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Tese de Mestrado - Jéssica Fernandes

O trabalho final de Jéssica Filipa Miranda Fernandes aborda as complicações associadas à Terapêutica Hormonal de Afirmação de Género (THAG), destacando os riscos cardiovasculares, oncológicos, de fertilidade, ósseos e psiquiátricos. A revisão analisa a literatura recente e conclui que, embora a THAG apresente riscos, a monitorização adequada e uma abordagem multidisciplinar podem reduzir a prevalência e a gravidade das complicações. O estudo enfatiza a necessidade de mais pesquisas longitudinais para entender os efeitos a longo prazo da THAG.
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Tese de Mestrado - Jéssica Fernandes

O trabalho final de Jéssica Filipa Miranda Fernandes aborda as complicações associadas à Terapêutica Hormonal de Afirmação de Género (THAG), destacando os riscos cardiovasculares, oncológicos, de fertilidade, ósseos e psiquiátricos. A revisão analisa a literatura recente e conclui que, embora a THAG apresente riscos, a monitorização adequada e uma abordagem multidisciplinar podem reduzir a prevalência e a gravidade das complicações. O estudo enfatiza a necessidade de mais pesquisas longitudinais para entender os efeitos a longo prazo da THAG.
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MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA - TRABALHO FINAL

JÉSSICA FILIPA MIRANDA FERNANDES

Complicações associadas à Terapêutica Hormonal de


Afirmação de Género

ARTIGO DE REVISÃO

ÁREA CIENTÍFICA DE ENDOCRINOLOGIA

Trabalho realizado sob a orientação de:


MESTRE ADRIANA MARGARIDA DE SOUSA LAGES
PROFESSORA DOUTORA MARIA LEONOR VIEGAS GOMES

04/2024
2
Trabalho Final do 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina, com vista à
atribuição do grau de Mestre em Medicina

Complicações associadas à Terapêutica Hormonal de Afirmação de Género


Complications associated with Gender-affirming Hormonal Therapy

Artigo de Revisão

J. Fernandes1,2
De Sousa A. Lages, MD1,3 *
M.L. Gomes, MD, PhD1,4

1
Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra, Portugal
2
[email protected]
3
Serviço de Endocrinologia, Hospital de Braga, ULS Braga, Portugal
4
Serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, Centro Hospitalar e
Universitário de Coimbra, ULS Coimbra, Portugal
*autor de correspondência, [email protected]

Morada Institucional:

Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Polo III – Polo das Ciências da Saúde.
Azinhaga de Santa Comba, Celas, 3000-548 Coimbra

3
ÍNDICE
RESUMO ............................................................................................................................................... 5
ABSTRACT ........................................................................................................................................... 6
SIGLAS E ABREVIATURAS ............................................................................................................. 7
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 9
Terapêutica hormonal em adolescentes ................................................................................ 11
Terapêutica hormonal de afirmação de género em adultos ............................................. 15
Terapêutica de feminização ................................................................................................... 15
Terapêutica de masculinização ............................................................................................ 16
MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................................ 18
RESULTADOS ................................................................................................................................... 19
1) Complicações cardiovasculares ...................................................................................... 19
Alterações no perfil lipídico ................................................................................................... 20
Risco trombótico: ..................................................................................................................... 21
2) Neoplasias/patologias hormono-dependentes............................................................. 25
Cancro da mama ....................................................................................................................... 25
Cancro da próstata ................................................................................................................... 27
Hiperprolactinemia e Prolactinoma ..................................................................................... 28
Meningioma ................................................................................................................................ 28
3) Implicações sob o potencial reprodutivo ...................................................................... 30
Função testicular ...................................................................................................................... 30
Função uterina/ovárica ........................................................................................................... 31
4) Complicações ósseas ......................................................................................................... 34
5) Implicações psiquiátricas .................................................................................................. 37
DISCUSSÃO ....................................................................................................................................... 39
CONCLUSÃO ..................................................................................................................................... 44
ANEXOS .............................................................................................................................................. 45
AGRADECIMENTOS......................................................................................................................... 77
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 78

4
RESUMO

Os cuidados em saúde no âmbito da afirmação de género incluem a terapêutica hormonal de


afirmação de género (THAG), cujo principal objetivo passa por alcançar níveis fisiológicos das
hormonas sexuais associadas ao género desejado pelo indivíduo. Os regimes terapêuticos
podem passar pela supressão da secreção de hormonas sexuais endógenas (com análogos
da hormona libertadora de gonadotrofina - aGnRH), pela administração de hormonas sexuais
exógenas, ou pela junção de ambas as estratégias. Na terapêutica feminizante utilizam-se
fundamentalmente estrogénios e antiandrogénios; na masculinizante os esquemas incluem
ésteres de testosterona. A THAG acarreta possíveis riscos de complicações, nomeadamente
cardiovasculares, oncológicas, sob a fertilidade, ósseas e psiquiátricas. Com base neste facto,
esta revisão narrativa tem como objetivo avaliar a evidência e identificar quais as potenciais
complicações mais prevalentes, e reunir conclusões úteis para uma prática clínica informada
e atualizada.

Foi realizada uma pesquisa na base de dados da PubMed, que incluiu publicações datadas
desde 2013 até 2023. Cada referência foi avaliada a partir do resumo, de forma a selecionar,
para posterior leitura integral e, após análise, inclusão nesta revisão.

A literatura destaca os efeitos cardiovasculares, nomeadamente o risco de eventos


tromboembólicos na terapêutica com estrogénios, que parece ser dose-dependente e variável
de acordo com a via de administração hormonal; o risco de eritrocitose na terapêutica com
testosterona; e o surgimento de hiperprolactinemia e meningiomas com altas doses do
antiandrogénio acetato de ciproterona. Os resultados não evidenciam aumento do risco de
desenvolvimento de neoplasias hormono-dependentes ou impacto significativo no potencial
reprodutivo dos indivíduos transgénero, mas destacam-se lacunas na compreensão dos
efeitos a longo prazo. A THAG é também considerada segura a nível ósseo. Por fim, o impacto
na saúde mental, sexual e qualidade de vida dos indivíduos é globalmente positivo.

Uma abordagem multidisciplinar e individualizada garante segurança e eficácia da terapêutica


hormonal de afirmação de género. A monitorização adequada, aliada à manutenção de níveis
séricos hormonais dentro dos intervalos fisiológicos pretendidos, e o ajuste dos esquemas
hormonais em termos de dose e vias de administração de acordo com as recomendações
mais recentes, mostra que as complicações se têm tornado menos prevalentes e menos
significativas. Destaca-se a necessidade de futuros estudos prospetivos longitudinais, de
forma a melhor entender os efeitos a longo prazo das terapêuticas hormonais.

Palavras-chave: transgénero, terapêutica, hormonas, complicações

5
ABSTRACT

Health care within the scope of gender affirmation includes gender-affirming hormonal therapy
(THAG), whose main objective is to achieve physiological levels of sexual hormones
associated with the individual's desired gender. Therapeutic regimes may include suppression
of the secretion of endogenous sex hormones (with analogues of gonadotropin-releasing
hormone - aGnRH), the administration of exogenous sex hormones, or the combination of both
strategies. In feminizing therapy, estrogens and antiandrogens are mainly used; testosterone
esters are used in masculinizing therapy. THAG carries possible risks of complications,
including cardiovascular, oncological, on fertility, bone and psychiatric complications. Based
on this fact, this narrative review aims to evaluate the evidence and identify the most prevalent
potential complications and gather useful conclusions for informed and updated clinical
practice.

A search was carried out in the PubMed database, which included publications dated from
2013 to 2023. Each reference was evaluated based on the abstract, in order to select it for
later full reading and, after analysis, inclusion in this review.

The literature highlights the cardiovascular effects, namely the risk of thromboembolic events
with estrogen therapy, which appears to be dose-dependent and variable according to the
route of hormonal administration; the risk of erythrocytosis in testosterone therapy; and the
emergence of hyperprolactinemia and meningiomas with high doses of the antiandrogen
cyproterone acetate. The results do not show an increased risk of developing hormone-
dependent neoplasms or a significant impact on the reproductive potential of transgender
individuals, but there are gaps in understanding the long-term effects. THAG is also considered
safe at the bone level. Finally, the impact on individuals’ mental and sexual health, and quality
of life is globally positive.

A multidisciplinary and individualized approach ensures the safety and effectiveness of


gender-affirming hormonal therapy. Adequate monitoring, combined with the maintenance of
serum hormone levels within the intended physiological ranges, and the adjustment of
hormonal regimens in terms of dose and routes of administration in accordance with the most
recent recommendations, shows that complications have become less prevalent and less
significant. The need for future prospective longitudinal studies is highlighted, in order to better
understand the long-term effects of these hormonal therapies.

Keywords: transgender, therapy, hormones, complications

6
SIGLAS E ABREVIATURAS

%: por cento
ACP: acetato de ciproterona
aGnRH: análogos da hormona libertadora de gonadotrofina
ALT/TGP: alanina aminotransferase
ASC-US: atipia de células escamosas de significado indeterminado
AST/TGO: aspartato aminotransferase
AT: anca total
AVC: acidente vascular cerebral
BMAT: tecido adiposo da medula óssea
CL: coluna lombar
DASH: D-dimer, Age, Sex, Hormone use
dl: decilitro
DMF: dilatação mediada por fluxo
DMO: densidade mineral óssea
DSM-V: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5th Edition
EAM: enfarte agudo do miocárdio
EIM: espessura da íntima-média
EUA: Estados Unidos da América
F: fémur
FR: fator de risco
FSH: hormona estimulante folicular
FtM: homem transgénero
HAM: hormona anti-Mülleriana
HAS-BLED: Hypertension, Abnormal Renal/Liver Function, Stroke, Bleeding History or
Predisposition, Labile INR, Elderly, Drugs/Alcohol Concomitantly
Hb: hemoglobina
HDL: high-density lipoproteins
HPV: Vírus do Papiloma Humano
HSIL: lesão escamosa intraepitelial de alto grau
Ht: hematócrito

7
HTA: hipertensão arterial
ICC: insuficiência cardíaca crónica
IM: intramuscular
IMC: índice de massa corporal
IN: intranasal
IRC: insuficiência respiratória crónica
ISCD: International Society for Clinical Densitometry
IU: unidades internacionais
LDL: low-density lipoproteins
LH: hormona luteinizante
mg: miligrama
ml: mililitro
MtF: mulher transgénero
MTO: marcadores de turnover ósseo
ng: nanograma
pg: picograma
PSA: antigénio específico prostático
RE: recetor dos estrogénios
RM: ressonância magnética
RP: recetor da progesterona
SC: subcutâneo
SHBG: globulina transportadora de hormonas sexuais
SNC: sistema nervoso central
TBLH: corpo total (exceto cabeça)
TEP: tromboembolia pulmonar
TEV: tromboembolismo venoso
TG: triglicerídeos
THAG: terapêutica hormonal de afirmação de género
vit.: vitamina
WPATH: World Professional Association for Transgender Health

8
INTRODUÇÃO

A compreensão e aceitação da diversidade de identidades de género tem progredido


significativamente nas últimas décadas, desafiando as normas convencionais que durante
muito tempo foram as responsáveis por moldar as perceções sobre a sexualidade, identidade
e papel de género. Define-se enquanto pessoa transgénero, o indivíduo cujo género com o
qual se identifica é distinto daquele que lhe foi atribuído ao nascimento ou determinado pelos
seus cromossomas sexuais (1). As pessoas transgénero continuam a apresentar limitações
no acesso a cuidados de saúde, representando uma subpopulação de indivíduos
particularmente vulneráveis a disparidades na acessibilidade a cuidados de saúde
especializados.
Algumas definições devem ser consideradas para um melhor enquadramento do tema. O sexo
biológico é aquele determinado pelo cariótipo do indivíduo, geralmente o 46,XX para mulheres
e o 46,XY para homens. A aparência dos genitais externos contribui para esta distinção. A
identidade de género refere-se à perceção de si próprio como homem ou mulher, uma
combinação dos dois ou até mesmo nenhum deles (2, 3). É uma identidade autodeclarada,
que pode ou não coincidir com o sexo biológico, e é parte fundamental do autoconhecimento
de um indivíduo. Assim, assume-se a identidade de género como resultado de uma complexa
interação de fatores biológicos, ambientais e culturais e não um conceito meramente
psicológico (3). Já a expressão de género é a forma como o indivíduo expressa o seu género,
de uma forma fluida que pode variar dentro de um espetro de expressões tipicamente
associadas ao masculino ou ao feminino. É influenciada pela cultura, normas da sociedade,
ambiente, educação, assim como expectativas sociais (2).

A prevalência de indivíduos com incongruência de género ou que se identificam como


transgénero é de cerca de 100-2.000 por 100.000 indivíduos da população global (0,1-2%), e
1-30 em 100.000 indivíduos recebem cuidados de afirmação de género (4). A proporção de
mulheres transgénero (MtF) para homens transgénero (FtM) é geralmente acima de 1, mas
tem variado bastante ao longo do tempo, aproximando-se de 1. Para crianças pré-
adolescentes, as percentagens rondam os 1,3% e 2,7%.

Apesar de se estimar que, para cada 100.000 indivíduos, 200-7.300 se identificam como
homens transgénero, destes apenas 0,7-420 recebem o diagnóstico de disforia de género, e
apenas 0,25-12 realmente requisitaram/receberam cuidados de afirmação de género. Para as
mulheres transgénero, os números são 380-2.100, 0,69-36,4 e 1-35, respetivamente.

9
A discrepância entre as percentagens de indivíduos que se identificam como transgénero e
aqueles que têm efetivamente acesso a cuidados de afirmação de género pode ser explicada
por vários fatores. Primeiro, nem todas as pessoas transgénero têm intenção de iniciar
terapêutica de afirmação de género ou, por outro lado, não têm recursos para o fazer (5). Em
segundo lugar, os dados refletem um período com uma realidade distinta da atual (entre 1968
e 2018), em que o acesso a cuidados de afirmação de género eram ainda mais restritos. Em
terceiro lugar, enquanto a identidade de género de um individuo pode ser avaliada com
recurso a simples questionários nacionais, o acesso aos cuidados foi avaliado por múltiplos
autores com base em estudos clínicos, ou seja, uma parte selecionada da população (4). E,
por último, mesmo para pessoas transgénero que pretendem recorrer a ações e serviços de
afirmação de género, os critérios de diagnóstico do Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders, 5th Edition (DSM-V) implicam que a disforia de género seja persistente - por um
período de pelo menos 6 meses - antes de serem encaminhados para os cuidados de
afirmação de género (6).

No contexto da disforia de género, o objetivo principal do tratamento será auxiliar uma


transição de género segura e acompanhada, reduzindo simultaneamente o desconforto e
sofrimento experienciados com a incongruência de género, e promovendo o bem-estar
psicológico da pessoa.

A terapêutica da disforia de género é feita por meio de terapêutica de afirmação de género,


podendo ser oferecidas estratégias hormonais e/ou cirúrgicas, a par das intervenções
psicoterapêuticas/psicoterapia (7). É nas primeiras que este trabalho se foca.

Para tal, um indivíduo que procura a sua afirmação de género deve ser referenciado a um
centro especializado e multidisciplinar, que consiga reunir as várias especialidades médicas
necessárias para a abordagem e discussão das melhores recomendações terapêuticas,
monitorizações e acompanhamento a longo-prazo. A equipa multidisciplinar deverá,
idealmente, ser composta por endocrinologista, psicólogo clínico, psiquiatra e enfermeiro
especializados em incongruência de género, médico dos cuidados de saúde primários com
literacia em saúde transgénero e, no caso de crianças e adolescentes, a pediatra e
pedopsiquiatra (2, 5, 7).

Antes de qualquer intervenção, deverá ser avaliada a capacidade de decisão e consentimento


para tratamentos de afirmação de género e proceder-se ao planeamento personalizado dos
procedimentos médicos e/ou cirúrgicos propostos em equipa multidisciplinar.

10
Terapêutica hormonal em adolescentes

Na disforia de género, uma vez que o sexo biológico e a identidade de género não são
congruentes, o sofrimento e desconforto podem agravar-se exponencialmente aquando do
início da puberdade, devido ao desenvolvimento de caracteres sexuais secundários
associadas ao sexo biológico (2).

O desejo pelas características do género oposto pode iniciar-se desde cedo, ainda
previamente à adolescência (7) e pode manifestar-se pela rejeição dos papéis de género
culturais em áreas como o vestuário, jogos, brinquedos e amizades (3). Um jovem com
suspeita de disforia de género deve ser alvo de avaliação psicodiagnóstica por um psiquiatra
qualificado, de forma a determinar a presença ou não de disforia, bem como a presença de
comorbilidades psiquiátricas concomitantes (3).

As crianças podem ou não continuar a identificar-se com um género diferente daquele que
lhes foi atribuído à nascença, na adolescência e idade adulta. Contudo, a incongruência de
género não persiste após o início da adolescência para a maioria destas crianças (3). De
acordo com dados da América do Norte e Holanda, a persistência de disforia de género após
o início da puberdade verifica-se em 2% a 39% dos indivíduos nascidos homens, e em 12%
a 50% das nascidas mulheres (6). A abordagem inicial de crianças com disforia de género
deve começar com a oferta de apoio ativo à criança e núcleo familiar, esclarecendo dúvidas
existentes e oferecendo suporte, enquanto a criança continua a descoberta da sua identidade
de género. O objetivo é evitar encorajar um resultado específico ou a realização de ações
irreversíveis, de forma célere ou irrefletida.

A terapêutica de afirmação de género em adolescentes inicia-se com supressores da


puberdade, nomeadamente, com análogos da hormona libertadora de gonadotrofina
(aGnRH). A primeira vez que foram usados aGnRH para supressão da puberdade em
adolescentes remonta aos anos 90, em Amsterdão, na Holanda (2, 3). Estes fármacos podem
ser administrados por via intramuscular (IM), subcutânea (SC) ou intranasal (IN), em intervalos
de 4 ou 12 semanas (mensal ou trimestral), em doses que induzam supressão das
gonadotrofinas pituitárias e dos esteróides sexuais gonadais (3). Desde 2017 que existe uma
formulação que pode ser injetada de 6 em 6 meses (semestral) (2).

Os análogos da GnRH mais usados na supressão da puberdade são os seguintes (3):

a. Acetato de Leuprorrelina (IM, preparações para 1 ou 3 meses; ou SC, com preparações de


1, 3, 4 e 6 meses);

11
b. Acetato de histrelina (implante SC, duração de 1 ano);

c. Acetato de goserelina (implante SC, preparações de 1 ou 3 meses);

d. Acetato de nafarelina (IN, múltiplas doses diárias).

Na presença de contraindicações à toma de aGnRH, dificuldades económicas ou outros, as


alternativas passam por (3):

a. Pode ser usado por ambos os géneros:

- Acetato de medroxiprogesterona (oral 40 mg/dia, ou IM 150 mg 3/3 meses);

b. Apenas para mulheres transgénero:

- Espironolactona (oral, 25 a 50 mg/dia com aumento gradual até 100 a 300 mg);

- Acetato de ciproterona (oral, 10 mg/dia);

- Finasterida (oral, 2,5 a 5 mg/dia).

Esta terapêutica permite o bloqueio do desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários,


contribuindo para que os jovens se sintam mais confortáveis com o seu corpo enquanto
exploram as suas opções futuras, nomeadamente, o desejo de transição total. Assim, pode
ser considerada em adolescentes com disforia de género persistente e que já tenham iniciado
o desenvolvimento pubertário – a partir do estádio Tanner 2 (início do desenvolvimento
mamário nas raparigas - telarca; volume testicular superior a 4 ml nos rapazes) ou superior.
Atendendo à demora na referenciação aos cuidados de saúde, quando os jovens transgénero
têm o primeiro contacto médico no sentido de iniciar o processo de afirmação de género, já
se encontram frequentemente em estádios finais da puberdade (como estádios Tanner 4-5).
Nestas situações, poderá ser considerada a utilização de esteroides sexuais após avaliação
individualizada.

Embora um limite de idade não esteja estabelecido, nas recomendações da WPATH (World
Professional Association for Transgender Health) (1) bem como da Endocrine Society (5),
poderá ser considerado o início de esteroides sexuais apenas após os 16 anos. Um motivo
convincente para iniciar a THAG numa idade mais precoce parece ser, por exemplo, para
evitar uma supressão da puberdade prolongada, tendo em ponderação um potencial impacto
na saúde óssea e as implicações psicossociais de atrasar a puberdade (8, 9). Ressalva-se
que a instituição de terapêutica hormonal deverá estar de acordo com o processo de transição,
após exclusão da presença de contraindicações e idealmente após confirmação da garantia
de processo de preservação de fertilidade (quando desejado).

12
Nos estádios posteriores do desenvolvimento pubertário, os análogos da GnRH podem ser
usados com o intuito de suprimir adicionalmente o eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, o que
permite usar doses mais baixas de hormonas esteroides sexuais para induzir a afirmação
fenotípica para o género desejado, minorando o risco de complicações associadas. (3)

Os análogos da GnRH diminuem os níveis de gonadotrofinas e de hormonas sexuais


endógenas, por bloqueio do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal (dessensibilização do recetor
da GnRH) (2). É um processo reversível que, após suspensão, permite retomar a progressão
da maturação pubertária (2, 10).

Para o adolescente com disforia de género que deseja iniciar terapêutica de bloqueio
hormonal da puberdade, é recomendado que cumpra os seguintes critérios (1-3, 5):

1. Há disforia de género diagnosticada, baseada nos critérios clínicos, marcada e


persistente ao longo do tempo;
2. Puberdade iniciada e confirmada (com estádio ≥ 2 de Tanner, idealmente), que
intensificou a disforia de género;
3. Problemas médicos, psicológicos ou sociais foram identificados e abordados, para que
a situação do adolescente seja estável o suficiente para iniciar a terapêutica;
4. O adolescente e a família estão totalmente informadas sobre efeitos esperados, efeitos
secundários, e impacto da terapêutica no físico e psicológico do adolescente;
5. Foram informados sobre os efeitos na reprodução, incluindo potencial perda de
fertilidade e opções para preservação da mesma;
6. O adolescente demonstra maturidade emocional e cognitiva necessária para
compreender o protocolo terapêutico e dar o seu consentimento informado;
7. Os supressores de puberdade foram propostos por um endocrinologista pediátrico,
especialista em saúde transgénero.
8. Ausência de contraindicações para o uso de aGnRH.

Adicionalmente, estes supressores de puberdade induzem ligeira regressão de características


já adquiridas na puberdade: promovem regressão do desenvolvimento mamário, mais notória
se iniciados logo aquando do início do estádio 2 de Tanner; e regressão do volume testicular
(1).

13
Monitorização durante o tratamento com análogos da GnRH

Durante o tratamento, o adolescente deverá ser visto com periocidade recomendável a cada
6 meses pelo pediatra e/ou endocrinologista com diferenciação em cuidados pediátricos. A
terapêutica poderá ser monitorizada por diferentes parâmetros: diminuição da velocidade de
crescimento, clínica que demonstra clara interrupção da progressão pubertária e redução
significativa das gonadotrofinas séricas (2) (Tabela 1). A equipa multidisciplinar a cargo do
adolescente deve também avaliar a melhoria da disforia, ansiedade e funcionamento
psicossocial do mesmo. Caso estes objetivos não sejam alcançados, o plano terapêutico
deverá ser revisto em conjunto com a pessoa em acompanhamento.

Tabela 1. Sugestão de monitorização clínica e bioquímica para adolescentes em tratamento com


bloqueadores da puberdade.

Avaliação durante o tratamento com agonistas da GnRH


Altura, Peso, Velocidade de crescimento, IMC A cada 3 - 6 meses
Pressão arterial A cada 3 - 6 meses
Idade óssea (raio-X da mão e punho não dominantes) Se clinicamente indicado, a cada 1-2
anos
LH, FSH, Estradiol/Testosterona A cada 6 meses
Vitamina D, PTH, Cálcio, Fosfato, Albumina A cada 6 meses
Avaliação desenvolvimento pubertário A cada 6 meses (se possível)
DMO por DEXA A cada 1-2 anos
Adaptado de Kyriakou et al (2) e de Hembree et al (5).

Legenda: DEXA: absortometria de raio-X de dupla energia, DMO: densidade mineral óssea, FSH:
hormona estimulante folicular, IMC: Índice de massa corporal, LH: hormona luteinizante, PTH:
paratormona.

Numa primeira avaliação, antes do início da terapêutica de supressão da puberdade, poderão


ainda ser avaliados parâmetros como hemoglobina (Hb), hematócrito (Ht), ferritina, alanina
aminotransferase e aspartato aminotransferase (ALT/TGP e AST/TGO, respetivamente),
função hepática, função renal (creatinina e azoto ureico), e ionograma (2).

14
Terapêutica hormonal de afirmação de género em adultos

Nas pessoas transgénero em que foram iniciados aGnRH durante a adolescência, poderá ser
revista a terapêutica subsequente com início de hormonas esteroides sexuais exógenas no
sentido da afirmação de género identificado – sobretudo pela insatisfação com o aspeto físico
corporal (7). A utilização de esteroides sexuais em pessoas transgéneros iniciou-se na década
de 80 (11). Os principais objetivos da THAG são a redução dos níveis de hormonas sexuais
endógenas e a obtenção de níveis fisiológicos de hormonas congruentes com o género
expresso pelo indivíduo.

Terapêutica de feminização

Atualmente, o esquema de feminização consiste, habitualmente, na associação de um


esteróide sexual feminizante – o estrogénio, e de um antiandrogénio (12).

Tabela 2. Esquemas de feminização utilizados em mulheres transgénero em Portugal .

Doses recomendadas
Estrogénios
Oral ou sublingual
Estradiol (17ß-estradiol) 2 a 6 mg/dia
Transdérmico
Adesivo transdérmico de estradiol * 0,025 a 0,2 mg/dia
Gel de estradiol ** diariamente na pele
Parentérico
Valerato de estradiol 5 a 30 mg IM de 2 em 2 semanas
ou Cipionato de estradiol 2 a 10 mg IM semanalmente
Antiandrogénios
Oral
Acetato de ciproterona 10 mg /dia
Espironolactona 100 a 300 mg/dia
aGnRh 3,75 a 7,5 mg SC/IM mensalmente
aGnRH formulação depot 11,25/22,5 mg SC/IM a cada 3/6 meses
Adaptado de Coleman et al (1).

Legenda: aGnRH: análogos da hormona libertadora de gonadotrofina, IM: intramuscular, mg:


miligramas, SC: subcutâneo. *Adesivos devem ser substituídos a cada 3-5 dias. **A quantidade
aplicada varia de acordo com a formulação e a dosagem em causa.

15
Atualmente, as recomendações passam pela titulação das doses de estrogénio de modo a
alcançar níveis fisiológicos hormonais de uma mulher cisgénero em idade fértil - estrogénios
entre 100 e 200 pg/ml e de testosterona inferiores a 50 ng/dl (5).

As mudanças físicas esperadas com a terapêutica começam a notar-se por volta dos 3-6
meses e incluem (5): redistribuição da massa gorda; diminuição da massa magra, força, da
líbido e ereções espontâneas, oleosidade da pele e do volume testicular; e aumento do tecido
mamário (com desenvolvimento máximo aos 2 anos pós-início da terapêutica). Estas
alterações estabelecem-se com efeito máximo num prazo de até 5 anos.

Recomenda-se que a terapêutica com hormonas sexuais se mantenha mesmo após


terapêutica cirúrgica, que pode incluir a gonadectomia, para garantir que o individuo continua
a viver no seu género desejado prevenindo assim, sequelas da insuficiência gonadal sequelar
(11). Contudo, os antiandrogénios são geralmente descontinuados após orquidectomia (13).

De igual modo, também não está recomendada uma descontinuação completa dos
estrogénios exógenos após os 50 anos, idade peri-menopausa. As recomendações irão no
sentido de mimetizar a fisiologia do potencial reprodutivo de uma mulher cisgénero com
diminuição progressiva da dose de estradiol em curso, de forma personalizada (11).

No que concerne ao tipo de estrogénio, o 17ß-estradiol é preferível em relação aos


estrogénios conjugados e aos estrogénios sintéticos (ex.: etinilestradiol). Os primeiros
apresentam reconhecidamente limitações no seu doseamento laboratorial (3), e os segundos,
largamente utilizados na Europa até 2003, estão associados a aumento de risco de
tromboembolismo venoso (TEV) e a morte por causas cardiovasculares (3, 14). Deste modo,
ambos já não estão recomendados no contexto de THAG. Já no que se refere aos
antiandrogénios, o acetato de ciproterona parece ser mais eficaz do que a espironolactona,
no que toca à supressão da concentração total de testosterona sérica (15).

Terapêutica de masculinização

A terapêutica masculinizante consiste, fundamentalmente na administração de ésteres de


testosterona. Em homens transgénero em que não se atinja amenorreia sustentada, pode ser
ainda associada a terapêutica com progestativo.

16
Tabela 3. Esquemas de masculinização utilizados em homens transgénero em Portugal.

Doses recomendadas
Testosterona
Parentérica
Enantato/Cipionato de testosterona 50 a 100 mg SC/IM semanalmente ou
100 a 200 mg IM de 2 em 2 semanas
Undecanoato de testosterona 1000 mg IM de 3 em 3 meses ou
750 mg IM de 10 em 10 semanas
Transdérmica
Adesivo transdérmico de testosterona * 2,5 a 7,5 mg/dia
Gel de testosterona 50 a 100 mg/dia
Progestativo
Oral
Linestrenol 5 mg/dia
Medroxiprogesterona 5-10 mg/dia
Parentérico
Medroxiprogesterona 150 mg IM de 12 em 12 semanas
Adaptado de Coleman et al (1) e de Bunderen et al (13).

Legenda: IM: intramuscular, mg: miligramas, SC: subcutâneo. *A considerar quando os níveis de
testosterona de um homem adulto tenham sido atingidos por via parenteral (3).

Atualmente, é recomendado que se titulem as doses de testosterona de modo a alcançar os


níveis fisiológicos desta hormona encontrados num homem cisgénero – 320 a 1000 ng/dl (5).

As mudanças físicas esperadas com a terapêutica começam a notar-se por volta dos 1-6
meses e incluem (5): redistribuição da massa gorda; aumento da oleosidade da pele; aumento
do clitóris e atrofia vaginal; e supressão menstrual. Entre os 6-12 meses evidencia-se
crescimento do pelo facial e corporal, alopecia (padrão masculino), aumento da massa magra
e da força, e engrossamento da voz. Estas alterações estabelecem-se com efeito máximo
num prazo de até 5 anos.

17
MATERIAIS E MÉTODOS

Pesquisa Bibliográfica
Para a pesquisa bibliográfica foi utilizada a base de dados PubMed, tendo sido realizada em
setembro de 2023. Foram pré-selecionados os artigos que se focavam na terapêutica de
afirmação de género e saúde dos indivíduos transgénero, e excluídos os artigos que
destacavam terapêuticas que não médicas ou hormonais.
Pela atualidade do tema, a pesquisa foi restringida aos últimos 10 anos de publicação de
artigos sobre a temática e às línguas inglesa, espanhola e portuguesa. Foram excluídos
preprints e estudos não realizados em humanos, resultando em 108 artigos.
Após análise dos artigos obtidos na primeira pesquisa, e com o conhecimento do tema, houve
necessidade de adicionar pesquisas individualizadas para cada complicação reportada
associada à terapêutica hormonal de afirmação de género.
A lista de referências bibliográficas dos estudos extraídos foi analisada de modo a identificar
e acrescentar outros estudos relevantes, não identificados na pesquisa pelas bases de dados.

Termos de Pesquisa
Para a estratégia da pesquisa inicial utilizaram-se os operadores booleanos AND (E), OR (OU)
e NOT (NÃO), e os seguintes termos de pesquisa: “transgend”, “transsex”, “two-spirit”,
“hormon”, “testosteron”, “estradiol”, “estrogen”, “androgen”, “complication” e “surgery”.
As pesquisas efetuadas numa segunda fase e respetivos termos de pesquisa estão descritas
em Anexo I.

Seleção de Estudos, Coleta e Extração de Dados


Utilizámos o software EndNote X7 (Thomson e Reuters, Filadelfia, EUA) no processo de
seleção de artigos. Esta, foi realizada em 2 fases:
1. Verificando o título e resumo de cada artigo;
2. Revendo todo o texto dos estudos pré-selecionados. Os estudos que não cumpriram os
propósitos da temática foram excluídos.
A coleta e extração de dados foram realizadas independentemente por 1 autor (J.F.) e revistas
por um segundo autor (A.L.). As discrepâncias foram resolvidas através de discussão. Em
cada artigo foram extraídos os seguintes dados: ano de publicação, primeiro autor, tipo de
estudo, tipo e número de estudos incluídos (quando aplicável), número de participantes,
objetivo do estudo, alterações associadas à terapêutica hormonal de afirmação de género.

18
RESULTADOS

Uma das razões para os indivíduos transgénero não iniciarem terapêutica hormonal prende-
se com o receio de efeitos adversos para a saúde (7).

Nas Tabelas 5 a 9, no Anexo II, descrevem-se os resultados obtidos da pesquisa na literatura


publicada sobre a temática da THAG e as suas possíveis repercussões nos vários sistemas.

1) Complicações cardiovasculares

De acordo com a literatura revista, na Tabela 5 é reportado o impacto da THAG no sistema


cardiovascular, focando particularmente as possíveis complicações ao nível do perfil lipídico
e risco tromboembólico.

Destaca-se, ainda, um nível de risco cardiovascular elevado na população transgénero já


prévio ao início da THAG. Denby et al (16), num estudo retrospetivo que incluiu 427 indivíduos
(média de 31 anos) que procuravam iniciar terapêutica hormonal de afirmação de género (172
homens trans, 40,2% e 236 mulheres trans, 55,1%), estimam um risco de doença
cardiovascular a 10 anos nestes indivíduos superior ao da população em geral. Cerca de 10%
dos participantes incluíam-se na categoria de médio ou alto risco cardiovascular. A
prevalência de condições médicas pré-existentes que influenciam o risco cardiovascular, por
diagnosticar ou por tratar, como a hipertensão e a dislipidemia, é também mais prevalente
nesta população.

O uso de substâncias potenciadores de doença cardiovascular, como o tabagismo, é também


mais frequente nesta população, o que poderá contribuir para os resultados encontrados – na
mesma amostra de 427 pessoas trans, 157 indivíduos reportavam uso de sustâncias (36,7%),
sendo que 121 (28,3%) eram fumadores ativos (16).

A maior prevalência de outros fatores em pessoas transgénero (como maior prevalência de


morbilidades psiquiátricas, de violência e stress crónico associado a minorias de género)
podem ainda contribuir para um risco adicional nesta população (16). Este risco parece ainda
ser potenciado pela THAG, dada a sua associação a efeitos metabólicos adversos e a número
de eventos cardiovasculares aumentados.

19
Alterações no perfil lipídico

A THAG, com recurso de esteroides sexuais, seja masculinizante com testosterona, ou


feminizante com estrogénios, impacta o metabolismo lipídico, embora a evidência seja
limitada devido à diversidade de esquemas hormonais nos diferentes dados publicados (tipo,
dose, via de administração) e à avaliação heterógena das diferentes variáveis reportadas (1).

Na pessoa MtF:

Os estudos encontrados na literatura são, na sua maioria, retrospetivos, e avaliam a


prevalência de obesidade, dislipidemia, e impacto no IMC e resistência à insulina nestas
pessoas (Tabela 5).

A THAG feminizante tende a aumentar o colesterol HDL e os triglicerídeos, com efeitos


variáveis sob o colesterol LDL. O modo de administração também pode afetar este padrão,
especialmente no que concerne ao estrogénio oral versus transdérmico, e impacto sobre os
TG, que se revela mais marcado com o uso da formulação oral (1). Verifica-se também um
aumento do IMC nestas mulheres (17). No que diz respeito à pressão arterial, os dados são
escassos e de resultados variáveis. A maioria dos estudos encontrados na literatura cingem-
se a avaliações após 1-3 anos de THAG, e as populações em estudo são relativamente jovens
(<50 anos) (1), pelo que as conclusões a retirar se tornam menos robustas. Há, ainda,
escassez de estudos que incidam sob o efeito dos estrogénios em pessoas transgénero com
dislipidemia prévia, e sob terapêuticas prolongadas nestes indivíduos.

Estudos que avaliam os diferentes antiandrogénios e as consequências no perfil lipídico


também são descritos. Fung et al (18) comparou o uso de antiandrogénios (ACP versus
espironolactona), em mulheres transgénero, ao fim de 1 ano de THAG. As que faziam uso de
espironolactona obtiveram um aumento de 8% dos níveis de colesterol HDL, e as que faziam
uso de ACP apresentaram uma diminuição de 5,6% deste parâmetro. Contudo, sem
alterações reportadas ao nível do colesterol total, HDL e TG.

De um modo geral, as alterações reportadas não parecem associar-se a significado clínico, e


o impacto global destes resultados sob os sistemas cardiovascular e cerebrovascular não é
claro.

Na pessoa FtM:

A terapêutica hormonal masculinizante a longo-prazo, a nível metabólico, em termos de perfil


lipídico e mortalidade geral, obtém resultados equiparados aos encontrados na população

20
cisgénero. Observa-se, nos homens transgénero sob terapêutica com testosterona, uma
diminuição da resistência à insulina e do colesterol HDL, e um aumento da pressão arterial,
colesterol total, colesterol LDL e TG. Ainda assim, atentam ao facto de a maioria dos dados
revistos serem extrapolados de estudos observacionais e baseados em marcadores
bioquímicos, em detrimento de medidas diretas de forma a caracterizar dano cardiovascular.
Em exemplo, a espessura da íntima-média (EIM) da artéria carótida, e a dilatação mediada
por fluxo (DMF) da artéria braquial, utilizadas no estudo de Ciccone et al (19). A revisão de
Pirtea et al (20) mostra resultados congruentes com os reportados na Tabela 5.

Relativamente ao uso de ACP, Zohar et al (21), num estudo de coorte retrospetivo, comparou
a eficácia e segurança do uso deste antiandrogénio em baixas doses (10-20 mg/dia) versus
em altas doses (50-100 mg/dia), em mulheres transgénero. Concluíram que o perfil lipídico
(colesterol total, LDL, HLD, TG) não é significativamente afetado pela dose de ACP usada.

Embora a literatura atual sobre os efeitos da THAG no metabolismo lipídico e na pressão


arterial sejam úteis para colocação de hipóteses e estudo de etiologia, há uma necessidade
clara de estudos clínicos complementares incidindo em endpoints cardiovasculares de
especial interesse com foco específico nas variáveis preditivas individuais como idade, tipo,
dose e via de administração da terapêutica utilizada, e tempo de exposição total a THAG ao
longo da vida (1).

Risco trombótico:

Um dos riscos mais preocupantes associados à terapêutica com esteroides sexuais relaciona-
se com o risco de eventos tromboembólicos, que podem incluir TVP, TEP, EAM e AVC (5, 22,
23).

Segundo a revisão de Connell et al (24), o mecanismo inerente à ocorrência de trombose com


o uso de estrogénios está associado ao aumento de fatores da coagulação, nomeadamente
o fibrinogénio e os fatores II, VII, VIII e X, a uma diminuição dos níveis da proteína S
(anticoagulante natural) e a uma resistência aumentada à proteína C ativada. Relativamente
à testosterona, o aumento do hematócrito e aumento da viscosidade sanguínea, associados
à conversão periférica desta hormona em estradiol no tecido adiposo, são os mecanismos
potenciais para a sua ocorrência. Contudo, ainda não há consenso sobre os mesmos na
ocorrência de eventos tromboembólicos, na literatura publicada.

21
Na pessoa MtF:

Na Tabela 5 descrevem-se os resultados encontrados na literatura sobre o impacto da THAG


feminizante no risco trombótico.

Parece haver congruência entre diversos autores sobre o risco de TEV ser dose-dependente,
especialmente na presença de níveis suprafisiológicos de estrogénios (5), e dependente da
via de administração da hormona (5, 14, 23-25), pelo que a vigilância regular destes indivíduos
e a escolha da terapêutica se revestem de grande importância nesta temática. A terapêutica
oral parece acarretar maior risco, devido ao significante efeito de primeira passagem hepático
e desequilíbrio entre fatores pró e anticoagulantes. No primeiro ano de tratamento, o risco
parece ser superior (26). As formulações transdérmicas são recomendadas, principalmente
para mulheres com idade superior a 40 anos. Se a via oral for preferida, os estrogénios não
sintéticos são os mais recomendados pela sua segurança superior (14, 23).

O estudo de coorte de Getahun et al (22) seguiu 2842 mulheres transgénero e 2118 homens
transgénero sob THAG por um período médio de 4 anos, e comparou estes indivíduos com
população cisgénero, numa proporção de 1:10. Descrevem incidências de EAM e de AVC nas
mulheres transgénero superior à das mulheres cisgénero, mas comparáveis ao descrito em
homens cisgénero.

O risco de TEV foi superior nas mulheres transgénero, com diferenças de risco absoluto entre
grupos aos 2 e aos 8 anos de 4,1 e de 16,7 por 1000 pessoas/ano, respetivamente,
relativamente aos homens cisgénero; e de 3,4 e 13,7, comparativamente às mulheres
cisgénero. Concluem ainda que o risco trombótico parece aumentar com o tempo de
exposição à THAG feminizante. Contudo, a mesma tendência não se demonstrou para a
THAG masculinizante, sendo que os autores associam ao facto do coorte transmasculino ser
relativamente jovem (84% com idade inferior a 45 anos). Concluem que esta evidência não é
suficiente para retirar conclusões sobre aumento significativo do risco dos eventos
tromboembólicos de interesse.

Resultados semelhantes foram encontrados na metanálise de Khan et al (27), que estimam


uma taxa de incidência de TEV nas mulheres transgénero de 2,3 por 1000 pessoas/ano, e na
revisão sistemática de Kotamarti et al (25), que acrescenta que mulheres transgénero
apresentam incidências de TEV superiores às relatadas nos homens transgénero (42,0 por
10,000 pessoas/ano versus 10,8; 221 eventos versus 26).

Na mesma linha, Wierckx et al (17) descrevem taxas de EAM em mulheres transgénero


superiores às das mulheres cisgénero e semelhantes às observadas em homens cisgénero,

22
com o risco trombótico a aumentar em relação direta com o tempo de exposição estrogénica.
Também observaram maior prevalência de TEV, AVC e diabetes mellitus tipo 2 nas mulheres
transgénero, quando comparadas com as mulheres cisgénero. Por outro lado, a prevalência
de AVC é superior, não só quando comparada com a das mulheres cisgénero, mas também
com a dos homens cisgénero, um padrão diferente daquele reportado por Getahun et al (22).

Na metanálise de Totaro et al (28), que incluiu 18 artigos do tema, a prevalência de TEV nas
mulheres transgénero foi de 2%, com aumento da mesma associado ao aumento da idade e
do tempo em terapêutica estrogénica. Para mulheres com menos de 38 anos e em THAG há
menos de 4,5 anos, o risco parece ser negligenciável.

Em contrapartida, não deverá ser rejeitado o efeito potencialmente benéfico do início da THAG
sobre a atenuação da disforia de género, se presente, pela redução do stress e melhoria da
saúde mental de uma forma geral, com efeitos diretos na redução do uso de tabaco, álcool e
outras substâncias, e na adoção de um estilo de vida mais saudável (16), concluindo
necessidade de balancear riscos e benefícios desta terapêutica.

Em mulheres transgénero com risco muito elevado de TEV e indicação para manter
terapêutica estrogénica oral para efeito feminizante, pode ser considerado o uso de
terapêutica hipocoagulante como profilaxia trombótica, após cuidadosa decisão individual,
pesando riscos de evento trombótico versus risco hemorrágico (13). Apesar desta indicação,
não existe ainda uma recomendação robusta para o realizar de forma sistemática,
privilegiando-se neste contexto o uso de estrogénio na formulação galénica transdérmica.

Assim, apesar do maior número de eventos tromboembólicos em mulheres transgénero


comparativamente às mulheres cisgénero sob terapêutica, globalmente, são semelhantes às
encontradas em homens cisgénero e associam-se sobretudo ao aumento da idade e ao tempo
de exposição à terapêutica feminizante. Não obstante, importa ressalvar que não se
associaram a um aumento da mortalidade nesta população (5).

Atendendo aos dados disponíveis, o mais prudente será, numa fase inicial, assegurar que
fatores de risco cardiovasculares (como a obesidade, tabagismo, dislipidemia, sedentarismo
e hipertensão) são otimizados de forma antecipatória ao início de THAG, de modo a minimizar
o risco de eventos adversos trombóticos ao longo do seguimento (17, 29).

Na pessoa FtM:

O evento mais vezes reportado no contexto de homens transgénero sob THAG masculinizante
é a eritrocitose (29, 30). As opções para estes indivíduos passam por reduzir a dose de

23
testosterona IM ou espaçar a frequência da toma, assim como a consideração sobre a troca
de formulação galénica em utilização, privilegiando a formulação transdérmica (29).

No que toca a eventos tromboembólicos, as taxas de EAM e de AVC nos homens transgénero
foram similares às de ambos homens e mulheres cisgénero controlo, no estudo de Wierckx et
al (17).

De salientar também que a grande maioria dos relatos de caso encontrados na literatura
retratam indivíduos com vários fatores de risco cardiovascular presentes na altura do evento
trombótico, os mais comuns sendo a obesidade, tabagismo e HTA. De novo, o controlo de
fatores de risco cardiovascular está fortemente recomendado.

Até a data, grande parte das conclusões sobre risco trombótico nestes indivíduos são
extrapoladas de populações cisgénero ou de pequenos estudos retrospetivos em populações
transgénero (17, 27). Assim, os resultados heterógenos tornam evidente a necessidade de
estudos prospetivos com n amostrais superiores para conclusões mais robustas.

Na tentativa de minimizar/prevenir a ocorrência destes eventos trombóticos, Arrington-


Sanders et al (31), sugerem recomendações para avaliação do risco de TEV em indivíduos
transgénero:

1. Reconhecer fatores de risco para TEV (32) incluindo trombofilias hereditárias ou


adquiridas, malignidade, obesidade, tabagismo, traumatismo, imobilidade, idade
>65 anos, presença de cateter venoso central, etc;
2. Avaliar presença de comorbilidades como IRC ou ICC, TEV ou EAM prévio, infeção
HIV, Diabetes mellitus, cirurgia/hospitalização recente;
3. Monitorizar para a presença de sinais subtis de TEV, como fraqueza e alteração
aguda do estado mental;
4. Utilizar scores clínicos preditivos de risco trombótico versus hemorrágico (como
HAS-BLED) bem como de recorrência de evento (como DASH);
5. Rever prospectivamente a THAG em curso: formulação, dose, via de
administração, e duração da terapêutica (principalmente a estrogénica). A via
transdérmica é preferível para indivíduos com idade superior, especialmente se na
presença de múltiplas comorbilidades;
6. Reforçar a individualização da escolha da terapêutica e da relevância da avaliação
do risco trombótico. Os benefícios na saúde mental e física da THAG, em casos
selecionados, poderão superar o risco de TEV e poderão ser considerados
mediante acompanhamento médico personalizado (13).

24
2) Neoplasias/patologias hormono-dependentes

Na Tabela 6, descrevem-se, na sua grande maioria, relatos e séries de casos de cancro da


mama e da próstata, em indivíduos transgénero em THAG.

Um estudo transversal que incluiu 352 transgéneros em THAG por uma média de 7,4 anos
(17), não encontrou aumento do risco de cancro de qualquer tipo, quando comparados com
controlos cisgénero, coincidentes em idade e género.

Cancro da mama

Pivot et al (33) concluem ser necessária a determinação do risco de cancro da mama em


todos os indivíduos transgénero. Esta determinação torna-se ainda mais importante quando
o individuo pretende a realização de cirurgia mamária (de redução, aumento ou mastectomia
subcutânea total/subtotal), no sentido de escolher a intervenção cirúrgica mais apropriada.

No que concerne ao rastreio do cancro da mama com mamografia, Narayan et al (34) mostrou
que 60% dos transgéneros com idades entre os 40 e 74 anos, teriam realizado mamografia
de rastreio no último ano, e 74% nos últimos dois anos. A maior percentagem de indivíduos
corresponde a homens transgénero, como esperado. Concluíram também que a adesão ao
rastreio é comparável à dos indivíduos cisgénero.

Na pessoa MtF:

Pouco se sabe sobre o papel das hormonas sexuais na patogénese do cancro da mama em
indivíduos designados homens à nascença, embora já tenha sido relatado que condições que
cursam com aumento dos níveis de estrogénio (por exemplo, obesidade) estão associadas a
aumento do risco de cancro da mama nesta população (35). São vários os relatos de caso de
cancro da mama em mulheres transgénero que, tal como verificado na população feminina
cisgénero, são, na grande maioria, do tipo carcinoma ductal invasivo (36). Contudo, em termos
de expressão de recetores RE/RP, os resultados não são homogéneos, pelo que não é claro
o papel hormonal na patogénese deste tumor.

Novamente, a validade dos relatos de caso encontrados é parca, com descrições de cancros
da mama com tempos de THAG variáveis (6-40 anos), em idades avançadas (maioria com
mais de 50 anos). As formulações e doses de estrogénios usadas são variadas e o
antiandrogénio usado não é especificado muitas vezes, o que torna difícil concluírem-se
associações isoladas.

25
Assim, a exposição a estrogénios e a insuficiência androgénica não parece aumentar o risco
de cancro da mama nas mulheres transgénero, que têm riscos semelhantes ao do género
biológico, e incidências inferiores às das mulheres cisgénero. Contudo, alguns autores
recomendam a realização de mamografia anual quando está presente uma história de uso de
terapêutica hormonal por 5 anos ou mais, ou IMC superior a 35 ou história familiar oncológica
de cancro da mama, considerando estes elementos como fatores de risco acrescido (37).

Na pessoa FtM:

Está descrita uma taxa de incidência de cancro da mama de 20.4 por 100.000 pessoas/ano
em homens transgénero, inferior à de 154 por 100.000 pessoas/ano encontrada em mulheres
cisgénero, segundo Gooren et al (38). O risco de cancro da mama é semelhante ao dos
homens cisgénero (35). Acrescentam que o número de casos parece aumentar com o
envelhecimento e a duração de exposição hormonal. Os tumores da mama em indivíduos
transgénero surgem em idades médias inferiores às da população cisgénero. Sugerem ainda
precaução no uso de testosterona em transgéneros com história de cancro da mama com
RA+.

Os relatos de caso de cancro da mama nestes indivíduos acompanham-se, muitas vezes, de


antecedentes familiares da mesma patologia, em familiares diretos (mãe, irmã e até pai) e
idades jovens (<50 anos), conhecidos fatores de risco para o surgimento de tumor mamário.

Mesmo após mastectomia, há um risco associado de cancro da mama nos homens


transgénero se houver tecido mamário remanescente pós-cirurgia, pelo que se reveste de
importância a revisão da descrição e da técnica cirúrgica realizada (39). Chotai et al (40)
recomendam ainda a realização de RM da mama prévia às cirurgias mamárias nestes
indivíduos, muito devido aos vários diagnósticos acidentais de cancro da mama em relatórios
histológicos de mastectomias bilaterais realizadas em contexto de cirurgias de afirmação de
género, que não foram detetados previamente (41-43).

Homens transgénero não submetidos a cirurgia mamária/submetidos a mamoplastia redutora


devem realizar rastreio para o cancro da mama de acordo com as recomendações para as
mulheres cisgénero. Se submetidos a mastectomia total bilateral está recomendado que
realizem examinação anual da parede torácica e cadeias ganglionares axilares (37).

26
Cancro da próstata

A maioria da informação encontrada na pesquisa para esta revisão corresponde a relatos de


caso, explanados na Tabela 6.

De acordo com o estudo de coorte de Gooren et al (44), o risco de cancro da próstata em


mulheres transgénero é muito baixo. A maioria dos casos identificados são de tumores de
baixo grau e com baixo risco de progressão. Contudo, quando progridem, num ambiente de
privação androgénica, parecem associar-se a tumores de elevada agressividade.

Da mesma forma, a revisão de Bartoncelli et al (45) encontra uma incidência de cancro


prostático nas mulheres transgénero em THAG não negligenciável, ainda que inferior à dos
homens cisgénero da mesma idade. Mulheres transgénero que não fazem THAG e/ou não
submetidas a orquidectomia apresentam um risco de cancro da próstata sobreponível ao da
população cisgénero em geral.

A terapêutica feminizante com estrogénios é mantida após orquidectomia bilateral para


permitir, de forma continuada, a feminização corporal, havendo apenas lugar à
descontinuação dos antiandrogénios (11, 13, 44).

Mulheres transgénero submetidas a orquidectomia bilateral e sob THAG, continuam a


apresentar risco de desenvolverem cancro da próstata (11). Deste modo, a hipótese de o
crescimento tumoral ser estimulado pela administração de estrogénios exógenos sintéticos
não foi igualmente comprovada pelos dados atualmente disponíveis na literatura (44).

A não realização de prostatectomia na mulher transgénero associa-se sobretudo à tentativa


de redução de sequelas iatrogénicas cirúrgicas, como a incontinência urinária, pelo que não
é rotineiramente realizada no âmbito de procedimentos cirúrgicos de afirmação de género não
genitais (44). Por outro lado, também se considerava desnecessária com base na visão de
que a privação de androgénios funcionava como fator protetor no que toca a patologia
prostática, benigna e maligna, uma vez que estes estimulam o crescimento celular prostático.
Nesta linha, habitualmente não é feito rastreio de cancro da próstata por rotina,
nomeadamente recorrendo à medição do PSA ou toque retal, em parte relacionado com essa
crença. A falta de monitorização prostática rigorosa poderá explicar um subdiagnóstico nesta
população em particular. O que se verifica é que o valor de PSA se encontra aumentado na
maioria dos casos de cancro da próstata em mulheres transgénero (44), num ambiente de
privação androgénica, o que sugere que o tumor prostático nesta população é androgénio-
independente, um fenótipo que se associa a maior gravidade.

27
Assim, as recomendações apontam para que as mulheres transgénero realizem, anualmente,
avaliação prostática – toque retal e medição do PSA. Uma biópsia prostática deverá ser
considerada se se verificar elevação do PSA. No caso de serem previamente
orquidectomizadas, valores de PSA superiores a >1,0 ng/ml devem ser valorizados (36, 44).

Hiperprolactinemia e Prolactinoma

A ocorrência de hiperprolactinemia e de prolactinomas em indivíduos transgénero em THAG


está descrita na Tabela 7.

Zohar et al (21), num estudo de coorte retrospetivo, comparou a eficácia e segurança do uso
de acetato de ciproterona em baixas doses (10-20 mg/dia) versus em altas doses (50-100
mg/dia), em mulheres transgénero. Concluíram que as gonadotrofinas e testosterona séricas
são suprimidas a um nível semelhante com ambas as dosagens desta progestina, e que os
níveis de prolactina aumentam com ambas as doses, mas o aumento é superior no grupo com
as doses mais elevadas. Na mesma linha, verifica-se a redução e normalização dos níveis de
prolactina sérica no período pós-gonadectomia, a que se associa a suspensão do ACP e a
manutenção da dose de estrogénio pré-cirurgia (46). Já Defreyne et al (47) defende que será
o efeito progestagénico do ACP, e não o estradiol, o fator mais preponderante no
desenvolvimento de adenomas lactotrofos. Na comparação entre antiandrogénios, os dados
mostram que o aumento da prolactina sérica após um ano de THAG é substancialmente maior
quando é usado ACP, em vez de espironolactona, ultrapassando o limite superior dos valores
de referência (18).

Relativamente ao diagnóstico de hiperprolactinemia e de prolactinomas, os dados disponíveis


na literatura revista correspondem sobretudo a relatos de caso, em pessoas tratadas com a
combinação de estrogénios e de doses superiores de acetato de ciproterona, e cotratadas
com outros psicofármacos, sendo, de momento, imprudente estabelecer a sua causalidade.

Meningioma

Na literatura, a maioria dos artigos encontrados que relacionavam a THAG com o surgimento
de meningioma são relatos ou séries de casos. Em todos os casos, o tumor benigno foi
reportado em mulheres transgénero, com tempos de THAG que variavam entre os 3 a 25
anos. Altas doses de acetato de ciproterona (50-200 mg/dia) são relatadas na esmagadora

28
maioria dos casos de meningiomas nestas mulheres. Ainda que a validade e generalização
deste tipo de estudos seja substancialmente limitada, levantam potenciais associações entre
este tumor benigno e altas doses de antiandrogénio, modelando a prática clínica (36).
Também Weill et al (48) descrevem uma forte associação entre altas doses de ACP (definidas
como >50 mg/dia) e a ocorrência de meningioma. O mecanismo pelo qual o acetato de
ciproterona poderá contribuir para o surgimento e desenvolvimento deste tumor ainda não
está clarificado (36).

Uma análise imunohistoquímica deve ser realizada, para averiguar status de positividade para
recetores hormonais nestes tumores, segundo descrito na literatura (49). A maioria dos
resultados disponíveis revela positividade para o recetor da progesterona, com expressão
variável para o recetor dos estrogénios.

29
3) Implicações sob o potencial reprodutivo

Na Tabela 8 estão relatados os estudos que exploram o impacto da THAG feminizante no


testículo, e da masculinizante no útero e ovário, e o possível rebate na fertilidade.

A toda a pessoa transgénero em acompanhamento deverá ser fornecida informação acerca


da opção de preservação da fertilidade e referenciação da pessoa para o Centro de Procriação
Medicamente Assistida, se desejado, sendo que a sua realização idealmente será efetuada
antes do início da terapêutica hormonal (5, 50, 51).

Adicionalmente, deverá ser explicado que a THAG não substituirá as estratégias de


contraceção eficaz na pessoa com relações sexuais que podem resultar em gravidez não
planeada, bem como o possível impacto da mesma sobre o potencial reprodutivo quando
iniciada antes da preservação de gâmetas (2).

Crianças ou adolescentes que iniciem a terapêutica com análogos da GnRH num estádio
precoce de Tanner (estádio 2) e continuam a transição com hormonas sexuais, não alcançam
nem a espermatogénese nem a menarca e, portanto, não terão a oportunidade de
criopreservar gâmetas (2). Se, posteriormente, quiserem tentar a preservação da fertilidade
após início dos bloqueadores da puberdade, poderá demorar 6 ou mais meses até que o eixo
reprodutivo recupere de forma integral sendo este período variável entre as séries descritas.

Função testicular

Na literatura, a exposição a estrogénios tem sido descrita como potencial fator de risco para
desenvolvimento de tumores de células germinativas (52).

O risco de cancro testicular em mulheres transgénero, mesmo em THAG de longa duração, é


similar ao risco encontrado em homens cisgénero. Os casos de tumores testiculares
encontrados na literatura são descritos em mulheres transgénero com tempos curtos de
THAG (menos de 2,5 anos), e diversidade no que toca às estratégias hormonais, dificultando
ilações adicionais sobre esta relação potencial.

Schneider et al (53) compararam parâmetros hormonais e histologia testicular em mulheres


transgénero propostas para orquidectomia, divididas em 3 grupos: A- suspenderam a THAG
6 semanas antes da cirurgia, B- suspenderam 2 semanas antes da cirurgia; C- não
suspenderam. Concluíram que apenas as mulheres que não descontinuaram a terapêutica
(grupo C) apresentavam níveis hormonais sobreponíveis a valores de referência femininos (e

30
os valores inferiores de testosterona sérica e testosterona intratesticular). Destaca-se, no
entanto, que a supressão hormonal não se refletiu necessariamente na diferenciação de
células germinativas do ponto de vista histológico sendo que 48% das mulheres
apresentavam normal espermatogénese, incluindo, neste valor, participantes dos 3 grupos de
estudo.

Masterson et al (54) encontraram, em histologia de peças de orquidectomia de mulheres


transgénero em THAG, menor número de células de Leydig e maior grau de fibrose tecidular,
quando comparados com controlos cisgénero. Contudo, não encontraram diferenças no que
toca ao número de células germinativas ou na maturação germinativa.

Os estudos revistos apoiam a hipótese de que a supressão hormonal não se reflete


necessariamente na contagem, diferenciação e maturação de células germinativas, quando
comparados com a população cisgénero (53, 54). Há, contudo, um estudo prospetivo que
relata supressão completa da espermatogénese nestes indivíduos, quando se apresentam
com níveis séricos de testosterona <50 ng/dl pré-orquidectomia.

Embora não seja consensual, Schneider et al (51) recomendam monitorização da função


testicular, através da avaliação do peso testicular e do ejaculado de forma anual, a par da
avaliação analítica com doseamento de LH, FSH, testosterona, prolactina, estrogénio e SHBG
durante a THAG.

Função uterina/ovárica

- Útero

Descrevem-se taxas inferiores de realização de rastreio do cancro do colo do útero (citologia


cervical) na população transgénero, fator relacionado com desconforto associado a
experiências traumáticas prévias, ansiedade, não-conformidade com género afirmado e pelo
próprio impacto emocional e psicológico associado ao momento de avaliação e/ou
procedimento de recolha de amostra cervical (55, 56).

De acordo com Davis et al (56), 46% dos homens transgénero (idades entre os 23 e 37 anos)
nunca tinham realizado uma citologia cervical. O efeito androgénico sobre o trato genital, com
atrofia do tecido epitelial, resulta numa inserção do espéculo para citologia cervical que pode
ser desconfortável e associada a queixas álgicas (57).

31
Além do mencionado, homens transgénero apresentam uma maior prevalência de resultados
insatisfatórios nas amostras de citologia cervical devido a mudanças citomorfológicas (atrofia)
induzidas pela terapêutica androgénica, mudanças que se revelam consistentes com os
resultados de mulheres cisgénero com útero atrófico/pós-parto/pós-menopausa (57). A taxa
de HPV de alto risco foi similar à encontrada na população cisgénero (55-57).

Adkins et al (57) reportam uma taxa de resultados anormais da citologia - atipia de células
escamosas de significado indeterminado (ASC-US) e lesão escamosa intraepitelial de alto
grau (HSIL) – superior nos homens transgénero, comparando com as mulheres cisgénero.
Estes autores relacionam estes resultados com a dificuldade de interpretação pelo grau de
atrofia já mencionada. Já outros autores (55, 56, 58) não encontraram diferenças
significativas, reforçando a heterogeneidade apresentada nos estudos publicados.

Williams et al (58) relatam achados de metaplasia transicional (88%) e de células epiteliais


cervico-vaginais atróficas (82%) nos homens transgénero (versus 14% e 4%, respetivamente,
nas mulheres cisgénero). Também descrevem atrofia endometrial nas peças de histerectomia
dos homens transgénero submetidos a este procedimento.

Nos resultados que concernem a alterações uterinas, os estudos demonstram ainda glândulas
do estroma endometrial com variados graus de atividade, associadas a maior ou menor grau
de atrofia, avaliadas em peças de histerectomia.

Parecem não haver diferenças na taxa de resultados anómalos na citologia do colo do útero
em homens transgénero, comparando com as mulheres cisgénero. Há, contudo, dificuldades
na interpretação destes resultados, devido ao grau de atrofia já referido, pelo que se sugere
que os médicos patologistas estejam familiarizados com as alterações típicas de uma citologia
cervical de um homem transgénero em THAG, para que as alterações encontradas sejam
valorizadas de acordo com o contexto clínico.

- Ovário

Atualmente, debate-se o efeito da exposição androgénica na reserva ovárica.

Nos estudos revistos não se encontra associação entre a duração da terapêutica com
testosterona (desde 1,1 a 3 anos) e o número de folículos, idade e níveis hormonais,
nomeadamente de HAM – importante marcador de reserva ovárica - em homens transgénero
(59-61). Apenas um estudo (61) encontrou uma correlação inversa entre a idade dos
indivíduos e os níveis de HAM nesta população.

32
Minotti et al (62) não encontraram alterações dos valores da HAM após 1 ano de THAG e,
dado que o tratamento hormonal é parcialmente reversível, os autores sugerem que parece
ser possível recuperar a função ovárica em homens transgénero com longa exposição
androgénica. Da mesma forma, De Roo et al (60) descrevem, no seu estudo prospetivo com
40 homens transgénero, atividade folicular ovárica preservada, com uma normal distribuição
de folículos corticais, a maioria primordiais, que mantiveram características vitais. Amir et al
(63) concluem resultados semelhantes, acrescentando que não encontraram diferença na
taxa de maturação dos oócitos de homens transgénero após uma média de 6,4 anos sob
THAG, em comparação com mulheres cisgénero.

Na literatura, relata-se ainda maior frequência de folículos ováricos atróficos e císticos, nos
homens transgénero em THAG (59, 64).

Yaish et al (61) relatam que 4 homens transgénero, no seu estudo, conseguiram alcançar uma
gravidez evolutiva mesmo após uma média de 3 anos de THAG masculinizante, em que ¾
ocorreram de forma espontânea, após suspensão da testosterona.

Millington et al (65) sugerem a criação de um registo de tumores do sistema reprodutor na


população transgénero, de forma a reunir dados longitudinais de forma sistemática nesta
população.

De momento, tal como descrito anteriormente, os dados disponíveis são escassos para
associar a terapêutica masculinizante a condicionamento da reserva ovárica em homens
transgénero.

33
4) Complicações ósseas

- Adolescentes

Embora os análogos da GnRH tenham demonstrado ser seguros quando usados para o
tratamento da puberdade precoce, há preocupações sobre se o atraso da exposição a
hormonas sexuais (endógenas ou exógenas), num momento máximo de mineralização óssea,
pode conduzir à diminuição da aquisição de densidade mineral óssea (8).

No que concerne à mineralização óssea e ao uso de bloqueadores da puberdade, a literatura


demonstra diminuição da DMO e Z-score da DMO sobretudo da CL, mas também da AT e
TBLH (66, 67), com um aumento superior do BMAT nos jovens transgénero,
comparativamente aos cisgénero (68). Os MTO revelaram-se diminuídos nos jovens em
aGnRH, após tempos de terapêutica que variaram de 0,5 a 2 anos. De forma a compensar
esta diminuição, pode ser utilizada a suplementação com cálcio e vit. D, em doses
recomendadas para esta última de 1000-2000 IU/dia (66). Foi encontrado défice desta
vitamina em 30-55% dos jovens transgénero (66, 69). A prática regular de exercício físico é
também benéfica neste contexto e deverá ser recomendada.

- Adultos

Existem ainda algumas dúvidas sobre o cálculo da DMO na população transgénero,


nomeadamente sobre a utilização comparativa com o sexo ao nascimento ou com o género
afirmado, podendo esta indecisão gerar sub ou sobretratamento.

Após 1-2 anos de início da THAG com hormonas sexuais, os valores da DMO retornam aos
valores pré-aGnRH, espelhando uma recuperação com o início de terapêutica com esteroides
sexuais. Os valores de Z-score, apesar de também aumentarem, parecem manter-se, ainda
assim, abaixo dos valores pré bloqueio pubertário, indicando menor aquisição de densidade
mineral óssea (69).

Segundo Wiepjes et al (70), a THAG não acarreta efeitos negativos na DMO, não se
justificando a monitorização da mesma durante a terapêutica (apenas na presença de FR).
Os mesmos autores reportam, num outro estudo (71), um aumento da DMO média após 1
ano de THAG, tanto em mulheres como em homens transgénero. Descrevem efeito dose-
dependente dos estrogénios na DMO das mulheres transgénero, corroborado por Boogers et
al (72); e provável ação indireta dos estrogénios na diminuição da reabsorção óssea, por via

34
da sua aromatização a partir da testosterona, nos homens transgénero. Não existem ainda
dados sobre fraturas a longo prazo.

Em pessoas MtF:

Previamente ao início de esteroides sexuais, cerca de 12,9% - 21,9% das mulheres


transgénero apresentavam baixa DMO para a idade (Z-score ≤ - 2), percentagens superiores
às reportadas em mulheres cisgénero e homens transgénero. Encontraram ainda 14,2% com
valores compatíveis com osteoporose (Z-score ≤ -2,5). O risco de osteoporose parece ser
superior ao dos homens cisgénero, mas inferior ao das mulheres cisgénero.

O impacto deletério na densidade mineral óssea pode ocorrer mesmo com a suplementação
de estrogénios, e pensa-se que se deva ao efeito da terapêutica anti-androgénica
concomitante (51).

Nas mulheres transgénero verifica-se um aumento da DMO média, após início da THAG,
correlacionado com os níveis séricos de estradiol. O tipo de THAG e o tempo de terapêutica
não têm impacto significativo na DMO, segundo Chrisostomo et al (73). Os valores de Z-score,
sobretudo da CL e F, após o início da terapêutica feminizante, aumentam substancialmente
em toda a literatura revista do tema, mas em alguns estudos ainda se mostram inferiores aos
das mulheres cisgénero (73) ou não alcançaram os níveis pré terapêutica bloqueadora da
puberdade (8, 9).

Mulheres transgénero que tenham sido submetidas a orquidectomia bilateral estão numa
situação hormonal idêntica a mulheres cisgénero em menopausa cirúrgica (11). A terapêutica
feminizante com estrogénios é mantida após orquidectomia bilateral para permitir, de forma
continuada, não só a feminização corporal, mas também o controlo de consequências
inerentes à privação de hormonas sexuais sobre a saúde óssea (44).

Em pessoas FtM:

Em apenas 4,3% dos homens transgénero se reporta baixa DMO para a idade, pré-THAG.

Nos homens transgénero também se verifica aumento da DMO média após início da
terapêutica masculinizante, sobretudo ao nível da CL e AT. O aumento é mais marcado nos
indivíduos com níveis séricos de estradiol mais altos, como descrevem Wiepjes et al (71), e
ainda nos suplementados com vit.D. Estudos ao fim de 1 ano de THAG relatam aumento do
turnover ósseo, contudo, sem efeitos deletérios na saúde óssea (74).

35
Na mesma linha, verifica-se aumento dos valores de Z-score, que parecem alcançar os níveis
pré-aGnRH (8), ajudado pelo facto de que, noutro estudo, os scores são similares aos
encontrados em homens cisgénero. Stoffers et al (69), contudo, reportam resultados
discordantes, com os valores a manterem-se inferiores aos encontrados previamente ao uso
de aGnRH, sendo o maior impacto ao nível da CL.

A International Society for Clinical Densitometry (ISCD) (75) esclarece o seu posicionamento
relativo à monitorização da mineralização óssea em indivíduos transgénero em THAG:

Recomendam a medição inicial da DMO em indivíduos transgénero se:

1. História de gonadectomia prévia à THAG;


2. Hipogonadismo sem intenção de iniciar THAG;
3. Indicações específicas para fatores de risco particulares como o uso de
glucocorticóides, ou presença de hiperparatiroidismo.

Medições da DMO para seguimento e monitorização devem existir se:

1. Indivíduo com baixa DMO;


2. Tratamento com supressores da puberdade, em exemplo, aGnRH;
3. Uso de doses de THAG superiores às recomendadas;
4. Presença de fatores de risco para perda de DMO ou para fraturas de fragilidade;

A frequência de medições deve ser individualizada a cada pessoa transgénero. A


recomendação é a cada 1-2 anos, até DMO estável/melhorada.

Para o cálculo dos T e Z-scores:

1. T score deve ser calculado de acordo com as recomendações para o sexo feminino;
2. Z score deve ser calculado de acordo com as recomendações para a identidade de
género do individuo;

36
5) Implicações psiquiátricas

No estudo de Denby et al (16), que incluiu 427 indivíduos transgénero (média de 31 anos) que
pretendiam iniciar terapêutica hormonal de afirmação de género (72 homens, 40,2%, e 236
mulheres, 55,1%), 242 participantes (56,5%) apresentavam pelo menos uma comorbilidade
associada à saúde mental. Estima-se que a taxa de depressão e ansiedade é cerca de 4 e 2
vezes superior nesta população, respetivamente, comparativamente à população cisgénero.

Já no estudo prospetivo de Colizzi et al (76), foram comparadas as comorbilidades


psiquiátricas presentes em 107 indivíduos transgénero (média de 29 anos, 78 mulheres, 73%,
e 29 homens, 27%) antes e após início da intervenção hormonal de afirmação de género.
Após 12 meses de THAG os participantes reportam menos ansiedade, depressão, sintomas
psicopatológicos e impacto favorável do ponto de vista funcional.

Kennis et al (7) corroboram estes resultados, através de um questionário realizado a 197


indivíduos transgénero. Os participantes cujo desejo de tratamento ainda não foi cumprido,
ou apenas parcialmente cumprido, apresentam menores níveis de satisfação com a vida em
geral e de satisfação sexual, e mais ansiedade e preocupações com a imagem corporal. Já
aqueles sob THAG apresentam melhorias significativas na sua saúde mental e sexual.

No que concerne à supressão pubertária em adolescentes, os dados disponíveis, embora


escassos, apontam para um impacto favorável sobre os outcomes psiquiátricos, resultando
na diminuição marcada da disforia de género, de acordo com Rosenthal et al (3).

O estudo de Gorin-Lazard et al (77) avaliou o impacto da intervenção hormonal na qualidade


de vida, autoestima e satisfação com imagem corporal em 49 indivíduos transgénero. Após 1
ano de THAG, reportam um impacto positivo em todos os parâmetros, e ainda uma diminuição
de sintomas depressivos severos. Quando comparados com transgéneros que não iniciaram
a THAG, também se descrevem melhores resultados nos mesmos critérios. Resultados
semelhantes são reportados por Fisher et al (78), que acompanharam 54 indivíduos
transgénero por um período de 2 anos, comparando parâmetros de saúde mental neste
intervalo de tempo, com os relatados previamente ao início da THAG. As pessoas transgénero
apresentaram níveis significativamente mais baixos de disforia de género, sintomas
depressivos e desconforto com a imagem corporal. Especificando as alterações corporais
induzidas pela THAG, o desenvolvimento mamário nas mulheres transgénero e o aumento do
IMC nos homens transgénero foram os parâmetros com mais impacto na redução da
sintomatologia psicopatológica ao longo do tempo de acompanhamento.

37
Uma revisão da literatura de Nguyen et al (79) avaliou estudos transversais e longitudinais de
2013 a 2018 sobre THAG e o seu efeito no humor, cognição e comportamento. Os resultados
mostram que 100% dos estudos sobre depressão reportam diminuição da sintomatologia
depressiva nos homens e mulheres transgénero em THAG. No que concerne a ansiedade e
stress, os estudos mostram uma redução dos sintomas de ansiedade nos adultos transgénero
de meia-idade e mais idosos (mais de 50 anos). Reportam também reduções marcadas de
desconforto e stress associados à disforia de género, bem como de astenia, depressão,
histeria e paranoia. Também um impacto positivo no stress percecionado e menos problemas
de socialização e de funcionamento interpessoal, foram descritos.

Outros autores descrevem diminuição do comprometimento funcional global e da hostilidade


após início de THAG, tanto em homens como mulheres transgénero (77, 80).

Em contraste, um estudo de Gooren et al (81) mostrou que indivíduos transgénero em THAG


obtiveram piores resultados em termos de saúde mental e vitalidade comparativamente aos
que não fazem uso de hormonas, especialmente nos homens transgénero. Contudo, este foi
o primeiro estudo realizado no sudeste asiático (Tailândia), onde o acesso a THAG é
parcamente supervisionado e acompanhado. Além disso, os transgéneros em THAG
reportaram também maiores dificuldades de aceitação e reconhecimento do seu género
afirmado no seu seio familiar, do que aqueles sem intervenção hormonal.

Nguyen et al (79) encontraram algumas disparidades a nível do funcionamento emocional.


Alguns estudos indicam que a testosterona está associada a melhoria dos outcomes de saúde
mental no que toca a gestão da raiva, enquanto outro reportou uma expressão aumentada de
comportamentos de raiva, após 7 meses de uso continuado de testosterona, em homens
transgénero.

38
DISCUSSÃO

À medida que a prática da THAG se torna mais difundida, é essencial clarificar, identificar e
mitigar as potenciais complicações associadas a esta terapêutica.

Uma das principais áreas de preocupação são as complicações cardiovasculares. A nossa


revisão da literatura revelou que as pessoas transgénero apresentam um risco aumentado de
doenças cardiovasculares, mesmo previamente ao início da THAG. Fatores como tabagismo,
obesidade e morbilidades psiquiátricas contribuem para esse risco elevado, que é exacerbado
pela terapia hormonal. É crucial que os profissionais de saúde estejam cientes desse risco
aumentado e ofereçam intervenções preventivas e de monitorização adequadas para
minimizar o impacto negativo na saúde cardiovascular destes indivíduos. Além disso, as
alterações no perfil lipídico são uma preocupação significativa. Observámos que a THAG pode
acarretar impacto negativo ao nível do colesterol HDL, LDL e triglicerídeos, especialmente em
mulheres transgénero. Este impacto deletério também está dependente da formulação
galénica de estradiol utilizado, sendo sobretudo associado à formulação oral. Aos fatores já
mencionados, associa-se ainda um aumento do perfil tensional nos homens transgénero.

Outra complicação importante é o aumento do risco trombótico. Parece haver associação


entre a THAG feminizante e um maior risco de eventos tromboembólicos, como trombose
venosa profunda e tromboembolia pulmonar. Este risco parece ser dose-dependente e
variável de acordo com a via de administração hormonal. Não há, contudo, repercussão sobre
a mortalidade, atendendo aos dados atualmente disponíveis. Já nos homens transgénero, na
presença de eritrocitose, deverá enfatizar-se a necessidade de revisão do esquema
terapêutico em curso (redução da dose , espaçamento da administração de toma
intramuscular ou alteração para formulação transdérmica), de modo a minimizar o risco de
ocorrência deste evento que constitui uma das complicações comummente reportadas.

Com o avanço do conhecimento sobre esquemas terapêuticos de afirmação de género mais


adequados, têm sido eliminados os principais agentes potencialmente causadores destes
eventos, nomeadamente reduzindo o uso de estrogénios sintéticos e privilegiando as
formulações bioidênticas. É imperativo que os profissionais de saúde estejam vigilantes para
sinais e sintomas de eventos tromboembólicos e considerem estratégias de prevenção, como
o uso de formulações transdérmicas e avaliação individualizada do risco.

Quanto ao risco de neoplasias, relativamente ao cancro da mama, esta revisão descreve


vários relatos e séries de casos que, embora de pouca validade e robustez científica,

39
promovem uma reflexão clínica sobre o tema. Para mulheres transgénero, os estudos revistos
indicam que a exposição a estrogénios e a insuficiência androgénica não parecem aumentar
significativamente o risco de cancro da mama. Por outro lado, os homens transgénero, apesar
de apresentarem incidências inferiores às das mulheres cisgénero, possuem risco de cancro
da mama, mesmo após mastectomia bilateral total, que parece aumentar a par da exposição
hormonal e a idade.

A literatura publicada não encontra um aumento significativo do risco de cancro nestes


indivíduos em comparação com controlos cisgénero. Ainda assim, é importante reconhecer
que a determinação do risco de cancro da mama é crucial, especialmente para aqueles que
consideram cirurgia mamária. As recomendações quanto ao rastreio variam, com a maioria
dos autores a concordar que este deve ser feito de acordo com as recomendações para o
sexo ao nascimento do individuo. É essencial considerar também fatores de risco individuais,
como história pessoal e familiar.

Quanto à patologia prostática, no que diz respeito ao cancro da próstata, os estudos indicam
que o risco em mulheres transgénero é baixo, mas ainda presente, mesmo após
orquidectomia bilateral. A terapia feminizante com estrogénios é mantida após gonadectomia
para permitir a feminização corporal contínua, mas é importante reconhecer que a patologia
tumoral se pode desenvolver mesmo num ambiente de privação androgénica (fenótipos que
podem estar associados a maior gravidade), e que os dados atualmente disponíveis não
comprovam a hipótese de que o crescimento tumoral é estimulado pelos estrogénios
exógenos. Assim, deverá ser realizada monitorização prostática de rotina (PSA e toque retal),
de forma anual, para evitar subdiagnóstico e para que casos positivos sejam detetados
precocemente.

É reconhecido o aumento de risco de hiperprolactinemia nas mulheres transgénero, sobretudo


naquelas tratadas com dose superior e formulações particulares de estradiol e acetato de
ciproterona, mas será difícil estabelecer um efeito isolado da terapêutica antiandrogénica,
atendendo ao facto da maioria estar sob terapêutica combinada. Já no que concerne ao
surgimento de meningiomas, apesar dos poucos casos reportados, a literatura mais recente
demonstra que se trata de uma complicação para a qual os profissionais de saúde que
acompanham as pessoas transgénero devem estar atentos e, de novo, possivelmente
relacionada com altas doses de acetato de ciproterona. No entanto, o ajuste das
recomendações atuais, de modo a baixar as doses utilizadas de acetato de ciproterona na
terapêutica feminizante, espelham a necessidade de monitorização continuada do tema,
mantendo-se a recomendação de vigilância anual dos níveis de prolactina sérica, assim como

40
vigilância clínica durante as consultas de seguimento: atenção para o surgimento de cefaleias
intensas, alterações visuais, do equilíbrio ou outras alterações do SNC, a relacionar em
contexto da dose de antiandrogénio em uso e do tempo em THAG.

Assim, ainda que teoricamente plausível, não se encontraram até então conclusões robustas
em estudos prospetivos e de duração suficiente que sugiram que a THAG aumente o risco de
desenvolvimento de tumores hormono-dependentes. Até que seja encontrada evidência mais
sustentada, o uso da menor dose efetiva de THAG para induzir masculinização ou feminização
parece ser a abordagem mais razoável.

Quanto ao risco de cancro testicular nas mulheres transgénero em THAG, este é semelhante
ao encontrado em homens cisgénero. Apesar de reportadas alterações de fibrose tecidular
em exames histológicos testiculares, a supressão hormonal não parece afetar
significativamente a contagem, diferenciação e maturação das células germinativas. Assim,
os dados disponíveis atualmente não apoiam a hipótese do efeito carcinogénico da exposição
a estrogénios.

No que diz respeito à função uterina, a literatura revista demonstra que mudanças
citomorfológicas, nomeadamente de metaplasia transicional e de atrofia, causadas pela
terapia androgénica, podem impactar a análise de resultados de citologia cervical. Esta
dificuldade de interpretação implica que os médicos patologistas estejam familiarizados com
as alterações típicas observadas em homens transgénero em THAG, para que sejam
avaliadas de forma adequada. Os resultados não são suficientes para associar a THAG
masculinizante a alterações significativas a nível uterino, ou a impacto na fertilidade a este
nível.

Focando no potencial reprodutivo, os estudos publicados não encontram associação entre a


duração da terapêutica androgénica, e o número de folículos, níveis hormonais de HAM e
idade do homem transgénero. Quanto à reserva ovárica, a terapia masculinizante não parece
ter um impacto significativo neste parâmetro. Descreve-se atividade folicular ovárica
preservada, sem alterações na taxa de maturação oocitária, mesmo na presença de maior
frequência de folículos atróficos e císticos nestes indivíduos, comparativamente a mulheres
cisgénero. Até ao momento, os dados são escassos para associar a THAG masculinizante a
condicionamento da reserva ovárica em homens transgénero. É importante notar que ainda
há lacunas significativas na compreensão dos efeitos a longo prazo da THAG no potencial
reprodutivo de indivíduos transgénero.

41
A preservação da fertilidade é também uma consideração importante. As pessoas transgénero
devem ter a oportunidade de discutir e, se desejado, ter acesso a meios de preservação da
fertilidade, idealmente antes do início da THAG.

O uso de bloqueadores da puberdade (aGnRH) acompanha-se de uma diminuição da


aquisição de massa mineral óssea. Os estudos indicam também uma alta prevalência de
défice de vitamina D nos adolescentes transgénero, pelo que se recomenda a suplementação
nesta faixa etária. De acordo com a literatura revista, após 1-2 anos de THAG com esteroides
sexuais, descreve-se um aumento considerável dos valores de DMO, alcançando valores pré
bloqueio da puberdade. No entanto, os valores de Z-score parecem permanecer, ainda assim,
abaixo desses valores iniciais, principalmente nas mulheres transgénero, indicando menor
aquisição de densidade mineral óssea. Em homens transgénero, o aumento dos valores de
Z-score parece relacionar-se, de forma direta, com níveis séricos de estrogénio mais altos,
uma conclusão congruente com a hipótese de que os estrogénios diminuem o turnover ósseo,
com consequente aumento da densidade óssea. O tipo de THAG e o tempo de terapêutica
não mostraram impacto significativo na DMO, para nenhum dos géneros.

O efeito a nível ósseo é, portanto, ainda alvo de discussão. De um modo geral, a terapêutica
com estrogénios e antiandrogénios pode ser considerada segura a este nível, não havendo
ainda dados de como será afetada esta população após a sua suspensão, posteriormente à
realização de gonadectomia. De acordo com os dados existentes disponíveis, a DMO nos
homens cisgénero em THAG está dentro dos valores normais para o género pretendido, e
podemos considerar a terapêutica segura a nível ósseo. A interpretação e valorização dos
scores nesta população necessitam ainda de estudos adicionais.

Relativamente à saúde mental, os indivíduos transgénero apresentam de forma frequente


comorbilidades associadas à saúde mental, instaladas previamente à procura/início da THAG.
Recorrentemente, este facto prende-se com a fraca competência e literacia dos profissionais
de saúde para a saúde transgénero, e com a discriminação e recusa de cuidados que muitas
vezes estas minorias de género são alvo. Os dados revistos da literatura são, na sua maioria,
estudos com foco em questionários de sintomatologia pré e pós início de THAG, e apontam
para um impacto favorável ao longo do tempo de seguimento. Reportam-se melhorias
significativas da qualidade de vida, satisfação com a imagem corporal e autoestima nas
pessoas transgénero. Os sintomas depressivos, de ansiedade e stress, comorbilidades
frequentes, são fortemente aliviados, quando comparados com o período pré-THAG. O
impacto da terapêutica hormonal passa também por melhorias significativas na satisfação
sexual. O funcionamento interpessoal global é melhorado, com menos problemas de

42
socialização relatados. Estas conclusões parecem justificar-se pela congruência entre
características corporais e identidade de género pretendida que a THAG consegue
proporcionar. Como uma intervenção precoce, a THAG poderá ser considerada uma ação
terapêutica que aumenta o bem-estar dos indivíduos e melhora a sua saúde mental e sexual,
aliviando a disforia de género.

43
CONCLUSÃO

Essa revisão destaca as complexidades e desafios associados à THAG e ressalta a


importância de uma abordagem multidisciplinar e individualizada para garantir a segurança e
eficácia da terapêutica.

As recomendações atuais no âmbito da terapêutica oferecida a pessoas transgénero


baseiam-se na melhor evidência disponível, muito à custa de confiança na opinião de
especialistas no tema, atendendo à reconhecida escassez de trabalhos publicados com
robustez metodológica nesta área.

O risco de eventos tromboembólicos na terapêutica com estrogénios é o efeito mais


destacado na literatura, e parece ser dose-dependente e variável de acordo com a via de
administração hormonal. O risco de eritrocitose na terapêutica com testosterona, e o
surgimento de hiperprolactinemia e de meningiomas com altas doses do antiandrogénio
acetato de ciproterona, são também descritos na evidência mais recente. Os resultados não
demonstram aumento do risco de desenvolvimento de neoplasias hormono-dependentes ou
impacto significativo no potencial reprodutivo dos indivíduos transgénero, mas destacam-se
lacunas na compreensão dos efeitos a longo prazo. A THAG é também considerada segura
a nível ósseo. Por fim, o impacto na saúde mental, sexual e qualidade de vida dos indivíduos
é globalmente positivo.

Por tudo isto, conclui-se que a terapêutica hormonal de afirmação de género tem um bom
perfil de segurança que, de acordo com a literatura, se mantém a curto e médio prazo.

A área da medicina transgénero reveste-se de atualidade e está em constante evolução, pelo


que se destaca uma necessidade de estudos prospetivos longitudinais, bem como um registo
estruturado das complicações desenvolvidas ao longo do tempo de seguimento, de forma a
melhor entender os efeitos a longo prazo das terapêuticas instituídas, com vista à otimização
das estratégias de saúde oferecidas e um maior controlo de fatores de risco pré-existentes.

44
ANEXOS

Anexo I.
Tabela 4. Pesquisas realizadas numa segunda fase, e respetivos termos chave.
Complicação Pesquisa Pubmed Data Resultados
Prolactinoma AND (prolactin*) 16/01/2024 27
Meningioma AND (meningioma) 16/01/2024 10
Cancro da mama AND (breast cancer[title]) 23/01/2024 43
Cancro da próstata AND (prostate cancer[title]) 23/01/2024 23
Osso AND (bone[title]) 23/01/2024 47
Sob a fertilidade:
- Útero AND ((uterus[title]) OR (cervical[title])) 23/01/2024 40
- Ovário AND ((ovary[title]) OR (ovarian[title])) 23/01/2024 39
- Testículo AND ((testicle[title]) OR (testicular[title])) 23/01/2024 14
Patologia trombótica AND (thromb*[title]) 23/01/2024 30

Nota: Todas as pesquisas se iniciam com “(transgend*[tiab] OR "transsex*"[tiab] OR "two


spirit"[tiab])” e é-lhes adicionado aquilo que é referido neste anexo. Da mesma forma, os filtros
aplicados a todas as pesquisas foram: pesquisa restringida aos últimos 10 anos de publicação
de artigos sobre a temática e às línguas inglesa, espanhola e portuguesa. Foram excluídos
preprints e estudos não realizados em humanos.

45
Anexo II.
Tabela 5. Implicações a nível cardiovascular associadas à THAG.

Ano Autor Tipo de Período de População Idade/ THAG Anti Tempo de Resultados do estudo
estudo observação em estudo Idade androgénios THAG
Média (anos)
(anos)

PERFIL LIPÍDICO

2014 Khatchadourian Coorte Janeiro 1998 a 84 jovens Total: 16,6 27 (32%) - aGnRH MtF: aGnRH: 1 Alterações associadas aos aGnRH:
et al (82) retrospetivo dezembro de transgénero: não especificado: Espironolactona MtF: 1 (9%) labilidade emocional.
2011 37 MtF (44%) MtF: 16,8 - FtM: 15 (56%) (25, 68%) Hormonas FtM: 1 (7%) abcesso estéril; 1 (7%)
45 FtM (54%) FtM: 16,4 - MtF: 11 (41%) sexuais: não cefaleias e mialgias; 1 (7%) com
2 homens cis - Homem cis: 1 (3%) referido ganho ponderal (19 kg em 9 meses).
(2%)
63 (75%) - Alterações associadas às hormonas
hormonas sexuais sexuais exógenas:
- MtF: 24/37 (65%), MtF: Não reportam alterações.
17ß-estradiol oral FtM: 12 (37%): 7 acne severo, 1
- FtM: 39/45 (87%), alopecia androgénica de início
Enantato/Cipionato precoce, 3 dislipidemia leve, 1
de testosterona IM labilidade emocional.

2017 Ciccone et al Coorte Janeiro a 56 indivíduos Não referido Não referido Não referido Não referido Risco cardiovascular aumentado em
(19) observacional junho de 2014 transgénero indivíduos sujeitos a gonadectomia,
Grupo 1: THAG comparativamente aqueles apenas
e gonadectomia em THAG.
(6 FtM e 13 MtF) Expresso pela diminuição da DMF da
Grupo 2: apenas artéria braquial (disfunção endotelial)
THAG (16 FtM e e pelo aumento da EIM da artéria
21 MtF) carótida interna (disfunção
morfológica).
A produção endógena de hormonas
sexuais pelas gónadas pode
representar uma proteção para o
sistema cardiovascular.

46
2020 Klaver et al (83) Coorte 1998 a 192 jovens 15-22 aGnRH não Não referido aGnRH Maior prevalência de obesidade e
retrospetivo dezembro de transgénero: especificado SC MtF: 2,1 dislipidemia em mulheres e homens
2015 71 MtF (37%) 3,75 mg 4/4sem FtM: 1 transgénero, em comparação com
121 FtM (63%) população cisgénero.
MtF: 17ß-estradiol Hormonas
oral 5 µg/kg/dia, sexuais MtF: aumento da resistência à
com aumento MtF: 2,2 insulina, maior IMC, melhor perfil
gradual até 2 mg/dia FtM: 2,9 lipídico, com exceção de valores
mais baixos de colesterol HDL
FtM: Ésteres de FtM: valores mais elevados de
testosterona IM 25 colesterol HDL, maior IMC.
mg/m2 2/2sem, com
aumento gradual até .
250 mg 4/4sem

2018 Olson-Kennedy Coorte Fevereiro 58 jovens 18 MtF: MtF: 2 Após 2 anos de THAG:
et al (84) prospetivo 2011 a junho transgénero: 17ß-estradiol oral 1- Espironolactona
2013 23 MtF (40%) 6 mg/dia ou IM 20- oral 100-200 MtF: Aumento estatisticamente
35 FtM (60%)
30 mg 2/2sem mg/dia ou significativo do colesterol HDL, K+.
aGnRH; Diminuição estatisticamente
FtM: Alguns: significativa da AST/TGO e
Cipionato de Progestina não hemoglobina.
testosterona SC especificada Contudo, nenhuma alteração
doses crescentes clinicamente significativa.
12,5 mg até 75 FtM: aGnRH
mg/sem FtM: Aumento estatisticamente
significativo da pressão arterial, TG,
K+, Hb, ALT/TGP.
Diminuição estatisticamente
significativa da AST/TGO e colesterol
HDL.
Contudo, apenas com significado
clínico o aumento da pressão arterial
e a diminuição do colesterol HDL.

2016 Fung et al (18) Retrospetivo Janeiro 2011 a 113 MtF 34,4 Grupo 1 e 2:: Grupo 1: 1 Comparação níveis de colesterol
junho 2015 Grupo 1: 82 Estradiol oral (63%) Espironolactona HDL pré-THAG versus 12 meses em
(73%) ou transdérmico oral, dose média THAG:
Grupo 2: 31
(15%), ou sem 181 mg/dia
(27%)
terapêutica Grupo 1: aumento de 0.10 mmol/l
estrogénica (2%) Grupo 2: (aumento de 8%)
Acetato de

47
ciproterona oral, Grupo 2: diminuição de 0,07 mmol/l
dose média 31 (diminuição de 5,6%)
mg/dia
Sem diferenças significativas entre a
espironolactona e o ACP, a nível do
colesterol total, LDL e TG.

Sem registo de eventos adversos


(TV, EAM, AVC, fraturas ou episódio
psiquiátrico a requerer
hospitalização).

2019 Stoffers et al Retrospetivo Novembro 62 FtM Idade início Triptorrelina SC 3,75 N/A aGnRH: Após 6 meses de THAG:
(69) 2010 a agosto aGnRH: mg 4/4sem média de Aumento significativo do IMC, PA
2018 16,5 0,7 (pelo sistólica, Hb, Ht e PRL.
Idade início A partir dos 16 anos: menos 0,5) Diminuição significativa do HDL.
testosterona Ésteres de
: 17,2 testosterona IM 25 Testosteron LDL, TG, TGO e TGP sem
mg/m2 2/2sem, com a: média de alterações.
aumento gradual de 1
6/6 meses até dose
125 mg 2/2sem

RISCO TROMBOEMBÓLICO

2018 Stanley et al Relato de N/A 1 rapaz 17 Há 4 meses: N/A Testosteron FR: Obeso e fumador.
(85) caso transgénero Cipionato de a: 0,3 (4 Dispneia aguda e dor pleurítica à
testosterona IM 25 meses) esquerda - diagnóstico de TEP.
mg/sem
Etinilestradio
Etinilestradiol oral l: 1
(controlo da
menstruação)

2019 Kwan et al (86) Relato de N/A 1 mulher 57 17ß-estradiol oral Espironolactona 10 FR: HTA, dislipidemia, fumadora,
caso transgénero resistência à insulina.
Diagnóstico de AVC isquémico.

48
2016 Arnold et al (87) Retrospetivo Janeiro 2008 676 MtF 33.2 17ß-estradiol oral Espironolactona Média de Registam 1 TVP (0,15%) – THAG
a março 2016 (94%) 1,9 com estradiol 4 mg/dia e
Finasterida espironolactona 200 mg/dia. O caso
(17%) detetado tem HP de TEP após 2 anos
Acetato de de THAG; e IMC de 37 kg/m2.
medroxiprogeste
rona (0,4%) Uma incidência de 7,8 eventos por
10.000 pessoas/ano de seguimento.

2019 LaHue et al (88) Retrospetivo Outubro 2010 8 MtF 50 (38-61) 17ß-estradiol: Não referido Não referido AVC isquémico: 4 (50%), AVC
a agosto 2017 - Oral 1 (13%) hemorrágico: 3 (37.5%)
- IM 2 (25%) AIT: 1 (13%)
Estrogénios
conjugados: 1 (13%) Comorbilidades: AVC ou AIT prévio
(2, 25%); Hepatite C (5, 63%); HIV (3,
38%); HTA (7, 88%); diabetes
mellitus (2, 25%).

2021 Mullins et al Coorte Julho 2013 a 611 indivíduos 17 MtF: 17ß-estradiol Não referido 1,6 FR: 16% com uso de tabaco, 8% com
(12) Retrospetivo março 2019 transgénero: oral (90%), IM ou HF de trombose, 59% com excesso
176 MtF (29%) transdérmico, em de peso ou obesidade, 5% com HP
416 FtM (68%) dose média de 4 de enxaqueca em aura, 0.5% com
mg/dia HP de evento trombótico. 2
indivíduos fazem,
FtM: Testosterona concomitantemente, profilaxia
SC (73%), IM ou trombótica com rivaroxabano.
transdérmica, em
dose média de 70 Níveis séricos das hormonas com
mg/dia doseamentos seriados para se
manterem em intervalo fisiológico.
Não se relata ocorrência de TEV ou
AIT/AVC nos participantes em
THAG.

2020 Fan et al (32) Relato de N/A 1 rapaz 17 Cipionato de Leuprolide IM Testosteron FR: obesidade
caso transgénero testosterona IM 40 3/3 meses a: 0,75 (9 Dor torácica súbita à esquerda,
mg 2/2 semanas; há meses) sudorese e fraqueza - diagnóstico de
3 meses na dose de TEP.
80 mg 2x/sem Leuprolide:
1,5

49
2017 Chan et al (26) Relato de N/A 1 mulher 44 Estradiol IM 25 mg Progesterona 15 Dor e edema da perna esquerda. 16h
caso transgénero 1x/sem oral 200 mg/dia de imobilidade por viagem de avião -
diagnóstico de TVP.
Orquidectomizada há 15 anos.

2020 Bell et al (89) Relato de N/A 1 mulher 67 Etinilestradiol por 5 Espironolactona 26 FR: obesidade e tabagismo.
caso transgénero anos 200 mg 2id Dor na perna esquerda de início
Depois, Estradiol súbito, associada a rubor e edema -
transdérmico 0,2 diagnóstico de TVP.
mg/24h
Há 6 meses a fazer
Etinilestradiol 0,02
mg/dia

2021 Kozato et al Coorte Novembro 662 MtF Não referido MtF: Estrogénio oral Espironolactona 7 MtF que suspenderam THAG 1
(90) retrospetivo 2015 a agosto 5 mg/dia (52%), (71%) semana antes da cirurgia:
2019 injetável 54 mg/mês Progesterona 1 evento detetado: TEV em pós-
(32%), transdérmico (19%) operatório de vaginoplastia primária,
(5%), combinações em mulher transgénero, 37 anos,
(10%) obesa, em THAG por via parentérica
por 6 anos.

MtF que não suspenderam THAG


antes da cirurgia:
0 eventos reportados.

O risco de TEV no peri-operatório de


cirurgias de redesignação de género
não foi significativo, quer a THAG
tenha sido suspensa ou não
previamente à cirurgia.
Risco comparável ao encontrado em
pacientes cisgénero submetidos a
cirurgias com grau semelhante de
invasão.

2021 Oakes et al (30) Retrospetivo Não referido 519 FtM 29 Cipionato de N/A 3 a 17 8% com Hb >17,5 g/l, 20% com Ht
testosterona IM >50%.
(90%) 5 eventos tromboembólicos
detetados (0,9%), em que 4/5
apresentaram eritrocitose em algum

50
momento do seu percurso com
THAG.

2023 Kambayashi et Relato de N/A 1 mulher 52 Estrogénios Progesterona 8 Dor abdominal súbita referida aos
al (91) caso transgénero conjugados oral 5 100 mg/dia quadrantes direitos e sensação de
mg/dia perna direita fria - diagnóstico de
Etinilestradiol 0,1 trombose arterial (artérias aorta,
mg/dia ilíaca comum, poplítea e pulmonar).
2 dias depois, com enfarte da artéria
esplénica. Inicia varfarina.

Legenda: %: por cento, /sem: por semana, µg: microgramas, ACP: acetato de ciproterona, aGnRH: análogos da hormona libertadora de gonadotrofina, AIT:
acidente isquémico transitório, ALT/TGP: alanina aminotransferase, AST/TGO: aspartato aminotransferase, AVC: acidente vascular cerebral, DMF: dilatação
mediada por fluxo, EAM: enfarte agudo do miocárdio, EIM: espessura da íntima média, FR: fatores de risco, FtM: homem transgénero, g: grama, h: hora, Hb:
hemoglobina, HDL: high-density lipoproteins, HF: história familiar, HIV: Vírus da Imunodeficiência Humana, HP: história pessoal, Ht: hematócrito, HTA: hipertensão
arterial, id: vezes por dia, IM: intramuscular, K+: potássio, kg: quilogramas, l: litro, LDL: low-density lipoproteins, mmol: milimol, m2: metro quadrado, mg:
miligrama, MtF: mulher transgénero, N/A: não aplicável, SC: subcutâneo, TEP: tromboembolia pulmonar, TEV: tromboembolismo venoso, TG: triglicerídeos,
THAG: terapêutica hormonal de afirmação de género, TV: trombose venosa, TVP: trombose venosa profunda.

51
Tabela 6. Alterações oncológicas associadas à THAG em pessoas transgénero, a nível da mama e da próstata.

Ano Autor Tipo de Período de População em Idade/ THAG Anti Tempo de Resultados do estudo
estudo observação estudo Idade androgénios THAG
Média (anos)
(anos)

MAMA

2014 Maglione Série de N/A 1 mulher 65 Estrogénios Não referido 13 Carcinoma ductal in situ da mama
et al (92) casos transgénero conjugados orais 2,5 (RE+, RP+)
mg/dia

1 mulher 55 Estrogénios Não referido 30 Carcinoma ductal invasivo da mama


transgénero conjugados orais e (RE-, RP-, HER2+)
Valerato de estradiol
IM 20 µg/mês

2013 Gooren et Coorte 1975 a 2011 3102 MtF: 16-83 Variadas Não referido <5 - >30 MtF: 1 caso de carcinoma ductal da
al (35) retrospetivo transgéneros: FtM: 16-66 formulações, mama (após 36 anos de THAG, RE+,
2307 MtF (74%) dosagens e vias de RP-, HER2-)
795 FtM (26%)
administração de Taxa de incidência de 4,1 por 100.000
estrogénio (MtF) e pessoas/ano. Inferior à das mulheres
de testosterona cisgénero (170,0). Superior à dos
(FtM) homens cisgénero (1,2). Insuficiência
androgénica e exposição a
estrogénios não parecem aumentar o
risco de cancro da mama. Risco
semelhante ao do sexo biológico.
FtM: 1 caso de adenocarcinoma
tubular (após 3 anos de THAG, RE+,
RP+)
Taxa de incidência de 5,9 por 100,000
pessoas/ano. Inferior à das mulheres
cisgénero (154,7). Combinação de

52
mastectomia e tratamento com
testosterona parece diminuir o risco de
cancro da mama. Superior à dos
homens cisgénero (1,1). Risco
semelhante ao do seu género
afirmado.

2019 de Blok et Coorte 1972 a janeiro 3489 47 Variadas Variadas MtF: média MtF: 18 casos de cancro da mama (15
al (39) retrospetivo 2016 transgéneros: formulações, dosagens de de 18 (7-37) invasivos). Idade média diagnóstico:
2260 MtF (65%) MtF: 51 dosagens e vias de acetato de 50 anos. Origem ductal (67%), RE+
1229 FtM (35%)
FtM: 39 administração de ciproterona ou FtM: média (83%), RP+ (67%), HER2+ (8%). Uma
estrogénio (MtF) e espironolactona de 15 (2-17) taxa de incidência 46 vezes superior à
de testosterona (MtF) dos homens cisgénero. Taxa de
(FtM) incidência inferior à das mulheres
cisgénero.

FtM: 4 casos de cancro da mama


invasivo. Idade média diagnóstico: 47
anos. Origem ductal (75%), RE+
(50%), RP+ (50%), HER2+ (25%),
RA+ (25%). 75% dos casos
diagnosticados vários anos após
mastectomia subtotal. Uma taxa de
incidência 5 vezes inferior à das
mulheres cisgénero, e 59 vezes
superior à dos homens cisgénero.

Médias de idades de diagnóstico


inferiores às médias da população
cisgénero.
As recomendações de monitorização e
de rastreio devem ser as da população
cisgénero.

2020 Fundytus Relato de N/A 1 homem 48 Enantato de N/A 19 Mastectomia parcial prévia, após 3
et al (93) caso transgénero testosterona IM 200 anos de THAG.
mg 2/2sem Carcinoma ductal invasivo da mama
(RE+, RP+, HER2-, RA+).
Antecedentes familiares: mãe e irmã
com cancro da mama aos 40 anos.

53
2016 Katayama Relato de N/A 1 homem 41 Testosterona não N/A 15 Mastectomia prévia, após 3 anos de
et al (94) caso transgénero especificada THAG.
Carcinoma neuroendócrino da mama
(RE+, RP+, HER2-, RA+, Ki-67+)

2015 Gooren et Série de N/A 1 homem 48 Ésteres de N/A 9 Mastectomia prévia, após 3 anos de
al (38) casos transgénero testosterona IM 250 THAG.
mg 2/2sem Carcinoma ductal invasivo da mama
(RE-, RP-, HER2-).

1 homem 41 Testosterona gel 50 N/A 1 Adenocarcinoma tubular da mama


transgénero mg/dia (RE+, RP+, HER2-).

1 mulher 52 Etinilestradiol 35 Acetato de 30 Adenocarcinoma da mama (RE+, RP-)


transgénero µg/dia oral ciproterona 2
mg/dia oral

1 mulher 46 Estrogénios orais Não referido 6 Carcinoma ductal invasivo da mama


transgénero Estradiol (RE+, RP+, HER2+).
transdérmico 1
mg/sem

2018 Treskova Relato de N/A 1 homem 58 Testosterona não N/A 33 Carcinoma ductal invasivo da mama
et al (95) caso transgénero especificada (RE+, RP-, HER2-).

2019 Chotai et Relato de N/A 1 homem 58 Testosterona IM não N/A 10 Mastectomia prévia, antes do início da
al (40) caso transgénero especificada THAG.
Carcinoma ductal invasivo da mama
(RE+, RP+)
HF: mãe com cancro da mama aos 50
anos.
.
2018 Barghout Relato de N/A 1 homem 28 Enantato de N/A 1 Carcinoma ductal invasivo da mama
hi et al caso transgénero testosterona IM 100 (RE-, RP-, HER2+, RA-)
(96) mg/sem

2019 Tanini et Relato de N/A 1 homem 36 Undecanoato de N/A 3 Carcinoma invasivo da mama (RE+,
al (97) caso transgénero testosterona IM RP+, HER2+, RA+, Ki-67+)

54
1 homem 33 Undecanoato de N/A 2,5 Carcinoma ductal in situ da mama
transgénero testosterona IM (RE+, RP+, RA+)
HF: mãe com carcinoma da mama em
idade jovem.

As recomendações de monitorização e
de rastreio devem ser as da população
cisgénero.
Risco de desenvolver alterações no
tecido mamário aumenta com o tempo
de terapêutica com testosterona.

2015 Teoh et al Relato de N/A 1 mulher 41 Estrogénio oral Antiandrogénio 14 Carcinoma ductal invasivo da mama
(98) caso transgénero não especificado grau 3 de 22 mm (RE-, RP-, HER2-).
Sem antecedentes familiares de
cancro da mama. Havia realizado
mamoplastia de aumento.
Excisão cirúrgica e prossegue com
THAG.
Cancros da mama em mulheres
transgénero tendem a ser negativos
para recetores hormonais.

2015 Sattari et Relato de N/A 1 mulher 60 Estrogénio não Antiandrogénio 8 Carcinoma ductal infiltrativo da mama
al (99) caso transgénero especificado não especificado (RE+, RP+, HER2-), com invasão
linfovascular. Sem HF de cancro da
mama. Descontinuação da THAG
após excisão do tumor.

2020 Light et al Relato de N/A 1 homem 44 Undecanoato de N/A 0,3 Mastectomia bilateral. Histologia
(41) caso transgénero testosterona IM (4 meses) revela carcinoma ductal invasivo grau
1000 mg 12/12 sem 2 (RE+, RP+, HER2-). Metástases em
3/10 gânglios. Admitem que o intervalo
de 4 meses entre o início da THAG e o
diagnóstico do tumor é insuficiente
para supor papel da testosterona na
carcinogénese.
Mantém testosterona pós-cirurgia.
Após 1 ano, sem recorrência.

55
2019 Eismann Revisão da N/A 1 mulher 32 Estrogénio oral 6 Não referido 6 BRCA2+ , após ter sido detetada
et al (42) literatura e transgénero mg/dia mutação na irmã. História familiar de
Série de cancro da mama (irmã, mãe, tia
casos materna, tia paterna).
Mastectomia subtotal bilateral.
Histologia negativa.
Orquidectomizada e mantém
terapêutica estrogénica.

1 homem 29 Cipionato de N/A 4 Mastectomia bilateral. Histologia


transgénero testosterona IM 80 revela carcinoma ductal in situ de alto
mg/sem grau (RE+). HF de homens com cancro
da mama.

2020 Lienhoop Relato de N/A 1 mulher 74 Estrogénio IM Há 2 anos: ~ 40 Carcinoma da mama pouco
et al (100) caso transgénero Mais tarde, oral Finasterida 5 diferenciado (RE+, RP+, HER2-). grau
(até há 2 anos) mg/dia 3. Metástases ganglionares.
Sem HF de cancro da mama.

2021 Kopetti et Revisão da N/A 1 homem 28 Undecanoato de N/A 2,5 Mastectomia bilateral há 2 anos.
al (101) literatura e transgénero testosterona IM Carcinoma invasivo da mama (RE+,
Relato de 1000 mg 10/10 sem HER2+, RA+) grau 3, 2,5x1,1 cm.
caso Sem HF de cancro da mama.
Após excisão, reduz para 500 mg a
dose de testosterona.

2015 Brown et Coorte 1996 a 2013 5135 indivíduos 55,7 Estrogénios (MtF) e Não referido 6,5 9 casos de cancro da mama detetados
al (102) retrospetivo transgénero: Testosterona (FtM) (7 em homens transgénero e 2 em
3556 MtF (70%) não especificados mulheres transgénero). Média de
1579 FtM (30%)
idade de diagnóstico: 63.8 anos.
Apenas 52% dos Apenas 3/10 casos em indivíduos com
transgénero com uso confirmado de THAG (os 3 em
uso confirmado de homens transgénero). Os 2 casos em
THAG: mulheres transgénero eram tumores
mais agressivos e metastizados.
MtF: 1386 (39%) Taxa de incidência total de
FtM: 1259 (79%) 20,0/100.000 pessoas/ano de
terapêutica. Valores semelhantes aos
esperados na população em geral.

56
2020 Fledderus Revisão da N/A 1 homem 50 Testosterona não N/A 3 HF de cancro da mama na mãe, aos
et al (43) literatura e transgénero especificada e 50 anos.
Relato de Androgénios não Carcinoma ductal in situ da mama
caso especificados detetado na histologia de mastectomia
subcutânea bilateral.
Mantém THAG após cirurgia. 1 ano
sem recidivas.
Pesquisa de cancro da mama pré-
mastectomia e análise do tecido
mamário pós-cirurgia devem ser
consideradas em todos os homens
transgénero em THAG.

PRÓSTATA

2014 Gooren et Coorte 1975 a 2006 2306 MtF 16-83 Até 1993: Acetato de 5 - 30 Todas já orquidectomizadas.
al (44) retrospetivo Etinilestradiol oral ciproterona 100 1 caso de adenocarcinoma da próstata
100 µg/dia mg/dia aos 63 anos (10 anos em THAG); PSA
Após 1993: de 1710 ng/ml diminui para 814 ng/ml
Valerato de estradiol após interrupção THAG e início de
oral 4 mg/dia ou estramustina (antineoplásico).
17ß-estradiol Incidência global de 0,04%.
transdérmico 100 Incidência para início de THAG após
µg/dia os 40 anos de 0,13%.
Mulheres transgénero >50 anos
devem realizar toque retal e medição
do PSA anualmente. PSA pós-
orquidectomia >1,0 ng/ml devem ser
valorizados.

2020 De Nie et Coorte 1972 a 2016 2281 MtF 50 Estrogénios, não Acetato de 17 (10-24) 6 casos de adenocarcinoma da
al (103) retrospetivo especificados ciproterona próstata (16,2 casos por 100,000
Mais raramente, pessoas/ano). 4/6 orquidectomizadas
espironolactona previamente. 5/6 com Gleason ≥7.
Média PSA= 18 ng/ml.
Média idade início de THAG: 47 anos.
Média idade de diagnóstico: 64 anos.
Risco de cancro da próstata nas
mulheres transgénero 5 vezes inferior

57
ao dos homens cisgénero. Apoiam
hipótese de que privação androgénica
tem efeito preventivo no cancro da
próstata.

2017 Deebel et Relato de N/A 1 mulher 65 Estrogénios orais e Não referido 20 (há 10 PSA = 8,5 ng/ml;
al (104) caso transgénero injetáveis sem THAG) Volume prostático = 70 g
Adenocarcinoma prostático Gleason 7
(3+4).
Admitem um papel do estrogénio na
génese tumoral do CaP. Testosterona
perde importância como impulsionador
desta neoplasia, uma vez que há
privação androgénica nestes
indivíduos. Recomendam rastreio do
CaP nesta população como nos
homens cisgénero, para detetar
tumores em estadios menos
avançados e com melhor prognóstico.

2013 Turo et al Relato de N/A 1 mulher 75 Estrogénios Não referido 31 Orquidectomizada 31 anos antes e em
(105) caso transgénero conjugados 1,25 THAG desde aí.
mg/dia PSA = 13,5 ng/ml; e sintomas urinários
obstrutivos
Adenocarcinoma prostático Gleason 7,
com metástases ósseas.

2016 Ellent et Relato de N/A 1 mulher 65 Estrogénios não Não referido 35 PSA = 19 ng/ml, e sintomas de
al (106) caso transgénero especificados dificuldade urinária.
Adenocarcinoma prostático Gleason 9
(4+5) metastizado.

2017 Sharif et Relato de N/A 1 mulher 56 Estrogénios Não referido 20 PSA = 5 ng/ml, e volume prostático =
al (107) caso transgénero injetáveis depot 15 ml
Adenocarcinoma prostático Gleason 7
(3+4)

2023 Chandran Relato de N/A 1 mulher 69 Estrogénios não Não referido 15-20 Adenocarcinoma prostático Gleason 9
et al caso transgénero especificados (4+5). PSA= 5,71 ng/ml.
(108) Orquidectomizada pós-diagnóstico.
Metástases após 5 anos.

58
2018 Inghman Revisão e N/A 1 mulher 60 aGnRH IN Não referido 20 Adenocarcinoma prostático Gleason 9
et al Relato de transgénero (4+5). PSA = 3,3 ng/ml.
(109) caso

2023 Nik-Ahd Coorte Janeiro 2000 a 155 MtF 61 (56-67) 116 (75%) nunca Não referido 2.5 155 MtF com diagnóstico de
et al retrospetivo novembro 2022 usaram estrogénio adenocarcinoma prostático (estimativa
(110) 17 (11%) usaram 14 casos por ano)
estrogénio no Média PSA ao diagnóstico = 6,8 ng/ml
passado 152 (98%) não orquidectomizadas.
22 (14%) Estadio T1 (45%), T2 (55%).
atualmente em Mulheres em estrogénio com maior
estrogénios proporção de casos de doença mais
agressiva.

Legenda: %: por cento, /sem: por semana, µg: micrograma, aGnRH: análogos da hormona libertadora de gonadotrofina, BRCA2: Breast Cancer gene 2, CaP:
cancro da próstata, cm: centímetro, FtM: homem transgénero, g: grama, HER2: Human Epidermal growth factor Receptor-type 2, HF: história familiar, IM:
intramuscular, IN: intranasal, mg: miligrama, ml: mililitro, mm: milímetro, MtF: mulher transgénero, N/A: não aplicável, ng: nanograma, PSA: antigénio específico
prostático, RA: recetor dos androgénios, RE: recetor dos estrogénios, RP: recetor da progesterona, THAG: terapêutica hormonal de afirmação de género.

59
Tabela 7. Ocorrência de hiperprolactinemia e tumores pituitários benignos em indivíduos transgénero em THAG.

Ano Autor Tipo de Período de População em Idade/Idade THAG Anti Tempo de Resultados do estudo
estudo observação estudo Média (anos) androgénios THAG
(anos)

PROLACTINOMA

2020 Kleinsch Retrospetivo Janeiro 2000 a 1866 massas da Não referido Não referido. Não referido N/A 2/1866 massas em transgéneros.
midt- maio 2019 região selar Apenas 1/2, um adenoma pituitário
DeMaster submetidas a gonadotrofo, foi reportado numa
análise
s et al mulher trans, após 30 anos de
histopatológica
(111) THAG.

2020 Raven et Série de N/A 1 mulher 23 Estradiol implante Espironolactona 5 PRL pré-THAG: 247 mIU/l.
al (112) casos transgénero SC 100 mg 6/6 oral 100 mg/dia Inicia galactorreia aos 2 anos de
meses THAG.
Acetato de Detetado macroprolactinoma, com
medroxiprogestero PRL ao diagnóstico: 13.696 mIU/l.
na oral 10 mg/dia

1 mulher 53 Estradiol Acetato de 30 Assintomática.


transgénero transdérmico 50 ciproterona oral 50 Detetado macroprolactinoma, com
µg 2x/sem mg/dia PRL no momento do diagnóstico:
10.000 mIU/l

1 mulher 20 Estradiol implante Acetato de 0,25 PRL pré-THAG: 205 mIU/l.


transgénero SC 100 mg 6/6 ciproterona oral 25 Inicia galactorreia aos 3 meses de
meses mg/dia THAG.
PRL aos 3 meses: 4025 mIU/l.
Progesterona
bioidêntica oral
100 mg/dia

60
2017 Nota et al Observacion Julho 2012 a 116 indivíduos MtF: 34 MtF: Valerato de MtF: Acetato de 1 MtF: níveis de PRL aumentaram
(46) al prospetivo dezembro 2013 transgénero: FtM: 28 estradiol IM 4 ciproterona oral 50 substancialmente - 173% nos
61 MtF (53%) mg/dia ou mg/dia primeiros 3 meses e 7% entre os 3
55 FtM (47%)
Estradiol e 12 meses.
transdérmico 100
µg/dia 2x/sem MtF que apresentaram níveis de
PRL suprafisiológicos:
FtM: Ésteres de Ao fim de 3 meses: 9 (15%)
testosterona IM Ao fim de 12 meses: 18 (30%)
250 mg a cada
2/3sem ou FtM: níveis de PRL diminuíram -
Undecanoato de 8% nos primeiros 3 meses e 18%
testosterona IM entre os 3 e 12 meses.
1000 mg
12/12sem ou Níveis normais de PRL nas
Testosterona gel mulheres pós-gonadectomia e
50 mg/dia cessação de ACP (mantendo
terapêutica estrogénica
inalterada).

Sem correlação entre os níveis de


PRL e os níveis de estradiol
séricos.

2017 Defreyne Estudo Fevereiro 2010 107 MtF: 31,5 Em 97/107 (91%): Acetato de Grupo A: 1,5 Média níveis séricos PRL (mIU/l)
et al (47) prospetivo a agosto 2016 Grupo A: 58 (54%) ciproterona oral 50 Grupo B: 1 Grupo A (aumento 153%)
realizam THAG Valerato de mg/dia Pré-THAG: 200
por 18 meses
estradiol 2 mg/2id Pré-gonadectomia: 505
(depois realizam
gonadectomia). Se >45 anos: Níveis médios de PRL desceram
Grupo B: 49 (46%) estradiol para 216 mIU/l pós-gonadectomia
apenas realizaram transdérmico 100 e cessação de ACP, mantendo
THAG. µg/dia 2x/sem terapêutica estrogénica inalterada.
Se intolerâncias:
17ß-estradiol gel Grupo B (aumento 132%)
1,5 mg/2id Pré-THAG: 211
Pós-12 meses: 490

Sem necessidade de
monitorização anual dos níveis de
PRL (aumentos transitórios e não
relevantes clinicamente), apenas

61
se sintomas sugestivos de
prolactinoma.

2018 Olson- Coorte Fevereiro 2011 58 jovens 18 MtF: MtF: 2 MtF:


Kennedy prospetivo a junho 2013 transgénero: 17ß-estradiol oral Espironolactona Níveis de estradiol sérico no
et al (84) 23 MtF (40%) 1-6 mg/dia ou IM oral 100-200 follow-up inferiores nos
35 FtM (60%)
20-30 mg 2/2sem mg/dia ou aGnRH transfemininos a fazer estradiol
Alguns: oral versus estradiol IM.
FtM: Progestina não
Cipionato de especificada Aumento estatisticamente
testosterona SC significativo da prolactina (não
doses crescentes FtM: aGnRH clinicamente significativo).
12,5 mg até 75 PRL pré-THAG: 176 mIU/l
mg/semana PRL após 24 meses de THAG: 255
mIU/l – aumento de 45%.

2018 Bisson et Coorte 2015 e 2016 98 MtF 41 (20-68) Estradiol oral Espironolactona 6 Sem aumento da PRL sérica
al (113) retrospetivo diário (79%) ou (dose média 161 associado à toma de estrogénios,
Estrogénios mg/dia) à dose de estrogénios ou ao uso
conjugados (19%) de espironolactona.
ou Estradiol Não se registaram tumores
transdérmico pituitários.
(2,5%) Combinação estrogénios +
espironolactona não implica
Dose média de monitorização da PRL.
Estradiol: 3,1
mg/dia

2016 Fung et Retrospetivo Janeiro 2011 a 113 MtF 34.4 Estradiol oral Grupo 1: 1 Níveis de PRL séricos após 1 ano
al (18) junho 2015 Grupo 1: 82 (73%) (63%) ou Estradiol Espironolactona de THAG versus pré-THAG:
Grupo 2: 31 (27%) transdérmico oral dose média Grupo 1: aumento médio de 66
(15%) ou sem 181 mg/dia mIU/l (aumento de 36%)
terapêutica Grupo 2: aumento médio de 251
estrogénica (2%) Grupo 2: Acetato mIU/l (aumento de 149%). Os
de ciproterona oral valores finais ficaram acima do
dose média 31 limite normal de referência da PRL
mg/dia sérica.

Recomendam monitorização da
PRL, principalmente quando é
usado ACP. A espironolactona
deve ser a escolha nos doentes

62
com maior risco cardiovascular ou
que estarão em terapêutica
hormonal por um período mais
longo.

2015 Cunha et Série de N/A 1 mulher 41 Etinilestradiol oral Acetato de 18 Galactorreia bilateral.
al (114) casos transgénero 35 µg/dia e ciproterona oral 2 Níveis séricos de PRL: 7502 mIU/l
Valerato de mg/dia Diagnóstico de prolactinoma de 8
estradiol IM 5 mm por RM selar.
mg/sem,
alternando com
17ß-estradiol IM
10 mg/sem, por 8
semanas. Depois,
passou a 10 mg
de 2/2sem

1 mulher 42 17ß-estradiol IM Não referido 25 Galactorreia bilateral.


transgénero 10 mg de 2/2sem Níveis séricos de PRL: 7370 mIU/l
Diagnóstico de prolactinoma de
1,5x1,3 cm por RM selar.

MENINGIOMA

2013 Bergogli Relato de N/A 1 mulher 35 Estradiol Acetato de 4 Cefaleias intensas e impacto
o et al caso transgénero transdérmico 100 ciproterona oral visual. RM revela meningioma
(115) µg/dia 100 mg/dia Grau I 2,67x2,54x1,66 cm (RP+,
RE-, Ki-67 3%). Após resseção,
suspende terapêutica e inicia
Triptorrelina. Após 1 ano de
aGnRH, sem recorrência.
Recomendam doses de ACP mais
baixas e a suspensão do fármaco
se for detetado meningioma.

2013 Knight et Relato de N/A 1 mulher 60 Estradiol oral 8 Acetato de 10 Orquidectomizada há 10 anos.
al (116) caso transgénero mg/dia ciproterona oral 50 Cefaleias frontais e disfasia.
mg/dia RM revela meningioma Grau I
(RE+, RP+). Mantém terapêutica

63
e, 13 meses após resseção, há
recorrência do tumor.

2018 Mancini Relato de N/A 1 mulher 41 Estradiol gel 2-3 Acetato de 9 Prosopagnosia.
et al caso transgénero mg/dia ciproterona oral 50 Meningioma (RP+ 90% , RE+
(117) mg/dia 20%).
Altera para acetato de
leuprorrelina 3,75 mg/mês. Sem
recorrência do tumor após 1 ano.

2021 Weill et al Coorte 2007 a 2017 10.876 MtF Não referido Não referido. Acetato de 3 - 4,5 Detetados 3 casos de
(48) retrospetivo ciproterona oral meningioma. Incidência de 20,7
100-150 mg/dia por 100.000 pessoas/ano.

Redução do risco de meningioma


após descontinuação do ACP.
Forte associação dose-efeito entre
o ACP e a ocorrência de
meningioma.

2016 ter Série de N/A 1 mulher 46 Estradiol oral 50 Acetato de 5 Perda visual progressiva olho
Wengel casos transgénero µg/2id por 2 anos) ciproterona oral 50 esquerdo. Quadrantanopia.
et al (49) Depois, mg/dia Meningioma (grau II, RP+, RE-).
Estrogénio
implante SC 20
mg

1 mulher 51 Etinilestradiol oral Acetato de 25 Perturbação delirante.


transgénero 50 µg/2id ciproterona oral 50 Meningioma (grau I, RP+, RE-).
mg/dia
1 mulher 65 Estrogénios Acetato de 19 Perda visual progressiva olho
transgénero conjugados orais ciproterona oral 10 esquerdo.
1,25 mg/dia mg/dia Meningioma (grau I, RP-, RE+).

2021 Millward Relato de N/A 1 mulher 69 Estrogénios Acetato de Estrogénios: Desenvolvimento e crescimento
et at caso transgénero conjugados orais ciproterona oral 20 de múltiplos meningiomas.
(118) 1,25 mg/dia 100 mg/2id ACP: 6
Associação dose-dependente
entre o ACP e o desenvolvimento
e crescimento de meningiomas.

64
Legenda: %: por cento, /sem: por semana, µg: micrograma, ACP: acetato de ciproterona, aGnRH: análogos da hormona libertadora de gonadotrofina, cm:
centímetro, FtM: homem transgénero, id: vezes por dia, IM: intramuscular, l: litro, mg: miligrama, mIU: miliUnidades Internacionais, mm: milímetro, MtF:
mulher transgénero, N/A: não aplicável, PRL: prolactina, RE: recetor dos estrogénios, RM: ressonância magnética, RP: recetor da progesterona, SC:
subcutâneo, THAG: terapêutica hormonal de afirmação de género.

65
Tabela 8. Alterações associadas ao sistema reprodutivo, em pessoas transgénero em THAG.

Ano Autor Tipo de Período de População Idade/ THAG Anti Tempo de Resultados do estudo
estudo observação em estudo Idade androgénios THAG
Média (anos)
(anos)

TESTÍCULO

2022 Nie et al (52) Coorte 1972 a 3026 MtF Não referido Variadas Acetato de 2,3 3 casos de cancro testicular (T sérica
retrospetivo setembro formulações, ciproterona oral <2 nmol/l).
2017 Idade média dosagens e vias de 10-100 mg/dia O risco de cancro testicular em MtF,
início de administração de ou mesmo em THAG de longa duração,
THAG: 29 estrogénios Espironolactona é similar ao risco em homens
oral 100-200 cisgénero.
mg/dia
63% submetidas a orquidectomia e
histologia do espécimen: 1 caso de
cancro testicular detetado.

2019 Kvach et al Relato de N/A 1 mulher 30 Estradiol oral 2-6 Espironolactona 2 Seminoma testicular (2,1 cm) na
(119) caso transgénero mg/dia oral 100-300 histologia de orquidectomia bilateral.
Depois, Valerato de mg/dia
estradiol IM 20 mg Bicalutamida
2/2sem oral 50 mg/dia

2015 Kobori et al Relato de N/A 1 mulher 30 Estradiol IM 10 Progesterona IM 2 Massa indolor no escroto direito.
(120) caso transgénero mg/sem 125 mg/sem Diagnóstico de teratoma testicular
(RE-ß +).

2018 Chandhoke et Relato de N/A 1 mulher 38 Estradiol não Espironolactona 1,3 Edema testicular, dor lombar, perda
al (121) caso transgénero especificado ponderal, adenopatia supraclavicular
esquerda. TVP nos vasos ilíacos
profundos e femorais.

66
Diagnóstico de carcinoma testicular
de células germinativas metastático.
Realiza orquidectomia bilateral.
Recomendam ecografia escrotal de
forma regular quando há planos para
THAG prolongada.

2020 Vereecke et al Coorte Fevereiro 97 MtF 31 Valerato de estradiol Acetato de 1,9 Histologia de orquidectomias:
(50) prospetivo 2010 a oral 2 mg/2id ciproterona 50 MtF com níveis de T sérica <50 ng/dl:
setembro Se >45 anos: mg/dia pré-cirurgia têm supressão completa
2015 Estradiol da espermatogénese com a THAG.
transdérmico 50-100 Níveis séricos T associados à taxa de
µg/24h maturação germinativa.

ÚTERO E OVÁRIO

2016 Loverro et al Prospetivo 2011 a 2013 12 FtM 20-32 Enantato de N/A 2,7 Após 6 meses de THAG: alcançados
(122) testosterona IM 100 níveis de estradiol de mulheres
mg 2/2sem, depois cisgénero pós-menopausa.
passa a 200-250 mg
2/2sem Histologia das peças de
histerectomia e anexectomia: útero
fibrótico ou hipertrofiado em 7/12
(58%); Ovários multifoliculares em
10/12 (83%).

Expressão de recetores:
- Endométrio: RE 54%; RA 24%
- Miométrio: RE 17%; RA 69%

Concluem que THAG induz


endométrio ativo com baixa
proliferação, associado a alterações
hipertróficas do miométrio.

2019 Khalifa et al Retrospetivo Outubro 2001 27 FtM 29 Cipionato de N/A 1,5 - 24 Histologia das peças de
(64) a 2018 testosterona IM 200 histerectomia e anexectomia:
mg/ml

67
Ou Testosterona 59% com estroma endométrico tipo
depot 200mg ou decídua, com glândulas escassas e
Testosterona gel ou predominantemente inativas;
Histerona IM 100 63% com metaplasia transicional;
mg/dia Folículos císticos bilateralmente em
100%, e com maior densidade
folicular.

Atentam para a dificuldade de


distinção entre metaplasia
transicional (presente nas citologias
de FtM) e displasia cervical.

2021 Borrás et al (59) Observacional Maio 2011 a 70 FtM 28 Undecanoato de N/A >2 THAG não parece alterar população
prospetivo julho 2019 testosterona IM folicular ovárica (número e
1000 mg 2/2 meses distribuição), sendo semelhante à
ou Cipionato de reportada nas mulheres cisgénero
testosterona 250 mg em idade fértil. Encontradas algumas
3/3 sem modificações ováricas, a nível
cortical e estromal, com mais
folículos atróficos.
Sem correlação entre níveis séricos
hormonais, número de folículos e
idade das participantes.

2017 De Roo et al Coorte Abril 2013 a 40 FtM 24 Undecanoato de N/A 1,1 Distribuição cortical folicular normal.
(60) observacional maio de 2015 testosterona IM Processamento dos oócitos
prospetivo 1000 mg 12/12sem; processados dos ovários pós-
ou Testosterona gel ooforectomias: 48h de maturação in-
50 mg/dia vitro mostra 87% dos oócitos com
estrutura do fuso normal. Contudo,
córtex ovárico dos FtM mais rígido
(torna-se menos permissivo ao
crescimento folicular).
Sem correlação entre níveis séricos
hormonais, número de folículos,
duração da THAG e idade das
participantes.

2020 Amir et al (63) Coorte Junho 2017 a 12 FtM Grupo 1: 23 Testosterona não N/A 6,4 Os 3 grupos submetidos a
retrospetivo dezembro - Grupo 1: 6, especificada estimulação ovárica: sem diferenças
2019 sem THAG Grupo 2: 30 nos níveis de estradiol, nº de oócitos

68
- Grupo 2: 6, recolhidos ou taxa de maturação dos
em THAG Grupo 3: 29 oócitos entre os grupos.
FtM em THAG com excelente
Grupo 3: 12
resposta à estimulação ovárica: 5/6
mulheres
cisgénero fizeram criopreservação de embriões
controlo de grande qualidade.
Criopreservação de gâmetas nos
transgéneros é efetiva para
preservação da fertilidade.

2021 Millington et al Relato de N/A 1 homem 17 Cipionato de 0,25 (3 Suspeita de torção ovárica. Salpingo-
(65) caso transgénero testosterona SC meses) ooforectomia: histologia revela tumor
e acetato de borderline seroso papilar (15 x 14 x 9
noretisterona cm) do ovário. Reinicia THAG após a
resseção.

2021 Aubrey et al Relato de N/A 1 homem 36 Testosterona gel 1% N/A ~1 Dor pélvica súbita, suspeita de torção
(123) caso transgénero e testosterona ovárica. Salpingo-ooforectomia:
parentérica não histologia revela carcinoma
especificada endometrióide grau 2 de FIGO, no
ovário direito, e metástases no ovário
esquerdo. Descontinuação da THAG
pós-cirurgia. Sugerem que pode ser
reiniciada THAG por 2 anos, que é o
período de maior risco de recorrência
do cancro, como forma de teste, com
constante monitorização.

2022 Minotti et al (62) Prospetivo Fevereiro 16 FtM 22,5 Undecanoato de N/A 0,5 e 1 Medição dos níveis de
2016 a testosterona IM gonadotrofinas, testosterona e HAM:
setembro 1000 mg 12/12sem - Pré-THAG: níveis de T e de HAM
2019 compatíveis com mulher cisgénero;
- 6 e 12 meses pós início da THAG:
valores de T atingem faixa dos
valores fisiológicos do homem
cisgénero; sem alterações dos
valores da HAM, mesmo após 1 ano
de THAG.

2021 Yaish et al (61) Transversal Junho 2014 a 47 FtM 24 Enantato de N/A ~3 Níveis de HAM correlacionam-se
julho 2018 testosterona IM 100- inversamente com a idade, mas sem
250 mg 2/2 sem ou correlação com o tempo de THAG. A

69
Undecanoato de contagem de folículos antrais (CFA)
testosterona IM foi preservada, sem associação com
1000 mg 12/12sem a idade ou tempo de terapêutica.
ou Testosterona gel 30% dos participantes com SOP:
25-50 mg/dia nestes, um maior tempo de THAG
estava associado a valores inferiores
de MTF, ainda que dentro dos
valores normais.
4 homens transgénero conseguem
gravidez, 3/4 de forma espontânea
após suspensão da testosterona.

Legenda: %: por cento, /sem: por semana, µg: micrograma, CFA: contagem de folículos antrais, cm: centímetro, FIGO: Federação Internacional de
Ginecologia e Obstetrícia, FtM: homem transgénero, h: hora, HAM: hormona anti-Mülleriana, IM: intramuscular, l: litro, mg: miligrama, MtF: mulher
transgénero, nº: número, N/A: não aplicável, nmol: nanomol, RA: recetor dos androgénios, RE: recetor dos estrogénios, SC: subcutâneo, SOP: síndrome
do ovário poliquístico, T: testosterona, THAG: terapêutica hormonal de afirmação de género, TVP: trombose venosa profunda.

70
Tabela 9. THAG e o impacto a nível ósseo em indivíduos transgénero.

Ano Autor Tipo de Período de População Idade/Idade THAG Anti Tempo Resultados do estudo
estudo observação em estudo Média androgénios de THAG
(anos) (anos)

2020 Chrisost Transversal Agosto 2018 a 93 indivíduos: 29 (25-35) Valerato de estradiol Acetato de Mínimo de Osteopenia (T score ≤ -2) em 12,9%
omo et al agosto 2019 31 MtF (33%) oral 1-4 mg/dia ou ciproterona oral 3 das mulheres transgénero (3,2% das
(73) 2 grupos Estrogénios conjugados 50-100 mg/dia mulheres cisgénero e 3,3% dos
controlo: 31
oral 0,625-2,5 mg/dia ou homens cisgénero).
mulheres
cisgénero (33%) Espironolactona
e 31 homens Se HP eventos oral 100-200 MtF: Z score da CL e F inferiores aos
cisgénero (33%) trombóticos: Estradiol mg/dia das mulheres cisgénero. Z score do F
transdérmico 50-200 inferior ao dos homens cisgénero.
µg/2-3 dias Apenas com
antiandrogénios: O tipo de THAG e o tempo de
Apenas com 5/31 (16%) terapêutica sem impacto significativo
estrogénios: 4/31 (13%) na DMO.
Combinação Percentagem total de massa magra
estrogénios e com impacto positivo na densidade
antiandrogénios: óssea femoral.
22/31 (71%) Risco aumentado de baixa massa
óssea nas mulheres transgénero, em
comparação com as populações
cisgénero.

2022 Andrade Transversal Não referido 38 indivíduos: 24 Ésteres de testosterona N/A Média de Níveis de T similares nos dois grupos.
et al 19 FtM (50%) IM 200 mg 3/3 semanas 2 (mínimo Estradiol mais elevado nos
(124) 19 homens ou SC 50 mg/sem de 0,5) transgénero.
cisgénero (50%)
Transgéneros apresentam menos
massa muscular, força muscular,
menor DMO total e femoral que grupo
cisgénero. T e Z scores e TBS
similares nos dois grupos.

71
2021 Navabi et Coorte Janeiro 2006 a 172 jovens Rapazes Acetato de leuprorrelina N/A 1,1 Comparação DEXA pré e pós-aGnRH:
al (66) retrospetivo abril 2017 transgénero: transgénero: IM 22,5 mg 4/4sem, (média de terapêutica afeta negativamente a
119 (69%) 15,2 seguido de 12,25 mg 406 dias) DMO nos jovens transgénero.
rapazes
Raparigas 12/12sem Diminuição significativa do Z score da
transgénero
51 (30%) transgénero: coluna lombar (CL), anca total (AT) e
raparigas 15,4 corpo total (TBLH) nos rapazes e
transgénero raparigas transgénero. Sem fraturas
2 (1%) não de stress.
binários Associam baixo Z score com baixo
aporte de cálcio, insuficiência de vit. D
e baixa atividade física.
Insuficiência de vit. D na maioria dos
jovens (55%).

2018 Tack et al Prospetivo Março 2011 a 65 jovens Raparigas Não referido Transgéneros Linestreno Comparação DEXA pré e pós-
(67) janeiro 2017 transgénero em transgénero: femininos: l: ~1 (11,6 progestinas:
fase tardia da 17,1 Acetato de meses)
puberdade
ciproterona oral Raparigas transgénero: Z score da
(≥T4):
21 (32%) Rapazes 50 mg/dia ACP: ~1 DMOa da CL, AT, TBLH e colo do
raparigas transgénero: (10,6 fémur (CF) diminuíram
transgénero 16,2 Transgéneros meses) significativamente. O ACP limitou a
44 (68%) masculinos: normal expansão óssea e impediu o
rapazes Linestrenol oral acúmulo de massa óssea,
transgénero 5-10 mg/dia principalmente na CL. Diminuição da
massa magra, aumento da massa
gorda.

Rapazes transgénero: : Z score da


DMOa da AT aumentaram
significativamente. Aumento da massa
magra, diminuição da massa gorda.

Todos faziam dieta rica em cálcio e


suplementação de vit. D.

2019 Vlot et al Prospetivo Junho 2012 a 253 indivíduos MtF: 30 MtF: Valerato de MtF: Acetato de 1 MtF: diminuição do turnover ósseo.
(74) abril 2016 transgénero: FtM: 24 estradiol oral 2-4 mg/dia ciproterona oral Marcadores de turnover ósseo (MTO)
121 MtF (48%) ou Estradiol 50-100 mg/dia - FA, CTx, - e esclerostina diminuíram
132 FtM (52%)
transdérmico 50-100 19%, 11% e 8%, respetivamente.
µg/24h 2x/sem Suportam o papel dos estrogénios na
proteção óssea. Correlação modesta
entre os MTO e a DMO da CL.

72
FtM: Testosterona gel
50 mg/dia ou FtM: jovens: aumento do turnover
Undecanoato de ósseo. Marcadores de turnover ósseo
testosterona IM 1000 (MTO) - P1NP, FA – e esclerostina
mg 12/12sem ou aumentaram 33%, 16% e 15%,
Ésteres de testosterona respetivamente.
IM 250 mg 3/3sem Quando ≥50 anos, observa-se
diminuição dos marcadores
mencionados. Neste grupo, verificou-
se aumento do estradiol sérico.

Concluem que não há efeitos


deletérios na saúde óssea do fim de 1
ano de THAG.

2017 Vlot et al Retrospetivo Não referido 56 jovens Raparigas Acetato de triptorrelina N/A Tempo de aGnRH nos rapazes transgénero mais
(9) transgénero: transgénero SC 3,75 mg 4/4sem aGnRH: jovens (<15 anos) e raparigas
22 raparigas Idade início variável, transgénero provocou diminuição dos
transgénero
aGnRH: 13,5 A partir dos 16 anos: (>0,5) MTO (ICTP e P1NP). Decréscimo dos
(39%)
34 rapazes Idade início Raparigas transgénero: Z scores da DMOA, sobretudo da CL.
transgénero estradiol: 16,0 17ß-estradiol oral 5 Tempo de DMOA manteve-se estável.
(61%) µg/Kg/dia, com aumento esteroides aGnRH diminui o turnover ósseo.
Rapazes de 6/6 meses até dose 2 sexuais: 2
transgénero: mg/dia Com os esteroides sexuais: mantém-
Idade início Rapazes transgénero: se a diminuição dos MTO (parece
aGnRH: 15,1 Ésteres de testosterona coincidir com o final da puberdade),
Idade início IM 25 mg/m2 2/2sem, mas aumento da DMOA e dos Z
testosterona: com aumento de 6/6 scores da DMOA, sobretudo da CL
16,3 meses até dose 250 mg (contudo, não alcançaram níveis pré-
4/4sem terapêutica).

Os MTO não refletem alterações


diretas na DMOA e Z scores da
mesma.

2019 Stoffers Retrospetivo Novembro 62 rapazes Idade início Acetato de triptorrelina N/A Tempo de Insuficiência de vit.D em 32-54% dos
et al (69) 2010 a agosto transgénero aGnRH: 16,5 SC 3,75 mg 4/4sem aGnRH: jovens transgénero.
2018 Idade início média de DMO e Z score da DMO da CL e CF
testosterona: A partir dos 16 anos: 0,7 diminuíram com aGnRH.
17,2 Ésteres de testosterona (mínimo Após 1-2 anos de THAG: DMO retorna
IM 25 mg/m2 2/2sem, 0,5) aos valores pré-aGnRH. Z scores
com aumento gradual aumentaram, mas ficaram abaixo dos

73
de 6/6 meses até dose Tempo de valores pré-terapêutica (indicam
125mg 2/2sem testostero menor acúmulo mineral ósseo). Maior
na: média impacto na CL.
de 1

2023 Boogers Retrospetivo 1972 a 87 raparigas Idade início Acetato de triptorrelina Não referido. Tempo de DMO e Z scores da DMO diminuíram
et al (72) dezembro transgénero: aGnRH: SC 3,75 mg 4/4sem ou aGnRH: com aGnRH.
2018 Grupo 1: 59 Grupo 1: 13,9 IM 11,25 mg 12/12sem variável Após THAG: DMO e Z scores
Grupo 2: 13 Grupo 2: 12,7 (pelo aumentam nos 3 grupos, com o maior
Grupo 3: 15 Grupo 3: 12,9 A partir dos 16 anos: menos 1) aumento no grupo 3. Contudo, apenas
Grupo 1: 17ß-estradiol nos grupos 2 e 3 retornam aos valores
Idade início oral 5 µg/kg/dia, com Tempo de pré-aGnRH.
estrogénios: aumento de 6/6 meses estrogénio No grupo 1 os níveis séricos de
Grupo 1: 16,2 até dose 2 mg/dia s: 2 estradiol ficaram abaixo dos alvos
Grupo 2: 15,1
Grupo 2: 17ß-estradiol recomendados, enquanto no grupo 2
Grupo 3: 15,1
oral 6 mg/dia ficaram acima. Recomendam dose
Grupo 3: Etinilestradiol ideal de manutenção de 4 mg/dia de
100-200 µg/dia 17ß-estradiol.
Efeito dose-dependente dos
estrogénios na DMO.

2022 Nasomyo Observacion Não referido 6 jovens Transgénero: aGnRH IM ou SC N/A Tempo de Z scores da DMOa da CL, TBLH, da
nt et al al prospetivo transgénero: 10,9 aGnRH: 1 DMOA da CL e a DMOv trabecular
(68) 4 raparigas diminuíram nos participantes
transgénero
Cisgénero: transgénero, e aumentou nos
(67%)
2 rapazes 11,7 cisgénero.
transgénero DMOv cortical aumentou nos
(33%) cisgénero.
BMAT (tecido adiposo da medula
3 raparigas óssea) com um aumento superior nos
cisgénero transgénero, acompanhada de
declínio da DMO.

2019 Wiepjes Retrospetivo 1998 a 2016 1254 indivíduos MtF: 35 MtF: Estrogénio oral ou MtF: 10 Pré-THAG:
et al (70) transgénero FtM: 25 transdérmico antiandrogénio 21,9% dos MtF e 4,3% dos FtM com
711 MtF (57%) FtM: Testosterona oral, não especificado baixa DMO para a idade (Z score ≤ -
543 FtM (43%)
transdérmica ou IM 2,0). 14,2% dos MtF com osteoporose
(Z score ≤ - 2,5)
Aos 10 anos de THAG:
DMO da CL sem alterações
significativas. Ainda assim, o maior

74
aumento verificou-se nos FtM com >40
anos.
Z score da CL aumentou 0,22 nos MtF
e 0,34 nos FtM. Sem alterações ao
nível da AT e CF.

2017 Wiepjes Observacion 2010 a abril 430 indivíduos MtF: 28 MtF: Valerato de MtF: Acetato de 1 Aumento da DMO média em ambos os
et al (71) al prospetivo 2016 transgénero: FtM: 24 estradiol oral 2-4 mg/dia ciproterona oral grupos de transgéneros.
231 MtF (54%) ou Estradiol 50-100 mg/dia MtF: Aumento da DMOa da CL, AT e
199 FtM (46%)
transdérmico 50-100 µg CF, correlacionados com os níveis
2x/sem séricos de estradiol. Aumento superior
ao nível da CL e CF naquelas que
FtM: Testosterona gel faziam suplementação de vit. D.
50 mg/dia ou Ésteres de
testosterona IM 250 mg FtM: Aumento da DMOa da CL e AT;
2/2sem ou Undecanoato sem alterações ao nível do CF. O
de testosterona IM 1000 maior aumento ao nível da CL
mg 12/12sem verificou-se nos participantes com ≥50
anos, o grupo com maior aumento dos
níveis séricos de estradiol.

2020 Schagen Observacion 1998 a 2009 Grupo1: Grupo1: Grupo 1 e 2: Acetato de Não referido Grupo 1 Pré-terapêuticas: Z score das
et al (8) al prospetivo 121 jovens Raparigas triptorrelina IM 3,75 mg (aGnRH): raparigas transgénero inferiores aos
transgénero: transgénero: 4/4sem 2 valores de referência.
51 raparigas 14,1
transgénero Rapazes
(42%) transgénero: Grupo 2: Grupo 2: Grupo 1: DMOA estabiliza (CL) ou
70 rapazes 14,5 - Raparigas aGnRH diminui (maior declínio nos rapazes
transgénero transgénero: 17ß- por 1,6 transgénero mais velhos, ao nível do
(58%) Grupo 2: estradiol oral doses anos e CF); Z scores diminuem em todas as
Raparigas crescentes até 2 mg/dia esteroides faixas etárias.
Grupo 2: transgénero: - Rapazes transgénero: sexuais Valores dos MTO diminuíram.
78 jovens 16,2
Ésteres de testosterona por 3
transgénero: Rapazes
36 raparigas transgénero: IM doses crescentes até Grupo 2:
transgénero 16,9 125 mg 2/2sem Após 3 anos de esteroides sexuais:
(46%) aumento significativo da DMOA. Z
42 rapazes scores aumentam e alcançam níveis
transgénero pré-terapêuticos (após declínio com
(54%) aGnRH em monoterapia) nos rapazes
transgénero, mas mantiveram-se
negativos nas raparigas transgénero.

75
2016 Richards Relato de N/A 1 homem 43 Testosterona não N/A 2 Atleta de competição.
on et al caso transgénero especificada Apresentou dor na virilha direita
(125) Fratura de stress do colo do fémur
direito.
6 semanas antes participou num
evento de corrida longa e intensa.

Legenda: %: por cento, /sem: por semana, µg: micrograma, aGnRH: análogos da hormona libertadora de gonadotrofina, AT: anca total, BMAT: tecido
adiposo da medula óssea, CF: colo do fémur, CL: coluna lombar, CTx: c-telopeptídeo, DEXA: absortometria de raio-X de dupla energia, DMO: densidade
mineral óssea, DMOA: densidade mineral óssea aparente, DMOa: densidade mineral óssea areal, DMOv: densidade mineral óssea volumétrica, F: fémur ,
FA: fosfatase alcalina, FR: fator de risco, FtM: homem transgénero, HP: história pessoal, IM: intramuscular, IU: unidades internacionais, kg: quilograma, m2:
metro quadrado, mg: miligrama, MtF: mulher transgénero, MTO: marcadores de turnover ósseo, N/A: não aplicável, P1NP: propeptídeo N terminal do
procolagénio 1, SC: subcutâneo, T: testosterona, TBLH: corpo total (exceto cabeça), TBS: score trabecular ósseo, THAG: terapêutica hormonal de afirmação
de género, vit.: vitamina.

76
AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Doutora Adriana Lages, o meu agradecimento pela oportunidade,


confiança no meu trabalho e ajuda na elaboração desta revisão.

À Professora Doutora Leonor Gomes, pelo despertar do encanto pela Endocrinologia e por
todo o apoio prestado.

À minha família, em especial aos meus pais, pela paciência e incentivo, e pela infinita
capacidade de compreensão. Obrigada por me terem permitido ir mais longe.

Aos meus amigos, pelo espírito de entreajuda e incessante motivação ao longo de todo o meu
percurso académico e pessoal. Obrigada por me fazerem tão feliz.

A todos, o meu mais sincero agradecimento.

77
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