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As Línguasnaafrica

O continente africano é multilíngue, com a maioria dos países adotando línguas estrangeiras como oficiais, como inglês, francês, árabe e português, resultantes da colonização. O trabalho analisa a diversidade linguística em países como Gabão e Angola, destacando a falta de políticas linguísticas que promovam as línguas nativas. A situação atual apresenta um risco de extinção de línguas africanas em favor das línguas coloniais, enquanto novas línguas emergem na dinâmica social moderna.
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As Línguasnaafrica

O continente africano é multilíngue, com a maioria dos países adotando línguas estrangeiras como oficiais, como inglês, francês, árabe e português, resultantes da colonização. O trabalho analisa a diversidade linguística em países como Gabão e Angola, destacando a falta de políticas linguísticas que promovam as línguas nativas. A situação atual apresenta um risco de extinção de línguas africanas em favor das línguas coloniais, enquanto novas línguas emergem na dinâmica social moderna.
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O CONTINENTE AFRICANO E SUAS LÍNGUAS NO SÉCULO XXI: ALGUNS

EXEMPLOS

Bruno Okoudowa*1

RESUMO:

O continente africano é composto de países multilíngues. Entretanto, quase todos os países africanos têm uma língua
estrangeira como língua oficial. As principais são: o inglês, o francês, o árabe e o português. Raros são os países que
têm uma língua oficial oriunda do próprio continente. Neste sentido, o presente trabalho tem por objetivos: 1) fazer
essa reflexão, apresentando alguns exemplos de diversidade linguística em alguns países africanos; 2) mostrar como
esses países estão tratando suas línguas. Trata-se, portanto, de uma discussão multi- e interdisciplinar que envolve
campos de saberes distintos, como a história, a antropologia, a sociologia, a linguística, a política, a economia,
psicologia, a educação e outros.

PALAVRAS-CHAVE: línguas africanas; países multilíngues; língua oficial; diversidade; sociolinguística.

Mapa político do Continente Africano (cf.http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:African_continent-pt.svg)

1 Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab/Letras), Professor


Adjunto, [email protected]

1
Introdução

O continente africano é composto por 54 países com uma grande diversidade em todos os planos: étnico,
cultural, histórico, geográfico, linguístico etc. Sendo que o mais recente desses países é o Sudão do Sul
que obteve sua independência do Sudão em 09 de julho de 2011. A maioria das fronteiras entre esses
países resulta do Tratado de Berlin (1884-1885) que dividiu o continente, como um bolo, entre as
potências imperialistas europeias da época. Foi o início da colonização do continente. Entretanto, mesmo
depois da colonização e depois do período das independências (anos 1960-1970), quase todos os países
africanos ainda têm uma língua estrangeira como língua oficial. As principais são: o inglês, o francês, o
árabe e o português. Raros são os países que têm uma língua oficial oriunda do próprio continente. Neste
sentido, o presente trabalho tem por objetivos: 1) fazer essa reflexão, apresentando alguns exemplos de
diversidade linguística em alguns países africanos; 2) mostrar como esses países estão tratando suas
línguas. 3) levantar algumas questões que nos ajudam a pensar sobre a situação linguística do continente.
Trata-se, portanto, de uma discussão multi- e interdisciplinar que envolve campos de saberes distintos,
como a história, a antropologia, a geografia, a sociologia, a linguística, a política, a economia, psicologia,
educação e outros. Mas que línguas falavam os africanos antes da colonização?

As cinco grandes famílias linguísticas do continente africano

Grandes famílias linguísticas do continente africano2

2 (cf.http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Nilo-Saharan.png )

2
O mundo fala cerca de 6.000 línguas. Um terço dessas línguas é falado no continente africano, ou seja, são
cerca de 2.000 línguas (Heine, 2000).

Segundo a classificação genética, as línguas africanas são divididas em 5 grandes famílias ou phila.
Como mostra o mapa acima. São elas:

A família Afro-asiática cujas línguas mais conhecidas são: berbere, árabe, hauçá, oromo, aramaico,
songai, somali, beja etc.

A família nilo-saariana conta com línguas como núbio, ndinka, kanuri, luo etc.

A família Nigero-Congolesa é a maior. Ela é dividida em duas partes: A e B.

A parte A conta com línguas como wolof, fula, maninka, mande, bambara, ioruba, ibo, akan, ewe, fon,
etc.

A parte B é reservada para línguas do grupo banto que conta entre 300 e 700 línguas (Okoudowa,2010).
Por exemplo: quisuaílí, lingala, quicongo, quimbundo, luba, umbundu, chona, chewa, soto, Cossa, zulu,
rundi, tsuana, makonde, makua, ngoni, lembaama etc. É o maior grupo desta família linguística.

A família Coissana (línguas de cliques): hotentote, nama, khung, i’kham etc.

Austronesiana (Madagáscar): malgaxe. Por incrível que pareça, a língua malgaxe não é oriunda do
continente africano embora Madagascar faça parte do Continente africano. Essa língua tem uma origem
híbrida: Ásia e Oceania. Daí o nome Austronesiana.

A Diversidade linguística no Continente

Em todos os países africanos, seja ele colonizado ou não, encontramos mais de uma língua. Quando o
país é uma ex-colônia, esse país herda do “ex-colonizador”, a língua; que na maioria das vezes é elevada
ao nível de única língua oficial. Isto é: é a única língua da escola e da administração. Portanto de todos os
documentos oficiais. Sendo as outras línguas do país relegadas a um nível informal e secundário, já que
não são transcritas, portanto, não ensinadas nas escolas e nem aparecem nos documentos oficiais. Mas,

3
porque isso? Várias razões podem ser expostas. Entretanto, a principal é a falta de vontade política dos
diferentes governos para elaborar políticas linguísticas nacionais correspondentes com a realidade de cada
país. Além da falta de investimentos na área da pesquisa e da educação. O resultado de tudo isso é o risco
de desaparecimento ou extinção de várias línguas africanas nativas e pré-coloniais em detrimento das
línguas coloniais e neocoloniais. Hoje as línguas coloniais continuam se misturando com as línguas
nativas pela própria dinâmica das sociedades modernas. Assistimos, também, ao surgimento de línguas
emergentes como os crioulos3. Raras são exceções de línguas que não se misturem na realidade de hoje.
Para entendermos melhor essa realidade, vamos citar, a seguir, os países africanos e suas respectivas
línguas oficiais. Depois analisaremos a situação linguística de dois desses países: Angola e Gabão.

São línguas oficiais nos países africanos:

O inglês (mais de 20 países): África do sul, *Camarões, *Egito, *Eritréia, *Etiopia, Gambia, Gana,
Quênia, *Lesoto, *Líbia, Libéria, Maláui, Namíbia, Nigéria, Uganda, *Ruanda, Seicheles, Sierra Leoa,
Sudão, Sudão do sul, Suazilândia, *Tanzânia, Zâmbia, Zimbábue, Maurício;

O francês (mais de 20 países): *Argélia, Benin, Burkina faso, Burundi, *Camarões, Comores, Congo,
Congo RDC, Costa do Marfim, Djibuti, Gabão, Guiné (Konakry), Madagascar, Mali, *Marrocos,
Mauritânia, Níger, *Ruanda, Senegal, Chade, Togo, Tunísia, República Centroafricana;

O português (5 países): Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe;

O árabe (3 países) : *Argélia, *Egito, *Líbia, *Eritréia,*Marrocos, *Tunísia

O espanhol: Guiné Equatorial

O suaíli: Tanzânia (único país africano com uma língua oficial africana).

3O Crioulo é uma língua mista ou de contato que mantém sempre a base lexical da língua predominante
na mistura. Por isso fala-se de crioulo de base portuguesa, francesa etc.

4
Línguas africanas e línguas oficiais do continente africano (Breton, 2003).

Porém, muitos países sofrem influências de países vizinhos: é o caso da Guiné Equatorial, único país de
língua espanhola da África, rodeado de países francófonos (falantes da língua francesa). Por uma
necessidade econômica, aderiu à Francophonie4 (Francofonia, em português). É também o caso de
Moçambique que é o único país de língua portuguesa da África oriental banhada pelo Oceano índico.
Rodeado por países de língua inglesa, acabou aderindo ao Commonwealth 5 por uma necessidade
econômica também. Foi uma escolha política, claro. Além da influência dos vizinhos, os países africanos
estão em um mundo globalizado cuja língua mais influente é o inglês. Portanto, não é estranho encontrar
falantes dessa língua em todos os países africanos. Vejamos agora alguns exemplos de diversidade
linguística em dois países africanos: Gabão e Angola.

Diversidade linguística no Gabão

O Gabão é um país localizado na costa ocidental do Oceano Atlântico e na linha do equador. Tem uma
superfície de 266.667km². Tem uma população de 1.500.000 habitantes. Isso se adicionarmos os filhos de

4 Trata-se da organização de países de língua oficial francesa.


5 Trata-se de uma associação de ex-colônias britânicas.

5
estrangeiros nascidos no Gabão. Já que é gabonês quem lá nasce. A República Gabonesa totaliza cerca de
40 línguas. Todas são do grupo banto. Se somarmos línguas e suas variações (dialetos), o Gabão chegará a
uns 61 falares.

(5) PRINCIPAIS LÍNGUAS DO GABÃO (cf. Michel Voltz,1989)

São falares (língua e dialetos) do Gabão:

1.Aiumba 2.Atsi3.Baka 4.Bekuel 5.Benga 6.Ibili 7.Enenga 8.Galua 9.Ebía 10.Ebobe 11.Bongongo
12.Mbaka 13.Pindzi 14.Tsogo 15.Ichira 16.Ivarama 17.Ivungu 18.Ikota 19.Ivili 20.Kandê 21.Latéghé
22.Latsaí 23.Latsitséghé 24.Lekanighí 25.Lembaama 26.Lendambomo 27.Liduma 28.Lindumu 29.Lisigu
30.Liwandzi 31.Mahongue 32.Make 33.Mbangue 34.Metombolo 35.Mpongué. 36.Mvaí 37.Mvesa
38.Ndasa 39.Ngubi 40.Nkele. 41.Nkomi 42.Ntumu 43.Nzamã 44.Okak 45.Orungu 46.Sake 47.Samayi
48.Seki 49.Siwa 50.Tumbidi 51.Ungom 52.Yibongo 53.Yigama 54.Yilumbu 55.Yimuele 56.Yinzebi
57.Yipunu 58.Yirimba 59.Yisangu 60.Yitsengi 61.Yiwumbu.

Entretanto, a língua oficial do Gabão ainda é o francês. Embora tenha recebido sua “independência” da
França em 17 de agosto de 1960. Observa-se ainda uma ausência notória de uma política linguística que
envolva as línguas nacionais e a língua oficial. Poucas tentativas de ensino dessas línguas foram feitas por
colégios católicos, mas não tiveram continuidade. Hoje, a responsabilidade desse ensino é deixada por
conta da iniciativa privada. É o caso da Fundação Raponda Walker que produz materiais de ensino das
línguas nacionais predominantes: Fang, Inzébi, Lembaama, Omyéné e Yipunu. Rapidolangue é o método

6
de aprendizagem rápida dessas línguas nacionais. Os dois primeiros volumes foram publicados em
Libreville6 (Capital do Gabão) o primeiro em 1998 e o segundo volume em 2007. Porém, essas línguas são
estudadas no Departamento de Letras da Universidade Omar Bongo (UOB). São temas de trabalhos de
conclusão de cursos na UOB. De Mestrado e de Doutorado em alguma outra faculdade de letras na França
ou em outro país.

Diversidade linguística em Angola

Angola é um país localizado na costa ocidental do Oceano Atlântico de baixo da linha do equador. Tem
uma superfície de 1.246.700 km². Tem uma população de 13.727. 000 habitantes. A República angolana
totaliza cerca de 10 línguas nacionais. Entretanto, se somarmos línguas apenas as línguas bantas (do grupo
banto) mais faladas e seus dialetos, chegamos a um total de mais de 100 falares.

Mapa dos povos e línguas de Angola (cf.http://www.mappery.com/map-of/Angola-Tribes-Map)

Como entender o mapa acima pelas cores?

6Nome francês que significa literalmente ‘cidade livre’. Segundo a versão oficial, essa cidade foi criada da seguinte maneira: a
marinha francesa, no século XIX, teria interceptado um navio brasileiro chamado Elysia em pleno Oceano Atlântico. Esse
navio estaria carregado de africanos transplantados do Continente e estariam sendo levados para serem escravizados no Brasil.
Portanto, os “bonzinhos” franceses teriam interceptado esse navio e libertados os africanos. Assim, ao voltarem ao continente
teriam criado Libreville para comemorar sua liberdade. Acredite quem quiser. Mas para mim, essa pode ser mais uma história
fabricada pelos colonizadores franceses para embelezar sua imagem diante desta triste História do tráfico negreiro. O mais
impressionante é que encontramos outra cidade cujo nome tem a mesma tradução. Só que, desta vez, em inglês: trata-se de
Freetown, capital da Sierra Leoa (país da África ocidental) que faz fronteira com a Libéria. Vale notar que toda essa história do
tráfico negreiro e as cidades resultantes dela no Continente africano estão ligadas a uma necessidade de liberdade que sentem
todos os povos oprimidos.

7
Cores Línguas
Verde 1.Quicongo

Amarelo 2.Quimbundu

Azul Claro 3.Ovimbundu

Cinza 4.Chokwe

Salmão 5.Ambo

Rouxo 6.Nyaneca-Humbi

Verde claro 7.Ngangela

Amarelo muito claro 8.Oxindonga

Laranja 9.Herero

Vermelho 10.Não bantas

São línguas de Angola:

Nganguela. É falada nas províncias de Bié, Moxico, Cuando-Cubango, Huila e conta mais ou menos 29
variantes ou dialetos: Lwimbi (província de Malanje), Lwimbi, Nganguela, Ambwela, Engonjiero,
NgomieloeMbande (Bié), Lwena, Lwale, Lucaze, Mbunda, Ambwela, Ambwela-Mbande, Kangola,
Yakuma, Luyo, nkoya eKamashi (Moxico), Lucaze, Mbunda, Nganguela, Ambwela, Kamashi, Ndungo,
Nyengo, Nyemba e Aviro (Cuando-Cubango); Nganguela e Nyemba (em Huila).

Kimbundu. É falada nas províncias de Malanje, Kwanza-Norte, Luanda, Bengo e Kwanza-Sul em parte e
conta 22 variantes: Luanda (Luanda), Ambundu, Ntemo e Kisama (Bengo), Hungu, Luangu, Dembu e
Ambundu (Kwanza-Norte), Puna, Jinga ou Ngola, Bando, Mbagala, Holo, Kari, Xinje, Minungu, Songo,
Bambara e Sende (Malanje), Libolu, Kibala e Haku (Norte de Kwanza-Sul).

Umbundu. É falada nas províncias de Bié, Huambo, Kwanza-Sul e Benguela. Conta 17 variantes: Vieno
ou Bieno,Mbalundu, Wambu e Sambu (Bié); Mbalundu, Wambu e Sambu(Huambo); Sele, Sumbi, Pinda,
Mbwi (Kwanza-Sul); Cisanji, Lumbu, Ndombe, Hanya, Nganda, Cikuma (Benguela).

Kikongo. Éfalada nas províncias de Cabinda, Zaire, Uige e Bengo. Conta 14 variantes: Vili, Yombe,
Kakongo, Woyo (em Cabinda), Solongo, Kisikongo (em Zaire), Soso, Kango, Suku, Pombo, Gwenze, Paka
e Koji (em Uige), Zombo (em Bengo).

Além dessas línguas bantas, existem também línguas coissanas. São representadas por alguns ilhéus no
sul do país, nas províncias de Cunene e Quando–Cubango. São elas: Kung!, Kamusekele, Kazama,

8
Kede, Kuissi, Kwepe. Por serem minorias: 2% da população total do país, já estão sendo esquecidas pelos
seus locutores nativos que adotam línguas bantas como o Kwanyama falado em Cunene.

Entretanto, a língua oficial de Angola ainda é o português. Embora tenha conquistado sua independência
derramando sangue contra Portugal, em 11 de novembro de 1975. Depois da conquista da independência,
angolanos iniciaram uma guerra civil que só terminou no início deste século XXI: em 2002, com a queda
de Jonas Savimbi. A respeito das línguas nacionais, observa-se ainda uma ausência notória de uma política
linguística que envolva as línguas nacionais e o português. Poucas tentativas de ensino das línguas
nacionais foram feitas pela iniciativa privada. Mas não tiveram continuidade. Segundo uma reportagem de
ESMAEL e QUIALA (2013), a Aliança francesa que começou o ensino do Kimbundu. Mas teve que parar
por falta de procura. Outro problema encontrado por quem ensina ou quer ensinar, como é o caso do
Centro de Formação de Jornalista (CEFOJOR) e de algumas escolas, é a falta de bons materiais como
aqueles que vemos em boas escolas de idiomas.

Além do mais, muitos angolanos envergonham-se das suas línguas nacionais e preferem falar português.
Segundo Isata Manuel “Há um certo estranhamento que se reflete através da apropriação da língua
portuguesa em detrimento das línguas nacionais, principalmente, da parte dos jovens e em Luanda”. Vale
dizer que essa atitude dos jovens não é específica de Angola. Encontra-se em vários países do continente.
É a consequência do colonialismo e do neocolonialismo reforçado por uma escola estrangeira e
monolíngue.

Dos 54 países, o único país que conseguiu erguer uma língua africana ao nível de língua oficial (língua da
Escola e da Administração), desde 1964, é a Tanzânia. As línguas oficiais da Tanzânia são o Kisuaíli e o
inglês. A adoção dessa língua africana como língua oficial do país partiu de uma vontade política do
Primeiro Presidente tanzaniano: Julius Nyerere que era professor de inglês e de Kissuaíli, língua na qual
conseguiu traduzir clássicos da literatura inglesa. Por exemplo, Othello e Hamlet de William Shakespeare.

Línguas emergentes do continente africano no século XXI

O continente africano vive um grande dinamismo neste século XXI. Assim como se fala de países
emergentes no mundo atual, fala-se também de línguas emergentes (Breton, 2003). Essas línguas
emergem graças ao dinamismo dos seus falantes que a promovem no dia a dia através do continente de
norte a sul e do leste ao oeste. São consideradas línguas emergentes hoje na África, as seguintes:

9
O Suaíli. É falada em Tanzânia, Quênia, Congo RDC, Zâmbia, Moçambique, Maláui, Ruanda, Burundi,
Uganda;

O Árabe. É falada em Argélia, Chade, Egito, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Somália, Sudão, Tunísia;

Os crioulos e/ou pidgins7:

O Suaíli (mistura de línguas bantas com o árabe), Os Crioulos de base portuguesa (Guiné-Bissau, Cabo
Verde, São Tomé e príncipe, Guiné Equatorial), o Sheng (Quênia), Pidgin (Nigéria e Camarões) etc

O lingala: É a língua da música mais ouvida nos bares e nas danceterias da África subsaariana. É falada
em Angola, Congo, República Democrática do Congo (Congo RDC) e até no Gabão.

Ainda assim, restam alguns questionamentos sobre a realidade linguística pós-colonial dos países
africanos. Só para refletirmos. Não se trata de trazermos uma resposta pronta para esses questionamentos.
Aliás, cada um deles já seria tema de trabalhos extensos. Mas só de formular esses questionamentos já
vale a pena.

Questionamentos:

1. Porque a maioria dos países africanos ainda mantem as línguas dos seus colonizadores como línguas
oficiais até hoje?

2. Como a Tanzânia conseguiu erguer o Suaíli, ao nível de língua oficial, ao lado do inglês?

3. Qual língua escolher, como oficial, quando se tem mais de 100 línguas no mesmo país?

Considerações Finais

Vale lembrar que equações do tipo: Portugal fala português, Alemanha fala alemão, França fala francês,
Rússia fala russo não existem na África. A África é o continente da diversidade linguística por excelência:
como vimos, são cerca de 2000 línguas faladas em 54 países. Mas, infelizmente, os jovens africanos na

7 Formas relativamente simplificada de falar que surgiu através do contato, em geral comercial, entre grupos linguísticos
heterogêneos. Quando o Pidgin se torna a língua materna de uma comunidade de fala e passa a ser usado para todos os fins, ele
é chamado crioulo (Furtado da Cunha, 2012). É o caso dos crioulos de Cabo Verde (ilhas), São Tomé & Príncipe (ilhas) e
Guiné-Bissau. Todos são de base portuguesa. Isto é, a sua estrutura, pelo menos lexical, ainda é baseada na língua portuguesa.

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sua maioria, ainda são alfabetizados em línguas estrangeiras e em escolas monolíngues. Para uma solução
duradoura, é preciso elaborar políticas linguísticas nacionais que envolvam tanto as línguas nacionais
(nativas) quanto as línguas oficiais (estrangeiras, em geral). Não se trata de eliminar as línguas
estrangeiras. Pelo contrário, trata-se de incluir as línguas locais no espaço dominado por elas. É preciso
construir escolas que alfabetizem suas crianças nas línguas locais antes delas aprenderem qualquer outra
língua estrangeira. Pois a experiência mostra que a criança alfabetizada na sua língua materna tem mais
sucesso na escola do que a criança que é alfabetizada diretamente na língua estrangeira. Como os jovens
africanos, na sua maioria, são alfabetizados diretamente nas línguas estrangeiras, já que são as únicas
línguas das escolas, isso explica bastante o grande número de insucessos de muitas crianças. Longe de ser
uma fatalidade, o futuro das crianças e das línguas africanas depende dos africanos. A Tanzânia mostrou
que é possível alfabetizar as crianças africanas em uma língua africana desde 1964. O que ainda estão
esperando os outros países? Até quando os governantes continuarão abandonando as línguas africanas?
Seria uma perda tanto para a linguística geral, quanto para a própria humanidade. Pois as línguas africanas
fazem parte do Patrimônio da humanidade e merecem ser preservadas.

REFERÊNCIAS

HEINE Bernd; NURSE, Derek (ed.) African Languages. Cambridge University Press, 2000.

BRETON, Roland. Atlas des langues du monde. Paris. Ed. Autrement, p. 66-67, 2003.

ESMAEL, Pena e QUIALA, Sandra (2013). Falta de interesse ameaça património cultural. In Novo jornal
269 publicado em 15 de março de 2013.

FURTADO DA CUNHA, A. Funcionalismo. In MARTELOTTA, M. E. Manual de linguística. São


Paulo: Contexto, 2012. P. 176.

KUKANDA, Vatomene. Diversidade linguística em África. In: Africana Studia nº3. Porto: Faculdade
de Letras da Universidade do Porto, p.p.101-117, 2000.

KWENZI-MIKALA, J. T. Annexe V: Localisation des parlers du Gabon. In: WALKER, Raponda André.
Les langues du Gabon. Libreville: Editions Raponda Walker, Multipress-Gabon, 1998, p.p.215-216.

11
Mapa das Grandes famílias linguísticas africanas. Disponível em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Nilo-Saharan.png. Acesso em 31 de janeiro de 2014.

Mapa político do continente africano. Disponível em


http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:African_continent-pt.svg. Acesso em 31 de janeiro

de 2014.

MATAILLET, Dominique (2000). Amadou Hampâté Bâ. In Jeune Afrique nº2033-2034, p.174.

VOLTZ, Michel. Carte linguistique du Gabon. In: WALKER, Raponda André. Les langues du Gabon.
Libreville: Editions Raponda Walker, Multipress-Gabon, 1998, p.p.214-216.

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