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Jagger Cole - Savage Heirs 04 - Forbiden Crown

O documento é uma tradução feita por fãs de uma obra literária que visa disponibilizar livros não publicados no Brasil, incentivando a aquisição das obras originais. A sinopse apresenta a história de um romance proibido entre uma estudante e seu professor, que se envolve em um escândalo. O texto também contém um aviso sobre representações gráficas de automutilação e abuso, alertando os leitores sobre possíveis gatilhos.

Enviado por

Cleyde Rosário
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
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AVISO

A presente tradução foi efetuada por um grupo de fãs da autora, de modo a


proporcionar aos restantes fãs o acesso à obra, incentivando à posterior
aquisição. O objetivo do grupo é selecionar livros sem previsão de publicação no
Brasil, traduzindo-os de fã para fã, e disponibilizando-os aos leitores fãs da
autora, sem qualquer forma de obter lucro, seja ele direto ou indireto.
Levamos como objetivo sério, o incentivo para os leitores fãs adquirirem as
obras, dando a conhecer os autores que, de outro modo, não poderiam ser lidos,
a não ser no idioma original, impossibilitando o conhecimento de muitos autores
desconhecidos no Brasil.
A fim de preservar os direitos autorais e contratuais de autores e editoras, este
grupo de fãs poderá, sem aviso prévio e quando entender necessário, suspender
o acesso aos livros e retirar o link de disponibilização dos mesmos, daqueles que
forem lançados por editoras brasileiras.
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obtenção de lucro direto ou indireto, nos termos do art. 184 do código penal e
lei 9.610/1998.
PROIBIDA A VENDA DESTE LIVRO.
É PARA USO GRATUITO.
DE FÃS PARA FÃS
Wolf
Warrior
Jewell Designs

Março 2025
FORBIDDEN
CROWN

Savage Heirs Series


- Oxford Hills Academy -

QUATRO

JAGGER COLE
SINOPSE

Eu fiz uma coisa ruim. Beijei meu professor e gostei.

Muito.
Bastian Pierce tem o dobro da minha idade.
Sinistramente lindo. Notoriamente selvagem.
Ele é uma tentação envolta em couro, tatuagens e linho Savile Row.
E ele sabe disso.
O problema é que eu também sei.
Em primeira mão.
Em minha defesa, isso foi antes de eu saber que ele era meu professor.
Antes que eu soubesse do acordo diabólico que ele havia feito com minha família.
Considere esta minha confissão.
Assinada com um escândalo.
Selada com o proibido.
Entregue com uma queda.
E é um longo caminho até lá embaixo...
PLAYLIST
Chaise Longue - Wet Leg
Sex and Candy - Unions
Keep the Car Running - Arcade Fire
Coffee - Sylvan Esso
Don't Stand so Close to Me - Denmark + Winter
Fallin' (Adrenaline) - Why Don't We
We Belong - Dove Cameron
Sideways - Citizen Cope
Show Up - Samia
Thursday - Holly Humberstone
LOVE SUX - Marisa Maine
Eat, Sleep, Wake (Nothing But You) - Bombay Bicycle Club
My Backwards Walk – Manchester Orchestra
Lullaby - The Cure
Fairytale of New York - The Pogues, Kirsty MacColl
In a River - Rostam
Pink - LÉON
Steal Your Heart - Augustana
Strange & Beautiful (I'll Put a Spell On You) - Aqualung
Let Go - Frou Frou
A Case of You - Luca Fogale
In The Blood - John Mayer
The Blower’s Daughter - Damien Rice
Buzz - Maddie Medley
AVISO DE GATILHO

Este livro contém representações gráficas de automutilação e abuso.

Embora essas cenas tenham sido escritas para criar uma história mais vívida e
profunda, elas podem ser desencadeantes para alguns leitores.

Por favor, leia com isso em mente.


1

Estou em busca de algo que nem sei ao certo o que é. Escuridão. O abraço
da escuridão. O pecado para me dar a salvação. A tentação para me quebrar. Estou
procurando o precipício, para que eu possa me jogar de cabeça sobre ele.

O licor queima como o abraço caloroso de um namoro familiar. Não sou


o tipo de bebedor que romantiza isso. Não me iludo pensando que o que eu e minha
fuga preferida temos juntos é amor.

Mas é um bom momento. É divertido. É passageiro, até à próxima vez,


quando ela - ou seja, o licor - sabe muito bem que estarei ligando novamente.

Temos esse acordo há anos. Sei que o licor vê outras pessoas - várias,
várias outras pessoas. E não me importo com isso. Desde que ela também esteja
presente quando eu precisar dela. Ela sempre está. E assim vai.

Ultimamente, estamos inseparáveis. Isso é o que acontece - pelo menos se


você for eu - quando a vida prende suas bolas entre a espada e a parede. Ou, várias
espadas e várias paredes.
Fiz minha carreira escrevendo livros que se aproximavam dos limites do
apropriado. E minhas travessuras no mundo real seguiram o mesmo caminho. A
imprensa me chamou de ‘o bad boy da literatura britânica moderna’. ‘Se Hunter S.
Thompson tivesse escrito Clube da Luta’ é um dos meus favoritos, por todos os
motivos óbvios.

Eu tinha conseguido. Tinha saído do mundo esnobe e detestável da


‘sociedade de elite’ que sempre odiei. Alcancei a grandeza por meio da escrita de
ficção, uma profissão que meus pais sempre se irritaram com o fato de eu me dedicar
a ela.

Até que fui longe demais. Até que minha ‘ficção’ se aproximou demais do
mundo real e irritou as pessoas erradas. Um contrato de livro e todo o meu contrato
de publicação viraram fumaça. Deixado de lado pelo meu agente. E como uma bela
cereja no topo, estou prestes a ser rotulado como predador sexual - uma mentira
descarada, pode ser - em um livro ‘revelador’ que minha ex-assistente está
ameaçando publicar.

Não passe pelo ponto de partida. Não receba duzentos reais1. Vá se foder,
Bastian.

Em resumo, fui condenado ao ostracismo. Expulso do Éden; à beira do


precipício de ser cancelado, com um ‘C’ maiúsculo.

Mas não é por isso que estou bebendo como se meu fígado me devesse
sua própria cabeça em um espeto. Estou bebendo por causa do acordo diabólico que

1
Referência ao jogo Banco Imobiliário. No jogo, quando um jogador é enviado para a prisão, ele não pode
passar pelo ponto de partida e, portanto, não recebe os duzentos reais normalmente dados quando se
completa uma volta no tabuleiro.
estou fazendo com uma mulher que absolutamente detesto. Porque ela tem as chaves
da minha salvação.

Olho para o resto do uísque no fundo do meu copo antes de bebê-lo em


um só gole. Eu deveria estar ‘diminuindo o ritmo’. Ou ‘manter a discrição’, como
Wendell, meu advogado, continua me ensinando. ‘Não dê munição a eles’, diz ele
com exasperação. ‘Não abra um buraco no paraquedas que Rebecca está lhe dando’.

Sim, que se dane isso. E que se foda Rebecca. Bem, na verdade não.
Felizmente, transar com ela não faz parte do nosso acordo. Mas não transar com
mais ninguém, sim.

Isso significa que estou ferrado, em todos os sentidos, exceto no sentido


da diversão.

Olho de relance para o barman. Atrás dele, uma centena de garrafas


reluzentes de vodcas aromatizadas, tequilas com infusão e o que quer que seja o
maldito ‘gim botânico seco de lote local envelhecido em barril’ estão alinhadas nas
prateleiras de vidro. Um DJ horrível está tocando uma das minhas músicas favoritas
do Lou Reed no sistema de som, e uma centena de clientes despreocupados com
metade da minha idade gritam, dançam e tiram selfies no bar da boate.

Esse é praticamente o último lugar do mundo onde eu preferiria tomar um


drinque. Só que eu não conheço Manchester de jeito nenhum. Então, quando pedi ao
meu motorista de táxi para ‘me levar a um bar’ antes do meu jantar mais tarde, foi
aqui que acabei.

Sinto-me como se estivesse em um comercial de carro voltado para jovens


de vinte e poucos anos com DDA.
Mas que se dane. Há bebidas alcoólicas. E esta noite, vou precisar de cada
gota que eles tiverem. Levanto a sobrancelha para o barman enquanto bato no copo
vazio à minha frente.

— Outro, — grunho.

O cara está usando suspensórios, uma gravata borboleta e um maldito


bigode. Ironia, servida, gelada e com um toque especial. Ele sorri enquanto se
aproxima e coloca um livro encadernado em couro do tamanho de uma maldita lista
telefônica na minha frente

— Quer dar uma olhada na lista de coquetéis, amigo?

— Não, só o uísque. Legal.

— Temos esse brilhante e sangrento old fashioned com infusão de fumaça


de bordo. Bem, é um pouco como um riff2 em um old fashioned.

Ele dá uma risadinha. Não tenho a menor ideia do motivo.

— Só o uísque.

Ele dá uma piscadela e acena com a cabeça com conhecimento de causa.

— Você gosta de daiquiri?

Minha mandíbula range. — Eu pareço a porra de um homem que gosta de


daiquiri? — Meus olhos se estreitam. — Uísque. Por si só. Em um maldito copo. É
literalmente simples assim. Você pode até deixar a garrafa e eu mesmo servirei.

Ele ri. Resisto à vontade de atravessar o bar e estrangulá-lo até que ele
‘ironicamente’ cague nas calças.

2
Marca de energético.
Ele olha para o bar e se enrijece. Em seguida, sorri ao se voltar para mim.

— Bem, vou lhe dar um minuto com esse menu, amigo. Fique à vontade
para fazer qualquer pergunta.

E então ele se afasta. Fico olhando para sua retirada com incredulidade.
Está brincando comigo, porra? Minha disposição passa de tempestuosa para o nível
de um furacão. Que se dane isso. Estou bebendo em um lugar onde adultos servem
adultos.

Estou prestes a jogar algumas libras no balcão e sair, quando me viro para
ver o que é tão importante para chamar sua atenção.

A música se torna monótona. As luzes se apagam. Meu sangue ferve como


fogo líquido.

Loira. Alta. Esguia, mas com curvas nos lugares que reinventam a palavra
‘pecado’. Ela está com um minúsculo vestido preto de coquetel e saltos altos ‘me
foda’, com pernas que vão até ao infinito e me deixam com morte cerebral.

Ah. É isso mesmo.

Ela está a um metro e meio de mim, sorrindo para o Sr. Ironia enquanto
ele a encara do outro lado do bar. Por alguma razão, tenho vontade de quebrar seus
dentes. Observo como ele está olhando para essa garota que eu nem conheço, que
nunca vi antes e que, pelo que sei, é sua namorada. E tudo o que sinto é um ciúme
puro e cruel.

— Vou querer um de seus cosmos de pêssego, por favor?

Ele arqueia uma sobrancelha. — Quantos anos você tem, amor?

— Vinte e três.
Sim, isso é uma grande besteira. Ela parece mais jovem do que a desculpa
horrível para um bigode no rosto do barman. Ela tem vinte e três anos e eu sou a
porra do Earnest Hemingway. Cristo, ela parece que poderia estar no ensino médio,
pelo amor de Deus.

— Vinte e três, é?

Ela sorri com um sorriso de tirar o fôlego, de estourar o pau e de flertar


com a provocação. — Sim.

— Fique sentada, linda. Vou pegar isso para você agora.

Eu reviro os olhos. Mas mesmo com meu ciúme intenso e meu desejo de
tirar o sorriso do rosto do rapaz de bigode, não o culpo. Uma garota como essa? Com
esse corpo, essas pernas e esse sorriso?

A única resposta certa para tudo o que essa garota pergunta é ‘sim’. E ela
sabe disso, porra.

Ela tira o celular de uma pequena bolsa e o folheia. Revira os olhos para
algo na tela, guarda o aparelho e, de repente, vira-se para me olhar. Seus olhos
brilham e um pequeno rubor atinge suas bochechas antes de desviar o olhar
rapidamente. Mas quando ela olha de volta, ainda estou olhando.

Essa é uma ideia extremamente ruim.

Tenho trinta e dois anos de idade. E sei como isso acontece. Conheço o
rubor de excitação e intriga em seu rosto. Conheço os olhares furtivos que aqueles
grandes olhos azuis lançam sobre meus bíceps tatuados que esticam a camiseta
branca que estou usando, provavelmente contra o código de vestimenta. Tenho plena
consciência do efeito que o meu sorriso casual e desdenhoso tem sobre as mulheres.

É por isso que essa é uma ideia muito, muito ruim.


Eu não deveria estar bebendo assim. Não com o escândalo pairando sobre
mim. Que merda. Esse é o tipo de merda pela qual eles vão me prender. Não que não
haja um milhão de idiotas em todo o país neste momento - mais velhos, bêbados em
um bar ou boate, e sorrindo avidamente para uma jovem bonita.

Mas esses outros idiotas não são como eu. Eles não têm a maldita espada
pendurada acima da cabeça em um cordão como eu tenho - a guilhotina pronta para
cortar a cabeça deles e, provavelmente, o pau junto com ela.

Tudo o que eu preciso é que um blogueiro ou alguém com uma câmera me


reconheça, e eles colocarão essa imagem em toda a Internet. Então, quando as
notícias falsas sobre mim forem divulgadas, esse será ‘mais um’ caso envolvendo o
suposto predador Bastian Pierce babando por outra ‘vítima’. Outra garota. Não
mulher. Garota.

Eu deveria ir embora. Mas não consigo nem tirar meu olhar do dela. Não
sei se minhas pernas funcionariam, mesmo que eu quisesse.

— Oi, — rosno.

Ela fica corada. Quase posso ver o empurra e puxa que seu corpo e seus
instintos lhe impõem. Eu até sei o que ela está pensando: será que ela se vira e corre,
como deveria? Ou ela se inclina para o perigo, dá o salto para o desconhecido e vê
o que acontece com o estranho olhando para ela como se quisesse devorá-la inteira?

— Oi, — ela diz.

Acho que o segundo ganhou.

— Posso lhe pagar uma bebida?


É uma frase óbvia. Mas é tão óbvia quanto as intenções escritas em meu
rosto. E eu sei que, mesmo sendo tão jovem, ela não é ingênua o suficiente para não
ver isso claramente.

Ela sorri. — Claro.

— Seu namorado não vai se importar?

Ela franze a testa em sinal de perplexidade antes que eu acene com a


cabeça para o barman bigodudo, que no momento está agitando um coquetel ou
tendo uma convulsão altamente coordenada. Ela cora, balançando a cabeça ao se
voltar para mim.

— Não é meu namorado.

— Tem um em outro lugar?

— Você se importa?

Oh, você vai ter um mundo de problemas comigo, querida.

— Nem um pouco.

Ela fica corada. Então, dá um passo para perto de mim. Eu me levanto e


dou dois passos mais perto dela.

— Qual é o seu nome? — Ela diz, tentando soar sensual. A inocência


óbvia e a maneira como ela está claramente fora do seu elemento ao fazer isso só
fazem meu pau ficar mais duro.

— Você se importa?

Ela chupa o lábio inferior entre os dentes. Seus grandes olhos azuis
brilham sob as luzes fracas da boate.
— Não, — ela respira. — Mas como devo chamá-lo?

Minha mente se volta para o livro de Charles Bukowski que ensinarei a


partir de amanhã.

— Henry, — eu rosno baixinho. Henry Chinaski, o protagonista do livro


de Bukowski. — Pode me chamar de Henry.

Ela arqueia uma sobrancelha, sorrindo um pouco.

— Tem algum problema com Henry?

Ela morde os lábios, balançando a cabeça enquanto seus olhos me


absorvem.

— Não, é que... não parece ser um nome falso muito misterioso.

— Ter um nome falso que se destaque anularia o propósito de usá-lo, você


não acha?

Ela sorri. — Acho que sim. — Seus dentes se arrastam sobre o lábio
inferior novamente. — Bem, como devemos me chamar?

Problema.

Tentação.

Uma ideia muito ruim.

— Lila, — murmuro baixinho, ainda canalizando o livro de Bukowski e a


garota provocadora que mora ao lado do querido Henry.

— Lila Jane.

Ela fica corada. — Gosto desse nome. — Seus olhos percorrem meu rosto,
descendo até minha boca, antes de deslizarem para cima e se fixarem em meu olhar.
— Prazer em conhecê-lo, Henry.

— Prazer em conhecê-la, Lila Jane.

Sua língua molha seus lábios, deixando-me louco.

— Você deve saber que não posso ficar muito tempo, Henry, — ela
sussurra.

— Você deve saber que sou um grande problema, Lila Jane, — rosno ao
me aproximar dela.

— Talvez eu esteja procurando um pouco de problemas.

Bem, você acabou de cair de cabeça nisso.

Eu rosno baixinho, e ela treme ao se aproximar ainda mais de mim. Isso


está acontecendo rápido. Rápido demais. Talvez não muito rápido para um cara
normal, comum, em uma boate tentando transar. Mas, como eu disse, não sou esse
cara.

Eu sou o cara com a lâmina pendurada sobre sua cabeça. Sou o cara
atormentado pelo escândalo - o bad boy da literatura britânica contemporânea
prestes a ser acusado muito, muito publicamente de má conduta sexual - mentira,
pode ser - por uma garota da idade dessa garota.

Eu sou o cara que só está apenas tentando ficar bêbado antes de ir jantar
com meu futuro terrível.

Eu deveria lhe dizer para ir para casa e tomar cuidado com homens como
eu. Eu deveria assustá-la para garantir que ela corresse para chegar lá. Mas então ela
passa a língua sobre o lábio inferior. E, muito rapidamente, sei que não estou dizendo
para ela ir para casa.
Minha mão desliza sobre seu quadril antes mesmo que eu saiba o que estou
fazendo. Antes que eu possa dizer a mim mesmo para correr, e não andar, até à saída
e ir e aceitar minhas consequências como um homem.

Eu a puxo para mim. Ela suspira baixinho, e vejo suas pupilas se dilatarem.
Mas ela vem de bom grado.

Não será a primeira vez que ela fará isso esta noite.

— Quantos anos você tem?

Ela se arrepia contra mim. Sua pele lateja sob minha mão pesada e seu
vestido fino.

— Vinte e quatro.

— Tente novamente.

Ela fica corada.

— Vinte e dois.

Isso também é uma mentira. Mas não dou mais a mínima. Se eles vão me
prender por essa merda, é melhor ser culpado, certo?

— Você quer sair daqui, Lila Jane?

Ela engole com dificuldade. Seu rosto arde em brasa. Acena com a cabeça.

Que Deus a ajude.

Jogo um punhado de notas no balcão e, presunçosamente, inspiro os


olhares cabisbaixos e irritados do barman e de todos os outros homens do bar
enquanto pego a mão dela e a arrasto para a saída.
Acabei de encontrar o pecado e a tentação que estava procurando. E agora
não vou deixá-la ir até que a tenha arrastado comigo para o limite.
2

Meu coração dispara, meu pulso lateja quente sob minha pele. O poder e
a força de sua mão grande segurando a minha mão muito menor são ao mesmo tempo
aterrorizantes e emocionantes.

Na verdade, cada parte dele é essas duas coisas.

O brilho em seus olhos que provoca um calor profundo em meu âmago. O


tom áspero de sua voz e a barba masculina em sua mandíbula. Os ombros largos e
musculosos que esticam a camiseta e a jaqueta de couro que ele vestiu quando
saímos do bar.

A maneira como ele está me conduzindo pela noite como um viking


arrastando sua conquista. Só que essa conquista está vindo de bom grado.

Pelo menos, acho que sim.

Ofego com o frio no ar quando ele me puxa pela porta da frente para a
noite. Seu aperto é mais forte e ele me leva pela rua. Meus pés tropeçam nos saltos
altos, minhas pernas vacilam e meu coração começa a subir para a garganta.
Eu nem deveria estar aqui. Quero dizer, sim, eu posso beber em uma boate,
obviamente. Estamos na Inglaterra e eu tenho dezoito anos. E embora a Oxford Hills
Academy - a escola preparatória extremamente elitista e esnobe que frequento a uma
curta distância de Manchester - seja normalmente um campus muito fechado, tenho
permissão para sair à noite para jantar com Lady McCreed.

Também conhecida como minha mãe. Também conhecida como


‘Medusa’.

Talvez tenha sido a mensagem de texto dizendo que ela estava atrasada
que me fez pedir ao motorista para me deixar aqui, no Club Speakeasy, o bar repleto
de ironia da era da Lei Seca, do qual acabei de sair.

Talvez a ideia de enfrentar minha mãe - que se tornou ainda mais venenosa
desde o divórcio - para discutir suas ‘grandes notícias’ enquanto sóbria parecesse
uma façanha impossível.

Talvez seja porque Alistair tenha me perseguido no campus durante toda


a semana com suas ideias assustadoras de que nossas duas ‘linhagens’ estão
‘destinadas a se fundir’.

Que nojo.

É um, alguns ou todos esses motivos que me levam a estar em uma boate
à qual não pertenço, a dois cosmos de profundidade, e a olhar para um homem
perigosamente atraente que pode ter o dobro da minha idade.

Ou que me fizeram estar em uma boate fazendo essas coisas. Porque,


muito rapidamente, me vi fora daquela boate, com minha mão na dele e meu coração
batendo no peito enquanto ele me puxava sabe-se lá para onde durante a noite.
Só que, na verdade, não é medo que sinto. Talvez seja porque, apesar do
brilho perigoso nos olhos desse lindo estranho, ele não me assusta.

Ele me excita. Terrivelmente.

Aquele olhar penetrante e abrasador que gritava sem palavras todas as


coisas imundas e adultas que ele queria fazer comigo não me fez correr. Ele fez
minhas coxas se contraírem. Ele acendeu o barril de pólvora de toda a merda
reprimida que eu tinha guardada dentro de mim há meses.

O divórcio de meus pais. Descobrir que meu pai estava, na verdade,


usando o fundo de investimento que ele administra como um cofrinho pessoal e que
parece ter desaparecido com cerca de quinhentos milhões de libras do dinheiro de
pessoas muito, muito importantes.

O fato de que todos parecem pensar que ainda estamos na casa dos 17 anos
e que já é hora de eu começar a pensar em me casar com um nariz empinado, e
merdinha arrogante como Alistair Grand. Apesar de não termos nada em comum,
exceto sobrenomes famosos de ‘elite’ e pais que frequentam os mesmos clubes e
eventos de arrecadação de fundos esnobes e de elite.

A constante, constante pressão para ‘fazer jus ao meu nome’. Para estar
sempre de pé e bonita. Ser magra. Ser charmosa. Ser perfeita.

Ignorar as coisas que quero fazer em minha vida em busca do que se espera
de mim. E o conhecimento de que um jantar com minha mãe será duas horas de
depreciação e comentários maldosos sobre minha pele, meu peso, minhas notas,
minha posição social, minha falta de proposta de casamento de um canalha como
Alistair - qualquer um ou todos os itens acima. Ou algo totalmente novo sobre o qual
ela decidirá me esfolar.
O divórcio, o golpe, Alistair, as pressões do meu mundo, minha mãe...
todas essas coisas parecem ter se transformado em uma fogueira ardente no segundo
em que esse homem olhou para mim. E quanto mais fundo na noite ele me leva, mais
as chamas aumentam.

Até que, de repente, a realidade parece me controlar. Isso é o que se pode


chamar de momento de luta ou fuga: fazer ou não fazer. Parar agora ou continuar e
ver onde isso vai dar.

Eu vacilo, parando antes que sua mão puxe a minha. Ele se vira, com uma
leve sombra de carranca no rosto enquanto seus olhos me observam.

— Eu só...

Sua mão solta a minha como se eu o tivesse queimado. Sua mandíbula se


contrai. Ele começa a dar um passo para trás, e meu coração afunda.

— Espere, eu só...

— Isso... — ele rosna grosseiramente e balança a cabeça. — É uma má


ideia.

Ele começa a se afastar. Minha mão se levanta e agarra a dele com firmeza.

Faço ou não faço.

Paro agora ou vejo como eu quero ser perigosa e selvagem.

O estranho pecaminosamente gostoso se retesa, sua mão agarra a minha


com força, como fez antes. Ele se vira, e eu me arrepio quando aqueles olhos escuros
e penetrantes me observam.

A segunda opção vence.


— Eu lhe disse que sou um problema, — ele sibila sombriamente.

— E eu lhe disse que talvez eu esteja procurando por um pouco...

Eu suspiro quando ele de repente se lança sobre mim, empurrando-me de


volta para as sombras do beco ao lado do qual estamos. Eu gemo quando minhas
costas batem na parede de tijolos, sua enorme estrutura me prendendo a ela. Seu
perfume masculino invade meus sentidos, e o calor dele parece penetrar em minha
pele.

Meus olhos se arregalam e minhas coxas se apertam com força. Meu olhar
se arrasta pelo seu peito largo, sobre a tinta da tatuagem na gola em V da camisa,
sobre a mandíbula quadrada e esculpida, até me perder naquele olhar penetrante que
me prende à parede.

Eu me arrepio.

— Sim, — ele resmunga, com os olhos apertados. — Foi o que eu pensei.

Ele começa a se virar. Mas ele interpretou mal meu arrepio e meu suspiro.
Não estou com medo.

Estou pronta para pular. Porque estou cansada de ser eu mesma. Estou
cansada das paredes que foram erguidas ao meu redor - o labirinto que me disseram
para atravessar, como um ratinho em busca de queijo.

Estou pronta para colocar fogo em tudo isso e ver o quanto está
queimando.

Minha mão se abre e agarra um punhado da camisa dele. Os nós dos dedos
roçam o abdômen duro como uma rocha através do algodão fino, que ressoa com um
grunhido quando ele se vira para mim.
— Não vou avisá-la, porra nova...

Eu me levanto na ponta dos pés, puxando-o para perto de mim, e bato


minha boca na dele em um beijo que eletrifica minha pele.

Fósforo jogado, gasolina acesa. E a chama sobe em um rugido.


3

Suas mãos agarram minha cintura, empurrando-me com força contra a


parede. Eu gemo quando seu corpo enorme me prende ali, seu rosnado ressoa em
meu corpo quando sua boca se abre. Sua língua exige a entrada, e eu a dou de bom
grado.

Eu gemo, estremecendo sob seu toque áspero e firme, enquanto seus


polegares traçam a cintura da minha saia. Sua cabeça se vira, aproximando seus
lábios dos meus enquanto me perco no beijo. Sua língua dança com a minha,
provocando arrepios e ondas de calor em minha pele até que eu esteja ofegante em
sua boca.

Uma de suas mãos grandes desliza pelas minhas laterais, provocando cada
costela. Ele a desliza mais para cima, segurando meu seio com força enquanto eu
gemo para ele. Seu polegar passeia sobre o mamilo através da minha blusa fina e do
sutiã rendado, fazendo com que meu desejo se agite.
Já fui beijada antes, mas nunca nem perto disso. Já fui apalpada antes. Mas
nunca fui tocada assim. Cada toque de seus dedos deixa um rastro de fogo. Cada
aperto e pegada fazem meu corpo pulsar e doer por ele.

Sua mão desliza mais para cima, contornando minhas costas e chegando
ao meu pescoço. Ele enfia os dedos em meu cabelo, enredando meu rabo de cavalo
alto, liso e cuidadosamente penteado em um punho apertado. Eu gemo quando ele
puxa minha cabeça para trás, afastando meus lábios dos seus enquanto ofego. Sua
boca vai até meu pescoço exposto e eu me arrepio, gemendo quando seus dentes e
lábios se arrastam sobre a pele delicada.

De repente, sinto sua outra mão descendo pela minha coxa, por cima da
saia. Meu pulso acelera e minhas mãos se estendem para agarrar seus quadris
musculosos com força. Seus dedos encontram a bainha da minha saia e ele começa
a puxar.

O fogo ruge em minhas veias. Meu sangue zumbe como napalm.

Ele puxa a saia mais para cima, até que ousadamente desliza a mão por
baixo dela. Eu gemo quando ele agarra minha coxa e começa a passar a mão pela
minha meia-calça. Meu corpo se contorce e lateja por ele. Minha pele dói ao sentir
que ele me toca em todos os lugares.

E então, ele faz isso.

De repente, a palma da mão dele toca minha boceta através da meia-calça


e da calcinha. Eu gemo profundamente, e ele rosna em meu pescoço.

Estou molhada, e ele pode perceber.


— Menina má, — ele sussurra com força em meu ouvido. Tudo o que
posso fazer é gemer novamente, balançando a cabeça enquanto meus olhos se
reviram.

Um de seus dedos grossos roça em minha costura, fazendo-me estremecer


enquanto a corrente elétrica lateja em meu âmago. Sua mão desliza mais para cima
até que seus dedos deslizam sob a cintura da meia.

Meu coração bate forte. Minha pele formiga por toda parte. Estou
realmente fazendo isso.

Ele não pede nem espera que eu o incentive. Ele simplesmente enfia a mão
por baixo, profundamente, até que seus dedos também escorreguem por baixo da
minha calcinha. Eu gemo e uma de minhas mãos voa para o antebraço dele. Ele faz
uma pausa, mas quando puxo seu braço, ele solta uma risada sombria bem no meu
ouvido enquanto puxa meu cabelo com um pouco mais de força.

— Garota gananciosa.

Sua mão mergulha em minha calcinha, e então ele me toca. Eu me derreto


por ele, agarrando-me a ele enquanto seu dedo passa pela minha fenda molhada. Sua
boca se agarra ao meu pescoço, chupando e mordendo com fome, enquanto seus
dedos fazem mágica entre minhas coxas.

Ele enrola meu clitóris sob um dedo grande, e eu começo a tremer. Agarro
seu antebraço com mais força ainda, tremendo. Seu dedo desliza para baixo e minha
respiração se prende quando ele o enfia em mim. Seu polegar esfrega meu clitóris
em círculos enquanto ele passa o dedo no meu ponto G.

— Depois que eu fizer você gozar, — ele rosna em meu ouvido, fazendo-
me gemer e tremer. — Vou virá-la de costas, levantar essa saia e transar com você
como uma vadiazinha má, bem aqui contra a parede, até você gozar no meu pau
como uma boa menina.

É demais. A imundície de suas palavras, a pressão de seu dedo contra meu


ponto G e o esfregar incessante de seu polegar sobre meu clitóris dolorido... o fogo
irrompe de repente e eu explodo.

Eu grito, agarrando-me a ele quando começo a gozar. Sua boca se choca


contra a minha, seus dedos apertam meu cabelo. Eu grito repetidamente, e ele engole
cada gemido enquanto me dedilha durante meu orgasmo.

Parece que estou flutuando em meio a uma tempestade enquanto o beijo


profundamente. Seus dedos passam preguiçosamente pela minha boceta, causando
arrepios na minha espinha. Ele se encosta em mim e eu suspiro ao sentir a espessura
de aço de sua calça jeans escura pressionando meu quadril.

Eu o quero muito.

O beijo se torna mais profundo e mais quente. Seus dedos começam a


esfregar meu clitóris novamente. E, de repente, meu celular toca. E é o toque da
minha mãe.

Estremeço quando me afasto de seus lábios perfeitos.

— Merda, eu... — Fecho os olhos com força.

— Atenda, — ele rosna.

Olho em seus olhos e aceno com a cabeça. É como se ele tivesse ordenado
que eu atendesse meu próprio celular. E é perturbador o quanto isso é sexy.

Sua mão escorrega da minha calcinha. Ele se afasta enquanto eu atendo o


celular.
— Oi...

— E onde diabos você pensa que está?!

Saio do devaneio em que estava flutuando.

— Uh, o quê?

— Julianna McCreed! — Minha mãe sibila. — Quando eu digo para você


estar no jantar em um determinado horário, espero que você esteja lá!

— Você disse que estava atrasada...

— Você não faz isso.

Cerro os dentes e reviro os olhos. Esta é minha mãe: que o mundo se curve
diante dela, ou então.

— Venha cá, agora. Você sabe que não gosto que me deixem esperando.

Ela desliga o telefone sem dizer mais nada. Sopro ar pelos lábios apertados
enquanto franzo a testa para o celular. E então, lentamente, olho para o estranho
escuro que está a trinta centímetros de mim, ainda me olhando como se quisesse me
engolir inteira.

Só que isso não pode acontecer agora. Porque agora, eu preciso correr para
sua majestade, minha mãe, ou será um inferno para pagar.

— Eu... — Franzo a testa, meus lábios se retorcem quando fico corada. —


Preciso ir.

Certo, como se eu fosse dizer a esse homem gostoso como o pecado, com
o dobro da minha idade, que minha mãe acabou de ligar e precisa que eu vá até à
mesa de jantar.
— Desculpe, eu...

Seu próprio celular toca. Ele franze a testa ao tirá-lo do bolso da jaqueta e
dar uma olhada nele. Seus olhos se estreitam.

— Não se desculpe, — ele grunhe. Ele olha para mim, prendendo-me à


parede com seu olhar ardente. — Eu também estou atrasado.

Aceno com a cabeça, corando, enquanto olho rapidamente para o meu


celular. Coloco um código de localização em uma mensagem de texto para meu
motorista e coloco o celular de volta na bolsa.

— Normalmente, não faço isso, — digo.

Seus olhos brilham com um calor sombrio enquanto ele volta para mim.
Eu gemo, deixando que ele me prenda à parede novamente.

— O quê, gozar nos dedos de um estranho ou ir embora logo depois?

Fico muito corada.

— Ambos.

Meu pulso acelera quando ele se inclina para me beijar. Mas, então, um
carro para em minha visão periférica. Meu carro.

Corando, eu o afasto, engolindo enquanto saio de entre ele e a parede.

— Este é o meu carro.

— E lá vai você, — ele rosna.

Viro-me para o carro, com o coração acelerado.

Isso pode acabar aqui. Apenas uma sessão de amassos estúpidos e loucos
com o cara gostoso do bar. Algo para me fazer corar mais tarde com a emoção do
proibido. Uma história secreta que não conto a ninguém. Uma lembrança persistente
da única vez em que cheguei ao limite da loucura.

— Para que lado você está indo?

Eu solto as palavras antes de conseguir me conter. Viro-me para ele,


mordendo o lábio.

— Quero dizer... você disse que estava atrasado para alguma coisa. Para
que lado...

— Cuidado, — ele resmunga baixinho, olhando para mim de forma


sombria.

— Com o quê?

— Comigo.

O calor percorre meu âmago, e a lembrança de seus dedos e lábios em


mim me faz vibrar.

— Estou indo para a Rua Rollins.

Eu engulo. — Eu também. — Meu coração bate forte em meus ouvidos


enquanto olho fixamente em seus olhos escuros.

— Você quer...

— Sim.

Mal fechamos a porta do banco traseiro e ele já está em cima de mim


novamente. Eu gemo quando ele quase me puxa para o seu colo. Seus lábios
devoram os meus com avidez, e eu gemo ansiosamente por mais.
— Ei, amigo! — O motorista fala do banco da frente. Eu coro
furiosamente enquanto me afasto, vendo a carranca do homem no espelho retrovisor
enquanto ele olha para o meu estranho.

— Quantos anos ela tem? — ele pergunta.

A mandíbula do estranho treme - com frustração pela interrupção, mas


também com outra coisa. Seus olhos endurecidos nos meus dizem que ele também
está esperando a resposta.

— Tenho vinte e três anos, — digo com despreocupação. — Poderia, por


favor, cuidar da sua vida e apenas dirigir? Rua Rollins, quinhentos e quatro, por
favor.

O motorista murmura algo e coloca o carro em movimento. Mas quando


me viro para o lado, meu estranho está me olhando desconfiado.

Que merda. Eu disse vinte e dois antes, quando ele perguntou.

— Tenho quase vinte e três anos, — eu digo.

— Esta noite, linda, — ele rosna com selvageria. — Eu realmente não dou
a mínima.

Sua boca se aproxima da minha, roubando meu fôlego. E eu o beijo de


volta, precisando disso.

São apenas algumas quadras até ao restaurante e minha mãe. E então isso
acaba; uma história suja de Cinderela para todas as idades. Eu gemo quando sua mão
desce para minha meia-calça novamente, escorregando pela minha coxa por baixo
da saia.

Eu o quero. Eu quero mais.


E então, o maldito carro para.

— Usem camisinha, vocês dois, — murmura o motorista.

Fico corada, afastando-me do estranho. Tento abrir a porta e me viro para


sair, zumbindo. Mas, quando me viro, pisco de surpresa ao ver que ele acabou de
sair do seu lado do carro. Ele olha para mim do outro lado do carro e franze a testa.

— Aqui é onde eu fico.

Eu engulo. — Aqui também é onde fico.

O estranho pisca, franzindo a testa em confusão. O carro se afasta do meio


de nós, deixando-nos parados em frente ao restaurante onde vou encontrar minha
mãe.

Ele se aproxima de mim com um sorriso presunçoso. — Não me diga que


nós dois estamos comendo no mesmo maldito restaurante.

— Eu... — Fico corada. — Acho que talvez estejamos.

Eu me arrepio quando ele se aproxima de mim. Suas mãos deslizam sobre


meus quadris, puxando-os possessivamente contra os seus e me fazendo vibrar de
calor. Sua sobrancelha se arqueia enquanto uma sombra cruza seu rosto.

— Espero que não esteja aqui para um encontro, — ele rosna, com a voz
afiada. Ele abaixa a boca e eu suspiro quando seus lábios tocam minha orelha.

— Definitivamente, não estou aqui para um encontro, — murmuro,


corando. — Você? — Eu provoco.

Ele fica paralisado, tenso. Meu estômago cai e meu rosto empalidece.

— Oh meu Deus, você está?!


Eu me afasto rapidamente dele, o calor de antes se transformando em fúria.
O que acabou de acontecer entre nós foi o nível certo de calor sujo para mim. Mas
se tudo isso aconteceu logo antes de ele se encontrar com uma pobre garota para um
encontro?

De repente, tenho vontade de vomitar.

— Não, — ele rosna. Suas sobrancelhas se contraem. — Não...

— Oh, adorável!

Eu me encolho e me afasto ainda mais do meu estranho ao ouvir a voz da


minha mãe atrás de mim.

— Vocês se conheceram!

Eu me afasto do meu estranho com cara de pedra para encarar o rosto com
Botox, e olhar esnobe e arrogante da minha mãe.

— O quê?

Ela sorri sua versão de um sorriso - uma expressão fina e azeda que, para
ela, significa que está feliz, acredite ou não.

— Vocês se conheceram!

— Conheci quem?

Meu cérebro falha. Fico tensa, meio que me viro para olhar de volta para
o estranho. Por que diabos ele acabou de dizer ‘conheci quem’ ao mesmo tempo que
eu?

Minha mãe sorri um pouco mais.

— Como vocês se conheceram?


Fico olhando para ela. Lentamente, afasto meus olhos e me viro, meu rosto
fica branco quando olho para ele, sua boca fina.

— Conheceram?

Ela ri. — Oh, querida, é isso que eu queria discutir com você esta noite.
— Ela suspira. — Dê-me os parabéns, Julianna. Vou me casar de novo.

Eu pisco os olhos. O mundo parece estar parado ao meu redor. Parece que
o chão está rolando sob meus calcanhares.

— Eu não... eu não estou entendendo...

— Julianna, este é Bastian Pierce, — ela gesticulou em direção ao estranho


maravilhosamente gostoso e de olhos ardentes que acabou de me fazer gozar em
seus dedos.

— Meu novo noivo.

Meu estômago cai. A realidade se estilhaça ao meu redor.

— Bastian, querido, esta é Julianna, minha filha.

Isso não pode estar acontecendo. Isso é um pesadelo. Vou acordar a


qualquer momento, vomitar e procurar terapia. Só que, quando olho para ele, sei que
isso é real. Isso está realmente acontecendo.

E isso não poderia ficar pior.

— Devemos estragar a surpresa, Bastian? — Minha mãe suspira.

— Talvez não, — ele rosna, olhando diretamente para mim, com o rosto
rígido e sombrio.

Há outra surpresa?
— Julianna, querida, você verá Bastian muitas vezes durante o resto do
ano letivo.

Eu vou vomitar. Vou realmente vomitar. Mas, de alguma forma, consigo


virar a cabeça para olhar com horror para minha mãe.

— O quê? — Eu falo baixo.

— Ele será seu novo professor de inglês do último ano na Oxford Hills
Academy.

Como me mantenho em pé é um verdadeiro mistério. Como não esvazio


o conteúdo do meu estômago - que é, em sua maior parte, cosmo de pêssego - no
meio-fio é pura sorte.

Minha mãe suspira, sorrindo ao se voltar para o estranho, que,


infelizmente, não é mais um estranho.

— Dá para acreditar que ela já tem dezoito anos?

— Não, — ele rosna com firmeza. Eu me arrepio ao sentir aquele olhar


em mim. E quando me viro, estremeço ao encontrar seus olhos escuros fazendo
buracos em mim, com horror e fúria em seu rosto.

Seus lábios ainda estão molhados. Dos meus.

Minha pele ainda estava corada e latejante. Da dele.

— Não, não acredito, — ele sibila com os dentes cerrados.

— Bem, — diz minha mãe com simplicidade. — Vamos comer?


Mal consigo sobreviver ao jantar. É um borrão. Apenas uma névoa de
calor latejando em meu rosto e as chamas disparando como jatos de napalm de seus
olhos para os meus.

Mas há também um calor pior. Um calor proibido. Um calor que ele


acendeu com um fósforo no segundo em que olhou para mim e que foi regado com
gasolina no instante em que me beijou.

E, por minha vida, ele não se apaga.


4

Estou indo para o inferno.

Direto. Para. O. Maldito. Inferno.

O garçom coloca mais uma bebida na toalha de mesa branca à minha


frente. Mas não há bebida suficiente no mundo para anestesiar isso.

Fiquei olhando para ela o jantar inteiro. Ela não tem vinte e três anos. Ela
não tem vinte e dois. Ela tem dezoito anos. Mal, aparentemente.

Antes, ela me olhava com tanta empolgação e entusiasmo. Como se eu


fosse um passeio emocionante - bungee jumping ou algo assim. Agora, ela está me
olhando com horror. Não sou o homem mais velho e escandaloso que quer fazê-la
se sentir suja e sexy contra a parede de um beco. Sou seu novo professor. Mas esse
não é o pior pecado aqui.

É Rebecca. É o fato de eu estar me acorrentando e me casando com a mãe


dela.
Quero lhe dizer que não é por escolha própria. Quero explicar como isso
é forçado; como é um acordo com o diabo que estou odiando todos os dias.

Mas algo me diz que ela não vai se importar mesmo assim. E não posso
culpá-la.

Há um ano, eu estava no topo do mundo. O queridinho ‘bad boy’ do


cenário literário. A ‘voz nova’ favorita dos críticos de todo o mundo. Um contrato
de publicação estupidamente lucrativo e um adiantamento absurdamente alto para
meu aguardado próximo livro. Eles estavam optando por transformar Fucked
Sideways, meu segundo livro de sucesso, em uma série da Netflix.

Eu estava vivendo como um rei e me divertindo como um astro do rock.


E não importava quão louco eu ficasse, ou quão absurdas fossem minhas travessuras,
a imprensa e os críticos só me amavam mais.

E, então, a coisa desandou.

Escrevi God $ave The Queen em três semanas. Três. Foda-se. Semanas.
Eu literalmente não conseguia parar de digitar, e as palavras simplesmente saíam de
mim como sangue, deixando minha alma naquelas páginas.

Toda a raiva que tenho dentro de mim contra o sistema e as besteiras


intocáveis da sociedade de ‘elite’. Tudo o que eu sempre quis gritar sobre a
corrupção na política, nas finanças e na alta sociedade. Como as organizações
criminosas estrangeiras - máfias italianas, as Bratvas e outras - estavam comprando
sua entrada no Parlamento.

É pura ficção, apenas se baseia fortemente no mundo que você pode ver
bem na sua frente se abrir os olhos. E é sem dúvida, em minha opinião não muito
humilde, meu melhor trabalho até hoje.
Também pode ser a bala que colocará minha carreira no chão.

Quando entreguei o manuscrito ao meu editor, dormi por dois dias


seguidos. Quando acordei, era como se o mundo tivesse mudado enquanto eu estava
dormindo.

Recebi centenas de ligações perdidas e mensagens de voz do meu agente,


Jesper, dizendo-me em tom sufocado que a Horn Publishing estava rescindindo
sumariamente meu contrato de publicação, com efeito imediato. Eles também
estavam ameaçando me processar pela devolução do adiantamento de God $ave The
Queen, que foi considerado ‘impublicável’, calunioso e perigoso.

Nas semanas seguintes, a situação só piorou.

Fui totalmente abandonado por Jesper e pela Horn Publishing. Comecei a


ser arrastado pela lama na imprensa. A mídia sempre gostou de pensar em mim como
um bêbado desonesto, um homem livre do politicamente correto, de outra época.

Mas quando fui dispensado, tornei-me persona non-grata. Manchado.


Intocável. Minhas palhaçadas não eram mais filtradas pelas lentes do ‘autor
provocador de best-sellers Bastian Pierce’. De repente, eu era apenas aquele bêbado
rabugento que talvez escrevesse alguns livros que as pessoas compravam.

E então, o verdadeiro martelo caiu.

Eu nunca pedi a Sophia. Na verdade, eu me manifestei contra a presença


dela ou de qualquer ‘assistente pessoal’ perto de mim ou do meu trabalho.
Especialmente quando essa assistente não quer calar a boca sobre o quanto ela
mesma quer ser escritora. E, normalmente, sendo eu a celebridade que sou, minha
palavra teria sido lei.
Exceto quando o pai dessa assistente pessoal é Lord Rupert Davies, que
por acaso é o proprietário da Horn Publishing.

Por isso, cerrei os dentes e ignorei as terríveis tentativas de Sophia de ser


minha assistente. Contive minha fúria quando ela interrompia meu tempo de escrita
com perguntas sem sentido ou, pior, com suas tentativas dolorosamente óbvias de
flertar ou me seduzir.

Sim, não, obrigado. Há limites que nem eu ultrapasso. E transar com a


filha de vinte anos, herdeira de um fundo fiduciário, do chefe do chefe do meu chefe,
é um grande não.

Só que, aparentemente, o que eu não fiz não é mais relevante.

Dois meses depois de eu ter sido demitido por ter escrito o que escrevi,
Sophia vazou anonimamente para as pessoas certas algumas alegações de que eu
havia sido ‘inadequado’ com uma assistente mais jovem. Isso ainda não se tornou
público, mas um número suficiente de pessoas sabe que eu já senti a reação. A
Netflix, por exemplo, me mandou ir à merda com o projeto de adaptação do livro.

Agora, há rumores de que Sophia está comprando um manuscrito para um


livro ‘revelador’ sobre seu ‘caso e agressão nas mãos de Bastian Pierce’. É uma
questão de tempo até que palavras como ‘predador sexual’ comecem a ser
divulgadas na imprensa. O fato de essa ‘acusadora anônima’ ainda estar na
universidade e ser doze anos mais nova que eu só vai atiçar as chamas.

E foi exatamente aí que Rebecca McCreed entrou em cena com uma oferta
que eu literalmente não podia recusar.

Bato a bebida à minha frente. Percebo que estou olhando fixamente para
Julianna, mas não dou a mínima. Também estou aparentemente incapaz de olhar
para qualquer outro lugar no momento, então é um ponto discutível. Rebecca não
parece notar nada e, em vez disso, parece estar concentrada em repreender a filha -
algo a ver com o namorado ou marido da colega de quarto ou algo assim.

Mas Julianna cerra os dentes. Seu belo rosto se contrai em uma carranca,
seus olhos azuis brilham enquanto ela os afasta da mãe.

Para mim.

Ela endurece quando percebe que estou olhando para ela. Seu rosto arde
em brasa, e aqueles olhos parecem se fixar nos meus. Eles se arregalam, e seu rosto
fica ainda mais vermelho quando ela molha lentamente o lábio inferior.

Porra, ela precisa parar de fazer isso.

— E o que você acha, Bastian?

Franzo a testa, de alguma forma desviando meu olhar de Julianna para


Rebecca.

— O quê?

Ela revira os olhos. — Sobre essa situação? Quero dizer, já é absurdo o


suficiente que esses filhos de... bandidos e criminosos possam frequentar um lugar
como Oxford Hills. É um insulto à injúria quando a própria colega de quarto de
Julianna se envolve com um deles. Isso reflete mal em nossa família, não é mesmo?

Minhas sobrancelhas se franzem. — Do que está falando? — murmuro


com aspereza.

Não vou fingir que estou apaixonado por Rebecca ou que sequer gosto
dela. Ou que consigo suportar estar na mesma sala que ela. Isso não faz parte do
nosso acordo. Mas, de qualquer forma, ela não faz muito esforço para me dar nada
além de olhares fulminantes, então quem se importa?

Ela revira os olhos. — Você não está prestando atenção?

Somente em Julianna. Somente nesses lábios. Somente ao saber que meus


dedos estiveram dentro dela.

Eu gemo enquanto tento me concentrar em Rebecca.

— Não, eu não estou.

Julianna morde um sorriso enquanto sua mãe me xinga.

— São esses herdeiros da Bratva, esquecidos por Deus. Eles não têm nada
a ver com Oxford Hills, e é um escândalo que tenham conseguido comprar suas
entradas.

Eu me enrijeço. — Que herdeiros da Bratva?

Rebecca parece estarrecida. — Certamente você já ouviu falar sobre esse


canalha do Ilya Volkov que está aterrorizando a OHA?

Filha. Da. Mãe.

Como se eu precisasse de outra arma apontada para mim neste momento.


A Horn Publishing me dispensou porque eu falei merda - veladamente como merda
de ficção, mas merda mesmo assim - sobre seu proprietário, Rupert Davies. Sophia
Davies me acusou falsamente de má conduta sexual e agressão porque, bem, seu pai
é Rupert Davies e tenho certeza de que teve algo a ver com isso. Além disso, ela
quer ser autora, viu a oportunidade de dar início à sua própria carreira sobre as cinzas
da minha e foi em frente.

A Bratva é outra questão.


Parte de God $ave The Queen pinta um quadro da máfia russa se
relacionando com a alta sociedade da Grã-Bretanha e faz acusações não tão veladas
de que eles compram poder por meio de pagamentos a parlamentares e outros
membros do governo.

Digamos que eu não tenha notado os carros pretos e os caras grandes com
tatuagens russas me seguindo nos últimos meses.

Não sei quem diabos é Ilya, mas o nome Volkov é tão sinônimo de crime
organizado russo quanto ‘Capone’ é para os gângsteres da proibição americana. E
agora esse garoto vai ser um dos meus alunos.

Maravilhoso.

— Então? — Rebecca me encara. — O que você acha?

Franzo a testa e levanto meu copo vazio. — Acho que preciso de outro
drinque.

Uma hora exaustiva depois, o jantar do inferno terminou. Julianna olha


para mim com a mesma rapidez com que dá um abraço falso em sua mãe. Em
seguida, ela se foi, quase correndo pela porta do restaurante. Mas não do meu mundo.

Porque amanhã ela será minha aluna.

Pago o jantar e Rebecca sai atrás de mim para o frio do final da noite de
novembro.
— Um pouco de esforço, Bastian? — ela diz assim que estamos do lado
de fora.

Franzo a testa, virando-me para encará-la. — Como é?

— Eu disse um pouco de esforço de sua parte?!

Eu cerro os dentes. — O esforço não fazia parte do nosso acordo.

Nosso acordo do inferno. Eu tenho o que Rebecca precisa. Ela tem o que
eu preciso.

Quando seu marido, Braddock McCreed, desapareceu há alguns meses


com cerca de meio bilhão de libras do dinheiro de seus clientes, Rebecca McCreed
deveria ter perdido tudo. Mas ela é uma barata. Nem mesmo aquela explosão nuclear
poderia derrubá-la de seu pedestal como a rainha das ‘elites’ da sociedade de elite
britânica.

Ela pode ter perdido todo o seu dinheiro. Mas ninguém sabe disso. E ela
se divorciou artisticamente de Braddock antes que todo o peso de seus crimes viesse
à tona, distanciando-se dele e fazendo-a parecer a esposa vitimada.

Ela também manteve seu poder de forma impecável. Rebecca é a


presidente do London Royal Society, um clube privado repugnantemente vil,
corrupto, insidiosamente nepotista e esnobe como o inferno para quem é quem da
rica alta sociedade britânica. Ser um membro significa que você está ‘dentro’. Não
ser um membro significa que você está fora.

É simples assim. E Rebecca McCreed é a juíza, a júri e, quando necessário,


a carrasca desse lugar.

Todo mundo que é alguém é um membro. Membros da família real.


Primos de chefes de estado estrangeiros. Famílias com pedigree e dinheiro.
Como a minha.

Sim, a razão pela qual eu odeio a ‘alta sociedade’ elitista e esnobe e escrevi
um livro queimando toda essa pilha de merda fumegante no chão? Porque eu
pertenço a ela.

Essa é a minha parte do acordo com Rebecca.

Ela não tem um tostão. E embora eu não queira ter nada a ver com isso, a
família Pierce tem mais dinheiro do que Deus.

E eu? Bem, estou prestes a perder tudo pelo que trabalhei. As bibliotecas
e livrarias tirarão meus livros ‘Cancelados’ das prateleiras. Serei arrastado pela lama
na imprensa. E, embora eu nunca a tenha tocado e quase nunca tenha falado com ela,
com Sophia falando em ação legal sobre essa agressão sexual e seu pai sendo quem
ele é? Eu poderia até estar enfrentando a prisão.

Rebecca pode mudar tudo isso.

O dinheiro não pode comprar imagem e status... a menos que seja gasto
da maneira certa. Como no recondicionamento do fundo fiduciário esfarrapado de
Rebecca McCreed. Eu tenho o dinheiro que ela precisa. Ela tem o poder, a influência
e o status social para me trazer de volta à luz. E tudo o que preciso fazer é escrever
meu nome em um maldito contrato e dizer ‘aceito’ diante de um padre daqui a alguns
meses.

Vou me casar com uma mulher oito anos mais velha que eu absolutamente
detesto. Porque ela tem as chaves da minha salvação. E tudo em que consigo pensar
é na filha dela.

Como eu disse: Eu vou para o inferno.


— Oh, que bom! — Rebecca de repente olha para um homem magro com
uma câmera enorme que sai correndo de um carro parado.

Faço uma careta quando ela agarra meu braço, me puxa para perto dela e
olha para o homem.

— Que porra é essa?

— Ah, ele está comigo, Bastian. Agora, sorria!

Viro-me de costas para a câmera e olho para ela. — O que é isso?

Ela revira os olhos. — Quero documentar nosso... — Ela gira os dedos no


ar: ‘namoro’.

— Eu vou embora.

— De jeito nenhum você vai.

Suas palavras saem bruscamente, interrompendo-me. Viro-me


lentamente, com os dentes rangendo.

— Dissemos que não haveria publicidade.

O único ponto positivo desse maldito acordo é que concordamos que ele
não seria público até que fosse absolutamente necessário.

— Não dissemos nada de publicidade ainda, Bastian. Agora sorria para a


maldita câmera.

Ela está gostando disso. E o sorriso fino, torto e maligno em seu rosto
apenas ressalta isso. Eu não sei nada sobre Braddock McCreed, além de sua recente
marca pública como criminoso. Mas, por um segundo, sinto pena dele.
Quero dizer, Cristo, ele era casado com Rebecca. Talvez o cara já estivesse
farto, viu uma oportunidade e foi em frente.

Não posso dizer que o culpo, se for esse o caso.

— Hoje, Bastian? — Rebecca sibila.

Eu rosno baixinho. Uma grande parte de mim só quer ir embora, dar o fora
nela e mandá-la se foder. Mas ela está me segurando pelas bolas e sabe disso, porra.
Lentamente, viro-me para olhar fixamente para a câmera enquanto ela passa o braço
pelo meu.

— Ok, sorriam vocês dois! — diz o homem com a câmera.

Eu faço uma careta e o dispenso. A câmera faz um clique, com Rebecca


sorrindo ao meu lado.

— Ah, senhor Pierce? — O cinegrafista olha para mim, ignorando minha


cara azeda.

— O quê?

— Você está animado com seu novo cargo?

— Não, agora vá se foder.

Ele franze a testa, hesitante, e olha para Rebecca em busca de ajuda. Mas
ela o afasta com um movimento da mão, e ele se retira para o carro que o espera e
vai embora.

— Isso foi um erro, — grunho, quando ele se foi.

Rebecca solta uma gargalhada. — É um pouco tarde para isso, Bastian.


Além disso, todos nós sabemos o que acontece se você desistir. — Ela sorri para
mim. — Ruína da reputação? Crucificação na mídia? — Ela enruga o nariz. — Até
mesmo a prisão?

Eu cerro os dentes.

— Refiro-me a esse cargo de professor.

Receber o cargo na Oxford Hills Academy faz parte do plano de Rebecca


para corrigir minha imagem, que ela precisa corrigir se quiser apostar publicamente
no meu cavalo.

— O que tem isso? — ela responde.

— Vai ser confuso para ela.

Ela franze a testa. — Quem?

— Julianna.

O próprio nome dela em meus lábios me leva de volta para lá, quando eu
estava provando os dela. Quando eu a fazia gemer para mim e gozar para mim.

Eu afasto esses pensamentos. Porque eu tenho que fazer isso.

Rebecca dá de ombros. — Bem, isso é com ela.

Minhas sobrancelhas se franzem. — Um pouco fria, Rebecca.

Ela dá de ombros novamente. — Ela conhece o mundo em que vive. Ela


é adulta.

Legalmente, sim. Graças a Deus.

— Só quero dizer que, com o pai dela deixando sua vida...


— O pai dela é um criminoso e um pedaço de merda, — Rebecca responde
rapidamente.

— E eu?

Ela sorri levemente. — Uma solução, Bastian. Assim como eu sou para
você.

— Eu não posso... — Faço uma carranca profunda. — Não posso dar aulas
lá. Não com a tempestade do escândalo de Sophia...

— Pelo contrário, como eu disse, o fato de você ensinar lá é perfeito para


esse aumento de imagem. — Ela estreita os olhos para mim. — Desde que você
mantenha a porra de suas mãos longe das alu...

— Nós dois sabemos que essas alegações são mentira.

— Eu serei a juíza de...

— Vamos esclarecer uma coisa, — rosno, tão alto que Rebecca ofego e se
afasta um passo de mim. — Você não é minha dona.

Ela faz uma careta. — Sim, Bastian, eu...

— Não, — eu grito violentamente, meus olhos se estreitam. — Você não


é. Estou dançando conforme a sua música, porque preciso. Assim como você está
dançando a minha. Esse é um acordo mútuo, Rebecca.

Um que me torna um prostituto, de certa forma. Mas essa é a vida. É onde


estou agora. Rebecca salva minha imagem e me mantém fora da cadeia. Eu, ou
especificamente o vasto dinheiro da família dos meus pais, a salvo da insolvência,
da falência e de ser desprezada do seu precioso London Royal Society.

É um casamento de conveniência, como nos anos 1800. E é uma porcaria.


— Você deveria voltar para a escola, Bastian, — murmura Rebecca,
enquanto seus olhos se estreitam. — Tem um primeiro dia importante amanhã.

— E você deveria ir para casa, Rebecca, — eu sibilo. — Tenho certeza de


que o inferno está sentindo muito a sua falta.

Eu me afasto de seu rosto furiosamente chocado e começo a descer a rua.

— Fique longe de problemas! — Ela grita atrás de mim. — Não se atreva


a aparecer bêbado! E guarde suas mãos para você. Não posso consertar nada para
você se continuar cavando um buraco!

Faço uma pausa e olho de volta para ela. — Apenas certifique-se de que
você conserte isso. Ou este banco fecha.

Ela franze os lábios e seus olhos se estreitam perigosamente. — Vá se


foder, Bastian.

— Nem em um milhão de anos, sua vadia miserável, — rosno para mim


mesmo. Viro-me e saio em disparada pela noite.

Mas quanto mais eu digo a mim mesmo para não pensar em Julianna, em
seus lábios, em seus gemidos e na forma como ainda estou dolorosamente duro por
ela?

Mais impossível isso se torna.

Estou fodido.
5

Depois que eu a fizer gozar, vou virá-la, levantar essa saia e transar com
você como uma vadiazinha má, bem aqui contra a parede, até que você goze em
cima do meu pau como uma boa menina.

Acordo ofegante do sonho. Meu coração bate contra o peito enquanto eu


aspiro ar, tremendo. O suor se agarra ao meu corpo, fazendo com que a camiseta
grude em mim. Outras partes úmidas de mim fazem com que outras peças de roupa
também grudem, e fico profundamente corada.

Só que, embora o sonho seja apenas um sonho, a razão para ele é real.

A noite passada realmente aconteceu.

Minha mente volta ao passado e meu corpo vibra ao relembrar tudo isso.
O olhar que ele me deu na boate. A maneira como ele deslizou as mãos pela minha
cintura e pelos meus quadris, transmitindo tanto desejo e necessidade por mim que
fez minha cabeça girar.
A sensação do tijolo em minhas costas. A pressão quente e musculosa do
seu corpo em minha frente. O calor abrasador de seus lábios saboreando os meus.

Sua mão, fazendo-me gozar enquanto eu gritava em sua boca.

Meu rosto fica vermelho antes de enterrá-lo em minhas mãos. Oh, meu
Deus, isso tudo realmente aconteceu. E embora pudesse ser bastante embaraçoso se
ele fosse um estranho que eu nunca mais veria?

É dez vezes pior do que um estranho. Cem vezes pior.

Ele é meu novo professor e vai se casar com a porra da minha mãe.

Eu me encolho, enrugando meu rosto ainda enterrado em minhas mãos.


Gemo e me enfio debaixo das cobertas novamente. Minha mente se volta para aquele
jantar horrível de ontem à noite - aquele que passei tentando desesperadamente ouvir
o que minha mãe estava me repreendendo enquanto tentava não parecer culpada.

Ou olhar para ele.

E toda vez que eu fazia isso, eu tremia, encontrando seu olhar ardente e
quente me esfaqueando violentamente. Como se ele estivesse furioso comigo. Ou
talvez como se quisesse arrancar minhas roupas. Talvez as duas coisas.

Eu me arrepio.

Minha mente repete o que consigo lembrar da minha mãe me contando


como ela e Bastian se conheceram. No ‘clube’, é claro; o London Royal Society,
onde ela reina como a rainha extraordinária. O clube é toda a sua vida, e se a
‘sociedade da alta elite’ é um câncer, o London Royal Society é o tumor maligno
latejante no centro dela.
Fecho os olhos e tento entender o fato de uma mulher horrível como minha
mãe ter se juntado a um homem como Bastian. Que, obviamente, agora eu reconheço
como o Bastian Pierce: famoso autor, imprudente, extremamente talentoso e
propositalmente chocante.

Como diabos um cara como esse decide se casar com a Lady Rebecca
McCreed? Tento pensar nisso, mas depois não quero nem pensar.

Sinto repulsa por isso. Irritada com isso. Confusa com isso.

Inveja disso.

Eu gemo e tiro essa última frase da minha cabeça. Não. Deus, não. Não
tenho ciúmes de um homem que conheci por apenas meia hora.

Que eu beijei.

Que colocou suas mãos em mim.

Que me fez gozar mais forte do que...

Rapidamente, pulo da cama e entro no banheiro para tomar banho. Mas


mesmo sob o jato de água e minhas próprias mãos lavando furiosamente meu cabelo
com xampu, não consigo esquecer. Ela é o quê, dez anos mais velha que ele? E,
pensando bem, qual é a idade do homem de mandíbula eriçada e gostoso que
conquistou minha boca como se fosse dele?

Que me pressionou contra uma parede de tijolos e me fez sentir como uma
rainha.

A raiva me invade. Que diabos ele está fazendo com minha mãe? E por
que eu me importo?

Porque você o beijou.


Que nojo.

Me ruborizo ao me secar rapidamente com uma toalha, escovar o cabelo


e vestir meu uniforme verde-escuro, preto e dourado para o dia. No campus da OHA,
quase todos os alunos moram nesses chalés pitorescos com aparência de Harry
Potter, dois por chalé. Atualmente, porém, estou sozinha no meu.

Minha colega de quarto, Lizbet, passou recentemente por... bem, muita


coisa. Incluindo uma grande cirurgia cardíaca. Atualmente, ela ainda está em
Londres - se recuperando, fazendo fisioterapia e morando perto do hospital St.
Thomas com seu marido com seu marido, Lukas. Isso também permite que ela fique
perto da sua irmã Mara, que também está se recuperando no St. Thomas após acordar
de um coma de quatro anos.

Lukas Komarov, juntamente com seus dois melhores amigos, Ilya Volkov
e Misha Tsavakov, são os ‘filhos de bandidos e criminosos’ que frequentam a OHA,
sobre os quais minha mãe estava reclamando ontem à noite. Para ser justa, no
entanto, os três são, de fato, os herdeiros dos impérios da Bratva.

Eles também são os reis de fato da OHA. Até pouco tempo atrás, as festas
que os três herdeiros da Bratva de Oxford Hills, que são muito gostosos, tatuados e
quebrados, davam na luxuosa mansão em que moram - não um chalé como o resto
de nós, mas uma mansão real e deslumbrante no terreno da OHA - eram lendárias.

Eles ainda são, só que... menos hedonistas, agora que os três se


estabeleceram com mulheres que parecem tê-los domado um pouco. O que
provavelmente é uma coisa boa.

No entanto, assim que eles começaram a se acalmar, um novo azarão se


mudou para a OHA: Konstantin Reznikov, o recém-coroado chefe da família da
Bratva Reznikov. Embora antes parecesse estar em desacordo com os três reis -
especialmente Lukas -, parece haver uma espécie de trégua entre Konstantin e os
outros herdeiros. Ou, pelo menos, um acordo para se manterem afastados uns dos
outros. Pelo menos foi isso que ouvi de Lizbet.

Quem diria que uma escola particular envolveria tanta intriga e política
familiar criminosa?

Enquanto termino de tomar meu café, gostaria muito que ela estivesse aqui
para eu desabafar. Ela é minha melhor amiga. E sei que ela é o único ouvido que eu
poderia ouvir sobre o terrível acontecimento de ontem à noite.

Mas ela não está. Então, parece que vou engolir essa pílula sozinha esta
manhã. Eu me agasalho, pego minha bolsa e saio pela porta.

A Oxford Hills Academy não é apenas uma escola de elite, esnobe e cara.
Não é apenas a escola preparatória mais bem classificada do mundo, onde estudam
os filhos e filhas de gigantes bilionários da tecnologia, reis e rainhas de verdade e a
elite mais importante do mundo.

É também uma escola incrivelmente linda, parcialmente instalada no que


costumava ser uma catedral. O restante dos principais prédios acadêmicos é de
tijolos e pedras marrons em estilo senhorial inglês, e todo o campus é composto por
gramados bem cuidados, jardins de rosas, caminhos de cascalho branco e sebes.
Mesmo no frio do final do outono, com minha respiração saindo como fumaça dos
lábios, é uma bela caminhada até minhas primeiras aulas.

Decido colocar os eventos da noite passada no fundo da minha mente. Em


vez disso, decido fazer uma lista rápida em minha cabeça de todas as coisas boas em
que posso pensar. Essa é uma tática que uso há anos, especialmente quando minha
mãe estava empenhada em me diminuir ou me pressionar para ‘ficar mais bonita’ ou
‘ser mais magra’ ou ‘sorrir menos’ ou, porra, o que quer que ela estivesse falando
naquela semana.

Exalo outro fôlego gelado e faço uma lista em minha cabeça: Tenho minha
saúde. Ainda tenho Lizbet, depois do seu susto médico. Tenho meus outros amigos
- Lukas, é claro, e Ilya e Misha, até certo ponto. Mas também fui muito acolhida
recentemente por suas parceiras, Tenley e Charlotte.

Tenho minha privacidade, na maioria das vezes. O que é chocante,


considerando a tempestade de merda que nossa família acabou de enfrentar com os
eventos do desaparecimento do meu pai com meio bilhão de libras do dinheiro de
outras pessoas.

Sinto o peso sair do meu peito à medida que continuo conferindo a lista.

Tenho minhas notas. Tenho um futuro brilhante na Universidade de


Cambridge no próximo ano. E já se passaram semanas desde a última exigência
terrível e humilhante dele, meu stalker anônimo e assustador.

Eu me arrepio. Não, não, isso vai arruinar meu zen aqui. Respiro
novamente, centrando-me ao dobrar a esquina para a quadra principal, perto dos
prédios acadêmicos.

— Você tem me evitado.

Eu gemo. Que merda. Olho com desânimo para a porta do prédio


acadêmico. Tão perto. Estava tão perto de conseguir entrar sem que nada mais me
arrastasse para baixo.

Com um suspiro, viro-me para sorrir para Alistair. Se minha mãe quisesse,
ele e eu já estaríamos casados. Afinal de contas, a família Grand é um legado,
membros estimados do London Royal Society. Harold Grand é primo em terceiro
grau da própria rainha, além de ser deputado, como meu pai é - bem, era. E Patricia
Grand é a presidente da Sociedade de Senhoras Beneficentes de Londres, que não
faz porra nenhuma para a caridade e, na maioria das vezes, gasta seu tempo e
dinheiro almoçando, fazendo compras e fofocando sobre quem não está presente
naquela reunião.

Em suma, eles são exatamente o tipo de pessoas horríveis que minha mãe
admira e tenta se unir a toda e qualquer chance que tem.

— Quando é que você vai admitir que fica molhada para mim, Julianna?

Eu me encolho quando Alistair sorri para mim. As maçãs podres não caem
longe das árvores podres. Ele é repulsivo. Exceto que, se eu lhe disser exatamente
como gostaria que ele fosse se foder e pulasse de uma ponte, ele contará para a mãe
e o pai dele, que reclamarão com a minha mãe, que se certificará de que eu nunca
mais ouça o fim de como estou destruindo terrivelmente o nome da família.

Portanto, tenho que sorrir e suportar.

— Como foi seu fim de semana, Alistair? — murmuro baixinho.

— Ah, você sabe. Me masturbei algumas vezes pensando em você.

Eu poderia vomitar em minha boca. Alistair faz isso de propósito. Ele não
é idiota - apesar de toda a sua pretensão e gastos, a OHA não deixa qualquer um
entrar. Na verdade, é preciso ser excepcionalmente inteligente, além de rico e bem
relacionado para participar.

Portanto, Alistair sabe muito bem que a maneira nojenta como ele fala
comigo me faz querer gritar. Mas ele gosta da dinâmica de poder. Ele sabe que não
posso repreendê-lo, porque ele sabe que eu sei que ele vai me denunciar e tornar
minha vida miserável.
É um jogo doentio e perverso, e tenho certeza de que o pequeno cretino
literalmente se excita com isso.

— Parece ótimo, — respondo, apesar da minha boca parecer que acabei


de morder um limão.

— Gostaria que você estivesse lá para ajudar, — ele brinca.

— Bem, tenho que ir, Alistair, — digo com frieza ao me virar e correr em
direção às portas do salão acadêmico. Lá dentro, ando pelos corredores até chegar à
minha primeira aula. Encontro meu assento habitual enquanto todos os outros
encontram os seus. Acomodo-me com um suspiro de alívio...

E então imediatamente lembro de qual aula é essa.

Literatura Inglesa do último ano. Eu gemo.

É a aula que Bastian é...

A porta se abre com força, silenciando o murmúrio dos alunos ao redor da


sala. E, de repente, ele avança, com as botas batendo forte no assoalho de madeira,
entrando como uma nuvem escura que se espalha pela sala.

Uma nuvem escura que preenche minhas entranhas com uma necessidade
latejante. Uma presença que acende minha pele como um raio que se prepara para
atacar.

Ele está usando a mesma jaqueta de couro preta da noite passada. Só que
hoje, ela está sobre um terno elegante e perfeitamente ajustado, completo com colete.
E todos os olhos femininos da sala se voltam para ele. Todos os pulsos femininos
aceleram.
Bastian Pierce é sexo envolto em couro, tatuagens e linho Savile Row. E
ele sabe disso.

Eu também. Em primeira mão.

Sem palavras, ele atravessa a sala até à mesa no início da sala de aula e
coloca no chão o capacete preto de motociclista que acabei de perceber que estava
em sua mão.

Oh, meu Deus, ele também anda de moto?

Ele tira a jaqueta de couro e a pendura no encosto da cadeira. Em seguida,


respira fundo, passa os dedos com raiva pelo cabelo escuro e perfeitamente
bagunçado e suspira pesadamente.

Ele se vira e seus olhos ardem em mim, tirando meu fôlego e me


prendendo à cadeira. Queimando-me e incendiando minhas entranhas até eu me
contorcer na cadeira.

Em seguida, ele desvia o olhar. Propositalmente.

— Obviamente, — sua voz áspera e grave ecoa pela sala. — Eu não sou a
professora Lewiston.

Professora Anita Lewiston, que era, suponho, até hoje, nossa professora
de inglês de setenta anos. Algumas pessoas riem. Bastian se vira e as silencia com
um olhar frio e duro. A sala fica em silêncio.

— Alguma pergunta? — Ele limpa a garganta, esfregando a mão sobre a


barba em sua mandíbula esculpida.

— Levando em conta que meu senso de humor é...


Seus olhos se voltam para mim, estreitando-se friamente e, ao mesmo
tempo, enviando calor através de mim.

— Ausente, hoje.

Uma mão se levanta em algum lugar no fundo da sala. Ele a mira com seu
olhar de aço.

— Sim.

— O que aconteceu com a professora Lewiston? — pergunta o rapaz


algumas fileiras atrás de mim, hesitante.

— Parou de ensinar aqui, — resmunga Bastian. — Próxima pergunta.

— Quais são suas credenciais?

Eu gemo, reconhecendo a voz como a de Alistair, que deve ter entrado


sorrateiramente quando eu estava me acomodando. Os olhos de Bastian se estreitam
perigosamente para ele, sentado perto do fundo da sala, como se estivesse irritado
por alguém ousar perguntar.

— Enquanto todos vocês podem me chamar de Professor Pierce. Meu


primeiro nome é Bastian.

A turma arregala os olhos coletivamente.

— Tipo, o autor? — Uma garota chamada Candice, a alguns assentos de


distância de mim, quase sussurra.

— Às vezes, sim, — ele murmura. — Próxima pergunta.

— E eu sinto muito, — desabafa Alistair, sem nenhum traço de estar


realmente arrependido. — Mas isso o qualifica para ensinar... aqui?
A sala fica em silêncio, como se apenas o olhar de pura aversão no rosto
esculpido de Bastian fosse suficiente para sugar as palavras de todas as bocas
presentes. Ele inspira pelo nariz e volta seu olhar para Alistair.

— Pelo seu tom detestável, vou presumir que você quer dizer ‘aqui’ no
sentido de que ‘aqui’ está cheio de merdas mimadas e esnobes como você, estou
certo?

Todos os maxilares da sala caem no chão. Todos eles. Eu me viro pela


metade, apenas o suficiente para ver Alistair parecendo que está prestes a ter um
ataque cardíaco.

— Você...! — Seus olhos se arregalam. — Você não pode falar comigo


assim...

— Só porque ninguém falou com você como o pequeno babaca que você
é antes, acredite em mim, — Bastian sorri levemente. — Isso não torna isso uma
impossibilidade para o futuro. Ou no presente.

Seu pequeno sorriso se desvanece quando ele se vira para olhar o resto da
turma.

— Isso é literatura inglesa. Eu escrevo literatura, em inglês.

Sim, e ele vende um milhão de cópias fazendo isso. Ou vendeu. Minhas


sobrancelhas se enrugam. Ninguém sabe ao certo qual é a verdadeira história, mas
há rumores de que Bastian Pierce foi dispensado por sua editora. E dizem que a série
da Netflix que eles iam fazer a partir de seu livro Fucked Sideways está em pausa,
se não for cancelada.
Eu resmungo para mim mesma. Como diabos eu não percebi que o homem
daquela boate era o maldito Bastian Pierce? Eu até li todos os seus livros, várias
vezes.

No início da turma, Bastian limpa a garganta. Seus olhos se fixam em


Alistair. Ele ainda não terminou.

— Tenho diplomas de graduação da Universidade de Oxford e da


Universidade de Cambridge, e um mestrado em literatura inglesa na última.

Minhas sobrancelhas se erguem. Que eu não sabia.

— Eu também venho da mesma educação que vocês tiveram, — ele


resmunga. — Então, senhor... — Ele olha para Alistair.

— Grand, — diz Alistair, presunçoso. Como se o seu ilustre sobrenome


fosse uma grande carta na manga.

— A não ser que você queira dizer Lennon ou McCartney, não sei por que
você está tão animado para me dizer isso, — rebate Bastian.

Alistair franze os lábios e faz uma careta. Mas ele parece se encolher um
pouco em sua cadeira.

— Sr. Grand, estou bem ciente do nível de privilégio e de lambe-botas a


que você se acostumou. Não farei isso, mas estou ciente disso. De qualquer forma,
essas são minhas credenciais.

Ele volta seu olhar severo para a turma. Para todos, isto é, exceto para
mim.

— Agora, se houver outras perguntas, azar de vocês.


Ele volta para a escrivaninha e começa a folhear o que parece ser um
programa de estudos.

— O que vocês têm lido com a professora Lewiston?

Ninguém diz nada.

— Hoje seria ótimo, — ele resmunga, arqueando uma sobrancelha


enquanto olha para a turma.

Candice limpa a garganta em voz baixa. — Hum, Great Expectations...

— Jesus, que inferno, — geme Bastian. Ele balança a cabeça com uma
carranca e passa as mãos nos cabelos novamente. — Não, porra, não.

Carl, um dos melhores jogadores de futebol da OHA, franze a testa.

— Professor, por que não vamos...

— Porque Dickens era um charlatão, é por isso.

Alguém ousado zomba.

— É o currículo, — diz Alistair de forma sarcástica.

— Estou alterando o currículo, — rebate Bastian. — E estaremos lendo


um Charles diferente. Todos, por favor, providenciem uma cópia física para entrega
no dia seguinte ou façam o download do eBook Ham On Rye, de Charles Bukowski.

Ninguém diz nada. Quando olho em volta, vejo as pessoas olhando umas
para as outras de lado.

— É um livro, crianças, — suspira Bastian. — Um que estaremos lendo.

— E Dickens?
Ele olha de soslaio para Alistair.

— Dickens escrevia palavras porque era pago por elas. Por palavra. Ele
era um escritor muito, muito bom, que poderia ter tido um editor ainda melhor e um
senso de brevidade. Bukowski, por outro lado, escrevia a porra que quisesse ou que
sentisse em seu coraçãozinho pervertido e encharcado de uísque. E, para nossa sorte,
esses pensamentos às vezes perversos e frequentemente embriagados em seu coração
eram muito bons. Ele escrevia para escandalizar, chocar e desnudar a vida cotidiana.
E ele era um mestre em seu ofício. Iniciaremos Ham On Rye em dois dias, portanto,
adquira-o imediatamente. Não leremos Great Expectations, porque esse livro que se
dane.

Ele respira fundo e se inclina para trás, encostado na lateral da


escrivaninha. Ele cruza os braços sobre o peito. Fico corada. Um terno de três peças
não deveria ficar tão sexy em ninguém.

Muito menos ao meu professor que me fez gozar ontem à noite.

— Turma dispensada.

Franzo a testa e dou uma olhada no relógio.

— Professor? — Carl se arrisca. — São apenas dez horas...

— Sr...

— Yoon.

Bastian acena com a cabeça. — Sr. Yoon, consegui este emprego há dois
dias. Ainda não desfiz as malas, preciso fazer a barba e estou de ressaca.

A turma vibra. Bastian não dá o menor sorriso.

— Então, estou tirando um dia de folga. Começaremos amanhã.


— Você não pode fazer isso!

Alistair, é claro.

— Meu pai paga um bom dinheiro para esta escola, e é sua


responsabilidade...

— Sr. Grand, — diz Bastian, com um suspiro, enquanto aperta a ponte do


nariz. — Quanto mais cedo você perceber que eu não dou a mínima para quem você
ou o trapo ambulante que conseguiu gerar você são, melhor será para todos nós.

Metade da turma ri baixinho. A outra metade parece absolutamente


escandalizada.

— Turma dispensada.

Quando Bastian pronuncia as palavras, toda a sala se levanta


instantaneamente, recolhe suas coisas e corre para a porta. Eu mesmo começo a me
levantar, quando, de repente, seus olhos se viram e me fitam, prendendo-me à
cadeira.

Uma exigência tácita.

Depois que eu a fizer gozar, vou virá-la, levantar essa saia e transar com
você como uma vadiazinha má, bem aqui contra a parede, até que você goze em
cima do meu pau como uma boa menina.

Suas palavras da noite passada são tudo em que consigo pensar. Repetidas,
latejando e pulsando em meu âmago como um toque provocador. Fazendo-me
tremer.

Deixando-me molhada.
Fico corada, engolindo minha vergonha enquanto a turma se retira. Então,
ficamos sozinhos: apenas Bastian e eu.

Ele e eu, e a dor que lateja entre minhas coxas.


6

A fome me atormenta. É uma coisa primordial; uma necessidade


evolutiva, palpitante, de nível básico, de tê-la. De tomá-la e saboreá-la novamente.

Para torná-la minha.

Então, lembro que não sou realmente um homem das cavernas e que
estamos, de fato, no século XXI. Lembro-me de que estamos em uma escola.

Lembro-me de que ela não é ‘minha’.

Ela é minha aluna.

Então, em vez disso, eu apenas a encaro, prendendo-a à cadeira com meus


olhos. Meu sangue ruge à medida que os outros alunos se afastam, até ficarmos
apenas nós dois. Mesmo assim, com seu olhar fixo em mim e um rubor rosado em
suas bochechas, vejo o desafio em seus olhos. Ela começa a se levantar e eu
pronuncio minha primeira palavra para ela desde a noite passada.

— Sente-se, — eu rosno.
Fique, balance, vire-se. Implore pelo meu pau como uma boa garota.

Ela se arrepia com minhas palavras. Ou talvez com as palavras não ditas
que ela pode ver em meu rosto. A sala está totalmente silenciosa, nós dois apenas
olhando um para o outro. Nós dois ficamos pensando no que diabos aconteceu ontem
à noite, antes. Antes de sabermos. Antes de entendermos exatamente o quanto essa
situação é fodida.

Eu faço cara feia. Nada dessa merda de ‘nós’. Foi ela quem me olhou com
esses olhos e vomitou aquela besteira sobre ter vinte e dois anos.

Resmungo para mim mesmo. Ok, talvez a noite passada tenha sido nós
dois. Mas sou eu quem deveria saber melhor. Não apenas por causa da espada
pendurada sobre minha cabeça, porque tenho quase o dobro da idade dela. Não é só
o fato de que eu ‘deveria’ saber melhor, também.

Eu sei que é melhor assim. E ainda assim não consegui me afastar dela.

Uma aluna. Coloquei minhas mãos e minha boca em uma aluna ontem à
noite. A ressaca eu vou superar. Aqueles lábios, não.

Julianna treme sob meu olhar.

— Você, — eu rosno. — Que porra você pensou que estava fazendo ontem
à noite?

Ela se irrita. — Como é?

— Sair para clubes em Manchester, fora do campus...

— Você sabe que eu tinha permissão para sair da OHA, certo? — diz ela,
de forma irritada.

— Para sair com homens muito mais velhos em becos?


Sua mandíbula cai e uma raiva intensa se manifesta em seus olhos azuis.

— Ah, você quer dizer homens mais velhos como você? Homens mais
velhos que pareciam perfeitamente satisfeitos em se aproveitar de pessoas muito
mais jovens...

— Cuidado com isso.

Ela franze os lábios, olhando para mim. Eu faço o mesmo com ela. Respiro
fundo, tentando esfriar meu pulso acelerado.

Tentando parar a espessura latejante entre minhas coxas. É como se o


simples fato de estar perto dela desse jeito estivesse mexendo com meu cérebro.
Como se tudo em que eu pudesse pensar quando ela está tão perto de mim fosse a
forma como seu corpo se arqueou contra mim. O gosto de sua boca. A maneira como
suas pernas se abriram.

A forma como sua boceta gozou sobre meus dedos...

— A noite passada não aconteceu, — eu rosno. Tanto para mim mesmo


quanto para ela. — É isso aí. Portanto, não coloque nenhuma ideia nessa cabecinha
bonita.

Sua boca se abre, e a fúria em seus olhos confirma o choque. Mas eu me


viro, pego meu capacete e minha jaqueta antes de passar por ela em direção à porta.

— Seu arrogante de merda.

Eu paro ao ouvir suas palavras.

Continue andando. Vá embora, porra. Deixe isso. Deixe-a. Vá tirá-la de


suas malditas lembranças.

Mas não continuo andando. Paro e me viro lentamente para olhá-la.


— Julianna, o que aconteceu ontem à noite...

— Seu maníaco do ego delirante! — Ela diz com uma raiva repentina e
feroz que nunca vi nela antes.

Provavelmente não deveria ser tão excitante.

— Você acha mesmo que eu gostaria que isso acontecesse de novo?!

Ontem à noite, ela mentiu sobre sua idade. Hoje, ela está mentindo sobre
isso. Vejo os mesmos sinais que vi na noite passada. As mesmas bochechas coradas.
A forma como suas pupilas se dilatam. O pulsar da pulsação na pele macia e delicada
de seu pescoço.

Onde meus dentes estavam na noite passada.

Mas eu não digo nada. Meus olhos se estreitam.

— Ugh!

Ela passa por mim e sai pela porta. Parte de mim quer segui-la, para que
eu possa apreciar a visão de sua saia xadrez sobre aquela bunda apertada.

— Cristo, você vai para o inferno? — murmuro para mim mesmo, em voz
alta.

Tiro o frasco do bolso do paletó e desatarraxo a tampa. São nove e vinte


da manhã. Mas se não vou beber na bunda perfeitamente firme, completamente
inapropriada e irritada de Julianna, vou beber em outra coisa.

Como o uísque.
Dou um grande gole e me encosto na escrivaninha. O primeiro dia de
Bastian reabilitando sua imagem já está sendo um desastre completo. Começar o
jogo com uma grande desvantagem da noite anterior não está exatamente ajudando.

Eu faço uma carranca enquanto tomo outro gole e depois deixo o frasco
de lado. Só preciso passar um ano aqui e poderei me redimir. Um ano, ensinando
esses merdinhas mimados e sendo casado com a própria rainha do gelo.

Um ano fingindo que sua filha de dezoito anos não é a única coisa em que
estou pensando.

Eu gemo enquanto meus olhos se fecham.

Eu nunca vou conseguir.

Na verdade, tenho uma programação bastante leve para o meu primeiro


dia. Também faço um uso fantástico dos monitores do último ano que disputam
minha preferência e peço a dois deles que revisem as anotações de aula para a outra
palestra que tenho no dia.

Em vez disso, volto de moto pelo enorme e idílico campus da Oxford Hills
Academy, até à pitoresca casa em estilo de tutor no outro lado do terreno da escola
que chamarei de lar durante o ano.

Quero dizer, não é como se eu fosse morar com Rebecca.

Deixo minhas botas, jaqueta e capacete na porta e vou direto para o que
talvez seja a melhor parte de toda essa situação: a enorme biblioteca de dois andares
com prateleiras de madeira nos fundos da casa. A maldita biblioteca está repleta de
primeiras edições, tem uma vista deslumbrante da janela para um jardim particular
murado nos fundos, contém o sofá Chesterfield de couro mais confortável do mundo
e tem um carrinho de bar bem abastecido.

Em resumo, é o paraíso na Terra.

Sirvo-me de um gole, depois de outro, e pego a garrafa também antes de


cair no sofá. Bebo lentamente, olhando para o outro lado da sala, para o enorme
brasão de alguma família inglesa esquecida - completo com uma espada larga de
verdade e um machado de aparência viking cruzado sobre ele - que ocupa a maior
parte da parede mais distante.

Não é exatamente o meu estilo, mas eu até que gosto.

Eu deveria trabalhar. Eu deveria escrever. Afinal de contas, um dia,


espero, se todo esse acordo diabólico com Rebecca der certo, terei minha carreira de
volta. Ou pelo menos uma parte dela.

Se eu conseguir.

Mas mesmo quando pego meu laptop e tento começar a trabalhar em


alguma ideia, minha mente divaga. Normalmente, quando estou tentando escrever,
minha mente nunca se afasta do que preciso colocar na página. Mas hoje?

Esqueça isso. Não estou pensando no livro. Estou pensando nela.

O problema é que não é só o beijo. Não é só o fato de ela ser linda pra
caramba ou, Deus me ajude, o quanto ela é jovem.

É o fogo dentro dela. É o atrevimento que vi na noite passada e a


verdadeira tempestade que vi naqueles olhos hoje. O desafio. O nervosismo que não
vem de alguém que só quer ser contrária. Vem de alguém que é muito inteligente e
entende quando algo não é justo.

Não é só o beijo ou qualquer outra coisa. É que ela me faz lembrar de mim.
Muito.

Em outra linha do tempo ou em outra versão desta vida, eu poderia me ver


perseguindo-a. Se eu não fosse eu. Se ela não fosse ela. Se ela fosse mais velha, ou
se eu fosse mais jovem. Porque ela me faz pensar em uma versão de mim que eu
costumava conhecer, antes de toda essa merda.

Antes de voar alto demais. Antes de eu provocar demais aqueles no poder.


Antes de Sophia e suas afirmações de merda e seu maldito livro.

Minha mandíbula se contrai ao ouvir seu nome. A fúria sobe como bile, e
eu a afogo com a bebida em minha mão. A garrafa faz um estalo ao abrir, e eu
despejo mais no copo vazio.

E depois mais.

E depois mais um pouco, até que meus pensamentos girem, e tudo o que
consigo pensar é em Julianna, dançando proibida e tentadora em meus pensamentos.

O beijo. O brilho de algo em seus olhos que eu costumava ter nos meus.
A promessa de salvação. A promessa de aventura.

Faço uma pausa rígida, com o copo a caminho dos meus lábios. Meus
olhos se estreitam enquanto eu lentamente tiro essas fantasias ridículas da minha
cabeça.

Que diabos há de errado comigo?


Levanto o copo até à boca novamente quando ouço uma batida na porta
da frente. Resmungo, inclinando a cabeça para trás, tentando fingir que foi apenas
fruto da minha imaginação. Mas a batida vem novamente, e eu murmuro para mim
mesmo enquanto deixo o laptop e o uísque de lado e me levanto.

Eu ando descalço pela casa, murmurando obscenidades para mim mesmo


antes de abrir a porta.

Merda.

À minha frente estão dois jovens altos, de porte atlético, tatuados e com
brilho nos olhos. Talvez eu seja novo na OHA, mas sei quem são Ilya Volkov e
Misha Tsavakov. Ou sei, desde esta manhã, quando os procurei.

Esses seriam os ‘filhos de bandidos e criminosos’ sobre os quais Rebecca


estava falando. Herdeiros de impérios criminosos. Eu sei tudo sobre eles - os ‘três
reis demônios’ da Oxford Hills Academy, como são conhecidos aqui. Ilya, o
herdeiro da Bratva Volkov. Misha, novo chefe do império Tsavakov, afiliado à
Bratva, e Lukas Komarov, futuro rei da Bratva Kashenko.

O lobo, o leão e o dragão.

Ah, e o mais novo aluno criminalmente afiliado a se matricular na OHA,


há mais ou menos um mês: Konstantin Reznikov, novo chefe de toda a Bratva
Reznikov aos dezoito anos de idade, depois de supostamente ter seu próprio pai
eliminado para assumir o cargo.

E, aparentemente, há uma antiga má relação entre ele e os outros três.

Eu franzo a testa. Como essa venerável instituição educacional é algo


saído de um romance de James Patterson?
Volto meu olhar para os dois jovens que estão à minha frente.
Considerando a forma como a alta elite da sociedade britânica perdeu a cabeça com
o que escrevi em meu livro, eu já esperava um confronto com esses herdeiros dos
reis da Bratva. Só não esperava que fosse antes das dez e meia da manhã, enquanto
eu estava bebendo quatro drinques. Em meu primeiro dia aqui.

— Bom dia, professor, — diz Ilya com um sorriso fino e de lobo.


Apropriado, considerando que Volkov significa lobo em russo.

Os dois ficam parados me olhando, com uma aparência presunçosa,


confiantes em sua juventude e em seus egos.

Eu, quinze anos atrás.

— Então? — Eu rosno, meus olhos se estreitando.

— Então, o quê? — Misha, com a tinta da tatuagem que sai de debaixo


das mangas de sua jaqueta e cobre as costas de suas mãos e se enrola em gavinhas
escuras em seu pescoço, arqueia uma sobrancelha com curiosidade.

— Então, estamos realmente fazendo isso agora?

Ambos franzem a testa ligeiramente.

— Fazendo o que, exatamente?

Eu expiro. — Certo, nesse caso.

Eu me viro e deixo os dois parados na porta da frente aberta, enquanto me


arrasto pela casa até à biblioteca. Pondero minhas opções e decido que o machado
de batalha tem um poder um pouco mais ‘fodido’ e o pego. Em seguida, volto para
a porta.
Os dois dão um passo para trás quando veem a arma medieval em minha
mão.

— Calma, — rosna Misha, olhando para mim com uma mistura de


apreensão e talvez um toque de admiração e diversão. — Estamos aqui apenas para
conversar.

— Estão querendo pegar alguns autógrafos, rapazes? — grunho,


levantando o machado. — É disso que se trata essa visitinha?

Ilya dá de ombros. — Quero dizer, se você está oferecendo, na verdade


sou um grande fã de seus textos.

— Adorável. — Eu sorrio levemente. — Agora, devo fazer isso para você


ou para seu tio, Yuri Volkov?

Você sabe, o rei Bratva mais poderoso e perigoso da Terra. Que, tenho
certeza, não está exatamente entusiasmado com minha história fictícia, mas não tão
fictícia, envolvendo ele e sua turma comprando políticos britânicos.

— Yuri é mais do tipo que gosta de crimes reais. Você pode fazer isso
para mim.

Olho para ele e para Misha com frieza. Meus dedos apertam o machado.
Depois de trinta segundos de silêncio frio, suspiro pesadamente.

— Bem, pelo amor de Deus, podemos pular a teatralidade da máfia e ir


direto ao ponto?

Os dois arqueiam as sobrancelhas, olharam um para o outro e depois para


mim.
— Oh, por favor, — eu rosno. — Eu vi os capangas me seguindo por
meses, ok? O livro não está sendo publicado. Pode mandar seus lacaios se foderem
e pararem de me perseguir, está bem? Diga a eles para se manterem longe dos meus
pais, já que estão fazendo isso.

Quero dizer, não sou exatamente próximo de Edward e Bunny Pierce, mas
eles ainda são meus pais.

Ilya franze a testa de forma curiosa enquanto passa os dedos sobre a


mandíbula.

— Eu não tenho a menor ideia do que você está falando.

Reviro os olhos. — Certo, bem, então terminamos aqui.

Misha franze a testa. — É sério que você é assim com todos os fãs de seus
livros que só querem dizer oi?

Hoje em dia? Sim.

— Diga a seu tio, — grunho para Ilya. — Que o livro é ficção e que não
está sendo publicado de qualquer maneira. Portanto, vá se danar.

Ele dá de ombros enquanto coloca o que parece ser um baseado entre os


lábios e o acende corajosamente. Então, lentamente, os cantos de seus lábios se
curvam.

— Bem, é uma pena que não esteja sendo publicado. — Ele pisca para
mim enquanto expira lentamente. — Ouvi dizer que é uma leitura muito interessante.

Eu os encaro.

— Bem-vindo à OHA, professor Pierce.


Os dois se viram e voltam para o outro lado do campus. Quando eles se
foram, eu expiro, meus olhos se estreitam.

— É a porra de um livro, Cristo, — murmuro para ninguém enquanto


fecho a porta. Volto para a biblioteca e penduro o machado de volta na parede. Mas
quando me viro, vejo a porta aberta da lavanderia e uma camiseta branca específica
pendurada sobre a porta aberta da secadora.

A camisa branca com gola em V que usei ontem à noite. A que tem batom
manchado na gola.

De Julianna.

Meu sangue arde em brasa quando passo pelo corredor até à lavanderia e
a pego. Viro-me, observando o tom vermelho na gola enquanto volto para a
biblioteca e me sento no sofá novamente.

Não sei quando isso veio parar aqui. Provavelmente no táxi. Não notei até
chegar em casa ontem à noite e, felizmente, Rebecca não notou nada.

Rapidamente, os dois convidados que acabei de receber ficaram em


segundo plano. Até que tudo em que consigo pensar é nela.

Julianna.

Eu gemo quando largo a camisa e deixo minha cabeça cair no encosto do


sofá. Ela tem metade da minha idade. É uma estudante. E é a porra da minha aluna.
E como se isso não fosse ruim o suficiente, vou me casar com a mãe dela, por um
pacto de sangue do diabo.

É isso aí. O fim. A história acabou.

Não existe ‘ela e eu’. Nunca existiu e nunca existirá.


Porque não pode haver.

Pego meu copo novamente e bebo até que o esquecimento venha me


cumprimentar, como o velho amigo que ele é.
7

— Ei, vadia!

De todos os aspectos irritantes de frequentar uma escola esnobe repleta de


filhos elitistas, ricos e esnobes da realeza e de bilionários, há um que realmente me
incomoda: a infeliz circunstância de ser exatamente como essas outras pessoas. Pelo
menos, de uma perspectiva externa.

Se uma pessoa de fora fizesse uma espécie de ‘safári de pessoas da elite’


na OHA, ela me veria como se eu não fosse diferente de nenhum dos outros alunos
daqui. Mais uma garota rica privilegiada cujos pais fazem parte da pequena
porcentagem que comanda o mundo.

Bonita. Sofisticada. Rica. Um futuro que me foi entregue em uma bandeja.


E, pelo menos perifericamente, faço parte da turma ‘da moda’ aqui na escola.

E, no entanto, também não sou nada parecida com o resto dessas pessoas.
Posso ter vindo desse mundo, mas o odeio. Sonho acordada em escapar dele, embora
não seja ingênua o suficiente para pensar que há realmente uma saída.
Eu mostro um sorriso de plástico para Ainsley Hendershire, herdeira de
uma cadeia de supermercados multibilionária aqui no Reino Unido, e também aquela
que acabou de me cumprimentar com um ‘ei, vadia’. Ela está ladeada por duas outras
garotas do último ano da ‘turma’, Cora Laurent e Victoria Chesterman, que também
sorriem para mim como se tivessem punhais escondidos atrás das costas com meu
nome.

Tudo isso é uma dança. É o reino animal, e todos nós somos apenas
predadores circulando uns aos outros, sorrindo como se não tivéssemos todas as
presas para fora e sangue pingando de nossos queixos.

— Uh, vadia, olá? — Ainsley suspira quando eu não respondo.

É estranho. Ela não está realmente sendo má. É como uma ‘vadia’
amigável. Exceto que, no caso de Ainsley, esse aspecto de ‘amiga’ é uma mentira
completa. Então, ela realmente está sendo apenas uma idiota.

Esse mundo duplamente negativo de subtexto e jogos mentais


provavelmente daria cabo da cabeça de uma pessoa normal. Só que eu venho
dançando essa dança e jogando esse jogo estúpido desde que tinha idade suficiente
para andar. E aprendi com a própria rainha do gelo, minha mãe.

Como sorrir enquanto eu apunhalo pelas costas. Como fazer reverência


enquanto saboto. E isso é exaustivo.

— Olá, Ainsley, — respondo com um sorriso fino.

— Uh, você o viu? — ela se entusiasma.

— Vi quem?

Todas as três megeras à minha frente gargalham.


— Oh, meu Deus, — suspira Cora, com despreocupação. — Não seja essa
vadia.

Não me chame de vadia, vagabunda.

— Pierce! — Ainsley diz.

Instantaneamente, minhas bochechas ficam vermelhas. Instantaneamente,


juro que posso sentir seus dedos grossos deslizando sob a borda da minha calcinha,
tirando meu fôlego enquanto me derreto...

Limpo minha garganta.

— Hmm?

— Oh, meu Deus, alô? O novo professor de inglês? Também conhecido


como aquele escritor famoso e gostoso pra caralho?

Eu sorrio fracamente. — Ah, claro, ele.

Ele.

O homem que me beijou. Ou, quem eu beijei, tecnicamente falando. O


homem que me fez contorcer e explodir como nunca havia feito antes.

O homem que vai se casar com minha mãe, e eu não consigo tirá-lo da
minha cabeça, nem as fantasias imundas que o cercam.

— Garota, — geme Victoria. — Eu montaria aquilo.

— Claro que sim, vadia, — ri Ainsley. Cora e Victoria se juntam a ela,


brincando uma com a outra enquanto Victoria aponta para si mesma e pronuncia a
palavra ‘culpada’.
Cerro os dentes, tentando esmagar a onda avassaladora de ciúme e raiva
que está dentro de mim.

— Bem, boa sorte com o novo professor, — murmuro rapidamente,


virando-me para ir embora.

— Oh, por favor, — Ainsley dá uma risadinha. — O professor mais foda


da escola? Como se você não dissesse sim a literalmente qualquer coisa que aquele
homem pedisse?

Culpada.

— Sinceramente, não acredito que o deixaram entrar aqui, — Cora dá de


ombros. — Quero dizer, não que eu esteja reclamando.

Minhas sobrancelhas se franzem. — O que você quer dizer com isso?

O rosto dela se ilumina, como se ela não pudesse esperar para divulgar
qualquer trecho tóxico de fofoca que esteja segurando firmemente em seu punho.

— Bem, há um boato...

Resisto à vontade de revirar os olhos. É claro que existe.

— Você já ouviu falar que a Netflix não está mais fazendo aquela série do
livro dele, Fucked Sideways, certo?

Aceno com a cabeça.

— Bem, aparentemente, é porque Bastian estava transando com a atriz


que iria interpretar a filha do personagem do melhor amigo.

Ainsley acena rapidamente com a cabeça. — Sim, eu ouvi exatamente a


mesma coisa. E ela é da nossa idade.
— Uh, tente alguns anos mais jovem... — Cora acrescenta em um tom
escandalizado.

O ciúme fumegante de antes se acende como napalm dentro de mim. Sei


que é besteira. Deve ser besteira. Rumores de mentira sem nada por trás são o café
da manhã, o almoço e o jantar de Cora Laurent.

Eu sei disso. Mas isso ainda não me impede de sentir essa queimação em
meu íntimo.

Felizmente, meu celular toca. Sem piedade, é minha mãe.

Eu me afasto de Ainsley, Cora e Victoria sem me despedir e atendo a


ligação.

— Sim?

Minha mãe se irrita. — Essa é uma maneira feminina de atender o celular?


Cristo, Julianna, é como ligar para um restaurante de comida para viagem.

Eu exalo e aperto a ponte do meu nariz. — O que foi, mãe?

— Bem, eu estava ligando para saber como estavam as coisas no campus,


especificamente com Bastian.

Meu rosto queima. Minha consciência e meu estômago se agitam sob a


superfície.

— Uh, tudo bem?

— É maravilhoso ouvir isso. Seu... comportamento rude não é muito


abrasivo para um estabelecimento como Oxford Hills?
Bem, ele jogou fora o programa de estudos, xingou como um marinheiro
e mandou Alistair se ferrar, então...

— Não, acho que ele parece estar se integrando muito bem.

— Adorável. Agora, querida, não preciso de nenhuma histeria sobre isso,


mas estou pensando em adiar o anúncio.

Meu estômago cai. O anúncio. Ou seja, anunciar publicamente que ela vai
se casar com Bastian.

O homem que eu beijei. O homem que me fez gozar. O homem pelo qual
não consigo parar de sentir desejo.

— Mãe, você disse que só ia fazer isso daqui a alguns meses!

Além de todos os outros inconvenientes relacionados a quem é Bastian, a


última coisa de que preciso é que toda a escola saiba que o recém-batizado ‘professor
mais foda’ da OHA está se casando com minha mãe.

— Bem, essas coisas não dependem de seus caprichos, querida, — ela


responde. — Estou apenas considerando a possibilidade, só queria saber o que você
pensa...

— Minha opinião é que todo esse casamento parece um show de mídia


ridículo!

Minha mãe suspira. — Julianna, querida, eu sei que você ainda está
magoada com as ações do seu pai...

— Não, não estou.

Mesmo antes de sumir com meio bilhão de libras do dinheiro de seus


clientes, não é como se meu pai e eu fôssemos muito próximos. O foco de Lord
Braddock McCreed sempre foi exclusivamente sua casa de investimentos, sua conta
bancária e sua cadeira no Parlamento. É isso aí. Fui mimada por ele em todos os
sentidos da palavra, desde que tivesse um valor monetário.

Em termos de vínculo real e amor paternal, fui enganada.

Eu suspiro. — Mamãe, por favor. Eu só... não preciso que a escola inteira
saiba que meu novo professor vai ser...

Não posso e não vou me obrigar a chamar Bastian de meu ‘novo padrasto’.
Por todos os motivos.

— Eu estava apenas mencionando que estava pensando nisso, — minha


mãe resmunga de forma irritada. Ela limpa a garganta. — Eu lhe disse que a mãe de
Alistair Grand tem me perguntado sobre você?

Eu gemo. A pior mudança de assunto de todos os tempos.

— Sabe, vocês dois, com as famílias de onde vieram? Não consigo


entender por que vocês ainda não estão juntos...

— Porque Alistair Grand é um cretino nojento?

— Oh, cresça, Julianna, — ela suspira. — Vocês dois seriam a sensação


do clube. Agora, se você pudesse fazer algo a respeito dessa pele manchada que vi
quando jantamos...

Eu desligo.
Mais tarde, Tenley me convida para ir à Mansão Lordship para uma noite
de cinema, o que parece ser a melhor distração que eu poderia pedir no momento.
Especialmente porque ainda tenho o chalé só para mim.

Depois de uma curta caminhada pelo campus, paro nos grandes portões de
ferro forjado do lado de fora da mansão. Como sempre faço quando venho para cá,
balanço a cabeça e fico olhando para a enorme e linda casa.

Enquanto quase todos os outros alunos da OHA moram nos mesmos


chalés que eu, os três herdeiros da Bratva - Ilya, Misha e Lukas - vivem como os reis
que são. A Mansão Lordship é uma casa enorme e incrivelmente bonita que foi
literalmente apresentada em revistas famosas de arquitetura e design de interiores.

Diga o que quiser sobre o mundo da Bratva de onde eles vêm. Eles
certamente sabem como viver. Não faço ideia de que tipo de dinheiro ou ameaças
foram necessários para que eles conseguissem esse lugar para morar enquanto
estudavam aqui. Mas, ei, eu posso vir para cá praticamente a qualquer momento.
Portanto, não estou reclamando.

— Oi! — Tenley me cumprimenta calorosamente, abraçando-me antes de


me levar para fora do frio e para dentro da casa.

O fato de sermos amigas é uma prova do conceito de ‘crescimento’.


Quando nos conhecemos, quando Tenley era nova na OHA, eu era horrível com ela.
Eu estava irritada com o drama do meu pai e ainda mais com o fato de ele e minha
mãe terem se divorciado, apesar de se odiarem.

E eu achava que gostava de Ilya, o que tornava Tenley uma ameaça


quando ele estava tão obviamente apaixonado por ela desde o primeiro segundo em
que se conheceram.
Mas, felizmente, foi o fato de os dois ficarem juntos que me fez perceber
o quanto eu estava confusa e irritada. Como, na verdade, eu não gostava nem um
pouco de Ilya. É que eu via nele uma pessoa quebrada e tinha a fixação de ser a
pessoa a consertá-lo. Como se eu não pudesse ‘consertar’ o casamento dos meus
pais, ou o desaparecimento do meu pai com uma fortuna roubada, eu talvez pudesse
consertar o garoto de olhos tempestuosos com dor no coração.

É uma daquelas coisas que me fazem revirar os olhos para mim mesma
em retrospectiva. Felizmente, isso ficou para trás. Ainda mais felizmente, Tenley e
eu somos grandes amigas agora.

Descemos as escadas para a luxuosa sala de entretenimento no porão da


Mansão Lordship. Charlotte, a namorada de Misha - espere, não, esposa - e uma
verdadeira princesa do reino de Luxlordia, sorri quando me vê seguindo Tenley até
à sala.

— Ei!

Eu sorrio. — O que estamos assistindo?

— Char quer Love, Actually. — Tenley se vira e revira os olhos. — De


novo.

— Ah, o quê? — suspira Charlotte. — É um ótimo filme e, além disso, já


é quase Natal.

— Falta um mês para isso.

— Onde você quer chegar?

Eu rio das duas. Tenley suspira.

— Meu voto é Chocolat. Você é o critério de desempate.


Eu franzo a testa. — Ooo... essa é difícil.

— Oh! Mudança de jogo! — Charlotte olha para cima, depois de folhear


o que parece ser um blog de filmes em seu celular.

— E quanto a Pretty Little Liars?

Meu coração salta para a garganta.

— Ah, essa é boa. Essa é aquela série em que a aluna fica com o professor
gostoso antes de perceber que ele é o professor dela, certo? Não vejo isso há muito
tempo!

Ah, não.

— Sabe de uma coisa? — murmuro, meu rosto queimando enquanto me


esforço para desacelerar minha pulsação. — Que tal Chocolat?

Tenley sorri. — Não, agora sou totalmente a favor de Pretty Little Liars.
Especialmente com... — ela cora ao abaixar a voz. — Uh, o novo professor de
inglês? Bastian Pierce, o escritor? Vocês já o conheceram?

Eu me encolho.

Pode-se dizer que...

Charlotte dá uma risadinha. — Só de passagem. Sim, que beleza. Isso é


um escândalo esperando para acontecer.

Quase engasgo com minha língua. — O quê?

Ela dá de ombros. — Só... um cara com aquela aparência? Com sua


reputação? — Ela faz um som de cacarejo com a língua contra os dentes. — Ele já
tem todas as garotas do campus babando por ele.
Meus lábios se contraem quando aquela onda desconfortável de ciúme
surge dentro de mim novamente.

— Então! — Tenley junta as mãos. — Pretty Little Liars é isso?

— Sem dúvida, — sorri Charlotte.

Eu gemo para mim mesma.

— Comecem vocês, eu vou só usar o banheiro.

Volto para o andar de cima, com o rosto queimando de calor. No final do


corredor, estou prestes a entrar no banheiro, quando ouço o som de dois caras
conversando na esquina da biblioteca - Ilya e Misha.

— Sabemos especificamente o que está escrito?

— Apenas o trecho que meu tio obteve de sua fonte, — responde Ilya.

— Quão ruim?

— Eh... — Ilya resmunga. — É difícil dizer. Sim, por um lado, é ficção.


Mas parece que alguém está chamando de ficção apenas para se proteger. Yuri diz
que há algumas partes que chegam perto demais de casa.

— Merda, — murmura Misha em voz baixa.

— Sim. Ele só quer que fiquemos de olho nele, por enquanto. É meio
chato. Na verdade, gosto muito da escrita dele.

Eles estão falando sobre Bastian. Eu tremo, com a mão na maçaneta da


porta do banheiro.

— Sim, o mesmo, — acrescenta Misha. — O cara é um gênio.

— E um bêbado, — grunhe Ilya.


— Eh, todos os grandes têm problemas. — Misha dá uma risadinha. —
Cara, aquela merda do machado de batalha foi demais. Ah, e que porra ele estava
dizendo sobre os caras que o seguiam?

— Não faço ideia.

— Isso não é Yuri?

— Não, de jeito nenhum. Sinceramente, não é bem o estilo do meu tio. Se


ele quisesse assustá-lo, teria enviado alguns caras para quebrar sua mão ou algo
assim. Ele é direto.

Eu me arrepio.

— Huh, — Misha resmunga. — Sim, também não parece ser o estilo de


Viktor.

Viktor Komarov, ou seja, o pai de Lukas.

Ouço o som de bebidas sendo servidas na esquina.

— Então, — Misha continua. — Se não for Volkov, Komarov ou qualquer


um dos meus... quem diabos tem caras perseguindo Pierce?

Há um segundo de silêncio antes de Misha grunhir.

— Você acha que pode ser Konstantin?

Eu sintonizo meus ouvidos, esperando o que virá a seguir. Mas, então, o


celular toca e Misha dá uma risadinha.

— Ei, por falar em professores, Charlotte, Tenley e Julianna estão prestes


a assistir Pretty Little Liars lá embaixo. Você topa?

— Sim, por que não?


Entro rapidamente no banheiro e fecho a porta silenciosamente, com o
coração acelerado e várias, várias perguntas queimando na minha cabeça.

Depois dos últimos dois dias que tive, assistir a Pretty Little Liars
provavelmente é como assistir a Apocalypse Now ou Saving Private Ryan se você já
esteve em uma guerra.

É muito forte. É muito visceral. Muito conectado ao mundo real. Fico


sentada na sala de entretenimento, me contorcendo e sentindo formigamento por
todos os lados, sem saber se vou ficar doente ou se preciso correr para casa e tomar
um banho frio.

Quando acabou, eu me despedi rapidamente e voltei para o outro lado do


campus, para meu chalé.

Ele é meu professor. Ele vai se casar com minha mãe.

E eu o beijei.

E então, fizemos muito mais do que nos beijar.

Não tomo banho frio. Em vez disso, deixo que meus dedos se lembrem de
como ele me tocou, até que eu esteja ofegando vergonhosamente seu nome no
travesseiro.

De manhã, volto à rotina. Tomo banho, penteio o cabelo, visto o uniforme


verde-escuro, preto e dourado da OHA e tomo café. Antes de sair, porém, ligo para
Lizbet.
— Oi! — Ela se entusiasma. — Você me pegou bem na hora em que eu
estava indo para a fisioterapia.

Franzo a testa. — Merda, desculpe.

Quero dizer, há o fato de chegar atrasada à academia para fazer exercícios.


E depois, há o atraso para o incrivelmente importante tratamento de fisioterapia para
ajudá-la a se recuperar de uma cirurgia cardíaca extremamente invasiva depois de
quase morrer.

— Me ligue mais tarde...

— Não, posso conversar agora por alguns minutos.

— Não se atrase para a fisioterapia, — digo com firmeza.

Ela ri. — Sim, mãe. Não, mas de fato, como estão as coisas?

Olho para o chalé vazio.

— É chato ficar aqui sem você.

Bem, o chalé é chato sem ela aqui. O resto da minha vida envolve o fato
de que o homem do beco agora é meu professor e se casará com a porra da minha
mãe?

Isso seria o mais categoricamente ‘não chato’ que você pode conseguir.

— Juro que estou melhorando o mais rápido possível para poder voltar.

— Ah, claro. Tenho certeza de que é horrível viver em um loft chique em


Londres com seu marido e sem nenhum dever de casa. — Eu me encolho. — Quero
dizer, apesar da cirurgia de coração aberto que quase morreu.
Lizbet ri. — Quero dizer, sim, tirando esse pequeno detalhe incômodo,
não estou reclamando.

Eu sorrio. — Como está Mara?

— Ela está... boa. — Lizbet suspira. — Quero dizer, é incrível. Eu a vejo


quase todos os dias, e é como tê-la de volta dos mortos.

Quando tinham quatorze anos, a irmã gêmea de Lizbet, Mara, foi atingida
por uma bala na parte de trás do crânio enquanto saía para uma corrida - colateral
em algum tipo de guerra da Bratva em que seu falecido pai estava envolvido. O
médico conseguiu salvar a vida de Mara, mas apenas colocando-a em um coma de
quatro anos, do qual ela só saiu recentemente.

— Ela só está... não sei. Ela tem muito o que fazer para se atualizar. Nós
tínhamos quatorze anos quando ela foi dormir. Ela perdeu uma grande parte de sua
adolescência. E ela tem que aprender a fazer tanta coisa de novo.

Ela suspira. — Desculpe, isso é deprimente. Além disso? Sim, é incrível


tê-la de volta. Um milagre, na verdade. Enfim... como vai a escola?

— Eh, tudo bem. Chato, — minto.

— Eu ouvi algo sobre o novo professor de inglês ser Bastian Pierce?

Meu rosto está ardendo de calor.

— Tipo, o autor famoso? Isso é real?

— Uh, sim... — murmuro. — É real.

— Nossa, que espetáculo. Aquele homem é lindo.

Nem me fale sobre isso.


Ela ri. — E ele tem cara de encrenca.

Nem me fale sobre isso, porra.

— Sim, Ainsley e seu pequeno grupo de bruxas estão em cima dele.

Ela geme. — É claro que estão. Somente alguém como Ainsley


Hendershire tentaria se envolver com seu professor.

Eu me contorço, meus lábios se retorcem.

— Mas é uma loucura o último livro dele, não é? Eu estava lendo sobre
isso outro dia. Aparentemente, é realmente político e conseguiu fazer com que ele
fosse dispensado por sua editora. Dizem que... — ela limpa a garganta. — Lukas
estava ao telefone com Misha e Ilya ontem à noite. Aparentemente, há até coisas
nesse livro inédito que realmente revelam a influência da Bratva sobre os políticos
do Reino Unido.

Eu me arrepio, lembrando-me do que ouvi ontem à noite na Lordship.

— Sim, eu ouvi algo sobre isso também... — Franzo a testa. — Ei, será
que... — Balanço a cabeça. — Não importa.

— Não, vá em frente.

Eu mastigo meu lábio. — Se o livro dele de fato mencionava a Bratva... o


pai de Lukas ou qualquer um deles gostaria... não sei... — Limpo minha garganta.
— Ameaçaria Bastian ou o seguiria por aí ou algo assim?

— Oh meu Deus, não, — ela diz rapidamente. — Não, isso aparentemente


surgiu na ligação de ontem à noite. Lukas disse que se alguém está tentando
pressionar Bastian Pierce sobre o livro, definitivamente não é Kashenko, Volkov ou
Tsavakov.
Os últimos trechos da conversa que ouvi ontem à noite estão em minha
mente.

— Você acha que pode ser Konstantin?

— Você acha que pode ser Konstantin Reznikov? — Eu digo.

— Eu... huh. — Ela fica um pouco quieta. — Não sei, talvez?

— Quero dizer, há um boato de que ele mandou matar o próprio pai para
assumir a liderança da Bratva Reznikov...

— Ele é o motivo pelo qual Mara está acordada, Jules, — diz ela
calmamente. — Quero dizer, não sei quase nada sobre ele. Mas também não me
importo muito. Quero dizer, se ele está ameaçando esse novo professor? Isso é uma
merda, mas... — Ela respira fundo. — Ele é a razão pela qual ela está aqui. Foi ele
quem trouxe a equipe de especialistas que realmente a acordou.

Faço uma pausa, sentindo-me instantaneamente como uma idiota.

— Então, se Konstantin está perseguindo um professor que escreveu um


monte de merda sobre sua família? Eu meio que não dou a mínima?

Ela suspira.

— Desculpe, foi mais contundente do que eu pretendia. — Ela faz uma


pausa. — Então, por que você se importa?

— Oh, eu... — Eu me agarro a qualquer coisa. — Não me importo! Eu


só... — Eu engulo. — Veja, isso é o que acontece quando você não está aqui. Está
vendo como fico entediada?

Ela ri. — Acho que você deve estar lendo muitos thrillers de espionagem
ou algo assim.
— Diz a garota literalmente casada com a máfia.

— Bratva, obrigada.

Eu rio.

— Tudo bem, é melhor eu ir para a aula.

— Ok, sinto sua falta!

— Sinto sua falta também. Melhore para poder voltar aqui, está bem?

— Estou trabalhando nisso.

Quando desligo, sorrio. Depois, termino o resto do meu café, pego minha
bolsa e saio para enfrentar mais um dia e o homem que não consigo tirar da cabeça.

O professor mais foda da escola.

Meu rosto arde em brasa enquanto caminho pela manhã fria. Bem, pelo
menos ninguém sabe que o Sr. Foda vai ser meu novo padra...

— Sua vadia!!!

Ainsley quase bate em mim quando se aproxima aos berros, agitando o


celular na minha cara. Eu me assusto, ofegante, e dou um passo para trás.

— O quê?

— Sua vadiazinha sortuda! — ela grita.

Minhas sobrancelhas se franzem, tentando me concentrar no celular


balançando de um lado para o outro na frente do meu rosto.

— O que você está falando...

— Isso.
Ela aponta o celular para o meu rosto e o mantém imóvel. Meu estômago
cai.

É a seção Sociedade e Cultura do London Times. E bem ali, na primeira


página, na frente e no centro, está uma foto da minha mãe, sorrindo ao lado de um
Bastian taciturno e carrancudo, segurando o dedo do meio.

É oficial. E estou oficialmente fodida.


8

O problema de dizer a si mesmo para esquecer alguma coisa é que agora


ela está lá, em sua cabeça, em sua pele. Está em sua visão periférica, esperando para
saltar para fora. Passei a maior parte da minha vida adulta sendo péssimo em dizer a
mim mesmo para ignorar algo, mesmo que seja ruim para mim.

Foda-se, especialmente se for ruim para mim.

Mas, em minha opinião, em algum ponto entre passar pela barreira de


segurança e realmente cair no precipício é onde a vida começa.

Quando eu era mais jovem, eram as drogas e as mulheres com as quais eu


não tinha nada que me envolver. E bebidas. E motos.

Eu gostaria de dizer que mudei. Mas não tenho certeza se mudei. Na


verdade, tenho quase certeza de que não mudei.

Quando você nasce com a doença, não percebe o quanto ela mexeu com
você até que possa se afastar e olhar para dentro do globo de neve do lado de fora.
Enquanto crescia, eu tinha tudo o que o dinheiro podia comprar - todos os
brinquedos, todos os caprichos atendidos, todas as necessidades satisfeitas.

Tudo, exceto as coisas que realmente fazem de você um adulto funcional


e emocionalmente disponível mais tarde na vida. Essas coisas - o amor genuíno dos
pais, o vínculo familiar que eu acho que a maioria das pessoas tem, as ferramentas
internas para realmente expressar emoções - estavam ausentes em minha vida.

Acho que não é preciso ser psicólogo para ver que é por isso que cresci e
me tornei um homem grunhido, cansado e desiludido, um perpétuo resmungão, com
um problema de alcoolismo limítrofe e que nunca experimentou nada que se
aproximasse do amor.

Mas não se trata apenas do fato de eu ter tido pais ausentes que me
entregaram a babás durante toda a minha vida. É o mundo podre em que cresci; a
‘elite’ da alta crosta da sociedade, cheia de pessoas frias, cruéis e insidiosamente
tóxicas como meus pais ou Rebecca McCreed.

Acho que talvez seja por isso que escolhi a carreira de escritor de literatura
em vez de trabalhar no setor bancário, na política ou envenenar o planeta e levar os
pobres à falência para obter lucro, como o resto do mundo da ‘elite’.

Suponho que seja um golpe de sorte o fato de eu ser muito bom na


profissão que escolhi, que é o dedo do meio para os meus pais. Mas escrever deveria
ser minha saída desse mundo.

Em vez disso, ele apenas me colocou em um pedestal, cercado por aqueles


monstros. Isto é, até que eu não dançava mais a música certa.

Sentado em minha escrivaninha com os pés apoiados nela, observo com


tristeza os filhos das mesmas elites das quais passei minha vida tentando me afastar
entrarem na sala de aula. Pelo menos posso ver um número saudável de exemplares
de Ham On Rye sendo retirados das sacolas e colocados nas carteiras.

Exalo lentamente e me viro para olhar pela janela da sala de aula, como a
criança que já está entediada com as aulas de matemática antes mesmo de a aula
começar.

Se eu pudesse, deixaria a maior parte dessa coisa de ‘viver em uma


sociedade’ para trás. Não como se eu fosse me esconder em uma caverna ou algo
assim, porque aí está o meu problema: não gosto muito de pessoas, regras ou
sociedade. Mas gosto de coisas boas.

Idealmente, meu plano de fuga seria uma casa senhorial em algum lugar
no meio do nada. Algo saído de um maldito livro de DH Lawrence, ou Emily Bronte,
ou Dickens, por todas as merdas que eu falo dele.

Apenas eu, um laptop e uma biblioteca. E um bar bem abastecido. E


comida, eu acho.

Julianna entra na sala - só pernas, meias até ao joelho, saia xadrez e lábios
carnudos. Eu gemo.

Eu, um laptop, uma biblioteca, bebidas, comida e... outras coisas que um
homem pode precisar, sozinho em uma mansão em algum lugar no interior do país.

Como lábios carnudos. Como seios fartos que se derramam em minhas


mãos. Como longos cabelos loiros enrolados em meu punho e uma bunda firme
balançando em meu...

Eu rosno, sacudindo a cabeça para me impedir de continuar nesse caminho


tortuoso e muito proibido.

Chega disso.
Erros foram cometidos. Erros graves, que poderiam me esfolar e arruinar
o que me resta. Porque, apesar de todas as minhas fantasias de fugir para algum
castelo em algum lugar, eu realmente me importo, por algum motivo, com a maneira
como saio da sociedade.

Eu já fiz algumas coisas ruins e fui imprudente. Mas essa merda com
Sophia não foi uma dessas vezes, e eu vou me ferrar se for expulso por causa disso.

Eu dou a aula no piloto automático. Mas, diabos, nem sequer estou me


concentrando no que diabos estou falando. Porque, o tempo todo, uma certa tentação
de cabelos loiros, lábios apertados e olhos azuis está me encarando fixamente.

E eu estou olhando de volta.

Julianna olha para mim como se não soubesse se quer me empurrar na


frente de um ônibus ou abrir as pernas para mim.

Pode ser ambos.

Mas, do meu lado, estou igualmente em conflito. Olho para ela e não sei
se quero dizer a ela para ficar bem longe de mim ou se curvar e dizer ‘por favor,
papai’.

A imagem súbita e visceral que essa linha de pensamento em particular


evoca em minha cabeça me desequilibra completamente e perco meu lugar no que
estava dizendo à turma.

Franzo a testa, franzindo o cenho ao parar de andar.

— Que diabos eu estava dizendo?


Alguns alunos riem, achando que estou jogando a carta do professor legal
‘igual a vocês’ ou algo assim. Não estou, estou apenas confuso, enquanto fantasio
abertamente em ver a bocetinha apertada de Julianna se esticar para engolir meu pau.

— De ressaca de novo, professor? — Uma voz aguda do fundo da sala.

Juro por Cristo, se eu conseguir passar uma semana sem quebrar os dentes
de Alistair, será um milagre.

— Está doendo, Sr. Grand?

Ele faz uma careta. — O que está doendo?

— Ter seu próprio polegar enfiado tão fundo em sua própria bunda todos
os dias.

Ele gagueja, parecendo absolutamente chocado.

— Parece cansativo. Agora, — grunho, desligando o que quer que fosse


que ele tentaria me responder. Olho para baixo e me lembro de onde estava.

— Ham On Rye. Indiscutivelmente uma das obras mais conhecidas de


Bukowski, o que faz com que isso pareça um pouco como ensinar por meio de um
registro de grandes sucessos.

Isso provoca alguns sorrisos. Mas não de Julianna. Ela parece determinada
a olhar para mim, como se o puro desdém fosse fazer com que eu e toda essa situação
desaparecêssemos.

Spoiler: não vai. Já passei por isso, já tentei.

— Quero que todos vocês comecem isso hoje à noite, antes da próxima
aula. Em particular, quero que todos pensem sobre o caráter de Lila Jane...
Merda.

Antes que eu pudesse me conter, lanço meu olhar para o outro lado da
sala, direto para Julianna. Seus olhos se arregalaram e seu rosto ficou rosado.

Você deve saber que não posso ficar muito tempo, Henry.

Você deve saber que sou um grande problema, Lila Jane.

Instantaneamente, volto para lá, para aquele beco. Tudo o que consigo
sentir é a suave provocação de seus lábios. Tudo o que consigo pensar é na forma
como suas costas se arquearam sob minhas mãos.

Cristo, estou fodido.

O relógio na parede atrás de mim toca um som de sino, indicando o fim


do período. A turma começa a se levantar e a arrumar suas coisas.

— Amanhã, — grunho em voz alta. — Quero ouvir suas ideias sobre Lila
Jane e o significado do equilíbrio entre inocência e sexualidade.

O rosto de Julianna está vermelho como fogo enquanto ela me encara. Eu


poderia dar meia-volta e apenas deixá-la ir embora para pensar sobre isso. Ou, já que
somos ambos adultos - graças a Cristo -, poderíamos conversar como adultos e
simplesmente superar tudo isso.

Porque temos que fazer isso.

— Você, — rosno, apontando um dedo para ela, parando-a pouco antes de


sair da sala de aula. — Você fica.

Ignoro as risadinhas dos alunos que me ouvem dizer isso. De qualquer


forma, tenho ignorado a turma inteira e o que quer que eu esteja falando desde que
ela entrou.
Quando os outros saíram, Julianna ainda estava me encarando, com a
bolsa em um dos ombros, pairando ao lado da porta.

— O que foi? — ela sussurra.

Minha mandíbula se contrai quando me aproximo dela. Não vou mentir,


gosto do modo como seus olhos se arregalam e suas bochechas se ruborizam quando
me aproximo com determinação. Mas passo por ela, fechando a porta e fechando-a
antes de estreitar meus olhos para os dela.

— O que diabos entrou na sua bunda?

Ela franze os lábios.

— Puxa, não sei, — ela responde com sarcasmo.

Eu rosno baixinho enquanto meu olhar fixa o dela.

— Esqueça isso, Julianna, — sussurro baixinho. — Apenas deixe para lá


e esqueça.

Como estou me esforçando ao máximo para esquecer.

Começo a me afastar quando suas palavras me impedem.

— É difícil esquecer isso quando está em todos os noticiários.

Eu me enrijeço e volto para ela.

— O quê?

— Isso é muito bom para manter o assunto fora da imprensa até mais tarde,
não é? — ela cospe.

— Do que você está falando?


Ela empurra o celular na minha cara. Meus dentes rangem.

Merda.

É a primeira página da seção Sociedade e Cultura do Times de Londres -


uma foto grande e estúpida de Rebecca sorrindo para a câmera, comigo com cara de
mau e mal-humorado ao lado dela, dando o dedo. A manchete diz: ‘A corajosa
sobrevivente McCreed se casará com o bad boy Bastian Pierce’.

Não. Acredito. Nesta. Merda.

— Que merda é essa? — gemo.

— Sim, e parece que me lembro da minha mãe ter me assegurado no jantar


da outra noite que isso não sairia nos jornais até muito mais tarde.

A raiva se espalha em mim.

— Então, fale com sua mãe...

— E também me lembro de você balançando a cabeça e concordando com


ela!

— Eu estava bêbado.

— Uau, que choque!

Meus olhos se estreitam e eu rosno.

— Talvez se você não tivesse saído propositalmente em busca de


problemas, não teria encontrado nenhum.

Seus olhos brilham positivamente com fúria.

— Bem, talvez, — ela sibila. — Se você não tivesse saído por aí prendendo
as alunas na parede enquanto as beijava e colocava as mãos nas calcinhas delas...
Ela suspira quando eu rosno e, de repente, a empurro contra a parede ao
lado da porta da sala de aula. Minha pulsação bate forte com a proximidade dela,
com a respiração tentadora dela. A maneira como seus olhos se fixam nos meus.

Manter-me longe dela é uma impossibilidade.

— O que é isso, Bastian? — ela cospe. — Bolas azuis?

Eu sorrio levemente.

— Cuidado, garotinha.

Ela fica ainda mais vermelha, sua respiração fica mais pesada antes de
fixar os olhos nos meus.

— Sinto muito que o seu ego esteja todo torto porque você não teve a
chance de transar...

Ela geme quando minhas mãos agarram seus pulsos e os empurram contra
a parede, prendendo-a ali enquanto eu me aproximo com os lábios bem perto de sua
orelha.

— Oh, acho que nós dois sabemos que tive a chance, — eu digo baixinho,
fazendo-a ofegar. — Não vamos confundir as coisas, querida. Eu tive a chance de
transar com você como uma menina má e suja contra aquela parede de tijolos. Mas
não fiz isso.

Sorrio levemente ao me afastar, sorrindo para seu rosto escandalizado,


sem me importar com as várias linhas que estou pulando e correndo.

— Quem perde é você.

Ela se move tão rápido que não tenho tempo nem de piscar. E antes que
eu me dê conta, Julianna McCreed acaba de me dar um tapa no rosto.
Fico olhando para ela, genuinamente atônito. Mas ela apenas sorri,
parecendo incrivelmente satisfeita e presunçosa consigo mesma enquanto carrega
sua bolsa.

— Esqueça isso, Bastian, — ela zomba, imitando minhas palavras de um


minuto atrás. — Apenas deixe para lá e esqueça.

Ela me dá um sorrisinho arrogante e gira em seu calcanhar em direção à


porta.

Acho que não.

Antes que eu saiba o que estou fazendo, estou agarrando-a, puxando-a


para trás e empurrando-a de cara contra a parede. Ela ofega quando a bolsa escorrega
de seu ombro, caindo no chão, e as palmas de suas mãos se apoiam na parede.

Minha pulsação bate como um trovão em meus ouvidos enquanto agarro


a bainha de sua saia, puxo-a até à cintura, puxo minha outra mão para trás e a bato
com força contra sua bunda firme.

O forte estalo de minha palma contra sua pele macia reverbera pela sala e
acende algo dentro de mim. Pisco os olhos, tremendo por toda parte com a onda de
adrenalina e luxúria que me invade. Percebo que minha mão está apenas encostada
em sua bunda, dividida ao meio por um minúsculo fio dental preto.

Sem pensar, recuo e bato na outra bochecha com a mesma força. E só


então pisco os olhos e percebo a merda que acabei de fazer.

Oh, droga.

A sala está silenciosa como um alfinete. Minhas mãos se afastam dela e


eu dou um passo para trás. Julianna permanece onde está, ofegante, com as mãos
ainda apoiadas na parede à sua frente.
Suas costas se arquearam.

Sua bunda está empinada em minha direção.

A saia cai suavemente sobre suas bochechas rosadas e coradas. E,


lentamente, ela se levanta. Sem dizer nada, virada para longe de mim, ela se abaixa
e pega sua bolsa. Ela a carrega nos ombros, e eu a vejo engolir em seco.

— Olhe para mim.

Minhas palavras são baixas e profundas. Ela treme um pouco e começa a


se virar. Eu me preparo para a fúria. Para o desprezo. Para a mágoa, o medo e o
horror.

Não estou preparado para a expressão de pura fome em seu rosto. Seu
lábio inferior é sugado entre os dentes, e seus olhos parecem crepitar com um fogo
azul. Preciso de tudo o que tenho para não dobrá-la de volta, puxar sua calcinha para
o lado e deslizar cada centímetro do meu pau duro e pulsante até ao fundo daquela
bocetinha.

— Turma dispensada, Julianna, — rosno baixinho.

Ela engole. Nossos olhos se fixam. E então, lentamente, ela se vira, abre a
porta e sai para o corredor.

Fico ali parado, congelado, olhando para a parede onde ela estava curvada
para mim, imaginando o que diabos há de errado comigo.

Não faziam garotas assim quando eu tinha a idade dela. Isso é certo.

Depois de alguns minutos olhando e tentando não pensar que acabei de


colocar minhas mãos nela novamente, pego meu celular no bolso. Abro o artigo no
London Times e olho para o meu próprio rosto brilhante na tela, que me deixa pasmo.
Então ligo para Rebecca.

— Nós tínhamos um maldito acordo, — eu sibilo.

— E ainda temos, Bastian.

— Era para esperarmos mais alguns...

— Que tal deixar que eu pense por nós, hein, Bastian? Parece que o seu
jeito tem o hábito de deixar o seu pau assumir o controle, e é por isso que você está
nessa situação difícil e no nosso acordo, em primeiro lugar.

O tom de voz zombeteiro, presunçoso e alegre dela me faz querer enfiar o


punho na parede. Cerro os dentes enquanto meus olhos se estreitavam em fendas.

— Você precisa da porra do meu dinheiro, Rebecca.

— E você precisa da porra do meu poder e influência, Bastian. Há outros


homens com dinheiro da família por aí com quem eu poderia fazer acordos, você
sabe. Duvido sinceramente que haja outras mulheres como eu que possam varrer
toda a sua merda para debaixo dos tapetes.

Desligo o celular antes de dizer a ela que vá para o inferno.

Isso, por si só, já seria uma passagem difícil pelo fogo

Com Julianna envolvida, isso é impossível.


9

Todo o resto do dia é um borrão - uma névoa de calor, fantasias


rodopiantes e estrondosas e um formigamento persistente.

Literalmente. Minha bunda literalmente formigou e floresceu com o calor,


ardendo com a lembrança de suas... bem, suas palmadas.

Coro profundamente, com o rosto fumegando no frio do ar, enquanto me


dirijo ao meu chalé depois da última aula do dia. Meu coração bate forte e meu
núcleo se contrai com uma dor ilícita e latejante.

O que aconteceu anteriormente em sua sala de aula não deveria me


entusiasmar. Deveria me horrorizar, por todos os motivos imagináveis. Eu deveria
estar furiosa ou doente por dentro pelo fato de um homem com quase o dobro da
minha idade - meu professor - ter me tocado daquela maneira. Ou falado comigo
daquela maneira.
Mas eu não estou. Quando relembro a sensação da palma da mão dele
batendo na pele nua da minha bunda, não sinto repulsa nem me sinto vítima de
nenhum tipo.

Sinto necessidade. Sinto excitação e fome. Sinto o tipo de calor profundo


que algo assim não deveria estar acendendo. E nas repetições em minha cabeça, não
quero que ele pare.

Quero - desesperadamente - que o frio congele o calor proibido que se


acumula entre minhas coxas. Porque eu preciso disso. Ele precisa ir embora, porque
isso é muito errado.

E, no entanto, aqui estou eu... fantasiando sobre isso. Querendo mais.


Desejando-o. E todas as razões que deveriam tornar isso ainda pior - o fato de ele
ser muito mais velho e meu professor - estão apenas colocando mais combustível no
fogo interno.

Eu o quero ainda mais porque isso é muito fodido.

Dentro de casa, vou direto para o chuveiro no andar de cima. Tremo,


tirando minhas roupas - que em alguns pontos estão bem molhadas. A água quente
bate em mim e eu gemo quando minhas mãos deslizam entre minhas pernas. Em
minha cabeça, estamos de volta ao beco. Sua boca está em meu pescoço - mordendo,
marcando, possuindo. Seu corpo poderoso me prende ao tijolo, e sua mão desliza
pela pele macia sob minha calcinha para acariciar minha umidade.

— Cuidado, garotinha. Acho que nós dois sabemos que tive a chance de
transar com você como uma menina má contra aquela parede de tijolos. Mas não fiz
isso.
Fico tensa, minha respiração sufocando enquanto meu corpo sucumbe ao
proibido.

— Quem perde é você.

Eu suspiro, virando-me para pressionar a testa contra os azulejos úmidos


e quentes da parede do chuveiro, com as coxas apertadas.

Depois disso, o calor se torna uma vergonha. De boca fechada, com a testa
franzida de preocupação, eu me seco com uma toalha, seco o cabelo e visto uma
calça de moletom folgada e uma camiseta.

Este é um flerte com o ilícito com o qual eu não deveria estar brincando.
Esta é uma borda de penhasco da qual estou muito, muito perto.

Ele é meu professor.

Sua reputação é notória. Faço uma careta, pensando no boato envolvendo


o acordo com a Netflix, sobre o qual Cora estava tão ansiosa para falar.

— Aparentemente, é porque Bastian estava transando com a atriz que iria


interpretar a filha do personagem do melhor amigo.

— Ouvi dizer que ela é da nossa idade.

— Tente alguns anos mais jovem...

Não é possível que isso seja verdade. Seria uma grande notícia se fosse,
não um boato de Cora Laurent, a rainha dos boatos. Mas, ainda assim, isso mexe
com minhas entranhas.

Ele é meu professor. Sua reputação é notória. E ele vai se casar com minha
mãe.
Abraço meus joelhos contra o peito no sofá do andar de baixo, mordendo
o lábio. É isso aí. Esse é o limite. Esse é o ponto de inflexão do proibido para o
completamente errado.

O que aconteceu naquela primeira noite foi errado. Mas o que aconteceu
hoje - que nós dois permitimos que acontecesse - aconteceu com o conhecimento
que não tínhamos naquela primeira vez. E isso torna tudo dez vezes pior.

Assim como o fato de eu ainda estar com formigamento. Assim como o


fato de que, lá no fundo, em meio à minha vergonha, repulsa e confusão... eu ainda
quero mais.

Fico corada quando pego o controle remoto da TV e ligo o aparelho para


assistir a algo sem importância. Na tela, as glamorosas donas de casa de alguma
cidade americana de médio porte brigam e vão às compras. Perfeito.

Deixo que os pensamentos sujos e proibidos envolvendo o último homem


do planeta com quem eu deveria estar tendo esses pensamentos desapareçam.
Respiro, perdendo-me no drama da TV, que tem um roteiro exagerado.

Meu celular toca. Olho para a notificação do Snapchat na tela do meu


celular e meu coração se aperta. Meu rosto empalidece à medida que um enjoo se
instala dentro de mim.

É o nome de usuário que eu temo ver.

Meu stalker desconhecido.

Sinto-me entorpecida. Fico olhando para a notificação da mensagem, com


a respiração curta e rápida. Ignorá-la seria uma doce libertação. Mas é impossível.
Ele não vai me deixar ignorá-lo. Ou então, ele destruirá minha vida.
Meus olhos se fecham enquanto tento desacelerar meu coração acelerado
para evitar a onda de ansiedade e pânico.

Tudo começou há quase um ano. Eu não conhecia o usuário do Snapchat


- ‘thisboywatchesU’ - que me enviou a mensagem, mas ele me conhecia, como um
predador conhece sua presa.

Ele sabia meu nome - incluindo meu sobrenome, que não é imediatamente
discernível do meu nome de usuário do Snapchat. Ele sabia que eu estava na OHA.
Ele sabia quem eram meus pais e todos os meus amigos.

E ele usou tudo isso para me forçar a entrar em uma jaula na qual estou há
um ano.

Conversamos um pouco. Ele foi insistente, sedutor, de uma forma


grosseira e enérgica que me pareceu agressiva demais. Especialmente porque eu não
tinha - e ainda não tenho - nenhuma ideia de quem seja essa pessoa. Quando a
conversa passou rapidamente para o fato de ele me pedir fotos de nudez, eu disse a
ele que não conversávamos mais.

Jamais esquecerei a mensagem que ele enviou depois disso, quando todo
o seu tom mudou de agressivo para maldoso.

| Não terminamos até que eu diga que terminamos, Julianna.

Foi quando ele enviou a foto que quase me fez vomitar e ter um ataque
cardíaco ao mesmo tempo.

Era pornografia. Um pornô bem nojento e repugnante de uma garota


cercada por... bem, vários caras. Só que ele tinha feito um photoshop do meu rosto -
tirado de uma das minhas contas das redes sociais, eu acho - no rosto da atriz pornô.
| Mostre-me seus peitos ou isto será enviado a todas as pessoas que
você conhece.

Agora sei que deveria ter dito a ele para ir se foder. Que fosse em frente e
enviasse a imagem obviamente photoshopada para quem ele quisesse. Mas não fiz
isso. Entrei em pânico, com força. Ele sabia quem eu era. Ele tinha minhas redes
sociais. Conhecia meus pais e minha escola. E a ideia de todos eles verem meu rosto
em uma imagem como aquela?

Entrei em pânico e cedi. Com as mãos trêmulas e o estômago ameaçando


se esvaziar, lembro-me de tirar a primeira foto para ele com a camisa levantada e
enviá-la, achando que isso acabaria com o pesadelo.

Eu estava errada. Isso foi só o começo.

Quase um ano depois, - thisboywatchesU - me envia mensagens no


Snapchat aqui e ali, sem nenhum tipo de programação. Mas as exigências são sempre
as mesmas: fotos sugestivas ou nuas do meu corpo e, às vezes, dinheiro, enviado
para uma conta anônima do Cashapp.

Um ano depois, ainda sou prisioneira desse homem horrível e sem rosto.
Sei que, toda vez cedo e lhe envio o que ele exige, estou apenas cavando o buraco
mais fundo. Mas não há saída. Se eu recusar, ele enviará o que, a essa altura, é um
número enorme de fotos horríveis e nuas minhas para todos que conheço.

Não é pornografia com photoshop. Fotos reais e verdadeiras do meu


corpo, tiradas sob coação. Até mesmo pensar nisso quase me faz vomitar ou
mergulhar de cabeça em um ataque de pânico total. Em algumas ocasiões, no último
ano, foi exatamente isso que aconteceu.

| É aquela hora de novo, princesa.


Meu sangue se arrepia. Não é o dinheiro que ele exige, ou mesmo as fotos,
por mais destruidoras de almas que sejam. É a vantagem que ele tem. É não saber
que, mesmo que eu faça tudo o que ele diz, ele não ficará entediado um dia e as
publicará de qualquer maneira.

| £1,000. Endereço habitual.

Minhas mãos tremem quando me apresso a fazer o que ele diz. Como um
filhote de cachorro treinado. Fico com nojo de mim mesma.

| Ok, enviado.

Digito com dedos trêmulos. Prendo a respiração. Isso já aconteceu antes,


quando ele simplesmente exigia o dinheiro e depois desaparecia sem a outra
exigência.

| Faz tempo que não vejo esses seus belos peitos.

Desta vez, não tive essa sorte. Fecho os olhos, tentando conter as lágrimas,
enquanto o pânico, o medo e a aversão a mim mesma me invadem.

| Não estou fazendo isso. Por favor. Você tem o dinheiro. Toneladas
de fotos. Chega?

Eu espero, com a respiração suspensa.

| Mostre-me seus peitos, vadia. Ou eu envio isso.

Uma imagem instantânea aparece. Minhas mãos voam para a boca e eu


me engasgo com um soluço. É a captura de tela de um e-mail com várias fotos do
meu corpo anexadas. O campo de endereço está preenchido com os endereços de e-
mail dos escritórios de envio de metade das publicações de tabloides do Reino
Unido.
| Filha de deputado cassado tem seus nudes vazados em toda a
Internet. Parece uma boa manchete?

Não consigo respirar. O pânico aperta minha garganta, sufocando-me


enquanto as lágrimas começam a cair pelo meu rosto. A sala gira, o ataque de pânico
me domina totalmente e eu fico entorpecida. Com frieza, desarticulada, olhando para
o lado, para a parede - clinicamente, como se estivesse fazendo um papanicolau -,
levanto a câmera. Levanto minha camiseta. Tiro a foto, estremecendo com o som do
clique.

Eu nem sequer olho para ele. Não me importo se ela é lisonjeira. Eu


simplesmente a envio enquanto as lágrimas escorrem pelo meu rosto.

| Você é uma vagabunda. Um dia, talvez eu tenha que obrigá-la a fazer


mais.

Atingi meu ponto de ruptura com a ansiedade que me invade como um


incêndio florestal. Eu me engasgo, ofegante, enquanto jogo o celular na lateral do
sofá, puxo minha camiseta para baixo e me abraço com força. Viro de lado,
entorpecida e quase catatônica, exceto pelo som ofegante da minha respiração
trêmula.

Estou tremendo. A sala está girando. Meu estômago revira e meu sangue
se transforma em gelo. Minha respiração fica cada vez mais ofegante, até que sei o
que tenho de fazer.

Cambaleando, escorrego desajeitadamente do sofá e tropeço até à escada.


Arrasto-me até meu quarto, engasgando, ofegante, mal enxergando direito. Estou
enxergando embaçado quando abro a gaveta de roupas íntimas e pego o pequeno
estojo de feltro preto com o zíper na lateral.
Cambaleio às cegas até minha cama, segurando a caixinha como se minha
vida dependesse disso. Sento-me na beirada, engasgando para respirar enquanto
puxo minha calça de moletom para baixo e abro as pernas. Meus dedos tremem,
quase incapazes de segurar o zíper quando o abro.

Mas, finalmente, consigo.

A luz fraca da lâmpada da minha mesa brilha na borda afiada das pequenas
lâminas de barbear. Pego uma delas entre o polegar e o indicador, com um som
estridente gritando em meu crânio. Desço a lâmina até à parte interna da minha coxa,
a poucos centímetros de minha calcinha.

Quando a borda se arrasta sobre a minha pele, é como jogar água gelada
no inferno que está explodindo dentro de mim. Instantaneamente, minha garganta
se abre. Meus pulmões se enchem de ar, e os gritos em minha cabeça se apagam.
Fecho meus olhos. Inclino a cabeça para trás e expiro a tensão, o horror e as
ansiedades em pânico.

A lâmina corta minha pele, e eu gemo enquanto exalo novamente. A


doçura da liberação. A felicidade de deixar ir. A linha vermelha desenhada na pele
rosa escondida.

É eufórico, de uma forma extremamente fodida.

Esta noite, é apenas um corte que faz isso. Um traço de vermelho em


minha pele que subjuga o monstro interior e apaga o inferno da ansiedade, do pânico
e da aversão a mim mesma.

Com uma metodologia prática, limpo a lâmina de barbear e a coloco em


segurança de volta no estojo. Aplico um lenço de papel no corte até que as gotas de
sangue parem. Em seguida, aplico um pouco de antibiótico para barrar - a marca que
também contém o componente contra cicatrizes - sobre o corte.

Mas, mesmo assim, é possível ver meu histórico de quebra em minha pele.
Linhas brancas para cada vez que eu simplesmente não conseguia encarar a
realidade. Houve mais desde que a merda do stalker on-line começou. Mas eu faço
isso há anos.

Esse é o meu remédio.

Engulo, calma e tranquila agora, enquanto desenrolo o curativo e o coloco


sobre o corte. Respiro devagar e com calma, me recompondo.

Agora está tudo melhor.

Por enquanto.

Sentada na cama, pego minha lição de casa, sentindo-me mais calma e


respirando melhor. Por fim, meus olhos se desviam para o livro que chegou hoje -
Ham On Rye, de Bukowski.

Uma página ‘só para ver como é’ se transforma em cinco, e depois em


dez. Até que eu tenha lido metade do livro.

Isso me faz pensar nele - no Bastian. Muito, e não apenas porque foi ele
quem designou esse livro como leitura. E não apenas por causa dos apelidos breves
de ‘Henry e Lila Jane’ daquela noite.

É que... não sei. Isso me faz lembrar dele. E quando leio as passagens,
quase posso ouvi-las sendo lidas em voz alta em seu tom profundo, áspero e grave.
É um livro estranho, às vezes desconexo e curto. Mas muito, muito mais
profundo do que a história superficial do crescimento do protagonista Henry
Chinkaski. Chego à parte sobre ‘Lila Jane’ a garota da casa ao lado.

— Eu sou Lila Jane, — disse ela.

— Eu sou Henry.

Ela continuou olhando para mim e eu me sentei na grama e olhei para


ela.

Então ela disse: — Você quer ver minha calcinha?

— Claro, — eu disse.

Ela levantou o vestido. A calcinha era rosa e estava limpa.

Fico corada, sentindo o calor de antes voltar a correr em minhas veias.


Fecho o livro em silêncio e coloco ele e minha lição de casa de lado. Apago a luz,
com a pele zumbindo de uma necessidade proibida.

Eu não perguntei, mas Bastian ainda viu minha calcinha. Ele também a
sentiu. E sentiu como eu estava molhada por baixo dela.

Como estou fazendo agora.

Minhas mãos escorregam por baixo das cobertas e depois se enfiam entre
minhas pernas. E, pela segunda vez esta noite, não consigo evitar me tocar com os
pensamentos imundos do meu professor colocando suas mãos em mim.
10

— Desculpe-me, professor?

Em um banco de um dos pequenos jardins com cercas vivas que pontilham


as trilhas de caminhada da OHA, eu gemo. O frasco está a poucos centímetros de
meus lábios quando sou interrompido por uma voz jovem e tagarela. Ao me virar,
olho para o garoto de cabelos vermelhos que parece ser do primeiro ano.

— Sim? — Grunho com irritação.

Ele franze um pouco a testa, parecendo constrangido. Em seguida, acena


com a cabeça e aponta para o frasco em minha mão.

— Você, uh...

Meus olhos se estreitam. — Sim?

Ele empalidece, a coragem vacila. Mas então ele respira fundo.

— Uh, você não deveria estar bebendo isso.

— Isso é remédio. Agora, vá embora.


Ele franze a testa.

— Professor, eu não tenho cinco anos de idade.

— Então você já tem idade suficiente para cuidar de seus próprios


assuntos, certo?

Suas sobrancelhas se franzem ainda mais. — Professor, desculpe, é que...


uh, fui nomeado monitor este ano e, bem, Oxford Hills é um lugar de aprendizado...

— Qual é o seu nome?

Seu rosto fica vermelho. — Lain, senhor.

— Bem, ninguém gosta de um maldito tagarela, Lain.

Sua boca se abre um pouco em choque. Quase me sinto mal por ele.

Quase.

— Com certeza, há alguém fumando no banheiro ou correndo pelos


corredores que você precisa ir encher o saco, certo?

Ele olha para baixo, balançando a cabeça.

Ugh. Agora estou me sentindo um idiota.

— Você parece ser um bom garoto, Lain. Então, da melhor maneira


possível... — Meus olhos se estreitam. — Desapareça?

Quando ele vai embora, gemo e me recosto. Que merda. Eu provavelmente


deveria ser um pouco mais gentil. Provavelmente deveria me esforçar um pouco
mais do que o mínimo absoluto de esforço que estou fazendo neste trabalho até
agora. Eu diria que não tenho nem a desculpa de estar me distraindo com a presença
de uma certa tentação de cabelos loiros.
Mas ela não precisa estar fisicamente na minha frente para me distrair. Ela
está muito dentro da minha cabeça para que isso faça alguma diferença.

Ela sempre me distrai.

Olho de relance na direção em que Lain foi, observando enquanto ele se


retira, lambendo suas feridas. Eu não precisava ser tão idiota. Franzo a testa e faço
uma anotação mental para... não sei, usar minhas credenciais de login de professor
para aumentar uma de suas notas no sistema OHA ou algo assim.

Tomo outro gole do frasco quando meu celular toca. Eu o pego e o menor
lampejo de esperança se acende em meu coraçãozinho sombrio.

É Wendell, meu advogado.

— Bastian, meu amigo, — diz ele com muita jovialidade. — Como está o
bucólico norte do país?

Eu faço uma carranca enquanto olho em volta para o terreno frio da OHA.

— Bucólico, — grunho. — E o norte.

Ele dá uma risadinha, mas eu suspiro pesadamente.

— Wendell, onde estamos com... — Olho em volta, baixando o tom de


voz.

— Com Sophia?

Eu cerro os dentes. — Não diga a porra do nome dela.

— Como devo chamá-la em vez disso?

— A puta malvada e oportunista.

Ele dá uma risadinha.


Eu suspiro. — Diga-me logo. Quão ruim?

Ele respira fundo. — Bem, se não houver mais nada, Rebecca McCreed
é... fiel à sua palavra. Ela tomou chá com o Sr. e a Sra. Davies no outro dia. Todos
saíram sorrindo.

— O que significa?

— Isso significa que a ameaça de processo civil foi retirada.

Exalo lentamente e profundamente. Meus ombros caem.

— Ah, que bom que não serei acusado de um crime que nem cheguei perto
de cometer, — resmungo.

Wendell range os dentes. — Eu sei, eu sei. Mas fique com essa vitória,
Bastian.

— E o livro?

Quando sua única resposta é uma expiração longa e profunda, eu gemo.

— Foda-se.

— Infelizmente, este é um país livre. Você - nós - não podemos impedi-la


de escrever o que quiser e publicá-lo se alguém fizer isso.

— Podemos, se for besteira! — Eu rosno.

— Bem, sim, mas como discutimos... — Wendell pigarreia


desconfortavelmente.

Como discutimos. Ou seja, investigar o que é e o que não é verdade sobre


o livro de Sophia tem o potencial de abrir várias latas de vermes podres sobre outras
coisas que eu posso ou não ter feito em minha vida que não estão no nível certo.
Nada remotamente parecido com o que Sophia está me acusando, obviamente. Mas
outras partes possivelmente desagradáveis e escandalosas de minha vida ao longo
dos anos.

Não serei acusado de agressão sexual a uma jovem de 21 anos - porque


nunca a toquei. Mas há esqueletos suficientes sob as tábuas do assoalho para causar
o mesmo dano se as pessoas começarem a desenterrá-los.

— Então, como está o trabalho? — Wendell pergunta rapidamente,


mudando de assunto.

— É uma droga, — murmuro. — E não faz o menor sentido. Se estou


sendo acusado de... bem, isso. Por que diabos eu estaria a menos de um quilômetro
de uma maldita escola?

Cheia de estudantes. Cheia de estudantes do sexo feminino.

Cheia de Julianna.

— Bastian, nós conversamos sobre isso. Você sabe que se trata de sair na
frente em relação a tudo isso. Se o livro de Sophia for publicado...

— Quando, — eu rosno.

— Sim, bem, infelizmente pode ser um ‘quando’. Mas quando ele for
divulgado, seja lá o que for que ela diga, você terá todo esse tempo passado na OHA
com as recomendações brilhantes e as referências de caráter que isso traz. Isso fará
com que suas mentiras pareçam...

— Mentiras, — grunho.

— Exatamente. — Ele ri. — Bem, desde que você mantenha suas mãos
limpas.
Limpas. Ou seja, não em cima de Julianna. Que é exatamente o que eu
penso quando ele diz isso. Penso em tocá-la na outra noite. Penso em provocá-la.
Penso em deslizar minhas mãos por sua barriga, até à cintura de sua calcinha...
abrindo-a e sentindo como ela está molhada...

— Bastian?

Fico carrancudo quando Wendell sacode minha cabeça do sonho


acordado.

— O quê? — murmuro.

— Você manterá suas mãos...

— É claro que vou, — eu digo.

— Só estou verificando.

— Como meu amigo ou meu consultor jurídico?

— Digamos que os dois, só para garantir. De qualquer forma, preciso ir


ao tribunal. Continuarei monitorando o que está acontecendo nos bastidores com os
Davies da melhor forma possível e o informarei.

Eu agradeço com um grunhido.

— Oh, Bastian, eu queria lhe perguntar.

— Sim?

— Você está escrevendo de novo?

Eu desligo. Sei que ele está apenas sendo um amigo, mas esse é um
assunto delicado sobre o qual ainda não estou pronto para me aprofundar. A versão
curta é: não; estranhamente, ainda não senti a necessidade ardente de passar a musa
para o papel depois do desastre que meu último livro trouxe para a minha vida.

Olho para as paisagens bucólicas ao redor da OHA enquanto levo o frasco


aos lábios. Meu celular toca na minha mão.

— Droga, Wendell, — eu gemo. — Não estou com a mínima paciência.

Mas quando olho para baixo, minha carranca fica ainda mais profunda.

Não é Wendell. É Rebecca, me mandando uma mensagem.

Estou indo embora de Manchester esta noite. Vamos jantar.

Li a mensagem com um revirar de olhos e deixo o celular de lado. Nem


sequer tenho coragem de enviar uma mensagem de texto com uma resposta mordaz,
sarcástica e idiota. Portanto, tomo a decisão madura de ignorar a mensagem e dizer
a ela que não a vi, caso ela fique chateada com isso mais tarde.

Meu celular toca imediatamente - Rebecca, é claro. Eu também o ignoro,


mas quando ele continua tocando, atendo a contragosto.

— Sim? — Eu grunho.

— Para um millennial, — Rebecca suspira pesadamente. — Você é


péssimo em tecnologia.

— O que você quer, Rebecca? — murmuro.

— Minha mensagem, Bastian.

Franzo o cenho. — Que mensagem.

Ela suspira novamente. — Bastian, posso ver quando você leu, se você
tiver as confirmações de leitura ativada.
Minha carranca se aprofunda. — Que porra é essa de confirmações de lei...
deixa pra lá, — suspiro profundamente. — O que foi?

— Estou indo embora de Manchester hoje à noite.

— Você gostaria de um desfile de despedida?

Posso praticamente ouvir seus dentes se cerrando.

— Cuidado, — ela diz. — Para que você não se esqueça de quem detém
o poder nisso...

— Que porra você quer, Rebecca? — sibilo.

Ela limpa a garganta com simplicidade. — Gostaria que você, eu e Juliana


fôssemos fotografados no jantar desta noite antes de eu ir embora.

Eu rio e, em seguida, arqueio uma sobrancelha diante de seu silêncio.

— Oh, droga, você está falando sério.

— Sim, Bastian, — ela sibila. — É claro que estou. Então, o jantar...

— Não, obrigado.

— Isso é para você, meu querido, — diz ela, de forma sucinta. — Uma
das várias, várias camadas de tinta que sua reputação esfarrapada precisa receber de
mim. Caso você tenha se esquecido disso.

Meus lábios se apertam.

— Vou enviar um carro em duas horas para buscar vocês dois. Eu instruí
Julianna a encontrá-lo na sua casa para o passeio.

O passeio.
Penso em um tipo diferente de passeio que gostaria de ter...

Cerro os dentes, sacudindo a cabeça para tentar livrá-la das fantasias


imundas envolvendo a sedutora de cabelos loiros.

Quem eu espanquei ontem.

Meu pau se agita entre minhas coxas enquanto limpo a garganta.

— Tudo bem, — grunho.

— Perca a atitude, — ela responde.

— Assim que você perder os chifres e os cascos fendidos, Rebecca.

Posso literalmente ouvir o choque tomando conta dela, tenho certeza de


que está furiosa.

— Tente se vestir bem, Bastian, — ela zomba antes de desligar


abruptamente.

Que merda. Não é nem mesmo o jantar com Rebecca que me faz fazer
uma careta enquanto atravesso o campus em direção à minha casa. É o fato de que
Julianna também estará lá.

Tentando-me.

Acendendo aquela pequena chama de gasolina dentro de mim.

Fazendo-me sentir como o pedaço de merda lascivo e predatório que


Sophia e sua turma adorariam me acusar de ser.

Porque perto de Julianna McCreed, eu sou um predador. E ela é minha


presa.
Tenho duas horas livres quando chego em casa. Então, me dedico a um
treino pesado na academia doméstica montada no porão.

Nem sempre fui a bomba-relógio autodestrutiva alimentada por álcool,


drogas e escândalos de tabloides que sou hoje. Mas uma coisa a que me apeguei de
uma versão de mim do passado, provavelmente mais saudável, é levantar pesos e
manter a forma. Talvez, em minha cabeça, eu veja isso como um contraponto aos
venenos que tanto gosto de consumir.

Coloco os fones de ouvido e começo minha rotina no supino, seguido de


levantamento terra e depois barra, antes de repetir todo o ciclo brutal. Também me
esforço muito - suando muito e rangendo os dentes enquanto me esforço até meus
músculos gritarem de agonia.

Normalmente, isso é um momento zen para mim - uma fuga. Mas hoje,
não é nada disso. Hoje, enquanto grunho, suo e me esforço mais, não há zen.

Há apenas Julianna.

Cada aperto da barra é minhas mãos apertando-a com força. Cada supino
é ela subindo e depois descendo de volta para o meu pau grosso. Estou encharcado
de suor quando tiro minha camisa e a jogo para o lado. Eu gemo, assobiando
enquanto volto a levantar pesos e fantasio com aquela boquinha de pirralha se
abrindo para engolir cada centímetro de mim. Ou aqueles olhos me desafiando
enquanto ela se curva, pedindo que eu a espanque novamente.
Quando coloco a barra de supino de volta no suporte com um grunhido,
sinto que meus braços estão prestes a ceder. E estou tão duro que parece que meu
pau vai abrir um buraco no meu short de ginástica.

Fico de pé, ofegante, com os músculos latejando e se contorcendo tanto


quanto meu pau, enquanto me viro para ir pegar água.

Eu me enrijeço quando meus olhos se fixam nos dela.

Merda.

Também não se trata de uma fantasia. É de fato Julianna, de verdade. Ela


está de pé, três metros à minha frente, no último degrau da escada para o porão, com
um vestido verde-escuro deslumbrante, sem mangas e na altura da coxa. Olhando
para mim.

Especificamente, olhando para a enorme protuberância na parte da frente


do meu short.

Seu rosto fica vermelho vivo e ela ofega, erguendo os olhos para o meu
olhar penetrante enquanto eu tiro os fones dos ouvidos.

— Eu... o carro... eu bati na porta...

Seus olhos deslizam pelo meu peito nu e brilhante e, em seguida, pelo meu
abdômen. Eles descem até à protuberância em meu short, enquanto seu rosto fica
mais quente.

De repente, ela se vira e sobe correndo as escadas.

Foda-se.
11

Eu não acabei de ver isso. Eu não acabei de ver isso.

Mas a mentira soa vazia sob minhas bochechas ainda ardentes. Porque eu
sei muito bem o que vi. Só não consigo processar isso. Ou posso, mas o fato é que
processar isso me faz explodir por dentro.

Bastian Pierce: sem camisa, tatuado e pingando de suor, com músculos


esculpidos e contraídos. E uma enorme protuberância em seus finos shorts de
ginástica.

Nem mesmo uma protuberância. Um esboço, e um esboço detalhado.

Mastigo o lábio, meu corpo inteiro arde de calor enquanto o Town Car 3
desce a rodovia em direção a Manchester. Nós mal falamos uma palavra entre ‘o
incidente’ e agora... eu subindo as escadas e esperando o carro do lado de fora, e

3
Modelo de carro conhecido com Lincoln Town Car.
Bastian saindo vinte minutos depois, de banho tomado e vestindo um terno que lhe
cai muito bem.

Mas talvez o silêncio seja melhor.

Minha mente volta às imagens gravadas em meu cérebro de seu corpo


lindo e perfeito brilhando de suor e tão, tão duro...

Sim, não, o silêncio é definitivamente melhor.

— Você sabe o que é confirmações de leitura?

Sua voz grave na escuridão me assusta, embora ele esteja sentado a menos
de trinta centímetros de mim. Engulo o calor do meu rosto e me viro para ele.

— O quê?

— Confirmações de leitura.

— Como nas mensagens de texto?

Suas sobrancelhas se franzem na escuridão, destacada em intervalos


regulares e provocantes pelas luzes da rua.

— Sim.

Dou de ombros. — Uh, sim, elas mostram a alguém que você leu o texto
dele. — Arqueio uma sobrancelha, com um sorriso nos lábios. — Você deixou
alguém no vácuo?

— Sua mãe.

Há um lampejo de raiva. De ciúme. Mas eu o reprimo. Eu preciso fazer


isso. Quero dizer, realmente preciso. Em vez disso, concentro-me na ideia divertida
da minha mãe ter sido deixada no vácuo e, provavelmente, estar furiosa com isso.
Eu dou um sorriso torto. — E como foi isso?

— Como você acha que foi?

Eu sorrio um pouco mais. Mas olho para ele... retendo perguntas que não
quero fazer. Porque talvez elas tenham respostas que eu não esteja preparada para
ouvir. Perguntas como ‘por que você está com ela?’

Mas não posso fazer isso.

— Você pode desativá-las, sabia.

A sobrancelha dele se ergue. — É mesmo?

— Sim, é só ir nas configurações...

Quando ele franze a testa para o celular , eu sorrio e reviro os olhos.

— Aqui, posso?

— Fique à vontade.

Ele me entrega seu celular. Resisto ao impulso de desejar ter o poder de


parar o tempo. De congelar as coisas, para que eu pudesse sentar aqui e dissecar a
vida dele examinando cada centímetro de seu celular.

Para quem ele envia mensagens de texto? Onde ele usa o Google Maps
para chegar? O que ele assistiu recentemente na Netflix? Quais livros estão em seu
Kindle?

Que tipo de pornografia ele assiste?

Mas, em vez disso, corando ferozmente, eu simplesmente navego até às


configurações de mensagem dele e desativo as confirmações de leitura.

— Aqui está. Consertado. — Eu lhe entrego o celular de volta.


— É isso que todas as crianças fazem, não é? — Ele sorri. É quase um
sorriso limpo e inocente.

Quase.

A inocência tem um jeito de se esvair quando eu sei qual é o gosto


daqueles lábios. Quando conheço o modo como ele rosna em meu ouvido enquanto
seus dedos roçam meu clitóris.

Engulo, sugando uma lufada de ar.

— Ah, nenhuma de nós envia mais mensagens de texto.

Bastian olha para mim com uma confusão divertida. — Que porra vocês
usam, pombos-correio?

Eu sorrio. — Não, todos nós usamos apenas o Snap.

— Snap?

— Snapchat?

— Que porra é um Snapchat?

Eu dou uma risadinha. Como uma idiota, antes de rapidamente reprimir


isso.

— É este aplicativo... aqui.

Eu abro o aplicativo de bate-papo e compartilhamento de fotos na minha


tela e o viro para ele.

— Você envia mensagens para seus amigos e pode enviar fotos e outras
coisas.
Suas sobrancelhas se franzem. — Como diabos isso não é uma mensagem
de texto?

Meus lábios se retraem enquanto minhas bochechas queimam. — É... sim,


mais ou menos, eu acho. Mas, a menos que você as salve, as mensagens são
excluídas depois que você as vê uma vez.

Ele me dá uma olhada.

— Por quê?

— Porque...

— Por favor, não faça nenhuma declaração filosófica sem sentido sobre a
vida ser passageira.

Eu rio. — Não, é só... divertido, eu acho. É como um bate-papo mais


casual do que uma mensagem de texto.

— As mensagens de texto são muito formais para sua geração?

— Desculpe, vovô.

Ele me olha com um sorriso nos lábios. Eu sorrio de volta.

— Então, mensagens de texto que se autodestroem. Esse é o grande


recurso que estou perdendo.

— Sim, praticamente. Quero dizer, ele também tem imagens que expiram.

— O quê?

— Por exemplo, você pode enviar uma foto e ela desaparece depois que
alguém a vê duas vezes. E não é possível salvá-la.
Ele franze a testa. — Por que você... oh. — Ele arqueia uma sobrancelha
para mim, e eu me pego corando ainda mais do que já estava. Como se seu olhar
estivesse penetrando em mim, descascando as camadas à procura de segredos ou
pecados.

— Eles não tinham essa merda quando eu tinha sua idade, — ele
resmunga, virando-se para olhar pela janela.

Quando ele tinha a minha idade. Em vez de ter o dobro da minha idade.

— Então, isso é para enviar fotos de seus peitos para as pessoas ou algo
assim? — Ele grunhe, virando-se para me furar com aqueles olhos novamente.

Meu rosto arde enquanto mastigo o lábio. — Não! Quero dizer, sim...

Eu me arrepio quando seus olhos se estreitam para mim. Uma mistura de


desaprovação e fome. Engulo em seco.

— Eu não faço isso, mas as pessoas fazem.

Seus olhos permanecem fixos em mim, perfurando-me e transformando


minhas entranhas em fogo líquido.

— Tudo bem, calma, — murmuro, tremendo de calor. — Você não vai


ser meu pai de verdade.

Seu olhar ‘sexy-intenso-penetrante’ de repente se transforma em um olhar


frio e furioso.

— Obrigado pelo lembrete, — ele resmunga.

— Só estou dizendo para deixar de ser protetor, — murmuro.

— Como é?
Eu me viro para ele, franzindo os lábios. — Só estou dizendo! Se eu
quisesse mandar fotos dos meus seios para alguém...

— Não faça isso, porra.

O tom de comando, dominante e francamente férreo não deveria, em um


milhão de anos, ser tão quente quanto é. Engulo e não consigo evitar que minhas
coxas se apertem na escuridão do banco de trás.

Bastian balança a cabeça, olhando para mim.

— Como é que sua geração não entende que a internet é pra sempre? —
Seus olhos se estreitam ainda mais, me perfurando até que minha respiração fique
presa.

— Não mande do seu corpo para moleques idiotas, pelo amor de Deus.

O tom possessivo acende um fogo dentro de mim. Quando ele se vira, eu


o observo, quase enfeitiçada, vendo-o olhar pela janela com olhar furioso, fixando o
olhar nas ruas que passam.

A pergunta simplesmente sai.

— Por que você está fazendo isso?

— Um jantar grátis é um jantar grátis

— Você sabe o que quero dizer.

Sem dúvida.

— Por que você está com ela?

A mandíbula de Bastian range, as sombras se destacam nas luzes que


passam. Ele se vira lentamente para me encarar.
— Amor verdadeiro, — ele resmunga amargamente, carregado de
sarcasmo.

— Hilário, — murmuro de volta. — Acho que você deveria continua


escrevendo ficção com crítica social.

— Pelo visto, só você pensa assim.

Ele volta o olhar furioso para a janela.

— Você não respondeu à minha pergunta.

— Respondi.

— Não de verdade.

— Especifique isso da próxima vez.

Eu suspiro. — Por que está verdadeiramente com a minha mãe?

Os segundos passam. E lentamente, na sombra, ele se volta para mim. Seus


olhos ardem como brasas em mim, fazendo-me tremer de calor. Há uma guerra de
emoções em seu rosto; mil respostas que ele mantém por trás de seus lábios perfeitos.

— Às vezes, há coisas que fazemos porque...

Suas sobrancelhas se contraem pesadamente.

— Temos que fazer? — Eu me arrisco.

Sua mandíbula treme, o que me faz saber que toquei no nervo que eu
estava me perguntando se estava atingindo.

Esperando que eu estivesse atingindo.


Foi a única coisa que me impediu de vomitar com a ideia de ter beijado -
entre outras coisas - Bastian, quando ele vai se casar com a minha mãe. O fato de eu
não tê-lo ouvido falar dela nenhuma vez. O fato de que, quando jantamos naquela
noite horrível, ele mal conseguia olhar para ela sem desprezo em seus olhos.

O fato de que, apesar da minha mãe e eu dificilmente podermos ser


chamadas de ‘próximas’ e não compartilharmos nada, nunca ouvi falar que ela
estivesse namorando o famoso autor antes de anunciar repentinamente o casamento.

E, acima de tudo, durante todo o jantar que tivemos, eles nunca se tocaram.

Nenhuma vez.

Nada de beijos nas bochechas. Nada de abraços. Nada de mãos dadas.


Nada.

Algo está cheirando mal aqui.

— Bastian, você está se casando com ela porque você tem...

— Aproveite a juventude, Julianna, — ele rosna enquanto olha pela janela.


— Porque crescer é uma merda.
12

Isso é um desastre. E, pela primeira vez ultimamente, nem quero dizer


‘isso’ como ‘o atual estado abismal da minha vida’. Refiro-me a essa porra de jantar
que está sendo um verdadeiro incêndio, um acidente de trem e uma colisão frontal.

É um show de horrores assim que entramos. Um maître com cara de tenso


nos leva a uma sala de jantar privada, onde Rebecca está repreendendo um garçom
com traços indianos ou do Oriente Médio por ‘não falar inglês’.

Eu gemo e imediatamente peço ao maître um uísque duplo, puro. Esse vai


ser um daqueles jantares.

— Mãe, será que dá pra você não fazer isso?

Acompanho o olhar irritado, mas não surpreso, de Julianna para a taça de


vinho que está na mão de Rebecca. Ela está bêbada. Que bom.

A ira de Rebecca se volta do pobre garçom para sua filha. Seu nariz se
enruga imediatamente.

— Meu Deus, Julianna. Que diabos você está vestindo, querida?


Eu arqueio uma sobrancelha. O que ela está vestindo? Ela está brincando?
Julianna parece a porra da realeza. Ela parece uma maldita estrela de cinema.

— Nossa, como é bom vê-la, como sempre, mãe, — diz Julianna, com um
sorriso fraco. — Vamos deixá-la sóbria... quero dizer, comer?

Sua mãe sorri de forma venenosa. — Precisamos mesmo comer, querida?


Quero dizer, esse vestido em você... — ela faz um som de tsking. — Os quinze anos
de caloura se referem à faculdade, Julianna. Caso você não saiba...

— Já chega, — eu rosno, muito, muito mais cruelmente do que pretendia.


Mas, caramba, isso funciona.

Rebecca se cala, franze os lábios cheios de Botox e faz uma careta


enquanto se acomoda em sua cadeira. Julianna olha para mim por cima do ombro
nu, com um pequeno sorriso nos lábios antes de desaparecer com um movimento do
cabelo.

Seria bom dizer que isso resolve o problema. Mas, na verdade, é apenas
mais um começo de mais uma confusão. Meu drinque chega junto com outra taça
enorme de Chardonnay para uma Rebecca já bêbada. O pobre coitado que ela
eviscerou volta para nos contar sobre as especialidades do chef - em um inglês
perfeito e polido, não que isso importe.

— O salmão, — murmura Rebecca. — Sem óleo, que Deus me ajude.

O garçom acena com a cabeça. — Muito bem, senhora. E para a senhorita?

— A senhorita insuportável ali, — Rebecca interrompe. — Vai comer uma


salada. Não coloque o molho, não coloque a proteína e nem pense em colocar os
malditos croutons. Quero dizer, Cristo, Julianna. Está comendo muito?
Meu punho se fecha como ferro em torno do copo em minha mão. Meu
mandíbula se contrai enquanto meus olhos se voltam para Julianna.

Ela é objetivamente impecável. Se alguma coisa, ela é um pouco magra


demais em alguns lugares. Seus braços são um pouco estreitos demais. Suas
bochechas não são tão cheias quanto poderiam ser. O vestido é apertado em torno
de sua cintura de modelo.

Sua testa se franze com raiva. Mas seja o que for que ela esteja prestes a
dizer, eu a observo com a fúria fervendo em minhas veias enquanto ela engole o que
vai dizer.

— Muito bem, e senhor...

— O que você gostaria de comer? — rosno incisivamente para Julianna.

Ela fica vermelha, seja pelo meu tom de voz ou pela forma como meus
olhos a penetram.

— Estou... bem.

— Ela está bem, Bastian, — Rebecca sussurra com firmeza.

— Uma salada está ótimo, — diz Julianna calmamente.

Seus olhos se voltam para os meus. Mas não os deixo escapar com meu
olhar.

— O que você gostaria de comer? — rosno novamente, direcionado


diretamente a ela.

Ela mastiga o lábio, encolhendo um pouco os ombros. — Quero dizer, o


peixe-espada parece realmente...
— Só a maldita salada...

— A senhorita vai querer o peixe-espada, — digo de maneira uniforme


para o garçom, olhando para Rebecca, que me encara com um olhar assassino. — E
eu quero o porterhouse. Mal passado.

Quando ele sai, a sala privada fica em silêncio.

— Bem, — diz Rebecca com veneno, enquanto sorri para a filha. — Para
que fique claro, é por isso que você é solteira e está se formando na OHA sem
nenhuma perspectiva de casamento para o futuro.

Isso me atinge como um tijolo na cabeça. E não sei como isso demorou
tanto tempo.

Ela é como eu; Julianna, quero dizer. Enterrada até aos olhos na pilha de
estrume que adora se chamar ‘alta sociedade’, e odiando cada segundo disso. Assim
como eu, ela detesta o mau cheiro da ‘elite’. O cheiro oleoso do dinheiro e imagem.

É como uma peça de quebra-cabeça que se encaixa no lugar. O jantar


chega, e Rebecca está tagarelando sobre seja lá o que for. Mas eu estou apenas
olhando para Julianna, absorvendo-a sob essa nova luz. Observando a maneira como
ela obviamente quer escapar desse mundo de ‘alta classe’.

É uma pena que ela ainda não saiba. Mas não há escapatória. Apenas a
ilusão de que há. Confie em mim quanto a isso.

— Sinceramente, Julianna, — o tom repentinamente sarcástico de


Rebecca parece chamar minha atenção.

— Com a maneira como você se comporta e não dá a mínima para manter


o nome da família? Dá para culpar seu pai por ter fugido...
— Acabamos por aqui.

Eu rosno as palavras de forma venenosa enquanto derrubo minha bebida,


fico de pé e dou a volta na mesa. Levanto uma Rebecca completamente bêbada e
trôpega pelo braço, fixo meu olhar diretamente no de Julianna e tiro sua mãe da sala.

— Tire suas malditas mãos...

— Chega! — Eu rosno enquanto a arrasto para fora do restaurante, para o


frio da noite.

— Como você ousa...

— Isso foi longe demais, e você sabe disso. Isso foi rancoroso e cruel, —
sibilo. — E ela não merece isso.

Ela me olha com um olhar de escárnio.

— Tentando ser o papai dela, Bastian?

Quisera Deus que meu pau não se contorcesse só de pensar em Julianna


me chamando assim. Queria muito que não houvesse um pouco de verdade no
insulto de Rebecca. Mas enterro esses dois pensamentos bem fundo e concentro
minha fúria em Rebecca.

— Onde está seu carro. Você já bebeu demais.

Ela bufa. — Olha quem fala.

Vejo um homem sentado ao volante de um Bentley no final da rua. Ele


parece reconhecer Rebecca e, quando eu aceno com o queixo para ele, ele acena de
volta e liga o carro. O carro para ao nosso lado e ele coloca a cabeça para fora da
janela.
— Para o hotel, Lady McCreed?

— Vá se danar, Charles, — ela resmunga, dando-lhe as costas. Ele revira


os olhos e abre a janela. Levanto um dedo para dizer ‘um minuto’ e me viro para
encará-la.

— Entre no carro, Rebecca.

Ela olha para mim com olhos desfocados que tentam, com muito esforço,
parecer sedutores.

— Quer tal me levar de volta para o hotel, Bastian?

— Nem por um segundo sequer.

Seu olhar bêbada de ‘venha cá’ se transforma em um olhar furioso.

— Idiota.

— Vá para casa, Rebecca.

— Ah, sim, eu esqueci. Você só gosta de garotas jovens sobre as quais


tem poder.

Minha mandíbula range.

— Isso não é verdade.

Ela ri friamente. — Bem, não se esqueça do nosso acordo, querido. Nunca.


Ou então isso se tornará verdade, a menos que eu diga o contrário às pessoas certas.
E você sabe disso.

Minha boca se fecha enquanto a encaro em silêncio.

— Ah, e Bastian, só mais uma coisa, — ela diz, enquanto começa a se


virar para o carro.
— Preciso que você fique de olho nos criminosos em Oxford Hills.

Eu franzo a testa. — Quem?

— Você sabe de quem estou falando. Aqueles bandidos russos. Lukas,


Misha... aquele garoto horrível do Volkov.

Minhas sobrancelhas se franzem. — O que diabos você quer dizer com


ficar de olho neles?

— Simplesmente faça isso. Observe-os, preste atenção se eles saírem ou


receberem visitas. Esse tipo de coisa. Veja se você os ouve falando sobre qualquer
coisa relacionada aos negócios das suas famílias.

Uma luz de alerta apita na parte de trás da minha cabeça.

— E o quarto? Konstantin Reznikov?

Ela me olha friamente.

— Estou preocupada apenas com os três primeiros, obrigada. Faça isso.

— Que porra é essa?

— Boa noite, Bastian, — ela murmura, ignorando a pergunta. — E não se


esqueça, ou haverá coisas que esquecerei de mencionar às pessoas. Como a verdade.

Ela meio que cai dentro do carro e bate a porta com força antes de ele sair
para a noite. Fico olhando para ela, confuso e desconfiado. Mas, então, eu me
esqueço disso e volto para dentro. Ainda nem comemos, mas peço ao maître que
embrulhe a comida para levar enquanto pago a conta e me dirijo aos fundos do
restaurante.
Faço uma careta ao voltar para a sala de jantar privativa. Julianna está
bebendo uma taça de vinho, com outra vazia sobre a mesa à sua frente.

— Acho que já chega, — rosno.

Ela se vira, assustada com minha voz. Mas quando percebe que sou eu,
seus olhos se estreitam e ela sorri ironicamente.

— É o sujo falando do mal lavado, Bastian?

— Muito inteligente.

Cerro os dentes e vou até ela. Ela suspira quando tiro a taça de vinho da
sua mão e a coloco sobre a mesa. Puxo-a pelo braço, obrigando-a a se levantar,
tentando ignorar o choque elétrico que o simples toque de sua pele nua sob meus
dedos envia pelo meu peito.

— Vamos.

Ela resmunga para mim. — Como é? Para onde estamos indo...

— De volta à escola.

Escola. Onde eu sou seu professor. Onde ela é minha aluna.

Quando saímos para o ar frio da noite, envio uma mensagem de texto com
o número que o motorista do carro em que chegamos me deu. Julianna treme ao meu
lado, e eu franzo a testa quando me viro, percebendo que ela não estava usando
casaco.

— Você sabe que estamos em dezembro, certo?

— Damas não se enrolam como andarilhos de rua.

Eu franzo a testa.
— O quê?

— Rebecca, — ela murmura. — Ela acha que os casacos são uma vaidade
barata...

— Essa é a coisa mais estúpida que já ouvi, — grunho, tirando o paletó do


meu terno. — Aqui.

Eu o coloco sobre seus ombros.

— Tentando ser o papai dela, Bastian?

Meu pulso bate forte enquanto as palavras fervilham em minha cabeça.


Será que estou? No fundo, será que quero protegê-la? Ou possuí-la?

Ou uma combinação vertiginosa e confusa de ambos?

Ficamos ali em silêncio por um minuto antes de o carro chegar. Quando


entramos no calor escuro do banco de trás e saímos para a noite, eu me viro para ela.

— Eu sei como é, você sabe.

— O quê?

— Ter uma mãe como Rebecca. Estar em seu mundo e detestá-lo.

Ela bufa, balançando a cabeça enquanto olha pela janela.

— Sem ofensa, mas eu sinceramente duvido...

— Meus pais são Lord e Lady Edward e Bunny Pierce.

Ela vira a cabeça para me encarar com a boca aberta.

— Espere, Pierce como aqueles Pierces? Do London Royal Society?

Aceno com a cabeça. Julianna pisca os olhos.


— Uau. — Ela balança a cabeça e se vira para olhar pela janela. — Bem,
pelo menos você nunca teve que lidar com Hogwarts.

Arqueio uma sobrancelha.

— Oxford Hills, — ela murmura com um pequeno sorriso. — Minha


colega de quarto e eu a chamamos assim por causa... bem, porque se parece com
Hogwarts. De qualquer forma, fique feliz por nunca ter tido que lidar com aquele
ninho de víboras...

— Na verdade, eu lidei.

Ela franze a testa. — Espere, o que você quer dizer com isso?

— Quero dizer, eu lidei com o ninho de víboras quando era estudante aqui.

Ela me olha de volta, boquiaberta e incrédula.

— Você estudou na OHA?!

— Há cerca de cem anos. E agora estou de volta, — murmuro. —


Ensinando.

Ela sorri ao se virar para olhar pela janela.

— Acho que isso faz de você o professor Snape.

Viajamos no escuro do banco de trás em silêncio. Mas eu continuo


olhando para ela. E tenho plena consciência de que ela continua olhando para mim.

Há um elefante na sala de mãos dentro da calcinha em um beco com


gemidos nos lábios. E ele precisa ser abordado.
Eu a beijei. Eu a fiz gozar. Eu bati em sua bunda nua. Fiquei olhando para
ela durante todo o jantar, apenas fantasiando com a possibilidade de levantar aquele
vestido e segurar seus quadris para guiá-la até meu pau.

Isso tem que acabar.

A emoção do ilícito é como uma droga que quero cheirar pelo nariz ou
injetar em minha veia. Mas eu me conheço. Sei que quando se trata de Julianna como
droga de escolha, não há como contornar a situação. Nada de brincar com a tentação
‘só para ver’.

Só há uma overdose dela até meu mundo explodir. E há muita coisa em


jogo no momento para que eu possa sequer flertar com essa tentação.

— Julianna.

Ela se arrepia quando eu rosno seu nome. E quando me inclino para frente
e aperto o botão para levantar a divisória entre nós e o motorista, sua respiração fica
presa.

— Veja, o que aconteceu antes...

— Qual vez?

Minha mandíbula se fecha com força.

— Qual vez, Bastian, — diz ela calmamente, com a voz tingida de calor.

Posso ver o rubor do álcool em suas bochechas - estimulando-a,


afrouxando suas inibições e suas palavras.

— Ou deveríamos pular para a parte em que você me avisa que eu posso


estar com a ideia errada?
Minhas sobrancelhas se franzem. Ela sorri.

— Relaxe, Bastian. Não vou me apaixonar por você só por causa do que
aconteceu.

Minha pulsação acelera. Meu pau se agita em minhas calças antes que eu
possa respirar e me acalmar.

— Isso ainda precisa ser resolvido antes que...

— Qual parte precisa ser resolvida? — Ela diz docemente, com seus olhos
sorrindo perigosamente. — A parte em que você me beijou?

Minha mandíbula se contrai.

— Ou... hmm, a parte em que você colocou suas mãos sob meu vestido e
sob minha calcinha...

— Já chega, — eu rosno baixinho.

— A parte em que você fez uma das suas alunas gozar, Bastian?

O perigo e a luxúria pulsam como diesel em minhas veias.

— Ou a parte em que você me empurrou contra a parede - na escola,


mesmo assim - e bateu na minha bunda...

— Já chega!

Ela inspira rapidamente. Morde o lábio inferior antes de sorrir de forma


sedutora. Mas é um ‘sorriso sedutor’ ingênuo e sem prática.

A tentação de Nabakov, Lady Chatterly de D.H. Lawrence. Lila Jane e sua


calcinha.
Seus lábios se curvam de forma desafiadora. — Estou deixando você
desconfortável, Bastian?

Não, duro.

O carro está muito quente. Estamos muito perto. A atração latejante da


tentação me desafia a agarrá-la pela parte de trás do cabelo e esmagar minha boca
na dela. Para puxá-la para o meu colo aqui e agora e me enterrar entre suas coxas.

— Você está indo além do que deveria, — eu rosno.

— O que significa?

— Significa, não brinque com jogos de adultos comigo, garotinha, — digo


roucamente.

Ela geme. Porra, o som é como gás jogado em uma fogueira.

— Não faça esse jogo comigo, Julianna, — eu rosno. — Não me pressione


e não me ten...

Eu me detenho antes que possa dizer ‘não me tente’. Mas ela sabe a
verdade. Ela engole no silêncio escuro do carro, as luzes da rua piscando sobre seu
rosto sombreado.

— Mais alguma coisa, papai? — Ela diz com um tom fraco.

— Acho que isso é tudo.

— Ótimo, — ela murmura com ênfase, virando-se e tirando o celular da


bolsa. — Bem, se você precisar continuar impondo esses seus princípios morais
impecáveis sobre a minha cabeça, estarei aqui no Snapchat mostrando meus peitos
para toda a Internet.
Eu cerro os dentes. Ela é mesmo muito malcriada.

E, se Deus me ajudar, eu quero domá-lo.

O resto do trajeto é feito em silêncio - ela no celular, eu olhando pela


janela, até chegarmos na minha casa no campus, com o carro desaparecendo na noite.

— Eu a acompanharei de volta...

— Oh, não, por favor, — diz ela secamente, com sarcasmo. — Talvez eu
não consiga me controlar perto de você, Bastian.

Minha testa se franze. Mas meus lábios se curvam. Ela sorri de volta
quando começa o tirar meu paletó.

— Fique com ele. Está frio lá fora.

Ela acena com a cabeça. Suas bochechas ardem levemente quando ela o
aperta ao redor dos ombros e começa a se afastar.

— E pegue isso.

Passo a ela a sacola de comida para viagem.

— Não se preocupe.

— Pegue-a.

Ela morde o lábio antes de finalmente estender a mão e arrancá-la dos


meus dedos.

— Sinto muito por esta noite.

Suas sobrancelhas se enrugam. — O que você quer dizer com isso?

— Quero dizer, pelo comportamento da sua mãe. Aquilo foi uma merda.
Ela sorri ironicamente. — Apenas mais um jantar com a Lady McCreed.
Estou imune. — Seus olhos se voltam para os meus, mantendo meu olhar por um
segundo enquanto suas bochechas ficam rosadas. Então ela se afasta.

— Olhe, eu realmente estou... — Franzo a testa. — Você pode falar


comigo, sabe?

— De repente, você quer fingir que é meu professor, Bastian?

— Eu sou seu professor, — rosno.

— Duvido que qualquer um de nós tenha se esquecido disso, — diz ela


calmamente, com os olhos brilhando.

Minha mandíbula se contrai quando ela treme um pouco.

— Mas, obrigada, — acrescenta ela. — Eu agradeço.

— Quero dizer, se você puder se dignar a enviar mensagens de texto como


uma cidadã mais velha, em vez de usar o Snapchat.

Ela sorri. — Ou talvez você deva entrar no Snap.

Reviro os olhos. — Certo.

— Bem, se quiser conversar, você já viu meu nome de usuário.

Como se eu pudesse esquecer — Julesius CaeserSalad.

Seus olhos se voltam para os meus. Meu pulsação dispara. Cada neurônio
do meu corpo quer diminuir a distância entre nós, agarrá-la com minhas mãos e
esmagar meus lábios naquela boca quente e macia até que tudo o que eu conheça
sejam seus gemidos.

Mas não posso.


Não podemos.

Sou seu professor. Sou um desastre. Vou me casar com a porra da mãe
dela.

Esqueça o fato de diminuir a distância entre nós. Eu preciso fechar a porta


entre nós.

— Tem certeza de que pode andar?

Ela acena com a cabeça. — Obrigada pelo casaco e, você sabe... por tudo.

— Boa noite, Julianna.

Ela sorri tentadoramente enquanto gira, com os cabelos loiros passando


pelo rosto.

— Boa noite, professor, — ela ronrona enquanto desaparece na noite.


13

Meus ataques de pânico - suponho que essa seja a melhor maneira de


chamá-los - vêm em ondas. Fico bem por um tempo - dias, semanas, até. E então, de
repente, o mundo desaba ao meu redor. As pressões de tudo isso - a escola, minha
mãe, meu pai que sumiu e seus crimes, o peso constante da necessidade de ser
perfeita, equilibrada e ter tudo sob controle.

Às vezes, consigo manter tudo fechado e manter minha cabeça erguida.


Às vezes, isso me quebra.

Alguns dias depois do jantar desastroso com minha mãe, antes de ela
deixar Manchester sem se despedir, o céu desabou.

Tudo começou ontem à noite, com um Snapchat do usuário que faz meu
sangue correr frio e minhas entranhas se contraírem. ‘ThisboywatchesU’ - o homem
que segura a espada sobre minha cabeça, exigindo que eu me explore para seu prazer
doentio.

| Deixe-me ver esses peitos. Quero gozar para você.


Foi bem quando eu estava caindo no sono, então não respondi. Mesmo
que isso mostre a ele que eu li. Já fiz isso antes... adiando a resposta. Atrasando o
inevitável. Porque é inevitável. A essa altura, ele tem muito de mim. Tenho que
responder com o que ele quer, ou ele pode destruir toda a minha vida.

Eventualmente, ele enviará uma mensagem novamente... mais cruel dessa


vez. Exigindo o que quer com palavras mais duras e ameaças. E eu cederei, porque
sempre faço isso. Porque tenho que ceder.

Mas esperar e protelar me dá um pouco de espaço para respirar. Ou, pelo


menos, é o que digo a mim mesma. Exceto que esse espaço para respirar perde a
validade quando acordo com minha mãe me ligando e me pressionando para - parar
de ser uma fracassada e ir sorrir para Alistair, antes que você envergonhe ainda mais
esta família.

Corte para: meus ataques de pânico.

Quando as aulas da manhã terminam, parece que o próprio mundo está


latejando nas bordas da minha visão. Meu coração está acelerado demais. Minhas
mãos e minha mandíbula doem por terem sido apertadas e esmagadas o dia todo.

A parte interna da minha coxa ainda dói por causa dos dois cortes que fiz
em mim mesma esta manhã para tentar afastar a ansiedade e a pressão esmagadoras.

Respiro fundo e olho para os livros e a lição de casa à minha frente na


mesa da sala de estudos da biblioteca. Mas as palavras ficam borradas. Não consigo
me concentrar. Fecho os olhos e sinto minha cabeça girar um pouco.

Estou com fome. Quero dizer, sei que estou com fome, não comi o dia
todo. Ou na noite passada. E odeio que isso se deva às palavras da minha mãe -
respirando em meu ouvido, pairando sobre meu ombro, envenenando meu sangue.
Seria fácil dizer: ‘É só ignorá-la’. Mas não é. Trata-se de uma vida inteira
de condicionamento - dela, da sociedade, do mundo esnobe da ‘elite’ em que vivo.
‘É só ignorá-la’ funciona tão bem quanto dizer a um fumante que fuma um maço por
dia para: ‘É só não acender o próximo’.

Meu estômago ronca, retorcendo-se com uma dor vazia, enquanto tento
me concentrar na lição de casa à minha frente. Mas a concentração é uma causa
perdida. Não com o peso de tudo que está me pressionando. Não com a leve ardência
na parte interna da minha coxa. Não com a necessidade persistente de checar meu
Snapchat para ter certeza de que ele não detonou minha vida completamente.

Eventualmente, meu período livre termina. Isso significa que é hora de


inglês.

Com Bastian.

Minha pele fica arrepiada com esse zumbido elétrico e provocador quando
entro na sala de aula e me sento na primeira fileira. Tem sido assim desde a outra
noite. Quero dizer, tem sido assim desde que percebi que o homem do bar agora
estava dando aula de inglês na minha turma. Mas ficou ainda pior depois daquele
jantar terrível.

Desde o dia em que o vi sem camisa, latejando de necessidade.

Desde aquela noite, eu o provoquei e tentei ser ‘sedutora’ com ele, o que
foi tão inteligente quanto pendurar carne crua na lateral do recinto dos jacarés em
um zoológico.

Bastian entra na sala como sempre faz - essa presença sombria e


imponente que suga o oxigênio do ar e me cativa completamente. Ele passa os dedos
pelo cabelo e se vira para me fitar com seu olhar quente.
Eu me contorço, mesmo depois que ele desvia o olhar para examinar a
sala.

É a mesma guerra interna horrível que vem ocorrendo há semanas:


Desejando-o muito. E também ficar horrorizada com esse desejo e tentar afastá-lo.

Mas ele persiste. Ele infecciona. Ele se espalha.

E quando ele está lá sem o paletó, com o colete apertado sobre o peito
musculoso e as mangas da camisa arregaçadas até aos antebraços tatuados e
definidos?

Não é nem mesmo um concurso. Eu já perdi.

Ele se vira para me olhar novamente, me encarando, me transformando


em gelatina. Fazendo-me sentir como se quisesse arrancar minhas roupas e, ainda
assim, de alguma forma, zombando de mim por desejá-lo. Como se ele soubesse.

— Ok, Ham On Rye. O que acharam do final?

O sino toca e a turma começa a arrumar suas coisas e sair. Mas seus olhos
se fixam em mim com aquela exigência já conhecida e não dita de ‘não saia daqui’.
Aquela que transforma meu sangue em fogo. Aquela que faz com que minhas coxas
se apertem para deter o calor que se acumula.

Quando o último aluno sai da sala, ele para na minha frente, cruzando os
braços sobre o peito. Seus olhos deslizam por mim de cima a baixo, como se
estivesse me avaliando.
— Quando foi a última vez que você comeu?

Eu coro.

— Como é?

— Você me ouviu.

Reviro os olhos e pego minha bolsa e me viro para sair.

— Não é da sua...

Eu ofego quando ele agarra minha cintura, fazendo com que os raios de
calor percorram meu corpo.

— Julianna, — ele rosna, bem atrás de mim, quase diretamente em meu


ouvido.

Mordo o lábio, tensa, tentando impedir que fique óbvio que estou
tremendo ou quase gemendo por causa da sua proximidade ou do seu rosnado.

— Quando você comeu?

Engulo, com o rosto ardendo, enquanto me viro lentamente para olhar em


seus olhos severos.

— Uh, hoje.

— Quando.

Eu franzo a testa. — Hoje, pelo amor de Deus.

— Não deixe que ela entre em sua cabeça dessa maneira, — ele grunhe,
parando-me antes que eu possa me virar para sair. — Você sabe que é linda pra
caramba.
Meus olhos se arregalam um pouco. Minhas bochechas se ruborizam
enquanto eu o encaro, com o coração acelerado.

Uma sombra se projeta em seu rosto enquanto sua mandíbula se contrai.

— Você sabe o que quero dizer, — ele grunhe. — Não passe fome porque
aquela mulher se odeia.

Eu dou um pequeno sorriso. Meus dentes se arrastam sobre o lábio inferior


enquanto eu traço as linhas perfeitas e os lábios perfeitos em seu rosto com o meu
olhar.

— Obrigada. Mas eu realmente não estou morrendo de fome...

Meu estômago ronca. Bem alto. Seus olhos se estreitam.

O corte é uma coisa. Eu sei disso. Mas o fato de não comer não é algo que
eu faça conscientemente, na maioria das vezes. Eu simplesmente... não como às
vezes. Provavelmente, foi algo que me foi incutido desde jovem.

Ninguém mais parece ver isso. Nem mesmo Lizbet.

Mas ele vê.

Porra, ele olha através de mim.

— Coma alguma coisa, Julianna, — ele rosna, franzindo a testa. Depois,


seu rosto relaxa um pouco. Ele sorri um pouco enquanto passa os dedos pelo cabelo.

— Esse é seu dever de casa. Só para ter certeza de que você realmente o
fará.

Eu contenho um sorriso enquanto aceno com a cabeça, viro-me e saio pela


porta.
Mas, quando chego em casa depois do resto do dia, meu estômago está
roncando. Essa compulsão por não comer tem piorado desde o jantar com minha
mãe. Às vezes, deixo ela me controlar, e sei que estou correndo o risco de que essa
seja uma dessas vezes. Mas eu simplesmente... não consigo.

Estou olhando para as palavras borradas do meu dever de casa quando


batem na porta do chalé. Quando me aproximo e a abro, arregalo os olhos, surpresa.

— Seu jantar, senhorita, — o garçom do refeitório sorri profissionalmente,


levantando uma bandeja com uma tampa de prata sobre ela.

Sim, seja bem-vindo à escola mais esnobe do mundo, onde nosso


refeitório é administrado por um chef com estrela Michelin, temos garçons com
luvas brancas e você pode até pedir que a comida seja entregue em seu chalé.

Só que eu não pedi nada.

Minhas sobrancelhas se enrugam. — Oh, eu não...

— Foi enviado por solicitação, Srta. McCreed.

Eu franzo a testa. — Por?

— Diz simplesmente... — ele franze a testa ao olhar para o recibo de


entrega. — Uh, Professor Snape?

Fico corada, mordendo o lábio.

— Obrigada, — murmuro.

Pego a bandeja e fecho a porta antes de levá-la para a mesa da cozinha,


cheia de livros escolares. Puxo a tampa e gemo em êxtase enquanto meu estômago
grita de fome.
É comida - e é do tipo muito, muito boa também. Batatas fritas. Queijo
grelhado. E um maldito brownie, completo com sorvete em sua própria caixinha
refrigerada.

Gemo. Estou morrendo de fome. E mesmo que uma grande parte de mim
queira se apavorar com a ideia de enfiar batatas fritas e sorvete na boca, é como se
ter isso aqui fosse demais para dizer não. Como se a tentação fosse muito forte
quando está bem na minha frente.

Eu sinto um formigamento. Muito parecido com outra tentação que está


invadindo minha vida.

Não há como impedir o gemido de pura alegria quando me sento e começo


a devorar as batatas fritas, antes de passar rapidamente para o queijo grelhado. E
então meu celular toca. Olho para baixo e dou um sorriso largo ao ver a notificação
do Snapchat.

Tenho uma nova solicitação de bate-papo de um tal ‘BadTeacher89’.

Meu coração dispara, como se eu estivesse cruzando uma linha ou abrindo


uma porta que não deveria, enquanto aceito a solicitação.

| Apenas coma-o, porra.

Dou uma risadinha enquanto digito uma resposta.

| Como você sabe que eu gosto de queijo grelhado?

| Porque todo mundo gosta de queijo grelhado. Coma.

Sorrio, mordendo o lábio.

| Muito mandão, hein?

| Agora.
É assim que se parece ignorar os sinais de alerta.

| Ok, ok. Puxa vida. Já estou comendo, tá?

Dou outra grande mordida no queijo grelhado, praticamente gemendo


enquanto ele derrete na minha boca.

| Prove-o.

Sorrio ao apontar a câmera para o prato e tirar uma foto do meu queijo
grelhado com duas mordidas. Eu a envio e sorrio quando vejo que ele abriu a
imagem.

| Boa garota.

O calor lateja em meu âmago no segundo em que meus olhos leem essas
duas palavras juntas. Eu me contorço na cadeira, apertando as coxas enquanto minha
pulsação bate forte.

Fervendo.

Começo a responder, mas não faço ideia do que dizer. Principalmente


porque tudo o que consigo pensar em dizer soa como um flerte na minha cabeça.

E não posso estar flertando com Bastian Pierce.

Em vez disso, fico sentada devorando o sanduíche e as batatas fritas e


olhando para o brownie. Dez minutos depois, meu Snapchat toca novamente.

| Ainda está comendo?

| Não

| Porque você já terminou ou porque parou de comer.

Franzo a testa enquanto digito de volta.


| Qual é a diferença?

| Seu estômago te dizendo que você já terminou versus a voz da sua


mãe.

Eu sorrio.

| O primeiro. Estou empanturrada. Comi tudo e estou pensando em


fazer um estrago nesse brownie e no sorvete.

Um segundo depois, ele responde.

| Prove-os.

| Tão mandão!

| Às vezes, fico assim.

| Não, acredito...

Eu fico corada. Que droga. Isso é flertar? Com ele? Eu gemo, fervendo
enquanto me recosto na cadeira e olho para o celular em minhas mãos. Aponto para
o prato vazio cheio de migalhas de batatas fritas e sanduíches grelhados e tiro uma
foto para ele novamente.

| Viu??? Feliz agora, Sr. mandão?

Sim, isso é flertar. Que diabos estou fazendo?

Estou esperando para ver se ele abriu a mensagem, quando ouço o som de
outro bate-papo no aplicativo. Volto à minha lista de contatos e, instantaneamente,
o sorriso e o calor latejante evaporam do meu rosto.

É ele. Meu stalker. ThisBoyWatchesU, a quem ainda não respondi.


| Você está jogando um jogo perigoso, vadia. Você acha que pode me
enganar? Já se esqueceu das maneiras pelas quais eu poderia foder
completamente o seu mundo?

Em seguida, ele envia uma imagem, e a náusea aumenta dentro de mim


quando a abro. É uma captura de tela de uma pasta de fotos em seu celular, cheia de
fotos minhas.

Tenho vontade de vomitar.

| Ok, me desculpe

Digito com as mãos trêmulas e frias.

| Eu tinha um monte de coisas da escola.

| Eu não me importo. Mostre-me seus peitos. AGORA.

Ainda estou tremendo enquanto fico sem reação. Levanto minha camisa e
meu sutiã, desviando o olhar enquanto tiro uma foto dos meus peitos e a envio.

O mundo esfria quando olho novamente para o celular. O ar é sugado dos


meus pulmões.

Oh. Meu. Santo. Deus.

Acabei de enviar uma foto dos meus peitos.

Para Bastian.
14

Que diabos estou fazendo? No sofá da minha biblioteca, olho fixamente


para o celular em minha mão.

Estou cavando minha própria cova mandando mensagens para ela. Não,
estou enviando mensagens para ela pelo Snapchat. Ou seja, o aplicativo para pessoas
da idade dela enviarem fotos dos seus peitos ou algo assim.

Eu nem deveria ter feito o download dessa maldita coisa. E agora estou...
o quê, flertando com ela? Brincando?

Eu gemo quando coloco o celular de lado e me levanto para ir até meu


carrinho de bar. Isso tem que parar. Posso mentir para mim mesmo o dia todo,
dizendo a mim mesmo que isso foi altruísta, inventando alguma besteira sobre querer
ter certeza de que ela está comendo o suficiente. E, sim, isso é uma preocupação. E
sim, é por isso que mandei o jantar para o chalé.

Mas eu poderia ter feito tudo isso sem ter criado uma maldita conta no
Snapchat e enviado uma mensagem para ela. Porque agora aqui estou eu: dez passos
gigantescos sobre qualquer linha moral que os professores devam ter com seus
alunos.

O que qualquer cara da minha idade deveria ter com qualquer garota da
idade dela, aliás.

Estou me servindo de um drinque forte quando o celular toca no sofá. O


som não deveria me fazer sorrir.

Volto para lá e me sento, tomando um gole de bourbon enquanto abro o


aplicativo.

O mundo congela. Quase cuspo o uísque em meus lábios.

Oh, droga.

Ali mesmo, preenchendo minha tela quando clico nas imagens, estão os
seios perfeitos de Julianna. Cheios, com mamilos rosados que imploram para serem
chupados. Bem na frente do meu rosto.

Todos os neurônios do meu cérebro me dizem para desviar o olhar; para


abaixar o celular - porra, para esmagá-lo contra a parede.

Para apagar essa imagem de minha memória para sempre.

Mas isso não está acontecendo. Milhões de anos de evolução gritam


comigo, fazendo com que o sangue queime em minhas veias e transforme meu pau
em aço dentro da calça. Eu gemo, latejando com a necessidade primordial de possuir.

De acasalar.

De consumir.

De repente, a tela de bate-papo se enche de mensagens dela.


| PELO AMOR DE DEUS, PELO AMOR DE DEUS, PARE, NÃO
OLHE!!!!!

| SINTO MUITO!!!!!! POR FAVOR!!! NÃO OLHE ESSE SNAP!


NÃO ABRA!

| BASTIAN, POR FAVOR, NÃO OLHE ESSE SNAP!!!!!

| FOI UM ERRO! UM ERRO! POR FAVOR, POR FAVOR, DEUS,


NÃO OLHE!!!!! POR FAVOR!!!

| PELO AMOR DE DEUS

De repente, meu celular fica preto. Eu olho para ele com cara feia. Que
merda é essa? Mas depois gemo. Minha bateria está descarregada. Encosto-me no
encosto do sofá, com o pulso latejando em minhas veias.

Ótimo.

Fico sentado em um silêncio atônito, tentando processar o que acabei de


ver. Tentando fingir que isso não me deixou duro como pedra. Tentando fingir que
isso não me faz querer arrastá-la de volta para aquele beco, naquela noite, antes de
sabermos o quanto isso era uma merda, para que eu pudesse terminar o que
começamos.

Bebo pesadamente, com a mandíbula cerrada, enquanto olho para a parede


do outro lado da sala. De repente, há uma batida frenética na minha porta da frente,
seguida pelo toque insistente da campainha. Saio do meu torpor e corro rapidamente
para a porta. Quando a abro, uma Julianna pálida e horrorizada quase cai na entrada
da minha casa.

— Bastian! — ela diz, tentando se equilibrar.


Não olhe para o peito dela. Não olhe para o peito dela. Não olhe para o
peito dela.

— Você acabou de correr até aqui?

Ela mastiga o lábio inferior.

— Você não respondeu...

— Meu celular morreu.

Seu rosto ficou ainda mais vermelho enquanto ela olha para as mãos.

— Eu não queria mandar isso para você... — Ela fecha a boca


rapidamente.

Tarde demais.

A raiva cresce em mim e, minhas sobrancelhas se franzem. — Você não


queria enviar isso para mim?

— Eu... — seus olhos voltam para as mãos.

Minha mandíbula range. O mesmo ciúme cruel e possessivo de antes


começa a arder e a soltar fumaça dentro de mim.

— Então, para quem você pretendia enviá-la? — rosno.

— Ninguém!

Eu a encaro com olhos ferozes e ardentes.

Eu não deveria me importar. Não posso me importar. Ela tem dezoito


anos. Ela pode mandar o que quiser para quem quiser. Essa é a vida dela, e eu não
tenho nada a ver com esse aspecto.
Então, por que estou sentindo esse ciúme possessivo? A fúria crua de
enterrar quem quer que seja que ela pretendia enviar isso?

— Quem? — rosno.

— Ninguém! — ela responde. — Foi um erro!

— Então você estava apenas tirando fotos dos seus peitos?

Ela franze os lábios, olhando para mim enquanto seu rosto se aquece.

— E daí? Se eu estivesse?

Minhas sobrancelhas se arqueiam. — No seu celular.

— Isso tem algum propósito? — ela responde.

— Sim, isso foi uma tolice.

Seus olhos se estreitam quando ela começa a se virar em direção à porta.

— Puxa, obrigada, papai...

Ela prende a respiração quando agarro seu pulso, puxo-a de volta, fecho a
porta com um chute e a bato contra ela. Seus olhos se arregalam, seus lábios tremem
quando eu a prendo na porta e fixo seu olhar com o meu.

Estou no limite. E estou tão perto de cair e arrastá-la comigo que posso
sentir o gosto.

— Não preciso dessa atitude, — rosno.

— E eu não preciso das aulas, papai...

— Você precisa parar de me chamar assim, porra, — grunho.


Seu rosto arde em brasa, seu lábio se prende entre os dentes enquanto seu
peito se eleva contra mim com suas respirações.

— Por quê? — ela esbraveja. — Não é isso que você está tentando ser,
Bastian? Ser meu pai...

Eu perco o controle. Diabos, o mundo inteiro perde o controle. Eu sibilo,


e ela geme quando empurro seus pulsos contra a porta e levo minha boca até a dela...

Até que, de alguma forma, me detenho a cerca de meio centímetro dos


seus lábios cheios, macios e úmidos.

O tempo para. Nós dois congelamos, tremendo, mal conseguindo respirar.


Posso sentir seu pulso latejando em seus pulsos sob meus dedos. Observo a forma
como seus olhos se semicerram e como seus lábios quase parecem se inclinar para
frente, buscando o beijo que nunca deveria acontecer.

Ela pisca, ofegante, enquanto seus olhos deslizam da minha boca para o
meu olhar.

— Você não é meu dono...

— Sim, eu sou, porra.

As palavras são totalmente possessivas quando eu as rosno contra seus


lábios. Ela geme baixinho, tremendo enquanto inspira um pouco de ar. Mas, de
repente, vejo a sombra se espalhar por seu rosto, escurecendo aquele desejo ansioso.

— É? — ela diz baixinho. Seus olhos perdem o olhar suave e semicerrado


e se estreitam para mim.

— Então, por que você está se casando com ela?


A dor está em seu tom. Fúria. Confusão. Raiva. E, de repente, solto seus
pulsos como se eles tivessem acabado de me queimar. Minha pulsação bate forte em
meus ouvidos, abalando-me até ao âmago enquanto cambaleio um, dois e depois três
passos para longe dela.

Balanço a cabeça lentamente enquanto meus olhos não deixam os dela.

— Vá para casa, Julianna, — rosno baixinho.

Seu rosto cai. — Bastian, por favor, apenas diga-me por quê...

— Meu nome é professor Pierce, — grunho de repente, até me assustando.


— E você, Srta. McCreed, é minha aluna. Portanto, vá para casa, agora mesmo.

Seu rosto se transforma em pedra. Fúria e mágoa embaçam seus olhos,


transformando-os do azul brilhante que vejo olhando para mim da primeira fila da
minha sala de aula em algo mais parecido com uma tempestade do Atlântico.

— Bem, ainda bem que esclarecemos isso, — diz ela, sem jeito. Ela se
vira e abre a porta, mas depois olha para mim com os olhos semicerrados.

— Você pode excluir...

— Eu já fiz isso.

Ela estremece um pouco. Nossos olhos se fixam um no outro enquanto o


silêncio se faz presente.

Então, sem dizer mais nada, e antes que eu possa arrastá-la comigo ainda
mais para esse limite, ela se vira e sai furiosa pela porta.

Só que ela estava errada. E eu menti.


Não esclarecemos nada. Quando muito, apenas agitamos ainda mais a
água.

E eu não excluí aquela foto...


15

Estou tremendo e latejando por todos os lados quando volto para meu
chalé. Eu poderia dizer que minha pulsação ainda está acelerada por ter literalmente
corrido pelo campus depois que ele não respondeu - depois que apareceu que ele
tinha visto a foto que enviei.

Eu gemo quando me afundo contra a parte interna da porta da frente. Meu


rosto em chamas cai em minhas mãos.

Mas não é por isso que meu coração ainda está batendo no peito. É porque
quase aconteceu de novo.

Eu quase beijei Bastian. Ou ele quase me beijou. De qualquer forma, meu


corpo inteiro ainda está zumbindo com uma energia elétrica e ilícita. Alimentada
pelo escândalo. Ardendo com o proibido.

Enviei-lhe uma foto dos meus seios. Depois corri para a casa dele e
paramos a meio centímetro de nos beijar.

Isso precisa acabar.


Mordo meu lábio enquanto subo as escadas e começo a me trocar para
dormir. Debaixo das cobertas, abro meu celular novamente e clico no Snapchat,
como se estivesse voltando à cena de um crime que cometi.

Abro o bate-papo com BadTeacher89 e tremo. Lá está a pequena caixinha


vermelha da minha imagem enviada pelo Snap, que diz que ele a visualizou.

Meu professor de inglês, incrivelmente gostoso e proibido me viu


oficialmente de topless.

Fico ruborizada, mas, de repente, um novo calor se apodera de mim


quando meus olhos deslizam mais para baixo pela sequência de mensagens. Após a
mensagem de ‘imagem visualizada’, e dos meus avisos e pedidos de desculpas
frenéticos, há uma nova notificação.

| BadTeacher89 fez uma captura de tela de um Snap.

Sinto um calor que formiga por cada centímetro da minha pele. Meu
coração bate forte e minha boca fica seca. Outra parte de mim faz o oposto.

Ele não a excluiu.

Ele a salvou.

Eu me preocuparia em não poder sequer encará-lo na sala de aula depois


do que aconteceu - e do que quase aconteceu também. Mas acontece que não preciso
me preocupar em encará-lo, pois Bastian me ignora durante toda a aula no dia
seguinte.
Ele literalmente olha por cima de mim, ou através de mim, como se eu
nem estivesse lá, enquanto se dirige à turma.

É doloroso.

É melhor assim.

Eu odeio isso.

Quando o sino toca, ele finge, pela primeira vez, ter interesse em conversar
com um dos outros alunos sobre a aula do dia. Espero por um instante enquanto ele
reitera alguns pontos com Carl Yoon antes de decidir que pareço uma idiota apenas
parada ali.

Então eu vou embora.

Ao sair, no entanto, vejo meu próprio reflexo na janela de vidro colocada


na porta da sala de aula.

E também vejo o reflexo de Bastian, ardendo em minhas costas, fazendo-


me estremecer quando saio para o corredor.

— Ei!

Eu suspiro, assustada com o som da voz de Tenley. Giro, recuperando o


fôlego. Ela sorri.

— Desculpe, não queria assustá-la.

Balanço a cabeça. — Não, só estou meio distraída hoje.

Ou apenas pensando na noite passada.

Ela olha para dentro da sala de aula de onde acabei de sair e faz uma careta.

— Caramba, ouvi dizer que ele é duro.


Eu gemo quando minha mente relembra a maneira selvagem como ele me
prendeu à porta com seu aperto poderoso e seu corpo musculoso. A maneira como
seus olhos ardiam tão intensamente nos meus.

A maneira como seus lábios ficaram a milímetros de provar os meus.

Eu engulo, meu rosto latejando de calor.

— Ei, ouça, o que você vai fazer hoje à noite?

Franzo as sobrancelhas. — Que dia é hoje?

Atualmente, não tenho noção alguma de tempo. Parece que as semanas


foram um borrão desde a noite em que Bastian me beijou como eu nunca havia sido
beijada antes e me fez gritar quando gozei em seus dedos.

Sabe, desde a noite em que meu mundo inteiro virou de cabeça para baixo.

Tenley ri. — Ok, então você definitivamente vai. Você precisa disso.

Eu sorrio. — Precisa de quê?

— É sexta-feira, e Ilya e Misha estão organizando uma festa na Lordship.

Eu arqueio a sobrancelha. Tenley revira os olhos.

— Quero dizer, uma festa na Lordship menos selvagem do que talvez


costumava ser. Mas ainda assim, uma festa.

Franzo a testa. — Não sei...

Quando estou com vontade? Sim, uma festa com dança, drinques e
descontração parece incrível. Mas, neste momento, parece que minha cabeça está
em uma nuvem de tempestade. Uma chamada Furacão Bastian.
— Ok, festas são divertidas e você parece estar precisando de diversão.
Especialmente com... — ela acena para a sala de aula de Bastian. — Quero dizer,
sua mãe vai se casar com seu professor. O gostoso... — ela limpa a garganta. — O
professor mais rígido do campus.

— Nós duas sabemos que não é assim que as pessoas o chamam.

Ela sorri. — Bem, não há necessidade de ir por esse caminho, certo?

Fico ainda mais corada.

— Então, hoje à noite? Sim?

— Você pode me colocar como um talvez?

Ela revira os olhos. — Vou colocar você na lista de ‘talvez seja melhor
você ir para essa festa ou vou ficar mandando mensagens a noite toda dizendo o
quanto você está perdendo de diversão’.

Eu rio. — Vou pensar sobre isso, ok? Foi uma semana longa. A que horas
hoje à noite?

— Ah, nove, mas venha quando achar que não vai ser pega pelo papai
Bastian. — Ela sorri e acena com a cabeça pela janela da sala de aula novamente,
sem se importar com meu rosto em chamas e meu pulso acelerado.

— Ótimo, hilário, — murmuro com a boca seca e um calor intenso em


meu âmago.

Ela ri. — Vejo você hoje à noite.

O resto do dia passa em um borrão. Quando as aulas terminam, pego


minha bolsa e vou em direção ao meu chalé.
— Vadia!

Eu gemo com o som abrasivo e horrível da voz de Ainsley quando estou


no meio do pátio. Eu me viro para vê-la me olhando com um olhar totalmente
escandalizado e chocado.

— Ainsley, o que...

— Quero dizer, eu sabia que Bastian era travesso, mas você está brincando
comigo?

Fico tensa, com a pulsação acelerada.

— O quê?

— Parece que seu novo pai tem sido um menino mau, não é, Julianna?

Meu estômago cai.

Ela sabe.

Sinto que estou prestes a vomitar, quando ela continua.

— Quero dizer, ela é pouco mais velha do que nós e era assistente dele!
Como isso é tão indecente?

Franzo as sobrancelhas e balanço a cabeça.

— Espere, o quê?

Ela me olha fixamente, com a boca aberta. — É sério que você ainda não
ouviu falar?

Eu cerro os dentes. — Ouvi o quê, porra...


— Oh, meu Deus, prepare-se para isso. Então, — ela sorri
maliciosamente. — Você conhece a irmã mais velha de Cora, Naomi? Ela estava no
último ano quando nós estávamos no primeiro ano aqui?

Eu franzo a testa. — Uh, mais ou menos?

— Bem, ela está em Cambridge com Giselle Rothfort e saiu para beber
com Sophia Davies - você conhece os Davies?

Essa história não está indo a lugar algum, e tudo o que eu quero fazer é ir
para casa e assistir à Netflix neste momento.

— Na verdade, não... veja bem, Ainsley, eu preciso ir...

— Bem, — Ainsley continua, sem me dar atenção. — Sophia bebeu um


pouco demais e deixou escapar para Giselle que teve um caso indecente com
adivinha. Quem. Foi. Porra?!

Reviro os olhos.

— Eu realmente não me importo, Ainsley, mas tenho certeza de que você


vai me contar de qualquer forma...

— O próprio professor rabugento mais fodível da OHA.

Meu coração cai no chão. Fico pálida e fria.

— Bastian. Fodido. Pierce.

Fico olhando para ela. Não tenho certeza do que sentir: fúria, ciúme,
indiferença? Ou talvez eu não tenha que escolher, porque é uma mistura tóxica e
turbulenta de todos os três que sinto surgir através de mim, tornando meu sangue
verde e fazendo com que meus olhos se estreitem em fendas.
— Dá para acreditar nisso?! Sophia Davies! Você sabia que o pai dela é
dono da Horn Publishing? E ela era a assistente de Bastian!

Ela bufa.

— Quero dizer, é o fim da picada, né? Fazer merda onde se trabalha? Com
a filha do chefe? Que travesso...

— Isso não pode ser verdade, — eu digo, meu rosto latejando com um
calor abrasador.

Não pode ser. Eu faço uma careta, tentando juntar as peças em minha
cabeça. Não, não pode ser. Quero dizer, estou ouvindo isso de Ainsley Hendershire,
de Cora Laurent; duas das fofoqueiras mais cruéis da escola. E o que é isso,
informação distorcida?

Definitivamente, é um boato.

— Oh, é verdade, sim.

Reviro os olhos. — Tudo bem, se você diz...

— Ah, eu investiguei essa.

Eu me enrijeço.

— Quero dizer, era muito suculenta para não investigar! O bad boy
Bastian sendo demitido do seu contrato de publicação porque estava comendo a filha
do chefe do chefe dele, que também era sua assistente?

Meus dentes se apertam dolorosamente.


— Meu pai e Rupert Davies jogam golfe juntos, você sabe. Então, eu
liguei para o meu pai ontem à noite, depois dos dois brandies que ele costuma beber
após o jantar, é claro.

Ela ri levemente, como se fosse uma grande história engraçada.

— Ele faz qualquer coisa por mim se tiver bebido um pouco, você sabe.
Bem, perguntei a ele se poderia confirmar com o pai de Sophia se houve algo
inapropriado... afinal, estamos falando de alguém que está ensinando em nossa
escola, certo?

— E?

Minha voz sai rouca. Como se eu nem quisesse fazer a pergunta, porque
definitivamente não quero saber a resposta.

— Ele não pôde confirmar.

Minha respiração, juntamente com a tensão que estava presa, sai em um


suspiro lento.

— Bem, Ainsley, a história é muito picante, mas eu...

— Ele confirmou, porém, que Sophia Davies está em negociações com a


Horn Publishing para publicar um livro sobre o trabalho com Bastian... — ela ri da
sua própria insinuação idiota. — E, aparentemente, ele inclui muita coisa sobre um
caso.

Meu coração dispara, dolorosamente. A inveja corre em minhas veias


enquanto tento engolir o nó na garganta.

— Eles... — Eu gaguejo. — Eles não podem publicar coisas como essas


se não forem verdadeiras.
— Pois é, — ela sorri. — Exceto que este livro vai ser publicado. O que
significa...

Ela sorri alegremente, balançando o dedo para a frente e para trás.

— Travesso, Bastian é travesso!

— Eu tenho que ir.

Não espero por uma resposta ou que ela fale demais. Apenas me viro
furiosamente e atravesso o campus, que está escurecendo, em direção ao meu chalé.
Quando chego ao local, vou direto para o freezer e tiro a garrafa de vodca gelada que
tenho guardada ali desde o início do semestre.

Sirvo um copo generoso e bebo em um só gole. Estremecendo, com os


olhos lacrimejando, sirvo um segundo copo e também o bebo em um só gole. Em
seguida, pego meu celular e envio uma mensagem furiosa para Tenley.

Que horas é cedo demais para a festa de hoje à noite?


16

Os pesos sobem e descem ritmicamente

Clank. Clank. Clank.

Meus músculos gritam, meus dentes rangem enquanto eu empurro


repetidamente até que meus braços ameaçam ceder.

Quando termino, fico de pé, sugando o ar e sentindo a adrenalina subir.


Mas ainda estou ansioso. Ainda me sinto como um animal enjaulado andando atrás
das grades.

Às vezes, fico assim.

Parece que estou preso. Como se tivesse essa energia dentro de mim
ameaçando explodir se eu não me mexer, bater, beber ou transar para me libertar do
que quer que seja que me prende.

Coloco as luvas de boxe rapidamente. O suor escorre pelo meu peito nu


quando me viro para o saco de treino. Eu me abaixo e me esquivo, dando socos no
ar e no saco até que meu coração esteja batendo loucamente.
Caio no banco de exercícios, sugando o ar, rezando pela exaustão - pela
paz em minha cabeça

Mas ela não vem. Mesmo assim.

Porque quando minha mente fica em branco - ou, pelo menos, quando ela
tenta ir para aquele lugar em branco -, algo está preenchendo-a. Algo com atitude;
com desafio em seus grandes olhos azuis.

Com tentação brilhando em seus lábios carnudos.

Com ‘intocável’ rodeando-a como o cabelo dourado ao redor do seu rosto.

Não há espaço em branco em minha cabeça. Não depois que o furacão


Julianna colidiu violentamente sobre minha costa.

Sacudo a cabeça, rosnando e murmurando para mim mesmo enquanto


subo as escadas. Pego uma camiseta manchada de graxa e entro na garagem anexa.
Se dar socos em coisas e levantar pesos até meus braços ficarem frouxos não
funciona, às vezes isso funciona.

Conecto meu celular ao aparelho de som antigo na bancada de trabalho e


aperto o play. Back In Black, do AC/DC, ressoa pela garagem, e eu sorrio enquanto
me agacho ao lado da Yamaha 650 Special 1978, cor de vinho e cromada, com
minhas ferramentas.

Não é uma cura milagrosa, mas ajuda. Há algo meditativo em desmontar


uma moto e montá-la novamente. E antes que eu perceba, aquele espaço em minha
cabeça se esvazia um pouco - o suficiente para que eu possa realmente respirar sem
sentir o cheiro dela. Sem que meus lábios sintam seus lábios macios gemendo contra
eles.
Sem imaginá-la debruçada sobre minha mesa, com uma saia xadrez verde
e preto, dizendo ‘por favor, professor’.

Eu gemo quando minha mão aperta o torquímetro com força. Meus olhos
se fecham.

Que droga. Tive isso por um segundo.

Termino de montar o motor novamente, mas a paz momentânea se foi. Em


vez disso, há apenas ela: minha tentação proibida. A maçã no jardim, balançando de
forma tentadora bem na minha frente.

O único problema é que eu já provei um pouco. Agora quero o resto.

A playlist ‘A loja de motos de Bastian vai te deixar de queixo caído’


mudou para The Clash. Mas, de repente, a música diminui para que meu celular
possa emitir uma notificação. Eu a ignoro. Mas quando outra interrompe London
Calling, franzo a testa para o celular e me levanto da moto. Limpando as mãos em
minha camisa suja, vou até ao celular na bancada de trabalho.

Minha mandíbula se contrai. As notificações são do Snapchat.

Só há uma pessoa com quem já interagi no Snapchat.

Fico olhando para o celular. Eu não deveria nem olhar a mensagem. Não
deveria responder. Posso dizer a mim mesmo que tive as melhores intenções,
tentando chegar até ela por meio dos canais que ela usa para fazê-la ignorar as
besteiras da mãe e simplesmente comer alguma coisa. Mas há um limite, e sei que
já o ultrapassei.

Afinal, não é como se eu estivesse mandando mensagens no Snapchat para


todos os meus alunos, afinal.
E o restante das suas alunas não está lhe enviando fotos dos seus peitos.

Eu gemo, com a pulsação acelerada. Não sei o que faz meu sangue ferver
mais - o fato de ela ter enviado aquela foto no outro dia ou o fato de ter sido destinada
a outra pessoa.

Ambos.

O fato de que outra pessoa - algum garotinho mimado - deveria ficar com
ela me deixa furioso. Algum garoto arrogante, presunçoso e atraente que não merece
olhar para ela com suas roupas, muito menos sem elas.

O celular toca novamente.

Não olhe para ele.

Ela tem dezoito anos, você tem trinta e dois, digo a mim mesmo. Deixe-a
viver sua juventude. Deixe-a fazer a porra que quiser, porque você não tem nenhum
direito sobre ela. Então, se livre de uma vez...

Pego o maldito celular e abro o aplicativo. A primeira mensagem me faz


sorrir.

| Fiz você olhar. Aposto que estava esperando ver peitos novamente.

| Mas, conforme discutido, nada de peitos para você.

| Professor.

Eu gemo, minha mandíbula se contrai ao ler as mensagens. Ela está...


dando sinais de flerte.

Isso não é bom.


Fecho os olhos e desligo a tela do celular. Mas, instantaneamente, surge
outra notificação. Abro os olhos e abro o aplicativo novamente.

| Vejo você lendo esses snaps, sabe.

Eu sorrio. Malditas confirmações de leitura.

| Como faço para desativar esse recurso?

A tela mostra o emoji dela digitando uma resposta.

| rs. Não posso.

Sorrio enquanto meus polegares tocam o teclado.

| Mensagens que desaparecem, fotos de peitos e confirmações de


leitura automática. Como sua geração faz isso?

Vejo o emoji dela digitando algo. Depois, ele desaparece. Depois volta.
Depois desaparece. Em seguida, chega uma mensagem.

| Os peitos provavelmente ajudam.

Eu rio, dando uma risadinha para mim mesmo. Mas depois franzo a testa
novamente. Aquela linha da qual eu ia me afastar? Sim, já estamos um quilômetro
acima dela. Estou no Snapchat, com uma aluna, falando sobre enviar nudes.

Péssima ideia.

| O que está acontecendo na masmorra do Snape hoje à noite?

Não responda. Apenas feche a porra do aplicativo e vá embora.

| Corrigindo provas

Uma mentira. Mas é o que eu deveria estar fazendo. Ela envia um emoji
do seu avatar roncando na cama.
| Que chatooooooo

Eu sorrio.

| Bem, a orgia regada a cocaína é só mais tarde.

Ela está digitando. Depois, não está mais. Depois, fica em branco. Eu
franzo a testa. Nenhuma resposta sarcástica? Tudo bem.

Coloco o celular de lado e volto para a moto para terminar de guardar as


ferramentas. Quando termino, dou uma olhada no celular. Ainda nada.

Subo as escadas e me desfaço das roupas sujas para poder tomar um


banho. A água quente acalma meus músculos doloridos e lava a sujeira da moto dos
meus dedos. Então, fico ali, desligando o mundo e deixando a água correr sobre
mim.

Quando saio e me seco com a toalha, dou uma olhada no meu celular.

Ainda nada.

Reviro os olhos para mim mesmo. Que diabos sou eu, um maldito
adolescente?

Não, mas ela é.

Olho fixamente para o celular e depois para o meu reflexo no espelho


enquanto me visto. Depois, o celular novamente.

Deixe para lá. Apenas deixe para lá, porra.

Viro-me para assistir a um filme ou tentar escrever ou algo assim. Meus


olhos se fecham.

Que droga.
Viro-me de volta, pego o celular e abro o maldito aplicativo novamente.

| E você?

Dessa vez, a resposta é rápida.

| Em uma festa.

Franzo a testa. Não sei por que tenho esse sentimento possessivo e protetor
quando ela diz isso. Como se houvesse uma necessidade instantânea de me certificar
de que a festa não seja muito selvagem ou algo assim.

— Tentando ser o pai dela, Bastian?

| Parece divertido.

| Estou me divertindo MUITO.

Em seguida, ela envia uma série de emojis de uma taça de vinho, uma taça
de martini, uma cerveja e uma dose.

Franzo a testa com força. Mas resisto ao impulso de dizer algo do tipo
‘paternal’, como ‘tenha cuidado’ ou ‘cuidado com a bebida’ ou qualquer outra coisa.

Deixe-a viver sua maldita juventude. Eu certamente vivi a minha. Então,


eu a deixo. Por pouco. E então, é claro, meu maldito celular toca novamente.

| Então, sua ex-assistente virá para essa orgia?

Eu me enrijeço, meus olhos se estreitam. Porra. Que porra. Como diabos


ela sabe sobre Sophia?

Eu rosno, girando. Começo a passar meu polegar sobre o número de


Wendell. Mas respiro. Reagir a isso só vai colocar mais lenha na fogueira dessa
besteira.
| Infelizmente, nenhum dos meus ex-assistentes pôde comparecer.

Suficientemente vago. Brincalhão o suficiente para amenizar o peso do


que ela estava sugerindo, espero.

| Veja quem você quiser

Eu franzo a testa. A mensagem é curta, breve. Sem qualquer tipo de tom


de brincadeira. Minha sobrancelhas se franzem. O que ela quer dizer com isso, está
com ciúmes?

Eu sorrio, mas não deveria. Assim como não deveria deixar minha mente
divagar sobre o que significa Julianna estar com ciúmes de outra garota - real ou não.

Mas é tarde demais, porque minha mente vai para esses dois lugares.

| Bem, divirtam-se MUITO esta noite. Eu com certeza estou.

Franzo a testa enquanto digito de volta.

| Ótimo, divirta-se.

Coloco o celular de lado. Sacudo a cabeça. E se ela estiver com ciúmes


desse relacionamento que nunca aconteceu?

Deixe que ela fique com ciúmes. Que ela fique brava. Que ela não tenha
interesse em mim

Por favor.

Eu me jogo na minha mesa e abro o laptop para escrever. Mas, uma hora
depois, estou esgotado e quase não tenho palavras na página. Que merda. Passo os
dedos pelo meu cabelo ainda úmido e me viro para olhar o carrinho de bar.
Meu celular toca. Quando olho para ele, fico rígido. É uma mensagem com
foto do Snap.

Minha mente imediatamente se volta para a última foto que ela me tirou.
Meu pau dispara quando pego o celular. Abro a imagem um pouco rápido demais.
Mas dessa vez não é a pele nua e os mamilos rosados, embora seja Julianna.

É uma selfie. E ela parece completamente bêbada. Está com a boca aberta,
como se estivesse cantando alguma música de festa. Seus olhos estão fechados, seu
rosto está brilhante e corado. Há duas garotas que eu conheço vagamente como
outras alunas da OHA - Tenley Chambers e Charlotte Bergendem - em cada lado
dela, sorrindo. Atrás delas, uma grande festa parece estar acontecendo.

Meus olhos se estreitam em um cara que está atrás delas. Reconheço-o


como aquele merdinha do Alistair Grand. Ele está se escondendo atrás delas, e seus
olhos estão fixos em Julianna.

Meu olhar se estreita. Não gosto da maneira como ele está olhando para
ela. Parece... predatório. Demorado. Mas, de certa forma... merda, como ele poderia
não olhar para ela assim? Ela parece pura tentação despejada em uma camiseta
regata e saia minúsculas. Seu cabelo loiro emoldura seu rosto. Sua pele brilha. Seus
mamilos se projetam na frente da camiseta branca.

Eu grunho, com fome.

| como está a orgia?

Reviro os olhos.

| como está a festa?

| bêbadaaaa rs
Ela manda uma carinha de beijo. Meu pau salta.

| há uma outra festa para a qual esse cara acabou de me convidar...


talvez eu vá

O rosnado ressoa em minha garganta. Que porra de cara.

| estou muito bêbada. Mas ele diz que está tudo bem.

Minha mandíbula treme. Meus sinos de advertência estão vibrando.

| Se você já bebeu demais, já bebeu demais.

| rs diz você?

Eu grunho com a resposta dela.

| quem a está convidando para essa outra festa?

| muito intrometido. Apenas esse cara. Apenas relaxeeee, está tudo


bem.

Os sinos de alerta se transformam em sirenes. Ela está bêbada. E um idiota


está tentando convencê-la a deixar a festa cheia de gente para ir sabe-se lá onde. Que
se dane isso, e de jeito nenhum.

| Fique onde está se estiver se sentindo bêbada.

| rs sim, papai

Eu gemo, meu pau inchando.

| Sério.

| rs, ou o quê? Vai me bater? :P

Ela segue com outro emoji de um rosto chocado cobrindo a boca. Meu
sangue lateja em meus ouvidos.
| Onde você está

| rs por quê?

De repente, uma imagem do Snap aparece. Espere, não é uma imagem. É


um vídeo. Toco em reproduzir e o rosto sorridente e corado de Julianna, por causa
da bebida, preenche minha tela.

— Baaaassstian, você se preocupa demais comigo!

Ela está do lado de fora, em algum lugar, com aquela camiseta regata
e saia minúsculas, parecendo completamente bêbada. E com frio.

— Você não é meu paaaiii, sabe. Então... vá fazer sua pequena orgia,
— ela bufa. — Com sua... assistente.

Seu rosto escurece, seus lábios se curvam.

— E eu vou me divertir sozinha, está bem? Boa noiiiite, Bast...

Ela é interrompida pela voz de um homem ao fundo.

— Julianna!

— Ok! Já vooooou!!!

O vídeo termina.

Porra. Porra-porra-porra PORRA.

Eu rosno, andando de um lado para o outro no tapete da minha biblioteca.


Um milhão dos piores cenários surgem em meu cérebro. Mil cenas em que ela está
bêbada e sozinha com algum idiota.

Beijando-o.

Deixando que ele colocasse as mãos sobre ela.


Transando com ele.

Eu rosno, girando e empurrando uma pilha de livros da minha mesa.

Ou pior, todas as opções acima, mas ela está bêbada demais para dizer sim
ou não.

Vou em direção à porta da frente, pego meu casaco e saio em disparada


pela noite. Meus olhos se estreitam quando paro para pensar aonde estou indo. Onde
diabos os jovens se divertem na OHA hoje em dia?

Quando eu estava aqui, eram os estábulos, ou a Casa Lachlan, a casa do


time de futebol feminino. Lachlan não é uma caminhada muito longa. Mas eu corro.
No entanto, quando saio de um dos jardins de rosas e vejo a casa mais antiga perto
do pequeno lago, faço uma careta.

Está escuro.

Verifico meu celular. Nada da Juliana.

Em seguida, corro para os estábulos. Mas é a mesma coisa. Não há


ninguém aqui, e não tenho ideia de onde ela está. E estou ficando sem tempo.

Minha pulsação bate forte, rugindo em meus ouvidos. Giro, enfiando os


dedos com raiva no cabelo. Meu celular toca.

Abro o aplicativo furiosamente, meus olhos se voltam para a mensagem


dela e meu coração dispara.

| Estou com problemas.

| na Mansão Lordship

| Venha me buscar, por favor


Corro como o diabo, atravessando a escuridão do campus em direção à
enorme e antiga mansão onde vivem os três herdeiros da Bratva. Chego na parte de
trás da casa e, sim, há uma festa aqui. E das grandes.

Eu sei que eu, um professor, aparecer aqui... não é o ideal. Eu sei que eu,
um professor, aparecer aqui especificamente procurando por ela, uma aluna, é ainda
pior.

Mas estou sem paciência para me importar.

Caminho furioso até aos fundos da casa. A piscina nos fundos - Cristo,
esses três caras moram em uma mansão com piscina - está vazia, já que está muito
frio aqui fora. Mas lá dentro, posso ver a festa rolando.

E, de repente, meus olhos deslizam pelo pátio escuro para algo que chama
minha atenção: uma forma, deitada em uma espreguiçadeira, com uma camiseta
regata branca minúscula, saia curta e longos cabelos loiros caindo em cascata sobre
seu rosto.

E há uma forma pairando sobre ela, se aproximando dela.

Com um rosnado, atravesso a área da piscina como um maldito urso


selvagem. O cara que está sobre ela tem o celular em uma das mãos e a outra - que
Deus me ajude - está alcançando a bainha da saia dela.

Bato nele como um caminhão. O garoto ofega, caindo de cara no pátio de


pedra azul. Seu celular cai, e eu me aproximo para pegá-lo.

— Amigo! Você está louco, porra!? — O cara se levanta cambaleando,


segurando o rosto. Ele se vira para mim e seus olhos se arregalam.

— Professor Pierce? — murmura Alistair Grand.


Eu o encaro fixamente, depois arrasto meu olhar para Julianna. Tiro meu
casaco e vou até ela. Ela está respirando e, além de estar com um frio danado, parece
estar bem. Deixo a jaqueta sobre ela e volto para ele.

— Que porra você estava fazendo?

Ele engole. — Nada, professor.

— Vou lhe perguntar mais uma vez, porra...

— Nada! — ele chia. — Saí de casa há apenas um segundo para tomar um


pouco de ar e a vi assim... daquele jeito.

— E decidiu levantar a saia dela, porra? — Eu sibilo.

Seu rosto fica vermelho.

— Não...

— Abra seu telefone.

Ele me encara, seu rosto empalidece.

— O quê?

— Abra-o.

— Eu não vou...

Ele suspira quando eu me aproximo e o agarro pelo colarinho, rosnando


em seu rosto.

— Não estou pedindo, estou mandando.

Ele engole seco, com o rosto pálido.

— Nem tá bloqueado. Pelo amor de Deus...


Dou uma olhada para baixo. Ele tem razão. Empurro-o e abro o aplicativo
de fotos dele. Há fotos da festa, algumas bem aproximadas de bundas ou peitos de
outras garotas. Eu o encaro e depois rolo a tela para baixo. Minha mandíbula se
contrai.

As últimas são de Julianna. A primeira é um close dos seus lábios. A


próxima mostra seus mamilos marcando a camiseta regata. A última mostra suas
pernas nuas, deitadas na espreguiçadeira do pátio.

Meus olhos se voltam para ele, estreitando-se perigosamente.

— Eu... eu não tirei isso! — Ele se solta. — Elas... meu polegar estava no
botão enquanto eu tentava ver como ela estava...

Apago os três. Em seguida, coloco o celular dele no bolso e seus olhos se


arregalam.

— Que porra é essa!? — Ele me encara, incrédulo.

— Vou ficar com isso. Mais tarde, vou dar uma olhada e, se encontrar algo
aqui de que não goste, farei de sua vida um inferno.

Ele me olha fixamente. — O quê, porra? Você não pode simplesmente


pegar...

— Acabei de pegar. Supere isso.

Seus olhos se estreitam. — Você está louco, porra?

— Sim, — eu rosno, avançando contra ele. — E se eu o vir tirando fotos


de garotas que não sabem que você está tirando fotos delas novamente, vou quebrar
a porra das suas mãos. E então, que Deus me ajude, não importa quem sejam seus
pais, farei com que você seja expulso desta escola. Está me entendendo claramente?
Ele empalidece. Em seguida, acena vigorosamente com a cabeça.

— Corra, Alistair, — eu rosno.

Quando ele se afasta, eu me viro e a pego em meus braços. Coloco seu


celular no bolso, carrego a pequena bolsa que ela tem ao seu lado e saio do pátio.

Volto para minha casa.

Não há nenhum motivo oculto. É que minha casa e a caminhada até lá são
muito mais isoladas - muito menos provável que encontremos outros alunos que
possam ter alguma dúvida sobre o fato de eu levar uma colega deles bêbada e
inconsciente para a casa dela tarde da noite. Mesmo que seja apenas para cuidar dela.

Ela murmura algumas vezes durante a caminhada. Mas, na maioria das


vezes, ela apenas se enrola em meu peito, em meus braços, sorrindo enquanto dorme.
Na porta da frente, porém, tenho que colocá-la de pé, ainda tonta, para pegar minhas
chaves. Ela pisca, saindo do sono embriagado por um segundo enquanto enfio a
chave na fechadura.

Ela franze a testa, vira-se e empalidece quando me vê.

— Bastian... — ela engasga.

— Vamos levá-la para dentro...

— Você veio me buscar?

Seus olhos se arregalam - tão inocentemente, tão... maravilhados comigo.


Como se ela não pudesse acreditar que alguém realmente a ajudou quando ela
precisava. O que parte um pouco meu coração. Isso também me faz odiar Rebecca e
seu maldito pai ainda mais.

— Você está congelando. Venha...


— Bastian.

Fico tenso com a suavidade do seu tom.

Não vire.

Fecho meus olhos com força.

— Venha para dentro, e eu vou...

Sua mão desliza para a minha. Eu gemo, minhas paredes estão


desmoronando.

Minhas defesas estão falhando.

Minha capacidade de me conter está se desfazendo.

— Bastian, — ela sussurra.

Então, perco o controle e me viro. Seus grandes olhos azuis se fixam nos
meus, seus lábios molhados, cheios e tentadores.

— Você já bebeu demais, — rosno baixinho, olhando-a nos olhos. —


Entre, e eu vou...

Ela se choca contra mim, agarra meu colarinho e me puxa para baixo
enquanto sua boca se choca contra a minha. É desajeitado. Mas seus lábios são tão
macios e molhados.

Isso é muito errado.

Mas eu a beijo de volta.

Eu gemo, empurrando-a de volta contra o batente da porta, segurando seu


rosto e beijando-a com exigência. Profundamente. Como se ela fosse minha.
E, de repente, eu me afasto, como se tivesse levado um choque. Fico
ofegante, com os olhos duros enquanto a encaro, com o sangue latejando em meus
ouvidos.

Que diabos estou fazendo?

Eu cerro os dentes. — Julianna...

— Bastian, eu...

Seu rosto fica pálido. Seus olhos se arregalam. E, de repente, ela está
cambaleando, dobrando-se ao meio e esvaziando o estômago nos degraus da frente
da minha casa.

— Eu sinto muito... — ela murmura, balançando-se nos pés antes de


vomitar novamente.

— Eu sinto m...

— Está tudo bem, — eu rosno. Minhas mãos agarram seu cabelo e o


puxam para trás.

— Eu cuido de você.
17

O dia chega mais rápido do que eu esperava. Sob a luz da manhã, em


minha biblioteca, abaixo a velha cópia amassada de A Moveable Feast, de
Hemingway. Olho pela janela e vejo o sol nascendo sobre o campus da OHA.

Na verdade, eu não dormi na noite passada. De jeito nenhum. E,


obviamente, isso tem tudo a ver com a hóspede que está dormindo na minha cama.

Sozinha, muito obrigado. Como ela esteve a noite toda.

Eu segurei seu cabelo enquanto ela vomitava. Eu a carreguei até ao meu


quarto, subindo as escadas. Deixei-a com uma muda de roupa e fui vê-la mais tarde
com um copo de água e um pouco de Advil, mas já a encontrei debaixo das cobertas,
dormindo profundamente.

Depois disso, desci as escadas, joguei o celular de Alistair na gaveta da


minha mesa e fiquei muito, muito bêbado. Depois, esperei que a sobriedade me desse
um chute nos dentes. Quero dizer, Cristo, alguém tem que fazer isso, depois da
merda que aconteceu na noite passada.
Eu gemo ao me recostar no sofá, com os lábios finos.

Eu a beijei. De novo. Ou ela me beijou. Ou foi aquele disse-que-me-disse.


Ou não importa porra, porque eu sou o professor dela.

É uma guerra que ficou explodindo em minha cabeça a noite toda,


enquanto eu estava aqui sentado, bêbado, sóbrio e depois lendo para tentar me livrar
de tudo isso.

Mas isso não vai funcionar. Não há como apagar Julianna McCreed da
minha mente. E, definitivamente, não há como apagar da minha cabeça a lembrança
dos seus lábios se colando aos meus.

Posso tentar me apegar às justificativas insidiosas e tortuosas de que está


‘tudo bem’. O fato de ela ter dezoito anos. Que ela me beijou. Mas, além disso, há
uma avalanche absoluta de motivos que tornam isso tão errado que seria necessário
um foguete para voltar à terra da moral e da decência.

Ela é minha aluna. Vou me casar com Rebecca. Ela tem dezoito anos. Ela
me beijou porque estava bêbada. No terreno da escola.

Mas eu a trouxe para cá. Posso dizer a mim mesmo que foi uma decisão
altruísta, assim como foi verificar como ela estava no Snapchat. Eu poderia tê-la
levado para casa. Mas não poderia ter ficado com ela lá, não em seu alojamento
estudantil. E, além disso, eu a queria aqui.

Estreito os olhos e gemo.

Tenho uma aluna minha dormindo em minha casa. Na porra da minha


cama. Se isso fosse descoberto? Eu poderia dizer adeus a qualquer chance de
Rebecca ‘limpar minha imagem’.
Não há como voltar atrás quando um professor é encontrado com uma
aluna em sua cama. Independentemente das circunstâncias. Ponto final.

Estou prestes a me levantar e ir fazer mais um bule de café, quando ouço


passos descendo as escadas. Poucos segundos depois, uma Julianna com uma
aparência muito envergonhada e olhos sonolentos surge na esquina, encostando-se
no batente da porta.

Ela está usando a minha camiseta da turnê do The Cure que eu lhe dei
ontem à noite para vestir. Só para ela. É uma camiseta grande, larga e sem forma.

E parece puro pecado nela.

Ela está olhando timidamente para o chão. Mas, lentamente, seus grandes
olhos azuis se erguem para encontrar os meus.

— Obrigada, — murmura ela, com as sobrancelhas franzidas. — Pela


noite passada.

Aceno com a cabeça.

— E... — ela cora e olha para baixo novamente. — Bastian, me desculpe...

— Pelo quê?

Ela olha para mim, com o rosto vermelho.

— Você sabe pelo quê, — ela sussurra baixinho.

— Não, não sei.

Suas sobrancelhas se franzem enquanto ela morde o lábio inferior.

— Por favor, não seja um idiota sobre...


— Minha memória de ontem à noite está bem confusa, na verdade, — dou
de ombros.

Isso é uma mentira. Está clara como cristal. Está tatuada em meu cérebro.
Mas não pode estar. Para nenhum de nós. Para o bem de ambos.

Eu franzo a testa. — Você quer dizer por ter vomitado na varanda da


minha casa?

Os olhos de Julianna encontram os meus. Um entendimento tácito passa


entre nós enquanto ela morde o lábio inferior.

— Sim, — ela diz calmamente. — Por isso.

Dou de ombros. — Não se preocupe com isso.

Sua boca se curva em um pequeno sorriso de agradecimento.

— Então, eu vou para casa...

— Nisso?

Ela fica corada ao olhar para a camiseta enorme que está usando. Quero
dizer, a maldita camiseta vai até ao meio da coxa, e as mangas chegam até aos
cotovelos.

— Acho que sujei minhas roupas de ontem à noite, — murmura ela, com
as sobrancelhas franzidas.

— Então, lave-as aqui. Você não pode andar pelo campus com isso.

Ela também não pode andar pelo campus com a saia perturbadoramente
curta e a camiseta regata minúscula que usou na noite passada. Mas se ela estiver
indo para casa, pelo menos estará com roupas de verdade.
Não a camiseta de rock do professor dela.

Além disso, tenho um moletom que encolheu na lavagem e que ela poderia
usar contra o frio.

Julianna arqueia a sobrancelha. — Sério?

— Sim, sério. A lavanderia fica no final do corredor, depois da cozinha.


Eu estava prestes a fazer outro bule de café, se você quiser.

Ela geme, apertando a testa, claramente sofrendo com uma ressaca


terrível.

— Isso parece...

— Necessário? — Eu sorrio.

Ela faz uma careta, balançando a cabeça discretamente. Ela se vira e seus
olhos examinam as prateleiras da biblioteca. Um sorriso provoca seus lábios.

— Por que tenho a impressão de que não vou encontrar uma cópia de
Great Expectations aqui?

Eu sorrio. Julianna se volta para mim, dando de ombros.

— Para constar, eu amo esse livro.

— Bem, ninguém é perfeito.

Ela dá uma risadinha enquanto eu me levanto e passo por ela no corredor.

— Por aqui.

Ela me segue até à cozinha, observando enquanto eu encho a cafeteira e


começo a despejar o pó.
— A lavanderia está logo ali na esquina. Vou pegar um moletom velho
meu para a caminhada até em casa.

Ela franze as sobrancelhas. — Oh, não, tudo bem...

— Você não vai sair em dezembro com uma saia e uma camiseta regata.

Seu rosto arde quando ela acena com a cabeça, olhando para suas mãos.

— Obrigada. — Ela olha para mim. — De verdade. Obrigada, Bastian.

Aceno com a cabeça, olhando para ela.

— Quem era o cara que queria arrastá-la para algum lugar ontem à noite
enquanto você estava bêbada?

Ela franze a testa. — Quem?

— Você me enviou uma mensagem pelo Snapchat...

Ela sorri. Minha testa se franze.

— O quê?

— Nada, é só que... — ela revira os olhos. — Ninguém diz ‘mensagem


pelo Snapchat’. Você pode dizer apenas Snap.

— Vai me ensinar a enviar e-mails em seguida?

Ela sorri.

— Quem era ele.

Seu sorriso se desvanece. Suas bochechas queimam quando ela olha para
baixo.
Diga Alistair Grand. Diga a porra do nome dele e eu vou até o chalé dele
agora mesmo e corto suas bolas.

Não mencionei nada a ela sobre como a encontrei, com ele olhando para
sua forma inconsciente. Com fotos horripilantes dos lábios e do decote dela no
celular dele, e todos os indícios de que ele estava tentando olhar por baixo da maldita
saia dela.

Por enquanto, ela também não precisa saber disso.

— Ninguém.

Meus olhos se estreitam perigosamente.

— Não há necessidade de proteger quem quer que seja. Apenas diga-me...

— Eu literalmente não estou falando de ninguém, — ela deixa escapar.


Seu lábio se retorce entre os dentes e ela olha para mim com vergonha.

— Não sei se estou entendendo...

— Eu inventei isso para... esquecer, — diz ela rapidamente. Ela engole e


olha para trás, para o corredor. — A lavanderia é por aqui?

Eu mantenho seu olhar quando ela olha de volta para mim, até que ela
treme e se ruboriza. Então, aceno com a cabeça.

— Sim. Há um banheiro completo lá também, se quiser tomar banho ou


algo assim.

Ela sorri com gratidão. — Obrigada, — ela murmura.

— Deixe-me pegar aquele moletom para você primeiro.


Mostro a ela a lavanderia e o banheiro do andar de baixo e depois subo as
escadas correndo. Encontro o moletom velho no meu armário. Quando me viro,
cerro os dentes ao ver a cama desfeita.

Onde ela dormia.

De repente, me pego imaginando se ela ficou com a roupa íntima por baixo
da camiseta larga que lhe emprestei. Ou, mais especificamente, se ela não usou.

Eu gemo quando desvio os olhos e corro de volta para o andar de baixo e


para o corredor da lavanderia.

— Encontrei...

Duas coisas acontecem quando eu simplesmente giro a maçaneta às cegas


e abro a porta: Julianna suspira, virando-se para mim com apenas uma minúscula
calcinha azul. E meus olhos a devoram.

Ficamos assim, congelados, a sessenta centímetros de distância um do


outro. Sua respiração é pesada, ofegante, saindo dos seus lábios abertos. Meu sangue
corre como diesel em minhas veias, bombeando pelo meu corpo enquanto meu pau
incha contra meu jeans.

Ah, merda.

Neste momento, não estou vendo a filha de Rebecca. Não vejo minha
aluna. Não vejo uma jovem de dezoito anos que mal deveria estar pensando.

Vejo uma jovem mulher - linda, sexy pra caramba e olhando para mim
com tanta fome em seus olhos quanto nos meus.

Eu me movo antes que eu possa pensar duas vezes. Antes que a razão, ou
a moral mais elevada, ou uma versão melhor e ‘boa’ de mim possa se interpor. Ela
geme quando me choco contra ela, empurrando-a para trás até que sua bunda bata
na lateral da máquina de lavar. Meu rosto se aproxima do dela e eu a beijo com tanta
força que ela vai sentir isso pela próxima semana.

Mês.

Para sempre.

Eu gemo, conquistando sua boca enquanto minha língua desliza pelos seus
lábios para dançar com os dela. Julianna geme, suas mãos deslizam sobre meus
quadris e passam por baixo da minha camisa. Sinto seus dedos macios traçando meu
abdômen, e minha mão em sua cintura se aperta. Minha outra mão serpenteia até seu
cabelo, agarrando-o com um punho apertado enquanto ela geme para mim.

Seu corpo se arqueia contra mim - precisando de mim; querendo-me. Seus


mamilos endurecem em pequenos pontos contra meu peito através da minha
camiseta. E seus gemidos...

Deus me ajude, esses sons serão a minha morte.

Eu me inclino contra ela, beijando-a como se nunca quisesse separar meus


lábios dos dela. Minha ereção grossa lateja contra a calcinha dela, fazendo-a gemer
de novo enquanto me empurra.

O mundo gira. A razão se estilhaça. A linha entre o certo e o errado se


dispersa com o vento.

Não há certo ou errado aqui. Há apenas ela e eu.

E então, minha campainha toca.

Nós nos afastamos como se alguém tivesse acabado de nos molhar com
água gelada. Julianna empalidece, sua mão voa até aos lábios enquanto ela me encara
com olhos grandes e arregalados. Então ela parece se lembrar de que está
basicamente nua. Ela suspira, afastando-se de mim e puxando uma toalha do rack da
parede para cima dela.

— Eu... — ela me olha por cima do ombro com os olhos arregalados -


cheios de confusão, pânico e, ainda assim... algo mais.

Calor. Desejo. Fome.

A campainha toca novamente. Minha mandíbula se contrai quando levanto


um dedo para ela.

— Não... — Eu franzo a testa. — Fique aqui mesmo. — Viro-me para sair,


mas faço uma pausa antes de voltar.

— Ainda não terminamos aqui, porra.

Seu rosto se enche de calor antes que eu me vire e caminhe pela casa até
à porta da frente, assim que a campainha toca novamente. Minha pele está
formigando. Mal consigo ouvir por causa do baque da minha pulsação nos ouvidos.
Meu pau ainda está duro como uma rocha em minha calça jeans, e tudo o que consigo
sentir é o gosto dos lábios dela quando abro a porta.

— O que...

Eu me enrijeço ao ver o jovem de boa aparência com tatuagens aparecendo


na gola e nas mangas do paletó. Ele sorri presunçosamente para mim.

Que diabos Konstantin Reznikov está fazendo na porta da minha casa?

Não o tenho em nenhuma das minhas aulas, mas conheço sua reputação.
Por exemplo, há mais ou menos um mês, ele mandou matar o próprio pai para
assumir o cargo de chefe da família da Bratva Reznikov. Como o fato de ele ter o
que parece ser uma abordagem do tipo ‘viver e não se intrometer na vida alheia’ por
estar na mesma escola que Ilya Volkov, Misha Tsavakov e Lukas Komarov.

— Bom dia, professor, — diz ele com um sorriso fino e divertido.

Meus olhos se estreitam. — Em que posso ajudá-lo, Konstantin?

— Bem, eu estava apenas dando um passeio e pensei em passar por aqui.

Minha mandíbula fica tensa.

— Você fez isso agora.

Ele sorri. — Só estou sendo amigável.

— Entendo, — eu digo com suavidade. — Bem, obrigado por passar por


aqui. Se precisar de algo relacionado à escola, meu horário de atendimento é...

— Na verdade, eu estava apenas verificando como nossa amiga em


comum se saiu na noite passada.

Meu pulso acelera. Eu me enrijeço.

— Como é?

Ele sorri maliciosamente.

— Srta. McCreed.

Meus olhos se fixam nos dele.

Foda-se.

— Sabe, quando a vi deitada na espreguiçadeira... saia, camiseta regata


minúsculas...

— Se você pôs suas mãos em...


Ele bufa. — Eu tenho um tipo, professor. E esse tipo é consciente.

Suas sobrancelhas se arqueiam com a forma brusca com que falei isso.
Que merda. Mas posso voltar atrás. É de conhecimento público que vou me casar
com Rebecca. Posso ser apenas o padrasto preocupado...

Eu gemo só de pensar nisso dessa forma.

— De qualquer forma, quando a vi lá fora, achei que seria melhor levá-la


para casa. Então, usei a impressão digital dela para desbloquear o celular e enviei
uma mensagem para a última pessoa com quem ela estava trocando mensagens no
Snapchat.

Meu sangue congela. Konstantin dá uma risadinha.

— Na verdade, eu não esperava que o ‘BadTeacher89’ fosse, bem, o nosso


professor mau. Imagine minha cara quando você apareceu...

— Há alguma razão para isso?

Ele sorri. — Você parece defensivo, professor.

— Você parece acusador, Konstantin.

Ele sorri. Meus olhos se estreitam.

— Vou me casar com a mãe dela.

— É o que continuo ouvindo. Então, apenas uma figura paterna


preocupada, não é mesmo, professor?

Meus lábios são finos. — Sim.

— Agora, veja, parece que eu acidentalmente rolei a tela um pouco para


cima na conversa do Snap...
Seu sorriso se alarga de forma venenosa.

— Apenas uma figura paterna preocupada. Vamos nos ater a isso?

O rosnado ressoa em meu peito: — Se você tem um ponto em que gostaria


de chegar, sugiro que chegue lá rapidamente.

Ele dá uma risadinha. — Apenas... observando a situação, professor. Não


é isso que eles devem nos ensinar aqui?

— Vou fechar esta porta agora, a menos que haja algo relacionado à escola
em que eu possa ajudá-lo.

— Ela está aí?

Minha mandíbula se contrai.

— Não.

Seu sorriso se alarga quando ele pisca para mim.

— Oh, você é um professor mau.

Não é a decisão mais inteligente, já que esse pequeno desgraçado não é


muito menor do que eu e é o chefe de fato de uma das organizações criminosas mais
cruéis do planeta. Mas, mesmo assim, eu faço isso.

Minha mão se solta, agarro seu colarinho com um punho e o puxo para
perto.

— Ouça-me com muita atenção...

Paro um pouco quando sinto o fio frio e afiado de uma lâmina tocando
minha lateral através da camiseta. Olho para o canivete que ele está segurando em
sua mão.
— Cuidado, professor, — rosna Konstantin. — Você pode fingir que tem
essa alusão de poder aqui nesta maldita escola. Mas lá fora, no mundo?

Ele sorri levemente ao se aproximar.

— Lá fora, acredite em mim quando digo que sou eu quem tem o poder.

Com a maneira... colorida como transcorreu a maior parte da minha


adolescência e dos meus vinte anos, essa não foi a primeira vez que fui ameaçado
com uma faca. Da mesma forma, ‘ser esfaqueado por um idiota de dezoito anos com
problemas com o pai’ não estava exatamente na minha lista de tarefas do dia.

Minha sobrancelha se franze quando olho para Konstantin, que me olha


de volta à medida que os segundos passam.

— Você vai me esfaquear como uma vadiazinha ou sair da porra da escada


da minha casa?

Sua sobrancelha se arqueia em genuína surpresa. Mas então ele sorri


lentamente enquanto se afasta, dobrando a lâmina.

— Eu gosto de você, professor.

— Puxa, Konstantin, vou ficar com os olhos marejados.

Ele sorri. — E eu realmente gosto muito dos seus livros.

— Ótimo para você.

— Ouvi dizer que esse último, ainda não publicado, é um verdadeiro...

Ele sorri levemente.

— Um verdadeiro abridor de olhos.

Volto para dentro da casa e abro a porta.


— De fato, — acrescenta ele, interrompendo-me. — Também ouvi dizer
que é uma leitura tão fascinante que você já teve até fãs... — Ele sorri. — Seguindo
você, por causa disso?

Meus olhos se estreitam. Minha mente se volta para as vans pretas que eu
sei muito bem que vi estacionadas em frente ao meu loft antes de me mudar para cá
para dar aulas. O mesmo aconteceu com os grandalhões de paletó preto com
tatuagens russas que pareciam estar sempre fora da minha visão periférica no último
mês ou mais.

— Uma leitura muito fascinante para as pessoas certas, eu acho. Não é


verdade, professor?

— Você sabe de quem estou falando. Aqueles bandidos russos. Lukas,


Misha... aquele garoto horrível do Volkov. Observe-os, fique atento a eles.

— E o quarto? Konstantin Reznikov?

— Estou preocupada apenas com os três primeiros. Faça isso.

As palavras de Rebecca ressoam na minha mente. Estou tentando


encontrar uma conexão aqui. Mas também não estou disposto a antagonizar esse
pequeno psicopata com a faca e o peso de um império criminoso atrás dele nos
degraus da frente da minha porta. Enquanto Julianna está lá dentro.

— O que você quer, Konstantin? — rosno baixinho.

Ele dá de ombros. — Como eu disse, só estava sendo amigável. E eu


queria ter certeza de que Julianna chegaria bem em casa.

Ele sorri enquanto arqueia as sobrancelhas, olhando para a minha casa.

— Mas acho que ela chegou a uma casa, tudo bem.


Ele se vira para sair e eu o encaro em silêncio.

— Está um dia lindo, professor. Nem uma nuvem, ou uma...

Ele olha de volta para mim com um olhar presunçoso.

— Uma van preta, à vista, hmm?

Ele sorri ao se virar e sair andando pelo jardim e depois sumir de vista ao
redor de um bosque de árvores.

Meu coração está acelerado, meu sangue quente e minhas entranhas se


contraem quando fecho a porta e a tranco. Respiro lentamente, avaliando como foi
tudo aquilo.

Com um suspiro final, eu me viro e volto a andar pela casa. Mas quando
chego à lavanderia, ela está vazia. Ela também não está no andar de cima. Ou no
porão, ou na garagem.

Foi então que percebi que a porta dos fundos estava destrancada e que as
roupas dela e o meu moletom haviam desaparecido.

Merda.
18

Nas duas semanas seguintes, o clima ficará mais frio com a aproximação
das férias escolares de inverno. E, por duas semanas, serei apenas uma aluna normal,
comum. Do tipo que vai às aulas. Que estuda. Que faz sua lição de casa. Que
conversa com os amigos.

Do tipo que não beija o professor.

De fato, por duas semanas, sou o tipo de aluna que mal olha para o
professor. Pelo menos, na aula de inglês de Bastian Pierce, eu sou assim. É como se
fosse uma espécie de Guerra Fria. Ele faz o possível para evitar olhar para mim ou
me reconhecer na aula. Eu faço o possível para olhar para qualquer lugar que não
seja o seu rosto detestavelmente bonito enquanto ele nos fala sobre Bukowski, D.H.
Lawrence ou Hemingway.

Não é uma guerra que eu particularmente goste. Mas quem gosta de


qualquer guerra?
No entanto, a ignorância e a evasão geladas são necessárias. Tem que estar
lá, porque isso é loucura. Não posso continuar beijando Bastian. Por todos os
motivos. Todos eles.

Portanto, no mundo real, eu me distancio dele. Eu o ignoro claramente e


tento não olhar em seus olhos. Mordo minha língua e não levanto a mão para
responder a perguntas para as quais sei muito bem a resposta. Finjo que até mesmo
estar perto dele não faz meu pulso acelerar e minha pele formigar com uma
necessidade dolorosa de ser tocada por ele. De sentir o gosto dos seus lábios
novamente.

Mas longe dele, em particular? Eu não me distancio dele de forma alguma.


Quando estou sozinha, os pensamentos sobre ele me consomem.

É assim que acontece por duas semanas. Nada de brincadeiras engraçadas.


Nada de falas sarcásticas. Nada de rodeios - ou pular - das bordas do comportamento
apropriado. Nada.

No entanto, como um aparte totalmente não relacionado, Alistair Grand


também parece estar me tratando mal e me ignorando completamente. Portanto, nem
tudo é tão ruim assim.

Estou enrolando meu casaco ao sair da aula de Ciências Políticas, quando


meu celular toca. Tiro-o do bolso e gemo.

— Olá, mamãe.

— O que você fez, Julianna? — ela esbraveja.

Franzo a testa. — Como é?

— O que diabos você disse ou fez com ele?!


Meu sangue se arrepia.

Ela sabe. Ela sabe que eu beijei Bastian. Várias vezes. Meu rosto
empalidece e eu vacilo, afundando em um banco congelado ao longo do caminho.

— Mamãe, eu...

— Eu estava tomando chá com Patricia Grand hoje, e ela disse que o
querido Alistair está muito chateado com alguma coisa e parece não ter nenhum
interesse em você. Então! — Ela sibila. — Jovem, o que diabos você disse a ele?

Solto minha respiração presa lentamente. O alívio me invade por inteira.

— Eu... — Franzo a testa. — Não faço ideia, mãe. Eu nem sequer falo
com Alistair, porque ele é um...

— Bem, aí está o problema. Os homens e seus egos, Julianna. Se você não


falar com ele, como se pode esperar que ele saiba que você está disponível?

Meus olhos se estreitam. — Não estou, mãe. Não para ele.

— Não para alguém com essa personalidade irritadiça e sarcástica. E, meu


Deus, Julianna, por favor, diga-me que você vai pelo menos ligar para aquele
nutricionista sobre o qual lhe enviei um e-mail? Sua pele e sua cintura vão me
agradecer...

— Existe um motivo real para esse telefonema, mãe? — Eu sibilo com os


dentes cerrados. — Ou você só estava procurando um saco de pancadas?

Ela suspira. — Pare de se magoar tão facilmente, querida.

— Tenho que ir...

— Estou ligando por causa das festas de fim de ano, Julianna.


— Eu não quero nada. Se você tiver uma lista, envie-me um e-mail...

— Você já terminou? — ela diz.

Reviro os olhos. — Estou ouvindo.

— Decidi que precisamos fazer algo em família neste Natal.

Minhas sobrancelhas se franzem. — Bem, você terá que encontrar o papai


para que isso aconteça.

Ela bufa. — Não estou falando do meu ex-marido, Julianna. Estou me


referindo à nossa nova família.

Ela está se referindo ao Bastian.

Ainda mantenho minha teoria de que toda essa história de casamento é


algum tipo de golpe publicitário ou arranjo de algum tipo. Mas ainda assim, eu me
encolho.

— O que exatamente você quer dizer com fazer algo em família? — eu


digo.

— Bem, você se lembra de quando todos nós costumávamos ir ao chalé?


Em Davos?

Sim. Quando eu tinha talvez sete anos, meu pai comprou um lindo chalé
na glamourosa cidade de esqui de Davos, na Suíça. Ele o chamou de ‘nossa casa de
Natal’ e, durante alguns anos, passamos todos os Natais acreditando piamente que
estávamos literalmente no Polo Norte.

Eu adorava. Até o terceiro e último ano em que estivemos lá, quando, ao


sair da cozinha furiosa depois de uma briga com meu pai, minha mãe me disse
friamente que não existia Papai Noel e que eu deveria ‘crescer’.
Eu tinha nove anos. Não voltamos a Davos depois daquele ano.

— Mamãe, eu não sei...

— Eu não estava perguntando, querida, — ela diz incisivamente. — Além


disso, será uma oportunidade perfeita para algumas sessões de fotos.

Meu rosto está em ebulição. Sim, só eu, minha mãe e o homem


terrivelmente atraente com quem ela claramente está se casando por algum tipo de
acordo - com quem eu também já fiquei várias vezes, e que, certa vez, me fez gozar
em seus dedos.

Apenas uma grande família feliz, sorrindo para as câmeras.

Me dê um tiro.

Eu discuto um pouco, mas, no final, Rebecca vence. Como sempre. Quero


dizer, onde mais eu poderia passar o Natal? Além de estar preocupada com a
recuperação dela e da irmã, sei que Lizbet vai se juntar a Lukas em Chicago para
passar um tempo com os pais dele.

Isso significa ficar sozinha no campus? Ai. Pedir pateticamente para


acompanhar Tenley e Ilya ou Charlotte e Misha no que quer que eles estejam
fazendo, segurando vela?

Duplamente deprimente, com uma grande dose de caridade. Então, vamos


para Davos.

O fato de que Bastian estará lá não influencia em nada a minha decisão.


De jeito nenhum.

Eu juro.

Mas ele estará lá. E depois de duas semanas ignorando um ao outro, acho
que é hora de resolver isso de uma vez por todas.

Portanto, erros foram cometidos. Grandes erros. Erros devastadores. Mas


somos adultos, certo?

Com esse pensamento me apoiando e mantendo a cabeça um pouco mais


erguida, atravesso o campus cinzento, mas bonito, até à casa em estilo Tudor de
Bastian.

Somos adultos. Podemos nos comportar e resolver problemas como


adultos. Certo?

Engulo enquanto levanto a mão e toco a campainha. Um minuto depois, a


porta se abre e todas as paredes de proteção que ergui ao meu redor no caminho até
aqui se desfazem em um instante. Cada conversa estúpida que tive comigo mesma
sobre como nós dois poderíamos ‘superar essa bobagem’ ou ‘nos comportar como
adultos’ vai por água abaixo.

Agora, quando ele, com seus impressionantes um metro e oitenta e cinco


centímetros de altura, está ali parado, usando jeans rasgados, mas perfeitamente
ajustados, e uma camiseta preta do Sex Pistols esticada sobre os ombros largos e o
peito musculoso.

Quero dizer, pelo amor de Deus.

Fico olhando para ele por uns cinco a dez segundos até que ele levanta a
sobrancelha. Fico corada ao limpar a garganta.
— Podemos... uh... — Limpo minha garganta novamente. — Podemos
acabar com isso?

Ele franze a testa enquanto cruza os braços sobre o peito e se inclina contra
o batente da porta, olhando para mim.

— Acabar com o quê?

Eu suspiro. — Bastian...

— Pode me chamar de Professor Pierce.

Reviro os olhos. — Ai, meu Deus, sério?

— Sim, sério.

— Mesmo depois...

— Pare, — ele rosna com um tom de advertência.

Inspiro pelo nariz e depois expiro lentamente.

— Ok, desculpe, — murmuro. Franzo a testa ao olhar de volta para seus


lindos olhos azuis.

— Podemos acabar com a Guerra Fria?

Um pequeno sorriso se desenha nos cantos de sua boca.

— Veja, nós... — Franzo a testa, tentando me lembrar do pequeno discurso


eloquente que inventei no caminho para cá.

— Somos adultos que cometeram erros de adultos...

— Nós? — Ele grunhe. — O problema, Julianna, é que eu sou um adulto.

— Eu também!
— Mal é.

— Sorte a sua.

Seus lábios se afinam enquanto seu olhar se estreita em mim, provocando


um incêndio dentro de mim. Mas engulo o fogo de volta e ergo o queixo ao encarar
seu olhar de frente.

— Então? — Eu retruco.

Ele continua olhando para mim. Mas, lentamente, ele sorri, só um pouco.

— Tudo bem.

— Não há mais Guerra Fria?

Ele respira fundo e acena com a cabeça.

— Não há mais Guerra Fria.

Ele estende a mão. Eu a pego, tentando não tremer visivelmente quando


seu aperto quente e poderoso envolve meus dedos.

— Isso significa que posso chamá-lo de Bastian novamente?

Ele ri, balançando a cabeça ao se virar e entrar na casa.

Acho que isso significa que estamos bem?

Eu o sigo, fechando a porta atrás de mim.

— Sim, — ele diz por cima do ombro enquanto caminha pelo corredor,
passando pela cozinha, comigo a reboque. Passamos pela lavanderia e meu corpo se
arrepia quando me lembro da maneira como ele simplesmente... me agarrou e me
beijou.
Como se eu fosse toda dele.

Sinto um calor intenso enquanto o sigo por uma porta e entro na garagem.
Uma moto linda, de aparência vintage, cor de vinho e cromada está no meio de uma
das baias, com uma bancada de ferramentas ao lado.

— Isso é seu?

— Sim.

— Uau, isso é... — Eu pisco os olhos. — É linda.

Ele sorri. — Obrigado.

Seus olhos deslizam da moto para mim, demorando-se.

— Sua visita de mensagem de paz hoje tem algo a ver com a Suíça?

Dou uma risadinha enquanto reviro os olhos. — Acho que você também
recebeu a ligação de sua majestade, né?

Ele sorri. — Sim. Eu tirei as confirmações de leitura, pelo menos.

Felizmente, ele não vê o sorriso largo em meu rosto quando se vira para
começar a colocar as ferramentas de volta em seus estojos.

— Eu o interrompi enquanto trabalhava nisso?

— Não, — ele balança a cabeça, alheio ao fato dos meus olhos deslizarem
dos seus ombros largos e musculosos até seu traseiro perfeito demais.

— Estava terminando.

Aceno com a cabeça, ainda olhando para sua bunda.

— Estou aqui em cima, Julianna.


Eu me assusto, ergo os olhos e o vejo sorrindo para mim por cima do
ombro. Fico furiosamente corada, mas ele apenas me lança uma sobrancelha
arqueada antes de se voltar para as ferramentas.

— É realmente uma bela moto, — murmuro, deixando meus olhos


passearem por ela. — Na verdade, nunca andei em uma antes.

Ele se vira, levantando uma sobrancelha.

— Sério?

Eu aceno com a cabeça. Bastian mantém o olhar fixo em mim enquanto


se vira para se apoiar na moto, com os braços musculosos cruzados sobre a camiseta
do Sex Pistols.

— Quer andar?

O calor se acumula entre minhas coxas e eu me arrepio.

Quero andar em uma moto incrivelmente bonita com meus braços ao redor
dele? A água é molhada?

Ainda assim, hesito em responder, e ele percebe isso.

— Ou não...

Eu me ruborizo, balançando a cabeça. — Não, podemos fazer passeios de


moto, certo? Não há nada de errado nisso.

— Um passo em direção ao platônico.

— Exatamente. — Franzo a testa. — Merda. Só que eu não posso sair do


campus.
Ele sorri para mim. — Ora, Julianna. Tenho certeza de que você é melhor
do que isso em quebrar as regras.

Meu lábio se prende entre os dentes. Meus olhos se fixam nos dele. Meu
coração bate contra meu peito. E estou a dois segundos de pular na traseira daquela
coisa, quando o celular dele toca.

Ele faz uma careta, tirando-a do bolso da calça jeans. Suas sobrancelhas
se franzem ainda mais quando ele olha para a tela.

— Merda. Desculpe, preciso atender.

— Ah, sim, não, é claro...

— Deixa para depois o passeio?

Minhas bochechas queimam quando aceno com a cabeça.

— Com certeza.

— Estamos bem?

Eu sorrio. — Sem dúvida. Somos ótimos.

Ele sorri calorosamente para mim, embora em algum lugar dos seus olhos
ainda haja aquele brilho agudo e perigoso que me atraiu naquela primeira noite.

— Wendell, o que está acontecendo? — Ele diz ao atender a ligação.

— Não se preocupe, saio sozinha, — digo. Ele acena com a cabeça,


sorrindo para mim. Eu sorrio de volta.

Ansiando por ele.

Viro-me e volto pelo corredor da casa dele. Passo pela lavanderia, local
do crime. Passando pela escada que leva ao quarto dele, onde eu dormi.
Em suas roupas.

Faço uma pausa na porta da frente, tremendo.

Sim, estamos bem. Eu só quero ele.

Horrivelmente.
19

Depois de algumas horas em uma cabine de avião com Rebecca, tenho


ainda mais apreço e simpatia pelo fato de seu ex-marido ter ido embora. O que é
quase certamente um pensamento pelo qual vou para o inferno.

Mas que se dane. Acrescente isso à lista de vários pensamentos atuais que
estão me levando um pouco para o sul do Paraíso.

Pelo menos Julianna também está no voo. O que se relaciona muito bem
com a parte sobre eu ir para o inferno. Porque durante todo o voo, é tudo o que posso
fazer para não devorá-la com meus olhos.

| A URSS está muito carrancudo.

Sorrio quando olho para a notificação no meu celular e vejo a mensagem


do Snap de ‘Julesius CaeserSalad’.

| Se essa é uma referência à Guerra Fria, isso faz de você os EUA?

| Obviamente, eu sou a mocinha.

| O que faz de mim o vilão?


Sou distraído do Snapchat quando Rebecca, com uma taça de champanhe
na mão, fala sobre a ‘programação’ do fim de semana.

Nada como uma programação rigorosa, forçada e sem alegria de sessões


de fotos, aparições públicas e um maldito evento de gala para sugar a magia do Natal.

Meu celular toca e eu olho para o aplicativo.

| Já estabelecemos que você é o Snape.

Eu dou uma risada. Mas, por dentro, a batalha por minha alma mortal
continua.

Por um lado, sim, nós enterramos o machado de guerra, por assim dizer.
Acabamos com a Guerra Fria, com um acordo tácito para simplesmente superar os...
incidentes entre nós. O que parece bom, arrumado e conveniente no papel.

Só que isso não é verdade de forma alguma. Não há nada de puro ou


conveniente nisso. E está parecendo cada vez menos com um machado enterrado, e
cada vez mais com um segredo enterrado.

E segredos enterrados nunca, jamais, ficam lá.

O fato de Julianna descrever esse lugar como a antiga ‘casa de Natal’ deles
não justiça ao chalé incrivelmente opulento e extenso, situado na beira dos Alpes.
Quero dizer, eu cresci encharcado pelo cheiro de riqueza obscena e excesso, mas
Jesus.

Esse lugar é uma loucura.


Todo o chalé é de vidro e madeira branca, com um design bem
escandinavo. E é enorme - do tipo enorme que poderia acomodar confortavelmente
quinze ou vinte pessoas. No interior, minhas sobrancelhas se erguem ao ver o enorme
teto abobadado em estilo lodge. Uma lareira de pedra com dois andares de altura
ocupa a parede mais distante, já rugindo e crepitando de calor. E ao lado dela, uma
árvore de Natal enorme, totalmente decorada e cintilante se ergue até ao teto.

Rebecca imediatamente começa a dar ordens à equipe de relações públicas


que nos encontrou no campo de pouso quando aterrissamos. Instantaneamente, ring
lights e equipamentos de câmera são colocados ao redor da sala de estar, perto da
lareira - preparando-nos para a primeira de um milhão de sessões de fotos que estão
em nossa agenda.

Viro-me, examinando o local em busca do carrinho de bar mais próximo.


Mas, em vez disso, meus olhos pousam em Julianna. Sorrio curiosamente enquanto
a observo se movimentar pela casa, um pequeno sorriso curvando seus lábios. Como
se ela estivesse se lembrando deste lugar.

E então, é claro, Rebecca estraga toda a pequena cena.

— Julianna! — Ela grita, fazendo sinal de alerta com impaciência. —


Bastian! Venha! Só temos a luz da tarde por algum tempo!

O sorriso desaparece do rosto de Julianna. E do meu. E então, é apenas um


fluxo interminável de cliques de câmera, assistentes preocupados, ordens para sorrir
mais, virar para a esquerda... Bastian, levante o queixo. Bastian, seus olhos estavam
fechados. Bastian, por favor, não mostre o dedo para a câmera.

A equipe de relações públicas e os fotógrafos nos movem de um sofá para


a lareira, depois para a cozinha, onde fazemos uma pose nauseante como se
estivéssemos fazendo biscoitos. Rebecca está bêbada. Eu deveria estar bêbado.
E o circo continua.

Rebecca e Julianna posam para o que talvez sejam as fotos de mãe e filha
mais forçadas de todos os tempos. Em seguida, Rebecca e eu nos juntamos para
algumas fotos igualmente rígidas e sem sorrisos.

— Agora, que tal Bastian e Julianna?

Eu olho para ela com firmeza. Ela faz o mesmo para mim. Nós dois
sorrimos de forma benigna, como se isso estivesse obviamente muito bem. Como se
não houvesse segredos enterrados entre nós.

Como se eu não tivesse provado sua boca, várias vezes, e sentido


exatamente o quanto sua boceta pode ficar molhada para mim. E vejo exatamente a
mesma guerra oculta em seu rosto que sei que está no meu.

— Rápido, pessoal! — O fotógrafo pede.

Rebecca não está à vista, mas ainda somos cercados pela equipe de
relações públicas e assistentes de fotografia. Eles arrastam e empurram, a mim e a
Julianna, para perto das janelas com vista para Davos e começam a tirar fotos.

— Sorria, Bastian! Uh, Bastian? Se você pudesse sorrir, por favor?

— Por que tenho a impressão de que você ouve isso com frequência? —
Julianna murmura baixinho para mim.

— Porque você é uma garota inteligente e observadora.

Ela fica corada.

— Muito bem, pessoal, vamos fazer mais uma série ali na cadeira, — o
fotógrafo principal diz apressadamente, apontando para uma grande cadeira de couro
perto da lareira e da árvore de Natal.
Eu franzo a testa.

— Qual de nós?

— Oh, ambos.

Merda.

— Bastian, vá em frente e sente-se... perfeito. Agora, Julianna, se você


puder se sentar no braço... sim, exatamente. Bem aí. Agora, Bastian, se você puder
passar o braço em volta da cintura dela um pouco.

Meu pulso vibra intensamente enquanto meu braço envolve sua cintura.
Ela treme contra mim e, quando minha mão pousa em seu quadril, ouço sua
respiração.

Isso é um maldito problema. Estamos brincando com fogo aqui.

— Está ótimo, pessoal. Julianna, se você puder se inclinar um pouco para


ele... sim, obrigado.

O cheiro dela invade meus sentidos, fazendo minha cabeça girar.


Levando-me de volta àquele beco, onde inalei a suavidade do seu pescoço, a doçura
dos seus lábios.

A umidade entre suas coxas.

A câmera faz um clique. Mas eu estou ali sentado, me desfazendo pelas


costuras.

— Muito bem! Isso é tudo, pessoal!

Não me dirijo imediatamente para o carrinho de bar. Mas isso é só porque


meu pau está tão duro que está ameaçando abrir um buraco na minha calça. Então
eu espero. Fico sentado ali, cerrando os dentes, observando Julianna atravessar a sala
para longe de mim, puxando-me.

Cativando-me.

Tentando-me.

A Guerra Fria nunca terminou. Ela apenas se tornou nuclear.

Rebecca desmaia na hora do jantar. O chef pessoal que vem com esse
palácio prepara um clássico suíço incrivelmente bom chamado Zurcher
Geschnetzeltes, e Julianna e eu acabamos comendo sozinhos.

A sala de jantar é linda e toda envidraçada, com vista para a cidade da


estação de esqui lá embaixo. E mesmo que antes pareça que acabamos de jogar
gasolina em um incêndio florestal, pelo menos nessa refeição, é como se fôssemos
apenas duas pessoas. Não há nenhuma energia vibrante e palpitante entre nós.
Nenhum segredo sujo enterrado na escuridão.

Não há histórico de eu a pressionar contra paredes para beijar sua boca ou


bater em sua bunda.

Somos apenas nós. E não tenho nenhuma reclamação sobre isso.

Mais tarde, após o jantar e depois que os empregados da casa saíram para
dormir, estou recostado em um dos braços do grande sofá perto da lareira. Julianna
está do outro lado do sofá, virada para mim.

— Quer que eu encha de novo?


Eu arqueio minha sobrancelha para ela. Ela acena com a cabeça para o
meu copo vazio, e eu sorrio.

— Agora, por que isso não pode ser algo que mais estudantes da OHA
fazem?

Ela sorri ao se desvencilhar do sofá e se levantar.

— Isso significa que sou sua aluna favorita?

Entre outros motivos que eu não deveria estar pensando.

Eu sorrio quando ela pega o copo vazio da minha mão. — Tentando trocar
favores por notas?

Seus olhos se voltam para os meus e ela cora. Que merda.

— Má escolha de palavras, — grunho.

Mas ela apenas sorri, corando ao se virar para ir até ao carrinho de bar. Eu
a observo servir minha bebida. Então ela olha para a prateleira de vinhos nas
prateleiras ao lado do carrinho. Ela se levanta na ponta dos pés e eu rapidamente
deixo de observá-la servindo uma bebida para observar a forma como sua saia sobe
pela parte de trás das suas coxas.

A maneira como seu suéter se levanta, dando-me um vislumbre da pele


macia dos seus quadris e da parte inferior das costas. E talvez, talvez, apenas um
vislumbre de renda branca da sua calcinha.

Cerro os dentes, tentando forçar a fera furiosa dentro de mim a voltar para
sua jaula. E, no entanto, estou impotente. É como se essa garota tivesse algum tipo
de feitiço vodu sobre mim, onde eu não consigo de jeito nenhum tirar os olhos da
sua bunda enquanto ela abre uma garrafa de vinho tinto.
Ainda estou olhando para ela quando ela se vira para voltar. Sei que ela
percebe. Sei que é isso que a faz corar e morder o lábio.

Eu meio que não dou a mínima.

— Saúde, — ela murmura, juntando seu copo ao meu antes de se sentar


em seu lugar na outra extremidade do sofá.

— Então, — limpo minha garganta. Tenho que mudar de assunto, ou vou


perder a cabeça com essa garota.

— Você e sua família costumavam vir aqui para as festas de fim de ano...

— Por que você está se casando com ela?

Pisco os olhos quando suas palavras repentinas me interrompem.

— O quê?

Ela engole em seco, com o rosto ruborizado de calor. Mas não desvia o
olhar. Ela mantém meu olhar fixo, permanecendo firme com a pergunta.

— Rebecca. Por que você está...

— Eu ouvi você.

— Então, por que você não me responde?

Eu cerro os dentes.

— É... complicado.

— Olha, eu não sou cega. Sei que é por algum tipo de acordo.

— E o que te faz dizer isso?


Ela revira os olhos. — Quer dizer, além do seu desprezo geral
extremamente óbvio por ela?

Minhas sobrancelhas se franzem. — Não é óbvio...

— Uma pessoa cega poderia ver o quanto você a detesta. Mas, se vale de
alguma coisa, é óbvio que ela também não suporta você.

— Você é muito boa nessas palestras motivacionais. Você deveria levar


isso adiante.

Ela dá uma risadinha. — Vamos lá! Duas pessoas totalmente opostas que
claramente nem se gostam estão se casando. E minha mãe está fazendo um grande
alarde público sobre isso. Portanto, é óbvio que há algum tipo de acordo. Eu só quero
saber qual é esse acordo.

— Bem, quando a Casa Targaryen e a Casa Tyrell se unirem, seu poder


será absoluto em Westeros...

— Game of Thrones; ótimo, — ela resmunga, revirando os olhos. —


Muito útil, obrigada.

Eu sorrio, dando de ombros. — É apenas... complicado.

Seus lábios se curvam. — Então, eu estava certa sobre isso ser um acordo.

Tomo um grande gole da minha bebida e suspiro. — Sim.

— Bem, isso é péssimo.

Nem me fale.

— Eu poderia tentar suborná-lo para descobrir.


Olho para ela com atenção. Ela está mordendo o lábio, desviando o olhar
com um sorriso. Está tentando parecer casualmente divertida.

Está parecendo extremamente sexy.

— Ah é?

Não. Isso Não. Pare. Mude a porra do assunto. Não siga esse caminho com
ela.

Ela sorri para mim. — O que seria necessário para você me contar?

Nem sequer pense nessa resposta em sua cabeça.

— Vou ter que pedir ao meu contador para lhe dar um valor.

Ela ri. E, caramba, é um som contagiante.

— Quero dizer, eu poderia lhe oferecer para mostrar meus peitos ou algo
assim, mas... você sabe. — Ela sorri de forma travessa. — Já conheço bem isso.

Minha mandíbula se contrai. Meus olhos se estreitam quando o sangue


pulsa em minhas veias, correndo para o meu pau.

— Julianna, — eu rosno baixinho.

Ela engole, sugando o lábio entre os dentes novamente.

— Só estou zoando, caramba, — ela murmura, com as bochechas


vermelhas.

Seu celular acende em seu colo. Ela franze a testa e olha para baixo
enquanto o abre. E, de repente, vejo seu rosto empalidecer.

Minhas sobrancelhas se franzem.


— O que está acontecendo?

Ela olha para cima rapidamente, com o rosto ainda pálido.

— Uh, nada. Eu... nada. — Ela coloca o copo vazio sobre a mesa de centro
em frente ao sofá e se levanta. — Eu só... — seus olhos se voltam para mim e depois
para o celular.

— Volto já, — diz ela, com a voz fria e tensa.

Franzo a testa ao vê-la começar a sair da sala.

— Está tudo bem?

— Sim, — ela murmura, olhando para mim furtivamente. — Eu só...


preciso fazer xixi, está bem?

Ela sai da enorme sala de estar e segue pelo corredor. Passa pelo banheiro.
Minhas sobrancelhas se franzem ainda mais.

Que diabos acabou de acontecer?

Fico esperando, fazendo cara feia e bebendo no sofá. Levanto-me para me


servir de outro drinque. Ainda de pé ao lado do carrinho de bar, abro meu celular. E,
por algum motivo, abro o Snapchat. Levanto uma sobrancelha.

Julesius CaeaserSalad tem a notação ‘online’ destacando seu nome de


usuário.

Algo me incomoda no fundo da minha mente. Uma espécie de luz de


advertência vaga e um alarme que se acende em meus sentidos.

Alguma coisa está acontecendo.


Bebo metade do drinque, coloco-o no chão e saio da sala de estar. Dou
uma volta lenta pelo primeiro andar. Não é que eu esteja perseguindo-a ou caçando-
a ou sendo um canalha ou algo assim. Mas há algo na maneira como o rosto dela
estava tão pálido e sem cor - a maneira como seu corpo se enrijeceu quando ela olhou
para o celular.

Subo as escadas e ando silenciosamente pela casa. Todos os dez quartos


deste lugar têm seus próprios banheiros privativos. Acabo entrando em todos os que
estão vazios, mas não vejo uma única luz acesa.

Isto é, até que eu viro uma esquina e vejo um brilho vindo de debaixo da
porta no final do corredor escandinavo moderno e envidraçado.

O quarto de Julianna.

Eu franzo a testa. Talvez ela estivesse cansada. Talvez ela simplesmente


não quisesse mais falar sobre mim e Rebecca - Deus sabe que eu não queria.

Sua luz está acesa de forma suave, e a porta não está totalmente fechada.
Caminho pelo corredor. Hesito ao lado da porta, fechando os olhos.

O que estou fazendo? Por que estou aqui? Quem se importa com o motivo
pelo qual ela acabou de sair da sala?

Cerro os dentes e começo a me virar para ir embora, quando ouço a voz


dela, murmurada e tensa.

— Filho da puta, — ela sibila.

Franzo a testa. Chega.

Volto para trás e abro a porta com força.

— Ei, você está...


Eu congelo. Julianna suspira horrorizada, girando em minha direção
enquanto puxa a camiseta e o suéter por cima dos seios nus - celular na mão,
levantado com a câmera aberta.

Eu. Vejo. Vermelho. Pra. Caralho.

Se eu fosse capaz de ter pensamentos racionais neste momento, cada um


deles me diria para dar meia-volta e ir embora. Seja lá o que for, objetivamente não
é da minha conta, e eu não tenho voz sobre quem ela envia fotos como essa.

Exceto pelo fato de eu não ser capaz de ter pensamentos racionais no


momento. Não quando a vejo assim. Não quando as únicas emoções que estão
passando por meu cérebro são o ciúme cruel e a posse indomável.

Meus olhos se estreitam em fendas, meus lábios se curvam em um rosnado


enquanto eu atravesso o quarto em direção a ela. Julianna empalidece e se afasta de
mim, me encarando com olhos arregalados e boca aberta.

— Bastian...

— Para quem diabos você está enviando isso?

Ela fica de queixo caído e, dessa vez, são seus olhos que se estreitam para
mim.

— Como é? — Ela retruca. — Isso não é da sua conta...

— Agora isso é da minha conta, — esbravejo ao parar bem na frente dela,


a centímetros dela.

O calor crepita no ar denso entre nós. O fogo arde em seus olhos, refletido
nos meus. Minha visão se estreita até que tudo o que vejo é ela.

Sua língua desliza sobre os lábios antes que eles se contraiam novamente.
— Você não é meu dono, Bastian, — diz ela em voz baixa, com a
respiração pesada.

Eu rosno enquanto me aproximo mais um centímetro dela. Mal consigo


me segurar.

Mal resistindo.

— Maldição...

— Você não é o dono...

— Sim, eu sou, — eu vocifero selvagemente, fazendo-a gemer enquanto


sua respiração é sugada.

O quarto fica totalmente silencioso, exceto por sua respiração acelerada.


Nossos olhos se fixam.

— É mesmo? — Ela murmura, com a voz rouca. — Então faça algo a


respeito...

Eu me lanço contra ela. Minhas mãos seguram seu rosto, e minha boca se
esmaga na dela.

Beijando-a.

Devorando-a.

Afogando-me nela.

E, desta vez, não vou me levantar para respirar.


20

O abajur cai no chão quando ele me empurra para trás com a força do seu
beijo.

Mas eu mal ouço. Mal percebo as luzes se apagando e o vidro se


estilhaçando no chão. Tudo o que sei é que Bastian Pierce está segurando meu rosto
e me beijando com tanta força que parece que meus dedos dos pés estão se
enrolando.

Tudo o que sei é que esse foi o melhor beijo de minha vida.

Eu gemo quando sua língua exige a entrada em minha boca. Separo meus
lábios, estremecendo contra ele quando sua língua encontra a minha. Eu me agarro
a ele, arqueando-me contra ele, enquanto uma de suas mãos desliza para o meu
quadril, me puxando para mais perto. Eu o sinto, tão duro, grande e grosso contra o
meu centro, e gemo contra seu beijo enquanto agarro sua camisa.

Caímos para trás, passando pela cama, passando pelo abajur quebrado no
chão - aparentemente sem nenhuma direção ou destino em mente - até que minhas
costas batem no vidro aquecido da grande janela do chão ao teto, com vista para a
cidade de esqui que brilha lá embaixo.

Eu gemo com a sensação dos seus músculos se contraindo contra mim. Ao


sentir suas mãos me agarrando com força, possessivamente. Eu o desejo. Eu o desejo
intensamente como nunca desejei algo ou alguém em minha vida antes.

Sem fôlego, ofego quando sua boca se afasta da minha - sugando meu
lábio inferior e puxando-o com ele antes de soltá-lo. Seus olhos ardem com esse fogo
feroz que me envolve antes de ele deslizar os lábios até minha mandíbula. Eu gemo,
agarrando-me à sua camisa e enfiando as mãos por baixo dela enquanto sua boca
desce pelo meu pescoço - mordendo, sugando, transformando-me em uma poça de
líquido fervente.

Bastian desce mais, beijando com avidez meu pescoço e depois minha
clavícula. Suas mãos deslizam para os meus quadris, empurrando a camisa e o suéter
para cima. Nós nos separamos apenas pelo tempo necessário para ele arrastar as duas
blusas por cima da minha cabeça e jogá-las fora, e para eu tirar sua camisa e gemer
ao ver seu peito nu.

Então, estamos nos chocando novamente.

Meu sutiã cai. Meus mamilos se arrastam sobre seu peito duro como uma
rocha, fazendo-me gemer enquanto sua boca devora a minha. Ele beija meu pescoço
novamente, fazendo com que minha respiração fique presa enquanto ele desce pelo
meu peito. Ele aperta meus seios e seus lábios percorrem a encosta de um deles antes
de envolver um mamilo dolorido.

— Bastian... — Eu suspiro baixinho. Minhas mãos escorregam para o


cabelo dele, e minha cabeça cai para trás contra o vidro.
Ele rosna quando passa para o outro mamilo, chupando até que eu esteja
gemendo baixinho e empurrando meus quadris contra ele. Sua boca desliza para
baixo, beijando meu abdômen, que se contrai sob seu toque.

Suas mãos brincam com a bainha da minha saia enquanto ele arrasta a
boca sobre a minha pele. Minhas mãos se apertam em seu cabelo quando ele se
abaixa para beijar a lateral do meu joelho. Bastian sobe mais, suas mãos lentamente
empurram a saia para cima enquanto sua boca se arrasta para cima e para cima da
minha coxa.

Estou tensa.

— Espere...

Ele congela. Sua boca se afasta da minha pele e ele olha para mim, com
preocupação e desejo estampados em seu rosto.

— Você quer que eu pare?

Eu tremo.

— Sim ou não, Julianna, — ele sussurra em voz baixa.

Eu mordo meu lábio. Não se trata de não querer que ele continue com sua
boca.

Trata-se das linhas brancas e rosadas em relevo das cicatrizes na parte


interna das minhas coxas. Minha vergonha. As marcas que me rotularão como louca,
danificada ou feia.

Impossível de ser amada.

Indesejável.
E minha hesitação faz com que ele franza a testa e comece a se afastar.

— Não estamos fazendo isso.

— Por favor, não pare, — eu me engasgo.

O fogo se acende em seus olhos, fixos nos meus, enquanto ele se inclina
para minha coxa novamente. Suas mãos lentamente empurram o tecido para cima,
seus lábios o perseguem enquanto ele se aproxima cada vez mais do ponto em que
minhas coxas se encontram.

Onde minha calcinha está encharcada, agarrada ao meu sexo.

— Paro? — Ele rosna no meio da coxa.

Eu choramingo, balançando a cabeça.

— Não.

Ele beija cinco centímetros mais alto, fazendo com que meu núcleo se
transforme em lava derretida.

— Bastian...

Desejo. Vergonha. Excitação. Ansiedade. Está tudo ali, girando e se


incendiando no meu peito até eu sentir que vou explodir.

Ele empurra minha saia para cima, beijando minha coxa. A saia sobe ainda
mais, até eu saber que minha calcinha está visível. Seus lábios continuam... e, de
repente, ele para, e eu fecho os olhos com força e estremeço.

Porque eu sei por que ele parou.

— Eu...

— Por quê? — ele sussurra.


Abro os olhos e baixo o olhar. Bastian está olhando para mim. Não com
nojo. Não assustado. Não repugnado ou pensando que sou uma bagunça emocional.

Apenas a pergunta de uma palavra.

— Por quê? — Ele sussurra novamente, com a preocupação obscurecendo


seu rosto.

Ele não está olhando para mim como se eu estivesse quebrada. Ele está
olhando para mim como se quisesse consertar tudo.

— Eu...

Eu desvio o olhar, com os olhos cheios de lágrimas. Mas ele se levanta e


me pega em seus braços.

— Jules...

— Porque eu preciso sentir, está bem? — Eu me engasgo, com a voz


embargada enquanto as lágrimas picam meus olhos.

Desvio o olhar, com a vergonha aflorando em meu rosto. Mas ele segura
meu queixo - com ternura, mas com firmeza, enquanto puxa meu olhar de volta para
seus olhos. Um rosnado baixo ressoa em seu peito e, de repente, minha respiração
sai do peito e meu coração dispara quando ele encosta seus lábios nos meus.

— Sinta isso então, em vez disso, — ele geme contra minha boca. —
Sinta-me.

Sua boca me toma com avidez. Eu dou, de bom grado. Ansiosa por mais.
Sua mão desliza por baixo da minha saia e sobe pela minha coxa. Fico ofegante
quando seu dedo grande se arrasta sobre a renda encharcada da minha calcinha. Mas
quando seu pulso gira e sua palma desliza suavemente sobre a parte interna da minha
coxa para cobrir minhas cicatrizes, eu mordo o lábio.

— Essa não será mais sua fuga, — ele rosna baixinho.

Eu engulo, mordendo loucamente meu lábio, meus olhos se arregalam


enquanto ele os cativa com os seus.

— Diga, — ele murmura.

— Essa não será mais minha fuga.

— O que será sua fuga?

Eu engulo, olhando para ele, meu coração prestes a saltar do meu peito.

— Você, — eu choramingo baixinho. — Você vai...

Ele cola a boca na minha, roubando meu fôlego enquanto ele devora meus
lábios. Nossas línguas dançam enquanto sua mão desliza por baixo da minha saia
novamente. Dessa vez, eu apenas gemo de puro desejo quando seus dedos deslizam
pela minha costura, por cima da calcinha. Ele se detém sobre meu clitóris, e eu gemo
de prazer proibido.

A mão de Bastian se move para cima e seus dedos deslizam sob a borda
da minha calcinha. Ele suga meu lábio inferior entre os dentes, fazendo-me tremer
quando se afasta.

Ele arrasta minha calcinha até aos joelhos com o mesmo movimento.

Como antes, ele começa a se abaixar, beijando meu pescoço, minha


clavícula e meus seios. Ele se move para baixo, acariciando meu estômago enquanto
empurra minha saia para cima. Seus olhos se voltam para os meus e, de repente, ele
se move entre minhas coxas.
Meu mundo inteiro se derrete quando sinto seu olhar em minha boceta nua
e escorregadia. Sua respiração provocando minha pele. Seus grunhidos ressoando na
escuridão do quarto e sua mão apertando meu quadril.

— Esta pele é minha, — Bastian rosna com firmeza. Seus olhos são
piscinas azuis de fogo quando ele olha para os meus.

— Não se atreva a estragar o que é meu. Entendeu?

Eu poderia me derreter, aqui e agora.

— Sim, — gemo sem fôlego. — Sim, eu enten...

Sua boca se move entre minhas coxas e, de repente, meu cérebro entra em
curto-circuito. Sua língua se arrasta molhada pela minha fenda enquanto ele geme
profundamente, e minha boca se abre em um grito silencioso de prazer.

Nossa. Senhora.

Minhas pernas tremem. Minha pele parece eletrificada. Meus dedos dos
pés se curvam enquanto a boca de Bastian devora lentamente minha boceta. Ele
geme dentro de mim, abrindo-me com a língua e empurrando-a profundamente. Eu
gemo alto, deslizando minhas mãos em seus cabelos enquanto seu rosnado ressoa
em meu âmago.

Sua língua se arrasta até ao meu clitóris, e eu grito quando seus lábios o
envolvem. Ele chupa o botão dolorido, fazendo-me gemer mais alto; fazendo minhas
pernas tremerem ainda mais, enquanto meus joelhos se esticam na calcinha que os
prende.

Com um rosnado profundo em seu peito, Bastian puxa a calcinha o resto


do caminho para baixo. A saia é a próxima, e eu fico completamente nua com ele
ajoelhado na minha frente.
Ele olha para minha boceta como se fosse... o paraíso. Como se estivesse
prestes a abrir um presente que esperou uma eternidade para abrir.

E então, ele abre.

Suas mãos deslizam pelas minhas coxas, seguram minha bunda e me


puxam contra sua boca enquanto ele se aprofunda entre minhas pernas. Sua língua
penetra em mim, arrastando minha umidade escorregadia antes de se mover para o
meu clitóris novamente.

Uma de suas mãos passa pelo meu quadril, escorregando entre minhas
pernas. Sinto um de seus dedos grossos entrar em mim e gemo quando ele o enrola
profundamente. Bastian rosna, chupando meu clitóris e passando a língua ao redor
dele enquanto seu dedo encontra um ponto mágico dentro de mim. Ele o acaricia, e
meus olhos se arregalam.

— Oh, meu Deus... oh, meu Deus...

Meu corpo se enche de prazer. Com uma necessidade dolorosa. Com uma
luxúria estrondosa.

Com desejo proibido. Pelo meu professor.

Sua língua é implacável, girando ao redor do meu clitóris pulsante


enquanto ele passa o dedo no meu ponto G. Até que, de repente, não consigo me
conter nem mais um segundo. Todo o meu corpo se sacode e se contrai, e eu empurro
meus quadris contra sua boca enquanto grito.

Minha boca se abre e minha cabeça cai para trás. E ali, pressionada contra
a janela, com as pernas bem abertas e as mãos agarrando seu cabelo com os nós dos
dedos brancos, eu gozo para ele.
Bastian geme dentro de mim enquanto saboreia meu clímax. Seu dedo
continua acariciando e sua língua continua girando até que pareça que eu possa me
despedaçar.

Estou tremendo quando ele se afasta e vira a cabeça para beijar minhas
cicatrizes com lábios molhados e escorregadios. Ele se levanta, e minha pulsação
dispara quando ouço sua calça cair no chão. Olho para baixo e meu queixo cai.

Minha imaginação foi à loucura depois que o vi tensionando a parte da


frente do seu short de ginástica. Mas, aparentemente, minha imaginação precisa de
ajustes.

Ele é enorme. Grosso, pulsante e muito, muito duro.

Por mim.

Ainda estou apenas olhando para seu pau quando sua mão segura meu
rosto, inclinando-o para cima. Eu gemo quando sua boca se esmaga na minha, seu
corpo enorme e musculoso me pressiona contra o vidro. Posso sentir sua grossura
pulsar e latejar entre minhas coxas.

Fico tensa quando sinto o comprimento do seu pau deslizar mais alto para
provocar minha fenda. As sobrancelhas de Bastian se franzem ligeiramente.

— Você... — ele congela. — Você já fez isso antes?

Engulo em seco e o encaro de volta nos olhos, desafiadoramente. Sim.


Duas vezes, em meu terceiro ano. As duas foram completamente esquecíveis e
decepcionantes. Ambas foram uma experiência a ser superada, porque ‘é isso que
você faz’. Você acaba com isso. Arrancar o band-aid. Todo mundo faz isso.
Nunca tive vergonha das minhas escolhas na vida. Nunca. Mas, de
repente, frente a frente com esse... homem, que olha para mim como se eu fosse uma
preciosa joia de cristal - como uma princesa?

Aperto meus lábios.

— Sim, — respondo, com um pouco de calor em minha voz. Um pouco


de desafio em meus olhos. Desafiando-o a ficar desapontado. Desafiando-o a franzir
a testa. Que perca o interesse.

— Decepcionado? — Odeio como minha voz quase quebra quando


murmuro isso.

Mas Bastian apenas olha em meus olhos. Sua sobrancelha se arqueia e sua
mão se aproxima para acariciar minha bochecha.

— Porra, não, — ele geme ao diminuir a distância entre sua boca e a


minha.

Sua boca se choca com a minha, roubando meu fôlego e parando meu
coração. Sua outra mão desliza entre minhas pernas e arrasta um dedo pela minha
fenda, fazendo-me gemer em seus lábios.

— Irritado?

— Julianna, — ele rosna enquanto seu dedo começa a passar sobre meu
clitóris. Posso sentir seu pau grosso e enorme pulsando contra minha coxa.

— Seu passado é seu. Mas esta noite?

Minha respiração fica presa quando o sinto centralizar a cabeça latejante


entre meus lábios, bem na minha abertura.

— Esta noite é toda minha.


Sua boca bate em meus lábios, fazendo-me cambalear enquanto ele me
beija com força suficiente para fazer meu coração pular. Sua mão desce até minha
coxa, puxando minha perna até seu quadril.

Ele empurra para dentro de mim e eu vejo estrelas. Gemo profundamente


quando Bastian afunda seu pau muito grosso e muito grande em mim. Ele geme,
agarra minha coxa e desliza a outra mão para o meu cabelo. Sua boca se funde à
minha, engolindo meus gemidos e choramingos enquanto ele enfia lentamente sua
grossura em mim.

Meus olhos se arregalam e minha boca se abre quando ele continua a


penetrar. Quando seus quadris são pressionados firmemente contra a parte interna
das minhas coxas, nós dois fazemos uma pausa, como se estivéssemos respirando
antes de mergulhar. E então, não há nada no mundo que possa impedir isso.

Sua língua encontra a minha quando ele desliza para fora, mas volta a
penetrar até ao fim. Eu gemo em sua boca, soltando um gemido alto quando ele
começa a se retirar novamente. Com um rosnado, como se estivesse prestes a perder
o controle, a mão de Bastian desce do meu cabelo para a minha outra perna. E, de
repente, estou suspensa no ar.

De repente, estou presa à janela com minhas pernas em volta de sua cintura
musculosa, com seu enorme pau enterrado dentro de mim.

Com um grunhido, ele desliza para fora e depois volta a entrar, me fodendo
contra o vidro. Eu grito, com meus braços em volta do seu pescoço e minha cabeça
inclinada para trás. Sua boca desce para o meu pescoço, mordendo e chupando
enquanto suas investidas se tornam mais fortes e profundas.

Mais possessivo. Mais consumidor. E como nada que eu já tenha sentido


antes.
Isso é sexo. Sexo alucinante, de derreter a alma e de fundir o coração. Eu
me agarro a ele, com as pernas apertadas em torno da sua cintura e minhas unhas se
arrastando por sua nuca. Os músculos de Bastian se enrolam e se contraem, seus
gemidos ressoam em meu corpo enquanto ele beija, morde e suga minha pele. Seu
pau bate em mim, me fodendo com força contra a janela, enquanto eu começo a me
desfazer aos pedaços.

Isso é sexo. Isso é transar.

Isso é o céu.

— Foda-me! — Eu grito, gemendo alto. — Foda-me! Foda-me!

Ele geme, mordiscando minha orelha.

— Você vai acordar a porra da cidade inteira, — ele rosna em meu


pescoço.

Mas não consigo evitar. Ou não me importo. Porque, neste momento, não
há nada no mundo com que eu me importe, exceto isso.

— Mais forte! — Eu gemo, incentivando-o. — Foda-me com força... oh,


porra!

Eu grito quando ele rosna e enfia seu pau bem fundo. Seus quadris batem
nos meus, batendo com força em minha bunda contra o vidro atrás de mim.

— Sim! — Eu gemo. — Foda-me! Foda...!

Sua mão aperta minha boca enquanto ele enfia seu pau grosso
profundamente. E talvez seja a coisa mais gostosa que já senti.
Eu me desfaço, mordendo sua mão e gemendo enquanto começo a
explodir. O prazer me atravessa como um incêndio, e quando ele rosna em meu
ouvido e enfia seu pau em mim repetidamente, não consigo me conter.

Não posso lhe dizer que estou gozando. Mas não preciso.

Ele sabe.

— Goze para mim, — ele sussurra em meu ouvido. — Seja uma boa garota
e goze para mim, Julianna.

As luzes se apagam. Estrelas explodem em minha visão escurecida. Sua


mão sai da minha boca, mas seus lábios estão lá instantaneamente - engolindo meus
gemidos, sugando minha alma do meu corpo.

Devorando-me por inteira enquanto eu me despedaço para ele.

Bastian geme e empurra profundamente. Seu corpo se contrai, sua


respiração fica sufocada, e seu pau pulsa com tanta força que seu esperma quente se
derrama em mim.

O mundo está parado. A única coisa que posso ouvir é o bater do meu
próprio coração em meus ouvidos. E a única coisa que posso sentir é ele, contra mim.

Dentro de mim.

Engolindo tudo de mim.

Ele se afasta, seus olhos brilhando nas luzes cintilantes da cidade abaixo.
Por um breve segundo, vejo preocupação em seus olhos - dúvida, conflito... a guerra
moral que assola seu coração.
Eu poderia lhe dizer de um milhão de maneiras diferentes que o que
acabou de acontecer era tudo o que eu queria. Que não há arrependimentos e que
está tudo bem.

Em vez disso, eu apenas o beijo.

E quando ele me beija de volta, acho que nos entendemos muito bem.
21

Não tenho ideia de que horas são. Mas sei que não consigo dormir. Sob a
luz da lua que entra pela janela do quarto, viro-me para olhar para ela, dormindo
enrolada contra mim.

Observando-a. Absorvendo-a. Perdendo-me nela.

Quero permanecer no paraíso que acabei de saborear com ela. Quero viver
lá e permanecer naquele momento para sempre. Mas quando olho para esse anjo
perfeito, lindo e desafiador deitado ao meu lado, minhas sobrancelhas se franzem.

Você vai destruí-la. Como destrói tudo.

Eu me arrepio com a voz venenosa dentro da minha cabeça. Mas ela


persiste, me cutucando. Me provocando. Zombando da minha felicidade e da minha
rara sensação de paz.

Desço da cama, coloco minha cueca boxer, pego o resto das minhas roupas
e vou pelo corredor até meu próprio quarto. Sento-me à escrivaninha perto das
janelas com o laptop aberto. Olho fixamente para o teclado e para a página em branco
na tela.

E então, começo a digitar.

Muito.

As palavras fluem de mim, como não faziam há quase um ano. Como


fluíram quando derramei God $ave The Queen nas páginas. Eu nem sei que história
é essa ou quem são os personagens. Mas, lentamente, na onda louca de palavras e
ideias que começam a preencher as páginas, eles começam a se revelar.

O meu verdadeiro eu. Não adulterado. Não me preocupo com a ameaça de


processos judiciais e com a ruína profissional e da reputação.

Apenas ideias que chegam à página sem um filtro. Como costumavam


fazer.

Não sei por quanto tempo fico batendo no teclado. Mas quando finalmente
me sento e respiro um pouco de ar, tenho páginas cheias de... o quê, nem sei ainda.
Mas está lá, esperando que eu junte as peças.

Respiro lentamente e coloco meus dedos atrás da cabeça.

— O que você estava escrevendo?

Sacudo a cabeça, assustado com sua voz. Mas sorrio ao ver Julianna
parada na porta da minha porta, enrolada em um cobertor.

— Nada, — murmuro baixinho. Fecho o laptop enquanto ela vem em


minha direção, fechando a porta atrás de si. Quando ela se aproxima de mim, eu a
puxo facilmente para o meu colo e deslizo a mão em seu cabelo enquanto nos
olhamos.
Julianna passa a língua sobre o lábio inferior e o morde levemente. Seus
olhos ardem com profundidade enquanto passam pelo meu rosto, procurando por
algo.

— O que estamos fazendo? — ela sussurra, timidamente.

— Isso.

Puxo sua boca para a minha e nossos lábios se unem. Não são os beijos
loucos e avassaladores de antes. É algo lento.

Que nos desnuda.

Que nos liberta.

Diferente de tudo o que já cheguei perto de sentir antes. E isso pode me


assustar pra caralho, mas não o suficiente para me fazer parar.

Não é provar seus lábios porque não consigo mais me segurar nem por um
segundo. É prová-los porque eu quero. Porque quero saboreá-los.

Quando nos afastamos lentamente, suas bochechas ardem e seu lábio


inchado fica preso nos dentes novamente.

— Somos pessoas ruins?

Franzo a testa e minha cabeça balança. — Não.

— Isso é, tipo, traição?

— Não, — rosno com firmeza, balançando a cabeça novamente. — Não,


não é. Não estou com ela, de forma alguma. Nem ela está comigo.

Julianna olha para baixo. — Então... por quê, Bastian?


Seus olhos se voltam para os meus, confusos e um pouco magoados. Um
pouco triste.

— Por que você está com...

Ela franze a testa e olha para baixo. — Desculpe, eu sei que você não pode
contar...

— Eu escrevi aquele livro...

E então eu lhe conto tudo. O livro, as consequências... assistir à minha


carreira pegar fogo quando me tornei persona non grata. Ser abordado por Rebecca
com a oferta de troca - as finanças da minha família pela capacidade dela de reabilitar
minha imagem.

Quando termino, os olhos de Julianna estão arregalados, e suas mãos


deslizam ao redor do meu pescoço. Seus dedos se embrenham em meu cabelo, o que
talvez seja uma das coisas mais íntimas que já senti.

— Você não precisava me contar tudo isso.

— Eu sei.

— Então, por que você fez isso?

— Porque eu queria. Porque você merece saber.

Meus olhos se fixam nos dela.

— Quero lhe perguntar uma coisa agora.

Ela acena com a cabeça e eu pego o cobertor que a envolve. Julianna fica
corada quando o afasto do seu peito, expondo seus seios.

— Para quem você estava prestes a enviar isso ontem à noite?


Seu rosto escurece e ela desvia o olhar.

— Não é nada.

Minha mandíbula range.

— Você deve saber que eu tenho uma veia ciumenta.

Seus olhos se arrastam até aos meus, com um sorriso que provoca os
cantos de seus lábios.

— Ótimo, — sussurra ela, arrastando os dentes sobre o lábio inferior. Ela


se inclina para perto de mim, segura meu rosto e me beija.

— Na verdade, não é o que você está pensando. Não há nada para ter
ciúmes. Você pode confiar nisso?

— Estou confiando muito a você.

— Eu sei.

Ela se afunda em mim novamente, beijando minha boca com suavidade e,


depois, com um pouco mais de calor.

— Mas você também está confiando em mim, — rosno baixinho.

Ela engole em seco, seus olhos dançando com os meus na luz fraca.

— Posso lhe perguntar outra coisa?

— Você é a mesma garota que não respondeu à minha pergunta, certo?

Ela fica corada e olha para baixo.

— Sim, — murmuro enquanto a puxo para perto e beijo sua testa. — Você
pode.
Suas sobrancelhas se franzem, ainda olhando para baixo.

— Você... — a boca dela se afina. — Você teve um caso com sua


assistente?

Eu me enrijeço.

— Aquela que tinha minha idade...

— Onde você ouviu isso? — Eu rosno.

Julianna olha para cima rapidamente. — Desculpe-me, mas não é da


minha conta...

— Quero que isso seja da sua conta, — murmuro. — E a resposta é não.

Suspiro pesadamente.

— Seu nome é Sophia Davies, e ela...

— Ela é bonita?

Um pequeno sorriso brota em meus lábios quando vejo a sombra de


ciúmes tingir seus olhos. Quando ela desvia o olhar, toco sua bochecha e a viro de
volta para o meu olhar.

— Parece que não sou o único com uma veia ciumenta.

Julianna fica corada.

— Eu nunca a toquei. Nunca tive qualquer indício de desejo por ela. Seu
pai é Rupert Davies, dono da Horn Publishing. Acho que ela... — Balanço a cabeça.
— Não sei. Quando eles me dispensaram, acho que ela viu uma oportunidade de ser
mais do que uma princesa de fundo fiduciário. — Reviro os olhos. — Ela quer ser
escritora.
Ainda posso vê-la fervendo de raiva, mas ela se vira e desliza as pernas ao
meu redor, de modo que fica montada no meu colo.

— Então... você nunca a tocou.

Balanço a cabeça. — Ainda com ciúmes?

— Acho que tenho inveja de qualquer mulher que já tenha olhado para
você, — murmura ela.

— Bem, eu quero cegar qualquer cara que já tenha olhado para você, —
eu rosno.

Ela cora ao se aproximar, com os lábios perto da minha orelha.

— Ninguém nunca teve o que você tem.

Eu gemo, e meu pau fica duro como uma rocha contra ela. Ela ofega
quando tiro o cobertor de cima dela, deixando meus olhos absorverem sua nudez.
Uma das minhas mãos escorrega para baixo para agarrar sua bunda com força, a
outra se estende entre nós para empurrar minha cueca para baixo.

Quando minha grossura se solta para pulsar contra sua bocetinha molhada,
ela geme. Minhas mãos seguram sua bunda, trazendo-a para cima antes de
centralizar sua fenda sobre a cabeça inchada e descer.

— Bastian... — ela diz meu nome enquanto passa os braços sobre meus
ombros, cola os lábios nos meus e se afunda em cada centímetro do meu pau.

Nós nos movemos lentamente... minhas mãos a guiam enquanto ela me


cavalga em seu próprio ritmo. Seus quadris rebolam, sua respiração fica presa
enquanto seu corpo se contorce contra mim. A lenta combustão ferve, ondulando
através de mim enquanto eu gemo em sua boca e agarro sua bunda com força em
minhas mãos.

Gradualmente, ela começa a saltar mais rápido, subindo até ao fim e


depois gemendo enquanto absorve cada centímetro grosso de mim profundamente.
Ela se separa dos meus lábios, engasgando com um gemido enquanto suspira e
pressiona a testa contra a minha.

Seus olhos se fecham. Sua boca se abre enquanto seus dedos agarram com
força a parte de trás do meu cabelo. Posso sentir suas paredes me apertando -
ondulando enquanto seu corpo começa gozar.

— Bastian...

— Goze, — eu gemo, incentivando-a enquanto começo a me levantar para


encontrá-la. — Deixe-me sentir essa linda boceta gozar em cima do meu pau.

Ela geme enquanto explode para mim. Sua boceta me agarra com força,
me ordenhando, e eu não consigo me conter. Com um grunhido, esmago meus lábios
nos dela, empurro meu pau bem fundo e sinto minhas bolas se contraírem quando
derramo meu esperma bem dentro dela.

Ficamos assim, abraçados um ao outro enquanto tentamos respirar. Sua


testa encosta na minha novamente, enquanto o brilho tênue da manhã começa a se
esvair acima das cristas da cadeia de montanhas ao nosso redor.

Minutos de silêncio perfeito, confortável e sem pressa se passam antes que


ela engula. Seus olhos permanecem fechados enquanto sua boca se abre.

— Isso tem que parar por aqui, não é?

Fecho os olhos e aceno com a cabeça.


— Quero dizer, isso não pode nos seguir de volta a Oxford Hills, pode?
— ela sussurra.

Balanço a cabeça. — Não, — eu me engasgo.

— Está bem.

Ela para, e então seus lábios encontram os meus, beijando-me profunda e


lentamente.

— Então é melhor fazermos isso de novo.


22

Meu Natal ideal envolve paz e tranquilidade, sem multidões e sem


‘interação’ ou conversa fiada em uma festa cheia de estranhos. Envolve luzes baixas,
o cheiro de um pinheiro e talvez de canela, e talvez um pouco de música calma ou
até mesmo um filme clássico de Natal ao fundo. E um pijama aconchegante, com
pantufas.

O evento ‘Yule Ball Gala’ para o qual minha mãe nos arrastou é
exatamente o oposto dessa cena ideal em minha cabeça.

O resort de luxo onde o evento está sendo realizado, no outro lado do vale
do nosso chalé, está lotado de pessoas. Não apenas pessoas, mas pessoas horríveis.
Pessoas ricas, esnobes, da ‘elite’ - o tipo de pessoa de quem Rebecca se alimenta e
de quem extrai seu poder.

Porque pessoas como essas se curvam a ela com base em sua posição no
London Royal Society. Até mesmo pessoas que perderam fortunas quando meu pai
fugiu com o cofrinho. E ainda sorriem para minha mãe como pequenos bajuladores
ávidos. É quase impressionante como ela saiu completamente ilesa de toda essa
história de ‘esposa de um fraudador fugitivo’.

A música não é silenciosa. É estridente, vinda do salão de baile principal,


onde uma orquestra completa de metais e cordas toca músicas festivas em um palco.
Surpreendentemente, não há ‘It's A Wonderful Life’ ou ‘Love, Actually’ tocando em
lugar algum.

E, obviamente, há uma nítida falta de pijamas aconchegantes. O evento


todo é de gala, é claro. Portanto, estou com um vestido preto até ao chão, sem
mangas, com uma fenda até ao meio da coxa, e sapatos de salto alto pretos muito
desconfortáveis e sem graça. Meu cabelo está preso em uma combinação elaborada
de grampos e diamantes brilhantes que o estilista da minha mãe fez antes de sairmos
de casa.

Mamãe e eu paramos para tirar fotos horríveis do lado de fora, no tapete


vermelho. Bastian ignorou as exigências da minha mãe para posar e entrou no baile
de gala.

Agora que finalmente estou aqui dentro, resmungo e pego uma taça de
champanhe de um garçom que passa. Rebecca já está conversando com as outras
víboras. Mas quando olho em volta, vejo imediatamente a pessoa que eu estava
procurando. Fico vermelha ao ver Bastian, encostado no bar com um drinque na
mão, com os olhos ardendo nos meus.

Eu me arrepio de calor.

Concordamos mutuamente em manter uma espécie de... distância entre


nós. Pelas razões óbvias. Mas, olhando para ele agora, só consigo pensar nos limites
que ultrapassamos. As maneiras como ele me tocou e me provou na noite passada.
A maneira como sua mão cobriu minha boca enquanto ele me fodia até ao maior
orgasmo da minha vida.

Fico corada, apertando minhas coxas com força enquanto olho para ele -
descaradamente. Com fome.

O fato de o baile de gala ser black tie significa que, obviamente, Bastian
não está usando gravata. Ele está de smoking, mas os botões superiores da camisa
estão desabotoados, o que é incrivelmente sexy no estilo James Bond.

E ainda assim, aqui, não posso tocá-lo. Não posso atravessar este salão,
cair em seus braços, ficar na ponta dos pés e beijá-lo pelas próximas duas horas
seguidas.

Em vez disso, apenas devoramos um ao outro com os olhos de longe.

O homem com quase o dobro da minha idade. Que está preso em um


acordo diabólico com minha mãe. Que também é meu professor.

Um caso ilícito.

Uma atração proibida.

Um fogo secreto que poderia queimar nós dois.

E nada disso deveria me empolgar e eletrizar como de fato acontece.

— Ahh, Julianna, querida.

Eu me viro e imediatamente me engasgo. A mulher que está sorrindo para


mim, com aquele sorriso arrogante de ‘elite’ que todas essas pessoas têm, é Patricia
Grand. A mãe de Alistair e a amiga favorita de Rebecca.
— É um prazer vê-la aqui. E como foi seu primeiro período do último ano,
querida? — Ela diz em seu típico tom entediado.

Bem, pelo menos é só ela.

— Uh, foi ótimo, obrigada...

— Feliz Natal, Julianna.

Continuo sorrindo para Patricia. Mas, por dentro, estou me encolhendo e


me retesando com o som da voz de Alistair vindo de trás de mim. Eu me viro e, com
certeza, lá está ele, em toda a sua glória presunçosa, mimada e arrogante.

— Feliz Natal, Alistair, — eu digo com voz fraca.

— Má sorte, hein? — Ele sorri de forma desdenhosa.

Franzo a testa. — Como é?

— Você chega ao fim de um período exaustivo na escola e ainda não


consegue se afastar do seu professor de inglês.

Patricia ri de uma maneira horrível e fria. Alistair sorri para mim como
um tubarão.

— Oh, muito engraçado, Ali, — diz Patricia, sorrindo para seu filho de
merda.

— E sobre o que estamos conversando aqui?

Eu resmungo. Como se falar com Alistair e sua mãe fria e vadia não fosse
ruim o suficiente, minha mãe também entra no círculo.

— Estamos conversando sobre seu novo brinquedinho, Rebecca, —


Patricia sorri.
Minha mãe sorri amplamente, dando à sua amiga um olhar
propositalmente ‘atrevido’ que faz meu sangue ferver. Embora eu saiba que ela está
apenas mexendo no caldeirão para que os círculos de fofocas falem sobre ela e
Bastian.

— Bem, o que posso dizer? — Ela sorri. — Você só é tão velha quanto se
sente, como dizem.

— E que melhor maneira de se sentir jovem do que com aquele homem...


— Patricia olha para além da minha mãe e para Bastian no bar, com um brilho
faminto nos olhos que me faz lançá-la um olhar penetrante.

— Sim, bem... — minha mãe volta os olhos para mim, deixando-os


estreitos para mim antes de se voltarem para Alistair.

— Estou mais curiosa para saber quando esses dois finalmente vão parar
de enrolar e simplesmente aceitar que foram feitos para ficar juntos? Você não
concorda, Patricia?

— Bem, eu certamente concordo, Lady McCreed, — diz Alistair em voz


alta, com os olhos fixos em mim daquela forma que sempre me deixa arrepiada.

— Fico dizendo a ela o quanto isso faz sentido, mas, infelizmente, — ele
suspira dramaticamente, falando para a minha mãe e a dele, que, obviamente, estão
adorando.

— Infelizmente, ela ainda afirma ser imune aos meus encantos.

Minha mãe zomba. — Bobagem, Alistair. Talvez ela só precise de um


argumento mais convincente?

Franzo a testa. — Estou bem aqui, caso alguém esteja curioso sobre
minhas opiniões sobre com quem saio...
Minha mãe me interrompe com uma risada alta, puxando-me para um
abraço. O que obviamente não é um abraço de verdade, porque ela nunca me deu um
abraço de verdade em toda a minha vida.

— Ela herdou essas maneiras ríspidas do seu pai! — Rebecca diz com
uma risada exagerada enquanto me puxa para perto.

— Cuidado com seus modos, Julianna! — Ela sibila em meu ouvido antes
de se virar para trás, radiante.

— Por que não começamos com a dança formal, mais tarde? — diz minha
mãe, com naturalidade. Ela faz um gesto para Alistair e eu. — Esses dois juntos,
para que todos aqui vejam como fazem sentido?

— Oh, eu simplesmente adoro essa ideia, Rebecca, — diz Patricia com


entusiasmo.

— Um plano brilhante, você não acha, Jules? — Alistair me diz com um


sorriso predatório.

Eu preferiria pular na frente de um ônibus.

Preciso sair daqui.

— Com licença? — Eu sorrio levemente, levantando minha taça de


champanhe. — Acho que vou pegar mais um pouco.

Minha mãe me encara. — Julianna, você tem uma taça perfeitamente


cheia...

Bebo o champanhe, sorrio para ela e me viro para atravessar o salão de


baile em direção ao bar. Bastian sorri para mim quando me aproximo dele no bar.
Mas é um sorriso que pinga uma falsa inocência, que mal esconde o fato de que seu
rosto grita que ele quer me devorar inteira, aqui e agora.

Assim, somos dois.

Paro a uma distância respeitável dele, como se estivéssemos apenas


conversando, enquanto tento chamar a atenção do barman. Bastian se vira para o
mesmo lado que eu, observando as garrafas de bebida e vinho na parede do fundo.

— Temos um problema.

Eu me enrijeço. — Temos?

— Mhmm.

Mordo o lábio com nervosismo. — Qual é? — Sibilo em voz baixa.

Ele se inclina para perto de mim, esticando-se como se estivesse tentando


pegar um guardanapo de coquetel de um pratinho prateado atrás de mim.

— O problema é que, — ele rosna baixinho em meu ouvido. — Eu quero


que você goze na minha língua agora mesmo.

Meu corpo inteiro formiga, como se uma corrente elétrica estivesse


passando por ele. Meu núcleo se contrai, e o calor se acumula instantaneamente entre
minhas coxas.

— Suponho que isso seja um problema, — sussurro de volta. —


Considerando onde estamos.

— Talvez. Ou talvez nem mesmo isso me impeça de entrar debaixo desse


vestido - que, a propósito, está maravilhoso em você.

Fico muito corada.


— E arrancar essa calcinha para que eu possa passar a língua nessa
bocetinha doce.

Quase me engasgo com suas palavras imundas. Não porque elas me


choquem, ou porque sejam muito grosseiras.

Porque elas me deixam encharcada.

Respiro fundo, mordendo o lábio. O barman olha em minha direção e sorri


ao se aproximar.

— Vodca soda, por favor?

Quando ele acena com a cabeça e se vira, eu sorrio, olhando para a frente,
não para Bastian, enquanto me inclino um pouco mais para perto dele.

— Quem disse que estou usando calcinha? — murmuro.

Minha pulsação dispara quando ouço o rosnado de fome sob sua


respiração.

— Vou precisar que você me mostre se está usando calcinha ou não, Lila
Jane.

Eu fico corada.

— Você terá que descobrir uma maneira de descobrir por si mesmo, Henry
Chinaski.

— Se continuar me provocando, talvez eu descubra aqui e agora...

— Canapé, senhor?
Nós dois nos assustamos e nos viramos quando um garçom nos aparece
com uma bandeja cheia de hors d'oevres elegantes e ricos - pequenas quiches
cobertas com bacon e figos que fazem meu estômago se revirar de fome.

— Senhorita?

Eu franzo a testa. — Oh, não, obrigada...

— Ela adoraria, obrigado.

Bastian me lança um olhar severo enquanto tira dois deles da bandeja,


coloca-os em um pratinho oferecido pelo garçom e o entrega a mim enquanto o
homem se afasta.

— Coma isso.

Eu sorrio, arqueando uma sobrancelha para ele.

— Sim, senhor, Sr. Bossy...

— E não me chame de senhor, — ele rosna com firmeza.

Minhas sobrancelhas se franzem. — Por que não?

Eu ofego quando ele se inclina para perto de mim, novamente parecendo


estar esticando a mão para pegar algo atrás de mim.

— Porque isso me faz querer dobrá-la sobre este bar e transar com você
aqui e agora. E se você continuar dizendo isso, não vou conseguir me conter.

Eu gemo, apertando minhas coxas quando ele se afasta para deixar seus
olhos ardentes queimarem em mim.

— Agora, coma, — ele murmura com autoridade.


Fico corada e respiro fundo antes de dar uma mordida em uma das
pequenas quiches. Que, é claro, tem um sabor incrível ao derreter em minha boca.

— Meu Deus, Julianna!

Quase engasgo com a mordida quando minha mãe aparece do nada.

— Queijo? — Ela diz com desdém. — Queijo assado, com creme de leite
e... caramba, bacon? Julianna, você está tentando parecer grávida? Quero dizer, aqui
estou eu, me esforçando tanto para mostrar ao Alistair e à família dele o seu melhor
lado, e você está aqui enchendo a cara...

— Pare com isso, — Bastian sibila sombriamente. Rebecca ofega quando


ele agarra seu pulso e a puxa para longe de mim, para ele.

— Já chega, — ele rosna.

— Como é que é? — Ela retruca.

— Esse maldito complexo que você está dando a ela sobre comida. Isso
acaba agora.

— Por que você não me deixa ser a mãe aqui, hein, Bastian?

— Eu não sabia que matar sua filha de fome, menosprezá-la e deixá-la


com uma ansiedade incapacitante por causa de suas constantes e incessantes
reclamações a qualificava como mãe, Rebecca.

Minha mandíbula cai. O rosto da minha mãe fica vermelho escuro.

— Seu ingrato, presunçoso de merda, — ela sibila com raiva. — Não se


atreva a esquecer nosso... — Ela olha rapidamente para mim e depois de volta para
ele.
— Nosso...

— Nosso quê, Rebecca, — diz Bastian, sorrindo. — Por favor, continue.

Seus lábios se contraem. De repente, um homem de smoking com uma


grande câmera de aparência profissional vem em nossa direção. Minha mãe fica
instantaneamente toda sorridente quando se vira para fitá-lo. Ela passa o braço pelo
braço de Bastian e olha para ele.

— Beije-me.

Meu estômago cai. O rosto de Bastian endurece.

— O quê? — ele sibila.

— As pessoas estão olhando, Bastian, — ela sibila. — E parece que


estamos discutindo...

— Nós estávamos discutindo...

— Então você precisa me beijar, agora mesmo, para as câmeras, para que
todos esqueçam essa parte.

Meu rosto empalidece. Meu coração parece que está se transformando em


ácido por dentro, e acho que vou passar mal.

Bastian olha para minha mãe com frieza.

— Não.

— Não estou perguntando...

— E eu não estou fazendo isso.

O rosto da minha mãe ficou lívido.


— Que Deus me ajude, faça a porra do papel e beije...

— Vá se foder.

Conheço a aparência da minha mãe. E a que ela tem agora significa que
as coisas estão prestes a se tornar nucleares. Eu entro em cena antes que possa me
impedir.

— Por que nós três não sorrimos para a estúpida câmera, certo?

Sem esperar por respostas, passo entre eles, coloco um braço em volta da
cintura de ambos e me viro para sorrir para o homem com a câmera.

— Adorável, simplesmente adorável, — ele se entusiasma enquanto clica.


— Alguma novidade sobre o casamento?

— Não, vá se danar, — rosna Bastian ao mesmo tempo em que minha mãe


está falando alguma coisa. O operador de câmera fica tenso, mas sorri friamente
enquanto se vira e vai embora.

— Você está pisando em gelo fino, Bastian, — minha mãe sibila com os
dentes cerrados.

Bastian olha para baixo e bate o calcanhar duas vezes no chão. Ele olha
para cima com uma expressão presunçosa no rosto.

— Parece bom para mim.

Resisto à vontade de rir. Rebecca está furiosa, mas consegue se controlar.

Nesse momento, a música para. Um homem mais velho de smoking sobe


ao palco com um microfone, dando as boas-vindas a todos no baile de gala.
— E, é claro, não se esqueça de se inscrever para o ‘Carol Karaokê’, que
começa em apenas alguns minutos. — Ele dá uma risadinha. — Acredito que Sir
Adderly vem praticando suas notas agudas para ‘O Holy Night’ durante toda a
semana, para grande desgosto dos seus colegas deputados em sessão.

O público vibra com gargalhadas enquanto um homem mais velho e


corpulento, usando uma espécie de faixa real sobre seu smoking, ri e levanta sua taça
de champanhe. A música começa a tocar novamente.

— Isso não parece adorável? — Rebecca diz com alegria.

— Parece que estarei lá fora antes de tudo começar, — resmunga Bastian.

Eu rio baixinho. O rosto da minha mãe escurece e seus lábios se curvam


em um sorriso fino - para Bastian e depois para mim.

— Oh, continue rindo. Porque eu já assinei o contrato de vocês dois.

Bastian faz uma careta. — Boa sorte com isso...

— Você estará naquele maldito palco, cantando uma maldita canção de


Natal para todo mundo, ou, que Deus me ajude, Bastian, eu posso começar a me
sentir um pouco falante sobre certos assuntos. Isso não seria uma pena?

Os olhos dela se estreitam para ele.

— Para você.

Ela sorri novamente quando se vira para mim.

— Venha, Julianna. A Sra. Kensington tem perguntado por você, e ela é


uma membro muito estimada do clube.

— Eu...
— Venha agora, querida, — ela sibila enquanto agarra meu braço e me
leva embora antes que eu possa dizer alguma coisa.
23

Depois de meia hora exaustiva desfilando na frente dos bajuladores da


minha mãe, sinto-me esgotada. O entusiasmo que eu estava sentindo antes, por causa
de Bastian, desapareceu. Ter que sorrir e fazer conversa fiada com pessoas que
veneram minha mãe porque precisam, e que odeiam meu pai porque ele as enganou,
é mentalmente exaustivo.

Quando consigo me afastar, examino o salão de baile. Quando não vejo


Bastian, lembro-me dele brincando sobre estar do lado de fora antes do início das
canções de natal. Elas já começaram, e Sir Adderly está se saindo muito bem com
as notas agudas, apoiado pela pequena orquestra de metais e cordas no palco.

Saio para a rua, tremendo imediatamente com o frio brutal dos Alpes. Não
é de se surpreender que não haja mais ninguém do lado de fora. Mas um garçom que
parece estar com frio, vestindo uma jaqueta de esqui se aproxima, oferecendo-me
um cobertor dobrado e uma caneca de glühwein quente, o vinho quente suíço.
Pode estar congelante aqui fora. Ainda assim, é melhor do que estar de
volta àquele ninho de víboras que é a festa de gala. Além disso, Alistair não está aqui
fora.

Enrolo-me no cobertor, tremendo de frio, enquanto atravesso o deck


externo até à borda. A cidade brilha lá embaixo, junto com algumas das rotas de
esqui que sobem e descem as montanhas ao redor. Tomo um gole de vinho quente,
sentindo a queimação se espalhar por mim.

— Não, eu... não aqui!

Eu me enrijeço ao ouvir a voz rouca da minha mãe. Eu me viro com o


cenho franzido. Mas ela não está atrás de mim, nem em nenhum outro lugar do deck
coberto de neve. Viro-me para trás e dou uma olhada lenta por cima da grade. Meus
olhos se arregalam.

Lá, nas sombras entre uma fileira de vans e o que parece ser a entrada de
serviço do hotel, está minha mãe.

E um homem, que está segurando sua mão.

Não consigo ouvi-lo, nem mesmo ver quem é, além do fato de que ele é
muito largo e quadrado, com a cabeça calva. Ele diz algo com raiva, e o rosto da
minha mãe escurece com desprezo.

— Você foi embora, — ela esbraveja. — Você me deixou...

O homem a puxa para perto e, de repente, ela o está beijando loucamente.

Meu nariz se enruga. Que nojo.

Eu me afasto, porque não preciso ver isso. E se ela estiver saindo com
alguém às escondidas? Bom para ela, eu acho.
Sacudo a cabeça e me viro, tremendo, para voltar para dentro. No
momento em que faço isso, uma mão familiar desliza possessivamente ao redor do
meu quadril. Eu ofego quando Bastian me puxa para as sombras perto da porta. Não
estamos escondidos - não o suficiente para que eu possa me virar e beijá-lo como eu
queria. Mas é discreto o bastante para que possamos conversar de perto, meu corpo
formigando com a mão dele em mim.

Enrugo o nariz e me viro para ele.

— Eu... uh...

Ele franze a testa enquanto pega meu cobertor e o coloca sobre uma
cadeira próxima.

— O que há de errado?

— Acabei de ver minha mãe dando uns amassos com um cara lá fora.

Ele ri. — Bem, droga, alguém tinha que encarar isso.

Eu dou uma risadinha, mesmo quando o golpeio de brincadeira. — Ah,


vamos lá! Ela ainda é minha mãe!

— Desculpe, — ele ri. — Além disso, somos os próximos a participar


dessa farsa.

Ele acena com o queixo para o palco, onde duas mulheres que fizeram
cirurgias plásticas demais para tentar evitar a meia-idade estão cantando
desafinadamente ‘Deck the Halls’ em tons forçados de soprano.

Eu gemo. — Podemos ir embora?

Seus olhos se fixam nos meus enquanto ele acena com a cabeça. — Claro.
Podemos ir embora.
— Ótimo, vamos...

— Mas você quer um conselho de alguém com anos de experiência em


dar o dedo para essas pessoas?

Eu sorrio com curiosidade. — Sim?

— Não vá embora, — ele rosna, inclinando-se para perto. — Estrague a


festa antes de sair.

Minhas sobrancelhas se arqueiam. — Uh, o quê?

O público começa a bater palmas, e percebo que ‘Deck the Halls’ acabou.

— Bem, foi adorável, não foi? Obrigado, Dame Pitchard e Lady Oggleton,
— diz o homem com o microfone, com rigidez. — Agora, a seguir, temos um belo
dueto de... — suas sobrancelhas se arqueiam. — Bem, parece que o extraordinário
autor bad boy da Inglaterra e futuro senhor de Rebecca McCreed...

A plateia se diverte enquanto o rosto de Bastian faz uma careta.

— Bastian Pierce! Junto com a filha de Lady McCreed, a adorável


Julianna McCreed. Que estará cantando ‘Jingle Bells’.

— Foda-me, — geme Bastian.

— Não posso fazer isso, — engasgo-me, empalidecendo de repente.

Não posso. Não posso ir até lá na frente dessas pessoas falsas e horríveis
e cantar a porra do Jingle Bells ao lado do meu professor com quem transei três vezes
na noite passada. Eu simplesmente não consigo.

Mas, de repente, mesmo quando os holofotes se voltam para nós e a


multidão se vira, Bastian se vira para mim, com um sorriso no rosto.
— Por favor, diga-me que você conhece o The Pogues.

Fico olhando para ele. — Como em ‘Fairytale of New York’?

Ou seja, a única música de Natal já escrita que soa como um cruzamento


entre um canto bêbado de um pub irlandês e uma banda de punk rock tocando uma
música de Natal. Porque é exatamente isso que ela é. E cantá-la na frente dessa
multidão provavelmente será o maior escândalo do ano.

— Sim? — Eu sussurro.

Bastian sorri.

— Boa menina.

Não tenho tempo para pensar em nada, exceto em como é incrivelmente


quente quando ele me chama assim. Não tenho tempo para me perguntar o que
diabos estou fazendo quando ele pega minha mão e me guia até ao palco. Fico
olhando em um estado de sonho enquanto ele murmura algo para a banda, que parece
igualmente divertida por tocar isso na frente do seu público atual.

A música - que decididamente não é ‘Jingle Bells’ começa. E quando


Bastian começa a cantar a canção de bar mais natalina de todos os tempos, eu o
acompanho.

Seu braço está em volta dos meus ombros, com um sorriso enorme e
sacana no rosto enquanto cantamos - desafiando as expressões horrorizadas de
metade da plateia e os olhares chocados, mas divertidos, da outra metade.

Quando acaba, e estávamos saindo do palco sob aplausos confusos,


Rebecca está lá nos esperando. Ela está furiosa, resmungando, sibilando e me
xingando por ter ‘envergonhado’ e ‘zombado’ dela.
Mas eu não me importo. Isso não me incomoda. Neste momento, sou
intocável.

Eu me viro para ver Bastian recebendo um aperto de mão de um Sir


Adderly muito bêbado e radiante. Mas, então, Bastian olha para cima, para além
dele, e eu me arrepio quando meus olhos se fixam nos dele. Minha mãe está fora de
si, com uma raiva fumegante e pequenos comentários sobre minha falta de decoro,
meu peso, minha pele...

Mas ignoro isso completamente. Neste momento, nada pode me


machucar.

Com ele, sou completamente intocável.


24

Nunca comprei um presente de Natal para uma garota. Nunca. Não é como
se eu tivesse vivido a vida de um monge. Mas, nas festas de fim de ano, nunca,
jamais, me vi com alguém próximo o suficiente para justificar a compra de um
presente.

Este ano, as coisas estão diferentes.

No início, eu andava sem rumo pelo shopping center de Davos na véspera


de Natal. Mas, quando desço uma rua lateral da velha cidade e vejo a loja, fico
parado. E quando entro e vejo o presente na vitrine atrás do balcão? Imediatamente
sei que vou comprá-lo para Julianna.

É perfeito.

— Você tem sorte, — diz o lojista com um sorriso curioso, passando meu
cartão de crédito com a quantia obscena. — Na verdade, eu tinha dois desses, mas
um foi vendido há uma hora.

Fico olhando para ele. — Como diabos você conseguiu ter dois desses?
Ele dá de ombros. — Boa sorte, talvez. Um dos meus especialistas em
peças raras viu os dois em uma venda de imóveis há um mês em Zurique.

Ele sorri ao terminar de embrulhar a pequena caixa delicadamente com


uma fita vermelha.

— Espero que seja para alguém especial.

Eu sorrio.

— Sim, é.

Não vou à missa de Natal desde os treze anos. Mas quando chega a noite,
é lá que estou, apesar de estar quase atrasado para o início.

Rebecca estava fora sabe-se lá de onde antes disso, então ela tinha seu
próprio carro com motorista. Julianna e eu dirigimos juntos até aqui. Quase
chegamos atrasados porque paramos em um estacionamento atrás de uma loja de
esqui fechada no caminho para que ela pudesse me cavalgar até gozarmos gemendo
um na boca do outro.

E agora, aqui estou eu sentado ao lado dela - minha aluna de 18 anos - na


igreja.

Sim, estou cem por cento indo para o inferno. Mas se o caminho para lá
envolver ela? Que assim seja.

Mesmo assim... a igreja é um pouco pesada para mim. E, apesar de não


ser muito religiosa, Rebecca escolheu uma daquelas igrejas linha-dura, tipo as que
pregam fogo e enxofre no Natal, para ir à missa - com seus fotógrafos a reboque, é
claro. Não sei se ela conseguiu entrar. Da última vez que a vi, ela ainda estava
tentando tirar fotos cômicas de ‘oração’ com dois dos coroinhas do lado de fora.

Mas, vinte minutos depois de ser informado sobre a natureza do pecado e


do arrependimento, na véspera de Natal, preciso de um pouco de ar.

Minha mão desliza entre Julianna e eu, e dou uma rápida segurada em sua
mão.

— Já volto, — murmuro.

Ela olha para mim, corando enquanto sorri.

Saio silenciosamente do banco e me esgueiro por uma porta lateral. Do


lado de fora, respiro o ar gelado e sorrio.

Fazia muito, muito tempo que eu não sorria assim no Natal.

Há um elegante jardim antigo ao lado da antiga igreja. Pego meu cantil e


me dirijo para lá, até que, de repente, algo chama minha atenção. Franzo a testa e
depois sorrio quando percebo o que estou vendo.

Há um SUV Mercedes G-wagon preto de aparência elegante estacionado


ao lado do muro do jardim. E um casal está se beijando intensamente nas sombras
contra ele. Nesse momento, a mulher se afasta subitamente do homem e se ajoelha
na frente dele. Eu rio para mim mesmo ao ver sua cabeça começar a balançar.

Bem, alguém está se divertindo com o espírito natalino.

Eu me viro para voltar para dentro e deixar esses dois fazendo sexo oral
no feriado. Mas, de repente, a mulher olha para o lado. O brilho de uma lâmpada de
rua a ilumina, e minhas sobrancelhas se erguem.
Puxa vida.

A mulher de joelhos é Rebecca.

Ela se volta para o, ah, boquete em andamento. E eu fico apenas olhando,


atônito. Obviamente não estou nem aí. Mas estou muito curioso para saber o que
diabos estou vendo.

Também sei reconhecer uma vantagem quando vejo uma.

Meu telefone está pronto em um segundo, e eu me movo rapidamente para


as sombras. Começo a gravar, dando zoom para tentar capturar o rosto do homem.
Não faço ideia de quem ele seja, mas imagino que seja o cara que Julianna viu sua
mãe beijando na noite passada.

Eu me movo silenciosamente para o lado deles, até conseguir uma foto


decente do rosto dela também. Não estou tentando ser um canalha. Mas, novamente,
isso é uma vantagem. E não hesitarei em usá-la mais tarde, se for necessário. Chego
um pouco mais perto, até que consigo ouvir o homem grunhindo enquanto sua mão
desce até à cabeça dela.

— Merda, — ele geme. — Eu vou gozar.

Sim, não preciso filmar o rosto desse cara. Mas a voz dele... franzo a testa
para o sotaque russo ou balcânico de algum tipo. Deixo a câmera de lado, porque
não preciso ver o orgasmo dele. Mas continuo filmando, então ela capta o áudio.
Será fraco, mas aposto que posso encontrar pessoas que possam limpá-lo e isolá-lo
mais tarde, se eu quiser.

O homem se engasga, grunhindo ao gozar. Ouço Rebecca gaguejar e


ofegar quando ela se afasta.

— Droga! Eu disse não em minha maldita boca!


— Da, me desculpe, zolotse.

Querida? Eu arqueio uma sobrancelha. Bem, isso é interessante.

— É que eu senti falta disso, — geme o homem. — E de você, tanto.

Rebecca bufa ao se levantar, limpando a boca.

— Sentiu mesmo? — ela murmura, parecendo irritada.

O homem faz uma careta. — Venha, Becca-querida. Não fique assim.

— Você me deixou com um fardo inútil, Sergei! — ela esbraveja.

— Da, eu sei, eu sei, meu amor.

Minhas sobrancelhas se erguem novamente. ‘Querida’ e ‘meu amor’, esse


é claramente alguém com quem ela está tendo algum tipo de caso. E, pela aparência
de suas roupas sob medida, do relógio reluzente e do SUV de luxo de duzentos e
cinquenta mil libras contra o qual ele está sendo golpeado, ele está claramente bem
de vida.

Então... para que diabos ela precisa de mim?

— Você me deixou na mão, Sergei!

Ele bufa. — Parece que você está indo muito bem, casando-se com aquele
maldito escritor.

Eu franzo a testa.

— Oh, por favor, — ela sibila. — Você sabe o que é isso.

— Ele tem essa boca?

Não, obrigado.
— Não, — Rebecca murmura suavemente, quase com timidez.

— Ele tem?! — O homem rosna.

— Não, Sergei! — Ela diz inflexivelmente, balançando a cabeça. — Só


você.

O cara sorri. — Minha pequena e boa Becca-querida.

Ela suspira e encosta a cabeça em seu peito enquanto ele a abraça.

— Quando posso ficar com você?

— Em breve, eu prometo, — ele murmura. — Seu namorado...

— Pare com isso, — diz ela, rindo.

Ele sorri.

— Ele descobriu alguma coisa?

Minha mandíbula fica tensa. Isso está ficando cada vez mais interessante.
E eu não estou gostando disso.

— Nada, mas vou perguntar a ele novamente.

Ela suspira e olha para os olhos dele.

— Quero ficar com você, Sergei. Abertamente. Não teríamos nada com
que nos preocupar...

— Eu sei, meu amor, — ele grunhe. — Em breve, zolotse.

— Hoje à noite? Poderíamos passar o Natal juntos, em sua suíte?

‘Sergei’ franze a testa.

— Seu homem, ele ficaria desconfiado, não?


— E daí? — Rebecca cospe. — Nós dois sabemos perfeitamente que tudo
isso é um acordo. Ele recebe o que precisa e eu recebo as finanças de que preciso
desde que alguém me deixou...

— Da, da, eu sei, eu sei, meu amor. Isso será resolvido.

Ela franze a testa. — Então, você e eu? Hoje à noite? Bastian nem se
importaria se eu lhe enviasse uma foto sua fazendo amor comigo.

Faço uma careta diante dessa imagem mental particularmente nojenta.

— Além disso, ele tem sua própria diversão, tenho certeza disso. Não me
surpreenderia se ele estivesse metendo o pau em uma das suas alunas desde que
chegou lá.

Não tenho certeza se devo me sentir insultado ou impressionado com suas


habilidades de dedução.

Sergei dá uma risadinha. — Bem, talvez...

— Vou dizer a eles que vou tomar um drinque depois do culto com um
amigo. Tenho alguns na cidade em suas próprias casas de férias. E depois, mais
tarde, posso dizer que vou passar a noite por causa das estradas.

Seu amante russo sorri. — Você quer vir aquecer minha cama, pequena
babushka?

Ela dá uma risadinha e beija o nariz dele.

— Da, — diz Rebecca.

Ele sorri. — Vá à igreja e faça sua confissão, — ele ri. — Você vai se
tornar uma menina má mais tarde.
Estou prestes a desligar a câmera. Mas quando eles se afastam do meu
ponto de vista, posso ver seus rostos escurecendo, suas bocas ainda se movendo.
Franzo a testa. A conversa parece tensa.

Não consigo ouvir nada, mas continuo filmando. A conversa deles parece
ficar ainda mais séria. Mas então o cara estende a mão para acariciar a bochecha de
Rebecca quando eles se viram para mim novamente.

— ...Levá-la para casa e beijar tudo para melhorar, da?

Ele passa o braço em volta da cintura dela e a guia até ao lado do


passageiro do Mercedes.

Desligo a câmera e volto para dentro enquanto o carro dá partida. Tenho


várias perguntas sobre o que diabos vi e ouvi. Mas quando volto para a igreja e olho
para a nuca loira de Julianna, sorrio.

As perguntas e possíveis respostas podem vir mais tarde. Usar o que


acabei de ver como vantagem ou munição pode vir mais tarde. Hoje, isso é apenas
ruído de fundo.

Esta noite, pela primeira vez desde que me lembro, acho que será um Natal
muito, muito bom.

Meus dedos se entrelaçam com os dela quando volto a me sentar ao seu


lado.

Uma troca de calor proibida. Uma promessa. Um segredo que vai nos
queimar até ao fim.

Mas, com certeza, ele vai brilhar muito.


25

A casa está escura, exceto pela enorme árvore de Natal que brilha com
luzes e a luz fraca da lareira crepitando perto dela. Estou sentado no sofá, olhando
para as chamas, de moletom e camiseta, quando Juliana entra na gigantesca sala de
estar de pijama.

— Sinto muito que sua mãe não esteja aqui, — dou de ombros.

Contei a Julianna sobre o que vi - bem, não os detalhes completos


envolvendo a mãe dela de joelhos. Mas a versão para maiores de idade. Não
mencionei a gravação, nem as partes sobre Rebecca ser ‘deixada com um fardo
inútil’, nem a parte em que ele perguntou a ela sobre minha espionagem dos
herdeiros da Bratva na OHA. Eu mesmo tenho várias perguntas sobre essas partes.
Mas não há necessidade de preocupar Julianna até que eu saiba mais.

— Você sabe, véspera de Natal e tudo mais.

Um sorriso de canto de boca aparece em seus lábios. — Oh, você sente


muito por isso?
Eu sorrio.

— Na verdade, não.

Eu me levanto e me dirijo ao carrinho deles para servir uma bebida.

— Ei, Bastian? — Sua voz é suave. — E se...

Eu me viro. Sua testa está franzida e ela está mordendo o lábio.

— Sim?

— Nada, — diz ela rapidamente, balançando a cabeça.

Eu arqueio uma sobrancelha. — O que é?

Ela engole. — E se você... pular a bebida?

Eu dou uma risadinha. — É véspera de Natal.

— Eu sei. Mas... — Ela dá de ombros. — É como você lida com isso.

Eu franzo a testa. — Julianna...

— É mesmo. E não estou querendo dizer isso como uma crítica ou para
acusar. É apenas a forma como você acalma as coisas por dentro.

Ela é surpreendentemente certeira, e eu faço uma pausa.

— Eu larguei o meu jeito de lidar com isso, — sussurra ela, olhando para
suas pernas.

Ela se refere aos cortes.

Ela olha de volta para mim.

— Que tal você pular o seu hoje à noite?


Eu chupo os dentes, deixando que isso fique na minha cabeça por um
segundo.

— Vou lhe mostrar meus peitos.

Eu rio, com vontade.

— Eu vou cobrar isso de você...

Ela levanta a blusa, me mostrando. Eu gemo quando ela dá uma risadinha


e se senta no sofá onde eu estava.

— Venha cá, — ela sorri, dando um tapinha no assento ao lado dela. —


Tenho um presente para você.

Eu sorrio. — Ah, é?

— Uh-huh. Quero dizer... — ela franze a testa, corando enquanto eu me


sento. — Olha, é só uma coisa. Não dê importância a isso. Acabei de ver isso na
cidade mais cedo e... não sei. É como uma piada, mas não é?

Ela franze a testa e pega o que está embaixo do sofá. Ela tira um pequeno
presente embrulhado e o coloca em meu colo.

— Apenas... abra, ok?

Eu sorrio.

— E não se preocupe em não me dar nada, obviamente, — ela desabafa.


— Quero dizer, não é como se estivéssemos... você sabe. Tanto faz.

Ela está gaguejando, ficando toda vermelha. Ela é adorável assim.

— Então, você sabe, basta abri-lo e... não tem problema se você não
gostar...
— Ei, Jules?

Seus lábios se fecham quando ela olha para mim.

— Sim?

— Respire fundo.

Ela fica corada, com um sorriso de orelha a orelha.

— E aguente firme.

Coloco seu presente no chão e me levanto. Dou uma olhada atrás da


árvore, onde o escondi antes. Depois, pego o presente que comprei para ela hoje.

— Aqui, — murmuro, colocando-o sobre suas pernas cruzadas enquanto


me sento novamente ao lado dela.

— Você... — ela olha para o presente por um segundo. — Você me trouxe


alguma coisa?

— Olha, é só uma coisa, não dê importância a isso, — eu digo em um tom


de voz de menina. — Acabei de ver isso na cidade mais cedo e... não sei, é como
uma piada, mas não é?

Ela dá um soco brincalhão em meu braço.

— Idiota.

Eu dou uma risadinha. — É só abrir.

— Você abre o seu primeiro.

Eu sorrio. — Juntos?

— Claro. Um. Dois. Três.


Rasgo o papel do meu. Por um segundo, franzo a testa. Droga, será que
acabamos de trocar presentes de alguma forma? Porque estou olhando para...

— Você está de sacanagem.

Olho para cima e fico de queixo caído. Porque, assim como eu, Julianna
está segurando uma segunda edição de Great Expectations, meio desembrulhada e
muito cara.

Começo a rir. Começo a rir de forma incontrolável. Julianna está apenas


olhando para os dois livros em choque, balançando a cabeça.

— Quero dizer, quais são as chances?

— Bem, o cara da loja disse que tinha dois, — eu sorrio.

Ela começa a rir, mas depois geme.

— Sim, mas, ah, droga. Você me deu algo doce, porque eu lhe disse que
adorava esse livro. E eu lhe dei algo sarcástico, porque você odeia esse livro.

Eu dou uma risadinha. — Eles são o mesmo livro.

— Mas eles significam coisas diferentes.

— E, no entanto, isso é perfeito, — murmuro. — Doce para você.

— Sarcástico para você, — diz ela suavemente.

Sua mão encontra a minha. Nossos dedos se entrelaçam. O sangue zumbe


como gasolina queimada em meus ouvidos. É como o último segundo antes da
detonação. O meio segundo de calmaria antes que a tempestade atinja a costa.

— Bastian...
Os livros caem no sofá quando eu a agarro e a puxo para o meu colo.
Julianna ofega, choramingando, enquanto sua boca se aperta na minha com força.

Ela tira a blusa, e minha camiseta a segue rapidamente. Eu gemo ao sentir


seus mamilos se arrastarem sobre meu peito, seus gemidos ofegantes enchendo meus
ouvidos enquanto deslizo minhas mãos por suas costas. Seus quadris balançam
contra mim, pressionando a boceta contra o meu pau pulsante enquanto ela geme em
meus lábios.

Minhas mãos se aprofundam na parte de trás da calça do pijama,


deslizando sobre a pele suave e firme de sua bunda. Eu a agarro com força, fazendo-
a gemer antes de abaixar a calça sobre sua bunda. Ela grita e depois geme por mais
quando minha palma bate em sua bunda. Também deixo o outro lado rosado,
sentindo o calor entre suas pernas florescer contra mim.

Com um gemido, ela sai do meu colo, tira a calça do pijama e se ajoelha
na minha frente. Cerro os dentes, gemendo quando ela pega meu moletom e prende
os dedos na cintura. Ela o puxa para baixo e seus olhos se arregalam quando meu
pau duro como uma rocha se solta e bate em meu abdômen.

— Oh, porra...

Ela está ofegante quando se inclina para perto de mim, coloca uma
pequena mão em volta do meu eixo e olha em meus olhos. Seu hálito provoca minha
cabeça, fazendo-me gemer. Ela sorri maliciosamente quando se inclina para perto de
mim e beija minha coroa.

— Porra, querida...

— Assim? — ela sussurra sem fôlego. — Senhor?

Meu pau salta em sua mão. Minha pulsação bate forte enquanto eu gemo.
— Você gosta quando eu beijo seu pau, senhor?

Estou a meio segundo de agarrar seu cabelo com o punho e guiar sua boca
até ao meu pau para que eu possa mostrar a ela exatamente o quanto gosto dele. Mas
então, de repente, ela se inclina, abre os lábios e os envolve com força em meu pau.

É o paraíso puro.

Ela geme, chupando molhadamente enquanto pressiona a boca sobre meu


pau inchado. Eu gemo e minhas mãos escorregam para o seu cabelo, o que só parece
estimulá-la. Ela empurra, levando-me mais fundo, enquanto meus olhos rolam para
trás em minha cabeça. Sua língua dança pela parte inferior da minha cabeça até que
eu esteja sufocando por ar.

Ela escorrega a boca com um sorriso malicioso e o brilho do poder em


seus olhos.

— Porra, Bastian... — murmura ela, com os olhos fixos no meu pau


molhado e brilhante enquanto me acaricia.

— Venha cá, — rosno enquanto a alcanço. Aprecio seus gemidos


enquanto a puxo para o meu colo.

Ela geme, esfregando sua boceta molhada sobre meu pau antes de eu sair
repentinamente do sofá para o chão. Ela se agarra a mim, ofegante, enquanto eu a
deito de costas sobre o enorme tapete de pele sintética em frente à lareira.

Minha boca desliza pelo seu pescoço e desce até seus seios, meus lábios
sugam e mordiscam seus mamilos. Desço mais, seu estômago cede ao meu toque
antes que minhas mãos grandes afastem suas pernas.

Eu me acomodo entre elas e, finalmente, depois de querer fazer isso a noite


toda, minha língua se arrasta sobre sua bocetinha úmida e rosada.
— Oh, meu Deus...

Ela geme de prazer enquanto eu a devoro lentamente. Passo a língua para


cima e para baixo em sua fenda, empurrando-a para dentro dela antes de subir para
envolver meus lábios em seu clitóris. Passo a língua por seu botão latejante até que
ela se contorça e bata os quadris em minha boca.

Eu gemo, prendendo-a no chão e redobrando o uso da minha língua. Eu a


empurro cada vez mais para cima, até que seus gritos de prazer enchem a sala. Chupo
seu clitóris enquanto minha língua gira em torno dele e, de repente, ela dá um
solavanco quando começa a explodir.

— Estou gozando!

Ela se engasga, ofegante e gemendo enquanto seu corpo ondula contra


minha boca com o orgasmo. Sua doçura inunda minha língua, seus dedos se
entrelaçam em meu cabelo enquanto ela goza com força.

Mantenho minha boca nela. Passo minha língua por sua barriga, subo por
seus seios, até que ela encontra minha boca com a sua e me beija profundamente.
Ela segura o meu rosto e sente o gosto da minha língua enquanto eu deslizo entre
suas coxas, encosto meu pau grosso em seus lábios macios e úmidos e empurro.

Eu introduzo, e seus gemidos vibram em minha boca. Suas pernas


envolvem meus quadris, minha mão desliza para cima e se enrosca em seus cabelos
enquanto a outra agarra sua bunda possessivamente. Eu gemo, saio e volto a penetrá-
la até ao fim.

Suas pernas se contraem, puxando-me para dentro e me incentivando a


continuar enquanto eu começo a penetrá-la, balançando os quadris enquanto enfio
meu pau profundamente em sua fenda várias vezes.
Sua cabeça cai para trás contra o tapete macio, seus olhos rolam enquanto
seu peito se arqueia contra o meu. Meus dentes se arrastam sobre seu pescoço e sua
clavícula, meus quadris batendo contra suas coxas enquanto eu a fodo no chão.

Eu me afasto, puxando-a para cima, de modo que ela fique sentada sobre
meus quadris, se esfregando contra mim. Meus lábios envolvem um mamilo
dolorido. Meus gemidos ressoam através dela. Suas mãos deslizam para o meu
cabelo enquanto seu corpo balança e se choca contra mim.

Nós nos movemos sensualmente, balançando e esfregando um no outro.


Nossos gemidos enchem o ar, nossos corpos escorregam um contra o outro e sua
doce boceta se agarra com tanta força ao meu eixo grosso enquanto eu a penetro.
Posso senti-la começar a tremer e seus dedos se cravam em mim. Sua respiração fica
presa e minha boca desliza até seu pescoço.

— Goze comigo, — grunho em seu ouvido.

É como apertar um gatilho. Instantaneamente, ela grita alto, seu corpo se


arqueia e tem espasmos contra mim. Eu gemo, empurrando profundamente, sentindo
sua boceta ondular ao meu redor enquanto ela goza com força. Minhas bolas se
levantam, meu pau se agita com tanta força dentro dela. E, de repente, estou gozando,
meu esperma quente se derramando dentro dela.

Eu a seguro assim - ofegante, tremendo contra mim. Seu corpo está quente
e escorregadio de suor, enquanto seus mamilos se cravam em meu peito. Minha boca
encontra a dela, e eu a beijo lentamente e profundamente.

— Feliz Natal, Julianna, — murmuro em seus lábios.

— Feliz Natal, Bastian.


26

O Natal passa em uma névoa de sexo e orgasmos alucinantes. Ele se


arrasta preguiçosamente em uma névoa sonhadora de felicidade até à véspera de Ano
Novo, com nós dois gritando ‘Feliz Ano Novo’ contra o vidro embaçado da janela
do meu quarto enquanto Bastian me faz gozar enquanto me fode por trás.

É o paraíso. Mas o que é ainda melhor é saber - e eu realmente quero dizer


saber - que isso é muito mais profundo e muito mais do que apenas um caso ilícito
e sujo. Esse peso chega a ser um pouco assustador às vezes. Mas, então, eu olho para
ele, ou o vejo olhando para mim, e aquele brilho caloroso se derrete em mim.

E sei que não há nada a temer.

Alguns dias após o Ano Novo, no entanto, voltamos ao mundo real. De


volta à realidade e de volta à OHA.

Mas o lado positivo é que Lizbet voltou de Londres - dessa vez, de forma
definitiva. Ainda terei o chalé só para mim, já que ela está indo morar com Lukas,
não oficialmente, na Mansão Lordship. Mas consegui começar a manhã tomando
café da manhã com eles, onde colocamos a conversa em dia o máximo que
conseguimos antes das aulas. Foi uma fração do tempo que eu precisava para estar
com minha melhor amiga, que está fora há tanto tempo. Mas fizemos planos para
fazer isso hoje à noite durante o jantar.

Enquanto isso, é segunda-feira e estou com meu uniforme escolar, sentada


em minha aula de literatura inglesa, na frente e no centro, como de costume.

Mas algo está diferente.

Sim, não me diga. Você transou com seu professor.

Mais vezes do que consigo contar. Eu fico corada. Ok, isso é mentira. Eu
contei, sim.

Foram cinquenta e duas vezes.

Dormi com meu professor estupidamente gostoso, lindo, complicado, com


o dobro da minha idade, sexy como o inferno, cinquenta e duas vezes em
aproximadamente duas semanas.

Estou indo para o inferno.

A aula passa em um borrão, e percebo que isso pode ser um problema.


Não consigo me concentrar em nada além das repetições viscerais das duas últimas
semanas com Bastian. Ele passa o período falando sobre... bem, sinceramente não
faço ideia. Porque estou sentada aqui fantasiando sobre ele me dobrando sobre o
braço do sofá há uma semana e me fodendo como um demônio até que eu gozei
possivelmente mais forte do que nunca.

Ainda bem que ele só dá essa aula, senão eu poderia ser reprovada no
último semestre da escola.
O sino toca, encerrando a aula. E acabando com minhas fantasias quando
volto à realidade. As pessoas começam a se levantar de suas cadeiras e arrumar suas
coisas. Mas quando olho para cima, sinto um calafrio.

Bastian está olhando diretamente para mim, com aquele seu olhar
cativantemente sexy e levemente assustador, mas quente demais.

Vou devagar, arrumando minha bolsa em um ritmo de caracol enquanto a


sala se esvazia. E então, ficamos sozinhos, e eu fico molhada instantaneamente.

— Julianna, — ele rosna grosseiramente.

Mordo meu lábio, virando-me para olhá-lo.

— Sim, senhor?

Os olhos de Bastian brilham. Ele geme.

— Não faça isso, — ele murmura sombriamente.

— Não faço o quê?

— Fizemos um acordo, Julianna.

Eu sorrio maliciosamente. Eu sei que fizemos.

Há pouco mais de uma semana, descobri algo interessante: quando eu


falava ‘senhor’ com Bastian, ele perdia o controle. Quero dizer, perdia totalmente a
compostura, ‘puxava minha saia e calcinha para o lado onde quer que estivéssemos
para que ele pudesse me foder com força contra a parede’.

Talvez eu tenha começado a usar isso. Muito mesmo. O que resultou em


um sexo incrível em algumas situações e lugares muito arriscados em Davos.
Como resultado de eu ter abusado total e completamente do meu poder
recém-descoberto, fizemos um acordo: no campus, esse poder não deve ser usado.

Ops.

O problema é que Bastian traz à tona o que há de ruim em mim. A


maldade. O travesso.

— Eu sei, — respondo.

— Então pare com isso, — ele grunhe, com os olhos cheios de fogo que
sei que ele está tentando conter.

— É claro... — Mordo meu lábio. — Senhor.

Bastian se enrijece. Sua mão, que estava apoiada na lateral da


escrivaninha, fica tão apertada que os nós dos dedos ficam brancos.

— Cuidado, moça, — ele rosna.

Eu sorrio, aproximando-me dele. Mas ele se enrijece com um gemido.

Ok, existe a provocação, e depois existe o ato de fazer algo com meu
professor, na escola, em uma maldita sala de aula. Temos que ter alguns limites, ou
isso vai explodir em nossas caras.

— Não aqui, — ele murmura em voz baixa.

Eu sorrio. — Provavelmente é uma boa ideia.

Mordo o lábio enquanto carrego minha bolsa e me dirijo à porta da sala de


aula.

— Além disso, tenho outra aula em...


Eu choramingo quando ele me agarra por trás, me gira e me empurra
contra a parede ao lado da porta. Ele a fecha com força e, de repente, está me
beijando.

De forma selvagem.

Eu gemo quando sua língua encontra a minha. Sua mão desliza por baixo
da minha saia, e eu gemo profundamente quando seus dedos deslizam por baixo da
cintura da minha calcinha e se aprofundam.

— Você vai se atrasar para a aula, — ele geme em meu lábio.

— Você vai me escrever um bilhete? — Eu suspiro, choramingando


enquanto seu dedo grande se enrola em mim.

— Não, mas farei com que você grite meu nome.

Sua boca se aproxima da minha enquanto seus dedos mágicos começam a


acariciar minha boceta. Minha calcinha encharca instantaneamente quando seu
polegar começa a esfregar meu clitóris em círculos. Ele introduz um segundo dedo
em mim, e eu grito em sua boca quando ele começa a me penetrar.

Seus movimentos são loucamente lentos, mas persistentes. Ele pressiona


a almofada do polegar contra meu clitóris dolorido enquanto enfia e tira os dedos
dentro de mim, fodendo-me com a mão contra a parede. Minha respiração fica
sufocada, meu pulso pulsa em meus ouvidos. Meu corpo começa a tremer e a sacudir.

— Você quer gozar para mim? — Ele sussurra em meu ouvido.

Eu gemo, balançando a cabeça enquanto chupo meu lábio para tentar


desesperadamente ficar quieta.

— Mhmm! — Eu choramingo.
— Eu lhe fiz uma pergunta, — ele rosna bem perto do meu ouvido
novamente.

Eu me derreto.

— Sim! — Eu ofego, engasgando quando começo a ficar tensa.

— Sim, o quê, Srta. McCreed.

Ah, droga.

— Sim, senhor!

Seus dedos afundam profundamente, esfregando-se contra o meu ponto g,


enquanto eu começo a desmoronar.

— Agora seja uma boa menina e goze para mim.

Eu explodo. Quase grito, mas sua mão se agarra à minha boca, com o
polegar entre meus lábios. Eu gozo com força, chupando seu polegar e gemendo
loucamente em sua mão enquanto inundo seus dedos com meu orgasmo.

Estou ofegante e tremendo muito enquanto ele tira lentamente a mão da


minha boca. Ele tira a outra mão da minha calcinha e eu observo, com a pulsação
acelerada, enquanto ele leva os dedos aos lábios. Bastian me olha nos olhos enquanto
suga lentamente seus dedos.

— Nunca gozei tão rápido, — sussurro, tremendo.

Nunca.

Bastian sorri com fome, inclina-se e beija minha boca.

— O que mais você pode me ensinar? — sussurro com entusiasmo.

Seu sorriso fica ainda mais sombrio, e um fogo brilha em seus olhos.
— Cuidado, — ele rosna.

— Eu não quero ser cuidadosa.

Eu me levanto na ponta dos pés, com os lábios perto da sua orelha


enquanto ele se enrijece.

— Quero que você me ensine... — Eu murmuro suavemente.

Bastian geme.

— E o que você precisa que lhe ensine?

Chupo o lóbulo da sua orelha com meus lábios.

— Tudo.

Nossos suspiros se misturam. Nossos corações batem forte no silêncio da


sala de aula.

— Na minha casa, depois das aulas, — ele geme baixinho quando me


afasto para olhá-lo nos olhos.

Mordo meu lábio, balançando a cabeça.

— Vejo você então?

— Julianna?

Eu sorrio. — Sim?

— Por favor, saia antes que eu a foda aqui mesmo no chão.

Eu me arrepio, apertando minhas coxas, enquanto ele se afasta lentamente


de mim e se vira para abrir a porta da sala de aula.
— Então, estamos entendidos sobre a recapitulação da aula, Srta.
McCreed? — Ele diz em voz alta, já que o corredor está cheio de alunos e outros
professores a caminho das próximas aulas.

Fico corada, sentindo como minha calcinha está molhada e grudada em


mim, enquanto me viro em direção à porta aberta para o corredor cheio de pessoas.
Faço uma pausa na porta, deleitando-me com o segredinho sujo que está latejando
sob minha pele, do qual ninguém mais que passa por mim tem ideia.

Então, viro-me para olhar para Bastian, encostado em sua mesa com seus
lindos braços cruzados sobre o peito. Arrasto meus dentes sobre o lábio.

— Agora está perfeitamente claro, — murmuro.

— Obrigada, senhor.
27

Não acredito que estou fazendo isso.

Não é que eu tenha medo desses garotos. Quero dizer, sim, eu posso
apreciar o nível de poder que esses três têm nesta escola - sem falar no mundo real
como herdeiros dos impérios da Bratva. Mas eles não me assustam.

Só não quero envolver minhas coisas com a Bratva. Não importa quão
jovens eles sejam. Mas, se eu quiser respostas, já sei que é aqui que vou obtê-las.
Goste ou não.

Franzo a testa ao olhar para a mansão absurdamente luxuosa onde esses


três moram no campus. Essa escola é frequentada por alguns dos jovens adultos mais
ricos e privilegiados do mundo. Literalmente, futuros reis e rainhas. E todos eles
ficam nos mesmos chalés pequenos, mas agradáveis, do outro lado do campus.

Esses três desgraçados vivem em uma maldita mansão.

Mas suspiro profundamente para deixar isso sair. Que se dane. Isso não
importa. Eu realmente não preciso saber como e por que Ilya Volkov, Misha
Tsavakov e Lukas Komarov vivem no que já foi a casa do presidente da escola. Só
preciso saber quem é o russo que estava com o pau na boca de Rebecca.

Obviamente, não é por ciúme. Mas Rebecca me pediu para espionar esses
três, mas não Konstantin Reznikov, enquanto aparentemente também tinha um caso
com um russo relativamente rico?

Sim, eu tenho perguntas.

Franzo a testa ao erguer o punho e bater na porta da frente da


impressionante mansão coberta de hera. Alguns segundos depois, a fechadura se
fecha e a porta se abre.

O próprio Lobo me cumprimenta - Ilya, em toda a sua glória sombria,


presunçosa e arrogante. O cara tem um baseado nos lábios e parece não se incomodar
com a presença de uma das figuras de autoridade da escola na porta de sua casa.

Provavelmente porque não há uma ‘figura de autoridade’ no mundo que


realmente preocupe esse maldito garoto. Quase tenho vontade de sorrir.

Caramba, esses caras são iguais a mim nessa idade.

Ilya ergue as sobrancelhas, sorrindo levemente ao inalar o baseado antes


de exalar lentamente pelo nariz.

— Os professores fazem visitas domiciliares agora? — Ele sorri. — Estou


gostando cada vez mais desta escola...

— Vamos parar com as besteiras, certo? — Eu rosno. — Podemos


concordar que eu não gosto de você...

— Estou ferido, professor.

Eu estreito os olhos quando ele sorri para mim.


— E você não gosta de mim...

— Eu gosto muito de você...

— O suficiente para mandar capangas me seguirem depois de eu ter escrito


a porra de um livro? Sim, eu sei, — murmuro.

O sorriso de Ilya diminui. Ele tira o baseado dos lábios enquanto sua testa
se franze.

— Veja, eu realmente não tenho nada a ver com isso. Nem meu tio, nem
Misha ou Lukas, nem suas famílias.

Ele me olha.

— Você não precisa acreditar em mim, eu realmente não dou a mínima.


Mas quem quer que esteja farejando ao seu redor não somos nós.

Seria quase mais fácil se ele estivesse mentindo. Mas, na verdade, é


bastante óbvio que ele não está. Eu franzo a testa.

— O nome Sergei significa alguma coisa para você?

Ele sorri. — Porque minha família é russa?

— Basicamente, sim.

— É, não sei. O nome John significa algo para você, professor? Porque é
mais ou menos o quão comum é o nome russo Sergei. Você vai me perguntar se eu
tenho alguma informação privilegiada sobre Vlad ou Ivan?

Reviro os olhos com um grunhido e começo a me afastar. — Que se dane.


Esqueça isso. Isso foi um erro.

— O que está acontecendo?


Olho para trás e vejo Misha Tsavakov aparecer atrás de Ilya, vindo da
cozinha. Ele franze a testa com curiosidade quando me vê parado na porta.

Ilya sorri. — Você conhece algum Sergei?

Seu amigo fortemente tatuado sorri. — Sim, talvez quarenta deles. Por
quê?

Ilya sorri. — Lukas! — Ele grita, quase alegremente.

— O quê? — Uma voz rouca e ríspida ecoa do andar de cima. Um segundo


depois, um sujeito calmo, sério, com um olhar ligeiramente assombrado, olhos azuis
penetrantes e mangas compridas, desce correndo as escadas do segundo andar. Ele
arqueia uma sobrancelha quando me vê.

— Professor Pierce, certo?

Aceno com a cabeça.

— Sou um grande fã dos seus livros.

Eu suspiro. Ele franze a testa e se volta para seu amigo.

— O que está acontecendo?

— Você conhece algum rapaz chamado Sergei?

Lukas franze a testa ao olhar para Misha e depois para mim.

— Estamos falando de um Sergei em particular?

Ilya se vira para levantar uma sobrancelha para mim. — Na verdade, eu


também gostaria de saber a resposta para...

Que se dane.
Pego meu celular, abro o vídeo e viro a tela na direção deles.

— Que tal este Sergei?

Aperto o play e o vídeo começa. Ilya bufa. Lukas franze a testa. Misha
sorri e depois dá uma risadinha.

— Vamos, cara, por que diabos você está nos mostrando isso...

Sua sobrancelha se ergue.

— Caramba, essa é...

Ele olha para mim da tela do celular.

— Essa é Rebecca McCreed.

Aceno com a cabeça.

— E esse não é você, — grunhe Ilya.

— Não, não sou.

— Uau, — Misha limpa a garganta. — Não imaginava que você fosse o


tipo de pessoa que se interessaria por esse tipo de coisa...

— Você pode calar a boca e assistir?

Misha balança a cabeça, rindo.

— Você deveria estar mostrando isso aos alunos... uau.

Os três ficam parados, com os olhos fixos na tela. O reconhecimento é


claro como o dia em seus rostos.

— Você o conhece?
— Sim, — Lukas rosna baixinho. — Nós conhecemos. — Ele olha para
mim, com a testa franzida. — Esse é Sergei Melnyk. Ele é o terceiro no comando da
Bratva Reznikov.

Eu pisco os olhos, surpreso. Bem... droga. Eu meio que me perguntava se


o cara era da Bratva. Mas isso ficou muito mais complexo, e não de uma forma
divertida.

Fique de olho neles. Não em Konstantin.

Quando o vídeo chega à parte em que não é possível ouvi-los, Ilya franze
a testa.

— Você pode aumentar o volume?

Balanço a cabeça. — Eles estão muito longe e virados para o outro lado.
É só um som incompreensível.

Suas sobrancelhas se franzem quando coloco o celular no bolso e me viro


para sair.

— De nada? — Misha murmura em minhas costas.

— Sim, dez pontos para a Sonserina, ou seja, o que for, — resmungo.

Mas então paro na porta. Franzo a testa ao olhar para eles. Que se dane.

— Vou dizer uma coisa para vocês, — digo com firmeza. — Mas quero
uma garantia.

Ilya acena com a cabeça, com as sobrancelhas franzidas. — Fale.

— Suas famílias - todos vocês três. Fiquem bem longe de mim e da minha,
— digo com firmeza. — Eu escrevi um livro. É ficção.
Ilya cruza os braços sobre o peito. — Nós já dissemos a você que não nos
importamos.

— Quero uma garantia, e também não quero ser arrastado para nenhuma
besteira da Bratva por causa disso. Ok?

Os três olham um para o outro, acenando com a cabeça. Ilya se volta para
mim.

— Está bem. Então?

Sopro o ar pelos lábios.

— Esse Sergei trabalha para Konstantin Reznikov?

Misha acena com a cabeça. — Sim.

— Bem, a amiga de Sergei, Rebecca McCreed, me pediu para ‘ficar de


olho’ em vocês três.

Ilya franze a testa. — Em nós três?

Aceno com a cabeça. — Você, você e você, — digo incisivamente,


olhando para cada um deles. Minha boca se fecha. — Não em Konstantin.

Ninguém diz nada por alguns segundos. Os três herdeiros se entreolham,


com as bocas finas.

— Obrigado por mencionar isso, — Misha rosna baixinho.

— Sua palavra...

— Será cumprida, — grunhe Ilya.

Aceno com a cabeça e me viro para sair.


— Professor.

Olho para trás e vejo Lukas olhando para mim com um olhar sombrio.

— Sei que você não quer ser arrastado para nenhuma besteira da Bratva,
mas... — Suas sobrancelhas se franzem. — Talvez você já esteja envolvido até ao
pescoço nisso.

Conte-me sobre isso.

Ele dá de ombros. — Apenas... tenha cuidado.

— Obrigado.

Eu me afasto - algumas perguntas respondidas e cerca de cinquenta novas


tentando me arrastar para baixo.
28

Ele sorri quando abre a porta dos fundos da sua casa, seus olhos me
analisando.

— Isso significa que você gosta da minha roupa?

Bastian solta uma risada, com um calor intenso em seus olhos. A última
vez que eu disse isso a ele nesta mesma porta, eu estava abrindo um sobretudo para
revelar um sutiã, calcinha e meias por baixo.

Desta vez, estou usando botas de inverno, jeans sobre leggings térmicas -
como solicitado - e um casaco bem quente.

— É perfeito.

Sorrio quando ele me puxa para dentro, fecha a porta e me beija


profundamente.

— Você vai me dizer o que estamos fazendo agora?

Ele se afasta e pisca para mim. — Não. Mas eu vou lhe mostrar.
Ele pega minha mão e me puxa pela casa até chegarmos à garagem. Ele
acende as luzes e meus olhos pousam em sua linda moto antiga, cor de vinho e
cromada.

— Não pense que me esqueci de que lhe devo um passeio, — ele rosna
baixinho.

Meus olhos se iluminam. — Espera, é sério?! — Eu digo com entusiasmo.


— Nós vamos montar isso?!

Bastian sorri quando me puxa e me entrega um capacete preto com visor


fumê. Ele aperta as bolsas amarradas nas laterais do assento e depois passa uma
perna por cima. Ele me puxa para trás dele, e meu coração se anima quando o
envolvo com meus braços. Ele aperta um botão e a porta da garagem começa a se
abrir. Em seguida, ele liga o motor e eu suspiro quando a moto ganha vida embaixo
de nós.

— Para onde estamos indo?! — Eu grito.

Ele se vira, sorrindo para mim.

— Você verá. Mas segure-se bem. É uma viagem de cerca de uma hora e
meia.

Minhas sobrancelhas se franzem. — O quê, Bastian, eu não posso sair do


campus...

— Já lhe disse que tenho certeza de que você é melhor do que isso em
quebrar as regras, — diz ele com um brilho nos olhos que me faz tremer.

— Apenas mantenha o capacete colocado.


Ele se vira para a frente, colocando seu próprio capacete. Ele acelera a
moto enquanto eu me seguro com firmeza, e então saímos para o frio de janeiro.

Em um dos portões ao longo do perímetro de alta segurança do campus da


Oxford Hills Academy, paramos para o segurança. Bastian levanta o visor enquanto
meus braços se apertam ao redor dele. O guarda acena com a cabeça ao reconhecer
Bastian.

— Bom dia, professor.

— Bom dia, Christopher.

— Vai sair para dar uma volta nesse frio?

— Isso fortalece o caráter.

Christopher dá uma risadinha e se vira para olhar para mim - com o visor
ainda abaixado - com curiosidade.

— Namorada, — murmura Bastian.

Fico corada, sentindo o formigamento eletrificar minha pele com a


simples palavra.

— Ahh, bem, aproveite seu passeio, professor.

— Mais uma vez, obrigado, Chris.

O portão se abre, e então partimos, rugindo para o campo, enquanto eu me


seguro como se minha vida dependesse disso.
Meu corpo inteiro fica meio dormente e meio formigando quando o motor
desliga. Bastian abaixa o suporte e desce da moto antes de me ajudar a descer
também. Minhas pernas estão trêmulas depois dessa viagem. Também estou um
pouco corada por estar molhada depois disso.

Aparentemente, as motos vibram muito. Muito mesmo.

Tiro o capacete e olho para cima, com as sobrancelhas arqueadas para o


enorme portão de ferro coberto de hera à nossa frente. E atrás dele, a ampla mansão
antiga, um pouco degradada, mas linda.

— Que lugar é esse?

— Meu plano de fuga.

Eu me viro para olhá-lo com curiosidade.

— Como é, o seu quê?

Bastian caminha até ao portão e se inclina contra ele enquanto olha por
entre as grades.

— Minha fuga de todas as besteiras. Ou, esse é o plano. Talvez. Quem


sabe? — Ele se vira para ver a confusão ainda em meu rosto.

— Estou pensando em comprar este lugar.

Minha mandíbula cai.

— Sério? — Eu me viro para olhar maravilhada para a antiga casa, com


tanta personalidade e história claramente envolvidas em suas paredes de pedra
cobertas de hera, janelas em estilo Tudor, pórticos arqueados e jardins cobertos de
vegetação.
— É linda.

Ele bufa. — Você não precisa exagerar. Eu sei que é meio uma espelunca.

Balanço a cabeça e me viro de volta para ele.

— Não é mesmo. Quero dizer, sim, ela precisa de um pouco de cuidado...

— Muito cuidado.

Eu sorrio. — Bem, eu gosto. Muito. — Eu olho para ele. — O que você


quer dizer com plano de fuga?

Ele sorri ironicamente. — Comecei a procurar um lugar como este quando


tudo foi por água abaixo com meu livro. Minha editora me abandonou, a Netflix me
mandou à merda... — seu rosto escurece.

— Sua assistente filha da puta.

Ele dá uma risadinha. — Ok, suas palavras, não minhas.

Eu faço uma careta. — Acho que é justo dizer que ela merece o título.

Ele sorri. — Isso é uma ponta de ciúme que eu...

— Sim.

Seus olhos brilham quando ele se aproxima de mim, segura meu rosto e
se inclina para me beijar profundamente.

— Então, você queria um lugar como este para se afastar de tudo?

Ele sorri, balançando a cabeça. — Basicamente, sim.


Dou uma olhada através das grades do portão. — Sim, entendo
perfeitamente como você gostaria de se divertir com uma mansão murada de
novecentos mil metros quadrados.

Bastian dá uma risada profunda.

— Às vezes, não gosto muito das pessoas. Mas gosto de coisas boas.

— Acho que tenho os mesmos pensamentos, — dou uma risadinha. Olho


com saudade por entre as grades. — É uma pena que você não tenha comprado.

Ele arqueia uma sobrancelha. — Por quê?

— Bem, porque viemos até aqui, e seria muito legal poder ver como é por
dentro...

O rangido de metal enferrujado atrai minha atenção para onde Bastian está
girando uma chave na fechadura do portão. Ele o empurra, e as dobradiças gritam
em protesto contra o desgaste e as vinhas que o mantiveram fechados por tanto
tempo.

— Como você acabou de fazer isso?

— Com a chave, — ele sorri. Ele entra no pátio ligeiramente coberto de


vegetação da mansão e caminha em direção à porta da frente.

— Espere, Bastian! — Eu sibilo, correndo atrás dele enquanto olho em


volta, como se alguém pudesse nos ver aqui no meio do campo, em uma casa
abandonada.

— Não podemos simplesmente...

Uma chave em sua mão desliza diretamente para a porta da frente.


— Na verdade, podemos, — ele murmura, virando-se para sorrir para
mim. — A imobiliária que está cuidando da venda deste lugar me emprestou uma
chave, caso eu quisesse dar uma olhada na casa à vontade.

Fico olhando para ele. — Eles fazem isso?

Ele dá de ombros. — Eles fazem isso quando o agente principal é um


grande fã deste que vos fala.

Faço uma careta, com o ciúme fumegando em meu rosto. Bastian ri


enquanto me puxa para perto.

— Na verdade, você pode ter uma veia mais ciumenta do que eu.

— Que nada, está tudo bem. Não é nada demais, — dou de ombros. — Eu
só quero arrancar os olhos dela e esfaqueá-la, se você já...

— O nome dele, — diz Bastian em uma risada. — É Martin. E ele é


literalmente um grande fã dos meus livros. — Ele pisca para mim. — Sua coisinha
mal-humorada.

Fico corada, fervilhando em meu pico de ciúme, quando ele abre a porta
e me faz entrar. Lá dentro, meu queixo cai quando olho para o hall de entrada
empoeirado, um pouco precisando de uma reforma, mas completamente lindo.

— Uau.

— Sim, foi basicamente essa a palavra que usei, — ele ri. — Venha, vou
lhe mostrar as redondezas.

Minha mandíbula fica praticamente aberta enquanto caminhamos pela


antiga casa. A cozinha deslumbrante, coberta de poeira. O salão de baile com o
grande lençol sobre um piano de cauda. A biblioteca - caramba, a biblioteca. Dois
andares de altura e livros de parede a parede.

No andar de cima, em uma espécie de sala de estar anexa a uma estufa -


uma estufa de verdade, envidraçada, no segundo andar -, Bastian e eu nos
acomodamos em um sofá coberto por um grande lençol branco.

— Ok, você sabe como escapar do mundo com estilo, devo dizer isso.

Ele sorri, dando de ombros.

— Não sei se vou fazer isso. As coisas estavam difíceis e eu só queria


fugir.

— E então você encontrou Rebecca!

Ele me lança um olhar quando dou uma risadinha.

— Desculpe, não é legal.

Ele dá uma risadinha. — Bem, parece que encontrei outra pessoa também.

Sorrio, mordendo o lábio. Bastian pega o celular e começar a navegar por


algo. De repente, uma música começa a tocar quando ele o coloca no braço do sofá.

Franzo a testa, deixando que as notas da música me envolverem, e começo


a sorrir.

— Uau, quem é esse?

— Joni Mitchell. — Ele olha para mim. — Espere aí, você não conhece
Joni Mitchell?
— Não, mas... uau. — Recosto-me no sofá e fecho os olhos. Notas
envolventes e melodias maravilhosas flutuam sobre mim. Palavras que cortam e
queimam com tanta perfeição são reproduzidas no silêncio da sala.

— E eu que pensava que vocês eram todos hard-rock e punk, o tempo


todo.

Ele balança a cabeça. — Não.

A música nos embala enquanto ficamos ali sentados por mais alguns
minutos. E, de repente, ela simplesmente sai da minha boca.

— Posso ler seu livro?

Eu me arrepio no segundo em que ela sai dos meus lábios. Que merda.
Nem sei de onde veio o pedido. Mas lá está. Porém, me viro para ele, encontrando
seu olhar sombrio.

— Quero dizer, se estiver tudo bem?

Ele franze a testa. — God $ave The Queen?

Dou de ombros. — Sim. Quero dizer, eu li todos os seus livros, tipo, várias
vezes.

Ele sorri.

— Então, é meio enlouquecedor saber que existe um outro livro de Bastian


Pierce por aí que eu não posso ler. Então... — Eu sorrio amplamente, revirando os
olhos. — Posso?

Bastian sorri. Mas posso ver como seus olhos escurecem.

— Sim, eu não sei...


Eu gemo. — Ah, vamos lá!

— Eu não deixo ninguém ler meu material não publicado, Jules. Além dos
meus editores e do meu agente.

— Ah, você quer dizer aqueles que o demitiram?

Ele sorri.

— Deixe-me pensar sobre isso.

— Combinado.

Eu me viro, dando uma olhada na sala grande.

— Eu realmente consigo te imaginar aqui.

— Sério? — Ele dá uma risadinha. — O estranho recluso, com apenas


uma máquina de escrever e uma barba de trinta centímetros de comprimento?

Dou uma risadinha ao me virar, mordendo o lábio enquanto deslizo para


o colo dele. Seguro seu rosto, passando os dedos pela barba por fazer.

— Sim para a barba por fazer. Não para a barba estilo Rip Van Winkle.

Seus olhos fixam os meus. — Anotado.

— E apenas uma máquina de escrever?

Ele dá de ombros. — Talvez um pouco de comida, eu acho.

O calor lateja em meu âmago enquanto engulo, deixando meus olhos fixos
nos dele.

— Mais alguma coisa? — Eu sussurro.

Ele geme, e eu me derreto ao sentir sua dureza crescendo abaixo de mim.


— Definitivamente algo mais, — ele rosna baixinho. Suas mãos deslizam
pelos meus quadris e sobem pelas minhas costas enquanto eu me inclino,
aproximando minha boca da dele.

Bastian geme, beijando-me profundamente. Eu me moldo a ele,


deslizando minhas mãos em seu cabelo enquanto as dele se enroscam no meu. O
beijo se torna mais profundo e mais quente. Suas mãos tiram meu casaco e depois
abrem os botões da minha blusa.

A casa não está congelando, mas também não está quente. E, no entanto,
em seus braços, não sinto frio algum. Meu sutiã cai e eu gemo quando sua boca
chega aos meus mamilos. Ele tira seu próprio casaco e me ajuda a tirar sua camisa.
Eu gemo de frustração enquanto me inclino para baixo em sua ereção grossa.

— Jeans e leggings, — resmungo. — Ótimo para passeios de moto no


inverno...

— Terrível para mim entrar dentro de você agora mesmo, — ele rosna.

Saio do seu colo, virando-me para abrir o botão e o zíper da calça. Abro a
calça jeans e depois gemo quando sinto sua boca na parte inferior das minhas costas.

Ainda estou tirando a calça jeans dos tornozelos quando seus dedos
deslizam por baixo da cintura das minhas leggings. Ele as desce sobre minha bunda,
puxando minha calcinha com elas, e eu ofego ao sentir seu hálito quente em minha
bunda.

— Fique assim mesmo, — ele geme com um tom exigente.

Eu tremo, como o corpo inclinado para frente, como se estivesse tocando


os dedos dos pés. Sua nuca roça em minhas coxas, fazendo-me gemer. Então, sinto
sua língua passar pela minha fenda e grito de prazer.
As mãos de Bastian agarram minha bunda, puxando-me contra sua boca e
sua língua. Eu me contorço contra ele, gemendo enquanto ele suga meu clitóris entre
os lábios e passa a língua ao redor dele. Seus dedos penetram em minha pele,
fazendo-me tremer toda antes de ele se afastar de repente.

Ouço seu zíper e depois o som da sua calça jeans sendo tirada. Suas mãos
deslizam sobre minha bunda, puxando-me para o seu colo. Eu gemo quando me
ajeito em seu colo. Olho para baixo, doendo de necessidade ao ver seu enorme pau
encostado na minha fenda, com a cabeça até ao umbigo.

Eu gemo com vontade.

— Como diabos você cabe dentro de mim?

Eu gemo quando seus lábios se arrastam pelo meu pescoço e suas mãos
me envolvem para segurar meus seios. Uma delas escorrega por entre minhas pernas,
esfregando seu pau em meu clitóris.

— Você sabe, — ele geme. — Não tenho certeza.

Eu ofego quando seus dentes se arrastam sobre o lóbulo da minha orelha.

— Por que não vamos ver?

Ele me levanta e eu gemo quando me concentro em sua coroa inchada.


Desço devagar, guiada por seu firme aperto em meus quadris. Meus olhos se
arregalam, o prazer escorrendo dos meus lábios enquanto me afundo em cada
centímetro do seu enorme pau.

Caio de costas contra seu peito musculoso, girando a cabeça enquanto ele
agarra minha mandíbula para me beijar profundamente. Eu gemo em seus lábios
enquanto ele balança os quadris, mantendo-me ali enquanto desliza para fora e
depois bombeia de volta para dentro. Sua mão desliza entre as minhas pernas,
mantendo-as abertas de forma lasciva, com seu pau entrando e saindo da minha
boceta. Ele passa os dedos sobre meu clitóris e eu grito por mais.

Eu gemo em sua boca enquanto ele bombeia seus quadris musculosos,


enfiando seu grande pau em mim enquanto eu o cavalgo. Minha mão se estende para
trás, deslizando meus dedos em seu cabelo enquanto eu suspiro por mais. Seus
grunhidos masculinos ecoam em mim, a necessidade que ele sente por mim pulsando
quente contra minha pele.

Nós nos movemos mais rápido e com mais força juntos. Eu pulo em seu
colo, aproveitando cada centímetro enquanto ele o enfia em mim. Nossos lábios se
fundem. Meu corpo começa a se contrair e tremer à medida que começo a me
desfazer.

Seus dedos roçam meu clitóris e beliscam meu mamilo com força
suficiente para enviar um raio através do meu núcleo.

— Julianna...

— Goze comigo! — Eu suspiro, beijando-o loucamente. — Goze comigo!


Goze Bastian!

Eu grito em sua boca quando gozo. Meu corpo treme e se contorce contra
ele, minhas paredes agarram seu pau com força enquanto ele rosna em minha boca.
Eu sinto o movimento dele contra mim, seu pau inchando, duro e grosso, enquanto
ele geme sua liberação. Seu esperma quente se derrama em mim enquanto seus
braços grandes me envolvem com força.

Como se ele nunca fosse me deixar ir.

Como se eu nunca quisesse que ele me deixasse ir.


Ficamos assim, segurando e acariciando um ao outro em silêncio, fingindo
que tudo isso é real. Que ele realmente vive aqui. Que eu também vivo, com ele.

Um vislumbre da vida que poderíamos ter. Se ele não fosse ele. Se eu não
fosse eu.

Se tudo sobre tudo fosse diferente.


29

— Você está muito... — Lizbet me observa por cima da ilha na luxuosa


cozinha da Mansão Lordship.

— Radiante.

Coro profundamente e volto meu olhar para a piccata de peixe-espada que


a equipe da cozinha do refeitório entregou há cerca de quinze minutos. Vantagens
de estudar em um colégio cheio de esnobes, eu acho.

— Não estou, — digo rapidamente, enchendo minha boca de comida.

Lizbet revira os olhos. — Vamos mesmo fazer essa coisa clichê de vai e
vem? Ou podemos pular para a parte em que você simplesmente me diz quem ele é.

— Não há ninguém.

— Oh meu Deus, sério?

Eu sorrio para o meu prato. — Isso tudo está em sua cabeça.

— Não, está tudo na sua cara. Agora confesse.


— Não há nada para ‘confessar’! — Eu rio.

— Oh, vamos lá! — Lizbet suspira, gemendo. — Apenas diga-me quem


ele é!

Posso sentir minhas bochechas queimarem.

— Ele não é ninguém, ok?

Ela sorri. — Então existe um ele!

Eu gemo.

— Não, você... — tropeço, franzindo a testa. Minha amiga apenas sorri


para mim.

— Você é horrível, — murmuro.

Ela ri. — Vamos lá, você sentiu falta de mim e das minhas picuinhas em
sua vida pessoal, não foi?

— Imensamente.

Ela sorri. Eu também, quando olho para ela.

— Estou muito feliz por você ter voltado.

Eu realmente gostaria de poder conversar com ela sobre isso. Mas não
posso. É complicado demais, como um barril de pólvora. Não é nem mesmo algo
sobre o qual Bastian tenha me pressionado – para não contar nem mesmo a minha
amiga mais próxima. É apenas algo que eu sei que não posso fazer.

Confio na Lizbet implicitamente. Mas um deslize acidental... um erro, e


tanto o meu mundo quanto o de Bastian explodiriam.

— Que tal mudarmos de assunto?


Ela geme. — Tudo bem, como preferir.

Ela sorri para mim. Eu sorrio de volta.

— Então, como está Mara?

Ela franze a testa, mas acena com a cabeça.

— Bem. Ela está se saindo muito bem, na verdade. Em termos de


reabilitação, dizem que ela está fora dos padrões da maioria das pessoas que estão
em coma há tanto tempo quanto ela.

— Isso é incrível.

— Sim. — Ela acena com a cabeça, e então seu rosto cai um pouco.
Estendo a mão para o outro lado do balcão e pego sua mão.

— É que... você sabe, ela tem estado adormecida do mundo desde que
tinha quatorze anos, só isso. — Lizbet dá de ombros. — Tipo, sim, mentalmente,
fisicamente, ela está funcionando bem. É só que ela perdeu todas essas coisas de
desenvolvimento. Todos esses marcos e experiências.

Aceno com a cabeça, apertando sua mão.

— Então, qual é o próximo passo?

Lizbet sopra ar pelos lábios. — Quer ouvir algo maluco?

— Por favor.

— O próximo passo é aqui.

Franzo a testa. — O que você quer dizer com isso?


— Quero dizer, os médicos dela dizem que ela estará mais do que bem
para deixar seus cuidados em tempo integral já no próximo mês. Então, acho que
posso trazê-la para a OHA.

Minhas sobrancelhas se erguem. — Uau, sério?

— Sim! Quero dizer, pode ser uma loucura para ela. Mas, de qualquer
forma, Mara sempre foi uma gênia. Ela vai se adaptar e, se estiver aqui, pode ficar
comigo.

Eu sorrio. — Eu adoro isso.

Ela sorri para mim. — Eu também.

Quando chego em casa sozinha, tomo banho e vou para a cama. Bastian e
eu ficamos juntos quase todas as noites. No entanto, nunca ficamos juntos a noite
toda. É muito arriscado. Quero dizer, de jeito nenhum ele pode ser visto saindo da
casa de uma estudante nas primeiras horas da manhã. E é muito arriscado que alguém
me veja fazendo o mesmo na casa dele. Mesmo em Davos, por mais incrível que
tenha sido, nunca ficamos a noite inteira.

Sorrio ao abrir o Snapchat. Não apenas porque estou prestes a flertar com
ele. Mas porque já faz um tempo recorde - semanas - que não tenho notícias de
‘thisboywatchesU’. Nem sequer penso na possibilidade de ele ter realmente perdido
o interesse em me torturar. Em vez disso, clico em ‘BadTeacher89’ e começo a
digitar.

| O que está fazendo?


Ele envia de volta um emoji de piscadela.

| Estou ao telefone com meu advogado e mais dois outros pela pela
próxima hora. Estou discutindo coisas legais chatas pra caralho e papelada
sobre direitos autorais. Sonoooooo.

| Ahhh, coitadinho.

| O que VOCÊ está fazendo?

Dou um sorriso malicioso.

| Você está realmente preso a isso durante a próxima hora?

| Pelo menos. Talvez duas. E você não respondeu à minha pergunta.

Sorrio, arrastando os dentes sobre o lábio inferior.

| Talvez eu não deva lhe contar

| Por que não?

| Porque você não pode vir até aqui agora.

| Diga-me o que está fazendo.

Eu fico a ponto de explodir. Mesmo pelo Snapchat, a maneira como ele


fica... não sei. Exigente? Possessivo? Seja o que for, é sexy pra caramba.

Meu rosto queima enquanto digito uma resposta.

| Pensando em você.

Eu sorrio.

| E me tocando.
Ele está digitando. Depois não está mais. Depois, está digitando e, em
seguida, não digita mais. Franzo a testa, até que, de repente, chega uma mensagem
que incendeia meu sangue.

| Mostre-me.

Minha pele está formigando e eu tremo com o som do meu coração


batendo nos meus ouvidos. Viro a câmera e levanto minha camiseta de dormir. Tiro
uma foto de mim arqueando as costas, esparramado na cama com o peito erguido.

Clico na câmera e olho para a foto. Eu sorrio. Droga, meus peitos ficaram
ótimos nessa foto. Corada e com formigamento por toda parte, eu a envio para
Bastian como um Snap.

| PORRA

Eu fico corada.

| Você gosta?

| Preciso de você.

Eu sorrio.

| Então venha!

| Poxa, não posso. Tenho que ficar sentado vendo essa papelada.
Também pode ser um pouco tarde demais

Para passar no dormitório de uma estudante, ele omite. Mas nós dois
sabemos o que ele quer dizer.

| Tem certeza? ;)

Levanto a camisa e abro a câmera novamente. Mas, desta vez, filmo o


polegar e o indicador beliscando e enrolando um dos meus mamilos. Eu ofego,
choramingando antes de parar a gravação. Envio o vídeo pelo Snapchat para Bastian
com outra piscadela.

| Estou com muito tesão por você neste momento.

Eu gemo, apertando minhas pernas e sentindo como estou molhada.

| Mostre-me.

Sinto meu rosto queimar no segundo em que o envio corajosamente. Fico


esperando, me perguntando se exagerei. E então, uma imagem do Snap chega. Minha
pulsação bate forte quando toco nela com o polegar para abri-la.

Oh, droga.

É Bastian, com a camisa levantada e o moletom puxado para baixo. Seu


pau grosso, protuberante e lindo está enorme e muito duro contra seu abdômen. O
enquadramento da foto inclui os lábios dele, que estão sorrindo com um sorriso
astuto e sexy como o pecado.

| Preciso de você aqui, agora

E eu preciso. Com urgência.

| Você sabe que não posso... :(. Desculpe, Lila Jane.

| Ah, mas agora você nunca saberá que tipo de calcinha estou usando.

| Você terá que me mostrar.

Dou um sorriso malicioso.

| Você terá que descobrir amanhã. Boa noite, senhor.

Ele envia um gif de um emoji batendo a cabeça em uma parede de tijolos.

| Haha, durma bemmm.


Estou prestes a seguir com um emoji de cara de beijo. Em seguida, excluo-
o, abro a câmera e envio uma foto real de mim mandando um beijo para ele.

Quase que instantaneamente recebo uma foto dele fazendo o mesmo. E


rapidamente me sinto toda brilhante.

| Boa noite.

Olho fixamente para as últimas palavras, com a pulsação acelerada.

Ok, agora estou definitivamente radiante.

Na verdade, ainda estou radiante quando entro na aula de Literatura


Inglesa na manhã seguinte. Minha pele vibra. Meu núcleo se contrai. Meus lábios
não conseguem parar de sorrir quando olho para ele no caminho entre sua mesa e
meu assento.

— Bom dia, senhor, — murmuro baixinho.

— Bom dia, Srta. McCreed, — ele rosna grosseiramente, sem tirar os


olhos de mim.

Eu me sento na frente e no centro, como sempre, corando enquanto aliso


a saia do uniforme, como sempre faço. Coloco minhas anotações e canetas sobre a
mesa, como sempre faço.

Bastian se levanta e começa a dar uma palestra sobre Kurt Vonnegut.

Olho-o nos olhos, sorrio como um gato com um canário e, lentamente,


abro minhas pernas.
Não é algo que eu faça normalmente.

Nem o fato de eu não estar usando nada por baixo da saia.

— Então, em Slaughterhouse Five...

Bastian quase engasga com suas palavras. Seus olhos se estreitam para
mim, especificamente, para a parte de mim que está embaixo da minha mesa.

— Em Slaughterhouse Five...

Continuo olhando diretamente para ele, com a caneta em uma das mãos
como se estivesse fazendo as anotações. A outra mão passa por baixo da minha mesa
e escorrega para a bainha da minha saia. Eu a puxo para cima, sorrindo para ele.
Quando ela já está quase no meio das minhas coxas, vejo sua mandíbula se contrair.

Minha mão desliza entre as coxas e eu passo um dedo na minha fenda


muito molhada.

Bastian parece querer me atacar aqui e agora. Ele rosna, virando-se para
ir até sua mesa. Ele pega o celular, ainda falando sobre Vonnegut enquanto digita
algo furiosamente.

Meu celular toca na bolsa e eu tremo. Com cuidado, empurro minha saia
um pouco para baixo e pego o celular, para ver um novo Snapchat.

| Você precisa parar com essa merda agora mesmo, antes que eu a
dobre sobre esta mesa e a espanque como uma garotinha safada aqui na frente
de todos.

Minha respiração fica presa. Minha pulsação pulsa em meus ouvidos.

| Você não faria isso...


| Eu só não faria isso porque isso é para os MEUS olhos e somente
para os meus olhos. Mas que Deus me ajude. Se você não parar com isso, eu vou
mandar essa turma embora mais cedo e bater nessa bocetinha até você gozar
na minha maldita mesa.

Sim, a menos que suas palavras sujas me façam gozar aqui mesmo na
cadeira, sem nem mesmo me tocar primeiro.

| Isso é uma promessa ou uma ameaça?

| Cuidado, garotinha

Mordo meu lábio para não choramingar.

Nesse momento, a porta se abre. Eu me enrijeço, sentando-me ereta em


meu assento e puxando a saia de volta para baixo nas minhas pernas enquanto o
Diretor Lange entra na sala, sorrindo.

O rosto de Bastian escurece quando ele deixa o celular cair na mesa e se


vira para sorrir com rigidez.

— Diretor Lange, isso é uma surpresa?

— Ah, sim! Desculpe, professor Pierce, eu queria ter lhe enviado um e-


mail antes. Gosto de assistir às aulas de vez em quando, só para ver como são seus
métodos. — Ele sorri genuinamente. — Não é um teste, garanto a vocês, — ele ri,
sorrindo para o resto da turma. — Apenas parte dos meus deveres, só isso.

Ele se vira e sorri para mim enquanto meu rosto fica vermelho. Ele faz um
gesto para o assento vazio ao meu lado.

— Se importa se eu me sentar ao seu lado, Srta. McCreed?


Obviamente, o restante do período é bem menos interessante. Quando o
sino toca, a turma começa a juntar suas coisas para sair. Eu faço o mesmo, mas
lentamente, totalmente atenta enquanto o diretor Lange caminha até Bastian.

— Nossa, Bastian, isso foi... bem, isso foi muito bom.

— Agradeço, diretor.

— Por favor, Kenneth está bem. Mas ouça. Admito que fiquei... cético,
talvez um pouco com sua falta de experiência como professor, dado o... uh, calibre
desta escola.

Olho para trás e vejo as sobrancelhas de Bastian se franzir.

— Mas sua querida Rebecca o elogiava tanto.

E um cheque gordo, provavelmente com o dinheiro da família de Bastian,


para a escola, penso comigo mesmo.

— De qualquer forma, — continua o diretor Lange. — Devo dizer que


estou muito impressionado. Sei que falamos que isso seria apenas para este período
letivo. Mas eu adoraria conversar com você no próximo ano também.

Bastian olha de relance para mim, com a mandíbula apertada.

— Você tem uma hora livre ou algo assim agora?

Vá, eu faço um movimento com os lábios para ele. Toco meu telefone e
dou uma piscadela enquanto carrego minha bolsa. Posso sentir seus olhos em mim
quando saio para o corredor e me encosto na parede para mandar um Snap para ele.

| Meu chalé assim que você estiver livre. Eu quero você.


| Quando eu chegar, esteja de quatro em sua cama, sem uma peça de
roupa sequer.
30

Meu coração está acelerado e minha pele está arrepiada de desejo quando
entro pela porta da frente do chalé. Jogo minha bolsa no chão e basicamente faço o
mesmo com meu casaco, na direção vaga de um dos ganchos na parede.

Viro-me e corro para as escadas para tomar banho, quando, de repente,


algo chama minha atenção no canto da minha visão periférica.

Não é algo. Alguém.

Giro, meu sangue se transforma em gelo e o grito se aloja em minha


garganta. Meus olhos tentam se concentrar no homem sentado à mesa da cozinha.

E, de repente, o chão cede. Fico gelada, entorpecida, olhando incrédula


para o homem alto e robusto, com cabelos escuros, prateados nas têmporas, e olhos
azuis frios e invernais, vestido em um terno impecável de três peças.

— Olá, Julianna.

Minha boca fica seca.


— Pai? — engasgo.

Ele franze a testa, limpando a garganta enquanto se levanta, abotoando o


paletó do terno formalmente. Pisco os olhos, tentando aceitar que meu pai, que está
foragido há sete meses, sem uma única tentativa de contato comigo, está literalmente
na minha frente, na minha cozinha.

— O que... — Minhas sobrancelhas se contraem, minha cabeça balança


enquanto me afasto dele. — Que diabos você está fazendo aqui? Pai, por que você
está aqui...

— Porque eu tinha que ver você, Julianna. — Sua voz grave de barítono
ressoa no silêncio da cozinha.

— Mamãe sabe que você está aqui?

Seus olhos se estreitam. Ele faz uma careta, sua mandíbula forte se contrai
quando seus olhos encontram os meus. — Ela não sabe, não.

Meus lábios se contraem. — E a polícia?

— Você é uma garota muito inteligente, Julianna. Acho que você já sabe
a resposta para isso.

Balanço a cabeça lentamente.

— Você não pode estar aqui.

— Julianna...

— Por que você está aqui?! — Eu grito de repente, assustando-o o


suficiente para que ele recue. Seus olhos azuis nórdicos piscam com ferocidade
enquanto ele inala lentamente.
— Para que você conheça a verdade.

Desvio o olhar, cerrando os dentes.

— Não faça isso, ok?

Ele rosna baixinho. — O que isso significa?

— Significa que não tente me dizer que eu ‘entendi tudo errado’, — eu


zombo, virando-me para encará-lo. As lágrimas picam os cantos dos meus olhos,
mas eu me recuso a deixá-las cair. Não depois que ele me deixou com Rebecca,
completamente desamparada.

Ele cruza os braços sobre o peito, levantando uma das mãos para passar
as unhas sobre a barba por fazer.

— Já lhe ocorreu, minha filha, que faz tanto sentido eu fugir com míseros
quinhentos milhões de libras quanto abandonar voluntariamente minha única filha?

Meus olhos se estreitam. — Várias coisas me ocorreram nos últimos


meses, na verdade.

— Como por exemplo?

Eu ri friamente. — Como o fato de que eu fiquei com a pior parte quando


se trata de pais.

Ele sorri levemente.

— Você foi criada sem querer nada, sem precisar de nada e tendo todos
os seus desejos atendidos. Você frequenta a melhor escola do mundo, com seus
futuros líderes como colegas. E você tem o mundo inteiro à sua disposição como seu
futuro. Você é inteligente, bonita, está no um por cento mais rico do planeta e tem
um sobrenome que abrirá mais portas do que você saberá o que fazer com elas.
Ele suspira. — Então, fale-me sobre essa pior parte...

— Que tal pais que se importassem comigo como pessoa e não como um
troféu para exibir aos seus amigos esnobes? — retruco.

Seus olhos escurecem.

— Que tal uma mãe que não tenha jogado suas inseguranças em cima de
mim em vez de ir à porra da terapia? Que tal um pai que uma vez - só uma vez, porra!
— Eu grito. — Me escolheu em vez de uma reunião de acionistas, ou uma assinatura
de contrato, ou uma aquisição que durou a noite toda? Que tal isso?

Ele olha para baixo. Ele acena com a cabeça em silêncio.

— Não posso falar por sua mãe. Exceto para dizer que sinto muito por
tudo o que ela fez com você. E eu não fui o melhor pai do mundo...

— Ah, foi a isso que você concluiu em suas férias de sete meses?

Ele olha para mim com firmeza.

— Guarde as facas, Julianna, eu vim aqui...

— Por que você veio aqui? — Eu rio com frieza. — Ah, e é um pouco
difícil estar no um por cento mais rico do mundo quando não há mais dinheiro depois
que seu pai criminoso se torna um fugitivo da lei.

Seus olhos se estreitam.

— Você ficou com um fundo considerável.

— Tudo foi apreendido quando você saiu com seu... — Dou uma risada
curta. — Desculpe, você disse míseros quinhentos milhões de libras?

— Eu valia dez vezes mais que isso.


Minhas sobrancelhas se levantam. Espera aí, o quê?

— Por que eu deixaria isso, e você, pela vida de fugitivo, com uma fração
da minha riqueza e minha reputação em ruínas?

— Porque você é um idiota?

Ele sorri. — Vou deixar você levar com essa.

— Puxa, obrigada.

Ele franze a testa.

— Mas você ficou com dinheiro. Dinheiro que eles nunca poderão
confiscar pelo que acham que eu fiz.

— É, bem, não fiquei.

Ele acaricia o queixo, olhando para mim.

— Rebecca, eu presumo, — ele rosna sombriamente. Ele faz uma careta


antes de suspirar profundamente.

— Eu não peguei aquele dinheiro, Julianna.

— Ah, sério.

— Sim, — ele rosna. — De verdade.

— Então, por que desapareceu por sete meses!!!

— Porque eu tive que fazer isso!

— Sim! Porque você é um criminoso, e a polícia estava atrás de você,


então você fugiu...
— Eu fugi porque a maldita máfia russa estava tentando me matar! — ele
esbraveja. — E eu não gostaria que um carro-bomba com meu nome explodisse você
também!

A cozinha fica em silêncio. Engulo enquanto meu pai inspira uma fina
corrente de ar.

— Eu não aceitei aquele dinheiro. Fui enganado.

Ele desvia o olhar, balançando a cabeça.

— E suponho que você vai me dizer quem...

— Sua mãe, — ele sibila, girando de volta. — Sua mãe e o homem com
quem ela estava transando. Um idiota russo chamado Sergei Melnyk.

Fico olhando para ele em choque.

— O quê? — Eu falo baixo.

Ele suspira, apertando a ponte do nariz.

— Levei alguns meses para juntar as peças. Mas agora tenho certeza disso.
Na verdade, tenho provas. Não o suficiente para fazer muita coisa, mas o suficiente
para eu saber. Ela falsificou assinaturas e pagou um dos meus gerentes de conta que,
aparentemente, estava com dívidas de jogo. Ela e esse Sergei, que é um idiota.

Franzo a testa, balançando a cabeça em descrença.

— Mas... minha mãe está falida. Ela está se casando...

— Bastian Pierce, pelo dinheiro da sua família. Sim, eu sei, — ele


resmunga. — Essa parte eu ainda não descobri. Não sei se ela está tentando extorquir
ele também, ou se, de alguma forma, ela gastou meio bilhão de libras. Mas estou
trabalhando nisso.

Ele olha para mim com firmeza. — Estou trabalhando para consertar isso,
Julianna. Vou consertar isso e ter minha vida de volta.

Eu olho para baixo. Ele suspira.

— Percebo que você não tem certeza.

— Não, eu só...

— E está tudo bem.

Ele me olha.

— Nunca fui considerado o pai do ano. Mas não sou o que o mundo pensa
que sou atualmente. E eu sou seu pai, mesmo que não seja um pai muito bom.

Eu sorrio ironicamente.

— Você não foi terrível.

Ele sorri. — Não fui terrível. Aceito isso.

Ficamos olhando um para o outro por dez segundos. E, de repente, estou


indo em direção a ele. Já estou soluçando quando meus braços o envolvem, meu
rosto pressionado contra seu peito enquanto ele me abraça com força.

— Eu realmente senti sua falta, — engasgo, chorando em seu paletó


enquanto ele esfrega minhas costas.

— Senti muito a sua falta, — ele diz calmamente, com a voz firme. — E
eu vou consertar isso.

— Pai, se você for pego aqui...


— Então não serei pego, — ele sorri.

Limpo minhas lágrimas, olhando para ele. — Você deveria ter ligado.

— Não vejo minha filha há sete meses. Não, eu não poderia simplesmente
ligar...

Seu celular toca. Ele o tira do bolso do paletó e faz uma careta para ele.

— Merda.

Seus olhos se voltam para os meus.

— Você precisa ir embora, não é?

Ele acena com a cabeça. — Eu tinha uma janela de tempo para vê-la,
infelizmente. Mas essa janela está se fechando.

— Entendo.

Ele coloca meu cabelo atrás das orelhas, sorrindo para mim.

— Não me descarte ainda, Julianna.

Eu o envolvo com meus braços, abraçando-o o mais forte que posso.

No início, estou feliz... feliz por ter visto meu pai e por ter revelado tudo
isso. E então, a moeda vira. A escuridão pesa sobre mim, agora que sei que vi o que
está por trás da cortina.
Agora que sei o que realmente está acontecendo. Sabendo que minha mãe
apunhalou meu pai pelas costas e mentiu na minha cara um milhão de vezes.

Minha mãe está por trás do roubo. Não meu pai.

Tudo isso é demais. A ansiedade e o pânico se abatem sobre mim, e a força


que construí nas últimas semanas com Bastian se desfaz. Antes que eu perceba, estou
tremendo, com lágrimas escorrendo pelo rosto, sentada na beira da cama com a saia
levantada - a lâmina de barbear fria em meus dedos enquanto olho para minhas
coxas.

Lágrimas embaçam meus olhos enquanto seguro a lâmina de barbear a


centímetros de minha pele. Seria tão fácil simplesmente fazer isso. Sentir aquela
euforia. A liberação. O sopro de ar de que preciso tão desesperadamente. E, no
entanto, estou assim há quinze minutos, apenas chorando - me esforçando para
fechar o último centímetro entre a lâmina e minha pele.

Simplesmente faça isso. Entregue-se aos demônios. Sinta a liberação.

Estou apenas vagamente ciente de que a porta do meu quarto está se


abrindo.

— Não, não, não, não, querida...

De repente, Bastian está lá, e de repente, posso respirar novamente. E não


é a lâmina abrindo minha pele que faz isso. É ele, só de estar perto de mim.

Eu sugo um ar sufocado, como se tivesse sido tirada de um transe ou de


uma água gelada, enquanto ele vem correndo até mim. Ele coloca a mão sobre a
minha, e eu olho para cima, com os olhos cheios de lágrimas.

— Eu... eu... meu pai...


— Está tudo bem, — ele acalma, não tentando arrancar a lâmina de
barbear da minha mão, mas apenas me acalmando.

Mandando embora as nuvens escuras.

— Ele esteve aqui...

Os olhos de Bastian endurecem, mas ele não diz nada.

— Ele me disse... — Eu sufoco um soluço. — Tudo...

Eu soluço. Sua mão acaricia as costas da minha. E, lentamente, meu aperto


diminui. Deixo a lâmina cair no chão e me aconchego em seu peito.

— Desculpe, — engasgo-me com as lágrimas.

— Você não tem nada do que se desculpar. Nada mesmo, — ele sussurra
ferozmente, puxando-me para perto.

Ele me abraça em seu peito, puxando-nos para a cama enquanto me


envolve em seus braços. Fecho os olhos, envolvida por ele e soluçando em seu
antebraço, enquanto conto a ele tudo o que meu pai acabou de me dizer. Bastian
apenas acaricia meus braços e me acalma com sua voz suave.

Já estava escuro quando acordo com a sensação dele escorregando para


fora da cama. Entro em pânico, virando-me para agarrar sua mão.

— Por favor, não vá, — sussurro.

Ele sorri tristemente ao se inclinar para me beijar com delicadeza.

— Não posso ficar. Logo vai amanhecer.

Aceno com a cabeça, odiando o fato de ele estar certo, mas sabendo que
está.
— Mas... isso pode ficar em meu lugar.

Franzo a testa em confusão antes de me concentrar na pilha de papéis


encadernados que ele está colocando em minhas mãos.

Um manuscrito. O manuscrito de God $ave The Queen.

Fico olhando para ele e, em seguida, levanto lentamente os olhos até aos
dele.

— Você está falando sério?

Ele acena com a cabeça. — Diga-me o que você acha. Foi sugerido que
ele poderia precisar de alguma... edição.

Meu coração bate forte. Meu lábio se prende em meus dentes.

— Isso me deixa muito, muito feliz, — sussurro.

Ele se inclina para me beijar.

— Ótimo.

E quando ele se vai, não se vai de verdade. Estou com o livro apertado em
meus braços e estou louca para lê-lo. Mas primeiro...

Desço da cama e me abaixo para pegar a lâmina de barbear do chão. Pego


o resto do kit, desço as escadas e jogo tudo no lixo.

Um sorriso se espalha pelo meu rosto. Um peso é retirado dos meus


ombros.

Depois, volto para o andar de cima, pego o livro e deslizo para debaixo
das cobertas e começo a ler.
31

O último aluno da minha turma da tarde sai da sala. Suspiro, recostando-


me na minha mesa enquanto olho pela janela para o campus da OHA.

Merda.

Isso era para ser temporário. Tudo isso. O cargo de professor era para ser
um reforço temporário de imagem, para reforçar minhas defesas contra as acusações
falsas de Sophia. Mesmo o casamento com Rebecca não deveria durar muito tempo
- apenas o suficiente para que ela conseguisse o que precisava e para que eu
conseguisse o que precisava.

E depois, há Julianna.

Ela também era para ser temporária - extremamente temporária, antes


mesmo de eu saber quem ela era. Ela era a garota incrivelmente tentadora do bar,
que deveria ter sido um caso de uma noite, antes de voltarmos para nossas vidas e
dramas separados.
E, no entanto, aqui estamos nós. Aqui estou eu. O diretor Lange está me
oferecendo um contrato de três anos para lecionar em Oxford Hills. E Julianna?

Bem, não há nada de temporário em tudo isso. Não mais. Não com as
linhas que cruzamos. E eu gosto do fato de não ser nem um pouco temporário. Gosto
muito, na verdade. Só não sei para onde vamos a partir daqui, ou o que acontecerá
em seguida.

Não sou ingênuo. Entendo que nossas idades e a diferença entre elas não
são apenas algo a ser ignorado. Nas últimas semanas, passei mais de algumas noites
pensando em como eu era aos 18 anos. Tento imaginar como teria sido para mim
conhecer alguém quatorze anos mais velho que eu.

Teria me impedido de fazer as coisas autodestrutivas e estúpidas que


acabei fazendo em minha juventude? Ou teria me sufocado e me impedido de
experimentar a vida de uma forma que me permitiria crescer da maneira que eu
precisava crescer?

Isso teria me impulsionado ou me segurado? E qual dessas coisas estou


fazendo com a Julianna?

Também não sou ingênuo o suficiente para pensar que, mesmo sem a
montanha de drama que envolve isso entre nós, seria ‘normal’. Mesmo que eu não
estivesse me casando com Rebecca. Mesmo que eu não fosse o professor de
Julianna... Eu sei como isso pareceria para a maioria das pessoas.

Palavras como ‘predador e ‘aliciamento’ aparecem em meus pensamentos


sorrateiramente. Sei que as pessoas me veriam, na minha idade, com uma garota
como ela, na idade dela, e pensariam o pior.
Mas essa atração que sinto por ela não se deve à sua idade. É por causa
daquele fogo dentro dela que parece despertar algo que esqueci no fundo de mim
mesmo quando ela está comigo. Ela poderia ter dezoito, vinte e sete anos, minha
idade, mais velha... o dobro da minha idade.

Sei que isso não faria a menor diferença em como e o que sinto por ela.

Respiro fundo e começo a analisar o que preciso terminar hoje à noite para
a escola de amanhã. Quando, de repente, ouço a porta da sala de aula se fechar. Dou
uma olhada por cima do ombro. Minha mandíbula se contrai.

— Por que tenho a impressão de que você não está aqui por causa do
trabalho de crédito extra?

Konstantin Reznikov sorri para mim, cruzando os braços sobre o peito


enquanto se recosta contra a porta fechada.

— Acho que nos entendemos mal da última vez que conversamos,


professor.

Eu me viro para encará-lo, apoiando minhas mãos na borda da minha


mesa.

— Acho que estamos nos entendendo muito bem, Konstantin.

— Ah? — Seu sorriso desaparece, seus lábios se curvam em um rosnado.


— Então, por que está se metendo em meus negócios?

Meus olhos se estreitam.

— Por que você sentiu a necessidade de fazer com que seu pessoal me
seguisse por causa de um maldito livro?

Konstantin estala os dedos.


— Ainda estamos nisso, não é?

— Não estou me metendo em seus negócios.

— Não? Então, por que meu terceiro em comando está sendo seguido nos
últimos dias?

Reviro os olhos. — Jesus Cristo. Eu escrevo livros, Konstantin. Às vezes,


finjo que dou aulas de inglês. Eu tenho cara de quem tem a porra do tempo, do
dinheiro ou a paciência para deixar pessoas seguindo os capitães da Bratva?

Ele sorri. — Estou totalmente ciente de quem está seguindo Sergei. Quero
saber por quê.

Que droga.

— Não vou entrar nessa maldita competição de medição de pau em que


você está envolvido com Ilya, Misha e Lukas. Não vou.

— E, no entanto, aqui estamos nós.

— Saia da minha sala de aula, Konstantin, — rosno com firmeza.

— Você acha que eu não sei que Sergei está transando com a sua noiva,
Bastian?

Reviro os olhos. — Se está tentando fazer com que eu reaja, esforce-se


mais.

Ele solta uma risada sombria. — Oh, eu sei que isso não o irrita.
Claramente, o que quer que você esteja fazendo com Rebecca McCreed é algum tipo
de acordo. Estou apenas lhe informando que sei sobre ela e meu capitão. O que
significa que também sei que ele estava em Davos com ela. Assim como você.
— Você tem algum ponto em que gostaria de chegar em algum momento
hoje, Konstantin? — Eu o encaro.

— Cuidado, professor, — ele rosna baixinho, com os olhos se estreitando.


— O que quero dizer é que faço questão de observar as migalhas de pão e ver para
onde elas levam ou de onde vêm. Então, sua noiva desaparece do feriado de Natal
para transar com meu capitão. Então, uma das primeiras coisas que você faz de volta
à OHA é uma pequena visita à Mansão Lordship. E então, esse mesmo capitão
começa a ver pessoas dos Volkov, Tsavakov e Komarov em seu espelho retrovisor.

Ele sorri levemente.

— Bem, você pode ver por que eu poderia querer passar por aqui e ter uma
pequena conversa.

Eu desvio o olhar. — Sua narrativa está errada, Konstantin.

Ele dá uma risada sombria. — Vou receber conselhos sobre a trama do


grande Bastian Pierce?

— É isso mesmo. Toda a sua teoria se baseia no fato de eu não dar a


mínima para quem Rebecca vai para a cama. E, como já estabelecemos, eu não me
importo.

Ele me olha com frieza, levantando a mão para passar os dedos nos
cabelos.

— O que você estava fazendo na Lordship?

— Aulas particulares, — resmungo.

Ele sorri.
Mas, aos poucos, o sorriso desaparece à medida que seus olhos se
estreitam. Até que o sorriso some completamente, substituído por uma fina camada
que cobre uma tempestade por baixo.

— Não se meta em meus negócios, professor, — ele rosna baixinho. — E


eu não vou me meter no seu.

— Todo mundo está em meu negócio, — murmuro. — Entre na porra da


fila...

— Ah, todo mundo sabe sobre seu grupo de estudos após o expediente que
parece incluir exclusivamente Julianna McCreed?

Meu pulso dispara. Minha mandíbula estala enquanto um calafrio sobe


pelas minhas costas. Konstantin sorri, exibindo um sorriso cheio de dentes afiados
para mim.

— Não brinque comigo, professor. Posso lhe garantir que não vai gostar
de como isso vai terminar para você.

Eu o encaro com frieza, com a mandíbula rangendo.

— Mais alguma coisa? Ou você pode ir embora agora?

Ele sorri, erguendo as sobrancelhas ao se virar, abrir a porta e sair da sala.


Eu gemo e deixo minha cabeça cair para trás.

Droga, preciso de um drinque.


32

Eu gemo e meu estômago se revira quando entro na cozinha, onde Julianna


está cozinhando há uma hora e meia, tentando seguir uma espécie de receita de curry
que viu na Internet.

— Isso tem um cheiro incrível.

Ela se vira do fogão para me dar uma olhada.

— Ah, por favor, não! — ela geme.

Eu sorrio. — Não o quê?

— Não finja que está gostando disso, só porque me ama.

A cozinha fica em silêncio. Seu rosto fica branco.

— Ok, eu não quis dizer isso...

— E se você estiver certa? — eu rosno baixinho.

Seu peito sobe e desce com sua respiração. Seus dentes sugam o lábio
inferior.
— Sobre qual parte? — ela sussurra.

— Bem, você está enganada quando diz que estou fingindo estar muito
ansioso para experimentar isso. Porque tem um cheiro delicioso.

Sua respiração fica mais rápida, seus olhos se arregalam e seu rosto
continua pálido.

— Bastian, eu...

— Mas você está certa sobre a segunda parte, — digo calmamente.

Sua boca se abre quando eu me aproximo dela, meu pulso pulsando


enquanto eu seguro sua bochecha e me inclino para deixar meus lábios roçarem os
dela.

— Estou meio que apaixonado por você.

Seu rosto se ilumina quando seus olhos se fixam nos meus.

— Só meio?

— Na verdade, pra caralho.

Ela geme quando eu esmago minha boca na dela, beijando-a com cada
fibra do meu ser. Seus braços deslizam em volta do meu pescoço e ela geme em
minha boca enquanto eu nos viro para pressioná-la contra o balcão da cozinha. Ela
estende a mão, tentando desligar o fogão.

Então, ela é toda minha.

Eu rosno, puxando-a para mim, minhas mãos segurando sua bunda


enquanto suas pernas envolvem minha cintura. Ela me beija desesperadamente,
gemendo em meus lábios quando me viro e a levo para a biblioteca. Caio no sofá
com ela montada nos meus quadris, nossas respirações ofegantes juntas.

Seu celular toca e ela geme ao se afastar.

— Desculpe, — murmura ela, corada, enquanto tira o celular do bolso de


trás da calça jeans.

— Deixe-me só silenciar o toque...

Vejo isso acontecer como uma luz sendo apagada. Seu rosto fica pálido e
sem vida. Ela fica rígida, como se estivesse aterrorizada.

Franzo a testa ao olhar para o rosto dela.

— O que está...

— Desculpe, só preciso fazer uma coisa, — ela dispara, escorregando do


meu colo desajeitadamente. Franzo a testa, observando a maneira como ela se afasta
de mim, como um zumbi.

— Ei, o que está acontecendo?

— Nada! — diz ela, tentando parecer casual, mas parecendo que está em
seu próprio funeral.

— Não é nada, só preciso enviar um e-mail rápido que esqueci e...


banheiro.

Seus olhos encontram os meus. Juro que vejo algo se quebrar neles - algo
que implora para ser salva. Então ela se vira sem dizer mais nada e sai correndo pelo
corredor.
Minhas sobrancelhas se franzem enquanto eu encaro o lugar onde ela
estava há pouco. Então, de repente, me dou conta. Já vi esse olhar antes - aquele
olhar de condenação e horror em seu rosto.

Foi em Davos, quando ela saiu correndo para tirar fotos dos seus malditas
peitos.

Minha mandíbula se contrai. Algo não está certo aqui.

Eu me levanto e vou atrás dela com passos firmes. Talvez eu devesse isso
para lá. Talvez eu devesse deixá-la ter um pouco de privacidade, se é isso que ela
precisa.

Talvez não exista a menor chance de eu não descobrir o que está


acontecendo agora.

Ela grita, quase saltando de susto, quando eu chuto a porta do banheiro.


Ela se vira, com o rosto branco como um lençol, com a camisa meio desabotoada e
a calça jeans meio abaixada.

— Bastian!

Seu rosto é puro constrangimento e agonia.

— Eu... isso não é...

— Diga-me, — rosno ao entrar no banheiro.

Balanço a cabeça.

— Chega de mentiras. Diga-me o que diabos é isso. E diga-me quem


diabos você continua mandando mensagens sexuais!
Seu rosto se encolhe e ela começa a soluçar enquanto se joga em meus
braços. Meu coração se aperta e o arrependimento pela maneira como falei com ela
me atinge como um martelo na cabeça.

— Cristo, querida, — murmuro. Eu a abraço com força enquanto ela


soluça em meu peito, agarrando-se a mim desesperadamente.

— Sinto muito... — ela chora contra mim. — Eu sinto muito, muito...

— Está tudo bem, — eu a acalmo, abraçando-a. — Estou aqui.

— Eu não posso... — ela soluça, se quebrando contra mim, quase histérica.


— Não posso continuar fazendo isso! Simplesmente não posso!

— Deixe-me ajudá-la, — rosno. — Seja o que for, deixe-me consertar


isso.

Seguro seu rosto, inclinando seu queixo para cima para que seus olhos
vejam os meus.

— Diga-me.

Quando ela termina de desabafar, é tudo o que posso fazer para não enfiar
o punho na parede. Eu vejo vermelho puro. A raiva se incendeia como napalm em
minhas veias e eu rosno, girando para andar furiosamente pelo sala, como um animal
enjaulado.

Mas ela está chorando. Minha fúria pode vir em outro momento. Primeiro,
preciso estar ao lado dela.
Sento-me ao lado dela no sofá e a puxo para o meu colo. Eu a envolvo em
meus braços e a embalo, como se estivesse a acalentando. Julianna se agarra a mim
com força. Como se, se ela me soltasse, eu pudesse ir embora.

Odeio o fato de ela pensar assim.

Por isso, continuo segurando-a, deixando os minutos se transformarem em


horas enquanto a mantenho por perto. Quando ela está respirando normalmente de
novo, eu a levo para o meu quarto. Eu a coloco em minha cama, beijando sua testa
enquanto ela sorri fracamente.

— Vou pegar um chá para você.

No andar de baixo, saio pela porta dos fundos e ligo para Wendell.

— Bastian, eu estava escrevendo um e-mail para você...

— O cara, — rosno grosseiramente. Meu corpo ainda está tremendo, como


se estivesse tentando digerir a raiva para não explodir.

— Perdão?

Eu respiro. — O especialista em tecnologia que você conhece e que eu


usei daquela vez. Ainda tem as informações do contato dele?

Wendell respira fundo.

— Cristo, você foi hackeado de novo?

Há alguns anos, no auge da minha fama e fortuna, eu me vi como um alvo.


Aparentemente, isso não é incomum com autores populares e famosos que estão
escrevendo seu próximo livro. Sempre há algum idiota querendo ser o primeiro a ler
seu trabalho inacabado. Ou pior, vazá-lo para a Web.
Foi isso que aconteceu comigo. Ou o que quase aconteceu. Um idiota
entrou em meu computador e tentou hackear uma cópia do Fucked Sideways antes
de eu terminar de escrevê-lo. Percebi o que estava acontecendo, ou pelo menos tive
uma ideia do que estava acontecendo quando meu teclado e mouse pararam de
funcionar. Então, desliguei o plugue do meu modem para interromper o
funcionamento.

Mas o cara já tinha recebido os quatro primeiros capítulos.

Ele ameaçou divulgá-los, a menos que eu lhe pagasse uma quantia absurda
de dinheiro. Eu ia fazer isso, só porque a ideia do meu livro ser divulgado antes de
estar pronto estava me deixando louco.

Mas foi aí que Wendell mencionou ‘o cara dele’.

Basicamente, o cara dele é um hacker. Um vigilante on-line de aluguel, e


ele não é barato. Mas ele é um mago. Depois que fui hackeado, esse cara rastreou o
hacker por dias até conseguir entrar com força bruta no sistema do cara e descobrir
quem ele era - um punk de dezenove anos da Suécia.

O cara do Wendell invadiu o sistema do hacker, bloqueou o arquivo


roubado e alertou as autoridades.

Em resumo, ele é exatamente o que eu preciso no momento.

— Não, eu não fui. Mas preciso dele, — rosno para Wendell.

— Vou entrar em contato agora. Quer me dizer do que se trata e eu serei


apenas o retransmissor, para mantê-lo fora disso como antes?

Há um motivo pelo qual Wendell é meu advogado.


— Isso seria perfeito. Preciso que ele rastreie a identidade de uma conta
do Snapchat.

— Espere, vou pegar uma caneta. Qual é a conta?

Olho para o celular de Julianna em minha mão. A agonia que sinto por ela,
por ter sido colocada nessa situação, percorre minhas veias. O ódio que sinto pelo
filho da puta que a fez enviar aquelas fotos de si mesma para ele é profundo. Está
me consumindo.

Isso me faz querer encontrá-lo para que eu possa queimar seus olhos com
um maçarico por ter olhado para ela.

— O nome de usuário é ‘thisboywatchesU’. Com a letra U no final.

— Entendi. — Wendell faz uma pausa. — Do que se trata, Bastian?

— Talvez seja melhor que você não saiba essa parte.

Ele geme. — Está bem, está bem. Vou entrar em contato agora e lhe
avisarei quando souber algo.

— Obrigado.

Quando desligo, fico parado do lado de fora, olhando para o celular de


Julianna e para a conversa horrível e abusiva no Snap entre ela e esse filho da puta.
Mas depois de um minuto, fecho o celular com um rosnado e volto para dentro.

Deixo o celular dela e minha raiva com ele no andar de baixo. Quando
estou de volta ao meu quarto com ela, ela toma lentamente o chá que preparei para
ela. Quando termina, ela se enrola, e eu a envolvo com meus braços, mantendo-a
segura.

Mantendo-a amada.
Mais tarde, eu a levo para casa. Ela ficou em silêncio a noite toda, e rígida.
Mas quando chegamos ao seu chalé, de repente, ela se vira e encosta sua boca na
minha.

— Suba, — ela sussurra.

— Não posso ficar.

— Eu sei, — ela murmura, puxando minha camisa enquanto entramos no


quarto. — Mas tudo o que eu quero sentir agora é você, antes disso.

Recebi uma mensagem de Wendell quando acordei sozinho em minha


casa. Ele entrou em contato, e o cara dele está cuidando disso. Agora, vou ter que
esperar e decidir se quero simplesmente matar esse filho da puta quando o
encontrarmos, ou cortar suas bolas primeiro.

Bebo um pouco de café e como um pedaço de torrada, pego minhas coisas


e saio para caminhar até aos prédios acadêmicos.

Mal saio pela porta da frente e congelo quando percebo que tenho
companhia. Três carros param em frente à casa - um Range Rover preto simples e
dois sedãs brancos com o brasão da OHA que pertencem à segurança do campus.

Os motores desligam, e quatro seguranças do campus, juntamente com o


diretor Lange, saem e se aproximam de mim, com uma expressão séria.

Franzo a testa quando encontro o olhar do Diretor Lange.

— Do que se trata, Kenneth?


— Preciso que você fique em casa, Bastian.

Franzo a testa. — Como é? Tenho aula em uma hora...

— Bastian, por favor, — ele franze a testa. — Obviamente, não posso


permitir que você... — suas sobrancelhas se franzem com a minha expressão.

— Cristo, você viu o noticiário desta manhã, não viu?

Eu me viro para olhar com cautela os quatro seguranças que estão com
ele.

— Não, na verdade, eu não vi.

Porque meu celular está descarregado. Porque esqueci de carregá-lo ontem


à noite quando cheguei em casa. Porque eu ainda estava sorrindo depois de chegar
em casa e enterrar minha língua e depois meu pau entre as coxas de Julianna até às
três da manhã.

O diretor Lange se retrai.

— Oh, meu Deus.

— Que diabos está acontecendo, Ken...

— Você... bem, aqui.

Ele franze a testa enquanto empurra desajeitadamente um exemplar do


London Gawker - esse famoso jornal de fofocas de merda - em minhas mãos.

— O que estou procurando...

Meu corpo se enrijece quando meus olhos se voltam para a primeira


página.

Oh, foda-se.
É uma foto minha, mostrando o dedo do meio para algum fotógrafo.
Acima dela, a manchete, grande e detestável, diz ‘Travesso Travesso!’. E abaixo
dela está a arma carregada de um artigo.

Meu estômago cai.

Ele diz que Sophia Davies acaba de anunciar publicamente o lançamento


iminente, por meio da Horn Publishing, do seu livro que conta tudo, detalhando seu
‘relacionamento e agressão nas mãos do famoso e problemático escritor bad boy
Bastian Pierce‘.

Ele diz que estou fodido.

Olho para cima e vejo os oficiais e o diretor franzindo a testa.

— Isso não é verdade, — grunho.

O diretor Lange fica nervoso, esfregando as mãos.

— Sim, bem, isso pode ser, mas...

— Você não pode me demitir por causa de um maldito boato, — eu digo.


— Quero dizer, Cristo, Kenneth! O pai dela é dono desse maldito jornal, pelo amor
de Deus!

Ele levanta as mãos. — Ok, espere um pouco, Bastian. Ninguém está


sendo demitido! E eu já falei com Rebecca por telefone sobre isso. E assim como eu
lhe assegurei...

— Então, o que diabos você quer dizer com eu preciso ficar em casa?

Ele suspira pesadamente. — Não vamos demiti-lo, Bastian. Mas preciso


que você fique longe dos prédios acadêmicos hoje, bem... você sabe, — ele ri
nervosamente. — Até que possamos enterrar esse boato bobo, é claro.
Cerro os dentes com raiva, olhando para o artigo.

— Deixe-nos resolver isso. E, enquanto isso, tire um dia.

Ele limpa a garganta.

— Tenho certeza de que tudo isso acabará em breve, Bastian.

O som da porta dos fundos se abrindo na cozinha tira minha atenção do


laptop. Olho para cima e sorrio ao ver Julianna entrando na sala.

— Bastian, sinto muito.

Ela corre até mim quando me levanto, gemendo quando a pego em meus
braços. Ela me abraça com força, pressionando o rosto em meu peito.

— Eu queria vir mais cedo...

— É bom que você não tenha feito isso, — suspiro, sorrindo cansado.

Foi um dia de merda. Em meu suave banimento do ensino, passei a maior


parte do dia ao telefone. Com Wendell, analisando as opções de cessar e desistir.
Com meus pais, contendo as palavras enquanto sou repreendido por ter arrastado o
nome deles para a lama com minha ‘aventuras amorosas’.

Com Rebecca, alternando entre ser xingado e ouvi-la dizer como vai
‘consertar isso’, enquanto ela ficava lentamente embriagada ao telefone.
Julianna me enviou uma mensagem assim que a notícia sobre o anúncio
de Sophia foi divulgada no campus, querendo vir para cá. Mas de jeito nenhum eu a
deixaria faltar à escola e vir para cá no meio de tudo isso.

Nunca seria uma boa ideia que ela fosse vista entrando pela porta dos
fundos da minha casa. Se isso acontecesse agora? No dia em que eu for publicamente
criticado por ‘aliciar, predar e abusar’ de uma garota pouco mais velha do que ela?

Eles me matarian. Pior, eles a destruiriam. E isso é algo que eu jamais


permitiria que acontecesse, não importa as circunstâncias.

Então, passamos o dia separados, trocando mensagens quando ela podia.

Suspiro pesadamente, balançando a cabeça enquanto olho para ela.

— Você não deveria estar aqui, — rosno baixinho.

— Besteira. É exatamente aqui que eu deveria estar.

Ela segura meu rosto, mordendo o lábio.

— Você me quer aqui?

Meus lábios se curvam e eu aceno com a cabeça.

— Muito mesmo.

Ela sorri. — Ótimo, porque fomos interrompidos ontem à noite.

Eu franzo a testa. — Interrompidos por...

Certo. Quando eu lhe disse que estava apaixonado por ela. O que talvez
seja uma das declarações mais verdadeiras que já fiz em minha vida.

Minhas sobrancelhas se contraem. — Julianna, você não precisa...


— Eu também estou apaixonada por você.

Meu coração dispara. Meus olhos piscam quando seus grandes olhos azuis
se fixam nos meus.

— Estou apaixonada por você, Bastian, — ela sussurra. — E... não, espere
um pouco. Não diga-me que sou ingênua. Não diga-me que sou jovem e não entendo,
— ela esbraveja. — E não se atreva a tentar minimizar...

— Julianna, — grunho, fazendo-a ofegar quando a agarro com força e me


inclino para perto dela.

— Sim?

— Você pode calar a boca e me deixar dizer que também te amo?

Quase fui derrubado pela força com que ela pulou em meus braços. Eu a
seguro com força, unindo meus lábios aos dela e gemendo durante o beijo. Depois
me viro, ainda a beijando, e a levo para a cama.

Ela passa a noite. A noite inteira, até ao raiar do dia.

No início, fico tenso quando acordo com a primeira luz do dia brilhando
através das janelas. Mas é ela que me acalma com um beijo e uma piscadela.

— Eu vim preparada.

‘Preparada’ é uma pequena bolsa que ela trouxe com tênis, meias de
corrida e um top com zíper. Assim, ela pode chegar em casa sozinha, parecendo ter
saído para uma corrida matinal.

Eu a beijo longamente e devagar na porta dos fundos, nunca querendo que


ela escape das minhas mãos. Mas, por fim, ela tem que ir.
— Eu te amo, — rosno em sua boca enquanto a pressiono contra o batente
da porta.

— Eu também amo você, — ela sussurra.

Eu a observo correr ao longo da borda do bosque, virando a esquina onde


eu sei que há uma trilha de caminhada que ela pode usar para voltar aos chalés.

Sorrio, recostando-me na geladeira enquanto a cafeteira borbulha.

Eu a amo.

Ela me ama.

Bem, que tal isso.

Meu celular toca, tirando-me do meu devaneio sorridente. Eu o tiro do


bolso do meu moletom.

É Wendell.

— Por favor, diga-me que você tem boas notícias para mim.

— Bastian, meu homem entrou em contato comigo.

Eu me enrijeço, franzindo a testa.

— Diga-me.

— Ele rastreou a conta e conseguiu o endereço de e-mail usado para


registrar o nome de usuário.

— Wendell, apenas diga-me...

— É um e-mail de um aluno da Oxford Hills Academy.

Meus olhos se estreitam perigosamente. — Quem.


— Seu nome é Grand.

Ah, droga.

— Alistair Grand.
33

Eu vejo vermelho. Eu respiro assassinato. E também não quero dizer


‘estou com tanta raiva que quero machucá-lo’.

Quero dizer, eu literalmente quero matar Alistair Grand.

Parte disso vem de um sentimento de ciúme - de que ele a viu e viu o que
ninguém mais além de mim deveria ver. Mas é muito pior do que isso.

Ele a abusou. Ele a aterrorizou e a torturou mentalmente. Ele manteve a


ameaça de explodir a vida dela sobre sua cabeça por muito tempo, exigindo que ela
se humilhasse e se expusesse para seu prazer doentio.

E, por isso, estou preparado para jogá-lo no chão. Atravesso a casa e pego
o mesmo machado de batalha do brasão e do escudo montados na parede que
empunhei contra Ilya e Misha.

Eu vou destruí-lo.

Agarro o cabo de couro com força, rosnando enquanto saio pela porta da
frente... quase batendo em Lukas Komarov.
Nós dois congelamos na entrada da minha casa, a cerca de um metro e
meio de distância. Suas sobrancelhas se franzem quando seu olhar desliza de mim
para o machado medieval em minha mão e depois de volta para mim.

— Por que você não tira um minuto para respirar, professor? — ele rosna
baixinho.

— Por que você não sai da minha frente? — sibilo.

— Você precisa se acalmar...

— Você precisa se mexer, — rosno.

— Como você acha que isso vai acabar, Bastian? — diz ele, de forma
rude. — Você vai até ao chalé de Alistair e o decapita no gramado da frente?

— É exatamente assim que isso...

Meus olhos se estreitam.

— Como você sabe disso?

A boca de Lukas se afina. — O cara que seu amigo advogado conhece


também trabalha muito para mim. Ele entrou em contato quando fez a conexão entre
quem ele estava rastreando e a OHA. — Ele franze a testa. — Acho que ele queria
ter certeza de que esse merdinha não era meu amigo ou um aliado meu.

Eu o encaro.

— Ele não é, só para esclarecer.

— Saia do meu caminho, Lukas.

Ele balança a cabeça. — Respire fundo, cara. Ligue para as autoridades e


o denuncie. Deixe a polícia cuidar disso.
Eu cerro os dentes.

— Você ir para a prisão por assassinato não ajuda... bem, vou fingir que
não sei que você está tentando ajudar.

Eu olho para ele. Ele me olha de volta.

— Olhe, eu até tenho pessoas que podem fazer a ligação para você.
Portanto, nenhum de nós fica registrado como sendo quem o denunciou. — Ele dá
um passo em minha direção, erguendo as mãos, com as palmas para fora.

— Estou do seu lado, Bastian. Apenas largue o maldito machado, entre e


eu pedirei ao meu homem para ligar para a polícia. Considerando o tempo em que
esse desgraçado vem exigindo fotos dela, esse é um crime ainda maior do que você
imagina.

Seus olhos se estreitam.

— Nem mesmo o dinheiro da família dele ou o prestígio de merda vão


livrá-lo dessa merda. Confie em mim.

Eu me viro, xingando. Mas abaixo minhas mãos e respiro.

— Tudo bem, — eu rosno grosseiramente. — Faça a ligação.

Ele acena com a cabeça, tira o celular do bolso e disca um número. Ele se
vira, rosnando algo baixinho antes de desligar.

— Está feito. Ele fará a ligação agora.

Olho para ele com curiosidade, com os olhos apertados.

— Por que está me ajudando nisso?

— Ainda estamos fingindo que eu não sei sobre você e Julianna?


Minhas sobrancelhas se franzem mais enquanto minha mandíbula se
contrai. Lukas dá de ombros.

— Relaxe, eu entendo. E eu gosto do Julianna, então investiguei você.

Eu o encaro. — Como é que é?

— Eu pesquisei sobre você. Quero dizer, você é muito mais velho do que
ela e é o professor dela. Eu queria ter certeza de que você não era um predador de
algum tipo. — Ele dá de ombros. — Você não é.

— Bem, obrigado por me contar.

— E você não tocou naquela garota com o livro.

— É, eu sei.

— Bem, agora eu também sei. Julianna é uma amiga, — ele rosna


baixinho. — Mas você parece legítimo. Como se realmente quisesse protegê-la.
Como se gostasse dela pelo que ela é, e não por causa idade dela. Então, isso
significa que eu também gosto de você, suponho.

— Você é um cara um pouco estranho, sabia?

— Eu sei disso.

— Então é por isso que você está me ajudando? Porque passei em seu
teste?

— Isso e porque tenho um ódio especialmente intenso por predadores


sexuais, — diz ele, com a voz embargada.

Ele acena com a cabeça para mim.

— Então, olhe, fique quieto. Deixe a polícia cuidar disso, tá?


Eu aceno com a cabeça. Lukas se vira para sair.

— Ei, Lukas?

Ele olha de volta para mim.

— Obrigado.

— Não precisa agradecer. Ah, a propósito, eu queria lhe perguntar. Aquela


gravação que você fez de Sergei e de Rebecca?

— Sim?

— Havia toda aquela parte perto do final em que eles estavam falando,
mas você não conseguia ouvir.

Minhas sobrancelhas se franzem. — E daí?

— Se você puder enviar uma cópia para mim, conheço algumas pessoas
que podem limpar o áudio. Talvez eu possa lhe dar um pouco mais de informações
sobre todo esse acordo.

Dou de ombros. — Claro.

Pego meu celular. Quando ele me dá seu número, eu lhe envio uma cópia
do vídeo.

— Te aviso assim que tiver notícias do meu pessoal.

Ele sorri ao ver a arma em minhas mãos.

— A propósito, gosto de seu estilo com o machado.

Eu sorrio.
Quando ele se foi, volto para dentro de casa. Ainda estou tremendo de
raiva. Ainda estou rosnando enquanto ando de um lado para o outro. Mas então, de
repente, me lembro de algo. A polícia está prestes a aparecer no campus para prender
Alistair. E, no pouco tempo em que conheci o desgraçado, já tive muita experiência
com o tipo de merda que ele faz.

Ele não vai se calar. Ele vai gritar e chorar sobre como é injusto que seu
traseiro rico e mimado tenha que enfrentar as consequências das suas ações. Eu o
imagino gritando e distorcendo a verdade para fazer parecer que Julianna lhe enviou
aquelas fotos por vontade própria. Ou tentar pintá-la como a ‘vadia’.

Eu cerro os dentes. Os detalhes dos crimes serão revelados no tribunal.


Não precisam ser revelados no meio dos corredores da OHA, onde ela será
humilhada mais uma vez por esse pedaço de merda.

Pego meu casaco e saio correndo pela porta. Que se dane o banimento dos
prédios acadêmicos... Julianna precisa saber o que está prestes a acontecer antes que
aconteça.

Ignoro os rostos escandalizados e chocados que me olham enquanto ando


pelos corredores. Claramente, as notícias e as acusações sobre o livro de Sophia
fizeram a ronda completa no campus. Mas que se dane.

Eu faço uma careta e ando pelos corredores, procurando por Julianna.

— Então, na verdade, quando você vai me deixar entrar nessa calcinha?


Eu me enrijeço com o som da voz rouca e chorosa de Alistair, vindo da
esquina, claramente assediando uma pobre garota. Fecho os olhos, sugando o ar.
Preciso resistir ao impulso de confrontá-lo. Não é por isso que estou aqui, e Lukas
tem razão: não posso ficar perto disso. Só preciso esperar pela polícia...

— Você poderia, por favor, me deixar em paz, Alistair?

Meu mundo fica vermelho de sangue quando ouço sua voz. A garota com
quem Alistair está sendo um canalha é Julianna.

— Vou deixá-la em paz depois de ver esses lábios envolverem meu pau...

Eu rosno como um maldito animal enquanto dou a volta na esquina,


assustando os dois. Julianna suspira, mas seus lábios se curvam quando ela percebe
que sou eu. Alistair apenas faz uma careta para mim.

— Eu pensei que a escola tinha banido você por...

— Que porra você acabou de dizer a ela?

Minha voz atravessa o salão como uma foice. Alistair empalidece. Os


alunos que passam ao nosso redor se viram para olhar e passam um pouco mais
devagar.

Eu rosno profundamente em meu peito enquanto me aproximo de Alistair,


pairando sobre ele, rosnando para seu rosto pálido.

— Eu lhe perguntei que porra você acabou de dizer a ela, seu merdinha,
— sibilo baixinho.

Ele engole, fazendo uma careta para mim. — Você é um professor, Pierce.
Em uma escola que eu pago para frequentar. E isso significa...

O pequeno desgraçado sorri para mim.


— Isso significa que você trabalha para mim.

O mundo para. Meus olhos se estreitam em fendas.

— Então, vá embora, professor. Você não pode falar comigo desse jeito e
não pode fazer nada para...

Meu punho bate em seu nariz, quebrando-o enquanto ele grita. O sangue
escorre por seu rosto horrorizado enquanto ele grita, agarrando o rosto.

Merda.

Meus olhos se voltam para os de Julianna. Ela parece não ter certeza se
deve sorrir ou ficar horrorizada - assim como eu. Volto a olhar para Alistair,
tremendo, soluçando e sangrando, e minha mandíbula se contrai.

Talvez eu tenha acabado de foder tudo.

— Você está...! Você está fodido...! — Ele me encara com olhos


lacrimejantes, chocados e furiosos. — Você está morto, Pierce! — ele engasga.

Os alunos nos cercam, cada um deles com o maldito celular na mão,


filmando tudo.

Foda-se. Foda-se, foda-se, foda-se.

Eu me viro para ela, mas sei que não posso dizer nada. Não posso tocá-la,
nem mesmo olhar para ela como quero, ou a máquina das redes sociais e da imprensa
a arrastarão para a minha órbita quebrada e envenenada.

— Meu pai vai processá-lo até à morte, seu predador de merda! — Alistair
grita.

Os olhos de Julianna estão fixos nos meus.


Vá, seus lábios dizem. Eu cerro os dentes, mas ela está certa. Preciso dar
o fora daqui. Eu me viro, abro caminho entre a multidão e saio do prédio acadêmico.

Dez minutos depois, estou andando pela biblioteca da minha casa, olhando
para o carrinho de bar como um homem faminto olhando para um bife.

Preciso ligar para Wendell. Eu preciso... porra, eu nem sei. Tudo o que sei
é que bater naquele merdinha foi um erro que está prestes a explodir na minha cara,
mesmo que tenha sido uma sensação muito boa.

Mas, acima de tudo, quero ligar para Julianna. Quero ir até ela e envolvê-
la em meus braços. Quero lhe dizer que toda essa tempestade vai acabar logo e que
tudo ficará bem.

Só não tenho tanta certeza se eu mesmo acredito nisso.

Minha porta dos fundos se abre. Franzo a testa e entro na cozinha mas paro
de repente, com o coração batendo forte.

— Você não pode estar aqui, — digo calmamente.

— Acho que nós dois estamos fazendo coisas que não deveríamos hoje.

Ela corre para os meus braços, abraçando-me com força. Eu gemo, com
os braços apertados, enquanto me inclino para beijar o topo de sua cabeça.

— Eu tive que fazer isso, — rosno baixinho. — Eu não deveria ter feito
isso, eu sei, mas eu tinha que fazer... — Fecho os olhos. — Preciso lhe dizer uma
coisa. Mas vai ficar tudo bem.
Eu me afasto, com a mandíbula apertada, enquanto ela me olha com
curiosidade.

— O quê?

— O filho da puta que está atormentando você no Snapchat é Alistair.

Seu rosto fica branco e começa a tremer.

— Não...

— Sinto muito, querida, — eu gemo, puxando-a para os meus braços. —


Eu fui ao campus porque as autoridades foram notificadas. Elas estão a caminho, e
ele pagará por seus crimes. Eu juro a você. Mas eu não queria que isso explodisse
na sua cara sem ao menos avisá-la.

Ela me abraça, respirando pesadamente.

— Alistair?! — Ela se engasga. — Ele... Alistair...

— Provavelmente estão prendendo-o neste momento, — digo baixinho,


tentando acalmá-la enquanto acaricio suas costas.

— As fotos obviamente nunca serão vistas, mas isso será notícia quando
for divulgado.

Ela acena com a cabeça. — Eu sei.

— Ele vai pagar por isso, — rosno furiosamente. — Nem mesmo o


dinheiro ou a influência da sua família fará com que isso desapareça, especialmente
porque ele vem fazendo isso desde o ano passado.

Ela me abraça ainda mais forte.

— Acabou, — ela sussurra baixinho.


Fecho os olhos e a abraço com força.

— Acabou.

Ela olha em meus olhos, mordendo o lábio enquanto sorri.

— Você dar um soco nele foi muito sexy, só para você saber.

Eu dou uma risadinha. — Ainda bem, porque tenho a sensação de que isso
vai me morder na...

— Bastian.

Franzo a testa e me viro para ver o que ela está olhando pela porta dos
fundos. Meu estômago cai.

Merda.

Quatro seguranças do campus, juntamente com três policiais de verdade,


estão espalhados atrás da casa, avançando em direção à porta dos fundos. Corro para
a porta da frente e dou uma olhada pelas janelas laterais.

Foda-se.

Lá fora, cerca de dez policiais, um punhado de seguranças do campus, o


diretor Lange e o maldito Alistair estão subindo pela minha calçada.

E eu tenho Julianna aqui.

— Oh, meu Deus, — ela se engasga atrás de mim. — Vou me esconder lá


em cima...

— Isso vai parecer pior. — Engulo e me viro para olhá-la, com o coração
batendo forte. — Não vou deixar que você minta...
— Posso ir à casa do meu professor de inglês para obter esclarecimentos
sobre meu dever de casa, já que ele não esteve na aula hoje, — diz ela calmamente.

— Julianna...

— O quê? Não é como se estivéssemos nus na cama juntos.

Eu franzo a testa. Mas, nesse exato momento, batem com força na porta
da frente.

— Bastian Pierce! Aqui é a polícia! Abra esta porta, por favor!

Olho para ela, nós dois tensos. Ela morde o lábio.

— Você não vai mentir por mim...

— Não estou nem aí.

As batidas em minha porta começam novamente.

— Bastian Pierce! Abra esta porta!

Eu me viro, respirando lentamente ao abrir a porta.

— Oficiais... Diretor? — Eu o encaro. — Do que se trata?

— Você quebrou a porra do meu nariz! — grita Alistair. Mas é mais um


‘voze guebrou meu danriz’ com a gaze ensanguentada que ele está segurando em
seu rosto machucado.

No entanto, eu o ignoro e me viro para o capitão da polícia que está na


minha frente.

— Vocês recebe uma ligação sobre um aluno desta escola que tem
praticado bullying, assédio e solicitado o que pode ser classificado como pornografia
de vingança adquirida sob coação de uma aluna?
Ele acena com a cabeça. — Nós recebemos, Sr. Pierce.

— Bem, é ele, — sibilo, apontando para Alistair. — Admito abertamente


que lhe dei um soco. Mas foi depois de me deparar com ele assediando sexualmente
verbalmente a mesma aluna que ele estava assediando on-line. Aceito a acusação de
agressão, mas aquele merdinha precisa estar algemado...

Sibilo quando o capitão e outro oficial de repente me batem contra o


batente da porta, me puxam e me algemam.

— Que diabos você está fazendo?!

— Por que não nos deixa ser a polícia, hein? — sibila o capitão em meu
ouvido. — Seu maldito predador.

Eu me enrijeço, franzindo a testa. Há algo errado.

— Revistem a casa.

Eu me viro, encarando o capitão.

— Com que porra de mandado?

— Receio que sua moradia seja propriedade da escola, Bastian, — diz o


diretor Lange, torcendo as mãos. — E é meu dever conceder-lhes acesso à luz de...
bem, essas alegações.

— Contra ele! — Eu sibilo enquanto alguns policiais passam por mim e


entram em minha casa. — As alegações são contra Alistair...

— Tire suas mãos de mim!!!

Vejo vermelho enquanto me viro. Um policial está puxando Julianna para


fora da minha biblioteca pelo pulso.
— Tire suas malditas mãos de cima dela! — Eu grito.

Mas ele me ignora.

— Capitão, ela estava aqui, na sala de estar.

— O quê? Eu tenho permissão para estar aqui! — Ela grita, soltando a


mão. — Ele é meu professor! Esta é a área da escola. Eu vim pedir ajuda com um
trabalho!

— Capitão, — rosno, virando-me para ele. — Aquele garoto ali é o único


que...

— Esse rapaz tem um celular limpo, Sr. Pierce, — ele murmura. — Ele
foi bastante cooperativo ao desbloqueá-lo para nós e nos dar acesso total. Não há
nada de errado nele.

Eu me enrijeço. — Abra o aplicativo do Snapchat dele...

— Sua conta do Snapchat está limpa.

— Verifique se ele tem outra conta salva. É thisboywatchesU, com um U


no final... — Grunho quando o capitão da polícia me empurra contra a moldura da
porta.

— Acho que eu lhe disse para nos deixar fazer o trabalho da polícia, —
ele murmura. — E o celular dele está limpo. Só ele conversando com os amigos
sobre garotas, futebol e videogames.

Por trás dele, meu sangue ferve quando vejo Alistair sorrindo para mim.

— Capitão! — Outro dos policiais volta da minha biblioteca para a porta


da frente.
— Encontrei o celular.

Ele segura um celular que não é meu, e eu franzo a testa. Mas, de repente,
eu o reconheço, e meus olhos se estreitam.

— Esse é o maldito telefone dele! — Eu grito. — Eu o encontrei em uma


festa de estudantes prestes a agredir essa garota e o impedi.

— E você relatou isso, é claro? — O capitão sorri para mim.

Foda-se.

Balanço a cabeça. — Não relatei. Mas peguei o celular dele e joguei na


minha gaveta. Ele tem...

Um dos policiais está conectando-o a um pequeno carregador portátil. Eu


aceno com a cabeça.

— Ótimo, ligue-o. É o celular de Alistair. Tenho certeza de que você


encontrará a conta de Snapchat que está assediando Julianna.

O celular se acende. Como antes, não há senha, então eles o abrem


imediatamente. Observo seus rostos ficarem mais sérios e preocupados enquanto
mexem no celular.

— Como vocês podem ver, policiais, é claramente dele...

— Na verdade, não podemos, — diz o capitão em voz baixa. Ele olha para
mim. — As únicas coisas nesse celular são o Snapchat, com essa mesma conta que
você mencionou, incluindo a correspondência com a Sra. McCreed. E algumas fotos
aleatórias de uma festa.

Fico olhando, atônito.


— E suas informações pessoais, é claro. E-mails, histórico da web...

— Não há mais nada aqui, — diz o capitão, em voz baixa.

Atrás dele, Alistair sorri para mim.

— Ah, Capitão! — ele solta. — Eu estava naquela festa, embora


obviamente não estivesse agredindo ninguém! Mas vi o professor Pierce lá, tirando
fotos das alunas. Eu disse algo e ele me empurrou...

— Seu filho da puta...

— Já chega, Sr. Pierce! — O capitão grunhe enquanto dois policiais me


puxam para trás.

Alistair me olha com desdém.

— Eu peguei o maldito celular dele! — Eu grito.

Alistair olha para os policiais e balança a cabeça. — Eu nunca vi esse


celular na minha vida antes. Mas vi Pierce se aproximar da Srta. McCreed, que
estava embriagada. Ele...

Ele fecha os olhos e balança a cabeça dramaticamente.

— Julianna, — ele geme. — Eu deveria ter dito algo, mas estava com tanto
medo dele...

— Seu mentiroso de merda! — Julianna grita com ele.

— Srta. McCreed, por favor! — O diretor Lange franze a testa antes de se


voltar para Alistair. — Apenas nos conte o que aconteceu, filho.

— Eu vi Pierce pegá-la de onde ela estava deitada e ele a levou para longe
da festa, sozinho.
O capitão acena com a cabeça. — E você testemunhará...

— Eu tenho um vídeo disso.

Minha mandíbula se aperta.

Merda.

— Na verdade, tenho um vídeo dos dois em várias ocasiões, e não é


falando sobre trabalhos escolares, — diz Alistair, sorrindo triunfante para mim.

Eu me enrijeço. Que droga. Eu o subestimei. O desgraçado tinha dois


celulares - um que ele usava exclusivamente para atacar Julianna. Não há nada que
o identifique como dele, e eles acabaram de encontrá-lo em minha posse, com a
conversa de um ano no Snap com Julianna, incluindo fotos dela de um ano atrás.

Estou prestes a me ferrar feio aqui.

Tudo ao meu redor parede desacelerar. Eu poderia - e provavelmente


deveria - estar me preocupando com a prisão, ou minha carreira ou o que sobrou da
minha reputação. Mas a única coisa em que estou pensando nela, a dois metros de
distância, parecendo aterrorizada.

Ela tem a vida inteira pela frente. E eu não vou arrastá-la para a minha
merda.

Não vou destruí-la, como destruo tudo.

Olho para Julianna, absorvendo-a o máximo que posso. Ela olha de volta
para mim, com o rosto assustado e desmoronando. Respiro fundo, fecho os olhos e
me viro para olhar o capitão.

— Isso tudo foi culpa minha.


A boca de Julianna se abre.

— Espere, o quê?! Bastian!

— Isso foi tudo culpa minha, — rosno baixinho. — Eu a coagi.

— Bastian! — Ela grita enquanto todos começam a murmurar e a me olhar


como um verdadeiro pedaço de merda.

— Pare com isso!

— Usei minha posição de autoridade como professor dela e, com minha


posição ao me casar com sua mãe, para coagi-la a...

— Isso é mentira! — ela grita, soluçando enquanto as lágrimas começam


a cair pelo seu rosto.

Não vou acabar com você, quero dizer a ela. Não vou destruir sua vida
por causa disso.

— Eu a ameacei e usei as notas como uma ameaça, caso ela...

— Não se atreva, porra! — ela grita comigo, soluçando.

Mas eles já estão se aproximando de mim.

— Sr. Pierce, — um deles me encara. — O senhor não precisa dizer nada,


mas pode prejudicar a sua defesa se não mencionar, quando questionado, algo que
mais tarde será usado no tribunal.

— Bastian! — ela grita quando eles começam a puxá-la para fora da casa.
— Bastian! Por favor! Diga a porra da verdade!!!

— Ela não teve nada a ver com isso, — rosno enquanto eles me arrastavam
para dentro de um carro, para longe dela.
— Isso tudo foi culpa minha.
34

Duas semanas depois

— Pela última vez, não!

Eu grito no celular antes de encostar o dedo na tela, encerrando a chamada.

— Porra! — Eu grito para o teto. Mas então a fúria se desfaz e eu caio de


volta ao meu novo eu.

Quieta. Retraída. Quebrada.

Qualquer chance que essa coisa toda tivesse de não ser o centro de todos
os rumores de fofocas no campus foi por água abaixo com a presença de Alistair no
acidente. Duas semanas depois, seria difícil encontrar um parente distante de alguém
que frequentasse ou trabalhasse na Oxford Hills Academy que não soubesse que
Bastian Pierce estava tendo um ‘caso ilícito e corruptor’ com a minha pessoa.
Para alguns no campus, isso fez de mim uma celebridade. Ashley
Hendershire e suas comparsas, por exemplo, acham que sou uma rainha por ‘ter
conquistado o professor mais foda de todos os tempos’.

Não me sinto como uma rainha. Nem mesmo me sinto como eu. Só me
sinto uma merda.

Porque, para todos os outros, sou uma pária. Alguns, porque veem uma
vítima e só querem se afastar da minha aura contaminada. Outros, porque não acham
que eu seja uma vítima de fato.

Apenas uma vagabunda que transa com seus professores.

Sinceramente, não tenho certeza do que é pior.

E, no entanto, por mais horrível que eu tenha sido nas últimas duas
semanas, Bastian teve uma situação pior. Muito pior, na verdade. Eu me tornei a
garota mais ignorada e, ao mesmo tempo, mais comentada do campus. Ele se tornou
a personificação o mal, de homens em posições de poder que abusam e predam,
espalhados pelo país.

Eu odeio isso tanto, que às vezes parece que vou explodir por dentro. É
como se eu quisesse visitar todas as casas com televisão na Grã-Bretanha para limpar
o nome dele casa por casa. Quero lhes dizer ‘sim, homens assim existem. Sim, isso
é horrível e precisa ser mudado’.

Mas não, ele não é esse homem.

— Porra, Jules...

Eu gemo quando olho para cima e vejo Lizbet franzindo a testa com
simpatia para mim. Ela me puxa para um abraço, que eu aceito com gratidão.
— Desculpe, eu não queria gritar assim...

— Ah, que se dane, grite o quanto quiser.

Eu sorrio ironicamente. — Olhe, logo estarei longe de você. Me disseram


que o chalé estará bom para voltar na próxima semana...

— Quer calar a boca e deixar que eu cuide de você? — Lizbet suspira. —


Você vai ficar aqui o tempo que quiser. Lukas concorda. E todo mundo também.

Nas últimas duas semanas, estive morando na Mansão Lordship em um


dos quartos de hóspedes. Por um lado, porque os alunos estavam lotando as janelas
do meu primeiro andar, tentando tirar fotos da ‘vítima’. Além disso, os meios de
comunicação - embora obviamente impedidos de entrar no campus da OHA -
estavam enviando drones com câmeras por cima dos muros para tentar me encontrar.

Isso parou quando Misha e Ilya começaram a fazer um concurso para


eliminá-los com rifles de caça do século XIX no telhado da Mansão Lordship.

Mas, além desses motivos, também não pude morar em meu chalé por um
tempo, pois as autoridades o consideraram uma cena de crime ligada à investigação.

Sim.

O local onde eu moro, durmo, faço xixi e tomo banho foi isolado com fita
adesiva como uma cena de crime. Um dos ‘vários lugares onde Bastian Pierce forçou
sua vítima, a Srta. Julianna McCreed, a praticar atos lascivos e obscenos,’ como
disse um tabloide especialmente colorido.

Minha mãe fez uma centena de declarações chorosas, é claro. Como ela
está ‘de coração partido’ com a traição de Bastian - não por ela, mas por sua pobre
filha.
A vítima.

Ela também me disse, em nossa única conversa depois que tudo explodiu,
que nunca mais quer falar comigo e que estou ‘morta’ para ela. Então... isso é
divertido.

A vítima.

É isso que eles continuam me dizendo que eu sou. Uma vítima. Uma
garota burra e sem noção que simplesmente não conseguia dizer não ao homem mais
velho e bonito que tinha autoridade sobre mim.

Meu Deus, eu quero gritar.

— Advogados de novo? — Lizbet acena com a cabeça para o celular em


minhas mãos.

Aceno com a cabeça.

— Sim.

— Deus, eles são implacáveis!

Arqueio as sobrancelhas, franzindo os lábios.

Sim, eles são. Durante duas semanas, geralmente várias vezes ao dia, os
advogados da minha mãe, os promotores públicos, os advogados da família Grand
ou os advogados da escola - todos eles tentando fazer acusações contra Bastian - me
ligaram pedindo que eu assinasse declarações.

Eles querem que eu diga que ele abusou de mim. Que ele me forçou, ou
que eu me senti ‘compelida pelo inerente desequilíbrio de poder entre nós’ a fazer o
que ele queria. Eles querem que eu me declare legalmente uma vítima.
Eles também querem que eu apresente queixa, já que isso dará início a
todos os outros casos que as pessoas estão tentando impetrar contra ele.

Mas morrerei antes de fazer isso. Portanto, eles podem continuar ligando
o quanto quiserem.

Eu só queria que você estivesse aqui.

Eu gostaria de poder vê-lo. Ou até mesmo falar com ele. Mas isso é
impossível. Eu sei tanto quanto qualquer outra pessoa que assiste ao noticiário.
Depois de ser processado, Bastian Pierce foi liberado sob fiança e preso em prisão
domiciliar em um local não revelado.

É uma verdadeira tortura não saber onde ele está ou como está. Ou pior,
saber quão ruim ele provavelmente está.

Já pedi até ficar com o rosto azul, até mesmo uma ligação telefônica com
ele. Mas eles se recusam terminantemente, ‘para minha segurança’.

Então, eu passo os dias como um fantasma. Escondida nas sombras,


fingindo que sou invisível e que todas as pessoas que me olham fixamente estão, na
verdade, apenas olhando para algo do outro lado de mim, já que sou um fantasma
invisível.

Também estou lendo seu livro. Muito. Várias vezes. E ele é... lindo. É
duro, brutal, inabalável, sarcástico e engraçado. E muito lindo.

Assim como o homem que o escreveu.

— Então, eu estava pensando... — Lizbet sorri para mim. Ela tem se


esforçado muito para tirar minha mente de tudo, e eu a amo por isso.

— O que você estava pensando... — Sorrio o melhor que posso.


— Hoje à noite. Apenas garotas - você, eu, Char e Tenley. — Ela sorri. —
Vinho e e maratona de filmes?

Dou outro sorriso, o mais discreto possível.

— Claro.

— Ótimo! Agora, você quer...

A porta do quarto dela, onde estávamos sentadas conversando, se abre e


Lukas entra de rompante.

— Desculpe por assustá-las , — ele franze a testa.

— Lukas, fala sério, — suspiro. — É o seu quarto. Eu deveria ir...

— Preciso lhe mostrar uma coisa.

Ele olha para trás ao entrar no quarto. Misha e Ilya acenam para mim ao
entrarem também.

— O que está acontecendo?

De repente, percebo que seu rosto está ainda mais severo e sombrio do que
o normal. Todos os três, na verdade.

Lizbet franze a testa.

— Lukas, o que está acontecendo?

— Eu tinha uma coisa e me esqueci dela com toda esse... você sabe.

Eu suspiro. — Drama?

Ele sorri levemente. — Sim. Olha, Bastian me deu algo para investigar, e
a pessoa a quem eu passei a informação acabou de me responder.
Minhas sobrancelhas se franzem. — Responder o quê?

Ele segura o celular, com os lábios apertados. — Responder isso aqui.

Ele se aproxima e se senta ao lado de Lizbet no sofá. Ilya e Misha ficam


atrás dele, olhando por cima dos nossos ombros.

— Bastian fez uma gravação da sua mãe e Sergei, em Davos.

Eu faço uma careta. — Eca, você quer dizer aquela em que eles estão
dando uns amassos?

Lukas franze a testa. — Você não viu?

— Bastian me contou sobre isso.

Ele olha para Lizbet e depois para mim, franzindo a testa.

— Você precisa ouvir isso. Mas você, provavelmente, não deveria assistir.

Eu franzo a testa. — Por que não?

— Porque é muito mais do que só uns amassos.

Eu me arrepio. — Eca!

— Pedi a alguém que conheço que limpasse o áudio para ver se havia algo
sobre o motivo pelo qual sua mãe e Melnyk estão juntos, e se é apenas um caso ou
algo relacionado à Bratva.

— Você já a ouviu?

Ele balança a cabeça. — Ainda não. Pode não ser nada. Mas pode ser
alguma coisa.

Eu aceno com a cabeça. — Ok, põe aí.


Eu me afasto quando ele faz isso. Mas ouvi o suficiente da primeira parte
do áudio para ter vontade de vomitar. Quer dizer, essa é a minha mãe.

— Você pode olhar agora, — murmura Lukas.

Eu me viro e olho para a tela do celular dele. Minha mãe está sorrindo nos
braços de um homem de aparência larga - o mesmo homem que eu a vi beijando do
lado de fora, no baile de gala.

— Vou dizer a eles que vou tomar um drinque depois do culto com um
amigo, — ela diz a ele. Percebo que é véspera de Natal e que ela está falando de
Bastian e eu.

— Tenho alguns na cidade em suas próprias casas de férias. E depois,


mais tarde, posso dizer que vou passar a noite por causa das estradas.

— Você quer vir aquecer minha cama, pequena babushka?

Ela dá uma risadinha e beija o nariz de Sergei.

— Da, — ela ronrona.

Que nojo.

Sergei sorri. — Vá à igreja e faça sua confissão, — ele ri. — Você vai se
tornar uma menina má mais tarde.

— Esta é a parte que você não conseguia ouvir antes, — murmura Lukas.
Eu me inclino para mais perto.
— Ainda estou brava com você, sabe, — diz a mãe em tom irritado.

— Bem, é exatamente por isso que vou lamber o chantilly entre suas
pernas mais tarde.

Eu faço uma careta, enrubescendo quando Lizbet se vira para me encarar.


Mas continuo ouvindo.

— Menino travesso! — Minha mãe dá uma risada nauseante. — Mas, na


verdade... Sergei, eu estava em apuros quando você foi embora daquele jeito.

— Eu sei, eu sei. E você sabe que eu só saí porque era necessário. Eu


estava prestes a ser pego e tive que agir rápido para sair com o dinheiro.

— Não, eu sei. E sei que o plano sempre foi que Braddock levasse a culpa.

Meu coração se aperta. Meus olhos se estreitam enquanto inspiro um


pouco de ar.

— Ele aparenta ser o ladrão, e você e eu em uma praia em algum lugar


quente.

— Mmm, da, — Sergei ri, piscando para ela. — Nada de trajes de banho,
minha pequena rosa inglesa.

— Sim, mas Sergei, você foi embora sem me avisar, e com o maldito
dinheiro, devo acrescentar!
— Eu sei, eu sei, Becca-querida, — ele suspira, acariciando a bochecha
dela. — Eu queria contar a você, ou trazê-la comigo, ou entrar em contato com você
quando eu fosse embora. Mas era muito perigoso. Eles já estavam na trilha que
deixamos para o seu marido. E você estava iniciando o processo de divórcio. E se
fôssemos pegos?

— Não, eu sei, — ela suspira. — Eu só estava machucada, Sergei.

Eu quero gritar. A porra dos sentimentos dela foram feridos?! No meio de


uma acusação contra meu pai por desvio de dinheiro e fraude, destruindo sua
reputação e acabando com nossa família?

— Venha, minha pequena rosa. Deixe Sergei levá-la para casa e beijar
tudo para melhorar, da?

O vídeo é interrompido. Nós cinco ficamos sentados em silêncio. Por fim,


Lukas e Lizbet olham um para o outro e depois se voltam para mim.

— Porra, Jules, — Lizbet respira baixinho.

— Está tudo bem, — digo com frieza, entorpecida.

— Quero dizer... merda, — Misha rosna. — Isso é uma prova. Rebecca


está trabalhando ativamente com a Bratva Reznikov. Ela disse a Bastian para nos
vigiar, mas não Konstantin. E agora isso?

Os lábios de Ilya se curvam em um rosnado.


— Eu concordo. Essa é uma merda pesada. — Ele franze a testa. — Só
estou um pouco preocupado que isso possa dar início a algo para o qual não estamos
preparados.

— Como assim? — Lukas dispara.

— Como uma guerra com a família Reznikov, — responde Ilya.

Ficamos todos sentados em silêncio por mais alguns segundos. De repente,


Lukas se levanta com o celular na mão.

— Sim, que se dane isso. Estou falando com Konstantin.

Ele sai furioso pela porta. Viro-me para dar uma olhada em Ilya e Misha.

— Ah, que se dane, — grunhe Ilya. — Vamos ver como aquele idiota vai
se safar dessa.

Konstantin está com as sobrancelhas franzidas e o rosto sombrio enquanto


termina de assistir ao vídeo pela quarta vez consecutiva.

— Eu começaria a falar, — Lukas rosna. — Porque eu tenho várias


perguntas que eu...

— É? — Konstantin responde, erguendo seus ombros largos. — Você e


eu, Komarov, — ele murmura. — Porque tudo isso é novidade para mim.

Franzo a testa, passando por Lukas e indo até onde Konstantin está
encostado na geladeira da cozinha do seu chalé.
— O que diabos isso significa?

Ele se vira para me olhar.

— Significa que, Pretty Little Liars...

— Cuidado, — Lukas sibila perigosamente.

Konstantin revira os olhos.

— Significa que não tenho a menor ideia do que seja isso, — ele acena
com a cabeça para o celular em suas mãos. Seu olhar é duro, mas verdadeiro.

— Não estou brincando com você, Julianna, — ele rosna. — Essa coisa
com seu pai, na qual sua mãe e Sergei parecem estar envolvidos? Não está sob minha
autoridade. E também não está sob a autoridade do meu segundo em comando,
Vadim.

Seus olhos cinzentos como aço se estreitam, e uma escuridão que


honestamente me assusta um pouco atravessa seu rosto.

— Este é Sergei fazendo suas próprias coisas. — Sua boca se afina. — E


eu não tolero isso.

Ele olha para o chão e, juro, posso ver as rodas girando em seus olhos
penetrantes. Na verdade, quase me sinto mal por Sergei, quando Konstantin aplica
nele o destino horrível que ele está claramente sonhando agora para ele.

Quase.

O rosto de Konstantin se contrai quando ele sai da sua fantasia assassina.


Ele se volta para mim.

— Você tem uma maneira de entrar em contato com seu pai?


Não, mas vou me virar para descobrir algo.

— Sim.

— Ótimo, — ele grunhe. — Faça isso. Diga a ele para conseguir uma
equipe jurídica muito boa e voltar para o Reino Unido. — Ele sorri maldosamente.
— Eles querem um vilão para isso? Eu lhes darei a cabeça em uma bandeja se isso
for verdade.

Lukas franze a testa, cruzando os braços sobre o peito.

— Não estou entendendo.

— Não está entendendo o quê? — Konstantin grunhe.

— Por que esse súbito heroísmo altruísta?

Konstantin sorri. — Heroísmo? — ele ri ao voltar o olhar para mim. —


Sem ofensa, mas não dou a mínima para seu pai. O que me importa é que meu
terceiro no comando roubou quinhentos milhões de libras e achou que poderia
esconder isso de mim.

Ele levanta a mão para passar os dedos em seus cabelos escuros.

— Peça ao seu pai para trazer as armas grandes, e eu trarei as balas.


35

Duas semanas depois

Toda a cidade de Londres está coberta por uma fina camada de branco
quando olho pelas janelas. Daqui de cima, no sexagésimo andar dos escritórios que
ainda estão sendo reformados, é como se eu estivesse olhando para o mundo inteiro.

Inspiro lentamente, lembrando-me dessa vista de quando eu era criança.


Antes de a empresa do meu pai entrar em liquidação, dar calote no aluguel e ser
desmantelada dos quatro últimos andares deste edifício, quando ele fugiu com
quinhentos milhões de libras.

Exceto que ele não fugiu. Não com o dinheiro, pelo menos. E o mundo
inteiro sabe disso, graças ao vídeo de Bastian. Ele está sendo reproduzido - bem, não
todas as partes dele - na CNN, SkyNews, NBC, BBC e em praticamente todos os
principais veículos de notícias do mundo, repetidamente, na última semana e meia.
Com uma lente de aumento tão grande observando todo o caso, uma
equipe de investigações financeiras de alto nível foi contratada para examinar a
situação. Os livros contábeis da empresa foram abertos e todos os números e casas
decimais foram examinados.

Eles levaram quatro dias para encontrar tudo o que precisavam para
provar, sem sombra de dúvida, que foram minha mãe e Sergei que desviaram o
dinheiro. E no momento em que essa notícia foi divulgada ao vivo, minha mãe e seu
namorado, ligado à máfia russa, estavam aterrissando em Belarus - um país
convenientemente sem extradição.

Com meu pai inocentado de todas as acusações, seria de se esperar que,


depois de passar meses foragido, ele se acalmaria para fazer um balanço das coisas.

Ou, você sabe, voltar instantaneamente à sua antiga empresa, desmanchá-


la, recuperar pelo menos dois terços dos seus antigos clientes e voltar a alugar o
espaço do seu antigo escritório.

— Srta. McCreed?

Eu me viro. A mulher de tailleur elegante sorri para mim.

— Ele está pronto para você agora.

Aceno com a cabeça, seguindo-a pelo corredor de aço e vidro reluzente


com vista para a Londres nevada, e depois para o enorme escritório com paredes de
vidro.

Meu pai está parado junto às janelas, olhando para a mesma vista que eu
estava olhando há pouco. Quando sua secretária sai e fecha a porta atrás de si,
observo seus ombros largos subirem e descerem. Então ele se vira.

— Aquilo foi inteligente, sabia.


Eu sorrio. — Eu sei.

E eu sei o que ele quer dizer. Eu não tinha como entrar em contato com
ele há algumas semanas - nenhum número de telefone, e-mail, nada. Então, fui
criativa com a única maneira que encontrei para que informações vitais chegassem
aos olhos de Braddock McCreed.

Eu publiquei um anúncio de página inteira no London Financial Tribune


com apenas duas frases:

Eu não desisti de você. Mas preciso da sua ajuda.

Meu celular estava tocando na mesma manhã em que foi publicado.

Ele me olha com severidade. E então, lentamente, sorri.

— Julianna.

Eu me aproximo dele e nos encontramos no meio do caminho. Não é um


abraço cheio de lágrimas e emoção. É apenas um abraço forte e caloroso. Mas é isso
que somos. Ele não é do tipo caloroso e afetuoso, e eu não sou do tipo ‘eu o perdoo
imediatamente por escolher o trabalho em vez de mim durante a maior parte da
minha infância’.

Mas, mesmo assim, é um ótimo abraço.

Quando ele se afasta, olha para mim, franzindo ligeiramente a testa


enquanto sua boca se afina.

— E então? É verdade?

Minhas sobrancelhas se franzem. — O que é verdade?

— Você e... — seus olhos se estreitam. — Ele.


Não me encolho nem vacilo.

— Sim. Mas o noticiário está completamente errado. Eu não sou uma


vítima, pai. Eu o persegui...

— Você tem dezoito anos, Julianna, — ele rosna, franzindo a testa. — Ele
tem trinta e dois.

— E daí? — rebato.

Ele faz uma careta.

— Eu sou seu pai...

Eu rio, talvez um pouco mais friamente do que o necessário. Mas rio. Meu
pai suspira pesadamente.

— Eu mereço isso.

— Sim, você merece.

Ele desvia o olhar. — Só estou preocupado, dada a idade de vocês e a


posição dele como seu professor, se você pode realmente dizer que tinha o arbítrio
para...

— Eu também o teria perseguido se ele tivesse dezoito anos. Ou cinquenta.


Ou oitenta. Eu teria ido atrás dele se fosse sua professora, — digo, com a voz tensa.
— E para ser bem sincera, depois de quatro semanas no noticiário? Estou realmente
cansada de outras pessoas me dizendo como eu deveria estar me sentindo ou como
eu deveria me rotular!

Ele franze a testa, respirando lentamente enquanto cruza os braços fortes


sobre o peito. Mas, então, lentamente, os cantos da sua boca se viram ligeiramente
para cima.
— Bem, você é minha filha, isso é certo.

Eu sorrio.

— Eu não tenho que gostar dessa coisa entre vocês dois, Julianna.

— Não, você não precisa, — dou de ombros. — Mas isso não muda minha
opinião sobre o assunto.

Ele suspira, balançando a cabeça.

— Ele é a razão pela qual você não é mais um fugitivo, se é que isso vale
alguma coisa.

Meu pai franze os lábios. — É o que continuo ouvindo.

Ele suspira, esfregando o queixo enquanto olha para mim.

— Temos muito o colocar em dia, não é?

— Por muito mais do que apenas os últimos oito meses, — eu digo com
suavidade.

— Eu sei. Mas nós vamos colocar tudo em dia, Julianna.

Aceno com a cabeça, olhando para minhas mãos.

— Sabe, você ainda não me disse como precisa da minha ajuda. Parece
que é você quem tem me ajudado.

Aceno novamente com a cabeça, voltando meu olhar para o dele.

— Vou lhe pedir um favor.

— Ah?

— Sim. Preciso que você compre uma editora.


As sobrancelhas de meu pai se franzem.

— Por quê?

Eu dou um sorriso fino. — Porque preciso publicar algo.

Suas sobrancelhas se arqueiam. — Sinto malícia.

— Sim, você sente.

Ele sorri. — Excelente. Bem, diga-me a quem devo pagar o cheque, e eu...

— Rupert Davies.

Seu olhar se torna mais duro.

— Você quer que eu compre a Horn Publishing.

Eu aceno com a cabeça. — Sim.

— Rupert não vai simplesmente me vender sua editora.

— Bem, — eu sorrio levemente. — Então, sugiro que você faça uma oferta
irresistível.

Ele me olha, um misto de irritado e impressionado.

— Isso tem a ver com Bastian, não tem?

— Tem.

Ele rosna enquanto se vira para olhar pela janela. Mas, lentamente, ele
acena com a cabeça e depois se volta para mim.

— Feito. Falarei com meu pessoal hoje e terei uma oferta na mesa de
Rupert até amanhã.

Eu sorrio. — Obrigada.
Ele acena com a cabeça, olhando para mim, agora com um olhar muito
mais impressionado do que irritado.

— Mais alguma coisa?

— Na verdade, sim.

Ele ri. — Então, o que mais estou comprando hoje, minha filha?

Eu sorrio. — Não há mais compras.

— E então?

Meus olhos se estreitam. — Você ainda tem seus contatos na divisão de


crimes especiais da polícia?

Suas sobrancelhas se arqueiam. E, lentamente, ele sorri com um sorriso


fino.

— Oh, você é realmente minha filha, Julianna McCreed.

Quatro dias depois, de volta ao campus da Oxford Hills Academy, estou


em frente à porta de um chalé. A cada lado meu, fora da vista da porta, estão seis
policiais. Olho de relance para o sargento - aparentemente um amigo do meu pai -
que acena para mim.

Com um sorriso fino, volto para a porta, levanto a mão e bato. Quando ela
se abre, Alistair parece chocado ao me ver. Mas ele rapidamente se transforma em
um sorriso presunçoso e detestável.
— Bem, bem... o que temos aqui?

— Oi, Alistair.

Ele sorri, com o nariz ainda enfaixado depois que Bastian o quebrou há
algumas semanas.

— Ora, ora, — seus olhos imediatamente se voltam para o meu peito.

Eu odeio o fato de que ele já viu tanto de mim. Odeio isso. Mas, pelo que
ele sabe, acredito, como todo mundo, que a conta do Snapchat era de Bastian.

— Olhe, Julianna. Só queria dizer que sinto muito pelo que aquele
desgraçado fez com você.

Resisto à vontade de arrancar seus olhos.

Aguarde.

— E, ouça, mesmo que você seja mercadoria manchada agora, quero que
saiba que ainda pode pegar o trem A, certo?

Vômito.

— É... fascinante saber disso, Alistair. Mas não é por isso que estou aqui.

— Não?

Balanço a cabeça. — Não. Na verdade, eu queria lhe dar algo.

Ele sorri de forma lasciva.

— Droga, Julianna, estou esperando há muito tempo para ver esses lindos
lábios tomando meu pa...
Meu joelho se projeta, batendo em suas bolas. O sorriso do seu rosto
desaparece quando ele engasga e se dobra. Bem a tempo do meu joelho se levantar
novamente e bater em seu nariz, quebrando-o novamente.

Ele grita enquanto se dobra, segurando o rosto e a virilha enquanto se


contorce como uma larva. Eu me inclino para baixo, com um sorriso fino.

— Era isso que eu queria lhe dar, seu canalha, — eu sibilo. — E eu queria
lhe dizer que sei que foi você, que vou apresentar queixa, que você definitivamente
vai para a prisão e que vou gastar cada centavo da minha herança para garantir que
você tenha muitos amigos lá dentro.

Eu me viro e aceno para o sargento. Ele e seus homens se aproximam e


imediatamente algemam Alistair enquanto ele geme no chão.

— Obrigada, — murmuro para o sargento.

— É um prazer absoluto, senhorita, — ele grunhe, inclinando o boné. —


Por favor, dê os meus mais sinceros cumprimentos ao seu pai.

Sorrio ao ouvir o som de um Alistair soluçando e reclamando sobre quem


é seu pai enquanto os policiais o levam para um carro que o espera.

Tenho estado muito ocupada nas últimas semanas. Mas há apenas uma
última coisa a fazer. E eu guardei a mais importante para o final.
36

Meus dedos pausam por apenas um segundo antes de eu digitar as últimas


três letras. E então, eu as digito.

Fim

Eu me permito o momento de me sentir presunçoso - aquela sensação de


triunfo quando meus olhos deslizam para a última página do livro que passei as
últimas três semanas escrevendo.

É um trabalho fantástico, na minha opinião ainda muito imparcial. É cru.


É inabalável. Sou eu, por completo.

Mas, mesmo com essas duas últimas palavras, ele parece inacabado. Ou,
está terminado, mas não é exatamente como eu quero que seja. Ou, o sentimento
ainda não está certo.

Quem diabos sabe.


Resmungo, virando-me para dar uma olhada no carrinho de bar no canto
do escritório. Só que este está cheio de seltzers de vários sabores, não de bebidas
alcoólicas.

Não toco em álcool há um mês. É minha homenagem a ela, eu acho.

Minha testa se franze quando volto a olhar a página. Na ausência de beber


até entrar em coma, esse livro tem sido o meu ‘refúgio’ no último mês. Eu me afastei
de tudo isso, não porque sou covarde, mas porque precisava desse tempo para
terminar um último livro.

Uma última oferta ao mundo antes que ele me tranque.

Eu sei que estou ferrado. O fato de eu ter sido professor dela é uma coisa.
Mas com o celular de Alistair ligado a mim, eles vão me crucificar. Esqueça minha
reputação, estou enfrentando sérias acusações. Considerando a idade dela quando
essa merda começou, e o fato de que há fotos nessa conta dessa idade?

Sim, você não recua diante disso. Você vai para a porra da prisão.

Posso gritar sobre o fato de ser Alistair até ficar com o rosto azul. Mas, no
final das contas, o mundo da ‘elite’ sempre sai por cima, porque foi feito para ser
assim. Porque qualquer outra coisa que perturba os poderes constituídos, e eles não
vão permitir isso.

Além disso, as coisas circunstanciais que não são a conta do Snapchat e o


fato de o celular de Alistair estar em minha posse são apenas pregos no caixão. O
fato de ela ter sido encontrada em minha casa. O fato de termos enviado Snaps
explícitos um para o outro na minha própria conta. O fato de a polícia ter encontrado
a calcinha dela embaixo da minha cama e meu DNA nos lençóis dela.
O fato de Alistair ter vídeos de nós nos beijando apaixonadamente - em
Davos e no campus...

Franzo a testa, meu devaneio é interrompido pelo som de batidas na porta


da frente. Olho para o telefone fixo em minha mesa - aquele que Wendell me deu,
que só tem o número dele e é bloqueado de fábrica para fazer chamadas apenas para
esse número.

Fiquei furioso. Eu o ameacei. Mas o desgraçado foi inflexível em não me


deixar entrar em contato com ela.

— Se isso for descoberto, este é um caso perdido, completamente. Se


descobrirem que você está em contato com ela agora, você pode simplesmente ir
direto para a prisão. E eles a crucificarão também.

Portanto, não há telefone que possa entrar em contato com ela ou para o
qual ela tenha um número. Também não há internet. Não que essa casa antiga ainda
esteja conectada a ela, se é que a empresa de internet conseguiu encontrar esse lugar
aqui. Acrescente isso às listas intermináveis de projetos que vêm com a compra de
uma casa tão antiga. E grande.

Sem telefone. Sem internet. Sem nada. Tem sido um inferno não poder
entrar em contato com ela, ou mesmo ver como ela está online, com tudo o que está
acontecendo.

Não poder ouvir sua voz.

A batida vem novamente, e eu fico tenso, franzindo a testa. Se fosse a


polícia vindo para me prender ou algo assim, Wendell teria ligado. Se fosse ele, bem,
ele teria ligado.

Levanto-me da cadeira e vou até ao corredor.


— Vá se danar! — Eu grito.

Eu espero. Silêncio.

Viro-me para voltar à minha mesa quando a maldita batida começa


novamente. Rosno, giro e saio em disparada para o corredor. Desço as escadas,
desviando das duas que precisam ser trocadas. Faço uma pausa por um segundo, a
carranca desaparece de meu rosto e eu sorrio. Lembro-me de Julianna gritando
quando aquela escada quase cedeu, na vez em que a trouxe até aqui em minha moto.

Fecho os olhos, encostado na parede. Droga, agora parece que foi há uma
vida inteira. Olho para o degrau frágil e minha boca se fecha. É isso que essas últimas
semanas têm sido - apenas uma série de lembretes brutais.

Do que foi. Do que poderia ter sido.

A maldita batida vem novamente e, com ela, minha ira. Eu me viro e desço
o resto da escada, atravesso o grande saguão e abro a porta da frente para eviscerar
quem quer que seja.

— Cristo, que diabos você está fazen...

Eu pisco os olhos. É como se todo o resto do mundo ficasse quieto e


silencioso. E tudo o que consigo ver é ela.

Tudo o que vejo, tudo o que sei, tudo o que estou consciente de absorver
é Julianna, parada na porta da frente.

Os segundos passam enquanto nós dois ficamos olhando um para o outro,


com o peito subindo e descendo.

— Você... — Eu engulo, tremendo. Como se isso não pudesse ser real.

— Você não deveria estar...


— E você deveria verificar seu celular.

Ela sorri. E eu também.

— Sem celular.

— Bem, entre na maldita internet de vez em quando!

— Também não há internet.

Ela geme. — Bem, merda!

— Então, — eu sorrio, cruzando os braços sobre o peito enquanto me


encosto no batente da porta. — O que eu perdi?

— Oh, não muito.

Ela dá de ombros, parecendo que está precisando de tudo para não sorrir.

— Apenas a sua própria vindicação, para começar.

Meu sorriso se desvanece. Minhas sobrancelhas se franzem enquanto eu a


encaro.

— Espera aí, o quê?

Seus lábios se curvam.

— Sophia. Parece que a Horn Publishing não vai lançar o livro dela, já
que é calunioso e, você sabe, não é verdade, e tudo mais?

Eu pisco os olhos.

— Ela se retratou da história e emitiu uma declaração muito, uh, estranha


culpando seu livro e a história da mídia por analgésicos de prescrição ruins.

Julianna revira os olhos. Franzo a testa, esfregando a mandíbula.


— Huh.

Ela sorri para mim.

— Mais alguma coisa?

— Ah... você sabe, não muito. Minha mãe fugiu do país com seu amante
da Bratva, que, oh, sim, foi o cérebro por trás daqueles crimes financeiros, não meu
pai. — Ela dá de ombros casualmente. — A propósito, ele está de volta.

Eu sorrio.

— Nossa. Estou completamente por fora. É tudo isso mesmo?

Ela franze a testa de forma exagerada. — Hmmm... — Julianna bate em


seu queixo.

— Ah, bem, houve a pequena questão de a polícia e a divisão de crimes


especiais se interessarem pelo seu caso e fazerem uma pesquisa tecnológica séria
naquela conta do Snapchat. E você sabe o que eles encontraram?

Ela ofega de forma caricatural, levando a mão à boca chocada, com as


sobrancelhas erguidas.

Eu dou uma risadinha.

— Sou todo ouvidos.

— Era mesmo a conta de Alistair Grand, e era mesmo ele que estava
fazendo toda aquela merda nojenta comigo! Uau! Quero dizer, chocante, certo?!

Eu faço uma careta, com um rugido na garganta.

— Então, posso matá-lo agora?


Ela sorri. — Sim, mas talvez deixá-lo cumprir sua pena na prisão
primeiro?

— Com prazer. — Franzo a testa. — Espere, prisão? Mesmo com seus


pais...

— Você ainda não conhece meu pai.

— Acho que já estou gostando dele.

Ela arqueia as sobrancelhas.

— Bem, vamos trabalhar para que isso seja recíproco em algum momento.

Eu sorrio. — E eu, na OHA?

— Ah, sim, não, você ainda está definitivamente demitido por ter um
relacionamento com uma aluna.

Ela dá uma piscadela.

— A propósito, não estou prestando queixa.

— Bem, graças a Deus pelos pequenos milagres.

Ela dá uma risadinha, sorrindo para mim, e nós dois tremendo como se
mal conseguíssemos manter essa brincadeira idiota de ‘nossa, que supresa’ por mais
um segundo.

— Bem, não a farei com uma condição.

— E qual seria?

— Que você me beije...


Ela geme quando eu avanço contra ela, seguro seu rosto e pressiono meus
lábios contra os dela. E eu a beijo lentamente, deixando o fogo crescer até que minha
própria alma esteja se fundindo com a dela.

Quando nos afastamos lentamente, ofegantes, seus olhos brilham e


cativam os meus. Então ela franze a testa.

— Ah, droga! Quase me esqueci! Uma última coisa!

Eu gemo. — Não tenho certeza se posso aguentar mais...

— Seu livro vai ser impresso.

Fico olhando para ela. — Desculpe, o quê?

— God $ave The Queen. Ele está sendo publicado. Tipo, agora.

Pisco em choque, meu coração dispara.

— Sim, espero que você não se importe, mas, — ela sorri. — Eu meio que
decidi ser sua publicitária enquanto você não estava em ação. Apenas alguns jornais
pequenos entraram em contato comigo depois que enviei cópias antecipadas... mas,
as críticas são boas.

Ainda estou apenas olhando para essa garota com total admiração,
completamente impressionado com ela.

Completamente apaixonado por ela.

— Eles estão... isso realmente vai ser impresso?

Ela sorri. — Mhmm.

— E a Bratva...
— Estão esperando ansiosamente para lê-lo. — Ela dá uma piscadela. —
Pelos motivos certos. Porque é uma ficção brilhante e qualquer pessoa com metade
de um cérebro entenderá isso. — Ela dá de ombros. — Isso e eu me certifiquei de
que Charlotte, Tenley e Lizbet fossem bem firmes com Misha, Ilya e Lukas sobre
isso chegar ao topo das suas respectivas organizações. Você recebeu a autorização
dos poderes constituídos.

Começo a sorrir, balançando lentamente a cabeça enquanto a seguro.

— Então, quais jornais pequenos entraram em contato com você?

— Oh, — ela acena com a mão despreocupadamente. — Você sabe, os


pequenos. Vejamos, havia o New York Times, o Washington Post, o London Times,
o Paris Review... nada para perder o sono.

Ela dá uma risadinha quando eu começo a rir, puxando-a para perto de


mim e abaixando a cabeça para beijá-la.

— Por que? — gemo baixinho.

— Porque eu te amo, — ela sussurra.

— Isso é o suficiente, — murmuro enquanto meus lábios roçam os dela.


— Provavelmente também ajuda o fato de eu estar completamente apaixonado por
você.

— Sim, — ela sussurra. — Isso é o suficiente.

Meus lábios se aproximam dos dela. Seus braços deslizam em volta do


meu pescoço, e eu a puxo para mim, beijando-a até que só Deus sabe quando vamos
parar.

Agora faz sentido.


Agora, tudo se encaixa.

Agora, este é um ‘fim’ que funciona.


Epílogo

Lizbet é um turbilhão de energia, girando pelo quarto, enfiando coisas


aleatórias em sua bolsa. Antes de finalmente eu ter que intervir, por misericórdia.

— Ok, calma.

Ela para de repente, virando-se para me olhar com olhos selvagens.

— Desculpe, o quê?

Eu sorrio. — Relaxe. Você já fez as malas. E você vai ficar fora por duas
noites.

Ela franze as sobrancelhas. — Não, eu sei, só que... fico vendo coisas e


me perguntando se ela vai querer. Ou se é apenas algo que eu quero lhe mostrar. —
Ela franze a testa, olhando para mim. — Isso faz sentido?

— Perfeitamente.

Ela suspira, seus ombros relaxam um pouco.

— Desculpe, eu só estou... sei lá.


— Bem, é emocionante!

Ela sorri de volta para mim. — É mesmo. E estressante. Quero dizer, e se


ela não estiver pronta? E se estiver sendo forçada demais? Sabe, eu pesquisei e existe
uma coisa rara chamada cérebro profundo agudo...

— Lizbet, — suspiro, colocando minhas mãos em seus ombros.

— Ela ficará bem. Ela tem os melhores médicos do mundo. Eles não
teriam dito que estava tudo bem se não estivesse.

Ela respira fundo.

— Você está certa. Eu sei que você tem razão. Eu só... — ela balança a
cabeça. — Não, vai ficar tudo bem.

— Vai ser ótimo. Venha, vou ajudá-la a carregar sua bolsa gigante para o
andar de baixo.

Lizbet e Lukas estão prestes a dirigir para Londres, para o hospital St.
Thomas, onde sua irmã gêmea Mara está sendo liberada. Além disso, ela está vindo
para cá, para a Oxford Hills Academy. Faltam apenas quatro meses de aula. Mas os
médicos acham que será bom para ela ter um senso de normalidade - mesmo que
seja uma pequena parte dessa experiência escolar.

Tudo isso é muito empolgante. E sim, talvez um pouco preocupante.


Quero dizer, a garota ficou em coma por quatro anos depois de levar um tiro na
cabeça em uma guerra da Bratva. Mas ela vai ficar bem aqui. Ela tem Lizbet. Ela
tem a mim. Ela tem Lukas, Misha e Ilya.

No andar de baixo, Lukas levanta uma sobrancelha ao ver o tamanho da


bolsa de Lizbet. Mas ele sabiamente mantém a boca fechada enquanto grunhe para
colocá-la na traseira do Range Rover preto.
— Ah, fala sério! — Ela murmura.

Ele dá uma risadinha. — Eu nem sequer disse nada.

— Sim, mas você queria.

— Quero dizer, sem dúvida, olhe para isso.

Ela sorri ao se inclinar para beijar a bochecha dele.

— Ok! Acho que está tudo certo!

— Quero dizer, há uma pia de cozinha e um sofá lá dentro, se quiser que


eu os coloque no...

— Ok, ok, — ela geme, enquanto Lukas e eu rimos.

Ela sorri ao se voltar para mim.

— Você também está saindo, certo?

É sexta-feira, e as aulas terminaram no fim de semana. O que significa


que, sim, eu tenho alguns... compromissos.

— Sim, estou prestes a sair também.

— Quer uma carona para... onde você vai se encontrar...

— Estou bem, vou apenas caminhar.

Lizbet sorri. — Diga oi para ele por nós, sim?

— Eu direi.

Lukas limpa a garganta. Quando me viro, ele me passa um exemplar de


Fucked Sideways.

— Você acha que pode conseguir um autógrafo?


— Claro... — Minhas sobrancelhas se erguem. — Espere, você já não
tem...

— É para Ilya, — sorri Lukas, revirando os olhos. — Ele é um idiota


rabugento, mal-humorado e descolado demais para pedir um.

Eu dou uma risadinha. — Claro.

Dou mais um abraço nos dois. Em seguida, eles entram no SUV e se


afastam, Lizbet acenando pela janela.

Coloco a cópia do livro de Bastian em minha bolsa pequena e começo a


andar pelo campus. Não preciso levar muita coisa. Metade das minhas coisas já foi
transferida para a Mansão Huntswood - a antiga mansão que Bastian comprou
quando ia cumprir prisão domiciliar.

Sim, ela veio com esse nome. E eu até que gosto dela.

Daqui a quatro meses, depois que eu me formar, vou me mudar em tempo


integral para o verão. Depois disso? Bem, a Universidade de Cambridge está a
apenas trinta e cinco minutos de carro de Huntswood.

Acho que é justo dizer que já escolhi meu colega de quarto para a
faculdade.

Atravessando o belo campus da OHA, vou até ao portão oeste. E lá, do


outro lado, está um homem familiarmente presunçoso e lindo, sentado em uma moto
cor de vinho e cromada.

— Boa tarde, Srta. McCreed.

Christopher, o agora familiar guarda, acena com a cabeça quando me


aproximo. Ele se vira para apertar o botão, permitindo que os portões se abram.
— Boa tarde, Christopher.

— Vai ver esse cara, eu imagino, não é? — ele sorri, apontando para
Bastian com o polegar por cima do ombro.

— Esse mesmo.

Ele suspira. — Sabe, acho que você poderia arranjar algo um pouco
melhor do que um maldito escritor.

Eu rio da nossa piada de sempre.

— Estou mantendo minhas opções em aberto.

Ele ri muito.

— Chris, você pode parar de flertar com a minha garota?

Christopher sorri ao se virar.

— Ei, você não é aquele cara que demitimos da escola?

Bastian revira os olhos enquanto eu rio.

— Sabe, Christopher, acho que ele é!

— Ouvi dizer que é um maldito pervertido.

— Sinceramente, ele é impossível. — Eu me inclino para perto, fazendo


um som de tsking. — É só mão-boba, esse daí.

— Estou bem aqui, — grunhe Bastian.

Christopher dá uma risadinha. — Ei, estou ansioso pelo seu livro, Sr.
Pierce.
Bastian sorri para ele. — Vou ver se consigo uma cópia antecipada para
você na próxima semana.

— Não dá pra negar, você é um charme.

Christopher se vira para mim quando passo pelo portão.

— Bem, aproveite seu fim de semana, Srta. McCreed. E se esse velho ficar
abusado, me avise.

Eu sorrio. — Eu aviso. Tenha um bom fim de semana!

Quando os portões se fecham atrás de mim, eu me aproximo de Bastian.

— Bem, olá, estranho.

Eu suspiro quando ele me puxa para si, beijando-me profundamente.

— Bem, olá, — ele sorri ao dar ré. — Quer dar uma volta?

— Sim, por favor.

Coloco minha pequena bolsa no alforje e passo uma perna por cima.
Envolvo-o com meus braços, sorrindo e pressionando minha bochecha em suas
costas revestidas de couro enquanto o motor ganha vida. Então, partimos.

— Ah, sim.

Essa é talvez minha segunda parte favorita dos fins de semana que
passamos juntos. Quero dizer, não que uma hora e meia com meus braços abraçados
a esse homem seja uma coisa ruim. Mas, ainda assim, é preciso dirigir até aqui.
Mas depois que atravessamos os portões da Huntswood e subimos a
estrada de cascalho até ao que agora parece ser nosso lar, minha segunda parte
favorita é esta.

Um banho muito quente, muito borbulhante, com ele.

Velas tremeluzem por todo o piso do enorme banheiro. A banheira é uma


versão maluca do século XIX de um banho grego... afundada no piso de azulejos,
com pontos ao redor da borda para sentar, quase como uma banheira de
hidromassagem antiga.

Seja lá o que for, é o paraíso.

Encosto-me no peito de Bastian. Seus braços me envolvem, fazendo a


água passar pelos meus mamilos enquanto fecho os olhos. Posso sentir seu corpo
musculoso contra mim, suas coxas de cada lado das minhas enquanto me sento entre
suas pernas.

Meus lábios se contraem em um sorriso suave quando Bastian inclina a


cabeça para o lado. Seus lábios beijam meu pescoço suavemente, traçando leves
toques pela minha pele. Suas mãos deslizam pelas minhas laterais, aproximando-se
cada vez mais dos meus seios enquanto eu mordo o lábio.

Sim, o banho é minha segunda coisa favorita em nossos fins de semana.

Minha primeira favorita é transar com o homem que amo.

Eu me contorço em seus braços, subindo em seu colo e pressiono minha


boca contra a dele. Ele geme, estimulado por meu movimento repentino. Suas mãos
deslizam para baixo e agarram firmemente minha bunda, e eu gemo enquanto
pressiono minha fenda nua contra seu pau grosso e pulsante.
Eu rebolo meus quadris contra ele, tremendo e choramingando ao sentir
minha boceta se arrastar para cima e para baixo na parte de baixo dele. Eu o beijo
ainda mais forte antes da minha boca deslizar até sua orelha.

— Eu quero você na minha boca.

Ele geme quando agarra meu rosto e me beija com força. Depois, ele sai
lentamente da água até se sentar na borda. Seus músculos brilham molhados à luz
da vela bruxuleante. Seu pau lateja duro e tão grande, bem na minha frente.

Com um gemido suave, coloco minha mão em volta dele, inclino-me e


deslizo minha boca sobre sua coroa. Bastian sibila, seu abdômen se flexiona. Sua
mão desliza para o meu cabelo, fazendo-me vibrar quando ele o envolve em seu
punho.

— Assim, senhor? — Eu gemo inocentemente enquanto me afasto,


molhada.

A mandíbula de Bastian se contrai quando seus olhos se fixam nos meus.

— Mostre-me como você pode ser uma boa garota.

Foda-se. É preciso cada parte de mim para não pular em seu colo e deslizar
por cada centímetro desse lindo pau neste exato momento. Em vez disso, começo a
beijar sua parte inferior, acariciando-o enquanto me abaixo para passar a língua em
suas bolas.

Bastian geme, abaixando a cabeça para trás. Seu punho se aperta em meu
cabelo, puxando-me para ele. Beijo e chupo o caminho de volta à sua cabeça e, dessa
vez, engulo quase metade dele, fazendo-o sibilar. Minha mão desce para o meio das
coxas e eu gemo quando começo a esfregar meu clitóris.

— Menina má, — ele rosna, fazendo-me gemer.


— Brincando com sua boceta desse jeito.

Eu gemo e depois suspiro quando ele me afasta do seu pau. Ele entra na
água e eu gemo quando ele se move subitamente para trás de mim e me inclina sobre
a borda da banheira.

Ah, sim.

Sua palma bate em minha bunda, fazendo-me gemer com necessidade. Ele
faz isso novamente com um rosnado.

— Meninas más são espancadas por brincarem com elas mesmas, — ele
rosna.

— Acho que não devo lhe contar quantas vezes me masturbei ontem à
noite com meus dedos, pensando nesta noite, — eu suspiro.

Ele geme. — Não, você definitivamente deveria me contar.

— Cinco, — ofego enquanto sua palma bate na minha bunda, fazendo-me


tremer de necessidade.

— Cinco o quê?

Eu gemo quando sua mão desliza entre minhas pernas, seus dedos rolando
sobre meu clitóris dolorido.

— Cinco vezes, senhor! — Eu suspiro.

— Boa menina.

De repente, sua boca está sobre mim, e eu gemo de prazer. Suas mãos
grandes seguram minha bunda, abrindo-me para ele enquanto sua língua dança sobre
meu clitóris. Ele o provoca através dos meus lábios, empurrando a ponta para dentro
de mim enquanto eu grito por mais. Ele aperta os dedos, e eu gemo de necessidade
enquanto sua língua sobe mais alto e gira em torno da minha bunda.

— Bastian... — Eu murmuro suavemente.

Sua boca volta ao meu clitóris e ele é implacável. Ele suga meu ponto
dolorido, girando e batendo a língua nele até que eu comece a me contrair e tremer
por toda parte.

— Oh Deus... Bastian!

Eu grito quando começo a gozar com força contra sua boca. Meu corpo se
arqueia e se contrai, estremecendo sob sua língua perversa enquanto eu gozo
repetidamente.

Tudo ainda está formigando quando ele se posiciona atrás de mim. Eu


gemo, olhando para ele por cima do ombro enquanto arqueio as costas e empurro
minha bunda em sua direção.

— Por favor, senhor...

Ele rosna, com os olhos fixos nos meus. Ele aperta o punho do seu pau e
esfrega a cabeça inchada sobre meu clitóris enquanto eu gemo por mais. Ele empurra
para dentro de mim, deixando-me sentir sua grossura antes de, de repente, deslizar
para o fundo.

— Simmmmm... — Eu grito quando ele mergulha até ao fim.

Seus dedos se cravam em minha pele, suas mãos apertam minha cintura
quando ele recua para deixar apenas a cabeça dentro. Ele me provoca dessa forma,
fazendo com que eu espere para tentar descobrir quando ele vai mergulhar
novamente. E justamente quando acho que não vou aguentar, ele me dá o que
preciso.
Bastian geme, suas mãos agarram minha cintura com força enquanto ele
enfia seu grande pau em mim. Estremeço de prazer, empurrando-me para trás para
levá-lo o mais fundo que puder. Ele começa a me foder com mais força, minha bunda
balançando em seu abdômen e suas bolas batendo em meu clitóris.

Eu me agarro à borda da banheira enquanto ele agarra um punhado dos


meus cabelos. Quando ele puxa minha cabeça para trás e se inclina sobre minhas
costas para me beijar com força, ele mergulha fundo. E, de repente, estou gozando
de novo.

Ele fica assim, segurando meu cabelo e meu quadril e me beijando


selvagemente enquanto me fode como um demônio. Seu lindo pau mergulha em
mim, fazendo-me subir pelas paredes quando começo a desmoronar novamente.

— Porra, Bastian!

— Goze para mim, — ele geme em meus lábios, enfiando seu pau sem
parar em mim. — Goze para esse pau, querida. Goze para mim como uma boa
menina.

Ele bate até ao fim e eu perco todo o controle. Meu corpo inteiro tem
espasmos quando começo a gozar, explodindo contra ele. Ele geme, empurrando-se
tão fundo que sinto suas bolas pulsarem contra meus lábios. O orgasmo enrola meus
dedos dos pés e revira meus olhos enquanto sinto seu esperma quente se derramar
profundamente em mim.

Ainda estou tremendo quando ele me envolve em seus braços, puxando-


me para perto dele. Eu me viro, e meus braços e pernas o envolvem enquanto
afundamos na parte mais funda da banheira.
— Então, — murmuro preguiçosamente, ainda flutuando em meu êxtase
orgástico. — Como foi sua semana, querido?

Ele dá uma risadinha. — Este é certamente é um destaque.

Eu sorrio. — Boa resposta.

— Bem, você traz à tona o que há de bom em mim.

— Você traz à tona... — sorrio. — Muita coisa em mim.

— Sim, por falar em você...

Eu gemo quando o sinto me levantar e depois me afundar novamente em


seu pau ainda duro.

— Professor Pierce, você é insaciável... — choramingo.

— Ah, vamos lá, você não vai me dizer que fará qualquer coisa para
conseguir aquele A?

— Bem, quero dizer, eu vou, — pisco os olhos, mordendo o lábio. — Só


é uma pena que você não seja mais meu professor.

— Acho que isso significa que não posso reprová-la por ser um pirralha,
não é?

— Infelizmente, não. — sorrio. — Mas você ainda pode me punir por


isso...

Seus olhos brilham sombriamente. Suas mãos agarram minha bunda com
força.

— Cuidado, garotinha.

— Deixe-me adivinhar, você é um monte de problemas?


— Um toneladas deles.

— Bom. — Eu o beijo profundamente. — Porque é exatamente isso que


estou procurando.
CENA BÔNUS
1

Dois anos depois

— E... corte!

O sino da produção toca e todo o set se levanta, aplaudindo. Os dois atores


se viram e sorriem ao fazer uma reverência, pois acabaram de concluir a última cena
do cronograma de filmagem.

Rhys, o diretor da série da Netflix baseada em Fucked Sideways, vira-se


para sorrir para mim.

— E então? O que você acha?

Dou de ombros. — Eh, o livro era melhor.

Ele ri e balança a cabeça.

— Você é um maldito idiota.


Sorrio ao estender minha mão para apertar a dele. — Não, com toda a
honestidade, se alguém ia chegar perto desse livro, fico feliz que tenha sido você.

— Estou feliz que este projeto esteja finalmente vendo a luz do dia. E
estou mais do que feliz por estar fazendo algo tão bom quanto Fucked Sideways4, e
não mais uma maldita reinicialização.

Ele sorri enquanto me olha.

— Você viu o e-mail dos poderosos sobre o título final?

Reviro os olhos. — Você quer dizer All Screw Up5?

Ele dá uma risadinha. — Ei, vamos lá, amigo. Não é a HBO. Eles nunca
iriam manter Fucked Sideways.

— Não, eu sei. Não é terrível.

— Sim, bem, você pode agradecer a mim por fazer lobby contra o My Sad
Life6.

Eu me encolho. — Jesus.

— Sim, de nada.

— Lembre-me de lhe pagar vários drinques por essa, então.

Ele ri. — Bem, o que você está fazendo agora? Há rumores de que o elenco
está saindo para pintar de vermelho a nebulosa cidade de Londres.

4
Tudo fodido.
5
Todos ferrados.
6
Minha triste vida.
Ele se vira e eu sigo seu olhar até onde três personagens secundários -
interpretados por três das mais novas e promissoras garotas ‘it’ de Hollywood - estão
olhando para nós dois.

— Você está dentro?

— Por boas e várias razões, Rhys... porra, não.

Ele suspira. — Sim, bem, nem todos nós somos criminosos, autores de
best-sellers, celebridades com namoradas lindas e descoladas esperando por nós em
nossas mansões no interior da Inglaterra. Seu idiota.

Dou uma risada e bato em seu ombro. — Vá em frente. Divirta-se. E


obrigado, de verdade. Se alguém ia estragar este livro, fico feliz que tenha sido você.

— Sacana atrevido. Ah, e eu ia mencionar antes, parabéns pelo New York


Times.

Sorrio. Eu me permito sentir orgulho de minhas realizações hoje em dia.


É melhor do que me permitir sentir vontade de ficar o mais fodido possível, como
se isso fosse de alguma forma uma comemoração.

— Obrigado, amigo.

Ele está falando sobre Desperate Liaisons, meu novo livro, que acaba de
chegar ao primeiro lugar na lista de best-sellers - anunciado esta manhã, na verdade.
É a sequência solta do livro que escrevi quando meu mundo desmoronou há dois
anos, do New York Times Rock and Ruin.

Como tudo o que escrevo, ambos são ficção. Mas, vamos ser realistas.
Ambos também são sobre Jules. E sobre mim. E sobre nós. Escreva o que você
conhece, certo?
Rhys e eu nos levantamos, e eu aperto sua mão novamente. — Vejo você
na próxima reunião de produção?

Ele acena com a cabeça e depois franze a testa. — Você está mesmo
dirigindo de volta para o seu castelo a essa hora?

As filmagens duraram quase um mês. Grande parte desse tempo foi


durante as férias, então Julianna estava comigo em minha suíte de hotel aqui em
Londres. Mas, na última semana, ela teve que entregar alguns trabalhos importantes
para a escola e assistir às aulas. E Huntswood fica muito mais perto de Cambridge
do que aqui.

Mas isso significa que fiquei sem ela por uma semana. Então,
honestamente, estou dirigindo para casa a essa hora?

Nem cavalos selvagens poderiam me impedir.

Rhys parece entender o que estou pensando só pela minha pausa e pela
expressão do meu rosto. Ele dá uma risadinha.

— É claro que sim. Tudo bem, então, vá com cuidado, amigo.

Bufo ao olhar para trás, para as três estrelas que o observam.

— O mesmo para você.

Ele sorri quando lhe dou um tapinha no ombro, viro-me e vou embora. Lá
fora, o frio de janeiro de Londres. Fecho o zíper da minha jaqueta de couro até ao
pescoço, mas sorrio com a brisa. Como eu disse, poderia haver uma maldita nevasca
aqui fora, e eu ainda estaria pegando minha motocicleta para voltar para Jules.

Sim, é o fato de eu ter ficado longe dela por uma semana. É que passamos
a maior parte das férias tentando encontrar tempo para ficarmos sozinhos enquanto
fazíamos malabarismos com um cronograma de filmagens bastante exaustivo para a
série, que também envolvia minha presença no set para reescrever o que fosse
necessário.

E, sim, estou ansioso para comemorar meu segundo primeiro lugar na lista
- o primeiro foi do The Times God $ave The Queen, graças a Jules.

Mas há outro motivo pelo qual pretendo cavalgar o mais rápido possível
até ela esta noite. Um motivo que venho planejando há... bem, há algum tempo.
Meses. Anos. Ou, se eu estiver sendo honesto comigo mesmo, possivelmente desde
o momento em que a vi.

Alguns idiotas tentam se esforçar ao máximo e fazer um grande espetáculo


público com coisas como essa. Fazendo isso no meio de um milhão de pessoas na
Trafalgar Square ou algo assim. Ou em um restaurante com a porra do lugar inteiro
com seus telefones na mão.

Me dê um tiro. Apenas, não.

Esse não sou eu, e com certeza não é a Julianna. Essa é uma das razões
pelas quais funcionamos tão bem. Uma vez eu disse que não gostava muito de
pessoas, mas gostava de coisas boas. Ela é do mesmo jeito. Então, nós dois morando
no campo, em nossa enorme casa que acabou de ser totalmente reformada, só nós
dois? Isso é a perfeição, para nós dois.

E é o lugar perfeito para fazer o que eu planejo fazer. Só eu e ela.

Eu lhe envio uma mensagem de texto rápida - nós conseguimos deixar de


usar apenas o Snapchat depois de dois anos juntos - dizendo que estou a caminho de
casa. Ela responde com um ‘eu te amo’ que me faz sorrir. Passo uma perna sobre a
motocicleta, deixo-a roncar e coloco o capacete na cabeça.
Depois, vou para o frio da noite.

Duas horas depois, passo pelos portões e entro na garagem. Quando paro
a motocicleta, tiro o capacete, minha respiração fica embaçada no ar frio enquanto
olho para o lugar que chamo de lar, com a mulher que amo mais do que tudo neste
mundo.

Quando tomei a decisão e comprei esse lugar, quando a vida estava


desmoronando ao meu redor, parecia que o estado desse lugar era perfeito para mim.
As coisas estavam desmoronando no meu mundo, então fazia sentido que a enorme
mansão estivesse, às vezes, literalmente desmoronando ao meu redor também.

Gesso do século XIX do século caindo em meu rosto quando eu


dormia. Janelas de vidro único que congelavam ou possivelmente XVIII por
dentro. Tinta descascada que quase certamente estava cheia de chumbo e
escadas que ameaçavam me levar à morte todas as manhãs no caminho para o
café.

Na época, parecia poeticamente perfeito. Ou preenchendo uma fantasia de


artista faminto e falido. Depois, a vida melhorou, tudo por causa dela. Sim, meu arco
de redenção certamente ajudou a impulsionar God $ave The Queen para a
estratosfera. Mas foi a nova publicitária que o tornou o que era.

Jules.
Jules, que é ainda minha publicitária, na verdade. Até mesmo fazendo
malabarismos com as aulas em Cambridge, enquanto se prepara para entrar em sua
escola de pós-graduação em administração. Ela faria uma carranca daquele jeito
adorável que eu adoro se eu dissesse isso na cara dela - e eu já disse -, mas ela é
muito mais parecida com o pai do que gostaria de admitir. Ela é determinada, forte
e comanda quando precisa.

Sinceramente, não sei se ela acabará trabalhando com Braddock depois da


faculdade de administração, ou talvez até mesmo dirigindo a Horn Publishing, da
qual seu pai agora é proprietário. Mas sei que, seja o que for que ela faça, ela vai
conseguir.

Quero dizer, ela atura meu traseiro rabugento e mal-humorado


diariamente.

Meus olhos deslizam sobre a mansão enquanto balanço uma perna e desço
da motocicleta. Quando a vida deu uma guinada e ela voltou para a minha órbita,
nós dois decidimos que ‘decrépito e desmoronando’ não seria a melhor opção. Quero
dizer, ninguém precisa da emoção de se perguntar se hoje é o dia em que você vai
quebrar o pescoço a caminho da sua primeira xícara de café.

Então, fizemos uma reforma. Em grande estilo. Ei, eu sou um autor de


best-sellers, você sabe do New York Times

Mas os retoques finais foram concluídos quando tivemos que partir para
Londres, portanto, ainda não consegui respirar o ambiente. Olhando para ele agora,
dois anos de projeto de construção, dentro e fora de casa, valeram completamente a
pena. O lugar está incrível.

Ficamos com ela só para nós por uma semana. Depois, temos o ‘fim de
semana dos convidados’: amigos e familiares que vêm passar um fim de semana
para nos celebrar, um Natal atrasado, a casa pronta... tudo isso. Lizbet, é claro. Junto
com Lukas, obviamente. O que, é claro, significa que os outros marretas também
estão chegando: Ilya e Tenley, Misha e Charlotte.

Mas tenho que admitir que ‘os herdeiros’ cativam você. Estou até ansioso
para ver Mara e...

— Está com vontade de entrar e me beijar?

Meus pensamentos se dispersam. Pisco os olhos e, de repente, estou


olhando para o alto da escada da frente, para o calor que entra pela porta da frente
aberta, fazendo a silhueta da mulher que amo.

Vou entrar para beijá-la? Sim... cavalos selvagens e tudo mais.

Subo as escadas, duas e depois três de cada vez, e suas risadas se


transformam em um gemido ofegante quando eu bato nela. Meu capacete e minha
bolsa caem no chão, enquanto uma mão desliza sobre seus quadris e a outra sobre
seus cabelos. Meus lábios se unem aos dela, e tudo fica bem no mundo.

Voltamos cambaleando para dentro da casa e eu fecho a porta atrás de nós.


Ela geme enquanto eu continuo a beijá-la, nossos corpos rolando juntos.

— Como foi a viagem? — ela finalmente murmura contra meus lábios


enquanto se afasta lentamente. Seu rosto está corado, aqueles grandes olhos azuis
brilham com fome enquanto se fixam nos meus.

— Longa, mas valeu a pena, — sorrio. — Eu ia tomar um banho rápido...

— Estou molhada há duas horas.

Sim, esse chuveiro pode ir para o inferno agora mesmo.


Ela dá risada quando eu a agarro de repente e a puxo para mim. Mas então
a risada se transforma em gemidos quando suas longas pernas envolvem meus
quadris. O roupão curto que ela estava usando se solta e eu gemo.

Isso é tudo o que ela está vestindo. E ela não está errada sobre o estado
das últimas duas horas.

Ela está pingando de umidade.

Minha boca se esmaga na dela enquanto atravesso a casa e volto para a


enorme sala de estar. Em algum momento da história, talvez a chamassem de sala
de caça ou algo do gênero - paredes grandes, de madeira pesada, forradas com
prateleiras de livros, e minha parte favorita: a enorme lareira encostada na parede
mais distante. Que está crepitando no momento.

Ela me conhece muito bem. Eu adoro essa lareira. Mas amo ainda mais o
que estou prestes a desembrulhar.

Eu nos deixo cair gentilmente sobre o enorme tapete de pele sintética em


frente à lareira. Julianna geme baixinho quando a deito de costas sobre o tapete,
meus lábios ainda saboreando os dela. Eu me afasto apenas o suficiente para tirar a
jaqueta, o capuz e a camiseta. Mas então, ela é toda minha.

Meus dedos abrem a gravata de seu roupão. Afasto o tecido macio,


deixando que o brilho do fogo dance em sua pele perfeita - uma sequência em câmera
lenta das minhas cenas favoritas.

Ombro. Colarinho. O inchaço de seus seios. Os mamilos rosados e com


pedrinhas. A suave inclinação de seu estômago até aos quadris curvos, as pernas
longas e magras e o calor reluzente entre elas.

Cristo, como diabos eu consegui pegá-la?


Ela está gemendo, e sei que não sou o único que está ansioso depois de
uma semana de separação.

Mas estou tomando meu tempo. Não tenho pressa, enquanto minha boca
lentamente desce por sua mandíbula e atravessa seu pescoço. Demoro-me em sua
clavícula. Aprecio o modo como sua respiração se prende e suas costas se arqueiam
quando ela empurra o peito em direção à minha boca.

Traço meus lábios e minha língua lentamente pela inclinação de seus


seios, pegando um mamilo entre meus lábios enquanto ela geme profundamente.

— Você está provocando... — ela reclama, choramingando enquanto sua


respiração fica ofegante.

— Você é muito astuta.

Ela sorri, com os olhos fechados e as sobrancelhas franzidas de prazer


enquanto eu lambo sua pele até ao outro mamilo. Minha língua gira em torno dele,
deixando-o enrugado entre meus lábios. Meus dentes roçam a ponta durinha e ela
geme avidamente, empurrando os quadris em minha direção.

Minha boca desce mais, passando por sua barriga, sentindo-a ceder sob
meus lábios. Ela se contorce desesperadamente contra mim enquanto minha língua
percorre seu umbigo, depois desce, desce e desce...

Até que eu me afasto.

— Oh, meu Deus, seu idiota... — ela geme, rindo.

Eu sorrio, mas meu sorriso se torna faminto quando meus olhos se voltam
para a luz do fogo que dança em sua bocetinha perfeita.

Tão bonita. Tão úmida. E tão minha.


Abaixo a boca e, por fim, cedo ao que ambos desejávamos. Julianna
engasga com seu gemido, seu corpo se sacode quando minha língua se arrasta
molhada por seus lábios. Eles se separam, e eu saboreio a doçura de sua excitação
enquanto passo a língua sobre ela.

Passo a língua para cima e para baixo em sua fenda, arrastando o mel
pegajoso de sua abertura até ao clitóris e depois para baixo novamente. Empurro
suas pernas para cima e as afasto, com as mãos na parte de trás de suas coxas,
abrindo-as para mim. Minha língua mergulha mais fundo, fodendo-a
superficialmente enquanto ela se contorce e implora por mais.

Meu pau pulsa e lateja contra minha calça jeans, mas ainda não terminei
de me satisfazer com ela.

Minha língua se arrasta para baixo enquanto empurro suas pernas para
trás. Ouço os gemidos suaves se transformarem em gemidos dolorosamente
necessitados quando deixo a ponta da minha língua girar em torno de sua bunda. Eu
gemo dentro dela, penetrando em seu buraquinho enquanto ela se contorce e geme
pedindo mais.

Eu a arrasto, cavalgando até ao limite antes de, de repente, minha boca


deslizar para cima, meus lábios envolverem seu clitóris e minha língua dançar sobre
ele enquanto o chupo.

Julianna explode para mim.

Ela grita seu orgasmo enquanto seus quadris empurram com necessidade
contra meu rosto. Minha língua gira em torno de seu clitóris latejante enquanto ela
se entrega repetidamente para mim.
Suas mãos agarram meu rosto, puxando-me para cima dela enquanto ela
ataca minha boca com a sua. É um beijo primitivo. É algo sombrio e doloroso quando
a beijo com força suficiente para machucar.

Abaixei a mão e empurrei minha calça jeans para baixo, chutando-a e as


botas para longe. Meu pau duro, dolorido e latejante se liberta para pulsar quente
contra sua boceta, e ela solta um gemido suave. Ela continua a me beijar enquanto
se abaixa e enrola a mão pequena em volta do meu pau grosso, acariciando-me contra
seus lábios escorregadios.

Eu empurro, centralizando minha cabeça e me abaixando para deslizar


meus dedos com os dela. Ela estremece quando ambos empurramos meu pau para
dentro dela, antes de eu deslizar os dedos até seu clitóris. Juntos, acariciamos seu
nódulo dolorido enquanto eu enfio minha espessura profundamente em seu doce
paraíso.

— Oh, porra, senti sua falta, — ela geme, ofegante, enquanto seus olhos
se arregalam e se fixam nos meus.

— Nunca mais vamos sair desta casa?

— Nunca mais sairei do meio dessas coxas, — gemo enquanto minha boca
se esmaga na dela. Meus quadris recuam antes de eu voltar a penetrar, enfiando meu
pau até às bolas em sua boceta apertada e molhada.

Julianna grita, seus braços me envolvem e suas unhas se arrastam pelas


minhas costas. Suas coxas se apertam ao redor dos meus quadris enquanto eu
mergulho nela, fodendo com força sua boceta carente enquanto ela grita por mais.

Ainda bem que moramos no meio do nada. Porque Jules é barulhenta.


Posso sentir suas paredes agarrando e ordenhando meu pau. Sua suavidade
escorre por ele até às bolas, e sinto todo o seu corpo se contrair contra mim quando,
de repente, ela começa a gozar com força. Esmago minha boca na dela, batendo nela
e fodendo-a até ao clímax.

Lentamente, eu puxo, meus músculos se contraindo enquanto meu pau


balança, escorregadio e pesado. Ela se inclina para cima, beijando-me com fome,
antes que eu veja aquele brilho em seus olhos e aquele sorriso sensual em seus lábios.

— Oh, professor? Senhor?

Eu gemo, e meu pau literalmente pulsa e salta. Ela sorri maliciosamente


enquanto rola para o lado, com a bochecha contra a pele macia, enquanto levanta
aquela bundinha apertada no ar e a balança com atrevimento.

— Eu não fiz meu dever de casa… oh, porra, querido!

Ela geme quando agarro sua bunda e empurro a cabeça inchada do meu
pau entre aqueles lábios rosados e escorregadios. Enfio com força, rosnando
enquanto enterro meu pau em seu calor escorregadio. A selvageria dentro de mim -
a fera que ela e somente ela desperta em mim - ruge. A luxúria vermelha passa pela
minha visão enquanto eu agarro seus quadris e bato nela.

Meus dedos penetram em sua pele, e seus gemidos e gritos de prazer são
tudo o que sei. Minhas mãos deslizam por suas costas, agarrando um punhado de
cabelos loiros antes de puxá-la de repente pelos cabelos. Ela ofega, levantando-se de
joelhos, com as costas contra meu peito.

Eu rosno enquanto enfio minha grossura dentro dela, meu abdômen


batendo em sua bunda com força. Eu giro sua cabeça, esmagando seus lábios nos
meus e engolindo seus gritos de prazer. Meus braços a envolvem, um em seu peito,
com os dedos beliscando um mamilo, e o outro entre suas pernas, rolando seu clitóris
enquanto enfio meu pau nela.

Sinto sua carência quando ela se inclina para trás, suas unhas se arrastam
sobre meus quadris - querendo-me com mais força, mais fundo, para sempre. Eu me
perco nela, beijando-a loucamente enquanto a penetro repetidamente.

Seu corpo treme e depois se retesa contra mim. Sua boceta me agarra com
tanta força que meus olhos se reviram. E, de repente, ela está gozando para mim
novamente.

Desta vez, estou bem ali com ela.

Eu gemo em seus lábios, soltando-me enquanto meu esperma se derrama


profundamente em sua bocetinha quente. Ela grita, beijando-me loucamente,
enquanto sua mão se estende para trás e desliza para o meu cabelo. Ficamos assim,
o mais próximo possível um do outro, apenas nos beijando lentamente.

Por fim, afundamos no tapete. Jogo mais duas toras de madeira na lareira
e a envolvo em meus braços. Um sorriso se espalha por meus lábios.

Chegou a hora. E eu literalmente não consigo pensar em um momento


melhor. Nada de Trafalgar Square. Nenhum maldito restaurante cheio de estranhos
com telefones gravando.

Só eu e ela.

Para sempre.

Olho por cima do ombro e pego minha jaqueta. Minha mão procura no
bolso e meus dedos se fecham em torno da pequena caixa de veludo.
Não sou do tipo ‘de joelhos’. Mas ela também não é. Então, em vez disso,
com a luz da lareira brilhando sobre nós, ela em meus braços, com as costas contra
o meu peito, eu levo minha mão lentamente até à frente dela, com a caixa na mão.

Ela se enrijece e eu ouço sua respiração ficar presa.

— Bastian... — ela sussurra suavemente. — O que... o que é isso?

— Acho que você sabe, — murmuro suavemente em seu ouvido. —


Então, talvez você deva simplesmente abrir e dizer sim.

Posso sentir seu sorriso antes que ela vire a cabeça para que eu o veja.

— Você parece muito seguro de si.

— Estou bastante seguro de mim mesmo.

Ela dá uma risadinha. — Pode-se dizer que é arrogante.

— Culpado.

— De ser arrogante?

— E de amar você mais do que qualquer coisa neste mundo pelo resto da
minha vida.

Seu rosto se enche de calor. Seus olhos brilham quando se fixam nos meus,
e sua boca se abre.

— Case-se comigo, Jules, — eu rosno baixinho. — Apenas diga sim e se


case, porra...

— Deus, sim.

Ela se vira de frente para mim, encostando seus lábios nos meus enquanto
seus braços envolvem meu pescoço. Estou vagamente ciente de que estamos abrindo
a caixa e de que estou colocando o anel em seu dedo. Estou ciente dos milhares de
‘eu te amo’ que saem de seus lábios, espelhados por outros tantos que saem dos
meus.

Mas, na maioria das vezes, como sempre, tudo de que estou realmente
ciente e tudo que realmente sei é ela. Assim como sei que este não é o fim.

É apenas o começo da próxima história. A melhor história. A que


escreveremos juntos.

A nossa história.

Fim

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