2013).

Os linfócitos T helper ou auxiliares do tipo 1 (LTh1) interagem com as células


fagocitárias mononucleares e ajudam no processo de eliminação dos agentes patogénicos
intracelulares (Male et al., 2013).

Os linfócitos T helper ou auxiliares do tipo 2 (LTh2) interagem com as células B e


auxiliam estas células nos processos de divisão, diferenciação e produção de anticorpos
(Male et al., 2013).

Os linfócitos T citotóxicos (LTC) têm como função a citotoxicidade, que consiste na


identificação e destruição de células do organismo que se encontram infetadas por agentes
patogénicos intracelulares, como os vírus, bem como as células tumorais (Male et al.,
2013; Murphy & Weaver, 2017). Estas células libertam um conjunto de proteínas, as
citocinas, que vão atuar no processo de eliminação das células infetadas/tumorais (Scully
et al., 2017).

Os linfócitos T reguladores (LTreg) auxiliam na regulação dos mecanismos do sistema


imunitário, de modo a diminuir possíveis reações contra os tecidos do próprio organismo
(Male et al., 2013; Murphy & Weaver, 2017).

De referir que os linfócitos T identificam antigénios que se encontram na superfície de


outras células através de um recetor específico, o TCR. Os efeitos desencadeados por
estas células ocorrem devido à libertação de proteínas solúveis, as citocinas, ou através
da sua interação com outros componentes celulares (Male et al., 2013).

Para além dos linfócitos T citotóxicos, existem outros tipos de células citotóxicas, como
as células natural killer (CNK) e os eosinófilos; que podem ser ativadas contra
determinadas infeções específicas (Male et al., 2013). As CNK circulam no sangue e
encontram-se, também, em diversos tecidos linfoides (Abbas et al., 2019). Estas CNK
têm a capacidade de eliminar células infetadas (Delves et al., 2017; Taylor, 2018).

No grupo dos linfócitos, é possível mencionar a presença dos linfócitos naive, que
correspondem a linfócitos B ou T maduros que nunca reconheceram um antigénio
estranho. Estas células localizam-se na circulação e nos órgãos linfoides. Têm um

43
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

tamanho menor e encontram-se numa fase de repouso, ou seja, não estão num processo
ativo de divisão, nem a desempenhar funções efetoras (Abbas et al., 2019).

Existem, também, os designados linfócitos de memória, que podem ser dos tipos B e T.
Estas células são produzidas durante processos infeciosos, mas podem sobreviver no
organismo vários meses ou anos após a remoção do agente causal. Distinguem-se dos
linfócitos naive e dos linfócitos efetores, através de determinadas proteínas que existem
na sua superfície (Abbas et al., 2019; Scully et al., 2017).

De modo a diferenciar os diversos tipos de linfócitos, é necessário ter em consideração as


características de cada célula, bem como as suas funções. É essencial destacar os fatores
de expressão genética que contribuem para as variações existentes entre as células, tais
como: os fatores de transcrição, as alterações ao nível das histonas e a remodelação da
cromatina (Abbas et al., 2019).

2.1.3.3. Células que auxiliam no controlo da inflamação

Em primeiro lugar, é fundamental referir que o processo inflamatório tem como principal
objetivo atrair determinadas células e moléculas imunológicas para o local de uma infeção
(Male et al., 2013). Assim, tem como finalidade a eliminação dos agentes prejudiciais,
como os microrganismos e os respetivos produtos, de modo a promover a reparação do
tecido infetado (Taylor, 2018).

A inflamação apresenta um conjunto de características, designados por manifestações de


Celso: edema, que corresponde a um inchaço localizado, com um aumento das células e
dos mediadores inflamatórios; rubor, na medida em que ocorre um processo de
vasodilatação; calor, que se deve ao maior fluxo sanguíneo no local; dor, provocada pela
pressão exercida no tecido; e eventualmente, perda de função, devido à presença de edema
e dor na área inflamada (Taylor, 2018).

Existem dois tipos de inflamação: aguda e crónica. A inflamação aguda corresponde à


resposta desencadeada pelo sistema imunitário inato quando ocorrem infeções e lesões
em tecidos. Envolve a infiltração de neutrófilos e proteínas plasmáticas. A inflamação
crónica consiste num processo desenvolvido quando a infeção não é eliminada ou a lesão
tecidual é prolongada. Intervêm macrófagos e linfócitos e resulta na remodelação dos
tecidos, através da angiogénese e da fibrose (Abbas et al., 2019).

44
Desenvolvimento

De mencionar que existem células que auxiliam no controlo da inflamação. Para além dos
neutrófilos, descritos anteriormente, existem outras células mediadoras da inflamação,
como por exemplo: os basófilos, os eosinófilos, os mastócitos e as plaquetas (Male et al.,
2013).

Relativamente aos basófilos e aos mastócitos, estas células possuem grânulos que contêm
diversos mediadores inflamatórios. Os mastócitos, geralmente, localizam-se junto aos
vasos sanguíneos em todos os tecidos e alguns dos mediadores que libertam atuam nas
paredes desses vasos. Os basófilos são células com funções semelhantes aos mastócitos,
no entanto, têm mobilidade e encontram-se em circulação (Abbas et al., 2019; Male et
al., 2013).

No que diz respeito às plaquetas, estas consistem em pequenos fragmentos celulares dos
megacariócitos e intervêm na coagulação sanguínea. Além disso, podem ser ativadas
durante as respostas imunitárias, libertando mediadores inflamatórios (Male et al., 2013).

2.2. Tipos de imunidade

A resposta imunitária pode ser dividida em dois tipos: a imunidade inata e a imunidade
adaptativa. Funcionam de forma inter-relacionada e apresentam várias células, moléculas
e proteínas (Abbas et al., 2019; Catanzaro et al., 2018; Marshall et al., 2018; Medina,
2016; Nicholson, 2016; Tomar & De, 2014; Yatim & Lakkis, 2015; Yu et al., 2019).

Antes de abordar mais detalhadamente os vários componentes e processos envolvidos nas


imunidades inata e adaptativa, é importante estabelecer uma comparação entre as suas
principais características gerais (Figura 8) (Tomar & De, 2014).

A imunidade inata apresenta uma resposta não específica e imediata; não retém memória
imunológica; e está presente em quase todas as formas de vida. Além disso, é formada
por quatro tipos de barreiras principais de defesa, nomeadamente: anatómicas, como por
exemplo a pele e as mucosas; fagocitárias, conferidas pelas células fagocitárias, como os
monócitos, os neutrófilos e os macrófagos; fisiológicas, como a temperatura e o pH baixo;
e inflamatórias, pela ação de determinadas células e proteínas (Marshall et al., 2018;
Tomar & De, 2014).

A imunidade adaptativa manifesta uma resposta específica; requer um maior tempo entre
a exposição ao antigénio e o início da resposta; retém memória imunológica; e está
presente apenas em vertebrados. De referir que é formada por mecanismos de imunidade

45
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

humoral, em que intervêm as células B e os anticorpos e, também, por mecanismos de


imunidade celular, em que atuam essencialmente, as células T (Tomar & De, 2014).

Anatómicas

Imunidade Fagocitárias
Barreiras
inata
Fisiológicas

Inflamatórias

- Resposta não específica


- Resposta imediata
- Não retém memória imunológica
Tipos de - Presente em quase todas as formas de vida
imunidade

Imunidade humoral Células B

Imunidade
adaptativa

Imunidade celular Células T

- Resposta específica
- Maior tempo entre a exposição ao antigénio e o início
da resposta
- Retém memória imunológica
- Presente apenas em vertebrados

Figura 8 – Principais características gerais das imunidades inata e adaptativa.


Adaptado de Tomar & De, 2014.

46
Desenvolvimento

É fundamental mencionar que a resposta imunitária é constituída por várias etapas que
apresentam diferentes durações (Tabela 5). Está descrito que se inicia pela resposta
imunitária inata, seguidamente pela resposta imunitária adaptativa e termina com a
memória imunológica (Murphy & Weaver, 2017).

Resposta Etapas Tempo após a Duração


infeção até se da resposta
iniciar a resposta
Resposta - Inflamação Minutos Dias
imunitária - Ativação do complemento
inata - Fagocitose
- Destruição do agente patogénico
Resposta - Interação entre células dendríticas Horas Dias
imunitária e células T
adaptativa - Identificação do antigénio
- Proliferação e diferenciação de
células T
- Ativação de células B
- Formação de células T efetoras e Dias Semanas
de memória
- Interação entre células B e T
- Formação de células B efetoras e
de memória
- Produção de anticorpos pelas
células B
- Migração de linfócitos efetores de
órgãos linfoides periféricos
- Eliminação do agente patogénico
pelas células efetoras e anticorpos
Memória - Manutenção de células B e T de Dias a semanas Poderá ser
imunológica memória e quantidades elevadas de durante
anticorpos no soro ou na mucosa. toda a vida
Proteção contra reinfeção

Tabela 5 – Etapas da resposta imunitária. Adaptado de Murphy & Weaver, 2017.

47
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

2.2.1. Imunidade inata

Existem vários tipos de células principais que intervêm na imunidade inata (Tabela 6),
tais como: neutrófilos, macrófagos, CNK, mastócitos, basófilos, células dendríticas e
eosinófilos (Abbas et al., 2019; Atkinson et al., 2015; Delves et al., 2017; Dembic, 2015;
Marshall et al., 2018; McComb et al., 2019; Medina, 2016; Tomar & De, 2014). Todas
estas células desempenham determinadas funções e têm principais alvos sobre os quais
atuam (Marshall et al., 2018).

Células Funções Principais alvos


Neutrófilos Fagocitose Bactérias
Desgranulação (libertação do conteúdo dos Fungos
grânulos)
Macrófagos Fagocitose Vários
Apresentação de antigénios às células T
CNK Rejeição de tumores Vírus
Eliminação de células infetadas Células tumorais
Libertação de enzimas que induzem apoptose
(morte celular programada)
Mastócitos Desgranulação Parasitas
Libertação de histamina, enzimas e citocinas Em alergias
Basófilos Desgranulação Em alergias
Libertação de histamina, enzimas e citocinas
Células Fagocitose Vários
dendríticas Apresentação de antigénios
Eosinófilos Desgranulação Parasitas
Libertação de enzimas, fatores de crescimento e Em alergias
citocinas

Tabela 6 – Principais tipos de células que intervêm na imunidade inata. Adaptado de


Marshall et al., 2018.

Para além destas células, também podem intervir as células linfoides inatas, que atuam na
regulação da resposta imunitária inata e contribuem para a homeostasia dos tecidos
(Marshall et al., 2018).

48
Desenvolvimento

De salientar que as células da imunidade inata possuem recetores de reconhecimento de


padrões (PRRs), como os do tipo Toll, que identificam padrões moleculares associados a
agentes patogénicos (PAMPs). Nestes padrões, incluem-se os componentes da parede
celular de bactérias e fungos, como por exemplo os lipopolissacáridos (Catanzaro et al.,
2018; McComb et al., 2019).

Quando ocorre uma infeção, desencadeia-se uma resposta inflamatória, em que há


produção de mediadores inflamatórios, dos quais se destacam as citocinas. Neste grupo,
evidencia-se a presença da interleucina 1 (IL-1), da interleucina 6 (IL-6) e do fator de
necrose tumoral (Bergmeier, 2018; Marshall et al., 2018). As citocinas pertencem ao
grupo dos biomarcadores imunológicos da saliva e serão abordadas mais adiante (Riis et
al., 2020).

Além disso, ocorre a ativação do sistema complemento, que consiste numa cascata de
reações bioquímicas com várias funções, nomeadamente de identificação e lise de
bactérias e outros agentes patogénicos. Assim, permite que sejam, posteriormente,
eliminados pelo processo de fagocitose (Atkinson et al., 2015; Marshall et al., 2018). A
ativação deste sistema pode ocorrer através de três vias: a via clássica, a via alternativa e
a via da lectina (Aounallah et al., 2020; McDonald & Levy, 2019). É regulada por várias
proteínas, designadas por reguladoras ou frenadoras (Dembic, 2015; McComb et al.,
2019).

Relativamente à via clássica, esta é ativada por anticorpos ligados às superfícies


microbianas, que corresponde ao local de ligação para o complexo C1. Este complexo é
formado por três subunidades (C1q, C1r e C1s). A subunidade C1s, quando ativada, gera
uma enzima, a C3 convertase, formada por C4b e por C2b (C4b2b), associada à superfície
microbiana. A C3 convertase cliva C3 e gera C3b. Por sua vez, esta C3b liga-se a C4b2b
e dá origem à C5 convertase. Esta enzima vai ativar as etapas finais do complemento, o
que permite formar o complexo de ataque à membrana (CAM) (McDonald & Levy,
2019).

Em relação à via alternativa, esta é ativada através da ligação de C3b às superfícies


microbianas. O C3b liga o fator B, que é convertido no fator Bb, o que dá origem a uma
C3 convertase. Esta enzima é responsável pela ativação das etapas finais do complemento
(McDonald & Levy, 2019).

49
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

No que se refere à via da lectina, esta é ativada pela associação da lectina de ligação à
manose a resíduos de manose presentes nas superfícies microbianas. A lectina de ligação
à manose liga-se a enzimas, as proteases de serina, que vão clivar C4 e C2, o que dá
origem a uma C3 convertase. Esta enzima vai ativar as etapas finais do complemento
(McDonald & Levy, 2019).

Com a ativação das etapas finais do complemento, os complexos envolvidos atuam, de


forma direta, nas membranas dos agentes patogénicos, o que provoca, consequentemente,
a sua destruição (McComb et al., 2019).

Como as vias alternativa e da lectina não requerem a participação de anticorpos para a


sua ativação, são consideradas pertencentes à imunidade inata. Já a via clássica, como
requer a presença de anticorpos, pertence à imunidade adaptativa (McDonald & Levy,
2019).

A resposta imunitária inata tem vários objetivos principais, nomeadamente: prevenir,


controlar ou eliminar infeções; remover células danificadas; promover a reparação dos
tecidos que apresentam lesões; e estimular o desenvolvimento de respostas imunitárias
adaptativas (Abbas et al., 2019). Este último objetivo refere-se à capacidade que a
imunidade inata tem de alertar as células da imunidade adaptativa para atuarem, de forma
a fornecerem uma resposta mais eficaz contra determinados tipos de agentes patogénicos
(Catanzaro et al., 2018; Delves et al., 2017; Medina, 2016).

A saliva possui um papel fundamental na imunidade inata da cavidade oral. Na sua


composição, existem várias proteínas com funções antimicrobianas, imunomoduladoras
e anti-inflamatórias essenciais, como por exemplo: histatinas, cistatinas, mucinas,
lactoferrina e lisozima (Atkinson et al., 2015).

2.2.2. Imunidade adaptativa

A imunidade adaptativa, também designada de adquirida ou específica, desencadeia-se


após a imunidade inata e possui uma maior eficácia. Apresenta um conjunto de
características gerais, anteriormente descritas, e as células intervenientes são os linfócitos
B e T, cujas principais funções já foram mencionadas (Abbas et al., 2019; Bergmeier,
2018; Marshall et al., 2018; Rich & Chaplin, 2019; Tomar & De, 2014).

Os linfócitos possuem recetores de membrana especializados, os BCR e os TCR,


respectivamente para os B e para os T. Estes têm a capacidade de reconhecer porções de

50
Desenvolvimento

antigénios complexos, os designados determinantes antigénicos ou epítopos. Para tal,


existem células que têm como função a apresentação dos antigénios aos linfócitos,
denominadas de células apresentadoras de antigénios. As mais especializadas são as
células dendríticas, que capturam antigénios microbianos provenientes do meio externo
(Abbas et al., 2019; McComb et al., 2019).

Na imunidade adaptativa, quando os linfócitos identificam antigénios estranhos ao


organismo, são ativados e iniciam a sua proliferação. Consequentemente, são formadas
duas populações deste tipo de células, designadamente: os linfócitos B e os linfócitos T,
que integram a imunidade humoral e a imunidade celular, respetivamente (Abbas et al.,
2019; Aounallah et al., 2020; Atkinson et al., 2015; Delves et al., 2017; Marshall et al.,
2018; Scully et al., 2017; Tomar & De, 2014).

Na imunidade humoral, quando os linfócitos B reconhecem um antigénio, são ativados e


produzem anticorpos (Ig). A sua produção é facilitada pela intervenção dos linfócitos T
helper ou auxiliares, que emitem sinais estimuladores aos linfócitos B (Atkinson et al.,
2015; Marshall et al., 2018; Scully et al., 2017). As Ig pertencem ao grupo dos
biomarcadores imunológicos da saliva e serão abordadas mais adiante (Riis et al., 2020).

Na imunidade celular, quando ocorre a apresentação de um antigénio aos linfócitos T,


estes são ativados e, assim, produzem citocinas que atuam nos processos inflamatórios.
Estas células podem-se diferenciar em linfócitos T helper ou auxiliares e em linfócitos T
citotóxicos, que possuem à superfície recetores do tipo CD4 e CD8, respetivamente
(Atkinson et al., 2015; Marshall et al., 2018; McComb et al., 2019).

Enquanto que os linfócitos T auxiliares ativam macrófagos, para destruírem


microrganismos fagocitados, os linfócitos T citotóxicos têm a capacidade de eliminar
diretamente as células infetadas (Abbas et al., 2019; Marshall et al., 2018).

Relativamente aos mecanismos de imunidade humoral, está descrito que permitem a


eliminação dos microrganismos extracelulares e dos respetivos produtos. No que se refere
aos mecanismos de imunidade celular, estes são responsáveis pela remoção dos agentes
patogénicos intracelulares, como os vírus (Scully et al., 2017).

Na imunidade adaptativa, a ativação e as principais funções dos linfócitos B e T, já


mencionadas, encontram-se representadas, em seguida, de forma esquemática (Figura 9)
(Marshall et al., 2018).

51
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

Apresentação do Reconhecimento do
antigénio aos linfócitos T antigénio pelos linfócitos B

Ativação dos linfócitos T

Diferenciação dos
linfócitos T

Linfócitos T Linfócitos T Ativação dos


citotóxicos helper ou linfócitos B
(CD8) auxiliares
(CD4)

Destruição de Ativação de Produção de


células macrófagos anticorpos
infetadas

Figura 9 – Imunidade adaptativa: ativação e principais funções dos linfócitos B e T.


Adaptado de Marshall et al., 2018.

A resposta imunitária adaptativa tem vários objetivos principais, designadamente: atuar


quando a imunidade inata não é eficaz; formar vias efetoras mais especializadas para
eliminar agentes patogénicos específicos; e desenvolver uma memória imunológica, para
remover mais rapidamente um determinado agente prejudicial, se ocorrer uma infeção
subsequente (Marshall et al., 2018).

Na saliva proveniente do fluido crevicular, migram cerca de 1 milhão de leucócitos por


minuto, no entanto, a sua função é questionável. Cerca de 99% são neutrófilos
polimorfonucleares (PMNs) e 1% são linfócitos. Mais de metade destes leucócitos sofre
degeneração. É importante destacar o seu papel antimicrobiano, através da fagocitose e

52
Desenvolvimento

da libertação de lisozima, hidrolases ácidas e radicais livres de oxigénio (Abbas et al.,


2019).

2.3. Influência da saliva na imunidade oral

A saliva desempenha um papel fundamental na imunidade da cavidade oral, devido às


suas múltiplas funções protetoras, já referidas (Hernández & Taylor, 2020). Na sua
composição, destaca-se a presença de um conjunto de biomarcadores imunológicos com
grande relevância para a saúde oral e sistémica. A partir destes elementos, é possível
avaliar o estado imunológico individual e, também, auxiliar no diagnóstico de doenças
(Riis et al., 2020).

Para além dos biomarcadores imunológicos, existem várias proteínas na saliva que
contribuem para a imunidade oral, devido às suas importantes funções antibacterianas,
antifúngicas e antivirais (Huq et al., 2007; Pedersen et al., 2018; Rosa, 2011).

2.3.1. Biomarcadores imunológicos presentes na saliva

Como mencionado anteriormente, um biomarcador é uma alteração celular, bioquímica


ou molecular que pode ser medida nos tecidos, nas células ou nos fluidos biológicos,
como a saliva, e pode ter várias finalidades: rastreio, identificação da etiologia,
diagnóstico, prognóstico e monitorização terapêutica (Ahsan, 2018; Khan et al., 2017;
Roi et al., 2019; Yoshizawa et al., 2013).

Na saliva têm sido estudados, com importância crescente, os biomarcadores neoplásicos


e inflamatórios/imunológicos. Estes serão abordados em seguida, designadamente:
citocinas, proteína C-reativa (PCR), metaloproteinases da matriz (MMPs) e
imunoglobulinas (Ig) (Riis et al., 2020).

2.3.1.1. Citocinas

As citocinas consistem em moléculas de sinalização do sistema imunitário, produzidas


por todas as células nucleadas, mas principalmente pelos linfócitos (Abbas et al., 2019;
McComb et al., 2019; O’Shea et al., 2019; Riis et al., 2020). São proteínas solúveis de
baixo peso molecular que atuam nos processos de imunidade inata e adaptativa (Doan et
al., 2013; Murphy & Weaver, 2017). Deste modo, intervêm na iniciação, amplificação ou
atenuação da resposta imunitária e estão envolvidas nos processos inflamatórios ou
anti-inflamatórios, respetivamente (Riis et al., 2020).

53
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

De referir que as citocinas presentes na saliva, para além de informarem acerca das
condições de imunidade oral, podem, também, fornecer indicações sobre determinados
processos de imunidade sistémica (Riis et al., 2020).

Estas proteínas podem atuar de três formas, nomeadamente: de forma autócrina, em que
afetam o comportamento das próprias células produtoras das citocinas; de forma
parácrina, ou seja, com ação sobre as células adjacentes; ou de forma endócrina, em que
afetam células que se encontram mais distantes, porque são transportadas pela corrente
sanguínea (por exemplo a IL-6). As vias mais utilizadas são a parácrina e autócrina
(Murphy & Weaver, 2017).

Existem vários tipos de citocinas, tais como: interleucinas (IL), interferões (IFN), fatores
de crescimento e fatores de necrose tumoral (TNF) (Dembic, 2015; Doan et al., 2013;
Murphy & Weaver, 2017; O’Shea et al., 2019; Riis et al., 2020).

As IL constituem o maior grupo de citocinas (McComb et al., 2019). Existem várias IL,
como por exemplo: IL-1, IL-2, IL-4, IL-6, IL-7, IL-8, IL-10, IL-12, IL-13, IL-15 e IL-17,
que desempenham importantes funções nos processos de imunidade (McComb et al.,
2019).

Os IFN têm a capacidade de atuar contra o cancro e as infeções virais. Podem ser
divididos em três grupos: o tipo I, constituído pelo IFNα e pelo IFNβ; o tipo II, formado
pelo IFNγ; e o tipo III, constituído pelo IFNλ (McComb et al., 2019).

No que diz respeito aos TNF, estes intervêm na regulação da citotoxicidade tumoral.
Neste grupo, incluem-se o TNFα e o TNFβ (McComb et al., 2019).

As principais citocinas, acima mencionadas, encontram-se descritas, em seguida, no que


se refere às respetivas células produtoras e funções (Tabela 7) (McComb et al., 2019).

Citocina Células produtoras Funções


IL-1 Vários tipos de células Múltiplas funções pró-inflamatórias,
incluindo estimulação da reabsorção óssea
e síntese de MMPs
IL-2 Linfócitos T Proliferação de linfócitos T
IL-4 Linfócitos T Ativação de linfócitos B
Mastócitos Diferenciação de LTh2
Inibição de macrófagos

54
Desenvolvimento

IL-6 Linfócitos T Crescimento e diferenciação de linfócitos


Macrófagos BeT
Células endoteliais
IL-7 Células endoteliais Proliferação de linfócitos T naive e de
LTC de memória
IL-8 Macrófagos Ação quimiotática para os PMNs,
PMNs linfócitos T e monócitos
Fibroblastos
Queratinócitos
IL-10 Monócitos Supressão de macrófagos
LTh2 Inibição da diferenciação de LTh1
LTreg Ação anti-inflamatória
IL-12 Macrófagos Ativação de CNK
Células dendríticas Diferenciação de LTh1
IL-13 Linfócitos T Proliferação de linfócitos B
Inibição de macrófagos
IL-15 Fagócitos mononucleares Estimulação do crescimento de linfócitos
T e CNK
Promoção da sobrevivência de LTC de
memória
IL-17 Linfócitos T Indução dos fibroblastos para produzirem
Macrófagos citocinas pró-inflamatórias
Estimulação da reabsorção óssea
IFNα Leucócitos Antiviral
Células dendríticas
IFNβ Fibroblastos Antiviral

IFNγ LTh1 Ativação de macrófagos e CNK


LTC Inibição da diferenciação de LTh2
CNK
TNFα Linfócitos T Inibição da formação de tumores
Macrófagos Morte celular
Monócitos

55
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

TNFβ LTh1 Ativação de macrófagos e neutrófilos


LTC Inibição de linfócitos T
Macrófagos Inibição da formação de tumores
Monócitos Morte celular

Tabela 7 – Principais citocinas, respetivas células produtoras e funções. Adaptado de


McComb et al., 2019.

2.3.1.2. Proteína C-reativa

A PCR consiste numa proteína inflamatória aguda, que é sintetizada, principalmente,


pelas células hepáticas. No entanto, pode ser produzida por outros tipos de células, como
por exemplo: células musculares lisas, células endoteliais, macrófagos, linfócitos e
adipócitos. A sua produção é estimulada mediante a presença de citocinas pró-
inflamatórias, principalmente a IL-6 e também, mas em menor grau, em resposta à IL-1
e ao TNFα (Sproston & Ashworth, 2018).

Relativamente às suas principais funções, a PCR intervém na ativação do sistema


complemento, na opsonização e na regulação dos processos inflamatórios (Sproston &
Ashworth, 2018). É importante salientar que tem a capacidade de aumentar até 1000 vezes
o seu valor basal em poucas horas a dias, em situações inflamatórias (Ansar & Ghosh,
2013; Sproston & Ashworth, 2018).

Vários estudos realizados demonstraram que esta proteína atua, essencialmente, como um
biomarcador de inflamação sistémica (Riis et al., 2020). É referido que pode ser utilizada
para avaliar a atividade inflamatória de uma doença e constitui um elemento auxiliar de
diagnóstico (Ansar & Ghosh, 2013).

Além disso, esta proteína tem a capacidade de ser transportada do sangue para a saliva.
Isto ocorre através de um processo de difusão pelos capilares que se encontram ao redor
das glândulas salivares (Riis et al., 2020).

De referir, também, que existem determinados fatores que podem alterar os níveis da
PCR, tais como: a idade, o género, os hábitos tabágicos, a quantidade de lípidos no
sangue, a pressão arterial e os fatores genéticos e ambientais (Sproston & Ashworth,
2018).

56
Desenvolvimento

2.3.1.3. Metaloproteinases da matriz

As MMPs correspondem a enzimas, endopeptidases dependentes de zinco, que estão


envolvidas na degradação de diversas proteínas da matriz extracelular. São produzidas
por vários tecidos e células, tais como: tecido conjuntivo, fibroblastos, osteoblastos,
células endoteliais, macrófagos, neutrófilos e linfócitos. Existem vários tipos principais
de MMPs, como por exemplo: colagenases, gelatinases, estromelisinas e matrilisinas (Cui
et al., 2017).

No que se refere às suas principais funções, as MMPs ativam os leucócitos e intervêm na


regulação dos processos inflamatórios na cavidade oral (Riis et al., 2020). Desempenham
um papel fundamental na resposta imunitária, na reparação de lesões em tecidos e na
remodelação de vasos sanguíneos (Cui et al., 2017). Têm a capacidade de ativar vias de
transdução de sinal, que controlam a produção de citocinas (Khokha et al., 2013).

Está descrito que a expressão das MMPs está aumentada em situações inflamatórias.
Além disso, a atividade destas enzimas pode ser influenciada por um conjunto de fatores,
nomeadamente: hormonas, fatores de crescimento, citocinas e influências genéticas (Cui
et al., 2017).

2.3.1.4. Imunoglobulinas

As Ig, também conhecidas como anticorpos, são proteínas produzidas pelos linfócitos B
e intervêm nos mecanismos de imunidade humoral (Riis et al., 2020). Têm a capacidade
de ativar o complemento, neutralizar e opsonizar vários tipos de agentes patogénicos, tais
como: bactérias, vírus e fungos (Gröschl, 2017; Riis et al., 2020).

Em termos gerais, no que se refere à estrutura de uma Ig (Figura 10), esta apresenta uma
forma aproximada de um “Y”, sendo constituída por dois tipos de cadeias de proteínas:
leves e pesadas. Existem duas cadeias leves e duas cadeias pesadas, ligadas por pontes
dissulfeto. Cada cadeia pesada está associada a uma cadeia leve e as duas cadeias pesadas
encontram-se unidas entre si. Além disso, destaca-se a presença de dois tipos principais
de fragmentos, designadamente: o fragmento Fab, no qual ocorre a ligação ao antigénio,
e o fragmento Fc, que permite a interação da Ig com moléculas e células efetoras. No
entanto, podem existir variações ao nível da estrutura dos diferentes tipos de Ig (Murphy
& Weaver, 2017).

57
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

Cadeia leve
Fragmento Fab

Cadeia pesada
Pontes dissulfeto

Fragmento Fc

Figura 10 – Representação esquemática geral da estrutura de uma imunoglobulina.


Adaptado de Murphy & Weaver, 2017.

Tal como já foi mencionado no tópico 1.2.4., referente às funções da saliva, neste fluido,
é possível encontrar IgA secretora, IgG e IgM, sendo que a IgA secretora corresponde à
Ig predominante e provém sobretudo das glândulas salivares (Kerr & Tribble, 2015). A
IgA e a IgG, esta proveniente sobretudo do fluido crevicular gengival, são as mais comuns
no fluido salivar (Brandtzaeg, 2013).

Relativamente à IgA, esta é produzida por células plasmáticas/plasmócitos situadas nas


glândulas salivares, sendo transportada através do epitélio secretor (Brandtzaeg, 2013).
Na mucosa, a IgA é sintetizada quase exclusivamente como um polímero, na forma
dimérica, ou seja, com dois monómeros ligados (Li et al., 2020; Matsuzaki et al., 2020;
Murphy & Weaver, 2017). A IgA é o principal anticorpo associado à mucosa oral
(Bergmeier, 2018; Corthésy, 2010; Feller et al., 2013; Li et al., 2020; Matsuzaki et al.,
2020; Murphy & Weaver, 2017). Assim sendo, atua como primeira linha de defesa da
cavidade oral contra os agentes patogénicos (Matsuzaki et al., 2020; Rapson et al., 2019;
Rich & Chaplin, 2019; Santo et al., 2011).

58
Desenvolvimento

O mecanismo de síntese e secreção da IgA salivar inicia-se nas glândulas salivares. As


células B efetoras, presentes no epitélio glandular, diferenciam-se em plasmócitos. Estas
células expressam o recetor da Ig polimérica, poliIg, na sua membrana basolateral. Este
recetor liga-se à cadeia J de união da IgA polimérica. Seguidamente, forma-se um
complexo que é transportado para a membrana apical e, consequentemente, é libertado
para o lúmen na forma de IgA secretora. Esta IgA apresenta um componente secretor que
lhe confere resistência contra a degradação proteolítica (Hajishengallis & Hajishengallis,
2014).

Em relação à IgG, a maioria tem origem na circulação sanguínea. A partir da circulação,


passa, por difusão, para o fluido crevicular gengival e, seguidamente, é transportada para
a saliva (Brandtzaeg, 2013).

As principais funções associadas à IgA, IgG e IgM encontram-se descritas em seguida


(Tabela 8) (Marshall et al., 2018).

Imunoglobulina Principais funções

IgA - Proteção das mucosas


- Neutralização de bactérias, vírus, toxinas e enzimas

IgG - Principal imunoglobulina durante a resposta imunitária secundária


- Neutralização de vírus e toxinas
- Opsonização de antigénios
- Fixação do complemento

IgM - Primeira imunoglobulina expressa durante o desenvolvimento dos


linfócitos B
- Opsonização de antigénios
- Fixação do complemento

Tabela 8 – Principais funções associadas à IgA, IgG e IgM. Adaptado de Marshall et al., 2018.

59
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

2.3.2. Outras proteínas da saliva

Na saliva, destaca-se a presença de várias proteínas cujas funções contribuem para a


imunidade da cavidade oral, tais como: histatinas, cistatinas, mucinas, estaterinas,
defensinas, lisozima, lactoferrina, peroxidase, α-amilase, aglutinina, calprotectina,
catelicidina e proteínas ricas em prolina (Huq et al., 2007; Rosa, 2011). Algumas destas
já foram mencionadas anteriormente, no tópico 1.2.4., referente às funções da saliva
(Pedersen et al., 2018).

2.3.2.1. Histatinas

As histatinas consistem em proteínas de baixo peso molecular, ricas em histidina e


secretadas pelas glândulas parótida e submandibular (Huq et al., 2007).

Estas proteínas apresentam atividade antibacteriana e antifúngica (Huq et al., 2007; Rosa,
2011). Atuam contra determinadas estirpes de Streptococcus mutans e Porphyromonas
gingivallis; neutralizam os lipopolissacáridos da parede de bactérias gram-negativas; e
impedem o crescimento e desenvolvimento do fungo Candida albicans. Além disso, têm
a capacidade de inibir a secreção de histamina pelos mastócitos nos processos
inflamatórios (Rosa, 2011).

2.3.2.2. Cistatinas

As cistatinas são proteínas constituídas por vários resíduos de cisteína e secretadas pelas
glândulas parótida, submandibular e sublingual (Huq et al., 2007).

Estas proteínas protegem os tecidos orais contra a degradação provocada por proteinases
de cisteína libertadas por bactérias (Huq et al., 2007). Além disso, têm também
capacidades antivirais (Triana et al., 2012).

2.3.2.3. Mucinas

As mucinas consistem em glicoproteínas (Huq et al., 2007; Triana et al., 2012). São
secretadas pelas glândulas submandibular e sublingual e, também, por glândulas minor
mucosas presentes no palato e na mucosa labial (Dawes et al., 2015).

Estas moléculas têm a capacidade de formar géis hidrofílicos viscosos, que funcionam
como barreiras de defesa do epitélio oral contra a entrada de agentes patogénicos, como
as bactérias e os vírus, permitindo a sua agregação (Triana et al., 2012).

60
Desenvolvimento

2.3.2.4. Estaterinas

As estaterinas são proteínas constituídas por resíduos de tirosina e secretadas pela


glândula parótida (Huq et al., 2007).

Estas proteínas atuam na lubrificação das superfícies dentárias (Huq et al., 2007). Têm a
capacidade de inibir a precipitação espontânea de sais de cálcio e fosfato nas superfícies
dentárias, o que contribui para o equilíbrio das estruturas dentárias, para além de
impedirem a ligação das bactérias potencialmente cariogénicas à superfície do dente
(Rosa, 2011).

2.3.2.5. Defensinas

As defensinas referem-se a proteínas antimicrobianas (Huq et al., 2007). Na saliva total,


existem α-defensinas, produzidas por neutrófilos, e β-defensinas, produzidas por células
da mucosa oral (Fábián et al., 2012).

Estas moléculas possuem ampla atividade antibacteriana, mas também atuam contra
fungos e vírus. Além disso, intervêm ao nível do sistema imunitário, visto que têm a
capacidade de ativar determinadas citocinas (Fábián et al., 2012).

2.3.2.6. Lisozima

A lisozima corresponde a uma proteína de baixo peso molecular (Fábián et al., 2012;
Triana et al., 2012). É secretada pelos ductos das glândulas parótida, submandibular e
sublingual (Huq et al., 2007). Deriva, também, do fluido crevicular gengival (Dawes et
al., 2015).

Esta proteína atua sobre a parede celular de bactérias, o que promove a sua destruição na
presença de saliva hipotónica (Rosa, 2011; Triana et al., 2012). Tem ação sobre bactérias
gram-positivas (Fábián et al., 2012).

2.3.2.7. Lactoferrina

A lactoferrina consiste numa glicoproteína (Huq et al., 2007) secretada pela glândula
parótida e presente no fluido crevicular gengival (Fábián et al., 2012).

Esta proteína liga-se ao ferro livre na saliva. Deste modo, exerce uma ação bactericida ou
bacteriostática sobre microrganismos que dependem de ferro, como por exemplo
Streptococcus mutans. Além disso, tem a capacidade de atuar contra fungos e vírus e

61
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

apresenta funções anti-inflamatórias e imunomoduladoras, potenciando os efeitos da


lizosima e das Ig na eliminação de bactérias. Aglutina as bactérias prevenindo a sua
adesão às células do hospedeiro (Rosa, 2011).

2.3.2.8. Peroxidase

A peroxidase é uma proteína produzida pelas glândulas salivares e está presente no fluido
crevicular gengival (Fábián et al., 2012).

Esta proteína catalisa a síntese de compostos bactericidas como o hipotiocianato e o ácido


hipotiocianoso a partir da reação do peróxido de hidrogénio com o tiocianato. Estes
compostos, ao interagirem com enzimas bacterianas, vão inibir a produção de ácidos pelas
bactérias (Triana et al., 2012).

2.3.2.9. α-amilase

A α-amilase trata-se de uma proteína secretada pela glândula parótida, sendo a mais
abundante que é produzida por esta glândula salivar (Huq et al., 2007).

Esta proteína desempenha uma ação essencial na degradação do amido e do glicogénio


provenientes da dieta (Pedersen et al., 2018). Além disso, tem a capacidade de inibir o
crescimento de Porphyromonas gingivalis, uma bactéria periodontopatogénica (Dawes et
al., 2015).

2.3.2.10. Aglutinina

A aglutinina corresponde a uma proteína altamente glicosilada (glicoproteína), secretada


apenas pela glândula parótida. Tem a capacidade de se unir a Streptococcus mutans e
Streptococcus sanguinis, inibindo a ação destas bactérias (Triana et al., 2012).

2.3.2.11. Calprotectina

A calprotectina consiste numa proteína ligante de cálcio e zinco (Huq et al., 2007). É
secretada pelos neutrófilos e pelas células epiteliais orais. Inibe o crescimento microbiano
e evita as reações inflamatórias que provocam a destruição dos tecidos orais (Fábián et
al., 2012).

62
Desenvolvimento

2.3.2.12. Catelicidina

A catelicidina é uma proteína secretada pelos neutrófilos. Tem a capacidade de se ligar


às membranas bacterianas, provocando a sua rutura e consequente eliminação da bactéria.
Além disso, intervém na reepitelização de feridas e úlceras na cavidade oral e apresenta
propriedades imunomoduladoras (Fábián et al., 2012).

2.3.2.13. Proteínas ricas em prolina

As proteínas ricas em prolina possuem menos de 50% de hidratos de carbono. Têm um


importante papel na lubrificação e proteção da cavidade oral, além de terem efeitos
antimicrobianos (causam apoptose bacteriana e inibem as funções metabólica e de
adesão) e de impedirem a formação de cálculo e placa, devido à sua capacidade de se
ligarem ao cálcio (Rosa, 2011).

Em seguida, são apresentadas várias proteínas da saliva, as respetivas glândulas salivares


onde ocorre a sua produção, o tipo de célula produtora e as suas principais funções
(Tabela 9) (Patel & Barros, 2015).

Proteínas Glândulas salivares Tipo de célula Principais funções


da saliva produtoras produtora
Histatinas Parótida Acinar Antifúngico
Submandibular Antibacteriano
Cistatinas Parótida Acinar Antiviral
Submandibular Inibição das proteases
Mucinas Submandibular Acinar Antimicrobiano
Sublingual Lubrificação
Proteção contra proteases
Estaterinas Parótida Acinar Inibição da precipitação de
Submandibular cálcio e fosfato
Lisozima Parótida Ductal Antimicrobiano
Submandibular
Lactoferrina Parótida Acinar Antimicrobiano
Submandibular Anti-inflamatório
Peroxidase Parótida Antimicrobiano
Submandibular

63
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

α-amilase Parótida Acinar Hidrólise de amido/glicogénio


Submandibular
Aglutinina Parótida Agregação de bactérias

Proteínas Parótida Acinar Prevenção da formação de


ricas em Submandibular placa bacteriana
prolina Ligação de cálcio
Antimicrobiano
Lubrificação

Tabela 9 – Proteínas da saliva. Adaptado de Patel & Barros, 2015.

2.4. Importância da Imunologia na saúde oral e geral

A Imunologia é uma ciência bastante complexa que apresenta vários campos de atuação.
Dedica-se ao estudo dos processos de imunidade que ocorrem no organismo, a nível
celular e molecular e, também, encontra-se associada ao diagnóstico e tratamento de
patologias do sistema imunitário (Alcívar et al., 2018).

A saúde oral envolve a capacidade de realizar diversas funções, como falar, mastigar,
engolir e transmitir emoções, sem dor, desconforto e doença na cavidade oral. Além disso,
é essencial para o bem-estar físico e mental, sendo influenciada por fatores genéticos,
biológicos e ambientais (Glick et al., 2016).

É importante salientar que a saúde oral tem grande influência na saúde geral individual
(Alpert, 2016; Bergmeier, 2018; Kane, 2017). Está descrito que a cavidade oral constitui
um local favorável à entrada de múltiplos agentes patogénicos, causadores de doenças
(Alpert, 2016; Moutsopoulos & Konkel, 2018). Estes agentes patogénicos podem, por sua
vez, atingir facilmente outras partes do organismo, por exemplo, através da corrente
sanguínea. Deste modo, uma cavidade oral saudável é fundamental para prevenir
condições patológicas sistémicas (Alpert, 2016).

As reações imunológicas sistémicas, detetadas ao nível do sangue, têm expressão nos


dentes e na gengiva, através do fluido crevicular. As substâncias produzidas pela placa
bacteriana podem difundir-se para o fluido crevicular e, ao atravessarem o epitélio
juncional, têm acesso à circulação sanguínea sistémica (Bibi et al., 2021).

64
Desenvolvimento

De destacar que a integridade da mucosa oral e das estruturas dentárias, em conjunto com
uma flora oral normal, são requisitos essenciais para que haja uma situação de equilíbrio
oral. Assim sendo, de forma a evitar que os microrganismos prejudiciais penetrem na
mucosa oral, é importante a ação dos mecanismos de imunidade inata e adaptativa que
constituem o sistema imunitário (Atkinson et al., 2015).

Uma das características principais do sistema imunitário é a sua flexibilidade, na medida


em que possui meios de defesa contra os agentes patogénicos e intervém, também, ao
nível do suporte e reparação dos tecidos (Riis et al., 2020). É referido que o sistema
imunitário tem a capacidade de se adaptar a alterações inesperadas, como por exemplo
infeções, e desencadear respostas eficazes (Nicholson, 2016).

De mencionar a presença indispensável de determinados agentes que contribuem para a


proteção imunológica oral, como a saliva glandular e o fluido crevicular gengival,
anteriormente descritos. Tal como já foi explicado, na composição destes fluidos
biológicos, existe uma diversidade de elementos com funções primordiais na manutenção
da integridade das estruturas orais (Atkinson et al., 2015; Feller et al., 2013;
Moutsopoulos & Konkel, 2018).

65
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

66
Conclusão

III. CONCLUSÃO

É importante considerar que a cavidade oral corresponde a um local anatómico de elevada


complexidade. Para além das várias estruturas duras e moles que a constituem, existem
muitos outros elementos, não observáveis diretamente.

A saliva glandular consiste num fluido biológico multifacetado, que apresenta uma
diversidade de componentes, funções e aplicações. É produzida nas glândulas salivares,
através de um conjunto de processos bioquímicos, nos quais intervêm várias células,
moléculas e iões. Quando é libertada no meio oral, mistura-se com outros compostos, tais
como o fluido crevicular gengival, os microrganismos e os restos de alimentos que
possam existir, o que conduz à formação da saliva total. Os diferentes constituintes
salivares intervêm na manutenção da saúde oral, na reparação dos tecidos, nos processos
digestivos iniciais e na articulação da fala.

Relativamente às suas aplicações práticas, a saliva pode ser utilizada nas várias ciências
“ómicas”. Verifica-se, assim, que este fluido oferece um conjunto de vantagens como
meio auxiliar no âmbito da pesquisa e diagnóstico de doenças.

Devido à exposição aumentada da cavidade oral a diversos tipos de agentes patogénicos,


são desenvolvidos mecanismos de defesa, com o objetivo de evitar infeções e outros
problemas que possam surgir.

Evidencia-se o papel da saliva na imunidade oral, na medida em que confere proteção dos
tecidos orais contra possíveis agressões. A este nível, a compreensão dos fundamentos da
Imunologia Oral é de elevada importância para explicar os processos que garantem a
integridade da cavidade oral.

Muitos dos componentes salivares desempenham funções antimicrobianas essenciais e


atuam nos processos de imunidade inata e adaptativa que constituem o sistema imunitário.
Este sistema é um mecanismo elaborado, que tem a capacidade de diferenciar aquilo que
pertence ao próprio organismo dos agentes estranhos que necessitam de ser eliminados.
As várias moléculas, células, tecidos e órgãos especializados que pertencem ao sistema
imunitário atuam de forma coordenada e dinâmica, no sentido de resolver, com sucesso,
os problemas identificados.

Os biomarcadores que se encontram no fluido salivar fornecem informações relevantes


sobre os processos biológicos normais que ocorrem no organismo, mas também acerca

67
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

de alterações indicadoras de doenças. Existem vários tipos de biomarcadores salivares,


dos quais se destacam os biomarcadores imunológicos. Destes, fazem parte as citocinas,
a proteína C-reativa, as metaloproteinases da matriz e as imunoglobulinas. Todos eles
exercem uma influência muito significativa na imunidade oral, uma vez que possuem
propriedades protetoras consideráveis.

A IgA é a imunoglobulina predominante na saliva. Este anticorpo tem uma ação


preponderante na proteção da mucosa oral, devido à sua capacidade de neutralizar vários
tipos de agentes prejudiciais, como bactérias, vírus e toxinas.

Para além dos biomarcadores imunológicos, existem outros componentes da saliva que
contribuem para a imunidade da cavidade oral. Destaca-se a presença de várias proteínas
que desempenham importantes funções antimicrobianas, tais como: as histatinas, as
cistatinas, as mucinas, as estaterinas, as defensinas, a lisozima, a lactoferrina, a
peroxidase, a α-amilase, a aglutinina, a calprotectina, a catelicidina e as proteínas ricas
em prolina.

Tendo em conta que as reações imunológicas locais têm expressão a nível sistémico e
vice-versa, conclui-se, assim, que a presença da saliva é indispensável para assegurar e
manter o equilíbrio oral. Uma cavidade oral saudável advém de uma proteção
imunológica eficaz, o que evita a ocorrência de infeções e patologias orais.
Consequentemente, uma boa saúde oral contribui para prevenir o aparecimento e
desenvolvimento de doenças sistémicas, o que proporciona condições favoráveis de saúde
geral. Em suma, o funcionamento adequado de todo o organismo tem um impacto positivo
na qualidade de vida individual.

68
Bibliografia

IV. BIBLIOGRAFIA

Abbas, A. K., Lichtman, A. H., & Pillai, S. (2019). Imunologia Celular e Molecular (9ª
ed.). Elsevier.

Ahsan, H. (2018). Biomolecules and biomarkers in oral cavity: bioassays and


immunopathology. Journal of Immunoassay and Immunochemistry, 40(1), 52–69.
https://doi.org/10.1080/15321819.2018.1550423

Alcívar, J. C., Guerra, J. A., Alcívar, A. U., Mendoza, M. B., Mera, S. Z., Mendoza, V.
B., & Vázquez, Y. (2018). “Importancia de la inmunología como ciencia”. Ciencia
Digital, 2(3), 28–49.

Ali, K. (2016). Oral mucosa. Em S. Creanor (Ed.), Essential Clinical Oral Biology (1ª
ed., pp. 65–67). Wiley Blackwell.

Almeida, P. D. V., Grégio, A. M. T., Machado, M. Â. N., Lima, A. A. S., & Azevedo, L.
R. (2008). Saliva Composition and Functions: A Comprehensive Review. Journal of
Contemporary Dental Practice, 9(3), 072–080. https://doi.org/10.5005/jcdp-9-3-72

Alpert, P. T. (2016). Oral Health: The Oral-Systemic Health Connection. Home Health
Care Management & Practice, 29(1), 56–59. https://doi.org/10.1177/1084822316651658

Ansar, W., & Ghosh, S. (2013). C-reactive protein and the biology of disease.
Immunologic Research, 56(1), 131–142. https://doi.org/10.1007/s12026-013-8384-0

Aounallah, H., Bensaoud, C., M’ghirbi, Y., Faria, F., Chmelar̆, J., & Kotsyfakis, M.
(2020). Tick Salivary Compounds for Targeted Immunomodulatory Therapy. Frontiers
in Immunology, 11, 1–15. https://doi.org/10.3389/fimmu.2020.583845

Arrais, J. P., Rosa, N., Melo, J., Coelho, E. D., Amaral, D., Correia, M. J., Barros, M., &
Oliveira, J. L. (2013). OralCard: A bioinformatic tool for the study of oral proteome.
Archives of Oral Biology, 58(7), 762–772.
https://doi.org/10.1016/j.archoralbio.2012.12.012

Atkinson, J. C., Moutsopoulos, N., Pillemer, S. R., Imanguli, M. M., & Challacombe, S.
(2015). Immunologic Diseases. Em M. Glick (Ed.), Burket´s Oral Medicine (12ª ed., pp.
490–492). People’s Medical Publishing House-USA.

69
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

Bergmeier, L. A. (2018). Immunology of the Oral Mucosa. Em L. A. Bergmeier (Ed.),


Oral Mucosa in Health and Disease (1ª ed., pp. 54–62). Springer.

Bergthaler, A., & Menche, J. (2017). The immune system as a social network. Nature
Immunology, 18(5), 481–482. https://doi.org/10.1038/ni.3727

Bibi, T., Khurshid, Z., Rehman, A., Imran, E., Srivastava, K. C., & Shrivastava, D.
(2021). Gingival Crevicular Fluid (GCF): A Diagnostic Tool for the Detection of
Periodontal Health and Diseases. Molecules, 26(5), 1–16.
https://doi.org/10.3390/molecules26051208

Bowers, L. M., Fox, P. C., & Brennan, M. T. (2015). Salivary Gland Diseases. Em M.
Glick (Ed.), Burket´s Oral Medicine (12ª ed., pp. 219–221). People’s Medical Publishing
House-USA.

Brandtzaeg, P. (2013). Secretory immunity with special reference to the oral cavity.
Journal of Oral Microbiology, 5(1), 1–25. https://doi.org/10.3402/jom.v5i0.20401

Brodin, P., & Davis, M. M. (2016). Human immune system variation. Nature Reviews
Immunology, 17(1), 21–29. https://doi.org/10.1038/nri.2016.125

Carbone, Z., Haydee, C. N., González, M. M., & Martínez, S. E. (2016). La saliva: una
mirada hacia el diagnóstico. Rev. Ateneo Argent. Odontol, 1, 39–43.

Castañeda, A., & Moya, G. (2012). Características y propiedades físico-químicas de la


saliva: una revisión. UstaSalud, 11(2), 101–111.

Catanzaro, M., Corsini, E., Rosini, M., Racchi, M., & Lanni, C. (2018).
Immunomodulators Inspired by Nature: A Review on Curcumin and Echinacea.
Molecules, 23(11), 1–17. https://doi.org/10.3390/molecules23112778

Chaker, A. (2016). Anatomy and Microanatomy of Tonsils. Em M. J. H. Ratcliffe, A.


Defranco, M. Miyasaka, & T. Mosmann (Eds.), Encyclopedia of Immunobiology (1ª ed.,
pp. 420–425). Academic Press.

Chojnowska, S., Baran, T., Wilińska, I., Sienicka, P., Cabaj-Wiater, I., & Knaś, M.
(2018). Human saliva as a diagnostic material. Advances in Medical Sciences, 63(1), 185–
191. https://doi.org/10.1016/j.advms.2017.11.002

70
Bibliografia

Coleman, L., Gold, J. A., & Zakowski, M. (2018). Functional Anatomy of the Airway.
Em C. A. Hagberg, C. A. Artime, & M. F. Aziz (Eds.), Hagberg and Benumof´s Airway
Management (4ª ed., pp. 4–5). Elsevier.

Corthésy, B. (2010). Role of secretory immunoglobulin A and secretory component in


the protection of mucosal surfaces. Future Microbiology, 5(5), 817–829.
https://doi.org/10.2217/fmb.10.39

Costello, R., Prabhu, V., & Whittet, H. (2016). Lingual tonsil: Clinically applicable
macroscopic anatomical classification system. Clinical Otolaryngology, 42(1), 144–147.
https://doi.org/10.1111/coa.12715

Creanor, S. (2016). An introduction to the human dentition. Em S. Creanor (Ed.),


Essential Clinical Oral Biology (1ª ed., pp. 2–4). Wiley Blackwell.

Creanor, S., & Ali, K. (2016). Tooth development. Em S. Creanor (Ed.), Essential
Clinical Oral Biology (1ª ed., p. 14). Wiley Blackwell.

Cruchley, A. T., & Bergmeier, L. A. (2018). Structure and Functions of the Oral Mucosa.
Em L. A. Bergmeier (Ed.), Oral Mucosa in Health and Disease (1ª ed., pp. 1–15).
Springer.

Cui, N., Hu, M., & Khalil, R. A. (2017). Biochemical and Biological Attributes of Matrix
Metalloproteinases. Em R. Khalil (Ed.), Matrix Metalloproteinases and Tissue
Remodeling in Health and Disease: Cardiovascular Remodeling (1ª ed., pp. 1–73).
Elsevier Inc. https://doi.org/10.1016/bs.pmbts.2017.02.005

Dawes, C., Pedersen, A. M. L., Villa, A., Ekström, J., Proctor, G. B., Vissink, A.,
Aframian, D., McGowan, R., Aliko, A., Narayana, N., Sia, Y. W., Joshi, R. K., Jensen,
S. B., Kerr, A. R., & Wolff, A. (2015). The functions of human saliva: A review
sponsored by the World Workshop on Oral Medicine VI. Archives of Oral Biology, 60(6),
863–874. https://doi.org/10.1016/j.archoralbio.2015.03.004

Dawes, C., & Wong, D. T. W. (2019). Role of Saliva and Salivary Diagnostics in the
Advancement of Oral Health. Journal of Dental Research, 98(2), 133–141.
https://doi.org/10.1177/0022034518816961

Delves, P. J., Martin, S. J., Burton, D. R., & Roitt, I. M. (2017). Roitt’s Essential
Immunology (13ª ed.). Wiley Blackwell.

71
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

Dembic, Z. (2015). The Cytokines of the Immune System: The role of cytokines in disease
related to immune response (1ª ed.). Academic Press.

Doan, T., Melvold, R., Viselli, S., & Waltenbaugh, C. (2013). Lippincott’s Illustrated
Reviews Immunology (2ª ed.). Wolters Kluwer.

Dodds, M., Roland, S., Edgar, M., & Thornhill, M. (2015). Saliva A review of its role in
maintaining oral health and preventing dental disease. BDJ Team, 2(1–8), 11–13.
https://doi.org/10.1038/bdjteam.2015.123

Ekström, J., Khosravani, N., Castagnola, M., & Messana, I. (2017). Saliva and the Control
of Its Secretion. Medical Radiology, 21–57. https://doi.org/10.1007/174_2017_143

Fábián, T. K., Hermann, P., Beck, A., Fejérdy, P., & Fábián, G. (2012). Salivary Defense
Proteins: Their Network and Role in Innate and Acquired Oral Immunity. International
Journal of Molecular Sciences, 13(4), 4295–4320. https://doi.org/10.3390/ijms13044295

Fatima, S., Muzammal, M., Rehman, A., Shah, K. U., Kamran, M., Mashal, S., Rustam,
S. A., Sabir, M. W., & Nayab, A. (2020). Composition and Function of Saliva: a Review.
World Journal of Pharmacy and Pharmaceutical Sciences, 9(6), 1552–1567.

Feller, L., Altini, M., Khammissa, R. A. G., Chandran, R., Bouckaert, M., & Lemmer, J.
(2013). Oral mucosal immunity. Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology, Oral
Radiology, 116(5), 576–583. https://doi.org/10.1016/j.oooo.2013.07.013

Glick, M., Williams, D. M., Kleinman, D. V., Vujicic, M., Watt, R. G., & Weyant, R. J.
(2016). A new definition for oral health developed by the FDI World Dental Federation
opens the door to a universal definition of oral health. British Dental Journal, 221(12),
792–793. https://doi.org/10.1038/sj.bdj.2016.953

Gröschl, M. (2017). Saliva: a reliable sample matrix in bioanalytics. Bioanalysis, 9(8),


655–668. https://doi.org/10.4155/bio-2017-0010

Hajishengallis, E., & Hajishengallis, G. (2014). Immunology of the Oral Cavity. Em R.


J. Lamont, G. N. Hajishengallis, & H. F. Jenkinson (Eds.), Oral Microbiology and
Immunology (2ª ed., pp. 214–216). ASM Press.

Heller, D., Helmerhorst, E. J., & Oppenheim, F. G. (2016). Saliva and Serum Protein
Exchange at the Tooth Enamel Surface. Journal of Dental Research, 96(4), 437–443.
https://doi.org/10.1177/0022034516680771

72
Bibliografia

Hernández, L. M., & Taylor, M. K. (2020). Salivary Gland Anatomy and Physiology. Em
D. A. Granger & M. K. Taylor (Eds.), Salivary Bioscience: Foundations of
Interdisciplinary Saliva Research and Applications (1ª ed., pp. 23–29). Springer.

Huq, N. L., Cross, K. J., Ung, M., Myroforidis, H., Veith, P. D., Chen, D., Stanton, D.,
He, H., Ward, B. R., & Reynolds, E. C. (2007). A Review of the Salivary Proteome and
Peptidome and Saliva-derived Peptide Therapeutics. International Journal of Peptide
Research and Therapeutics, 13(4), 547–564. https://doi.org/10.1007/s10989-007-9109-9

Husain, M. A. (2017). Dental Anatomy and Nomenclature for the Radiologist. Radiologic
Clinics of North America, 56(1), 1–11. https://doi.org/10.1016/j.rcl.2017.08.001

Javaid, M. A., Ahmed, A. S., Durand, R., & Tran, S. D. (2016). Saliva as a diagnostic
tool for oral and systemic diseases. Journal of Oral Biology and Craniofacial Research,
6(1), 67–76. https://doi.org/10.1016/j.jobcr.2015.08.006

Kaczor-Urbanowicz, K. E., Martin Carreras-Presas, C., Aro, K., Tu, M., Garcia-Godoy,
F., & Wong, D. T. W. (2016). Saliva diagnostics – Current views and directions.
Experimental Biology and Medicine, 242(5), 459–472.
https://doi.org/10.1177/1535370216681550

Kane, S. F. (2017). The effects of oral health on systemic health. General Dentistry, 65(6),
30–34.

Kelley, J. M. (2007). Inmunología, biología molecular y la enfermedad. Rev. Méd. Clín.


Condes, 18(4), 287–297.

Kerr, J. E., & Tribble, G. D. (2015). Salivary Diagnostics and the Oral Microbiome. Em
C. F. Streckfus (Ed.), Advances in Salivary Diagnostics (1ª ed., pp. 89–91). Springer.

Khan, R., Khurshid, Z., & Asiri, F. (2017). Advancing Point-of-Care (PoC) Testing Using
Human Saliva as Liquid Biopsy. Diagnostics, 7(3), 1-12.
https://doi.org/10.3390/diagnostics7030039

Khokha, R., Murthy, A., & Weiss, A. (2013). Metalloproteinases and their natural
inhibitors in inflammation and immunity. Nature Reviews Immunology, 13(9), 649–665.
https://doi.org/10.1038/nri3499

73
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

Khurshid, Z., Zohaib, S., Najeeb, S., Zafar, M. S., Slowey, P. D., & Almas, K. (2016).
Human Saliva Collection Devices for Proteomics: An Update. International Journal of
Molecular Sciences, 17(6). https://doi.org/10.3390/ijms17060846

Lewis, D. E., & Blutt, S. E. (2019). Organization of the Immune System. Em R. R. Rich,
T. A. Fleisher, W. T. Shearer, H. W. Schroeder, A. J. Frew, & C. M. Weyand (Eds.),
Clinical Immunology: Principles and Practice (5ª ed., p. 19). Elsevier.

Li, Y., Jin, L., & Chen, T. (2020). The Effects of Secretory IgA in the Mucosal Immune
System. BioMed Research International, 2020, 1–6.
https://doi.org/10.1155/2020/2032057

Madani, M., Berardi, T., & Stoopler, E. T. (2014). Anatomic and Examination
Considerations of the Oral Cavity. Medical Clinics of North America, 98(6), 1–14.
https://doi.org/10.1016/j.mcna.2014.08.001

Malathi, N., Mythili, S., & Vasanthi, H. R. (2014). Salivary Diagnostics: A Brief Review.
ISRN Dentistry, 2014, 1–8. https://doi.org/10.1155/2014/158786

Male, D., Brostoff, J., Roth, D. B., & Roitt, I. M. (2013). Immunology (8ª ed.). Elsevier.

Marshall, J. S., Warrington, R., Watson, W., & Kim, H. L. (2018). An introduction to
immunology and immunopathology. Allergy, Asthma and Clinical Immunology, 14(2),
5–14. https://doi.org/10.1186/s13223-018-0278-1

Matsuzaki, K., Sugimoto, N., Islam, R., Hossain, M. E., Sumiyoshi, E., Katakura, M., &
Shido, O. (2020). Salivary Immunoglobulin A Secretion and Polymeric Ig Receptor
Expression in the Submandibular Glands Are Enhanced in Heat-Acclimated Rats.
International Journal of Molecular Sciences, 21(3).
https://doi.org/10.3390/ijms21030815

McComb, S., Thiriot, A., Akache, B., Krishnan, L., & Stark, F. (2019). Introduction to
the Immune System. Em K. M. Fulton & S. M. Twine (Eds.), Immunoproteomics:
Methods and Protocols (2ª ed., pp. 1–24). Springer. https://doi.org/10.1007/978-1-4939-
9597-4_1

McDonald, D. R., & Levy, O. (2019). Innate Immunity. Em R. R. Rich, T. A. Fleisher,


W. T. Shearer, H. W. Schroeder, A. J. Frew, & C. M. Weyand (Eds.), Clinical
Immunology: Principles and Practice (5ª ed., pp. 39–43). Elsevier.

74
Bibliografia

McDonald, S. (2016). Lymph nodes of the head and neck and the tonsils. Em S. Creanor
(Ed.), Essential Clinical Oral Biology (1ª ed., pp. 132–133). Wiley Blackwell.

McDonald, S., & Creanor, S. (2016). The tongue. Em S. Creanor (Ed.), Essential Clinical
Oral Biology (1ª ed., pp. 121–124). Wiley Blackwell.

McHanwell, S. (2016). Pharynx. Em S. Standring & M. Gleeson (Eds.), Gray´s Anatomy:


The Anatomical Basis of Clinical Practice (41ª ed., pp. 573–577). Elsevier.

Medina, K. L. (2016). Overview of the immune system. Em S. J. Pittock & A. Vincent


(Eds.), Handbook of Clinical Neurology (1ª ed., pp. 61–76). Elsevier B.V.
https://doi.org/10.1016/B978-0-444-63432-0.00004-9

Moutsopoulos, N. M., & Konkel, J. E. (2018). Tissue-Specific Immunity at the Oral


Mucosal Barrier. Trends in Immunology, 39(4), 276–287.
https://doi.org/10.1016/j.it.2017.08.005

Murphy, K., & Weaver, C. (2017). Janeway´s Immunobiology (9ª ed.). Garland Science.

Nemoda, Z. (2020). The Use of Saliva for Genetic and Epigenetic Research. Em D. A.
Granger & M. K. Taylor (Eds.), Salivary Bioscience: Foundations of Interdisciplinary
Saliva Research and Applications (1ª ed., pp. 155–165). Springer.

Nicholson, L. B. (2016). The immune system. Essays in Biochemistry, 60(3), 275–301.


https://doi.org/10.1042/EBC20160017

Nunes, L., Mussavira, S., & Bindhu, O. (2015). Clinical and diagnostic utility of saliva
as a non-invasive diagnostic fluid: a systematic review. Biochemia Medica, 25(2), 177–
192. https://doi.org/10.11613/BM.2015.018

Odanaka, H., Obama, T., Sawada, N., Sugano, M., Itabe, H., & Yamamoto, M. (2020).
Comparison of protein profiles of the pellicle, gingival crevicular fluid, and saliva:
Possible origin of pellicle proteins. Biological Research, 53(1), 1–10.
https://doi.org/10.1186/s40659-020-0271-2

O’Shea, J. J., Gadina, M., & Siegel, R. M. (2019). Cytokines and Cytokine Receptors.
Em R. R. Rich, T. A. Fleisher, W. T. Shearer, H. W. Schroeder, A. J. Frew, & C. M.
Weyand (Eds.), Clinical Immunology: Principles and Practice (5ª ed., p. 127). Elsevier.

75
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

Patel, S. A., & Barros, J. A. (2015). Introduction. Em C. F. Streckfus (Ed.), Advances in


Salivary Diagnostics (1ª ed., pp. 1–15). Springer.

Pedersen, A. M. L., Sørensen, C. E., Proctor, G. B., Carpenter, G. H., & Ekström, J.
(2018). Salivary secretion in health and disease. Journal of Oral Rehabilitation, 45(9).
https://doi.org/10.1111/joor.12664

Proctor, G. B. (2018). Saliva and Salivary Glands. Em S. A. Whawell & D. W. Lambert


(Eds.), Basic Sciences for Dental Students (1ª ed., pp. 208–219). Wiley Blackwell.

Qin, R., Steel, A., & Fazel, N. (2017). Oral mucosa biology and salivary biomarkers.
Clinics in Dermatology, 35(5), 477–483.
https://doi.org/10.1016/j.clindermatol.2017.06.005

Quesada, J. G., & Álvarez, S. R. (2017). Biomarcadores en el fluido gingival crevicular:


Revisión de literatura. Odovtos – International Journal of Dental Sciences, 19(3), 35–43.

Rapson, A., Collman, E., Faustini, S., Yonel, Z., Chapple, I. L., Drayson, M. T., Richter,
A., Campbell, J. P., & Heaney, J. L. J. (2019). Free light chains as an emerging biomarker
in saliva: Biological variability and comparisons with salivary IgA and steroid hormones.
Brain, Behavior, and Immunity, 83, 78–86. https://doi.org/10.1016/j.bbi.2019.09.018

Rathnayake, N., Gieselmann, D.-R., Heikkinen, A., Tervahartiala, T., & Sorsa, T. (2017).
Salivary Diagnostics—Point-of-Care diagnostics of MMP-8 in dentistry and medicine.
Diagnostics, 7(1), 7. https://doi.org/10.3390/diagnostics7010007

Rich, R. R., & Chaplin, D. D. (2019). The Human Immune Response. Em R. R. Rich, T.
A. Fleisher, W. T. Shearer, H. W. Schroeder, A. J. Frew, & C. M. Weyand (Eds.), Clinical
Immunology: Principles and Practice (5ª ed., pp. 3–12). Elsevier.

Riis, J. L., Byrne, M. L., Hernández, L. M., & Robles, T. F. (2020). Salivary Bioscience,
Immunity, and Inflammation. Em D. A. Granger & M. K. Taylor (Eds.), Salivary
Bioscience: Foundations of Interdisciplinary Saliva Research and Applications (1ª ed.,
pp. 242–259). Springer.

Roblegg, E., Coughran, A., & Sirjani, D. (2019). Saliva: An all-rounder of our body.
European Journal of Pharmaceutics and Biopharmaceutics, 142(June), 133–141.
https://doi.org/10.1016/j.ejpb.2019.06.016

76
Bibliografia

Roi, A., Rusu, L. C., Roi, C. I., Luca, R. E., Boia, S., & Munteanu, R. I. (2019). A New
Approach for the Diagnosis of Systemic and Oral Diseases Based on Salivary
Biomolecules. Disease Markers, 2019(1). https://doi.org/10.1155/2019/8761860

Rosa, N. (2011). Do proteoma salivar ao oraloma [Tese de Doutoramento, Universidade


Católica Portuguesa]. Repositório Institucional da Universidade Católica Portuguesa.
http://hdl.handle.net/10400.14/9019

Saloom, H. F., & Carpenter, G. H. (2018). Saliva and Gingival Crevicular Fluid:
Contributions to Mucosal Defense. Em L. A. Bergmeier (Ed.), Oral Mucosa in Health
and Disease (1ª ed., pp. 92–99). Springer.

Santo, S., Suárez, M. F., & Serra, H. M. (2011). Cavidad oral: importante sitio de
vigilancia inmunológica. Archivos de Alergia e Inmunología Clínica, 42(1), 24–33.

Sattler, S. (2017). The Role of the Immune System Beyond the Fight Against Infection.
Em S. Sattler & T. Kennedy-Lydon (Eds.), The Immunology of Cardiovascular
Homeostasis and Pathology (1ª ed., pp. 3–14). Springer. https://doi.org/10.1007/978-3-
319-57613-8_1

Schafer, C. A., Schafer, J. J., Yakob, M., Lima, P., Camargo, P., & Wong, D. T. W.
(2014). Saliva Diagnostics: Utilizing Oral Fluids to Determine Health Status.
Monographs in Oral Science, 24, 88–98. https://doi.org/10.1159/000358791

Scully, C., Georgakopoulou, E. A., & Hassona, Y. (2017). The Immune System: Basis of
so much Health and Disease: 3. Adaptive Immunity. Dental Update, 44(4), 322–327.
https://doi.org/10.12968/denu.2017.44.4.322

Slowey, P. D. (2015). Saliva Collection Devices and Diagnostic Platforms. Em C. F.


Streckfus (Ed.), Advances in Salivary Diagnostics (1ª ed., p. 40). Springer.

Sousa, A. S., Silva, J. F., Pavesi, V. C. S., Carvalho, N. A., Ribeiro-Júnior, O., Varellis,
M. L. Z., Prates, R. A., Bussadori, S. K., Gonçalves, M. L. L., Horliana, A. C. R. T., &
Deana, A. M. (2019). Photobiomodulation and salivary glands: a systematic review.
Lasers in Medical Science, 35(4), 777–788. https://doi.org/10.1007/s10103-019-02914-1

Sproston, N. R., & Ashworth, J. J. (2018). Role of C-Reactive Protein at Sites of


Inflammation and Infection. Frontiers in Immunology, 9, 1–11.
https://doi.org/10.3389/fimmu.2018.00754

77
Papel da saliva na imunidade da cavidade oral

Sun, F., & Reichenberger, E. J. (2014). Saliva as a source of genomic DNA for genetic
studies: review of current methods and applications. Oral Health and Dental
Management, 13(2), 217–222. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24984625

Taylor, J. J. (2018). Introduction to Immunology. Em S. A. Whawell & D. W. Lambert


(Eds.), Basic Sciences for Dental Students (1ª ed., pp. 91–105). Wiley Blackwell.

Tomar, N., & De, R. K. (2014). A Brief Outline of the Immune System. Em N. Tomar &
R. K. De (Eds.), Immunoinformatics (2ª ed., pp. 3–12). Springer.
https://doi.org/10.1007/978-1-4939-1115-8_1

Triana, B. E. G., Soto, O. D., Espina, A. M. L., & Bernabeu, A. S. (2012). Principales
proteínas salivales: estructura, función y mecanismos de acción. Revista Habanera de
Ciencias Médicas, 11(4), 450–456.

VanPutte, C., Regan, J., Russo, A., Seeley, R., Stephens, T., & Tate, P. (2020). Seeley´s
Anatomy & Physiology (12ª ed.). McGraw-Hill Education.

Vila, T., Rizk, A. M., Sultan, A. S., & Jabra-Rizk, M. A. (2019). The power of saliva:
Antimicrobial and beyond. PLoS Pathogens, 15(11).
https://doi.org/10.1371/journal.ppat.1008058

Wang, A., Wang, C. P., Tu, M., & Wong, D. T. W. (2016). Oral Biofluid Biomarker
Research: Current Status and Emerging Frontiers. Diagnostics, 6(4).
https://doi.org/10.3390/diagnostics6040045

Woźniak, M., Paluszkiewicz, C., & Kwiatek, W. M. (2019). Saliva as a non-invasive


material for early diagnosis. Acta Biochimica Polonica, 66(4).
https://doi.org/10.18388/ABP.2019_2762

Yatim, K. M., & Lakkis, F. G. (2015). A Brief Journey through the Immune System.
Clinical Journal of the American Society of Nephrology, 10(7), 1274–1281.
https://doi.org/10.2215/CJN.10031014

Yoshizawa, J. M., Schafer, C. A., Schafer, J. J., Farrell, J. J., Paster, B. J., & Wong, D. T.
W. (2013). Salivary Biomarkers: Toward Future Clinical and Diagnostic Utilities.
Clinical Microbiology Reviews, 26(4), 781–791. https://doi.org/10.1128/CMR.00021-13

78
Bibliografia

Yu, J. C., Khodadadi, H., & Baban, B. (2019). Innate immunity and oral microbiome: a
personalized, predictive, and preventive approach to the management of oral diseases.
EPMA Journal, 10(1), 43–50. https://doi.org/10.1007/s13167-019-00163-4

Zhang, C. Z., Cheng, X. Q., Li, J. Y., Zhang, P., Yi, P., Xu, X., & Zhou, X. D. (2016).
Saliva in the diagnosis of diseases. International Journal of Oral Science, 8(3), 133–137.
https://doi.org/10.1038/ijos.2016.38

Zhang, X., Kulasinghe, A., Karim, R. S., & Punyadeera, C. (2015). Saliva Diagnostics
for Oral Diseases. Em C. F. Streckfus (Ed.), Advances in Salivary Diagnostics (1ª ed., p.
143). Springer.

79
ANEXOS

Anexo 1 – Autorização de utilização da figura 3.

Você também pode gostar