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Artigo Introdução Desportiva

O documento aborda a evolução do Direito Desportivo no Brasil, destacando sua relação com a história e a legislação do país. Ele é definido como um ramo autônomo do Direito, responsável por regular as relações desportivas através de normas e princípios específicos. A partir de 1988, com a nova Constituição, houve uma transição para a autonomia das entidades desportivas e a promoção do desporto como um direito social.

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Artigo Introdução Desportiva

O documento aborda a evolução do Direito Desportivo no Brasil, destacando sua relação com a história e a legislação do país. Ele é definido como um ramo autônomo do Direito, responsável por regular as relações desportivas através de normas e princípios específicos. A partir de 1988, com a nova Constituição, houve uma transição para a autonomia das entidades desportivas e a promoção do desporto como um direito social.

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DIREITO DESPORTIVO: NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

EULER MÁRCIO LELIS BARBOSA


Pós-graduado em Direito Desportivo e Negócios no Esporte; Auditor da 1ª
Comissão Disciplinar do Tribunal de Justiça Desportiva de Minas Gerais,
modalidade Futebol Americano. Membro da Comissão de Direito Desportivo da
Ordem dos Advogados do Brasil - Subseção de Pouso Alegre - MG. Membro do
Instituto Brasileiro de Direito Desportivo - IBDD. Membro do Instituto Mineiro de
Direito Desportivo - IMDD. Advogado.

O contexto histórico desportivo de uma nação está diretamente ligado a própria


história do homem no que diz respeito a sua evolução. Considerando ainda as mais variadas
interpretações empregadas ao desporto, fato incontestável é seu surgimento de maneira
espontânea, fruto da criatividade humana.
Não raro, os acontecimentos importantes ocorridos e enfrentados pelo país
durante toda a sua história, bem como as relações físicas entre os cidadãos que o habitam,
servem como roteiro para a construção das normas responsáveis pela organização do
desporto.
Há uma estreita relação entre desporto e direito. Isso porque a própria existência
do desporto, bem como sua prática, pressupõe a existência de regras, visto que, seja em uma
simples corrida disputada despretensiosamente, seja em uma competição, requisitos básicos
deverão ser definidos, como distância a ser percorrida, por exemplo.
Nesse sentido, além de regras próprias, os esportes possuem também um Direito
específico, responsável pela sua regulação e manutenção da ordem e bom desenvolvimento.
Trata-se de um ramo do Direito detentor de peculiaridades e traços bastante específicos,
diferenciando-o dos demais, principalmente pelo fato de estar sob a égide de um conjunto
sistematizado de princípios e normas, cuja reunião se dá de forma coordenada e lógica.
Ao mesmo tempo, o Direito Desportivo aglutina institutos e técnicas próprias de
outros setores jurídicos, atravessando de maneira transversal o ordenamento jurídico, sendo
caracterizado também por uma multidisciplinaridade, vez que não raro, irá buscar em outras
disciplinas conceitos que possam lhe auxiliar e aprimorá-lo.
Portanto, podemos definir o Direito Desportivo como o ramo do Direito
responsável por regular as relações desportivas, através de um conjunto de regras e
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instrumentos jurídicos sistematizados estabelecidos para cada modalidade, com o objetivo de


disciplinar os comportamentos exigíveis na prática das competições.
A partir do referido conceito, concluímos pela existência de um ordenamento
jurídico responsável por essa regulação. Como dito alhures, a própria história evolutiva do
homem se mistura com as atividades do corpo humano por ele praticadas, seja para manter
sua existência, seja para seus momentos de lazer. Ademais, em face das mais variadas
interpretações a que se pode emprestar ao desporto, certo é que este surge de maneira
espontânea, corolário lógico da criatividade e comportamento humanos.
Logo, os acontecimentos importantes ocorridos e enfrentados pelo país durante
toda a sua história, bem como as relações físicas entre os cidadãos que o habitam, servem
como enredo e roteiro para a construção das normas responsáveis pela organização do
desporto.
De maneira bem didática, Alexandre Agra Belmonte,1 Ministro do Superior do
Trabalho e autor de obras literárias, divide os períodos de elaboração das leis em três, sendo o
primeiro período de 1932 a 1945; segundo período de 1946 a 1988 e terceiro período a partir
da promulgação da Constituição de 1988.
No primeiro período (1932-1945) o desporto era encardo como educação física,
com o significado de desenvolvimento da raça.2 Sob forte intervenção estatal, com o único
propósito de vigiar as associações, impedindo quaisquer atividades que fossem contrárias à
segurança do país, a legislação desportiva começa a surgir, sendo o reflexo dos ideais
totalitaristas vigente no Brasil à época.
É nesse período, no ano de 1939, que começa a nascer a legislação desportiva
brasileira, com a criação da Escola Nacional de Educação Física (Decreto-Lei n. 1.212), bem
como editado o Decreto-Lei n. 1.056, responsável por apresentar o plano geral de
regulamentação do desporto, por intermédio da Comissão Nacional de Desportos.
Entretanto, somente em 1941 surge uma legislação que regulamente de fato o
esporte no Brasil, principalmente no que tange a sua prática profissional. É o Decreto-Lei n.
3.199, que estabeleceu a primeira lei orgânica do desporto nacional, cuja criação fora
inspirada nas regras oriundas das atividades internacionais e criou o Conselho Nacional do
Desporto.

1
BELMONTE, Alexandre Agra. Organização do desporto, da justiça desportiva e principais aspectos jurídico-
trabalhistas da relação do atleta profissional nos planos individual e coletivo. In: VIEIRA DE MELLO, Luiz
Philipe e CAPUTO BASTOS, Guilherme Augusto (Org. e Coord.). Direito do trabalho desportivo: os aspectos
da Lei Pelé frente às alterações da Lei 12.395/2011. São Paulo: LTR, 2013, p. 33-65.
2
VEIGA, Maurício Figueiredo Corrêa da. Manual de direito do trabalho desportivo. 2. Ed. São Paulo: LTR,
2017, p. 44.
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Cumpre salientar que à época, o Brasil vivenciava a ditadura do Estado Novo, o


que nos leva à intenção dos governantes de propagar ao máximo o patriotismo do cidadão
brasileiro. Assim, em face da necessidade de demonstração da concepção fascista existente
nesta década, tem-se que referido Decreto, como dito alhures, era eminentemente patriótico,
sendo o desporto um ato de identidade nacional e integração social.
Através da adoção de medidas de proteção, as atividades exercidas pelas
associações esportivas possuíam caráter cívico, sendo vedada a obtenção de lucro e a
manifestação do esporte de natureza profissional, impondo-se a atenção aos desportos
amadores.
Em que pese o reconhecimento do esporte como patrimônio nacional, o
reconhecimento das relações esportivas existentes era subordinado ao Estado, devendo seu
crescimento atender aos preceitos normativos do Decreto. Tanto é assim, que até mesmo as
expressões estrangeiras deveriam ser traduzidas, tamanho o sentimento nacionalista que
existia.
No segundo período (1946 a 1988), ainda sob forte intervenção estatal e com um
grande anseio pela regulamentação do desporto, foram editadas diversas leis e decretos,
destacando-se o Decreto n. 51.008/1961, responsável por estabelecer o horário de prática das
competições esportivas, bem como disciplinar o intervalo a ser observado pelos atletas
praticantes. Notadamente, trata-se de uma regulamentação importante, principalmente no que
tange ao Direito do Trabalho Desportivo.
Não obstante, foram editadas normas que estabeleceram o registro das entidades e
associações desportivas (Decreto-Lei n. 8.458/1946), os critérios para a profissionalização do
atleta de futebol, bem como sua participação no valor de venda de seu passe (Decreto-Lei n.
53.820/1964), entre outras.
Tais regulamentações serviram como instrumento e base do esporte brasileiro por
aproximadamente 40 (quarenta) anos, até outubro de 1975, quando foi criada a Lei n. 6.251,
que outorgou à União a competência para legislar sobre as normas gerais do desporto,
atribuindo ainda ao Conselho Nacional de Desportos, criado em 1941, as funções legislativas,
executivas e judicantes.
Ou seja, concentrava-se em um só órgão, todas as funções inerentes às matérias
desportivas. Segundo Álvaro Melo Filho,3 “a Lei 6.251 condensava no CND funções
legislativas, executivas e judicantes, tornando-o o órgão que fazia a norma, exercia atos de

3
MELO FILHO, Álvaro. Lei Pelé: comentários à Lei 9.615/1998. Brasília: Livraria e Editora Brasília Jurídica,
1998, p. 30.
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fiscalização e controle, e julgava matérias desportivas, reunindo em um só órgão todas as


funções entregues na República Federativa do Brasil a três poderes distintos e
inconfundíveis”.
É nítida, portanto, a continuação da intervenção estatal no tocante à organização
do esporte. Carlos Miguel Castex Aidar4 explica que não era dado aos clubes de futebol a
possibilidade de se organizarem da maneira que lhes conviesse, de acordo com suas
necessidades, sendo todos obrigados a se organizarem da mesma maneira, possuindo a mesma
quantidade de sócios, por exemplo, sendo praticamente impossível a organização de maneira
livre.
Outro marco importante no período ora em comento é a criação da Lei n.
6.354/1976, que estabeleceu as relações entre jogadores e entidades desportivas,
posteriormente revogada pela Lei n. 12.395/2011.
Com relação ao terceiro período (a partir de 1988), temos a prevalência da
iniciativa privada em detrimento do controle Estatal, marcando assim uma nova fase para o
Direito Desportivo Brasileiro. O Desporto passa a ser tratado como um Direito Social e
fundamental.
Enquanto no período compreendido entre 1946 a 1988 foram editados 431
normativos do Conselho Nacional de Desportos, que serviram como forma de intervenção do
Estado no Desporto, em 1990, através da Resolução n. 3/1990, 400 destes atos foram
revogados, marcando, portanto, o desaparecimento do controle Estatal.
Através da Constituição Federal de 1988, o Desporto passa a ter um patamar de
educação e cultura, consubstanciada na busca de uma sociedade desenvolvida. O Art. 217
estabelece:

Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais,


como direito de cada um, observados:
I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua
organização e funcionamento;
II - a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto
educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento;
III - o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não- profissional;
IV - a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional.
§ 1º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições
desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei.
§ 2º A justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias, contados da
instauração do processo, para proferir decisão final.
§ 3º O Poder Público incentivará o lazer, como forma de promoção social.

4
AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. Campinas: Editora Jurídica, 2000, p. 18.
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Assim, rompe-se com a intervenção Estatal, conferindo autonomia às entidades


desportivas e associações, quanto a sua organização e funcionamento. Passa a ser papel do
Estado o fomento da prática desportiva, seja ela formal, mediante as normas
regulamentadoras, seja ela não formal, evidenciada pela prática lúdica das diferentes
modalidades.
Como se observa, longo foi o caminho para que o ordenamento jurídico
concernente ao Direito Desportivo se tornasse o que é hoje. Identifica-se, portanto, uma
estrutura complexa, razão pela qual as instituições, institutos e elementos capazes de produzir
normas ou diretrizes jurídicas a serem aplicadas, deverão ser entendidas como fontes do
Direito Desportivo.
Ou seja, é o meio pelo qual as normas jurídicas se exteriorizam, tornam-se
conhecidas. É o meio de expressão do Direito. No tocante ao Direito Desportivo, estas são a
Constituição Federal de 1988, a Lei 9.6198 (Lei Pelé), Lei 10.671/2003 (Estatuto do
Torcedor), CBJD, Regulamentos Federativos Nacionais e Internacionais, Jurisprudência e
Doutrina.
Não obstante, tratando o Direito Desportivo de ramo autônomo, apesar de sua
multidisciplinaridade, encontramos ainda a existência de princípios próprios inerentes a este
ramo do Direito. Estes podem ser divididos entre originários (Jogo Limpo, Tipicidade
Desportiva, Igualdade e Prevalência, continuidade e estabilidade das competições) e
derivados, estando estes no artigo 217 da Constituição Federal e no artigo 2º da Lei Pelé.
Além disso, tendo sido falado anteriormente a respeito das fontes do Direito
Desportivo, consubstanciadas pela existência de regras desportivas aplicadas à disciplina e às
competições desportivas, não podemos olvidar da Justiça Desportiva, prevista na CF/88 e na
Lei Pelé, cuja organização, funcionamento e atribuições são regulados pelo CBJD (Código
Brasileiro de Justiça Desportiva).
Quanto a sua competência, mister esclarecer que esta somente admitirá ações
referentes à competição e disciplina desportiva. Segundo Paulo Marcos Schmitt, trata-se do
conjunto de instâncias desportivas autônomas e independentes, considerados órgãos
judicantes, que funcionam junto a entidades dotadas de personalidade jurídica de direito
público ou privado, com atribuições de dirimir os conflitos de natureza desportiva e de
competência limitada ao processo e julgamento de infrações disciplinares em rito sumário ou
procedimentos especiais definidos em códigos desportivos.5

5
SCHMITT, Paulo Marcos. Direito & justiça desportiva. Apud ROSIGNOLI, Mariana; RODRIGUES, Sérgio
Santos. Manual de Direito Desportivo, 2 ed. São Paulo: Editora LTR, s/a.
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Pois bem, até aqui, vimos a evolução do ordenamento jurídico desportivo,


constatamos a existência de fontes e princípios inerentes ao Direito Desportivo, bem como a
de uma Justiça Desportiva responsável pela manutenção da ordem mediante a aplicação das
regras existentes. Mas seria o Direito Desportivo uma disciplina autônoma?
Para responder a esse questionamento, é necessário identificar a existência de
alguns requisitos. Segundo Rafael Terreiro Fachada, estes seriam: a existência de uma
relevância social, princípios próprios, categorias homogêneas, autonomia legislativa e
autonomia didático-científica.
Como observado anteriormente, é de fácil percepção que todos estes requisitos se
encontram presentes no Direito Desportivo. Logo, pode-se afirmar que se trata de uma
disciplina autônoma. Tanto é verdade, que em dezembro de 2018, o Ministério da Educação
homologou parecer do Conselho Nacional de Educação, facultando às Instituições de Ensino a
inserir no projeto pedagógico do curso de Direito a matéria Direito Desportivo.
Portanto, em que pese o longo caminho percorrido até aqui, e inegável que a
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a partir de sua vigência, inovou a
ordem constitucional existente, na medida em que atribuiu autonomia à Justiça Desportiva
para solucionar os litígios responsáveis por influenciar diretamente o campo esportivo, como
infrações às regras do jogo, à disciplina e à organização do desporto.
Nesse sentido, insta salientar que se trata o Direito Desportivo de um ramo
autônomo, servindo este como valioso instrumento para o desenvolvimento e manutenção do
desporto em suas variadas manifestações. É, portanto, essencial sua constante evolução para
fins de manter organizado o esporte.
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