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Ecomuseu CSJ 2020 - Digital

Livro sobre o projeto Ecomuseu dos Campos de São José com foco em três bairros de atuação: Campos de São José, Jardim Diamante e Jardim Americano
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
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Ecomuseu CSJ 2020 - Digital

Livro sobre o projeto Ecomuseu dos Campos de São José com foco em três bairros de atuação: Campos de São José, Jardim Diamante e Jardim Americano
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E COMUSEU DOS

C AMPOS DE S ÃO J OSÉ
ENTRE MEMÓRIAS E PERSPECTIVAS
Maria Siqueira Santos (Coord.)

Realização:

Patrocínio:

São José dos Campos, SP


2020
Ecomuseu dos Campos de São José
ENTRE MEMÓRIAS E PERSPECTIVAS Imagem da Capa:
Adão Silvério
Gestão do Projeto Ecomuseu+
Maria Siqueira Santos Projeto Gráfico e Capa
Magno Studio
Equipe de trabalho do Ecomuseu+
Aline Rocha Silva Tratamento de imagens
e editoração eletrônica
Caroline Farnesi Borrielo
Magno Studio
Desirée de Moura Ferreira
Fábio Martins Bueno Revisão
Joseana Aparecida de Souza Barreto Davi Siqueira Santos
Juliana Mara Lima das Neves Entrevistas
Marcelo Vitor Rodrigues da Cunha Equipe de trabalho do Ecomuseu+
Maria Siqueira Santos Equipe de trabalho do Inventário Participativo
Raquel Henrique Grupo de Comunicação de Jovens
Renata Sparapan Pesquisas bibliográficas e textos
Tiane Tessaroto Maria Siqueira Santos
Diretor-Presidente do Centro de Raquel Henrique
Estudos da Cultural Popular Tiane Tessaroto
Ricardo Savastano
Impressão
Idealização e supervisão de conteúdo Allcor - Gráfica e Editora
Maria Angela Piovesan Savastano

Ficha Catalográfica
Elaborada por Cíntia Cássia Soares – CRB 8R/8848

Santos, Maria Siqueira (Coord).


Ecomuseu dos Campos de São José: entre memórias e perspectivas / Maria Siqueira
Santos (Coord.). São José dos Campos, SP: CECP, 2020.
108p. : il. ; 21x24cm.
ISBN 978-65-87109-00-8
1.Ecomuseu – São José dos Campos, SP 2. Cultura Popular – São José dos Campos
I. Título.

CDU:398
CDD:398
Sumário
1. Ecomuseu dos Campos de São José 7

2. A memória como patrimônio cultural: histórias dos bairros 11


A Zona Leste de São José dos Campos 12
Campos de São José 18
Jardim Diamante 50
Jardim Americano 71

3. Histórico fotográfico do Ecomuseu dos Campos de São José 82

4. Depoimentos e pespectivas 95

5. E foi assim que tudo começou... 103

6. Mural de agradecimentos 104


Ecomuseu dos Campos de São José

E
m março de 2015 iniciou-se, com o patrocínio da Petrobras/Governo Federal, a
execução do Projeto “Ecomuseu: um território, um patrimônio, uma comunidade”,
no bairro Campos de São José, Zona Leste de São José dos Campos - SP. Três anos
depois, também em março de 2018, o Centro de Estudos da Cultura Popular (CECP)
deu continuidade à implantação do Ecomuseu dos Campos de São José com o Projeto
“Ecomuseu+”, novamente com o patrocínio da Petrobras/Governo Federal e incluindo os
bairros Jardim Americano e Jardim Diamante no escopo da ação. Ainda com um longo
caminho pela frente, mas já com histórias para contar, o Ecomuseu dos Campos de São
José tem o objetivo de desenvolver o protagonismo nos atores locais por meio de ações de
valorização e fomento das culturas populares, dos saberes e fazeres do dia a dia que eviden-
ciam processos históricos, identidades culturais, enraizamentos e empoderamentos sociais.
O CECP, uma organização não-governamental sem fins lucrativos, instituída em
1999 com a finalidade de promover o estudo, a pesquisa, a difusão e a valorização dos
patrimônios material e imaterial em São José dos Campos, SP, tem, dentre suas ações
realizadas, três atividades de destaque que se articulam para o cumprimento de sua fina-
lidade: a gestão do Museu do Folclore de São José dos Campos, a produção da Coleção
Cadernos de Folclore e, mais recentemente, a implantação do Ecomuseu dos Campos de
São José, cujo objetivo é sensibilizar os participantes para o desenvolvimento da noção
de coletividade, para uma tomada de consciência cultural, para a mobilização das pessoas
em prol de seu patrimônio, de sua história, de sua memória, com a intenção de atuar no
desenvolvimento sustentável e na construção de um mundo melhor.
A busca por conhecimentos e trocas de experiências, já no início dos anos 2000, por
representantes do CECP liderados por Angela Savastano, resultaram em propostas mu-
seológicas que atendessem às demandas atuais dos territórios e sociedades. Essas pesqui-
sadoras percorreram cidades brasileiras para participar dos Encontros Internacionais de
Ecomuseus e Museus Comunitários e das Jornadas de Formação em Museologia Comu-
nitária, atividades realizadas pela Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comuni-
tários (ABREMC) e seus parceiros. O objetivo maior destes encontros era discutir práti-
cas e conceitos ligados à Nova Museologia, fundamentais para a proposta de desenvolver
um trabalho nesses moldes em São José dos Campos.

7
Neste contexto, foram conhecidas experiências de ecomuseus e museus comunitários
no Brasil e no mundo. Mas, o que seriam esses museus e o que os diferenciariam dos mu-
seus ditos “tradicionais”?

São museus cuja preocupação é a resolução das necessidades do grupo, não


havendo qualquer preocupação com um público; não são museus para serem visita-
dos, o que não impede que isso aconteça, mas para serem vividos no cotidiano pelos
partícipes das sociedades que os construíram. De certa forma, a ideia de patrimônio
global responde pela definição desses museus: a própria vida, natural e cultural, é o
patrimônio maior a preservar. Como processar tudo isso? Identificando esse patri-
mônio, pesquisando sobre ele, inventariando-o e comunicando-o para que cada vez
mais seja percebido assim pela sociedade e assumido responsavelmente por ela. Por
fim, transmitindo-o, reciclado e transformado, às gerações futuras.
São museus que se reconhecem como museus, pois coletam, pesquisam, inven-
tariam e comunicam memórias – representadas pelo patrimônio – e as preservam,
transformando-as ou recriando-as, transmitindo-as para a posteridade para que em
algum outro momento de sua história possam ser utilizadas em benefício das so-
ciedades.1

O leitor agora deve estar se perguntando, como é que tudo isso acontece? Como co-
locar o patrimônio cultural a serviço do desenvolvimento local? Como as ações culturais
desenvolvidas no Ecomuseu promoveram o protagonismo social?
No ritmo de vida do cotidiano, é comum que o comportamento recorrente seja espe-
rar: esperar que as coisas mudem, que os conflitos acabem, que os políticos resolvam os
problemas de ordem pública. Porém, por diversos motivos, esta espera tem se mostrado
pouco eficiente. Primeiramente, porque a esfera pública não tem estrutura para resolver a
contento todas as demandas de todos os cidadãos no momento preciso. Segundo, porque
para que mudanças ocorram, os cidadãos têm de agir de maneira propositiva, ou seja, re-
conhecendo seu papel no diálogo com os representantes públicos e se responsabilizando
pela preservação e cuidado do espaço público e de uso coletivo. Por fim, é necessário que
os cidadãos definam coletivamente suas prioridades, tenham clareza sobre seu patrimônio
cultural e ambiental para que, no diálogo com a esfera pública, possam sugerir aquilo que
é mais potente de ser realizado em seu território.
1
PRIOSTI, Odalice e PRIOSTI, Walter. Ecomuseu, Memória e Comunidades: Museologia da Libertação e piracema cultural no
Ecomuseu de Santa Cruz. Camelo Comunicação: Rio de Janeiro, 2013, p. 38-9.

8
Logo no início e durante todo o processo de execução, a metodologia do Ecomuseu
dos Campos de São José consistiu em mapear e fomentar os saberes e fazeres, promover
a participação social e o uso dos espaços públicos por meio de rodas de conversa, rodas de
cantoria, vivências, feiras culturais e piqueniques em parques e praças; fomentar rodas de
bordado para troca de técnicas artesanais e convívio social; organizar e fomentar mutirões
para construção de hortas comunitárias ou manutenção de áreas de lazer em locais de uso
coletivo. Assim, mapear o patrimônio cultural local, mobilizar as pessoas, proporcionar
situações de convívio social e estimular atitudes propositivas dos habitantes de um ter-
ritório são etapas para a implantação desse museu comunitário, cujo objetivo primordial
é promover o desenvolvimento local a partir do patrimônio cultural reconhecido pelos
próprios detentores.
Acredita-se que mobilizadas, as pessoas se permitem estar em situações de maior
convívio e diálogo em coletivo e, assim, é natural que novas ideias emerjam. Neste conví-
vio, revelam-se também os conflitos, desafios e problemas: a falta de iluminação, a falta de
segurança, o asfalto ruim, o descarte irregular de entulho, o trânsito de gado pelas ruas, os animais
abandonados, o rio degradado, bem como sua mata ciliar, a falta de área de lazer para crianças,
jovens, idosos, a insuficiência do serviço público de saúde... São assuntos que interessam a todos
e que podem ser mais rapidamente e adequadamente resolvidos se os cidadãos interessa-
dos participarem de todo o processo de solução dos problemas. Neste processo, é funda-
mental que o patrimônio cultural reconhecido pelos moradores seja utilizado como motor
das ações, pois isto trará resultados consistentes e duradouros para a referida comunidade.
Mas, o que seria este patrimônio cultural?
Patrimônio cultural é o que criamos, valorizamos e queremos preservar, por fazer sen-
tido para nós e por conter memórias que de alguma forma adquirem sentido no âmbito
coletivo. Por vezes, esse patrimônio está tão ligado ao nosso dia a dia que nem nos damos
conta dele, ou não o valorizamos como um bem cultural.
A palavra “património” vem do latim patrimonium (patri = pai + monium = recebido)
e está ligada ao conceito de herança ou bem recebido por hereditariedade. Esse bem pode
estar relacionado a coisas materiais como uma casa, um objeto de valor, mas também diz
respeito a todo o valor imaterial que herdamos dos nossos antepassados como os costumes,
o jeito de falar, o conjunto de saberes e fazeres, expressões e práticas que nos remetem a
histórias e memórias de quem somos.
Reconhecer e valorizar esse conjunto de bens culturais (materiais e imateriais) de

9
determinado local, os pessoais e os coletivos, é um dos primeiros passos para o empodera-
mento comunitário e o desenvolvimento local, uma vez que, identificados os bens comuns
e os potenciais individuais, os laços de pertencimento são fortalecidos e o envolvimento/
responsabilização do sujeito com seu território se intensifica. Por isso a valorização do
patrimônio é tão importante e estratégica!

O patrimônio, sob suas diferentes formas [...], fornece o húmus, a terra fértil
necessária ao desenvolvimento. O desenvolvimento não se faz “fora do solo”. Suas
raízes devem se nutrir dos numerosos materiais que, na sua maioria, estão presen-
tes no patrimônio: o solo, a paisagem, a memória e os modos de vida dos habitan-
tes, as construções, a produção de bens e de serviços adaptados às demandas e às
necessidades das pessoas. (VARINE, 2013)

Este é o trabalho do Ecomuseu dos Campos de São José: potencializar o desenvolvi-


mento socioambiental das comunidades a partir dos elementos presentes no patrimônio
cultural dos habitantes destes territórios.
A partir deste momento, o livro se dividirá em quatro partes. Num primeiro momen-
to, como resultado de um mapeamento cultural e das memórias relatadas pelos entrevista-
dos, será apresentada uma Memória dos bairros. Em seguida, na parte intitulada Álbum de
fotografias, será apresentado um histórico imagético de ações do Ecomuseu dos Campos
de São José. A terceira parte será uma sessão de Depoimentos e perspectivas dos habitantes
dos bairros e parceiros que estiveram com o Ecomuseu durante suas atividades. Para en-
cerrar, será apresentado um Mural de Agradecimentos, com nomes de pessoas que, ao longo
destes cinco anos, mobilizaram-se e, por algum momento, foram pilares de sustentação
das ações do Ecomuseu dos Campos de São José.

10
A memória como patrimônio cultural:
histórias dos bairros

P
or que escrever sobre três bairros localizados na Zona Leste de São José dos
Campos? O leitor poderá estar se perguntando sobre a necessidade ou importân-
cia desse feito, talvez ávido por descobrir um segredo do passado, uma construção
icônica e antiga, ou alguma manifestação cultural das gentes dessa região que perdura
no tempo ou ainda algum fato extraordinário que, por esta mesma razão, se sobressaia
do contexto comum que paira sobre essas três localidades – Campos de São José, Jardim
Americano e Jardim Diamante – justificando o motivo para se escrever um livro sobre as
memórias destes três locais. Porém, nada disso aconteceu. Ou melhor, não foi a busca pelo
extraordinário que motivou esta pesquisa e produção deste livro. Foram as memórias de
vida, as narrativas acerca da formação dos bairros, as histórias do cotidiano, o olhar e ação
dos habitantes sobre o território que motivaram a escrita deste livro. Tal livro celebra tam-
bém um importante marco na implementação do Ecomuseu dos Campos de São José, em
São José dos Campos, projeto idealizado e executado pelo Centro de Estudos da Cultura
Popular (CECP), na região Leste do município.
Para alcançar seu objetivo de promover o desenvolvimento local a partir do patrimônio
cultural, o Ecomuseu dos Campos de São José realiza, desde 2015, um levantamento sócio-
-histórico2 da localidade (Campos de São José, Jardim Americano e Jardim Diamante) por
meio do trabalho da equipe de campo, contratada pelo CECP para realizar entrevistas, visi-
tas domiciliares, rodas de conversas, atividades de interação com os habitantes desses bairros,
mutirões ecológicos, dentre outras tantas ações de sensibilização, mobilização, divulgação,
reuniões com parceiros, produção de relatórios. Em todas essas ações, mas especialmente
durante as entrevistas dirigidas, é feito um mapeamento acerca da cultura familiar do entre-
vistado. Perguntas como: Onde nasceu? Morava na roça ou na cidade? Qual era a ocupação
2
Vale ressaltar que o levantamento sócio-histórico proposto pelo Ecomuseu nos territórios já citados baseia-se na metodologia
de pesquisa desenvolvida pelo CECP durante seus 20 anos de existência e, anteriormente, durante os quase 10 anos de Comissão
Municipal de Folclore. Essa metodologia, amparada nos estudos de Rossini Tavares de Lima e Julieta de Andrade, da Escola
Paulista de Folclore, dialoga com a Pesquisa Participante, fundamentada por Carlos Rodrigues Brandão, na qual a produção do
conhecimento é produto da relação de diálogo entre as partes, procurando superar a oposição entre sujeito/objeto e pesquisador/
pesquisado. Parte do pressuposto de que cada sujeito é em si uma fonte original e insubstituível de saber. Segundo o autor, “Uma
investigação-ação-participativa almeja realizar alguma dimensão de empoderamento de saberes-e-poderes, de vocação insurgen-
te e emancipatória” (BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A terceira Margem do Rio: anotações e fragmentos sobre a experiência da
pesquisa como um encontro, 2017, p. 35. Disponível em: http://www.apartilhadavida.com.br/).

11
de seu pai/mãe? Qual era a sua ocupação na época em que vivia com seus pais? Sua mãe, seu
pai ou alguém da sua família faz/fazia algum tipo de artesanato? Tem alguém na sua famí-
lia que toca algum instrumento/canta/produz? Era comum ter festas populares/tradicionais
onde você vivia? Conhece alguém que faz usos medicinais de plantas?
Num segundo momento, depois de supor e verificar que as lembranças familiares e
as vivências em comunidade são elementos formativos do patrimônio cultural de uma
comunidade, ou seja, das memórias, dos saberes e dos fazeres que constituem a herança
cultural de alguém, a equipe do Ecomuseu procurou traçar, a partir dos depoimentos dos
moradores, o histórico de constituição dos bairros.
Portanto, a produção dessa “Memória dos bairros” se baseia, como indicado, nas
memórias dos moradores. São elas que alimentam as narrativas para a construção deste
histórico. Entende-se que a valorização das narrativas locais e o processo de construção
histórica a partir das memórias dos habitantes do território traz um novo olhar sobre essa
localidade, onde o sujeito se reconhece como parte formativa dela, pois, justamente suas
lembranças, suas fotografias, suas percepções, traçam a linha condutora dessa história3.
Além das narrativas sobre esses pedaços de terra e suas populações, consultou-se li-
vros, artigos, documentos públicos, mapas, fotografias para compor o registro desses três
bairros da Zona Leste do município de São José dos Campos.

A Zona Leste de São José dos Campos


O Campos de São José, o Jardim Americano e o Jardim Diamante estão localizados
na região leste da cidade de São José dos Campos e fazem vizinhança com a REVAP -
Refinaria Henrique Lage, uma das refinarias da Petrobras, patrocinadora do Ecomuseu
dos Campos de São José de 2015-2017 e 2018-2020.

3
Cabe ressaltar também que o trabalho realizado em São José dos Campos pelo CECP tem como referência bibliográfica e de
abordagem metodológica as propostas expressas pelo museólogo francês Hugues de Varine em seu livro As raízes do futuro: o
patrimônio a serviço do desenvolvimento local. Nele, Varine expõe os pressupostos do que chama de “inventário participativo”, ou
ainda, “inventário compartilhado”, onde o levantamento do patrimônio é feito de forma coletiva, procurando envolver os atores
locais a fim de que se conscientizem de seu valor e ganhem maior autonomia sobre sua conservação, transmissão e transformação.
“Devemos sempre lembrar que o inventário compartilhado é ao mesmo tempo um objeto e um meio: trata-se, com certeza, de
chegar a um produto, utilizando todos os meios de coleta, de registros e de difusão; mas é também, e talvez principalmente, uma
pedagogia que visa a fazer nascer no território a imagem complexa e viva de um patrimônio comum, de múltiplos componentes e
facetas, que se tornará o húmus do desenvolvimento futuro, e que será igualmente compartilhado por todos”. (VARINE, Hugues
de. As raízes do futuro: o patrimônio a serviço do desenvolvimento local. Porto Alegre: Medianiz, 2013, p. 59).

12
O crescimento dessa área da cidade deve-se, em grande medida, à instalação de indús-
trias na região e à construção e ampliação da rodovia Presidente Dutra para escoamento
da produção no eixo Rio-São Paulo. São José dos Campos teve um aumento industrial
exponencial a partir da década de 1950, o que resultou num grande crescimento popula-
cional entre as décadas de 1950 e 1970. Esse crescimento continuou nas décadas de 1980
e 1990 e as populações migrantes, que chegavam no município para trabalhar nas firmas,
costumavam procurar as áreas urbanas para viver, especialmente as áreas periféricas. As-
sim, o aumento da industrialização está ligado ao aumento da população que, por sua vez,
está ligado ao aumento da urbanização do município.
A Zona Sul e a Zona Leste da cidade foram as regiões com maior crescimento po-
pulacional e de urbanização, ambas margeando a via Dutra e crescendo como reflexo do
desenvolvimento industrial. A região sul foi preferida, a princípio, para sediar o parque in-
dustrial do município, empresas como a Kodak, Johnson & Johnson, Panasonic, Gerdau,
Eaton se instalaram na região já entre as décadas de 1950-1970. Na região leste, Embraer,
General Motors, Revap, Alpargatas, Ericsson começaram a ser instaladas a partir de me-
ados de 1960 e influenciaram no crescimento urbano desta região do município, especial-
mente a partir da década de 1970.
A região Leste teve então um grande número de loteamentos aprovados neste pe-
ríodo devido à presença da Refinaria Henrique Lages e da fábrica da General Motors,
mas, também, devido ao custo do imóvel nessa região que atraiu muita gente que “queria
sair do aluguel”. Além disso, houve o loteamento irregular de chácaras ocupadas por uma
população de baixo poder aquisitivo, tornando-se um dos principais eixos de crescimento
da cidade3.
Segundo informações obtidas através do informativo São José em Dados, de 2016, a
região leste ocupa uma área territorial de 134,69 km² e atingiu, em 2010, uma população
de 160.990 pessoas5. A área continua em expansão, com construção de conjuntos habita-
cionais e loteamento de bairros.

4
PAPALI, M. A., COSTA, S. F., ZANETTI, V., ALMEIDA, D., CARVALHO, L. C. G. “Dinâmica Urbana da Zona Leste de São José
dos Campos (SP) e a Refinaria Henrique Lage (Revap)”. In: COSTA, S. M. F., MELLO, L. F. Crescimento Urbano e Industrializa-
ção em São José dos Campos. São José dos Campos: Intergraf, 2010, p. 143-162.
5
Dados censitários de 2010. In: São José em Dados, 2016. Disponível em: http://servicos2.sjc.sp.gov.br/media/667370/sjda-
dos_2016.pdf. Acessado em: 01/03/2020.

13
Mapa da área de atuação do Projeto Ecomuseu+

Imagem de satélite evidenciando a área de ação do Projeto Ecomuseu+. Fonte: Google Earth Pro.

14
O bairro Campos de São José (CSJ) passou a assim ser chamado a partir do lote-
amento do terreno que havia abrigado a fazenda Sanefuji, importante produtora rural
da região entre os anos de 1960 e 1970. Na década de 1980, quando a gleba foi vendida
para a empresa Castor Engenharia e Comércio LTDA., foi que se deu a urbanização e
as vendas dos lotes, momento de grande ocupação da região Leste de São José dos Cam-
pos. Situado entre as bacias hidrográficas dos rios Pararangaba e Alambari, o Campos
de São José possui cerca de 8.000 habitantes, um bairro bastante populoso para o con-
texto do município. Fica localizado no entorno da REVAP, Refinaria Henrique Lages –
Petrobras -, distante cerca de 20 km do centro da cidade e localizado entre o lado direito
da rodovia Presidente Dutra sentido São Paulo - Rio de Janeiro e esquerdo da rodovia
dos Tamoios sentido São José dos Campos - Litoral. A caminho da Serra do Mar, o
território do CSJ tem um relevo ondulado numa altitude mais elevada, já prenunciando
a Serra. Dali, tem-se um belo horizonte.
É um espaço urbano que faz fronteira com a zona rural. Andando por suas ruas ve-
mos pastos que viraram quarteirões, mas que mantém suas cercas, suas vacas e cavalos, bem
como a sabedoria de homens e mulheres da roça. A distância bairro-centro é grande para
a maioria da população que faz uso de meio de transporte coletivo. Com isso, é dificultoso
para a população se deslocar do bairro para o centro, embora para determinados serviços este
deslocamento tenha necessariamente de ser feito. Por exemplo, não há agências bancárias
no local, apenas uma Casa Lotérica, não há postos de gasolina ou agência do correio. Esses

Panorâmica do bairro mostrando o encontro do rural e do urbano, 2020. Crédito: Ecomuseu dos Campos de São José.

15
serviços podem ser encontrados no bairro Cidade Vista Verde, mas percebe-se que a maioria
da população aproveita e, quando precisa, vai até o centro para resolver tais pendências.
Existem no bairro lojas comerciais, mercados, salões de beleza e barbearias, farmácias,
lanchonetes, restaurantes, escolas, unidade de saúde, igrejas (católica e evangélicas), bici-
cletarias, brechós, quitandas, marcenarias, açougues. É um centro regional, pois as insti-
tuições dali congregam populações de outros bairros próximos, servindo uma população
de cerca de 25.000 pessoas. Os moradores são geralmente trabalhadores que passam o dia
fora e voltam para jantar e dormir, seus filhos ficam no bairro para estudar, passear. Alguns
jovens trabalham, mas percebe-se que muitos ficam ociosos no período que estão em casa.
Há, porém, iniciativas locais na área da cultura importantes para o envolvimento dos
jovens do bairro. A Clubeca é uma iniciativa de longa data do sr. Paulo Roberto da Silva e
sua mulher Luci Mara Aparecida Ribeiro. Trata-se de um Projeto Social intitulado Clu-
beca - Clube da Criança e do Adolescente - que foi fundado no ano de 1999 e que oferece
atendimentos voltados para ações educativas na área de cultura, arte, prevenção e cidada-
nia6. Também o grupo de capoeira Me Chama, dirigido por André Aparecido Silva (An-
dré Preto, como é conhecido), mestre de capoeira que treina cerca de 60 pessoas, dentre
crianças, adolescentes, jovens e adultos. Os treinos, desde 2015, acontecem às segundas,
quartas e sextas na EMEF Maria Amélia Wakamatsu. Cumpre observar que as atividades
da capoeira Me Chama tiveram início em 2002, quando André começou os treinos nos
fundos do quintal de terra de sua casa.

Também o Célio Cândido, jovem do bairro, aluno da E.E. Valmar Lourenço Santiago
e capoeirista, fez um trabalho voluntário de capoeira com crianças de um bairro próximo.
Célio foi voluntário na equipe do Ecomuseu dos Campos de São José, participando do
Projeto desde 2015.

6
Disponível em: http://clubecasjc.blogspot.com/. Acessado em: 25/03/2020.

16
Grupo de capoeira Me Chama se apresentando duran-
te Feira de Saberes e Fazeres do Ecomuseu, em 2019.
Crédito: Ecomuseu dos Campos de São José.

Vista panorâmica do bairro, 2020. Crédito: Ecomuseu


dos Campos de São José.

Vista da Mata e do Campo de Futebol, 2020. Crédito:


Ecomuseu dos Campos de São José.

17
Campos de São José

Campos de São José, São José dos Campos

Legenda N
Limite do bairro
800 m
Imagem de satélite evidenciando o Campos de São José. Fonte: Google Earth Pro.

18
O loteamento do bairro foi feito há cerca de 40 anos, o que faz dele um bairro recente se
compararmos com a história da urbanização de outras regiões da cidade, como Santana, Vila
Maria, a região Central e até a Zona Sul. Lá foram morar as pessoas e famílias que estavam
chegando em São José ou que já haviam chegado alguns anos antes, mas que ainda pagavam
aluguel em algum bairro da cidade, especialmente na região Sul, ou que viviam na residência
de algum parente mais antigo na cidade. Muitos que compraram os terrenos e casas no Cam-
pos de São José eram migrantes de roças ou pequenas cidades de estados no Nordeste, de
Minas Gerais, do Paraná, do interior de São Paulo que vieram para trabalhar nas fábricas ou
no comércio, e, vivendo aqui, formaram suas famílias, fizeram seus amigos e inimigos, com-
partilharam memórias, saberes e fazeres, riram, choraram, brincaram, labutaram, construíram
um lugar. Um lugar de grande diversidade cultural, de patrimônios guardados nas memórias,
de jeitos e modos de ser, de agir, de rezar. Um lugar que conta a história de migrantes de toda
parte do Brasil e de meeiros das antigas fazendas da década de 1970, atualmente donos de
pequenos sítios e chácaras, que mantém o cotidiano rural em seu modo de ser, embora não
sejam mais células produtivas e autossuficientes em relação à cidade, à indústria e ao comércio.
Por facilidade financeira, por conta de parentescos, pela relativa proximidade das fá-
bricas joseenses, as pessoas foram chegando no Campos de São José, que não tem este
nome por acaso. Além de ser um trocadilho com o nome da cidade de São José dos Cam-
pos, o Campos de São José leva este nome pela vegetação nativa que era predominante
no local, o Cerrado. Porém, mais do que isso, a região é uma área de transição de biomas,
ocorrendo fragmentos do Cerrado, da Mata Atlântica e de Matas de Várzea, chamadas
também de matas ciliares, que protegiam os rios da região.

Mapa do Loteamento do Campos de São José, por volta


de 1983. Note que algumas ruas já estão nomeadas,
enquanto outras ainda estão enumeradas. Já aparecem
previstas as áreas institucionais, onde hoje estão Fun-
dhas, UBS, Escola Estadual e Escola Municipal. Também
estão previstas as praças e a Área Verde, onde foi de-
signado o Parque Alambari, um parque de extensão que
engloba o Campos de São José e o Jardim Mariana 2, e
que, além de área de lazer, protege o córrego Alambari
de maiores degradações. Fonte da imagem: Site da Pre-
feitura de São José dos Campos.

19
Memórias e narrativas dos moradores do Campos
de São José

Os primeiros anos e a mobilização comunitária por melhorias


Os moradores entrevistados pela equipe do Ecomuseu, especialmente os que vivem
próximos à Estrada do Cajuru, região onde foram construídas as primeiras casas do lotea-
mento, contam que o marco inicial do bairro é a Praça do Cruzeiro, pois ali foi celebrada,
em 1989, pelo padre Ernesto Cunha, a primeira missa. Como não havia capela no bairro,
uma Cruz foi fincada no chão da Rua Orlandino de Freitas, exatamente onde hoje se en-
contra a Praça Alda Rogada, mas conhecida como Praça do Cruzeiro.
O nome oficial dessa praça, Alda Rogada dos Santos, é uma homenagem a uma an-
tiga moradora que teve um papel importante de articulação dos munícipes para buscar
melhorias para o bairro no início do loteamento. Esse protagonismo pode ser observado
no depoimento de Maria de Fátima Silva, antiga moradora do Campos de São José que
chegou ao bairro no ano de 1989.

“No começo foi tudo muito difícil, não tinha água. A gente só tinha água num reservatório de poço
artesiano, mas faltava mais água do que vinha. A gente passava uns três dias sem água. Não tinha
luz, a gente emprestava luz de uma empresa e vivia se mobilizando, eu, a finada Alda, a Edna, umas
mulheres que tinham aqui na comunidade, a Baiana, a Gelita. A gente vivia se mobilizando para
reivindicar, íamos até a porta do senhor Geraldo, que era responsável pela Castor, ele quem cuidava da
água e da luz. Foram vindo novos moradores e a comunidade foi se organizando. Essa organização
começou mais pelas mulheres que cuidavam das crianças, cuidavam das casas, que rezavam”.

Fotografia retrata evento religioso ao ar livre no Campos de São José, 2005. Crédito: Arquivo da Paróquia São José,
Esposo de Maria.

20
Imagens de santos que são
colocadas por fiéis na capeli-
nha localizada junto ao Cruzei-
ro. 2019. Crédito: Ecomuseu
dos Campos de São José.

Placa da Praça. Crédito: Eco-


museu dos Campos de São
José.

21
Cruzeiro, capelinha e área de
lazer da Praça Alda Rogada
dos Santos após mutirão de
revitalização. Crédito: Eco-
museu dos Campos de São
José.

22
No início o bairro tinha pouca estrutura urbana, as ruas internas foram entregues
asfaltadas, mas a Estrada do Cajuru, que ligava o bairro ao centro da cidade, ainda era de
terra. Atualmente essa estrada recebe o nome de Dom José Antônio do Couto, que foi um
bispo da Diocese de Taubaté, embora seja ainda popularmente reconhecida como Estrada
do Cajuru.
Segundo conta a moradora Nadir Aparecida dos Reis, a estrada foi asfaltada apenas no ano
de 1999. Padre Célio Antônio Almeida, que trabalhou por muitos anos no bairro, e o morador
José Moraes, nascido na região há mais de 50 anos, confirmam a data e acrescentam que foi
preciso reunir moradores para que o fato acontecesse. O sr. José Moraes relatou também que um
grupo de moradores foi até São Paulo, na instância do governo estadual, para pleitear o asfalto
para a Estrada do Cajuru, que a essa época já possuía muitos bairros formados no seu entorno.

“Teve uma comissão de bairro que o meu pai fazia parte, uma comissão de bairro forte. Isso ia
ser asfaltado mesmo, porque as coisas iam crescendo de uma tal maneira que tinha que ser asfaltado.
O asfalto veio no ano de 1999, mas a luta na prefeitura já tinha uns cinco anos. O grupo chegou a ir
até em São Paulo para poder liberar a estrada. Na inauguração veio o governador Mário Covas. Ele
desceu de helicóptero bem em frente ao campo na Capela de Santa Cruz”.

Registro do dia em que o governador Mário Covas esteve na Capela de Santa Cruz para a inauguração do asfalto da
Estrada do Cajuru, no ano de 1999. As crianças se divertiram em frente ao helicóptero que trouxe as autoridades.
Crédito: Arquivo pessoal de José Moraes e Neusa Evangelina Moraes.

23
Transporte e saneamento também
eram precários. Os serviços básicos foram
chegando aos poucos como resultado dos
esforços comunitários, muitos deles inicia-
dos a partir do envolvimento das pessoas
com as CEBs (Comunidades Eclesiais de
Base) e a SAB (Sociedade Amigos do Bair-
ro). Como lembra Maria de Fátima Silva,
a movimentação para conseguir melhorias
partiu em grande medida da organização
das mulheres, pois eram elas que, por fi-
carem em casa responsáveis pelos cuidados
com os filhos, tomavam a frente nas reivin-
dicações e também faziam visitas às casas
para rezar o terço, conhecendo assim mais
de perto as necessidades dos moradores do
bairro. Nilcéia Aparecida Neves de Melo,
outra moradora antiga que chegou ao bair-
ro no ano de 1991, conta que em sua rua,
hoje muito movimentada, havia apenas
quatro casas e atrás um grande morro de
areia e argila onde seus filhos brincavam.
Ela também relembra que nos primeiros
dias no bairro passou sem energia elétrica,
tendo que emprestar de vizinhos até conse-
guir a instalação correta.

Família de Nilcéia Aparecida Neves de Melo, na rua


Benedito de Paula Ferreira, altura do número 380, dé-
cada de 1980. Era o início do loteamento e a família
havia se mudado para o Campos de São José a pouco
tempo. Crédito: Arquivo pessoal de Nilcéia Aparecida
Neves de Melo.

24
A mobilização continua: “A comunidade aderiu ao desafio de unir-se
para construir a capela na base de mutirão. Ad-
mutirões para construção quirimos um lote, construímos uma capelinha e
da Capela depois construímos um prédio grande que está lá”.

O bairro Campos de São José atual-


As pessoas não tinham muitos recursos
mente abriga a Paróquia São José, Esposo para ajudar financeiramente na construção da
de Maria, instalada em 26 de fevereiro de igreja, então, ajudavam com trabalhos coleti-
2016 pela Diocese de São José dos Cam- vos. Doavam seu tempo e o material para fazer
pos. Sua história, porém, é bem mais an- salgados, doces, comidas típicas e vender em
tiga e envolve os esforços da comunidade barracas para angariar fundos para a constru-
e dos párocos que por lá passaram, pois foi ção da igreja. O padre relata que a Paróquia
construída na base de mutirões, com mui- foi uma das grandes conquistas do bairro. Cita
to esforço e envolvimento da comunidade também o Parque Alambari como importante
que promovia festas para arrecadar o di- conquista da comunidade local.
nheiro necessário para a compra dos mate-
riais e arregaçava as mangas para construir
o templo.
Segundo os relatos de moradores, após
a celebração da primeira missa e a coloca-
ção do Cruzeiro no cruzamento das ruas
Orlandino de Freitas e Mirabeau Antônio
Pini, as demais missas passaram a ser ce-
lebradas nas casas das pessoas até que, por
volta do ano de 1990, conseguiu-se um pe-
queno terreno e construíram uma pequena
capelinha de madeira coberta com telha
Eternit. Foi uma luta grande até que con-
seguiram a doação do terreno por parte da
empresa Castor.
De acordo com o padre Célio Antônio
Casa que era usada como Capela do bairro, entre 1993-
de Almeida 1995. Crédito: Arquivo da Paróquia São José, Esposo
de Maria.

25
Vista da construção da Capela do Campos de São José e primeiras casas da região, entre 1993-1995. Crédito: Arquivo
da Paróquia São José, Esposo de Maria.

Construção em mutirão da Capela do Campos de São José, entre 1993-1995. Crédito: Arquivo da Paróquia São José,
Esposo de Maria.

26
Construção em mutirão da Capela do Campos de São José, que atualmente recebe o nome de Paróquia São José,
Esposo de Maria, entre 1993-1995. Crédito: Arquivo da Paróquia São José, Esposo de Maria.

A Paróquia São José, Esposo de Maria em 2018. Cré-


dito: Arquivo da Paróquia São José, Esposo de Maria.

27
A Igreja Batista do Campos de São José é uma dentre as várias igrejas evangélicas
existentes no bairro. O prédio que existe hoje foi construído por volta de 2010, porém
o espaço é utilizado pela comunidade evangélica batista há cerca de 20 anos. Quem nos
conta é a moradora Julita Miranda de Lima, que está no bairro há quase 25 anos. Segundo
a moradora, o terreno, que era da empresa Castor, foi adquirido por mulheres ligadas à
Igreja Batista do bairro São Vicente. Antes, as reuniões aconteciam em sua casa, que fica
em frente ao terreno. Julita, que escreve poemas e tem dois livros publicados, conta com
orgulho que na pedra fundamental da igreja está uma de suas poesias.
D. Julita conta ainda que no começo foi armado um circo no terreno para arrecadar
fundos e promover uma ação social para chamar a comunidade. Atualmente, a igreja con-
ta com aproximadamente 180 membros e realiza ações comunitárias e de evangelização.
Oferece cursos de férias com atividade lúdicas dentro da escola bíblica para as crianças.
Também promove acampamentos e ações sociais, como o curso de corte e costura. É um
ponto de referência cultural importante para a comunidade evangélica do bairro.

Fotografia da Igreja Batista do Campos de São José. D. Julita participando de uma Roda de Bordado na praça
Crédito: Ecomuseu dos Campos de São José. Alexandre dos Santos Sacilotti, no Campos de São José.

28
Histórias do antes vividas no hoje

O Cajuru que permanece no Campos de São José

Vista do Cajuru, região que engloba os atuais bairros Santa Helena, Campos de São José, Jd. Mariana I e II, Santa Cecí-
lia I e II, Cajuru, Pousada do Vale e Monte Rey. Esta foto foi tirada do sítio do sr. João de Moraes Filho, em 2015, mostran-
do o vale por onde passa o ribeirão do Cajuru, afluente do rio Pararangaba. Crédito: Ecomuseu dos Campos de São José.

Embora seja uma urbanização recente, a região do Campos de São José tem uma lon-
ga história de ocupação humana. Assim como em outras áreas da região leste de São José
dos Campos, foi encontrado um sítio arqueológico num topo de uma colina do recém-
-inaugurado loteamento Altos de São José, bairro vizinho. Segundo o arqueólogo respon-
sável, Wagner Gomes Bornal, durante palestra realizada no Parque Vicentina Aranha, no
dia 15 de agosto de 20177, as peças recolhidas naquele sítio indicam que ali habitavam
indígenas pré-cabralinos, caçadores-coletores, do tronco linguístico tupi-guarani. Há mais
de 500 anos, portanto, esses indígenas nomearam essas terras, suas árvores e frutos, bem
7
Ver https://issuu.com/parquevicentinaaranha/docs/pva17_ago_prog_issuu/7. Acessado em 23/02/2020.

29
como seus rios e peixes. Alguns desses no- Cajuru, segundo o Dicionário Hou-
mes permanecem nos dias de hoje, embora aiss, vem da junção dos termos ka’a + ju’ru.
não nos atentemos a isto. Ka’a no sentido de ‘mata’ e ju’ru no senti-
O território do Campos de São José, do de ‘boca’, donde tem-se ‘boca da mata’.
que pertence à região do Cajuru, é banha- Era ali, e ainda é, onde os rios Cajuru e
do pelas águas de dois rios, que atualmente Alambari correm lado a lado até desaguar
são quase invisíveis aos moradores devido no Paraíba do Sul; era ali, e ainda é, que a
à grande redução dos seus volumes, em- vegetação do Cerrado se encontra com as
bora continuem sendo importantes para a árvores da Mata Atlântica, mediadas pelas
rede hidrográfica de São José dos Campos. Florestas Aluviais, as várzeas. Hoje estrada
São eles: o ribeirão do Cajuru e o córrego do Cajuru, ribeirão do Cajuru, região do
Alambari. Não por acaso, os dois nomes Cajuru, bairro Cajuru. A palavra permane-
são de origem tupi-guarani. ce, a paisagem muda.
Alambari, também na acepção do
Do lado direito, a estrada Dom José Antônio do Couto,
Houaiss, é uma palavra tupi-guarani:
conhecida como Estrada do Cajuru. O ribeirão do Cajuru “Arawe’ri no sentido de ‘nome de várias es-
corre do lado esquerdo da estrada. Crédito: Ecomuseu
dos Campos de São José.
pécies de peixes da fam. dos caracídeos’.”
Os caracídeos são peixes pequenos e mui-
to abundantes nas águas dos rios brasilei-
ros, popularmente chamados de lambaris.
Aquele rio, que hoje cruza o Campos de
São José, tão estreito, assoreado e poluído,
era um rio cheio de lambaris, onde os anti-
gos moradores da terra pescavam para pro-
ver sua alimentação, onde as crianças na-
davam e brincando aprendiam as tarefas da
vida. Ali também, na riqueza de um terri-
tório permeado pelo cerrado e pela floresta,
se colhiam frutos, ervas, raízes e sementes.
Um verdadeiro paraíso.

30
Ao fundo, vista do bairro Altos de São José, loteamento
recente, onde foi encontrado um sítio arqueológico de
datação anterior à chegada dos portugueses no Brasil.
Fotografia registrada em abril de 2018. Crédito: Ecomu-
seu dos Campos de São José.

O Campos de São José emoldurado pelos morros da Remanescente de Mata Atlântica no Campos de São
Serra do Mar. Fotografia registrada em maio de 2015. José. Ali naquela mata vive uma família de primatas,
Crédito: Ecomuseu dos Campos de São José. os macacos Callithrix aurita, popularmente chamados
de Sagui-da-Serra-Escuro. Fotografia registrada em maio
de 2015. Crédito: Ecomuseu dos Campos de São José.

Ao fundo, a Serra do Mar e o leito do córrego Alambari. Essa fotografia permite imaginar a dimensão do rio que por ali
passava há 500 anos. Fotografia registrada em abril de 2018. Crédito: Ecomuseu dos Campos de São José.

31
Campo e cidade: permanências e transformações

Tradições rurais que compõem com a cidade


Em meados do século XX, num salto de centenas de anos desde a época das aldeias
indígenas, a região do Cajuru estava ocupada por sítios e fazendas que produziam leite,
cultivavam alimentos como milho, feijão, batata, entre outros. Ali, segundo o sr. João Mo-
raes Filho em entrevista realizada em junho de 2015, plantou-se também milhares de pés
de eucaliptos, comercializados na cidade e região para a construção civil e para combustão.
Para tocar as grandes propriedades rurais, havia grupos de famílias que trabalhavam nessas
fazendas e que também produziam em suas roças, onde plantavam alimentos diversos para
consumo próprio ou escambo, além dos derivados de mandioca e cana de açúcar para ven-
da. Galdino, Moraes, Moreira, Oliveira, Garcia, Feitosa são algumas dessas famílias que
acompanharam as transformações na região do Cajuru e que ainda vivem ali.
Nas conversas com moradores antigos e pessoas que acompanharam de perto a transi-
ção rural-urbana do Cajuru, nota-se que a região é muito lembrada por ser uma referência
na produção de farinha de mandioca, ou seja, era ali que muitos agricultores plantavam,
colhiam, preparavam a massa e produziam a farinha.

Máquina de farinha na propriedade de dona Valentina Galdino, localizada na estrada do Mato Dentro. Fotografia tirada
em maio de 2019. Crédito: Ecomuseu dos Campos de São José.

32
As famílias Galdino e Moraes são dois exemplos de famílias antigas que produziam
alimentos para o sustento próprio e para a venda no mercado municipal, mercados e fei-
rantes da cidade. O transporte até o centro da cidade era feito em carros de boi pela Es-
trada do Cajuru. Foram essas duas famílias, assim como outras, que há mais de cem anos
construíram a capela de Santa Cruz. O local da capela antigamente servia como ponto
de encontro e de descanso para aqueles que seguiam viagem até a cidade a fim de vender
seus produtos. No princípio havia uma cruz de beira de estrada e a partir dessa cruz foi
construída a capela que existe até hoje.
José Moraes e sua esposa, Neusa Evangelina Moraes nasceram na região do Cajuru e,
assim como outros membros de suas famílias, conhecem muitas histórias daquelas bandas.
Testemunhos vividos, ensinamentos transmitidos pelos pais, avós, histórias compartilha-
das. Possuem uma visão crítica sobre a utilização do espaço e o respeito à natureza, muito
conhecimento sobre o manejo de plantações, reaproveitamento de materiais e separação
do lixo. Gostam de contar histórias e sabem muitas, a tradição oral está ainda muito
presente no seio familiar, pois nota-se que os filhos e netos também conhecem e acom-
panham as histórias da família e, apesar de estarem inseridos em um mundo tecnológico
diferente de seus ancestrais, valorizam e mantém pulsante muitas tradições familiares.
Através de Neusa conhecemos Valentina Galdino Fernandez, uma senhora de 77
anos que nasceu no Cajuru. Ela tem em seu quintal uma casa de farinha que hoje está
desativada. Dona Valentina é reverenciada como a pessoa da comunidade que possui a
receita e o modo de fazer tradicional do famoso bolinho caipira. Muitos sabem fazer, mas
os moradores dizem que ela é a mais antiga na tradição. É ela quem faz o bolinho caipira
para as festas realizadas na Capela de Santa Cruz, juntamente com Neusa, sua sobrinha, e
outros membros da família.
A família conta um fato sobre o bolinho caipira que remonta às suas origens indíge-
nas, tão comentadas por pesquisadores desse bem imaterial. Dizem que a receita vem de
uma índia da família Moreira, “[...] uma das oito famílias que habitavam a região”.

“Ela era uma mulher forte e guerreira que chegava a botar medo em muito marmanjo da
região, não era muito dada a conversas. Foi a primeira pessoa da região a fazer esses bolinhos
para vender.”

33
Ela, que andava sempre com saia lon-
ga, costumava sentar-se à frente da capela
colocando no colo coberto pela saia, um
cesto cheio dessa iguaria. Ali ela ficava por
horas e vendia seus bolinhos. A receita foi
fazendo sucesso e se espalhando pela vizi-
nhança. José e Neusa já ouviram várias his-
tórias sobre essa índia vendedora de boli-
nho caipira, que lhes foram contadas pelos
moradores mais velhos, como o pai de José
Moraes, o sr. João Moraes.

Neusa e d. Valentina preparando bolinho caipira durante


o Museu Vivo, programação dominical do Museu do Fol-
clore de São José dos Campos. Crédito: Ecomuseu dos
Campos de São José.

34
A Capela de Santa Cruz é referência
importante do patrimônio cultural, material
e imaterial, da região do Cajuru. Construí-
da em sistema de mutirão há cerca de 175
anos, segundo relatos de antigos moradores,
ela converge inúmeros saberes e fazeres da
população local. Fica no alto do morro antes
da entrada do Campos de São José e, em
seu terreno, está também localizada a Coo-
perativa de Reciclagem São Vicente. Padre
Célio diz que essa é uma das quatro capelas
mais antigas da cidade. Ali se realizam mis-
sas e novenas, além das tradicionais festas de
Santa Cruz e Junina, bem como a Festa do
Jabá. É uma das capelas administradas pela
Paróquia São José, Esposo de Maria.

Cruzeiro da Capela de Santa Cruz. Crédito: Ecomuseu


dos Campos de São José.

Capela de Santa Cruz e Mastro


em 2019. Crédito: Ecomuseu
dos Campos de São José.

35
A capela e seu altar no início da década de 2000. Cré-
dito: Arquivos pessoais de José Moraes e de Sérgio
Galdino.

36
37
Imagens de festas e celebrações ocorridas na Capela de Santa Cruz. Nessas ocasiões, os festeiros e seus apoiadores
faziam almoços, doces, promoviam leilões. Crédito: Arquivos pessoais de José Moraes e de Sérgio Galdino.

38
39
No terreno da Capela de Santa Cruz
funciona, há cerca de 20 anos, a Cooperativa
de Reciclagem São Vicente. A iniciativa nas-
ceu em decorrência do transbordo do córrego
Alambari e do ribeirão do Cajuru, que cor-
tam a região. Padre Célio conta que os rios
transbordavam todos os anos e sempre que
isso acontecia a comunidade pedia abrigo na
igreja. Depois de um tempo, o padre resolveu
trabalhar num plano de tomada de consciên-
cia sobre o tratamento que os próprios mo-
radores davam ao rio, pois jogavam muito
lixo ali. Além de incentivar que recorressem à
Prefeitura para solucionar o problema.

“No começo tirava-se de tudo do rio: ge-


ladeira, fogão, sofá, grande quantidade de
plástico, garrafas PET. Foi assim que acabou
surgindo a necessidade da cooperativa”.

Começaram juntando as PETs no pró-


prio bairro, mas logo foram denunciados
porque não poderiam fazer isso naquele lo-
cal. Assim, passaram a utilizar uma área do
terreno da Capela de Santa Cruz, no Cajuru,
e começaram debaixo de uma lona. Quando
chovia virava uma lama tremenda e as pesso-
as não tinham abrigo adequado. Com o tem-
po, começaram a receber ajuda de algumas
empresas, como a Petrobras, e outras que,
vendo os esforços dos envolvidos, doaram al-
guns materiais. A Cooperativa São Vicente
serviu de exemplo para outras cooperativas
da cidade e também para a prefeitura.

40
Atualmente a Cooperativa trabalha
com reciclagem de PETs e com todos os
tipos de materiais recicláveis, incluindo Início da Cooperativa São Vicente, ano de 2000. Crédi-
óleo e ferrosos. Apenas não trabalha com to: Arquivo pessoal de José Anésio.

materiais químicos.
Todos os trabalhadores são coo-
perados, a maioria trabalha por lá durante
um tempo e depois segue para outros tra-
balhos, uma vez que o trabalho é árduo. Ao
longo desses 20 anos já passaram pela Co-
operativa mais de 600 cooperados.

Visita de alunos da E.E. Valmar Lourenço Santiago à


Cooperativa São Vicente, em agosto de 2018. Crédito:
Fotografias que retratam a Cooperativa no ano de 2018.
Ecomuseu dos Campos de São José.
Crédito: Ecomuseu dos Campos de São José.

41
O patrimônio ambiental do Campos de São José

Parque Ecológico do Córrego Alambari


No Plano Diretor de São José dos Campos de 2006 foi planejada a implantação do
Parque Ecológico do Córrego Alambari, localizado nos bairros Jardim Mariana 2 e Cam-
pos de São José, popularmente conhecido como Parque Alambari. Os planos da Prefeitura
Municipal na ocasião eram:

“[...] preservar a vegetação nativa remanescente e recompor as de mata ciliar degradadas,


adequar o uso de áreas verdes públicas, evitar a degradação ambiental naquele local, construir
um espaço voltado ao lazer, envolver a comunidade criando um conselho gestor para o Parque,
estimular o desenvolvimento de pesquisas ambientais e promover a Educação Ambiental”8.
8
Notícia veiculada no site da Prefeitura de São José dos Campos em 2006. Disponível em: http://servicos2.sjc.sp.gov.br/noticias/
noticia.aspx?noticia_id=128. Acessado em: 02/03/2020.

Área do Parque Alambari, às margens do córrego, sem mata ciliar e com entulhos de construção civil. Ao fundo, área
urbanizada do Parque. Fotografia de 2015. Crédito: Ecomuseu dos Campos de São José.

42
Plantio de árvores nativas realizado pelo Ecomuseu
em parceria com a comunidade, Fundhas do Campos
de São José, Lions Club e Prefeitura Municipal de
São José dos Campos. Esta atividade aconteceu em
setembro de 2019. Crédito: Ecomuseu dos Campos
de São José.

Mesma área retratada em 2015 e 2019, agora em ja-


neiro de 2020, mostrando uma Agrofloresta em produ-
ção. Além do plantio das árvores, já com cerca de 400
árvores novas desde 2015, produção de milho, man-
dioca, banana e outras espécies de plantas alimentí-
cias. Atividades de reflorestamento e manejo fomenta-
das pelo Ecomuseu e realizadas pela comunidade do
entorno. Crédito: Ecomuseu dos Campos de São José.

43
Inaugurado em 2008, o Parque Alambari, cortado pelo córrego que lhe dá nome, é um
parque de extensão que pretende ser um corredor ecológico para os animais, um espaço de
lazer e descanso para as famílias e um laboratório de Educação Ambiental.
Na área de mata mais preservada é possível encontrar o Sagui-da-Serra-Escuro, um
macaquinho de porte pequeno, cujo nome científico é Kalitrix Aurita. O morador Jairo
Fernandes tem uma experiência longa com esses macacos, há cerca de 15 anos vem acom-
panhando seus movimentos pela mata e, com isso, aprendeu muito sobre seus hábitos.
Jairo conta que todos os dias por volta das onze horas da manhã eles aparecem em seu
quintal para comer as bananas que ele lhes oferece. Jairo mora na beira da mata e tem uma
relação permanente de cuidado com ela.

O Kalitrix Aurita, conhecido como Sagui-da-Serra-Escu-


ro, serve de inspiração para um importante trabalho de
educação ambiental realizado na Fundhas do Campos
de São José pelo grupo intitulado Patrulha Ambiental.
Crédito: Ecomuseu dos Campos de São José.

44
O córrego Alambari, que atualmente
sofre com assoreamento, descarte de esgo-
to e tem pouca expressividade em relação
ao volume de água, devido às nascentes
que o alimentavam terem secado, é um
importante afluente do rio Paraíba do Sul
e marco geográfico do município, pois é ele
quem divide a região leste da região sudes-
te de São José dos Campos. No passado foi
um rio caudaloso, onde as pessoas pesca-
vam e se banhavam. Por vezes, o rio trans-
bordava e provocava diversos prejuízos e
O córrego Alambari na altura do Campos de São José.
problemas para os habitantes próximos. Crédito: Ecomuseu dos Campos de São José.
Depois do represamento do rio, realizado
no bairro Santa Cecília 1, e correção do seu
Pneus dentro do córrego Alambari. Crédito: Ecomuseu
curso, o volume de água ficou bem menor. dos Campos de São José.
Além disso, devido à extinção de sua mata
ciliar, o Alambari ficou bastante assoreado.
Outro problema atual diz respeito ao des-
carte de esgoto no córrego e ao depósito de
resíduos materiais em suas margens.

Nesta imagem vê-se o córrego assoreado e com emis-


são de esgoto. Crédito: Ecomuseu dos Campos de São
José.

45
A moradora Maria de Fátima, anteriormente citada, conta que quando chegou ao Cam-
pos de São José a parte baixa do bairro era coberta por mata, pois ainda não havia muitas
ruas e casas. A estrutura do loteamento era muito precária e era comum faltar água e luz. O
fornecimento de água era feito a partir de um reservatório de poço artesiano, às vezes che-
gava a faltar água por três dias seguidos e o córrego, relatado pelos moradores como rio, era
a solução para suprir a necessidade da população.

“Antes, quando faltava água, a gente ia lá para o rio Alambari. Tinha mina de água e a gen-
te pegava água para beber, dava banho nas crianças, lavava louça com aquela água. Hoje não dá
mais para fazer isso porque o rio está contaminado, está secando porque foi destruída a sua mata
ciliar. Também foi colocado esgoto doméstico dentro do rio e as pessoas jogam lixo dentro dele”.

O padre Célio conta que quando chegou ao Campos de São José encontrou muitos
problemas relativos ao rio. A cada chuva que ocorria, o córrego Alambari subia, causando
muitos estragos. As pessoas então vinham até ele para pedir ajuda. Ele diz que foram inú-
meras vezes que isto aconteceu. Até que ele resolveu fomentar nas pessoas o protagonismo
social, mostrando que elas podiam e deviam ter autonomia para buscar melhorias para
seu bairro nas instâncias públicas e, além disso, começou a conscientizá-las a respeito da
questão ambiental, mostrando a elas a responsabilidade que elas tinham sobre o grande
volume de lixo e entulho que era descartado no rio.
O trabalho de conscientização empreendido pelo padre Célio que culminou com a
criação da Cooperativa de Reciclagem São Vicente, bem como a implantação do Parque
Alambari pela Prefeitura foram melhorando a relação das pessoas com o rio, embora ou-
tros problemas estruturais tenham se aprofundado, como o assoreamento e a poluição.
Além disso, desde 2015, o Ecomuseu dos Campos de São José fomenta e realiza, em
parceria com a Prefeitura Municipal de São José dos Campos, ações de revitalização e
recuperação da mata ciliar e ações de convivência e lazer na área do Parque. Conforme
apontam duas moradoras do bairro, a ação do Ecomuseu no espaço do Parque Alambari
foi marcante para que a comunidade se apropriasse desse importante espaço público e
voltasse sua atenção para a necessidade de recuperar o rio Alambari.

46
O entorno do Parque Alambari antes e depois. Fotografias de 2011, 2015 e 2020 mostram a transformação do espa-
ço no entorno do Parque Alambari. Crédito: Ecomuseu dos Campos de São José e Google Street View.

As moradoras Lídia Jovina Pires da Silva e Josefa Vieira Gomes, que vivem no bairro
há muitos anos, relatam como o uso do parque vem sendo mudado para melhor depois que
o Ecomuseu começou com as propostas de valorização dos saberes e fazeres das pessoas e
do patrimônio, num processo de engajamento cidadão e valorização de todos os envolvi-
dos. De acordo com elas, o parque vinha sendo ocupado de maneira inapropriada, o que
inibia seu uso pela maioria da população. Mas a partir do momento em que os moradores
começaram a utilizá-lo por conta das Feiras de Saberes e Fazeres, promovidas pelo Eco-
museu, a ocupação do espaço mudou, pois as famílias e as crianças passaram a frequentá-lo
e cada vez mais pessoas procuram utilizar e cuidar do espaço.

47
Diz Lídia:

“Acho que o que ajudou bastante o Parque Alambari foi o Ecomuseu, porque a gente tem
feito bastante trabalho por lá e chamado o pessoal para fazer limpeza. Tem também o pessoal da
Fundhas que leva as crianças para fazer limpeza, a Patrulha Ambiental. As crianças ajudam
o Ecomuseu nisso e o Ecomuseu ajuda as crianças mostrando a importância desse nosso espaço,
ensinando a valorizar o que é nosso”.

Segundo Josefa,

“O Ecomuseu conseguiu manter o parque mais limpo. Agora o pessoal da prefeitura está
trabalhando lá dentro, cortando o mato e mantendo mais limpo, mas quem deu o pontapé inicial
foi o Ecomuseu. Isso porque, conforme a gente ia fazendo atividades lá e utilizando o parque, o
pessoal vandalizava o local foi se afastando. Hoje está bem melhor, mais limpo, só falta limpar
o rio [...]. Uma ótima coisa que a gente fez foi ter tomado conta daquela parte, pelo menos um
pouco, para as pessoas terem outra visão”.

Josefa afirma que o Ecomuseu incentivou outras pessoas e grupos a utilizarem o par-
que, pois, a partir das feiras realizadas, outros grupos começaram a fazer eventos no local.
Além disso, o Ecomuseu vem incentivando moradores do entorno a recuperarem a mata
ciliar do Alambari por meio da implantação de um sistema agroflorestal. Cerca de 400
árvores nativas já foram plantadas na área e muitos alimentos já foram produzidos ali.

48
Cenas que retratam o uso do Parque feito pela comunidade do Campos
de São José. Essas atividades, as Feiras de Saberes e Fazeres, foram
realizadas pelo Ecomuseu dos Campos de São José entre os anos de
2015 e 2019, em parceria com moradores, com o objetivo de promover
a ocupação do espaço público, momentos de lazer e convivência, bem
como oportunidades de educação ambiental e patrimonial. Crédito: Eco-
museu dos Campos de São José.

49
J ardim D iamante

Jardim Diamante, São José dos Campos

N
Legenda
Limite do bairro
300 m
Imagem de satélite evidenciando o Jardim Diamante. Fonte: Google Earth Pro.

50
O Jardim Diamante possui atualmente, segundo dados da Prefeitura Municipal de
São José dos Campos, cerca de 1.000 moradores9. É um bairro predominantemente resi-
dencial, porém, existem galpões de fábricas, mercadinhos, restaurantes e pensões também.
Esses estabelecimentos comerciais são acessados pela população local e, também, pelos
trabalhadores do entorno. Devido à sua situação geográfica, ficando isolado entre a rodo-
via Dutra, a Petrobras e as torres de transmissão de energia da Companhia de Transmis-
são de Energia Elétrica Paulista (CTEEP), o bairro não tem espaço para expansão. Tem
uma via de acesso e uma de saída para automóveis, não possui instituições sociais, com
exceção de uma Base da Policial Militar, da Capela de Santa Rita e da Igreja Evangélica
Quadrangular. E nem equipamentos culturais. Tem uma área de lazer, a praça João Ba-
tista Peneluppi, com parquinho infantil, quadras, academia ao ar livre, bosque de árvores
frutíferas nativas e um belo gramado. Esse local tem uma entrada para pedestres que liga
o bairro à via Dutra. Tem também um espaço aberto na entrada do bairro de propriedade
da Petrobras, com um pequeno trecho de uso público, onde se localiza a praça Nair Paiva.
9
Disponível em: https://www.sjc.sp.gov.br/servicos/governanca/sao-jose-em-dados/populacao/. Acessado em: 19/03/2020.

Os limites geográficos do Jardim Diamante. Crédito Eco-


museu dos Campos de São José

51
52
Memórias e narrativas dos moradores do Jardim
Diamante

O loteamento da Fazenda Diamante


O bairro Jardim Diamante, localizado também na região leste de São José dos Cam-
pos, se originou a partir do loteamento da Fazenda Diamante, por volta de 1965. Ana-
lisando a planta do loteamento, podemos verificar fatos bastante interessantes sobre a
região. Confirmando a fala do sr. José Tavares de Menezes, antigo morador do bairro, de
que quando ele mudou para ali só existiam o Diamante e o Tatetuba, vê-se que o territó-
rio do Jardim Diamante pertencia ao “bairro de Tatetuba”. Além disso, a fazenda era de
propriedade de Jacob e Henrique Diamante, além de Roberto Augusto Tavares. Seu José
Tavares, assim como o sr. Osmar Domingos da Silva, um dos primeiros moradores do
loteamento, contam acerca dos meios de transporte utilizados naquela época, pois quando
eles chegaram por ali ainda não havia Vila Industrial, Vista Verde, nem qualquer outro
bairro no entorno.

“As pessoas tinham que ir a pé até o Jardim Paulista, na altura da igreja, e dali pegavam o
“marronzinho” até o centro. O trajeto durava pouco menos de uma hora, passando por uma pe-
quena ponte de madeira que ficava sobre o córrego Jussara”.

Seu Osmar diz que, além da caminhada, a bicicleta era muito utilizada para o trans-
porte. Ambos comentam sobre o transporte de charrete feito pelo seu João Pernambuco,
um charreteiro muito bravo que pegava o pessoal onde hoje é a entrada do bairro Cidade
Vista Verde. Seu Pernambuco era também dono de pensões, uma delas ficava localizada
no Jardim Diamante, local em que os operários das fábricas do entorno se hospedavam ou
almoçavam.
O acesso ao ônibus só foi possível para o bairro a partir da construção do Viaduto da
Vista Verde, no ano de 1976. Nessa época, o ônibus vinha do centro e os moradores do
Jardim Diamante desciam no ponto final da Vista Verde e caminhavam até suas casas.

53
Planta de loteamento do Jardim Diamante. Fonte da ima-
gem: Site da Prefeitura de São José dos Campos.

54
Voltando à planta do loteamento, nota-se, do lado inferior esquerdo, a presença de
um loteamento que acabou não existindo devido às desapropriações feitas posteriormente
pela Petrobras: o Jardim Estrela. Além desta área, os lotes A e B, onde estava prevista uma
entrada para o bairro, e os lotes I e P, assim como a rua 13, foram também desapropriados
para a construção da Revap, que teve início anos depois, em 1973-74, a fim de atender as
metas do II Plano Nacional de Desenvolvimento, sendo inaugurada em 1980. A Light,
por sua vez, atualmente Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTE-
EP), já tinha suas torres de transmissão de energia passando por ali. Interessante que nos
lotes 32 das ruas Coronel Eurico Costa Souza, Professora Ana Izabel Barbosa e Francisco
Camilo estavam respectivamente previstas uma escola, um sistema de águas e uma capela.
Dessas três instituições, apenas a Capela Santa Rita se concretizou.
Na planta do loteamento está nomeada a Estrada do Cajuru, que hoje se transformou
numa pequena rua, a Avenida Cajuru, mas que naquela época conectava a fazenda Dia-
mante e as fazendas da região (cujos loteamentos deram lugar aos bairros Cidade Vista
Verde, Jardim Motorama, Jardim São Vicente, Jardim Americano e à Revap10) à região
do Cajuru, chegando até a Capela de Santa Cruz, localizada hoje na entrada do bairro
Campos de São José. Seu José Tavares e seu Osmar contam que no trajeto da Estrada
do Cajuru havia uma grande plantação de café, bem como uma expressiva plantação de
laranja, além dos trechos de mata fechada. Diz seu Osmar:

“Plantava café, você ia lá para o Cajuru a fora e era café puro. Era gostoso, tinha muito pas-
sarinho [...]. Era gostoso de andar porque você saia daqui e ia tudinho embora, não tinha nada
de Petrobras, era tudo café e laranja, tudo que tinha lá”.

Maria Lenirte Borges Paschoal, também uma antiga moradora do bairro, comenta sobre
os nomes das ruas, pois são de pessoas da família Diamante ou de pessoas a eles relacionadas.
Rosa Coulicoff Diamante, por exemplo, era esposa do sr. Henrique; Francisco Camilo tra-
balhava na Imobiliária Diamante, que fazia as vendas dos terrenos. João Batista Peneluppi,
que dá nome à praça do bairro, foi um importante comerciante em São José. Lembra dona
Lenirte que os Diamante, de origem judaica, eram importantes comerciantes na cidade. O sr.
Henrique Diamante tinha uma loja, a Casa Diamante, onde se vendia uma grande diversidade
de produtos de vários locais do mundo, brinquedos, eletrodomésticos, bicicletas, chocolates...
10
Disponível em: https://www.saviver.org/. Acessado em: 25/03/2020

55
Moradores do Jardim Diamante contam em roda de con-
versa do Ecomuseu suas memórias acerca dos primei-
ros tempos do bairro. Crédito: Ecomuseu dos Campos
de São José.

56
A senhora Jocélia Martins, mais conhecida como Célia, é nascida no Jardim Diaman-
te na época em que ali ainda era uma fazenda. Seus pais e avós eram trabalhadores rurais
e cuidavam dos serviços da fazenda, assim como produziam suas próprias roças. Célia nos
conta que sua casa ficava na entrada do bairro, onde hoje está a praça Nair Paiva. Já a casa
de seu avô ficava num terreno onde hoje passam as linhas de transmissão de energia. Lá
ele possuía uma pequena roça onde Jocélia brincava quando criança.
Josélia relembra:

"Meu vô tinha uma roça ali naquele terreno, onde tem as torres de energia. Eu brincava
muito ali, era muito bom! Lá tinha muita coisa que ele plantava, tinha abacaxi, laranja, caqui,
figo. Aqui na fazenda mesmo, antes dessas casas todas, tinha muita fruta plantada".

Embora na planta do loteamento disponibilizada pela Prefeitura conste que a gleba


começou a ser dividida e feito seu arruamento no ano de 1967, Célia remonta ao final
da década de 1950, início de 1960, a divisão da fazenda entre os colonos, dando início,
só mais tarde, às vendas dos lotes. Uma das primeiras medidas tomadas neste momento,
segundo Jocélia, foi a construção de um poço artesiano em que seu pai trabalhou. Depois
de vendida a fazenda, seu pai foi trabalhar na fábrica da General Motors, recém instalada
na cidade, localizada próximo ao Jardim Diamante, às margens da via Dutra.

Rua Profa. Ana Isabel Barbosa, em 1982. Crédito: Ar-


quivo pessoal Rosana de Oliveira.

57
Fotos do início do loteamento do bairro, por volta de
1970. A família de Domingos Jorge e Maria Bernadet-
te Leite Jorge foi uma das primeiras a se mudar para
o bairro. Essas fotografias mostram o aspecto rural do
bairro, com as ruas de terra e cercas de taquara. A casa
do sr. Domingos, situada à rua Rosa Coulicoff Diamante,
se mantém até os dias de hoje, embora a paisagem
tenha mudado completamente. Crédito: Arquivo pessoal
de Rosangela Leite Jorge, arquivo pessoal Rosana de
Oliveira e Google Street View.

58
59
Memórias sobre o rio Alambari
Próximo à terra do avô de Jocélia passava um rio. Num contexto rural, a importância
de se ter um terreno à beira de um rio é enorme. Produção de energia para movimentar
moinhos, rodas d’água, monjolos, água para lavar roupas, para tomar banho, para brincar.
O fato é que por ali passava, e ainda passa, o rio Alambari. Aquele mesmo rio Alambari
que vem lá do Campos de São José, das fraldas da Serra do Mar.
A lembrança do rio Alambari, que atualmente passa atrás do bairro, separado da po-
pulação pela Petrobras e pela CTEEP, é muito forte entre os moradores mais antigos. Seu
Osmar conta:

“Aí era bom! A turma, de domingo, nadava na prainha. Era gostoso demais. Hoje está uma
sujeira danada. Se pudesse limpar esse riozinho era bom. De domingo ali era a festa da criançada
brincar. As crianças iam brincar e os marmanjos iam tudo junto”.

Seu Osmar tem muita saudade da vivência no rio. Relembra do futebol que tinha no
campinho de areia e que não tinha muro que separasse o rio da comunidade. Ele era trei-
nador de um time de futebol e todos os domingos tinha jogo. Seu Marino, outro morador
antigo, que possui comércio no bairro, lembra que vendia bebidas enquanto divertia-se
com as partidas de futebol, que depois acabavam num gostoso banho de rio para refres-
car. As crianças divertiam-se nadando, brincando e jogando futebol, enquanto os adultos
pescavam.
O sr. Domingos Jorge também gostava de futebol e, para atrair a garotada, montou,
junto com Sérgio Wenceslau dos Santos, Grêmio Esportivo Jardim Diamante, por volta
de 1985. Esse time jogou por muitos anos ali no campinho do rio Alambari, treinado por
Marcos Lupércio, conhecido como Palhinha. Rosangela conta sobre a importância do
esporte para os jovens do bairro, envolvendo meninos de várias idades e estimulando o
trabalho em equipe, concentração e condicionamento físico.

60
Fotografias do Grêmio Esportivo Jardim Diamante em três momen-
tos. Com Sérgio Wenceslau dos Santos, com Domingos Leite e com
Marcos Lupércio, conhecido como Palhinha, que coordenou o time
por muitos anos, segundo relato de Rosangela. Crédito: Arquivo
pessoal de Rosangela Leite Jorge.

61
Em julho de 2018 moradores do Jardim Diamante, du-
rante caminhada de reconhecimento do território, mos-
tram para a equipe do Ecomuseu o rio Alambari e o local
onde ficava o campo de futebol. Crédito: Ecomuseu dos
Campos de São José.

62
Rosangela Leite Jorge é também uma moradora antiga do bairro e conta sobre as pes-
carias no rio. Seu pai, Domingos Jorge, certa vez construiu um barco pequeno para pescar
bagres e outros peixes que havia ali. “Nós íamos longe no rio”, diz ela.
Nas lembranças de Rosangela:

“Nossa diversão era brincar na rua, que eram todas de terra, e no riozinho, que tinha aquela
praia linda. Andávamos muito pelo mato onde é hoje a Petrobras, buscando plantas. Íamos até
quase o Jardim da Granja, onde tinha também uma Lagoa. Meu pai sempre gostou muito de pes-
car e íamos muito no final de tarde e passávamos a noite ali no rio, pescando. Foi quando ele fez
um barquinho e íamos pescar de barco, era muito bom, trouxemos vários peixes pequenos, tilápia,
se eu não estou enganada, para criar ali e podermos pescar. Esse rio era a nossa diversão.”

O acesso ao rio era feito pela última rua do bairro, que atualmente faz divisa com o ter-
reno da Petrobras. Antigamente esse acesso era livre, mas depois de algum tempo foi fecha-
do. Com o passar dos anos, e com a industrialização crescente da cidade, o rio ficou poluído,
impróprio para banhos e diminuiu consideravelmente seu volume. Esse último fato deve-se
principalmente à construção de uma represa no Alambari, que diminuiu consideravelmente
seu volume de água, além da degradação da mata ciliar ao longo do seu trajeto.

Maria Aparecida de Oliveira, em 1977, brincando às


margens do rio Alambari, no Jardim Diamante. Crédito:
Arquivo pessoal de Lúcia Helena de Oliveira Fucitalo.

63
Memórias sobre a escola do Jardim Diamante
Atualmente o Jardim Diamante não possui escola, nem pública nem particular, porém,
desde a década de 1970 até finais de 1990, abrigava uma escola, inicialmente municipal,
depois estadual, que formou muitos moradores do bairro. Em 1985, quando passou para
a administração estadual, a escola recebeu o nome de EEPG Joana de Camargo Fonseca,
logo, atendia os alunos do Primeiro Grau (atualmente chamado de Ensino Fundamental).
Lúcia Helena de Oliveira Fucitalo, que vive no bairro há 45 anos, relembra o tempo em
que os filhos estudavam nesta escola, que, segundo ela, era a melhor da cidade. Camila de
Oliveira Rosa, filha de Lúcia, confirma a fala da mãe.
A lembrança da escola é muito presente nos moradores, seu José Tavares, por exem-
plo, recorda que um amigo seu, morador do Jardim Paulista, fazia o transporte da profes-
sora em sua charrete. A escola ficava em frente à praça João Batista Peneluppi, onde hoje
funciona uma Base da Polícia Miliar – 1ª Companhia.

Na primeira foto vemos o Jardim Diamante nos seus pri-


meiros anos de loteamento, por volta de 1970. O prédio
branco no centro da fotografia é a Escola Municipal do
Jardim Diamante. Na segunda foto, a capa do boletim
escolar da então aluna Rosana de Oliveira. Crédito: Ar-
quivo pessoal Rosana de Oliveira.

64
Nessas fotos vemos a entrada da escola Joana de Camargo Fonseca, então uma escola estadual, e a horta cultivada
pelos alunos. Crédito: Arquivo pessoal de Lúcia Helena de Oliveira Fucitalo.

65
Cenas da escola do Jardim Diamante. Crédito: Arquivo
pessoal de Isabel Cristina de Miranda Muramoto.

66
Embora as memórias das pessoas sobre a escola sejam muito positivas e saudosas, a
unidade acabou fechando por volta do ano 2000. Por ser uma escola de difícil acesso para
moradores de outros bairros, ela atendia basicamente os alunos do Jardim Diamante. O
público já não era grande. Além disso, segundo relatos, muitos pais começaram a matri-
cular seus filhos em escolas de outros bairros, mais perto dos locais de trabalho deles, para
facilitar nos horários de entrada e saída, além do aumento da procura por escolas parti-
culares. Em 1997, o jornal Folha de São Paulo, na sessão Vale do Paraíba, noticiou que a
escola do Jardim Diamante estava agrupando alunos dos 1º e 2º anos, bem como dos 3º e
4º anos por conta do escasso número de matriculados.

A escola estadual de 1º grau Joana de Camargo Fonseca, em São José dos Cam-
pos (97 km de SP), está mantendo alunos de séries diferentes em uma mesma sala.
Por determinação da Delegacia de Ensino, a escola agrupou alunos de 1ª e 2ª
séries em uma sala e de 3ª e 4ª séries em outra. Cada sala tem um único professor.
A medida não agrada pais de alunos, que temem queda no rendimento es-
colar de seus filhos.
Para a delegada da 2ª Delegacia de Ensino, Sônia Maria Silva, 43, o ideal se-
ria que os alunos estudassem em salas separadas, o que, segundo ela, é impossível.
Segundo ela, a demanda do bairro não é suficiente para preencher as salas.
Sônia disse que a escola tem uma localização difícil, o que inviabiliza a trans-
ferência de alunos de outras escolas. A escola fica no Jardim Diamante e tem 158
alunos, dos quais, 68 em salas agrupadas. Para a delegada, a junção não prejudica
o rendimento. A Secretaria da Educação do Estado informou que a medida é a
única alternativa para não deixar alunos sem aula11.

A Capela Santa Rita de Cássia


A capela do bairro foi uma conquista dos moradores, que durante muito tempo fizeram
festas e organizaram a venda de doces e salgados aos finais de semana para arrecadar fundos
e construir a igreja que leva o nome de Capela de Santa Rita de Cássia. Lúcia Fucitalo, que
foi uma das primeiras catequistas do bairro, lembra do empenho da d. Cida, que fazia sal-
gadinhos e doces, d. Marlene, d. Maria, seu Manoel, d. Natália e muitas outras pessoas do
bairro que trabalharam duro nas festas para arrecadar recursos para a construção da capela.

11
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff250229.htm. Acessado em: 21/03/2020.

67
Capela de Santa Rita de Cássia, no Jardim Diamante, por volta de 1990. Segundo relato de moradores, houve grande
mobilização popular para a construção da capela. Crédito: Arquivo pessoal de Lúcia Helena de Oliveira Fucitalo.

Eventos religiosos realizados na Capela. Celebração de catecismo, por volta de 1990, e celebração de casamento. Em
2012 aconteceu o primeiro casamento no bairro. Os noivos eram Maria Cristina Gregório da Silva de Paula e José Ge-
raldo de Paula. Crédito: Arquivo pessoal de Lúcia Helena de Oliveira Fucitalo e Maria Cristina Gregório da Silva de Paula.

68
Maria Aparecida Cursino, a d. Cida, moradora do bairro há 45 anos, também já fez
muito bolinho caipira para as festas da igreja. Ela nos conta que o local onde hoje funciona
o restaurante do Coutinho era antigamente um terreno vazio onde a comunidade fazia as
festas do bairro. Aos finais de semana, armavam-se barracas neste espaço a fim de promo-
ver a venda de salgados, bolos e outras coisas que os próprios moradores pudessem fazer
para arrecadar dinheiro para a construção da igreja. Juntavam o dinheiro e iam comprando
os tijolos para erguer a capela. D. Cida conta que, quando a capela foi construída, preci-
sava de uma cruz e ela fez questão de comprar a madeira para fazer. Deu a madeira para
Paulinho, um morador antigo do bairro que era muito ativo nas ações da igreja. Ela sentia
muito orgulho de ver a cruz erguida e de saber que tinha um pouco de sua história ali.
Atualmente, a principal festa religiosa do bairro é em homenagem à Santa Rita de
Cássia e acontece no mês de maio, com o envolvimento de moradores e do padre local.
Maria Cristina Dias Amaral Paiva é responsável por organizar o festejo, que conta com o
empenho de muita gente da comunidade.

Festas de Santa Rita, que anualmente acontecem no entorno da Capela, no mês de maio. Crédito: Ecomuseu dos
Campos de São José.

69
As mulheres se organizam semanas antes da festa para a feitura dos quitutes. O fa-
moso bolinho caipira, patrimônio imaterial do Vale do Paraíba, não poderia ficar de fora
dessa festa, assim como os doces e bolos. Dona Isabel de Fátima Santos de Azevedo é uma
referência no assunto. Bolinho caipira, bolo de coco e tantas outras receitas são preparadas
por ela para serem vendidas durante a festa.

Em fevereiro de 2019, d. Isabel es-


teve participando do Programa Mu-
seu Vivo, no Museu do Folclore de
São José dos Campos. Na ocasião,
para alegria do público presente, ela
fez seu famoso bolo de coco. Crédi-
to: Museu do Folclore de São José
dos Campos.

As festas juninas também são muito lembradas pelos moradores. Lúcia conta que
tinha quadrilha, casamento. Todo mundo ia vestido à caráter. Era muito divertido, a co-
munidade era muito unida.
Seu Osmar lembra com nostalgia das festas juninas, que eram muito boas porque
eram feitas com a participação de todos. Segundo ele, essa participação dava alegria às
pessoas. Tinha muita comida e sempre uma música ao vivo com viola ou sanfona.

"Tinha São João, São Pedro, tinha muita festa boa aqui, nós fazíamos festa nessa rua aqui.
Todo mundo dava uma força, um comprava uma coisa, outro comprava outra coisa e a festa se
fazia. Todo mundo ajudava".

Outras festas citadas pelos moradores são: a festa das crianças, realizada em dezem-
bro, e a festa de aniversário do bairro.

70
J ardim A mericano

Jardim Americano, São José dos Campos

Legenda
N

Limite do bairro
300 m
Imagem de satélite evidenciando o Jardim Americano. Fonte: Google Earth Pro.

71
O bairro Jardim Americano também está inserido na Zona Leste de São José dos
Campos. Concentra uma população de migrantes, sobretudo de Minas Gerais, mas tam-
bém da Bahia e de outras regiões do país, que vieram para São José dos Campos para
trabalhar na indústria ou no comércio. O bairro também abriga joseenses que conseguiram
realizar o sonho de possuir uma casa própria neste ponto da cidade, pois, segundo seus
relatos, essa era uma região com preços acessíveis.

Mapa do Loteamento do Jardim Americano e do bairro


Três Josés. Fonte da imagem: Site da Prefeitura de São
José dos Campos.

72
Segundo informações de antigos moradores, o local onde hoje é o Jardim America-
no foi uma fazenda de laranja, loteada e urbanizada na década de 1970. Observando as
plantas de loteamento do Jardim Americano e do bairro Três Josés com atenção, nota-se
que o terreno pertencia a Benedito Cassiano da Silva, inclusive o trecho localizado do
outro lado da atual avenida Tancredo Neves. Nota-se também, embora o documento do
Jardim Americano não esteja datado, que a planta é anterior à implantação da Revap, pois
não há referência ao território da empresa, diferente do que acontece com a empresa de
transmissão de energia, na época a Light, que já está demarcada na planta (lado direito).
Importante reparar, ainda, que desde que o loteamento foi aprovado, o trecho onde hoje se
localiza o “Campão”, que atualmente é terreno da Petrobras, não foi previsto como parte
do Jardim Americano. Essa parte do território pertencia a outro proprietário, o sr. José
Robaldo Caldas da Cunha. Detalhe que na planta do bairro Três Josés há um equívoco no
nome do proprietário, lá ele aparece como João Robaldo Caldas da Cunha.
Duas áreas estavam reservadas no Jardim Americano. Uma delas era a praça José Car-
los Pace, área onde mais tarde seria construída a escolinha do bairro, atualmente EMEI
Sandra Regina de Almeida Paulo. A outra área é onde foi construída a Capela Nossa
Senhora Aparecida, situada à rua Maria Carolina de Jesus, entre as ruas Benedito Eras
e Júlia Cursino. Interessante que o local onde foi construída a EEPG Possidônio Salles,
atualmente EMEF Possidônio Salles, não estava previsto na planta. Conclui-se, portanto,
que não havia previsão para a construção de escolas na planta aprovada para o loteamento
do Jardim Americano. Também não havia previsão para a implantação de uma Unidade
Básica de Saúde (UBS), embora esta tenha sido construída posteriormente. No bairro Três
Josés, que compõe a sequência do Jardim Americano, também não foram previstas escolas,
praças, UBS ou qualquer instituição pública.

73
Fotografias de locais de referência no Jardim Americano.
Nas fotografias da UBS e da EMEF Possidônio Salles,
aparecem, respectivamente, alunos do curso de Biome-
dicina da Univap e de Engenharia do ITA, parceiros do
Ecomuseu na execução de atividades. Crédito: Ecomu-
seu dos Campos de São José.

74
Memórias e narrativas dos moradores do Jardim
Americano

O envolvimento da comunidade na estruturação do bairro


Márcia Aparecida dos Santos, moradora do Jardim Americano, relembra que no ano
de 1981, quando veio morar no bairro, o local ainda não tinha muita estrutura. Um cami-
nhão pipa vinha uma vez por semana para abastecer o bairro com água. No ano seguinte,
em 1982, passou a ter água encanada.
Dona Zilda, que mora no bairro há cerca de 35 anos, também se recorda das ruas de
terra do bairro. Ela conta que todas as melhorias foram conquistadas a partir do envolvi-
mento dos moradores e do trabalho coletivo. Isso inclui a construção da escola, do posto
de saúde e da capela.

D. Zilda se recorda que a escola primá-


ria começou a funcionar em 1986, no local
onde hoje fica a UBS do Jardim America-
no. Uma sala que ficava no porão desta casa
foi utilizada, por certo tempo, como sala de
aula para as crianças pequenas. Foi preciso,
porém, ampliar o espaço da escola e a pre-
feitura, não dispondo de outro local, cons-
truiu a escola infantil no terreno da praça
José Carlos Pace, onde funciona até hoje.
Dessa forma, o bairro ganhou uma escola,
mas perdeu o único espaço de lazer e con-
vivência que tinha. Apenas um pequeno
espaço ficou reservado à praça.

Família de d. Elena Leonardo Laurindo em frente de


casa no início do bairro. Crédito: Arquivo pessoal de Ele-
na Leonardo Laurindo.

75
Fotografia de crianças na escolinha do Jardim America-
no há cerca de vinte anos. Crédito: Arquivo pessoal de
Zeima da Silva.

Atividade do Ecomuseu dos Campos de São José com


alunos da EMEI Sandra Regina de Almeida Paulo. Crédi-
to: Ecomuseu dos Campos de São José.

76
No entanto, antes de fixar endereço na rua Júlia Cursino, a UBS ficava em uma casa
alugada na rua principal do bairro, a avenida Presidente Tancredo Neves. Atualmente esta
Unidade de Saúde atende outros bairros da região e possui cerca de 13.000 cadastros. As
conquistas do bairro foram viabilizadas a partir de doações e da ajuda efetiva de moradores,
segundo Rita Célia da Silva. A UBS foi construída por meio de mutirão e a partir de doações
dos moradores, que também se articularam para pedir apoio às empresas da região.
A Capela Nossa Senhora Aparecida também foi construída com o engajamento da
comunidade, por meio de mutirão comunitário. Em 1975 foi construída a capelinha de
madeira e, dois anos depois, em 1977, a capela de alvenaria. Padre Célio Antônio Cândi-
do, que morou no bairro por 18 anos e que foi pároco da Paróquia São Vicente, respon-
sável pelas capelas da região, conta que no altar da capela do Jardim Americano há uma
pequena placa em homenagem a d. Rosemeire, pessoa muito importante na comunidade
e que teve um papel fundamental na construção da capela.
As festas também figuram na memória dos moradores, como a festa junina, que cos-
tumava ser realizada sob a liderança da SAB (Sociedade Amiga do Bairro), e a festa das
crianças. Por muitos anos as festas no bairro contaram com apoio da Petrobras que, junto
à capela ou à SAB, fazia doações à comunidade.

Evento religioso realizado na Capela Nossa Senhora Casamento na Capela Nossa Senhora Aparecida. Crédi-
Aparecida. Crédito: Arquivo pessoal de Zilda. to: Arquivo pessoal de Elena Leonardo Laurindo.

77
Fotografias tiradas em 1988 de festa junina na capela.
Crédito: Arquivo pessoal de Zilda.

Legenda: Fotografia de manifestação religiosa no bairro.


Crédito: Arquivo pessoal de Elena Leonardo Laurindo.

Legenda: Apresentação de Natal das crianças na Capela


Nossa Senhora Aparecida, em 1998. Crédito: Arquivo
pessoal de Maria Helenice da Silva Assis.

78
Há depoimentos também sobre outras festas que aconteciam no bairro, como a Festa
da Primavera. Em 1999, durante este evento, os moradores mais antigos do Jardim Ame-
ricano foram homenageados.

Homenagem aos primeiros moradores do Jardim Americano durante a Festa da Primavera de 1999. Nesta fotografia
estão: Fátima, sr. João, sr. Anastácio, sr. Alberto e sr. José Leonardo. Crédito: Arquivo pessoal de Simone dos Santos
Silva Melo.

Embora atualmente as festas populares não tenham mais o vigor que tinham no pas-
sado, o Jardim Americano é um bairro musical, pois há muitos moradores que tocam
instrumentos ou gostam de cantar. Em várias atividades do Ecomuseu, pode-se vivenciar
esse fato: rodas de conversa com cantoria, encontros musicais, apresentações domésticas.

79
Roda de conversa do Ecomuseu em janeiro de 2019.
Crédito: Ecomuseu dos Campos de São José.

Seu Antônio Viani e seu acordeon. Crédito: Ecomuseu Em uma pausa para descansar da pesquisa de campo,
dos Campos de São José. faz-se logo uma roda de cantoria. Crédito: Ecomuseu
dos Campos de São José.

Geraldo Antônio Candido, antigo morador do bairro, vem


de uma família musical. No Jardim Americano ele já en-
sinou muita gente a tocar violão. Além do violão, seu Ge-
raldo gosta muito de tocar teclado. Crédito: Ecomuseu
dos Campos de São José.

80
A luta da comunidade por qualidade de vida
No ano de 1993, moradores do Jardim Americano, juntamente com
os de outros bairros da região, se mobilizaram para impedir a instalação
de uma incineradora de lixo ao lado do bairro. A empresa em questão
já havia recebido autorização da Prefeitura Municipal e já tinha e licen-
ça ambiental para realizar a construção da incineradora. Os moradores
do entorno rejeitaram a proposta, preocupados com os danos ambientais
que poderiam sofrer. Rita Célia conta que, na ocasião, reuniram-se três
mil pessoas na Avenida Tancredo Neves em grande vigília, com velas nas
mãos para, pacificamente, protestar. Depois de muita pressão popular, a
prefeitura cancelou a autorização para instalação da incineradora.

Reportagem do jornal OVale sobre o


episódio envolvendo a incineradora
REK e a comunidade do Jardim Ameri-
cano. Crédito: Arquivo pessoal de Rita
Célia da Silva.

81
Histórico fotográfico do Ecomuseu
dos Campos de São José
Primeiros contatos e mapeamento cultural
Nesta seção estão fotografias do mapeamento cultural, das rodas de conversa e cami-
nhadas realizadas nos três bairros.

82
Atividades de conhecimento e sensibilização dos mo-
radores do Campos de São José, Jardim Diamante e
Jardim Americano. 2015-2020. Crédito: Ecomuseu dos
Campos de São José.

83
Atividades
socioculturais
Algumas cenas de atividades de integração so-
cial, como feiras de saberes e fazeres, encontros de
cantoria, cinema ao ar livre, piqueniques, rodas de
artesanato, exposições, viagens, entre tantas outras.

84
Atividades para interação social, troca de saberes, convivência comunitária, intercâmbio de experiências, lazer. 2015-
2020. Crédito: Ecomuseu dos Campos de São José.

85
86
Atividades
socioambientais
Nestes cinco anos de atividades, em decor-
rência do mapeamento cultural previamente rea-
lizado, o Ecomuseu fomentou uma série de ações
com o objetivo de desenvolver o território. Essas
práticas, realizadas voluntariamente pelos mora-
dores, buscavam estimular a diminuição de des-
carte irregular dos resíduos, o aproveitamento do
espaço público e a agricultura urbana. As fotogra-
fias a seguir trazem um pouco dessa história. Essas
atividades, assim como as demais realizadas pelo
Ecomuseu, contaram com a parceria de secretarias
municipais, universidades, escolas, organizações
da sociedade civil, empresas e muitas pessoas.

Ações protagonizadas pela vizinhança da rua José Gonçalves


de Oliveira e outros moradores para recuperação da mata ci-
liar e cultivo de gêneros alimentícios na Área de Preservação
Permanente do córrego Alambari, no Campos de São José,
desde 2015. Crédito: Ecomuseu dos Campos de São José.

87
Construção e manutenção de hortas urbanas pelos moradores do entorno em toda a extensão da rua Isabel Nunes dos
Santos Guimarães, no Campos de São José, desde 2018. Crédito: Ecomuseu dos Campos de São José.

88
Ações realizadas na Unidade Básica de Saúde do Jardim Americano. Crédito: Ecomuseu dos Campos de São José.

89
Ações realizadas na Unidade Básica de Saúde do Campos de São José. Crédito: Ecomuseu dos Campos de São José.

90
91
92
93
Ações de revitalização de parque e praças dos bairros envolvidos pelo Projeto
Ecomuseu+ realizadas entre 2018-2020. Estão incluídas nas fotografias ações
nos seguintes espaços públicos: Rua Padre Joaquim França e Praça José Carlos
Pace, no Jardim Americano; Praça João Batista Peneluppi e Praça Nair Paiva, no
Jardim Diamante; Parque Alambari e Praça Alda Rogada dos Santos, a Praça do
Cruzeiro, no Campos de São José. Crédito: Ecomuseu dos Campos de São José.

94
Depoimentos e perspectivas

“A
experiência de compartilhar saberes e fazeres,
de resgatar valores do passado, de tirar as crianças do
mundo da tecnologia e voltar às raízes, brincadeiras
de rodas, cantigas, comer Plantas Não Convencionais, ver fazer o
açúcar mascavo, a paçoca e ouvir tantas histórias, enriqueceu minha
vida, a vida dos meus netos e filho e, com certeza, me tornou um ser
melhor. Jamais esquecerei estes momentos. Temos que continuar
com tudo isso, precisamos valorizar mais as coisas simples da vida,
resgatar nossas raízes e tornar o hoje e o amanhã muito melhores.
Andréa Góes de Souza – Gratidão a todos vocês por compartilhar, dividir e somar neste lin-
Campos de São José do projeto”.

“A
gradeço a Deus por ter tido a oportunidade de conhe-
cer esse maravilhoso projeto que é o Ecomuseu. Fui de
início numa simples reunião, só para fazer presença a um
amigo. Logo percebi o tamanho da importância de poder contribuir
com o meu bairro, com os bairros vizinhos, com a transformação de
pessoas em um bem comum. Então, logo vieram as benfeitorias e as
parcerias, e o mais gratificante é que tudo sai de nossas mãos e de nos-
sa força de vontade. O projeto envolve cultura, lazer, esportes, meio
ambiente e valorização do ser e da vida. Nosso bairro cada vez mais
Donizetti Bueno – bonito e aconchegante. Agradeço a toda equipe do Ecomuseu e, em
Campos de São José especial, aos amigos do Campos de São José, da horta Isabel Nunes e
Fazendinha. É lógico, a todos os envolvidos de outros bairros também,
aos parceiros, como a Petrobras, Prefeitura, Univap, ITA, UBSs, escolas
e outros tantos que virão. Estou certo de que caminhamos para um
mundo melhor hoje e sempre”.

95
“S
ou professor da Universidade do Vale do Paraíba –
UNIVAP – e na disciplina que leciono, chamada “Saúde
e Meio Ambiente”, sempre apresento aos estudantes o
trabalho que o Ecomuseu realiza. Nos bairros onde o projeto atua,
os universitários interagem com os moradores envolvidos e é nítida
a transformação social que eles têm, a troca de saberes e fazeres é
algo transformador tanto para os estudantes como para os morado-
res. Em relação às questões ambientais locais, é marcante ouvir e ver
dos moradores as ações que realizam, desde hortas à coleta seletiva”.
Edvaldo Gonçalves de
Amorim – Professor na
Universidade do Vale do
Paraíba (Univap)

“A
importância do projeto Ecomuseu para mim é que
ele desperta e valoriza na comunidade seus saberes e
fazeres, une a comunidade na vontade de realizar seus
sonhos. E tem a capacidade de interligar Prefeitura, UBS, escolas
etc. Abrindo portas de espaços que não tínhamos acesso. Exemplos:
1. Roda de bordados que acontece na UBS onde compartilhamos
o que sabemos. 2. Espaço do Parque Alambari onde plantamos
árvores nativas juntamente com horta comunitária. 3. Revitalização
do parquinho na área Parque Alambari. A comunidade já tinha o
Eliana Eberle Carvalho anseio de melhorar o bairro onde morava e já fazia algumas ações
Sena da Silva – individualizadas, mas com a chegada do Ecomuseu foi possível ir
Campos de São José além. Estou muito feliz pelas conquistas”.

96
“M
eu nome é Elisa Farinha, eu trabalho na di-

visão de Educação Ambiental da Secretaria de


Urbanismo e Sustentabilidade da Prefeitura [...].
Acho que é uma experiência muito importante a população estar se
apropriando do espaço público, ajudando a cuidar e usando como
um espaço para a produção de alimento. A gente também tem aqui
na praça João Batista Peneluppi um plantio de pomar de árvores
frutíferas que a gente fez no ano passado (2018) e as árvores estão
super bonitas, a população está se empenhando [...]. Eu acho que
Elisa Farinha – tem tudo para dar certo o fato da comunidade se apropriar do espa-
D ivisão de Educação ço público e eu vejo que esse é o caminho. Eu falo que sou moradora
A mbiental da Secretaria da cidade e trabalho na prefeitura e percebo que não tem como
de U rbanismo e o poder público dar conta desses espaços. A gente precisa dessa
Sustentabilidade da parceria com a comunidade. Isso eu acho que é uma característica
P refeitura Municipal de muito importante do projeto do Ecomuseu”.
São José Dos Campos

“D
urante o ano tenho acompanhado a riqueza e o
desprendimento de cada um envolvido e digo que é
maravilhoso e de incalculável valor. [...] Que 2020 o
conceito ECOMUSEU, como museu vivo, continue a contagiar e
ser musas (inspiração) para muitos. Gratidão!

Ivani Izidoro da Fonseca –


Campos de São José

97
“M
eu nome é Ivone, moro aqui há 21 anos, eu e meu com-
panheiro que hoje não está mais presente. Para nós esse
espaço tem um valor muito grande, era um desejo muito
grande do meu esposo cuidar desse espaço onde se jogava muito entulho.
Um dia, através do projeto Ecomuseu, na pessoa da Maria e da Dona
Angela, ele colocou esse desejo. E graças ao Ecomuseu ele pode realizar o
sonho. [...] Ficou um marco para nossa vida, para minha rua, meus ami-
gos que moram aqui. E esse espaço guardou toda coisa boa que ele tinha
para oferecer. Ele deixou plantada em cada árvore, em cada sementinha
que ele jogou. Eu hoje estou muito feliz e muito agradecida. Da minha
Ivone de Paula – janela eu posso olhar a homenagem feita a ele, me emociona, às vezes
Campos de São José em um momento de tristeza, outros de alegria, mas é muito valioso. [...]
E eu agradeço, agradeço ao projeto, espero que eles possam continuar
com a gente por mais tempo. Nos estimulando, né? Nos direcionando
para as coisas boas, né? Nós já sabíamos o que queríamos, mas através do
Ecomuseu nós nos sentimos estimulados. Tenho minha irmã especial,
a Hilda, que foi muito importante para ela também. Ela se viu assim,
como ela fala, chique. Pintando os quadros dela, apresentando na feira,
algumas pessoas comprando, né? Foi muito importante para ela, é muito
importante para nós participarmos desse projeto. [...] Eu agradeço muito
a todos vocês. À Petrobras pelo apoio, ao Ecomuseu. Nós tivemos esse
presente de Deus que é o Ecomuseu”.

“J
airo Célio Nogueira, nascido em São José dos Campos, mo-

rador do bairro Jardim Diamante, conheci o Ecomuseu+ no


próprio bairro com a visita dos próprios integrantes do projeto
na minha casa. O Ecomuseu+ me ajudou muito no conhecimento com
o contato com a natureza e o plantio de árvores frutíferas e a união dos
moradores em se reunir e se integrar com uma união em melhorias do
bairro, incentivando moradores a preservar a praça para que passamos
viver num ambiente saudável. O Ecomuseu me ajudou muito na bi-
blioteca comunitária, chamada de Biblioteca do Povo, onde tive uma
J airo Célio Nogueira – grande doação de livros, e onde teve uma grande divulgação da biblio-
Jardim Diamante teca, participando de inauguração de hortas e praças. Nestes eventos
levei os livros para as crianças e foi muito bom, só tenho que agradecer
ao ECOMUSEU+, incentivando fazeres e saberes!!!”

98
“E
stamos aqui na Praça do Jardim Diamante, com
esse trabalho magnífico que o Ecomuseu juntamente
com a Secretaria de Urbanismo e Sustentabilidade está
desenvolvendo, esse projeto de hortas urbanas na praça. Eu parabe-
nizo a toda a comunidade, a todo o pessoal que se empenhou nesse
trabalho, ficou muito lindo. É um trabalho que eles estão fazendo
para a comunidade, para os moradores desse bairro, levando para
eles a questão ambiental. Levando para eles a questão de você pôr
a mão na massa, fazer um plantio, fazer uma horta urbana. [...]
Eu agradeço a todos vocês que participaram. Agradeço por fazer
Jonas Motta – Divisão de parte desse projeto. Muito lindo! Parabéns à Petrobras, ao pessoal
Educação Ambiental da que está apoiando o Ecomuseu, à Secretaria de Sustentabilidade e
Secretaria de Urbanismo a todos”.
e S ustentabilidade da
P refeitura Municipal de
São José Dos Campos

“O
que dizer do Ecomuseu? A princípio, quando a Petrobras
falou que ia mandar um projeto, e vocês chegaram no bairro,
eu não botei muita fé, não. Tanto é que eu queria que come-
çasse logo. Mas então começamos com as rodas de conversa, com a planta-
ção, com a pintura dos bancos, com as crianças recolhendo o lixo, aí eu fui
entendendo o que era o Projeto Ecomuseu, eu fui entendendo a essência
dele. Eu fui entendendo que não era a Petrobras vir e mandar alguém fazer,
não era a Prefeitura vir e mandar alguém fazer. Era nós, a comunidade,
aprendendo, resgatando a nossa cultura, os nossos saberes, a gente fazendo
as coisas, a gente cuidando do meio ambiente. É um projeto maravilhoso.
Eu gostaria que todos tivessem e pudessem conhecê-lo. Porque quando
Lúcia Helena de O liveira você conhece o projeto e vê o que ele significa, você vê a importância dele.
F ucitalo – Eu acho que se todas as pessoas e todas as comunidades tivessem a oportu-
Jardim Diamante nidade de conhecer esse projeto, com certeza o mundo seria muito, muito
melhor. E o carinho de vocês, o carisma, são pessoas especiais. A d. Angela
nem se fale então. Quando ela fala dá vontade de ficar conversando com
ela o tempo todo. O projeto é muito, muito importante. Então vocês estão
de parabéns, todos vocês. Que Deus abençoe, que este projeto não acabe
nunca e que cada vez mais pessoas possam conhecê-lo. Porque o mundo
precisa de pessoas que saibam resgatar a cultura, suas histórias, colocar em
prática seus saberes, seus fazeres, ensinar. Nossa! Isso é uma coisa muito
importante, muito valiosa. Parabéns para vocês!”

99
“E
comuseu, essa parceria da Prefeitura com a

Petrobras, um projeto lindo! Muitas vezes eu não


consegui acompanhar todos os eventos por causa das
tarefas particulares. Sei o quanto é importante para nós moradores
de São José dos Campos o conhecimento popular, as descobertas.
A participação das crianças nos eventos, no plantio, nas brincadei-
ras... As rodas de conversa que nos inteirou com outros bairros e
no nosso próprio, conhecendo mais as pessoas e, também, a gente
planejando, fazendo planejamento para melhorias no nosso bairro.
Maria Cristina São pessoas aprendendo e passando as suas experiências e, também,
Dias A. Paiva – dando a oportunidade de expor os trabalhos em outros bairros.
Jardim Diamante Ecomuseu é excelente. É um trabalho lindo e deve continuar”.

“[
...] O que é que eu vou falar do Ecomuseu? Vou falar com
o coração. Eu estava quietinha aqui na garagem trabalhando,
fazendo meu crochê, fazendo muita arte que eu gosto. E daí
passou uma mocinha aqui, duas mocinhas passaram aqui, com o uni-
forme do Ecomuseu, querendo saber sobre o artesanato. Se importan-
do e perguntando. Se apresentou, que era do Ecomuseu, né? E pergun-
tou se eu conhecia mais artesãos. Se importou com a minha história,
com a minha arte. Eu tive uma sorte lascada do Ecomuseu passar na
minha porta, passar na minha rua. Não só eu. Quando eu fui conhecer
um pouco do Ecomuseu, eu vi que ele se importa com a natureza, eles
abraçaram o bairro. Fizeram a gente ter consciência para participar. Eu
conheci tantas pessoas que eu conhecia só de vista, só de passar. Através
Rejane Aleixo – do Ecomuseu, ele juntou a comunidade para a gente se importar. Se
Campos de São José importar com a natureza, com as vielas, com o Parque Alambari, se
importar com tudo, se importar um com o outro, sabe? A gente é al-
guém, todo mundo é alguém. E o Ecomuseu reúne a comunidade, faz
a gente despertar os valores que a gente tem. [...] Então, Ecomuseu é
isso, ele transforma a gente para o melhor, ele mostra o melhor da gente
que está guardado aqui e a gente não sabe. A gente aprende o que é
uma comunidade, assim, juntar as pessoas, e falar assim, vamos limpar,
vamos cuidar. É nosso! O bairro é nosso, a comunidade é nossa, vamos
cuidar? A prefeitura faz a parte dela e a gente faz a nossa. Nós também
podemos fazer algo, nós também podemos cuidar da gente, cuidar do
bairro. E o Ecomuseu desperta a gente para a cultura. Você com estudo
ou sem estudo, desperta a gente para a cultura. É muito importante, o
que eu tenho para falar é gratidão. Muito obrigada, por tudo”.

100
“S
ou participante do Projeto Ecomuseu aqui no

Americano, na Zona Leste de São José dos Campos.


O que eu poderia falar sobre isso? Desde que eles vie-
ram para cá, no Americano, foi como se plantasse uma pequena
semente, e a gente tivesse que cultivar aquela semente, mas sempre
com a orientação, com o olhar amigo deles, sabe! Eu acho que foi
muito válido e vai continuar sendo, que continue em outros bairros,
porque é uma semente de vários tipos de sentimentos, projetos, de
tanta coisa bonita que a gente pode fazer. Tão simples como ver
uma árvore crescer, saber tudo o que ela pode trazer para a gente.
Eu agora tenho um pinheiro em frente à minha casa, que eu já
Roselene
Ribeiro Vitorino – vou enfeitar para o Natal e depois ele vai me dar sombra o ano
Jardim Americano inteiro. Então é por aí. Eu acho que foi muito válido e que Deus
abençoe muito este projeto, as pessoas que participam deste projeto,
que chegam até a gente de coração aberto e nos dão esperanças. Eu
agradeço muito”.

“Q
uem tem história conta! Hoje estava roçando uma
das primeiras partes (fase 1 e 2) da Florestinha. Cara,
que mudança! Se eu não tivesse feito parte disto tudo,
desde os primeiros movimentos até agora onde estamos, talvez du-
vidaria. Aliás, a dúvida sempre nos perseguiu. Será que vamos po-
der? Será que a prefeitura vai nos apoiar? Será que vamos conseguir
manter a área? Será que dá certo pegar água de chuva? Será que a
gente consegue um ponto de água? Será que as árvores vão crescer
nesta terra ruim? Será que as “meninas” dão conta de fazer horta?
Será que um dia a gente planta árvores até na esquina? Para cada
será deste, temos uma resposta: Sim! Todo trabalho realizado teve
Sérgio Ricardo
Sena da Silva – o seu momento de importância e cada um no seu trabalho levou o
Campos de São José Ecomuseu adiante. Não há espaço para individualismo no coletivo,
eu faço, o coletivo que faz, você faz, o coletivo é que faz. Ou estamos
juntos ou todo o coletivo perde!!! Comece a fotografar suas histórias
junto ao Ecomuseu, avalie o antes e o depois e tenha a certeza de
que você não está sozinho neste coletivo”.

101
“G
ostei muito do projeto do Ecomuseu, pois ti-
vemos a oportunidade de participar de eventos no
nosso bairro e nos outros, conhecemos pessoas novas,
dos bairros participantes, e alunos do ITA com novas ideias e pro-
jetos. Os alunos e professores do ITA foram muito atenciosos. O
pessoal do Ecomuseu também sempre apoiando e incentivando os
moradores em tudo, principalmente com o projeto da horta. Estou
ansiosa para chegar o ano que vem e ver novos projetos ou continu-
ação dos mesmos. Espero que não acabe”.

Simone Belarmino –
Jardim Americano

“F
alar sobre o Ecomuseu é falar sobre um grupo de pessoas dis-
postas a mudar um bairro e a mentalidade de seus moradores, cerca
de um ano e meio tive a grata satisfação de conhecer o Ecomuseu
e seus colaboradores, bem como os projetos já em execução em outros bairros,
projetos esses a pleno vapor na implantação e execução, mas ver a disposição da
equipe em criar projetos de interesse da nossa comunidade diamantense com
total participação dos moradores para atender as reais necessidades do bairro
e seus moradores, ou seja, tudo que se realiza em qualquer dos bairros é ideia
e parte da gerência pertence à comunidade. Aqui no Diamante, onde ante-
riormente os moradores não participavam de nada, a equipe do Ecomuseu foi
incansável em fazer com que um maior número possível de moradores partici-
passe do Ecomuseu e fosse ativa na conservação da biodiversidade e arboriza-
ção do bairro, bem como cuidar e proteger e plantar mais em praças públicas e
Suely Damázio espaços de uso comum. Porém, ainda falta muito mesmo porque, infelizmente,
tem alguns moradores que são mais resistentes às mudanças, mas, com certe-
Matsumura –
za, futuramente teremos a ampla maioria participando e engajada nesse novo
Jardim Diamante ciclo que já teve início nas cidades mais desenvolvidas do país e do mundo,
trazendo uma mudança na consciência e implantação de projetos que resgatem
a natureza, tragam qualidade de vida aos moradores e os ajudem a desenvolver
projetos pessoais que elevem a autoestima de cada um, integrando as pesso-
as ao meio ambiente, cultura e melhoria na qualidade de vida e torne a cada
um ativo, participante da comunidade, acabando ou diminuindo o número de
pessoas que vivem como se morassem em uma ilha deserta. Gosto e apoio os
projetos e movimentos sociais do Ecomuseu e sua equipe. Só sinto não poder
participar mais ativamente, mas quando eu puder, com certeza, estarei engajada
totalmente na linha de frente dos projetos e movimentos sociais e outros pro-
movidos pelo Ecomuseu e a comunidade. Em tempo, quero parabenizar a toda
a equipe do Ecomuseu por promover a integração entre os bairros e o convívio
social entre os moradores das comunidades. Paz e bem”.

102
E foi assim que tudo começou...

N
ovos contatos. Novos desafios... Reflexões e mais reflexões. Logicamente foi
uma, entre milhões de outras, que o cérebro vem reproduzindo há tantos anos....
Mas uma reflexão era recorrente... Aparecia sempre, mais longa, com mais de-
talhes. E assim foi que aconteceu a necessidade da experimentação. Será que, de fato, o
pensamento pode se concretizar, virar realidade? Não foi tão fácil responder. Foi neces-
sário agregar outras reflexões, pensamentos de outras pessoas. Buscar o aperfeiçoamento
das ideias, e assim foi feito. Das ideias propostas surgiram as ações e, desse modo, tudo foi
acontecendo. Assim como no “aprendizado do andar”, começamos engatinhando e, agora,
já estamos conseguindo caminhar, devagar, balançando, com muitos tropeços e algumas
quedas, precisando ainda de muitas mãos nos amparando para continuar e chegar lá, na
concretização do ideal sonhado. Sabemos que temos capacidades muitas e variadas para
sermos melhores pessoas, vivermos melhor. Sabemos também que podemos juntar os nos-
sos saberes com os saberes do outro e usufruirmos juntos o benefício esperado e necessário.
Eis outra reflexão: Isso é possível? – Sim é possível. É o que estamos constatando com as
ações ecomuseológicas desenvolvidas por pessoas que moram em três bairros joseenses:
Campos de São José, Jardim Diamante e Jardim Americano. Para a realização das ações
ecomuseológicas, o fundamental é que o Homem que habita, que vive naquele espaço,
naquele local, entenda, se conscientize da importância do seu saber e use esse saber para o
bem coletivo, de todos, para o bem da comunidade.
Há cinco anos estamos em contato com moradores desses bairros, estimulando-os a
mostrarem seus saberes e habilidades e também seus sonhos e propostas através de feiras,
rodas de conversas, participações em locais públicos, usando e mostrando suas habilidades.
Enfim, nesses momentos e espaços, num convívio coletivo é visível e demonstrado todo o
potencial cultural e a capacidade do exercício de cidadania consciente de cada um. Uma
reflexão que virou uma proposta, que virou uma ação coletiva, que virou uma grande ex-
pectativa na direção de um mundo melhor. Hoje estou convencida que valeu a pena sonhar,
pensar e agir. Acumulei e compartilhei saberes, ganhei amigos, vivi emoções. Meu mundo
aumentou e sinto que dos outros participantes também; enfim, valeu a pena para todos.

Angela Savastano
Idealizadora do Ecomuseu dos Campos de São José

103
Mural de agradecimentos
Lista de nomes de moradores que participaram e apoiaram as atividades do Ecomuseu
dos Campos de São José.

Campos de 32.
33.
Cleverson Caetano
Daniela Moreira Corrá de Moraes
64. Gustavo Vieira Gomes
65. Heliete Ferreira Vaz de
São José: 34. Darci Domingos Ferreira Oliveira (Lia)
35. David Junior Vilela 66. Heloísa Golçalves Quirino
1. Abner Sena da Silva 36. Denizete Jacinta de Azevedo 67. Henilda Inácia dos Santos
2. Adão Silvério Silva Ferreira
3. Adinéia Fátima Silva 37. Dimas Bueno da Silva 68. Henrique Junior Vilela
4. Agatha Roberta Silva 38. Donizeti Ferreira da Rocha 69. Hilda de Paula
5. Agmar Lopes de Cerqueira 39. Donizetti Bueno 70. Hilda Garcia de Freitas
6. Ailton Massoni de Souza (Babi) 40. Dorival da Silva Lima 71. Inedina Ribeiro Delpenho Ruy
7. Ana Rodrigues da Silva Canuto 41. Edilaine dos Santos Ignácio 72. Iracy Mara de Araújo
8. Ana Flávia Bonani 42. Edmilson Correia de Moraes 73. Irene dos Santos Faria
9. Anderson da Cruz Rosa 43. Edna Alves da Silva 74. Isabel Ferreira da Silva
10. André Aparecido Silva 44. Eduardo José Góis de Souza 75. Ivani Izidoro da Fonseca
11. Andréa Góes de Souza 45. Edvaldo da Silva 76. Ivone de Paula
12. Anna Luiza de Souza Silva 46. Efigênia Aparecida dos Santos 77. Jairo Fernandes
13. Antônio Cibim Cabral 78. Janete Moreira de Toledo
14. Aparecida Isabel M. Rodrigues 47. Eliana Eberle Carvalho Sena 79. Jennifer da Silva Souza
15. Beatriz da Silva Souza da Silva 80. Jéssica Carolina de Souza
16. Beatriz Góis dos Santos 48. Élio Gomes dos Santos 81. Jéssica Cristina da Silva Souza
17. Benedita Vilas Boas Pereira 49. Elisabete da Silva Alves 82. João de Moraes Filho
18. Benedito Alves Garcia 50. Expedita Cardoso de Lima 83. José Alves de Araujo
19. Benjamim Sena da Silva 51. Expedita Rosa da Silva 84. José Aparecido de Moraes
20. Bruna de Fátima da Silva Souza 52. Expedito Venâncio da Silva 85. José Benedito dos Santos
21. Camila Cristina F. de Souza 53. Fábio Luiz Cibim 86. José Helton Arcanjo da Silva
22. Carlos Daniel Barbosa Hilário 54. Felipe Augusto Custódio Elisbão 87. José Odair de Seixas
dos Santos 55. Fernando Apostolo Santiago 88. José Moraes
23. Carlos de Souza Rodrigues Rodrigues 89. José Pereira de Barros
24. Carlos dos Santos (Cebolinha) 56. Flávio Donizete Paulino 90. Josefa Maria da Silva Souza
25. Carlos Roberto França da Mota 57. Francisca Cardoso 91. Josefa Vieira Gomes
26. Celina Cristina da Silva Souza 58. Francisco de Sousa Barros 92. Joyce da Silva Souza
27. Célio Antônio Almeida (Padre) 59. Gabriel Fontes dos Santos 93. Juan Pablo Silva Souz
28. Célio Candido da Silva Neto 60. Gabriela da Silva Rosário 94. Júlio Henrique dos Santos
29. Cezar Rodolfo Cardoso 61. Gabrielly Kenya da Cruz Lins 95. Júlia Soares Proença
30. Cinthia Campos Ribeiro Reis 62. Guilherme Palmeira 96. Julita Miranda de Lima
31. Cleonice dos Santos 63. Guilherme Silva 97. Karen Gabriela da Silva Bessa

104
98. Keila Martins de Oliveira Moraes 173. Terezinha Moreira da Costa
99. Lattifa Kawany Rodrigues 135. Nilcéia Aparecida Neves de 174. Tomás Marcelino Lopes
Ribeiro Melo 175. Valentina Galdino Fernandez
100. Lara Sirino dos Santos Lima 136. Nícolas de Melo Gonçalves 176. Vera de Souza Cunha
101. Leonardo Cardoso 137. Nicodemos Gomes da Silva 177. Vicente Carlos Corrá (In
102. Lídia Jovina Pires da Silva 138. Nívia Maria da Cruz de Souza Memoriam)
103. Livanize Bezerra do Amaral 139. Olani Arantes (Branca) 178. Vitor Fernandes
104. Livia Góis dos Santos 140. Olinda Colman Espíndola 179. Vitor Gustavo da Silva
105. Lucia Serafim Angelo 141. Origina Teodora da Silva 180. Vitor Mendes Santos (Padre)
106. Luciane Cabral 142. Pablo Vinícius Ribeiro 181. Warley Aparecido Barbosa
107. Luiz Claudio de Oliveira 143. Pamela Cabral 182. Wesley Bueno de Souza
108. Manoel de Siqueira Nunes 144. Patrícia de Fátima da Silva 183. Yane Ryuzaki
109. Marcelo Feitosa de Freitas 145. Patrick Ferreira Davies Pode nos ajudar? Se fez parte
110. Marcos Musael de Souza 146. Paulo César Ferreira desta história ou lembrou de
111. Margarida Souza Barros 147. Paulo Virgílio da Fonseca alguém que não encontrou na lista,
112. Maria Agapita Silva dos Santos 148. Pedro Miguel Góis dos Santos deixamos este espaço para que
113. Maria Aparecida da Silva 149. Pedro Pereira Neto possa completar com os nomes.
114. Maria Aparecida dos Reis 150. Priscila Pamela de Lima Andrade Queremos você nesta história!
115. Maria Aparecida Ferreira 151. Rafael Vieira Rosa
116. Maria Aparecida Lima dos 152. Rejane Aleixo de Melo
Santos 153. Renato Santos Góes
117. Maria Cosma Lima da Silva. 154. Ricardo Silva Lopes
118. Maria de Fátima Silva 155. Rineuza Pereira
119. Maria Devanira de Medeiros 156. Robson Custódio
120. Maria Dirce da Cunha Ribeiro 157. Ronald Peçanha Fonseca
121. Maria do Carmo Bezerra da 158. Rosana Aparecida Nunes
Silva 159. Rosângela Lopes Ferreira
122. Maria Eduarda da Silva 160. Rosilene Alves Maurício Ferreira
123. Maria Eduarda Gomes Pereira 161. Sandra Eliza Paulino dos Santos
124. Maria Lourdes Rocha Martins 162. Sebastião Feitosa de Freitas
125. Maria Luísa Farled 163. Sebastião Manoel Ribeiro
126. Maria Raimunda de Paula 164. Sérgio Aparecido dos Santos - Alunos, professores e funcionários
127. Mariana Vilas Boas Marinho 165. Sérgio Ricardo Sena da Silva da E.E. Valmar Lourenço
da Silva 166. Severino Sinfronio Ursulino Santiago envolvidos no Projeto
128. Marileide Maria de Jesus dos da Silva “Hora da Horta na escola Valmar”;
Santos 167. Stéfane da Silva Souza - Alunos, professores e funcionários
129. Mary Ribeiro do Nascimento 168. Stephanie Williene dos da Fundhas, com especial ênfase
130. Mirian Cristina de Souza Cunha Santos Lima nos jovens e professores da
131. Marianne Feliciano de Carvalho 169. Tainara Lemes Leal Patrulha Ambiental;
132. Moisés Lima Costa 170. Tatiana Vieira Gomes - Usuários e funcionários da
133. Nadir Aparecida dos Reis 171. Tatiane Glaubia Dias da Silva Unidade Básica de Saúde do
134. Neusa Evangelina dos Santos 172. Terezinha Ferreira dos Santos Campos de São José.

105
Jardim 26.
27.
Jocélia Martins
Jonas Cícero Nogueira
53.
54.
Rosali Nascimento Nogueira
Rosana de Oliveira
Diamante: 28. José Tavares de Menezes 55. Rosangela Leite Jorge
29. Leni da Rosa Nunes Paiva 56. Roseli de Fátima S. Rodrigues
1. Alex Sandro de Lima
30. Léo Madson Barros da Cunha 57. Rubens Muramoto
2. Antônio Carlos de Souza
31. Lourdes Crsuzinski 58. Sharon Francielli da Costa
3. Caio de Oliveira Rosa
32. Lucas Antônio de Oliveira Rosa
4. Camila de Oliveira Rosa Santos
33. Lúcia Helena de Oliveira
5. Carlos da Silva 59. Sérgio Wenceslau dos Santos
Fucitalo
6. Cibele Aparecida Granato 60. Sidnéia Aparecida de Oliveira
34. Luísa Amaral Paiva Pedrosa
7. Daniel de Souza (Pastor) 61. Suely Damásio Matsumura
35. Luzia Maria de Jesus
8. Domingos Jorge 62. Yago Henrique Colodiano
36. Maria Aparecida Cursino
9. Edwiges A. Silva 63. Zenaide Aquino
37. Maria Aparecida de Oliveira
10. Emília A. S. Silva
11. Élcio Florenzano 38. Maria Bernadette Leite Jorge Pode nos ajudar? Se fez parte
12. Elenice Santos da Costa 39. Maria Cristina Dias Amaral desta história ou lembrou de
13. Ernízio de Souza Paiva alguém que não encontrou na lista,
14. Fábio Nahoto Saito 40. Maria Cristina Gregório da deixamos este espaço para que
15. Fátima Aparecida de M. Saito Silva de Paula possa completar com os nomes.
16. Felipe Rodrigo Azevedo 41. Maria do Socorro Silva
Queremos você nesta história!
17. Geralda Maria do Carmo 42. Maria Eduarda Rosa
18. Irani Aparecida Cornélio 43. Maria Fernanda A. Paiva Silva
(In memoriam) de Medeiros
19. Isabel Cristina de Miranda 44. Maria Lenirte Borges Paschoal
Muramoto 45. Maria Lourdes Costa
20. Isabel Fátima Santos de 46. Marino Menossi
Azevedo 47. Mário Waldemir de Lima
21. Isabelle Amaral Paiva Pedrosa 48. Nicolas Nogueira
22. Isilda Aparecida Moreira 49. Osmar Domingos da Silva
Guimarães 50. Paloma Cristina Mendes
23. Jairo Célio Nogueira Francisco de Oliveira
24. Joana Maria Conceição 51. Pedro Teodoro de Azevedo
25. João Cordeiro Neto 52. Pedro Tomé Pereira Barros

106
Jardim 24. Márcia Barbosa da Cruz
25. Maria Eduarda Ferreira
Pode nos ajudar? Se fez parte
desta história ou lembrou de
Americano: Fernandes alguém que não encontrou na lista,
26. Maria Helenice da Silva Assis deixamos este espaço para que
1. Antônio Viani
27. Maria Ivania Santos Ferreira possa completar com os nomes.
2. Bruno de Oliveira Belarmino
28. Maria Inês Rocha Silva Queremos você nesta história!
3. Carla Ferreira dos Santos
4. Carlos Alberto dos Santos 29. Maria José Pereira da Silva
5. Carlos Roberto Alves 30. Neilma Rosa dos Santos
6. Carolina Andrade Silva 31. Nilton dos Santos
7. Carolina dos Santos Siqueira 32. Rafael dos Santos
8. Douglas Ferreira de Andrade 33. Rita Célia da Silva
9. Elena Leonardo Laurindo 34. Rogério Alves
10. Elias Donizete Belarmino 35. Rosalina Leite das Neves e
11. Fátima Aparecida Hernandes Silva
12. Genésio Rodrigues da Silva
36. Roselene Ribeiro Vitorino
13. Geraldo Candido da Silva
37. Rosemary Laranjeira David
14. Gevaldo Correia Santos
38. Simone de Oliveira Belarmino
15. Joaquim Barbosa Teixeira
39. Simone dos Santos Silva Melo
16. José Anésio de Lima - Alunos, professores e funcionários
17. José Flávio Ferreira dos Santos 40. Tarcísio Ferreira Santos
da EMEF Possidônio Salles;
18. Jussara da Silva 41. Terezinha Maria da Silva - Alunos, professores e funcionários
19. Lucas da Silva Souza 42. Terezinha Sueli Passarim do EMEI Sandra Regina de
20. Lucas Teodori Madureira Almeida Paulo;
21. Lucio Delfino 43. Yasmim de Oliveira Belarmino - Usuários e funcionários da
22. Luiz Martins Pinto 44. Zeima da Silva Unidade Básica de Saúde do
23. Márcia Aparecida dos Santos 45. Zilda Jardim Americano.

107
A
gradecimentos especiais àquelas pessoas que participaram e trabalharam com a
equipe do Ecomuseu dos Campos de São José voluntariamente, seja indo a campo,
cumprindo um estágio, realizando uma pesquisa, colaborando com ideias e sugestões.

Daniela Jardim
Denise Aparecida Massa Giacomin
Lúcia Nunes
Manoella Horácio da Silva Mourão
Mariana Mendonça Andrade
Marta Vassimon
Urssula Neves Rosa Lima
Vivien Sophie Ahrens

Gratidão também a toda a rede de parceiros que ampara e dá sustentação ao trabalho


realizado pelo Ecomuseu. Sem esta rede, a permanência de atividades, a troca de experi-
ências e o alcance das ações ficariam extremamente fragilizados e opacos. Neste caminho
aprendemos, mais uma vez, que juntos vamos mais longe!

Nosso muito obrigado:


4m Arquitetura + Design, Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários,
Associação para o Fomento da Arte e da Cultura, Comissão Nacional de Folclore, Coopera-
tiva de Reciclagem São Vicente, E.E. Valmar Lourenço Santiago, E.M.E.F. Maria Amélia
Wakamatsu, E.M.E.F. Possidônio Salles, E.M.E.I. Sandra Regina de Almeida Paulo, Fun-
dação Cultural Benedicto Siqueira e Silva, Fundação Cultural Cassiano Ricardo, Fundação
Hélio Augusto de Souza, Instituto Chão Caipira, Instituto Embraer, Instituto H&H Fauser,
Instituto Nacional de Pesquisas Especiais, Instituto Tecnológica do Aeronáutica, Lions Club,
Museu do Folclore de São José dos Campos, Núcleo Viva a Paz, Obra Social Célio Lemos,
Observatório da Paisagem do Vale do Paraíba, Prefeitura Municipal de São José dos Campos
(SEURBS, SMC e Secretaria Municipal de Saúde), Rede de Ação Social, Revap - Respon-
sabilidade Social, Universidade do Vale do Paraíba, Universidade Estadual Paulista, Wecon.

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