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Trabalho de Tema Transversal

O relatório analisa a componente educativa do Plano Nacional para o Avanço da Mulher (PNAM) 2018–2024 em Moçambique, destacando a importância da educação para a igualdade de género. Identificam-se lacunas na implementação do plano, como a falta de foco no Ensino Básico, infraestrutura inadequada e formação insuficiente de professores. Recomendações são propostas para fortalecer a eficácia das políticas de género na educação básica e garantir acesso equitativo para todas as raparigas.

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O relatório analisa a componente educativa do Plano Nacional para o Avanço da Mulher (PNAM) 2018–2024 em Moçambique, destacando a importância da educação para a igualdade de género. Identificam-se lacunas na implementação do plano, como a falta de foco no Ensino Básico, infraestrutura inadequada e formação insuficiente de professores. Recomendações são propostas para fortalecer a eficácia das políticas de género na educação básica e garantir acesso equitativo para todas as raparigas.

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Introdução
A promoção da igualdade de género constitui uma prioridade essencial para o
desenvolvimento sustentável de Moçambique. Neste contexto, o Governo aprovou o Plano
Nacional para o Avanço da Mulher (PNAM) 2018–2024, com o objectivo de garantir a
participação plena da mulher nas esferas política, económica, social e cultural. O plano
contempla várias áreas de intervenção, entre as quais se destaca a componente educativa, que
é determinante para o empoderamento feminino desde os primeiros anos escolares.
O presente relatório, elaborado no âmbito da formação em Licenciatura em Ensino Básico e
apoiado pela experiência de estágio docente, visa analisar criticamente a componente
educativa do PNAM, com ênfase no Ensino Básico. A partir da leitura atenta do documento e
da observação prática nas escolas, identificam-se lacunas, críticas e desafios relacionados à
implementação das políticas de género no setor da educação primária.
O trabalho é orientado por uma abordagem crítica e reflexiva, com o propósito de contribuir
para o fortalecimento de estratégias que assegurem o acesso, permanência e sucesso das
raparigas na escola, condição fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e
equitativa.
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2. Análise do Plano Nacional de Igualdade de Género

3. Enquadramento do PNAM e da Componente Educativa


O Plano Nacional para o Avanço da Mulher (PNAM) 2018–2024 é um instrumento
estratégico do Governo de Moçambique, aprovado pela Resolução n.º 21/2019 do Conselho
de Ministros, com o propósito de consolidar os compromissos nacionais e internacionais em
matéria de igualdade de género e empoderamento da mulher. Este plano sucede aos anteriores
instrumentos políticos, como a Política de Género (2006) e o III PNAM (2010–2014), e
incorpora diretrizes da Constituição da República (artigos 35 e 36), da Plataforma de Acção
de Beijing, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2063 da União
Africana e do Protocolo da SADC sobre Género e Desenvolvimento.

O plano organiza-se em oito áreas de intervenção prioritárias, sendo uma delas a “Mulher,
Educação e Formação Profissional”, que contempla objetivos estratégicos orientados para a
eliminação das desigualdades de acesso, permanência e sucesso entre homens e mulheres no
sistema educativo. A componente educativa reconhece que a educação é um direito
fundamental e uma ferramenta poderosa para a transformação social e económica da vida das
mulheres e raparigas moçambicanas.

Entre as acções definidas na componente educativa destacam-se:

 A implementação de medidas para a prevenção do assédio e abuso sexual nas escolas;


 A atribuição de bolsas de estudo para raparigas;
 O desenvolvimento de infraestruturas escolares sensíveis ao género;
 A criação de políticas de quotas para promover a participação feminina no Ensino
Técnico Profissional;
 A promoção da presença das raparigas em áreas tradicionalmente dominadas por
homens, como as ciências e tecnologias.
Entretanto, a efectivação dessas ações no contexto do Ensino Básico apresenta desafios que
exigem análise crítica, especialmente considerando as realidades observadas nas escolas
durante o estágio docente.
4. Análise Crítica da Implementação no Ensino Básico
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Com base na leitura do PNAM e nas observações feitas durante o estágio, identificaram-se as
seguintes lacunas e críticas:

4.1. Lacunas e Críticas


a) Foco limitado no Ensino Básico: Embora o PNAM afirme promover a igualdade em
todos os níveis de ensino, muitas das ações propostas concentram-se no Ensino Técnico e
Superior, como as políticas de quotas e bolsas. O Ensino Básico, que representa a base da
formação educacional, não é devidamente priorizado nas estratégias apresentadas, apesar de
ser o nível onde ocorrem os maiores índices de abandono escolar de raparigas.

b) Formação insuficiente de professores em igualdade de género: O plano não prevê de


forma clara e sistemática a capacitação de professores do Ensino Básico em temáticas como
igualdade de género, prevenção da violência e pedagogia inclusiva. Durante o estágio,
verificou-se que muitos docentes não possuem formação específica para lidar com questões
de género e, em alguns casos, reproduzem estereótipos discriminatórios no trato com alunos e
alunas.

c) Falta de infraestrutura escolar adequada para meninas: Apesar do reconhecimento da


importância de escolas sensíveis ao género, muitas instituições do Ensino Básico não dispõem
de casas de banho separadas e apropriadas para raparigas, o que dificulta a permanência na
escola, especialmente durante o período menstrual. Essa situação contribui para o absentismo
e a evasão escolar feminina.

d) Inexistência de mecanismos eficazes de proteção contra a violência: O plano menciona


a prevenção do assédio e do abuso sexual, mas não especifica mecanismos concretos para que
as escolas atuem em casos de violência baseada no género. Durante o estágio, observou-se
que muitas escolas não possuem canais de denúncia funcionais, nem profissionais preparados
para atender raparigas em situação de risco.

e) Fraca articulação com a comunidade e as famílias: O sucesso das políticas de género na


educação exige o envolvimento de pais, encarregados de educação e líderes comunitários.
Contudo, o PNAM não apresenta estratégias claras de mobilização comunitária voltadas para
a valorização da educação da rapariga no Ensino Básico, especialmente nas zonas rurais onde
predominam valores culturais que favorecem o casamento precoce e a divisão desigual de
tarefas domésticas.
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f) Ausência de metas específicas para o Ensino Básico: O plano carece de indicadores


mensuráveis específicos para o Ensino Básico, como taxas de retenção de raparigas, paridade
de género nas matrículas e no desempenho escolar. Essa ausência dificulta a avaliação do
impacto real das ações nas escolas de nível primário e secundário do primeiro ciclo.

5. Desafios Observados no Estágio

Durante o estágio pedagógico realizado em escolas do Ensino Básico, foi possível confrontar
as diretrizes do Plano Nacional para o Avanço da Mulher (PNAM) 2018–2024 com a
realidade concreta das instituições escolares. A experiência prática permitiu identificar uma
série de desafios que dificultam a implementação eficaz da componente educativa do plano,
especialmente no que diz respeito à promoção da igualdade de género e ao empoderamento
das raparigas no ambiente escolar.

 Abandono escolar de raparigas: Verificou-se um número significativo de casos de


raparigas que abandonaram a escola devido a fatores como casamentos prematuros,
gravidez na adolescência, tarefas domésticas excessivas e falta de apoio familiar.
Esses fatores continuam a ser um grande obstáculo, apesar dos compromissos
assumidos no plano.

 Condições físicas inadequadas nas escolas: Muitas escolas observadas não possuem
casas de banho separadas por sexo, nem condições mínimas para garantir a higiene
menstrual com dignidade, o que afeta negativamente a frequência das alunas. Além
disso, faltam salas seguras, iluminação adequada e espaços de apoio.
 Falta de formação específica dos professores: Os docentes entrevistados
demonstraram pouco conhecimento sobre a abordagem de género na educação. Não há
formação contínua obrigatória sobre o tema, nem orientações claras para lidar com
situações de discriminação, estereótipos ou violência baseada no género.

 Inexistência de mecanismos escolares de denúncia: As escolas visitadas não


possuíam estruturas formais para lidar com casos de assédio ou violência contra
raparigas. Não havia conselheiros escolares, psicólogos ou canais anónimos de
denúncia, o que deixa as alunas desprotegidas e vulneráveis.
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 Falta de materiais pedagógicos sensíveis ao género: Os livros, cartazes e outros


materiais utilizados na escola reproduzem estereótipos de género (por exemplo,
meninas em papéis domésticos e meninos em profissões de prestígio), contrariando os
princípios do PNAM de promoção da igualdade desde cedo.

 Resistência cultural à permanência da rapariga na escola: Em algumas


comunidades observadas, ainda há pressão social e cultural para que a rapariga
abandone a escola após a puberdade, especialmente nas famílias mais pobres. Isso
dificulta o cumprimento das metas do plano e reforça ciclos de exclusão.

 Ausência de programas de apoio psicossocial: As escolas do Ensino Básico não


dispõem de serviços de apoio psicológico ou social que possam acompanhar alunas
em situação de vulnerabilidade, como vítimas de violência doméstica ou com
dificuldades emocionais, o que compromete o seu sucesso escolar.

6. Considerações Finais e Recomendações

A análise da componente educativa do Plano Nacional para o Avanço da Mulher (PNAM)


2018–2024, aliada à experiência prática do estágio em escolas do Ensino Básico, evidencia
que, embora o plano represente um avanço significativo no compromisso político com a
igualdade de género, a sua implementação enfrenta desafios concretos e estruturais que
limitam a sua eficácia no nível básico do sistema educativo.

Entre os principais obstáculos identificados destacam-se: a falta de foco no Ensino Básico, a


escassez de metas específicas, a precariedade das infraestruturas escolares, a formação
deficiente dos professores, a ausência de mecanismos escolares de proteção para raparigas e a
persistência de práticas culturais discriminatórias. Estas fragilidades tornam difícil a
concretização dos objetivos propostos pelo PNAM em relação à educação das meninas
moçambicanas.

Com base nesta análise, propõem-se as seguintes recomendações:

a) Fortalecer o foco do PNAM no Ensino Básico: Incluir ações específicas e metas


mensuráveis voltadas ao Ensino Primário e ao Primeiro Ciclo do Ensino Secundário, com
indicadores de matrícula, retenção e conclusão desagregados por sexo.
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b) Melhorar a formação docente: Criar e implementar um programa nacional de formação


contínua sobre igualdade de género para todos os professores do Ensino Básico. Integrar a
abordagem de género nos currículos de formação inicial de professores.

c) Requalificar as infraestruturas escolares: Garantir casas de banho separadas por sexo,


acesso à higiene menstrual, segurança e privacidade nas escolas; Priorizar investimentos em
zonas rurais e escolas com maiores taxas de evasão feminina.

d) Estabelecer mecanismos escolares de proteção: Criar estruturas internas nas escolas para
a denúncia e acompanhamento de casos de violência baseada no género; Formar conselheiros
escolares ou designar docentes com formação para atuar na área de proteção da criança e
igualdade de género.

e) Mobilizar famílias e comunidades: Promover campanhas educativas comunitárias em


parceria com líderes religiosos e tradicionais para combater estereótipos e práticas nocivas
como os casamentos prematuros; Incentivar a participação dos encarregados de educação nas
decisões escolares sobre género.

f) Garantir financiamento e monitoria: Assegurar que haja orçamento alocado e executado


para ações educativas previstas no PNAM; Estabelecer mecanismos de monitoria e avaliação
anual da componente educativa nas escolas do Ensino Básico.

Estas recomendações visam fortalecer a eficácia da política de género na educação básica e


garantir que todas as raparigas tenham acesso equitativo, seguro e digno à escola,
contribuindo para o desenvolvimento sustentável e inclusivo do país.

Conclusão

O presente relatório analisou a componente educativa do Plano Nacional para o Avanço da


Mulher (PNAM) 2018–2024, com foco específico no Ensino Básico, tendo como base a
leitura crítica do plano e as observações feitas durante o estágio pedagógico. Verificou-se que,
embora o PNAM represente um compromisso relevante do Governo de Moçambique com a
promoção da igualdade de género, a sua implementação no contexto escolar básico enfrenta
diversos desafios estruturais, pedagógicos e socioculturais.

As principais lacunas identificadas incluem a falta de metas específicas para o Ensino Básico,
a ausência de mecanismos claros de proteção para as raparigas, infraestruturas inadequadas,
formação insuficiente dos professores e pouca articulação com as comunidades. Esses fatores
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contribuem para a permanência de desigualdades que afetam diretamente o acesso, a


frequência e o sucesso escolar das raparigas moçambicanas.

É urgente reforçar a ação do Estado, das escolas e da sociedade civil no combate às barreiras
que limitam a educação das meninas, garantindo que as políticas públicas, como o PNAM,
não permaneçam apenas no papel, mas que se traduzam em transformações reais na vida
escolar e social das crianças e jovens do país.

Referências Bibliográficas

República de Moçambique. (2019). Plano Nacional para o Avanço da Mulher 2018–2024.


Boletim da República, I Série – Número 77, 22 de Abril.

Constituição da República de Moçambique (2004).

Plataforma de Ação de Beijing (1995).

ONU Mulheres. (2017). Educação e Igualdade de Género: desafios globais e locais.

UNESCO. (2019). Gender Report – Global Education Monitoring Report.


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