Tese Isabel Maias
Tese Isabel Maias
2018
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação
UNIV-FAC-AUTOR
Isabel Sofia Pereira Maias
Universidade de Coimbra
Setembro de 2018
Agradecimentos
À Professora Doutora Ana Allen Gomes, pela disponibilidade e apoio prestado ao longo
deste último ano. Pelos ensinamentos académicos, pelas opiniões e críticas construtivas que
Aos meus pais e irmã por todo o apoio, amor e sacrifício. Pelos valores que me
transmitiram e pela motivação e incentivo que sempre me deram ao longo deste percurso.
Aos meus avós, os meus grandes amores e meus segundos pais! Por estarem sempre lá
para mim, pela compreensão e amor incondicional. E à minha restante família, especialmente,
tio Vitor e Madrinha, por estarem sempre presentes e disponíveis para mim.
Ao Hernâni, pelo teu apoio, pela tua companhia e amor. Por me teres acompanhado
sempre ao longo do meu percurso académico e por valorizares sempre o meu esforço e trabalho.
Aos meus amigos pelos momentos fantásticos que me proporcionaram ao longo destes 5
anos. À Eulália, minha amiga de infância e companheira de casa nestes últimos anos, pela
paciência e pela amizade, pela ajuda e companheirismo e por seres das melhores pessoas que
todos os doentes que contribuíram para este estudo, o meu sentido agradecimento.
Índice
Agradecimentos
Manuscrito
Resumo ......................................................................................................................... 2
Abstract ........................................................................................................................ 3
Introdução ..................................................................................................................... 4
Metodologia .................................................................................................................. 7
Participantes ............................................................................................................ 7
Instrumentos .......................................................................................................... 10
Procedimentos ....................................................................................................... 14
Resultados ...................................................................................................................... 17
Discussão .................................................................................................................... 28
Referências ................................................................................................................. 34
Anexos............................................................................................................................ 38
Maias, I., Gomes, A. A. (2018). Efeitos combinados do turno de hemodiálise e do cronótipo,
Autores
Isabel Maias1
Nota de autor:
1
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade de Coimbra, Portugal.
2
Unidade de I&D (FCT): CINEICC – Centro de Investigação em Neuropsicologia e
Intervenção Cognitivo-Comportamental.
e Saúde.
A correspondência relativa a este artigo deverá ser enviada a Ana Allen Gomes.
Resumo
O sono é influenciado por diversas doenças, sendo uma delas a Doença Renal. Os problemas
Foi nosso objetivo estudar os efeitos do turno de tratamento e do cronótipo nos padrões
diabéticos: 12.5% no turno noturno vs. 58.8% ao início da tarde), de um centro de diálise de
sono nalgumas componentes do PSQI, e piores resultados no turno do início da tarde. Quanto
disfunção diurna, em oposição aos vespertinos. A interação turno X cronótipo foi pouco
especial diabetes inferior no turno da noite e superior no da tarde. Assim, será indispensável
que futuros estudos consigam compor grupos de turno equivalentes através de aleatorização.
Abstract
Sleep is influenced by several diseases, such as Renal Disease. Disturbed sleep is associated
even hemodialysis treatment factors are related to increased sleep disturbances in these
patients.
The aim of this study was to analyse the effect of treatment shift/schedule and
chronotype on the sleep patterns of patients with Chronic Renal Disease doing hemodialysis.
Ninety two participants distributed by four non-equivalent treatment shifts (namely in terms
of diabets distribution: 12.5% at night shift vs. 58.8% at afternoon shift), from one dialysis
The results according to the treatment shift revealed, for the night shift, better quality of
life, lower depression, less difficulty falling asleep and better of sleep in some of the PSQI
components, contrarily to the afternoon shift that presented higher symptoms. The
chronotype effect was also observed, as morning-types showed lower levels of daytime
shift*chronotype interaction effect was minor and non-significant for most variables. One
exception concerned anxiety scores that appear to be higher in shift schedules more
Despite the promising results regarding the night treatment schedule, conclusions are
limited by the demographic and clinical non-equivalence between patients in each treatment
shift, especially diabets frequency. Therefore, future research using experimental designs able
Introdução
Durante muitos séculos, considerava-se, de forma intuitiva, que o sono era um processo
passivo do corpo e da mente. No entanto, a ciência veio demonstrar que esta crença estava
errada, por exemplo, com a descoberta da existência dos vários estádios durante o sono e a
Podem distinguir-se dois tipos de sono: REM (rapid eye movements) e NREM (non-rapid
eye movements). O sono NREM divide-se tradicionalmente em 4 estádios (E1 a E4), atualmente
designados de N1 a N3, sendo que este último (N3) engloba os estádios E3 e E4. Há ainda uma
alternância permanente entre estes dois tipos de sono, ocorrendo cerca de 4 a 5 ciclos por noite
Existe uma flutuação diária no ritmo sono-vigília, quer por influências endógenas, como
por exemplo o relógio biológico, quer exógenas, como as rotinas e atividades sociais, o uso de
modificadores da ativação, a luz solar, a convivência com amigos e família, entre outros.
fazer uma divisão em três categorias. Assim sendo, as pessoas matutinas, caracterizam-se por
terem acrofases mais adiantadas do que o normal, acordando mais cedo, sentindo-se assim mais
eficientes de manhã. No outro extremo, temos as vespertinas que, por oposição às anteriores,
têm acrofases atrasadas, acordam mais tarde e, por conseguinte, sentem-se mais eficientes ao
final do dia ou mesmo até durante a noite. Por sua vez, podemos considerar ainda as de tipo
TURNO DE HEMODIÁLISE, CRONÓTIPO E SONO 5
intermédio, que é a categoria que engloba a maioria das pessoas e que se encontra entre esses
O sono é diretamente influenciado por inúmeras doenças, sendo uma delas a Doença
função renal, existente há 3 meses ou mais e com implicações negativas para a saúde (Park &
Ramar, 2017).
o que por sua vez, faz aumentar a prevalência de pessoas com perturbações de sono. No entanto,
esta relação também existe no sentido oposto, ou seja, um aumento dos problemas de sono
aumenta os riscos associados à Doença Renal Crónica e assim, a sua prevalência (Park &
Ramar, 2017). Os problemas de sono também estão intimamente relacionados com uma
(Novak et al., 2006). Segundo Park e Ramar (2017) e Bathla et al., (2017), entre 40 a 90% dos
pacientes que realizam hemodiálise apresentam uma pobre qualidade de sono, medida pelo
Pittsburg Sleep Quality Index (PSQI) percentagem esta que comparativamente com a
A insónia é um dos distúrbios de sono mais comuns em pacientes com doença renal,
sendo que cerca de 60% dos pacientes que realizam diálise apresentam este distúrbio. É
definida como uma dificuldade persistente relacionada com a iniciação, duração, consolidação
e qualidade do sono, que ocorre apesar de existirem condições adequadas para o sono e que
Distúrbios do Sono, terceira edição [ICSD-3]), American Academy of Sleep Medicine (2014).
No entanto, a insónia nestes pacientes pode ser causada por fatores psicológicos e fisiológicos.
TURNO DE HEMODIÁLISE, CRONÓTIPO E SONO 6
apresentadas por estes pacientes, sendo estes fatores de risco para a insónia. Existe uma
associação complexa entre a insónia e a depressão, na medida em que a insónia pode ser um
dos principais e primeiros sintomas de depressão, mas por sua vez, a insónia crónica não tratada
que pacientes com esta doença, a realizar hemodiálise e que apresentem uma depressão têm
hemodiálise mas sem sintomas depressivos. Por outro lado, a depressão é ainda um distúrbio
diagnosticado por causa dos sintomas relacionados com a uremia (e.g., fadiga e problemas de
sono). Estar desempregado, ser de raça branca e do sexo feminino são outros fatores associados
à depressão em pacientes em diálise (Gul, Aoun & Trayner, 2006; Teles et al., 2014).
Por outro lado, também ocorrem mudanças a nível fisiológico, como por exemplo, a
hematoencefalica durante a diálise, o que pode provocar uma maior sonolência diurna e, desta
renal e podem contribuir para a patogénese da insónia. Por outro lado, a medicação prescrita a
medida em que altera a exposição aos zeitbergs, como a exposição à luz solar, atividade social,
horários de acordar/deitar, padrões de atividade, horários de refeições, entre outros. Além disso,
aumento do tempo de sobrevida (Bliwise et al., 2001), a melhor qualidade do sono subjetiva
medida pelo PSQI, mais sonolência diurna medida pela Epworth Sleepiness Scale (Wang et
al., 2013), e com a insónia (Sabbatini et al., 2002). No entanto, na literatura são encontradas
hemodiálise no turno da manhã, bem como boa qualidade de sono nos pacientes do turno da
O presente estudo teve como objetivo principal examinar, em função do turno de diálise,
padrões de sono de pessoas com doença renal crónica, nomeadamente, qualidade de sono,
queixas de insónia, sinais sugestivos de apneia sono e sonolência diurna, indicadores de saúde
interrelacionados com o sono. Se vários estudos publicados têm incidido na análise dos padrões
de sono em função do turno de tratamento, até ao momento não parecem existir estudos sobre
Metodologia
Participantes
questionários por motivos diversos (e.g., cansaço, idade avançada, incompreensão das
questões). A amostra foi recolhida numa das unidades de hemodiálise da cidade de Coimbra,
o centro realiza quatro turnos de hemodiálise nos seguintes horários: o primeiro turno funciona
das 7 horas às 11 horas (turno da manhã [M]); o segundo turno das 12 às 16 horas (aqui
designado turno do início da tarde [IT]); o terceiro turno, do final da tarde, começa às 17:30
horas e termina às 21:30 horas (aqui designado fim de tarde [FT]; por sua vez, o quarto turno,
turno da noite [N], decorre das 24 horas às 6 horas da manhã, sendo este o turno de maior
feminino (44.57%). A média de idades é de 69.22 (DP=13.67) anos para a amostra geral, sendo
que para o sexo feminino é de 68.02 (DP=14.28) anos e para o sexo masculino é de 70.18
questionados sobre “qual a causa da doença renal crónica” 46.70% da amostra refere não saber
o motivo e a restante percentagem está diversificada do seguinte modo: 7.60% refere que a
causa foi “rins poliquisticos ou outra causa hereditária”, 4.30% refere ter sido “pielonefrite ou
No que concerne à questão “tem diabetes?” 42.40% da amostra afirma ter a doença.
Foram ainda relatadas outras complicações de saúde sendo as mais frequentes a depressão,
respondeu afirmativamente, sendo que entre estes 94.50% assume tomar regularmente
medicação para dormir. A maioria dos pacientes (88.00%) deslocam-se para o centro de
Relativamente à distribuição da amostra por turnos (cf. tabela 1), constata-se que o
primeiro e o terceiro turno são muito semelhantes no que concerne ao número de pessoas que
TURNO DE HEMODIÁLISE, CRONÓTIPO E SONO 9
contêm, sendo que o único que se destaca é o turno da noite que é composto apenas por 8
significativas (embora seja visível a baixa representação de mulheres no turno noturno), assim
como relativamente ao tempo (meses) em diálise. Quanto à idade, existiu uma diferença
noturno, em que a média de idades é inferior, com os turnos do final de tarde (p=0.044), início
da tarde (p=0.001) e manhã (p=0.037). Existe também uma diferença significativa quanto à
situação ocupacional (p<0.001), em que no teste post-hoc se verificou que o turno noturno
difere dos restantes, nomeadamente, do turno da manhã (p=0.00), do início da tarde (p=0.00)
e do final da tarde(p=0.002), sendo o turno noturno aquele que contém uma maior percentagem
doentes apresentam doença renal há mais anos, comparativamente com os restantes turnos que
(p<0.05), sendo que a diferença acontece entre o turno da noite, em que existe uma menor
percentagem de pessoas diabéticas, e o turno do inicio da tarde (p=0.037), sendo este o turno
Tabela 1
x2 p=0.045
Situação Ocupacional
Reformado 20 (87.00%) 33 (97.10%) 21 (77.80%) 4 (50.00%)
Desempregado 2 (8.70%) 1 (2.90%) 4 (14.80%) -
Atestado/ Baixa 1 (4.30%) - - -
Trabalhar tempo - - 1 (3.70%) 2 (25.00%)
completo - - 1 (3.70%) 2 (25.00%)
Trabalhar em tempo
Parcial
x2 p=0.000
Legenda: Grupo 0 - Profissões das Forças Armadas; Grupo 1 - Representantes do poder
legislativo e de órgãos executivos, dirigentes, diretores e gestores executivos; Grupo 2 - Especialistas
das atividades intelectuais e científicas; Grupo 3 - Técnicos e profissões de nível intermédio; Grupo 4 -
Pessoal administrativo; Grupo 5 - Trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção e segurança e
vendedores; Grupo 6 - Agricultores e trabalhadores qualificados da agricultura, da pesca e da floresta;
Grupo 7 - Trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices; Grupo 8 - Operadores de
instalações e máquinas e trabalhadores da montagem; Grupo 9 - Trabalhadores não qualificados; Grupo
10- Domésticas. Adotou-se o sistema de classificação de profissões do Instituo Nacional de Estatística
(INE, 2011), ao qual acrescentámos o grupo 10.
Instrumentos
estudo com o propósito de recolher dados sociodemográficos tais como, sexo, idade, estado
civil, situação habitacional, partilha de quarto e/ou cama, situação ocupacional atual e anterior,
TURNO DE HEMODIÁLISE, CRONÓTIPO E SONO 11
forma e tempo de deslocação para o centro e dados clínicos como a toma regular de medicação,
Ferreira, Martins, Meneses & Baltar, 2007;orig: Hospital Anxiety and Depression Scale /
HADS, de Zigmond & Snaith, 1983): escala de autoadministração com o objetivo de avaliar
semana. É constituída por 14 itens – 7 itens para avaliar a depressão (2, 4, 6, 8, 10, 12 e 14) e
7 itens para avaliar a ansiedade (1, 3, 5, 7, 9, 11 e 13) – em que cada questão é cotada numa
é obtido pela soma dos valores dos itens de cada subescala e os resultados variam de 0 a 21. A
2013; orig.: Insomnia Severity Index / ISI, de Morin, 1993): questionário de autoadministração
que avalia a natureza, gravidade e impacto da insónia no último mês. É constituído por 7 itens
despertar precoce, insatisfação sobre a qualidade de sono, interferência das dificuldades para
dormir no funcionamento diurno, em que medida o impacto da insónia é notado por terceiros
a 28 pontos insónia grave. Este instrumento apresentou neste estudo um α de Cronbach de 0.90
Santos & Abelha, 2013; orig: STOP-Bang Questionnaire, de Chung et al., 2008): este
observed apnea; P – high blood Pressure; B – Body mass index; A – Age; n – neck
Apneia Obstrutiva do Sono. É constituído por 8 perguntas de resposta tipo “sim” / “não”, em
o sujeito apresenta “elevado” risco de Apneia Obstrutiva do Sono; se a pontuação for inferior
oficial do Mapi Institute, 2008, caracterização psicométrica de Gomes et al., 2018; orig:
Pittsburgh Sleep Quality Index / PSQI, de Buysse et al., 1989): O questionário visa medir a
qualidade de sono no último mês, classificando-a como boa ou pobre de acordo com o ponto
para o parceiro de quarto ou de cama. Estas últimas são usadas para fins clínicos, mas não são
consideradas para fins de cotação. O PSQI é constituído por 7 componentes - qualidade de sono
subjetiva, latência de sono, duração do sono, eficiência habitual do sono, distúrbios de sono,
uso de medicação para dormir e disfunção diurna, sendo que cada uma é classificada numa
escala de Likert de 4 pontos (entre 0 a 3 pontos), de acordo com normas de cotação específicas.
A pontuação total das 7 componentes varia de 0 a 21, sendo que quanto mais alta for a
(Gomes et al., 2018). As análises psicométricas do PSQI neste estudo, tendo em conta as 7
TURNO DE HEMODIÁLISE, CRONÓTIPO E SONO 13
Questionário Compósito de Matutinidade (QCM; Smith et al., 1989; Barton et al., 1992,
traduzido e adaptado por Silva, Azevedo e Dias, 1994, 1995): instrumento de autorrelato,
composto por 13 itens, que tem como objetivo determinar tipo diurno através de questões que
inverso) sendo que uma maior pontuação aponta para um perfil do tipo matutino. Existem
2005). Este instrumento apresentou uma aceitável consistência interna no primeiro estudo de
validação em Portugal (α=0.69) numa amostra de trabalhadores por turnos (Martins et al.,
adolescentes (Costa et al., 2013; Gomes, 2005; Gomes et al., 2016) o que também se sucede
Epworth Sleepiness Scale / Escala de Sonolência de Epworth (ESS; orig.: Johns, 1991;
versão portuguesa: Santos et al., 2001): esta escala permite avaliar a sonolência diurna
correspondentes a 8 itens. A pontuação total varia de 0 a 24, sendo que valores acima de 10
WHOQOL-100, trata-se de uma medida geral de qualidade de sono percebida, proposta pela
2004; versão portuguesa: Vaz-Serra et al., 2006). Contém 26 itens que avaliam uma faceta
geral e quatro domínios de qualidade de vida (físico, psicológico, relações sociais e meio
TURNO DE HEMODIÁLISE, CRONÓTIPO E SONO 14
ambiente). A cotação pode ser feita manualmente ou mediante recurso a uma sintaxe para o
programa SPSS. Todos os itens são cotados de 1 a 5 e três dos itens, referentes a perguntas
as tendências atuais da OMS, optou por transformar os resultados numa escala de 0 a 100, em
que quanto mais elevada a pontuação melhor será a qualidade de vida. O cálculo dos domínios
Procedimentos
O primeiro passo para a realização deste estudo foi o pedido de autorização aos autores
Para a recolha da amostra clínica foi elaborada e reúnida toda a documentação requerida
Coimbra. Uma vez concedidos pareceres positivos, iniciou-se o processo de recolha dos dados
A recolha de dados foi conduzida somente após consentimento livre e esclarecido por
parte de cada doente, depois de explicados os objetivos e natureza do estudo. Foi garantido a
cada paciente o direito de recusar participar no estudo sem qualquer consequência e a qualquer
momento, assim como a participação a título meramente voluntário, não existindo, portanto,
longo do tratamento dos dados, análise, apresentação e discussão dos resultados. A aplicação
dos questionários foi realizada durante as sessões de diálise, de um modo individual. Embora
ajustada ao contexto específico uma vez que os doentes se encontram deitados e com os braços
impossibilitados de escrever.
Assim, as questões a cada paciente foram colocadas oralmente, tendo sido registado para
cada item a resposta dada. A aplicação completa sob a forma oral demorou cerca de 30 minutos,
ocupando no máximo 1 hora em doentes mais velhos. A recolha decorreu entre março e abril
de 2018.
Para realização da análise estatística foi utilizado o software estatístico IBM SPSS,
(versão 22.0).
Para verificar se uma variável apresentava uma distribuição normal, considerou-se que
(Lomax & Hahs-Vaughn, 2012). A consistência interna dos instrumentos foi avaliada através
do alfa de Cronbach, interpretado segundo Pallant (2007) da seguinte forma: muito bom se
superior a 0.90; bom entre 0.80 e 0.90; razoável entre 0.70 e 0.80; aceitável a partir de 0.60
diálise nas pontuações obtidas nas diferentes escalas através do teste paramétrico ANOVA em
todos os instrumentos, com exceção das componentes do PSQI e dos itens da ISI, sendo que
para estas foi utilizado o teste não paramétrico equivalente Kruskal-Wallis. De referir que foi
também analisada a magnitude adotando os valores de eta quadrado através dos critérios
Cohen, em que valores até 0.01 indicam um efeito pequeno, valores de 0.01 a 0.06 indicam um
efeito médio e valores superiores de 0.06 até 0.138 indicam um efeito grande (Pallant, 2007).
De referir que quando os testes apresentaram valores significativos foram realizados testes
homogeneidade das variâncias, mas o tamanho dos grupos é muito diferente entre si, o que
acontece quando a amostra é dividida por tunos de diálise, utilizou-se o de Hochberg’s GT2
(Field, 2013). No caso do teste Kruskal-Wallis os tamanhos de efeito foram estimados através
correspondente de Spearman. As relações entre as escalas foram analisadas, não só face à sua
significância estatística, como em relação à magnitude das correlações definidas pelos critérios
de Cohen (Pallant, 2007): fortes para coeficientes iguais ou superiores a |0.50|, moderada para
coeficientes entre |0.30| e |0.49| e baixa quando os valores se situam entre |0.10| e |0.29|.
Posteriormente, fez-se a categorização dos valores do QCM por cronótipo através, quer
adultos, como tem sido prática generalizada) quer dos valores definidos na amostra em estudo.
importante referir que para as componentes do PSQI e itens da ISI se recorreu a testes não
Foi ainda efetuada a ANCOVA a dois fatores para verificar os efeitos referidos,
tendencialmente significativo. Por sua vez, p<0.15 foi considerado indicador de um resultado
Resultados
mostram-se na tabela 2, assim como os níveis de significância nos testes de comparação entre
os grupos.
PSQI e ainda na subescala da depressão da HADS. Ainda importante referir que o item 1 da
clínica/prática. O turno noturno foi aquele que apresentou média mais elevada nas referidas
facetas do WHOQOL-Bref, o que se traduz numa melhor qualidade de vida, bem como média
mais baixa nas componentes latência qualidade de sono e distúrbios de sono do PSQI (e ainda
tendencialmente mais baixa na componente de qualidade de sono), o que se reflete num melhor
sono nestas componentes. Quanto à subescala depressão da HADS foi o turno onde se obteve
TURNO DE HEMODIÁLISE, CRONÓTIPO E SONO 18
pontuações mais baixas e assim menos depressão. Pelo contrário, o turno do início tarde foi
aquele em que os pacientes obtiveram em média pontuações mais baixas nas facetas do
WHOQOL-Bref, o que se traduz numa pior qualidade de vida e em que pontuaram em média
de forma mais elevada nas componentes latência e distúrbios de sono do PSQI. Este turno
obteve ainda a média mais elevada na subescala depressão da HADS, o que se traduz em mais
depressão.
com os anteriores, na medida em que o turno na noite é aquele que apresenta média mais baixa
e assim menos dificuldade em adormecer e o turno do início da tarde apresenta a média mais
PSQI surge o turno do final da tarde como sendo aquele com média mais elevada.
Como o turno do início da tarde compreende os pacientes mais velhos e do turno da noite
os doentes com menor idade, os resultados descritos poderão traduzir diferenças de idade (e
não de turno). Assim, despistou-se a existência de associações dos instrumentos utilizados com
Verificou-se uma correlação positiva da idade com a subescala depressão da HADS (r=0.336,
p=0.001) e com o STOP-Bang (r=0.293, p=0.005), o que significa que aumentando a idade
aumenta a depressão e o risco de apneia obstrutiva do sono. Por sua vez, verificou-se uma
correlação negativa com a componente disfunção diurna do PSQI (r=-0.285, p=0.006), em que
Tabela 2
ansiedade da HADS, de modo que quanto mais matutinas as pontuações, menores foram a
sonolência diurna, a disfunção diurna e a ansiedade. Por sua vez, verificou-se uma correlação
positiva com o domínio físico, relações sociais e ambiente do WHOQOL-Bref, o que mostra
que quanto mais matutino, melhor a qualidade de vida nos domínios referidos.
TURNO DE HEMODIÁLISE, CRONÓTIPO E SONO 20
Tabela 3
QCM
Medidas r
ESSE -0.226*
ISI Total -0.078
ISI 1ª -0.124
ISI 2ª 0.001
ISI 3ª -0.068
WHOQOL-faceta geral 0.114
WHOQOL-físico 0.274**
WHOQOL-Psicológico 0.201
WHOQOL-Rel. Sociais 0.258*
WHOQOL-Ambiente 0.276**
PSQI Global -0.045
C1a 0.092
C2a -0.121
C3a -0.204
C4a -0.316**
C5a -0.060
C6a -0.177
C7a -0.172
HADS- Depressão -0.067
HADS-Ansiedade -0.351**
STOP BANG -0.094
*p<0.05; **p<0.01;***p<0.001
a
Foi utilizado o rô de spearman; nos restantes instrumentos utilizou-se o r de pearson
Legenda: ISI 1- dificuldade em adormecer; ISI 2 – dificuldade em manter-se a dormir; ISI 3
despertar precoce; C1=duração de sono; C2=distúrbios de sono; C3= latência de sono; C4= disfunção
diurna; C5= eficiência de sono habitual; C6=uso de medicação para dormir; C7= qualidade de sono
subjetiva;
Seguidamente, fez-se uma categorização dos valores do QCM em três grupos: vespertino,
intermédios e matutinos. Numa primeira fase, foi feita essa categorização utilizando o
procedimento mais comum na literatura publicada, que consiste em usar valores provenientes
de amostras de adultos não idosos (no caso da versão portuguesa, recorreu-se aos percentis 25
e 75 definidos por Gomes, 2005), como demonstrado na tabela 4. Através da utilização desses
valores, verificou-se que na amostra global, 3 dos sujeitos são vespertinos, 26 são considerados
sua maioria composta por pessoas idosas, em que a média de idades é de 69 anos, não seria
TURNO DE HEMODIÁLISE, CRONÓTIPO E SONO 21
distribuição pelos três grupos de forma que passou-se a ter 23 sujeitos vespertinos, 46
intermédios e 23 matutinos.
No que concerne à distribuição dos tipos diurnos por turnos, através da categorização
pelos novos valores, verificou-se que o primeiro turno (manhã) é composto maioritariamente
por matutinos e intermédios e o último turno (noturno) é composto apenas por vespertinos e
intermédios, não existindo doentes com o cronótipo matutino neste turno. Nos restantes dois
turnos (início e final de tarde), verificou-se que englobam sujeitos matutinos, intermédios e
vespertinos.
Tabela 4
Distribuição do cronótipo por turnos através dos valores “convencionais” e dos valores
Tabela 5), em que se pretendeu verificar a influência dos turnos, do cronótipo e da interação
TURNO DE HEMODIÁLISE, CRONÓTIPO E SONO 22
a dois fatores nas variáveis que tinham evidenciado uma correlação com a idade: depressão-
HADS e STOP-BANG
é significativo (p<0.01) bem como a interação dos turnos com o cronótipo (p<0.01), ao passo
que o turno evidencia um efeito não significativo. Constata-se que a diferença em termos de
vespertinos (p=0.014) que apresentam os valores mais elevados. No que concerne à interação,
observou-se o seguinte quanto aos níveis médios de ansiedade em função dos turnos e dos
cronótipo:
ao longo dos três turnos (manhã, início tarde e final de tarde; nenhum matutino no turno da
noite), ou seja, a ansiedade foi em média mais elevada nos matutinos tratados de manhã e mais
baixa nos matutinos colocados no turno do final da tarde (sendo a média intermédia nos
tarde, seguindo-se os turnos da manhã e do final da tarde com valores idênticos, sendo no turno
― nos vespertinos, a média mais elevada de ansiedade ocorreu nos que frequentam o
turno noturno, seguindo-se, por ordem decrescente de ansiedade, o turno da manhã, o turno do
(p<0.01). O turno do início da tarde destaca-se dos restantes turnos, nomeadamente com o da
manhã (p=0.006), do final da tarde (p=0.004) e o noturno (p=0.013), por ser aquele que
apresenta valores médios mais elevados de depressão. O cronótipo mostrou um efeito com
TURNO DE HEMODIÁLISE, CRONÓTIPO E SONO 23
potencial relevância clinica/prática, em que através da consulta das médias se verifica que os
intermédios são os que apresentam valores mais baixos de depressão, ao passo que a interação
os da ANOVA a dois fatores, indicando que as diferenças observadas não são atribuíveis à
idade.
significativo do turno de diálise (p<0.001). Segundo os testes post-hoc, o turno noturno obteve
valores significativamente superiores aos restantes, seguido do turno matinal, ao passo que os
dois turnos da tarde evidenciaram valores equivalentes entre si, significativamente inferiores
(p<0.05), no entanto o teste post-hoc não sinalizou diferenças significativas. Quanto ao turno
existindo diferenças entre os intermédios que apresentaram média mais elevada, ou seja,
melhor qualidade de vida, e os vespertinos (p=0.016) que apresentaram a média mais baixa. O
efeito turno foi tendencialmente significativo (p<0.10), em que o turno noturno apresentou a
média mais elevada, quando comparado com o turno do inicio da tarde(p=0.003) e o turno do
final da tarde(p=0.047). Tal como nos domínios anteriores, não se verificou um efeito
TURNO DE HEMODIÁLISE, CRONÓTIPO E SONO 24
significativo da interação.
― nos vespertinos, aqueles que apresentam em média menos sonolência diurna são os
da tarde e do noturno apresentam valores idênticos, sendo aqueles que apresentam em média
sonolência diurna são os que são tratadas nos turnos de início e final de tarde, seguindo-se os
do turno da noite. Os intermédios no turno da manhã são os que apresentam em média mais
sonolência;
― os matutinos mostraram uma tendência decrescente ao longo dos três turnos (manhã,
início tarde e final de tarde; nenhum matutino no turno da noite), sendo que aqueles que são
tratados no turno da manhã apresentaram em média mais sonolência diurna e aqueles tratados
efeito significativo principal nem de interação. Contudo, no STOP Bang, quando controlada a
idade através de uma ANCOVA, verificou-se que o tipo diurno passou a ter um efeito
Tabela 5
correspondente não paramétrico, fazendo split file e utilizando o teste de Kruskal-Wallis (cf.
tabela 6). Na componente dos distúrbios de sono, verificou-se que os vespertinos e os matutinos
relativamente ao turno da noite, que obteve em média resultados mais baixos, ou seja menos
tarde (p=0.038), que foram aqueles que apresentaram os resultados mais elevados e assim mais
dificuldades de sono.
independentemente do turno em que se encontram. Por sua vez, nos intermédios verificaram-
se diferenças entre os indivíduos do turno da noite, que apresenta em média menor latência de
sono, e os indivíduos do turno do final da tarde (p=0.032) que apresentam em média valores
TURNO DE HEMODIÁLISE, CRONÓTIPO E SONO 27
mais elevados de latência de sono. Nos indivíduos matutinos também se verificam diferenças
entre turnos, nomeadamente, do turno do início da tarde, que apresentou valores mais elevados,
intermédios, em que o turno do início da tarde se destaca dos restantes por ser aquele que obtém
significativas nos indivíduos matutinos. Nestes pacientes, os que estão no turno do início da
tarde são os que revelam piores resultados na eficiência de sono, em oposição aos que estão no
relevância clinica nos indivíduos matutinos, em que os que frequentam o turno do início da
tarde pontuam de forma mais elevada que os restantes, demonstrando pior qualidade de sono.
Tabela 6
Mat. 1.00 (1.13) 1.00 (1.00) 1.00 (1.17) - 1.00 (1.09) 0.44Ns
Total 1.00 (1.09) 1.00 (1.18) 1.00 (1.27) 1.00 (0.63)
PSQI-Latência de sono
Vesp. 2.00 (1.67) 2.50 (2.20) 1.00 (1.57) 2.00 (2.00) 2.00 (1.91) 1.65Ns
Int. 1.00 (1.25) 2.00 (1.47) 2.00 (2.15) 0.50 (0.50) 1.00 (1.48) 8.52*
Mat. 1.00 (1.13) 3.00 (2.56) 0.00 (0.50) - 2.00 (1.52) 12.82**
Total 1.00 (1.26) 2.00 (1.97) 2.00 (1.62) 1.00 (0.88)
PSQI-Duração de sono
Vesp. 0.00 (1.00) 0.00 (0.80) 0.00 (0.14) 0.00 (0.00) 0.00 (0.55) 2.45Ns
Int. 0.00 (0.67) 0.00 (0.27) 1.00 (1.00) 0.00 (0.33) 0.00 (0.59) 6.49††
Mat. 0.00 (1.00) 1.00 (1.11) 0.00 (0.33) - 0.00 (0.87) 2.50Ns
Total 0.00 (0.83) 0.00 (0.65) 0.00 (0.62) 0.00 (0.25)
PSQI-Eficiência de sono
Vesp. 2.00 (2.00) 2.00 (2.10) 2.00 (1.71) 1.00 (1.00) 2.00 (1.86) 2.76Ns
Int. 1.00 (1.25) 1.00 (1.47) 2.00 (1.77) 1.00 (1.00) 100 (1.43) 2.26Ns
Mat. 2.00 (1.63) 3.00 (2.44) 1.00 (1.00) - 2.00 (1.78) 5.86(*)
Total 2.00 (1.48) 2.00 (1.91) 2.00 (1.58) 1.00 (1.00)
PSQI-Qualidade de sono
Vesp. 1.00 (1.00) 1.50 (1.50) 1.00 (1.14) 1.50 (1.50) 1.00 (1.32) 4.03Ns
Int. 1.00 (1.17) 1.00 (1.20) 1.00 (1.15) 1.00 (0.83) 1.00 (1.13) 1.62Ns
Mat. 1.00 (1.00) 2.00 (1.56) 1.00 (0.83) - 1.00 (1.17) 4.38†
Ns= Não significativo nem relevante; † p<0.15; ††p<0.10; (*) p=0.05; *p<0.05; **p<0.01 ***p<0.001
Discussão
Este estudo teve como objetivo o estudo dos diversos padrões de sono, de sintomatologia
cronótipo.
noite são aqueles que revelam melhor qualidade de vida a nível físico, psicológico e do
ambiente. No turno do início da tarde verifica-se o contrário, sendo este o turno em que os
pacientes relatam uma pior qualidade de vida nos domínios mencionados. Poderíamos pensar
que este aumento de qualidade de vida se associava ao facto do turno da noite ser o turno que
contém as pessoas mais jovens, e desta forma, este aumento estar relacionado com a diminuição
da idade. No entanto, não se apura uma relação significativa com a idade, parecendo assim que
TURNO DE HEMODIÁLISE, CRONÓTIPO E SONO 29
o aumento da qualidade de vida está relacionado apenas com o turno e com o cronótipo. Ainda
assim, não é possível excluir a possibilidade dos resultados se deverem a uma melhor condição
física à partida nos doentes do turno da noite. É importante recordar que o turno do início da
tarde compreende a maior proporção de diabéticos e o turno da noite a menor (apenas 1 pessoa),
o que poderá explicar os resultados. No que concerne à relação da qualidade de vida com o
em que os vespertinos são aqueles que demonstram ter pior qualidade de vida, ao passo que os
forma geral, apresentam melhor qualidade de vida. Sabe-se que a Doença Renal Crónica
restringe a atividade social e profissional dos doentes, desta forma, provavelmente aqueles que
realizam a diálise no turno da noite beneficiam, na medida em que, têm o dia para poder
usufruir de atividades sociais, despender mais tempo com a família, investir nas relações
sociais, atividades estas que acabam por melhorar também a sua qualidade de vida a nível
psicológico. Ainda importante referir, que o turno da noite é composto, à partida, por pessoas
com melhor condição física, o que não foi possível controlar, podendo ter sido um fator com
Por sua vez, quanto à depressão, diagnóstico muito frequente em pacientes com Doença
Renal Crónica, neste estudo verifica-se que o turno do início da tarde é aquele em que os
pacientes demonstram mais sintomas de depressão. Estes valores contrastam com os valores
de Teles (2014) e de Gul, Aoun e Trayner (2006) que referiram que se notou uma associação
associação não ter sido totalmente explorada. Importante referir que, no nosso estudo, o turno
do início da tarde é aquele que é composto pela população mais idosa, e desta forma, pensou-
se se poderia ter sido o fator da idade que tenha influenciado estes valores, na medida em que,
a ANCOVA a dois fatores sugere que os resultados por turno não devem ser atribuíveis à idade.
Resta como possível explicação o fato do turno da tarde compreender a maior proporção de
Relativamente à ansiedade, existe uma relação com o tipo diurno, não se verificando
influência dos turnos de tratamento. Neste caso, os vespertinos evidenciam os valores mais
são compatíveis com os de Passos et al. (2017), onde se demonstrou uma associação do
cronótipo vespertino com o aumento da ansiedade. Por sua vez, verificou-se uma influência da
ansiedade mais elevada quando tratados de manhã e mais baixa quando tratados no turno do
final da tarde; b) nos indivíduos intermédios, aqueles que fazem diálise no turno do início da
tarde apresentam mais ansiedade, contrariamente aos do turno da noite que são aqueles que
apresentam menos; c) quanto aos indivíduos vespertinos a média mais elevada de ansiedade
ocorre nos que frequentam o turno noturno, seguindo-se, por ordem decrescente de ansiedade,
o turno da manhã, o turno do final da tarde e o turno de início da tarde. Como hipótese que
justifique estes interessantes resultados, também sugerida por Teles et al. (2014), podemos
atividades que a pessoa desempenha durante o dia têm que ser realizadas no período contrário
ao seu ritmo endógeno, ou seja, por exemplo, os matutinos que realizam diálise no turno da
manhã depois têm que realizar as atividades do quotidiano num período que não lhes é
favorável.
Em termos de qualidade de sono, medida pelo PSQI, verificou-se que o turno da noite
de sono e qualidade de sono subjetiva. Por sua vez, foi o turno do início da tarde que apresentou
pior qualidade de sono, nessas mesmas componentes. Estes resultados contrastam com o estudo
TURNO DE HEMODIÁLISE, CRONÓTIPO E SONO 31
de Wang et al. (2013) que afirmou que realizar hemodiálise no turno da manhã está associado
significativamente a uma melhor qualidade subjetiva de sono medida pelo Pittsburgh Sleep
Quality Index. No entanto, neste estudo apenas existiam os três primeiros turnos,
nomeadamente, o da manhã, do inicio da tarde e do final da tarde. Desta forma, não podemos
fazer uma comparação uma vez que não continha o turno da noite. Acresce que o facto do turno
da tarde do nosso estudo ser composto por mais diabéticos poderá constituir uma explicação
para a pior qualidade de sono. Por sua vez, relativamente ao tipo diurno, verificou-se que os
diferenças a nível de qualidade de sono. Nos intermédios verifica-se que o turno tem influência
Segundo Hsu et al. (2008) os doentes do turno da manhã apresentavam mais sonolência
diurna, medida pela Epworth Sleepiness Scale. No nosso estudo, não se verificou uma
que quanto mais matutino menor é a sonolência diurna. Por sua vez, no que concerne à
interação do turno de tratamento com o cronótipo, verifica-se que nos vespertinos, aqueles que
apresentam em média menos sonolência diurna são os pacientes tratados no turno da manhã,
idênticos, sendo aqueles que apresentam em média mais sonolência diurna; nos intermédios
aqueles que apresentam em média resultados mais baixos de sonolência diurna são os que são
tratadas nos turnos de início e final de tarde, seguindo-se os do turno da noite. Os intermédios
TURNO DE HEMODIÁLISE, CRONÓTIPO E SONO 32
no turno da manhã são os que apresentam em média mais sonolência; os matutinos mostraram
uma tendência decrescente ao longo dos três turnos (manhã, início tarde e final de tarde;
nenhum matutino no turno da noite), sendo que aqueles que são tratados no turno da manhã
apresentaram em média mais sonolência diurna e aqueles tratados no turno do final da tarde
literatura sobre cronótipo na doença renal é extremamente escassa. Por isso, não dispomos de
uma explicação convincente para estes resultados, que devem constituir um estímulo para
investigação futura.
Ainda nas variáveis de sono, e no que concerne à insónia, medida pela ISI, verificou-se
que o turno do início da tarde é aquele que apresenta maior dificuldade em adormecer o que se
verifica também no estudo de Al-Jahdali et al. (2010). Uma explicação poderia residir na idade
mais avançada dos doentes deste turno (dada o aumento de queixas da insónia com a idade
relatado na literatura), não fosse o facto da idade não se ter relacionado com a pontuação da
ISI. Uma explicação mais provável reside no maior número de doentes diabéticos neste turno.
respondido aos questionários durante a sessão de hemodiálise, o que não garantiu a sua
privacidade. Por outro lado, pelo facto de os pacientes se encontrarem a fazer o tratamento
durante a recolha de dados, as questões foram colocadas oralmente quando, por norma, são
recolhida por duas pessoas diferentes, sendo que desta forma não foi possível controlar um
tamanho entre turnos de tratamento, especialmente no turno noturno, sendo que teria sido
importante que esse turno fosse maior e semelhante aos restantes. Importa também destacar
que os doentes estavam distribuídos à partida pelos turnos de diálise, não sendo portanto
aleatorização. Assim, o turno da noite distingue-se dos restantes pela idade mais jovens e
apenas um sofrer de diabetes, entre outras possíveis diferenças (melhores indicadores de saúde
como condição importante para admissão a esse turno; sessão de diálise durante 6 horas,
clínicos propriamente ditos. Como sugestão para futuros estudos, seria relevante utilizar
entrevistas para complementar a ISI no que toca à avaliação da insónia, bem como recorrer
Este estudo é pertinente para uma melhor compreensão dos padrões de sono em doentes
com Doença Renal Crónica, principalmente pelo facto de estudar os efeitos do turno em que
se realiza diálise e do cronótipo na influência das variáveis clinicas, qualidade de vida e sono.
Este estudo parece ser o primeiro a analisar o efeito combinado do turno e do cronótipo. Na
sem considerar o tipo diurno dos doentes. Ainda como pontos fortes ao estudo podem-se
procedendo à alocação aleatória dos doentes por turnos, ou através da avaliação dos mesmos
procedimentos, afigura-se arriscado concluir que o turno noturno se associa a melhor sono ou
TURNO DE HEMODIÁLISE, CRONÓTIPO E SONO 34
Referências
Al-Jahdali, H., Khogeer, H., Al-Qadhi, W., Baharoon, S., Tamim, H., Al-Hejaili, F., Al-
Medicine.
Bathla, N., Ahmad, S., Gupta, R. & Ahmad, S. (2017). Prevalence and Predictors of Poor Sleep
Bliwise DL, Kutner NG, Zhang R & Parker KP (2001) Survival by time of day of dialysis in
Broomfield, N. M., & Espie, C. A. (2005). Towards a valid, reliable measure of sleep effort.
Buysse, D. J., Reynolds, C. F., Monk, T. H., Berman, S. R., & Kupfer, D. J. (1989). The
Pittsburgh sleep quality index: A new instrument for psychiatric practice and research.
Carskadon, M., & Dement, W. (2017). Normal human sleep. In M. Krynger, T. Roth, & W.
Dement (Eds.). Principles and practice of sleep medicine (5th ed., pp. 16-26). St. Louis:
Elsevier Saunders.
Čengić, B., Resić, H., Spasovski, G., Avdić, E., & Alajbegović, A. (2012). Quality of sleep in
Costa, G., Lievore, F., Ferrari, P., & Gaffuri, E. (1987). Usual meal times in relation to age,
Costa, E. G., Campos, R. P., & Costa, E. C. (2013). Relationship between socio-demographic,
Field, A. (2013). Discovering statistics using IBM SPSS statistics (4ªed.). London: Sage
Publications.
Gomes, A. A., Costa, V., Couto, D., Marques, D. R., Leitão, J. A., Tavares, J., Azevedo, M.
H., & Silva, C. F. (2016). Reliability and validity of the Composite Scale on
Gomes, Ana & Marques, Daniel & Maria Meiavia, Ana & Cunha, Filipa & Clemente, Vanda.
the Pittsburgh Sleep Quality Index in clinical and non-clinical samples. Sleep and
Biological Rhythms.
Gul, A., Aoun, N. & Trayner, E. (2006). Unresolved Issues in Dialysis: Why Do Patients Sleep
Hsu CY, Lee CT, Lee YJ, Huang TL, Yu CY, Lee LC, Lam KK, Chien YS, Chuang FR & Hsu
KT (2008) Better sleep quality and less daytime symptoms in patients on evening
Iliescu, E. (2003). Quality of sleep and health-related quality of life in haemodialysis patients.
TURNO DE HEMODIÁLISE, CRONÓTIPO E SONO 36
Lomax, R., & Hahs-Vaughn, D. (2012). An introduction to statistical concepts (3ª ed.). New
York: Routledge.
Martins, R.; Azevedo, M. & Silva, C. (1996). Questionário compósito de matutinidade para
121.
Moorcroft, W. (2013). Understanding sleep and dreaming (2ª ed.). New York: Springer.
Novak, M., Shapiro, C., Mendelssohn, D. & Mucsi, I. (2006). Reviews: Diagnosis and
Pais-Ribeiro, J., Silva, I., Ferreira, T., Martins, A., Meneses, R. & Baltar, M. (2007). Validation
study of a Portuguese version of the hospital anxiety and depression scale. Psychology,
Pallant, J. (2007). SPSS Survival Manual: A Step by Step Guide to Data Analysis using SPSS
Park, J.& Ramar, K. (2017) Sleep and Chronic Kidney Disease Carskadon, M., & Dement, W.
Normal human sleep. In M. Krynger, T. Roth, & W. Dement (Eds.). Principles and
practice of sleep medicine (6th ed., 16-26). St. Louis: Elsevier Saunders.
Parker, K. (2013). Sleep disturbances in dialysis patients. Sleep Medicine Reviews, 7(2), 131-
143.
Passos, G., Santana, M., Poyares, D., D’Aurea, C., Teixeira, A., Tufik, S. & de Mello, M.
(2017). Chronotype and anxiety are associated in patients with chronic primary
Porto.
Silva, C. F., Azevedo, M. H., & Dias, M. R. (1994). Estudo Padronizado do Trabalho por
Silva, A., Pereira, H., Xará, D., Mendonça, J., Cunha, I., Santos, A., & Abelha, F. (2013).
Teles, F., de Azevedo, V., Miranda, C., Miranda, M., Teixeira, M. & Elias, R. (2014).
Depression in hemodialysis patients: the role of dialysis shift. Clinics, 69(3), 198-202.
Vaz Serra, A., Canavarro, M. C., Simões, M. R., Pereira, M., Gameiro, S., Quartilho, M. J.,
Wang, M., Chan, S., Chang, L., Chen, T. & Tsai, P. (2013). Better sleep quality in chronic
Anexos