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Canonicidade e Temas da Epístola de Tiago

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INTRODUÇÃO

A primeira menção nominal à epístola de Tiago aparece no início do terceiro século. Entre
os primeiros textos cristãos não-canônicos, o Pastor de Hermas é o que mais apresenta
paralelos com Tiago, encontra-se vários temas característicos de Tiago; estímulos à
oração com fé.
Havia certa resistência em se reconhecer a Carta de Tiago como canônica nos primeiros
séculos. Algumas causas: 1 - Pode ter sido a incerteza da origem apostólica do livro, uma
vez que o autor se identifica apenas pelo nome de Tiago. 2 - Outro fator pode ter sido o
caráter tradicional do ensino de Tiago, contendo pouca doutrina, portanto pouco
combustível para os ardentes debates teológicos na igreja primitiva.
Autor: Em geral aceita-se que o Tiago, chamado por Paulo de “o irmão do Senhor” (Gl
1.19), foi o autor da carta. “Bispo” de Jerusalém. De muita influência entre os judeus e na
Igreja. Sua obra foi ganhar judeus e “desembaraçar a passagem deles para o
cristianismo”.
Data: A tradição coloca o martírio de Tiago no ano 62. A sua epístola não dá demonstração
das maiores revelações referentes à Igreja e da doutrina distintiva da graça feita pelo
apóstolo Paulo, nem sequer das discussões concernentes à relação dos convertidos entre
os gentios para com a lei de Moisés, que culminaram no primeiro concílio da Igreja (At
15), que Tiago presidiu. Isto dá a entender que sua epístola foi a primeira carta dirigida
aos cristãos.
Destinatário: Aparentemente os judeus convertidos que viviam fora da Terra Santa, ou
também, aos judeus devotos da Dispersão. Por “as doze tribos que andam dispersas”
devemos entender, não os israelitas, mas os judeus convertidos entre a Dispersão. A igreja
começou com eles (At 2.5-11).
Tema:O tema de Tiago é “religião” (grego “threskeia” – serviço religioso exterior) como a
expressão e prova da fé. Ele não apresenta as obras em contraste com a fé, mas afirma
que a fé sempre produz as obras de acordo com o que se crê. A religião prática,
manifestada nas boas obras, em contraste com a simples profissão da fé.
O Estilo de Tiago: Escreve de modo extremamente parecido em estilo, com a literatura
de sabedoria do Antigo Testamento. A epístola é claramente cristã pelo fato que reconhece
as reivindicações de Cristo (1.1; 2.17), que faz referência à Segunda Vinda de Cristo (1.12;
5.7,8), fazendo relembrar o ensino da chamada “literatura de sabedoria” do Antigo
Testamento, conforme encontramos nos livros de Jó, Provérbios e Eclesiastes e em
alguns dos Salmos. Tiago se mostra prático e livre de embaraços teológicos, em sua
ênfase. Tiago deu à sua Epístola um ar de autoridade sem presunção.
Canonicidade: Questionou-se a condição canônica desta carta até que a Igreja percebeu
que seu autor fora, com toda probabilidade, o meio irmão de Jesus. Lutero não questionou
a genuinidade de Tiago, e sim a sua utilidade, em comparação com as cartas de Paulo,
pois ela diz muito pouco sobre a justificação pela fé, e dá destaque às obras.
Tem-se dito que esta carta é baseada no Sermão da Montanha, e, examinando-a com
cuidado, verificamos que, até certo ponto, esse alvitre se justifica. Uma comparação entre
essa Epístola e o Sermão do Monte revela pelo menos doze claros paralelismos.

CAPÍTULO 1
1. Saudação (1.1)
(1). Dispersão. (1) Provavelmente não se refere a judeus como raça, mas a judeus crentes
em Cristo que assim se tornaram o verdadeiro Israel de Deus (Gl 6.16) – “Dispersão”
também se refere a gentios cristãos (1 Pe 1.1)
2. Provações (1.2-11)
(1) A Resistência nas provações: (2,3) “Tentação (2), alude a provações que nos vêm
experimentar; no v.12, trata-se de sedução para o pecado. Não é pecado passar por
provações, mas quando se cai numa tentação, isso leva ao pecado. Deus pode trabalhar
nelas e, por meio delas, aperfeiçoar as nossas vidas. (Jó 23.10; Hb 12.11; Tg 1.3-4)
(2) A Utilidade da Provação. Podemos observar que a provação muitas vezes traz
proveito, se não material, ao menos moral. As pessoas provadas desenvolvem coragem,
paciência, resolução, recurso, serenidade de espírito, se passam pelas provações com
Deus. Por isso podemos contar a provação como coisa vantajosa (2).
(3) O Resultado da Provação: Sabendo que dela resultará benefício espiritual (3,4)
1- Gozo e paciência no meio das provas (2-4)
2- Para o crente, toda provação toca na sua fé que assim é confirmada e produz um
homem perfeito em Cristo (1 Pe 1.6-9). Por isso devemos nos alegrar quando vêm
provações pelo lucro espiritual que nos proporcionam.
3- Fé constante e firmeza de ânimo (5-8) – “em nada duvidando” (6): Indo e voltando
entre a fé e a incredulidade.
3. Paciência – Perseverança (3,4) [gr hupomonê] É a paciência quando não há
remédio, constância sob uma prova prolongada (2 Ts 3.5) É a capacidade de esperar por
aquilo que desejamos, e de suportar as provações. As provações produzem paciência. A
paciência opera a perfeição (5.7-11)
4. A Sabedoria (5): Nesta epístola é a compreensão cristã que se manifesta numa
vida que segue a lei de Deus, como sua regra de fé e moralidade. Tiago é o livro cristão
de Provérbios.
5. Oração (5-8). Esta epístola começa e termina com uma exortação à oração (4.2,3;
5.13-18). Dizem que Tiago passava, tanto tempo de joelhos, que estes ficaram rijos e
calejados como os de camelo.
6. A vaidade das riquezas (9-11). Nossa condição social não é a que temos aqui, mas
na eternidade, onde está nosso principal interesse (2.1-13; 4.1-10, 13-17; 5.1-6).
8. As Provações e Tentações (1.12-18)
Tentação, aqui, quer dizer sedução do pecado. Não vem de Deus. Deus é capaz de
guardar-vos dela, e ajudar-nos a suportá-la. Jesus mandou orar para que ela fosse evitada
(Mt 26.41).
1- Deus não tentou Abraão (nem a ninguém) a pecar. Deus provou Abraão, para ver se
este pecaria ou se permaneceria fiel a ele. Deus permite que satanás nos tente (Mt 4.1-
10; Tg 4.7; 1 Pe 5.8,9), mas Tiago está certo ao dizer que o próprio Deus nunca “a ninguém
tenta” (1.13)
2- Deus não pode ser tentado pelo pecado, uma vez que ele é absolutamente perfeito (Mt
5.48; Hb 6.18). 3- Quando nós, seres humanos sujeitos ao pecado, somos tentados, é
porque nos permitimos ser levados pelos desejos da nossa cobiça (Tg 1.14-15). A origem
da tentação procede de dentro de nós, não de fora. Procede do homem caído, não de um
Deus sem pecado. 4- Conquanto Deus não tente nem possa tentar ninguém ao pecado,
ele permite que sejamos tentados por satanás e por nossas concupiscências. É claro, o
seu propósito ao permitir (mas não ao produzir nem ao promover) o mal é fazer-nos mais
perfeitos. Deus permitiu que satanás provasse Jó, de forma que este pudesse dizer: “se
ele me provasse, sairia eu como o ouro” (Jó 23.10). Deus permitiu que o mal sobreviesse
sobre José por meio das mãos de seus irmãos, mas no fim José pôde dizer a eles: “Vós,
na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem” (Gn 50.20)
O Pecado (14-15) Tem sua origem na cobiça, isto é, nos desejos da carne. Gerado na
cobiça, o pecado dá à luz a morte.
Pai das luzes. Em contraste com a idéia corrente na astrologia que as estrelas
controlavam fatalmente o destino do homem, Tiago afirma que nosso Pai, perfeito em
benevolência, rodeia nosso caminho com dádivas.
A Imutabilidade de Deus (17). Também se realça, em contraste com o Sol ou a lua, que
variam, a constância de Deus (Hb 13.8; Ml 3.6). O Nosso Deus não muda!
O Novo Nascimento (18): O maior e mais importante de todos os seus dons, é a
regeneração pela Palavra da verdade, a Bíblia Sagrada revelando Deus às nossas almas,
produz um novo ser espiritual. Como o pecado produz a morte (15), assim Deus, mediante
Sua Palavra, gera a alma do cristão. Pedro também fala da Palavra, como semente
fecundante que faz nascer a alma recém-gerada. (1 Pe 1.23)
“Tardio para falar” (19). Isto é, não precipitar-se na proclamação do evangelho antes de
aceitá-lo e colocá-lo em prática (3.1). É de notar, que muitos hoje, mal passaram por uma
experiência genuína de conversão, mal aprenderam os princípios elementares da Fé
Cristã, e rapidamente passam de novos convertidos à pregadores e ministros do
evangelho, alegam que isso se dá por causa da urgência da obra do Senhor, ou por que
os obreiros veteranos já não estão fazendo a obra de Deus. É a tentativa desesperada de
corrigir um erro lançando mão de outro mais grave. Isto tem gerado, na maioria das vezes
pregadores arrogantes, autoconfiantes, orgulhosos, insubmissos à liderança, fanáticos,
escândalos e prejuízos incalculáveis ao reino de Deus. Eles são semelhantes à Aimaás (2
Sm 18.19 – 33)
Ele queria correr/ não queria esperar/ pega atalhos / sem objetivos. “Seja o que for...
correrei...” (23). Paulo escreve: “Assim corro também eu, não sem meta/sem mensagem/
mal Informado. “Vi um grande alvoroço... porém não sei o que era” (2 Sm 18.29)/ Pregador
de Aparências. (2 Sm 18.24,27). O rei julgou que ele tinha algo a dizer/ teve que ficar de
lado/ não causou nenhuma reação no rei.
Praticantes da Palavra” (21). Em Tiago, o termo “palavra” é mais ou menos equivalente
à “graça” nas epístolas de Paulo. “Ouvintes” (22): [akrotai] Termo usado especialmente
para àqueles que assistiam aulas, mas não se tornavam verdadeiros discípulos.
Espelho (23). APalavra de Deus é o meio de regeneração (1.18), um espelho a refletir as
imperfeições do homem (1.23), o guia ético para a vida cristã (1.25; 2.8) e o padrão de
julgamento.
18. A Religião Verdadeira: “Há muita gente bastante religiosa que parece não fazer o
menor esforço por dominar a sua língua.”
(1) A busca da verdade e a sua prática (25)
(2) A generosidade prática e a pureza (27). Uma língua sem freio, numa pessoa religiosa,
é coisa desprezível, revelando a falsidade da sua religião. Uma vida caridosa, livre de
demasiado apego às coisas da terra, é glória da religião. O ensino de Jesus sobre a prática
da caridade (Mt 25.31-46)
19. Liberdade Cristã: Lei sem Liberdade=escravidão. Liberdade sem Lei=Antinomismo.
Lei da Liberdade. É a Graça de Deus. Os cristãos que esperam encontrar no Novo
Testamento um novo código de leis e regulamentos, não têm compreendido a “Lei da
Liberdade” cristã, que ensina o discípulo sincero a consultar, não um livro de regras, mas
a vontade de um Salvador amado.
CAPÍTULO 2
“Acepção” Isto é, favoritismos pessoais. A ordem é que os crentes não sejam parciais,
especialmente para com pessoas de posição ou riqueza na congregação. “Anéis de ouro”
- Não era incomum uso de vários anéis como sinal de riqueza e prestígio na sociedade
(Lc 15.22). “Abaixo do estrado dos meus pés” ou junto aos meus pés- em lugar humilde,
no chão.
Mostrar favoritismo aos ricos é errado por vários motivos:
1- Mostra que o sistema de valores do indivíduo é falso (3). 2- Deixa de honrar os
pobres, a quem Deus honra (5). 3- Favorece aos que oprimem os cristãos (6). 4- É
pecado (9).
O bom nome (7): Provavelmente é uma referência ao batismo no qual o nome de Cristo
foi pronunciado sobre o neófito (Mt 28.19; At 2.38). Pode ser comparada com a prática
antiga de “invocar o nome” sobre os descendentes como Jacó fez (Gn 48.16).
Lei régia (8): É régia porque é válida no Reino de Deus; porque seu Autor é o Rei Supremo
e porque inclui todas as outras leis que governam as relações humanas.
(8) A Obediência parcial da Lei (10-12)
(9) “Se torna culpado de todos” (10). Um pecado, grande ou pequeno, faz do homem um
pecador e o coloca sob condenação. Os judeus haviam interpretado e abstraído do Antigo
Testamento um total de 248 preceitos afirmativos (em número idêntico ao total dos
membros do corpo segundo a enumeração dos judeus) e mais 365 negativos, que
acreditavam ser da vontade de Deus, pois o número coincidia com o número de dias do
ano. Além disso, o total desses mandamentos: 613, era o mesmo que o número de letras
contidas no decálogo.
A todo homem, são dadas dignidade e igualdade pela cruz de Cristo, uma vez que Ele
morreu por todos. Em consequência, a eternidade humilhará aqueles que se gloriam na
sua própria riqueza, e dará aos pobres, mas fiéis, a herança das riquezas eternas (5). Por
já sermos parte do reino eterno, cometemos pecados se fizermos acepção de pessoas.
Os ricos que Tiago considera aqui são iníquos e opressores. Felizmente nem todos os
ricos são assim, alguns há que sabem servir a vontade de Deus com seu dinheiro.
2. A Fé que salva (2.14-26)
(1) Definição – Obras de fé: Precisamos distinguir entre “obras de fé” e o que o mundo
chama de “boas obras” ou esmolas. Obras de fé são o procedimento que resulta de
alguma coisa que temos visto ou ouvido ou compreendido de Deus. Em Hebreus capítulo
11 há muitos exemplos de obras de fé.
A simples profissão de fé, desacompanhada de atos de misericórdia. A inutilidade de uma
mera crença.
1- A única espécie de fé que é proveitosa é a praticante (14-16)
2- Mera profissão não somente é sem proveito, mas desmoraliza (15,16). Um exemplo
de fé morta é atitude de alguns crentes em face da necessidade dos irmãos na miséria.
Como o simples falar não ajuda, tampouco terá valor reivindicar nossa fé sem demonstrar
os frutos do amor (Mt 7.16-23; Gl 5.6)
Há necessidade de a fé genuína demonstrar a sua existência (18,19) A afirmação de ser
crente deve poder ser provada, e provada por obras, não por palavras.
A crença dos demônios é uma ilustração de fé sem fruto. É uma fé intelectual, não
experimental; teórica, não prática.
(6) A prova de que a justificação é mediante a fé que opera (20-26)
1- No caso de Abraão (21-24). A realidade da justificação é somente demonstrada na
obediência.
2- No caso de Raabe (25) Ação como resultado da fé.
3- A conclusão de todo argumento é: A fé sem obras é como o corpo sem espírito (26)
5. Tiago x Paulo? Não há contradição entre Tiago e Paulo; contemplam a mesma
coisa de pontos de vista diferentes. Paulo ocupa-se com a justificação inicial que tem lugar
quando um homem pela fé aceita Jesus Cristo como Salvador; Tiago, com a justificação
progressiva que tem lugar quando um homem pelas suas obras prova a realidade da sua
fé. Tiago escreveu para os que já haviam aceitado a doutrina da justificação pela fé, mas
que em geral, abusavam dela, flagrantemente. Disse-lhes que tal fé não era fé,
absolutamente. Note-se que a questão não é uma oposição entre fé e obras; mas si, entre
a fé viva e a morta. Tiago nunca afirma que as boas obras nos podem salvar. Ele assinala
claramente que a fé viva e real (17) se manifestará sem falta em obras, tal como a vida no
corpo se manifesta na respiração, no bater do coração e em outras condições (Ef 2.10).
6. A Relação entre Fé e Obras.
“A fé é a raiz e a árvore da qual as obras de fé são o fruto. Não somos salvos pela
combinação de fé e obras, mas sim por uma fé que produz obras. Somos salvos
exclusivamente pela fé, mas por uma fé que não permanece isolada.”
“A fé é o meio de salvação, sua raiz de sustentação. As obras são o produto e o fruto da
fé e da salvação. A fé inicia, promove, controla e culmina a vida espiritual, enquanto as
obras evidenciam, embelezam e coroam a mesma” [Hottel]
Capítulo 3 – Os efeitos nocivos da língua sem controle
“Os dentes podem ser postiços, mas a língua deve ser sempre verdadeira.”
“O maior dos pecados de um homem está em suas palavras” [Thomas Manton]
“Conhecemos os metais pelo som que produzem e os homens por aquilo que
falam”.[Thomas Brooks]
“Palavras... são boas apenas quando são melhores do que o silêncio”. [Richardn Sibbes]
“Senhor, torna minhas palavras graciosas e ternas, pois quem sabe amanhã eu precise
engoli-las”.
“Uma das primeiras coisas que acontece quando alguém está realmente cheio do Espírito
não é falar em línguas, mas, sim, aprender a dominar a língua que já tem”. [J. Sidlow
Baxter]
“Nunca podemos esquecer que de todos os membros do corpo, não há nenhum tão útil a
Satanás como a língua.”
"O meu coração ferve com um nobre tema, enquanto recito os meus versos ao rei; a minha
língua é a pena de um destro escritor” (SI 45:1; 57:4).
“Uma língua afiada é a única ferramenta de corte que fica mais afiada à medida que é
usada” [Washington Jenkyn]
"...vinde e firamo-lo com a língua, e não atendamos a nenhuma das suas palavras". (Jr
18:18)
No capítulo 1.19 encontramos o resumo do ensino deste trecho: “Todo homem seja pronto
para ouvir, tardio para falar” Este capítulo lembra-nos certas declarações do Livro dos
Provérbios. Podemos achar estranho doze versículos dedicados à língua, mas quando
refletimos nas consequências das conversas boas e más, havemos de concordar que não
é demais. Pelo tom geral deste capítulo, suspeitamos que devia haver, na Igreja Judaica,
muitos presunçosos, briguentos, de mentalidade mundana, de temperamentos
descontrolado, que se impunham como líderes e mestres.
1. Mestres. Mestres, assim como pastores, são dons de Deus, para a edificação de
Sua Igreja (Ef 4.11; 1 Co 12.28). Tiago aponta o perigo de tomar esse cargo sobre si
mesmo (2.12). O mestre molda as mentes imaturas para o bem ou mal. Aqui o aviso é
particularmente a respeito da censura (Mt 12.37) e da malícia. Maior juízo espera todos
os que se exaltam como guias, mas não seguem o Caminho e obrigam outros a trilhá-lo
(Mt 23.8-31).
“Perfeitos” (2): Significa maduro, de plena estatura moral e espiritual.
2. A Língua: A palavra boato vem do latim "boatu", que significa mugido ou berro de
boi...
(3) A Língua mal utilizada é:
1- Um pequeno membro que se gaba de grandes coisas (3.5)
2- Fogo (6)
3- Mundo de iniqüidade (6).Uma língua desgovernada é um mundo de iniqüidades.
4- Agente de contaminação (6)
5- Inflamável (6) São palavras fortes, mas verdadeiras.
6- Animal indomável pelo homem (7,8)
7- Mal incontido (8)
8- Veneno mortal - Poder de Contaminação e morte (8)
Ora, a maneira de refrear a língua não é simplesmente guardar silêncio, mas sim levar
“cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2 Co 10.5; Fp4.8; Mt 12.34)
O Uso da Língua:
1- Negativamente. Com ela amaldiçoamos os homens (9) Muita conversa vil tem
arruinado numerosos lares. Divide muitas igrejas. Consegue levar ao desespero e à
desgraça milhões incontáveis.
2- Positivamente: Com ela bendizemos a Deus. (9) Com ela abençoamos os homens
(10) É como uma pena” (Poder para marcar no coração, SI 45:1; 57:4). “O meu coração
ferve com um nobre tema, enquanto recito os meus versos ao rei; a minha língua é a
pena de um destro escritor”.
A Verdadeira e a Falsa Sabedoria. (Cap. 3.13-18)
Sabedoria Terrena. Esta passagem parece visar certos mestres loquazes, que,
ambicionando ser considerados brilhantes em sua argumentação, fanatizados por certa
doutrina favorita, tendo em pouco ou nenhum apreço a Pessoa de Cristo, estavam
provocando só ciúmes e facções. Tiago chama, tal sabedoria, “demoníaca,”, contrastando-
a com a sabedoria “Do alto”, que é revelada pela pessoa que vive uma vida virtuosa.
2. Sabedoria celestial.
1- Não é ciência. 2- Não é produto de muitos estudos. 3- Não é a prudência do amor
próprio.
Suas origens: 1- Resulta da nova natureza espiritual do crente. 2- Desenvolve-se pela
sua constante comunhão com Deus. 3- É instruída pelo Estudo da Palavra de Deus.
4- Vem do alto – da preocupação, não com interesses e política mundanos, mas com o
reino de Deus.

CAPÍTULO 4
1- A Origem das Guerras (1,2). A cobiça. O desejo de obter o que é dos outros. Tem sido
a causa da maioria das guerras que têm devastado a terra.
O que é a cobiça? Desejo de possuir alguma coisa a que não se tem direito. A cobiça é
um pecado tão grave, que os dez mandamentos encerram-se justamente com uma forte
prevenção contra este pecado que, sem dúvida alguma constitui-se na raiz de todos os
males (Êx 20.17). A cobiça é o pecado que dá origem a todos os outros pecados. Foi
através da cobiça que o mal introduziu-se no Universo. O querubim ungido pecou ao
cobiçar o ser igual a Deus. Nossos pais, ao desejarem saber tanto quanto Deus.
(3) Orações não respondidas – Motivos.
1- Amor ao mundo: São numerosas as vezes que Deus promete responder à oração,
porém não a daqueles que amam o mundo, com seus bens (5.13-18)
2- Carnalidade: Oração que só visa incrementar os prazeres da carne, isto é, pedir a
Deus para gastar no Seu inimigo, o mundo, não pode ser respondida. O alvo da nossa
petição deve ser a graça que Deus nos dá liberalmente.
3- Pedir mal (Tg 4.3)
(4) Mundanismo na Igreja (4,5)
Deus, longe de se tranquilizar com a lealdade dividida do Seu povo tem ciúme de nós no
Seu anseio de uma completa fidelidade de nossa parte.
2- O que é Mundanismo.
Conformação ideológica e emocional ao sistema implantado por satanás, cujo objetivo é
levar o ser humano e deificar o material em detrimento do espiritual. O apelo básico do
mundanismo é realçar o que se vê o que se pega e o que se sente. É, portanto, um sistema
diametralmente oposto ao Reino de Deus, cuja maior virtude acha-se na fé que devotamos
ao Senhor Nosso Deus.
Adultério Espiritual: Linguagem simbólica para descrever pessoas desleais e infiéis, como
ocorre várias vezes no Antigo Testamento.
Riso (9). O riso é muitas vezes desejável (Sl 126.2), mas não quando reflete frivolidade
mundana.
O Duplo ânimo (4-10). Refere-se à acomodação ao mundo e à perda do senso de
gravidade do pecado que é idolatria.
Há 10 verbos nestes versículos (4.7-10) no modo imperativo, uma forma verbal que indica
a necessidade de um rompimento decisivo e urgente com a velha vida: Sujeitar, Resistir,
Chegar, Alimpar, Purificar, Sentir, Lamentar, Chorar, Converter e Humilhar.
4. Maledicência e o Juízo Injusto (4.11,12)
(1) Um só (4.12): Entre todos os legisladores e juízes no mundo, só Deus tem tanto o
poder como competência de julgar corretamente todos os que desprezam as Suas leis (Lc
12.4,5). A pessoa que julga seu irmão desobedece à lei colocando-se, assim, acima dela
e tratando-a com desprezo.
A Vontade de Deus – Submissão à providência Divina (4.13-17)
(1) A Vontade de Deus.
1- Definição: É a deliberação que o Todo-Poderoso toma em relação aos seres
humanos e à consecução de seu plano de redenção. A vontade de Deus acha-se
alicerçada nestes atributos: Onisciência, Onipotência, Onipresença, justiça e,
principalmente amor.
“Se o Senhor quiser” (15). Uma das mais admiráveis doutrinas da Escritura é que Deus,
tendo nas mãos o universo infinito, para cada um do Seu povo tem um plano definido. (Sat
18.21; Rm 1.10; 15.32; 1 Co 4.19; 1 Pe 3.17.
A presunção ao planejar negócios futuros (13-16). A loucura de deixar Deus fora dos
planos materiais é outra manifestação de mundanismo. Os mercadores itinerantes, aqui
exortados, eram judeus que desenvolviam um comércio altamente lucrativo por todo o
mundo.
O Pecado de Omissão – A Negligência do Dever Conhecido. Referido no versículo 17
merece ser ponderado. Ao final do dia, o crente desejando, na sua oração, confessar a
Deus os seus pecados, pode não recordar ter praticado qualquer mal. Contudo é bem
possível ter de reconhecer que não fez todo o bem possível durante o dia.
CAPÍTULO 5
Em parte alguma da Bíblia são os ricos denunciados por serem ricos. Ao contrário, é por
causa da sua queda nas tentações que acompanham a riqueza (Lc 6.24): Segurança falsa.
Corrupção. Amor ao poder. Desprezo aos menos desfavorecido.
1. Advertência e Julgamento dos Ricos (5.1-6)
Decerto, havia muitos homens ricos na Igreja da Judéia que viviam longe de uma vida
cristã, e que se dedicavam aos prazeres mundanos. Acham-se às vezes almas cristãs de
rara virtude entre os ricos, mas em geral, o quadro que Tiago pintou deles, é típico deste
até hoje.
Egoísmo. O denominador comum de todos os crimes aqui atribuídos aos ricos é o
egoísmo. Esse mesmo egoísmo é capaz de manifestar-se em alguém que não seja rico.
“Matado o justo” Isto provavelmente se refere à prática comum de os ricos levarem os
pobres (“o justo”) ao tribunal para lhes extorquir “legalmente” o pouco que tenham,
“matando-os” assim.
4. A Segunda Vinda do Senhor (5.7-12)
(1) “Sede... pacientes” (gr macrothumesate). Quando a Bíblia fala da paciência de Deus
com os pecadores, usa esta palavra (Rm 2.4; 1Pe 3.20; 2 Pe 3.9), que denota
constrangimento e restrição aguardando o arrependimento. Os cristãos são chamados a
manifestar uma paciência igual na expectativa da Vinda do Senhor (Cl 1.11).
Juramento e Votos – Devemos refrear-nos quanto a prática do juramento (5.12). Nossa
língua pecaminosa, que causa tantos problemas. Nem todos os juramentos são proibidos
neste versículo; somente os votos levianos, profanos e blasfemos. Votos, ou juramentos,
no sentido de afirmações solenes, eram ordenados pela Lei (Êx 22.11) e praticados por
Cristo (Mt 26.63-64) e Paulo (Rm 1.9). Esta vez trata-se de juramentos levianos,
empregando levianamente o nome de Deus. Um pecado que desagrada muito a Deus. Há
muitos cristãos que fazem uso errôneo e irresponsável do nome de Deus.
(2) Oração:
1- A Oração nos Tempos Difíceis e em Favor dos Enfermos (5.13-15). Deus pode curar
diretamente, através de remédios ou em resposta à oração, como aqui. O óleo é símbolo
da presença de Deus (Sl 23.5); pode também ter sido considerado um remédio na época
em que Tiago escreveu (Lc 10.34), embora dificilmente fosse eficaz para qualquer tipo de
doença.
Seus requisitos em Tiago:
Sentimento de necessidade (1.5; 5.13,14)
Fé desapossada de dúvida (1.6; 5.15)
Singeleza de coração (1.8)
Petição (4.2).
Finalidade em acordo com a vontade de Deus (4.3)
Confissão de pecado (5.16; Sl 66.18; Mt 5.23,24)
Feita em santidade (5.16)
Com constância (5.17; 1Rs 18.42)
2- Porque nem todos são curados? (2 Co 12.8)

3- “Sofrendo” (13). Faça oração seguindo o exemplo de Cristo (Lc 22.44).


4- “Alegre” (gr. Euthumei). Só é usada aqui e em At 24.10; 27.25, onde fala do bom
ânimo de Paulo em face da adversidade.
5- A Confissão das Ofensas e a Oração Intercessora (5.16).
O propósito é despertar as orações dos irmãos. notamos a prática na Igreja no início do
segundo século no Didaquê: “Precisais fazer confissão dos vossos pecados na Igreja, e
não entrar em oração com consciência culpada”. A confissão também era requerida antes
de tomar a Ceia do Senhor.
Precisamos notar a íntima relação entre a confissão de pecados, a oração dos anciãos da
igreja e a cura do doente.
Devemos confessar os nossos pecados a Deus, mas não nos esqueçamos do importante
ensino: “Confessai os vossos pecados uns aos outros”
6- Unção com óleo. (14). Longe de sustentar a extrema unção, esta passagem trata
de presbíteros (não sacerdotes) orando para a cura do enfermo; de óleo medicinal (Mc
6.13; Lc 10.34), não um preparativo mágico para a morte; de cura e restabelecimento
físico e espiritual, não salvação além do túmulo. Era um medicamento, geralmente usado
(Lc 10.34; Is 1.6), a ser corroborado pela oração, e não para ser empregado com
finalidades mágicas.
7- Oração Eficaz – O Exemplo de Elias (5.16-19). Elias, fechando e abrindo o céu,
operou poderoso e raro milagre (1 Rs 18). Não obstante, o fato é citado como incentivo às
nossas orações. A oração da fé será respondida.
7. O Dever de Ganhar Almas – Resgatando irmãos do erro (5.19-20)
Isto agrada-lhe, imensamente, à vista do que perdoa muitas fraquezas nossas. É o
“conduzir muitos à justiça” descrito em Dn 12.3. É a restauração de um crente desviado
que se contempla aqui. A palavra “conversão” naturalmente faz-nos pensar na conversão
de um descrente, mas o Senhor falou da “conversão” de Pedro quando este se tinha
desviado da verdade. Na linguagem de Tiago um homem convertido pode ser ainda
pecador. Em Coríntio muitos estavam fracos e doentes, e muitos dormiam (na morte) por
causa dos seus pecados. Deste modo cobre-se uma multidão de pecados, não somente
pelo amor que individualmente cobre pecados, como lemos em outro lugar, mas pelo
trabalho desse amor na restauração de uma alma, que é a maneira acertada, no governo
de Deus, para se cobrir uma multidão de pecados.

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