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Cartilha Simulado de Redação Fuvest 2025

A cartilha de redação para o Simulado da Fuvest 2025 compila 88 redações corrigidas, apresentando critérios de avaliação e abordagens esperadas pela banca. Os candidatos devem desenvolver textos que explorem a relação entre emoções e comunicação, utilizando uma coletânea de textos como referência. A cartilha também oferece orientações sobre como utilizar os textos e critérios para garantir um bom desempenho na redação.

Enviado por

Marina Rocha
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
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Cartilha Simulado de Redação Fuvest 2025

A cartilha de redação para o Simulado da Fuvest 2025 compila 88 redações corrigidas, apresentando critérios de avaliação e abordagens esperadas pela banca. Os candidatos devem desenvolver textos que explorem a relação entre emoções e comunicação, utilizando uma coletânea de textos como referência. A cartilha também oferece orientações sobre como utilizar os textos e critérios para garantir um bom desempenho na redação.

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CARTILHA DE

REDAÇÃO:
SIMULADO
FUVEST 2025

Compilado de 88 redações
corrigidas pela banca oficial da
Fuvest para o Simulado de 2025 -
Notas e Comentários

Movimento Carta Aberta à


Fuvest & Professora Gabriela
Carvalho (@oegovirtualdagab)
ÍNDICE:
clique na página para ser direcionado :)

pág. 3 - Coletânea
pág. 5 - Critérios para avaliação da Redação
pág. 6 - Abordagens esperadas pela Fuvest
pág. 7 - Análise da coletânea
pág. 13 - Bônus: análise de outro quadro de Edward Hopper
pág. 14 - Estatísticas: Dissertação x Crônica
pág. 17 - Autoria e páginas correspondentes
pág. 19 - Como usar a cartilha para estudar?
pág 20 - Dissertações-argumentativas
pág.21 - Comentário geral das dissertações
pág. 23- Comentário dissertação com nota alta
pág. 67 - Crônicas
pág. 68 - Comentário geral das crônicas
pág. 70 - Comentário crônica nota máxima
pág. 114 - Comentário crônicas zeradas
pág. 115 - Quem somos nós e agradecimentos

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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COLETÂNEA
SIMULADO DE REDAÇÃO FUVEST 2025

Texto 1

“O eco das palavras, seu ritmo, e as imagens com uma grande carga
emocional inundam e ativam os recônditos de nossa consciência.
Quando lemos um texto literário inteligente e sedutor, o mundo se torna
mais habitável”.
Marta Rébon. “Por que procurar refúgio nos livros quando a realidade parece insuportável?”
El Pais, 2017 https://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/09/cultura/1507563876_434538.html

Texto 2

“O acesso à essência de uma coisa nos advém da linguagem. Isso só


acontece, porém, quando prestamos atenção ao vigor próprio da
linguagem. Enquanto essa atenção não se dá, desenfreiam-se palavras,
escritos, programas, numa avalanche sem fim. O homem se comporta
como se ele fosse criador e senhor da linguagem, ao passo que ela
permanece sendo a senhora do homem. Talvez seja o modo de o homem
lidar com esse assenhoramento que impele o seu ser para a via da
estranheza. É salutar o cuidado com o dizer. Mas esse cuidado é em vão
se a linguagem continuar apenas a nos servir como um meio de
expressão”.
Martin Heidegger. Construir, Habitar, Pensar. (Tradução de Marcia Sá Cavalcante Schuback).

Texto 3

“Em sua performance — que ganhou um Globo de Ouro e está visando


uma indicação ao Oscar — [Fernanda] Torres atordoa. Proteger seus
filhos significa se inclinar para a alegria dentro do medo, esperança em
meio à dor. Torres dobra sua performance com todas essas emoções, e
seus olhos inquisitivos são magnéticos”.
Alissa Wilknson. “I’m Still Here Review: When Politics Invades a Happy Home” (traduzido).
https://www.nytimes.com/2025/01/16/movies/im-still-here-review.html

disponível em: https://www.fuvest.br/wp-content/uploads/simulado_de_redacao_2025.pdf


Movimento Carta Aberta à Fuvest
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3
COLETÂNEA
TEXTO 4 TEXTO 5

O Grito (1893), de Edvard Munch Room in New York (1932), de Edward Hopper

TEXTO 6
“A arte de contar, no antigo sentido da palavra, que evoca as poderosas
narrativas do século passado e, mais longe ainda, as caudalosas
torrentes da épica antiga, está se tornando rara. Apesar ou em razão do
número enorme de narrativas breves que se publicam, encontram-se
com frequência cada vez menor novelas e contos que nos comuniquem
um frêmito ou nos arranquem um grito de admiração. Os desesperados
esforços de renovação que caracterizam o gênero de algum tempo
para cá geram fórmulas mais de uma vez surpreendentes e inéditas, mas
dificilmente despertam emoções profundas”.
Paulo Rónai. “A arte de contar em Sagarana”.

Considerando as ideias apresentadas nos textos e outras informações que


julgar pertinentes, elabore o texto indicado em uma das propostas a
seguir:
PROPOSTA 1
Redija uma dissertação, na qual você exponha seu ponto de vista sobre o
tema: As emoções e sua interferência no processo de comunicação.
PROPOSTA 2
Redija uma crônica que envolva um episódio de comunicação emotiva.

disponível em: https://www.fuvest.br/wp-content/uploads/simulado_de_redacao_2025.pdf


Movimento Carta Aberta à Fuvest
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4
CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO DA REDAÇÃO –
SIMULADO FUVEST 2025
Os textos elaborados pelos(as) candidatos(as) serão avaliados quanto a quatro quesitos: Situações que levam à nota
zero (Propostas 1 e 2):

ZERO Não desenvolvimento do tema proposto, não atendimento ao tipo de texto, cópia
integral dos textos da coletânea, qualquer forma de identificação do(a) candidato(a).

1. Desenvolvimento do tema, uso da coletânea e autoria: peso 3


Espera-se que o(a) candidato(a) estabeleça relações de intertextualidade e interdiscursividade para apropriar-se da
coletânea e utilizá-la de forma referenciada para a produção de um texto inédito, com indícios de autoria. Neste
quesito, é importante que o(a) candidato(a) assuma seu lugar de autor, a imagem que se pretende construir, bem
como o leitor pretendido, além de considerar o contexto sócio- histórico em questão.

1 Desenvolvimento tangencial do tema, com paráfrase da coletânea e/ou falta de indícios de


autoria.
2 Desenvolvimento razoável do tema, com apropriação superficial da coletânea e
mobilização de conhecimentos próprios.
Desenvolvimento adequado do tema, com apropriação consistente da coletânea e indícios de
3
autoria.

2. Compreensão e atendimento da proposta quanto ao gênero e tipo de texto: peso 2


Verifica-se, neste critério, se o gênero e o tipo de texto estão adequados. Essa conferência tem como objetivo
averiguar se o candidato empregou os traços composicionais do tipo e do gênero textual solicitados. Neste momento,
não se avalia o desenvolvimento do texto, mas sim o atendimento ao tipo de texto e ao gênero textual.

1 Atendimento primário ao gênero e/ou ao tipo textual.


2 Atendimento razoável ao gênero e/ou ao tipo textual.
3 Atendimento adequado ao gênero e ao tipo textual.

3. Recursos linguísticos (coesão e coerência) e progressão textual: peso 3


Avalia-se a capacidade do(a) candidato(a) de relacionar fatos e organizá-los com estrutura bem definida (início, meio
e fim) e, também, sua habilidade para o planejamento e a construção significativa do texto, empregando
adequadamente recursos coesivos que auxiliem na coerência e na progressão temática do texto. Avalia-se, ainda, a
relação entre a estrutura composicional e gêneros/modalidades ou tipologias textuais.

1 Razoável articulação formal e de sentido, mas com falhas na composição textual.


2 Boa articulação formal e de sentido, com composição textual adequada.
3 Ótima articulação formal e de sentido, evidenciando um projeto de composição textual.

4. Convenções da escrita e adequação vocabular: peso 2


Avalia-se o domínio da norma-padrão da Língua Portuguesa. Serão examinados aspectos gramaticais, como
ortografia, morfossintaxe, acentuação e pontuação, e o emprego adequado e expressivo do vocabulário (correção
gramatical). Espera-se que o(a) candidato(a) revele competência para expor com precisão e concisão o conteúdo
adotado, evitando o uso de clichês ou frases feitas. Avalia-se, também, a seleção adequada do vocabulário, tendo
em vista as peculiaridades do tipo de texto exigido.

1 Rompe frequentemente convenções da escrita, mas apresenta domínio razoável da norma-padrão e dos
recursos gramaticais.
2 Rompe poucas vezes convenções da escrita e apresenta domínio bom da norma- padrão e dos recursos
gramaticais.
3 Rompe raramente convenções da escrita e apresenta domínio muito bom da norma-padrão e dos recursos
gramaticais.

disponível em: https://www.fuvest.br/wp-content/uploads/Crit%C3%A9rios-de-corre%C3%A7%C3%A3o-simulado-2025.pdf

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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ABORDAGENS ESPERADAS
PELA FUVEST
Os textos escolhidos para a coletânea trazem uma reflexão a respeito da
comunicação, enfatizando um de seus níveis: a emoção. A escolha desse tema
está, de certo modo, no cerne da mudança no vestibular, que explora novos
gêneros, especificamente por escrito, englobando diferentes formas de se
comunicar. Além disso, o caráter emotivo trazido na coletânea compõe um
conjunto que leva o(a) candidato(a) a mobilizar e aplicar seus conhecimentos
sobre os aspectos formais dos diferentes gêneros, exigindo objetividade, mas
também permitindo trabalhar aspectos subjetivos, necessários para a construção
dos textos, especialmente dos narrativos.

Tanto na Proposta 1 quanto na Proposta 2, espera-se que o(a) candidato(a)


demonstre habilidades de: mobilizar conhecimentos e opiniões, relacionando-os à
temática apresentada; analisar e apropriar-se, de forma crítica e coerente, dos
textos oferecidos na coletânea; articular eficientemente as partes do texto e
expressar-se de modo claro, correto e adequado.

A Proposta 1 contempla o tipo de texto que tradicionalmente é exigido na prova de


redação do vestibular da Fuvest. Ao fazer o texto exigido nesse caso, os(as)
candidatos(as) utilizam os conhecimentos já praticados e consolidados ao longo
dos estudos preparatórios para o exame vestibular. O texto a ser produzido não
deve ser meramente expositivo, mas deve explicitar um ponto de vista
devidamente sustentado por uma argumentação consistente, com opiniões, fatos e
informações expressas de maneira objetiva e de modo a contribuir para a
construção da argumentação.

A Proposta 2 traz aos(às) candidatos(as) a importante tarefa de, primeiramente,


exercer a criatividade para definir os elementos da narrativa a partir da
coletânea: é necessário não apenas seguir as características do tipo de texto, mas
também manter-se no tema e apropriar-se dos textos sugeridos. Não se
recomenda que o texto produzido se configure como uma crônica meramente
narrativa, isto é, que se limite a descrever fatos e acontecimentos no âmbito da
temática, sem conseguir surpreender ou fazer o leitor ver algo comum de forma
nova. Recomenda-se, portanto, que se explicite um ponto de vista devidamente
sustentado por experiências, perspectivas e opinião do autor sobre o tema de
forma clara, com um tom pessoal, subjetivo, com a marca do autor (voz do autor) e
que a opinião do autor provoque reflexão, emoção ou identificação (efeito no
leitor). disponível em: https://www.fuvest.br/wp-content/uploads/simulado_de_redacao_2025.pdf

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ANÁLISE DA COLETÂNEA
compreenda um pouco mais sobre os excertos da coletânea e
como eles se relacionam entre si :)

TEXTO 1
O primeiro texto, de caráter jornalístico, é o excerto de um artigo de opinião. Nele,
parte-se da Literatura e dos livros para propor uma reflexão acerca do efeito estético
gerado na recepção de um texto literário. Para a autora, o leitor interage
subjetivamente com a obra, a qual toca sua “consciência” tanto em um sentido
racional (pelo engenho empregado em sua composição), quanto em um sentido
emocional (dado o impacto sensível da ficção na mais profunda intimidade humana).
Assim, Rébon defende que a obra de arte, especificamente a Literatura, possibilita
uma existência melhor e maior aos seres humanos. Isso se dá por meio do trabalho
estético do artista/autor, ou seja, do trato dado às palavras, sua montagem e as
imagens literárias resultantes deste processo. Nesse sentido, não são as palavras, as
frases ou as temáticas, por si só, que impactam o receptor: é a elaboração desses
elementos por outra pessoa. Segundo o primeiro texto da coletânea, portanto, a arte e
as emoções são criadas e compartilhadas em conjunto, de um indivíduo para outro,
impactando positivamente ambos.

O vestibulando poderia, a partir daqui, articular ideias e conceitos das áreas de Língua
Portuguesa/Literatura, Artes, História, Sociologia e Filosofia. Da Filosofia emergem as
discussões sobre Estética, criação, emoção, recepção, entre outras, trabalhadas desde
a Antiguidade Clássica até a Contemporaneidade. Da Sociologia, as noções de
trabalho e de interação social podem ser pertinentes, na medida em que, na
sociedade ocidental, o autor produz uma obra de arte a ser, em última instância,
consumida pelo público. Quanto à História, retome-se com atenção o título do texto,
pelo qual se conclui que as artes possuem a capacidade de melhorar a existência
material do sujeito frente às dificuldades de sua realidade contemporânea, bem como
possibilitar a compreensão de épocas anteriores. A Literatura, a seu turno, ganha
destaque tanto por ser a arte escolhida pela autora quanto por possibilitar a
localização, pelos vestibulandos, de exemplos concretos para o que se pontua – seja a
partir da própria lista de leituras obrigatórias da Fuvest, seja a partir do repertório
literário criado ao longo do Ensino Básico. Além disso, pode-se destacar a pertinência
de observações mais precisas, eventualmente também mais proveitosas para a escrita
dos textos, como a lembrança do crítico literário Antonio Candido, cujo sistema
literário (previsto em Formação da Literatura Brasileira, sua obra-prima) é
precisamente o mecanismo descrito por Marta Rébon, em conjunto com sua noção da
Literatura enquanto Direito Humano, uma vez capaz de dignificar a vida e o ser. Por
fim, as Artes estão em evidência justamente por todos os pontos levantados
anteriormente, os quais são articulados, na prática, pelos artistas e suas produções.
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ANÁLISE DA COLETÂNEA
compreenda um pouco mais sobre os excertos da coletânea e
como eles se relacionam entre si :)

TEXTO 2
O excerto de Heidegger, um dos filósofos de maior destaque na tradição ocidental do século
XX, evoca questões ontológicas (discussões sobre a existência, o ser e o real) a partir de uma
reflexão sobre a linguagem. Para ele, o indivíduo só pode acessar a essência do mundo e
daquilo que o habita a partir da nomeação, pois se o nome confere existência às coisas e ao
mundo, nomear permite a percepção humana disso. Contudo, o filósofo é categórico ao
afirmar que tais movimentos só são possíveis na medida em que o sujeito se atém à natureza
própria da linguagem, ou seja, percebe a existência desta em si mesma (“coisa em si”). Isso
porque, para Heidegger, à medida em que a linguagem confere a própria vida, o ser humano
não “cria” a linguagem, sendo antes criado por ela. Dessa forma, enquanto não compreende
tal relação, enquanto não questiona ou apenas não pensa sobre sua própria comunicação —
caso pensemos “linguagem” em um sentido mais largo —, o homem produz, de forma
mecânica e superficial, “palavras, escritos, programas”, sem consciência e controle de seu
próprio eu.

Nesse viés, o vestibulando familiarizado com a prova poderia relembrar do tema da redação
no vestibular de 2017, o qual solicitava uma reflexão acerca dos conceitos de maioridade e
menoridade para Immanuel Kant. Este filósofo, também alemão, pontua, em “O que é o
Esclarecimento?”, que o sujeito não é verdadeiramente autônomo e independente enquanto
não consegue pensar por si próprio. Retomando Heidegger, então, é possível pensar em como
o homem permanece intelectualmente dependente enquanto não reflete, em profundidade,
sobre a linguagem (e a comunicação). Também é possível resgatar a prova de 2010, sobre a
relação entre a realidade e as imagens, na medida em que tanto este vestibular quanto o
presente texto questionam filosoficamente a interpretação existencial e social do mundo.

Na sequência, o excerto levanta a hipótese de que, justamente porque não compreende tal
dinâmica linguística, o sujeito lida com a linguagem pelo estranhamento. Pode-se pensar,
aqui, no senso comum — já refutado pelos estudos linguísticos — de que existe um “certo” e
um “errado” na comunicação humana, valores dados pelo cumprimento ou não da norma
culta da língua, por exemplo. Lembremos, ainda, da frequente relutância social ao dinamismo
próprio da linguagem, seja no preconceito contra a criação de novas expressões, como as
gírias, seja no repúdio a práticas linguísticas inclusivas, como a linguagem neutra. Portanto,
conclui Heidegger, de nada adiantam tais posturas conservadoras e estranhas à própria
linguagem, inclusive (principalmente) a redução da natureza linguística a um “meio de
expressão”, uma “ferramenta”, interpretações estas que anulam seu reconhecimento
enquanto geradora de sentido.

Vale pontuar que a presente interpretação parece ir na contramão da própria frase temática
da Proposta 1. Se Heidegger é contrário à redução da linguagem à comunicação e a
coletânea como um todo valoriza a linguagem e suas manifestações artísticas, o tema da
dissertação reduz toda esta complexidade a “processo de comunicação” e “interferência”.
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ANÁLISE DA COLETÂNEA
compreenda um pouco mais sobre os excertos da proposta e como
eles se relacionam entre si :)

TEXTO 3
Este texto escancara, nominalmente, as emoções às quais a banca parece se referir.
Se no texto 1 há apenas a insinuação às emoções, e o texto anterior traz à tona mais a
necessidade de reflexão sobre a potência da linguagem do que propriamente os
sentimentos, aqui, o recorte de uma resenha sobre o filme Ainda Estou Aqui nomeia ao
que a banca se refere: “atordoamento”, “alegria”, “medo”, “esperança”, “dor”. Estas
são as emoções elogiadas na atuação cinematográfica de Fernanda Torres,
ganhadora do Oscar e do Globo de Ouro, enquanto Eunice Paiva. Apesar dessa
diferença com relação aos demais textos da coletânea, há aqui uma semelhança — a
referência a uma obra de arte e a uma expressão das Artes, o cinema.

O retorno às manifestações artísticas pode, contudo, confundir o vestibulando, na


medida em que a Arte não aparece na frase temática da proposta 1 ou da proposta 2.
Logo, o aluno é levado a uma generalização desse vasto campo a outro vasto campo,
o da comunicação, no qual já constam o jornalismo, o marketing, a publicidade e a
propaganda, o rádio, a televisão, as mídias digitais, entre outros… Assim, o caminho
mais seguro parece ser uma compreensão dupla de “linguagem” e “comunicação”: é
preciso reconhecer tanto suas particularidades quanto suas diferenças, de forma a
compreender como as emoções permeiam cada uma. Pode-se pensar em como a
linguagem artística comunica as emoções humanas (vide Torres), por exemplo, ou como
a boa comunicação pressupõe uma leitura das pessoas envolvidas no processo
comunicativo quanto a suas emoções (a exemplo da leitura do contexto feita por
Eunice ao ter a casa invadida por agentes da ditadura militar).

Com relação a temas exigidos em provas anteriores, o vestibulando poderia articular


ideias presentes em propostas mais antigas ao texto 3. Em 1997, o exame trazia
excertos literários de Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto para
refletir sobre a linguagem e o trabalho com ela no cotidiano humano, seja no
vestibular, seja fora dele. Em 98, por sua vez, a banca propunha uma discussão acerca
das relações humanas e seu papel na definição tanto da identidade quanto da
alteridade. Ao trazer a amizade como tema, em 2007, a prova dialoga com o presente
texto ao falar das emoções e sentimentos humanos — bem como em 2011, em um
debate sobre o altruísmo. Por fim, a redação de 2012 soma ao repertório do estudante
que esteja atento à necessidade de interpretar a comunicação enquanto algo político,
intencional, pensado e, sobremaneira, social.

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ANÁLISE DA COLETÂNEA
compreenda um pouco mais sobre os excertos da proposta e como
eles se relacionam entre si :)

TEXTO 4
O famoso quadro do pintor dinamarquês Edvard Münch, O Grito, pode ter gerado
tanto uma identificação quanto um estranhamento ao aparecer na coletânea.
Identificação, porque a obra apresenta uma altíssima circulação no meio dos
vestibulares (nomeadamente, em redações bem avaliadas do ENEM), além de ser um
marco da tradição expressionista nas artes plásticas. Estranhamento, por outro lado,
tanto pelos motivos já citados — afinal, a Fuvest não costuma ser conhecida pela
repetição de lugares-comuns — quanto pela aparente desconexão com os textos 1 e 2.
Neles, o foco esteve na Arte e na linguagem como um todo, deixando as emoções
escanteadas; assim, é quase incoerente encontrar uma tela mundialmente
reconhecida pela expressão dos sentimentos humanos.

Daqui a importância das leituras intertextual e interdiscursiva da coletânea,


extremamente valorizadas pela prova, como indicam o primeiro critério da grade de
avaliação e o documento com as expectativas da banca (presentes nesta cartilha a
partir da página 5). O Grito vem para evidenciar, através da linguagem visual, como a
Arte pode - no sentido largo, definido pela coletânea - comunicar emoções humanas.
A figura central do quadro apresenta traços gerais de um indivíduo, como as mãos e a
cabeça, provocando uma associação com um sujeito. Este, porém, é despersonalizado,
na medida em que não se encontram identificadores estereotípicos de gênero, como
roupas ou acessórios, não há olhos realisticamente definidos e sua boca está
desfigurada.

É nessa situação limiar entre humano e não-humano que a expressão emotiva emerge:
a figura de Münch é compreendida precisamente pelo compartilhamento de sua
experiência com o receptor da obra de arte. Quem vê o vazio corporal deixado pelo
grito atribuiu sentido ao que está diante de si, associando momentos de sua própria
existência ao que está retratado. Isso ocorre graças ao que a linguagem artística é
capaz de despertar: a partir da comunicação entre artista, obra e recepção, emoções
podem ser experenciadas, compreendidas ou ao menos pensadas. Seja de alegria,
tristeza ou raiva, todos nós já gritamos ou vimos quem o fizesse; logo, com a tela,
recordamos essa vivência e somos capazes de acessar tal sentimento,
compartilhando-o com a figura retratada - como, no texto 3, aconteceu com a autora
ao assistir Fernanda Torres como Eunice Paiva em Ainda Estou Aqui.

Portanto, O Grito parece cumprir a função de exemplicar, “concretizar” ao estudante


as ideias em articulação na coletânea (linguagem, expressão, comunicação, Arte,
sentimentos).
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ANÁLISE DA COLETÂNEA
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eles se relacionam entre si :)

TEXTO 5

O texto 5 evidencia um comportamento já visto anteriormente na redação da Fuvest:


trazer duas ou mais telas para interpretação e comparação dos candidatos. Ao
contrário de 2024, quando três quadros figuraram na coletânea (bem como um gráfico),
aqui, a pintura Room in New York (1932), de Edward Hooper, é posta em diálogo apenas
com O Grito. Estadunidense, o pintor deste texto é reconhecido como um dos grandes
nomes das artes plásticas em seu país, tendo um estilo fortemente neorrealista, quase
fotográfico (tom proveniente de seu percurso anterior no ramo da publicidade).

Nova Iorque é, no imaginário ocidental, o suprassumo da cultura urbana. A despeito de


seu passado, quando do início da colonização britânica e antes, com seus povos
originários, a cidade tem por características de senso comum a velocidade, a
tecnologia, o dinamismo — em uma palavra, pluralidade. A despeito disso, a tela de
Hooper é um ambiente privado, com apenas duas pessoas, paradas e em aparente
silêncio. A aproximação de título e conteúdo permite entrever algumas das contradições
inerentes à realidade das grandes metrópoles: o antagonismo entre público e privado, a
ambivalência entre movimento e pausa, o limite tênue entre coletivo e indivíduo.

A despeito de quaisquer interpretações realizadas por especialistas (as quais não foram
consultadas aqui, de forma a simular as possibilidades interpretativas reais da situação
de prova), é notável o clima apático e ligeiramente melancólico que provêm da pintura.
Apesar da especificidade geográfica (Estados Unidos), a simplicidade do tema
escolhido — um quarto de uma casa — permite a identificação e a consequente
associação de quem visualiza a tela com espaços e emoções semelhantes. Há, por
exemplo, uma distinção importante entre as figuras feminina e masculina: enquanto a
mulher se concentra no piano, sozinha, o homem lê seu jornal, sem conversar com ela.

Então, a obra tematiza uma situação comum de incomunicabilidade, na qual, apesar da


possibilidade de partilha, reina a solidão (ou solitude, a depender da leitura). Evocando
sentimentos como a melancolia ou, por oposição, a amizade, a tela demanda de seu
receptor o preenchimento dos elementos restantes — precisamente as emoções sentidas
e experiências vividas, tal qual o texto 4. A partir do quadro de Edward Hooper, o
estudante pode novamente exercitar o que já observamos com O Grito: uma certa
“aplicação” das ideias apresentadas pelos demais textos da coletânea, os quais devem
sempre, na Fuvest, ser lidos em conjunto. Nessa perspectiva, a Arte comunica, transmite,
evoca sentimentos, mas também os dá a conhecer, os apresenta, os ensina, seja por sua
presença ou ausência. Além disso, o instrumento remete à linguagem musical, enquanto
as notícias, ao meio jornalístico; a linguagem, então, permite tanto ler uma notícia
quanto tocar instrumentos. Destaque-se, diante disso, o potencial do texto em despertar
especialmente a escrita da crônica, na medida em que representa uma cena cotidiana e
acessível a todos.

“O que fazer com essa, e a partir dessa, capacidade da linguagem?” é, enfim, uma das
reflexões que esta obra pode gerar, de maneira a despertar a escrita da redação.
Movimento Carta Aberta à Fuvest
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ANÁLISE DA COLETÂNEA
compreenda um pouco mais sobre os excertos da proposta e como
eles se relacionam entre si :)

TEXTO 6

O último texto da coletânea, um excerto do ensaio “A arte de contar em Sagarana“, do


crítico literário brasileiro Paulo Rónai, pode ser interpretado tanto como uma conclusão
ao recorte de textos proposto pela banca quanto como um convite ao início de novos
pensamentos.

Para o autor, a “arte de contar” é a capacidade de elaborar esteticamente a linguagem,


de forma a produzir uma obra de arte — no caso, a Literatura, seja em sua forma
ancestral (as narrativas orais), seja em sua forma escrita (o texto literário). Contudo,
parte-se da premissa de que tal habilidade está, nos tempos atuais, em declínio. Daqui,
é possível construir diversas leituras da sociedade: o que gerou isso? Por que estamos
assim? Como isso acontece?

Segundo Rónai, a habilidade artística da linguagem literária provém da tradição épica,


de Homero e Virgílio, a qual desemboca, na modernidade, na forma do romance. Esta
expressão da Literatura perde espaço, porém, para as formas breves, como o conto e a
novela. Mesmo estas se enfraquecem, destaca o pesquisador, diante da crônica, por
exemplo, o “gênero brevíssimo”.

Assim, a “arte de contar” se tornou rara: a qualidade da Literatura, hoje, segundo o


crítico, diminuiu — as obras não tocam mais o leitor, não geram efeito estético. Isso,
porque as tentativas de mudança, “renovação” e “atualização” geraram fórmulas de
reprodutibilidade, como se a arte fosse uma técnica a ser, como as máquinas, dominada
pelo homem e reproduzida por meio de fórmulas. Pelo negativo, então, pode-se dizer
que a boa narrativa é aquela que, em sua unicidade, gera um efeito estético no
receptor.

Logo, estabelece-se uma ponte para o texto 1, na medida em que Marta Rébon advoga
pela capacidade sensibilizante e sensibilizadora da Literatura. A partir do texto 6, o
estudante percebe que nem toda obra é capaz disso: apenas aquele que dominar “a
arte de contar” poderá fazê-lo, despertando “emoções profundas”. Essa é mais uma
conclusão da coletânea: frente à dissolução do sentido da obra de arte, o que pode a
Linguagem e o indivíduo? Qual é, afinal, o lugar das emoções na contemporaneidade?
Como comunicar, hoje?

Aqui, o vestibulando poderia pensar no filósofo Walter Benjamin e seu famoso ensaio A
obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, texto já difundido em diversos
ambientes didáticos — seja nas Artes, seja na Filosofia e na Sociologia, ou mesmo na
Literatura, com as aulas de vanguardas e de modernismo. Ademais, recordem-se as nove
obras literárias presentes na lista de leituras obrigatórias da Fuvest, cujas autoras, de
uma forma ou outra, tocam em todas essas interrogações. Por fim, é importante não
esquecer, também, do repertório existencial de cada vestibulando que, após os doze
anos de formação básica ou não, é, em suma, um ser humano que chegou até essa
prova com suas faculdades expressivas, comunicativas e linguísticas.
Movimento Carta Aberta à Fuvest
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BÔNUS!
Leia a análise de outra obra de Edward Hopper, pintor do quadro
do texto 5 da coletânea

Nighthawks (1942), de Edward Hopper

De acordo com o Dicionário Cambridge de Língua Inglesa, “nighthawk” é um pássaro


característico da América do Norte, cujos hábitos são noturnos. Por extensão, o
substantivo passou a designar pessoas comumente acordadas e ativas durante a
noite. No quadro, então, pode-se compreender que as quatro figuras representadas
na lanchonete “Phillies” - com exceção, talvez, de seu funcionário, obrigado a estar
ali pelo trabalho - possuem tal comportamento. É noite, mas uma mulher e dois
homens estão sentados no tradicional diner, tomando cafés. O funcionário do local
parece conversar com o casal enquanto trabalha, ao passo que uma terceira pessoa
está de costas para as janelas, de onde vêm o ponto de vista do receptor. De toda
forma, ninguém sorri; a rua está vazia e escura, contrastando com a luminosidade do
estabelecimento, que se esvai para o espaço público.

É notável o clima apático e ligeiramente melancólico que provêm da pintura. Apesar


da especificidade geográfica (Estados Unidos), a simplicidade do tema escolhido —
um restaurante de noite — permite a identificação e a consequente associação de
quem visualiza a tela com espaços e emoções semelhantes. No contexto brasileiro,
por exemplo, a figura do bar de bairro, com suas mesas na calçada, caixas de som e
clientes frequentes em qualquer momento do dia, pode ser acessada pelo
vestibulando.

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+
13
ESTATÍSTICAS
DISSERTAÇÃO x CRÔNICA
OBS: as diferenças positivas indicam melhor
desempenho na dissertação, e as negativas, na crônica

Dissertação Crônica Diferença Variação (%)

7,83 7,33 0,5 6,39%

8,5 7 1,5 17,65%

9,5 6,34 3,16 33,26%

8,17 8,5 -0,33 -4,04%

8,17 7,83 0,34 4,16%

7 4,84 2,16 30,86%

7,83 6,67 1,16 14,81%

6,5 7,5 -1 -15,38%

8 7,34 0,66 8,25%

8,5 7,83 0,67 7,88%

8 10 -2 -25,00%

7,33 7,5 -0,17 -2,32%

6,5 7,83 -1,33 -20,46%

8,67 8,67 0 0,00%

7,83 6,67 1,16 14,81%

7,17 7,17 0 0,00%

6,5 6,5 0 0,00%

7,6 7,83 -0,23 -3,03%

6,67 8,17 -1,5 -22,49%

8,67 7 1,67 19,26%

7,5 6,34 1,16 15,47%

6,5 7,67 -1,17 -18,00%

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14
+
ESTATÍSTICAS
DISSERTAÇÃO x CRÔNICA

Dissertação Crônica Diferença Variação (%)

9,5 8,17 1,33 14,00%

6,5 7 -0,5 -7,69%

9,5 7,33 2,17 22,84%

8 8,67 -0,67 -8,38%

7,83 6,83 1 12,77%

9,5 7,83 1,67 17,58%

7 7,5 -0,5 -7,14%

6,5 5,34 1,16 17,85%

9,5 7,83 1,67 17,58%

5,84 0 5,84 100,00%

8,17 6,17 2 24,48%

7 7,5 -0,5 -7,14%

8,17 6,17 2 24,48%

7,17 7,34 -0,17 -2,37%

8,33 7,17 1,16 13,93%

8,5 0 8,5 100,00%

9,17 5,5 3,67 40,02%

9,5 8,67 0,83 8,74%

7,83 7 0,83 10,60%

8,67 8,17 0,5 5,77%

4,84 7,33 -2,49 -51,45%

7,33 8,33 -1 -13,64%

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15
+
ESTATÍSTICAS
DISSERTAÇÃO x CRÔNICA

Dissertação

Coeficiente
Desvio de Maior Menor Percentil Percentil
Média Mediana Assimetria Achatamento
padrão variação nota nota 75 90
(em %)

7,8020454 1,0789 7,83 13,83% 9,5 4,84 8,5 9,5 -0,285866 -0,04900808953

Crônica

Coeficiente
Desvio de Maior Menor Percentil Percentil
Média Mediana Assimetria Achatamento
padrão variação nota nota 75 90
(em %)

7,01 1,7971 7,335 25,64% 10 0 7,83 8,449 -2,65097 8,976520558

16
AUTORIA E PÁGINAS
CORRESPONDENTES

Autoria Página da Dissertação Página da Crônica

participante 3 (anônimo) 22 105

Karina Garlo 24 77

participante 10 (anônimo) 25 93

participante 11 (anônimo) 26 83

Maria Julia Malaguti


27 84
Michelan

participante 22 (anônimo) 28 73

participante 21 (anônimo) 29 109

Joaquim Almir 30 71

Maria Fernanda Faust


31 78
Branco

Vanessa Rodrigues de Souza 32 100

partipante 2 (anônimo) 33 97

participante 8 (anônimo) 34 81

participante 20 (anônimo) 35 113

participante 19 (anônimo) 36 96

partipante 4 (anônimo) 37 74

Clara 38 79

participante 15 (anônimo) 39 107

participante 17 (anônimo) 40 108

Maria Laura Leão 41 69

Fernando De La Torre Santos 42 72

participante 6 (anônimo) 43 90

participante 1 (anônimo) 44 92
17
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+
AUTORIA E PÁGINAS
CORRESPONDENTES

Autoria Página da Dissertação Página da Crônica

Participante 5 (anônimo) 45 102

Mayara Santos Carneiro 46 101

participante 12 (anônimo) 47 88

Henrique de Matteo
48 103
Figueiredo Ferraz

participante 23 (anônimo) 49 98

participante 9 (anônimo) 50 82

Sofia Bassan 51 106

participante 7 (anônimo) 52 87

partipante 25 (anônimo) 53 75

Isadora Bailoni Ribeiro 54 95

participante 18 (anônimo) 55 91

Catarina Pinheiro Gonçalves 56 111

participante 16 (anônimo) 57 89

Isabelli Bressani 58 76

Miguel Damasceno Daré 59 86

Mônica Carneiro 60 104

Gustavo Antonuci Gomes 61 80

Victorya Nayla Nascimento


62 99
Silva

participante 13 (anônimo) 63 110

participante 26 (anônimo) 64 85

participante 14 (anônimo) 65 112

participante 24 (anônimo) 66 94

Movimento Carta Aberta à Fuvest


18
+
COMO USAR A CARTILHA
PARA ESTUDAR?

É comum, quando estamos diante de textos avaliados por uma banca, olharmos só os mais bem avaliados
e entendermos que se tratam de um padrão a ser buscado, a ser seguido, como se fossem o ápice do que
se pode ser ou produzir.
A partir disso, buscamos quase copiar aquilo que é considerado exemplar: com ligeiras alterações,
mantemos as mesmas frases, as mesmas referências, as mesmas sequências, como se isso, por si só, fosse
o segredo de ser bem avaliado. No fim, não nos reconhecemos naquilo que escrevemos, e, por mais que
não tenhamos contrariado o que eram nossos modelos, sentimos, de alguma maneira, que nosso texto não
se sustenta. Essa relação, dada desta maneira, só tem por resultado a diminuição da autoria.
As notas altas aqui são realizações concretas do que pode ser um texto na FUVEST. Isso quer dizer,
portanto, que não são únicos, não são reflexo da própria prova — são possibilidades. Diante delas,
enquanto estudantes, podemos identificar certas regularidades e, a partir do que se mantém, podemos
também observar o que se diferencia de uma redação para outra. A criatividade, afinal, não surge do
nada, mas sim em um movimento de ruptura e continuidade com algum padrão. Os textos, então, devem
ser entendidos como oportunidades de estudo.
Lendo-os, é importante pensar: como fizeram uso da coletânea? Como compreenderam a relação entre
os textos motivadores e a frase temática? De que maneira reproduziram os traços composicionais do
gênero solicitado? Como planejaram e organizaram começo, meio e fim? Como se equilibram, neles,
reflexões mais abstratas com exemplos mais concretos? A que servem, aliás, os exemplos? Com essas
questões, você perceberá que, a algumas delas, talvez você, enquanto escritor ou escritora, respondesse
de forma diferente. Nesse caso, o que mudaria? Como daria a sua cara a essa nova possibilidade?
Não se trata mais apenas de uma oportunidade de estudo: é também um convite à escrita. No encontro,
ou no confronto, com os textos alheios, passamos a conhecer um pouco mais de nossa própria escrita;
podemos poli-la, dar-lhe uma forma mais consistente, mais bonita. De uma forma ou de outra, é a partir
desse contato que podemos, de fato, nos responsabilizar por aquilo que escrevemos.
Mas isso acontece também com os textos que não foram tão bem avaliados assim. O que houve? Por que
receberam descontos em suas notas? O exercício da leitura da grade de correção e da comparação com
os outros textos pode sugerir caminhos sobre os quais você não teria pensado. E é também uma
oportunidade de aprender com o erro alheio.

Como sugestões práticas de trabalho com essas redações, então:


1) Leia o texto uma primeira vez a fim de uma apreensão mais global daquilo que ele traz;
2) com um olhar mais detido, identifique o ponto de vista que esse texto pretende sustentar;
3) percorra cuidadosamente a argumentação para compreender como essas ideias foram desenvolvidas;
4) observe o que é mais concreto, ou seja, o que aponta para elementos do mundo real, e aquilo que é
mais reflexivo, aquilo que traz uma explicação para o que se defende. Como essas instâncias se
articulam?
5) Olhe de novo para o texto e verifique a relação dos conteúdos introdutórios com a linguagem
escolhida: há reverberação dos primeiros na segunda? Que escolhas vocabulares remetem ao que se
mobiliza no início ao tema?
7) Aproprie-se de cada leitura: o que você faria de diferente? O que você mudaria de conteúdos, de
exemplos, de explicações? O que colocaria em cena? Há alguma coisa do texto que você continuaria
usando?

Essas sugestões visam a um estudo textual — ou seja, não se trata apenas de sentar e escrever, mas sim de
estudar, de pôr à prova algumas convicções. Esse é o nosso convite.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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19
GÊNERO:
DISSERTAÇÃO-
ARGUMENTATIVA

20
COMENTÁRIO DISSERTAÇÕES

O QUE FOI VALORIZADO PELA BANCA?


Na avaliação das dissertações argumentativas, a banca demonstrou especial apreço
por textos que articularam de forma clara e crítica os múltiplos aspectos propostos
pela reflexão sobre emoção e linguagem. Não bastava afirmar que os sentimentos
influenciam a comunicação: era preciso tensionar essa relação, observando como ela
se manifesta nas dinâmicas sociais contemporâneas, em suas contradições e
silenciamentos. Os textos mais bem avaliados foram aqueles que apresentaram uma
tese consistente, acompanhada de um percurso argumentativo coeso, ancorado em
repertórios bem escolhidos e conectados organicamente à linha de raciocínio.

Destacaram-se positivamente os textos que souberam explorar o tema com


profundidade, propondo uma leitura crítica da racionalização das emoções e de seus
impactos sobre a qualidade da escuta, da empatia e da construção de vínculos.
Repertórios artísticos, filosóficos ou sociológicos foram bem-vindos, desde que não
surgissem como adornos, mas como instrumentos de pensamento: referências bem
mobilizadas não apenas ilustram, mas ampliam a reflexão. A banca também valorizou
a consciência linguística: textos em que a escolha lexical revelava precisão e a
progressão das ideias fluía com clareza e sofisticação ganharam destaque.

Por outro lado, textos com estrutura comprometida — seja por repetições de conteúdo,
falta de hierarquia entre os argumentos ou organização frágil dos parágrafos —
tiveram desempenho inferior. A ausência de um ponto de vista claro ou o uso
superficial de repertórios comprometeram a força argumentativa. Em alguns casos,
observou-se também certa indecisão autoral, com tentativas de conciliação mal
resolvidas entre diferentes perspectivas, sem uma linha mestra que conduzisse a
reflexão. Por fim, aspectos como informalidade excessiva, imprecisão vocabular ou
frases de construção truncada afetaram negativamente a avaliação.

De modo geral, ficou evidente que a banca valorizou textos autorais, que não se
limitassem a responder ao tema, mas que o problematizassem com densidade e
consciência de contexto. Foi reconhecido o esforço argumentativo que extrapolasse o
plano individual e conectasse o tema proposto a questões estruturais da vida em
sociedade, sem abrir mão da clareza, da organização e da maturidade linguística.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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21
Nota: 9,5/10
Autoria: participante 3 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Sem título

A comunicação é um processo multifacetado de troca de informações, ideias e


sentimentos, moldado não somente pela racionalidade, mas também por elementos
emocionais que permeiam as interações humanas. As emoções influenciam tanto o
emissor quanto o receptor, modificando a formulação, transmissão e interpretação
das mensagens. Compreender essa influência é essencial para fortalecer relações
interpessoais e aprimorar a comunicação em contextos sociais, educacionais e
profissionais.

No envio da mensagem, as emoções afetam a estrutura e a clareza do discurso.


Aristóteles, em Retórica, já destacava o pathos como pilar da persuasão, indicando
que mobilizar emoções aumenta a adesão do público. Sob alta carga emocional,
como estresse ou ansiedade, é comum a desorganização da Fala, alteração do tom
de voz e gestualidade intensa, o que pode comprometer a comunicação como ocorre,
por exemplo, em debates políticos. Emoções positivas, como entusiasmo e empatia,
também exercem influência relevante, favorecendo o engajamento e a cooperação.

Na recepção da mensagem, o estado emocional do receptor e o contexto


comunicativo são determinantes. Mensagens emocionalmente marcantes tendem a ser
melhor compreendidas, devido à ativação simultânea dos sistemas cognitivo e afetivo.
No ambiente digital, a ausência de linguagem corporal e a interpretação de emojis e
memes exigem elevada inteligência emocional para evitar mal-entendidos. Assim, a
comunicação mediada por tecnologia reforça a importância de competências como
empatia e autoconsciência.

Portanto, as emoções constituem elemento indissociável do processo de comunicação,


influenciando de maneira profunda tanto a emissão quanto a recepção das
mensagens. Compreender essa dimensão emocional torna-se imprescindível para o
desenvolvimento de relações mais autênticas, respeitosas e eficazes. Em um mundo
caracterizado pela rapidez das interações e pela diversidade de plataformas
comunicativas, promover a educação emocional e incentivar a reflexão crítica sobre a
linguagem são caminhos essenciais para fortalecer o diálogo e a convivência em
sociedade.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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22
COMENTÁRIO DE UMA
DISSERTAÇÃO NOTA ALTA
Esse texto da/o " Participante 3", na página anterior, começa com o cuidado de definir
“comunicação” num contexto em que nem mesmo a coletânea o fazia com qualidade, então é
mérito do autor ou da autora pensar em guiar seu leitor desde o começo. Ao dizer que o
processo é moldado não somente pela racionalidade — também na introdução — vemos um
diálogo com o que a proposta havia desenhado: o foco não deveria ser apenas a linguagem
verbal, mas sim todos os processos comunicativos que possam envolver emoção. Embora a tese
tenha um “quê” de ENEM, ao querer compreender algo em busca de um bem comum, isso não
diminui a qualidade da análise porque não havia, ao longo da proposta, qualquer indício de
que se esperava uma profunda investigação social. Nesse sentido, saber entender o tom das
propostas é fundamental.

O primeiro parágrafo de desenvolvimento trata da interferência das emoções nas mensagens.


Ao enumerá-las e classifica-las entre negativas e positivas, o que se busca aqui é sustentar
que essas emoções alteram a forma como a comunicação acontece e os efeitos reais disso.
Não é um parágrafo com alta carga argumentativa, voltamos a ressaltar. Mas, ao mesmo
tempo, para que um parágrafo seja avaliado, devemos sempre cruzar o que entrega com
aquilo que era cobrado.

No segundo parágrafo de desenvolvimento, entra em jogo o ambiente digital, no qual, segundo


quem escreve, “a ausência de linguagem corporal e a interpretação de emojis e memes
exigem elevada inteligência emocional”. Isso dialoga diretamente com o texto de Paulo Rónai
na coletânea e é interessante que tenha sido considerado.

A conclusão fecha o raciocínio e se encaminha para uma suave proposta de solução para o
que foi considerado um problema. Na Fuvest, essa organização não é imprescindível, mas, com
leveza, também não é um problema.

O texto provavelmente perdeu pontos no critério de expressão devido à falta de paralelismo


em dois momentos (“modificando a formulação, transmissão e interpretação das mensagens” e
“é comum a desorganização da Fala, alteração do tom de voz e gestualidade intensa”), ao uso
de letra maiúscula em “Fala” e ao uso de “melhor compreendidas” em vez de “mais bem
compreendidas”. Detalhes de refino que merecem atenção.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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23
Nota: 9,5/10
Autoria: Karina Garlo
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA

Título: Emoções e comunicação: entre aproximações e ruídos

A comunicação humana não é um processo meramente racional:


ela está inevitavelmente atravessada pelas emoções. As palavras, os gestos e os
silêncios carregam afetos que podem tanto favorecer a compreensão quanto gerar
conflitos. Nesse sentido, a análise das emoções enquanto elementos que interferem
na comunicação é fundamental para pensar as relações humanas no mundo
contemporâneo.

Desde a Antiguidade, reconhece-se o impacto emocional no ato de comunicar.


Aristóteles, em Retórica, já afirmava que persuadir dependia não apenas da lógica
dos argumentos, mas também da capacidade de mobilizar emoções no público.
Assim, a emoção se revela como uma força que amplia o alcance da comunicação,
conferindo-lhe autenticidade e poder de transformação. Exemplos contemporâneos
disso são as campanhas de saúde pública que utilizam narrativas emocionais para
sensibilizar a população, conseguindo resultados mais eficazes do que simples
apelos racionais.

Entretanto, o mesmo potencial emocional que enriquece a comunicação pode,


também, comprometer seu sucesso. O escritor português José Saramago, em Ensaio
sobre a cegueira, retrata uma sociedade que, diante da perda da razão e do
domínio das emoções mais cruas, mergulha no caos e na incomunicabilidade. A obra
evidencia como a ausência de equilíbrio emocional pode romper os canais de
diálogo e gerar incompreensão generalizada. No cotidiano, situações de conflito
muitas vezes derivam não do conteúdo da mensagem, mas do modo
emocionalmente exacerbado como ela é transmitida.

Portanto, as emoções interferem na comunicação de forma ambígua: podem


intensificar a conexão humana, mas também criar ruídos e mal-entendidos. Promover
a educação emocional — por meio da literatura, da arte e do convívio — é, assim,
uma estratégia essencial para fortalecer a comunicação em sociedades cada vez
mais fragmentadas

24
Movimento Carta Aberta à Fuvest
+
Nota: 9,5/10
Autoria: participante 10 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA

Sem título

Comunicar é, antes de tudo, um ato de partilha de mundos interiores. A linguagem,


enquanto instrumento humano, carrega não apenas significados racionais, mas
reverbera emoções que moldam a realidade que se constrói entre interlocutores. Em
cada palavra pronunciada, escrita ou silenciosamente intuída, pulsa a memória de
afetos, de medos, de desejos. Comunicar, portanto, é atravessar a superfície do
dizer para tocar o ser.

As emoções não apenas interferem na comunicação: elas a fundam. Sem a vibração


do sentimento, a palavra seria um som oco; o gesto, um movimento sem sentido; o
olhar, uma ausência. É na emoção que a linguagem encontra sua potência mais
autêntica, pois somente o que nos afeta verdadeiramente é capaz de ser
comunicado de modo pleno. O vigor de uma mensagem não reside em sua estrutura
lógica, mas na força com que nela se inscrevem as pulsões da alma.

Entretanto, a era da velocidade e da profusão de mensagens desafia essa dimensão


essencial. A avalanche de palavras, imagens e signos dissociados da experiência
emocional fragmenta o elo profundo entre o dizer e o sentir. Em meio a ruídos
incessantes, o cuidado com a linguagem e a escuta sensível tornam-se atos de
resistência: resistir à superficialidade, resistir ao vazio da comunicação
Funcional. Habitar a linguagem é, pois, um exercício de presença. Exige atenção à
alteridade do outro, paciência para acolher o que se diz para além do que se
enuncia. A emoção, nesse sentido, não é ruído a ser eliminado, mas condição de
possibilidade para uma comunicação que não se esgote em informar, mas que
transforme, toque e ilumine.

Comunicar, afinal, é um modo de existir no mundo. E apenas quando a emoção


atravessa a palavra é que a comunicação deixa de ser mera transmissão para se
tornar encontro.

*ESTE/A PARTICIPANTE ENTROU EM CONTATO CONOSCO E NOS INFORMOU


QUE O TEXTO FOI PRODUZIDO POR INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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25
Nota: 9,5/10
Autoria: participante 11 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Sem Título

No filme “Ainda Estou Aqui”, o espectador é transportado para uma cena emblemática,
na qual a família Rubens Paiva posa para uma fotografia e, Eunice Paiva, mesmo tomada
pela dor de ter perdido seu marido, pede aos filhos que sorriam. Esse movimento é capaz
de transmitir a resistência de sua família perante a crueldade sofrida apenas através das
emoções. Tal representação ilustra como as emoções interferem na linguagem e são
capazes de moldar profundamente os processos comunicativos. Em uma sociedade que
estimula a racionalização excessivas, esse processo é prejudicado, formando indivíduos
individualistas e pouco empáticos.

Na sociedade contemporânea, observa-se a busca por uma coletividade mais


pragmática, que se atém menos aos sentimentos e mais à produtividade, o que ocasiona
profundas lacunas no processo comunicativo. Em uma cultura capitalista, marcada pelo
culto à máxima eficiência, as emoções são vistas como fragilidades, obstáculos que
afastam o indivíduo de uma produção maquinal. Tal conjuntura resulta em uma
comunicação superficial, visto que a comunicação não se restringe apenas às palavras,
mas engloba também a linguagem corporal, moldada pelos sentimentos. Essa repressão
é construída desde a infância, visto que as crianças se comunicam intensamente através
de manifestações emocionais, como o choro, frequentemente rotulado como "birra" e
reprimido sob a justificativa de uma boa educação. Assim, fica evidente que as emoções
são parte intrínseca da comunicação, embora atualmente venham sendo inibidas pela
lógica racionalizante da sociedade.

A supressão dos afetos no contexto comunicativo compromete não apenas o


entendimento dos códigos, mas também a capacidade de conexão com o outro, isto é, a
formação da empatia. Em uma sociedade que valoriza a aparência de bem estar,
expressões emocionais consideradas negativas ou exageradas são ignoradas. Esse
fenômeno se reflete na arte contemporânea, cujas narrativas se tornaram extremamente
superficiais, voltadas ao consumo. O conceito de indústria cultural, formulado por Adorno
e Horkheimer, descreve essa lógica, na qual produções culturais, antes fontes de reflexão,
tornaram-se mercadorias padronizadas. Esse esvaziamento afetivo da arte ilustra o
distanciamento emocional entre indivíduos, tornando-os menos atentos ao mundo ao
redor.

Diante disso, percebe-se que a racionalização excessiva dos sentimentos compromete a


autenticidade da comunicação. Esse processo enfraquece os laços de empatia na
sociedade contemporânea, afastando as pessoas de uma conexão genuína.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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26
Nota: 9,5/10
Autoria: Maria Julia Malaguti
Michelan
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Sem título

Desde a Antiguidade, a comunicação é entendida não apenas como transmissão de


informações, mas também como expressão de sentimentos. Nesse contexto, o conceito
de catarse, descrito por Aristóteles, demonstra como as emoções provocadas pela arte
podem transformar os espectadores, indicando que o sentir é elemento essencial no ato
de comunicar. Sendo assim, torna-se evidente que a emoção é uma linguagem universal
— pois, em determinadas circunstâncias, a comunicação se revela mais emocional do
que racional e transcende as palavras, sendo capaz de comunicar de forma ainda mais
poderosa, principalmente pela arte, espaço privilegiado para a manifestação dos
afetos mais profundos.

Sob esse viés, a ideia de que a emoção é uma linguagem universal encontra respaldo
nas expressões artísticas que ultrapassam a racionalidade. Nesse sentido, o movimento
expressionista, surgido no início do século XX, ilustra tal visão ao priorizar a
exteriorização intensa dos sentimentos. Dessa forma, a obra "O Grito", de Edvard
Munch, exemplifica essa força comunicativa: com cores fortes, formas distorcidas e
traços angustiantes, a pintura transmite de maneira imediata a sensação de desespero.
Logo, independentemente do contexto cultural ou histórico, o impacto emocional da
obra permanece inalterado, evidenciando que, muitas vezes, o sentir comunica mais do
que o entendimento lógico.

Além disso, vale ressaltar a ideia de que a emoção transcende palavras manifesta-se
também na linguagem cinematográfica. Nessa perspectiva, no filme
"Ainda Estou Aqui", a atriz Fernanda Montenegro, ao interpretar uma personagem em
estágio avançado de Alzheimer, revela uma ampla gama de emoções apenas pelo
olhar e pela expressão facial, sem necessidade de diálogo. Com efeito, na cena final, a
ausência de palavras não impede que o público compreenda a dor, a ternura e a
confusão da personagem. Desse modo, a atuação silenciosa intensifica a comunicação
emocional, mostrando que a arte pode tocar mais profundamente do que a linguagem
verbal.

Portanto, observa-se que as emoções exercem um papel essencial no processo


comunicativo. Diante disso, tanto no impacto universal de uma pintura expressionista
quanto na atuação expressiva de Fernanda Montenegro, nota-se que a emoção não
apenas complementa, mas supera a palavra na tarefa de comunicar. Assim, reconhecer
a comunicação como um fenômeno que integra razão e emoção permite valorizar a
potência dos sentimentos no estabelecimento de vínculos mais autênticos entre os seres
humanos.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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27
Nota: 9,5/10
Autoria: participante 22 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Título: O impacto das emoções no processo comunicativo

A comunicação humana frequentemente é permeada por emoções que influenciam


decisivamente sua eficácia e interpretação. Seja no cotidiano ou na arte, quando
expressas ou reprimidas, elas possuem a capacidade de alterar significativamente o
alcance e a clareza da mensagem. Dessa forma, fica evidente que esses sentimentos
não apenas acompanham o ato comunicativo, mas frequentemente determinam sua
essência e efeito.

As emoções, muitas vezes, orientam a eficácia e o significado do processo


comunicativo. De fato, quando sentimentos são transmitidos abertamente, palavras e
gestos tornam-se mais autênticos e profundos, aumentando consideravelmente o poder
de gerar empatia e conexão interpessoal. A comunicação intensamente emocional
consegue superar barreiras, criando vínculos fortes mesmo sem o uso explícito da
linguagem verbal, como observado em momentos críticos ou de alívio retratados no
cinema ou na literatura. O filme "Ainda Estou Aqui" exemplifica claramente esse
conceito ao ilustrar o impacto gerado pela contenção emocional da personagem
principal, cujo esforço para conter o choro frente a uma tragédia familiar provoca uma
intensidade mais verdadeira do que se as lágrimas fossem expostas abertamente.
Dessa forma, evidencia-se que tanto a manifestação quanto o controle dos sentimentos
podem conferir uma profundidade única à mensagem.

Por outro lado, sensações exacerbadas podem dificultar a transmissão das


informações, gerando ruídos ou interpretações equivocadas. Quando as emoções são
excessivas e descontroladas, prejudicando a clareza das mensagens e gerando mal-
entendidos, torna-se essencial cultivar uma percepção equilibrada, permitindo que a
interação vá além da simples troca de informações e promova conexões significativas.
Assim, compreende-se a complexidade e relevância dos afetos na comunicação,
reforçando a importância de seu gerenciamento consciente para assegurar clareza e
autenticidade.

Portanto, constata-se que as emoções são componentes essenciais e inevitáveis do ato


comunicativo, influenciando desde a interpretação até a conexão entre indivíduos.
Administrá-las adequadamente é crucial para garantir que a comunicação ocorra de
forma eficaz, transparente e genuinamente
humana.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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28
Nota: 9,17/10
Autoria: participante 21 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Sem título

Aristóteles, na obra "Retórica", afirma que as emoções têm função fundamental dentro
das comunicações, mostrando o caráter racional que elas apresentam dentro do
processo comunicativo entre os homens na sociedade. Dessa forma, é possível afirmar
que as emoções interferem não só processo comunicativo cotidiano, como em
conversas informais, mas também nas expressões artísticas, que criam pontes entre o
criador e observador. Assim, a emotividade interfere na comunicação.

Nesse viés, os sentimentos emotivos influenciam as conversas cotidianas. A linguagem,


para o Filósofo Lev Vigotski, é ferramenta essencial para a comunicação dos indivíduos,
já que essa não é apenas um meio de transmitir informações, mas também um
instrumento usado para expressar e compreender as emoções, podendo ser afetada a
depender da emoção será expressada. Ao estar sob domínio de sentimentos como a
raiva, a linguagem que será usada para expressar tal emoção apresenta características
geralmente distintas da linguagem, por exemplo, da alegria, transmitindo ao receptor
sinais claros sobre o sentimento que está sendo apresentado pelo emissor, visto que
esse pode apresentar ruídos na comunicação devido ao seu estado emocional ao
conversar, como gaguejar de nervoso ou chorar de raiva. Desse modo, é perceptível que
as emoções interferem na comunicação cotidiana.

Ademais, as obras de arte também podem ser influenciadas pela emoção no processo
de comunicação. Na escultura "O Pensador", de Auguste Rodin, a expressividade
emotiva é notada na postura e na tensão muscular da figura, mostrando estado de
profunda contemplação e de um possível conflito interno, sendo a comunicação entre
artista e observador através da linguagem corporal silenciosa, que apresenta várias
emoções em somente uma obra, as quais podem ter grande significado para quem a
analisa e sente-se representado sentimentalmente pelas emoções transmitidas na arte.
Dessa maneira, o autor consegue evocar emoções no espectador através da linguagem
não-verbal, a qual também faz parte da comunicação e é importante para a
representação de sentimentos nos seres humanos. Logo, a arte atua como um meio das
emoções interferirem na comunicação, expressando as não por meio da não
verbalização e sim por meio da sua representação visual.

Portanto, é perceptível que as emoções são fatores que interferem na comunicação


tanto em processos de conversas informais, quanto na representação a partir de
obras de arte. Com isso, é possível perceber que as emoções podem interferir de
várias maneiras na comunicação.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
29
Nota: 8,67/10
Autoria: Joaquim Almir
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Sem título

Desde a Antiguidade, a comunicação é compreendida não apenas como a


transmissão de informações, mas sim um fenômeno essencialmente humano,
perpassado por afetos e subjetividades. Aristóteles, ao teorizar sobre a retórica, já
compreendia que convencer um interlocutor dependia não só da solidez dos
argumentos, mas também da capacidade de mobilizar suas emoções. Assim, torna-
se evidente que as emoções, longe de serem meros acessórios do discurso,
constituem parte intrínseca do processo comunicativo, influenciando seu êxito ou
fracasso.

Sob essa ótica, é possível afirmar que as emoções, quando equilibradas, ampliam o
alcance da comunicação. De acordo com Jacques Lacan, em suas reflexões sobre a
inteligência emocional e a psicanálise, a habilidade de reconhecer e administrar os
próprios sentimentos é decisiva para estabelecer conexões autênticas e reais. Em
cenários sociais e profissionais, externar emoções como a empatia e a alegria além
de humanizar a comunicação, também a torna mais eficaz, ao promover elo de
confiança e compreensão mútua. Dessa forma, a emoção bem conduzida atua
enquanto catalisador da interação entre indivíduos.

Entretanto, o impacto das emoções no diálogo humano não é único. Quando


sentimentos como a ira, medo ou angústia se sobrepõe à razão, a comunicação
tende a se desestabilizar. Friedrich Nietzsche, ao refletir sobre a linguagem como
uma criação imperfeita e instável, sugere que a comunicação humana está sempre
sujeita a distorções originadas das pulsões internas. Assim, uma emoção
desgovernada pode obscurecer a intenção da mensagem, agravar mal-entendidos e
rupturas transformando a linguagem — instrumento de aproximação — em vetor de
afastamento.

Por conseguinte, torna-se imperativo cultivar a autoconsciência emocional como


condição para o aprimoramento da comunicação. Retomando o ideal socrático
"conhece-te a ti mesmo", é possível sustentar que apenas quem reconhece seus
próprios afetos pode se expressar com clareza e ouvir com autenticidade. Em um
mundo contemporâneo marcado por hiperconectividade e polarizações, a
capacidade de integrar razão e emoção no processo comunicativo revela-se nao
apenas uma habilidade desejável, mas uma necessidade ética para a preservação
do diálogo e da convivência social.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
30
Nota: 8,67/10
Autoria: Maria Fernanda Faust
Branco
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Sem título

A comunicação é a ponte fundamental entre os indivíduos, sustentando relações


interpessoais, profissionais e sociais. Entretanto, essa ponte é profundamente
influenciada por um fator muitas vezes invisível, mas poderoso: as emoções. Elas não
apenas moldam a forma como nos expressamos, mas também determinam como
interpretamos as mensagens dos outros e como reagimos ao mundo que nos cerca.
Compreender a influência emocional no processo comunicativo é essencial para
tornar nossas interações mais eficazes e humanas.

As emoções são reações complexas que envolvem componentes psicológicos e


fisiológicos, surgindo em resposta a estímulos internos ou externos. A capacidade de
reconhecer e administrar as próprias emoções é tão importante quanto a habilidade
lógica tradicionalmente valorizada. Quando sentimentos como raiva, tristeza, medo
ou entusiasmo dominam o indivíduo, eles alteram não apenas o conteúdo da
mensagem, mas também o tom de voz, a escolha das palavras, a expressão facial e
a postura corporal. Essa interferência emocional é retratada de maneira sensível no
filme Divertidamente. A história mostra como diferentes emoções dentro da mente
de uma criança moldam sua percepção do mundo e, consequentemente, a maneira
como ela se comunica com os outros.

Além do cinema, as artes plásticas também ilustram essa relação. O quadro O Grito
(1893), de Edvard Munch, é um exemplo de como uma emoção intensa — o
desespero — pode ser comunicada de forma quase universal, ultrapassando
barreiras linguísticas e culturais. Mesmo sem palavras, a imagem transmite uma
mensagem clara, evidenciando que a comunicação é muito mais do que a
linguagem verbal: ela é também emoção, expressão e percepção. Dessa forma,
para haver comunicação verdadeira, é necessário reconhecer os sentimentos
próprios e alheios, afastando julgamentos automáticos e favorecendo a empatia.
Muitas vezes, falhas na comunicação não decorrem da falta de vocabulário ou de
clareza racional, mas da incapacidade de lidar com os sentimentos que permeiam o
diálogo.

Portanto, é impossível dissociar emoção e comunicação. A qualidade do nosso


diálogo depende da nossa capacidade de reconhecer o que sentimos e de
compreender o que o outro pode estar sentindo. Assim como o quadro de Munch e
como as emoções coloridas de Divertidamente observa-se que toda comunicação é,
antes de tudo, um encontro de emoções. Saber navegar por elas é o que transforma
a simples troca de palavras em verdadeira conexão humana.
Movimento Carta Aberta à Fuvest
31
+
Nota: 8,67/10
Autoria: Vanessa Rodrigues
de Souza
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA

Título: A compreensão do homem por meio das emoções

No filme “Ainda Estou Aqui”, que se passa no contexto de Ditadura Militar no


Brasil, mostra-se a vida de uma família ameaçada pelo sistema de repreensão,
evidenciando suas angústias e seu silêncio como forma de comunicação. Do
mesmo modo, observa-se a interferência das emoções no diálogo estabelecido
pelos indivíduos, seja ela verbal ou com um simples olhar, assim, pode-se promover
o entendimento do que se é passado e sua reflexão.

Nesse cenário, a linguagem utiliza-se de palavras e sentimentos para que se


tenha a compreensão do retratado. Dessa forma, no livro “Olhos d’água”, de
Conceição Evaristo, a autora expõe em seus contos as diferentes situações
passadas por mulheres pobres, demonstrando suas sensações, pensamentos e
comunicações, e assim, levando o leitor a consciência completa de seu objetivo com
os escritos. Dessa maneira, os diálogos diretamente e indiretamente feito pelos
seres humanos, quando vinculados às emoções, contribuem para abstrair-se da
mensagem focal, ao passo que inserem concomitantemente sentimentos que se
compartilham e por vezes, geram identificação entre os seres, tornado-se a
experiência da interlocução mais profunda.

Ademais, ao demonstrar-se as diversas ideias entre os indivíduos, a


comunicação também pode ser realizada por meio da reflexão. A exemplo, Narcisa
Amália, em seu livro “Nebulosas”, apresenta em seus poemas, tópicos como família,
saudades da infância e emoções, utilizando a linguagem em sua forma mais
expressiva do que palpável, o que leva seus ledores bem mais a fundo em sua
imaginação. Portanto, valoriza-se o sentimento da experiência por meio psicológico
e reflexivo, o que também aproxima a proposta de conversação não verbal e leva as
pessoas a mergulharem intensamente no momento da fabulação.

Em suma, no mundo da linguagem, quando utilizada com estratégias


diversas, mesclando o sentir e o falar, se respalda no melhor entendimento e
identificação para o retratado entre os seres humanos, uma vez que os levam ao
mais profundo das sensações, resplandecendo a arte da comunicação. Logo,
contribuem para uma troca não só racional, mas também, intelectual entre a
sociedade, em que a compreensão do homem se faz da melhor maneira, com as
suas emoções.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
32
Nota: 8,5/10
Autoria: partipante 2 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Título: Comunicar-se é sentir.

Comunicar-se é mais do que transmitir palavras ou ideias: é um ato de revelação


mútua, no qual o ser humano se mostra em sua inteireza. Nesse processo, as emoções
não surgem como falhas da razão, mas como expressão profunda da existência. Ao
contrário do que prega uma visão puramente técnica da linguagem, a presença do
afeto na comunicação amplia sua potência, conferindo-lhe sentido, beleza e
humanidade. É através das emoções que a linguagem transcende o utilitário e se torna
espaço de verdadeiro encontro entre consciências.

A filosofia existencialista, especialmente em Jean-Paul Sartre, aponta que o ser


humano é lançado ao mundo sem essência pré-definida, cabendo-lhe construir-se
através de escolhas e relações. Nesse movimento, a comunicação emotiva torna-se
uma expressão autêntica da liberdade humana: falar com emoção é afirmar-se como
ser de projeto, de sentido e de alteridade. A palavra carregada de afeto atinge
profundidades que o discurso neutro jamais alcançaria, pois traz consigo a vibração
singular de quem fala e o convite à escuta sensível de quem ouve.

As manifestações artísticas comprovam a força vital da emoção na comunicação. Em


obras como A Vida é Bela, de Roberto Benigni, é a linguagem sensível — repleta de
ternura e esperança — que ressignifica a realidade e mantém acesa a dignidade
humana diante do horror. Assim como na literatura ou na pintura, o que nos toca não é
a exposição fria dos fatos, mas a maneira emotiva com que eles são narrados, pintados
ou encenados. A emoção, portanto, não obscurece a verdade: ela a revela em sua
dimensão mais profunda e compartilhável.

Dessa forma, comunicar-se emotivamente é afirmar a própria condição humana:


limitada, vulnerável, mas também criativa e capaz de encontro. Num tempo em que a
velocidade e a superficialidade ameaçam esvaziar as palavras de sentido, defender a
emoção na linguagem é um gesto de resistência e de reafirmação da dignidade da
comunicação. Mais do que transmitir informações, comunicar-se com emoção é
construir pontes — frágeis talvez, mas reais — entre mundos interiores.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
33
Nota: 8,5/10
Autoria: participante 8 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Título: Sons que comunicam

"A carne mais barata do mercado é a carne negra", interpretada por Elza Soares,
ecoa a dor e a resistência de um povo historicamente marginalizado. Ao longo da
canção, ela revela como a emoção pode se tornar elemento essencial na
comunicação, dando às palavras um poder de alcance que transcende a razão.
Assim como na música, no cotidiano, a comunicação humana é atravessada por
sensações que, ao reverberar, influenciam a maneira como se transmite e se recebe
uma mensagem. Nesse contexto, é possível observar que as emoções, ao interferirem
no processo comunicativo, podem tanto Fortalecer o entendimento quanto provocar
ruídos e distorções.

"Tá ligado que não é fácil, né, mano?". Quando o viés conotativo amplia a potência
da comunicação, há a geração de identificação. O uso de discursos que permitem o
diálogo fortalecem um senso coletivo, por vezes, marcado pela dor e indignação. A
transformação desses sentidos perpassa, então, pela criação de uma cadência que
gera um grito coletivo de resistência e empatia. Esse ritmo, ao construir uma onda
informativa, mobiliza afetivamente quem a escuta, gerando conscientização e
solidariedade. A emoção, assim, torna a comunicação mais envolvente e capaz de
criar conexões profundas entre os interlocutores, seja na arte, seja na vida cotidiana.

"Porque o revólver já está engatilhado". Se a emoção pode fortalecer a


comunicação, ela pode, também, gerar atritos. As emoções descontroladas são
capazes de comprometer a clareza da comunicação linguística. Movidos por
sentimentos, como raiva ou tristeza, os indivíduos tendem a reagir diante daquilo
que recebem, sobretudo do desprezo e apatia. De tal modo, a comunicação se
torna vulnerável a mal-entendidos e conflitos, especialmente, quando o outro pode
estar pronto para atacar.

Portanto, a interferência das emoções na comunicação é inevitável e ambígua:


pode tanto amplificar a força do discurso quanto gerar ruídos que afastam. Saber
reconhecer e administrar as emoções é fundamental para garantir que a
comunicação cumpra seu papel de aproximar e transformar. Como ensina Elza
Soares em "A Carne", palavras carregadas de sentimento verdadeiro são capazes
de ecoar na alma coletiva - mas é preciso saber como e quando permitir que as
emoções falem mais alto, sobretudo porque a reação do outro pode ser adversa.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
34
Nota: 8,5/10
Autoria: participante 20 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Sem título

No filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, o professor de literatura incentiva seus


alunos a expressarem sentimentos de maneira autêntica, utilizando a poesia como
instrumento de resistência à rigidez social. Apesar de suas intenções, ele é demitido
por incitar a quebra da ordem estabelecida. Embora se trate de uma ficção, o
enredo aborda um tema frequentemente silenciado pela sociedade: a influência das
emoções no processo de comunicação, tanto na forma como nos expressamos
quanto na maneira como somos interpretados, em um contexto que prioriza a razão.

No contexto neoliberal, a comunicação torna-se um instrumento de poder, em que a


influência da voz dominante controla narrativas e silencia outras expressões. Nesse
cenário, o neoliberalismo atua como um “eu lírico” da sociedade contemporânea,
guiando comportamentos e discursos como em uma brincadeira de “o mestre
mandou”. Aquele que detém a voz mais forte impõe regras e valores, mas essas
narrativas contemplam apenas um lado da história. Sob a perspectiva da escritora
Chimamanda Adichie, há um grande perigo na construção de uma “história única”,
pois ela reduz a complexidade das experiências humanas a um único ponto de vista
dominante. Durante a década de 1970, por exemplo, a hegemonia cultural dos
Estados Unidos consolidou padrões de comportamento e expressão que apagaram
modos de vida diversos, fazendo com que manifestações emocionais distintas
fossem interpretadas como sinal de inferioridade ou fragilidade.

Se cada cultura pudesse ser comparada a um poema, surgiria uma coletânea de


estereótipos. Nessa compilação, se colocados no cenário internacional, povos como
os brasileiros, cuja comunicação é mais voltada à expressividade e ao afeto,
estariam entre os mais incompreendidos. Essa visão reducionista revisita a lógica do
silenciamento, na qual o que se afasta do padrão transforma sentimentos em ruído.
Assim, a diversidade dos modos de comunicação é silenciada e determinada por
quem detém o poder da narrativa.

Portanto, é no contrassenso entre o professor do filme que se desvia do senso


comum e é silenciado, e qualquer um que cruze a linha do padrão estabelecido e
seja silenciado, que pode, mesmo não anulado, pela massa dominante e dominada.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
35
Nota: 8,33/10
Autoria: participante 19 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Sem título

A tendência de consumo dos jovens comuns, isto é, daqueles garotos e garotas que
se encontram amplamente inseridos na ordem digital, atualmente, contradiz o
instinto do ser humano de procurar conteúdos emotivos que excitem sua
consciência. É comumente observado, na contemporaneidade, o apreço dos mais
novos por narrativas breves e imparciais do ponto de vista emocional, como vídeos
curtos do Tiktok ou do Youtube em que um blogueiro aparece fazendo barulhos
satisfatórios frente a tela de seu gravador.

Essa onda comportamental contrasta nitidamente com a idolatria de novelas e


romances por gerações passadas. Essas antigas histórias televisionadas
despertavam um êxtase em sua audiência, muitas vezes, através de conflitos
familiares e conjugais, os quais só puderam encantar os noveleiros e romanceiros por
meio da comunicação - da linguagem. Gritos, xingamentos, discussões e
indulgências eram alguns dos diferentes tipos de uso da arte comunicativa que
seduziam o público. Hoje, com as encenações efêmeras que ocupam os espaços de
interação virtual, o manuseio inteligente da palavra é colocado em segundo plano e
cede lugar para o silêncio que entretém.

Contudo, essa ausência da comunicação não é de todo mal quando se quer


priorizar o acesso à essência em detrimento da expressão emotiva. A linguagem, do
ponto vista platônico é uma das chaves para abrir a porta do significado final das
coisas. Em contraste, se utilizado somente para extravasar sentimentos, o fazer
comunicativo torna-se um desperdício de tempo ou uma arma do horror. A fim de
explorar as potencialidades desse mal uso da linguagem, a minissérie " Adolescência
" mostra como um garoto de 13 anos, após ser doutrinado por um influenciador
digital misógino, se aproveitou da verbalização para subjugar e, posteriormente
assassinar sua colega de escola. O sociopata mirim, foi ensinado a praticar uma
retórica violenta diante de mulheres para que fosse visto como um homem de
virilidade inabalável, mas foi confrontado e reagiu da maneira mais pérfida possível.

A minissérie mostrou que a emoção deforma o ser a ponto de fazê-lo interromper


uma troca comunicativa com uma fatalidade.Enfim, as emoções e os processos de
comunicação são interdependentes, mas também podem ser excludentes. Sem
diálogos ou conflitos promovidos pela linguagem não há emoção- sem novelas, o
que resta é a frieza de vídeos satisfatórios. Ademais, a emotividade pode destruir a
troca comunicativa. A soberba alavancada pela raiva pode ser capaz de cisar o
fluxo da linguagem.
Movimento Carta Aberta à Fuvest
+
36
Nota: 8,17/10
Autoria: partipante 4 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA

Sem título

No filme "Divertidamente 2", a jovem Riley inicia o processo de puberdade e, para além
das mudanças físicas em seu corpo, novas emoções chegam à "sala de controle". Entre
elas, há a distinta "Ansiedade", personificada em um corpo de baixa estatura, mas
incrivelmente enérgico. Desenvolvimento do "senso de si" e descoberta da identidade são
elementos cruciais da vida de um adolescente, mas o que acontece quando os espaços
para o aflorar de todas as emoções não são fornecidos? Em um mundo onde os indivíduos
são bombardeados ciclicamente por informações, tendências e novidades, há pouco
espaço para pensamento crítico e, sobretudo, para o desenvolvimento de noções próprias,
restando só a ansiedade do pertencimento.

No caso de adolescentes, como a Riley, o processo é mais danoso sobretudo tendo em


vista o desenvolvimento das competências neurológicas; com o cérebro ainda em
formação, a juventude acaba sendo mais facilmente influenciável. Nesse sentido, a
avalanche de conteúdo promovida pelas redes sociais sobrecarrega a mente não só dos
jovens mas da maioria dos usuários ávidos das plataformas digitais. Vídeos cada vez mais
curtos e botões que permitem acelerar o vídeo em duas vezes são só alguns exemplos de
recursos que, ao tentarem otimizar o consumo e a retenção das redes, potencializam a
ansiedade.

Nas redes sociais, não há tempo para pensar, não há tempo para sentir. Mesmo com os
nichos variando de conteúdos "brainrot" a postagens relacionadas a arte, a comunicação
é simplificada ao máximo para não prejudicar o ritmo acelerado. As mídias, nesse
contexto, precisam atender à altíssima demanda por conteúdos, sem simultaneamente
sobrecarregar indivíduos com capacidade de mobilização sentimental limitada. Não é à
toa que as chamadas "aesthetics" ou "core" explodiram pelas plataformas digitais. Os
usuários anseiam por pertencer a algum grupo com uma identidade pré-determinada, já
que eles próprios não desenvolveram o"senso de si".

Assim, os conteúdos produzidos despertam, cada vez menos, emoções profundas, seja
pela própria demanda superficial do mercado, seja pela incapacidade de comunicação
dos indivíduos e ausência de identidade própria. A ansiedade, como demonstrado pelo
longa-metragem, não é uma emoção ruim - nenhuma das emoções é-, mas não deve se
sobrepor totalmente aos outros agentes. Entender como você se sente e aprender a
comunicar talvez seja a tarefa mais difícil mas a mais fundamental na atualidade.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
37
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA Nota: 8,17/10
Autoria: Clara
Sem título

"Divertidamente" é um filme da Disney que personifica as emoções, torna a alegria uma


mulher agitada, a tristeza uma pequena mulher melancólica e as outras emoções, como
raiva e medo, personagens carismáticas. O filme, apesar de infantil, mostra uma
perfeita analogia das emoções e sua interferência no processo de comunicação. Nesse
sentido, é possível dissertar sobre como as emoções podem atrapalhar a comunicação
no âmbito pessoal ou torná-la divina no âmbito das obras midiáticas.

De início, é válido ressaltar que todos passaram pela adolescência, período de grande
mudança hormonal que pode ser associado com sofrimento mental por descontrole de
emoções. O jovem rebelde que não consegue se comunicar com seus pais é um
arquétipo muito popular na mídia e, no que diz respeito à realidade, é algo que
acontece em razão das emoções dificultarem a comunicação plena. Na analogia do
Filme, o jovem ama ou sente uma grande felicidade, que o agita ao ponto de não
conseguir se expressar com claridade, quando a Alegria assume o controle ou treme e
gagueja em público quando o Medo assume. Do ponto de vista fisiológico, as emoções
desencadeiam a produção de hormônios como, dopamina e adrenalina, e são esses
hormônios que vão causar as dificuldades de comunicação. A exemplo disso, a
adrenalina, hormônio do processo de fuga e luta, prepara o corpo para fugir e diminui a
capacidade de raciocínio da pessoa, que pode gaguejar ou falar coisas desconexas.

Entretanto, emoções também podem causar melhora de comunicação quando estão


relacionadas à formas de entretenimento. Nesse sentido, obras que "devastam" a
audiência contando histórias tristes ou revoltosas são lembradas com muito carinho pelo
telespectador e tendem a serem sucessos, como a história do trágico amor de Romeu e
Julieta que arranca lágrimas há mais de trezentos anos. A comunicação de obras assim
é excelente, pois conecta o público com a história e a mensagem é lembrada por mais
tempo, podendo ter o efeito de educar a audiência quando a emoção despertada é de
forte alegria, revolta ou tristeza. Então, a emoção é a chave para a comunicação eficaz
de filmes, livros, séries e peças, e a sua construção ao longo da narrativa é o que
definirá se a obra é só mais uma ou é "a" obra.

Portanto, as emoções são intrínsecas à comunicação humana. No âmbito pessoal


podem ser um obstáculo pelo descontrole da produção hormonal, mas as conversas
mais lembradas serão as que despertaram grande emoção nos envolvidos. No âmbito
midiático, comunicação sem emoção é o mesmo que comida sem sal, obras que não
geram emoção na audiência são facilmente esquecidas.
Movimento Carta Aberta à Fuvest 38
+
Nota: 8,17/10
Autoria: participante 15 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Título: A flexibilidade do ser

Com a premiação do filme “Ainda estou aqui”, de Walter Sales, no Oscar de 2025,
e o emocionante discurso de Fernanda Torres, ficou ainda mais claro para os brasileiros
— e para o mundo — a função da linguagem e das imagens em perpetuar saberes.
Desde os primórdios, com o uso dos sons e da entonação para contar histórias e, hoje,
com os adventos da tecnologia, os sentimentos encontraram diferentes formas de
serem expressos e interpretados pelo público. Dessa forma, fica evidente a
interferência das emoções no processo de comunicação, uma vez que elas são
inerentes ao ser humano e que trazem autenticidade as obras.

Em primeiro plano, cabe destacar que as emoções fazem parte da essência do


ser. Seja no primeiro choro da vida, marcando a transição para a vida fora do útero, ou
nos próximos muitos que virão, acompanhados de gargalhadas e de outros sentimentos
confusos, é impossível dissociar o humano do sentir. Para Aristóteles, filósofo grego, a
arte não é apenas uma cópia do mundo, mas uma representação que busca captar a
essência das experiencias humanas. Assim, é possível concluir que as emoções
interferem nos processos de comunicação porque formam uma unidade com o Ser.

Ademais, vale ressaltar que são as emoções que atribuem às obras, sejam elas
visuais, sensoriais ou auditivas, significado. Isso porque é a partir do sentimento que é
dado – ou interpretado - pelo público que as obras adquirem diferentes perspectivas,
cumprindo com o papel da arte de transmitir reflexões que podem provocar mudanças
significativas no indivíduo, ou na própria História. Para Hegel, filósofo alemão, a Arte
revitaliza a capacidade humana de sentir e ameniza a os processos de anestesia social
contemporânea. Sob esse viés, é a partir das emoções e da comunicação que somos
retirados do transe da vida moderna, rodeada de caos e violência, para sermos
lembrados da nossa verdadeira essência.

Em suma, depreende-se que a interferência das emoções na arte e na


comunicação é um lembrete constante de que apesar do processo de desumanização
ao qual somos submetidos, ainda somos humanos, com desejos, frustrações e
emoções. A linguagem, na sua infinidade de formas, revela, portanto, a flexibilidade
das emoções em se expressar e em seres vistas e sentidas.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
39
Nota: 8,17/10
Autoria: participante 17 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Sem título

A comunicação, historicamente, sempre esteve ligada ao conceito de


disseminação de informações, ideias e sentimentos entre indivíduos, sendo
esses emissores e receptores. Nesse contexto, é perceptível que, no mundo
contemporâneo com as redes sociais em seu ápice, tal comunicação está
perdendo seu caráter emotivo e sua essência, entretanto ela não deixa de ser
importante. Dessa forma, é possível dizer que as emoções interferem no
processo de comunicação, promovendo o despertar de sentimentos e de
maior interesse do público.

À vista disso, sabe-se que, apesar da importância do consumo de notícias e


textos de gênero jornalísticos que possuem como principal característica a
imparcialidade, a sociedade tem uma maior preferência por filmes; séries;
músicas e entre outros tipos de comunicação emotiva. Uma pesquisa
realizada pela Nielsen, apontou que mais da metade da população
norte-americana utiliza do seu tempo para acessar serviços de streaming ao
invés de noticiários e outra realizada pela Hibou, que 80% dos brasileiros
possuem preferência por filmes. Dados como esses acentuam ainda mais o
impacto que as emoções possuem no meio da comunicação e como elas
prendem a atenção das pessoas, ajudando-as em sua capacidade de
julgamento em relação ao mundo.

Sendo assim, é válido ressaltar que os sentimentos e a subjetividade foram


elementos importantes para a formação do mundo contemporâneo. É
possível realizar tal percepção por meio do Oscar, a cerimônia de premiação
anual da Academia de Artes, que impacta a vida de tantas pessoas e que
grande parte da população mundial é influenciada. Segundo o filósofo
Aristóteles, “As emoções são os movimentos da alma [...]”, ou seja, ele afirma
que as emoções fazem parte da natureza humana, sendo justo concluir que
as mesmas também estimulam a evolução e comunicação dos indivíduos.

Posto isso, é justo concluir que as emoções são de extrema importância no


processo de comunicação. De fato, apesar da presença massiva que as
redes sociais e seu déficit de emoções profundas apresentam no cotidiano, a
sociedade ainda possui a necessidade de sentimentos nos meios de
comunicação.
Movimento Carta Aberta à Fuvest
+
40
Nota: 8/10
Autoria: Maria Laura Leão
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Título: Entre silêncio e palavras: o papel das emoções na comunicação

No quadro "Room in New York", de Edward Hopper, duas figuras dividem o mesmo
espaço, mas parecem separadas por um silêncio denso, cada uma imersa em seus
próprios pensamentos. A cena, marcada pela distância emocional, ilustra como a
comunicação vai além das palavras: envolve gestos olhares e, sobretudo, emoções. Em
muitas situações cotidianas, mesmo diante da proximidade física a ausência de diálogo
verdadeiro evidencia como as emoções podem ser barreiras ou pontes no processo
comunicativo. Assim, é possível afirmar que o domínio das emoções é fundamental para
qu a comunicação cumpra seu papel de promover entendimento e vínculos sólidos:
quando reconhecida e bem direcionadas, aproximam; quando ignoradas ou mal
conduzidas, afastam.

Em primeiro lugar, o reconhecimento e o direcionamento adequado das emoções


favorecem uma comunicação mais autêntica e construtiva. Quando sentimentos são
expressos de forma consciente, criam-se condições para o diálogo empático e a
confiança mútua. Um exemplo concreto é o movimento "Setembro Amarelo", que
incentiva o diálogo aberto sobre saúde mental e promove rodas de conversa em
escolas e empresas. Nessas ocasiões, a partilha de emoções, mediada por profissionais
capacitados, contribui para a criação de ambientes acolhedores e para a prevenção
de graves consequências, como o suicídio. Assim, a emoção, quando bem conduzida,
transforma a comunicação em ferramenta de cuidado e transformação social.

Por outro lado, a ausência de domínio emocional pode comprometer a clareza e a


eficácia das mensagens. Emoções intensas e descontroladas, como raiva ou ansiedade
frequentemente levam a palavras impensadas e dificultam a escuta, gerando mal-
entendidos e afastamento. Um exemplo pôde ser observado durante os debates
políticos nas redes sociais em períodos eleitorais, quando a polarização e o excesso de
emoção resultaram em ataques pessoais, boatos e rupturas de laços familiares. Nessas
circunstâncias, a impulsividade emocional obscureceu argumentos racionais e
inviabilizou o diálogo, evidenciando como o descontrole dos sentimentos pode
prejudicar a comunicação.

Dessa forma, observa-se que a comunicação depende diretamente do manejo das


emoções: quando bem orientadas, aproximam e fortalecem vínculos; quando
descontroladas, afastam e dificultam o diálogo equilibrado.
Movimento Carta Aberta à Fuvest
41
+
Nota: 8/10
Autoria: Fernando De La
Torre Santos
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Sem título

A comunicação humana é um fenômeno complexo, em que as emoções atuam como


lentes que ampliam ou distorcem a realidade. Enquanto a neurociência explica seu
papel nas decisões, a sociologia mostra sua influência na construção de
identidades. Logo, entender sua dualidade, conexão ou manipulação, é vital para
evitar que a comunicação se torne um campo de conflitos.

Em primeira análise, a psicologia cognitiva revela que emoções como medo ou


esperança filtram nossa interpretação da realidade. Na Guerra Fria, o discurso "Ich
bin ein Berliner" (1963), de Kennedy, usou a empatia para unir o Ocidente contra a
opressão soviética, transformando crise em resistência. Em contraste, no Massacre
de Nanquim (1937), a propaganda japonesa desumanizou chineses para justificar
atrocidades, mostrando como o ódio corrói a ética. Desta maneira, esses casos
mostram que o impacto emocional depende de quem as usa e qual narrativa
promove, enquanto Kennedy mobilizou sentimentos para defender a democracia, o
imperialismo nipônico os usou para destruir alteridade, evidenciando que a emoção
é uma arma de duplo corte.

Na arte, Guernica (1937), de Picasso, denuncia horrores da guerra através de figuras


distorcidas que transmitem angústia sem palavras, promovendo reflexão crítica. Já
os deepfakes, como os usados nas eleições brasileiras de 2022, distorcem emoções
reais em vídeos falsos para gerar pânico e polarização. Portanto Guernica humaniza
o sofrimento para conscientizar, os deepfakes desumanizam a verdade, reduzindo
sentimentos a algoritmos. Isso expõe um paradoxo: a arte eleva a comunicação ao
unir ética e estética, enquanto a tecnologia desregrada a rebaixa a instrumento de
interesses escusos.

Em suma, as emoções refletem intenções, nobres ou perversas. Se a história e a arte


mostram seu poder para inspirar revoluções ou atrocidades, cabe à sociedade vigiar
seu uso, aliando-as à racionalidade. Desse equilíbrio, a comunicação poderá ser
uma ponte entre subjetividades, preservando o ser humano: a capacidade de sentir
e pensar.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
42
Nota: 8/10
Autoria: Participante 6 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Sem título

A comunicação, embora pareça algo simples e automático, é profundamente influenciada


por fatores emocionais. Não basta apenas transmitir uma informação; a maneira como se
fala, o tom de voz, a expressão facial e até mesmo o estado de espírito acabam
interferindo diretamente no resultado da interação. Muitas vezes, é justamente essa
influência emocional que aproxima ou afasta pessoas durante uma conversa.

Em situações em que as emoções estão equilibradas, como em momentos de empatia,


tranquilidade ou alegria, a comunicação tende a fluir com naturalidade. As palavras são
melhor escolhidas, o olhar transmite acolhimento e o tom de voz cria uma atmosfera de
confiança. Nessas condições, é possível perceber que o conteúdo da mensagem importa
tanto quanto o modo como ele é transmitido.
Emoções positivas não apenas clareiam o diálogo, mas fortalecem os laços entre os
interlocutores.

Entretanto, quando emoções como raiva, medo ou frustração dominam, o processo


comunicativo pode se tornar confuso e ineficaz. Frases são ditas sem reflexão, o tom se
torna áspero, e a escuta atenta dá lugar a interpretações precipitadas. Muitas vezes, o
problema não está no que é dito, mas na forma emocional como se diz. A comunicação,
nesse contexto, deixa de ser uma ponte e passa a ser uma barreira, gerando afastamento
e desentendimentos que poderiam ser evitados.

Outro aspecto relevante é a dificuldade de lidar com as próprias emoções. A ausência de


inteligência emocional leva à impulsividade, à defensividade ou ao fechamento em si
mesmo. Interações ficam marcadas por silêncios desconfortáveis ou explosões de
sentimentos que dificultam qualquer entendimento real. Saber reconhecer o que se sente,
nomear as emoções e ajustá-las ao contexto é um dos fatores mais importantes para uma
comunicação mais consciente e respeitosa.

Assim, a influência das emoções sobre a comunicação é inegável. Mais do que dominar
técnicas de fala ou argumentação, comunicar-se bem exige sensibilidade para perceber
tanto o próprio estado emocional quanto o do outro. A comunicação eficaz nasce do
equilíbrio entre razão e sentimento.
Ignorar essa dimensão é correr o risco de falar muito e ser compreendido pouco, criando
distâncias onde poderia haver aproximação.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
43
Nota: 7,83/10
Autoria: participante 1 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA

Título: O mundo de emoções acessado pela comunicação

"Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo" é frase célebre do
linguista Wittgenstein, que expressa como a linguagem exerce papel fundamental no
conhecimento próprio acerca daquilo que compõem a esfera das subjetividades de
cada um. As emoções, explicadas tão somente através do que se consegue exprimir
por meio da comunicação, atravessam o modo como as pessoas se comunicam com o
mundo que as cerca. Entretanto, em um cenário contemporâneo na qual esse elo
entre o individual e o coletivo é reduzido, os indivíduos, ensimesmados, não ampliam
seu repertório, perdendo de vista o pleno acesso ao próprio mundo subjetivo. O efeito
disso é uma despotencialização subjetiva dos sujeitos.

Quando impera o individualismo, não raro torna-se o analfabetismo na leitura das


emoções. Apenas através da linguagem pode-se acessar a essência das coisas
segundo o escritor Martin Heidegger, cuja ideia exprime o valor da comunicação na
percepção do mundo em sua plenitude. Dessa forma, quando o contato com a
alteridade míngua, reduz-se também o conhecimento acerca dos limites do mundo de
subjetividades que atravessa os sujeitos. Estes, cada vez mais fechados em suas
próprias opiniões e em seus próprios algoritmos, perdem de vista também as próprias
emoções, que vão se tornando desconhecidas, perdendo seu poder de evocar
admiração ou euforia, ou seja, deixam de ampliar as fronteiras de um território tão
vasto.

Com a linha do horizonte tão limitada, não é estranho que a potência subjetiva de
cada indivíduo não atinja seu zênite. As emoções, que poderiam ser profundas e
marcar eternamente a consciência de uma pessoa, tornam-se, em vez disso, irrisórias
à medida que o repertório comunicativo não se expande. Trata-se de uma
despotencialização não apenas do sujeito em si, mas da sua experiência e do seu
contato com o mundo, que se torna superficial. Dessa forma, alarga-se o número de
indivíduos alheios às próprias emoções, ignorantes quanto às variadas linguagens que
os rodeiam, de modo que todo o coletivo também se despotencializa cada vez mais.

Em suma, as emoções formam a subjetividade de cada pessoa que, quanto mais se


fecha ao mundo exterior, mais seu próprio mundo diminui também. A comunicação,
portanto, constitui-se o elo entre esses dois universos que, cada vez mais frágil, perde
a potência da relação entre ambos.
Movimento Carta Aberta à Fuvest
+
44
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA Nota: 7,83/10
Autoria: Participante 5 (anônimo)
Sem título

“O grito”. Esse foi o título atribuído a uma obra expressionista de Edvard Munch, que
expressou suas emoções explicitamente em um quadro de pintura. Em contrapartida,
nem sempre as emoções expressadas são conscientes, como feito pelo artista. As
emoções são expressas e sentidas a todo instante, mesmo que de forma implícita e
indesejada, principalmente durante a comunicação. Nesse viés, é importante refletir
sobre como o capitalismo impacta os indivíduos que comunicam e como as emoções
interferem na interpretação de quem recebe a informação, para compreender a
interferência emocional em processos comunicativos.

A princípio, é relevante pensar como o capitalismo afeta as emoções humanas e,


consequentemente, interfere nos processos de comunicação. Esse sistema econômico é
baseado na busca constante pelo lucro, influenciando no modo como os indivíduos
pensam, agem e se sentem. Ao gerar uma sensação insaciável de acúmulo de capital, o
capitalismo interfere nas emoções individuais, em que os seres passam a reger sua vida
em torno disso. Nesse seguimento, os canais de comunicação fazem de tudo para
conseguirem engajamento e dinheiro a partir de suas postagens, mesmo que isso inclua
postar notícias falsas, como ocorrido em 2020, temporada marcada por linchamentos
sofridos pela mãe da Izabel, dona do canal “Bel para meninas” em torno de uma
polêmica inventada e fomentada pelas mídias.

Ademais, as emoções também podem impactar na maneira como os indivíduos


recebem uma informação. Tendo em vista que a psicologia não é uma ciência exata,
com fórmulas prontas para decifrar a mente humana, é possível entender que o modo
como as pessoas interpretam um comunicado não é universal. Essa subjetividade
existente pode variar de acordo com o indivíduo ou até mesmo de acordo com o humor
de cada ser em certos dias. Assim, torna-se inviável definir que uma mensagem
transmitida depende apenas do emissor.

Portanto, conclui-se que as emoções estão presentes a todo momento, principalmente


nos processos de comunicação, influenciando o emissor e o receptor da mensagem.
Ademais, as emoções não são universais e as vezes até são implícitas, sendo
influenciadas pelo modelo econômico capitalista.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
45
Nota: 7,83/10
Autoria: Mayara Santos Carneiro
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Sem título

Na música "Principia" do rapper Emicida, é citado o sorriso como a única língua


entendida por todos os humanos. Sob essa perspectiva, fica explícito que as
expressões faciais - e as emoções que as geram - são partes cruciais da
interlocução. Tendo isso em vista, seja na linguagem falada, na linguagem corporal
e, principalmente, na linguagem de sinais, as demonstrações subjetivas são
essenciais para a comunicação.

A demonstração de sentimentos garante o entendimento da mensagem. Nesse


sentido, cabe citar um ensinamento importante do livro "Comunicação não-violenta"
de Marshall Rosenberg, quando há um conflito entre duas pessoas, a melhor forma
de resolvê-lo é na exposição dele. Isso através de uma conversa que siga os
princípios de não ser ofensiva, ser clara e, também, ser um lugar seguro para expor
emoções e dar nome ao que se está sentindo. Diante disso, fica nítido que a
exposição do que se está sentindo é importante para gerar empatia no interlocutor
bem como garantir o entendimento do que está sendo exposto.

Além disso, é possível citar a relevância das emoções em situações em que a


palavra não é propriamente dita. Tudo pode ser compreendido de maneira diferente
dependendo da entonação, da expressão facial, da linguagem corporal, do quão
explícito é a sensação enquanto há a transmissão da mensagem. Isso porque, na
linguagem de sinais, por exemplo, a compreensão do que está sendo traduzido -
essencialmente quando há tradução simultânea - depende de todo o conjunto da
comunicação não-verbal de maneira clara e que garanta a subjetividade da
mensagem. De mesmo modo, animações, assim como o vencedor do Oscar, "Flow",
não tem comunicação verbal durante o filme, e a expressibilidade deve ser feita
totalmente com evidências de sensações ao longo de toda a história.

Portanto, é de extrema importância salientar que a comunicação e as emoções não


podem ser consideradas individualmente, mas sim, como parte de um todo, ambas
são imprescindíveis para uma mensagem ser entendida com clareza, além de
promover a empatia. Logo, tal como o cantor diz que o sorriso é a única língua que
todos entendem, a emoção é a única linguagem que gera empatia na grande
maioria da população.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
46
Nota:7,83/10
Autoria: participante 12 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Sem título

Platão defendia que a arte estava dois graus afastada do verdadeiro saber, além de
tentar imitar o mundo material e imperfeito, ela tinha o poder de instigar as emoções
humanas, ato que nos afasta da razão e, portanto, do conhecimento verídico do
mundo. Assim, o filósofo grego reconhecia a habilidade que os sentimentos tem de
influenciar nosso processo de pensamento. Tal viés pode ser aplicado no âmbito da
comunicação, em que a subjetividade do emissor e do receptor muitas vezes interferem
na formação e compreensão da mensagem. Desse modo, cabe analisar como as
emoções influenciam no processo comunicativo.

Em primeira análise, os sentimentos podem ser fonte de matéria prima para que haja
comunicação. Nesse sentido, o movimento do expressionismo buscava representar as
emoções e a subjetividade do artista em suas obras. Do mesmo modo, é possível
exemplificar o amor como temática lírica de diversos movimentos artísticos e literários.
Logo, nota-se que o fascínio pelo sentimentalismo não é algo recente na comunicação.
Isso se dá pois, os sentimentos são uma fonte irracional e rápida do nosso cérebro
adquirir informação, o que vai de encontro ao processo comunicativo que exige
reflexão e escolha. Dessa forma, a tradução do sentimento em arte, palavras ou gestos
é uma tentativa também da humanidade de compreender e registrar de forma mais
analítica e vagarosa essas sensações e percepções irracionais que vivenciamos ao
longo de nossa existência.

Ademais, a questão sentimental também entra em pauta na compreensão efetiva dos


enuciados comunicativos. Nessa lógica a expressão popular "entrar por um ouvido e
sair pelo outro" é uma referência a essa falta de efetividade que ocorre muitas vezes
no dia a dia e impede a transmissão de mensagens. Em casos específicos esse erro
ocorre devido a influência dos sentimentos no receptor da informação.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
47
Nota: 7,83/10
Autoria: Henrique de Matteo
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Figueiredo Ferraz
Título: O maior medo da população: O futuro

Na obra "Good Will Hunting", o ator Matt Damon interpreta uma personagem com
dificuldades para conciliar as suas emoções e o modo de se expressar socialmente. Fora
da ilustre obra cinematográfica, com ênfase na sociedade hodierna, percebem-se
situações semelhantes à interpretada por Matt Damon, visto que as emoções e sua
interferência no processo de comunicação cresceram exponencialmente nos últimos anos.
Assim, é notório que esse cenário antagônico é fruto tanto do medo de se abrir
emocionalmente, quanto do receio de agir devido ao medo das possíveis consequências.

Diante desse cenário, nota-se que o medo de se abrir emocionalmente colabora


diretamente com a dificuldade do processo de comunicação nos tempos modernos.
Segundo Aristóteles, "a emoção influencia nossos julgamentos". Isso significa que o modo
no qual as pessoas se comunicam tem influência direta sobre como elas se sentem. O
pensamento de Aristóteles é mais uma vez comprovado com o crescimento da internet e
os julgamentos que a mesma proporciona, já que as pessoas tendem a guardar seus
sentimentos mais para si mesmas com medo de serem julgadas por outras, uma prática
comum na internet conhecida como "cancelamento". Dessa forma, gera-se um impasse
no processo de comunicação, proporcionado pelo medo de se expressar, devido a
julgamento externo.

Outrossim, o medo de agir devido ao medo das possíveis consequências também é


refletido na dificuldade de comunicação dos tempos atuais. No filme "Good Will Hunting",
a personagem Will é um gênio que, sem a certa mentoria, acabaria com a sua própria
vida, devido ao medo de tomar atitudes. No mundo de hoje, existe um ditado tão comum
que essa situação virou: "Vai viver ou está com dó?" Tanto o ditado popular como o filme
de Gus Van Sant evidenciam uma dificuldade da comunidade, o medo, que é
potencializado pela sociedade focada em produtividade que existe hoje em dia, por meio
da banalização do descanso e a rotulização das pessoas, que passam a ser privadas de
liberdade emocional e de serem o que desejam. Destarte, torna-se claro o modo como o
medo das consequências influencia a comunicação.

Infere-se, portanto, que as emoções e sua interferência no processo de comunicação


apresentam-se socialmente de modo prejudicial. Devido, principalmente, ao medo de se
expressar ou de agir que a sociedade atual promove. Assim, caso não haja perspectiva de
mudança, o homem moderno sofrerá para sempre com problemas de comunicação
devido à emoção, como no filme Good Will Hunting.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
48
Nota: 7,83/10
Autoria: participante 23 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA

Sem título

A deputada federal transexual, Érika Hilton ganhou notoriedade em sua participação


política na Câmara dos Deputados do Brasil pela sua oratória eloquente e objetiva
sobre os problemas sociais. A deputada fulgura o debate político em Brasília. Deste
modo, é possível notar que as emoções interferem no processo de comunicação do ser
humano uma vez que, como os discursos de Érika, podem comover e alcançar o
coração dos brasileiros para o debate de questões pertinentes aos direitos humanos.
Entretanto, este processo, por outra via, pode ser uma forma de dominação social.

Em primeiro lugar, é necessário direcionar nossa atenção para como as emoções


podem inspirar e comover positivamente os povos. Atendo-se a isso, podemos
destacar o papel das artes visuais como mobilizadoras deste Fim. Um exemplo disto, é
o quadro "Guernica" do pintor espanhol Pablo Picasso, que retrata os horrores da
Guerra Espanhola devido aos bombardeios dos nazistas. Na atualidade, as Fotografias
produzem o mesmo efeito, como a foto vencedora do prêmio "World Press Photo
2024", que retrata uma mulçumana segurando sua sobrinha morta por ataques de
Israel contra a Palestina. Desta forma, não só apenas o discurso oral, mas, também, a
linguagem visual multiplica as formas de comunicação que carregam consigo um olhar
poético de seus autores para urgências humanitárias.

Contudo, podemos, também, evidenciar formas estratégicas negativas de


comunicação. Desta maneira, o discurso político pode estar carregado por um teor
ideológico de dominação. Quem faz este paralelo é o sociólogo alemão Max Weber
que descreve este movimento pelo seu conceito de dominação carismática. Podemos
observá-la em Figuras históricas como Adolf Hitler, que com um discurso nacionalista
ufanista, contra os judeus, massacro-os no processo conhecido como Holocausto.
Atualmente, a ascensão do presidente estadunidense Donald Trump é marcada por um
discurso, inflamado de ódio, contra os imigrantes palestinos. Esta medida visa a
justificar deportações em massa destes imigrantes, que contrariam as políticas de
direitos humanos, antes, defendidas pelo próprio Estados Unidos.

Em conclusão, observamos que as emoções compartilham dois vieses que podem


interferir positivamente ou negativamente na vida dos seres humanos. Uma vez que, a
soberania é uma disputa de campo ideológico que busca o bem social ou os
interesses de dominação, é necessário estar atento às diferentes formas de
linguagem. Devemos valorizar os esforços de figuras como Érika Hilton e condenar
ações contra os direitos humanos como as do presidente Trump.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
49
Nota: 7,67/10
Autoria: participante 9 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Sem título

Comunicação é, por definição, a ação de transmitir uma mensagem e, eventualmente,


receber outra mensagem como resposta. Nesse contexto, a comunicação se mostra um
instrumento vital para a sobrevivência do ser humano em sociedade, e se utiliza de
varias ferramentas para elaborar a mensagem a ser transmitida, como a escrita, a fala,
a linguagem corporal, e as expressões faciais. Logo, como necessidade vital a
comunicação é a base da interação interpessoal na sociedade contemporânea e, por
ser uma ação humana, sofre interferência das emoções que além de intensificar o
conteúdo da mensagem, contribuem com a interpretação do que está sendo abordado.

Em primeira análise, ressalta-se que as estratégias comunicativas são melhor


compreendidas quando transmitidas com emoção. Isso ocorre pois as emoções são
também um acessório de linguagem, podendo dar ênfase e dotando de sentimento o
conteúdo transmitido, facilitando a interpretação e o impacto que a mensagem terá no
receptor. Prova disso são os conhecidos emojis, pequenos ícones dos aplicativos de
comunicação utilizados para representar uma emoção nas mensagens escritas, a fim de
caracterizar a informação para sua melhor compreensão.

Em suma, conclui-se que as emoções interferem de modo construtivos nas vias


comunicativas, caracterizando, dando ênfase e, por conseguinte, facilitando a
interpretação do conteúdo abordado. Sendo assim, as emoções, por serem
características inerentes ao ser humano, são também inerentes ao processo
comunicativo, e se mostram como ferramentas que facilitam a compreensão das
mensagens transmitidas.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
50
Nota: 7,5/10
Autoria: Sofia Bassan
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Sem título

O filme “Divertidamente” retrata, de forma lúdica e profunda, a importância das


emoções no comportamento humano. A trama retrata a vida de uma jovem menina,
Ryle, a partir da perspectiva de suas emoções que “comandam” sua cabeça com um
painel de controle, admitindo seus sentimentos e reações. Nesse contexto, a história
apresenta como as emoções afetam decisões, reações e formas de se expressar.
Desse modo, as emoções podem ser vistas como facilitadoras da comunicação, no
entanto, também podem ser julgadas como barreiras para uma comunicação
eficiente.
De fato, as emoções conseguem facilitar as formas de comunicação, quando bem
administradas. O jornalista Daniel Goleman em seu livro “Inteligência emocional”
afirma que a capacidade de conseguir expressar suas emoções adequadamente
fortalece as relações interpessoais e ademais melhora a comunicação, de modo que
cria conexões mais autênticas e empáticas. Logo, indivíduos com inteligência
emocional conseguem se expressar e se colocar no lugar do outro, favorecendo uma
interação mais clara e objetiva. Diante disso, é notório perceber que as emoções
possuem um papel estratégico na comunicação, potencializando a compreensão e
vínculos.

Outrossim, emoções podem servir como barreiras para uma comunicação mais
eficiente. Sigmund Freud, o pai da psicanálise, desenvolveu a teoria do inconsciente,
que se baseia em que pensamentos, comportamentos e reações são influenciados
por emoções reprimidas, guardadas no subconsciente. Nesse sentido, a qualquer
momento, as emoções não conhecidas podem se manifestar de forma inesperada,
interferindo diretamente na forma com que se comunica. Assim, a comunicação
pode ser distorcida por fatores emocionais não reconhecidos, dificultando o
processo de compreensão entre pessoas.

Portanto, é evidente que as emoções desempenham um papel fundamental no


processo de comunicação, interferindo no seu enriquecimento ou decaimento,
dependendo da forma com que é submetido. A partir de perspectivas analíticas,
fica-se exposto que o domínio emocional é crucial para garantir a compreensão,
empatia, vínculos e interação humana.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
51
Nota: 7,33/10
Autoria: participante 7 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Sem título

Histórias infantis, como "Chapeuzinho Vermelho", nos ensinam desde crianças a nunca
levar estranhos para casa. A narrativa nos assusta, mas o mais marcante é o
estranhamento causado pela ideia de um lobo devorar a avó, além do tom de quem
narra.É notória a interferência das emoções na comunicação de ideias, visto seu
impacto na fala, que nos conecta, e a importância de transmitir sentimentos que,
muitas vezes, as palavras não conseguem.

A princípio, desde a Antiguidade, o ser humano se comunicava, sobretudo, por gestos


carregados de opinião e sentimento. A emoção na fala ou nos movimentos é tão
importante quanto a história. Por exemplo, "Papai Noel" poderia ser uma história
aterrorizante, se não fosse contada com alegria e presentes.Em outras palavras, os
sentimentos são essenciais para a construção da personalidade e o enriquecimento
de uma narrativa.

Além disso, histórias não precisam ser narradas ou escritas para esbanjarem comoção.
Esse é o poder da arte: ela mistura o que há de mais intenso nos sentimentos do autor
e os enquadra em tinta, letras ou gestos. O quadro "Independência ou Morte" mostra
o que o pintor queria transmitir , um momento glorioso, que, se fosse retratado
flelmente, talvez não causasse tanto impacto quanto aquele feito para chocar e
transmitir emoções. Logo, pode-se dizer que a emoção revela coisas que nem mesmo
a fala consegue expressar.

Portanto, as emoções são fundamentais na arte e na comunicação, visto seu poder de


impactar a fala.Isso ocorre, por exemplo, em contos infantis, que usam o tom de voz
para moralizar crianças pelo estranhamento. Ademais, as emoções vão além da
composição; podem transmitir ideias que palavras nem sempre conseguem, como em
quadros.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
52
Nota: 7,33/10
Autoria: participante 25 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Sem título

Alegria; raiva; tristeza; inveja. Essas são algumas emoções intrínsecas à vivência
humana, que ficam evidentes mesmo sem querer e afetam o processo comunicativo,
causando também alguma emoção no outro, querida ou não.

A linguagem é uma das principais culpadas pela interferência no processo de


comunicação. A conversa através de textos desordenados, mal escritos e sem
pontuação atrapalha a recepção da mensagem pelo interlocutor, uma vez que, sem
direções a serem seguidas, ele pode atribuir a ela outro tipo de emoção,
interpretando-a de maneira diferente àquela pretendida pelo emissor. Esse tipo de
situação ocorre, principalmente, nos dias atuais, devido ao advento da tecnologia,
que facilitou a conexão entre pessoas, mas erodiu sua eficácia. Isso se dá devido à
ausência da norma-padrão nas redes e situações informais, o que reforça a falta de
atribuições emotivas ao texto e, então, abre margem para que ele seja interpretado
da maneira que convém ao interlocutor. Dessa forma, nota-se como a linguagem, as
emoções e a comunicação estão interligadas.

Além disso, a comunicação também é afetada pelas subjetividades dos emissores e


receptores. Isso ocorre pois as diferentes experiências de vida fazem com que o
mundo, e, portanto, as mensagens, sejam processadas por cada indivíduo de maneira
distinta. Assim, uma pessoa que está acostumada com um tipo de vocabulário, que
inclui palavras chulas, não irá dar a mesma importância a essas que uma outra, que
jamais as profere e raramente as escuta. As emoções sentidas diante dessas palavras,
então, não se assemelham e afetam o processo comunicativo, que toma rumos
diferentes para cada um dos indivíduos. Desse modo, é possível perceber como as
subjetividades de cada um interferem em suas emoções e, consequentemente, na
comunicação.

As emoções, portanto, têm suas interpretações e causas tanto por fatores externos ao
ser, como a tecnologia, quanto por fatores internos a ele, como sua subjetividade.
Juntos, esses elementos têm a capacidade de interferir na comunicação entre
indivíduos, pois não se pode controlar aquilo que é entendido pelo outro, somente
aquilo que se diz.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
53
Nota: 7,17/10
Autoria: Isadora Bailoni Ribeiro
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Sem título

A exímia obra “Balada de amor ao vento”, de Paulina Chiziane, expõe a vida


amorosa de Sarnau, esta que, evidentemente, carrega fortes emoções
comunicativas. Ao decorrer do tempo e com o sofrimento vivido por ela em seu
casamento poligâmico, Sarnau aquietou, não falava, isolava-se ou de maneira
opositiva, descontrolava-se. Esse livro, em partes, ilustra a sociedade
contemporânea, dado que a emoção esta enlaçada com o processo de
comunicação. Nesse sentido, cabe analisar o comportamento do indivíduo na
sociedade e as consequências em relação a isso.

Vale pontuar, a princípio, que indivíduos com personalidade introspectiva — como a


timidez e a covardia na comunicação — enfrentam dificuldades diretas no mercado
de trabalho. Essas limitações na expressão verbal e oral, comprometem não apenas
a capacidade de transmitir ideias com clareza, mas também em trabalhos em
equipe, cargos de liderança e estabelecimento de laços profissionais. No ambiente
competitivo atual, comunicar-se de forma eficiente tornou-se uma competência
indispensável, muitas vezes tão valorizada quanto o próprio conhecimento técnico —
e os indivíduos que não o fazem situam-se margeados dessa área.

Há que se considerar, ainda, que a forma como se comunica dentro de uma


residência afeta a convivência familiar. A obra “Room in New York”, do artista
Edward Hopper, ilustra esse fato, uma vez que, ambos concentrados em seus
próprios afazeres e emoções a comunicação é inexistente; o homem, conectado,
provavelmente, com as novidades do mundo, e a mulher, em seu telefone, atrelada
ao consumismo e a absorção de conteúdos em redes sociais corroboram como
sistema capitalista atual. São conduzidos pelo sistema produtivo a estar — a todo
momento — em atenção e em atividade, sendo levado a uma introspecção no lar,
que gera uma fragilidade nos laços íntimos, sem demonstração de amabilidade e
carinho. À luz desse aspecto, o indivíduo olha para si como o ser principal e não
expõe suas emoções nas comunicações do lar.

Logo, a comunicação está intrinsecamente ligada a emoção. Indivíduos


introspectivos, enfrentam obstáculos no mercado de trabalho e no convívio familiar.
Comunicar-se bem faz-se extremamente necessário no atual sistema econômico,
visto que a produtividade está conectada com a forma de gerar lucro. Contudo,
essa dinâmica leva ao isolamento emocional e à fragilidade dos laços afetivos.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
54
Nota: 7,17/10
Autoria: participante 18 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Sem título

Desde o período paleolítico, por meio da arte rupestre, o ser humano encontrou na
arte a melhor maneira de expôr sua essência emotiva. Essa habilidade foi
aprimorada, de forma que até hoje, as emoções interferem no processo de
comunicação. Desse modo, a expressão dos sentimentos nas produções
contemporâneas é extremamente benéfica, pois permite a maior interação entre
indivíduos.

Ademais, as principais interferências das emoções no processo comunicativo


são as falhas na troca interativas e a impossibilidade da comunicação
desprovida de sentimento. Nesse sentido, o sentimento que o enunciador expressa
pode variar do que o interlocutor recebe, pois os sentimentos pessoais interferem na
interpretação do conteúdo. A exemplo disso, a obra de arte O Grito, de Edward
Munch, recebeu diversas análises críticas no período em que foi exposta, e todas
possuem diferentes maneiras de perceber o que o autor queria representar. Dessa
maneira, as percepções individuais têm sensações intrísecas à ela, que alteram a
visão de mundo do ser humano e consequentemente interferem na comunicação.
Assim, falhas nas trocas interativas se dão por meio de sentimentos pessoais que
interferem a interpretação devida do conteúdo.

Outrossim, as emoções são inerentes ao processo comunicativo, devido à inexistência


de expressão completamente parcial. Segundo o pensador pré socrático Horácio, ao
aceitar as suas emoções e sentimentos, está também a aceitar uma parte de si.
Portanto, o homem não pode se expressar sem sentimentos, pois estes são intrínsecos
a existência humana.Tendo isso em vista, o acesso à essência de algo, dado pela
interpretação emotiva, jamais pode ser parcial, pois cada homem tem sua percepção
de mundo. Assim, toda produção é dotado de sensações e ao ser recebida pelo
interlocutor, é entendida de acordo com os sentimentos dele no momento.
Por conseguinte, percebe-se a interferência das emoções no processo criativo, como
a variação de interpretações e a intrinsecidade dos sentimentos nas produções
humanas.

De tal modo, o ser humano, ao comunicar-se, carrega não apenas a razão, mas
também a emoção, tornando a comunicação uma expressão única da essência
humana.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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55
Nota: 7/10
Autoria: Catarina Pinheiro
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Gonçalves
Título: Sentir e vender se tornam um conjunto em nossa sociedade

No livro "1984", de George Orwell, famoso por ser uma distopia autoritarista, o governo
utiliza de diversas ferramentas de controle para se manter no poder, uma delas é a
"Novafala". Uma nova língua que exclui qualquer termo ou palavra que se relacione
com liberdade ou expressão individual, com o objetivo de manutenção do poder do
Estado. Com essa singularidade na história, o livro evidencia o poder da linguagem
como meio de transformação, não só do externo, mas do interno do indivíduo. Não há
como falar sobre, ou até mesmo sentir, aquilo que não pode se dar nome. Assim como
na realidade, a capacidade de relato do imaterial é uma necessidade e, em um mundo
capitalizado, a necessidade se dobra à quem tem o poder de oferecê-la.

Se as emoções são parte intrínseca de ser humano, não é possível realizar arte como
linguagem sem o sentimento como fundamentação. O sentir não é apenas um
acompanhante da vivência, grande parte das vezes, é o objetivo, é o que fazemos e
porquê fazemos e, além de tudo, não é opcional. A emoção também é reação, que
sempre tem influência, a trajetória de quem a sente. Portanto, quando um texto é
criado, sempre trará com si, parte do seu criador, seja com o sentimento do qual ele
sentira no momento da criação, ou o que planejou causar em sua obra.

E assim, a emoção se perde na indústria cultural e na reprodução desenfreada. O


efeito causado por uma obra é, muitas vezes, adotado como a régua de seu sucesso. O
livro que mais vendeu, é comumente conhecido como um dos melhores de seu gênero.
Então, em uma sociedade que valoriza cada vez mais o lucro, o efeito emocional se
torna uma ferramenta para venda, consequentemente, a arte como meio de expressão
perde espaço para reproduções, mais ou menos escancaradas de coisas já criadas,
conhecidas como "receitas prontas" em que o grande público é acostumado a pagar.

Portanto, as emoções se tornam apenas ferramentas de venda, não mais de expressão.


Ganha quem consegue replicar mais fielmente a emoção genuína para que seja mais
comercializada e mais lucrativa.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
56
Nota: 7/10
Autoria: participante 16 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA

Título: Os laços das emoções


Comoção. Revolta. Conforto. São emoções evocada por muitos durante processos
comunicativos, seja entre indivíduos, ou ao consumir produções artísticas que visam
passar mensagens. Os diferentes sentimentos experenciados por quem se comunica
tem vários impactos, como influenciar na mobilização social ou reconfortar. Logo, é
necessário entender essas interferências, os laços e impactos gerados.

As emoções transmitidas por obras possuem a força de influenciar o espectador a


construir empatia e se engajar em pautas por conta da experiencia emocional a qual
ele foi submetido. Alissa Wilknson, em “ I’m Still Here Review: When Politics Invades a
Happy Home” descreve a atuação de Fernanda Torres no filme Ainda Estou Aqui e diz
que ela atordoa mostrando os sentimentos de sua personagem. Os impactos não só da
performance da atriz, quanto do filme exemplificam a forma como o lado emocional de
um processo comunicativo interfere nele, com muitas pessoas no Brasil voltando a
discutir as crueldades do período ditatorial brasileiro, criando laços com a dor da
família Paiva e pedindo a punição dos participantes dos crimes do
regime.

Ao ter processos comunicativos que buscam vínculos entre indivíduos através de


experiencias emotivas, positivas ou não, um sentimento de acolhimento e
reconhecimento podem ser evocados por muitos. O conceito de catarse, que é a
liberação de emoções através do consumo
artístico que gera a purificação da alma demonstra essa relação. Quando um indivíduo
consome um meio comunicativo que visa representar seus diálogos internos, ele acaba
se comovendo e, com isso, amenizando seus sofrimentos pessoais.

Portanto, vê-se como as múltiplas emoções liberadas e geradas dentro de processos


comunicativos são responsáveis por incentivar as pessoas a mudar a realidade e a
encontrar refúgio para suas dores e seus problemas pessoais. É importante dar valor a
forma como a empatia e conexão criada por essas situações interferem não só nas
atitudes como no pensamento de cada pessoa. Logo, mostra-se, dessa forma, como os
laços e vínculos criados pelas pessoas após se comunicar traz impactos relevantes ao
mundo.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
57
Nota: 6,67
Autoria: Isabelli Bressani
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Sem Título

O psicanalista Freud dizia que "as emoções reprimidas nunca morrem.


São enterradas vivas e saem mais tarde da pior forma". A partir desse pensamento,
percebemos que as emoções nos interfere em algum momento, mesmo que se as
oprimirmos, e a comunicação é uma das influências, por bem ou por mal. Assim, é
importante entender como ocorre essa interferência das emoções com a comunicação
das pessoas no cotidiano.

Primeiramente, deve-se compreender a origem da comunicação.


Desde o início da humanidade existia alguma maneira de se comunicar.
Na pré-história era por meio de pinturas rupestres e mais tarde veio por meio de
palavras o diálogo, o que possibilitou novos caminhos para expressar os sentimentos.
Um exemplo dessa relação, são os filmes, que passam sentimentos por meio das ações,
falas e expressões das personagens com o intuito do telespectador sinta medo,
felicidade ou tristeza. Desse modo, a transferência de emoções têm como meio a
comunicação desde a origem da humanidade.

Ademais, a comunicação é um meio de passar para as pessoas mais do que


informações, mas verdadeiros sentimentos. Desde muito tempo temos muitos tipos de
arte que permite expressar o que quisermos e como quisermos. Música, teatro e pinturas
são algumas maneiras e, a maioria das vezes, para ser considerada de boa qualidade,
é necessário transparecer alguma emoção verdadeira ao público, para assim ter um
diálogo verdadeiro entre o artista e a plateia. Portanto, a comunicação e as artes em
geral, são maneiras de manifestar sentimentos profundos.

Em suma, a comunicação é uma maneira de demonstrar as emoções para as outras


pessoas, por meio de obras escritas, pinturas, filmes, ou até mesmo uma mera conversa,
pois ela tem a intenção de falar sobre sentimentos próprios e, como Freud dizia, em
algum momento as emoções são expostas, mesmo que as reprima.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+ 58
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA Nota: 6,50/10
Autoria: Miguel Damasceno Daré
Título: Palavras que ditam

Um bebê que não fala, mas que somente com seus resmungos consegue comunicar ao
genitor qual sua necessidade; um casal que debate seus sentimentos sobre os
acontecimentos de seu relacionamento. Das primeiras falas às mais complexas, muitas
são as evidências da necessidade do diálogo para a gênesis de qualquer relação.
Essas evidências permitem um diagnóstico: a falta das palavras afeta qualquer inter-
relação.

Entre expressar opinião em mensagens de texto e cara a cara, há um abismo. E por


um
deslize, aquele infelizmente acaba se protagonizando nos dias atuais, pois a
superficialidade das palavras quando ditas em um celular, influencia na dinâmica de
qualquer relação, pois há falta de emoção. Neste cenário, o fim das interações se
acentua, porque a falta de contato - que prevalece no meio digital - mesmo que haja
de uma certa forma troca de palavras, não tem aprofundamento. Sendo assim, a falta
e o tipo em que ocorre a comunicação afeta diretamente a construção de um
convívio, pois desde os princípios da humanidade, a comunicabilidade é o que conduz
um vínculo a dar certo.

Embora o meio digital - como os celulares- traga facilidade na rapidez da


comunicação, a falta de afetividade dele supera seus prós, porque um sentimento não
pode ser sentido por uma tela. Para tê-lo, tem de haver emoção, toque e proximidade
na fala. Por isso que deve-se repensar sobre a “moda” da atualidade
de expressar seus sentimentos ao outro em textos postados na internet, ou também em
curtas palavras ditas em mensagens.

A máxima de Aristóteles de que o homem necessita de outro para viver é verdade.


Porque num mundo moderno, onde tudo flui muito rápido, todos deixam de lado seus
sentimentos e priorizam tantas outras coisas para conseguir dar conta da alta
demanda, e esquecem de se expressar e relatar o que sentem a quem mesmo dividem
teto, por exemplo.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
59
Nota: 6,50/10
Autoria: Mônica Carneiro
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA

Sem título

Na obra “Retórica”, do filósofo grego Aristóteles, ele discute sobre como as emoções
afetam o processo de tomada de decisões e julgamento das pessoas. Muito além
disso, as emoções tornam as pessoas mais humanas, tornam a experiência da vida
algo mais intenso e desafiador. Porém, ainda que a capacidade de sentir seja um
deleite à vivência humana, existe outro tópico relevante que possui aspectos bons e
ruins: a interferência das emoções na comunicação humana.

Em primeiro plano, cabe a análise sobre como a falta de comunicação afeta


questões de cunho psicológico. Em circunstâncias onde uma pessoa mantém dentro
de si uma grande carga de sentimentos, o desabafo pode exercer um papel
fundamental no alívio dessa sensação sufocante. Porém, pessoas que possuem
dificuldade de se comunicar, que se sentem inseguras ou envergonhadas em
compartilhar seus sentimentos, tendem a preservá-los em segredo. Além disso, a
timidez pode levar uma pessoa a não se comunicar com as outras, prejudicando todos
os âmbitos de sua vida, bem como gerando problemas de ordem mental.

Ademais, as emoções também podem ser usadas como armas entre as pessoas,
especialmente na atual sociedade, onde a comunicação é inevitavelmente atrelada
às redes sociais e aos chamados influenciadores digitais. Nessa perspectiva, é
possível observar a comunicação sendo usada como forma de ataque pessoal – como
nos comentários feitos por internautas que mais soam como ofensas – e manipulação
de massas – a exemplo de um influenciador usufruindo de sua influência para
convencer seu público de algo e utilizando o despertar de emoções como sua
principal estratégia.

Em conclusão, é evidente a importância das emoções na comunicação, porém, ainda


mais essencial é saber administrá-las, a fim de que terceiros não possam usá-las
contra você. Afinal, a capacidade de sentir é o que preenche o ser humano com
humanidade.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
60
Nota: 6,5/10
Autoria: Gustavo Antonuci Gomes
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Título: Entre a emoção e a ilusão

Durante as grandes navegações, os marinheiros se desbravavam às longas e


extenuantes aventuras, em meio oceano à fora. O objetivo, muitas vezes, era de
conhecer e conquistar novos horizontes com o intuito de expandir o capital mercantil.
Ao retornarem das viagens ultramarinas, evocavam narrativas épicas, avassaladoras e
emotivas acerca das experiências vividas no mar. A linguagem era de tom extrusivo, já
que a efervescência cultural emanava perante o medo dos "monstros oceânicos" e das
populações "demoníacas" encontradas. No entanto, apesar do lapso temporal, as
histórias perderam seu tom tênue, o qual provocava emoções inesperadas e complexas
acerca dos fatos narrados, uma vez que as narrativas moralistas e a superficialidade
das redes tomaram conta das relações interpessoais.

Esse cerne moralista configura-se como uma característica indubitável na sociedade


hodierna, visto que a essência mercadológica advém da seleção das características
orais. Isso porque as condutas sociais foram moldadas a linguagens sem expressões,
por vezes, incoerentes acerca da função emotiva da oralidade. Coaches, por exemplo,
são profissionais que estabelecem, por meio da fala, fórmulas mágicas, surpreendentes
e inovadores acerca do desenvolvimento pessoal e profissional, mas limitam-se às
esferas pluralistas da linguagem, as quais desativam os recônditos da consciência
humana à simples formas de agir e de pensar, a exemplo do raciocínio crítico e de
estereótipos. Por conseguinte, os indivíduos padecem de uma emoção acerca de suas
expressões socio-artísticas, já que essa moralidade cunhada impele as singularidades
humanas, em detrimento das estranhas condutas banais. Logo, formula-se um homem
sem sentimos.

Ademais, a superficialidade das redes sociais, na contemporaneidade, impacta no


procedimento de interação comunicativa entre pessoas. Essa situação se dá, pois o
ritmo acelerado das interações, no âmbito digital, é rápido e indiferente acerca dos
assuntos retratados. Prova disso, são as falas encontradas em sites, como Reddit, rede
social de conversas, que aparentam ter um tom de indiferença acerca dos sentimentos
alheios. Consequentemente, as pessoas privam-se de externalizar seus sentimentos,
haja vista que o meio digital, supérfluo, se mostra inoperante.

É inegável, pois, que a emoção está ligada a um sentido identitário que impacta
diretamente o processo de comunicação, na sociedade. Em suma, os padrões banais,
assim como a rasa relação digital contribuem para uma depreciativa e ilusória
consciência emocional.
Movimento Carta Aberta à Fuvest
61
+
Nota: 6,5/10
Autoria: Victorya Nayla
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Nascimento Silva

Título: A preguiça emocional na comunicação.

Com o advento tecnológico, o acesso a informações tornou-se mais rápido, posto


que na trajetória humana, a mensagem sempre foi essencial. Como o Romantismo
no Brasil, que em sua primeira fase indianista, buscava despertar o sentimento
nacional da população. Nesse pensamento, o imediatismo atual impede a atuação
emocional efetiva durante o processo de comunicação, não revelando profundidade
nos discursos transparecidos. Diante do exposto, as obras atuais perdem a essência
ao se limitarem ao consumo rápido e apenas na produção de dopamina dos
indivíduos para o lucro do sistema.

Sendo assim, com a expansão da sétima arte, o cinema se tornou um dos meios para
a comunicação da expressão humana diante de seu contexto histórico. Nesse
sentido, o Expressionismo Alemão reflete em sua arte como as pessoas reagiram à
crise na Alemanha após a Primeira Guerra Mundial. Como, "Nosferatu", que
demonstra a visão raivosa e preconceituosa dos diretores sobre os judeus. Logo, as
emoções moldadas em seu contexto interferem sobre a mensagem do trabalho
comunicado.

Ademais, as performances na contemporaneidade são submetidas à rapidez que as


redes sociais geraram. Dessa maneira, há uma efemeridade no pensamento gerado
pelas artes, uma vez que o cérebro, atualmente, está acostumado com o fácil, não
desenvolvendo ideias a partir do que é visto. Por conseguinte, o senso crítico
impulsionado pela profundidade emocional é deixado de lado. Assim, a comoção é
crucial para a formação de um canal comunicativo mais humanizado.

Em suma, as emoções possuem um papel importante para a conexão e


entendimento entre os indivíduos. Outrossim, quando esse tipo de meio é esvaziado,
há um prejuízo no desenvolvimento da capacidade de análise dos sujeitos
socialmente.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
62
Nota:6,5/10
Autoria: participante 13 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA
Título: Comunicação "descriativa"

Em entrevista à TV Brasil, a escritora Conceição Evaristo contou que suas experiências de


vida moldaram o seu estilo de escrita, algo que ela definiu como "escrevivência". Na vida
da autora, esse processo foi atravessado, especialmente, pelas emoções provenientes das
expressões faciais dos contadores de história com quem ela teve contato e para os quais
dedicava muita atenção. Diferente deste relato, a experiência, agora, é outra: Em uma
sociedade caracterizada pelo imediatismo, a complexidade das coisas perde lugar para o
simplório, que, em frases curtas, torna-se viral, uma trend — replicado incontavelmente por
diferentes usuários. O efeito disso é o travestimento da emoção, gerando repetidores
empolgados.

Quando a qualidade é atrelada ao que gera mais sensações com maior velocidade, a
subjetividade perde espaço nas produções artísticas e midiáticas. Em 2023, o lançamento
dos filmes Barbie e Oppenheimer lotou as bilheterias de cinema e, enquanto o longa-
metragem da boneca mais vendida do mundo recebia uma série de elogios pelos
pertinentes apontamentos sociais, a produção que conta a história do inventor da bomba
atômica foi criticada, pelo grande público, por focalizar os fatos biográficos em
detrimento dos acontecimentos de guerra. Tal manifestação nas redes sociais revelou o
despreparo da maioria para captar os significados trazidos por uma história que foi
contada, haja vista que, para ela, a emoção estaria presente em cenas "bombardeadas"
por efeitos especiais. Logo, a emoção pode causar estranhamento e até revolta em um
público que não se expõe a ela, com profundidade e sem pressa.

A "rasidão" dos contos gera mais repetidores e constrói uma comunicação genérica e,
acima de tudo, "descriativa"— sem graça. Em recente edição, no exame da segunda fase,
o Vestibular da Unicamp produziu uma questão que problematizou a repetição, nas redes
sociais, da máxima " É sobre isso, e tá tudo bem". Nas dinâmicas do meio digital, esse
período "chiclete" simplificou debates importantes, tendo sido usado repetidas vezes, de
forma irrefletida, apenas para "hypar" debates. Logo, com tanta gente repetindo a mesma
coisa, ação essa que gera algum divertimento e algum resquício de noção de
pertencimento, torna-se difícil sentir, de fato.

Portanto, a emoção complexa, por esta sociedade imediatista, não é bem recebida.
Diferente da riqueza de detalhes humanos a que se expôs Conceição Evaristo, é mais
comum se empolgar com a repetição de frases sem significado, típicas de uma
comunicação sem criatividade.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
63
Nota:6,5/10
Autoria: participante 26 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA

Título: Comunicação e expressão

O processo de comunicação se dá através da emissão e recepção de uma mensagem


entre interlocutores e vai além do uso de palavras: a comunicação depende da
linguagem não verbal, da interpretação e também das emoções presentes no
momento. A transmissão de informações pode acontecer durante um diálogo
corriqueiro, por uma produção audiovisual, por obras artísticas ou
literarias, entre outros.

A comunicação desempenha um papel de suma importância para a vida em sociedade.


É a partir dela que os indivíduos se entendem, se expressam e podem estabelecer
relações. O uso dos recursos certos facilita o entendimento da mensagem entre
interlocutores, assim como o uso incorreto pode confundir a recepção da informação.
Transparecer emoções inadequadas ou a interpretação equivocada podem interferir e
gerar desentendimento entre o emissor e receptor, dificultando o processo.

O uso de recursos não verbais mudam a forma como entendemos um recado,


favorecendo a comunicação se usados de maneira correta. Podemos observar isso ao
assistir um filme: as emoções expressas pelo ator e a construção do momento através
desses instrumentos nos permite compreender melhor a situação expressa na obra. O
momento no qual ocorre a comunicação deve ser analisado para que se entenda a
mensagem de maneira correta.

Ao estabelecer uma comunicação, é importante identificar a situação além das


palavras. Outros recursos também são importantes para que haja completa
compreensão da mensagem transmitida, e todos devem ser observados para que ela
faça sentido, afinal, a comunicação é formada por emoções, pelas circunstâncias e
interpretação de ambos os lados.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
64
Nota: 5,84/10
Autoria: participante 14 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA

Sem título

O teatro é um dos exemplos de comunicação, para a expressão dessa arte é


necessário a presença do ator nas obras, além de suas falas, os olhares dramáticos,
que introduzem o ouvinte a história, e assim o seu compreendimento. A exemplo no
filme ainda estou aqui, em que é notável o sentimento de angústia no olhar de
Fernanda Torres, ao interpretar Eunice Paiva, que perde seu marido ao longo do Filme.
Entretanto é notável a interferência das emoções no processo de comunicação. Porém,
a sociedade está perdendo a essência dessa expressão tanto no olhar quanto nas
palavras, por uma falta de cultura.

Essencialmente, é importante destacar como era importante o hábito de conversa


das gerações passadas, o que veio decaindo principalmente com a era tecnológica,
onde as pessoas apenas sabem se expressar através dos celulares, e pouco se digiram
fisicamente para uma pessoa para algum tipo de conversa. A cultura dos costumes
antigos de comunicação, mudaram, e essa falta mostra um problema como a falta de
demonstração de sentimentos entre as pessoas, o que gera um questionamento sobre a
essência pessoal do individuo, pois o torna um ser vazio. A exemplo, antes eram feitas
cartas a entes queridos, declarações de amor públicas, o que nos dias de hoje, são
raros aqueles que se expressão de tal maneira. Gerando assim, um questionamento a
respeito dessa situação.

Portanto, as emoções geram um meio de comunicação, que é necessário no cotidiano,


e que jamais deve ser perdida.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
65
Nota: 4,84/10
Autoria: participante 24 (anônimo)
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA

Título: A emoção na comunicação

A comunicação humana não pode ser interpretada como uma simples troca de
informações. As emoções moldam a transmissão e a interpretação das mensagens
recebidas. Dessa forma, as emoções, quando bem canalizadas, enriquecem o processo
comunicativo.

Como Marta Rébon reflete, ao ler um texto literário, a carga emocional das palavras
habilita aspectos da consciência, tornando o mundo mais habitável. A literatura,
quando desperta sensações no leitor, mostra como as emoções aumentam o
entendimento e criam uma ligação mais forte com a mensagem sendo passada. Assim,
a emoção faz a comunicação mais humana tornando-a uma vivência importante. No
entanto, Martin Heidegger avisa que uma linguagem, quando dominada por emoções
fora de controle se torna oca. O abuso de emoção causa uma grande quantidade de
palavras sem nenhum sentido claro desviando a atenção do verdadeiro significado. Em
situações que exigem raciocínio lógico, como discussões, a presença de emoções
fortes pode distorcer os argumentos, dificultando a compreensão mútua.

Todavia, quando bem colocadas, as emoções enriquecem a comunicação. Em obras de


arte, como O Grito, de Edvard Munch, ou em performances cinematográficas e teatrais
de atores como de Cillian Murphy no premiado filme, Oppenheimer, as emoções são
transmitidas de maneira humana, criando uma grande conexão com o público. Dessa
forma, a arte utiliza a emoção para comunicar acontecimentos que vão além do
racional, tocando em aspectos da experiência humana.

Com isso, as emoções, quando equilibradas e conscientes, têm o poder de transformar


a comunicação em uma ferramenta poderosa de conexão humana.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
66
GÊNERO:
CRÔNICA

67
COMENTÁRIO - CRÔNICAS

O QUE FOI VALORIZADO PELA BANCA?


Na avaliação das crônicas produzidas pelos candidatos, a banca examinadora demonstrou clara
valorização de textos que souberam articular leitura atenta, sensibilidade narrativa e reflexão
crítica. Um dos critérios centrais foi a capacidade de compreender o tema da proposta em sua
totalidade — não de forma fragmentada, a partir de um único excerto da coletânea, mas como
resultado da convergência entre todos os textos fornecidos. A coletânea, nesse sentido,
funcionou como um conjunto de vozes que se complementam e tensionam mutuamente, cabendo
ao candidato captar esse diálogo e traduzi-lo em uma abordagem autoral.
Outro aspecto destacado foi a presença de um trecho narrativo capaz de evidenciar um
episódio em que a comunicação assumisse uma dimensão emocional. Esse fragmento narrativo
não apenas deveria ilustrar um momento significativo, mas também carregar nuances afetivas
que pudessem ser exploradas posteriormente na análise. A extensão desse trecho variou entre os
textos: em algumas crônicas, ele apareceu de forma mais concisa, funcionando como um ponto
de partida para reflexões mais amplas; em outras, a narração ocupou um espaço mais
substancial, com a reflexão surgindo de maneira mais pontual ou sutil. Ambas as estratégias
foram bem recebidas, desde que houvesse coesão interna e fidelidade ao propósito do gênero.
A presença de diálogos, frequentemente associada à oralidade e ao dinamismo do cotidiano, foi
considerada um recurso possível, mas não obrigatório. Sua inclusão foi bem avaliada quando
contribuía para a construção da cena narrada ou para a expressividade dos personagens
envolvidos. No entanto, sua ausência não foi penalizada, desde que o texto demonstrasse
vivacidade e capacidade de transmitir o caráter emotivo da situação comunicativa retratada.
Para além da reconstrução do evento, a banca esperava uma análise pessoal que ultrapassasse
a esfera do “eu” e se conectasse com questões mais amplas da vida em sociedade. Isso exigia
do candidato não apenas uma experiência sensível, mas também um olhar crítico, capaz de
enxergar como aquele episódio específico se insere em dinâmicas sociais mais complexas —
como os ruídos da linguagem, os silenciamentos, os afetos que atravessam os modos de
expressão e os conflitos que se desenham nas trocas humanas. A crônica, nesse sentido, deveria
funcionar como uma lente ampliada que, a partir de uma cena aparentemente banal ou
cotidiana, revela tensões latentes do mundo contemporâneo.
Por fim, foram reconhecidos com melhores notas os textos que demonstraram domínio da norma
padrão da Língua Portuguesa, não apenas no sentido gramatical, mas também na precisão
vocabular e na escolha estilística. O vocabulário bem manejado, que revela sensibilidade para
os sentidos das palavras e adequação ao contexto, foi entendido como um sinal de maturidade
linguística e de capacidade expressiva — atributos fundamentais em um gênero que exige tanto
da linguagem quanto do pensamento.
Movimento Carta Aberta à Fuvest
+
68
Nota: 10/10
Autoria: Maria Laura Leão
Título: Silêncios digitais, emoções reais

O celular vibrou durante o jantar, interrompendo o breve silêncio que reinava na mesa.
Era o grupo da família, aquele espaço virtual onde, ultimamente, as conversas pareciam
mais campo de batalha do que ponto de encontro. Bastou uma notícia polêmica para
que emojis de raiva, frases em caixa alta e respostas atravessadas começassem a
pipocar. No meio do turbilhão, uma mensagem da minha avó surgiu: "Sinto falta de
quando a gente só contava piada por aqui." Por um instante, ninguém respondeu.

Naquele momento, percebi como as emoções saltavam das telas e contaminavam o


ambiente. O que era para ser um canal de aproximação virava motivo de desconforto.
CRÔNICA

Lembrei de quando, nos domingos, todos se reuniam para almoçar e as discussões eram
interrompidas por risadas e histórias antigas. Agora, cada mensagem parecia um grito,
cada silêncio, um abismo. As conversas, antes recheadas de afeto, se transformaram
em um espaço de competição, onde cada um queria impor sua opinião, muitas vezes
sem se importar com o que o outro sentia. A tecnologia, que deveria aproximar,
acabava criando distâncias invisíveis, alimentadas por palavras impensadas e reações
impulsivas.

No dia seguinte, resolvi ligar para minha avó. Sua voz, suave e acolhedora, revelou uma
tristeza que nenhuma mensagem conseguiria traduzir. Falamos sobre receitas,
lembranças de festas e, aos poucos, ela confidenciou sentir-se isolada desde que as
brigas virtuais começaram. Fiquei em silênci ouvindo. Ali, sem filtros ou emojis, a
comunicação fluía de verdade. Senti que, apesar de toda a tecnologia, ainda
precisamos do olhar, do tom de voz, do tempo dedicado ao outro. A ligação, simples e
direta, foi capaz de resgatar uma proximidade que as mensagens não conseguiam mais
proporcionar.

Na era das redes sociais e das conversas apressadas, percebi que o desafio não é
apenas falar, mas saber ouvir e acolher o que o outro sente. Emoções, quando mal
conduzidas, afastam e criam muros. Mas, quando há espaço para a escuta e o afeto,
mesmo um simples telefonema pode reconstruir pontes que pareciam perdidas. O
episódio me fez pensar em como, diante de tanta informação e velocidade,
esquecemos que a comunicação verdadeira exige tempo, paciência e disposição para
sentir junto. Em tempos de tanta polarização, talvez o maior gesto de carinho seja
desligar as notificações e dedicar alguns minutos para ouvir, de verdade, quem está do
outro lado da linha.
Movimento Carta Aberta à Fuvest
+
69
COMENTÁRIO DE UMA CRÔNICA
NOTA MÁXIMA
Em sua crônica, Maria Laura abriu uma reflexão a partir da narrativa de um
evento: no “grupo da família”, ambiente virtual que nos é conhecido, a avó
manifesta saudade de tempos em que as brigas não eram a tônica dos diálogos
familiares.

É interessante observar que o excerto narrativo ocupa todo o primeiro parágrafo


e que, em seguida, no segundo parágrafo, o que toma conta é a reflexão de
quem escreve, mesmo que haja uma interposição de mais um trechinho narrativo.
Esse jogo, entre rememorar um acontecimento e explicar a quem lê por que se
está contando essa história, motivado por uma leitura atenta da coletânea, é o
que dá corpo à escrita. A crônica é um gênero textual narrativo que aborda
acontecimentos do cotidiano, geralmente com leveza, humor ou crítica. Nesse
sentido, as exigências da banca da Fuvest se mostram compatíveis com a
produção.

No terceiro parágrafo, a narrativa continua, há o acréscimo de ações que se


desenrolam na sequência temporal daquelas apresentadas no início. Mas há
também uma continuação da reflexão que se iniciou no segundo parágrafo. É
como se a autora compartilhasse conosco seus pensamentos a respeito dos
acontecimentos que narra.

Por fim, ela finaliza seu texto retomando a relação entre o episódio narrado e o
que elaborou sobre ele. Como a crônica costuma ser publicada em jornais,
revistas ou blogs, ela admite uma linguagem acessível e mais próxima do leitor,
mas é importante não se desvencilhar do uso da norma padrão. Mesmo nos
veículos midiáticos, essa exigência está presente e, nesse caso, a produção de
Maria Laura é mesmo exemplar.

Apenas a título de observação: o tempo da narrativa, nesse gênero textual,


costuma ser curto também e o espaço, restrito. Quem escreve pode incluir
observações pessoais e subjetivas, criando um tom íntimo. Apesar de ser
considerada mais simples por alguns, a crônica muitas vezes revela reflexões
profundas sobre a sociedade.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
70
Nota: 8,67/10
Autoria: Joaquim Almir

Sem título

Ele lia Morte e Vida Severina, do engenheiro da palavra, João Cabral de Melo Neto,
numa tarde abafada de verão, em uma pequena pracinha no centro da cidade. O
sol, sem piedade, parecia se derreter no asfalto quente, sorte a dele ler em um
banco abaixo de uma árvore. Em meio ao barulho distante de carros e conversas
desconexas, José Vicente, com seus 11 anos, absorvia as palavras de forma silenciosa
e reflexiva. Não sabia exatamente o que cada trecho significava, mas sentia o peso
de cada sílaba, o impacto e a força das imagens que aquelas palavras desenhavam
em sua mente e em seu coração. O livro era pesado, quase tanto quanto a vida de
quem o lia. - Naquele calor abafado da tarde, José Vicente percebia que a
CRÔNICA

verdadeira comunicação, a mais profunda, não se dava apenas por palavras claras
e objetivas. Era, antes, um encontro de sentimentos, de silêncios compartilhados e
de significados que escapavam do entendimento racional. Era uma comunicação
emotiva que transcende a razão, uma comunicação que só quem viveu o peso da
vida é capaz de compreender plenamente. Em meio ao calor, ao cansaço e ao
esforço de compreender o mundo, ele encontrou, nas palavras de João Cabral, um
eco da sua própria existência. E, com isso, soube que, talvez, a sua cruz não fosse
tão solitária quanto parecia.

Entendeu, com a vida, que comunicação não se remetia somente aos pronomes de
tratamento do livro de português, mas também à humildade, simpatia e
generosidade. Aprendeu na vida a doar o pouco que tinha e, quando não tinha de
modo algum, partilhar de si o afeto, a escuta e o coração. Aprendeu também que a
emoção é o alicerce que edifica a alma, une as pessoas e liberta a mente. Mas
compreendeu, acima de tudo, que é a unidade, o menor e o pequeno que forma e
constrói o grande, o belo e o perfeito. Entendeu que sua comunicação não era
palavras bonitas ou rebuscadas, mas sim suas ações. E não esqueceu de amar a si
mesmo e seus semelhantes, ainda que nada recebesse em troca.

Zé Vicente, que também é Filho de Marias, depois de tanto ler e aprender, decidiu
mergulhar no seu próprio rio, não para se tornar uma embarcação naufragada, mas
para navegar em mares de grandes tempestades e fazer florescer jardins sem
esperança. Coloriu seu mundo com tinta de autoconsciência. Fez sua aquarela de
emoções vibrar e bradou para todos ouvirem: "Para gente que nem Zé Vicente, eu
desejo boa vida!". E, então, fechou o livro e, caminhando, pensou: "Imaginar e
sonhar é a melhor maneira de se comunicar".
Movimento Carta Aberta à Fuvest
71
+
Nota: 8,67/10
Autoria: Fernando De La
Torre Santos
Sem título

Era uma tarde cinzenta de outono quando entrei no café da esquina. A umidade
grudava no ar, e as xícaras tilintavam em meio a murmúrios apressados. Nas
paredes, quadros de paisagens desbotadas completavam a atmosfera melancólica.
No balcão, um homem de sobretudo amarrotado discutia com o garçom:

— ⁠Eu pedi um café sem açúcar! — berrava, vermelho de irritação, enquanto


apontava para a xícara como se fosse uma prova de traição.

O garçom, um jovem de olhos cansados e uniforme engomado, tentava se explicar,


CRÔNICA

mas as palavras se perdiam entre gaguejos. "Desculpe, senhor, deve ter sido um
engano...", balbuciava, enquanto os clientes ao redor cochichavam, constrangidos.
Um senhor de chapéu abaixou o jornal para observar; uma mãe puxou o filho para
perto, como se o conflito fosse contagioso.

Foi então que uma senhora de chapéu roxo, sentada próximo à janela, interveio.
Sem dizer uma palavra, pegou o sachê de açúcar da mesa ao lado - onde um casal
namorava distraído — e o colocou delicadamente diante do homem. Seus dedos
enrugados tremiam levemente, mas seu gesto era firme.

Ele fitou o sachê, depois olhou para ela. Seu rosto, antes tenso como um nó cego,
relaxou. Pegou o açúcar e devolveu ao garçom, com um aceno discreto de cabeça.
"Obrigado", sussurrou, mais para a senhora do que para o funcionário. O silêncio
que se seguiu foi mais eloquente que qualquer desculpa.

Enquanto saía, a senhora ajustou o chapéu e sorriu para mim, como se dissesse: "Às
vezes, um gesto cala mais que mil palavras." Naquele café, aprendi que a
comunicação emotiva não está nas frases perfeitas, mas na coragem de transformar
raiva em compreensão — mesmo sem dizer nada.

Mais tarde, refleti sobre quantas guerras cotidianas nascem de mal-entendidos e


quantas poderiam ser evitadas com um simples ato de gentileza. A senhora de
chapéu roxo não resolveu o problema do café; ela dissolveu a tensão que o envolvia.
Sua ação foi um lembrete: em um mundo de ruídos, o silêncio compassivo ainda é a
linguagem mais universal.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
72
Nota: 8,67/10
Autoria: participante 22 (anônimo)

Título: O silêncio ensurdecedor

Era um dia comum naquela sala de espera apertada. As pessoas evitavam trocar
olhares e a comunicação se limitava a murmúrios impacientes. Até que uma mulher
entrou, olhos marejados, segurando o celular com mãos trêmulas.
Ela parecia mais velha e seu rosto pálido indicava que poderia passar mal a
qualquer instante. O silêncio tornou-se ainda mais perturbador. Todos, sem proferir
uma palavra, mudaram imediatamente suas expressões diante da tensão palpável
no ambiente.

Sentando-se ao meu lado, ela tentava conter as lágrimas enquanto digitava


CRÔNICA

freneticamente uma mensagem, possivelmente para seu esposo, informando que


ainda não havia novidades. Não era necessário que ela falasse nada, pois aquele
sentimento contagiava a todos, dispensando palavras. Um incômodo profundo me
tomou, como se eu mesma estivesse prestes a passar mal. Um senhor sentado à
frente ofereceu-lhe discretamente um lenço. A mulher agradeceu com um leve
aceno de cabeça, ao mesmo tempo que um jovem à minha direita trocou comigo um
olhar solidário, claramente sensibilizado.

A sala, antes marcada por um silêncio distante, tornou-se subitamente um espaço de


comunicação sutil, mediada apenas pela empatia mútua. Quando a mulher
finalmente conseguiu dizer baixinho: "Minha filha está bem", todos respiramos
simultaneamente, aliviados. Nesse breve instante, as emoções romperam quaisquer
barreiras, estabelecendo conexões que transcendem gestos e palavras,
evidenciando como, por vezes, a comunicação mais poderosa ocorre na ausência
da fala, sustentada pela força sutil das emoções.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
73
Nota: 8,5/10
Autoria: partipante 4 (anônimo)

Sem título

Aconteceu ontem, no café da manhã. Eu tava com a cabeça já no trabalho, e ela só


perguntou se eu queria mais suco. Mas, do jeito que ela falou - ou pelo menos do jeito
que eu ouvi — parecia uma bronca. E daí eu respondi atravessado, ela retrucou com um
silêncio daqueles que dizem mais que qualquer coisa, e pronto: café arruinado.

É engraçado como a gente pode se comunicar tão mal mesmo falando a mesma língua.
Aqui, cada uma fala três idiomas, mas isso não parece ser suficiente para resolver nosso
CRÔNICA

problema. A emoção entra no meio da fala. Uma simples pergunta vira acusação com a
tonalidade errada. Se você perde o tempo certo de falar alguma coisa, a conversa já
toma outro sentido. E quando você menos espera, lá vem discussão sobre quem deixou
as roupas jogadas no sofá, quando na verdade as duas só tão um pouco carentes.

No meu reels só aparece conteúdo sobre como melhorar o relacionamento (acho que
estão ouvindo demais nossas discussões), mas fazer vídeo para o Instagram é muito
mais fácil do que lidar com o cotidiano estressante. É livro atrás de livro falando sobre
"o poder da comunicação", mas ninguém ensina que tem dias em que o outro não tá
legal, que o "vai tomar café?" pode soar mais seco, que o "depois a gente conversa" na
real é um "não tô pronta pra falar sobre isso agora".

Minha esposa diz que eu sou péssima em me comunicar, o que não é mentira se eu for
honesta. Sempre me expressei meio mal porque tenho a impressão que os outros
entendem aquilo que eles querem entender, e não o que eu quero falar. Mas eu me
comprometi a melhorar.

Mas ontem, depois do café, mandei um vídeo de filhote de gatinho e uma mensagem
meio envergonhada:"desculpa pelo jeito que falei". Ela reagiu com um coraçãozinho.
Nem precisava mais.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
74
Nota: 8,33/10
Autoria: partipante 25 (anônimo)

Sem título

Esses dias estava caminhando pelo centro da cidade e avistei uma senhora reclamando
dos “jovens de hoje em dia”, ela falava que sua neta não lhe dava atenção e tratava a
todos com muita ignorância, dizia que lhe faltava coração, que na época dela os mais
novos respeitavam os mais velhos e que, na verdade, todas as pessoas que ela conhecia
ultimamente pareciam com pressa. Eu mesma já presenciei situações parecidas, está
muito difícil estabelecer fortes laços hoje em dia, não me leve a mal, estou com meus
20 e poucos anos, mas nunca vi tamanha falta de senso do coletivo como nesses
tempos. Acho que parte da culpa é da pandemia, a qual em vez de atiçar a empatia ao
próximo parece que regrediu a noção e o senso comum, principalmente, das crianças
CRÔNICA

dessa época, os adolescentes de hoje.

Essa senhora seguiu me contando sobre sua relação com seus familiares, todos muito
distantes. Ela justificava a falta de proximidade com seus filhos, pois eles trabalhavam
demais e só pensavam nisso, viviam apressados e não tinham tempo para dar uma
passadinha na casa da mãe nem para tomar um café, um absurdo. Seu marido havia
falecido há uns 3 anos, mas ela casou nova e sem amá-lo de verdade; seus irmãos eram
interesseiros, pois o homem havia deixado um bom dinheiro, e sua neta era a que
sobrava para conversar e passear. A menina estudava bastante, mas mesmo cansada ia
até a casa da avó para lhe fazer companhia. A menina estudava bastante, mas mesmo
cansada ia até a casa da avó para lhe fazer companhia. A menina estudava bastante,
mas mesmo cansada ia até a casa da avó para lhe fazer companhia, como os tempos
são outros ela não pensava muito antes de falar e às vezes soltava algumas bobagens
que estranhavam a velha, que a repreendia, mas era atacada por risadas que
premeditavam sua reação.

Esse papo todo me fez pensar em como adaptamos as situações ao que nos convém, a
mulher não julgava os filhos, nem o marido e não se importava com os irmãos, mas era a
primeira a atacar aquela que mais lhe dava atenção e carinho a sua própria maneira.
Talvez a menina não gostasse dos outros, por isso era rude com eles, até porque
nenhum deles se importavam com a velha, o que podia fazer emergir a raiva da garota.
Não me senti comovida por toda a história dessa pobre senhora abandonada, ao
contrário me identifiquei com a menina que não gosta tanto assim de seus familiares,
mas zela por sua avó.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


75
+
Nota: 8,17/10
Autoria: Isabelli Bressani

Sem título

Andava pelas ruas pensando na peça teatral proposta por meu diretor no dia anterior.
Aquilo me deixava incomodada, pois não sabia como passar ao público o sentimento
certo. Buscava, enquanto caminhava por São Paulo, alguma referência a partir dos
habitantes, para que eu pudesse usar na minha criação. Porém, como encontraria algo
se os paulistanos vivem com pressa e não demonstram nada além de angústia e
cansaço? Se ao menos o personagem fosse assim, um trabalhador da cidade grande
sem tempo para apreciar as artes e sua própria vida, talvez ajudasse, mas não é.
CRÔNICA

Decidi, portanto ir para casa e tentar buscar inspirações e sentimentos meus.

A caminho de casa encontrei um mímico se apresentando na praça pública. Aquilo me


deixou imóvel. Não conseguia pensar em mais nada. O que ele fazia trouxe-me um
sentimento bom e que abriu meus olhos para a criar meu personagem da peça. Sua
arte havia permitido eu criar outra arte, porém, com meus próprios sentimentos.

Passei um mês com aquela visão do mímico na cabeça, e tinha conseguido criar
realmente meu personagens.

No dia da apresentação coloquei o figurino, fiz a maquiagem, preparei-me e subi no


palco. Todas aquelas pessoas me olhando me deu nervoso, mas só me fez lembrar da
apresentação na praça vista fazia um mês. Foi o mímico quem me deu forças de estar
aqui e passar ao público esta mensagem, eu pensava.

Ao final, olhei para a plateia hipnotizada, com uma extrema felicidade no peito e com
um sentimento enorme de pertencimento, e com certeza, agradecida. Mas o que
realmente me fez perceber que fiz um bom trabalho foi ver que o público realmente se
emocionou, o que significava que consegui passar a mensagem e fazer a comunicação
de artista e plateia que eu buscava.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
76
Nota: 8,17/10
Autoria: Karina Garlo

Título: Saudade em Acordes

Desgrudando dos pés e posicionando os sapatos gastos à beira da porta de casa,


logo após jogar a mochila sob a poltrona no canto da sala, meu olhar cansado
encarava o relógio com desprezo, como se minhas preciosas horas, roubadas pelo
longo dia de trabalho, pudessem ser devolvidas por meu olhar intimidante aos seus
ponteiros tiquetaqueando sem parar. Aceitando que a ação não surtiria efeito, me
deitei sobre o sofá encarando o teto, tentando não iniciar mais uma das sessões
diárias de pensamentos negativos que teimavam em ir e vir e faziam-me questionar
CRÔNICA

sobre cada escolha da minha vida até o momento.

Falhei. Como poderiam os anos terem passado tão rápido? E como poderia eu ter
deixado passar tanta coisa em vão? Só, minha cabeça borbulhava em agonia,
consciente da incapacidade de trazer essa reflexão para o externo, para alguém
além de mim.
Foi quando, de repente, algo interrompeu meu pensar. Uma melodia baixinha vinda
do apartamento de baixo adentrava meus ouvidos com tanta calmaria que, cada
nota emitida parecia se espalhar vagarosamente pelos cantos da minha mente,
acariciando meus tímpanos como uma velha amiga.

E eu a conhecia, os acordes nostálgicos vinham preenchendo uma imagem que eu já


não via há muito tempo: a face de minha mãe. Seu amor pelo piano sempre foi
notável, e ali, naquele momento, era como se ela o tocasse mais uma vez. Aos
poucos, minhas reflexões infelizes foram sendo substituídas por seu falar, seu toque
atencioso e seus conselhos e, finalmente, tive alguém para contar minhas aflições,
as quais ouviu com paciência e compreensão.

Permaneci naquele transe por alguns minutos em que o relógio parecia finalmente
me esperar, com os olhos fechados, abertos apenas quando a melodia terminou.
Como que dizendo tchau, me levantei com um leve suspiro e sorriso discreto
entendendo que, apesar das incertezas, ainda havia pequenos refúgios capazes de
me trazer de volta a mim mesma.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
77
Nota: 8,17/10
Autoria: Maria Fernanda Faust
Branco
Título: A comunicação que temos no olhar.

Era uma manhã comum, dessas que carregam no vento a promessa de que algo
pequeno — mas importante — vai acontecer. A cafeteria da esquina fervia de
conversas soltas que antecedem um longo dia de trabalho, risadas meio tímidas e o
tilintar das xícaras. Eu estava lá, com meu caderno aberto, observando a
movimentação esperando que alguma idéia despencasse do céu para preencher
aquelas páginas que estavam vazias a alguns dias.

Algo que sempre me fascinou em lugares públicos é notar as diferentes histórias que
acontecem em cada mesa, mas naquela manhã, entre tantas pessoas que entravam
CRÔNICA

e saiam, dois senhores, cabelos brancos como nuvens pesadas, sentados frente a
frente, me chamaram atenção. Entre eles, um pequeno bolo de aniversário e uma
vela solitária tremulando. Havia algo de estranho naquela cena.
Não havia parabéns, não havia palmas. Apenas um olhar demorado que parecia
atravessar décadas.

De repente, um deles pegou uma pequena carta do bolso. As mãos tremiam os olhos
marejaram. A carta foi entregue com uma reverência quase sagrada. O outro, com
olhos fixos, abriu o papel amarelado e sorriu, como se naquele instante as dores do
tempo tivessem sido curadas.

Nenhuma palavra foi dita. E ainda assim, entre tantas rotinas que poderiam me
interessar, aquela cena em específico me cativou. Como se pudesse ouvir o que só
eles entendiam. Uma carta antiga, um pedido de desculpas nunca feito, ou talvez
uma declaração de amor adormecida. Quem saberia? O que importava era o que se
derramava entre eles: uma comunicação sem barreiras, feita de memórias, de
perdões, de afetos que nenhuma frase ensaiada seria capaz de traduzir. Palavra
nenhuma foi dita, discussão nenhuma foi elaborada, mas, naquele momento, as
emoções eram mais literais que qualquer dicionário.

Naquela manhã banal de quinta-feira, com o meu café frio e minha ressaca criativa,
percebi que às vezes as palavras são só molduras para o que já está gritando dentro
da gente. Uma imagem, ou melhor, uma emoção, vale muito mais que mil palavras, e
ainda, ouso dizer, que conseguem comunicar até quando não se encontram
palavras. O mais verdadeiro da comunicação é o que se diz sem dizer.

Posso até ter terminado o dia com o meu caderno em branco novamente, mas
algumas histórias são grandes demais para caber em linhas.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
78
Nota: 7,83/10
Autoria: Clara

Sem título

Eu, seu cronista favorito, acordei por volta das quatro da manhã, quando a lua em sua
prata líquida iluminava o céu e as estrelas adornavam a escuridão enquanto guiavam os
velejadores perdidos no mar. Estou sendo um pouco melodramático, mas acredito que
posso ser perdoado dessa vez. Hoje é o aniversário da morte da minha esposa, comemoro
meu terceiro ano como viúvo e decidi falar dela novamente, depois de três anos de luto e
algumas cartas de leitores inconvenientes.

Começo dizendo que tenho críticas a quem fundou o termo "aniversário de morte".
Aniversário costumava ser sinônimo de felicidade para mim, a casa cheia, bolo, meus
primos que sempre implicavam comigo e minhas tias que me perguntavam das
CRÔNICA

namoradinhas, pelo menos elas pararam depois que Maria morreu, quando ela estava viva
perguntavam de casamento e de filhos.

Enquanto o vinho desce pela minha garganta e meus dedos embriagados digitam o
trabalho que eu procrastinei até o último segundo, minha mente me leva para o passado,
para nossa última conversa.

No último dia dela, eu entrei no quarto do hospital mordendo os lábios para não chorar,
afinal "homem não chora" como diria Frejat. Que direito eu tinha de ser dominado pelas
emoções quando era ela quem estava sofrendo? Maria sorriu e disse: "Amor, vamos ver:
Perfeita para você". Para os que não sabem, como eu não sabia, é um filme em que a
mulher está morrendo de câncer e procura uma namorada para o marido e, para os leitores
novos, Maria nunca me chamava de "amor", me chamava de "desgraçado" e "Filho da -
(vou poupar o trabalho do editor e não terminar). Nossa forma de comunicação pode
parecer estranha, mas era nossa forma de demonstrar amor. Maria deve ter se divertido
nessa última provocação, o senso de humor dela sempre foi terrível, cada soluço que me
escapava era respondido com um riso e dois tapinhas nas costas.

Minhas últimas palavras para ela foram: "Amanhã eu escolho o filme", meus olhos estavam
vermelhos e o que mais me doeu foi ver que ela havia aceitado o inevitável. A resposta
dela, seca e rápida, foi: "Você só escolhe filme chato, eu dormi nos dez primeiros minutos
daquele Interestelar". Porém, quando eu estava saindo, ela ofereceu com seu sorriso
ladino: "Deixo você escolher sábado", na linguagem dela isso era um "eu te amo". Maria
morreu poucas horas depois que eu saí, dormindo em paz e isso me consola.

Acredito que parte de mim morreu com ela naquela noite. Meu maior arrependimento foi
não ter respondido "Eu te amo" antes de sair.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
79
Nota: 7.83/10
Autoria: Gustavo Antonuci Gomes

Título: Nó na Garganta

Era só uma visita comum. Mesa de madeira rústica, café forte e bolo de milho verde.
Quando bati à porta da de meu avô, ele abriu com um sorriso meio torto, desses que
seguram um mundo inteiro de vocábulos não ditos. Entrei, tirei meu par de botas,
sentei-me à mesa. Jogamos conversa fiada: tempo, futebol, fofocas e novelas. Até que
ele me olhou de um jeito que fez tudo parar.

"Você lembra de sua avó?", perguntou, a voz esbarrando num quase choro. Balancei os
CRÔNICA

neurônios de minha cabeça, mesmo sem saber se lembrava de verdade ou se era tudo
invenção das fotos e das histórias repetidas. Então ele começou.
Contou do primeiro beijo, dos bilhetes escondidos no bolso da camisa, das discussões
bobas que terminaram em transa no meio da sala de estar. A cada palavra, seus olhos
brilhavam, não de tristeza, mas de uma saudade viva, feita de carne e riso. Eu não dizia
nada, só ouvia e apreciava atentamente, tentando levar cada frase como se fosse areia
entre os pés.

Quando ele parou, o silêncio caiu como uma toalha pesada sobre nós. O relógio da
parede parecia "tic-tacar" alto demais. Eu quis dizer alguma coisa bonita, devolver
tudo o que ele tinha me proporcionado em todos esses anos, naquela manhã. Era um nó
de gratidão, de amor, de nostalgia emprestada. Não consegui expor meus sentimentos
por meio de palavras. Só segurei a sua mão com força.

Ele sorriu, dessa vez inteiro, sem o peso que carregava antes. E eu finalmente entendi:
às vezes, a emoção verdadeira é aquela que a gente não consegue transformar em
palavra nenhuma.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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80
Nota: 7,83/10
Autoria: participante 8 (anônimo)
Título: Quando o grito não cabe na boca

O mundo parecia feito de fogo e arame naquela tarde. O céu, esgarçado em tons
de ardidos, dobrava-se sobre a cidade como um lençol de presságios. Léo
caminhava pela velha ponte, a mesma dos tempos de infância, mas agora seus
passos soavam ocos, como se andasse sobre a sombra de si mesmo.

As palavras - ah, as palavras! - reviravam-se no peito como bichos cegos. Há tempos


queria falar com ela: dizer tudo o que ficou suspenso nos anos de silêncio, entre
gestos incompletos e telefonemas abandonados. Procurava a frase exata, porém o
que carregava dentro era outra linguagem: uma feita de medo e de amor
entranhado demais para caber na ordem das letras.
CRÔNICA

Ao ver a amada do outro lado da ponte, sentiu a garganta se fechar. A emoção


subiu como uma maré desgovernada. Quis correr, gritar, rasgar o ar ao redor. Mas
Ficou imóvel. A boca entreaberta, o rosto tenso, as mãos crispadas - como se a dor
do mundo inteiro, por um instante, passasse por ele.

O grito não era feito apenas de voz. Era feito de céu rachado, de solo que
afundava, de mãos vazias. Era feito de silêncio que esmagava os ossos por dentro e
dilacerava o coração.

Quis falar. Tentou. O som que saiu foi um gemido curto, fraturado.

Ela, do outro lado, viu. E entendeu. Caminhou até ele. Não disse nada.

Foi um abraço desajeitado, urgente, mas inteiro - da forma que devia ser. Um gesto
nu, sem cerimônias, que dizia tudo o que as palavras falharam em articular: "Eu
também."

Naquele instante, no meio da ponte que rangia sob seus pés, Léo percebeu que
certas emoções são tão grandes que não cabem na fala. São gritos que não
precisam ser ouvidos: precisam ser sentidos.

O céu ainda ardia em chamas atras deles, no entanto, estranhamente, o mundo


parecia menos assustador.

O amor transformava o homem que ainda não sabia direito o que falar, mas sabia se
comunicar.
Movimento Carta Aberta à Fuvest
+
81
Nota: 7,83/10
Autoria: participante 9 (anônimo)

Sem título

Acorda, escova os dentes, toma café, se troca, sai para o trabalho. Ao meio dia
finalmente para e almoça. Ás quatro da tarde sai e treina. Ás seis volta pra casa, toma
um banho, cuida do gato, prepara o jantar. Ás oito o marido chega em casa, janta em
casal, e pra finalizar o dia, antes de dormir, um filme besta com uma garrafa de vinho
numa noite de quarta-feira. Isso é o que eu vejo pela tela do celular, mais um vídeo de
"um dia comigo" que os influenciadores postam nas redes sociais.

Esse mundo da internet é uma verdadeira ficção, nele as pessoas fazem um dia de vinte
CRÔNICA

e quatro horas ter quarenta e oito, mostram a vida como fácil e organizada, a maior
mentira. Queria eu ter vida fácil assim, mas escolhi morar em São Paulo, antes de
acordar a mente meu corpo já acorda e roboticamente executa tudo o que eu preciso
no meu dia.

Acordo, escovo os dentes, tomo café enquanto me troco e saio correndo para o
trabalho, acordei atrasado, de novo. Pego o busão, lotado como sempre, depois o
metrô, correndo pela esquerda pois estou atrasado. Consegui, chego no trabalho e
passo horas em uma mesa digitando incessantemente críticas, esse é meu trabalho, o
jornal me paga para isso. Ao meio dia eu almoço em quinze minutos, tempo é dinheiro e
eu não nasci herdeiro. Trabalho mais e mais horas intermináveis. Na volta a saga se
repete, eu corro pelo metrô, me espremo no ônibus e me jogo no sofá quando chego
em casa.

São dez da noite, e o máximo que consigo é tomar um banho e fazer um miojo
enquanto vejo o jornal antes de me deitar para mais um dia de trabalho na selva de
pedra, tudo no automático, minha cabeça cansou de pensar. Os leitores do jornal
em que eu trabalho passam por isso todo dia, assistem pela telinha do celular outras
pessoas vivendo o seu sonho, uma vida tranquila e despreocupada, enquanto eles
batalham todo dia pelo salário no fim do mês. É em solidariedade a esses leitores
que escrevo minhas críticas aos influenciadores de "life style". Isso, é o que eu,
enquanto estou deitado no meu sofá, ás quatro da tarde de uma terça-feira,
enquanto bebo uma taça de vinho.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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82
Nota: 7,83/10
Autoria: participante 11 (anônimo)

Sem título:

Era uma tarde fria de quinta-feira quando o encontrei. Os primeiros encontros são
sempre cheios de expectativas, uma saudade de algo que ainda não foi vivenciado,
e não foi diferente daquela vez. Tímidos, havia algo muito além das palavras que
permeavam nossas conversas. Era possível sentir uma conexão que se expressava
através daqueles olhos doces e ternos, que falavam mais do que qualquer frase que
poderia ter sido dita. O silêncio entre as pausas não era vazio, carregava uma
energia delicada e intensa, algo que eu sabia ser raro. Sentados em uma praça
CRÔNICA

tranquila, as palavras não se apressavam a sair, mas os olhares diziam tudo. Eu


sentia uma paz estranha, uma familiaridade inexplicável, como se já o conhecesse
de algum lugar, ou como se, de alguma forma, nosso encontro fosse inevitável.

É admirável perceber que as palavras não dizem tudo, muito se perde quando não
se tem essa percepção. Às vezes, as palavras são escassas, como se o peso de tudo
o que queremos comunicar fosse grande demais para caber em meros sons e
sílabas. Mas se olharmos profundamente para o outro e soubermos ler suas
emoções, que transbordam através de simples gestos, como o movimento de uma
mão, um olhar, uma respiração mais profunda, é possível compreendê-lo por meio
dos pequenos detalhes.

Naquele momento, fui envolvida pela presença daquele garoto que até pouco
tempo era um completo desconhecido e compreendi que a verdadeira comunicação
não acontecia entre o que era dito, mas no que era compartilhado no silêncio. Sábia
sou eu, que pude lê-lo e entender seu mundo através de gestos e sentimentos que se
expandiram para fora de seu imenso coração.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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83
Nota:7,83/10
Autoria: Maria Julia
Malaguti Michelan

Título: O Silêncio que Fala

Era uma tarde comum, dessas que o tempo parece esquecer de passar. Na sala
iluminada pela luz suave do Final de tarde, Dona Maria, senhora de cabelos brancos e
olhos distantes, balançava-se suavemente em sua cadeira. Ao seu lado, Júlia falava
sobre o trabalho, sobre a vida, tentando resgatar um pedaço da mãe que o Alzheimer
parecia levar aos poucos. As palavras, porém, pareciam não encontrar abrigo. Dona
Maria respondia apenas com um sorriso vago, distante da conversa.
CRÔNICA

Entre tentativas frustradas, o silêncio se fez. E foi nele que algo aconteceu: Dona Maria
encarou a filha com um olhar sereno e profundo. Sem dizer nada, seus olhos
transmitiram saudade e amor. Júlia entendeu. Não era mais pelas palavras que a
comunicação acontecia, mas por algo mais íntimo, feito apenas de sentimento.

O toque de mãos, o brilho breve nos olhos, o respirar demorado — tudo falava. Júlia,
então, largou os relatos do cotidiano e apenas segurou a mão da mãe. O gesto
simples, carregado de emoção, dizia mais que mil conversas poderiam dizer. A
ausência de palavras revelou uma presença intensa, e no silêncio pulsava uma
comunicação genuína.

Naquele instante, ficou claro: a fala mais verdadeira é aquela que nasce do sentir.
Entre Dona Maria e Júlia, a ausência de discurso não era ausência de diálogo. Era, na
verdade, a presença plena de um amor que dispensava explicações. E foi nesse
silêncio profundo que mãe e filha se encontraram de novo.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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84
Nota:7,67/10
Autoria: participante 26 (anônimo)

Título: Arte com o coração

Assim como nos outros dias daquela semana, sai de casa e fui até o parque. O
caminho não era longo, mas enquanto andava, pude admirar as formas das poucas
nuvens no céu, as árvores balançando lentamente com a brisa gélida daquela manhã.
Já era primavera de novo e os pássaros cantavam para as poucas pessoas que
movimentavam a rua naquele horário. Levava comigo meus materiais de pintura,
apenas algumas tintas e uma tela.

O parque estava vazio. À primeira vista, parece um pouco solitário, mas eu sabia que
CRÔNICA

em poucos minutos já haveriam senhoras sentadas nos bancos, crianças correndo para
ir à escola e homens correndo para não se atrasarem, seja lá para qual compromisso.
Me sentei no mesmo banco e então, comecei a pintar.

Não sei quanto tempo passei ali, mas retornei para a realidade quando uma criança
me cutucou timidamente e perguntou o que eu estava desenhando. Contei para ela
que estava reproduzindo a paisagem que vi mais cedo: as árvores, os pássaros e as
nuvens. Ela riu e disse: "As nuvens de hoje cedo tinham forma de estrela?". Contei para
ela que na verdade, não tinham, mas foi assim que pareceram quando as observei.

"Tio, por que você gosta de pintar? Sempre te vejo nesse banco, tão sozinho...".
Sinceramente, não soube responder aquela pergunta de imediato, e ela percebeu
minha dúvida. Ponderei a pergunta antes de respondê-la, pensando a melhor forma de
explicar para uma criança a liberdade que sinto ao expressar meus sentimentos em
minhas obras, como representar cada detalhe na minha caminhada que me chamou
atenção, me fez sorrir ou me fez suspirar em reprovação. "Sabe, pequena... nessa tela
posso colocar tudo que sinto quando vejo algo bonito, o que me deixa feliz ou bravo,
ou triste...", eu disse a ela e vi seu rosto se iluminar: "Então o tio pinta com o coração!".
A frase dela me fez sorrir, e eu concordei com um aceno. "Vou fazer igual você, tio!
Outro dia venho aqui e te mostro o que desenhei, algo que me deixa muito feliz!", disse
antes de sair saltitando pelo parque.

Não imagino qual será o desenho dela, talvez sejam doces ou seu brinquedo favorito.
Mas, com certeza, minha próxima tela será sobre uma menininha curiosa que faz arte
com o coração...
Movimento Carta Aberta à Fuvest
+
85
Nota: 7,50/10
Autoria: Miguel Damasceno Daré

Título: O Caderno da Verdade

Em um caderno, há mais informações sobre um indivíduo do que se pode imaginar. Entre


duas capas e linhas, esconde-se um mundo de verdades.

Era fim de tarde quando Marta abriu o quarto da filha, que estava em seu treino de vôlei.
Ao passar o pano ensopado com sua fragrância preferida debaixo da cama, encontrou um
pequeno caderno de capa dura, o mesmo que se lembrava de ter dado à Marina antes de
ela completar quatro anos. Por impulso, começou a folhear, mas logo lhe veio à mente o
que a Filha pensaria daquela situação. Sabendo que sua relação já estava estremecida,
Marta recuou e guardou o caderno onde o havia encontrado.
CRÔNICA

O tempo passou, e a mãe se sentia cada vez mais distante da filha à medida que a
adolescência avançava. Aquela criança que antes contava até mesmo a cor da roupa dos
colegas de classe agora se tornara reservada. Marta, ciente da existência do diário,
frequentemente fazia perguntas incômodas, como:

— E os namoradinhos, Mari?

Sabia que, com uma rápida leitura do caderno, poderia responder a muitas de suas
dúvidas. Ainda assim, tentava respeitar o espaço da filha.
Pouco tempo depois, Marina completou quinze anos e, como de costume nessa fase,
tornou-se mais fria. Marta, agindo de forma impulsiva para silenciar suas angústias, leu o
caderno. Ficou perplexa.

Compreendeu, então, como sua filha - e os adolescentes daquela geração - pensavam.


Confrontou Marina. Ela sequer respondeu. Apenas fechou a porta do quarto aos prantos, e
de lá nunca mais saiu.

Marta se perguntava:

- Matei minha filha?

Não. O que matou Marina foi a ausência de diálogo. Aos poucos, e com muita terapia,
Marta entendeu que sua filha não se expressava bem com palavras faladas.
Preferia desabafar com seu caderno.
Percebeu também que não adiantava se culpar pelo que deveria ou não ter feito - o fato
já estava consumado. Concluiu que o que realmente a afastou foi a contemporaneidade.
Foi ela quem matou Marina: afastou-a da mãe, dos amigos e do próprio diálogo.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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86
Nota: 7,5/10
Autoria: participante 7 (anônimo)
Sem título

Era Natal, o primeiro depois que meus pais se separaram. Honestamente, não estava
ligando muito, mas meu irmão sempre valorizou e acreditou no Papai Noel, então
nossa mãe tinha saído para encontrar algum presente. Nosso pai era afetuoso e
gostava de alimentar a mentira de que um velho barbudo deixava presentes no dia 25
para o Mike, meu irmão. Então, havia a chance de o pai aparecer, pelo meu irmão,
mas eu não ligava. Não tinha mais pai, agora era apenas eu, meu irmão e minha mãe.

Nossa mãe estava tentando adivinhar o que eu queria, mas eu não queria nada, ou
CRÔNICA

pelo menos não sabia o que queria. Ela tentou perguntar para o Mike, que deve ter
dito que eu queria uns CDs (que ela jamais me daria por causa da letra carregada de
"palavras feias", como ela chamava na frente do Mike).

Por isso, estava até curioso para ver a palhaçada que ela iria me dar. Papai me
conhecia bem, se não me desse o CD, teria me levado para dirigir, mesmo sendo
menor de 18. Ele sabia que era um sonho meu, depois de maratonar Vingadores e
Furiosos.

Enquanto ela não chegava, eu tentei manter Mike entretido. Fizemos biscoitos para o
louco que iria entrar pela chaminé e, quando deu 21 horas, ouvi uma batida na porta.
'Finalmente', pensei. Ela estava atrasada, sem desculpas para o Mike. Quando abri a
porta, era ela com meu pai, que segurava meu CD favorito. Sem ninguém dizer nada,
chorei.Talvez quem eu estava mantendo entretido era eu mesmo, longe da saudade
que a emoção de apenas ver meu pai com meu CD me lembrou. No fim, eu ligava pro
Natal e pro meu pai mais do que sabia.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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87
Nota:7,5/10
Autoria: participante 12 (anônimo)

Sem título

No final da festa, a tensão palpável no ar, as pessoas já partiram, nós duas sentadas no
sofá. Ela me pergunta "Eu passei muita vergonha?" e eu em silêncio aceno que sim com
a cabeça. Alí acabava nossa amizade. Atualmente, tendo a acreditar que por melhor
que tentamos ser, um dia todos nós seremos o vilão na história de alguém e naquele
momento eu assumi esse papel.
CRÔNICA

A música alta, eu me atraso, os flashs de luz, ela embriagada, eu sem paciência,


vermelho, roxo, azul. Ela chora, eu levanto a voz, eu choro, ela levanta a voz, como
chegamos a esse momento, como não percebemos um copo tão cheio em que uma
gota d'água faria tudo desmoronar, verde, nossas diferenças eram muito grandes para
essa amizade dar certo. Faz parte da vida pessoas irem e virem, de forma tranquila ou
avassaladora, mas dizem que as marcas que essas pessoas deixam em nós é o que nos
faz sermos quem somos.

Somos convidadas, eu feliz, animada, ela indiferente, incerta, nos arrumamos, entre
risadas e farpas. Esses bons momentos, calorosos e divertidos ainda ficam na minha
mente com uma certa nostalgia, naquela altura do campeonato já sabiamos que não
estava tudo bem, mas preferíamos acreditar que era só uma fase, e falaríamos dos
assuntos bestas de escola e das fofocas de familiares. Alguns meses antes jamais
imaginaria que estariamos tão próximas e compartilhando tantos segredos.

Eu espero no ponto, ela chega correndo, fico aliviada que não sou a única que preciso
pegar esse mesmo ônibus para ir para casa. Ela me pergunta: "Qual é o seu nome?".
Me fascina como qualquer desconhecido é um colega, amigo ou amante em potêncial,
pessoas que cruzamos na rua ou que nunca falamos no trabalho. Ninguém sabe o que o
futuro reserva pra essas relações ou que nos tornamos depois delas

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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88
Nota: 7,5 /10
Autoria: participante 16 (anônimo)

Título: As múltiplas faces das ações

Estava saindo da biblioteca quando vi uma criança na rua, de mais ou menos 5 anos,
chorando compulsivamente, enquanto sua mãe a levava para dentro de uma escola.
Naturalmente, me senti comovida pela cena, ao ver aquela pequena tão assustada com
a situação —a final é apenas uma criança— mas com o tempo fui achando quase que
engraçado o desespero sem cabimento. Ao mesmo tempo, entendia a pressa da mãe,
que deveria ter hora. Creio que toda experiencia emocional possui vários pontos de
vista, e sentimentos envolvidos.
CRÔNICA

É comum tal cena. Muitas crianças quando mais novas passam por esse medo de se
separar de seus pais, mas a verdade é que isso é essencial para seu futuro, assim como
o medo de mudar de escola, de prestar o vestibular, de arranjar um emprego. Sentimos
o mesmo que ela em várias etapas, mas assim como essa, passamos por isso para
crescer e depois de um tempo, vemos sua importância. Em sua mente infantil, isso era
uma punição, um pesadelo. Na nossa, apenas uma visão cotidiana, sem real tristeza.

A mãe, que parecia estressada, tentava coagir a menina a entrar no prédio,


escondendo sua feição de raiva. Eu, por mais que não tivesse filhos, entendia aquela
expressão, uma que eu nunca fizesse mas que já tinha visto no rosto de meus pais
muitas vezes. Quando novos não a percebemos, mas ao entrar em um dia a dia corrido,
com emprego, obrigações e horários rígidos, percebemos e cansaço e até frieza
naquele rosto. É certo que a criança não a compreenderia, e nem irá por muito tempo,
mas não pude sentir compaixão pela mulher na minha frente.

A realidade é que passamos por muitos sentimentos ao observar cenas como essas, ao
pensar como cada participante daquela interação ou como nós mesmos vemos o quão
complexo e fragmentado emocionalmente cada comunicação pode ser, mesmo que
superficialmente não aparente.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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89
Nota: 7,34/10
Autoria: Participante 6 (anônimo)

Título: O Silêncio que Fala

Era uma tarde como tantas outras, dessas que começam arrastadas e parecem não ter
fim. Acordei tarde, como sempre, e peguei o celular sem grande entusiasmo. O reflexo
automático de abrir as mensagens, de checar o que estava acontecendo, me
acompanhava já de tanto hábito. Mas uma notificação se destacou, uma mensagem
simples de Clara, uma amiga de infância. Eu não a via há meses, e ela, sempre tão
reservada, não costumava mandar mensagens só por mandar.
CRÔNICA

Era uma foto do céu, um céu nublado, carregado, sem um raio de sol à vista. Não havia
palavras. Só a imagem, e uma legenda: "Só me sinto assim hoje." Foi como um soco no
estômago, uma sensação de que eu poderia sentir aquele peso nas nuvens também,
mesmo sem estar ali. Não sabia bem o que responder, então só digitei: "Oi, Clara. O
que aconteceu? Como você está?”
Não demorou muito e veio a resposta:
— Hoje o céu é só nuvem... Não tenho palavras para explicar.
Fiquei olhando para aquela mensagem, quase sem saber o que dizer. Mas sabia que
não precisava de muitas palavras. A foto, o céu carregado, já diziam tudo. Eu então
respondi, com a sinceridade de quem não queria dar um conselho, mas apenas se fazer
presente:
— Eu entendo. O meu céu está claro hoje, mas vejo a sua dor. Você não está sozinha.
Alguns segundos depois, o celular vibrou de novo, dessa vez com um simples coração
vermelho. Só isso. Um gesto sem pressa de se explicar. Não era necessário. A
comunicação emocional, por vezes, vai além das palavras. Estava claro que, naquele
momento, o silêncio era mais eloquente do que qualquer outra coisa que pudéssemos
ter dito.
Aquela troca simples, sem pressa, sem cobranças, foi o que bastou. Eu entendi, ela
entendeu, e, por um breve momento, dois céus diferentes se tocaram. Não
precisávamos de mais nada.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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90
Nota: 7,34/10
Autoria: Participante 18 (anônimo)

Título: Semana Passada

Semana passada, fui à casa de minha mãe. Coisa boba, me chamou pra pegar
algumas coisas minhas que tinham ficado lá. Eu expliquei pra ela que meu marido
poderia fazer isso, ainda mais eu estando grávida, mas ela não ficou contente. Tinha
que ser eu. Quando recebi o convite, me lembrei o motivo da minha partida: a casa
estaria impecavelmente limpa, do jeito que minha mãe prezava. Sua mania excessiva,
que meu pai ousava chamar de transtorno mental, me irritava profundamente. Na
CRÔNICA

infância, ela nunca se fez presente, mas a casa deveria estar um brinco.

Minha mãe nunca foi em uma apresentação da escola, pois aconteciam de domingo, e
domingo era dia de faxina. Minha mãe não sentava no sofá com a gente, pois, na
verdade, ninguém podia sentar no sofá e ousar sujá-lo. Minha mãe não era mãe, ela
estava lá, mas não estava, tudo ao mesmo tempo.

Não a encontrei me esperando na porta. Gritei por ela, e a resposta veio do cômodo
dos fundos, inutilizado a alguns bons anos "Pode entrar!". Quando adentrei a casa, não
acreditei em meus olhos. Minha mãe, sempre metódica e calculada, com caixas e mais
caixas empilhadas na sala de estar, com a pia cheia de louças, estava
despretensiosamente pintando meu quarto de um tom de rosa aconchegante.
"Gostou?" ela me perguntou. "Vou fazer um lugarzinho pro bebê aqui, aí você pode vir
mais vezes".

Ela não me abraçou e nem disse nada, mas apenas seu gesto foi suficiente
para entender o que ela queria dizer. Ela ainda não tinha me visto com
barrigão, e, desde o falecimento do meu pai, estava sozinha. Talvez minha mãe
tenha percebido que morando sozinha, não tinha sujeira pra limpar.

Pela primeira vez, minha mãe disse que me amava. Ela não precisou dizer palavras
bonitas e enfeitadas, bastou a bagunça que eu procurei a vida toda pra ser meu
conforto.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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91
Nota: 7,33/10
Autoria: participante 1 (anônimo)

Título: Cotidiano

"Todo dia ela faz tudo sempre igual" diz Chico Buarque, que ressoa na minha
cabeça o dia inteiro. Não posso deixar de refletir sobre a canção que traz,
cantante, a realidade cíclica de um dia a dia inalterado que, invariavelmente,
comparo com o meu próprio: despertar, estudar, comer e dormir, despertar, estudar,
comer e dormir... Entretanto, hoje uma faísca de pensamento mudou a forma como
enxergo esse cenário, que até então se mostrava apenas melancólico: o amor que o
permeia agora se fez presente aos meus olhos. Existem infinitas formas de
comunicar tal sentimento tão profundo e inexplicável, daí sua potência subjetiva tão
marcante. Hoje, porém, me dei conta de que tal comunicação não reside apenas na
CRÔNICA

verbalização das emoções, mas também nos gestos como cada pessoa exprime
aquilo que reside no seu mundo interior e subjetivo.

O contato superficial com o mundo que me cerca levou à superficialização


também da maneira como entendo a comunicação alheia das emoções,
despotencializando a minha maneira de experienciar o mundo. Quando meu
despertador toca, alguém já está na cozinha preparando meu café da manhã;
quando vou para a escola, alguém me acompanha no trajeto; quando volto faminta
para casa, não preciso me preocupar com o que comer pois a janta já está servida.
Em todas essas minuciosidades que até então fugiam da minha vista pela
velocidade do cotidiano, estão comunicados sentimentos e emoções através de
gestos e ações que me eram invisíveis. O pleno acesso a tal campo subjetivo
através da linguagem estava fora dos limites do meu mundo que, ensimesmado, não
deixava espaço para compreender tais expressões.

Tais reflexões apenas foram possíveis no momento em que parei de olhar apenas
para o interior da minha consciência, que apenas reconhecia a imobilidade do
cotidiano, e voltei meus olhos para aquilo que me estava sendo comunicado para
além do que eu conseguiria reconhecer diante do espelho. A comunicação emotiva,
portanto, tem a capacidade de se metamorfosear assumindo diferentes aparências,
basta que saibamos reconhecê-la, ampliando, assim, nossa potência subjetiva.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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92
Nota: 7,33/10
Autoria: participante 10 (anônimo)

Título: O que ficou no silêncio

Era uma tarde comum de domingo. A mesa da cozinha ainda guardava restos de
café e conversas interrompidas. Foi quando João, meu avô, pediu que eu me
sentasse. O gesto, lento e firme, carregava uma solenidade incomum. Sem muitas
palavras, ele abriu uma caixa de madeira envelhecida, onde guardava cartas
escritas à mão.

"Hoje em dia ninguém mais escreve cartas", ele disse, os olhos marejados num sorriso
CRÔNICA

discreto. Pegou uma delas, amarelada pelo tempo, e me entregou. As palavras,


trêmulas e densas, falavam de saudade, de medo, de esperança - sentimentos que,
mesmo sem eu conhecer os personagens, atravessavam décadas e me alcançavam
como se fossem meus.

Não era a beleza formal das frases que me prendia, mas o que escapava delas: o
peso da ausência, o calor da memória, a vertigem de estar vivo. Ali, entendi que a
comunicação verdadeira não é feita apenas de palavras corretas, mas de emoções
que se insinuam entre as linhas, que vibram nas entrelinhas e moldam o que é dito e
o que permanece indizível.

Em tempos de mensagens instantâneas e conversas descartáveis, aquele gesto de


compartilhar cartas parecia um rito de resgate: a lembrança de que comunicar é
tocar o outro, é arriscar-se a ser compreendido para além do que se enuncia. Não
importa se usamos palavras, olhares, silêncios ou imagens: só há encontro quando
aquilo que sentimos atravessa o que dizemos.

Naquele domingo, entre goles de café frio e risadas tímidas, aprendi que a
linguagem, quando impregnada de emoção, deixa de ser ferramenta para se tornar
ponte. E que, às vezes, é no que não conseguimos dizer que mora o que há de mais
verdadeiro em nós.

*ESTE/A PARTICIPANTE ENTROU EM CONTATO CONOSCO E NOS INFORMOU


QUE O TEXTO FOI PRODUZIDO POR INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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93
Nota: 7,33/10
Autoria: participante 24 (anônimo)

Título: O olhar de desprezo com o próximo

Nunca compreendi de que forma algumas palavras podem caber em um


simples gesto, olhar ou face.

Alguns dias atrás, utilizei o transporte metroviário da Grande São Paulo


para chegar ao trabalho. Entrei no vagão, como de costume, estava cheio de
pessoas, cada uma mergulhada em seus próprios mundos, com fones de
ouvido ou olhos perdidos em telas brilhantes.
CRÔNICA

Em certo momento, uma mulher, de roupas simples e com uma bolsa


comum, entrou no vagão e quebrou o silêncio pesado que ali reinava. Seu
rosto, marcado por preocupação, denunciava a necessidade de uma
intervenção. Ela tentava expressar seu desespero por algum tipo de comida,
por meio de palavras, aparentemente não se alimentava há dias. Solicitava
pequenas quantidades de dinheiro, ou simplesmente um pedaço de pão.

Os passageiros não reagiram verbalmente ao apelo da mulher, alguns


desviaram seus olhos para as janelas sujas, outros continuaram a rolar suas
telas e a maioria demonstrou um olhar de desprezo, insignificância e
julgamento. Eles não diziam uma só palavra para a mulher, mas sim retribuíam
com esse olhar, um olhar que dizia mais que mil palavras, um olhar que
representava a desumanidade da sociedade com o próximo.

É curioso como, às vezes, não são necessárias palavras para uma troca
de informações. A mulher foi retirada do trem, acompanhada pelos violentos
guardas, após um dos passageiros, secretamente, denunciá-la às autoridades.

Ao chegar ao meu destino, não consegui deixar de pensar quantas


vezes, ao longo da nossa curta vida, deixamos de estender a mão para o
próximo por medo, preguiça ou falta de compaixão. Talvez a verdadeira queda
de uma sociedade comece no instante em que deixamos de enxergar o outro
como ser humano.

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94
Nota: 7,17/10
Autoria: Isadora Bailoni Ribeiro
Título: Um tocar de almas mesmo?

Ontem à noite, aconteceu-me algo inesperado: fui a um encontro - nada de novo nesse
mundo da solteirice, né? — e, realmente, por ironia do destino, o inédito ocorreu.

Sabe, o mundo está em uma falha comunicativa... e eu já tinha vivenciado


muitos encontros cujo parceiro era superdivertido, engraçado, mas insuportavelmente
complicado em questão de conversa profundas, de demonstrar emoção, de se
entregar — logo, nunca nenhum foi para a frente... e fui em mais um encontro, com um
homem chamado Edvard, com a mesma expectativa.

Minha primeira frase para ele foi “meu autor favorito leva a sua graça, sabia?”. Ele
CRÔNICA

ficou sem graça e aparentemente animadíssimo, e ele sabia que,


indubitavelmente, estava falando do famigerado Edvard Munch. Retribuiu com “o meu
quadro favorito é ‘O Grito”. (Tá, eu fiquei em choque, pois em pleno século XXI, raras
são as pessoas que gostam de arte.)

Em meio a vinhos e pizza, retornou ao assunto inicial e disse: sabe o que mais
me intriga? Esse quadro, literalmente, mostra-me emoções presas a uma pessoa que
tenta e quer gritar, mas a única coisa que consegue é escutar o silêncio de uma
sociedade que não a escuta.
Pensei muito no que ele havia dito e dei prosseguimento: “Ed, você se sente
assim?” (tentei entrar naquela conversa reprimida em todos os encontros)

— “Nunca me perguntaram isso antes...” Ele respondeu. “Dificilmente querem


saber a real sobre nós, dificilmente querem que nós despertemos emoções
profundas, dificilmente querem se achegar a nós de maneira que toca a alma,
sabe?

Concordando com a cabeça, olhei para baixo e continuei escutando (“ele está
falando de tocar almas mesmo?”).

— Munch sempre me trouxe identificação, estar à procura de alguém é vivenciar um


jogo de detetive, sem aquele suspense de saber quem é o assassino, mas sim quem será
a pessoa da sua vida; é viver na Era Digital tentando se conectar com alguém; é viver
um livro de romance sem saber se o final será trágico ou feliz e é viver a pintura “O
Grito” não tendo ciência se será escutado ou viverá
para sempre em um eterno falar silencioso...

... dias, meses, anos se passaram, e eu me casei com o Ed. Casei-me com ele pois, além
de ser uma pessoa com todas aquelas características que trouxe lá no início,
apresentou-se como alguém comunicativo e “conectavelmente” emotivo.
Movimento Carta Aberta à Fuvest
95
+
Nota: 7,17/10
Autoria: participante 19 (anônimo)
Sem título

Aquela já vinha sendo sua rotina há aproximadamente sete meses. Todas as terças e
quintas feiras ele se encontrava com sua psicóloga. Ela fazia um relatório enigmático
sobre a " percepção de mundo" dele e ia embora. Mas aquela sessão não fora como as
outras. Karen, a terapeuta, parecia mais interessada do que nunca em entender qual era
a importância dada por Gael, seu paciente, à arte da comunicação. Não atoa assim se
iniciou o diálogo entre os dois naquela quinta :

— Bem, meu querido, a reflexão que te proponho hoje pode lhe parecer um pouco mais
profunda, mas você entenderá o objetivo dela em breve. Eu gostaria de começar o
atendimento de hoje como uma pergunta. O que você sentia quando sua mulher gritava
CRÔNICA

contigo ?

— Que pergunta ridícula é essa ? respondeu um pouco alterado o sujeito em reforma —


Sentia ódio como qualquer outro homem que se prese sentiria.

— Mas seria capaz de bater nela? De esquecer toda a essência por trás da união de
vocês dois? De abandonar, por pelo menos um instante, o amor que os uniu para
espancar sua esposa? indagou provocativa e habilmente Karen.

— Estou achando tendenciosa sua pergunta, doutora. Mas a resposta para todas as suas
perguntas é sim. Inclusive, é por isso que estou aqui enclausurado: por tentar corrigir os
maus modos de uma garota. Meus pais me ensinaram que um bom diálogo pressupõe
um exímio controle da emotividade. Caso contrário o ser racional transmuta-se em um
animal selvagem que só faz uso da linguagem para copular ou disputar um território. Era
isso que eu queria ensiná-la Karen. Mas na última vez, as palmadas foram mais fortes do
que deviam ter sido — respondeu Antônio assustadoramente.
— Veja bem querido. A frase daquele jesuíta, Padre Antonio Vieira, se não me engano,
nunca fez sentido." As causas excessivamente intensas produzem efeitos contrários." Da
maneira mais ignorante possível, você quis corrigir uma troca comunicativa através da
violência e acabou por dezimar qualque possibilidade de novas conversas vindouras. A
emoção provocou em ti uma metamorfose do horror — disse Karen com medo da reação.

Dali para frente o homem permaneceu cabisbaixo e em silencio. Karen foi para casa.

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96
Nota: 7/10
Autoria: participante 2 (anônimo)

Título: Como diz quem ainda não diz?

Acordo com a claridade da luz entrando pela janela. Sinto fome, frio, vontade de
chorar. Não sei dizer nada disso, mas meu corpo inteiro sabe. Então eu choro. Meu
rosto se aperta, minhas mãos se fecham em bolinhas pequenas, e o som que sai de mim
é tudo que tenho para dizer: "Me escutem!"

Meu dicionário particular é feito de sentimentos. Sorrio quando vejo o rosto que
CRÔNICA

reconheço, aquele que me dá cheirinhos e fala com uma voz doce. Grito quando a
água do banho está fria demais. Abro os braços quando quero colo, esfrego os olhos
quando quero dormir.
Cada emoção que passa em mim é uma tentativa de conversar com o mundo, mesmo
que eu ainda não tenha aprendido a usar palavras.

Nem sempre funciona. De vez em quando, choro de dor e me oferecem brinquedos.


Grito de fome e pensam que é sono. Meu coração se enche de um desespero
silencioso quando não me entendem. Mas, quando alguém me acolhe no colo certo, no
momento certo, o mundo inteiro parece se ajeitar de novo, como se dissesse: "Eu te
ouvi."

Acho que é assim com todo mundo, mesmo depois que cresce. A gente aprende
palavras difíceis, aprende a construir frases inteiras, mas, no fundo, ainda é a emoção
que comanda o que queremos dizer. As vezes, a raiva atropela o que tentamos
explicar. As vezes, o medo nos deixa mudos. As vezes, um abraço comunica o que
nenhuma frase daria conta.
Eu ainda não falo. Mas comunico tudo o que sinto. E talvez falar, no final das contas,
seja apenas isso: chorar com outras ferramentas.

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97
Nota: 7/10
Autoria: participante 23 (anônimo)

Título: Deus é brasileiro?

Enquanto meche-se no Instagram, podemos assistir a uma gama de conteúdos


produzidos por diferentes perfis, sejam pessoais ou por páginas jornalísticas. O que
chamou a atenção dos internautas nas vésperas da Páscoa de 2024, foi a morte, a
tiros, de um ambulante senegalês, desarmado, por um policial militar no Brás, bairro
comercial da cidade de São Paulo. Na manhã seguinte, uma manifestação
protagonizada por imigrantes senegaleses que trabalham no bairro, ganhou as ruas em
CRÔNICA

um movimento por justiça contra a violência institucionalizada pelo governador de São


Paulo Tarcísio de Freitas. Em um discurso emocionado e forte, uma senegalesa,
entrevistada pelo jornal Brasil de Fato, expõe uma contradição brasileira: "vocês são
abertos aos imigrantes, mas nos matam".

O recrudescimento das políticas de segurança social na cidade de São Paulo nos


fizeram refletir sobre o uso legítimo da força, descrito pelo alemão Max Weber. O
Estado deveria garantir nossa segurança, mas quando a violência pelos agentes de
segurança ultrapassa o limiar entre a segurança e a violência desmedida, tornamo-nos
incertos sobre para quem o Estado direciona esta segurança.

O que se sucedeu a este acontecimento foi a morte do papa Francisco logo após o
domingo de Páscoa no mesmo ano. Um papa que ficou conhecido por suas práticas
humanitárias e enfrentamento à violência contra a minoria. Uma das reportagens
mostradas durante a cobertura do velório do pontífice, foi a de quando o papa brinca,
numa entrevista durante a Jornada Mundial da Juventude, de que "o papa é argentino,
mas Deus é brasileiro". Entretanto, no país do Carnaval, a turba continua a assistir na
mídia a perseguição e morte dos que antes foram protegido por Cristo, Filho de Deus.

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98
Nota: 7/10
Autoria: Victorya Nayla
Nascimento Silva
Título: A comunicação é bela?

Segunda-feira, sala cheia, conversas intermináveis e apenas uma pessoa querendo


atenção, isso resume um ambiente escolar. A professora, com anos de formação
sobre os modos artísticos, tenta despertar o interesse em seus alunos. Logo, começa
de modo polêmico: "As I.A.s podem ser consideradas artistas?" — A sala se choca,
então o silêncio é Finalmente alcançado. — Então, mesmo que ninguém falasse,
todos possuíam o mesmo questionamento: O que faz da expressão uma arte?
CRÔNICA

Sendo assim, um aluno levanta a mão e diz: "Se for bonito, é sim, professora", no
entanto, é rapidamente rebatido:
"Mas, a arte não precisa ser bela, ela deve transparecer uma mensagem, eu acho".
Desse modo, a mestra reflete com a sala que a comunicação do sentimento é
crucial para entender qualquer tipo de obra, um entendimento irracional, formado
por seu contexto de vivências, que possibilita que criemos empatia pelo que é
mostrado.

Nessa hora, ela expõe na tela para os alunos observarem: duas obras,
"Guernica" de Pablo Picasso e uma imagem formada por uma inteligência artificial
de uma paisagem. Desse modo, ela pergunta: "Qual é a mais bonita?", todos
apontam para a segunda. Rapidamente, ela responde:

"Eu entendo, essa obra não tem a melhor aparência, todavia ela demonstra um
contexto de guerra e destruição durante a Guerra Civil Espanhola, podemos ver
pessoas mortas, detalhes de caveira pelo plano." Curiosamente, em uma exposição
onde os apoiadores da guerra estavam, procuraram furiosos pelo autor dela, e
quando perguntaram a Picasso quem havia feito, ele disse: "Vocês fizeram".

Imediatamente, o sinal toca. A aula termina, marcando cada indivíduo que esteve
nela.

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99
Nota: 7/10
Autoria: Vanessa Rodrigues
de Souza

Título: A vida que vale a pena viver

Andando em uma tarde pela cidade, pensava como poderia estar em plena
solidão no momento em que mais precisava de outro alguém. Meus pensamentos
refletiam em Gabriel, meu ser amado que partiu para outra cidade, em busca de
melhores oportunidades de estudo.

Nesse momento, vivia a fase mais triste de minha vida, e gostaria de alguém
com quem pudesse conversar, em especial, se esse alguém fosse meu amado.
Sentei em um banco que avistei em um parque, ali depositei em minha cabeça que a
vida não era somente a morte de minha mãe, mas sim, a capacidade com que os
CRÔNICA

seres humanos conseguem passar por todas as situações, era nisso que eu iria me
apoiar. Era meu aniversário, estar sozinha nessa data comemorativa, não era surpresa,
apenas ressenti-me ao fato de que por um momento, achei que Gabriel voltaria para
me visitar, e até agora, nem uma ligação foi capaz de me proporcionar.

Chegando em casa, me deparo com uma situação que jamais imaginaria, Gabriel
estava ali, em pé em minha sala me esperando com flores e chocolates. Chorando, sai
correndo para seus braços e disse-lhe:

— Como pode brincar com meu coração assim?, em algumas horas atrás estava
angustiada pensando que
você nem teria se lembrado de mim.

— Me desculpe por ser o culpado de te proporcionar essa emoção, mas jamais


perderia a oportunidade de te encontrar nesse momento de comemoração,
mesmo pela tristeza que enfrenta pelo ocorrido com sua mãe.

— Não sei ao certo o que fazer Gabriel, nesse momento me sinto sozinha e
desamparada agora que não tenho ninguém por perto, seria esse o correto a
se viver?

— Compreendo o que você sente, principalmente porque já passei por esse


sentimento, mas tenho boas notícias, venha para São Paulo comigo e
viveremos juntos, não posso te deixar sozinha mais uma vez, a vida não
precisa ser tão dura a esse ponto.

Após isso, pude sentir em meu peito uma sensação de alívio, já não estaria
mais sozinha. Depois, eu e ele partimos e com o decorrer dos dias, entendi que
mesmo nos momentos difíceis a vida vale a pena ser vivida, sem a necessidade de
sermos tão exigentes consigo mesmos, estando ou não sozinhos, devemos
compreender os altos e baixos que todos enfrentam pelo caminho.
Movimento Carta Aberta à Fuvest
100
+
Nota: 6,83/10
Autoria: Mayara Santos Carneiro
Sem título

A garotinha sorriu para mim.

Isso foi o que me fez refletir o porquê eu estava chorando tanto.

Aquilo bateu em mim de uma maneira tão forte e ao mesmo tempo tão sutil que me fez
repensar tantas coisas, inclusive, o quão dura eu estava sendo comigo
mesma.

Chega a ser um pouco engraçado me lembrar disso agora, eu dei abertura para que
algumas pessoas tomassem posse dos meus sentimentos e fizessem o que bem
entendessem com os meus pensamentos, como se aqueles monstros tivessem controle
CRÔNICA

sobre mim, como se eles tivessem razão sobre tudo o que Falaram, mesmo que eu
soubesse que era uma grande mentira.

Eu estava chorando tanto, sendo tão dura com a permissividade que eu tive ao deixar
que me controlassem... Tudo porque uma mentira foi capaz de anular todas as minhas
verdades, tudo porque a necessidade deles de Fingir que são perfeitos me fez acreditar
que a minha imperfeição anularia todas as minhas pequenas qualidades. No entanto,
tudo mudou quando ela sorriu para mim.

Eu estava sentada de frente para uma tela de celular, chorando com aquele vídeo que
me fez lembrar todas as vezes em que me deixei ser controlada pelas minhas emoções,
pelo amor que eu sentia por eles, pelo desprezo que tive que lidar, mas ela sorriu para
mim. Era uma garotinha linda, preta, cabelo crespo, quando eu a vi, com os meus olhos
cheios de lágrimas, eu me senti viva de novo, algo voltou a brilhar em mim, aquele
sorrisinho de garotinha sapeca que poderia bagunçar minha sala inteira, me fez
relembrar que no mundo há tanta vida, são tantos sorrisos lindos ao meu redor, são
tantas pessoas buscando o meu olhar — assim como ela estava — para apenas sorrir
para mim.

Ela tinha uma estatura de, aproximadamente, três anos de idade, e como poderia uma
criança, com tão pouca idade, me salvar com um sorriso?

A mãe dela nem imagina o bem que me fez naquele dia, é como se um sorriso tivesse
sido a minha luz no fim do túnel.

Meus olhos, cheios de lágrimas, sorriram de volta, mas, meu coração, esse sim, tem
pulado de alegria desde então.

Obrigada, pequena.
Movimento Carta Aberta à Fuvest
+
101
Nota: 6,67/10
Autoria: Participante 5 (anônimo)

Sem título

— Agora sou seu pai!


Para entender a fala do senhor acima, é necessário conhecer a história de Maria.
Maria, uma menina sempre alegre e sorridente, carregava em seu peito uma dor que
achava ser incurável, a falta de um pai. Ainda no ventre de sua mãe, Regina, o pai de
Maria, que chamaremos de Unzinho, abandonou as meninas que prometeu tanto amar e
cuidar.
Regina criou Maria sem deixar-lhe faltar nada! Elas não tinham uma vida de luxo,
moravam em um apartamento junto com seu gato Sammy, confidente da menina nos
CRÔNICA

momentos de tristeza. Toda noite Maria rezava pela volta de seu pai, mas, com o tempo,
as esperanças foram diminuindo…
Em um dia, após retornar da escola, Maria não entendeu quando sua mãe apresentou-
lhe um “amigo próximo” - como foi dito por ela -, a garota sabia do que se tratava e
sabia também que as mínimas chances que existiam de seu pai voltar para formarem
uma família feliz, agora era nula.
De começo, Maria não se dava muito bem com Peter - novo namorado de sua mãe.
— Vai embora! Não te quero aqui! - dizia brava.
Peter, por sua vez, nunca teve raiva da moça, pelo contrário, sempre teve um enorme
carinho, que nem ele sabia de onde vinha.
Com o tempo, Peter foi conseguindo conquistar Maria. Levava-a para parques,
piqueniques, sorveterias… Peter casou-se com Regina e passou a morar junto com elas.
Maria finalmente tinha uma figura masculina e estava muito feliz com isso. Mas tinha
medo. A menina, chorando enquanto desabafava com sua mãe, disse que tinha medo
de Peter abandoná-las, assim como fez Unzinho. Maria achava que Peter a amava, mas
não tinha certeza, ele nunca havia dito para ela.
O que elas não esperavam é que Peter estava no cômodo ao lado preparando uma
noite de cinema para a família e, ao escutar a conversa das moças, pôs-se a chorar
também. Peter entrou no quarto e abraçou forte Maria. Ele disse que nunca as
abandonaria e que as amava muito! Peter, pela primeira vez, chamou Maria de “filha”,
ela se emocionou e perguntou se ela era filha dele, e esse completou:
— Agora sou seu pai!

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
102
Nota: 6,67/10
Autoria: Henrique de Matteo
Figueiredo Ferraz

Sem título

Sábado passado, eram umas duas horas da madrugada, estava assistindo aos Playoffs
da NBA, quando recebi uma mensagem de uma amiga minha falando de como foi o
date dela no dia, e como foram as coisas, peguei o celular e fui responder na mesma
hora, como sempre faço.

Peguei e comecei a conversar com ela, o date em si não foi o tópico principal, mas sim
o jeito que as pessoas se amam ou não hoje em dia. Eu, que sempre fui e pretendo
CRÔNICA

sempre ser alguém que ama intensamente, sempre fico surpreso como as pessoas têm
medo do amor e o evitam, na verdade. Mas é impressionante mesmo, fiquei em choque
porque ela sempre fala do menino e como gosta de quando eles saem e fazem as
coisas, mas mesmo assim tem medo de que ele a peça em namoro? Sabe, fico
realmente em choque, porque tipo, se você gosta dele, agarra a oportunidade, cara.
Mas enfim, quem sou eu para dizer isso se nunca tomo a atitude quando eu tenho ela
em minhas mãos, sou mesmo um hipócrita no final das contas, falo, falo e falo, mas não
faço, complicado.

No dia seguinte, fui andar e vi duas pessoas juntas na praça conversando, e me veio
uma indagação: Será que elas se amam? Será que elas acham que se amam? Isso
ainda continua a me chocar porque, no final, somos todos míseros grãos de areia na
história desse mundo gigante. Isso me lembra de um conceito que eu acho muito bonito,
"Sonder", que é o momento que você percebe que todos têm uma vida, que todos têm
indagações aleatórias quando andam, que alguém nesse mundo imenso poderia ter
passado pela mesma situação que eu no mesmo momento, mas vendo, por exemplo, um
jogo de futebol. Chocante, não sei se algum dia vou me acostumar com isso.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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103
Nota: 6,50/10
Autoria: Mônica Carneiro

Título: Divórcio

Quando cheguei em casa ao final da tarde, fui bombardeado com a sensação de vazio
que sempre me chocava ao entrar no que deveria ser um lar. A paredes brancas,
outrora coloridas por meus filhos com suas canetinhas brilhantes, já não exalavam
conforto como antes. Minha esposa, que havia acabado de sair do banho e preparava
um bolo – ambos os fatos denunciados pelo aroma da casa – me olhava com receio e
preocupação, talvez por medo da minha reação à conversa. Eu já sabia do que se
CRÔNICA

tratava.
— Eu quero o divórcio. — disse ela, após um profundo suspiro, aparentemente tomando
coragem.
— Eu sei. — respondi imparcial, afinal, já desconfiava de sua vontade há tempos.
— Essa casa já não é mais um lar, não desde que os meninos se foram. — continuou já
com lágrimas nos olhos. Os meus não deviam estar diferentes.
Nossos filhos haviam falecido há alguns meses e, com isso, minha esposa se tornou um
fantasma da mulher que costumava ser. Eu, infelizmente, não soube lidar com a dor
dela e apoiá-la ao mesmo tempo em que lidava com a minha.
— Sei que não fui um bom marido nesses últimos tempos. — coloco minha maleta em
cima do sofá, aproveitando para limpar as lágrimas que insistiam em cair.
Ela passa alguns segundos em silêncio. Escuto diversas respirações profundas e
suspiros, sinto sua tristeza dentro de mim. Ela, tanto quanto eu, não queria que
tivéssemos chegado a esse ponto.
— Sempre vou amar você querido, cuide-se. — diz ao mesmo tempo em que se afasta e
pega as malas já prontas no corredor, as quais eu ainda não tinha notado.
Não consigo emitir qualquer som, apenas a assisto saindo de casa, observo minha
esposa indo embora para sempre. Já não posso conter as lágrimas.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
104
Nota: 6,34/10
Autoria: participante 3 (anônimo)

Sem título

O apito distante anunciava o trem das seis e vinte, e Lygia subia a escadaria da
estação com o peso do dia enganchado nos ombros. As luzes frias do túnel realçavam o
cansaço de um dia que nem começou, a cada passo era um compasso depressa, mas
também de hesitação, como se cada um soubesse que ali começava um ritual repetido
tantas vezes quanto batidas de um coração condenado.
CRÔNICA

No vagão, o ar carregava o mesmo tom acinzentado do amanhecer, e as paredes


pareciam se fechar sobre ela a cada instante. Cadeiras marcadas pelo tempo davam
suporte à gente que segurava corrimões como se fossem âncoras. Ela observava de um
lado ao outro e, com o olhar atento, percebia que havia quem fechasse os olhos para
recarregar a esperança, quem fitasse o nevoeiro lá fora imaginando destinos distantes,
e quem contasse os minutos até a próxima estação. Lygia, por sua vez, deixou o corpo
relaxar contra a parede gelada e permitiu-se ouvir o bater compassado das rodas
sobre os trilhos de som antigo, quase metáforas de um coração que insiste em pulsar.

Quando o trem freou em luz, o mundo lá fora parecia menos cinza, uma flor solitária
rompia o concreto da plataforma, onde tão perto uma criança corria atrás do irmão
alegremente, ressoando sobre as paredes sem vida da estação. Lygia pisou na calçada
molhada, guardou a passagem no bolso e seguiu pela rua, levando consigo a certeza
de que, mesmo em rotina pesada, cabem pequenas fugas de beleza como aquela Flor
que, apesar de tudo, decidiu nascer onde ninguém esperava.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
105
Nota: 6,34/10
Autoria: Sofia Bassan

Título: Histórias e sentimentos

Era uma manhã de domingo, um dia de sol e céu azul. Estávamos a caminho da casa da
vovó, chegando lá, toda a família estava reunida, a mesa arrumada, a lasanha no forno
e todos estavam conversando e gargalhando. Depois de um tempo, a vovó serviu a
comida e todos continuavam com seus assuntos, futebol, filme, trabalho, política. E, no
meio de todo aquele barulho, vovó, com seu jeitinho mais tímido, estava tentando
contar uma história de seu passado, mas ninguém percebeu, ninguém menos que eu.
CRÔNICA

Vi seus olhos se enchendo de emoção, como quem carrega muitos ensinamentos,


histórias e conhecimento. Fui logo me aproximando, largando o garfo, o celular e a
fome. “Era aniversário do seu bisavô...”, começou, com a voz trêmula e cheia de
saudade. Contava dos arranjos simples sobre a mesa, de seu irmão buscando o bolo e
da música que tocava no rádio.

A cada palavra que saia, parecia que voltava no tempo, não era só o que ela dizia, mas
o que transbordava em seu sorriso, em seus olhos cheios de lágrimas e na pausa entre
cada lembrança. A emoção era tanta que em um momento ficou um silêncio, só eu e
ela, e com um leve toque em sua mão, eu disse baixinho: “Conta mais vó”.

Foi aí que notei que a comunicação profunda que tivemos não aconteceu por meio de
suas palavras, mas sim por meio das suas emoções, mesmo quando ficamos em
completo silêncio. Esse momento disse muito mais do que palavras.

E no fim, o almoço esfriou, meus familiares continuaram com seus assuntos superficiais e
nem ligaram para o que vovó me contará. Mas para mim, aquele momento foi mais que
mágico. Agora, guardo para mim cada palavra, cada pausa, cada sentimento, cada
brilho no olho. Sabendo que, no fundo, são essas pequenas partilhas que nos mantêm
conectados com quem amamos.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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106
Nota: 6,17 /10
Autoria: participante 15 (anônimo)

Título: Ser Humana

Certa noite quente de janeiro, vejo o discurso de uma atriz global na premiação
do Globo de Ouro. Ela, emocionada, diz sobre como a arte pode perdurar pela vida,
até em momentos difíceis. Eu, presa ao ceticismo das coisas, acreditando fielmente na
versão pessimista da vida, do 8 ou 80, do preto no branco, me vi presa à reflexão de
quantas vezes a arte fez parte da minha vida.

Lembrei-me da infância, diante às gargalhadas com os episódios de “Sítio do


Pica-Pau Amarelo” e as trapalhadas da Emília, a boneca que fala, das músicas do
CRÔNICA

“Palavra Cantada” e de admirar minha mãe contando histórias antes de eu dormir.

Na adolescência, crente de que as músicas de Gal Costa e Gilberto Gil me


salvariam das crises existenciais de ser uma jovem adulta na descoberta de mim mesma
e do mundo, a arte novamente me surpreendeu com a sua flexibilidade em abraçar
meus pensamentos e tornar a vida menos pacata.

Na vida adulta, as novelas que me distraíram da conturbada vida que vivi, das
cansativas horas de trabalho e da dupla jornada de uma mulher no “auge” de sua vida,
seja lá o que isso significa.

E hoje, aos 70 anos, pude sair do transe memorialista e, finalmente pude


entender as palavras da atriz. Foi a partir das emoções dela, de um discurso simples,
mas poderoso, que eu compreendi a minha ingenuidade perante a arte. Essa, tão sútil e
persuasiva, sempre esteve ao meu lado, me salvando da verdade de um mundo caótico
e confuso e, muitas vezes, de mim mesma, me lembrando da minha melhor
característica: a de ser humana.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
107
Nota: 6,17 /10
Autoria: participante 17 (anônimo)

Sem título

Foi em janeiro, pouco mais de dois anos atrás. Estava com minha família na
praia, é a nossa viagem mais aguardada durante o ano todo e a celebramos
como uma conquista. Para alguns pode ser algo corriqueiro, mas para nós ela
só acontece por causa de muito esforço e muita luta diária dos meus pais
(acho importante mencionar isso).

Foi uma semana incrível, a praia estava muito boa e estávamos muito felizes
em aproveitar esse tempo juntos. Em uma das noites, quando estávamos no
CRÔNICA

hotel, meu irmão chegou para mim e para nossos pais recitando um poema
que havia feito logo depois de ler um texto em certa revista que falava sobre
“cadeiras vazias”. A autora do texto dizia, resumidamente, sobre a forma que
as pessoas que amamos e partem para o outro plano espiritual afetam os
lugares que elas faziam parte de nossas vidas. E meu irmão construiu um
poema dentro dessa temática, mas com base no que ele tinha vivido e
experienciado até aquele momento.

Ele citou de forma subjetiva e cheia de sentimento, duas pessoas de extrema


importância que tínhamos perdido em um curto período de tempo: nossos
avós. O poema dele me impactou muito, de uma maneira que ele nem
imagina. As palavras me despertaram saudade, tristeza, alegria e em meio a
tudo isso também senti muito orgulho do que ele tinha feito e mal sabia eu
que ele faria muitos outros poemas e poesias como esse. Mal sabia eu a
forma com que as palavras e as emoções passariam a fazer parte da minha
vida e enxergaria isso de uma forma muito diferente.

Passei a dar muito mais importância a algo que deixava de lado e achava de
certa forma banal, pois agora sei como as palavras e os sentimentos
possuem uma imensa importância em nossas vidas e sem elas eu não seria a
pessoa que sou hoje.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
108
Nota: 5,5 /10
Autoria: participante 21 (anônimo)

Sem título

Era por volta de 18h de uma segunda-feira. Cheguei no meu prédio cansado, um dia
exaustivo de muito trabalho. Só queria tomar um banho e dormir. Ao chegar na entrada
do prédio, me deparei com um senhorzinho, me parecia ter por volta de 75 anos, a pele
enrugada, os cabelos brancos como fios de algodão doce. Estava cabisbaixo,
aparência triste e cansada. Como eu estava cansado, só queria chegar o mais rápido
possível em casa, mas não podia ignorar aquele senhor tão abatido. Sentei ao seu
lado, puxei assunto sobre o tempo, as flores, essas banalidades que tentam disfarçar o
que realmente importa. Ele sorriu, mas o sorriso não alcançava os olhos. Havia algo
CRÔNICA

preso ali, entre a garganta e o peito, querendo sair e não encontrando palavra certa.
Ficamos em silêncio. Às vezes, o silêncio fala mais do que qualquer frase bem
elaborada. Sem pensar, toquei sua mão e olhei nos fundos de seus olhos, que falavam
tanto, mas sua boca não dizia nada. Não era preciso perguntar o que doía. Naquele
momento, o que importava era o que não se dizia, mas se sentia: a dor da ausência, a
solidão dos dias. O abraço que veio em seguida não pediu licença, não explicou
razões. Apenas foi. E naquele abraço, trocamos tudo que mil palavras não
conseguiriam expressar. Subi para meu apartamento, tomei um banho e refleti.
Conseguimos dizer tudo, sem dizer nada. As emoções falaram por si só. Peguei um café
e não consegui dormir, fiquei pensando naquele momento. Às 3 horas da manhã e as
"palavras" daquele senhor ainda ecoavam na minha mente.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
109
Nota: 5,34/10
Autoria: participante 13 (anônimo)

Sem título

Largadas as bolsas no chão da sala, finalmente, podia sentir o alívio de descer


daqueles saltos que tanto machucavam os meus dedos — UFF, era esse o som que eu
fazia, toda vez que sentia esse intenso prazer depois de um exaustivo dia de trabalho.

E assim começava a hora mais esperada, podia largar o meu corpo, esparramá-lo pelo
sofá e me vingar de um dia sem tempo para mim: Casa- ônibus- trem- trabalho-ônibus-
trem- faculdade-ônibus-trem- casa. Eu queria muito ter entrado na USP, mas não
consegui passar na FUVEST, aquela prova é muito difícil. Minha mãe disse que eu
CRÔNICA

precisaria trabalhar, se quisesse pagar a minha própria faculdade, falou que eu era
muito "burra" por não ter passado. Na escola, não tive nenhuma aula sobre as
características dos mamíferos, mas apareceram duas questões sobre isso na prova, eu
me lembro, tinha um animal marrom. Hmm... Que delícia, como comer bolacha
recheada é tão bom. Ah, eu mereço, um docinho, eu mereço. Não quero escutar aquele
jornalista do programa que a minha avó gosta de assistir e que fala sobre morte e
assalto, não, isso não quero. Vou assistir a aquele canal de educação, que a professora
Cida de Biologia recomendou, sobre isso ela falou naquele dia que ela deu aula, o
canal de educação, será que sou educada?. Quantos jovens, dessa vez os professores
não trouxeram nenhuma questão de vestibular, só vejo jovens. O que eles estão
fazendo? São tantos. Não consigo escutar a TV. Aquela ali parece a Júlia, a menina
que senta na minha frente, muito estudiosa, parece uma calculadora de tão boa que é
em Matemática.

O controle não está funcionando, não consigo aumentar o som. Aproximo-me do


televisor e escuto a palavra popular, e mais uma outra, cursinho. Cursinho popular o
"prof" Caio falou, ele é de Geografia, muito bom, fala muito do Milton Santos, aquele
geógrafo que se parece com meu avô. Consegui aumentar o volume. Agora ouço
melhor, esse tal de cursinho popular, vou aumentar mais um pouco, foi desenvolvido
para preparar jovens de baixa renda para o vestibular. Será que é muito caro? não!
Caio falou que não, que bom, é de graça, que bom, que bom. Será que tem um perto
da minha casa? O Caio é formado pela USP, não é? Como será que ele estudou?
Popular, popular, ele fez cursinho popular, acabou de falar.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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110
Nota: 4,84/10
Autoria: Catarina Pinheiro
Gonçalves
Título: Se comunicar é causar emoções

Essa semana, vi no Instagram uma bela cafeteria, que ainda era próxima de onde moro.
No mesmo instante, mandei uma mensagem para o meu namorado via Whatsapp
dizendo que gostaria muito de ir ao local, mas, sabendo de sua rotina cansativa com o
trabalho, especifiquei que tudo bem irmos em uma data posterior.

Bom, o que aconteceu na conversa foi algo engraçado e interessante.


Ao dizer: "Eu sei que você deve estar cansado, amor, podemos ir outro dia", minha
CRÔNICA

intenção foi claramente, ao menos para mim, a empatia e o acolhimento. Pois bem, a
resposta que obtive foi: "Você sabe que tenho que acordar muito cedo, não fico
cansado por opção", e nesse momento eu percebi, como uma pequena frase, pode ser
entendida de diversas maneiras. Ele entendeu a minha fala como descontentamento.

Dali em diante eu obviamente especifiquei as minhas boas intenções e ficou tudo bem,
mas é interessante pensar a maneira como a emoção transmitida em nossas falas não é
um acessório, ela é uma ferramenta e obrigatória ainda por cima. Se utilizamos
entonações erroneamente, as consequências vão refletir no plano material, e
possivelmente, de maneira grave. Bastariam duas ou três mensagens com conotações
ruins para que eu ficasse solteira.

Isso pode trazer a reflexão de como a efetividade da comunicação se baseia, boa


parte, na emoção transmitida e o quanto isso é subestimado. Se alguém me
perguntasse o que é escrever bem, eu diria algo sobre seguir a gramática
corretamente, utilizar uma linguagem clara, objetiva, e me esqueceria completamente
sobre os sentimentos do interlocutor.

A mensagem tem emissor, meio, e receptor. O emissor e receptor podem ter vivências e
contextos completamente diferentes, e nem sempre negar a emoção é o caminho da
efetividade. Ser humano é sentir, e em um mundo em que apenas o objetivo e o
lucrativo é realmente valorizado, que possamos nos emocionar mais.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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111
Nota: 0/10
Autoria: participante 14 (anônimo)

Sem título

É interessante como a obra o grito apresenta uma imagem impactante, onde é


representada um homem com suas Faces distorcidas e suas mãos ao queixo e um
ambiente de fundo que gera sentimentos como estranheza e curiosidade, quando
param para observá-la, essa pintura é marcada pelo olhar gritante e das expressões do
homem que está representado na imagem, além claro que as técnicas artísticas
articulam para que haja uma visão e um efeito a respeito da pintura. O quadro,
portanto, é um exemplo de como as expressões interferem no processo de
CRÔNICA

comunicação, além de introduzir curiosidades ao observador da arte.

No entanto, os filmes são um dos maiores exemplos de expressões. Como no Filme


"Ainda estou aqui"interpretado pela atriz Fernanda Torres, que interpreta Eunice Paiva
no filme, é notável a angústia e tristeza no olhar da personagem, e apenas com os
olhos, ela demonstra seus sentimentos. E isso Foi um dos maiores motivos para que a
Fernanda concorresse ao Oscar, uma das poucas brasileiras a conseguir chegar em
uma categoria tão importante, e será lembrada para sempre na história por sua
excelente carreira como atriz. Entretanto, esse é o papel do ator, se expressarem, e
mostrar para o público os sentimentos e emoções dentro dos filmes.

Portanto, isso nos faz refletir sobre a importância da comunicação na vida das pessoas,
tanto conversas como das demonstrações das emocionais, pois sem a cultura da
comunicação, essa essência se perde, e a vida se torna mais simples.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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112
Nota: 0/10
Autoria: participante 20 (anônimo)

Título: No meu reino

Em um mundo contemporâneo, o neoliberalismo é rei e dita ordens a sua plebe. Seu


reinado é marcado pela tirania na busca incessante por resultados e pela promessa de
que o sucesso é apenas uma questão de esforço individual. Nesse império de
produtividade, as emoções são tratadas como elementos dispensáveis, até mesmo
obstáculos a serem sempre superados; qualquer vulnerabilidade é visto como fraqueza.
CRÔNICA

O exército da razão é convocado para guerra comunicativa que enfrenta a lógica, as


armas são pesadas demais. Quem domina a palavra sempre se sobressai, o status quo
de vencedor. Mas aí do vencido, pobre coitado! Ele é silenciado, ignorado,
deslegitimado, como se sua falha na batalha fosse uma falha também no ser.

Nessa corte, a frieza é o escudo, e a clareza das palavras é a espada afiada.


Nada pode ser deixado ao acaso. Mas, a raiva é combustível, grito de guerra, o medo
se traduz em hesitação, e a alegria em uma risada desconfortável.

O neoliberalismo tenta apagar o que tornam seus súditos humanos a qualquer custo,
tornando-os máquinas de guerra, tendo sempre que produzir mais e mais.

Portanto, talvez o verdadeiro vencedor nesta batalha não seja aquele que consiga
controlar suas palavras com precisão militar, mas aquele que se permite, de vez em
quando, perder o controle, deixar a emoção falar mais alto. Porque, ao contrário do
que o neoliberalismo faz-se acreditar, a vulnerabilidade não é fraqueza; ela é essência
do que significa ser humano.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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113
COMENTÁRIO SOBRE AS
CRÔNICAS ZERADAS

Ambas as crônicas que recebemos com nota zero têm problemas relacionados às primeiras
exigências da grade de correção. Vale relembrar o que, de acordo com a grade divulgada pela
banca da Fuvest, leva à nota zero:

“Não desenvolvimento do tema proposto, não atendimento ao tipo de texto, cópia integral
dos textos da coletânea, qualquer forma de identificação do(a) candidato(a).”

No texto do Participante 14, notamos a falta de uma estruturação em torno do tipo de texto. A
crônica é um gênero textual que se apoia em fatos cotidianos para desenvolver reflexões leves,
críticas ou bem-humoradas. Em geral, tem uma estrutura simples, com começo, meio e fim, mas
sem o compromisso de narrar grandes acontecimentos — muitas vezes, parte de uma pequena
cena, um detalhe observado na rua ou uma situação corriqueira. Embora o autor (Participante 14)
tenha tentado fugir um pouco da dissertação clássica, não é a crônica que ele encontra. Talvez
uma resenha sobre a obra descrevesse melhor esse movimento do primeiro parágrafo.

Em seguida, porém, há um desvio para o cinema, motivado, provavelmente, por uma leitura
insuficiente da coletânea. É comum que a crônica tenha esse tom intimista, com narrador em
primeira pessoa, e que mescle elementos narrativos e dissertativos. Não é neste ponto que o texto
peca. O que o faz descaracterizar o gênero é realmente não haver um planejamento reflexivo e o
movimento não ser motivado por um evento cotidiano e sim por um dos textos da coletânea.

No caso da produção do Participante 20, há erros semelhantes. Ao também ignorar um


planejamento que o aproximasse da crônica, o gênero do qual ele mais se aproxima é o conto de
fadas. Os contos de fadas são narrativas ficcionais que envolvem elementos mágicos e
personagens como príncipes, bruxas, fadas e heróis. Esses contos geralmente exploram o embate
entre forças opostas — bem e mal, coragem e medo, justiça e injustiça — e muitas vezes
apresentam provas a serem superadas; nesse caso, o neoliberalismo. Além disso, não é possível
enxergar, na superfície deste texto, as reflexões motivadas pela coletânea.

Dessa forma, pelo distanciamento em relação ao que foi exigido do tipo narrativo e do gênero
crônica, os textos do Participante 14 e do Participante 20 não podem ser classificados para uma
correção mais aprofundada, que supere a barreira da nota zero.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
114
Professora
Gabriela
Carvalho

Sou a Gabi e trabalho com redação de vestibular há 18 anos (com


ENEM, Vunesps, Fuvest, ITA, FGV, Unicamp e outras provas
assemelhadas, principalmente do eixo paulista). Sou formada em
Letras pela USP, fiz um tempo de Ciências Sociais também lá, fiz meu
mestrado na Cásper Líbero, estudei no Centro de Estudos Latino-
Americanos sobre Cultura e Comunicação da USP e fui professora e
coordenadora de Redação no Poliedro por um total de 12 anos (saí no
fim de 2019). Tenho também meu curso próprio — o Ponto Final — com o
prof. Luiz Coppi (hoje professor da Unicamp) desde 2010. Além disso,
sou coautora do livro de Redação do Poliedro utilizado entre 2018 e
2023 no EM e no pré-vestibular, já gravei videoaulas para o Guia do
Estudante e para materiais da FTD, uma aula minha já foi gravada para
o Jornal Nacional, tenho um vídeo que viralizou no Tiktok em 2022, dei
também várias entrevistas sobre vestibular e posso ter aparecido em
alguma rede social sua devido ao algoritmo. Tenho duas notas
máximas – minhas mesmo – na redação da Fuvest (2015 e 2022) e
vários ex-alunos também já tiveram esse resultado.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


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115
Professora
Nayara
Capelo

Oiê!
Sou a Nay (@beletriste), professora de Redação e Literatura
desde 2018. Sou mestranda em Teoria Literária e Literatura
Comparada pela FFLCH-USP e bacharela em Letras -
Português pela mesma instituição.
Realizei dois intercâmbios em Portugal: na graduação, passei
seis meses no curso de Línguas, Literaturas e Culturas; no
mestrado, fiquei um ano nas Ciências da Cultura.
Faço parte da Frente de Redação do Cursinho Popular
Ubuntu, na zona sul da cidade de São Paulo, corrigindo textos,
ministrando reuniões de formação pedagógica, elaborando
propostas ou atividades de produção textual e ministrando
aulas.
Já trabalhei em grandes colégios e pré-vestibulares da
Grande São Paulo, tendo a honra de conhecer estudantes
incríveis nesse processo e participar de suas lindas jornadas.
Desde 2024, tenho corrigido textos para alunes da Gabi,
aprovados em Medicina na USP, Unifesp, Unesp, Famema e
outras instituições.

Movimento Carta Aberta à Fuvest


+
116
MOVIMENTO
CARTA ABERTA À
FUVEST

Qual será o próximo passo do Movimento? Nos perguntaram isso depois que a Fuvest
respondeu à nossa Carta Aberta. A verdade é que não tínhamos uma resposta definida
para esse questionamento, porém, uma expectativa nos guiava: continuar contribuindo
para tornar mais clara e acessível a compreensão do vestibular. Esta cartilha nasce
justamente desse desejo: de transformar inquietações coletivas em caminhos concretos
para quem se prepara para a prova.

Não somos uma estrutura tradicional de movimento, mas somos, acima de tudo, um grupo
de estudantes que encontrou no diálogo e na ação comum uma maneira de reivindicar
mais transparência e clareza no processo seletivo. A realização deste material não teria
sido possível sem todas(os) que nos confiaram suas redações e responderam ao nosso
questionário com cuidado e atenção. A todo estudante que participou, o nosso mais
sincero agradecimento. Esta cartilha existe graças a quem entende que a educação se
fortalece quando feita coletivamente.

Não podíamos deixar de agradecer especialmente às professoras Gabriela Carvalho


(@oegovirtualdagab) e Nayara Capelo (@beletriste), que exerceram um papel central
para tornar esta cartilha uma ferramenta crítica e esclarecedora.
A professora Gabi Carvalho escreveu os comentários gerais sobre as dissertações e
crônicas, além de assinar o texto “Como usar esta cartilha para estudar?” e comentar
produções com diferentes desempenhos — de textos zerados a notas altas. Suas análises
revelam caminhos para interpretar criteriosamente as avaliações da banca, compreender
o que está em jogo em cada proposta e transformar erros e acertos em aprendizado.
A professora Nayara, por sua vez, foi responsável pela leitura cuidadosa e detalhada da
coletânea do Simulado, oferecendo chaves de leitura fundamentais para compreender
as bases interpretativas que sustentaram a proposta. Sem elas, esta cartilha
simplesmente não existiria como é.

Por fim, esperamos que este material não seja só um guia de estudo, mas uma
provocação e um convite. Que as inquietações que deram origem a esta iniciativa
continuem a abrir espaço para uma educação mais justa e transformadora para todos.

Movimento Carta Aberta à Fuvest (cartaabertafuvest).

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