Ansiedade e Ansiedade Social – “Fobia Social”
Leahy (2011) salienta que “vivemos na era da ansiedade”. (p.12) A atribuição
dada ao conceito da ansiedade é de que ela é complexa (Clark & Beck, 2012a). Pelo
ponto de vista fisiológico, está caracterizada através de um estado contínuo de alerta e
medo (Duarte & Hübner, 1999). Algumas questões são fundamentais para qualquer
analogia da ansiedade: distinguir medo e ansiedade e como designar ansiedade normal
da patológica (Clark & Beck, 2012b).
A ansiedade é uma característica humana que desempenha um papel útil,
permitindo estimular comportamentos de diversos tipos, como por exemplo: ataque,
defesa, inibição, entre outros. Estes são vistos como defesas adaptativas do ser humano,
dando andamento à vida. Quando a ansiedade torna-se desreguladora por si mesma,
deixando de ser um “alarme” adaptativo psicobiológico, se torna uma doença. (Duarte
& Hübner, 1999; Melo et al., 2014; Barlow em Clark e Beck, 2012b). De acordo com
Castilho, Recondo, Asbahr e Manfro (2000), “a maneira prática de se diferenciar
ansiedade normal de ansiedade patológica é basicamente avaliar se a reação ansiosa é de
curta duração, autolimitada e relacionada ao estímulo do momento ou não”. (p.20)
Podemos destacar que os transtornos de ansiedade configuram transtornos que
associam medo e ansiedade em excesso e, desordem no comportamento relacionado. O
medo seria o retorno emocional, a ameaça imediata percebida ou real, no tempo em que
a ansiedade é um sinal antecipado da ameaça (American Psychiatric Association (APA,
2014). Melo et al. (2014), salientam que a ansiedade patológica ocorre em resposta a um
estímulo que paralisa o sujeito, trazendo prejuízos ao seu desempenho, seu
funcionamento e seu bem-estar. Os autores Clark e Beck (2012a), comentam que
quando o sujeito sente-se muito ansioso ele é afetado de modo físico, emocional e
comportamental, sendo assim, de maneira cognitiva. Neste sentido, seu pensamento, seu
comportamento e sentimentos, diferem de quando ele não está ansioso.
Assim posto, os autores Clark e Beck (2012a) salientam que, os sintomas
comuns da ansiedade são:
Sintomas físicos: boca seca, falta de ar, palpitação, taquicardia, respiração
rápida, dor ou pressão no peito, vertigem, tontura, sensação de asfixia, sudorese,
calores, calafrios, tremores, estremecimento, náusea, estomago embrulhado, diarreia,
formigamento ou dormências nos braços/pernas, tensão muscular, rigidez, fraqueza,
sensação de desmaio, desequilíbrio.
Quanto aos sintomas cognitivos: medo de perder o controle, de ser incapaz de
enfrentar, medo de “enlouquecer”, medo de avaliação negativa dos outros, medo de
dano físico ou morte, pensamentos/imagens ou lembranças assustadoras, memória fraca,
percepções de irrealidade ou alheamento, baixa concentração, confusão, distratibilidade,
dificuldade de raciocínio, perda de objetividade, estreitamento da atenção,
hipervigilância para o perigo.
Os sintomas comportamentais são: evitação de sinais ou situações de ameaça,
fuga/escape, hiperventilação, busca de segurança, hiperventilamento, paralisia,
imobilidade, desassossego, agitação, andar nervosamente de um lado para outro,
dificuldade de falar.
E os sintomas emocionais comuns da ansiedade são: Sentir-se nervoso, tenso,
irritado, ser impaciente, frustrado, sentir-se assustado, temeroso, aterrorizado, ser
irascível, apreensivo, alvoroçado. (p.27-28)
Ainda, de acordo com a American Psychiatric Association (APA, 2014),
“embora os transtornos de ansiedade tendem ser altamente comórbidos entre si, podem
ser diferenciados pelo exame detalhado dos tipos de situações que são temidos ou
evitados e pelo conteúdo dos pensamentos ou crenças associados.” (p.189)
No que se refere à ansiedade social, ela é uma experiência que todos temos em
algum momento de nossas vidas. Circunstâncias como um primeiro encontro, apresentar
um trabalho, falar em público ou uma entrevista de emprego são capazes de provocar
comportamentos determinados, notados como desadequados socialmente e, em
contrapartida, possibilitando ao desempenho de definidos modelos sociais. Na prática,
um pouco de ansiedade social considera-se adaptativo. Receios com a opinião de outras
pessoas podem dificultar comportamentos não aceitos socialmente, instigar obedecer
regras e convenções e impulsionar uma melhor preparação e desempenho diante de
várias tarefas no contexto social (Salvador, 2009).
Ela pode ser entendida como um aglomerado de sintomas que se caracterizam
pelo medo acentuado de situações que envolvam contextos sociais, nos quais os sujeitos
podem 16 ser avaliados, quanto ao seu desempenho ao interagirem com outras pessoas
(APA, 2014; Caballo, 2003; Clark & Wells, 1995; Penido, Giglio, Lessa, Carvalho,
Souza & Rangé, 2014). A partir disto, pode-se chegar à conclusão de que a fobia social
seria, portanto, temer uma exposição em contextos sociais e/ou manifestar uma imagem
de si mesmo negativa. (APA, 2014; Clark & Beck, 2012b; Clark & Wells, 1995;
Gusmão et al., 2013; Holander & Simeon, 2008), contribuindo para a diminuição de sua
aceitação social, bem como de sua autoestima (Clark & Wells, 1995). A situação mais
comum que as pessoas com ansiedade social temem ou evitam é falar em público
(Leahy, 2011; Salvador, 2009), ou interagir formalmente (Leahy, 2011).
A ansiedade social também denota fortes expectativas irrealistas e
perfeccionistas sobre a vida em sociedade, fazendo o indivíduo ver os outros como
superiores e dominantes, ao passo que se percebe menos capaz que os demais (Clark &
Wells, 1995). O Transtorno de Ansiedade Social (TAS) é igualmente conhecido como
“fobia social” (Leahy, 2011). Heimberg, Liebowitz e Schneier (em Gusmão et al.,
2013), justificam que o transtorno de ansiedade social expressa-se por um anseio em
exibir uma imagem positiva de si mesmo aos demais. Ele não é somente um dos
transtornos de ansiedade de maior incidência, mas também, um dos que geram mais
prejuízos. Ainda que, os indivíduos que possuem este transtorno passam despercebidos
pela população, pois são classificados meramente como pessoas “tímidas”, os efeitos do
transtorno podem ser muito severos. As pessoas têm uma predisposição menos a se
casarem ou engatar um relacionamento. Além do mais, não tem tanto sucesso no
emprego, tem tendência a ficarem desempregados e o índice de abuso de substâncias,
seja álcool ou outras drogas, é maior e, tendem a estar mais favoráveis à desenvolver
depressão e tentar suicídio ou sofrer outros transtornos de ansiedade (Leahy, 2011).
A partir das alterações na nova versão do Manual Diagnóstico de Transtornos
Mentais (American Psychiatric Association (APA), 2014), cabe apontar a nomenclatura,
alterada para transtorno de ansiedade social, preservando fobia social em parênteses. Os
subtipos foram retirados (generalizado e circunscrito), passado a ser definido somente o
especificador relativo ao desempenho. Assim sendo, a apreensão com o desempenho
apresentam-se mais agregado à situações às quais necessita falar em público ou à vida
particular. As pessoas com esta especificidade não receiam eventos sociais que não
estejam envolvidos ao desempenho.
O transtorno de ansiedade social é assinalado através da sua cronicidade, da
mesma maneira que tem elevados indícios de comorbidade e ser incapacitante (Picon et
al., em 17 Gusmão et al., 2013) não existindo muita discrepância sintomática entre as
faixas etárias (Vilete et al., em Gusmão et al., 2013). Aquele que vivencia a ansiedade
acentuada quando se alimenta, escreve ou fala na frente de pessoas desconhecidas não
realiza estes comportamentos com dificuldade quando está com seus familiares, amigos
íntimos ou sozinho (APA, 2014; Clark & Beck, 2012a).
É entre a infância e o fim da adolescência que o TAS se estabelece, porém, o
adulto característico não busca auxílio antes de chegar a idade dos 30 anos. A busca
tardia acontece porque, junto com o transtorno, sentimentos de vergonha e
constrangimento se associam. Contudo, alguns indivíduos demoram mais para
reconhecer a condição. Na sociedade em geral, não necessariamente, a timidez não é
vista como algo anormal (Leite e colaboradores em Gusmão et al., 2013; Leahy, 2011).
Ahrens-Eipper em Gusmão et. al. (2013), afirma e reforça que à volta dos onze
ou doze anos o transtorno comumente manifesta-se. Às vezes, os sintomas iniciam de
modo agudo, seguido de uma vivência de humilhação no contexto social e, com
frequência é insidioso por meses/anos ou sem um claro precipitante (Holander &
Simeon, 2008).
Leite e colaboradores (em Gusmão et al., 2013), alegam um ciclo do transtorno
de ansiedade social, no qual: A ansiedade antecipatória propicia o surgimento de
cognições disfuncionais, que, por sua vez, despertam sintomas ansiogênicos nas
situações fóbicas, direcionando o sujeito a ter um mau desempenho, real ou percebido,
aumentando, assim, a timidez e a ansiedade antecipatória. Segundo os mesmos autores,
a exposição aos contextos fóbicos provoca, de modo geral, uma resposta súbita de
ansiedade, que pode ocorrer por meio de um ataque de pânico ligado à situação ou pré-
determinado por ela. (p.120) Em geral, a ameaça percebida não condiz com situação
real, contudo, correspondente à percepção do sujeito, os sintomas da fobia são
gradualmente reforçados (Gusmão et al., 2013).
O indivíduo com fobia social entende que seu medo é exagerado, todavia, tem
receio de transparecer sinais de ansiedade, por exemplo, tremer ou transpirar. Além
disso, diversos temores se referem a aparentar ser tolo, ser o ponto central das atenções,
consumar equívocos, entre outros, e, por conta disto, regularmente tem ideia de ser o
alvo de risos ou comentários (Barros Neto em Gusmão et al., 2013). O sujeito fica
remoendo as interações sociais, acarretando um temor exagerado diante da próxima
situação. Neste sentido, a ansiedade social acaba atuando como um ciclo vicioso (Clark
& Beck, 2012).
Segundo os autores acima citados, Barros Neto (em Gusmão et al., 2013), o
DSMV diferencia-se pouco de sua versão antecedente, uma vez que a característica
descrita como essencial da fobia social é o medo ou grande ansiedade em contextos
sociais onde a pessoa pode ser avaliada pelos outros. Penido, et al. (2014), salientam
que pessoa com fobia social tenta evitar circunstâncias no contexto social, ou às suporta
com muito desconforto. Tais aspectos ocasionam um prejuízo consideravelmente
significativo na área profissional, social e outros âmbitos da vida do sujeito. Eles não só
evitam situações sociais, mas evitam o contato social falando baixo, desviando o olhar e
algumas vezes, apresentam-se com os ombros para dentro e cabeça baixa.
De acordo com Wells e Clark (em Clark & Beck, 2012a), esta é uma forma de
tentar omitir sua ansiedade, embora possam aumentar de modo direto seus sintomas
ansiosos. Semelhante ao que se observa nos adultos, o medo intenso que persiste em
contextos onde o indivíduo pressupõe estar exposto ao julgamento dos outros, ou
comportar-se de modo humilhante ou vergonhoso, determina o diagnóstico da fobia
social em crianças e adolescentes. Nos jovens, a ansiedade é capaz de expressar-se
através do choro, deslocamento de contextos sociais ao quais tenham pessoas que não
são familiares e raiva (Castilho, Recondo, Asbahr & Manfro, 2000).
Hope, Heimberg, e Turk (2012b), salientam que pesquisas e experiências
clínicas indicam que as pessoas que buscam tratamento para ansiedade social
constituem uma classe heterogênea no que se refere à disseminação e intensidade de
seus temores no contexto social. Clark e Beck (2012), mencionam que existem 3 itens
centrais da ansiedade social acentuada, e qualquer um deles é especialmente abordado
na terapia cognitiva para a fobia social.
Os elementos centrais são: 1 – Medo de avaliação negativa – julgamento
negativo vindo dos outros, se expor diante de chacotas e descaso; medo que os outros
pensem que o sujeito é fraco, incompetente, tolo e talvez desequilibrado. 2 – Autofoco
elevado – concentra-se demais no desempenho social, imaginar as impressões que o
sujeito causa aos outros, de modo que o que outros dizem passa a ser mal ouvido.
Quanto mais o sujeito se empenha em controlar e avaliar as expressões vocais, faciais e
corporais, mais desajeitado torna-se. 3 – Evitação ampla – o sujeito foge das interações
sociais em uma oportunidade inicial e evita contato com as pessoas ao máximo.
Holander e Simeon (2008), salientam que as “três principais técnicas
cognitivocomportamentais são usadas com muita eficácia no tratamento da fobia social:
exposição, reestruturação cognitiva e treinamento das habilidades sociais”, (p.229)
onde: O tratamento da exposição envolve a exposição imaginária ou ao vivo a situações
de desempenho e a situações sociais específicas temidas. Embora pacientes com níveis
muito elevados de ansiedade social possam precisar começar com uma exposição
imaginária até que seja atingido um certo grau de habituação, os resultados terapêuticos
só serão alcançados quando a exposição ao vivo é realizada em situações temidas da
vida real;
O treinamento das habilidades sociais emprega modelagem, ensaio, roleplaying
e prática designada para ajudar as pessoas a aprenderem comportamentos adequados e a
reduzir sua ansiedade em situações sociais, com uma expectativa de que, conseguindo
isso elas terão reações mais positivas por parte dos outros.
Esse tipo de treinamento não é necessário para todas as pessoas com fobia
social; é mais aplicável àquelas que tem déficits reais na interação social, acima e além
de sua ansiedade ou da sua esquiva de situações sociais; A reestruturação cognitiva
concentra-se em autoconceitos desfavoráveis, no medo de avaliação negativa por parte
de outros e na atribuição de resultados positivos ao acaso ou às circunstancias, e dos
resultado negativos às suas próprias falhas. A reestruturação positiva consiste de várias
lições de casa: identificar os pensamentos negativos, avaliar sua precisão e reestruturá-
los de uma maneira mais realista. (p.229)
Diversas vezes, agregado à ansiedade social, está um baixo repertório de
habilidades sociais. Estas habilidades são capazes de serem compreendidas como
estratégias e comportamentos utilizados para enfrentar situações sociais e são
motivadores pela manifestação de sentimentos, ideias, atitudes e opiniões. Dentre elas,
podemos citar: pedir ajuda, recusar e fazer pedidos, iniciar e manter uma conversa,
manifestar agrado, sentimentos e desagrado, se defender, solicitar que o outro modifique
o comportamento, pedir desculpar e admitir erros, escutar de modo empático, lidar com
elogios e críticas. (Caballo, 2003).
Além disso, podem-se levar em conta, aspectos não verbais ligados ao contexto
social como conduta, aparência e gestos, contato visual (Angélico, 2009; Del Prette &
Del Prette, 2012).