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Linsey Stevens - Amor Ou Pecado (Julia 0253

Bree, uma jovem de dezenove anos, se vê atraída por Heath Vaugh, um homem mais velho e sogro de sua irmã, enquanto lida com as complicações de sua vida, incluindo a responsabilidade de cuidar de seu sobrinho Ben. A história explora a tensão entre desejo e moralidade, enquanto Bree reflete sobre sua situação e as escolhas que a levaram a se reencontrar com sua família. O romance se desenrola em meio a questões de amor, pecado e a busca por um futuro melhor.
Direitos autorais
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Linsey Stevens - Amor Ou Pecado (Julia 0253

Bree, uma jovem de dezenove anos, se vê atraída por Heath Vaugh, um homem mais velho e sogro de sua irmã, enquanto lida com as complicações de sua vida, incluindo a responsabilidade de cuidar de seu sobrinho Ben. A história explora a tensão entre desejo e moralidade, enquanto Bree reflete sobre sua situação e as escolhas que a levaram a se reencontrar com sua família. O romance se desenrola em meio a questões de amor, pecado e a busca por um futuro melhor.
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Forbidden Wine

Linsey Stevens

“Ele tem idade para ser meu pai”, Bree repetia para si mesma, cada vez que sentia
os olhos incrivelmente azuis de Heath Vaugh queimando-a como se fossem duas brasas.
Heath tinha dezenove anos a mais do que ela, era o sogro de sua irmã e, como se isso
não bastasse, vivia cercado de mulheres experientes. Perto delas, Bree reconhecia que
não possuía a menor chance de conquistar o coração de Heath. Mas quando ficava
sozinha com ele e começavam a trocar carinhos loucos, tudo isso perdia a importância.
Não havia mais o obstáculo da idade, da experiência ou do parentesco a separá-los.
Havia apenas aquela chama ardente, aquela paixão louca, com o perigoso sabor de...
Seria pecado?

Digitalização e Revisão: Fabiane


Formatação: Deda Dantas
Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens

Leitura - a maneira mais econômica de cultura, lazer e diversão.

LIVROS ABRIL

Romances com Coração

Caixa Postal 2372 - São Paulo

Copyright: Lynsey Stevens

Título original: “Forbidden Wine”

Publicado originalmente em 1983 pela MilIs & Boon Ltd., Londres, Inglaterra

Tradução: Esther Motta Corrêa

Copyright para a língua portuguesa: 1984

Abril S.A: Cultural - São Paulo

Esta obra foi integralmente composta e impressa na Divisão Gráfica da Editora Abril
S.A.

Foto da capa: R.J.B. Photo Library

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens

CAPÍTULO I

Bree virou um pouquinho a cabeça e observou as feições perfeitas do homem


sentado ao seu lado no avião. Baixou os olhos, deixando que seus longos cílios
escondessem a intenção de estudá-lo melhor. Ele parecia dormir, pelo menos seu corpo
estava relaxado e o rosto severo tinha se suavizado. Era a primeira vez, nestas vinte e
quatro horas em que o conhecia, que ela se sentia com coragem para examinar cada
detalhe daquela potência masculina. Ele era o homem mais atraente que tinha visto em
sua vida, disso ela estava absolutamente certa.
O cabelo escuro, levemente ondulado, tinha fios grisalhos nas têmporas. Era longo o
suficiente para apenas tocar no colarinho. Sua testa era larga, expressando inteligência e
forte caráter. As sobrancelhas escuras e bem definidas eram arqueadas acima dos olhos,
do mais incrível e vívido azul; tão azul como o oceano Pacífico banhado pelo sol. O nariz
reto e as profundas marcas nos lados da boca acentuavam a linha forte de seu queixo.
Uma expressão de aço revelava sua personalidade inflexível. Embora o conhecesse tão
pouco, Bree sabia que ninguém se punha no caminho daquele homem impunemente.
Sem saber por que, ela sentiu um desejo quase irresistível de esticar o braço e
passar os dedos por aquele rosto, e ao pensar nisso as batidas de seu coração
começaram a se acelerar. Mas essa seria uma atitude tola e tão fora de sua
personalidade, que ela logo se criticou severamente por imaginar tal coisa. A autocensura
não impediu que seus olhos se detivessem sobre os lábios dele. Firmes e retos, com o
lábio inferior mais cheio, revelavam a profunda sensualidade que era confirmada pelo seu
corpo viril.
Aquela boca parecia tão orgulhosamente masculina, que Bree sentiu um repentino
desejo de ser beijada por ela. Mordeu o lábio inferior, procurando conter seu desejo.
Sentindo que corava, tentou retomar o controle, voltando a analisar seu companheiro de
viagem. Certamente, ele tinha acima de um metro e oitenta de altura. Era bem mais alto
do que ela, que estava longe de ser baixa. Os ombros largos, vestiam perfeitamente o
caro paletó, que não escondia os músculos de seus braços, nem o peito forte e quadris
estreitos. Pelo jeito, ele se mantinha em muito boa forma para os seus trinta e sete anos.
Bree engoliu em seco, irritada consigo mesma por ficar pensando nessas coisas, e
desviou os olhos, fitando o teto do avião. Nesse momento, ele se mexeu e ela virou o
rosto para a janela. O vidro mostrou seu próprio reflexo, a face pálida, o nariz pequeno e
um queixo firme. Os olhos pareciam grandes demais, e eram de um raro tom de cinza,
emoldurado por cílios e sobrancelhas mais escuras do que o tom claro de seus cabelos.
Estes eram longos, lisos e caíam sobre os ombros como uma cortina brilhante.
Quando ela se moveu, a criança que estava em seus braços se remexeu, esticando
as perninhas gordas e movimentando as mãozinhas. Mas logo se ajeitou melhor no colo
de Bree e sossegou. Ela olhou para o bebê, mais uma vez procurando alguma
semelhança com o homem ao seu lado, mas não encontrou nenhuma. O garotinho era
simplesmente ele mesmo, embora a cor de sua pele e dos cabelos fossem como a dela.
Ainda agora, Bree mal podia acreditar na mudança incrível que tinha acontecido em sua
vida nas últimas semanas. Se não fosse aquela criança em seus braços, até pensaria em
alucinação ou algum sonho louco e inexplicável. Seus olhos desanimados se voltaram
para o bebê e a vontade de protegê-lo e de cuidar dele se apossou novamente dela: esta

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
linda criança que inocentemente era parte do homem ao seu lado e parte dela mesma.
Deus sabia que Ben não havia pedido para nascer. Mas ali estava ele, aos sete
meses de idade, tão sadio quanto um bebê ideal pode ser, apesar de tudo o que tinha
passado. Bree apertou os olhos, não querendo lembrar o quanto aquela criança fora
negligenciada nos últimos meses.
Tinha sido bem alimentado sim, mas ela suspeitava de que isso era mais para
mantê-lo quieto. Como eles podiam ter agido assim com um pequeno e indefeso bebê?
Bree se perguntou de novo. Como podiam duas pessoas adultas, simplesmente fugirem
de sua responsabilidade e abandonarem uma criança à própria sorte? Era imperdoável!
Seus pensamentos voaram para três semanas atrás e ela lembrou-se do momento em
que recebeu a carta, que na hora pareceu tão oportuna, mas que depois desencadeou a
série de acontecimentos que a trouxeram até esse avião, com o bebê no colo e homem
mais atraente do mundo do seu lado.
Bree viu a carta assim que chegou na casa velha que dividia com três outras moças,
num dia em que sentia-se na mais profunda depressão. Ultimamente tudo vinha dando
errado em sua vida, pensava, olhando com desgosto as paredes descascadas e o chão
sujo da varanda. Colocou a bolsa sobre a mesinha de cabeceira, e se jogou cansada
sobre a velha cama de solteiro, fechando os olhos para tentar fugir da visão miserável
daquele quarto. O que ia fazer?, perguntava a si mesma pela centésima vez. Tudo de
ruim acontecia na sua vida de repente. Como tinha conseguido atravessar a última noite e
aquele dia, ela nunca saberia. Por dentro dela havia somente desespero. Seu estômago
doía e não conseguia engolir nada para comer.
Como ia se arranjar sem emprego? Havia uma recessão a caminho, dissera o
gerente da fábrica onde ela trabalhava a três meses, desde que voltara para Bunderberg,
a cidade da Austrália onde viveu parte de sua infância. Ela detestava o cansativo e
repetitivo trabalho que executava, mas pelo menos era um emprego. Agora, tinha sido
despedida junto com doze colegas, por uma medida de economia para a fábrica. Isso
significava que teria de competir com uma dúzia de outras mulheres na procura de
emprego, onde já não havia oferta de trabalho. A base da economia de Bunderberg era o
açúcar e a situação flutuava muito, dependendo dos preços no mercado mundial.
Além de perder o emprego, tudo parecia estar contra ela. Quando chegou em casa,
naquela noite, suas companheiras avisaram que tinham decidido desistir da
casa. .Estavam se mudando para um outro lugar, com alguns colegas. Ficaria bem mais
barato e perto da cidade. Claro que Bree podia ir também, se quisesse. Isto é, se
estivesse disposta a se tornar amante do irmão do “amiguinho” de Jane. Ele era um bom
rapaz, elas disseram, muito esperto e bonitão, e tinha carro. Além disso, havia gostado
dela. Bree sentiu um frio na espinha só de lembrar daquele homem de mãos suadas e
boca molhada. Se fosse outra, talvez pensasse no assunto, mas ela não conseguia se
imaginar dividindo seu corpo com alguém que mal conhecia. Nem mesmo precisando ter
um lugar para viver, concluiu amargurada.
Uma coisa era certa: não tinha como pagar o aluguel da casa sozinha. Além disso,
suas parcas economias não dariam também para pagar o aluguel de outro apartamento,
nem que fosse mais barato. Talvez ela pudesse encontrar outras moças para dividir a
casa, quem sabe?
Desanimada, olhou em volta, para o cinza das paredes do quarto, a pequena
cômoda e o armário capenga que guardava tudo que possuía. A verdade é que, aos
dezoito, quase dezenove anos de vida, tinha conseguido pouca coisa, ela pensou
tristemente. Apenas algumas roupas baratas, uns livros, um violão estragado e um
velhíssimo e barulhento automóvel. Bree Ransome, que grande sucesso você é!, zombou

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
de si mesma e enxugou as lágrimas que enchiam seus olhos. A autopiedade não ia ajudar
em nada, pensou, desanimada.
Decidiu tomar um banho antes que as colegas chegassem e fazer um pouco de chá.
As coisas iam melhorar depois disso, disse a.si mesma sem, grande convicção. Levantou-
se decidida, e foi então que viu o envelope branco na mesa de cabeceira. Reconheceu
imediatamente a letra quase infantil de Briony e agarrou o envelope, abrindo-o com
ansiedade. Jane devia tê-lo colocado ali, antes de sair para trabalhar. E ela não tinha
visto, sentada tão perto!
Bree tentou decifrar os garranchos da irmã que, pelo jeito, tinha escrito às pressas.
Quando começou a entender o significado da carta, em que Briony implorava ajuda,
afundou novamente na cama. Briony contava que seus últimos três meses tinham sido um
inferno. Ela não podia suportar mais nada. Estava sempre brigando com Reece, que
ameaçava o tempo todo deixá-la. Um dia, descontrolada, ela havia até batido no bebê e
ficava aterrorizada com a ideia de que pudesse fazer algo ainda pior. Bree podia voltar
para ajudá-la? Ela estava com medo de enlouquecer.
A carta terminava com uma observação: Max Turner tinha ido embora. Reece o
expulsou, quando ele deixou de pagar sua parte no aluguel. Isto é, não havia nada para
impedir a volta de Bree. Bree leu e releu a carta com o coração apertado. Uma das razões
que a levaram a se separar da irmã tinha sido para que Briony e Reece assumissem suas
responsabilidades, pois ambos viviam como se o filho não existisse, deixando-o aos
cuidados de Bree. Além disso, as indesejáveis atenções de Max Turner só precipitaram
sua decisão de ir embora. Mas ela não ia voltar agora. Briony que aprendesse a enfrentar
a realidade sozinha.
Mas e Ben, seu pequeno sobrinho? Seu coração se contraía quando lembrava dele.
Será que podia simplesmente ignorar a carta de Briony e ficar lá sem fazer nada por
aquela criança, de quem havia cuidado desde que nasceu? Será que conseguiria não se
importar com a única família que tinha no mundo? Deixar Briony e Ben três meses atrás
fora uma verdadeira agonia. Entretanto, a situação estava intolerável e ela teve que dar
um basta. Olhando para a carta ela suspirou, lembrando daquele corpinho pequeno
cheirando a talco, aconchegado em seus braços. Sentiu então que precisava voltar para
lá. E pensar que Briony tinha batido nele! Além disso, não havia nada ali para retê-la.
Nem emprego, e agora nem um lugar para morar.
Na terça-feira seguinte, lá estava ela sentada em seu velho carrinho, rezando para
que ele aguentasse percorrer a distância até Sidnei. Escrevera a Briony, avisando que
voltaria e teria chegado mais cedo se não fosse um problema com o carro. Quando houve
o contratempo, estava próxima da cidade, mas, até achar um telefone e chamar um
mecânico, várias horas se passaram.
Eram quase três da tarde quando ela entrou na estreita rua suburbana de Sidnei,
onde Reece e Briony alugavam um velho apartamento. Quando parou em frente e pegou
sua mala e o violão, deu antes uma olhada para cima, para a pintura descascada das
paredes, e suspirou desanimada. O prédio parecia mais em ruínas do que há alguns
meses. Desviando o olhar, começou a subir os três lances de escada e franziu o nariz ao
sentir aquele cheiro familiar de comida, mofo, umidade e sujeira. Parou no último degrau e
sua maleta caiu no chão empoeirado, o ruído ecoando no corredor mal iluminado.
O apartamento de Reece e Briony era no fundo. Quando Bree se deteve, a porta do
outro lado se abriu e ela continuou parada, assustada.
- Bem! Já era hora de voltar para casa, menina! - resmungou a mulher de idade
incerta, com seu brilhante cabelo vermelho cheio de rolinhos. - Que diabo! Esse garoto
chorou o dia todo! Você não tem o direito de nos obrigar a ficar ouvindo seus berros por

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
horas a fio. Ouça aqui você e esse vagabundo com quem vive: da próxima vez vou
chamar o Juizado de Menores. Vão ver só se não vou! Saindo por aí sem hora para
voltar, tendo uma criança para cuidar!
A porta bateu antes que Bree pudesse responder alguma coisa ou mesmo começar
a entender sobre o que a mulher falava. Carregou sua mala e seu violão pelo corredor
estreito e escuro. Pelo jeito, a mulher a tinha confundido com Briony. Não era a primeira
vez. Elas podiam até passar por gêmeas, embora os cabelos longos de Bree fossem mais
claros que os de sua irmã mais nova.
Chegando à porta, Bree colocou sua mala no chão e bateu. Não houve resposta e
então bateu de novo, desta vez mais forte. Ninguém respondeu e ela teve vontade de
sentar no chão e chorar de desânimo. Os dois deviam ter deixado algum bilhete. Pegou o
trinco, virou-o facilmente e a porta abriu.
- Briony? Reece? - Bree deu um passo para dentro.
A mobília estava como ela se lembrava. O sofá desbotado e quebrado, as duas
poltronas de plástico de cores berrantes e o escuro tapete, sujo e, rasgado em alguns
lugares. A pequena cozinha e a mesa de refeição ficavam no canto e as portas de ambos
os quartos estavam abertas. Quando Bree parou indecisa no meio da sala, ouviu um som
vindo do quarto que ela ocupava quando morava ali.
- Briony? - chamou de novo, mais alto, e sua voz ecoou no vazio.
Então o som se repetiu, como um leve soluço. Bree entrou pelo quarto como um
raio, largando a mala e o violão no chão. O berço estava desfeito e as cortinas sujas e
desbotadas balançavam quando o vento passava por ela, pela janela parcialmente aberta.
Seus olhos foram se acostumando com a semi-obscuridade e viu a cama desarrumada e
depois o chão. Suas pernas tremeram e sua garganta se fechou com o grito que cresceu
dentro dela, quando olhou para baixo e viu seu sobrinho no assoalho sujo.
A princípio, temeu pelo pior. Ben estava lá, deitado, tão quieto, sobre o cobertor
dobrado! Mas logo ela respirou aliviada, pois viu seu bracinho mexendo e em seguida
ouviu um resmungo rouco. Suas pálpebras estavam vermelhas e inchadas de tanto
chorar, e os olhos arregalados no rostinho cansado.
- Oh, Ben... Ben! - Bree, chocada, balbuciava, as lágrimas de alívio e desespero
correndo pelo seu rosto. Ela o apanhou nos braços e apertou-o convulsivamente contra o
peito, falando baixinho com ele, mas sentindo uma dor aguda atravessá-la. Como eles
tinham podido fazer isso?
Mas não havia tempo para perguntas, e também ninguém para respondê-las. O
bebê estava sujo e com as fraldas molhadas. Então ela rapidamente banhou-o e trocou
sua roupa, aplicou um creme na pele maltratada, enquanto aquecia sua mamadeira. Em
seguida alimentou-o devagarinho ninando-o carinhosamente, até que Ben caísse no sono.
Um pouco relutante, ajeitou-o na cama de solteiro, cercando-o de travesseiros. Ficou
olhando para ele, com o coração transbordando de carinho e uma dor queimando dentro
dela.
Como sua própria mãe pudera deixá-lo em tal estado? Certamente Briony não havia
feito isso de propósito. Talvez ela e Reece tivessem sofrido um acidente ou... Mas o fato
era que eles o tinham deixado ali, sozinho no apartamento, e isso era imperdoável! A
tensão da viagem e de tudo o mais fazia sua cabeça doer e Bree foi para a cozinha.
Talvez uma xícara de chá pudesse ajudá-la a se recuperar. Seguiu para o pequeno fogão,
acendendo-o. Foi só então que ela viu o bilhete pregado na parede. Estava tão
concentrada em cuidar do bebê que nem notara o papel ali antes.
Mal acabou de ler, o papel caiu de suas mãos nervosas. Não... isso não podia ser!
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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
Ela devia estar sonhando. Briony não devia... Ela não podia acreditar nisso vindo de sua
própria irmã. Briony não podia ter escrito aquele bilhete. Certamente como mãe de Ben
ela...
As suposições sobre o que poderia ter acontecido se não chegasse a tempo se
misturavam em sua cabeça, enquanto ela pensava na atitude da irmã, que nunca quis
Ben, e teria feito um aborto se ela, Bree, não a convencesse do contrário. Tremendo, ela
tornou a pegar o bilhete e sentou em uma poltrona, enquanto seus olhos reliam as
palavras da irmã:
“Querida Bree, sinto muito jogar tudo isso em seu colo, mas é a única pessoa para
quem posso apelar sabendo como se sente em relação a Ben. Sei que você iria odiar se
eu o deixasse para outra pessoa. Por favor, não me julgue tão duramente, você sabe que
eu nunca quis essa criança e entenda que Reece é tudo para mim. As coisas têm andado
mal entre nós desde que eu soube que estava grávida, e ter o bebê só piorou tudo. Esse
nojento apartamento, maternidade e ficar brincando de dona-de-casa não são para mim.
Eu tentei, Bree, realmente tentei. Mas não funcionou”.
“Reece recebeu uma oferta de trabalho com um novo conjunto que está se
formando. Você sabe que guitarrista fantástico ele é, e o grupo está ansioso para tê-lo
junto. Depois de algumas apresentações no interior, eles têm propostas para shows nas
ilhas do norte. É uma grande chance. Não haverá condições para o bebê continuar
conosco, sei que nenhum de nós aguentaria isso”.
“Eu sei que se preocupa com Ben mais do que eu. De qualquer modo, acho que ele
vai ficar melhor com você do que com a mãe. Por favor, não me odeie por isto, mas
Reece iria embora sem mim. Não vou pedir que cuide de Ben porque sei que vai cuidar.
Briony”.
Bree encostou-se contra o assento e fechou os olhos, com uma repentina dor no
corpo todo. Olhou o relógio e, surpresa, viu que já estava ali há duas horas. Duas horas
desde que tinha entrado pronta para rever sua irmã. Levantou-se devagar e foi até o
quarto ver se o bebê estava bem. Seus olhos se encheram de lágrimas quando olhou
para ele, lembrando o momento em que o tinha encontrado, sozinho, faminto, sujo e
ensopado, totalmente exausto de tanto chorar, com o rostinho congestionado e molhado.
Quem podia dizer quanto tempo Ben havia ficado ali? Briony e Reece deviam ter saído
bem cedo. O que aconteceria se ela não tivesse chegado naquele dia? Bree estremeceu
com esse pensamento.
Deitando nos pés da cama, puxou um velho cobertor sobre o corpo, pois o cansaço
e o choque de encontrar Ben sozinho a tinham esgotado. Sem sentir, caiu no sono ao
lado do bebê e só acordou na manhã seguinte, quando ele chorou de fome.
Os dias voaram, dias completamente preenchidos, não lhe dando tempo para
pensar muito. Tomar conta do bebê e procurar desesperada e inutilmente um novo
trabalho, a deixavam cada vez mais magra e exausta. Boa parte de suas economias tinha
ido para o aluguel, inclusive o mês que Reece e Briony deixaram de pagar. E em menos
de duas semanas ela precisaria arranjar dinheiro para o próximo aluguel!
No dia anterior, já havia penhorado seu violão e naquela tarde vendeu seu carro.
Vendeu não, ela praticamente o deu. O comprador alegou que o carro estava com muitos
problemas e acabou pagando muito menos do que valia. Mas Bree precisava do dinheiro
para se aguentar até que pudesse receber seu seguro-desemprego ou encontrar um
trabalho que lhe permitisse também tomar conta de Ben. Emprego já estava difícil, quanto
mais um que a deixasse com uma parte do dia livre.
No princípio ela esperou receber notícias de Briony, mas, quando os dias foram

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
passando, começou a perceber que sua irmã não tinha a mínima intenção de voltar ou
entrar em contato com ela. Briony simplesmente parecia ter cortado definitivamente seus
laços com ela.
Seu consolo era que Ben estava com uma aparência bem melhor. Seu corpinho
tinha começado a arredondar e seus olhos brilhantes, da mesma cor dos dela e de Briony,
a seguiam confiantes pelo apartamento. Seu sorriso exibia quatro dentinhos perfeitos,
enchendo-a de tanto amor que até doía. Antes tivera apenas Briony, sua irmã mais moça
para amar, cuidar e proteger. Mas Briony muito cedo cortou tais laços, mostrando a Bree
que ela não tinha a menor intenção de ser dependente de ninguém, nem mesmo da irmã.
O bebê era diferente. Dependia dela e aceitava sua amorosa atenção sem reserva
alguma. O amor que ela sentia por Ben era também carregado de um certo sentimento de
culpa. Afinal, se não tivesse impedido, sua irmã teria interrompido a gestação e Ben
nunca teria nascido. Bree não tinha idéias radicais contra ou a favor do aborto, mas
também não tinha se perguntado se Briony estava pronta para a maternidade e se Reece
estava preparado para aceitar a responsabilidade de um filho. Havia pensado no bebê
apenas como parte da carne e do sangue de uma família que ela e Briony nunca tinham
tido.
Bree não se lembrava de seus pais, tinha apenas uma vaga lembrança, pois estava
com cinco anos e Briony quatro, quando foram colocadas no serviço de Crianças do
Estado. O restante de sua infância havia se, passado em lares de adoção, casas de
família onde ficaram temporariamente, até que Bree atingiu idade suficiente para ganhar
sua própria vida.
Quando Briony engravidou, ela achava apenas que não devia deixar a irmã desistir
de seu filho e, curiosamente, Briony a tinha ouvido, decidindo levar adiante a gravidez,
mesmo vendo que Reece estava totalmente indiferente à sua decisão. Agora, pensando
melhor, Bree achava que errara ao tentar fazer, com que sua irmã, então com dezesseis
anos, sentisse uma emoção que evidentemente ela não sentia, vivendo uma experiência
para a qual era jovem e imatura demais para poder enfrentar.
Quando ajeitou Ben em sua cama, Bree passou a mão suavemente sobre seus
cabelinhos finos e macios, e, silenciosamente, prometeu a si mesma fazer o melhor que
pudesse por ele.
Mais tarde, à noite, estava sentada costurando seu jeans velho e rasgado, tentando
manter longe dos pensamentos seus problemas de dinheiro, quando ouviu uma batida na
porta. Isso tinha acontecido a noite passada ou anteontem?, ela se perguntava incrédula,
agora, dentro do avião que passava sobre a costa de New Souty Wales em seu roteiro
para, noroeste. De algum modo, aquela noite parecia fazer parte de outra ida, em outro
tempo.
Lembrava-se que era razoavelmente cedo, talvez menos de oito horas, quando a
batida na porta assustou-a e ela logo pensou em Briony. É claro que agora percebia que
fora uma grande loucura abrir sem perguntar quem era, mas tinha certeza de que era a
irmã. Com um empurrão, aquele homem entrou, antes que Bree tivesse tempo para
pensar, e fechou a porta atrás de si. Seus olhos estreitos olhavam ironicamente para ela e
seu sangue gelou ao vê-lo. Era a última pessoa que ela esperava ver, a última que queria
ver.
- Alô, boneca. Como vai essa garotinha frígida? - Ele sorria da própria piada, e um
tremor de medo passou pela espinha de Bree. Max Tumer tinha sido um amigo de Reece,
embora a única coisa que eles pareciam ter em comum era o fato de ambos gostarem de
motos.

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
A aparência de Max era horrível. Tinha pele grossa, cabelos grudentos e
indescritíveis dentes escuros e estragados. Bree sempre o achara repulsivo. Quando ele
foi expulso do quarto onde morava, Reece o havia deixado dormir no sofá da sala, até
que achasse um outro lugar. Só que Max acabou ficando apesar de nem Briony gostar
dele.
Seus olhos pareciam estar permanentemente grudados em Bree, como se a
despisse mentalmente, e suas indiretas e insistentes tentativas de tocá-la tinham sido a
gota d'água na decisão de ela sair dali. Um dia ele tentou puxá-la para si, aproveitando
que estavam sozinhos. E não foi fácil livrar-se dele! Bree havia pedido para que Reece
falasse com ele, mas não adiantou. Reece andava agressivo e com raiva de Briony, não
tinha intenção fazer nada por sua irmã. Então Bree percebeu que precisava ir embora
antes que Max se tomasse mais perigoso.
Agora, ele estava na frente dela, com os olhos fixos nos seus seios sob a camiseta
de algodão, depois descendo para suas pernas vestida em um velho short. Ele a enojava
ainda mais do que antes. Sua calça estava suja de graxa, e enfiada dentro de botas
gastas e sujas. Sobre uma camiseta suada, Max usava um velho colete sem mangas,
forrado de couro. Não se barbeava há muito tempo, e quando afastou seu cabelo
emaranhado do rosto, Bree viu o círculo negro de sujeira debaixo das unhas de sua mão.
- Perdeu a língua, srta. Petulância? - ele perguntou, largando seu capacete
quebrado no chão e avançando na direção dela.
Bree deu alguns passos para trás, até que suas pernas bateram contra o sofá. Tinha
que fugir dele!
- Você não é muito sociável, não é mesmo? Que tal uma cervejinha? Estou
ressecado por dentro. - Max estava a um passo dela.
- Não há cerveja aqui.
Ele deu uma risada e ela sentiu o bafo de álcool e cigarro em seu hálito horrível.
- Que classe! - disse desdenhosamente. - Não quer baixar o nível desta magnífica
mansão?
- Eu... Reece... - Bree quis fazer um jogo duplo, percebendo como estava isolada ali.
Se Max soubesse que estava sozinha... Oh, Deus! -Reece não chegou em casa... ainda -
garantiu, com voz cheia de medo.
Dando unia gargalhada, Max jogou-se em uma das poltronas.
- Reece não chegou em casa... ainda! - imitou-a, caçoando, enquanto ela media a
distância até a porta. Mas, mesmo que escapas dali, a quem podia pedir ajuda? Os outros
moradores não iam querer saber de nada. E, além do mais, Ben estava lá dentro no
quarto.
- E ele não vai chegar tão cedo. Então pode cortar essa sua conversa comigo! - Max
zombou.
- O que quer dizer? - Ela tentava enfrentá-lo.
- Quer dizer que sei tão bem quanto você que ele foi embora com sua irmã! Foram
embora! Caíram fora! - Max gritou.
Bree conseguia apenas olhar para ele, com o medo agora ainda mais real,
aumentando, até parecer sair pelos seus poros. Os olhos dele estavam de novo no corpo
dela. Deus, se ele me tocar eu morro!, ela pensava. Max se levantou e os olhos dela se
arregalaram, cada músculo do corpo tenso.

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
- Então é isso aí! Estamos aqui, apenas eu e você. - Ele riu novamente. - Você e eu!
Os dedos dele rapidamente procuraram o botão da blusa dela, na altura dos seios.
Em pânico, Bree tentou fugir para o quarto, mas ele agarrou seus cabelos longos,
puxando-a violentamente para trás, fechando sua não enorme sobre o braço dela e
trazendo-a de volta para o sofá, sem se importar com seu grito de dor.
- Não seja assim, Bree. Deve ser boazinha comigo. Você me deve isso...
- Eu devo a você? - Ela procurava ganhar tempo.
- Claro! Por todo sono que perdi, lembrando de seu corpo lindo e de suas recusas,
sempre pensando que era boa demais para mim. Eu não esqueci disso não, gatinha -
Max grunhia.
- Eu não... - Ela ia dizer algo mas sua voz falhou, enquanto fugia dele.
- Cale a boca! Está me provocando, sua danadinha! Não, eu não esqueci! Esperei
muito tempo por isto e tenho certeza de que agora vou me divertir um bocado.
Sua boca baixou sobre Bree, que jogava a cabeça de um lado para outro,
conseguindo apenas que a mão dele puxasse implacavelmente seus cabelos, trazendo-a
para perto, para beijá-la.
Mas, com todo aquele peso sobre ela, Bree desequilibrou-se, caindo de costas
sobre o sofá e o corpo de Max foi em cima dela, tirando seu fôlego. Na luta, os dentes
dele bateram contra os lábios dela, que gemeu de dor, provando seu próprio sangue que
começou a correr. As mãos dele agarraram seus seios e o tecido da blusa se rasgou
ruidosamente.
Bree lutava com todas as suas forças, com cada pedaço de seu corpo, suas unhas
se enterrando nele. Ouvia seus próprios soluços e seus gritos por socorro, vindo de algum
lugar de si mesma. Então Max colocou a mão sobre sua boca para abafar os gritos,
praguejando e usando palavras que ela nem sabia existirem. Em desespero, ela enterrou
seus dentes com toda força na mão dele.
- Sua vagabunda! Vou lhe ensinar a não me morder! - ele gritou e sua mão se
levantou para bater nela com toda sua força.
Bree apertou os olhos tensa, esperando o golpe. Mas este nunca veio. Em vez
disso, o peso de Max foi repentinamente puxado de cima dela e o calor deixado por ele
pareceu queimar seus seios nus. Ela ficou imóvel com os olhos fechados bem apertados,
prendendo a respiração, não querendo acreditar que tudo tinha finalmente acabado,
embora não soubesse por quê.

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens

CAPÍTULO II

O som do corpo de Max desabando fez com que Bree abrisse os olhos a tempo de
vê-lo caído como sangue correndo do nariz, enquanto resmungava baixo. Ela olhou para
o estranho que analisava ameaçadoramente o corpo no chão. O medo voltou a
atormentá-la e lutou para se controlar. Só então teve tempo de analisar o desconhecido.
Da posição em que estava no sofá, o estranho parecia enorme, e Bree em poucos
segundos registrou a largura de seus ombros, o cabelo escuro prateado nas têmporas e o
rosto com os olhos mais azuis que jamais tinha visto.
Esses olhos passaram da figura de Max no chão, esfregando o queixo, para
encontrar os dela e descer depois para a blusa rasgada e a nudez de seus seios. Bree
sentou-se depressa, cobrindo-se com as mãos, o rosto muito pálido. Então sua cabeça
rodou e ela sentiu uma violenta náusea. Correu para o banheiro, mal chegando a pia em
tempo, antes de começar a vomitar. Depois disso teve uma vertigem e caiu no chão de
azulejos, com todo seu corpo doendo e a garganta queimando. Então mãos firmes a
levaram e ela sentiu uma toalha fria e molhada sobre seu rosto e sua testa, afastando
depois os cabelos úmidos.
- Sente-se aí por um momento - o homem disse e lhe indicou o assento do vaso
sanitário. - Se sentir que vai desmaiar, ponha a cabeça entre os joelhos.
Ele saiu do banheiro e Bree fechou os olhos, respirando profundamente. Limpou o
rosto novamente e, tonta ainda, levantou-se, puxando os pedaços da blusa rasgada,
estremecendo quando viu as marcas roxas que começavam a aparecer em seus dedos.
Seu velho robe de banho estava pendurado atrás da porta e ela o vestiu, apertando o
cordão na cintura. Respirando fundo mais uma vez, foi devagarinho de volta para a sala.
Max tinha desaparecido e o estranho estava pondo chá no bule. Bree foi até a
cozinha e olhou para ele, que examinou-a por alguns segundos antes de voltar para o que
fazia e colocar as xícaras sobre a pia. Ela não tinha dúvidas de que naqueles poucos e
infinitos instantes, o homem havia examinado cada pedacinho dela.
- Eu... onde está Max? - ela perguntou, com voz fraca e rouca.
- Max? Esse é o nome do tipo? - A voz era profunda e grave. - Bem... acho que tirei
a vontade dele de ficar por aqui. - Ele disse com simplicidade. Bree estremeceu com o
tom frio daquela voz.
Em silêncio ela se aventurou a dar mais alguns passos para perto dele.
- Muito obrigada - murmurou, sentindo seu rosto esquentar – pelo que fez por mim.
Eu não acredito que fosse conseguir lutar mais tempo com ele.
- Achei que queria que eu a ajudasse - o estranho disse com naturalidade, enchendo
o bule com água fervendo.
- Claro! - A afirmativa saiu com veemência e ela começou a tremer
descontroladamente.
O homem deu a volta e foi até ela. Seus braços a envolveram e uma de suas mãos
prendeu a cabeça dela contra seu peito. Nessa posição, ela podia ouvir o coração dele
batendo forte e firme. Bree relaxou um pouco e o tremor foi desaparecendo quando sentiu
a segurança e a força que vinham dele. Sem saber como os braços dela envolveram
naturalmente, cintura dele. Sentiu que ele ficou tenso e as batidas do coração se
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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
aceleraram um pouco, mas isso foi apenas por um momento. Ou foi apenas imaginação?
O odor másculo dele, o cheiro de suas roupas, e o leve toque de uma loção pós-
barba estavam no nariz dela e ela prendeu a respiração. Toda uma nova sensação
começava a brotar em algum lugar de seu corpo, espalhando-se por todo ele. De repente,
Bree notou que seus seios estavam espremidos contra aquele peito e seu próprio coração
bateu descontroladamente.
- Quem é aquele cara?
Bree sentiu a voz do homem vibrando através de seu peito e sua pele arrepiou em
ondas de prazer.
- Max. Seu nome é Max Tumer. Ele é amigo de Reece. Ele...
Ela estremeceu de novo e ele afastou-se um pouco para olhá-la, através de suas
pálpebras semicerradas. Ela também se afastou, depois de tirar os braços da cintura dele.
- Apenas o pensamento de ele me tocando já faz meu estômago enjoar - Bree disse
baixinho e o estranho levantou as sobrancelhas fazendo as marcas de seu rosto se
aprofundarem.
- Isso eu posso acreditar! - ele respondeu, virando-se para pegar o bule de chá. -
Venha beber isto.
Bree seguiu-o e puxou uma cadeira, perto a pequena mesa de refeições. Ele sentou-
se em frente a ela e o tamanho dele parecia tornar a cozinha ainda menor. Bree tomou o
chá pensativa, sentindo-o chegar quente ao seu estômago dolorido, depois de fazer arder
sua boca ferida.
- Obrigada por isto também - disse, fazendo um gesto com a xícara.
Ele balançou os ombros e levou sua própria xícara aos lábios.
- Como aconteceu de você chegar aqui, naquele exato momento? - Bree perguntou
de repente, tentando juntar os acontecimentos. A batida na porta. Max entrando com um
empurrão, antes que ela pudesse fechá-la de novo. Em sua pressa, Max devia tê-la
deixado entreaberta ou mal fechada. - Graças a Deus! Foi muita sorte minha que você
estivesse passando, senhor... - Ela olhou interrogativamente para ele.
O homem não respondeu logo, mas seus olhos olhavam firmes para ela. Eles eram
incrivelmente azuis, envolvendo-a em suas insondáveis profundezas.
- Vaugh... -ele disse finalmente. - Heath Vaugh.
-Obrigada, sr. Vaugh. - Bree conseguiu sorrir com a mão no lábio ferido e ele
continuou a olhá-la fixamente, parecendo estar avaliando a reação dela. Com o exame,
ela se remexeu inquieta na cadeira.
- O nome não significa nada para você? - ele perguntou, sem tirar os olhos dela.
Ela olhava intrigada para ele.
- Não, não, creio que não. - Ela franziu as sobrancelhas. - Devia?
Ele baixou os olhos para a xícara de chá, que segurava com sua mão grande e
firme.
- Pelo jeito, sim. Você não mencionou Reece um momento atrás? - Ele a fixava de
novo.
- Sim, Reece Andrews. Ele... - fez uma pausa. - Ele morava aqui - completou
baixinho.

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- Andrews. - Ele sorriu de lado e resmungou alguma coisa que ela não conseguiu
entender.
-Conhece Reece? - Bree perguntou pela primeira vez, ocorrendo-lhe que talvez
Reece devesse algum dinheiro àquele homem.
Heath Vaugh procurou no bolso e tirou uma fotografia.
- É este, aqui? - ele perguntou sem expressão alguma.
- Ora! É sim. Então você o conhece?
Bree estava surpresa. Um credor dificilmente carregaria uma foto de Reece no
bolso, por aí.
- É... pode-se dizer que sim. - Heath respondeu secamente guardando a foto no
bolso. - Você... - houve uma pausa - conhece Reece há muito tempo?
Alguma coisa no tom dele deixou-a inquieta. Certamente, não pensava que
ela e Reece...
- Eu o conheço há mais ou menos ano e meio. Nós todos nos conhecemos em
Bunderberg. Ele estava tocando por lá em um grupo rock.
Heath apertou os lábios.
- Onde ele está agora?
Bree ficou olhando para a mesa.
- Eu não sei. Ele apenas se juntou a outro grupo. Não tenho certeza para onde estão
indo agora.
Aqueles olhos azuis estavam nela de novo, como se olhassem para dentro de sua
alma.
- E onde estão seus pais? - ele perguntou, passando os olhos redor, vendo a miséria
do lugar. - Eles sabem que você vive aqui?
- Eu não tenho pais - Bree disse firmemente.
- Não tem, ou simplesmente cortou suas ligações com eles? - O ar dele era de
cinismo.
- É verdade! Eu não tenho pais - ela garantiu, com um pouco de raiva. - Por que iria
dizer que não tenho?
Antes que ela pudesse comentar mais alguma coisa, Ben deu m gritinho reclamando
sua atenção e Bree levantou-se, parando logo ao ver a expressão do rosto de Vaugh. Ele
olhava para ela como se tivesse levado uma pancada. Seu rosto estava tenso e os seus
lábios se apertaram. Os olhos correram pelo corpo dela, magro demais.
Bree virou-se, saindo depressa, sem entender suas sensações e, o magnetismo
daquele homem. Era estranho, mas ele a assustava um pouco. O choro de Ben se
acalmou e logo se transformou em riso, quando ela se abaixou para ele. Com prática,
Bree mudou sua fralda molhada e fez um carinho em seu queixinho.
- Devia estar dormindo, mocinho - ela riu com ele -, mas, agora eu não acredito que
vá querer fechar esses faróis e voltar a dormir, não é? - Ele riu e ergueu os braços para
ela, que o levantou dando uma sonora beijoca na ponta do nariz dele. Ao se virar para
pegar o pequeno cobertor e embrulhá-lo, percebeu a figura alta de Heath encostada na
porta do quarto. Os olhos dele se desviaram da cena e ela sentiu o sangue subir ao seu
rosto, enquanto enrolava Ben.

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
- Este é Ben... - ela disse, quando silêncio se prolongou entre eles.
Aqueles olhos estranhos foram do rosto dela para o de Ben, que aceitou o exame
com interesse e um dedo enfiado na boca.
- Ele se parece com você - Heath comentou suavemente.
- É... nós temos as mesmas cores de cabelos e de olhos - ela disse com cuidado. -
Ele é claro como eu... - repetiu, relutando em dar mais detalhes. Ele que pensasse o que
quisesse!
- Onde está o pai? - ele perguntou de repente, e Bree ficou ainda mais vermelha. O
que ela: podia dizer? Pelo seu tom, ele achava que mentalmente já tinha resumido toda a
situação. - Ou devo dizer: quem é o pai dele?
- Isso importa? - Bree procurou ganhar tempo.
Ele sacudiu os ombros.
- Deveria, pelo menos para você. E poderá também importar para o garoto um, dia-
ele acrescentou cruelmente, olhando para Ben.
Bree estava tensa e seus braços apertavam o bebê. Ela respondeu protestando e
lutando por sua dignidade.
-É Reece... Reece Andrews. - Apenas as palavras tinham sido pronunciadas e ela já
se arrependera, não compreendendo bem por que tinha dito aquilo. O que importava o
que aquele estranho estivesse pensando? Não precisava dar satisfação a quem quer que
fosse. Percebeu que Heath pensava que Ben era seu filho e que, provavelmente, ela se
encontrara com outros homens na ausência de Reece.
Ele afastou-se devagar da porta, com uma atitude de raiva controlada. Os brilhantes
olhos azuis eram como espadas apontadas para ela, que deu um passo para trás,
segurando Ben, como que protegendo-o com seu corpo.
- Isso é verdade? - ele gritou.
- É claro. Por que eu iria mentir sobre isso? - Bree perguntou, impaciente.
- É... porque... Pode provar isso?
- Provar? Eu não entendo por que devo provar isso a você.
Ele alcançou-a com dois passos.
- Repito: você pode provar isso? - ele falou, com a mão segurando seu braço. Bree o
encarava com olhos arregalados e assustados, e a fúria dele a envolveu.
.- Sim, claro! Tenho a certidão de nascimento. Está na gaveta logo ali.
- Vá pegar! - ele ordenou.
- Eu realmente não vejo por quê... - ela começou.
- Pegue! - Seu tom era mortalmente baixo e ele soltou seu braço.
Sempre segurando Ben, Bree foi até a cômoda, abriu a primeira gaveta e com uma
das mãos procurou entre alguns papéis, lá dentro.
- Aqui está. - Ela virou-se e viu que Heath estava logo atrás dela.
Ele abriu o papel e leu rapidamente. Olhando para ela, leu de novo em voz alta.
- Benjamin Reece. Pai, Reece Andrews. Mãe, Briony Mare Ransome. Não há
indicação de casamento - ele comentou e ela baixou os olhos. - Por que não?

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
Bree ficou em silêncio e ele levantou seu queixo.
- Por que não? - repetiu ele.
- Reece dizia... Ele não acreditava em casamento e dizia que era apenas um pedaço
de papel.
Heath apertou os lábios.
-É claro... Reece dizia isso. Nada que discordasse de suas ideias sobre o que é
direito - comentou com amargura e então depois pareceu se recompor. - Junte suas
coisas, vamos - ordenou, inflexível.
Bree olhava espantada para ele.
- De que está falando?
- Estou falando sobre suas roupas, suas e as do bebê. Pode empacotá-las, Briony
Ransome.
- Sou Bree Ransome - ela disse automaticamente.
- Briony, Bree, seja lá quem for! Pegue suas coisas, vamos. – Heath virou-se e
pegou a mala dela de cima do guarda-roupa. - Vai vir comigo.
- Está louco! Eu não conheço você. Só porque você... bem... me ajudou, não quer
dizer que agora pode me dar ordens. Por que eu deveria ir com você? - Sua respiração se
acelerou.
- Se quer ficar com a criança, tem que vir.
Ele atirou a mala sobre a cama e abriu a porta do armário, começando a apanhar
suas roupas e jogando tudo dentro da mala.
- Se eu quiser... - o pavor a sufocava. - O que quer dizer com isso? - ela gritava, e
Ben começou a chorar com o tom de sua voz.
- Quero dizer, srta. Ransome, que nenhum neto meu vai ficar neste buraco de ratos,
infestado de pulgas.
- Neto! Neto? - A voz dela era incrédula e Bree sentiu uma necessidade histérica de
rir. O homem diante dela estava tão longe da figura de um avô, que aquilo parecia
ridículo! - Não pode estar falando sério! - ela gaguejou. - Ah, não!
- Não posso? - A voz dele era tão baixa e tão ameaçadora que ela soluçou.
- Quero dizer, você precisa ser o pai de Reece para ser... - As palavras sumiram e
ele levantou as sobrancelhas interrogativamente. Bree apenas olhava-o de boca aberta. -
Você não parece ter idade para ser o pai de Reece.
Ele deu um sorriso curto e amargo.
- Tenho trinta e sete anos e Reece dezoito.
- Seu nome é Vaugh! Você disse que era... você é o pai de Reece?
- Tenho a duvidosa honra de ser - ele disse depressa.
- Mas como pode ser?
Heath deu uma risada sem graça nenhuma.
- Tenho certeza que não preciso explicar a você a mecânica da coisa... - disse
secamente, olhando para Ben. Bree corou fortemente, compreendendo o que ele queria
dizer. Esse era o momento certo para dizer a ele que não era a mãe de Ben, mas alguma
coisa a deteve, fazendo com que tivesse cuidado.

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
- Reece nunca disse que tinha família.
- Ele não tem. Reece e eu nos desconhecemos em muitas coisas. Na maioria das
coisas, aliás. Então ele decidiu sair de casa e ir viver a seu modo, sem dizer a ninguém
sobre suas intenções. Levei um ano e meio, para encontrá-lo.
- Vem procurando por ele todo esse tempo?
Heath inclinou a cabeça e repetiu.
- Tenho procurado por ele todo esse tempo. Reece está na lista das pessoas
desaparecidas na polícia.
Bree não conseguia acreditar! Nem uma vez Reece tinha mencionado ter parentes
vivos.
- Como o encontrou? - ela perguntou.
- Na verdade foi pura sorte. Eu estava aqui a negócios e ouvi em algum lugar que
havia um novo conjunto de rock se formando e que o guitarrista se chamava Reece.
Como não é um nome comum, agarrei a chance. E me deram este endereço.
- O que foi uma verdadeira sorte para mim também – ela concordou, sorrindo.
Heath Vaugh olhou seu relógio de pulso.
- Está ficando tarde. É melhor irmos andando.
- Não posso ir com você - Bree começou a dizer. - Quero dizer, sinto muito, mas não
o conheço e... bem... não posso deixar este lugar.
Aqueles olhos agudos a olhavam sérios e interrogativos e ela virou-se, olhando para
longe, segurando Ben apertado, com sua cabecinha caída sonolenta sobre seu ombro.
- Não pode ou não quer vir? - ele perguntou.
Bree engoliu nervosamente, não sabendo como responder.
- Reece ficou de voltar aqui? - ele perguntou.
Ela sacudiu a cabeça.
- Não.
- Mas você sente que sempre haverá uma chance, é isso? Ele sempre poderá... -
Heath sugeriu.
- Não. Não há chance alguma de ele voltar. Eu já disse. Ele foi com um grupo para
outra cidade.
- Então não há nada que a impeça de vir comigo. Não tem parentes nem emprego,
não estou certo? - ele perguntou e ela concordou, sacudindo a cabeça. - Como eu disse,
não há nada que prenda você aqui.
Nada, ela concordou em silêncio. Nada além das sensações estranhas que ele
provocava dentro dela. Eram sensações que nunca tinha sentido, e lutava contra isso.
Toda ela ansiava para saber mais alguma coisa sobre Heath e isso era tão perigoso, tão
evidente para ela mesma, que fazia o sangue subir ao seu rosto.
- Não posso esperar que assuma responsabilidades por nós – ela começou a dizer.
- Estou fazendo isso porque a criança faz parte da minha família - ele disse irritado.
- Não legalmente.- Ela evitou olhar para ele.
- Moralmente sim.

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
- Mas eu não tenho dinheiro suficiente no momento e não posso pagar nossa
estadia. Eu...
- Se não tem um trabalho nem dinheiro, como sempre sobreviveu? Como Reece
esperava que se arranjasse? - Ele a encarava apreensivamente.
- O aluguel está pago por algumas semanas. Até lá eu vou... Vou tentar arranjar um
emprego e...
- Que tipo de trabalho pensa que vai conseguir, com uma criança para tomar
conta?
- Bem... eu...
Ele soltou uma exclamação irritado e virou-se. Quando voltou a encará-la de novo,
seus olhos a examinaram de alto a baixo, o short desbotado e puído e o velho e
manchado penhoar.
- Por Deus! Você parece que não come direito há meses e este lugar dificilmente
pode ser chamado de casa. - Ele fez um gesto mostrando, todo o quarto.
- Mas está limpo! - ela disse em defesa própria. - E eu como quando tenho fome,
ora! - Só que ultimamente parecia haver tanta coisa para fazer, que cozinhar era
realmente um grande esforço.
- Está bem, está bem! Está limpo e você come, mas o que eu disse continua
valendo. Não quero que o bebê de meu filho cresça neste ambiente.
- E a mãe da criança não tem nada a dizer sobre isso? - Bree gritava e seus olhos
se cruzaram com os dele; chispando.
- Pegue suas coisas, srta. Ransome. Não tenho a mínima intenção de deixá-la aqui
com o menino. Ele vai comigo... com ou sem você. E, ao contrário de você, eu tenho
dinheiro e posso resolver isso perante a lei. - Seu rosto era duro e seus cabelos se
tornaram de repente escuras piscinas de metal cinzento.
-Não pode estar querendo dizer que vai tentar tirar Ben de mim? Nenhum juiz do
mundo daria Ben a você, tirando de sua mãe. - Quando disse isso, uma onda de terror
envolveu o coração dela.
Mãe... Ela não era a mãe de Ben, não podia argumentar isso! Esse estranho, que
mostrava ser dono de uma vontade de ferro, tinha esse trunfo, soubesse disso ou não. E
se ele começasse a fazer perguntas por ali... ia...
- Você quer que isto seja levado aos tribunais? - Ele interrompeu seus pensamentos
e os olhos dela baixaram, cansados. - Vamos, arrume as coisas do menino. - A voz dele
agora estava mais suave e persuasiva, mas ainda carregava um tom de comando. - Vou
falar com o proprietário e deixar um endereço com ele, para o caso de Reece aparecer
por aqui.
- O proprietário mora nos fundos, apartamento um - ela disse. -: Mas não
poderíamos esperar até amanhã? - Suas palavras já revelavam que tinha concordado em
ir com ele.
Ele a olhava quieto, deixando-a desarmada.
- Vamos agora! - repetiu friamente. - Termine de guardar as coisas. Vou falar com o
senhorio. Ele virou-se e saiu, deixando o pequeno quarto de repente vazio e solitário.
A mala velha e algumas caixas de papelão facilmente acondicionaram suas coisas,
e as de Ben. A pobreza parecia zombar dela, quando sentou-se na poltrona quebrada e
desconfortável, ninando o bebê adormecido e esperando a volta de Heath Vaugh. Bree

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
olhou para o sofá e estremeceu quando lembrou o que poderia ter acontecido se Heath
não tivesse chegado e impedido Max Turner. Estupro era aterrorizante e ela sentiu seu
estômago se contorcer de novo.
Em seus sonhos de adolescente, quando tinha tempo para alimentá-los, Bree se via
em um longo traje de noiva, branco e esvoaçante, de rendas, como nas fotos das revistas.
Esperando-a estava um homem alto e moreno, com os olhos repletos de amor só por ela.
O desejo de se entregar pela primeira vez somente ao homem amado era a coisa mais
preciosa do mundo para Bree. E pensou que Max Turner quase tinha arruinado tudo!
Talvez fosse uma ideia antiquada, mas era assim que ela pensava Muitas vezes
tinha sido chamada de frígida ou coisa pior e até Briony rira dela, quando Bree tentou
convencê-la a não ir viver com Reece.
- As pessoas não pensam mais como você, graças a Deus! Argumentava Briony. - A
vida é para ser vivida, Bree. Não pode ficar esperando as coisas acontecerem. Senão,
você se arrisca a esperar para sempre. Não, eu... eu pego o que está aí. Os homens
sempre podem, por que nós não?
- Mas vocês dois são tão jovens - Bree protestava. - E se mudarem de ideia um
sobre o outro, um ano depois ou mesmo antes?
- Não vamos mudar. Eu sei que não mudaremos. Mas se isso acontecer... bem... e
daí? Deve haver outras pessoas no mundo, ora... - Briony tinha rido com a expressão da
irmã. - Você não está achando que Reece é o primeiro cara com quem vou para a cama,
está? Diabos, Bree, onde tem andado todos esses anos? Na Lua?
Bree estava pálida. Ela nunca havia suspeitado que Briony...
- Quer dizer que não sabia? - Briony olhava para Bree como se nunca a tivesse visto
antes. - É... posso ver que não!
- Briony, isso não está certo. E se você ficar grávida?
- Hoje em dia, ninguém fica grávida se não quiser - Briony disse confiante. - Existem
pílulas, sabia?
Bree sentia como se estivesse vendo a irmã pela primeira vez, e não gostava do que
via.
- Você nunca foi para a cama com um homem, foi, Bree? - Briony, perguntou
diretamente e Bree sentiu que seu sangue subia ao rosto.
- Acontece, Briony, que isso é só da minha conta. É algo íntimo e não um assunto
que se discute como se estivesse falando sobre o tempo, se vai chover ou não! - ela
replicou na defensiva, zangada consigo mesma por agir como se ela é que estivesse
errada.
- Você nunca foi! - Briony dizia rindo, alto. - Essa não! Não me admira que todos os
caras desistiam logo de você. Ouça o que estou dizendo: nunca vai achar um homem se
continuar com essa atitude antiquada. Não em nossos dias e em nossa idade.
Bem... e onde a atitude de Briony a tinha levado? Bree refletia, pesarosa. Alguma
vez a irmã havia esquecido de tomar as pílulas e ali estava Ben.
Ela olhava para o bebê adormecido tranquilamente em seu colo. Oh, Ben.
Mentalmente falava com ele. O que vou fazer? Saio correndo agora, enquanto tenho
chance, ou vou com esse estranho? O que será melhor para você, querido? Isso é o mais
importante!
“Eu tenho dinheiro”, Heath Vaugh havia dito e Bree acreditava que sim. Ele parecia

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
um homem bem-sucedido. Suas roupas eram caras e seus sapatos de couro, feitos à
mão. O sucesso parecia emanar de cada centímetro dele. Sim, ele poderia fazer muito
mais por Ben do que ela.
- Vou colocar isto no carro e depois volto para apanhar a mala. - O som da voz dele
fez com que ela se assustasse e piscasse, voltando à realidade. - Venho já!
Ele saiu com as duas caixas e logo estava de volta. Bree começou a segui-lo para
fora do apartamento, e seus olhos correram pelo quarto deprimente, antes que ela
desligasse a luz e fechasse a porta, sem lamentar sair dali. Heath não falou em nenhum
momento para onde iriam. Apenas dirigia o carro grande e confortável. Enquanto
rodavam, ele parecia sem vontade de falar, correndo através da escuridão dos subúrbios.
Bree tentou relaxar um pouco. Protegida pela fraca iluminação do interior do carro, olhava
para as mãos dele ao volante. Ele tinha belas mãos, fortes e firmes. Ela suspirou
profundamente.
O pai de Reece... isso não podia ser! Eles eram tão diferentes como a água e o
vinho. Reece não se comparava a esse homem nem em estatura, nem em autoconfiança.
Talvez tivesse puxado à mãe, como Ben. A mãe de Reece! Bree não tinha pensado um
só momento nela! Engoliu em seco, sentindo como se um bolo estivesse parado em sua
garganta. A mãe de Reece! Por alguma razão, o pensamento de uma mulher, que casara
com aquele homem e lhe dera um filho, provocou uma dor em seu peito e a fez morder os
lábios, apreensiva. Que tola ela havia sido por alimentar alguma esperança de que
alguém tão atraente, tão bem-sucedido, como Heath Vaugh pudesse sequer notá-la como
mulher.
Bree apertou os olhos fechados fazendo um esforço para não sentir aquela
amargura ao pensar em Heath e sua esposa. Havia se comprometido a ir com ele para
sua casa. O lar deles! Tinha que arranjar um jeito de sair dessa. Podia lhe dizer que
mudara de ideia, que isso era impossível. Mas, naquele momento, de entrou em um
estacionamento subterrâneo e parou o carro em uma vaga perto do elevador.
- Onde estamos? - Bree perguntou com o coração na boca.
- No meu hotel. - Heath tirou a chave do contato.
- Seu hotel? Mas eu pensei... - Bree engoliu em seco. – Pensei que estávamos indo
para sua casa!
Bree seguiu-o devagar até o elevador, ficando ao lado dele no pequeno espaço,
enquanto este subia, silenciosamente, por um tempo que lhe pareceu um século.
A suíte de Heath era luxuosa e aos olhos de Bree muito mais bonita do que as que
tinha visto nas revistas.
- É melhor que acomode a criança primeiro. - Ele entrou rapidamente e abriu uma
das portas da sala de estar. - Eu pedi que trouxessem este berço para cá.
Bree olhou para ele de boca aberta.
- Telefonei da casa do senhorio – Heath explicou e colocou a mala dela na mesa
baixa ao lado da cama de casal. - O banheiro é logo ali. - Ele indicava a porta. - Estarei na
sala quando você terminar.
Assim que ele saiu, Bree colocou Ben no berço e ele logo se aninhou ali, pois a
viagem não tinha perturbado de modo algum seu sono. Ela passou a mão sobre a
madeira polida da cama e sobre o acetinado da colcha. Depois foi se lavar.
O banheiro era de azulejos azuis e as torneiras cromadas e brilhantes. Havia uma
porta idêntica à que ela havia entrado, no lado oposto do banheiro. Devagarinho Bree-

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
virou a maçaneta e espiou para dentro do outro quarto, que devia ser o de Heath. Era
igual ao seu, e havia uma, mala de couro marrom e um paletó azul colocado sobre ela.
Tão silenciosamente como abriu, ela fechou a porta e atravessou seu quarto, indo para a
sala de estar.
- Certo - disse Heath de costas para ela, falando ao telefone. Voo duzentos e quinze
às dez da manhã. Obrigado. - Ele recolocou o aparelho no gancho e pegou um drinque
que estava ao lado. Engolindo o líquido de um só gole, sorriu para o copo vazio. Quando
virou-se, percebeu Bree de pé na porta.
- Gostaria de tomar alguma coisa? - perguntou.
- Não, obrigada. - Ela estava de pé com as mãos unidas na frente, enquanto
procurava alguma coisa para fazer.
- Sente-se. - Heath fez um gesto na cadeira do lado oposto.
- Você mora longe de Sidnei? - Bree perguntou, nervosa.
Um sorriso torceu os lábios dele.
- Cerca de mil quilômetros.
- Mil... - Bree sentou-se de repente. - Mas disse que só iríamos para lá amanhã... e...
- Isso mesmo. Eu acabei de marcar nossos lugares no voo de amanhã cedo - ele
disse claramente.
- Voo? - ela repetiu como um papagaio.
- Voo. Até Brisbane.
Bree abriu a boca e fechou de novo.
- Você não disse nada sobre irmos para Brisbane. Eu pensei... na verdade... você,
me deu a entender que morava em Sidnei.
- Eu mencionei que estava aqui a negócios, o que e verdade.
- Mas isso é ridículo! Eu não posso voar para Brisbane.
- Por que não? Não gosta de Brisbane e o Sunshine State?
- Claro que gosto, mas...
- Mas... - ele repetiu com calma irritante.
- Veja, como vou saber que você é o pai de Reece? Eu apenas tenho sua palavra. -
Bree de repente sentiu um medo horrível de que estivesse crédula demais, deixando o
apartamento para ir com aquele estranho. Ao mesmo tempo se dizia que o teria seguido a
qualquer parte do mundo. - Você nem mesmo se parece com Reece!
- Ele não se parece comigo. - Heath deu o mesmo sorriso cínico. - E suponho,
realmente, que lhe devo alguma prova. Espere aqui.
Heath entrou no seu quarto e voltou com a foto de Reece e um documento dobrado.
- É a certidão de nascimento dele, e aqui está minha carteira de motorista. Bree
olhou o documento que tinha o endereço de Fig Tree Pocket, Queensland e então
desdobrou a certidão e leu-a. O nome de Heath Vaugh estava lá e o de Pamela Andrews
Vaugh. A criança registrada era Reece Andrews Vaugh.
Ela olhou para Heath, que ficou mais uma vez encarando-a com as mãos na cintura,
a camisa desabotoada, revelando o bronzeado do peito e os pêlos escuros.
- Ele adotou o nome de solteiro de sua mãe - disse, e ela percebeu uma emoção

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
disfarçada, como uma certa amargura, naquelas palavras ditas suavemente. - Satisfeita?
- Mas e sua esposa? O que ela vai achar de nós, Ben e eu, aparecendo em sua
casa?
- A mãe de Reece morreu há sete anos - ele disse, e apanhando o papel da mão
dela, dobrou-o, colocando-o com a carteira de motorista e a foto na gaveta da mesinha.
Bree ficou apenas olhando, quando ele virou-se e passou devagar a mão sobre a
nuca, como que tentando acalmar uma crescente tensão. Ela não sabia bem o que dizer e
a tensão também tomou conta dela. Será que Heath ainda sentia a perda da esposa, a
mãe de seu filho? Devagar, ele voltou-se para encará-la e o coração dela pareceu faltar
dentro do peito.
- Sinto muito - disse, trêmula.
- É mesmo? - ele perguntou, áspero. Toda sua atitude demonstrava mais raiva do
que pena. Isso ela até podia jurar.
- Sim.
- Não se incomode em sentir nada. Pamela e eu... - Ele parou, uma máscara fria
tomou conta de seu rosto. - Não importa. É melhor que durma um pouco. Vai ter um longo
dia amanhã com o bebê. - Ele, se afastou e apanhou seu copo, servindo-se de novo da
garrafa do bar.
Bree parou por instantes na porta do quarto e virou para trás. Heath olhava o quadro
pendurado na parede do bar, de costas para ela, com uni ar inatingível. Ela seguiu para
dentro do quarto, com sua cabeça atordoada e seu corpo cansado. Não conseguia
entender esse homem. Ele era imprevisível e perturbador, e havia um sentido oculto em
suas palavras, no tom de sua voz e na tensão de seu corpo; talvez coisas que
perturbaram o relacionamento com seu filho.

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CAPÍTULO III

Nas ruas dos subúrbios de Brisbane, o carro seguia velozmente, pois o tráfego
estava livre. Eles já tinham atravessado a cidade, depois de descerem no aeroporto e
Heath Vaugh entrar num Mercedes último tipo que o esperava com um homem. Ele
sentou ao volante, depois de acomodar Bree e o bebê no banco traseiro. Bree imaginava
quem seria aquele homem de meia-idade, chamado Bill Roland. Heath o tinha
apresentado a ela, mas não disse nada sobre sua posição. Ele podia ser um empregado
ou um amigo, a julgar pelo modo como Heath o tratava. Os dois se chamavam pelo nome
de batismo e falavam como se fossem velhos conhecidos; contudo havia uma ligeira
diferença na atitude do homem mais velho.
Bill Roland não mostrou surpresa ao vê-la ou ao bebê, quando os encontrou no
aeroporto. Obviamente Heath já havia falado com ele sobre isso. Cansada, Bree conteve
um bocejo e acomodou melhor Ben em seu colo.
- Não estamos muito longe agora, senhorita. - Bill Roland virou-se de lado para falar
com ela. - Creio que vai se sentir bem por chegar em casa com o bebê.
- Sim - ela respondeu apenas, e pensou: “casa”. Seus olhos estavam fixos no
espelho retrovisor e por alguns segundos cruzaram com os incríveis olhos azuis de Heath.
“Casa. Onde o coração da gente está.” O repetido e velho ditado voltou a sua lembrança.
Foi com dificuldade que ela desviou os olhos do perfil de Heath, a firmeza de seu queixo,
o jeito como o cabelo escuro tocava o colarinho, os fios brancos nas têmporas. Se não
tivesse cuidado, Heath Vaugh ia perceber exatamente o que provocava em seu coração,
que saltava disparado no peito.
- Peg já arrumou o quarto do bebê e está toda animada por termos um rapazinho em
casa de novo - Bill disse sorrindo. - Oh, Peg é minha esposa - ele explicou a Bree.
Ben se remexeu e murmurou algo que era meio choro, meio bocejo. Bill inclinou-se
para o assento de trás para olhá-lo.
- O que é, garotão? - Com o dedo, acariciou a bochecha de Bem que sorriu feliz com
o agrado. - Mal posso esperar para ver a cara de Peg quando olhar para ele. Ela é louca
por bebês.
A Mercedes diminuiu a marcha e Heath virou o carro, passando entre grossas
colunas brancas e seguindo um caminho de árvores que fazia uma curva, acabando
diante da mais magnífica casa que Bree já tinha visto. Térrea, seu tamanho parecia ser de
perder de vista. Ao seu lado uma garagem para quatro carros. Os jardins eram
panorâmicos. Entre a garagem e a casa, via-se uma enorme primavera, repleta de flores
em todo seu esplendor. Foi Bill quem abriu a porta do carro para Bree, enquanto Heath
retirava a bagagem. Depois, Bill rapidamente pegou as duas caixas de papelão que Heath
lhe entregou.
Bree saiu do carro devagar, embasbacada, incapaz de tirar os olhos daquela
cinematográfica residência. Uma grande varanda cercava a frente da casa e vasos de
samambaias criavam um lindo efeito de sombra e luz. O jardim estava repleto de flores
que balançavam com a brisa. Quando eles se aproximaram da varanda, um pequeno
enxame de abelhas protestou ruidosamente, mudando-se para outro arbusto. Então a
porta da frente foi aberta e uma mulher de cerca de cinquenta anos, com cabelos
grisalhos e um rosto largo e sorridente, se apressou a recebê-los.

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- Aqui está Peg - disse Bill, sem necessidade alguma.
- Você deve ser Briony. - Peg saudou-a com olhos apenas para Ben.
- Sou Bree. Eu... Bree é um apelido antigo - ela murmurou novamente cheia de
culpa, embora sabendo que não estava mentindo totalmente. Tinha sempre sido chamada
de Bree, mas seu verdadeiro nome era Brianne.
- Então seja bem-vinda, Bree. - Os braços de Peg Roland foram automaticamente
para o bebê. - Mas que lindo malandrinho! – Ela brincou com o garoto que, sentindo que
tinha encontrado uma amiga, sorriu angelicamente, mostrando os dentinhos. - Como é o
seu nome querido?
- Ben - disse Bree, enquanto Heath vinha do carro com a mala dela, seguido por Bill
com as duas caixas.
- Não é mesmo um garotinho adorável? - Peg perguntava a Heath, e ante de sua
esquiva e muda resposta, seu sorriso se apagou por uma fração de segundo. Então ela
olhou para Bree. - Bem... vamos entrando. - disse depressa, olhando de, lado para Heath.
- Tenho um bom lanche esperando por você e sem dúvida este mocinho também deve
estar com fome. Ele já come coisas sólidas? - ela perguntou a Bree, guiando-os para
dentro de casa.
- Peg, se não se importa de tomar conta do bebê por um momento, vou mostrar a
Bree o seu quarto. - Heath cortou-a secamente e Bree entregou depressa a Peg o porta-
mamadeiras.
- É só esquentar - Bree explicou e se virou rápido para seguir Heath que ia na frente
a passos largos.
Os olhos dela se arregalaram com a luxuosa decoração da casa, que a, além disso,
confortável e aconchegante. O teto era todo de pinho envernizado com pesadas vigas
expostas escurecidas. A sala de estar era ampla, com chão de madeira polida escura,
coberta aqui e ali com grossos tapetes, que davam uma sensação de conforto. Um grupo
de fofas poltronas ficava perto da lareira de tijolos aparentes e uma das paredes era
completamente coberta por prateleiras cheias de livros.
- Este é seu quarto. - Heath abriu a porta de um pequeno hall que saía da sala de
estar e afastou-se para que Bree entrasse.
Era um quarto definitivamente feminino, desde o rosado claro das paredes até o teto
branco, o grosso carpete creme- e a mobília branca, estilo Queen Anne. Na larga cama
de solteiro, havia uma colcha de cetim, com estampas apenas nas laterais, em rosa e
delicadas folhagens verdes.
- Posso colocar isso aqui perto da janela? - perguntou Bill, que tinha vindo logo
atrás, carregando as caixas.
- Oh, sim. - Bree concordou, perdida em sua admiração.
- Esta porta leva ao banheiro. A porta do lado é do quarto de Ben - Heath explicou,
depois que Bill saiu. - Vou deixar você se refrescar um pouco. Venha para a sala de
jantar, quando estiver pronta. - Ele saiu rápido.
Por alguns minutos, Bree ficou onde estava devorando tudo ao seu redor, não
acreditando no que via. Era o mais luxuoso quarto em que tinha entrado, muito diferente
do de Reece e Briony e da miserável casa em que ela já havia estado antes, e Bree
quase se beliscava para ver se estava realmente ali, ou tudo era apenas um sonho.
Pisando com cuidado, foi até o armário e, devagarinho, abriu a porta branca de
treliça. Bom Deus! Suas poucas roupas ficariam perdidas naquele enorme guarda-roupa e

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ia usar apenas uma, da dúzia de gavetas que havia. O grosso tapete afundava macio
debaixo dos seus pés e ela pisou com cuidado para não marcá-lo.
O banheiro era branco, mas no centro da parede em sentido horizontal havia uma
fileira de azulejos decorados com as mesmas flores da colcha da cama. Felpudas toalhas
de banho e de rosto pendiam de argolas reluzentes e eram um vibrante verde-folha. Bree
lavou o rosto e penteou os cabelos, com o pente que trazia na bolsa. O espelho do
banheiro refletia um rosto pálido e mais magro ainda que ela imaginava estar. Não era à
toa que Heath achou que não comia direito! Parecia esquálida e havia profundas olheiras
sob seus olhos. A blusa leve que usava ficava como que pendurada em seus ombros e a
saia parecia ser de outra pessoa.
Aos seus olhos, sua aparência miserável parecia aumentada pelo luxo daquele lugar
e ela sentia, embaraçada, que não combinava absolutamente, e que não tinha o direito de
estar ali, pois não era a verdadeira mãe de Ben. Bree saiu do banheiro, parando no meio
do quarto para olhar sua maltratada e velha maleta e depois as caixas de papelão
colocadas no sofá perto da janela. Devagar, foi até aqueles objetos que pareciam
estranhos no meio de tanto luxo e limpeza. Tocou-os como se isso pudesse garantir que
era mesmo Bree Ransome no centro de outro mundo. Aquilo não era uma fantasia, mas
algo real.
Suspirou profundamente e olhou pela janela, por entre o drapeado do tecido branco
e leve das cortinas. Dali viu que a casa estava construída em uma elevação e, através
das árvores, distinguia-se um rio. A grama perto da residência estava bem aparada e os
pinheiros e carvalhos formavam espaços sombreados. A propriedade devia ser enorme,
ela pensou, e não conseguiu avistar nenhuma casa vizinha, embora pudesse estar
escondidas pelas árvores. Tudo era tão lindo! Nem em seus melhores sonhos tinha
imaginado algo tão rico e ao mesmo tempo tão despretensioso. E pensar que Reece
nunca tinha demonstrado que estava acostumado a esse tipo de vida! Era tão diferente do
seu e de Briony. Não dava nem para comparar!
- Está pronta para o lanche? A voz grave vinda da porta fez com que ela se
sobressaltasse e se virasse, com uma sensação de culpa.
- Sim, desculpe. Eu estava apenas admirando a vista. É maravilhosa!
- É sim. - Os olhos de Heath não deixavam seu rosto.
- Vive aqui há muito tempo? - O corpo de Bree sentia um ardor como se as mãos
dele e não seus olhos estivessem passando sobre ela.
- Eu terminei a construção há mais ou menos seis anos.
Depois da morte da esposa, ela pensou. Então Pamela Vaugh nunca tinha vivido ali.
Ela baixou os olhos para as mãos, para o caso de ele perceber as desordenadas
emoções que estava sentindo.
- Não posso entender por que Reece deixou tudo isto.
- Não pode?
Bree sacudiu a cabeça e a luz da janela, iluminando seus cabelos por trás, formava
uma auréola brilhante ao redor de seu rosto.
- Meu filho, srta. Ransome, me vê como o tipo de explorador capitalista. Reece sente
desprezo pelo dinheiro, que ele, entretanto, nunca dispensou. - Heath enfiou as mãos nos
bolsos e franziu a testa. – Eu achei que ficar sem um tostão iria curá-lo, mas pelo jeito não
adiantou nada. Talvez o tenha subestimado.
- Reece nunca pareceu ligar muito para dinheiro. - Bree levantou os ombros,. - Ele

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sempre deu um jeito para sobreviver.
- Ele tinha emprego fixo?
- Não exatamente. Ele era ligado a vários grupos musicais, mas fora isso creio que
devia receber benefícios como desempregado.
- E você não sabia de onde vinha o dinheiro? - Ele olhava pensativo para ela, um
pouco em dúvida.
- Nós nunca discutimos esse assunto. - Foi tudo que ela encontrou para responder,
e se remexeu inquieta, pois Heath continuava a fitá-la. - Reece nunca esbanjou dinheiro,
mas também nunca me pareceu estar duro, ou coisa assim. - Bree terminou, desejando
poder saber o que ele estava pensando, por trás daqueles olhos semicerrados.
- Vamos almoçar - ele disse depois de uma pausa, mudando de assunto e olhando
seu relógio de pulso. - Tenho que voltar ao aeroporto.
- Ao aeroporto? - Bree parou no meio do caminho, com os olhos fixos no rosto dele.
- Tenho compromissos em Sidnei esta tarde. Ainda há alguns negócios para atender
por lá.
- Quer dizer... que... vou ficar aqui sozinha? - Bree gaguejou.
- Dificilmente vai ficar sozinha. - Ele levantou as sobrancelhas - Peg e Bill vivem
nesta casa. Eles têm um apartamento atrás da cozinha. - Bree só conseguia ficar olhando
séria para ele. - Peg vai ficar satisfeita de poder dar uma mãozinha a você com o bebê. -
Ele sorriu de leve.
- Eu pensei que você ficaria aqui, também - ela disse baixinho. - Quanto tempo vai
ficar em Sidnei?
- Dez dias, talvez uma semana.
- Dez dias? - O pensamento de não vê-lo causou-lhe uma dor súbita e ela lutou para
se controlar. Ela mal conhecia esse assunto! Ele era quase um estranho e o sentimento
que provocava nela a assustava. Queria impedi-lo de ir, se agarrar nele, mas isso, é claro,
era completamente de propósito. - Oh! - suspirou por fim, baixando os olhos.
Bree sentiu os olhos dele queimando-a de novo, sentiu a tensão no próprio corpo e
seus olhos sendo atraídos irresistivelmente para cima, para encontrarem os dele. Quanto
tempo ficaram assim, tensos, sintonizados um no outro, sem se tocarem, mas sentindo
uma emoção estranha, Bree não podia dizer. Heath foi o primeiro a se mover, quebrando
o encanto que os envolvia. Virando-se e afastando-se dela, ele abriu a porta, indicando
para que ela passasse antes dele. Seu rosto agora estava frio e indiferente, e Bree foi
andando vacilante até o hall.
Nos primeiros dias, Bree sentiu-se um pouco intrusa, mas Peg Roland mostrava
tanta camaradagem que, aos poucos, ela começou a relaxar. Juntas, conquistaram um
companheirismo e dividiam a rotina de cuidar de Ben, que se desenvolvia a olhos vistos
com tanta atenção e carinho. Sem perceber, Bree também começou a se sentir um pouco
como antes. Recuperou o peso que tinha perdido e seu rosto perdeu aquela aparência
cansada. O tempo que passava no jardim ajudando Bill logo deixou sua pele corada e
bronzeada, enquanto clareava seus cabelos. Duas semanas se passaram antes que
tivessem alguma notícia sobre Heath Vaugh. Na ausência dele, Bree conseguiu ser mais
realista em relação aos seus sentimentos. Dizia a si mesma que era natural que um
homem tão atraente, tão vivido como ele, pudesse causar tanto impacto sobre ela.
Ele tinha aparecido em sua vida em uma fase em que se encontrava muito sensível
e seu habitual equilíbrio foi posto à prova. E não era de admirar: primeiro o choque com o

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comportamento frio de sua irmã, lhe deixando a responsabilidade de cuidar de Ben.
Depois a horrível experiência com Max Turner. Muitas vezes ela ainda acordava durante a
noite aterrorizada com a lembrança daquela cena violenta. A aparição inesperada de
Heath Vaugh havia sido como um sonho, onde o brilhante cavalheiro surgia em sua
armadura para defender a donzela em perigo. Aquilo o colocava sob o mais admirável
ângulo. Como não ia ficar impressionada? Fisicamente, ela estava. Como pessoa, não
sabia absolutamente nada sobre ele.
Todos os seus instintos lhe diziam que Heath era uma pessoa de bom caráter, mas
se a vida tinha lhe ensinado alguma coisa, era que aparências enganam e que as
pessoas nem sempre são o que a gente pensa. Sua própria irmã era o maior exemplo
disso. Tudo o que sabia sobre Heath era o que Peg falava e às vezes Bill. Com
frequência, Bree trabalhava ao lado de Bill no jardim em amigável silêncio. Que ele tinha
seu patrão no mais alto conceito era óbvio, mas não comentava muito sobre isso. Peg por
outro lado, adorava bater um papo, embora não fosse fofoqueira. Mas, por ela, Bree
soube que Heath possuía uma das maiores companhias construtoras do Estado. Ele tinha
herdado um pequeno negócio de seu sogro e o expandiu, transformando a pequena firma
local em uma empresa multimilionária, que empregava muitas centenas de trabalhadores
em lugares distantes.
Peg e Bill estavam com Heath há quase quinze anos, o que significava que deviam
ter conhecido sua esposa, Pamela. Mas nenhuma vez Peg mencionou seu nome.
Surpreendentemente, ela pouco tinha a dizer também sobre Reece, e Bree não queria
fazer perguntas. Receava que Peg achasse que estava bisbilhotando. Depois de dias sem
dar notícias, Heath telefonou. Elas estavam na cozinha, Peg fazendo bolinhos, enquanto
Bree lavava a louça. As mãos de Peg estavam cheias de farinha, e foi Bree quem atendeu
na extensão.
- Bree? - A voz dele parecia ainda mais grave ao telefone e tão masculina que ela
virou-se um pouco, para esconder de Peg o rubor que subia ao seu rosto.
- Sim, é - admitiu, sentindo falta de ar e com os dedos doendo de tanto apertar o
aparelho.
- Aqui é Heath Vaugh. - Ele pareceu um tanto brusco, além de apressado. - Peg está
por perto?
- Sim, está aqui perto, cozinhando. Quer falar com ela?
- Não, não a perturbe. - Houve uma leve pausa. - Como está se arranjando por aí? -
a voz dele era tão impessoal que ela não conseguia imaginar sua expressão.
- Bem, obrigada. - Bree tentava encontrar algo para dizer. - Nasceu outro dentinho
em Ben - acrescentou, se criticando por dentro.
Que diabos a teriam feito dizer aquilo? Heath ia lá se importar com uma coisa como
o novo dente do bebê? - É mesmo? - havia um leve toque em sua voz que poderia ser de
ironia ou divertimento. - Espero que ele não esteja dando trabalho.
- Oh, não! Ele é muito bonzinho. Sempre foi - ela completou depressa. - Peg diz que
é o bebê mais comportado que já viu.
- Que maravilha! - Heath comentou e Bree achou que estava rindo dela.
- Quer que eu dê algum recado para Peg? - ela perguntou.
- Se não se incomoda, diga que não vou voltar antes da próxima semana.
- Ah, sei! - Isso era pelo menos mais cinco dias, ela calculou. – Darei o recado.
- Obrigado. - Houve uma pausa de novo e Bree torcia o fio nervosamente entre os

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dedos. - Então nos veremos na próxima se - ele finalizou e o telefone ficou mudo em seu
ouvido.
Devagarinho, recolocou o aparelho em seu apoio, com o coração batendo forte.
Bem, tinha sido posta no seu devido lugar, no que dizia respeito a Heath Vaugh! Ela
conseguia ser muito racional quando ele estava fora, agora o simples som de sua voz a
tinha feito corar e ficar agitada como uma colegial. - Era Heath? - Peg perguntou quando
voltou de uma olhadinha no forno.
- Era, sim. Ele pediu que lhe dissesse que não estará de volta antes da próxima
semana. - Bree pegou a travessa da massa e levou-a até a máquina de lavar louça.
- Esta viagem está sendo longa, e ele adora ficar em casa! – Peg balançou a
cabeça. - Heath trabalha demais! Eu estava comentando com Bill a noite passada como é
raro ele tirar um tempo para relaxar um pouco. - Ela olhou para Bree. - Quando ele me
disse que você e o bebê iam morar aqui, eu fiquei supersatisfeita, pois pensei que Heath
largar um pouco essa correria em que vive para ficar mais aqui. E ainda estou torcendo
por isso. Assim que ele resolver esse problema com fornecedores lá nas obras do sul,
estou certa de que vamos vê-lo mais. Por isso, não fique chateada!
Bree olhou surpresa para Peg. Ela não podia estar pensando que Heath e ela... que
eles eram... - Peg, eu na verdade não espero que Heath se dedique a nós. Já é bastante,
muito mais do que bastante, que ele esteja nos mantendo em sua casa.
- Eu penso que ele está fazendo o que acha certo. Heath nunca esquivou de uma
responsabilidade em sua vida, que eu saiba - declarou.
- Mas eu nunca lhe pedi que fosse responsável por nós. Ele não sabia nada sobre
Ben, até a noite anterior em que nos trouxe para cá.
- Eu não sei... vocês mocinhas de hoje, tão independentes... trazendo filhos ao
mundo por sua própria conta. Não é coisa fácil quando não tem quem ajude. Deve deixar,
sim, que Heath tome conta de vocês. - Peg sacudiu a colher de pau, enquanto falava. -
Sabe que desde que está aqui você melhorou muito? Heath vai notar a diferença, pode
crer! Meu Deus! Há quanto tempo esses bolinhos estão no fomo? Nossa, esqueci de
marcar!
Não havia jeito e Bree fazer Peg entender sua real situação. Ela havia pensado que
Heath tivesse explicado tudo ao casal Roland. Mas, pelo jeito, ele tão fez isso, certamente
porque não queria tomar público que Ben era seu neto. Será que ele não pensava nas
suposições que os outros fariam?Bree suspirou fundo. Se tentasse explicar, e sabia que
podia contar apenas uma parte da história, temia que Peg fizesse perguntas que não
tinha direito de responder. Assim, não disse nada. Melhor deixar que Heath explicasse,
quando achasse melhor. Quando ele voltasse, ia lhe pedir que fizesse isso. Só o
pensamento de que podiam supor que ela fosse um caso de Heath e que Ben era filho
deles fez suas pernas tremerem e um intenso calor subir ao seu rosto.
Sexta-feira era o aniversário de casamento dos Roland e eles sempre
comemoravam a data em um bom restaurante da cidade. Faziam isso há trinta e cinco
anos, disse Bill. Mas esse ano Peg estava relutante em ir, pois ia deixar Bree e o bebê
sozinhos em casa, por uma noite. Depois de muita conversa, Peg concordou em ir.
Sozinha, Bree cuidou de Ben e colocou-o para dormir. Depois fez um lanche e foi comer
diante da televisão. Assistiu ao noticiário antes de ir lavar o seu prato. Como não
conseguisse aguentar o programa seguinte, desligou o aparelho e decidiu tomar um
demorado e relaxante banho. Quando saiu, a casa estava silenciosa, ouvindo-se apenas
os estalidos da madeira que se contraía à noite. Ela voltou à sala, com seu velho robe de
banho sobre a curta camisola de algodão, decidida a ler por uma hora e depois dormir.

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Acomodou-se em uma das grandes poltronas e pegou o livro que tinha emprestado
de Peg. Apagou a maioria das luzes e deixou acesa apenas o abajur da mesa de leitura.
O livro era empolgante e Bree logo mergulhou na história se ajeitando mais ainda na
poltrona macia. Jogou as pernas sobre o braço estofado, e apoiou as costas no outro
braço. Olhou para o relógio de parede que marcava apenas nove horas, e pouco depois
caiu no sono.
Ou não? Talvez estivesse apenas sonolenta, meio consciente e meio sonhando. Os
acontecimentos de sua vida passada desfilaram em sua memória. Cenas das várias
famílias, em diferentes lugares, ela e Briony quando crianças nos lares temporários onde
haviam vivido. Tinham morado em pelo menos cinco casas diferentes, durante os doze
anos em que estiveram sob a guarda do Estado, mas lembrava-se especialmente de um
deles: era uma fazenda, em algum lugar fora de Brisbane, e ambas, Briony e ela,
precisavam trabalhar pelo seu sustento. A família tinha quatro filhos e todos trabalhavam
duramente. Até que essa época fora agradável! Lembrava do olhar doce das vacas, do
cheiro bom do feno recém-cortado... Quando a fazenda foi vendida, Bree e Briony foram
mandadas para outra família, ao norte de Bunderberg. Durante os anos seguintes, Briony
mudou muito. Sempre se metia em encrencas e tinha sido a causa de terem que mudar
de família tão constantemente. Quando Bree conseguiu arranjar um emprego de
vendedora em uma loja, elas foram viver num minúsculo sótão, que foi o primeiro lar
próprio delas. Então, Briony se acomodou por uns tempos.
Depois, tudo começou de novo. Ela se recusava a procurar emprego ou cuidar da
casa e era sempre apanhada pela polícia em um carro em alta velocidade, dirigido por um
rapaz sem carteira de habilitação. Bree tentava sempre tirá-la desse meio e dessa gente
com quem ela se misturava, mas era inútil. Foi em uma festinha de jovens malucos que
Briony conheceu Reece, guitarrista de um conjunto de rock, contratado por aquela noite.
Ela praticamente caiu de quatro, apaixonada por ele. Quase em seguida, depois de uma
violenta discussão com Bree, foi morar com Reece, mudando-se sempre que o conjunto
decidia tentar outro lugar. Bree não teve mais notícia dela, até que ela engravidou.
Bree lembrava bem da miséria do lugar em que sua irmã morava com Reece e foi
com relutância que concordou em ficar lá, em um pequeno quartinho, depois de Briony
implorar muito para que não a deixasse, pois não podia ter o bebê sozinha. Bree suportou
a horrível situação até que Reece trouxe Max Turner para morar lá. Estremecia ao
lembrar dele em seu sono. Como ela sentia nojo daquele homem! E isso desde o
momento em que o viu! A má impressão que tinha dele se confirmou naquela noite em
que ele entrou no apartamento. Foi um terrível pesadelo. Ela sentia de novo as mãos dele
em seus seios e gemia, lutando para fugir. Sentia seu corpo dolorido e entrou em pânico
pensando que não podia mais se mexer. Fez um esforço, virou-se gemendo e o livro caiu
no chão com um baque surdo, acordando-a subitamente. Meio sonolenta, Bree piscou
para o teto estranho com suas tábuas a pinho e vigas à mostra, e virou a cabeça, vendo
uma sombra que estava ameaçadoramente perto dela, avançando, indistinta, fora do
círculo da luz da lâmpada, que a deixava cega para o resto da sala. Bree deu um grito de
terror. Não, não de novo! Por favor, não de novo! Ela não ia aguentar isso!
Mãos fortes a seguraram, prendendo seus braços. Quando ela começou a lutar
sentiu-se presa e começou a soluçar. Foram apenas alguns momentos, mas, só depois
de ouvir uma exclamação zangada e impaciente, ela se conscientizou de que não estava
naquele miserável apartamento em Sidnei e que a cabeça escura inclinada sobre ela e as
mãos firmes que prendiam seus braços não eram as de Max Turner.

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
CAPÍTULO IV

Bree caiu de costas contra a cadeira e fechou os olhos, sentindo-se vazia e


cansada.
- Sinto muito, eu estava sonhando e pensei... - Ela abriu mais os olhos e sua voz
sumiu.
Heath continuou inclinado sobre ela, o bastante para que distinguisse suas feições.
Como podia tê-lo confundido com Max Turner?
- Posso imaginar o que pensou - ele respondeu seco, mas gentil, apesar de tudo. - E
você estava tão feroz que quase imaginei se havia mesmo precisado de minha ajuda lá
em Sidnei. - Heath sorriu de leve e Bree sentiu o coração derreter sob seu encanto.
Ele ainda segurava os braços dela e seu toque a queimava e excitava, transmitindo
vida através de seu corpo sem forças.
- Eu machuquei você? - A voz dela soava como se estivesse longe, e seus sentidos
rodavam com as fortes emoções: medo, repulsa, atração, tentação.
- Não. - Ele não se mexia, continuando a olhar para baixo em direção a ela, seus
olhos fixos nos lábios trêmulos. Então Bree passou ponta da língua sobre os lábios secos,
nervosamente, para umedecê-los sentindo sua boca queimar como se ele a estivesse
cobrindo de beijos.
Nesse mesmo momento, os olhos de Heath se apertaram, escondendo sua
expressão sob os cílios, e a pressão de seus dedos aumentou no braço dela. A mesma
tensão estava ali de novo, crescendo entre eles, e o coração de Bree começou a bater
descontroladamente, enquanto ela prendia o fôlego, esperando o próximo movimento.
Como gostaria que Heath a tomasse nos braços, apertando-a junto ao peito dele, e
beijasse seus lábios. Ela sentiu o corpo todo esquentar, e quando aquelas mãos a
levantaram seu coração quase parou de bater. Mas assim que ficou em pé ele deixou de
ampará-la, só por segundos, pois os joelhos dela fraquejaram e Heath teve que segurá-la
novamente. Involuntariamente a mão dela roçou sobre o peito dele, quando tentava
recuperar o equilíbrio, ela sentiu que o coração dele também batia acelerado.
Assustada, o olhar dela foi para o rosto de Heath, mas logo o desviou para longe,
evitando o brilho estranho que tinha começado a arder naqueles olhos azuis, que agora
pareciam duas tochas de fogo. Heath estava sem paletó e gravata. A camisa clara, de
seda, estava aberta até o meio do peito e a pele bronzeada ficava a apenas alguns
milímetros da mão de Bree. Se ela a movesse... pensou, com um profundo suspiro.
Mas não. Ela apenas se afastou e ficou de pé sozinha. Heath se abaixou então para
pegar o livro do chão. Bree se agarrou a ele como se fosse sua vida, sentindo que poderia
cair se não tivesse onde se apoiar. Nesse instante, desejou ser mais experiente, mais
capaz de esconder seus sentimentos. Mas sabia que seu rosto a traía. Agora mesmo
queria se atirar para Heath. E, é claro, ele devia ter percebido o convite nos seus olhos,
no seu rosto e em todo seu corpo. Um convite que tinha sido recusado. Ela corou de
embaraço.
- Acho que você perdeu a página onde estava - Heath disse se afastando pelo
tapete branco e grosso, e ela levantou a cabeça para olhá-lo. Ele estava de perfil, a mão
procurando a caixa de cigarros no console da lareira.
- Não tem importância. Eu acho de novo - Bree afirmou, com todos os seus instintos
dizendo que se afastasse agora, embora duvidasse que suas pernas pudessem se mexer.

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
Em sua cabeça havia um emaranhado de pensamentos e sensações, que ela tentava
desesperadamente pôr em ordem.
- Não o esperávamos antes da próxima semana. - Conseguiu dizer, ficando no
mesmo lugar, as mãos ainda agarradas ao livro. - Você disse ao telefone que... - Bree
parou. Não tinha o direito de fazer comentário sobre as idas e vindas dele.
- As coisas se resolveram mais depressa do que pensei. - Heath acendeu seu
isqueiro e a chama rapidamente iluminou os ângulos de seu rosto. Em seguida, ele
aspirou o cigarro e virou-se de novo para Bree. - Pensei que todos estivessem na cama e
estava indo para a cozinha fazer um café, quando ouvi você resmungar alguma coisa
aqui. Não imaginei que pudesse estar falando dormindo.
- Creio que cochilei um pouco. - Bree colocou o livro em uma cadeira e deu alguns
passos. - Eu vou... Se você quiser, posso fazer o café. Quer algo para comer? Uma
omelete ou um sanduíche quente?
- A omelete é uma ótima ideia. - Ele aprovou. - Não tive tempo de comer antes que o
avião saísse e nesse voo não servem refeições.
- Está bem. Não demoro nada.
Bree foi para a cozinha. Quando começou a bater os ovos, viu-o sentado no
pequeno balcão de almoço, olhando para ela.
- De queijo e presunto está bem? - ela perguntou, sentindo as pernas tão moles
quanto os ovos do prato.
- Ótimo. - Ele olhou para seu relógio. - Peg e Bill foram dormir cedo hoje.
- Ah, não! Eles foram à cidade para jantar e ver um show. É o dia do aniversário de
casamento deles.
- Então é isso! - Heath comentou suavemente, olhando pensativo através das curvas
de fumaça do cigarro.
O fato de que eles estavam sozinhos na casa, veio subitamente à mente de Bree,
fazendo sua boca ficar seca e a tensão voltar imediatamente. Ele também estaria
consciente disso? Estaria percebendo? Bree deu uma olhada para ele através dos cílios,
mas imediatamente se arrependeu pois os olhos dele estavam fixos nela, acesos com
uma vigorosa sensualidade que fez seu coração bater descompassadamente de novo.
Nunca em sua vida tinha estado tão consciente da presença de um homem, tão
fisicamente tomada por essa sensação.
E não era porque fosse ingênua e inexperiente sobre a vida, disse a mesma.
Embora não tivesse experiência, como tantas moças que conhecia, inclusive sua própria
irmã, sabia algo sobre relações físicas. Tinha saído com vários rapazes, e até mesmo
começado a imaginar poderia se interessar profundamente por algum. Mas quando a hora
chegava e vinha o inevitável “Se você realmente me amasse, faria...”, sempre optava por
terminar com tudo, sabendo instintivamente que amor significava alguma coisa mais para
ela do que para eles. Fazer amor sem estar apaixonada, não era seu gênero. Precisava
ser por amor ou nada. Não podia deixar por menos.
Virando-se para o fogão, Bree despejou a mistura dentro da frigideira. Seus
pensamentos voltavam ao momento anterior, quando tinha percebido Heath Vaugh
inclinado sobre ela. A intensa espera e a ardente necessidade de ser colhida em seus
braços, ser acariciada, ser beijada, eram sensações contra as quais nunca antes em sua
vida tivera que lutar.
Sentiu o rosto queimar e estremeceu com a força de seus sentimentos, uma mistura

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
de desejo, autocrítica e indecisão. Tinha que fazer alguma coisa para acabar com aquela
tensão entre eles, para trazer as coisas de volta à normalidade. Olhou de novo para
Heath sentado, em silêncio, com os olhos fixos sobre ela, sua expressão não revelando
nada sobre seus pensamentos.
- Quer que eu sirva um pouco de café, enquanto espera pela omelete? - perguntou,
não sabendo o que dizer.
- Sim, por favor. - Heath apagou o cigarro no cinzeiro e dobrou os punhos da camisa
sobre o braço bronzeado. - Estou me sentindo como se estivesse sem dormir por uma
semana - ele comentou e esfregou a mão sobre a leve aspereza da barba no queixo.
- Nesta sua viagem... foi tudo bem? - Bree perguntou enquanto colocava uma
fumegante caneca de café diante dele e voltava ao fogão para vigiar a omelete que
dourava.
- Melhor do que eu esperava, mas não tão bem como devia ser – ele replicou e
tomou um gole de café. - Humm... está ótimo!
- Tem tido problemas com o suprimento de materiais, não é? - Bree sugeriu e a
caneca de Heath parou a meio caminho da boca, ele olhando surpreso para ela.
- Peg me contou... Ela disse que está tendo problemas com... - Bree gaguejou. -
Desculpe, não quis ser intrometida - falou e Heath sacudiu os ombros.
- Peg gosta de tagarelar. - Ele a estudava seriamente.
- Oh, ela nunca disse nada sobre... nada. Quero dizer, não estivemos fofocando. -
Bree mexia na frigideira e despejou a omelete pronta no prato. - Ela apenas me disse que
você tem uma companhia construtora.
Heath agradeceu pela omelete e começou a comer, rapidamente.
- Peg... só me disse porque... Bem... - Bree engoliu nervosamente, desejando que a
conversa terminasse logo.
- Por quê?
- Eu imagino que foi porque pensa que nós somos... nós somos amigos. - Ela
afastou-se, colocando a frigideira na pia.
- Amigos? - Heath repetiu, sem entender direito.
- Sim... bem... que nós nos conhecemos há algum tempo – ela improvisou.
- Fico imaginando quem pode ter dado essa impressão a ela – ele disse suavemente
e Bree virou-se para encará-lo. Havia um certo cinismo nos lábios dele e no azul profundo
de seus olhos. Ele saiu do banco e foi para o balcão dentro da cozinha, abrindo com
naturalidade o lava-louças e colocando seu prato vazio lá dentro.
Estava tão perto que podia ser tocado. Se ela se inclinasse um pouquinho de lado,
já haveria contato com o corpo dele. Certamente, ele devia estar ouvindo seu coração
pulando desenfreadamente, sentindo a onda de atração física que tomava conta dela.
- Quem teria dado a ela tal ideia? - Heath repetiu, e suas palavras fizeram o
estômago dela apertar. Ele não podia estar pensando que ela havia deixado Peg acreditar
que eram mais do que estranhos!
- Não sei o que quer dizer... - ela gaguejou, forçando-se a ficar onde estava e não
sair correndo como desejava.
- Não sabe? Pois se eu conheço Peg, ela deve estar morrendo para descobrir o que
existe entre nós. - Heath se encostou no balcão, ainda mais perto dela.

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
- Pensei que você tivesse explicado tudo a ela antes de nos trazer para cá - Bree
disse baixinho, começando a se afastar devagar para longe dele.
- Eu não preciso dar explicações a ninguém, muito menos a Peg - Heath replicou
cortante, cruzando os braços sobre o peito.
A arrogância de seu tom, sua atitude, provocou o temperamento de Bree. Ele era tão
diabolicamente seguro de si, sem se importar com os sentimentos dos outros, que ela não
aguentou. E, antes que pudesse segurar a língua, se ouviu falando:
- Nem mesmo quando você sabe que as pessoas vão interpretar mal a situação?
Com um leve movimento ele endireitou o corpo, colocou as mãos nos bolsos da
calça. Estava frio, mas seus olhos demonstravam aborrecimento.
- Em que sentido?
Bree já estava arrependida de sua impulsividade e, sacudindo os ombros, deu as
costas para ele.
- Bem... deixe para lá... isso não importa.
- Se não importa - ele repetiu -, então por que estamos discutindo tudo isso, afinal?
- É que... não é nada. Eu estou cansada. Acho que vou para a cama.
Ia saindo, mas a mão dele segurou seu braço, impedindo que passasse, virando-a
facilmente para que o encarasse.
- De que forma e por quem a situação foi mal interpretada? – Heath insistiu.
Bree apertou as mãos, de olhos baixos. Tinha até dificuldade de focalizar as próprias
mãos quando o corpo dele estava tão perto. Seus olhos subiram involuntariamente para a
seda da camisa, o estômago firme, o brilho da fivela do cinto, o escuro tecido da calça
que moldava os músculos das coxas dele. E havia ainda aquele leve perfume que parecia
fazer parte de Heath! Seu coração começou a disparar de novo e ela engoliu com esforço.
Estava assustada com seu envolvimento na teia do magnetismo que aquele homem tecia
inconscientemente.
Ele levantou seu queixo com o dedo, fazendo com que seus olhos se encontrassem.
- Bem, Bree?
- Eu já disse, não é nada. Ninguém. Não quero falar sobre isso.
- Tanto quanto sei, você viu apenas Peg e Bill na minha ausência. Isso resume tudo
a duas pessoas. Então vamos esperar por eles agora e pedir que expliquem esse... - ele
fez uma pausa - mal-entendido.
- Não! Você... não vai fazer uma coisa dessas! - ela sussurrou, completamente
horrorizada.
- Não vou? Garanto que sim - Heath afirmou, com sua voz fria como uma lâmina de
aço.
Olhando para ele, para a firme resolução de sua expressão, Bree soube que não
haveria nada que o demovesse daquela ideia. Ele faria exatamente o que disse e não ia
se sentir nem um pouco embaraçado quando interrogasse Peg.
- Peg pensa que Ben é seu filho - ela disse depressa, antes que perdesse a
coragem. - Todo mundo vai pensar também.
Por alguns segundos Heath não fez comentário algum e o tique-taque do relógio
parecia bater alto nos ouvidos dela. Ela o olhou temerosa.

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
- Não dou um centavo pelo que os outros pensam - ele declarou finalmente. - Deixei
de me incomodar com isso, provavelmente antes de você nascer. - Os olhos dele a
examinavam com constrangedora intensidade. - Então Peg pensa que você é minha
amante? - Um sorriso cínico puxava um dos cantos de sua boca. Um calor, intenso subiu
desde o pescoço até a raiz dos cabelos de Bree. As palavras dele, ditas nesse tom de
sarcasmo, pareciam mesquinhas demais. - E você por acaso liga para o que as pessoas
dizem?
- É claro! - ela gritou, indignada.
A áspera risada que ele deu, desconcertou-a.
- Mas não o bastante para ter um filho ilegítimo com meu filho? - perguntou
cruelmente e seus dedos apertaram o braço dela até que ela gemesse de dor, incapaz de
achar uma resposta.
- O que quer que eu faça? - ele continuou. - Que coloque um anúncio no jornal?
“Anuncio que Heath Vaugh não é o pai do filho srta. Bree Ransome?”
- Não! E por que está me dizendo tudo isso? - Bree apelava para ele. - Não vejo
necessidade de explicar nada a ninguém. Mas Peg é diferente. E Bill. Eles vivem aqui
conosco. Peg pensa... ela pensa que nós...
- Vivemos juntos? - ele completou brutalmente. - Ou você está mais familiarizada
com o termo “dormimos juntos”?
- Por favor, pare, com isso! - Bree tentava fugir dele, mas seus dedos, a seguravam
como um anel de aço. - Está machucando meu braço! Me solte!
Ele relaxou um pouco a pressão, mas não a soltou.
- Então quer que eu diga a Peg que não dormimos juntos?
- Bem... eu... talvez ela não pense que dormimos juntos, agora. - Ela acentuou o
“agora”.
As batidas descompassadas do seu coração faziam com que ela engolisse em seco
querendo escapar dele, acabando com aquela discussão horrível.
- Talvez ela pense que uma vez nós... Bem... por causa do bebê ela acha... - Sua
voz sumiu.
- Oh! Apenas uma vez! - Ele levantou as sobrancelhas negras. - Que falta de sorte a
nossa! E eu deixei que isso acontecesse? Eu devia saber fazer as coisas um pouco
melhor, não acha? Quero dizer, com minha prática e tendo idade para ser seu pai.
- Por favor, não diga isso!
- Por favor, não diga especificamente o quê? - ele continuou, atormentando-a.
- Que tem idade para ser meu pai. Você não... Você não parece tão velho assim,
para mim. - Ela terminou suavemente a frase.
- Posso garantir que sou. Mais do que velho. - O final foi dito em um tom que vibrava
através dela, ferindo-a de um modo insuportável.
Bree ficou olhando para ele, sentindo a força do controle que ele exercia sobre si
mesmo para evitar uma explosão. Em sua tensão havia um ódio inexplicável e ela
desejava poder entender a razão, pois algo lhe dizia que era dirigido contra ele mesmo.
Era um sentimento complexo e profundo, e não podia ter sido causado apenas por aquela
discussão superficial. Sentia os lábios secos e automaticamente passou a língua sobre
eles. Então percebeu que os olhos dele mudaram de cor, queimando como fogo azul

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
sobre os lábios dela, depois, correndo para baixo e se fixando no movimento agitado de
seus seios sob a camisola fina e o velho roupão de banho. A tensão foi dominando Bree a
um ponto que ela mal enxergava aquele rosto logo acima dela. Heath parecia uma
estranha escultura e ela se embriagou olhando o desenho perfeito de suas faces e
maxilares, o nariz reto e orgulhoso e a sua boca. Ela não conseguia tirar os olhos da
sensualidade daqueles lábios. Queria prová-los, senti-los nos dela, sugá-los.
- Deus! Bree! - As palavras pareciam torturadas e ele puxou-a rudemente contra si,
seus braços prendendo-a como se nunca pretendesse soltá-la. - Instinto paternal é a
última coisa que sinto neste momento - disse roucamente.
Os lábios dele já estavam contra sua testa movendo-se rapidamente para o rosto
dela, até encontrar a sensibilidade de sua orelha, fazendo-a gemer de prazer. Ela mesma
estava beijando o rosto dele e procurando desesperadamente sentir aqueles lábios sobre
os seus.Finalmente, suas bocas se juntaram, numa paixão livre, curvando seus corpos,
fazendo Bree sentir os rígidos contornos do peito dele. Ele passava a mão pelas costas
dela e subia através de seus cabelos sedosos até encontrar sua nuca e prender sua
cabeça de modo que ela não pudesse escapar daquela boca sôfrega e enlouquecida.
Mas ela não queria escapar. E respondia à paixão dele com um fogo e numa entrega que
nunca pensou possuir.
Espontaneamente seus lábios se abriam aos dele, os dedos deliciando-se em
acariciar os cabelos escuros da nuca e a pele das costas. Depois, procurando os botões
pequenos da camisa, a mão de Bree invadiu a macia umidade daquele peito, excitando-
se ainda mais com o calor que emanava dele. A respiração de Heath estava entrecortada
como a dela e ele cobria seu rosto de beijos, correndo para a curva do pescoço.
Aquele leve perfume masculino, misturado ao odor do corpo dele, provocara seus
sentidos e seus dentes começaram a morder levemente a pele bronzeada. Quando a mão
de Heath baixou e se encheu com o seio dela, segurando-o em concha, Bree sentiu que
suas pernas amoleciam, mal podendo sustentá-la. O polegar de Heath facilmente
encontrou o bico ereto e ela gemeu contra seu ombro, completamente envolvida pela
intensidade do desejo que sentia. Ondas de prazer fluíam por seu corpo, quando os
dedos dele provocavam seus seios jovens e rijos.
Todo o corpo dela gritava por ele, pedindo a completa entrega, a união definitiva,
que, sabia, seria incapaz de negar a ele. Seu roupão finalmente caiu no chão e Heath
beijou a base do pescoço dela, enquanto sua mão empurrava as alças da camisola. Então
os lábios dele cobriram os bicos de seus seios nus e ela murmurou seu nome,
contorcendo-se e agarrando-lhe o corpo, não querendo que ele interrompesse aquele
assalto sensual.
Isso era pura loucura, dizia a si mesma. Mas era uma divina indescritível loucura.
Enquanto parte dela censurava esta submissão incondicional, a outra não via jeito de
voltar atrás, agora. Os beijos de Heath, suas mãos, tinham inflamado seu corpo de tal
forma que já não importava o que acontecesse. Sim, ela sabia do perigo que corria, sabia
que ele era um homem experiente, muito mais do que qualquer outro que tivesse
conhecido antes. Agora, porém, era seu corpo e não sua razão que dava a última palavra
e ela estava envolvida, sem nenhuma inibição por aquelas carícias.
- Bree, eu quero você - ele disse roucamente em seu ouvido. - Acho que pode sentir
isso. - Seus lábios corriam pelo rosto dela e por sua boca com um desejo incontrolável.
Sem um pensamento de resistência, Bree se comprimia contra o corpo dele,
roçando os seios pelo seu peito peludo e ardente.
- Venha, vamos arranjar um lugar melhor. - Ele ergueu-a facilmente nos braços para

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saírem da cozinha.
- Não, Heath, eu... - Bree começou a dizer, passando a mão pelo peito dele. - Não
devemos... - murmurou muito baixinho no ouvido dele, colocando a camisola no lugar. -
Veja... meu roupão caiu...
Os olhos dele se incendiaram quando se inclinou de novo para beijar seus lábios
trêmulos.
- Eu compro outro para você... centenas de outros. – Ele riu baixinho e Bree, deitada
em seu peito, tremeu ao ouvir aquele som masculino e profundo.
- Mas Peg... ela vai ver e vai logo imaginar... vai pensar... – Ela parou de falar.
Heath deu aquele seu sorriso cínico e irresistível.
- Ela apenas vai pensar que eu o tirei e joguei aí no chão antes de carregá-la para o
meu quarto e fazer amor com você - ele terminou roucamente, e colocou-a no chão. -
Bem... não podemos fazer isso, podemos? - Heath disse com um sorriso gozador,
apanhando o desprezado roupão, o fogo do desejo ardendo em seus olhos, traindo suas
palavras brincalhonas.
Colocando o roupão sobre os ombros dela, ele agarrou a gola de ambos os lados, e
puxou Bree contra ele, esmagando os lábios dela com paixão. Ela foi novamente
levantada em seus braços e quando já tinha dado alguns passos para fora da cozinha, um
foco de luz bateu na janela, vindo da frente da casa. Bree sentiu o corpo de Heath ficar
tenso, parando onde estava. Uma porta de carro bateu lá fora e logo se ouviram passos
próximos à entrada. Em pânico, Bree tentou se libertar dos braços de Heath, mas ele a
apertou ainda mais.
- Por favor, Heath! Vem vindo alguém. Deve ser Peg. Me ponha no chão!
Ele concordou, mas seus olhos ainda estavam como brasas quando a colocou no
chão, com deliberada lentidão. Quando ouviu o som da chave virando na fechadura, Bree
enfiou rapidamente o roupão, fechando-o sobre o corpo com o cinto. Em seguida, Peg
entrou no hall, acendendo as luzes. Virando-se, a mulher deu com Heath e Bree de pé
diante dela e deixou escapar um pequeno grito.
- Ai, que susto vocês me deram! - disse, colocando a mão sobre o coração. -
Ficamos surpresos quando vimos seu carro lá fora, Heath. Não o esperávamos antes da
próxima semana.
- Estou contente por ter voltado antes do previsto - ele respondeu.
Bree, que o olhava com o canto do olho, sentiu o rosto esquentar. Ele nem tentou
abotoar a camisa, que por sinal estava quase toda fora da calça. Seu cabelo escuro
aparecia despenteado pelos dedos dela, e Bree passou nervosamente a mão pelos seus,
suspeitando que deviam estar no mesmo estado.
- Gostou da sua noitada, Peg? - Heath quis saber.
- Claro! Foi ótima! - Os olhos agudos de Peg iam de Heath para Bree, fazendo com
que esta se sentisse ainda mais desconfortável. - A comida estava uma delícia e fui
mimada a noite toda. Bill também se divertiu. Ele está guardando o carro. Quer um café,
Heath?
- Não, obrigado, Peg. - Heath foi na direção da porta. - Bree já fez para mim. Vou
guardar meu carro enquanto Bill está com a garagem aberta. - Ele procurava as chaves
do carro no bolso quando saiu.
- Que engraçado Heath voltar antes - Peg comentou. - Ele chegou há muito tempo?

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- Não sei, creio que não. - Não tenho certeza da hora, pois estava lendo e tirei uma
soneca. - Depois disso, Bree pensou, o tempo podia ter corrido ou parado. Sentia como
se os beijos de Heath fossem visíveis sobre ela toda e se encolheu, embaraçada.
- É bom que ele tenha você e o bebê quando volta para casa. É uma vida muita
solitária, a de homem sem família nenhuma.
- Sim. Bem... ele disse que suas reuniões terminaram antes do que esperava. - Bree
desconversou. - Eu já estava indo para a cama... Estou feliz por terem passado uma noite
agradável.
Bree deu graças a Deus por poder sair e se esforçou para andar devagar e não
correr para o quarto. Quando chegou lá, fechou a porta encostando-se nela. Heath viria
procurá-la? Tremia incontrolavelmente, seus nervos sensíveis reagindo ainda sob o fogo
que aquele homem tinha acendido nela. Ele a queria, isso era inegável, e ela também o
desejava de um modo que a alegrava e ao mesmo tempo a deixava nervosa e insegura.
Até aquela noite nos braços de Heath, Bree não tivera nenhuma dificuldade em
preservar seus ideais, de amar e ser amada para sempre por um só homem. Agora,
Heath tinha lhe mostrado uma outra face menos espiritual de seu caráter, que a
surpreendia e amedrontava. Ela passou a mão trêmula sobre os olhos, admirada por
sentir a testa úmida de suor e o maxilar tenso pelo grande esforço de controlar os dentes
que tremiam. Vagamente, ouviu quando Heath desligou o carro lá na garagem e depois
fechou a porta. Logo ele viria para dentro de casa e...
Bree foi até a cama, tirando seu roupão e entrando debaixo dos lençóis frios. Heath
logo estaria de volta e viria encontrá-la, esticando seu longo corpo ardente ao lado dela,
para que sentisse aquele ardor que só ele saberia aliviar e satisfazer com sua experiente
masculinidade. Ela sentiu seu corpo aquecer com esses pensamentos e pensou por que
não estava envergonhada disso. No fundo, achava que deveria estar arrependida, mas
não conseguia. Como aquilo tudo poderia ser errado?
Subitamente, descobriu por que tinha sempre fugido das carícias de outros homens.
De certo modo, Heath era a razão. Estivera o tempo todo esperando por ele. E quando se
encontra o homem certo, aquela pessoa especial, o que se faz é direito e bom, pois tudo
vale no amor. Amor? Bree sentou-se de repente na cama. Ela não amava esse homem.
Amava? Não podia amá-lo, pois mal o conhecia. Ninguém se apaixona tão depressa.
Chegava a ser engraçado e até ridículo pensar nisso. Heath era um homem atraente,
mais velho do que todos os que tinha conhecido antes, e, o que era importante, muito
mais experiente.
Mas um homem tão atraente, tão viril, com uma posição privilegiada na vida e aos
trinta e sete anos, devia ter mil mulheres se atirando em seus braços. Ela mesma não
fizera isso? E se ele estivesse procurando nela uma mulher experiente? Iria se
decepcionar... Toda a experiência que tinha eram alguns beijos, mais curiosos do que
apaixonados, dos quais fugia assim que percebia que iam se tomar mais do que isso. É
verdade que o modo como havia correspondido a Heath poderia ter lhe dado uma outra
impressão. Mas é que quando ele a beijava, seus sentidos a dominavam e sua paixão
crescia para se igualar à dele, acabando com toda e qualquer resistência.
Bree agarrava as cobertas, nervosa. Afinal, talvez não fosse muito melhor do que
Briony. Perturbada, lembrou a que tipo de vida, isso tinha levado sua irmã: mudando de
um nojento lugar para outro, passando o tempo todo em uma corda bamba, obedecendo
aos caprichos de Reece, sempre com medo de que ele encontrasse outra garota. E ainda
trazendo uma criança ao mundo, um bebê que na verdade não queria e que abandonou
tão facilmente como um brinquedo do qual de cansou.

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
Oh, não! Tinha esquecido completamente as implicações do bebê. Heath pensava
que Ben era filho dela, que ela o tinha concebido e trazido ao mundo, o que a colocava
como uma mulher experiente sob o ponto de vista sexual. Então, se ele fizesse amor com
ela, ia perceber que era impossível Ben ser filho dela. Saberia que ela mentiu sobre isso!
E aí, é lógico, ia mandá-la embora e impedir que visse Ben. Ou talvez mandar ambos
embora! Não, não poderia... Bree estremeceu. Um homem como Heath não permitiria que
os apelos emocionais de alguém que mentiu a ele mudassem qualquer decisão que
tivesse tomado, ela sabia disso.
Com pavor, Bree viu que aquela teia de mentiras a estava enredando cada vez
mais, envolvendo-a como um casulo do qual logo ela seria incapaz de escapar. Talvez
fosse melhor cortar tudo agora, escapando antes que se envolvesse mais e prejudicasse
Ben. Heath Vaugh podia dar ao pequeno Ben uma vida melhor do que ela, não havia
dúvida. Nem mesmo tinha um emprego e a pequena quantia que economizara precisaria
ser esticada por três semanas ou mais. Oh, não! O pensamento a fez enterrar a cabeça
entre as mãos. O que devia fazer?
De repente, Bree ouviu uma porta ser fechada e Heath e Bill conversando. Em
seguida, passos firmes deixaram o chão de madeira da sala de estar e foram se perdendo
pelo carpete. Bree sentou-se gelada na cama, com o coração quase parando. E se ele
entrasse... se ele a tocasse e beijasse, estaria perdida. Os passos pararam por um
instante do lado de fora da porta, por um tempo que lhe pareceu uma eternidade. Bree
prendeu a respiração, até que ouviu a porta do quarto de Heath ser fechada firmemente.
Com movimentos nervosos, ela saiu da cama e cruzou o quarto, até a porta. Pegou
a chave e virou-a na fechadura. Só então pôde respirar normalmente e, voltando à cama,
enfiou-se debaixo dos lençóis tremendo. Se Heath voltasse e visse a porta trancada,
logicamente não iria arrombá-la. Não fazia seu estilo e, além do mais, acordaria os
Roland. De agora em diante ela teria que ser forte e sair o mais rápido possível do
caminho dele. Se arranjasse um emprego, qualquer um, economizasse algum dinheiro,
então poderia desaparecer da vida de Heath, ficar longe de sua perturbadora presença,
seu maravilhoso lar. E Ben seria feliz nessa vida melhor...
Uma dor fina latejou em suas têmporas. Ela ia ficar sem esse bebê, que era toda
sua família, agora que Briony tinha ido embora. Mas precisava ser racional e optar pelo
que era melhor para Ben. Ali, com Heath, ela ou sua mãe poderiam lhe dar. Ele será mais
feliz com seu avô, Bree repetia para si mesma, metendo em sua cabeça que era assim
que devia ver Heath, somente como avô de Ben. Isso mesmo, ele era avô de Ben e, como
ele mesmo havia dito,com idade bastante para ser seu próprio pai. Mas, em seguida,
voltava à sua mente a lembrança das mãos de Heath devassando seu corpo, seus lábios
sugando os dela, fazendo seu corpo queimar de paixão. Não, pai, nunca! Tinha certeza
de que a última coisa que sentia por ele era amor de filha!
Por um tempo que lhe pareceu uma eternidade, esperou pelo som dos passos de
Heath voltando pelo corredor e parando do lado de fora porta, fazendo girar a maçaneta.
Mas esse som nunca veio. Ele provavelmente havia mudado de ideia e não a desejava
tanto quanto ela pensava, tanto quanto ela o tinha querido e ainda queria.
Bem... assim era melhor... Bree tentava se convencer. Não podia deixar que Heath a
usasse. Ele tinha falado em desejo, atração, mas não em amor. Isso não estava em seus
planos, provavelmente. E depois, se realmente acontecesse algo entre eles, sabia que ia
se recriminar, arrepender e desprezar. Sim, era melhor que tudo ficasse assim. Bree saiu
da cama, destrancou a porta e finalmente, quando começava a amanhecer, conseguiu
dormir.
- Bom dia, Bree! Que dorminhoca! - Peg sorriu para ela, limpando os restos de

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papinha do rostinho de Ben que estava sentado no cadeirão, na cozinha.
Bill havia pedido emprestado o cadeirão de sua irmã, onde Ben estava muito feliz,
recebendo Bree com seu melhor sorriso, e erguendo a colher no ar depois de bater com
força no pratinho. Bree se encolheu com a barulheira e foi tirar a colher da mão dele.
- Desculpe, Peg. Afinal, você teve que dar papinha a Ben. Eu devia estar morta para
não ouvir quando ele acordou. Ben geralmente faz tanto barulho que me acorda.
- Estava mesmo morta para o mundo. - Peg provocou-a. - Dei uma olhada em você
uma hora atrás e não tive coragem de acordá-la. Provavelmente estava muito cansada.
Agora, sente-se e relaxe enquanto preparo seu café. - Dizendo isso ela deu a Ben uma
casca de pão para ele chupar. - Este jovem comeu bastante hoje, por isso não se
preocupe com ele. Agora, o que você precisa, Bree, é de um bom prato de presunto com
ovos.
- Não, obrigada! Quero apenas uma xícara de chá e talvez uma fatia de torrada. Não
estou com fome, hoje. Verdade!
- Não é à toa que vocês jovens são finas como cabo de vassoura. O que come não
dá para alimentar um passarinho. Aposto que um sopro de vento pode jogar você longe. -
Peg sacudia a cabeça enquanto enfiava fatias de pão na torradeira. - Deus sabe o que
pode acontecer se você ficar realmente doente... não tem estofamento onde cair!
- Mas eu engordei desde que cheguei aqui! - Bree sorria,-examinando sua calça
jeans que agora assentava bem e não ficava mais dependurada no seu corpo como
antes. - Acho até que se não me cuidar, vou perder minhas roupas.
- Não creio que precise se preocupar com isso por enquanto. - Peg sorriu. - Pelo
menos tenho que admitir que você parece um pouco melhor do que quando chegou aqui,
só pele e osso.
- Eu era assim? - Bree ria, um pouco embaraçada. - Não estava tão mal, Peg!
- Estava, sim. Eu até comentei com Heath esta manhã que as últimas semanas
fizeram maravilhas por você.
Ao ouvir o nome de Heath, Bree não conseguiu levantar os olhos da mesa, e ficou
examinando os dedos nervosamente. E pensar que Peg andara conversando com Heath
sobre ela!
- Então ele... Heath... já tomou café? - ela perguntou.
- Oh, sim. Foi ele quem trouxe Ben para cá de manhã cedinho.
Bree arregalou os olhos, surpresa.
- Espero que Ben não o tenha acordado.
- Acho que não. Heath geralmente levanta cedo. Eu sempre digo que faria muito
bem a ele descansar de vez em quando, e também dormir mais. - Peg levantou os olhos.
- Mas não adianta!
- E onde está ele agora? Heath, quero dizer - Bree não conseguiu evitar de
perguntar.
- Heath? Ele já foi, querida. Saiu a uma meia hora pejo menos.

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CAPÍTULO V

- Já foi? - Bree ficou olhando incrédula para Peg.


- Sim. Ele saiu logo depois do café... Foi para o escritório. – Peg sacudiu a cabeça. -
Você acha que ele podia esperar até segunda-feira? Não, tinha que ir hoje.
- Ah... - Bree ia tomar um gole de chá da xícara que Peg colocou diante dela, mas
mudou de ideia e voltou com a xícara ao pires.
- Não sabia que ele ia ao escritório? - Peg perguntou, enquanto se ocupava da
cozinha.
- Não. Eu... na verdade... não perguntei nada a ele – Bree gaguejou, ainda sob o
choque de saber que Heath tinha saído. A primeira coisa em que pensou foi que ele tinha
saído para uma de suas viagens, para esconder sua irritação por ela ter demonstrado
seus sentimentos. Talvez ele quisesse ganhar tempo até que a situação esfriasse.
Bree se encolheu de tristeza e tentou dizer a si mesma que estava errada, que
Heath tinha se excitado tanto quanto ela, embora essa excitação fosse puramente física.
- Ele disse que não virá jantar esta noite... - Peg estava dizendo com desaprovação.
- Aqui estão suas torradas, menina. Agora coma!
A torrada entalou na garganta dela, mas ela se esforçou para engolir.
- Acho que vou levar Ben ao jardim um pouco, antes de lhe dar o banho - Bree falou
em seguida.
Ela levantou o bebê do cadeirão sem olhar para Peg, porque sabia que a decepção
estava ali, em seus olhos, e a simpatia da mulher era mais do que podia suportar naquele
momento. O resto do dia passou devagar, e a casa, sem a presença de Heath, parecia
solitária e vazia. Naquela noite, deitada, esperando ouvi-lo chegar, Bree se entregou ao
desespero. Como tinha sido idiota! Como podia ter imaginado, por um momento sequer,
que um homem na posição de Heath pudesse sentir alguma coisa por uma pessoa como
ela? Nem sabia quem eram seus pais, quem haviam sido e onde estavam. Sim, os nomes
deles constavam da certidão de nascimento, mas nomes sem rostos nada significavam.
Nada!
No dia seguinte, um pouco antes do almoço, Bree estava terminando de dobrar
algumas peças de roupa lavada, quando Peg enfiou a cabeça pela porta.
- Ah, você está aí! - Peg entrou no pequeno e arejado quarto de costura, que era
usado para as muitas atividades da casa. Era um lugar agradável, com janelas largas que
davam para linda vista dos arredores, as árvores e o rio.
Bree simplesmente adorava trabalhar ali. Aquele quarto lhe dava uma sensação de
segurança e conforto, e agora era seu refúgio, principalmente sabendo que Heath tinha
chegado e estava em algum lugar da casa. A presença dele aumentava sua ansiedade e
nervosismo e ela sentia-se satisfeita por ter aquele santuário como esconderijo.
- Heath quer ver você. - Peg atirou a inesperada bomba. - Ele está no escritório.
- Ele quer me ver? Para quê? - A voz de Bree afinou de apreensão, enquanto as
batidas de seu coração dispararam.
- Não tenho a mínima ideia, mas não pode ser nada ruim, pode? - Peg riu com a

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
cara de Bree. - Vamos, você parece uma colegial que foi, chamada à sala do diretor. Que
diabo! Vamos, vá correndo... deixe que eu termino isso!
Sentindo-se mesmo como uma colegial em falta, Bree riu timidamente antes de sair
devagarinho na direção do escritório. Pensava que era mesmo uma desajeitada, ingênua
e culpada menina de escola! A porta do escritório estava fechada e Bree ficou parada
diante dela, tentando secar as palmas das mãos úmidas nas pernas da calça. As batidas
de seu coração ecoavam alto em seus ouvidos, até que ela se forçou respirar
profundamente e calmamente, e levantou a mão para bater na porta.
- Entre. - A voz estava abafada, mas para a sensibilidade de Bree, soou áspera e
irritada.
Abrindo a porta devagar, Bree deu um passo para dentro, com as juntas dos dedos
brancas na maçaneta. Heath não olhou logo para ela porque estava sentado escrevendo
rapidamente. Quando levantou os olhos, seu rosto pareceu tão sem expressão, que Bree
sentiu seu sangue gelar. Devagar, ele pousou a caneta na mesa e se encostou na
poltrona, com os cotovelos descansando nos braços da cadeira e as mãos largas e fortes
cruzadas sobre o papel.
- Entre, Bree, e feche a porta - ele disse, e como ela ainda hesitasse estalou os
lábios impaciente. - Não vou morder você.
Bree fechou a porta com os olhos baixos, as mãos apertadas atrás das costas
sentindo-se cada vez mais como uma escolar em falta.
- Creio que precisamos conversar - Heath começou com voz indiferente e Bree
sentiu a pressão das lágrimas quentes querendo chegar aos seus olhos. Ele ia mandá-la
embora, pensou desconsolada. - Sobre a outra noite... - ele acrescentou.
- Eu não creio que tenhamos nada para falar. Eu... - As palavras pararam em sua
garganta e ela virou-se, procurando a maçaneta da porta.
- Bree... eu penso que devemos - Heath repetiu firmemente, seu tom impedindo-a de
sair. - Venha cá e sente-se. Eu, pelo menos, tenho algo a dizer e sinto que é necessário
ser dito.
Devagar, ela foi sentar na ponta de uma cadeira o mais distante possível dele. Heath
praguejou baixinho e se levantou, zangado. Com um rápido movimento e em poucos
passos, estava do outro lado da mesa.
- Que diabo! Não vou me atirar sobre você, não tenha medo! - gritou quando ela fez
um gesto se encolhendo para longe dele.
Ficou olhando-a com as mãos nos quadris, suas pestanas escondendo a expressão
dos olhos. Sua calça estava esticada nas coxas musculosas, a camisa de malha fina
moldava seu peito e as mangas curtas exibiam os músculos perfeitos dos braços fortes.
Ele era tão excitantemente viril, assim de pé diante dela, que Bree tinha que se conter
para não abraçá-lo, sentir a força daqueles braços ao redor dela, prendendo-a tão
deliciosamente junto dele como na primeira vez.
Heath fixou os olhos nos dela e depois baixou-os até os lábios de Bree, com
inconsciente sensualidade. Ela notou que seu maxilar se contraía um pouco, antes que
ele se virasse de repente para longe e se inclinasse, colocando as mãos sobre a mesa,
de costas para ela.
- Suponho que devo me desculpar por meu comportamento. Não me orgulho disso e
quero avisá-la que não vai acontecer novamente. Nunca!
Bree olhava para suas costas, desejando poder correr para ele, envolvê-lo por trás

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em seus braços, sentir a maciez e sua camisa no rosto. Chegou a se levantar e até tinha
dado alguns passos em sua direção, mas parou nervosa, quando ele voltou-se para
encará-la.
- Eu sei que é uma desculpa muito pobre, mas eu estava supercansado aquela noite
e tinha trabalhado como louco durante semanas. Creio que minha resistência estava no
fim. Pode acreditar, não tenho o habito de ficar me aproveitando de garotinhas, por aí.
- Quer dizer que não queria me beijar? - Antes que as palavras tivessem saído, ela
queria tê-las engolido de volta e um estúpido rubor cobriu seu rosto, fazendo-a baixar os
olhos, embaraçada.
- Naquela hora, sim. Não posso negar isso.
As lágrimas escondidas em seus olhos apareceram e Bree piscou furiosamente,
apenas desejando sair correndo dali e se esconder para de algum modo curar a mágoa
de seu coração. Heath não podia ser mais claro: tudo aquilo não tinha significado nada
para ele!
-Mas apesar disso, não devia ter acontecido. - Ele fez uma pausa. - Nós dois
sabemos que não, não sabemos?
Eles sabiam?, Bree se perguntava, torturada. Como Heath podia ficar ali, tão
autoconfiante, e discutir o que havia sido para ela a mais maravilhosa experiência de toda
sua vida, de um modo tão frio e sem emoção alguma?
- Veja, Bree. Não quero que tenha uma impressão errada. Aquela noite foi um passo
para fora do tempo e não vai se repetir – Heath garantiu firmemente.
Bree olhou para cima e, quando ele viu as lágrimas nos olhos dela, praguejou
baixinho e passou a mão sobre os cabelos, impacientemente.
- Bree, eu estava muito cansado. Precisava de uma mulher... qualquer mulher. E
você estava ali.
- Por favor, não... - Ela tomou um grande fôlego. - Não diga mais nada. Eu...
Heath estendeu a mão e segurou seu braço.
- Bree, eu não saio por aí fazendo amor com menininhas que podem ser minhas
filhas. - O canto de sua boca tremia, quando os olhos dele passaram sobre o rosto dela. -
Especialmente garotas com a inocência estampada na testa. Embora eu fique pensando
como você pode ser assim se... - Ele parou, e seus dedos apertaram mais o braço dela,
queimando com um calor que era impossível disfarçar. - Você é a garota do meu filho, ou
coisa assim. Eu não tinha o direito de tratá-la como tratei.
Seus polegares roçavam nervosos a pele dos braços dela, com provocante
sensualidade, quase como se ele não pudesse se controlar.
- Bree... eu... - A voz dele falhou, rouca com a mesma paixão que brilhava no quente
azul de seus olhos.
O corpo dela queimava com a dor que a consumia, e seu coração disparava tanto
que ela pensou que ia desmaiar. A cabeça negra de Heath moveu-se para baixo e Bree
fechou os olhos, a respiração em suspenso enquanto esperava pelo alucinante calor dos
lábios dele. Mas isso não aconteceu, Heath empurrou-a de leve para longe e caminhou
rápido pela sala, para ficar olhando pela janela, enquanto controlava a respiração.
Quando ela abriu os olhos, ficou subitamente fria, sentindo como se parte dela tivesse
sido cruelmente ferida. Queria que seu corpo gelado pudesse se mover, fugir dali, para
depois se curvar até o chão e morrer. Até seu orgulho parecia ter desaparecido!

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
Juntando os pedaços de si mesma e conseguindo encontrar algum resto de seu
auto-respeito, Bree levantou o queixo: - Você gostaria que eu e Ben fôssemos embora? -
perguntou firme, com alguma coisa morrendo dentro dela.
Heath virou-se, com uma expressão fria novamente. Pelo jeito, já tinha conseguido
se controlar de novo.
- Não! - Seu tom não admitia dúvida. - Seu lugar é aqui com a criança, Bree!
Antes que qualquer um deles pudesse dizer mais uma palavra, o telefone na mesa
tocou estridente, fazendo Bree pular assustada. Heath alcançou-o e levantou o receptor.
- Já atendi Peg - ele disse na extensão. - Alô, Roslyn. Como está?
Bree se remexeu, desconfortavelmente, não sabendo se devia sair ou ficar, e tentou
não ouvir a conversa. Mas quando Heath riu baixinho, com aquele mesmo tom sensual
que a fazia vibrar, olhou para ele, surpresa. Os olhos dele encontraram os dela, e se
mantiveram assim. Então Heath fez um sinal para que ela esperasse até que terminasse
a conversa. As mãos de Bree estavam apertadas, enquanto ela lutava para não deixar
que ele percebesse sua angústia. Roslyn! Quem seria ela? Heath teria passado a noite
com essa mulher?
- Não, eu não esqueci. - Ele olhou o relógio de pulso. - Vou encontrá-la em quarenta
e cinco minutos. - Heath ficou ouvindo de novo. - Claro! - Ele riu baixinho e Bree imaginou
se aquele som exercia sobre a mulher o mesmo efeito que provocava nela.
- Até já. - Heath recolocou o fone no gancho e olhou novamente para Bree, o rosto
agora indiferente e frio.
Se Heath pretendia mostrar que a outra noite nada tinha significado para ele, acabou
de conseguir, concluiu Bree. E ela que havia imaginado que poderia ser a mulher da vida
dele! Se não doesse tanto, dava até para rir! Heath podia escolher as mulheres que
quisesse. Ela fez uma imagem mental de Roslyn. Devia ser equilibrada, atraente e
sofisticada. O que um homem como Heath ia ver em alguém insignificante como Bree
Ransome? Ela apertou os lábios para que não tremessem.
- Bree...
- Não. Não diga mais nada. Eu entendo perfeitamente. - A voz dela estava tensa,
nem parecia a sua. Ela preparou-se para sair.
- Bree!
Ela fez uma pausa com a mão na maçaneta da porta, de costas para Heath,
preparando-se para a mágoa que suas próximas palavras poderiam trazer. Esperou, mas
se passaram tensos segundos antes que ele falasse de novo.
- Eu vou sair agora - foi tudo o que ele disse. - Você poderia dizer a Peg que não
voltarei para o almoço?
Depois do almoço Bree se escondeu no jardim. Precisava ficar sozinha. O esforço
de fingir para Peg que tudo estava bem a deixava mais tensa e nervosa. As horas que
passou, transplantando as mudas carinhosamente semeadas nos canteiros por Bill,
trouxeram alguma calma ao seu espírito conturbado. Estava um lindo dia, com o céu claro
sem nuvens e uma brisa leve e fraca. O canto dos pássaros, o chiado das cigarras e o
leve som do cortador de grama de Bill, trabalhando perto do rio, eram os únicos sons que
se ouviam no ar. Aquela paz acabou conseguindo apagar pelo menos uma pequena parte
da infelicidade de Bree. Ela esteve a ponto de perguntar a Peg sobre a mulher chamada
Roslyn, mas algo a impedia, em parte por não querer saber, com receio do que poderia
ouvir. Isso era covardia, reconhecia, mas era impossível para ela falar sobre Heath sem

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demonstrar a força de seus sentimentos.
Talvez essa Roslyn fosse uma parente, quem sabe? Bree parou seu garfo de
jardinagem no ar, quando isso lhe ocorreu. Seria irmã dele? Ou uma prima? Deu um
sorriso de lado e voltou a revolver a terra com mais força. O tom de voz de Heath não era
de quem estava falando com alguém da família. Decididamente, não.
Infeliz, ela pensou de novo que tinha de fazer alguma coisa para encontrar trabalho,
porque sem dinheiro, estava presa ali, e não seria capaz de sair, com ou sem Ben. O
primeiro passo devia ser a seção de anúncios de empregos, nos jornais. Sua experiência
se limitava a vendedora ou trabalho em indústria, como em seu último emprego. Mas
sabia datilografar. Havia feito um curso noturno, mas infelizmente não chegara a praticar.
Na verdade, estava como um cachorro correndo atrás de seu próprio rabo. Não
conseguiria emprego porque era inexperiente e não tinha experiência porque ninguém lhe
dava emprego. Bree estava tão envolvida em seus pensamentos, que só notou o carro se
aproximando pela alameda quando ele quase parou na frente da casa. Seria Heath? Só
que não era a Ferrari vermelha ou sua Mercedes, mas um Citroen azul-prateado.
Bree ficou onde estava, de cócoras, olhando o homem que saía do carro e olhava
surpreso para ela.
- Bem... alô, você aí! Você é uma vista e tanto para meus olhos cansados! - ele
disse galanteador, sorrindo e parando do outro lado do canteiro de flores. - Heath não me
contou que tinha contratado mais empregados.
O homem era de altura média e troncudo, com cabelos cor de areia e pele clara,
alguns anos mais velho do que Heath. Parecia conhecer bem o lugar. Quando Bree se
levantou devagar, o estranho a olhou de alto a baixo, fazendo-a sentir-se inibida em seu
short desbotado e sua camiseta velha.
- Eu não trabalho, exatamente - ela começou a dizer. - Estou de visita por uns
tempos.
- Visita? - As sobrancelhas cor de areia se ergueram. - É amiga dos Roland, não é? -
ele perguntou, examinando-a de um modo que não agradava nada a ela.
- Não. Amiga de Heath.
- Ah, entendo!- O tom da frase fez subir um calor ao rosto de Bree e ela procurou
alguma explicação para desfazer o mal-entendido.
Será que ia ser sempre assim? O que será que as pessoas viam nela que
imediatamente as faziam pensar o pior?
- Muito bem, então! Vamos nos apresentar? - O homem sorriu e estendeu a mão. -
Sou Ronald Hailey, um velho amigo de Heath.
- Bree Ransome. - Ela tirou sua luva de jardinagem para apertar a mão estendida, e
puxou firmemente sua mão de volta, porque ele a estava segurando mais tempo do que
devia.
- Qualquer amiga de Heath é minha amiga também - Hailey riu, e Bree pensou se
era apenas sua imaginação ou ele tinha mesmo feito uma pequena pausa antes da
palavra “amiga”. - Bem, agora que nos conhecemos, há quanto tempo está aqui? - Ele
não parecia interessado em deixá-la sozinha.
- Algumas semanas - Bree replicou, desejando que Bill aparecesse para cortar a
grama na frente da casa. Esse Hailey parecia muito confiante e, além de tudo, não tinha
ido com a cara dele.
- Algumas semanas, hein? - Ele franziu os olhos. - Eu pensei que Heath tivesse

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voltado agora, depois de passar algumas semanas no sul.
-Sim, ele voltou. Ele me trouxe para cá e depois voltou a Sidnei. Você veio ver
Heath? Ele não está em casa no momento, mas talvez Peg saiba onde possa encontrá-lo.
Vou perguntar a ela. - Bree fez um movimento na direção da casa, mas Hailey segurou
seu braço para detê-la.
- Não tenha pressa. Sou somente um bom vizinho fazendo uma visita. Moro há
poucos quilômetros daqui. - Ele fez um gesto em direção à cidade. - Não é longe, posso
voltar para ver Heath a qualquer momento. Além disso, gostei de conhecer você.
Bree sentiu seu rosto esquentar.
- Obrigada. - Ela aceitou o cumprimento.
- Nunca pensei em ver uma jovem moderna corar desse jeito Hailey comentou
suavemente. - Espero que Heath perceba a raridade que encontrou - acrescentou, com
uma leve e quase agressiva emoção em seu rosto.
- Sr. Hailey, penso que não está entendendo - Bree disse firmemente. - Eu sou
apenas uma amiga de Heath, nada mais, e acho bastante embaraçoso o senhor fazer
esse tipo de insinuação.
Os olhos claros a olhavam, duvidosos.
- Desculpe, Bree. Posso chamá-la de Bree? Pode me chamar de Ronald ou Ron, se
preferir. Bem, não quis causar nenhum embaraço a você. Por favor, aceite minhas
desculpas se a ofendi. - O sorriso dele era puro charme e Bree suspeitou que usava esse
sorriso com a mesma facilidade que respirava.
- É que... Heath... bem... - Ele sacudiu os ombros. – Vamos dizer... Ele nunca teve
problemas para fazer amigos e amigas sabe?
Essas palavras, ditas casualmente, apunhalavam Bree e ela virou-se para colocar as
luvas no carrinho de terra, e assim esconder o tremor de seus lábios.
- Acho que eu não sabia disso.
Houve uma breve pausa na conversa.
- Há quanto tempo disse que conhece Heath?
- Eu não disse. - Bree se controlava bem agora. - Mas não há muito tempo. Não
tanto quanto você, sem dúvida. - Ela deixou a resposta no ar, sabendo que era mais
seguro que, assim, daria uma chance para Hailey falar sobre si mesmo.
- É... Eu conheço Heath há muitos anos... Na verdade, nos conhecemos um pouco
antes de ele casar com Pamela. - Hailey sorriu, quase com zombaria. - Pamela e eu
fomos colegas de escola e Heath trabalhava para o pai dela.
A curiosidade de Bree foi despertada. Ela gostaria de poder fingir que não, mas
queria saber tudo que podia sobre esse homem que tinha o poder de levá-la ao céu ou ao
inferno em segundos.
- Sim - continuou Hailey -, ele tomava conta dos negócios do velho Jack Andrews,
quando este se aposentou, por problemas de saúde. Heath começou a aprender com
Jack os segredos da coisa e... bem, então depois, nada melhor do que casar com a filha
do patrão para entrar no lugar do sogro.
Embora isso tivesse sido dito com um sorriso, Bree sentiu a reprovação nas
entrelinhas. O que Ronald tinha querido dizer é que Heath havia casado com a filha do
patrão para tomar conta de tudo!

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- E parece que os negócios foram muito bem dirigidos - Bree se aventurou a
comentar, sua mente trabalhando para assimilar tudo o que o homem estava dizendo e
dando a entender.
Hailey concordou.
- Andrews não estava preocupado quando Heath tomou a direção, posso garantir.
Agora, a Vaugh Enterprises, entre outras coisas, é uma firma multimilionária. Infelizmente,
o velho Jack nunca viveu o bastante para ver isso. Morreu logo depois de se aposentar.
- Pamela era sua única filha?
- Sim... - Ele parecia refletir um pouco, mostrando rugas profundas entre as
sobrancelhas. - Pamela era a única. Mimada, é claro, mas uma lindíssima deusa mimada.
Uma das mais lindas mulheres que já vi. - Seus lábios se torceram amargamente, antes
de dar uma risada rouca. - O assunto predileto da cidade, pode-se dizer.
- O que aconteceu a ela? - Bree não pôde se impedir de perguntar, embora se
desprezasse por isso.
- Ela... - Hailey parou e olhou agudamente para Bree. - Bem, Pamela era uma
mulher muito infeliz. Talvez tenha morrido de infelicidade, apesar de toda sua beleza e
dinheiro. - Ele se virou e foi para o carro. Bree ficou olhando para ele, tentando entender
tudo aquilo.
Hailey parou na porta do carro, com a mão na maçaneta, e voltou-se para ela.
- Bem... acho melhor eu ir andando. - Seus olhos correram por Bree num frio exame,
deixando-a gelada e com um estranho pressentimento. - Diga a Heath que passei para
dar um alô.
Antes que Bree pudesse responder, a Ferrari vermelha chegou e parou diante da
garagem. Ambos se viraram para ver o homem alto e musculoso sair do volante. Seus
olhos foram do Citroen azul-prateado para Bree, que estava parada no mesmo lugar. A
porta da Ferrari se fechou com um clique e os passos de Heath percorreram o espaço
entre eles. Ele usava a mesma calça azul-escuro e a camisa de malha de mangas curtas
que vestia de manhã. O sol brilhou em seu cabelo escuro e a brisa soprou-o para longe
de seu rosto. Uma pantera negra não podia ser mais felina e ágil, nem tão potencialmente
perigosa como Heath Vaugh quando se aproximou deles.
- Heath! Por pouco perdi você! - Ronald Hailey disse jovialmente, seu bom humor
recuperado quando bateu nas costas de Heath com ares de velho amigo.
- A que devemos o prazer dessa visita, Ron? - Heath perguntou bastante calmo,
embora sua expressão não demonstrasse boas-vindas.
- Nada em particular - respondeu o homem. - Ouvi dizer que estava de volta, e
queria saber como estão as coisas lá pelo sul.
- Tudo bem - Heath respondeu evasivamente.
- Bom... bom. Nada como vistoriar pessoalmente os negócios.
- Não há nada errado por lá. - Heath encostou-se contra o Citroen e cruzou os
braços. - Penso que sua fonte de informação falhou desta vez.
- Você me conhece, Heath. Eu raramente dou ouvido a fofocas. - Hailey riu.
Os olhos de Heath o fixaram por alguns segundos, antes de se desviarem para
Bree. Então ela precipitadamente pegou suas luvas, pois não queria parecer curiosa.
- Eu estava me apresentando a Bree. - Os olhos de Hailey acompanharam os de

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
Heath e se apartaram significativamente. - Ela me contou que é sua amiga.
- Sim - Heath confirmou secamente.
- Tivemos uma conversa interessante, não Bree? - Os olhos de Hailey
acompanhavam, atentos, a reação de Heath.
Ronald Hailey era como uma cobra, Bree pensou. Uma cobra, que atraía e
manipulava, antes de dar o bote. Entre aqueles homens não havia amizade. Era visível o
antagonismo nas atitudes de Heath.
- Não conversamos muito - Bree disse inquieta, desviando os olhos.
- Bem, então talvez eu tenha perdido a noção do tempo. – Ronald riu alto. - Sua
beleza jovem me enfeitiçou. Ela é deslumbrante, não é mesmo, Heath? Parece um sopro
de ar fresco para uma dupla de velhotes desiludidos como nós, não acha?
- Se eu ouvisse você, Ronald, estaria andando curvado com uma bengalinha na mão
- Heath respondeu, meio irritado.
- É, nós ainda aguentamos alguns rounds não é mesmo? – Ronald riu de novo e
Bree apertou os dentes de raiva.
Nesse momento a porta da casa se abriu e os três viraram-se para Peg, que se
aproximava carregando Ben.
- Já voltou, Heath! - Ela saudou para o outro homem, com seu sorriso se apagando
um pouco. - Alô, sr. Hailey! Eu não sabia que tínhamos visitas.
- Creio que sou mais do que uma simples visita, Peg. Sou quase da família. - Ronald
provocou, mas Peg não respondeu.
- Eu fiz um bule de chá, e vim ver se alguém quer um pouco. Bree, que tal uma
parada no trabalho? Aceita uma xícara?
- Adoraria, Peg -. Ronald aceitou imediatamente. - Ninguém faz chá como você.
Tenho certeza que Bree também quer, trabalhando como está aqui fora nesse sol. - Seus
olhos caíram no bebê. - Esse aí quando chegou? Você soube manter segredo sobre isso
Peg! – Ele provocou de novo.
Peg apertou os lábios e, vendo seu embaraço, Bree se apressou a pegar o bebê.
- Eu não sabia que ele tinha acordado, Peg. Ben tem dado trabalho, não?
- Claro que não, esse meu mascotinho! - O rosto dela se iluminou. - Quer o chá aqui
no jardim, Heath?
- Obrigado, Peg. - Heath sorriu vagamente para ela.
- Certo. Sentem-se, que já volto com a bandeja. - Ela desapareceu e eles foram até
o outro lado do jardim.
Heath fez um sinal para Bree sentar-se na cadeira que ele segurava para ela, antes
de colocar-se no lado oposto, encostando-se com as pernas esticadas. Seus olhos
pareciam ter encontrado algo mais interessante na ponta dos sapatos, pelo modo como
olhava para eles em silêncio. Uma tensão desconfortável se instalou entre eles, enquanto
aguardavam Peg com o chá. Bree sentia os olhos de Hailey sobre ela, com aquele
sorrisinho irônico.
- O garoto é uma graça - ele comentou. - Parecido com a mãe. - Seu sorriso era tão
irritante para Bree, como seu comentário.
- Ele puxou o meu lado da família - ela disse com cuidado, desejando poder explicar,
diretamente, que estava enganado, que Heath não era o pai do bebê. Sabia que Briony,
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no seu lugar, não teria hesitado. Mas Briony era diferente. Bree sabia que isso estava
acima de sua capacidade, nesse momento.
- Pronto, aqui está! Peg voltou, quebrando o silêncio. Ela colocou a bandeja sobre a
mesa branca do jardim e começou a servir. – Almoçou bem, Heath? - perguntou.
- Sim, obrigado. - Ele tomou um gole de chá e sorriu para ela, antes que Peg
voltasse para a cozinha.
Bree levantou sua xícara, mas Ben avançou para o cabelo dela, quase derrubando
tudo. Calmamente Heath foi até ela e pegou o bebê, com uma naturalidade que deixou
seu rosto escarlate.
- Tome seu chá, eu o seguro - ele disse e as sobrancelhas de Hailey se ergueram
quase até a linha dos cabelos.
- Mas como você está domesticado! - Hailey comentou. – Pelo que vejo, ainda não
perdeu o jeito.
- É... parece! - Heath replicou, irônico.
- Isso me lembra... nenhuma notícia de Reece?
Houve um pesado silêncio e os olhos de Bree pousaram involuntariamente em
Heath, um momento antes que suas pálpebras pesadas escondessem seu azul de um
jeito que fez o coração de Bree gelar. Ela não conseguia entender aquele jogo de
emoções.
- Não... nada de concreto – Heath respondeu rapidamente.
- Aquele moleque! - Ronald murmurou, e a conversa se interrompeu como se todos
estivessem mergulhados em seus próprios pensamentos.
- Bem... creio que é hora de ir. - Ronald pousou sua xícara vazia no pires. - Tenho
outras visitas a fazer hoje. - Sem dúvida vejo você na festa de terça à noite, não, Heath? -
ele perguntou, enquanto ia se levantando.
Heath se levantou também e encolheu os ombros.
- Suponho que sim. É uma ajuda para uma boa causa.
- Você também vai, não, Bree? - Ele fez uma pausa e olhou para ela com olhos
brilhantes.
Ela sacudiu a cabeça.
- Não!
- Que pena! Iria se divertir... e teria chance de conhecer todo mundo. - Ele olhou
para Heath. - Se você vai direto do escritório para a festa, Heath, eu posso apanhar Bree
e levá-la comigo.
- Oh, não... eu... - Bree começou a dizer apressadamente, não querendo ir a lugar
nenhum com Hailey e sabendo, por instinto, que o convite dele era mais para provocar
Heath, do que uma cortesia. A sensação de uma antiga hostilidade entre os dois homens
estava agora mais aparente do que nunca.
- Obrigado, Ron. - As palavras de Heath eram como pedras. - Ainda não tive tempo
de falar com Bree sobre isso. Mas se ela quiser ir... - seu rosto estava indecifrável- ela irá
comigo.

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CAPÍTULO VI

- Eu não posso ir a festa nenhuma!


Algumas horas tinham se passado desde a partida de Hailey, e Bree estava mais
uma vez diante de Heath, no escritório. Quando o carro do visitante havia desaparecido
no portão, Heath devolveu o bebê para Bree e foi para seu escritório, antes que ela
pudesse fazer qualquer comentário. Mesmo porque o choque da declaração dele deixou-a
completamente muda.
Agora Ben já tinha mamado e estava em seu berço brincando. Peg disse que não
precisava de ajuda para o jantar. Então, Bree fora timidamente à procura de Heath, para
falar sobre a festa. Heath olhava para ela, tamborilando os dedos nos papéis, como se
não tivesse tempo a perder com interrupções.
- Você não vai a nenhuma festa ou a nenhuma festa comigo? – ele perguntou
franzindo os olhos.
- Não foi isso que eu quis dizer. - Bree levantou as mãos, deixando que caísse
depois, em completo desânimo. Como podia lhe dizer que iria a qualquer parte, até o
inferno ou mais adiante, desde que fosse com ele? - Não posso ir a festa nenhuma.
Tenho que tomar conta de Ben.
- Peg adora ficar com ele. Além disso, Ben estará dormindo quando sairmos. A festa
não começa antes das oito. Isso me dará tempo suficiente para vir até em casa, tomar um
banho e mudar de roupa.
- Não possoir. Sinto muito.
Heath se levantou, andou devagar e parou na frente dela. Bree corajosamente
controlou sua vontade de sair dali e, tanto quanto possível, guardou uma certa distância
entre eles, para sua própria segurança.
- Não pode ou não quer ir? - O dedo dele levantou seu queixo.
- Não posso - ela apenas sussurrou, pois a proximidade dele começava a exercer
seu poderoso domínio sobre ela.
- Por quê? Tem que me dar outro motivo além desse, de tomar conta de Ben.
- Eu não tenho... - Ela respirou profundamente. - Bem, não tenho nada que possa
vestir para uma festa - admitiu relutante.
- Entendo. - Ele a olhava com cuidado, como que tentando enxergar dentro dela. -
Não tem nada para vestir?
- Não tenho mesmo! Pode olhar no meu armário, se não acredita - ela disse,
desafiadora.
- Onde estão suas roupas de festa?
- Eu... por favor, Heath. Não quero ir a essa festa - Bree disse baixinho. Os olhos
dele sobre ela eram como uma carícia em seu corpo.
- Mas eu quero que vá.
- Eu não conheço ninguém e na verdade não sou muito chegada a festas.

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- Então devia viver brigando com Reece. Ele adorava festas! - Heath voltou para a
mesa, e pegou um cigarro. - Amanhã cedo você pode ir até a cidade comigo - ele disse,
acendendo o isqueiro - e pode comprar alguma coisa para usar na festa.
- Não posso fazer isso! - Bree quase gritou, ignorando a referência dele a Reece.
Heath deu um suspiro de impaciência.
- Não pode ou não quer? A festa não deve ser nada muito formal. Eu mesmo não iria
se fosse algo cerimonioso.
- Desculpe, mas não tenho dinheiro para gastar em roupas que só vou usar uma vez
na vida em uma linda noite de luar.
- Eu pensei que toda mulher fosse louca por um vestido novo de festa.
- Bem... é que eu não posso me dar a esse tipo de luxo. Nunca pude, em toda a
minha vida. Isso é para suas amigas ricas que vão passear em butiques exclusivas e
compram o que lhes agrada, sem perguntar o preço. Mas algumas pessoas neste mundo
não podem fazer isso. Receio não ser de sua classe. Tenho que contar cada centavo que
gasto, e não vou gastar o pouquinho que possuo em um tipo de roupa que seja aceitável
para seus amigos. Talvez precise me virar sozinha de novo a qualquer momento e terei
que alimentar a mim e a Ben com meu próprio esforço.
Um silêncio pesado encheu a sala e todo o corpo de Bree parecia ter gelado.
Preocupada, ela levantou os olhos para Heath, esperando uma explosão de raiva, mas a
expressão dele estava impassível como sempre, olhando-a através de uma espiral de
fumaça.
- Desculpe - ela murmurou. - Eu não devia ter dito isso. Creio que fiquei zangada.
- Eu não disse para gastar dinheiro com o vestido - ele comentou apenas. - Uma
amiga minha tem uma loja perto do meu escritório. Pode ir lá e comprar o que precisar.
- Não posso aceitar também seu dinheiro. - Bree estava decidida. - Não é que esteja
querendo ser ingrata com sua oferta - ela se apressou a acrescentar. - Mas o fato de estar
nos deixando ficar em sua casa, Ben e eu, é mais do que suficiente. Não posso permitir
que... bem... E que embora eu não seja nada para você... - Ela sentiu o rosto arder,
percebendo que a última frase podia ter duplo sentido.
- Considere isto como pagamento por serviços prestados.
Bree empalideceu. Certamente ele não estava querendo dizer... Ele não podia
sertão cruel!
- Por seu trabalho no jardim, por ajudar Peg - ele completou, depressa. - Aliás, sobre
isso, Bree, eu queria dizer que não é necessário. Não quero ver você trabalhando na terra
como se precisasse pagar sua estadia aqui.
- Gosto de ajudar Peg e de fazer jardinagem com Bill - ela disse honestamente.
- Você é minha hóspede, Bree. Não se esqueça disso - Heath disse baixinho,
apanhando alguns papéis. - Esteja pronta às oito horas da manhã. - Ouvindo aquele tom
de dispensa, ela apenas virou-se e saiu, sabendo que Heath não pretendia continuar a
discussão.
A viagem até Brisbane na manhã seguinte parecia irreal para Bree. Ela não podia
saber se sonhava ou não. Se alguém tivesse lhe dito, quando estava desempregada,
contando o dinheiro no seu miserável quarto em Bunderberg, e sem nenhuma perspectiva
de achar um lugar para viver, que dali a um mês estaria recostada em uma confortável e
luxuosa Ferrari vermelha, ao lado do mais atraente, mais excitante homem que podia

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imaginar, teria dado uma gargalhada de descrédito. Olhando Heath com o canto do olho,
sentiu seu coração se descontrolar. Aquele perfil perfeito lhe era tão familiar, que parecia
que o conhecia a vida inteira e ainda mais além, era alguma vida anterior. As mãos fortes
e morenas se moviam para virar o volante e o poderoso carro voava. Passaram por um
breve trecho ao longo do rio, antes que o tráfego os fizesse diminuir a marcha.
- Nessas ocasiões, há muito para se dizer a favor dos helicópteros - Heath
comentou, quando pararam no sinal vermelho.
- Sim, seria bem mais rápido - Bree concordou, desejando poder dizer algo
interessante, em vez de sofrer no incômodo silêncio. Não era de admirar que Heath a
achasse uma boba! Ela nem podia se comparar com as mulheres do círculo social que ele
vivia. Às vezes tinha medo de parecer muito deslocada naquela festa. Como desejava
que ele compreendesse isso e não insistisse para levá-la! Ela suspirou inconscientemente
e Heath se virou.
- Infelizmente o trânsito é sempre ruim nesta hora da manhã. São as desvantagens
da cidade.
- Está tudo bem para mim, quero dizer, eu não me importo com isso. - Ela
mergulhou de novo em um embaraçoso silêncio, sentindo-se mais desajeitada do que
antes.
O sinal verde acendeu e a fila de carros caminhou na direção do agrupamento de
altos edifícios do centro da cidade.
O escritório de Heath era em um prédio de muitos andares, um pouco fora do núcleo
central, e ele dirigiu a Ferrari para o estacionamento do subsolo. Saindo do carro,
entregou as chaves ao jovem manobrista, que correu na direção dele murmurando um
efusivo bom dia. Heath segurou a porta para Bree e ajudou-a a sair enquanto o rapaz
lançava um expressivo olhar de admiração, mesclado de curiosidade.
- Limite-se a estacionar o carro, Glenn - Heath lhe disse. – Não corra.
- Claro, sr. Vaugh. O senhor me conhece! - O rapaz sorriu abertamente, seus olhos
analisando Bree apreciativamente mais uma vez.
Automaticamente Bree sorriu para ele e então a mão de Heath pegou seu braço
com- firmeza e seguiu na direção dos elevadores em passos tão rápidos, que ela quase
teve de correr para acompanhá-lo. Dentro do elevador, ele fixou os olhos em um ponto
adiante, com a cara fechada, e ela ficou quieta, sentindo que Heath estava com raiva
dela.
O que o teria aborrecido? O que fizera de errado? Ela engoliu nervosamente e sua
garganta secou, provocando uma leve tosse. Heath se virou para olhá-la, com seus olhos
escuros e tempestuosos, mas o que ele ia dizer foi interrompido pela porta do elevador
que se abriu silenciosamente no andar de entrada do edifício. Sem uma palavra ele fez
um gesto para que ela saísse na frente, para o hall. Várias pessoas passavam, movendo-
se ao redor da mesa de recepção e algumas esperavam os elevadores. Eles olhavam
para Bree e Heath com rápidos olhares que expressavam surpresa quando reconheciam
seu patrão acompanhado daquela jovem mulher de cabelos longos.
Bree estava corada pelo embaraço, mas Heath mal tomava conhecimento de tudo e
levou-a para fora através de outra porta, operada eletronicamente. A butique se chama
“Jacqui’s”. Vá direto até a esquina, vire à esquerda, três portas abaixo - ele disse
rapidamente, e então seus olhos se encontraram por um momento. Toda a indecisão
devia estar visível no rosto dela, porque Heath bufou, olhando impacientemente para o
alto.

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- Ora, Bree, eu telefonei antes para dizer que esperassem você e a ajudassem a
escolher o que quisesse - ele disse um pouco menos severamente. - Quando tiver
terminado, volte aqui. Vou mandar alguém levá-la para casa.
Bree ficou ao lado dele, querendo implorar que fosse com ela, mas sabendo que ele
não podia e provavelmente não faria isso. Ela baixou os olhos, desanimada. Então Heath
colocou as mãos nos ombros dela e virou-a na direção que tinha indicado, dando-lhe um
leve empurrão. Ela deu alguns passos e virou para trás, mas ele levantou a mão antes
que ela pudesse abrir a boca.
- Nada de “não quero as roupas”, vamos! - Ele sorriu e seu sorriso vibrou nela, como
a corda de um violino.
Ela o amava tanto que apenas seu sorriso machucava. Era uma dor estranha e forte.
Sim, ela o amava. Tão certo como o sol da manhã estar brilhando sobre ela. Mas logo a
primeira nuvem cobriu essa luz. Heath nunca poderia saber o quanto ela se apaixonara,
porque se o envolvesse com seus sentimentos, ele certamente ia mandá-la embora. Por
isso, usou toda sua força de vontade para esconder qualquer emoção no rosto.
- Heath! O que... por quem devo perguntar quando entrar na butique? Houve uma
pausa antes que ele respondesse.
- Roslyn Jacobs - Heath disse com naturalidade. Então as portas do elevador se
abriram e ele sumiu de vista.
O monte de roupas crescia e Bree olhava incrédula para a mistura de cores. Não
havia como negar a beleza de cada peça escolhida por aquela irresistível mulher
impecavelmente arrumada. Tudo parecia ter sido feito especialmente para Bree. Seu
metro e setenta de altura e curvas bem feitas faziam justiça às calças e blusas, conjuntos
e vestidos que ela achava estar vestindo e despindo há horas. E alguma coisa lhe dizia
que tinha que parar.
- Por favor! Eu não posso levar tudo - ela começou a dizer.
- Que bobagem! - Roslyn Jacobs falou sem ligar para suas palavras e fez um gesto
para uma jovem assistente, que começou a dobrar cuidadosamente as roupas para serem
encaixotadas e embrulhadas. - Tenho Instruções de Heath.
Além das calças, blusas e vestidos, havia também sapatos e bolsas e até um
minúsculo biquíni que fazia conjunto com a saída-de-praia estampada. Roslyn entrou
depressa no provador, trazendo um conjunto azul-claro.
- Acho que agora deve vestir isto... - ela entregou a roupa a Bree para que vestisse e
apanhou a saia barata e a blusinha que Bree usava quando chegou. Com certa relutância,
ela as colocou com as outras roupas, para serem embrulhadas.
Antes que Bree pudesse protestar, estava sendo ajudada a vestir uma blusa de seda
de um azul mais escuro que o conjunto, e que realçava suas formas, com um decote
baixo mostrando o começo de seus seios. A saia foi metida sobre sua cabeça, e o corte
elegante caiu com perfeição nos quadris bem feitos, afinando sua cintura. Roslyn ajudou-
a a vestir o casaquinho.
- E agora estes sapatos. - As sandálias de Bree desapareceram e os sapatos com
um par de meias foram colocados em suas mãos.
- Não vou ter onde usar isso tudo - Bree mais uma vez protestou.
- Você tem maquilagem? - Roslyn olhava para o rosto dela, sem se preocupar com
suas objeções.
- Sim. Na minha bolsinha. - Bree pegou sua carteirinha de plástico e Roslyn foi até o

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balcão.
- Coloque tudo aqui dentro. - Ela deu a Bree uma bolsa de couro igual aos sapatos,
azul-escuro.
Nervosa, sob o olhar crítico da outra mulher, Bree aplicou a maquilagem e escovou
seus cabelos. Tinha que admitir que o azul conjunto dava um brilhante reflexo a seus
olhos cinzentos e realçava seus longos cabelos claros e brilhantes, que caíam como uma
cortina de seda sobre suas costas.
- Vamos mandar entregar tudo esta tarde, para você. - Roslyn apanhou um livrinho
preto de anotações e uma caneta dourada. Seus dedos de unhas perfeitas e vermelhas
correram sobre a página.
- Você é Bree Ransome, não é? E qual é o endereço?
- Bem... - Bree sentiu o calor subir ao seu rosto. - Receio não saber o endereço
certo. Estou na casa de Heath... isto é, com o sr. Vaugh.
A caneta parou imediatamente e os olhos escuros de Roslyn Jacobs pareceram virar
duas pedras de gelo.
- Está hospedada na casa de Heath? - ela perguntou não acreditando. - Tive a
impressão de que você era amiga de um amigo dele.
- Sim... bem, eu acho que sou - ela gaguejou. - Ele... Heath... foi muito amável... e
me convidou para ficar lá por uns tempos.
Bree achou difícil encarar aqueles agudos e experientes olhos bem maquilados que
ela sabia, instintivamente, não tinham deixado de notar o seu rubor. Afinal de contas, era
pouco provável que a mulher com quem Heath tinha falado ao telefone não fosse aquela
sofisticada criatura que estava a sua frente. Roslyn não era um nome tão comum assim, e
Bree sentiu que era o tipo de mulher que seria capaz de combinar com um homem como
Heath Vaugh. Alta e elegante, com oblíquos olhos negros, seus cabelos eram puxados
para trás e em um coque simples, num estilo que parecia muito severo para seu rosto,
mas apenas chamava mais atenção sobre sua beleza exótica. Bree não podia adivinhar
sua idade, mas suspeitava que era, pelo menos, dez anos mais velha do que ela. E tinha
uma vida inteira de experiência, pensou tristemente.
- Entendo... - As palavras pingavam enquanto a caneta de Roslyn corria sobre o livro
negro. - Então você é a amiga de um amigo do Heath, hospedada na casa dele - ela
insistiu.
- Isso mesmo. - Bree concordou. Bem, isso não era exatamente uma mentira, tentou
dizer a si mesma. - Nos conhecemos em Sidnei. - Oh, Deus, por que ela havia dito
aquilo? Não fora feita para carregar esse tipo de meia mentira, especialmente com uma
mulher como essa, cujos olhos não perdiam nada e que, se sua expressão fosse levada
em consideração, estava pensando o pior dela.
- Quanto tempo pretende ficar por aqui? - Roslyn perguntou, aparentando
despreocupação.
- Não estou bem certa. - Bree balançou os ombros. - Bem, acho que vou andando.
Gostaria de dar uma olhada na cidade antes de voltar para casa... voltar à casa... dele...
do sr. Vaugh. - Ela sentia que tinha que sair daquela loja depressa, para longe daqueles
olhos cortantes e desaprovadores, pois a raiva da outra mulher era tão mal disfarçada que
quase a tocava fisicamente. - Obrigada por sua ajuda com as roupas. Adeus.
Bree quase saiu correndo para a luz do sol, o ar claro, tomando a direção oposta ao
escritório de Heath, até colocar sua mente em ordem. Olhando as vitrines enfeitadas das

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lojas, sabia que apenas parte de sua atenção estava ligada nas coisas. Ela tentava, mas
não conseguia tirar Heath e Roslyn de seus pensamentos. O que mais a preocupava em
tudo isso era que sua suspeita sobre Roslyn Jacobs tinha algum fundamento. Afinal de
contas, Heath mesmo lhe dera a impressão de que eles eram mais do que simples
amigos. O tom da voz dele ao telefone deixara isso muito claro. Devia ter sido um
choque desagradável para Roslyn saber que Bree estava na casa de Heath, não
importava quanto inocente essa situação pudesse ser. Inocente? Isso merecia uma
risada!
Bree sorriu para seu rosto refletido no vidro da vitrine. Toda a situação estava se
tornando mais comprometedora e sórdida a cada minuto. Ela suspirou de novo e seus
olhos passaram pelo seu corpo refletido no vidro. Quase não pôde conter a surpresa com
sua própria transformação. O conjunto azul realmente fazia, muito mais por ela do que
aquela velha saia e blusa. Um leve sorriso enfeitou sua boca. E Heath? Acharia isso
também? Não! Ela não devia pensar em coisas como essa. Não era nada para Heath.
Não podia se esquecer disso.
Apelando para o seu contado dinheiro, comprou um jogo de lingerie íntima, não
muito caro ou exclusivo como as coisas da butique, mas que de algum modo a ajudava a
salvar seu orgulho. Depois, achou que já era hora de voltar ao escritório de Heath.
Quando se aproximou da entrada, seus joelhos começaram a tremer e seu coração
disparou. Respirando profundamente, passou com cuidado pelos olhos eletrônicos das
portas e elas deslizaram se abrindo para ela.
A garota da recepção indicou o décimo quinto andar e Bree foi devagarinho até o
elevador que estava esperando, com as portas abertas. Bree estremeceu. Todas essas
silenciosas portas que corriam, a faziam sentir-se como se estivesse enjaulada, presa em
uma rede de aço e concreto. E era isso mesmo... tinha sido colhida e amarrada nos laços
de seu amor por Heath Vaugh. A boca de Bree se torceu com um sorriso irônico, sabendo
que estava entrando ali por sua livre e espontânea vontade, quando podia estar correndo
para longe, para sua própria sobrevivência emocional. Mas... jamais faria isso!
A secretária de Heath era uma agradável mulher de meia-idade, com cabelos
brancos curtos, e óculos de aro escuro. Ela não mostrou surpresa ou curiosidade quando
tocou o interfone para dizer a Heath que Bree estava ali.
- Pode entrar srta. Ransome - disse sorrindo, indicando a porta perto de sua mesa, e
continuando a escrever à máquina.
As palmas das mãos de Bree estavam úmidas quando ela bateu de leve e virou o
trinco, entrando nervosamente e fechando a porta atrás de si. Seus olhos se abriram de
admiração, pois o escritório era espaçoso e luxuoso. Os saltos altos de seus sapatos
novos pareciam afundar no carpete macio e seus olhos correram desde duas paisagens.
a óleo penduradas na parede branca até a mesa enorme onde havia uma montanha de
papéis.
Heath estudava uma folha datilografada e ela ficou olhando. Desejou poder
obedecer o impulso de seu coração e voar para ele, colocando os braços ao redor de seu
pescoço e desmanchando aquela ruga entre suas sobrancelhas.
- Sente-se. - Apontou uma das poltronas perto da janela, que tomava quase toda a
parede. Uma cortina leve cortava a vista, mas deixava entrar a luz natural. Em vez de
sentar, Bree ficou em pé, de costas para ele admirando a paisagem.
Em outra ocasião, teria apreciado e ficado impressionada pelo panorama de
Brisbane River, o Riverside Expressway e a ponte, mas estava somente consciente do
homem atrás da mesa, ouvindo cada movimento que ele fazia, o roçar dos papéis, o

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raspar da caneta, o leve rangido de sua poltrona quando ele se levantou e cruzou pelo
carpete, silencioso, chegando perto dela, e fazendo seus sentidos se aguçarem a um
ponto insuportável.
- Se essa roupa é uma indicação do sucesso de sua manhã, eu de coração, aprovo -
ele comentou suavemente atrás dela, com aquela voz profunda que fez o corpo todo de
Bree se arrepiar.
Ela virou-se um pouquinho, para ver se ele estava perto e conseguiu murmurar um
agradecimento, meio sem voz.
- Acho que era muita coisa para eu trazer comigo - Bree explicou - então a
senhorita... a srta. Jacobs ficou de entregar em sua casa. - Engoliu depressa,
constrangida. - Heath, eram coisas demais, mas ela insistiu e... na hora eu não soube o
que dizer... bem... agora... acho que vamos ter que devolver.
- Roslyn apenas obedeceu minhas ordens - ele falou.
- Mas o dinheiro... - Ela parou quando ele franziu os olhos.
- Não há o menor perigo disso me levar à falência, Bree.
- Mas eu ia apenas comprar um vestido para a festa e acabou virando um guarda-
roupa completo.
- Não gostou das coisas? - Ele olhava seus cabelos louros, meio iluminados pela luz
que vinha através da janela.
- É claro que sim! Quem não gostaria? Eu nunca vi de perto uma roupa como esta
em toda a minha vida, a não ser em fotos de revistas - ela respondeu com simplicidade. -
Mas você tem que entender que não posso aceitar tudo isso.
Heath enfiou as mãos nos bolsos, esticando o tecido sobre suas coxas.
- Você se sentiria um pouco melhor se eu pedisse para aceitar as roupas em nome
do meu filho? - perguntou, e os olhos dela se fixaram nele, tentando desesperadamente
ler sua expressão fechada.
- Reece nunca teria comprado para mim coisas como essas – ela disse, e a menção
do nome de Reece aumentou seu sentimento de culpa. Reece dificilmente comprava
qualquer coisa para sua irmã. Além disso, ele sempre rejeitava o que chamava de
“consumismo provocado pela propaganda comercial”.
Heath apertou os lábios com desprezo. - É... eu creio que sim. - Ele a olhava,
indagador. - E o que Reece compraria com esse dinheiro?
- Eu sei que ele queria uma nova motocicleta.- Bree confessou falando quase para si
mesma.
Heath começou a estudar-lhe o rosto, os olhos e os lábios. Ela estremeceu, sentindo
a tensão que começava a envolvê-los. Devagar Heath segurou sua mão esquerda e
levantou-a, vendo que ela não usava nenhum anel.
- Uma moto? Mas você nem tem uma aliança...
Puxando a mão de volta, Bree foi cegamente em direção à porta. Não podia ficar ali
nem mais um momento, não podia suportar o desprezo de Heath. Não enquanto aquele
irresistível magnetismo a puxava para perto dele, inevitavelmente. Se ficasse, sabia que
facilmente ia acabar dizendo a verdade e isso acabaria por afastá-la ainda mais de
Heath.Sua mão estava na maçaneta de bronze, quando ele a segurou por trás, pelos
ombros, impedindo sua saída e mantendo-a presa, sem um movimento.

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CAPÍTULO VII

Nenhum dos dois falou quando ficaram assim, Bree de costas para ele, o coração
batendo forte, incapaz de se mover. A pequena distância entre os dois pedia para ser
preenchida, com a fusão de seus corpos. Devagarinho, Heath puxou-a para trás até que
ela encostasse nele, Bree sentiu o corpo moldar-se ao dele, percebendo seus contornos
masculinos. Cada nervo seu parecia esticado, provocando um louco tumulto de
sensações. A respiração de Heath soprava de leve nos cabelos dela e os lábios
pousaram em sua orelha, enquanto as mãos desceram dos ombros e se cruzaram na
frente dela, para segurá-la e apertá-la firmemente. Ele abriu as mãos sobre a cintura de
Bree, debaixo do casaquinho, e ela se incendiou com esse toque.
Acariciando-a gentilmente, Heath passou os lábios pela linha de seu pescoço e Bree
se arrepiou toda, movimentando-se inconscientemente contra ele, para senti-lo melhor e
vibrando ao perceber sua instantânea resposta. Percebeu também quando ele prendeu o
fôlego e seus braços a apertaram ainda mais, subindo as mãos para os seios dela,
encontrando os bicos e tocando-os com os polegares. .Um gemido baixo subiu pela
garganta de Bree, escapando como um ruído rouco, um ruído sensual que ela mal
reconheceu como sendo seu. Heath virou-a dentro do círculo dos braços, abaixando a
cabeça para que seus lábios possuíssem os dela com uma paixão que ela retribuía sem
reservas. Estavam famintos um do outro, e seus corpos ansiavam pelo contato desde
aquela noite em que tinham sido interrompidos pela volta de Peg e Bill.
Bree ficou de costas contra a porta, com seu corpo preso pelo peso de Heath contra
ela, capturando-a. Mas isso não era necessário, porque ela não queria fugir. Heath
apenas tinha que tocá-la e ela se derretia contra ele, totalmente sua, sem um protesto. Os
lábios dele sugavam desesperadamente os dela, deixando Bree sem ar, como se tivesse
corrido uma longa distância. Ainda respirando pesadamente, Heath beijou de leve as
pálpebras dela, a ponta do nariz, antes de voltar à boca macia. Os olhos dele tinham um
brilho ardente como o profundo azul do oceano, e ela estava lenta e inevitavelmente se
afogando nele, sendo arrastada, sem saber para onde, mas sem medo de se deixar levar.
A seda leve de sua blusa nova era um obstáculo, e Heath deslizou as mãos para
baixo dela, até encontrar os seios cobertos apenas pela renda. Ao contato daquelas
mãos, Bree se contorceu contra ele e seus dentes começaram a mordiscá-lo no queixo.
Nesse momento, Bree havia se esquecido de tudo. Na sua mente tinha apenas Heath, e
as intensas e sensuais exigências que ele fazia sobre seu corpo. Exigências que ela
atendia, assim como as necessidades dentro dela, que ele tão facilmente provocava.
Eles estavam perdidos um no outro, movendo-se em um mundo silencioso e só seu,
com os sentidos levando-os para um outro plano. O interfone tocou por alguns segundos
sem ser notado, até que Bree percebeu que o corpo de Heath estava quieto e que os
movimentos de suas mãos tinham parado. Só então se deu conta do barulho. Heath
praguejou baixinho e, conservando um braço na cintura dela, levou-a até a mesa, ficando
meio sentado na beirada. Quando ele se inclinou para apertar o botão do interfone, puxou
Bree contra si e ela ficou presa em seus braços, o corpo entre as pernas dele, comprimida
contra ele, com as mãos apoiadas no seu peito e passando os dedos sobre a pele que a
camisa desabotoada mostrava. A outra mão dele estava debaixo da blusa dela, e
brincava em suas costas, quando a voz da secretária, desculpando-se, encheu a sala.
- Sinto incomodá-lo, sr. Heath, mas King Martelli está na linha falando de Ipswich.
Ele insiste que é muito importante.

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Heath suspirou alto, mas continuou acariciando Bree.
- Certo, Jill. Me dê um minuto e então pode colocá-lo na linha. - Seus olhos
percorreram o rosto de Bree e ele passou a mão pelos cabelos dela, segurando-lhe a
cabeça no ângulo certo para beijá-la.
- É melhor você se arrumar um pouco - sugeriu, rouco, olhando-a como se não
pudesse impedir que cada nervo seu vibrasse em resposta. - Ou todo mundo vai ter
certeza de que eu estava fazendo amor com você. Ali na frente há um banheiro. - Ele
apontava para uma porta disfarçada no lambri de madeira, de um dos lados do escritório.
Quando Bree caminhou até lá com passos incertos, para fazer o que Heath tinha
mandado, o telefone tocou e ele atendeu.
- King? Qual é o problema?
Ele já tinha esquecido dela. Bree sentiu algo frio apertar seu peito. Apenas um
segundo atrás Heath estava perdido em sua paixão desenfreada. E tinha ficado louco por
ela. Mas agora isso estava distante e ele era de novo o autoritário empresário, com
completo domínio de si mesmo.
Bree parou na porta do banheiro e virou-se para olhá-lo, com o coração doendo.
Mas os olhos dele ainda a seguiam, devorando-a. Era um fogo que queimava tão
intensamente que a assustava pela sua intensidade, porque ela estava esperando
encontrar somente desinteresse. Entrou no banheiro e fechou a porta, lutando para
recuperar sua respiração normal. Então ele não a tinha ignorado! Algum tempo depois ele
bateu na porta e abriu-a em seguida.
- Bree...
Ela havia alisado as roupas e renovado a maquilagem com a mão trêmula. Quando
passava a escova pelos seus cabelos dourados, virou-se para ele, não conseguindo
impedir que o rubor subisse ao seu rosto. Heath já tinha abotoado a camisa e ajeitado a
gravata no lugar. Seus olhos a examinaram, protegidos pelas pálpebras meio fechadas.
- Pronta?- ele perguntou.
Ela fez que sim com a cabeça e parou perto dele, receando sua proximidade. Mas
ele já tinha se afastado para apanhar o paletó e enfiava os braços nas mangas. Olhando-
o, sentiu o mesmo desejo físico de alcançá-lo e tocá-lo. Ele mesmo iria levá-la para casa?
Mas então, não estava ocupado?
- Posso tomar um táxi de volta - ela disse baixinho. - Não deve largar... deixar tudo
aí...
Heath parou, depois de passar um pente nos cabelos. Então começou a recolher os
papéis de sua mesa, colocando-os dentro de sua pasta.
- Isto tudo parece mais grave do que é realmente. - Ele deu um pequeno sorriso,
olhando para ela, enquanto fechava a maleta com um clique.
- Heath, eu... - A voz dela sumiu e seus olhos baixaram até as mãos. - Eu não me
importo se mandar outra pessoa me levar. Eu não quero interromper seu trabalho. Talvez
o rapaz da garagem possa... Ela não terminou a frase.
- Não! - Ele interrompeu cortante, com o rosto subitamente gelado e zangado.
- Está bem - Bree murmurou. - Eu apenas não quero causar nenhum problema.
Heath torceu os lábios, nervoso.
- Problema! - disse, como para si mesmo. - Problema! – Deu uma risada e suas

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mãos a pegaram, puxando-a para si rudemente seus lábios mergulhados nos dela,
forçando-lhe a cabeça para trás, até que se sentiu tonta.
Tão subitamente como tinha começado o dolorido aperto de braços, Heath soltou-a
com tanta força que Bree quase caiu. Quando seus lábios deixaram os dela, ele suspirou
como que em agonia, e, com a mão atrás da cabeça dela, segurou seu rosto contra o
peito, fazendo com que ela ouvisse o pesado pulsar de seu coração contra o rosto.
- Nada dessa conversa de problemas - ele disse, respirando nos cabelos dela,
soprando-os. - Quer ir direto para casa, agora? - perguntou afastando-a um pouquinho,
com os olhos desolados como um céu nublado.
- Não, necessariamente - ela disse, querendo apenas estar com ele. - Eu não quero
atrapalhar, mas se posso escolher, então prefiro ficar - acrescentou depressa, como que
envergonhada.
- Se ficarmos aqui, você sabe o que vai acabar acontecendo - ele disse
carinhosamente, passando o dedo devagarinho sobre o pescoço dela, parando para
descansar entre seus seios.
Bree sentia os olhos como que hipnotizados pelos dele. O ar entre eles parecia estar
cheio de eletricidade. A raiva havia desaparecido. A pulsação de Heath estava novamente
acelerada e seus olhos queimavam dentro dos dela. Devagar, o dedo dele subiu pela
curva de seu queixo, parando sensualmente na boca.
- E aqui não é muito privativo. Posso garantir que seremos interrompidos. - Virou-se
para apanhar sua valise. - Então, vamos sair.
- Para onde vamos? - Bree forçava a voz para fora de sua garganta apertada.
- Eu tenho que ir à obra em Ipswich. Posso deixar você em casa no caminho, ou
pode vir comigo e dar um passeio, se quiser. Escolha.
Bree sorriu.
- Quero ir com você - disse honestamente.
As sobrancelhas dele se levantaram com ar gozador, quando ele cruzou na frente
dela e foi abrir a porta.
- Anote qualquer chamado pelo resto da tarde, Jill. - Ele instruiu sua secretária,
enquanto guiava Bree até o elevador.
- Você conhece Brisbane? - Heath perguntou quando dirigia a Ferrari ao longo da
South East Freeway.
- Não... realmente, não. Não este lado da cidade pelo menos. Eu vivia em uma
fazenda ao norte, anos atrás.
- Quando foi isso? – ele perguntou curioso.
- Eu devia ter uns dez ou onze anos - Bree contou alegre, gostando de confidenciar
isso a ele.
- A fazenda era de seus pais?
- Não - ela respondeu devagarinho, escolhendo as palavras com cuidado. - Eu
estava sob a tutela do Estado e a família que trabalhava na fazenda me adotou.
Heath não fez comentário algum, enquanto a Ferrari devorava quilômetros.
- Na verdade, eu gostava bastante de viver na fazenda – ela acrescentou. - Havia
bastante espaço e ar livre.

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- Você disse que foi apenas por um ou dois anos?
- Sim. Eu não sei realmente o que houve. Parece que a fazenda não foi paga
corretamente, e a família teve que deixá-la.
- E você não foi com eles?
- Não. Eu fui entregue a outra família. Em Bunderberg - ela disse, pensativa.
- Quantas famílias adotaram você?
- Não me lembro exatamente. - Bree hesitava, não querendo falar muito no assunto,
com receio de escorregar e mencionar Briony.
Heath olhou profundamente para ela, antes de voltar sua atenção para o trânsito que
recomeçava a andar.
- Provavelmente umas cinco - ela disse finalmente.
- O que aconteceu aos seus pais?
- Eu não sei, na verdade. Não lembro do meu pai, e apenas vagamente de minha
mãe. Eu tinha uns cinco anos quando ela... - Bree parou de repente, em tempo, antes de
acrescentar “nós”. - E você? - Ela mudou habilmente de assunto.
- O que quer saber sobre mim? - Ele deu uma risada que aqueceu Bree inteira.
- Bem acho que você não começou sua vida como um executivo bem-sucedido,
não?
- Não tanto. - Heath sorria. - Mas não posso dizer que tenha sofrido grandes
privações na vida. Meu pai morreu no primeiro ano de escola e minha mãe antes que eu
tivesse idade bastante para me lembrar dela. Um executivo bem-sucedido? É assim que
você me vê, Bree? – ele perguntou ironicamente.
- Sim. Você é, não? Um executivo, quero dizer. E pode-se dizer também que é bem-
sucedido.
- Talvez. - Ele deu uma breve risada que relaxou ainda mais atmosfera entre eles. -
Mas dificilmente sou um sucesso em outras áreas da minha vida.
Bree ficou inquieta com a ironia do tom dele, não sabendo o que ele queria dizer, ou
o que esperava que ela dissesse.
- Talvez possamos fazer uma adaptação do velho ditado - ele disse olhando de lado
para ela. - “Feliz nos negócios, infeliz no amor”.
- Eu não... sei nada sobre isso - Bree gaguejou.
- Eu diria que é bem aplicável ao meu caso. Meu filho e eu tivemos uma relação tão
bem-sucedida que ele caiu fora e desapareceu. Não, acho que, no que se refere a Reece,
eu dificilmente poderia ser chamado de um estrondoso sucesso.
- Tenho certeza de que isso deve ter sido muito mais falta de Reece do que sua -
Bree se aventurou a dizer.
- Você acha? Isso é muita bondade de sua parte. - Heath ainda usava o tom irônico.
- Eu acho mesmo. - Bree olhou para baixo, para suas mãos que seguravam o cinto
de segurança. - Reece... não tinha o menor interesse por nada que não fizesse parte de
sua música ou de sua motocicleta.
- Mas ele tinha interesse em você - Heath disse vagamente. – Pelo menos teve por
algum tempo.

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
Bree desviou os olhos para a paisagem que passava correndo, as fazendas, casas e
árvores. Não falaria nada. Era difícil dizer alguma coisa sem se arriscar a navegar em
águas perigosas. Mas Heath não parecia mesmo esperar uma resposta e ambos ficaram
perdidos em seus próprios pensamentos, até chegarem aos arredores mais densamente
habitados de Ipswich. A área da construção era bem perto do centro comercial da cidade
mineira, e o projeto parecia estar indo bem, pois atrás da cerca de proteção se erguiam
vários andares. Heath virou a Ferrari para entrar nos portões abertos e parou defronte a
um escritório provisório.
- Não sei quanto vou demorar - avisou, enquanto abria a porta do carro e saía de
trás do volante. - Se importa de esperar um pouco?
Bree sacudiu a cabeça e depois de um súbito e fogoso olhar que bastou para
reacender seus sentidos e lembrar a cena do escritório de Heath, ele afastou-se e foi a
passos largos para dentro da casa. Ali, saudou, um enorme homem moreno que usava
um capacete de segurança e que vinha ao seu encontro. Piscando para conter as
lágrimas que afluíam aos seus olhos, Bree se repreendeu por sua tolice. Ela sentia-se
como um marionete presa a um cordão apenas capaz de se mover quando a corda era
puxada. E Heath era quem segurava essa corda em suas mãos.
- Uau! Que rodas!
Ao ouvir o comentário, ela virou de lado e viu um jovem alto e bonito, usando o
capacete amarelo de segurança. Ele examinava a Ferrari com ar invejoso e de
admiração.
- Eu daria os meus dentes por uma beleza dessas. - E ele sorria mostrando dentes
brancos e perfeitos.
Bree automaticamente retribuiu o sorriso. - É mesmo muito bonito, não é? - ela
disse, um pouco encabulada.
- É um barato! De quem é? - ele perguntou se pondo de cócoras para ficar ao nível
dela, sentada no carro.
- Heath. Heath Vaugh - ela respondeu.
- O chefão? - O rapaz soltou um assobio baixo. - Não sabia que ele tinha um desses.
A última vez que veio aqui ele dirigia uma Mercedes. - Os olhos do rapaz a analisavam. -
Você é filha dele?
- Não. Uma... uma amiga.
- Ah! - A exclamação tinha aquela entonação conhecida e o rapaz examinou-a
avaliando, fazendo com que ela apertasse os lábios, irritada com a falta de sutileza. -
ótima - ele comentou com ironia na voz, e sua mão sobre a pintura do carro, enquanto
seus olhos permaneciam nela.
- Porter! - O som de uma voz trovejou vindo do escritório e o rapaz ficou
rapidamente em pé. - Quer que eu arrume algo para você fazer?
- Não, King. Eu ia buscar algumas ferramentas para Reg. - O rapaz saiu andando,
quase correndo, quando os olhos de Heath caíram pesadamente sobre ele.
Heath se aproximava com o mesmo homem grande. Quando chegaram ao carro, ele
virou-se para o outro. - Não deixe de me manter a par da situação, King. Quero me prever
antes que as coisas piorem. Não podemos perder o controle disto. Vou entrar em contato
com Jim Mayor, em Toowoomba, e mandá-lo ficar atento.
- Certo, Heath. - O homem apertou a mão de Heath e seus olhos escuros fixaram
Bree, mas o outro não fez apresentações e dando a volta, sentou-se atrás do volante do

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
carro.
- Está tendo problemas com a obra? - Bree perguntou quando a Ferrari saiu e se
juntou ao tráfego intenso.
- Com o edifício, não - Heath respondeu finalmente. - Com o pessoal, sim.
- Eles vão fazer greve?
Heath sacudiu os ombros. - Eles podem fazer isso, sim. Mas estou mais preocupado
com a onda de pequenos acidentes que têm ocorrido ultimamente. King e eu suspeitamos
que alguém quer perturbar o andamento da obra. - Quem faria uma coisa dessas? - Bree
virou um pouco de lado no assento. - E por quê?
- Se descobrirmos quem é, o porquê pode não ter tanta importância. Uma pessoa
guardando rancor por ter sido despedida é o mais provável candidato. - Heath mudava as
marchas suavemente. - Sobre o que você e o jovem Porter estavam conversando?
- Porter? Aquele trabalhador? Nada, realmente. - Bree olhava seu perfil. - Ele estava
apenas de passagem e parou para admirar o seu carro, é tudo.
- Apenas o carro? Ele deve ter dado uma olhada e tanto! - O sorriso dele era apenas
uma leve sombra.
- Eu garanto que estávamos falando sobre o carro. - Bree disse calmamente.
- Você parece atraí-los como moscas no mel - ele comentou com rispidez.
- O que está querendo dizer com isso? - O tom de Bree acompanhava o dele.
- Ora, vamos, Bree! Você sabe do que estou falando! Isso deve vir acontecendo há
anos!
- Não... eu não sei o que está querendo dizer, droga! - Bree se descontrolou. -
Talvez possa me explicar.
- Você tem alguma coisa que puxa como ímã, essa aparência de inocência. Uma
porção de mulheres daria o mundo por algumas lições suas. E isso parece tão natural em
você!
- Eu não acredito... - ela começou, mas foi interrompida.
- Como pode negar? Houve Reece, depois aquele animal em seu apartamento, em
Sidnei, Glenn no estacionamento e agora Porter. Deus sabe quantos outros têm havido -
ele terminou asperamente. - Bem, Bree? Não fomos todos colhidos na sua teia?
- Não! Que teia?... Como pode dizer uma coisa dessas?
- Como posso dizer o quê? - Heath repetiu, caçoando.
- O que está querendo dar a entender.
- Pode me perguntar isso, depois do que aconteceu em meu escritório hoje cedo?
- Eu não... - ela parou. Quase ia dizer que não queria que ele a beijasse, que a
apertasse e acariciasse daquele jeito, mas isso seria uma enorme mentira. Mesmo agora,
se Heath parasse o carro e a tomasse nos braços, sabia que voluntariamente se renderia
a ele. Mas não podia deixar que soubesse disso. - Eu não teria...
- Não me teria deixado fazer amor com você? - Ele terminou, quando a voz dela se
apagou. - Não teria mesmo, Bree? Tem certeza?

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens

CAPÍTULO VIII

- Não! - A palavra custou a sair e Bree engoliu convulsivamente antes de tentar de


novo. - Não, eu não teria deixado você fazer amor comigo. Eu não sou...
- Ah! Não é esse tipo de garota. É isso que vai dizer? - Ele ria, enquanto diminuía a
marcha, entrando em um pequeno centro de compras.
- Eu não estou achando graça - Bree disse com uma dor crescendo no coração. -
Por que está parando aqui? Quero ir para casa! - acrescentou com a maior calma e
dignidade que pôde arranjar.
- Comida! Já passou da hora do almoço.
- Eu não estou com fome! - Bree virou-se de lado e, fixou algum ponto distante.
- Bree... - A voz dele era suave e ele segurou seu queixo, virando a cabeça dela até
que seus olhos se encontraram. - Isso não é engraçado mesmo. Eu não quis dizer isso.
Me desculpe, sim?
Seus incríveis olhos azuis olharam direto para ela e a deixaram impotente. Ele movia
seus dedos, procurando tocar a maciez dos lábios dela. Depois, desviou o olhar para seus
cabelos, voltando depois para o cinzento de seus olhos, que não tinham se desviado dos
dele.O ar estava carregado entre eles e parecia zumbir nos ouvidos de Bree, com uma
crescente tensão.
- Meu Deus, mulher! - Foi com um esforço sobre-humano que Heath tirou seus olhos
dos dela e virou-se, com as mãos ainda agarradas ao volante. - Comida - ele disse, e saiu
do carro, para dar a volta, até o outro lado. - Que tal uma salada ou algo assim?
Bree balançou a cabeça, concordando.
- Para mim está bem - disse baixinho.
Heath entrou em uma lanchonete, e quando retornou deu a ela um saco com
sanduíches. Depois, entrou no carro e voltou à estrada. Mais adiante, ele virou para a
esquerda e seguiu por uma estrada mais estreita, através de um agrupamento de casas,
passando por uma pequena ponte que cruzava a ferrovia principal entre Brisbane e
Ipswich. Diminuindo mais a marcha, Heath seguiu para um parque gramado, parando
debaixo de uma árvore frondosa, de onde se avistava um rio, alguns metros abaixo.
- Vamos fazer um piquenique? - ele propôs e Bree concordou, sorrindo. Saiu do
carro e ficou admirando a vista, enquanto Heath tirava o paletó e jogava a gravata de
volta ao carro. Ela também tirou seu casaquinho, quando sentiu o calor do sol em sua
pele.
- Mas aqui é lindo! - Bree comentou, respirando fundo. Alguém tinha cortado a
grama úmida e o odor familiar tocou em suas lembranças, do passado. A brisa suave
fazia seus cabelos, voarem em torno do rosto e ela sorria para Heath.
Ele tirou da mala do carro um pequeno tapete enrolado e estendeu-o na grama. Sem
falar, sentaram-se, usando o carro como encosto. Bree abriu o saco de papel e retirou
dele os sanduíches e duas latas de refrigerante. Depois de começar a comer, ela
descobriu que estava com fome. Não tinha conseguido tomar café de manhã, nervosa por
ir com Heath até a cidade. Então, agora, comeu rapidamente sua parte, ajudada pelo

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refrigerante. Satisfeita e um pouco sonolenta, ela recostou mais o corpo, ouvindo o
zumbido das abelhas. A seu lado, Heath suspirou.
- Gostei! Preciso fazer isso mais vezes! - ele disse e, quando virou-se para olhar
Bree, viu que ela disfarçava um bocejo.
- Muito tranquilo e preguiçoso, não é? - Ele sorriu e Bree concordou.
- Lindo. Quando se passa pela estrada a gente nem suspeita o que há aqui.
- Esta rodovia era usada como a estrada principal para Ipswich alguns anos atrás. -
Heath descansava os braços nos joelhos levantados. - Ainda me lembro quando passava
por aqui quando era criança, com meu pai e seu velho Dodge. As árvores estavam todas
floridas. Era o amarelo dourado dos carvalhos e o malva dos jacarandás. As flores caídas
dos jacarandás formavam um tapete no chão. Era incrível!
Ele esticou seu corpo comprido usando o colo de Bree como travesseiro. Ao seu
contato ela ficou tensa, com receio de encontrar seus olhos e trair suas emoções. Mas,
quando seus olhos baixaram para ele, viu que os dele estavam fechados e suas feições
angulosas totalmente relaxadas. Aproveitou, então, a oportunidade para examiná-lo bem.
Procurou em seu rosto algo que pudesse lhe dar um pequeno sinal do que ele tinha para
provocá-la daquela forma. Sim, este homem exercia sobre ela um poder que nenhum
outro exerceu. Ele era atraente, não podia negar. Mesmo Reece, que era o filho dele,
também era. Mas Reece a deixava fria. Agora seus olhos percorriam as feições dele,
procurando uma pequena semelhança entre pai e filho, mas não pôde achar nenhuma.
Olhou para o corpo dele, sua camisa parcialmente aberta mostrando um pouco dos
pêlos negros. Como queria poder acariciar agora sua pele tocar cada pedaço daquele
homem. E, a esse simples pensamento, ela sentiu seu corpo esquentar como fogo. Isso
seria pecado? Esse desejo que sentia de que Heath fizesse amor com ela? Mas parecia
tão natural para ela como respirar! Palpitava de desejo por ele. E nenhum outro homem a
tinha deixado assim.
Com esses pensamentos suas sensações cresceram, fazendo seu coração bater
mais forte, uma onda de anseios tomando conta dela. Não podia acreditar que tinha se
apaixonado tão depressa. E, antes que pudesse se conter, sua mão foi tirar uma mecha
de cabelos da testa de Heath. Então ele se moveu levemente, emitindo um resmungo de
aprovação, e sua boca ensaiou um sorriso preguiçoso. Assustada, Bree puxou logo a
mão, mas os olhos dele se abriram nessa fração de segundo, e ele prendeu seus dedos,
levando-os devagarinho aos lábios, transferindo-os em seguida para seu peito.
Se o mundo tivesse escolhido aquele momento para parar, Bree mal teria notado,
porque nada que ela pudesse imaginar podia se comparar com a sensação que
experimentava só de tocar o peito de Heath. Sua mão se moveu e os dedos se enfiaram
furtivamente para dentro da camisa dele, parcialmente desabotoada, e começaram a
tocar sua pele. Ele abriu os olhos e ela, embaraçada com sua ousadia, tirou a mão
rapidamente, colocando-a sobre a camisa. Incapaz de encará-lo, Bree engoliu
nervosamente, sabendo que os olhos dele não deixavam seu rosto. Começava a crescer
entre eles a mesma excitação louca.
Heath abriu todos os botões de sua camisa e guiou a mão dela para que passasse
sobre seu peito bronzeado.
- Toque em mim, Bree. Me acaricie! - Seu apelo era profundamente sensual e ela
não precisou de um segundo pedido para se entregar as carícias.
Heath passou a mão pelo braço dela e sobre seu ombro, para tocar finalmente seus
cabelos. Ele soltou um profundo gemido de prazer quando ela audaciosamente passou a
mão pela sua cintura. Com a mão em sua nuca, ele puxou a cabeça dela, inclinando-a até
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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
que seus lábios se encontraram e se colaram um no outro. Ela entreabriu os seus,
deixando que ele penetrasse na sua boca, e a paixão mútua se acendeu, incediando-se
para dominá-los.
Com um mínimo de pressão, Heath a trouxe para baixo, deitando-a ao lado dele e
começando a acariciar sua orelha e a curva de seu pescoço, correndo depois
eroticamente para o colo, até colocar a mão em concha sobre o seio dela, encontrando os
mamilos rijos através do tecido da blusa. Logo esse tecido se tomou uma barreira inútil e
ele puxou a blusa, passando a mão sobre sua pele nua. Virando-a ligeiramente,
desabotoou seu sutiã, libertando os seios para poder tocá-los livremente. Bree gemia,
correndo suas mãos sobre os ombros de Heath, na pele nua e quente como brasa,
cravando os dedos na carne firme. Ela contorcia o corpo contra o dele, curvando-se cada
vez mais para se colar a ele.
Os lábios de Heath corriam sobre seus seios, para chegar de novo aos bicos rígidos,
com a ponta da língua. Bree estava muito além da consciência. Tinha ido além de tudo,
existindo apenas as sensações do corpo de Heath, o louco prazer de suas carícias. De
repente ele soltou-a, prendendo as mãos dela em sua cintura. Seus olhos azuis a
queimavam e ele podia ver o reflexo de seu próprio desejo naquelas profundezas.
- Bree! É melhor esfriarmos um pouco - Heath murmurou roucamente -, a menos
que queiramos ser presos. - Sua boca tinha uma sombra de sorriso, embora seu rosto
ainda estivesse congestionado e tenso. As palavras dele a trouxeram de volta à realidade
e ela sentiu um calor fluir sobre o rosto, quando lembrou do lugar onde estavam. Com a
mão logo ajeitou a blusa para cobrir sua nudez. Ele reteve a mão dela e abaixou a cabeça
para tocar de novo seus seios.
- Deus, Bree, como eu quero você! - Heath disse. - Quero fazer amor com você mais
do que já quis com qualquer outra mulher. Quero acariciá-la toda, beijar cada parte de seu
corpo. - Ele puxou a blusa para cobrir os seios dela e sentou-se. - Venha, vamos embora
daqui.
Segurando Bree pela mão, Heath ajudou-a a sentar-se e logo ambos estavam em
pé.
- Para onde vamos? - ela perguntou, intrigada.
- A um motel. Há um na estrada, logo perto daqui – Heath explicou, passando os
dedos provocadores nas costas dela.
- Um motel? - Bree sussurrou, sentindo como se tivessem jogado uma ducha fria
sobre sua cabeça. - Um motel? Não! Não!
Heath tinha agora as mãos paradas e os olhos fixos nela.
- Eu não quero ir a... a um motel - Bree explicou chocada, cheia de repugnância,
dirigida a ele e a ela mesma, fazendo-a sentir-se vulgar e sórdida.
- Por que não? - A voz de Heath estava gelada.
- Porque... - Ela sacudia a cabeça, e seus cabelos caíram para a frente escondendo
seu rosto coberto de lágrimas. - Como pode me pedir isso? - Bree conteve um soluço.
A mão dele apertou-a dolorosamente, antes de empurrá-la para longe dele e passar
a mão sobre os cabelos.
- Que diabo! É muito mais discreto do que este parque!
- Não diga isso. - Bree se encolheu percebendo que tinha estado tão entregue a sua
própria sensualidade, que havia esquecido totalmente onde estava.

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
- Por que não? E o que há de errado com um motel? - O rosto dele parecia pálido de
raiva. - Você estava mais do que disposta a fazer amor aqui mesmo, momentos atrás. Ou
você gosta apenas da excitação que isso provoca? - As mãos dele a apertaram de novo,
puxando-a contra ele. - É isso?
- Não! - Ela chorava. - Por favor, Heath, pare com isso. Está me machucando. - Os
dedos dele queimavam a cintura dela, que empurrava inutilmente o seu peito.
- Machucando você? - ele gritou, zangado. - Bem, se prefere isto a um bom motel,
não sou eu quem vai contrariá-la. - Ele completou, seus lábios esmagando selvagemente
os dela.
Bree choramingava quando Heath a curvou brutalmente para trás, sobre a capota
baixa do carro. Lutou com ele, batendo em suas costas com os punhos fechados até
perder as forças, então ficou quieta debaixo da pressão do corpo dele, as lágrimas
correndo, molhando seus cabelos e seu peito esmagado debaixo dele. O castigo cessou
subitamente como tinha começado, e Heath afastou-se largando-a. Depois, endireitou o
corpo e a ajudou a fazer o mesmo até que ficasse na frente dele. Em seguida, foi para
longe dela, com o corpo ainda ofegante. Começou a enfiar a camisa para dentro da calça,
e Bree esperou até que ele voltasse devagar. Então percebeu que Heath já estava sob
seu perfeito controle. Isso podia se ver nas linhas de seu corpo e na frieza de seu rosto.
- Acho que devo me desculpar - ele disse com os lábios apertados, enquanto ela se
apressava a enxugar as lágrimas do rosto. - Ponha isso na conta de uma frustração
descontrolada.
- Sinto muito, também - ela murmurou. - Eu não devia... Eu nunca pretendi...
Heath se abaixou para recolher o tapete.
- Bem, isso são águas passadas... vamos deixar para lá. Penso que é hora de irmos
para casa, não acha? - ele falava sem olhá-la e Bree jogou-se no assento do carro,
tratando de ajeitar suas roupas, antes que Heath entrasse.
A viagem para casa foi em completo silêncio, um nervoso e pesado silêncio, que fez
o estômago de Bree se revirar em náuseas. Sentindo a raiva de Heath, nem se atrevia a
olhá-lo. Ele tinha todo direito de estar zangado, ela pensava, se autocriticando. Heath
dirigia o carro com ar distante, e, quando finalmente pararam diante da casa, ele deixou o
motor ligado e inclinou-se na frente dela esticando o braço para abrir a porta. Não a tocou,
mas ela sentiu assim mesmo a proximidade daquele corpo. Mas tudo que conseguiu fazer
foi sair rapidamente do carro.
- Humm... nada como uma xícara de chá - Peg disse, enquanto esvaziava a sua
olhando Ben, que brincava feliz, sentado sobre um tapete na sombra ao lado dela. Ela
havia trazido a bandeja para o jardim e Bill, depois de tomar o seu chá, havia voltado ao
trabalho. Bree secava os cabelos ao sol, preparando-se para a festa daquela noite.
- Já decidiu como vai usar o cabelo? - Peg quis saber.
- Geralmente o deixo solto. É difícil mantê-lo preso para cima no dia em que os lavo
- Bree explicou, pensando nas horas que ia passar com Heath novamente. Eles mal
tinham se falado desde que ele a deixou na porta da casa no dia anterior e ela corava até
a raiz dos cabelos ao lembrar da cena ao lado do rio.
- Estou contente por Heath levá-la a esta festa - Peg estava dizendo. - Você precisa
sair mais vezes, pois sabe que Ben fica ótimo comigo.
- Sei muito bem disso, Peg, e estou agradecida por você se oferecer... mas... eu
não... - Ela deu um suspiro. - Para dizer a verdade, Peg, não estou muito animada para
sair hoje à noite. Há séculos que não vou a uma festa, e além disso não acho que devia ir
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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
ao tipo de festas que Heath frequenta. Estou um pouco nervosa. Quero dizer... não
conheço ninguém e me sinto estranha com os amigos dele.
- Ora, vamos! Não há necessidade de fazer uma novela sobre isso. Heath vai olhar
por você, e quanto aos amigos dele... a maioria eu conheço e me parecem ótimas
pessoas. Vai gostar, vai ver! – Peg garantiu, animada.
- Deus queira! - Bree estava em dúvida. Ela nunca tinha se misturado com o tipo de
pessoas que imaginava serem os amigos de Heath e achava que ia parecer uma caipira.
Com certeza, eram todos sofisticados, e, mesmo usando o vestido que tinha comprado na
butique sabia que ia sentir-se como um peixe fora d'água.
Como gostaria de possuir o charme e a elegância de Roslyn Jacobs! Ela e Heath
deviam fazer um par perfeito. Roslyn jamais ficaria tremendo só por causa de uma festa.
Roslyn era mais do estilo de Heath, de sua classe, mais adequada para sua imagem de
um homem elegante e bem-sucedido. Enquanto que ela Bree, nunca poderia combinar
com um homem como ele. Se Heath se casasse de novo, seria com alguém como Roslyn
e não com uma ingênua e inexperiente desconhecida como Bree Ransome. Será que a
mãe de Reece era do tipo de Roslyn? Pamela e Heath deviam ter se casado muito
jovens.
- Peg, como era a mulher de Heath? - ela perguntou sem pensar e quando percebeu
já era tarde demais.
- Pamela? - Peg apertou os lábios.
- Você a conheceu, não foi?
- Oh, sim! Eu conheci Pamela - ela respondeu amarga, surpreendendo Bree. - Mas
preferia nunca ter conhecido.

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens

CAPÍTULO IX

- Desculpe. - Bree sentia-se horrível. - Eu... eu não quis me intrometer. Apenas fiquei
pensando como ela seria...
- Não me importo que tenha perguntado, menina - Peg garantiu. - É que não posso
nem pensar naquela mulher, sem ficar com raiva. O que ela fez a Heath! Sei que não é
bonito falar dos mortos, mas ela era... - Peg sacudiu a cabeça. - Pamela foi a pessoa mais
egoísta que conheci.
- O sr. Hailey disse que ela era muito bonita - Bree comentou baixinho.
Peg franziu as sobrancelhas.
- Pamela nunca se comportou como uma verdadeira esposa para Heath e só foi uma
mãe para Reece, quando pensou que assim podia prender o pai. Não me admira que o
rapaz... - Ela parou. - Bem, não importa, acho que não devia ficar aqui fofocando, mas
não posso fingir que entre mim e Pamela tenha havido uma grande amizade. Se não
fosse por Heath, eu e Bill nunca teríamos ficado aqui.
- Heath me disse que ela morreu há sete anos. O que aconteceu?
Peg olhou para outro lado e apanhou um brinquedo de borracha para chamar a
atenção de Ben.
- Ela morreu em um acidente de carro perto daqui.
Bree ficou calada. Então o casamento de Heath não tinha sido feliz! Será por isso
que ele nunca casou de novo? E Reece? Talvez parte da atitude dele fosse um reflexo
dessa conturbada vida familiar. Mas em alguma época Heath devia ter se apaixonado por
Pamela, ou não teria se casado com ela. A menos que... O que era mesmo que Hailey
insinuara? Que Heath casou com Pamela para chegar à direção da firma do sogro? Mas
Heath seria capaz disso? O rosto dele veio a sua mente, com seus ângulos fortes e retos,
vigorosamente atraente, mas também frio e inflexível. Para conseguir o sucesso que
obteve, para erguer uma firma que se tomasse uma empresa multimilionária, Heath
precisava ter uma personalidade de aço. Quem sabe sua ambição pessoal incluísse casar
com a filha do patrão? Não, Heath nunca faria isso!
Aquela noite, Bree se olhava no grande espelho do toalete remoendo tudo isso de
novo. Quem podia dizer realmente que tipo de homem Heath era? Tudo que conhecia
dele era o toque de suas mãos, seus lábios acariciantes, o movimento de seu corpo
contra o dela. A esse pensamento, um calor subiu ao seu rosto, salientando a leve
maquilagem. Ela havia se aprontado para a festa há mais de meia hora, mas não tinha
ainda arranjado coragem para sair do quarto. O espelho mostrava que estava mais bonita
do que nunca. Mas mostrava também uma mulher que nunca teve antes oportunidade de
usar um tipo de roupa e acessórios como aqueles. O vestido, os sapatos e a bolsa,
provavelmente tinham custado muito dinheiro.
O vestido era branco de um tecido macio que moldava perfeitamente seu busto firme
e jovem, a cintura fina, e a curva dos quadris. As alcinhas mostravam seus ombros
levemente bronzeados. Seus cabelos brilhavam como o ouro, caindo sobre suas costas.
A maquilagem realçava a luminosidade dos seus olhos e o brilho dos lábios. Ela ouviu os
passos de Heath deixando o quarto e indo para a sala de estar. Sabia que devia ir se

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
juntar a ele. Passando um pouco de perfume, sorriu para o vidrinho. Era de uma marca
relativamente barata, comprado em uma loja comum, mas ela gostava do aroma delicado
e isso lhe deu um pouco de coragem. Aquilo era uma ligação com o passado, com a Bree
que tinha sido antes de conhecer Heath Vaugh.
- Está pronta, menina? - Peg deu uma leve batida e enfiou a cabeça na porta. -
Heath está esperando você.
- Já estou indo, Peg. - Com um último olhar para si mesma, Bree endireitou os
ombros e cruzou a porta.
- Nossa mãe! Você está espetacular, Bree! - a mulher disse, quando elas
caminharam para a sala. - Bree não está uma beleza, Heath?
Ele fez uma rápida avaliação, provocando um calor no rosto de Bree, e deu um
sorriso.
- Incrível! - ele comentou e tomou um gole de bebida, baixando as pálpebras. - Bem,
podemos ir? Até amanhã, Peg. Não espere por nós.
- Onde vai ser a festa? - Bree perguntou, quando eles já rodavam algum tempo em
silêncio.
- Toowong - ele respondeu. - Fica no fim desta rua.
- Quem vai estar lá? - ela gaguejou nervosamente.
- Provavelmente aquele tipo de gente que entra e sai todo o tempo.
- Oh!
- Isso importa? - Heath perguntou, quando virou o carro para entrar no
estacionamento de uma casa de dois andares, cuja porta de entrada era escondida por
uma alta cerca branca.
O portão branco era trabalhado em ferro e dava entrada, através de um arco, para
dentro da propriedade.
- Estou apenas um pouco nervosa por conhecer seus amigos. É só isso - Bree
confessou honestamente.
- Conhecidos, apenas. Poucos são meus amigos - ele disse com uma risadinha
áspera, enquanto acendia um cigarro.
- Mas eu pensei que a festa era de um amigo seu.
- Não. É apenas uma festa. - Heath tragou o cigarro. – Um acontecimento social
para dizer a verdade. Por uma causa de caridade.
- Você não me parece muito entusiasmado - ela comentou e ele balançou os
ombros, olhando-a cinicamente.
- Há outras coisas nas quais eu preferia gastar meu tempo - disse roucamente. -
Mas talvez fosse algo perigoso...
- Quem está dando a festa? - ela perguntou para disfarçar o embaraço que tinha
tomado conta dela.
Heath pensou um pouco antes de responder. - Roslyn Jacobs - disse depressa,
enquanto saía do carro.
Bree esperou que Heath abrisse a porta para ela e depois ficou esperando enquanto
ele fechava o carro. Alisava nervosamente o vestido e encarava a noite pela frente com
pouco entusiasmo. Heath segurou seu braço, dirigindo-se para a entrada e deixando sua

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mão correr até parar na cintura dela.
- Heath... eu... - Bree parou quando se aproximavam dos primeiros degraus. Heath
também parou e olhou-a, fixando-se no movimento ofegante de seus seios. - Acho que
não quero ir - ela disse.
- Também não tenho certeza se quero - ele murmurou. – Esse vestido é... - ele
parou um instante - muito generoso.
Heath passou delicadamente a mão pela cintura dela e seus olhos queimavam,
fitando seus lábios. Ela prendeu o fôlego, seu corpo inteiro ardendo em resposta.
- Heath! Querido! Você já chegou! - Uma voz feminina saudou-o, rompendo o
magnetismo que os tinha atingido. Quando Roslyn apareceu no pequeno pátio, Heath
empurrou Bree para a frente, na direção dos degraus.
Alta e elegante em seu conjunto de cetim preto, Roslyn lançou a Bree um olhar de
alto a baixo, antes de voltar sua atenção para Heath.
- Estou tão satisfeita por você ter vindo! - ela disse, estendendo as mãos para ele.
Heath segurou-as, sorrindo.
- Você se lembra de Bree, não, Roslyn? - Ele se soltou das mãos dela e puxou Bree
para a frente.
Roslyn sorriu de leve.
- É claro! O vestido está ótimo, querida. - Ela virou-se novamente para Heath. -
Venham, venham conhecer todo mundo.
Eles entraram e Bree só teve tempo de notar que a decoração da casa era um
sonho, antes de ser empurrada para o que parecia uma multidão de gente gesticulando e
falando, com seus drinques na mão, enquanto outros dançavam animadamente. Havia
movimento por todo o lado e Bree teve vontade de se agarrar no braço de Heath para não
deixar que ele se afastasse. Mas não foi preciso. Ele conseguiu ficar ao seu lado, e ela se
sentiu um pouco mais segura, apesar dos olhares curiosos que todos lançavam aos dois.
Algumas pessoas pediram para ser apresentadas, e ela se sentia deslocada, pouco
à vontade com o tipo de conversa social que eles mantinham. Pensava que não devia
estar ali. Nunca poderia fazer parte dessa multidão colorida. De repente, um barulhento
grupo passou entre eles levando Heath e ela entrou em pânico. O barulho parecia
atordoá-la e, por um horrível momento, ela pensou que fosse desmaiar.
- Estou aqui! - A voz grave soou atrás dela, que se virou agradecida. Instintivamente
sua mão se estendeu para se apoiar aliviada, no braço dele.
- Oh, Heath! - A voz dela saiu baixa e ela o olhava trêmula. Ele lhe deu a mão e
acariciou, com o polegar, o interior da mão dela.
- Bree! - Seu nome na boca dele era quase uma carícia física que os isolava do
resto da multidão e todo o barulho pareceu ficar distante. - Se me olhar desse jeito - os
dedos dele a apertaram - teremos que ir embora para algum lugar e fazer uma festinha só
nossa, apenas para dois.
Os olhos dele brilhavam de um jeito que fazia os sentidos dela girarem. Havia uma
dócil intimidade entre eles e isso a fazia querê-lo desesperadamente.
- Essa não é uma má ideia - ela respondeu.
- Ora, aqui estão vocês dois! - A voz de Ronald Hailey caiu como uma bomba sobre
eles. - Estava começando a pensar que tinham mudado de ideia. - Seus olhos iam da
cara fechada de Heath para o rosto corado de Bree. - Você está divina, minha querida. -

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
Ele levou a mão dela aos lábios com uma curvatura exagerada. - Não é mesmo, meu
velho? Heath balançou ligeiramente a cabeça, concordando.
- Eu trouxe alguém para conhecer você, Bree. - Ronald puxou para frente um rapaz
que estava atrás dele. - Alguém de sua idade! Não queremos que se aborreça
conversando com, velhotes como nós a noite inteira.
Bree ficou nervosa ao perceber a raiva de Heath com o comentário de Ronald, mas
sorriu quando o rapaz alto e bonitão se adiantou para cumprimentá-la.
- Este é Alan Paine. Ele acaba de voltar dos Estados Unidos. Alan, venha conhecer
Bree Ransome e Heath Vaugh.
- Oi! - ele cumprimentou. Tinha um rosto agradável e seus olhos examinaram Bree
com admiração. Ele estendeu a mão para Heath. - Como está, senhor? Creio que
conhece meu pai.
- Conheço, sim. Muito bem, na verdade. - Heath apertou a mão do jovem e Bree
lançou um olhar para ele. Toda a excitação de um momento atrás tinha desaparecido e
ela conversava formalmente com Alan.
- Vamos deixar que esses dois jovens se conheçam melhor, Heath? - sugeriu
Ronald. - Além disso, eu vi George ali adiante. Ele quer falar com você sobre sua viagem
ao sul. Parece que está tendo problemas também.
Com um enigmático olhar para Bree e o rapaz ao seu lado, Heath saiu com o outro
homem. Alan Paine, tendo toda a atenção de Bree só para si, logo tratou de deixá-la à
vontade e ela pôde relaxar completamente, começando a perguntar sobre a viagem dele
aos Estados Unidos. Ele era bastante agradável, fazendo-a rir com suas descrições das
coisas engraçadas que aconteceram durante suas férias.
Quando ele sugeriu que dançassem, ela logo concordou. A maioria das músicas
tocadas eram modernas e Alan dançou com desembaraço, sempre sorrindo e admirando
Bree. Depois de algum tempo, quando a música tocada era mais suave, Alan puxou-a
suavemente para seus braços. Ela gostou de se mover com ele, que não fez tentativas de
intimidades durante a dança, como alguns rapazes que havia conhecido no passado.
Relaxada, Bree sorria. Mas em um intervalo da música, de repente no meio da multidão,
seus olhos cruzaram com um par de olhos azuis. Mesmo através da sala ela sentiu a
irritação de Heath. Estremeceu de leve e Alan a olhou, admirado.
- O que houve? Não está com frio, está?
- Não, não foi nada. Creio que estou só um pouco cansada. Importa se nos
sentarmos?
- Claro que não! - Ele a conduziu para fora da pista de dança. - Que tal um drinque?
- Talvez um suco de laranja, sim? - Bree afundou em uma poltrona milagrosamente
desocupada e Alan deixou-a para ir buscar as bebidas.
- Está se divertindo? - A voz de Heath veio de trás dela, que surpresa, se virou para
olhá-lo.
- Sim, estou.
Heath tomou um grande gole da bebida que tinha na mão e sorriu para o copo.
- Pelo jeito já descobriu um novo... admirador. Vocês parecem ter muito o que
conversar.
- Alan estava me contando sobre sua viagem. - Ela engoliu em seco. - Ele passou
três meses nos Estados Unidos.

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
- É... o pai dele me disse. - Os olhos de Heath mal apareciam em seu rosto,
enquanto a olhava de cara fechada. - É um rapaz bem simpático, não acha?
- Creio que sim. - Bree concordou, achando que Heath parecia enciumado. O que
Heath diria se ela confessasse que ninguém poderia se comparar a ele neste mundo?
- Alan convidou você para sair? - Ele rodava o líquido dentro do copo.
- Não, claro que não! Nós, não... eu mal o conheço!
Os olhos dele estavam fixos nela.
- Você também mal me conhecia- disse em voz muito baixa, com a boca torcida.
- Sim... mas é diferente...
- Diferente? Diferente como?
- Porque é, pronto! - Como ela podia explicar a ele que sentia como se o
conhecesse há muito tempo?
O que Heath ia dizer ela nunca soube, porque nesse momento Alan voltou para lhe
entregar um copo com suco de laranja. Ele segurava um refrigerante também e sorriu
quando ela agradeceu.
- Bem... eu tenho um compromisso bem cedo amanhã de manhã. - Heath olhou no
relógio de pulso.
Bree tentou se levantar da poltrona funda e Alan foi ajudar, demonstrando surpresa
quando ela revelou que ia com Heath.
- Tem que ir também? - ele perguntou e ela concordou. - Que pena! Bem, então só
me resta dar boa-noite. Realmente gostei de versar com você, Bree.
- O que há? Indo embora já? - Hailey surgiu ao lado de Alan.
- O sr. Vaugh tem um compromisso logo cedo, amanhã - Alan explicou.
- Mas você não precisa ir também, precisa, Bree? Não, quando está se divertindo
tanto. Com certeza Alan terá prazer de levá-la para casa mais tarde.
Ronald colocou a mão no ombro de Alan, e Bree pensou se era imaginação sua, ou
tinha mesmo visto um malicioso sorriso em Heath.
- Oh, não, obrigada! Estou cansada. Creio que vou mesmo com Heath.
- Certo. Mas talvez você aceite jantar comigo uma noite dessas. - Alan sugeriu,
arriscando uma olhada na direção de Heath. - Que tal amanhã, se estiver livre?
- Eu... - Bree ia começar a recusar.
- Bree já está comprometida amanhã à noite. - Heath cortou. – Ela vai jantar comigo.
- Oh, oh! Bem... então fica para uma outra vez. - Alan se mexeu inquieto, quando os
olhos de Heath se fixaram nele.
- Obrigada por seu convite, de qualquer forma. - Bree sorriu de leve, tentando
quebrar a tensão que tinha se tornado horrível, depois das palavras geladas de Heath.
- Pronta? - Heath pegou no braço dela, encerrando a conversa. Até outra vez. Boa
noite! - ele cumprimentou com um gesto de cabeça, quando passou com Bree em direção
à porta. Roslyn Jacobs notou a saída deles e Heath acenou em despedida, sem tomar
conhecimento de que ela, obviamente, gostaria de falar com ele. Lá fora, abriu o carro em
silêncio e já estavam na estrada principal, quando falou: - Devo me desculpar?
- Você foi um pouco rude com Alan - Bree comentou.

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
- Eu me senti rude. É só.
- O convite dele não significava nada. Quis apenas ser amável.
Heath apenas riu, sem fazer comentários. Uma vez dentro de casa, ele acendeu as
luzes e foi até o bar, servindo-se de um drinque. Bree ficou parada olhando e ele cruzou
seus olhos com ela.
- Heath - ela disse suavemente, dando um passo na direção dele. - Não acha que é
um pouco tarde para...
- Um pouco tarde para... o quê? - Ele a olhava, insolente.
- Você me disse que tem um compromisso logo cedo.
- Na hora, me pareceu uma boa desculpa. - Ele levantou o copo até a boca
novamente.
Bree começou a sentir uma inexplicável raiva de tudo aquilo.
- Estou cansada. Acho que vou dormir.
- Ótima ideia. Ia mesmo sugerir isso. - Sua voz era gelada. Colocando o copo no
bar, ele foi na direção dela.
Instintivamente ela andou para trás, alarmada.
- Por favor, Heath, não! - Quis detê-lo, mas ele puxou-a rudemente, prendendo seu
corpo contra ela.
- Não? Vamos, você não quer dizer sim? Talvez assim eu possa encontrar um pouco
de paz - ele acrescentou com voz rouca, e seus lábios esmagaram selvagemente os dela.
Bree começou a soluçar. Heath levantou-lhe a cabeça e olhou ansioso para seu
rosto molhado. Praguejando, empurrou-a para longe, virando de costas.
- Vá para a cama, Bree - disse sem raiva.
- Heath? - ela sussurrou o nome dele e ele a olhou de lado, sobre o ombro. Seu
rosto estava pálido.
- Eu disse vá para a cama! Saia da minha frente, antes que a gente faça algo de que
possa se arrepender para sempre.

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CAPÍTULO X

Bree estava muito nervosa na manhã seguinte. Ficou em seu quarto até que ouviu o
carro de Heath saindo, pois não queria vê-lo. Ela precisava de tempo. Já tinha visto Heath
zangado antes, mas não tão deprimido e tão perto de se descontrolar como estava
quando voltaram da festa. Como iria enfrentar aquela noite com ele, quando fossem
jantar? Sentia-se cada vez mais incapaz de resistir aos seus encantos. Sua batalha era
consigo mesma. Alguma coisa dentro dela dizia que devia aproveitar a vida ao máximo,
mas ela sabia que era impossível. Tinha que guardar um pouco do seu autorrespeito.
Além disso, assim que Heath descobrisse que ela não era a mãe de Ben, e que o havia
enganado, ia expulsá-la dali, sem se importar se suas intenções tinham sido boas ou não.
E se ela dissesse a verdade agora, antes que ele descobrisse? O telefone tocou dentro
da casa e logo depois Peg veio até o jardim, onde Ben ensaiava seus primeiros passos,
apoiando-se em uma cadeira.
- Era Heath, Bree. Ele pediu que a avisasse que teve que viajar inesperadamente
até Toowoomba e acha que não poderá voltar esta noite. Disse que sente muito por ter
que adiar o jantar.
- Está bem! - Uma mistura de alívio e decepção tomou conta dela, que tentou se
convencer de que era melhor assim.
- Ficou desapontada, não? Eu acho que Heath está tendo graves problemas
ultimamente. Ele parece tenso e cansado - Peg disse sacudindo a cabeça e indo para
dentro. Logo depois o telefone tocava de novo. Ela voltou depressa para chamar Bree.
- Quem é? - Bree perguntou, surpresa. - Heath?
- Não, parece a voz de um rapaz.
- Alô, Bree! É Alan... Alan Paine.
- Oh, alô, Alan. - Ela se agitou, consciente da presença de Peg ao redor.
- Como está, depois da festa?
- Tudo bem!
- Ótimo. - Ele pareceu satisfeito. - Estou tentando aproveitar a má sorte do sr.
Vaugh. Sei que ele teve que ir correndo a Toowoomba. Aí tentei e me cederam a reserva
no restaurante. Estou ligando para convidar você. Que tal?
- Não sei, Alan. Realmente não sinto vontade de sair. - Bree ficou pensando em
como Alan havia descoberto tão depressa que Heath deixara a cidade. A menos que ele
mesmo tivesse contado ao rapaz. Alguma coisa doeu fundo, com esse pensamento.
- Eu presumo que não sou uma companhia tão distinta quanto a do sr. Vaugh, mas
prometo tentar. Então?
- Bem... - Bree hesitava. Havia uma certa insinuação nas palavras de Alan e, se ela
se recusasse, iria confirmar tudo, isto é, que não podia sair sem Heath. - Mas é que eu
não posso voltar tarde...
- Por mim, tudo bem. Vou esperar ansioso por esta noite. Obrigado, Bree. Apanho
você às sete. - Ele desligou.
Bree desligou devagar, pensando se tinha sido empurrada a aceitar o convite de

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
Alan ou se estava vendo fantasmas. O Fountain Room no Brisbane Cultural Centre era
silencioso e chique, com suas paredes brancas e o carpete grosso. Todos os estofados
eram em tecido acetinado e rodeavam pequenas mesas com toalhas brancas. Enormes
vasos com plantas tropicais e palmeiras completavam a decoração, com seu verde
maravilhoso. Alan e Bree foram levados a uma mesa para dois, perto de enormes painéis
de vidro que mostravam a vista de Brisbane River e do centro da cidade. Luzes coloridas
vinham dos enormes edifícios, formando desenhos estranhos na água. Luzes brancas
enfileiradas pareciam pérolas, seguindo a estrada que acompanhava o rio e os arcos da
Victoria Bridge. À direita, a Jubelee Fountain jorrava pingos dourados entre o restaurante
e a ponte.
Bree estava encantada, satisfeita par ter escolhido aquela roupa que vestia. Um
macacão de seda cor de amora, sem mangas, com um casaquinho de crepe estampado
na mesma cor. O conjunto lhe caía com perfeição e ela não se sentiu deslocada entre as
pessoas elegantes do lugar. - Bastante bonito, não é mesmo? - perguntou Alan.
- Eu não sabia que Brisbane era tão pitoresca. - Bree não conseguia tirar os olhos
da paisagem.
- Bem, durante a noite, as luzes brilhantes escondem as coisas feias das cidades -
Alan ria - mas este lugar é o único que posso chamar de lar.
- Passou aqui toda sua vida?
- Toda a minha vida, embora tenha viajado muito... Europa, Ásia e Estados Unidos.
Penso que agora preciso sossegar. Meu pai tem sido muito bom me deixando aproveitar a
vida, mas está na hora de eu começar a entender de negócios. Nós temos uma
companhia construtora como a do sr. Vaugh, só que não tão grande.
Alan falou sobre si mesmo e sua família. Tinha vinte e quatro anos e duas irmãs
mais novas. Bree estava feliz por poder sentar e ouvir aquela conversa, muito diferente da
dos rapazes que conhecia. Ele tinha senso de humor, não era malicioso, e, quando o
prato principal foi servido, ela notou que se divertia muito. Em casa, teria ficado só
ruminando seus próprios pensamentos. O peixe grelhado estava delicioso, e, só quando
sentiu-se tonta, Bree notou que o garçom mantinha sempre seu copo de vinho cheio. E
ela não estava acostumada a beber. - Então você vem de Bunderberg, a terra do açúcar –
Alan comentou, obviamente querendo saber mais. - O que fazia por lá?
- Trabalhei em uma pequena manufatura de objetos de decoração e quando deixei a
escola eu... eu fui para Sidnei, mas não consegui arrumar emprego. Então voltei a
Bunderberg.
- Foi lá que conheceu o sr. Vaugh? - ele perguntou com naturalidade, mas com um
olhar cortante.
- Não. - Bree procurava depressa um jeito de mudar de assunto, e tomou mais um
gole de vinho. Ela devia mencionar Reece, ou isso ia complicar tudo? Ah, como estava
enredada, pensou.
- Meu pai admira muito o modo do sr. Vaugh administrar seus negócios. Todo
projeto dele parece se transformar em ouro. Ele começou praticamente do nada, sabe,
por isso é mais admirável ainda. - Alan sacudiu a cabeça. - E que Ferrari ele tem!
Maravilha! Como será dirigir um carro desses?
- Como você mesmo disse. Maravilha! - ela disse, rindo.
- O que eu não daria para ter uma! Mas estou entalado no meu velho MG, pelo
menos até ganhar meu próprio dinheiro. Hailey me disse que o sr. Vaugh tem também
uma Mercedes.

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- Sim. Mas Bill Roland geralmente é quem guia.
- Apesar de rico, não se pode dizer que ele não trabalhe.
- Não, ao contrário, trabalha muitas horas por dia.
- Veja Hailey, por exemplo, ele é conhecido como um rico vagabundo, mas meu pai
trabalha por dois. Bem... eles gostam disso.
- O que ele faz?
- Hailey é economista. Herdou a firma do pai e do tio. Meu pai, Hailey e Heath Vaugh
devem se conhecer há anos. Meu pai e Hailey foram à escola juntos com o sr. Vaugh e a
falecida esposa.
O garçom interrompeu trazendo um carrinho com as mais deliciosas sobremesas,
mas Bree recusou. Alan aceitou uma torta de maçã com creme. - Quero só café - ela
pediu.
Enquanto tomava o café, Alan falou sobre outros restaurantes que conhecia e não
mais mencionou Heath. Quando voltaram ao carro, a mão dele segurou a dela,
levemente. - O que gostaria de fazer agora? Hei, já sei! Como não conhece Brisbane à
noite, que tal um passeio ao melhor ponto para se avistar a cidade?
- Bem... se não for muito longe, podemos ir. - Bree aceitou, embora quisesse ir para
casa. Mas pensou que depois do maravilhoso jantar que ele tinha lhe oferecido não devia
cortar a noite de Alan bruscamente.
- É no caminho de casa. - Alan sorriu e deu partida no carro, com o motor fazendo
um barulhão. - Podemos passar pelo novo jardim botânico e o planetário. Já esteve lá? -
Bree sacudiu a cabeça negativamente.
- Certo. Então direto ao monte Coottha.
Alan corria muito e, quando contornou a estrada, Bree se agarrou várias vezes à
beirada do banco. Finalmente, o carro parou no alto e Alan pulou por cima da porta
fechada. - Venha para o ponto de observação. - Ele pegou na mão dela. As luzes da
cidade e os subúrbios estavam espalhados lá embaixo, até onde a vista alcançava. Alan
colocou o braço nos ombros dela, apontando os ponto.s principais.
- Esse é o prédio da S.G.I.O. que tem no topo a hora local e aquela sombra escura
em volta é o rio. - Ele virou-a um pouco. - Ali está Fig Tree Pocket, onde você está
morando. Eu moro deste lado em Jindalee. - Seu hálito soprava perto do rosto. dela. -
Humm... - ele murmurou - gosto do seu perfume. - Ele cheirou seu rosto e, virando-a para
si, beijou sua face.
Bree não tentou empurrá-lo, para não criar caso, e felizmente um alegre grupo de
rapazes e moças cruzou o jardim, cortando aquela intimidade. Alan largou-a, relutante.
- Gostou? - perguntou, quando foram para o carro.
- Não estamos voltando à estrada? - ela perguntou quando notou que Alan tinha
virado na direção oposta.
- É muito bonito por aqui também - ele disse, parando debaixo de uma grande árvore
em um ponto mais escuro.
- Por que estamos parando aqui? - Bree estava nervosa.
- Bem, é mais sossegado. - Alan deslizou um braço nas costas do assento dela. -
Assim podemos conversar melhor.
- Acho que prefiro ir para casa, se não se importa.

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- Não está com medo de mim, está, Bree? - ele perguntou, se divertindo.
- Eu? Claro que não, ora! Eu... eu... é que é tarde...
- Vamos em um minuto. Não é longe daqui - Alan murmurou, seus dedos procurando
a maciez do pescoço dela, debaixo dos cabelos. Alguém já disse que você é muito
bonita? -Ele puxou-a para si.
- Alan... por favor... não...
As palavras morreram quando os lábios dele cobriram os dela, movendo-se e
tentando provocá-la. Bree lutava, empurrando seu peito. Ele apertou-a mais, esmagando
seus lábios, para vencer sua resistência. A luta dela apenas o incitava mais. Então ela
mudou de tática, ficando calma e imóvel em seu braço. Mas Alan achou que finalmente a
vencera e enfiou a mão por dentro do casaco, procurando seu seio. Bree tentou tirar
aquela mão, empurrando-o de novo. Ele era mais forte e ela, ofegando, virou a cabeça. -
Alan, por favor, não estrague nossa noite! - suplicou.
- Ora, Bree. O que há de mal em um beijo ou dois? Relaxe e se divirta um pouco. -
Ele ia beijá-la de novo.
- Não! - Ela virou a cabeça.
- Vamos, não se faça de difícil.
Lutando para fugir dele, o delicado tecido do casaquinho se rasgou. - Inferno! - Alan
praguejou. - Foi culpa sua! O que há com você? Ninguém ia pensar que você é a deusa
da virgindade!
Bree puxou o casaco sobre o peito.
- Eu não suporto agarramentos.
Ele a olhava como se nunca a tivesse visto antes, e ela ficou em silêncio.
- Veja, Bree. - Ele suavizou o tom, tentando outro modo de aproximação. - Eu não
quero magoá-la, nunca forcei nenhuma garota em minha vida. Acho apenas você uma
mulher sensual e isso me provocou. O que há de errado nisso? Devia ficar lisonjeada...
- Eu estou, mas... - Ela mordeu o lábio.
- Eu achei que tinha gostado de mim também - ele reclamou procurando a mão dela
e apertando-a carinhosamente.
- Eu gosto de você, Alan, e sinto muito. Mas, agora, queria ir para casa.
Houve um silêncio tenso e Alan assobiou entre os dentes.
- Já entendi. Talvez eu não seja bastante bom para você. Já tem na mão o peixe
grande para fritar, não é isso?
- Não sei o que quer dizer... - Bree empurrava a mão dele, -mas ele a segurou,
depressa.
- Oh, sim, você sabe. Não banque a inocente comigo. Bem... pode esquecer Heath
Vaugh, garota. Está tentando laçar um cavalo morto, meu bem. Só porque está dormindo
com ele não quer dizer que ele vai casar com você. Não há jeito de ser caçado
novamente. Heath não vai cair no laço de novo. Pode escrever.
- Eu não sou... Alan, você não sabe o que está dizendo!
- Não sei? Começo a pensar que sei muito bem... - Ele levantou a mão dela. - Sua
mão está tremendo. Creio que acertei na mosca!
- Alan, não tenho ideia do está dizendo. Agora, por favor, me leve para casa.

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
- Bem, eu achei um pouco estranho, na festa, você sair correndo com ele assim que
ele estalou os dedos. Bom Deus, garota! Precisa tanto de dinheiro? Admito que Heath é
bonito, mas tem idade para ser seu pai! - Alan estava furioso.
- Ele não é velho. - A voz dela sumiu quando percebeu que podia estar se traindo. -
Quero ir para casa, Alan.
- Não antes que eu queira, menina. Não antes que eu fale sobre quem é seu
precioso “papaizinho”. - Ele agarrou o braço dela, quando ela procurou abrir o trinco da
porta.
- Não quero ouvir nada! - Bree estava quase chorando.
- Mas vai ouvir! Heath Vaugh foi tapeado em seu primeiro casamento, então não há
jeito de você pegá-lo na mesma armadilha.
- O quê? - Bree tinha a voz presa na garganta.
- Ele era um rapazinho quando casou com Pamela Andrews, apenas porque o pai
dela obrigou-o a fazer isso. Ela estava grávida e disse que Heath era o responsável. Foi
uma piada! - Alan riu. - Ele foi mesmo enganado!
- Como você pode saber tal coisa... Saber tudo isso? – ela perguntou, horrorizada
com as palavras e a atitude dele.
- Porque a querida e doce Pamela tinha um caso com meu velho, também. Ela
estava sendo o motivo da separação dos meus pais. Ainda me lembro bem da minha mãe
levando eu e minha irmã para a casa de meus avós, e todas aquelas lágrimas e
discussões. Quando Pamela casou com Heath, meu pai convenceu minha mãe a voltar
para ele. Você sabe... aquela história... volte para casa e tudo será esquecido...
- Eu ainda não sei por que está me falando tudo isso, Alan. Isso não é da minha
conta. - Bree cobriu os ouvidos com as mãos.
- Nossa! Eu estive pensando... - Alan riu. - Reece Vaugh é filho de Pamela e, quem
sabe, pode até ser meu irmão!
- Como você pode dizer tal coisa?
- É a vida, não é? De qualquer modo é pouco provável. Afinal, meu pai não era o
único. Pamela também tinha alguma coisa com Ron Hailey. Ele ia até casar com ela, mas
descobriu antes o caso dela com meu pai e o namoro com Heath. Então pulou fora.
Sobrou só Heath, que caiu na isca com anzol, linha e tudo, ameaçado pelo pai dela.
Será que aquilo era verdade? Bree se lembrou daquela tarde no jardim quando
Hailey mencionou a mulher de Heath. Ele tinha se comportado tão estranhamente antes
de serem interrompidos. E como era palpável o antagonismo entre os dois! Isso não podia
ser só pelo fato de Heath ter se casado com a filha do patrão!
- Reece sabe de tudo isso? - ela perguntou baixinho.
- Quem sabe? As pessoas falam, e ele pode ter evitado se aprofundar no assunto
para não se ferir. Suponho que você sabe que Reece largou tudo e foi embora.
- Bem, pelo que vejo, ele tinha bons motivos para isso - Bree comentou, sentindo o
primeiro ímpeto de simpatia por Reece. Aquilo tudo devia ter feito muito mal a ele...
- O que sei - Alan continuava - é que Pamela e Hailey continuaram seu romance
mesmo depois de ela ter se casado com Heath. Na verdade, Hailey estava no carro que
Pamela dirigia na noite do acidente. Eles tinham ido à casa de Hailey e, depois de uma
briga daquelas, voltavam para a cidade. É claro que Heath abafou tudo. O dinheiro
consegue o impossível, até comprar línguas!

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
Bree ficou atônita, em silêncio, tentando entender tudo, e só percebeu que Alan
continuava falando, quando ele tocou em seu braço.
- Não é verdade, Bree? O dinheiro compra tudo, até o amor, ou devo dizer o sexo?
Quanto preciso lhe oferecer, Bree? - ele perguntou maldosamente.
Sem querer, a mão de Bree se levantou para golpeá-lo no rosto com toda a força. O
som da bofetada se perdeu na escuridão e ela ficou segurando a mão dolorida com a
outra.
- Agora me leve para casa, Alan - conseguiu dizer, soluçando.
Praguejando, ele deu a partida e voltou à estrada. Nem mesmo o excesso de
velocidade conseguiu despertar Bree. Ela estava perdida em si mesma, remoendo mais e
mais o que Alan tinha dito, e suas consequências. Se metade daquilo fosse verdade,
então era uma sórdida história. Como poderia convencer Heath que o amava pura e
simplesmente, quando descobrisse que ela havia mentido? Toda sua vida Heath tinha
engolido mentiras e mais mentiras. Com a possibilidade de Reece não ser filho dele,
estava afastada qualquer obrigação que ele viesse a ter a respeito de Ben, pois o garoto
não era seu neto. E agora ela estava presa na armadilha que ela mesma havia armado.
Bree só voltou à realidade quando Alan desligou o motor do carro. Percebeu que estavam
em frente à casa de Heath, toda escura, exceto pela luz suave do jardim que Peg deixara
acesa antes de se deitar. Alan colocou de leve a mão em seu braço.
- Bree, por favor. Espere um minuto... sinto muito por tudo. Eu estava fora de mim e
não tinha direito de dizer o que disse. Me comportei como um idiota frustrado, acho.
Aceita minhas desculpas?
Bree conseguiu apenas balançar a cabeça, fazendo que sim. - Obrigado. Espero
que tudo não esteja perdido entre nós.
- Vamos deixar as coisas como estão, Alan. É melhor eu entrar. Obrigada pelo
jantar.
- Certo, posso telefonar?
- Se quiser... - ela disse sem olhar para ele.
Quando isso acontecesse, ela já teria ido embora dali. Era o que precisava fazer.
Reece não devia ser filho de Heath, realmente não eram nada parecidos. Assim, ele não
tinha qualquer obrigação para com Ben. Ela não podia continuar ali, vivendo às custas de
Heath! Bree virou-se devagarinho e, quando as luzes do carro desapareceram na curva
da estrada, procurou a chave da porta. Repentinamente esta foi aberta e uma figura forte
ficou delineada na escuridão.
Ela se assustou e deixou cair a bolsa no chão. - Heath! - ela murmurou. - O quê...
Quando?
- Está querendo dizer o que estou fazendo aqui e quando voltei? - ele disse, irônico,
acendendo as luzes da sala. - Para a primeira pergunta, estou aqui porque esta é minha
casa e para a segunda, há três horas.
- Peg disse que você não vinha esta noite.
- Pelo jeito não levou muito tempo para arranjar outro programa.
- Mas Alan disse... - Bree parou. O que exatamente Alan havia dito? Que tinha
ficado com a reserva de Heath? - Eu pensei que você soubesse. - Ela levantou a cabeça
para encará-lo.
Heath se encostou na porta, com os braços cruzados. Estava sem paletó, mas ainda

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usava o colete do terno e a camisa tinha sido desabotoada no colarinho. - Alan me disse
que tinha ficado com sua reserva para o jantar – ela tentou explicar - no Fountain Room.
- Eu não vi nem falei com Alan desde a noite da festa. Como diabos ele podia saber
onde eu ia levá-la para jantar?
- Eu não sei. Naturalmente, pensei que você tinha dito a ele para me levar. Foi por
isso que fui. Essa é a verdade.
Os olhos dele demonstravam que ele não acreditava. - Vocês dois levaram um
bocado de tempo para jantar. Parece que foi uma noite bem divertida.
- Não vejo motivo para ficarmos discutindo. - Bree tirou o casaco.
- É tarde, estou cansada. Vou dormir.
- Mas eu ainda não terminei. - Ele agarrou seu braço, fazendo com que se virasse
para encará-lo.
De repente os lábios dele esmagaram os dela, machucando sua boca, mesmo
sabendo que desse jeito ela não ia corresponder. - Estive aqui sentado a noite toda
imaginando você com aquele garotão... tentando pensar em um castigo por ter saído com
ele esta noite, na minha ausência.
- Alan me deu a entender que você sabia e eu... bem... pensei que devia ter
sugerido isso.
Heath largou seu ombro e pegou o tecido rasgado entre os dedos, que ela havia
esquecido de esconder. - O que houve? - ele perguntou, baixinho.
- Eu... prendi em algum lugar do carro de Alan.
- Não minta, Bree! - A voz dele não admitia réplicas.
- Não houve... nada... honestamente! Foi um acidente.
- Aposto mesmo que foi! - Ele sacudiu-a pelos ombros. – Que diabo ele fez com
você? Diga, e eu vou lá...
- Você vai o quê? - Bree se livrou dele em um súbito acesso de nervos, com toda
aquela noite horrível caindo sobre ela agora. - O que vai fazer? Piorar a situação ainda
mais?
- Bree, eu fiz uma pergunta. Responda! - Ele estava pálido até os lábios, com os
maxilares apertados de ódio.
- Bem, a resposta é que ele simplesmente tentou fazer o que você estava fazendo
um minuto atrás. Tentou me beijar e eu não deixei. Está satisfeito agora? - Ela ouviu sua
voz ecoando estridente e arranjou mais fôlego. - Eu não preciso que você fique bancando
o meu protetor por aí, porque posso muito bem tomar conta de mim. E não vou me deixar
usar, nem por você e muito menos por Alan Paine. Agora, me deixe! Acho que não posso
aguentar mais nada por esta noite.
Livrando-se dos braços dele, ela saiu correndo para seu quarto, batendo a porta
atrás de si.

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens

CAPÍTULO XI

Em algum momento daquela noite sem sono, Bree decidiu que tinha que ir embora
daquela casa. Imediatamente. Não apenas por causa do duvidoso parentesco de Ben
com Heath, mas porque sabia que ainda estava em tempo, antes que seu traiçoeiro corpo
sucumbisse ao magnetismo daquele homem. Então, tudo estaria perdido
irremediavelmente.
Examinando seus sentimentos quando Alan a tinha beijado, ela apenas comprovou
o que já sabia de sobra. Quem quer que conhecesse depois, não conseguiria jamais fazê-
la sentir-se viva como Heath conseguia. Na noite anterior, se ele a tivesse seguido até
seu quarto, não ia conseguir se defender dele. Estava profundamente apaixonada e o
amava até a última fibra de seu ser, mas duvidava que Heath sentisse o mesmo. Ele a
queria fisicamente, isso ela sabia, e o caso duraria apenas enquanto ele sentisse atração
por ela. Por isso precisava sair silenciosamente, ir para algum lugar onde ele não a
pudesse encontrar, e tentar esquecê-lo.
Durante alguns dias ela procurou armar um plano, sentindo o coração pesado,
tentando não encontrar Heath. Desde aquela noite, ela pouco o tinha visto, o que a fazia
pensar que ele não queria vê-la também. Bree tentou dizer a si mesma que isso era
ótimo, mas seu coração doía quando ele foi chamado às pressas a Caims, ao norte de
Queensland.
Sua chance de ir embora surgiu dois dias depois que ele viajou, quando Peg veio lhe
dar a notícia:
- Bill e eu prometemos ir passar alguns dias com nossa filha. Como Heath vai ficar
fora, talvez por uma semana, acho que é uma boa oportunidade.
- Ótimo! - Bree concordou com entusiasmo.
- Sim, mas estou preocupada em deixar você sozinha. Por que não vem conosco?
Minha filha vai adorar conhecê-la.
- Oh, não, eu não me importo de ficar sozinha.
- Eu sei. Mas você está tão abatida que uma mudança lhe faria bem não é, Bill? -
Ela apelou para o marido.
- Pare de amolar a menina, Peg. Ela vai ficar melhor longe de sua tagarelice por uns
tempos.
Bill e Bree riram com a indignação de Peg.
- Prefiro ficar. Verdade, Peg. Vocês dois vão sozinhos e tratem de se divertir. - Ela
se esforçava por parecer alegre. - Além disso, quero acabar de ler aquele livro que me
emprestou.
Isso pareceu convencer Peg, e as lágrimas encheram os olhos de Bree, quando viu
o carro dos Roland se afastando. Nesse tempo em que esteve lá, Peg e Bill tinham
mostrado tanta bondade, que ela sentiu-se horrível quando escreveu o bilhete de adeus,
pedindo desculpas e agradecendo.
Apressadamente, guardou as suas roupas e as de Ben, deixando pendurados todos
os lindos vestidos que Heath lhe dera. Já estava tudo ruim e ela não queria ser acusada
também de aproveitadora.

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
Como tinha pouco menos de cem dólares, pegou duzentos da mesa de Heath,
deixando um bilhete dizendo que pagaria o empréstimo assim que pudesse. Ao lê-lo de
novo, lágrimas encheram seus olhos. Parecia tão banal aquele recado, sem nada dizer
sobre seus sentimentos! Mas se tentasse pôr isso no papel, perderia toda a coragem de
ir. Pediu um táxi por telefone e, quando o carro chegou, ela entrou sem se permitir um
olhar para trás.
O terminal da Greyhound estava agora em grande atividade, e Bree sentou-se na
sala de espera com Ben no colo, que tinha dormido no caminho, e ficou olhando as
pessoas que chegavam ou partiam. O tempo parecia ter parado, e em poucos minutos o
ônibus estaria partindo. Ela queria que o tempo voasse, para que pudesse ir embora dali.
E para longe de Heath. Não havia nenhuma perspectiva para ela em Bunderberg, mas
tinha que ir para alguma cidade, e pelo menos podia pedir às garotas com quem havia
morado para ficar lá até que encontrasse algum lugar. Quem sabe conseguiria encontrar
um trabalho como governanta, como Peg?
Bree suspirou, engolindo as lágrimas, e olhou para Ben que dormia pacificamente e
soltava um gostoso suspiro. Ia ser duro começar de novo, pois seu coração ficava ali, mas
tinha que fazer isso. Quando se tem a responsabilidade de uma criança, você não pode
vacilar, ela racionalizou. Com os olhos baixos, viu a porta da sala de espera da estação
se abrir e um par de pernas vestidas de cinza andarem em sua direção com passos
decididos. Devagar, olhou para cima. A primeira coisa que notou foi que a caríssima
camisa azul-clara estava meio amassada, com os botões parcialmente abertos e um
rasgo em uma das mangas.
Seu coração pareceu querer parar e ela olhou no rosto dele. Heath tinha os olhos
cansados e as linhas ao redor da boca muito mais profundas. Parecia tão diferente
daquele executivo impecável que ela conhecia, que apenas ficou olhando-o sem dizer
nada, com a boca seca. Em completo silêncio, Heath se abaixou e tomou Ben dos braços
dela. Com a outra mão, segurou o braço de Bree, para ficar de pé. Largou-a, pegou sua
velha mala e caminhou para fora.
A caminho do carro, ele olhava ternamente Ben adormecido e deu um carinhoso
beijo em sua testa. A Ferrari esperava parada em local proibido. Ele jogou a bagagem no
porta-malas, entregou Ben a Bree e abriu a porta para que ela entrasse.
Quando já estava na estrada, ela olhou de lado para ele, mal acreditando que
estivesse ali.
- Como soube onde me achar? - Sua voz era um sopro.
- Eu tenho amigos influentes - ele respondeu apenas.
Bree olhou para suas mãos no volante e só então viu o ferimento nas juntas
arroxeadas.
- Sua mão... O que aconteceu?
- Um pequeno problema com uma certa pessoa.
- Quer dizer que brigou com alguém?
- Prefiro classificar como uma pequena discussão.
- Quem... com quem?
- Isso importa? - ele levantou um ombro.
- Foi procurar Alan? - Bree arriscou e Heath riu, seco.
- Eu me peguei com seu amiguinho Paine, sim, mas não pela razão que está

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imaginando.
- Heath, por favor, com quem brigou? Por quê?
- Cheguei cedo em casa esta tarde e encontrei seu bilhete. Então achei que seu
jovem galã poderia saber onde você tinha ido.
- E bateu nele?
- Não, não houve necessidade. Ele estava até bem falante e disse que não tinha a
menor ideia do seu destino. Mas me esclareceu um ou dois mistérios. Parece que eu
subestimei Ron Hailey, meu amigo de longa data. - A voz de Heath estava gelada.
- Ronald Hailey? - Bree franziu as sobrancelhas.
- No dia em que fui chamado à Toowoomba, ele estava no escritório. Me ouviu
cancelar a reserva no Fountain Room e contou a Alan imediatamente.
- Por... por que ele faria isso?
- Porque Hailey há vinte anos alimenta uma mágoa contra mim. Eu sempre
desconfiei da participação dele nos meus problemas com Reece. Pelo que Alan me disse,
achei que ele até tinha ajudado você a ir embora.
- Eu não vejo Ronald Hailey desde a noite da festa de Roslyn! - Bree protestou.
- Eu sei. - O maxilar de Heath palpitava. - Mas não foi fácil ele me provar isso.
- Quer dizer que brigou com Hailey? - Bree corou fortemente. - Por quê?
- Por você! E por outras coisas mais, que estavam enterradas e esquecidas há muito
tempo.
- Mas Hailey não podia saber onde me achar! - Ela tentava descobrir tudo naqueles
olhos azuis que a encaravam.
- Não. Ele me provou que não sabia, e aí eu telefonei a um amigo que tem acesso
aos controles das companhias de táxi. Não foi difícil falar com o motorista que pegou você
em casa.
Bree estava em silêncio, seu estômago revirando, só com o pensamento de Heath
fazendo de tudo para encontrá-la. E por que a teria trazido de volta?
- Você me colocou em uma roda-viva, Bree - ele disse suavemente.
- Bree. É um nome estranho, não é?
- Sim... é sim - ela disse inquieta, tentando parecer natural.
Quando chegaram diante da casa que Bree pensou não ver nunca mais, ele falou:
- É melhor que vá deitar o bebê agora. Eu preciso tomar um banho e me barbear. -
Heath começou a desabotoar os punhos da camisa.
- Heath eu... - ela tentou dizer, tremendo.
- Mais tarde, Bree - ele pediu. - Vim direto do trabalho e gostaria de mudar de roupa.
Depois, então, vamos conversar. Temos muito o que dizer - acrescentou, quando saiu da
sala.
Agora teria que dizer a verdade a ele, Bree decidiu, mordendo os lábios. Ben já
estava na cama e ela teria que enfrentar Heath. Tomou um banho, mudou de roupa,
vestindo uma calça cinza-claro e uma blusa de seda. A roupa elegante a deixou mais
confiante e segura.
Heath estava esperando na sala de estar, perto do bar, com um drinque na mão.

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
Seus cabelos brilhavam, ainda molhados do banho.
- Quer beber alguma coisa? - Ele ofereceu, depois de olhá-la rapidamente.
- Não, obrigada. - Bree sacudiu a cabeça. - Heath, eu... há uma coisa que tenho que
te dizer; antes de tudo. Eu... eu não sou... - Ela parou sem coragem, com medo da reação
dele, da sua rejeição - Eu não sou...
- Você não é Briony Maree Ransome. - Ele terminou a frase.
- Você sabia? Como... como pôde saber?
- Vamos chegar lá. - Heath colocou o copo no bar.
Bree estava paralisada, grudada no lugar, e ele parou na frente dela, a pouca
distância. Mas, para Bree, parecia que havia um oceano a separá-los.
- Você roubou uma coisa de mim - ele disse, calmo.
- Eu só peguei emprestado para viajar. Por favor, acredite, eu ia pagar, juro. Se
quiser, posso devolver já.
- Não estou falando do dinheiro, mas de algo muito mais precioso que isso. Você
roubou meu coração e não o quero de volta. - Heath parou perto dela. - Bree - ele disse
seu nome suavemente, como uma carícia, e levantou seu queixo até que os olhos
cinzentos encontrassem os seus, incrivelmente azuis. - Quem é você? - ele perguntou,
quase para si mesmo.
Os braços dele a esmagaram e ela sentiu seu próprio coração batendo contra o
dele.
- Quando descobri que você tinha mentido para mim, fiquei tão zangado que
pensei... - Ele parou um pouco. - Mas quando cheguei em casa e descobri que havia ido
embora, achei que ia ficar louco. - Os lábios dele corriam pelo queixo dela, encontrando
sua boca, se unindo na chama de uma mútua e envolvente emoção.
- Eu não ligo a mínima para quem você é. - Heath continuou. - Se fosse a filha do
diabo, ainda assim eu não a deixaria partir, pois ia deixar de viver.
- Heath... - As lágrimas corriam pelo rosto dela e seus braços se apertaram na
cintura dele, quando enterrou o rosto naquele peito. Eles ficaram assim por algum tempo,
até que as lágrimas secaram e ela conseguiu dizer:
- Eu não menti sobre meu nome. Sou realmente Bree Ransome, na verdade,
Brianne Ransome. Briony é minha irmã. - Ele a levou até o sofá e sentou-a em seu colo.
Então, ela continuou: - Ben é meu sobrinho. Reece e Briony o deixaram comigo. Eles não
puderam enfrentar a barra de ter um bebê, então... - Ela mordeu o lábio. - Sinto muito não
ter contado tudo desde o princípio, mas pensei que você poderia me tirar Ben, e ele é
toda a família que possuo, desde que Briony foi embora. Eu não sabia nada sobre o fato
de Reece não ser... - Ela parou e Heath a olhou surpreso, erguendo as sobrancelhas,
intrigado. - Alan me disse que Reece não é seu filho legítimo. Depois que soube isso,
pensei que não podia deixar que ficasse responsável por Ben.
- Velhos boatos não morrem, não acha? - Heath comentou.
- É verdade?
- Isso foi há muito tempo. - Ele suspirou fundo. - Embora eu não possa entender o
que Alan tem a ver com essa história.
- A noite que saí com Alan, eu não quis beijá-lo, e ele pensou... que eu e você
estávamos... envolvidos.

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
- Envolvidos! - Ele riu. - Acho que estivemos “envolvidos”, para não usar outra
palavra, desde que nos conhecemos. Eu sabia, no momento em que coloquei meus
braços em você, que não havia jeito de escapar.
- Senti isso também, mas estava tão confusa. Você era tão... – Ela deu uma risada
encabulada.
- Tão o quê?
- Atraente... Nunca esperei que você pudesse sentir a mesma coisa por mim.
Naquela noite em que nos conhecemos, no apartamento, parecia distante e até meio
bravo.
- Foi uma loucura. Eu mal a conhecia e fui colhido por uma onda de ciúme. Quando
vi que você tinha um filho, que pertencia a outro homem, já foi difícil. Mas quando soube
que era do meu próprio filho, quase não pude suportar a dor.
- Nunca houve nada entre mim e Reece. Eu nunca... - Bree parou e um forte calor
subiu ao seu rosto, até os cabelos. - Eu nunca estive com ninguém.
- Bree! - Ele suspirou, beijando a palma de sua mão.
- Então Reece é seu filho?
- Eu sempre o aceitei como meu. Quando Pamela me disse que estava grávida,
acreditei. Como devia muito ao pai dela, tentei pagar dessa forma... bem... eu não estava
muito orgulhoso de mim mesmo. Além disso, estava apaixonado por ela, não posso
negar.
- Hailey disse que ela era muito bonita.
- Sim, era muito bonita, mas só por fora. Depois de casados, quando as coisas não
andavam como ela queria, começou a fazer insinuações sobre seu envolvimento com
outros homens, principalmente Hailey. Não levou muito tempo para nosso relacionamento
se desintegrar e morrer. Eu me atirei nos negócios fugindo de tudo e Pamela foi viver sua
própria vida. Ela estava com Hailey quando seu carro saiu da estrada perto da casa dele.
Morreu na hora.
- E Reece?
- Infelizmente, ele viveu e se formou no meio disso tudo. Eu nada percebi até que
era tarde demais. Como vê, não sou um grande modelo de marido ou de pai. Creio que é
muita ousadia pedir que se arrisque comigo - ele admitiu honestamente.
- Eu te amo tanto, Heath, que com você arrisco qualquer coisa. Estava morrendo por
ter que ir embora.
- Eu te amo muito também. - Ele apertou-a mais. - Sou egoísta o bastante para não
deixar que se vá.
- Pode me perdoar por não dizer a verdade?
- Não há o que perdoar, amor. Você fez o que achou melhor para Ben. Ninguém
pode culpá-la por isso. Aliás, tenho notícias sobre sua irmã e Reece; eles estão em
Cairns.
Bree ficou surpresa.
- Você os encontrou?
- Fui chamado lá pela polícia, porque Reece estava detido. Ele era suspeito de porte
de drogas em Tableland.
- Drogas? Mas Reece odiava drogas! Tenho certeza de que não tem nada a ver com
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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
isso.
- Ele declarou que não, mas teve que mandar me chamar para pagar uma fiança.
Voei direto para lá para libertá-lo, mas ele apenas me agradeceu, recusando-se a voltar.
Quando o lembrei de seu filho, ele me disse que eu fosse para o inferno, pois não queria
nenhum tipo de amarras. Nem ele, nem Briony.
- Oh, sinto muito, Heath. Que pena! Você viu Briony? – Bree perguntou, aflita.
- Não... pelo menos não nos falamos. Uma moça foi esperar Reece depois que ele
foi solto, mas a essa altura nós já tínhamos dito tudo o que tínhamos que dizer. Então -
ele levantou os ombros desanimado e infeliz -, nos separamos de novo.
- Heath... e Ben?
- Vamos adotá-lo legalmente e talvez dar a ele alguns irmãos e irmãzinhas. - Ele
sorriu para ela. - Quem sabe, talvez eu possa fazer com ele um trabalho melhor do que fiz
com o pai, se você me ajudar, é claro. Quer casar comigo, Bree, sabendo o que está
levando? Um velhote cínico e descrente e uma família pronta?
- Você não é um velhote - ela protestou, indignada - e eu sempre me senti muito
mais mãe de Ben do que tia. Além disso eu te amo tanto que ficaria com você em
qualquer condição.
- Não posso viver sem você, Bree. Isso é uma coisa que nunca disse a mulher
alguma, juro. É casamento ou nada, e não vou pedir isso a mais ninguém a não ser a
você, meu amor - Heath disse apaixonadamente, dando-lhe um beijo que selou o futuro
dos dois. - Pelo menos desta vez nossos filhos vão saber que eu adoro a mãe deles!
Logo depois, Heath deu uma risada.
- Peg vai endoidar com isto! Durante anos ela vem sugerindo que eu devia me casar
de novo. A que horas eles disseram que voltariam?
- Eles foram para a casa da irmã dela, por alguns dias.
- Quer dizer que estamos sozinhos?
- Somente eu e você... e Ben.
- Então tenho que dar um jeito para conseguir uma licença de casamento em tempo
recorde.
- E até lá? - Bree enfiou a mão por dentro do colarinho da camisa, sentindo a maciez
da pele dele.
- Bree, não me olhe desse jeito! - Ele gemeu. - Sou um homem muito fraco. Minha
resistência chegou a zero com você tão perto de mim, e faço questão que tenha tudo
como deve ser, como sempre sonhou: o casamento, a lua-de-mel. Quero tudo perfeito.
Bree abraçou-o ainda mais, dando suaves beijinhos ao longo de seu queixo e de seu
pescoço.
- Eu te amo, Heath, e sabendo que também me ama... Nada poderá tornar minha
vida mais perfeita.

FIM

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens
Barbara, Sabrina, Julia e Bianca.
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histórias de amor.

Uma inesquecível história de amor!

JULIA 254

O BARCO DOS DESEJOS

Barbara McMahon

Os olhos de Lexy brilharam ao ver o anúncio procurando um tripulante para uma


escuna. Ela sabia velejar e aquele emprego oferecia tudo o que precisava: um salário e a
chance de sair do hotel onde se escondia. Fantástico, simplesmente fantástico ficar no
mar do Caribe sem se preocupar em ser reconhecida. Sua alegria foi ainda maior quando
deparou com Dominic Frazer, seu patrão. Era um escritor que buscava no mar a
inspiração para seus livros de ficção, e o homem mais bonito e sensual que já havia
encontrado. Logo simpatizou com ele, podia a/é prever que se apaixonariam e... bem,
depois lhe contaria sobre a fuga. Estava certa de que a viagem não seria monótona;
prometia surpresas. Para o azar de Lexy, pouco agradáveis...

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Sabrina 253 - Amor ou Pecado? - Linsey Stevens

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Barbara, Sabrina, Julia e Bianca.
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JULIA 255

A ETERNA RIVAL

Pamela Pope

Rico e bonito, Peter atraía a atenção das mulheres. Mas Corinne tinha certeza de
que o noivo a amava e que nada, nem mesmo uma mulher exuberante como Edith,
poderia ameaçar seu amor. Mas foi o destino que destruiu seus sonhos. Numa tarde
sombria, inesperadamente, Peter morreu. Estava tudo acabado! Sem forças para
enfrentar a realidade, Corinne deixou Londres e foi para o interior esquecer Peter, Edith e
toda a tragédia que quase lhe tirou a vontade de viver. Foi lá que encontrou Joe Hamblyn,
um homem maravilhoso, capaz de fazê-la renascer para o mundo e para o amor. Mas
essa paixão tinha o sabor do castigo. Como num jogo sinistro, Corinne se viu invertendo a
posição com a antiga rival. Joe era noivo de Edith!
Julia 252 – Adorável Conquistador – Marjorie
Lewty

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