Impacto da Depressão na Progressão de Demências em Pacientes Geriátricos
Dos Santos, Marilea 1 et. al.
Impacto da Depressão na Progressão de Demências em Pacientes
Geriátricos
Marilea dos Santos Carvalho, Andreza Agostini Ferraciolli, Aquiles Lopes Jacinto, Bernardo
Carvalho Gomes, Cadmo Silton Andrade Portella Filho, Giulliana de Almeida Torres
Capitani, Holarya Germana Marques Melo, Izac Miranda Rios Neto, Jackson Silva Oliveira,
Lucas Lopes Alarcão Sobral, Livia Coutinho de Souza Biagio, Luana Isla Rocha Alves, Marcia
Dutra da Silveira Sparkez, Marcela Maria Ferreira Lippe, Marina Aguiar Rezende, Rafael
Pinheiro Cohen, Suzana Régis Araújo, Thamillys Diógenes Bezerra.
ARTIGO DE REVISÃO
RESUMO
O presente artigo de revisão explora o impacto da depressão na progressão das demências em
pacientes geriátricos, com ênfase nas interações entre essas duas condições que afetam
significativamente a saúde mental e a qualidade de vida dos idosos. A depressão, uma
comorbidade comum em indivíduos com demência, está associada a uma aceleração do declínio
cognitivo e funcional, especialmente em pacientes com doença de Alzheimer. Através de uma
análise crítica da literatura científica dos últimos 10 anos, este estudo investiga os mecanismos
neurobiológicos subjacentes, incluindo alterações nos níveis de cortisol e redução da
neuroplasticidade, bem como a influência de fatores genéticos, como o alelo APOE-ε4. Além
disso, discute-se a bidirecionalidade da relação entre depressão e demência, onde a depressão
pode atuar tanto como um fator de risco quanto como uma consequência do declínio cognitivo.
A revisão também aborda a variabilidade na resposta ao tratamento em pacientes com
depressão e demência concomitante, sugerindo a necessidade de abordagens terapêuticas
combinadas e personalizadas. Por fim, o artigo destaca a importância de considerar fatores
socioeconômicos e culturais no manejo dessas condições, propondo que intervenções precoces
e abrangentes podem retardar a progressão da demência e melhorar a qualidade de vida dos
pacientes geriátricos. Este estudo contribui para a compreensão da complexa interação entre
depressão e demência, reforçando a necessidade de mais pesquisas clínicas e estratégias
terapêuticas inovadoras.
Palavras-chave: Depressão. Demência. Geriatria.
Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences
Volume 6, Issue 9 (2024), Page 438-452.
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Impact of Depression on the Progression of Dementias in
Geriatric Patients
ABSTRACT
This review article explores the impact of depression on the progression of dementias in
geriatric patients, with an emphasis on the interactions between these two conditions that
significantly affect the mental health and quality of life of the elderly. Depression, a common
comorbidity in individuals with dementia, is associated with an acceleration of cognitive and
functional decline, especially in patients with Alzheimer's disease. Through a critical analysis
of the scientific literature from the past 10 years, this study investigates the underlying
neurobiological mechanisms, including alterations in cortisol levels and reduced
neuroplasticity, as well as the influence of genetic factors such as the APOE-ε4 allele.
Additionally, the bidirectionality of the relationship between depression and dementia is
discussed, where depression can act both as a risk factor and as a consequence of cognitive
decline. The review also addresses the variability in treatment response in patients with
concomitant depression and dementia, suggesting the need for combined and personalized
therapeutic approaches. Finally, the article highlights the importance of considering
socioeconomic and cultural factors in managing these conditions, proposing that early and
comprehensive interventions can slow the progression of dementia and improve the quality
of life of geriatric patients. This study contributes to understanding the complex interaction
between depression and dementia, reinforcing the need for further clinical research and
innovative therapeutic strategies.
Keywords: Depression. Dementia. Geriatrics.
Dados da publicação: Artigo recebido em 13 de Julho e publicado em 03 de Setembro de 2024.
DOI: https://doi.org/10.36557/2674-8169.2024v6n9p438-452
Autor correspondente: Marilea dos Santos Carvalho
[email protected] This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0
International License.
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INTRODUÇÃO
A depressão e as demências são condições prevalentes na população
geriátrica e representam um grande desafio para a saúde pública, principalmente
devido ao envelhecimento populacional global. Estima-se que a prevalência da
depressão em idosos com demência possa variar entre 20% e 30%, sendo mais
elevada em estágios avançados da doença de Alzheimer (DE OLIVEIRA et al.,
2024). A coexistência de depressão e demência em pacientes geriátricos não
apenas complica o diagnóstico e manejo clínico, mas também agrava a
progressão dos déficits cognitivos, comprometendo ainda mais a qualidade de
vida desses pacientes.
O impacto da depressão na progressão das demências é um tema de
crescente interesse na literatura científica, especialmente no contexto do
aumento do número de idosos no mundo. Segundo Torres et al. (2024), a
depressão pode acelerar a deterioração cognitiva em pacientes com demência,
devido a mecanismos neurobiológicos que envolvem a inflamação, a
neurodegeneração e as alterações nos neurotransmissores. Essas interações
complexas sugerem que a depressão pode não ser apenas uma comorbidade,
mas um fator que potencializa a gravidade da demência, tornando essencial o
seu diagnóstico precoce e tratamento adequado.
A demência, particularmente a doença de Alzheimer, é o transtorno
neurocognitivo mais comum em idosos, afetando milhões de pessoas em todo o
mundo (ZANOTTO et al., 2023). A presença de sintomas depressivos em
pacientes com Alzheimer pode mascarar ou agravar os sintomas demenciais, o
que dificulta o manejo clínico e pode levar a um pior prognóstico. Estudos
indicam que intervenções precoces, como a estimulação cognitiva e o exercício
físico, podem mitigar os efeitos negativos da depressão sobre a cognição,
retardando, assim, a progressão da demência (MOREIRA, 2020; LINS et al.,
2024).
A associação entre depressão e demência também levanta questões
importantes sobre os mecanismos subjacentes a essa interação. Pesquisas
recentes apontam para uma possível relação bidirecional, onde a depressão
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pode tanto ser um precursor como uma consequência do declínio cognitivo. Em
um estudo de caso sobre idosos com Alzheimer avançado, observou-se que a
depressão estava associada a um aumento significativo na progressão dos
sintomas demenciais, sugerindo uma interação complexa entre os sistemas
neurológicos afetados (DE OLIVEIRA et al., 2024).
Além disso, a depressão em pacientes geriátricos com demência está
frequentemente associada a outros fatores de risco, como isolamento social,
comorbidades médicas, e perda de autonomia, que juntos podem exacerbar o
declínio funcional e cognitivo (DA GRAÇA BOTESINI et al., 2022). A importância
de diagnósticos diferenciais para distinguir entre depressão e os primeiros sinais
de demência é fundamental, pois isso pode direcionar intervenções mais
eficazes e melhorar os resultados a longo prazo (DE SOUSA SILVA et al., 2021).
Portanto, este artigo de revisão tem como objetivo explorar a relação entre
depressão e a progressão de demências em pacientes geriátricos, com foco nas
implicações clínicas e nos potenciais caminhos para intervenções terapêuticas.
A compreensão dessa relação é crucial para o desenvolvimento de estratégias
de cuidado que possam melhorar a qualidade de vida e retardar a progressão da
demência em pacientes idosos.
METODOLOGIA
O presente artigo de revisão adota uma abordagem qualitativa e
exploratória para investigar o impacto da depressão na progressão de
demências em pacientes geriátricos, com foco em estudos publicados nos
últimos 10 anos (2014-2024). A metodologia utilizada visa compilar, analisar e
sintetizar os principais achados da literatura científica recente, proporcionando
uma visão atualizada e crítica sobre o tema.
Para a realização desta revisão, foi conduzida uma busca detalhada nas
principais bases de dados científicas, incluindo PubMed, Scielo, ScienceDirect,
e Google Scholar. A seleção dos artigos foi feita com base em critérios de
inclusão que consideraram estudos publicados entre 2014 e 2024, que
abordassem a relação entre depressão e demência em populações geriátricas.
Foram priorizados artigos revisados por pares e publicados em periódicos de alta
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relevância nas áreas de geriatria, neurociências e psicologia. Estudos em língua
inglesa, portuguesa e espanhola foram incluídos na revisão.
Os descritores utilizados para a busca incluíram termos como
"depressão", "demência", "doença de Alzheimer", "idosos", "declínio cognitivo",
"progressão da demência", "fatores de risco", e "comorbidades". A combinação
desses termos foi realizada através de operadores booleanos para refinar os
resultados e garantir que os estudos mais relevantes fossem incluídos na
revisão. Adicionalmente, foram revisadas as listas de referências dos artigos
selecionados para identificar outros estudos pertinentes que pudessem não ter
sido capturados na busca inicial.
A seleção dos artigos seguiu um processo em duas etapas. Primeiro,
foram revisados os títulos e resumos para verificar a relevância dos estudos em
relação ao tema proposto. Em seguida, os artigos que passaram por essa
triagem inicial foram avaliados integralmente para determinar sua elegibilidade
com base na profundidade e qualidade das informações apresentadas. Estudos
publicados antes de 2014, que abordavam a depressão e a demência de forma
superficial, ou que não forneciam dados suficientes para análise crítica, foram
excluídos.
Uma vez selecionados, os artigos foram submetidos a uma leitura crítica
e sistemática, com foco na extração de informações relevantes para os objetivos
da revisão. Os principais dados extraídos incluíram as características das
amostras estudadas, os métodos de diagnóstico de depressão e demência, os
principais achados relacionados à interação entre essas condições, e as
implicações clínicas dos resultados. A análise dos dados foi conduzida de forma
a identificar padrões, divergências e lacunas no conhecimento existente, o que
permitiu uma discussão aprofundada sobre os mecanismos subjacentes à
interação entre depressão e demência em pacientes geriátricos.
Para garantir a qualidade e a validade das conclusões apresentadas, foi
dado especial cuidado à avaliação crítica dos estudos incluídos, considerando
aspectos como o desenho do estudo, o tamanho da amostra, os métodos
estatísticos utilizados e a clareza na apresentação dos resultados. Estudos com
maior rigor metodológico e relevância clínica foram priorizados na síntese das
informações.
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Por fim, a metodologia adotada neste artigo de revisão, ao considerar
exclusivamente a literatura dos últimos 10 anos, garantiu uma análise atualizada
das evidências sobre o impacto da depressão na progressão das demências em
pacientes geriátricos. A abordagem qualitativa e exploratória empregada
permitiu uma avaliação abrangente e crítica dos dados disponíveis, contribuindo
significativamente para o avanço do conhecimento sobre este tema crucial na
área da saúde geriátrica.
RESULTADOS
Os achados da literatura revisada revelam uma interação complexa entre
depressão e demência em pacientes geriátricos, com implicações significativas
para a progressão das condições neurodegenerativas. Estudos apontam que a
depressão pode não apenas coexistir com a demência, mas também
desempenhar um papel ativo na aceleração do declínio cognitivo e funcional em
pacientes idosos (DE OLIVEIRA et al., 2024). A compreensão desses
mecanismos é fundamental para o desenvolvimento de abordagens terapêuticas
que possam mitigar os efeitos adversos da depressão na demência.
Um dos principais achados destaca que a depressão, quando presente
em pacientes com doença de Alzheimer, pode acelerar a deterioração cognitiva.
Segundo Zanotto et al. (2023), a presença de sintomas depressivos em
indivíduos com Alzheimer está associada a uma progressão mais rápida dos
déficits de memória, atenção e linguagem. Esse fenômeno é explicado por
alterações neurobiológicas, como o aumento dos níveis de cortisol, que afetam
negativamente a neuroplasticidade e a integridade do hipocampo, uma região
cerebral crucial para a memória (MOREIRA, 2020).
Além disso, a depressão pode exacerbar outros sintomas
neuropsiquiátricos comumente observados em pacientes com demência, como
a apatia, a agitação e a irritabilidade. Torres et al. (2024) sugerem que esses
sintomas podem criar um ciclo vicioso, onde a piora dos sintomas depressivos
alimenta o declínio cognitivo, levando a uma maior deterioração funcional e
comprometimento da qualidade de vida. Esse achado é corroborado por Lins et
al. (2024), que destacam que a depressão pode reduzir a motivação para
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participar de atividades cognitivamente estimulantes, o que, por sua vez, acelera
o declínio cognitivo.
Outro achado relevante envolve a correlação entre depressão e
alterações estruturais no cérebro de pacientes geriátricos. Estudos de
neuroimagem mostraram que a depressão em pacientes com demência está
associada a uma redução no volume do hipocampo e a uma diminuição da
conectividade funcional em redes cerebrais críticas para a cognição (DE
OLIVEIRA et al., 2024). Essas alterações estruturais são indicativas de uma
maior vulnerabilidade ao declínio cognitivo e sugerem que a depressão pode ser
um marcador precoce de progressão rápida da demência (MOREIRA, 2020).
A interação entre depressão e demência também pode ser influenciada
por fatores genéticos. Alguns estudos indicam que a presença do alelo APOE-
ε4, um fator de risco genético para Alzheimer, pode amplificar o impacto da
depressão na progressão da demência (ZANOTTO et al., 2023). Essa
descoberta sugere que indivíduos com predisposição genética para Alzheimer
que também sofrem de depressão podem apresentar um curso mais agressivo
da doença, o que reforça a importância de intervenções precoces e
personalizadas.
Ademais, a depressão pode influenciar a resposta ao tratamento em
pacientes com demência. DE SOUSA SILVA et al. (2021) relatam que pacientes
com Alzheimer e depressão concomitante podem responder menos
favoravelmente a tratamentos farmacológicos tradicionais, como os inibidores da
acetilcolinesterase. Esse grupo de pacientes pode necessitar de abordagens
terapêuticas combinadas, incluindo antidepressivos e terapias não
farmacológicas, como a estimulação cognitiva e o exercício físico, para otimizar
os resultados do tratamento (ALVES, 2023).
A literatura também aponta para o impacto da depressão na capacidade
funcional de pacientes geriátricos com demência. A depressão está associada a
uma diminuição na capacidade de realizar atividades diárias, o que contribui para
uma maior dependência e risco de institucionalização (DA GRAÇA BOTESINI et
al., 2022). Esse achado é particularmente preocupante, pois a perda de
autonomia é um dos principais fatores que afetam negativamente a qualidade de
vida em idosos com demência. Intervenções que visem a tratar a depressão
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podem, portanto, desempenhar um papel crucial na manutenção da
funcionalidade e na redução do risco de institucionalização.
Um estudo longitudinal revisado destacou que a depressão pode preceder
o início da demência, funcionando como um marcador de risco. Pacientes idosos
que apresentam depressão, especialmente aqueles com sintomas persistentes
e graves, têm maior probabilidade de desenvolver demência posteriormente
(TORRES et al., 2024). Esse achado sublinha a necessidade de monitoramento
contínuo de sintomas depressivos em populações geriátricas, como uma medida
preventiva para a detecção precoce de demência.
Além dos achados relacionados à progressão cognitiva e funcional, a
depressão também está associada a um maior risco de mortalidade em
pacientes com demência. Estudos indicam que a depressão pode aumentar a
mortalidade por várias vias, incluindo a piora de condições médicas coexistentes,
como doenças cardiovasculares, e a redução da adesão ao tratamento (DE
OLIVEIRA et al., 2024). Esse aumento do risco de mortalidade reflete a
gravidade da interação entre depressão e demência e ressalta a importância de
intervenções abrangentes que abordem tanto a saúde mental quanto a física em
pacientes geriátricos.
Os resultados também mostram que a depressão pode ter um impacto
significativo nos cuidadores de pacientes com demência. Cuidadores de idosos
com demência que também sofrem de depressão relatam níveis mais elevados
de estresse e esgotamento, o que pode afetar negativamente a qualidade do
cuidado oferecido (LINS et al., 2024). Isso cria um ciclo de retroalimentação
negativa, onde o estresse dos cuidadores exacerba a depressão nos pacientes,
levando a uma maior deterioração cognitiva e funcional. Programas de apoio aos
cuidadores, que incluam intervenções para aliviar a depressão nos pacientes,
são, portanto, essenciais para melhorar os resultados clínicos e a qualidade de
vida dos pacientes e cuidadores.
Por fim, o impacto da depressão na progressão da demência parece ser
moderado por fatores socioeconômicos e culturais. Estudos indicam que idosos
com menos acesso a recursos de saúde, educação e suporte social estão em
maior risco de desenvolver depressão e, subsequentemente, de experimentar
uma progressão mais rápida da demência (DA GRAÇA BOTESINI et al., 2022).
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Intervenções que abordem essas disparidades podem ser fundamentais para
reduzir o impacto da depressão na progressão da demência em populações
vulneráveis.
DISCUSSÃO
A discussão sobre o impacto da depressão na progressão das demências
em pacientes geriátricos revela um cenário multifacetado, onde os estudos
revisados oferecem tanto convergências quanto divergências. A partir das
evidências apresentadas, torna-se evidente que a depressão desempenha um
papel complexo na evolução das demências, especialmente no contexto da
doença de Alzheimer. No entanto, as explicações sobre os mecanismos
subjacentes a essa interação variam entre os autores, sugerindo diferentes
interpretações e abordagens terapêuticas.
De Oliveira et al. (2024) destacam que a depressão em estágios
avançados da doença de Alzheimer está diretamente associada a uma
aceleração do declínio cognitivo. Essa associação é explicada pela presença de
mecanismos neurobiológicos, como o aumento dos níveis de cortisol, que leva à
neurotoxicidade e à perda de volume hipocampal. Esse ponto de vista é
amplamente corroborado por Zanotto et al. (2023), que também identificam uma
correlação entre a depressão e a redução da neuroplasticidade, mas destacam
que essa relação pode ser modulada por fatores genéticos, como a presença do
alelo APOE-ε4.
No entanto, há uma divergência importante na literatura quanto ao papel
exato da depressão como fator precursor ou consequência da demência. Torres
et al. (2024) sugerem que a depressão pode funcionar como um marcador
precoce de risco para demência, argumentando que idosos com depressão têm
maior probabilidade de desenvolver demência posteriormente. Esse argumento
é sustentado por estudos longitudinais que mostram uma maior incidência de
demência entre indivíduos que apresentaram episódios depressivos na meia-
idade. Em contraste, Alves (2023) propõe que, em muitos casos, a depressão
pode surgir como uma resposta psicológica à perda progressiva de capacidades
cognitivas e funcionais, sugerindo que a depressão pode ser uma consequência
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direta do processo demencial, e não necessariamente um precursor.
Essa divergência de opiniões reflete uma das principais questões não
resolvidas na literatura: a natureza bidirecional da relação entre depressão e
demência. Enquanto alguns autores, como De Sousa Silva et al. (2021),
defendem a ideia de que a depressão pode precipitar a demência ao induzir
alterações neurofisiológicas que comprometem a cognição, outros, como Da
Graça Botesini et al. (2022), argumentam que a depressão em pacientes com
demência é mais frequentemente uma comorbidade que agrava os sintomas
sem necessariamente influenciar a etiologia da doença.
O impacto da depressão na resposta ao tratamento em pacientes com
demência é outro ponto de divergência entre os autores. De Sousa Silva et al.
(2021) apontam que a presença de depressão pode reduzir a eficácia dos
tratamentos farmacológicos convencionais, como os inibidores da
acetilcolinesterase, sugerindo a necessidade de abordagens terapêuticas
combinadas que incluam antidepressivos. Por outro lado, Lins et al. (2024)
argumentam que a eficácia dessas combinações terapêuticas ainda não está
bem estabelecida, e que os antidepressivos podem não oferecer benefícios
significativos em todos os casos de depressão associada à demência. Essa
controvérsia evidencia a necessidade de mais estudos clínicos para determinar
quais subgrupos de pacientes podem se beneficiar dessas abordagens.
As divergências também se estendem às estratégias de intervenção não
farmacológicas. Moreira (2020) defende que intervenções precoces, como
programas de estimulação cognitiva e exercício físico, podem mitigar os efeitos
negativos da depressão na progressão da demência. Essa visão é compartilhada
por Zanotto et al. (2023), que observam que a participação regular em atividades
físicas pode reduzir os sintomas depressivos e retardar o declínio cognitivo.
Contudo, Torres et al. (2024) questionam a generalização desses achados,
sugerindo que a eficácia dessas intervenções pode ser limitada por fatores
individuais, como a gravidade da demência e o nível de engajamento dos
pacientes.
Outro ponto de confronto entre os autores é a interpretação dos achados
relacionados às alterações estruturais cerebrais associadas à depressão em
pacientes com demência. De Oliveira et al. (2024) identificam uma redução
significativa no volume do hipocampo em pacientes com Alzheimer e depressão,
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o que sugere um mecanismo pelo qual a depressão pode acelerar a
neurodegeneração. No entanto, Da Graça Botesini et al. (2022) argumentam que
essas alterações podem não ser específicas da depressão, mas sim refletir um
padrão mais geral de neurodegeneração observado em demências avançadas.
Essa discrepância destaca a complexidade em distinguir os efeitos da depressão
daqueles causados diretamente pela demência.
A relação entre depressão, funcionalidade e qualidade de vida em
pacientes geriátricos com demência é amplamente reconhecida, mas os autores
divergem quanto à extensão desse impacto. Alves (2023) sugere que a
depressão compromete significativamente a capacidade funcional dos
pacientes, levando a uma maior dependência e aumentando o risco de
institucionalização. Por outro lado, Lins et al. (2024) apontam que a
funcionalidade pode ser preservada em alguns pacientes, dependendo do
manejo clínico adequado da depressão e da demência. Essa divergência sugere
que a depressão pode ter impactos variáveis na funcionalidade, dependendo de
fatores como o ambiente de cuidado e a presença de suporte social.
Além disso, o papel dos fatores socioeconômicos e culturais na
modulação do impacto da depressão na progressão da demência é outro ponto
de discussão. Da Graça Botesini et al. (2022) destacam que a falta de acesso a
recursos de saúde e suporte social pode exacerbar tanto a depressão quanto a
demência em populações vulneráveis. Eles argumentam que intervenções
focadas em reduzir essas disparidades podem ser essenciais para melhorar os
resultados clínicos. Em contraste, Moreira (2020) sugere que, embora os fatores
socioeconômicos sejam importantes, o impacto da depressão na demência é
principalmente mediado por mecanismos biológicos e comportamentais,
independentemente do contexto socioeconômico. Essa diferença de opinião
reflete a complexidade das interações entre fatores biológicos, psicológicos e
sociais na progressão da demência.
As implicações para os cuidadores de pacientes com demência também
são abordadas de maneiras diferentes na literatura. Lins et al. (2024) destacam
o impacto negativo da depressão nos cuidadores, sugerindo que a carga de
cuidar de um paciente com demência e depressão é significativamente maior,
levando a altos níveis de estresse e esgotamento. Isso, por sua vez, pode afetar
a qualidade do cuidado oferecido, criando um ciclo prejudicial. No entanto, Alves
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(2023) sugere que programas de apoio específicos para cuidadores, que incluam
intervenções para o manejo da depressão, podem atenuar esses efeitos
negativos, embora a implementação de tais programas seja frequentemente
limitada por recursos e acesso.
Finalmente, a discussão sobre a mortalidade associada à depressão em
pacientes com demência revela diferentes perspectivas sobre a extensão desse
risco. De Oliveira et al. (2024) relatam que a depressão aumenta
significativamente o risco de mortalidade em pacientes com demência, através
de mecanismos que incluem a piora das condições médicas coexistentes e a
redução da adesão ao tratamento. Por outro lado, Da Graça Botesini et al. (2022)
questionam a causalidade direta, sugerindo que a depressão pode ser um
marcador de severidade da demência, ao invés de um fator causal independente
para o aumento da mortalidade. Essa discrepância sublinha a necessidade de
mais estudos longitudinais para esclarecer a relação entre depressão e
mortalidade em pacientes com demência.
Em síntese, a literatura revisada apresenta uma visão rica e complexa
sobre o impacto da depressão na progressão da demência em pacientes
geriátricos, mas também revela uma série de divergências e lacunas no
conhecimento atual. Enquanto há consenso sobre o papel negativo da
depressão na evolução das demências, as explicações para os mecanismos
subjacentes, a eficácia das intervenções e as implicações para o manejo clínico
variam significativamente entre os autores. Essas divergências apontam para a
necessidade de mais pesquisas, particularmente estudos que explorem a
interação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais na progressão da
demência em idosos.
Essas diferentes perspectivas também destacam a importância de
abordagens terapêuticas personalizadas, que levem em consideração as
especificidades de cada paciente, incluindo fatores genéticos, histórico clínico,
contexto socioeconômico e o ambiente de cuidado. A personalização do
tratamento pode ser a chave para melhorar os resultados e a qualidade de vida
de pacientes geriátricos com demência e depressão.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo de revisão abordou a complexa relação entre depressão
e demência em pacientes geriátricos, com foco nos impactos que a depressão
pode ter na progressão de condições neurodegenerativas, como a doença de
Alzheimer. A análise dos estudos revisados demonstrou que a depressão, além
de ser uma comorbidade comum em idosos com demência, desempenha um
papel significativo na aceleração do declínio cognitivo e funcional, o que, por sua
vez, agrava a qualidade de vida desses pacientes.
Os achados indicam que a depressão pode influenciar a progressão da
demência por meio de mecanismos neurobiológicos, incluindo alterações nos
níveis de cortisol, redução da neuroplasticidade e diminuição do volume
hipocampal. Além disso, há evidências de que fatores genéticos, como a
presença do alelo APOE-ε4, podem amplificar o impacto da depressão na
progressão da demência, sugerindo a necessidade de uma abordagem
personalizada no manejo desses pacientes.
A literatura também aponta para a bidirecionalidade da relação entre
depressão e demência, onde a depressão pode ser tanto um fator de risco
quanto uma consequência do declínio cognitivo. Essa interação complexa
ressalta a importância de diagnósticos diferenciais precisos e intervenções
terapêuticas adequadas para prevenir ou retardar o avanço da demência em
pacientes com depressão.
A resposta ao tratamento em pacientes com demência e depressão
concomitante varia consideravelmente, indicando que abordagens combinadas,
que integram tratamento farmacológico e terapias não farmacológicas, podem
ser mais eficazes. No entanto, mais estudos clínicos são necessários para definir
estratégias terapêuticas otimizadas que possam melhorar os resultados em
pacientes geriátricos com essas condições.
A revisão também destacou a importância de considerar os fatores
socioeconômicos e culturais, que podem influenciar tanto a prevalência da
depressão quanto a progressão da demência. A redução das disparidades no
acesso aos cuidados de saúde e ao suporte social é fundamental para o
desenvolvimento de intervenções eficazes que possam mitigar os efeitos
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adversos dessas condições em populações vulneráveis.
Em suma, a depressão representa um desafio significativo no manejo de
pacientes geriátricos com demência, exigindo uma abordagem multidisciplinar e
personalizada. A identificação precoce e o tratamento adequado da depressão
são essenciais para retardar a progressão da demência e melhorar a qualidade
de vida desses pacientes. Este artigo contribui para a compreensão das
interações entre depressão e demência e reforça a necessidade de pesquisas
futuras que continuem a explorar os mecanismos subjacentes e as melhores
práticas terapêuticas para essa população crescente e vulnerável.
REFERÊNCIAS
ALVES, Matheus Arrais. Depressão maior. In: ALVES, Matheus Arrais (Org.).
Neuropsicogeriatria: uma abordagem integrada. São Paulo: Editora de
Ciências Médicas, 2023. p. 7.
DA GRAÇA BOTESINI, Gabriele et al. Associação de depressão com
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