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Damaged by You - Camilla Carneiro

O livro 'Damaged by You' de Camilla Carneiro é uma obra de ficção que explora a complexa relação entre Philippa e Asher, dois irmãos postiços que enfrentam desafios emocionais e pessoais. A narrativa aborda temas como amor, ódio e superação, enquanto a protagonista, Victoria, foge de um passado conturbado com sua filha, buscando refúgio na casa de um antigo amigo. O livro é recomendado para maiores de 18 anos e contém gatilhos relacionados a abuso e dependência.

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leticiamkoide08
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
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Damaged by You - Camilla Carneiro

O livro 'Damaged by You' de Camilla Carneiro é uma obra de ficção que explora a complexa relação entre Philippa e Asher, dois irmãos postiços que enfrentam desafios emocionais e pessoais. A narrativa aborda temas como amor, ódio e superação, enquanto a protagonista, Victoria, foge de um passado conturbado com sua filha, buscando refúgio na casa de um antigo amigo. O livro é recomendado para maiores de 18 anos e contém gatilhos relacionados a abuso e dependência.

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DAMAGED BY YOU

COPYRIGHT © 2025 CAMILLA CARNEIRO


Todos os direitos reservados

Esta obra foi revisada conforme o Novo Acordo Ortográfico.

Estão proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer


parte desta obra, através de quaisquer meios ― tangível ou
intangível ― sem o devido consentimento. A violação dos direitos
autorais é crime estabelecido pela Lei nº 9.610/98 e punido pelo
artigo 184 do Código Penal.

Esta obra literária é uma ficção. Qualquer nome, lugar, personagens


e situações são produtos da imaginação do autor. Qualquer
semelhança com pessoas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

Capa: Gialui Design


Revisão: Ana Mércia
Ilustração: Gabriela Gois

Damaged by You
[Recurso Digital] /Camila Carneiro — 1ª Edição; 2025
1. Romance Contemporâneo 2. Literatura Brasileira 3. New Adult 4. Ficção I.
Título
SUMÁRIO
NOTAS DA AUTORA
DEDICATÓRIA
PLAYLIST
EPÍGRAFE
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18

Í
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
EPÍLOGO

Í Ô
CAPÍTULO BÔNUS
Agradecimentos
Mais do Camiverso
Oie, aqui é a Camilla, autora deste livrinho e vários outros
(que vocês podem ler na minha página da Amazon quando
terminarem esse).
Acho que não é surpresa para ninguém que uma das tropes
que eu mais gosto é de irmãos postiços — só Deus sabe o quanto eu
já consumi disso — e eu não poderia não contar a história de
Philippa e Asher.
Eles são explosivos.
Caóticos.
Totalmente danificados pela vida — ou é o que acreditam.
E claro, eles se detestam mais do que tudo no mundo.
Até perceberem que há uma linha tênue entre amor e ódio e
eles estão prestes a cruzá-la.
Pippa e Ash são meus protegidos.
Meus filhos muito amados.
Eles não são perfeitos.
Eles cometem erros.
Mas é isso que faz eles serem eles.
Espero que vocês gostem de acompanhar a sua jornada.
Lembrando que o livro é recomendado para maiores de 18
anos e contém gatilhos como: menção a abuso de mulheres e
menores de idade, uso de álcool e drogas ilícitas, atividades
perigosas.
É isso por hoje.
Uma boa leitura!
Os irmãos postiços estão ansiosos para que vocês o
conheçam.

Com amor,
Cami.
Para todas aquelas garotas que colocam a felicidade das pessoas
que amam acima da sua, em todo e qualquer momento.
Às vezes, você também precisa ser amada e amar, e para isso, ser a
número um no seu ranking de importância da vida.
Confie em mim: há espaço para todos serem felizes, como
desejarem, nesse mundo.
“Não há nada mais poeticamente inspirador do que amar
a pessoa certa, no lugar errado, na hora errada.”
L.J Shen, Pretty Reckless
Minha mão foi a que você procurou por
Durante toda a Grande Guerra
Sempre se lembre
Uh-huh, lágrimas na carta
Eu jurei não chorar mais
Se sobrevivêssemos à Grande Guerra
Ela se transformou em algo maior
[...]
Essa foi a noite em que quase perdi você
Eu realmente pensei que tinha perdido você
The Great War | Taylor Swift

alguns anos antes

É meados de primavera e o clima no Canadá é congelante.


A brisa fria bate com força contra meu rosto e eu sei que
daqui a algumas horas, Philippa estará com o nariz entupido e,
quem sabe, febre.
Desço os olhos para minha filha, que caminha
silenciosamente ao meu lado nesta noite pelo bairro de Belgravia.
Ela está bem agasalhada. O casaco rosa — sua cor preferida — de
inverno está abotoado até o seu pescoço, o cachecol bem enrolado e
as botas felpudas por dentro parecem estar dando conta do recado.
Não pensei muito quando decidi ir embora de Carterville[1] e
deixar tudo para trás, muito menos me atentei na diferença brusca
de temperatura entre a Edmonton e minha antiga cidade, em
Oregon, nos Estados Unidos. Quando saímos de lá essa manhã, os
termômetros marcavam por volta dos vinte e poucos graus.
E aqui, pelo aplicativo do tempo no meu celular, está beirando
os cinco.
Cinco graus em plena primavera!
Como cheguei à conclusão de que seria uma boa ideia?
Porque era o único lugar que você tinha para ir.
Suspiro, empurrando a única mala grande que trouxemos,
além das mochilas que cada uma carrega nas costas. Eu não queria
levantar suspeitas e fazer com que essa notícia chegasse nele, e por
isso, espalhei para algumas pessoas próximas que estava indo viajar
com Philippa durante o fim de semana.
O que eles não imaginam, é que nunca mais colocarei os pés
em Carterville.
Queria poder dizer que foi um erro ter me casado e mudado
toda minha vida por causa dele, contudo, não posso.
Porque isso iria querer dizer que me arrependo do maior
presente da minha vida, minha filha — inclusive, é por ela que tomei
a decisão de ir embora de uma vez por todas — e com certeza não é
o caso.
É por essa menininha de cabelos loiros claros como os meus,
olhos verdes como esmeralda e sorriso contagiante que estou
caminhando pelas ruas escuras de uma cidade desconhecida por
mim neste instante.
É tudo por ela.
Sempre por ela.
— Mãe, já estamos chegando? Essas botas estão machucando
meus pés — a dita cuja reclama e eu giro meu rosto em sua direção.
Philippa já está me encarando, com as sobrancelhas —
franzidas — tão loiras que quase se misturam com a pele branca.
Nem um pouco contente por ter sido tirada do conforto de
sua casa de manhã bem cedinho e sem saber o destino final.
— Estamos quase lá, querida — respondo, com o número da
casa que precisamos ir memorizado na memória.
Poderíamos ter pego um táxi do aeroporto até aqui, caso
tivéssemos dinheiro sobrando.
O que não temos.
Então, recorremos ao velho e nem tão amado ônibus.
A primeira vez da minha menininha em um, na verdade, e ela
achou toda a situação engraçada. Mais que o que deveria ser.
Ela não faz ideia do que está acontecendo de verdade.
Quero preservar sua inocência o máximo que conseguir.
Se isso quer dizer fugir para outro país da noite para o dia…
lá vamos nós.
Bem, aqui estamos nós.
Procurando a casa — não, mansão, pelo que observo das
outras residências da rua — de alguém que foi muito importante
para mim no passado.
A única pessoa que eu pude recorrer e que, por incrível que
pareça, não pensou duas vezes em me ajudar.
Vários anos se passaram e ele continua sendo a melhor
pessoa que tive o prazer de conhecer.
E pensar que troquei tudo isso por um canalha ambiciosos e
asqueroso, que, mais tarde, revelou ser um criminoso.
Tenho nojo daquele homem e espero nunca mais vê-lo em
toda minha vida.
— Mãe, tá chegando? Não aguento mais andar! — Philippa
reclama mais uma vez e até mesmo desvencilha a mão da minha
para cruzar os braços, querendo demonstrar sua insatisfação.
Ela tem apenas dez anos e uma personalidade extremamente
marcante e forte.
— Filha, eu já disse que estamos qua… — minha frase morre
no meio do caminho quando, de canto de olho, noto o número da
casa do outro lado da rua.
11712 75 Avenida NW.
É essa.
Não é?
— Um segundo, meu amor — peço a ela, buscando o celular
no bolso do casaco e checando a última mensagem que troquei com
ele, para confirmar que estou mesmo no lugar certo.
11712 75 Avenida NW.
— Chegamos? — Philippa indaga, claramente ansiosa e, claro,
cansada.
Passamos o dia inteiro em aeroportos e aviões, e, agora, já
passam das sete da noite aqui.
Ela está exausta e eu não estou muito atrás.
— É aquela ali, filha. Vamos?
— Finalmente! — Comemora e volta a entrelaçar a mão na
minha.
Juntas, atravessamos a rua e em poucos minutos alcançamos
a porta da casa.
Ela é linda.
Dois andares, com pedras claras e painéis de madeira escura.
Há várias janelas de vidros, com as cortinas finas fechadas, porém,
as luzes de dentro estão acesas, indicando que ele está mesmo aqui.
De soslaio, noto a garagem e o segundo andar, onde fica o
apartamento que ele comentou sobre. O gramado é bem verde e
enquanto caminhávamos até a entrada, as luzinhas se acenderam
pelo caminho. Há algumas bolas de diferentes esportes, bicicletas e
até mesmo um gol pelo jardim.
De seu filho, imagino.
É tão… aconchegante.
Parece um lar, ao contrário da grande mansão que
morávamos em Canterville. O lugar era imenso mas não era como
um lar.
Nem perto disso.
— Mãe! Não vai tocar a campainha? Preciso fazer xixi! —
Philippa resmunga, me tirando dos devaneios e eu percebo que
estamos há quase dois minutos inteiros em pé, apenas observando o
local.
O lar que ele construiu com o passar dos anos.
Quando entrei em contato, explicando superficialmente minha
situação, logo após a bomba explodir no meu colo, ele não resistiu
em comprar duas passagens de avião para cá e oferecer o
apartamento sobre a garagem para ficarmos durante um tempo.
Para ser sincera, ele queria viajar até Carterville e nos buscar, mas
eu disse que era melhor não.
Só Deus sabe o que poderia chegar nos ouvidos do meu ex-
marido e o que ele faria com tais informações.
Estamos mais seguras assim.
E aqui.
Caramba, ele nem ao menos duvidou do que eu disse ou fez
perguntas.
Ele disse que me ajudaria.
Mesmo depois de mais de dez anos sem nenhum contato —
porque acho que observar suas redes sociais de tempos em tempos
não conta — ele me mostrou que continua sendo o cara mais incrível
que passou pela minha vida.
— Você demora muito, mãe! — O tom irritado da minha filha
me puxa dos pensamentos mais uma vez, e antes que eu consiga
impedir, ela toca a campainha.
Cacete!
— Philippa! — Repreendo-a, sem saber como explicar porque
é errado ela ter deixado claro para os moradores que estamos aqui
quando… viemos exatamente para isso.
— O quê? Eu disse que preciso ir ao banheiro — responde,
confusa pela minha reação.
Como explicar para uma criança de dez anos que você está
nervosa em ver seu antigo amigo — que você era secretamente
apaixonada — da faculdade depois de doze anos?
Felizmente — ou infelizmente, dependendo do ponto de vista
— eu não tenho chance de dar essa explicação porque a porta é
aberta.
E lá está ele.
Zachary — Zach — Blakewood em toda sua glória aos trinta e
três anos.
O rosto de vinte e um continua, mais velho claro, mas…
bonito. Muito bonito. A barba parece ter acabado de ser feita e
alguns fios brancos são visíveis perto da sua orelha, entre o cabelo
escuro. Ele sorri e eu… eu percebo que não o superei.
Sim, mais de uma década e estou com as pernas bambas por
Zach.
Certas coisas nunca mudam.
— Ah! Vocês devem ser a Victoria e a Philippa! Zach
comentou que vocês vão passar um tempo conosco.
Na verdade, mudam sim.
Meus olhos se desviam para a linda mulher ao seu lado.
Ela tem um sorriso simpático estampado no rosto, cabelos
escuros também e olhos castanhos, que me observam atentamente.
Sua esposa.
Não que eu não soubesse que ele estava casado mas… mas é
diferente ver a tal mulher ao seu lado, com uma das mãos apoiadas
em seu bíceps e a outra, estendendo-a em minha direção.
O pior?
É que ela parece ser uma ótima pessoa.
O que não me impede de sentir o demoniozinho do ciúmes
cutucando meu coração.
— Muito prazer — digo, trocando um aperto de mão com ela.
— O prazer é todo meu! Sou a Lindsay, aliás — apresenta-se
e volta sua atenção para Philippa, deixando eu e Zach mais a
vontade.
Grande erro.
Porque enquanto eu tento prestar atenção na conversa que
ela tem com minha filha sobre a viagem que fizemos até chegarmos
aqui, meu coração e meus olhos são totalmente destinados a ele.
— Vic — diz e o som da sua voz… faz algo comigo.
Sinto as borboletas no estômago que costumava sentir
quando estávamos juntos.
O coração acelerado.
E as pernas moles.
Esse é o efeito que Zachary Blakewood tinha sobre mim há
anos e pelo visto, continua tendo.
— É… é bom te ver — consigo dizer, abrindo um sorriso
tímido.
Não sei como agir nessa situação, ainda mais quando estou
invadindo o espaço de sua família por ter escolhido a família errada
para mim.
Céus, que confusão.
Então, me pegando de surpresa, Zach me puxa para seus
braços em um abraço de urso.
— Vou levá-la ao banheiro enquanto vocês colocam o papo
em dia — Lindsay avisa e, de soslaio, vejo-a levando Philippa para
dentro da casa.
Agora, sim, estamos devidamente a sós.
Com os braços ao redor um do outro.
De repente, me sinto com dezenove anos de novo, após
nosso primeiro encontro.
— Você ainda usa o mesmo perfume — comento, inalando o
cheiro de sua colônia, sem desvencilhar do abraço.
— É o meu favorito — ele responde, me fazendo sorrir.
Ainda mais porque fui eu que o presenteei em seu primeiro
aniversário que comemoramos juntos.
Meus olhos marejam e eu seguro firme nele, fisicamente e
emocionalmente, porque não quero me debulhar em lágrimas agora.
Não posso.
Preciso ser forte por Philippa.
Mas… mas dentro desse casulo, eu me sinto tão, tão bem.
Como se nada pudesse me atingir porque Zach não permitiria.
E acho que é por eu estar tão zonza por estar com ele de
novo que deixo escapar:
— Senti tanto sua falta.
Por um momento, Zach me abraça mais forte e acho que ele
vai retribuir o que acabei de confessar.
Eu sei que não seria de bom tom ele fazer isso, mas… mas
estou tão mal que deixo que meu lado egoísta fale mais alto.
Contudo, isso não acontece porque somos interrompidos.
Ele teria dito alguma coisa, caso tivéssemos mais alguns
minutos sozinhos?
— Eu não quero morar com uma garota! — Uma voz
masculina, embora infantil, grita de dentro da casa e pareço voltar
para a realidade, ouvindo os passos se aproximando.
Nos separamos rapidamente e Zach abre mais a porta,
deixando que eu entre na sua casa.
— Querido, elas vão morar no apartamento, não aqui —
Lindsay explica para… para o filho de Zachary.
O filho deles.
Caramba.
Se me dissessem que eu reencontraria meu Zachary
Blakewood doze anos depois com nossos filhos de idades próximas,
em sua casa, em outro país… eu nunca acreditaria.
O garoto parece ter por volta dos dez anos, assim como
Philippa. Os cabelos são em um tom castanho claro e estão com o
mesmo corte do pai. Os olhos estão cerrados, então, não consigo
decifrar a cor exata.
E, céus, ele é a cara de Zach.
Não há um traço de sua mãe nele.
— E daí? Não quero uma menina aqui! Elas são insuportáveis,
mãe — resmunga, cruzando os braços.
Eu e Zach trocamos um olhar e ele sacode os ombros, um
pouco constrangido pelo comportamento do filho.
Estou prestes a dizer que está tudo bem, que é só uma fase,
porém, a resposta atravessada de Philippa é mais rápida.
— Eu estou bem aqui, pirralho! — Retruca, aparecendo no
meu campo de visão, por trás de Lindsay. — E se você não quiser
morar perto de mim, é melhor ir embora. Os incomodados que se
mudem, não é, mamãe?
Agora, todos os olhos se voltam para mim.
Eu engulo em seco, sem saber o que fazer.
— Asher, por que não vai arrumar os brinquedos no seu
quarto? Ou já fez isso? — Zach pergunta, tirando a atenção de mim.
— Ainda não, mas…
— Então vá fazer isso — ele ordena ao filho, e o garoto não
tem a chance de rebater. — Agora.
Asher bufa e sai batendo os pés na escada acima.
— Eles vão se dar bem com o passar do tempo — Lindsay
garante, me lançando um sorriso amarelo. — Vou voltar a preparar o
jantar.
Mais uma vez, somos deixados a sós no hall de entrada da
residência, no entanto, o clima parece um pouco tenso agora.
— Você está bem? — Zach questiona e ele não precisa entrar
em detalhes para eu saber sobre o que exatamente está
perguntando.
— Não, mas eu vou ficar — respondo, lhe lançando um
sorriso fraco.
Eu posso ter sido destruída por Michael Grey, mas não
deixarei que ele tome mais nada de mim.
E muito menos deixarei que Philippa seja danificada por ele
também.
Por ninguém.
— É bom te ter aqui, Vic — Zach revela e… e não posso
mentir.
Meu coração gosta de ouvir isso, por mais que não signifique
nada.
— É bom estar aqui, Zach.
Estou em Edmonton.
Não mais em Carterville.
E, pelo visto, vou ter que aprender a me acostumar com o
clima diferente do país, assim como Philippa e Asher terão que se
acostumar com a presença um do outro, pelo menos até eu
encontrar um lugar para nós duas.
Até lá… torço para essa primeira má impressão se tornar uma
amizade.
Pelo bem de todos nós.
— Não sei se gostei daqui, mãe — Philippa diz, alternando o
olhar por toda a casa enquanto seguimos Zach para a sala de jantar.
Suspiro e passo um braço pelos seus ombrinhos.
— Tenho certeza de que vamos aprender a amar esse lugar,
meu amor.
— Talvez — responde, um pouco pensativa. — Mas sei que
nunca vou amar aquele garoto, mãe. É sério! Detesto ele.
Sabia que não seria fácil, mas logo nos primeiros minutos?
— Vocês vão se conhecer melhor, filha, e se tornarão amigos.
— Eca. Não vamos, não. Não gosto dele, mãe. E ele não
gosta de mim. Simples assim.
Não é tão simples assim, e com o passar dos anos, para ser
honesta, se torna ainda mais difícil.
Bem, mas essa é uma história para ser contada por Philippa
Caldwell e Asher Blakewood, não por mim.
Então você é um cara durão, tipo um cara durão mesmo?
Simplesmente não consigo ter o suficiente, cara, peito sempre tão
inchado
Eu sou aquele tipo ruim, que deixa sua mãe triste
Deixa sua namorada brava, tipo que pode seduzir seu pai
Eu sou o cara mau, duh
Eu sou o cara mau
Eu gosto quando você assume o controle
bad guy | Billie Eilish

nove anos depois

— Mais forte — Ellie, Elsa ou quem sabe Eva pede quando


estoco forte dentro dela.
Sem de fato respondê-la — não com palavras, pelo menos —
meto bruto dentro da garota.
Ela grita meu nome e a agradeço mentalmente por morar
sozinha em um apartamento universitário perto do campus da
Universidade de Toronto.
— Isso, gata, goza para mim — ordeno, segurando a
cabeceira de sua cama com uma das mãos e brincando com seu
clitóris com a outra.
A garota deixa um gemido gostoso escapar mais uma vez e
um sorriso se forma em meus lábios.
Adoro quando elas são barulhentas e expressivas,
demonstrando claramente o quanto estão gostando de ser fodidas
por mim.
Amacia o meu ego — não que eu não saiba que faço um
excelente trabalho na cama.
Ellie, Elsa ou Eva tem uns vinte, vinte e um anos e estuda por
aqui. Ela com certeza comentou sobre seu curso ontem à noite, no
bar mais famoso entre os universitários da cidade, mas…
sinceramente, eu não me importei o suficiente para recordar. Nem o
seu nome foi capaz de encontrar um lugar na minha memória, quem
dirá algum fragmento de sua personalidade.
Sinto muito, Ellie, Elsa ou Eva, mas você era apenas uma foda
certa.
Certíssima, para ser mais exato, porque tivemos uma conexão
do caralho na cama. Estamos desde a madrugada transando como
dois coelhos — tanto que as camisinhas que levo comigo, caso
precise, acabaram e eu precisei descer até a conveniência mais
próxima para comprar mais — e agora…
Olho para o relógio digital na sua mesinha de cabeceira e vejo
os números marcando sete e dezesseis da manhã.
— Estou gozando, Ash — avisa, usando suas unhas grandes e
afiadas para arranhar todas minhas costas.
Porra.
Agarro seu quadril e meto lento e forte dentro da garota,
levando-a ao ápice.
Ela se contorce sob mim. Os olhos reviram e sua boca se
escancara, fazendo com que meu nome saia de forma estrangulada
por lá e suas paredes escorregadias prendam meu pau dentro dela.
Não vou dizer que não esperava ter uma noite assim, quando
decidi sair com os caras de última hora para me afundar em bebidas
baratas e mulheres gostosas, ao descobrir que, definitivamente, não
fui aceito no MIT[2], minha faculdade dos sonhos para Engenharia.
Estava na lista de espera, contudo, os últimos convocados
foram chamados e… e eu não fui aceito por quatro pessoas à minha
frente.
Queria poder dizer que foda-se, não me importo com essa
merda e o aluno que faz a faculdade, não ao contrario.
Entretanto, não posso.
Porque eu não tenho merda de universidade nenhuma para ir,
visto que acreditei fielmente que seria aceito na de Massachusetts.
Não fui.
E agora eu estou completamente fodido.
—Ash — a voz manhosa de Ellie, Elsa ou Eva me arranca dos
devaneios e eu pisco, voltando ao presente. — Não vai gozar? Posso
te chupar, se quiser.
Essa merda de situação tomou conta da minha cabeça e
simplesmente… brochei dentro dela.
Caralho, que merda é essa?
— É, acho que sim — aceito, porque não quero sair daqui
sem um último orgasmo.
Saio de dentro de Ellie, Elsa ou Eva e descarto a camisinha no
lixo ao lado da cama — que mudamos de lugar ao longo da noite
para facilitar nossas atividades —, me encostando contra a cabeceira
enquanto ela engatinha até mim. Um sorriso lascivo em seu rosto.
Ela segura a base do meu pau com uma das mãos e lambe
toda a extensão.
Fecho os olhos, tentando focar na garota gostosa, nua, com a
boca ao redor do meu membro.
Não consigo.
Dessa vez, não pelo meu fracasso em entrar em uma
universidade renomada, mas porque somos brutalmente
interrompidos por um celular tocando.
Meu celular.
E quando me movo para buscá-lo em uma das mesinhas de
cabeceira, recebo um fuzilamento de olhos da Ellie, Elsa ou Eva.
— Você vai mesmo atender? Agora?
Olho o identificador de chamada; o nome “mãe” chama
minha atenção.
Porra, eu disse que ia dormir na casa de um dos caras, mas
estaria cedo de volta para conversamos sobre… bem, sobre que
merda vou fazer da minha vida agora.
Mais uma vez, não respondo-a e deslizo o botão verde da
tela, levando o aparelho ao ouvido.
— Já estou no Uber — minto e, de soslaio, noto a expressão
incrédula da menina.
Lido com essa merda depois.
— Bom dia, meu filho. Tudo bem comigo, sim, e com você?
Ah, espera. Não está tudo bem porque você prometeu que estaria
em casa antes das sete para tomarmos café da manhã juntos.
Desculpe, mamãe, é que eu me perdi no tempo porque
estava comendo uma morena muito gostosa a noite toda quando
disse que dormiria na casa de um dos meus amigos do colégio.
— Perdi a hora, mãe. Foi mal. Mas já estou indo — garanto,
e, tentando fazer o menor barulho possível, me ergo da cama,
procurando pelas minhas roupas espalhadas pelo cômodo.
O que, obviamente, não deixa Ellie, Elsa ou Eva nada feliz.
Ela se senta sobre os calcanhares e cruza os braços, bastante
irritada.
E eu até me sentiria um pouco mal… se ela não tivesse
fazendo toda essa cena pelada e com os cabelos bagunçados pelo
suor.
Ela é gostosa pra caralho mesmo, ainda mais brava desse
jeito.
— Sei que você quer fugir dessa conversa, Asher, mas não
pode. Sabe disso, não é? — Mamãe pergunta do outro lado da linha
e eu começo a me arrumar, segurando o celular entre o ombro e a
orelha.
É quando percebo que não tenho coordenação, nem
equilíbrio, para realizar duas atividades distintas ao mesmo tempo.
— Eu sei, mãe, é só que… — estou mal pra caralho por não
ter ideia do que fazer daqui para frente.
Eu devia ter seguido o conselho daquele velho idiota e
traçado um plano B.
Mas é claro que não! Não quis aceitar que ele estava certo,
quando contei sobre meu futuro, e me inscrevi apenas no MIT.
No fim, parece que todos os meus problemas voltam para ele.
— Venha para casa, querido, e conversamos. Tudo bem?
Acho… acho que tenho uma ideia.
Isso chama a minha atenção.
Minha mãe, além de ser a melhor do mundo, é também
aquela pessoa que você chama quando está com um problema
gigantesco porque ela sempre encontra uma solução.
Não há nada que Lindsay Stuart não consiga fazer.
Talvez escolher um bom pai para seu filho, na verdade.
— Beleza. Em poucos minutos tô aí — respondo, passando a
blusa por cima da cabeça, já com os jeans vestidos.
— Tá legal, meu amor. Beijos. Te amo!
— Te amo também — declaro e desligo a chamada, focando
em colocar as meias e calçar o tênis.
Guardo o celular no meu bolso e levanto da cama mais uma
vez, a fim de procurar minha jaqueta e meus calçados.
Contudo, um arranhar de garganta me relembra onde e com
quem estou.
— Você vai embora assim? — Ellie, Elsa ou Eva indaga,
visivelmente puta.
Suspiro, me aproximando dela.
Suporto meu peso com uma das mãos sobre os lençóis e,
com a outra, enrosco sua nuca, trazendo seus lábios para os meus.
Em um beijo lento, sedutor e com um gostinho de mais, eu
me afasto de novo.
— Preciso ir — explico, por mais que ela já tenha entendido
essa parte.
A garota suspira, chateada, e finalmente encontro meus tênis
embaixo de sua cômoda.
Sento-me no chão e começo a calçá-los.
— Você vai me ligar? — Pergunta, esperançosa, com um
sorrisinho.
— É claro que sim, gata.
Claro que não.
Sem mais delongas, recolho todas minhas coisas do seu
quarto e ela me guia até a porta do apartamento.
Não me viro para lhe dar um beijo de despedida — afinal,
qual é, foi só uma noite — e sigo o caminho até as escadas do
pequeno prédio de três andares.
Estou quase no andar abaixo quando ouço-a gritar.
— VOCÊ NEM PEGOU MEU NÚMERO!
Um sorriso cafajeste surge inevitavelmente em meus lábios.
Ops.

— Não.
Uma negativa curta, direta e seca, porém, as coisas não
funcionam assim com a minha mãe.
— Asher, você tem que pensar melhor sobre isso. Estou
falando sério — ela insiste, me observando do outro lado da mesa.
O café que Scott, namorado dela, preparou para nós nesta
manhã, antes de sair para o trabalho, já está frio, assim como a
torrada que fiz logo quando cheguei.
Isso quer dizer que faz um bom tempo que estamos nessa
mesa, falando sobre o mesmo assunto e sem nenhuma solução.
Quando disse que Lindsay Stuart sabia resolver um conflito,
parece que esse fato não se estende para os problemas do seu único
filho.
— Eu também estou, mãe — digo, suspirando e jogando as
costas contra a cadeira de madeira, sem tirar os olhos dos dela.
Os cabelos da mamãe estão mais curtos. Desde o divórcio e a
mudança para Toronto, ela não deixa os fios chegarem a pouco mais
do que seu ombro em questão de cumprimento. Os olhos têm o tom
de castanho parecido com os meus, contudo, eles são ternos.
Carinhosos. Ela também tem algumas linhas de expressão mais
marcadas na pele branca, e quando a ouço conversar com alguma
das outras amigas médicas sobre, ela afirma que ainda não é o
momento para se preocupar com isso. Além de, obviamente, não
querer.
Não tenho medo do envelhecimento, Asher. Na verdade,
estou ansiosa para me aposentar e comprar uma casinha em uma
cidade praiana no litoral dos Estados Unidos.
Sei que ela e Scott têm grandes planos para daqui a alguns
anos e já estão nos preparativos.
Como também sei que um filho com um futuro profissional
fracassado irá impedir essas ideias.
Conhecendo-a como a conheço — e isso é, como a palma da
minha mão — ela largaria tudo para me ver feliz e me ajudar a fazer
tudo que está ao seu alcance para eu conquistar meus objetivos. E
se isso quer dizer desistir dos seus sonhos, ela não pensaria duas
vezes.
— Asher… já está na hora de vocês se resolverem — fala,
cuidadosamente, sobre a relação que tenho com seu ex-marido.
Meu pai.
Também conhecido como um dos caras mais canalhas que já
pisou na face da terra.
— Não tenho nada para resolver com ele — retruco, já um
pouco na defensiva.
Mamãe suspira e leva sua água com limão à boca,
bebericando-a.
Desde que eles se separaram, há nove anos, eu e Zachary
Blakewood não cultivamos um bom relacionamento. E a razão para
isso é bem simples: ele deixou duas desconhecidas arruinarem o
casamento dele, assim como minha mãe, e claro, no meio de toda
essa confusão, eu também fui danificado.
Nossa vida nunca mais foi a mesma depois que aquelas loiras
oxigenadas apareceram para morar um período conosco, no
apartamento em cima da garagem, e de repente, poucas semanas
depois, eu e mamãe estávamos nos mudando para outra cidade, e
elas, para nossa casa.
Se Zachary é o cara mais babaca desse mundo, elas com
certeza ocupam o segundo e terceiro lugar.
— Você já tem dezoito anos, Asher Theodore Blakewood —
afirma, voltando a atrair minha atenção quando usa meu nome
completo. O que quer dizer que estou ferrado e vem uma bronca
pela frente. — Tem que parar com essa birrinha infantil com seu pai.
Já está na hora!
Aí está algo que me deixa ainda mais puto do que tudo que
ele aprontou com a gente.
Minha mãe… não se importa.
A não ser que esteja fingindo muito bem há quase dez anos,
ela nunca ligou para nada do que rolou. Nem para o divorcio, a
mudança, a nova família dele… nada.
Parece que eu fui o único a ser atingido de surpresa e
cruelmente pelo que aconteceu.
E permanecendo sendo o único irritado com toda essa merda.
— Eu não vou — reforço, mais uma vez, não querendo entrar
em uma discussão com minha mãe.
Odeio quando brigamos.
Ainda mais quando o motivo é ele.
— E o que você vai fazer até o próximo verão, huh? —
Provoca, cruzando os bracos e arqueando uma das sobrancelhas. —
Indo para bares a noite, encontrando uma garota e voltando para
casa na manhã seguinte, como se eu fosse uma idiota e nao
soubesse?
Merda.
Achei que ela teria acreditado na desculpa que estava
dormindo em um dos caras.
— Eu… eu vou pensar em alguma coisa — digo, mas não
estou confiante da minha resposta.
Eu não faço ideia do que vai ser daqui para frente.
Estou… totalmente perdido.
— Você volta para Edmonton — ela sugere mais uma vez e eu
preciso segurar a vontade de revirar os olhos ou soltar um palavrão.
— Você cursa um ano lá. Depois, tenta a transferência para o MIT
ou para outra universidade que deseja. Um ano, Asher.
— Um ano morando com ele — completo, porque ela não
parece estar vendo o geral da situação. — Com elas.
Se eu aceitasse essa sugestão, teria que passar todos os dois
semestres na casa dele com toda sua nova família porque, a essa
altura, a inscrição para os dormitórios foi encerrada e não há
nenhum poder na Universidade de Alberta, como reitor, que faça
meu pai arranjar uma vaga para mim.
A única opção que me resta é voltar para lá porque, bem,
com um pai sendo reitor, você tem certos privilégios, e um deles é
se inscrever fora do período e, ainda sim, ter uma vaga te
esperando.
Com certeza não é o correto, mas até mamãe, que sempre
escolhe seguir as regras, está insistindo que eu faça isso.
Não é a melhor opção, mas, sim, a única.
Ou um ano vagabundeando até eu poder me inscrever mais
uma vez para as universidades.
— Já disse para você não falar delas assim, Asher. Além de
Victoria ser a esposa do seu pai, ela e a filha são mulheres, como
eu. Gostaria que o filho de Scott falasse assim de mim?
Ah, sempre essa cartada.
— Ele não tem filhos, então não posso pensar em uma
situação hipotética — rebato, um sorriso sarcástico querendo se
formar em minha boca.
Mamãe suspira, cansada.
— Você precisa levar a vida a sério, Asher — me repreende e,
na mesma hora, me ajeito na cadeira. Suas palavras frias me
atingem de forma diferente. — E precisa entender que para o MIT te
aceitar, precisa fazer alguma coisa. E, filho, ficar sentado um ano
inteiro saindo apenas para beber e transar não é algo que eles
admirariam na sua redação do próximo ano. Se você quiser ir
mesmo para lá, ou para outro lugar, precisa fazer por onde.
Não que eu não soubesse de nada disso, no entanto, quando
é Lindsay Stuart, sua voz de mãe e o tom sério falando, parece me
pegar de jeito.
O MIT não vai querer um folgado estudando em seu instituto,
assim como nenhuma outra universidade de renome no ramo de
engenharia.
Contudo, qualquer faculdade gostaria de um estudante que,
após ter o plano A modificado, deu a volta por cima, estudou e
tentou de novo.
Porra.
Passo a mão pelo rosto, não acreditando na decisão que
acabei de tomar.
Se eu tivesse qualquer — e eu enfatizo de novo, qualquer —
outra opção, eu nao escolheria essa.
Mas como tambem foi muito burro da minha parte acreditar
cegamente no meu potencial de ser aceito em uma das melhores
universidades do mundo…
— Apenas um ano — respondo, vendo um sorriso se formar
no rosto de mamãe. — Um ano e eu vou pra qualquer lugar, mas
não fico lá.
Perto deles, é o que não digo, mas acho que é possível
entender na entrelinhas.
— Algo me diz que essa vai ter a chance de você se
reconectar com seu pai, conhecer melhor a Victoria e, quem sabe,
se tornar amigo da Philippa. Ela se tornou uma mulher muito bonita,
não foi?
Solto uma risada de escárnio com suas palavras.
— Não vou fazer comentários ou é capaz de me agredir —
comento, em tom de brincadeira, mas que não passa despercebido
por mamãe.
Assim como eu a conheço como a palma da minha mão, ela
também é aquela a saber tudo sobre mim.
Não vou voltar a ter uma relação como eu tinha com meu pai,
muito menos estou afim de saber mais sobre a mulher que tomou o
lugar da minha mãe.
E, obviamente, não estou nem um pouco animado para ter
que aturar aquela garota sem graça, chata e incrivelmente
insuportável que fez da minha vida um inferno desde o primeiro
segundo que nos conhecemos.
De repente, uma luz se acende na minha cabeça e uma ideia
se forma na minha mente.
Hum… talvez esse ano não seja tão ruim assim.
Afinal, tenho certeza que vou me entreter bastante
atormentado a vida de Philippa Caldwell enquanto brincamos de
casinha.
Espero que esteja preparada, irmãzinha, porque estou
chegando e não vejo a hora ter um pouco de diversão.
Ooh-ooh, então você quer falar sobre poder?
Ooh-ooh, deixe-me mostrar-lhe o poder
Eu como garotos como você no café da manhã
Um por um pendurado no meu colar
E eles sempre serão meus
Isso me faz sentir viva
Breakfast | Dove Cameron

Há dois lados em fazer faculdade na mesma cidade que você


passou grande parte da sua infância — e que mora ainda hoje.
O positivo, é que ao contrário da grande parte dos estudantes
da Universidade de Alberta, não precisei passar pelas inscrições para
dormitórios, por exemplo. Nunca nem cogitei isso, uma vez que
tenho uma casa confortável e perto do campus para voltar todos os
dias. Além disso, seguindo esse caminho, também não precisei
passar pelo estresse dos ex-calouros em procurar apartamento após
o primeiro ano, quando eles são convidados educamente a se retirar
dos seus quartos. Muito menos, tive que empacotar todos os meus
pertences, levar para casa dos meus pais e trazê-los de volta antes
do novo ano letivo se iniciar.
Felizmente, um dos bons pontos do casamento entre minha
mãe e Zachary, seu marido, é a boa escolha de cidade para se
morar.
Boas escolas, comércios, e como cereja do bolo, a
universidade colada no nosso bairro.
Se considerei estudar em outro lugar?
De jeito nenhum.
Quero aproveitar o conforto desta casa o quanto eu
conseguir.
O que nos leva ao lado negativo de morar a apenas cinco
minutos de carro da universidade e ter o reitor como seu padrasto, é
que não existem férias de verdade.
Quer dizer, nós passamos duas semanas viajando pela Grécia,
Itália e Croácia, contudo, não poderíamos passar um dia sequer a
mais conhecendo aquelas paisagens paradisíacas porque ele tinha
trabalho a fazer.
Em outras palavras: eu passo todas as férias e recessos no
mesmo local que estudo o ano inteiro.
Não seria ruim se Emma, minha melhor amiga que conheço
desde que me mudei, também ficasse.
Mas, não.
Claro que não!
Tendo uma vida de invejar, Em é a terceira geração de uma
família de japoneses — Kimura — a nascer nos Estados Unidos. No
entanto, por ter uma família relativamente grande, ela ainda possui
alguns parentes no Japão e em outros lugares da Ásia. Por isso, o
verão é a melhor época para ela, seus pais e seu irmão mais novo
visitá-los. É uma viagem longa, então, eles passam bastante dias por
lá. Um mês ou mais, dependendo de como está o trabalho do
senhor e da senhora Kimura.
Para piorar — para mim, pelo menos, porque Emma com
certeza está adorando —, ela conheceu Sydney Walker em uma das
suas primeiras aulas, no início da faculdade. Pouco menos de dois
meses depois, elas já estavam perdidamente apaixonadas e
basicamente casadas. Portanto, além de Emma ser levada para a
milhares de quilômetros de distância de mim, esse ano ela também
está acompanhando Syd em sua cidade natal — ou, ao menos, é
onde sua família está no momento.
Sei que eles gostam de explorar o mundo e viver em vários
lugares ao redor do globo. É por essa razão, inclusive, que o
nomearam a filha do meio de Sydney.
Porque ela nasceu enquanto eles moravam na Austrália, na
cidade que leva seu nome.
Juro!
E agora, eles estão há um ano em Honolulu.
No Havaí!
Resumindo: saímos na primeira semana do verão e depois… o
único lugar que vejo minha melhor amiga é pela telinha do celular.
— Ai, meu Deus! Esqueci de te contar! — Emma Kimura
exclama e até mesmo se ajeita na cama que está sentada, com as
costas contra a cabeceira. Eu faço o mesmo na minha cadeira
giratória, dando impulso para fazê-la girar enquanto conversamos.
— Ontem eu comi o melhor poke da minha vida!
Reviro os olhos, trocando o celular de mão.
— Você disse isso ontem — relembro, já que tentamos nos
falar uma vez por dia em chamada de vídeo. São somente três horas
de diferença, então, conseguimos encontrar bem horários
compatíveis uma com a outra. — E… antes de ontem também.
Emma bufa, trocando de posição mais uma vez.
Agora, ela apoia o celular em algo na mesinha de cabeceira e
se deita de bruços na cama, suportando o peso da cabeça com o
cotovelo dobrado na cama e a mão no queixo.
De fundo, consigo ver as ondas do mar batendo e juro que
até o cheiro de maresia atinge minhas narinas.
— É tudo tão delicioso, Pippa — diz, tão apaixonada pelo
Havaí quanto é pela sua namorada. — Você precisa vir um dia! Vai
adorar. Nem se compara àquele restaurante de poker do shopping. É
tipo… mil e uma vezes melhor.
— Quem sabe — respondo, despretensiosamente. Adoraria
visitar as praias incríveis de lá e ver os animais marinhos. — Mas não
quero atrapalhar o casal.
Pela expressão da minha melhor amiga, sei que ela está
prestes a dizer que eu nunca a atrapalharia, além de que ela
adoraria que eu estivesse viajando com elas.
Contudo, isso não acontece porque, de repente, Sydney pula
por cima do corpo de Emma, arrancando uma risada da minha
amiga.
Ela gira o corpo de Em para que fique de barriga para cima e
prende os braços dela, um de cada lado da sua cabeça, montando
em cima da garota. Os cabelos tingidos de preto de Syd caem sobre
seu rosto e a namorada consegue se livrar do seu aperto para puxá-
los para trás da orelha. A outra sorri, se abaixando para depositar
um beijinho nos lábios da amada.
Seria ainda mais fofo se eu não fosse obrigada a assistir essas
demonstrações de afeto todos os dias durante os intervalos das
aulas e nos fins de semana, quando saímos juntas.
— Se vocês forem transar, por favor, me avisem para eu
desligar — brinco, e somente nesse ponto, elas lembram que estou
aqui também.
As cabeças se viram na direção do celular simultaneamente e
eu arqueio uma das sobrancelhas, um pouco… incrédula que fui
esquecida.
É só elas se olharem para se esquecer do mundo real?
— Na verdade… nós vamos — é Sydney quem responde, um
sorrisinho lascivo se formando lentamente em seu rosto. — Tchau,
Pippa.
— Ei! — Reclamo, mas é em vão.
A tela fica preta em seguida e a mensagem de “chamada de
vídeo encerrada” surge.
Babacas apaixonadas.
Se eu não tivesse acompanhado de perto minha mãe e Zach
se apaixonando, poderia até ficar surpresa pelo comportamento
delas, mas, bem… Imagens que nunca saíram da minha cabeça são
aquelas do início do relacionamento dos dois, logo após ele se
divorciar e quando ainda morávamos no apartamento em cima da
garagem, em que tudo que um ou o outro fazia, parecia como
descobrir a roda ou a eletricidade.
Ainda hoje tenho ânsia de vomito quando eles, assim como
Emma e Sydney, esquecem que não estão sozinhos e começam a…
meu Deus, falar com voz de bebê um com o outro ou se tocar
demais.
Cruzes.
Fico feliz que mamãe esteja extremamente apaixonada — e o
melhor, seja amada na mesma medida ou mais —, porém, eu não
preciso literalmente ver.
— FILHA! — Ela grita do andar de baixo e eu já me ergo da
cadeira, caminhando até a mesinha de cabeceira ao lado da cama,
para colocar meu celular para carregar. — JANTAR!
— JÁ VOU! — Grito de volta, plugando o carregador no
aparelho.
As refeições são momentos muito importantes do dia para
Zachary e Victoria, principalmente durante as férias, quando
conseguimos todos realizarmos as três juntos.
Quando as aulas começam, eu e meu padrasto temos tanto a
fazer que se acontece um jantar em família por semana, é muito.
Desço as escadas de dois em dois degraus e adentro a sala
de jantar, já sentindo o cheiro delicioso da comida de Velma, a
cozinheira, atingindo meu olfato.
Observando os pratos à mesa, vejo que o cardápio da noite é
Tourtière[3], acompanhada de salada.
— Velma é um anjo por deixar comida congelada para a
semana toda — conto, sentando-me no meu lugar habitual da mesa
de oito lugares.
Na cabeceira está Zachary, já se servindo, e, ao seu lado,
mamãe acaba de se sentar com uma jarra de suco de cranberry para
mim; para eles, uma garrafa de vinho.
Já tive uma conversa com ela, que estou quase com vinte e
um anos e seria legal beber casualmente, porém, não colou.
Como se ela não soubesse o tipo de bebida que rola nas
festas universitárias.
Ainda mais, nas Cirque du Chaos[4], uma bem famosa da
cidade.
Desde quando encontraram o circo abandonado e a polícia —
sabe-se Deus como — liberou que algumas peças fossem
resgatadas, as festas organizadas por uma das fraternidades da
universidade são… insanas, para se dizer o mínimo.
— Animada para a volta às aulas, Pippa? — Zach questiona e
eu pisco, empurrando os devaneios para o fundo da mente.
— Alguém, por acaso, se anima para voltar a estudar? —
Brinco, arrancando um riso dele e da mamãe.
Estamos jantando, mas isso não impede que eles troquem
toques e olhares silenciosos na mesa, me mostrando que o amor
pode renascer a qualquer idade, momento, não importa quantos
anos tenham se passado.
Eles são um exemplo lindo de casamento com muito amor,
compreensão e respeito.
Termino de me servir enquanto eles conversam sobre algum
assunto trivial, sobre a previsão de chuva para os próximos dias, no
fim da tarde. A típica chuva de verão.
Só dei duas garfadas na torta quando a voz de Zach ressoa
pela salao:
— Temos uma novidade.
Quase engasgo com o pedaço de carne na minha boca,
precisando beber metade do suco de cranberry no meu copo para
recuperar.
Eles já estão casados há alguns anos.
Então, quando um casal diz isso só pode ser…
— Você está grávida? — Questiono de uma vez, desviando os
olhos para minha mãe.
Agora, é vez da minha mãe se engasgar, mas com a bebida.
Vinho.
É, acho que me precipitei na pergunta.
— Não, filha, claro que não — responde, totalmente ultrajada
e eu dou de ombros.
— Foi a única notícia que me veio à mente.
Eles se entreolham e algo me diz que a ideia de ter um filho
juntos não é algo que descartaram completamente.
Ai, meu Deus! Imagina só um irmãozinho — ou irmãzinha —
ou dois, três deles, porque há chances de virem gêmeos ou
trigêmeos, correndo pela casa e…
— Asher vai vir morar conosco — e de repente, a ideia da
minha mãe estar grávida de gêmeos não parece tão ruim assim.
— O quê? — Indago, meu olhar agora focado em Zach.
Só pode ser algum tipo de pegadinha.
Asher Blakewood — filho dele — é a definição de um demônio
na terra.
Não, um demônio na minha vida.
Desde o primeiro dia em que nos conhecemos, nossa energia
não bateu.
Ele era um molequinho de nove anos muito atrevido e
linguarudo.
Com o passar dos anos, isso não mudou.
Após o divórcio e a mudança dele e de sua mãe, Lindsay, ele
se tornou ainda pior — se isso é possível.
Ele costumava aparecer — forçado pela mãe — em recessos
escolares e certos feriados, e durante sua estadia aqui, transformava
meus dias no próprio inferno. Sempre com pegadinhas nada
engraçadas — como substituir o creme dental por pasta de alho,
vários despertadores tocando a noite toda; certa vez, ele até cortou
meu cabelo enquanto eu dormia — e comentários desnecessários
sobre minha aparência, personalidade e como meu hálito era fedido
— por culpa dele, porra.
Eu o detesto.
Desde o primeiro instante.
O ódio, na verdade, se formou aos poucos quando fomos
crescendo e ele não parava de importunar a porra da minha vida
sem nenhuma razão. E, bem, mamãe me ensinou a nunca levar
desaforo para casa, ainda mais de homens.
Quando ele me provocava, eu devolvia na mesma moeda.
Já troquei seu shampoo por maionese, salgadinhos recheados
com pimenta e espalhei para todas as garotas da cidade que ele
tinha clamídia; naquele verão, ele ficou sem transar todos os dias
em que se hospedou aqui.
Éramos… imparáveis.
— Ele teve uma confusão com a universidade que escolheu e,
por isso, vai estudar um ano em Alberta, até poder se transferir —
Zach explica e eu retorno minha atenção para ele. — E morar com a
gente.
Ele não passou para o MIT, é o que minha cabeça deduz.
Asher queria estudar em Massachusetts, em uma das
melhores faculdades de engenharia e… e ele não foi aceito.
Se eu me importasse, ficaria chateada com isso, mas… não
estou nem aí para esse imbecil.
— Hum… tá bom — respondo, sem saber o que eles esperam
de mim.
Eu quero dividir o mesmo teto com ele?
Não.
Posso expressar essa opinião em voz alta e clara?
Tecnicamente, posso, mas não vai adiantar de nada porque…
bem, Asher ainda é filho de Zachary.
— Eu vou conversar com ele — Zach informa e eu franzo as
sobrancelhas. — Sobre os limites entre vocês dois.
Não controlo a risada que tenta escapar de mim e ambos
percebem.
— Vocês já estão mais velhos — minha mãe diz, tentando
ajudar na situação. — E não se veem há um bom tempo… tenho
certeza que os dois amadureceram.
Ela não perde a chance de enfatizar que nós dois éramos —
somos? — terríveis.
Asher não veio nessas férias de verão, e no recesso de
primavera eu estava passando ótimas duas semanas com Emma em
Charleston, na Carolina do Sul, para aturá-lo aqui.
Quer dizer que não nos vemos desde o natal do ano passado.
Graças a Deus.
— Se ele ficar no canto dele, não vamos ter problemas —
declaro, porque é exatamente isso.
Posso aguentar um ano com Asher se ele não invadir meu
espaço pessoal.
Posso, não é?
— Asher é difícil, mas é um bom garoto — Zach comenta,
abrindo um leve e admirado sorriso quando fala do filho. Mesmo que
o tal filho o trate como merda desde a separação dele e da mãe. —
Tenho certeza que vamos todos ter maravilhosos momentos juntos.
— Vamos sim, querido — mamãe responde, apertando sua
mão por cima da mesa e eles trocam um olhar nojento de tão
apaixonado.
Voltamos a comer logo depois e outros assuntos surgem na
mesa, diferente da vinda de Asher para cá, mas percebo que meu
padrasto está um pouco tenso.
Ele não exagerou quando disse que o garoto é difícil.
Na verdade, ainda acho que seja um eufemismo para
descrevê-lo.
Contudo, não vou deixar que um mauricinho metido a playboy
estrague meu segundo ano de faculdade.
Na minha cidade.
Com os meus amigos.
Ele está voltando, mas para o meu mundo dessa vez —
porque ele perdeu esse direito quando construiu outra vida em
Toronto.
Asher Blakewood vai ver que na Universidade de Alberta é
tudo sobre poder.
E esse poder… bem, está concentrado nas minhas mãos.
Garoto, não é tão complicado
Você deveria ficar nas minhas boas graças
Ou eu vou mudar assim tão rápido
Porque ninguém é mais incrível
Em transformar amor em ódio
Good Graces | Sabrina Carpenter

Apesar da previsão ter sido de chuvas para a semana inteira


— a última antes das voltas às aulas —, felizmente, o tempo só
muda no fim da tarde, deixando que o sol quente do verão paire no
céu durante boa parte do dia.
Como alguém que é fascinada por dias ensolarados, aproveito
todos eles na piscina, e, é claro que com Emma de volta a
Edmonton, eu não poderia estar em outro lugar senão em uma
espreguiçadeira com minha melhor amiga ao meu lado. O
bronzeador queimando a pele e a água gelada no cooler com gelo
ao nosso lado.
Se existe vida melhor, eu realmente não a conheço.
— E aí, depois da praia, nós voltamos para o quarto e
tomamos banho juntas. Sabe, o banheiro tinha uma janela do chão
ao teto e podemos observar o mar dentro do box. Surreal, não é? —
Emma continua falando sobre suas férias no Havaí com a família da
namorada enquanto bebemos na beira da piscina.
Ela segura uma batida de morango e eu, de abacaxi — aos
olhos da minha mãe, sem álcool, mas roubamos um pouco do
armário de bebidas de Zach quando eles saíram para almoçar e
comemorar tantos anos de casados.
— Demais, Em — respondo, sugando o líquido com o
canudinho listrado.
— Eu tenho fotos — conta, animada, virando-se de lado na
espreguiçadeira. — Hum… na verdade, não — muda de ideia, de
repente, e eu ergo as sobrancelhas. — Eu tenho fotos, mas… mas,
estamos nuas.
— Ai, meu Deus! Não quero ver de jeito nenhum! — Exclamo,
antes que ela insista.
Minha melhor amiga não tem vergonha.
Nenhuma.
Ela facilmente me mostraria fotos dela e de Sydney no
chuveiro do quarto, de costas para o pôr do sol na praia, nuas.
É arte.
Ou todo mundo tem mamilos, seria um dos argumentos dela
para me convencer que não é nada demais.
E, realmente, pode não ser nada demais ver alguém pelado,
mas eu traço a linha na minha amiga e na sua namorada — que eu
vejo todos os dias e não sei se sou madura o suficiente para olhá-las
com os mesmos olhos depois.
— Você que está perdendo — diz, dando de ombros e
também bebericando do seu coquetel. — Mas e você? Não fez nada
de interessante nos últimos dias?
Suspiro, deixando minha bebida de lado para o que vem a
seguir.
— Você não vai acreditar — começo, construindo o clima de
suspense entre nós.
Não há — quase, já que agora ela ame tudo que envolva Syd
— nada que Emma Kimura goste mais do que uma boa fofoca.
— O quê? — Indaga, sem hesitar, deixando o copo de lado
também. — O que aconteceu?
Não seguro a risada que cisma em escapar e isso a deixa
irritada.
— Para de bobeira e conta logo. Ta me deixando bizarramente
curiosa — reclama, e até mesmo se senta na cadeira de praia, com
as pernas jogadas para o meu lado e o queixo apoiado na mão que
descansa em um de seus joelhos. — Desembucha!
Ainda achando um pouco de graça da curiosidade — leia-se:
espírito de fofoqueira de uma senhorinha de oitenta e cinco anos —
dela, eu empurro os óculos para cima da cabeça e me preparo.
— Asher vai voltar — solto de uma vez e os seus olhos se
esbugalham, em choque.
Ela abre e fecha a boca, parecendo querer dizer algo, mas
nada sai.
Ah, amiga, eu te entendo.
Conheci Emma no primeiro dia na escola nova, um pouco
depois que me mudei e nos tornamos amigas de cara porque ela
tinha acabado de se mudar para cá também, no último verão. E
como essa cidade não perdoa ninguém, ela, assim como eu, estava
solitária. As garotas da nossa classe mal olhavam em nossa direção,
e os meninos… nos odiavam.
Isso tinha um dedo de Asher, claro.
Ou seja, nós não tínhamos ninguém e nos unimos — ela por
ser a garota nova, e eu, por ser a coitada que estava morando de
favor na casa dos Blakewood.
Aguentamos comentários maldosos, piadinhas e até mesmo
algumas brincadeiras nada engraçadas durante muito tempo. Piorou
quando Asher se mudou e deixou para trás uma história falsa que
minha mãe era uma destruidora de lares.
O que, porra, não é verdade.
Aquele imbecil não entende que o casamento dos pais estava
fadado ao fracasso desde o início porque… bem, porque seu papai
nunca esqueceu a minha mãe.
Em todos aqueles anos.
Cá entre nós, ela é mesmo inesquecível.
De qualquer forma, eu e Emma lutamos muito para conseguir
nossa ascensão social nos anos escolares.
Experimente ser a menina nova, filha da destruidora de lares
e seu irmão postiço colocar uma regra que nenhum garoto podia
falar com você?
É, não é nada legal, ainda mais porque puxei minha única
amiga para o fundo do poço comigo.
Por isso, durante muitos e muitos anos, nós decidimos que
não seríamos mais as otárias excluídas de Belgravia.
Não, nos tornaríamos aquelas que todos iriam desejar ser ou
ter.
Como mamãe diz, eu sou bem determinada quando quero
alguma coisa e não deixo que nada entre no meu caminho.
Tudo mudou no segundo ano do ensino médio.
Asher ainda aparecia para visitas, mas não tinha mais o
controle. Ele não podia impedir ninguém de falar comigo ou de me
chamar para as festas. E quando nós duas fomos aceitas no time de
líderes de torcida, nossa vida social acendeu de vez.
Ele foi destronado.
E em seu lugar, uma nova rainha passou a reinar.
Sorrio apenas lembrando de como foi difícil, mas eficaz, o
caminho até aqui.
— Como assim ele vai voltar? — Emma pergunta, me tirando
das memórias que insistiram em aparecer na minha mente.
— Ele vai fazer faculdade aqui.
— Na… na Universidade de Alberta?
— Exatamente.
Silêncio.
Ela me encara e eu encaro ela.
E de repente…
— Puta que pariu! — Exclama, tão transtornada quanto eu
com essa notícia.
Emma sabe muito bem o inferno que aquele babaca fez na
minha vida. Tanto de longe — por meio de Kevin Turner, seu melhor
amigo de infância e braço direito —, quanto em suas visitas
esporádicas.
— E vai morar aqui… durante um ano — completo a cereja do
bolo e a boca de Em se escancara ainda mais.
— O quê? — Reage, surpresa demais e eu arqueio uma
sobrancelha loira para ela. — Ah, tudo bem, ele é filho de Zach,
então, faz sentido… — a frase morre na metade quando ela lembra
de mais alguma coisa. — Mas… espera! Um ano? Ele não vai ficar
durante todo o tempo de faculdade? — Questiona, confusa, e me
apresso em negar com a cabeça.
— Ele vai fazer transferência depois dos primeiros semestres.
Graças a Deus.
Morar sob o mesmo teto que Asher Blakewood durante quatro
anos?
Não, muito obrigada, eu passo essa oportunidade.
— Isso é… — Em pausa, procurando as palavras certas. —
Totalmente inesperado.
— Eu que o diga — respondo, alcançando minha bebida na
mesinha entre nós.
Desço os óculos para meu rosto novamente e me viro,
voltando a focar na missão de manter o bronze em dia, antes que os
meses frios se aproximem.
Contudo, sou impedida pela mão delicada de Emma puxando
meus óculos para cima.
De novo.
— E como você está com isso? — Pergunta, um pouco
preocupada, e eu dou de ombros.
— Está fora do meu controle — falo, sinceramente. — Se ele
ficar no quadrado dele, e eu no meu… não vamos ter problemas.
Minha amiga não cai nessa.
Claro que não.
Ela leva esse título por um motivo.
— Vocês estavam à beira de se matarem da última vez que
ele esteve aqui — relembra.
Com isso ela quer dizer que, no último Natal, Asher encheu
meu prato de pimenta enquanto eu estava no banheiro e quase
fomos parar no hospital. E claro que não saí por baixo. Ele podia
odiar minha mãe, porém, é alucinado pelos biscoitos de menta e
chocolate que ela faz naquela época do ano. Então, não pensei duas
vezes em substituir a menta por wasabi e, mais uma vez, ter quase
custado uma visita no hospital no feriado.
Ops.
Se ele quer me foder, eu posso fodê-lo ainda pior.
— Se ele se comportar, eu me comporto — respondo mais
uma vez, honestamente.
Esse jogo entre nós acontece por conta dele.
Asher começa.
Todas as vezes.
E eu não posso deixá-lo vencer.
— E aquele crush… está mesmo totalmente superado? — A
pergunta de Emma quase me faz cuspir toda a bebida para fora.
— Emma, pelo amor de Deus! Não me lembre dos meus
tempos obscuros — digo, fazendo a melhor cara de enojada que
consigo.
Meu irmãozinho pode ser o filho da puta número um,
contudo, não posso negar que o desgracado é gostoso.
Com os cabelos castanhos escuros, os olhos da mesma cor —
mas com um olhar capaz de tirar a calcinha de qualquer uma —;
tudo piorou quando ele apareceu nas férias de verão, durante nosso
terceiro ano, com algumas tatuagens espalhadas pelo seu corpo.
Porra.
Deus deveria proibir alguém de ser bonito e babaca na
mesma proporção.
E, bem… talvez eu tenha me masturbado algumas vezes com
a visão dele sem camisa, na piscina, durante aquelas férias.
Afinal, sou uma mulher com olhos e com necessidades.
— Tem certeza? Porque, sabe… ele parece estar mais gato a
cada dia — comenta, em um tom de provocação e olho desnorteada
em sua direção.
— Emma?
Que caralhos ela está falando?
Ela de ombros, um sorrisinho divertido se abrindo em seu
rosto.
— Posso ser lésbica, mas sei apreciar quando uma pessoa é
bonita, amiga, mesmo homens — diz, bebericando seu coquetel
outra vez. — Só estou dizendo que… você não acha que todo esse
ódio encubado dos dois pode ser tesão?
Agora, não resisto e deixo que uma gargalhada escandalosa
preencha o silêncio que se segue após sua indagação sem noção.
— Amiga, é sério? Você bebeu um copo e já está falando
asneira?
Ela levanta as mãos em rendição, como uma inocente.
— Foi só uma ideia, mas se você tem certeza que não…
— Tenho — respondo, sem hesitar.
Tesão? Por Asher Blakewood?
Depois dele ter tornado minha vida um inferno?
Só nos melhores sonhos dele.
Posso ter tido um crushzinho infantil nele há alguns anos —
em minha defesa, eu tinha menstruado na primavera anterior e meu
corpo estava se acostumando com os novos hormônios —, mas não
passou disso.
Passou.
No passado.
Não sinto mais nada.
Digo… o único sentimento que meu peito nutre por ele é
ódio.
E se ele quiser voltar a brincar comigo, posso afirmar com
toda certeza que não vou me acovardar e serei dez mil vezes pior.
Asher não conheceu a Philippa Caldwell versão universitária.
Com muita confiança, amigos e coragem.
Com poder.
Ele não perde por esperar se acha que continua sendo o rei
de Belgravia.
Olá, irmãozinho, temos uma nova rainha e é melhor você ficar
do lado dela se quiser ter um ano tranquilo na Universidade de
Alberta.
Ouvi dizer que você está de volta à cidade
E não mudou nada, cara
Você começa a falar com o homenzinho
É hora de você conseguir o que merece
[...]
Mexeu com a cadela errada na época errada
Eu estive no trabalho e recebi meu distintivo de honra
Querido, eu mudei muito desde a última vez que te vi
Little Girl Gone | CHINCHILLA

Parece que a cada volta a Edmonton, a cidade parece ainda


mais… diferente.
Quer dizer, ela continua igual.
Mas também… não.
O aeroporto foi expandido nos últimos anos e a minha loja
favorita de cookies recheadas foi substituída por uma Victoria Secret
's.
Os quintais dos vizinhos não tem mais brinquedos e piscinas
de plástico espalhados pela grama nessa época do ano. Agora, há
carros esportivos e biquínis pequenos demais pendurados no varal.
A minha casa… do meu pai, é a mesma, mas, ao mesmo
tempo — como tudo aqui —, não é.
Não há flores no jardim da frente — já que era a minha mãe
que costumava cuidar dessa parte de floricultura.
Há dois carros na garagem e nenhum deles é um de sete
lugares, grande, como o que mamãe curtia.
O apartamento em cima da garagem foi reformado depois
que as antigas moradoras se mudaram para a casa principal, e pelo
que soube, da última vez que estive aqui, é um estúdio para
Victoria.
Porque é claro que ela não tem um emprego de verdade e
vive pintando quadros durante horário comercial.
Nada contra artistas e seus trabalhos.
No entanto, tenho muitas reclamações contra minha
madrasta, ainda mais, contra sua filha.
E pensar que vou ter que passar dois semestres aturando as
loiras mais interesseiras e idiotas da face da terra.
Victoria fica no canto dela. Não me perturba, apesar de tentar
puxar conversa fiada de vez em quando e eu precisar cortá-la.
Ela acha mesmo que vou conversar sobre a possibilidade de
neve no dia seguinte ou como o preço do tomate aumentou com a
mulher que roubou o lugar da minha mãe?
As pessoas precisam se colocar em seus lugares.
Philippa, principalmente.
Ao contrário da sua mãe, ela não abaixa a cabeça para mim.
Ela revida.
Todas as malditas vezes.
E eu juro por Deus, se essa garota ten…
— Você pode ficar no seu antigo quarto — meu pai informa
enquanto empurramos as malas para casa, logo após estacionarmos
o carro, e me tira dos meus devaneios.
Essa garota é como um parasita na minha mente.
— Pelo menos alguma coisa não foi tirada de mim —
comento, baixinho, soltando um assovio.
Não tão baixo quanto imagino, porque antes de destrancar a
porta da frente, Zachary vira-se de frente para mim e quase
trombamos com sua parada abrupta.
— Você pode pelo menos tentar? — Pergunta, e parece…
cansado. De mim. Claro que ele não aguenta nem uma viagem de
pouco mais de duas horas e meia com seu próprio filho. — Vamos
ficar um ano juntos, Asher. Acha que consegue…
— Aceitar sua nova família? — Corto-o, cruzando meus braços
e levando o dedo indicador ao queixo, fingindo pensar. — Não. Só
diga para suas novas filha e esposa que fiquem longe do meu
caminho e ficará tudo bem.
Meu pai suspira, passando a mão pelo rosto, um pouco… sem
saída.
Ele sabe que não tenho mais onze anos e não pode me
controlar.
Estou quase do seu tamanho e durante grande parte do meu
tempo livre, estou na academia ou arrancando com a minha moto
por aí.
Não sou mais o Asher de nove anos, aquele que tinha seu
papai como exemplo.
— Você precisa respeitá-las, assim como elas o respeitam —
seguro uma risada, porque se ele acha que Philippa tem um pingo
de respeito por mim… não conhece mesmo a garota que mora sob
seu teto. — Estou falando sério, Asher. Respeito. Entendeu?
Ergo as mãos em sinal de inocência, não deixando o sorriso
murchar em meu rosto.
— Você quem manda, papai.
Ele respira fundo mais uma vez e finalmente adentramos a
casa que passarei meu próximo ano.
Deveria ser um conforto estar de volta no lugar que passei
grande parte da minha infância mas… não é.
Não quando os quadros do hall agora exibem imagens dele
com Victoria, formaturas escolares de Philippa e algumas minhas
ainda não foram retiradas — porque não duvido que eles farão isso
o quanto antes.
Onde antes ficava um cabideiro para se colocar casacos de
inverno, agora, há uma cômoda pequena e um espelho redondo
dourado. Brega. Quando passo pelos cômodos do primeiro andar —
como sala de estar, tv e até mesmo o lavabo — noto que esse não é
o lar que eu morava.
Depois que elas se mudaram definitivamente para cá, na
verdade, o sentimento apenas se intensificou.
Não reconheço esse lugar.
— O jantar já deve estar quase pronto — meu pai diz,
empurrando as malas para um canto do corredor. — O que acha de
jantarmos todos juntos, para colocarmos as novidades em dia e
depois você se acomodar?
— Eu tenho opção? — Retruco, virando-me de frente para ele
depois de espionar o banheiro do primeiro andar e notar o novo
papel de parede de gansos.
Como vou mijar com a porra daquele animal em observando?
— Você sempre tem o poder da escolha — responde,
segurando meu ombro e, delicadamente, nos levando para a sala de
jantar. — Mas agora, vai comer conosco porque Victoria está
preparando a comida há horas por sua causa.
Foda-se sua nova esposa e a vontade de agradar a familia
que ela separou, porra.
Eu não falo isso, mas passa pela minha cabeça.
Tenho que maneirar.
É o primeiro dia de muitos outros, e se eu me estressar
agora…
É melhor não.
Por isso, em uma das primeiras vezes há anos, eu não
reclamo e obedeço ao meu pai sem que precise pedir duas vezes.
Posso confirmar que até ele fica surpreso com meu
comportamento e vejo a sombra de um sorriso em seus lábios.
Se ele acha que isso vai se tornar corriqueiro…
— Asher! Você chegou! — É a voz fina, animada e estridente
de Victoria Caldwell, ou melhor, Blakewood agora, que me recebe
quando adentro o local.
Os cabelos loiros estão presos em um coque no alto da
cabeça, a pele bronzeada por debaixo do avental com a frase
“Cuidado: pode conter amor ou pimenta demais” e um sorriso
grande exagerado estampado em sua boca rosada.
Ela se aproxima, cumprimentando o marido com um selinho
casto nos lábios e tenho certeza que estão conversando sobre nossa
viagem até aqui, mas minha mente está em outro lugar.
Em outra pessoa.
Philippa Caldwell.
A garota já está sentada na mesa, mexendo distraidamente
no celular. Os cabelos loiros lisos estão molhados, como se tivesse
saído do banho há pouco tempo e o excesso de água deixa a regata
fina rosa clara ainda mais transparente. Os peitos… cacete, acho que
eles cresceram desde a última vez que a vi. E tenho quase certeza
que seu mamilo quer dar boas vindas para mim também. A
marquinha fraca de biquíni é… sexy, assim como a boca carnuda
brilhante de hidratante labial.
Ela pode ser uma cobra, porém, não posso dizer que a
desgraçada é feia.
Ela tem uma beleza letal. Daqueles que deixam alguns de
joelhos e outros, capazes de matar seu primogênito para ter 1% do
que ela tem.
E, porra, ainda é gostosa pra caralho.
Ainda mais com seus peitos duas vezes maior e a bunda
redonda por conta dos treinos de líderes de torcida — que não
preciso ver para saber que deve continuar grande e uma delícia com
a sainha curta verde.
Parecendo sentir meu olhar sobre si, ela finalmente ergue os
olhos do aparelho e suas irises esverdeadas encontram as minhas.
São como esmeraldas, pedras preciosas.
Ela franze as sobrancelhas loiras quando eu não desvio o
olhar, confusa, e eu lhe lanço uma piscadela.
Philippa revira os olhos e volta a prestar atenção na tela.
— Pode se sentar, Asher. Já vou trazer o prato principal, mas
os acompanhamentos estão servidos — Victoria diz e, quando ouço
meu nome, giro minha cabeça em sua direção.
Apenas assinto e vou até a mesa grande de jantar.
Com oito lugares, há cadeiras de sobra.
Mas… bem, não posso deixar passar a chance.
Então, não hesito em ocupar o lugar vago ao lado de Philippa.
Ela bloqueia o celular na mesma hora e gira o corpo, ficando
de lado e com a expressão bem enfurecida.
— O que você pensa que está fazendo? — Questiona,
cruzando os braços e arqueando as sobrancelhas.
Cacete, os peitos quase pulam para fora quando ela faz isso e
preciso me segurar para não descer o olhar para eles.
Abro um sorriso lascivo e dou de ombros.
— Jantando — respondo e ela quase rosna para mim.
Imagina se ela faz esse som na cama enquanto eu a pene…
Não.
Porra, que merda de pensamento é esse?
— Tem outros seis lugares e você quer ficar aqui? — Volta a
me perturbar, bem indignada por eu querer ser um bom irmão.
— Exatamente, irmãzinha.
Ela bufa diante do apelido e com apenas duas mãos, tenta
equilibrar o prato, copo e celular para encontrar outra cadeira.
No entanto, não consegue.
Ah, como é bom o carma, Philippa Caldwell.
— Filha, onde você vai? — A mãe pergunta enquanto põe a
travessa entre nós. — O jantar já está aqui.
A loira pensa em retrucar, noto pelo seu semblante trincado,
porém, algo no olhar da mãe a faz recuar.
Ela coloca os utensílios por cima do jogo americano e força
um sorriso.
— O cheiro está delicioso, mãe — comenta, se ajeitando.
— Está mesmo, querida — meu pai concorda e eu preciso
segurar a vontade de revirar os olhos enquanto participo dessa
novela de família feliz que eles estão interpretando.
É… tenebroso.
— É salmão grelhado com batatas gratinadas, Asher —
Victoria explica, como se eu não tivesse olhos e não pudesse ver o
peixe laranja. — Seu pai disse que é seu favorito.
É
É claro que ele disse.
— Gosto de como minha mãe prepara — alfineto, com um
sorriso terno no rosto e finjo que é apenas um comentário banal.
A expressão da minha madrasta se fecha no mesmo instante
e ela força um sorriso.
— Espero que você goste da minha versão também — é o
que responde, enchendo uma taça de vinho branco para si e para o
marido.
Victoria está… diferente.
Normalmente, ela sorriria e mudaria de assunto, porém, ela,
de alguma forma, respondeu a altura.
Tentou, porque pouco me importa se ela cresceu alguns
culhões nos últimos meses.
Foram esses culhões que a incentivaram a destruir uma
família, então, eu não deveria ficar tão surpreso assim.
— Engenharia mecânica, não é, Asher? — Pergunta, trazendo
outro assunto à mesa.
Eu desvio o olhar para meu pai, que me observa
cautelosamente, e posso ver um pedido em seus olhos “por favor,
tente”, como me disse antes de entrarmos.
Molho os lábios e me viro novamente a sua esposa, tentando
me comportar por alguns minutos.
Só preciso terminar de comer e me trancar no quarto até o
dia seguinte.
— É, isso — respondo, educado, mas sucinto.
Para não lhe dar abertura a se estender no tópico.
Ou em qualquer outro, para ser honesto.
— Pippa tem alguns amigos que fazem engenharia também.
Não, filha?
O som dos talheres cortando o peixe cessam e ela ergue o
olhar do prato, alternando-o entre eu e sua mãe.
Assim como eu, eu sei que ela também quer dar uma
resposta atravessada.
Nesse caso, para mim, não para sua querida mãe.
Eu e você somos iguais, irmãzinha.
— Bradley não declarou ainda o que quer. Ele está testando
alguma delas — conta, mais para Zachary e Victoria do que para
mim. — E Knox… acho que ele faz economia ou algo parecido.
— Ah! E Emma está cursando Ciência da Computação — meu
pai completa e Pippa sorri, parecendo feliz que seu padrasto lembre
o que sua melhor amiga estuda.
Ele é o reitor da universidade, então não é uma surpresa tão
grande assim, mas… mas mesmo assim.
Não gosto de ver essa relação que ele mantém com a
enteada ser tão… pacífica. Calorosa. Especial. Unida
Como se ela fosse sua filha.
— Pai — chamo-o, querendo testar algo e sua cabeça gira
imediatamente na minha direção. — E Kevin? O que ele vai fazer?
Kevin Turner é o meu melhor e único amigo que continuo
cultivando uma relação de amizade desde que me mudei. Com a
pele negra escura, olhos castanhos, cabelo — agora — raspado e um
talento bizarro para o futebol americano, o cara é uma das melhores
pessoas que já conheci. Ele até mesmo passou algumas férias em
Toronto comigo, e quando venho visitar, estamos juntos em
praticamente todos os momentos.
Ele é da família, como minha mãe costuma dizer.
Eu sei tudo sobre a vida do meu amigo, óbvio, mas gostei da
ideia de saber se meu pai sabe.
Afinal, eu sou seu filho e Kevin é o meu melhor amigo.
— Hum… — Ele faz um gesto para que eu o espere terminar
de mastigar, dando-lhe mais tempo para pensar. — Ele queria algo
como… como educação física, não é? Não me lembro da sua ficha
de inscrição e se já declarou o curso.
— Você precisa ter acesso a inscrição e Kevin, o meu melhor
amigo desde o jardim infância, para saber o que ele vai estudar,
sendo que estamos sempre juntos por aqui? — Indago, embora seja
um questionamento retórico. — E diga-se de passagem, ele fala
muito sobre esse assunto.
Passei o último ano do ensino médio inteiro ouvindo-o falar
sobre todos os planos B, C e D caso a carreira na NFL não desse
certo, e todos eles incluíam seguir na fisioterapia esportiva.
O clima da mesa pesa quando ninguém diz mais nada.
Porra.
É claro que ele não saberia, como pude acreditar que sim?
Solto uma risada baixa de escárnio, empurrando a cadeira
com mais força do que necessária para trás. De soslaio, Pippa me
encara e sua mãe está paralisada, deixando com o que o marido lide
com a situação.
— Vou terminar no meu quarto — aviso, recolhendo meu
prato e talheres. — Boa noite, família feliz.
— Asher… por favor — Zach pede, mas eu apenas balanço a
cabeça negativamente.
— Vou deixar você a sós com sua esposa e filha, papai —
respondo ironicamente e lhe ofereço um sorriso falso antes de sair
batendo a porta, direto para o segundo andar.
No fundo, sei que essas merdas não deveriam me chatear.
Contudo, o garotinho de nove anos que vive dentro de mim e
tinha a figura do pai como seu super herói, ainda quer acreditar que
aquele cara existe e se importa.
A culpa é sua por ser um babaca idiota que acha que as
pessoas podem mduar.
Digo, Zachary mudou sim.
Ele mudou quando colocou aquelas vagabundas para dentro
de casa e eu e minha mãe — a porra da sua familia — para fora.
E se ele não se arrependeu ainda disso, eu vou fazê-lo se
arrepender.
Ele, Victoria e, lógico, a cereja do bolo:
Minha doce irmãzinha Philippa.
São por volta das dez e meia da noite quando sou vencido
pela desidratação e arrisco sair do quarto para beber um copo de
água — e faço uma anotação mental para comprar um frigobar e
não passar por isso.
Analiso o corredor e quando ouço a televisão do quarto
principal ligada, assumo que seja o meu momento para descer e
subir em velocidade recorde e não esbarrar com nenhum morador
dessa casa.
Não de propósito, ao menos.
Porque quando passo pela porta do quarto de Pippa e
percebo que está entreaberta, não me controlo.
Empurro-a lentamente ao mesmo tempo que adentro o
cômodo e noto que… que é bem a cara dela.
A cor predominante é rosa. Há uma cadeira transparente
giratória, estilo anos 2000, em um canto, e uma almofada felpuda
como decoração. A televisão está pendurada em cima da lareira e,
embaixo da janela, há sua escrivaninha com um quadro repleto de
fotos. Com Emma, outros amigos que não conheço e, claro, sua
mãe.
Babacas.
— O que você quer? — A garota pergunta, finalmente
percebendo minha presença e pausando o que quer que tivesse
assistindo no laptop.
Os cabelos loiros estão sendo segurados por uma tiara da
Hello Kitty e ela está deitada de bruços na cama, com seu pijaminha
rosa curto demais para uma casa de família.
Caralho, consigo ver a polpa da sua bunda e, por isso, me
forço a desviar o olhar.
Ela é gostosa, mas não posso lhe dar o poder de saber os
pensamentos perversos que passam pela minha mente quando a
vejo.
— Que porra é essa na sua cara? — Pergunto, apontando
para o seu rosto coberto por uma merda verde.
— É máscara de argila, idiota — responde, revirando os olhos
verdes e sentando-se na cama.
Graças a Deus, penso, mas é cedo demais.
Porque agora, fico cara a cara com os bicos endurecidos do
seu peito por trás da parte de cima de seda da roupa de dormir.
— Vai me dizer o que quer ou só ficar me secando? — Indaga
e quando ergo os olhos para seu rosto, vejo um sorriso brincando
em seus lábios.
A desgraçada sabe que é bonita, e essas são o pior tipo.
— Passei para dizer que estou muito animado para passar
esse ano com você, irmãzinha — digo qualquer merda que vem à
minha cabeça porque, honestamente, não faço ideia do porquê vim
até aqui.
— Sabe, você não deveria me chamar de irmãzinha logo
depois de me comer com os olhos. É perturbador — retruca e eu
dou esse ponto para ela.
Fui um burro de ter deixando seu corpo me cegar.
Não lhe dou chance de insistir nessa merda quando percebo
um porta retrato em sua mesinha de cabeceira, em que ela e Emma
Kimura, a tal melhor amiga, sorriem abraçadas para a câmera com o
uniforme de líderes de torcida da Universidade de Alberta, e sei
como mudar o tópico da conversa.
— Me diga, Pippa, você consegue algum privilégio por ser
enteada do reitor ou sua mamãe usa dele o dinheiro para comprar
sua aprovação nas matérias?
Acompanho o exato instante em que ela digere minhas
palavras cruéis e sua expressão se fecha.
Ela está puta.
Mas quando cruza os braços e inclina a cabeça, fixando as íris
nas minhas, sei que não vai sair por baixo.
— Me diga você, Asher. Como é o nepotismo de entrar em
uma faculdade de última hora só porque o papai manda lá? —
Rebate, venenosa e eu não impeço o sorriso de se formar em minha
boca. — As pessoas não são burras. Vão saber que você só está lá
porque o reitor Blakewood faz uma vista grossa para o filhinho
rebelde quando ele foi burro o suficiente para se inscrever em
somente uma univerisade.
Como essa piranha sabe di…
Porra.
Ajo rapidamente; em três passos, meus joelhos batem contra
sua cama e, com uma das mãos apoiadas em seu colchão, ao lado
do seu quadril, uso a outra para prender sua garganta. Não forte
demais capaz de limitar sua respiração, mas o suficiente para que eu
mantenha seu rosto estático e a centímetros dos meus.
É uma força descomunal que uso para não descer meus olhos
para sua boca rosada e carnuda, muito convidativa.
— Saia da porra do meu caminho, aqui e no campus, e te
deixo em paz — aviso e Pippa sorri gracisoamente para mim.
— Você é quem precisa se afastar de mim, irmãozinho —
retorna o apelido que tanto gosto de chamá-la. — Belgravia não é
mais a mesma de quando você morava aqui. É melhor ter cuidado.
Uma risada escapa de mim.
— Cuidado? — Repito, achando patético sua encenação toda.
— Acha que pode me colocar medo? Por favor, Philippa, você é
quem deve estar fazendo xixi nas calças todas as noite desde que
soube que eu iria voltar.
Ela deixa que seu sorriso se alargue ainda mais.
— Mantenha-se longe de mim e não teremos problemas —
avisa, e com um aperto no meu pulso, ela empurra minha mão e se
afasta. — Agora, se me der licença, estou ocupada demais para lidar
com você.
Philippa acha mesmo que pode me dispensar assim quando
eu…
Meus olhos recaem para sua blusinha e, dessa vez, o sorriso é
meu.
Aceno com a cabeça e caminho até a porta, contudo, antes
de sair definitivamente, olho por cima do ombro e meus olhos
encontram os dela.
— Se você está tentando fingir que não se excita perto de
mim, Pippa, deveria investir em tecidos mais pesados do que esses
que mostram exatamente como seus peitos estão duros por minha
causa.
Ouço seu grito e me desvio, fechando a porta, antes que a
almofada que ela arremessa em minha direção me atinja.
Nós fumamos cigarros, cara, sem arrependimentos
Gostaria de poder reviver cada palavra
Nós pegamos caminhos diferentes
E viajamos por estradas diferentes
Eu sei que sempre acabaremos na mesma quando estivermos velhos
E quando você estiver nas trincheiras
E você estiver sob fogo, eu te cobrirei
Se eu estivesse morrendo de joelhos
Você seria o único a me resgatar
Brother | Kodaline

Ao menos o bairro, Parkdale, onde Kevin ainda mora com os


pais, continua exatamente como da última vez que estive aqui — ou
quase.
Grande parte das ruas são residenciais, como em toda
Edmonton, e há pouco movimento de carros fora do centrinho
comercial. As calçadas são mais largas que as nossas, porém
desgastadas. Os potes simples se estendem por toda a rua, por
exemplo, mas sei que quando sair daqui mais tarde, muitos deles
não estarão funcionando.
É uma comunidade aconchegante, acolhedora e fiel, apesar
de algumas dificuldades e brigas com o prefeito para mais atenção a
essa parte da cidade.
São pouco menos de vinte minutos de carro — e quase
cinquenta de ônibus — para chegar até aqui, e se a senhora Turner
não fosse professora do ensino fundamental em uma escola em
Belgravia, eu e Kevin talvez nunca teríamos nos conhecido, já que o
colégio católico daqui é excelente, como a mãe dele já comentou
algumas vezes.
Mas é claro que eu negaria a oferta de um vale refeição e um
salário maior para lidar com uns riquinhos mimados.
Foi o que a tia Cindy disse quando conversamos sobre ela ter
que dirigir todos os dias para o outro lado da cidade.
E, bem… sou eternamente grato por ela ter tomado essa
decisão e eu ter conhecido o meu melhor amigo.
Com um sorriso no rosto, eu viro na rua seguinte e já avisto a
casa da família Turner. É verde, mas está com a pintura um pouco
desgastada. A fachada é de madeira e há uma varanda pequena na
entrada. Por ser uma casa térrea, ela se estende até quase o fim do
jardim de trás, onde também está a garagem e, claro, a oficina do
senhor Patrick Turner, o local em que eu e seu filho adoramos passar
nosso tempo.
Quando me aproximo e sigo pelo beco até a parte de trás,
não me surpreendo em encontrá-lo em um carrinho rastejador,
daqueles que se usa para entrar embaixo dos carros e deslizar de
forma fácil para realizar algum conserto. O senhor Turner está com
uma calça jeans suja de graxa e chinelos — por mais que tia Cindy
brigue com ele frequentemente por ele não usar sapatos fechados
no trabalho —, além de, como sempre, uma regata branca e a blusa
de flanela azul que usa como toalha para o suor, pendurada no
quadril.
Ele não percebe quando me aproximo e uso essa vantagem
para assustá-lo, me apoiando entre suas pernas no capô do carro e
jogo um parafuso no chão para chamar sua atenção. O plano não
falha e em instantes, ele dá impulso com o pé e desliza com o
carrinho para fora de debaixo do carro, dando de cara com…
comigo.
— Porra, moleque! — Resmunga, me empurrando para o
lado, para poder se levantar. Eu estou rindo da sua reação, porém,
ofereço uma mãozinha. Que ele descarta, obviamente. —Já estou
ficando velho. Não pode fazer essas palhaçadas comigo.
— Também senti saudades, tio Pat — respondo, provocando-o
com o apelido que tanto adora.
— Já disse para parar de me chamar assim, garoto — me
repreende, mas sua falsa irritação logo se transforma em um sorriso
e me puxa para seus braços.
Ele está sujo, cheio de graxa e fedendo?
Sim.
No entanto, a família Turner sabe muito bem como dar
abraços.
Quando eu mais precisei, foram eles que estenderam a mão
para mim e me fizeram sentir como parte da família.
Para Cindy e Patrick, eu sou o terceiro filho que eles nunca
tiveram, já que Katie, irmã mais velha do meu melhor amigo, existe,
e vive confortavelmente com a nova família em Vancouver — e eles
pouco se veem por conta da distância, somente em datas
comemorativas.
Foi por isso também que não hesitaram em me adotar
quando as coisas se complicaram lá em casa.
Eles foram minha âncora enquanto o meu navio afundava.
— Kevin disse que ia voltar — conta quando nos separamos.
Ele puxa a blusa de flanela e começa a retirar o excesso de sujeira
das mãos; me apoio na mesa ao seu lado e brinco com meus dedos.
— Como está, Asher? Animado para começar os estudos?
— Não sei se animado é a palavra certa, mas es…
— Sabia que tinha ouvido sua voz, porra!
Kevin aparece na garagem, com um sorriso de orelha a orelha
e não tenho tempo para reclamar que ele atrapalhou nossa conversa
porque no segundos seguinte, estou nos braços de outro membro da
família Turner.
Hoje ele está com uma calça jeans surrada e uma regata
preta, deixando bem a mostra os músculos que tenho certeza que
vão fazer todas as garotas e garotos universitários não conseguirem
desviar o olhar. O boné virado para trás é seu charme à parte, assim
como a corrente de ouro que ele economizou durante três verões
quando trabalhávamos na oficina do seu pai.
Contudo, a característica mais marcante de Kevin é sua
simpatia, seu humor e sua lealdade.
— Achei que fosse chegar mais tarde. Porra, Asher! — Diz,
finalizando nosso abraço com um tapa forte nas minhas costas.
Acho que Kevin exagerou demais na academia nessas férias.
— É essa uma das razões de eu ter vindo — confesso,
apontando com o polegar para a moto empoleirada que deixo na
garagem do meu pai.
Kevin arqueia uma das sobrancelhas e troca um olhar
significativo com o pai, antes de virar-se para mim mais uma vez.
— E eu achando que você tinha vindo tão depressa porque
estava com saudades do seu melhor amigo — brinca, passando por
mim e caminhando até onde estacionei, tendo eu e seu pai em seu
encalço. — Qual é o problema?
— Algo com o freio, talvez? Não sei — dou de ombros,
observando meu bem mais precioso.
Foram três longos anos juntando a grana para comprar a
moto e me orgulho em dizer que não pedi um centavo para meus
pais — não que Zachary fosse me dar algo, mas dá para entender.
Entretanto, o salário que ganhamos nos verões para ajudar o senhor
Turner aqui não era tão alto e, por isso, não pude investir em algo
da última geração.
Em outras palavras: bato ponto no meu mecânico favorito e a
pessoa que me fez amar motos todas as vezes que estou na cidade,
já que há sempre um novo problema.
Se eu não fosse afobado, talvez teria esperado um pouco
mais e valeria mais a pena comprar uma nova e evitar todos esses
consertos.
— Deixa ela aí, saiam e voltem mais tarde — Patrick
praticamente ordena, se agachando para observar a moto. — Vou
dar uma olhada.
— Obrigado, tio Pat — digo, arrancando uma risadinha do seu
filho e um olhar fulminante do pai.
— Vá avisar sua mãe que Asher está aqui — o pai de Kev
sugere, apontando para a casa. — Ela disse que queria vê-lo antes
da vida se bagunçar com o começo da faculdade.
Estou prestes a fazer isso, porém, antes que eu possa
empurrar meu melhor amigo para sua própria casa, ele abre a boca.
Kevin é a pessoa que perde o amigo, mas não perde a piada.
— Sabe, pai, você está se tornando um pouco como o tio
Zach — comenta, alternando o olhar entre mim e seu pai enquanto
fala do meu. — Não quer mais passar tempo com os seus filhos
preferidos? Vai dar atenção para Katie que aparece uma vez por ano
ou quando precisa de dinheiro emprestado?
Porra.
Se fosse qualquer outra pessoa fazendo essa provocação, eu
iria partir para a agressão.
Mas é Kevin.
Ele sabe sobre isso porque eu contei.
Faz piadinhas sobre o assunto porque eu lhe dei liberdade.
E cá entre nós, ele não está errado em suas palavras.
— Me desculpe pelo meu filho, Asher — Patrick fala e seu
olhar penetrante é capaz de cortar Kevin ao meio. — Eu e a mãe
demos educação, mas ele deve ter batido a cabeça em uma chave
de fenda, em algum momento.
— Ou você pode ter arremessado em mim — retruca e sei
que ele está citando o evento da noite passada, quando quase fui
nocauteado por uma almofada de Philippa.
— Vou fazer isso agora se vocês não saírem da minha frente
— o outro responde, abrindo um sorriso falso para nós e erguendo
uma das ferramentas que segura, em um tom de ameaça.
Ele nunca faria isso, lógico.
Mas eu e Kevin não perdemos a oportunidade de gritar de
medo, saindo correndo em direção a sua casa.
Contornamos ao redor da residência e adentramos-a pela
porta dos fundos, saindo na cozinha, onde Cindy Turner está de
costas para nós, lavando a louça e se assustando quando batemos a
porta assim que entramos.
— Quantas vezes eu disse para não bater a porta, Kevin? —
Pergunta, irritada, e gira nos calcanhares, usando o pano de prato
para secar as mãos. Seu humor muda radicalmente quando nota
minha presença e um sorriso caloroso se forma em seu rosto. —
Asher! Você está aqui!
E assim, sou abraçado pelo terceiro e último membro dos
Turner — a não ser que Katie apareça para uma visita surpresa à
família.
— Puxa saco — Kevin resmunga baixinho, e de soslaio, ainda
nos braços de sua mãe, vejo-o encostando as costas na pia.
Lhe lanço um dedo do meio sem que ela perceba e ele
escancara a boca, fingindo ultraje com meu gesto.
Reviro os olhos e me concentro no abraço de urso da minha
segunda mãe.
— Vocês, garotos, estão mais altos e fortes a cada dia — diz,
um pouco antes de me soltar, mas ainda mantendo as mãos em
meus ombros e os olhos se fixam nos meus. — Mande um beijo para
sua mãe depois, viu? E diga para ela parar de te alimentar ou vai
ficar maior que essa casa.
Eu rio.
— Pode deixar, tia Cindy — respondo, ao mesmo tempo em
que Kevin decide interromper.
— Eu tenho um metro e noventa — comenta, arqueando as
sobrancelhas.
— Mas você eu vejo todo dia — sua mãe reclama. —
Inclusive, preciso arrumar a cozinha, então, se puderem ir para o
seu quarto ou qualquer lugar…
Ela diz de maneira suave, bem ao contrário de Patrick.
— Vocês, pais, sempre expulsando os únicos filhos que
moram em casa a todo momento — Kev resmunga, em tom de
brincadeira, e me puxa para o corredor.
— É isso que você ganha sendo a melhor mãe do mundo! Só
reclamações — tia Cindy grita da cozinha e conseguimos escutar
antes de adentrar o quarto dele e a porta ser fechada.
O quarto de Kevin está como eu me lembrava.
Uma cama de solteiro no canto com o edredom bagunçado, o
armário de madeira de três portas com adesivos de Hot Wheels no
espelho embutido, e, perto da janela, a escrivaninha e o quadro de
avisos — que ele nunca olha.
Na verdade, o único objeto diferente da última vez é o
diploma do ensino médio jogado de qualquer maneira sobre a mesa.
— Como vão as coisas com o papai gostoso Zach? — Kev
pergunta, deitando-se na cama e apanhando a bolinha anti stress na
mesinha de cabeceira para começar a jogá-la para cima.
Esse cara não consegue ficar parado.
Nunca.
Ele precisa estar fazendo alguma coisa.
— Primeiro, já falei para parar de chamar meu pai de gostoso
— aviso, ocupando a cadeira de rodinhas. Infelizmente, a lembrança
do meu melhor amigo contando que o despertador bisexual dele foi
Zachary me vem a mente e, junto dela, a vontade de colocar todo o
almoço para fora. — E… está indo. Não nos falamos depois do jantar
de ontem.
Ele precisou sair para resolver algumas coisas da universidade
pela manhã, já que as aulas começam na próxima segunda-feira, e
eu fiquei no quarto até mais ou menos pouco antes de sair. Passei
em uma lanchonete no caminho para cá e planejo ficar até a noite,
para não ter a chance de encontrar nenhum morador da casa
quando chegar.
— E a irmãzinha? Continua gostosa, huh? — Provoca,
sentando-se na cama e balançando as sobrancelhas de um jeito
engracado, mas esquisito. — Posso tentar a chance?
— Fique longe dela, imbecil — retruco, sem hesitar, e isso
chama a atenção de Kevin.
Porra, é claro que sim.
Como acho que meu melhor amigo não vai lembrar alguma
coisa sobre mim?
— Eu ainda lembro do verão em que ela ficou gostosa — diz,
um sorrisinho se formando gradativamente em seu rosto. — Ela
apareceu na piscina da sua casa com um biquíni minúsculo, e de
repente, os peitos estavam o dobro do tamanho e a bunda redonda
coberta só por um fio dental… — ele assobia, fechando os olhos por
um momento e faço o mesmo, lembrando daquele dia.
Antes, Philippa era somente a enteada irritante, interesseira e
babaca do meu pai.
Ali, ela se tornou a enteada irritante, interesseira, babaca e
gostosa pra caralho, do meu pai.
— Se ela se manter longe, não vai ser um problema —
afirmo, convicto, no entanto, Kevin não parece tanto, pela forma que
me olha. — O que foi?
— Cara… sinto em te falar, mas a sua irmãzinha é a abelha
rainha daquela faculdade — comenta e eu me ajeito, interessado.
— Ah, é?
Ele assente.
— É capitã das líderes de torcida e manda no campus —
conta, voltando a deitar-se na cama e brincar com a bolinha. — Pelo
que dizem. E está ainda pior esse ano, com o título que recebeu na
última temporada.
É uma baita novidade, para ser sincero.
Sei que Pippa se tornou popular ao longo dos últimos anos,
mas ainda haviam algumas outras garotas na hierarquia do colégio
antes que ela pudesse comandar algo.
Contudo, agora, sendo a filhinha exemplar do reitor, capitã
das líderes de torcida e bonita, ela não hesitou em ir atrás de sua
coroa.
Uau.
A gatinha não perde tempo.
— Mandava — retruco, já traçando um plano na minha
cabeça com as novas informações.
— O quê?
— Ela mandava na Universidade de Alberta — explico,
deixando que os cantos dos lábios se elevem em um sorriso um
pouco maldoso. — Porque o filho legítimo está de volta e ele está
pronto para ter seu território de volta.
Você acha que você é o homem
Eu penso, logo existo
Pare, do que diabos você está falando?
Tire meu lindo nome da sua boca
Não somos iguais com ou sem
Não fale sobre mim como se você pudesse saber como me sinto
Topo do mundo, mas seu mundo não é real
Seu mundo é um ideal
Therefore I Am | Billie Eilish

Os primeiros dias de aula são sempre os meus favoritos,


porque é um capítulo em branco do ano que se inicia. O que quer
dizer que tenho a total liberdade de criar uma nova personalidade ou
continuar com a do ano anterior.
Dessa vez, é a primeira em que escolho ser a mesma Philippa
Caldwell dos semestres passados, porque ela é bem fodona.
Afinal, foi sendo eu mesma — ou uma versão um pouco mais
empoderada, que desenvolvi nos últimos anos — que conquistei
aquele lugar.
Ser nomeada capitã das líderes de torcida ainda como caloura
não é um feito que muitos podem se exibir por ter, mas eu sim.
Além disso, também me saí excelente nas provas das matérias
iniciais do curso de Biologia, deixando as pessoas que me odeiam
ainda mais irritadas por eu… bem, por eu ser muito boa em tudo
que me proponho a fazer.
Como mamãe me ensinou: se você começar algo, certifique-
se que vai dar o seu melhor.
E é isso que venho fazendo por toda minha vida.
— Bom dia — cumprimento mamãe e Zach assim que entro
na cozinha, onde tomamos nosso café da manhã em família, na
bancada, quando os horários batem.
Há bolo de coco gelado, pães, presunto, queijo, uma garrafa
térmica de café e, claro, o que não pode faltar antes de um dia
inteiro no campus para mim: achocolatado e chocolate branco.
Não importa a temperatura do lado de fora — pode ser no
alto verão.
Não importa se estou atrasada — o que normalmente estou.
Não importa se preciso ir ao mercado do bairro vizinho para
encontrar o meu favorito — faço um pequeno show com músicas
pop durante todo o percurso.
O que importa é ter meu café da manhã preferido para eu ter
certeza de que será um ótimo dia pela frente.
— Bom dia, querida. Animada? — Minha mãe pergunta,
servindo-se de um copo de suco de maracujá.
Zach está ao seu lado, lendo o jornal — uma das únicas
pessoas dos dias atuais que fazem isso — e bebericando sua
primeira xícara de café do dia.
— Sempre — respondo, misturando o chocolate em pó com o
leite e usando o mixer pequeno para isso. — Na próxima semana
teremos a seleção para os times — comento, também alcançando
bolinhos integrais da cesta.
— Sua primeira responsabilidade como capitã, huh? —Zach
indaga, tirando os olhos durante alguns instantes da sua leitura.
— Exatamente — respondo, sem conter o sorriso.
Sinto que esse ano vai ser um dos melhores, porque tenho
tudo que quero na palma da minha mão, algo que demorou muito
para acontecer.
Sou quem eu sempre quis ser quando observava as garotas
mais velhas do colégio.
Os cabelos brilhantes, as amigas perfeitas e os uniformes
impecavelmente passados com ferro a vapor.
Elas eram a elite para a pequena Philippa.
E agora, eu sou uma delas.
Estou orgulhosa de mim e não há nada que alguém possa
fazer para mudar essa sensação inebriante que queima em meu
peito.
Ou é o que penso, logo antes de Deus me provar que não
podemos ter certeza de nada.
O clima na cozinha muda drasticamente quando a porta bate,
trazendo a figura de Asher para perto de nós.
Os cabelos castanhos estão despenteados, a roupa amassada
e a jaqueta preta de couro jogada por cima dos ombros — por mais
que o aplicativo do celular marque mais de vinte e cinco graus para
o dia todo. Os olhos estao inchados de sono e ele mexe
distraídamente no celular, sustentando o visual de “foda-se, eu não
ligo para nada mesmo”.
O que, em meu ver, já está bem ultrapassado.
Não estamos em Grease, cacete.
Isso não é mais excitante ou sequer interessante.
— Bom dia, Ash — Zach deseja, fechando o jornal e
colocando-o ao seu lado.
O garoto apenas resmunga alguma coisa em resposta e faz o
caminho para a cafeteria elétrica no nosso cantinho do café, sem se
dar o trabalho de falar comigo ou com a minha mãe.
Babaca mal educado.
— Eu e Pippa vamos sair daqui a dez minutos — seu pai avisa
e eu prendo a respiração.
Não quero ter que passar mais tempo que necessário perto
dele e isso inclui os cinco minutos de carro até a universidade.
— E por que isso deveria me interessar? — O garoto babaca
rebate e é claro que ele nem se vira para isso.
Apenas continua de costas, esperando a máquina fazer seu
café matinal.
Se hoje é somente o primeiro dia, não quero pensar como vai
ser a longo prazo.
— Vai de ônibus? — Zach questiona, trocando um olhar com a
minha mãe; eu apenas permaneço em silêncio, observando a
interação esquisita entre pai e filho.
Asher parece achar graça, porque ele se engasga com a
própria risada, quando tenta impedi-la de sair.
— Claro que não.
Percebo que o pai espera alguma explicação, já que continua
com os olhos fixos nas costas do filho. O cretino só nota quando
vira-se de frente, pronto para sair da cozinha, mas vê que todos nós
estamos encarando-o. Asher arqueia uma das sobrancelhas e leva a
xícara de café preto à boca.
— Posso ajudar em mais alguma coisa?
Eu sou totalmente contra agredir as pessoas — ainda mais
crianças, pelo amor de Deus — mas talvez o que tenha faltado no
crescimento desse moleque foi umas boas surras.
Meu Deus, quem sou eu agora e por que estou falando esse
tipo de barbaridade?
Asher Blakewood me faz ir contra os meus próprios princípios!
— Você tem a palestra de boas vindas às oito e meia — Zach
informa e a expressão do filho continua tediosa.
Ele odeia estar aqui e não se esforça para esconder.
Somos dois que não queremos sua presença aqui, querido.
— Eu sei.
— Como planeja chegar a tempo andando? — O pai volta a
pressionar e Asher revira os olhos.
— Não vou a pé — responde, e antes que eu mesma
pergunte como caralhos ele vai chegar no campus, ele continua: —
Vou de moto.
Era a gota d’água que faltava.
Asher finalmente consegue sair da cozinha, com um sorriso
satisfeito no rosto, e seu pai em seu encalço.
E como eu não posso perder uma confusão, levanto na
mesma hora e sigo até a pia, onde consigo ter uma visão perfeita do
corredor e ouvir de maneira clara.
— Philippa — minha mãe me repreende, sabendo o que estou
fazendo, e apenas dou de ombros.
— Só estou lavando meu copo — respondo, deixando que a
minha melhor expressão angelical apareça em meu rosto.
Ela não compra meu comportamento, claro, mas pelo menos
me deixa ter um pouco de diversão.
Mamãe se retrai e continua a tomar o seu café da manhã,
ignorando as vozes caóticas do outro lado da parede.
— Já disse que não gosto de você andando naquela coisa,
Asher — Zach diz, não gritando, mas o tom de voz é mais elevado
que o normal. — É perigoso!
— Parece que isso é problema seu, papai — o garoto retruca,
e mesmo que ele esteja de costas para mim, eu sinto o sarcasmo
escorrendo em seu tom e não gosto nem um pouco.
Na verdade, detesto como ele vem crucificando o pai durante
todos esses anos, quando tudo que Zachary quer, é se reconectar
com o filho. Já conheci muitos homens na vida e posso dizer que
meu padrasto é, de longe, um dos melhores deles.
Mesmo assim, Asher acha que o mundo gira ao redor do seu
umbigo e que tudo que acontece é para atingi-lo.
Pelo amor de Deus.
— Não fale assim comigo, Asher! — Zach fala ainda mais alto
e eu e mamãe trocamos um olhar.
Ele não costuma gritar — e isso inclui as poucas vezes que ele
e a esposa brigam.
Contudo, não duvido que essa discussão possa se
desenvolver para esse patamar.
Asher é o calcanhar de Aquiles de Zachary.
Ele ama o filho, não tenho dúvidas.
No entanto, ele odeia que o filho o odeie e que não há nada
que possa fazer para mudar isso.
Bem… tem sim algo, mas acho que ele preferiria morrer a
largar minha mãe.
— Entao pare de falar comigo, porra — Asher rebate e, dessa
vez, esta gritando. — Você não consegue me deixar em paz? Tem
sempre algo a dizer, cacete!
— Porque eu sou seu pai, caralho! — Nossa. Acho que é uma
das primeiras vezes que ouço Zach soltar um palavrão. — E me
preocupo com você, Asher — seu tom suaviza e, se fosse apostar,
acho que ele está respirando fundo nesse momento. — Sei que
Edmonton é um lugar tranquilo, mas… mas não ficaria cem por
cento confortável com você perambulando de moto por aí.
Há um silêncio no corredor.
Por alguns instantes, Asher não responde e tenho esperança
que ele vá obedecer o pai e esse seja o caminho para que se
entendam — depois de quase dez anos.
Entretanto, eu sonho cedo demais.
— Nesse caso… ainda é um problema totalmente seu, papai.
Talvez você devesse tratar isso na terapia ou algo assim. Sei que
vocês, ricos, estão nessa onde de se terapetizar.
Zach desiste.
Uma xícara é colocada de maneira abrupta — pelo som alto
que faz o vidro na madeira —, no aparador do hall de entrada, e a
porta bate em seguida.
Não demora para que o motor da moto arranque, e, depois, o
silêncio toma conta da casa mais uma vez.
Bom dia, habitantes de Edmonton, parece que o filho babaca
está oficialmente de volta e ainda mais escroto do que antes.
No meu aniversário de dezesseis anos, logo após eu tirar
minha carteira de motorista, Zach jogou algumas indiretas para
saber se eu gostaria de ganhar um carro de presente. Ele tentava
ser discreto, contudo, não era bem o seu forte e, no fim, eu tive que
dizer com todas as palavras que apesar de saber dirigir, não queria
dirigir.
E assim seguimos até hoje.
Foram poucas as vezes que toquei no volante depois de estar
apta a isso — uma para levar minha mãe ao hospital quando ela
teve uma infecção no intestino e outra para atender uma
emergência de Emma. Normalmente, os carros de aplicativos são os
meus melhores amigos, assim como caronas matinais com Zachary
para a faculdade e saídas à noite com o carro de Sydney, já que ela
joga hóquei e não pode beber durante a temporada, se tornando a
motorista da vez — de todas as vezes, na verdade.
Dirigir é estressante e estresse eu já tenho muito na minha
vida.
— Boa aula, Pippa — Zach deseja, me arrancando dos
devaneios assim que estaciona na sua vaga habitual.
— Bom trabalho — respondo, saindo do carro em seguida e
cada um segue seu caminho.
Ele, para a reitoria.
Eu, para o prédio principal do campus, para tentar ajustar um
erro no horário das minhas aulas.
Mal dou dois passos quando sinto alguém me observando, e
antes que eu possa me virar e conferir, dois braços me circulam por
trás.
— Pippa! — A pessoa cumprimenta, me virando de frente
para que possamos nos abraçar melhor.
A cabeleira ruiva não engana: é Brooke Rhodes.
Os cabelos cor de fogo são lisos e longos, batendo quase na
sua bunda, e os olhos são um tom de mel com verde, muito, muito
lindos. A sua pele continua no mesmo tom da última vez que nos
vimos, pouco depois do semestre terminar. Pelo que ela me disse, a
família é fissurada pelo inverno e, por isso, ela passou grande parte
das férias passeando pela América do Sul, como Argentina e Chile,
para fugir do verão do Canadá.
Hoje ela está em seu estilo casual de sempre: calça jeans
clara, tênis branco, e uma blusinha verde com mini botões, além de,
é claro, seu colar de ouro com a letra “B” cravada.
— Você precisa de um sol — brinco quando nos separamos e
ela revira os olhos, ajeitando a bolsa nos ombros.
— Meus pais devem ser as únicas pessoas do universo que
preferem passar o verão esquiando e não aproveitando as praias —
resmunga, e bem… não posso discordar, ainda mais com os longos
meses de inverno do país em que moramos. — Como foram as
férias?
Enquanto faço um resumo da viagem para a Europa para uma
das minhas melhores amigas, é inevitável não lembrar de como nos
conhecemos, há alguns meses.
Brooke está no seu terceiro ano da faculdade e é uma das
melhores jogadoras do time de hóquei feminimo, os Pandas. Sydney
nos apresentou em uma das festas Cirque du Chaos, logo quando
ela e Emma se conheceram e ainda não tinham assumido um
relacionamento.
Então, quando Sdy e Em saíram para se pegar em algum
esconderijo da fraternidade, eu e Brooke fomos deixadas sozinhas.
Bastou três shots de tequila e uma garota passar vergonha ao
nosso lado, arrancando uma risada, para que ela se tornasse uma
grande amiga.
Desde aquele dia, nós quatro somos um quarteto inseparável.
Ou quase isso, já que o casal costuma gostar bastante de se
separar de nós em certas ocasiões.
Ah, o amor jovem.
— Que inveja — Brooke comenta quando termino de contar
algumas das aventuras do outro lado do mundo.
— Você poderia ir, da próxima vez — sugiro, balançando as
sobrancelhas de forma engraçada e empurrando meu ombro contra
o dela, levemente.
Estou tentando convencer as três a fazermos uma viagem
juntas há meses!
Parece que só eu enxergo quão divertido isso seria.
— Vamos ver — diz, dando de ombros. — Eu ia esperar você
falar alguma coisa, mas… como estão as coisas com o filho do
padrasto?
Suspiro.
Felizmente, Brooke não conhece Asher. Não como eu, pelo
menos. Ela ouviu a histórias que contei, ainda mais nas visitas dele à
cidade, contudo, para sorte dela, eles nunca trombaram por aí.
O que não a impede de odiá-lo.
Por mim, claro,
Amigas são para essas coisas, não é?
— Você não faz ideia como está sen…
Não consigo começar as reclamações porque o motor de
estrangulamento de duas motos ressoam perto de nós e todas as
cabeças do estacionamento se viram na direção do barulho.
Fecho os olhos com força porque não preciso olhar.
Sei quem é.
Mesmo assim, o faço.
Como todos os outros estudantes — Brooke inclusa — deixo
que minha curiosidade fale mais alto e observo as figuras
desembarcando das motos.
Kevin Turner e, lógico, seu fiel escudeiro, Asher Blakewood.
Os dois com a porra de jaquetas de couro e nenhuma gota de
suor desliza por suas testas.
Está vinte e cinco graus aqui, cacete.
— Esse é Asher — apresento, porém minha amiga está
ocupada demais babando nele.
Não posso culpá-la, porque todas as outras pessoas têm a
mesma reação.
Como na porra de um filme clichê, ele e Kevin caminham
lentamente pelo caminho das pedras, como se fossem os reis do
lugar.
Eles não são.
Com a postura de “não estou nem aí”, a jaqueta e os óculos
escuros, eles são a sensação da faculdade, ainda mais por serem
carne nova no pedaço.
— Hã… Pippa? — Brooke parece finalmente sair do transe e
se volta para mim, com a testa franzida.
— Sim?
— Por que você não disse que seu irmão postiço e o amigo
eram dois gostosos?
Todos os meus amigos acham que você é cruel
E eles dizem que você é suspeito
Você continua sonhando e tramando obscuros
[...]
Você é tão plástico e isso é trágico
Só para você
Eu não sei o que diabos você vai fazer
Quando sua aparência começa a esgotar
E todos os seus amigos começam a sair
I Feel Like I’m Drowning | Two Feet

O MIT pode não ter me aceitado, contudo, posso afirmar com


certeza que a razão não foi as minhas notas, uma vez que fiz todas
as aulas avançadas nos últimos anos do ensino médio e me formei
com méritos em todas elas.
É por isso que consegui ser aceito na matéria de Álgebra
Linear I, normalmente disponível somente para estudantes a partir
do segundo semestre.
O que não me impede de estar aqui, procurando um lugar
vazio, após ficar as primeiras aulas no auditório, para a palestra de
boas vindas com o reitor e alguns professores, sobre a história da
universidade, seus valores e um monte mais de blá-blá-blá.
Os fones de ouvidos estavam explodindo no volume máximo
com a música, então, só ouvi os primeiros dez por cento.
Assim que o reitor Zachary Blakewood assumiu a palavra, eu
decidi que já tinha feito muito em uma manhã só.
Aturar meu pai fora de casa foi o primeiro desafio do dia.
O segundo, contudo, é achar a merda uma cadeira livre nessa
sala imensa, abarrotada de estudantes.
Por ser uma matéria considerada difícil, há muitos alunos
fazendo-a novamente e isso deixa o local bizarramente lotado. Estou
quase acreditando que vou ter que assistir sentado no chão quando
uma garota levanta de uma das carteiras e corre para o outro lado.
Não penso muito.
Jogo minha mochila praticamente vazia — um caderno de
uma matéria e uma caneta azul é suficiente — em cima da mesa e
me sento em seguida, com as costas apoiadas na parede.
Porra, isso sim.
Não aguentaria passar mais de uma hora e meia em uma
carteira desconfortável no meio da sala.
— Silêncio — o professor de meio metro de altura e bigode
branco ordena, com uma voz bem potente para um senhor de idade,
e todos se calam imediatamente. — A presença é essencial na minha
disciplina e, para se formar, além de boas notas, precisam de
sessenta e cinco por cento de comparecimento.
— Isso é cinco por cento a mais do que nas outras — a
garota que roubei o lugar retruca, mordendo a pontinha da caneta
esferográfica.
O idoso sorri, abrindo o caderno de tecido e deixando que a
capa faça um baque alto na mesa.
— Que bom que a noção de matemática não está tão ruim
nessa turma.
Um coro de risinhos ressoa pelo ambiente — o meu, inclusive
—, mas rapidamente é cessado quando o cara começa a chamada.
Enquanto ele faz isso, eu abaixo todo o volume do meu
celular e abro qualquer joguinho entediante para passar o tempo até
que a aula comece de fato.
Com o tanto de gente aqui, vamos ficar uns bons quinze
minutos apenas conferindo a presença de todos.
— Asher Blakewood.
Não é surpresa que eu seja um dos primeiros por conta do
sobrenome na ordem alfabética. Então apenas ergo a mão e volto a
prestar atenção no celular.
Ou tento fazer isso.
— Blakewood? Como o reitor? — O garoto atrás de mim
questiona e eu quero, quero mesmo ignorá-lo, mas não faço isso.
Preciso de algum amigo nas aulas, já que não terei nenhuma
com Kevin.
Bloqueio o aparelho e me viro para trás.
Ele é alto, percebo, mesmo que esteja sentado. Os cabelos
são castanhos claros, mas diferente dos meus, estão arrumados,
como se tivesse acordado mais cedo para isso. Os olhos tem um tom
de verde claro — mas que nem chegam perto da beleza que são os
de Pippa, e não posso mentir nisso — e a camisa branca de manga
curta deixa algumas poucas tatuagens espalhadas pelos braços
amostra. As minhas são em um estilo old school, com traços mais
grossos, e as dele, mais finas.
— Infelizmente, sim — respondo, dando de ombros.
— Você é tipo… sobrinho do reitor ou algo assim? —
Pergunta, com as sobrancelhas franzidas em confusão.
Nego.
— Pior — digo e ele as arqueia, ainda bem perdido na
situação toda. — Ele é meu pai.
E como na cena clássica do filme Star Wars em que Darth
Vader revela ser pai de Luke Skywalker, o maior plot twist da vida do
cara parece estar acontecendo à sua frente.
— Seu pai? Zachary Blakewood é seu pai? — Repete, muito
surpreso, e sei que ele não é da cidade. Todos conhecem minha
família, o que quer dizer que ele é apenas um mero estudante da
universidade. — Achei que ele fosse pai de Pippa. Não sabia que ela
tinha um irmão.
— A mãe dela é casada com meu pai — corrijo. — E ela não é
minha irmã.
Não de sangue e muito menos fomos criados como tal.
Admirar a bunda da sua irmã de baby-doll não é um ato que
exala irmandade, se for pensar bem.
— Crise familiar — observa, inclinando a cabeça para me
encarar melhor. — Entendi.
Talvez eu não seja o melhor em esconder o desgosto que
sinto pelas mulheres Caldwell.
— E você é o…
O garoto abre a boca para responder, mas antes que algum
som saia, somos interrompidos.
— Algum problema, senhor Davenport? — O professor
pergunta, e quando giro a cabeça para saber com quem ele está
falando, noto que é com… meu novo amigo. — Não disse que agora
era hora do intervalo para você ficar de conversinha com os alunos
novos.
— Foi mal, senhor Ridoc — diz, agregando suas desculpas
com um gesto inocente. — O senhor sabe que sou amigável e gosto
de dar as boas vindas, principalmente ao filho do reitor.
Desgraçado.
Todas as cabeças giram em nossa direção, lógico.
As pessoas não conseguem controlar a curiosidade com a
nova informação.
Olho para o moleque e ele apenas me lança uma piscadela.
O professor apenas eleva uma das sobrancelhas, entediado,
por cima dos óculos de grau, sem tirar os olhos do seu antigo
estudante — pelo que entendi, não é a primeira vez que ele está
nessa classe.
— Se eu fosse você, senhor Blakewood, ficaria bem longe do
seu colega de sala, Knox Davenport — o senhor instrui, antes do
olhar recair para o livro da chamada.
O silêncio volta a tomar conta do recinto.
Quase.
Porque também não me aguento dessa vez e me viro,
sussurrando para Knox:
— O que você fez para ele te odiar assim?
Knox dá de ombros, mas um sorrisinho safado surge em seu
rosto.
— Além de reprovar na matéria? — Assinto, porque parece ter
mais história por trás. — Eu posso ou não ter dormido com as filhas
gêmeas dele e ter feito elas brigarem entre si, por mim.
Mas… que caralho.
— E você está com alguma delas agora?
— É claro que não — responde, como se fosse absurda a
minha pergunta.
Eu seguro uma risada porque esse cara… Kevin vai adorar
conhecê-lo também.
Parecendo ler minha mente, Knox sussurra mais uma
pergunta quando volto a encarar o quadro.
— Vai fazer o quê no almoço?
— Encontrar com um amigo.
Ele pondera durante alguns instantes antes de prosseguir.
— Me encontra no refeitório — sugere e eu me viro
sutilmente, encará-lo com minha visão periférica. — Eu to com os
caras do hóquei, futebol americano e…
— Kevin é do futebol.
Um sorriso se alarga no rosto de Knox.
— Então parece que era nosso destino nos encontrar aqui,
Blakewood.
Talvez dois semestres na Universidade de Alberta não sejam
tão ruins como imaginei que seria.
Retiro o que eu disse antes.
Pode ser, sim, ruim, se eu tiver que almoçar todos os dias
nesse refeitório lotado de gente, conversas paralelas por todo canto
e cheiro de Maple Sirup por todo lado.
Porra, eles aceitaram todos os estudantes do Canadá?
Duvido que haja mesas e cadeiras para todos.
Não que isso seja meu problema, porque logo depois que eu
e Kevin nos servimos — hambúrguer, batatas coradas e uma gelatina
de maçã verde para sobremesa —, encontramos Knox e seus amigos
em uma das mesas redondas no fundo, perto das portas de vidro
que levam ao jardim.
— Aquele ali é o Brad — Kevin diz, apontando para… um dos
moleques na mesa do meu novo amigo.
— E aquele é o Knox — revelo e trocamos um sorriso
convencido.
Quais as chances de fazermos amizade com dois amigos
jogadores de hóquei no primeiro dia de aula, e ainda sermos ambos
convidados para almoçar com eles?
Falando de Kevin Turner, as chances são altíssimas, porque
ele é a simpatia em forma de gente.
A grande surpresa sou eu, claro.
Bradley Rhodes está no terceiro ano na Universidade de
Alberta, também e é filho de um grande jogador de hóquei da
NHL[5], agora, aposentado. Ele tem os mesmos cabelos ruivos do pai
e as sardinhas, porém, os olhos provavelmente puxou à mãe, porque
são castanhos escuros, quase preto.
Ele ri de algo que Knox fala quando chegamos mais perto e
eu já sei que vou me entrosar bastante com esses rapazes apenas
pela leveza que o almoço deles parece levar.
Preciso respirar, porque sinto que não faço isso direito quando
estou enfurnado em casa com meu pai, a nova esposa e…
— Philippa — Kevin fala, de repente e, por um momento,
acho que estava recitando meus pensamentos em voz alta, até eu
notar a cabeleira loira de costas para nós.
Na mesa de Knox e Bradley.
Porra.
Ela não nota nossa presença de primeira, felizmente, porque
conversa animadamente com Emma Kimura e duas outras garotas
que ainda não conheço. Uma tem os cabelos no mesmo tom de Brad
e eles caem até o fim das costas, a outra, escuros, lisos e, de costas,
parecem ter um corte maneiro.
Cacete, foda-se o cabelo dessas mulheres.
— Não — decido antes de ser tarde demais e me preparo
para dar a volta.
Contudo, a mão firme do meu melhor amigo pousa em meu
ombro e me mantém no lugar.
— Vamos ficar.
— Não vamos — respondo, e faço questão que ele note
minha expressão de “de jeito nenhum”.
— Ah, qual é, Ash? Pensa que o mesmo tanto que você está
odiando o fato dela ser amiga deles, ela vai sentir odiar na mesma
proporção quando chegarmos lá. E eu sei que você não perde uma
chance de perturbá-la.
Isso é verdade.
A expressão horrorizada na carinha de Pippa quando ela me
ver me tornando melhor amigo dos seus amigos, e, quem sabe,
encontrando uma cama quentinha nos lençóis de alguma das
garotas…
— Vamos — mudo de ideia sem pensar demais, e o sorriso de
Kevin não passa despercebido.
Ela pode ser a filha exemplar, que segue as regras e não dá
trabalho, se tornando a rainha da casa, mas aqui… aqui não.
— E aí, Knox — cumprimento-o com um meio abraço, meio
aperto de mão e seu rosto se ilumina quando me vê.
— Asher, porra! E aí, cara?
Kevin me apresenta a Brad e eu faço o mesmo com Knox,
mas durante tudo isso, não evito e observo Pippa e as amigas de
soslaio.
Minha irmãzinha não está nada feliz com a minha presença.
Ops.
— Aquela é a Brooke — Knox diz, apontando para a ruiva que
me observa de cima a baixo e força um sorriso. — Irmã do Brad.
— Território proibido — o outro ruivo responde, e diferente de
quando nos falamos há alguns instantes, ele diz em um tom de
ameaça.
Knox revira os olhos e continua as apresentações, ignorando
o amigo — porque descobri que eles se conheceram no primeiro ano
e não se desgrudam desde então.
— A de cabelo curto e que parece que vai te comer vivo, é a
Sydney — diz, e garota não demonstra nenhum indício que ouviu
seu nome porque continua olhando de forma perdidamente
apaixonada para Emma. — Ela joga com Brooke no time de hóquei
feminno e namora…
— Emma Kimura — completo por ele, que assente, surpreso.
— Morei aqui e visito às vezes. Conheço a Emma.
Ela ergue os olhos quando é citada e um sorriso falso
estampa seu rosto, lançado em minha direção.
— Queria dizer que é bom te ver, mas não é — responde,
ácida como a amiga, e volta a prestar atenção na namorada.
Que ótimo.
Todas as mulheres me odeiam por conta da cobra venenosa.
— Não acho que eu precise te apresentar a sua irmã — Knox
comenta, achando um pouco de graça, enquanto eu e Kevin
arrumamos espaço na mesa.
É uma mesa redonda, e, por isso, não fico exatamente na
frente de Pippa, mas na sua diagonal, e ela não gosta nem um
pouquinho disso.
Estou invadindo seu espaço, exatamente como disse para ela
não fazer comigo.
As regras só valem para uma parte, irmãzinha.
— Ele é só filho do meu padrasto, não meu irmão — a loira
resmunga, revirando os olhos de forma dramática. — É sério que
vocês convidaram ele para cá? Não ouviram nada do que eu disse
nos últimos dez minutos?
Knox e Brad trocam um olhar, confusos, e dão de ombros.
— Não — respondem em uníssono e todas as garotas bufam
ao mesmo tempo, enquanto eu e Kevin falhamos miseravelmente
em segurar a risada.
Parece que eu fui pauta de conversa, então.
— Falando muito de mim por aí, Pippa? — Provoco, apoiando
um dos cotovelos na mesa e fixando meu olhar diretamente no seu.
— Você bem que gostaria — retruca, cruzando os braços e
empurrando a bandeja quase vazia para longe. — Não pode ficar
aqui.
Arqueio uma sobrancelha.
— Não posso? — Instigo, entrando no seu joguinho.
— Não pode — volta a reforçar e, de repente, o silêncio é
completo na mesa. Mal ouço as vozes abafadas dos outros alunos
porque todos estão concentrados em mim e Pippa. — Essa é minha
mesa. Meus amigos. Então, dê o fora.
Ah, isso vai ser tão divertido.
— Sua mesa? Seus amigos? — Repito, soltando uma risada
sarcástica antes de prosseguir. — O que foi? Meu papai comprou
eles para você porque não consegue fazer o trabalho sozinha?
Um coro vindo dos caras ressoa pela mesa.
Algo como “uooooou” e tenho certeza que as mulheres os
fulminam com o olhar, porque eles se calam no segundo seguinte.
O sorriso que ela me lança é letal.
Do tipo que pode te matar ou te fazer bater punheta três
vezes seguidas pensando nos seus dentes perfeitos.
Cacete, que porra de pensamento é esse?
— Ah, não. Isso ele não precisa fazer. Mas fez por você, não
fez? Comprou sua entrada aqui porque você não tinha mais para
onde ir? — Rebate, o sorrisinho cínico surgindo em seu rosto. —
Sabe, nepotismo só cai bem na Hailey Baldwin.
Essa garota… porra.
Que inferno!
— Se você acha que eu vou dei…
— Ei, leões, se acalmem — é Sydney, a namorada de Emma,
que me interrompe. — Sei que vocês estão famintos e loucos para
se comer na porrada, mas acalmem os nervos. Podem fazer isso
depois, quando estiverem a sós. Ninguém aqui quer assistir a vocês
brigando durante o almoço.
— Na verdade, eu gostaria — Knox diz e vejo pela minha
visão periférica Brooke lançando uma uva verde nele, como um
aviso.
O garoto a pega com a boca e lança uma piscadela para a
menina, que sorri boba, desviando o olhar.
Brad não nota a interação, para sorte do seu amigo.
Porque se alguém olhasse para minha irmã como Knox olhou
para a dele… a pessoa não estaria mais viva para contar a história.
— Syd está certa — Brooke concorda, ao meu lado. — Nós
queremos comer e não sermos telespectadores do show de vocês.
Então, por favor? Podem fazer isso mais tarde, em outro lugar.
Ela parece ser a cabeça do grupo, porque todos acabam
seguindo seu conselho e voltam a comer e conversar sobre outros
assuntos triviais.
O que não impede Pippa de olhar furtivamente em minha
direção a cada minuto, mesmo falando com as amigas. Seu olhar se
alterna principalmente na proximidade entre eu e Brooke, com
nossos braços roçando por conta da quantidade de gente na mesa
pequena.
Ela não parece feliz por eu estar tão perto assim da garota.
Ah, Pippa, se você não fosse tão transparente, não seria tão
fácil assim te provocar.
— Sabe, eu nunca fiquei com uma ruiva — comento,
deixando que meu sorriso cafajeste e que molha as calcinhas das
garotas se forme gradativamente em meu rosto.
Meus olhos observam Pippa também e mesmo quando volto a
encarar a ruiva, sinto o olhar da minha irmãzinha queimando minha
testa.
Suas amigas são mesmo território proibido, concluo.
Brooke gira a cabeça e não é uma expressão de tesão que
decora sua face.
Na verdade, ela parece desgostosa com a situação.
— Vai perguntar se os pelos da minha boceta são laranjas? —
Retruca, cruzando os braços e arqueando uma das sobrancelhas
em… desafio.
Lógico que Pippa não perderia a chance de contar todos os
meus defeitos para suas fiéis escudeiras.
Não me surpreenderia se não tivesse chance com nenhuma
garota da faculdade por culpa dela.
Passo a língua pelo meu lábio superior e fixo os olhos no dela.
— Depende. Você vai me falar a verdade? Confesso que sou
um cara mais visual, então, vai ter que me mostrar para eu saber
que não está mentindo.
Mais uma vez, Brooke não me dá moral.
A garota solta uma risada de escárnio e balança a cabeça,
desacreditada que… que sou muito direto, eu acho.
Parece que os homens daqui não costumam dizer exatamente
o que desejam.
— Inacreditável.
Noto que ela não disse não a minha proposta, e, sendo assim,
estou pronto para convidá-la para nos encontrarmos em um lugar
mais silencioso para conversarmos, quando um braço masculino
sendo jogado por cima dos seus ombros tira minha atenção.
— Asher — Knox pronuncia meu nome como se fosse veneno
e percebo o olhar admirado que a ruiva lança para o melhor amigo
do seu irmão mais uma vez. — Tudo bem por aqui?
Ergo uma das sobrancelhas.
Olho para Pippa, que desvia rapidamente para seu suco de
caixinha e volto a encarar meu novo amigo.
— Tudo. Não é, Brooke?
Ela sorri falsamente para mim.
— Asher acha que vou trair uma das minhas melhores amigas
por um foda meia a boca — revela e noto quando os nós dos dedos
de Knox ficam brancos onde ele segura a mesa, inclinando sobre a
amiga.
— Posso te garantir que não são meia boca, ruivinha —
respondo, lhe lançando uma piscadela em seguida. — A proposta
segue, se quiser descobrir.
— Ela passa.
— Eu passo.
As vozes vêm de Knox, Brad e Brooke, em sintonia.
— Cara, acho melhor você abaixar um pouco a bola — Kevin
brinca, se divertindo até demais com todas as pessoas da mesa
contra mim.
O assunto logo se dispersa e minha tentativa falha de
conquistar Brooke é esquecida.
Kevin fala sobre o primeiro treino de futebol americano dessa
semana, Knox e Brad sobre a temporada de hóquei que começa
daqui a duas, e pego uma ou outra parte da conversa das garotas
sobre o teste de líderes de torcida e a final do hóquei feminino no
próximo ano, em que as Golden Bears têm grandes chances de
ganhar.
Em certo momento, meu olhar se cruza com o de Pippa
novamente.
Dessa vez, ela não desvia.
Muito menos eu.
— É só o começo — digo, sem emitir som, apenas mexendo
os lábios.
Não preciso entrar em detalhes.
Ela entende o que quero dizer, claro que entende.
Afinal, somos muito mais parecidos do que ela imagina:
gostamos de estar no topo.
A loira sorri, inclinando sutilmente a cabeça para o lado, sem
tirar os olhos dos meus, e responde, sem falar em voz alta:
— Manda ver.
Sou como um artista, a pista de dança é meu palco
É melhor estar pronto, espero que você sinta o mesmo
Todos os olhos em mim no centro do ringue como um circo
[...]
Existem apenas dois tipos de caras por aí
Aqueles que podem ficar comigo e aqueles que estão com medo
Então, querido, espero que você tenha vindo preparado
Circus | Britney Spears

Circus da Britney Spears estoura nas caixas de som do campo


de futebol americano — ou pelo menos na parte que estamos
ocupando, já que a outra metade dividimos com o time durante
alguns dias da semana.
Caminho até o centro, passando os olhos por cada uma das
meninas e meninos aqui hoje, disputando três vagas no time.
Considerando que há mais de vinte pessoas, eu e os outros
integrantes teremos que fazer uma boa peneira para que apenas os
melhores dos melhores se juntem a nós nos próximos anos.
A treinadora já fez seu discurso inicial sobre boas vindas, boa
sorte e como funcionam os treinos em época de temporada — ou
fora dela. Quais são nossos valores e todos os pontos importantes
que eles precisam saber se realmente querem fazer parte da equipe.
Não estamos mais na escola.
Levamos o time muito, muito a sério.
Além de animar os jogos de alguns times da universidade,
também competimos em equipe em certos campeonatos e é isso
que traz orgulho — e dinheiro — para a Universidade de Alberta.
— Esse ano parece promissor — Emma comenta, se
aproximando de onde observo quem disputará por alguma das
vagas do time.
— O nosso ano passado foi mesmo um fiasco — respondo,
lembrando do último verão.
Eu e Emma éramos as mais qualificadas — não que isso seja
uma surpresa, já que ralamos muito no colégio para chegar onde
chegamos —, porém, todas as outras pessoas que vieram atrás de
nós… cacete, a treinadora demorou quatro dias para escolher as
menos piores e o time não ficar com desfalque.
Para nossa sorte, a treinadora Sawyer é uma das melhores
dos Estados Unidos.
Ela ganhou diversas disputas quando competia e assim que
decidiu se aposentar do esporte, eu não hesitei em sussurrar no
ouvido do meu padrasto que soube de uma excelente profissional
para o ocupar a vaga recém aberta na faculdade — a antiga estava a
espera de um bebê e ela e o marido mudaram-se para mais perto
dos pais.
Como são raras as ocasiões em que estou errada, Zach
pesquisou sobre Samanta Sawyer e confirmou que ela era tudo isso
— e um pouco mais — do que falavam.
Foi assim que o time de líderes de torcida da Universidade de
Alberta evoluiu da água para o vinho nos últimos meses e está até
começando a se tornar uma ameaça para grandes universidades nos
Estados Unidos.
Comigo e Sawyer guiando essas garotas, não há céu que seja
capaz de nos parar.
— Pippa, pode dar as honras? — A treinadora me chama, e
com um último sorriso trocado com minha melhor amiga, eu me
ponho ao seu lado.
O sorriso largo se forma em meus lábios e eu olho durante
alguns segundos para cada uma das pessoas presentes, tentando
passar um pouco de confiança, porque sei como é estressante ser
testado na frente de todos, ainda mais quando os testes acontecem
durante o treino dos garotos.
Já tivemos alguns probleminhas quanto a isso e, então,
tentamos não bater os horários.
Tentamos.
— Eu sou Philippa Caldwell, a capitã de alguns de vocês a
partir de hoje — me apresento, cruzando os dedos atrás das costas
e caminhando a passos lentos, já sentindo a vitamina pré-treino
fazer efeito. — Podem me chamar de Pippa. Com a treinadora
Sawyer e os futuros colegas de time de vocês, nós levamos a
equipe, pela primeira vez, à competição Imagine Cheer & Dance,
nos garantindo o primeiro lugar — acho que é possível sentir o
orgulho quando conto a conquista, porque uma onda de aplausos
ressoa pelo campo, tanto do meu time, quanto dos novatos. — E se
chegamos até aqui, hoje, foi fruto de muito trabalho duro e
dedicação. Como qualquer outro esporte, nós também treinamos
arduamente, dentro ou fora do treino. Nosso tempo livre é na
academia ou nas aulas de ballet e ginástica semanais, que o centro
esportivo oferece gratuitamente para quem é um de nós. O que
quero dizer é: que se vocês querem ser um de nós e vestir esse
uniforme — aponto para minha roupa verde e dourada — precisam
entender que é para valer. É como um casamento. Entendidos? E
não há chance de divórcio — completo, tentando deixar o ar menos
tenso quando noto as expressões assustadas dos jovens.
Um coro de risadas e “sim” ecoa entre os calouros e eu
sorrio, orgulhosa do meu primeiro discurso como capitã.
Sou a primeira líder de torcida a ser votada para capitã em
seu segundo ano, então preciso andar na linha. Dar o meu melhor. E
mostrar que a antiga capitã — que se formou no semestre passado
— estava certa quando me passou o bastão.
Não há espaço para erros.
— Agora que vocês estão aquecidos, vamos começar com
uma sequência básica de movimentos, apresentados pela Pippa — a
treinadora instrui e se move atrás de mim, junto com sua prancheta
e seu conjunto de moletom do time.
Arrumo meu lugar no centro, de frente a eles e, antes de
começar, recebo uma piscadela de Emma e também dois joinhas, me
incentivando.
Sorrio.
Estou pronta.
Meus pés se alinham na posição inicial.
Meus braços caem firmes para os lados do corpo.
Então, eu começo.
Simples, com um salto fácil, embora elegante, mostrando a
técnica perfeita. Meus braços voam para cima, formando um “V” e,
depois, rapidamente, eles abaixam no mesmo formato, no entanto,
invertido.
O sorriso não sai do meu rosto, assim como a confiança
cresce a cada instante que estou fazendo o que eu gosto.
Continuo a sequência que combinamos para os novatos,
lembrando de como foram as primeiras semanas no time, ainda no
ensino médio.
Honestamente, eu não queria.
Emma e eu decidimos que seria nossa melhor chance de
conhecer mais pessoas e nos enturmar, já que grande parte da
escola mal notava nossa existência — e a pequena parte nos
desprezava.
Nada melhor do que tentar entrar no grupo dos populares,
certo?
Assim, matamos alguns coelhos numa cajadada só.
Ou era o que pensávamos.
Porque sim, entramos no time, mas para conquistarmos nosso
lugar lá dentro, foi um pouco demorado. Precisamos mostrar o quão
determinadas estávamos para fazer parte daquilo, treinando noite e
dia, sem tirar a porra do sorriso no rosto, até mesmo quando as
brincadeirinhas passavam dos limites.
Certa vez, Emma quase teve o braço quebrado quando
algumas garotas combinaram de soltá-la em meio a um salto.
Por sorte, eu cheguei a tempo e ela apenas fissurou o osso,
precisando ficar fora dos treinos durante somente duas semanas.
As meninas sabiam que eu sabia.
Então, todas comeram algo estragado no almoço no mês
seguinte, logo quando tínhamos uma competição super importante e
fomos instruídas a não faltar por nenhum motivo. As garotas
passaram dois dias no banheiro, alternando entre vômitos e diarréia.
Elas eram malvadas, mas não burras.
Com certeza ligaram os pontos.
Afinal, não foi à toa que me voluntariei para ajudar na
cozinha naquela semana e sabia que a sobremesa preferida delas
era pudim de chocolate.
Ninguém mexe com as pessoas que eu amo, e elas
aprenderam isso.
Tiveram sorte de eu não ter feito algo ruim de verdade, como
o que planejaram fazer com Emma.
Afasto as lembranças da minha mente e volto a focar na
sequência.
O que passou, passou.
Volto a repetir a coreografia, do início, para que fique fresca
na cabeça dos calouros.
Refaço os saltos, os passos da dança e os movimentos de
torcida.
Sinto os olhares — não só dos novatos —, se esforçando para
decorar, como também minha nuca queimar, provavelmente dos
jogadores de futebol.
É difícil não haver dispersão da parte deles quando estamos
treinando.
Homens.
Sempre homens.
Finalizo a última repetição e me afasto, me juntando à
treinadora.
— Agora é a vez de vocês — ela avisa, deixando-os ainda
mais nervosos.
Eles trocam olhares, um pouco perdidos.
Eu avisei a treinadora Sawyer que a coreografia era um pouco
longa para o dia de testes, mas é lógico que ela não me escutou.
Estou nisso há anos, Pippa, sei o que estou fazendo, foi o que
ela me disse quando dei minha opinião.
Eu não deveria, mas…
Não consigo apenas olhar.
Porra.
— Treinadora — chamo e sua cabeça gira em minha direção.
De canto de olho, Emma parece tão perdida quanto Sawyer. — Eu
fico responsável com a música enquanto você avalia eles mais de
perto. O que acha?
Ela franze as sobrancelhas, um pouco confusa — porque não
faz sentido nenhum, se pararmos para pensar.
— Hã… tá legal. Claro, Pippa — responde quando percebe
que não vou mudar de ideia e eu agradeço com um sorriso.
De costas para mim, ela segue até o centro da nossa metade
do campo e eu solto a música, fazendo um gesto para que os
novatos mantenham os olhos em mim.
Então, eu os ajudo com os movimentos.
Eu não deveria.
Eles deveriam ter memorizado, mas… mas eu gostaria que
tivessem me ajudado.
Teria poupado muita, muita coisa.
Com um olhar de admiração da minha melhor amiga sobre
mim e a atenção da treinadora nos novatos, eu demonstro cada um
dos movimentos e quando consigo, aponto para um ou outro que
está realizando-o erroneamente, mostrando a maneira correta de se
fazer.
Recebo vários “obrigado” de maneira discreta, assim como
sorrisos.
Sawyer corrige alguns movimentos também, dá algumas dicas
e adiciona outros movimentos, além de, claro, ir trocando os
calouros de lugar.
Quanto mais na frente eles estão, mais chances há de serem
escolhidos, porque a performance se sobressai aos demais.
É
É uma pressão do cacete, contudo, também acho que eles
precisam do incentivo para saber que estão fazendo um bom
trabalho — e aqueles que não, que precisam se esforçar um pouco
mais.
Não existe nada meia boca no time de torcida da
Universidade de Alberta.
É tudo.
Ou… tudo.
Eles pegam o ritmo de uma vez e finalmente me afastam,
abandonado a posição perto da caixinha de som e tirando minha
garrafinha térmica do cooler, ao lado de Emma.
— Acho que vai ser uma escolha difícil — minha amiga
comenta, sem tirar os olhos do pessoal.
— Eles são bons — concordo, sugando a água pelo
canudinho. — Vamos ter grandes chances de ir para as regionais
esse ano.
— Eu torço pelas nacionais — Emma responde e trocamos um
sorriso animado.
A treinadora desce os olhos para seu iPad, fazendo algumas
anotações e é quando tudo começa a desmoronar.
A música continua — a playlist da musa Britney Spears é
nossa favorita para os momentos mais descontraídos —, porém, a
atenção dos calouros não está mais na sequência passada.
Os olhos dele não estão em Sawyer — ainda distraída —,
muito menos em mim.
Não, os olhares estão além de nós.
Para o outro lado do campo, é o que penso.
No entanto, quando giro nos calcanhares, pronta para dar um
sermão nos jogadores que estão trabalhando, percebo que quase
todos estão reunidos mais adiante, totalmente alheios ao nosso
treino.
Quase todos.
Porque Kevin Turner está perto das arquibancadas —
consequentemente, perto de nós —, sem camisa e exibindo todo seu
peitoral musculoso.
Um já é demais.
Agora, dois…
Asher está na primeira fileira, conversando com o amigo. A
jaqueta de couro foi jogada de lado por conta do sol escaldante do
meio da tarde e os óculos escuros escondem seus olhos castanhos.
A blusa branca é apertada, agarrando seus músculos e deixando as
tatuagens amostra.
A cereja do bolo?
A fumaça do cigarro escapando da sua boca, como se ele
fosse a porra de um peronsagem clichê de um filme de romance
ruim.
E… e ele fuma de maneira tão sexy que por um momento te
faz esquecer as doenças que isso pode te trazer.
Asher Blakewood teme ser feito sobre as pessoas.
Ele te convence que o mal só depende do ponto de vista e
quando vê… já está na cama dele.
Mas não com as minhas garotas.
Ele tentou a sorte com Brooke e levou um belo fora, e não
vou deixar que se aproxime de ninguém do meu time.
— Já volto — aviso a Emma, entregando minha garrafinha a
ela.
A passos firmes, caminho até onde os dois amigos estão.
Puta que pariu! Ele tem que estar em todos os lugares?
Já é difícil o suficiente evitá-lo em casa — apesar dele fazer
um ótimo trabalho, nunca estando por lá —, mas na universidade,
que deveria ser muito mais fácil, uma vez que estamos em classes
totalmente distintas e o campus é gigante, também não é como
imaginei.
Deveria ser moleza.
Mas não é.
Porque agora, alem de aturá-lo sob o mesmo teto, tambem
preciso encontrar com Asher no almoco — afinal, é claro que Knox e
Brad nao poderiam ter arranjado outros calouros para isnerir em
nosso grupo —, e aparentemente, na porra do treino.
Quando me aproximo, a fúria tomando conta de todo meu
corpo, as cabeças dele e do seu amigo se viram simultaneamente.
— Que porra você pensa que tá fazendo? — Pergunto de uma
vez, sem tempo para ladainha.
Cruzo os braços e não desvio meu olhar do dele, por mais
que eu não saiba se seus olhos estão em mim ou no meu time.
Merda de óculos escuro
— Oi pra você também, irmãzinha — ele me cumprimenta,
tranquilo, e apoia-se na grade que nos separa.
Kevin ri.
Eu me controlo pra não voar minha palma em sua cara.
— Para de me chamar assim — reclamo, sem sucesso, porque
sei que quanto mais ele vê que me atinge, mais continua.
Babaca dos infernos.
— Alguma coisa em que podemos ajudá-la, Pippa? — É Kevin
quem pergunta, mas quando respondo, estou olhando para seu
amigo.
— Vocês estão distraindo os calouros. Têm que ir embora.
Talvez, se eu pedir com jeitinho, eles desistam dessa briga e
façam o que eu di…
Asher solta uma risada, sendo acompanhado do amigo logo
em seguida.
— A culpa é nossa de sermos irresistíveis? — Kevin provoca,
passando a mão pelo tanquinho cheio de gominhos.
Por um instante — um instante — eu encaro seu corpo.
Dura milésimos de segundo.
Mas é o suficiente.
— Parece que sim, Kev — Ash responde e eu psico, voltando
a realidade.
Merda.
Estou igual essas novatas com fogo no rabo pelos jogadores.
— Preciso que você — aponto para Kevin, enfurecida —
ponha a porra de uma camisa. Por que você tá sem, de qualquer
jeito? — Não é uma pergunta a ser respondida, então, não lhe dou a
chance de falar alguma coisa. — E você — aponto para Asher agora.
— Para de fumar nas dependências da faculdade e de acompanhar
treinos que não participa. É contra as regras.
Sobre a parte de fumar, eu tenho quase certeza que estou
certa.
Sobre os treinos… posso ter inventado.
Contudo, duvido que ele tenha se dado ao trabalho de ler o
manual do aluno que os novos estudantes recebem na primeira
semana.
— Não posso assistir aos treinos? — Repete, e parece
acreditar na minha mentirinha. Ótimo. — Kevin?
O amigo dá de ombros e, felizmente, vejo-o enxugar a testa
com a camisa e colocá-la de volta no corpo.
Graças a Deus.
— Não faço ideia, irmão. Deve ser verdade. Você sabe como o
reitor é certinho — provoca, citando o pai de Asher.
E sabemos como o papai Blakewood é um tópico sensível
para o único filho.
Agarro essa chance.
— Advertência logo na primeira semana, irmãozinho? — Entro
em seu jogo e sua cabeça gira imediatamente na minha direção. —
Não acho que o reitor vai gostar disso. Acha? Ou será que vai ser o
papai a ficar mais preocupado com o filhinho? Ainda estou tentando
entender essa dinâmica. Onde vão os limites entre pai e reitor entre
vocês dois.
Posso jurar que vejo fumaça saindo das narinas de Asher.
Ele levanta os óculos, os olhos castanhos fixos nos meus e
apoia as mãos na grade, ficando a centímetros de mim.
Não me afasto.
Ele está furioso, mas ainda estamos em um local público, com
muitas testemunhas.
Ele não tentaria nada contra mim aqui.
Por isso, dou mais um passo à frente, a tensão cresce entre
nós dois ao mesmo tempo que a distância diminui.
— Vai embora ou preciso que eu chame os seguranças do
campus? — Pergunto, abrindo um sorriso. — Ser enteada do reitor
tem seus privilégios, e tenho todos na discagem rápida do celular,
caso eu precise.
Asher passa a língua pelo lábio inferior, sem desviar as íris das
minhas.
E então um sorriso macabro se forma em seu rosto.
— Vou embora — diz, me pegando de surpresa. Franzo o
cenho, tentando entender a pegadinha. — O treino está acabando e
tenho mais o que fazer, irmãzinha, mas saiba que seus dias de
reinado aqui estão perto de expirar.
Com uma piscadela na minha direção, o desgraçado se vira e
sobe as escadas da arquibancada para fora do campo.
Maldito.
Poderia criar uma cena.
Gritar.
Realmente chamar os seguranças.
No entanto, não faço isso, porque minha reputação também
está na reta.
Nessa altura, todos já sabem quem é o pai de Asher e que
temos uma ligação.
Cacete!
Então, respiro fundo e volto para a nossa área de treino, com
um sorriso nada verdadeiro estampado em minha face.
— Tudo bem? — Emma pergunta quando me aproximo,
alternando o olhar entre mim e o outro lado, onde está o time de
futebol.
— Por enquanto, sim — digo e espero que ela entenda pela
minha expressão que não quero falar sobre isso agora.
Esse garoto me dá nos nervos.
— A treinadora gostou daqueles três — minha amiga conta,
mudando totalmente o assunto, apontando para duas garotas e um
garoto que se alongam mais ao canto. — Eles são muito bons.
Assinto, sem tirar os olhos deles.
Estava mesmo observando-os mais cedo, antes de ter que
resolver meu probleminha.
— Ela é uma das que se distraiu com a ceninha lá atrás —
Emma confessa, apontando para a garota com o cabelo com luzes.
Ela está usando um conjunto salmão de calça legging e top de
ginástica, e pela logo, sei que é muito caro, tal como a cor dos fios.
— Disse que Asher é dos caras mais gostosos que ela já viu e não vê
a hora de chamar a atenção dele.
É claro que ela disse.
— Vamos ter que impor algumas regras aqui, caso ela entre
no time — afirmo, sorrindo forçadamente quando a dita cuja acena
para mim.
Sinto uma pontada no meu peito só de pensar nela beijando
Asher, no entanto.
É esquisito.
Me incomoda.
Nada saudável.
E me deixa com uma pulga atrás da orelha todas as vezes
que essa imagem vem à minha mente.
Por que estou pensando no enteado da minha mãe beijando
outra pessoa e por que isso está me afetando mais do que deveria?
Tipo, o que vem a seguir, o que é isso, o que aconteceu?
Eu só quero relaxar, beber, fumar, foder
Porque malditos sejam os objetivos desse corpo pra caralho
De alguma forma, você está quente como o inferno, mas ainda frio
pra caralho
Você conhece o negócio, você sabe o que está acontecendo
Você não é a única, você sabia disso
These Days | mike.

Kevin Turner é uma borboleta social.


Não que esse não fosse um fato já conhecido por mim
desde… sempre, mas a cada dia vivendo ao lado do meu melhor
amigo mais uma vez, eu vejo isso de perto.
Além dele ter pelo menos três colegas em cada classe, ser o
queridinho do time de futebol e cumprimentar cinco a cada sete
pessoas nos corredores da faculdade, Kev conseguiu nos inserir no
grupo de amigos de Pippa, sem eu ao menos pedir.
Ou ele tentar.
Apenas… aconteceu.
Coincidências, huh?
Nada melhor do que tirar tudo da minha irmãzinha,
começando pelos seus amigos.
O melhor de tudo é que nem estou precisando me esforçar
para isso.
Apenas algumas semanas e já somos como elos inseparáveis.
Almoçamos juntos, acompanhamos o treino de futebol — da
última fileira da arquibancada, porque não quero mais cruzar com
ela — e hóquei e, agora, simplesmente fomos convidados para uma
resenha na república de Knox e Brad, somente os caras.
Eles se conheceram no primeiro ano na Universidade de
Alberta, uma vez que ambos entraram com bolsa de estudos por
conta do esporte — o que não é uma surpresa para Bradley, levando
em consideração que seu pai é ninguém mais, ninguém menos, que
a lenda do hóquei, Steven Rhodes.
O talento é de berço, pelo visto, já que sua irmã também é
uma estrela, mas do time feminino.
E desde o primeiro dia, eles moram junto com os outros caras
em uma casa gigantesca perto do campus, custeada por, claro, a
lenda em questão: o pai de Bradley.
A mansão tem uma fachada clássica de fraternidade. É
branca, com colunas grandes e uma fonte triangular, tal como as dos
Estados Unidos. Ao redor dessas colunas, faixas verdes e douradas
enrolam-as, as cores dos Golden Bears, assim como uma bandeira
do time pendurada no mastro no jardim. Ainda na parte exterior,
alguns carros bagunçam a garagem e tenho certeza que não há
lugar suficiente para todos, pela forma que estão jogados de
qualquer jeito por aí.
Eu e Kevin ralamos para arranjar um espacinho para nossas
motos até Knox vir nos salvar e nos instruir a deixá-las na garagem
coberta, onde haveria mais espaço.
E quando ele nos levou para dentro, ficamos ainda mais
impressionados.
O interior é gigantesco.
Os móveis parecem seminovos — o que não é de se esperar
de uma fraternidade onde vivem apenas homens —, a televisão é
imensa e, como a porta da cozinha estava aberta quando chegamos,
não pude deixar de notar os eletrodomésticos intactos e a ilha limpa
até demais.
É claro que os detalhes não enganam: é um lugar
majoritariamente frequentado por homens
Não, por jogadores de hóquei.
Os pôsteres, troféus, tacos de hóquei, assim como discos…
são algumas das decorações do primeiro andar.
Devo admitir que não sou fã de hóquei — apesar do meu pai
ser um torcedor assíduo dos Canucks, principalmente de Grayson
Calloway[6], um ex-jogador do time que fez história, mesmo com
pouco tempo no gelo — porém, uma curiosidade me atiçou desde
quando entramos e me senti cem por cento inserido na caverna
deles.
Talvez eu devesse começar a assistir alguns jogos e ver como
é, pensei, enquanto Knox nos mostrava alguns dos prêmios que o
time ganhou nos últimos anos, expostos na sala de estar.
— É tudo bem… — Kevin disse assim que nosso amigo
terminou as apresentações, passando os olhos pelo lugar.
— Limpo — completei, surpreso por toda a arrumação do
local. — E organizado.
Knox sorriu e deu de ombros.
— Tio Steven contratou alguns funcionários que aparecem
duas vezes por semana para dar uma geral por aqui — explicou, e
foi quando as pecinhas do quebra cabeça se encaixaram.
Não que eu não confie no potencial do time de manter tudo
brilhando, mas…
É.
Eu não confio mesmo.
Vinte homens passando a vassoura e limpando a privada
diariamente?
Duvido.
Brad desceu as escadas logo depois, recém saído de um
banho, com os cabelos ruivos pingando e a blusa cinza um pouco
molhada, tal como a calça de moletom, se juntando a nós no sofá,
com os outros caras do time.
Ele é diferente de Knox.
Tímido.
Contido.
Na dele.
Fala o que é necessário, quando é necessário.
E se ele não encontrar nenhuma brecha… ele fica sem falar.
Já aconteceu em um almoço, certa vez, e fiquei um pouco
surpreso com sua personalidade.
Para alguém filho de Steven Rhodes, um dos caras mais
carismáticos e talentosos da geração passada no gelo, ele é… não
tão parecido com seu pai como eu imaginaria.
— Brad, porra, atira ali — Knox reclama, apontando para o
canto da tela da televisão enquanto eles jogam videogame, me
arracanndos dos denvanieos.
Estou sentado no chão, com as costas escoradas no sofá e
bebendo uma long neck.
Kevin está na poltrona, também com um controle em mãos e
garrafas de bebida descansando no chão.
Além de nós quatro, outros três jogadores que não me
lembro o nome estão espalhados pela sala de tv. A temporada de
hóquei ainda não começou oficialmente, então eles aproveitam para
encher a cara em qualquer oportunidade de usar entorpecentes
proibidos — fora ou dentro de temporada, na verdade.
O cheiro de maconha domina o cômodo, assim como o
tabaco, mas em menor quantidade.
Prendo o meu novo cigarro entre os dedos, levando-o à boca
e acendo-o. Trago-o, sentido a nicotina se expandir para meus
pulmões e, depois, solto a fumaça.
Porra, como isso é bom.
Jogo a cabeça para trás, na beirada do sofá, e distraidamente
observo o véu de vapor rodopiando no ar acima de mim.
Ouço o som de notificações chegando em celulares alheios
perto de mim, mas estou relaxado demais para me preocupar —
uma vez que o meu aparelho segue silencioso no bolso de trás da
minha calça jeans.
— Ei, Knox, se liga — um dos integrantes do Golden Bears diz
e ouço-o se movimentar por perto, mas não me esforço para ver o
que tá acontecendo.
Gosto da sensação que o cigarro e a bebida trazem para meu
corpo.
De leveza.
Pareço estar flutuando e… e isso mesmo: nada se passa na
minha cabeça.
Acho que o jogo é pausado porque a música irritante se
encerra de repente.
— Cacete, eles anunciaram assim, do nada? Para hoje? —
Knox indaga e é pelo seu tom surpreso que eu ergo a cabeça,
interessado.
O jogo está mesmo pausado e os caras observam algo, cada
um em seu celular.
Me inclino sobre Brad, a pessoa mais perto de mim, para ver
o que está causando essa algazarra toda.
Em tela cheia no aparelho do ruivo, há um simples convite.
Preto e branco, escrito:

“Cirque du Chaos está de volta para mais um ano.


Vocês sabem onde.
Vocês sabem como.
E vocês sabem o quê os esperam.
Hoje, o caos se inicia em Edmonton mais uma vez.”

Que bela merda.


— Deveríamos saber o que é isso e porque vocês parecem ter
ganhado na loteria? — É Kevin quem pergunta, tirando as palavras
da minha boca. — Minha irmã fez um convite melhor para o
aniversário da minha sobrinha e olha que ela mal sabe fazer uma
ligação de vídeo sem causar problemas.
Katie Turner é mesmo a inimiga da tecnologia, se me lembro
bem.
— Cirque du Chaos — Brad responde, engolindo em seco. —
É a maior festa da cidade. E… e mais um semestre começou, de
fato, pelo visto.
Troco um olhar com meu melhor amigo, porque continuo
confuso.
Não bebi tanto para estar perdido assim.
Ou bebi?
Kev dá de ombros, tão desorientado sobre essa tal festa como
eu.
— É a maior festa daqui — Knox repete, e nos viramos em
sua direção. — Acontece algumas vezes ao ano, mas não com tanta
frequência. Não sabemos quem são os organizadores e nem como a
polícia nunca apareceu por lá, já que, bem…
— É insano — um dos caras, talvez seu nome seja Masen ou
algo com M, completa para o amigo. — Tudo que voce possa
imaginar, legal ou ilegal? Tem.
— Tudo? — Indaga Kevin, mais interessado.
Assim como eu, não vou mentir.
Ninguém falou sobre essas festinhas em Edmonton antes para
mim.
— Tudo — Masen, ou seja lá qual for seu nome, responde, o
canto dos lábios se elevando em um sorriso esquisito. — São as
melhores festas da cidade por um motivo.
— As fraternidades tentam se equiparar, mas não conseguem.
Eles se superam a cada uma, com novidades toda vez — Knox
complementa dessa vez.
— Mas é perigoso — Brad avisa, uma das poucas palavras
que disse desde que chegamos, como de costume. — Rola umas
paradas pesadas e tem que estar atento.
Franzo o cenho.
— Que tipo de paradas pesadas?
Ele dá de ombros.
— O tipo que todos nós iríamos presos se a polícia não
tivesse envolvida nas festas de alguma forma também.
Porra.
— Os policiais estão dentro dessa? — Kevin questiona, tão
surpreso quanto eu.
Masen, Knox e o outro cara negam com a cabeça, me
deixando perdido mais uma vez.
— A gente não sabe — Knox explica. — Tudo indica que sim,
porque não haveria como eles não saberem.
Uma festa do caralho rolando na cidade que até a polícia é
subornada — provavelmente, mas acredito que sim, pelo que eles
estão dizendo — para que não sejam denunciados e terminem?
Interessante.
Até demais, para um lugar tão tranquilo como aqui.
Parece que a cidade está formando uma personalidade.
— Todo mundo vai — Masen comenta, entornando o que
sobrou de sua cerveja na boca. — E as primeiras são normalmente
as melhores porque ainda não está tão frio assim.
Ele está certo.
Quando o inverno começa em Alberta, as festas se tornam
mais espaçadas e em lugares fechados.
E não sei se todos já tiveram oportunidade de participar de
reuniões abarrotadas de jovens em um lugar nem tão pequeno, mas
cheio, porém… é complicado.
Levo o cigarro aos lábios mais uma vez e trago, inspirando e
expirando a fumaça.
— Eu topo — Kevin solta, de repente, animado. — Hoje, não
é? Não estamos fazendo nada mesmo. Quero ver como os
universitários se divertem por aqui.
Um sorriso de canto cresce lentamente no rosto de Knox e os
olhos um pouco vermelho pela maconha não disfarçam seu
entusiasmo.
— Caralho, sim. Vamos! — Masen responde, visivelmente
empolgado.
— Como se a gente fosse mesmo fazer outra coisa — o
quarto jogador de hóquei, que ainda não faço ideia do nome, diz,
pegando um dos controles do videogame jogados no sofá e
tragando seu cigarro também.
Olho para Brad que apenas dá de ombros.
Pelo visto, ele não gosta desse tipo de festa, mas se todos
nós quisermos ir, acho que ele vai acabar cedendo.
— O que você diz, Asher? — Knox pergunta, seu olhar
encontrando o meu. — Ta a fim de conhecer a Cirque du Chaos?
Algo me diz que é o lugar perfeito para você, meu amigo.
Circo do caos, em tradução do francês.
Realmente, acho que o nome combina mesmo comigo, e se
for o que eles estão prometendo…
— O que estamos esperando, porra?
Quando você chegar aqui não diga apenas uma palavra, não tenho
tempo para brincar
Eu sei que você pensa que me conhece
Mas você nem viu meu lado negro
Está reservado apenas para você
[...]
Poderia ser uma daquelas noites
Onde não apagamos as luzes
Quero ver seu corpo no meu
E colidir, colidir
Collide | Justine Skye, Tyga

Na minha opinião, eles deveriam usar o dinheiro que lucram


com as festas para asfaltar esse lugar ou mudar a localização para
algum que não seja apenas terra e mato, se transformando em uma
lama nojenta e grudenta após dias chuvosos.
Nunca pude usar uma sandália decente porque, caso fizesse
isso, voltaria imunda para casa.
Dessa vez não é diferente.
Eu e as meninas saímos do carro de Sydney — depois dela
estacioná-lo da melhor maneira possível entre os outros trocentos
veículos e motos na beira da rua — com cuidado. Estou de mini saia,
cropped preto e, nos pés, um coturno pesado com um salto mais
grosso. Não é lá meu estilo, porém, é basicamente o código de
vestimenta obrigatório se você não quiser passar horas lavando os
sapatos no dia seguinte.
Navegamos pelo mar de pessoas até passarmos pela entrada,
recebendo o carimbo no pulso direito depois de pagarmos a entrada.
Para onde vai esse e o dinheiro que gastamos lá dentro para
bebidas?
Só Deus sabe.
Brooke beijou um dos cobradores, ano passado, e tentou
persuadi-lo a dizer mais detalhes sobre as organizações da festa,
mas foi em vão. Ele não sabia de nada. O cara só disse que alguém
entrou em contato e ofereceu um valor para ele ser o responsável
pelas entradas e, depois, com o dinheiro em mãos, pediu que o
deixasse dentro do globo da morte ao final da festa.
O globo da morte é a grande atração das festas e continua
aqui, pelo cheiro forte de combustível e a fumaça vindo do canto
esquerdo do espaço.
Apenas algumas pessoas são autorizadas lá dentro, depois de
um garoto inexperiente ter ido parar no hospital por não saber dirigir
e sofrer um pequeno acidente. Agora, caso você queira se divertir
dentro da esfera metálica enferrujada, precisa enviar o nome para a
pessoa certa e esperar que entrem em contato com a confirmação.
É um negócio e tanto.
— Vamos buscar bebidas — Brooke chama, apontando para o
bar do outro lado do terreno enquanto a seguimos.
Já conhecemos a festa como a palma da nossa mão.
Não se nega uma boa saideira com as amigas e todos de
Edmonton sabem que aqui é onde o caos acontece.
A música estoura nas caixas de som e as luzes piscam no
ritmo da melodia, iluminando um pouco onde estamos. Há dois ou
três postes velhos por aqui também, mas são os pisca-piscas e os
mini globos de luzes nas treliças que trazem as luzes mais fortes.
Esbarramos em alguns caras do time de natação, dividindo
um cigarro de maconha no caminho. Mais a frente, noto a nova
integrante do time de torcida — a mesma que estava babando em
Asher no dia dos testes — junto com outras garotas, rebolando a
bunda ao som de alguma música da Rihanna, e os copos vermelhos
de plástico em mãos.
Depois de abrir caminho entre muitos jovens, finalmente
chegamos ao nosso destino: um bar improvisado com tábuas de
madeira ao fundo do terreno.
— Três shots de tequila — Brooke pede, retirando Sydney da
conta, já que, mais uma vez, ela é a motorista da noite.
Syd está com suas roupas escuras habituais: calça cargo,
cropped de manga curta e as correntes de prata com iniciais de
Emma ao redor do seu pescoço. Tal como uma coleira — e ela pouco
se importa quando a zoamos com isso. Um dos seus braços está ao
redor da namorada, enroscando a cintura por cima do vestido curto,
verde musgo, sem mangas e com uma gola alta. Uma das minhas
peças preferidas do guarda roupa de Em. É elegante, mas simples.
No entanto, mais uma vez, as botas pesadas quebram
completamente o visual.
Alguém precisa, urgentemente, criar outra festa tão boa
quanto essa, que não seja na porra de um terreno abandonado nos
limites da cidade.
— Já vamos começar assim, então? — Brinco, aceitando o
copinho que o bartender entrega a mim, Brooke e Emma.
A ruiva dá de ombros, jogando os cabelos brilhosos para trás.
Só a cor dos fios é o suficiente para ser reconhecida em
qualquer lugar que vamos, mas é claro que ela não se contenta
apenas em ser a garota dos cabelos de fogo.
Brooke Rhodes é a chama que queima e chama atenção de
todas as pessoas quando chega.
Hoje, por exemplo, ela está vestida para matar.
Com um body estruturado de jeans e um zíper frontal imenso,
a costura realça seus seios e a cintura fina. A mini saia vermelha é
minha, mas se encaixa tão perfeitamente em seus quadris e bunda,
que estou pensando em deixá-la ficar com a peça.
— Preciso esquentar meu corpo — ela responde, virando todo
o líquido de uma vez, mal esperando por nós.
Eu e Emma trocamos um olhar e, dando de ombros, fazemos
o mesmo.
Que a festa comece.
— Mais três — Brooke pede, jogando os anteriores no lixo.
— Manerem na bebida, porque não vou ficar responsável por
enxaguar a lama do cabelo de vocês de novo — Sdy avisa, fazendo
contato visual com cada uma de nós.
— Olha só, aconteceu uma vez — a ruiva se defende,
erguendo o dedo indicador. — E eu cortei o cabelo, tá legal? Não vai
rolar de novo.
Em uma das festas do ano passado, Brooke bebeu demais e
acabou vomitando na saída. No entanto, só percebemos o que
estava acontecendo tarde demais — afinal, também estávamos
bêbadas. E como choveu algumas horas antes e os cabelos dela
estavam soltos, os fios caírem por cima do seu rosto e ela tropeçou
no próprio, caindo com tudo na terra molhada.
Não tenho muitas lembranças do dia, mas Sdy ficou quatro
dias sem dirigir a palavra a amiga, por ter tido todo o trabalho de
levar nós três para casa, totalmente alucinadas de bebida. Eu e
Emma dormimos assim que adentramos a minha casa, onde
combinamos de passar a noite, mas Sydney passou a madrugada
toda lavando a lama do cabelo de Brooke.
Tenho certeza que depois daquela noite, o laço de amizade foi
intensificado, por mais que a namorada de Emma negue até hoje.
— Apenas… tenham limites, tá bom? Não vou ficar de babá,
então vocês precisam reconhecer quando é hora de parar — avisa,
pedindo uma água com gás para o bartender, que a olha com uma
expressão esquisita.
Ela é a única convidada que não bebe, aparentemente.
— Pode deixar, mamãe — Brooke responde, divertida, e eu
sorrio.
Sdy revira os olhos, entrelaçando os dedos nos de Emma.
O cara nos entrega mais três shots e, juntas, viramos-os de
uma vez, fazendo a careta típica por conta da bebida barata e de
qualidade duvidosa.
— Agora… pista de dança — instruo, agarrando as mãos de
Brooke e Emma para nos levar até a outra área do terreno.
Na verdade, não é bem uma pista.
É só o lugar mais perto do dj, cercado por tambores de lata
revirados como mesa para apoiar as bebidas e luzes piscantes para
todo o lado.
Emma e Sdy encaixam o corpo uma na outra e dançam
sensualmente juntas de um canto. Do outro, Brooke entrelaça os
dedos nos meus e me puxa para sua frente. As mãos pousam em
meus quadris e, sincronizadas, balançamos as bundas no ritmo da
música, tentando não esbarrar nas outras pessoas por perto.
São os pólos mais abarrotados de pessoas da Cirque du
Chaos: o bar, a parte do dj, e, claro, o globo da morte.
Estamos mais perto da esfera metálica agora e o cheiro de
gasolina impregna minhas narinas.
Na minha opinião, não há a menor graça.
Homens arrogantes dando voltas em uma antiga atração de
circo apenas para serem aplaudidos por garotas gostosas?
Eu passo.
Já preciso conviver com esse tipo de gente todos os dias na
universidade.
Mas eu confesso que entendo porque é tão esperado por
todos, principalmente por quem quer um gostinho do perigo e
consegue entrar no círculo gigante, enquanto os caras estão
queimando os pneus lá dentro.
A adrenalina é insana.
É o que imagino, pelo menos, já que não me odeio o
suficiente para entrar lá dentro com um desses malucos sem a
garantia de que vou sair com viva.
Nunca aconteceu, mas… mas não testarei a minha sorte.
— Olha só! Se não são as minhas garotas favoritas — a voz
manhosa e arrastada de Knox Davenport me chama atenção,
instantes antes dos seus braços musculosos passarem pelos meus
ombros e de Brooke. — Como as senhoritas estão nesta noite?
— Você está bêbado demais e nem são meia-noite ainda —
acuso, me afastando do seu toque.
Brooke, por outro lado, agarra o antebraço do melhor amigo
de seu irmão e inclina o pescoço, abrindo um sorriso carnal para o
cara.
É explícito — até demais — o quanto esses dois se desejam.
Não é como se eles tentassem esconder, para ser honesta.
E as únicas pessoas que não veem isso são: o casal sensação
que ri em conjunto nesse instante — e se alguém perguntar, eles
desconversam e tentam convencer que todos os amigos agem
daquele jeito — e o irmão que marcha em nossa direção, os olhos
em chamas de raiva.
— Ei, Brad — chamo-o, antes que ele faça uma cena na festa.
Por sorte, o ruivo nota minha presença e abre um sorriso
fraco, vindo até mim.
— E aí, Pippa — diz, alternando o olhar entre eu e sua irmã
com Knox.
— Eles são adultos. Sabem o que estão fazendo — comento e
ele volta a me encarar, soltando um suspiro.
— Knox não tem responsabilidade por si próprio, imagina por
ela — responde e fico surpresa por estar admitindo. Normalmente,
Bradley é bem na dele e foi uma das razões do nosso namoro não
ter ido para frente, há alguns meses. — Ele vai partir o coração de
Brooke e eu vou ter que partir a cara dele no meio.
Cacete.
Nunca vi Brad falar assim de ninguém, muito menos de Knox.
— Achei que ele fosse seu melhor amigo.
Brad assente, parecendo se segurar para não ir até os dois se
separá-los, apesar deles estarem apenas conversando e se mexendo
no ritmo da melodia.
— Ele é. E é por isso que eu sei que não é bom para ela.
Ele, então, leva a garrafa de cerveja long neck aos lábios e
tudo começa a fazer um pouco mais de sentido.
Brad não falaria esse tanto de coisa — para mim, ainda por
cima — sóbrio.
Sei que não está bêbado, mas, às vezes, ele precisa de um
pouco de coragem líquida para dizer o que realmente quer.
— Brooke sabe o que está fazendo — defendo-a e espero que
eu esteja certa.
Knox é um assunto proibido na nossa amizade, por exigência
dela.
Quando tentamos tocar no tópico dessa amizade, a garota
desconversa e reafirma que são somente amigos.
Somente amigos.
Não tem nada de amigável na forma que o corpo de Knox
está colado no dela e como se movimentam em sintonia. Brooke
joga a bunda para trás e os dedos dele escorregam pela sua cintura.
A mini saia vermelha sobe um pouquinho mais a cada rebolada que
dá e ele aproveita para passar a mão pela coxa dela. Brooke ri,
jogando um dos braços para trás e, segurando a nuca dele, com a
outra mão, entrelaça os dedos nos dele — que estão em seu quadril.
Porra.
Até eu estou ficando com tesão vendo-os dançar dessa forma
tão… sensual, para dizer o mínimo.
— Hum… só vocês dois vieram? — Pergunto quando Brad
tenta girar a cabeça na direção que eles estão.
Sei que Knox conta a mesma mentira que são apenas amigos
para o ruivo, porém, pelo visto, Bradley não está caindo tanto nessa
assim mais.
— Mason e Daniel vieram — conta, citando dois outros
jogadores do time de hóquei. — E Kevin e Asher também.
É claro que ele veio.
Aqui é exatamente o lugar que eu o imaginaria.
Só espero não esbarrar com ele por aqui.
Vamos lá, é um terreno grande, escuro e tem tanta gente…
Quais as chances de nossos caminhos se cruzarem?
— Senhoras e senhores — a voz vindo de perto do globo da
morte, amplificada pelo megafone, chama minha atenção. Não faço
ideia do motivo. A música está alta e mal posso ouvi-lo, mas… mas
meus ouvidos insistem que eu me esforce para isso. — Temos um
novo motoqueiro, de última hora, para se arriscar no caos.
Um coro de gritos e aplausos ressoa e eu reviro os olhos.
Patético.
— Ele é novato, mas nem tanto assim, e parece que o cara é
bom! Já que aprovaram sua participação tão em cima da hora assim.
Ah não, porra.
Isso não pode estar acontecendo.
— Brad, me diz que não é quem eu estou pensando — peço,
sentindo a raiva tomar conta de mim.
Raiva porque ele está em todos os malditos lugares.
Clamando a porra dos holofotes.
Brad não tem a chance de responder, mas eu consigo a
resposta da mesma forma.
— Asher Blakewood! — O homem anuncia, como esperado.
Inacreditável.
Simplesmente, não posso acreditar nessa merda.
Então, finalmente o vejo.
Ele lança o sorriso cafajeste na direção de cada garota que
circula o globo, empurrando sua moto para a pequena abertura da
esfera. Joga os cabelos para trás e o cigarro no chão, amassando-o
com a bota.
Se sentindo a porra de um deus.
E como a porra do universo me odeia, o desgraçado nota que
o estou encarando e seus olhos encontram os meus.
O sorriso se transforma.
Não é mais aquele que intitulei de “molhar calcinhas” mas,
sim, o de triunfo.
Ele é o centro das atenções da festa agora.
— Não acredito que o liberaram — Brooke comenta por trás
de mim.
Não notei que ela tinha se aproximado.
Estava focada demais na cena patética que se desenrola à
minha frente.
— O cara é bom pra caralho — Knox completa e sinto Brad
ficar endurecer a postura ao meu lado, mas não me importo com
essa merda agora.
Porque tem algo me tirando ainda mais dos sério do que
somente Asher ser o próximo a usar o globo.
— Aquela ali é a Serena Anderson? — Emma pergunta e, de
canto de olho, vejo que ela e Sdy estão com as íris vidradas na
garota ao lado de Asher.
Ele está com o braço ao redor de sua cintura, e enquanto ela
não tira os olhos dele, meu irmãozinho me observa atentamente.
O filho da puta sabe.
É claro que ele sabe — não só da regra que impus no time de
torcida, sobre não se envolver com ele, como quem é ela.
Os cabelos escuros lisos, o sorriso fácil e o vestido que mal
cobre sua bunda…
— É ela — respondo, fechando minhas mãos em punho e
sentindo as unhas afiadas machucarem as minhas palmas. — Parece
que a novata líder de torcida vai entrar com Asher no globo da
morte.
Nunca preciso de uma vadia, eu sou o que uma vadia precisa
Tentando encontrar aquele que pode me consertar
Eu tenho evitado a morte nas seis marchas
A anfetamina deixou minha barriga enjoada
Sim, eu quero tudo agora
[...]
Porque eu sou sem coração
E estou de volta aos meus caminhos porque não tenho coração
Heartless | The Weeknd

Aconteceu muito rápido.


Em um momento, estávamos na casa dos Golden Bears,
discutindo como iríamos para a festa e quem seria o motorista da
vez. Eu disse que eu e Kevin dirigiríamos com nossas motos e,
assim, eles poderiam ir em um carro só. Os olhos de Knox se
iluminaram e foi Mason — não Masen, como eu imaginava — que
explicou sobre a principal atração do Cirque du Chaos.
A porra de um globo da morte.
Eles contaram que o circo estava abandonado na beira da
estrada há alguns anos e como a polícia fez vista grossa para o que
aconteceria com certos equipamentos, e, assim, os tais
organizadores misteriosos começaram seu negócio mais lucrativo
nas festas.
Aquilo me interessou, claro.
Um globo da morte?
Caralho.
Quando perguntei se qualquer um poderia usá-lo, os caras
riram da minha cara e disseram que havia uma longa lista de
motoqueiros em todas as festas, esperando o grande dia que
finalmente seriam chamados.
É uma disputa e tanto.
Os motoristas são escolhidos a dedo.
E mesmo assim, você só precisa conhecer as pessoas certas
para conseguir o que quer em Edmonton.
Bastou Kevin entrar em contato com o irmão do amigo do seu
vizinho que é cliente fiel na oficina de Patrick Turner para que alguns
pauzinhos fossem mexidos e, assim que coloquei os pés no terreno
abandonado, um dos caras me chamou em um canto e disse que eu
seria o próximo.
Ja digiri na porra de um globo da morte antes?
Cacete, claro que não.
Nunca nem cogitei essa possibilidade — porque, bem, até
uma hora atrás eu não sabia sobre isso.
Contudo, a adrenalina que deve ser estar lá dentro,
rodopiando em circulos… porra.
Mal posso esperar.
— Oi, bonitão — uma garota que não me é estranha me
cumprimenta logo após me chamarem, quando estou com a moto
na entrada do globo.
Eu iria ignorá-la.
Não faço ideia de quem seja.
Quer dizer, ela é bem comum, para ser sincero. Um vestido
curto, pele bronzeada pelo sol dos últimos dias na cidade e cabelos
castanhos longos, da mesma cor dos olhos. Eu poderia facilmente
estar confundindo-a com outra pessoa.
No entanto, quando vejo o cenho de Pippa franzido, do outro
lado da festa, e seus olhos fulminarem a menina, deduzo que seja
alguém importante para ela.
Ou alguém que odeie.
Do jeito que for, ela não está nada feliz com a nossa
proximidade, então, me agarro nisso.
— E aí — digo, alternando meu olhar entre a loira que está
prestes a cortar meu pescoço fora com o poder da mente e a
morena ao meu lado. — Quer entrar?
Knox comentou também que os motoqueiros podem escolher
uma pessoa para entrar junto com eles e sentir o perigo de perto.
Os olhos da garota se iluminam e ela assente sem pensar
duas vezes quando passo um dos meus braços pela sua cintura.
— Claro que quero!
Forço um sorriso e, com um gesto de cabeça, indico ao cara
responsável pelo globo que ela vai comigo.
Ele acena positivamente e nos coloca para dentro.
Sem tirar o sorriso do rosto, a tal garota se posiciona no meio
da esfera metálica e eu subo em cima da moto, ajeitando o capacete
— uma das exigências para estar aqui — sem tirar os olhos de
Pippa, que, agora, está ao lado do globo junto dos seus — nossos —
amigos.
Ela não está nada contente.
— Voce vai morrer, porra, Asher! — Grita, parecendo…
preocupada? — Sai daí!
Não, com certeza não.
Ela deve estar com medo da possibilidade de ter que contar
ao meu pai que me feri ou como, ela mesmo disse, morri, se algo
acontecer.
Mas não vai.
— Deveria estar comemorando, então, irmãzinha, porque aí
você se torna filha única — grito de volta, segundos antes de
abotoar o capacete.
Pronto.
Agora é só eu, a moto e a esfera metálica que estou inserido.
Ouço a galera gritando do lado de fora quando as luzes são
diminuídas e eu acelero, de propósito, fazendo a moto rugir e o
alvoroço se intensifica fora do globo.
Sem pensar demais, acelero mais uma vez, forte, e é quando
a moto começa a se mover.
Em espirais, cacete.
Dou a primeira volta.
Ouço os aplausos e gritos de incentivo da galera e deixo que
a confiança cresça dentro de mim.
Rodo mais uma vez pelo globo, sentindo a adrenalina tomar
conta de todo meu corpo.
Quanto mais seguro de mim, mais velocidade a moto ganha e
os pneus se arrastam no metal, rugindo. Porra.
Arrisco um olhar para a garota no centro e ela está curtindo
tanto como eu.
O sorriso continua intacto no rosto, assim como os pés no
chão.
Ela está gostando, mas não se move.
Decido ser mais ousado, subindo mais a moto, continuando a
rodar na esfera; os gritos do lado de fora são meu maior incentivo.
Sinto meu sangue queimando.
Animado.
Não consigo pensar em mais nada, a não ser no aqui e no
agora.
É como se eu tivesse pegando fogo.
E, caralho, acho que nunca senti algo assim antes.
Ainda movido pela emoção, eu desço um pouco, passando
mais perto da garota; ela grita quando sente minha proximidade.
O público se cala durante alguns instantes, mas quando
percebem que eu sei muito bem o que estou fazendo, explodem em
gritos eufóricos de novo.
Me sinto a porra de um rei aqui dentro.
Rodo a esfera mais algumas vezes até ouvir a buzina alta,
indicando que o tempo terminou.
Acho que foram os minutos mais excitantes da minha vida
toda.
Aos poucos, vou perdendo velocidade até o motor antigo se
calar por completo e cessar.
Tiro o capacete, ainda dentro do globo.
Encontro os olhos de Kevin, Knox e Brad do lado de fora,
pelas frestas do metal, e, lógico, os de Pippa.
Ela parece… aliviada, talvez.
Ou é impressão.
Sim, irmãzinha, não foi dessa vez que você se tornou a filha
única.
A garota é a primeira a sair e eu vou logo atrás, tendo ajuda
de um dos caras por perto com a moto.
Do lado de fora, a galera grita quando ergo o capacete no ar,
em um gesto de vitória, e uma explosão de aplausos ressoa por
cima da música alta.
Os meus amigos se aproximam, mas Pippa e as meninas
continuam afastadas.
Ela está com os braços cruzados, os olhos fixos em mim.
Então, deixo que os cantos dos meus lábios se curvem em um
sorriso e, com as mãos, faço um gesto como se eu tivesse me
coroando.
Ela entende exatamente o que quero dizer.
Parece que seu trono de rainha está se deteriorando, Philippa.
O que acontece logo depois que saio da esfera metálica é um
borrão.
Muita gente vem falar comigo, me rasgando elogios e flertes
e é tudo tão rápido, em tanta quantidade, que não consigo digerir
muito bem o que está acontecendo de fato.
Kevin, Knox e Brad conseguem me puxar do tumulto quando
o próximo cara entra no globo e a atenção é dele, me levando para
o outro lado da festa, mais precisamente para o bar. Compramos
algumas cervejas e encontramos um espaço perto da pista de dança
improvisada.
A ideia de ficar por aqui é de Knox e Kevin, por motivos
diferentes.
Knox não tira os olhos da irmã de Brad enquanto ela dança
com Pippa e Emma, as três chamando atenção de todos os outros
homens — e algumas mulheres — ao redor.
Kevin, por outro lado, flerta com uma garota da sua classe de
saúde pública.
Ou essa é da de sociologia?
Não faço ideia, já me perdi em quantas pessoas Kev jogou
seu charme essa noite.
— Aquilo foi insano — alguém diz perto de mim e eu demoro
um pouco para perceber que a pessoa está falando comigo.
Para ser honesto, só percebo isso quando os olhos de Pippa,
de repente, fixam-se em um ponto ao meu lado, e não em mim.
Estamos há um tempo nesse joguinho de encaradas para ver
quem vai ceder primeiro e, aparentemente, foi ela.
Mais uma vitória para mim.
Com um sorriso de triunfo, eu me viro em direção a voz e não
me surpreendo quando encontro a garota de mais cedo.
Ela está com um copo plástico vermelho em uma das mãos e
usa a outra, livre, para tocar meu antebraço.
— Foi mesmo — concordo, olhando uma última vez para a
loira na pista de dança, antes de retomar minha atenção para essa
outra menina. — E você é a…
— Serena. Serena Anderson — se apresenta, deixando que
um sorriso leve estampe seu rosto. — Eu… hum… sou nova. Acabei
de entrar na equipe de líder de torcida da faculdade.
Tudo faz sentido.
Como ela sabe quem eu sou — porque também estuda na
Universidade de Alberta — e porque Pippa detestou nossa
aproximação — ela é mais uma discípula da minha irmãzinha.
— Muito prazer, Serena — digo, dando um passo mais para
frente e ela gosta, já que os cantos dos seus lábios se elevam ainda
mais.
— Eu conheço a Pippa, sua… irmã? Ou sei lá como vocês se
denominam — solta, de repente, e eu franzo as sobrancelhas,
tentando entender porque isso é relevante no momento. — E eu não
concordo com o que ela fez, sabe?
Com o que ela fez?
Que porra essa garota fez agora?
— Acho que não sei do que você está falando — confesso,
sincero.
Serena inclina a cabeça, um pouco perdida também.
Ela desvia os olhos dos meus e tenho certeza que é para
procurar pela sua capitã.
— Você não sabe? — Indaga, voltando a me encarar e eu
nego. — Ai… caramba. Não sei se deveria dizer, então.
— Você deveria, já que começou o assunto.
Poderia ter sido um pouco mais gentil, porém, ela é minha
oportunidade fácil de saber que merda Philippa está dizendo por aí
sobre mim.
Haveria outra forma de descobrir sobre seja lá o que essa
menina esteja falando?
Sim, mas me daria um pouco de trabalho e estou cansado de
ter que consertar as merdas que a enteada do meu pai faz.
— Ela não gosta de você perto das amigas dela — conta,
como se fosse um segredo. E eu estou perto de perder a paciência
quando, em um tom mais baixo, Serena continua: — E impôs uma
regra que nenhuma de nós, do time, deveríamos nos envolver com
você ou… ou estaríamos expulsas.
Ela… porra, Pippa.
Meus olhos encontram os dela, que continua dançando
animadamente com Brooke — Emma não está mais por perto, assim
como a namorada — e um calor sobe pelo meu corpo.
Eu disse para ela ficar longe do meu caminho, mas é claro
que ela não ouviu.
Pippa arqueia uma sobrancelha para mim, esperando meu
próximo movimento.
Eu lhe lanço meu melhor sorriso provocante.
Ela não entendeu ainda que não pode brincar comigo? Porra,
e acreditar que vou aceitar uma derrota facilmente…
Eu queria ficar com alguma menina do time?
Talvez, se rolasse alguma oportunidade, mas não era um
desejo ardente dentro de mim.
Agora, se tornou.
— Serena? — Chamo, virando-me de frente para a garota
mais uma vez. — Eu vou te beijar, então, se você não quiser, é
melhor dizer.
Serena parece nervosa.
Com medo.
Não de mim.
De Pippa.
— Ela não vai te expulsar — garanto, porque se ela fizer isso,
vou ter que recorrer ao reitor e contar o que sua filhinha favorita
está fazendo pelas costas dele.
Amedrontando calouros.
— E-eu quero. Muito — a novata garante, ainda um pouco
tensa. — Mas… tem certeza que ela não vai me expulsar? Não posso
sair do time. De jeito nenhum.
— Ela não vai — reforço mais uma vez. — Pode deixar que eu
lido com minha irmãzinha. Sua única tarefa, nesse momento,
Serena, é me beijar. Se você quiser, é óbvio.
Felizmente, não preciso dizer uma terceira vez ou seria
humilhante demais para mim.
No instante seguinte, Serena cola os lábios nos meus.
Porra, sim.
Eu agarro sua cintura e nos giro, deixando-a de costas para
onde Pippa dança e finge não estar observando a cena. Desço uma
das mãos pelas costas da morena e aperto sua bunda por cima do
vestido.
Ela geme contra a minha boca.
Eu abro os olhos.
E encontro minha irmãzinha com atenção inteira em nós.
Em mim, para ser mais exato.
Esperava encontrar uma expressão de raiva no rosto de
Pippa.
Ódio.
Talvez um indício que ela queira cortar minhas bolas.
No entanto, para minha surpresa, não é isso que eu vejo —
ou acredito ver, porque não tenho certeza de nada mais.
É… desejo.
E algo me diz que ela não quer estar no meu lugar, beijando
Serena.
Não… não pode ser.
Não faz sentido.
Eu a zoo quanto a isso, porém é isso: apenas zoação.
Não verdade.
Certo?
Pippa é a primeira a quebrar nosso contato visual.
Ela gira nos calcanhares e puxa Brooke junto.
Elas rebolam em sincronia, jogando os braços para cima,
acompanhando o ritmo da música.
Eu volto a fechar os olhos, focando no beijo que estou dando
no momento.
Sei que estou fodido quando não é o rosto de Serena
Anderson que me vem à mente quando estou beijando-a.
É o de Philippa Caldwell.
Ah, se estamos falando de corpo
Você tem um perfeito
Então coloque em mim
Jure que não vai demorar muito
Se você me ama direito
Nós transamos para o resto da vida
E assim por diante
Qualquer coisa que você quiser eu desisto
Lábios, lábios eu beijo
Morda-me enquanto eu saboreio a ponta dos seus dedos
Talking Body | Tove Lo

A ressaca, ela te humilha.


E eu sei disso, caramba.
Não é como se fosse a primeira vez que eu encho a cara na
vida, mas assim como todas as outras, uma gotinha de álcool entra
no sangue e eu me sinto invencível. Como se eu pudesse beber
shots e coquetéis a noite toda e ficar perfeitamente bem na manhã
seguinte.
Eu não posso.
Infelizmente, eu só faço essa conclusão tarde demais e então
preciso passar os últimos dias quentes em Edmonton com minha
cabeça explodindo debaixo do sol.
Porque é lógico que não vou perder o último fim de semana
ensolarado da temporada.
A previsão do tempo indica que na próxima semana as
temperaturas vão cair e, bem, depois de tanto tempo morando
nesse país, eu já sei que uma vez que os vinte e cinco graus se
transformam em quinze, em pleno verão, é daí para pior.
Foi por isso que me forcei a levantar da cama, colocar um
biquíni e descer para a piscina com uma garrafa de água térmica de
um litro e remédios para dor de cabeça.
Nada vai me impedir de pegar o último bronze do ano.
Enquanto isso, Brooke dorme pacificamente no meu quarto,
no segundo andar.
Eu tentei acordá-la, mas foi em vão.
Ela ficou ainda pior do que eu — mas, felizmente, não
tivemos um episódio de vômito parecido com o da última vez.
Como de costume, fomos embora da festa por volta de duas
e pouco da manhã, quando os capangas — como gostamos de
chamá-los, porque eles são apenas subordinados dos organizadores
misteriosos — acenderam as luzes e iniciaram o convite para que
todos se retirassem.
Entramos no carro de Sydney e após deixar Brooke e eu aqui,
as duas seguiram para o apartamento novo da motorista da vez —
eu as convidei para ficarem, porém, com as risadinhas que me
lançaram, imagino que a noite nao tenha terminado quando elas
chegaram em casa.
Vidas solteiras importam, sabe?
Tenho inveja delas, às vezes, por estarem em um
relacionamento tão leve e bom.
O pensamento me lembra imediatamente de Bradley Rhodes.
Nós namoramos durante poucos meses assim que entramos
na faculdade, mas não deu em nada.
Ele é ótimo, não é isso, só… não.
Brad é fechado demais. Ele não se abre. Com ninguém, e
comigo não foi diferente.
“Ele é assim mesmo, amiga, mas não quer dizer que ele não
confia em você ou não te ama.”
Foi o que Brooke me disse quando comentei sobre esse
pequeno problema entre nós dois.
Ela poderia até estar certa, mas eu não soube lidar com a
personalidade dele.
E quando tentei brigar sobre isso, ele também jogou na
minha cara que eu não falo sobre certos assuntos e isso não o
incomodava, e que se eu quisesse acusar alguém de esconder coisas
sobre a própria vida do parceiro, eu deveria olhar para meu próprio
umbigo.
É, nós terminamos depois disso.
Apesar das palavras frias e duras que lançamos um ao outro
naquela discussão, até que tivemos um término agradável.
Acredito que o fato de não nos amarmos de verdade tenha
sido um grande contribuinte para isso.
Digo, eu gostava — gosto — de Brad. E quero acreditar que
ele também gosta de mim, apenas… não de uma forma romântica.
Deixamos os hormônios e os sentimentos confusos decidirem
por nós e entramos em um relacionamento fadado ao fracasso
desde o início.
Ao menos, percebemos isso quando ainda era cedo.
Imagina passar anos da sua vida com alguém para, então, de
repente, perceber que aquela não é a pessoa que você imaginava e
acabar de uma maneira catastrófica?
Sei que minha mãe sabe mui…
Perco a linha dos meus pensamentos quando, do mais
absoluto nada, sou atingida por uma onda de água, fruto do pulo de
alguem na porra da piscina.
Antes mesmo de empurrar os óculos escuros para o alto da
cabeça e ter uma visão melhor, eu já sei quem é o espertinho
responsável.
— Ops. Nem te vi aí, irmãzinha — Asher diz, nadando para a
borda.
Ele apoia os braços ali e descansa a cabeça, os olhos
castanhos fixos em mim quando me ajeito na espreguiçadeira,
sentando-me.
Não consigo evitar que minha mente não se lembre da noite
anterior.
Ele arriscando a própria vida aquele globo da morte.
Ele chamando a novata para ir junto, e fazendo um belo
show.
Ele beijando-a, sem tirar os olhos do meu e… e do
formigamento no meio das minhas pernas quando o observei
fazendo isso.
Eu não estava com raiva por ele estar se envolvendo com
alguém do meu time.
Eu não estava puta por ele estar me provocando.
Eu estava… com inveja.
Porque alguma parte doentia de mim, queria estar no lugar
de Serena Anderson.
Foi a partir daquele momento que toda minha noite
desandou.
Eu precisava tirar aquela sensação esquisita e nada saudável
do meu corpo, de desejar estar nos braços de Asher Blakewood.
E a melhor maneira de fazer isso?
Entupindo meu corpo de bebidas alcoólicas.
Aparentemente, o efeito tem data de validade, porque, nesse
momento, com ele me encarando a poucos metros de distância, eu
não consigo parar de imaginar como os seus lábios devem ser
macios, e como ele me beijaria de forma selvagem e…
— O que quer que esteja pensando, Pippa, fique à vontade
para compartilhar comigo. Porque pela expressão no seu rosto,
aposto que é muito interessante — o desgraçado abre a boca e eu
lembro a razão de não poder querer ele.
Além de ser a porra do filho do meu padrasto, Asher é um
babaca.
O maior que já conheci, inclusive, e olha que conheço muitos
homens terríveis, principalmente depois que comecei a estudar na
universidade.
Mesmo assim, ele ainda é meu número um na lista.
— Você protagonizou um show e tanto ontem — comento,
desviando do assunto.
Alcanço minha garrafinha de água na mesinha ao lado e bebo
um grande gole.
De repente, parece que a temperatura subiu uns cinco graus.
— Achei mesmo que você tivesse gostado — responde,
abrindo aquele sorriso… aquele sorriso que é um problema. Dos
grandes. — Não ficou preocupada? Porque acho que ouvi você
gritando algo sobre, antes de eu entrar.
Merda.
Eu realmente fiquei com medo.
Cacete, e se ele morresse lá dentro?
O que eu ia fazer?
Quer dizer, sabe, como eu contaria a Zach que o filho dele
morreu na porra de uma festa que eu estava presente e não fiz anda
para impedir?
Não é bem uma conversa que eu queria ter com meu
padrasto.
— Você provavelmente estava delirando — retruco.
Não há como ele provar o que eu disse ou não disse, então,
posso muito bem me fazer de maluca.
Asher ergue uma das sobrancelhas para mim, sem acreditar
no que estou falando.
Bem, isso é um problema dele.
— Vai dizer que estava delirando também quando me viu
beijar Selena e quis estar no lugar dela?
Eu mal noto que ele errou o nome da garota porque… porra.
Impossível.
Ele não pode ter detectado isso quando estava ocupado
demais beijando a garota, não é?
Se bem que… os olhos dele estavam bem abertos, me
encarando, enquanto a novata dava de tudo naquele beijo…
Ah, como ele é patético.
— Como você saberia dizer, Asher? — Rebato, trocando de
posição na espreguiçadeira. Me deito de bruços e apoio a cabeça na
mão, sem desviar os olhos do dele. — Ah! Provavelmente porque
você estava me encarando o beijo inteiro, imaginando que fosse eu
no lugar dela?
Se Asher ainda não aprendeu que eu não me calo, ele vai
aprender.
Ele pode ser um pouco melhor na arte de esconder o que
sente por meio das expressões faciais, mas, ainda sim, é fácil ver o
que ele não quer mostrar quando é pego de surpresa.
Como agora.
Qual é, ele achou mesmo que ia falar sobre a cena esquisita
de ontem e não ia poder citá-la também?
— Por que eu iria querer beijar minha irmãzinha, Philipa? —
Asher replica, fingindo estar indignado com o que acabei de sugerir.
— Isso seria nojento.
Agarro um dos braços da espreguiçadeira, apertando-o com
força.
É isso ou apertar o pescoço dele.
Ele me dá nos nervos, cacete.
— Você sabe que não somos irmãos de verdade —
contraponho, um pouco fraca na resposta.
Ele abre um sorriso provocador, e quando sua voz sai em
seguida, está banhada em um tom de malícia.
— Eu sei disso. Mas como nossos pais são casados, não acho
que seja de bom tom você me olhar como se quisesse se ajoelhar e
colocar meu pau na boca.
Eu não acredito no que… porra!
Eu não aguento ele querendo jogar na minha cara que eu o
acho gososo — foda-se, ele é e sabe disso, assim como eu sei, já
que tenho olhos para ver — e agindo como se eu fosse a doida da
relaço por isso.
Como se ele nutrisse sentimentos fraternais por mim.
Respiro fundo.
Não respondo nada.
Asher franze o cenho, claramente esperando por algo.
Ah, eu vou dar alguma coisa para ele.
Sem dirigir a palavra a ele, eu me levanto da espreguiçadeira
e pego o tubo de protetor solar na mesinha.
Viro de lado e coloco o óculos de sol no rosto mais uma vez
quando sinto os raios solares se intensificarem, afinal, já são quase
três horas da tarde.
Então, como se eu tivesse na merda de um filme pornô, jogo
um pouco do produto nas mãos e começo a espalhá-lo pelo meu
corpo.
Pescoço, ombros, peitos, barriga, braços e, finalmente, as
pernas.
Em uma lentidão nem tão necessária assim.
De canto de olho, eu observo Asher.
Os nós dos seus dedos estão brancos pela força que ele
segura na beirada da piscina.
Os olhos passeiam por todo meu corpo, sem vergonha
nenhuma.
Caramba, eu sinto seu olhar.
Sinto minha pele quente.
Sua presença.
Como suas íris acompanham meus movimentos e posso
apostar que ele não está nem piscando.
Posso estar me humilhando na frente de Asher e eu morreria
caso alguém visse essa ceninha ridícula, mas preciso provar um
ponto aqui.
O toque final é quando apoio um dos joelhos na
espreguiçadeira, completamente de costas para a piscina agora. A
bunda, coberta apenas com uma parte de baixo fio dental, na cara
do meu irmãozinho, para alcançar a toalha jogada no encosto.
Não sei como explicar, porque parece loucura, mas eu
realmente sinto os olhos dele em mim.
E… puta merda, eu posso estar tentando provar algo aqui,
mas não quer dizer que eu não me afete também.
Preciso controlar a vontade de esfregar minhas coxas uma na
outra quando me viro de frente novamente e nossos olhares se
encontram.
Os olhos de Asher… estão famintos.
Por mim.
Jogo a toalha por cima do ombro e, com meu celular e
protetor solar em mãos, eu calço os chinelos e me aproximo de onde
ele está, tentando não vacilar nos passos.
Eu estou no controle agora, me lembro.
Asher se sobressai, surpreso com minha aproximação,
afastando-se da beirada.
Longe, consigo ver bem, mesmo com as ondulações da água,
o quanto meu suposto irmão não me acha gostosa.
— Pode mentir o quanto quiser, Asher, mas seu corpo —
aponto para ele com a cabeça — não mente. Ou vai dizer que estava
pensando em outra pessoa enquanto me comia com os olhos e ficou
duro por esse motivo?
Não fico para escutar sua resposta.
Lhe dirijo meu melhor sorriso de vitória e sigo para dentro da
casa.
A coroa é minha, irmãozinho, e você não vai poder tirá-la de
mim.

Vou direto para o banheiro do meu quarto, após deixar Asher


sozinho com seu pau duro na piscina.
Com cuidado para não acordar Brooke, que ainda dorme
tranquilamente na minha cama, eu entro no cômodo que quero e
tranco a porta.
Tiro a roupa, ligo o chuveiro, e assim que a água está quente,
adentro o box.
Então, eu cedo.
Posso ter me controlado na frente de Asher durante as
últimas semanas, provocando-o e mentindo descaradamente sobre
achar ele atraente.
Eu ainda o odeio.
Acho-o detestável.
Um dos piores seres humanos que passou pela minha vida.
Contudo, não posso dizer que ele não mexe comigo.
Ah, Asher Blakewood tem um efeito sobre mim.
E agora, quando o jato de água quente me molha e eu desço
minha mão pelo meu corpo, até chegar em minha boceta, é o rosto
do filho da puta que aparece na minha cabeça.
Quando eu me invado com um dedo, penso em como seria se
ele tivesse me tomado naquela piscina, contra os azulejos.
Coloco mais um e dou graças a Deus pelo som do chuveiro
abafar os gemidos constrangedores que solto pensando no cara que
eu detesto.
Uso uma das mãos para estimular meu peito também e fecho
os olhos, imaginando ele me olhando enquanto mete fundo dentro
de mim.
E para fechar com chave de ouro, é o nome dele que grito
quando tenho um dos orgamos mais intensos da minha vida, alguns
minutos depois.
Puta que pariu, eu to muito fodida.
Eu não posso mais esconder isso
Minha garota não me quer por causa da minha roupa suja
E eu acho que ela sabe
Estou fora de controle
Com todo esse dinheiro, todos querem algo de mim
Está começando a aparecer
Estou fora de controle
dirty laundry | blackbear

Eu já bati uma três vezes hoje, e o relógio marca sete e vinte


e cinco da noite, sendo que acordei por volta das onze da manhã
depois de perder o sono.
A razão do meu líbido ter triplicado nesse fim de semana?
Philippa Caldwell.
Mais precisamente, ela com ciúmes quando eu beijava a outra
líder de torcida na festa.
Oul quem sabe, ela com a porra daquele biquini minúsculo, se
exibindo paa mim para provar um ponto: que eu a acho gostosa.
E acho.
Pra caralho.
Ela não precisava de toda aquela cena para que eu admitisse,
mas não vou mentir que adorei cada segundo daquilo.
Não é à toa que meu pau está exaurido pelos próximos dois
dias, no mínimo, depois de gozar violentamente três vezes hoje com
a imagem de Pippa pipocando da minha mente.
Eu tentei.
Tentei não visualizá-la quando me libertava, mas porra, foi
uma missão imposível.
Todas as vezes que eu fecho os olhos, é ela que eu vejo.
A porra da enteada do meu pai.
Isso é doentio, não é?
Quer dizer, de alguma forma, ela é meio que… minha irmã?
Meia irmã? Irmã postiça?
Sei lá qual é a merda da nomenclatura certa, mas, de todo
jeito, não acho que seja algo bem aceito na sociedade.
Cacete, eu não quero aceitar.
De tantas garotas em Edmonton, eu tinha que estar logo
atraído por Pippa?
Porra.
Passo a mão pelo rosto, tentando achar alguma saída desse
problema.
Não posso tê-la.
Nem somente uma vez, porque algo me diz que assim que eu
sentir como é seu corpo debaixo do meu, não vou sossegar até fazer
de novo, e de novo e… de novo.
Então, uma rapidinha para tirá-la do meu sistema está fora de
cogitação.
O que me resta… é evitá-la e deixar que a chama do desejo
se apague.
Seria facil se, porra, ela não estudasse no mesmo lugar que
eu, tivéssemos os mesmos amigos, e, óbvio, se ela não morasse
comigo.
E se meu pai não exigisse o cacete de um jantar em família
uma vez por semana ou ele iria sumir com minha moto — palavras
dele.
Respiro fundo antes de passar pelo meu último desafio do dia
antes de trancar a porta do meu quarto e esbarrar com essa família
somente em dias úteis, quando é inevitável.
— Achei que Brooke fosse ficar para o jantar — Victoria
comenta assim que eu adentro o cômodo e vejo a família feliz já
sentada ao redor da mesa.
Pippa nega com a cabeça, se servindo da comida recém
colocada sobre a madeira, já que está intacta e o vapor indica que
está quente também.
Meu olhar se encontra com o do meu pai quando me sento ao
seu lado.
Ele não diz nada.
Eu também não.
Porém, eu noto o leve arquear dos cantos de sua boca por eu
estar presente no jantar.
Verdade seja dita: eu só estava com fome pra caralho e não
queria esperar todos comerem para esquentar meu prato.
E se isso quer dizer passar um tempo com papai e suas
garotas favoritas… que seja, tô com fome demais para pensar
direito.
O medo de perder a moto que trabalhei por tantos anos
também é um grande x nessa equação, lógico.
— Os pais dela apareceram de surpresa e ela saiu para jantar
com eles — Pippa explica, e observo quando serve um pouco de
refrigerante de cereja.
É o preferido.
Ela não toma o de morango.
Nem o de melancia.
O de limão… às vezes, quando não tem outra opção
disponível.
Contudo, o de cereja é sempre a bebida escolhida.
E por que caralhos eu estou percebendo isso, porra?
Essa garota está impregnada em mim como uma doença, e
seu showzinho de mais cedo na piscina só piorou tudo.
Fecho os olhos com força, tentando, mais uma vez, eliminar
as imagens da minha cabeça, porém, é em vão.
Tudo que consigo ver é ela.
Porra, como eu não iria olhar para o seu corpo quando ela
estava bem na minha frente?
Ela pode ser ardilosa.
Babaca.
Filha da puta — literalmente.
Mas, caralho, ela pode ser tudo isso e ainda ser gostosa.
E esse é o maior defeito de Pippa Caldwell.
Abro os olhos mais uma vez e respiro fundo de novo, me
ajeitando para me servir do jantar de hoje.
Vinte minutos.
Só preciso desse tempo para comer e me retirar da mesa.
— Aquelas festas estão acontecendo de novo — meu pai
solta, subitamente, quando todos começamos a comer.
Cacete.
Achei mesmo que íamos manter o silêncio durante a última
refeição do dia?
— Aquela que o menino se feriu ano passado? — Victoria
pergunta, preocupada.
Será que eles estão falando sobre…
Olho para Pippa, do outro lado da mesa, e ela balança a
cabeça levemente em negação.
Para eu não falar sobre isso.
— E ninguém faz nada para acabar com elas — meu pai
reclama, realmente incomodado com a situação. — Vocês dois… não
estavam lá ontem, não é?
— Não.
— Claro que não, Zach.
Respondemos juntos, em sintonia.
Rápido demais.
Ele cerra os olhos, alternando o olhar entre nós, como se não
acreditasse.
— Tem certeza que vocês não esta…
— Mãe — Pippa chama, interrompendo Zach na cara dura,
visualmente nervosa.
Parece que a rainha perfeita não é tão perfeita assim se não
sabe mentir sob pressão. Ela provavelmente ia dar com a língua nos
dentes se meu pai forçasse um pouco mais a barra.
— Sim, querida? — Victoria pergunta, um pouco confusa pela
falta de educação da filha.
Ah, isso está bom demais.
E acho que deixo claro que estou me divertindo, falhando em
esconder minha risada, porque os olhos de Pippa se desviam para
mim e ela franze a sobrancelha, irritada.
Dou de ombros, tentando voltar a focar na minha comida e
ficar de fora da conversa familiar.
Mas é claro que minha irmãzinha não pode deixar isso
acontecer.
— Esses dias, no dia dos testes do time, quase expulsaram
um cara das arquibancadas porque ele tava fumando — comenta,
despretensiosamente, e é minha vez de encará-la. Que porra ela
esta fazendo? — Ouvi dizerem que podia ser alguma droga ilícita. E
ele estava usando dentro da faculdade! Dá para acreditar na
ousadia?
Porra.
É claro que ela está falando de mim.
E ela sabe que não era nenhuma droga ilícita, cacete, era só
cigarro normal.
— Dentro das dependências escolares? — A mãe repete,
surpresa. — Meu Deus!
Como se fosse completamente anormal um aluno ser pego
bebendo ou usando maconha na faculdade.
Pelo amor de Deus, porra.
Essa mulher é uma destruidora de lares e me lança essa cara
de absurdo quando falam de drogas?
Lá se foi a minha utopia de um jantar rápido e tranquilo.
Eu poderia ficar calado. O silêncio é sempre uma opção.
Contudo, eu… eu não consigo.
Não consigo ver essa merda acontecendo e ficar sem dizer
nada.
— Você já foi jovem, Victoria, tenho certeza de que não fez
muito diferente — jogo na mesa, pouco me fodendo se Zachary vai
ameaçar tirar minha moto.
Eu compro outra.
Que se foda essa merda.
Essa família.
Essa casa.
Essa cidade.
E, principalmente, as Caldwell e sua falsa moralidade.
— Bem, é claro que já fui jovem, Ash — ela responde e seu
tom suave me irrita ainda mais porque, cacete, eu dei um fora
afiado nela. Por que ela não grita comigo ou é grossa, porra? — Mas
não quer dizer que eu faria tudo que fiz quando era adolescente. Eu
cresci e sei que certas coisas são erradas, e não faria novamente.
Mais uma vez, eu poderia escolher o silêncio.
Mas não faço isso.
— E o que você considera errado? — Retruco, sentindo a
raiva borbulhar dentro de mim. Não sei se é dela, do meu pai, de
Pippa, de mim… porra, não faco ideia, so sei que o sentimento
cresce rapidamente. — Drogas, com certeza, pelo visto. Mas até
onde vão seus princípios, Victoria?
É perceptível o clima tenso na mesa.
O silêncio se estende por todos nós enquanto eles esperam
minha próxima ação.
Não faço ideia do porquê estou provocando a mãe de Pippa.
Digo, eu a odeio, acho que isso já é bem claro, porém…
porra.
Não sei.
Eu só sinto a raiva tomar conta de mim, de repente, e tudo
que eu vejo é vermelho.
As palavras saem sem que passem por um filtro na minha
mente e elas são afiadas, direcionadas para cortar a pessoa que eu
quero atingir.
Quando estou assim, não há nada que consiga me parar.
Nem ninguém.
— Asher — meu pai chama, em um tom de aviso e
repreensão.
Eu rio, balançando a cabeça.
Que patético.
— Se quer me perguntar alguma coisa, precisa ser direto,
querido — sua nova esposa diz, sem parecer se abalar.
Pippa, por outro lado, quando deixo de olhar para sua mãe e
foco nela, está segurando os talheres com força e tenho certeza que
a ideia de jogá-los em mim passa pela sua cabeça.
— Eu pensaria muito bem nas suas próximas palavras para
minha mãe, Asher — Pippa ameaça. Posso jurar que há chamas
brilhando nos olhos verdes. — Não sei o que você tanto odeia, mas
se você disser mais alguma merda para ela…
— O que você vai fazer, Pippa? — Instigo quando ela não
completa sua frase.
Estou interessado na punição que ela está pensando.
— Asher — meu pai diz meu nome em seu tom firme e todos
viramos em sua direção. — Termine o jantar no seu quarto. Agora.
Ah, papai.
Abro um sorriso predador, fingindo indignação.
— Mas achei que íamos jantar em família, papai.
O tom de deboche é o ponto fraco dele.
Zach detesta — sempre detestou — quando faço isso.
Parece que pelo menos isso não mudou.
— Nós vamos — responde, contido, fazendo um gesto que
indica ele e sua nova família. — Você vai terminar no seu quarto.
Não vou permitir que as desrespeite assim.
Solto uma risada de escárnio.
Puta que pariu, olha para esse teatro.
Empurro a cadeira para trás com força, fazendo o máximo de
barulho que consigo. Pego meu prato e me levanto, obedecendo ao
patriarca da família Blakewood.
— Sabe, você costumava defender a mamãe assim também
— comento, antes de passar pela porta aberta da sala de jantar. — E
não te impediu de trocá-la pelo primeiro rabo de sa…
— FORA, ASHER! AGORA!
O grito de Zach assusta a todos, inclusive eu, porque,
caramba, acho que é uma das primeiras vezes que ouço-o gritar
assim.
Com ódio respingando em cada palavra.
Ele pode não gostar de ouvir a verdade, mas enquanto eu
estiver aqui, vou fazer questão de lembrá-lo a todo instante sobre
todas as decisões erradas que tomou em sua vida.
Zachary Blakewood vai se arrepender de ter destruído nossa
família.
Por ter danificado nossa relação de pai e filho.
Por ter me destruído para ser feliz.

Passa das onze da noite quando finalmente não ouço sons


vindo do restante da casa e decido me aventurar pelos corredores
para encher um copo d’água antes de ir dormir.
A ida é tranquila.
Faço o que preciso fazer depressa e logo volto a subir as
escadas para meu quarto.
Contudo, antes de eu voltar para meu casulo, a porta
entreaberta de Pippa me chama atenção.
Com cuidado para não anunciar minha presença, eu me
aproximo da fresta e observo o que ela está fazendo.
A loira está com os headphones no ouvido e com uma camisa
grande demais para ser dela, masculina, que mal chega na metade
das suas coxas. Distraída, ela dança por todo seu quarto como se
estivesse em um palco da vida.
Como um idiota, eu sigo cada movimento dela e admiro-a.
Porra, é isso que estou fazendo, não é?
Admirando o quanto minha irmãzinha é gostosa enquanto
dança.
E por mais que uma vozinha dentro da minha cabeça coloque
um ponto de interrogação em mim, se isso é ou não é errado, eu
não paro o que estou fazendo.
Fico uns bons minutos observando-a em silêncio.
Pensando que, se tudo fosse diferente, poderíamos ser
alguma coisa.
Nem que apenas uma foda fixa durante os meses que estou
em Edmonton.
Se ela não fosse filha de quem é, se meu pai não fosse meu
pai, se nossas famílias não tivessem entrelaçadas, e, com isso,
nossas vidas… Poderíamos ser alguma coisa?
Estou tão perdido em pensamentos que não percebo quando
ela tira os fones de ouvido e gira nos calcanhares, soltando um grito
de susto ao me ver através da porta entreaberta.
— Que porra você ta fazendo isso aí, seu pervetido? —
Reclama, caminhando até mim e eu abro um sorriso convencido.
— Pensando o que eu faria com você se não fosse minha
irmãzinha — falo a verdade e a cara de Pippa.. é impagável.
Ela não esperava que eu fosse confessar o que se passa na
minha cabeça assim, tão facilmente.
— Você é doente — responde, mas não consegue disfarçar o
tom vermelho no seu rosto e como se força a não esfregar as coxas
uma na outra.
Ah, Pippa, você é tão doente como eu.
— Boa noite, irmãzinha — desejo, lhe lançando uma panela
antes de ir para o meu cômodo.
Ouço sua porta bater com força logo que entro no meu
quarto.
Tranco a porta e me jogo na cama, fechando os olhos.
Não é uma surpresa quando é o rosto dela que aparece na
minha mente, minha mão já rastejando para dentro da minha calça
de moletom e…
E a porra de um toque de celular interrompe o que seria a
quarta punheta do dia pensando na minha irmã postica.
Talvez seja um sinal que tudo isso é uma péssima ideia.
Pego meu celular na mesinha de cabeceira e não hesito em
atender quando vejo o nome da minha mãe na tela.
Nós conversamos basicamente todos os dias por mensagem,
porém, ela não costuma me ligar.
Ainda mais por chamada de vídeo.
— Oi, mãe — digo assim que atendo, abrindo um sorriso
sincero quando seu rosto surge na tela.
Não imaginei que fosse sentir tanta falta dela, mas aqui estou
eu.
Pensando em quando vamos nos encontrar de novo, já que os
milhares de quilômetros de distância são um grande problema.
— Você sabe que eu e seu pai nos falamos frequentemente,
não sabe, Asher?
Ah, merda.
Ela não está nada feliz por me ver.
Se acreditei que Lindsay Stuart estava se debulhando em
lágrimas, sentindo falta do único filho, eu estava muito enganado.
— Não sabia — admito, um pouco sem jeito, porque posso
imaginar sobre o quê vai ser nossa conversa.
Meu pai me dedurou.
Cacete.
Minha mãe suspira e coça o nariz, uma mania que ela tem
para se controlar e não gritar comigo.
Às vezes, claro, não funciona.
E é claro que a culpa, como sempre, é de Zachary.
— Não faça essa cara — ordena, apontando o dedo indicador
para a câmera frontal do celular. — Ele é seu pai, e como eu sou
mãe, ele vai me contar quando você se comportar mal.
Sufoco uma risada.
— Parece que eu tenho dez anos — resmungo, baixinho, mas
não passa despercebido por mamãe.
Nada passa.
— Parece mesmo, Asher. Na verdade — muda de ideia, um
sorriso irônico se formando nos lábios. — Não. Você, com dez anos,
sabia como respeitar as pessoas, principalmente mulheres. Eu te
ensinei isso, ou estou enganada?
Passo uma mão pelo rosto, sabendo que estou fodido.
— Não foi bem assim — tento contornar a situação, pensando
em como explicar o que aconteceu sem fazê-la pegar um avião e vir
me dar uns cascudos aqui. — Eu só… só não consigo fingir igual
você — confesso e isso leva minha mãe a franzir as sobrancelhas,
confusa. — Não consigo fingir que eles não estragaram nossa
família.
Pronto, disse o que se passa na minha cabeça há quase uma
década.
A terapia foi de grande ajuda no início, porém, os sentimentos
continuam ditando minha vida. A terapeuta me ajudou a identificá-
los quando eu era mais novo e, anos depois, sei exatamente o que
tudo isso me faz sentir, ainda mais agora que estou vivendo sob o
mesmo teto que eles.
Raiva.
Rancor.
Rejeição.
Tristeza.
Solidão.
Ressentimento.
Culpa.
São todos sentimentos difíceis de serem lidados sozinhos,
porém, quando eles vêm em ondas, misturados e intensamente, é
ainda pior.
Para mim, o pior de tudo é que mamãe finge não se importar.
Como ela pode não se importar de não sermos mais uma
família?
Para ser mais preciso, de termos perdido tudo tão rápido.
Certo dia, tínhamos uma vida perfeita.
Eu considerava meu pai o meu herói.
Minha mãe, a minha rainha.
E juntos, éramos invencíveis.
Então, de repente, elas apareceram e bastou alguns meses
para que ele nos trocasse e eu me mudasse para o outro lado do
país.
Simples assim.
Papai não teve dúvida nenhuma quando as escolheu ao invés
da gente.
Ele tentou manter nossa relação como antes, mas é um
pouco difícil quando se mora a horas de distância e quando seu filho
entende o que está acontecendo.
Que seu herói na verdade é um traidor.
— Eu nunca fingi nada, meu amor — minha mãe diz e seu
tom sereno me arranca dos devaneios. — Quero dizer, é claro que
quando casei com seu pai e tivemos você, eu amava nossa família.
Queria que fossemos uma para sempre. Mas, às vezes, Asher, as
coisas não acontecem como queremos.
Quando seu marido é um babaca que não pensa duas vezes
em colocar a ex-namorada e a filha dentro de casa.
— Eu já te disse milhões de vezes, meu filho, e vou repetir:
elas não tem nada a ver com o nosso divórcio — mamãe continua
falando quando eu me mantenho em silêncio. — Nosso casamento
já estava ruindo muito antes delas aparecerem. Para ser sincera, os
papéis estavam sendo feitos semanas antes delas chegarem na
cidade. Só… só estávamos tomando coragem para assiná-los.
Não é a primeira vez que eu ouço essa história.
Logico, no inicio, quando eu era mais novo, ouvi uma versão
mais infantil sobre a razão deles terem se separado e de termos nos
mudado para Vancouver — de onde a família Stuart é,
originariamente. Depois, conforme fui crescendo, outras versões
mais detalhadas do divórcio nasceram e, em nenhuma delas, Victoria
apareceria.
Ela sempre foi a santa da história.
Até mesmo pelos olhos da minha mãe, porra, pelo amor de
Deus.
Meu pai jura de pé junto que eles somente se envolveram
depois que o divórcio saiu e eu e mamãe estávamos bem longe,
mas… mas eu não acredito.
E mesmo se fosse verdade…
— Ele não lutou pela gente — digo, depois de um tempo, e
sinto quando meus olhos se enchem de lágrimas e preciso piscar
repetidamente para afastá-las.
Não vou derramá-las por ele.
Ele não merece meu choro.
Um sorriso triste surge no rosto da mamãe.
— Você não faz ideia do quanto ele lutou pela nossa família,
Asher — afirma. — Sabe, acho que você poderia ter essa conversa
com seu pai, colocar todas as cartas na mesa e assim vai ver o que
você não quer ver.
Mais uma vez, eu engulo uma risada para não levar um
esporro da minha mãe via vídeo-chamada.
Se eu sequer pensar em desligar quando ela está brigando
comigo… acho que é capaz dela me levar para uma universidade
interna — e se não existir, ela mesmo cria uma para que eu possa
frequentar.
— Tá legal! Não posso te obrigar a ter essa conversa franca
com seu pai, por mais que eu tenha certeza que ajudaria muito
vocês dois — conclui, jogando mais uma indireta antes de voltar
para o assunto inicial da conversa. — Mas o que eu posso te obrigar,
Asher, é a ser o homem respeitoso que eu te criei para ser! Se eu
souber que você as tratou mal mais uma vez…
Ela não precisa completar a ameaça para que eu sinta um
calafrio pelo meu corpo.
Lindsay daria um jeito de me punir — não fisicamente, já que
minha mãe nunca encostou um dedo em mim — pela minha falta de
educação.
E realmente, eu não sou esse cara.
Entretanto, tudo aqui parece ser duas vezes mais intenso do
que seria normalmente — ou que eu costumava achar normal.
— Eu não vou — respondo, tentando soar o mais convincente
possível.
Vou tentar, é o que quero dizer.
Com Victoria é mais fácil porque não a vejo tanto assim —
ainda bem.
Agora, com Pippa…
É um desafio novo a cada dia.
— Vamos voltar nisso depois se eu souber de alguma coisa —
avisa, séria, e eu assinto com a cabeça. — Agora, me conta! Como
estão as coisas? E o Kevin? Ah! Quem são os garotos da foto que
você mandou ontem? Novos amigos?
Enviei algumas fotos com Kevin, Knox e Brad ontem, antes de
irmos para a festa, mas não tive tempo de falar direito com mamãe
depois disso.
— Knox e Brad. Eles são jogadores de hóquei do time da
faculdade e nos conhecemos na primeira semana.
Passo as próximas duas horas colocando o papo em dia com
minha mãe, e durante os mais de cento e vinte minutos na
chamada, eu pude baixar os escudos e ser eu mesmo.
Não o filho de Zachary.
Não o enteado de Victoria.
Não o irmão postiço de Pippa.
Apenas Asher Blakewood.
É claro que você está chateado comigo
Finalmente encontrei uma garota que você não conseguiu
impressionar
Último homem na terra, ainda não consegui entender isso
Você está delirando, você está delirando
Garoto, você está perdendo a cabeça
É confuso, você está confuso, você sabe
Por que você está perdendo seu tempo?
Deixei você todo animado com seu complexo de Napoleão
Veja através de você como se estivesse tomando banho em Windex
Garoto, por que você está tão obcecado por mim?
Obsessed | Mariah Carey

O primeiro jogo de futebol americano da temporada é um dos


mais importantes, porque é nossa chance — o time de torcida — de
mostrar do que somos capazes neste novo ano.
Só tivemos quatro semanas e meia para treinar a nova
sequência, contudo, quando se é bom, o tempo não é importante.
Poderíamos ter quarenta semanas ou quatro dias.
O resultado seria o mesmo porque o time de Alberta é do
caralho.
Eu e a treinadora Sawyer demos o nosso melhor para criar
uma nova coreografia. Com uma nova música bem animada, rimas
chamativas e grudentas e, com certeza, acrobacias de tirar o fôlego.
Além de termos treino três vezes por semana, usamos os outros dois
dias úteis para as aulas de ballet — são opcionais, mas quem não
comparece, leva uma chamada de atenção, que pode se tornar uma
expulsão a longo prazo — e academia.
Em resumo: estamos muito bem preparados para a
temporada deste ano.
E vamos mostrar do que somos capazes para o público hoje,
daqui a alguns minutos.
Nós e o time de torcida da outra universidade estamos nos
alongando antes do início das apresentações. Eles estão do outro
lado do campus, junto com a pequena torcida que veio de fora para
o jogo. Estamos em vantagem aqui, já que é o jogo em casa. O que
também é uma dupla responsabilidade. Se já temos que mostrar o
quão fodas somos normalmente, quando estamos em Edmonton, no
nosso lugar de treino habitual, temos que nos esforçar três vezes
mais e não deixar que ninguém ofusque nosso talento.
O que não é difícil, para ser sincera.
Modéstia à parte, somos um dos grupos favoritos para o
estadual esse ano, e se não for sonhar demais, o nacional.
É nosso maior objetivo.
E nós vamos conquistá-lo.
— Você devia ter expulsado ela, como prometeu — Emma
murmura perto de mim e eu pisco, afastando os devaneios e
focando na minha melhor amiga.
Nos arrumamos juntas, na minha casa, antes de vir.
Estamos com o uniforme de verão ainda, para aproveitar os
últimos dias com temperaturas elevadas. A saia verde bate um
pouco acima do meio das nossas coxas e é cintura alta, deixando
uma pequena faixa de pele entre ela e o top da mesma cor, com
detalhes brancos e dourados, sem mangas. Estamos com brilhos
dourados pelo rosto e usamos como sombra também; nos cabelos,
todas as garotas estão com meio rabo de cavalo e o grande laço
verde.
Sigo o olhar de Emma e entendo do que ela está falando.
— Eu não pensei direito quando fiz a ameaça, porque achei
que ninguém teria a audácia de ir contra minhas regras — confesso,
observando a cena à nossa frente.
Serena Anderson está conversando com os novatos do time
de torcida enquanto eles se alongam, a alguns metros de nós, e não
é preciso ser um gênio para saber de quem ela está falando, de uma
forma expressiva e meio… vergonhosa.
Não quando ela troca olhares furtivos com Asher, sentado na
primeira fileira da arquibancada, logo acima de nós.
— Não acredito que ela te dedurou para a treinadora —
minha amiga comenta, tão puta quanto eu com isso.
Porque logo depois da festa do fim de semana, Serena foi até
a treinadora e disse que não gostava da regra que alguém do time
estava impondo sobre com quem elas podiam ou não podiam se
envolver, ainda mais quando não era apenas sexo, mas sim, o início
de uma possivel relação amorosa.
Relação amorosa.
Dá para acreditar?
Ela acha mesmo que ela e Asher vão namorar!
É mais fácil cair hambúrgueres do céu do que isso acontecer.
— Não acredito que ela colocou um cara, aquele cara —
aponto com a cabeça na direção dele — acima do time.
Não é sobre ela ter ficado com Asher, mas sobre ela ter
passado por cima de uma regra que eu impus, para o bem do time,
por conta de um cara que só quer comer ela.
É a verdade.
Não quero ser a babaca, mas se ela não ver isso… é uma
tonta.
Sororidade e todas essas coisas, mas, caramba, às vezes é
difícil quando a garota em questão parece desligar o cérebro assim
que vê um cara bonito.
Terminamos de nos aquecer alguns minutos depois — e
Serena passou a porra do aquecimento inteiro roubando olhares de
Asher — até que somos avisados para ir para nossas posições
porque nossa apresentação, sendo a primeira, começa daqui a dez
minutos.
Só espero que a novata esteja bem aquecida e não faça um
vexame logo na primeira vez.
Estou distribuindo os pompons um a um, com Emma ao meu
lado, fazendo o mesmo com as garrafas de água.
Contudo, meus olhos estão em Asher.
Ele me observa também, atentamente, como… como se
tivesse planejando alguma coisa.
Bem, se ele estragar minha apresentação, eu corto a porra do
piru dele fora.
Babaca.
— Obrigada, Pippa — a voz doce e irritante de Serena me
chama atenção e eu desvio os olhos do meu irmãozinho para
encontrá-la a minha frente, sorrindo falsamente. — E desculpe mais
uma vez por ter falado com a treinadora. É só que… eu entendo as
regras, e concordo que uns casinhos casuais podem atrapalhar a
dinâmica do time. Mas eu e Asher somos… mais que isso. Você
entende, não entende?
Ouço Emma engolindo uma risada ao meu lado e eu me
controlo para não partir para agressão.
Não sou uma pessoa agressiva, longe disso, mas… cacete,
essa garota me perturba tanto quanto ele.
Talvez seja por isso que eles estejam se envolvendo, afinal.
— Se eu fosse você, Serena, tomaria cuidado — aviso, em um
tom baixo, mas sério, fazendo com o que o sorriso em seu rosto
desmanche. — Ele é meu… irmão, de certa forma — até chamá-lo
assim me dá ânsia de vômito. — E não quero que ele te machuque.
Meia verdade.
Ele vai machucá-la, com certeza.
Eu conheço o tipo de Asher Blakewood.
Garoto problema, que a cor favorita é preta, dirige uma moto
e ainda tem problemas com o papai?
Mais óbvio do que isso, só se ele levantasse uma bandeira
vermelha gigantesca avisando o perigo que é.
No entanto, se ela não enxerga isso, apesar dos inúmeros
avisos…
— Ele não vai fazer isso — retruca, parecendo confirmar
plenamente nisso. — Mas obrigada. Te vejo… no jantar em família?
Então, ela me deu uma piscadela e sai.
Puta que pariu.
Ela não disse o que ouvi, disse?
— Se controle — Emma murmura para mim, com os olhos
fixos nos nossos companheiros do time pegando os pompons e as
garrafas de água. — Ou vai parecer que você está com ciúmes do
seu irmão. E não o tipo protetor, se você sabe do que estou falando.
— Argh — resmungo, me recompondo. — Só… não vou com
a cara dela.
É verdade.
Entretanto, tambem é verdade que eu sinto uma pontada no
peito toda vez que os vejo junto e não entendo que porra é essa.
Não é ciumes.
Não pode ser ciúmes, ja que eu e ele não temos nada.
Nunca vamos ter.
Só… caralho!
Por que meu corpo está tão estranho desde que ele chegou?
Com essas reações totalmente novas e… e sem sentido?
Ouço a porra da isadinha insuportável de Serena vindo de
algum lugar atrás de mim e não luto contra a vontade de confirmar
o que acho, girando o pescoço na direção do som.
E, claro, eu confirmo o que esperava: ela e Asher cheios de
gracinhas nas arquibancadas.
Eca.
Como se fossemos dois ímãs, sempre sendo atraídos um para
o outro, ele sente meu olhar sobre ele e seus olhos encontram os
meus. Asher provavelmente nota o quão puta eu estou com essa
ceninha ridícula — mais uma, visto que, aparentemente, eles gostam
de se envergonhar publicamente — e decide pisar no meu pé.
Metaforicamente falando, claro.
Asher umedece os lábios e enquanto Serena fala
desesperadamente — mesmo ele não dando a menor bola para ela
—, ele encaixa uma mão na nuca da garota e cola a boca na dela.
Bem, pelo menos ela calou a boca.
Dessa vez, ele não deixa os olhos abertos e me encara, como
aconteceu na festa.
Ele está cem por cento focado no beijo, por mais estranho
que seja a posição, já que ele continua nas arquibancadas e precisa
se esticar para alcançá-la no campo.
— Ai, meu Deus! Não acredito no que meus olhos estão
vendo — Emma diz, ao meu lado e eu aceno com a cabeça, tão
surpresa quanto. — Eles… nossa. Precisava disso?
— Não, não precisava.
Emma bufa, parecendo tão enojada quanto eu.
— E depois reclamam se eu e Sdy damos as mãos em público
alegando que queremos nos mostrar — reclama. — Vai lá e acaba
com esse showzinho, porque temos três minutos para nos posicionar
em campo e iniciar a apresentação.
— Eu? — Repito, virando-me para encará-la.
Emma franze o cenho.
— Sim, você, capitã.
Ah, merda.
Por que aceitei mesmo esse lugar de liderança?
— PESSOAL! — Grito, tentando amplificar minha voz e fazer
com que as pessoas próximas ao redor do meu time, me ouçam. —
PARA A POSIÇÃO! AGORA!
Felizmente, isso acontece perfeitamente e todos caminham
para o gramado.
De canto de olho, vejo Serena se despedindo de Asher com
um selinho e me obedecendo.
Ela me lança um sorriso quando passa por mim e preciso
contar até cinquenta de trás para frente para não puxar seu meio
rabo de cavalo.
Respiro fundo.
Expiro.
Respiro.
Conto até cem rapidamente e abro o meu melhor sorriso de
líder de torcida, indo até o centro do nosso palco improvisado.
Passo os olhos pela platéia, encontrando minha mãe e Zach.
Eles acenam para mim e eu alargo meu sorriso, feliz por eles
estarem aqui me apoiando.
E eu tento.
Tento mesmo não olhar para Asher, mas é difícil quando ele
está na primeira fila – e me olhando.
Não para Serena.
Para mim.
O desgraçado me olha de cima a baixo e o canto direito da
sua boca se ergue, em um meio sorriso convencido.
Idiota.
Balanço a cabeça, focando em algum ponto qualquer no meio
das arquibancadas e ergo uma das mãos com o pompom; a outra,
na minha cintura.
— VAMOS LÁ, GOLDEN BEARS!

Ganhar dos Huskies, da Universidade de Saskatchewan é


como roubar de criança.
Elas choram, mas estão acostumadas.
E dessa vez, não foi diferente.
Nossos Golden Bears ganharam de 40 a 17, e como de
prache, viemos comemorar no Dewey's, um dos bares perto do
Foote Filed, o campo de futebol da faculdade. Eu, particularmente,
prefiro outros pubs, mas esse é o melhor custo-benefício.
E, claro, há um desconto especial para nossos jogadores
quando eles ganham uma partida.
O Dewey’s é pequeno, mas confortável. As paredes são de
tijolinhos, mesas pequenas redondas de madeira e cadeiras de metal
pretas. Há um mini palco em um dos cantos e uma pista de dança
improvisada, quase nunca usada, a não ser quando nós estamos por
aqui.
É preciso somente de algumas cervejas, shots de tequila e
uma música animada para que todos pulem para aquele canto e
dancem até o horário de fechamento do bar.
Algo me diz que Carl Dewey, dono do pub, tem uma relação
de amor e ódio conosco, uma vez que, apesar de trazermos
movimento e dinheiro, também fazemos uma grande bagunça.
Tomo mais um gole da minha segunda gin tônica da noite,
depois de beber um shot de tequila — por minha conta — com o
meu time de torcida.
Afinal, fizemos uma apresentação do caralho e fomos
aplaudidos de pé pela plateia.
Eles mereciam essa recompensa.
— Não acredito que ele está aqui — Emma comenta, sem
precisar especificar de quem está falando.
Basta desviar o olhar para o outro canto do espaço, onde
juntamos algumas pequenas mesas redondas para acomodar todo
mundo perto da parede de tijolinhos. Estamos na primeira mesa de
um lado, e ele, na última do outro lado.
Com umas seis ou sete nos separando.
Não que isso seja suficiente para eu esquecer a sua presença.
É impossível.
Assim como em casa, mesmo que eu não o veja, eu sinto que
ele está lá.
É estranho e não consigo explicar, mas é como um
sentimento novo.
Esse garoto está me deixando maluca.
— Achei que fosse algo só para vocês, os caras do futebol e
os respectivos parceiros — Sdy comenta do lado de Emma e eu me
viro para ela, girando o canudinho da minha gin tônica. — E do jeito
que ele olha para você, como se tivesse te comendo com os olhos,
não acho que a garota nova seja a namorada.
— Ele… ele não me olha assim — rebato, mas também não
sigo seu olhar para ver o que ela está vendo.
Desde quando chegamos, há quase uma hora, eu evito olhar
para o outro lado das mesas, mantendo toda minha atenção em
nossas batatas com queijo e bacon e asinhas de frango que os
jogadores a nossa frente pediram.
Não faço ideia do que Asher, Kevin ou Serena estão fazendo.
E se eu conseguir passar a próxima hora — porque foi o
tempo que estipulei para aguentar essa tortura e não deixar meu
time na mão — sem ter Asher no meu pé, será um novo recorde
pessoal.
Nós, no mesmo ambiente, a poucos metros de distância, sem
trocar uma farpa?
Inédito.
Needed Me da Rihanna começa a tocar e é o que faz metade
das garotas da mesa se levantarem e correrem para a pista de
dança, assim como alguns caras.
— Vem, vamos dançar — Emma chama, se erguendo da
cadeira depois de finalizar o seu coquetel de morango pela metade
em um gole só.
Sem pestanejar, eu faço o mesmo com a minha gin tônica e
sigo-a para a pista, deixando Sydney e alguns outros caras na mesa.
Não olho para ver se Asher está ou não lá.
Quer dizer, eu tento não olhar.
Consigo passar a música inteira da Rihanna rebolando e rindo
com Emma, mas quando o cheiro de baunilha do perfume enjoativo
de Serena chega em minhas narinas, eu me viro e a vejo com as
outras novatas do time ao nosso lado.
Sozinha.
Então, apenas para ter certeza, eu giro meu corpo, ainda
dançando, e encontro ele na mesa, bebendo sua cerveja pelo
gargalo.
Os olhos fixos em mim.
Na minha bunda coberta apenas pela mini saia de couro e no
decote do meu corset preto.
Ele está me observando, não Serena.
E por mais doentio que seja, gosto da atenção e continuo
dançando.
A música flui naturalmente pelo meu corpo e ele se mexe no
ritmo, com os requebrados nas horas certas. Deslizo as mãos pelo
meu corpo, fecho os olhos, abro-os novamente e sempre, sempre,
sinto o olhar de Asher em mim.
Eu não deveria gostar tanto disso, mas eu gosto.
Mais do que trocar alfinetadas com ele, gosto de como ele me
olha.
Como Sdy disse e neguei, ele parece me comer com os olhos.
Me sinto desejada.
Um desejo único.
Meu corpo pega fogo apenas com seus olhos em mim.
Cacete, ele não precisa nem me tocar para molhar minha
calcinha.
Perdi as contas de quantas vezes me masturbei com a
imagem dele na minha mente.
O quão patética eu sou por isso?
Continuo rebolando mesmo quando a música muda e uma da
The Chaotic Misfits [7]— provavelmente escolhida por alguma
menina do time ou namorada de um jogador — começa a tocar.
— Ai, meu Deus! Eles são tão… homens — Emma murmura
perto de mim e eu desvio os olhos do de Asher para entender do
que minha amiga está falando. — Olha aquilo.
Os caras estão com roupas casuais, afinal, se trocaram antes
de virmos para cá, mas usam as camisas que jogaram para enrolar
no pescoço das garotas que estão com eles, a fim de… marcar
território.
— Como uns cachorros — comento e nós duas soltamos uma
risada.
Antes que eu possa voltar a fazer meu show particular para
meu irmãozinho, sinto mãos grandes no meu quadril vindo por trás
de mim, assim como um tecido passar pelo meu pescoço.
— Ele diz que te odeia mas está te despindo apenas com o
olhar a noite toda.
Olho por cima do ombro e noto que é Kevin Turner, melhor
amigo de Asher, por trás de mim.
Eu não me afasto.
Não quando a memória de Serena em cima dele na faculdade
e na última festa pipocam na minha mente, fazendo meu sangue
ferver.
Giro nos calcanhares, ficando de frente para Kevin e
amarrando de vez a camisa na minha nuca, de costas para Asher.
Passo os braços pelo pescoço de Kev e começo a rebolar de
acordo com a melodia lenta e sensual de Slow Down.
— Como eu gosto de ser usado por garotas bonitas — ele
murmura, abrindo um sorriso muito bonito, e eu reviro os olhos.
— Não estou te usando — minto, sabendo muito bem que
estou fazendo isso.
Dançando com um cara para fazer outro sentir o que eu senti
quando o vi agarrado com uma menina.
Céus, falando assim, eu vejo que estou pagando o maior
mico.
Porra, ele é meu irmão postiço.
Pior: ele me odeia.
Faz da minha vida um inferno há anos.
E, mesmo assim, continuo achando ele um dos caras mais
gostosos do planeta.
O que tem de errado comigo?
— Gata, pode falar o que quiser para dormir melhor à noite.
Só sei que estou adorando — Kev diz e inclino a cabeça, percebendo
o quanto ele é bonito.
Não tanto quanto Asher, mas bem, bem gato.
O cabelo é raspado rente a cabeça, a pele negra escura brilha
um pouco por conta do suor e os olhos… são hipnotizantes, assim
como o sorriso.
Deslizo uma das mãos pela sua frente e por conta do tecido
fino da blusa sem mangas, é fácil sentir o tanquinho.
Ele é jogador de futebol, dá para entender.
Assim como o amigo, ele tem a cara do problema.
O sorriso fácil, a simpatia e o jeito engraçadinho?
É
É a fórmula perfeita para você cair na cama dele e nem
perceber, até que seja tarde demais.
— Não acho que ele vá gostar da forma que você tá me
olhando agora, Pippa — Kevin sussurra e ergo os olhos do seu
peitoral, apenas para pegá-lo com os dele fixos na minha boca.
Umedeço os lábios, recaindo meu olhar para sua boca
também.
Os lábios dele são grossos, vermelhos e parecem tão
convidativos.
Ou será que é o álcool falando por mim?
Não, eu não bebi tanto assim para não conseguir tomar
decisões.
Se eu decidir beijá-lo, vai ser por minha conta, não pelas
bebidas da noite.
Me aproximo mais de Kevin.
Ele engole em seco.
— Pippa — diz, em um tom de aviso que escolho ignorar.
— Kevin — imito-o, arrancando mais um dos seus lindos
sorrisos.
Vou beijá-lo.
Isso mesmo.
E, quem sabe, minha noite vai terminar nos lençóis de Kevin
Turner.
Contudo, antes que eu possa colocar meu plano em ação,
duas mãos fortes me agarram pela cintura e me puxam para longe
dele.
Não preciso me virar para saber quem é.
Mais uma vez, eu sinto a presença dele.
Equisito, mas acontece com frequência.
Ele segura meu punho e me arrasta para fora da pista de
dança, deixando Kevin e sua risada para trás.
As pessoas estão bêbadas ou distraídas demais para notar
Asher me levando para área dos banheiros e nos enfiando em uma
das cabines unisex.
Ele tranca a porta e me prende contra ela.
Um dos seus punhos bate na madeira ao lado da minha
cabeça e a outra mão me segura contra a superfície.
— Que porra você pensa que ta fazendo, Pippa?
Garota, apenas grite
Diga-me o que você está pensando
Não, eu quero ver você se despir agora
Eu quero ouvir você confessar agora
Nós nos conhecemos outro dia
Mas você já me fez sentir de alguma forma
Agora, se eu pudesse descobrir
Eu levaria você de volta para minha casa
Meddle About | Chase Atlantic

Eu não sei que porra estou fazendo quando vejo Kevin e


Pippa dançando juntos; quando eles estão tão próximos que basta
se inclinarem para os lábios se tocarem e, finalmente, decido
interferir.
Não penso nas minhas atitudes, muito menos nas
consequências.
Que se foda que todos possam ter visto eu levando Pippa
para um lugar vazio e que ela seja a porra da minha irmã postiça.
Não estou ligando para essa merda quando nos tranco no
banheiro do bar.
Não depois de ela ter dançando sensualmente para mim,
deixando a porra do meu pau duro sem ao menos tocar nele e, em
seguida, se engraçar com Kevin.
Com meu melhor amigo, cacete.
Se ela queria me provocar, parabéns, conseguiu.
— Não sei do que você está falando — ela responde, abrindo
um sorriso provocativo para mim.
Pippa quer continuar brincando?
Então eu viro a porra do tabuleiro, caralho.
— Você sabe muito bem do que estou falando, irmãzinha —
respondo, aproximando meu rosto do dela. Ela não recua, para
minha surpresa. Pippa ergue o pescoço para me olhar, por conta da
nossa diferença de altura, e não abaixa a cabeça para mim. — Você
estava dançando para mim lá fora.
Ela une as sobrancelhas, fazendo sua melhor expressão de
desentendida.
— Eu não estava dançando para vo…
— Corta essa — interrompo-a, ficando sem paciência para
suas mentiras. — Você estava. Sabe disse e eu sei também.
Pippa dá de ombros, em um gesto claro que não se importa.
Ou finge não se importar.
Sei que ela não está bêbada.
Passei a porra da noite toda com os olhos nela e o que ela
bebeu não foi suficiente nem para deixá-la altinha. Já a vi bebendo
mais na festa de Cirque du Chaos, nos natais que passei aqui, e,
mesmo assim, continuava cem por cento sóbria.
Hoje não é diferente.
Mas não posso dizer que algumas gotinhas de álcool não
fizeram nenhum efeito.
Ela está mais… solta.
Segura de si.
Ou talvez apenas mais inconsequente.
— E achou que depois de fazer todo aquele show para mim,
seria uma boa ideia dar em cima do meu amigo? — Pergunto,
pressionando seu corpo na porta.
Ela sente meu membro meia-bomba contra ela e arfa.
Cacete, já estou ficando duro e não fizemos nada.
Ela apenas rebolou aquela bunda redonda para mim e… e foi
isso.
Já me deixou mais excitado do que todos os beijos molhados
que outra garota me deu essa noite, acariciando minha virilha.
Nenhum efeito.
Mas basta Pippa remexer a porra dos quadris, de longe, para
meu pau acordar.
— Ele veio até mim — ela responde, se divertindo bastante
com essa situação. Mais do que deveria. — O que foi, irmãozinho?
Não gostou? Não sabia que você estava prestando tanta atenção em
mim com a novata agarrada no seu pescoço a noite toda.
Aí é que está.
A vulnerabilidade que eu estava esperando.
— Com ciúmes, Pippa? Do seu irmão? — Estalo a língua no
céu da boca, me aproveitando da brecha.
— Você não é meu irmão — retruca, e a velha Pippa
impaciente volta.
Uma das minhas versões favoritas, se eu for sincero.
— Meio irmão — corrijo, então, e ela revira os hipnotizantes
olhos verdes.
— Irmão postiço e olhe lá. Aqui — ela balança o dedo
indicador no mínimo espaço entre nós dois — não existe nenhuma
irmandade.
Troco o peso dos pés e ela engole um gemido quando sente
meu pau, agora ainda mais duro, contra sua barriga.
Ah, Pippa.
— Deveria agradecer por isso, porque seria um crime esse
seu desejo de querer dar para seu irmão postiço.
Sua boca se escancara e ela ergue uma das mãos, pronta
para me bater, mas eu agarro seu pulso no último instante.
— Você é doente.
Abro um sorriso.
— Você não é tão diferente de mim, Pippa.
A coisa errada a se dizer, porque sua expressão se fecha e ela
fica enfurecida.
— Não somos iguais — acusa, com raiva. — Você pode ter
sonhos eróticos comigo quando dorme, mas eu… eu preferia ficar
com qualquer outro homem no mundo do que com você. Aliás — ela
me imita, estalando a língua no céu da boca e um sorriso irônico se
forma nos lábios. — Vou fazer isso mesmo. Acha que consigo
terminar a noite na cama de Kevin?
Minha mão encontra sua cintura e a outra, que descansava
confortavelmente na porta ao lado da sua cabeça, agarra a sua
garganta.
— Não, você não consegue. E sabe por quê, Pippa? — Não
aperto com força, mas o suficiente para que seja prazeroso e ela
não aguente a pressão, se esforçando para esfregar as coxas uma
na outra, mas não consegue, porque meu joelho se intromete no
meio delas. — Porque você não quer ele. Você me quer.
E eu te quero tanto quanto, quem sabe até mais, é o que eu
não digo, porque seu ego já deve estar inflado o suficiente depois de
eu não ter controlado a porra do meu ataque de ciúmes quando a vi
com Kevin, há alguns minutos.
Já deixei implícito o bastante que ela me deixa louco.
— É claro que eu não te quero, seu idiota — rebate, tentando
ser fime, mas vacila.
Ela vacila quando aplico um pouco mais de força na sua
cintura e na garganta, esfregando meu joelho na sua virilha, e ela
não consegue engolir o gemido.
Ela me dejseja tanto quanto eu a desejo, porra.
— Você me quer — volto a repetir, deixando minha boca
próxima ao seu ouvido. — E isso está te deixando louca, não está,
Pippa? — Ela não responde, mas não é preciso. Sua pele arrepiada
diz muita coisa.
Agarro o lóbulo da sua orelha entre os dentes. Uso minha
língua para brincar com os piercings da sua orelha. De canto de
olho, vejo ela fechando os olhos e viajando no momento.
No prazer.
Sorrio, me sentindo um pouco vitorioso.
Afasto os fios loiros e desço beijos, mordidas e lambidas pelo
pescoço, enquanto minha outra mão, encontra sua coxa e sobe
lentamente para dentro da saia.
Ela engole em seco, mas separa as pernas quando chego em
sua virilha.
— Boa garota, Pippa — sussurro contra seu ouvido, depois de
mordiscar a pele sensível abaixo da orelha.
Ela continua tentando suprimir os gemidos, mas, uma vez ou
outra, não consegue e eu me delicio com os sons que ouço
Tão gostosa, porra.
Suas unhas cravam no meu antebraço e acho que ela vai me
mandar parar, toda nossa diversão terminará antes mesmo de
começar, mas, pelo contrário…
Ela empurra minha mão mais para cima, de encontro à sua
calcinha.
— O quão molhada você está para seu irmãozinho? —
Murmuro, brincando com o elástico da parte de baixo.
Os olhos verdes encontram os meus e ela balança a cabeça.
— Nada.
É minha vez de revirar os olhos.
— Você mente tão mal.
Então, sem hesitar, eu arrasto o tecido para o lado e rastejo
meus dedos por toda a extensão da sua boceta, comprovando o que
já imaginava.
— Você não está molhada, Pippa — conto, voltando a apertar
seu pescoço. — Está encharcada. Por mim. Se você acha que sou
doente, você é tanto quanto eu, irmãzinha.
Esfrego meus dedos por seus grandes lábios, me deliciando
com a sua boceta pingando.
Com a outra mão, seguro-a contra a porta, deixando-a
paradinha para mim, ainda brincando com sua parte íntima.
Provocando-a.
Da mesma maneira que ela fez comigo na piscina e na pista
de dança desse bar.
Instigando-a.
— Você não vai fazer nada? — Finalmente pergunta,
impaciente. — Você fala demais e, no fim, é só isso que você fa…
Sua fala se encerra no meio e é substituída por um gemido
alto quando adentro seu corpo com os dois dedos, sendo recebido
pelas suas paredes escorregadias, quentes e gostosas.
Isso aqui é a porra do paraiso.
Meus dedos escorregam facilmente para dentro, claro.
Impossível isso não acontecer quando ela está tão molhada.
Começo a mexer os dedos em um vai e vem, observando as
expressões de Pippa e encontrando um ritmo que a satisfaça.
Meu pau está pedindo socorro a essa altura, querendo a todo
custo sair da calça, mas não posso.
Eu tenho um objetivo essa noite, e ele, infelizmente, não faz
parte dele.
Hoje é tudo sobre Pippa.
Aumento a pressão dos dedos e ela tomba a cabeça para
trás, ofegante.
Fica ainda mais linda à minha mercê.
Paro um pouco com as investidas e desfiro um tapa em sua
boceta, fazendo Pippa soltar um gemido que reverbera por todo o
pequeno ambiente, meu pau pressionando ainda mais a calça preta.
Ela gosta de um pouco de dor.
Interessante.
Volto a dedilhar seus lábios, alternando os movimentos e
também dando atenção ao seu clitóris.
Ela finca as unhas no meu braço mais uma vez e fecha os
olhos.
— N-não para — pede, o orgamo chegando em ondas no seu
corpo.
Pippa vai gozar nos meus dedos.
— Diga que você me quer, Pippa — sussurro em seu ouvido,
diminuindo o ritmo dos meus dedos na sua boceta.
Ela franze a testa, abrindo os olhos; nossos olhares se
encontram.
— Nos seus sonhos.
O canto dos meus lábios se eleva em um meio sorriso.
Sabia que ela não iria admitir tão facilmente.
Por isso, eu tiro os dedos de dentro dela.
Pippa franze o cenho, confusa, e eu alargo ainda mais meus
sorriso depois de lamber os três dedos que estavam dentro dela.
—Voce é delíciosa, irmãzinha — confesso e me afasto,
ajeitando a porra do meu pau.
Vou precisar bater uma assim que chegar em casa.
Minha mão alcança a maçaneta atrás dela e suas unhas se
cravam no meu pulso.
— Aonde você pensa que vai?
Inclino a cabeça, umedecendo os lábios.
— Eu vou embora — digo, como se fosse óbvio. — E você
deveria se recompor antes de fazer o mesmo — indico o cabelo
suado e a maquiagem borrada.
— Como assim, embora? — Repete, incrédula demais com o
que acabou de acontecer.
Foi difícil pra cacete não completar o serviço, mas ela
mereceu.
— Vou embora, Pippa. Ou… — levo o indicador ao queixo,
fingindo estar confuso. — Você achou o quê, que eu fosse te fazer
gozar? Aqui? No banheiro de um bar, com todo mundo do lado de
fora? — Ela engole em seco, claramente constrangida. — Ah,
irmãzinha. Para alguém que diz que não me quer, você parece muito
decepcionada.
Sem esperar por uma resposta, eu destranco a porta e abro-
a, empurrando consequentemente Pippa para o lado, ainda com
uma expressão de que viu um fantasma estampado no rosto.
Talvez eu pudesse voltar e fazê-la gozar só uma vez e…
Não.
Eu queria dar uma lição a ela e mostrar quem tem as rédeas
do jogo, e fiz isso.
Não vou voltar atrás, por mais que eu tenha adorado ter o
controle sobre Pippa e quase senti-la se desfazendo à minha frente.
— Você é nojento — ela declara, antes de eu sair.
Não viro para olhá-la, mas sei que provavelmente está me
fuzilando com os olhos que, a pouco, reviraram de prazer por mim.
— E você estava quase implorando para gozar nos meus
dedos. O que você acha que é, Pippa?
Bato a porta de madeira antes que ela possa formular uma
resposta.
Eu vou fazer você passar pelo inferno
Só para me conhecer, sim, sim
Tão seguro de si
Querido, não seja ganancioso
Essa merda não vai acabar bem
Ele disse: “Estou apenas curioso, isso é real ou apenas uma
atuação?
Não sei dizer se você me ama ou me odeia, nunca conheci alguém
assim
Me deixa tão (tão, tão) louco, você sabia que consegue esse efeito?"
greedy | Tate McRae

Os dedos entrando e saindo de mim na velocidade exata que


eu gostava.
A lufada de ar que acaricia minha bochecha quando cravo
minhas unhas em seu braço, tentando não me desequilibrar.
O som das nossas peles se tocando, parecendo tão alto
quanto a música do lado de fora.
Eu me saboreio nas sensações que o corpo dele contra o
meu, enquanto ele me masturba no banheiro insalubre de um bar
qualquer e o risco de alguma pessoa aparecer era grande, traz.
Eu não deveria gostar tanto disso quanto eu estou gostando,
mas já empurrei para longe todo o resquício de noção que havia em
meu corpo e implorava para que eu não deixasse ele me tocar.
Porque assim que ele me pôs à sua mercê, contra aquela
porta de madeira desgastada, eu sabia que não havia mais volta.
Mesmo assim, eu fiquei.
E graças a Deus por isso, porque nunca fui tão bem dedada
como estou sendo agora.
Não que os outros caras do passado — ou eu mesma, porque
gosto bastante de passar um tempo sozinha me dando prazer — não
fossem bons.
Eles eram.
Eu sou boa comigo mesma, afinal, sei exatamente do que eu
gosto ou não gosto, mais do que ninguém.
Contudo, ele… ele é um expert.
Os dedos se movimentam com maestria e preciso morder
meu lábio inferior, ao ponto de quase tirar sangue, para não gemer e
lhe dar ainda mais poder do que já deve achar que possui sobre
mim.
Estou quase me desfazendo em seus braços.
Sinto o orgasmo chegar em ondas espaçadas, as paredes da
minha boceta se contraírem e…
— Ei, Pippa!
Ouço os dedos estalando a minha frente antes de ouvir a voz
de Brooke.
Pisco, voltando ao aqui e agora.
Não acredito que estava sonhando acordada com as
memórias do último sábado a noite.
— Você precisa me dizer o que estava passando aqui — ela
toca minha têmpora, um sorriso divertido brincando em seus lábios.
— Porque pela sua cara… estava bom pra caramba.
Reviro os olhos, empurrando a porta do banheiro feminino,
saindo de dentro dele com a ruiva ao meu lado.
— Não é nada — digo, tentando não fazer muito caso para
que ela deixe esse assunto para lá.
Toda vez que entro em qualquer banheiro, há três dias, eu
relembro de tudo que fizemos — que eu deixei o babaca fazer em
mim — no fim de semana.
É inevitável.
Eu tento apagar as memórias da minha mente, mas elas
estão firmes aqui.
Como um parasita que descobre um lar em você e decide não
ir embora.
Nesse caso, o parasita é Asher e ele consome meus
pensamentos todos os dias, o dia todo, piorando ainda mais depois
do que aconteceu há alguns dias.
Que merda.
— Viu que a próxima Cirque du Chaos é na próxima semana?
— Brooke pergunta, me mostrando o convite em seu celular e
mudando o tópico da conversa.
Franzo o cenho, lendo o mesmo texto padrão de todas as
festas anteriores, apenas com uma nova data.
— E por que eles anunciaram tão cedo?
Normalmente, só ficamos sabendo que elas vão acontecer
poucos dias antes.
A primeira do semestre, por exemplo, os convites foram
enviados duas horas antes do início.
Brooke dá de ombros, guardando o celular no bolso.
— Talvez eles queiram que a notícia corra entre os novatos e
mais pessoas apareçam — sugere e a palavra “novatos” me dá uma
súbita raiva.
Porque é a imagem de Serena Anderson e Asher se beijando
no campo de futebol que me vem à mente, horas antes dele estar
com os dedos enfiados até o talo na minha boceta.
Gemo em frustração e Brooke eleva uma sobrancelha ruiva
para mim.
— Você tá bem? Ta meio estranha esses dias — comenta,
desconfiada.
— Só… só pensando nas provas — minto, já que não faço
ideia de quando vamos ter avaliações, mas foi a resposta mais
rápida que pensei.
— Nas provas? — Repete, nem um pouco convencida. — Tem
certeza? Quer conversar sobre alguma coisa?
Se eu fosse contar para alguém sobre o que aconteceu
naquele banheiro, seria para Brooke.
Ela não sabe da metade entre mim e Asher, ao contrário de
Emma, que acompanhou nossa relação ao longo dos últimos anos
de perto. E por isso, acho que a ruiva não me julgaria por ter cedido
a tentação.
Ou, pelo menos, não tanto quanto Emma.
Tenho certeza que minha outra melhor amiga ficaria super
brava e até decepcionada por eu ter ficado com ele.
Ficado.
Meu Deus, a gente nem se beijou!
Só deixei ele enfiar aqueles dedos em mim e quase me fazer
gozar, sem um mísero beijo.
— No que eu estava pensando?
— Me diga você, Pippa — Brooke diz e percebo que falei em
voz alta. — O que você tá pensando que tá te deixando tão
esquisita?
Cacete, estou enlouquecendo.
Aquele garoto está me deixando maluca.
— Foi mal, eu só…
— Olha só, se não é a minha Rhodes favorita — o
aparecimento de Knox de repente me salva e eu agradeço
mentalmente por isso.
Ele sorri, jogando um dos braços pelos ombros de Brooke e
ela esquece de tudo imediatamente.
Ela só tem olhos para Knox Davenport quando o cara está por
perto.
— Deixa só o Brad saber disso — ela brinca enquanto nós três
caminhamos juntos pelo jardim do campus.
Knox dá de ombros, deixando um beijo casto na têmpora da
minha amiga.
— Ele sabe que não é o preferido. Afinal, você tem algo muito
especial, ruivinha, que ele não tem.
Ela ergue as sobrancelhas, incentivando-o a continuar e dizer
o que é esse “algo muito especial”.
— Se vocês forem começar a se comer com flertes e com os
olhares aqui, me digam, que eu arrumo outra coisa para fazer —
aviso, lembrando os dois que não estão sozinhos.
Quando Brooke e Knox começam a dar em cima um do outro,
inocentemente, como eles costumam definir, é como estar assistindo
um pornô ao vivo.
Tenebroso.
— Pode participar se quiser, Pippa — convida e eu coloco a
língua para fora, fazendo um gesto com indicador de vômito.
— Eu passo.
Ele dá de ombros, brincando com os fios de cabelo de
Brooke.
— Não acho que seu irmão gostaria de qualquer forma —
joga, aleatoriamente, e é minha vez de encará-lo à espera de uma
explicação mais completa. — O quê? Não soube que Kev apareceu
com um olho roxo na segunda?
Eu abro e fecha a boca, as palavras tentando formar na
minha cabeça para falar e… e eu não consigo.
— Olho roxo? Por quê? — Brooke pergunta, perdida.
Knox sorri, confuso, alternando o olhar entre eu e a ruiva.
— Pippa não contou que Asher agiu como um homem das
cavernas quando ela e Kev estavam quase se beijando, na
comemoração da vitória do pessoal do futebol, depois do jogo?
Muito obrigada, Knox, por ser um fofoqueiro nato e não saber
a hora de calar a boca.
A boca de Brooke escancara em completa surpresa.
Ela gira o pescoço e me encara, estupefata.
— Como é que é? Você quase beijou o Kevin? E… e o Asher
surtou?
Solto um grunhido irritado.
Não acredito que estou nessa situação contra a minha
vontade.
— Não foi bem assim — respondo, mordendo o lábio,
nervosa. — E tenho certeza que não foi Asher que bateu em Kevin.
— Foi assim. Kev contou — Knox confirma e me pego
pensando se tenho força o suficiente para enforcá-lo em uma das
árvores do jardim.
Não tenho, infelizmente.
— Ele agiu tipo irmão ciumento que finge te odiar para te
proteger ou cara com sentimentos conflituosos que não sabe se te
odeia ou se quer te comer, mas que, enquanto não decide, ninguém
pode chegar perto?
Minhas sobrancelhas se unem em confusão e eu encaro
minha amiga.
— Primeiro, isso foi muito específico — acuso e ela dá de
ombros. — E em segundo lugar, eu…
— Acho que está mais para a segunda opção, ruivinha —
Knox responde por mim e ele precisa agradecer ao seu anjo da
guarda que estamos dentro da faculdade, porque se não fosse por
isso, eu já teria acabado com ele.
Ou tentado, pelo menos.
— Você precisa me contar tudo!
E essa é a história de como eu passo os vinte e cinco minutos
do meu intervalo entre a última aula e o treino de líderes de torcida
contando minhas aventuras com meu irmão postiço para minha
amiga e sua sombra.
Calço o tênis branco ainda dentro de casa e pego um casaco
do cabide, já que as temperaturas em Edmonton começaram a cair
essa semana, indicando que o verão está chegando ao fim.
Prendo meu cabelo em um rabo de cavalo desajeitado
enquanto saio desço as escadas, atrasada, como sempre.
Bem, a culpa é do professor de Genética Molecular e
Hereditariedade que resolveu aplicar um teste surpresa na turma
nos últimos quarenta e cinco minutos de aula, sendo que, no
mínimo, era necessário uma hora para responder todas as
perguntas.
Faço uma nota mental de reclamar disso com Zach quando
nos esbarramos em casa.
Essa semana está tão lotada que só nos vemos nos cafés da
manhã, antes de fazermos a viagem de apenas cinco minutos para o
campus de Alberta.
Início de semestre são sempre os piores, porque precisamos
nos acostumar mais uma vez com a rotina depois das longas férias
de verão.
Quando chego no último degrau, a porta de entrada se abre
e, por um instante, penso que é minha mãe voltando mais cedo do
pilates, mas não.
É Asher.
Claro que é.
Não nos vemos desde sábado, e hoje já é quinta-feira.
Ele passou o restante do fim de semana na casa de Kevin e,
nos últimos dias, não almocei com o pessoal, e ele, quando não
estava trancado em seu quarto, estava fora de casa.
Respiro fundo quando o garoto larga os sapatos na sapataria
e ergue a cabeça, nossos olhares se encontrando no meio do
caminho,
Engulo em seco, sem saber como agir.
Brooke não me ajudou muito sobre o que fazer depois que
contei o que aconteceu, apenas ficou chocada que todo aquele ódio,
na verdade, é tesão incubado.
Ótima amiga.
Decido ignorar a presença dele.
Normalmente, eu caminho até a porta, torcendo para que ele
opte por me ignorar também e nao termos que passar por essa
situação bem constrangedora.
E quase, quase, consigo fazer o que quero.
No entanto, é lógico que ele não escolheria o jeito fácil.
​— Aonde você vai?
Arqueio uma sobrancelha.
Ele está mesmo falando sério?
— Como se isso ou qualquer parte da minha vida fosse da
sua conta — retruco, e quando tento passar por ele e concluir meu
objetivo de chegar até a porta de entrada, ele segura meu pulso e
me faz estagnar no lugar.
— Algumas partes da sua vida são sim da minha conta desde
quando você quase gozou nos meus dedos, Pippa.
Inferno.
Achei que ele tivesse tido um lapso de insanidade naquela
noite e não fôssemos falar sobre a cena patética que
protagonizamos naquela cabine de banheiro.
Ele ficou dias me evitando e a primeira coisa que me fala é
sobre aquele momento?
Faça-me o favor!
— Quase — repito, puxando meu braço do seu agarre. Não
estava me machucando, porém, quanto mais próxima eu fico de
Asher, mais eu lembro do que aconteceu. E eu não quero lembrar. —
Se me recordo, você não terminou o trabalho.
Ele bufa e noto a raiva tomando conta dele.
— Porque eu queria te ensinar a lição de não se meter com
meus amigos.
Meu sorriso carnívoro se esboça em meu rosto.
— Isso ou você não sabia como. Você sabe? — Instigo,
esperando uma reação dele. — Fazer uma mulher gozar? — Ele não
responde, talvez surpreso por eu ter escolhido logo esse caminho
nessa conversa, mas foi o melhor que achei. Ou, quem sabe, talvez
ele esteja intimidado demais para formular uma resposta coerente.
Que seja. Quando não obtenho resposta, abro um sorriso falso e
continuo: — Foi o que pensei. Tenha uma boa tarde, irmãozinho.
Deixo-o sem palavras e sozinho no hall de casa.
Ainda não terminei com você, Asher, o que aconteceu no bar
terá volta.
Eu não posso negar
Seu apetite (ah)
Você tem um fetiche pelo meu amor
Eu te empurro para fora e você volta
Não vejo sentido em culpar (você)
Se eu fosse você, eu me faria (também)
Você tem um fetiche pelo meu amor
Fetish | Selena Gomez, Gucci Mane

Sou envolvido pela nuvem de perfume de baunilha enjoativo


de Selena toda vez que respiro — ou seja, a porra do tempo todo.
As unhas são curtas, então, por mais que ela tente fazer um
carinho na minha nuca com o braço ao redor dos meus ombros, não
é a mesma sensação dos arranhões que ela deixou em mim.
— Você fica tão gato com essa corrente — ela murmura em
meu ouvido, puxando o lóbulo da minha orelha com os dentes de
um jeito nada sensual ou prazeroso.
A voz não é a mesma.
Nada é, afinal, ela não é Philipa Caldwell.
A garota que não sai da porra dos meus pensamentos.
E agora que eu sei como é estar dentro dela — apenas meus
dedos, mas é possível entender — não vejo a hora de fazer isso de
novo.
De prová-la da fonte.
De meter meu pau dentro dela.
De fazer tudo.
Contudo, eu não posso.
Na verdade, não devo.
O que aconteceu naquele banheiro… foi um erro. Eu não
deveria ter perdido a cabeça quando a vi quase beijando Kevin e
surtado, levando-a para um lugar sem interrupções e deixar claro
que o que quer que ele fizesse com ela, não seria o suficiente,
porque sou eu quem ela quer.
Ao menos, agora está bem claro que ela sente desejo por
mim tanto quanto eu por ela, ainda mais quando quase implorou
para que eu a fizesse gozar.
Porra, como eu queria.
Levou tudo de mim para não mandar o plano para o caralho e
sentir Pippa se desfazendo em meus braços, suas paredes internas
se fechando ao redor dos meus dedos, saber os sons que ela faz
quando tem um orgas…
— Meus pais estão viajando — Selena volta a falar no meu
ouvido, me arrancando da minha imaginação.
Puta que pariu.
Suspiro, segurando-a pela cintura enquanto levo o copo de
suco na boca.
De canto de olho, noto Knox e Brad conversando de um lado
e, do outro, Kevin, Brooke e Pippa, que, vez ou outra, muda sua
atenção para nós dois.
Mais precisamente, para a garota sentada no meu colo no
refeitório.
Emma e Sydney estão à minha frente e posso confirmar com
toda certeza que assim como a amiga, a outra líder de torcida
também não está gostando nem um pouco da nova convidada.
Acredito que até a minha recepção e a de Kevin tenha sido
melhor do que a dela.
Talvez porque fomos convidados por Knox e Brad, e Selena
apenas apareceu aqui, de repente, roubando um selinho meu e se
acomodando no meu colo.
— Ouviu o que eu disse? — A garota no meu colo volta a
falar, deixando beijos por minha mandíbula. — Meus pais não vão
estar em casa esse fim de semana. Você podia aparecer por lá.
Sinto os seus lábios deixando um rastro de beijos molhados
por todo meu rosto, mas antes que ela possa chegar ao meu
pescoço, eu seguro sua nuca e afasto-a delicadamente dali.
— Vamos ver — é o que eu respondo e parece ser o
suficiente para Selena, porque ela sorri, me dá outro beijo na boca
rápido e se inclina para pegar algo de sua bandeja.
E nessa posição, ela deixa a bunda mal coberta pela saia das
lideres de torcida na minha cara e eu desvio o olhar.
Meus olhos encontram o de Kevin, que, quando nota a minha
situação, sufoca uma risada.
— Cala a boca — sussurro, mexendo os lábios
expressivamente para que ele entenda o que eu estou falando.
Dessa vez, ele não tenta disfarçar e ri alto.
— Você, meu parceiro, está tão ferrado — comenta, trazendo
a atenção de todos na mesa para eu e Selena.
Porra.
Talvez eu deva lhe dar outro olho roxo, já que o primeiro
parece já ter sarado.
Eu tinha me arrependido logo após ter desferido o soco na
cara de Kev, mas pensando bem…
— O primeiro jogo do hóquei é na próxima semana — Brad
anuncia, e eu faço um gesto de agradecimento para ele. O cara
pode ser fechado, mas não posso negar que está sempre de olho
em tudo. — Vai ser Golden Bears contra Griffins, da Universidade de
MacEwan.
— Batalha de Edmonton — Knox diz, animado. — É o nome
da rivalidade entre nós e os Griffins, já que competimos para ser os
melhores de Edmonton.
— E somos nós, sem sombra de dúvidas — Brooke responde,
orgulhosa do time masculino de hóquei da nossa faculdade. — Vocês
vão, não é? Acho que os meninos conseguem ingressos para todo
mundo nas primeiras filas.
Eu lembro de quando fui a alguns — poucos — jogos de
hóquei com meu pai, para ver os Canucks, quando era mais novo.
Não tenho tantas memórias assim dessa época, mas me recordo
perfeitamente dele me erguendo em seus ombros a todo ponto que
faziam, além da batata com queijo que comiamos no intervalo.
Um sorriso involuntário aparece em meu rosto quando a
memória vem à tona.
Quando meu pai ainda era meu melhor amigo.
— Eu quero ir! — Selena fala, levantando uma das mãos. —
Meu Deus! Eu simplesmente adoro quando eles brigam no gelo! É
tão sexy, sabe? Toda aquela masculinidade… — ela suspira,
fechando os olhos para deixar a fala ainda mais dramática,
Troco um olhar com Knox, que arqueia uma das sobrancelhas
em uma pergunta silenciosa.
Que porra é essa?
Eu dou de ombros porque… porque realmente não tenho
resposta.
Nao sei que porra estou fazendo dando bola para essa garota
quando eu quero outra.
Mas não posso tê-la.
Ela é enteada do meu pai, cacete, e, além disso, eu a odeio.
Detesto.
Mas, aparentemente, meu pau não tem a mesma opinião que
eu.
— Não sei se vamos conseguir ingressos para todos — Brad
interfere e o sorriso de Selena se desmancha.
De soslaio, no entanto, o de Pippa surge em seu rosto.
Ela finge digitar no celular, mas sei que está prestando
atenção na conversa da mesa.
Não foi coincidência ela ter ficado feliz ao mesmo tempo que
Bradley, de certa forma, deu um fora em Selena.
Uma das minhas versões favoritas de Pippa, é quando está
com ciúmes.
Ela fica muito mais gostosa quando as sobrancelhas se unem
e mordisca o lábio inferior, controlando a raiva.
É claro que ela sob efeito dos meus dedos também está no
meu ranking.
Os gemidos que soltava, a forma que se controlava para não
ceder… e então quando senti o corpo endurecer ao meu toque,
indicando que ela gozaria a qualquer momen…
— É melhor você parar de olhar para sua irmã como se
tivesse imaginando como seria fodê-la sobre a mesa desse refeitório,
ou as outras pessoas, principalmente a garota no seu colo, vão
reparar quando seu pau ficar duro e ela não for a razão disso —
Kevin sussurra em meu ouvido, me tirando do transe.
Engulo em seco, desviando os olhos de Pippa.
— Ela não é minha irmã de verdade — murmuro de volta,
aproveitando que Selena está ocupada demais discutindo com Knox
sobre quantas vezes ele quebrou o nariz de alguém na arena de
hóquei.
Sei que gosto de provocá-la chamando-a de “irmãzinha”, mas
isso é somente entre nós dois.
Não preciso que as pessoas ao nosso redor levem a sério o
apelido e comecem a acreditar que, por exemplo, o reitor também é
pai dela.
Que nojo.
— Precisa repetir isso para você mesmo quantas vezes por
dia, Ash? — Kevin indaga, em um tom de divertimento. — Não é
errado vocês ficarem juntos, sabe? Como você mesmo disse, não
são irmãos de verdade.
— Não vamos ficar juntos — respondo, rápido demais.
Kev umedece os lábios e dá de ombros, voltando sua atenção
para a discussão entre Selena e Knox.
Ele não sabe o que aconteceu depois que tirei Pippa de perto
dele, mas, com certeza, tem uma ideia — porque sua imaginação é
bem fertil.
A questão em jogo não é o certo ou errado, é que não quero
ficar com ela.
Digo, ela é gostosa e sinto que combinaríamos muito bem na
cama, mas só isso.
Não um relacionamento.
E nossa relação já é conturbada o bastante sem a parte física,
se colocarmos mais um problema na equação…
Não vamos ter uma resolução tão fácil assim.
— Serena, vamos — Emma chama, de repente, se erguendo
do banco ao lado da namorada. — Temos uma reunião de equipe.
Os ombros da garota ao meu lado murcham e tenho quase
certeza que ela revira os olhos.
— Vamos ou você vai chegar atrasada — Pippa instiga, se
levantando também e juntando-se à melhor amiga.
O olhar dela está na menina em meu colo, nunca em mim.
Ela está puta pra cacete.
— Tchau, gato — se despede de mim com um selinho e,
antes que ela possa aprofundar o beijo, porque ela tenta, eu me
afasto.
— Tchau — respondo e sinto o alivio quando a garota recolhe
suas coisas e se junta ao seu time de torcida.
Pippa, então, vacila, e suas íris verdes fixam-se nas minhas.
Pela primeira vez, não sei o quê fazer.
Não tenho nenhuma provocação na ponta da língua.
Apenas mantenho meus olhos nela, observando o quanto
Pippa é… é bonita.
Então, quando a terceira se une a elas e se viram para sair do
refeitório, minha irmãzinha volta a ser Pippa de antes, me lançando
um dedo do meio.
Sorrio.
Essa é a Pippa Caldwell que estou acostumado e… e detesto.
Não a suporto, repito para mim mesmo, especialmente para
meu pau, que decide querer dar oi sempre que ela está por perto.
Acompanho o caminhar das três até a porta do refeitório —
mais precisamente, a bunda de Pippa e como fica magnífica na saia
curta do uniforme — e é só quando elas estão fora do meu campo
de visão que eu me toco de uma coisa.
O nome da garota não é Selena.
É Serena.

Estaciono a moto na garagem coberta da casa do meu pai —


porque ainda não me acostumei a chamar esse lugar de lar
novamente — e retiro o capacete, pendurando-o no guidão e
guardando as chaves no bolso da calça jeans escura.
O céu já está escuro do lado de fora quando aperto o botão
para fechar a garagem antes de adentrar a casa pela outra porta, e
voltar para o hall principal, onde deixo meu tênis na sapateira.
Quando ergo a cabeça e vejo meu reflexo no espelho acima
da cômoda, no corredor, noto meu rosto ainda vermelho de tanto
que esfreguei a porra do desenho de pau que Kevin fez na minha
bochecha, quando, sem querer, adormeci no sofá da sala de tv da
casa de Knox e Brad, onde passamos a tarde bebendo e jogando
video game.
Meu melhor amigo parece uma criança de dez anos em
alguns momentos, cacete.
Suspiro, deixando essa porra para lá e sigo o trajeto para meu
quarto.
Contudo, antes que eu possa subir o primeiro degrau, meu
pai sai da sala de estar no mesmo instante e nos cruzamos no
primeiro andar.
Um silêncio desconfortável paira sobre nós quando nossos
olhares se encontram.
Zachary está vestindo uma calça social e a blusa de botões
está aberta. Imagino que deva ter chegado há pouco tempo da
reitoria, considerando que já são quase sete horas da noite e está
com as mesmas roupas desde de manhã.
Há olheiras de cansaço sob os olhos dele também, e a barba
está precisando ser feita.
Ele parece exausto.
— Oi, Ash — me cumprimenta, reforçando meu pensamento
que ele está cansado.
Até sua voz demonstra isso.
E eu não sinto a necessidade de ser estupido com ele, como
foi em praticamente todas as vezes que nos esbarramos nas últimas
semanas.
Por um momento, eu vejo meu papai ali.
O cara que tentou construir uma casa na árvore no quintal
para mim, mas falhou nas três vezes e não aceitou o conselho da
mamãe de contratar uma pessoa para fazer, porque ele queria
passar mais tempo comigo, construindo a bendita casa.
Aquele que me deixou faltar três dias de aula quando nosso
primeiro e único gatinho morreu porque eu estava muito triste e
queria passar todo o meu tempo comendo sorvete de morango e
assistindo aos filmes do Homem Aranha.
Que me levou em viagem de férias surpresa para casa dos
meus avós quando eu caí de bicicleta e torci o tornozelo, já que
minha mãe disse que eu não estava pronto para retirar as rodinhas,
mas eu cismei que sim e papai confiou em mim. Apenas para eu cair
nos primeiros cem metros, enquanto ela trabalhava, e depois de
sairmos do hospital, passarmos o fim de semana na casa dos pais
dele.
Lógico que minha mãe descobriu a verdade quando voltamos,
mas, mesmo assim, ele insistiu que foi ele que teve a ideia de tirar
as rodinhas para que ela não brigasse comigo.
É esse pai que eu vejo à minha frente agora, com um sorriso
contido estampado em seu rosto.
— E aí, pai — cumprimento-o de volta, também forçando um
sorriso em sua direção.
É difícil, mas ele vê meu esforço porque percebo quando sua
postura muda e ele parece relaxar na minha presença.
Porque quando estamos no mesmo cômodo, é visível que os
ombros estão sobrecarregados de tensão e ele está sempre pronto
para discutir comigo se eu disparar qualquer ofensa a Victoria ou a
Pippa.
Ele não se importa quando o alvo é ele, mas é só falar delas
que se transforma em um animal prestes a atacar.
A conversa com minha mãe ressurge na minha mente volta e
meia, sobre eu conversar com ele e colocar as cartas na mesa.
Uma conversa honesta.
Talvez não seja uma ideia tão ruim assim.
— Ash? — Meu pai chama quando eu dou um passo em
direção a escada e eu me viro, me apoiando em um dos corrimões.
— Desculpa por ter gritado com você naquele dia, no jantar. Eu… eu
poderia ter lidado com a situação de outra maneira.
Engulo em seco, surpreso com o pedido de desculpas.
Com certeza eu não estava esperando por isso.
— Foi mal também por ter… passado dos limites — decido
dizer, e realmente estou arrependido de ter dirigido aquelas palavras
a Victoria.
Minha mãe estava certa.
Ela me educou muito bem para eu desrespeitar outras
mulheres assim.
Eu não sou essa pessoa.
Acho que a ideia de odiar meu pai e toda sua família cresceu
de maneira tão intensa na minha cabeça que… que eu não consigo
lidar com essa situação, de estar morando com eles, de outra forma,
a não ser assim.
— Você deveria se desculpar com Victoria também — ele
sugere, e percebo que ele escolhe as palavras cautelosamente.
Como se estivesse receoso com a minha reação.
Porra, eu estou sendo um babaca do caralho aqui, não estou?
Minha mãe odiaria ver isso.
Cacete, eu estou odiando me ver assim.
— Eu… hum… vou falar com ela — respondo, forçando mais
um sorriso na direção dele antes de me virar e subir os degraus para
meu quarto, dando a conversa como encerrada.
Foi a primeira civilizada que tive com ele desde que cheguei.
Porra, na verdade, acho que em anos.
Há anos eu trato meu pai como um desconhecido que decidi
odiar e danificar nossa relação.
O Asher de dez anos acredita que foi o pai aquele a não lutar
por ele, mas danificou a relação tão bonita que eles tinham.
No entanto, o Asher de agora, vê que, talvez, as coisas nos
sejam tão pretas no branco assim.
Que eu também não lutei por ele.
E, talvez, esteja na hora de mudar isso.
Seja minha obsessão, minha posse
Querida, eu tenho uma ótima seleção
Este deve ser seu dia de sorte, amor
Eu quero roubar, bater
Você sabe a merda que te excita?
Eu quero lamber, beijar
Eu vou te dar tudo que você quiser
The Wolf | The Spencer Lee Band

Tiro os tênis e o casaco na porta de entrada, pendurando-os


no cabideiro e passo na cozinha antes de subir para meu quarto, a
fim de pegar um copo de água.
Hoje é sexta, o que quer dizer que o treino do time termina
mais cedo e tenho quase a tarde toda para descansar. O que é
ótimo, principalmente porque amanhã haverá mais uma edição de
Cirque du Chaos e eu estou super animada para ir, por mais que as
meninas não estejam tanto assim.
Syd alega ter uma prova super importante na segunda-feira e,
por isso, precisa do fim de semana para estudar.
Emma está reclamando de cólica desde terça-feira, e pelo
visto, a menstruação dela desceu hoje de manhã. Em outras
palavras: ela está praticamente fora da festa amanhã porque minha
melhor amiga tem dias terríveis quando está menstruada e gosta de
passá-los deitada na cama, com medicamentos, uma bolsa de água
quente na barriga e maratonando a série This Is Us.
E Brooke tem um jogo fora de casa no domingo, há pouco
mais de cinco horas de Edmonton, e não está nada afim de chegar
com ressaca — porque o lema da minha amiga é nunca sair de um
role sóbria. Não essencialmente bêbada, mas nunca sóbria. E ela
não pode fazer isso se tiver um jogo, por mais que seja um
amistoso; além de tudo, o ônibus para levar o time de hóquei sai da
escola às seis e meia da manhã.
Em palavras mais sucintas: estou ferrada.
Contudo, enquanto encho meu copo de água, tento não
pensar nisso.
É um problema para ser resolvido amanhã.
Hoje, quero descansar e estar bem motivada para meu
compromisso mais tarde.
Era para eu ter ido ontem, mas o treino acabou atrasando um
pouco quando tivemos que mudar alguns passos da sequência para
seguir o ritmo da música.
Subo os degraus rapidamente e estou quase entrando no meu
quarto quando ouço o chuveiro do banheiro do corredor ser ligado.
Zachary está na faculdade.
Minha mãe, pelo horário, provavelmente no clube do livro
com as amigas do pilates.
E mesmo se, por alguma razão, um deles estivesse em casa
mais cedo, estariam usando o banheiro do quarto, não o do
corredor.
O único que usa esse é… Asher.
Uma ideia se passa pela minha cabeça mas seria… arriscado
demais.
Imprudente.
Eu poderia estar passando dos limites, caso fizesse isso.
Mas, bem… o que fizemos no banheiro daquele bar insalubre
foi todas essas coisas.
E ainda não dei o troco por ele ter me feito terminar o
trabalho que seria dele, sozinha, no breu do meu quarto quando
cheguei em casa aquela noite.
Decido não pensar demais ou vou desistir.
Checo o horário mais uma vez, confirmando que Zach chega
apenas à noite e a minha mãe, que saiu há poucos minutos, nos
dará umas boas duas horas sozinhos.
Perfeito.
Termino o copo de água, fingindo ser alguma bebida alcoólica
me dando uma dose líquida de coragem e deixo-o rapidamente na
escrivaninha do meu quarto.
Então, lentamente giro a maçaneta do banheiro e não consigo
evitar um sorriso quando vejo que a porta está aberta.
Ah, Asher, você pediu por isso.
A ducha é forte, me ajudando na tarefa de ser silenciosa
quando entro no cômodo.
É possível ver o deslumbre da silhueta de Asher pela cortina
branca e ele está de costas, ensaboando o cabelo.
Tiro toda minha roupa e quando estou nua — sem pensar
demais nos meus próximos passos e acabar desistindo —, desfaço
meu rabo de cavalo frouxo e faço um mais forte.
Nem me olho no espelho.
Não preciso ver o quão patética estou sendo nesse momento.
Minha mente já vai me amaldiçoar o bastante quando eu sair
daqui, porém, quero… não, preciso fazer isso.
Asher não vai ser o ganhador do nosso joguinho.
Finalmente, abro a cortina do box e adentro o local.
Os olhos de Asher estão fechados enquanto ele tira o
shampoo dos fios castanhos e eu sorrio, aproveitando para
inspecioná-lo sem que ele saiba.
Ele tem um corpo muito gostoso — mas não é como se eu
não soubesse disso.
Diferente de Kevin, ele não tem os melhores gominhos no
abdômen, mas está em dia com a academia, com certeza. Os braços
e pernas são musculosos, mas não muito… na medida certa. E,
cacete, quando desço um pouco mais os olhos vejo seu membro
entre as pernas. Não está mole, pelo que esperava. Na verdade,
está… um pouco meia bomba, e, cacete, é… é muito grande.
Estou tão ferrada.
Ainda com os olhos cerrados, Asher agarra o pau e começa a
usar sua mão em movimentos vai e vem nele.
Estou hipnotizada.
Pelas veias em seu braço quando ele faz isso e na magia que
é ver o seu amiguinho crescer diante dos meus olhos.
Mordisco o lábio inferior, sem conseguir desviar os olhos.
Então, de repente, Asher abre as pálpebras e eu ergo a
cabeça, nossos olhares se encontrando.
— Caralho, Pippa! — Exclama, um pouco atordoado,
passando a mão livre pelo rosto molhado e dando um passo para a
frente, saindo de diretamente debaixo da ducha. — O que você tá
fazendo aqui?
Ele dirige a pergunta a mim, porém, seus olhos estão
percorrendo todo meu corpo.
Não fico tímida.
Tenho orgulho do meu visual, afinal, eu gosto de ser
admirada.
Ainda mais por ele.
Aproveito que ele está distraindo me secando e me aproximo,
ajoelhando-me em sua frente.
A testa de Asher se franze em confusão e os olhos recaem
para mim.
— Pippa… — diz, em um tom de aviso quando retiro sua mão
do seu pau, substituindo-a pela minha.
— Relaxa — aconselho, lhe lançando um sorriso lascivo.
Seu pomo de adão sobe e desce.
Ele está nervoso.
Que fofo.
Subo e desço minha mão pelo seu membro, alcançando um
ritmo que o faça fechar os olhos e aproveitar o prazer.
Uma das suas mãos se apoia nos azulejos e a outra, agarra
meu rabo de cavalo.
Um pedido, eu acho, que acato.
Minha língua rodea a cabeça úmida do seu pau, sugando-a.
— Porra — Asher rosna, e quando olho para cima, ele ja esta
me encarando.
Perdendo o controle por mim.
Minha outra mão encontra suas bolas e brinco com elas,
enquanto deposito beijos por toda sua extensão, provocando-o.
Não estou com pressa, e assim como ele, quero aproveitar
cada instante de tê-lo à minha mercê.
Asher, por outro lado, está apressadinho.
Ele força minha cabeça para engoli-lo e eu resisto enquanto
dá, porque também estou louca para senti-lo na minha língua.
Ele bufa em frustração quando percebe que eu estou no
comando, desistindo de tentar me dominar.
Escolho esse momento para enfiá-lo dentro da boca e Asher
grita em surpresa quando começo a chupá-lo.
Porra.
Não é normal para mim sentir tesão enquanto estou
mamando um cara, mas, puta que pariu, preciso controlar a vontade
de me satisfazer também quando ele solta gemidos mais altos que o
som da água que cai em suas costas.
É um ótimo incentivo para eu aumentar a sucção.
Continuo também dando atenção especial para suas bolas,
principalmente quando ele tomba a cabeça para trás, ofegante,
quando faço isso.
Ainda segurando meu cabelo, Asher parece perder a paciência
com minha calma e seus olhos voltam a se fixar nos meus.
— Pippa — chama, sôfrego. — Vou meter duro na sua
garganta, então, se você quiser desistir dessa sua ideia maluca, a
hora é agora.
Eu nego com a cabeça — o que é possível quando se está
com um pau na boca — e é a resposta que ele precisa para
arremeter fundo dentro de mim.
A cabecinha bate mesmo na minha garganta e eu cravo as
unhas nas suas coxas, me estabilizando no chão molhado do box.
Asher investe forte e duro na minha boca e eu aproveito cada
instante disso.
Minha boceta parece gostar tanto quanto eu, porque custa
tudo de mim para não levar uma mão até lá e me masturbar
também.
Agora não.
É sobre Asher, não sobre mim.
— Caralho, irmãzinha — o apelido torna todo o momento
ainda mais obsceno. — Você chupa tão bem meu pau, Pippa. Parece
que foi feita para isso, porra.
Acho que sorrio — ou o mais próximo disso — com o elogio,
levando-o mais fundo na minha garganta.
Asher Blakewood está perdendo todas as estribeiras pela
garota que odeia.
— Isso, assim mesmo — instrui quando altero as chupadas.
Devagar, rápido, duro e leve, arranhando sua perna no processo. —
Porra, Pippa. Você fica tão gostosa assim, ajoelhada para mim e me
engolindo deliciosamente.
Não paro.
Tento não dar bola para o formigamento entre as minhas
pernas e dou atenção para Asher.
Não, dou toda atenção para o pau sensacional dele.
Talvez eu possa ter o pau só para mim e deixá-lo de lado, já
que esse nosso lance — se é que posso chamar assim — é apenas
físico.
Eu não queria admitir, porém, estou começando a perceber
que seríamos uma ótima combinação na cama.
Seríamos.
Não vamos ser porque essa é a última vez que tenho um
momento íntimo com Asher.
— Vou gozar — avisa, metendo ainda mais forte na minha
boca. — Vou te marcar inteira com a minha porra, Pippa. O que
acha, huh? De engolir todo o gozo do seu irmãozinho?
Eu percebo quando sua respiração se torna ainda mais
descompensada e ele fica rígido, dando sinais que está mesmo
prestes a gozar.
Eu chupo mais uma vez todo o seu membro, e antes que ele
possa despejar a porra na minha boca, eu me afasto.
Asher abre os olhos imediatamente, soltando meu cabelo logo
que me ergo do chão.
— O que…
— É para você se lembrar, Asher, que eu sempre sou aquela a
ter a última jogada — explico, dirigindo-lhe um sorriso.
Ele me encara intensamente, surpreso com o que acabou de
acontecer aqui,
Eu também estou.
Meu corpo está pegando fogo.
Não sei se de tesão ou da adrenalina que foi chupar meu
irmão postiço dentro da nossa própria casa, com risco de nossos
pais aparecerem — por mais que seja improvável — a qualquer
momento.
— Pippa — diz o meu nome com raiva, o que faz com que
meu sorriso se alargue ainda mais.
Saio do box, sem lhe dar uma resposta.
Contudo, antes que eu saia do banheiro, de fato, com minhas
roupas amontoadas em meus braços, eu olho por cima do ombro,
onde ele continua estupefato por trás da cortina e a água ligada,
para dizer:
— Xeque-mate, Asher.
Quem vai me impedir quando eu passar?
O que nos resta é só eu e você
Mas se eu for para a cama, querido, posso te levar?
Volte, desça
Puxe-me para mais perto se você acha que pode aguentar
Mãos para cima, mãos amarradas
Não grite se eu te explodir com um estrondo
Bad Girls | M.I.A

Consigo definir perfeitamente como foi a sensação de ter os


lábios de Philippa Caldwell ao redor do meu pau.
Como ela sugava na velocidade exata, nem muito rápido, nem
muito devagar.
Como ela arranhava minhas coxas quando a cabecinha tocava
sua garganta.
Como ela esfregava as próprias pernas uma na outra, ficando
excitada por estar me dando prazer.
E também, consigo descrever a merda do momento que tive
que terminar de bater uma sozinho, com a sua imagem de joelhos
para mim no chuveiro, logo depois dela bater a porta na minha cara.
Quando eu penso que estou um passo à frente de Pippa, ela
aparece e me prova a razão dela ser considerada a rainha da
universidade de Alberta — nesse momento, acho que podemos
estender esse título para a cidade, não só dentro dos muros da
instituição.
Porra, que saco!
Já passaram quase três horas desse momento compartilhado
no banheiro e não consigo me concentrar em mais nada.
Porque a porra dos meus pensamentos sempre voltam para
Pippa.
Não faço ideia de como tirá-la de uma vez da minha cabeça.
Estou ignorando as sete mensagens de Serena — sim, não
Selena — no meu celular, assim como o grupo com os garotos, em
que eles estão discutindo se vamos ou não na edição da Cirque du
Chaos de amanhã.
Bem, se Pippa for…
Viu?
Tudo acaba sempre me levando a ela!
Talvez tudo se resolva quando você a levar para cama e
tirarem um ao outro do sistema.
Engulo em seco com essa ideia, pensando.
Seria essa a solução para nossos problemas? Uma transa
cheia de ódio? Feito isso, minha mente esqueceria facilmente de
Pippa?
Parece muito simples para ser verdade.
O que não me impede de me levantar da cama que estou
jogado a horas e atravessar o corredor em direção ao quarto dela.
Foda-se.
Vou propor essa merda.
Eu a acho gostosa.
Ela me acha gostoso.
Nós nos detestamos.
O sexo provavelmente vai ser ser do caralho.
Vou convencê-la que essa é a melhor resposta para toda essa
tensão entre nós dois.
Eu ia convencê-la, porque quando noto a porta do quarto
entreaberta, dessa vez, ela não está lá.
Merda.
Desço as escadas, passando por cada cômodo da casa à
procura de Pippa, e não encontro nem sinal dela.
Por fim, adentro a cozinha e quando vejo a cabeleira loira
perto da ilha, um alívio momentâneo toma conta de mim.
Até eu me aproximar e notar que não é ela, mas sim, Victoria.
Antes que eu possa dar meia volta e ir para meu quarto de
novo, minha madrasta se vira e me encontra ali, parado igual um
babaca no meio do cômodo.
— Ah! Oi, Asher. Você está ocupado? Quer me ajudar a
guardar as compras? — Pergunta, simpática, apontando para as
sacolas cheias em cima da ilha.
Suspiro.
Quero negar, porém, lembro da conversa com a minha mãe.
Tanto da chamada de vídeo há alguns dias, depois do
episódio do jantar, como das nossas depois daquela, em que ela não
perdeu a oportunidade de me lançar algumas alfinetadas sobre
como ela me educou muito bem, e quando eu não demonstro isso,
também fica feio para ela.
É pela minha mãe, me lembro quando contorno a ilha e
começo a tirar os produtos das sacolas.
Eu não digo nada, mas, de canto de olho, noto um vislumbre
de sorriso de Victoria quando eu começo a arrumar os itens nos
armários, ajudando-a.
Ela faz o mesmo, em silêncio.
É por conta do cômodo quieto que as memórias com ela me
vem à mente.
De como, apesar de todas minhas tentativas de ser um
babaca completo com a mulher do meu pai, ela nunca deu bola e
sempre foi legal comigo.
Ela faz os meus biscoitos preferidos de natal quando venho
comemorar a data com eles.
Ela não dizia, mas sei que tinha um dedo dela quando meu
pai não deixava eu dormir três dias seguidos na casa de Kevin, e, de
repente, ele estava me dando uma carona até lá.
Ela também levava Pippa para sair quando meu pai resolvia
que queria ter um dia de garotos em casa — por mais que eu passe
parte dele trancado no meu quarto — para nos dar privacidade.
Se eu não tivesse tanto ressentimento por tudo o que a
chegada delas aqui trouxe para minha família, talvez… talvez
tivéssemos uma boa relação.
— Pode colocar o achocolatado em pó da Pippa ali — Victoria
orienta quando tiro as embalagens de achocolatado em po branco
da sacola, apontando para um dos armários em cima do fogão.
Assinto e vou até lá, com facilidade para alcançar o puxador
dourado por conta da minha altura.
— Você e seu pai são tão altos — ela comenta, puxando papo
furado. — Mas acho que os arquitetos esquecem que nem todas as
pessoas tem um metro noventa quando constroem esses armários
imensos.
— Minha avó reclama da mesma coisa quando vem aqui —
respondo e acho que é uma das primeiras vezes que não lhe dirijo
uma resposta atravessada.
Cacete, eu sou um babaca, não sou?
Não é à toa que minha mãe ameaçou aparecer aqui e me dar
uns cascudos.
Acho que mereço.
— Eu vivo dizendo isso para o Zach! — Victoria concorda,
abrindo um sorriso e escorando o quadril na ilha da cozinha.
O silêncio volta a tomar conta do espaço, mas, dessa vez, não
é desconfortável.
Para mim, pelo menos.
Me sinto um pouquinho mais a vontade na presença dela.
E é por isso que me pego dizendo:
— Me desculpe.
Ela une a sobrancelha, um pouco perdida, e não posso deixar
de notar que ela e Pippa são muito, muito parecidas.
Se Victoria era como a filha quando mais nova, posso
entender porque meu pai se interessou por ela.
— Pelo quê, querido?
Suspiro, passando a mão pelos cabelos, um pouco nervoso.
Não estou acostumado a pedir perdão para alguém que não
seja minha mãe.
— Por tudo, eu acho — esclareço, sendo sincero. — Não fui
uma das pessoas mais agradáveis nesses últimos anos com você.
Então… foi mal. Por tudo.
Merda.
Foi horrível, não foi?
Eu acho que vou passar mal de tanta vergonha.
— Tudo bem, Asher — ela responde, como se não fosse nada.
— Eu sei que deve ter sido difícil ver sua vida mudar tão rápido
assim e, de repente, se mudar para o outro lado do país, deixar tudo
para trás… sei como é. Um pouco, pelo menos. E se para mim, uma
adulta, foi difícil de lidar, imagino que para uma criança deva ter sido
ainda mais complicado.
Anuo, porque ela está certa.
Passamos por situações semelhantes, apesar de eu não saber
muito do passado dela e porque ela e Pippa fizeram essa mudança
tão drástica dos Estados Unidos para cá.
É mais um dos mistérios das mulheres Caldwell.
E falando nelas…
— A Pippa saiu? — Pergunto, sem conseguir controlar a
língua grande.
Espero que ela não perceba que já pensei em mais de cem
maneiras diferentes de comer a filha dela por toda essa casa
somente nas últimas horas.
— Logo que eu cheguei — responde, guardando as sacolas
reutilizáveis na dispensa. — Por quê? Aconteceu alguma coisa?
Ah, sim, aconteceu que sua filha me mamou tão gostoso
enquanto eu tomava banho que preciso fazer alguma coisa quanto a
isso antes que meu pau exploda de tanto tesão.
— Nada. Só… só queria tirar uma duvida de uma materia que
ela fez no semestre passado — digo a primeira coisa que me vem à
cabeca, sem nem saber a porra do curso que Pippa estuda e muito
menos se haveria possibilidade de estarmos fazendo a mesma
matéria.
Me arrependo da resposta quando Victoria parece muito mais
feliz do que deveria.
— Eu disse ao seu pai que vocês acabariam se dando bem!
Engasgo uma risada, saindo da cozinha em seguida antes que
fique ainda mais na cara o que estou pensando.
Mal ela sabe a forma que eu quero me dar bem com a filha
dela.

Não vi Pippa ontem.


Depois que ela saiu sei lá para onde, voltou tarde e eu já
estava trancado no quarto, provavelmente.
É lógico que passei um tempo imaginando ela com outro cara
enquanto eu ignorava as mensagens sexys de Serena porque meu
pau estava viciado em uma pessoa, e não era nela.
Não faço ideia se ela estava mesmo com outra pessoa, mas
se sim, admito que estou fazendo um belo papel de otário.
Hoje, ela também não estava em casa quando acordei, perto
do horário do almoço e, logo depois, eu saí para a casa de Kevin
sem esbarrar com ela pela casa, onde fizemos uma resenha pré
festa.
Uma merda, porque não tive chance de fazer a proposta que
ronda minha mente desde o dia anterior.
No entanto, tive a chance de bater mais duas pensando nela.
Porra, estou mesmo fodido.
— Ash! Você não disse que viria — a voz irritante de Serena
chega aos meus ouvidos antes que seus braços circulem meus
ombros e eu não controlo a bufada que solto quando isso acontece.
Como se o fim de semana não pudesse piorar.
Eu e os caras chegamos há pouco na festa e encontramos um
bom lugar para nos encostar e ter uma boa visão do evento. Perto
da pista de dança, mas uma parte mais alta da planície, para que
consigamos observar o bar e também o globo da morte. Há um
barril servindo como mesa, onde apoiamos nossas cervejas — minha
primeira e única pela metade, já que estou com a moto hoje.
— E aí — respondo, sem emoção porque, sinceramente, não
me importo o suficiente com ela.
Posso parecer um babaca dizendo isso, mas, cacete, eu já
disse diretamente para a novata no time de torcida que não estou
interessado em nada sério e isso não vai mudar. Ela alegou que
estava no mesmo barco e só queria alguém para curtir de vez em
quando.
Esse de vez em quando está se tornando muito frequente.
Olha, Serena é bonita.
Gostosa.
A personalidade não é… não é do meu agrado, mas ela é uma
boa pessoa.
Bem, ela é grudenta e isso não é algo que eu curta muito.
Mesmo assim, com todas as qualidades em evidência, não
consigo sentir o que sinto por Philippa Caldwell.
Nem eu, nem a porra do meu pau.
Já tentamos transar no banheiro da ultima festa e quando fui
em sua casa, certo dia, depois da aula, mas não consegui fazer meu
pau subir para fazermos sexo.
O máximo que chegamos foi ela me chupar — porque foi o
rosto de Pippa que se fixou na minha mente durante todo o tempo
que a boca de Serena estava em mim.
Porra, pareço mesmo um dsgraçado falando assim, mas…
mas, foi a única saida para eu gozar e não tornar a situação mais
estranha do que ja estava.
E, claro, eu também chupei-a e ela gemeu alto meu nome,
logo, entendo que me saí bem.
— Quer sair daqui? — Serena sussurra perto do meu ouvido,
brincando com os fios grandes do meu cabelo e esfregando a mão
pelo meu peitoral.
Knox está com os olhos arregalados para essa cena.
Kevin está com o olhar fixo em Brad, onde ele pega mais uma
bebida para os dois.
E as meninas não estão aqui hoje — Brooke sei que é porque
ela tem um jogo amanhã, e as outras não faço ideia.
Ou é o que penso.
Porque quando forço um pouco mais os olhos, vejo uma
cabeleira loira muito familiar mais adiante.
Quando ela gira nos calcanhares, iniciando uma conversa com
um motoqueiro que nunca vi antes, confirmo que é mesmo ela.
Pippa.
Sozinha, o que não é do seu perfil.
— Knox — chamo.
— Pergunte ao seu patrão, Blakewood.
Reviro os olhos, mas decido ignorar.
Como ignorei a sugestão de Serena.
E ela pouco se importou.
Continua agarrada em mim como um panda em seu bambu.
— É Pippa ali? — Indago, apontando com a cabeça para as
pessoas reunidas ao redor do globo da morte.
Serena fica rígida próxima a mim — porque não estou
tocando-a, mas seu corpo segue pressionado no meu — e Knox
desvia seu olhar para a direção que indiquei.
— Acho… acho que sim — responde, um pouco confuso —
Mas ninguém está aqui. Que merda ela veio fazer aqui sozinha?
É o que estou me perguntando.
Como se sentisse que estamos encarando-a, a cabeça de
Pippa gira e nossos olhares se cruzam.
As íris cintilam quando nota a garota ao meu lado e eu engulo
em seco, percebendo que essa é a primeira vez que nos vimos
depois… depois dela quase ter me feito ver estrelas quando tinha
meu pau na boca, ontem.
Parece que o universo resolveu me dar uma lição e acumular
todas as piores coisas que poderiam acontecer em uma noite, como
a porra de uma bola de neve descendo as montanhas próximas a
Alberta.
Decido deixar Serena e ir atras de Pippa, para resolver o
nosso grande probelma — chamado falta de sexo —, porém, antes
que eu possa fazer isso, a garota ao meu lado suspira e não me toco
da sua próxima çãao ate que seja tarde demais.
Em um instante, estou com os olhos vidrados em Pippa, em
uma espécie de jogo para ver quem desvia primeiro.
No outro, Serena está na minha frente e suas mãos moldam
meu rosto, colando nossas bocas.
Caralho.
Que porra é essa?
Eu afasto Serena abruptamente, sem ao menos retribuir o
beijo e ela abre os olhos, se fazendo de desentendida.
— Não sei o que foi isso, Serena, mas se você ainda não
entendeu… eu não tô no clima — informo e ouço o “uou” de Knox
de fundo, se divertindo com a situação.
Ela franze o cenho e eu desvio o olhar dela de volta para
Pippa.
Contudo, ela não está mais onde estava antes.
É minha vez de ficar confuso.
— Não é isso — Serena deduz, criando a cabeça e seguindo
meu olhar. — Você… ela não é tipo, sua irmã?
Ah, finalmente ela percebeu a verdadeira razão de eu não
querer ela.
Eu não queria expor o que quer que haja entre eu e Philippa
para outras pessoas, mas…
Bem, pelo menos não preciso mentir mais.
— Ela é enteada do meu pai — explico, por mais que eu
achasse óbvia essa informação.
É claro que provoco-a chamando-a de irmãzinha, mas,
caralho, não temos o mesmo sangue, tampouco fomos criados
juntos.
Não há nenhum grau de parentesco, muito menos relação de
irmandade entre nós dois.
Sem dar mais palco para Serena, eu me afasto e sigo
lentamente o caminho em direção ao globo da morte, onde vi Pippa
pela primeira vez.
Quando não acho sua característica cabeleireira loira, quase
dou meia volta, porém, felizmente, eu cutuco mais a fundo.
O que quer dizer?
Eu acho Pippa.
Entrando na porra do globo da morte com o motoqueiro que
ela estava conevrsando pouco tempo atrás.
Porque ele parece ser bom para você
E ele faz você se sentir como deveria
E todos os seus amigos dizem que ele é o único
O amor dele por você é verdadeiro
Mas ele sabe que você me liga quando ele dorme?
Mas ele conhece as fotos que você guarda?
Mas ele sabe os motivos pelos quais você chora?
Moth To A Flame | Swedish House Mafia, The Weeknd

Demora alguns segundos para que eu processe a cena que


meus olhos estão vendo.
Pippa Caldwell entrando no globo da morte com um
motoqueiro.
Pippa Caldwell entrando no globo da morte com um
motoqueiro.
Pippa Caldwell entrando no globo da morte com um
motoqueiro.
Que porra é essa, caralho?
Ela deve estar passando por algum colapso mental por ter
sequer ponderado essa ideia e chegado à conclusão de que, sim, era
a melhor decisão que ela poderia tomar essa noite.
Achei que ela fosse mais responsável.
Que ela pensasse em suas ações e nas consequências que
elas podem causar antes de escolher um caminho ou outro.
Se bem que, para alguém que me deixou dedá-la no banheiro
do bar e retribuiu me mmando no banheiro da casa em que
moramos com nossos pais, sua índole não é a mais confiável.
Mas, porra!
Isso? Essa banalidade do perigo e o falso sentimento de
invencibilidade?
Não esperava essa merda dela.
Caralho, não esperava que fosse logo eu a cruzar o gramado
em velocidade máxima, tentando chegar a tempo, antes que ela
colocasse a própria vida em risco e eu precisasse dar uma notícia
não muito agradável a minha madrasta.
A lembrança da última festa aqui surge de repente em minha
mente e noto que estamos com os papéis trocados dessa vez.
Você vai morrer, porra, Asher! Sai dai!
Deveria estar comemorando, então, irmãzinha, porque aí você
se torna filha única.
Não quero que ela morra.
Não quero me tornar filho único, como a provoquei.
E, porra, com certeza nao vou comemorar se alguma coisa
acontecer com ela.
Felizmente, chego a tempo no globo e o motoqueiro conversa
com um dos organizadores, enquanto Pippa observa a porta
gradeada atentamente, não notando quando me aproximo.
Ela só percebe minha presença quando agarro seu pulso e a
puxo para o canto, sentindo a raiva borbulhar dentro de mim.
— Que merda você está fazendo, Philippa? Ficou maluca,
porra?
Não controlo meus sentimentos e despejo-os todos no colo
dela.
Foda-se.
Quero que a porra desse mundo inteiro se exploda se isso
quer dizer que vou mantê-la a salva.
A desgraçada em questão não parece nem um pouco
intimidada pela minha postura — uma mistura de preocupação, raiva
e medo.
Pippa inclina a cabeça, os olhos verdes fixos nos meus.
Contudo, o seu olhar transmite… um desafio. A única semelhança é
a intensidade.
O que quer que ela esteja sentindo por mim nesse instante, é
tão forte como o que eu sinto por ela.
É palpável a tensão entre nós, ainda mais porque meus dedos
continuam ao redor do seu braço e ela não faz nenhuma menção de
se afastar ou reclamar.
Então, para completar o pacote, um dos cantos de seus lábios
se elevam e ela mordisca o inferior, sem desviar as íris das minhas.
O verde esmeralda brilha em adrenalina.
— Você não deveria estar se perguntando o que Serena está
fazendo? Deixou ela sozinha aqui? — Provoca, o veneno escorrendo
pelo seu queixo.
Ah, aí está a razão de toda essa cena.
Ciúmes.
Inveja, talvez? Porque me parece que ela queria estar no
lugar da sua companheira de time.
Raiva.
E a cereja do bolo: o orgulho ferido, tal como estou me
sentindo agora, ao vê-la quase entrando naquela merda de globo
com outra pessoa.
— É melhor se controlar, Pippa, ou as pessoas não vão
entender direito porque minha irmã está com ciúmes de mim —
respondo à altura, mais uma vez, pouco me fodendo para as
pessoas por perto.
Que todos saibam o quanto nós dois nos desejamos, mesmo
sendo errado.
Pippa está prestes a dar uma respostinha atrevida, porém,
somos interrompidos com um grito vindo de perto da esfera
gradeada a alguns metros.
ÊÉ Ó
— PHILIPPA CALDWELL! VOCÊ É A PRÓXIMA!
Meu sangue gela e desvio os olhos rapidamente, vendo o cara
com a moto pronto para entrar no globo.
Ela arranca o pulso do meu agarre em seguida, antes de
retrucar:
— Eu não sou sua irmã, porra. Você é filho do meu padrasto,
apenas. Ponto final — o sorriso que se forma em sua boca não passa
despercebido por mim. — Agora, se me der licença, eu tenho um
compromisso.
Com o sorriso ainda pendurado nos lábios, ela me dá as
costas e faz seu caminho até o globo da morte.
Puta que pariu! Que mulher insuportável do caralho!
Não penso muito quando a sigo, e antes que esse zé ninguém
em cima da moto possa entrar junto com ela e colocá-la em perigo,
eu paro em frente a ele, e apoio as duas mãos no guidão.
— Sai — ordeno. — Eu vou com ela.
O cara retira o capacete, com a testa franzida, alternando o
olhar entre eu e o organizador ao nosso lado.
— Ele não pode fazer isso. Pode? — Pergunta ao outro cara,
que dá de ombros.
— Ele já participou uma vez. Se você quiser que ele vá no seu
lugar…
Mesmo se ele desse uma resposta negativa, eu daria um jeito
de fazer isso acontecer ou tirá-la de lá pelos cabelos.
— Sai — mando mais uma vez e o garoto segue sentado na
porra da moto. Porra. — Você é surdo? Eu mandei você sair, caralho!
O desgraçado solta um risinho, e começa a erguer o capacete
para vesti-lo novamente.
— Você não manda aqui.
Tiro a merda do acessório das duas mãos e arremesso do
outro lado do gramado, assustando algumas pessoas que estão ao
nosso redor, incluindo Knox, Kevin e Brad.
Eu deveria me importar que meus amigos estão vendo eu
perder todo o controle por conta de Pippa, quando, na frente deles,
eu a detesto?
Talvez.
Mas, nesse momento, tudo que me importa é a segurança
dela.
E se eu tiver que garantir isso entrando nessa merda de
provocação que ela está inventando, que seja.
Eu faço.
— Ou voce sai dessa moto agora, porra, ou eu vou quebrar a
sua cara toda — ameaço, até calmo demais para essa situação de
merda.
Já deveria ter quebrado o nariz desse moleque.
— É melhor você sair — dessa vez, quem diz isso não sou,
mas sim, Kev, que não notei ter se aproximado. — Ou nós — ele faz
um gesto com a cabeça, apontando para trás, e acredito que esteja
mostrando Knox e Brad, dois jogadores de hóquei gigantes, que
parecem uma muralha. — Vamos fazer você sair.
Felizmente, agora dá certo e o garoto pula do assento,
amedrontado, correndo para o outro lado da festa.
— Valeu — agradeço a Kevin, lhe lançando um meio sorriso.
Ele dá de ombros, o canto dos lábios se subindo quando faz
isso.
— Vai atrás da sua garota.
Empurro-o com o ombro, de leve, antes de subir na moto e
entrar pela portinha gradeada da esfera.
E por eu estar sem capacete, Pippa logo me vê e reconhece
que quem quer que seja aquele moleque, não está aqui.
— Não era para você estar aqui — ela rosna, do meio do
globo.
Dessa vez, eu sorrio para ela.
— Bem, nem você, mas está do mesmo jeito — retruco, de
saco cheio dessa garotinha mimada de merda.
Ela bufa, parecendo bem puta.
Que pena, irmãzinha.
— Eu quero sair — anuncia e eu dou de ombros.
— Não tem mais jeito — e antes que ela possa sequer se
mover, eu acelero a moto, aliviado por ser um modelo que conheço
e sei que não terei problemas. Ela se sobressai com o som alto,

É
dando um passo para trás. — É melhor ficar paradinha, se não
quiser ser atingida.
Ela engole em seco e noto quando sua expressão se
transforma em medo.
Eu nunca colocaria a vida de Pippa em risco, muito menos a
machucaria.
É uma ameaça falsa, mas se isso vai fazê-la ficar quieta para
acabarmos logo, que seja.
Sem demorar mais, acelero a moto mais uma vez e começo a
andar pelo globo, devagar em um primeiro momento.
Noto as luzes piscando do lado de fora, assim com a música
alta. O cheiro de óleo de carro é um pouco enjoativo, mas misturado
com o das garrafas de destilados e cerveja barato, se torna um
acalento para mim.
Consigo ver meus amigos do lado de fora, atentos para o que
acontece aqui dentro.
Kevin é um das antigas, mas sei que a lealdade de Knox e
Brad é direcionada mais a Pippa do que a mim.
Eles me matariam se eu deixasse algo acontecer com ela aqui
dentro.
Desvio os olhos novamente para ela.
Pippa está com os braços cruzados e os olhos fechados. Ela
está vestindo apenas um top preto, com a barriga totalmente de
fora, uma saia curta e uma jaqueta preta por cima, aberta, não
ajudando nada no frio de dez graus que está fazendo essa noite. Os
fios loiros foram presos em um coque no alto da cabeça e as botas
chegam quase aos joelhos, deixando a pele das coxas muito
expostas. Ela está nervosa, dá para ver.
Ou talvez seja só a teimosia dela em subestimar a porra da
temperatura da cidade que ela mora há mais de dez anos.
O rugido da moto ajuda a deixá-la assustada, fazendo o chão
sob seus pés tremer.
Eu não deveria gostar tanto de despertar esses sentimentos
nela, mas eu gosto.
Principalmente nesse momento, depois de eu ter dito
inúmeras vezes para ela não fazer isso.
Teimosa do cacete.
Continuo a dar voltas na esfera, cada vez mais rápido.
Ainda estou distante dela, mas não vou ficar durante muito
mais tempo.
Sinto a adrenalina queimar no meu sangue.
A moto não é só mais um veículo de locomoção para mim, é
como uma extensão do meu corpo.
Foi trabalhar nela que me salvou quando a relação com meu
pai se deteriorava a cada dia e eu ainda tinha que continuar
visitando-o, vendo-o imensamente feliz com a nova família.
Devo tudo a Kevin e Patrick e o que eles me proporcionaram.
O amor à mecânica, mais especificamente, às motos.
A escolha de engenharia mecânica não foi a toa, afinal.
Acelero a moto de novo, descendo-a pela globo.
Pippa abre os olhos, de repente, e nossos olhares se
encontram.
Ela está arrepiada.
Consigo ver os pelinhos loiros para cima e, bem, sua cara
também entrega muita coisa.
Quando completo a volta e estou mais perto dela, reduzo um
pouco a velocidade para que eu consiga provocá-la.
— Está com frio ou excitada, irmãzinha? — Grito para que ela
possa entender por cima da música e o som das rodas nas grades
metálicas.
Há tanto barulho que duvido que alguém fora daqui nos ouça.
— Você é maluco! — Rebate, gritando de volta e girando o
corpo para me acompanhar. — Asher!
Solto uma risada, adorando tudo isso aqui.
Dou mais uma volta completa na esfera, e na seguinte, eu
fico a poucos metros de Pippa.
O suficiente para acariciá-la quando a moto passou por trás
de sua figura tão pequena aqui dentro.
Passo os dedos gelados pela sua cintura e ela se sobressai
sob meu toque.
Ah, Pippa.
Repito o movimento.
Faço uma volta completa, o motor rugindo e as rodas
estalando na esfera, passando por trás de Pippa.
— Relaxa, Pippa — aconselho, deslizando minha mão pela sua
cintura rapidamente mais uma vez.
E dessa vez, posso jurar que o medo foi substituído por outra
emoção.
Tesão.
Ela está adorando esse cenário.
A adrenalina de estar aqui dentro, sabendo que eu estou no
controle.
A imprevisibilidade do que pode acontecer.
Ser observada pelas outras pessoas, estando bem ciente que
os olhos cintilam de desejo por mim.
Pelo cara que ela odeia.
Pelo enteado da sua mãe.
Pelo seu irmão postiço.
Pippa pode mentir o quanto quiser para si mesma, mas eu sei
o quanto isso a deixa excitada.
Dou mais algumas voltas no globo, me sentindo eufórico
agora.
Gosto de desafiá-la, de fazê-la chegar em seus limites.
Mais ainda, gosto de ser o único a ter esse poder sobre ela.
Aos poucos, reduzo a velocidade da moto, ouvindo o sinal
para terminar essa sessão, vindo do lado de fora.
Quando a moto finalmente para, estou à frente de Pippa.
Os olhos verdes estão cravados nos meus e as mãos fechadas
em punhos.
Bem brava.
— Você é insano — cospe, apontando o dedo na minha
direção. — Eu poderia ter morrido aqui dentro.
Arqueio uma sobrancelha.
Ela acha que eu deixaria algo acontecer, mas aquele moleque
que ela nunca viu na vida, não?
— Você sabe que eu nunca deixaria nada acontecer com
você, Pippa. Não se faça desentendida. Você sabe o que está
acontecendo aqui.
Ela franze a testa, confusa, e noto que parece que todo o
álcool se esvaiu do seu sangue nos poucos minutos dentro dessa
jaula.
Antes que ela possa insistir no que eu quis dizer, a porta é
aberta e eu sou o primeiro a sair.
Deixando-a sozinha no globo da morte após ter certeza que
não há mais nenhuma maneira de tirá-la do meu sistema.
Estou totalmente obcecado por Philippa Caldwell.

Não vou muito longe.


Apresso meu passo para longe do globo da morte e dos meus
amigos, que tentam falar comigo quando estou livre da esfera
metálica.
Preciso ficar sozinho.
Meu coração está acelerado.
A adrenalina ainda corre pelas minhas veias.
E Pippa… porra.
Tenho que colocar meus pensamentos no lugar.
Contudo, é claro que não é tão fácil assim.
Nada é fácil quando você está no mesmo ambiente que
Pippa.
— Asher! — Grita e ouço seus passos se aproximando,
correndo até mim. — Asher, espera!
Eu não espero.
Continuo andando para longe dali, para o bosque atrás do
terreno abandonado onde a festa é feita.
É
É claro que ela não desiste, continuando a vir atrás de mim.
Quando me dou conta que ela não vai parar, me viro
abruptamente, esbarrando com tudo em Pippa.
— O que você quer, porra? Não se rebelou o suficiente hoje?
Ela não se assusta com meu tom mais ríspido, como é de
esperar.
— Por que você fez aquilo? — Pergunta, cruzando os braços
quando o vento gelado bate em seu rosto, balançando os fios soltos
do coque. — Hein? Por que você não deixou que ele entrasse
comigo lá, e você fez isso?
Respiro fundo, passando as mãos ansiosamente pelo meu
cabelo.
— Você sabe o porquê, Pippa.
— Não, eu não sei, Asher — retruca, inclinando a cabeça para
me analisar. — Por que você se importa se eu poderia me machucar
ou não lá dentro? Huh? Por quê?
Caralho.
Ela só pode estar de sacanagem com a minha cara!
Dou um passo em sua direção, a ponta dos nossos sapatos se
tocando.
Ela ergue a cabeça, sem desviar os olhos dos meus.
Estamos a centímetros de distância.
É isso que nos separa agora.
Centímetros.
E toda a porra da tensão que há entre nós dois.
— Você quer saber o verdadeiro motivo, Pippa? — Pergunto,
baixo, encaixando uma mão em sua cintura e a outra, em sua nuca.
Ela não se intimida.
Ela se mantém firme, apenas descruzando os braços para
apoiá-los no meu peito.
— Eu quero. Por que você fez aquilo?
Arrasto uma mecha solta para trás da sua orelha, observando
o quanto ela é ainda mais linda de perto.
— Porque eu não suportaria se você se machucasse lá dentro,
Pippa. E eu sabia que seria um dos únicos capazes de fazer isso não
acontecer.
Ela assente, engolindo em seco.
E quando acho que ela se dará por vencida e irá embora, ela
insiste:
— Só por isso, Asher? Não por… por ciúmes? Porque você não
queria que eu terminasse a noite com aquele cara?
Por que ela colocou imagens dela e do moleque, juntos, na
cama, na porra da minha cabeça?
Já basta eu ter pesadelos com ela e Kevin dançando juntos
naquela noite, não preciso de mais munição.
Meu aperto em sua cintura e pescoço se intensifica, odiando
ter que vê-la com outro, mesmo que apenas hipoteticamente.
— Você não quer entrar nesse mérito comigo, acredite —
aviso.
— Eu quero — persiste no tópico. Porra. — Porque… porque
eu não gosto de vê-lo com Serena — admite, a contra gostoso.
Meu sorriso se alarga.
Não que eu não soubesse, mas é gostoso ouvi-la confessar.
— Não gosta, huh? — Repito, instigando-a. — E por isso você
acha que eu também não gosto de vê-la com outro cara?
Pippa não se abala.
— Ou tem outra razão? — Volta a bater na mesma tecla. —
Você dormiria bem essa noite sabendo que estou com outro, Asher?
Se eu voltasse para a festa agora, e fosse para casa com aquele
cara? Se ele me comesse tão bem que eu iria gozar forte e voltaria
para ma…
Foda-se.
Não deixo que ela termine sua historinha imaginária.
Eu a calo.
Reivindicando sua boca com a minha.
Não é uma surpresa quando o Pippa agarra o tecido da minha
camisa preta com força e parte os lábios, deixando que nossas
línguas se toquem.
E quando isso acontece, porra, meu corpo inteiro pega fogo.
É uma sensação única.
Um beijo diferente de todos os outros.
Ela me beija com volúpia, e eu devolvo na mesma
intensidade.
Desço uma das minhas mãos por sua coluna, chegando até a
bunda redonda que tanto sonhei apertar um dia, quando
estivéssemos exatamente nessa situação, e realizo meu sonho.
Aperto a carne, arrancando um gemido baixo de Pippa contra
minha boca.
É toda gasolina que preciso para fazer o motor dentro de mim
acelerar.
Empurro-a contra a superfície mais próxima — o tronco de
uma árvore — sem nos separar em nenhum momento.
Acho que estou viciado em Philippa Caldwell.
O beijo se torna mais urgente quando as costas dela batem
na madeira.
Ela passeia os dedos curiosos por todo meu corpo. Pescoço,
ombros, peitoral… tudo. Ela está me descobrindo, já que, da última
vez, foram seus olhos a me analisar somente.
Descolo minha boca da sua apenas para alcançar seu
pescoço. Rastejo meus lábios por ali. Lambo, beijo e mordo a pele
sensível dessa área do seu corpo. Os dedos dela chegam a minha
nuca e ela me segura por ali, sem querer que eu me afaste.
Eu não vou, querida, pode ter certeza que vou aproveitar meu
tempo com você.
Envolvo sua garganta, para mantê-la parada, e continuo me
divertindo por ali.
— Porra, Pippa — remsungo contra seu ouvido, puxando o
lóbulo da orelha entre os dentes. — Olha o que você está fazendo
comigo.
Para ilustrar, forço meu pau já duro contra seu ventre, e,
mesmo por cima da roupa, ela geme com o contato, abrindo mais as
pernas para que eu me encaixe ali.
Não há nada que eu mais queira do que comê-la aqui e agora
contra essa merda de árvore, sabendo que a festa continua rolando
ali atrás e qualquer pessoa pode aparecer a qualquer momento.
Quero que me vejam tomando-a e ela gritando meu nome de
prazer.
— Asher — geme, tão gostosa com a respiração errática e os
lábios vermelhos.
Tão minha.
Meu pau lateja dentro da calça, querendo sair para encontrar
as paredes quentes da boceta de Pippa.
Deslizo meus lábios pelo seu rosto, voltando a encontrar a
sua boca e beijá-la de forma selvagem de novo.
Me deliciando com o gosto dela.
Com uma das mãos em sua cintura, subo-a pela sua frente,
pela barriga exposta e arrepiada — de frio e tesão, eu imagino —
meus dedos se infiltram por dentro do cropped preto.
É claro que essa cretina está sem sutiã.
Agarro um dos peitos na mão, apertando a aréola entre dois
dedos e fazendo-a arfar.
— Asher, por favor, me…
O que quer que ela fosse dizer, não consegue concluir porque
somos surpreendidos com passos se aproximando.
Mais de uma pessoa, porque elas conversam entre si e é
possível ouvir o burburinho aumentando, conforme eles chegam
mais perto.
Eu não me importo com essa merda, mas assim que Pippa
nota que não estamos mais sozinhos, ela se separa abruptamente
de mim.
Abruptamente.
Ela se posiciona a, pelo menos, dois metros de distância.
Porra, estamos no escuro, nao há nenhuma merda de luz aqui
e ela está com medo que alguém nos veja?
Depois de me beijar como se não houvesse amanhã e
esfregar a boceta na minha coxa?
— Pippa? — É Knox, acompanhado de Kevin e creio que Brad,
pela ausência de luz aqui.
Ainda estou com o gosto dela na língua, caralho.
— E Asher — Kev anuncia, se divertindo em nos encontrar em
um lugar vazio, como se tivéssemos acabado de transar.
Nossas roupas estão amassadas, os lábios inchados e o
cabelo de Pippa está… um caos.
Acho que o soltei durante o beijo, mas não me lembro com
certeza.
Estava ocupado demais pensando em como eu iria colocar os
seios dela na boca, ali, por conta da nossa diferença gritante de
altura.
— O que vocês querem? — Pergunto, quase rosnando de
raiva, puto por eles terem acabado antes de sequer termos
começado, de fato.
O que ela ia me dizer, se não tivéssemos sido interrompidos?
— Estão procurando pela Pippa — Brad explica, coçando a
nuca de um jeito desconfortável. — Alguém do time de torcida está
vomitando o banheiro feminino inteiro e querem sua ajuda.
Os olhares de todos se voltam para a loira, mas é para mim
que ela olha primeiro, parecendo digerir tudo que acabou de
acontecer aqui.
Ela sustenta meu olhar durante poucos segundos antes de
desviá-lo.
— Eu… hã… eu vou indo, então. Obrigada, Brad — agradece
gentilmente o ruivo, com um pequeno sorriso e, antes que eu possa
impedir, ela já está caminhando de volta para a festa.
O silêncio se estabelece entre nós enquanto a observamos se
afastar do bosque.
E quando todos meus amigos voltam a olhar para mim, já sei
o que, principalmente Kevin e Knox, vão dizer.
Afinal, eles devem imaginar o que aconteceu depois de
termos saído às pressas do globo da morte.
— Nem uma palavra — aviso, também começando meu
caminho de volta à festa.
Nçao quero falar sobre o que acabou de acontecer até eu
entender de fato que porra acabou de acontecer.
Porque ainda está difícil de acreditar que eu e Pippa nos
beijamos.
Pareço estar delirando e eu mal bebi hoje.
Contudo, é lógico que não há respeito suficiente no mundo
entre eu e meus amigos quando se trata de zoar um ao outro.
Eles são o próprio “perco o amigo, mas não perco a piada”.
Por isso, não me choco quando ouço Knox dizer de trás de
mim, quando voltamos para o terreno abandonado:
— Então não é para dizer nenhuma palavra sobre você e sua
irmã postiça estarem quase se comendo na floresta atrás da festa?
Há tensão entre nós
Eu só quero ceder
E eu não me importo se estou perdoado
Neste momento, estou sem vergonha
Gritando meus pulmões por você
Não tenho medo de enfrentar isso
Eu preciso de você mais do que eu quero
Shameless | Camila Cabello

Minha cabeça dói como uma filha da puta.


Meu corpo parece ter sido atropelado por um caminhão em
alta velocidade.
Minha boca está seca.
Para ser mais sucinta: acho que estou morrendo.
A ressaca nunca me pegou tão forte assim.
Porque, dessa vez, não é a bebida que está batendo tão
intensamente assim.
É a ressaca moral do que eu me permiti fazer ontem.
O pior, é que nem posso culpar o álcool pelo rumo que aquela
festa tomou.
Quando segui Asher para fora dela e… e tudo aquilo
aconteceu, eu estava mais do que sóbria.
Toda bebida ingerida por mim tinha evaporado do meu
sangue no momento que o babaca começou a circular com a moto
na jaula gigantesca e eu tive certeza que não iria sair de lá viva.
Bem, eu saí.
Não apenas viva, mas confusa, com a adrenalina a mil — a
explicação para eu ter ido atrás dele, quando normalmente nunca
vou atrás de homem nenhum — e claro, muito, muito tesão.
Quem diria que uma experiência de quase morte deixaria a
outra pessoa tão gostosa?
Mais do que o habitual.
O pior, é que eu sei que teria cedido ainda mais se não
tivéssemos sido interrompidos, e, provavelmente, aberto minhas
pernas para Asher no meio das árvores com a chance de alguém
aparecer a qualquer instante.
Eu teria feito isso.
E adorado cada segundo.
Suspiro, sentando na cama com os olhos semiabertos, por
conta da cortina que esqueci de fechar na noite anterior e as frestas
do sol entrando no quarto pela janela.
Estou me preparando mentalmente — e fisicamente — para
descer e buscar um copo de água com um remédio para dor de
cabeça, quando, antes disso, procuro pelo meu celular e encontro-o
na mesinha de cabeceira.
Junto com a minha garrafinha de água térmica rosa e uma
cartela de comprimidos.
Eu trouxe isso ontem quando cheguei?
Não me lembro.
Depois que voltei para festa, após ter beijado o meu irmão
postiço, fui ajudar uma das meninas do time que estava passando
mal e chamamos um carro de aplicativo para ela e outras duas
garotas, que iriam acompanhá-la até os dormitórios. Então, com um
problema resolvido e o outro com os olhos fixos em mim o restante
inteiro da festa, eu sabia que só havia uma solução.
Beber mais.
E foi o que eu fiz.
Enchi a cara.
Tentei, na verdade.
Assim que comecei a sentir meu estômago embrulhar e me
toquei que minhas amigas mais próximas não estavam presentes,
parei imediatamente.
Não iria passar vergonha na frente do meu time de líderes de
torcida, ainda mais sozinha.
Contudo, se contássemos tudo que bebi durante a festa
inteira… foram muitos destilados.
E só Deus sabe o quanto eles me deixam com ressaca e a
cabeça martelando no dia seguinte.
Engulo um comprimido, ainda estranhando eu ter feito isso
quando cheguei de madrugada, e me levanto da cama, sentindo o
meu corpo inteiro doer.
Céus, eu esqueci o que era ser uma jovem universitária e
beber até o fígado pedir ajuda.
Mesmo assim, me forço a ir até o banheiro do meu quarto.
Fecho a porta e ligo o chuveiro, tirando o pijama, enquanto
espero a água esquentar.
Quando isso acontece, me enfio debaixo da ducha e lavo não
só meu cabelo nojento e meu corpo suado, como também minha
dignidade.
Ou nesse caso, a falta dela.
Acredito que fico por volta dos trinta minutos no box, apenas
pensando em todas as escolhas erradas que já tomei na vida e
deixando a máscara hidratante agir mais que o necessário.
Quando finalmente me sinto limpa o suficiente, me enrolo na
toalha branca e passo um protetor térmico e leave-in nos fios loiros,
antes de voltar para meu quarto.
Logo que abro a porta, tenho a porra de um dos maiores
sustos da minha vida.
— Caralho, Emma! — Exclamo quando a encontro sentada na
minha cama, mexendo distraída no celular.
Minha melhor amiga ergue a cabeça, o cenho franzido, e solta
uma risadinha quando percebe meu estado.
Não só porque acabei de sair do banho, mas pela expressão
de espanto em meu rosto.
— Sua mãe me deixou subir — conta, se ajeitando na cama
de casal como se fosse sua.
Em está vestindo roupas casuais neste domingo: um conjunto
de tricot cinza, composto por um suéter e uma calça flare.
Assinto, ainda confusa da sua presença aqui, mas decido me
vestir antes de entender o que ela veio fazer na minha casa.
Por isso, sigo até meu closet, onde desenrolo a toalha do
corpo e passo meus produtos. Hidratante corporal, desodorante,
produtos de skincare, escovo o cabelo… e por último, claro, um
perfume.
Estou vestindo o meu short de moletom off-white, após
colocar um moletom cinza qualquer pela minha cabeça, quando
ouço os passos de Emma se aproximando da porta.
— Você esqueceu, não foi? — Pergunta e eu ergo a cabeça,
encarando-a pelo espelho de corpo inteiro.
— Hum… esqueci — admito, sem encontrar motivos para
mentir para a garota escorada no batente da porta, de braços
cruzados.
Ela revira os olhos, antes de adentrar de fato o cômodo.
— Combinamos de assistir o jogo da Syd e da Brooke juntas
— conta e eu inclino a cabeça, ainda confusa.
Quer dizer, eu sei que há o jogo de hóquei delas hoje, a
algumas horas daqui — já que foi por isso que Brooke não pode ir a
festa — e ele vai ser transmitido em um canal universitário de
hóquei feminino no Youtube, mas…
— Não era só às duas da tarde?
Emma arregala os olhos, ambas as sobrancelhas erguidas
agora.
Sua melhor expressão de “você não pode estar falando sério,
Pippa”.
— Amiga, são duas e quinze — diz, tocando a tela do celular
para me mostrar o horário.
Puta que pariu.
Eu dormi tudo isso?
Para mim, mal tive duas horas de sono.
— Você está péssima — declara, dando voz aos meus
pensamentos e eu arqueio uma sobrancelha, dando um laço no
cordão ajustável da peça. — Ah, você sabe que é verdade, Pippa.
Parece que foi atropelada por um caminhão.
— Quem precisa de um inimigo quando se tem uma melhor
amiga assim? — Brinco, abrindo um sorriso.
Emma dá de ombros, sentando-se no puff do canto enquanto
procura por uma meia na gaveta.
— Não acredito que você foi na festa ontem sem a gente —
comenta, e eu a olho por cima do ombro.
— Eu convidei vocês — relembro-a. — Vocês não quiseram ir.
Ela acena com a cabeça, brincando com uma mecha do
cabelo escuro.
— E como foi?
Bato a gaveta com força demais quando ela solta a pergunta.
Merda.
Odeio mentir.
Mais ainda: odeio não dizer a verdade para minha melhor
amiga.
E, caramba, é a Emma!
Ela me conhece há uma década.
É lógico que ela sabe quando aconteceu alguma coisa, às
vezes, antes até de mim.
Em um ranking de pessoas que mais me conhecem, ela está
logo atrás da minha mãe.
— Que merda você fez, Philippa? — Questiona quando
voltamos para o quarto e estremeço.
Viu?
Eu nem preciso dizer nada e ela já sabe que algo aconteceu.
É impossível esconder alguma coisa de Emma!
— Eu beijei uma pessoa ontem — confesso, sentando-me na
cadeira oval transparente, estilo anos 2000m do meu quarto.
Em escolhe a cadeira da escrivaninha, de rodinhas, e a
empurra para perto de mim.
— Quem você beijou?
Faço uma careta, escondendo as costas no almofada felpuda
atrás de mim e foco meus olhos em qualquer lugar que não seja
minha melhor amiga.
Não quero ver a cara de reprovação quando ela souber.
— Asher — admito de uma vez, rápido, como se tivesse
tirando o curativo do machucado.
Que doa tudo de uma vez só.
Emma demora exatos quatro segundos para digerir a nova
informação.
Eu conto.
— Você o quê?
Ela empurra a cadeira até o lado da minha e sou quase
obrigada a levantar meu rosto para encará-la.
Não é uma surpresa quando encontro sua expressão de
completo choque estampada ali.
— Olha, aconteceu, tá legal?
— Aconteceu? — Repete, cruzando os braços, bem indignada.
— Você simplesmente aconteceu de tropeçar e cair com a boca na
do cara que você odeia há anos e que fez da sua vida um inferno,
todas as vezes que estiveram no mesmo ambiente?
Ela colocando desse jeito…
Porra, como fui tão idiota?
Isso porque Emma não sabe do que aconteceu no bar ou aqui
em casa, há alguns dias.
Ela com certeza teria me dado um sermão gigantesco por
tamanha estupidez.
Mas ela não está errada, está?
Eu fui mesmo burra, cedendo logo para Asher Blakewood.
Tenho certeza que para ele, isso não passa de mais um
joguinho e estou perto de perder.
— Não vai acontecer de novo — prometo.
Ela estreita os olhos na minha direção, nada convencida.
— Você está dizendo para mim ou para si mesma? Porque eu
lembro muito bem de quando você tinha uma quedinha por ele.
— Já superei — falo, fazendo o meu melhor para soar firme.
Eu não gosto de Asher.
Digo, ele é gostoso e tem um pau grande, grosso na medida
certa, delicioso de se chupar? Além de, obviamente, ter dedos
mágicos que quase me levaram ao ápice de um orgasmo em poucos
minutos? E também foi o melhor beijo que já dei na vida?
Sim para todas as respostas, porém, ele, como pessoa, pela
sua personalidade… não.
Nada disso.
Não gosto do seu interior.
Apenas do seu exterior, mais precisamente, durante os
momentos íntimos que compartilhamos.
— Você pode fazer o que quiser, amiga — diz, segurando
minha mão. — Eu só… me preocupo com você, entende? Vocês dois
tem uma história. Passaram mais da metade das suas vidas se
odiando, e, de repente, estão quase se comendo pelos cantos —
quero corrigi-la, mas ela é mais rápida. — Nem vem. O beijo pode
ter sido uma surpresa, mas os olhares que vocês dirigem um para o
outro quando pensam que ninguém está olhando? Garota… se ele
fosse qualquer outro cara, diria para você levá-la direto para o
quarto.
— Mas ele não é.
Ele é Asher Blakewood.
Meu irmão postiço.
O cara que me odeia sem motivo plausível há anos e nunca
tentou esconder isso.
Passamos grande parte do nosso tempo tentando atingir o
calo um do outro, vivendo em mundo de provocações e joguinhos
nada saudáveis.
Ele, definitivamente, não é um cara qualquer para mim.
Emma concorda comigo porque assente, forçando um sorriso
de lado.
— Não, ele não é — repete. — E, olha, acho mesmo que você
deveria transar e aproveitar nossos anos na faculdade, só… não
precisa ser com ele, não é? Claro, o sexo com o ódio deve ser
fantastico — a imagem de Asher por cima de mim, metendo duro e
rapido na minha boceta, com sua expressao de raiva e… — Pare de
pensar nisso!
Pisco, empurrando esse cenário hipotético para longe da
minha mente.
Por mais interessante que pareça.
— Foi mal.
Em suspira, apertando meus dedos.
— O que estou querendo dizer, Pippa, é que você é livre para
tomar suas próprias decisões. Quer dar para ele? Vai em frente! Mas
eu, como sua melhor amiga, e pessoa que acompanha essa
dinâmica de vocês há anos, aconselharia você a se afastar, porque
não quero te ver machucada. E tenho um pressentimento que é isso
que vai acontecer se vocês levarem… seja lá o que esteja rolando
entre vocês, para frente.
Emma está certa.
Foi ótimo o que aconteceu entre a gente, porém, eu sei, lá no
fundo, eu sei que não é nada sério e não vamos chegar em lugar
nenhum.
Para Asher, é apenas um jogo.
Ele quer me provocar até o meu limite.
Ver até onde eu consigo aguentar.
E se ele conseguir isso, sua jogada final será causar danos
irreparáveis em mim.
Se eu não der um chega nessa situação entre nós dois, não
tenho dúvidas que vou ser danificada por Asher Blakewood.
Mesmo que seja errado, querido
Minha garota
Você me quer dentro dele, me implore para entrar
Sabendo que nunca deveríamos ter nos conhecido
Garota, quando você monta, vejo você decidir
Não diga aquelas palavras das quais você se arrependerá
Querida, posso dizer que você acha que sou a pessoa certa para
você
Eu já sei que não é verdade, mas garota, vou mentir para você
Double Fantasy | The Weeknd

Se eu acreditei, por um segundo sequer, que beijar Philippa


Caldwell uma vez resolveria todos os meus problemas, eu com
certeza não estava pensando direito.
Porque estou há dois dias completos revivendo o nosso
momento naquele bosque sem parar.
Como as nossas línguas dançaram em sintonia.
Na sua pele arrepiada sob meus dedos cálidos.
Nos gemidos que ela soltava contra minha boca.
No ponto sensível atrás da sua orelha que a fez arrancar
sangue da minha nuca com suas unhas, quando a beijei.
Em seus seios duros sob meu toque.
Porra, absolutamente tudo.
Se a desgraçada já estava infiltrada nos meus pensamentos
antes, agora… nem se diga.
Contudo, esse não é nem o problema no momento.
Porque Pippa simplesmente decidiu que me evitaria depois do
nosso beijo.
Hoje é segunda-feira, pouco depois das cinco da tarde, e não
nos vimos desde sábado.
Desde quando pedi para Brad levar minha moto embora
enquanto eu levava ela bêbada para casa de táxi. Logo que
entramos no carro, ela adormeceu no meu ombro e tive que
carregá-la para dentro de casam fazendo o máximo de silêncio
possível, para não acordar meu pai ou Victoria, colocá-la na cama.
Além disso, ainda busquei sua garrafa de água e uma cartela de
comprimidos para dor — porque com certeza ela acordou com uma
baita ressaca.
Quer dizer, acho que acordou.
Não faço ideia do que aconteceu com Pippa desde aquela
madrugada porque ela está fazendo de tudo para nossos caminhos
não se cruzarem.
Estava, porque ela não terá como fugir de mim mais.
É por essa razão que estou esperando-a na saída do campo
de futebol, onde o treino de líderes de torcida está acontecendo —
terminando — nesse momento.
Estou escorado na minha moto, do outro lado da rua, e
aproveito para acender um cigarro.
Para ser honesto, venho tentando parar, contudo, quando
estou nervoso, ainda não consigo resistir a vontade e preciso dar
algumas tragadas para relaxar.
E estou bem nervoso enquanto aguardo a saída dela.
Um pouco também porque não quero ver a Serena Anderson.
Depois da festa, felizmente, ela se tocou que eu não estava
afim e não entrou mais contato.
Ainda.
Porque só Deus sabe o quanto aquela garota é maluca.
Meus devaneios desaparecem quando ergo os olhos e vejo
algumas meninas saindo pelo portão de ferro, todas com casacos e
pesados por cima do uniforme verde, branco e dourado do time.
Ainda estamos no fim de setembro, tecnicamente no fim do verão,
mas as temperaturas outonais já estão começando a dar as caras.
Não demora muito para eu veja Pippa, acompanhada de
Emma, aparecer.
Os cabelos loiros estão presos em um rabo de cavalo, e a
contrario das companheiras de time, ela esta com o vestido sem
mangas do uniforme e sem a porra de um casaco.
Não é possível que ela não tenha um neurônio funcional
naquela cabeça bonita.
Continuo observando-a de longe, se despedindo da amiga,
que entra no carro dirigido por Sydney. As pessoas vão se
dispersando aos poucos e quando decido anunciar minha presença,
antes mesmo de eu desencostar o pé da moto, um carro estaciona
do outro lado e Pippa… porra, Pippa vai ate la e se agacha para
conversar com o cara atrás do volante.
Que merda é essa?
Não é nenhum dos nossos amigos em comum, concluo,
quando sou movido pelas minhas emoções — um ato muito comum
desde quando cheguei aqui — e caminho para perto deles, a raiva
pulsando nas minhas veias.
Ou ciúmes.
Que se foda.
Apenas sei que eu vim aqui atrás dela e esse cara pode ir se
foder se acha que ela vai sair com ele daqui hoje.
— Precisamos conversar — digo, chegando por trás dela.
Pippa se sobressai e o sorriso que antes lançava para o cara,
se fecha quando gira nos calcanhares e nota que sou eu.
— O que você está fazendo aqui, Asher? — Pergunta,
cautelosamente, alternando o olhar entre eu e o tal cara do carro.
Esquisito.
Ela está sendo minimamente educada comigo.
O que provavelmente quer dizer que esse cara, seja lá quem
ele for, não sabe de nada.
— Nós precisamos conversar — repito, guardando aquela
informação para mais tarde. — Vamos? — Aponto com a cabeça
para minha moto do outro lado.
Ela segue meu olhar e depois volta a me encarar.
A testa franzida, confusa.
Você me deixa assim o tempo todo, irmãzinha.
— Eu não posso — responde, ainda calma, como se fossemos
realmente dois meio-irmãos conversando. — Tenho um compromisso
com o Owen.
Ela sorri para o motorista — Owen — do carro.
Ele me cumprimenta com um gesto e um sorriso simpático,
mas estou pouco me fodendo para essa merda.
— E aí — o cara diz e eu decido ignorá-lo.
Compromisso?
É assim que as pessoas de Edmonton chamam sexo agora?
Porque não tenho dúvidas que é isso que ela estava
planejando fazer com esse mauricinho aqui.
— Cancele — quase rosno, ordenando. — Porque precisamos
conversar, Philippa.
Ela engole em seco, sem saber o que fazer.
Ela não quer dar o braço a torcer, mas também não quer
fazer um chilique aqui, na frente desse tal Owen.
O cara não deve fazer ideia de quem é a verdadeira Pippa
Caldwell, se ela se segura tanto assim perto dele.
Ou seja, um babaca que não a merece.
Não que eu mereça, mas… esse não é o caso agora.
— Eu não posso — ela diz, forçando um sorriso na minha
direção. — Podemos conversar em casa? — Indaga, mas antes que
eu possa arrancá-la para longe daqui, completa: — Ah! Owen, esse
é meu… hum… filho do Zach. Asher, esse é Owen.
Ah, puta que pariu!
Por que ela esta me apresentando a esse garoto, porra?
Não estou nem aí para esse merda.
— Philippa. Vamos. Agora — digo, e para enfatizar que estou
falando sério, agarro seu pulso e tento puxá-la para longe.
Em vão.
Ela mantém os pés no lugar, o rosto visualmente confuso.
Ela não faz ideia do que fazer.
Caralho, ela está com dúvidas entre eu e esse moleque?
Pelo amor de Deus.
— Ou você sobe naquela moto comigo agora, Pippa, ou eu
vou ter um grande prazer em contar para Owen e quem sabe,
nossos pais, como você fica uma gracinha de joelhos, me chupando
— ameaço em seu ouvido e ela fica rígida sob meu toque.
Eu não faria isso.
Não compartilharia a visão de Pippa — principalmente com
esse cara aleatório aqui — com ninguém, mas ela não me deu
escolha a não ser partir para a chantagem.
E não me surpreendo quando ela se desvencilhar do meu
toque, a expressão puta estampada em seu lindo rostinho, e se vira
para Owen, dizendo:
— Eu te ligo mais tarde, tudo bem? É que… surgiu uma
emergência familiar — mente, e eu poderia provocá-la mais e pegá-
la na mentira, mas não estou com saco para isso.
Só quero sair daqui com ela o mais rápido possível.
Se eu estava pensando em ter uma conversa tranquila com
Pippa, estava bem enganado.
— Sem problemas, Pippa. Vou sentir sua falta hoje — Owen
responde e eu controlo a vontade de socá-lo bem aqui.
Não seria nada mal estragar o narizinho arrebitado dele.
— Eu também. Até quarta-feira?
Ele acena, ligando o carro.
— Até! Tchau, Asher. Foi bom te conhecer.
Mais uma vez, apenas ignoro e agradeço mentalmente
quando o carro dele some pela rua atrás do campo.
Quando isso acontece, Pippa se vira de frente para mim,
porém, não deixo que comece com o seu showzinho.
Nao esotu nem um pouco afim disso, depois de tê-la quase
perdido para uma transa sem graça com aquele moleque esquisito.
— Você vai pegar essa jaqueta — retiro a que estou vestindo
e jogo-a em seus braços. — E vesti-la, assim como o capacete.
Então você vai subir na garupa da moto, Pippa, em silêncio, e vamos
conversar quando chegarmos. Estamos entendidos?
— Mas eu…
— Não — interrompo-a, sua feição de raiva me deixando com
ainda mais tesão, porque eu adoro vê-la irritada. — Você vai fazer
isso ou eu vou fazer o que prometi, e contar tudo para nossos pais.
Você não quer isso, irmãzinha, ou quer?
É quase possível ver a fumaça escapando das suas narinas,
como se ela fosse capaz de cuspir fogo em cima de mim a qualquer
momento.
Mesmo assim, ela sabe que não estou de brincadeira e,
batendo os pés, segue até minha moto do outro lado.
Só sinto a onda de alívio chegar quando os braços de Pippa
estão ao meu redor e eu dou partida, nos levando até nosso destino.

— O que estamos fazendo aqui, Asher? — Pippa pergunta


assim que estaciono a moto na entrada do terreno abandonado que
conhecemos tão bem.
Calmamente, eu a ajudo a tirar o capacete e penduro ambos
no guidão da moto, antes de sacar a chave do bolso da calça e abrir
o portão de ferro do local.
Aparentemente, Brad conhece um cara que conhece um cara
e não foi difícil conseguir acesso durante o fim da tarde desta
segunda-feira.
Eu não respondo, apenas caminho até a entrada e abro,
esperando que Pippa entre.
É claro que a teimosia em pessoa não facilitaria para cima de
mim.
— Não vai me dizer o que estamos fazendo aqui? — Volta a
perguntar, parando ao meu lado, ainda do lado de fora. — O que foi,
é o tratamento do silêncio agora? Quantos anos você tem?
Eu bufo, impaciente, e empurro-a delicadamente para dentro,
trancando o portão atrás de nós dois.
Mesmo vestindo a minha jaqueta — que, diga-se de
passagem, fica gigante nela —, Pippa ainda está com frio. Os braços
cruzados e os pelinhos loiros da coxa me confirmam isso.
É melhor sermos rápidos, então, ou ela vai acabar pegando
um resfriado nesse tempo, com essas roupas curtas.
— Você vai falar alguma coisa ou vou ter que tentar adivinhar
que merda viemos fazer aqui? — Pergunta, se colocando na minha
frente enquanto ando pelo gramado e preciso parar para não
atropelá-la.
— Você fala demais — é o que respondo e ela abre a boca,
surpresa com o meu tom e com o que acabei de dizer.
Normalmente, gosto de quando Pippa me responde à altura,
com uma resposta engraçadinha na ponta da língua,
No entanto, nesse momento, estou irritado depois com os
acontecimentos dos últimos dias — especialmente a cena dela com
esse tal cara depois do treino.
Por isso, sem dar espaço para que ela pense demais, passo os
braços por trás dos seus joelhos e a jogo por cima do ombro, como
um saco de batata.
— Asher! — Resmunga, desferindo socos nas minhas costas.
— Me coloca no chão agora!
Não a obedeço, lógico.
Apenas continuo caminhando até o nosso destino final.
— Asher! Porra, me coloca no chão! Agora!
Abro o portão de ferro do globo da morte, ignorando as
mãozinhas nervosas de Pippa tentando me machucar, e, só a coloco,
de fato, no chão, quando tranco a portinhola atrás de nós.
Ela suspira, se dando conta de onde estamos.
— O que estamos fazendo aqui? Você está maluco, cacete?
Abra essa merda! — Ela tenta passar por mim e ir para a saída, mas
eu me ponho na sua frente.
— Nada disso. Vamos conversar.
Ela franze as sobrancelhas, ainda bem puta.
— Aqui?
Aceno positivamente com a cabeça, deixando que um sorriso
predador se forme nos meus lábios diante da expressão incrédula
estampada em sua face.
— Precisava de um lugar que você não pudesse fugir, Pippa —
conto, me aproximando dela. Ela se afasta. Eu me aproximo. E
ficamos nessa até que as costas dela batam na grade e ela não
tenha para onde fugir. — Agora, você me vai dizer por que está
fugindo de mim como o diabo foge da cruz, depois do nosso beijo?
E eu vou te mostrar se você deixar, garota
Não sei se você já sabe como
Mas garota, tenho a sensação de que você sabe agora
Você está enterrado no travesseiro, sim, você fala tão alto
Mas estou prestes a te mostrar, amor, vá devagar
Desacelere, desacelere
[...]
Estou queimando, sim, tudo que vejo é vermelho
Ela disse: "Foda-me como se eu fosse famosa"
Eu disse: "Tudo bem"
É duas caras, é tarde demais
Slow Down | Chase Atlantic

A respiração de Pippa está errática, descompassada.


Ela respira fundo, os músculos sobrecarregados de tensão.
Ela achou mesmo que eu fosse esquecer a porra do melhor
beijo da minha vida tão fácil assim?
Com certeza, não.
— Asher… só… só vamos esquecer isso, tá bom? — Pede,
parecendo cansada de lutar contra nossa atração.
Eu também estou.
No entanto, ao contrário de Pippa, tenho outros planos para
como lidar com a tensão palpável entre nós dois.
— Esquecer?
Ela assente, engolindo em seco.
— Nós dois tínhamos bebido. Cometemos um erro — declara
e eu cerro minhas mãos em punhos. Erro? — Eu me responsabilizo
por isso, ok? Eu fui atrás de você, afinal, e… e te pressionei. Pode
colocar essa na minha conta. Um ponto para Asher, menos um para
Pippa. Agora, já posso ir?
Ponto?
Que porra ela pensa que ta acontecendo aqui?
— Você acha que isso é um jogo? — Indago, prendendo-a
entre mim e a esfera metálica. Seguro sua cintura com uma das
mãos e, a outra, apoio na grade ao lado da sua cabeça.
Ela não tem para onde fugir.
— Eu sei que isso é só um jogo para você, Asher — diz, e há
tanta certeza em sua fala que, por um instante, até eu me pego
pensando se não é mesmo um jogo.
Mas não é.
Pode ter sido no início, quando queríamos nos provocar até o
talo e ver quem seria o primeiro a ceder, porém, não é mais.
Para mim, ao menos, deixou de ser há um bom tempo.
— Não é um jogo para mim, Pippa — admito e ela franze o
cenho, surpresa. — Deixou de ser um jogo quando eu tive meus
dedos dentro de você pela primeira vez e senti o calor da sua boceta
contra eles, irmãzinha. Quando você se ajoelhou e me mamou tão
incrivelmente que pensei na sua boca durante dias. Melhor ainda:
quando nos beijamos e eu pude provar o quão deliciosa você é —
arrasto uma mecha que se soltou do rabo de cavalo para atrás da
sua orelha e ela se arrepia quando a ponta dos meus dedos toca seu
pescoço desnudo. — Você é a única garota que eu penso há
semanas. A única que consome meus pensamentos a todo
momento. Todos os dias. O dia todo. Porra, Philippa, você… você tá
impreganda no meu sistema. Eu fui totalmente danificado por você,
para todas as outras. Só existe você para mim.
Nao sei de onde veio essa porra de declaração.
Não sei porque estou me esforçando tanto para provar que
daríamos muito certo juntos — na parte física somente, lógico.
Não sei o que estava pensando quando decidi trazê-la aqui.
Honestamente, Pippa me faz agir sem pensar e não é uma
novidade tão grande assim para mim.
A diferença é que agora consigo admitir.
Estou totalmente obcecado e louco por Philippa Caldwell.
Pela minha irmã postiça.
As íris verdes dela estão perdidas.
Ela me analisa.
Desde o meu rosto até minha postura, como se procurasse
algum detalhe que passou despercebido e deixe claro que estou
mentindo.
Ela não quer acreditar que estou sendo sincero.
— Está falando sério? — Finalmente dá voz aos pensamentos,
depois de passar quase um minuto em silêncio, ponderando. — Não
consegue deixar de pensar em mim?
Dessa vez, um sorriso arrogante toma conta da sua boca e
quero desmanchá-lo.
Cobrindo seus lábios com os meus.
— Não deixe seu ego inflar demais porque sei que não é
diferente com você. Que pensa em mim tanto quanto eu penso em
você, Pippa — deslizo a ponta dos dedos gelados por seu pescoço,
colo e volto a subir pela sua garganta, onde agarro-a. — Diga que
me quer.
O sorriso segue intacto em seu rosto.
Ela está adorando me ver confessando todo o efeito que tem
sobre mim,
— E se eu disser? O que vai fazer, Ash?
Ash.
Cacete, que delicia ouvir como meu apelido desliza tão
facilmente pela sua língua.
— Se você confessar que me deseja, Pippa, vou te comer
aqui e agora contra essa parede metálica — aviso, começando a
contar passo a passo do que vou fazer com ela. — Vou meter meu
pau tão forte em você, que ficará tão, tão dolorida, Pippa, que terei
que te carregar para casa e inventar uma desculpa esfarrapada para
nossos pais. Você vai continuar me sentindo dentro de você, depois
de dias. Vou te chupar também, mostrar como sou habilidoso com a
língua, assim como sou como meu pau e te farei ver estrelas. Eu vou
te destruir, irmãzinha, da melhor maneira possível.
Seus olhos lampejam de tesão.
Ela esfrega as coxas uma contra as outras.
Umedece os lábios.
E o sorriso, em seguida, se transforma devagar em outro.
Não é mais arrogância que vejo estampada em seu rosto.
É sensualidade.
Desejo.
Expectativa.
— O que está esperando?
Solto uma risada baixa com a língua afiada da loira.
É uma das qualidades que mais gosto nela.
— Você sabe o que estou esperando, Pippa.
Seus olhos não se desviam dos meus quando ela se
desencosta da grade e fica na ponta dos pés, agarrando com força
minha camisa. Continuo-a segurando pelo quadril, agora com as
duas mãos, e ela sobe com as unhas afiadas pelo meu peitoral, me
arranhando por cima do tecido, até chegar em minha mandíbula e
moldá-la.
Ela aproxima o rosto do meu, os lábios roçando nos meus, em
uma provocação lenta e dolorosa.
Uma promessa.
Então, as palavras que mais quero ouvir saem de seus lindos
lábios:
— Eu quero você, Asher.
No instante seguinte, esmago minha boca contra a dela,
segurando o seu rosto com ambas as mãos.
Porra, finalmente.
Prenso seu corpo contra a grade, deslizando minha língua
contra a dela quando os lábios se partem, me dando passagem.
Pippa tem gosto de hortelã e energético de pêssego —
reparei que é sempre o sabor que ela toma antes dos treinos da
equipe.
Se tornou minha nova combinação favorita a partir de agora.
O beijo nos consome.
É desesperado, uma punição por todo esse tempo que
lutamos contra isso, porém cedemos, dando razão aos nossos
desejos.
E eu a desejo tanto, porra.
Meus dedos afundam em seus cabelos, soltando o elástico
que prendia os fios loiros no alto da cabeça, e uso a outra mão para
desferir um tapa em sua bunda por baixo da saia curta do uniforme.
— Você fica uma delícia com essa roupa — sussurro contra
sua boca, antes de abandoná-la e dar atenção ao seu pescoço.
As unhas se infiltram por debaixo da minha blusa, arranhando
todo meu peitoral.
Não tenho dúvidas que vou sair marcado daqui. Bem, com a
força que ela faz isso quando sugo sua pele, deixando a minha
marca nela, há chances de arrancar sangue.
Que se foda.
Estou ocupado demais aproveitando o momento para me
importar com essa merda.
Pippa separa as pernas quando forço a minha ali e não
demora para que esteja se esfregando contra a minha coxa,
tentando se aliviar.
— Você deve estar pingando por mim — comento, rastejando
minha língua por toda a lateral da sua garganta.
— Quer ver? — Provoca, puxando com cuidado minha nuca
para trás, para que eu a encare.
Com um sorriso malicioso, ela não espera que eu responda
antes de enfiar uma das mãos dentro da calcinha e voltar com dois
dedos brilhando com sua excitação.
Agarro seu pulso e levo-os à boca, saboreando seu gosto.
Gostosa pra caralho.
Volto a beijá-la, capturando seus lábios nos meus e sentindo
meu coração disparar dentro do peito.
Beijar Philippa Caldwell se tornou meu novo hobby favorito.
Poderia passar horas com nossas bocas coladas uma na outra
e não cansaria.
Subo os dedos pelas suas coxas, contudo, mal chego à sua
virilha quando ela cessa meu movimento.
Confuso, me afasto novamente e ela está balançando a
cabeça de forma negativa.
— Sem preliminares, Ash — pede, e porra, não vou me
acostumar com ela usando meu apelido. — Preciso disso — ela
segura meu pau sobre o tecido da calça jeans — dentro de mim.
Se é ela quem quer assim…
— Ainda vou sentir seu gosto direto da fonte — prometo, lhe
roubando mais um beijo.
Deixo que seja Pippa comece a desabotoar minha calça e
descer meu zíper, liberando meu pau duro para fora.
Os olhos dela lampejam de tesão quando o vê, a cabeça
brilhando de pré gozo.
Ela sorri, satisfeita.
A mão habilidosa desce e sobe pela extensão, espalhando a
umidade, e eu fecho os olhos, não controlando o grunhido que me
escapa.
Já estou totalmente à mercê de Pippa e ela mal me tocou.
Como isso é possível?
Deixo que brinque com o membro enquanto tento tirar a
camisinha da carteira, no bolso traseiro da calça.
O que é uma tarefa muito difícil, visto que falta pouco para eu
gozar nas mãos de Pippa.
Cacete, eu quero muito, muito isso, mas… mas não agora.
Ela quer meu pau dentro dela?
Ela vai ter o que deseja.
Ela percebe o que estou segurando, logo após eu jogar a
carteira em um canto qualquer do globo, e pega a camisinha na
mão, abrindo o pacote laminado e encapuzando meu pau de uma
vez só.
Não quero pensar muito sobre como ela consegue fazer isso
tão rápido ou vou ser obrigado a sair daqui direto para a casa de
certos garotos de Edmonton.
Nunca achei que fosse ser um cara com ciúmes do passado
de alguém, mas, aparentemente, Pippa desperta muitos novos
sentimentos em mim.
Aproximo nossos rostos, sem beijá-la, apenas roçando nossos
lábios, quando ela termina. Subo os dedos mais uma vez por duas
coxas e arrasto a calcinha para o lado, me dando o espaço que
preciso para fazer o que tanto queremos.
Seguro meu pau pela base, esfregando-o lentamente por toda
entrada encharcada de Pippa.
Ela solta um gemido arrastado contra minha boca e eu tento
enviar um sinal ao meu pau pra ele não gozar.
Não quando ainda não estamos dentro dela.
— Pare de me provocar e entra logo dentro de mim — rosna
contra a minha boca, tentando se mover para cima de mim.
Seguro sua cintura, mantendo-a no lugar.
— Tem que pedir com jeitinho, Pippa — instruo, gostando da
ideia de vê-la implorar.
Ela revira os olhos verdes, cravando as unhas nos meus
ombros.
— Por favor, Ash, você po…
Seu pedido se perde quando meto com força dentro dela,
tudo de uma vez.
Pippa grita meu nome, suas paredes internas esmagando
meu pau; eu mordo seu lábio, engolindo seu grito.
Ela é tão apertada.
Volto a envolver sua garganta, querendo evitar que ela se
mexa e eu goze mais rápido do que quero na nossa primeira vez.
— Ash… por favor — suplica e, porra, não consigo dizer nao
para ela.
Não mais.
Por isso, começo a estocar meu pau em sua boceta.
Duro e rápido.
Forte e devagar.
Vou intercalando os movimentos, tentando lhe proporcionar
prazer também.
Ergo uma das suas pernas, envolvendo-a em meu quadril, e,
assim, consigo ir mais fundo.
— Meu Deus — geme quando estalo a palma da minha mão
com força na sua bunda mais uma vez, assim que a cabecinha do
meu pau atinge um lugar ainda mais profundo dentro dela.
— Deus não está aqui, Pippa, só eu — digo, voltando a
devorar seus lábios.
Meto dentro dela com força, tirando o meu membro inteiro e
colocando-o de novo.
O gemido alto reverbera por toda a esfera metálica.
— Ash — chama, abrindo os olhos eles encontrando os meus,
que nunca se desviaram dela, desde que — E-estou quase lá. Toque
meu clitóris.
Porra, tambem estou quase lá.
Obedeço a ordem de Pippa e meus dedos encontram seu
ponto sensível inchado, clamando por minha atenção.
Brinco com ele, estimulando-o e arrancando gemidos de
Pippa, que são como gasolina para minha moto.
Me instigando a chegar ao meu ápice.
Não paro de investir contra sua boceta, totalmente fora de
controle.
Noto quando a respiração de Pippa muda minimamente, e sei
que é porque está prestes a ser dominada pelo orgasmo.
Não tive a chance de vê-la assim da última vez, mas agora…
agora é meu momento.
Continuo a dar atenção a seu clitóris, segurando-a pela perna
enroscada ao meu redor.
As unhas de Pippa arranham minhas costas, por debaixo da
camisa, e eu rosno contra sua boca.
É… é mágico o que estamos fazendo aqui.
Nunca senti isso com ninguém antes.
É tão novo.
Gostoso.
Verdadeiro.
Ú
Único.
Então, de repente, o corpo de Pippa se contorce e
acompanha a descarga de prazer tomar conta dela.
As paredes escorregadias de sua boceta apertam meu pau,
querendo expulsa-lo, e é o que é preciso para despejar toda a minha
porra dentro da camisinha.
Juntos.
Porra, nós gozamos juntos.
Nossa respiração demora para se estabilizar.
Estamos ofegantes, deixando que a sensação inebriante do
orgasmo se acalme em nossos corpos.
Caralho, nunca gozei tão forte assim antes.
Os cabelos de Pippa grudam no rosto suado.
Sua bochechas estão vermelhas.
Os lábios estão inchados.
E há marcas em seu pescoço que sei que ficarão roxas mais
tarde, deixando claro que alguém — eu — esteve por aqui.
Não saio de dentro dela.
Aproveito o quentinho da sua boceta por um tempo.
Os olhos de Pippa seguem fixos nos meus e não dizemos
nada.
Não precisamos.
Tenho quase certeza que sei o que está se passando por sua
cabeça, porque há algo parecido acontecendo na minha mente
também.
Era para ser apenas uma transa, para tirarmos um ao outro
do nosso sistema e voltarmos a sermos os irmãos posticos que se
detestam e querem distância.
No entanto, é óbvio que não é isso que aconteceu.
Pelo contrário.
Já estou pensando na próxima vez e, pelo jeito que ela me
encara, mordiscando o lábio inferior e não fazendo menção de se
afastar, sei que também quer.
Fomos… explosivos juntos, como imaginava que seríamos.
Somos compatíveis ate demais no sexo e isso se tornaria um
problelma mais tarde, levando em consderação que o ódio ainda
existe entre nós dois.
Tesão e ódio.
Porra, transamos com raiva!
Mesmo assim, estou completamente viciado em Pippa
Caldwell e é visível que o sentimento é o mesmo.
Eu estava certo sobre o que eu disse mais cedo.
Pippa me danificou para todas as outras.
Eu estive pensando que seria melhor
Se não nos conhecêssemos
Então você vai e me faz sentir bem
Me fez pensar que seria melhor
Se não ficássemos juntos
Então você coloca as mãos na minha cintura
Eu sei que é muito ruim, ruim, ruim, ruim, ruim
Mexendo com minha cabeça, cabeça, cabeça, cabeça, cabeça
Nós deixamos um ao outro louco, louco, louco, louco, louco
Mas querido, é isso que nos torna bons na cama
Good in Bed | Dua Lipa

Se disessem a Philippa de alguns anos atras — principalmente


na época que a puberdade bateu para Asher e da noite para o dia
ele se tornou um grande gostoso — que ela iria ter o melhor sexo da
vida com seu irmão postiço que odeia na mesma medida que o acha
bonito, ela até acharia uma reviravolta interessante.
Contudo, se contassem isso a Philippa de alguns meses —
não, semanas — atrás, ela riria e diria que a pessoa em questão
perdeu o juízo e que isso nunca aconteceria.
Nem em um milhão de anos.
Porém, cá estamos nós.
Alguns dias depois de ter sido arrebentada — felizmente, no
bom sentido — transando com Asher Blakewood.
Ele me destruiu.
Não, ele destruiu todos os outros homens para mim.
Porque a química que tivemos enquanto ele metia forte
dentro de mim naquela gaiola de metal?
Nunca terei com mais ninguém nesse mundo inteiro e tenho
certeza disso.
O que aconteceu foi… explosivo.
Intenso.
Arrebatador.
Singular.
Todo o ódio que nutrimos um pelo outro nesses quase dez
anos?
Em algum momento se transformou em tesão, e há trêss
dias, descontamos tudo aquilo que acumulamos no nosso interior, no
sexo.
E, porra, ainda sinto minha vagina se contrair quando
somente penso no que fizemos.
Foi somente uma vez — porque inventei alguma desculpa
esfarrapada e implorei para que ele me levasse para casa, e
surpreendentemente, Asher fez sem reclamar ou puxar assunto
durante todo o percurso — e mesmo assim, sei que não vou superar
tão cedo.
É por isso que venho o evitando desde então.
Não que ele não esteja fazendo o mesmo também.
Se não nos esbarramos pela casa durante o fim de semana,
não foi um trabalho só meu. Asher passou os dois últimos dias
inteiros fora — e quero me matar por ter notado sua ausência.
Eu não esperava uma mensagem — afinal, não faço ideia se
ele tem meu número, porque eu não tenho o dele — ou que ele
viesse pessoalmente até mim para conversar sobre… sei lá, sobre o
sexo? Como agimos agora? Se foi bom? Um erro?
Se faremos de novo?
Não.
Eu com certeza não espero — ou quero — ter esse papo com
Asher.
Então por que estou puta por ele não ter me procurado?
— Você não está prestando um pingo de atenção no meu
grande problema — Brooke acusa e sua voz me puxa dos devaneios.
Dos devaneios sobre Asher Blakewood, que está sentado na
mesma mesa que estou nesse momento, exatamente na minha
frente.
Não preciso dizer que não ergui minha cabeça desde quando
ele chegou com sua bandeja de almoço, mantendo toda a minha
atenção na minha comida e na conversa das meninas.
Tentando, pelo visto, porque eu realmente não faço ideia do
que Brooke estava falando.
— Desculpa, não prestei mesmo — admito, lhe lançando um
sorriso de desculpas.
A ruiva revira os olhos, pegando uma das uvas verdes que
trouxe, enfiando-a na boca.
— Sabe a Summer Hathaway? Do meu time? — Indaga
quando termina de mastigar e eu assinto.
É uma das garotas mais próximas de Brooke, depois da
gente, lógico, e é simpática. Ela é loira, olhos verdes claros e a pele
branca bronzeada naturalmente por ter crescido em uma cidade à
beira da praia — não faço ideia da razão dela ter escolhido estudar
no Canadá, muito menos porque é do time de hóquei. Se fosse
chutar, acreditaria que ela estaria mais inclinada para natação… ou
qualquer esporte mais… a cara do verão.
As pessoas não são mesmo o que aparentam.
— O que tem?
Brooke olha de um lado para o outro, como se estivesse
checando que não há ninguém por perto para me contar, acho, esse
grande segredo. Os meninos estão entretidos no próprio papo,
Emma tirou o fim do almoço para estudar para uma prova e Sydney
digita freneticamente no celular — provavelmente falando com a
namorada, porque elas não aguentam dois minutos separadas.
— Depois do jogo no fim de semana, ela voltou de carona
comigo e Knox e…
Antes que ela possa concluir, interrompo-a, um pouco em
choque pelo que acabou de dizer.
— Espera… Knox foi no seu jogo? Em outra cidade? —
Pergunto, com as sobrancelhas franzidas. — Sozinho?
Elas não foram tão longe assim para jogar, mas ainda é…
estranho que ele tenha ido.
Ainda mais sem Bradley, pelo visto, julgando pela expressão
surpresa no rosto de Brooke e o olhar amedrontado que lança para o
irmão gêmeo do outro lado da mesa redonda.
— Sim, mas esse não é o ponto — diz, mudando de assunto
rapidamente, mas não vou esquecer tão facilmente que os flertes
inocentes entre os dois podem estar se tornando algo mais. — Nós
demos a carona de volta para Edmonton e sabe onde ela pediu para
deixarmos? Na casa de Brandon Calloway[8]!
Agora, minha boca escancara.
— O capitão do time de natação?
Brooke assente e eu preciso engolir um gritinho de surpresa.
— Não acredito! Eles estão juntos ou o quê?
Tento não me intrometer na vida — principalmente amorosa
— dos outros estudantes da faculdade, mas todos sabem da grande
treta que Summer e Brandon protagonizaram há alguns anos, no
primeiro semestre de ambos na universidade.
Caramba, eu sei, e nem estudava aqui ainda!
Eles tiveram uma treta muito feia e sempre que estão no
mesmo ambiente… o local pega fogo.
Summer é como o sol de meio dia de um verão calorento.
Brandon, por outro lado, é mais como uma brisa gelada após
uma noite de neve no inverno.
Opostos.
Não se dão nem um pouco bem.
— Não faço ideia. Ela não me disse e me fez prometer não
contar para ninguém — conta mesmo assim porque… bem,
contamos tudo uma para a outra.
Quase tudo, porque ela não sabe sobre Asher e eu.
E eu quero falar.
Preciso falar, na verdade. Compartilhar com alguém que não
vai arrancar minha cabeça fora — como Emma.
— Falando sobre não contar para ninguém… — começo, e
Brooke arregala os olhos, curiosa. — No fim de semana, eu e…
A voz de Kevin sobressai a minha e sou, sem querer, cortada
antes que eu consiga despejar as novidades no colo da minha
amiga.
— Você já fugiu demais do assunto, Ash — é o que ele diz e
meu olhar e o de Brooke se desviam para os garotos à nossa frente.
— A carne foi fraca, não é? Vai — ele bate o ombro contra o de
Asher. — Desembucha, cara! Estamos entre amigos.
— Amigos que guardam segredos — Knox reforça, parecendo
incentivar o amigo e até mesmo faz um gesto para parecer que ele
está selando a boca.
O que sabemos ser uma completa mentira.
O cara é o maior boca de sacola que já existiu na face da
terra.
As irises castanhas de Asher pousam durante alguns
segundos nas minhas, verdes.
Milésimos de segundos.
É tão rápido que penso ter imaginado.
— Por que a gente não fala sobre onde Knox estava no outro
fim de semana? Ele desapareceu no domingo — tenta mudar o foco
da conversa, mas é em vão.
— Nada disso — é Knox quem responde, Bradley e Kevin
acendendo, concordando com ele. — Não joga essa bola para mim.
Estamos falando de você agora.
— Ele tava jogando as bolas em outro lugar, Knox — por
incrível que pareça, é Brad quem solta a provocação.
Ele não costuma se deixar cair nas brincadeiras infantis dos
meninos, mas… é como eu estava pensando mais cedo: as pessoas
não são mesmo o que imaginamos.
— Só queremos saber se você está com a Serena ou é outra,
cara — Kevin fala e eu me endireito no banco, não gostando de
saber que eles acham que era com ela que Asher estava.
Mas você também não quer que saibam que vocês transaram.
Mesmo assim.
Não gosto da imagem de Asher e Serena que surge na minha
mente.
Tenho nojo.
Vontade de vomitar incontrolável.
Ele estava tendo um sexo do caralho comigo, não com ela.
Duvido que ela tenha o satisfeito tanto quanto eu.
Modéstia à parte, eu sei o quão boa sou na cama e se sei que
nossa química foi avassaladora, tenho certeza de que sentiu o
mesmo.
— Pela forma que ele chegou acabado em casa depois… Ela
sabia muito bem o que fazer para tirá-lo do eixo — Knox provoca,
subindo e descendo as sobrancelhas de um jeito engraçado.
Ou que seria engraçado se minha cabeça não tivesse se
voltado para um filme de Serena e Asher transando no globo da
morte.
Eca.
Por que estou imaginando essa porra?
— Nojento — Brooke dá voz aos meus pensamentos, fazendo
uma careta. — Tem mulheres aqui. Vocês não podem se comportar?
— Homens — Syd resmunga baixinho, sem tirar os olhos do
celular.
Os garotos acham graça, soltando uma risada, e eu sinto meu
estômago embrulhar quando Asher não dá uma desculpa, negando
que estava com ela.
Ele somente ri e fica feliz quando o tópico principal da
conversa não é mais ele.
— Por você, ruivinha? É só falar que eu obedeço — Knox
responde, segurando a mão dela, que descansa na mesa, e
deixando um beijo carinhoso no dorso.
Eu faria alguma brincadeira com essa interação — ainda mais
depois de saber que o sumiço dele no domingo passado foi porque
estava, sozinho, assistindo-a jogar em outra cidade — mas não faço
porque estou muito ocupada.
Ocupada estando puta com Asher.
Nem sei direito a razão de eu estar brava, mas… mas, estou.
Eu fui a mulher que o tirou do eixo.
Que fez ele perder o controle naquela gaiola metálica.
Eu dei a porra de um chá de boceta nele, não Serena.
E por que estou querendo me gabar por isso? Por que estou
com raiva que ele não desmentiu? Por que me deixou puta, ele não
ter vindo atrás de mim?
Acho que estou, oficialmente, enlouquecendo.
— Vou ao banheiro — aviso a Brooke, mas não espero sua
resposta antes de puxar a bandeja e sair da mesa.
Jogo-a na primeira lixeira que encontro e sigo meu rumo para
fora do refeitório.
A parte sensata do meu cérebro sabe que eu não deveria
estar me deixando afetar por isso.
Que eu não deveria dar poder a Asher para me fazer sentir…
sentir sentimentos confusos em relação a ele.
A nós.
Deus, até mesmo a mim.
Contudo, é meu coração que está sendo diretamente abalado
por nossa relação.
Não porque gosto de Asher — Deus me livre —, mas porque
estou me sentindo insegura.
Suja.
Meu ego está ferido, para ser mais exata.
Ele realmente ficou satisfeito depois de transarmos ou
preferia estar com Serena?
Merda!
Olha a insalubridade dos pensamentos que surgem
involuntariamente na minha mente!
Esse garoto está me enlouquecendo.
Totalmente fora de mim.
Ele está despertando uma versão de Philippa Caldwell que eu
não sei se curto tanto assim.
Uma versão que estou conhecendo mais a fundo pela
primeira vez.
Isso nunca aconteceu com nenhum cara antes.
Para ser sincera, sou bem tranquila e isso reflete nos
relacionamentos que tive.
Todos começaram bem e terminaram bem — na medida do
possível.
No entanto, é lógico que nada com Asher Blakewood é fácil.
Desde o início, eu sabia que não haveria tranquilidade em
qualquer merda que estivéssemos construindo.
Apenas turbulências.
O tempo todo.
Por isso, não me surpreendo quando mais um alvoroço na
ordem acontece enquanto caminho sem rumo pelos corredores da
universidade.
Estou andando e, de repente, duas mãos grandes me
empurram pelas omoplatas para dentro de uma sala vazia e escura.
Ouço a tranca da porta ser acionada antes mesmo de girar
nos calcanhares e dar de cara com a expressão entusiasmada de
Asher.
— Ciúmes cai bem em você — o canalha comenta, um
sorrisinho convencido pendurado nos lábios.
Babaca.
Ele dá alguns passos na minha direção e eu repito o
movimento, porém, andando para trás.
Não o quero perto de mim.
— Não sei do que você está falando — finjo-me de sonsa,
engolindo em seco.
Um pouco nervosa.
Porque eu me lembro muito bem do que aconteceu da última
vez que ficamos completamente sozinhos em um espaço fechado e
não quero que se repita.
Não depois da cena que vi no refeitório.
— Você sabe que eu não estava com Serena ou outra garota
— pontua o óbvio, ainda se aproximando cautelosamente de mim;
eu, por outro lado, tento me afastar. — Queria que eu contasse a
eles que era você sentando no meu pau naquele dia?
Faço uma careta, cruzando os braços na frente do corpo.
É
— O quê? É claro que não! Ninguém pode saber o que
aconteceu — aviso, séria, imaginando a confusão que seria se as
pessoas descobrissem sobre o sexo.
Olha, a enteada perfeitinha do reitor não é tão perfeita assim
e estava dando para o irmão postiço em um terreno abandonado.
Nossa, que família nojenta! Como eles conseguiram fazer
aquilo sendo quase irmãos?
Será que toda a família se come às escondidas?
Esses sendo os comentários mais leves, porque as pessoas
pesam a mão para falar das outras.
— Então por que você saiu tão puta de lá, Pippa? — Pergunta
assim que minha bunda bate em uma das mesas de alunos da sala.
Encurralada.
Sem ter para onde fugir.
Observo quando ele ergue uma das mãos e coloca uma
mecha do meu cabelo atrás da orelha, os olhos fixos nos meus, sem
desviar.
Me hipnotizando.
De repente, as mãos dele voam para meu quadril e me
impulsionam para cima, me colocando sentada na carteira.
Asher abre minhas pernas e se coloca no meio delas,
voltando a acariciar minha bochecha.
Eu deveria gritar.
Tentar me desvencilhar.
Empurrá-lo para longe.
Mas… mas eu não faço isso.
Porque a sensação de tê-lo perto é melhor do que a de
quando está longe.
— Por quê, irmãzinha? — Questiona de novo, segurando meu
pescoço dessa vez e mantendo nossos rostos alinhados.
Passo a língua pelo lábio inferior, umedecendo-o — o
movimento não passa despercebido por Ash.
O pomo de Adão dele sobe e desce enquanto me encara.
Ele pode me afetar sim, porém, é algo mútuo.
Eu também mexo com ele.
— Eu não deveria amaciar seu ego — diz, quando eu continuo
me recusando a responder. — Mas eu não consigo pensar em outra
pessoa há semanas, Pippa — admite e arfo em surpresa. Ele arqueia
as sobrancelhas com a minha reação como… como se eu soubesse
disso e não fosse uma novidade. — Você não sabia — deduz, tão
surpreso quanto eu.
— Eu… é claro que não sabia, Asher — falo pela primeira vez
em algum tempo e isso arranca um sorriso lascivo dele.
Como alguem pode exalar sexo apenas sorrindo?
Seus dedos se apertam em meu pescoço e eu preciso
esfregar minhas coxas em uma forma de alívio, mas não consigo
porque ele está impedindo.
Mais uma vez, Ash mal me tocou e já estou sentindo minha
calcinha encharcar.
— Você, infelizmente, é a única garota na minha mente há
algum tempo, Philippa — confessa, se estendendo na explicação
agora. — Quando fecho os olhos, imagino teus lábios nos meus. No
meu pau. Os meus lábios na sua boceta gostosa e, principalmente, a
forma perfeita que ela engole meu pau.
Ele inclina minha cabeça, expondo meu pescoço e começa a
beijar a pele ali, alternando entre beijos molhados e mordidas.
Enquanto isso, eu mordo meu lábio inferior a ponto de quase tirar
sangue para não gemer alto.
Porra, ainda estamos na faculdade, afinal.
— Ash — resmungo, sem saber o que quero dizer.
“Ash, pare”?
“Ash, continue”?
“Ash, preciso de você dentro de mim”?
Ele chupa minha garganta com força quando gemo seu nome
baixinho e dessa vez eu realmente arranco um filete de sangue da
minha boca, mas… mas, gosto disso, por mais estranho que seja.
— Em como você é apertada, mas me recebe tão bem —
continua, subindo os dedos pela minha coxa lentamente. — Nos
seus gemidos. Nos seus gritos. Em como a gente se odeia, mas
caralho, Pippa, nosso sexo… é a porra da melhor coisa que eu ja fiz.
O gemido escapa de mim quando ele pressiona o polegar
contra meu clitóris, ainda por cima da calcinha, e sua boca ressalva
na minha, sem me beijar.
Uma provocação de leve.
Uma promessa.
Agarro a barra da sua camisa, querendo… querendo trazê-lo
para mais perto.
Se é que isso é possível.
Asher já está intrínseco em mim, de todos os jeitos possíveis.
— Ash… por favor — imploro quando ele brinca com o
elástico da calcinha e rasteja os lábios pelo meu rosto, pescoço e
colo, mas nunca a boca.
Necessito dele.
Contudo, antes que possa acatar meu pedido e me dar o que
tanto desejo, ouvimos a tranca da porta e pareço cair em mim com
o som.
Empurro-o para longe e pulo da mesa, me ajeitando no
processo.
A professora acende as luzes e quando nota nossa presença,
não parece tão surpresa assim.
Só Deus sabe o que ela já deve ter visto nos corredores desta
universidade.
— Vou querer saber o que vocês estavam fazendo aqui, com
a porta trancada e as luzes apagadas? — Indaga e eu balanço a
cabeça negativamente, observando Asher fazer o mesmo de soslaio.
— Só… saiam, por favor.
Sem querer forçar a boa vontade dela, agarro a mão dele e
nos puxo pela mesma porta que entramos, saindo da sala o mais
rápido possível.
Isso que quase fizemos foi… foi muito irresponsável.
Perigoso.
Sem noção.
Porém, nunca me senti tão… viva antes.
A adrenalina corre por minhas veias e foi… do caralho.
Quase transar com meu irmão postiço, na faculdade, com a
possibilidade de sermos pegos a qualquer momento?
Puta que pariu!
Quando estamos afastados da sala, finalmente solto a mão de
Asher e quando penso em me virar para ele, que segue atrás de
mim, sinto seu corpo se aproximar do meu e sua voz perto do meu
ouvido:
— Continuamos isso depois, irmãzinha.
"Como acabamos no chão, afinal?" Você diz
"O rosé barato e barato do seu colega de quarto, é assim"
Eu vejo você todos os dias agora
[...]
O vinho na minha camiseta quando você jogou seu vinho em mim
E como o sangue correu pelas minhas bochechas, tão escarlate, foi
[...]
Não é assim que a merda sempre termina?
Você estava parado no corredor com os olhos vazios
Maroon | Taylor Swift

Nós continuamos o que começamos naquela sala de aula


mais tarde, como Asher prometeu.
No dia seguinte também.
E no posterior.
Para ser completamente honesta, minha boceta está dolorida
de tantos orgasmos em um intervalo tão pequeno de três dias.
Não estou reclamando.
Pelo contrário: transar com Asher é um evento.
Uma experiência do caralho.
Se acreditamos que uma vez seria suficiente para sumir com
o tesão que sentimos um pelo outro, estávamos totalmente
enganados.
Na verdade, meu corpo parece clamar pelo dele cada vez
mais.
Não consigo me cansar dos dedos habilidosos de Ash saindo e
entrando dentro de mim.
Da sua língua voraz e como ele faz aquela coisa com ela que
me leva à loucura.
Do seu pau metendo ritmado dentro de mim, duro e forte.
Deus, estou vergonhosamente viciada no meu irmão postiço e
em todas as sensações que ele arranca de mim.
Isso é pecado? Ou crime?
Ou se não é meu irmão de sangue, não se configura como
nenhum dos problemas anteriores?
Olha, não faço ideia.
Tudo que sei é que a todo momento que não estamos
compartilhando momentos… íntimos juntos, estou ansiando para
que nos esbarremos por aí e aconteça.
Normalmente, evitamos fazer isso dentro de casa por conta
dos nossos pais, preferimos a faculdade ou banheiros e
estabelecimento públicos para tal, mas… mas estou doida.
Com muito tesão.
Em minha defesa, culpo meu período fertil, que ainda é
bastante forte, mesmo com as pílulas anticoncepcionais.
É por isso que não penso muito sobre minha mãe estar em
casa essa tarde quando saio do meu quarto à procura de Asher,
silenciosamente, para que dona Victoria não acabe notando meus
passos apressados pelos corredores.
O medo ainda pulsa dentro de mim, contudo, o desejo fala
mais alto.
Estou quase desistindo de procurá-lo quando já passei por
todos os cômodos da casa — e estão absolutamente vazios —
quando ouço alguns barulhos vindos da garagem e decido dar uma
olhada.
Felizmente, encontro Ash nesse lugar improvável.
Ele está sem camisa, apenas com uma calça jeans preta,
luvas e o cabelo castanho suado que gruda no rosto do mesmo
estado, enquanto usa algumas ferramentas para mexer na moto.
Cacete.
Mordo meu lábio inferior, observando-o dar uma de mecânico
e… e mecânicos são gostosos assim mesmo ou é só porque é ele?
Não tenho a resposta para isso, porém, meu corpo tem uma
bem clara sobre o que está encarando.
Meu coração acelera, meus lábios ficam secos e esfrego as
pernas uma na outra, em vão, já que estou vestindo calças.
Não é o suficiente para aliviar o desejo no meio das minhas
coxas.
— Pode tirar uma foto, Pippa, dura mais — o desgraçado
comenta, e mesmo de costas, consigo sentir seu sorriso enquanto
fala.
Como ele sabia que eu estava aqui todo esse tempo?
Fiz questão de entrar com cuidado, para não alertá-lo ou
minha mãe, que pode aparecer a qualquer momento, quem sabe?!
— Você sabe o que está fazendo? — Pergunto, ignorando sua
provocação e me aproximando.
Asher continua de costas, porém, olha por cima do ombro
quando faço força para me sentar em cima da mesa de madeira no
fundo da garagem, onde guardamos ferramentas, bem atrás de
onde ele está.
Lanço um sorriso tímido e ele passa os olhos por todo meu
corpo, nas roupas casuais de ficar em casa, antes de voltar a prestar
atenção na sua moto.
— Um pouco — admite, usando uma ferramenta que nem
sabia que tínhamos em uma parte do seu veículo. — O pai de Kevin
é mecânico, então ele me ensinou algumas coisas ao longo dos
anos.
Assinto, mesmo que não consiga ver.
— Acho bem legal que você e Kevin tenham continuado
próximos mesmo depois de você ter se mudado — comento, um
pouco sem jeito em puxar um assunto tão banal com Ash.
É
É… esquisito demais.
Normalmente, estamos nos alfinetando ou seu pau está
enterrado bem fundo dentro de mim.
Nunca estamos… apenas conversando.
Civilizadamente.
Como dois irmãos postiços que vivem em uma família estável
deveriam fazer frequentemente.
Ash solta algum parafuso e com o rosto virado de lado, vejo
que ele está com a testa franzida, alternando o olhar entre a peça
que acabou de tirar a chave de boca em uma das mãos.
Ele parece não ter ideia do que está fazendo.
— Ele é meu melhor amigo — responde, ao mesmo tempo
que decide colocar o parafuso de volta. — E eu continuo vindo uma
quantidade considerável de vezes para Edmonton, o que foi mais
fácil para manter a amizade.
— Você também é próximo da família dele? Já que foi o pai
de Kevin que te ensinou… seja lá o que esteja fazendo — suponho, e
isso arranca um risinho de Asher.
Ele olha para mim mais uma vez, ainda com um sorriso
verdadeiro estampado no rosto suado e eu devolvo o gesto.
Isso é tão… normal, que é estranho.
— A família Turner esteve ao meu lado quando… quando meu
mundo pareceu desmoronar — confessa, o tom de voz abaixando e
os olhos voltando a se fixar na moto, não mais em mim. Asher não
entra em detalhes, mas deduzo que esteja falando sobre a
separação dos pais e a mudança rápida de cidade. — Se não fosse
por eles, talvez eu tivesse lidado com tudo o que aconteceu de uma
maneira… bem pior, se posso colocar dessa maneira. Eles foram,
são, minha segunda família.
Eu entendo o sentimento.
De se sentir tão à vontade com a família do seu melhor amigo
que eles se tornam a sua própria.
É como me sinto com Emma.
Ela foi minha primeira melhor amiga e também tenho um
carinho imenso por seus pais.
— Isso é muito, muito legal, Ash. E bonito. A amizade de
vocês, quero dizer.
Parece ser o certo a se dizer.
Ash me lança mais um sorriso sincero e quando menos
espero, ele larga as luvas no chão, passa o antebraço pela testa para
secar o suor, junto com uma toalhinha, e quando está menos sujo,
se aproxima de onde estou sentada.
Ele inclina a cabeça, pondo às mãos uma de cada lado do
meu corpo na mesa, sem me tocar.
Minhas pernas estão cruzadas, o que impede um pouco sua
aproximação total.
Aproveito a vista do corpo escultural dele.
Dos gominhos, a entrada V que leva para aquela parte e o as
gotas de suor escorrendo pelo dorso.
Deus, deveria ser crime ser tão gato assim.
— Foi por isso que escolhi fazer engenharia mecânica —
conta, alcançando uma garrafa de água atrás de mim, que não tinha
notado antes. — O tio Patrick estava sempre trabalhando quando eu
estava por lá e eu e Kevin adorávamos ficar na oficina com ele,
enquanto falava sobre algumas coisas dos carros e tal. Como
resolver os problemas, evitar os problemas e tudo mais. Então… eu
decidi que iria estudar algo parecido na faculdade.
— Engenharia mecânica — constato e ele acena com a
cabeça.
— Exatamente. Mas não passei na melhor faculdade de
engenharia do país e… e cá estou eu.
Asher não parece triste quando diz isso.
Acredito que ele não esteja mais chateado por ter aplicados
somente para uma universidade e ter mudado a vida toda quando
não foi aceito na sua única opção.
— Quer dizer que está gostando da Universidade de Alberta?
Ele pondera.
Enquanto faz isso, suas mãos vão para minhas coxas e abrem
as minhas pernas, onde ele se encaixa perfeitamente no meio delas
e me puxa para a borda da mesa.
Em outro cenário, com outra pessoa talvez, eu me
incomodaria com a pele grudenta de suor.
Porém, com Asher… só consigo pensar que eu queria que ele
estivesse suado assim por outro motivo.
— Não estou odiando — confessa, me segurando pela cintura
agora e brincando com o cós da minha calça. Aproveito para correr
minhas unhas em seu abdômen definido e senti-lo se contrair sob
elas. — Se pensarmos como a minha mãe, que tudo acontece por
um motivo… talvez tenha um muito bom para eu ter voltado para
Edmonton.
Não sei se fico mais surpresa com ele falando sobre sua mãe
comigo tão livremente assim.
Ou com sua ação seguinte me pegando desprevenida.
Ele sobe os dedos rapidamente por debaixo da minha blusa
de alcinha e pega meus mamilos entre os dedos.
O sorriso cresce quando ele percebe que estou sem sutiã, lhe
dando livre acesso aos meus peitos.
— Pergunte qual é o motivo, Pippa — ordena, encontrando o
seu novo playground preferido e me deixando mole.
Ele brinca com minha auréola e quando estou perto de gemer
vergonhosamente alto apenas com um toque suave nos meus seios,
Asher apanha o futuro gemido com a língua, me calando com um
beijo.
O beijo.
É sempre o beijo quando se trata de Asher Blakewood.
Ele me beija com volúpia, roubando todo o meu ar.
Enquanto uma mão brinca com meus mamilos eriçados, a
outra agarra minha garganta e esmaga ainda mais a boca contra a
minha.
É sempre tão… intenso.
Selvagem.
Urgente.
Como se fosse a primeira e a última vez que fossemos nos
beijar.
— O motivo — ele diz de repente, afastando os lábios dos
meus e descendo beijos pelo meu pescoço. — É que talvez tudo
tenha acontecido para que eu pudesse vir até aqui te mostrar como
é bom ser bem fodida.
Minha boceta adora sua fala.
Ela se contrai e eu preciso respirar fundo.
Minha calcinha já deve ter ido para o espaço, de tão molhada.
Subo minhas mãos pelo seu dorso e agarro sua nuca com
força, aprofundando ainda mais o beijo.
Minha mente já viaja para como podemos transar aqui ou, ao
menos, quanto tempo temos até que minha mãe sinta minha falta e
venha me procurar.
Suficiente para que eu consiga sentir sua língua nos meus
lábios lá de baixo?
Para que ele consiga me colocar de costas contra essa mesa e
me foder?
Ou, quem sabe…
— PIPPA! ONDE VOCÊ ESTÁ, FILHA?
Subitamente, estou de volta à realidade e empurro Asher para
longe.
— Merda — resmungo baixinho, descendo da mesa e
tentando arrumar minha roupa.
Céus, devo estar um caos.
Levo a ponta dos dedos à boca e a sinto imediatamente
inchada, além de, provavelmente, vermelha, pela força com que Ash
estava me beijando.
E eu retribuindo.
Ergo a cabeça, encontrando-o já me olhando, passando a íris
por cada centímetro do meu corpo e meu estado de completa
bagunça.
É isso que ele faz comigo.
Me bagunça.
Por dentro e por fora.
— PIPPA! SHOPPING, ESQUECEU? — Ela continua gritando
pela casa, com uma voz bem potente para ser honesta. — DIA DAS
GAROTAS!
Cacete!
Esqueci completamente que combinamos um dia das meninas
para hoje.
Logo agora.
— É melhor você ir — Ash aconselha. — Antes que ela
apareça aqui e te encontre… — ele engole uma risada, me
observando. — Como se estivesse pronta para ser bem comida.
Abro e fecho a boca, sem saber como responder porque,
bem… ele está certo.
Então, sem me despedir, saio apressada da garagem, ainda
sentindo o seu toque no meu corpo e seus lábios nos meus.

O West Edmonton Mall não é somente o maior shopping do


Canadá, como também de toda a América do Norte.
Não sei se mamãe sabia desse fato super interessante
quando nos mudamos, porém, se fosse eu a responsável por
escolher uma cidade para morar, admito que aquela que tivesse o
maior centro de compras, ganharia.
Venho aqui praticamente uma vez por semana e, mesmo
assim, sinto sempre como se fosse a primeira vez.
Um dia para olhar todas as lojas, restaurantes e atrações
espalhadas pelo espaço gigantesco?
Impossível.
Para nós, é como se fosse um parque de diversões.
Acho que minha mãe até disse que, certa vez, depois de me
levarem pela primeira e última vez à Disney World, em Orlando, eu
voltei dizendo que preferia dez mil vezes ter passado os dez dias
conhecendo o shopping da nossa cidade.
Pois é, a Pippa de doze anos era tão afiada como a de agora.
Embora já tenhamos vindo aqui inúmeras vezes, para nós,
nunca perde a graça.
É por isso que quando tiramos um dia só para as garotas, é o
West Edmonton Mall que elegemos para vir.
Mais de seiscentos estabelecimentos para visitar?
Pode contar com a gente!
Depois de quase duas horas batendo perna, algumas lojas
visitas e três sacolas cada, decidimos parar na Marble Slab
Creamery, uma sorveteria muito conhecida e famosa no shopping. A
nossa preferida também. Fazemos nosso pedido e escolhemos uma
das únicas mesas vazias na praça de alimentação para saborearmos
os sabores deliciosos do local.
— As pessoas estão nos olhando estranho porque está
fazendo cinco graus do lado de fora e estamos tomando sorvete —
comento quando sinto os olhares sobre nós, pegando mais uma
colherada do meu copo com sorvete de avelã, caramelo salgado e
cheesecake de morango.
Mamãe tira o casaco — porque, por mais que esteja frio lá
fora, aqui dentro está um bafo danado por conta da quantidade de
pessoas — e passa os olhos pelas pessoas ao nosso redor,
percebendo o que estou falando.
— Idiotas — responde, dando de ombros e começando a
comer o seu sorvete de torta de limão, chocolate suíço e baunilha.
Sorrio, sabendo que tive muito bem a quem puxar.
E agradeço todos os dias por ter muito mais traços da minha
mãe do que do meu pai.
— Como estão as aulas, querida? Os treinos? Tudo bem?
Parece que não conversamos há anos! — Pergunta, fazendo um
pouquinho de drama do jeito Victoria de ser.
— A gente se fala todos os dias, mãe — digo, enfiando mais
sorvete na boca.
Ela revira os olhos verdes como os meus, se ajeitando na
cadeira.
— Mas é diferente quando estamos somente nós duas —
admite e eu aceno positivamente com a cabeça. — Está tudo bem
mesmo, querida? Nada interessante acontecendo que você queira
contar para a mamãe? Algum garoto?
Engulo em seco, desviando o olhar do dela.
Se fosse qualquer outro cara, eu não hesitaria em contar os
detalhes mais sórdidos — na medida do possível — para mamãe.
Somos próximas nesse nível. Ainda lembro de quando namorava
Brad e ela era a primeira a saber de cada passo do nosso
relacionamento, antes mesmo de Emma e Brooke.
No entanto, dessa vez… não é como antes.
Primeiramente, porque não estou na fase de um pré namoro
com Asher, esperando para o tal dia que finalmente iremos oficializar
as coisas.
Porque não vai acontecer nunca.
Estamos apenas… nos divertindo.
O que mamãe também entende.
Já tive alguns ficantes que não se tornaram algo mais ao
longo dos anos, mas, mais uma vez, é diferente.
Nenhum deles é o filho — que passei mais de uma década
odiando — do marido dela.
— Pippa, meu amor, tudo bem? — Questiona quando eu me
perco dentro dos meus próprios pensamentos. — Você pode me
contar o que quiser. Estou sempre do seu lado, sabe disso, não é?
Não sei se você estaria do meu lado nessa ocasião, mãe.
— É o Asher? Ele está te tratando mal? Fez alguma coisa?
Quase engasgo com o sorvete, por mais improvável que isso
seja, com sua pergunta.
— N-não. Não, está… está tudo bem entre a gente — não é
uma mentira. — Nós… estamos nos entendendo — na cama. — Até
mesmo conversamos hoje e foi… civilizado. Posso dizer que até
amigável.
Minha mãe sorri e eu me sinto pior ainda por estar
escondendo algo dela.
— Que bom, Pippa. Eu e Zach estamos muito felizes que
vocês estejam se dando bem — diz, orgulhosa, e eu tenho vontade
de me esconder pelos próximos três meses. — Acho que Asher está
se acostumando conosco ,e quem sabe… desiste dessa transferência
e faz toda a faculdade aqui, não é?
Dessa vez, eu realmente engasgo com sorvete.
Tusso, alertando minha mãe, e preciso beber quase metade
da garrafinha da água para voltar ao normal.
— Como assim? — Consigo perguntar depois de me
recuperar.
— Ah, você sabe. Zach adoraria ter a chance de morar
novamente com Asher, e o garoto está indo muito bem nas matérias,
reencontrou o antigo amigo e fez novos, está se dando bem… ou
quase isso, com a gente — ela dá de ombros, como se não fosse
nada demais. Só que, na verdade, acaba de ilustrar meu verdadeiro
pesadelo. — É só algo que Zach gostaria, Pippa, não quer dizer que
vai acontecer, ainda mais que não depende dele. Não faça essa cara
— repreende e eu imediatamente me retraio, tentando forçar um
sorriso. — Você sabe que ele adoraria recuperar a relação que tinha
com Asher.
Caramba, como eu sei.
Não há um dia sequer que Zach passou nos últimos anos sem
mencionar Asher.
Ele é completamente apaixonado pelo filho e isso fica bem
claro para todos que já o conheceram, mesmo que Ash tenha
passado a última década odiando-o e mantendo a maior distância
possível de nós.
Fisicamente e emocionalmente.
Mesmo assim, meu padrasto nunca deixou de amá-lo
incondicionalmente.
Então, eu sei que seria a realização de um dos maiores
sonhos de Zach ter Asher morando novamente com ele, mesmo que
somente por quatro anos.
Quem sabe, eles poderiam ter a chance de recuperar o tempo
perdido…
Além disso, se Zach está feliz, mamãe está feliz.
E não há nada que eu ame mais nesse mundo inteiro do que
vê-la genuinamente contente, depois de tudo que passou.
— Eu… hum… acho que não podemos criar expectativas —
sou sincera, por mais que a ideia de Asher morar com a gente
durante mais três anos me assuste. — Mas quem sabe ele fique, não
é?
Não faço ideia se soo convincente o bastante, mas espero
que sim.
Imagine a merda que seria se isso realmente acontecesse?!
Logo agora que fui fraca e me deixei conhecer o corpo de
Asher, sabendo exatamente o que ele faz comigo… puta que pariu.
Eu tô muito fodida.
Uh, mas eu gosto disso, eu gosto disso
Diga que ela quer me foder mais tarde
Garota, eu gosto disso, eu gosto disso, eu gosto disso
[...]
Ela realmente não gosta disso, mas ela precisa de mim, sim
Ela está dizendo que realmente não sente minha falta
Mas foda-se, agora estou desbotado depois de todas as coisas, sim
Into it | Chase Atlantic

Não é do meu costume ir a jogos de hóquei fora de casa.


Para ser ainda mais sincera: não sou muito chegada a
esportes, apesar de ser líder de torcida para vários deles na
faculdade.
Contudo, hóquei é o que sou mais… próxima, se posso
colocar dessa forma, apenas porque uma das minhas melhores
amigas joga.
Não só joga, como é a melhor jogadora do time.
Em breve, do país e, quem sabe… de federação premiere de
hóquei, a PHF.
O sonho de Brooke Rhodes.
E como hoje é um jogo muito importante para as Pandas, já
que há uma rixa antiga entre nosso time e o Calgary Dinos, da
Universidade de Calgary…
Para apoiar nossa amiga — e também Sydney, claro, apesar
dela não levar o esporte tão à sério como Brooke —, todos nós
viajamos três horas para vê-la jogar essa noite.
Todos.
No carro de Emma, ela levou eu, Kevin, Knox e Bradley,
enquanto Asher, logicamente, veio com sua moto.
Em um percurso de três horas.
Louco, se me perguntarem.
No entanto, fico um pouco aliviada por ele não ter vindo junto
conosco porque… porque, bem, não sou muito boa em fingir que
nada está acontecendo entre nós dois quando estamos rodeados
pelos nossos amigos.
Eu tento, juro que tento, mas Asher… ele não está nem aí
para nada.
Quando estamos reunidos, ele não perde a chance de me
lançar piscadelas, provocações recheadas de segundas intenções —
diferente de antes, quando nos alfinetávamos por outro motivo —, e
suas mãos parecem ter vida própria porque sempre que há
oportunidade, ele passa-as por alguma parte do meu corpo.
Discretamente, óbvio, mas, mesmo assim, ainda fico nervosa,
olhando de um lado para o outro quando isso acontece, para ver se
algum deles notou.
A resposta é não.
Acho que é um cenário tão absurdo para eles, que ninguém
sequer desconfia que o ar entre a gente mudou drasticamente nas
últimas semanas.
Ainda bem.
Chegamos na pequena arena de hóquei depois de Asher,
quase vinte minutos antes do jogo começar, e, por isso, decidimos
dar uma passada na lanchonete e comprar alguns lanches antes do
intervalo — quando normalmente os corredores ficam lotados de fãs
querendo comer e beber.
Eu e Emma optamos por dividir batatas fritas com queijo e
bacon e um refrigerante tamanho família de cereja, enquanto os
caras compraram lanches gigantescos individuais.
Dentro da área do ringue de patinação, nós vamos direto para
os nossos lugares.
E não sei como acontece, mas acabo sentada no meio, com
Emma de um lado e, ninguém mais, ninguém menos que Asher
Blakewood do outro.
Que Deus me ajude a resistir a todas as provocações que sei
que estão por vir e não abandonar o jogo na metade para dar uma
rapidinha no banheiro com ele.
Infelizmente, sei que isso é algo bem provavel de rolar, ainda
mais porque não transamos há… três dias, nosso recorde desde a
primeira vez que fizemos sexo.
Nunca fui alguém que clama por sexo, mas com Ash… é
diferente.
Toda vez que transamos, já estou pensando na próxima.
Não acredito que ele me transformou em uma pessoa viciada
em… dar.
— Você está uma delícia com essa saia, irmãzinha — o
babaca em questão sussurra perto do meu ouvido quando as luzes
são apagadas e o jogo está prestes a começar. — Vai me deixar ver
o que tem por debaixo dela depois?
Minha pele se arrepia por debaixo da jaqueta com o seu
hálito que faz cosquinha no meu pescoço e preciso engolir em seco,
segurando com força o braço da cadeira e mantendo meus olhos no
gelo, onde as jogadoras estão entrando, para não demonstrar que
quase fui desmontada apenas com uma fala.
— Você é insaciável — murmuro de volta quando noto Emma
ocupada, tirando fotos de Syd no gelo, virando o meu rosto o
mínimo possível para o lado que ele está.
Mesmo assim, ouço sua risada nasalada baixinha.
— Estou sempre com fome por você, Pippa, achei que você já
estava a par disso à essa altura.
Eu estou.
No entanto, não muda que ainda seja assustador, sob certa
ótica, saber disso.
Que Asher me deseja tanto quanto eu o desejo.
O tempo todo, todo tempo.
— Você não pode se comportar nem durante um jogo? —
Retruco, um pouco mais alto dessa vez, porque não é uma fala
incomum para ser dirigida a Asher por mim.
Talvez se ele se lembrar que estamos cercados por nossos
amigos, desista das provocações.
— Perto de você? Uma tarefa quase impossível, Pippa —
responde, e para ilustrar, pousa sua mão na minha coxa e eu engulo
um arfar.
Emma, felizmente, está focada demais em gravar a namorada
no gelo, e os demais conversam animadamente, mais afastados da
gente, totalmente alheios ao que está acontecendo.
Mantenho os olhos no ringue, observando atentamente — ou
o máximo que consigo — do início do jogo.
Asher, por outro lado, não está nem um pouco interessado na
disputa acirrada entre os melhores times de hóquei feminimo de
Alberta.
Ele está ocupado demais brincando com a ponta dos dedos
pela minha pele.
Sua mão desce e sobe pela minha coxa, inocentemente.
Por enquanto, porque eu o conheço bem.
Continuo comendo minha batata frita com queijo, fingindo
não estar sendo nem um pouco atingida.
Muito difícil, inclusive.
Não arrisco nem olhá-lo de soslaio.
Prefiro fingir que está tudo bem e sua mão não está subindo
pela parte interna da minha coxa, por debaixo da saia.
Puta merda.
— Ash — resmungo, baixo, virando meu rosto lentamente em
sua direção.
Ele já está me encarando, um sorriso pervertido pendurado
em seus lábios.
— Sim, irmãzinha? Algum problema?
— Você tem que parar ou…
Não completo a ameaça porque… bem, porque não sei direito
o que eu faria se ele continuasse sem causar uma cena e chamar
atenção dos nossos amigos.
— Ou o quê? — Instiga, se divertindo até demais, e é quando
eu me lembro quem eu sou.
E que também sei jogar muito bem esse jogo.
Apoio a cestinha de comida quase vazia no suporte entre eu e
Emma, checando se ela ainda está focada no jogo — sim, ela está —
e volto a me ajeitar na cadeira.
Asher arqueia uma sobrancelha para mim e eu lhe ofereço um
sorriso de falsa ingenuidade.
Em seguida, volto a fixar meus olhos no ringue.
Minha mão, contudo, desliza disfarçadamente para o colo
dele.
Obrigada, luz baixa da arena, por me deixar cometer essas
loucuras e não ser pega.
Para sua virilha, para ser mais específica, e quando chega lá,
Asher arfa baixinho, me fazendo alargar meu sorriso.
— Pippa… você não sabe o que está fazendo — avisa, no pé
do meu ouvido, arrepiando os pelinhos do meu braço mais uma vez.
— O que foi, irmãozinho? Algum problema? — Repito as
exatas palavras que ele me disse há alguns instantes e, pelo tato,
procuro pelo seu pau.
Para minha surpresa, o membro está em um estado meio
bomba já e eu umedeço os lábios, acariciando-o por cima da calça
jeans.
Os dedos de Asher agarram minha coxa com força quando
faço isso.
Um sorriso de triunfo surge em meu rosto.
Gosto de provocá-lo.
Mas como Asher não sai por baixo, ele infiltra os dedos
curiosos totalmente por dentro da minha saia e brinca com o elástico
da calcinha.
Respiro fundo, mantendo o controle, e continuo com meus
movimentos de vai e vem em seu pau, sentindo-o crescer sob minha
palma.
Meus olhos podem estar até vidrados no jogo, porém, não
estou prestando nem um pingo de atenção.
O pau grande, grosso e delicioso de Asher, que faz um
estrago quando está dentro de mim e me deixa dolorida durante
sema…
— BROOKE! — O grito assustado de Knox me arranca do
momento inapropriado e simultaneamente, eu e Asher nos
desvencilhamos.
Emma se levanta e eu imito sua ação, forçando a vista para
ver o que está acontecendo.
Brooke está caída no gelo.
Sydney e outras meninas do time patinam rapidamente para
lá e a plateia fica em completo silêncio, a tensão tomando conta do
ar.
— Ela está bem? — Pergunto a Em, já que não faço ideia do
que rolou para que ela acabasse no chão.
— E-eu… eu não sei — ela responde, atordoada.
Merda.
O jogo para e vejo quando a equipe médica entra no ringue
imediatamente.
A treinadora e um dos médicos passam os braços pelos
ombros e cintura de Brooke, ajudando-a se levantar, e ela parece um
pouco tonta.
— Vou ver o que aconteceu — Knox informa, já pedindo
licença para as outras pessoas em nossa fileira e descendo para o
primeiro andar.
Somente três segundos se passam quando Bradley parece se
recuperar do choque e diz:
— Vamos também, ver como ela está — sugere, mas não
espera nossa resposta antes de ir pelo mesmo caminho que o seu
amigo.
Nós o seguimos logo depois e não posso deixar de perceber
que a mão de Asher encontrou um lugar na minha lombar para
descansar durante todo o trajeto até a enfermaria do rinque.
Ser filho de um dos maiores nomes do hóquei tem suas
vantagens, ainda mais quando a outra filha desse grande jogador
está machucada.
Não foi difícil conseguir acesso a enfermaria da arena, por
mais que apenas pessoas autorizadas possam entrar.
Brad mexeu uns pauzinhos e nos levou para dentro enquanto
acalmava a mãe pelo telefone, já que ela estava assistindo a partida
quando a filha foi jogada de costas no gelo pela integrante do time
adversário — ouvi as pessoas comentando pelos corredores
enquanto íamos até Brooke.
Felizmente, nossa amiga está bem.
Brooke teve apenas uma distorção no ombro pelo impacto e
uma concussão leve, nada que seja preciso uma visita ao hospital,
visto que os médicos conseguiram resolver os problemas.
Mesmo assim, não quer dizer que ela não tenha nos dado um
baita de um susto.
— E de repente você estava no chão! — Emma termina de
contar a visão dela sob o tombo da nossa amiga, exagerando um
pouco nos gestos. — Eu senti meu coração parar, amiga, de
verdade.
A ruiva ri, revirando os olhos levemente.
Estamos reunidos na enfermaria, ao redor de sua maca.
Bradley está ao lado da irmã, descansando a mão em um dos seus
braços e Knox está do outro, com um dos braços jogados ao redor
dos ombros dela e com metade da bunda na cama. Se Brad se
incomoda com a proximidade dos dois, não diz nada, e acho que os
dois aproveitam a preocupante — agora nem tanto, já que os
médicos garantiram que nossa amiga está muito bem e ficará
apenas poucos dias afastadas do gelo — situação para estarem
perto em um surto do outro ruivo no cômodo.
Enquanto isso, eu, Emma, Kevin e Asher estamos divididos
igualmente de cada lado.
— Eu estou bem, gente — assegura, pela milésima vez nos
últimos minutos, recebendo um beijo nos cabelos de Knox. — Podem
relaxar! Nada de se preocupar comigo e… e isso quer dizer que
vocês não podem desmarcar os planos de hoje por minha causa.
— Brooke… — Brad começa a dizer, mas a irmã gêmea o
para, erguendo o dedo indicador em um gesto de silêncio.
— É sério, Brad — enfatiza mais uma vez, firme. — Vocês
precisam ir na Una Pizza + Wine. Fizemos a reserva há duas
semanas e vocês não podem perder por minha causa, ainda mais
agora que estou perfeitamente bem.
Nós nos entreolhamos, pensativos, mas ninguém parece
gostar dessa opção.
Foi bem difícil conseguir a reserva em um dos restaurantes
mais famosos entre os jovens aqui na cidade, mas… mas não
queremos ir sem Brooke, ainda mais porque era ela quem mais
falava nos últimos dias sobre a pizza Maggi, um dos sabores únicos
da pizzaria.
— Que caras são essas, gente? — Reclama, cruzando os
braços, quando todos nos mantemos em silêncio. — Eu estou bem!
Os médicos disseram e eu estou dizendo. Não precisarem se
preocupar. Vão se divertir esta noite!
Bradley suspira e quando está prestes a responder, o toque
do seu próprio celular o interrompe.
— É o papai — informa a irmã e Brooke faz uma careta. Ela
não se dá bem com o patriarca da família. — Tem certeza que não
quer falar com ele?
— Absoluta — responde e Brad hesita, por poucos segundos,
mas acaba decidindo dar um beijo em sua bochecha e nos pede
licença, saindo da sala para falar melhor com o pai.
Sim, o ex grande jogador de hóquei da NHL.
O senhor Rhodes tem Bradley como seu primogênito e
próximo astro do hóquei, e vê Brooke como… sua filha mulher.
Alguém que leva o esporte só na diversão e não terá nenhum
futuro, quando a verdade é que ele está apostando todas as fichas
no filho errado.
— Olha — Kevin solta, atraindo nossa atenção. — Não
querendo ser o babaca aqui, mas… eu morreria por aquela pizza —
diz, sem nenhum pingo de vergonha, passando uma das mãos pela
barriga.
— Kevin! — Emma repreende-o, desferindo um tapa de leve
no bíceps do cara. — Nossa amiga está… está nesse estado e você
está pensando na merda da pizza?
— Ei! Não fale assim da pizza! Não é à toa que é a melhor de
Calgary — pontua, realmente focado no restaurante.
— E eu estou bem — Brooke volta a reforçar.
Knox segue em silêncio, fazendo carinho na ruiva e
depositando beijos em sua têmpora, bochecha, ombro, cabelos… em
todo lugar à vista, praticamente, enquanto Kevin e Emma discutem
sobre ir ou não ao restaurante.
Para mim, sinceramente, tanto faz.
Eu gostaria, claro, de experimentar a pizza.
Porém, também não me importaria de passar as horas que
temos na cidade ao lado de Brooke, garantindo a recuperação da
nossa amiga.
Estou tão distraída, prestando na discussão entre os três, que
não percebo quando Asher se aproxima, me segurando pela barra
da jaqueta e sussurrando para mim:
— Poderíamos dar um sumiço quando eles forem ao
restaurante e ir fazer alguma coisa. Só nós dois.
Ele aperta meu quadril e eu mordo meu lábio, não querendo
emitir nenhum som.
A proposta é tentadora, mas…
Mas, nada.
Estamos em outra cidade, há três horas de distância de
Edmonton, onde ninguém nos conhece e Brooke está bem.
É
É a oportunidade perfeita para sairmos sozinhos sem ter
medo de esbarrar com alguma pessoa conhecida pelas ruas.
— Qual a parte de “eu estou bem” vocês não entenderam? —
Brooke quase grita e todos se calam. Ela respira fundo, aliviada. —
Vocês vão. Se divirtam. E vou ficar bem.
— Não quero te deixar sozin…
— Eu vou ficar com ela — Knox diz em sincronia com Brad,
que acaba de voltar para a enfermaria.
Os dois amigos se olham.
Brooke alterna o olhar entre os dois.
Kevin ri baixinho, acompanhada de Asher.
Eu e Emma fixamos as irises na nossa outra amiga.
Que climão.
— Eu vou ficar com a minha irmã — Brad repete, não dando
espaço para ser contrariado.
Knox engole em seco, mas decide não entrar nessa discussão
com o amigo.
Especialmente agora.
— Bem — Kevin diz, coçando a garganta. — Melhoras,
Brooke. Eu já vou indo porque — seu olhar recai sobre o aparelho
em suas mãos — tenho um encontro.
— Em Calgary? — Questiono, com as sobrancelhas franzidas.
Caramba, estamos há três horas de casa!
Kev dá de ombros.
— O Tinder nunca decepciona.
É claro que não.
— E você — Brooke fala, de repente, direcionando os olhos
para Emma — tem um encontro com a sua namorada na pizzaria.
— Mas Broo…
— Nada disso — a ruiva interrompe a amiga — você vai sair
com a Syd e Brad vai ficar um tempinho me fazendo companhia.
Emma resmunga algo, provavelmente uma reclamação, mas
não contradiz nossa amiga machucada.
— Vamos sair antes que eles percebam — Asher murmura
para mim, me puxando de leve pela jaqueta.
— E se eles perceberem? — Pergunto, olhando minimamente
sob o ombro, encontrando suas irises castanhas.
Ash dá de ombros.
— Não vão. Mas se sim… tenho certeza que conseguimos
inventar alguma desculpa. Vamos? — Indaga mais uma vez,
impaciente.
Volto a observar meus amigos e… nenhum está prestando o
mínimo de atenção em nós dois.
Sem esperar mais, eu e Asher saímos lentamente pela porta
e, como ele disse, ninguém nota nossa ausência.
Agora, estamos livres para curtir a noite de Calgary sem um
peso sobre nossas costas.
Não gosto de querer tanto Asher assim a ponto de fugir dos
nossos amigos, porém… é mais forte do que eu.
Preciso dele.
E eu sei que, em algum momento, isso vai acabar me
destruindo.
Foda-se se eu soubesse como colocar isso romântico
Falando a minha verdade, não há necessidade de entrar em pânico
Não, não vamos colocar um rótulo nisso
Vamos manter isso divertido
Nós não colocamos um rótulo nele
[...]
Eu sou uma garota legal, eu sou uma garota legal
Gelado, eu reviro meus olhos para você, garoto
Regras que você não gosta, mas você ainda vai mantê-las
Cool Girl | Tove Lo

A 17th Avenue SW é a rua mais movimentada do centro de


Calgary, lotada de bares, pubs e baladas.
As luzes da avenida funcionavam como a própria lua,
iluminando cada canto que passamos. O ar frio da noite não era tão
excruciante assim, porque com a quantidade de pessoas
amontoadas nas mesas das terraças, filas de baladas ou somente
bebendo e fumando em uma calçada qualquer, é imensa. O calor
humano, por mais surreal que pareça, está sobressaindo a
temperatura de cinco graus.
Mais especificamente, o calor humano que emana de Pippa,
colada ao meu lado. Estou com um dos meus braços ao redor dos
seus ombros e ela circula meu tronco também, enquanto andamos
despreocupados por aí. Como não estamos em Edmonton e
sabemos exatamente onde nossos amigos estão — avisamos
também sobre nossa localização no grupo de mensagens, apesar de
termos inventado uma mentirinha —, não há nenhum perigo em
podermos estar próximos assim.
Aqui, somos apenas Asher Blakewood e Philippa Caldwell.
Amigos de faculdade.
Bem, talvez não amigos.
Não mais tão inimigos como antes — e que se pegam de vez
em quando.
Uma definição melhor.
Passamos por um casal aleatório praticamente se comendo no
meio da rua, arrancando uma risada de incredulidade de Pippa, em
frente a Commonwealth, uma das casas noturnas mais cobiçadas da
cidade e que a fila se estende pelo quarteirão inteiro.
— Eles não têm nenhuma vergonha, é? — Pergunta,
arriscando uma olhada para trás quando passamos por eles. — Se
atracando assim no meio da ru…
Não consigo me conter.
Quando vejo, já empurrei-a contra parede de um pub
qualquer, colidindo meus lábios com os dela.
Ela tem gosto de chiclete de menta e morango,
provavelmente devido ao coquetel que tomou quando fizemos uma
parada rápida em um dos bares da rua, não tão lotado assim.
Pippa resmunga contra a minha boca, mas não me afasta.
Ela sobe as unhas afiadas pelo meu abdômen e enrosca os
braços ao redor da minha nuca, inclinando levemente minha cabeça
para aprofundar nosso beijo.
Solto uma risada baixa, descendo meus lábios pelo seu
pescoço e apalpando sua bunda por debaixo da saia.
Essa parte está mais vazia, ninguém tem a chance de ver algo
que não deve dela, é o que digo para mim mesmo para me
convencer a sentir a sua carne macia contra meus dedos.
— Você estava reclamando do casal, mas não parece tão
incomodada quando é você protagonizando a cena — provoco,
puxando seu lóbulo da orelha com os dentes.
Ela arfa, agarrando a lapela da minha jaqueta preta de
couro.
— V-você que me b-beijou — acusa, um pouco trêmula
quando mordo o pescoço e desfiro um tapa em sua bunda.
Se nós estivéssemos sozinhos…
— Queria te provar um ponto — respondo, dando de ombros
e infiltrando meu joelho entre suas pernas.
Volto a beijá-la.
Seus dedos afundam nos meus cabelos e minha barba por
fazer arranham um pouco sua pele, porém, é algo que Pippa me
pediu, há alguns dias.
Gosto de quando sua barba está nascendo e a sinto arranhar
a minha virilha quando você está me chupando.
E ela me comunicou isso enquanto eu estava lá embaixo,
lambendo sua boceta.
Ah, irmãzinha, você ainda vai me enlouquecer de vez.
Devoro a boca de Pippa com a minha e, ao mesmo tempo, ela
começa a se esfregar contra minha perna, buscando um alívio que…
que não vou dá-la no meio da rua.
Normalmente, não me importo muito com uma plateia
assistindo, mas… mas, não.
Com Pippa é diferente.
Apenas de imaginar outras pessoas vendo-a no estado
vulnerável que fica quando está gozando… tenho vontade de
cometer um assassintato.
Que porra de pensamento homicida é esse?
— Ai, meu Deus! — Pippa exclama, de repente, separando a
boca da minha e apontando para o outro lado da rua. — Precisamos
ir ali!
Franzo as sobrancelhas, ainda atordoado pela interrupção, e
sou arrastado pela loira para o tal lugar.
É um estabelecimento, com uma plaquinha “aberto 24 horas,
sem precisar marcar horário” pendurada na porta. Ele está
escondido entre prédios antigos, sem nenhuma outra loja por perto.
Forço os olhos e consigo ler o nome.
Bushido Tattoo.
— Você quer fazer uma tatuagem? — Questiono, surpreso
pela vontade repentina de Pippa.
Ela gosta de traçar todas as minhas com a ponta dos dedos
quando estamos transando, elogiando-as quando desce beijos pelo
meu corpo, mas não imaginei que quisesse, de fato, fazer uma.
— Eles fazem piercings também — diz, apontando para uma
tabela de serviços pendurada na vitrine.
Um sorriso largo se estende pelo rosto de Pippa quando ela
se vira para mim, me pegando já observando-a.
É impossível não passar todo o tempo que estamos juntos
encarando-a.
Philippa é… linda.
Os cabelos loiros ondulados nas pontas, os olhos verdes como
rubis, os lábios grossos rosados e o perfume doce na medida certa…
porra.
Ela é do caralho.
Até quando eu detestava-a com todas as minhas forças,
nunca pude alegar que era feia.
Pippa nunca foi, e eu sempre notei sua beleza, por mais que
me doesse e fosse um grande empecilho na missão de odiá-la.
Agora, contudo, posso demonstrar o quanto desejo sem ser
um problema.
Ou pelo menos, um grande problema.
Não faço ideia de quais são os meus sentimento por Pippa
desde quando começamos a fazer sexo casual, porém, acho… acho
que não a odeio mais.
— Quero fazer uma coisa — anuncia, me arrancando dos
pensamentos… sobre ela.

É
É humilhante estar pensando sobre uma pessoa quando ela
está bem na sua frente?
Espero que não.
— O quê?
Ela aperta minha mão — que eu mal tinha percebido ainda
estar entrelaçada com a dela — e faz um gesto com a cabeça para o
estúdio à nossa frente.
— Quero fazer algo pela primeira vez.

— Você vai sentir uma ardência, mas vai ser breve, docinho.
Philippa assente, com um sorriso relaxado pendurado nos
lábios.
No entanto, quando a mulher faz um movimento rápido em
direção a barriga dela…
— Puta que pariu! — Pippa xinga, apertando forte minha mão
quando a agulha atravessa a pele do seu umbigo.
Estamos dentro da Bushido Tattoo e demorou apenas quinze
minutos para sermos atendidos por um profissional. Uma mulher,
que aparenta ter uns trinta anos, pele negra escura e cabelos rosa
neon está fazendo o procedimento em Pippa.
Porque ela cismou que queria colocar um piercing na porra do
umbigo, e, agora, está deitada sobre a maca preta com a blusa
levantada até o contorno dos seios, enquanto segura minha mao.
Meus olhos não saíram de Penélope — a body piercer —
enquanto ela preparava o material. Afinal, estamos em um estúdio
que não conhecemos, em uma cidade que não conhecemos e que o
cheiro de maconha se mistura ao de tinta no ar.
Felizmente, ela é uma boa profissional.
Em uma bandeja ao lado da cama, ela depositou a agulha
esterilizada, um alicate que explicou ser próprio para perfuração e o
piercing escolhido por Pippa. Ela também vestiu luvas descartáveis e
até mesmo limpou tudo com antisséptico antes de iniciar.
— Já está terminando, docinho — Penélope avisa, ao mesmo
tempo que desliza a joia pelo canal perfurado e ajeita a bolinha no
lugar exato.
Pippa ainda aperta forte minha mão — uma força que eu não
fazia ideia que ela tinha — e eu não hesito em abaixar a cabeça e
deixar um beijo casto em sua têmpora.
— Relaxa, Pippa — peço junto ao seu ouvido.
Para minha surpresa, ela solta o ar devagar, deixando que seu
corpo vá de rígido a tranquilo em instantes.
Quando isso acontece e ela parece aliviada, volta a me lançar
um sorriso de animação e orgulho do seu novo piercing.
— Você já tem alguns piercings na orelha, mas não custa
reforçar os cuidados — a body piercing fala, descartando as luvas
descartáveis. — Não toque com suas mãos sujas, limpe com soro
fisiológico e evite roupas que possam irritar o local nos primeiros
dias.
Pippa assente, e antes que a moça possa ir para o próximo
cliente, ela segura o braço de Penélope.
— Posso transar ou… ou tem alguma recomendação sobre
isso?
Penelope arqueia uma das sobrancelhas, alternando o olhar
entre mim e Pippa.
Eu sorrio nervoso, um pouco sem graça com a pergunta nada
indiscreta.
— Espere de quatro a seis semanas para ter relações sexuais
que envolvam essa área, para evitar que infecione. Nada de atritos
contra o umbigo até que a cicatrização esteja completa.
Pippa assente, feliz.
— Obrigada — grita quando a mulher recolhe os materiais e
se afasta.
Céus, essa garota.
A loira, então, se levanta da cama e caminha até o espelho de
corpo inteiro mais próximo, admirando o brilho singelo da joia
enfeitando sua barriga.
— Legal, não é? — Pergunta para mim, nossos olhares se
encontrando pelo reflexo assim que me aproximo por detrás dela.
— Você ficou ainda mais gostosa com ele — elogio,
depositando um beijo em sua nuca e enrolando meu braço em sua
cintura.
Ela agarra meu antebraço e continua me observando pelo
espelho.
A música toca pelos alto falantes da loja e há conversas
distintas acontecendo à nossa volta, porém, entre nós dois, um
silêncio confortável se estende.
Há uma conversa silenciosa acontecendo entre a gente.
A atmosfera parece mudar, de repente.
E… e eu acho que não odeio… o quer que esteja acontecendo
aqui.
Para ser honesto, gosto bastante da relação que eu e Pippa
estamos construindo, tijolo por tijolo.
Mesmo que eu tenha que ir embora daqui a alguns meses e
deixar tudo isso para trás.
Pippa, então, desliza os dedos sobre as tatuagens que
aparecem pela manga da jaqueta e ergue os olhos, chamando
minha atenção.
— Com quantos anos você fez sua primeira? — Indaga,
virando-se de frente para mim e eu empurro o pensamento sobre
nosso futuro para o fundo da mente e focando no presente.
Abro um sorriso.
E fico um pouco animado com sua pergunta. Por mais que ela
já tenha visto todas as minhas tatuagens durante o sexo, é a
primeira vez que pergunta alguma coisa sobre elas.
— Eu tinha 15 anos — conto, os olhos de Pippa se arregalam
em surpresa.
— Meu Deus, Ash! O que Zach achou sobre isso? Sua mãe?
Dou de ombros.
— Eles não fazem ideia — admito. — Eles acham que comecei
a tatuar com 17 e eu nunca os corrigi.
Uma risada escapa de Pippa.
Ela fica mais linda do que o normal quando está à vontade
assim e ri verdadeiramente.
— Não acredito! Na verdade… acredito, sim. É bem a sua cara
mesmo.
Arqueio uma sobrancelha, beliscando de brincadeira a pele do
seu quadril.
— E qual foi a tatuagem? — Pergunta, os olhos curiosos
passeando pelo meu corpo coberto.
Encaro-a e tenho certeza que há uma expressão um pouco
safada estampando meu rosto nesse momento.
— Ai, meu Deus! — Exclama, escancarando a boca em
surpresa. — É aquele carro meio deformado perto da sua bunda?
Merda.
Assinto, um pouco envergonhado.
— Em minha defesa, eu tinha 15 anos e rodei todas as
cidades vizinhas com Kevin à procura de um tatuador que estivesse
disposto a tatuar sem autorização dos pais.
Isso faz Pippa rir ainda mais.
Quando ela ri, meu coração se remexe dentro do meu peito.
Não de uma forma ruim, apenas… parecendo aprovar a
presença dela.
Sua risada.
Sua companhia.
Sua beleza.
Tudo sobre Philippa Caldwell me deixa sorrindo como um
bobo e faz meu coração se transformar em ritmo inquieto, diferente
de tudo que já aconteceu antes.
— Não vai querer fazer nada mesmo? — Pergunta, fazendo
círculos invisíveis pela minha mão.
Dou de ombros.
— Não sei, acho que talvez uma nova tatuagem — respondo,
porque estou ponderando sobre essa ideia desde quando chegamos,
mas não sei o que quero fazer. — Com certeza nenhum piercing.
Já tenho tantas tatuagens e poucos espaços vazios que fica
difícil eleger uma nova para ser marcada na minha pele.
— Ah, talvez um piercing no pau fosse interessante para você
— brinca, risonha, e eu reviro os olhos.
Deus me livre passar uma agulha por qualquer parte do meu
pau.
Pippa umedece os lábios e meus olhos recaem sobre eles com
o movimento.
A boca está pintada de vermelho e não posso deixar de
imaginá-la a arrastando pelo meu peitoral, abdômen e…
Uma ótima ideia cruza minha mente.
Um sorriso gigantesco se forma em meus lábios e ela franze
as sobrancelhas diante da minha animação repentina.
— O que foi? Que cara é essa? — Pergunta, me olhando
engraçado.
Aperto sua cintura e não hesito quando lanço a proposta:
— Você deixaria eu tatuar um beijo seu no meu quadril?
Se eu te dissesse que te odeio
Você iria embora?
Agora preciso da sua ajuda com tudo o que faço
Eu não quero mentir, tenho confiado em você
Eu preciso de um estímulo
Eu tenho chamado você de "amiga"
Talvez eu precise desistir
Estou doente e cansado também
Posso admitir, não sou à prova de fogo
Eu sinto isso me queimando
Eu sinto isso queimando você
The Beach | The Neighbourhood

As casquinhas da minha nova tatuagem caem sobre a minha


calça quando cutuco, mesmo sabendo muito bem que eu não
deveria, contudo, é mais forte do que eu.
E a coceira também é bem chatinha e, na minha cabeça,
tirando as casquinhas, consigo fazê-la passar mais rápido.
Olho no espelho do banheiro a obra de arte no meu quadril.
É
É o contorno dos lábios de Pippa.
Ela beijou uma folha de papel no estúdio e o tatuador tatuou
exatamente o beijo dela em cima do ossinho do meu quadril, e,
desde então, há quase duas semanas, não paro de observar minha
nova tatuagem.
Inclusive, acredito que seja minha preferida.
Foi feita por um profissional muito melhor do que o primeiro
tatuador a tatuar minha pele, por incrível que pareça, já que as
condições do estúdio ainda eram esquisitas.
Um lugar aberto 24 horas por dia à com preços acessíveis? No
centro da cidade?
Não se encontram muito mais comércios assim hoje em dia.
De qualquer forma, já faz algumas semanas desde o tal dia e
tudo parece estar indo muito bem. Desde Brooke, que está
totalmente recuperada do jogo — mas não faço ideia de como ficou
a situação entre ela, seu irmão gêmeo e Knox — até o novo piercing
de Pippa.
Sem nenhuma infecção e combinando surrealmente com a
barriga chapada da minha irmã postiça.
E o pior, é que ela sabe que está ainda mais gostosa e não
passa a oportunidade de desfilar pela casa com cropped e shorts de
cintura baixa, a fim de mostrar a joia brilhante no umbigo.
Poderia não ser um problema, caso ela não levasse tão a
sério as recomendações da body piercer.
Contudo, Pippa ainda se recusa a transar até que esteja
completamente cicatrizado, o que quer dizer que toda a diversao
que meu pau teve nos últimos dias, foram imagens criadas pela
minha mente e minha mão para alivar a porra do desejo que sinto o
tempo todo por ela.
Não deveria ser normal querer alguém tanto como eu a
quero, mas… mas é o que acontece.
Ela é a protagonista de todos os meus pensamentos quando
estamos separados e juntos, meu coração se aperta porque sei que
em algum momento vamos ter que ir por caminhos diferentes. Seja
para os nossos quartos, seja para as salas de aula na faculdade.
Caralho, não tenho ideia do que está rolando, porém… não é
de todo ruim.
Pippa me traz novas sensações, sentimentos que nunca tive a
oportunidade de sentir antes. Não sei se consigo nomear e definir
cada um deles, mas posso afirmar que ela é a única capaz de
transmiti-los para mim ou de despertá-los no meu coração.
Puta que pariu, estou mesmo fudido.
O que é um peido para quem já está cagado, não é mesmo?
Saio da minha última aula do dia, de Física, e saco meu
celular do bolso da jaqueta, abrindo a conversa com ela.

Eu: ei. Ta por onde? Vamos fazer alguma coisa?

Sei que ela saiu da universidade por volta das duas da tarde e
o treino das líderes de torcida do dia foi cancelado, então acredito
que esteja livre para que eu tente, mais uma vez, convencê-la que
não há problema em chupar sua boceta na cicatrização do piercing
no umbigo.
É o que se passa na minha cabeça toda vez que a vejo com
uma blusinha de pijama de seda, marcando os mamilos pelo frio e a
joia na barriga.
Pippa demora alguns minutos para responder, o suficiente
para que eu chegue até minha moto no estacionamento.

Pippa: oi! To ocupada. Mais tarde falo com você.

Uno as sobrancelhas, estranhando sua mensagem.


Normalmente, ele é mais… carinhosa, ou menos seca, do que
isso.
E ela diria o que está fazendo, não apenas mandaria uma
mensagem sem muito sentimento assim.

Eu: tem certeza que está tudo bem? Quer que eu vá te


buscar em algum lugar? Podemos passar em algum drive thru e
pegar um lanche. Topo até o milkshake de caramelo salgado horrível
que você tanto gosta.
Subo na moto, ligando-a e… e nada.
Ela não responde.
Somente lê a mensagem e me deixa na porra do vácuo.
Que merda é essa, Pippa?
Um sentimento ruim toma conta lentamente de mim.
Medo.
É medo que estou sentindo, misturado com preocupação.
De alguma coisa ter acontecido com Pippa.
Afinal, apesar de estarmos transando há quase dois meses,
ainda não sei tanto sobre a vida dela, muito menos, por exemplo, de
toda a confusão que fez ela e a mãe se mudarem de país, buscando
abrigo com meu pai.
Sei que foi uma merda gigantesca, pelo que lembro de ouvir
meus pais comentarem na época, mas não sei o que foi.
Mando mais uma mensagem e… nada.
Dessa vez, a mensagem não chega a ter o segundo risquinho,
indicando que ela recebeu.
Porra, Pippa.
Antes que eu possa me desesperar mais, lembro da parada
mais aleatória possível proposta por Brooke, há alguns dias.
Um aplicativo de compartilhar localização entre amigos.
Ela fez todos nós baixarmos e adicionarmos um ao outro, e
dessa forma, sabemos exatamente onde cada um está, a toda hora
do dia.
Uma palhaçada, devo dizer, mas, nesse momento, essa
palhaçada, vai me permitir dar voz aos meus pensamentos intrusivos
e fazer algo que… que talvez, eu não devesse fazer.
Foda-se.
Ela pode estar em perigo, não pode?
Não é do costume dela ser seca assim, muito menos não
responder as mensagens.
E como não posso perguntar a Emma ou a sua mãe o que
está rolando, sem levantar suspeitas que estamos nos envolvendo…
Não penso demais quando arranco com o motor da moto para
o endereço mostrado na localização de Philippa Caldwell no bendito
aplicativo.
Abençoada seja Brooke Rhodes e suas ideias sem pé nem
cabeça.

Confiro cinco vezes a localização de Pippa no aplicativo, para


ter total certeza que estou no local certo.
Como nunca vim para essas bandas da cidade — pelo menos,
não recentemente, porque acredito que meus pais já me trouxeram
aqui algumas vezes quando mais novo —, estranho todo o percurso,
ainda mais quando a voz do GPS me diz “você chegou ao seu
destino”.
O destino em questão?
Edmonton Valley Zoo.
A porra de um zoologico.
Franzo as sobrancelhas, maximizando e minimizando a
localização de Pippa, porém, não há dúvidas que ela está em alguma
parte lá dentro.
Que merda você está fazendo aqui, irmãzinha?
Desligo o motor da moto e penduro o capacete no guidão,
seguindo para o guichê de compra de ingressos. É uma terça-feira,
então, o movimento está baixo e o adolescente de quinze anos do
outro lado não parece muito interessado em vender bilhetes. Sua
atenção inteira está nas unhas pontiagudas e com desenho do Rei
Leão — temático — e o chiclete de melancia que mastiga — o cheiro
indo a quilômetros de distância.
Com meu ingresso em mãos, passo na catraca e adentro o
zoológico da cidade.
O ar frio do fim de tarde em Edmonton misturava com o
cheiro de pipoca caramelizada e folhagem úmida, uma fragrância
bem específica de zoológicos. O vento gelado do início de novembro
acaricia meu rosto enquanto eu aprecio cada cantinho.
Tenho vagas lembranças de caminhar por esse lugar de mãos
dadas com meus pais.
Quanto mais eu adentro, mais os sons da cidade diminuem e
os da natureza se elevam. Passo pela área dos pássaros, pelo lobo
que late baixo quando uma criança o provoca do outro lado da cerca
e enfim chego à Northern Wilds, onde um riacho falso é casa de
um… castor, isso, de um castor, que mergulha nas águas se exibindo
para um casal de idosos que o observa.
De repente, uma memória surge na minha mente.
Um pouco apagada, meio perdida, mas lembro de querer me
jogar contra a parede de vidro que separava os visitantes dos leões
e leoas, para provar que meu rugido era tão animalesco quanto o
deles.
— Você é tão forte como um leão, filho. Nunca se esqueça
disso.
A fala do meu pai ressoa dentro da minha cabeça e meu
coração se aperta.
Sinto saudades de quando nossa relação de pai e filho era
quase perfeita, sem nenhuma rachadura.
De ter Zachary como meu melhor amigo e herói.
De comparar nossa relação com a do Mufasa e Simba, antes
dos eventos trágicos acontecerem.
Assim como o pai do leãozinho, o meu também sempre foi
muito protetor sobre mim até… até tudo desabar.
Agora, estamos tão danificados que não sei se algum dia
poderemos mudar isso.
Estou distraído martelando sobre Zach dentro da minha
cabeça que não noto quando adentro a Artic Shores, uma das áreas
mais populares do zoológico. Há muitas pessoas por aqui, e é
preciso até um pouco de cuidado para me locomover e ver os
pinguins.
As crianças estão alucinadas pelas aves do gelo.
Por um instante, me esqueço da verdadeira razão de eu estar
aqui, mas não demora para eu lembre porque… bem, porque o
motivo de eu estar nesse zoológico em plena terça-feira está do
outro lado do vidro transparente, Pippa está ajoelhada em uma
plataforma, arrumando os recipientes com peixes que seriam dados
aos pinguins.
Ela está com um colete com a logotipo do Edmonton Valley
Zoo, os cabelos loiros presos em um rabo de cavalo no alto da
cabeça e sorri para as crianças com as caras grudadas na parede
transparente.
Com cuidado, peço licença entre os mini seres humanos e me
aproximo do vidro.
Não preciso fazer nenhum tipo de gesto para que Pippa me
veja.
Como em todos os lugares que estamos juntos, os olhos dela
encontram os meus na multidão.
Primeiro, as sobrancelhas loiras se franzem, parecendo
confusa.
Depois, a boca se abre em choque, não acreditando que
estou mesmo aqui.
Em seguida, ela engole em seco e se levanta, chamando
alguém, que não consigo ver, para perto.
Quando a cabeleira ruiva entra em cena, eu o reconheço de
imediato.
Owen.
A porra do cara que estava oferecendo carona para Pippa há
algumas semanas, antes de transarmos no globo da morte.
Ela sussurra algo em seu ouvido, apontando para o balde com
peixes e para a área dos visitantes, mais especificamente, para mim.
O babaca desvia o olhar e um dos cantos da sua boca se
eleva quando me vê. Ele acena positivamente para Pippa e ela sai da
área dos pinguins por trás, deixando o trabalho com ele.
Mas não antes que o desgracado deixe a merda de um beijo
na bochecha dela.
Porque eu não vejo ninguém, ninguém além de você
Eu nunca estou confuso
Ei, ei, e estou tão acostumado a ser usado
Então eu adoro quando você liga inesperadamente
Porque eu odeio quando o momento é esperado
Então eu vou cuidar de você
[...]
Você sabe que nosso amor seria trágico
[...]
Ei, ei, e você é meu tipo favorito de noite
Earned It | The Weeknd

O silêncio dentro da lanchonete não é nada confortável.


É excruciante.
Asher me observa atentamente do outro lado da mesa, sem
dizer uma palavra.
Ele fez nossos pedidos — porque é lógico que ele sabe
exatamente o que eu peço — , esperou perto do balcão até que
eles ficassem prontos, para, enfim, voltar para onde escolhi me
sentar.
Um milkshake de caramelo salgado — para mim, porque
Asher detesta sabores muito doces — acompanhado de um The
Double Decker[9]; para ele, escolheu um refrigerante de framboesa
com sanduíche Jenn’s Chicken[10], e já que não pediu por
acompanhamentos, está roubando minhas fritas.
O que não é um problema, mas gostaria que ele tivesse
falando alguma coisa e não só me encarando.
Ele está puto por que não respondi a mensagem de mais
cedo direito? Por que desliguei a internet e não disse mais nada? Por
que o maldito do Owen me beijou na bochecha?
Todas as opções acima?
Não sei!
Porque Asher se mantém calado.
E agora quem está ficando brava sou eu.
— Você vai ficar me encarando assim até quando? —
Finalmente pergunto, cruzando os braços e não desviando o olhar
do dele.
No carro, a caminho da lanchonete, eu preenchi o silêncio
contando como começou minha paixão por animais e como, desde
pequena, sempre soube que seguiria pela carreira da biologia. Eu
confidenciei a ele como adorava passar meu tempo na piscina ou no
lago, observar os peixinhos que às vezes apareciam na água
transparente e que mamãe precisava intervir quando meus dedos
começavam a ficar enrugados demais.
Eu falei sobre a primeira vez que minha mãe me levou em um
zoológico, ainda na cidade em que morávamos, nos Estados Unidos,
de quando eu vi pinguins, focas e leões marinhos e me apaixonei
imensamente.
Eu detalhei como meu coração bateu mais forte no meu peito
e eu sabia, simplesmente sabia, que era para isso que eu nasci: para
os animais, principalmente os marinhos, já que um dos meus
lugares preferidos era e ainda é debaixo d 'água. Falei de uma das
minhas vontades de visitar um aquário que tem aqueles túneis
subaquáticos super maneiros, mas, infelizmente, ainda não tive a
chance.
Caramba, eu fui além, contando sobre meus planos depois da
faculdade e que desejo trabalhar com recuperação dos animais, em
alguma ONG!
Asher não emitiu um som enquanto eu contava sobre tudo
isso.
Não faço ideia se ele sequer ouviu mesmo o que eu disse!
Agora, contudo, ele bufa uma risada e quando estica o braço
para roubar mais uma batata frita, eu agarro a cestinha e puxo-a
para perto de mim.
— Nada de batatinhas para você até dizer que porra esta
acontecendo — ameaço, mesmo que ficar sem fritas não seja lá uma
consequência muito grande.
A gente luta com as armas que tem.
— Por onde você quer começar, hum, Pippa? — Questiona,
tomando um generoso gole do seu refrigerante. — Que tal por
aquele desgraçado achar que tem a liberdade de te beijar assim?
Arqueio uma sobrancelha, um pouco surpresa que é sobre
isso que Asher quer conversar.
— Primeiramente, como você disse, ele me beijou. Na
bochecha. Você não pode estar puto comigo pelas ações de outra
pessoa, ainda mais quando eu me esquivei e não retribui —
respondo. Ash inclina a cabeça, me analisando, mas não diz nada.
Ele sabe que estou certa. Ajeito meus ombros e coluna. — E, em
segundo lugar… você está tão bravo assim comigo por conta de… de
ciúmes?
Ele amassa o bolo de guardanapos em sua mão e range os
dentes.
É, ele está sim.
— Não gosto de ver outras pessoas tocando o que é meu —
admite, e eu me choco com suas palavras.
Não esperava isso.
— Mas eu não sou sua.
Ele ri, chacoalhando a cabeça de um lado para o outro.
— Continue dizendo isso para si mesma, se te ajuda a dormir
à noite — provoca, bem convicto de que sou um objeto e pertenço a
ele. Homens. — Ah. Não é isso que te ajuda a dormir à noite, não é,
Pippa? É a boca do seu irmão postiço entre suas pernas que faz o
trabalho.
O milkshake de caramelo salgado desce azedo pela minha
garganta quando ele declara isso em alto e bom som, e um grupo
de garotas passa pela nossa mesa, nos olhando torto.
Babaca.
— Olha — digo, um pouco exausta de estarmos andando em
círculos. — Por que você não me fala logo o que está te
incomodando tanto, além de Owen, para que possamos resolver?
Asher ergue ambas as sobrancelhas, um pouco… indignado,
eu diria.
— Por que você não me diz o que está rolando, Pippa? —
Joga a pergunta de volta, descolando as costas do estofado do
banco e apoiando os cotovelos na mesa. — Por que não me
respondeu direito ou me contou que fazia voluntariado no zoológico
da cidade?
Ele… ele está puto porque não respondi e porque não contei
sobre o voluntariado?
Franzo as sobrancelhas.
Ele não tem o direito de ficar possesso se… se estamos
apenas fazendo sexo casual.
— Não imaginei que transar te dava o direito de saber tudo
sobre a minha vida e controlá-la — retruco, ficando irritada também.
Asher não é meu namorado, afinal de contas, então… não
devo nenhum tipo de satisfação para ele.
Certo?
Caramba, até algumas semanas nos odiávamos e mal
suportávamos estar perto um do outro.
E agora vocês estão transando como dois coelhos e seu
coração erra as batidas quando ele sabe de cór seu pedido na sua
lanchonete favorita.
— Quer ir por esse lado, então, Pippa? — Indaga,
umedecendo os lábios e com uma expressão nada contente. —
Então, vamos. — Ele tamborila os dedos na mesa antes de
continuar, em uma mistura de diversão e raiva. — Não tenho que
saber tudo sobre sua vida, mas você gosta muito de saber sobre a
minha, não é? — Acusa e eu engulo em seco. — E eu respondo cada
curiosidade sua, sem reclamar porque…
A frase morre no meio.
Ele não completa a razão de me contar mais sobre sua vida
e… e eu acho que sei o motivo.
É o mesmo pelo qual faço as perguntas e isso nos deixa
assustados.
Não estamos em uma boa posição de sentir o que talvez
estejamos sentindo.
Deus, isso é tão… errado, por mais que não seja
necessariamente.
Uma baita confusão.
— A questão, Philippa, é que voce esta me tratando como um
mero parceiro de foda quando voce sabe que jáa passamos dessa
fase.
A verdade nua e crua acerta meu rosto como um tapa.
Embora Ash não tenha definido o que somos, ele deu voz aos
pensamentos que vem atormentando minha cabeça há algumas
semanas.
Nunca foi apenas sexo casual.
Já haviam muitos sentimentos, muita história envolvida para
que esse lance de amigos coloridos — ou seja lá como chamam essa
merda — funcionasse direito.
Contudo, saber que ele também está sentindo isso, é um
alívio para meu coração.
Não estou sozinha nesse mar de caos.
— Eu não gosto de estar vulnerável perto das pessoas —
confesso, com a voz baixa, e Ash assente, desliziando o corpo pelo
sofá de couro vermelho do estabelecimento e se aconahegando ao
meu lado. — E eu já me sinto assim quando estamos transando e…
e não queria me sentir da mesma maneira fora do sexo. Não por sua
causa, Ash, mas porque… porque…. é complicado.
Ele passa um dos braços ao redor dos meus ombros e seus
dedos fazem carinho no meu ombro.
Sua outra mão alcança meu queixo e ergue minha cabeça
quando eu abaixo-a, envergonhada. Seu hálito sopra no meu rosto e
ele molda meu maxilar, encostando a testa na minha.
Sinto meus olhos pinicarem, uma indicação clara que as
lágrimas estão prontas para rolarem sobre minhas bochechas.
— Você não precisa me contar se não quiser, Pippa — avisa,
carinhoso. As irises castanhas estão fixas na minha e eu… eu me
sinto segura nesse casulo, dentro do abraço de Asher. — Mas eu
gostaria de saber.
Assinto, segurando seu pulso com cuidado e afastando-o da
minha mandíbula para que eu possa entrelaçar os meus dedos nos
dele.
Nunca contei isso para ninguém.
É uma história tão pessoal que apenas mamãe sabe, e Zach,
já que ela teve que explicar para ele a razão de precisarmos sair às
pressas dos Estados Unidos e não deixar nenhum rastro para onde
iriamos.
Eu, por outro lado, não tive coragem de contar para outra
pessoa.
Nem Emma sabe — e ela é minha melhor amiga.
Não somente porque não quero que ela me veja de outra
forma, mas também porque é… é difícil falar sobre isso, apesar dos
anos de terapia.
É doloroso.
É cruel.
É de uma maldade que nunca presenciei antes ou depois.
Asher aperta minha mão quando me mantenho em silêncio
durante alguns minutos e eu respiro fundo, apertando-a de volta.
— Quer saber? — Diz, de repente. — Esqueça isso. Não
preciso saber de nada se você não estiver pronta para contar, Pippa.
— Eu estou — respondo, sem hesitar. — Só é… é difícil para
mim.
Ele assente, me puxando para mais perto de si.
— Eu estou com você, Pippa.
Uma frase simples, mas dita por alguém que eu me importo
tanto é o suficiente para me dar a coragem que preciso para falar
sobre os tempos mais sombrios da minha vida.
— Tudo começou em Carterville, onde eu morava com mamãe
e… e m-meu pai.
Aposto que você pensou que eu nunca faria isso
Pensei que isso passaria pela minha cabeça
Aposto que você imaginou que eu passaria com o inverno
Seja algo fácil de esquecer
Oh, você acha que eu fui porque fui embora
Mas estou nas árvores, estou na brisa
[...]
Estou chegando como uma tempestade em sua cidade
Você não pode, você não pode me pegar agora
Eu sou maior do que as esperanças que você derrubou
Can’t Catch Me Now | Olivia Rodrigo

anos antes, em Carterville, Estados Unidos

Admito que ser uma socialite da alta sociedade de uma


cidadezinha pitoresca — porém bizarramente rica — no Oregon não
estava nos planos da jovem Victoria, mas cá estamos nós.
Em Carterville[11], Estados Unidos.
Quase doze anos depois de terminar a faculdade, um anel de
diamantes que vale mais do que a casa dos meus pais no meu dedo
anelar esquerdo, uma filha — que é meu maior tesouro — com um
vestido rodado amarelo fazendo caretas para todas as comidas
servidas em seu prato e música clássica sendo a trilha sonora da
noite.
Na minha cabeça, estou em um pesadelo.
Olhe, eu… gosto bastante de Michael, meu marido.
Ele é a pessoa que me proporcionou uma vida confortável e
com muitas regalias, e a razão de eu estar podendo passar isso para
Philippa, nossa bebêzinha — ou quase isso, já que ela fará onze
anos em breve —, contudo, é… é tão diferente de tudo que
imaginava para minha vida.
No início, confesso que eu estava sonhando com essa
realidade.
Michael conseguiu um emprego incrível aqui, comprou uma
mansão à vista e deixou que eu decorasse do meu jeito, sendo o
dinheiro nunca um problema para qualquer móvel ou quadro que eu
quisesse adquirir. Logo depois, descobrimos estar grávidos de Pippa
e foi uma alegria sem tamanho.
Inclusive, o chá de bebê foi aqui mesmo, no Carter Country
Club, com todos os amigos mais próximos de Michael — já que, até
hoje, uma década depois, ainda não sou próxima dessas mulheres.
Elas vieram da riqueza.
Nasceram em berços de ouro.
Já eu… sou uma nova milionária, como gostam de me chamar
pelas costas — e sim, elas usam essa definição como uma ofensa. E
por isso, não há espaço para mim no ciclo social, por mais que
Michael venha tentando me inserir há algum tempo.
Participei de aulas de tênis, hipismo e marquei presença —
ainda marco, já que estamos aqui hoje, no festival de verão — em
todas as festas organizadas pelo clube.
Ainda sim, nunca fiz amizade de fato com o grupo das
mulheres de Carterville.
Pippa também não gosta daqui — e, ao contrário de mim, ela
nunca esteve em outro lugar, com amigos de verdade e pessoas…
mais agradáveis, para saber a diferença. Ela chora algumas vezes
durante a semana, quando chega da escola, alegando certas
brincadeirinhas nada inocentes que seus colegas de classe fizeram. E
quando reclamei na direção, a diretora disse que era apenas bobeira
de criança e nada mais.
Conversei com Michael também e a resposta dele foi ainda
pior.
— Não arrume confusão desnecessária, Vic, ou vou perder
tudo que lutei para conquistar — respondeu, me fuzilando com os
olhos pelo espelho da penteadeira do nosso quarto, enquanto se
arrumava para um encontro semanal com os caras do trabalho na
casa de um deles, em que as mulheres nunca são bem vindas.
Eu vou perder tudo que lutei para conquistar.
Eu.
Não nós vamos perder, mas ele.
Parece que eu e Pippa somos somente acessórios nessa vida
perfeita que ele construiu, como… como figuração, e não os
personagens principais.
— Sorria, Vic — a voz grossa e nada simpática do meu marido
soa no meu ouvido quando ele se inclina por trás de mim. Estou
sentada na mesa redonda destinada a nós, com Pippa ao meu lado,
retirando os temperos ruins do seu canapé de camarão. — Está com
uma cara terrível, querida.
Engulo em seco, levando a taça de champagne à boca e
sentindo o líquido descer amargo pela garganta.
Eu acredito fielmente que amei Michael um dia.
Durante nossos anos de faculdade, ele era meu príncipe
encantado, que veio me buscar em seu cavalo branco e me
prometeu um castelo de diamantes.
O castelo realmente existe, como o reino milionário em que
vivemos.
No entanto, Michael não é mais o príncipe que costumava ser
— ou eu acreditava que ele fosse.
Ele é… é alguém diferente hoje.
Suspiro, odiando o seu toque nos meus ombros nus.
Se antes eu esperava acordada para que ele chegasse do
trabalho e eu pudesse ganhar um beijo antes de dormir, atualmente,
eu vou para cama mais cedo e torço para estar dormindo quando ele
chegar, para que não haja chance de fazermos nada íntimos.
Deus, que tipo de esposa eu sou?
Desejando que meu próprio marido não me toque?
Uma esposa que está farta de toda essa mentira.
— Mamãe, quando podemos ir embora? — Pippa pergunta,
puxando a saia do meu vestido, e eu me viro em sua direção.
Os cabelinhos loiros estão presos em um rabo de cavalo, os
olhos verdes encaram os meus e ela expressa uma face cansada.
Entediada.
Assim como eu.
— Já vamos, meu amor — prometo, mesmo sabendo que é
uma mentirinha.
Precisamos ficar pelo menos até o jantar e, depois, posso
inventar que minha filha está doente e nosso motorista pode nos
levar para casa sem reclamações de Michael.
Pippa suspira, voltando a cutucar a comida com o garfo.
Faço um carinho no seu cabelo, lhe lançando um sorriso.
Também não aguento mais isso, filha.
De repente, algo incomum acontece entre as pessoas do
clube.
Ao mesmo tempo, o celular de todos ressoam um toque
estridente de uma nova notificação, inclusive, o meu.
Franzo as sobrancelhas e olho ao redor.
Todos parecem tão perdidos quanto eu, mas focam a atenção
no aparelho.
Então, faço o mesmo.
Desbloqueio meu celular e entro… na matéria de um jornal
que encaminham.
New York Business, por Ethan Hawkins.[12]
Leio atentamente a notícia, meus olhos se arregalando a cada
linha.
É sobre Isaac Beckett, CEO de uma das empresas mais
importantes e poderosas da cidade e… e todos os crimes que o
desgraçado cometeu.
Cacete.
A lista é imensa e nojenta.
Desde corrupção, como desvio de dinheiro até… até festas
clandestinas com abuso de álcool, drogas e mulheres.
Crianças, até.
Sinto meu estômago embrulhar e coloco a mão sobre a
barriga, tentando controlar o vômito que se forma.
Isso é tão cruel.
De uma maldade que nunca vi antes na vida real.
— Isso é uma completa blasfêmia! — Isaac grita, empurrando
a mesa com força e o som agonizante de talheres e pratos caindo no
chão alcança meus ouvidos, já que estamos em mesas próximas. —
Quem inventou essas mentiras, vai pagar! Eu nunca fa…
Nunca tive uma boa impressao de Isaac — que também é
amigo próximo de Michael, e porra, frequenta nossa casa —, mas
não imaginava que ele estivesse envolvido nesses absurdos.
Ergo a cabeça, me virando lentamente para Michael e
perguntar se ele por acaso sabia disso, quando o telão da festa se
acende e uma voz alterada ressoa pelos auto-falantes espalhados
pela festa.
— Sou filha de Isaac Beckett — a voz do vídeo no telão diz,
chamando a atenção de todos os convidados. De soslaio, vejo Pippa
distraída, brincando com os talheres e agradeço por ela ser pequena
e não entender o que está acontecendo. — Ele e minha mãe tiveram
um caso, há pouco mais de quinze anos. Ele… ele a destruiu. Ele
iludiu-a, dizendo que seríamos uma família, que iria largar a atual
para ficar conosco e… e nos largou na primeira oportunidade. Isaac
Beckett destroçou minha mãe. Ela nunca mais foi a mesma depois
dos abusos psicológicos e físicos dele. E agora, é ele quem está
sendo destruído.
Os olhares de todos recaem no CEO mais poderoso da cidade,
que está claramente furioso em ser desmascarado.
Michael está paralisado ao lado da minha cadeira.
A expressão vazia.
Pálido.
Rígido.
Parece estar… com medo.
Mas medo de quê?
— Vamos embora — decide, saindo do desporto e puxando a
minha cadeira e de Pippa para trás, com brutalidade. Sua mão se
fecha ao redor do meu braço, me fazendo tropeçar no pé da mesa e
quase me espatifar no chão. — Vamos, Victoria. Philippa, pare de
brincar e levante agora, porra!
Pippa se assusta com a grosseria do pai e desvia os olhos
verdes para mim.
Eu apenas assinto e entrelaço meus dedos aos dela, seguindo
Micahel para a saída, ainda sem entender, de fato, o que está
rolando aqui.
Além do óbvio: que Isaac Beckett é um criminoso que merece
estar atrás das grades.
Estamos quase chegando no grande portão de metal do clube
quando olho por cima do ombro e não esqueço o que vejo no telão.
Um compilado de fotos, comprovando todos os crimes
listados na matéria no New York Business, mais especificamente, das
festas doentias organizadas por ele.
O que mais me surpreende, são os rostos conhecidos de
nomes grandes em Carterville.
Especialmente o de Michael Grey.

Assim que o motorista estaciona o carro em frente a nossa


casa, Michael corre apressado para a residência sem ao menos olhar
para trás. No entanto, ele grita por cima do ombro:
— Arrumem as coisas! Vamos embora imediatamente!
E foge para dentro.
— O que aconteceu com o papai, mãe? Ele tá bem? — Pippa
pergunta quando ajudo-a sair do carro e ando a passos rápidos para
casa.
— Ele… ele só está nervoso, querida, mas vou conversar com
ele — respondo, tentando não assustá-la.
Ela dá de ombros e, felizmente, não insiste no assunto.
Logo quando estamos no hall de entrada e Pippa tira as
sapatilhas, chamo a funcionária da casa e peço para que ela
entretenha minha garotinha durante um tempo enquanto eu e
Michael conversamos.
Sem pestanejar, as duas vão para o jardim de trás da casa,
para a casa da piscina, onde é o quarto de brinquedos de Pippa,
deixando eu e meu marido sozinhos por aqui.
Subo as escadas de dois em dois degraus e viro a direita no
corredor, andando diretamente para nosso quarto. Encontro Michael
com a mala grande aberta em cima do sofá do closet, jogando as
roupas de qualquer jeito ali dentro.
— O que está acontecendo, Michael? — Pergunto, parando no
batente da porta e cruzando os braços.
Ele nem se dá ao trabalho de me olhar quando responde:
— Arrume as malas, as suas e de Philippa, porque estamos
indo embora. Agora, Victoria.
Até parece.
Já que ele não quer me dar atenção do jeito fácil, será do
jeito difícil.
Assim, me coloco no caminho entre os cabideiros e a mala,
interceptando-o.
— Não vamos a lugar nenhum até que você me explique o
que está acontecendo — aviso, em um tom sério, encarando-o nos
olhos.
— Nada com o que você precise se preocupar, querida — diz,
forçando suavidade e calmaria em sua voz. — Vou te explicar melhor
quando sairmos daqui. Pode arrumar as malas, por favor?
Por favor.
Faz anos que Michael não me pede por favor.
— Você estava envolvido naquelas festas, Michael? Participava
daquelas… daquelas coisas cruéis, horrorosas e, acima de tudo,
criminosas? Você era parte daquilo também?
A corrupção, lavagem de dinheiro, e tudo que diz respeito
somente a empresa, não a pessoa que ele é, não é tão importante
para mim.
Contudo, o trecho da matéria que expõe o que acontecia de
fato naquelas festas…
Meu estômago embrulha mais uma vez enquanto espero uma
resposta dele.
Do meu marido.
Do homem que eu… que eu amava.
Da pessoa que eu larguei tudo e todos para ficar juntos.
Uma parte de mim espera que ele diga que não.
Que a razão dessa correria toda é porque ele é inocente e
essa é a saída dele desse escândalo que não o envolve.
Uma parte de mim, aquela que se apaixonou pelo sonhador e
ambicioso Michael de vinte anos, deseja que isso seja todo um
pesadelo e apenas mentiras.
Que ele não está destruindo nossa família nesse instante,
mais do que já estava fazendo nos últimos tempos.
— Precisamos ir, Victoria — retruca, ácido, e não responde
aos meus questionamentos.
— Michael — chamo, segurando seu pulso quando ele tenta
passar por mim. — Me diga a verdade. Me fale que você não é um
monstro que… que fazia aquelas coisas terríveis c-com mulheres e…
caramba, Michael, com crianças! V-você… não fazia isso, fazia?
Lágrimas rolam pelo meu rosto quando ele, mais uma vez,
não diz nada, mas é resposta suficiente.
Estou casada com um monstro.
Enfurecida, deixo-o sozinho no andar de cima e corro escada
abaixo.
Primeiro, vou até a casa da piscina onde Betty, minha
funcionária, observa Pippa brincar com a casa de bonecas, alheia a
tudo que está acontecendo.
Enquanto eu puder manter essa inocência, essa ingenuidade
de criança, na minha filha, eu vou.
— Meu amor — chamo-a e ela ergue a cabecinha, os olhos
verdes indo de encontro aos meus e um sorriso repuxa seus lábios
para cima. — Vamos voltar? Preciso procurar algo no escritório do
papai e queria companhia.
É um pedido inusitado, claro, mas Pippa ainda é pequena e…
e não vai perceber nada de errado.
Espero que não.
Ela assente e se levanta do chão, entrelaçando a mãozinha na
minha.
— Para o papai não ficar mais nervoso, mamãe? — Indaga
quando nós três seguimos de volta para casa.
— É, é isso mesmo, meu amor — respondo, deixando um
beijo no topo da sua cabeça. — Por que você não vai na frente e
senta naquela poltrona grandona enquanto me espera, huh?
Os olhinhos se iluminam de animação.
— Sempre quis sentar lá! — Diz, correndo em reação ao
cômodo ao lado da sala de jantar.
Espero que ela esteja lá dentro antes de me virar para Betty.
— Preciso que você ligue para a polícia — peço, em um tom
de voz baixo e os olhos da senhora de quase sessenta e cinco anos
se arregalam. — E que seja discreta, Betty. Diga nosso endereço e
que Michael Grey mora aqui e que está planejando fugir.
— M-mas, senhora Grey, o que está…
— Por favor, Betty — digo, segurando carinhosamente sua
mão e acariciando-a com meu polegar. — Só… só faça isso por mim,
tá legal? E depois, pode ir embora.
Assustada, Betty assente e segue o corredor longo para a
cozinha, enquanto eu adentro o escritório de Michael.
Pippa está sentada na grande poltrona de couro marrom,
onde o pai nunca a deixou ficar, e brinca distraidamente com o
tabuleiro de xadrez na mesinha de apoio.
Ligo a televisão entre as estantes de livros e coloco no canal
de notícias, em que estão reportando em tempo real todo o
escândalo de Isaac Beckett e seus amigos próximos.
Preciso tirar Philippa daqui, é o que vem rondando minha
cabeça desde quando meu marido praticamente admitiu que é um
estuprador, pedófilo e sabe Deus mais o quê.
Um criminoso que merece… merece mais do que somente
estar atrás das grades.
Por mim, ele teria facilmente uma pena de morte.
Nunca mais chegará perto de Pippa.
Porém, como vou tirar minha filha da cidade? Para onde
vamos? O que vamos fazer?
O relacionamento com Michael nunca foi dos mais tranquilos.
Ele me afastou de todos meus amigos, da minha família, de… de
tudo. Estou há anos sem falar com ninguém, totalmente isolada em
Carterville e… e sobrevivendo.
Porque mesmo tendo todos os luxos que ele me proporciona,
eu não tinha o mais importante.
Amor.
Amizades.
Família.
Ele me tirou tudo quando tinha os ataques de ciúmes e
alegava que ninguém me amaria como ele ama; que nenhuma
pessoa poderia me dar o que ele estava disposto a me dar.
E eu, como uma boba apaixonada, acreditei cegamente nas
suas palavras.
Olha onde vim parar.
Estou pensando no que fazer, onde posso ir, para quem posso
ligar, quando seu nome sendo citado na televisão chama minha
atenção.
— A polícia informou que foram encontrados e-mails,
mensagens em aplicativos de celular e outros meios de comunicação
entre Isaac Beckett e seu COO, Michael Grey, contendo mais provas
do que acontecia nas festas organizadas pelo grande CEO de
Carterville. O conteúdo revela a filha de Michael, que ele planejava
levar na próxima comemoração dos amigos. Fotos e vídeos da
garota menor de idade foram enviados para seu chefe e, nas
legendas, frases como “é um presente por tudo que você já fez por
mim”, “ela ainda é pequena, mas tenho certeza que vai ser gostoso”
e “é o que dizem, rapazes, basta saber engatinhar que…
Desligo a televisão na mesma hora e viro de costas para
Pippa, despejando o pouco que comi na lixeira embaixo da
escrivaninha.
Esse… esse filho da puta!
Que porra ele estava pensando em fazer com a nossa filha?
Com uma garotinha de onze anos, caralho!
Que… que coisa mais absurda.
Nojenta.
Doentia.
Como… como alguém pode ser tão doente assim?
Ele estava pensando em vender o corpo de…
Não.
Não quero mais pensar nisso, imaginar o que poderia ter
acontecido se a filha de Isaac não tivesse revelado tudo.
Mais uma semana e Pippa poderia…
Vomito mais um pouco, até que não sobre mais nada no meu
estômago e sangue se misture com a gororoba que acabei de
colocar para fora.
Alcanço a caixinha de lenço de papel na mesa do desgraçado
e limpo minha boca, tentando me recompor.
Não é o momento de surtar ou de planejar o homicídio de
Michael.
Primeiro… primeiro, preciso sair daqui.
Tirá-la daqui.
Isso é o importante agora.
Então, de repente, uma luz se acende na minha cabeça no
meio de todo esse caos.
Uma pessoa, na verdade, aparece na minha mente.
Alguém… alguém que foi essencial na minha vida e que, por
conta de Michael, também perdi.
Respiro fundo e forço minha memória, tentando lembrar do
número de celular que decorei há anos atrás e, por um milagre,
segue arquivado nas minhas lembranças.
Uso o telefone fixo do escritório para ligar.
Chama uma.
Duas.
Três.
Quatro vezes.
E estou pronta para desligar, afinal, ele provavelmente trocou
de número depois de todos esses anos, mas a ligação é atendida,
para minha total surpresa.
— Pois não?
A voz é mais madura do que eu me recordava.
Áspera.
Calma.
E mesmo tendo se passado mais de uma década, eu nunca
seria capaz de esquecer da segunda pessoa que mais me fez feliz no
mundo, depois da minha filha.
— Zach? — Digo, sentindo meu coração bater freneticamente
dentro do meu peito.
Ele arfa do outro da linha, tão desacreditado quanto eu.
Zachary Blakewood é um antigo amigo dos meus tempos de
faculdade, antes de eu sequer pensar em conhecer Michael.
Nos conhecemos na primeira semana, no trote dos calouros,
quando ele me protegeu de uma bexiga cheia de tinta que foi
lançada em minha direção, embora eu não estivesse ativamente
participando da brincadeira.
Ele pediu desculpas e me chamou para tomar um café na
semana seguinte.
Desde então, nos tornamos melhores amigos.
Ate que e conheci o pai da minha filha, me apaixonei como
uma idiota e deixei que ele ditasse tudo que eu fazia com a minha
vida.
— Vic? — Responde, o sinto atordoado pelas pela forma que
pronuncia meu apelido, com o sotaque canadense.
Meus olhos enchem de lágrimas.
Um alívio instantâneo toma conta do meu coração, mesmo
com a loucura desse momento.
— Zach, eu… eu preciso de você — consigo dizer, segurando
o choro.
Ele não hesita em responder milésimos de segundos depois
de eu terminar de falar:
— O que você quiser, Vic. Pode contar comigo.
Estou vendo a dor, vendo o prazer
Ninguém além de você, 'corpo além de mim
'Corpo, mas nós, corpos juntos
Eu amo te abraçar, esta noite e sempre
Eu adoro acordar ao seu lado
[...]
Na cama o dia todo, na cama o dia todo, na cama o dia todo
Fodendo e lutando
É o nosso paraíso e é a nossa zona de guerra
PILLOWTALK | ZAYN

Michael Grey é o número um na minha lista de pessoas que


eu gostaria de porrar — ou, nesse caso, matar.
Não que houvesse uma lista antes de Pippa me contar toda a
verdade sobre sua mudança repentina para o Canadá — para a
minha casa —, mas, agora, com certeza tem e o primeiro nome é do
filho da puta do seu pai.
Como alguém pode ser tão cruel assim?
Com sua esposa e filha, porra?
Que ser humano nojento.
Desgraçado.
Espero que ele apodreça atrás das grades e nunca mais de o
ar da graça perto de Pippa ou de sua mãe.
Philippa era só uma garotinha quando tudo aconteceu.
Quando sua vida virou do avesso e ela precisou atravessar o
país para buscar proteção e abrigo com uma pessoa que não
conhecia, em um lugar que ela nunca tinha sequer visitado antes.
Cacete, ela foi corajosa para caramba.
Você não facilitou sendo um babaca com ela durante anos.
Porra, claro que não.
Se eu soubesse de todos os detalhes do passado da família
Caldwell, eu… eu não teria agido da forma que agi.
Pelo menos, não no início, assim que elas chegaram e nada
havia desandado ainda.
Não teria feito a estadia delas ser pior do que provavelmente
já estava sendo.
Caralho, sou estúpido para cacete!
Pippa me odiava porque forçamos essa inimizade durante os
anos a troco de nada ou por que eu fiz da vida dela um inferno
quando ela já morava com o próprio diabo antes?
Não sei, porra.
Caralho!
Essa dúvida está martelando nos meus pensamentos há
alguns dias, desde quando Pippa, forte de um jeito que somente ela
é, revelou tudo sobre seu passado antes de morar em Edmonton e
eu pude entender de onde certos traços de sua personalidade vem.
Minha garota é uma força da natureza.
Sim… minha garota.
Ela pode até achar que não me pertence, mas sabemos que
só uma pessoa no mundo é capaz de fazê-la se sentir tão bem na
cama e fora dela, e essa pessoa sou eu.
Tão improvável, mas… tão certo.
Somos nós.
Um casal que ninguém apostaria que pudesse acontecer, mas
que faz muito, muito sentido.
Estou sonhando acordado com o momento em que podemos
assumir nosso relacionamento — porque, claramente, já se tornou
um há algum tempo — quando ouço o ranger da porta do meu
quarto soar e a cabeleira loira de Pippa aparecer entre ela.
— Tá acordado? — Pergunta e eu assinto, por mais que a
resposta seja óbvia.
De fininho, ela entra e tranca a porta antes de caminhar até a
cama onde estou deitado.
Eu me ajeito por cima das cobertas, sentando-me e apoiando
as costas na cabeceira de madeira.
A única luz que ilumina meu quarto a essa hora da noite é a
do poste da rua, fazendo com o que eu veja somente um vislumbre
da figura de Pippa ao pé da minha cama.
Mesmo assim, não é difícil enxergar quando ela retira o robe
de seda vermelho e, sob ele, está vestindo apenas uma lingerie
rendada da mesma cor.
Porra.
Meu pau já começa a se remexer dentro da minha cueca
apenas observando nossa garota e pedindo um pouco de atenção
dela.
Com um sorriso largo e provocativo, ela sobe no colchão e se
posiciona no meu colo. Uma perna de cada lado do meu quadril, e
finca as unhas grandes nos meus ombros.
Assim, consigo vê-la perfeitamente.
Os olhos verdes únicos, as mechas loiras caindo sobre seu
rosto e os lábios carnudos e convidativos.
Tal como seus seios fartos, quase pulando para fora do sutiã
rendado.
Tentador pra caralho — e meu membro acha o mesmo.
Contudo, quando Pippa se inclina para me beijar, eu preciso
de muita força para segurar seus pulsos e não deixá-la concluir seu
objetivo.
Afinal, estou louco para me enterrar fundo nela.
Como todas as outras vezes.
As sobrancelhas dela se franzem em confusão e antes que
possa chegar a conclusões precipitadas, eu solto a pergunta que
está me assombrando todas as noites:
— Eu… — coço a garganta, deixando minha voz mais firme.
— Eu piorei tudo quando você chegou, não foi? — Ela continua com
o rosto retorcido, não entendendo nada do que estou falando.
Cacete. — Você já tinha passado por muita coisa, Pippa, e logo
quando você pisou os pés aqui, eu.,. eu te tratei muito, muito mal.
Por nenhum motivo real. E… e eu me odeio por isso. Por ter piorado
uma situação que já era uma merda para você. Então, eu peço
descul…
A mão macia e com cheiro de hidratante de pêssego de Pippa
cala minha boca.
Ela está sorrindo e revira os lindos olhos.
— Você não precisa pedir desculpas quando me fez me sentir
normal, Ash — esclarece e agora, é minha vez de unir as
sobrancelhas em uma expressão confusa. — Eu estava com medo
das pessoas me tratarem diferente por… por tudo que aconteceu no
passado. Antes de irmos embora de Carterville, as pessoas lá… —
Pippa suspira e, com a mão livre, eu aperto seu quadril. Ela abre um
pequeno sorriso em resposta. — Elas nos olhavam com pena. Ou
com repúdio, entende? Porque não acreditavam que não estávamos
envolvidas nas coisas que meu pai fazia. Alguns acreditavam que
éramos cúmplices e estávamos mentindo, e outras, vítimas. E… e eu
sei que, teoricamente, somos sim vítimas das merdas que ele fez,
mas… mas eu não queria… não quero, ser definida apenas por isso,
sabe? E você, Asher — ela sorri verdadeiramente quando diz o meu
nome e retira a mão da minha boca. Acaricio suas costas, ainda
querendo passar segurança e cuidado pelo meu toque. — Você pode
ter inventado uma rixa boba entre nós dois logo no início, porém,
você não me tratou diferente. Você me fez sentir como uma criança
nor… comum de novo. Então, por favor, Ash, não se desculpe por ter
me salvado, da sua maneira.
Estou… porra, estou sem palavras.
Ainda não acho certo a maneira que tratei Pippa durante
todos esses anos por um capricho merda, poróm, uma parte de mim
fica aliviada que, mesmo que do meu jeito babaca e idiota, pude
ajudá-la de alguma forma.
Que eu pude fazer Pippa se sentir bem novamente consigo
mesma, embora tenha sido de forma inconsciente.
Agora, posso fazer isso conscientemente.
— Já podemos fazer o que eu vim aqui fazer ou você tem
mais alguma asneira que criou na sua cabecinha para me dizer? —
Pippa provoca, se movimentando em cima do meu pau para me
mostrar como está bem animada.
Bem, meu membro está do mesmo jeito.
Louco por ela, assim como eu.
Em um movimento rápido, inverto nossas posições, girando-a
na cama e arrancando um gritinho de surpresa dela.
— Shhh — peço, colocando o dedo indicador por cima dos
seus lábios em um gesto universal de silêncio. — Você não quer
acordar nossos pais, quer? Não sei se sua mãe gostaria de descobrir
o quão depravada a filhinha é.
Os olhos de Pippa escurecem de desejo quando roço meu pau
contra sua barriga, já duro, e eu não aguento mais um instante
dessa distância.
Apoio um dos cotovelos no colchão ao lado da sua cabeça e,
com a outra mão, moldo sua mandíbula e colido minha boca contra
a sua em um beijo urgente.
Sempre é assim com Pippa.
Passo uma noite sem beijá-la e é como se duzentas tivessem
se passado.
Não é um simples querer, é uma necessidade estar junto dela.
Ela sorri de um jeito sapeca quando me encerro nosso beijo,
apenas para descer meus lábios pelo seu pescoço, deixando
mordidas por onde passo.
Chego, enfim, em seus peitos, coberto pelo fino tecido do
sutiã de renda, e antes que eu possa colocar um mamilo na boca,
brinco com eles sobre a lingerie, provocando-a.
— Ash — Pippa geme, manhosa, e sei que quer mais.
Sei tudo sobre ela, principalmente na cama, onde começamos
a nos conhecer melhor primeiro.
— Você se vestiu assim para mim, não foi, Pippa? —
Pergunto, levando um dos meus dedos para a alça vermelha do
sutiã. Ela não responde, então, deslizo a alça pelo seu braço até
retirá-la, porém, não deixo-a pelada ainda. Ainda não. — Diga,
irmãzinha, que você saiu pelos corredores da casa apenas com um
robe lhe cobrindo para vir até aqui e implorar para sentar gostoso no
meu pau.
Belisco um mamilo e ela grita meu nome.
Alto o suficiente para que eu precise dar um jeito na minha
garota escandalosa.
Eu gosto de ouvi-la gemer e gritar, deixando claro que estou
satisfazendo-a e que todos os babacas ao nosso redor saibam disso
— levando em consideração que temos esses momentos íntimos em
lugares públicos às vezes, como banheiros e vestiários da faculdade.
No entanto, em casa, é um pouco diferente.
Por mais que eu não me importe que Zach ou Victoria saibam
o que estamos fazendo, tenho receio que não aprovem e tentam
afastar Philippa de mim.
Isso seria um problema.
Portanto, há regras diferentes sob esse teto.
— Eu disse que você precisava ficar quietinha, Pippa, para
que ninguém nos ouvisse — relembro-a, encarando seus lindos olhos
verdes. — Mas se você não consegue fazer isso sozinha…
Rápido, eu tiro não só a minha cueca, deixando que meu pau
ereto pule para fora, mas também a lingerie de Pippa.
Linda, e sei que ela me mataria se eu rasgasse.
Jogo minha roupa íntima e a parte de cima da dela pelo
quarto, porém, com sua minúscula calinhca vermelha… eu fico.
Tenho outro uso para ela hoje.
— Você vai ficar em silêncio agora, Pippa, para que não
arranje problemas para nós dois — aviso, alisando meu pau; suas
sobrancelhas se franzem.
— O que…
Sorrio, acariciando seus seios.
Em seguida, coloco o amontoado de tecido na sua boca.
— Boa garota — elogio, deixando um beijo em sua testa
antes de descer pelo seu corpo novamente e voltar ao que interessa.
Abocanho um seio enquanto estímulo o outro com os dedos.
Pippa se remexe sob mim e tenta gritar, mas é impossível
com a calcinha enfiada na sua boca.
Continuo dando atenção para seus peitos e os dedos de Pippa
afundam nos meus cabelos, me empurrando para baixo.
— Minha garota quer ser chupada hoje, não quer? —
Provoco, erguendo a cabeça enquanto desço uma das mãos para
sua boceta. Aliso seus grandes lábios, sentindo… porra. — Cacete,
Pippa, você está pingando por mim. Já estava assim quando chegou
ou isso é tudo obra minha?
Obviamente, ela não responde, mas sua boca se estica e
imagino que seja um sorriso.
Lentamente, introduzo dois dedos dentro da sua boceta e ela
se contorce sobre o colchão.
Tão sensível, a minha garota.
O toque quente da minha língua desliza pelo seu mamilo ao
mesmo tempo em que mexo os dedos em um vai e vem, no ritmo
que ela gosta.
Em resposta, Pippa arranha minha nuca e mordo seu seio,
chupando sua pele até que seja suficiente para se tornar uma marca
mais tarde.
Para ela saber a quem pertence e parar com essa palhaçada
de dizer que não é minha.
Até parece.
Toco seu clitóris também, enquanto meus dedos continuam
dedilhando seus lábios e entrando e saindo das suas paredes
escorregadias.
Dando toda atenção para sua boceta agora, especialmente o
clitóris, não demora muito para que o corpo de Pippa seja dominado
pelo orgasmo.
O choque de prazer toma conta dela, a fazendo gozar,
lambuzando todos os meus dedos.
Que delícia.
Espero que ela se recupere minimamente do orgasmo forte e
não dou chance para que relaxe antes de me jogar contra o colchão
e trazê-la para cima de mim.
— Vou tirar a calcinha da sua boca, mas você tem que
prometer ficar quietinha, tá legal?
Pippa assente e eu retiro a peça.
Logo no instante seguinte, ela esmaga a boca contra a minha
e senta no meu pau.
Caralho.
Aponho seu gemido com língua quando estoco devagar
dentro de Pippa, segurando sua garganta.
Os peitos dela balançam à medida que quica em mim.
— Isso, Pippa. Senta gostoso no pau do seu irmãozinho —
ordeno, ajudando-a nos movimentos de descer e subir, e volto a
beijá-la selvagemente.
Não aguento a tentação e desgrudo minha boca da de Pippa
mais uma vez para apanhar um dos seus seios na boca.
Sugo seu mamilo com a língua.
Ela tomba a cabeça para trás, ofegante, e desfiro um tapa
ardido na sua bunda.
Pippa morde o lábio inferior, a fim de não deixar o gemido
alto escapar.
Dou mais um tapa na sua nádega e volto a devorar sua boca.
Continuo fodendo-a, determinando um ritmo forte, rápido e
profundo.
Ela finca as unhas no meu antebraço quando saio totalmente
dentro de dela e entro de novo, de uma vez e rápido.
Pippa balança os quadris e sei que é um pedido por mais.
Então, dou mais a ela.
Invisto com mais força, metendo forte meu pau e levo uma
das mãos para sua boceta, acariciando seu clitóris.
— Ash — chama, baixo, e sei que é porque ela está chegando
lá novamente.
Mais uma vez, nos giro na cama, ficando por cima dela e
beijando-a com volúpia.
Dando tudo de mim nesse beijo, como em todos os outros.
Nossos lábios se movem em sincronia, ao mesmo tempo em
que estimulo seu ponto sensível.
As paredes internas da sua boceta se fecham, querendo
expulsar meu membro dali e é um sinal que Pippa está prestes a
gozar.
Meto mais algumas vezes nela, erguendo um dos seus joelhos
para cima e alcançando um ponto bem fundo dentro dela.
Juntos, chegamos ao ápice.
Esporro toda a minha porra dentro de Pippa.
Faço sua boceta gulosa engolir cada gota enquanto continuo
beijando-a e impedindo que seus gritos quando goza acordem a
casa inteira nessa madrugada.
Seu corpo relaxa e ela respira erráticamente, nossas
respirações descompassadas se misturando.
— Isso foi… — diz, um pouco zonza pelo orgasmo animalesco
e eu assinto com a cabeça, tão sem palavras quanto ela.
A melhor foda com Pippa é sempre a próxima.
— Do caralho — completo, saindo de dentro dela e
depositando um beijo casto na ponta do seu nariz, e, depois, em sua
bochecha.
Por mais que eu goste de ficar no quentinho da sua boceta,
está tarde e ela provavelmente está cansada. Portanto, mesmo
sendo contra minha vontade, me afasto e vou até o banheiro,
molhando uma toalha na água morna da torneira e trazendo para
limpá-la.
Demoro menos de cinco minutos, porém, quando volto, os
olhos dela estão fechados e sua cabeça tombada de lado na cama.
Sorrio com a visão dos cabelos loiros espalhados pelo meu
travesseiro e a respiração suave de Pippa, indicando que dormiu.
Fácil assim.
Me aproximo em silêncio e quando vejo um pouco de gozo
deslizando pelas suas coxas… caralho.
Me sinto um homem das cavernas, mas… mas, foda-se.
É uma sensação — mesmo que primitiva — ótima vê-la
marcada por mim. Não só pela porra, mas as marcas espalhadas por
todo seu corpo.
Minha.
Empurro o gozo para dentro da sua boceta e limpo o que não
consigo, devagar e carinhosamente para não acordá-la.
Eu poderia me acostumar com essa vida.
Em transar com Pippa toda noite e acordar da mesma
maneira.
O pensamento, por incrível que pareça, não me assusta.
Não como as outras vezes quando entendi que estava atraído
por Philippa Caldwell.
Porque agora sinto que é mais do que uma atração física.
Aliso a bochecha de Pippa, colocando uma mecha loira para
trás da orelha e ela se mexe, mas não acorda.
Me deito ao seu lado, puxando as cobertas para cima de nós
dois e me encaixando atrás dela. Passo um dos braços pela sua
barriga chapada, e o outro, coloco atrás de sua cabeça com cuidado.
Philippa pode ter sido uma zona de guerra proibida para mim
durante muitos anos, no entanto, agora… agora estou tendencioso a
crer que ela é o meu paraíso.
Nunca estive apaixonado
Nunca senti nada até agora
Enquanto eu estava deitado aqui na sua cama
Eu preciso de você no meu peito
Para me aquecer o tempo todo
Para fazer cócegas com sua respiração
Doce em seus lábios
Não há nada de comum entre nós
Eu vejo todas as suas falhas e imperfeições
Mas é isso que me faz te amar mais, oh-oh-oh
Nós temos uma conexão tão espiritual
Você não sabe que você é linda pra caralho
Common | ZAYN

Eu preferia estar aproveitando a minha noite de sexta-feira


chuvosa agarrado em Pippa, por debaixo dos cobertores pesados da
sua cama e terminando de maratonar todos os filmes de terror da
franquia de Pânico.
E no fim de cada um, sorreitamente eu iria me encaixar atras
dela, ela esfregafaia aquela bunda gostosa no meu pau e fariamos
um sexo gostoso, lento e cheio de desejo.
Infelizmente, meus planos foram por água abaixo.
Por culpa de Philippa.
Na verdade, de Brooke.
Porque a ruiva inventou que ela, Emma e Pippa estavam
passando pouco tempo juntas, e por isso, precisavam urgentemente
de uma noite de meninas.
Hoje.
Pippa me comunicou por mensagem os novos planos dessa
noite e saiu de fininho de casa, sem ao menos se despedir de mim.
Acredito que, no fundo, ela sabia que se viesse até mim, eu
daria um jeito de não deixá-la sair e passaríamos a noite abraçados
e transando.
Esperta.
De todo jeito, fui surpreendido por um convite de Kevin no
grupo dos caras para irmos beber no Beercade, na Whyte Avenue. É
um bar com cervejas artesanais e jogos de arcade, desde os mais
antigos, como Pac-Man, até os mais recentes, como Mario Kart.
É um lugar do caralho — apesar de eu trocar fácil para ficar
com Pippa, caso ela não tivesse aceitado essa ideia de festa do
pijama das garotas.
Por isso, depois que Knox e Bradley confirmam que vão, eu
faço o mesmo.
Em menos de trinta minutos estou pronto e descendo as
escadas para ir encontrar com eles no Beercade, quando meu celular
vibra no bolso da calça e um sorriso brinca em meus lábios ao notar
quem é a pessoa me enviando mensagens.

Pippa: Brooke comprou um kit de unhas de acrigel em um


site chines de origem duvidosa e agora está maltratando as pobres
unhas de Emma, tentando fazer dar certo.

Em seguida, ela anexa uma foto da manicure ruiva


concentrada na mão de Em, enquanto a cliente em questão faz uma
careta de dor.
Antes que eu possa formular uma resposta, duas outras
mensagens pipocam na minha tela.

Pippa: ela cismou que sabe fazer e que podemos economizar


cem dólares fazendo com ela, mas, na verdade, ela mal consegue
copiar as imagens do manual de instruções.
Pippa: deveria ter ficado em casa com você.

Isso faz meu sorriso se alargar mais.

Eu: eu te disse. Também preferia estar com você aqui do que


indo me encontrar com os caras.

Envio uma foto também que tiro rapidamente no meio da


escada, de cima, em que ela pode ver uma parte do meu rosto e
minha roupa.

Pippa: uau! Que gato!


Pippa: queria sentar em você nesse momento :(

Porra.
Meu pau aperta dentro do tecido pesado do jeans, fazendo
uma pressão nada agradável para sair e entrar em Philippa.
Que está a alguns quilômetros de mim nesse instante.

Eu: diga a palavra e eu te busco agora mesmo.

Foda-se Kevin, Knox e Bradley.


Não há nada que eu queira mais nesse momento do que estar
dentro da minha garota.

Pippa: infelizmente, não posso ir embora. Prometi às


meninas essa noite de garotas :(
Pippa: estou de volta amanhã de manhã! Não sinta muito a
minha falta <3.
Impossível, quero responder, mas, ao mesmo tempo, não
tenho a intenção de assustá-la.
Pondero uma resposta a altura, mas que não deixe muito
evidente que ela é a protagonista dos meus pensamentos a todo
momento, quando esbarro em uma parede ao pé dos degraus.
Não.
Não é uma parede.
É muito macio para ser uma muralha de tijolos.
— Estava sorrindo demais para esse celular, Ash — meu pai
murmura, me segurando pelos ombros para que eu não
desequilibre.
— É… é, acho que sim — respondo, sem pensar demais e
percebo a expressão surpresa de Zachary.
Posso contar nos dedos as vezes que ele falou comigo e eu
não lhe dei um fora desde quando vim morar aqui.
Depois de Pippa me contar a história terrível da sua família e
de como o pai é um dos piores seres humanos que já pisou na face
da terra, venho remoendo a minha relação com meu pai.
Em como deixamos tudo desmoronar entre nós.
Em como ele — percebo, depois de passar um bom tempo
relembrando os últimos anos — tentou reconstruí-la, porém, eu sou
uma pessoa teimosa e rancorosa, e, por isso, arrumei uma forma de
impedir todas as tentativas dele de voltar a empilhar os tijolinhos
desse muro.
Por um motivo muito idiota, diga-se de passagem.
Porque talvez, apenas talvez, ele tenha se envolvido com a
Victoria enquanto ainda estava casado com a minha mãe.
Embora meus pais tenham insistido durante anos que isso
não aconteceu, eu não desisti do meu achismo, transformando em
um ódio sem noção por uma das pessoas que me amou desde o
primeiro dia.
Deixei que esse sentimento me consumisse e descontei todos
os malditos dias da minha vida, nele.
Após Pippa ter desabafado e confiado a mim o seu passado
monstruoso, eu… eu vejo meu pai com outros olhos.
Como um cara que nunca abandonou as antigas amizades,
que não hesitou em ajudar uma grande amiga do passado quando
ela mais precisou, sem pedir mais explicações. Ele poderia não ter
feito nada, afinal, eles não se falavam há anos, mas… mas, esse não
é Zachary.
Zachary Blakewood é aquela pessoa que está ao seu lado a
todo momento, o tempo todo, mesmo quando você não quer que ele
esteja — e eu sei muito bem do que estou falando. Porque ao longo
dos anos, eu tentei afastá-lo de todas as maneiras que encontrei e
ele não foi embora.
Ele não soltou a minha mão em nenhum momento.
E… e agora eu não somente percebo isso, mas valorizo.
Nao sei se estou pronto para falar com ele sobre esse
assunto, mas, ao menos, reconheço o homem foda que ele é e vem
me ensinando a ser desde sempre.
Se eu for um por cento do pai que ele é, para meus filhos, no
futuro, estarei muito feliz.
Ainda mais se esses filhos forem com Pippa.
Deus, essa situação está uma bagunça mesmo.
— Vou sair — aviso, afastando a ideia de ter uma mini Pippa
ou um mini Asher conhecendo por aí, antes que se torne muito
atrativa. — Mas retorno por volta da uma da manhã.
As sobrancelhas castanhas do meu pai se elevam, ainda
assustado por eu estar comunicando meus planos da noite, quando,
antes, ele precisava fazer um grande esforço para que contasse.
E que, no fim, terminava com uma ameaça de castigo.
— Hum… ok, filho. Beleza — diz, um pouco… nervoso. Ele
esfrega as mãos no tecido da calça de moletom e engole em seco.
— Vai de moto? Porque está chovendo bastante e… e acho que me
sentiria menos preocupado se você chamasse um carro de
aplicativo. É mais seguro com esse tempo.
— Tá legal. Vou fazer isso — respondo, desbloqueando o
celular para seguir seu conselho.
De canto de olho, enquanto espero um motorista aceitar a
corrida, observo meu pai, que ainda parece desacreditado com a
conversa civilizada que estamos tendo.
Mordo meu lábio inferior, impedindo um sorriso para que não
o deixe ainda mais sem graça.
Demora exatamente três minutos para que o aplicativo me
indique o nome da pessoa e do carro que está vindo, mas é o
suficiente para um silêncio esqusisito se estender entre eu e Zach.
— É isso — digo, mostrando a tela do celular para ele, onde
aparece que o motorista chegará em dois minutos. — Vou indo.
Tchau, pai!
— T-tchau, filho.
Acho que jamais vou me esquecer do sorriso dele quando,
depois de tanto tempo, eu o chamei de pai, sem nenhuma ironia por
trás.
Sei que ainda não é bastante, mas já é algo.
É o início.
O primeiro tijolinho foi empilhado.

O Beercade é um bar mega popular em Edmonton, então,


quando chego um pouco atrasado no estabelecimento e já o
encontro lotado de jovens — principalmente homens — não é uma
surpresa tão grande.
As luzes neon coloridas iluminam o ambiente, mas os
fliperamas espalhados pelo local também fazem um bom trabalho
com sua iluminação. Não é preciso de uma música, porque o som
alto dos arcades e demais jogos são responsáveis por isso. Uma
sinfonia de sons, devo admitir, mas é um dos charmes do bar. O
cheiro de cerveja é uma fragrância típica e mistura-se no ar com os
perfumes fortes masculinos.
É uma vibe do caralho, mesmo tão cheio que até a locomoção
entre os presentes é complicada.
Acho um pouco difícil procurar por meus amigos no meio da
multidão das pessoas.
Acredito que demoro quase dez minutos nessa missão, até
finalmente ver o cabelo ruivo não tão comum de Brad perto da mesa
de sinuca, nos fundos do bar.
Me aproximo devagar deles, ao mesmo tempo que Kevin está
por trás de Brad e abraça-o, ajudando em uma manobra com o taco.
O ruivo acerta a bola. Knox resmunga algum palavrão e os dois
responsáveis pelo ponto sorriem um para o outro.
Essa cena não é tão surpreendente, porque, há algum tempo,
venho notando que Kevin e Brad estão sempre… juntos. Seja Brad
esperando por Kev após o fim do treino de futebol, seja quando eles
chegam ao mesmo tempo no refeitório para o almoço.
E pelo jeito como estavam bem confortáveis ainda pouco,
acredito que alguma coisa esteja rolando entre os dois.
— Ora, ora — Kevin provoca quando nota minha presença,
segurando um dos tacos de sinuca na mão e, a outra, apoiando em
seu quadril, em uma pose um pouco engraçada, ainda mais pela
expressão em seu rosto. — Parece que a Rapunzel finalmente saiu
de sua torre mágica.
Reviro os olhos, puxando-o para um cumprimento; em
seguida, faço o mesmo com Knox e Brad.
— Tenho quase certeza que a torre não era mágica, mas sim
o cabelo dela — Brad diz, enquanto Knox me ajuda a tirar o taco do
suporte.
— Esse é o Enrolados, não Rapunzel na versão da Barbie —
Knox retruca e todos nós franzimos as sobrancelhas, olhando em
sua direção. — O que foi? Eu sei das coisas — diz, dando de ombros.
— E, na verdade, a torre em si não tem magia, mas um feitiço que a
vilã lançou para que a Rapunzel não pudesse escapar.
A situação só se torna esquisita a cada fato que ele cita sobre
os filmes.
Por que diabos ele sabe de tudo isso?
— Não achei que você fosse fã das princesas ou da Barbie —
Kevin fala, alinhando as bolas da sinuca novamente.
Implicitamente, ficou claro que eu e Knox somos agora um
time contra ele e Bradley.
— Não sou — Knox responde e ele parece pronto para dar
mais alguma informação, mas noto quando os olhos desviam para o
ruivo bebendo sua cerveja, distraído.
Não seria uma surpresa descobrir que é Brooke a fã das
diferentes versões da Rapunzel.
— Asher ainda é a minha Rapunzel favorita — Kevin brinca,
me lançando uma piscadela. — E tenho quase certeza que a magia
que o prende em casa, na verdade, é um chá muito poderoso.
Puta que pariu.
Ele não vai começar.
Ah, porra, por favor, não.
Não contei nada aos caras sobre eu e Pippa, porém, sei que
não estamos sendo tão discretos assim como achamos. Digo, não
aconteceu somente uma vez a coincidência dela precisar ir ao
banheiro quando estávamos no Dewey’s e eu querer comprar uma
cerveja ao mesmo tempo.
Ou pior que isso: nosso sumiço em Calgary.
Knox e Brad estavam preocupados com Brooke, e Emma e
Sydney estavam em um encontro romântico, contudo, Kevin é bem
observador e estava quase à toa aquela noite, deixando a mente
bem livre para sua imaginação fertil.
— Chá? — Brad questiona, genuinamente confuso.
— Cha de boceta — Knox esclarece, sem ao menos erguer os
olhos de sua jogada, acertando a bola em cheio. — Que ele está
recebendo da irmã dele. Inclusive, não seria considerado incesto
nesse caso? Acho que é crime no Canadá.
— Eles não tem relação consanguínea — Brad opina enquanto
Kevin se posiocna para acertar com o taco na mesa o que precisa. —
Náo é incesto.
— Bom ponto — Knox elogia, realmente pensativo sobre o
assunto.
Meu Deus, por que não fiquei em casa hoje?
Na verdade, ainda estou um pouco perdido sobre como eles
sabem sobre isso.
Não estamos sendo exatamente secretos quanto ao nosso
envolvimento, mas não está tão na cara assim.
Não é?
— Vocês… vocês todos sabem? — Indago, aceitando que uma
hora ou outra eu teria que ter essa conversa com eles, já que bem…
estou entendendo cada dia mais o que eu e Pippa temos.
Os três assentem e eu escancaro um pouco a boca, surpreso.
— Ah, qual é, Ash. Você come a menina com os olhos — Knox
rebate, e me preparo para fazer a minha jogada.
— E ela não tira os olhos de vocês quando estamos todos
juntos — Brad complementa e… e eu gosto.
Gosto de saber que eles percebem algo da parte dela
também.
É um pequeno sinal, porém, é com uma faísca que começa
um incêndio.
— E você deixou seu bluetooth conectado com a caixinha de
som da casa de Brad e Knox quando foi embora, e ouvimos um
áudio de Pippa dizendo o que ela queria que você fizesse com ela
quando chegasse — Kevin confessa, arrancando uma risada de
todos nós.
Eu tento não rir, mas é impossível.
Acho que sei que áudio é esse — quando Pippa decidiu
comprar uma garrafa de vinho branco e beber metade sozinha em
seu quarto e me mandou inúmeras mensagens durante — e ela
mataria todos nós se soubesse que eles ouviram também.
— E… — coço a garganta, fazendo-os virar as cabeças para
mim. — E tudo bem por vocês? Nós… estarmos… hum…
— Transando? — Knox oferece e eu maneio a cabeça em
concordância, por mais que, para mim, seja muito mais do que
somente sexo.
Há algum tempo que não é só sobre nossos corpos e a
conexão bizarra que eles têm.
— Se ela gosta de você e você gosta dela… — Brad responde,
secundino os ombros. — E se não machucá-la também, porque se
fizer isso…
— Não vou — prometo, porque apenas a ideia de fazer mal a
Pippa, depois de tudo que essa garota já aguentou, me dá uma dor
física no coração.
— E também não nos troque por ela, tá ligado? Não deixe
uma boceta tomar conta de toda sua cabeça — Knox aconselha e
fecho as mãos em punho com sua fala.
Não me agrada nem um pouco ele falando sobre Pippa assim,
mesmo que eu saiba que não seja especificamente dela, mas de
mulheres no geral.
No entanto, se referir a Philippa como uma boceta?
Bile desce ácida por minha garganta.
— Não vai acontecer — faço outra promessa. — Mas se
chamá-la de boceta mais uma vez, você vai precisar trocar seus
dentes, porque vou quebrar todos.
Não é uma ameaça vazia.
Eu realmente faria isso se ele — ou qualquer um dos caras —
fosse grosseiro com Pippa e Knox percebe que estou falando bem
sério, porque assente e não faz nenhuma brincadeira mais.
Ótimo.
— Se meu amigo está feliz, eu estou feliz — Kevin responde,
jogando um dos braços pelo meu ombro e me abraçando. — E, por
favor, me convide para ser seu padrinho porque conheço os dois há
mais tempo.
Kevin esbarra no meu ombro de leve e eles voltam a se
concentrar no jogo, entretanto, a brincadeira do meu melhor amigo
continua rondando meus pensamentos ao longo da noite.
Sei que estava zoando, porém, ele colocou uma imagem na
minha mente que eu não consigo mais tirar.
Eu e Pippa casando.
Eu beijando-a no altar.
Lhe dando meu sobrenome e um anel de diamantes
embelezando seu dedo anelar.
O mais estranho desse cenário?
É
É que não é estranho.
Honestamente, me parece muito, muito certo.
Eu não estou apaixonado, é apenas um jogo que fazemos
Eu digo a mim mesmo que não gosto muito de você
Mas eu não quero dormir, são três e quinze
Você está na minha cabeça tipo, respire
[...]
Eu mantenho minhas paredes erguidas, se você me quer, é melhor
começar a escalar
3:15 (Breathe) | Russ

O frio do quase início do inverno congela minhas articulações


imediatamente, logo quando saio do fervo da quadra coberta da
Universidade de Alberta.
Quando as temperaturas caem, mudamos nossos treinos de
líderes de torcida para dentro da faculdade. Mesmo com roupas
adequadas, não é nada agradável ensaiar quase três horas com os
queixos batendo de tanto frio.
Não vejo a hora dos meses quentes voltarem e podermos
voltar a usar o campo de futebol americano.
E sim, poderíamos tirar um período de férias após a Vanier
Cup[13], que ocorre na próxima semana, contudo, ao contrário do
que a maioria das pessoas pensam, nossa arte é muito mais do que
torcer e animar a torcida dos Golden Bears.
Nós também participamos de competições próprias para times
de torcida, que ocorreram depois do fim da temporada de futebol,
entre janeiro e abril. Por isso, os treinos não diminuem ou terminam
por conta do inverno.
Pelo contrário, é quando a carga piora e passamos muito,
muito tempo ensaiando para dar o nosso melhor nas competições.
Principalmente a NCA Canadá,[14] em fevereiro, que é nossa
maior meta para o próximo ano.
Estou confiante de que vamos arrasar para caralho e garantir
alguma medalha… e se não for sonhar demais, a de ouro.
Sorrio, sonhando com essa grande conquista para nosso time.
Nós merecemos pelo trabalho duro que vínhamos fazendo há
anos.
Que continuamos fazendo, já que o fim de ano é caótico.
Estamos não só treinando para as últimas partidas de futebol
americano, como também para as competições. E, bem… os
integrantes não estão nem um pouco felizes com a quantidade e
tempo que passamos na quadra.
Uma pena.
A porta está aberta, se quiserem desistir — apesar de que
ficarei puta para cacete se perdermos alguém a essa altura.
A não ser que essa pessoa seja a Serena.
Ela pode ir embora a qualquer momento e ninguém sentirá
sua falta.
Desde quando ela e Asher terminaram… sei lá que merda ela
achava que eles tinham, ela está mais insuportável do que o normal.
Sempre reclamando, me zoando pelas costas — mas falando alto,
para que eu possa escutar —, e ainda falta demais.
Por mim, ela já estaria fora do time, mas como não sou a
treinadora…
Preciso aturar essa mal comida, chata do caralho.
Sororidade acima de tudo, porém, depende.
Me despeço de Emma em seguida, ainda perdida dentro da
minha própria cabeça, e observo-a entrar no carro de Sydney, que,
pelo horário, acabou de sair do treino de hóquei também.
A galera toda do time já se dispersou e estou pronta para
chamar um carro de aplicativo — após recusar a carona das minhas
amigas porque não é o caminho que elas vão e não quero atrapalhar
— para ir para casa, quando avisto um carro que conheço bem
estacionado do outro lado da rua que… que não deveria estar aqui.
Franzo o cenho, atravessando com cuidado, embora
estejamos por trás da quadra e seja uma vizinhança bem tranquila.
Contorno o carro e paro ao lado da janela do motorista e por
conta do insulfilm escuro, não consigo enxergar nada.
Bato duas vezes na janela e quando ela desce
automaticamente, eu… eu me assusto, cacete.
— O que você está fazendo aqui? — Pergunto a Asher, que
me lança um sorriso convencido. — Seu pai sabe que você está com
o carro dele?
Reconheci o veículo tão rápido porque sei de cor o modelo e a
placa do carro do meu padrasto, e como seu turno na universidade
já terminou esse horário e ouvi ontem ele prometendo à mamãe que
chegaria mais cedo em casa, estranhei ainda estar por aqui.
Ainda mais por minha causa.
Não sou tão importante quanto sua esposa, afinal.
— Ele que sugeriu quando disse que ia buscar uma garota
para sair — responde e parece sincero, embora sua fala me deixe
um pouco desconfortável.
Troco o peso dos pés, erguendo um pouco a cabeça para
saber se tem alguém conhecido por perto, mas, felizmente, todos já
foram.
— E… você não disse que a garota era eu, não é? Seria…
estranho — digo, não focando na parte que ele quer me levar para
um encontro.
Ash engole em seco quando ouve minha pergunta, mas nega
apenas chacoalhando a cabeça de leve.
Assinto também.
Mais uma vez, dou a volta no carro e ele empurra a porta do
passageiro para que eu me acomode no banco ao seu lado, sentindo
imediatamente o aquecedor fazendo efeito na minha pele gelada.
— Então… me levar para sair, huh? — Provoco, jogando
minha bolsa no banco de trás e me estico para prender o cinto de
segurança.
Antes que eu possa fazer isso, contudo, Ash se inclina sobre o
painel e substitui minha mão com a sua, afivelando o cinto e, assim,
deixando o rosto a centímetros do meu.
E, caramba, ele fica mais lindo a cada dia.
Os olhos castanhos que nunca imaginei serem carinhosos,
mas são sim. Os fios da mesma cor, um pouco bagunçados, e o
sorriso lascivo quando ele percebe que estou praticamente babando
por ele.
— Um encontro, Pippa — explica, encaixando a mão no meu
pescoço; eu o seguro pela lapela da jaqueta de frio. — Oi.
— Oi — respondo, alargando meu sorriso. — Um encontro?
— Exatamente — confirma e não me dá chances de reclamar,
por mais que eu não faça isso, e colide os lábios com os meus em
um beijo suave.
Sem pressa.
Ele degusta minha boca, movendo sua língua em uma
velocidade lenta, mas muito, muito gostosa.
Como todo outro beijo nosso, me sinto sendo consumida por
Asher.
Pelos seus lábios, seu perfume e seu toque.
A língua desliza pela minha facilmente porque ela já sabe o
caminho; nossos corpos passaram as últimas semanas aprendendo
cada centímetro um do outro, afinal.
Agarro a jaqueta de Ash com mais força, deixando-me levar
pelos lábios macios.
Por um instante, esqueço de tudo ao nosso redor.
Só existem nós dois no mundo.
O que estamos fazendo é certo.
E não precisamos de mais nada, porque somos mais que
suficientes.
Devagar, o beijo vai se encerrando, já que, infelizmente,
precisamos respeitar o carro também. Os movimentos diminuem até
que a boca de Ash roce na minha, em uma provocação, e ele
deposita um selinho nos meus lábios antes de encostar a testa na
minha e acariciar minha bochecha.
Eu abro os olhos e encontro os deles já me observando, um
sorriso decorando seu lindo rosto.
— Pronta? — Pergunta, deixando mais um último beijo na
minha boca antes de se afastar completamente e dar partida no
carro.
Ainda bem, ou, se não, não perderia tempo em subir em seu
colo e dar um bom show para qualquer pessoa que passasse por nós
aqui.
Esse é um dos efeitos que Ash tem sobre mim: despertar meu
lado mais inconsequente.
E eu não deveria gostar tanto disso quanto gosto.
— Onde vamos?
De soslaio, Asher ergue uma das sobrancelhas para mim.
Consigo ler claramente sua expressão.
Você acha mesmo que vou te dizer, Pippa?
Ele não responde, como imaginei, porém, a mão que não está
usando no volante se estende até minha perna e ele entrelaça os
dedos com os meus, sem tirar os olhos da estrada.
— Se for algum lugar chique, eu vou destoar das pessoas
com essa roupa — comento, apontando para o que estou vestindo.
Calça jeans de lavagem clara, botas marrons de cano alto,
suéter creme e um sobretudo um pouco mais escuro por cima. Além
de, óbvio, o cachecol e o protetor de orelhas que estão esquecidos
no banco traseiro.
Um bom look para um dia comum na faculdade, mas, com
certeza, não para um encontro surpresa.
— Você está linda, Pippa — assegura, apertando minha mão.
— Não vai destoar de ninguém porque você sempre é a pessoa mais
bonita do lugar.
Sinto meu rosto esquentar com o elogio e desvio o olhar para
a janela, um sorriso querendo se formar em meus lábios.
Não é como se Asher não me elogiasse. Contudo,
normalmente, isso acontece quando ele está dentro de mim e perto
de gozar. Ou seja, não sei se é o que ele realmente acha ou apenas
o calor do momento.
Pelo visto…
— Não exagera, Ash — protesto, ainda sem parecer
convincente, porque o sorriso continua tentando crescer em meu
rosto.
— Não sou fã de hipérboles, Pippa. Estou falando muito sério
— garante, firme, e mal olha na minha direção quando diz isso,
parecendo encerrar o assunto de “eu não sou tão bonita assim”
antes que comece.
É o jeito doce, mas claro e convicto, sem deixar margens para
dúvidas, que me desconcerta.
Conseguia lidar muito bem com o Asher Blakewood e seu
sentimento de ódio por mim.
Com a versão selvagem dele me comendo na cama.
Agora, com ele sendo fofo?
É novo e… e diferente.
Mas não um diferente ruim.
Na verdade, um diferente muito, muito bom.

Não acreditei onde estávamos quando entramos com o carro


no estacionamento.
Não acreditei quando Asher comprou os ingressos na
bilheteria.
E, definitivamente, não acredito agora, que estamos entrando
pelo túnel subaquático do The Calgary Zoo’s Wildie’s Aquarium.
Minha mão entrelaçada com a de Asher — já que estamos
novamente em Calgary — e meus olhos observam atentamente o
ambiente.
É… magnífico.
Mágico.
Indescritível.
Uma sensação única que nunca tive a oportunidade de sentir
antes.
Me sinto… completa, eu acho.
Como se eu fosse feita para estar aqui todo esse tempo.
Por ser um dia de semana qualquer, o espaco gigante está
vazio, o que nos dá liberdade de explorar com calma e tranquilidade.
As paredes de vidro se curvam em cima de nossas cabeças, onde
conseguimos ver os peixes, arraias e até mesmo filhotes de tubarões
nadando.
— Ai, meu Deus, olha ali! — Exclamo para Asher, apontando
para a medusa-lua que flutua ao nosso lado.
Nessa parte do aquário, as luzes estão baixas e, por isso, é
fácil enxergar a água viva contraindo o disco para se mover e os
tentáculos.
É tudo tão, tão lindo.
— Pela sua cara, acho que não preciso perguntar se gostou —
Ash comenta, em seguida, quando paro para ver o polvo gigante do
pacífico em sua maior graça.
Este cefalópode parece ter por volta de um metro, pequeno,
se levarmos em consideração que podem chegar até cinco metros de
envergadura.
Contudo, mesmo pequeno, o tom vermelho do corpo é
brilhante e chama bastante atenção.
— Eu… — me viro para Asher, ainda deslumbrada com esse
aquário. — Eu acho que nunca mais quero ir embora.
Ele solta uma risada, beijando minha bochecha, sem soltar
minha mão em nenhum momento.
Ele poderia ter ficado na área de alimentação e me deixado
aproveitar essa Disneyland dos animais marinhos por conta própria,
porém, cá está Ash.
Me trazendo para realizar um dos meus sonhos!
Não acredito que falei apenas uma vez sobre esse assunto
com ele, quando estávamos no carro, após a confusão do zoologi…
espera.
Paro abruptamente, me dando conta de algo e Ash se vira,
voltando a ficar de frente para mim e franze as sobrancelhas.
— Algo de errado? — Indaga e com a mão livre, acaricia meu
antebraço.
Eu nego rapidamente, mexendo a cabeça em negação.
— Você estava prestando atenção — solto, dando voz aos
meus pensamentos para tentar entender melhor o que está
acontecendo aqui. Asher, no entanto, parece ainda mais confuso do
que eu. — Eu te contei que sempre quis vir em um desse no carro,
depois de você aparecer no zoológico e… e aquele clima esqusito no
carro. Não achei que você estivesse prestando atenção porque…
bem, porque você estava calado. Mas você ouviu tudo, não foi?
Com a minha explicação, ele parece relaxar.
Ash suspira, aliviado e circula minha cintura, me trazendo
para perto.
Apoio minhas mãos em seu peitoral e ergo a cabeça para ter
meus olhos fixos nos dele.
Com a outra mão, ele molda meu rosto e eu me inclino sobre
seu toque.
Gosto quando ele em fode bruto na cama, mas acho que
estou passando a gostar ainda mais quando ele é carinhoso comigo.
— Eu sempre ouço tudo que você diz, Pippa — esclarece, e
meu coração… ah, meu coração não sabe diferenciar a sensação de
ganhar na loteria e ter Asher Blakewood me dizendo coisas como
essa.
Não conversamos explícitamente sobre o que temos, mas
acho que era implícito que era somente sexo para descontarmos
todo o tesão acumulado desses anos que passamos nos odiando.
Nada além disso.
Algo temporário, já que ele está indo embora daqui a alguns
meses.
Uma diversão fácil, mas… mas, meus sentimentos se
transformaram e não sei se concordo com essa definação de “sexo
casual” ou seja lá o qeu estávamos fazendo.
E, pelo visto, acredito que Ash também não.
O episódio do ciúmes de Owen — o segundo, porque não
podemos esquecer o primeiro que me rendeu uma das melhores
fodas da minha vida — foi a primeira indicativa, para mim, que algo
estava mudando entre nós.
Contudo, a porra de um encontro em um aquário com esse
túnel submerso?
Nao há nada de sexo casual por aqui mais.
— Não acredito que você lembrou — digo, ainda um pouco
desconcertada por tudo isso.
Confusa também, porque embora eu saiba que o que eu sinto
por Asher com certeza não é ódio, não sei o que é exatamente.
Perdida é outro adjetivo que pode definir como estou, se
ainda estivermos falando de sentimentos. Já namorei algumas vezes
antes, me apaixonei por caras que nem havia beijado e, mesmo
assim, nada se compara ao que estou sentindo por Ash.
É um sentimento novo.
Diferente.
Que ainda estou tentando decifrar para nomear da forma
correta.
O que sei até o momento, é que eu… gosto.
Gosto do que estou sentindo.
De estar com ele.
E, óbvio, de Asher como pessoa em geral.
— Eu lembro de tudo sobre você, Pippa — comenta,
colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. — Não é a
toa que você está na minha cabeça o tempo todo.
Ash simplesmente joga uma informação dessas no meu colo,
abre um sorriso com minha boca escancarada e deixa um beijo na
ponta do meu nariz, antes de entrelaçar os dedos nos meus
novamente e me puxar para continuarmos o caminho do túnel.
Não é a toa que você está na minha cabeça o tempo todo.
Não é a toa que você está na minha cabeça o tempo todo.
Não é a toa que você está na minha cabeça o tempo todo.
Fico remoendo sua fala durante todo nosso encontro, um
sorriso bobo pendurado em meus lábios durante todo o tempo.
Ele pensa em mim tanto quanto penso nele.
O jogo que estávamos jogando desde que ele se mudou?
Testando os limites um do outro?
O tabuleiro virou.
E estou gostando muito mais dessa nova versão do jogo.
Todos nós precisamos de alguém para segurar
Você tem lutado contra a memória, sozinho
Nada piora, nada cresce
Eu sei como é estar sozinho na chuva
Todos nós precisamos de alguém para ficar
Todos nós precisamos de alguém para ficar
Ouça os caídos e solitários, grite
Você vai me consertar? Você vai me mostrar esperança?
No final do dia você estava indefeso
Você pode me manter por perto? Você pode me amar mais?
Someone To Stay | Vancouver Sleep Clinic

Rolo na cama de um lado para o outro, sentindo os raios


solares entrarem pela grande janela do meu quarto, mesmo sabendo
que fechei as cortinas na noite anterior — depois de voltar do quarto
de Pippa pela madrugada.
Então, ouço o som de passos andando pelo cômodo, assim
como alguns murmúrios baixinhos — parecendo não querer me
acordar.
Ainda dormindo, sinto o canto dos meus lábios se repuxarem
para cima porque só há uma pessoa que poderia estar aqui, a essa
hora da manhã, no dia do meu aniversário de dezenove anos.
A tal pessoa se aproxima da cama e ouço o som de fósforo
sendo riscado na caixinha.
Já imagino Pippa com seu pijaminha sexy — ou melhor,
pelada — e um bolo em mãos com a vela acesa, pronta para me
parabenizar e, depois, me deixar comê-la como um ótimo presente
de aniversário.
Pontos extras por ela não me fazer desconfiar de nada ontem
a noite.
— Não precisava ter feito tudo isso, Pi… — sonolento, eu
entreabro as pálpebras e não é a cabeleira loira típica de Philippa
que vejo. Nem perto disso. — Mãe?
— Surpresa! — Lindsay Stuart exibe um dos seus grandes
sorrisos e se senta na cama ao meu lado, segurando um pequeno
bolo de chocolate com as velas acesas. — Por favor, sopre logo
essas malditas velas porque meus braços estão cansados de segurar
isso.
Ainda muito chocado, eu faço o que ela pede e, satisfeita,
mamãe coloca o bolo na mesinha de cabeceira ao meu lado direito,
finalmente me puxando para um abraço.
— Feliz aniversário, meu amor — sussurra, me apertando
forte contra si.
Não consigo acreditar que minha mãe está mesmo aqui.
Em Edmonton.
Depois de quase dez anos.
Para o meu aniversário.
Nunca passei nenhum longe dela, contudo, já estava me
acostumando com a ideia que esse seria o primeiro ano diferente e
que nos veríamos somente no natal, quando planejava visitá-la.
Mas, não.
Aqui está ela.
Com um macacão jeans, por cima de um suéter rosa com
morangos, de tricot, e meias listradas nas cores do arco íris. Os
cabelos castanhos claros estão presos em uma trança e a fragrância
do seu perfume doce se mistura ao seu odor natural e… e eu me
sinto em casa dentro dos seus braços.
— Não acredito que você está aqui — digo as palavras em voz
alta quando ela se afasta, deixando um beijo na minha bochecha. —
Como você está aqui?
Mamãe dá de ombros, ainda sem tirar o sorriso do rosto.
— Achou mesmo que eu passaria esse dia especial longe de
você, Asher? Que tipo de mãe acha que eu sou? — Ela provoca,
fingindo estar muito afetada e eu reviro meus olhos. Tive mesmo a
quem puxar. — Seu pai falou comigo e resolvemos tudo pelas suas
costas porque eu queria fazer uma surpresa. Ele não deixou escapar
nada, não é?
— N-não.
Zach planejou uma surpresa de aniversário para mim.
Ele ajudou minha mãe vir até aqui porque sabia o quanto eu
sentia falta dela, afinal, moramos a vida inteira juntos.
Ele… porra.
Não tenho palavras para descrever isso.
— Ótimo! Você sabe como seu pai é um fofoqueiro nato —
comenta, e, dessa vez, ela revira os próprios olhos. — Vim no
caminho todo para cá tentando descobrir se você sabia de alguma
coisa e mesmo ele dizendo que não, precisava ter certeza.
— Ele te buscou no aeroporto? — Questiono, tocando no meu
celular carregando na mesinha para ver a hora.
Oito horas da manhã.
E é uma viagem de três horas de Calgary até Edmonton,
então…
— Ele e Victoria estavam me esperando às quatro e meia,
mas ainda comemos algo por lá porque eu estava faminta — explica,
roubando um pouco do glacê do bolo com o dedo indicador,
levando-o até a boca para lamber.
Estou bizarramente atordoado que meu pai e… e madrasta,
foram buscar mamãe no aeroporto de madrugada por minha causa.
Somente agora estou enxergando algo que me privei de ver
por muitos, muitos anos.
Nunca houve nenhum problema entre os três.
Eles nunca mentiram para mim.
Zach não traiu minha mãe para ficar com Victoria, e, hoje,
vejo com clareza que isso nunca teria acontecido. De forma
nenhuma. Porque minha madrasta e Pippa chegaram no Canadá
machucadas e perdidas. E meu pai nunca seria esse homem capaz
de se aproveitar do estado vulnerável de alguém.
Como pude colocar na minha cabeça ​que ele foi contra
todos os valores que me ensinou desde cedo? Como criei essa
versão da história em que ele, Victoria e Philippa eram os vilões
quando… na verdade, acho que eu me encaixo mais nesse papel do
que eles.
Eu precisava de alguém para odiar e descontar minhas
frustrações por estar deixando tudo para trás, e escolhi a opção mais
fácil.
E por essa decisão inconsequente, sem sentido e terrível, eu
perdi muitos anos do meu relacionamento com papai.
— Quem é Pi? — Minha mãe pergunta, de repente, e eu
pisco, sendo arrancado dos devaneios.
— Pi?
Ela assente, roubando mais um pouco de glacê do bolo.
— Você me chamou por esse nome — relembra e sinto meu
corpo endurecer. — Quem é Pi e por que essa pessoa estaria no seu
quarto tão cedo, Asher?
Merda.
Se ela soubesse por quem eu estava chamando…
Acho que ficaria de castigo pelo resto da minha vida.
Provavelmente trancado em uma torre, como a rapunzel.
— Eu acho que estava apenas deliran…
Minha fala é interrompida por uma batida de leve na porta e
eu grito para que a pessoa entre, imaginando que seja meu pai.
Ainda não criei um discurso de desculpas por tudo que o fiz
passar comigo na última década, mas quero fazer isso.
Ele merece.
Zach estava tentando ser um bom pai e eu dificultei cada
tentativa dele, como a porra de uma crianca mimada.
No entanto, não é ele que abre a porta do quarto devagar,
colocando somente a cabeça para dentro.
— Ei. Bom dia, Asher. Bom dia, senhora Stuart — Pippa
cumprimenta, nos lançando seu sorriso simpático. — Zach pediu
para avisar que vocês podem usar o carro da minha mãe hoje, mas
que precisam estar de volta antes das sete. Sabe… por aquele
motivo — ela olha diretamente para minha mãe, lhe mandando uma
mensagem por olhares.
Para minha surpresa — mais uma para conta de hoje —,
minha mãe assente e lança uma piscadela para a minha irmã
postiça.
Ah, mulheres e a facilidade de fazerem amizades tão rápido.
É uma das primeiras vezes que elas se vêem em anos e já
parecem amigas por uma eternidade, até mesmo compartilhando
segredos.
— Pode deixar, querida. Obrigada por avisar.
Pippa faz que sim com a cabeça e se movimenta para sair,
porém, nossos olhos se encontram antes disso e ela… ela cora.
— Feliz aniversário, Ash — deseja, tímida, e eu seguro a
vontade de provocá-la sobre isso na frente da minha mãe, que
parece estar se divertindo muito com essa interação meio esquisita
entre nós dois, pelo que vejo de soslaio.
— Obrigado, Pippa — agradeço, um pouco mais seco do que
gostaria, mas vamos ter tempo para ela me parabenizar do jeito
certo mais tarde.
Minha mãe espera até que Pippa saia do quarto e feche a
porta atrás de si para se virar novamente em minha direção, com a
boca aberta em choque.
Puta merda, ela não pode… não.
Não é tão óbvio assim.
— Pippa como… Pi?
Por favor, me matem.
— Nao faço ideia do que você está falando
É o que me limito a responder.
Não gosto de mentir e não sei como contornar essa situação.
Por isso, ajo como uma criança e fujo para o banheiro,
ouvindo a risada escandalosa da minha genitora quando bato a
porta com força.

— Quando você vai me contar que está namorando a filha da


sua madrasta pelas costas do seu pai e da mãe dela?
Honestamente, não sou pego de surpresa pela pergunta,
porque até que mamãe demorou bastante para ativar seu lado
curioso.
Passamos o dia todo juntos, começando pelo café da manhã
com meu pai, Victoria e Pippa em casa. A mesa da sala de jantar
estava completa, com inúmeras frutas, pães, tábua de frios e o bolo
que minha mãe levou para o quarto para me parabenizar, decorou o
centro. E provando que eu criei uma rixa apenas na minha cabeça
entre os pais na mesa, eles conversaram tranquilamente durante
todo o tempo, enquanto eu e Pippa, por outro lado, roubávamos
olhares e sorriso um do outro, já que sentamos em pontas extremas
da mesa. Por fim, ainda cantamos “parabéns” mais uma vez e soprei
mais velas — aparentemente, meu pai comprou um saco de
cinquenta minis para não correr o risco de ficarmos sem, no
aniversário de ninguém.
Quando terminamos, mamãe pegou o carro de Victoria
emprestado e fomos diretamente para o Festival of Trees, um evento
tradicional na cidade, onde várias árvores de natal decoradas são
expostas e há atividades para todas as idades. Nós costumávamos
fazer isso todos os anos quando morávamos aqui, em família, e era
um dos meus programas preferidos de fim de ano. E é claro que
dona Lindsay não se esqueceria disso.
Passamos a manhã quase inteira por lá e, depois, dirigimos
para o Bubba Gump Shrimp Co., mais um dos meus lugares
prediletos em Edmonton. Mas tem como não ser? É simplesmente
um restaurante inspirado em Forrest Gump, especializado em frutos
do mar!
Minha mãe pediu um Forrest 's Seafood Fest, um prato com
camarões empanados, peixe frito e tiras de lula, acompanhado de
muitas batatas fritas e trocou o molho tártaro por ketchup. Já eu,
optei por Lt. Dan 's Surf & Turf. Basicamente, costelas defumadas ao
molho barbecue, com camarões grelhados e, originalmente, com
purê de batatas. Contudo, é claro que pedi para trocar por batatas
fritas.
Não há nada que eu goste mais de comer do que batata frita.
Ou, pensando bem, Pippa também é uma otima refei… porra.
Não posso imaginar esse tipo de cenário com minha mãe ao
meu lado, perguntando exatamente sobre isso.
— Não estamos namorando — respondo, sincero, enquanto
passeamos pelo mercado de natal em Fort Edmonton Park, nossa
terceira parada do dia.
Minha mãe ergue uma das sobrancelhas, nada convencida.
— E ela sabe disso? — Retruca, comendo sua nanaimo bar, a
sobremesa preferida dessa época do natal. São três camadas de
doce: começando pela base de wafer e coco, creme de manteiga e
então cobertura de chocolate. — Porque, querido, aquela garota
estava te olhando com corações nos olhos o tempo todo.
Por um lado, tenho certeza que deixo um sorriso escapar com
a percepção de mamãe, que Pippa sente alguma coisa por mim
também. Que não estou sozinho nessa.
Por outro, fico preocupado por ela ter conseguido notar isso,
sendo que mal interagimos essa manhã.
— E, espera — diz, cessando os passos de repente e quase
deixo meu Beavertails cair no chão. Por um instante, achei que fosse
precisar dar adeus a minha massa frita em formato de castor com
cobertura de creme de avelã com banana, mas, felizmente, consigo
segurar o doce. — O que aconteceu com você odiando a garota e a
mãe? Com as provocações sem sentido e as palavras cruéis? Isso
tudo se transformou em amor?
Cacete.
Queria que dona Lindsay não fosse tão antenada assim na
minha vida.
— Nós não nos odiamos mais — confesso, cauteloso, porque
não quero mentir. Porém, também nao sei se é uma boa ideia
admitir que eu e Pippa estamos… juntos, acho. — Nós nos
resolvemos e está tudo bem agora.
Verdade — mas ela não precisa saber como resolvemos
nossas diferenças.
Tenho uma ótima relação com a minha mãe, contudo, há
detalhes que não preciso dizer.
Seria demais.
— Você é meu filho há dezenove anos, Asher. Eu te pari e te
criei durante todo esse tempo — comenta, e eu fico rígido, sabendo
que ela não está comprando a história sendo contada pela metade.
— E eu sei quando você está escondendo algo de mim. Por que você
não quer falar sobre a menina? Philippa, não é?
Porque não faço ideia do que somos.
Porque não sei se ela sente o mesmo por mim.
Porque estou finalmente perdoando meu pai — por toda
fantasia que eu criei — e quero consertar nossa relação, mas não
acho que começar dizendo que estou transando com a enteada dele
seja um bom começo.
— Mãe… — resmungo, fazendo uma careta. — Podemos
mudar de assunto? Por favor?
Ela joga o que sobrou se sua nanimo bar no lixo mais próximo
e ergue as duas mãos, em um gesto de inocência.
— Não está mais aqui quem falou — declara e eu suspiro,
aliviado.
Quero falar sobre isso com mamãe, lógico que quero, mas
não antes de falar com Pippa e meu pai, claro.
É uma situação delicada e um tempo nada certo para estar
acontecendo, por isso, também precisamos lidar com cautela, para
que ninguém saia machucado.
— Mas, se eu estiver certa, querido, e você e Philippa
estiveram juntos…
— Mãe — repreendo-a, mas não adianta de nada.
Ela me lança um olhar feio e eu engulo em seco, deixando
que termine de falar.
Posso ser maior de idade, não morar mais com ela, no
entanto, Lindsay Stuart sempre vai ter esse tipo de autoridade sobre
mim.
Afinal, ela nunca vai deixar de ser minha mãe — e graças a
Deus por isso.
— Se vocês estiverem juntos, Asher, precisam contar isso a
Zach e a Victoria.
— Não é tão simples assim — respondo, baixinho,
praticamente admitindo que toda a teoria dela está certa.
Ah, quer saber?
Não estou nem aí.
Ela já deduziu, de qualquer forma, não faz diferença eu
confirmar ou não nessa altura do campeonato.
— Eu imagino que não, filho, mas é o certo — volta a dizer. —
E sei que você deve achar que seu pai não entenderia, que você
está com medo da reação dele ou de Victoria, quem sabe, mas, por
Zach, posso dizer que você subestima muito seu pai, Asher. Ele só
quer o seu melhor. Sempre quis e sempre vai querer, já te disse
milhões de vezes.
Dessa vez, eu acredito nela.
Zach é um grande homem, marido e um excelente pai.
Apesar de todas as merdas que fiz ao longo dos anos, ele não
largou minha mão. Pode não ter feito isso do jeito convencional,
mas, olhando para trás, vejo que, do jeito dele, como eu permiti, ele
esteve ao meu lado em todos os momentos.
Então, eu… eu acho que mamãe pode estar certa.
Talvez, entrar de cabeça em um relacionamento com Pippa
não seja um bicho de sete cabeças como creio. Digo, não vai
assustar tanto meu pai como acho que vai. O objetivo dele sempre
foi me ver feliz e eu estou em uma das melhores fases da minha
vida, com ela ao meu lado.
Philippa Caldwell desperta o melhor em mim e não quero
terminar algo que é tão, tão bom para mim como ela é.
— E se serve de alguma coisa — minha mãe retoma a fala e
eu giro a cabeça novamente, encarando-a. — Eu adoro Philippa e se
ela é a pessoa que está te fazendo ter esse brilho no olhar, eu com
certeza não seria contra vocês dois, sabe.
Abro um sorriso com a declaração de mamãe, passando um
dos braços pelos seus ombros e trazendo-a para meu lado.
Deus, como senti falta de ter essa mulher todos os dias ao
meu lado.
Da sua sabedoria, do seu abraço e… e do seu amor.
Mamãe foi aquela pessoa que me mostrou que sempre há
esperança no fim do túnel. Que depois de uma tempestade, vem um
arco íris. Que coisas ruins precisam acontecer para que nos
surpreendamos com as boas.
Se cresci tendo papai como meu super herói, mamãe é a
minha rainha.
Aquela que faz de tudo por seus súditos — eu — e que seus
súditos fazem de tudo por ela, principalmente amá-la
incondicionalmente, simplesmente por ela ser quem é.
— Eu te amo, mãe — confesso, de repente, sentindo a
necessidade de dizer em voz alta.
— Também te amo, meu amor.
Mas perto não é perto o suficiente
até cruzarmos a linha, ei, sim
Então nomeie um jogo para jogar
E eu vou jogar os dados, ei
[...]
Um pouco perigoso
Mas, querido, é assim que eu quero
Um pouco menos de conversa e um pouco mais de toque no meu
corpo
Porque eu gosto tanto de você, de você, de você
Tem todo mundo nos observando
Então, querido, vamos manter isso em segredo
Um pouco escandaloso
Into You | Ariana Grande

As palmas das minhas mãos estão suando frio enquanto me


olho no espelho de corpo inteiro do meu quarto.
Meus cabelos loiros estão com cachos nas pontas, fiz uma
maquiagem leve, embora marcante, e perfumei todo meu corpo com
hidratante e perfume de baunilha. Estou com um vestido preto curto
simples e uma jaqueta de couro por cima, afinal, não planejo sair de
casa hoje.
O que não quer dizer que eu não queira estar bonita para o
que vou fazer.
É aniversário de Asher, e depois dele passar o dia inteiro com
sua mãe, que apareceu de surpresa nesta manhã, ele está de volta
em casa e se prepara para o jantar de aniversário — é o que ele
pensa pelo menos.
Respiro fundo, conferindo mais uma vez se gosto mesmo do
que vejo.
É, acho que sim.
Se eu ficar mais um segundo aqui, com certeza vou arranjar
algo para criticar e nunca sairei do meu quarto esta noite.
Por isso, sem pensar muito, atravesso o corredor para o
quarto de Asher e tranco a porta quando entro, ouvindo as vozes
dos nossos pais no andar de baixo. Felizmente, eles estão ocupados
resolvendo os últimos ajustes do que vai acontecer daqui a pouco,
então, acho que tenho tempo suficiente para dar ao aniversariante
do dia o seu presente.
Ouço o som do chuveiro vindo do banheiro e relaxo um pouco
mais, sabendo que tenho alguns minutos antes que ele apareça e
me encontre aqui.
Como uma esquisita, pensando bem.
Que se dane.
Nervosa, me sento na cama.
Depois, acho que preciso estar em uma pose sexy, então,
deito-me de lado e apoio meu cotovelo no colchão, segurando meu
rosto.
Troco novamente de posição, ficando de barriga para baixo na
cama e erguendo a barra do meu vestido para que Asher tenha uma
linda visão da minha bunda.
Deus, o que estou fazendo?
Levanto da cama, desistindo dessa ideia ridícula.
Antes que eu possa pensar em outra coisa, ouço a água
cessar dentro do banheiro.
Merda, ele está vindo.
Respiro fundo mais uma vez, tentando me manter calma.
Nunca estive assim antes, por que estou tão ansiosa?
Porque voce quer muito que ele goste do que fez.
É, exatamente isso.
Mais rápido do que calculei, a porta se abre e eu giro nos
calcanhares, ficando de frente para Asher.
Com uma toalha branca enrolada na cintura e alguns pingos
de água escorrendo pelo seu dorso nu, eu acho que salivo com essa
visão.
Já o vi pelado diversas vezes e, mesmo assim, não me canso.
O que posso fazer se ele é gostoso pra caralho?
Ele me vê de imediato, a expressão mudando rapidamente de
confusão, em um primeiro momento, para… felicidade, eu acho.
Animação também.
E quando ele escaneia todo meu corpo com seus olhos
famintos, um sorriso provocativo se forma nos lábios.
— Imagino que tenha vindo me dar meu presente de
aniversário — deduz, se aproximando a passos lentos de mim.
Recuo até que minha bunda bata em sua escrivaninha. Ele abre mais
o sorriso, apoiando as mãos na mesa, me encurralando.
Cruzo os braços, inclinando um pouco a cabeça.
— Você foi um bom garoto e merece um bom presente. Não
acha? — Provoco, passando a língua pelos meus lábios.
Ele acompanha o movimento e, de canto de olho, noto os nós
de seus dedos ficarem brancos pela força que segura a madeira da
escravinha.
O ódio que sentimos antes evaporou completamente nas
últimas semanas, contudo, as provocações são uma característica
específica da nossa relação e sei que não vão acabar da noite para o
dia.
Inclusive, não quero que acabe.
É isso que faz a gente ser… a gente, afinal.
— Não estou vendo nenhuma embalagem de presente —
comenta, desviando o olhar do meu para dar uma inspecionada no
quarto. — Então… o presente é você? Não que eu esteja
reclamando. Adoraria passar essa noite inteira te comendo, Pippa.
Esfrego as coxas uma na outra com sua declaração, já
sentindo minha calcinha se molhar apenas com suas palavras sujas.
É sempre assim com Asher.
Ele diz algo provocativo e eu já estou pronta para receber seu
pau dentro da minha boceta. Ele nem precisa me tocar para me
deixar excitada e acho que isso já diz muito sobre… sobre essa
relação que construímos.
— Mais ou menos — respondo, e ergo a mão para empurrá-lo
delicadamente para trás.
Ash arqueia uma sobrancelha, mas se afasta.
Com um sorrisinho travesso, eu desencosto a bunda da mesa
e começo a me despir.
Os olhos dele se arregalam, surpresos, quando, primeiro, tiro
a jaqueta e jogo em um canto qualquer. Depois, puxo a barra do
vestido para cima e tiro-o pela cabeça.
Ah, eu comentei que não estou vestindo nada por debaixo
das roupas?
Ele percebe isso de imediato e vejo sua boca salivar de
desejo.
— Sem calcinha, Pippa? — Pergunta, olhando diretamente
para minha boceta recém depilada, sem vergonha nenhuma.
Dou de ombros.
— Sabia que você iria querer tirá-la de qualquer forma — digo
e ele volta a fixar os olhos nos meus. — Mas o presente mesmo é
outra coisa, Ash. Não sabia o que te dar…
— Você pode me dar, Pippa.
Ignoro seu comentário, revirando os olhos.
— Então pensei em algo novo e diferente, que você nunca
recebeu antes. Espero que não, pelo menos.
Ash me analisa cautelosamente, e pela expressão estampada
em seu rosto, está ansioso e curioso.
Ainda sorrindo, eu empurro minhas mechas para trás dos
ombros e deixo meus seios completamente à mostra.
Eles estão duros e não é pelo frio.
Ele nota rapidamente os piercings adornando meus mamilos e
sei que fui muito bem no presente quando ele ergue a cabeça e
nossos olhos se encontram.
— Você não fez isso — diz e eu assinto.
— Eu fiz.
Ele chacoalha a cabeça, incrédulo, e se aproxima de novo de
mim.
— Posso tocar?
— Todos seus — respondo, exibindo-me para ele e estufando
os peitos.
Semana passada, fui novamente ao estúdio de piercings e
tatuagens em Calgary para conferir se estava tudo certo com a
cicatrização da joia do umbigo e, quando estava lá, vi na vitrine
algumas novas joias com letras e uma ideia surgiu na minha mente.
Não tirei muito tempo para pensar direito sobre, e, no mesmo
dia, saí com dois novos piercings enfeitando meus seios.
No direito, um “A”.
No esquerdo, um “B”.
Asher Blakewood.
— Porra, Pippa — murmura, ainda deslumbrado com minhas
novas joias.
Sorrio, me sentindo muito gostosa quando ele toca meus
seios com cuidado.
Não, com devoção.
— Ainda não estão devidamente cicatrizados, então, você não
pode fazer o que quer que esteja imaginando na sua cabecinha —
aviso, porque pelo olhar que Asher me lança quando toca
delicadamente meu peito… eu ficaria molhada, se já não estivesse.
— Eu acho que esse foi o melhor presente que já ganhei —
admite, erguendo olhar de encontro o meu.
Ash me segura pela cintura e esmaga meus peitos contra seu
peitoral. É um pouco dolorido, mas, por ele, aguento a ardência nos
mamilos perfurados.
Ve-lo feliz assim vale a pena.
— Ainda não terminou — digo, sorrindo lascivamente.
Ele franze as sobrancelhas e eu deixo um selinho em seus
lábios antes de me ajoelhar na frente dele.
De baixo, noto o pomo de adão dele subir e descer.
Ele segura a escrivaninha com uma das mãos, para se
equilibrar e eu desfaço o nó da toalha no seu quadril, deixando que
o caia em seus pés; ele a chuta para longe e, quando vejo seu pau
ereto, arqueio uma sobrancelha.
— O que foi? Achou mesmo que não fosse estar duro quando
você ficou nua na minha frente?
Bom ponto.
Os olhos castanhos dele estão fixos nos meus quando lambo
toda a extensão do seu membro.
Ele fecha os olhos com força e sua coxa fica rígida sob os
meus dedos.
— Caralho, Pippa — murmura e eu sorrio, segurando–o pela
base e sugando a glande em seguida.
Ele arfa e eu aproveito para colocá-lo na boca, devagar, em
uma provocação.
Ash deixa que eu vá no meu ritmo, engolindo-o pouco a
pouco.
Quando a cabeça úmida bate na minha garganta, sei que
cheguei ao meu limite e então começo a chupa-lo.
Devagar, aproveitando a sensação de tê-lo quase inteiro
dentro da boca.
Finco as unhas nas suas coxas e com a mão que o segura,
faço movimentos de vai e vem na parte do pau que não cabe.
Diferente da primeira vez que eu o chupei — no banheiro,
sem deixa-lo ir ate o fim —, todas as outras vezes depois, essa, mais
especificamente, estou fazendo porque quero lhe dar prazer, não por
um jogo idiota que criamos.
Agora, eu anseio por ver o desejo brilhar em seus olhos
porque… sejamos francos, ver Asher chegando ao ápice me faz
chegar lá também.
Fazê-lo se sentir bem é um grande estimulador para que eu
goze com ele.
— Pippa — geme e com a mão que não está segurando a
mesa, agarra meus cabelos. — Posso?
Sem tirá-lo da boca, eu assinto.
É o que Asher precisa para começar a ditar seu próprio ritmo.
Ele arremete o pau dentro da minha garganta sem
misericórdia.
Ele dá tudo que posso aguentar e um pouco mais.
— Sua boca me recebe tão bem, Pippa — diz, em meio a um
gemido longo. — Você me chupa tão gostoso.
Minha boceta gosta bastante do elogio e esfrego as coxas
umas nas outras, tentando me dar algum tipo de alívio enquanto
aumento a sucção ao redor do seu pau.
Quando preciso de mais, largo seu membro e levo meus
dedos até minha boceta totalmente melada.
— Me mamar te deixa excitada, não é, linda? — Linda. Gosto
quando ele me chama assim. Eu aceno positivamente. — Se toque,
Pippa, e goze junto comigo porque estou quase lá.
Ele não precisa pedir duas vezes.
Focar em duas tarefas ao mesmo tempo — ou até mais — é
uma especialidade das mulheres, então, não tenho tanta dificuldade
em me dedar e dar atenção ao pau de Asher.
Mexo os dedos em um vai e vem gostoso e contínuo, sentindo
suas investidas contra minha garganta.
Não demora para que eu sinta o meu corpo ser dominado
pelo orgasmo. O formigamento começa na ponta dos meus dedos
dos pés e vai subindo lentamente. Intensifico a pressão dos meus
dedos enquanto me masturbo e Ash mete com mais força, também
chegando lá.
O choque de prazer arrebenta dentro de mim, de repente.
Gozo; as paredes da minha boceta se fechando e expulsando
meus dedos lá de dentro.
Nem um segundo sequer depois, minha boca é preenchdia
pela porra de Asher e eu engulo cada gota. Ou, pelo menos, o que
consigo, porque sinto o líquido quente escorrendo um pouco pelo
canto dos lábios.
— Feliz aniversário — desejo, limpando o gozo com meu dedo
e chupando-o, arrancando uma risada dele.
Ash me puxa para cima em rompante e, quando vejo, ele está
me colocando sentada na mesa e se infiltrando entre minhas pernas.
Ele levanta a mão, escoltando a palma na minha bochecha,
de uma forma carinhosa. Seguro seu pulso e me reclino no toque,
sentindo logo o seu polegar acariciando a maçã do meu rosto.
Acho que uma das nossas melhores versões são aquelas pós-
orgasmo inebriantes, porque é quando estamos mais vulneráveis, e,
normalmente, é o outro que nos deixa nesse estado.
Meu corpo está mole, mas Asher me segura e eu me sinto…
segura em seus braços. A lufada de ar que ele solta faz cosquinha
na minha bochecha, assim como sua barba por fazer quando ele se
inclina e seus lábios capturam os meus.
O beijo é suave.
Sua língua desliza sem pressa pela minha, porém, ainda sim,
é um beijo que me consome.
É como se eu pegasse fogo por dentro, de uma boa maneira.
— Parece que mesmo quando estou perto de você, ainda não
é suficiente. Quero estar mais — Ash sussurra contra meu ouvido
quando desce beijos pelo meu pescoço. — É loucura?
Um sorriso fácil surge no meu rosto e eu entrelaço nossos
dedos.
— Não, não é, porque me sinto da mesma maneira, Ash.
Depois de presentear Asher, me vesti novamente e voltei para
meu quarto, a fim de arrumar a bagunça que fiquei depois de…
bem, de me ajoelhar e reverenciar ele de um jeito não muito típico.
Desci logo em seguida, com cuidado para que ele não me
ouvisse — ou as outras trinta pessoas amontoadas na nossa sala de
estar.
Quinze minutos depois, Lindsay subiu para chamá-lo para
sairmos para jantar; quando eles entraram no cômodo para pegar a
bolsa dela, as luzes foram acesas pela minha mãe perto da porta e
todos gritaram “surpresa” em uníssono.
Posso confirmar que Asher ficou realmente surpreendido com
a festa que preparamos.
Nada muito elaborado, mas convidamos os amigos mais
próximos dele, encomendamos um bolo para mais tarde e, claro,
pedimos algumas milhares de pizzas.
Ash abraçou cada um dos convidados, agradecendo pela
presença; usamos o momento para compartilhar um abraço também
e é óbvio que ele não perdeu a oportunidade de dizer algo ao meu
ouvido, baixinho.
— Não vejo a hora de te foder com esses piercings, Pippa.
Espero que ninguém tenha notado a cor das minhas
bochechas depois, porque as senti esquentar.
As pizzas são servidas logo depois, já que jovens beirando
aos vinte anos estão sempre famintos, aparentemente. Pego um
pedaço e me sento ao lado de Brooke e Emma no pequeno sofá de
dois lugares, ficando espremida entre as duas.
— Qual a chance do reitor deixar a gente roubar uma bebida
dele? — Brooke pergunta, encarando Zach do outro lado da sala.
Ele está conversando com Lindsay e vez ou outra é possível
vê-los rir juntos.
Para mim, é muito bacana a boa relação que eles têm. Não só
por Asher, mas por ambos. É nítido que são bons amigos, apesar de
tudo. Um casamento que não deu certo não é o fim do mundo,
afinal das contas. Zach está muito feliz com mamãe agora e Lindsay,
pelo que ouvi, tem um namorado que a trata como rainha, em casa.
— Com você ainda chamando-o de reitor aqui? Nenhuma
chance — respondo, levando a fatia de pepperoni a boca.
— É estranho chamá-lo de Zach — Emma diz, tomando o lado
da ruiva. — Não consigo vê-lo somente como seu padrasto mais. Ele
é o reitor da universidade para mim.
— Exatamente! — Brooke concorda, bebendo um grande gole
de suco de cranberry antes de continuar: — Parece que vou levar
uma suspensão apenas em pensar em pedir bebida para ele.
Ela estremece de brincadeira, nos fazendo sorrir.
— E se Knox pedisse? — Emma sugere, se animando com a
ideia de um pouco de álcool. — Ele tem cara de pau o suficiente
para isso.
Sydney aparece ao nosso lado, entregando um copo de suco
para a namorada e apoiando o corpo no sofá, fazendo carinho na
nuca da nossa amiga.
Eu sorrio, observando a interação entre as duas enquanto
Emma e Brooke discutem um plano de conseguir o que querem.
Sem conseguir evitar, eu desvio o olhar, à procura de Asher.
Não é difícil encontrá-lo do outro lado da sala de estar, perto
da lareira, conversando com Kevin, Knox e Bradley. Ele está vestindo
suas roupas de sempre: blusa, jaqueta e calça pretas. De qualquer
forma, ele continua lindo. E gostoso.
Quando fecho os olhos, ainda consigo sentir seu pau batendo
fundo na minha garganta.
Imediatamente, ele parece sentir meu olhar queimar sobre si,
porque gira a cabeça e sorri quando percebe que estou analisando-
o.
Sinto uma pontada no coração quando percebo que não
podemos ser como Emma e Sydney são, em público. Mãos bobas
aqui, beijos ali. Temos não só uma grande bagagem nas nossas
costas, como uma relação de irmãs-postiços pairando sobre nós. Por
mais que não seja errado de verdade — afinal, não temos os
mesmos pais e nem fomos criados juntos —, não quer dizer que
será bem visto pela sociedade.
Para as outras pessoas, somos uma família.
E o que achariam se soubessem as coisas nefastas que
fazemos quando estamos sozinhos?
Deus, como minha mãe me veria, se soubesse?
Ela ficaria decepcionada?
E Zach?
Eles apoiariam ou nos expulsaram de casa? Teriam nojo do
que estamos fazendo?
As sobrancelhas de Ash franzem quando possivelmente minha
expressão se torna sombria, imaginando o caos que seria se
viéssemos a público. Ele faz menção de vir até mim, mas,
discretamente, eu balanco a cabeça em negação.
Ele assente, porém continua parecendo incomodado com meu
estado.
E agora estou deixando Asher desconfortável em seu próprio
aniversário.
Que ótimo, Pippa.
Forço um sorriso para ele, tentando garantir que está tudo
bem.
Não sei se cola, mas, eventualmente, ele desvia os olhos dos
meus para prestar atenção nos amigos.
— Mandei uma mensagem para Knox — ouço Brooke dizer,
me arrancando dos pensamentos. — Ele vai falar com Zach.
O celular dele então toca, indicando uma mensagem, e ele
retira o aparelho do bolso, lendo atentamente a mensagem. Depois,
ergue a cabeça e olha em nossa direção. Brooke eleva os dois
polegares e abre um sorriso. É o suficiente para Knox assentir e se
distanciar dos garotos, indo até meu padrasto.
Deus, quero muito ver isso.
Quando disse que não há nenhuma chance de Zach liberar,
estava falando super sério.
No entanto, infelizmente, antes que Knox possa fazer algo
quanto a bebida, Zach pede licença a Lindsay e cruza a sala, indo
até onde o garoto acabou de sair, para onde o filho está. Ele
sussurra algo no ouvido de Asher, que assente, e segue o pai para
fora da sala.
Ele me lança uma piscadela antes de fazer isso, mal sabendo
que eu, minha mãe e a mãe dele vamos logo atrás.
— Já volto — aviso as meninas, mas não espero por uma
reação.
Não sei o que aconteceu entre Asher e Zachary nos últimos
dias, porém, Ash parece estar muito mais a vontade com o pai. Não
o vi dando um fora em Zach, muito menos tratando-o mal. O que
quer que tenha acontecido, foi o bastante para meu padrasto se
animar em estar construindo uma nova relação com o único filho e
agir impulsivamente, comprando um grande presente de aniversário.
E falando no tal presente, os seguimos para a garagem, já
sabendo qual é a surpresa, mas mesmo assim querendo ver a
reação de Ash.
Chegamos na hora certa, nos tumultuando na porta, assim
que as luzes são acesas.
— Tcharam! — Zach grita, abrindo os braços, muito animado,
mostrando todo orgulhoso o presente de dezenove anos do filho.
— Puta que pariu! — Ash exclama, correndo para vê-la de
perto.
Ela, sendo a moto.
— Olha o linguajar, Asher! — Lindsay diz, mas está tão
sorridente quanto o ex-marido vendo o filho tão, tão feliz.
Semana passada, Zachry ligou para Patrick Turner, pai de
Kevin, e pediu uma mãozinha na escolha do presente de aniversário
de Asher. A moto antiga é boa, contudo, já está dando alguns
problemas há um tempo e Zach estava preocupado com a segurança
do filho. Por isso, ele teve essa ideia de presenteá-lo com algo que
com certeza gostaria.
E ele estava certo, porque Ash está com os olhos vidrados na
nova aquisição.
Não entendo nada sobre isso, mas pelo que Zach contou, é
uma Ducati Monster, a cara de Asher. É robusta, nas cores preta e
vermelha. A estética é agressiva, contudo, atraente, e agrega
bastante no visual que ele gosta de exibir por aí.
— Acho que você gostou, não é? — Zach comenta, com as
mãos no bolso da frente da calça, um pouco ansioso. — Falei com
Patrick, e ele me garantiu que era uma das melhores no mercado e
que você iria gostar bastante. Mas se não for do seu agrado, filho,
podemos ir na loja e ver quais são os trâmites para fazer uma tro…
Ash, para a surpresa de todos nós, se joga nos braços dos
pais, calando-o.
Zach demora alguns segundos para reagir, mas quando faz
isso, um sorriso largo se expande pelo rosto e ele abraça o filho de
volta.
— Obrigado, pai. É o melhor presente do mundo — admite,
sorrindo tanto quanto o pai.
Pisco repetidamente os olhos, espantando as lágrimas.
Vivi todos os últimos anos ouvindo os desabafos de Zachary
para minha mãe, dizendo o quanto sentia falta da relação que tinha
com o filho, que não importava o que fizesse, não conseguia se
aproximar de Asher. Ele tentava, tentava e tentava reconstruir o que
tinham, mas as paredes de Ash continuavam muito bem erguidas.
Eu vi de perto o quanto meu padrasto sofreu pela mudança do filho
para outro estado, bem longe de casa, e ainda mais com a distância
emocional que se estabeleceu entre os dois.
O vi chorar algumas vezes e isso partiu meu coração.
Acho que foi uma das razões de eu ter ainda mais raiva de
Ash, por ter feito um homem tão incrível como seu pai passar por
tudo aquilo.
Hoje, contudo, essa parte do meu coração se une novamente,
vendo-os se abraçarem tão verdadeiramente.
Eles merecem.
O tanto que Asher precisa do pai, o pai precisa dele.
Eles se afastam, o sorriso nunca saindo dos lábios de Zach.
— Vai, sobe na moto para eu tirar uma foto — pede, um
pouco nervoso.
Felizmente, o filho apenas assente e sobe na sua nova Ducati
Monster.
Ash aproveita que Victoria e Lindsay estão distraídas,
conversando entre si, e o pai está procurando o celular nos bolsos
para tirar uma foto, para sussurrar algo com a boca somente para
mim, do outro lado da garagem.
O segundo melhor presente é o seu, Pippa, e ainda não
esqueci que preciso agradecê-la por ele.
Este mundo não pode te machucar
Te corta profundamente e deixa uma cicatriz
As coisas desmoronam, nada quebra como um coração
[...]
Esta casa em chamas, não sobrou nada
[...]
Só assim nós desmoronaríamos
Estamos quebrados, estamos quebrados
Ooh, e nada, nada, nada vai nos salvar agora
Há um silêncio quebrado
Pelo trovão caindo no escuro
Nothing Breaks Like a Heart | Mark Ronson, Miley Cyrus

Ele me agradeceu pelo presente me comendo por trás, depois


de sua festa, quando todos foram embora.
No dia seguinte, antes de irmos para a aula, me chupando,
ainda sonolenta.
E na terça-feira, quando fizemos um 69 na cama dele,
quando minha mãe e seu pai saíram para um jantar com os amigos.
Mal posso esperar para o Natal, presenteá-lo com outra coisa,
e ser agradecida dessa maneira mais uma vez.
— Que sorrisinho bobo é esse, filha? — Mamãe pergunta
enquanto aproveitamos uma tarde juntas no Mood Café.
É um café gracinha muito popular no nosso bairro, há poucos
minutos da nossa casa. Todas as opções são frescas e deliciosas e,
por isso, o local está frequentemente lotado.
O que não impede que eu e minha mãe venhamos, pelo
menos, duas vezes ao mês. Normalmente, após nossa aula de
pilates.
Ninguém tira nosso café da tarde de jovens senhoras!
Hoje optei por um croissant com recheio de pistache — uma
novidade no cardápio — e um latte de baunilha e uma pitada de
canela. Mamãe, por outro lado, optou por uma torta de limão com
merengue e uma mocha.
Eu poderia viver tranquilamente apenas indo ao pilates aos
sábados com ela e terminando o dia em um café superfaturado.
— Nada — respondo, dando de ombros. — Só lembrando de
uma cena engraçada no treino de ontem — minto, levando meu café
a boca e desviando o olhar.
Não curto mentir para mamãe, contudo, não faço ideia de
como começar essa conversa.
“Ah, mãe, sabe o Asher? Seu enteado que tratava a gente mal
por anos? Então, a gente meio que transou há alguns meses, e
continuamos fazendo isso frequentemente, debaixo dos narizes de
você e do Zach, e acho que estou gostando dele de verdade.”
É, não vai rolar.
Por mais que eu queira, já que… já que estou mesmo afim de
Asher Blakewood.
Tentei me enganar, porém, não é mais possível.
Caramba, eu furei meus mamilos e coloquei as iniciais dele!
Eu não faria isso por nenhum outro cara que transei, que
fique claro.
Ash mostrou ser um cara incrível. Sensato, cuidadoso, leal,
inteligente e o mais importante: ele se importa comigo. Tenho total
certeza disso. Seja depois do sexo, quando prepara um banho de
banheira para mim. Seja na faculdade, quando ele se encontra
rapidamente comigo entre as aulas apenas para me dar um beijo e
me entregar um achocolatado de chocolate branco quente, meu
favorito. Ou, quem sabe, quando ele me levou para conhecer um
aquário com túnel subaquático, ou ficou com ciúmes de Owen,
sendo que o cara nunca me olhou com segundas intenções.
Ele presta atenção nas pequenas coisas e foi isso que me fez
me apaixonar por ele.
Isso.
Eu disse — mentalmente, mas ainda conta.
Estou apaixonada por Asher Blakewood.
Meu irmão postiço.
O cara que odiei por anos.
O enteado da minha mãe.
Deus, não é tão ruim assim, não é?
Digo, ele não é meu irmão de sangue afinal. Não temos
nenhuma relação afetiva nesse sentido. Não crescemos juntos.
Não é errado.
Certo?
Não é.
Um amor tão lindo quanto o nosso não pode ser.
— Lembra quando comecei a me apaixonar por Zach? —
Mamãe indaga, de repente, e eu pisco, voltando minha atenção para
ela. Assinto, comendo mais um pedaço do meu croissant. — Eu
também ficava de sorrisinhos bobos pra lá e pra cá, e mentindo para
você sobre o motivo.
— Mãe… não começa, por favor — porque eu quero muito,
muito, te contar todos os detalhes, mas estou com medo da sua
reação.
— É o Brad, querida? Vocês estão conversando de novo?
A careta que eu faço com a sugestão já é resposta suficiente,
porém, ainda respondo verbalmente:
— De jeito nenhum!
Bradley Rhodes é ótimo.
Foi um namorado incrível.
Apenas… não.
Tínhamos uma boa química na cama e como amigos. No
entanto, na questão do amor… faltava. Demais. Acho que
concordamos que somos apenas bons amigos e nos equivocamos
tentando levar a relação causal a qual começamos, para frente.
Além disso, tenho quase certeza que tem alguma coisa
rolando entre ele e Kevin.
Nas últimas semanas, já os peguei trocando olhares furtivos
uma vez ou outra, e no aniversário de Asher, eles saíram
escondidinhos em um certo momento e voltaram quase meia hora
depois, bastante… abalados — de uma forma muito boa —, se posso
definir o estado que estavam assim.
— Se você diz… — mamãe insinua, me dando mais uma
chance de mudar de ideia e contar sobre alguma coisa.
Eu balanço a cabeça de leve, negando, e terminando meu
croissant de pistache.
Eu poderia dizer.
Eu quero contar tudo a ela porque gosto demais da relação
de confiança que construímos ao longo dos anos. Afinal, ela é uma
das únicas pessoas que sei que estará ao meu lado em todos os
momentos, sem eu precisar pedir por isso. Ela é meu mundo inteiro,
e como eu faria tudo por ela, ela faria tudo por mim.
Mas tudo mesmo?
Até aceitar um relacionamento com seu enteado?
— Bem, se você não quer me contar sobre suas aventuras
amorosas, eu tenho uma novidade — solta, de repente e eu arregalo
os olhos imediatamente.
— Você está grávida? — Pergunto, muito assustada com a
possibilidade.
Mamãe ainda é nova, fez quarenta anos há alguns anos
apenas e não me surpreenderia ela e Zach quererem outro filho, um
do fruto do amor dos dois, entretanto… não posso negar que seria
estranho ter um irmãozinho a essa altura do campeonato, quando
eu é quem deveria estar pensando no assunto daqui a alguns anos.
Será que Asher quer ser pai?
Quer dizer, nós transamos bastante e… e não usamos
camisinha. Apesar de eu tomar religiosamente meu
anticoncepcional, nenhum método é cem por cento eficaz, então,
existe uma possibilidade ali. Pequena, mas tem.
Meu Deus! Imagina a confusão que seria eu engravidar do
filho do meu padrasto, enquanto minha mãe está grávida do pai
dele?!
— Claro que não, Philippa! — Ela nega, rindo, e eu respiro
aliviada, apagando o cenário terrível que se formou em minha
mente. — De onde você tira essas ideias?
— Sei lá! Você disse novidade! E vocês já são casados,
então… o que mais poderia ser? — Me defendo, rindo junto com ela.
Ela chacoalha a cabeça, como se não acreditasse na filha que
tem.
Bem, nas ideias que a filha tem.
— Nada disso, querida. Você não vai ser irmã mais velha —
garante e eu suspiro, lhe lançando um sorriso fraco. — Bem, a não
ser de Asher — complementa, suprimindo uma risada.
Ah, não.
— Ele não é meu irmão de verdade — digo, enojada.
Eu não faria com um irmão o que faço com ele.
Felizmente, ela não insiste nesse assunto.
— Nós vamos fazer dez anos de casados na primavera, como
você sabe — começa, um sorriso se formando gradativamente em
seu rosto. — E Zach planejou uma viagem surpresa para nós dois.
Adivinha para onde?
Pela animação dela, sei que não é um lugar comum ou que já
fomos.
Por isso, pondero durante alguns instantes.
Aonde mamãe sempre sonhou em ir? E que seria um bom
destino na primavera?
A resposta não demora para vir.
É bem fácil, na verdade, pensar nessa viagem, já que mamãe
fala o tempo inteiro desse lugar.
— Ai, meu Deus! — Exclamo, tão animada quanto ela. O
sorriso dela se expande e ela assente sem parar. — Vocês vão para a
Holanda? Para o festival de tulipas?
— Nós vamos! — Mamãe responde e não consigo conter a
alegria.
Nem ela.
De mãos dadas, damos gritinhos na cafeteria, atraindo
olhares nada agradáveis dos outros clientes, mas, quer saber?
Que se dane.
Minha mãe está tendo o final feliz que sempre sonhou depois
de passar por coisas terríveis com meu pai.
Ela merece toda felicidade do mundo e eu sempre serei a
primeira a torcer por isso.
— Estou tão, tão feliz, mãe — sussurro quando puxo-a para
um abraço, apertando-a com toda força.
— Eu que estou, filha — responde quando nos afastamos e
limpa uma lágrima que cismou em deslizar pelo meu rosto. Estou tão
extasiada por ela estar realizando um sonho que até mesmo estou
chorando! — Estou muito feliz, para ser exata. Zach também.
Manejo a cabeça, em concordância, e compartilhamos um
sorriso.
Um sorriso que nós duas sabemos muito bem os motivos por
trás.
Eu poderia não estar aqui — não sabemos direito quais eram
os planos do meu pai para aquela tal festa que ele queria me levar.
Ou, eu poderia estar aqui, mas com sequelas inapagáveis, físicas e
mentais. No entanto, felizmente, Rowan Beckett salvou minha vida;
mesmo que ele não saiba, e serei eternamente grata por isso, assim
como mamãe.
Estou falando de antes, dos anos em que ela aturou ao lado
do meu pai e do casamento fracassado deles, apenas para que eu
não passasse por nenhuma dificuldade que ela passou durante a
vida. Tudo que ela fez — e faz — é por mim e não há amor maior no
mundo.
Se não fosse por ela e por sua força em deixar tudo para trás,
por minha causa, quem sabe o que teria acontecido conosco
naquela cidade esquisita de ricos?
— Você merece tudo isso e muito mais, mãe — asseguro,
apertando sua mão por cima da mesa, depois de nos recuperarmos
um pouco do momento.
— É o que Zach diz o tempo todo — comenta, e somente
mencionar o nome do amado a faz sorrir. — Ele está tão contente
nas últimas semanas, você percebeu? Asher parece estar
amolecendo o coração e ele está… está radiante por estar
conseguindo reconstruir a relação de pai e filho.
— Já estava na hora, não é? Dos dois se resolverem, mesmo
que seja a passinhos de tartaruga.
— Exatamente, querida. E também estamos bastante
aliviados que vocês estejam se dando bem — elogia e meu corpo
endurece. Estamos nos dando bem até demais, mamãe. — Sabe, eu
e Zach conversamos bastante sobre como sempre quisemos que
vocês dois tivessem uma relação de amizade. De irmandade, para
ser mais sincera, pelas idades próximas e tudo mais. E, depois de
anos, parece que tudo está se encaixando! Não acha, Pippa? Bastou
se mudar para cá para que Asher nos visse com outros olhos — sem
saber como responder a isso, eu apenas assinto, sentindo meu rosto
inteiro empalidecer. — Ficamos felizes de ver vocês se entendendo,
querida, e… e quem sabe, finalmente nos tornemos uma grande
família de verdade? Acho que é o nosso maior sonho!
Aceno, forçando um sorriso e tentando disfarçar a expressão
desgostosa estampada no meu rosto bebendo meu latte, enquanto
as palavras se repetem na minha cabeça.
Amizade de vocês.
Irmandade.
Grande família feliz.
Nosso maior sonho.
Toda a fala da minha mãe me desconcerta.
Me deixa tonta.
Mal, para ser mais exata.
Porque estou totalmente apaixonada por Asher Blakewood e…
e não posso ficar com ele.
Isso estragaria toda a felicidade que mamãe demorou anos
para construir e eu não posso fazer isso por ela.
Depois de tudo o que fez por mim, não posso ser egoísta e
escolher a minha felicidade na frente da dela.
Eu nunca faria isso.
E pelo que entendi, ficar oficialmente com Asher seria destruir
todos os sonhos de mamãe e de Zach, que também merece a
felicidade. Ele finalmente está reconquistando a confiança do filho e
imagino que um relacionamento entre nós dois não ajudaria nada
nisso.
A forma que ela diz que os dois estão muito felizes e que
sonharam por anos em ver nossa família unida assim… Como vou
acabar com isso?
Não posso quebrar o coração da minha mãe desse jeito.
Não consigo.
Se isso significa abrir mão de alguém que me faz muito feliz,
de um relacionamento que mal começou, mas está fadado ao
fracasso… é o que vou fazer.
Cortar o mal pela raiz, mesmo que isso corte meu coração
inteiro no processo.
Meu coração pula oito batidas ao mesmo tempo
Se fôssemos destinados a ser
Já estaríamos
Veja o que você quer ver
Mas tudo que vejo é ele agora
Vou sentar e assistir seu carro queimar
Com o fogo que você acendeu em mim
Mas você nunca voltou para perguntar
Vá em frente e veja meu coração queimar
Com o fogo que você acendeu em mim
Mas eu nunca vou deixar você voltar para apagar
watch | Billie Eilish

Não foi nem um pouco difícil ou chocante decidir o meu


futuro para o semestre de outono, já que precisaria começar a
organizar minha inscrição para o MIT logo depois das férias de
inverno, uma vez que o prazo para transferências é até início de
março.
Na verdade, a decisão foi uma das mais fáceis que já tomei
em toda minha vida.
Não houve nenhuma dúvida do que eu queria fazer.
Está tudo muito claro na minha mente.
Com tudo que aprendi nos últimos meses de volta em
Edmonton, eu soube exatamente o que precisava fazer quando
recebi o email de Boston falando sobre a abertura das inscrições de
transferência para o ano que vem.
O Asher do fim do verão com certeza teria um surto ao saber
do que estamos prestes a fazer.
Ficaria enlouquecido.
No entanto, o Asher de agora, sabe que não há outra escolha
que não essa.
E a primeira pessoa que vou revelar a novidade?
É claro que não poderia ser outra, a não ser Philippa Caldwell,
afinal, um dos motivos é ela.
É minha paixão por Pippa.
Sim, estou completamente, totalmente e absurdamente
apaixonado pela enteada do meu pai.
Ah, qual é, não é tão ruim quanto parece — não temos
nenhuma relação de irmandade, seja sanguínea ou de criação. E eu
acredito que meu pai pensará da mesma forma. Ele sempre foi um
cara com a mente aberta, aberto a qualquer tipo de conversa,
mesmo quando eu era pequeno. Ele não escondeu nada sobre o
mundo de mim, me mostrando todas as realidades existentes.
Por isso, quando contarmos a ele e Victoria — é uma das
coisas que quero falar com Pippa, inclusive —, acredito que ao ver
nossa felicidade, dos filhos deles, eles irão aceitar de muito bom
grado nosso relacionamento.
Em breve, namoro, porque não há nenhuma chance que eu
vá deixar essa garota andar mais um dia por aí sem me ter
oficialmente como seu homem.
E eu, tendo-a como minha mulher — mesmo que ela já seja,
visto que não preciso de nenhum título para isso.
Pippa chegou do treino de líderes de torcida há quase
quarenta minutos e não tive tempo ainda de ir até ela, porque ela foi
direto para o banho e estou esperando desde então. Portanto,
quando ouço o seu chuveiro ser desligado — algo possível, já que
nossos pais não estão em casa e o silêncio está pairando em toda
residência —, conto quinze minutos antes de correr para seu quarto,
pulando.
Sim, saltitando de felicidade.
Meu Deus, olha o que essa garota está fazendo comigo!
Não vou admitir nunca para os caras, por exemplo, isso, mas
gosto de como Pippa me deixa mais leve. Tranquilo. Traz uma paz
incomparável a meu coração.
— Ei — cumprimento quando abro sua porta, sem bater,
porque é o que costumamos fazer quando entramos no quarto um
do outro.
Pippa está com os cabelos loiros ainda úmidos e veste uma
calcinha-short rosa com lacinhos ilustrados e uma blusinha de
manga comprida da mesma estampa, sentada em sua escrivaninha e
digitando algo no seu laptop. Ela ergue a cabeça quando entro,
fechando a porta atrás de mim, e seu olhar encantador encontra o
meu.
Contudo, dessa vez, há alguma coisa errada com sua
expressão.
Não consigo decifrar de cara o quê, mas sinto que algo não
está certo.
Para ser honesto, estou sentindo-a distante há alguns dias,
mais precisamente, logo depois do meu aniversário. Ela não vem até
mim nas madrugadas, evita meus olhares na faculdade, e quando eu
tento sugerir de fazermos algo, ela diz que precisa estudar para as
provas finais antes do recesso de fim de ano.
Eu entendo, entendo de verdade, mas nada nos impediu
antes de ficarmos juntos, nem que fosse por alguns meros minutos.
Sinto falta da sua risada quando solto alguma merda durante
nossas conversas aleatórias sem querer.
Sinto falta de quando se agarra em mim, manhosa, quando
ficamos um tempo sem nos ver.
Sinto falta do seu cheiro, seu corpo de… dela, por inteiro.
— Está tudo bem? — Pergunto, cauteloso, dando passos
lentos até ela.
Pippa desvia o olhar do meu e foca na tela do computador.
— Só dor de cabeça — responde, sem me dar muita atenção.
Caramba, linda, me dê mais.
— Quer que eu pegue um remédio? Precisa de alguma coisa?
Ela nega, somente balançando a cabeça de um lado para o
outro.
Passo a mão pelos cabelos, meio desesperado porque…
porque ela não fala comigo e isso está me matando.
Talvez ela esteja cansada de seu segredinho sujo e precise
que você ofereça mais.
É, acho que é uma possibilidade.
De qualquer forma, vim aqui com o objetivo de falarmos
sobre entre outros assuntos, esse.
Nós.
Já passou da hora de discutirmos essa relação.
— Então… — cantarolo, me aproximando e corajosamente,
fecho o laptop com cuidado com os dedos dela. — O que a gente
tem?
Cruz credo, pareço uma garota fazendo esse tipo de pergunta
para o cara que com certeza não está nem um pouco afim dela.
— Como assim “o que a gente tem”? — Rebate, um pouco na
defensiva sem motivo nenhum. — Transamos de vez em quando. O
que mais a gente teria, Asher?
Mordo a bochecha, tentando esconder o quanto suas palavras
me machucam.
— Não e mais só sexo, Pippa, e você sabe disso — respondo,
tentando fazê-la olhar para mim, mas seu olhar continua para suas
coxas, onde ela brinca com os dedos. — Você sente isso, como eu
sinto — digo e perco a paciência quando ela continua me ignorando.
Porra.
Em um rompante eu me agacho a sua frente, virando a
cadeirinha giratória na minha direção e, finalmente, finalmente,
consigo com que Philippa me encare.
Contudo, pelo jeito que ela faz isso, talvez eu não devesse ter
insistido nisso.
Pippa me analisa, os olhos marejados e… e eu não entendo.
O que porra está acontecendo com ela?
Com a gente?
— Pippa, o que tá rolando? — Questiono e ela apenas nega
com a cabeça, fechando os olhos. — Eu… eu quero te ajudar, se
você precisar de mim, mas não posso fazer isso se você continuar
em silêncio.
— Ash… só… podemos conversar depois?
Em outras circunstâncias, eu diria que sim e a deixaria
sozinha.
No entanto, já estou cansado desse castigo, desse gelo que
está me dando há dias, quando tudo que eu mais quero é
compartilhar as novidades e ver sua reação.
Nao sei se realmente quero saber o que ela vai achar sobre
as noticias, na verdade, ja que ela está esquisita, mas… porra.
Não faço ideia do que fazer se ela não me deixar entrar.
— Não — digo, firme, e minha negação seca a faz erguer o
olhar. — Você não vai me dizer mesmo o que está rolando? — Ela
permanece em silêncio e eu agarro os braços da cadeira, começando
a me irritar. — Caramba, Pippa! Eu estou tentando, sabe? Tentando
te dar um espaço, te entender, mas não sei o que fazer quando você
não fala comigo! — Explodo, chateado, e ela força mais os olhos
fechados. — Eu vim aqui pronto para sugerir que contássemos ao
nosso pais sobre a gente, já que não aguento mais guardar esse
segredo e também porque vou fi…
— Não — responde, me interrompendo.
Em um segundo, ela está com os olhos fechados e parecendo
querer se esconder de mim e do mundo.; no outro, ela está de pé.
Eu me ergo em seguida, assustado com a reação.
— Não… o quê?
— Não vamos contar a ninguém. Não podemos — enfatiza e,
agora, Pippa não parece mais abalada.
Não tanto, pelo menos.
Ela está… com raiva?
— Claro que podemos, Pippa — falo, respirando fundo para
me acalmar. Não quero e nem planejava estar nervoso para essa
conversa. — Eles vão entender e apoiar, e vai fazer sentido agora
que eu…
— Asher, eu já disse que não vamos contar.
Puta que pariu.
— Por que não?
Ela troca o peso dos pés, cruzando os braços e mais uma vez,
desviando os olhos dos meus.
— Porque… porque o que quer que rolou entre nós nas
últimas semanas, foi bom mas… mas acabou, Ash. Não faz mais
sentido.
Acho que levar um tiro doeria menos.
Quem sabe, se ateasse fogo em mim, eu não sentiria tanta
dor como estou sentindo agora.
Minha pele pega fogo, e não de um jeito bom.
Como se ela tivesse rasgando meu coração e… e tudo.
Ela me destrói por completo com suas palavras.
— Como é que é? — Me forço a perguntar, porque… porque
não pode ser.
Eu sei que ela sente o mesmo que eu sinto por ela.
É claro que sente!
Eu não interpretei errado os sinais… não é?
Não quero acreditar.
Achei que estávamos na mesma sintonia, na mesma página
e… e ela acaba de quebrar a porra do meu coração.
— Você é ótimo, Asher, mas… não daríamos certo a longo
prazo, você sabe. E-então é melhor terminar tudo antes que seja
tarde, não é?
— Antes seja tarde do quê, Pippa? Antes que a gente se
apaixone ? Fale por você, porque sinto muito em te informar, isso já
aconteceu.
Ela volta a me olhar e o que vejo não é nada que eu
esperava.
Pippa parece estar sofrendo tanto quanto eu.
Como se quebrar meu coração estivesse quebrando o seu no
processo também.
Que porra…?
— Ash… — choraminga, as lágrimas rolando livremente pelo
seu rosto.
Ela não pode mesmo estar chorando enquanto termina
comigo.
Eu que deveria estar assim, não ela.
Pippa não tem o direito de se sentir mal quando ela está
causando tudo isso a nós dois.
— Se tiver alguma coisa por trás dessa decisão, Pippa, e você
quiser me contar agora, te prometo que vamos dar um jeito —
garanto, tentando pensar por todos os lados da situação.
Simplesmente não quero acreditar que ela está fazendo isso
por pura e espontânea vontade; que ela não goste de mim como
gosto dela.
Apenas não faz o menor sentido!
Caramba, há alguns dias ela colocou piercings com as minhas
iniciais! Estava dormindo na cama! Cacete, a última vez que
estivemos a sós, antes dela começar a se afastar, fomos ver um
filme na cidade vizinha e ela não só se sentiu confortável o suficiente
para chorar grudada em mim, como disse que às vezes se pegava
pensando no nosso futuro.
Que futuro, se ela está destruindo tudo?
Olho-a em uma mistura de raiva, desapontamento e tristeza.
Ela continua sem ter coragem de olhar nos meus olhos,
chorando.
Chorando!
Não posso acreditar em uma porra dessa.
— Pippa? — Chamo mais uma vez, dando a centésima chance
dela admitir que não quis dizer nada do que falou antes. — Vamos
resolver isso juntos, linda. Por favor, só… só não faça isso com a
gente. Por favor. Eu… e-eu faço qualquer coisa por você, linda, só
diga alguma coisa.
Sim, eu me humilho a ponto de implorar para que ela não me
deixe.
O quão patético devo estar sendo nesse momento?
Pra caralho.
Mas… mas eu faria de tudo para que ela não faça o que está
prestes a fazer; para convencê-la que essa não é a opção certa;
fazê-la mudar de ideia.
Qualquer coisa.
Porque quando ela finalmente respira fundo, enxuga as
lágrimas e vira o rosto em minha direção, já sei que esse é o último
capítulo da nossa história.
— Você faria qualquer coisa por mim, Asher? — Indaga e o
tom com que me pergunta isso, não é nada como o que a Pippa que
eu me apaixonei falaria. É ácido, beirando ao veneno, exatamente
como ela falava comigo antes de ficarmos juntos.
Mesmo assim, eu dou corda para o teatrinho, porque se for
alguma brincadeira de mal gosto, não quero lhe dar espaço para ela
ganhar.
— O que você quiser.
Ela assente, engolindo em seco, e suas palavras seguintes
são a cereja do bolo; as facadas que faltam para ela despedaçar
meu coração.
— Saia daqui, então e… se esqueça de mim. De nós, Ash,
porque é o melhor que você pode fazer. Eu te garanto que qualquer
coisa que você sinta por mim, vai passar. Sempre passa, sei muito
bem disso — o sorriso que ela esboça nos lábios é cruel. Essa é a
Philippa Caldwell que eu tanto odiava, e ela está de volta. — Você
vai superar, assim como eu já superei.
Não preciso que ela seja mais específica do que isso.
Ela já me humilhou o bastante por uma vida em seu
discursinho mesquinho e covarde.
Aceno com a cabeça, fazendo meu caminho para sair do seu
quarto e me preparar para nunca mais colocar os pés aqui.
Mas não antes de dizer uma verdade que está me
atormentando desde que começou a deixar claro que não me quer
mais.
— Obrigado por ter destruído a melhor coisa que me
aconteceu em todos esses anos. Eu caí direitinho no seu jogo, Pippa.
É
Parabéns, você ganhou. Você sempre ganha, não é? É a rainha de
tudo, afinal. Foi ótimo participar desse jogo fantasioso e cruel que
você criou. Eu adorei cada segundo sendo danificado por você.
Quero, então consegui, fiz, então está feito
Outra coisa que eu estraguei, eu costumava fazer para me divertir
Outro pedaço de plástico que eu poderia jogar fora
Outra conversa sem nada de bom para dizer
[...]
Afaste todas as pessoas que me conhecem melhor
Mas sou eu quem está arrumando a cama
Estou tão cansado de ser a garota que sou
Cada coisa boa se transformou em algo que eu temo
E estou interpretando a vítima tão bem na minha cabeça
[...]
Eu consegui as coisas que queria, só não é o que imaginei
making the bed | Olivia Rodrigo

Quando eu e Bradley terminamos, não fiquei abalada.


Nem triste, carente ou pensativa sobre se a decisão que
tomamos foi a correta — eu sabia que tinha sido. No dia seguinte,
inclusive, já estávamos em uma festa Cirque du Chaos, curtindo
junto com nossos outros amigos. Eu até mesmo beijei alguém e
posso jurar que o vi flertando com algumas garotas, embora ele
tenha insistido que elas queriam somente consolá-lo pelo nosso
término — afinal, por mais que tenhamos namorado por poucos
meses, modéstia a parte, éramos um dos casais mais bonitos da
faculdade, na época.
O que quero dizer, é que por conta dessa experiência recente
com Brad, eu não imaginava o buraco que estava prestes a cair
quando decidi terminar com Asher antes que as coisas complicassem
mais.
Parece que as coisas já estavam complicadas.
Por um lado, eu pude ouvir diretamente de Ash que ele está
— ou estava? — apaixonado por mim. Pude ter certeza que os
sentimentos são — eram? — recíprocos e que se vivêssemos em
outra realidade, talvez, aquele teria sido o momento que
oficializaríamos o nosso namoro e todas as pessoas ao nosso redor
ficariam felizes por nós.
Um futuro impossível.
Ve-lo tão vulnerável, implorando para que eu não acabasse
com a gente foi… foi doloroso. A cada palavra cruel que eu destilava
em sua direção, era como se eu tivesse arrancando um pedaço do
meu coração.
Enquanto eu quebrava o dele, o meu também se partia no
processo.
Foi uma das coisas mais difíceis que já tive que fazer; acabar
com o melhor relacionamento da minha vida por um bem maior.
Porque eu amo Asher Blakewood, porém, o que sinto por
mamãe é muito maior do que qualquer amor por um garoto —
mesmo que seja Ash, o único cara que já amei.
Engraçado, descobri que nunca havia amado alguém antes,
na tarde que também senti como é ter uma verdadeira desilusão
amorosa, daquelas que te tira a vontade de comer, tomar banho e
levantar da cama.
É como estive vivendo nos últimos três dias: debaixo das
cobertas, fazendo uma pequena refeição por dia e pisando no
banheiro apenas para fazer xixi — agradecendo mentalmente por ter
um no meu quarto e, assim, não ter chance de esbarrar com Asher
no corredor.
Um caco.
Mamãe ficou super preocupada, é lógico, assim como
Zachary, e eu precisei inventar que peguei a gripe forte que está
rolando em Edmonton e precisava de alguns dias de descanso. Não
sei se ela acreditou totalmente, mas pelo menos não fez mais
perguntas. Ela apareceu algumas vezes no meu quarto para trazer
sopa e tentar puxar assunto, por mais que eu tenha cortado-a.
Não queria conversar.
Não queria ver filmes de comédia romântica — meus
favoritos.
Nao queria existir em mundo que eu não podia ter Asher para
mim, porém, é a porra da minha realidade.
Precisei de alguns dias completamente no fundo do poço para
entender que, infelizmente, a vida continua. Não poderia ficar o
resto dos meus dias dormindo e sem lavar o cabelo. Por isso, depois
de receber centenas de mensagens de Brooke e Emma querendo
notícias, eu respirei fundo e tomei o meu primeiro banho em dias,
antes de pegar carona com Zach e ir para a faculdade.
Vesti um vestido de lã grossa, bege, um sobretudo em um
tom mais escuro, cachecol e botas pretas de cano alto por cima da
meia calça. Um pouco de maquiagem aqui, perfume ali, e um sorriso
falso estampado no meu rosto.
Eu estava pronta para tentar voltar a viver, sabendo que
nunca iria ter um anel com o nome de Asher adornando meu dedo
anelar esquerdo.
E, olha, estava tudo indo muito bem durante a parte da
manhã.
Me distraí pegando as matérias que perdi por ter faltado, me
colocaram por dentro das fofocas recentes e o almoço do dia era
macarrão ao molho bolognesa, um dos meus preferidos.
— O que custava eles fazerem molho branco também? —
Brooke reclama, ao meu lado na nossa mesa de almoço. — Nem
todos gostam desse molho vermelho.
Knox bufa uma risada, recebendo um olhar feio da ruiva.
— Você é a única pessoa do mundo que não curte molho
bolognesa, ruivinha — ele responde, enfiando mais uma grande
quantidade de massa na boca.
Brooke revira os olhos e amassa um guardanapo, jogando a
bolinha nele.
— Para mim só não faz o menor sentido! Carne e molho
vermelho juntos? Tipo… quem teve essa ideia? — Se defende,
realmente irritada com o almoço do dia.
— Os italianos? — Knox responde, um pouco debochado.
Estou concentrada na discussão idiota entre os dois —
porque, assim, me distraio dos meus próprios pensamentos —
quando sinto Emma me cutucar e me viro para o outro lado, onde
minha melhor amiga com sua namorada.
— Está tudo bem? — Questiona, e acho que, nos últimos três
dias, ela me fez essa pergunta umas quinze vezes. — Você está
ainda mais esquisita pessoalmente do que nas mensagens, Pippa, e
estou preocupada.
De repente, me sinto uma pessoa péssima.
Enquanto estou preocupando Emma, lembro que ela não faz
ideia de nada do que está realmente rolando. Como imaginei que ela
fosse reprovar meu… relacionamento — se posso chamar assim —
com Asher, escondi essa parte da minha vida dela, nas últimas
semanas.
Eu estava vivendo um romance pelas costas da minha melhor
amiga, caramba.
Como me deixei chegar nesse ponto? De omitir partes
maravilhosas da minha vida logo de Emma, a pessoa que que esteve
sempre ao meu lado, em todas as ocasiões?
Talvez eu esteja mesmo totalmente certa em ter decidido
terminar tudo com Asher. Uma relação em que não me sentia
confortável em conversar com minha melhor amiga sobre, não era
de se esperar que fosse prosperar.
Ou pelo menos é como gosto de pensar, em vez de acreditar
que cometi um dos maiores erros de toda minha vida, tirando-o
dela.
— Estou bem, Em — minto mais uma vez, forçando um
sorriso.
Os seus olhos escuros me analisam com cuidado.
Ela me lê como a palma da sua mão, sabe que tem algo de
errado, afinal, é uma das pessoas que mais me conhece nesse
mundo inteiro.
Felizmente, a chegada de Kevin não deixa que ela insista no
assunto, já que, bem, ele gosta de chegar causando.
Mesmo que seja somente no refeitório do colégio.
— Desculpem o atraso, caros amigos — zoa, sentando-se na
mesa com sua bandeja. — Odeio deixá-los sem minha companhia
ilustre.
— Odeio quando o Kevin chega e eu passo a ter uma
competição de alto nível sobre quem é o mais gato e engraçado —
Knox brinca, entrando na onda do amigo.
Sorrio, o mais genuinamente que consigo.
Pelo menos, a mudança de Asher para cá nos trouxe essa
maior rede de amizades.
Me trouxe essas pessoas incríveis, que estão sempre de alto
astral e, mesmo sem saberem, me colocam para cima.
De soslaio, noto um sorrisinho bobo sendo esboçado no rosto
de Brad e Kev também percebe, lhe lançando uma piscadela.
Ah, com certeza tem alguma coisa aí.
Volto a comer a macarronada do dia, já na metade da
refeição, quando um burburinho me faz erguer os olhos novamente.
A princípio, acredito que seja Knox e Kevin se provocando,
porém, logo percebo que estou muito enganada.
Asher está vindo à nossa mesa.
Isso não deveria me deixar assustada, afinal, é onde
comemos todos os dias. Contudo, é a primeira vez que o vejo
desde… desde o término, e isso mexe com meu coração.
Porque ele continua lindo.
Cabelos bagunçados, como se tivesse acordado há pouco
tempo, roupas pretas características e sorrisinho sacana quando
cumprimentam algumas pessoas por onde passa.
Ele continua o mesmo Asher Blakewood que eu odiava, mas
me apaixonei da mesma maneira.
E isso me machuca.
Porque você queria que ele estivesse no fundo do poço, como
você está, meu subconsciente deduz corretamente
É estupido demais pensar assim? Que eu queria que ele
estivesse sofrendo tanto quanto eu? Pelo menos, isso significaria
que as palavras que me disse naquele dia, mesmo no momento de
raiva, eram verdadeiras.
Que ele me ama.
Ou amava.
Respiro fundo, pensando nas minhas alternativas.
Fujo ou fico e aguento as consequências das minhas ações?
Não tenho tempo para decidir.
No instante seguinte, Serena Anderson surge e pula em
Asher, passando um dos seus braços pelos ombros dele e beijando
sua bochecha.
Os olhos dele vagam por nossa mesa até encontrarem os
meus.
Ele quer que eu veja.
Quer que eu reaja, é nítido.
Mas eu também quero que ele faça alguma coisa.
Que a empurre, diga para que se afaste.
No entanto, ele não faz nada disso.
Pelo contrário, Asher sorri maldosamente em minha direção
antes de circular a cintura de Serena e, juntos, caminharem para
nossa mesa.
Meu estômago embrulha.
Eu sei que não deveria me sentir assim, que eu não tenho o
direito depois de eu ter decidido quebrar o coração.
Mas por que dói tanto?
Por que Ash mexe tanto comigo ainda?
Por que parece que meu coração está dilacerado mais uma
vez?
Meus olhos ardem e sei que as lágrimas cairão a qualquer
momento.
E eu não posso, simplesmente não posso, dar esse gostinho a
ele e chorar na sua frente.
É isso que o canalha quer.
Ele… ele quer que eu reaja, que faça algo impulsivo e mostre
que eu me importe.
Que eu o amo.
Mas… mas, não posso.
Por mais que ele seja dono de todas as partes do meu
coração, não é justo que eu coloque a minha vontade e felicidade na
frente da de mamãe, quando ela sempre fez isso por mim.
Então, eu respiro fundo, e antes que Asher e Serena possam
chegar à mesa, eu me levanto, sustentando o olhar dele.
É um desafio claro para que eu faça algo. Se fosse adivinhar,
diria que ele deseja que eu faça um escândalo e declare para todos
que não só estou com ciúmes, mas também, que ele pertence a
mim.
Não vai acontecer.
— Com licença — peço aos meus amigos e, fuzilando-o com
os olhos, saio a passos lentos do refeitório.
Basta que as portas que levam a área se fecham atrás de
mim para que corra até o banheiro mais próximo e as lágrimas
deslizem compulsivamente pelo meu rosto.

— Me dá um bom motivo e eu volto lá agora mesmo para


descer a porrada no seu irmãozinho — Sydney pede e eu estou tão
absorta dentro da minha própria cabeça, nos meus sentimentos, que
não percebo ela ou as meninas adentrando o banheiro vazio atrás de
mim.
Estou sentada no chão, perto da pia, e tento respirar fundo e
cessar as lágrimas, mas… mas, é tão difícil.
É tão mais simples simplesmente deixar a tristeza vencer e
me afundar nos sentimentos ruins.
Não é atoa que fiz exatamente isso nos dias que se passaram.
— Não adianta mentir, Pippa — Emma avisa e, mesmo sem
levantar a cabeça alojada nos meus joelhos que estão para cima,
sinto a movimentação e o toque suave dela no meu braço. — Nós
vimos como você ficou quando ele chegou e como ele esperava que
você perdesse o controle. Então, amiga, o que aquele canalha fez?
Mais uma vez, eu noto que Emma continua odiando-o, assim
como eu, por todo nosso passado.
Eu não tive a chance de fazê-la ver o lado de Asher
Blakewood, que me fez me apaixonar por ele; ela sabe apenas das
partes ruins e… e por que isso me deixa ainda mais chateada?
O choro intensifica por conta do caminho que meus
pensamentos decidem ir e logo sinto um perfume característico de
Brooke; em seguida, um dos braços dela passa pelos meus ombros e
Emma entrelaça os dedos com os meus. Ainda olhando para baixo,
vejo a ponta das botas de Syd à minha frente e, por cima da minha
meia calça, ela acaricia meu joelho em um gesto carinhoso.
Deus, como sou sortuda por ter amigas tão incríveis como
elas.
As meninas não fazem ideia do que aconteceu, porém, não
hesitaram em vir correndo até mim, sabendo que algo está errado.
Parece que o término com Ash me deixou ainda mais sensível
que o normal.
— Amiga, o que tá rolando? — Brooke questiona. — Você
está nos assustando, Pippa. Achei que você e Ash estivessem bem
depois do beijo. Estavam transando, não é? Não foi um beijo de uma
vez, não pela forma intensa que vocês estavam se encarando. O que
o babaca fez?
Em meio às lágrimas, eu tento esboçar um sorriso, enfim
erguendo a cabeça e deixando que minhas amigas vejam o estado
caótico que me encontro.
Elas podem não saber que estávamos juntos há quase quatro
meses, vivendo a porra de um romance escondido e proibido,
porém, elas nao hesitam em culpá-lo, por terem essa visão
deturpada de Ash.
Levo a culpa por isso, já que fui eu a colocar essa imagem na
cabeça delas.
O que quero dizer, é que, pelos olhos dela, não há
possibilidade de eu ter feito merda.
É por isso que eu as amo tanto.
Respirando fundo, eu limpo o rosto com o dorso da mão,
tentando recuperar um pouco da minha dignidade.
— E-eu precisei tomar uma decisão e… e está doendo.
Doendo tanto — conto, mostrando meu lado vulnerável, algo que
não costumo deixar à mostra a outras pessoas. E fiz isso por Asher.
— Somos todos ouvidos, amiga — Emma assegura, apertando
minha mão. — Não sou a maior fã de Asher, você sabe, mas eu
prometo que vou ouvir com cuidado e tentar não julgá-lo, se ele fez
alguma merda.
— Bem, minha proposta de bater nele ainda está de pé, se
você quiser — Syd reforça e eu não aguento, soltando uma risada.
É um pouco esquisito, já que continuo chorando, mas elas
não se importam.
Aos pouquinhos, as lágrimas vão cessando e quando me sinto
pronta, desato a falar sobre os últimos acontecimentos da minha
vida para elas.
É uma história um pouco longa, mas tento resumir o máximo
que consigo e não ser prejudicial para o entendimento geral. Falo de
quando transamos, nossa aproximação, os momentos que passamos
juntos, não deixando nada do que considero importante de fora.
Conto, pela primeira vez, como foi a experiência de me apaixonar
pelo cara que odiava. Não escondo como foi fácil deixar que meu
coração se abrisse para ele, da nossa conexão que cresceu aos
poucos até que se tornasse amor; um amor nunca vivido por mim
antes.
Naturalmente, algumas lágrimas inocentes deslizam pelo meu
rosto enquanto falo. Contudo, dessa vez, não são apenas de tristeza
e saudades, mas também, de felicidade. Por ter tido um pedacinho
de Ash, mesmo que por pouco tempo, comigo.
As meninas ouvem atentamente cada capítulo desse livro e,
finalmente, chego nas últimas semanas, mais especificamente,
depois do aniversário dele. Desde a conversa com mamãe até minha
decisão de colocá-la em primeiro lugar.
— E ele não aceitou nada bem — digo, terminando a
conclusão da nossa história de amor. — E-ele implorou para que eu
não fizesse aquilo. Disse que o quer que tivesse acontecendo, ele
me ajudaria a resolver e… e eu percebi que não haveria outro modo
de Asher ir embora, a não ser, se voltasse para os nossos joguinhos
— engulo em seco, me odiando por ter sido tão malvada com
alguém que só queria o meu bem. — Eu falei certas coisas porque
sabia que o atingiria e…
Um soluço me escapa e fecho os olhos com força.
Apenas lembrar de como agi me faz querer vomitar de nojo.
— E funcionou, porque vocês não estão mais juntos — Syd
completa, afagando meu joelho e eu assinto.
O resto fica implícito, mas acredito que elas consigam
completar as lacunas dos três dias anteriores e a verdadeira razão
de eu ter decidido me trancar no quarto.
— Primeiramente — Brooke enuncia, e eu ergo os olhos para
encará-la. — Estou muito surpresa com tudo isso. Com o que vocês
viveram pelas nossas costas — estremeço, me sentindo mal por não
ter contado nada, por mais que eu saiba que não seja a intenção
dela. — Quer dizer, nós até desconfiávamos que vocês poderiam
estar transando e…
— Nós? — Repito, interrompendo-a e olhando para Sydney e
Emma.
As namoradas franzem a testa em confusão para a ruiva, que
se apressa em responder:
— Eu e Knox — esclarece, como se fosse óbvio.
Pensando bem, sempre que ela usa o plural, está se referindo
a ela e Knox.
— Continuando… — volta a dizer, coçando a garganta. — Dá
para notar que você gosta muito dele, amiga. Mais do que jamais
gostou de Brad.
— Era diferente — admito e ela acena em concordância.
— E tá tudo bem. De verdade — garante, acariciando meu
ombro, em um gesto carinhoso. — Tem certeza que não há
nenhuma possibilidade de vocês ficarem juntos? Nada?
Nego, sem nem pensar demais.
Seria impossível.
Pelo menos, não pensei em nenhuma alternativa que minha
mãe não sairia magoada e ela é quem importa.
— Olha, você deve imaginar que estou um pouco chateada
por ter sido deixada de fora dessa parte da sua vida, por mais que
eu entenda porque você não me contou. Seja porque eu não
aprovaria, seja por ser um segredo entre os dois.
— Desculpa não ter contado antes para nenhuma de vocês.
Eu queria, é só que…
Que sou uma covarde.
Que eu tinha medo de estragar se mais pessoas soubessem.
Que eu não conseguia pensar em mais nada quando estava
com Asher, a não ser nós dois.
— Não importa amiga — Emma diz e noto o ressentimento
em seu tom, mesmo que tente disfarçar. — Podemos conversar
sobre isso depois — sugere e eu assinto, porque não quero que
minha melhor amiga ache que há algum problema na nossa
amizade. Não há. — Você tentou falar com a sua mãe? Explicar
sobre o sentimento de vocês? Victoria é compreensível, tenho
certeza que ela tentaria entender. Ela reagiu super bem quando
disse que gostava de garotas, por exemplo.
— E ela me adorou quando nos conhecemos — Sydney
completa com uma piscadela, e mordo um sorriso.
Pelo menos, não perdi a habilidade de rir em meio a esse mar
de tristeza.
— Em, você não sabe como ela estava feliz dizendo que
depois de anos, finalmente seríamos uma família — recordo a
conversa que tive com mamãe e contei a elas há pouco. — Ela
deixou claro que ela e Zach estavam na melhor fase da vida deles
agora que eu e Ash estávamos nos dando bem, assim como ele e o
pai, e que… que seríamos uma grande família feliz. Ela se referiu a
nós dois como irmãos, Em. Ela não veria de bom grado um
relacionamento entre nós.
As meninas suspiram, tão perdidas quanto eu.
Parecem finalmente entender porque estou tão chateada.
Não há escapatória.
Estamos em um labirinto sem saída.
— O que podemos fazer por você, Pippa? — Brooke pergunta.
Tento esboçar um sorriso, sentindo meus olhos arderem de
novo e sabendo que mais lágrimas virão.
— Podem me abraçar? E ficar comigo?
Elas não hesitam em assentir.
Desengonçadamente, as três me abraçam e me sinto dentro
de um casulo com elas ao meu redor, me apertando dessa maneira.
— Mais uma vez, gostaria de reforçar que posso dar um jeito
em Asher. Sabe, usar meu stick de hóquei e dar nas bolas deles.
É claro que é Sydney a comunicar isso — de novo — e
arrancar uma risada de todas nós.
Posso não ter mais um grande amor, contudo, tenho grandes
amizades e é o que me apego nesse momento.
Nesse amor que é tão grande quanto qualquer outro, e
agradeço por ter amigas tão leais como elas.
Por elas se tornarem minha âncora quando eu estava prestes
a afundar.
Veja como vou embora com cada pedaço de você
Não subestime as coisas que farei
Há um fogo começando em meu coração
Alcançando um pico de febre e isso está me tirando da escuridão
As cicatrizes do seu amor me lembram de nós
Eles me fazem pensar que quase tivemos tudo
As cicatrizes do seu amor me deixam sem fôlego
Eu não posso deixar de sentir
Nós poderíamos ter tido tudo
Perdidamente
Você tinha meu coração dentro da sua mão
E você tocou no ritmo
Rolling in the Deep | Adele

Mamãe costumava dizer, enquanto eu crescia e ainda não


entendia muito do mundo, que a dor passa.
Mas, primeiro, você precisa senti-la até o seu auge. Mergulhar
de cabeça no que te machuca para que, assim, você saiba como é
estar no seu pior e nunca mais querer chegar a esse ponto.
Ela não é psicóloga, então, não sei se essa abordagem seria a
mais indicada para alguém, contudo, são essas palavras que
repetem diariamente na minha mente enquanto tento viver depois
de ter o coração estilhaçado por Philippa Caldwell.
Ainda parece um pouco cômico admitir isso.
Não apenas que ela quebrou meu coração, como, também,
implicitamente, confessar que ela o tinha nas mãos em primeiro
caso para que pudesse fazer isso.
Dá para acreditar onde chegamos?
Começando nos odiando — bem, eu fui o primeiro a declarar
guerra contra Pippa e ela entrou no barco junto comigo.
Depois, descobrimos que tanto ódio poderia ser tesão
reprimido.
No fim, percebemos — pelo menos eu — que sempre foi
amor.
Digo, nem sempre, mas eu acho que o universo escreveu nas
entrelinhas que éramos para ser.
Era o que achava até Pippa me mostrar, me dizer com todas
as palavras, que eu não passei de um sexo casual qualquer para ela.
Porra, como dói.
Eu sinto meu coração se despedaçar a cada dia que se passa.
A dor não vai embora, como mamãe garantiu.
No meu caso, ela se intensifica e tenho medo que eu exploda
a qualquer momento por conta dela.
Além disso, eu acho que o que me machuca mais é Pippa não
confiar plenamente em mim — não tanto quanto eu confio nela, a
ponto de dar minha vida em suas mãos quando a ensinava a pilotar
uma moto, nas últimas semanas, por exemplo.
Porque eu sei que tem alguma coisa errada.
Sei que sua decisão não foi espontânea.
Sei que — ou quero acreditar, com todas as forças que me
restam — ela me ama e está nos destruindo por outro motivo.
Eu lhe dei a chance de me contar, de resolvermos qualquer
que fosse o tal problema, juntos, mas ela foi ainda mais cruel
quando sugeri.
O que eu fiz logo depois não é algo que me orgulho.
Fui infantil.
Imaturo.
Um babaca, para resumir e englobar todos os outros adjetivos
nada agradáveis, porém, que definem muito bem.
No entanto, eu queria não só machucá-la como fez comigo,
mas, quem sabe, fazê-la entender que, se ela sente ciúmes de mim,
é porque se importa.
E se ela se importa, é porque me ama.
É por isso que flertei inocentemente com Serena Anderson há
alguns dias e trouxe-a para almoçar conosco.
Precisava que Pippa reagisse.
Que ela entendesse de uma vez por todas que sou
inteiramente dela, se ela me quiser.
Logicamente, nada disso aconteceu e ainda tive que aturar a
garota chata falando sem parar no meu ouvido.
Todas nossas ações têm consequências, afinal.
Suspiro, amarrando os cadarços do tênis e tentando focar no
que está acontecendo agora, e não no passado.
Não em Pippa, principalmente, que está no andar de cima
nesse momento, enfurnada no seu quarto.
Nossos amigos mandaram o convite da Cirque du Chaos de
hoje e ela recusou. Inventou que tinha que estudar, quando
sabemos muito bem que nossas provas finais já terminaram e
estamos apenas esperando as notas para entrarmos, de fato, em
férias de festas de fim de ano.
Foda-se ela.
Ela não me quer e preciso colocar essa porra na minha
cabeça.
É por isso que não hesitei em confirmar minha presença na
festa de hoje.
Necessito tirá-la da minha cabeça.
E se não consigo fazer isso facilmente, vou ter que apelar
para outros métodos mais eficazes.
Álcool, adrenalina e garotas.
Somente pensar em transar — porra, ateé beijar — alguém
que não seja Pippa, faz meu coração esmurecer de desgosto.
Ele sabe muito bem que pertence à loira e não a qualquer
outra pessoa.
Agora, como explicar que não podemos mais tê-la?
— Asher — a voz do meu pai chamando meu nome me
arranca dos devaneios e eu levanto a cabeça, encontrando-o parado
a alguns metros de mim, no hall de entrada da casa. — Onde você
vai? Está chovendo bastante, filho.
Posso estar me fodendo na mão de Pippa, contudo, a minha
relação com Zachary está cada dia melhor.
A passos de tartaruga, mas vamos chegar lá.
Tomamos café da manhã juntos algumas vezes, com Victoria
— porque a enteada dele se recusa a estar no mesmo ambiente que
eu —, assistimos a alguns jogos de hóquei de Knox e Brad pela
televisão em casa e, semana passada, ele comprou algumas
cervejas alemãs para bebermos em um churrasco improvisado que
preparou para nós dois, quando as mulheres da casa saíram para
um dia de garotas.
Estamos voltando a nos conhecer. Digo, eu estou voltando a
conhecê-lo, porque ao contrário do que eu imaginava, Zach sabe
tudo sobre mim. Ele não se esqueceu. E ao longo dos anos, mesmo
que o afastando, ele se manteve por perto do jeito que pode e
prestou atenção em cada detalhe da minha vida.
Não sou mais um babaca e consigo admitir com todas as
silabas que ele é a porra do melhor pai que eu poderia sonhar em
ter.
Posso estar puto pra caralho com Pippa, mas ela foi a razão
principal em eu ter percebido isso. Ela me fez abrir os olhos para o
cara foda que eu tenho como pai. A decisão de me abrir novamente
com Zachary foi totalmente minha, porém, não tem como mentir e
dizer que ela não teve uma porcentagem nisso também.
Porra, Pippa.
Você nunca mais não vai estar na minha mente?
— Ash? Tudo bem? Você está meio aéreo ultimamente. Tem
alguma coisa acontecendo? — Volta a perguntar quando eu não
respondo, perdido em meus pensamentos.
Pisco, coçando a garganta e terminando de amarrar meus
casacos para levantar do banquinho.
— Tudo bem — respondo, forçando um sorriso. — E vou para
uma festa com os caras e devo ficar na casa de Brad e Knox. Eles
não vão beber, porque está na temporada de hóquei e essas coisas.
E porque preciso encher a cara para esquecer da sua enteada
que vive me assombrando e quebrando mais meu coração a cada
dia que passa.
Meu pai assente e noto só nesse momento que ele está
vestindo um conjunto de moletom azul marinho e que carrega um
balde de pipoca nas mãos.
— Vamos assistir um filme e eu ia te chamar — explica
quando me pega encarando-o. — Eu, Victoria, você e Pippa. Em
família. Tem certeza que não quer ficar?
Fico triste por ter que negar quando ele parece tão animado
em ter nós quatro juntos, o que vem sendo algo difícil desde quando
Pippa terminou comigo.
Por escolha dela, devo acrescentar.
Como ela acaba com tudo e parece que é a que mais está
sofrendo?
Não faz porra de sentindo nenhum.
— Vamos deixar para a próxima?
Ele acena em concordância, me lançando um meio sorriso.
— Cuidado, viu, Ash? As ruas devem estar escorregadias por
conta da chuva — avisa e eu apenas assinto, de costas, procurando
as chaves da moto e de casa. — Me manda uma mensagem para eu
saber que você chegou bem.
— Pode deixar, pai.
Então, eu faço meu caminho até minha nova moto, visto o
capacete e não olho para trás quando vou até a Cirque du Chaos.
Onde tudo começou, e onde tudo vai terminar.
A chuva é um grande empecilho para uma festa que ocorre
em um terreno baldio ao ar livre, ainda mais quando a mais
interessante atração da Cirque du Chaos é o globo da morte, que
não está funcionando por razões óbvias.
Alguns toldos foram montados, mas, mesmo assim, são
poucos os espaços cobertos enquanto a chuva cai fortemente por
cima da gente.
Bem, pouco me importo com essa merda.
Não vim para dançar com meus amigos, jogar conversa fora e
beber socialmente.
Estou aqui com um único motivo: esquecer de Philippa
Caldwell por outras vias.
Leia-se: álcool.
É por essa razão que estou no meu sexto shot de vodca
desde que cheguei, há pouco menos de quinze minutos.
Infelizmente, ainda não sinto nenhum efeito e a imagem da
porra da loira que me enloquece segue na minha cabeça.
Então, eu faço a coisa mais sensata a se fazer: ofereço uma
boa quantidade de dinheiro para o moleque do bar e ele me dá uma
garrafa lacrada de tequila barata.
— Vamos com calma aí, motoqueiro — Knox diz, tentando
arrancar a garrafa da minha mão, mas não deixo que faça isso.
De birra, como uma criança mimada, eu entorno o líquido na
minha garganta, que desliza queimando, mantendo os olhos no meu
amigo.
Ah, agora sim.
Meu corpo pinica, sinto minha boca formigar e o meu rosto
esquentar.
Em outras palavras, a porra do álcool parece estar cumprindo
seu objetivo de me embebedar.
— Não ignora ele, otário — Brooke resmunga e, como seu
cachorrinho, falha na tentativa de puxar a garrafa de mim. — Você
vai acabar nos dando trabalho.
Kevin e Bradley vieram, porém sumiram juntos assim que
chegamos.
Com tudo acontecendo na minha vida, não tive a
oportunidade de perguntar ao meu melhor amigo o que está rolando
entre ele e o ruivo, mas quero fazer isso, porque está claro que
estão envolvidos.
Quero alertá-lo também.
Kev nunca se apaixonou, assim como eu. Por isso, sinto a
necessidade de avisá-lo para ter cuidado, porque quando você
menos espera, seu primeiro amor te apunhala pelas costas.
— Não preciso que vocês cuidem mim — digo ao casal que
não-é-um-casal, bebendo mais da tequila.
Eles se entreolham e parecem conversar somente pelos
olhares.
Não faço ideia como Brad ainda não reparou o clima que rola
entre seu melhor amigo e sua irmã, mas é bem óbvio.
Até mesmo para mim, nesse momento, em que estou
sentindo meu corpo amolecer e o álcool se alastrando pela minha
corrente sanguínea.
Sem dar mais trela para os dois, volto a beber, observando a
festa acontecer ao meu redor.
Tiro um maço de cigarros do bolso da calça e acendo um,
relaxando um pouco assim que a nicotina atinge as minhas narinas.
Como eu estava com saudades de fumar alguma coisa.
Tinha parado um pouco porque Pippa não gostava do cheiro
e… e quer saber?
Foda-se.
Trago mais uma vez e sorrio, vendo a fumaça se dissipar.
Ao meu lado, Brooke e Knox continuam estáticos,
conversando baixinho e me encarando.
— Knox — chamo, cansando de ser o assunto da conversa
deles. — Vem aqui.
Meu amigo dá dois passos para perto de mim e eu passo um
dos meus braços pelos seus ombros, abraçando-o.
— Vai parar de beber? — Ele questiona e eu solto uma risada.
— Até parece. Mal comecei — respondo, lhe direcionando um
sorriso. — Você gosta da Brooke?
O corpo de Knox enrijece e, pela primeira vez, o cara está
sem palavras.
Ah, parece que a ruivinha é assunto proibido.
— Você está bêbado, cara — constata, ignorando minha
pergunta. — Acho melhor a gente ir embora.
Puta que pariu, por que ninguém quer se divertir mais?
É o amor.
Ele está se infiltrando furtivamente no coração dos meus
amigos e deixando-os nesse estado catatônico.
O amor é como um veneno.
Você toma cada dia um pouco e não sente quando ele toma
conta de seu organismo, danificando-o lentamente até que não
sobre mais nada, apenas migalhas de um coração destroçado.
Me desvencilho do chato do Knox e empurro-o de volta para
sua amada venenosa, virando mais a bebida.
Não sinto o líquido descer queimando, o que é um bom sinal.
Está finalmente funcionando!
A garrafa já está pela metade quando viro-a pela quarta ou
quinta vez.
Minha visão está turva e quando decido deixar Knox e Brooke
sozinhos, não sei para onde estou indo.
Quem está por perto.
Mal reconheço a música estourando nas caixas de som.
Não sinto nada.
Estou flutuando nas nuvens.
Meu corpo está mole e um sorriso se estende pelos meus
lábios.
Termino a tequila e jogo a garrafa em um canto qualquer da
festa.
Como mágica, o nome Philippa Caldwell não significa mais
nada para mim.
Você estava bebendo?
Você estava na sala
Relaxando assistindo televisão?
Já faz um ano
Acho que descobri como
Como deixar você ir e deixar a comunicação morrer
Eu sei, você sabe, nós sabemos
Você não ficou triste para sempre e está tudo bem
Eu sei, você sabe, nós sabemos
Nós não fomos feitos um para o outro e está tudo bem
Mas se o mundo estivesse acabando
Você viria, certo?
Você viria e passaria a noite
Você me amaria por isso?
If the World Was Ending | JP Saxe, Julia Michaels

Estamos saboreando a pipoca caramelizada deliciosa que


apenas Zach sabe fazer perfeitamente e assistindo o segundo filme
de uma das maiores trilogias já gravadas, Vovózona, aproveitando
uma noite chuvosa em família.
É claro, Asher não está nos acompanhando. Ele foi a edição
de hoje da Cirque du Chaos com Knox, Brooke, Bradley e Kevin. Eu
não estava nem um pouco afim de socializar com tantos jovens e
Emma está viajando com Sydney, visitando a família da namorada,
esse fim de semana. Então, quando minha mãe e padrasto
sugeriram de fazermos uma noite de cinema em casa, eu não tive
outra saída, a não ser aceitar.
Eu gosto de estar com eles.
É bom ver minha mãe rindo de alguma cena hilária do filme e
Zach observando-a como se ela fosse a mulher mais bonita do
mundo — e para ele, é bem capaz de ser a verdade.
Eu amo o amor deles.
Adoro vê-los felizes e tão apaixonados assim, ainda mais
mamãe.
Depois de tudo, ela merece um amor verdadeiro, leve e
recíproco.
Embora já faça quase um mês que garanti que esse sorriso
nunca mais saia do rosto da mamãe, terminando com Asher, a dor
não diminui.
Sinceramente, piora a cada dia.
Ainda sinto meu coração se apertar toda vez que o vejo.
Choro no banho às vezes, pensando nele.
E até mesmo vomitei há alguns dias, após passar quase o dia
todo sem comer porque… porque as comédias românticas estavam
certas quando disseram que um coração partido te faz perder o
apetite.
Argh, odeio ainda estar apaixonada por Asher Blakewood com
todas as células do meu corpo.
— É por isso que nunca levei Pippa a aulas de ballet — Zach
comenta quando a cena de Malcom, o personagem principal do
filme, dançando na aula de balé, nos arranca risadas.
Mamãe ergue uma sobrancelha para o marido.
— Esqueceu da vez, no dia dos pais, que você foi com ela e
torceu o tornozelo fazendo um plié? — Ela relembra, cutucando-o.
Nossa, nem eu me recordava desse episódio.
Acho que eu tinha com por volta dos doze anos e, no dia dos
pais, a professora pediu para que todas as alunas trouxessem o
responsável.
Em um primeiro momento, lembro de ficar nervosa porque…
bem, porque meu pai estava — e ainda está — preso, e não sabia
como explicar isso às minhas coleguinhas quando elas perguntassem
a razão dele não estar lá. Eu chorei quando cheguei da aula naquela
noite e quando mamãe perguntou o que tinha rolado, não hesitei em
desabafar.
Na semana seguinte, Zach me levou para a classe, não minha
mãe, como de costume. Nunca aconteceu antes, mas, mesmo
assim, não estranhei a situação. Então, ele também fez questão de
me levar até a sala e é claro que a professora o convidou para
entrar.
Fiquei muito feliz por ele ter ido, por não ter sido deixada na
mão.
Zach não é meu pai mas… mas é uma ótima pessoa e sempre
vai ser o melhor padrasto do mundo por tudo que fez — e faz — por
mim e mamãe.
— Ai, meu Deus, mulher! Não me lembre dessa vergonha —
responde, brincando, e minha mãe revira os olhos. — Quando eu
durmo ainda lembro de todas aquelas menininhas de saia rindo da
minha cara enquanto eu me contorcia de dor no chão.
Sim, ele realmente fez um show e tanto quando pisou em
falso durante os aquecimentos.
Minha mãe não aguenta e desata a rir, lembrando mais alguns
detalhes daquele dia sensacional.
De repente, meu coração parece relaxar um pouco e eu rio
junto, feliz de estar compartilhando tantas boas memórias com eles.
Ainda estou rindo de Zach quando meu celular toca no braço
do sofá e eu franzo as sobrancelhas vendo o nome de Brooke
Rhodes piscar na tela.
Confusa, eu levo o celular ao ouvido.
— Alô? — Atendo, estranhando a ligação da minha amiga,
visto que são quase meia noite.
— Pippa? — Chama e o tom aflito em sua voz me faz
endireitar a postura rapidamente.
Minha mãe e Zach percebem minha mudança repentina de
posição e tenho certeza que minha expressão não é nada agradável
quando seguro com força o celular, assustada.
— Brooke? Tudo bem? Aconteceu alguma coisa?
Disparo as perguntas, nervosa.
Minha amiga está sempre… bem.
Sorridente, animada e vendo o lado bom de tudo.
Nunca a vi preocupada — nem mesmo quando ela se
machucou naquele jogo fora de casa. Tampouco já presenciei algum
episódio em que ela estivesse triste, zangada ou com medo, como
parece estar agora, do outro lado da linha.
Então, é claro que me desespero um pouco com a forma
estranha que ela pronuncia o meu nome.
— É o Asher — conta, sendo um pouco difícil escutá-la com
clareza pelo som da música alta de fundo. — E-ele bebeu muito,
Pippa e… e não está ele mesmo. Não consigo achar Kevin e Bradley,
nenhum carro de aplicativo aceita a corrida para eu tirá-lo daqui e…
e eu não sabia mais o que fazer.
Engulo em seco, sentindo minha pulsação acelerar.
Asher está mal.
Precisando de ajuda.
— Estou indo para aí — aviso, já me levantando do sofá e não
olho duas vezes para minha mãe e Zach. — Knox não está aí
também? Ele não pode ajudar?
— Ele não está mais aqui. Knox não pode ajudar — informa,
firme, e um pouco dura com as palavras.
Algo mais aconteceu nessa festa, entre Brooke e Knox, mas
não é o momento para eu me preocupar com esse romance — ou
seja lá o que é — entre os dois.
— Chego o mais rápido que conseguir — aviso antes de
desligar e me arrumar na velocidade da luz para ir atrás de Asher.
Em menos de dez minutos, uma conversa rápida com minha
mãe e Zach, avisando que aconteceu um problema na festa e cinco
minutos gastos tentando ligar o veículo, eu estou navegando pelas
ruas escuras da cidade.
Talvez eu devesse ter pensado melhor quando decidi me
aventurar na moto antiga de Asher, ainda abandonada na nossa
garagem, e ir buscá-lo na festa.
Ele passou as últimas semanas me ensinando a pilotá-la e
quando Brooke descreveu o estado dele, eu soube o que deveria
fazer para chegar o mais rápido possível na Cirque du Chaos.
Acelero a moto pelas ruas de Belgravia, ansiosa.
Preocupada.
E, principalmente, culpada.
Porque eu sei, eu sei que a razão de Ash ter bebido tanto e
estar descontrolado — e eu nunca o vi perder o controle assim — é
pelo que eu fiz.
Com ele.
Com a gente.
Até comigo, porque continuo miserável sem ele.
Desvio de um carro andando a sessenta quilômetros por hora,
tendo um pouco de dificuldade de enxergar as ruas por conta da
chuva que respinga na viseira. O chão molhado também não é de
grande ajuda, mas, felizmente, tive um ótimo professor.
Enquanto dirijo até Ash, penso em tudo que direi a ele.
Foram menos de três semanas separadas dele e eu pude
comprovar que é impossível.
É impossível viver em um mundo que ele exista e não
estejamos juntos.
É doloroso demais e… e não posso.
Não consigo esconder e mentir para mim mesma.
Eu o amo.
Ele me ama.
Vamos dar um jeito de ficarmos juntos.
O que senti quando Brooke falou que ele não estava bem e
pediu minha ajuda?
Não é possível descrever em palavras.
Pânico, talvez, mas muito mais que isso ao mesmo tempo.
Eu não sei o que aconteceria comigo se algo rolasse com
Asher enquanto estamos afastados e as últimas coisas que disse a
ele foram tão cruéis.
Não me perdoaria.
É quando entendo que não quero — não posso — ficar longe
dele.
Conversaremos com mamãe e com Zach sobre nós dois. No
melhor dos cenários, eles entenderão e seremos uma grande família
feliz — e um pouco disfuncional, mas, como eu disse, contentes por
estarmos com quem amamos. Na pior das hipóteses, eles irão reagir
mal e… e nos expulsar de casa?
Honestamente, não acho que eles fariam isso, mas nunca se
sabe.
Se isso acontecer, também daremos um jeito. Posso pedir
transferência para alguma faculdade em Boston e com Asher no MIT,
viveremos felizes nos Estados Unidos. Assim, afastados, podemos
continuar tentando mostrar a nossos pais que nos amamos e
gostaríamos de ter a benção deles.
Cedo ou tarde eles entenderiam o amor que sentiríamos um
pelo outro e no fim, ficaríamos juntos e unidos.
Em ambos os caminhos que essa decisão de estar com Asher
pode seguir, estaremos um com o outro e é isso que importa.
Estar com Asher Blakewood.
— Estou indo, Ash — murmuro baixinho, para mim mesma, e
peço a Deus que ele esteja bem quando eu chegar.
Confio em Brooke para cuidar dele.
Há tantas coisas passando pela minha cabeça enquanto dirijo
pelas avenidas escuras de Edmonton que eu não estou prestando
tanta atenção no trânsito quanto deveria.
Então, eu não noto quando estou atravessando um
cruzamento e um carro passa o sinal vermelho da rua transversal.
Bem, eu percebo o farol alto vindo da minha esquerda.
Porém, é tarde demais.
Tento frear a moto, mas… mas, não funciona.
Aperto o freio dianteiro de novo.
Nada.
Piso no traseiro, olhando para meus pés e… nada também.
Porra.
Puxo o guidão com força, tentando desviar, mas é tarde
demais.
Fecho os olhos, sabendo que vamos colidir.
A imagem de Asher é a última na minha mente antes do
impacto fazer meu mundo ficar preto.
É de admirar que as coisas tenham quebrado?
Porque no meu coração e na minha cabeça
Eu nunca vou retirar as coisas que eu disse
Tão alto, eu sinto isso descendo
Ela disse, no meu coração e na minha cabeça
Diga-me por que isso tem que acabar
[...]
A dor só me deixa com medo
Perdendo tudo que eu já conheci
Tudo se tornou demais
Talvez eu não tenha sido feito para o amor
Se eu soubesse que poderia chegar até você, eu iria
Atlantis | Seafret

É difícil explicar como seu corpo ou sua mente reagem


perante a uma situação não só inesperada, mas trágica,
acontecendo com alguém que você ama porque a adrenalina toma
conta.
Algumas pessoas não se lembram de acidentes dolorosos ou
o que sentiram quando recebem a notícia que seu avô morreu
porque ficaram presos em um momento de estupor. O tempo parece
parar, o coração acelera e o mundo ao redor evapora, como se você
tivesse mergulhado de cabeça em um mar profundo e ficasse
submerso durante todo aquele tempo.
Posso dizer que essa definição é a mais próxima que consigo
trazer à realidade diante das minhas experiências pessoais.
Primeiro, quando minha antiga paixão da faculdade me ligou,
após dez anos sem nenhum contato, pedindo minha ajuda. Eu não
hesitei em trazê-la para perto e oferecer todo o suporte, antes de
saber o que tinha acontecido. Victoria precisava de mim e eu nunca
deixaria de estender a mão para ela.
E a segunda vez, aconteceu quase uma hora atrás. Victoria
estava perambulando de um lado para o outro na cozinha, tentando
falar com Pippa, que saiu voada de casa no meio de um temporal,
sem sucesso. Também tentei ligar para Asher, já que desconfiava
que qualquer que fosse a emergência que a fez sair tão rápido
assim, fosse na mesma festa que ele estava. Contudo, também não
consegui.
Então, o celular da minha esposa tocou e ela respirou,
aliviada, achando ser Pippa avisando que chegou em segurança na
festa.
Não era.
Era a polícia local de Edmonton.
Para reportar um acidente envolvendo uma jovem em que
Victoria era o contato de emergência.
Philippa, claro.
Minha esposa ainda estava falando com o policial quando
saímos apressados de casa após ele nos dizer o hospital que
estavam levando nossa menininha.
Sim, nossa.
Posso não ser o pai biológico de Pippa, mas considero-a como
uma filha e espero que ela também me veja como uma figura
paterna, porque eu a amo tanto quanto amo Asher.
Embora eu me importe bastante com ela, não pude
demonstrar tanto o quão preocupado, ansioso e nervoso eu estava
durante não só a ligação, mas o trajeto até o hospital, porque
Victoria estava chorando e tremendo e eu precisava ser a pessoa
forte.
Então, eu respirei fundo e segurei a mão da minha mulher,
apertando-a com carinho e tentando acalmá-la com palavras
acolhedoras.
Não que tenha funcionado, mas, pelo menos, ela aguentou
bem até chegarmos ao Royal Alexandra Hospital. Assim que
estacionei o carro — ou nem isso, para ser honesto —, Victoria
empurrou a porta do passageiro com força e correu para dentro do
departamento de emergência.
Fui logo atrás, ligando para Asher para avisá-lo do acidente.
Afinal, supostamente, era para a tal festa que ele era o destino final
de Pippa. Ligo várias vezes e o desgracado não me atende,
deixando-me ainda mais nervoso, imaginando o pior dos cenários.
Na quarta vez, felizmente, a ligação é atendida.
Não por ele.
É Brooke Rhodes, uma das amigas próximas das crianças que
atende. Ela pergunta sobre Pippa, diz que Ash está no banheiro e
que eu posso deixar um recado para que ele me ligue quando voltar.
Eu acho esquisita a situação, contudo, conto a Brooke sobre o
acidente de Pippa, onde estamos, e peço que ela diga a Ash para
me retornar o mais rápido possível.
A jovem se exalta na ligação, chorando copiosamente no meu
ouvido e repetindo que era culpa dela Pippa estar no hospital, já que
foi ela a ligar para amiga pedindo ajuda. Mais uma vez essa noite,
eu tento acalmar alguém, mas é em vão. Ainda chorando, ela diz
que vai falar com Asher e também avisar aos outros amigos sobre o
estado de Pippa.
Enquanto isso, Victoria estava na recepção, tentando arrancar
mais informações da filha. Quando me junto a ela, a enfermeira está
informando que Philippa está na emergência, passando por uma
avaliação e vão liberar visitas assim que ela estiver estável. Além
disso, diz que um médico irá conversar conosco em breve sobre o
estado de Pippa.
Eu agradeço a enfermeira e passo um dos braços ao redor de
Victoria, levando-a para a sala de espera. Nos sento em cadeiras
azuis e nada confortáveis. Ela deita a cabeça no meu peito e agarra
com força minha camisa, deixando que as lágrimas a molhem.
Não me importo.
Victoria pode fazer o que quiser comigo, ela sabe disso.
Pode encharcar-me com suas lágrimas — por mais que eu a
preferia sorridente, lógico.
Eu afago as costas de minha esposa, depositando um beijo
no topo da sua cabeça.
— Estou com tanto medo, Zach — murmura, um pouco difícil
de entender pela voz abafada no meu peito. — Não posso perdê-la,
Zach. Não posso! E-eu vou morrer se algo acontecer a minha
garotinha.
— Ela vai ficar bem, Vic — asseguro, sabendo o quanto
Philippa é forte, como a sua mãe. — Nada vai acontecer com ela.
— Eu acho que não sobrevivo se ela… se ela não estiver mais
aqui.
Apenas abraço-a com mais força e continuo a recitar palavras
para tranquilizá-la.
Deus me livre, mas se algo acontecer com Pippa, ela não
resistir e Victoria não aguentar viver sem sua filha… é possível que
eu vá pelo mesmo caminho.
Somente o pensamento de viver em um mundo onde Victoria
Blakewood não está é o suficiente para meu coração doer.
Fisicamente, sinto meu peito apertar com esse cenário.
Minha pulsação acelera ainda mais e respiro fundo, já
sentindo o ar indo embora dos meus pulmões.
Me sinto fisicamente doente somente em pensar nisso.
Eu não sobreviveria sem minha esposa.
Ela é o meu mundo inteiro, assim como…
— CADÊ ELA? ONDE ELA ESTÁ? — A voz da outra pessoa que
é uma das razões da minha existência preenche meus ouvidos de
uma forma nada agradável.
Asher chega sendo ancorado pelos amigos, Kevin Turner e
Bradley Rhodes, com a irmã gêmea do último, ao lado.
Ele parece… podre.
As roupas estão sujas de terra molhada, o cheiro de álcool é
insuportável, tal como o de nicotina. É nítido que meu filho está
caindo de bêbado e com sua voz alterada, gritando para que todo o
hospital o ouça, se torna ainda mais preocupante.
Ash é uma pessoa controlada.
É uma surpresa vê-lo assim, e isso me diz que ele não está
nada bem.
— Volto já, meu amor — digo a Victoria, que já ergueu a
cabeça do meu abraço para ver a cena acontecendo a alguns metros
de nós.
Ele está chamando a atenção de toda a emergência agindo
assim.
Ela assente, limpando as lágrimas com o dorso da mão e eu
beijo sua testa antes de ir até meu filho e seus amigos.
— ONDE PIPPA ESTÁ? QUERO VÊ-LA! PRECISO VÊ-LA! —
Asher continua gritando quando me aproximo e seu rosto se ilumina
a notar minha presença. — PAI! VOCÊ ESTÁ AQUI! ONDE
COLOCARAM PIPPA? ELA ESTÁ BEM, NÃO ESTÁ? EU QUERO VÊ-LA,
PAI, PRECISO VÊ-LA!
Kevin e Bradley se entreolham e Brooke me lança um sorriso
fraco antes de passar por mim e, de soslaio, noto que vai até
Victoria.
— Ele está descontrolado assim desde quando contamos do
acidente — Kev explica e eu assinto, cruzando os braços e me pondo
na frente do meu filho.
— Pai… por favor. Diz que Pippa está bem. Por favor. E-eu…
— antes que ele possa completar sua frase, sem gritar dessa vez,
ele vomita.
Asher vomita na porra dos meus saapatos e no chão do
hospital, trazendo ainda mais muriminhos das pessoas ao nosso
redor.
— Porra, Asher — é Bradley quem resmunga, enjoado com o
cheiro forte do vômito.
— Eu assumo daqui, rapazes — informo aos dois amigos, já
tirando meu filho dos braços deles.
Eles se entreolham, porém, acabam concordando e me
passando Ash.
Uma pessoa da equipe da limpeza chega rápido, pedindo que
nos deem espaço para que ela possa fazer o trabalho.
Seguro Asher, deixando que ele coloque todos seu peso para
cima de mim e apenas com um menear de cabeça, indico a Victoria
que vou levá-lo ao banheiro, a alguns metros de nós.
Vic acena e continua a conversar com Brooke, provavelmente
explicando o que nos disseram há pouco sobre Pippa.
É um pouco complicado carregar Asher sozinho até o
banheiro mais próximo, afinal, ele não é mais uma criança. Com
quase vinte anos, meu filho é um pouco mais alto que eu e, com
certeza, pesa mais. Mesmo assim, conseguimos entrar no local e eu
fecho a porta atrás de nós, inclinando o corpo de Ash sob a pia para
lavá-lo.
Prendo a respiração quando ele vomita mais um pouco na pia
e espero que ele coloque tudo para fora antes de voltar a limpá-lo.
— Pippa — vocifera quando passo o papel molhada em seu
rosto. — E-ela está bem? Ela precisa estar bem, pai.
— Não sabemos ainda — sou sincero quando respondo e ele
resmunga, abaixando a cabeça e quase batendo com a testa no
mármore. — Os médicos irão dar mais notícias daqui a pouco.
Nunca pensei que fosse precisar cuidar de um filho bêbado
depois de velho, mas veja só onde estamos.
Sou rápido e impeço que a batida aconteça, usando minha
mão como amortecedor.
— E-eu não posso perdê-la, pai — continua a falar, as
palavras emboladas. — Por favor, vai. Q-quero vê-la. P-posso ver a
Pippa?
Não sabia que eles estavam tão próximos assim para que ele
estivesse tão preocupado quanto Victoria com Philippa.
Se bem que, Vic me contou algumas desconfianças que tem
sobre a relação entre Asher e Pippa. Eu disse que ela estava errada,
era apenas impressão porque eles estavam se entendendo, porém,
agora, enquanto vejo meu filho murmurar palavras e frases
desconexas sobre Philippa, acho que sou eu quem estava errado.
— Não podemos vê-la ainda, filho — digo e, mais uma vez,
ele suspira, derrotado. — Mesmo se pudéssemos, você não poderia
vê-la.
Isso chama a atenção de Asher.
Ele parece acordar, se levantando rapidamente e virando-se
de frente para mim em um rompante.
— O que? P-por que não? Tenho que… que ver Pippa, pai. P-
preciso falar com e e eu… eu…
— Você vai para casa — ordeno e não lhe dou chance de
retrucar. — Está bêbado, fedido e sujo, Asher. Você não vai ver
Philippa assim. Então, você vai para casa, acompanhado de Kevin e
Bradley. Vai tomar um banho, um remédio para dor de cabeça,
comer alguma coisa e dormir.
— Mas… Pippa… pai…
— Mas nada, Asher — digo, firme e ele engole em seco,
desviando os olhos dos meus. — Sei que você está preocupado, Ash,
mas não é nesse estado que você vai vê-la. Faça isso e amanhã de
manhã deixaremos que faça uma visita.
Porque tudo dará certo e nossa menina estará bem.
Ela vai passar por isso e todos comemoraremos sua melhora.
— Amanhã? — Repete, incrédulo e eu assinto, levando-o para
fora do banheiro.
— Amanhã — repito, indo até Kevin e Bradley, seus amigos,
perto da máquina de bebidas. — Levem Asher para casa e garantam
que ele tome banho, coma alguma coisa e durma.
Os garotos assentem e, com um beijo na testa do meu filho,
volto para o lado da minha esposa.
Brooke está do outro, bebendo um copo de água e sorri fraco
para mim, as lágrimas já secas.
Victoria volta a se acomodar em mim e eu acaricio suas
costas.
— A-ainda estou com medo, Zach — murmura, se agarrando
com tudo em mim.
Eu suspiro, abraçando-a com mais força.
— Tudo vai ficar bem, meu amor — garanto, mesmo não
tenho certeza.
Contudo, Philippa é filha de Victoria, a mulher mais forte que
conheço.
Logo, sei que ela é bem parecida com a mãe.
Uma guerreira.
Ela vai lutar.
Ela vai se salvar.
As estrelas, a lua
Eles foram todos apagados
Você me deixou no escuro
Sem amanhecer, sem dia
Estou sempre neste crepúsculo
Na sombra do seu coração
Tirei as estrelas dos meus olhos e fiz um mapa
E sabia que de alguma forma eu poderia encontrar o caminho de
volta
Então eu ouvi seu coração batendo, você também estava na
escuridão
Então eu fiquei na escuridão com você
Cosmic Love | Florence + The Machine

Contra minha vontade, fui para casa com Kevin e Bradley,


onde eles me deram banho, colocaram minhas roupas e me
alimentaram. Antes de irem embora, após terem certeza que eu
estava bem, deixaram uma garrafa de água e comprimidos na
mesinha de cabeceira, ao lado da minha cama.
Dormir foi um desafio.
Acho que se consegui ter quatro horas de sono foi muito.
Todas as vezes que eu fechava os olhos, minha mente
conjurava mensagens de Pippa em cima da minha moto antiga,
correndo pelas ruas da cidade para me encontrar porque eu estava…
descontrolado, como Brooke descreveu.
Foi minha culpa ela ter sofrido a porra da batida.
Se eu tivesse ouvido meus amigos e parado de beber quando
eles sugeriram, não teria chegado no estado em que cheguei e
Brooke não precisaria ter que intervir.
E, porra, onde estava Knox quando precisávamos dele, porra?
Ele poderia ter ajudado Brooke, e assim Pippa não teria
precisado sair na chuva e…
Não.
A porra do culpado sou eu, não Knox.
Ele está sumido desde ontem a noite quando desapareceu da
festa, aliás.
Os caras mandaram alguma mensagem no grupo,
questionando o paradeiro do nosso amigo e ele respondeu apenas
que estava bem e precisava de um dias, sozinho. Também desejou
melhoras a Pippa. A ruiva, ao contrário de todas as outras vezes,
não respondeu nada para o melhor amigo do seu irmão.
O que me diz que algo aconteceu na festa enquanto eu
enchia a cara.
Honestamente, eu não lembro muito do período da festa —
depois de ter entornado metade da garrafa de tequila — até Kevin,
Bradley e Brooke me levarem para o hospital e o que aconteceu por
lá.
Eles me contaram a vergonha que passei no departamento de
emergência e que meu pai precisou limpar meu vômito no banheiro.
Deus, que humilhação.
Kevin e Brad também contaram que eu perguntava de Pippa o
tempo todo, claramente preocupado e ansioso com o estado dela.
Não faço ideia, contudo, se admiti estar apaixonado por
Philippa e por isso estava tão nervoso com a situação.
Acredito que não, porque quando meu pai apareceu em casa
essa manhã cedo, com Victoria, ele acenou com a cabeça para mim
e minha madrasta subiu para tomar um banho e voltarmos todos
para o hospital. Zach disse para eu me arrumar e tomar café da
manhã — que eles trouxeram da padaria a caminho de casa — para
irmos em breve ver Pippa.
No entanto, antes que meu pai possa também ir tomar uma
ducha e trocar de roupa, eu seguro seu pulso e impeço que ele
suba.
— Como ela está? — Pergunto, tentando disfarçar um pouco
a preocupação.
Claro, eles sabem que eu e Pippa não nos odiamos mais,
porém, acredito que ela não gostaria nem um pouco que eu
demonstrasse mais que o necessário na frente dos nossos pais.
— Estável — esclarece e eu sinto que posso respirar direito de
novo. Passei praticamente toda a madrugada em claro pensando em
Pippa, sem nenhuma notícia, já que os celulares deles ficaram sem
carga e, na correria, não se lembraram de levar carregadores. — Ela
vai ficar em observação e ainda está sob efeitos de sedativo, mas vai
acordar em breve. Os médicos disseram que ela teve muita sorte
em não ter sofrido lesões mais graves, pela gravidade do acidente e
como a moto ficou. Apenas uma concussão moderada, fratura no
braço, perna e costela.
— Isso não é grave? — Retruco, assustado com os ferimentos
que ele enumera. — Ela está mesmo bem, pai? Eu aguento. Pode
falar a verdade.
Ele me lança um pequeno sorriso, afagando meu ombro.
— Ela está, filho. Não precisou de nenhuma cirurgia, apenas
analgésicos mais fortes e imobilização na perna e braço. Pippa está
bem, na medida do possível, e vai melhorar. As mulheres Caldwell
são fortes.
Assinto, engolindo a vontade imensa de chorar.
Porque eu sou a razão dela ter se aventurado na porra das
ruas escorregadias de Edmonton com a minha antiga moto
defeituosa e ter sofrido esse acidente.
Eu.
Sou o responsável por ter quase causado a morte de Philippa,
a pessoa que tanto amo e…
E é difícil respirar sabendo disso.
O ar parece faltar em meus pulmões e tento puxar mais, mais
e… nada.
— Respire, Ash — a voz suave do meu pai e sua aproximação
me fazem erguer a cabeça. Ele apoia uma das mãos nas minhas
costas. — Respire, filho. Assim — ele inspira e expira, me instruindo
a fazer o mesmo.
Imito-o.
Uma, duas, três vezes.
Na quarta, sinto a pressão nos meus pulmões diminuir e
consigo que o ar volte a circular facilmente.
Porra.
— Sei o que você deve estar pensando, Ash, e não é sua
culpa o acidente ter acontecido — me consola, os olhos fixos nos
meus, me encarando com carinho e ternura. — Pippa é leal às
pessoas que ela ama, e teria feito isso por Emma, por exemplo,
também. O único responsável é o filho da puta atrás do volante do
carro, que usou o sinal e fugiu sem prestar socorro. Não é você,
filho, me entendeu? Não é.
Tento absorver as palavras do meu pai.
Colocar na cabeça que não é minha culpa.
Uma tarefa difícil, ainda mais quando levo em conta que,
apesar de eu e Pippa não estarmos em bons lençóis, ela não hesitou
em atravessar a cidade no temporal para ir atrás de mim.
Ela ainda se importa.
Nem que seja um pouquinho.
E vou me agarrar esse pouquinho para mostrar a ela o quão
bom juntos nós somos e convencê-la que podemos ficar juntos.
Qualquer que seja o problema no seu — nosso caminho — vou
ajudá-la a solucionar.
Faço qualquer coisa para tê-la comigo ao meu lado para
sempre.
Qualquer coisa.
Não lembro muito bem dos acontecimentos da noite anterior,
contudo, o que me recordo com clareza é meus amigos me
contando do acidente e como eles não sabiam o estado de Pippa.
Por alguns instantes, meu mundo parou.
Tudo cessou.
A música, as vozes e até meu coração.
Lembro da possibilidade dela não estar viva ter passado pela
minha cabeça e meu primeiro pensamento foi: eu não consigo viver
sem ela e muito menos deixá-la ir sem dizer o quanto eu a amo.
Nesses últimos seis meses, Pippa se tornou muito mais do
que um sexo casual, como ela nos definiu há algumas semanas.
Philippa Caldwell é o amor da minha vida.
É a pessoa pela qual meu coração bate.
Mesmo danificado, ele continua batendo.
Por ela.
Sempre por Pippa.

Hospitais são controversos.


Em um andar, pessoas estão sendo trazidas à vida, com a
promessa de um grande futuro pela frente.
No outro, pessoas estão dando seu último suspiro.
Há uma linha fina e tênue entre viver e morrer nesses
lugares, e por isso, não me sinto muito confortável.
Além disso, o ambiente frio pelo ar condicionado, o cheiro de
desinfetante e as paredes brancas me dão calafrios. Em todos os
meus anos de vida, evitei vir. Apenas quando muito necessário.
Hoje é bastante necessário, por exemplo.
Estou ansioso para ver Pippa.
Minhas mãos estão suando e eu bato a perna, nervoso.
Victoria e meu pai estão lá dentro, já que ela acordou quando
estávamos fora e perguntou sobre a mãe. Desvio o olhar para o
relógio na parede do corredor, percebendo que faz quase trinta
minutos que estão lá dentro. Consigo ouvir as vozes dos dois, mas
não a de Pippa, o que me deixa mais aflito.
Quanto mais eles demoram, mais impaciente eu fico.
Estou pronto para sair e buscar uma água, a fim de me
acalmar, quando a porta do quarto dela é aberta e os dois saem de
lá. Sorrisos contidos estampam o rosto deles, o que leva a crer que
está tudo bem com Philippa.
Graças a Deus.
— Eu e Victoria vamos buscar um café, mas pode entrar.
Vamos voltar daqui a pouco, quando o médico vier passar a visitar —
meu pai me informa, um dos braços ao redor dos ombros da esposa.
Eu assinto, esfregando as mãos uma na outra, em um gesto
nervoso.
Ela quer me ver?
Ela me odeia?
Ela vai me expulsar quando eu entrar?
Cacete, não faço ideia de que degrau estamos.
A última vez que tivemos o mínimo de interação, foi no
refeitório da faculdade, há alguns dias, quando deixei-a com ciúmes
de propósito. Por isso, acho que eu não seja a pessoa favorita dela
no momento.
Entretanto, ela também saiu no meio da noite para ir atrás de
mim.
O que isso quer dizer?
— Ela quer te ver, Ash — Victoria conta, passando por mim e
afagando meu braço no processo. — E ela não está brava com você.
Pode relaxar, querido.
Eu inspiro e expiro, um pouco mais tranquilo.
Ela pode não estar puta comigo por isso, mas ainda há
assuntos inacabados entre nós dois.
Que vão ser resolvidos hoje.
Há uma escuridão me envolvendo, na verdade, desde quando
ela terminou tudo e quebrou meu coração.
É o último dia em que vou ficar no escuro.
Sem deixar meus pensamentos irem para o lado ruim da
situação, eu giro a maçaneta, pronto para encontrar a luz
novamente com Philippa Caldwell.
Então, se nosso tempo está acabando dia após dia
Faremos do mundano nossa obra-prima
Oh meu, meu
Oh meu, meu amor
eu dou uma olhada em você
Você está me tirando do comum
[...]
Os anjos nas nuvens
Estão com ciúmes sabendo que encontramos
Algo tão fora do comum
Você me fez beijar o chão do seu santuário
Quebre-me com seu toque
Ordinary | Alex Warren

Ficar desacordada é um pouco engraçado — na medida do


possível, ainda mais depois de um acidente que poderia ter sido mil
vezes pior.
Em um momento, eu estava na moto correndo até Asher,
sentindo os pingos de chuva molharem minha jaqueta de inverno e a
luz do farol do carro me cegando.
No outro, eu estava acordando em um cômodo branco,
cheirando a produto de limpeza e com pessoas que nunca vi antes,
me cercando.
Não lembro do impacto, muito menos da dor.
Do trajeto até o Royal Alexandra Hospital.
Ou de qualquer procedimento que eles tenham feito para tirar
algumas pequenas partículas de vidro da minha pele.
Em um piscar de olhos, quase cinco horas da minha vida se
passaram e eu… eu não me lembro de nada.
Absolutamente nada.
E me peguei pensando… eu poderia ter morrido.
Os médicos cochichavam entre si, e ouvi comentarem que as
sequelas deveriam ter sido muito maiores pela força do impacto,
mas, felizmente, não foram.
Ou seja, eu poderia não estar mais nesse plano.
Eu teria ido embora brigada com Ash; com ele acreditando
que eu o odeio e com raiva por ter querido me ferir como eu o
machuquei.
Uma bagunça imensa, causada única e exclusivamente por
mim.
Tive tempo de pensar muito sobre ele.
Sobre mim.
Sobre nós.
Principalmente em como eu o desejo.
Caramba, o quanto eu o amo!
Nunca amei ninguém como amo Asher Blakewood.
E o acidente me fez perceber que a vida pode terminar a
qualquer instante, sem aviso prévio.
Eu posso estar aqui hoje, e amanhã, não mais.
Portanto… por que nos privamos das coisas que amamos?
Daqueles que amamos?
Eu amo minha mãe.
Sou extremamente grata por tudo que ela fez e faz por mim,
mas, por outro lado, eu também quero essa felicidade que ela
conquistou.
Eu mereço ser feliz.
Então, quando a porta do meu quarto é aberta com cuidado e
não é ela ou Zachary, eu me ajeito na cama. Um suspiro de alívio
escapa quando vejo que é Asher adentrando o cômodo.
Ele sorri de volta, não muito confortável.
Lentamente, ele se aproxima da cama do hospital e eu
estendo minha mão — aquela que não foi lesionada. Hesitante, ele
entrelaça os dedos nos meus.
Ash me analisa, cada parte do meu corpo, e engole em seco.
Uma expressão de preocupação toma conta do seu rosto e eu
decido quebrar o silêncio pairando entre nós.
— Estou bem — garanto, levando-o a erguer uma
sobrancelha. — Nada está doendo, pelo menos. Os remédios são
bem bons.
Ele assente.
Cacete, que clima mais esqusiito.
Não que nosso histórico das últimas semanas tenha sido
melhor.
Talvez seja por isso que Asher esteja agindo assim.
Ele provavelmente ainda acha que eu o odeio, embora eu
tenha dito à mamãe para pedi-lo para entrar, quando ela avisou que
ele estava do lado de fora, esperando; eu queria vê-lo.
Não foi indício suficiente que eu não estou puta?
Asher pigarreia e eu aperto seus dedos.
— Olha, Ash, eu…
— Posso falar primeiro? — Pergunta, e ergue a cabeça,
encontrando o meu olhar. Eu aceno positivamente e ele fixa as irises
castanhas nas minhas verdes. — Aquele dia que… que eu apareci no
seu quarto e… e você terminou comigo — até lembrar da nossa
discussão é doloroso para ele, é nítido. Para mim também. Não
gosto de recordar o quão megera eu fui. Quero interrompê-lo e
explicar tudo, contudo, Ash não me dá margem para interrupções e
respira fundo, continuando. — Eu fui lá te contar que tinha tomado
uma decisão, Pippa. Eu ia… vou ficar em Edmonton. Não haverá
transferência para o MIT. É na Universidade de Alberta que
continuarei meus estudos. Por ser uma ótima instituição, claro, mas
porque aqui eu tenho meu pai e nossa relação que está sendo
reconstruída aos poucos. Tenho amigos incríveis. Mas, mais
importante, eu tenho a mulher que eu amo. Você, Philippa. Por
muitos anos, eu odiei meu pai. Odiei essa cidade. Caramba, eu
odiava você, sem razão nenhuma. Por uma fantasia criada na minha
cabeça. Por algo irreal. Contudo, Pippa, quando eu conheci
realmente você, quando eu abri meus olhos para a verdade ao meu
redor, eu percebi que não era nada daquilo que eu criei na minha
mente. Você é corajosa. Forte. Inteligente. Leal. Ambiciosa. Você…
você é extraordinária, Philippa Caldwell. Para mim, não havia outro
caminho, senão aquele que eu me apaixonaria por você. E eu me
apaixonei. Por cada pedacinho de você. Pela sua paixão por animais
marinhos, pelo seu café da manhã favorito ser achocolatado de
chocolate branco e por seu esforço no time de torcida. Você é
totalmente apaixonante. E eu faria tudo de novo, entende? Quer
dizer, não a parte do acidente, mas… mas o resto, eu faria
exatamente igual porque esse foi o caminho escolhido para nosso
amor. Eu seria totalmente danificado por você, Philippa Caldwell, se
isso significasse te ter em meus braços mais uma vez. Eu… eu te
amo, Pippa.
Não sei em qual momento as lágrimas começaram, mas sinto
os polegares de Asher limpando meu rosto, com cuidado, porque
ainda tenho alguns cortes por toda face, quando ele termina.
Asher Blakewood se apaixonou por mim.
Asher Blakewood faria tudo de novo para me ter.
Asher Blakewood decidiu ficar na cidade. Por mim.
Ash me ama.
— Você foi a melhor coisa que já me aconteceu, Pippa —
continua, após secar minhas lágrimas e eu sorrio em meio ao choro,
arrancando um sorriso dele também. — E qualquer que seja o
problema, o que tiver te impedindo de me ter, nós vamos resolver.
Juntos. Eu prometo. Então, por favor, Pippa, por favor, não me
tranque para fora de novo. Me deixe entrar. Me deixe te ajudar. Por
favor.
Estou um pouco fraca, mas, mesmo assim, uso a força que
tenho para puxá-lo.
Ele se desequilibra, quase caindo por cima de mim, mas se
apoia no suporte da cama e como eu desejava, seu rosto ficando
próximo ao meu.
Com a mão livre, eu moldo seu rosto — a tala é um pequeno
empecilho, mas felizmente, consigo tocá-lo com a ponta dos dedos
que estão para fora.
— Eu te amo também, Ash — declaro, acariciando sua
bochecha. Ele abre um sorriso imenso diante da minha fala,
apertando meus dedos. — Eu te amo tanto, tanto. E… e eu sinto
muito por ter sido uma cretina com você. Por não ter te contado os
meus medos e te colocado para fora do meu coração. Bem, tentei,
mas você continua aqui — desvio o olhar para o lado esquerdo do
meu peito — e algo me diz que seria muito, muito difícil te expulsar.
Nós compartilhamos uma risada.
Sinto uma pontada na costela, mas não me importo.
Meu amor está aqui comigo de novo e é nisso que eu foco.
— Vai me falar o que levou você a terminar? Como podemos
dar um jeito nesse problema? — Ash pergunta, parecendo tomar
cuidado com suas palavras.
Acabei de admitir que o amo e ele ainda está receoso.
Deus, o que eu fiz com esse garoto?
— É a mamãe — confesso. — Eu… eu não sei se ela ou Zach
nos aceitariam, Ash. Os dois estão tão felizes. Você e seu pai estão
se dando bem de novo. Minha mãe se refere a nós como uma
grande família feliz e… e eu não sei. Se eles nos acharem nojentos?
Repugnantes? Se o casamento não suportar que a gente esteja
juntos?
— Estamos juntos? — O idiota indaga, erguendo uma das
sobrancelhas e eu reviro os olhos.
— É claro que estamos, babaca. Acha mesmo que vou
cometer o erro de te perder de novo?
Ash morde o lábio inferior, pensativo. Seu olhar recai para
minha boca e com cautela, se aproxima para depositar um beijo ali.
Nossa, como senti saudades de sentir seus lábios macios
contra os meus, mesmo que em apenas um leve selar de bocas.
— Nós vamos contar a eles — Asher diz quando se afasta. —
Vamos explicar como nossos sentimentos são e… e eles vão
entender, Pippa. Tenho certeza que sim. Eles nos amam — gosto de
como Ash parece convicto disso agora, sem ao menos hesitar em
afirmar o amor que Zachary sente por ele. É admirável ver o quanto
a relação deles evolui a cada dia. — Querem nossa felicidade acima
de tudo e você é minha felicidade, Pippa. Eles não vão nos tirar um
do outro. Mas se tirarem…
— A gente pode ir morar com os pinguins na Antártida —
sugiro, arrancando uma expressão confusa e cômica dele. — Sabia
que algumas espécies têm apenas uma parceria a vida toda?
Poderíamos aprender com eles quando morarmos todos juntos.
Ash se desata a rir e eu o acompanho, ainda sentindo uma
dorzinha chata na costela, já que a bendita está fraturada.
Ainda sim, eu não ligo tanto para a dor quando quer dizer
que posso gargalhar ao lado do homem da minha vida.
— Pode repetir? Que você me ama? — Asher pede quando se
recupera das risadas, encostando a testa na minha e mantém os
olhos nos meus.
O tom de castanho mais bonito já visto.
— Eu te amo, Asher Blakewood. Hoje, amanhã e para
sempre.
— Eu também te amo, Philippa Caldwell. Hoje, amanhã e para
sempre.
Eu e Asher temos apenas alguns minutos para conversarmos
antes que minha mãe e Zachary voltem para o quarto,
acompanhado de uma das médicas que me atendeu. Ela esteve aqui
durante a madrugada, assim como algumas enfermeiras, garantindo
que eu não estava sentindo dor.
Não conversamos muito durante esse período porque eu
estava dopada de remédio, dormindo e acordando algumas vezes,
então, essa é, de fato, a primeira vez que a conheço.
A médica adentra o quarto sorridente, logo após Zachary e
Victoria. Ele estava abraçado, cada um segurando um café e quando
os olhares recaem sob minha mão e a de Asher entrelaçadas, eles
não fazem nenhum comentário.
Mas eles percebem.
Nós não tentamos esconder.
— Bom dia, senhorita Caldwell. Sou a doutora Adams.
Madison Adams. Como está se sentido? — Pergunta, se aproximando
da maca.
Ela tem a pele negra clara e cabelos crespos, presos em um
coque alto. O olhar é suave e o sorriso é simpático. Ela parece
gostar de estar aqui; do que faz e isso me tranquiliza. Os brincos em
formato de seringa e o perfume com fragrância de limão são um
charme à parte.
Minha mãe e Zach se juntam a Asher do outro lado, atentos
na minha interação com a médica.
— Minha cabeça ainda dói e tenho algumas pontadas na
costela de vez em quando — conto. — Mas o braço e a perna estão
bem, agora que estão com a tala.
Doutora Adams assente, analisando o gesso colocado no meu
braço esquerdo e minha perna direita.
— Você teve muita sorte, senhorita Caldwell. O acidente
poderia ter sido muito pior — comenta e pela minha visão periférica,
noto minha mãe um pouco ansiosa só pela possibilidade de ter sido
pior. — Felizmente, você não precisará de cirurgias, já que as
fraturas estão estáveis. A dor vai ser um pouco incomoda nos
primeiros dias, mas vou prescrever alguns analgesicos. Vamos te
manter em observação durante alguns dias para monitorar a costela
e…
— Hum… desculpe — interrompo-o, já me desculpando.
Doutora Adams não parece incomodada, felizmente, quando faço
isso. — Posso fazer uma pergunta?
— Claro. Vá em frente.
Asher aperta os meus dedos, em gesto de apoio emocional e
eu lhe lanço um sorriso de lado, me criando novamente para a
médica.
— Sou líder de torcida. Capitã do time, na verdade. Temos
alguns campeonatos importantes nos próximos meses. Eu poderei
participar?
Antes mesmo que ela responda com palavras, sei que não
gostaria do que vai dizer.
O rosto da doutora Adams murcha e ela me direciona a um
sorriso amigável.
— Não vai ser possível esse ano, querida. Sinto muito —
responde e eu suspiro, já imaginei que essa seria a resposta, mas…
não custava tentar, não é?
De soslaio, vejo minha mãe se aproximar de Asher e ela
aperta meu ombro, deixando um beijo no topo da minha cabeça, em
um gesto de conforto.
— Nem mesmo se eu fizer somente a coreografia mais leve,
sem saltos e acrobacias? — Insisto, porque não quero deixar meu
time na mão.
Não depois do tanto que batalhamos para chegarmos nessas
competições, em um ano que temos grandes chances de garantir os
primeiros lugares.
Fiz uma vídeo chamada com Emma mais cedo, quando minha
mãe e Zach foram para casa tomar um banho e comer alguma coisa.
Minha melhor amiga estava desesperada, e disse que voltaria mais
cedo da viagem com Sydney para me visitar. Eu falei um milhão de
vezes que estava tudo bem e ela não precisava fazer isso, mas
quando Em coloca uma coisa na cabeça, ninguém consegue tirar.
Outro tópico que discutimos foi esse, sobre o campeonato no
próximo mês e ela não me deu trela: disse que o mais importante
agora era minha recuperação e não uma competição.
— Falamos disso depois, Pippa. Você precisa focar em
melhorar primeiro.
Aparentemente, todos estão mesmo contra mim nesse
quesito de me apresentar após o acidente.
— Não é seguro, senhorita Caldwell — a doutora Adams volta
a dizer. — Tanto pelos ferimentos, que ainda estão se curando, e
qualquer mínimo impacto pode atrapalhar a recuperação, quanto
pelo bebê.
Agora estou dançando no meu vestido no sol e
Até meu pai o ama
Eu sou sua dama, e oh meu Deus
Vocês deveriam ver suas caras
O tempo, não dá alguma perspectiva
Não, vocês não podem vir ao casamento
Eu sei que ele é louco, mas ele é o único que eu quero
Vou te dizer uma coisa agora, você não precisa rezar por mim
Eu e meu garoto selvagem e toda essa alegria selvagem
[...]
Estou tendo um bebê dele
But Daddy I Love Him | Taylor Swift

O silêncio que se estende pelo quarto é ensurdecedor.


Minha mãe está boquiaberta, digerindo o que a médica
acabou de falar.
Zach está confuso, alternando o olhar entre a doutora Adams
e minha barriga.
E Asher está tão chocado quanto eu.
Porque nós dois sabemos quem são os pais desse bebê e o
quanto temos que explicar.
— Pelo rosto de vocês, imagino que não só não foi planejado,
como é uma surpresa — doutor Adams diz, um sorriso divertido
brincando em seus lábios.
Minha garganta está seca.
Mais seca que o deserto do Saara.
Me estico, tentando alcançar a mesinha de apoio ao lado da
cama, onde um copo de água de plástico com canudo me espera. A
dor na costela me assusta quando mexo o corpo e faço uma carta
de dor, alarmando Asher. Ele percebe o que estou tentando fazer e
pega o copo, me entregando.
— Obrigada — agradeço e ele apenas sorri, apertando minha
mão mais uma vez.
Bebo toda a água de uma vez só, a voz da médica ainda
rondando minha mente.
Um bebê.
Tem… um bebê em mim.
Estou grávida.
Eu vou ser mãe.
E… e Asher vai ser o pai.
O meu irmão postiço, enteado de mamãe, é o pai do bebê
que estou esperando.
Deus, o quão confuso isso é?
— Pelos exames, a gestação ainda está no início, entre cinco
e seis semanas — doutora Adams explica, ainda sorridente. — Não
há complicações por conta do acidente, mas ainda queremos te
deixar em observação para eliminarmos qualquer risco a você ou ao
bebê.
Involuntariamente, minha mão voa para minha barriga,
mesmo sabendo que é impossível eu sentir alguma coisa.
Cinco a seis semanas… ainda são menos de dois meses, pelos
meus cálculos, então, é claro que o bebe não vai chutar e me
agraciar com sua presença.
Há a possibilidade e um bebê em chutar em breve porque…
porque estou grávida.
Carregando uma vida.
Ser mãe era — é — uma vontade minha. Lógico, eu
acreditava que isso aconteceria em um futuro, depois de formada e
de uma temporada na Austrália, trabalhando. De preferência,
casada, com um emprego estável e uma casa própria.
Esses são — eram — os planos.
Desvio o olhar para Asher, que, em nenhum momento, soltou
minha mão.
A médica continua falando sobre acampamento pré natal,
minhas alternativas caso eu não queira ir em frente com a gestação,
mas… mas, não consigo prestar atenção.
Porque tem um bebê dentro de mim, caramba.
Estou grávida, repito, tentando aparecer se tornar real.
Ash parece nervoso, contudo, ele sorri suavemente para mim
quando me nota observando-o. Ao contrário de mim, ele está atento
às palavras da doutora.
Por que ele quer que eu tire o bebe ou por que quer que eu
tenha um bom pré natal?
Nós nunca conversamos sobre isso.
Sobre nosso futuro, o que queremos e o que não queremos.
Algo é certo: eu vou ter esse bebe. Não tenho dúvidas quanto
a isso. É claro que eu não esperava ter um filho agora, mas… bem,
pensando bem, eu e Ash não usamos camisinha e a pílula não é
cem por cento eficaz.
Estávamos brincando com a sorte.
— Vou deixar vocês a sós, para conversarem sobre os
próximos passos — sou arrancada dos meus pensamentos com a
fala da médica e com Ash tirando copo de água vazio da minha mão.
— Se tiverem qualquer dúvida ou pergunta, podem me chamar.
Nós todos agradecemos e observamos-a sair do quarto.
Assim que a porta bate atrás de si, o silêncio desconfortável
se alastra pelo ambiente de novo.
Contudo, dessa vez, ele é quebrado.
Não por uma fala.
Por um barulho.
O som da palma da mão de Zach batendo na nuca de Asher.
— Caccete! O que foi isso? — Ash indaga, levando a mão livre
até seu pescoço e massageando a área.
Não foi um tapa forte.
Acho que ele, assim como nós, nos assustamos com o estalo
da mão do pai contra a pele do filho.
— Não acreditou que você engravidou minha enteada, Asher!
Mais uma vez, sinto o mundo congelar à minha volta.
Olho para Asher.
Asher olha para mim.
Alarmados.
Preocupados.
Confusos.
Principalmente, apavorados.
— Vocês acham mesmo que a gente não sabia? — Dessa vez,
é minha mãe quem joga a pergunta, revirando os olhos. — Vocês
não poderiam ser mais óbvios, mesmo que quisessem.
Estou estupefata demais para conseguir formular palavras
coerentes.
Então, quando Asher faz isso, eu agradeço-o mentalmente.
— Há quanto… quanto tempo vocês sabem?
Mamãe suspira, contornando a cama para se sentar na
poltrona do outro lado e começar carinhos na parte superior do
braço, onde o gesso não cobre.
— Você e Pippa se odiavam — diz, relembrando do passado.
— De repente, os dois estão se aturando. Não só isso, queridos, mas
vocês estão felizes. Trocam olhares furtivos durante os jantares em
família e, certa vez, vi Asher saindo do seu quarto, filha, quando
desci para tomar um copo de água de madrugada — estremeço,
fechando os olhos de tanta vergonha. — E eu conheço minha filha.
Sabia que ela estava apaixonada por alguém. E eu perguntei se era
Brad novamente e ela negou. Então… fiquei pensativa, tentando
juntar as peças dos quebra cabeca.
Ash enrijece quando o nome do meu ex-namorado é citado,
mas não faz nada.
Hum… o gatinho está com ciúmes.
— E ela veio até mim, com essa ideia maluca que vocês dois
estavam se envolvendo — Zachary continua, fuzilando o filho com os
olhos. — Eu não acreditei, claro, porque era loucura demais. Mas,
então, os sinais foram ficando mais claros. A cereja do bolo foi Pippa
sair desesperada atrás de Asher ontem e…
— Espera — interrompo-o, tentando entender a linha de
raciocínio deles. — Vocês sabiam que eu estava indo atrás dele?
Ambos assentem.
— A amiga de vocês é um pouco alta quando fala no telefone
— Zach explica e eu… eu aceno e concordância. Brooke afina a voz,
além de aumentá-la, quando está nervosa. — E o jeito que Asher
chegou aqui, perguntando loucamente sobre você, só comprovou o
que já imaginávamos.
— Que vocês estão juntos — mamãe completa e
surpreendente, abre um sorriso esperançoso. — Estão, não é?
Olho para Asher, que já está me encarando.
Ele sorri para mim e antes de responder à minha mãe, deixa
um beijo no topo da minha cabeça.
— Estamos namorando. Pippa é minha namorada — confessa
e sinto um rubor nas minhas bochechas. Namorando. Asher é meu
namorado. Gosto de como isso soa. — E… e nós íamos contar. Só
estávamos receosos com a reação de vocês.
Mamãe e Zachary se entreolham, em uma conversa
silenciosa.
Ele gesticula para que ela tome a frente da conversa e
mamãe alterna o olhar entre eu e Asher.
— Não era o que esperávamos quando repetíamos que
queríamos ser uma família feliz e unida — esclarece, séria. Por um
instante, acho que eles vão nos deserdar. Vão nos expulsar de casa
e nos deixar sozinhos para criar esse bebê. Dura apenas um
segundo, porque nos seguinte, eu lembro o motivo da minha mãe
ser a pessoa que eu mais admiro no mundo inteiro. — Mas se vocês
estão felizes, nós estamos felizes.
Ela me abraça e eu solto a mão de Asher para retribuir.
Agora, posso culpar os hormônios da gravidez pela
sensibilidade.
Estou chorando de novo.
Lágrimas de felicidade, pelo menos.
— Eu te amo, minha garotinha — ela sussurra enquanto me
recebe em seus braços. — E estou muito ansiosa para conhecer meu
netinho ou netinha.
Rio, porque ainda parece surreal que estou com um bebê na
minha barriga.
Estou grávida, caramba.
Não vou parar de repetir até que se torne real.
Enquanto isso, Asher e Zachary também estão abraçados e
conversam baixinho. Zach parece tão animado quanto mamãe em
relação ao bebê, e antes de se separaram, tenho quase certeza que
ouvi Ash dizendo ao pai que o ama.
Sorrio, porque eles estão chegando lá.
Zach me abraça depois e me parabeniza pelo bebê, assim
como deseja melhoras e garante que estarei bem em pouco tempo.
Depois, por insistência da mamãe, os dois saem, nos
deixando a sós.
Não antes que Zach diga:
— Nem adianta termos a conversa sobre se proteger, porque
bem… — os olhos recaem para minha barriga, ainda chapada,
deixando bem claro que não seguimos o conselho implícito.
Ops.
— Vamos, Zach —mamãe chama, puxando-o para fora.
Ainda estou rindo do meu padrasto quando Asher se senta na
minha cama, e com cuidado, coloca a mão sobre minha barriga,
— Um bebê, huh? — Diz, abrindo um sorriso e eu aceno. Ele
está feliz. E eu sou mais ainda.
— Um bebê — repito, entrelaçando meus dedos com os deles
ali.
— Sinceramente, estou surpreso que eu não tenha te
engravidado antes, do tanto que já gozei em você.
Demoro três segundos para digerir as palavras que ele
acabou de proferir.
Quando isso acontece, solto uma risada, mas bato com meu
braço engessado nele.
Deus, olhe quem você enviou para ser pai do meu bebê.
— Estou feliz — declara, de repente, e eu me derreto quando
seu olhar se suaviza. — Você… você quer prosseguir com a
gravidez?
Arqueio uma sobrancelha, achando fofo seu nervosismo,
porque ele claramente quer tanto quanto eu.
— Perder a chance de gerir um mini Asher ou uma mini
Philippa? É claro que não — digo, fazendo-o rir.
Ele acaricia meu rosto e eu me reclino sob seu toque,
extasiada.
Vamos ter um bebê.
Um fruto do nosso amor.
— Pippa?
— Hum?
— Vamos ter um bebê, linda — repete, como se fosse tão
surreal e incrível para ele quanto é para mim.
Seguro sua mão que está em meu rosto, ainda com nossos
dedos entrelaçados na minha barriga, e abro um dos maiores
sorrisos para o homem da minha vida.
— Vamos ter um bebê, Ash.
Você tem o tipo de olhar em seus olhos
Como se ninguém soubesse de nada além de nós
Essa deveria ser a última coisa que eu vejo?
Eu quero que você saiba que é o suficiente para mim
Porque tudo o que você é é tudo o que eu sempre precisarei
Estou tão apaixonado
Tão apaixonado
Tão apaixonado
[...]
E todas as vozes que nos cercam aqui
Elas simplesmente desaparecem quando você respira
Tenerife Sea | Ed Sheeran

dois meses depois

Se eu e Pippa achávamos que a pior parte do nosso


relacionamento seria contar a nossos pais, estávamos bem errados.
Ainda com a gravidez em jogos, eles aceitaram bem nosso namoro e
desde quando descobriram, são nossos maiores apoiadores — minha
mãe também.
A parte mais complicada, contudo, é que moramos com eles.
Dividimos o mesmo teto. E embora Pippa já esteja grávida e o pior
dos cenários — modo de dizer, claro, porque estamos muito, muito
felizes com o bebê — tenha acontecido, eles continuam nos
proibindo de dormir juntos.
Porra.
Não faz sentido.
— São nossos limites, Asher, e como vocês vivem sob nosso
teto, têm que aceitá-los.
Foi o que papai me disse quando tentei argumentar que…
bem, que ela já está grávida, cacete.
Não posso engravidá-la de novo.
Ainda, porque a ideia de ter mais bebês com Philippa Caldwell
não passa despercebida pela minha mente.
De qualquer jeito, os últimos dois meses depois de Pippa ser
liberada do hospital foram interessantes.
Apesar desse pequeno empecilho da proibição de passarmos
a noite um com o outro, lógico.
Nós comecamos o pre natal do nosso bebê — ela nao gosta
que o chamemos de filho ou filha ainda ja que nao sabemos o sexo
—, e vamos regularmente às consultas. Minha parte favorita é
quando ouvimos o coraçãozinho pelo ultrassom e a médica nos
informa que está tudo bem.
Pippa chora todas as vezes, diga-se de passagem.
Basta ela ouvir o tum-tum-tum e as lágrimas deslizam pelo
seu rosto.
Por outro lado, ela não passou tão mal nesse início de
gravdiez. Alguns enjoos, óbvio, e desejos estranhos também, mas
não vomitou nenhuma vez. A única diferença são as suas emoções
— ela está muito emotiva ultimamente.
Chorou quando Emma ligou de vídeo-chamada após o time de
torcida ganhar em segundo lugar em um dos campeonatos, há
algumas semanas.
Gargalha quando Zach conta alguma piada ruim nos jantares
de família.
E fica extremamente brava se o seu achocolatado de
chocolate branco do café da manhã não está na temperatura exata
pedida por ela.
Além disso, sua barriginha cresceu nos ultimos dias, e, hoje,
no chá revelacao do sexo da semetinha sendo gerada em seu
ventre, é possivel visualização bem o quão gravida Pippa está. Ela
está vestindo um conjunto de tricot — uma mini saia e cropped —
off whites, do mesmo tom da minha blusa.
Gata pra caralho, como elogiei assim que ela perguntou o que
eu achava das roupas escolhidas.
O estilo dela continua o mesmo, embora esteja grávida, e eu
gosto muito disso. Ela continua a mesma Pippa sexy e gostosa de
sempre, porém… com meu bebê crescendo dentro de si.
Retiro o que disse.
Ela está ainda mais gostosa do que antes.
— Ela nem olha para a cara dele — a dona dos meus
pensamentos murmura perto de mim, quando se aproxima atrás da
mesa do bolo, onde faremos a revelação do sexo para nossos
amigos mais próximos e família.
Sigo seu olhar, não me surpreendendo sobre quem ela está
falando.
Enquanto Emma fala animadamente com o casal apaixonado
Kevin Turner e Bradley Rhodes — um dos grandes acontecimentos
dos últimos meses foi os dois terem assumido esse amor —, a outra
Rhodes, Brooke, conversa com Sydney Walker, de um lado da sala
de estar da nossa casa. Do outro, Knox Davenport bebe de seu
cantil — provavelmente uísque puro ou qualquer outro destilado de
procedência duvidosa —, observando-a.
Ele não tira os olhos dela e Brooke finge que ele não existe.
Uma mudança drástica no comportamento que estávamos
acostumados de ambos.
Algo aconteceu naquela festa, há dois meses. Contudo, eu
estava bêbado demais para prestar atenção ao meu redor, e nenhum
dos dois fala sobre o assunto, nos deixando curiosos.
— Você não se lembra mesmo de nada? — Pippa volta a
perguntar quando eu abraço-a por trás, descansando a mão em sua
barriga.
— Nada. Eles estavam bem e, depois… é um breu na minha
memória — admito, pela centésima vez.
Pippa e Emma estão há semanas tentando tirar essa
informação da amiga, assim como eu e Kevin de Knox — porque
Brad prefere não se meter —, a pedido da minha amada, mas eles
são um túmulo quando se trata da relação que tem.
Tinham.
Antes que Pippa possa adentar esse assunto — de novo —,
Victoria movimenta os convdaidos para eles se aproxiamrem da
mesa e, finalmente, fazemos a revelação do sexo.
Emma, Sydney, Kevin, Knox, Brooke, algumas amigas de
Pippa do time e uns caras do hóquei que conheci através dos meus
amigos jogadores se acomodam mais perto de nós. Mamãe também
está aqui, aliás. Ela voou até Edmonton porque é claro que ela não
assistiria esse momento importante por chamada de vídeo —
palavras dela.
Ela já ficou puta o suficiente por eu ter contado sobre a
gravidez, assim, então, ela prometeu que estaria conosco em todos
os momentos importantes.
E cá está ela.
Lógico que não perdeu a chance de importunar meu pai e
Victoria, repetindo que foi a primeira a notar o clima entre eu e
Philippa, ainda no meu aniversário, mesmo que tenha negado
diversas vezes.
Lindsay Stuart é minha mãe, afinal.
Me conhece melhor do que ninguém — mesmo que seja uma
disputa acirrada com minha namorada —, logo, não foi uma
surpresa tão grande o sexto sentido dela ter apitado há alguns
meses, assim como Victoria também foi uma das primeiras a notar
algo diferente na filha.
Esse olhar aguçado é algo que todas as mães ganham
quando têm filhos?
Vai acontecer com Pippa também?
E… os pais também recebem esse dom?
Não vejo a hora de ter nosso bebê aqui e ver de perto minha
mulher segurando-o.
— Lembra como combinamos, não é? — A minha voz
preferida no mundo pergunta e eu pisco, sendo arrancado dos
devaneios. Pippa está estendo uma taça para mim e, sem me
desvencilhar dela, eu pego-a. — Ao mesmo tempo, vamos afundar
as tacas no bolo e a cor do recheio, roxo ou verde, é o sexo do
nosso bebê. Pronto?
Beijo sua bochecha e ela sorri.
Meu sorriso favorito.
Minha pessoa favorita.
Minha mulher, meu grande amor e quem vou passar o resto
da minha vida.
É normal você se apaixonar todos os dias pela mesma
pessoa? De sentir como se todas as outras desaparecessem se ela
está presente? O coração doer pelo quanto você a ama?
Não sei.
Porém, é isso que acontece quando estou com Philippa.
— Pronto.
Juntos, com a vibração de nossos amigos e família, eu e
Pippa enterramos as taças no bolo. Estou encarando-a, percebendo
o quão sortudo eu sou por ter encontrado o amor da minha vida tão
novo e ter certeza que há um futuro brilhante para nós dois pela
frente.
O bebê é só o começo de tudo.
Ainda com os olhos nela, retiramos juntos as taças do bolo,
revelando o sexo do bebê pelo recheio.
Lilás.
O que quer dizer…
— Uma menina! — Pippa exclamou, radiante, e vira-se de
frente para mim. — Vamos ter uma menina, amor!
Porra, como eu gosto quando ela me chama assim.
— Vamos ter uma menininha linda.
Os convidados gritam, tão felizes quanto nós, porque apesar
de alegar que não importasse, todos sabíamos que o desejo de
Philippa era uma garotinha.
Ela passa as noites em claro compartilhando sugestões de
nomes femininos e, às vezes, chorava quando não conseguia pensar
em nenhum nome para um garotinho.
Era para ser.
Pippa solta um gritinho e enrosca os braços ao redor dos
meus ombros, pulando em meu colo em um abraço de urso.
Não retiro o que disse para Pippa na nossa discussão, há
alguns meses.
Eu seria danificado por ela quantas vezes fosse preciso, se
isso garantisse tê-la para sempre depois.
E, bem, parece que eu consegui.
Talvez seja o jeito que você diz meu nome
Talvez seja o jeito que você joga seu jogo
Mas é tão bom, eu nunca conheci ninguém como você
Mas é tão bom, eu nunca sonhei com ninguém como você
E eu ouvi falar de um amor que acontece uma vez na vida
E eu tenho certeza que você é esse meu amor
Porque eu estou em um campo de dentes-de-leão
Desejando a todos que você seja meu, meu
E eu vejo a eternidade em seus olhos
Eu me sinto bem quando vejo você sorrir
Dandelions | Ruth B

dois anos e meio depois

Como já dizia Taylor Swift: você precisa fingir até conseguir.


E foi o que eu fiz nos últimos dois anos e meio de faculdade.
Eu amo o curso que estou me formando, isso nunca foi o
problema. Biologia marinha é a quarta coisa mais importante da
minha vida, afinal.
Contudo, não é nada fácil dar conta dos estudos, um bebê,
um namorado e alguns trabalhos domésticos — já que fomos
oferecidos o apartamento em cima da garagem, aquele que morei
com minha mãe assim que chegamos em Edmonton. Mamãe me
ajudou bastante desde o nascimento de Sienna Blakewood, assim
como Zachary, mas a responsabilidade sempre foi minha e de Asher.
Eles foram — são — nossa maior rede de apoio? Com certeza,
porém, continua sendo uma jornada muito difícil ser mãe cedo.
Eu não me arrependo nem por um segundo da minha
pequena Sisi, mas admito que teria sido… diferente, se a gravidez
tivesse acontecido daqui a alguns anos.
Empurro os pensamentos para o fundo da mente, voltando a
me concentrar em colocar meus brincos de diamantes — presentes
de formatura de mamãe — e deslizar o gloss pelos meus lábios.
Dia de formatura.
Sorrio, gostando do que vejo no espelho da penteadeira.
Após Sienna nascer foi difícil notar as diferenças do meu
corpo pós gravidez. Meus seios cresceram, meus quadris
aumentaram e ganhei estrias novas.
Não foi fácil, mas estamos chegando lá.
Então, quando me olho e me sinto bonita, é um grande
passo.
A porta do quarto se entreabre lentamente e, pelo reflexo,
vejo não só Asher adentrando nosso quarto, como nossa garotinha
também.
Sienna Blakewood tem os cabelos castanhos como o pai,
olhos verdes da mamãe e um nariz arrebitado como o meu também.
Ela completou dois anos há pouco tempo e ainda anda um pouco
desengonçada, principalmente quando decide correr, como agora. O
vestido vermelho rodado festivo não ajuda muito, então, abro os
braços e recebo minha menininha.
— Oi, amor da mamãe — cumprimento-a, pegando Sienna no
colo.
— Mama — fala, brincando com meu colar que contém a
inicial dela e do seu pai.
Faço cosquinha em sua barriguinha e ela gargalha, me
trazendo alegria imediata.
Risadas de criancinhas são deliciosas, mas a da minha filha…
poderia ouvir por horas a fio.
— Sua mãe está nervosa com o horário — Asher comunica,
fechando a porta atrás de si e vindo até nós duas.
Ele está vestido com uma calça social preta e uma blusa de
botões azul clara, abotoada até os cotovelos, exibindo as tatuagens
espalhadas pelo antebraço. A minha preferida é o “Philippa” ao redor
do seu dedo anelar esquerdo. Quando disse a ele que não queria me
casar antes de concluir os estudos, Asher teve outra ideia para
mostrar a todos que estávamos juntos.
Como se a minha barriga gigantesca carregando sua filha e
seus agarres em público não fossem suficientes.
— Estou quase terminando — aviso, sem tirar os olhos da
nossa garotinha. — Falta apenas os sapatos e a bolsa.
Ergo o olhar e vejo Ash se agachando ao lado da cama para
pegar os sapatos de salto, vindo até nós duas.
— Eu ajudo — oferece e antes que eu possa pestanejar, ele
se ajoelha na minha frente.
Sienna está entretida com meu colar e com os cachos que
acabei de fazer no cabelo, enquanto, agora, mantenho minhas íris
fixas em Asher à minha frente. Ele afivela minha sandália em ambos
os lados e quando penso que ele vai se levantar, me dar um beijo e
me puxar para o carro, ele não faz isso.
Ele se apoia em apenas um dos joelhos, eleva a cabeça e
nossos olhares se encontram no meio do caminho. Com um sorriso
de lado, tira uma caixinha do bolso da calça
Ai, meu Deus.
— Ash — sussurro, desacreditada, e já sentindo meus olhos
pinicarem com lágrimas.
Ouvindo o nome do pai, Senna fica afiada no meu colo e só
sossega quando está em pé, ao lado do seu grande amor — porque
essa menininha com certeza tem seu favorito.
Ela entrelaça os dedinhos nos do pai e abre um sorriso
perfeito para mim.
— Não nos apaixonamos à primeira vista, Pippa, mas como já
te disse milhares de vezes, eu não mudaria nada em nossa história
— ele mal completou uma frase e já sinto as lágrimas deslizando
pelas minhas bconchas. — Sou completamente, totalmente e
absurdamente apaixonado por você, Philippa Caldwell. Você me
inspira todos os dias e é muito mais do que jamais sonhei. Você me
surpreende todos os dias com sua força, lealdade, ambição e, com
certeza, com amor. Eu e Sienna te amamos tanto, tanto, que você
não faz ideia. Então… eu e Sisi queríamos saber: você aceita
compartilhar o mesmo sobrenome que a gente, e, oficialmente, ser
minha esposa?
Asher abre a caixinha pequena que segura. Um anel prateado
brilha, exibindo o diamante único e grande que descansa ali dentro.
Céus, acho que vou desmaiar de felicidade!
Sem aguentar mais um instante longe deles, me agacho
também e abraço os dois grandes amores da minha vida.
— É claro que aceito, meu amor —murmuro em seu ouvido,
sem largá-lo.
Quando nos afastamos — por insistência de Sienna, que
sente ciúmes de nós dois juntos —, damos um selinho rápido e
sorrimos um para o outro.
Em seguida, Ash coloca minha aliança e ergue sua mão,
mostrando o anel que agora adorna o dedo direito.
— Você não esperou um dia a mais para fazer o pedido, não
foi? — Brinco, já que ele sabia que eu só queria casar depois de me
formar e, ontem, assinei os documentos e recebi meu diploma.
Ele dá de ombros, nem um pouco envergonhado.
— Não podia passar mais um dia sem ter você como minha
noiva, linda — é o que ele responde. — Em breve, esposa.
Meu sorriso se alarga.
Sienna cansa de toda a melação e corre para o baú em frente
a nossa cama, achado um dos seus brinquedos favoritos: minha
bolsa.
Com nossa pequena distraída, me jogo nos braços de Asher e
suspiro, orgulhosa de onde chegamos.
— No fim, Pippa, eu não fui danificado por você — Ash diz
assim quando nos levantamos e circula minha cintura. — Você me
moldou para caber em seu coração, linda.
Meus olhos marejam de novo e antes que eu possa
responder, Sienna puxa a barra do meu vestido longo e eu me
agacho para pegá-la no colo.
— Eu te amo, amor — declaro, pela milionésima vez desde
quando ficamos juntos de vez.
— Eu te amo, linda.
— Sissi ama papa e mama — nossa pequeninha decide
participar também e soltamos uma risada com a princesinha.
De algo, tenho certeza: não há danos que possam acabar
com todo esse amor.
"Porque não queremos suas partes quebradas"
Aprendi a ter vergonha de todas as minhas cicatrizes
"Fuja", eles dizem
"Ninguém vai te amar como você é"
Mas não vou deixar que me destruam
Eu sei que há um lugar para nós
Porque somos gloriosos
Quando as palavras mais afiadas querem me derrubar
Vou mandar uma enchente, vou afogá-las
Sou corajosa, estou machucada
Sou quem devo ser, sou eu
Cuidado porque aqui vou eu
E estou marchando no ritmo que bato
Não tenho medo de ser vista
Não peço desculpas, sou eu
This Is Me | Keala Seattle, The Greatest Showman Ensemble

durante o chá revelação de Sienna Blakewood

É de se pensar que o filho do grande astro do hóquei Steven


Rhodes fosse querer seguir a carreira do pai, principalmente, porque
este foi o primeiro pensamento que se passou pela cabeça dele
quando descobriu que mamãe estava grávida de um casal de
gêmeos.
Aprendi a patinar antes de aprender a falar.
Não lembro de algum momento da minha vida que eu não
estivesse com um taco de hóquei, deslizando com as lâminas afiadas
dos patins sob o gelo fino. Seja do lago congelado na nossa
propriedade, seja em uma das arenas que meu pai patrocinava.
Ele nasceu para o hóquei, e seguir os passos do pai, foi o que
mais me disseram enquanto eu crescia.
Por mais que eu fosse bom, nunca fui excelente.
Não como ele.
Mas, principalmente, não como ela.
Brooke, minha irmã gêmea e a outra verdadeira amante do
hóquei de gelo na nossa família.
Dizem que ela só começou a paixão por minha causa, por
querer seguir os passos do irmão mais velho, mas não foi bem por
aí.
Assim como eu não lembro de uma vida antes do hóquei, eu
não lembro de uma vida sem Brooke me acompanhando sob o gelo.
Ela esteve lá desde o primeiro dia — mas nunca recebeu a
atenção que tanto queria do nosso pai.
Na visão misógina do nosso genitor, hóquei é um esporte para
rapazes. Ele e mamãe passaram anos tentando convencer Brooke a
ir para a patinação, para as danças, e minha irmã sempre foi muito
convicta da sua vontade: ela queria — quer — ser jogadora de
hóquei.
Ela é.
Muito melhor do que jamais vou ser.
Contudo, da mesma forma que nosso pai não enxerga o
talento e paixão nela, ele não vê o desgosto pelo esporte em mim.
Não detesto hóquei, para ser sincero.
Estou acostumado com os treinos, jogos e o quanto
precisamos nos dedicar. No entanto, não é isso que quero para
minha vida.
Nem perto.
O que faz meus olhos brilharem é…
— Pode repetir, por favor? Acho que não entendi direito —
peço, tapando o outro ouvido com o dedo para ouvir com clareza o
que acabou de ser dito.
O chá revelação do bebe de Asher e Pippa é bem barulhento,
então, quando recebi a chamada que estava esperando há dias, corri
para o banheiro mais próximo, a fim de fugir do barulho e ser
informado das notícias.
— Você passou no teste para ser Roger, um dos T-Birds, do
musical de Grease que vamos montar no próximo outono, senhor
Rhodes.
Estou dentro.
Eu… eu passei.
Porra, passei!
Consegui um papel na próxima montagem de Grease da
Mirvish Productions, uma das maiores companhias de teatro musical
do Canadá, em Toronto.
Eu vou ser Roger!
Não é um dos papéis principais, porém… é incrível para um
primeiro papel, não é?
— Eu… caramba, muito obrigado — lembro de responder a
pobre produtora, que ri do outro lado da linha. — Estou muito feliz
com a oportunidade. Obrigado, de verdade.
— O mérito é todo seu, Bradley. Gostamos muito da sua
audição e não tivemos dúvidas quanto à escolha — conta e, se é
possível, fico ainda mais extasiado. — Te enviaremos mais detalhes
em breve, tudo bem? Fique de olho no seu e-mail. E mais uma vez,
parabéns!
— Obrigado. Muito obrigado!
Desligo a ligação, mas continuo desconcertado com essa
notícia.
Com dez anos, fiz uma peça de teatro no colégio e desde
então, me apaixonei por essa arte. Por atuar. Por cantar — quando
vimos o espetáculo do Rei Leão em Nova Iorque, eu fui à loucura.
Descobri que o que o hóquei é para minha irmã, o teatro é para
mim.
No entanto, meu pai nunca aceitaria.
Por isso, fizemos um acordo: continuaria no hóquei, se
pudesse fazer cursos na área de teatro musical no verão.
Logicamente ele não curtiu a ideia, mas com ajuda de mamãe,
ajudamos a convencê-lo.
E depois de anos, estou finalmente colhendo os frutos.
A questão é: como vou contar ao meu pai?
Toronto fica a aproximadamente quatro horas de voo,
quarenta de carro e de trem… nem se fale.
Em outras palavras: é impossível que eu faça o musical e
continue morando em Edmonton.
Respirando fundo, me virando de frente para o espelho do
lavabo e agarro as bordas do mármore da pia.
Uma decisão já foi tomada.
É a porra do meu futuro, do meu sonho, e não vai ser Fulano
Rhodes que vai destruir.
Já chega dele me manipular toda minha vida.
Agora, eu tenho as rédeas.
E vou fazer o que eu quiser.
Escrever Damaged by You foi como um sonho.
Não é segredo para ninguém que uma das minhas tropes
favoritas da vida é irmãos postiços, mas também é líder de torcida
(meio má) x garoto problema. Então, depois de ler alguns livros com
essas dinâmicas, eu sabia que estava no momento de escrever a
minha versão.
Damaged by You nasceu.
Pippa e Asher vieram ao mundo e vocês não imaginam o
quão feliz eu estou por ele finalmente estarem entre nós. Eles são
meus protegidos, sabe? Aqueles que lutaram para serem publicados
e cá estamos nós.
E nada disso seria possível sem vocês.
Então, diferente das outras vezes, quero começar
agradecendo a vocês, meus leitores, que estão ao meu lado em todo
momento e fazem meus sonhos serem possíveis. Obrigada por
lerem, me mandarem mensagens e avaliarem meus filhos. Como eu
disse já, inúmeras vezes, não existiria autora camilla sem vocês.
Muito, muito obrigada!
Agradeço demais a Lari, minha assessora e amiga, que não
larga nunca minha mão e me faz continuar. Você é muito especial,
amiga. Te amo!
Levando o gancho de pessoas que trabalham comigo, queria
agradecer a Isa, minha designer (e quase alma gêmea, porque
estamos sempre surtando juntas) e a Ana Mércia, que revisou esse
livro (e espero que não seja a última vez que trabalhemos juntas!).
Obrigada por serem impecáveis no que fazem!
A minhas amigas do mundo literário: Fran, Jupi, Ester, Tati,
Gabi, Let e Marcela. Sou muito grata por ter encontrado pessoas tão
incríveis nesse mundo e quero levar vocês para o resto da vida.
Obrigada por tudo, sempre. Para Lu, (oi, twin!) e toda paciência e
carinho que têm comigo, além da nossa amizade que é de bilhões.
Amo vocês!
Para minhas amigas Vanessa, Gabi, Maria Clara, Bruna e
Natalia, que estão comigo a todo tempo, o tempo todo. Que mesmo
sem saber, são o que me motivam a continuar. Não seria nada sem
vocês e sinto saudades todos os dias.
E a minha família, que é minha âncora nesse mar caótico que
eu vivo. Amo todos com todo meu coração.
Mais uma vez, muito obrigada por quem chegou até aqui.
Não esquece da avaliação, viu? Me ajuda muito!
Espero vocês no próximo, para construirmos o amor entre
Giulia Magalhães e Vinícius Pimentel.
Um beijo grande,
Cami.
Duologia Sorte
Trevo de 4 Folhas
7 Anos de Azar

Trilogia Caos
Paixão Caótica
Colisão Caótica
Redenção Caótica

Vale dos Carneiros


Degustando o Amor

Livros solos
Corações de Gelo
Falsa Vingança
Promessas Quebradas

Contos e novelas
Amor à Primeira Rosa
Papel, Abóboras e Amor

[1]
Cidade fictícia criada pela autora, onde o livro “Promessas Quebradas” se
passa.
[2]
Instituto de tecnologia de Massachusetts.
[3]
Torta de carne típica do Canadá (parte francesa).
[4]
Tradução: Circo do Caos.
[5]
Liga nacional de Hóquei.
[6]
Personagem fictício do livro “Corações de Gelo” da autora Camilla Carneiro.
[7]
Banda fictícia criada pela autora na trilogia de livros Paixão Caótica, Colisão
Caótica e Redenção Caótica.
[8]
Personagem de “Corações de Gelo” da autora.
[9]
Hamburguer da linha de lanchonetes Wahlburgers.
[10]
Sanduíche da linha de lanchonetes Wahlburgers.
[11]
Cidade fictícia criada pela autora no livro “Promessas Quebradas”.
[12]
Jornal e personagem pertencentes à autora Luiza Luz, no livro “Um Erro
Irresistível”.
[13]
Campeonato nacional de futebol americano no Canadá.
[14]
Competição universitária de cheer no Canadá.

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