Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 1
MISTÉRIOS
DA PÁSCOA
EM IDANHA
2024
MISTÉRIOS
DA PÁSCOA
EM IDANHA
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TRADIÇÕES QUARESMAIS E PASCAIS “
NA VILA DE IDANHA DE IDANHA-A-NOVA
Temos obrigação de salvar
tudo aquilo que ainda é
susceptível de ser salvo, para
que os nossos netos, embora
vivendo num Portugal diferente
do nosso, se conservem tão
portugueses como nós e
capazes de manter as suas
raízes culturais mergulhadas na
herança social que o passado
nos legou.
”
Jorge Dias, etnólogo (1907-1973)
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A Vila de Idanha-a-Nova, alcandorada num cabeço e cintada de
INTRODUÇÃO
sobreirais e olivais, nasceu à beira do Castelo Templário do qual
restam ruínas por incautos autarcas, que na década de sessenta
do século XIX, aproveitaram as pedras musgosas que presencia-
ram actos heróicos de idanhenses na defesa do nosso Portugal,
para construírem os muros de suporte para a nova estrada a ca-
minho da Senhora da Graça, em vez da íngreme “Calçada” na li-
gação da ponte da Senhora da Graça de acesso à Vila. No terreiro
do alto das ruínas do citado Castelo, surgiu um espantoso mi-
radoiro, gerador de silêncio alongado, por onde se perde a vista
pela soberba panorâmica, ao redor que posto o visitante em sos-
sego lhe enche a alma de paz.
Neste mundo contemporâneo em crise global, não só a Vila de
Idanha-a-Nova, bem como todo o Concelho, onde dá gosto viver,
estamos sendo invadidos, por nacionais e estrangeiros, que fu-
gindo dos meios citadinos devido ao cansaço do frenético quo-
tidiano, estão desejosos de experimentar e sentir, tal como nós,
o passado no presente, nesta paz e nesta tranquilidade, que per-
mite respirar o nascer do abençoado sol no perfume das estevas,
das giestas e dos rosmaninhos.
8 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Tendo em conta o notável conjunto de tradições quaresmais e
pascais e a singularidade de algumas, que em tempos passados
foram comuns no interior do País, que se preservam no nosso
Concelho, por proposta da Comissão da Semana Santa de Braga
foi, apresentada a candidatura do Concelho de Idanha-a-Nova à
Rede Europeia das Celebrações da Semana Santa e Páscoa, que
foi admitida em 22 de Março de 2023, pela Comissão Científica da
citada Rede. Esta é formada, até à presente, por Instituições de
países como Espanha, Itália, Malta, Portugal, Eslovénia e Croácia.
No passado dia 26 de novembro do ano anterior, realizaram uma
visita a avaliadora portuguesa dos itinerários culturais europeus,
Dra. Cristina Farinha, acompanhada da Representante da Rede
Europeia, Dra. Encarnácion Giraldez.
Ambas sugeriram os seguintes espaços religiosos e culturais a
visitar na Vila de Idanha-a-Nova. 1. Ermida de Nossa Senhora do
Almurtão, 2. Igreja da Misericórdia, 3. Centro de Artes Tradicionais
(adufes e flores de romaria) e Posto de Turismo e 4. Centro de Inter-
pretação da Semana Santa, Páscoa e do Património Religioso de
Idanha-a-Nova, a funcionar no Forum Cultural.
Neste último lugar visitado, participaram para além do Pároco,
Padre Adelino Américo Lourenço, representante da Irmandade
da Santa Casa da Misericórdia de Idanha-a-Nova, em substitui-
ção do Provedor da mesma, António Sousa Lisboa e também em
representação do Agrupamento de Escuteiros, da representan-
te do Coro Paroquial de Nossa Senhora da Conceição, Maestrina
Dra. Carla Costa, os dois elementos, na qualidade de autores de
publicações, Alexandre Gaspar e eu, assim como o Presidente da
Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, Engº Armindo Jacinto. Por
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 9
motivos profissionais, não puderam comparecer o Juiz da Confra-
ria de Nossa Senhora do Almurtão e o Juiz da Confraria do Santís-
simo Sacramento.
A admissão da candidatura não é só uma honra para todos os ele-
mentos que constituem as Instituições que compõem a Comissão
da Quaresma, Semana Santa e Páscoa de Idanha-a-Nova, bem
como dignifica o passado colectivo das nossas gentes, com espe-
cial incidência nas tradições quaresmais e pascais legadas pelos
pais e avós das gentes do território do Município. E, consequen-
temente, cria uma forte auto-estima em todos, guardiões e paro-
quianos das dezassete Paróquias do Município de Idanha-a-Nova.
De seguida, passo a referir-me às ditas tradições da Vila de Ida-
nha-a-Nova que já conta, a partir de 21 de Janeiro do presente
ano, com a bonita e honrosa idade de 818 anos.
10 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Idanha-a-Nova - Quarta-Feira de Cinzas
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 11
O tempo da Quaresma é precedido pela época do Entrudo, pos-
QUARTA-FEIRA DE CINZAS
teriormente, denominado Carnaval. Até aos anos sessenta do
século passado, nos três dias que antecedem a Quarta-Feira de
Cinzas, era tempo vivido com muita vivacidade, particularmente
em meios rurais. Era tempo de diversão e de folguedo para novos
e menos novos, comemorado com bailes, brincadeiras com tra-
jes que despertavam risadas, dando lugar a representações de
cenas cómicas. Por vezes, os foliões de mais posses arremessa-
vam baldes de água, ovos, se possível, podres, farinha, areia e
outras traquinices sonhadas. Mas as cenas mais hilariantes eram
referentes a representações de interessantes peripécias que
ocorriam, nas localidades, desde o anterior Entrudo.
O Carnaval, ultimamente, quase que se resume a meios citadi-
nos deste nosso Portugal à beira-mar plantado surgindo apenas
pomposos desfiles pelas ruas, um pouco à moda das Escolas de
Samba do Brasil, apresentando um ou outro carro com caricatu-
ras de políticos ou de acontecimentos de modo a provocar trans-
bordante risada…
Acontecia que, como durante a Quaresma era tempo de rezar,
de penitência e de só dever-se ouvir, apenas os cantares religio-
sos, a rapaziada, mesmo a meio da Quaresma, fazia a “Sarração
da Velha” que consistia em ir junto das velhas mais rabugentas
da povoação e um dos mais foutos começava a roçar com uma
12 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
vara sobre um velho cortiço e a gritar insultos, citando mesmo o
nome da velha, e daí que era costume que a atormentada velhi-
nha abrisse a porta e tentasse despejar urina que previamente
armazenara numa lata, para cima da malta. Era a risada geral do
grupo da malta… Esta era a forma da juventude extravasar as
suas energias e vontade de quebrar com cenas de repreensão no
quotidiano quaresmal. Tal costume, devidamente actualizado,
voltou a ser recreado, na menos populosa aldeia do Concelho,
em Idanha-a-Velha, tesouro arqueológico mais precioso da Beira
Baixa.
Passemos, então à Quaresma. É do conhecimento geral que,
desde os primeiros séculos da Igreja, especialmente a Semana
Santa foi sempre vivida com intensidade pelos fiéis recordando-
-se e celebrando-se anualmente os Mistérios da Paixão, Morte e
Ressurreição de Jesus Cristo.
O tempo da quaresma é tempo de devoção e piedade, vividas
com profundo sentir. É tempo de oração mais frequente, peni-
tência, jejum e de práticas da piedade popular como a de dar
esmolas. Em suma, na Quaresma decorrem quarenta dias de
preparação para a maior solenidade do ano que é a Páscoa da
Ressurreição. Quarenta dias fora o tempo que Jesus Cristo pas-
sou em jejum e oração no deserto, preparando-se para a mani-
festação transcendente da Sua Morte e Ressurreição por Amor
aos Homens. Daí ser tempo de oração, de sacrifício, de esperan-
ça, tempo das procissões nocturnas, ou seja, tempo de prepara-
ção para a Páscoa. Posso dizer que, em tempo de quaresma, os
sentimentos religiosos da gente da nossa terra afervoram-se de
dia para dia até chegar a Páscoa.
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 13
O ritual da imposição das Cinzas iniciou-se, a partir do século VIII,
em Roma, no santuário de S. Jorge Velabro, onde se conservam
debaixo do altar-mor dos restos do soldado, mártir cristão cujo
nome foi atribuído ao santuário.
A liturgia de hoje insiste no espírito de oração, de conversão, de
maior meditação, de jejum e abstinência, de fazer o bem de for-
ma humilde, generosa e compassiva, de participação nos dife-
rentes rituais quaresmais, fazendo parte da penitência quares-
mal.
Em dia de Quarta-feira de Cinzas, o celebrante convida os fiéis a
participar nas cerimónias inerentes ao início da quaresma.
Antes do início da Missa, na Igreja Matriz, cujo orago é Nossa Se-
nhora da Conceição, ocorre o ritual da bênção das cinzas. De se-
guida, o Pároco convida os fiéis participantes a dirigirem-se, jun-
to do altar, no local onde distribui habitualmente a comunhão,
para que inicie, em sinal de humildade, o rito da imposição das
cinzas aos que o desejarem com a intenção de lembrar que so-
mos pó e em pó nos havemos de tornar.
No momento em que inicia o ritual, o celebrante vai colocando
uma pequena porção de cinza entre o polegar e o indicador e ao
impô-la sobre a cabeça dos fiéis profere as seguintes palavras: -
Lembra-te ó homem que és pó e em pó te hás- de tornar.
Acresce registar que a cinza imposta, em cada Quarta-Feira de
Cinzas, foi obtida depois de seca a palma adornada com flores
que conduziu o Pároco, na Procissão dos Ramos do ano anterior.
De um modo geral, a queima da mesma cabe a um dos familiares
do celebrante ou ao sacristão.
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Idanha-a-Nova - Ir ver Nosso Senhor
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 15
A Vila de Idanha-a-Nova de entre o seu diverso e valioso patrimó-
O COSTUME DE IR
VER NOSSO SENHOR
nio artístico, possui, a nível da arte retabulística, o magnífico e
gracioso altar-mor da Igreja Matriz de estilo barroco nacional e o
invulgar da Igreja da Misericórdia que é pertença da Irmandade
da Santa Casa da Misericórdia. Este último, foi ajustado por 260
mil reis, pelo Provedor aos mestres entalhadores Manuel Pereira
e Gabriel Pereira, naturais de Famalicão, conforme registo na Es-
critura de contrato e ajuste, realizada, em 29 de Março de 1730,
no Cartório Notarial de Idanha-a-Nova.
Por desleixo ou interesse de gananciosos construtores ou taca-
nhez de autarcas desejosos de formosear largos e jardins, tem sido
destruídas imensas capelas e igrejas, entre estas as deste tipo de
altar-mor, denominado tipicamente português, de talha em crú,
por vezes, como o da Igreja da Misericórdia de Idanha-a-Nova, com
apontamentos de figuras humanas grotescas, pintadas com cores
garridas, vulgarmente constituído pela mesa do altar e sobre esta
um espaço envidraçado, de forma oval, na parte superior, onde no
seu interior é colocada a imagem do Senhor Morto, excepto, na
quaresma, quando é necessária num dos Passos ou no esquife,
aquando da Procissão do Enterro do Senhor. Na parte superior do
mesmo espaço, pode observar-se a tribuna cujo interior abobada-
do é pintado de vermelho escuro.
16 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Vem sendo costume antigo, os devotos idanhenses deslocarem-
-se à Igreja da Misericórdia, para orarem, após observarem, na
dita tribuna do precioso altar-mor de talha em crú, uma das sete
cenas da representação da Paixão e Morte de Cristo que os Doze
Irmãos mais antigos ”montam” aí o Passo, em cada uma das sete
Sextas-feiras da quaresma. Para além dos Doze, há os quatro Ir-
mãos que, no Domingo de Passos, “montam” o Passo com Jesus
Cristo arvorado na cruz, na Igreja Matriz, enquanto decorre a Pro-
cissão dos Passos pelas ruas do costume.
É, na verdade, engenhosa a forma catequética e pedagógica de
expôr, na dita tribuna, as diferentes cenas da Paixão e Morte de
Jesus Cristo, denominadas Passos, colocando as imagens de
roca ou de vestir do Senhor dos Passos, da Virgem Maria, de S.
João Evangelista e de Santa Maria Madalena, bem como as de
madeira policromada do Esse Homo e de Cristo articulado, arvo-
rado na cruz.
Possivelmente, a prática desta representação cénica das Ima-
gens, com apresentação de cenas descritas pelos evangelistas,
deve-se à atenta percepção de antigos elementos da Misericór-
dia conjuntamente com o Pároco de então devido ao grasso anal-
fabetismo do povo idanhense que os levou à encomenda aos ci-
tados entalhadores do retábulo barroco tipicamente português
com esse tipo de tribuna cujo interior é pintado de vermelho
escuro.
A talho de foice, informo que o Concelho de Idanha-a-Nova, no
Censo da População de Portugal em 1911, 78% dos homens e
90% das mulheres não sabiam ler.
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 17
Ainda hoje, dois dos Doze Irmãos, que “montam” o Passo, fiéis ao
cumprimento da tradição, iniciada já lá vão cerca de 300 anos, por
volta das dezassete horas de todas as Sextas-feiras da Quaresma,
abrem o portal da Igreja da Misericórdia para que o povo possa
“IR VER NOSSO SENHOR”, para depois se colocarem, um de cada
lado da capela-mor, empunhando a tocha acesa, alumiando em
silêncio sepulcral, as diferentes cenas bíblicas da Paixão e Morte
de Jesus Cristo, criando assim ambiente para a oração e reflexão.
De seguida, descrevo de forma sucinta quais as diversas cenas ou
Passos que os Doze apresentam na citada tribuna, no decurso de
cada Sexta-Feira da quaresma:
Assim, no 1º Passo, na 1ª Sexta-Feira da quaresma: Oração e
agonia de Jesus no Horto (Jardim das Oliveiras). (Mc. 14. 32-45)
(Rosto voltado para o nosso lado esquerdo)
Se lá vires estar Jesus Quem me dera estar no horto
Ai! Lá no horto a orar(i). Ai! Quando Jesus pediu água.
- Dizei lá que se retir(i) Eu lha dera, Oh! Meu Deus!
Ai! Os judeus o vão matar(i) Ai! Pelo jarro da minh’ alma.(1)
2ª Sexta-Feira da quaresma: Julgamento de Jesus (Sinédrio, He-
rodes e Pilatos). (Mc. 14. 32-45) Em ambos os Passos é a mesma
imagem do Senhor dos Passos sem coroa de espinhos e sem cor-
da à cintura). Apenas possui uma fita azul atada à cintura.
(Rosto voltado para os fiéis)
3ª Sexta-Feira da quaresma: Jesus manietado, preso à coluna,
coroado de espinhos e flagelado. (Jo.18,38 e 19,1)
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4ª Sexta-Feira da quaresma: Jesus, com a coroa de espinhos, o
manto de púrpura e a cana na mão direita, sendo ridicularizado,
maltratado e blasfemado. Pilatos, governador romano, mostra-o
ao Povo, da varanda do palácio e diz: ECCE HOMO “EIS AQUI O
HOMEM”. (Mt 27. 27-31)
5ª Sexta-Feira da quaresma: Jesus é condenado à morte e carre-
ga com a cruz no ombro até ao Calvário. (Mc. 15, 20-22)
Já vai preso, já vai preso Além vão as Três-Marias
Ai! O nosso amado Cordeiro. Ai! Todas três vão a chorar(i).
Já vai preso, arreatado À cata de Jesus Cristo
Ai! Àquele pesado madeiro. Ai! Sem o poder encontrar(i)
6ª Sexta-Feira da quaresma: Jesus é pregado na Cruz e morre no
Calvário. (Luc. 23, 33-44)
A caminho do Calvário Oh! Meu Deus, quando vos deram
Ai! Levaram preso Jesus. Ai! Esse fel da amargura.
O castigo que lhe deram Que lágrimas, chorariam
Ai! Foi pregado numa cruz. Ai! Os olhos da Virgem pura.
7ª Quinta-Feira Santa da quaresma: Jesus morto é descido da
Cruz. Neste 7º Passo, figura também a Cruz da toalha.
A Senhora veste luto
Ai! Por estas sete semanas.
Que lhe morreu o seu Filho
Ai! Filho das suas entranhas.
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 19
Nota: Na 7ª e última Sexta-feira, que é a Sexta-Feira Santa, as
imagens e o esquife com Cristo morto, já estão preparados pelos
Doze Irmãos, no interior da Igreja da Misericórdia, para poderem
seguir, na Procissão do Enterro do Senhor.
Acresce salientar a honrosa missão e o árduo trabalho que com-
pete estatuariamente aos Doze Irmãos da Irmandade.
Quando eu era criança, em noites de vento gelado que cortava
a cara, normal em tempo da Quaresma, de boa vontade ia a pé
de nossa casa, de mão segura na da minha saudosa Mãe, para
irmos ver Nosso Senhor à Igreja da Misericórdia, ainda guardo na
retina, a imagem de passar, por aqueles magotes de jovens, com
o coração cheio de alegria, muitos casadouros, conversando de
pé, uns com os outros, no Largo Praça da República, aguardando
a ocasião da passagem, quer na ida, quer no regresso do “Ir Ver
Nosso Senhor” das moças de rosto bonito, pois como diz a qua-
dra popular, na Idanha, “até as silvas dão rosas”.
Quando entrava, na Igreja da Misericórdia, cheia de gente do povo
rural de todas as idades, era para mim um deslumbramento obser-
var com muita atenção as imagens, lá no alto da tribuna. A minha
querida Mãe, lendo no meu rosto, o modo como eu ficava impres-
sionado, lá me ia, explicando, à sua maneira, em cada uma das sete
Sextas-Feiras os sofrimentos de Jesus. Enquanto estávamos sen-
tados e ela ia passando as contas do terço, com calma e sem pres-
sas, notava, ao nosso lado, em algumas das mulheres, na maioria
de tom moreno na pele, que deslizava levemente dos seus olhos
de cor castanho-escuro, uma lágrima pela face que limpavam com
a costa mão. E eu condoía-me, sentia arrepios e até estremecia, no
meio daquele ambiente de silêncio absoluto, onde dois dos doze
20 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Irmãos da Irmandade da Misericórdia, vestidos de balandrau, mais
conhecido por opa preta com capuz, de tocha acesa empunhada,
servindo de sentinela, em cada lado da capela-mor.
Ainda quando eu era menino e moço, ao cair do dia, era hábito de
algumas mães de família vindas das fainas do campo, desejosas de
ir fazer a ceia para a filharada e homem, ainda davam uma fugida
para “Ir Ver Nosso Senhor”. Ali mesmo, à beirinha da Igreja da Mi-
sericórdia, no banco de pedra que ainda, hoje, aí se conserva, dava
gosto, vê-las, de belo rosto trigueiro e de sorriso a despontar dos lá-
bios, mas, lá no íntimo, a morar o sofrimento e a incerteza do pão
do amanhã. Vidas precárias e sempre aquém do desejado, moídas
do cansaço do trabalho e dos caminhos andados, pousavam a cesta
de verga que levara a magra merenda e num ápice, normalmente a
calejada mão direita ia à cabeça, para depois calma e docemente
retirar a rodilha de trapos garridos que guardava na cesta.
De seguida, antes de passar o portal da Igreja, já meio a rezar,
ajeitava levemente com a mão direita, a frente do cabelo que o
lenço deixava à mostra.
Hoje, nos meus oitenta e um anos de idade, sofredor de um filho
que foi para a presença de Deus, aos cinquenta e três anos de
idade, quando vou ver Nosso Senhor, numa ou outra Sexta-Feira
da Quaresma, peço a Deus que tenha na sua Santa Glória, todos
e todas aquelas mulheres sofredoras, em que muitas vezes, no
limite do sofrimento, por não terem tido pão em casa para dar
ao rebanho de filhos à sua guarda, porque os seus homens, sem
eira, nem beira, não eram contratados pelos feitores das casas
ricas, nem ao menos no tempo dos quintos, tempo das ceifas e
das malhas do trigo, centeio, aveia e cevada. Valera-lhes a sua
profunda e ingénua fé em Deus para superar as agruras da vida.
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 21
Acontece que, em cada sexta-feira, no fim de o povo parar de ir
“a ver” Nosso Senhor, fecham-se as portas da Igreja, e monta-se
o Passo na tribuna para a sexta-feira seguinte. Mas antes de os
Irmãos saírem, em cada uma das sextas-feiras da Quaresma, há
sempre a merenda que é apresentada por dois dos Doze. Esta é a
ceia comunitária, o momento da confraternização, que contribui
para melhor estreitar os laços de vizinhança, amizade e solidarie-
dade. O breve repasto come-se numa salinha que é composta com
uma mesa comprida, coberta com um oleado, e bancos corridos.
O saudoso informante, José Fatela, de 79 anos de idade, em 2003,
referiu-nos que a comida não pode contar com enchido ou qual-
quer outra carne, para que se cumpra o dever de abstinência, nas
sextas-feiras da Quaresma. Daí ser norma, cuja origem se perde na
lembrança dos tempos, da vetusta Irmandade comer, única e es-
tritamente, os bolos de bacalhau, os ovos verdes, as azeitonas, o
pão, o queijo e beber o garrafão do vinho tinto. Com a evolução dos
tempos e a melhoria de vida dos Irmãos da Irmandade já variam a
merenda, mas sempre preservam a tradição de comer peixe.
Na Quinta-Feira Santa, são os Irmãos da Cruz que levam a me-
renda que é composta por pão, azeitonas, queijo, chouriços e o
garrafão do vinho.
Nos dias de hoje, o actual Pároco, às Sextas-feiras da quaresma,
depois de celebrar a Missa, na Igreja Matriz, pelas dezoito horas,
segue acompanhado com os penitentes participantes, para a
Igreja da Misericórdia, ali bem próxima, para orarem e observa-
rem o Passo, na tribuna, e, no final, elucida os presentes relativa-
mente ao Passo representado, nessa Sexta-feira.
Idanha-a-Nova - Encomendação das Almas
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 23
Idanha-a-Nova - Encomendação das Almas (solista)
24 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
A ENCOMENDAÇÃO DAS ALMAS
Montes da minha aldeia… no mais alto,
Erguido em rocha dura,
Apregoavam as almas do Senhor,
Pela Quaresma escura… (…)
Teixeira de Pascoais
Como dizia o etnólogo Michel Giacometti: ”Povo que canta não
morrerá”. Na verdade, todos sabemos que é saudável a expansão
do canto de uma forma espontânea, para as populações rurais nos
tempos de lazer, nos de fervor religioso ou nas diferentes fainas do
campo onde, em contacto com a Mãe Natureza e seus fenómenos,
nasceu o tesouro das canções populares com a natural raiz telúrica.
Quanto aos momentos de fervor religioso é, sem sombra de dúvi-
da, o ciclo da Quaresma, aquele que melhor expressa o profundo
sentimento religioso do povo português. De entre os vários cân-
ticos da Quaresma, um dos mais expressivos da etnofonia é o da
Encomendação das Almas que se considera extra litúrgico por-
que, além de se manter fora do âmbito da hierarquia eclesiástica,
ocorre fora dos lugares destinados ao culto.
Em Idanha-a-Nova, o costume piedoso de cantar a Encomenda-
ção das Almas, que transporta profundas vivências de inume-
ráveis gerações, em sufrágio das almas do Purgatório, para que
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 25
com as preces dos encomendadores as ajudem a alcançar o Céu,
foi interrompido, durante alguns anos.
Graças de um modo especial ao saudoso Ti José Fatela, de voz
límpida e bem timbrada, que se lembrava de criança de ouvir
cantar, entre outros, a seu pai e ao da Ti Benvinda Tapadas que,
em 1990, já lá vão 34 anos, alguns elementos do Rancho Etnográ-
fico de Idanha-a-Nova recomeçaram a prática religiosa do canto
da Encomendação das Almas. Desse Grupo inicial de cantares,
felizmente apenas pertencem ao reino dos vivos Maria José Far-
ropas e o autor desta alinhavada escrita.
Todas as Sextas-feiras da quaresma, excepto em ambos os anos
da malvada COVID, pelas precisas onze horas da noite, quer haja
frio gélido, quer haja vento rijo como um burro, quer haja chuva,
um grupo de homens e mulheres, voluntariamente, dirigem-se ao
primeiro “poiso”, situado, no alto das ruínas do castelo que fora
erguido pelos Templários, no século XIII, para iniciarem o canto ou
cântico monódico (a uma só voz) com solista e coro. A presença
de melismas (notas entoadas sobre a mesma sílaba) neste cântico
torna-o “aparentado” com a melodia cristã do canto gregoriano.
Para além do mencionado primeiro “poiso”, os demais também
são em pontos altos da íngreme Vila, para possibilitar que o citado
cântico que é cantado em voz alta, no silêncio da noite, em toada
lenta e triste, seja ouvido pela população e acompanhem os “ac-
tores” na reza. A sequência dos poisos, à semelhança do tempo
antigo, em cada ano, é a seguinte: 1º Alto das ruínas do castelo,
2º Castelo-Velho, no quintal da família do saudoso Luís dos San-
tos Lucas e o 3º no Vale do Ferreiro, junto do muro de suporte do
Largo, próximo do vetusto Calvário de granito, bem rijo e moreno.
Acresce registar que uns anos depois de termos reiniciado a ce-
26 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
rimónia do canto da Encomendação das Almas, nas ruínas do
Castelo, o Ti Zé Fatela revelou ao Grupo de “actores” encomen-
dadores que gostava que cantássemos, no adro, ali, junto à sede
do Agrupamento de Escuteiros, voltados para o cemitério. Tal su-
gestão foi aceite por unanimidade. Daí que, em sua homenagem,
continue a manter-se esse novo “poiso”, embora o número total
de poisos mantenha a singularidade de ser ímpar ou pernão.
O amante e intrépido defensor das tradições do seu torrão natal
e poeta popular, José Fatela, questionado sobre a emoção que
sentia quando nas Sextas-feiras da Quaresma cantava a Enco-
mendação ou Amenta das Almas, respondera:
- Eu vivo mesmo aqueles momentos de devoção muito antiga
dos nossos antepassados. Sinto uma comoção interior que só
Deus sabe. Especialmente quando canto estes versos:
As almas do Purgatório
Já gritam em alta voz.
Com as mãos postas ao Céu
Irmãos lembrai-vos, de nós.
Quando canto e ponho as mãos ao céu, parece-me que saio des-
te mundo e vejo o rosto dos meus familiares que já partiram.
Até me apetece recitar esta minha quadra:
Quem me dera merecer ver
O que os olhos dos Apóstolos viram.
E quem me dera abraçar
Os meus queridos que já partiram.
É uma emoção que me enche a alma e o coração não há palavras.
Assim se conservam os bons costumes que nos legaram os nos-
sos antepassados.» (2)
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 27
Às Terças-feiras da Quaresma, na Vila, pelas quinze horas, um
A VIA-SACRA
grupo de penitentes realiza a Via-Sacra, na Igreja do Espírito San-
to. Excepto, na última, Sexta-feira Santa, a idêntica hora, a Via-
-Sacra tem lugar, na Igreja Matriz.
Também nas demais Paróquias do Concelho de Idanha-a-Nova
realiza-se todas as Sextas-feiras a Via-Sacra. Na generalidade,
são as mulheres, sem a presença do Pároco, que orientam e par-
ticipam na Via-Sacra. No Domingo de Passos, em Penha Garcia,
a Via-Sacra e o Canto da Paixão, iniciam-se na Igreja Matriz, às
quinze horas, seguindo o percurso pelas ruas da Procissão, parti-
cipando alguns homens, e em Monfortinho, a Via-Sacra também
é pelas ruas da Procissão.
Idanha-a-Nova - Domingo de Passos
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 29
A solenidade do Domingo de Passos ocorre na Vila de Idanha-a-
DOMINGO DE PASSOS
-Nova, no 5º Domingo da Quaresma, e continua a ser vivida, im-
buída de verdadeiro espírito de fé, em perfeita sintonia com os
sentimentos do “Mártir do Gólgota”, uma vez que está enraizada
na alma dos idanhenses a devoção ao Senhor dos Passos.
Actualmente, pelas onze horas da manhã, é costume ter lugar a
Missa, na Igreja Matriz, e em que para além do Pároco e de nume-
rosos fiéis, participam a Irmandade da Santa Casa da Misericór-
dia e a da Confraria do Santíssimo Sacramento.
Noutros tempos, o povo apresentava-se trajado de luto, bem
como ao cair da tarde, no emocionante cortejo, chamado Pro-
cissão dos Passos, em sinal de mágoa pela evocação dos padeci-
mentos de Jesus Cristo com a pesada cruz ao ombro.
Daí que continue a manter significativa expressão a Procissão
dos Passos, organizada pela Irmandade da Santa Casa da Miseri-
córdia local. Esta procissão anual tem como finalidade relembrar
aos fiéis a caminhada (os passos) de Jesus Cristo, com a cruz às
costas, do Pretório até ao Calvário.
Na véspera, há duas cerimónias de preparação da solene Pro-
cissão dos Passos, denominadas Procissão das “Completas” em
que na primeira, o Pároco, a Irmandade da Misericórdia e o povo,
em silêncio, acompanham da Igreja da Misericórdia para a Matriz
30 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
a imagem do Senhor dos Passos, envolta por uma armação qua-
drangular de damasco que será destapada, no Domingo, após os
penitentes saírem da Missa. De seguida, após os Irmãos terem
colocado a pesada imagem do Senhor dos Passos, junto do púl-
pito do lado esquerdo, voltam de novo à Igreja da Misericórdia
com a finalidade de com idêntica cadência e silêncio acompa-
nharem as imagens da Virgem, de S. João Evangelista e de Santa
Maria Madalena, para a Capela de S. Francisco Xavier, anexa à
casa solarenga que pertencera à Família Falcão Meireles.
A colocação das citadas imagens, naquela Capela, permite por
uma questão logística que, no dia seguinte, aquando da dita Pro-
cissão dos Passos, ocorra na costumada encruzilhada da Praça
da República, o solene e simbólico Encontro da imagem do Se-
nhor dos Passos com a cruz aos ombros, com a Virgem, Sua Mãe.
Ao entardecer do dito Domingo de Passos, abre a Procissão o
guião grande ou pendão de damasco roxo, desfraldado ao ven-
to, seguro por um espadaúdo Irmão. O pendão possui gravadas
as seguintes iniciais S.P.Q.R., que querem dizer Senatus Populus
Que Romanus (O Senado e o Povo Romano). Este era o símbolo
da autoridade dos Romanos que era costume estar presente, no
desfile dos condenados.
Durante todo o percurso processional, tocam os sinos da torre
da Igreja, isto é, tocam como se fosse por morte de alguém e a
Filarmónica, posicionada a seguir ao pálio, num passo lento e
cadenciado, vai executando com mestria marchas fúnebres. Nos
sete” Passos” em que os Irmãos que conduzem os andores des-
cansam, o Grupo Coral da Paróquia entoa cânticos de quadras de
cariz popular, referentes à Paixão de Jesus Cristo.
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 31
Os Irmãos da Misericórdia, para além de conduzirem o Pendão e a
Cruz da “saia” roxa, são também os que transportam aos ombros
as imagens acima citadas. Há bem poucos anos, por promessa,
ainda participavam crianças vestidas de anjos, que conduziam
simbolicamente os objectos da Crucificação de Jesus Cristo: a
cruz, a coroa de espinhos, a escada, a lança, o martelo, a turquês
e os três cravos.
O momento culminante da mesma é o solene e compassado
Encontro entre as imagens da Mãe Dolorosa com a do Seu Ama-
do Filho, uma anual evocação da dolorosa caminhada de Jesus
Cristo para o Calvário. O sossego com que se reveste o preciso
momento do Encontro é impressionante e comovente. Seguem-
-se momentos de silêncio de oiro, muitos aproveitam para pedir
as graças que anseiam alcançar para si e seus familiares. Após o
Encontro, incorporam-se na Procissão, para além da imagem da
Virgem Maria, as restantes imagens enunciadas que haviam sido
conduzidas para a Capela de S. Francisco Xavier, no dia anterior.
Quando a Filarmónica, no decurso da Procissão, pára de tocar,
para descanso, o Pároco canta conjuntamente com o povo a se-
guinte jaculatória:
Virgem, Mãe de Deus e Mãe nossa,
Alcançai-nos do Vosso Amado Filho, misericórdia.
Senhor Deus, misericórdia.
Terminada a Procissão, o povo continua no mais profundo silên-
cio reentrando e sentando-se na Igreja Matriz, deparando então,
no altar-mor, com o cenário da imagem de Cristo arvorado na
cruz que fora erguida por Irmãos da Misericórdia, durante o tem-
po em que foi decorrendo a Procissão. A imagem do Senhor dos
32 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Passos, após a sua entrada, recolhe para a Capela lateral de S.
Jacinto, enquanto as imagens da Virgem, S. João Evangelista e
Santa Maria Madalena são colocadas à beira de Cristo crucifica-
do, constituindo um cenário semelhante ao do Calvário.
Segue-se o Sermão pelo Pároco, encerrando-se, no final do mes-
mo as cerimónias do Domingo de Passos.
É digno que faça alusão à alteração do percurso da Procissão dos
Passos que passou a ter lugar, a partir dos anos sessenta do Sé-
culo passado. Tal alteração do percurso foi devida não só porque
o percurso era longo, mas também devido a que a população da
Vila havia diminuído um terço, por força da emigração, nos anos
cinquenta do século passado, porque o tempo de duração da
Procissão era de quatro horas, devido haver dois Sermões e, ha-
ver, desde o início até ao largo do Vale do Ferreiro sete “Passos”,
com altar efémero, preparado com dignidade com jarras com
flores roxas, colchas e quadros alusivos à Paixão, onde o Pároco
ajoelhava numa almofada, convidando à reflexão, enquanto al-
guns dos músicos da Filarmónica Idanhense faziam ecoar cânti-
cos plangentes acompanhados do respectivo toque do barítono
e da requinta que condoíam os penitentes.
O anterior percurso que perdurou, durante vários séculos, era ex-
tremamente longo, como atrás refiro, passando por espaços sem
habitações, e, além disso, havia um sermão, no decurso da Pro-
cissão, quando esta chegava à Capela-Oratório da Senhora das
Dores, no Largo em frente do ex-Convento Franciscano de Santo
António, com outra paragem obrigatória para os penitentes ouvi-
rem o Sermão.
Em tempo oportuno do mesmo, acontecia que no portal da dita
Capela corria o pano preto e apresentavam a cena da Crucifixão
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 33
de Cristo, à semelhança da atrás descrita, quando na actualidade
os penitentes a observam ao entrarem na Igreja Matriz.
No final do Sermão da Crucificação, as inúmeras crianças vesti-
das de anjo continuavam sentadas, no chão, e era-lhes distribuí-
do água e bolos, oferecidos por senhoras de casas ricas da Vila.
Refeito o apetite e consoladas as crianças, os véus brancos eram
retirados da cabeça e substituídos por véus pretos. Reiniciada a
Procissão, como se fora a do Enterro do Senhor, ao reentrar na
Igreja Matriz era dada por terminada.
Todos, os que tiveram como eu, a felicidade de ouvir tocar e can-
tar, os elementos da nossa Filarmónica, nos sete “Passos”, ao lon-
go da Procissão do mesmo nome, pelo percurso antigo que ia até
ao Calvário, junto da capela-oratório da Senhora das Dores com
paragem para o Sermão, guardamos na memória visual e auditi-
va, cenários e momentos de paz interior e de emoções singulares
e indescritíveis. Vivências, que perduraram de geração em gera-
ção, até ao final da década de sessenta do século passado.
Com o propósito de melhor elucidação dos leitores, relativamen-
te ao tempo da antiga procissão do Senhor dos Passos solicitei
telefonicamente informações a um saudoso ancião e idanhense
de corpo e alma, Joaquim Robalo Vinagre, com 95 anos de idade,
dotado de uma espantosa memória. Dias depois, em 5 de Julho
de 2002, enviara-me uma carta escrita de uma forma simples,
mas rica de interessantes pormenores, que passo a transcrever
parte da mesma com a indicação dos sete “Passos”:
«…No Domingo, por volta das cinco horas da tarde saía a Procis-
são com toda a imponência, percorrendo as ruas da nossa terra
até à Capela da Senhora das Dores, onde já estava o Senhor Cruci-
ficado. Ao sair, voltava à direita para ser lido o primeiro passo que
34 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
constava de canto pelos músicos da Filarmónica, acompanhados
pelo bombardino. Cumprido este primeiro acto, a Procissão seguia
até à Praça da República, antes Praça Serpa Pinto, onde estava
outro passo, mas este com quadros dependurados na parede do
cais. Depois de cumprida a cerimónia, igual à anterior, seguia no-
vamente a Procissão, até ao Largo da Senhora do Rosário, onde
estava outro passo com os quadros dependurados na parede da
casa da D. Eulália Silveira que já foi demolida. Mais uma cerimónia
igual às anteriores.
Depois seguia pela Rua Vaz Preto, antiga Rua da Corredoura, onde
a seguir à casa do Dr. Meireles estava outro passo, mas este igual
ao da parede lateral exterior da Igreja. Repetida a cerimónia, a
Procissão seguia até à Capela do Espírito Santo onde havia outro
passo que era lido como os outros. Aí aparecia a Verónica. Acaba-
do este acto, a Procissão seguia pela Estrada nova, hoje Avenida
Mouzinho de Albuquerque, até ao sexto Passo que ficava, na pa-
rede da Casa do Sr. Tenente Fernandes, antes do primeiro portão.
Repetido o acto, pelos músicos da Filarmónica, seguia para o sé-
timo e último Passo que ficava, no Largo em frente da Casa do Sr.
António Manzarra que era ornamentado pelos criados deste. Se-
guia-se, então para a Senhora das Dores onde terminava a primei-
ra parte da Procissão. Havia novo sermão e aparecia na Capela o
Senhor Crucificado. (…) Da Senhora das Dores até à Igreja Matriz a
Procissão seguia como se fosse o Enterro do Senhor.
Seguia, então, o Guião deitado, os irmãos da Misericórdia com o
capuz das opas pela cabeça, Nosso Senhor no esquife e o Senhor
dos Passos dentro da armação com que saíra, na véspera da Mi-
sericórdia para a Igreja. Esta Procissão demorava até depois das
nove da noite. (…) Era a solene Festa da Filarmónica.» (3)
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 35
Ainda a propósito da longa Procissão dos Passos não faltam pe-
ripécias que nos dispõem bem... Gosto entre outras da seguinte.
Como em cada um dos sete poisos a demora era prolongada, em
cada Passo, até se ouvir o final do toque e do canto dos músicos,
dava para os Irmãos das Irmandades do Santíssimo e da Mise-
ricórdia, como iam com a garganta seca e a barriga a dar horas,
aproveitavam para pedirem ao companheiro do lado para segu-
rar o guião, a bandeira ou a tocha, enquanto se deslocavam, sor-
rateiramente, à taberna mais próxima, no tempo, mais de trinta
em actividade, para molharem a garganta com um copito de vi-
nho branco ou de jeropiga que ensopavam com um borrachão
trazido no bolso. E como o borrachão continha vinho branco ou
jeropiga, ainda melhor assentava na esfomeada barriga, pouco
habituada a vapores etílicos. Por vezes, um ou outro dos guiões e
das bandeiras baloiçavam, mesmo sem correr o vento e também
a tocha batia no piso com mais intensidade…
Aliada a esta tradição da realização da Procissão dos Passos,
ainda hoje se mantém o costume de na véspera do Domingo de
Passos, de muitas famílias cozerem, nos fogões de sua casa, ou
adquirirem nas padarias, bolos como os borrachões, biscoitos e
bolos de leite.
Como eu morava, junto ao Castelo Velho, nas proximidades de
um forno de cozer pão e bolos, ainda hoje, sempre que me recor-
do com saudade da azáfama da vizinha forneira, Ti Lurdes Grila,
em Sábado de Passos, logo crescem os maravilhosos odores de
tal modo que até sinto as papilas gustativas húmidas e desejosas
de saborear os bolos acabados de cozer, conduzidos em grandes
latas à cabeça sobre a rodilha pela minha saudosa Mãe e outras
vizinhas de então…
36 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Não tenho conhecimento, quer no passado, quer no presente,
que em outras localidades da região, haja o vincado costume
como o da gente idanhense de saborear deliciosos bolos em
tempos da quaresma.
Por serem uma delícia os afamados borrachões, pareceu-me va-
ler a pena dar a conhecer a respectiva:
Receita dos Borrachões
Ingredientes: 1,150 Kg de farinha; 0,4 Kg de açúcar; 0,5 L
de azeite, de preferência da região; 0,5 L de aguardente
e jeropiga (metade de cada); 1 colher de chá de canela; 1
colher de chá de pó royal e 1 ovo.
Modo de Preparação: 1 – Bate-se, com uma colher de pau,
o açúcar com as bebidas. Depois junta-se uma porção de
farinha. 2 – Mistura-se o azeite bem quente, em fio, sobre
a massa, continuando a bater. Em seguida, vai-se pondo
o resto da farinha, misturada com o pó royal e a canela,
amassando-se bem com as mãos até a massa ficar pre-
parada para estender com o rolo. 3 – Estendem-se com
o rolo. Cortam-se com o cartel (carrinho), em pequenos
rectângulos, e colocam-se nas latas untadas de azeite. Pi-
cam-se com um garfo e barram-se com ovo batido. 4 – Le-
vam-se ao forno de lenha bem quente ou, na falta deste,
ao forno do fogão, até cozerem.
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 37
Idanha-a-Nova - Borrachões
38 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Idanha-a-Nova - Domingo de Ramos
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 39
A Semana Santa é um dos acontecimentos mais importantes do
SEMANA SANTA
DOMINGO DE RAMOS
mundo cristão, por se comemorar a Morte e Ressurreição de Je-
sus Cristo. Esta inicia-se com o Domingo de Ramos que celebra
a entrada triunfal de Jesus, Rei messiânico, na cidade santa de
Jerusalém. Esta festa com alegria foi instituída, possivelmente
depois da conversão dos imperadores romanos
Ainda hoje, homens, mulheres e crianças levam de casa lindos
ramos de oliveira ornamentados geralmente com goivos roxos,
rosas albardeiras e outras flores da época para a Procissão dos
Ramos.
Após a bênção de todos os ramos pelo Pároco, que evocam as
palmas com que o povo de Jerusalém recebeu Jesus Cristo, se-
gue-se a Procissão com os ramos empunhados por crianças da
catequese. Logo depois, começa a Missa. E, em momento pró-
prio, acontece a leitura da Paixão em que o Pároco é coadjuvado
por dois leitores.
No final da Missa, cada um dos paroquianos leva o florido ramo
para o seu lar onde é piedosamente guardado até à mesma épo-
ca do ano seguinte.
40 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Celebração da ceia do Senhor
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 41
Em Quinta-Feira Santa é dia do Lava-Pés, da evocação da Euca-
QUINTA-FEIRA SANTA
CELEBRAÇÃO DA CEIA DO SENHOR
ristia e do Sacerdócio.
Lavar os pés era um ofício exclusivo de escravos (1 Sam 25, 41).
Os rabinos, que eram os chefes religiosos de uma comunidade
judaica, chegavam a explicar que só se devia impor esse humi-
lhante serviço a escravos que não fossem da raça hebraica.
A cerimónia do Lava-Pés foi inspirada no episódio bíblico em que
Jesus lavou os pés aos seus discípulos durante a Última Ceia. (Jo
13, 1- 18).
Com esta acção simbólica de Jesus praticar o acto de lavar os pés
aos apóstolos, propõe o seu exemplo de humildade para que seja
imitado: «Eu vos lavei os pés, sendo Mestre e Senhor, também vós
deveis lavar os pés uns aos outros.» Pretende assim demonstrar
que com tal gesto os apóstolos deveriam prestar aos outros to-
dos os serviços, mesmo os mais humildes e humilhantes.
O simbólico costume antigo, em dia de Quinta-feira Santa, da ce-
rimónia do Lava-Pés, ainda perdura, em algumas das Paróquias
do Concelho.
De tarde, presentemente, pelas dezoito horas, em Idanha-a-No-
va, em véspera da Paixão de Cristo, realiza-se a cerimónia litúrgi-
ca da celebração da Ceia do Senhor com a participação de nume-
rosos fiéis da comunidade local.
42 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Esta Missa inicia a celebração do tríduo pascal com a Ceia do Senhor
na qual Jesus, neste dia, “enquanto ceava com seus discípulos to-
mou pão…” (Mt 26, 26). Ele quis que, como em sua última Ceia, que
seus discípulos se reunissem e se recordassem d’ Ele abençoando o
pão e o vinho: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19).
No momento da consagração, consagra-se o pão eucarístico sufi-
ciente para o próprio dia e para o seguinte. No final da comunhão, os
Irmãos da Confraria do Santíssimo dispõem-se em duas filas, para
acompanhar o Santíssimo em procissão. O Pároco, de pé, diante do
altar, coloca incenso no turíbulo e incensa por três vezes o Santíssi-
mo Sacramento. Em seguida, toma o véu de ombros, pega a peque-
na e artística arca de prata e cobre-a com as extremidades do véu.
Organizada a procissão, avançam pelo costumado percurso no inte-
rior da igreja, indo à frente a Irmandade da Confraria do Santíssimo
Sacramento, com as tochas acesas. Seguem pela nave lateral do
lado da Capela de S. Jacinto. Atrás, na fila, ladeando o Pároco que
conduz o “cofre” em prata com o Santíssimo, segue o Juiz e o Se-
cretário. Contornam pela outra nave lateral e à medida que vão che-
gando aos bancos da frente, voltam a colocar-se, nos mesmos luga-
res que ocupavam, cabendo ao Juiz e ao Secretário acompanhar o
Pároco para colocar a Sagrada Reserva, num sacrário improvisado,
denominado baldaquino, que se encontra resguardado, junto ao
canto do altar-mor do lado da Epístola (lado direito do altar mor,
para quem se volta de frente para o mesmo). Após a colocação da
arca, genufletem conjuntamente, e de seguida acompanham com
as tochas acesas o Pároco até ao altar frontal e depois colocam-se
nos respectivos lugares, continuando o decurso da Missa.
Até finais dos anos sessenta do século passado, depois da Celebra-
ção da Ceia do Senhor, seguia-se a desnudação do altar e, as ima-
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 43
gens e cruzes da Igreja Matriz eram convenientemente cobertas,
com panos negros. Também era tapado com grande pano negro o
espaço entre a capela-mor e o corpo da Igreja, porque, segundo a
liturgia da Igreja, parecia ser motivo de distracção dos fiéis, relati-
vamente ao grande mistério da Paixão e Morte de Cristo.
Acresce elucidar que os ditos panos negros só eram corridos,
mais tarde. Precisamente, a partir do momento em que surgia o
aparecimento da Aleluia, em Sábado da Aleluia.
Segundo informantes, em tempos, ainda mais recuados, em
Idanha-a-Nova, na Quinta-Feira Santa era dia Santo, a partir do
meio-dia. Pela tarde, ia-se a “Ver Nosso Senhor” e também acon-
tecia a “Corrida às Ermidas”.
Na “Corrida às Ermidas”, a norma era percorrer todas as Capelas,
numa evocação dos sete passos. À frente ia a Cruz da Toalha, se-
guindo os devotos, acompanhados pelo Pároco, que saíam e re-
gressavam à Igreja Matriz, percorrendo todas as Capelas, situadas,
na Vila: Capela da Senhora do Rosário (destruída), Capela de San-
to André (destruída), Capela de S. Francisco (destruída), Capela do
S. João, Capela do Espírito Santo (destruída, sendo o templo mais
antigo e artístico, substituído por outro incaracterístico, construí-
do, junto do actual e modelar edifício da Câmara Municipal) , ca-
pela da Senhora das Dores e Capela de S. Joaquim e Santa Ana em
mau estado de conservação) rezando um determinado número
de “Padre Nossos” e de “Avé Marias” bem como iam entoando, ao
longo do percurso, a Ladainha de Todos os Santos.
À noite, na Igreja Matriz decorria a cerimónia do Lava-Pés em que
o Pároco lavava e beijava, simbolicamente, os pés a doze pobre-
zinhos da Vila e a seguir a Missa ou celebração da Ceia do Senhor.
Idanha-a-Nova - Insençar do Santo Sepulcro
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 45
Sexta-feira Santa, Sexta-feira da Paixão ou Sexta-feira de Trevas
SEXTA-FEIRA SANTA
é dia de evocação da Morte de Jesus Cristo. É dia de tristeza e de
luto. Jesus Cristo “repousa” no sepulcro.
Uma outra tradição secular, que parece ser única no nosso País,
ocorre na lateral Capela de S. Jacinto da Igreja Matriz de Idanha-
-a-Nova. Anualmente, em dia de Sexta-Feira Santa, dia da cele-
bração da Paixão do Senhor, a dita Capela serve de vistoso e en-
cantador cenário do Santo Sepulcro.
Logo de manhãzinha, graças ao espírito de voluntariado, à des-
medida dedicação e ao forte empenho dos elementos da Con-
fraria do Santíssimo, a meio da dita Capela, espaço sagrado que
morou e mora no imaginário colectivo de sucessivas gerações e
continua sendo um dos centros vitais da expressão da Fé dos ida-
nhenses, é colocada uma grande e velha arca de madeira, com
colchão coberto de um alvo lençol onde em ritual próprio será
colocada a Imagem de Cristo morto, articulado e de tamanho
natural.
Tal imagem é a mesma que, no altar-mor da mesma Igreja, na
noite do anterior Domingo de Passos, incorporou o realista cená-
rio semelhante ao do Calvário, constituído pela imagem de Cristo
crucificado, acompanhado com as imagens da Virgem, S. João
Evangelista e Santa Maria Madalena.
46 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Seguidamente, começa então com muita candura e gracilidade
a ser artisticamente ornamentada a Capela com ramos de lou-
reiro. Acresce relembrar que, com os Gregos, o loureiro (Laureus
nobilis) tornou-se a árvore sagrada de Apolo. Os ramos de lou-
reiro entrelaçados em círculo passaram a ser coroa de glória dos
poetas e dos heróis, símbolo da imortalidade e associado a vi-
tória, triunfo e glória. O Cristianismo nascente com o sentido de
imortalidade assumiu-o como símbolo da ressurreição de Jesus
Cristo. Triunfo e glória de Cristo ressuscitado.
De alguns ramos de loureiro os Irmãos suspendem laranjas aze-
das, numa evocação simbólica do vinagre com que embeberam
a esponja que deram a beber a Jesus Crucificado (Mc 15:36).
Ó meu Deus, quando Vos deram
Ai! Fel e vinagre a beber(i),
Que lágrimas choraria
Ai! Vossa Mãe, que estava a ver(i)
Para além do loureiro, o Santo Sepulcro exibe uma cruz de média
dimensão, revestida totalmente com originalidade de inúmeras
flores de jarro, símbolo da pureza de Cristo, cuja ornamentação,
que há cerca de 58 anos, cabe à devota Maria do Carmo Tavares
Borges Lisboa, de 70 anos de idade e, ainda acontece que outras
devotas, por graças concedidas, entregam aos Irmãos, nessa
mesma manhã, para embelezamento, vistosas cabeleiras que
são memórias de sobrevivências de sociedades rurais, como a
do Concelho de Idanha-a-Nova, relativas a práticas propícias à
fertilidade das terras.
O professor romeno, cientista das religiões, incluindo as primi-
tivas, mitólogo, filósofo e romancista, Mircea Eliade, refere que,
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 47
desde os tempos remotos, os cultos agrários estão associados
aos cultos dos mortos.
Após um rasto longo de milénios, a Igreja sacralizou uma das
práticas pagãs, a do oferecimento ao Senhor morto, por graça
concedida de uma “cabeleira” para ornamentar o Santo Sepul-
cro. Tal prática continua a preservar-se, em Idanha-a-Nova e na
aldeia de Segura. Em Monsanto da Beira, que foi considerada a
aldeia mais portuguesa, tal prática manteve-se, até há bem pou-
cos anos.
Segundo informação da antropóloga Teresa Perdigão, na ilha da
Madeira, às “cabeleiras” chamam “searinhas” e mais nos infor-
mou que também persiste tal costume, na região do Algarve, na
Hungria e na Sicília.
Voltemos ao tema do Santo Sepulcro. Na Sexta-Feira Santa, ao
cair da noite durante a Procissão do Enterro do Senhor, em ritmo
cadenciado dos penitentes, ainda hoje demonstra ser uma im-
pressionante manifestação de religiosidade, respirando-se um
silêncio calmo, misterioso e comovente, apenas interrompido
por melodias fúnebres tocadas com gostosa harmonia pela Filar-
mónica Idanhense.
Quando a dita procissão finaliza, ao entrar na Igreja Matriz, acon-
tece que os Irmãos da Misericórdia conduzem o esquife com a
imagem de Cristo morto para o interior da Capela de S. Jacinto,
já com a ampla e monumental Igreja repleta de fiéis.
Debaixo de um silêncio envolto de mistério, verdadeiramente se-
pulcral, e que a todos toca no mais íntimo do ser, fica-se aguar-
dando o momento preciso do estrondo, seco e vibrante, do bater
da tampa do arcaz, sinal evocativo do cair da enorme pedra que
48 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
selara o sepulcro talhado na rocha, onde José de Arimateia se-
pultou Jesus Cristo. Tamanho estrondo, em fiéis mais sensíveis,
é arrepiante e nos seus serenos rostos desliza suavemente uma
ou mais lágrimas incontidas.
A Senhora chora, chora
Ai! Chora que se ouve na rua
Que tem o seu filho morto
Ai! Na Igreja a sepultura. (25)
De seguida, dá-se início ao sermão. Mas já lá vai o tempo em que
para esse sermão era convidado um dos afamados pregadores da
região e que este, ao narrar a dolorosa caminhada de Jesus para
o Calvário, a Sua Crucificação e Morte, numa exposição fluente,
dotada de elegância, de calor entusiástico e de empolgante rea-
lismo, impressionava os fiéis de tal modo que se comoviam pro-
funda e vivamente, a ponto de se observarem, nos rostos mais
emotivos, transfigurados pelo fogo ardente das velas, lágrimas
de angústia, de consternação e de pesar, pelos dolorosos martí-
rios evocados.
Idanha-a-Nova - Enterro do Senhor
Idanha-a-Nova - Santo Sepulcro
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 51
As “cabeleiras” são vasos com plantas provenientes da germi-
CABELEIRAS
nação de grãos de trigo e/ou de ervilhaca, em ambiente de total
escuridão, de modo a ficarem num louro esbranquiçado e pen-
dentes como cabelos, que são oferta de fiéis ao Senhor, noutros
tempos, para pedirem bons frutos nas sementeiras e agora, para
agradecer graças concedidas.
A Informante Maria José Robalo, em 2003, com 76 anos de idade,
diz ser uma tradição muito antiga a de oferecer as “cabeleiras”
por promessa e que, na segunda semana da Quaresma, colocava,
no fundo do vaso, uma camada de terra, depois pôr uma camada
de ervilhaca, a seguir nova camada de terra e outra de ervilhaca.
Cobria de novo com terra. Colocava o vaso sempre resguardado,
em sítio onde não possa entrar a claridade, mas, de quando em
quando, borrifava com água a terra.
Mais informou que antigamente, como as casas eram pequeni-
nas e só com um janelo, na própria porta da entrada, colocavam
o vaso, todo o tempo, até Sexta-Feira Santa, debaixo da cama.
As cabeleiras, no momento em que são colocadas no Santo Se-
pulcro, são decoradas com flores de goivos roxos, símbolo da
paixão e de chagas de cores vivas, amarelo e laranja, símbolo de
alegria.
Idanha-a-Nova - Canto das Alvíssaras à Mãe de Deus
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 53
Na noite do Sábado de Aleluia ou do Sábado Maior, à saída da
SÁBADO DE “ALELUIA”
Missa, com a Igreja Matriz, repleta de fiéis, depois de terem can-
tado em uníssono, no final da mesma, junto do altar, o festivo
canto das Alvíssaras ao Pároco, ao ritmo dos míticos e arcaicos
adufes, aguarda-os, no amplo adro, um mar de gente, depois de
ter regressado de percorrer as ruas da Vila de Idanha-a-Nova,
anunciando em animado e ruidoso cortejo ao som da Filarmóni-
ca, dos apitos e dos chocalhos, a Ressurreição do Senhor.
Dai-nos alvíssaras, Senhora, Aleluia! Aleluia!
Duma nova que vos trago. Aleluia, já é festa,
O Vosso Amado Filho Alegrai-vos, Mãe de Deus,
N’ Aleluia foi achado. Nossa alegria é esta.
A alegria é contagiante, nesse mar de gente que passa a encher
o adro, bem como a escadaria e o patamar que conduz à icónica
torre sineira, mas o momento mais impressionante, hilariante e
surpreendente acontece, quando o Pároco e seus familiares das
janelas e porta da casa paroquial lançam à rebatina pequenos
sacos de amêndoas, para os mais jovens e até graúdos que se
aproximam do alcance onde possam agarrar, com ambas as
mãos, um dos abençoados sacos...
54 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Só é possível, nestas paragens, de admirável ambiente calmo
e pacífico e em que todos nos saudamos sempre que nos cru-
zemos na rua, terminado o ritual do “apanhar das amêndoas”,
constatar que os contemplados mais novos, espelham uma es-
fuziante alegria ao reencontrarem os familiares mostrando, nas
mãos, o feliz resultado da sua aventura no meio da multidão e
ainda verificar que os menos novos empolgados com a agilidade
e sortudos repartem os sacos alcançados, em genuínos gestos de
solidariedade com as crianças participantes, privadas da sorte e
os amigos que assistem estáticos, mas que em tais momentos se
fartaram de rir a bandeiras despregadas…
Enquanto nos últimos tempos, o Pároco oferece amêndoas às
adufeiras, aos componentes da Filarmónica e vem lançando da
porta e das janelas da residência paroquial, juntamente com fa-
miliares, sacos com amêndoas à rebatina para o povo que enche
o Adro, antigamente apenas se distribuíam castanhas e passas
pelas adufeiras que iam cantar as Alvíssaras. Tal prática, em Ida-
nha-a-Nova, é referida por José Avelino d´Almeida:
«(...)No sabbado de alleluia á noite, reunem-se as
raparigas em dois ou mais bandos, e munidas de
pandeiros (adufes) vão ao adro tocar e cantar a N.
S. de Almotão, festejando assim a ressurreição de
Christo, e dalli vão à porta do Vigário, a darem-lhe
as boas festas, e delle recebem castanhas e passas:
consta-nos que actualmente fazem estes senhores
ouvidos de mercador, desejosos de acabar com tal
usança. Também no Porto, em dia de S. Nicolau, o
abbade desta freguezia dava uma rasa de casta-
nhas.»(...) (4)
Idanha-a-Nova - Aleluia Arruada pelas Ruas
56 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Ainda no Sábado da Aleluia, depois de ter sido comemorada fes-
tivamente a ressurreição de Cristo, quando chegar a meia-noite,
os 25 da Confraria do Santíssimo Sacramento cumprem o antigo
ritual da entrega do Senhor morto, transportando-o no esquife
da Igreja à Misericórdia a que pertence, acompanhados do Páro-
co como penitente e de demais penitentes, cujo número aumen-
ta, em cada ano que passa.
A entrada é pela porta pequena, em vez de entrar pela porta prin-
cipal donde saíra. No dizer do informante José Fatela, já atrás
citado, este uso de entrar pela porta lateral, é como se fosse às
escondidas, sem ninguém saber.
Antes do final do ritual, em muitos dos participantes no recatado
silêncio que perdura no percurso até à colocação do esquife, na
capela-mor, baila no seu pensamento o desejo de rogar ao Senhor
a saúde possível para que possam participar nos inúmeros ritos e
rituais da cíclica vivência da Semana Santa do ano seguinte.
Idanha-a-Nova - Aleluia - amêndoas “rebatina”
Idanha-a-Nova - Domingo da Ressurreição
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 59
A Semana Santa chega ao fim com a chegada do Domingo de
DOMINGO DE FESTA Páscoa, também denominado de Festa ou das Flores. Primavera
e Páscoa associadas e irmanadas. Depois da Morte, surge o canto
alegre, os hinos de glória ao Cristo Ressuscitado. Para trás ficara
o sono em que a Mãe Natureza se havia envolvido.
Aleluia, Aleluia Já os passarinhos cantam
Aleluia «Surreição» Na oliveira da Cruz
Já Cristo ressuscitou Tocam as Avé Marias
Para nossa Salvação. À «Surreição» de Jesus.
Como prelúdio do renascimento da Mãe Natureza, a Páscoa vem
pôr fim ao período triste e soturno da Quaresma. A Páscoa é a
Ressurreição de Jesus Cristo. Associa-se à Primavera com o deli-
cioso aroma dos mantos floridos, das plantas e arbustos silves-
tres, tal como o rosmaninho e dos graciosos chilreios dos passa-
rinhos, na certeza da vitória da Vida sobre a Morte.
No Domingo de Festa, dia do folar, celebra-se a Procissão da Res-
surreição, seguida da Missa Pascal. Na solene Procissão da Vila de
Idanha-a-Nova vai Santa Maria Madalena à frente, depois S. João
Evangelista e por fim Nossa Senhora.
No dizer do saudoso Ti José Fatela, que fora o Irmão mais velho
dos Doze da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Ida-
nha-a-Nova, Nossa Senhora vai atrás na citada Procissão “para
representar o seu agradecimento a todos os que acompanharam
o Senhor na Sua Paixão.”
60 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Idanha-a-Nova - Senhora do Almurtão
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 61
O sagrado e o profano, ora de mãos dadas, ora enleado, são di-
A ROMARIA DE
NOSSA SENHORA DO ALMURTÃO mensões do religioso e do profano, patentes nas festas e roma-
rias populares portuguesas. Sem dúvida alguma, damos conta
de ambas se realizarem em honra e louvor de um patrono.
O povo, nestas terras arraianas, associando-se à alegria da Mãe
de Deus, por ter Ressuscitado o Filho das suas entranhas estende
no tempo a alegria pascal. Assim, logo na Segunda-feira, após o
Domingo de Páscoa, começam e prolongam-se, mormente até ao
Pentecostes, os bodos e as romarias, celebrações à Mãe de Deus,
nos santuários campestres, dispersos pelo extenso Concelho,
constituído por dezassete Paróquias.
A romaria em honra da Senhora do Almurtão, «a Virgem insofrida
das praganas da planície», no dizer de Miguel Torga, cujo culto
remonta documentalmente, ao século XIII, é celebrada no tercei-
ro Domingo e Segunda-feira após a Páscoa.
A Romaria inicia-se, no Domingo de manhã, com a Missa que
costuma ser transmitida, às onze horas, pela Rádio Renascença,
desde há uns bons anos a esta parte. Mas houve tempos que era
transmitida habitualmente, pela (RDP Centro) ou seja pela Rádio
Difusão Portuguesa da região do Centro.
Já lá vai o tempo em que os ranchos de romeiros, eivados de ale-
gria sã, fortes e resistentes, calejados pelo labor diário do nascer
ao Sol-pôr, em espírito de festa, com os seus típicos trajes arraia-
nos, faziam a caminhada, a pé ou montados em muares ou em
carros, lindamente enfeitados, puxados por aqueles bois.
62 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
A romaria era um divertimento, mas também lugar de oração. Diz
o povo que cantar é rezar duas vezes. Pacificamente, de forma na-
tural e espontânea, ao som do milenar adufe, cantavam as mais
belas quadras do seu muito rico Cancioneiro.
Por que deixaram de vir a pé, em dia de romaria, já não param no
artístico Cruzeiro, todo de soberbas formas arredondadas, nem
lá dançam e nem cantam ao som dos adufes, contemplando com
paixão a acolhedora casa caleada da Virgem e o amplo terreiro, as
seguintes quadras:
Senhora do Almurtão Senhora do Almurtão
Já cá vamos ao cruzeiro Bem me podeis perdoar(i)
Vamos ver as alegrias Venho à Vossa Romaria
Que vão no vosso terreiro. Só p´ra cantar e bailar(i).
No domingo à tarde dentro da ermida, enquanto para muitos dos
romeiros que se sentam nos bancos, é tempo de rezar, de perdão,
de misericórdia, e de contemplar, em silêncio, a serena, encanta-
dora e sedutora imagem da Virgem, outros, entram, calmamen-
te, pela coxia ou pela porta lateral, por vezes, meigamente aco-
tovelando-se, até que se aproximam junto da mesma. Chegados,
também é tempo de contemplar a imagem da Senhora do Almur-
tão, é tempo de breves preces, de pedido de graças a conceder,
de agradecimento por outras concedidas. De seguida, recolhem
da bancada que circunda a imagem da Virgem do Almurtão um
registo, ou seja, uma das suas fotos de vários tamanhos e deposi-
tam a oferta da sua devoção.
Chegada a noite há quem fique para o arraial. É noite de folgue-
do em que o profano parece reinar. Muitos e muitos vão chegan-
do. O parque automóvel cresce desmesuradamente. É noite de
arraial. No recinto da ermida, no artístico coreto, a Filarmónica
Idanhen-se anima o arraial com o seu vasto reportório. Haven-
Idanha-a-Nova - Senhora do Almurtão Ofertório na Missa Campal
64 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
do melodias que apelam a dançar, mas enquanto noutros tem-
pos eram inúmeros os pares de folgazões que dançavam, hoje
são em maior número os que assistem ao concerto tocado com
exemplar mestria, em volta do coreto, embora haja os que, ali
bem perto do coreto, nos telheiros com comes e bebes, aprovei-
tam simultâneamente a harmonia dos sons e restabelecendo as
forças, saboreando os bons petiscos até que se aproxime a meia-
-noite e surja o ansiado e vistoso fogo-de-artifício, seguido do
estrondoso fogo preso que ecoa ondulante, no manto de silêncio
que envolve toda a campina.
Outros folgazões, aproveitam para, fora do recinto, percorrerem
a feira onde só faltam azulejos para a casa de banho... e os que
sentem vontade de distracção, abeiram-se das várias diversões
como carrinhos de choque e carrocéis.
Há ainda tempo, para aqueles que, debaixo do gracioso alpendre
e aberto o portal de par em par, assistentes e devotos, voltados
para a imagem de Nossa Senhora do Almurtão cantam com pro-
funda alegria, ao som do típico adufe, tocado com arte e ao rit-
mo do pulsar do coração, as mais belas quadras do seu arcaico e
precioso Cancioneiro. Tais quadras, em elevado número, fruto da
inspiração poético popular, espelham os ideais e os sentimentos
mais puros.
Na Segunda-feira, dia do feriado concelhio, é o dia grande da Ro-
maria. Em frente da ermida, no terreiro, um mar de gente aguar-
da a chegada da imagem da Virgem do Almurtão, para se dar
início à Missa campal, em que costumam concelebrar cerca de
trinta sacerdotes, alguns vindos da vizinha Espanha.
Após a solene Missa campal, segue-se a imponente Procissão
com o ritual do Adeus, quando a imagem de Nossa Senhora do
Almurtão recolhe à humilde ermida, momento que toca o cora-
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 65
Idanha-a-Nova - Cantar à Senhora do Almurtão à Porta da Capela
Idanha-a-Nova - Senhora do Almurtão - merendas
66 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
ção dos devotos e agnósticos que observam os tantos e tantos
lenços brancos a acenar e as lágrimas incontidas a aflorar nos
rostos mais sensíveis.
É lindo ver, logo depois, a gente raiana dirigir-se para a sombra
das azinheiras, para saborear a merenda, em que não faltam os
ovos verdes, a torta de S. Romão, os panadinhos de galinha, os
bolinhos de bacalhau, os borrachões e a prova do vinho do gar-
rafão que contempla também os vizinhos das azinheiras mais
próximas.
À semelhança da noite do arraial, os ranchos de romeiros das
freguesias circunvizinhas, não partem sem se despedirem da Se-
nhora, cantando as Alvíssaras, ao som dos arcaicos adufes e ao
ritmo do maravilhoso bombear do coração, debaixo do harmo-
nioso alpendre de três arcos, num sentir, colectivo e espontâneo,
de fervorosa e viva devoção.
Senhora do Almurtão,
Aqui me tendes defronte.
Dai-me saúde Senhora,
Como d´água tem a fonte.
Nestes tempos da globalização deste terceiro milénio em que
nos toca viver e volvidos quase oito séculos de devoção das gen-
tes arraianas do concelho de Idanha à Mãe de Deus, com o nome
de Virgem do Almurtão, na pureza da sua admirável e milagrosa
imagem, vestida com arte e mil e um carinhos, constata-se que
continua a contagiar os milhares de romeiros, que marcam pre-
sença, em cada Romaria, vindos de Norte a Sul do País e da vizi-
nha Espanha, sendo considerada na actualidade a mais concorri-
da e afamada da Beira Interior.
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 67
68 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Idanha-a-Nova - Romaria da Senhora da Graça
autor da fotografia Rui Menezes
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 69
Todos os que pretendam sair da Vila de Idanha-a-Nova a cami-
A ROMARIA DE
NOSSA SENHORA DA GRAÇA nho da raia ou para a Espanha, depois de descerem a estrada
sustentada em parte pelas pedras musgosas do Castelo, a que
atrás aludi, ao chegarem à planura da Campina, terão que passar
a velha ponte com um amplo arco sobre o rio Ponsul que “ tomou
o nome de um Cônsul ou Procônsul que nele se afogou em tempos
dos Romanos” (5), deparam, com a harmónica capela de Nossa
Senhora da Graça.
Este templo que se encontra virado para a altaneira Vila de Ida-
nha-a-Nova, a distância de dois quilómetros da mesma, possui
um bem dimensionado e artístico alpendre com quatro arcos,
sendo dois frontais geminados e os demais um de cada lado.
Lá em baixo à estrada
Há um espelho a reluzir. (i)
É a Senhora da Graça
C’o seu menino a dormir. (i)
O altar-mor da dita capela alberga a bela imagem da Virgem com
o Menino desnudado, ao colo, na posição de dormir com a cabe-
ça encostada ao ombro. A escultura tem apreciável qualidade e,
embora repintada nada a seu favor, é sem sombra de dúvida, de
entre as imagens de vulto, a pérola mais preciosa da Paróquia
de Idanha-a-Nova. Esta é bem merecedora de um aturado e es-
pecializado trabalho que permita retirar os repintes e voltar ao
colorido original.
70 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Segundo me informou o saudoso Padre António Rolo, natural de
Idanha-a-Nova, que foi pároco de Penha Garcia, durante um rol
de anos, a artística imagem de Nossa Senhora da Graça, de ma-
deira dourada e policromada, terá sido da autoria ou pelo me-
nos retocada por Machado de Castro (1731-1822), que foi um dos
maiores e dos mais prestigiados escultores.
Ontem como hoje, junto desta miraculosa imagem, fazem-se
promessas, pede-se saúde e agradece-se por graças alcançadas.
Na romaria de Nossa Senhora da Graça que se realiza, no Sábado
e no Domingo a seguir à de Nossa Senhora do Almurtão é a festa
da família idanhense.
Participa para além dos moradores do lugar, a grande maioria
do povo residente na Vila de Idanha-a-Nova. Em tempos mais re-
cuados, quando eram muitos os moinhos, à beira do citado rio
Ponsul, eram os moleiros os organizadores da romaria. Esta con-
tava com a maioria do povo idanhense, que descia pela Calçada
romana até junto da ermida, mas no Domingo trazia a meren-
da para ser saboreada, após a Missa e a procissão. Tal costume
quase desaparecido com a evolução tecnológica dos meios de
transporte.
Nos meus tempos de menino e moço, já a romaria era organizada
por uma Comissão de três meninas ricas da Vila de Idanha-a-No-
va, com a ajuda de seus pais e demais familiares. Pouco tempo
depois da revolução do 25 de Abril de 1974, passou a Comissão
a ser constituída por adolescentes do povo idanhense, quatro de
ambos os sexos que são nomeados pela Comissão de Festeiras e
Festeiros do ano anterior.
A romaria consta do arraial de Sábado que continua com barra-
cas com venda de diversos artigos, quermesse, muita música e
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 71
muita animação, terminando com fogo-de-artifício e no Domin-
go, para além da concorrida Missa e da Procissão, com a partici-
pação da Filarmónica Idanhense, executando melodias com arte
e à tarde continua a música e a animação.
Há que realçar que os incansáveis familiares dos responsáveis pela
romaria servem refeições e petiscos regionais aos romeiros duran-
te a romaria para custear parte das despesas inerentes à romaria.
Nossa Senhora da Graça
Tem água no cantarinho.
Para dar aos passageiros
Quando vêm de caminho.
É pena que hoje, tal como a Confraria de Nossa Senhora do Almurtão
mantém com sacrifício a ermitoa, junto da ermida, não seja possível
manter-se uma junto da ermida da Senhora da Graça, como existiu
ainda em tempos da minha juventude, que dava a água dos potes
de barro aos sequiosos passantes, mesmo não sendo devotos.
À semelhança de outras regiões do País, seria de extraordinária
importância que, neste lugar da Senhora da Graça e em algumas
localidades do Concelho, se criasse a figura do Cuidador do Pa-
trimónio, pessoa idónea e amante do voluntariado que tivesse
a chave e abrisse os templos. E, se possível o Cuidador ou Cui-
dadora pudesse partilhar histórias vividas nos espaços a visitar.
Aqui fica o alvitre.
A gente das terras arraianas do Concelho de Idanha-a-Nova con-
tinua a amar, a preservar e, por vezes, a readaptar aos novos tem-
pos os costumes que respeitam a alma da tradição, legada pelos
seus pais e avós, mas sempre como forma de revitalização e de
reivindicação da identidade local.
72 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
AGENDA
DOS MISTÉRIOS
DA PÁSCOA
EM IDANHA
2024
74 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Idanha-a-Nova - Homenagem ao saudoso José Fatela
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 75
Transcrevo a noticia que publiquei, no Jornal mensário RAIANO
HOMENAGEM AO SAUDOSO JOSÉ FATELA
OS GESTOS E A VOZ DAS TRADIÇÕES IDANHENSES
de Setembro de 2007:
O Adeus a José Fatela
Ao sair de casa pela manhã fresca do dia 24 de Agosto, um au-
tomóvel pára junta de mim. Um rosto sereno, mas inundado de
dor, fixando-me, proferiu baixinho estas palavras:
- Eram seis da manhã, apagou-se... Deus concedeu-me a graça de
estar presente nos últimos momentos da sua vida...
O rosto sereno e inundado de dor era o do Manuel, filho do Ti Zé
Fatela.
O meu nome são dez letras
Divididas em duas parcelas;
Quatro dizem o nome José
As outras seis dizem Fatela.
O tocador do búzio, o pastor, o roupeiro, a artesão da arte pastoril,
o cantador que nem um Iírio da armada, no tempo da colheita da
azeitona, a ceifador em sete quintos, o ladrilhador, o padeiro de
porta em porta, o poeta popular, o contador de histórias e de con-
tos de encantar, o solista de voz mágica e cristalina da Encomenda-
ção das Almas, nas Sextas-feiras da Quaresma, o porta estandarte
do Ranho Etnográfico, o cantador do Grupo das Adufeiras do mes-
76 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
mo Rancho, o Irmão há mais de cinquenta anos da Confraria do
Santíssimo e da Confraria de Nossa Senhora do Almurtão, o mais
velho da Irmandade da Misericórdia, sabedor de ritos e rituais, que
cerca de vinte anos foi responsável, em cada Sexta-feira da Qua-
resma, pela representação da Paixão e Morte de Jesus Cristo, na
tribuna do singular altar-mar da Igreja da Misericórdia, o poço sem
fundo de sabedoria popular, o homem de uma Fé contagiante,
o professor sem ter entrado na escola quando criança, desceu à
cova escura acompanhado pelo povo e rodeado pelos seus entes
mais queridos, com a coração dilacerado pela dor.
Na escola do trabalho aprendera com o avô, desde criança, toda
a espécie de fainas do campo, até que aos quinze anos voltou
para casa de seus pais que criaram sete filhos, para pouco de-
pois se iniciar na vida de pastor. O seu profundo amor a sua Ida-
nha, espelhado nos seus versos, o seu forte apego as tradições,
o seu imenso prazer em divulgar os bens etnofolclóricos, o seu
incansável gosto em ensinar às crianças o modo de fazer objec-
tos da arte pastoril, a sua límpida e cristalina voz, especialmente
quando cantava os Parabéns aos Noivos, a Encomendação das
Almas, Moda da Ceifa, Pai Nosso da azeitona, Oferecimentos da
Avé-Maria e do Padre-Nosso e Toques do búzio para a chamada
e caminhada para a colheita e apanha da azeitona e do realejo
na moda, eu estava a lavar, lavando, todas estas, espalhadas por
esse mundo em C.D, há muito esgotado, e intitulado Idanha-a-
-Nova - toques e cantares da viIa, da EMI Valentim de Carva-
lho, Música, Ida, graças à recolha do sábio etnomusicólogo José
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 77
Alberto Sardinha, em 1993 e 1994, são um referente não só para
a geração presente e para as seus netos que muito o admiravam,
mas também para as gerações futuras.
“Estou certo de que Deus premiará a sua meritória e briosa acção
nesta vida terrena, acolhendo-o para sempre na Sua Presença.”
78 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Penha Garcia - Imposição das Cinzas
Medelim - Imposição das Cinzas
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 79
FEVEREIRO
14.02 MISSA COM CERIMÓNIA DA IMPOSIÇÃO DAS CINZAS
Idanha-a-Nova 18H00
QUARTA-FEIRA
Monfortinho 15H00
DE CINZAS
Salvaterra do Extremo 11H00
Penha Garcia 17H00
Aldeia Santa Margarida 10H00
S. Miguel d’ Acha 17H00
Medelim 15H00
15.02 S. Miguel d’ Acha 20H30 Ladainhas
16.02 Alcafozes 21H00 Procissão “Corrida”
18H00 Ir ver Nosso Senhor
Idanha-a-Nova /20H00 – Igreja da Misericórdia
23H00 Encomendação das Almas
Ladoeiro 20H30 Procissão dos Homens
Martírios e Encomendação
Monfortinho 21H30
das Almas
Oledo 20H30 Encomendação das Almas
Rosmaninhal 21H30 Encomendação das Almas
Salvaterra do Extremo 16H00 Via–Sacra na Igreja Matriz
Terço Cantado nas ruas
20H30
S. Miguel d’ Acha pelos Homens
22H00 Encomendação das Almas
Toulões 23H00 Encomendação das Almas
Zebreira 17H00 Via–Sacra na Igreja Matriz
Via–Sacra na Capela
17.02 Penha Garcia 15H00
de S. Lourenço
Ladainhas e Martírios
18.02 Proença-a-Velha 20H00
do Senhor
Via-Sacra na Igreja
20.02 Idanha-a-Nova 15H00
do Espírito Santo
80 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
FEVEREIRO
22.02 S. Miguel d’ Acha 20H30 Ladainhas
23.02 Alcafozes 21H00
Os Passos
– Procissão “Corrida”
18H00/ Ir ver Nosso Senhor
Idanha-a-Nova 20H00 – Igreja da Misericórdia
23H00 Encomendação das Almas
Ladoeiro 20H30 Procissão dos Homens
Martírios e Encomendação
Monfortinho 21H30
das Almas
Oledo 20H30 Encomendação das Almas
Rosmaninhal 21H00 Encomendação das Almas
Terço Cantado nas ruas
20H30
S. Miguel d’ Acha pelos Homens
22H00 Encomendação das Almas
Salvaterra do Extremo 16H00 Via–Sacra na Igreja Matriz
Martírios e Encomendação
Termas de Monfortinho 21H30
das Almas
Toulões 23H00 Encomendação das Almas
Zebreira 17H00 Via–Sacra na Igreja Matriz
25.02 Proença-a-Velha 20H00
Ladainhas
Martírios do Senhor
Via–Sacra na Capela de
Penha Garcia 15H00
S. Lourenço
27.02 Idanha-a-Nova 17H00
Via–Sacra na Igreja Espírito
Santo
Aniversário das Almas com
S. Miguel d’ Acha 20H30
canto de Vésperas
29.02 S. Miguel d’ Acha 20H30 Ladainhas
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 81
Oledo - Encomendação das Almas
Toulões - Encomendação das Almas
82 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Rosmaninhal - Encomendação das Almas
Idanha-a-velha - “Sarração” da Velha
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 83
MARÇO 01.03 Alcafozes 21H00
Os Passos
– Procissão “Corrida”
18H00/ Ir ver Nosso Senhor – Igreja
Idanha-a-Nova 20H00 da Misericórdia
23H00 Encomendação das Almas
Ladoeiro 20H30 Procissão dos Homens
Medelim 23H00 Encomendação das Almas
Martírios e Encomendação
Monfortinho 21H30
das Almas
Oledo 20H30 Encomendação das Almas
Rosmaninhal 21H00 Encomendação das Almas
16H30 Via–Sacra na Igreja Matriz
Terço Cantado nas ruas
S. Miguel d’ Acha 20H30
pelos Homens
22H00 Encomendação das Almas
Salvaterra do Extremo 16H00 Via–Sacra na Igreja Matriz
Martírios e Encomendação
Termas de Monfortinho 21H30
das Almas
Toulões 23H00 Encomendação das Almas
Zebreira 17H00 Via–Sacra na Igreja Matriz
Aniversário das Almas com
Aldeia Santa Margarida 17H30
canto de Vésperas
03.03 Penha Garcia 15H00
Via–Sacra na Capela
de S. Lourenço
Ladainhas
Proença-a-Velha 20H00
Martírios do Senhor
05.03 Idanha-a-Nova 15H00
Via–Sacra na Igreja
do Espírito Santo
Aniversário das Almas
Medelim 17H30
com canto de Vésperas
06.03 Idanha-a-Velha 24H00 “Sarração” da Velha
S. Miguel d’ Acha 20H30 Ladainhas
07.03 Proença-a-Velha 17H30
Aniversário das Almas
com canto de Vésperas
84 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
MARÇO Os Passos
08.03 Alcafozes 21H00
– Procissão “Corrida”
18H00/ Ir ver Nosso Senhor
Idanha-a-Nova 20H00 – Igreja da Misericórdia
23H00 Encomendação das Almas
Idanha-a-Velha 21H30 Encomendação das Almas
20H30 Procissão dos Homens
Ladoeiro
22H00 Encomendação das Almas
Medelim 23H00 Encomendação das Almas
Martírios e Encomendação
Monfortinho 21H30
das Almas
Oledo 20H30 Encomendação das Almas
Penha Garcia 24H00 Encomendação das Almas
Proença-a-Velha 24H00 Encomendação das Almas
Rosmaninhal 21H00 Encomendação das Almas
16H30 Via–Sacra na Igreja Matriz
Terço Cantado nas ruas
S. Miguel d’ Acha 20H30
pelos Homens
22H00 Encomendação das Almas
Salvaterra do Extremo 16H00 Via–Sacra na Igreja Matriz
Martírios e Encomendação
Termas de Monfortinho 21H30
das Almas
Toulões 23H00 Encomendação das Almas
Zebreira 17H00 Via–Sacra na Igreja Matriz
V Encontro de Cantares
09.03 S. Miguel d’ Acha 21H00
Quaresmais
Via–Sacra na Capela
10.03 Penha Garcia 15H00
de S. Lourenço
Ladainhas e Martírios
Proença-a-Velha 20H00
do Senhor
Via–Sacra
12.03 Idanha-a-Nova 17H00
na Igreja Espírito Santo
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 85
Ladoeiro - Encomendação das Almas
Termas de Monfortinho - Encomendação das almas
86 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Monfortinho - Encomendação das Almas
Zebreira - Via-Sacra
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 87
MARÇO 14.03 S. Miguel d’Acha 20H30 Ladainhas
Aniversário das Almas com
Proença-a-Velha 17H30
canto de Vésperas
15.03 Alcafozes 21H00 Procissão dos Passos
18H00/ Ir ver Nosso Senhor
Idanha-a-Nova 20H00 – Igreja da Misericórdia
23H00 Encomendação das Almas
Idanha-a-Velha 21H30 Encomendação das Almas
Missa seguida da Procissão
20H30
Ladoeiro dos Homens
22H00 Encomendação das Almas
Rosmaninhal 21H00 Encomendação das Almas
Aldeia Santa Margarida 21H30 Encomendação das Almas
Medelim 23H00 Encomendação das Almas
Martírios e Encomendação
Monfortinho 21H30
das Almas
Oledo 20H30 Encomendação das Almas
Penha Garcia 24H00 Encomendação das Almas
Proença-a-Velha 24H00 Encomendação das Almas
Salvaterra do Extremo 16H00 Via–Sacra na Igreja Matriz
16H30 Via–Sacra na Igreja Matriz
Terço Cantado nas ruas
S. Miguel d’ Acha 21H00
pelos Homens
23H00 Encomendação das Almas
Segura 21H00 Encomendação das Almas
Toulões 23H00 Encomendação das Almas
17H00 Via–Sacra na Igreja Matriz
Zebreira
21H00 Encomendação das Almas
Idanha-a-Nova 20H00 Procissão das Completas
16.03 Segura 20H00 Procissão dos Passos
88 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
MARÇO
17.03 Aldeia Santa Margarida 16H00
Missa e Via–Sacra
pelas ruas
DOMINGO Idanha-a-Nova 19H00 Procissão dos Passos
DE PASSOS Ladoeiro 17H00 Procissão dos Passos
Ladainhas e Martírios
Proença-a-Velha 20H00
do Senhor
Salvaterra do Extremo 20H00 Procissão dos Passos
Zebreira 16H00 Procissão dos Passos
Via–Sacra na Capela
Penha Garcia 15H00
de S. Lourenço
Via–Sacra
19.03 Idanha-a-Nova 17H00
na Igreja Espírito Santo
20.03 Penha Garcia 19H00 Aniversário das Almas
21.03 S. Miguel d’ Acha 21H00 Ladainhas
Os Passos
22.03 Alcafozes 21H00
– Procissão “corrida”
Aldeia Santa Margarida 21H30 Encomendação das Almas
18H00 Ir ver Nosso Senhor
/20H00 – Igreja da Misericórdia
Idanha-a-Nova 23H00 Encomendação das Almas
Abertura do VIII Curso Livre
16H00
sobre Religiosidade Popular
Idanha-a-Velha 21H30 Encomendação das Almas
Medelim 23H00 Encomendação das Almas
Festa da Sra. das Dores com
12H00 Celebração Eucarística e
Monsanto Canto da Senhora das Dores
23H30 Encomendação das Almas
Oledo 20H30 Encomendação das Almas
Martírios do Senhor
Penha Garcia 24H00 e Encomendação
das Almas
Proença-a-Velha 24H00 Encomendação das Almas
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 89
Aldeia de Santa Margarida - Via-Sacra
Salvaterra do Extremo - Procissão dos Passos
90 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Medelim - Encomendação das Almas
Aldeia de Santa Margarida - Benção dos Ramos
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 91
MARÇO 22.03 Rosmaninhal 21H00 Encomendação das Almas
16H30 Via–Sacra na Igreja Matriz
Terço Cantado nas ruas
S. Miguel d’ Acha 21H00
pelos Homens
22H00 Encomendação das Almas
Ladoeiro 22H00 Encomendação das Almas
Salvaterra do Extremo 16H00 Via–Sacra na Igreja Matriz
Toulões 23H00 Encomendação das Almas
17H00 Via–Sacra na Igreja Matriz
Zebreira
21H00 Encomendação das Almas
Martírios e Encomendação
Monfortinho 21H30
das Almas
Segura 21H00 Encomendação das Almas
23.03 Monfortinho 20H00
Via-Sacra com representação
cénica pelas ruas da aldeia
Aniversário das Almas com
Monsanto 12H00
Ofícios e o Canto das Laudes
Procissão de Ramos seguida
Segura 17H00
de Celebração Eucarística
10H00 / VIII Curso Livre sobre
17H30 Religiosidade Popular
Idanha-a-Nova
XV Encontro de Cantares
21H00
Quaresmais
Palestra – Estudo das
S. Miguel d’ Acha 11H00 Práticas Quaresmais
em São Miguel de Acha
24.03 Aldeia Santa Margarida 10H30 Benção dos Ramos e Missa
Benção dos Ramos seguida
DOMINGO Idanha-a-Nova 11H00
de Celebração Eucarística
DE RAMOS Benção dos Ramos seguida
Ladoeiro 12H00
de Celebração Eucarística
Medelim 09H00 Benção de Ramos e Missa
Benção de Ramos seguida
Monfortinho 14H30
de Celebração Eucarística
92 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
MARÇO
24.03 Benção dos Ramos na Igreja
17H00 da Misericórdia para a Igreja
DOMINGO Monsanto Matriz.
DE RAMOS
23H30 Encomendação das Almas
Benção de Ramos seguida
12H00
de Celebração Eucarística
Penha Garcia Via–Sacra e Cântico da
15H00 Paixão pelas Ruas da
Procissão
17H00 Benção dos Ramos e Missa
Proença-a-Velha
20H00 Martírios do Senhor
Benção dos Ramos seguida
Rosmaninhal 09H30
de Celebração Eucarística
S. Miguel d’ Acha 11H45 Benção dos Ramos e Missa
Benção dos Ramos seguida
Salvaterra do Extremo 08H30
de Celebração Eucarística
Benção dos Ramos seguida
Termas de Monfortinho 16H30
de Celebração Eucarística
Benção dos Ramos seguida
Toulões 10H30
de Celebração da Palavra
Benção dos Ramos seguida
10H00
Zebreira de Celebração da Palavra
16H30 Procissão dos Passos
27.03 O Espalhar do Alecrim no
chão do Altar-Mór da Igreja
Alcafozes 20H00
QUARTA-FEIRA da Misericórdia, seguindo-se
o comer da “Parva”
SANTA
Eucaristia e Procissão do
20H00 Encontro a partir da Igreja
Medelim da Misericórdia
23H00 Encomendação das Almas
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 93
São Miguel de Acha - Benção dos Ramos
Penha Garcia - Canto a Caminho do Calvário Alcafozes - Canto da Verónica no Enterro do Senhor
94 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
São Miguel de Acha - Canto dos Martírios do Senhor
Segura - Espalhar do Alecrim
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 95
MARÇO 28.03
08H00
Peditório para a Ceia dos
Doze da Irmandade da
Misericórdia
QUINTA-FEIRA
SANTA 13H00 Ceia dos Doze
Cântico dos Martírios,
Senhora das Dores na Igreja
Alcafozes da Misericórdia, seguindo-se
21H00 o Lava–Pés e Procissão do
Encontro. Após a Procissão,
finaliza-se com a leitura dos
“Tormentos do Redentor”
Canto dos Martírios
24H00 e da Senhora das Dores
pelas ruas
Celebração da Ceia
Idanha-a-Nova 18H30
do Senhor
Celebração da Última Ceia,
Ladoeiro 20H30 seguida de Procissão
do Encontro
Canto da Senhora das Dores
Monfortinho 21H30
pelas ruas da aldeia
Celebração Eucarística
com Lava–Pés, Sermão
do Encontro, seguindo-se
20H30
a Procissão dos Passos.
Monsanto No final, Sermão da
Misericórdia
Encomendação das Almas
23H30
e Martírios
Celebração da Instituíção
18H00
Penha Garcia da Eucaristia
24H00 Louvado Nocíssimo
Eucaristia com Lava-Pés
na Igreja da Misericórdia
seguida da Procissão do
21H00
Encontro, Sermão com
Proença-a-Velha representação de Maria
Madalena
Ceia dos Doze seguida
24H00
do Louvád’ síssemo
96 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
MARÇO Celebração da Última Ceia,
28.03 Rosmaninhal 22H30 seguida de Procissão do
Encontro
QUINTA-FEIRA
Celebração Eucarística
SANTA 18H30 seguida de Procissão
S. Miguel d’ Acha do Encontro
22H00 Martírios do Senhor
Celebração
20H30 Eucarística seguida
de Procissão do Encontro
Salvaterra do Extremo
22H30 Ceia dos Doze
24H00 Encomendação das Almas
O espalhar do alecrim
08H00 no chão da Igreja da
Misericórdia pelos Irmãos
Peditório para a Ceia dos
09H00 Doze da Irmandade da
Misericórdia
Segura
Celebração da Última Ceia
19H00 com Lava-Pés, seguindo-se
a Procissão do Encontro
22H00 Encomendação das Almas
24H00 Ceia dos Doze
Termas de Monfortinho 21H30 Canto da Senhora das Dores
Celebração da Última Ceia,
21H00 seguida de Procissão do
Zebreira Encontro
22H30 Encomendação das Almas
29.03 22H00
Procissão do Enterro do
Senhor com Verónica e
SEXTA-FEIRA Alcafozes Sermão da Soledade
DA PAIXÃO 24H00 Encomendação das Almas
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 97
Rosmaninhal - Procissão do Encontro
Ladoeiro - Procissão do Encontro
98 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Alcafozes - Encomendação das Almas
Monfortinho - Louvado Dulcíssimo
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 99
MARÇO 29.03 Leitura da Paixão, Adoração
18H15 da Cruz e Procissão do
Aldeia Santa Margarida Enterro do Senhor
SEXTA-FEIRA
DA PAIXÃO 21H30 Encomendação das Almas
Preparação do Santo
Sepulcro na capela de S.
08H00
Jacinto da Igreja Matriz
pelos Irmãos do Santíssimo
Via–Sacra na Igreja
15H00
Idanha-a-Nova do Espírito Santo
Adoração da Santa Cruz
18H30 Procissão do Enterro
do Senhor e Sermão
23H00 Encomendação das Almas
15H00 Via–Sacra na Igreja Matriz
Ladoeiro Adoração da Cruz
20H30 e Procissão do Enterro
do Senhor
09H00/ Adoração do Senhor Morto
Medelim 15H00 na Igreja da Misericórdia
15H00 Via–Sacra na Igreja Matriz
Celebração da Paixão
16H00
do Senhor
Monfortinho
Santos Passos
23H00
e Louvado Dulcíssimo
15H00 Via–Sacra pelas ruas
Leitura da Paixão, Adoração
da Cruz, Sermão com
representação cénica de
Maria Madalena. Descimento
Monsanto da Cruz. Segue-se Procissão
20H30
do Enterro do Senhor com
cântico da Verónica e as Três
Marias entoam os Héus. No
final, Sermão do Senhor
Morto
Oledo 21H00 Via–Sacra pelas ruas
100 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
MARÇO Celebração da Paixão
29.03 Penha Garcia
14H30
do Senhor
SEXTA-FEIRA 24H00 Santos Passos
Adoração da Santa Face
DA PAIXÃO 15H00
na Igreja da Misericórdia
Proença-a-Velha Celebração da Paixão,
seguida da Procissão
21H00
do Enterro do Senhor
com Verónica
Adoração da Cruz
Rosmaninhal 21H00 e Procissão do Enterro
do Senhor
Leitura da Paixão
16H30
e Adoração da Cruz
S. Miguel d’ Acha Procissão do Enterro
20H00 do Senhor com Cântico
dos Héus
Via–Sacra na Igreja
15H00
da Misericórdia
Salvaterra do Extremo Celebração da Paixão do
20H00 Senhor seguida de Procissão
do Enterro do Senhor
Após a queima
do Alecrim pelos Irmãos da
08H00 Misericórdia, segue-se
Segura a Adoração da Cruz
e a Via–Sacra
Procissão do Enterro
19H00
do Senhor
Toulões 23H00 Encomendação das Almas
15H00 Via–Sacra na Igreja Matriz
Adoração da Cruz seguida
Zebreira de Procissão do Enterro do
22H30
Senhor com Encomendação
das Almas
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 101
Salvaterra do Extremo - Enterro do Senhor
102 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Alcafozes- Enterro do Senhor
Zebreira - Enterro do Senhor
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 103
MARÇO
Toque do sino, seguindo-se
30.03 o canto das Alvíssaras ao
Aldeia Santa Margarida 21H00
som dos adufes com cortejo
pelas ruas
Celebração Eucarística com
aparecimento da Aleluia
e Arruada pelas ruas da
21H00
Vila. Alvíssaras ao som dos
Idanha-a-Nova Adufes. O apanhar das
amêndoas à porta do Pároco
Senhor do esquife da Igreja
24H00 Matriz para a Igreja da
Misericórdia
Vigília Pascal, seguida de
Ladoeiro 20H30
Alvíssaras
Toque do sino, seguindo-se
Monfortinho 24H00 o canto da Aleluia ao som
do adufe
Vigília Pascal. Anúncio da
Ressurreição. Alvíssaras, ao
som dos adufes, à porta da
Igreja, do Pároco e da Capela
Monsanto 21H30
do Espírito Santo. Regresso
à porta do Pároco. Convívio.
Canções populares ao som
dos adufes
Toque dos sinos, seguindo-
-se o canto das Alvíssaras à
Proença-a-Velha 24H00
porta da Igreja Matriz, com
cortejo pelas ruas.
Vigília Pascal seguida de
Salvaterra do Extremo 21H00
Alvíssaras.
Toque do sino, seguindo-se
Toulões 23H00 o Canto das Alvíssaras ao
som dos adufes
Vigília Pascal, seguida das
Alvíssaras à porta das Igrejas
Zebreira 22H30
Matriz, Espírito Santo e
Senhora da Piedade
S. Miguel d’ Acha 21H30 Vigília Pascal
104 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
MARÇO
31.03 Procissão da Ressurreição
Aldeia Santa Margarida 16H00 seguida de Celebração
PÁSCOA Eucarística
Procissão da Ressurreição
Idanha-a-Nova 11H00 seguida de Celebração
Eucarística
Celebração do Espírito Santo
09H00
com os respectivos festeiros
Ladoeiro
Procissão da Ressurreição,
12H00
seguida Missa
Procissão da Ressurreição
Medelim 09H00 seguida de Celebração
Eucarística
Procissão da Ressurreição
seguida da Celebração
14H30
Eucarística e Visita Pascal
na Igreja Matriz
Monfortinho
Canto das Alvíssaras, ao som
dos adufes, junto da Capela
16H00
de Nossa Senhora
da Consolação
Procissão da Ressurreição
saindo da Igreja Matriz,
passando pela Igreja da
Monsanto 17H00 Misericórdia, seguida de
Celebração Eucarística na
Igreja Matriz. No final, beijar
da Cruz
Procissão da Ressurreição
seguida da Eucaristia com
Oledo 09H30
beijar da Cruz e Alvíssaras
ao som do adufe
Procissão da Ressurreição
seguida da Celebração
Penha Garcia 12H00
Eucarística e Visita Pascal na
Igreja Matriz
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 105
Monfortinho - Aleluia
Proença-a-Velha - Aleluia
106 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Toulões - Aleluia
Ladoeiro - Procissão da Ressurreição
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 107
MARÇO 31.03
Proença-a-Velha 10H30
Procissão da Ressurreição a
partir da Igreja Matriz
PÁSCOA e Missa
Procissão da Ressurreição
Rosmaninhal 15H00 seguida da Celebração
Eucarística
Procissão da Ressurreição
S. Miguel d’ Acha 12H00 seguida de Celebração
Eucarística
Procissão da Ressurreição,
Segura 12H00
seguida de Missa
Procissão da Ressurreição
Termas de Monfortinho 16H00 seguida de Celebração
Eucarística
Celebração Eucarística,
seguida do Canto das
Toulões 10H30
Alvíssaras à porta da Igreja
Matriz
Procissão da Ressurreição
Zebreira 10H00 seguida de Celebração
Eucarística
108 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
São Miguel de Acha - Romaria de Santa Catarina de Alexandria
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 109
ABRIL
PROLOGAMENTO DA ALEGRIA PASCAL
EM CELEBRAÇÃO À MÃE DE DEUS
01
Romaria de Santa Maria Madalena Rosmaninhal
Romaria da Senhora da Granja Proença-a-Velha
Romaria de Santa Catarina de Sena Ladoeiro
Bodo de Nossa Senhora da Consolação Salvaterra do Extremo
02
Cruzes de Monsanto à Senhora da Azenha Monsanto
Romaria da Santa Marinha Segura
Festa de São Roque Rosmaninhal
07
Romaria de S. Domingos Zebreira
08
Romaria de Santa Catarina de Alexandria S. Miguel d’ Acha
11
Bodo de Nossa Senhora da Consolação Monfortinho
110 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
PROLOGAMENTO DA ALEGRIA PASCAL
EM CELEBRAÇÃO À MÃE DE DEUS
ABRIL
14 E 15
Romaria da Senhora do Almurtão Idanha-a-Nova
21
Romaria da Senhora da Graça Idanha-a-Nova
MAIO
03
Subida ao Castelo e Lançamento do Pote Castelo de Monsanto
04 E 05
Festa de Nossa Senhora do Castelo
Castelo de Monsanto
ou de Santa Cruz
16
Cruzes de Penha Garcia
Penha Garcia
à Senhora da Azenha
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 111
Monsanto - Divina Santa Cruz | Caminhada para o Castelo
Monsanto - Divina Santa Cruz | Lançamento do pote
112 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024 113
(1) José Alberto Sardinha, etno-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
musicólogo C.D. Idanha-a-Nova
Toques e cantares da vila, Calvário
cantado por Isabel Maria Silveira,
de 85 anos de idade, EMI Valentim
de Carvalho, música, Lda, edição
de 1995.
(2) António Silveira Catana, José
Fatela – Os gestos e a voz das tra-
dições idanhenses, Raiano nº 134,
janeiro de 2004, ou Artistas da
Nossa Terra II, edição da Câmara
Municipal de Idanha-a-Nova, 2006,
pp. 69-81.
(3) António Silveira Catana, Filar-
mónica Idanhense Páginas da sua
História 115 Anos ao Serviço da
Cultura Musical, Edição da Câmara
Municipal de Idanha-a-Nova, 2003,
pp. 91-93.
(4) José Avelino d´Almeida, Diccio-
nario Abreviado de Choreografia,
Topographia, e Archeologia das Ci-
dades, Vilas e Aldeas de Portugal, I
Vol., 1866, p. 510.
(5) Jorge Cardoso – Agiológico
Lusitano, Lisboa, 1666, Tomo III,
191 c.
Monsanto - Divina Santa Cruz | Jogo da roda
114 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024
CONCERTOS V ENCONTRO DE CANTARES QUARESMAIS
FILARMÓNICA IDANHENSE DE S. MIGUEL DE ACHA
9 DE MARÇO DE 2024 21H00
24 DE FEVEREIRO 17H00 Igreja Matriz de S. Miguel de Acha
Rosmaninhal - Misericórdia Terço Cantado nas ruas pelos Homens de S. Miguel de Acha (Idanha-a-Nova)
Grupo de Encomendação das Almas de Monforte da Beira (Castelo Branco)
24 DE FEVEREIRO 21H00
Grupo de Amenta das Almas de Santo Amaro de Azurara (Mangualde)
Zebreira - Capela de Nossa Senhora da Piedade
Grupo de Amentar das Almas Santas de Tourigo (Tondela)
Grupo de Encomendação das Almas de S. Miguel de Acha (Idanha-a-Nova)
3 DE MARÇO 14H30
Idanha-a-Velha - Igreja Matriz
XV ENCONTRO DE CANTARES QUARESMAIS
3 DE MARÇO 16H00
Ladoeiro - Misericórdia
E PASCAIS DE IDANHA-A-NOVA
23 DE MARÇO DE 2024 21H30
16 DE MARÇO 14H30 Forum Cultural de Idanha-a-Nova
Aldeia de Santa Margarida - Igreja Matriz Grupo de Encomendação das Almas de Fatela (Fundão)
Grupo de Encomendação das Almas de Idanha-a-Nova (Idanha-a-Nova)
16 DE MARÇO 16H00 Grupo de Encomendação das Almas de Aranhas (Penamacor)
São Miguel d’ Acha - Igreja Matriz Grupo de Encomendação das Almas de Cunqueiros (Proença-a-Nova)
Encomendação das Almas Grande Roda Teixoso (Covilhã)
PRESENÇA DE GRUPOS
DE ENCOMENDAÇÃO
DAS ALMAS
DO CONCELHO
DE IDANHA-A-NOVA
16 DE MARÇO
Azurara (Mangualde) Grupo de
Encomendação das Almas de
Monfortinho
22 DE MARÇO
Galisteu (Proença-a-Nova) Grupo de
Encomendação das Almas de Toulões
23 DE MARÇO
Cavernães (Viseu) Grupo de
Encomendação das Almas do
Ladoeiro
116 Mistérios da Páscoa em Idanha | 2024