NOVICIADO INTERPROVINCIAL SANTÍSSIMA TRINDADE – IRMÃOS DE LA SALLE
FORMAÇÃO BÍBLICA
OUTUBRO DE 2024
ATOS DOS APÓSTOLOS
CRONOLOGIA DE PAULO E SEUS ESCRITOS1
30 ou 31, A primeira comunidade At 2,42-47
Pentecostes
36 ou 37, inverno Martírio de Estevão At 7,54-8,1
Dispersão da comunidade At 8,1-2
Felipe prega na Samaria At 8
Vocação de Saulo At 9
± 39 Paulo foge de Damasco At 9,25; 2Cor 11,32s
Primeira visita aos responsáveis da Igreja Gl 1,18ss
± 43 Paulo e Barnabé em Antioquia At 11,19-26
43 ou 44 Agripa I manda decapitar a Tiago. At 12,1ss
45 a 49 Primeira viagem missionária de Paulo At 13-14
±48 Fome na Judeia At 11,27ss
48 a 49 Assembleia de Jerusalém At 15,5ss
50 a 52 Segunda viagem missionária de Paulo At 15,36ss
inverno 50- Paulo em Corinto (Carta aos Tessalonicenses) At 18
verão 52
primavera 52 Comparece ante Galião At 18,12
verão 52 Paulo em Jerusalém e Antioquia At 18,22
53 a 57 Terceira viagem missionária de Paulo At 18,23
Apolo em Éfeso e Corinto At 18,24ss
Paulo passa 2 anos e três meses em Éfeso, At 19,10
depois de haver percorrido a
Galácia e a Frígia
(Cartas aos Coríntios, Gálatas, Romanos
talvez Filipenses)
inverno 57 a 58 Em Corinto At 20,3
páscoa 58 Em Filipos e Cesareia At 20,6
verão 58 Em Jerusalém At 21,27s
pentecostes 58 Detenção de Paulo no templo At 22,30ss
Comparece ante Ananias e o Sinédrio
Em Cesareia, comparece ante Félix At 24,10ss
58 a 60 Paulo preso em Cesareia At 24,24ss
60 Comparece ante Festo, apela a César At 25,1ss
outono 60 Viagem a Roma, naufrágio, At 27-28
inverno em Malta
61 a 63 Paulo prisioneiro em Roma At 28,16ss
(Cartas aos Colossenses, Efésios, Filêmon)
1
Extraída de: AA., VV. Uma leitura dos Atos dos Apóstolos. 2a ed. São Paulo: Paulinas, 1983, p, 4. (Coleção
Cadernos Bíblicos).
1
O contexto no qual surgem as Cartas de S. Paulo pode ser assim descrito:
* Muitos pagãos aderiram à fé provocando crise de identidade.
* O cristianismo começa a se distanciar do judaísmo.
* Os judeus perseguem os cristãos, tachando-os de hereges e
traidores. Os romanos os perseguem, vendo-os como subversivos.
* Alguns se perguntam: as comunidades cristãs são ainda a
continuação do antigo povo escolhido (AT)? Outros questionam: as
comunidades continuam a caminhada de Jesus?
2
DOCUMENTOS
Precisamos desfazer-nos de uma ideia simplista, que consistiria em crer que
os textos do Novo Testamento fossem uma espécie de “reportagem ao vivo” da vida
de Jesus e sobre os acontecimentos do nascimento da Igreja.
Cartas
• Jesus Paulinas • Mc
histórico • Mt
• Tradição
Tradição
Escrita
Oral Lc/At
Jo
Vejamos a importância que se davam às Cartas e à sua leitura: “que esta
carta seja lida a todos os irmãos” 1Ts 5,27. “Depois que esta carta tiver sido lida
entre vós, fazei-a ler também na Igreja de Laodiceia. Lede vós também a que escrevi
aos de Laodiceia” Cl 4,16. “Eu, Paulo, escrevo de meu punho...” Fm 19.
O pedido que se leiam as Cartas também em outras comunidades, abre a
estrada para a formação do grupo de Cartas destinadas a todos.
Entre os 27 escritos do NT, 21 são Cartas. O que isso nos revela? Significa,
antes de tudo, comunidades em diáspora e missionários itinerantes que, não
podendo falar diretamente às suas comunidades instituíram uma relação través
das Cartas. Em segundo lugar, demonstra que existia um intenso diálogo e
intercâmbio entre as várias comunidades cristãs que as faziam sentir unidas,
mesmo dispersas no imenso Império Romano. E, em terceiro lugar, se confirma
que as Cartas eram dirigidas às comunidades para sustentá-las na vida cristã e
missionária.
3
PEQUENA BIOGRAFIA DE S. PAULO
Paulo nasceu em Tarso (At 22,3), de pais judeus que remontavam seus
antepassados à tribo de Benjamim (Rm 11,1; Fl 3,5). A data de seu nascimento é
calculada a partir da afirmação de que ele era jovem ao tempo da morte de Estevão
(At 7,58), evento de data incerta, mas não muito posterior à morte de Jesus. Paulo
falava grego e hebraico (At 21,40; 26,14). Possuía uma irmã que residia em
Jerusalém (At 23,16). Era cidadão romano (At 16,37ss; 21,39) e fabricante de
tendas (At 18,3). Por isso nunca renunciou à independência que o sustento próprio
lhe dava (1Cor 9,1-18). É quase certo que Paulo chegou à Jerusalém depois da
morte de Jesus e que ele nunca o viu durante sua vida terrena. Em Jerusalém ele
foi discípulo de Gamaliel (At 22,3). No princípio foi perseguidor (At 22,4s; 26,9-12;
Gl 1,13; Fl 3,6); teve conversão súbita no caminho de Damasco, devida à aparição
de Jesus, que, ao lhe manifestar a verdade da fé cristã, indicou-lhe sua missão
especial de Apóstolo dos gentios (At 9,3-19; Gl 1,12.15s; Ef 3,2s). A partir desse
momento, consagrará toda a sua vida à evangelização.
Paulo parece ter estado igualmente à vontade com judeus e gentios por toda
parte, ele é o personagem mais cosmopolita da Bíblia. Está familiarizado com o
Antigo Testamento, mas também com a vida das cidades do Mediterrâneo. Há um
nítido contraste entre a atmosfera rural dos Evangelhos e a atmosfera urbana das
Cartas de Paulo.
udan a de am iente
A conversão de Paulo foi o resultado de sua experiência na estrada de
Damasco. Jesus apareceu-lhe a Paulo ficou cego por alguns dias até que foi cura e
batizado por Ananias (At 9). Paulo baseou todo o seu ministério em sua convicção
de que ele tinha visto o Jesus real na carne – Jesus crucificado, ressuscitado e
4
glorificado. E essa experiência foi a base de sua reivindicação de que era um
apóstolo do mesmo grau e com os mesmos direitos dos Doze (1Cor 9,1).
Depois da conversão, Paulo estava incerto quanto ao seu futuro.
Combinando os dados de At 9 e Gl 1, parece que primeiro foi à Arábia, onde
permaneceu três anos. O próprio Paulo não fornece razão para esse intervalo; ele
deve ser entendido como um retiro no deserto (compare-se com os retiros de
Moisés, Elias e Jesus). quando retornou ele começou a pregar em Damasco,
abertamente aos judeus; sua missão entre os gentios ainda não estava clara ou a
maneira pela qual devia executá-la ainda não era realizável.
Em sua primeira pregação, encontrou a hostilidade dos judeus, que o
perseguiram pelo resto de sua vida. Depois de sua fuga de Damasco retornou a
Jerusalém e encontrou os Apóstolos (Gl 1,18-19). A breve alusão de Paulo a essa
visita tenciona afirmar que ele fora aceito pelo grupo dos Apóstolos, mas que não
derivou seu Evangelho da instrução deles; recebeu-o do próprio Jesus. De
Jerusalém, onde diversas alusões tornam claro que ele não foi bem-vindo nem para
os judeus nem para os cristãos, voltou para sua cidade natal, Tarso, por alguns
anos. Não há registro de qualquer atividade sua ali; e é possível que Paulo tenha
se sentido desencorajado por causa da falta de acolhida favorável, até mesmo de
seus companheiros de fé.
Saulo foi salvo do esquecimento por Barnabé, que o levou para Antioquia. Os
dois serão então enviados para pregarem o Evangelho onde não tinha sido ainda
proclamado. Na Primeira Viagem, (45 – 49 d.C.), foram a Chipre, Perge, Antioquia
da Pisídia e às cidades da Licaônia (At 13 – 14). O costume deles era pregar primeiro
aos judeus na sinagoga da cidade e depois aos gentios2. No fim da primeira viagem,
surge a controvérsia sobre a obrigação de os gentios observarem a Lei judaica.
Na Segunda Viagem, Paulo e Barnabé se desentendem (At 15,36 – 40) e Paulo
escolhe Silas como companheiro. Depois de passar pela Cilícia, Licaônia, Frígia e
Galácia, Paulo pregou pela primeira vez o Evangelho no continente europeu.
2
S Bí J é (A 13 5 ) “ á h é -se primeiro aos judeus: At 13,14;
14,1; 16,13; 17,1-2.10.17; 18,4.19; 19,8; 28,17.23. Ela corresponde a um princípio: a prioridade cabe aos judeus: At
13,46; Rm 1,16; 2,9-10 Só p éq A 13 46; 18 6; 28 28”
5
Na Terceira Viagem, Paulo visitou outra vez a Frígia e a Galácia e fundou a
igreja de Éfeso. Em seguida, vai a Jerusalém com seus companheiros para
demonstrar que os gentios eram cristãos completos. Paulo é preso devido a
tumultos promovidos pelos judeus. O procurador romano o transfere para Cesareia
e, Paulo recorre ao seu privilégio de cidadão romano para ser julgado por um
tribunal em Roma.
At descreve que Paulo esteve confinado por dois anos (61 – 63 d.C.) a uma
prisão domiciliar em Roma.
Aqui se limita nosso conhecimento certo da vida de Paulo.
A tradição atribui 13 Cartas a Paulo: 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Coríntios,
Gálatas, Romanos, Efésios, Filipenses, Colossenses, Filêmon, 1 e 2 Timóteo, Tito.
As Cartas de Paulo são intervenções ocasionais em resposta a perguntas que
surgiam nas comunidades. A teologia paulina se formou a partir de problemas que
iam aparecendo nas igrejas. A teologia de Paulo é teologia vivida, experimentada a
partir de um centro muito preciso e nunca esquecido: o princípio da Salvação-
Graça.
Os Escritos paulinos parecem não se interessar pela vida de Jesus. E, de
fato, não a narram, ainda que a mencionem. Isto significa que o Evangelho é
suposto e conhecido. Naturalmente é necessário dar-se conta que a intenção das
Cartas paulinas não é recontar a história de Jesus, mas tratar as consequências
do seguimento cristão. Paulo se concentra so re o essencial do “evento Jesus”
(sobretudo sobre a sua paixão e sua ressurreição). É sempre a partir daqui que ele
responde aos problemas que as várias comunidades colocavam.
QUAIS SÃO AS FONTES ONDE PAULO BUSCA INSPIRAÇÃO?
A sua experiência de fé e a realidade vivida pelas comunidades.
Amplo conhecimento da Bíblia.
O patrimônio da tradição.
ESCRITA OU DITADO
Três modalidades de escrita de cartas eram usadas na Antiguidade:
6
Escrever de próprio punho (Fm 19).
Ditar palavra por palavra (Rm 16,22).
Ditar o sentido, deixando a formulação por conta de um secretário (Gl 6,11).
COMO ESTUDAREMOS OS ESCRITOS PAULINOS?
Nossa chave para estudar Paulo será uma ordem cronológica
provisória, que nos ajudará a compreender a evolução no pensamento de Paulo.
1. AS CARTAS DA SEGUNDA VIAGEM MISSIONÁRIA (± 50 – 52 d.C.)
1 E 2 TESSALONICENSES.
FASE ESCATOLÓGICA
DATA TEMAS TEXTOS
1 Tessalonicenses 50 - 51 d.C. Jesus, que veio pela 4,13 – 5,11
encarnação, voltará
em breve.
2 Tessalonicenses 52 - ... d.C. O dia do Senhor se 2,1 – 11
anunciará com
sinais prévios.
2. AS CARTAS DA TERCEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA (± 53 – 57 d.C.)
GÁLATAS, 1 E 2 CORÍNTIOS E ROMANOS.
FASE SOTERIOLÓGICA
7
DATA TEMAS TEXTOS
Gálatas 54 - 55 d.C. Para os judaizantes, 3,1 – 29
os pagãos 4,1 – 11
convertidos tinham 5,1 – 26
que passar pelo
judaísmo para
serem cristãos.
Eixos: Lei ou fé, Lei
ou espírito.
Liberdade cristã.
1 Coríntios 54 – 57 d.C. Problemas na igreja de 1,10 – 13
Corinto: divisões, 2,1 – 5
ministros de Cristo. 3, 10 – 13
Resposta a consultas: 9, 16 – 23
matrimônio e celibato, 12, 1 – 11
perigo da idolatria, 15, 1 – 28
ágape e eucaristia. 15, 35 – 58
Carismas e amor
cristão.
Ressurreição dos
mortos.
2 Coríntios 55 d.C. Ministério apostólico e 2,4 – 18
comparação com 5,1 – 21
Moisés.
Coleta para a igreja de
Jerusalém.
Romanos 55 - 56 d.C. A ira divina. A 1, 18 – 2,1
salvação pela fé. 2, 12 – 16
Conteúdo positivo da 3, 27 – 28
salvação. O enigma de 5,5.20
Israel. Normas de 7,14 – 20
conduta cristã. 8,1 – 38
12, 1 – 2
3. AS CARTAS DA PRISÃO (± 58 – 62 d.C.)
COLOSSENSES, FILÊMON, FILIPENSES, EFÉSIOS.
FASE CRISTOLÓGICA
8
DATA TEMAS TEXTOS
Colossenses 61 - 62 d.C. Vida cristã frente a 2,6 – 3,4
doutrinas perigosas.
Cristologia
saudável.
Filêmon 61 – 63 d.C. O princípio cristão 8 – 21
do amor e da
fraternidade.
Filipenses Depois de 60 d.C. Humildade de Cristo 1,15 – 18. 21. 27
e caridade cristã. 3,1 – 21
Testemunho e
pregação.
Efésios 61 - 62 d.C. A Igreja é Povo de 2,1 – 7. 19 – 22
Deus e esposa do 5,21 – 33
Messias.
Eclesiologia.
4. AS CARTAS PASTORAIS (± 62 – 65 d.C.)
1 E 2 TIMÓTEO, TITO.
PREOCUPAÇÃO ECLESIOLÓGICA
DATA TEMAS TEXTOS
1 Timóteo Segunda metade do 1º. séc A preocupação central das 2,1 – 2
três cartas é : 3,1. 8
5,17
2 Timóteo Segunda metade do 1º. séc Garantir as igrejas como 1,12 – 13
instituição, conservar o 2,22 – 26
ensinamento tradicional e 3, 1 – 7
defender-se das ameaças de
desvio doutrinal.
Tito Segunda metade do 1º. séc Para isso é necessário 2, 11- 15
nomear chefes competentes 3, 4 – 7
e confiáveis, manter a
ordem e a concórdia, regular
o culto.
TEOLOGIA PAULINA
Um dado que não podemos esquecer: Paulo fazia teologia escrevendo cartas. Isso
significa que sua teologia estava sempre emoldurada por saudações, agradecimentos e
9
orações de aberturas de cartas, com planos de viagens, explicações pessoais e despedidas
de conclusões de cartas. Sua teologização sempre começava e terminava com assuntos
práticos e com as pequenas coisas das relações humanas. A teologia de Paulo, por mais
complexa e elevada que fosse, nunca era coisa de torre de marfim. Do começo ao fim era
uma tentativa de dar sentido ao Evangelho como a chave da vida do dia a dia e tornar
possível uma vida cotidiana que fosse totalmente cristã.
Os princípios fundamentais da teologia de Paulo podem ser resumidos assim:
Salvação
pela fé
(Rm 3,27).
Vida
comunitária
formando
Igreja: Princípios
fundamentais Participação
Povo de
em Cristo
Deus/Corpo da teologia (Gl 5,24).
de Cristo
(Fl 1,27;
de Paulo
Ef 2,19;
1Cor 12,27).
Dom do
Espírito
(Rm 5,5).
10
ESQUEMA PARA ESTUDO DAS CARTAS PAULINAS
CARTA: ______________________
Situação: valores, Conselhos, Frases importantes Palavras-chave Observações
problemas... admoestações,
soluções...
11