Nietzsche for Dummies
Anthony
Dizia um conterrâneo meu, cantor de certa fama, que “se você tem uma ideia
incrível / é melhor fazer uma canção / esta provado só é possível filosofar em
alemão”. E pode bem estar certo, embora eu veja a coisa de outro modo: se você é
um alemão com um nome inescrevível, formado praticamente apenas por
consoantes, é sempre mais prudente arriscar a sorte como filósofo em vez de
tentar a carreira artística. E foi exatamente por essa razão que Friedrich
Nietzsche, a exemplo de Schopenhauer, acabou se tornando filósofo. Alguém
poderia objetar que Schwarzenegger, apesar do nome, teve sucesso em exprimir
sua profunda visão metafisica, ontológica e niilista, por meio do cinema. Mas
Schwarzenegger é austríaco. Portanto, próximo, por favor.
Filho e neto de pastores protestantes, Nietzsche rejeitou as crenças de sua
família e tornou-se um feroz crítico da religião e amante da sabedoria. Mas esta,
pelo jeito, não era muito católica: posso até imaginar o Rev. Nietzsche Pai
dizendo que se o filho rebelde, em vez de ter sido ‘amante da sabedoria’, tivesse
encontrado uma moça direita e casado na igreja, não teria contraído sífilis -
doença que tanta influencia teve sobre seu pensamento, sobretudo em seus
últimos trabalhos.
Mas o que ele dizia, afinal? Logo de saída, criticava todo o pensamento pós-
socrático, afirmando que tudo ia bem na Grécia, berço das artes, do esporte, das
ciências e, enfim, de tudo o que valia a pena. Ai chegou Platão, falando grego pra
moçada, e resolveu separar o mundo físico do “ideal”, praticamente inventado o
papo cabeçóide que um dia geraria caras como Foucault, Derrida, e, em ultima
análise, as mostras de cinema. Pior que tudo, segundo Nietzsche, era que o
idealismo platônico havia aberto o caminho para o cristianismo. Pra ele, a Igreja
era o Platão do povo (e na improvável hipótese de haver um post “Sto. Agostinho
for dummies”, voltamos a falar no assunto).
Entre outras coisas, Nietzsche também pregava, por assim dizer, que Deus estava
morto, significando, no seu estilo exagerado, que a função que as pessoas
historicamente atribuíam à religião passara a ser desempenhada pela ciência.
Por exemplo, se o camarada tem uma apendicite, ele ate pode ir na igreja e pedir
salvação, mas depois vai ao médico pra ver o que dá pra ser feito. E o filósofo
achava que a coisa devia ser meio por ai mesmo, apesar de também tecer criticas
a modernidade. Aliás, pelo conjunto da obra, você percebe que ele teria criticado
ate o João Gilberto e os Médicos Sem Fronteiras, se tivesse tido tempo. A doença
venérea que finalmente o levou à loucura e morte fez maravilhas pela sua
autoestima e, no fim da vida, ele escrevia textos como "Por que sou tão sábio?" e
"Por que escrevo tão bons livros?” (Queria ter inventado isso, mas são títulos
reais de capítulos do seu livro “Ecce Homo” – cuja graça se perderia na tradução).
O conceito central no pensamento de Nietxszuplick era a chamada “vontade de
potência”, que se manifesta, por exemplo, nos impulsos vitais do ser humano
para o progresso, para a conquista, para a exuberância do corpo e para a pratica
do tipo de violência brilhantemente exemplificado na obra de Schwarzenegger.
Mas apropriação de seus conceitos por correntes reacionárias, antissemitas e
nazistas, foi totalmente injustificada: se é verdade que desprezava o judaísmo,
nada indica que teria simpatizado mais com os Hare Krishina. A religião, dizia o
filósofo, tenta negar o instinto selvagem, causando azia e má digestão. Somente
canalizando toda essa energia para coisas criativas e grandiosas, como a música,
a poesia e o mixed martial arts, o homem poderia seguir para o alto e avante,
rumo ao que esta além do homem, o que ele chamou de “Super-homem”.
Resumo da ópera: se você tem uma ideia incrível, é melhor fazer um gibi.