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Como Escrever Um Livro Passoa Passo

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Rachel Costa
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JULIANO MARTINZ

Como Escrever um
Livro Passo a Passo
DA IDEIA À PUBLICAÇÃO -
O GUIA PARA ESCREVER UM LIVRO DO ZERO

Copyright © 2020
Todos os direitos reservados

www.corrosiva.com.br
SUMÁRIO

COMEÇO
CAPÍTULO 1 – O COMEÇO DO LIVRO – PARTE 1 .......................................................................... 2
CAPÍTULO 2 – O COMEÇO DO LIVRO – PARTE 2 .......................................................................... 5
CAPÍTULO 3 – O QUE SÃO PRÓLOGOS? ...................................................................................... 9
CAPÍTULO 4 – POR QUE VOCÊ DEVE SE PREOCUPAR COM A PRIMEIRA FRASE DO SEU LIVRO? ... 12

CRIATIVIDADE
CAPÍTULO 5 – COMO TORNAR-SE UM ESCRITOR CRIATIVO ....................................................... 17
CAPÍTULO 6 – COMO ENCONTRAR INSPIRAÇÃO ........................................................................ 20
CAPÍTULO 7 – UM FANTÁSTICO EXERCÍCIO PARA A CRIATIVIDADE ........................................... 23

PERSONAGENS
CAPÍTULO 8 – OS TIPOS DE PERSONAGEM MAIS COMUNS ........................................................ 26
CAPÍTULO 9 – COMO CRIAR PERSONAGENS EMBLEMÁTICOS ..................................................... 29
CAPÍTULO 10 – COMO FAZER COM QUE AS PERSONAGENS SEJAM INESQUECÍVEIS .................... 32
CAPÍTULO 11 – COMO DESENVOLVER VILÕES INTERESSANTES ................................................. 35
CAPÍTULO 12 – O TRAUMA NAS PERSONAGENS ........................................................................ 37
CAPÍTULO 13 – A IMPORTÂNCIA DOS DILEMAS MORAIS ........................................................... 39
CAPÍTULO 14 – DÊ ÀS SUAS PERSONAGENS UMA VOZ ÚNICA .................................................... 42
CAPÍTULO 15 – COMO CRIAR DIÁLOGOS REALISTAS E ENVOLVENTES ....................................... 45
CAPÍTULO 16 – A QUESTÃO DAS GRAFIAS ERRADAS NOS DIÁLOGOS REGIONAIS ...................... 49
CAPÍTULO 17 – COMO ESCREVER PENSAMENTOS DE PERSONAGENS ......................................... 51
CAPÍTULO 18 – A ESCOLHA DOS NOMES CERTOS PARA AS PERSONAGENS ................................ 54

ESTILO E NARRATIVA
CAPÍTULO 19 – COMO ESCREVER COM ESTILO ......................................................................... 58
CAPÍTULO 20 – POR QUE ESCREVER DE FORMA SIMPLES .......................................................... 60
CAPÍTULO 21 – COMO ESCREVER NÚMEROS ............................................................................. 63
CAPÍTULO 22 – COMO DEIXAR SEUS LEITORES APAIXONADOS ................................................. 65
CAPÍTULO 23 – MELODRAMA – UM INIMIGO À ESPREITA .......................................................... 72
CAPÍTULO 24 – QUE ELEMENTOS FORMAM UMA NARRATIVA? ................................................... 75
CAPÍTULO 25 – PONTOS DE VISTA – DEVO ESCREVER EM PRIMEIRA OU TERCEIRA PESSOA? ..... 77

HÁBITOS E ROTINA DE UM ESCRITOR


CAPÍTULO 26 – O QUE DIFERENCIA UM ESCRITOR PROFISSIONAL DE UM ESCRITOR AMADOR .. 81
CAPÍTULO 27 – A MENTALIDADE DE UM ESCRITOR ................................................................... 84
CAPÍTULO 28 – OS HÁBITOS E A ROTINA DE UM ESCRITOR ...................................................... 87
CAPÍTULO 29 – QUANDO ESCREVER? ....................................................................................... 91
CAPÍTULO 30 – COMO ESCREVER MAIS RÁPIDO SEM PERDER A QUALIDADE ............................. 94
CAPÍTULO 31 – COMO EVITAR DISTRAÇÕES ENQUANTO ESCREVE ............................................ 97

GÊNEROS LITERÁRIOS
CAPÍTULO 32– DICAS PARA ESCREVER UM ROMANCE HISTÓRICO ........................................... 102
CAPÍTULO 33 – DICAS PARA ESCREVER UM LIVRO DE AVENTURAS .......................................... 106
CAPÍTULO 34 – DICAS PARA ESCREVER UM LIVRO HUMORÍSTICO ........................................... 110
CAPÍTULO 35 – DICAS PARA ESCREVER UM LIVRO INFANTIL ................................................... 112
CAPÍTULO 36 – DICAS PARA ESCREVER UM LIVRO DIDÁTICO .................................................. 115
CAPÍTULO 37 – DICAS PARA ESCREVER UM LIVRO DE MEMÓRIAS ........................................... 117

PÓS-PRODUÇÃO
CAPÍTULO 38 – COMO REVISAR UM LIVRO ............................................................................. 121
CAPÍTULO 39 – COMO ESCOLHER UM BOM TÍTULO PARA SEU LIVRO ...................................... 125
CAPÍTULO 40 – DICAS PARA CRIAR BOAS CAPAS PARA SEUS LIVROS ...................................... 129
CAPÍTULO 41 – A IMPORTÂNCIA DA PÁGINA DE AUTOR .......................................................... 135
CAPÍTULO 42 – PUBLICAR UM LIVRO – O GRANDE MOMENTO ................................................. 138
CAPÍTULO 43 – O QUE SÃO BOOK TRAILERS? ......................................................................... 144

PROBLEMAS DO ESCRITOR
CAPÍTULO 44 – COMO LIDAR COM PROBLEMAS EM TERMINAR O LIVRO .................................. 149
CAPÍTULO 45 – COMO SABER SE MEU LIVRO NÃO PRESTA ...................................................... 153
CAPÍTULO 46 – AS FALHAS QUE LEVAM ESCRITORES A DESISTIR DOS SEUS LIVROS ............... 156
CAPÍTULO 47 – COMO EVITAR FALHAS NO ENREDO ................................................................ 160
CAPÍTULO 48 – COMO LIDAR COM BRANCOS E BLOQUEIOS CRIATIVOS .................................. 163
CAPÍTULO 49 – POR QUE ESCRITORES TÊM MEDO DE ESCREVER? .......................................... 166
CAPÍTULO 50 – OS PROBLEMAS QUE ESCRITORES EXPERIENTES NÃO ADMITEM ..................... 169

EXTRA-TRACK
CAPÍTULO 51 – MITOS E VERDADES SOBRE SER UM ESCRITOR ............................................... 174
CAPÍTULO 52 – O QUE VOCÊ PODE APRENDER COM OS POLICIAIS .......................................... 177
CAPÍTULO 53 – O QUE VOCÊ PODE APRENDER COM OS GATOS ............................................... 180
CAPÍTULO FINAL – MEU ÚLTIMO CONSELHO........................................................................... 182
O AUTOR .............................................................................................................................. 185
1

O Começo
2

CAPÍTULO 1 – O COMEÇO DO LIVRO – PARTE 1

Ah, aquele momento sublime em que você escreve FIM – a última palavra, da última página, do
último capítulo do seu livro. Você se espreguiça, satisfação em cada poro, e olha para sua criação,
cheio de orgulho.

Na verdade, poucos experimentaram esta sensação. Infelizmente, grande parte dos escritores em
potencial desistem logo nas primeiras linhas.

E qual a razão? Isto se dá devido às ameaças fantasmagóricas presentes no início de todo livro: a
tela ou papel branco olhando de volta para o escritor.

Neste livro, me proponho a ajudar você a escrever um livro durante todo o processo de escrita: desde
a concepção das ideias até a fase final de publicação e divulgação.

E para começar, podemos falar sobre o desafio de começar o livro.

Começar um Livro – O Desafio

Começar um livro não é tão simples quanto escrever “Era uma vez, numa terra muito distante…”.
Começar um livro é um processo que pode ser angustiante e improdutivo.

O autor tem as ideias principais devidamente anotadas no papel, o enredo formado e até uma
conclusão de tirar o fôlego. Mas na hora de iniciar as primeiras frases, o problema: faz-se presente
um terrível blecaute mental. Aí o canal de comunicação entre o cérebro e o papel são interrompidos.

Se você se identificou com esta situação, atente para as dicas abaixo.

Um Bom Começo ou a Lata de Lixo

As pessoas tem uma capacidade muito pequena de concentração. Não se esqueça disso ao escrever
cada palavra em seu livro, especialmente no primeiro capítulo. Não espere paciência dos seus
leitores. Se os primeiros parágrafos não forem capazes de prender a atenção deles, você corre um
sério risco de ser trocado por outro livro ou outra atividade.

Para complicar a situação, as editoras dispensarão a leitura do seu romance se o primeiro capítulo
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não for suficientemente convincente. Há quem discorde, mas a situação é a seguinte: ou você tira o
fôlego dos agentes literários na primeira página ou seu original irá parar na lata de lixo.

Selecione Algo Emocionante Para Começar um Livro

Sua vontade não é a vontade dos leitores. De modo geral, o ponto onde queremos iniciar nossos
livros está muito longe de onde os leitores gostariam de começar. Nós, escritores, queremos começar
nossos livros de uma forma lógica, preparando os leitores para o que se desenvolverá nas páginas
seguintes.

Mas como mencionado, os leitores não tem tanta paciência para esperar isso. Por isso, você precisa
direcionar seus leitores para algo mais empolgante.

Isto é uma forma de captar a atenção deles. Você não atingirá este objetivo fazendo descrições de
paisagens. Não há nada mais maçante do que ficar lendo sobre “uma brisa que carrega grãos de
poeira que refletem a luz intensa do sol enquanto plumas repousam sobre a pele alva de uma
princesa se banhando às margens de um rio” – (ufa, cansei), e isso logo de cara, na primeira página.

Logo no começo do livro, chame a atenção para um evento atraente, descrições que deixam o
suspense no ar. Talvez possa até citar eventos que serão melhor descritos nos capítulos a frente. O
ponto principal é começar de uma forma emocionante. Por exemplo, se é um romance policial, por
que iniciar o romance com uma enjoativa descrição física do herói e do apartamento onde ele vive
com seu gatinho felpudo? Neste caso específico, passe de imediato para a ação. Coloque as
personagens em movimento e é mais provável que conseguirá manter a curiosidade dos seus leitores.

Crie Suspense

Certifique-se de que o primeiro capítulo lance uma grande quantidade de perguntas na mente dos
seus leitores, deixando-os curiosos quanto ao que acontecerá a seguir.

Para que sua obra seja dinâmica, é importante que questões sejam apresentadas e respondidas em
cada capítulo. Isto significa que cada capítulo pode levantar pequenos mistérios que vão sendo
solucionados nos subsequentes.

Resumindo, seria algo assim:


4

 Capítulo 1: apresenta um grande e um pequeno mistério;


 Capítulo 2: soluciona pequeno mistério do capítulo 1. Apresenta um novo pequeno mistério;
 Capítulo 3: soluciona pequeno mistério do capítulo 2. Apresenta um novo pequeno mistério, e
assim sucessivamente;
 Último capítulo: soluciona grande mistério descrito no capítulo 1.

Escreva o Primeiro Capítulo Por Último

Pode não funcionar para todos, mas é uma dica que valiosa para alguns.

Há autores que preferem deixar o primeiro capítulo para serem escritos por último. Nesta altura, eles
já têm todo o material e sabem exatamente para onde a história vai. Com isso, já possuem todos os
eventos importantes, facilitando o processo de escolher o que incluir no primeiro capítulo.

Portanto, se está com dificuldades para começar seu livro, experimente deixar o primeiro capítulo
para ser escrito por último.

No próximo capítulo vou apresentar para você um ckecklist detalhado do que incluir no primeiro
capítulo do seu livro.

Assim terá uma ajuda para excluir inutilidades e manter o relevante ao começar um livro.
5

CAPÍTULO 2 – O COMEÇO DO LIVRO – PARTE 2

No capítulo anterior, mencionei os desafios que jovens escritores enfrentam ao dar o chute inicial em
suas obras. A ideia principal já está definida, mas por onde e como começar?

Dei dicas sobre a importância de iniciar o romance de forma impactante, criar suspense ou até
mesmo deixar para escrever o primeiro capítulo por último.

Mas há outros desafios. Por isto, agora vou falar sobre algumas importantes características do
primeiro capítulo de um romance. Não quero dizer que todas estas características são obrigatórias.
Existem autores que quebraram estes paradigmas e criaram verdadeiras obras de arte. O importante
é estas características em mente. Assim, se forem deixadas de lado, que isto ocorra de forma
consciente, e não por esquecimento.

Apresente a Personagem Principal

Pode parecer lógico, mas não é. Muitos escritores preferem escrever o primeiro capítulo dando total
destaque ao vilão ou a uma personagem secundária que morrerá nas próximas páginas.

É preciso tomar cuidado com isso. Quando leitores se deparam com uma personagem com grande
destaque no primeiro capítulo, inconscientemente, já identificam-na como protagonista. E, neste
sentido, não é bom enganar os leitores. De modo geral, o primeiro capítulo é lugar para apresentar a
personagem principal.

No entanto, se desejar que a abertura do seu livro apresente o vilão, sugiro que introduza seu livro
com um Prólogo (vou falar sobre o prólogo no próximo capítulo).

Como mencionado, as regras apresentadas aqui podem ser ignoradas. Muitos autores de renome já
iniciaram primeiros capítulos sem apresentar o protagonista. Se tomar essa decisão, que seja algo
bem consciente.

Descreva a Personagem Principal de Forma Sucinta

Você tem um universo de informações sobre sua personagem principal. Muito provavelmente já
desenvolveu carinho por este ser que, até o momento, só vive em sua mente. E está ansioso em
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descrever suas características físicas e psicológicas.

No entanto, o primeiro capítulo não deve ser usado para isso. Uma descrição longa é cansativa.
Deixa os leitores impacientes, esperando por algo emocionante.

Assim, no primeiro capítulo, descreva somente o essencial de sua personagem. E isto não inclui a
tonalidade dos seus cabelos ou se usa sapatos exóticos feitos com pele de sapo. Se a descrição
física contribuir de alguma forma para o estabelecimento da trama, tudo bem. Do contrário, descarte
estes detalhes pelo menos por enquanto. Nos capítulos seguintes, você terá oportunidades para
destacar estas características.

Faça Com Que o Protagonista Conquiste a Simpatia do Leitor

Lembre-se que os leitores precisam se envolver com o protagonista. Esta simpatia deve ser
estabelecida logo de início. Este é um dos motivos pelo qual descrições físicas superficiais devem ser
descartadas, temporariamente.

Então, pergunte-se: o que faz com que eu goste tanto do meu protagonista? Procure esclarecer
quem ele é, seus valores e princípios, e aquilo em prol do que ele luta.

Isto não significa criar um protagonista envolvido por um véu de perfeição (o que, convenhamos, é
muito chato).

No clássico, E o Vento Levou, Scarlett O’Hara é apresentada no primeiro capítulo como uma
narcisista intragável:

“Ela nunca conseguia aguentar por muito tempo qualquer conversa da qual ela mesma não fosse o
assunto principal”

O protagonista pode estar repleto de defeitos; no entanto, é importante que ele seja determinado,
decidido a alcançar aquilo em que acredita.

Apresente o Antagonista

O antagonista não precisa ser, necessariamente, o vilão. Antagonista é aquele que de alguma
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forma se opõe aos objetivos do protagonista. No capítulo de abertura, mostre aos leitores que sua
personagem terá desafios. O antagonista poderá vir na forma de uma pessoa ou mesmo de uma
situação.

Por exemplo, uma ficção científica poderá tratar de aliens (vilão) que atacarão uma missão tripulada
no espaço. No entanto, suponhamos que este ataque ocorra no capítulo 3. Ainda assim, você
precisa trazer à tona um antagonista no capítulo 1. Talvez ele possa vir na forma do capitão linha
dura da missão ou de problemas técnicos na viagem.

Portanto, no primeiro capítulo, deixe claro que a vida de sua personagem principal não será um mar
de rosas, ainda que o vilão demore um pouco para dar as caras.

Cuidado Com o Excesso de Personagens Secundárias

Cuide para que o primeiro capítulo não fique cheio de personagens secundárias. Jovens escritores
costumam apresentar personagens no capítulo 1 e que desaparecem subitamente, para nunca mais
voltar. Isso só faz com que o papel do protagonista seja ofuscado.

Defina Claramente o Estilo

Qual o tom de seu romance? Qual a essência do seu livro? Deixe isso claro nos parágrafos iniciais.
Se é uma comédia, insira bom humor. Se é um thriller político, defina a tensão conspiratória no
primeiro capítulo.

Defina o Ambiente

Onde ocorre a trama? Novamente, não insista em descrições detalhadas. Mas é preciso que os
leitores se situem no ambiente da trama. Isto envolve saber a localização geográfica dos eventos, a
época e a situação contextual para ambientar os leitores.

Este princípio é ainda mais importante no caso de livros de ficção científica ou fantasia. O fato de
transferir os leitores para um universo totalmente fora de sua realidade exige atenção para que eles
sejam informados sobre isso. Descreva apenas o suficiente para situá-los.

Encerre o Capítulo Um Com Algum Suspense


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Conforme falei no capítulo anterior, é preciso estimular a curiosidade do público, gerando um


suspense que será esclarecido nas páginas seguintes. Este tipo de elemento é essencial. Pessoas
não leem livros simplesmente por ver descrições triviais de personagens insossos. Aberturas assim
são cansativas. Portanto, certifique-se de incluir esta suspense para manter o interesse dos leitores.

Checklist do Capítulo Um

Diante do que consideramos até aqui, você pode analisar o primeiro capítulo do seu livro e comparar
com este checklist:

 O protagonista foi apresentado?


 Foi definido claramente o que ele deseja?
 Foram eliminados detalhes desnecessários sobre o protagonista?
 As características mais importantes dele estão claras?
 A quantidade de personagens secundárias é pequena o suficiente para não ofuscar o
protagonista?
 O antagonista foi apresentado?
 O tom e o estilo do livro são claramente percebidos nos parágrafos introdutórios?
 Está claro onde e quando ocorre a trama?
 Foi inserido um suspense que desperte a curiosidade sobre o que será revelado mais a frente
no livro?
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CAPÍTULO 3 – O QUE SÃO PRÓLOGOS?

O prólogo pode ser uma ferramenta bastante útil em um livro. Mas, nem sempre é. Se bem utilizado,
é um recurso e tanto. No entanto, há casos em que um prólogo prejudica a construção de uma boa
narrativa. E aí, a boa experiência do leitor em mergulhar em seu universo literário se perde.

Este capítulo vai destacar as características de um prólogo e quando é que você utilizar um.

Quando Usar Prólogos

Um dos objetivos do prólogo é dar informações adicionais aos leitores e prepará-los para o que vem
a seguir. Em quais circunstâncias eles são úteis?

 Criar expectativa: os prólogos podem ser usados para despertar a curiosidade dos leitores.
Os eventos são apresentados ali como um aperitivo para os leitores. Portanto não resolva
conflitos nesta parte do seu livro. Seu objetivo é deixar o leitor intrigado;
 Descrever evento passado: quando um evento no passado é de grande importância para a
trama, este é um bom lugar para ele ser descrito. Neste caso, o prólogo é utilizado como um
capítulo à parte, descrevendo acontecimentos fora da corrente do tempo. Este tipo de prólogo
é chamado de Passado do Protagonista;
 Descrever eventos atuais ou futuros: uma situação contrária é quando a história se
desenvolve no passado, e o prólogo aponta para os dias atuais. Por exemplo, sua história se
passa nos anos 80, mas o prólogo é a narrativa da personagem principal em 2020. É também
conhecido como Futuro do Protagonista;
 Apresentar informações de um ponto de vista diferente: suponhamos que seu livro seja
narrado em 1ª pessoa, e você precise informar os leitores sobre algo que está fora do
conhecimento da personagem principal. Nesta situação, o autor não pode revelar algo fora da
perspectiva da primeira pessoa. O prólogo pode ser usado para descrever o evento em 3ª
pessoa;
 Situar leitores em um mundo diferente: se sua história ocorre em um ambiente estranho à
nossa realidade (outro planeta, por exemplo), os prólogos são úteis. É um bom espaço para
destacar as características inusitadas deste ambiente. Assim, os leitores entrarão no primeiro
capítulo já bem situados, conhecendo algumas características deste mundo. Isto pode ajudar a
manter o interesse pelo que estão lendo.
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Quando Não Usar Prólogos

Conforme visto no item anterior, parece haver um milhão de razões para utilizar prólogos. Sim, eles
podem aparecer como um incrível recurso para algumas tramas. No entanto, prólogos
desnecessários podem ter um efeito contrário.

Pense da seguinte forma: prólogos estão ali por um motivo relevante. Utilizar as páginas iniciais para
fazer uma descrição física dos campos verdejantes onde sua história se passa é dar um tiro no pé.
Este tipo de introdução é cansativa e faz com que o leitor perca o interesse antes mesmo de iniciar o
primeiro capítulo.

E aqui cabe uma importantíssima palavra de cautela: por incrível que pareça existem pessoas que
não leem prólogos e passam diretamente para o primeiro capítulo. Inconscientemente, alguns
acham prólogos como uma fonte de informação irrelevante que não acrescenta nada à narrativa. Por
isso, se você decidir utilizar, certifique-se de que a trama não dependa do prólogo para ser
compreendida. Embora muito importante para a obra, caso seja ignorado, isto não deve prejudicar a
compreensão da narrativa.

A chave para criar um prólogo eficiente equilibrar o interesse e a informação.

Dúvidas Gerais Sobre Prólogos

Quando o prólogo deve ser escrito? A maioria dos autores que utilizam este recurso prefere
escrevê-los por último, após finalizar o livro. Isto permite definir com mais clareza o que é relevante e
se um prólogo será realmente necessário. Mas isto, evidentemente, não é uma regra.

Qual o tamanho ideal de um prólogo? Prólogos costumam ser menores que os capítulos. É apenas
uma introdução, o aperitivo para o mergulho que o leitor fará em sua narrativa. Portanto, não se
estenda demais. Poucas páginas são suficientes – talvez até uma.

Prólogos devem ter uma linguagem diferente do restante do livro? Não. Procure utilizar o
mesmo estilo narrativo do restante da obra. Prólogo não é um livro dentro de um livro.

Prólogos? Pegue leve


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Assim, cuidado com o uso de prólogos. Podem ser charmosos e chamativos. Porém, se mal
utilizados, prejudicam a boa leitura e fazem com que leitores percam o interesse em seus livros.
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CAPÍTULO 4 – POR QUE VOCÊ DEVE SE PREOCUPAR COM A PRIMEIRA FRASE DO SEU
LIVRO?

Escrever a primeira frase (ou primeiras frases) de um livro é uma tarefa que pode se tornar
extremamente difícil. Pelo menos, se você deseja causar um grande impacto.

A primeira frase de um livro não pode ser encarada com pouca importância. Trata-se de um item
valioso para envolver os leitores. Na verdade, é a frase mais importante do seu livro. É primeiro
contato que o leitor terá com você ao abrir seu livro em uma livraria, biblioteca ou acessar seu e-book
em um dispositivo eletrônico.

Portanto, se você é escritor(a) iniciante ou experiente, lembre-se sempre de dar atenção


individualizada à primeira frase do seu romance ou conto. Caso tenha um livro já pronto, poderá dar
uma olhada agora mesmo na sua frase de abertura.

Se por acaso estiver com dificuldades em escrever a primeira (e impactante) frase do seu livro, relaxe
e considere as dicas abaixo. Junto a cada uma das dicas incluí primeiras frases de livros conhecidos
da literatura (outros nem tanto) para exemplificar os princípios destacados.

Declaração Que Revela Um Princípio Universal

Tais frases destacam fatos aceitos pelas pessoas. No entanto, eles são apresentados de forma
inteligente e chamativa. Por exemplo, Leon Tolstói abre o romance Anna Karenina com a frase:

“Todas as famílias felizes se parecem entre si; e as infelizes são infelizes cada uma a sua
maneira”.

Clarice Lispector também utilizou esta técnica em A Hora da Estrela:

“Tudo no mundo começou com um sim”.

Portanto, você pode ter uma boa primeira frase apresentando uma verdade básica. Mas lembre-se de
apelar para fatos que sejam instigantes. Abrir o livro com esta verdade: “O sol brilhou quente sobre a
cidadezinha” dá sono em qualquer um.
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Quanto ao fato de ser uma “verdade universal”, note como Jane Austen menciona isto, textualmente,
na abertura de Orgulho e Preconceito:

“É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro na posse de uma bela
fortuna deve estar necessitando de uma esposa”.

Esta primeira frase de Orgulho e Preconceito possui outro elemento muito importante para aberturas
de livros, quando cabíveis: o uso de humor. Embora discreto para alguns, ele está presente ali. E
tem um grande poder de atração.

Mas lembre-se: ao apresentar uma verdade universalmente aceito na introdução do livro, você
precisa confirmar este fato através da narrativa.

Definir o Estilo de Toda a Narrativa

Às vezes, a primeira frase não é usada para apresentar fatos relevantes sobre a sua narrativa. Mas
apresenta nuances do que nos aguarda. Veja o caso de A Redoma de Vidro, de Sylvia Plath:

“Era um verão estranho, sufocante, o verão em que eletrocutaram os Rosenberg, e eu não


sabia o que estava fazendo em Nova York”.

Um detalhe importante sobre esta primeira frase é que a execução dos Rosenberg nada tem a ver
com a temática principal da narrativa. Mas, ela introduz sutilmente o tom ameaçador que abrangerá o
restante do livro.

Iniciar Dizendo Que é Uma História

Parece pouco criativo? Mas não é. Pelo menos, dependendo da forma que você fizer. Veja o caso da
frase de abertura de Memórias Póstumas de Brás Cubas:

“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria
em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte”.

Isto sem contar a dedicatória que integra a própria narrativa: “Ao verme que primeiro roeu as frias
carnes do meu cadáver dedico, como saudosa lembrança, estas Memórias Póstumas”.
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Outro exemplo é de O Apanhador no Campo de Centeio:

“Se querem mesmo ouvir o que aconteceu, a primeira coisa que vão querer saber é onde eu
nasci, como passei a porcaria da minha infância, o que meus pais faziam antes que eu
nascesse, e toda essa lengalenga tipo David Copperfield; mas, para dizer a verdade, não
estou com vontade de falar sobre isso”.

Além disso, note que o vocabulário do narrador é peculiar, já dando uma percepção de como será o
restante da obra. A impressão não é de estarmos lendo um romance. Pelo contrário, estamos
simplesmente ouvindo um conhecido contar uma história. Isto permite algumas liberdades, como o
uso de gírias.

Foi este o recurso que utilizei em Diga Adeus, Messina:

“Se eu soubesse a porcaria em que iria me meter, teria dado um fim nessa história antes que
ela começasse a ser escrita”.

Aberturas Curiosas

Esta é uma dica valiosa. É aquela frase que, ao lermos, pensamos: “Mas, como assim? Explica.”

Um bom exemplo para destacar este princípio é a primeira frase de Cem Anos de Solidão, de Gabriel
García Márquez:

“Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de
recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo”.

Espera… Pelotão fuzilamento? Conhecer gelo? Como assim, meu velho?

Uma primeira frase curiosa talvez não desperte tantas indagações, mas chama a atenção. É o caso
de “Não Te Deixarei Morrer, David Crockett” de Miguel Souza Tavares:

”Quem és tu que danças descalço na noite escura?”


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Na mesma linha, Inês Pedrosa em “Nas Tuas Mãos”:

“A tua cabeça rodou na direção do meu rosto, os teus olhos fecharam-se e a tua boca avançou
para a minha, através de uma lenta rota de luz, risos e lágrimas. Quando os teus dentes
morderam os meus lábios, alguém gritou „Bravo!‟”

Seja Simples

Esta dica parece ir de encontro a tudo o que mencionei. Porém, usar uma declaração extremamente
simples, desde que feita de forma instigante, pode prender a atenção do leitor.

Por exemplo, o livro Fahrenheit 451 de Ray Bradbury inicia assim:

“Queimar era um prazer!”

Sem nenhum truque ou técnica complexa. Somente uma declaração simples que desperta a
curiosidade.

Se preferir, você pode deixar a primeira frase para escrever por último. Em muitos casos em que
estamos diante de bloqueios de escrita, a melhor coisa é esperar a conclusão do livro. De posse de
todos os fatos, o tom definitivamente estabelecido, fica mais fácil pensar na grande frase de abertura
do nosso livro.
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Criatividade
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CAPÍTULO 5 – COMO TORNAR-SE UM ESCRITOR CRIATIVO

A criatividade é o elemento essencial para escritores conseguirem trabalhar e produzir. Sem ela, o
trabalho fica estagnado, e a decepção toma conta de todos os espaços.

Em muitos casos, parece que a criatividade cai do céu, suave e oportunamente. Em outras, porém, é
preciso um esforço gigantesco para encontrá-la. Mas há algo que podemos fazer para facilitar este
processo, ajudando a nos tornar escritores (mais) criativos.

A seguir, listei algumas dicas que ajudam jovens escritores e também os mais experientes a
desenvolver a criatividade.

Envolva-se Com Pessoas Criativas

Estar na companhia de pessoas que também trabalham com a criatividade é uma excelente forma de
estimular esta característica. Muitas vezes, o simples fato de estarmos em um ambiente criativo já
contribui para o desenvolvimento de nossa criatividade.

Conheça Novas Vertentes

Não esteja limitado apenas ao tipo de literatura que você quer produzir. Se você é um romancista,
leia poesia. Se é um poeta, leia um roteiro cinematográfico. Se gosta de romances policiais,
experimente um romance medieval. Este tipo de exposição diferenciada ajuda a tirar o cérebro do
seu estado de acomodação.

Avise Seu Cérebro

Muitos escritores treinam o cérebro para que saibam quando é hora de entrar em uma zona de
criatividade. Por exemplo, você pode fazer uma caminhada todos os dias antes de começar a
produzir. Ou talvez tomar uma xícara de café. Desta forma, sempre que você realizar o “ritual”, seu
cérebro interpreta esta notificação como um aviso de que está chegando a hora de começar a
trabalhar.

Faça Coisas Novas


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Saia de sua zona de conforto e explore novas experiências.

Aprenda xadrez ou um instrumento musical. Cante no chuveiro. Faça com que seus olhos e ouvidos
sejam apresentados a coisas novas, diferentes. Tudo isso terá um efeito positivo sobre seu processo
criativo. Lembre-se que a criatividade é a combinação de ideias existentes. Por isso, quanto mais
você souber, mais fácil será transferir este conhecimento para o papel, sob novos formatos.

Conheça Novas Pessoas

Ainda debaixo da mesma linha de raciocínio, conheça novas pessoas. Veja quais são suas
perspectivas de vida, como encaram o universo ao seu redor. Desenvolva o hábito de iniciar
conversas com estranhos, por exemplo, em uma fila de supermercado. Esta prática é excelente para
desenvolver a criatividade literária. Destas conversas você poderá extrair novas perspectivas e, quem
sabe, até criar personagens interessantes.

Descanse Seu Cérebro

Após isso, conscientize-se de que seu cérebro não é uma máquina que nunca se cansa. Ele precisa
de um tempo para se recuperar, para assimilar todas as coisas novas a que foi exposto. Assim,
procure dormir e descansar.

Carregue Uma Câmera Com Você

Hoje em dia, com smartphones já possuindo câmeras integradas, não é difícil aplicar este conselho.
Utilize as câmeras para registrar coisas interessantes do seu dia a dia. Novas paisagens ou velhos
ambientes – esteja atento ao seu redor e registre o que merece ser registrado.

Escreva Todos os Dias

Criatividade é um músculo. Procure escrever todos os dias, para não deixar sua criatividade atrofiar.
Pode ser apenas alguns versos, uma única frase do seu romance ainda inacabado. O importante é
dar ao cérebro um exercício diário de criatividade.

Registre Todas as Novas Ideias


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Coloque todas as suas ideias no papel, por mais absurdas que pareçam. Procure organizá-las em
categorias.

Quer um exemplo? Crie uma categoria chamada “Relacionamentos” e escreva todas as ideias
relacionadas. Com o tempo, olhando isoladamente cada uma das categorias, veja como as ideias
dentro dela se interligam. Você vai descobrir que muitas de suas ideias fracionadas tem relação umas
com as outras. Quando combinadas, podem estimular a criatividade que lhe parece faltar,
ultimamente.

Não há dúvidas de que a criatividade é potencializada com a inspiração. Por isso, reservei um
capítulo para falar sobre isso.
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CAPÍTULO 6 – COMO ENCONTRAR INSPIRAÇÃO

Precisa de mais inspiração? Saiba que existem exercícios que farão com que esta figura esteja mais
presente em sua vida.

No capítulo anterior, falei sobre algumas práticas que ajudam a estimular a criatividade. Agora
continuo a falar sobre exercícios para desenvolver a inspiração no seu processo criativo.

Alguns destes exercícios são simples. Outros exigem um pouco mais de disciplina. Mas, somados,
são forças para ajudar a impulsionar seu potencial criativo.

Passe Um Dia Todo Em Silêncio

A primeira regra para encontrar inspiração é simples: não fale e não escreva. Isto é bastante prático
para limpar seu lado egoísta. A inspiração muitas vezes ocorre a partir de influências externas. Por
isso, achar que aquilo que tem a dizer é o mais importante pode ser um empecilho. Portanto, use e
abuse dos gestos. Quando lhe perguntarem onde está o guarda-chuva, simplesmente aponte.
Quando lhe perguntarem como está seu dia, sorria e faça um sinal de positivo. Neste dia, você não
tem nada importante a dizer. Apenas, observe e absorva o que outros tem a dizer.

É importante que avise familiares e amigos sobre isso, ou vão achar que você tem um problema
muito mais sério do que simplesmente falta de inspiração.

Visite o Ambiente de Sua Narrativa

Visite lugares que integram seu livro, e passe algumas horas ali, anotando tudo o que perceber.
Anote detalhes sobre o ambiente e sobre as pessoas (vestimenta, postura, estado de espírito,
conversas). Isto visa aumentar seu campo de visão sobre a situação. Detalhes surgirão
automaticamente e ficará mais fácil para sua inspiração dar as caras. Mas anote mesmo. Papel e
caneta. Do contrário, detalhes preciosos serão esquecidos.

Tente se Convencer de Que Está Errado

Escolha um tópico que você encara como uma realidade, um fato. Pode ser um acontecimento
histórico, uma verdade científica, os benefícios de certa conduta. Depois, faça uma pesquisa e
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escreva uma dissertação em que você reúne provas de que está errado. Use todos os argumentos
possíveis. Apele para o raciocínio lógico e emocional. Esforce-se em se convencer de que está
errado (mesmo que, no final das contas, não consiga).

Este exercício vai ajudá-lo a encontrar inspiração para escrever sobre personagens que possuem um
ponto de vista diferente do seu.

Chore

Você deve ter razões para chorar, não é? Se tiver, por que se reprimir? Segurar as lágrimas só
tornará seu trabalho desonesto. Por isso, chore. Não tente conter seu choro, nem chorar com estilo.
Alguns sentimentos bloqueiam a criatividade, e um bom choro pode mandá-los para bem longe.

Agora se você não tem motivos para chorar… tem certeza de que quer ser escritor?

Ria

Chorou o suficiente? Depois de colocar para fora tristezas reprimidas, você se sentirá mais à vontade
para rir. Ria de tudo e com gosto. Se por acaso lembrar-se de algo engraçado, mesmo que estiver
rodeado de estranhos, não segure o riso. Deixe que te olhem com estranheza. Não tape a boca. Ria
até perder o fôlego. Ria de piadas inteligentes e de coisas idiotas.

Esta é a beleza e a intensidade em sua vida capaz de prender a atenção dos seus leitores.

Não tem motivos para rir? Volte para o subtópico anterior e chore mais um pouco.

Escreva Textos Pequenos

Em vez de se dedicar a um romance, se a inspiração estiver de férias, tente textos menores: uma
crônica ou mesmo pensamentos soltos. Depois pode passar para textos mais longos como contos.
Por fim, pode se dedicar a escrever um romance. Uma coisa de cada vez, tal como em uma
preparação física. Lembre-se: seu cérebro também é um músculo.

Escreva Textos Ruins


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Se estiver sem inspiração, não se preocupe com a qualidade do texto – não neste primeiro momento.
Simplesmente escreva ao passo que situações e palavras forem surgindo em sua mente. Depois, em
outra ocasião, você se dedica a revisar sua obra e conferir a ela mais qualidade, alterando frases,
parágrafos e até páginas inteiras.

Comece Pelo Meio

Muitos autores reclamam de não conseguir dar o pontapé inicial em seus livros. Assim, em vez de
iniciar pelo prólogo ou capítulo 1, por que não começar a escrever seu romance por algum trecho
mais a frente? Acredite: você pode começar até mesmo pelo último capítulo.

Escreva um trecho com a qual se sinta mais à vontade. Isto fará com que você desenvolva intimidade
com seu estilo e com a narrativa, e depois as ideias para o começo fluirão mais naturalmente.

Em conclusão, mostre para sua inspiração que quem dá as cartas aqui é você. Pode ser um pouco
trabalhoso, mas no final, ela se tornará bem mais presente em sua vida.
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CAPÍTULO 7 – UM FANTÁSTICO EXERCÍCIO PARA A CRIATIVIDADE

Do que se trata este exercício? Escrever microcontos.

Microconto é um formato de literatura onde as histórias não ultrapassam os 140 caracteres. Foi
uma forma de introduzir a literatura em redes sociais onde o conteúdo é caracterizado pela
instantaneidade. Devido sua característica, os microcontos são rápidos de serem escritos e lidos.

O formato literário gerou comunidades de entusiastas em todo o mundo. Hoje existem sites
dedicados exclusivamente aos microcontos e seus 140 caracteres.

Como Estimular a Criatividade Com Microcontos

É um grande desafio para autores escreverem uma história de 140 caracteres, no máximo, com os
mesmos elementos de qualquer enredo: apresentação, conflito e resolução. E tudo isto, obviamente,
com criatividade.

Escrever microcontos, portanto, é um excelente exercício para estimular a criatividade. E isto não
apenas no tocante às histórias em si. Com a limitação de caracteres, o escritor precisa escolher cada
palavra com grande seletividade e precisão – algo não visto em romances e contos tradicionais.

Por isso, este exercício ajuda os escritores a:

 Expressar-se com maior objetividade;


 Aprender a cortar trechos irrelevantes;
 Identificar o que é realmente importante para construção de uma trama;
 Selecionar o que precisa ser claramente expresso em uma narrativa e o que pode ser deixado
subentendido para os leitores.

Escritores já testemunharam que, após este exercício, conseguiram se expressar melhor ao voltar
para seus romances. Afinal, a seletividade de palavras, a objetividade, a capacidade de cortar o
irrelevante, a atenção aos detalhes combinados com a trama – tudo isso é vital em obras literárias
mais longas.

Como Criar Um Microconto


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O que acha de estimular agora mesmo suas habilidades de escrita por criar um microconto? De
forma bastante simplista, o processo pode ser definido assim:

 Escreva
 Pare
 Corte
 Continue

Lembre-se que os melhores microcontos são aqueles que nos surpreendem. Embora o espaço
seja curto, você não faz ideia de quão encantadoras e envolventes podem ser as histórias.

Portanto, depois de concluir seus microcontos, você pode compartilhá-lo com o mundo. Utilize suas
redes sociais ou envie-o para sites que aceitam e publicam este tipo de texto.

Exemplos de Microcontos

Para exemplificar tudo o que falei até aqui, leia alguns microcontos que eu mesmo escrevi enquanto
realizava exercícios para melhorar minha técnica narrativa:

 “Procurava por água, mas encontrou o grande amor de sua vida. Morreu de sede”.
 “Queria escrever um livro que chocasse seus leitores. Escreveu sua biografia”.
 “Costurou uma risada em seu coração. Gargalhava a cada palpitar”.
 “O jovem amou-a como jamais havia amado. Na verdade, nunca havia amado”.
 “O suicida pulou do décimo andar. Na metade do caminho, se arrependeu. Apertou rewind,
voltou ao topo e foi ser feliz”.
 “– O que este conto precisa para ser um microconto?
– Bom, não precisa ter pé nem cabeça, mas é essencial ter 140 caracteres ou menos.
– Que droga, então já era”.

Agora, é com você!


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Personagens
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CAPÍTULO 8 – OS TIPOS DE PERSONAGEM MAIS COMUNS

Escritores de ficção passeiam pelo mundo da criatividade, suas mentes habitadas por uma variedade
de personagens para seus livros. O passo inicial que a maioria dá ao criar personagens é a
elaboração do protagonista e do antagonista (na vasta maioria das vezes, nesta ordem).

 Protagonista: é a personagem principal do seu livro, aquela que você espera conquistar a
simpatia dos leitores.
 Antagonista: a personagem que se opõe ao protagonista. Não necessariamente, mas quase
sempre, o vilão.

Esta seria, a grosso modo, a definição primária das personagens. Porém, em uma análise mais
aprofundada, podemos chegar a detalhes comportamentais mais significativos sobre estas figuras
que tanto amamos. Compreender os tipos de personagens ajuda a compor traços e elementos
condutores das ações e pensamentos destes. Além disso, revela se seu romance contém um
excesso de personagens classificadas dentro do mesmo tipo literário, em detrimento de outros.

Portanto, neste capítulo vou listar os principais tipos de personagens, e uma descrição de cada um
deles.

Confidente

O Confidente é alguém em quem a personagem principal confia. O Confidente abre a oportunidade


para o protagonista expressar seus pensamentos e sentimentos mais profundos, dando voz a
segredos outrora imperceptíveis. Um protagonista durão pode deixar seu lado humano mais frágil vir
à tona quando interage com seu Confidente.

O Confidente não precisa ser necessariamente uma pessoa. Pode ser, por exemplo, um animal de
estimação ou mesmo uma fotografia de uma pessoa querida com quem o protagonista conversa nos
momentos de solidão.

Dinâmico

Dinâmico é a personagem que sofre “mutações” comportamentais ao longo do livro. Elementos


importantes da história afetam o modo como a personagem encara as coisas ao seu redor. Alguém
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de boa índole, no princípio de um romance, pode assumir ares ameaçadores e perigosos ao passo
que forças externas impactam sua vida.

Contraditório

Alguma vez você já se arrependeu de algo que fez? Provavelmente, você já agiu contrário aos seus
princípios, por causa de diversos fatores. Comparando sua ação com sua personalidade, você talvez
chegue à conclusão de que se trata de uma atitude contraditória.

Suas personagens também podem carregar este estigma. Note que não estamos falando do
Dinâmico. Não se trata de uma personagem que muda progressivamente ao longo da trama, mas sim
de alguém que toma algumas atitudes que não estão de acordo com sua personalidade (talvez
devido intensa pressão).

Nota: se utilizar Personagens Contraditórias em seu romance, certifique-se de deixar claro que as
atitudes contraditórias descritas por você foram propositais. Um leitor pode concluir que isto
ocorreu devido uma falha do escritor.

Superficial

São personagens que revelam pouquíssimo de sua personalidade. Além disso, seus traços
comportamentais não sofrem mudanças ao longo da narrativa. Elas manifestam sempre as mesmas
características.

A maioria das personagens superficiais não ocupa um papel de destaque dentro da trama. Por
exemplo, você poderá ter um protagonista morando em um prédio, cujo porteiro (personagem
superficial), é um sujeito mal-humorado que fala apenas o essencial, e sempre com resmungos
intraduzíveis.

Estático

Suas características principais são as mesmas de uma Personagem Superficial. A única diferença é
que a Personagem Estática possui um papel mais decisivo dentro da trama. No entanto, os eventos
na história (perdas, ameaças, desilusões) não mudam seus pensamentos e comportamentos.
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Contrastante

Personagens Contrastantes visam enriquecer a qualidade de outros personagens por meio do


contraste entre seus atributos. Uma lâmpada acesa durante o dia pode passar despercebida; mas se
for acesa em plena escuridão, a história é completamente diferente.

Assim, por exemplo, se há uma personagem em seu livro cuja honestidade você gostaria de enfatizar,
crie uma personagem contrastante que não dá a mínima para esta qualidade. Isso fará com que os
bons atributos da outra personagem se sobressaiam.

Esteriótipo

Os modos e as falas dos esteriótipos são facilmente reconhecidos. São personagens rapidamente
identificados pelo leitor. Um “patrão opressivo”, por exemplo, é um tipo bastante comum. Embora um
bom romance possa conter a presença destas personagens, tome cuidado. Utilizar Esteriótipos em
excesso tornará a trama superficial e previsível. Pessoalmente, acredito que apenas as
Personagens Superficiais devam ser esteriótipos.

Sim, é possível que haja uma mistura entre dois ou mais tipos de personagens. Por exemplo, o
Confidente pode ser Dinâmico (como costuma acontecer em histórias de heróis, quando o amigo
confidente se torna um antagonista).

Estes termos visam apenas lançar luz sobre o processo de criação das personagens. Apenas uma
classificação para ajudá-lo a construir os tipos específicos. A criação de personagens inesquecíveis,
por outro lado, exigirá outros elementos que fogem de uma mera listagem de tipos literários,
conforme veremos a seguir.
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CAPÍTULO 9 – COMO CRIAR PERSONAGENS EMBLEMÁTICOS

Muitos acreditam que, no tocante aos romances e contos, a trama é o principal pilar da história.

Isto não deixa de ser verdade. No entanto, é preciso ter em mente que quem sustenta este pilar
são as personagens. Da mesma forma, personagens pobres e vazios fazem toda a trama oscilar, e
podem levar ao buraco tudo o que foi construído.

Por isso, é preciso dar atenção a este tópico. E como o assunto é complexo, vou precisar de alguns
capítulos (e diversas páginas) para abordar todas as nuances na criação de uma personagem.

Eu sei que construir personagens do zero pode parecer um processo automático para alguns. Mas,
na maioria dos casos, exige doses de concentração e organização – até para evitar contradições ao
longo da trama.

Em alguns casos, o nascimento e crescimento de uma personagem pode ser tão dolorido quanto um
parto real. Especialmente para autores que socam pregos na hora de parir seus heróis e vilões, fica a
dica: um pouco de disciplina e ordem para cruzar a linha final.

O Que Descrever Sobre as Personagens

Muitos autores inexperientes começam a criação de suas personagens da pior forma possível:
escolhendo características físicas, idade, roupas, etc. Mas isto é a superficialidade do superficial – a
não ser que esteja fazendo quadrinhos. Do contrário, deixe este tipo de informação para o final.
Realmente, é pouco provável que o fato do personagem ser alto e forte fará alguma diferença no
contexto da história. O que vai tornear todo o enredo está no fundo, bem lá no fundo. É preciso cavar.
Não desista até perceber a cor e o cheiro de todas as características boas e pútridas florescendo das
entranhas da personagem que você está criando. Concentre-se nisso.

Assim, faça um trabalho organizado. Coloque tudo no papel. Nada de falar da insinuância dos olhos
dele, ou das pernas arrasadoras que ela tem. Você precisa definir primeiramente qualidades,
temperamento, medos e traumas.

Para conseguir isso, tenho algumas perguntas que você pode usar. Por isso, pegue caneta e papel e
responda as perguntas a seguir.
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Objetivos

Quais são os objetivos de sua personagem? Os principais, aquilo que lhe dá a direção a seguir.
Objetivos que são capazes de tirar o sono dela a noite, e que influenciam suas ações durante o dia.
Não um alvo corriqueiro, como comprar um presente ou tirar férias, mas algo que faz o sangue dela
correr desesperado pelas veias.

Que obstáculos enfrentará para conseguir atingir seus objetivos? Pode ser algo interno, como
um trauma ou uma limitação física, talvez emocional. Ou podem ser fatores externos, como a ação de
um antagonista.

O que ela está disposta a sacrificar por este objetivo? Pode ser que na ânsia de atingir seu alvo,
a personagem se veja em uma ladeira, cruzando cegamente as linhas da moral que jamais imaginou
atravessar. Não pense apenas em coisas físicas como: “ela está disposta a perder o emprego por
seu objetivo”. Mas analise também questões morais.

Defeitos

Quais são os defeitos dela? Não importa quão bonzinho seus heróis sejam, eles não são perfeitos.
Escreva seus defeitos, seus traumas e lembranças que talvez ela prefira manter ocultas. Na hora de
criar vilões, pense em boas qualidades. Vilões também têm qualidades, mas acabaram sendo
vencidos por suas falhas.

Medos

Quais são os medos de sua personagem? Por maior que seja sua bravura, o que é capaz de fazê-
la tremer? Por exemplo, perder seu filho.

Tudo isto tendo sido feito, interligue as características, fazendo com que tenham sentido.

Depois disto e somente depois disto, talvez queira determinar se ela é loira ou morena, se tem 30 ou
40 anos, se é uma pessoa comum ou um monumento capaz de interromper conversas alheias.
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Depois de criadas, você precisa dar os passos para escrever personagens inesquecíveis. Vou falar
sobre isso no capítulo a seguir.
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CAPÍTULO 10 – COMO FAZER COM QUE AS PERSONAGENS SEJAM INESQUECÍVEIS

Uma coisa é criar uma personagem. Outra coisa é criar uma personagem inesquecível.

Se seu desejo é que suas personagens fiquem entalhadas no carvalho da memória dos seus leitores,
é preciso seguir certos padrões.

Veja os três principais elementos de uma personagem inesquecível e como criá-los.

Características Dominantes

A elaboração de uma personagem inesquecível começa pela definição de suas características


principais. São as características que a definem do início ao fim do romance.

As características devem ser consistentes: são as qualidades e defeitos que guiam sua
personagem. Portanto, elas precisam ter elementos bem distintivos e consistentes, capazes de
inclinarem a personagem em uma ou outra direção. Definir uma personagem com uma característica
dominante vaga, que não influencia a trama, é perda de tempo e de espaço útil no papel.

Traços dominantes: faça uma lista dos principais traços dela. Não deve ser uma lista longa. Pense
em três ou quatro características e você estará bem abastecidos. Estes traços precisam ser
apresentados logo no início do romance. O melhor seria colocar a personagem em situações em que
estas características possam ser demonstradas na prática, em vez de simplesmente citadas. Não
deixe para destacar um traço dominante na metade do livro. Lembre-se que as situações ao
longo do romance devem colocar estas características à prova. Se estiver escrevendo sobre um
detetive inteligente, então, os casos que ele precisa solucionar desafiam sua inteligência.

Os traços não devem ser conflitantes: dizer que ele ou ela é competente no que faz e, em outras
partes do livro, destacar que se trata de alguém com falta de confiança tornará sua personagem
míope, sem uma clara definição. Personagens inesquecíveis precisam ser verossímeis, ainda que
vivendo em um mundo de fantasias. A única exceção é quando os traços mudam de acordo com o
desenvolvimento da trama.
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E tome cuidado para não exagerar nos elementos positivos de sua personagem, tornando-a imbatível.
Se criar uma personagem que é corajosa, inteligente, forte e cruel, dificilmente encontrará algo na
história que seja capaz de desafiá-la.

Características Secundárias

Uma vez estabelecidos os traços principais é o momento de adicionar complexidade às personagens.


Estou falando das características que preenchem lacunas, dando-lhe uma charmosa
profundidade. Evidentemente, esses traços não entram em conflito com as qualidades dominantes.

Ao passo que uma característica dominante deve ser apresentada no começo do livro, as
secundárias podem ser destacadas mais a frente.

Exemplos de características secundárias: a personagem ama carros, é conhecedora de história ou


possui uma coleção.

Cuidado para não atribuir traços secundários apenas para preencher espaço em seus livros. Eles
precisam ter um motivo para estar ali.

As Características Contrastantes

Já falei da necessidade de não utilizar características que conflitam com os elementos principais da
personagem. Isto porque tais características contrastantes devem estar localizadas no nível mais
baixo da personalidade dela. Trata-se de apenas um ou dois traços que tornam sua personagem
mais “humana”. Elas devem ser apresentadas somente após os traços principais terem sido
claramente definidos.

Por exemplo, um policial corajoso, que parece não temer coisa alguma, de repente se vê em apuros
ao perseguir um facínora no alto de um prédio em construção – mas, o policial tem medo de altura.
Outro exemplo: um bandido que não demonstra qualquer tipo de sentimentos para com seus
semelhantes, morre de amores por seu cachorrinho felpudo de estimação.

Características contrastantes dão charme às personagens. Fazem com que os leitores se aproximem
mais deles. Até mesmo os super-heróis possuem estes elementos contrastantes, tais como seus
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pontos fracos. No entanto, é preciso utilizar as características contrastantes com moderação! Do


contrário, seus leitores ficarão confusos.

Conheça as Personagens

Você precisa conhecer suas personagens a ponto de saber qual seria a reação dela em diferentes
situações. Estas reações não podem ser aleatórias – elas precisam estar ligadas aos três níveis da
personalidade da personagem, conforme destacados acima.

Portanto, estes são os passos que precisam ser dados para criar personagens inesquecíveis. Pode
ser que a personagem inesquecível do seu livro seja um herói. Mas existe também uma possibilidade
de que seja um vilão. Por este motivo, resolvi criar um capítulo específico para os vilões, conforme
você pode ler a seguir.
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CAPÍTULO 11 – COMO DESENVOLVER VILÕES INTERESSANTES

Não há como negar: grande parte dos vilões do cinema e da literatura são figuras patéticas e
previsíveis. E como tal, são desinteressantes.

Uma pena! Afinal, são figuras extremamente necessárias. São os vilões que carregam aquela aura
perturbadora, a arrogância brotando-lhes em cada poro, o sorriso ácido diante de seus atos.

Assim, o que você precisa para criar um vilão convincente, que faça com que seus leitores e
espectadores sejam capazes de sentir seu cheiro dele saindo das páginas do livro?

Muitos escritores apelam para explicações menos penosas, o caminho mais fácil, e cometem o erro
de transformar distúrbios mentais e emocionais em grandes vilões. Por que ele faz tanta maldade?
Ah, porque ele é louco. No entanto, aqui vai meu conselho: fuja deste padrão. Transtornos de
personalidade não são personagens, embora, às vezes, possam fazer parte deles. Este tipo de
explicação caracteriza o personagem como previsível. Ele é louco, logo, pode fazer qualquer coisa.
Um argumento fraco! Você pode usar sim transtornos que ajudam a intensificar uma personalidade.
Pode utilizar até mesmo traumas, como veremos no capítulo a seguir. Mas cuidado para não justificar
toda uma personalidade com base em uma explicação simplista e preguiçosa.

Por outro lado, a imprevisibilidade torna os vilões marcantes. Os vilões que conseguem torcer nossos
pâncreas são aqueles que possuem a capacidade de nos surpreender. Um exemplo disso é quando
o vilão demonstra uma vulnerabilidade inesperada.

Grandes vilões são humanos, imprevisíveis e possuem as suas razões. Basicamente, esta é a
receita para você conseguir impactar seus leitores com vilões inesquecíveis. Se quiser criar algo
assim, comece por fazer algumas perguntas relacionadas a eles:

 Por que meu vilão age assim? Existe uma necessidade interna ou fatores externos que o
inclinam a isso? Ao explicar as razões de seu vilão, não apele para o fundamental: “Ele quer
dominar o mundo”, mas procure humanizá-lo por atribuir suas verdadeiras razões. Será que
ele quer conquistar o mundo porque é a única forma de se sentir seguro? Ou será que seu
objetivo é simplesmente ter poder e riquezas?
 Por que ele vai tomar esta atitude? Como mencionei, não responda: “Porque ele é louco”.
As pessoas querem uma explicação plausível e racional por trás dos seus atos.
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 O que aconteceu no passado que o convenceu de ser capaz de conquistar aquilo pelo
qual luta? Não apresente seus vilões simplesmente como querendo algo e ponto. Existe uma
história de vida, um ciclo de traumas e conquistas que explicam suas ações. Aqui, você
precisará pincelar seu vilão com nobres qualidades. Ele pode ter carisma, inteligência ou
outras habilidades que lhe deram sucesso no passado e que o convencem do sucesso em
seus objetivos malignos.
 Se o vilão tiver algum transtorno emocional, como este interfere em seus atos? Como
este problema intensifica uma maldade já existente? Lembre-se: transtornos de personalidade,
unicamente, não criam vilões interessantes. Mas podem pincelar sua personalidade.
 Quais são alguns dos seus vilões favoritos? Tente escrever algumas características dos
seus vilões favoritos. Isto vai ajudá-lo a criar vilões interessantes.

É possível que, após estes exercícios, você consiga criar uma personagem odiosa para ser colocada
ao lado de outros estimados vilões.
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CAPÍTULO 12 – O TRAUMA NAS PERSONAGENS

O passado de uma personagem pode causar um profundo impacto em seu comportamento. Um


trauma pode afetar suas ações e crenças. Com isso, sua personagem passa a tomar atitudes que, de
outra forma, seriam inimagináveis. Impulsionadas por uma dor maior que a moldou no passado, a
personagem assume uma característica não convencional e, em alguns casos, até desagradável.

Um trauma pode ser algo consciente ou um acontecimento que foi mentalmente esquecido, mas não
emocionalmente superado. Pode se referir a um evento único, como um acidente. Mas o trauma da
personagem pode ter se edificado em resultado de uma série de acontecimentos, como uma criação
opressiva. Não há regras quanto a melhor época para o surgimento de um trauma. Ele pode ter
ocorrido em qualquer momento de sua vida, quando criança ou adulta.

Por Que Usar Traumas nas Personagens

O trauma é um elemento poderoso na construção de uma personagem, e geralmente é utilizado para


definir traços de personalidade do protagonista ou do vilão. Atua como uma estrutura fantasma que
influencia as decisões da personagem.

Por exemplo, imagine que seu protagonista é uma pessoa fria, sem sentimentos, quase um anti-herói.
Alguém que se recusa a ter envolvimentos românticos. Em vez de simplesmente atribuir isto como
uma característica de personalidade, você pode evocar um trauma passado que delineou este
comportamento.

Este tipo de recurso é muito bom para tornar a personagem mais humana. Ajuda os leitores a se
identificarem com o que estão lendo. Quando um leitor se conecta a um acontecimento vivenciado
pelo protagonista, eles passam a estar unidos. Em resultado, os leitores sentem na pele o que afeta a
personagem.

Se a personagem do seu livro sofreu um trauma, é importante que isto venha a interferir nas ações
dela. Seja em maior ou menor grau, isto precisa ser evidenciado ao longo da trama..

Como Relevar os Traumas Aos Leitores


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Acredito que você entendeu bem a importância do trauma para humanizar o protagonista ou vilão em
sua literatura. Mas como apresentar estes eventos?

Resumidamente, há 4 formas de fazer isso:

 A narrativa inicia com o evento traumático e a história passa a se desenvolver a partir daí;
 A narrativa começa com o evento traumático e, em seguida, salta anos a frente, até o ponto
onde a história do seu livro começa;
 A narrativa começa em algum tempo após o evento traumático. Durante o livro, você utiliza
recursos de flashback para mostrar o trauma da personagem;
 A narrativa começa após o evento traumático, e tal evento é subentendido nas ações e falas
da personagem.

E Se Quiser Que a Personagem Liberte-se

Deseja que a personagem se recupere até o final do romance? Se esta for a sua escolha, é
necessário que ela passe a compreender o significado dos eventos traumáticos, aceite o que
aconteceu e se perdoe. Este é um processo lento, que ocupará toda a narrativa. Assim, não realize
uma mudança abrupta.

Exemplo: Da noite para o dia, o homem com coração de pedra, que não precisa de ninguém para ser
feliz, descobre-se perdidamente apaixonado pela dócil mocinha da biblioteca. Essa não cola! A
superação de um trauma é um processo silencioso, manifestado no decorrer das ações tomadas pela
personagem.

Trata-se de um ciclo, uma transformação que se inicia com a compreensão do trauma e é finalizada
com a centralização do seu eu emocional.

É claro que você pode preferir manter sua personagem dentro da sua redoma traumática. Isto, quem
sabe, pode até mesmo abrir espaço para futuros livros de uma mesma série.
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CAPÍTULO 13 – A IMPORTÂNCIA DOS DILEMAS MORAIS

O que faz com que o leitor, ao chegar ao final de um capítulo, não consiga deixar o livro de lado?
Entre os recursos para isso, destacam-se os dilemas morais enfrentados pelas personagens.

Fazer com que a leitura se torne tão empolgante a ponto dos leitores não conseguirem largar o livro é
uma tarefa difícil. Diversos elementos combinados podem contribuir para esta situação.

Mas vou me deter em um deles: os dilemas morais.

Como se coloca uma personagem diante de um dilema moral que “obrigará” seus leitores a
continuarem lendo o próximo capítulo?

Para construir esta situação, você precisa ter em mente 4 dicas.

1. Crie Um Código de Moral

O primeiro passo é criar um código de moral para a personagem. Pessoas são guiadas por princípios,
convicções. E estas características precisam ser trazidas à tona de forma clara e evidente. São as
características dominantes, sobre as quais já falamos.

A personagem pode ser um pai disposto a tudo para conseguir um tratamento para sua filha com
uma doença grave; um soldado com um inquebrantável código de honra; ou um ladrão incapaz de
maltratar mulheres e crianças.

Dê uma olhada nas personagens principais do seu livro, caso tenha algum escrito? Eles possuem um
código de moral? Se não, pode-se dizer que está faltando algo neles. Ou pode ser que até possuam
estes princípios, mas você simplesmente se esqueceu de deixar isso claro ao longo dos capítulos.
Então revise o que escreveu e certifique-se de atribuir-lhes princípios e convicções que farão
diferença na hora que os dilemas surgirem.

Por exemplo:
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Um motorista bêbado tira a vida do filhinho de um homem pacifista. Após considerações técnicas, o
motorista é posto em liberdade. O pai da criança confronta-se com um dilema: manter sua postura
pacifista ou fazer justiça com as próprias mãos?

Fim do capítulo.

E agora?

O que ele vai fazer?

Para saber, é necessário ler o próximo capítulo. Notou como os dilemas ajudam a manter a
curiosidade em alta?

Portanto, ao escrever seu livro, liste alguns possíveis códigos de moral para enriquecer suas
personagens. Escolha o melhor e explore-o no decorrer da narrativa.

2. Ameace a Personagem

Como destacado no subtópico anterior, um código de moral talvez seja rompido. No entanto, para
isso, é preciso que a personagem seja ameaçada.

Mas esta provação precisa ser realista. Então, você deve pensar nela isoladamente. Se o
protagonista é um pacifista, o que seria capaz de tirá-lo desta realidade? Se um chefe de família é
extremamente dedicado à família, o que seria capaz de fazê-lo abandonar esposa e filhos? Estas
situações podem ser pensadas durante os estágios iniciais do livro, quando você ainda está
esboçando as personagens. Por outro lado, as ideias talvez fluam mais intensamente enquanto você
escreve.

Portanto, independentemente de quando, o importante é que você não seja amiguinho(a) do


protagonista ou outras personagens. Muitos autores iniciantes cometem o erro de se apaixonar por
algumas personagens a ponto de protegê-las durante a narrativa. Não cometa esse erro!

O que você deve fazer? Teste suas personagens, prove-as, não lhes dê uma saída fácil. Coloque-as
em situações em que elas sejam capazes de rasgar seus códigos de moral. Se farão isso ou não, só
saberemos nos próximos capítulos.
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3. Surpreenda os Leitores

Seu protagonista foi confrontado com um dilema: fazer ou não fazer. De acordo com as evidências,
ele tem apenas duas opções: toma uma atitude A ou uma atitude B. De repente, para surpresa dos
leitores, ele consegue criar uma via de escape, uma terceira opção, uma atitude C. Com este escape,
o protagonista resolve seu dilema sem precisar lidar com as consequências das ações A ou B.

Tenha cuidado ao criar uma via de escape alternativa. Se não forem criativas, podem ser como um
balde de água fria nos leitores. Se for utilizar uma terceira via de escape, lembre-se que ela precisa
ser empolgante, daquelas que façam os leitores suspirar. O tipo de reação que fará os leitores
admirarem ainda mais a personagem do seu romance.

4. Dilemas Morais Posicionados no Final dos Capítulos

Por que dilemas morais funcionam melhor no final dos capítulos? De modo geral, o local mais
conveniente para os leitores interromperem uma leitura é no final dos capítulos. Portanto, para que
eles continuem lendo seu livro (ou que, pelo menos, fiquem curiosos com o que virá a seguir) é
importante que os dilemas sejam estrategicamente apresentados no final dos capítulos.

Assim, ainda que ele não continue a ler o próximo capítulo imediatamente, ele o fará na primeira
oportunidade que tiver.
42

CAPÍTULO 14 – DÊ ÀS SUAS PERSONAGENS UMA VOZ ÚNICA

Você cria duas personagens. Uma amável moça se relacionando com um rapaz neurótico.
Personagens diferentes, hábitos e condutas distintas. Mas após terminar seu livro, você o lê de novo,
e de novo, e de novo. E então percebe algo aterrador. Para seu total desespero, as personagens,
apesar de completamente diferentes, estão soando exatamente iguais. E bate aquele terrível lamento.

Mas relaxe. Este é um problema que afeta muitos escritores. Não há nada de errado com você ou
comigo. Afinal, todas as personagens que criamos são produtos de nossa imaginação (exceto se
estiver escrevendo sobre alguém conhecido). A boca delas emite a nossa voz. As ações delas são
consequência de nossas ideias. Portanto, nada anormal o fato de soarem parecidas entre si – e, no
final das contas (hora do susto), soarem bem parecidas a você. Pelo menos, em alguns aspectos.

Embora seja compreensível que elas tenham a mesma voz, você precisa fugir disso. Pelo menos, se
sua intenção for escrever um romance impactante.

Assim, a pergunta começa a ecoar: como criar personagens com uma voz única, sem que uma seja a
cópia mal definida de outra?

Precisaremos de alguns métodos. Alguns são fáceis de serem colocados em prática. Outros exigirão
um pouco mais de dedicação. Mas são passos necessários. Afinal, como se empolgar com uma
história em que a amável mocinha soa da mesma maneira que o seu neurótico par?

Ouça Como as Pessoas Conversam

Você pode ter associado o processo criativo com o seu quarto e aquele encantador silêncio que
afaga sua alma. Mas você precisa muito mais do que isso se deseja realmente criar personagens
únicos e convincentes. Por isso, meu conselho é: dê um passeio. Preste atenção em como as
pessoas conversam. Analise o ritmo das conversas, as formas variadas com que duas pessoas se
expressam sobre o mesmo assunto.

Quando escreve um livro, esqueça seus trejeitos, sua postura, seu tom de voz. É lógico que, no
produto final, eles ainda estarão lá, mas de uma forma mais sutil e charmosa. A obra é sua, mas a
matéria-prima precisa vir de outras fontes.
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Ouça a Voz das Personagens

Você costuma fazer isso? Quando escreve deixa que as vozes de suas personagens ecoem em sua
mente? Se não, esta é uma das razões delas não terem uma identidade própria. Você está ouvindo a
sua voz quando elas falam. Como consequência, todas elas têm a sua marca.

Se este é o caso, você precisa mudar a maneira de escrever e ler suas obras. Se realmente sente
que elas são pessoas reais, respirando dentro de sua cabeça, dê a elas uma voz. Não é pedir demais.
A personagem é jovem e tem uma voz irritante? Quando ela falar, force-se a ouvi-la exatamente
desta maneira. A voz de outro é rouca e poderosa? Então deixe esta voz retumbar em sua cabeça.
Lembre-se: não é só o que as personagens dizem que os diferem, mas também como o fazem.

Lembre-se Que Suas Personagens Interagem Entre Si

Com quem suas personagens falam? Com você? Resposta errada. Com seus leitores? Resposta
errada de novo.

A resposta correta é: suas personagens falam com as outras personagens. Eu e você somos
apenas voyeurs acompanhando a trajetória delas. Precisamos abandonar um pouco esta mania de
controle. Deixar que as personagens assumam um pouco da responsabilidade do que dizem e fazem.
Sua personagem viu o assassino fugindo. Eu sei, eu sei. Você quer que ela saia correndo atrás do
assassino, mas me responda sinceramente: a sua personagem quer realmente fazer isso? Se não
quer, não a obrigue. Se forçá-la, estará invariavelmente repetindo a sina que é tópico deste capítulo:
personagens iguais entre si, e iguais a você.

Quando escrevemos, precisamos tirar a coroa, e jogar nosso cetro para bem longe. Não somos reis.
Deixe suas personagens correrem livres, e elas pararão de imitá-lo, ao mesmo tempo em que se
tornarão mais convincentes e interessantes.

Dê Às Personagens Vícios de Linguagem

Vícios de linguagem. Tiques verbais. Palavras habituais. O caminho é este. Isto permitirá pincelar
uma identidade mais nítida para as personagens.
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Por exemplo, uma personagem pode usar repetidas vezes a palavra “realmente”. Mas os tiques
verbais não precisam ser limitados às palavras. Você pode criar uma personagem e conferir a ela o
hábito de usar trocadilhos, a outro a mania de utilizar sarcasmo, e assim por diante.

São detalhes essenciais que ajudam a diferenciar a “voz” de cada um.

Qual o Comprimento das Sentenças?

Já reparou no tamanho das frases que suas personagens costumam construir? E as vírgulas,
também estão lá tendo seu papel em diferenciar o modo de expressar de cada uma delas? Se a
diferença não for tão clara assim, poderá tentar isso. Ou seja, em vez de:

– O que quer fazer da vida?

– Vou correr como um louco tanto quanto essa minha cabeça insana permitir.

Tente isso, para variar:

– O que quer fazer da vida?

– O que vou fazer? Correr atrás da minha vida, oras. Correr como um louco. Sem regras, pra
variar.

Se conseguir aplicar alguns destes métodos suas personagens estarão a caminho de se tornarem
convincentes. E cada uma delas terá sua própria voz.
45

CAPÍTULO 15 – COMO CRIAR DIÁLOGOS REALISTAS E ENVOLVENTES

A descrição da cena vai bem. A personagem cumpre seu papel. O enredo se encaminha para um
grandioso clímax. E, de repente, lá estão as duas personagens-chave, frente a frente. O grande
momento. Uma delas abre a boca para a grande declaração… e fica com a boca aberta em silêncio,
sem saber o que dizer.

Não, o súbito silêncio não faz parte da trama. O problema é o branco na mente do escritor, diante da
necessidade frustrada de criar um diálogo realista e intenso.

Um diálogo bem construído é capaz de prender a atenção dos seus leitores. Por outro lado, diálogos
ruins podem causar o efeito contrário.

Portanto, os diálogos não podem ser colocados na lista dos elementos menos importantes em uma
obra literária. O bom escritor precisa dar a devida atenção aos diálogos se há de conseguir manter a
atenção dos leitores até o fim.

Mas como fazer isso? Como escrever diálogos realistas e envolventes? As dicas a seguir podem
ajudá-lo.

Ouça as Pessoas

Você presta atenção no que as pessoas à sua volta dizem? Não, não me refiro à essência do que
elas dizem. Estou me referindo ao modo como elas se expressam, a forma como utilizam as palavras
para construir suas ideias.

Este tipo de exercício é essencial para entender um pouco mais a natureza humana e em como as
pessoas utilizam a fala para se expressarem.

Será que o diálogo abaixo é realista?

– Bom dia, Amanda. Que prazer reencontrá-la aqui. Estava com saudades!

– Ah, obrigada. Também sentimos sua falta. Até estávamos falando sobre você, esses dias.
Como tem passado?
46

– Estou bem, obrigado. Naquela velha correria de sempre. E você? O que tem feito?

Se observar bem, talvez se pergunte: Mas, quem fala assim?

Conversas são dinâmicas, e ponto positivo se isto ficar evidente nas conversas entre suas
personagens.

Corte o Irrelevante

Ok, você prestou atenção em como as pessoas falam. Agora imagine que você gravou um diálogo e
depois fez questão de transcrevê-lo, palavra por palavra. Como definiria o resultado?

– E aí?

– Fala.

– Beleza, cara?

– Tudo na paz.

– E as novis?

– Nem te conto.

– O quê?

O que acha de um diálogo assim em um romance? Horrível, certo?

Sim, as “conversas faladas” possuem elementos que só são significativos quando pronunciados. Mas
quando presentes em um texto escrito, podem torná-lo bastante cansativo. Assim, você precisa
aprender a cortar o irrelevante. Retire os elementos das frases que não contribuem para o diálogo.

Assim, você precisa casar as duas dicas acima: escreva como as pessoas falam (ou seja, conversas
mais dinâmicas), ao mesmo tempo em que corta o que é irrelevante.
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Use Somente Diálogos Indispensáveis

Cada linha de um diálogo precisa ter uma razão de existir. Se as palavras estão ali apenas para
acrescentar volume aos textos, será necessário coragem para cortá-las. Em caso de dúvidas,
experimente eliminar alguns diálogos e veja se isso desestrutura todo o bom andamento do enredo.
Após fazer isso, caso seu texto ficar estranho ou confuso, você saberá que o referido diálogo é
indispensável.

Use Diálogos Com Falas Curtas

Aquela coisa de construir diálogos onde cada personagem tem uma fala de umas 70 palavras – além
de irreal, é bastante cansativo. Lembre-se da primeira dica: observar as pessoas falando. Diálogos
costumam ser dinâmicos. O próprio termo “diálogo” subentende isso. Portanto, não exagere nas
palavras em cada fala. Não use 10 palavras quando 5 darão conta do recado. Com isso, as ideias
fluirão com mais facilidade, ajudando a dar maior dinamismo às conversas.

Insira Descrições Entre as Falas

Os olhos dos seus leitores precisam de descanso. Você consegue isso por inserir breves descrições
ao longo dos diálogos. Nada de manter um longo diálogo sem interrupção por uma página inteira (ou
várias).

Este tipo de quebra dos períodos ajuda o leitor a visualizar melhor o que está acontecendo enquanto
as personagens conversam. Além disso, é mais fácil para os olhos assimilarem o conteúdo.

Deixe a Personagem Falar

Uma boa história precisa de personagens consistentes. Evidentemente, estas possuem sua
personalidade e seu próprio tom de voz. Por isso, na hora de construir diálogos, estas características
precisam vir à tona através das palavras. Não permita que você, escritor, fale por elas. Deixe que a
personalidade de suas personagens assuma controle sobre cada palavra que vão usar. Isto dará
autenticidade ao que elas dizem.

Concluindo
48

Escrever diálogos realistas e envolventes é um dom que precisa ser desenvolvido e estimulado.
Afinal, os diálogos são elementos da narrativa que realmente fazem diferença, sendo capazes de
envolver os leitores do início ao fim.
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CAPÍTULO 16 – A QUESTÃO DAS GRAFIAS ERRADAS NOS DIÁLOGOS REGIONAIS

E então você cria uma personagem com forte presença regional, talvezalguém que vive no interior do
país. No momento de escrever os diálogos, você decide utilizar grafias erradas para tentar reproduzir
a regionalização das personagens.

E aí os diálogos são bombardeados com “oi meu fio”, “cê num entendi”, e por aí afora. Muitos
costumam marcar as grafias erradas com o uso de aspas. Outros nem se preocupam com isso.

De qualquer forma, o que tem levado escritores iniciantes a utilizar (e abusar de) tal recurso? E qual o
perigo de usá-lo?

Por Que Usam Grafia Errada

Os escritores se justificam: o objetivo é tornar o diálogo mais real. Ao passo que o leitor lê os diálogos
com tais palavras, acredita-se que será mais fácil levá-lo para dentro da história, vivenciando de
forma mais intensa a “conversa” entre as personagens. Há também autores que apelam para esta
forma de escrever para dar uma pitada de humor no diálogo ficcional. Será mesmo?

A verdade é que o abuso deste recurso na literatura é cansativo. A intenção é boa. Mas você não
consegue levar o leitor para dentro da narrativa com ele. Muito pelo contrário, a regionalização
exagera coloca o leitor para correr para fora da história.

Há pelo menos 3 pesadas desvantagens em utilizá-lo:

 O uso abusivo de aspas e grafias ímpares são visualmente perturbadores. Dificultam a fluência
na leitura, e nos cansam facilmente.
 Outro problema é sua capacidade de distração. Quando você escreve algo como: “Mas o sinhô
num faiz ideia do que to passanu”, você tira toda a atenção dos pensamentos da personagem.
Os leitores deixam de focar os sentimentos da personagem e passam a se concentrar nas
palavras, de forma isolada. Isto porque você está chamando a atenção dos leitores para as
palavras, em vez de se concentrar no que ele está tentando transmitir.
 Além disso, você pode alcançar leitores que falam desta forma e que se sentirão
desrespeitados com tal tentativa de representar sua fala.
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De qualquer forma, o aspecto que destaco não está no âmbito do certo ou errado, mas da diferença
entre uma leitura fluente e uma cansativa.

É verdade que você encontrará alguns livros com este recurso – talvez alguns grandes nomes da
literatura. Mas vamos nos situar um pouquinho no século 21. Acredite: os leitores atuais têm pouca
paciência com este tipo de escrita.

Regionalize Com Palavras e Expressões Regionais

Se a questão é reforçar ou enfatizar a regionalização da personagem, há outro recurso mais


interessante para fazer uso. Trata-se de utilizar expressões regionais.

Por exemplo, o autor pode usar expressões como “bagunçar o coreto” para representar o linguajar
nordestino; “bah” e “pé no estribo”, para representar o linguajar gaúcho, e assim por diante. Isto
reforça a regionalização, além de ser culturalmente enriquecedor.

Uma rápida pesquisa na internet lhe apresentará diversas expressões típicas da localidade sobre a
qual você está escrevendo.

Portanto, ao escrever diálogos, não interfira na construção ortográfica. Deixe que as palavras façam o
seu trabalho, comunicando com eficiência o que as personagens querem transmitir.
51

CAPÍTULO 17 – COMO ESCREVER PENSAMENTOS DE PERSONAGENS

Os pensamentos das personagens retumbam no papel com tamanho vigor que são capazes de
impactar os leitores. Um fluxo de pensamentos avassaladores, inquietações íntimas – não há
segmento da narrativa que possa exprimir tamanha intensidade das personagens quanto a descrição
dos seus pensamentos. No entanto, sua importância é exatamente proporcional à sua dificuldade em
compô-la.

Os escritores precisam dominar esta arte. Isto significa criar pensamentos intensos para suas
personagens, pois este é um dos elementos mais poderosos para envolver seus leitores.

Mas como fazer isso? Apresento-lhe algumas dicas que facilitarão seu trabalho.

Reconheça o Vigor dos Pensamentos

Infelizmente, alguns autores iniciantes encaram os pensamentos como características chatas e


entediantes da narrativa. Não se engane. Este tipo de conceito só aponta para uma direção sombria:
o empobrecimento dos seus textos.

Uma narrativa interessante precisa estar alicerçada sobre o equilíbrio de bons diálogos, descrições
envolventes e pensamentos intensos. Quando se constrói pensamentos assim, você perceberá que
esta característica tem potencial de se torna o elixir da narrativa. A personalidade de sua personagem
se apresenta tal como seria impossível se não existissem tais descrições.

Assim, aproveite o recurso dos pensamentos para verter cada átomo de angústia, alegria ou trauma
que envolve as personagens. Seus leitores não querem somente saber o que suas personagens
andam fazendo ou dizendo. Mas também o que elas pensam de tudo o que acontece.

Expresse os Pensamentos Com a Voz da Personagem

Seu estilo literário está presente em cada linha e parágrafos. Até aí, excelente! Mas na hora de
expressar os pensamentos de sua personagem, o que você faz? Grita com a mesma voz com que
descreve os acontecimentos? Hora de reconsiderar.
52

Assim como acontece nos diálogos, expressar pensamentos é o solene momento em que você
precisa emudecer e deixar a personagem falar.

Como Pontuar Pensamentos

Qual a melhor maneira de pontuar pensamentos das personagens?

Alguns utilizam itálico e aspas para separar o pensamento do restante da narrativa. Quanto a isso,
preciso advertir: quanto menos formatado for seu livro, mais envolvente será a narrativa. Assim,
pessoalmente não gosto de itálicos, sublinhados, negritos e quaisquer outros recursos no momento
de expressar pensamentos. Eles emporcalham as páginas, e tendem a distrair os leitores,
arrancando-os repentinamente da narrativa. Isso é diferente no caso de livros de não-ficção. Afinal,
como percebeu, este parágrafo contém negrito.

Se estiver realizando uma narração do ponto de vista da personagem, não há necessidade de se


preocupar com pontuações. Os pensamentos podem estar naturalmente incorporados à narração,
como neste exemplo:

Diante da visão estarrecedora, perdeu o fôlego. Como afinal foi parar naquele pardieiro?

Note que a segunda frase “Como afinal foi parar naquele pardieiro?” incorpora o pensamento da
personagem, embora este seja expresso pelo autor.

No entanto, em uma narrativa limitada, onde o escritor precisa da expressão clara de sua
personagem, uma das melhores opções seria:

Diante da visão estarrecedora, perdeu o fôlego. Como afinal vim parar neste pardieiro, pensou.

Portanto, não permita que pontuações e formatações desnecessárias distraiam seus leitores. Quanto
mais aglutinado estiver os pensamentos e a narrativa, mais impactante será o resultado.

Concluindo
53

Os pensamentos das personagens é o âmago de uma narrativa. Portanto, certifique de que seus
leitores entendam cada motivação, cada elemento emocional existente nas entranhas das
personagens. Deixe que eles se justifiquem, por piores que sejam seus argumentos.
54

CAPÍTULO 18 – A ESCOLHA DOS NOMES CERTOS PARA AS PERSONAGENS

Chega agora o momento em que todos nós nos deparamos com uma tarefa emocionante: criar
nomes para personagens.

O momento em que isto é realizado costuma variar. Muitos escritores escolhem todos os nomes
antes mesmo de dar o pontapé inicial em seus romances. No entanto, não existem regras neste
respeito. Por exemplo, poderá usar nomes provisórios até que o nome ideal e definitivo lhe venha à
mente – o que muitas vezes acontece enquanto se escreve o livro ou somente após o término deste.

Não se preocupe com o trabalho que estas mudanças podem dar – pelo menos, não se escrever
seus romances utilizando um computador. Editores de texto facilitam esta tarefa. Por exemplo, você
poderá usar a ferramenta Localizar e Substituir, e inserir o nome atual (provisório) e o novo nome
(definitivo). Após isto, com apenas um clique, todo o livro será varrido e os respectivos nomes,
substituídos.

Mas, vamos às perguntas principais: Por que bons nomes são importantes? Existe algum processo
para facilitar sua escolha?

A Importância dos Nomes das Personagens

Não devemos achar que os nomes das personagens são tão importantes quanto sua personalidade.
Não chega a tanto!

Mas é um fato que bons nomes desempenham um notável papel no fortalecimento das
personalidades. É muito mais fácil tornar uma personagem marcante quando ela possui um
nome forte, memorável e adequado ao seu desenvolvimento na narrativa.

Por esta razão, não deixe a escolha de nomes para personagens se tornar um processo aleatório ou
secundário. Dê a ela a atenção que realmente merece.

Onde Encontrar Nomes Para Personagens

A internet é a maior fonte de informações do planeta, inclusive para quem procura sugestões de
nomes para personagens. No entanto, você não deveria limitar esta pesquisa ao ambiente virtual.
55

Como escritor, talvez você carregue consigo um bloco de anotações e caneta aonde quer que vá.
Expor-se a novos ambientes lhe dará oportunidades de ser apresentado a um número maior de
possibilidades.

Isto exige um pouco de organização. Crie e mantenha atualizada uma lista de nomes. Sempre que
ouvir um nome interessante (ao caminhar, assistindo um filme ou acessando um site) anote em sua
lista. Depois, esta lista poderá ser bastante útil no processo de criação de nomes masculinos e
femininos.

Se sua narrativa ocorre em outras épocas, digamos na década de 40, é importante realizar uma
pesquisa para verificar os nomes utilizados neste período. Colocar um nome “moderno” em uma
personagem de outro período poderá desambientar os leitores – ao lerem o nome da personagem
é como se você os arrancasse da década de 40 e os trouxesse para os dias atuais. Um bom livro tem
como tarefa conduzir os leitores para este mundo de fantasia e mantê-los lá – pelo menos, enquanto
estiverem com os rostos mergulhados nas páginas.

Nomes Originais

Muitos autores se preocupam com problemas relacionados ao plágio na hora de escolher nomes para
suas personagens. Na verdade, o maior problema em se utilizar nomes muito conhecidos é que seu
trabalho passará uma indesejada mensagem para os leitores de falta de originalidade. Portanto, você
deve fugir de nomes muito conhecidos. Crie uma personagem com o nome “Sherlock Holmes” e
estará fazendo papel de tolo.

Você não precisa de nomes originais para desenvolver personagens marcantes, mas considere isto
como um fator que ajudará no processo. Nomes únicos podem oferecer uma grande vantagem para
quem está querendo que suas personagens se tornem memoráveis.

No entanto, para quem está escrevendo um livro de fantasias, a escolha de nomes originais já não é
opcional, mas obrigatória. Poderá fazer isso por pesquisar nomes raros, tais como em sites que
sugerem nomes para bebês ou que geram nomes para personagens, e mudar a grafia deles.

Nomes Concebidos na Mente do Autor


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Há diversos escritores que preferirão desconsiderar as sugestões acima. Não querem encontrar
novos nomes em passeios e conversas, muito menos em sites que oferecem sugestões já
aproveitadas por centenas de outros autores. Tais escritores preferem vasculhar sua imaginação em
busca de nomes interessantes e marcantes.

A vantagem deste processo é que os nomes se tornam ainda mais parecidos com a personagem do
seu livro, já que ambos nascem da mesma mente criativa.
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Estilo e Narrativa
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CAPÍTULO 19 – COMO ESCREVER COM ESTILO

Estilo Literário é definido como a maneira particular de um escritor se expressar em suas obras.
Elementos de sua personalidade podem pincelar sua escrita. A amargura pode ser revelada em
textos corrosivos. A alegria pode saltar aos olhos dos leitores com a escolha de palavras leves. Isso
não significa que todo escritor revela sua personalidade por meio de seu material escrito. O estilo
também pode ser intencional, cuidadosamente construído. Intencionais ou não, estas revelações
sobre si caracterizam o estilo de um escritor.

Quando você escreve um livro, você está compartilhando parte de sua experiência de vida com
outros. Sua amargura ou alegria, criatividade ou estupidez podem bater cartão em outros cantos do
mundo. E isto é algo que você deve prezar. O SEU estilo. A sua impressão digital literária.

Portanto, lembre-se: seu estilo literário precisa saltar das páginas de um livro. O estilo precisa ser um
exibicionista. Isto tornará seus textos únicos, refletindo sua alma em cada letra escolhida.

Mas não pense no Estilo Literário como algo automático. Ele pode, e muitas vezes precisa, ser
lapidado. A questão que surge é: Como conseguir isso?

Escreva Sobre o Que Você Conhece Bem

Uma das maneiras de trazer seu estilo literário à tona é escrever sobre algo que você conhece muito
bem. Aquilo que reside no fundo de sua alma e que você gostaria que outras pessoas pensassem a
respeito.

Quando falamos sobre algo que pulsa nosso coração, o estilo mostra suas caras e bocas. E este será
o elemento característico dos seus textos.

Soe Como Você Realmente É

E que alternativas você tem? Infelizmente, alguns novos escritores tentam soar como seus autores
favoritos. E isto é péssimo, já que polui sua identidade e obscurece aquilo que você tem de melhor.
Não tente parecer com outros escritores. Ainda que você seja influenciado por algum escritor, não
permita que o estilo de outro ocupe o espaço da beleza natural que sua escrita pode assumir.
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Em resumo, seja você e ponto final. Afinal, o estilo é a arte de desenhar a si mesmo em palavras.
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CAPÍTULO 20 – POR QUE ESCREVER DE FORMA SIMPLES

Para ajudar os leitores a mergulhar de cabeça na trama de um livro, é preciso considerar a linguagem
utilizada. Nesta hora, muitos escritores percebem a necessidade de utilizar uma linguagem mais
simples e natural. O objetivo é fazer com que o texto transite de forma suave entre a mente e o
coração.

Se seu estilo há de ser caracterizado pela simplicidade, é importante que você esteja atento a alguns
aspectos.

A Arte de Ser Natural

A simplicidade é uma arte que precisa ser explorada. Não estou dizendo para você banalizar sua
expressividade. Mas você também não deve apelar para um vocabulário tão requintado que obrigue o
leitor a interromper a leitura diversas vezes para consultar um dicionário.

É importante evitar um estilo rebuscado que, em muitos casos, serve apenas como recurso para
atrair a atenção. Isto gera uma artificialidade penosa. Portanto, permita que seus leitores mergulhem
em seus enredos, sem que haja a necessidade de saírem de lá com frequência para consultar um
dicionário.

Em outras palavras, seja natural e dê um pouco de descanso para o Aurélio.

Palavras Que Ferem

A edição de um livro é a parte mais difícil para muitos escritores. Identificar o que é irrelevante e,
consequentemente, digno de ser apagado, pode causar uma dor no coração. Sentimentalismo à
parte, a revisão e edição é uma atividade crucial – o momento em que vamos lapidar nosso trabalho
rudimentar e transformá-lo em uma obra de arte.

Pense por exemplo em um trecho potencialmente digno de gerar um suspense. Apesar do grande
momento no enredo, o suspense pode descer pelo ralo se houver uso excessivo e inapropriado de
advérbios e adjetivos. Não estrague uma cena perfeita com palavras desnecessárias. E nesta
mesma linha, fuja dos clichês.
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Informe Aos Poucos

Existem momentos em que o escritor precisa colocar os pés no freio. Por exemplo, ao descrever uma
personagem. Como mencionei em capítulos anteriores, existem diversas características que definem
uma personagem. Mas você não pode querer descrever tudo isso em algumas poucas linhas. Ao
escrever um livro, revele as saliências e profundezas de cada personagem aos poucos, ao longo de
frases, parágrafos e capítulos. Isto dará aos leitores a oportunidade de saborear cada detalhe.

A mesma regra é válida pela trama, como um todo.

Portanto, sempre reveja seus textos para conferir se não há demasiados detalhes acumulados em
uma única frase.

Diferentes Ideias em Diferentes Frases

Uma forma de simplificar a escrita é expressar diferentes ideias em frases diferentes. Considere o
exemplo desta frase:

Ela sabia o suficiente para incriminar o consultor, não precisando fazer nada mais do que
entregar a pasta para as autoridades, e depois assistir de camarote as viaturas cercando sua
casa, levando o bastardo para a cadeia para, não poucas horas depois, sofrer nas mãos dos
psicopatas que ali viviam.

Uau! Cansei só de escrever.

Claro existe um “exagero exagerado” aí. Mas talvez você perceba algo parecido em seus textos,
porém, de forma mais sutil.

Assim, localize em seu livro frases muito longas, impregnadas de ideias e tente reestruturá-las. Uma
dica é localizar as vírgulas e analisar se as ideias ficariam melhor expressas se fosse utilizado ali um
ponto. Uma dica: em grande parte dos casos, palavras tais como “que” podem ser eliminadas e
substituídas por pontos finais.

Concluindo
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Pode ser que você prefira aplicar estes conselhos somente após concluir o processo de escrita. Por
quê? Para impedir que o fluxo de sua criatividade seja interrompido.

Assim, desabafe, despeje todas suas ideias e sentimentos no papel, sem maiores preocupações.
Depois que terminar, esqueça o livro por algumas horas ou dias. Após este período, releia a obra e
refine. Talvez este exercício seja o suficiente para tornar sua escrita muito mais simples e absorvível.
63

CAPÍTULO 21 – COMO ESCREVER NÚMEROS

Quando falamos em estilo e narrativa, acabamos nos deparando com esta dúvida. Os números estão
presentes em nossas obras em diversos momentos. São essenciais para o bom desenvolvimento do
enredo.

No entanto, como eles devem ser expressos? Devemos utilizar dígitos ou palavras? Ou seja, o
correto é escrever “8” ou “oito”?

Embora o estilo possa direcionar um jovem autor quanto a como representar os números, ainda
assim, existem certas regras que podem ser seguidas. O objetivo é apenas garantir legibilidade das
ideias que você quer transmitir.

Embora haja discordâncias, a maioria concorda que qualquer número deve ser escrito quando
requerer apenas uma palavra. Por exemplo: “oito”, “dez”, “vinte”, “cinquenta”.

No caso de números que precisem de duas ou mais palavras, então, é melhor expressá-los em
valores absolutos. Ou seja, “24”, “32”, “58”, etc.

Portanto:

Quando os dez minutos chegaram ao fim, um exército de 62 soldados adentrou o pátio.

Números arredondados e maiores precisam de uma combinação de dígitos e palavras. Por exemplo,
você deve utilizar “cerca de 200 milhões” para facilitar a leitura. Você só usará dígitos se precisar ser
bastante explícito, como em “200.052.071”.

Não inicie uma sentença com dígitos. Isto deixa a leitura um pouco confusa. Assim, não é
interessante começar uma sentença com: “41 dias foi o tempo que precisei para sair daquele buraco”.
Em vez disso, prefira: “Precisei de não menos do que 41 dias para sair daquele buraco”.

Séculos e décadas são melhores expressos em palavras. Por exemplo: “E tudo começou nos
tumultuosos anos noventa”.
64

Evite o símbolo de porcentagem (%). Utilizar expressões como 20% transmite a impressão de que
estamos lendo apresentações e textos empresariais. Ao escrever seu livro, prefira “vinte por cento”.

Números ordinais suplicam por palavras e não dígitos. Dizer: “Ela foi o meu 1.º amor” é ruim demais,
concorda? Muito melhor com “Ela foi meu primeiro amor”.

Sempre que precisar escrever números em seu livro, talvez ache interessante recorrer a este capítulo
e relembrar estes princípios. No entanto, você verá que, com o tempo, a prática fará com que este
processo se torne automático.
65

CAPÍTULO 22 – COMO DEIXAR SEUS LEITORES APAIXONADOS

Todos os escritores desejam encontrar os elementos em uma narrativa que despertam a deliciosa
sensação de paixão. Sim, os recursos para deixar e manter os leitores apaixonados.

Primeiramente, vale a pena destacar que um bom livro depende de diversos elementos, tais como:

 O estilo de narração do autor;


 A presença envolvente das personagens;
 Os diálogos construídos com criatividade.

Mas aqui há espaço para outros elementos que não podemos desconsiderar ao procurarmos fisgar
nossos leitores. Vou destacar quais são eles.

Curiosidade

A curiosidade é inerente ao ser humano. O desejo de descobrir o que vem a seguir está presente em
nós. A curiosidade satisfeita gera uma sensação de prazer. Como uma recompensa neural que nos
estimula a continuar lendo o livro até descobrir a resposta que tanto ansiamos.

Este é um elemento decisivo que os novos escritores não podem desconsiderar ao procurar
conquistar seus leitores. Você talvez não consiga cativá-los tanto quanto gostaria com seu estilo
narrativo. Mas poderá compensar esta falha procurando gerar curiosidade naqueles que dedicaram
tempo para ler a criação de sua mente.

Este recurso costuma funcionar ainda melhor no final dos capítulos. Quando você cria uma situação e
deixa a resposta para o próximo capítulo, você dá um passo essencial para gerar curiosidade em
quem estiver lendo seu livro.

Surpreenda Seus Leitores

A surpresa conquista leitores porque desafia suas expectativas. Será que a expectativa de que tudo
dará certo se confirmará no próximo capítulo? Será que o leitor será surpreendido quando virar a
página?
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Portanto, fuja do óbvio. Esta é uma forma de enlaçar o cérebro de seus leitores. Eles entenderão o
recado: desde o começo de sua história, as coisas não serão exatamente como se espera.

Faça Seus Leitores Sentirem

Diz a ciência, contrário ao que somos inclinados a acreditar, que nosso cérebro usa a emoção mais
do que a razão para avaliar o que realmente é relevante. Em outras palavras, temos a tendência de
fazer escolhas direcionadas mais pelos sentimentos do que por uma análise realista da situação.

Por que esta informação é importante para você? Se seus leitores não estiverem “sentindo” enquanto
leem, a chance de abandonarem seu livro se torna maior.

Quando o leitor é transportado para dentro da história, ele passa a sentir e a pensar como o
protagonista. Aflora-se uma empatia pelas personagens. A dor e alegria delas transmuta universos,
transpassa papéis e é sentido diretamente na pele do leitor.

Compreender a natureza humana lhe ajudará a criar personagens mais fáceis de serem amados. E
certifique-se de deixar os sentimentos delas bem visíveis através de suas ações, palavras e
pensamentos.

Conte aos Seus Leitores Somente o Necessário

A todo momento, nosso cérebro é bombardeado com milhares de informações. Sabe o que ele faz
com a maior parte desta informação? Simplesmente descarta (ufa!).

Esta forma de lidar com uma sobrecarga de informação nos ensina muito sobre o que devemos
colocar no papel. O cérebro descarta o irrelevante. Logo, nosso texto não deve conter material
irrelevante, se havemos de conquistar toda a atenção dos nossos leitores.

Já falei sobre a importância de revisar seu livro, em capítulos anteriores. E vou voltar a falar sobre
isso agora e nos capítulos a frente. O processo de revisão é essencial para eliminar o descartável. É
principalmente nesta hora que a maioria dos nossos “abusos prolixos” se manifestam. Pode partir o
coração (eu sei, realmente dói), mas é preciso separar o joio do trigo. Pedir para apagar o
desnecessário sem dó, seria pedir demais. Então, eu peço: apague o desnecessário com dó mesmo.
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Ajude Seus Leitores a Imaginar

Uma descrição abstrata pode ser impactante. Mas quando ela é acompanhada pela descrição de
algo concreto, o impacto é bem maior. Facilite as coisas para o cérebro dos seus leitores. Algumas
declarações podem não transmitir o verdadeiro peso a que se propõe.

Por exemplo, vamos pensar em um exemplo bem simples, apenas para esclarecer este princípio.
Note a seguinte frase:

Ela se sentia insegura e angustiada.

Ok, você conseguiu transmitir o que queria. Mas será que você está conseguindo transmitir a
intensidade para seus leitores? Pense na mesma frase, reformulada com auxílio de elementos
concretos:

Ela se sentia tão insegura e angustiada que seu estômago revirava, já pronto a saltar-lhe pela
boca.

Não há dúvidas que esta carrega uma intensidade muito maior. O uso de “estômago” e “boca”
reforçam a ideia. Com elementos assim, o cérebro percebe o grau elevado da narrativa. E se envolve
muito mais.

Seja Específico

Emoção requer que você seja específico.

Não basta dizer que ela está com medo, que está amando ou sofrendo. Descrições sucintas e
superficiais não são tão impactantes. Não passam de um relatório frígido. E narrativas assim correm
o risco de nos manter distantes.

Como já mencionado, o desafio é fazer com que os leitores sintam o que a personagem está sentindo.
Para isso, você precisa ser específico. Veja a seguinte descrição da angústia interna que utilizei em A
Lenda de King Jeremy:
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Andreas esgotou-se ao ponto de se sentir a pior pessoa do planeta. Chegou a ter náuseas de
tão enojado de ser ele mesmo. Gostaria de ser qualquer idiota do planeta, menos o repulsivo
Andreas Hugo… Não lhe estava reservado intensidades amorosas, nem mesmo sobras de luz.
Naquele momento, subjugado por aquela maldita insônia, ele estava consciente de que não
havia, e nem haveria, uma única criatura no mundo que fosse capaz de pensar: “Oh, Deus,
como eu amo Andreas!” Ele era o pior sujeito que uma mulher poderia ter parido. Sua mãe
deve ter tido náuseas, não durante a gravidez, mas depois do seu nascimento, quando viu o
epítome de infelicidade que botara no mundo.

Eu poderia ter simplesmente dito que Andreas estava deprimido, mas isso não expressaria a
intensidade com exatidão – fator essencial para transmitir emoção para o leitor.

O mesmo pode ser dito sobre descrições físicas. Por exemplo, veja a descrição de dor na crônica
Adeus, Olimpo:

Sentou-se, gemendo e praguejando. Lombalgia. Dores nas regiões lombares ou lombossacrais.


Ela costumava chamar de “maldita dor dos infernos”. Hoje era difícil definir o que doía. Os
dentes doíam, o pulmão doía, os pés doíam. Toda sua alma, enfim. E o que não doía, latejava.

Portanto, procure aplicar esta regra: não diga apenas o que a personagem está sentindo. Faça-o em
toda sua intensidade.

Insira a Emoção no Momento Certo

Para que haja um envolvimento emocional entre personagem e leitor é preciso estabelecer uma
ligação entre ambos. E isto leva tempo, assim como acontece entre duas pessoas no mundo real.

Para que o leitor sinta as mesmas emoções que a personagem é preciso que haja uma identificação
– personalidade, sonhos, medos, desafios. Quando a conexão é estabelecida, o leitor está pronto
para sentir as mesmas dores e alegrias que suas personagens.

No entanto, isso simplesmente não acontecerá no primeiro capítulo. Afinal, não houve tempo
suficiente para estabelecer conexão entre o leitor e a personagem. Você precisa de mais algumas
páginas para isso. Então, não desperdice esforços: fazer uma descrição excessiva das
personagens logo no capítulo inicial, tentando envolver emocionalmente os leitores, é
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prematuro demais. O que você deve fazer é aproveitar as páginas e capítulos seguintes para
desenvolver as personagens, paulatinamente.

Dê Dicas Do Que Virá a Seguir

A expectativa pode ter um efeito muito poderoso em despertar emoções nos leitores.

É verdade que, como já mencionei, a surpresa pode despertar as mais profundas emoções nos
leitores. E aconselho a usá-lo. Mas há situações em que preparar o leitor é de grande ajuda para
engajá-lo com a história que você está contando.

Isso significa que você pode dar dicas do que vai acontecer. Em que situações isso pode ser útil?

Por exemplo, o romance entre duas personagens não pode acontecer subitamente. Você precisa
preparar os leitores para isso, mostrando como os sentimentos delas estão se desenvolvendo ao
longo da história. Os encontros esporádicos que se tornam rotineiros. O coração acelerado, as mãos
suadas, os pensamentos apaixonados em madrugadas insones. Este tipo de antecipação ajuda a
tornar o ápice, recompensador, porque é algo pelo qual o leitor torce e espera.

No caso do suspense, a emoção também pode ser gerada pela expectativa anunciada. A tensão que
aumenta a cada linha, a ameaça surgindo aos poucos – tudo isso contribui para o medo crescente a
cada página lida. Neste caso específico, lembre-se que uma forma de gerar tensão crescente é
utilizar frases e parágrafos mais curtos. Eles contribuem para acelerar visualmente o ritmo da
narrativa e contribui para o despertar destas sensações.

Cuide do Contexto

Para criar emoção na narrativa, você precisa contextualizar a história.

Por exemplo, imagine que em seu livro haja uma personagem chamada Helena. Ela recebe a
informação de que seu filho faleceu. Você deseja que os leitores sejam profundamente impactados
por esta informação, assim como aconteceu com Helena. Mas isso não vai acontecer se você não
estabelecer, previamente, a relação entre ela e o filho. É preciso descrever a intensidade do amor de
Helena pelo filho, suas expectativas em relação ao futuro dele, seus medos e preocupações. Se isso
não for previamente criado, o anúncio de sua morte será indiferente para o leitor.
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É isto o que quero dizer com cuide do contexto. Dê atenção àqueles que estão ao redor de suas
personagens. Isto ajuda a humanizá-las. Desta forma, tudo aquilo que posteriormente afetar a
relação entre eles (morte, traição, alegrias) também será capaz de impactar emocionalmente os
leitores.

Capriche no Antagonista

Não pense que gerar emoção significa unicamente gerar simpatia pelo protagonista. Raiva e repulsa
também são sentimentos que ajudam a criar emoção na narrativa. Se conseguir despertar estes
sentimentos nos leitores em relação ao antagonista, parabéns, você conseguiu criar uma resposta
emocional.

Faça uma descrição caprichada (mas sem exageros) dos sentimentos, palavras e ações do
antagonista. Claro que você fará isso se ele for uma pessoa (lembre-se que o antagonista talvez seja
uma situação).

No entanto, para conseguir isso, você precisa fazer com que o protagonista e demais personagens
tenham uma resposta emocional às ações do antagonista. Você precisa descrever o que as
personagens sentiram diante da ação cruel dele. E, logicamente, o que eles fizeram em reação a isso.
É mais fácil para o leitor ter uma resposta emocional às ações do antagonista quando as
personagens reagem à sua crueldade.

Seja Realista

A conectividade entre leitor e narrativa depende, em grande parte, de quão real a história é. Você
talvez pense: “Mas eu estou escrevendo um livro de fantasia. Como vou ser realista em um livro de
fantasia?”. Não vamos confundir as coisas. Ser realista significa apresentar realidades e problemas
concebíveis para o universo que você criou.

Por exemplo, digamos que criou um mundo onde os casais que não tem filhos são considerados
amaldiçoados. Esta é a realidade do seu livro. Todo o contexto precisa apoiar esta realidade. Cuide
para não violar as regras existentes em sua narrativa. Desta forma, será mais fácil para os leitores
serem transferidos para o seu universo.
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Outra dica para ser realista é permitir que suas personagens sejam capazes de expressar uma
variedade de emoções. Já falei bastante sobre isso em capítulos anteriores. Portanto, não tenha
medo de descrever um momento de angústia e medo em seu herói corajoso. Da mesma maneira,
não hesite em apresentar um temível vilão como tendo medo ou um resquício de compaixão.

Isto significa conferir realismo ao que está escrevendo, e contribui para gerar empatia nos leitores.

Escolha Bem as Palavras

O tipo de emoção que deseja despertar nos leitores determinará as palavras que você fará uso.

Ao descrever emoções cruas e sentimentos rígidos, apele para palavras que contribuam para esta
acidez.

Por exemplo, observe este trecho extraído da crônica Adeus, Olimpo:

Mal percebe o corpo recurvado, dia após dia. Mal percebe o hálito apodrecendo. A visão
começa a lhe trair a percepção. Os passos já não tropeçam em obstáculos. Mas em si
mesmos.

Note o uso de palavras como “apodrecer”, “trair”, “tropeçar” – por si só, elas já transmitem algo
negativo. Desta forma, elas ajudam a impulsionar os sentimentos que estão presentes na história.

A mesma regra vale para descrições de sentimentos puros, suaves, meigos.

Portanto, quando o autor consegue transferir a emoção das personagens para os leitores, então, deu
um importante passo para tornar seu livro inesquecível. Afinal, a leitura proporcionará uma satisfação
não apenas intelectual, mas também emocional.
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CAPÍTULO 23 – MELODRAMA – UM INIMIGO À ESPREITA

Não é incomum que as palavras “drama” e “melodrama” sejam muitas vezes apresentadas como
sinônimos. Expressões do tipo “Não faça drama” e “Não faça melodrama” assumiram o mesmo
significado, mas a realidade está bem além disso.

Drama ou Melodrama

Referente à literatura, o drama é uma composição em prosa ou verso caracterizado por diálogos e
ações, que objetiva representar a vida real. É a descrição de eventos que leva o leitor para um
universo paralelo de tensão e emoção.

Por outro lado, melodrama é o drama enriquecido com o exagero e o sensacionalismo.


Diferentemente do drama, o melodrama é caracterizado por elementos bombásticos e
sentimentalismo exagerado.

Escrever um livro com elementos melodramáticos, em certo sentido, oferece alguns desafios. Isto
porque exige do autor explorar mais intensivamente as palavras, especialmente adjetivos, para
conseguir transmitir a emoção excessiva presente nas personagens. Dizer que sua personagem
chorou ao ver o amado partir é drama. Melodrama exigirá algumas doses de “coração dilacerado”,
“lágrimas vertendo em um infame rio de angústias” e assim por diante.

The Dark Side of Melodrama

Como mencionei, melodrama pode ser desafiador pela exigência de descrições mais detalhadas.
Mas cuidado: o exagero, em alguns casos, pode ser cansativo, além de banalizar as emoções. Ou
seja, naquele grande momento mais a frente do livro, quando você precisar das melhores palavras
para descrever o ápice do capítulo ou do romance, a banalização das expressões bombásticas ao
longo de toda a obra poderá diminuir o impacto emocional.

Além disso, não se engane: a necessidade do melodrama pode representar baixa qualidade de um
conteúdo. Isto mostra que o escritor precisa utilizar uma linguagem altamente emocional para “forçar”
o leitor a uma reação emotiva.
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Outra desvantagem é que personagens melodramáticas possuem bondade ou maldade em grau


absoluto e, exatamente por isso, não evoluem ao longo do conto ou romance. Isto significa que suas
ações e reações são previsíveis, e você, autor, não pode contar com o elemento surpresa para
impactar os leitores.

Hora da Verdade: Você é Melodramático?

Assim, é importante determinar se você é melodramático ou não. Se já possui obras prontas


(publicadas ou não) dê uma conferida e verifique se elas contêm as características abaixo:

 Sentimentalismo grátis como se o livro fosse um cartão recheado de frases piegas;


 Diálogos irreais;
 História básica, inteiramente previsível;
 Descrições exageradas de eventos e emoções;
 Longas descrições das reações emotivas das personagens.

Mas não entre em desespero (não seja melodramático). O melodrama nem sempre é ruim.
Grandes gênios da literatura já flertaram com este gênero. Ele pode ter o seu momento, é verdade. O
perigo é utilizá-lo em demasia, como um recurso recorrente. Se seu livro contém, eventualmente,
uma pitada de melodrama, fique tranquilo. No entanto, se ele for caracterizado principalmente pelo
melodrama, recomendo revisar suas prioridades.

Mas, aqui cabe uma ressalva: se seu público-alvo ama melodramas, melhor me ignorar.

Como Não Ser Um Autor Melodramático

Aqui estão algumas dicas que quero compartilhar com você. Aplicá-las ajudará a evitar o melodrama
exagerado em suas obras.

 Descrições precisam ser estrategicamente distribuídas ao longo da obra para conseguir


impactar os leitores. Jogar tudo de uma vez sobre eles poderá sobrecarregá-los.
 Conheça o timing da emoção. Longas descrições de emoção podem ter um efeito negativo
sobre as personagens, desgastando-as, e fazendo com que os leitores antipatizem com elas.
 Saiba usar o “silêncio” como mecanismo de comunicação. Não trate seus leitores como se
eles tivessem sofrido algum dano cerebral e sejam incapazes de saber como a personagem se
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sente, caso você não faça uma descrição exageradamente detalhada. Poucas palavras podem
transmitir mais informações do que uma avalanche de detalhes.

Em suma, como escritores, precisamos do melodrama, mas é preciso ter cuidado com ele. Quando
precisar do melodrama, lembre-se da sábia advertência: use-o com moderação.
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CAPÍTULO 24 – QUE ELEMENTOS FORMAM UMA NARRATIVA?

Quais são os elementos de uma narrativa?

É verdade que, como já mencionei, o seu estilo lhe ditará como escrever um livro. Muitas vezes,
quando ficamos excessivamente preocupados com regras, isto acaba tolhendo nossa genialidade e
espontaneidade.

Porém, quando um escritor aprende a pensar em uma história de forma estrutural, as ideias tendem a
fluir mais naturalmente. Estou falando de organização para dar vida a algo pleno, mas também
complexo.

Como Estruturar Uma Narrativa

É preciso identificar os essenciais elementos da narrativa e, então, distribui-los na sequência


esperada. Depois disto, é necessário apenas preencher as entrelinhas. Nada mais simples. Eis os
elementos:

 Era uma vez: Aqui a narrativa é situada, apresentando as personagens e o contexto.


 Todos os dias: A rotina da personagem é trazida à atenção, mostrando uma situação que em
breve mudará.
 Até que certo dia: Algo acontece e a personagem é atirada em uma tempestade de conflitos.
 Por causa disso: A personagem reage tentando controlar a situação, tentando levar sua vida
de volta à tranquilidade. Você pode utilizar diversos “Por Causa Disso”, já que a reação da
personagem poderá levar a outro acontecimento que exigirá uma nova reação para tentar
restabelecer a ordem.
 Finalmente: O ápice da narrativa, onde a personagem atinge seus objetivos (ou não,
dependendo do seu senso de humor).

Agora, basta preencher as lacunas.

Era uma vez um jovem que sonhava em ser um famoso comediante. Todos os dias ele ia até
a agência de talentos em sua cidade para tentar realizar um teste – aquele que mudaria sua
vida – porém, sem sucesso. Até que certo dia, em vez de ir até a agência de talentos,
mergulhado em indignação e repulsa, ele resolve improvisar um espetáculo de humor em um
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shopping. Por causa disso, foi abordado por policiais por perturbar a ordem e, intempestivo,
reage. Por causa disso, acaba sendo preso por desacato à autoridade. Finalmente, na prisão,
ele monta um show de humor e se torna um famoso humorista no circuito de presidiários.

O passo seguinte é transformar este resumo em um livro de dezenas ou mesmo centenas de páginas.
Afinal, a estrutura ou esqueleto da narrativa já está pronta.

Por isso, este é um bom exercício que você pode fazer antes de começar a escrever um livro.
Estruture sua narrativa e somente depois inicie o processo de escrita.

Neste momento, pode ser que você se pergunte se deve escrever em primeira ou terceira pessoa. No
próximo capítulo, abordarei os pontos de vista de uma narrativa.
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CAPÍTULO 25 – PONTOS DE VISTA – DEVO ESCREVER EM PRIMEIRA OU TERCEIRA


PESSOA?

Na literatura, um ponto de vista é a perspectiva a partir da qual uma história é contada. O autor
pode escolher escrever seu livro através de uma destas 3 perspectivas:

 Primeira pessoa (“eu” e “nós”). Limita o leitor à perspectiva da personagem que está
contando a história. O objetivo deste ponto de vista é fazer com que a história se desenvolva
de forma mais intensa e pessoal;
 Terceira pessoa (“ele”, “ela” e “eles”). É o ponto de vista mais comum e, ao mesmo tempo, o
mais versátil e poderoso. Permite que o escritor desenvolva um universo criativo mais amplo e
completo. A terceira pessoa concede maior liberdade para o narrador.
 Segunda pessoa (“você”). É pouquíssimo utilizado na literatura.

Qual destes pontos de vista você vai escolher? É necessário que você responda esta pergunta de
forma estratégica. Analise qual destes pontos de vista permitirá que você desenvolva suas
personagens e sua história da forma mais eficiente possível.

Quando se observa a tendência entre novos escritores, percebemos que a maioria prefere a 1ª
pessoa. Por que esta preferência? Muitos jovens autores utilizam esta narração por ser mais fácil de
escrever e por acharem encantadora a ideia de suas histórias soarem de forma mais pessoal.

A 3ª pessoa, por outro lado, foge deste atributo. Histórias narradas sob esta perspectiva são menos
pessoais e apaixonadas. Por outro lado, você não deve desperceber que a terceira pessoa permite
uma visão mais ampla e imparcial – um auxílio para descrever elementos discretos que a primeira
pessoa desperceberia. Até mesmo para quem está escrevendo uma autobiografia, a possibilidade de
usar a narração em terceira pessoa deve ser avaliada, caso desejar ampliar a visão sobre pessoas
que interagem com o autor.

Se estiver com dificuldades em desenvolver uma história, tente alterar o ponto de vista do narrador.
Em alguns casos, isto é o suficiente para que uma história “travada” se desenrole com incrível
espontaneidade. Alguns jovens escritores torcem o nariz só de pensar na ideia de reescrever tudo o
que já fizeram, alterando o ponto de vista. Para escritores profissionais, no entanto, isto faz
naturalmente parte do ofício.
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Ponto de Vista de Terceira Pessoa – Onisciente e Limitado

Quando o autor escolhe narrar sua história utilizando a terceira pessoa, ainda precisa fazer uma
escolha: narrar a história do ponto de vista onisciente ou limitado. O que significa cada um deles?

Ponto de Vista Onisciente

Neste ponto de vista, o narrador da história conhece todos os sentimentos e todos os


pensamentos das personagens.

Este estilo de narrativa abre um gigantesco manancial de oportunidades para o autor. O narrador
consegue falar de sentimentos e tendências de personalidade que a própria personagem desconhece
ou que se recusa a aceitar. Não há segredos para o escritor. Ele pode examinar o fundo da alma,
abranger todos os detalhes, assumindo a estimada posição do que realmente é: criador da história.

Exemplo:

Ele sofria como um tolo desde a despedida dela. Dizia para si mesmo um milhão de vezes que
ela um dia voltaria. Mas no fundo, o idiota se obrigava a acreditar nesta fantasia. Afinal, era a
única coisa que o impedir de estourar os próprios miolos.

Ponto de Vista Limitado


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Um ponto de vista limitado, por outro lado, permite que o narrador conheça intimamente apenas
uma personagem. As demais são apresentadas unicamente de forma superficial.

Você talvez tenha pensado que, no final das contas, a 3ª limitada é a mesma coisa que a narração
em 1ª pessoa (apenas trocando o “eu” pelo “ele(a)”).

Quase isso, meu amigo! Na verdade, o ponto de vista limitado da terceira pessoa concede maior
liberdade do que a narração em primeira pessoa. Lembre-se que, na narração em 1ª pessoa, o
narrador se limita a descrever os pensamentos e sentimentos da personagem narradora. No
entanto, narrando em 3ª pessoa com ponto de vista limitado, permitirá que o escritor fale de
sentimentos, conceitos e falhas de personalidade que a própria personagem se recusa a
admitir.

Portanto, leve todos estes fatores ao determinar se vai narrar sua história em primeira ou terceira
pessoa e, em caso da segunda opção, se será com o ponto de vista onisciente ou limitado.

Na dúvida, tente escrever um único capítulo com pontos de vista diferentes e avalie qual ficou melhor.
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Hábitos e Rotina
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CAPÍTULO 26 – O QUE DIFERENCIA UM ESCRITOR PROFISSIONAL DE UM ESCRITOR


AMADOR

Você é um jovem escritor ou uma jovem autora e está ansioso de sair do patamar do anonimato?
Mais do que isso, deseja que sua literatura tenha qualidade e que figure como uma recomendada
obra para leitores de bom gosto?

Neste caso, é bom estar de olho nos profissionais. Sim, existem hábitos e práticas que caracterizam
o universo dos autores profissionais e que os diferenciam dos simples amadores. Dito isso, você
pode aprender muito por analisar os processos e conceitos utilizados por eles. Talvez identifique
alguns que você possa colocar imediatamente em prática.

Por isso, quero lhe apresentar 5 hábitos que diferenciam autores profissionais de escritores
amadores.

1. Escritores Profissionais Estão Sempre Aprendendo

Antes de se tornar um escritor de qualidade, é preciso percorrer a trilha do aprendizado. A grande


questão é: será que um dia o autor deixará de ser um aprendiz? Ernest Hemingway disse certa vez:

“Somos todos aprendizes de uma arte em que ninguém se tornou mestre”.

Não há dúvidas de que escritores profissionais estão sempre aprendendo coisas novas. Assim, é
preciso observar atentamente aqueles que vieram antes de nós e que deixaram suas marcas. É
verdade que há escritores com um talento nato e que, simplesmente, despejam seus sentimentos
sobre o papel, produzindo obras maravilhosas. Mas o que colocará tal escritor para fora do campo do
amadorismo será a disponibilidade (e humildade) em ampliar suas técnicas. Para isso, ele precisa
estar constantemente interessado em aprimorar suas habilidades de escrita.

2. Escritores Profissionais Têm Comprometimento

Amadores escrevem de forma aleatória. Profissionais assumem um compromisso e escrevem


diariamente. No capítulo 29 “Quando Escrever” vou falar um pouco mais sobre isso. Mas já posso lhe
adiantar que escrever todos os dias é essencial para ajudá-lo a encontrar seu próprio estilo e
desenvolver a capacidade de transmitir em palavras o que sente e pensa.
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Vou lhe dar uma sugestão. O que acha de tentar escrever algo em torno de 300 palavras por dia,
incluindo sábados e domingos? Isto é bem pouco, pra ser sincero. (Este capítulo, por exemplo, tem
pouco mais de 900 palavras, e ele foi escrito em um domingo à noite).

Se achar 300 palavras um número muito alto, comece com menos. Com o tempo, poderá expandir o
desafio para um número maior.

A maioria dos editores de texto possuem um contador de palavras. No Word ou LibreOffice, por
exemplo, ele fica visível o tempo todo na barra inferior. Desafie a si mesmo e não pare de escrever
até que o contador aponte o número de palavras que você se comprometeu a escrever, diariamente.

Obviamente, haverá dias em que o imprevisto e outras obrigações não permitirão que atinja seu
objetivo. De qualquer forma, este desafio é essencial para colocar você no mesmo patamar dos
profissionais. Apenas para ter uma ideia, veja alguns grandes nomes da literatura e quantas
palavras eles escrevem (escreviam) por dia:

 Ernest Hemingway: 500 palavras;


 Mark Twain: 1.400;
 Arthur Conan Doyle: 3.000;
 Frederick Forsyth: 3.000;
 Michael Crichton: 10.000 (não precisa humilhar, né?).

3. Escritores Profissionais Têm Paciência

Sair do limbo onde você só é lido por você mesmo e por meia dúzia de amigos não costuma
acontecer da noite para o dia. É preciso paciência para construir a ponte que o levará até o lado de lá.
Muitos autores só conseguiram se tornar best-sellers depois dos 40 anos de idade e, acredite –
alguns deles somente após terem escrito dezenas de obras.

Isto não significa adotar uma postura passiva. Isto estaria em oposição a tudo o que consideramos
até aqui. O ideal é encarar a habilidade e a carreira de escritor como uma maratona, em vez de uma
corrida de curta distância.

4. Escritores Profissionais Apreciam o Fracasso


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Escritores iniciantes têm algo muito comum entre si: o medo do fracasso. Mas este medo é algo que
precisa ser combatido. Afinal, o fracasso é um grande aliado dos escritores. Ele é um termômetro
para avaliar o impacto que uma história pode ter sobre o público-alvo.

Funciona mais ou menos como os botões de “Gostei” e “Não Gostei” no YouTube. Por meio destas
métricas, grandes canais conseguem avaliar o impacto dos vídeos veiculados. É aquilo que os
profissionais do ramo chamam de “insights” ou “feedbacks”, mostrando o que dá certo e o que não
funciona.

Da mesma forma, escritores profissionais apreciam o fracasso porque, com eles, podem entender
melhor seu público e suas próprias habilidades. E isto é importante para conseguir progredir e
avançar em suas carreiras.

Portanto, da próxima vez que sua obra ficar ruim e as pessoas fizerem questão de deixar isso claro
para você, não se abata. Pelo contrário, neste momento você deve se sentir agradecido.

5. Escritores Profissionais Se Preocupam Com Seu Legado

Como disse certo autor, é preciso se preocupar mais com o legado e menos com o ego. E isto é algo
que costuma diferenciar escritores amadores dos profissionais. Os amadores estão mais
preocupados com o agora. Querem que suas obras sejam publicadas, estejam nas estantes das
livrarias, figurem nas listas de mais vendidos. Por outro lado, escritores profissionais estão mais
preocupados com o longo prazo. Querem que suas obras sejam um legado para o mundo, algo que
poderá sobreviver ao longo das décadas, de modo que eles sempre possam ser lembrados.

Assim, uma ótima conclusão para este capítulo: os escritores amadores estão preocupados em
serem notados. Os profissionais, em serem lembrados. Com qual grupo você melhor se identifica?
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CAPÍTULO 27 – A MENTALIDADE DE UM ESCRITOR

Claramente podemos dizer que um escritor faz muito mais do que escrever. Além disso, ele também
pensa e age como um escritor. E nesta linha de raciocínio cabe destacar uma série de hábitos,
conceitos, sentimentos e pensamentos típicos destes artistas.

Por isso, o primeiro passo para ser um escritor vai além do fato de terminar um livro. Envolve também
vestir o uniforme e desenvolver a mentalidade de um escritor.

Por isso, apresento para você alguns desses passos.

Avise a Todos

De todos os passos vitais, este é um dos primeiros a serem dados: dizer para todas as pessoas que
você é um(a) escritor(a). Não encare a escrita como uma atividade vergonhosa que você realiza
mergulhado nas madrugadas, protegido pelas grossas paredes do seu quarto. Alguns escrevem
como se isto fosse um terrível pecado. Como se fosse o hábito dos desocupados. Você deve se
orgulhar de possuir o dom de dar vida às suas ideias e sentimentos. Acredite: muitas pessoas
gostariam de ter esta habilidade. Por isso, saia do seu casulo, erga a cabeça e admita que você é
um escritor.

Para isso, você precisa sair de sua zona de conforto. E hora de colocar sua cara a tapa. Pare de
tentar adivinhar o que as pessoas pensarão quando lerem seus textos. Dezenas de pessoas já me
mandaram mensagens dizendo que ficam apavoradas com a ideia das pessoas lerem seus textos e
não gostarem. Você precisa assumir os riscos e não ter medo do baque. Não se preocupe: você vai
sobreviver!

Seja Curioso

Se eventos alheios ao seu mundo não despertam sua curiosidade, está na hora de desenvolver esta
característica essencial a um escritor. Isto significa estar aberto a novas ideias, novas percepções.
Como poderá fazer isso?

Uma das maneiras é se envolver em atividades com as quais não está acostumado. Ande a cavalo,
experimente um passeio de trem, faça trilhas. Com “outras atividades” não me refiro apenas a
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passeios e distrações. Isto inclui toda e qualquer atividade que seja inédita para você, como participar
em uma construção, realizar um trabalho voluntário, e assim por diante. Procure expor-se ao maior
número possível de novas experiências. Assim, você amplia as oportunidades de ser impactado pelo
novo.

Ser curioso também envolve conhecer novas pessoas. Saia do seu círculo de amizades. Tente iniciar
conversas com estranhos, talvez em um ponto de ônibus ou na fila de um banco. Experimente
conhecer aquele seu vizinho que passeia todos os dias com o cachorro e que você nunca deu a ele
nada mais do que um entediado “bom dia”. Não se limite ao “oi, como vai?”. Tente ir um pouco além,
iniciando uma conversa com conteúdo, sem obviamente se tornar um intrometido nos assuntos de
outros.

Seja Você Mesmo

Não tente imitar outros escritores. Em termos simples, respeite o seu talento único e seja você
mesmo. Muitos escritores iniciantes erram ao tentar imitar as características dos seus autores
preferidos. Por isso, lembre-se que você possui seu próprio estilo, algo que você sempre deve
valorizar.

Os autores que tanto amamos escrevem da forma como escrevem porque eles são o que são.
Escrevem assim porque não tentaram ser outros escritores, o que poderia destruir sua
espontaneidade e criatividade.

Não Desista

Finalmente, aprenda a não desistir. Não dá para ser escritor e desistir diante dos infortúnios que, com
certeza, surgirão pelo caminho. Ser escritor envolve persistência e uma luta constante para produzir
aquilo que nossa alma anseia despejar. Não desista diante dos problemas como o medo, a falta de
tempo, a preguiça. Discipline-se e cumpra suas obrigações.

Como visto, um escritor não se limita apenas ao ato escrever. Há conceitos e ideias que definem, por
assim dizer, a mentalidade de um escritor. Portanto, aprenda a desenvolver a mentalidade, e o
primeiro passo vital para produzir obras únicas estará dado.

Mas você precisa desenvolver mais do que apenas a mentalidade de um escritor. Você também
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precisa adquirir os seus hábitos.

No próximo capítulo, falarei mais sobre isso.


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CAPÍTULO 28 – OS HÁBITOS E A ROTINA DE UM ESCRITOR

Desenvolver hábitos e rotina de um escritor é caracterizado pela responsabilidade. Na prática,


envolve estabelecer um padrão na produção dos seus textos – uma postura profissional diante de
sua tarefa como escritor.

Mas, quais são esses hábitos que você deve ter? Qual deve ser sua rotina como escritor?

Estabelecer Um Cronograma

Há algo importante que você precisa colocar por escrito, antes de escrever a primeira frase do seu
livro. Não, não estou falando do enredo ou das personagens. O que você precisa colocar por escrito
é um cronograma para iniciar e concluir seu projeto.

Um cronograma envolve o passo a passo da produção dos seus textos. Deixar isto entregue ao
acaso poderá fazer com que uma obra que exigiria seis meses para ser concluída, precise de vários
anos. Em um cronograma é possível definir quanto tempo por dia você se dedicará à escrita e
quantos dias por semana. Ao definir este plano, lembre-se de estabelecer regras para situações um
pouco mais atípicas – por exemplo, quanto escreverá em feriados ou quando estiver de férias?

Seu cronograma precisa definir prazos. No caso de escrever um romance, estabeleça um prazo para
terminar cada capítulo. Além disso, obviamente, você deve definir um prazo para concluir o livro.

Ao mesmo tempo, demonstre cautela ao definir datas. Quando não cumprimos nossos prazos, temos
a tendência de ficar desanimados. Por isso, ao criar um cronograma, não seja demasiadamente
exigente. Lembre-se que haverá imprevistos. Você talvez passe por períodos de desânimo. Leve isto
em consideração, concedendo prazos um pouco mais longos do que julgar necessários. Depois,
basta ticar ao passo que os prazos são cumpridos. Assim você terá um vislumbre mais claro do
progresso que está fazendo.

Planejar o Amanhã

Sempre saiba o que escreverá no dia seguinte. Não deixe que o amanhã lhe traga uma inspiração
maravilhosa quanto ao que deve ser colocado no papel.
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O melhor momento para pensar no texto de amanhã é quando estamos encerrando nossas
atividades literárias no dia de hoje. Isto porque estamos embalados, em pleno ritmo de criatividade
que facilita a criação do próximo conteúdo.

Planejar a escrita de amanhã otimizará seu tempo no dia seguinte. Você não fica parado diante de
uma tela ou papel branco pensando no que deve escrever. Além disso, este bom hábito prepara seu
subconsciente para que ele formule algumas ideias enquanto você descansa.

Comprar o Tempo

Nesta vida agitada, é inevitável nos deparar com relógios que parecem girar os ponteiros de forma
mais rápida do que deveriam. Por isso, você já está ciente de que provavelmente nunca terá tempo
de sobra. Ao estabelecermos prioridades em nossas vidas, precisamos “comprar o tempo”. Analise
suas atividades diárias e veja o que pode ser deixado de lado, sem que isso prejudique seu trabalho,
estudo e vida familiar.

Neste respeito, cuidado com a internet – o maior ladrão de tempo da história da humanidade.
Vídeos curtos no YouTube, uma navegação despretensiosa pelas fotos de amigos no Instagram –
tudo isso traz consigo o potencial de reduzir o tempo disponível para outras atividades.

Se possível, enquanto escreve seus livros, desligue celular, internet, televisão. Se utiliza o
computador para escrever, é importante autodisciplina para não interromper sua escrita a cada
minuto para verificar se aquela pessoa de encantadores olhos reluzentes respondeu seu e-mail. Se
permitir que atividades como essas interfiram no seu trabalho, verá que escrever um livro será algo
bem mais demorado do que imaginava.

Escrever Mesmo Cansado

Decidir escrever somente quando estiver descansado é perigoso, porque serão poucas as vezes que
você será premiado com esta condição física e mental.

Por isso, coloque como regra em seu ofício como escritor: escreva mesmo quando estiver cansado.
Se escrever é uma prioridade em sua vida, demonstre isso por se dedicar a ela apesar do seu corpo
pedir para você fechar os olhos e relaxar.
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OBVIAMENTE (sim, com letras garrafais), você deve reservar tempo para o descanso. O que quero
dizer é que você não deve ficar acomodado esperando momentos de relaxamento para escrever.
Afinal, este dia, talvez nunca chegue.

Fazer Uma Sinopse

Muitos escritores gostam de improvisar seus textos enquanto escrevem. Se este é o seu estilo, ótimo!
Continue improvisando. No entanto, é preciso ter em mente que esta prática pode roubar muito
tempo.

Isto se dá porque o improviso faz com que você comece a escrever um texto com uma ideia. Ao
longo da trama, por não ter um rumo previamente estipulado, você começa a improvisar e
acrescentar novos conflitos, novas personagens. Após isto, percebe que muito do que escreveu até
aqui não se encaixa com as novas ideias desenvolvidas no improviso. Qual o resultado? Você
precisa voltar no texto, deletar trechos e até páginas inteiras. Um tempo jogado fora e que você não
poderá recuperar.

Por esta razão, é proveitoso criar uma sinopse detalhada do seu livro, do início ao fim. Se novas
ideias surgirem, elas muito provavelmente aparecerão durante a criação da sinopse, o que lhe
poupará bastante tempo.

Apesar disso, uma sinopse nunca será perfeita, e nem garantirá que você não mude sua trama
enquanto estiver escrevendo o livro. No entanto, ela diminui estas possibilidades.

Não Depender da Inspiração

Não escreva apenas quando estiver inspirado. Isso pode deixar seu cérebro preguiçoso. Um dos
grandes segredos para se desenvolver como escritor é escrever todos os dias, mesmo que a
inspiração tenha saído para dar uma voltinha. Vou falar um pouco mais no próximo capítulo sobre a
necessidade de escrever todos os dias. Escreva mesmo que sejam poucas frases, apenas alguns
minutinhos por dia, mas não dê descanso para seu cérebro. Do contrário, ele pode se acomodar e
começar a deixar você na mão.

Pensar em Suas Personagens… Sempre


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Não deixe para dar atenção às personagens do seu livro apenas quando estiver escrevendo.
“Converse” com elas em outras oportunidades: enquanto estiver fazendo exercícios, caminhando
pelas ruas, tomando um sorvete. Procure imaginar quais seriam as reações dela diante dos
imprevistos do seu dia a dia. Torne-as reais, para que as reações dela em seus livros também sejam
reais.

Evidentemente, converse com elas em sua mente. Nada de conversar em voz alta ou sua família
pensará seriamente na possibilidade de lhe enfiar em uma camisa de força.

Concluindo

Portanto, ser escritor não é viver no improviso. Todo o profissionalismo envolve uma série de boas
práticas e rotina que o ajudarão a concluir suas obras em tempo hábil.
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CAPÍTULO 29 – QUANDO ESCREVER?

Um dos segredos para se alcançar bons resultados como um escritor é a abundante inventividade e
produtividade. Em outras palavras, isto significa escrever todos os dias.

Para muitos, isto é um grande desafio. Este é o seu caso? Então, esteja atento às dicas que darei a
seguir. Elas serão úteis para você entender a importância de escrever todos os dias e colocar isto em
prática.

Desafie-se

O primeiro segredo para escrever todos os dias é morder mais do que pode mastigar. Você precisa
se comprometer a escrever mais do que está acostumado. Por que isso é importante?

Como seres humanos, somos muitas vezes nocauteados pelo medo, e ele nos faz atribuir limites
muito mais restritivos do que nossa produtividade é capaz. Em outras palavras, não dá para confiar
em si mesmo. Se você acha que pode produzir tanto por dia, talvez você seja capaz de escrever um
pouco mais.

Então, desafie-se. Comprometa-se a escrever mais do que está habituado. Você precisa testar seus
limites. É provável que se surpreenda com sua capacidade e produtividade.

Use Todas as Ferramentas

Para escrever todos os dias explore todas as ferramentas para isso. Se escreve apenas no
computador, talvez isso venha a limitá-lo de forma considerável – sempre que estiver longe do
computador, sua produtividade vem a zero.

Por isso, arregace as mangas e explore outras formas para expelir sua criatividade: escreva no
computador, em seu tablet, no caderno, no papel de pão respingado de margarina em cima de sua
mesa. Não permita que seu cérebro associe produtividade com algum canal específico. Ele precisa
funcionar a contento em todas as ocasiões.

Reescreva Velhos Textos


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Será que existe algum caderno fedendo a mofo dentro de uma gaveta? Será que não há uma pasta
em seu computador que armazena alguns textos que começou anos atrás, antes que fossem
vencidos pelas intempéries da vida?

Há autores que encontram matéria-prima até mesmo em e-mails trocados com amigos. O que estou
querendo dizer com isso é que escrever todos os dias não significa, necessariamente, criar algo novo.
Talvez tudo o que você precisa é polir algumas pequenas obras-primas que foram injustamente
esquecidas.

Comece Agora

Este é um dos melhores conselhos e vale para a maioria dos desafios em nossa vida: comece agora.
O grande inimigo de seguir um conselho é pensar: “Vou começar amanhã”. Corta essa! Não estamos
falando de regime. E nem de um novo passatempo. É preciso deixar de encarar escrever um livro
como um hobby que fazemos nas horas de folga – escrever precisa ser um hábito. Uma essência.
Inspire letras, expire palavras, respire frases.

Há algum projeto que você está adiando? Um romance, um livro de contos ou mesmo um livro
técnico? Não espere até amanhã. Comece agora. Ou seu ânimo poderá se dissipar muito antes do
que imagina.

Dicas Adicionais Para Escrever Todos os Dias

* Planejamento: Não acorde pela manhã sem saber o que escrever. Já falei sobre isso no capítulo
anterior e quero enfatizar este aspecto. Afinal, isto é muito ruim para a produtividade e revela falta de
estratégia no seu plano de escrever um livro. Para não ficar diante da tela em branco sem ter ideia
sobre o que vai escrever, faça um planejamento na noite anterior.

* Deixe o editor de textos aberto: Esta dica é muito interessante. Na noite anterior, abra o editor de
texto, coloque o título do que escreverá no dia seguinte e deixe abertas quaisquer notas de pesquisa
que tenha realizado. Você poderá colocar o computador ou laptop em hibernação. Quando se sentar
diante dele e der o primeiro clique, tudo estará pronto para começar a escrever. O mesmo princípio é
válido se você costuma escrever em papel.

* Comece com um esboço: A tela em branco que nunca é preenchida é o fantasma dos escritores.
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Você certamente entende bem isso, assim como eu. Por isso, pode se de ajuda começar escrevendo
pequenas notas, ainda que sejam ideias soltas e mal definidas do que você pretende escrever. O
importante é colocar o cérebro em movimento. Em alguns minutos, você verá que o processo começa
a se tornar automatizado e as palavras logo passam a formar parágrafos e capítulos.

Concluindo

Como acontece com a maioria das habilidades de nossa vida, quanto mais você pratica, mais fácil
fica. Escrever todos os dias é só uma questão de disciplina. A pele precisa de tempo para cicatrizar.
Os músculos precisam de tempo para se desenvolver. E podemos dizer o mesmo sobre a criativa
massa que se desenvolve dentro de nosso crânio.

Por isso, aplique estes conselhos imediatamente. Com o passar dos dias e semanas, você verá que
a dura tarefa se tornará uma prazerosa rotina. E logo você vai ver que escrever todos os dias não é
mais um desafio.

E sim, a grande solução.


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CAPÍTULO 30 – COMO ESCREVER MAIS RÁPIDO SEM PERDER A QUALIDADE

Em qualquer profissão, sabemos que aumentar a produção, em alguns casos, pode resultar em
queda na qualidade. O mesmo pode acontecer com os profissionais da escrita.

No entanto, ao mesmo tempo, é preciso ter em mente que a profissão de escritor às vezes exige uma
produção em larga escala. Isto significa que se você é um escritor profissional ou iniciante, é
preciso desenvolver a habilidade de escrever mais rápido. E, de preferência, sem perder a qualidade.

Quais as grandes vantagens em escrever mais rápido?

 Você se torna cada vez mais senhor das palavras, em vez de refém delas;
 Você termina seu trabalho mais rápido, podendo iniciar novos projetos antes do previsto;
 Quanto mais rápido você escreve, mais você escreve. E quanto mais escreve, melhora suas
habilidades de escrita.

Mas, na prática, o que você pode fazer para escrever mais rápido e melhor?

Escreva Todos os Dias

Como mencionado no capítulo anterior, é preciso desenvolver o hábito de escrever todos os dias.
Quando você se dedica à escrita diariamente, você começa a escrever mais rápido, aumentando a
quantidade de palavras produzidas. Estabeleça uma meta que seja razoável de acordo com sua
realidade. Pode ser 200, 500, 1000 palavras por dia. E apegue-se a este cronograma.

O próximo passo é estabelecer um tempo para isso. Por exemplo: escrever 400 palavras por dia em
uma hora. Com a prática, talvez perceba que consegue escrever as mesmas 400 palavras, porém,
em menos tempo (por exemplo, 50 minutos).

Estabeleça Prazos

A capacidade de estabelecer e apegar-se a prazos é um dos fatores que costumam separar


escritores profissionais dos amadores.

Vai começar amanhã a escrever um romance? Não estabeleça apenas prioridades como escrever
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todos os dias e escrever tantas palavras por dia. Tenha um prazo para concluir seu livro e apegue-se
a ele. Como disse certo autor:

“Você pode fazer maravilhas quando é pressionado contra a parede”.

Uma das formas de “colocar a si mesmo contra a parede” é avisar seu público (ainda que sejam
somente parentes e amigos mais próximos) sobre seus projetos e prazos. Por exemplo, digamos que
você está escrevendo seu primeiro romance. Avise seus amigos e familiares:

“Povo lindo e fofo do meu coração, no dia 10 de Fevereiro de 2021, vocês receberão por e-
mail o meu primeiro romance”.

A partir daí, é correr contra o relógio. De quebra, você terá o apoio de muitas pessoas lhe cobrando
ao passo que o grande dia se aproxima.

Mais e Melhor

Lembre-se que escrever mais rápido é apenas metade do desafio. A outra parte, ainda mais
importante, é manter a qualidade. Afinal, de que adianta produzir mais e mais páginas, ao mesmo
tempo em que os textos se tornam cansativos e pouco originais?

No entanto, se levar em consideração as dicas que lhe dei, poderá em pouco tempo desenvolver esta
qualidade.

Assim, não se esqueça:

 Escreva todos os dias;


 Defina uma quantidade de palavras para escrever por hora ou por dia;
 Defina prazos e certifique-se de comunicá-los ao seu público.

Durante estes exercícios, não tente se comparar comigo ou ao Zé da quitanda. Você precisa se
comparar somente consigo mesmo. Ou seja, quão rápido você está escrevendo hoje em relação ao
que costumava escrever até ontem?

Ao passo que exercitar sua escrita, escrevendo mais e em menos tempo, verá que a qualidade
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acompanhará este processo.

No entanto, você precisa tomar cuidado para não ser distraído durante este processo. Do contrário,
verá que não consegue escrever mais rápido, apesar dos seus sinceros esforços. Por isso, no
próximo capítulo, vou falar um pouco sobre distração.
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CAPÍTULO 31 – COMO EVITAR DISTRAÇÕES ENQUANTO ESCREVE

Não importa onde estejamos, sempre há placas e pessoas, ruídos e intensidades querendo nossa
atenção. Se não bastasse o mundo físico, ainda temos as versões digitais de distração, camufladas
em seu formato mobile ou mesmo abas que se multiplicam como praga em nosso navegador.

Você não precisa se concentrar nestas coisas para ter seu fluxo de ideias interrompeido. Basta
apenas uma fração de segundos, um leve distrair-se, e lá se vai o fio da meada. O marketing é
treinado para sugar nossa atenção – basta um microscópico elemento de sua presença atingir
nossos sentidos.

Distrair-se é natural. No entanto, como escritores, é preciso driblar esta tendência. A distração é um
dos principais fatores que fazem com que autores tenham dificuldade em terminar suas obras de
literatura.

A grande questão é: como não se distrair enquanto escreve?

A partir de agora vou considerar com você algumas técnicas básicas que ajudam um escritor a se
manter focado em seus textos, sem se distrair.

1. Reserve Tempo Suficiente Para Escrever

Escrever é algo que exige dedicação, trabalho e muito tempo. Se dedicarmos apenas frações do
nosso relógio (por exemplo, 5 minutos por dia), nossa obra precisará de diversos anos para ficar
pronta. E o que isso tem a ver com distração?

Quando reservamos pouco tempo para escrever, nossa escrita acaba ficando espremida entre
diversas outras atividades que tomam a atenção do nosso cérebro.

Por isso, antes de começar a escrever seu livro, você precisa se organizar e reservar tempo
suficiente para se dedicar a ele.

2. Escolha Horários Com Menos Distrações

Há momentos em seu dia em que o universo ao seu redor exige muito mais de você. De fato, estas
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não são boas horas para escrever. Por isso, alguns escritores preferem levantar mais cedo para se
dedicar à escrita. Outros costumam deitar mais tarde. Também há aqueles que só escrevem de
madrugada.

Independentemente do horário escolhido, ele precisa ser reservado exclusivamente para escrever
seu livro.

3. Defina Prioridades e Mantenha o Foco

Não tente fazer duas tarefas ao mesmo tempo. Eu sei, o objetivo é otimizar seu tempo. Mas, isto é
um tiro no pé. Se estiver escrevendo, dedique-se somente a esta tarefa.

Imagine um escritor que envia uma mensagem para um amigo. Após isso, ele começa a escrever seu
romance. Quando recebe a resposta, ele interrompe a escrita, lê o que o amigo escreveu e lhe envia
de volta uma nova mensagem. E assim, sucessivamente.

O tempo perdido neste exemplo, não está somente nos instantes em que o escritor precisa ler e
responder a mensagem. Mas também no tempo que ele leva para voltar para dentro do universo
literário onde se encontrava, antes de ter sido arrancado de lá.

Não duvido que você seja multitarefa. Mas para extrair o melhor de sua criatividade, procure fazer
uma coisa de cada vez. Escrever exige concentração, e não frações dela. Se realmente quiser
escrever textos interessantes e em tempo hábil, você precisa manter o foco.

4. Desligue Tudo (ou Quase Tudo)

Não precisa ser algum gênio para saber que a TV e outros aparelhos eletrônicos são grandes
inimigos da concentração. Por isso, na medida do possível, desligue tudo.

Para que pessoas próximas não fiquem preocupadas com seus frequentes “sumiços”, deixe-os saber
que durante seus períodos de escrita você entra em sistema de espera.

E quanto à música? Isto varia de escritor para escritor. Há quem ache mais produtivo escrever com
uma boa canção em plano de fundo. Pessoalmente, gosto desta alternativa. Um detalhe curioso, no
meu caso, é que se a letra da música estiver no mesmo idioma em que eu estiver trabalhando, a
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coisa não rende.

Já ouvi autores dizerem que preferem ouvir somente músicas conhecidas – assim, não ficam
distraídos prestando atenção na letra.

Se perceber que a música não atrapalha seu rendimento, poderá fazer uso dela enquanto escreve.
Do contrário, apele para o silêncio total.

5. Mantenha Sua Mesa Limpa

Outro recurso interessante para evitar distrações é manter a mesa limpa e organizada. Isto significa
não deixar objetos desnecessários sobre ela. Quanto mais coisas estiver em sua mesa, mais sua
atenção será distraída.

Mas, evidentemente, não deixe para organizar sua mesa apenas quando for escrever. Do contrário,
perderá tempo precioso limpando a bagunça. Mantenha sua mesa sempre organizada.

6. Dê Intervalos ao seu Cérebro

Independentemente de quanto tempo escreva por dia, não obrigue seu cérebro a trabalhar durante
todo esse período sem um descanso merecido. Você poderia, por exemplo, escrever durante 45
minutos e então dar uma pausa de 5 minutos. Depois basta repetir o processo. Quanto tempo você
escreverá antes da pausa depende de você. Por isso, você precisa conhecer sua capacidade e
limites. Este método de gerenciamento de tempo também é conhecido como Técnica Pomodoro.

Seu cérebro não é um escravo – ele também tem seus “direitos trabalhistas”. Lembre-se que as
pausas são ótimas para ajudar o cérebro a respirar e renovar a criatividade. Além de ser uma boa
oportunidade para você se presentear com um cafezinho.

7. Use Editores Contra Distração

Há diversos softwares disponíveis na internet que facilitam a vida dos escritores, criados para evitar
distração. Muitos destes editores permitem que o escritor coloque seus textos em tela cheia. Isto é
importante para evitar que outras atividades em nosso computador ou notebook distraiam nossa
atenção, como avisos nas barras de tarefa que nunca cessam.
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Exemplos de programas nesta linha são o IAWriter e o Q10. Eles foram desenvolvidos para a
profissão de escritor e podem nos catapultar para longe dos tradicionais Words da vida. E muitos
deles são desenvolvidos sob o princípio de que o escritor precisa de um visual limpo, livre de
distrações.

Distrações Sempre Existirão

Não há como evitar: sempre haverá objetos, situações, ruídos, cheiros ou pensamentos que invadirão
seu momento criativo, dando uma voadora no seu peito.

Ainda assim, levando a sério as dicas acima, você dará um importante passo para evitar ser
prejudicado pelas inoportunas distrações.
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Gêneros Literários
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CAPÍTULO 32– DICAS PARA ESCREVER UM ROMANCE HISTÓRICO

Pode ser que você esteja decidido a escrever um romance histórico, um livro onde a trama se passa
em outra época. Portanto, o universo descritivo de seu livro deve ser quase preciso, com
algumas poucas exceções que serão mencionadas a frente. Portanto, o fundo histórico da sua obra
precisa ser cuidadosamente estudado.

Pesquisas e Mais Pesquisas

É evidente que, ao escrever um romance histórico, você fará muitas pesquisas sobre a época
escolhida. Isto envolve ler livros didáticos, enciclopédias e fazer diversas buscas na web. Um bom
romance histórico envolve autenticidade. Somente assim os leitores serão transportados para a
época onde sua trama ocorre.

O que você está fazendo é levar o leitor até um mundo novo. E para isso, ele precisa de imagens que
você dará em forma de descrições: o cheiro do esgoto na sarjeta ou da fumaça das fábricas, a luz
pálida em ruas apertadas, etc.

Há muitos detalhes que devem ser considerados na hora de criar um cenário autêntico. Considere
estes pontos que você precisa ter em mente.

Hábitos e Crenças

Antes de começar, você precisa fazer uma profunda pesquisa para entender como suas personagens
se comportarão. Isto envolve conhecer os hábitos e crenças das pessoas que viveram nesta época: o
que comiam, como se banhavam, o que vestiam, quais eram suas crenças.

Palavras, Frases e Gírias

Para conferir verossimilhança às personagens, elas precisam falar de forma convincente. E isto
significa fazer uso de termos utilizados na época.

Por exemplo, você não pode colocar personagens do período colonial brasileiro usando gírias dos
nossos dias. Esta falta de coesão pode arrancar seu leitor da época onde se passa o livro e trazê-los
de volta à realidade. E um bom livro deve fazer exatamente o contrário.
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Por isso, o trabalho de pesquisa vai além de entender o cenário socioeconômico, político, estilo de
roupas, casas, móveis, etc. Você precisa saber como as pessoas conversavam nesta época.
Neste caso, você não necessita de uma precisão absurda. No entanto, é preciso revelar alguma
autenticidade.

Aqui cabe uma palavra de cautela: procure não usar expressões que só seriam entendidas por
pessoas que viveram na época, expressões estas que já se perderam completamente no tempo. Se
decidir usar, precisará inserir uma explicação da expressão em uma nota de rodapé.

Cuidado Com Plantas e Árvores

Estranhou o subtítulo? A verdade é que o fato de algumas plantas estarem do lado de fora de sua
casa, não significa que elas sempre estiveram ali. Algumas mudas de plantas e árvores vieram de
outros países, em outras épocas. Se for citar qualquer espécie vegetal em seu romance histórico,
certifique-se de que a planta já era figura presente durante o período de sua trama.

Fatos Históricos Importantes

 O período e a cronologia dos eventos: digamos que você está escrevendo um romance
ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial (por exemplo, na Polônia em 1939). Neste caso,
os eventos de pano de fundo (declaração de guerra, invasões, batalhas) precisam ser
apresentadas com precisão. Assim, pesquise datas e eventos para contextualizar
corretamente seus leitores.
 O cenário político e social: pesquise a situação política e socioeconômica do período que
está abrangendo. Um romance precisa refletir a ambientação, ansiedades e temores das
pessoas de determinada época.

Personagens Interagem Com Objetos

Certamente seu livro conterá diversos objetos que não mais existem ou que a maioria das pessoas
desconhece. Assim, se precisar mencioná-los, talvez você possa ir além de uma simples citação.
Uma opção é fazer com que as personagens interajam com tais objetos.
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Por exemplo: em vez de dizer que o capitão do navio utilizou um astrolábio, descreva como isso foi
feito. O homem faz a leitura das constelações próximas aos primeiros raios de sol. Depois, ao meio-
dia, alinha o aparelho, anotando quantos graus o sol está acima do horizonte. Por fim, ele compara
as leituras matinais e as do meio-dia para descobrir sua latitude.

Não Julgue Suas Personagens

As pessoas em geral têm seus próprios costumes e valores. No entanto, o que hoje é encarado como
incorreto, talvez fosse uma prática comum em outras épocas.

Portanto, ao escrever este tipo de livro, cuide para não se posicionar com parcialidade (a visão de
uma pessoa moderna sobre costumes antigos). Você precisa revelar fatos e conceitos sob a ótica de
quem estava lá, vivendo sob a aura do que era comum naquela época.

Consuma Material Produzido na Mesma Época

Ler livros ambientados na mesma época ajuda. Mas, o que estou dizendo é que você deveria ler
livros que foram escritos no mesmo período em que ocorre sua história. Se for possível, claro. Isto
será de ajuda para conhecer expressões, objetos, pensamentos e atitudes comuns no período.

Se o período do seu livro for no século vinte, há um apoio adicional: você poderá assistir filmes desta
época. Você pode aprender muito sobre roupas, estilos e linguagem com todo o material
cinematográfico produzido.

Consumir material produzido na mesma época também pode incluir cartas, memórias e jornais.

Use a Internet… Com Moderação

A internet pode ser a principal fonte de pesquisa para seu livro. Ela oferece mapas interativos,
imagens, vídeos, documentos, além da possibilidade de fazer visitas virtuais a museus.

No entanto, é preciso ter cautela com muitas informações disponibilizadas na web. Algumas delas
são falhas. Busque fontes de confiança. Em alguns casos, verifique a informação em mais de uma
fonte. Isto lhe dará uma garantia maior de que aquilo que está sendo transmitido em seu livro seja um
retrato da realidade da época descrita.
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Saiba o Que Eliminar

Em suas pesquisas, você encontrará uma grande quantidade de informações históricas. O grande
truque para escrever um romance histórico convincente não está na quantidade de detalhes que você
encontrou; e sim na capacidade de determinar que detalhes devem ser deixados de fora.

Lembre-se de que os detalhes históricos visam levar os leitores para outra época. Seu romance não
se trata de um livro para um professor de História utilizar em sala de aula. Por isso, não sucumba às
minúcias inúteis. Saiba quando os detalhes são exagerados e desnecessários.

Revisão de Historiadores

Uma sugestão para garantir que as informações sejam condizentes com a história é solicitar a
revisão do livro para um historiador.

Uma opinião deste profissional será de ajuda na descrição fiel de eventos, objetos e cenários.

Concluindo

Deu para perceber que o processo de escrever romances históricos é mais longo do que outros
gêneros literários.

Caso decida escrever este tipo de livro, tenha em mente que o processo de pesquisa será longo e
exigirá muita paciência de sua parte.

Se tiver disposição para enfrentar a difícil tarefa de mergulhar em outras eras para escrever este
romance, você precisará aliar diligência e a criatividade ao produzir sua obra.
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CAPÍTULO 33 – DICAS PARA ESCREVER UM LIVRO DE AVENTURAS

Livros de aventura abrangem uma ampla quantidade de enredos, cenários e épocas – sempre
amparados por muita ação e emoção.

Nos nossos dias, há um forte apelo para os romances épicos que transportam os leitores para outras
épocas e, em muitos casos, para terras e reinos que nunca existiram.

Uma ampla gama de livros de aventura têm sido escritos. Se esta for também a sua vontade, esteja
atento a algumas dicas para que o resultado corresponda às suas expectativas.

A Criação de Personagens Para Livro de Aventuras

A figura do herói e do vilão é especialmente forte neste formato literário. De modo geral, as aventuras
exigem que o herói se apresente com características bastante contundentes: força física,
inteligência, nobreza de caráter. Isto não significa que ele precise ter todas estas características, ao
mesmo tempo. Na verdade, nem é bom que tenha. Para aproximá-lo de seus leitores, é interessante
que ele também tenha alguns defeitos explícitos. Indiana Jones é um bom exemplo: inteligente,
sagaz, porém, sem notável força física, além de manifestar uma certa rudeza com as mulheres.

Seu herói precisa de um vilão com quem lutar. Seguindo o mesmo princípio, procure desenvolver
aspectos em seus vilões que o tornem real para seus leitores.

Aventura é sinônimo de proezas e grandes desafios. Por isso, os vilões dos livros de aventura são
melhores explorados quando não agem sozinhos, mas são apoiados por um corpo de assistentes.

Enredo e Estrutura

A narrativa deste tipo de livro precisa estar bem amarrada. Onde começa a jornada de seu herói e os
eventos que o conduzirão a um empolgante final precisam estar devidamente interligados. Nunca
desperceba a lógica entre os acontecimentos.

Pense da seguinte forma: dramas psicológicos podem ser imprevisíveis, com personagens tomando
atitudes baseadas no impulso. Livros de aventura, por outro lado, são mais sistemáticos. As ações
devem levar em consideração fatores mais racionais e menos passionais.
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Visto que livros de aventura estão focados na ação, é interessante criar um esboço completo dos
acontecimentos e desdobramentos. Defina cada sequência, o que heróis e vilões têm a ganhar e
perder, mostre como cada evento impacta as personagens. Não crie apenas as situações de perigo
em que colocará seu herói, mas pense cuidadosamente na forma que ele encontrará para se livrar
delas.

Cuidado Com os Clichês

Tenha cuidado para não cair no erro de repetir os intermináveis clichês deste tipo de literatura.

Muitos destes elementos já foram vistos e lidos milhares de vezes no cinema, TV e nos livros. Por
isso, use a originalidade. Surpreenda seus leitores. Arranque deles um “uau” ao concluir um capítulo
em vez de repetir aquilo que todos os romances de aventura fazem há séculos.

É claro que um ou outro clichê será inevitável. Alguns são bastante charmosos. Apenas, não abuse.

Cuidado Com as Entrelinhas

De modo geral, livros de aventura estão com os pés fincados na ação febril, perseguições em ritmo
alucinante e personagens conseguindo escapar no último segundo. Leitores ávidos de aventuras
esperam por isso. No entanto, haverá momentos em seu livro em que seu herói caíra, digamos, na
inatividade. O que fazer para manter a atenção dos leitores?

É preciso usar muito bem os recursos da linguagem. Uma dica: não use este momento para entupir
as páginas com detalhes desnecessários. Cuidado para não ficar descrevendo o ruído produzido
pelas folhas que se desprendem ante a brisa matinal proveniente das virgens montanhas do sul. O
público que gosta de livros de aventuras, de modo geral, costuma se chatear muito rapidamente com
descrições longas e detalhadas. Isto não significa que os detalhes não são importantes. Livros de
aventura possuem cenários exuberantes e imagens fantásticas. Obviamente, você precisa descrevê-
los para que seus leitores se situem na ambientação. O ponto que quero destacar é fugir dos
detalhes excessivos e cansativos.

Insira o Tempo
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O tempo é um elemento extremamente relevante em um livro de aventura. É a fórmula clássica:


temos dez dias para salvar o planeta. Depois cinco. Depois dois. Até que chega o grande clímax,
aquele momento onde estamos há poucas horas do evento – agora, é tudo ou nada.

Por isso, insira o fator tempo nos trechos de ação em seu livro. Os minutos para a bomba
explodir, os segundos para deixar o prédio, as poucas horas para encontrar a saída do castelo.

Estilos Literários dos Livros de Aventura

Vamos entender quais são alguns dos tipos de romances de aventuras. Isto talvez lhe sirva de
inspiração para o seu próximo livro.

Aventuras em Cenários Exóticos: Esta é a ambientação clássica em muitos romances de aventura.


Neste formato, o que vemos é a luta entre o bem e o mal. Elementos fantásticos atribuem maior
significado à narrativa. Personagens secundários costumam ter pouco impacto e são bastante
superficiais. O foco da narrativa é o herói e o vilão. Neste formato, estão incluídas as fantasias.

Techno Thrillers: Este é um gênero que aborda desde narrativas de guerra até ficção científica. Este
formato de aventura está focado na tecnologia.

Thrillers Médicos: A trama deste gênero costuma se basear em conspirações entre grandes
companhias médicas. Traz à tona o lado negativo destas grandes corporações e que precisa da
atuação do herói para revelar isto ao mundo. Estão repletos de questões éticas. Portanto, se for
escrever um livro seguindo esta narrativa, certifique-se de se inteirar bem com as questões éticas do
universo farmacêutico e médico.

Thrillers Políticos e Financeiros: Costumam falar de política internacional e teorias da conspiração.


De modo geral, apresentam heróis jovens mergulhados em um sistema corrupto e marcado pela
paranoia. Os heróis costumam ser homens e as mulheres são bonitas, inteligentes, e com uma forte
consciência política. Lembre-se, porém, que você pode fugir destes estereótipos limitados presentes
na literatura e cinema.

Conclusão
109

Livros de aventura, assim como os romances policiais, estão entre os segmentos da literatura onde é
mais fácil criar uma série. Se conseguir desenvolver uma personagem inteligente e marcante poderá
abrir as portas para criar uma série de romances. Ou seja, se conseguir vender o primeiro livro,
certifique-se de avisar seu editor que você já possui ideias para dar prosseguimento à saga do seu
herói.
110

CAPÍTULO 34 – DICAS PARA ESCREVER UM LIVRO HUMORÍSTICO

Costumo dizer que ser engraçado é um dom. Digo isso porque acredito que a graça de algo está em
sua espontaneidade. Quando tentamos ser engraçados, em muitos casos, soamos patéticos. E isto
ocorre não somente quando escrevemos. Vai dizer que nunca teve um amigo que sempre quis ser o
mais engraçado da turma e sempre acabava despertando a antipatia dos demais?

Este é um grande problema: tentar ser engraçado pode resultar em criatividade bloqueada do escritor.
Por isso, muitos autores preferem a seguinte regra: não ser engraçado – simplesmente escrever a
verdade de uma forma divertida.

Mas, ainda assim, se formos tentar estabelecer alguns critérios para sermos engraçados, existem
dicas e princípios interessantes que compartilho agora com você.

Escreva de Forma Simples

Para colocar este conselho em prática, escreva como se estivesse enviando um e-mail bem-
humorado para um grande amigo. É preciso saber usar bem as palavras, mas cuidado para não soar
acadêmico. Palavras muito complexas tiram a graça de um potencial texto engraçado.

Escreva Sobre Situações Com as Quais os Leitores se Identifiquem

Um escritor consegue ser engraçado apenas escrevendo sobre situações corriqueiras do nosso dia a
dia, mas que ninguém (ou pouca gente) ousou comentar. Quanto menos explorado for o assunto
corriqueiro, melhor será o impacto. Se alguém ler seu texto e pensar: “Pior que é assim mesmo”, as
chances de você arrancar uma risada dele será muito maior. Os textos de stand-up comedy seguem
este princípio.

Assim, tentar escrever um texto humorístico sobre um mecânico de aviões atrapalhado será
extremamente desafiador, já que a maioria de nós não está familiarizada com esta profissão. No
entanto, um texto humorístico sobre a tensão psicológica em tentar lembrar sua senha, quando o
caixa eletrônico avisa que o próximo erro resultará em cancelamento do cartão, poderá encontrar
leitores mais entusiasmados, pensando: “Pior que é assim mesmo”.

Escreva Sobre Coisas Irritantes


111

Isso nos leva a outra regra valiosa: escreva sobre coisas que lhe causam irritação. Pense um pouco
sobre o texto utilizado pelos comediantes de stand-up. A vasta maioria comenta sobre assuntos
corriqueiros e extremamente irritantes. Utilize sua própria irritação como termômetro para avaliar o
potencial de um assunto se tornar engraçado.

Vá Ao Extremo

Muitos assuntos, por serem muito explorados, acabam perdendo um pouco da graça. Caso queira
falar de um assunto muito explorado, tente levar o tópico ao extremo. Digamos que queira escrever
sobre uma personagem que precisa emagrecer – não fique passeando no plano geral. É melhor ser
exagerado. Por exemplo, escrever que a personagem tem como objetivo emagrecer, porém, sem sair
da frente do computador. Extremos costumam oferecer uma inclinação maior ao cômico do que se
apoiar somente em clichês absolutos.

Use Analogias

Comparações, metáforas, analogias – as figuras de linguagem são excelentes temperos para tornar
seu texto engraçado. Este recurso abre maiores oportunidades para arrancar o riso de um leitor. Ou
seja, em vez de dizer: “Ele caminhava lentamente”, pode-se apelar para as figuras de linguagem. O
resultado pode ser algo parecido com: “Ele caminhava tão lentamente que mais parecia uma lesma
com complexo de inferioridade”. A analogia absurda gera esta incompatibilidade entre os dois objetos
de comparação. E é exatamente isto o que pode despertar o cômico no que escrevemos.
112

CAPÍTULO 35 – DICAS PARA ESCREVER UM LIVRO INFANTIL

Aquilo que uma criança lê, em grande parte, é responsável por moldar aspectos de sua
personalidade e seus valores. Faz com que sua imaginação seja estimulada, ajudando no
desenvolvimento de sua criatividade.

Por esta e outras razões, escrever um livro infantil é uma das mais gratificantes realizações para um
autor. Embora seja um fato desconhecido de grande parte dos novos escritores, o mercado dos livros
infantis é um dos mais competitivos para se publicar.

Para quem escrever um livro para este público, é preciso estar atento a um passo a passo. Entre os
passos a serem seguidos, gostaria de citar os seguintes:

 Procure se familiarizar com o mercado.


 Escolha a faixa etária que será seu público-alvo.
 Leia livros escritos para esta mesma faixa etária.
 Passe tempo com as crianças, observe sua linguagem, como se comunicam e seu modo de
enxergar as coisas.
 Depois de escrever, mostre seu texto para uma criança que você conhece e que pertença à
faixa etária do público-alvo. Se for uma criança pequena, leia para ela e veja como reage
(entusiasmada ou entediada).

Tipos de Literatura Para Diferentes Faixas Etárias

Quando se escreve para crianças, tenha em mente que dois ou três anos é uma diferença muito
grande. Ou seja, escrever um livro para uma criança de dois anos é bem diferente de escrever uma
obra para uma criança de cinco.

Por isso, é importante definir claramente quem é seu público-alvo antes de começar a escrever seu
livro infantil.

Por isso, vou falar um pouco sobre as faixas etárias e o que você precisa ter em mente ao escrever
para este público.

Até 3 ou 4 anos
113

São livros voltados para crianças que não sabem ler e se espera que um adulto faça a leitura para
elas.

Nesta faixa etária, as imagens desempenham um forte papel. Por isso, livros escritos para crianças
até 3 ou 4 anos dependem das imagens para desenvolvimento do enredo.

Em geral, estes livros costumam ter pouco texto, algo em torno de 300 palavras, embora alguns
livros para esta faixa etária não tenham palavras.

São livros que costumam apresentar a ideia de formas, números e cores.

A criatividade de autores e das próprias editoras possibilita que alguns destes livros tenham sons,
diferentes texturas e outros recursos para distrair a criança.

5 e 6 anos

Ao passo que a faixa etária aumenta, a quantidade de palavras segue o mesmo ritmo. Aqui temos
crianças que começam a ler por conta própria. Um livro infantil para uma criança nesta faixa etária
costuma ter entre 1000 a 1500 palavras. Tais livros têm, em média, 32 páginas.

O autor pode começar a trabalhar com aspectos mais complexos destacando a personalidade das
personagens. Pode-se apresentar uma personagem principal que consegue representar os desafios
e emoções de uma criança nesta faixa etária.

O uso de imagens continua sendo importante.

7 e 8 anos

Quando se escreve para crianças entre 7 e 8 anos, o escritor precisa ter em mente que o uso de
imagens ainda é importante. Pode-se até mesmo utilizar uma ilustração em cada página.

O formato passa a ser mais próximo do adulto, e o livro pode ser dividido em capítulos curtos.
114

Fique à vontade para incluir diálogos e cenas de ação. Ainda, lembre-se de manter os parágrafos
sejam curtos. Algo em torno de duas a quatro frases.

Em média, livros para esta faixa etária alcançam 2000 palavras.

8 a 10 anos

Livros infantis para a faixa etária entre 8 a 10 anos começam a se aproximar do que será um livro
para adolescentes.

Em geral, tem entre 30 e 60 páginas.

As imagens ainda podem usadas. No entanto, na maioria das vezes, elas são preto-e-branco. De
qualquer forma, é bom destacar que as imagens começam a se tornar raras em livros para esta faixa
etária, e devem ser utilizadas somente em algumas páginas.

Os parágrafos ainda devem ser mantidos curtos.

10 a 12 anos

Livros feitos para crianças entre 10 a 12 anos podem chegar (e ultrapassar) a marca de 100 páginas.

A trama não está mais focada na personagem principal. Personagens secundárias com
personalidades marcantes são apresentadas e interferem no enredo. Crianças desta faixa etária
costumam ficar “viciadas” em personagens literários.

Além disso, as tramas são mais complexas. Os temas começam abordar temas mais sofisticados,
como história e ficção científica.

Para crianças acima de 12 anos, a temática abordada já podem abordar problemas típicos dos
adolescentes. É o momento em que o livro deixa a área infantil e passa a ser juvenil. Mas aí a história
já é outra.
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CAPÍTULO 36 – DICAS PARA ESCREVER UM LIVRO DIDÁTICO

Um livro didático são compêndios utilizados por professores para a aplicação de disciplinas nas
escolas e universidades.

A produção de um livro didático (desde a pesquisa inicial até chegar às escolas e universidades)
pode levar de dois a cinco anos. Ou seja, trata-se de um projeto para o longo prazo.

Os autores que desejam escrever um livro didático, precisam ter em mente os seguintes pontos.

Planejar o Foco

Antes de escrever um livro didático, você precisa planejar o assunto, o foco e o que o distinguirá dos
concorrentes. Trata-se de um tema específico ou uma abordagem geral sobre diversos aspectos de
uma matéria? É preciso definir isto para não perder o foco enquanto escreve. Dependendo de sua
experiência, você poderá facilmente começar a se delongar em detalhes que fogem do tema proposto.

Por isso, é melhor organizar as ideias previamente e fazer um esboço. Isto é de ajuda para
estabelecer ideias e um cronograma. Se novas ideias surgirem ao longo do processo de escrita,
analise se elas são realmente relevantes ou se fogem do tópico proposto.

Oferecer Diferenciais

Escrever livros didáticos pode ser financeiramente recompensador. Mas atrelado a esta característica
atraente, os editores são proporcionalmente mais exigentes ao selecionar os livros que serão
publicados. Estão procurando por formas inovadoras de apresentar o tema proposto.

Como poderá encontrar brechas nos livros didáticos que já estão no mercado? Converse com
professores. Peça a opinião deles sobre a qualidade dos livros que utilizam e que detalhes poderiam
melhorá-los. Enriqueça seus textos com esta experiência de pesquisas em campo.

Por isso, ao escrever este tipo de livro, esteja disposto a realizar alterações. Se professores ou
mesmo representantes da própria editora lhe disserem que você precisa mudar alguns aspectos do
seu livro didático, acate prontamente as sugestões.
116

Ao enviar seu livro para uma editora, anexe uma proposta com detalhes relevantes, tais como: o
público-alvo, o número de vendas estimado para o mercado, quais são os principais livros e autores
da área. Também não esqueça de mencionar os diferenciais do seu livro e como ele poderá competir
com outros no mercado. É provável que a maioria destas informações a editora já conheça. No
entanto, eles perceberão que você levou em conta todos estes fatores ao realizar as pesquisas e
escrever seu livro.

Características do Texto

Para este tipo de livro é fundamental ser claro e consistente. Isto significa que o livro deve utilizar
linguagem adequada à faixa etária que fará uso da obra. Ou seja, você deve se preocupar não
somente com o que quer transmitir, mas também em como o fará.

Para isso, seria interessante fazer uma pesquisa prévia de outros livros didáticos sobre o mesmo
tema e direcionados ao mesmo público. Analise a gramática, o estilo, a abordagem. Isto é importante
para que você seja capaz de definir em que aspecto seu livro didático será melhor ou diferente
daqueles que já estão nas escolas e universidades.

Enviar Para Análise

Tenha em mente que algumas editoras estão interessadas em participar no desenvolvimento da ideia.
Nestes casos, não seria interessante escrever o livro inteiro para somente depois enviar para a
editora.

Evidentemente, você deve incluir alguns capítulos ao enviar uma proposta para a editora. Antes disto,
porém, peça para um professor analisar tais capítulos e apontar informações que poderiam ser
omitidas, inseridas ou alteradas.

Depois disso, caso seu livro seja publicado, a editora dará sequência com a solicitação junto à
Comissão Nacional do Livro Didático para obter autorização para uso de sua obra nas escolas.
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CAPÍTULO 37 – DICAS PARA ESCREVER UM LIVRO DE MEMÓRIAS

Um livro de memórias é a biografia de uma pessoa. Evidentemente, se a pessoa biografada estiver


viva e for possível entrevistá-la, será muito mais fácil criar um trabalho completo. No entanto, ainda
que o biografado seja falecido, é possível escrever sua biografia.

O objetivo é garantir que os eventos mais importantes da vida de uma pessoa estejam registrados.
Assim, mesmo com o passar das décadas, o legado dela continuará – sua história poderá ser lida por
seus descendentes e outras pessoas.

Determine o Foco da Biografia

Primeiramente, você precisa determinar o que a pessoa fez de valioso e que merece ser destacado
na biografia dela.

Por exemplo, digamos que seja uma pessoa batalhadora que enfrentou muitas lutas, a maioria na
fase adulta, até mesmo um câncer extremamente agressivo. Se este é o caso, você não precisará se
delongar na infância e juventude dela. Neste exemplo, basta você dar uma pincelada nos eventos
deste período inicial e, finalmente, passar para o que realmente interessa.

Faça Pesquisas

A base da biografia são as pesquisas e entrevistas. Pode ser que você saiba muito pouco sobre a
pessoa. Desta forma, precisará de toda a ajuda necessária para colher as informações realmente
importantes.

Se a pessoa estiver viva, é possível entrevistá-la. No entanto, se for falecida, será necessário
conversar com parentes e amigos. No caso de pessoas públicas, famosas, você poderá recorrer a
fontes como bibliotecas e internet para reunir quais dados que estiverem dispersos.

Selecione as Informações Relevantes

Ao passo que pesquisar a vida da pessoa, filtre o que realmente importa. Lembre-se do que falei
sobre o foco da biografia. Cuidado para não se deter em eventos tão banais que talvez façam com
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que os leitores fiquem cansados. Não torne uma vida intensa, interessante, em algo chato e
cansativo.

Assim sendo, após finalizar a pesquisa, não tenha dó de eliminar pontos que não sejam interessantes.

Organize os Capítulos

Como os capítulos serão organizados? É possível organizar a vida da pessoa de acordo com fases.

Digamos que a pessoa não tenha tido uma infância ou juventude muito interessantes. Neste caso,
seria melhor deixar os eventos destas fases reunidos em, no máximo, dois capítulos.

Quanto às fases mais intensas, cuidado para não deixar os capítulos demasiadamente longos.
Talvez haja muita coisa para contar deste período. Desta forma, você pode organizar os eventos de
uma maneira que fiquem distribuídos em mais capítulos.

Neste momento, você já pode começar a decidir quais fotografias farão parte da biografia. Assim,
poderá inseri-las nos capítulos corretos.

Comece Com Algo Empolgante

Um prólogo pode ser usado para começar o livro com algo empolgante. Você pode destacar o ponto
mais impactante da vida da pessoa, sem entrar em detalhes sobre como a história termina. Isto serve
apenas para gerar curiosidade. Assim que finalizar o prólogo, comece o capítulo 1 voltando no tempo,
talvez falando sobre o nascimento do biografado ou até mesmo sobre seus pais e avós.

Por outro lado, pode-se utilizar a parte inicial do livro como prefácio. Lembre-se que alguns
prefácios de biografias são escritos por outras pessoas, como amigos ou parentes próximos.
Aqueles que escrevem os prefácios já destacam algumas das características do biografado, suas
qualidades, seu legado, assim por diante.

Escreva Como Se Fosse um Romance

Não narre a história de uma forma fria, como se fosse um relato jornalístico. Muito pelo contrário,
explore o vocabulário, crie suspense, evoque a emoção.
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Por exemplo, uma narrativa crua de uma biografia poderia começar assim:

Ele nasceu em Minas Gerais durante os anos 50, uma época marcada pelas incertezas
econômicas. Seus pais haviam chegado da Polônia, fugindo da perseguição nazista no país.
No Brasil, encontraram um pouco da tranquilidade que sonhavam dar para os filhos.

Como as letras, palavras e vocabulário podem ajudá-lo a construir algo mais intenso, como se fosse
um romance?

No dia em que seu pai viu uma Walther P38 apontada para sua cabeça, ele fechou os olhos e
pediu a Deus: „Se deixar meus miolos escaparem ilesos, juro que fugirei daqui com minha
família‟. Não se sabe se Deus realmente ouviu a oração do seu pai. O que se sabe é que, sem
qualquer explicação, o soldado abaixou a arma e xingou qualquer coisa em alemão.

Revise a Biografia

Finalmente, quando concluir o livro, passe para a fase da revisão. Novamente, não tenha medo de
cortar o irrelevante. Se alguns eventos parecerem desnecessários, é melhor deixá-los de fora.

Faça correções ortográficas e gramaticais, ajuste o tom, organize as descrições e revise os diálogos.
Estes são passos importantes para escrever uma biografia que seja envolvente do início ao fim.
120

Pós-produção
121

CAPÍTULO 38 – COMO REVISAR UM LIVRO

Lapidar o trabalho literário, dar formas às palavras, conferir suavidade às ideias outrora desajeitadas.

A tarefa de revisar um livro com uma leitura crítica é algo que exige tempo e disciplina.

Para muitos escritores, revisar é reconfortante – a melhor parte do ofício. Para outros, porém, este é
um grande desafio – o momento em que o escritor sai de sua área de conforto e se depara com os
temíveis erros.

Mas…

Revisar é Necessário

Sim, se você está chegando ao final do seu livro, saiba que a revisão é um processo essencial.
Revisar não significa apenas corrigir erros, mas aperfeiçoar o que já estava bom.

A verdade é que muitas vezes escrevemos ideias que parecem soar claras, com perfeição. No
entanto, talvez sejam incompreensíveis para a maioria dos seus leitores.

Neste respeito, a revisão pode ajudar a identificar esses “pontos cegos”, onde palavras confusas
mancham a mensagem que queremos transmitir.

Como Revisar um Texto

Para revisar seu livro é necessário conhecer os processos para isso.

Pessoalmente, gosto de revisar um texto somente após terminá-lo – independentemente de quão


longo ele seja. E é exatamente este o incentivo que deixo para você. Uma tarefa de cada vez.
Primeiro escrever. Depois reescrever.

Mas há outros passos importantes para que a tarefa de revisar seu livro seja mais convidativa para
você.

Antes de Revisar, Distancie-se do Seu Trabalho


122

Após completar seu texto, crie uma distância física e emocional dele. E como se você dissesse para
ele: “vamos dar um tempo”, e seguisse sua vida.

De preferência, no dia seguinte, retome o que escreveu. Você vai notar como o texto que escreveu já
está bem diferente. Você vai enxergá-lo sob uma nova ótica.

As frases desnecessárias saltarão aos seus olhos, as ideias confusas lhe acenarão, pedindo para
serem reescritas ou removidas.

Aqui cabe uma palavra de cautela: ao perceber erros no texto, sinta-se realizado, e não
descontente. Afinal, seria muito pior se você se deparasse com um texto ruim e o julgasse de uma
qualidade impecável.

A capacidade de encontrar erros nos próprios textos é uma qualidade que você precisa prezar – sem
ela, seus textos estarão fadados a ser um amontoado de ideias confusas.

Imprima Seu Trabalho

A maioria das pessoas que avaliará seu livro preferirá fazê-lo com a versão impressa. Muitas editoras
exigem que os originais sejam enviados somente em formato impresso para avaliação (nunca em
formato eletrônico). Portanto, é importante que você leia seu livro da mesma maneira que os editores.

Existe uma razão para isso. Pode até parecer um conceito irreal, mas a grande verdade é que os
olhos percebem saliências em um texto impresso que são despercebidas quando o texto se encontra
na tela do computador.

Portanto, ao revisar seus textos, dê preferência em fazê-lo em uma versão impressa.

Depois, pegue uma caneta e comece o processo de lapidação. Esta precisa ser vista como uma parte
altamente divertida no processo de criação.

Leia em Voz Alta

Se ler o texto em voz alta durante a revisão for algo automático para você, ótimo. Se não, está na
hora de criar este hábito.
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Ouvir a sintaxe escrita é uma excelente maneira de identificar o que não “soa” bem. A mensagem
escrita precisa fluir suavemente em seus ouvidos para conseguir fluir na mente e no coração dos
leitores.

Revise a Revisão – Mas Não Seja um Lunático

Com base nos e-mails que recebo, “revisar a revisão” não é uma solução para muitos escritores, e
sim o grande problema. Isto porque alguns perdem o limite do aceitável e entram em um loop
infinito, sempre revisando, revisando e revisando.

Tenha em mente que revisar é necessário. Depois que você realizou as alterações, precisará verificar
se elas contribuem para a fluência do texto. É provável que perceba que algumas poucas mudanças
ainda precisam ser realizadas, no entanto, em número menor do que a vez anterior.

Pense da seguinte maneira: você revisa um texto pela primeira vez, e realiza 20 mudanças. Na
segunda vez, realiza 10 mudanças. Então, decide fazer mais uma revisão, e nesta última, realiza 15
mudanças… pode parar. Alguma coisa está errada. Nesta altura, suas revisões estão estragando o
texto, em vez de melhorá-lo. Siga isso como regra: se a quantidade de pontos corrigidos não
estiver diminuindo entre uma revisão e outra, é hora de parar.

De modo geral, recomendo revisar um texto apenas duas ou três vezes.

Se colocar na cabeça que precisa revisar até deixar o texto perfeito, esteja certo de que você levará
seu livro incompleto para o caixão. A perfeição está a anos-luz de nós. Somos criaturas oscilantes. O
que achamos belo hoje, pode soar piegas amanhã. Eu posso estar apaixonado agora e escrever: “O
lindo Sol perpetuava sua luz em tua pele”. Mas uma decepção amorosa amanhã me fará reescrever
esta frase como: “O Sol esbofeteava impiedosamente sua luz em tua pele”. Somos impactados a
cada minuto por novos fatos e emoções. E isto molda nossas preferências. A essência continua a
mesma, mas os detalhes de nossa personalidade são afetados. E são esses detalhes alterados que
fazem com que interminavelmente achemos que o livro “ainda não está bom”.

Você não precisa escrever o livro perfeito. O que precisa é ter autodisciplina (ou uma camisa de força)
para saber quando parar.
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Concluindo

Para aqueles que se apegam demasiadamente a cada frase construída, o grande desafio é cortar o
desnecessário. Independentemente se este é o seu caso ou não, a capacidade de editar seus
próprios livros é uma habilidade difícil de desenvolver, mas não há dúvidas de que é um processo
essencial para escritores.
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CAPÍTULO 39 – COMO ESCOLHER UM BOM TÍTULO PARA SEU LIVRO

Observação: as obras citadas neste capítulo estão aqui apenas por causa do seu título. Não se trata
de uma sugestão de livros… até porque, alguns deles, nem cheguei a ler. Trata-se apenas de uma
análise imparcial dos títulos.

Por que escolher bons títulos é importante? Na verdade, alguns livros podem deixar de ser lidos pelo
simples fato do título não cumprir com seu trabalho. Até mesmo editores podem se sentir
desestimulados diante da identificação de uma obra sem qualquer impacto.

No mundo editorial, um título é tão importante quanto as primeiras frases de um livro. Em outras
palavras, ele deve ser capaz de atrair a atenção dos leitores, despertando sua curiosidade. Portanto,
dê detida atenção ao título de sua obra.

Quais fatores e princípios você deve ter em mente ao escrever um bom título para seu livro?

Desperte a Curiosidade

Livros criativos devem apresentar títulos criativos. Assim, se você se depara com um livro chamado
“A Casa” ou “O Cavalo”, convenhamos, este dificilmente lhe chamará a atenção.

Alguns nomes genéricos como “Meu Único Amor” pode representar muito bem o conteúdo de uma
obra. Mas ele desaparecerá em um oceano de outros livros com títulos similares e não conseguirá se
destacar.

Os títulos traduzem aquilo que aguarda os leitores. Portanto, se o título for instigante, ele conseguirá
transmitir uma excelente mensagem.

Como não ter a curiosidade despertada por um título como “O Silêncio dos Inocentes”, de Thomas
Harris? O mesmo pode ser dito sobre “Réquiem Para os Que Ficaram”, de Júlio Belisário.

A criatividade pode se apresentar em títulos longos, como “O Apanhador no Campo de Centeio”. Mas,
títulos curtos também podem ter esta qualidade. O livro “No Buraco” de Tony Bellotto é um exemplo.
O curioso é que, se o título fosse apenas “O Buraco”, faltaria algo. Uma única letra, a inserção de
apenas uma preposição, e somos atraídos para lá, diretamente para o “buraco”.
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Como dica, procure se colocar no lugar dos leitores. Se você estivesse em uma livraria, com
centenas de títulos diante dos seus olhos, qual título seria capaz de atrair sua atenção? Este
exercício pode ser de ajuda ao escolher um bom nome.

Dê Atenção a Cada Palavra

Uma única palavra pode fazer diferença no processo de escolha de um título para seu livro.

Por exemplo, o livro “O Mistério da Máscara de Ferro” vendia aproximadamente 11 mil exemplares
por ano. Então, decidiram mudar o título, torná-lo mais instigante. O livro foi então rebatizado como
“O Homem da Máscara de Ferro” e passou a vender 30 mil por ano.

Como isso é possível? O nome “O Mistério da Máscara de Ferro” destaca um objeto misterioso. Mas,
o título “O Homem da Máscara de Ferro” chama mais a atenção. Um homem? Usando máscara de
ferro? Como assim?

Assim, não olhe para o título apenas como um todo. Analise cada palavra, individualmente e
relacionada ao todo. Cada palavra, cada artigo, cada preposição tem o seu valor ao ser
estampado na capa de uma obra literária.

Use Títulos Fáceis de Serem Lembrados e Pronunciados

“A Viagem de Gooney Hagergofht Pelo Maravilhoso Reino de Anvykaiterny”? Argh!

Grande parte da publicidade que os livros recebem é graças à recomendação de amigos. Por isso,
para que o título esteja na ponta da língua do leitor quando ele for recomendá-lo para pessoas
próximas, é importante que o nome do livro possa ser facilmente lembrado e pronunciado.

Outra desvantagem dos títulos longos é que eles são difíceis de serem “encaixados” suavemente no
design da capa do livro.

Por isso, é possível utilizar um título curto, fácil de ser lembrado e pronunciado (ao mesmo tempo em
que seja instigante). Um exemplo é a coletânea de contos de Mario Filipe Cavalcanti: “Caninos
Amarelados”.
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E, para variar, lá vem exceção:

É verdade que existem títulos longos e complexos. Este é o caso de “O Assassinato de Jesse James
pelo Covarde Robert Ford”, de Ron Hansen. O livro foi aclamado pela crítica e deu origem ao filme
com o mesmo nome. Mas cá entre nós, sem a publicidade que lhe foi conferida, dificilmente
conseguiríamos lembrar deste nome. Por outro lado, não há como negar que o título, apesar de
complicado, tem um aspecto chamativo. E destaco a palavra “covarde” como a grande estrela. Sem
ela, o impacto não seria o mesmo.

Utilizar Elementos Contrastantes

Esta é uma técnica utilizada no universo literário. Por exemplo: “As Crônicas de Gelo e Fogo”. Isto
costuma funcionar porque heróis e antagonistas são opostos. Um título que sugere contraste provoca
os leitores com a promessa de conflitos.

O já citado “O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford” também trabalha com este
artifício. Há um impactante contraste entre o assassinato do temível bandido Jesse James por um
homem, cuja característica principal, é a covardia. É o contraste chamando a atenção.

Títulos Já Existentes (Direitos Autorais e Criatividade)

Como já deve ter percebido, o mesmo título pode ser encontrado em diferentes livros. Não haverá
maiores problemas legais em utilizar um nome comum existentes em outros livross, desde que se
tratem de segmentos literários diferentes. No entanto, se você escrever um romance juvenil e utilizar
o título de um romance juvenil já existente, neste caso, a possibilidade de problemas legais pode
surgir.

Mas esta não deve ser sua única preocupação. Quando você escolhe um título que pode ser
encontrado em outros livros ou filmes, corre-se o risco de duas situações:

 Os leitores ficarem confusos pensando que sua obra se trata do livro de outro autor;
 Passar a ideia de que você é um escritor sem criatividade e originalidade para escrever um
título único. Logo, concluirão os leitores, o livro também não deve ser boa coisa.
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Portanto, ao escolher o nome de seu livro, não recicle. Seja original.

A Dura Realidade

Prepare-se: todo o seu processo de criação para um bom título pode resultar em nada. Digo isso
porque existe a possibilidade dos editores resolverem alterar o nome do seu livro. Se você é um autor
com diversos livros publicados, pode ser que escape desta sina – afinal já conquistou seu público e
provou-se de confiança. No entanto, quando se trata de jovens autores, editores podem realizar
alguns ajustes na obra para torná-la mais comercial. E isto inclui alterar o título.

Um conselho: se isto acontecer com você, não bata de frente com editores. Pode ser que você
ache que seu título seja perfeito. Mas os editores provavelmente estão bem mais familiarizados com
o seu público-alvo. Assim, vale a pena dar-lhes um voto de confiança.

Pensando nesta possibilidade, você talvez analise a possibilidade de enviar diversos títulos
alternativos. Não faça isso! Escolha o melhor título e ponto final.

Agora é aquele momento em que você pensa: “Se o editor vai mudar o título, por que vou perder
tanto tempo criando um bom nome para minha história?”

Entendo seu raciocínio, mas você está se esquecendo de um detalhe importante. O título do seu livro
(escolhido por você) será a primeira coisa que chegará aos olhos dos editores. Se o título for ruim,
acredite, sua obra perderá muitos pontos antes mesmo que a primeira página seja folheada. Neste
momento, o editor pensará: “Se o título é ruim, a obra também deve ser”.

No entanto, se o editor gostar do título, ponto para você, parceiro! Você deu o primeiro passo para ter
sua obra publicada.

A Grande Escolha

Tenha em mente que o nome representará seu livro por tempos indefinidos. Quando as pessoas
encontrarem sua obra em uma livraria, quando comentarem sobre ele nas redes sociais ou quando
sugerirem para amigos, o título será visto ou citado. Portanto, na hora de nomear sua obra, escolha
sabiamente.
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CAPÍTULO 40 – DICAS PARA CRIAR BOAS CAPAS PARA SEUS LIVROS

Não julgue um livro pela capa… Pois é, mas não tem jeito – a gente acaba julgando.

De fato, é inevitável. Você passeia por entre as estantes das livrarias e se depara com a chamativa
capa de um livro. O design da capa, fontes atraentes e imagens chamativas estabelecem um elo
imediato entre leitor e livro. Só depois vamos nos deter em títulos, subtítulos e sinopses.

A grande verdade é que livros e e-books, cujas capas foram feitas sob criteriosos requisitos de
qualidade, têm potencial de atrair mais leitores.

Alguns acreditam que as capas estão em decadência, mas isto não é verdade. Em muitos países
existem até mesmo concursos premiando design de capas de livros.

Assim, o que você, como autor, deve levar em conta na hora de criar ou escolher capas para seus
livros?

Primeiro Passo – Analise o Conceito do Livro

Como definir o conceito de sua obra literária? Parece mais complicado do que realmente é. Na
verdade, tudo o que você tem que fazer é resumir o que você quer transmitir em uma ou duas
palavras.

Que tipo de sensação e pensamento você deseja despertar nos seus leitores enquanto estiverem
lendo suas obras? Tente responder esta pergunta com uma ou duas palavras.

Para facilitar, vou dar alguns exemplos:

 Medo e angústia
 Romance e paixão
 Poder
 Sofrimento e vingança

Note que alguns, como “medo e angústia”, praticamente caminham juntos. Outros, como “sofrimento
e vingança” são sequenciais – ou seja, a personagem sofre e depois busca vingança.
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Faça exatamente isso com sua obra. Quando terminar, este será basicamente o conceito do seu livro.
Agora, você está pronto para ir para a segunda etapa.

Segundo Passo – Encontre Imagens, Cores e Fontes Que Reflitam o Conceito

Agora que identificou o conceito do seu livro, você precisa de imagens, cores e fontes que consigam
transmitir estas emoções.

Suponhamos que seu livro se chama “A Vingança de Elis”. A obra fala sobre uma mulher que passou
por muitos sofrimentos na infância e busca por vingança depois de adulta. O que acha de uma capa
assim?

“Que tosqueira é essa?”, você acabou de pensar.

E tem toda razão. Esta capa não transmite em nada a ideia de sofrimento e vingança. A imagem e as
cores são alegres. E a fonte das letras transmite segurança e proximidade.

Você não precisa ser especialista em design para perceber isso.

Para facilitar sua vida nesta etapa, vou sugerir um pequeno exercício.

Exercício
Assim que finalizar sua capa, em vez de colocar o título e subtítulo, coloque qualquer letra no
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lugar (por exemplo: “hhhhhhh”). Depois disso, mostre a capa para duas ou três pessoas e
pergunte: “Do que se trata este livro?” Se as respostas forem próximas do que está querendo
transmitir, você está no caminho certo. Se as respostas não tiverem nada a ver com o
conteúdo do seu livro, descarte esta capa e comece outra do zero.

Terceiro Passo – Desperte o Interesse

Sim, as capas precisam despertar o interesse. Para isso, todos os elementos presentes devem
direcionar os leitores para este objetivo.

O que pode despertar a curiosidade? Uma dica é apresentar algo diferente. Afinal, se apelar para
recursos muito utilizados em outras capas tenderá a minimizar o impacto do seu livro.

Por exemplo, um recurso muito utilizado em capas de livros são pessoas de costas. Considere
somente alguns exemplos de imagens gratuitas disponíveis no Canvas:

O que acha? Se seu livro tiver a foto de uma pessoa de costas, conseguirá despertar a curiosidade
dos seus leitores? Dificilmente.

É verdade que, com uma imagem assim, talvez você consiga atingir o objetivo mencionado no
segundo passo, ou seja, combinar imagem, cor e fonte com o conceito do livro. No entanto, a
capacidade de chamar a atenção é um aspecto que não deve ser ignorado.
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Mas sejamos realistas: talvez você decida manter uma ideia mesmo que ela não seja original. Com
tantos livros e e-books sendo lançados todos os dias, fica difícil criar algo inédito.

De qualquer maneira, esta dica continua válida. Procure ser o mais chamativo possível com a capa
do seu livro sem desconsiderar o seu conceito.

Quarto Passo (Opcional) – Apele Para a Simplicidade

Ser simples é um recurso poderoso. No entanto, precisa se bem utilizado. Funciona assim: você usa
imagens bastante simples (em alguns casos, nem utiliza). Não usa cores chamativas – há quem
prefira o branco como fundo, e pronto.

O objetivo disso é chamar a atenção para o título do livro e para o nome do autor. Sem imagens
complexas, design requintado, cores revoltosas e confusas.

Capas com design minimalista podem ser extremamente eficientes. Nestes casos, menos é mais.

Analise a capa desta edição de Moby Dick?

Ela combina a simplicidade minimalista com a criatividade. Note o uso da letra Y e D para formar a
figura da baleia.

Esta outra, logo abaixo, não me pareceu convidativa.


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Qual a diferença principal entre elas? Na primeira, o objetivo é chamar a atenção para o título. A
segunda imagem, por outro lado, foca na figura da baleia.

É verdade que obras clássicas são muito chamativas apenas pelo seu título. Basta um fundo branco,
o título em letras garrafais, e pronto! Mas se o seu título for chamativo, você talvez queira arriscar
algo assim, utilizando uma imagem simples (ou nenhuma), sem cores ou designs exagerados.

Quinto Passo – Coloque Mãos à Obra

Na hora de criar capas de livros você tem duas opções.

A primeira opção é utilizar sites que auxiliam neste processo, como o Canvas. Ele oferece imagens
gratuitas de capas já com títulos, subtítulos e nome de autor fictícios inseridos. Você só precisa
alterar estes textos. É possível também fazer alterações nas cores das imagens e no estilo das fontes
para personalizar as capas.

Se ficar na dúvida entre duas ou mais opções de capas, por que não utiliza as redes sociais para
verificar com seus contatos qual a capa mais atrativa? Este tipo de pesquisa também fará com que
muitos opinem quanto ao que pode ser mudado. Em pouco tempo, você obterá um valioso feedback.

A desvantagem de criar capas com serviços online é que você estará limitado ao que estes sites
oferecem. Adicionalmente, utilizar estes recursos gratuitos poderá lhe expor à desagradável surpresa
de se deparar com o livro de outro autor com uma capa idêntica à sua.
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Você ainda pode analisar a segunda opção: contratar o serviço de um capista. Esta pode ser uma
opção viável e com resultados convidativos.

Concluindo

Lembre-se que, apesar dos livros serem essencialmente textos, o uso de imagens e cores corretas
na capa podem ter um impacto positivo sobre a receptividade dos leitores.

Portanto, não ignore a capa da sua obra literária. E muito menos a contracapa. No próximo capítulo,
vou conversar com você sobre a página de autor.
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CAPÍTULO 41 – A IMPORTÂNCIA DA PÁGINA DE AUTOR

Ok, você terminou o seu livro. Ele está prontinho para ser impresso ou lançado em formato digital.
Mas ainda falta uma página para conclui-lo: a página do autor.

Todos nós sabemos que as obras literárias possuem uma breve biografia do escritor. Esta página
também é conhecida como página do autor.

De modo geral, a página de autor fica no final do livro, na contracapa (sim, sem hífen). A contracapa
também é conhecida por alguns como quarta capa, embora esta última expressão seja mais comum
lá no planeta Saturno.

Assim, os escritores utilizam esta página para apresentar sua biografia. Em alguns casos, poucas
linhas são usadas. Em outros, chegam a ocupar duas ou três páginas.

Diante de sua importância, surgem algumas dúvidas:

Como escrever uma página de autor eficiente? Que informações devem aparecer ali? Qual o
tamanho ideal?

Vamos considerar isto a partir de agora.

O Que Incluir

O ideal é que a biografia do autor seja curta. Este não é o lugar mais adequado para você escrever a
história de sua vida. Embora alguns, como mencionado, usem até mais de uma página, meu
conselho é: não ceda a tentação. Procure fazer uma biografia curta. Tente não ultrapassar as 500
palavras. Se der uma olhada na página de autor deste livro, verá que utilizei menos de 100.

De modo geral, a biografia do autor é utilizada para destacar aspectos profissionais. Isto inclui sua
educação, experiência no campo literário, nome de livros ou outros trabalhos já publicados. Isto deve
ser mencionado primeiro.

Depois, é possível incluir informações pessoais, se desejar. Você pode citar detalhes como
relacionamentos (por exemplo, se é casado), outros interesses fora do universo da literatura ou até
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mesmo o nome do seu gato.

Você também pode incluir seus contatos, como URL do seu site, e-mail ou perfis nas redes sociais.

Se estiver escrevendo um livro de não-ficção, neste caso, é especialmente útil incluir informações
que o coloquem como autoridade no assunto: tempo que trabalha na área, cursos realizados,
prêmios conquistados, palestras ministradas, etc.

Tom e Abordagem

O tom que você utilizará na página de autor dependerá do livro que escreveu. Um livro de não-ficção
exige uma apresentação formal. Por outro lado, se for um livro de crônicas humorísticas, poderá
utilizar um tom cômico para se descrever.

O importante aqui é não inverter as bolas. Nada de escrever uma página de autor com pinceladas de
humor se o seu livro é sobre a criminalidade na América. E também não precisa apresentar-se com
exacerbada seriedade e formalidade na contracapa de um livro infantil.

Ponto de Vista

Não escreva sua biografia em primeira pessoa (“Eu publiquei tantos livros, incluindo a obra…”).

O ideal é apresentar-se em terceira pessoa: “João da Silva publicou tantos livros, incluindo a obra…”

Primeira Frase

Cite seu nome completo na primeira frase da página do autor – e somente nela. Nas frases seguintes,
ao fazer referência a si mesmo, use somente o primeiro nome ou utilize os pronomes “ele” ou “ela”.

Na primeira frase, inclua o número de livros que já publicou. Se você já publicou algum livro que
ganhou uma certa notoriedade, cite-o por nome. Além disso, se algum livro seu não teve a
publicidade necessária, e você acredita que ele ainda poderá alcançar o sucesso, use a biografia do
autor para mencioná-lo.

“João da Silva tem 12 livros publicados, incluindo a obra „Como Coisar o Troço‟”.
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Se sua lista de obras estiver repletas de livros fracassados, sem potencial de fazer sucesso, poderá
apenas destacar a área onde atua.

“João da Silva já publicou 12 livros de crônicas e poesias.”

Revisar Para Melhorar

Depois de escrever a página do autor, você deve revisá-la. Remova o irrelevante, acrescente o
essencial que havia ficado de fora. Logo, você conseguirá atingir o equilíbrio informativo que tanto
precisa.

Em resumo, a página do autor é uma forma que você tem para se apresentar aos seus leitores. Para
isso, é preciso escolher as informações e palavras certas para informá-los corretamente.
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CAPÍTULO 42 – PUBLICAR UM LIVRO – O GRANDE MOMENTO

Chegamos ao grande momento. Com o livro finalizado, você anseia disponibilizá-lo para as grandes
massas.

No entanto, permita-me dar uma sugestão para todos os novos escritores que adquiriram este e-book.
Em vez de partir do zero em direção à publicação de um romance, considere a possibilidade de
colocar textos menores (como contos e crônicas) à disposição do seu público-alvo. Isso não é pensar
pequeno. Quando você consegue criar uma audiência consistente e adquirir habilidade em escrever
textos, então poderá partir para o desafio maior: publicar um livro.

Por isso, este capítulo será dividido em duas partes. Primeiramente, os passos para você publicar
pequenos textos. Depois o caminho até a publicação de livros.

Como e Onde Publicar Pequenos Textos

Após escrever um texto curto, como um conto ou uma crônica, é hora de disponibilizar sua criação
para o mundo. Como fazer isso?

Ter um blog parece a resposta imediata e única. Imediata, sim. Mas não a única. Veja outras opções
para publicar seus textos e ganhar notoriedade.

Revistas

Como sabemos, as revistas não são muito propensas a publicar histórias de ficção (estamos falando
de Brasil). Na verdade, é muito difícil conseguir publicar textos de ficção em uma revista.

Mas, pode ser que algumas ofereçam um pequeno espaço onde, dependendo da qualidade do seu
texto, você consiga uma oportunidade. Isto pode ser facilitado se considerarmos as versões online,
onde aparecem artigos não disponibilizados nas versões impressas.

Uma dica é procurar revistas de nicho, aquelas focadas em um assuntos específicos (como esportes,
pesca, saúde, etc). No entanto, é interessante que o texto tenha alguma relação com a temática
da revista.
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Visto que o espaço em revistas de grande circulação é muito competitivo, procure focar inicialmente
em revistas locais. Verifique se há revistas sendo produzidas em sua cidade ou região, e veja como
proceder para enviar seus textos.

Sempre verifique se a revista impõe requisitos sobre os textos: tamanho máximo (em números de
palavras ou caracteres), se é necessário o envio de algum currículo em anexo, etc. Siga
integralmente as orientações de envio. Se o limite são 500 palavras e seu conto tem 550, não tem
jeito. Vai ter que cortar. Do contrário, você perde a chance de publicar seu texto.

Esteja preparado para a possibilidade do pessoal da redação entrar em contato e pedir para fazer
algumas alterações. Isto é comum em algumas revistas.

Por fim, lembre-se que você não receberá qualquer centavo para publicar seus textos. Encare esta
publicação como uma publicidade gratuita. Você terá a satisfação de ver seus textos publicados, e
promoverá a marca que está divulgando, neste caso, você mesmo.

Jornais

A maioria dos princípios citados no subtema anterior, aplica-se também aos jornais. Mas é preciso
reconhecer que grande parte dos jornais impressos está praticamente extinta.

No entanto, você pode focar nos jornais online, enviando seus textos para análise e publicação nos
sites.

Concursos Literários

Em uma rápida pesquisa na internet, você verá que há diversos concursos literários acontecendo no
Brasil e outros países da língua portuguesa. Alguns oferecem quantias em dinheiro para os
vencedores. Outros, porém, oferecem a oportunidade para seu texto aparecer em alguma antologia.

Novamente, é preciso pensar na publicidade gratuita. Não pense somente em termos financeiros. Se
você é um escritor iniciante, o que precisa no momento é de um espaço para divulgar seu nome e
suas obras. Uma antologia, mesmo que não lhe seja pago um centavo sequer, será de ajuda neste
objetivo.
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Publicar Um Livro Com Coletâneas

Como já mencionei, lembre-se que a publicação de pequenas crônicas e contos ao longo dos anos
poderá render um livro no futuro, uma coletânea.

Neste caso, há dois fatores que precisa dar atenção para aumentar as chances de uma editora se
interessar:

 Faça uma coletânea de textos com temática semelhante: se prestar atenção em algumas
coletâneas de crônicas de autores como Luís Fernando Veríssimo, verá que seus livros
costumam seguir um tema geral. Assim, reúna seus contos e crônicas orientados pelo mesmo
tema ou personagem. Sequencie os textos de forma estratégica. Isto aumenta a probabilidade
dos textos serem aprovados e convertidos em um livro impresso;
 Inclua textos inéditos: é mais difícil para uma editora publicar uma coletânea de textos que
estão disponíveis na internet, gratuitamente. Por isso, é imprescindível que seja incluído
alguns textos inéditos (quanto mais, melhor). Obviamente, estes textos inéditos devem
respeitar o item anterior, ou seja, ser da mesma temática que os demais.

Sempre que remeter suas obras para uma editora, mencione todas as revistas e jornais onde você já
foi publicado. Isto aumentará sua credibilidade como um possível autor de grande projeção.

DICA: quando se deparar com um novo escritor no mercado, verifique atentamente a página de
agradecimento do seu livro, se existir. Muitos autores costumam agradecer às revistas e sites
onde suas histórias foram publicadas pela primeira vez. Percebe como isso pode ser uma excelente
dica para você?

Envio de Livros Para Editoras

No tradicional método de publicação, as editoras assumem as despesas com a produção dos livros e
pagam ao escritor uma comissão pelas vendas. Para isso, a editora deve ler sua obra. Caso seja
aprovada, um contrato será preparado.

Antes de enviar um livro para uma editora, verifique se ela publica obras do seu gênero literário.
Não adianta enviar um romance para editoras que publicam apenas livros infantojuvenis. Isto é
desperdício de tempo e dinheiro.
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Verifique cuidadosamente o processo para envio das obras. Há editoras que solicitam o livro
completo. Outras pedem apenas uma sinopse e, talvez, os primeiros capítulos. Algumas editoras
pedem que seja enviado o original impresso, ao passo que outras aceitam no formato digital. Por fim,
sempre há editoras que deixam bem claro que não estão recebendo originais. Portanto, leia as
diretrizes de envio e respeite todas elas – este é o primeiro passo para ter seu livro publicado.

Por isso, antes de enviar seu livro para uma editora, visite o site delas e confira os requisitos
especificados.

Que Material Devo Submeter à Editora

Como mencionei acima, cada editora possui seus próprios requisitos quanto ao que deve ser enviado.

De modo geral, esteja atento ao seguinte:

 Personalize a carta de apresentação: não utilize uma carta padrão para ser enviada a todas
as editoras. Personalize a apresentação de acordo com a editora que receberá seus originais.
Mencione porque você se interessou por ela e porque acredita que é a editora ideal para a
publicação da sua obra.
 Deixe claro o que está oferecendo: em um documento a parte, mencione qual o gênero, a
quantidade de palavras e uma sinopse de sua obra. Se planeja fazer deste livro uma série,
mencione isso também. No tocante à sinopse, inclua o nome da personagem principal e uma
pequena descrição dos seus conflitos e objetivos. Mas não se estenda demais. Deixe o sabor
do suspense no ar – isto poderá induzir o agente da editora a querer ler sua obra;
 Inclua uma pequena biografia: além de dados básicos, como nome e idade, inclua o nome
de jornais e revistas onde já foi publicado. Se for o seu caso, cite prêmios que ganhou em
concursos literários, se tem obras publicadas de forma independente, etc. Caso sua profissão
lhe dê maior credibilidade para escrever um livro, também poderá mencioná-la;
 O que nunca mencionar: nunca mencione que seus amigos amaram seu trabalho, que seus
familiares disseram que você deveria publicar um livro (sério que a mamãe gostou?), que será
um best-seller tão somente alguém lhe dê uma oportunidade. Também não inclua eventuais
rejeições anteriores da parte de outras editoras.

Seja Organizado
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Você pode criar uma planilha com o nome das editoras e a data de envio dos originais. Poderá incluir
também a data da resposta. (Lembre-se que algumas editoras não respondem, em caso de rejeição
da obra). Assim, será mais fácil manter-se organizado.

Um modelo de planilha pode ser como esta, abaixo:

Prepare-se Para Ser Rejeitado

Ter suas obras rejeitadas por editoras é algo que muitos mestres da literatura já enfrentaram. E,
acredite, tem seu lado bom. A rejeição faz com que nos convençamos de nossas limitações, que não
nos achemos “o tal” e que sempre há campo para melhora. Por isso, encare as respostas negativas
como encorajamento.

O que faz a diferença é sua disposição em continuar aprendendo, a persistência em continuar


tentando. Nunca desista. Acredite no seguinte: a cada “não” que você recebe, você dá mais um
passo em direção ao “sim”.

Livros Difíceis de Serem Publicados

Quando se é um novo escritor desconhecido, sem ser uma autoridade em qualquer campo, a tarefa
para conseguir publicar um livro é bem mais difícil. No entanto, alguns livros são, por si só, mais
difíceis de serem publicados. São eles:

 Livros que excedem 100 mil palavras;


 Poemas;
 Livros de não-ficção, quando o autor não é uma autoridade reconhecida no assunto;
 Biografias e autobiografias.

Em todos os casos acima, me refiro a pessoas desconhecidas, que nunca publicaram um livro. E
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apenas para enfatizar: estes são tipos de obras mais difíceis de serem publicados, mas não
impossíveis.

Agências Literárias

Algumas editoras não recebem originais diretamente dos autores. Nestes casos, elas recomendam
que o escritor procure uma agência literária.

As agências representam o autor no mercado editorial. Elas são intermediárias para a apresentação
de originais às editoras e, em muitos casos, este é o melhor caminho para viabilizar a publicação de
seu livro.

Por isso, faça uma busca na internet por tais agências e verifique as diretrizes para enviar seus
originais.

Publicação Independente

Jovens escritores também podem tentar o caminho da produção independente. Não se trata de um
método fácil. Existem desvantagens que você precisa conhecer. A principal delas é a questão
financeira. Neste formato de publicação, o escritor independente paga pelas cópias impressas e
depois tem a tarefa de vender o livro para outras pessoas.

Tenha o cuidado de não ceder à tentação e fazer uma tiragem muito grande. Talvez, em um primeiro
momento, 50 cópias sejam suficientes.

Mas há também editoras que imprimem por demanda. Neste processo, a editora imprime somente a
quantidade de livros necessários, ao passo que for sendo solicitada pelo autor. A desvantagem desta
opção é que cada cópia acaba saindo bem mais cara.

Publicar é Bom, Escrever é Melhor

Embora publicar um livro seja o alvo da vasta maioria dos escritores, você deve se concentrar em
escrever. Com a habilidade adquirida naturalmente neste processo, será mais fácil ter seus livros
publicados, futuramente.
144

CAPÍTULO 43 – O QUE SÃO BOOK TRAILERS?

Para início de conversa, gostaria de destacar que book trailer não é exatamente uma ferramenta de
vendas.

No entanto, se for bem-feito, pode ajudar não apenas na promoção do livro, mas também do autor. É
uma estratégia de marketing de literatura que servirá como diferencial do autor.

Não Me Venha Com “Discursinhos”

O que é preciso considerar na hora de escrever o roteiro para o trailer do seu livro?

Pessoalmente, acho uma chatice autores que aparecem nos vídeos discursando “animadamente” sua
sinopse. Um sorrisinho amarelo, a falta de intimidade com as câmeras, aquele discurso de vendedor
que não convenceria nem os amigos… Melhor esquecer!

Livros envolvem um mundo paralelo, um lugar distante da realidade. E é exatamente para esta
dimensão paralela que queremos levar nossos leitores. Colocar o autor no trailer acaba quebrando
esta possibilidade.

Storyboard

Um passo inicial para fazer um book trailer é desenvolver o storyboard.

Storyboard é um roteiro que utiliza uma série de desenhos e ilustrações para apresentar as
cenas, cronologicamente.

Aqui não é necessário realizar um trabalho artístico de alta qualidade. Apenas um roteiro visual para
ajudá-lo a organizar a sequência das ações do seu livro.
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Qual a Duração?

As respostas variam. No entanto, procure desenvolver um book trailer com menos de 2 minutos. Se
conseguir fazer um trailer de um minuto, ou até menos, melhor ainda.

Na verdade, este é o grande desafio. Após concluir as filmagens, é provável que você tenha muito
material. Entra em cena a necessidade de realizar uma edição profissional. Cortar o que pode ser
cortado, manter o que deve ser mantido. É um trabalho parecido com a edição do livro que você
escreveu. Neste momento, é preciso se despir de apegos emocionais. Somente assim você
conseguirá um vídeo enxuto e, ao mesmo tempo, eficiente.

Use Crowdsourcing

Crowdsourcing envolve a reunião de um grupo de pessoas determinadas a resolver um problema ou


criar algo.

Alguns autores já utilizaram esta técnica na criação de book trailers. Funciona assim: os leitores são
convidados a enviar pequenos vídeos que serão editados e utilizados no book trailer. Pequenos
brindes e prêmios podem ser oferecidos aos selecionados para estimular o envio dos vídeos.

Por exemplo, um autor lança um livro não-ficção sobre condicionamento físico. Os leitores são
convidados a enviar pequenos vídeos (por exemplo, de 4 a 6 segundos) praticando alguma atividade
146

física. O autor seleciona alguns trechos, faz a edição e pronto!

Quais as vantagens desta estratégia?

 Menos trabalho com filmagens;


 Seu livro ganha promoção gratuita ao passo que os leitores compartilham as experiências de
filmagem com suas redes de contato;
 Você é exposto a muitas ideias que poderão ser aproveitadas não apenas no livro atual, mas
em futuras obras.

Música

Um book trailer precisa de um fundo musical apropriado. Se você não for um compositor, precisará
recorrer a terceiros. Talvez consiga temas gratuitos para utilizar em suas filmagens. Também pode
procurar obter o licenciamento para utilizar alguma música de sua preferência, bem como arcar com
os custos envolvidos. Outra opção é contratar um compositor.

Há ainda uma alternativa interessante: utilizar o crowdsourcing mencionado acima. Neste caso, você
precisará convidar leitores que sejam músicos a criar peças musicais para seu trailer.

Faça Um Trailer Envolvente

Não faça do trailer o comercial de um produto. Se parecer um comercial, está errado. O trailer deve
focar a ideia ou a trama do seu livro. Portanto, concentre-se em desenvolver uma história envolvente,
capaz de engajar seu público que já é naturalmente bombardeado por conteúdo 24 horas por dia.

Uma dica: imagine que está criando o trailer de um filme, e não de um livro.

É Possível Fazer Um Book Trailer Sem Gastar?

Como mencionado, o book trailer não deve ser encarado como uma ferramenta de vendas. Mas pode
ajudá-lo a promover sua obra e também seu nome junto ao grande público.

Mas para fazer um bom trabalho, evidentemente, investir é necessário. Você não precisará de
equipamentos de última geração, nem contratar grandes agências. De qualquer forma, precisa se
147

preparar para enfiar a mão no bolso se quiser um serviço de qualidade.

No entanto, é possível investir bem pouco (ou até mesmo nada) recorrendo a imagens, vídeos e
trilhas de áudio gratuitos da Creative Commons. Neste caso, porém, é mais provável que a qualidade
deixe a desejar. O que não é nada bom, já que pode prejudicar a projeção do livro.

Divulgação

Uma vez concluído, é hora de divulgar o trailer do seu livro. Como princípio desta tarefa, você deve
subir o trailer para uma plataforma de vídeos, como o YouTube.

No entanto, quando falamos em YouTube, estamos nos referindo à maior plataforma de vídeos do
mundo e o segundo maior mecanismo de pesquisa do planeta (atrás apenas do Google Pesquisa).
Portanto, ser encontrado ali, é uma tarefa muito difícil.

Por isso, você deve recorrer a outros meios para divulgar seu trailer. Publique-o em seu blog,
compartilhe-o nas redes sociais. Um maior alcance pode ser conseguido utilizando a plataforma de
anúncios do Facebook.

Faça Bem Feito ou Não Faça

Cuidado para não estragar um grande livro com um trailer ruim. Meu melhor conselho neste capítulo
é: ou faça bem-feito ou não faça.

Lembre-se: você não tem nada a perder se deixar de fazer um book trailer. Mas perderá muito se
fizer um ruim.
148

Problemas do
Escritor
149

CAPÍTULO 44 – COMO LIDAR COM PROBLEMAS EM TERMINAR O LIVRO

Para muitos, o grande desafio é começar o livro. Para outros, o fantasma é conseguir terminá-lo.

Quando falo em “terminar um livro” não me refiro à escolha das últimas frases. Mas, sim, ao ato de
conseguir concluir algo que começou.

Este é o seu caso? Possui vários livros iniciados e que nunca foram concluídos? Acumulou diversos
contos perdidos em gavetas empoeiradas? Já teve um blog literário, mas acabou abandonando-o por
qualquer motivo?

Se sim, muito provavelmente já pensou: “Que escritor(a) de araque que sou”.

Mas, fique tranquilo! A maioria dos escritores passa ou já passou por isso. Não se sinta o alienígena
da vez.

Mas, é claro, não podemos negar: trata-se de uma situação que pode se transformar em algo
bastante prejudicial, especialmente para quem quer ser um escritor profissional.

Os Principais Motivos

Veja os 3 principais motivos que levam escritores a não conseguir terminar suas obras e como lidar
com elas.

 Falta de Tempo: se ficar esperando o momento em que terá tempo de sobra, acredite, ele
nunca chegará. Não há outra forma de lidar com este fantasma a não ser enfrentá-lo. Assuma
a ideia de que escrever não é uma questão de tempo, mas sim de compromisso. Tempo não
existe. O que existe são prazos e razões para cumpri-los.
 Falta de Inspiração: já falei bastante sobre isso no capítulo sobre como encontrar inspiração.
Você conseguir se inspirar, sempre siga as dicas que dei ali.
 Falta de Foco: o escritor é invadido por diversas ideias e tenta dar conta de tudo. Escreve
contos, poesias, inicia um ou dois romances, dedica-se à autobiografia. E nesta chuva de
projetos, o que acontece frequentemente é que nenhum deles chega a ser concluído.

O problema de não conseguir terminar seus livros também pode ocorrer devido a outras razões:
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 Você percebe que o livro está se transformando em algo diferente do que esperava
inicialmente, quando a ideia original veio à tona.
 Você começa a enfrentar terríveis bloqueios. Isso suga sua energia e criatividade. Diante do
trauma, você prefere abandonar o livro.

De certa forma, tempo perdido. Ou por acaso conhece editoras que publicam romances inacabados?

Portanto, se nutre o sonho de colocar suas obras nas mãos dos seus leitores, você precisa aprender
a terminar o que começou. Um escritor talentoso que não conclui seu romance, não é um
romancista.

Assim, apresento algumas dicas que podem ajudá-lo a terminar seu livro.

Não Inicie Novos Projetos

Sei como é tentador quando, subitamente, você é invadido por uma ideia genial para um novo
romance. Sei como é complicado deixá-la de lado, quando parece ser um presente dos céus para
você revolucionar a literatura mundial. No entanto, se você quiser concluir seus livros, precisa
aprender a parar de iniciar novos projetos, por mais atraentes que eles sejam.

Para conseguir isso, você precisará de uma boa dose de disciplina. E isto tem tudo a ver com
profissionalismo.

Portanto, siga isto como uma regra: você não começará novos projetos enquanto não terminar
seu livro atual. Mas, e se eu tiver alguma ideia genial? Bem, neste caso, anote-a em um caderno.
Posteriormente, quando terminar seu projeto atual, você poderá se voltar para sua nova ideia.

Escolha um Livro Para Se Dedicar Integralmente

Se tiver diversas obras iniciadas e não concluídas, a primeira coisa a fazer é escolher uma que
receberá sua total e indivisível atenção. Tal obra passará a ser sua prioridade. A grande questão é:
como escolher?

Os critérios que poderão ajudá-lo nesta escolha são os seguintes:


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 Selecione a obra mais curta;


 Selecione a obra na qual você investiu mais tempo;
 Selecione a obra que está mexendo com suas emoções.

Só Inicie Obras Que Você Desejaria Ler

Pode parecer ilógico, mas muitos jovens escritores iniciam obras que jamais leriam, caso elas fossem
escritas por outros autores. Por exemplo, um autor escreve um romance histórico, sendo que nunca
gostou de história. Esta é uma falha cometida por escritores que querem escrever livros que
vendem, em vez de se dedicarem a histórias que amam.

Lembre-se que um livro é um projeto que pode se estender por meses ou anos. Por este motivo, você
deve se dedicar a tramas capazes de entretê-lo durante longos períodos.

Portanto, antes de qualquer coisa, pergunte-se: se este livro tivesse sido escrito por outro autor,
eu teria interesse em lê-lo? Se tem dúvidas, talvez seja melhor nem iniciar esta obra. Do contrário,
muito provavelmente, ela se tornará outro livro inacabado.

Antes de Tudo, Escreva um Rascunho

Em vez de dedicar horas e dias para cada capítulo, faça um breve resumo de cada um deles. Deixe
para escrever os diálogos e detalhes descritivos depois. Tente resumir cada capítulo em poucas
palavras (de 100 a 300 palavras). Resista à tentação de se dedicar com intensidade a cada página.
Se o seu problema é a dificuldade em terminar seus livros, um rascunho de cada capítulo pode ser o
elemento necessário para resolver isto.

Depois que terminar o rascunho do último capítulo, você poderá voltar ao começo da obra e
efetivamente escrevê-la. Aí sim poderá se dedicar intensivamente horas e dias para cada capítulo.

Defina Metas

Livros inacabados trazem consigo um fardo preocupante: tratam-se de obras já iniciadas e que, por
alguma razão, não conseguiram mantê-lo estimulado e focado. Consequentemente, são projetos
complexos. Por isso, não são obras que você conseguirá finalizar em apenas alguns dias. Visto que,
152

na maioria dos casos, são projetos com conclusão ainda distante, você precisará definir algumas
metas para não desistir novamente.

Neste caso, seja honesto ao determinar sua capacidade diária de produção. Especifique a
quantidade de páginas ou palavras que escreverá por dia.

Metas também podem ser definidas para o longo prazo. Por exemplo, concluir uma determinada
quantidade de capítulos do seu romance até o final do mês.

O importante é não deixar a produção entregue ao acaso. Você já teve uma experiência negativa
com este livro. Se não estabelecer metas, em pouco tempo, abandonará o projeto novamente. Assim,
seja organizado e disciplinado, e siga de perto suas metas diárias.
153

CAPÍTULO 45 – COMO SABER SE MEU LIVRO NÃO PRESTA

Bons escritores já foram escritores ruins. Com prática, talento e aplicação de alguns princípios
desenvolveram-se em exímios autores capazes de deixar você e eu de boca aberta. Grandioso é o
momento em que cruzamos a fronteira e deixamos de ser autores risíveis para sermos escritores
respeitáveis.

O grande desafio é saber se já cruzamos esta linha divisória. Na dúvida, o autor acumula projetos
literários sem saber se devem ser reavaliados ou definitivamente descartados.

Assim, pergunte-se: como saber se aquela obra que tenho salva no laptop deve ser aproveitada ou
simplesmente apagada?

Vou considerar com você alguns sinais que indicam se nossos projetos literários ainda merecem uma
chance de existir ou se já passou da hora de virarem cinzas. E no próximo capítulo vou dar algumas
dicas de como transformar um livro ruim em um livro envolvente.

Você Se Sente Embaraçado ao Ler o Que Escreveu

Sabe aquela pontada de embaraço que às vezes sentimos quando lemos um texto antigo? Não estou
falando da frustração diante de uma obra que você sabe que pode melhorar. Esta autocrítica é
importante para melhorar uma obra e criar livros mais interessantes. Com “embaraço”, estou me
referindo à vergonha por ter sido capaz de escrever algo tão ruim, próximo de uma abominação.

Se acredita que seu livro é realmente horrível, estando além de salvação, independentemente dos
ajustes que possam ser realizados, talvez você devesse confiar no seu instinto. Não estou dizendo
que esta avaliação será sempre confiável, mas no mínimo, deve ser usada como critério inicial
nesta análise.

Porém, antes de desistir do seu livro, leia o capítulo seguinte. Ali apresento algumas dicas de
pequenas mudanças que podem fazer muita diferença no resultado.

O Projeto Piora Após Uma Pausa


154

Há projetos que exigem demais de nós, devido sua complexidade e intensidade. Nestes casos, é
importante “dar um tempo”. O objetivo é recobrar novo fôlego antes de reiniciar o processo criativo.
De modo geral, quando retomamos o trabalho após esta pausa, costumamos ser menos críticos.
Aquilo que era “ruim” passa a ser “suportável”. O que era “suportável” pode até mesmo se tornar
“interessante”. Isto também acontece nos relacionamentos humanos – a distância faz percebermos
certos valores que, na proximidade, não notávamos.

No entanto, se depois desta pausa (dias, semanas ou até meses) você reler sua obra e ela parecer
ainda pior… você tem picador de papel por aí? O botão “Delete Para Sempre e Nunca Mais Me
Incomode” também serve.

Os Elogios Que Recebe São Suspeitos

Nossos leitores têm um verdadeiro dicionário de palavras para definir nosso livro. E com tantas
opções, eles podem dizer que nossa obra literária é terrível, sem ao menos usar palavras ofensivas.
Cabe ao autor perceber o que estes “elogios” querem dizer.

Um dos termos mais recorrentes para definir um texto ruim é a palavra “interessante”. Você posta um
artigo em seu blog e recebe diversos “interessante”. Bééééé… (sinal de alerta indicando perigo na
fábrica).

É evidente que receber um ou outro “interessante” faz parte do ofício. Shakespeare também já foi
elogiado assim. No entanto, quando a maioria dos leitores utiliza esta palavra para definir seu texto,
ou outro “elogio” com apenas uma palavra, seu alarme deve soar.

O escritor medíocre não consegue perceber as entrelinhas e pode infelizmente suspirar de encanto
diante de um elogio que não passa de uma crítica disfarçada.

O Protagonista é Intragável

O protagonista é seu maior aliado em escrever um bom livro. No entanto, se ele deixa a desejar, todo
o livro corre sério risco. Mesmo que sua obra possua outros elementos atraentes, como uma boa
narrativa, se o protagonista for intragável não há possibilidades do livro ter sucesso.
155

Há alternativas viáveis para corrigir este problema. Fazer mudanças abruptas na personalidade da
personagem é uma delas. Eliminá-la por completo e dar vida a outro protagonista, é outra opção.

No próximo capítulo, falo mais sobre isso.


156

CAPÍTULO 46 – AS FALHAS QUE LEVAM ESCRITORES A DESISTIR DOS SEUS LIVROS

Agora, quero conversar com você não somente apontando as falhas que levam escritores a desistir
de suas histórias – como subentendido pelo título deste capítulo. Mas também quero dar algumas
dicas de como você pode transformar um livro ruim em um bom livro.

A História Errada

Já aconteceu de começar uma narrativa e, após algumas dezenas de páginas, perder o interesse
nela?

Este é um dos sintomas de que você está na direção errada. O começo do livro foi bom, mas o
desenrolar dos eventos levou você (e levaria os leitores) para uma trajetória desinteressante.

Outro sinal de que o livro está na direção errada é quando uma subtrama se torna mais interessante
do que a trama principal.

Portanto, recorra ao seu livro abandonado e veja quando é que você começou a perder o interesse
nele. Faça a seguinte avaliação para ver se a escolha da trama principal foi errada.

 O interesse pela trama principal não consegue se manter ao longo do livro?


 As subtramas são mais interessantes que o conflito principal?

Há casos em que o desinteresse não significa que tomamos a direção errada. Mas que,
erroneamente, achamos que a história renderia muito, quando ela não tinha muitos frutos a oferecer.

Nestes casos, você talvez precise reformular a trama principal. Não é nada fácil selecionar grande
parte do que escrevemos e jogar no lixo. Mas como já disse diversas vezes neste livro, remover o
inútil faz parte da rotina dos bons escritores.

O Protagonista Errado

Quando você iniciou a história, tinha um enredo em mente. E para este enredo, você tinha o
protagonista ideal.
157

No entanto, ao passo que você escrevia páginas e mais páginas (a temível surpresa!), uma
personagem secundária começou a gerar mais empatia. Inconscientemente ou não, torna-se mais
interessante descrever (e ler) sobre esta personagem do que sobre o protagonista.

Como já destaquei no capítulo anterior, escolher o protagonista errado pode arrastar um livro
para o fundo de um poço. O autor pode desanimar ao longo da escrita e até mesmo abandonar a
obra.

Como solucionar este dilema? Talvez você não precise mudar o protagonista. Somente alterar sua
personalidade, seu histórico ou outras características. Note que não se trata de mudar a trama do seu
livro, mas somente a reação psicológica, emocional e física da personagem principal aos eventos.

Portanto, se tiver um livro abandonado, recorra a ele agora e responda estas perguntas:

 O meu protagonista é o ideal?


 Ele precisa ser reformulado?
 Ou o ideal é escolher outro protagonista?

Ponto de Vista Errado

Talvez você já tenha percebido. Mas a mudança de perspectiva da narração de um livro, o ponto de
vista, tem um impacto gigantesco sobre nossa sensação ao lê-lo.

Em outras palavras, isto significa que se uma literatura é interessante quando narrada em terceira
pessoa, pode se tornar um suplício caso seja narrada em primeira pessoa. E vice-versa.

Portanto, se você perdeu interesse em seu livro e entregou-o de bom grado para as traças, talvez
você simplesmente tenha escolhido o ponto de vista errado.

Para entender melhor sobre as limitações e vantagens de cada ponto de vista, releia o
Capítulo 25 onde falo sobre escrever em primeira e terceira pessoa.

Você sabia que existem alguns livros, pela sua própria natureza, que se forem narrados em primeira
pessoa, perdem muito? Por exemplo, é o caso de livros épicos e de ficção científica. Nestes formatos,
narrar em primeira pessoa limita o autor quanto a descrever elementos muito maiores da história.
158

Por outro lado, se você está escrevendo um livro sobre a jornada do protagonista em busca da
superação de um trauma, sem dúvida, perderá muito se narrar a história em terceira pessoa.

Assim, recorra agora ao seu livro abandonado e faça esta análise:

 O ponto de vista que escolhi é o ideal?


 Se eu alterar o ponto de vista, a história se tornará mais interessante?

Se não tiver certeza, experimente reescrever um ou dois capítulos com um novo ponto de vista,
e depois compare. Neste processo, você pode até pedir para alguns amigos lhe ajudarem a escolher
qual das duas narrativas é a mais interessante.

Os Conflitos Errados

Os conflitos são o grande tempero dos contos e romances. Eles apontam o rumo dos acontecimentos.
São os responsáveis por tirar o nosso fôlego e nos prender na leitura.

Mas uma obra literária pode se tornar desinteressante quando os conflitos não existem ou não
cumprem sua tarefa. Note que, para um conflito ser interessante, ele precisa oferecer uma real
oposição ao protagonista. Não utilize apenas pequenos empecilhos como conflitos. Sinceramente,
se não há riscos para o protagonista, por que os leitores deveriam se preocupar com o problema dele?

Assim, faça esta análise:

 Entre meu protagonista e suas metas, existem situações ou pessoas impedindo-o de atingi-las?
 Os capítulos começam e terminam sem qualquer conflito ser apresentado?
 Os conflitos são interessantes?
 Os conflitos são facilmente superados?

Que proveito você pode tirar de tudo o que falei nestes dois últimos capítulos? Bem, talvez aquela
obra que você rotulou como “uma porcaria”, e que está perdida em alguma pasta do seu notebook ou
em algum canto da sua gaveta, tenha salvação.
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No fundo, a obra ainda pode render muito. Ela só precisa de alguns ajustes que podem ser
aplicados à história em si, ao protagonista, ao ponto de vista ou aos conflitos.
160

CAPÍTULO 47 – COMO EVITAR FALHAS NO ENREDO

Enredo é definido como a sequência dos acontecimentos, muitas vezes definido pelas ações das
personagens.

Neste cenário, falhas e contradições são comuns. No cinema, estas falhas muitas vezes são
chamadas de furos de roteiro.

Mas não pense que as falhas no enredo é um problema exclusivo de escritores iniciantes. Escritores
experientes também se deparam com esta incômoda situação.

Deslizes Grotescos, Falhas Discretas

Alguns deslizes podem se apresentar de forma muito clara em um texto narrativo. Por exemplo: a
personagem que morreu no capítulo 2 aparece no capítulo 10 pagando as contas no banco. Não, não
é um livro de mistério. É apenas um autor desatento.

Talvez você tenha pensado agora: “Não, eu nunca cometeria um furo tão grande no meu romance”.
Tudo bem, pode até ser. No entanto, algumas contradições são tão discretas que até mesmo os
autores mais atentos deixam passar. Assim, se não tomar cuidado, seu livro pode sair do forno com
um ou vários deslizes evidentes no recheio.

Portanto, você precisa de um passo a passo para evitar cometer contradições nas suas obras.

E é sobre isso que falaremos a partir de agora.

Como Evitar Falhas no Enredo

1. Monte Um Cronograma do Enredo

Para evitar falhas no enredo, um cronograma descrevendo os eventos é uma ferramenta perfeita. Isto
envolve criar uma linha de tempo para não se perder entre tantas ações realizadas pelas
personagens.

Será algo mais ou menos assim:


161

CAPÍTULO 1

 Dia 1 – 15h30: Helena entra na livraria e encontra sua biografia não-autorizada. Ela compra o
livro.
 Dia 1 – 23h30: Helena termina de ler o livro.
 Dia 2 – 01:00: Liga para a mãe e irmã.
 Dia 2 – 10:30: Entra em contato com seu advogado para verificar providências legais a serem
tomadas.

Importante: você não precisa descrever horários para o leitor. O recurso é usado neste esqueleto
apenas para ajudar você, escritor, a se posicionar no enredo e não cometer deslizes depois. Uma
contradição no exemplo acima, seria mencionar, em um capítulo a frente, que o advogado foi a
primeira pessoa para quem Helena ligou após descobrir sua biografia publicada.

Monte este cronograma de ações desde o início da trama até o desfecho. Faça isso à medida que for
escrevendo os eventos.

Até mesmo os pequeninos deslizes podem ser evitados utilizando este recurso que é bem simples de
ser aplicado.

2. Conheça Cada Personagem Intimamente

Não se contente em apenas conhecer aquilo o que está evidente na trama. Você precisa ir além. Isto
significa conhecer as personagens a tal ponto que saberia como elas reagiriam se estivessem diante
de variadas situações (ainda que tais situações nunca venham a acontecer). Por exemplo, usando o
exemplo acima, como Helena reagiria se descobrisse que o advogado está por trás de tudo, ainda
que isso não faça parte da sua trama?

Se necessário, faça anotações para não se perder nas linhas de ações e sentimentos das
personagens. Quando você se aprofunda nesta análise psicológica e emocional, você evita
contradições.

Apenas como sugestão: pense em suas personagens e medite nelas durante o dia, enquanto você
está realizando outras atividades. Não dê atenção para suas personagens somente quando estiver
162

escrevendo. Imagine que elas estejam ao seu lado, como elas reagiriam às situações que você está
passando.

3. Releia o Livro Meses Depois

A releitura do texto é muito importante. Não apenas para correção gramatical, mas também para
identificar contradições. Neste último caso, a releitura precisa ser feita na hora certa.

Diversos erros são comuns porque os escritores “preenchem” mentalmente lacunas no texto. Ou seja,
algo falta no texto, há um furo evidente. Porém, o autor, como conhecedor da história, não se dá
conta disso. De forma automática, sua mente preenche a falha no enredo.

No entanto, despir-se desta posição de escritor não é fácil. Por isso mencionei a necessidade de reler
o livro meses depois. Este distanciamento ajudará você a escapar da postura de dono da história e
será mais fácil assumir a posição de um leitor crítico.

Uma alternativa eficaz é solicitar para alguma pessoa competente realizar a leitura para você e
apontar possíveis furos.

Fuja das Falhas no Enredo

Colocando em prática as 4 dicas acima (ops, isso foi um furo – na verdade, foram apenas 3) você
dará os passos necessários para concluir sua obra sem entregar uma série de falhas no enredo para
seu editor e leitores.
163

CAPÍTULO 48 – COMO LIDAR COM BRANCOS E BLOQUEIOS CRIATIVOS

Eventualmente, todo escritor se depara com o famoso “branco”. Fantasmagórico, ele se coloca em
sua frente com um sorriso cínico, impedindo-o de criar e escrever. É o bloqueio dos escritores. Uma
súbita obstrução durante o processo de escrever.

Existem diversas formas de lidar com isso. Você notará que algumas complementam outras e podem
ser aplicadas em conjunto.

Existem alguns métodos que até parecem se contradizer. Por isso, analise as dicas abaixo e veja
qual são as melhores para serem colocadas em prática de acordo com suas necessidades.

Ignore a Voz do Inconsciente

Muitos “brancos” acontecem por causa da voz no inconsciente nos dizendo que aquilo que estamos
criando não é tão bom assim. Às vezes, somos pressionados pelo inconsciente para criarmos uma
obra que possa acrescentar algo à humanidade. E isto, em vez de incentivo, pode se tornar um
bloqueio.

Um passo importante para se livrar desta obstrução é se conscientizar de que você deve escrever,
não como uma forma de beneficiar o mundo, mas simplesmente porque acha isso divertido. Se
por acaso a escrita acrescentar algo ao mundo, ótimo. Mas não se deixe levar pela ideia de que esta
é a sua obrigação.

Proponha-se simplesmente escrever e se divertir.

Escreva Qualquer Coisa

Um dos recursos para vencer os bloqueios é escrever. Ainda que seja uma bobagem sem o menor
sentido. Pode ser algo tão tosco quanto:

“A formiga sentiu vontade de encarar um jato de discórdia. E de tanto querer, bateu um papo
com a borboleta”.
164

Caso não queira escrever algo tão estúpido, ao menos, tente descrever algo que está ao seu redor.
Ou, quem sabe, o sonho da última noite. Na hora do bloqueio criativo, deixe de lado a criatividade.
Simplesmente, coloque as ferramentas nas mãos dos seus neurônios e dê a ordem: “Ao trabalho,
galera!”.

Simplifique a Tarefa

Procure simplificar a tarefa da escrita. Em vez de pensar no romance ou em um capítulo como um


todo, pense apenas em um parágrafo. Este é o seu desafio: escrever um único parágrafo.

Mark Twain disse uma vez que o segredo para começar a escrever, especialmente quando diante de
bloqueios, é transformar tarefas esmagadoramente complexas em pequenas tarefas
gerenciáveis.

Mude o Foco Narrativo

Escrever sobre a coisa errada também atua como empecilho para nossa criatividade. Se estiver
escrevendo um romance medieval e os bloqueios não o deixam concluir o livro, o que você deve
fazer? Talvez seja hora de deixar esse livro de lado e produzir algo como um romance policial ou um
suspense. Portanto, mude o foco narrativo. Pode ser que sua criatividade esteja simplesmente
fazendo birra porque quer colocar para fora outras ideias.

Interrompa Quando Souber o Que Vem a Seguir

Esta é uma tática muito eficiente. Ao escrever seu livro, pare sempre que você souber o que vem
logo a seguir. Não deixe para interromper sua escrita somente quando as ideias e a inspiração se
esgotarem. Por que isso é importante?

Se parar em um momento em que sabe o que vem a seguir, no próximo dia, você não terá bloqueios
ao iniciar o processo da escrita – afinal, você já sabe sobre o que escrever. E quando começar a
escrever, as ideias se desenrolarão, reduzindo os possíveis “brancos”. Procure realizar este processo
todos os dias e diminuirá consideravelmente seus bloqueios.

Escreva Para Alguém Próximo e Nada Crítico


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Ao enfrentar bloqueios criativos, a melhor coisa é esquecer seu público-alvo e seu editor. Escreva
como se estivesse redigindo para alguém que lhe seja bastante próximo e que não seja exigente,
nem crítico. Pode ser sua mãe ou sua tia. Imagine que somente esta pessoa irá ler seu texto. Para
enganar seu inconsciente, pode até começar seus capítulos com: “Querida mãe…” ou qualquer outra
pessoa que tenha escolhido. Este recurso ajuda a tirar algumas toneladas de nossos ombros,
tornando a escrita mais natural.

Concluindo

Os recursos para se livrar de bloqueios são diversos. Há quem prefira ouvir uma música, correr,
tomar café ou ir a uma festa. Na maioria dos casos, é preciso abrir espaço para que a criatividade
consiga se alongar e mostrar do que é capaz. Mas, independentemente de quais sejam as táticas
utilizadas, todas elas precisam ser temperadas com uma boa dose de paciência. Assim, não tenha
medo e nem desanime diante dos seus bloqueios – você não está sozinho.
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CAPÍTULO 49 – POR QUE ESCRITORES TÊM MEDO DE ESCREVER?

Ser um escritor significa viver com medo. Jovens escritores ou autores experientes – qualquer um
destes pode se deparar com o medo de escrever.

São as velhas dúvidas de sempre: o que vou escrever? E se eu não conseguir concluir meu livro? E
se rejeitarem meus originais? E se, no final das contas, eu sou uma porcaria de escritor?

As Razões do Medo de Escrever

Se vivemos com medo de escrever é exatamente porque precisamos escrever. Você só precisa
aprender a dominá-lo. Desta forma, seu medo poderá se tornar uma poderosa ferramenta para ajudá-
lo a expor seus pensamentos e desejos mais profundos. Você só precisa entender como o seu medo
atua.

Durante toda nossa vida, nos ensinaram que o medo precisa ser evitado. Mas nem sempre é assim.
O medo pode ser um grande aliado para nos manter longe de problemas.

Para entender isso, precisamos antes estabelecer esta base: temos medo daquilo que queremos.
Como assim?

Se você me perguntar se tenho medo de pilotar um avião, a resposta é “não”. Na verdade, eu não
tenho vontade (e muito menos planos) de pilotar uma aeronave. E exatamente por ser algo distante e
irreal, pilotar um avião não se concretiza em medo para mim.

Mas escrever é diferente. Eu quero escrever. Estou fazendo isso neste exato momento. E lá vem os
pensamentos inquietantes: será que vou conseguir terminar este e-book? Será que este livro será
realmente útil para as pessoas? Elas vão gostar? E assim por diante.

Uma vez que compreendemos um pouco das razões do nosso medo de escrever, chega o momento
de agir para não deixá-lo nos dominar.

Como Lidar Com o Medo de Escrever

Se o medo é praticamente inevitável, o que nos resta é escolher entre estas opções:
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1. Aceitar os medos como reais, mas que podem ser controlados para alcançar um objetivo.
2. Deixar os medos dominarem e se tornarem uma desculpa para adiar ou abandonar um projeto
literário.

Se escolho a primeira opção, então permito que meus medos me preparem para os desafios que
terei de enfrentar. Se fico com a segunda, bem, neste caso, o medo também teve sua utilidade:
testou minha determinação e me impediu de investir em algo com o qual não estou suficientemente
comprometido.

Conseguiu pegar o ponto? O medo ajuda a enxergar o que você realmente quer, ajuda a prepará-
lo para as dificuldades que enfrentará, em vez de simplesmente seguir os impulsos de um desejo mal
orientado.

O medo não é um problema. O medo exagerado, sim. Quando em excesso, o medo pode lançar uma
penumbra sobre sua visão, em vez de clarear as coisas. Portanto, o medo deve ser seu aliado, não
o seu senhor. Coragem não significa não ter medo. Coragem é a decisão de prosseguir assim
mesmo.

Mas como fazer com que seu medo se torne um aliado ao escrever seus livros? Como ele pode
ajudá-lo a escrever melhor?

Vamos analisar alguns passos para isso.

1. Conheça Seus Medos

Você precisa colocar no papel quais são os seus grandes medos. Não dá para fazer do medo um
aliado se não conhecê-lo. Então, pegue caneta e papel e escreva o mais detalhadamente possível
quais são as dúvidas que passeiam em sua mente.

2. Pense na Recompensa

O que você quer alcançar quando superar seus medos? Anote o que deseja alcançar e qual será a
sensação. Explore os detalhes. Deseja escrever dedicatórias nos livros dos leitores? Ou o que acha
de conseguir viver (e pagar todas suas contas) como escritor?
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Vá fundo nas recompensas que quer alcançar e coloque tudo isso no papel. Divirta-se com este
passo!

3. Estabeleça um Roteiro Para Sua Meta

Leia novamente o que escreveu no primeiro passo “Conheça Seus Medos” e defina quais são as
medidas que você precisa tomar para alcançar seus objetivos. Este é o modo como o medo e a
insegurança podem, literalmente, fornecer-lhe um roteiro para sua meta.

Por exemplo: se o seu maior medo é receber críticas negativas, você pode começar um blog
com um pseudônimo e ver qual será a reação dos leitores. Ao mesmo tempo, pode desenvolver a
arte de aceitar críticas e crescer com isso.

Se seu medo é iniciar um romance e não conseguir conclui-lo, por que não tenta começar com contos
menores, de poucas páginas?

O essencial é estabelecer passos menores, como metas para ajudá-lo a enfrentar este fantasma
maior.

4. Escreva

A melhor forma de enfrentar qualquer medo é enfrentá-lo. O mesmo vale para os autores. Arme-se e
vá para a batalha. Escreva com ou sem medo. Com o tempo, sua coragem começa a ganhar forças e
você passa a estar melhor preparado para enfrentar desafios maiores.

E a boa notícia é que, mesmo se você falhar, ainda assim alcançou uma importante conquista. Você
enfrentou seus medos, deu o melhor de si. Na próxima vez, é provável que se sinta mais confiante e
preparado.
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CAPÍTULO 50 – OS PROBLEMAS QUE ESCRITORES EXPERIENTES NÃO ADMITEM

Escritores experientes parecem seres de outro planeta. Eles possuem uma aura diferenciada. Uma
intensidade anormal. Parecem estar além dos problemas com que jovens escritores se deparam no
dia a dia. Seus livros fluem com perfeita emoção. São tão sublimes que chegamos ao ponto de
imaginar ser humanamente impossível criar tamanha perfeição.

No entanto, apesar de tudo, são escritores reais. Esta percepção de que vivem em outra dimensão
não corresponde à realidade. Todos escritores – em todos os níveis – possuem os mesmos desafios
que você.

Eles também possuem os seus segredos. Na verdade, seis temíveis segredos que todos os autores
conhecem, mas que raramente ouvimos alguns deles admitir.

1. Escrever é Difícil

Há um mito que permeia vários segmentos da humanidade: se você é bom em alguma coisa, então,
vai ser fácil produzir. Mas, as coisas não são bem assim.

A verdade é que escrever é algo muito difícil. Especialmente quando nos referimos ao começo do
processo. Escritores experientes também se deparam com este pesadelo: sentar-se diante de uma
página em branco, preparar-se para escrever e… nada.

Por isso, não há nada de errado com você quando se depara com esta dificuldade. Na verdade, o
início de qualquer livro é a parte mais complexa. No entanto, quando as ideias começam a fluir, a
tendência é que o processo se torne mais automático.

2. Todos Lutamos Contra a Procrastinação

Não são apenas os iniciantes que precisam lutar contra a procrastinação. Os experientes também.
Não estou dizendo que todos os autores procrastinam, mas que todos lutam contra ela.

Muitos jovens autores estão acostumados a escrever algumas crônicas aleatórias ou pensamentos
soltos – no entanto, quando chega o momento de começar um projeto significativo, entra em cena a
procrastinação.
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Mas, autores experientes também precisam lutar para não deixar o início do novo projeto para
amanhã. Isto envolve autodisciplina para fazer frente a esta tendência negativa. E a mesma
autodisciplina que os ajuda, deve ajudar você.

3. Rascunhos Muitas Vezes São Uma Porcaria

Para escrever algo bom, você precisar primeiramente escrever algo ruim. E até mesmo escritores
experientes se deparam com isso: os primeiros rascunhos são muito ruins.

Como leitores, só temos acesso ao projeto final, devidamente lapidado. Quanto aos esboços iniciais,
falhos, vacilantes – estes nunca veremos.

Mas acredite: estes rascunhos existem. Talvez estejam enfiados em uma gaveta ou guardados em
uma pasta do computador de nossos admiráveis escritores experientes. De qualquer maneira, suas
frases desajeitadas e trechos dignos de causar embaraço foram devidamente escondidas do mundo.

O Livro Nunca Está Bom

Toda vez que você revisa seu livro, é provável que encontre diversos trechos que prefere reescrever.
Exclui parágrafos, adiciona frases, reformula ideias. Leonardo da Vinci disse que a arte nunca está
devidamente finalizada, somente abandonada.

É preciso aceitar que um livro se forma a partir de pequenos fragmentos de ideias que juntamos para
elaborar um enredo. Frases, parágrafos, capítulos – combinados e recombinados. Por este motivo,
temos a sensação de que nosso livro está sempre inacabado, como se sempre existisse a
possibilidade de realizar mais ajustes, aperfeiçoá-lo. Em algum ponto, no entanto, precisamos
abandonar esta tarefa, ou ficaremos eternamente revisando as revisões revisadas.

Portanto, lembre-se: você nunca atingirá a perfeição. Sua obra só poderá chegar ao estágio de
completa e satisfatória quando ela tiver leitores.

Escritores São Pessoas Estranhas


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Não tente fugir desta verdade: se você é um escritor, você é um estranho. A vasta maioria das
pessoas não gosta de escrever. Podem gostar de ler, mas não dão vazão às suas emoções e
traumas, nem dão vida aos seus pensamentos, registrando-os por escrito.

Escrever se parece mais como uma obsessão. Pergunte a qualquer escritor e ele dirá que não
consegue imaginar sua vida sem escrever. Eu certamente acho muito difícil imaginar minha vida sem
colocar minhas experiências, anseios e pensamentos no papel. Na verdade, antes mesmo de viver
da escrita, eu já escrevia diariamente nas horas vagas.

Assim, aceite o fato de que você é um pequenino ser bizarro. Ao mesmo tempo, não se esqueça de
que seus escritores preferidos também o são. Portanto, aceite e se divirta com a ideia. O resto do
mundo não poderá entendê-lo. Mas isso não poderia ser diferente.

Afinal, eles não são escritores.

Os Livros Estão Piorando

Já lhe aconteceu isso? Ao ler seu mais recente trabalho, chegou a conclusão de que ele não é tão
bom quanto os anteriores?

Relaxe, a maioria dos autores experientes passa por isso. A cada nova história, surge aquela temível
sensação de que perdemos a faísca da criatividade, que o elixir da sensibilidade secou na fonte.

Estas dúvidas podem corroer a autoestima de qualquer um. Podem fazer com que você desista do
seu mais novo trabalho, privando futuros leitores de uma experiência maravilhosa.

Portanto, para lidar com isso, a primeira coisa é ter em mente que não há nada de errado nesta
sensação de retrocesso. É muito provável que seu autor favorito já passou ou ainda passa por algo
assim.

Em segundo lugar, quando for tomado pela ideia de que você já escreveu muito melhor, continue
escrevendo. Em outras palavras, aprenda a ignorar. Esta voz em sua cabeça lhe dizendo: “Quem vai
querer ler isso?” é uma voz idiota que não deve receber consideração.

Portanto, após ler este capítulo, espero que realmente chegue à conclusão: “Eu não estou sozinho”.
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E realmente não está. Afinal, existem inúmeros autores amadores que passam por estes mesmos
pensamentos e sensações. E isto é enfrentado também pelos escritores profissionais embora,
dificilmente, você os ouvirá admitir isso.
173

Extra-Track
174

CAPÍTULO 51 – MITOS E VERDADES SOBRE SER UM ESCRITOR

Quando falamos sobre a vida de um escritor, surgem muitos “fatos” e expressões relacionadas. Mas
convém falar sério: de tudo o que é falado, o que são mitos e o que são verdades?

Aspirante a Escritor

O que significa ser aspirante a escritor? Realmente não sei a resposta. Para mim, as coisas são
simples assim: ou o indivíduo é escritor ou não é. Ou será que perdi metade do filme e ninguém me
avisou? Se você escreve, parabéns, você é um escritor. Se não escreve, então não é. Aspirante, para
mim, é um estado nulo sem qualquer significado.

O que a pessoa deve aspirar é atingir alvos que potencializem suas habilidades: melhorar os hábitos
de escrita, publicar um livro, receber um prêmio de reconhecimento, ou o que quer que seja. Em
outras palavras, o que desejamos é ser escritores melhores.

A Receita do Sucesso

Não existe uma receita única e perfeita para a pessoa se tornar profissional na literatura. Livros como
este que você está lendo oferecem conselhos. E conselhos são o que são: apenas conselhos. Muitos
realmente funcionam – mas não para todas as pessoas. O que serve para um talvez seja inútil para
outro. Ninguém tem o segredo da perfeição. Se alguém lhe disser que tem a fórmula para se tornar
um escritor de sucesso, cuidado!

Mas não há como negar – é preciso estar atento a alguns conselhos para aprender a se orientar.
Porém, não deixe que isso corrompa seu próprio estilo. Você precisa ser você mesmo. E lembre-se:
para chegar até o tesouro, em determinado momento, você precisará tirar o olho do mapa e começar
a andar.

Efeitos Colaterais

Sim, haverá dias em que você se sentirá o pior escritor do planeta. Não importa quão bom você seja,
a verdade é que nos deparamos vez ou outra por sentimentos assim.
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Você vai enfrentar o pesadelo das páginas em branco, como se estivesse mergulhado em uma
tempestade de neve. Você vai odiar alguns textos que escreveu. Enfim, dias ruins fazem parte do
pacote. Mas relaxe! Você precisa aprender a isolar sua mente de pensamentos e realidades
negativas e simplesmente continuar escrevendo.

Você é um Autor, Não um deus

Aceite os fatos: nem todas as coisas estão em seu controle. Você pode escrever bem, divulgar seu
trabalho, fazer todo o dever de casa. Mas isso não significa que conseguirá seguir a carreira de
escritor.

Pode ser que seu grande talento nunca seja reconhecido. Esta é uma realidade, por mais terrível que
pareça.

Ler Não Fará de Você um Escritor

Ler não fará de você um escritor, mas ajuda. Pense na leitura como um estudo ou mesmo um
exercício para a criatividade.

No entanto, para realmente aprender a escrever, você precisa escrever. Você não se tornará um
exímio construtor de cadeiras passando o dia sentado em uma. Da mesma forma, ler dezenas de
livros por ano, por si só, não fará de você um escritor. Para escrever um livro você precisa encher os
dedos de calo.

Sucesso Não Vem da Noite Pro Dia

Esta verdade é tão óbvia que talvez nem merecesse estar aqui. Mas não custa dar um destaque para
isso.

É claro que não existem sucessos súbitos. Quando ouvir a notícia de incrível escritor que o mundo
descobriu, acredite: ele está ralando há muito tempo, talvez desde quando muitos de nós usávamos
fraldas.

É Preciso Aprender a Apanhar


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Se for escritor, precisa estar preparado para ouvir o que não quer ouvir. Desenvolva resiliência. Afinal,
agentes, editores, leitores, trolls – todo o universo dirá coisas que vão lhe socar o estômago. Ser
escritor é espalhar o convite: “pode bater que eu aguento”.

Então prepare-se para aguentar as pedradas.

Mas, não desista. Não existem gritos ou xingamentos que possam te calar. O que acontece entre
você e essa página em branco é apenas seu. Ninguém tem o poder de interferir nisto. Se você gosta
de escrever, dê o seu melhor. Não espere nada além disso – recompensas, tapinhas nas costas,
elogios. Apenas abrace a satisfação que criar uma história pode proporcionar.

O resto são mitos.


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CAPÍTULO 52 – O QUE VOCÊ PODE APRENDER COM OS POLICIAIS

Ser policial não é tarefa para qualquer um. A pessoa que se propõe a isto precisa de uma excelente
estrutura. Não apenas na questão física, mas também mental e emocional. Poucas profissões
possuem a capacidade de evocar emoções tão variadas, e em tão pouco tempo. Satisfação,
desapontamento, solidão, tensão, medo, sentimento de recompensa – tudo isso pode vir à tona em
um único turno.

Mas, se você está lendo este e-book, é provável que tenha chegado à conclusão de que a profissão
ideal para você é ser escritor, e não policial. Sendo assim, por que resolvi falar aqui dos policiais?

Se observar a rotina de um membro ativo da polícia verá que há muito a aprender com ele. Veja
como isso pode ajudá-lo a se tornar um escritor melhor.

Sssshhhh…

Procure prestar atenção nos policiais na próxima vez em que se deparar com eles. De modo geral,
eles estão sérios, atentos e em silêncio. Você dificilmente encontrará policiais falando pelos cotovelos,
dando altas gargalhadas, etc… Pelo contrário, a maioria se mantém submersa em uma observação
constante, concentrados no que ocorre ao redor. Estão vigilantes, atentos aos movimentos.

Para desenvolver sua literatura, você precisa imitar esta característica. Isto significa que você deve
falar menos e prestar mais atenção no que as pessoas estão dizendo e fazendo. Há um
universo de ideias e inspiração pulsando ao seu redor. E são estas coisas que podem servir de
matéria-prima para seu próximo romance.

Ignore o Irrelevante

Quando um policial colhe um depoimento, ele ouve uma infinidade de detalhes. Muitos destes podem
ser úteis, mas talvez a maioria seja irrelevante para o caso. Por isso, os policiais possuem um senso
afiado para separar o importante do supérfluo. Juízes e procuradores precisam de fatos, não de
detalhes sem valor para a solução do crime.

Os escritores precisam aprender esta lição. É necessário separar o que é importante dos detalhes
tolos e inúteis. Aprenda a focar sua narrativa em fatos que acrescentam algo para a história. Se é
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importante contar detalhes sobre o clima para situar o leitor no ambiente, faça-o. Do contrário, ignore
estas descrições.

Escritores consagrados podem se dar ao luxo de usar uma página inteira para descrever coisas
banais, como os sapatos do vilão. Isto porque tais escritores possuem uma legião de fãs disposta a
cobrir páginas e mais páginas com descrições frívolas até chegar à essência do livro. Mas isso não
acontece com jovens autores. Se não mantiver sua escrita simples, as pessoas vão desistir da leitura
em pouco tempo.

Apenas tome cuidado para não cortar detalhes importantes. Uma história bem contada é essencial
para que o leitor consiga se imaginar dentro da narrativa. Portanto, elimine apenas o que realmente
for irrelevante.

Anote Para Não Esquecer

Para não perder detalhes importantes, é sempre bom anotar. Policiais costumam carregar blocos de
anotações em seus bolsos. Não saia de casa sem o seu. Pode ser um bloco de notas impresso ou
um aplicativo em seu smartphone. Mas tenha ao seu alcance um recurso para registrar ideias
interessantes que surgirem durante seu dia.

Em Busca do Perigo

O que você faz se está na rua e ouve tiros? Se for como eu, você corre.

No entanto, policiais correm em direção ao perigo. Para isso, é preciso coragem e algo mais. Como já
mencionado, eles precisam de uma boa estrutura emocional. A tensão está ali, mas ela não pode
prejudicar o raciocínio, nem fazê-los agir precipitadamente.

Como escritor, de certa forma, você corre em direção ao perigo. Você se torna alvo de críticas, como
mencionei no capítulo anterior. Estas podem vir de forma polida ou até mesmo por meio de palavras
agressivas. É verdade, ninguém gosta de ser rejeitado ou de ouvir críticas. Mas, na verdade, ser
criticado pode ajudá-lo a escrever melhor.

Os policiais não fogem do perigo. Ele vão para os lugares onde a probabilidade de ocorrer crimes é
maior. Da mesma forma, não tente “evitar o perigo”. Não deixe de mostrar seus textos ao mundo,
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com medo do que vão pensar. Ao lançar suas obras de forma impressa, em formato eletrônico ou
em um blog, você coloca seu peito como alvo de duras críticas. Para isso, assim como um bom
policial, é preciso ter coragem e enfrentar os desafios.

Café e Rosquinhas

Nos filmes hollywoodianos, sempre vemos o estereótipo de policiais: sentados dentro da viatura,
tomando café e comendo rosquinhas. Seja café e rosquinha, ou qualquer outra coisa, a verdade é
que policiais precisam sim de uma pausa para recompor mente e estômago. Alguns turnos policiais
chegam a durar 12 horas. Não dá para manter-se preparado sem algumas pequenas pausas para um
lanche.

Como escritor, você também precisa dar uma folga para seu cérebro. Este tempo costuma variar de
pessoa para pessoa. Por exemplo, alguns dão pausas de 5 minutos a cada 30 minutos escrevendo.
Outros param 10 minutos após 1 hora trabalhando. Descubra o que é ideal para você. Mas não se
esqueça que estas pausas são ótimas oportunidades para descansar e comer alguma coisa. Você
também poupa seus músculos e seus olhos. Este hábito ajudará você a revigorar sua mente, além de
manter-se mais focado e saudável.

Treinamento Sempre

Policiais estão sempre envolvidos em cursos, seminários e convenções. Os motivos são vários. Por
exemplo, quando acontecem mudanças na lei. Este tipo de reciclagem é importante para que os
policiais estejam sempre atualizados com a lei no cumprimento correto do seu dever.

Escritores também precisam desta reciclagem. O fato de ler este e-book mostra que está procurando
ampliar e renovar seus conhecimentos. Além disso, você pode assistir conferências, webinars e aulas
online para aprimorar suas habilidades como escritor.

Portanto, não há dúvidas: os policiais têm muito a ensinar para você. Seguindo o exemplo deles,
você conseguirá melhorar a qualidade da sua narrativa, tornando suas histórias mais envolventes e
aumentando o impacto emocional sobre seus leitores.
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CAPÍTULO 53 – O QUE VOCÊ PODE APRENDER COM OS GATOS

Os gatos são os animais de estimação que conseguem despertar sentimentos opostos entre as
pessoas. Há quem os ame por sua sinceridade. E há aqueles que os acham arrogantes e ingratos.

Independentemente de com qual grupo você mais se identifica, a verdade é que os gatos têm muito a
ensinar aos jovens escritores.

Determinados e Estratégicos

Quando os gatos querem algo, eles vão atrás. E escolhem sempre o caminho mais curto para isso.
Se para chegar no quarto, ele precisar subir no sofá e passar por cima de você, ele assim o fará.
Então, subitamente, no silêncio da noite, você está assistindo TV, quando aquele bicho peludo surge
em um pulo súbito sobre seu corpo. Após o susto, ele simplesmente desaparece. Seu gato queria
apenas evitar contornar o sofá e a mesinha de centro.

Esta é a característica que falta a muitos escritores iniciantes. Eles estabelecem um desafio: escrever
um livro. No entanto, grande parte não consegue se apegar ao cronograma estabelecido (alguns nem
mesmo possuem um).

Portanto, aprenda com a determinação e estratégia dos gatos. Estabeleça alvos (por exemplo,
definindo um número de palavras para escrever por dia) e apegue-se a eles. Quando seu livro não
sair como esperava, continue determinado: revise-o, reescreva-o. Persista até conseguir o que
quer.

Não Ligam Para Seu Protesto

De modo geral, os gatos não estão muito inclinados a levar em consideração o gosto do dono. Se
estão perfeitamente acomodados em seu colo quando você precisa levantar, um olhar pouco
amistoso é o que você receberá em retorno. Eles não se importam muito sobre qual é a sua vontade.
Você dificilmente os verá abaixando as orelhas ao ouvir uma bronca.

Como autores, temos histórias e personagens que povoam nossa mente. Ao dar vida a estas ideias,
não podemos fazer questão de agradar a todos – até porque isso será impossível.
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O problema é que escritores iniciantes têm dificuldades em mostrar suas obras com receio de como
as pessoas vão reagir: se vão gostar ou não. Nestas horas, siga o exemplo dos gatos. Se as pessoas
não gostarem do que você escreveu, devolva-lhes esse olhar:

Reis de Gatolândia

Gatos costumam passar grande parte de sua vida em uma dimensão paralela, inalcançável para
meros humanos. Seja se limpando, afiando as garras, dormindo ou deixando pelos em todos os
móveis, um gato passa grande parte de sua vida em Gatolândia. Lá, ele é um rei, o senhor da
situação. Um ser independente, plenamente confortável com sua própria companhia.

Nós, por outro lado, somos seres sociáveis. No entanto, os escritores precisam de um tempo só para
si mesmos. Aquele momento em que nos desligamos de tudo e entramos na dimensão paralela da
criatividade, onde tramas e enredos são desenvolvidos e personagens ganham vida.

Então, quando estiver sozinho em seu quarto, não lamente sua situação. Muito pelo contrário,
aproveite este momento para ser rei ou rainha em seu mundo literário.

Portanto, jovens autores – deem detida consideração aos bichanos. Eles têm muito a lhes ensinar ao
passo que vocês se dedicam às suas obras de literatura.
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CAPÍTULO FINAL – MEU ÚLTIMO CONSELHO

Você tinha planos para ele. Seu livro seria grandioso, uma obra-prima da literatura. Mas dado os
primeiros passos, ele está se provando um verdadeiro fracasso. Pelo menos, diante do seu critério de
julgamento.

E, mesmo depois de tudo o que leu neste e-book, talvez você continue convencido de que não será
capaz de escrever um livro realmente grandioso. Será mesmo?

Não importa se você tem uma vida intensa ou enfadonha. Seus livros podem ser grandiosos, a ponto
de parecerem maiores do que você e eu.

Bons Livros Exigem Esforço

O mundo gira em uma velocidade assustadora. E quem cruza os braços, em pouco tempo, começa a
perceber teias de aranha nas juntas, mofo cobrindo cada centímetro da pele. Logo, a genialidade
morre e entra em estado de putrefação.

Fica mais fácil escrever bons livros quando a pessoa tem um certo talento para a escrita. Mas de
qualquer forma, escrever exige esforço e disciplina.

Eu entendo. Sua rotina é um liquidificador de obrigações, certo? Mas você precisa encontrar tempo
de qualidade para se dedicar à escrita. E precisa lutar para isso. Esforço faz parte do DNA do
escritor. E é claramente um indicativo de aquilo que você está criando é valioso e precisa vir à
existência.

Entenda que, não importa quão disciplinado você seja, você tropeçará ao longo do caminho. Mas o
que faz um bom escritor, aquele capaz de escrever uma obra que pareça maior do que sua própria
vida, é a capacidade de insistir e persistir.

Mande o Sentimento de Rejeição Pastar

Um dos incríveis lados positivos de ser um escritor é o fato de nunca estar sozinho. A partir do
momento que compartilhar suas histórias, um inteiro universo de pensamentos, sentimentos, ideias
alcançará o mundo – amigos e estranhos. E isto impactará vidas, causará suspiros.
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O inusitado lado cômico de tudo isso é justamente o medo da rejeição bloqueando escritores. Falei
diversas vezes sobre isso ao longo deste e-book porque se trata de um problema muito recorrente
em jovens autores.

O medo trava a criatividade de muitos. A ideia para escrever um livro está ali, prontinha, mas não
conseguem registrar nem mesmo uma única frase. E isto é frustrante!

Então, que tal se olhar no espelho e dizer para si mesmo:

– Pare de se levar tão a sério!

Um dos grandes problemas da humanidade é a extrema sensibilidade a críticas. Algumas pessoas


chegam entrar em depressão ao serem rejeitadas. Você nunca criará algo grande enquanto se
recusar a criar coisas pequenas, pífias e ridículas.

Então, para ser grande você precisa estar disposto a ser pequeno. Não se abale com as críticas, mas
aprenda com elas.

Portanto, chegou o momento de parar de se esconder. Saia do seu casulo e comece a escrever.

E, diretamente relacionado a isso, quando escrever…

Não Queira Ser Perfeito

Confie no caos. Acredite na derrota. Assim como você não deve esperar elogios dos leitores, não
espere escrever um livro que você mesmo venha a encarar como uma obra-prima. Seu objetivo é
escrever, não ser perfeito. Se escrever uma obra-prima, isto será uma consequência. Nunca deve ser
o objetivo. Portanto, escreva por amor.

E, por último, não desista de escrever. As ideias que estão bombeando seu sangue querem ganhar
vida. Suas ideias se contorcem em seu cérebro, latejando sua cabeça. Elas poderão ser muito, muito
grandes. Algo maior do que você jamais imaginou ser capaz de gerar. Ou talvez não.

Mas este é o grande trunfo. Não importa o que você venha a criar, o mundo realmente precisa
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conhecer aquilo que, até este momento, viveu somente dentro de sua cabeça.
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O AUTOR

Juliano Martinz é escritor, redator publicitário, revisor e biógrafo.

Iniciou suas atividades literárias como cronista de jornais e revistas em 2005. No ano de 2009, criou o
blog Literatura Corrosiva onde até hoje compartilha seus textos (poemas, crônicas, romances e
outros artigos). Sua principal linha de produção, no entanto, são dicas para jovens escritores.

Realiza trabalhos como redator publicitário para diversas empresas do país. Como biógrafo, auxilia
as pessoas na produção das histórias de suas vidas.

Contato: [email protected]

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