TCC Argamassa
TCC Argamassa
ALAGOINHAS-BA
2021
Ingrid Souza Silva Scravela
Maghil Moreira da Silva
ALAGOINHAS
2021
Ingrid Souza Silva Scravela
Maghil Moreira da Silva
________________________________________
Prof.ª M.Sc. Juliane Santos Souza
Faculdade de Tecnologia e Ciências da Bahia
________________________________________
Prof. Esp. Michel Diego de Santana Fontes
Faculdade de Tecnologia e Ciências da Bahia
________________________________________
M. Sc. Patrícia dos S. Andrade
Faculdade de Tecnologia e Ciências da Bahia
DEDICATÓRIA
Tabela 1 Ensaio de granulometria exibe uma maior diferença entre as areias ........................ 16
Tabela 2 Massa específica ....................................................................................................... 17
Tabela 3 Trabalhabilidade avaliada por meio do índice de consistência ............................... 23
Tabela 4 Densidade de massa no estado fresco ...................................................................... 24
Tabela 5 Resistência à compressão ........................................................................................ 26
Tabela 6 Resistência à tração .................................................................................................. 27
Tabela 7 Absorção por capilaridade ........................................................................................ 28
Tabela 8 Absorção por imersão .............................................................................................. 29
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 10
1.1. OBJETIVOS ...................................................................................................................... 11
2. REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................................... 122
2.1. GERAÇÃO DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO .......................... 12
2.2. AGREGADOS RECICLADOS .................................................................................... 13
2.3. PROPRIEDADES DAS ARGAMASSAS RECICLADAS NO ESTADO FRESCO .. 17
2.3.1. Trabalhabilidade ............................................................................................................ 17
2.3.2. Densidade de Massa ...................................................................................................... 18
2.4. PROPRIEDADES DAS ARGAMASSAS RECICLADAS NO ESTADO
ENDURECIDO ...................................................................................................................... 199
2.4.1. Resistência à compressão ............................................................................................ 199
2.4.2. Resistência à tração ....................................................................................................... 20
2.4.3. Absorção por capilaridade e absorção por imersão ....................................................... 20
3. METODOLOGIA........................................................................................................ 21
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES .............................................................................. 22
4.1. TRABALHABILIDADE AVALIADA POR MEIO DO ÍNDICE DE CONSISTÊNCIA
.................................................................................................................................................. 22
4.2. DENSIDADE DE MASSA NO ESTADO FRESCO....................................................... 24
4.3. PROPRIEDADES NO ESTADO ENDURECIDO.......................................................... 25
4.3.1. Resistência à Compressão.............................................................................................. 25
4.3.2. Resistência à tração..........................................................................................................26
5. CONCLUSÃO.............................................................................................................. 29
6. REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 31
10
1. INTRODUÇÃO
A construção civil é um dos setores que mais contribuem para a geração de impactos
ambientais, devido a utilização em grande escala de matérias-primas não renováveis que são
aplicadas em seus processos produtivos. Diante disso e buscando redução da degradação do
meio ambiente a Resolução CONAMA N° 307 (2002), estabeleceu no uso de suas
competências, diretrizes que visam diminuir os danos causados pelo setor.
Para isso, um dos métodos que sustentam a ideia de preservação do meio ambiente é o
reaproveitamento da matéria-prima por meio da reciclagem e reutilização, como é o caso da
reutilização de resíduos da construção e demolição (RCD) em forma de agregado na produção
de argamassas.
Conforme Jochem, Rocha e Cheriaf (2012), dentre as principais vantagens na utilização dos
RCD como agregado destacam-se a redução do custo, redução dos impactos ambientais e a
conservação das matérias-primas naturais. Além disso, o uso do agregado reciclado (AR) em
substituição ao agregado natural (AN) na produção de materiais cimentícios pode contribuir
para a redução do descarte de RCD na natureza.
Conforme Schalch e Neto (2010), a produção e disposição final dos entulhos se tornaram um
dos principais problemas desencadeados pelas obras de construção civil e, consequentemente,
trata-se de um problema operacional e de gestão. Aspectos como constantes aumentos nos
custos de limpeza pública, degradação de ambientes e esgotamento de áreas de descarte têm
levado o poder público e pesquisadores da área a refletirem sobre possíveis alternativas de
gestão desses materiais (SCHALCH E NETO, 2010).
De acordo com Matuti (2019), em volta das grandes cidades, a areia e agregados naturais
tendem a ser mais escassos, inclusive graças ao crescente controle ambiental da extração das
matérias-primas. Para isso, a utilização de materiais provenientes da reciclagem de resíduos de
11
1.1. OBJETIVOS
Esta pesquisa tem como objetivo geral realizar uma revisão bibliográfica sobre a viabilidade de
produção de argamassas produzidas com AR de RCD.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Os RCD são gerados nas atividades de construção, reforma ou demolição e são constituídos, de
forma geral, pelos seguintes materiais: tijolos, blocos cerâmicos, concretos em geral, madeiras
e compensados, argamassa, gesso, entre outros (CONAMA, 2002; ANGULO, 2005).
Marques Neto (2005), ainda afirma que o aumento da demanda por infraestrutura e habitação
nos últimos anos impulsionou a geração de RCD, inexistindo inicialmente uma política voltada
para gestão e destinação final. O cenário de desenvolvimento demanda uma grande quantidade
de matéria prima e gera um elevado volume de resíduos.
Buttler et al. (2006), cita que a quantidade de RCD produzidos mundialmente gira em torno de
um bilhão de toneladas por ano. No Brasil, conforme os dados da ABRELPE, no ano de 2019
foram coletados pelos municípios aproximadamente 44,5 milhões de toneladas de RCD. No
mesmo panorama consta um comparativo entre os anos de 2010 e 2019, indicando um aumento
do total coletado, como indicado na Figura 1.
Com base nos números apresentados, percebe-se um crescimento na quantidade de RCD gerado
nos últimos anos, assim como também é perceptível que é um material gerado a altas
13
quantidades e que precisa de uma destinação adequada, para evitar que seja descartado de
maneira inadequada.
O aproveitamento dos RCD é uma das ações que devem ser popularizadas na construção civil,
pois esses resíduos apresentam elevado potencial de reaproveitamento e reciclagem. A
incorporação desses materiais em alguns produtos pode ser uma alternativa para a economia de
matéria prima e também para a redução do descarte inadequado (SPOSTO, 2006).
Com base no que é preconizado pela Resolução CONAMA Nº. 307 (2002), de forma geral,
esses materiais possuem potencial de reutilização e reciclagem, conforme descrita na
classificação que segue:
Com base no apresentado, percebe-se que o aproveitamento dos RCD é uma das ações que
devem ser incentivadas na construção civil, pois esses resíduos apresentam elevado potencial
de reaproveitamento e reciclagem, podendo ser empregados, por exemplo, em forma de AR na
produção de argamassas (FERREIRA, 2019; GIRARDI, 2016).
As propriedades dos agregados influenciam diretamente nas propriedades das argamassas. Essa
condição faz com que seja necessário avaliá-los antes da sua incorporação nas misturas para
uma dosagem adequada. Entre as propriedades a serem avaliadas, é importante verificar:
granulometria, massa específica, módulo de finura, impurezas orgânicas, materiais
pulverulentos, entre outros (NBR 15116, ABNT 2004).
14
Segundo Carasek et al. (2018), os AR têm como característica um formato laminar, isso é
decorrente do processo de moagem do grão, que faz com que apresentem esse formato, essa
característica pode ser observada na Figura 2 que mostra um comparativo entre o AR de RCD
e o AN.
De acordo com Silva Neto e Leite (2018) e Carasek et al. (2018), os AR são bastante porosos
(Figura 3) devido ao maior número de vazios no seu interior, em comparação aos AN. Essa
característica se dá em função dos materiais que compõem esse tipo de agregado, que em sua
15
maioria são compostos por concreto, argamassa e material cerâmico. Isso faz com que o teor
de absorção de água seja maior que o AN (FERREIRA, 2019).
Figura 3: Grão de agregado reciclado cimentício observado na lupa estereoscópica, onde se pode notar a alta
porosidade do material.
Malta et al. (2014) notaram que a granulometria do AR apresentou melhor distribuição que o
AN, como pode ser verificado na Figura 4. Esse mesmo comportamento foi observado por
Oliveira e Silva (2019) e SOUZA (2020). Nos estudos citados também foi observado que os
AR possuem um maior teor de finos na sua composição, o que pode influenciar diretamente na
dosagem das argamassas produzidas com esse material.
16
Outra propriedade importante que também deve ser avaliada quando se trata de agregados é o
módulo de finura. De forma geral, a literatura indica que os AR possuem maior módulo de
finura que os AN (CARASEK et al., 2018; MARCEDO et al., 2019; SOUZA 2020). Esses
resultados podem ser observados na Tabela 1.
Areia
Autor
Natural Areia Reciclada
Calcado e Ferreira, (2013) 2,55 2,89
Carasek et al. (2018) 2,60 2,90
Leite, (2018) 2,10 10,90
Macedo et al., (2019) 2,23 2,99
Souza (2020) 2,40 8,60
Fonte: Autores, 2021.
O ensaio de granulometria exibe uma maior diferença entre as areias, já que areia reciclada há
mais finos. No ensaio de materiais pulverulentos a areia reciclada tem um teor muito acima do
permitido pela norma ABNT NBR 7211:2019
Quanto à massa específica, observa-se que a areia reciclada e a areia natural possuem valores
distintos. Entretanto, vale ressaltar que essa variação está associada ao tipo de material que deu
origem ao AR (material cerâmico, concretos e argamassas) (CARASEK et al., 2018). Andolfato
17
(2002), por exemplo, identificou em seu trabalho um valor de 2,6g/cm² para o AN, entretanto
no AR verificou que os valores eram inferiores a 2,6 g/cm², independentemente do material
analisado. A tabela 2 contém resultados de massa específica verificados por outros autores,
corroborando o que foi indicado por CARASEK et al. (2018).
Areia Areia
Autor Natura Reciclada
(g/cm³)l (g/cm3)
Calcado e Ferreira, (2013) 2,67 2,45
Carasek et al. (2018) 2,73 2,54
Leite, (2018) 2,62 2,48
Ribeiro (2016) 2,63 2,68
Macedo et al., (2019) 2,63 2,47
Souza (2020) 2,62 2,57
Fonte: Autores, 2021.
2.3.1. Trabalhabilidade
A densidade da argamassa em seu estado fresco faz a relação entre a massa e o volume de
material obtido, isto quer dizer que, quanto menos densa for essa argamassa, mais leve ela será
e mais maleável, trazendo menos esforço em sua aplicação e aumentando a produtividade do
serviço (CARASEK, 2007).
Girardi (2016) afirma que a densidade de massa está ligada diretamente à massa específica dos
materiais constituintes, principalmente do agregado, como o AR possui massa específica
diferente do AN, há uma tendência de a incorporação desse material promover uma modificação
dessa propriedade.
Entre tantas propriedades mecânicas, a resistência à compressão é uma das propriedades mais
analisadas nas argamassas. As proporções de materiais utilizadas na dosagem e a quantidade de
água adicionada ao traço interferem diretamente na resistência à compressão.
Souza (2020) indica que as argamassas produzidas com percentuais de AR não apresentam um
comportamento bem definido quanto à resistência à compressão. O autor ressalta que vai
depender do tipo de agregado utilizado, da quantidade de RCD adicionada, do traço, assim
como da relação água/cimento.
Para (Assunção e Martins 2010, citado por ALMEIDA, 2020), quanto maior o teor de finos
nos agregados, maior a quantidade de água para resultar na trabalhabilidade desejada, sendo
assim, resultará em uma argamassa com baixa resistência e bastante porosa. Essa afirmação
leva a crer que agregados com altos teores de finos resultarão em argamassas menos resistentes,
como observado por Calcado (2015), que as amostras avaliadas apresentaram redução da
resistência à compressão quando comparadas às misturas com areia natural.
Souza e Leite (2021) em sua pesquisa identificaram que as argamassas produzidas com AR
utilizando um percentual de até 30 % de AR apresentaram redução da resistência à compressão.
Esse resultado foi associado a maior quantidade de água adicionada à mistura, que promoveu a
maior porosidade das argamassas avaliadas.
No entanto, nos estudos de (LIMA et al., 2016) as amostras de argamassa para o ensaio de
resistência de compressão axial, obtiveram resultados positivos com a substituição de agregado
natural por AR produzida com teor de substituição de 20 %, devido a AR se espalhar de maneira
uniforme na massa, preenchendo os vazios e melhorando a aderência à pasta de cimento.
Resultado compatível foi verificado por Alvarenga (2018), que ao utilizar até 50 % de AR de
argamassa identificou aumento da resistência à compressão.
20
Nas amostras que foram identificadas aumento na resistência alguns autores justificaram pelo
fato de o AR possuir partículas de cimento não hidratado, apresentar maior rugosidade, dessa
forma permite que o travamento com a matriz de cimento seja favorável (SILVA; BRITO;
DHIR, 2016; ALVARENGA, 2018).
No entanto, Girardi (2016) notou em sua pesquisa uma redução das resistências das amostras
avaliadas. Neste trabalho foi utilizado um percentual de 100 % de AR, o que demandou uma
quantidade de água no traço maior que a argamassa de referência, influenciando diretamente na
resistência à tração. Comportamento também observado por Pimentel et al. (2018).
A literatura indica que é comum ocorrer o aumento da absorção de água por imersão com a
incorporação de AR de RCD. A maioria dos autores apontam que a maior necessidade de água
de amassamento para uma consistência adequada acaba influenciando diretamente para que
21
aumente a chamada porosidade aberta das argamassas (GIRARDI, 2016; OLIVEIRA, 2012;
SOUZA, 2020).
Outros autores também apontam a maior porosidade do AR que faz com que esses materiais
influenciem diretamente na absorção das argamassas ao serem submetidas ao ensaio de
absorção por imersão (LIMA et al., 2016).
No entanto a baixos teores de substituição, até 40 %, Silva Neto e Leite (2018) constataram
redução da absorção por imersão, isso se deve aos autores utilizarem na produção das
argamassas a mesma quantidade de água e o teor de finos do AR aplicado era alto, o que fez
com que a porosidade fosse diminuída.
3. METODOLOGIA
Segundo Marconi e Lakatos (2006) nenhuma pesquisa emerge da estaca zero. mesmo que
exploratória, isto é, de avaliação de uma situação concreta desconhecida, em um dado local,
alguém ou um grupo, em algum lugar, já deve ter feito pesquisas iguais ou semelhantes, ou
mesmo complementares de certos aspectos da pesquisa pretendida. o mesmo permite também,
a síntese de múltiplos estudos e possibilita conclusões do tema abordado, no caso deste,
propriedades de argamassas produzidas com resíduo de construção e demolição.
Para a coleta de dados foram utilizadas as bases de dados virtuais: SciELO (Scientific Electronic
Library Online), anais de congressos, periódicos e manuais de normas de construção civil.
Os artigos, trabalhos de conclusão de cursos e dissertações provenientes das bases de dados
acima citadas foram selecionados por meio dos seguintes descritores, de forma isolada e/ou em
conjunto: Agregados reciclados, Argamassas com RCD, resíduos de construção e demolição.
Como critério de inclusão foram selecionados os artigos que apresentassem pelo menos um dos
descritores no seu resumo; textos completos em idioma português e inglês de livre acesso.
22
Para isso, foram primeiramente investigadas em que medida os artigos analisados interessavam
à pesquisa. Em seguida, a leitura seletiva determinou, de maneira crítica, a classificação
documental e triagem destes materiais. A leitura analítica foi realizada a fim de identificar as
ideias centrais dos textos já selecionados, organizando-os. Por fim, a leitura interpretativa,
trouxe o significado mais amplo dos dados e relacionou o conteúdo dos textos analisados com
os objetivos do trabalho.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Neste capítulo é feita a apresentação dos resultados obtidos a partir da revisão de literatura, que
teve como objetivo responder às questões relacionadas à incorporação de AR na composição
de argamassas.
Índice de Relação
Tipo de Percentual de
Autor consistência água/cime
agregado AR (%)
(mm) nto
Alvarenga (2018) Argamassa 30 330 1,25
Alvarenga (2018) Argamassa 50 320 1,25
Andrade et al. (2018) NA 0 270 0,99
Andrade et al. (2018) Cerâmico 50 268,70 1,07
Andrade et al. (2018) Cerâmico 75 263,50 1,08
Girardi (2016) AN 0 267 1,73
Girardi (2016) Misto 100 258 1,79
Oliveira (2012) AN 0 295 1,12
Oliveira (2012) Misto 25 295 1,18
Oliveira (2012) Misto 50 295 1,25
Pimentel et al. (2018) Misto 0 260 ± 5mm 1,50
Pimentel et al. (2018) Misto 30 260 ± 5mm 1,60
Pimentel et al. (2018) Misto 60 260 ± 5mm 1,90
Silva Neto e Leite (2018) Misto 0 270 0,88
Silva Neto e Leite (2018) Misto 20 265 0,88
Silva Neto e Leite (2018) Misto 40 243 0,88
Souza (2020) AN 0 262 0,68
Souza (2020) Misto 15 231 0,68
Souza (2020) Misto 30 214 0,68
É possível observar que no estudo feito por todos os autores citados na tabela 3, há uma
concordância em todos resultados analisados de que a alta absorção dos agregados influenciam
na consistência das misturas, independentemente do tipo do AR, seja cerâmico, misto ou de
argamassa. Outro aspecto que também pode ser citado como justificativa para esse
comportamento é a maior angulosidade e rugosidade superficial dos grãos, que aumentam o
atrito entre os materiais presentes na mistura, conforme é observado pelos autores (ANDRADE
et al. 2018; OLIVEIRA, 2012; PIMENTEL et al., 2018; SILVA NETO e LEITE, 2018)
Alvarenga (2018), Girardi (2016) e Souza (2020) por exemplo, notaram em seus trabalhos o
comportamento supracitado, indicando que um dos principais fatores para esse desempenho é
a diminuição da relação água/cimento efetiva presente na mistura ainda no estado fresco, dada
a maior absorção dos AR.
Para solucionar esse comportamento, muitos autores optam pelo aumento da relação
água/cimento utilizada na produção do traço. Oliveira (2012), por exemplo, visando manter o
índice de consistência semelhante a mistura produzida com apenas AN no traço, teve que
aumentar a quantidade de água, como pode ser visto na Tabela 3. Também é perceptível que
quanto maior o percentual de AR de RCD utilizado, maior também será a relação água/cimento.
24
Ao produzir misturas sem a correção da água Souza (2020) observou perda de trabalhabilidade
conforme aumentava o percentual de RCD no traço, chegando a uma redução de 22,43 % para
o traço com 30 % de AR ao comparar com a argamassa produzida apenas com AN. Já Girardi
(2016) constatou uma redução da consistência de 3,8 %. Essa perda de trabalhabilidade com o
aumento do RCD é um comportamento identificado pela maioria dos autores.
A Tabela 4 apresenta os resultados de densidade de massa no estado fresco obtidos por meio da
revisão bibliográfica.
A Tabela 4 também indica que a tendência é que os valores da densidade de massa sejam
reduzidos conforme se aumenta o teor de AR na composição das argamassas, condição
25
observada por Pimentel et al. (2018), que identificou uma redução de 5,6 % ao comparar a
mistura de referência e a de 60 % de AR. Girardi (2016) percebeu um decréscimo de 9,84 %.
Souza (2020) cita em seu trabalho outro fator que também pode contribuir para a diferença da
densidade: a compensação de água realizada nos traços que possuem AR. O autor indica que
quanto maior a quantidade de água livre na mistura, melhor preenchimento de vazios no estado
fresco e também maior será a densidade de massa.
Girardi (2016), Oliveira (2012), Silva Neto e Leite (2018) notaram que ao acrescentar AR o
desempenho da resistência à compressão melhorou, isso pode ser justificado pela maior
rugosidade e absorção do grão, que gerou maior aderência com a pasta de cimento. Já Pimentel
et al. (2018) e Andrade et al. (2018) notaram que as argamassas apresentaram uma menor
resistência à compressão quando se aumentou o percentual de RCD no traço.
26
Percentual de
Tipo de Resistência
Autor AR (%)
agregado média (MPa)
Alvarenga (2018) Argamassa 0 5,94
Alvarenga (2018) Argamassa 30 8,32
Alvarenga (2018) Argamassa 50 6,45
Andrade et al. (2018) AN 0 7,04
Andrade et al. (2018) Cerâmico 50 5,00
Andrade et al. (2018) Cerâmico 75 5,25
Girardi (2016) AN 0 3,90
Girardi (2016) Misto 100 3,20
Oliveira (2012) AN 0 4,30
Oliveira (2012) Misto 25 4,90
Oliveira (2012) Misto 50 5,40
Pimentel et al. (2018) Misto 0 6,36
Pimentel et al. (2018) Misto 30 5,16
Pimentel et al. (2018) Misto 60 3,71
Silva Neto e Leite (2018) Misto 0 13,50
Silva Neto e Leite (2018) Misto 20 14,90
Silva Neto e Leite (2018) Misto 40 17,50
Souza (2020) AN 0 17,10
Souza (2020) Misto 15 18,80
Souza (2020) Misto 30 19,40
A partir da análise da tabela 5 é perceptível que os teores de substituição para cada tipo de AR,
tem um comportamento específico para esta propriedade, não sendo dependente apenas do teor
de substituição. Porém segundo Souza (2020) essa resistência é melhorada quando não se faz a
compensação da relação água/cimento, também há uma tendência a redução da resistência
quando a quantidade de água no traço é aumentada. Vale salientar que como mostra a literatura
a não correção da quantidade de água adicionada ao traço vai diminuir a trabalhabilidade das
argamassas, o que seria prejudicial a sua aplicação, por exemplo.
Os AR, contém partículas menores do que o AN, conseguindo preencher os vazios com mais
facilidade, criando maior resistência a tração, isso justifica o comportamento de algumas
argamassas apresentarem maiores resistência à tração, como indicado na Tabela 5.
No trabalho de Pimentel et al. (2018) e Girardi (2018) verificou-se uma perda de resistência
quando foi utilizado o AR para compor os traços, esses resultados podem ser justificados pela
maior quantidade de água utilizada nos traços quando se utilizou os AR.
28
Os resultados de absorção por capilaridade obtidos por meio da revisão bibliográfica estão
indicados na Tabela 7.
Absorção por
Tipo de Percentual de
Autor capilaridade
agregado AR (%)
(g/cm³)
Alvarenga (2018) NA 0 1,54
Alvarenga (2018) Argamassa 30 2,48
Alvarenga (2018) Argamassa 50 1,98
Lima et al. (2016) NA 0 3,14
Lima et al. (2016) Misto 20 3,12
Lima et al. (2016) Misto 50 3,16
Macedo et al. (2019) NA 0 1,02
Macedo et al. (2019) Misto 50 1,19
Macedo et al. (2019) Misto 100 1,14
Oliveira (2012) NA 0 1,22
Oliveira (2012) Misto 25 1,37
Oliveira (2012) Misto 50 1,40
Oliveira (2012) Misto 75 1,84
Pimentel et al. (2018) Misto 0 2,7
Pimentel et al. (2018) Misto 30 4,7
Pimentel et al. (2018) Misto 60 3,8
Ribeiro et al. (2016) NA 0 2,11
Ribeiro et al. (2016) Pó de brita 50 2,14
Ribeiro et al. (2016) Pó de brita 100 2,62
Silva Neto e Leite (2018) NA 0 0,70
Silva Neto e Leite (2018) Misto 20 0,63
Silva Neto e Leite (2018) Misto 40 0,52
Como se pode notar na tabela 7 no geral, quanto maior o teor de AR na argamassa, maior a
absorção de água por capilaridade, como observado por Ribeiro et al. (2016), aumento de 24,17
% e Pimentel et al. (2018), acréscimo de 40,74 %. Esse comportamento pode ser justificado
pela maior porosidade das argamassas, dada a também maior relação água/cimento utilizada no
traço. Outra justificativa pertinente é a maior absorção do AR, que influencia diretamente na
absorção.
Entretanto, Silva Neto e Leite (2018) identificaram redução na absorção das argamassas de até
34,61 %, que pode ser justificada pela maior presença de finos no AR, que faz com que os poros
sejam reduzidos.
A Tabela 8 apresenta os resultados de absorção por imersão obtidos por meio da revisão
bibliográfica.
29
De forma geral nota-se que quando se utiliza AR nas argamassas, a absorção é maior e essa
absorção tende a aumentar com o maior percentual de RCD na mistura. Como identificado por
Girardi (2016), Oliveira (2012) e Lima et al. (2012). Esses resultados podem ser justificados
pela maior quantidade de água utilizada no traço para produzir essas argamassas, assim como
pela maior absorção do AR.
No entanto, Alvarenga (2018) notou redução da absorção de até 5,23 %, conforme aumentou a
proporção de AR no traço, esse comportamento pode ser justificado pela maior quantidade de
finos na mistura, que pode ter promovido a redução dos vazios.
É perceptível que a absorção por imersão e a absorção por capilaridade seguem a mesma
tendência de comportamento e, de forma geral, tem uma predisposição a aumentar a absorção
com o aumento do teor de RCD na argamassa.
5. CONCLUSÃO
É possível concluir, com base na análise dos resultados, que ao incorporar o AR na composição
das argamassas há uma modificação no comportamento das propriedades, seja no estado fresco
ou endurecido.
30
De forma geral, foi possível identificar que o AR reduz a trabalhabilidade das argamassas e
também reduz a densidade de massa no estado fresco, pois o AR é menos denso do que o AN.
Quanto à massa específica, observa-se que a areia reciclada, no geral, é relativamente menor
que a areia natural, vale ressaltar que essa variação está associada ao tipo de material que deu
origem ao AR (material cerâmico, concretos e argamassas).
Também pode-se concluir que em decorrência das diferentes propriedades dos AR é importante
observá-las durante o processo de dosagem, pois esses materiais são mais porosos, mais rugosos
e angulares que os AN, fazendo com que seja necessário utilizar mais água no processo de
dosagem, principalmente nos AR cerâmico devido ao maior teor de finos, para obter uma boa
trabalhabilidade.
Apesar da modificação das propriedades com o uso do AR, percebeu-se que os resultados
obtidos para cada ensaio não inviabilizam o uso do AR, visto que as argamassas ainda
apresentam bons resultados, resistência à tração, resistência à compressão, absorção, e
densidade de massa.
31
6. REFERÊNCIAS
ASSUNÇÃO, L.T.; CARVALHO, G.F.; BARATA, M.S. Avaliação das propriedades das
argamassas de revestimento produzidas com resíduos da construção e demolição como
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