Assuntos Ifbaiano
Assuntos Ifbaiano
7908403546480
IF BAIANO
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E
TECNOLOGIA BAIANO
Língua Portuguesa
1. Teoria da comunicação. ............................................................................................................................................................. 5
2. Significação e relação semântica entre palavras e expressões................................................................................................... 6
3. Estilística. Registros e Variações linguísticas. ............................................................................................................................. 6
4. Ortografia. .................................................................................................................................................................................. 10
5. Acentuação gráfica. ................................................................................................................................................................... 11
6. Uso da crase. .............................................................................................................................................................................. 12
7. Morfologia. Classes gramaticais. ................................................................................................................................................ 12
8. Sintaxe. ....................................................................................................................................................................................... 20
9. Concordância verbal e nominal. ................................................................................................................................................ 24
10. Regência verbal e nominal. ........................................................................................................................................................ 26
11. Colocação pronominal. .............................................................................................................................................................. 27
12. Emprego dos sinais de pontuação e sua função no texto........................................................................................................... 28
13. Compreensão e interpretação Textual. ...................................................................................................................................... 31
14. Tipologias e gêneros textuais. .................................................................................................................................................... 32
15. Mecanismos de coesão e coerência textual. ............................................................................................................................. 32
16. Reescrita de frases e parágrafos do texto................................................................................................................................... 33
17. Função textual dos vocábulos..................................................................................................................................................... 39
Legislação
1. Regime Jurídico Único (Lei nº 8.112/1990): Das Disposições Preliminares; Do Provimento, Vacância, Remoção, Redistribui-
ção e Substituição; Dos Direitos e Vantagens; Do Regime Disciplinar; Do Processo Administrativo Disciplinar; Da Seguridade
Social do Servidor....................................................................................................................................................................... 45
2. Lei da Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/1992) e alterações......................................................................................... 68
3. Código de Ética dos Servidores Públicos (Decreto nº 1.171/1994)............................................................................................. 77
4. Processo Administrativo (Lei nº 9.784/1999)............................................................................................................................. 79
5. Lei nº 11.091/2005- Dispõe sobre a estruturação do Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação..... 85
6. Decreto 9.991/2019- Dispõe sobre a Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoas da administração pública federal
direta, autárquica e fundacional................................................................................................................................................. 89
7. Noções de Direito Constitucional: Dos Princípios Fundamentais; Dos Direitos e Garantias Fundamentais; Dos Direitos So-
ciais............................................................................................................................................................................................. 94
8. Da Administração Pública........................................................................................................................................................... 100
9. Da ordem Social.......................................................................................................................................................................... 107
10. Lei nº 12.527/2011 (Acesso à informação)................................................................................................................................. 119
11. Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei nº 8.069/90)................................................................................................... 126
12. Declaração Universal dos Direitos Humanos Adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (resolução 217
A III) em 10 de dezembro 1948................................................................................................................................................... 164
13. O atual sistema educacional brasileiro: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e suas alterações - LDB nº 9.394/96:
princípios, fins e organização da Educação Nacional; Níveis e modalidades de educação e ensino.......................................... 166
14. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica, 2013........................................................................................... 175
15. Base Nacional Comum Curricular............................................................................................................................................... 175
ÍNDICE
16. Resolução CNE/CEB nº 06, de setembro de 2012 (Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de
Nível Médio)............................................................................................................................................................................... 176
17. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014 (Plano Nacional de Educação)....................................................................................... 182
18. Programa Nacional de Integração da Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (Decreto nº 5.840,
13/07/2006)................................................................................................................................................................................ 197
19. Educação inclusiva; Acessibilidade para pessoas com deficiência (Lei nº 10.048/00, Lei nº 10.098/00 e o Decreto-Lei nº
5.296/04).................................................................................................................................................................................... 198
20. Política Nacional para integração da Pessoa com Deficiência (Decreto nº 3.298/99 e a Lei nº 7.853/89)................................. 212
21. Regulamentação da Educação Profissional no Brasil: Decreto nº 5.154/04............................................................................... 221
22. A regulação do trabalho dos profissionais da educação, a partir da legislação educacional...................................................... 222
23. Processos de apropriação e execução da legislação educacional vigente.................................................................................. 222
Conhecimentos Específicos
Professor - Letras/ Língua Portuguesa e Literatura
1. Concepções de língua, linguagem e gramática. ......................................................................................................................... 229
2. Funcionalidade e integralidade da língua nas relações sociocultural e midiática....................................................................... 233
3. Forma, relação e sentido das práticas de linguagem: leitura e produção textual....................................................................... 234
4. oralidade e análise linguística/semiótica. .................................................................................................................................. 235
5. Tipos de gramática, situações de comunicação e práticas pedagógicas de aprendizagem morfológica, sintática e semântica. 238
6. A sintaxe, seus tipos e contribuições para os processos de textualização.................................................................................. 241
7. Gêneros textuais/discursivos, tipologias textuais e os mecanismos da língua.......................................................................... 251
8. leitura, interpretação e compreensão de textos. ....................................................................................................................... 252
9. Letramentos e multimodalidade no ensino de Língua Portuguesa............................................................................................ 252
10. Multiletramentos, práticas de leitura e de escrita na contemporaneidade................................................................................ 253
11. O uso das tecnologias digitais e suas contribuições para o ensino de Língua Portuguesa........................................................ 253
12. O ensino de língua materna, a formação do leitor crítico e a concepção de leitura na perspectiva discursiva.......................... 254
13. Literatura Portuguesa e Brasileira (dos clássicos aos escritores contemporâneos) e a importância do letramento literário na
formação do leitor...................................................................................................................................................................... 254
14. O letramento racial e as práticas pedagógicas das relações étnico-raciais na escola na perspectiva da Lei 10.639/2003, que
estabelece as diretrizes para incluir no currículo a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira; Literatura
afro-brasileira.............................................................................................................................................................................. 284
15. Leitura, escrita, produção textual e as práticas de letramento em argumentação..................................................................... 284
16. Os modalizadores discursivos e os fatores de textualidade........................................................................................................ 284
17. Atuação docente, o ensino de Língua Portuguesa na Educação Básica, Técnica e Tecnológica.................................................. 285
18. Processos metodológicos e avaliação de aprendizagem............................................................................................................ 285
19. Parecer CNE/CEB N.º 11/2012 - Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio......... 286
20. RESOLUÇÃO N.º 06/2012 - Define Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio..... 316
21. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa
com Deficiência)......................................................................................................................................................................... 322
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
A antiarte é a desestetização e a desdefinição da arte, ela aban- A Pop e o minimalismo desdefinem, desestetizam a arte, mas
dona a beleza, a forma, o valor ao supremo e eterno e ataca a pró- mantém seu objeto; a arte conceitual dá um passo a mais em dire-
pria definição, utilizando matérias do cotidiano e abandonando os ção ao vazio pós-moderno, desmaterializa a arte ao dar sumiço em
convencionais. seu objeto. Grandes ou pequenas, boas ou más, pinturas e escultu-
O artista Pop dilui a arte na vida porque a vida já está saturada ras são supérfluas. Só interessa a ideia, a criação mental do artista
de modelos estéticos massificados. registrada num esboço, esquema ou frase.
A antiarte é uma ponte entre a arte culta e a arte de massa, “Se a arte é linguagem, ela pode ser reduzida a frases simples e
pela singularização do banal, ou pela banalização do singular. diretas que valham por um objeto”.
Ela também revive o dadaísmo, pois o importante era o gesto, “Um trabalho artístico deve ser compreendido como um fio
o processo inventivo e não a obra. condutor da mente do artista para a mente do espectador”.
A antiarte é participativa, o público reagindo pelo envolvimen- A antiarte pós-moderna se desestetiza porque a vida se acha
to sensorial, corporal, pois ela se apoia nos objetos, na matéria, no estetizada pelo design, a decoração. Os ambientes atuais já são arte
momento, no riso e não somente no homem, ela ´e pouco crítica, e assim pintura e escultura podem se fundir com a arquitetura, a
não aponta valores. paisagem urbana, tornando-se fragmentos do real dentro do real.
Na literatura, o pós-modernismo prolonga a liberdade de expe- O acontecimento é a intervenção preparada ou de surpresa do
rimentação e invenção modernista, mas com algumas diferenças do artista no cotidiano, não através da a obra, mas fazendo da inter-
modernismo, pois eles queriam a destruição da forma romance e venção uma obra. É o Máximo de fusão arte/vida como querem os
querem a o pastiche, a parodia, o uso de formas gastas e de massa, pós-modernos, pois utiliza a rua, a galeria, pessoas e objetos que
surgi o nouveau roman que destrói a forma romance banindo o en- estão na própria realidade para desencadear um acontecimento
redo, o assunto e o personagem criativo. É uma a provação com o público, mas amplia sua percep-
A literatura pós-moderna é intertextual, para lê-la, é preciso ção do mundo onde vive.
conhecer outros textos. Houve outras manifestações artísticas, o op-art, arte cinética,
arte pobre, arte da terra, mas os movimentos vieram com o essen-
Anartistas em nuliverso cial do pós-modernismo; comunicação direta, fusão com estética
A “desordem”, da antiarte que não apresenta propostas defi- de massa, matérias não artísticos, objetividade, anti-intelectualis-
nidas e nem coerentes, onde os estilos se chocam, pelas suas dife- mo, anti-humanismo, superficialidade, efemeridade.
renças, as tendências mesmo assim se sucedem com rapidez. Não Mas com o cansaço de tanta experimentação o pós-modernis-
há grupos ou movimentos unificados, onde surge a transvanguarda mo enfrentou cara a cara sua verdade, onde a invenção parecia es-
(além da vanguarda). tar esgotada.
Nas artes o pós-modernismo apareceu primeiro na arquitetura, A solução foi voltar ao passado pela paródia, o pastiche, e o
na Bauhaus seu dogma era “a forma segue a função”, onde a reação neo-expressionismo, ou então se atolar no presente.
pós-modernista era contra o estilo universal modernista (Bauhaus), Na literatura, o noveau roman vem tentando matar o romance.
os pós modernistas se voltam para o passado resgatando os concei- Para isso ele se recusa o realismo, recusa o enredo com começo,
tos passados mais utilizando materiais diferenciados para criarem meio e fim, o herói metido em aventuras, o retrato psicológico e so-
uma arquitetura que falasse a linguagem cultural das pessoas. cial a mensagem política ou moral. Contra o modernismo, ele quer
Eles barateavam os projetos e suas execuções, resgatavam va- valorizar os objetos, que são analisados pelo olhar como câmara
lores simbólicos, organizavam o espaço e eram prestigiados com o cinematográfica, embaralha a ordem espacial e temporal dos acon-
retorno dos estilos passados. tecimentos, pretendem dizer que a realidade atual é impenetrável
Colocavam, humor, emoção, buscavam vida com as cores e e desordenada.
mantiam o equilíbrio combinatório de linhas e formas curvas com Na literatura como nas demais artes, o pós-modernismo é um
linhas e formas oblíquas, dava-se alegria e fantasia. monte de estilos convivendo sem brigas no mesmo saco.
Nos móveis aparecem com desenhos fantasiosos e revestimen- No Brasil a literatura apresenta apenas traços superficiais.
tos em cores berrantes, o ecletismo rompe a fronteira entre o bom Na música, dança, teatro e no cinema, há quebras do formalis-
e o mau gosto. mo surgem letras de músicas descontraídas, bailarinas gorduchas,
A Pop Art foi a primeira expressão pós-moderna nas artes altos efeitos especiais que nostalgia onde sempre reina o ecletismo
plásticas, objetos e imagens tiradas do consumo popular entravam e o minimalismo.
em cena. O pós-modernismo produz uma desordem fértil, sem precon-
No Brasil a Pop arte estará ligada na transformação da paisa- ceitos, sem hierarquias onde não há regras absolutas e que rompe
gem urbana e social do país após o golpe militar. as barreiras entre os gêneros.
O hiper-realismo ou fotorrealismo é uma forma de arte Pop e
pós-moderna, pois copiam minuciosamente em tinta acrílica, foto- Adeus às ilusões
grafias de automóveis, paisagens, fachadas, …Que depois são apre- O pós-modernismo desembarcou na filosofia de uma men-
sentados em tamanho natural ou monumental. sagem demolidora, mas os filósofos ocidentais disseram as coisas
A foto-realista no Brasil teve um abandono, na escultura, as pe- num determinado modo: “Desconstruir o discurso não é destruí-lo,
ças hiper vêm cobertas com matérias reais como, roupas, óculos, nem mostrar como foi construído, mas por a nu o não dito por trás
celofane, etc., e não representados com tintas acrílicas. do que foi falado. Com os pensadores pós-modernos, a filosofia e a
A antiarte pós-moderna inventou o minimalismo, onde a teoria própria cultura ocidental caíram sob um fogo cerrado”.
dizia: vamos tirar os traços estéticos do objeto artístico e reduzi-lo a Alguns filósofos pós-modernos não querem restaurar os valo-
estruturas primarias, apenas aquele mínimo que, de longe, lembra res antigos, mas desejam revelar sua falsidade e sua responsabili-
arte. dade nos problemas atuais, para isso eles lutam em duas frentes:
282
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
alunos. E uma mesma ação pode, para um aluno, indicar avanço em prévio com que o aluno iniciou a aprendizagem — a análise dos
relação a um critério estabelecido, e, para outro, não. Por isso, além seus avanços ao longo do processo, considerando que as manifes-
de necessitarem de indicadores precisos, os critérios de avaliação tações desses avanços não são lineares, nem idênticas.
devem ser tomados em seu conjunto, considerados de forma con- Fonte
textual e, muito mais do que isso, analisados à luz dos objetivos que BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais. Língua Portuguesa
realmente orientaram o ensino oferecido aos alunos. E se o propó- – Ensino Fundamental
sito é avaliar também o processo, além do produto, não há nenhum
instrumento de avaliação da aprendizagem melhor do que buscar
PARECER CNE/CEB N.º 11/2012 - DIRETRIZES CURRICU-
identificar por que o aluno teria dado as respostas que deu às si-
LARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
tuações que lhe foram propostas. A análise dos exemplos que se
TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO
seguem pretende contribuir para a reflexão sobre esses aspectos.
Diante de uma proposta de avaliação pautada pelo critério
PARECER CNE/CEB Nº: 11/2012
“Escrever textos considerando um leitor real, embora ausente...”,
o fato de não estar precisamente definido e caracterizado o perfil
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional
do destinatário poderia ter como consequência resultados abso-
Técnica de Nível Médio.
lutamente diferentes. Para muitos alunos a proposta demandaria
esforços de acréscimo de informações não previstas a priori, so-
I – RELATÓRIO
fisticação do vocabulário, maior cuidado na escolha das palavras
Em 20 de dezembro de 1996, foi sancionada a Lei nº 9.394,
para ser mais preciso, não utilização de redundâncias e repetições
que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB),
de informações já oferecidas, uso de uma maior quantidade e di-
atendendo ao mandato constitucional do inciso XXIV do art. 22 da
versidade de recursos de coesão, utilização de frases mais longas
Constituição Federal. Essa Lei consagra a Educação Profissional e
e períodos compostos, etc. O que, provavelmente, coincidiria com
Tecnológica entre os níveis e as modalidades de educação e ensi-
a expectativa do professor, visto que, teoricamente, a ausência do
no, situando-a na confluência de dois dos direitos fundamentais
interlocutor pressupõe um cuidado maior de adequação do texto
do cidadão: o direito à educação e o direito ao trabalho, consagra-
para garantir a compreensão do leitor. No entanto, a suposição de
dos no art. 227 da Constituição Federal como direito à profissiona-
que os leitores de seu texto seriam crianças de primeira série po-
lização, a ser garantido com absoluta prioridade.
deria levar um aluno com excelente desempenho textual a realizar
O capítulo da LDB sobre a Educação Profissional foi inicial-
um enorme esforço de ajuste de sua produção ao destinatário e es-
mente regulamentado pelo Decreto nº 2.208/97. Na sequência,
crever um “texto” como os de cartilha por considerá-lo adequado a
a Câmara de Educação Básica (CEB) do Conselho Nacional de Edu-
alunos dessa série. Nos dois casos teria havido excelente desempe-
cação (CNE), com base no Parecer CNE/CEB nº 16/99, instituiu as
nho em relação ao critério de adequação do texto ao leitor a que se
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de
destina, embora, do ponto de vista da qualidade do texto resultante
Nível Técnico pela Resolução CNE/CEB nº 4/99.
desse esforço, o desempenho fosse muito diferenciado (e, no caso
do aluno com o texto de qualidade discursiva inferior, isso nem seria
Em 23 de julho de 2004, o Decreto nº 2.208/97 foi substituído
indicativo de sua competência).
pelo Decreto nº 5.154/2004, o qual trouxe de volta a possibili-
Tomando-se outro critério, como, por exemplo, a autonomia
dade de integrar o Ensino Médio à Educação Profissional Técnica
progressiva na produção de textos escritos ao longo da escolarida-
de Nível Médio, a par das outras formas de organização e ofer-
de, um aparente indicador de progresso seria conseguir escrever
ta dessa modalidade de Educação Profissional e Tecnológica. Em
sem ajuda de terceiros, de maneira independente. Assim, se se
decorrência, a Câmara de Educação Básica do CNE atualizou as
considerar um aluno que solicitava constantemente a ajuda do pro-
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio e as Dire-
fessor para escrever e que deixa de fazê-lo, se concluiria que ele
trizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Técnica
tornou-se mais autônomo. Mas, nesse aspecto, recorrer ou não ao
de Nível Médio, por meio da Resolução CNE/CEB nº 1/2005, com
professor constantemente não é um indicador de autonomia, pois a
fundamento no Parecer CNE/CEB nº 39/2004.
independência para realizar uma tarefa não tem relação direta com
Posteriormente, a Resolução CNE/CEB nº 3/2008, que teve
a capacidade de realizá-la com autonomia: diferentes razões podem
como base o Parecer CNE/CEB nº 11/2008, dispôs sobre a insti-
levar um aluno a perguntar ou não enquanto produz. É necessário
tuição do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos de Nível Médio,
considerar para que e em quais situações os alunos solicitam aju-
sendo que seu art. 3º determina que os cursos constantes desse
da: um mesmo aluno, que anteriormente recorria ao professor ou
Catálogo sejam organizados por eixos tecnológicos definidores de
aos colegas sempre que deparava com um problema de ortografia,
um projeto pedagógico que contemple as trajetórias dos itinerá-
pode passar a fazê-lo apenas quando se defrontar com problemas
rios formativos e estabeleça exigências profissionais que direcio-
de pontuação, por exemplo. Nesse caso, pode ter ocorrido a apren-
nem a ação educativa das instituições e dos sistemas de ensino na
dizagem de um procedimento autônomo de consulta a materiais
oferta da Educação Profissional Técnica de Nível Médio.
escritos para a resolução das dificuldades ortográficas, mas o mes-
São significativas as alterações promovidas na LDB pela Lei
mo pode ainda não ter ocorrido com relação à pontuação. Embora
nº 11.741/2008, incorporando os dispositivos essenciais do De-
o procedimento geral de solicitação de ajuda não tenha mudado,
creto nº 5.154/2004, ao qual se sobrepôs, inserindo-os no marco
houve avanço com relação ao critério em um domínio específico.
regulatório da Educação Nacional. Essas alterações ocorreram no
É nesse contexto, portanto, que os critérios de avaliação devem
Titulo V da LDB. Foi inserida a seção IV-A do Capitulo II, que trata
ser compreendidos: por um lado, como aprendizagens indispensá-
“da Educação Básica”. Assim, além da seção IV, que trata “do Ensi-
veis ao final de um período; por outro, como referências que permi-
no Médio”, foi acrescentada a seção IV-A, que trata “da Educação
tem — se comparados aos objetivos do ensino e ao conhecimento
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
balho e Educação, e Educação de Jovens e Adultos”, da ANPED, 3. concluir este trabalho preliminar até a manhã do dia 6 de
manifestando discordância em relação ao texto da Comissão Es- maio, para que a Câmara de Educação Básica tenha condições de
pecial, reiterando, a título de “substitutivo”, o “Documento elabo- apreciá-lo conclusivamente e aprová-lo, em sua reunião ordinária
rado no âmbito do GT constituído pela SETEC, em 2010, intitulado do dia 9 de maio de 2012.
“Educação Profissional Técnica de Nível Médio em debate”, por
entender que o mesmo “expressa os conceitos e concepções que Por que novas Diretrizes?
vêm sendo assumidos pelo MEC, desde 2003, em relação à Edu- As atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
cação Profissional”. Profissional Técnica de Nível Médio, definidas pela Resolução
Com essa nova comunicação do Secretário da SETEC/MEC, a CNE/CEB nº 4/99, com base no Parecer CNE/CEB nº 16/99, foram
Câmara de Educação Básica decidiu interromper momentanea- elaboradas em um contexto específico de entendimento dos dis-
mente o debate em curso na Câmara e reorientá-lo para a identi- positivos legais da Lei nº 9.394/96 (LDB), os quais tinham sido re-
ficação dos reais pontos de discordância entre as duas posições. gulamentados pelo Decreto nº 2.208/97. No momento em que se
Em 19 de julho de 2011, a Portaria CNE/CEB n° 2/2011 consti- deu a definição dessas Diretrizes, entretanto, já estava em curso
tuiu Comissão Especial integrada pelos seguintes Conselheiros: na sociedade brasileira um grande debate sobre as novas relações
Adeum Hilário Sauer, Francisco Aparecido Cordão, José Fernandes de trabalho e suas consequências nas formas de execução da Edu-
de Lima e Mozart Neves Ramos, os quais decidiram assumir em cação Profissional.
conjunto a relatoria do Parecer. Buscou-se, então, identificar pon- Esse debate já se encontrava bastante aprofundado quando
tos de consenso a partir dos quais seria possível encontrar uma ocorreu a substituição do Decreto nº 2.208/97 pelo Decreto nº
solução satisfatória para todos os envolvidos e que garantisse, não 5.154/2004. Imediatamente, a CEB atualizou as referidas Diretri-
apenas a manutenção, mas principalmente o aprimoramento da zes Curriculares Nacionais pela Resolução CNE/CEB nº 3/2005,
necessária qualidade da Educação Profissional e Tecnológica. Esta com base no Parecer CNE/CEB nº 39/2004. Posteriormente, os
é, inclusive, uma das prioridades manifestas do Senhor Ministro dispositivos regulamentares do Decreto nº 5.154/2004 foram re-
da Educação e da Senhora Presidente da República no Projeto de trabalhados no âmbito do Ministério da Educação e encaminha-
Lei no qual o Executivo apresentou ao Congresso Nacional suas dos à apreciação do Congresso Nacional como Projeto de Lei, o
propostas para o Plano Nacional de Educação no decênio 2011- qual resultou na Lei nº 11.741/2008, que promoveu importantes
2020, bem como em relação à Lei nº 12.513/2011, que instituiu o alterações na atual LDB, especialmente em relação à Educação
Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRO- Profissional e Tecnológica.
NATEC), com a finalidade de ampliar a oferta de Educação Profis- O momento histórico se destacou pela realização de impor-
sional e Tecnológica dos trabalhadores brasileiros. tantes debates sobre a matéria, os quais eram travados no âmbi-
Após a definição de um novo roteiro para a redação do Pa- to do próprio Ministério da Educação e deste Conselho Nacional
recer de atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais para a de Educação, bem como da comunidade educacional interessa-
Educação Profissional Técnica de Nível Médio, a CEB decidiu ado- da. Além disso, neste período de mais de uma década decorri-
tar uma nova sistemática de relatoria conjunta do Parecer e do da da aprovação do primeiro conjunto de Diretrizes Curriculares
anexo Projeto de Resolução, os quais passaram a ser relatados por Nacionais, transformações no mundo do trabalho se consolida-
todos os integrantes da Comissão Especial constituída no âmbito ram, promovendo uma verdadeira mudança de eixo nas relações
da Câmara de Educação Básica. O objetivo último almejado era entre trabalho e educação. A própria natureza do trabalho está
o de concluir com sucesso este Parecer ao longo do primeiro tri- passando por profundas alterações, a partir do momento em que
mestre do corrente ano, uma vez que esse debate já está ultra- o avanço científico e tecnológico, em especial com a mediação
passando seu segundo ano de estudos no âmbito da Câmara de da microeletrônica, abalou profundamente as formas tayloristas
Educação Básica do Conselho Nacional de Educação. e fordistas de organização e gestão do trabalho, com reflexos di-
Entretanto, na reunião ordinária do dia 7 de março de 2012, a retos nas formas de organização da própria Educação Profissional
qual contou com as honrosas presenças dos novos Secretários de e Tecnológica.
Educação Profissional e Tecnológica, Marco Antonio de Oliveira, e A nova realidade do mundo do trabalho, decorrente, sobre-
de Educação Básica, Cesar Callegari, à vista das inúmeras suges- tudo, da substituição da base eletromecânica pela base micro-
tões que ainda estavam sendo encaminhadas ao Conselho Nacio- eletrônica, passou a exigir da Educação Profissional que propicie
nal de Educação e ao próprio Ministério da Educação, decidiu-se ao trabalhador o desenvolvimento de conhecimentos, saberes e
adotar providências, de acordo com o seguinte calendário, em competências profissionais complexos.
relação à elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Essas novas Diretrizes, obviamente, devem considerar a Edu-
Educação Profissional Técnica de Nível Médio: cação Profissional e Tecnológica, sobretudo, como um direito so-
1. disponibilizar no site do Conselho Nacional de Educação e cial inalienável do cidadão, em termos de direito do trabalhador
no Site da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica, no ao conhecimento. A Constituição Federal, em seu art. 6º, ao elen-
Portal do MEC, a última versão das referidas Diretrizes Curricula- car os direitos sociais do cidadão brasileiro, relaciona os direitos
res Nacionais, em regime de Consulta Pública Nacional, até o dia à educação e ao trabalho. O art. 227 da Constituição Federal des-
19 de abril do corrente ano; taca o direito à profissionalização entre os direitos fundamentais
2. realizar, no Auditório “Professor Anísio Teixeira”, em Brasí- a serem assegurados com absoluta prioridade pela família, pela
lia, na sede do Conselho Nacional de Educação, no dia 9 de abril sociedade e pelo Estado. O art. 205 da Carta Magna define que
de 2012, no horário das 14 às 18 horas, uma nova e conclusiva a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
audiência pública nacional sobre as referidas Diretrizes Curricula- promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visan-
res Nacionais; do ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exer-
cício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. A formação
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
o monopólio do conhecimento técnicocientífico e organizacional iniciativa própria e espírito empreendedor, bem como capacidade
cabia, quase sempre, apenas aos níveis gerenciais. Nesse ambien- de visualização e resolução de problemas. O que é necessário, pa-
te, a baixa escolaridade da massa trabalhadora não era considera- ralelamente, acompanhando de perto o que já vem sendo histo-
da entrave significativo à expansão econômica. A partir da década ricamente constituído como processo de luta dos trabalhadores,
de 80, as novas formas de organização e de gestão do trabalho é reverter tais exigências do mercado de trabalho com melhor re-
começaram a passar por modificações estruturais cada vez mais muneração, que sejam suficientes para garantir condições de vida
aprofundadas. Um novo cenário econômico e produtivo começou digna, mantendo os direitos já conquistados.
a ser desenhado e se estabeleceu com o desenvolvimento e em-
prego de tecnologias complexas agregadas à produção e à presta- Perspectivas de desenvolvimento do mundo do trabalho
ção de serviços e pela crescente internacionalização das relações A atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais para Edu-
econômicas. cação Profissional Técnica de Nível Médio, ultrapassando os li-
Em consequência, passou-se a requerer, cada vez mais, sóli- mites do campo estritamente educacional, considera o papel da
da base de educação geral para todos os trabalhadores; Educação Educação Profissional e Tecnológica no desenvolvimento do mun-
Profissional básica aos não qualificados; qualificação profissional do do trabalho, na perspectiva da formação integral do cidadão
de técnicos; e educação continuada, para atualização, aperfeiçoa- trabalhador. Portanto, deverá conduzir à superação da clássica
mento, especialização e requalificação de trabalhadores. A partir divisão historicamente consagrada pela divisão social do trabalho
das décadas de 70 e 80 do último século, multiplicaram-se estu- entre os trabalhadores comprometidos com a ação de executar e
dos referentes aos impactos das novas tecnologias, que revelaram aqueles comprometidos com a ação de pensar e dirigir ou plane-
a exigência de profissionais cada vez mais polivalentes e capazes jar e controlar a qualidade dos produtos e serviços oferecidos à
de interagir em situações novas e em constante mutação. Como sociedade.
resposta a este desafio, escolas e instituições de Educação Pro- Observa-se atualmente a existência de um aparentemente
fissional buscaram diversificar programas e cursos profissionais, claro consenso dos diversos atores sociais quanto à real impor-
atendendo novas áreas profissionais, estruturando programa- tância da Educação Profissional e Tecnológica para o desenvolvi-
ções diversificadas e articuladas por eixos tecnológicos, elevan- mento do país. Entretanto, existem divergências profundas tanto
do os níveis de qualidade da oferta. Os empregadores passaram em relação ao significado desse desenvolvimento, que deve ser
a exigir trabalhadores cada vez mais qualificados, uma vez que entendido como sustentável e solidário, bem como quanto ao
equipamentos e instalações complexas requerem trabalhadores papel a ser desempenhado pela própria Educação Profissional e
com níveis de educação e qualificação cada vez mais elevados. As Tecnológica nesse processo.
mudanças aceleradas no sistema produtivo passaram a exigir uma Em relação ao desenvolvimento social, explicita-se a clara re-
permanente atualização das qualificações e habilitações existen- jeição aos modelos tradicionais excludentes e não sustentáveis,
tes, a partir da identificação de novos perfis profissionais. os quais, social e ambientalmente, envolvem concentração de
Por outro lado, o exercício profissional de atividades técnicas renda e submissão à clássica divisão internacional do trabalho. É
de nível médio vem passando por grande mutação, decorrente de inaceitável um modelo de desenvolvimento econômico centrado
mudanças de ordem sociopolítica que implicam na construção de na dilapidação da força de trabalho e das riquezas naturais, bem
uma nova sociedade que enfatiza a cidadania, superadas, assim, como no estimulo à competição, na promoção do individualismo
as condicionantes econômicas impostas pelo mercado de traba- e destruição dos valores essenciais das culturas populares. Em seu
lho. lugar, numa perspectiva inclusiva, defende-se um modelo de de-
Atualmente, não se concebe uma Educação Profissional iden- senvolvimento socioeconômico e ambiental no qual a inserção do
tificada como simples instrumento de política assistencialista ou Brasil no mundo se dê de forma independente, garantindo a cada
linear ajustamento às demandas do mercado de trabalho, mas um, individual e coletivamente, a apropriação dos benefícios de
sim como importante estratégia para que os cidadãos tenham tal desenvolvimento. Este entendimento caminha na esteira dos
efetivo acesso às conquistas científicas e tecnológicas da socie- movimentos sociais que afirmam, nas sucessivas edições do Fó-
dade. Impõe-se a superação do enfoque tradicional da formação rum Social Mundial, que é possível, viável e desejável a constru-
profissional baseado apenas na preparação para execução de um ção de um outro mundo muito melhor e que seja efetivamente
determinado conjunto de tarefas a serem executadas. A Educação inclusivo, sustentável e solidário.
Profissional requer, além do domínio operacional de um determi- Nesta perspectiva, deve-se adotar uma concepção educacio-
nado fazer, a compreensão global do processo produtivo, com a nal que não considere a educação como a única variável de salva-
apreensão do saber tecnológico, a valorização da cultura do traba- ção do país e a Educação Profissional e Tecnológica como a porta
lho e a mobilização dos valores necessários à tomada de decisões estreita da empregabilidade, até mesmo porque nunca houve e
no mundo do trabalho. nem haverá congruência direta entre curso realizado e emprego
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Pro- obtido ou trabalho garantido. É bastante evidente que a Educação
fissional Técnica de Nível Médio, portanto, devem estar centra- Profissional e Tecnológica não é uma condição individual necessá-
das exatamente nesse compromisso de oferta de uma Educação ria para o ingresso e a permanência do trabalhador no mercado
Profissional mais ampla e politécnica. As mudanças sociais e a de trabalho, que não pode ser considerada como de responsa-
revolução científica e tecnológica, bem como o processo de re- bilidade única e exclusiva dos trabalhadores, como se houvesse
organização do trabalho demandam uma completa revisão dos relação causal direta entre a Educação Profissional e Tecnológica
currículos, tanto da Educação Básica como um todo, quanto, par- e nível de empregabilidade do trabalhador certificado. Para tanto,
ticularmente, da Educação Profissional, uma vez que é exigido dos é essencial desmistificar a pretensa correspondência direta entre
trabalhadores, em doses cada vez mais crescentes, maior capa- qualificação ou habilitação profissional e emprego ou oportunida-
cidade de raciocínio, autonomia intelectual, pensamento crítico, des de trabalho. Esta relação linear e fictícia é fortemente disse-
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
com a orientação, a formação e a qualificação profissional para o res para enfrentar os desafios cada vez mais complexos do dia a
trabalho. O objetivo dessa política pública é o de propiciar auto- dia de sua vida profissional e social, como ressalta a Recomenda-
nomia intelectual, de tal forma que, a cada mudança científica e ção nº 195/2004 da OIT.
tecnológica, o cidadão consiga por si próprio formar-se ou buscar O futuro do trabalho no mundo dependerá, em grande parte,
a formação necessária para o desenvolvimento de seu itinerário do desenvolvimento da educação, desde que se consiga garantir
profissional. sólida educação geral de base para todos e cada um dos seus ci-
A qualidade da oferta da tríade Educação Básica, formação dadãos, associada a sólidos programas de Educação Profissional
profissional e aprendizagem ao longo da vida contribui significa- para seus jovens em processo formativo e seus adultos em busca
tivamente para a promoção dos interesses individuais e coletivos de requalificação para o trabalho. Depende, também, fundamen-
dos trabalhadores e dos empregadores, bem como dos interes- talmente, do desenvolvimento da capacidade de aprender, para
ses sociais do desenvolvimento socioeconômico, especialmente, continuar aprendendo neste mundo em constante processo de
tendo em conta a importância fundamental do pleno emprego, mudanças. A descrição exata do futuro do trabalho, portanto, é
da erradicação da pobreza, da inclusão social e do crescimento a descrição de uma realidade nem de longe imaginada na virada
econômico sustentado. do século e que será totalmente transformada daqui a outros dez
A importância desta referência à recomendação da OIT num anos ou mais. O que se vislumbra nesse novo ambiente profissio-
documento orientador da definição de Diretrizes Curriculares nal é um trabalho executado basicamente em equipe e orientado
Nacionais para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio para a solução de problemas cada vez mais complexos, oferecen-
objetiva enfatizar a necessidade de se partir da identificação das do-lhes respostas cada vez mais flexíveis, criativas e inusitadas.
necessidades do mundo do trabalho e das demandas da socie- Nesta nova realidade, é impossível para todos os cidadãos e em
dade, para se promover o planejamento e o desenvolvimento de especial para os trabalhadores passar algum minuto sem apren-
atividades de Educação Profissional e Tecnológica. A análise da der. Esse processo de aprendizagem permanente, inclusive na
relação entre essas necessidades e o conhecimento profissional Educação Profissional e Tecnológica, deve contribuir efetivamente
que hoje é requerido do trabalhador no atual contexto do mundo para a melhoria do mundo do trabalho, propiciando aos trabalha-
do trabalho, cada vez mais complexo, exige a transformação das dores os necessários instrumentos para que possam romper com
aprendizagens em saberes integradores da prática profissional. os mecanismos que os habilitam exclusivamente para a reprodu-
Além da defasagem que há em relação aos conhecimentos ção do status quo do capitalismo.
básicos, constatados por avaliações nacionais e internacionais,
duas outras condições surgidas neste início de século modifica- Conceitos e princípios
ram significativamente os requisitos para o ingresso dos jovens O Parecer CNE/CEB nº 7/2010, ao tratar das Diretrizes Cur-
no mundo do trabalho: de um lado, a globalização dos meios de riculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, entende que
produção, do comércio e da indústria, e de outro, a utilização cres- “toda política curricular é uma política cultural, pois o currículo
cente de novas tecnologias, de modo especial, aquelas relaciona- é fruto de uma seleção e produção de saberes: campo conflitu-
das com a informatização. Essas mudanças significativas ainda oso de produção de cultura, de embate entre pessoas concretas,
não foram devidamente incorporadas pelas escolas de hoje, o que concepções de conhecimento e aprendizagem, formas de imagi-
reflete diretamente no desenvolvimento profissional dos traba- nar e perceber o mundo. Assim, as políticas curriculares não se
lhadores. Superar essa falha na formação dos nossos estudantes resumem apenas a propostas e práticas enquanto documentos
do Ensino Médio e também da Educação Profissional é essencial escritos, mas incluem os processos de planejamento, vivencia-
para garantir seu desenvolvimento e sua cidadania. dos e reconstruídos em múltiplos espaços e por múltiplas singu-
As instituições internacionais de Educação Profissional nos laridades no corpo social da educação.” Para o referido Parecer,
têm ensinado que a melhor maneira para desenvolver os saberes as fronteiras “são demarcadas quando se admite tão somente a
profissionais dos trabalhadores está na sua inserção nas várias di- ideia de currículo formal. Mas as reflexões teóricas sobre currí-
mensões da cultura, da ciência, da tecnologia e do trabalho, bem culo têm como referência os princípios educacionais garantidos à
como de sua contextualização, situando os objetivos de apren- educação formal. Estes estão orientados pela liberdade de apren-
dizagem em ambiente real de trabalho. Esta perspectiva indica der, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte
que é errada a orientação para planejar as atividades educacio- e o conhecimento científico, além do pluralismo de ideias e de
nais primeiramente para se aprender teoricamente o que terão concepções pedagógicas, assim como a valorização da experiên-
de colocar em prática em seus futuros trabalhos. Ao contrário, o cia extraescolar, e a vinculação entre a educação escolar, o traba-
que se exige é o desenvolvimento de metodologias de ensino di- lho e as práticas sociais. Assim, e tendo como base o teor do art.
ferenciadas, garantindo o necessário “pluralismo de ideias e de 27 da LDB, pode-se entender que o processo didático em que se
concepções pedagógicas” (inciso II do art. 3º da LDB) e que rela- realizam as aprendizagens fundamenta-se na diretriz que assim
cionem permanentemente “a teoria com a prática, no ensino de delimita o conhecimento para o conjunto de atividades: ‘Os con-
cada disciplina” (inciso IV do art. 35 da LDB). teúdos curriculares da Educação Básica observarão, ainda, as se-
A escolha por um determinado fazer deve ser intencional- guintes diretrizes: a difusão de valores fundamentais ao interesse
mente orientada pelo conhecimento científico e tecnológico. social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem co-
Este, por sua vez, não deve ser ensinado de forma desconectada mum e à ordem democrática; consideração das condições de es-
da realidade do mundo do trabalho. Este ensino integrado é a me- colaridade dos estudantes em cada estabelecimento; orientação
lhor ferramenta que a instituição educacional ofertante de cursos para o trabalho; promoção do desporto educacional e apoio às
técnicos de nível médio pode colocar à disposição dos trabalhado- práticas desportivas não formais’. Desse modo, os valores sociais,
bem como os direitos e deveres dos cidadãos, relacionam-se com
o bem comum e com a ordem democrática. Estes são conceitos
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
tanto lhe atesta quanto lhe confere liberdade e universalidade. somente possibilita o acesso a conhecimentos científicos, mas
Desta forma, produz conhecimentos que, sistematizados sob o cri- também promove a reflexão crítica sobre os padrões culturais que
vo social e por um processo histórico, constitui a ciência. Nesses se constituem normas de conduta de um grupo social, assim como
termos, compreende-se o conhecimento como uma produção do a apropriação de referências e tendências que se manifestam em
pensamento pela qual se apreende e se representam as relações tempos e espaços históricos, os quais expressam concepções, pro-
que constituem e estruturam a realidade. Apreender e determi- blemas, crises e potenciais de uma sociedade, que se vê traduzi-
nar essas relações exige um método, que parte do concreto em- da e/ou questionada nas suas manifestações. Assim, evidencia-se
pírico – forma como a realidade se manifesta – e, mediante uma a unicidade entre as dimensões científicotecnológico-cultural, a
determinação mais precisa através da análise, chega a relações partir da compreensão do trabalho em seu sentido ontológico. O
gerais que são determinantes do fenômeno estudado. A compre- princípio da unidade entre pensamento e ação é correlato à bus-
ensão do real como totalidade exige que se conheçam as partes e ca intencional da convergência entre teoria e prática na ação hu-
as relações entre elas, o que nos leva a constituir seções tematiza- mana. A relação entre teoria e prática se impõe, assim, não ape-
das da realidade. Quando essas relações são ‘arrancadas’ de seu nas como princípio metodológico inerente ao ato de planejar as
contexto originário e ordenadas, tem-se a teoria. A teoria, então, ações, mas, fundamentalmente, como princípio epistemológico,
é o real elevado ao plano do pensamento. Sendo assim, qualquer isto é, princípio orientador do modo como se compreende a ação
fenômeno que sempre existiu como força natural só se constitui humana de conhecer uma determinada realidade e intervir sobre
em conhecimento quando o ser humano dela se apropria tornan- ela no sentido de transformá-la. A unidade entre pensamento e
do-a força produtiva para si. Por exemplo, a descarga elétrica, os ação está na base da capacidade humana de produzir sua exis-
raios, a eletricidade estática como fenômenos naturais sempre tência. É na atividade orientada pela mediação entre pensamento
existiram, mas não são conhecimentos enquanto o ser humano e ação que se produzem as mais diversas práticas que compõem
não se apropria desses fenômenos conceitualmente, formulando a produção de nossa vida material e imaterial: o trabalho, a ci-
teorias que potencializam o avanço das forças produtivas. ência, a tecnologia e a cultura. Por essa razão trabalho, ciência,
A ciência, portanto, que pode ser conceituada como conjun- tecnologia e cultura são instituídas como base da proposta e do
to de conhecimentos sistematizados, produzidos socialmente ao desenvolvimento curricular no Ensino Médio de modo a inserir o
longo da história, na busca da compreensão e transformação da contexto escolar no diálogo permanente com a necessidade de
natureza e da sociedade, se expressa na forma de conceitos re- compreensão de que estes campos não se produzem indepen-
presentativos das relações de forças determinadas e apreendidas dentemente da sociedade, e possuem a marca da sua condição
da realidade. O conhecimento de uma seção da realidade con- histórico-cultural.
creta ou a realidade concreta tematizada constitui os campos da Quanto à concepção do trabalho como princípio educativo,
ciência, que são as disciplinas científicas. Conhecimentos assim assim se manifesta o referido Parecer da CEB:
produzidos e legitimados socialmente ao longo da história são re- A concepção do trabalho como princípio educativo é a base
sultados de um processo empreendido pela humanidade na busca para a organização e desenvolvimento curricular em seus objeti-
da compreensão e transformação dos fenômenos naturais e so- vos, conteúdos e métodos. Considerar o trabalho como princípio
ciais. Nesse sentido, a ciência conforma conceitos e métodos cuja educativo equivale a dizer que o ser humano é produtor de sua re-
objetividade permite a transmissão para diferentes gerações, ao alidade e, por isto, dela se apropria e pode transformá-la. Equivale
mesmo tempo em que podem ser questionados e superados his- a dizer, ainda, que é sujeito de sua história e de sua realidade. Em
toricamente, no movimento permanente de construção de novos síntese, o trabalho é a primeira mediação entre o homem e a rea-
conhecimentos. A extensão das capacidades humanas, mediante lidade material e social. O trabalho também se constitui como prá-
a apropriação de conhecimentos como força produtiva, sintetiza o tica econômica porque garante a existência, produzindo riquezas
conceito de tecnologia aqui expresso. Pode ser conceituada como e satisfazendo necessidades. Na base da construção de um pro-
transformação da ciência em força produtiva ou mediação do co- jeto de formação está a compreensão do trabalho no seu duplo
nhecimento científico e a produção, marcada desde sua origem sentido – ontológico e histórico. Pelo primeiro sentido, o trabalho
pelas relações sociais que a levaram a ser produzida. é princípio educativo à medida que proporciona a compreensão
O desenvolvimento da tecnologia visa à satisfação de necessi- do processo histórico de produção científica e tecnológica, como
dades que a humanidade se coloca, o que nos leva a perceber que conhecimentos desenvolvidos e apropriados socialmente para a
a tecnologia é uma extensão das capacidades humanas. A partir transformação das condições naturais da vida e a ampliação das
do nascimento da ciência moderna, pode-se definir a tecnologia, capacidades, das potencialidades e dos sentidos humanos. O tra-
então, como mediação entre conhecimento científico (apreensão balho, no sentido ontológico, é princípio e organiza a base unitá-
e desvelamento do real) e produção (intervenção no real). Enten- ria do Ensino Médio. Pelo segundo sentido, o trabalho é princípio
de-se cultura como o resultado do esforço coletivo tendo em vista educativo na medida em que coloca exigências específicas para o
conservar a vida humana e consolidar uma organização produtiva processo educacional, visando à participação direta dos membros
da sociedade, do qual resulta a produção de expressões materiais, da sociedade no trabalho socialmente produtivo. Com este sen-
símbolos, representações e significados que correspondem a va- tido, conquanto também organize a base unitária, fundamenta e
lores éticos e estéticos que orientam as normas de conduta de justifica a formação específica para o exercício de profissões, estas
uma sociedade. entendidas como forma contratual socialmente reconhecida, do
Por essa perspectiva, a cultura deve ser compreendida no seu processo de compra e venda da força de trabalho. Como razão da
sentido mais ampliado possível, ou seja, como a articulação entre formação específica, o trabalho aqui se configura também como
o conjunto de representações e comportamentos e o processo contexto. Do ponto de vista organizacional, essa relação deve in-
dinâmico de socialização, constituindo o modo de vida de uma tegrar em um mesmo currículo a formação plena do educando,
população determinada. Uma formação integral, portanto, não possibilitando construções intelectuais mais complexas; a apro-
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