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Anpocs Scielo 2023

O artigo analisa a construção do Casarão Solar José Rufino como um espaço de memória em Areia/PB, destacando sua relação com o passado agrícola da região e a transformação social após a falência da usina Santa Maria. A pesquisa utiliza métodos etnográficos para entender como a elite agrária molda a narrativa turística do local, evidenciando disputas sobre a valorização do patrimônio cultural. O estudo enfatiza a importância do turismo como uma alternativa de desenvolvimento social e econômico na cidade.

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Anpocs Scielo 2023

O artigo analisa a construção do Casarão Solar José Rufino como um espaço de memória em Areia/PB, destacando sua relação com o passado agrícola da região e a transformação social após a falência da usina Santa Maria. A pesquisa utiliza métodos etnográficos para entender como a elite agrária molda a narrativa turística do local, evidenciando disputas sobre a valorização do patrimônio cultural. O estudo enfatiza a importância do turismo como uma alternativa de desenvolvimento social e econômico na cidade.

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Estado da publicação: Não informado pelo autor submissor

TURISMO, MEMÓRIAS E DISPUTA EM AREIA/PB: O CASO DO


CASARÃO JOSÉ RUFINO
Denise Kamada, Patrícia Ramiro

https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.6928

Submetido em: 2023-09-18


Postado em: 2023-09-25 (versão 1)
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TURISMO, MEMÓRIAS E DISPUTA EM AREIA/PB: O CASO DO


CASARÃO JOSÉ RUFINO

DENISE M. KAMADA
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8733-246X
[email protected]
Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, Paraíba (PB),
Brasil
PATRÍCIA A. RAMIRO
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6917-6106
[email protected]
Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, Paraíba (PB),
Brasil

Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar a construção e seleção do


Casarão Solar José Rufino como espaço oficial dedicado à memória de Areia,
cidade localizada no brejo da Paraíba. O município teve um passado bastante
ligado aos latifúndios de cana-de-açúcar, matéria prima da usina Santa Maria
que funcionou de 1931 a 1992 na região, quando foi decretada sua falência. A
partir daquele momento de crise da agroindústria, Areia vivencia um
momento de transformações que impulsionam projetos de reconversão não
lineares, dentre os quais, a inserção de alguns atores sociais em atividades
vinculadas ao desenvolvimento do turismo como uma alternativa para
manutenção ou melhoria da posição social ocupada até aquele momento.
Neste contexto, surgem iniciativas voltadas à valorização simbólica do rural
com propostas de resgaste de uma certa visão de patrimônio cultural e
fomento à locais de preservação da memória, como é o caso do Casarão, alvo
desta pesquisa. Como recurso metodológico utilizamos a pesquisa de campo,
durante a qual o método etnográfico teve um papel importante por possibilitar
a observação participante e a realização de entrevistas. Procuramos
demonstrar como este local é um espaço construído por parte da elite agrária
local, dando destaque aos discursos e modos de exibição ao público visitante
no contexto turístico de um passado de riqueza e luxo, mas que colocam em
evidência os processos de disputas e negociações que perpassam este
processo de valorização material e simbólica.

Palavras-chave: patrimônio, memória, turismo, elite, reconversões sociais.

TOURISM, MEMORIES AND DISPUTE IN AREIA/PB: THE CASE OF


CASARÃO JOSÉ RUFINO

Abstract: This work aims to analyze the construction and selection of Casarão
Solar José Rufino as an official space dedicated to the memory of Areia, a city
located in the marshland of Paraíba. The city had a past closely linked to
sugarcane plantations, raw material from the Santa Maria plant that operated
from 1931 to 1992 in the region, when its bankruptcy was declared. From that

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moment of crisis in the agroindustry, Areia experiences a moment of


transformations that drive non-linear reconversion projects, among which, the
insertion of some social actors in activities linked to the development of
tourism as an alternative for maintaining or improving their social position
occupied until that moment. In this context, initiatives aimed at the symbolic
valorization of rural areas emerge with proposals to rescue a certain vision of
cultural heritage and promote places for the preservation of memory, as is the
case of Casarão, the target of this research. As methodological resource, we
used field research, during which the ethnographic method played an
important role by enabling participant observation and interviews. We seek to
demonstrate how this place is a space built by the local agrarian elite,
highlighting the speeches and ways of showing the visiting public in the
tourist context of a past of wealth and luxury, but which highlight the
processes of disputes and negotiations that permeate this process of material
and symbolic valorization.

Keywords: heritage, memory, tourism, elite, social reconversions.

1. INTRODUÇÃO

No dia 23 de janeiro do ano corrente, fomos surpreendidas com a notícia


de que uma obra não autorizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN) da Paraíba havia sido embargada por estar
“destruindo sem autorização um piso de mais de 200 anos de história” 1.
Tratava-se de um prédio construído no período colonial, em 1818, tombado
pelo IPHAN e que servia, há alguns anos, como espaço de visitação turística
no município de Areia, na região do brejo paraibano, no Nordeste do Brasil.
Denominado de Casarão José Rufino, em homenagem a seu último
proprietário, o espaço possuía oito senzalas com tijoleiras originais, tidos
como os únicos exemplares de escravidão urbana no país, cujos pisos estavam
sendo retirados sem a devida cautela pela gestão atual da prefeitura
municipal de Areia2. A divulgação da notícia trouxe para o debate público um
tema ao qual nos dedicávamos já há algum tempo como parte das questões de
nosso grupo de pesquisa3, em especial, sobre o processo de valorização
simbólica do município e as lutas sociais em jogo para delimitação do que é

1
Matéria publicada em: https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2023/01/23/iphan-
embarga-obra-que-estava-destruindo-tijolos-de-1818-de-casarao-tombado-na-paraiba.ghtml
2
Segundo a matéria, três pisos das senzalas já haviam sido destruídos na reforma.
3
Grupo de Pesquisa CNPq “Identidade e Memórias das classes populares rurais e
urbanas”.

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patrimônio material e imaterial, bem como, o acesso às políticas de incentivo


ao desenvolvimento do turismo.

Em Areia, o desenvolvimento da cidade esteve fortemente moldado pelas


atividades agrícolas que se desenvolviam no local (Moura, 2008). Localizada
no Estado da Paraíba, no Nordeste brasileiro, a microrregião do Brejo
encontra-se na região agreste, na parte oriental do Planalto da Borborema,
cuja posição geográfica apresenta clima úmido com índice pluviométrico mais
elevado que nas outras regiões do estado. Tais fatores favoreceram diversos
cultivos, como o algodão, café, agave e cana de açúcar (Almeida, 1980). Local
de passagem entre o sertão e a zona da mata paraibana, Areia foi um
importante centro econômico, político e cultural do estado da Paraíba. Terra
de muitos engenhos, Areia é terra natal de herdeiros de engenhos que se
tornaram políticos, artistas e escritores de renome nacional, como José
Américo de Almeida e Pedro Américo. Foi lá, por exemplo, através da
influência de José Américo, que foi inaugurado o primeiro curso superior de
Agronomia do estado, que depois se tornaria a Universidade Federal da
Paraíba (UFPB) e o primeiro teatro público da Paraíba.

Em meados do século XX, instala-se em Areia, em 1931, a sede da usina


Santa Maria, sob propriedade da família de antigo produtor de café que havia
perdido a lavoura para praga em 1929. Ainda que do ponto de vista relacional,
a usina tenha tido pouca importância econômica regional e nacional, foi
central para organização social da vida da maioria da população local. Vendida
para outro proprietário em 1952 será, nos anos 1970 e 1980, que terá uma
expansão significativa de sua produção e expansão fundiária devido aos altos
subsídios e créditos das políticas de incentivo ao setor, como o Proalcóol e o
Planalsucar (Soffiati, 2022). Foi nesse período de expansão custeada pelo
Estado que o antropólogo do Museu Nacional, Afrânio Garcia Jr., visitava a
região para sua tese de doutorado, deixando-nos material de inestimável
importância para compreensão do que ele denominou de “declínio da
dominação personalizada” dos senhores de engenho do brejo paraibano
(Garcia Jr., 1989). Iniciado décadas antes, entre outros fatores, as novas
possibilidades de oferta de emprego incentivando migrações para o sudeste,
de forma definitiva ou mesmo, como demonstra o autor, como forma de

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manutenção da situação camponesa no retorno à Paraíba (Garcia Jr., ibidem;


Ramiro; Garcia Jr. , 2017), no final dos anos 1970, os incentivos ao plantio e à
aquisição de mais terras, fará com a que situação dos trabalhadores sofra com
a intensificação da exploração de sua força de trabalho e com o
descumprimento do direito ao roçado, pequenas lavouras de subsistência
autorizadas pela condição de morada, parte fundamental da relação moral
estabelecida entre proprietários de terras e trabalhadores nas plantations
nordestinas (Palmeira, 2009).

Todavia, ainda que a expropriação dos moradores tenha se intensificado


e, em consequência disso, a busca por direitos também tenha chegado ao
setor canavieiro na região (Sigaud, 1979), quando a usina tem sua falência
decretada, estima-se que 800 famílias ainda vivessem em suas propriedades.
Mesmo os proprietários de engenhos que dependiam da usina para
comercialização da cana-de-açúcar plantada, viram-se em momento de
abrupta transformação que exigia, a todos os segmentos, estratégias de
reconversão para adaptação à nova realidade. Enquanto as terras da usina
forma desapropriadas e deram lugar à dez assentamentos de reforma agrária
(Ramiro, 2019), diferentes atores voltaram-se para o trabalho de construção
de discurso voltado para valorização simbólica do espaço rural, outrora
dominado pelo usineiro, em busca do desenvolvimento do turismo (Ramiro;
Parpet, 2019). A promoção do turismo no município tem forte relação com o
passado canavieiro da região. Um dos principais movimento de impulsão à
divulgação e atração de turistas ao local, iniciado logo após a falência da
usina, é o processo, em construção, de valorização simbólica da cachaça de
alambique que agrupa herdeiros de engenhos com passagem pela vida urbana
e com formação universitária em áreas estratégicas para o setor. Seguindo
regras do campo consolidadas em outros estados brasileiros, como Minas
Gerais e Rio de Janeiro, tais produtores tentam desvincular a bebida de seu
passado escravocrata e de bebida das camadas inferiores, para uma bebida
“distinta”, consumida (com moderação) pelas classes mais abastadas (Garcia
Parpet; Ramiro, 2018). Alguns dos produtores atuais de cachaça, são também
proprietários de empreendimentos vinculados ao turismo, como hotéis,
pousadas e restaurantes construídos nas proximidades do empreendimento.

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Muito bem organizados em associações de produtores da cachaça e de


turismo rural empenham-se, com bastante sucesso, em fazer da cidade local
de atração.

O foco deste artigo é a construção e seleção de dispositivos culturais


para fins turísticos selecionados como elementos de memória coletiva, e que,
portanto, colocam em evidência processos de disputas e negociações que o
perpassam, através do estudo de caso do Casarão Solar José Rufino. Após
empenho dos proprietários de engenhos no setor cachaceiro, em 2006, Areia
recebeu o título de Patrimônio Nacional pelo IPHAN, através de um
movimento centrada na Associação Amigos de Areia (AMAR), (Iphan, 2010).
Em seguida, notamos que houve um trabalho de fomento aos museus, quando
alguns espaços foram eleitos como equipamentos culturais, dentre eles, o
Casarão Solar José Rufino, tido como o primeiro sobrado do município.
Construído em 1818, por um português chamado Francisco Jorge Torres, foi
restaurado, na década de 1970, pelo areense José Rufino de Almeida. Ambos
eram membros da elite local agrária, com forte capital econômico e político.
Localizado no centro histórico de Areia é um dos principais pontos de
valorização cultural, sendo explorado como ponto turístico, além de abrigar a
sede do IPHAN no município.

O trabalho utiliza como recurso metodológico a pesquisa de campo,


durante a qual o método etnográfico teve um papel importante por possibilitar
a observação participante, indispensável para conhecer o espaço onde se
desenvolve a pesquisa e a maneira que ele é apresentado em um contexto de
visitação turística. A pesquisa de campo também possibilitou a realização de
entrevistas semiestruturadas com funcionários e guias turísticos do Casarão,
funcionários do IPHAN. Além disso, a investigação é feita por meio de
pesquisa bibliográfica e de documentos históricos para entender os apelos
históricos e culturais que se relacionam com o espaço e servem de justificativa
para eleição deste como um espaço de preservação da memória.

2. O CASARÃO JOSÉ RUFINO

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No século XVII, a cidade Areia, então conhecida como Sertão de


Bruxaxa, era uma rota de comércio entre o interior e litoral da Paraíba, sendo
ponto de passagem de boiadeiros que vinham dos sertões em direção a
Mamanguape e João Pessoa. No local, havia um pequeno rio com bancos de
areia, conhecido como Brejo d'Areia e neste ponto foi firmada uma pequena
hospedaria para aqueles que atravessavam a capitania (Almeida, 1980). Neste
momento, as primeiras moradias começaram a serem edificadas, sendo
descritas pelo historiador areiense, Horário de Almeida, como (1980, p. 5)
como “ mocambos de sapé ou palha de pindoba, como de resto as construções
de seu tempo nos lugares êrmos, onde a civilização rompia as selvas na
conquista do Brasil”. Neste momento, como aponta Moraes (2008), a
ocupação do território foi direcionada por atividades comerciais, onde as rotas
de passagem criaram condições para urbanidade e fixação dos comerciantes.
Em 29 de junho de 1813, foi instituída no lugarejo, por provisão Régia, a
Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Brejo de Areia. Em 1815, o
território foi desvinculado da Vila Real de Monte-Mor 4, sendo elevada à Vila
Real do Brejo de Areia, por força de Alvará Régio ( Almeida, 1980; Moraes,
2008). Foi a oitava vila que se criou na Paraíba e fazia parte de seu território
as povoações de Alagoa Grande, Bananeiras, Guarabira, Pilões, Cuité e Pedra
Lavrada (Almeida, ibidem). Mais tarde, em 1846, a Vila de Areia passou a ser
o município de Areia.

4
Atualmente, o município de Mamanguape/PB

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Figura 1: Mapa do município de Areia. Fonte: Oliveira,


2021

Até o início do século de XIX, a edificação mais importante do local era a


capela, uma construção com telhado de palha, dedicada à Nossa Senhora da
Conceição. Sobre a início da povoação de Areia, conta Horário de Almeida
(1980, p. 18-19).

O povoado já possuía sua capela no local onde hoje se ergue


a matriz com a mesma invocação de N. S. da Conceição. Essa
capela, construída em terreno doado por Bartolomeu da
Costa Pereira, existia antes de 1800. Do ponto de vista
arquitetônico, era apenas um casarão de palha, atravessado
no meio da rua. Próximo, havia uma pequena lagoa e por
causa desse acidente geográfico a rua principal entrou a
alargar em forma de V, na direção da igreja. Teria sido por
iniciativa do vigário de Mamanguape que a capela passou
pela primeira reforma, cobrindo-se de telha -mais ou menos
em 1808. Todavia, um estudioso da história já respingou, na
devassa do assunto, que a povoação de Areia possuía apenas
4 ou 5 casas em 1807, mas no ano seguinte já se
apresentava em grande progresso.

Como observa Moraes, (2008), a economia da região do brejo paraibano


sempre esteve regulada pelas culturas agrárias, embora no século XIX o
comércio tenha tido bastante destaque. De todo modo, desde início da
ocupação do território, o desenvolvimento e o aperfeiçoamento das lavouras e
do processo de beneficiamento dos produtos tiveram uma forte relação com o
desenvolvimento urbano de Areia. O primeiro casarão do município foi

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construído em 1818, por ordem de Francisco Jorge Torres, um português


apelidado de “Marinheiro Jorge”. Nativo da região de Cerca, uma vila da
freguesia de São Pedro da Cadeira, em Torres Vedras, nasceu em 1770 e era
filho de almocreve, uma espécie de transportador de mercadorias, ofício
tradicional em Portugal naquele período (Iphan, 2023). Quando emigrou de
Portugal, instalou-se primeiramente em Pernambuco e depois fixou residência
em Areia, onde tornou-se um importante comerciante. Estabeleceu-se no
povoado com casa de negócio e bolandeira de descaroçar algodão 5, num
período que Areia, antes da economia açucareira, tinha o cultivo de algodão
como principal atividade econômica.

Embora a cana-de-açúcar tenha sido a razão da exploração inicial da Paraíba, foi


a atividade algodoeira, em expansão desde o final do século XVIII, que
despontou como principal atividade econômica de Areia, tornando-a um
expressivo foco de desenvolvimento (ANDRADE, 1997, pp.28-29; MARIZ, 1978,
p.26). As demandas das nascentes fábricas inglesas, incapacitadas de serem
atendidas devido à independência dos Estados Unidos, tornaram o Brasil o
grande exportador do produto. Na década de 1820 era o algodão o produto de
maior lucro no mercado externo e no Brejo de Areia se realizavam a produção e
o beneficiamento do produto, devido à existência de diversas bolandeiras de
descaroçamento (MORAES, 2008, p. 34-35).

A história de Francisco Jorge Torres também foi mencionada por Horário


de Almeida (1980, p. 29), em sua primeira historiografia, bastante
“encantada” pelos fazeres das elites, do município:

O português Jorge Torres havia chegado a Areia ao despontar do século, ainda


bem moço, com algumas economias que amealhara no Recife. Estabeleceu-se no
povoado com casa de negócio e bolandeira de descaroçar algodão, ao mesmo
tempo que se alargava na agricultura e na criação de gado. Construiu o
primeiro sobrado da vila, muitas casas de morada, armazém e instalações de
beneficiamento de algodão, assim como fundou a propriedade Macaíba, com
água canalizada para a casa grande e engenho, os sítios do Pirunga e do Bonito,
além da propriedade Rapador, em Alagoa Grande. Uma rua inteira levantou no
povoado, em cujo centro fica o Beco do Jorge, que ainda hoje lhe guarda o
nome. O sobrado onde morava, nas proximidades do Beco do Jorge, só de
quartos contava 33, sem falar nas outras peças que eram muitas. Sua obra mais
caprichada foi, sem dúvida, a fazenda Tanques do Jorge, a poucas léguas do
povoado, nos limites do agreste com o Curimataú. Ali realizou trabalhos
notáveis em cantaria, casa, curral, curtume, fornos de cal, tanques, cercados e
até uma barragem com bebedouro para o gado, tudo em obra de alvenaria tão
sólida que nem a ação do tempo foi capaz de destruir.

Além do cultivo e beneficiamento do algodão, Francisco Jorge Torres


mantinha atividades na agricultura e na criação de gado. Era proprietário do
5
Bolandeira era uma máquina rústica que fazia a separação da pluma do algodão do caroço.

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engenho Macaíba, dos sítios do Pirunga, onde cultivava café, do sítio Bonito e
da propriedade Rapador, em Alagoa Grande (Almeida, 1980; Moraes, 2008),
além de ser proprietário da Fazenda Tanques. Nessas terras, o proprietário
submetia numerosa mão de obra em regime de escravidão, empregada em
áreas agrícolas e pastoris, tanto em suas terras do brejo como no agreste. Na
fazenda Tanques, ainda atualmente se mantém estrutura para trabalhadores
escravizados, incluindo uma ruína de pedra no local, conhecida como
“maternidade das negras” (Iphan, 2023).

Figura 2: Ruína da "Maternidade de escravos",


na antiga Fazenda Tanques. Fonte: Paraíba
Criativa, 2023

Figura 3: Ruína da "Maternidade de escravos",


na antiga Fazenda Tanques. Fonte: Paraíba
Criativa, 2023

O casarão foi construído para ser local de moradia e estabelecimento


comercial. Divide-se em 35 ambientes e possui em seu interior, mirantes em

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formato de sesteiras, que tinham por finalidade prover iluminação e


ventilação, mas também, eram utilizados como pontos de observação e defesa.
O piso do pavimento inferior foi confeccionado com tijolaria, enquanto do
primeiro andar, é assoalhado. O acesso ao sótão se dá por uma escada de
madeira na parte interna, ou então, por uma escadaria de pedra, que fica no
quintal. Na parte posterior do solar, em direção ao quintal, existem
dependências da antiga senzala, apresentada como uma senzala formada por
oito cubículos individuais, quatro no andar inferior e quatro no segundo piso.

Figura 4: Casarão Solar Figura 5: Interior do Casarão


José Rufino. Fonte: as Solar José Rufino. Fonte: as
autoras, 2022 autoras, 2022

Francisco Jorge Torres, além de ser membro da burguesia local, tinha


também influência política, sendo um dos nomes cotados para o posto de
capitão-mór do município. Era um cargo estratégico, pois, em alguns casos,
podia-se atuar como governador, sendo a autoridade máxima daquele local.
Mas apesar da sua reputação social, o governador da capitania considerou
que sua indicação inadequada, por “faltavam os requisitos de linhagem e
melhores conhecimentos em letras, embora reconhecesse nele as qualidades
de branco, possuidor de grandes recursos e de haver contribuído com valiosos
donativos para a instalação da vila” (Almeida, 1980, p. 22). Como o descreveu
Horário de Almeida (p. 26, 1980), “Jorge Torres era a maior fortuna de Areia
e, conquanto se possa afirmar tenha deixado dinheiro enterrado no sobrado”.
Além do casarão, construiu obras para o desenvolvimento da Vila, tendo

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levantado uma rua inteira no povoado, em cujo centro fica o Beco do Jorge,
local que ainda hoje lhe faz referência. A importância da sua figura no
desenvolvimento urbano é descrita pelo IPHAN (2023 p.5-6).

De modo preliminar, a análise dos documentos e do processo de imigração do


Francisco Jorge Torres e sua família no final do século XVIII e início do XIX
relacionam-se com a fundação de Vila do Brejo de Areia, no interior além da
costa brasileira, não somente no âmbito político mas principalmente, com foco
na transição da cultura produzida pelas classes populares, a exemplo do
carpinteiro e operário português que ao estabelecer-se na localidade atuou em
diversas construções e edificações para elevá-la ao posto de vila, e
consequentemente, difundiu técnicas construtivas portuguesas que
caracterizam a sua arquitetura. Fica evidente, que classes subalternas, como
camponeses e artesãos imigravam para o Brasil, e no caso do Francisco Jorge,
mesmo tornando-se rico empreendedor de algodão, gado e escravista, não podia
ser considerado nobre e apto a ocupar cargos administrativos. O estudo do
processo de evolução urbana da cidade de Areia desenvolvido por Moraes
(2008) aponta que o primeiro sítio de ocupação correspondia a localidade da
Jussara, porém, entre 1801-1850 houve a criação da vila com seu traçado
definido no eixo leste-oeste na cota mais alta da montanha. Há indícios que a
presença do carpinteiro Francisco Jorge e suas aspirações ao cargo de capitão-
mor influenciaram de alguma forma a definição urbana de implantação da vila
porque o centro ou grande praça onde localizam-se a igreja, a casa de câmara e
cadeia e as representações administrativas estão nas imediações das suas
propriedades "Macaíba, dos sítios do Pirunga e do Bonito" (atual vale ao sul e
área do Colégio Santa Rita em direção ao campus da UFPB), além do seu
sobrado de morada estar implantado em situação privilegiada neste largo. Outro
fator importante a considerar, é que as datações de ocupação urbana da vila
entre 1801-1850 correspondem ao mesmo período de vida do Marinheiro Jorge
em Areia.

Francisco Jorge Torres voltou à Portugal para se casar com a noiva que
deixou no país, mas ela recusou o casamento, temendo a viagem e o oceano.
Francisco, então, casou-se com a irmã da pretendente, Maria Franca Torres,
com quem voltou ao Brasil, acompanhado de um sobrinho. Faleceu em 1850,
deixando cinco filhos (Iphan, 2023).

3. JOSÉ RUFINO

Depois da sua morte, o casarão foi herdado pela filha do casal, Maria
Franca Torres, que carregava o mesmo nome da mãe e seu marido, Santos da
Costa Godim (Iphan, 2023). Em seguida, passou a ser propriedade da neta de
Francisco Jorge, Adelaide Joconda da Costa Godim, conhecida como “Iaiá”,
que junto com o marido, Rufino Augusto de Almeida, que o habitaram entre
1895 e 1907 (Almeida, 1992). Ambos pertenciam às famílias tradicionais de
Areia. A família de Rufino de Augusto era proprietária do engenho da Várzea,
que o administrava junto com o seu irmão, Antônio Carlos de Almeida. Este

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engenho foi construído em 1870 na antiga propriedade rural da Várzea


(Almeida, 1995), permanecendo na posse da família Rufino até 1922, quando
foi vendido. Em 1933, a propriedade passou a ser administrada pelo governo
estadual, para se tornar a primeira Escola de Agronomia do Nordeste.
Atualmente, o espaço é o campus II UFPB, e desde a década de 70, quando a
casa grande sofreu uma reforma, o local abriga o Museu da Rapadura do
Centro de Ciências Agrárias.

Em 1895, o casal entrega a administração do engenho da Várzea ao


irmão-sócio de Rufino, para fixar residência na porção urbana, com o objetivo
de desenvolver atividades comerciais, onde “Rufino Augusto instalou uma
venda numa das dependências anteriores do casarão, onde passou a
comercializar secos e molhados, tecidos, miudezas e toda sorte de
bugigangas, como era próprio da época” (Almeida, 1995, p.27). No mesmo ano
em que a família deixou o engenho da Várzea e se fixou no casarão, nasceu o
quarto filho do casal, José Rufino de Almeida Apesar de ter nascido no
Engenho, toda a infância de José Rufino se passou no casarão, até 1907,
quando a família retorna ao engenho da Várzea. Seus irmãos eram a
primogênita Maria Eugênia e Elpídio, Pedro e Manoel Rufino e Horário de
Almeida, que se tornou um importante intelectual e historiador paraibano, –
tendo escrito a primeira historiografia do município.Ao se mudarem para o
casarão, o pai da família, Rufino Augusto instala um comércio na parte
fronteira do sobrado.

Segundo relatos do historiador, o local passou a ser um ponto de


encontro, onde os amigos do velho Rufino se reuniam para discutir política,
história e literatura. A venda de Rufino de Almeida, no antigo sobrado do
velho Jorge Torres, era dos pontos preferidos para o cavaco. Ali se reuniam, à
tarde, na forma do costume, o juiz de direito da comarca, o professor
público,, o tabelião, o, republicano. (Almeida, 1980)

No entanto, dada a sociabilidade e inaptão para os negócios, “quando o


velho Rufino cuidou de si estava quebrado. Liquidou às pressas o negócio,
pagou as dívidas e foi dar com os costados no engenho da Várzea, de onde
sairá, com o pecúlio de que dispunha” (Almeida, 1980, p. 177), sendo o imóvel

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adquirido por Leopoldina Chianca que continuou a utilizar o espaço e como


estabelecimento comercial, abrindo um armarinho e loja de tecidos chamado
“A confiança” (Iphan, 2023). Após a morte de Leopoldina Chianca, o imóvel foi
passando sucessivamente para as mãos de seus próprios familiares, tendo
ficado em posse da família por 61 anos. No entanto, a condição do solar foi se
degradando, conforme explica o guia turístico do casarão, até ser arrematado
em um leilão por José Rufino, bisneto de Franscisco Jorge, voltando a fazer
parte do patrimônio da família que o havia construído no século XIX :

Em 1971 esse prédio estava em ruínas, já não pertencia mais a família do


marinheiro Jorge, pertencia a uma família chamada Chianca. Existiam débitos e
tal, não sei por como a razão desse prédio estar hasta pública. Que tinha
adquirido? Chianca. Então esse prédio já estava em hasta pública, já existia
pessoas visitando o prédio pra adquirir o prédio, demolir e construir um prédio
moderno aqui no centro da cidade e tal. O Zé Rufino era bisneto, Zé Rufino é
aquele ali, esse daqui pra lá o 3°, certo? O Zé Rufino era bisneto dele, do
marinheiro Jorge, e já havia morado aqui quando era criança, porque a mãe dele
era herdeira e ele morou aqui. Era um senhor de engenho próspero, sujeito
visionário, muito ligado à cultura, muito ligado à intelectualidade, primo de José
Américo de Almeida, tinha uma característica desses Almeidas. Então ele com o
dinheiro dele, se antecipou e comprou o prédio em 1971 e de 1971 a 1976 ele
reformou o prédio (guia turístico do Casarão, 2023).

José Rufino casou-se com a prima legítima Adelaide Castor Gondim, filha
de Sinfrônio da Costa Gondim e Isabel Castor Araújo, em janeiro de 1928, com
quem teve sete filhos, além de outras quatro de uma união extraconjugal.
Depois que seu pai vendeu o engenho da Várzea, em 1922, José Rufino se
aventurou em alguns negócios, mas em 1926, arrendou o Engenho Novo, do
seu futuro sogro Sinfônio (Almeida, 1992). Dois anos após, arrendou o
engenho Vaca Brava, que também pertencia ao sogro e após a sua morte,
comprou a parte das viúvas e demais herdeiros. Nestas terras, aumentou a
propriedade com a anexação das terras do engenho vizinho, Pau Ferro. Na
década de 1950, já era proprietário do Engenho Vitória e das fazendas
Jenipapo, ambas em Alagoa Nova e Riacho Cruz, em Barra de Santa Rosa. Na
década de 1970, vendeu as propriedades de Jenipapo e Vitória (Almeida,
1992). Como senhor de engenho de cana de açúcar e produtor de rapadura e
cachaça, José Rufino se tornou um dos maiores produtores de Areia, como
aponta Horário de Almeida (1980, p. 162):

Onde foi engenho de rapadura ou fazenda de café não se fazia outra plantação.
Os maiores produtores de Areia eram Germano de Freitas, José Rufino, João

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Barreto, Nilo Moreira, Bento Jardelino, Francisco Gondim, José Leal, Sebastião
Maia, Severino Teixeira e muitos outros entre grandes e pequenos. Á lavra de
José Rufino orçava por um milhão de pés, não sendo poucos os que trabalhavam
para ultrapassá-lo no volume da plantação. As terras se valorizavam de ano para
ano, por modo a anular as previsões mais otimistas. Propriedades que antes
eram oferecidas a 50 contos de réis e não encontravam comprador, tinham
agora cotação acima de dois milhões de cruzeiros. O Banco do Brasil montou
uma agência em Areia, logo classificada entre as melhores do interior.

Em 1971, José Rufino retoma o casarão construído por seu bisavó. Na


ocasião, ele estava com 76 anos e inicia uma reforma, assessorado por seu
filho Antônio Augusto Almeida, que era engenheiro. Na reforma, que durou
cinco anos, o novo proprietário procurou manter as características originais
do prédio, mas uma mudança significativa foi empreendida na fachada,
substituindo as portas de entrada por uma única e janelas, com o objetivo de
que o Solar não fosse mais caracterizado como um estabelecimento comercial,
mas tivesses feições de uma casa residencial, embora José Rufino nunca a
tenha usado como moradia.

Figura 6: José Rufino e o Casarão. Fonte: Almeida (1992)

A reinauguração aconteceu em dezembro de 1975, com uma grande


festa de casamento da neta de José Rufino, Tânia Maria com Marcelo Kater,
Na ocasião, estavam presentes irmãos Horário e Maria Eugênia, o primo José
Américo. Nos anos seguintes, o casarão passou a ter uma vida ativa, com
visitações durante os Festivais de Arte e Cultura de Areia, chegando a
hospedar Jorge Amado e José Américo de Almeida, em 1978, durante o III

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Festival de Artes de Areia (Tribunal de Justiça da Paraíba, 2007). Por ter salvo
o casarão da degradação, atualmente o imóvel é denominado Casarão Solar
José Rufino, como conta apresenta o guia:

Ele fez a reforma do prédio, recupera o prédio. E nessa reforma, ele é


assessorado por um filho que é engenheiro, ligado a essas construções antigas,
fez várias viagens à Olinda, à Minas Gerais. De maneira que, ele não
descaracterizou a construção inicial, procurou preservar a arquitetura do
século, do início do século XIX. Então hoje muito justamente esse casarão
homenageia José Rufino, Casarão Solar José Rufino, em homenagem ao bisneto
que recuperou o prédio. Então a homenagem não é feita ao bisavô que é o
construtor do prédio, mas ao bisneto que reconstruiu, e é muito justo, porque se
não fosse José Rufino a gente não teria esse prédio, certo? Então José Rufino fez
com o dinheiro dele o que o governo costuma fazer com o erário, graças a isso
nós temos esse prédio (guia turístico do Casarão, entrevistado em 2022).

Após a morte de José Rufino, em 1979, apenas quatro anos após ser
concluída a reforma, a casa foi transferida para suas filhas e segunda esposa.
Na década de 1990, venderam o imóvel ao Tribunal de Justiça do Estado da
Paraíba, o qual promoveu intervenção adequando-o a sua nova finalidade
institucional de Fórum da Comarca de Areia. De acordo com documento do
Tribunal de Justiça da Paraíba (2007), durante toda a década de 1980, o
imóvel sofreu um intenso processo de degradação, motivo pelo qual, depois da
aquisição da propriedade pelo TJ-PB, foi necessária uma reforma, realizada
entre 1995 e 1997, adaptando as instalações. Neste processo, algumas
características originais foram perdidas, com a abertura de vãos para
ampliação dos espaços, fechamento de portas e janelas, substituição de pisos,
entre outras. No início dos anos 2000, no entanto, o Foro da Comarca de Areia
é transferido para um prédio novo. Foi no ano do tombamento do município
que foi realizado encontro entre o diretor de proteção e fiscalização do
IPHAN, dirigentes técnicos da Superintendência Regional e autoridades e
servidores do Poder Judiciário do Estado, a juíza local, a diretora do Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (IPHAEP) e
secretários municipais e coordenadores da prefeitura, junto com
representantes da sociedade civil. Neste momento:

A partir dos entendimentos mantidos durante essa reunião, entre os


representantes do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, através da 20ª Superintendência
Regional e da Prefeitura Municipal de Areia, foi firmado o termo de contrato de
nº 85/2006 para a cessão de uso, em caráter de cooperação tripartite,
objetivando uma ocupação para uso comum dos cooperados com atividades

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culturais e turísticas no antigo sobrado também conhecido como José Rufino- o


que ora se efetiva com sua reabertura para a cidade em 17 de março de 2007,
após as obras de recuperação já realizadas sob a orientação técnica e com
recursos do IPHAN (Tribunal de Justiça da Paraíba, 2007, p. 26).

Mas a questão que nos colocamos é: a quem interessa tal tombamento?


Quais atores sociais se mobilizaram para que isso ocorresse? Com quais
recursos financeiros é realizada essa valorização material e simbólica do
casarão José Rufino? Qual versão da história do município é valorizada no
contexto de visitação empreendido atualmente no local?

4. TURISMO, MUSEU & DISPUTA

Em 2002, o Brejo Paraibano passou a integrar o Programa de


Regionalização do Turismo (PRP), momento em que membros da sociedade
civil passaram a atuar na definição de algumas políticas locais voltadas ao
turismo, sendo os principais envolvidos os proprietários de engenhos
fabricantes de cachaça (Ramiro; Parpet, 2019). Este movimento resulta na
promoção de roteiros turísticos, como o “Caminho dos Engenhos” e o
“Caminhos do Frio”, fruto de uma parceria que reuniu setores públicos e
privados, como PBtur, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (SEBRAE), Apetur (Associação Paraibana de Turismo Rural),
prefeitura e empresários locais. Concomitante com o movimento de
valorização da cachaça artesanal, verifica-se que algumas ações de resgate
patrimonial, que consolida o turismo por meio de fomento a locais de
preservação da memória, como os museus. Em 1979, o centro histórico de
Areia havia sido tombado como patrimônio no nível estadual, por meio do
Decreto número 812 de 04/12/1979, concedido do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (IPHAEP). Mas em 2005, a cidade
conquistou o reconhecimento oficial como patrimônio nacional, junto ao
IPHAN, antes mesmo da capital do estado, João Pessoa, que recebeu a
titulação apenas em 2009.

Tal reconhecimento foi fruto de uma instituição local, a Associação dos


Amigos de Areia (AMAR), uma fundação civil, criada em 2002, com o intuito
de fomentar a conservação do patrimônio histórico, cultural e artístico do

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município de Areia (AMAR, 2001). Segundo seu estatuto, o objetivo principal


da AMAR era o reconhecimento de Areia como patrimônio nacional. No
momento da sua criação até a homologação do título pelo IPHAN, a instituição
era presidida por um empresário areense, proprietário de uma empresa no
ramo da construção civil e restauração de imóveis. Foi a partir do
tombamento, que outras iniciativas de resgate e proteção de patrimônios
culturais começaram a ser empreendidas. Dentre elas, está a inserção do
Casarão José Rufino como espaço de preservação da memória areense e como
dispositivo cultural do município. De acordo com Pierre Nora (1993, p.8), na
contemporaneidade, elegemos símbolos dedicados à preservação da memória
porque “se habitássemos ainda nossa memória, não teríamos necessidade de
lhe consagrar lugares”. De acordo com o autor:

A curiosidade pelos lugares onde a memória se cristaliza e se refugia está ligada


a este momento participar da nossa história. Momento de articulação onde a
consciência da ruptura com o passado se confunde com o sentimento de uma
memória esfacelada, mas onde o esfacelamento desperta ainda memória
suficiente para que se possa colocar o problema em sua encarnação. O
sentimento de continuidade torna-se residual aos locais. Há locais de memória
porque não há mais meios de memória (Nora, 1993, p. 7).

Ainda, diz Nora (1993, p. 9), que a memória é “emerge de um grupo que
ela une, o que quer dizer, como Halbwaches o fez que há tantas memórias
quantos grupos existem; que ela é múltipla e desacelerada, coletiva, plural e
individualizada”; enquanto a história “pertence a todos e a ninguém, o que lhe
dá uma vocação para o universal”. Enquanto Halbwachs (2013) coloca em
evidência os diversos pontos de referência que formam nossa memória e a
incorporam na memória coletiva, Pollack (1989) interpreta a memória social
como um campo de permanentes disputas que incidem diretamente sobre a
dinâmica entre a lembrança e o esquecimento. No caso de Areia, um local que
se engajou no processo de patrimonialização do conjunto urbano, uma
moradora local que se engajou no processo de tombamento, relata que
finalizado este processo de , houve um trabalho de incentivo aos museus, que
incluiu ações de educação patrimonial, com o intuito de criar um sentimento
de pertencimento na população. Em suas palavras:

Mas foi a partir do tombamento que foram criados os pontos de cultura no


Brasil que foi nessa época de Lula e foi muito incentivo à cultura. E o nosso
tinha como foco os museus. Era o Ponto de Cultura Viva o Museu. E o que a

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gente foi fazer? Primeiro, o que fazer para que as pessoas começassem a criar o
sentimento de pertencimento. A gente fez uma gincana Eu não sei como é hoje?
Na época era o Monumenta do Ministério da cultura. Então na época a gente fez
uma gincana, durante praticamente 6 meses, com 22 escolas. E eu fui chamada
pra trabalhar e eu não sabia nada, nem tinha feito curso na parte de cultura. Eu
dizia: o que eu to fazendo aqui? Eu e a minha amiga, lá no Casarão. Aí quando
Lúcia chegou..Segunda, terça e quarta eu fava aulas nos projetos de lá. Hoje eu
dou no integral. Quinta e sexta já não tinha aula, porque Lúcia chegava e
quinta, sexta e sábado era trabalhando, os três dias. E eu disse, era uma bolsa e
outra, de outra professora. Era gente bem articulada. E a gente fazia essa
gincana. O hino que tinha na cartilha, o hino de Areia, a gente ressuscitou, a
gente que trouxe de volta, os vereadores foram obrigados a saber do hino, uma
das provas era trazer um vereador que cantasse o hino. As provas eram, eu
ainda tinha muita receita, comidas brejeiras, coisas feitas com cachaça, com
banana, rapadura, com macaxeira. Então as escolas ganhavam quem fazia esse
livrinho com essas receitas. Os idosos, valorização dos idosos. Os idosos fizeram
cachecolzinhos pra ser usado nas provas. Aí cada bimestre a gente montava o
palco, com tanta criança, ai que loucura.. a gente pagava comida pra esse povo
todinho. Eu não tinha noção de quantidade, eu ia alugar um lugar que igreja
cedeu pra gente. A gente arranjou gente pra cozinhar.

No entanto, como afirma Cousin (2010), ainda que bens


patrimonializados tenham vínculo com a identidade coletiva, revelam ações de
disputa sobre o que deve ou não ser valorizado, transparecendo interesses e
capitais sociais e políticos envolvidos. Em uma análise sociológica, da mesma
forma o turismo pode ser entendido como um reflexo do espaço social e das
posições dos agentes e grupos que o constituem (Bourdieu, 2013), Neste
estado inserida em processos de negociação, conflitos e disputas, afirma Perez
(2009, p.16):

Na construção de lugares turísticos, toda uma superestrutura ideológica se


expressa em diversos elementos como narrativas, imagens, literatura de
viagens, brochuras e patrimônio cultural, os quais condensam versões das
identidades que não estão isentas de tensões, conflitos e negociações – um
terreno de luta simbólica. Deste modo, podemos afirmar que o turismo funciona
como um aparato de afirmação política, originando políticas de representação
que utilizam e manipulam símbolos com o objectivo de reforçar os modelos de
dominação e controlo políticos [...] e que, inevitavelmente, expressam e
defendem sempre os interesses de alguns apenas.

Em Areia, o movimento de representação construído por meio de


patrimônio tem se voltado para valorização da história da elite local. No caso
do Casarão Solar José Rufino, o imóvel foi construído por um proprietário de
terras, que mesmo oriundo de uma classe popular, fez e acumulou fortuna em
Areia, tornou-se membro da elite econômica e política, a ponto de interferir no
desenvolvimento urbano do município. O bem cultural e turístico presta
homenagem a um de seus herdeiros, José Rufino, seu bisneto. Na visita

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realizada no Casarão são demonstrados muitos elementos de preservação e


aspectos arquitetura colonial da propriedade, enquanto discorre sobre a
biografia de Francisco Jorge Torres e José Rufino de maneira bastante
positiva. Sobre o ofício de Francisco Jorge Torres, no piso inferior, na
antessala, são expostos alguns protótipos referentes à produção e
beneficiamento de algodão, como uma prensa, uma máquina de fiar e um
modelo de bolandeira, onde o guia explica todo o processo de funcionamento e
a importância da cultura algodoeira- bem como de Francisco Jorge- para a
urbanização de Areia. Sobre sua atuação escravocrata e sobre a presença de
quartos destinados a homens e mulheres escravizados no Casarão, o guia
comenta, numa clara tentativa de amenizar o caráter inaceitável da
escravização de pessoas negras:

A senzala geralmente trata-se de um lugarzinho baixo, insalubre, essa aqui é


alta, aqui é como se fosse uma senzala vip, quartos pequenos, ladrilhadas, parte
de cima o assoalho é de madeira, quase dentro da casa grande. Ele tinha muitos
escravos, mas esse engenho de Alagoa Grande fica a quase 15 quilômetros da
cidade. O cortume, uns 30 quilômetros, a outra era essa. Não tinha como os
escravos trabalharem o dia e virem aqui dormir. Essa senzala tinha uma
finalidade específica. A negra quando estava com nove meses de buchu, ele
trazia para cá. Ela chegava quase como parturiente e era auxiliada por outras
negras mais experiente. O menino era entregue para outras negras chamadas
mãe de leite. E depois de quatro ou cinco dias de resguardo voltava para o
engenho para trabalhar e engravidar de novo. É como se ele tivesse uma
produção de escravo. Na época, houve uma dificuldade de chegar escravo no
Nordeste, o escravo ficou mais caro. No século XVIII, foi um período que um
terço da população de escravo desceu de Salvador, de Recife, do Rio de Janeiro
para Minas Gerais a procura de ouro. Então houve um colapso no fornecimento
de escravo, desde a África, até aqui no Brasil. Aqui dentro ele ficou muito caro.
Lá no garimpo chegou a custar 1, 5 quilos de ouro […].

José Rufino, principal benfeitor do casarão é apresentado como “um


senhor de engenho, visionário e sujeito ligado a cultura”. Na sala do piso
superior existe um painel onde se expõe fotografias de personalidades
consideradas importantes para o município. Alguns membros da família
Almeida, descendentes diretos de Jorge Torres, estão nesta galeria. Além de
José Rufino, estão presentes seus irmão, Horário de Almeida e José Américo
de Almeida, pintor, escritor e intelectual de renome nacional e Pedro Augusto
de Almeida, senhor de engenho. Sobre a família, o guia comenta:

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E o Horácio de Almeida era advogado, jornalista, escritor, historiador, tem


vários livros de história, tem dois livros de história sobre a história da Paraíba.
O volume 1 e 2 que ainda hoje se procura pra estudar a história da Paraíba, ele
é referência. Então essa família tem essas características. O Horácio de
Almeida, ele tinha dois filhos, um chamava-se Luís, o outro chamava-se Átila,
todos dois professores da universidade federal em Campina Grande. O Átila
quando morreu deixou uma biblioteca com 38 mil volumes, inclusive, o Estado
adquiriu essa biblioteca. E o Pedro de Augusto de Almeida, ele tem um filho que
em João Pessoa é um médico, dono de uma rede de laboratório que chama-se Dr.
Maurílio de Almeida, historiador, poeta, é um homem de conhecimento
intelectual. Então é uma característica deles. José Rufino, ele não tinha o
primário completo, mas era autodidata.

Sobre a construção dos sobrados, atualmente preservados pelas


normativas do tombamento, é mencionado que são fruto da ocupação da
antiga elite agrária, que apesar de ter como moradia as casas grandes dos
engenhos, construíam uma segunda residência “na rua”, como forma de
acompanhar festas religiosas ou servirem de moradia para os membros mais
jovens da família que iam estudar na cidade. Uma residência deste tipo era
símbolo do status social. Status social que parece ser alvo da valorização local
em cena, apagando do discurso a escravidão local, as lutas sociais e os efeitos
das plantations na produção e reprodução de desigualdades sociais marcadas
pela raça e pela classe.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Neste trabalhou procurou-se demonstrar como a promoção da cidade de


Areia/PB via turismo tem estado atada a um processo de valorização simbólica
do município, que tem como uma das características o emprego de ações de
valorização patrimonial e fomento a locais de preservação da memória. Antes
de tudo, considera-se que a inserção no turismo pelos grupos e indivíduos
depende de um conjunto de circunstâncias, ditadas por um conjunto específico
de capitais, sejam eles econômicos, políticos os sociais (Bourdieu, 2013). No
caso do turismo em Areia, a atuação no ramo depende da capacidade de
acesso em um conjunto de políticas públicas, capazes de impulsionar
determinados projetos turísticos, sendo os casos bem mais sucedidos, os
engenhos produtores de cachaça artesanal, roteiros turísticos realizados
nestes engenhos e o tombamento do conjunto urbano de Areia.

Além disso, o discurso turístico parece se esforçar no sentido de criar


um conjunto de imagens do meio rural, onde observa-se o uso de conceitos de

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relacionados à tradição, o artesanal e a ideia de “retorno ao passado”, o que o


diferencia do turismo de sol e mar, praticado litoral. Além disso, a
comercialização como destino turístico se tem apresentado com forte vínculo
às personalidades históricas, artísticas e a arquitetura colonial, preservada
por meio da patrimonialização. É neste contexto que a evolução do turismo em
Areia parece ser um processo dirigido por um seleto grupo, que
empreenderam ações para transformar alguns bens culturais em atrativos
turísticos. No caso, do Casarão José Rufino, o espaço tem forte ligação com a
elite agrária, antigos senhores de engenho que deram origem à burguesia
econômica, intelectual e artística do município.

Consideramos que a eleição destes bens está inserida em processos de


negociação o que nem sempre condizem com as representações de outros
grupos detém dos mesmos momentos históricos, afinal as visões variam
conforme a posição, dominada ou dominante, ocupada. Em Areia, como
demonstramos também em outro artigo (Ramiro; Oliveira; Kamada, 2023),
tem-se priorizado a atuação da elite na formação do espaço e a despeito da
interferência deste grupo, verifica-se que a visão das classes populares é
superficialmente abordada, com pouca menção ao papel da escravidão e da
classe de camponeses na construção do município.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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DECLARAÇÃO DE DISPONIBILIDADE DE DADOS DA PESQUISA:

O conjunto de dados de apoio aos resultados deste estudo não está disponível
ao público.

JUSTIFICATIVA:

A pesquisa, assim como os dados de campo, encontram-se em andamento

FINANCIAMENTO:
Denise Mayme Kamada possui bolsa de doutorado pela Fundação de Apoio à
Pesquisa do Estado da Paraíba (FAPESQ).

Esse artigo faz parte de projeto mais amplo de pesquisa intitulado


“Reconfigurações do espaço social do brejo paraibano no século XXI”,
coordenado por Patrícia Alves Ramiro e é realizado com o apoio financeiro da
Fundação de Apoio à pesquisa do estado da Paraíba/FAPESQ (Edital
nº09/2021- Demanda Universal) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico/ CNPq (Chamada CNPq/MCTI/FNDCT nº 18/2021-
Universal e da Chamada 09/2022).

CONTRIBUIÇÃO DAS AUTORAS:

Denise Mayume Kamada: conceitualização; pesquisa de campo, análise for-


mal, redação. Patrícia A. Ramiro: conceitualização; pesquisa de campo, e revi-
são final da redação.

DECLARAÇÃO DE CONFLITO DE INTERESSE:

As autoras declaram não haver conflitos de interesse.

MINIBIOGRAFIAS DAS AUTORAS DO PAPER

Denise Mayume Kamada é bacharel em Turismo pela Universidade Estadual


Paulista, possui mestrado em Sociologia pela Universidade da Grande Doura-
dos e é doutoranda do programa de Pós Graduação em Antropologia da Uni-
versidade Federal da Paraíba. Integra o grupo de pesquisa “Identidade e Me-

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SciELO Preprints - Este documento é um preprint e sua situação atual está disponível em: https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.6928

mórias das Classes Populares Rurais e Urbanas” e o projeto “Reconfigurações


do espaço social do brejo paraibano no século XXI”.

Patrícia A. Ramiro é bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq, nível 2.


Doutora em Sociologia pela UFSCar, possui pós-doutorado na École des Hau-
tes Études en Sciences Sociales (EHESS). É líder do grupo de pesquisa CNPq
“Identidade e Memórias das Classes Populares Rurais e Urbanas”.

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