INSTITUTO SUPERIOR MUTASA
Trabalho de Pesquisa
Cadeira de História de Moçambique II
2ano
Licenciatura em História e Geografia
Tema:
Teorias do surgimento de cidades-estados
Nomes:
Bonda Victorino
Docente: Mário Simões Tauzene
Beira; Março de 2025
Teorias do surgimento de cidades-estados
O surgimento das cidades-estados é um tema que envolve múltiplas teorias e interpretações
dentro da história e da ciência social. Uma cidade-estado é uma forma de organização política
que, em geral, consiste em uma cidade autónoma com um governo centralizado e que exerce
controle sobre um território circundante, com fronteiras bem definidas e uma organização
política e administrativa própria. Esse modelo foi predominante nas civilizações antigas, como
na Mesopotâmia, Grécia e Roma, e suas origens são objecto de várias explicações teóricas. A
seguir, abordaremos algumas das principais teorias do surgimento das cidades-estados.
1. Teoria Económica ou Materialista
A teoria económica, com destaque para a abordagem materialista histórica, associada ao
pensamento de Karl Marx, busca explicar o surgimento das cidades-estados a partir das
transformações nas bases materiais e econômicas das sociedades. De acordo com essa visão, as
cidades-estados surgem como uma consequência das mudanças nas formas de produção e na
divisão do trabalho.
À medida que a agricultura e a domesticação de animais se tornam mais desenvolvidas, as
sociedades começam a produzir excedentes alimentares. Esse excedente permite que algumas
pessoas se dediquem a atividades não relacionadas diretamente à produção de alimentos, como o
comércio, a administração e as artes. Com isso, surgem as primeiras formas de especialização
social, e, consequentemente, a necessidade de uma organização política centralizada para
gerenciar esses recursos e a distribuição de poder.
A centralização do poder em uma cidade-estado surge, portanto, como uma forma de controlar e
organizar esses excedentes, garantindo que as elites econômicas possam manter seu controle
sobre os recursos e a força de trabalho. A divisão entre classes sociais e o surgimento de um
sistema de estratificação social são fenômenos que acompanham o nascimento das primeiras
cidades-estados.
2. Teoria Política e da Defesa
A teoria política do surgimento das cidades-estados foca na necessidade de defesa e na segurança
como fatores centrais para o seu desenvolvimento. De acordo com essa abordagem, as cidades-
estados surgem como uma resposta à vulnerabilidade das primeiras comunidades agrícolas frente
a invasões ou ataques de grupos externos.
Com o crescimento populacional e o aumento da concentração de bens e recursos, as sociedades
se tornam alvos mais fáceis de ataque. Para se proteger, as comunidades começam a construir
fortificações, como muros e torres de observação, e a organizar suas forças de defesa. Nesse
contexto, uma liderança centralizada torna-se necessária para coordenar os esforços de defesa, a
organização do trabalho militar e a gestão do território.
A concentração de poder em uma cidade-estado seria, portanto, um reflexo da necessidade de
organização política para garantir a sobrevivência e a proteção do povo. Essas cidades-estados se
tornariam fortaleza e centro de poder, com suas instituições políticas voltadas para a preservação
da segurança e da ordem interna.
3. Teoria Cultural e Religiosa
Outro conjunto de explicações para o surgimento das cidades-estados destaca o papel das crenças
culturais e religiosas na formação das primeiras formas de organização política. De acordo com
essa teoria, as cidades-estados surgem a partir da centralização das práticas religiosas e da
construção de templos ou centros sagrados.
Em muitas sociedades antigas, a religião desempenhou um papel fundamental na legitimação do
poder político. Os sacerdotes ou líderes religiosos frequentemente exerciam uma autoridade
considerável, e os templos se tornavam não apenas centros espirituais, mas também centros
administrativos e econômicos. O poder religioso podia ser utilizado para justificar a autoridade
dos governantes e assegurar a coesão social.
Com o tempo, essas cidades-estado religiosas se expandem, formando uma unidade política que
vai além do espaço sagrado e se estende para a organização social e a administração das terras e
dos recursos. Em algumas culturas, como nas antigas civilizações mesopotâmicas, egípcias e
maias, o rei ou governante era considerado uma figura divina ou semi-divina, o que reforçava
ainda mais a centralização do poder.
4. Teoria Sociológica: A Complexidade Social e a Divisão do Trabalho
A teoria sociológica, baseada nas ideias de pensadores como Max Weber e Émile Durkheim,
propõe que as cidades-estados surgem como uma resposta à complexificação das sociedades e à
necessidade de uma administração mais eficiente.
À medida que as comunidades se tornam maiores e mais complexas, com maior divisão do
trabalho e formas mais sofisticadas de comércio e economia, há uma necessidade crescente de
instituições que organizem essas funções sociais. O surgimento da escrita, a contabilidade e a
gestão de tributos são exemplos de práticas que necessitam de uma estrutura burocrática. Isso
resulta na formação de uma elite administrativa capaz de gerir os recursos e organizar a
sociedade de maneira mais eficiente.
O modelo de cidade-estado surge então como um sistema que responde à complexidade
crescente das relações sociais, com uma forte burocracia para lidar com as questões políticas,
econômicas e sociais. Além disso, a cidade-estado funciona como um ponto de convergência
para a circulação de pessoas, ideias e bens, refletindo a sofisticação das sociedades.
5. Teoria Ecológica ou Ambiental
Algumas abordagens mais contemporâneas tentam explicar o surgimento das cidades-estados a
partir de fatores ecológicos ou ambientais. Essas teorias argumentam que as condições
ambientais desempenharam um papel crucial no desenvolvimento das primeiras cidades.
Segundo essa perspectiva, as primeiras cidades-estados surgiram em regiões com recursos
naturais abundantes, como rios ou terras férteis, que permitiram a agricultura intensiva e o
desenvolvimento de uma sociedade mais complexa. A abundância de água, por exemplo, teria
possibilitado o crescimento de comunidades agrícolas que, por sua vez, levariam ao aumento
populacional e à necessidade de uma maior organização política.
Ao mesmo tempo, o controle dos recursos naturais e a capacidade de gerenciar o uso da terra e
da água tornaram-se fatores determinantes para o surgimento da cidade-estado. A capacidade de
desenvolver infraestrutura, como canais de irrigação ou sistemas de defesa contra inundações,
exigia uma coordenação centralizada e, por isso, gerava a necessidade de uma estrutura política
autônoma.