Dislexia
Histórico - Pela dificuldade em compreender que o disléxico tem facilidades e
paralelas dificuldades em seu modo peculiar de ser e de aprender, registramos breve
histórico da pesquisa científica sobre o que é Dislexia. Gostaríamos que esta
referência se torne em singela homenagem aos valorosos profissionais que, há 130
anos, vêem trazendo luz ao entendimento desta intrigante dificuldade de
aprendizado, que se constitui em um de nossos mais sérios desafios sociais, a propor
uma verdadeira revolução na prática educacional no mundo da escola.
Dislexia é uma específica dificuldade de aprendizado da Linguagem: em Leitura,
Soletração, Escrita, em Linguagem Expressiva ou Receptiva, em Razão e Cálculo
Matemáticos, como na Linguagem Corporal e Social. Não tem como causa falta de
interesse, de motivação, de esforço ou de vontade, como nada tem a ver com
acuidade visual ou auditiva. Dificuldades no aprendizado da leitura, em diferentes
graus, é característica evidenciada em cerca de 80% dos disléxicos.
Dislexia, antes de qualquer definição, é um jeito de ser e de aprender; reflete a
expressão individual de uma mente, muitas vezes arguta e até genial, mas que
aprende de maneira diferente...
Para bem definir o que é Dislexia, é preciso que melhor se possa entender o ser
humano, como ele aprende e o por quê de seu modo peculiar de aprender. Por isto,
existem cerca de 40 definições propostas para responder o que é Dislexia, porém
nenhuma delas universalmente aceita. Isto também acontece porque o profissional
engajado em diferentes áreas da Educação e da Saúde e envolvido em pesquisas
sobre facilidades e dificuldades de aprendizado, aborda o problema sob ângulos
diferenciados e pelo enfoque de sua área específica de análise, acrescido de seu
grau pessoal de conhecimento e sensililidade. É por isto que também existem mais
de 100 diferentes nomes para identificar essa específica dificuldade de aprendizado,
sendo que DISLEXIA é o que melhor pode traduzir essa síndrome, claramente
diagnosticada através de seus sintomas e sinais. Dificuldade que levou a ser, só mais
recentemente, considerada a Dislexia em seu significado de dificuldades com a
Linguagem em seu sentido mais amplo, como:
Disgrafia é uma inabilidade ou atraso no desenvolvimento da Linguagem Escrita,
especialmente da escrita cursiva. Escrever com máquina datilográfica ou com o
computador pode tornar-se mais fácil para o disléxico. Na escrita manual, as letras
podem ser mal desenhadas, borradas ou incompletas, com tendência à escrita em
letra de forma. Os erros ortográficos, supressões ou substituições de letras, sílabas e
números, como inversões do sentido direcional de letras e números - chamada
escrita de espelho, ficam caracterizados com muita frequência... Ler mais sobre>
Discalculia - As dificuldades com a Linguagem Matemática são muito variadas em
seus diferentes níveis e complexas em sua origem. Podem evidenciar-se já no
aprendizado aritmético básico, como, mais tarde, na elaboração do pensamento
matemático mais elaborado. Embora essas dificuldades possam manifestar-se sem
nenhuma inabilidade em leitura, há outras que decorrem de dificuldades no
processamento lógico-matemático da linguagem lida ou ouvida. As dificuldades mais
graves são decorrentes da imprecisa percepção de espaço e tempo, na apreensão,
coordenação e processamento de fatos matemáticos em sua devida ordem...Ler mais
sobre>
Déficit de Atenção É a dificuldade de concentrar e de manter concentrada a
atenção em objetivo central, para discriminar, compreender e assimilar o foco central
de um estímulo. Esse estado de concentração é fundamental para que, através do
discernimento e da elaboração do ensino, possa completar-se a fixação do
aprendizado. A Deficiência de Atenção pode manifestar-se isoladamente ou
associada a uma Linguagem Corporal que caracteriza a Hiperatividade ou,
opostamente, a Hipoatividade...Ler mais sobre>
Hiperatividade - Refere-se à atividade psicomotora excessiva, com padrões
diferenciais de sintomas: o jovem ou a criança hiperativa com comportamento
impulsivo é aquela que fala sem parar e nunca espera por nada. Não consegue
esperar por sua vez, interrompendo e atropelando tudo e todos. Porque age sem
pensar e sem medir conseqüências, é comum que sempre tenha muitos hematomas
e cortes. Um segundo tipo de hiperatividade tem características mais pronunciadas
em sintomas de dificuldades de foco de atenção. É uma superestimulação nervosa
que leva esse jovem ou essa criança a passar de um estímulo a outro, não
conseguindo focar sua atenção em um único tópico. Assim, nos dá a falsa impressão
de que é desligada mas, ao contrário, é por estar ligada em tudo, ao mesmo tempo,
que não consegue concentrar-se em um único estímulo à sua volta, ignorando
outros...Ler mais sobre>
Hipoatividade - A Hipoatividade se caracteriza por um nível baixo de atividade
psicomotora, com reação lenta a qualquer estímulo. Trata-se daquela criança
chamada "boazinha", que parece estar, sempre, no "mundo da lua", "sonhando
acordada". Comumente, o hipoativo tem memória pobre e comportamento vago,
pouca interação social e quase não se envolve com seus colegas...Ler mais sobre>
Na Primeira Infância:
1 - atraso no desenvolvimento motor desde a fase do engatinhar, sentar e
andar;
2 - atraso ou deficiência na aquisição da fala, desde o balbucio á pronúncia de
palavras;
3 - parece difícil para essa criança entender o que está ouvindo;
4 - distúrbios do sono;
5 - enurese noturna;
6 - suscetibilidade à alergias e à infecções;
7 - tendência à hiper ou a hipo-atividade motora;
8 - chora muito e parece inquieta ou agitada com muita freqüência;
9 - dificuldades para aprender a andar de triciclo;
10 - dificuldades de adaptação nos primeiros anos escolares.
Observação:
Pesquisas científicas neurobiológicas recentes concluiram que o sintoma mais
conclusivo acerca do risco de dislexia em uma criança, pequena ou mais velha,
é o atraso na aquisição da fala e sua deficiente percepção fonética. Quando este
sintoma está associado a outros casos familiares de dificuldades de
aprendizado - dislexia é, comprovadamente, genética, afirmam especialistas que
essa criança pode vir a ser avaliada já a partir de cinco anos e meio, idade ideal
para o início de um programa remediativo, que pode trazer as respostas mais
favoráveis para superar ou minimizar essa dificuldade.
A dificuldade de discriminação fonológica leva a criança a pronunciar as
palavras de maneira errada. Essa falta de consciência fonética, decorrente da
percepção imprecisa dos sons básicos que compõem as palavras, acontece, já,
a partir do som da letra e da sílaba. Essas crianças podem expressar um alto
nível de inteligência, "entendendo tudo o que ouvem", como costumam
observar suas mães, porque têm uma excelente memória auditiva. Portanto, sua
dificuldade fonológica não se refere à identificação do significado de
discriminação sonora da palavra inteira, mas da percepção das partes sonoras
diferenciais de que a palavra é composta. Esta a razão porque o disléxico
apresenta dificuldades significativas em leitura, que leva a tornar-se, até,
extremamente difícil sua soletração de sílabas e palavras. Por isto, sua
tendência é ler a palavra inteira, encontrando dificuldades de soletração sempre
que se defronta com uma palavra nova.
Porque, freqüentemente, essas crianças apresentam mais dificuldades na
conquista de
domínio do equilíbrio de seu corpo com relação à gravidade, é comum que pais
possam submete-las a exercícios nos chamados "andadores" ou "voadores".
Prática que, advertem os especialistas, além de trazer graves riscos de
acidentes, é absolutamente inadequada para a aquisição de equilíbrio e
desenvolvimento de sua capacidade de andar, como interfere, negativamente,
na cooperação harmônica entre áreas motoras dos hemisférios esquerdo-direito
do cérebro. Por isto, crianças que exercitam a marcha em "andador", só
adquirem o domínio de andar sozinhas, sem apoio, mais tardiamente do que as
outras crianças.
Além disso, o uso do andador como exercício para conquista da marcha ou
visando uma maior desenvoltura no andar dessa criança, também contribui, de
maneira comprovadamente negativa, em seu desenvolvimento psicomotor
potencial-global, em seu processo natural e harmônico de maturação e
colaboração de lateralidade hemisférica-cerebral.
A Partir dos Sete Anos de Idade:
1 - pode ser extremamente lento ao fazer seus deveres:
2 - ao contrário, seus deveres podem ser feitos rapidamente e com muitos erros;
3 - copia com letra bonita, mas tem pobre compreensão do texto ou não lê o que
escreve;
4 - a fluência em leitura é inadequada para a idade;
5 - inventa, acrescenta ou omite palavras ao ler e ao escrever;
6 - só faz leitura silenciosa;
7 - ao contrário, só entende o que lê, quando lê em voz alta para poder ouvir o som
da palavra;
8 - sua letra pode ser mal grafada e, até, ininteligível; pode borrar ou ligar as
palavras entre si;
9 - pode omitir, acrescentar, trocar ou inverter a ordem e direção de letras e sílabas;
10 - esquece aquilo que aprendera muito bem, em poucas horas, dias ou semanas;
11 - é mais fácil, ou só é capaz de bem transmitir o que sabe através de exames
orais;
12 - ao contrário, pode ser mais fácil escrever o que sabe do que falar aquilo que
sabe;
13 - tem grande imaginação e criatividade;
14 - desliga-se facilmente, entrando "no mundo da lua";
15 - tem dor de barriga na hora de ir para a escola e pode ter febre alta em dias de
prova;
16 - porque se liga em tudo, não consegue concentrar a atenção em um só
estímulo;
17 - baixa auto-imagem e auto-estima; não gosta de ir para a escola;
18 - esquiva-se de ler, especialmente em voz alta;
19 - perde-se facilmente no espaço e no tempo; sempre perde e esquece seus
pertences;
20 - tem mudanças bruscas de humor;
21 - é impulsivo e interrompe os demais para falar;
22 - não consegue falar se outra pessoa estiver falando ao mesmo tempo em que
ele fala;
23 - é muito tímido e desligado; sob pressão, pode falar o oposto do que desejaria;
24 - tem dificuldades visuais, embora um exame não revele problemas com seus
olhos;
25 - embora alguns sejam atletas, outros mal conseguem chutar, jogar ou apanhar
uma bola;
26 - confunde direita-esquerda, em cima-em baixo; na frente-atrás;
27 - é comum apresentar lateralidade cruzada; muitos são canhestros e outros
ambidestros;
28 - dificuldade para ler as horas, para seqüências como dia, mês e estação do
ano;
29 - dificuldade em aritmética básica e/ou em matemática mais avançada;
30 - depende do uso dos dedos para contar, de truques e objetos para calcular;
31 - sabe contar, mas tem dificuldades em contar objetos e lidar com dinheiro;
32 - é capaz de cálculos aritméticos, mas não resolve problemas matemáticos ou
algébricos;
33 - embora resolva cálculo algébrico mentalmente, não elabora cálculo aritmético;
34 - tem excelente memória de longo prazo, lembrando experiências, filmes,
lugares e faces;
35 - boa memória longa, mas pobre memória imediata, curta e de médio prazo;
36 - pode ter pobre memória visual, mas excelente memória e acuidade auditivas;
37 - pensa através de imagem e sentimento, não com o som de palavras;
38 - é extremamente desordenado, seus cadernos e livros são borrados e
amassados;
39 - não tem atraso e dificuldades suficientes para que seja percebido e ajudado na
escola;
40 - pode estar sempre brincando, tentando ser aceito nem que seja como
"palhaço" ;
41 - frustra-se facilmente com a escola, com a leitura, com a matemática, com a
escrita;
42 - tem pré-disposição à alergias e à doenças infecciosas;
43 - tolerância muito alta ou muito baixa à dor;
44 - forte senso de justiça;
45 - muito sensível e emocional, busca sempre a perfeição que lhe é difícil atingir;
46 - dificuldades para andar de bicicleta, para abotoar, para amarrar o cordão dos
sapatos;
47 - manter o equilíbrio e exercícios físicos são extremamente difíceis para muitos
disléxicos;
48 - com muito barulho, o disléxico se sente confuso, desliga e age como se
estivesse distraído;
49 - sua escrita pode ser extremamente lenta, laboriosa, ilegível, sem domínio do
espaço na página;
50 - cerca de 80% dos disléxicos têm dificuldades em soletração e em leitura.
Crianças disléxicas apresentam combinações de sintomas, em intensidade de
níveis que variam entre o sutil ao severo, de modo absolutamente pessoal. Em
algumas delas há um número maior de sintomas e sinais; em outras, são
observadas somente algumas características. Quando sinais só aparecem
enquanto a criança é pequena, ou se alguns desses sintomas somente se mostram
algumas vezes, isto não significa que possam estar associados à Dislexia.
Inclusive, há crianças que só conquistam uma maturação neurológica mais
lentamente e que, por isto, somente têm um quadro mais satisfatório de evolução,
também em seu processo pessoal de aprendizado, mais tardiamente do que a
média de crianças de sua idade.
Pesquisadores têm enfatizado que a dificuldade de soletração tem-se evidenciado
como um sintoma muito forte da Dislexia. Há o resultado de um trabalho recente,
publicado no jornal Biological Psychiatry e referido no The Associated Press em
15/7/02, onde foram estudadas as dificuldades de disléxicos em idade entre 7 e 18
anos, que reafirma uma outra conclusão de pesquisa realizada com disléxicos
adultos em 1998, constando do seguinte:
que quanto melhor uma criança seja capaz de ler, melhor ativação ela mostra em
uma específica área cerebral, quando envolvida em exercício de soletração de
palavras. Esses pesquisadores usaram a técnica de Imagem Funcional de
Ressonância Magnética, que revela como diferentes áreas cerebrais são
estimuladas durante atividades específicas. Esta descoberta enfatiza que essa
região cerebral é a chave para a habilidade de leitura, conforme sugerem esses
estudos.
Essa área, atrás do ouvido esquerdo, é chamada região ocipto-temporal esquerda.
Cientistas que, agora, estão tentando definir que circuitos estão envolvidos e o que
ocorre de errado em Dislexia, advertem que essa tecnologia não pode ser usada
para diagnosticar Dislexia.
Esses pesquisadores ainda esclarecem que crianças disléxicas mais velhas
mostram mais atividade em uma diferente região cerebral do que os disléxicos mais
novos. O que sugere que essa outra área assumiu esse comando cerebral de modo
compensatório, possibilitando que essas crianças conseguiam ler, porém somente
com o exercício de um grande esforço.
O diagnóstico diferencial em Dislexia tem sido orientado por sintomas e sinais
característicos. Nos casos menos severos, os problemas só passam a ser percebidos
como dificuldades significativas de aprendizado, em geral, pelo professor, tornando-
se mais evidentes a partir do segundo ano do curso primário. Porém quando os
níveis são muito tênues, correm o risco de não serem diagnosticados, embora, como
adverte um especialista italiano, a falta do diagnóstico e da adequada assistência
psicopedagógica a esse disléxico pode vir a agravar as suas dificuldades sociais e de
aprendizado. E quanto mais graves ou severas se apresentem essas dificuldades,
elas podem ser percebidas, como tendência ou risco, já a partir dos primeiros anos
da vida escolar dessa criança, por seus pais, especialmente por sua mãe, e por seu
professor.
A advertência de especialistas com base em estudos conclusivos mais recentes é de
que, crianças que apresentam sinais característicos e passam a receber efetivo
treinamento fonológico já a partir do jardim de infância e do primeiro ano primário,
apresentarão significativamente menos problemas no aprendizado da leitura do que
outras crianças disléxicas que não sejam identificadas nem devidamente assistidas
até o terceiro ano primário.
Porque Dislexia não se caracteriza por dificuldades específicas de grupo, mas em
combinações e níveis individuais de facilidades e dificuldades de aprendizado; e
porque em Dislexia estão envolvidos fatores que requerem a leitura de profissionais
de diferentes áreas da Educação e da Saúde com especialização efetiva, esse
diagnóstico diferencial requer a avaliação de equipe multidisciplinar para ser
equacionado.
Especialistas também esclarecem que o diagnóstico diferencial e o treinamento
remediativo para o disléxico adulto deve seguir orientação idêntica àquela que é
adequada à criança e ao jovem disléxicos.
O professor com formação ou informação efetiva em dificuldades de aprendizado
pode tornar-se canalizador do encaminhamento de providências junto ao aluno
disléxico. Mas o profissional naturalmente indicado para essa iniciativa é o psicólogo
escolar que poderá tomar a iniciativa de comunicar a necessidade dessas
providências aos pais dessa criança e de atuar como mediador entre os familiares e
os diferentes profissionais que participem dessa avaliação diagnóstica.
Programa remediativo de suporte psicopedagógico elaborado com base no
diagnóstico diferencial em Dislexia, poderá, também, ser aplicado com a participação
cooperativa do psicólogo escolar, com formação em dificuldades de aprendizado.
Como existe, ainda, muita desinformação acerca dos intrincados mecanismos
envolvidos nas dificuldades de aprendizado em Dislexia, em nosso País, uma das
principais razões deste site, do livro Dislexia - Você Sabe o que é? e da Fundação
Brasileira de Dislexia é congregar e treinar profissionais para essa difícil arte
especializada do ensino-aprendizado em Dislexia.