Comentários aos artigos da Lei 12.
965/14
Lei 12.965 de 23 de abril de 2014
A Lei que trata do Marco Civil da Internet foi aprovada por iniciativa da
União, visando a criação de um lei geral a respeito do tema .
Art. 1º - Esta Lei estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da
internet no Brasil e determina as diretrizes para atuação da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios em relação à matéria.
O uso da internet, como já verificamos nos princípios constitucionais,
deve ser sempre interpretado a partir dos direitos fundamentais expressos
na Constituição.
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Art. 2º A disciplina do uso da internet no Brasil tem como fundamento o respeito à
liberdade de expressão, bem como:
I - o reconhecimento da escala mundial da rede;
II - os direitos humanos, o desenvolvimento da personalidade e o exercício da cidadania em
meios digitais;
III - a pluralidade e a diversidade;
IV - a abertura e a colaboração;
V - a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e
VI - a finalidade social da rede.
Liberdade de expressão. Como já vimos a internet é um instrumento de
expressão do pensamento. O seu uso deve respeitar requisitos mínimos para o
respeito aos direitos fundamentais em ponderação com o direito de expressão.
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Além da liberdade de expressão, a lei traz como fundamentos:
I - o reconhecimento da escala mundial da rede. É notório que a
internet não é um fenômeno localizado ou restrito a determinado local.
A rede é um fenômeno mundial, mas isso não significa dizer que não
existam países que não restrinjam o acesso e os conteúdos. Há países que
estabelecem restrições com relação ao uso e compartilhamento de materiais,
como é o caso da Arábia Saudita, China, Síria, Irã, Etiópia, Cuba, Coreia do
Norte, Paquistão, entre outros. As restrições e controle são de ordem política,
religiosa, ideológica e jornalística.
O Brasil é um dos países que confere maior liberdade de expressão na rede.
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II - os direitos humanos, o desenvolvimento da personalidade e o exercício da
cidadania em meios digitais;
A internet pode ser utilizado como instrumento de efetivação de direitos humanos,
por exemplo, quando permite que vítimas de crimes e abusos possam se utilizar de site
para denunciar os ofensores.
Em 2015, a Coalizão Dinâmica para Direitos e Princípios da Internet (Internet Rights
and Principles Dynamic Coalition – IRPC), que se encontra no Forum de Governança da
ONU, estabeleceu 10 princípios e direitos humanos na internet (https://itsrio.org/wp-
content/uploads/2017/01/IRPC_booklet_brazilian-portuguese_final_v2.pdf) :
1. Universalidade e igualdade : Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos,
que devem ser respeitados, protegidos e cumpridos no ambiente online.
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2. Direitos e Justiça Social: A Internet é um espaço para a promoção,
proteção e cumprimento dos direitos humanos e para o avanço da justiça social.
Cada indivíduo tem o dever de respeitar os direitos humanos de todos os
outros no ambiente online.
3. Acessibilidade: Todos os indivíduos têm igual direito de acessar e
utilizar uma Internet segura e aberta.
4. Expressão e Associação : Todos os indivíduos têm o direito de
livremente procurar, receber e difundir informação na Internet sem censura ou
outras interferências. Todos os indivíduos têm também o direito de se associar
livremente na e pela internet, seja para fins sociais, políticos, culturais ou outros.
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5. Privacidade e Proteção de Dados: Todos têm o direito à
privacidade online, incluindo o direito de não ser vigiado, o direito de usar criptografia e o
direito ao anonimato online. Todos têm também o direito à proteção de dados, incluindo o
controle sobre coleta, retenção, tratamento, eliminação e divulgação de dados pessoais.
6. Vida Liberdade e Segurança: O direito à vida, à liberdade e à segurança devem
ser respeitados, protegidos e cumpridos na Internet. No ambiente online estes direitos não
devem ser desrespeitados ou utilizados para violar outros direitos.
7. Diversidade: A diversidade cultural e linguística na Internet deve ser promovida; a
inovação técnica e política deve ser incentivada para facilitar a pluralidade de expressão.
8. Igualdade: Todos os indivíduos devem ter acesso universal e aberto
ao conteúdo da Internet, livre de priorização discriminatória, de filtragem ou controle de
tráfego por motivos comerciais, políticos ou outros.
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9. Padrões e Regulamentos: A arquitetura da Internet, os sistemas de
comunicação e o formato de documentos e dados devem ser baseados em
padrões abertos que garantem a completa interoperabilidade, a nclusão e a
igualdade de oportunidades para todos.
10. Governança: Os direitos humanos e a justiça social devem formar as
bases legais e normativas sobre as quais a Internet funciona e é governada. Isto
deve acontecer de forma transparente e multilateral, com uma Internet baseada
nos princípios de abertura, participação inclusiva e de responsabilização.
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Regressamos agora aos demais incisos do art. 2º em estudo
III - a pluralidade e a diversidade – Significa dizer que a internet não pode servir como
meio de repressão do direito de expressão, mas sim como um instrumento plural e diverso,
onde opiniões contrárias possam sobreviver e ser respeitadas
IV - a abertura e a colaboração – Está voltado para acesso universal que todos devem
ter à internet.
V - a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor – Esses valores
devem ser mantido na rede, a possibilidade de utilização da internet para fins econômicos sem
deixar de lado os direitos do consumidor; e
VI - a finalidade social da rede – O fim social da rede está ligado a sua utilização voltado
para o bem de todos.
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Art. 3º A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes princípios:
I - garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento, nos termos da
Constituição Federal;
II - proteção da privacidade;
III - proteção dos dados pessoais, na forma da lei;
IV - preservação e garantia da neutralidade de rede;
V - preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por meio de medidas técnicas
compatíveis com os padrões internacionais e pelo estímulo ao uso de boas práticas;
VI - responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, nos termos da lei;
VII - preservação da natureza participativa da rede;
VIII - liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet, desde que não conflitem com os demais
princípios estabelecidos nesta Lei.
Parágrafo único. Os princípios expressos nesta Lei não excluem outros previstos no ordenamento jurídico
pátrio relacionados à matéria ou nos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja
parte.
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O art. 3º os princípios que deverão orientar a interpretação da lei.
a) liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento;
b) a proteção da privacidade (art. 5º, X da CF);
c) dos dados pessoais, de acordo com o inciso LXXIX do art. 5º e Lei Geral de Proteção de
Dados, Lei 13.709/18;
d) preservação e garantia da neutralidade de rede (art. 9º); trata-se de princípio específico,
que visa assegurar que as informações circulem na rede com a mesma velocidade, de forma aberta e
acessível a todos.
e) preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por meio de medidas
técnicas compatíveis com os padrões internacionais e pelo estímulo ao uso de boas práticas –
reconhecimento de que há a necessidade de garantir a funcionalidade da rede a fim de que não haja
qualquer espécie de influência na sua estabilidade (art. 4º III e IV).
f) responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, nos termos da lei – Está
ligado a preservação da neutralidade da rede, ou seja, a possibilidade de responsabilização
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g) preservação da natureza participativa da rede – como rede aberta, a
internet não deve ser fechada a determinados grupos.
h) liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet, desde
que não conflitem com os demais princípios estabelecidos nesta Lei – livre
inciativa na rede e validade de negócios jurídicos realizados via internet.
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Art. 4º A disciplina do uso da internet no Brasil tem por objetivo a promoção:
I - do direito de acesso à internet a todos;
II - do acesso à informação, ao conhecimento e à participação na vida cultural e na
condução dos assuntos públicos;
III - da inovação e do fomento à ampla difusão de novas tecnologias e modelos de uso
e acesso; e
IV - da adesão a padrões tecnológicos abertos que permitam a comunicação, a
acessibilidade e a interoperabilidade entre aplicações e bases de dados.
Os objetivos específicos tratam da inclusão digital, no sentido de que todos,
independentemente, de qualquer condição tenham acesso à internet. O III do art. 3º
da CF não traz dispositivo equivalente no tocante a internet, mas deve ser interpretado
nesse sentido.
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Art. 5º Para os efeitos desta Lei, considera-se:
I - internet: o sistema constituído do conjunto de protocolos lógicos, estruturado em escala
mundial para uso público e irrestrito, com a finalidade de possibilitar a comunicação de
dados entre terminais por meio de diferentes redes;
II - terminal: o computador ou qualquer dispositivo que se conecte à internet;
III - endereço de protocolo de internet (endereço IP): o código atribuído a um terminal de
uma rede para permitir sua identificação, definido segundo parâmetros internacionais;
IV - administrador de sistema autônomo: a pessoa física ou jurídica que administra blocos
de endereço IP específicos e o respectivo sistema autônomo de roteamento, devidamente
cadastrada no ente nacional responsável pelo registro e distribuição de endereços IP
geograficamente referentes ao País;
V - conexão à internet: a habilitação de um terminal para envio e recebimento de pacotes de
dados pela internet, mediante a atribuição ou autenticação de um endereço IP;
VI - registro de conexão: o conjunto de informações referentes à data e hora de início e
término de uma conexão à internet, sua duração e o endereço IP utilizado pelo terminal
para o envio e recebimento de pacotes de dados;
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VII - aplicações de internet: o conjunto de funcionalidades que podem ser acessadas
por meio de um terminal conectado à internet; e
VIII - registros de acesso a aplicações de internet: o conjunto de informações
referentes à data e hora de uso de uma determinada aplicação de internet a partir de um
determinado endereço IP.
Os conceitos contidos no artigo são técnicos e visam fornecer um padrão
interpretativo para a aplicação da lei. Não é comum que as leis tragam
conceitos, mas no caso do Marco Civil houve a necessidade para uniformizar o
entendimento a respeito dos assuntos tratados.
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Art. 6º Na interpretação desta Lei serão levados em conta, além dos fundamentos,
princípios e objetivos previstos, a natureza da internet, seus usos e costumes
particulares e sua importância para a promoção do desenvolvimento humano,
econômico, social e cultural.
Como vimos existem diversos princípios fundamentais previstos na lei e
Constituição, a regra amplia à utilização de usos e costumes, o que poderia,
talvez, conferir nova interpretação a dispositivos.
Alguns conceitos novos, que foram criados por costumes ou utilização
errada da rede, podem ser: perfil falso, compra de pacotes de likes, compra de
seguidores, compra de visualizações, compra de comentários em blogs,
camuflar IP, black hat. etc.
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Black hat - SEO (chapéu preto – para se referir aos filmes de western onde o
bandido geralmente usava chapéu preto). Nas estratégias de Otimização de Sites
(Search Engine Optimization – SEO), são utilizadas diferentes técnicas para o bem,
que respeitam as diretrizes do Google e demais buscadores, ou para o mal. Essas
técnicas são divididas entre White Hat, Gray Hat e Black Hat, dependendo da maneira
como elas melhoram o posicionamento de um site nos resultados do Google.
O White Hat são práticas aceitas como a criação de conteúdos, participação em
blogs etc. Essas são consideradas boas práticas visando alavancar um site.
O termo Gray hat é utilizado para práticas que podem ser eficientes para alavancar
um site, mas que tem uma técnica que pode ser condenada eticamente (por exemplo
conseguir ou criar links desnecessários para o conteúdo, publicar notícias falsas para
atrair o público e comprar domínios inativos, além de seguidores para as redes sociais).
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O termo Black Hat é utilizado no meio da tecnologia para se referir a
pessoas ou técnicas que, para atingir um objetivo, não respeitam as diretrizes de
um órgão, empresa ou pessoa responsável. Assim, Black Hat é toda prática que
não siga as diretrizes do Google e demais sites, ao procurar brechas nos
algoritmos e influenciar nos resultados das pesquisas.
Entre elas estão o uso de textos e links ocultos, carregamento de páginas
com palavras-chave irrelevantes e o cloaking. Essa última prática se refere à
apresentação de conteúdos diferentes para os robôs do Google e para o
usuário. Outra prática que era muito utilizada antes de ser banida pelos
buscadores é a de preencher todo o plano de fundo do site com as palavras-
chave e camuflá-las utilizando a mesma cor do fundo”. Conteúdo original
disponível em: <http://www.conceitoideal.com.br/Otimizacao-de-Sites-
SEO/o-que-e-black-hat-gray-hat-e-white-hat.html#ixzz36uJXA92N>.