Tese FF
Tese FF
ABRIL DE 2021
2
Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra, Portugal
3
ÍNDICE
Resumo —————————————————————————————————— 6
Introdução ————————————————————————————————— 8
Resultados ————————————————————————————————- 12
Discussão —————————————————————————————————18
Agradecimentos —————————————————————————————— 21
Anexos —————————————————————————————————— 25
4
LISTA DE ABREVIATURAS
EE – Escala de Estigma
OC – Obsessivo-Compulsivo/a (s)
5
RESUMO
Objetivos: Este estudo pretende investigar a experiência dos doentes com diagnóstico estabelecido de
POC (segundo DSM-5), acompanhados na Consulta de POC do Centro Hospitalar e Universitário de
Coimbra (CHUC). Adicionalmente, procura avaliar se os resultados obtidos se coadunam com o
fundamento teórico da doença e com a experiência que tem vindo a ser partilhada pelos clínicos.
Métodos: Estudo observacional no qual doentes acompanhados na Consulta de POC do CHUC foram
convidados a preencher, de forma voluntária e anónima, um questionário online (via Google Forms)
compreendendo categorias de dados sócio-demográficos e relativos à saúde, bem como várias escalas
psicométricas.
Resultados: A análise comparativa entre os doentes com percepção de agravamento clínico versus
sem percepção de agravamento mostrou diferenças estatisticamente significativas para: dimensão
sintomática Indecisão / Lentidão (p=0.025), factor Divulgação da Escala de Estigma (p=0.006),
dimensão da personalidade Emocionalidade / Neuroticismo (p=0.029), Perfecionismo Auto-Orientado
(p=0.001) e Perfeccionismo global (p=0.021). O sexo (p=0.049) e o tempo de seguimento na Consulta
de POC (p=0.001) apresentam diferenças estatisticamente significativas quanto ao grau de
agravamento. Relativamente à noção de impacto na forma como terceiros vêm a doença e o doente,
verificaram-se diferenças estatisticamente significativas para o Perfeccionismo Orientado para os
Outros (p=0.009) e para as dimensões sintomáticas Contaminação / Lavagem (p=0.014), Indecisão /
Lentidão (p= 0.004) e score total (p=0.014).
6
ABSTRACT
Objectives: This study aims to investigate the experience of patients with an established diagnosis of
OCD (according to DSM-5), followed up at the OCD Consultation at the Centro Hospitalar e Universitário
de Coimbra (CHUC). Additionally, it seeks to assess whether the results obtained are consistent with the
theoretical basis of the disease and with the experience that has been shared by clinicians.
Methods: Observational study in which patients followed up at the CHUC OCD Consultation were
invited to complete, voluntarily and anonymously, an online questionnaire (via Google Forms)
comprising categories of socio-demographic and health-related data, as well as various psychometric
scales .
Results: The comparative analysis between patients with perception of clinical worsening versus
without perception of worsening showed statistically significant differences for: symptomatic dimension
Indecision / Slowness (p = 0.025), factor Disclosure of the Stigma Scale (p = 0.006), personality
dimension Emotionality / Neuroticism (p = 0.029), Self-Oriented Perfectionism (p = 0.001) and Global
Perfectionism (p = 0.021). Gender (p = 0.049) and the length of follow-up at the POC Consultation (p =
0.001) show statistically significant differences in terms of the degree of worsening. Regarding the notion
of impact and the way that third parties see the disease and the patient, there were statistically
significant differences for Perfectionism Oriented to Others (p = 0.009) and for the symptomatic
dimensions Contamination / Washing (p = 0.014), Indecision / Slowness (p = 0.004) and total score (p =
0.014).
Discussion and Conclusion: The results obtained are in line with existing studies and the clinical
impression of professionals involved in the management of OCD. The present investigation shows the
importance of the existence of a follow-up in a Subspecialty Consultation. Additional research is needed
to further understand the impact of COVID-19 on Mental Health.
7
INTRODUÇÃO
A Obsessão reflecte uma sobrestimativa do perigo e constante perceção de erro. Surge como um
pensamento intrusivo, egodistónico e ansiogénico. O indivíduo habitualmente tenta resistir sem
sucesso, cedendo à Compulsão - comportamento ou acto mental, estereotipado, sob forma de ritual,
com o propósito de alívio da tensão emocional1,2.
A POC apresenta geralmente um curso crónico e flutuante1,2. Estima-se que a sua prevalência se
aproxime dos 1-3% na população geral3. De salientar a perturbação de ansiedade e a depressão como
comorbilidades mais frequentes da POC, segundo a American Psychiatric Association 2013.
Apesar da sua base etiológica ainda não ter sido completamente elucidada4, existe um consenso no
que concerne à sua natureza multifatorial5. Para esta contribuem fatores genéticos6, fatores ambientais
(nomeadamente uma rigidez do estilo educativo assente na moral, ordem e limpeza exageradas) e
factores neurobiológicos (quer por alterações estruturais corticais, quer funcionais4). As crenças do
indivíduo sobre o mundo7 com subsequente avaliação errónea de perigo e interpretação de eventos,
assumem papel relevante na manutenção da doença4.
Admite-se que possam haver variações no conteúdo dos sintomas que refletem preocupações comuns,
numa determinada cultura ou período de tempo 1. Adicionalmente, o contexto cultural influencia a
maneira como os doentes percepcionam e vivenciam os sintomas OC1.
Verifica-se na atualidade uma situação particular a nível mundial marcada pela Pandemia COVID-19,
com reconhecido rebate a nível social, económico e expectável impacto negativo na Saúde Mental,
quer na população em geral, quer através do agravamento de doenças psiquiátricas pré-existentes9-11.
Alguns estudos realizados durante e após a Pandemia SARS em 2003 e Ébola em 2014, apuraram
comportamento sobre-reactivo induzido pelo medo amplamente difundido na população12.
Este contexto pandémico é especialmente relevante no que concerne aos doentes com POC9,13, tendo
já motivado, inclusivamente, a emissão de algumas orientações clínicas14. As dimensões Contaminação
/ Limpeza e Acumulação ganham destaque, sobretudo após assistirmos à desmedida reacção
apocalíptica que inflamou a população no confinamento de Março de 2020. Novos comportamentos
8
como lavagem sistematizada das mãos, desinfeção e distanciamento social, visando a prevenção da
Infeção COVID-19 e promovidos extensivamente por autoridades de Saúde Pública, podem facilmente
confundir-se com os rituais dos doentes com POC9.
Não obstante a parca literatura na área, existem já algumas publicações que afloram esta situação de
cariz excepcional e avizinha-se um interesse crescente na mesma. O estudo de Prestia et al mostra um
agravamento significativo da sintomatologia OC, de acordo com a Yale-Brown Obsessive-Compulsive
Scale (Y-BOCS)15. O estudo multicêntrico de Benatti et al16 verificou um agravamento em 39,8% dos
123 doentes POC da amostra, com surgimento de novas Obsessões e agravamento das prévias.
Por outro lado, surgem alguns estudos que indiciam variabilidade na resposta dos doentes com POC à
Pandemia COVID-19, não passando necessariamente pelo agravamento da patologia de base. Alguns
doentes encontraram uma oportunidade de compromisso e motivação para o seu tratamento 17.
Impõem-se assim novos desafios na prática clínica e na gestão destes doentes, quer do ponto de vista
diagnóstico, quer do tratamento e prevenção bem-sucedida de recidiva.
O presente estudo visa investigar a experiência dos doentes com diagnóstico estabelecido de POC -
segundo os critérios do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, 5ª edição
(DSM-5) - acompanhados na Consulta de POC do Serviço de Psiquiatria do Centro Hospitalar e
Universitário de Coimbra (CHUC). Procura adicionalmente avaliar se os resultados obtidos se
coadunam com o fundamento teórico da POC e com a experiência que tem vindo a ser partilhada por
entre clínicos.
9
MATERIAIS E MÉTODOS
Procedimentos
Os participantes do presente estudo foram em primeira instância contactados por via telefónica para
contextualização do Projecto de Investigação e solicitação da sua participação, de cariz anónimo e
voluntário. Posteriormente, foi enviado aos mesmos um questionário por e-mail, elaborado via Google
Forms, cujo autopreenchimento se iniciava após prestado Consentimento Informado [vide Anexo 3].
Amostra
O estudo contou com a participação de 22 indivíduos com idades compreendidas entre 21 e 73 anos
[idade média 38,27 +- 14,83], seguidos na Consulta de POC do Serviço de Psiquiatria do CHUC.
Instrumentos
O questionário aplicado, elaborado pela Equipa da Consulta de POC do CHUC, incluiu dados
sociodemográficos, dados relativos à saúde e diversas escalas psicométricas (versões portuguesas,
validadas, com qualidades psicométricas adequadas). Expõe-se de seguida a estrutura do mesmo:
Instrumento constituído por 8 itens que procura avaliar o sentimento global de vergonha nos
indivíduos, bem como as suas dimensões – vergonha externa e vergonha interna.
10
• Versão Reduzida do Inventário Obsessivo de Coimbra (IOC-R)19 [vide Anexo 6]
Análise estatística
Os dados recolhidos no ano letivo de 2020/2021 foram processados com recurso ao software SPSS
Statistics versão 26. Após a aplicação de testes de normalidade – e, consoante os mesmos - optou-se
pela utilização de testes paramétricos ou não paramétricos. Foi estabelecido um p-value < 0.05 como
indicador de diferença estatisticamente significativa.
11
RESULTADOS
12
Tabela 1 - Variáveis sociodemográficas e relacionadas com saúde
Caracterização socio-demográfica % (n)
Feminino 72.7 (16)
Sexo
Masculino 27.3 (6)
Solteiro 59.1 (13)
Casado / União de facto 36.4 (8)
Estado civil
Separado / Divorciado 0
Viúvo 4.5 (1)
1º Ciclo 4.5 (1)
2º Ciclo 4.5 (1)
3º Ciclo 4.5 (1)
Secundário 22.7 (5)
Escolaridade
Licenciatura 40.9 (9)
Mestrado 13.6 (3)
Doutoramento 0
Outro (ex.curso profissional) 4.5 (1)
Estudante 9.1 (2)
Empregado 72.7 (16)
Situação profissional Desempregado 4.5 (1)
Reformado 9.1(2)
Outro (ex.lay-off) 4.5 (1)
Sozinho 18.2 (4)
A residir
Com outras pessoas 81.8 (18)
13
Tabela 2 - Instrumentos psicométricos aplicados
Escalas aplicadas Média ± Desvio Padrão Mínimo Máximo
Contaminação / Lavagem 6.14 ± 4.754 0 15
Indecisão / Lentidão 7.27 ± 4.527 0 14
Verificação repetida / Acumulação 5.95 ± 3.154 0 12
IOC-R
Conteúdos Imorais 2.36 ± 2.665 0 8
Pensamento Mágico 2.45 ± 3.066 0 9
IOC-R_Total 24.18 ± 13.745 4 43
Divulgação 34.36 ± 8.330 14 48
Discriminação 21.05 ± 6.098 10 34
EE
Aspectos positivos 15.86 ± 3.427 10 24
EE_Total 71.27 ± 14.923 42 100
Vergonha Externa 5.45 ± 3.306 0 12
EVEI Vergonha Interna 5.91 ± 4.070 0 14
Vergonha_Total 11.82 ± 8.300 2 36
Honestidade / Humildade 39.64 ± 4.614 33 47
Emocionalidade 38.64 ± 5.242 29 47
Extroversão 27.95 ± 6.952 12 40
HEXACO-60
Amabilidade 31.09 ± 6.746 17 42
Conscienciosidade 37.27 ± 5.800 26 47
Abertura à experiência 31.32 ± 6.300 21 45
PAO 37.23 ± 8.519 22 49
Percepção de agravamento da
sintomatologia OC durante a pandemia 3.33 ± 0.773 0 10
(0-10)
14
Tabela 4 - Análise comparativa entre doentes com percepção de agravamento clínico versus
doentes sem essa percepção
Escalas aplicadas p-value
Contaminação / Lavagem 0.471
Indecisão / Lentidão 0.025 ←
Verificação repetida / Acumulação 0.209
IOC-R
Conteúdos Imorais 0.357
Pensamento Mágico 0.209
IOC-R_Total 0.071
Divulgação 0.006 ←
Discriminação 0.610
EE
Aspectos positivos 0.978
EE_Total 0.096
Vergonha Externa 0.512
EVEI Vergonha Interna 0.357
Vergonha_Total 0.324
Honestidade / Humildade 0.508
Emocionalidade 0.029 ←
Extroversão 0.382
HEXACO-60
Amabilidade 0.541
Conscienciosidade 0.110
Abertura para a experiência 0.648
PAO 0.001 ←
PSP 0.744
MPS13 - H&F
POO 0.471
EMP13_Total 0.021 ←
15
Tabela 5 - Análise comparativa entre doentes com noção de impacto na forma como terceiros vêm
a doença versus doentes sem essa noção
Escalas aplicadas p-value
Contaminação / Lavagem 0.014 ←
Indecisão / Lentidão 0.004 ←
Verificação repetida / Acumulação 0.164
IOC-R
Conteúdos Imorais 0.431
Pensamento Mágico 0.357
IOC-R_Total 0.014 ←
Divulgação 0.870
Discriminação 0.815
EE
Aspectos positivos 0.807
EE_Total 0.813
Vergonha Externa 0.121
EVEI Vergonha Interna 0.145
Vergonha_Total 0.099
Honestidade / Humildade 0.106
Emocionalidade 0.064
Extroversão 0.312
HEXACO-60
Amabilidade 0.960
Conscienciosidade 0.361
Abertura para a experiência 0.902
PAO 0.105
PSP 0.621
MPS13 - H&F
POO 0.009 ←
EMP13_Total 0.428
16
Tabela 6 - Diferenças de parâmetros socio-demográficos e relativos à doença de acordo com grau
de agravamento ou impacto
Parâmetros socio-demográficos e relativos à doença p-value
Sexo 0.049 ←
Residir sozinho ou acompanhado 0.652
Grau de
Agravamento da Tempo de acompanhamento em Consulta de POC 0.001 ←
sintomatologia OC
Seguimento concomitante por Psicologia 1.000
Data do último ajuste de medicação 0.070
Sexo 0.154
Grau de Impacto na Residir sozinho ou acompanhado 0.141
forma como terceiros
Tempo de acompanhamento em Consulta de POC 0.083
vêm a doença e o
próprio doente Seguimento concomitante por Psicologia 0.441
Data do último ajuste de medicação 0.446
17
DISCUSSÃO
Em Portugal, aquando do primeiro confinamento de Março de 2020, foi possível testemunhar uma
descomedida reacção em massa, perante um perigo pouco conhecido e invisível a olho nu.
Açambarcamentos vários, conduziram a subsequente especulação e ruturas de stocks de bens de
primeira necessidade, medicamentos, material de desinfeção e equipamentos de proteção individual. É
compreensível a existência de algumas semelhanças entre estes comportamentos e os sintomas da
dimensão de acumulação da POC, o que levanta questões relativas ao impacto da pandemia nestes
doentes.
O distanciamento social, a desinfeção de superfícies e uma frequente lavagem das mãos com técnica
padronizada, compreendem algumas das recomendações de prevenção da infeção, baseadas na
melhor evidência científica, emitidas pelas autoridades de Saúde Pública. Estas medidas protetoras
podem facilmente confundir-se com os sintomas da dimensão Contaminação / Lavagem da POC 9.
Desta forma, comportamentos que, previamente à eclosão da Pandemia, seriam anómalos aos olhos
da sociedade passaram a integrar a nova normalidade. Tal explica o interesse em estudar eventual
agravamento clínico nestes doentes e potencial impacto na forma como terceiros vêm a doença os
comportamentos do próprio doente.
Vários estudos apontam no sentido do agravamento clínico da sintomatologia OC nos doentes com
POC durante a pandemia COVID-19, como o estudo Prestia et al15 e o estudo multicêntrico de Benatti
et al16. A exacerbação da sintomatologia da POC foi bem documentada durante surtos anteriores, como
nos casos da SARS e da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS). Estudos recentes sobre
COVID-19 e a POC relataram a necessidade de monitorar cuidadosamente a potencial recidiva dos
sintomas da POC e sua proporcionalidade à situação actual, para evitar retrocessos23-25.
Porém, alguns estudos indiciam variabilidade na resposta por parte dos doentes POC à Pandemia
COVID-19, não constituindo esta doença mental de base uma sentença para o seu agravamento.
Alguns destes doentes encontraram uma oportunidade de compromisso e motivação para o seu
tratamento17 e outros responderam de forma resiliente.
Comparando os valores obtidos da aplicação da escala MPS13 – H&F na população geral (n=412),
constante da tese de Castro Pinto SM (2016)26 - PAO 30.92 ± 6.861, PSP 14.63 ± 3.264, POO 5.88 ±
18
2.372, EMP13_Total 51.58 ± 8.702 - verificamos que estes são bastante inferiores ao obtidos no nosso
estudo, nos doentes acompanhados na Consulta de POC do CHUC (n=22) - PAO 37.23 ± 8.519, PSP
13.36 ± 4.855, POO 10.41 ± 2.684, EMP13_Total 61.00 ± 10.628. Assim, verifica-se que os níveis de
perfeccionismo nos doentes acompanhados em Consulta de POC do CHUC são bastante mais
expressivos do que os encontrados na população geral. Pode ainda observar-se que as facetas onde a
diferença é mais marcada são o PAO e o POO, particularmente aumentados na nossa amostra. Sendo
o perfeccionismo considerado um processo transdiagnóstico, assume-se como um factor de risco e de
manutenção para várias perturbações psicopatológicas1. Desde o começo do séc. XX que este traço de
personalidade tem sido referido como desempenhando um papel importante na POC1. A relação entre o
Perfeccionismo e os fenómenos OC tem sido fortemente consubstanciada ao longo das últimas
décadas. Portanto, os resultados obtidos no nosso estudo vão ao encontro do fundamento teórico
existente para a doença em questão.
Segundo o modelo dos cinco factores (Big Five) de Costa & McCrae (1992), as diferenças individuais
podem determinar-se através de cinco dimensões principais: Neuroticismo, Extroversão, Amabilidade,
Conscienciosidade e Abertura à experiência20. O instrumento HEXACO-60 pode ser aplicado de forma
relativamente breve e mostra boas correlações com escalas utilizadas para medir os Big Five
(correlação positivas entre as escalas com a mesma designação – Extroversão, Amabilidade,
Conscienciosidade, Abertura à experiência; correlação positiva entre Emocionalidade e Neuroticismo)20.
19
vários doentes com POC procuraram ajuda médica pela primeira vez durante este período; alguns
sintomáticos há vários anos, mas com funcionalidade mantida até ao início da pandemia COVID-19,
altura em que o agravamento clínico motivou por fim o recurso a cuidados de saúde. Considera-se que
o presente estudo corrobora a importância desta Consulta de Subespecialidade.
O presente estudo constitui um contributo para a investigação na área da Saúde Mental, permitindo
aprofundar o conhecimento relativo à POC e impacto da Pandemia COVID-19. São contudo
necessários estudos adicionais na área, preferencialmente com um maior número de participantes e
multicêntricos.
20
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu orientador, Professor Doutor António Macedo, por ter aceite orientar-me numa área
tão bonita e apaixonante. Obrigada por toda a disponibilidade, conselho, compreensão e experiência.
À minha orientadora, Dra. Sofia Ferreira – agradeço eternamente, com toda a sinceridade que em mim
houver. Reconheço ser impossível retribuir o tanto que representou, num caminho desconhecido,
inesperadamente tortuoso. Foi lado a lado, num apoio, paciência e cuidado extraordinários.
Agradeço às pessoas que, de forma altruísta e despretensiosa, aceitaram participar e responder ao
questionário, possibilitando transformar o uma ideia numa realidade.
Às forças-motrizes desta caminhada:
Agradeço à minha madrinha, Michelle Gouveia, por ser um pilar, pelos conselhos, pelos abraços
apertados, sentidos na distância.
Agradeço à Sofia Valente, por ser força, afeto e segurança, por me ensinar a ser porto em mar alto
revoltoso.
Agradeço à Ana Rita Fernandes, que tempera há anos o meu interesse pela área de Saúde Mental,
pela sinceridade, tempo, amizade, pelas conversas sérias ou de fruição retórica.
Agradeço à Maria João Granjo, amiga e camarada de Medicina que, com extraordinária paciência, me
acompanha a exalação consciente da minha insanidade e dialectos.
Agradeço ao Avô Martinho.
Agradeço à Mãe-Avó Fernanda, que cá me guarda todos os dias, incondicionalmente.
21
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24. Rajkumar R. P. (2020). Contamination and infection: What the coronavirus pandemic could reveal
about the evolutionary origins of obsessive-compulsive disorder. Psychiatry research, 289, 113062.
https://doi.org/10.1016/j.psychres.2020.113062
25. Fontenelle L. F., Miguel E. C., (2020), The impact of COVID-19 in the diagnosis and treatment of
obsessive-compulsive disorder. Depression Anxiety 37 (6):510–11. doi: 10.1002/da.23037
24
ANEXOS
25
ANEXO 1 – APROVAÇÃO DO CONSELHO CIENTÍFICO DA
FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
26
27
ANEXO 2 – APROVAÇÃO DA COMISSÃO DE ÉTICA PARA A
SAÚDE DO CENTRO HOSPITALAR E UNIVERSITÁRIO DE
COIMBRA
28
29
ANEXO 3 – CONSENTIMENTO INFORMADO
30
31
ANEXO 4 – QUESTIONÁRIO DE CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-
DEMOGRÁFICA E DADOS RELATIVOS À SAÚDE
32
33
34
35
ANEXO 5 – ESCALA DE VERGONHA EXTERNA E INTERNA (EVEI)
36
37
ANEXO 6 – VERSÃO REDUZIDA DO INVENTÁRIO OBSESSIVO DE
COIMBRA (IOC-R)
38
39
40
ANEXO 7 – AUTORIZAÇÃO DE UTILIZAÇÃO DA VERSÃO
REDUZIDA DO INVENTÁRIO OBSESSIVO DE COIMBRA (IOC-R)
41
42
ANEXO 8 - The HEXACO-60: A short Measure of the Major
Dimensions of Personality
43
HEXACO-60
Nas seguintes páginas encontrará uma série de afirmações sobre si. Por favor, leia-as e decida o quanto concorda
ou discorda com cada uma. Para cada afirmação, coloque um círculo à volta do número que melhor corresponde
ao seu grau de acordo ou desacordo. Use a seguinte escala de avaliação.
1 2 3 4 5
Discordo Discordo Nem concordo Concordo Concordo
fortemente nem discordo fortemente
9 As pessoas às vezes dizem-me que eu sou demasiado crítico(a) em relação aos outros 1 2 3 4 5
13 Gostaria de criar uma obra de arte como um romance, uma canção ou uma pintura
1 2 3 4 5
14 Quando estou a trabalhar nalguma coisa, não presto atenção aos pequenos detalhes 1 2 3 4 5
17 Quando eu sofro uma experiência dolorosa, necessito de alguém para me fazer sentir
confortável 1 2 3 4 5
44
1 2 3 4 5
Discordo Discordo Nem concordo Concordo Concordo
fortemente nem discordo fortemente
18 Ter muito dinheiro não é especialmente importante para mim 1 2 3 4 5
21 As pessoas acham que eu sou uma pessoa que se irrita com facilidade 1 2 3 4 5
26 Quando eu estou a trabalhar, às vezes tenho dificuldades por ser muito desorganizado(a) 1 2 3 4 5
27 A minha atitude para com as pessoas que me trataram mal é esquecer e perdoar 1 2 3 4 5
Se eu quiser alguma coisa de uma determinada pessoa, vou rir-me até das suas
30 piores piadas
1 2 3 4 5
36 Eu nunca aceitaria um suborno, mesmo que fosse de uma valor muito alto 1 2 3 4 5
45
1 2 3 4 5
Discordo Discordo Nem concordo Concordo Concordo
fortemente nem discordo fortemente
38 Procuro ser sempre preciso(a) no meu trabalho, mesmo que à custa do tempo 1 2 3 4 5
39 Habitualmente, sou bastante flexível nas minhas opiniões quando não concordam
comigo 1 2 3 4 5
A primeira coisa que eu faço quando estou num lugar novo é fazer
40 novos amigos 1 2 3 4 5
41 Sou capaz de lidar com situações difíceis, sem necessitar do apoio emocional de ninguém 1 2 3 4 5
Sinto emoções fortes quando alguém que me é próximo vai estar longe durante muito
47 tempo 1 2 3 4 5
51 Mesmo quando as pessoas cometem muitos erros, eu raramente digo algo de negativo 1 2 3 4 5
54 Não iria fingir gostar de uma pessoa só para obter favores da mesma 1 2 3 4 5
56 Prefiro fazer aquilo que me vem à cabeça do que me fixar num plano 1 2 3 4 5
46
1 2 3 4 5
Discordo Discordo Nem concordo Concordo Concordo
fortemente nem discordo fortemente
58 Quando eu me encontro num grupo de pessoas, geralmente sou eu quem fala em nome
do grupo 1 2 3 4 5
Permaneço imperturbável mesmo em situações em que a maioria das pessoas se tornam
59 bastante sentimentais
1 2 3 4 5
Sentir-me-ia tentado(a) a usar dinheiro falsificado, se tivesse a certeza de que nunca me
60 apanhariam 1 2 3 4 5
47
ANEXO 9 – ESCALA DE ESTIGMA (EE)
48
ESCALA DE ESTIGMA
Para cada afirmação, ponha um círculo, à volta do número que melhor corresponde
ao seu grau de acordo ou desacordo. Use a seguinte escala de avaliação.
1 2 3 4 5
1 Tenho sido discriminado nos estudos por causa dos meus problemas de saúde mental 1 2 3 4 5
2 Por vezes, sinto que estão a falar de mim por causa dos meus problemas de saúde mental 1 2 3 4 5
3 Ter tido problemas de saúde mental fez de mim uma pessoa mais compreensiva 1 2 3 4 5
7 As pessoas têm sido compreensivas em relação aos meus problemas de saúde mental 1 2 3 4 5
8 Tenho sido discriminado pela polícia por causa dos meus problemas de saúde mental 1 2 3 4 5
9 Tenho sido discriminado pelos empregadores por causa dos meus problemas de saúde
mental 1 2 3 4 5
11 Frequentemente, sinto-me sozinho por causa dos meus problemas de saúde mental 1 2 3 4 5
12 Fico assustado em relação ao modo como as outras pessoas irão reagir se souberem dos
meus problemas de saúde mental 1 2 3 4 5
13 Teria tido mais oportunidades na vida se não tivesse tido problemas de saúde mental 1 2 3 4 5
14 Não me importo que os meus vizinhos saibam que tive problemas de saúde mental 1 2 3 4 5
15 Se estivesse a concorrer para um emprego, contaria que tive problemas de saúde mental 1 2 3 4 5
16 Fico preocupado em contar às pessoas que tomo medicações para problemas de saúde
mental 1 2 3 4 5
17 As reacções das pessoas aos meus problemas de saúde mental fazem com que guardo isso
só para mim 1 2 3 4 5
18 Fico zangado com o modo como as pessoas têm reagido meus problemas de saúde mental 1 2 3 4 5
19 Não tenho tido quaisquer problemas com as pessoas por causa dos meus problemas de
saúde mental 1 2 3 4 5
20 Tenho sido discriminado pelos profissionais de saúde por causa dos meus problemas de
saúde mental 1 2 3 4 5
49
21 As pessoas têm-me evitado por causa dos meus problemas de saúde mental 1 2 3 4 5
22 As pessoas têm-me insultado por causa dos meus problemas de saúde mental 1 2 3 4 5
23 Ter tido problemas de saúde mental fez de mim uma pessoa mais forte 1 2 3 4 5
24 Não me sinto embaraçado por causa dos meus problemas de saúde mental 1 2 3 4 5
26 Ter tido problemas de saúde mental faz-me sentir que a vida é injusta 1 2 3 4 5
27 Sinto a necessidade de esconder os meus problemas de saúde mental, dos meus amigos 1 2 3 4 5
50
ANEXO 10 - The H&F Multidimensional Perfectionism
Scale 13 (MPS13-H&F)
51
MPS13 – H&F
1 2 3 4 5 6 7
Discordo Provavel- Concordo
Discordo Provavelmente Concordo
completa- mente Indeciso completa-
bastante concordo bastante
mente discordo mente
1. Um dos meus objetivos é ser perfeito(a) em tudo o que faço 1 2 3 4 5 6 7
2. Pouco me importa que alguém, das pessoas que me rodeiam, não dê o seu
melhor 1 2 3 4 5 6 7
3. Raramente sinto o desejo de ser perfeito(a) 1 2 3 4 5 6 7
4. Tudo o que eu faça que não seja excelente será julgado de má qualidade pelas
pessoas que me rodeiam 1 2 3 4 5 6 7
5. Faço tudo o que posso para ser tão perfeito(a) quanto possível 1 2 3 4 5 6 7
6. Preocupo-me muito em ter um resultado perfeito em tudo o que faço 1 2 3 4 5 6 7
7. Esforço-me para ser o(a) melhor em tudo o que faço 1 2 3 4 5 6 7
8. De mim, não exijo menos do que a perfeição 1 2 3 4 5 6 7
9. Quando estabeleço os meus objetivos, tendo para a perfeição 1 2 3 4 5 6 7
10. As outras pessoas aceitam-me como sou, mesmo quando não sou bem
sucedido(a) 1 2 3 4 5 6 7
11. Sinto que as outras pessoas exigem demais de mim 1 2 3 4 5 6 7
12. As pessoas esperam mais de mim do que eu posso dar 1 2 3 4 5 6 7
13. É-me indiferente que um bom amigo não tente fazer o seu melhor. 1 2 3 4 5 6 7
52