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Wa0009.

O documento é uma tradução de um romance MFM que aborda temas sombrios, como rituais de estupro e violência em um ambiente universitário. A protagonista, Gretta, se infiltra em uma sociedade secreta para expor os responsáveis por esses crimes, enquanto lida com dilemas morais e a linha tênue entre o bem e o mal. A narrativa contém elementos de suspense e violência, refletindo a luta da personagem por justiça e sobrevivência.

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robssilva18
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Tradução: Ari

Revisão: Rih
Leitura Final: Alexa
Formatação: Skye e Ari
Aviso
Essa tradução é realizada pelo grupo Serpents Wildbooks. Nosso grupo não possui
fins lucrativos, este é um trabalho voluntário e não remunerado.

Traduzimos livros com o objetivo de acessibilizar a leitura para aqueles que não
sabem ler em inglês, sendo esses livros sem previsão de publicação no Brasil.

Nós não aceitamos doações de nenhum tipo e proibimos que nossas traduções
sejam vendidas!

Também deixamos expresso aqui que, caso algum dos livros lançados sejam
comprados por editoras no Brasil, o livro em questão será retirado do nosso acervo.

Não faça distribuição dos livros em grupos abertos, blogs e/ou Tik Tok. Estejam
cientes que o download é exclusivo para uso pessoal e privado!
Índice
Prólogo

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Quatorze

Capítulo Quinze

Capítulo Dezesseis

Capítulo Dezessete

Capítulo Dezoito

Capítulo Dezenove

Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um

Capítulo Vinte e Dois

Capítulo Vinte e Três

Capítulo Vinte e Quatro

Capítulo Vinte e Cinco

Capítulo Vinte e Seis

Capítulo Vinte e Sete

Capítulo Vinte e Oito

Capítulo Vinte e Nove

Capítulo Trinta

Capítulo trinta e um

Capítulo Trinta e Dois

Capítulo Trinta e Três

Capítulo Trinta e Quatro

Capítulo Trinta e Cinco

Capítulo Trinta e Seis

Capítulo Trinta e Sete

Capítulo Trinta e Oito

Capítulo Trinta e Nove

Capítulo Quarenta

Capítulo Quarenta e Um

Capítulo Quarenta e Dois


Já chega.

Meu nome é Gretta Nelson e não sou ninguém especial; apenas uma garota que está
cansada de andar com medo.

Então, em minha fúria, me ofereci para rastejar pelas fendas escuras da sociedade secreta
da universidade para identificar o líder dos rituais de estupro no campus.

Não sou boba; não entrei sozinha. Os cúmplices, Ollie e Darryn, atletas juniores de futebol e
atuais membros do Snake & Chalice, prometeram me apoiar o tempo todo e me resgatar
quando eu demonstrasse meu sofrimento.

Com o passar do tempo, me vejo caindo em um círculo escuro de muitas camadas, com
muitos jogadores. Para minha própria sanidade e sobrevivência, preciso manter a cabeça
fora d'água e evitar ser consumida por este mundo sedutor.

Mas, à medida que a linha entre quem é bom e quem é mau se torna tênue, começo a
questionar quem está ajudando e quem está atrapalhando o processo.

Não vou desistir sem lutar.

A responsabilidade é minha.

Nota da autora: Brutal Prince é um romance MFM e contém possíveis gatilhos e


elementos sombrios, incluindo assassinato, agressão, cenas de sexo explícito, não-con,
uso de drogas e linguagem grosseira.
Cada um de nós é o seu próprio demônio, e fazemos deste mundo o nosso inferno.

—Oscar Wilde
Prólogo
Senti um gosto metálico na língua, o distinto sabor de sangue. Eu fugi quando
ele investiu como um maldito touro, taco de baseball na mão, acertando Cameron primeiro
— já que ele estava ajoelhado sobre a namorada, aplicando o castigo merecido. Era
impossível para um homem lutar contra quatro, mas ele estava tão enraivecido que eu
sabia: nenhum de nós sairia dali vivo, a menos que corrêssemos. Então, me escondi na
escuridão, atrás do prédio de matemática, e esperei até ele ir embora antes de reaparecer.

Quando me aproximei do local, ouvi estrondos por perto e espiei atrás do


laboratório de ciências. Harrington estava destruindo o carro do Cam. Era o carro que
escolhemos para levar o “sacrifício”, o mesmo em que ela ficou desacordada. Cam
definitivamente não é a faca mais afiada da gaveta, e com certeza recebeu o que merecia por
ser tão descuidado.

Estava escuro demais para avaliar os danos em Cameron e Shawn, mas qualquer
idiota perceberia, pelo cheiro de sangue e pela falta de movimento, que estavam mortos ou
inconscientes.

Decidi, naquele momento, deixar os corpos lá para algum calouro desavisado


tropeçar neles. Tinha certeza de que nenhum resíduo de DNA — sangue ou saliva —
escapara da minha balaclava. Mesmo se tivesse, eu tinha um álibi à prova de balas para
provar que não estava lá.

É raro eu participar de um trabalho diretamente; meu papel é melhor nos


bastidores, lá no alto do meu pedestal. Mas fui informado sobre as táticas de intimidação de
Cody Harrington, que haviam escalado para o bullying contra um membro valioso da
sociedade. Alguém precisava ser cortado do galho da arrogância em que decidiu se sentar.

Vestido da cabeça aos pés como um membro comum, meus cúmplices não faziam
ideia de quem eu era. Vanderbilt os informou que eu era só mais um do “Nível Porão”, um
estudante que precisava de um serviço para limpar uma dívida. Essa era a história que
vendi.

Tenho que admitir: quando a adrenalina bateu, senti uma euforia viciante ao
sequestrarmos a garota. Ela era lutadora, mas Shawn acabou com seus esperneios
nocauteando-a. Foi quando a examinei de perto. Sem dúvida, era bonita — talvez não meu
tipo. Alta e atlética demais para meu gosto, mas ainda planejava ter a minha vez montando
nela. Infelizmente, Harrington estragou tudo ao chegar cedo demais. Os dois jogadores
agressivos foram primeiro, enquanto eu esperava pacientemente de vigia. Se ao menos
soubessem quem fazia parte do time. Nada como um disfarce para enganar os idiotas do
mundo.

O esmagamento do carro do Cam finalmente terminou, e ouvi Harrington ir


embora. Honestamente, um desperdício de energia, já que Cameron está morto demais para
se importar. Morto demais — oh, o humor nunca acaba, nem numa noite como esta.

Imagino que o brutamontes do Harrington não queira envolver a polícia, o que é


ótimo para mim, porque isso não é assunto pra eles. Nossa lei está acima do mundano.
Alguns precisam ser lembrados disso.

Ainda com adrenalina correndo nas veias, corri — ou melhor, voei de volta para o
meu carro, meus pés mal tocando o chão. Havia vários estudantes vagando no escuro, a
maioria em grupos. Me surpreendeu quantos vi andando sozinhos em tempos tão
perigosos.

Piada pronta, considerando que eu sou a causa do medo e angústia deles. Oh, o
poder...

Estacionei meu carro fora do campus, na rua ao lado do campo esportivo do


Northside. As linhas brancas do diamante de beisebol brilhavam sob o luar fraco,
iluminando meu caminho.

Quando me aproximei do carro, detectei uma figura parada perto dele. Arranquei a
balaclava, me recompus e caminhei casualmente até o lado do motorista.

Alguém chamou meu nome. Ignorei, destranquei o carro e entrei.

“Achei que esse era seu carro”, ouvi ela dizer enquanto fechava a porta.

Ela bateu na janela: “Não ouviu eu chamar seu nome?”

"Desculpe..." Tossi. "Estou com pressa de chegar em algum lugar." Quando virei para
falar com ela, a luz do poste iluminou meu rosto.

"Meu Deus, o que aconteceu com seu rosto?" Ela esticou a mão para tocar minha
face, mas só bateu no vidro. A idiota esqueceu que havia uma janela entre nós. Ela é o
exemplo perfeito de por que muita gente não deveria procriar. O cérebro dela é do tamanho
de uma ervilha, mas pelo menos é boa de cama.

Hmmm...
"Entra no carro", ordenei. Seu título é Quartus. Não é seu nome de nascença, claro
— é o título que dei a ela, e o nome que usa quando estamos juntos. Quartus, latim para
"quarto", mas ela acha que significa "bonita", porque não é exatamente inteligente. Ela e
todas as outras me chamam de Dominus, latim para "Senhor". É o meu jogo, e ela é só uma
jogadora burra.

Ela sorriu, e eu me contraí levemente quando ela entrou ao meu lado. Aquele
perfume intoxicante — que proibi ela de usar na minha presença — atacou minha garganta
e olhos. "Quartus, o que eu falei sobre esse fedor repugnante e vil que você usa?"

"Desculpe, mas meu namorado adora, e eu estava com ele agora."

Abri todas as janelas para deixar o vento fresco diluir o cheiro. "Sério? Você cheira
a uma puta barata. O cara obviamente levou tantos golpes na cabeça que perdeu o olfato."

"Dom—"

"—Cala a boca. Não quero ouvir sua voz. Está arranhando meus nervos."

"Dom, você quebrou o nariz?"

"Quartus, o que eu acabei de dizer? Boca. Calada." Ela colocou as mãos entre as
pernas e mordeu o lábio inferior enquanto eu puxava meu moletom para baixo. Não é meu
hábito usar moletom fora do apartamento ou da academia, mas nesta noite eu era um ator
no espetáculo do Westside. E, cara, como adorei aquele show. Será que algum estudante
bêbado já tropeçou nos corpos? A ideia me deixou duro.

Quartus sabia o que fazer e inclinou-se, colocando os lábios em volta do meu pau.
"Espera", disse, me esticando para abrir o porta-luvas. "Quero adicionar diversão."

Ela gemeu, desobedientemente, tirando a boca de mim. "É difícil de chupar assim."

“Tô com cara de que me importo?”

“Não sei por que perco tempo com você às vezes.”

“Você é livre pra ir embora.” Um grupo de estudantes barulhentos, provavelmente


bêbados de cerveja barata e cheirando tinta, vagava pelo campo de beisebol discutindo
animadamente se Bob Esponja era gay ou hetero. Óbvio que ele era gay. Gay pra caralho, na
verdade.

“Não, vou ficar,” ela disse naquela voz fofa que às vezes me excitava, e outras era
como enfiar lâminas nos meus ouvidos.
“Ainda tá aqui?”

“Hm, bem, obviamente.”

“E sua boca não está no meu pau.”

“Você pode não puxar tão forte com o laço?”

“Claro,” menti. Peguei a corda de seda no porta-luvas e a coloquei sobre sua cabeça
pálida, deslizando até seu pescoço longo e elegante. Imediatamente pensei no sacrifício,
Luca Hanna, e em como eu teria adorado apertar o laço no pescoço dela enquanto a
empalava. Ela teve sorte de os jogadores a pegarem primeiro. Teve ainda mais sorte de o
outro vigia estar ocupado incentivando os jogadores a não notarem o capanga dos
Harrington se aproximando de nós.

Enquanto Quartus fazia seu trabalho como a puta não remunerada que era, eu
apertava o laço devagar em seu pescoço. Quando ela soltou um leve engasgo e levantou a
mão para sinalizar que eu tinha chegado no limite dela, ignorei e apertei ainda mais. Ela
tirou a boca do meu pau novamente em protesto, e, irritado, puxei o laço com mais força.

“Assim tá bom, Quartus,” encorajei-a, enquanto começava a esfregar meu pau, já


que ela estava ocupada demais sufocando para chupar.

Na luta para respirar, ela tentou afastar minha mão da seda em seu pescoço.

“Olha só, Quartus, é um caso simples de lugar errado, hora errada pra você. Eu não
devia estar aqui, e como você não só me viu como ainda se aproximou do meu carro, sinto
dizer que tenho que fazer o que é certo e…” Não dava pra ver a cor do seu rosto no escuro,
mas imaginei um tom azul-acinzentado. Puxei o laço com ainda mais força e ouvi a doce e
querida Quartus dar seu último suspiro, bem na hora que eu gozei na minha mão.

Depois de checar seu pulso e pressionar meu ouvido contra seu peito em busca de
sinais de respiração, coloquei o carro em marcha e saí para encontrar um lugar para
deixá-la descansar.

Assim que encontrei um cantinho agradável sob arbustos perto da estrada


principal que levava ao norte, em direção ao Lago Superior, tirei suas roupas e sapatos para
dificultar a identificação, com a intenção de queimar todos os seus pertences na margem do
lago. Esta noite estava se mostrando mais desafiadora do que eu esperava. Depois de me
livrar de Quartus, dirigi por mais uma hora até o Lago Superior e virei numa estrada de
terra que cortava uma floresta alpina até a beira do lago. Já tinha usado essa estrada muitas
vezes antes, por vários motivos, a maioria deles sórdidos.
No porta-malas do meu carro havia um maçarico, corda, um galão pequeno de
gasolina, uma pá e uma variedade de outros equipamentos úteis para sair de uma
enrascada… ou para colocar alguém numa. Ha! Esse humor negro de novo.

Afastei algumas pedras e fiz um buraco na areia com a pá. Fiz tudo rápido, como
um profissional, e de luvas — a ideia de tocar em micróbios desconhecidos me enojava.

Depois de colocar todos os pertences dela no buraco, ateio fogo e observei queimar.
Era uma parte tão isolada e selvagem do lago que eu sabia que as chances de ser visto eram
mínimas. Mesmo se me vissem e me prendessem, nunca pisaria numa prisão. Tinha a
proteção da Sociedade, que incluía membros Platinum com grande poder. Eu sempre ficaria
bem. Ao contrário de Quartus e Cody Harrington.

Com os pertences reduzidos a cinzas, cobri o buraco e dei um passo para trás, até
que algo estalou sob meu pé. Não dei muita atenção no início, até que o objeto chamou meu
olhar. Dei um passo para trás, horrorizado, quando percebi o que estava vendo — mas
minha curiosidade me obrigou a olhar mais de perto.

Era o que restava de um antebraço com a mão ainda presa. A carne, consumida,
deixara apenas os ossos. Fiquei tentado a levar o espécime para casa, mas me perguntei a
quem pertencera aquele antebraço. Sempre suspeitamos que Adam Sweeney tinha sido
descartado neste lago, o mesmo lugar onde seu carro foi encontrado.

Sendo o cidadão exemplar que sou, decidi ligar para a polícia anonimamente,
usando um celular descartável. Estava curioso para saber se era o braço dele e, se sim, se
alguém o tinha matado ou se ele mesmo tirara a própria vida.

Me sentindo completamente satisfeito e entusiasmado depois de uma noite cheia


de acontecimentos, dirigi mais uma hora até o apartamento da minha namorada para
lembrá-la de que eu tinha passado a noite inteira lá. Ela era meu álibi e, se pensasse em
desviar da história, haveria sérias consequências.

Afinal, não me chamam de Dominus à toa.


UM
Gretta

"Posso ajudá-la?" Benson Vanderbilt perguntou, sem levantar os olhos do


laptop. Me disseram para encontrá-lo dentro do Benedictine Athenaeum, um lugar que
havia se tornado seu escritório para organizar trabalhos sujos.

"Preciso de um emprego", eu disse.

"Lamento, não administro uma agência de empregos."

Fiquei confusa. "Mas falei com você por telefone e você disse que talvez tivesse
algo."

"Quem disse que eu arrumo empregos para as pessoas?"

"Alguém a quem você deu um trabalho e que prefere permanecer anônimo."

Ainda sem desviar os olhos do laptop, ele balançou a cabeça. "Lamento, houve um
mal-entendido. Não arrumo empregos para estudantes. Talvez deva tentar no escritório de
Busca de Empregos para Alunos."

"Por favor, eu faria qualquer coisa. Qualquer coisa." Sim, essa era eu, interpretando
o papel da donzela desesperada.

"Você já não tem um emprego?" Dessa vez, ele ergueu o olhar para me encarar.
"Não é você a gerente daquele restaurante de hambúrgueres horroroso?"

"Sim, sou."

"Então, por que precisa de outro emprego?"

"O salário por hora não é lá essas coisas, e minha mãe—"

"—Ah," de repente, ele pareceu interessado.

"Minha mãe tem uma condição que a impede de trabalhar."


"Qual?"

Engoli minha vergonha. "Obesidade mórbida."

"Ah, então é uma condição autoinfligida."

"Não, a tireoide dela é severamente hipoativa, o que torna a perda de peso muito
difícil."

Cansei de explicar isso às pessoas. Minha mãe não come mais nem menos que
ninguém. Na verdade, como mal conseguia se mover, ficava parada e não comia nada a
maior parte do dia, até eu chegar do trabalho ou da escola. Ela usava fraldas adultas e lutava
constantemente contra escaras, assaduras e outras condições que causavam grande
desconforto. Tinha um coração de ouro e uma positividade impressionante, considerando o
quão difícil a vida era para nós. Mas ninguém nunca via esse lado, porque estavam
ocupados demais julgando sua aparência.

"Só por curiosidade, qual problema você precisa resolver?"

"Preciso de dinheiro para pagar minhas mensalidades da faculdade. Tive que pegar
um empréstimo estudantil e quero quitá-lo. Estou com uma dívida de milhares de dólares e
ainda tenho meu último ano pela frente."

Ele franziu a testa. "Lamento, não posso ajudá-la", disse, sem sinceridade, erguendo
o telefone para tirar uma foto minha. "Por motivos de segurança."

"Por quê?"

"Só para garantir que você é quem diz ser."

"Já disse que sou Gretta Nelson..."

"Sim, mas você é a Gretta Nelson que precisa pagar dívidas ou a Gretta Nelson
membro da Sociedade do Verme e do Cálice, que faria qualquer coisa para acabar de vez
com a Serpente e o Cálice? Na verdade, se degenerados como vocês conseguissem o que
querem, nos obrigariam a abrir nossa sociedade exclusiva para mulheres. E não podemos
ter isso, não é? Nós, homens, precisamos de um lugar para ir sem as resmungonas e bruxas
do sexo feminino."

Eu queria muito socar a cara desse cara. Sério, a arrogância inflada dele era
impressionante. Agora entendia por que Cody Harrington o chamava de doninha. Mas eu
estava em uma missão e precisava infiltrar-me nesse coven de imbecis privilegiados e
queimar tudo.
Alguém me dá um maldito fósforo.

Olhei para a direita quando uma porta com a placa "somente funcionários" se abriu
e fechou, chamando minha atenção. Todos sabíamos que a câmara da Serpente e do Cálice
ficava sob o Benedictine Athenaeum, com apenas duas entradas:

Uma era aquela porta "somente funcionários", e a outra era a saída de emergência
— impossível de acessar por fora. Acredite, eu tentei. Ollie também me contou que havia
um punhado de chaves para destrancar as portas da câmara, mas todas estavam nas mãos
de membros seniores, incluindo o atual presidente da Serpente e do Cálice, Thomas
Buchanan.

Aparentemente, quando um presidente deixa o cargo — como no caso do


antecessor, Jonathon Wheeler —, ele ganha uma chave de presente. Portanto, devia haver
algumas em circulação para eu roubar bem debaixo de seus narizes.

"Você está dispensada", Vanderbilt disse após alguns segundos de silêncio. "Esta
conversa acabou."

"Você ainda não me disse se pode me dar um emprego ou não."

"Achei que tinha deixado claro que não sou uma agência de empregos."

"Estou confusa. Então por que pediu para me encontrar?"

"Para educá-la sobre esse fato."

"Poderia ter dito isso por telefone." Levantei-me para sair, perplexa e irritada, mas
com a pele arrepiada de desconfiança. O que diabos era isso realmente?

Ele baixou os olhos para a tela do laptop e continuou digitando. Examinei o ateneu:
vitrines exibindo textos antigos, mapas, fotografias e outros artefatos históricos associados
à faculdade. Havia várias mesas com alunos estudando e uma área administrativa, mas
suspeitava que a maior parte da ação acontecia atrás das portas "somente funcionários".

Sentindo-me completamente decepcionada, saí e desci os degraus de pedra,


atravessando a University Square em direção à Biblioteca Edgar Allan Poe, que ostentava o
símbolo da Serpente e do Cálice. Todos os prédios originais da universidade na praça
tinham aquele símbolo gravado na pedra — incluindo a galeria de arte, o museu e o
Benedictine Athenaeum. Isso vinha dos anos 1800, quando mulheres eram proibidas de
frequentar essa universidade elitista, até que grupos feministas forçaram uma mudança.
Mas parecia que não tínhamos avançado quase nada.
No momento em que subi os degraus da biblioteca, meu telefone tocou. Um
número desconhecido.

"Alô?"

"Gretta Nelson?"

"É o Benson?"

"Desculpe, estou usando um celular diferente do que você ligou."

"Okay. Do que se trata?"

"Houve uma mudança de ideia. Se importaria de voltar ao ateneu?"

"Claro", respondi, exausta.

Caminhei de volta pelos paralelepípedos antigos da praça, onde um mar de pétalas


rosas de cerejeira se acumulava após os ventos da primavera sacudirem as árvores.
Estávamos no limiar do verão, um alívio bem-vindo depois de um inverno longo e frio. As
férias de verão estavam chegando para aqueles poucos privilegiados que não precisavam
trabalhar. Eu trabalharia o verão inteiro. Não tinha para onde ir mesmo, e não podia deixar
minha mãe sozinha por muito tempo.

Vanderbilt estava parado perto da porta "somente funcionários" quando entrei


novamente naquele prédio sombrio. Mesmo com muita iluminação, ainda era escuro e
arrepiante. Quase dava para ver os fantasmas de estudantes mortos há muito tempo que
haviam frequentado aquele lugar com seus egos inflados e grandes ambições.

"Por aqui", ele insistiu, abrindo a porta "somente funcionários" para que eu
passasse primeiro. Assim que a fechou atrás de nós, ficamos completamente sozinhos em
um corredor bem iluminado, com uma dúzia de portas fechadas. Só então ele continuou:

"Mandei sua foto para nosso superior, e ele ficou muito satisfeito com você."

"Perdão?" Caminhamos até o final do corredor, onde uma porta destrancada se


abriu. Atrás dela, escadas desciam, mergulhando nas sombras.

"Ele gostaria de conhecê-la pessoalmente."

"De quem estamos falando?"

"Será só uma reunião rápida. Uma... avaliação, digamos."


"Com quem? Quem eu vou conhecer?"

Ele desceu as escadas à minha frente, chegando a grandes portas duplas de


madeira. Isso não estava nos planos. Não era assim que eu imaginava que seria. Ollie e
Darryn me avisaram para nunca pisar na câmara sozinha, mas esta era a oportunidade
perfeita. Três figuras imponentes surgiram das sombras e se postaram diante das portas,
vestidas da cabeça aos pés de preto.

Toda garota do campus conhecia essa aparência. Balaclavas pretas, luvas,


modificadores de voz. Perguntei-me se estava encrencada e pensei em fugir, mas não
consegui. Uma batalha se travou dentro de mim, e a curiosidade venceu o medo.

"Ela é bonita, com um corpo legal", declarou o homem no meio, usando o


modificador de voz para soar como um robô assustador. Ele se aproximou, tirou a luva,
revelando seu anel da Serpente e do Cálice, e passou os dedos pelo meu cabelo
vermelho-cereja. Eu o mantinha num corte pixie por pura praticidade, mas tingia de
vermelho para me sentir viva. Sentir-se viva era um privilégio que não era dado a alguém
como eu. Além disso, Lise dizia que a cor fazia meus olhos azuis brilharem. "Podemos
usá-la."

"Para quê?"

"Do que ela precisa?" o homem de preto perguntou a Benson.

"Quitar as dívidas da faculdade."

"Isso vai exigir mais de um trabalho."

"Ela é membro do Verme e do Caneco", Benson informou.

"Ah, então é uma espiã", ele disse, quase cômico.

"Não", respondi. "Estou aqui porque—"

"Cala a boca, puta!" Benson rosnou para mim. "Ninguém te deu permissão para
falar."

O homem recuou e colocou um dedo no queixo, me examinando. "Quatro trabalhos,


e ela terá as dívidas pagas."

"O que eu—" comecei.

"—Silêncio!" Benson cortou.


"Se ela tem tendência à desobediência, podemos ter um problema", declarou o
homem no centro.

Fiquei com medo de falar, caso mudassem de ideia. Estava perigosamente perto de
entrar no covil deles e quase podia sentir o cheiro das cinzas fumegantes depois que eu o
incendiasse. Minha única esperança era que esses bandidos de preto ficassem presos lá
dentro quando eu acendesse o fósforo.

Ele ficou ali, me encarando pelos buracos da balaclava. Sem parecer óbvia, olhei
para seus olhos, tentando memorizá-los para reconhecê-lo em circunstâncias normais.

Olhos amendoados, marrom-esverdeados — a cor de bosta de bezerro —, mas


brilhantes e inquisitivos. E uma pequena mancha escura sobre a íris direita.

Conhecia aqueles olhos bem demais e reprimi um sorriso. Te peguei. Já suspeitava


que ele estava por trás de tudo, e sabia que as chances de ele me reconhecer eram mínimas.
O diabo mal consegue identificar sua vítima quando ela não passa do pó que ele limpa dos
sapatos.

"Vou dar um trabalho a ela. Se se comportar, dou outro."

"Isso é prudente?" Benson perguntou.

"Provavelmente não."

"Quanto vou receber por um trabalho?" perguntei.

"Benson, controle a vadia!"

"Peço desculpas, Dom."

Dom? Esse é o pseudônimo dele? Patético. Aposto que acham que sou burra demais
para notar. Posso bancar a tola e agir como uma idiota sem cérebro. Porra, se consegui
interpretar Lady Macbeth no teatro do colégio, posso fazer qualquer papel — incluindo
este.

"Já vi o suficiente", Dom informou, acenando com a mão para nos afastarmos.

Benson me levou de volta pelas escadas de pedra e abriu a porta "somente


funcionários". "Quando surgir um trabalho adequado para você, receberá uma mensagem
com horário, local e uma senha que deve ser dita na entrada."
"Ok. Mas quanto vou ganhar?" Isso não era sobre o dinheiro, mas precisava fazê-los
acreditar que sim. Pobreza extrema pode forçar até os melhores de nós a fazer coisas
horríveis.

"A mensagem dirá o pagamento, e você deve responder 'sim' ou 'não' se quiser o
trabalho." Ele agarrou meu braço por trás, segurando firme. "Antes de sair, você deve
assinar um contrato de confidencialidade."

Eu esperava por isso. A guilda precisava proteger seus segredos. "Tá."

"Um aviso", ele disse, chegando tão perto que senti seu hálito rancoroso, "é muita
burrice quebrar o contrato."

"Preciso lê-lo antes de assinar."

"Sem assinatura, sem trabalho. Sem trabalho, sem dinheiro. Simples assim."

"Posso perguntar quem é Dom?"

"Dom?" ele fez-se de desentendido. "Não conheço ninguém chamado Dom."

Claro.
DOIS
Ollie
"Então, foi você?" perguntei a Cody Harrington.

Ele e a namorada haviam se mudado recentemente para uma casa a vinte minutos
do campus, no meio do nada. A mobília ainda não tinha chegado, então usavam caixas como
assentos e um tapete no chão como mesa de jantar.

"Do que você tá falando?" ele questionou.

"Os dois caras que tiveram os crânios esmagados. Foi você quem fez isso com eles?"

"Não. Quando descobri onde Luca estava, voltei pra casa."

"É, esquecendo de me buscar nos Jardins da Universidade", retruquei, irritado.

Naquela noite, corri feito louco tentando encontrar a namorada dele, porque
Harrington estava convencido de que os estupradores a tinham pego. Não consegui
contatá-lo porque seu celular tinha sumido ou sido roubado. Então voltei a pé para o Vault,
sem ideia do que tinha acontecido com eles. No dia seguinte, descobri que meu colega de
quarto, Cam, tinha sido espancado até a morte, junto com um ex-aluno que se formou no
ano passado, Shawn.

"Ah. Esqueci disso." Ele me entregou uma lata de cerveja e eu a abri.

"Cadê a Luca?"

"Lá em cima, estudando."

"Então, você não viu nada naquela noite?" perguntei novamente.

"Não."

"Aconteceu no mesmo lugar onde Lux foi espancado e deixado pra morrer. E as
vítimas estavam usando balaclavas."

"Sério?"

"Do lado dos laboratórios de ciências."


"Não sabia."

Fiquei encarando ele, esperando que ele cedesse. "Você é um péssimo ator, cara."

Ele deu uma risadinha. "Ei, essa cara aqui é de ouro."

"Merda." Dei um gole longo na cerveja morna – a geladeira deles ainda não tinha
chegado. "Entendo por que você fez. Quer dizer, você os pegou no flagra?"

Ele encolheu os ombros largos. "Não sei do que você tá falando."

Ele não ia me dar nada. Cody e eu não éramos próximos, não como ele e Jace Luxon,
mas ainda éramos amigos, companheiros de time e ex-colegas de quarto. Certamente isso
significava alguma coisa.

"Como está a detetive Mathias?" ele perguntou, e de repente entendi por que ele
estava com a boca fechada.

Nós, Darryn e eu, tivemos que contar a ele que estávamos trabalhando com a
polícia para resolver o mistério de quem era o líder dos assassinatos e estupros no campus.
Não queríamos contar, mas ele não nos deixou escolha. Ele ficou bisbilhotando, tentando
descobrir quem feriu seu melhor amigo, atrapalhando tudo para nós.

"Tenho uma reunião com ela amanhã", eu disse. "Ei, você soube que acharam restos
de um corpo na margem do Lago Superior?"

"Sim, li na internet. Ainda não identificaram."

"Pode ser o Sweeney."

"Bom trabalho se for."

"Pelo menos resolve um mistério."

"Como vai seu trabalho disfarçado?" ele perguntou.

"Jurei segredo", respondi.

"Tão ruim assim, hein?" ele zombou.

"Preciso colocar a Gretta no esquema de alguma forma."

"Ela tá a fim de putaria?"


Enchi as bochechas de ar como um baiacu. Eu tinha uma queda pela Gretta desde o
primeiro ano. Agora estamos no terceiro, e ela ainda age como se não me notasse. Gostava
do cabelo curto e vermelho-vivo dela, dos olhos azuis grandes e do corpo bem cuidado, e
queria conhecê-la melhor. Honestamente, essa foi a única razão pela qual me voluntariei
para esse trabalho – para me aproximar dela. E ainda não consegui nem um maldito
encontro com todo esse esforço. Não sou tão insistente e convencido quanto meus colegas
de quarto; na verdade, costumo ficar na minha. Mas ser um cavalheiro definitivamente não
estava funcionando a meu favor com ela. Talvez eu precise mudar de tática. Quem sabe ser
um babaca arrogante como o Harrington funcione, já que ele era o rei do pedaço antes de
ficar sério com a Luca.

"Não tô a fim de ver isso", murmurei, honestamente.

"Ah. Você tá a fim dela?"

"Talvez."

"Ela parece meio frígida pra mim, mas o Lux conseguiu esquentar a nerdola super
rápido, então talvez tudo seja possível, se você souber como guiar o cavalo direito."

Ponderei sobre as palavras dele por um momento. "Que porra você tá falando?"

Ele bufou. "Tô só dizendo que o Lux comeu uma mina intocável – a nerdola –, então
talvez você consiga uma espinhosa."

"Aposto que ela já teve namorados antes", afirmei, embora nunca a tivesse visto
com um cara. Talvez porque ela esteja sempre trabalhando. Se ela virasse minha namorada,
não precisaria trabalhar tanto, e eu cuidaria muito bem dela. Minha família tem uma
fortuna investida em prédios e terras – minha herança.

Meu tio, sem filhos, não era a faca mais afiada da gaveta, assim como eu. Na
verdade, ele nem passou do décimo ano, mas era esperto nas ruas e trabalhava pra
caramba. Assim que pôde comprar propriedades, comprou, e seu portfólio só cresceu.

Meu pai queria que minha vida fosse diferente, por isso fui mandado para morar
com minha tia e meu tio quando era criança. Voltei só para faculdade.

Não posso dizer que goste particularmente da faculdade, já que as únicas coisas
que curto são futebol e garotas de festa. No entanto, viro um idiota gago perto da Gretta,
então prefiro ficar quieto. Ela provavelmente acha que nasci sem língua.
"Talvez se organizassem uma suruba, você e a Gretta pudessem participar juntos",
ele sugeriu.

"Seria só encontrar o buraco certo no meio daquele espaguete de corpos."

"Tá falando sério? Várias pessoas transando ao mesmo tempo?"

"Cara, eu vi com meus próprios olhos. Porra, queria ter tirado uma foto, mas não
deixaram." Ele tomou um gole longo da cerveja e arrotou. "Já pediu um emprego?"

"Ainda não."

"Não dá pra entrar no círculo da sujeira sem um emprego, a menos que algum cara
te escolha pra enfiar o piru no seu cu."

Eu sorri. "Foi isso que aconteceu com você?"

"Nah."

"Então como sabe?"

"Alguém me contou."

"Você tá cheio de segredos, Cody Harrington. Tipo como não sabe nada sobre a
cabeça do Cam ter sido esmagada, né?"

"Né."

"Então são três mortes e uma tentativa de assassinato... Duas, se contar você
jogando o taco de beisebol na cara do Josh. Parecia que queria matar ele."

"Queria mesmo, já que ele tentou matar meu melhor amigo. Enfim, qual é o seu
ponto?"

"Meu ponto é que logo vai ter mais quartos vazios do que ocupados no Vault.
Parece que alguém tá tentando acabar com a gente, um por um."

Esperava que ele risse, mas ele ficou pensativo, tomando um gole de cerveja. "Tive
a mesma impressão. Ainda bem que não durmo mais sob aquele teto. E eu ficaria esperto se
fosse você... E com a fiação. É uma casa velha, uma das originais, construída na mesma
época que a universidade."

Apontei pra ele. "Você não tá planejando fazer alguma merda?" Perguntei porque
acreditava que Cody Harrington era capaz de qualquer coisa.
"Nah, já enjoei daquele lugar. Além do mais, o problema não tá no Vault; tá debaixo
do Athenaeum... Ou talvez acima."

"Acima?"

"É. Tipo, quem tá realmente puxando os fios? O babaca do Vanderbilt, ou alguém


que a gente nunca vê porque não é mais aluno da KVU? O quanto você já investigou sobre o
presidente da Serpente e do Cálice, Thomas Buchanan?"

"O nome do Buchanan nunca apareceu em nada do que eu e o Darryn fuçamos."

Ele estalou a mandíbula com a mão. "Isso é porque ele tá protegido pelos membros
ou porque não tá envolvido?"

"É, bom, não posso muito bem chegar e perguntar pra ele, senão estraga tudo."

"É estranho ter toda aquela sujeira rolando debaixo do nariz dele sem ele saber."

"Concordo." Terminei minha cerveja e amassei a lata na mão.

"Quer outra?"

"Nah, tenho que ir embora", enxugando um fio de cerveja no queixo. "Cerveja


morna num dia quente é meio nojenta. Sem ofensa."

"Nenhuma."

Saindo pro carro, olhei pra trás e vi que a Luca tinha aparecido – aquele corpo alto
e curvilíneo era inconfundível enquanto ela abraçava o Cody.

Sem dúvida, eles estavam escondendo algo. E se foi ela quem o Cameron e o Shawn
estavam atacando do lado dos laboratórios de ciências, então boa viagem pra eles. Com
certeza não vou ser dedo-duro, e não sou a polícia. Só quero ver um fim pra toda essa
violência... e, quem sabe, quem sabe, me aproximar da Gretta Nelson no processo.
TRÊS
Gretta
Tomei meu lugar entre meus garotos, Ollie e Darryn, meus protetores quando
entro no calabouço. A detetive Mathias parecia exausta e pálida, e eu desconfiava que esse
caso tinha afetado sua saúde. O que começou como rituais de humilhação por um bando de
atletas cabeça-dura se transformou em assassinato, violência histórica e quem sabe o quê
mais.

"Não estou feliz com isso," a detetive me informou. "Recomendo fortemente que
você não faça isso."

"Você não tem escolha. Na verdade, a única razão pela qual estamos te contando é
porque prisões precisam ser feitas assim que eu descobrir quem é o líder e seus
comparsas."

"Detetive," Darryn começou, "com todo respeito, isso já dura muito tempo e você
não fez nenhuma prisão que a gente saiba, a menos que esteja mantendo em segredo."

Ela virou-se para o sargento parado na porta da sala de interrogatórios no coração


da delegacia da KVPD e pediu que ele saísse. Respirou fundo antes de dizer baixinho: "Não
deveria estar contando isso, mas artigos desapareceram da sala de provas."

"Como assim?" perguntei. Precisava de esclarecimentos.

"Amostras de DNA coletadas nas cenas dos estupros foram contaminadas logo após
a coleta. As fotos dos supostos rituais dos Bloodz fornecidas por Annalise Fontaine
sumiram—"

"—Espera. Todas as amostras de DNA de todos os estupros foram contaminadas?"

"Desde a tentativa de estupro no outono do ano passado."

"Tá falando sério?" Darryn perguntou, perplexo. "Isso parece sabotagem."

"É sabotagem," Mathias concordou.

"Quem...? Por quê...?" eu gaguejei.


"Por que você acha?" ela disse. "É por isso que você viu pouco progresso do meu
lado—porque toda vez que eu chego perto de algo, puxam o tapete debaixo dos meus pés.
Obviamente, não podemos fazer uma prisão sem provas sólidas. Ninguém nunca foi preso
ou responsabilizado pelos estupros dos anos anteriores também."

"Então," Darryn coçou o cabelo curto e ruivo com a mão, "a sociedade tem gente até
na polícia fazendo o trabalho sujo deles? Como diabos vamos vencer isso?" Dessa vez, ele
estava direcionando a pergunta para mim.

"Talvez você precise achar um lugar novo para guardar as provas," Ollie disse.
"Senão, tudo isso vai ser perda de tempo."

Ele estivera sentado em silêncio, apenas absorvendo tudo. Mas era assim que o
Ollie era—bonito e quieto, com um cabelo preto cacheado e bagunçado que precisava de
um corte. Era um cara grande, linebacker dos Hawks, com um temperamento adorável. E
quando sua mão se moveu em direção à minha coxa, me perguntei quais eram suas
intenções. Me sentia segura entrando nos portões do inferno com esses dois caras—desde
que seguissem as regras.

Assim que eu desse o sinal de perigo, eles teriam que me tirar de lá. Sem hesitação.
Sem enrolação.

"Não sou eu que estou sugerindo que você entre lá para espionar os membros da
sociedade," a detetive nos lembrou. "E as provas precisam ser coletadas pela nossa equipe
forense, não por jovens de vinte anos sem treinamento."

"Estamos infiltrados no Vault e na sociedade há um tempo já," Darryn disse, "e só


conseguimos tacos de golfe ensanguentados e álibis perfeitos. Precisamos ir mais fundo no
esquema organizado, talvez até nos candidatar para os tais 'trabalhos' que aparecem."

"Como vocês se sentem em relação a isso?" Mathias nos perguntou.

Darryn respondeu: "A Gretta só vai ser uma membro do Nível Porão, então ela pode
não testemunhar a administração do esquema."

"Porque ela é mulher?"

"Não, porque ela não é um homem rico e privilegiado."

"Então, qual é o ponto de mandar a Gretta—"

"—Parem de falar de mim como se eu não estivesse aqui."


"Peço desculpas," Mathias disse. "Repito: qual é o ponto de você entrar?"

"Sabemos que Benson Vanderbilt, da famosa linhagem dos Vanderbilt, é o guardião


dos arquivos e, segundo Cody Harrington, é quem delega os trabalhos..."

"Ok, então talvez eu o traga para interrogatório," Mathias sugeriu.

"Aí todo mundo vai se fechar," eu disse. "Acho que o melhor procedimento é eu me
aproximar do Vanderbilt."

Ollie arrancou a mão da minha coxa. "Quão perto?" ele perguntou.

"O que for preciso," admiti. Eu estava preparada para qualquer coisa para acabar
com a violência.

"Eu simplesmente não tenho um bom pressentimento sobre isso," Mathias


suspirou. "Quero que vocês três me deem notícias todos os dias. Entendido?"

Nós acenamos com a cabeça.

"Falo sério," ela reafirmou. "Todos os dias, quero uma ligação de cada um de vocês."

Bateram na porta, e um policial enfiou a cabeça na sala. Mathias saiu para o


corredor, e assim que ela fechou a porta atrás de si, Ollie disse: "Você está preparada para
transar com ele?"

"Vou fazer o que for preciso."

"Mas ele é um merda completo," Ollie argumentou, baixinho.

Darryn deu uma risada. "Você sabe que o Harrington esbarrou em uma das surubas
deles, né?"

"Sei."

Darryn continuou: "Bom, deixa eu te avisar—você pode acabar não transando só


com um cara de cada vez. O merda vai ser o menor dos seus problemas."

"Já ouvi seus avisos," eu retruquei, irritada.

Olhei a hora no meu celular. Tinha um turno no Stads Burger daqui a 20 minutos.
Diferente dos dois homens ao meu lado, não entrei na KVU nas asas dos meus pais ricos.
Nasci e fui criada em Kingston Valley, e minha mãe sempre achou que uma garota local
como eu merecia um lugar de orgulho nos corredores da universidade mais do que os de
fora. Minha mãe é um pouco idealista e completamente fora da realidade. Ela passa os dias
assistindo novelas e lendo romances água-com-açúcar da cama, por causa da sua condição
debilitante.

Por ela não poder trabalhar, eu trabalho 40 horas por semana como gerente no
Stads Burger para pagar o aluguel e estudo Antropologia no tempo livre. Apesar da
condição da minha mãe e de todas as dificuldades que ela enfrenta diariamente, ela ainda é
um farol de positividade — mesmo que irrealista.

A detetive Mathias voltou para a sala de interrogatório e sentou-se novamente à


nossa frente. "Não sei se vocês já sabem, mas foram encontrados restos mortais nas
margens do Lago Superior."

"É?" perguntei, expectante.

"Nós os comparamos com vários desaparecidos em nosso banco de dados e


encontramos uma correspondência."

"E?"

"Adam Sweeney."

"Merda", Darryn respondeu. "Então ele foi assassinado, assim como Liam Greene e
Cameron?"

"Os restos que a perícia encontrou não mostram sinais de trauma, então ainda não
podemos afirmar como ele morreu."

"Não estou triste", eu falei. "Estou feliz que ele esteja morto depois do que fez com
Annalise Fontaine."

Mathias suspirou. "Então, quando vocês planejam abordar Vanderbilt para pedir
um emprego?"

"Tive uma reunião com ele ontem, e ainda não me deram nenhum trabalho." Evitei
dizer mais.

"E?" ela pressionou.

"Nada mais a dizer, até que me enviem um trabalho."

"E que tipo de trabalho seria?"


"Não vou saber até ser notificada."

Mathias resmungou baixo. "Eu não me sinto nada bem com isso."

"É perigoso demais fazer um trabalho sozinha", Ollie afirmou.

"Duvido que deixem nós três irmos juntos."

"Como você se sentiria em usar um grampo?" Mathias perguntou.

"Não tenho problema com isso, a menos que... me peçam para tirar a roupa."

"Como assim?"

Darryn interrompeu: "Acredita-se que alguns dos trabalhos envolvam atos sexuais."

"Gretta, não posso deixar você fazer isso", Mathias gemeu. "Isso é absurdo."

"Acho que, se eu levar meu celular, talvez consiga gravar algumas atividades."

"Por que você está fazendo isso, Gretta?"

"Por quê? Por quê? Porque isso tem que parar. Tudo isso. Nos dizem para andar em
pares até para a aula, mesmo de dia. Nos dizem para ficarmos vigilantes e termos olhos
atrás da cabeça, o que está deixando todo mundo com medo. Por que nós, mulheres, temos
que sacrificar nossa liberdade quando é uma sociedade machista que está causando a porra
do problema? Por que é tão difícil para os ex-alunos não intervirem na forma como a
sociedade tem se comportado há tanto tempo? Eu simplesmente não entendo o que os
membros da organização têm sobre as pessoas. Acho que é isso que quero descobrir."

Mathias fez uma pausa para organizar os pensamentos, que provavelmente


nadavam em um oceano de ansiedade. "É isso que vamos fazer, e não aceitarei um 'não'
como resposta. Assim que você receber a notificação do trabalho, quero que me contate
imediatamente para me dizer onde e quando esse evento vai acontecer, ok?"

"O que você vai fazer?"

"Enviar um policial para cobrir suas costas. Não, eu mesma vou."

"É pra isso que eles estão aqui", disse, apontando para os garotos com os polegares.
"Um policial aparecendo no trabalho só vai causar uma montanha de problemas."

"Gretta, isso não é negociável. Preciso estar lá para fazer uma prisão."
“Okay, tudo bem."
QUATRO
Ollie
Bati na porta dela armado com comida, na esperança de que me deixasse
entrar. Sabia algumas coisas sobre Gretta — onde trabalhava, o que estudava —, mas tive
que fuçar pra descobrir onde morava. Como sabia que era de Kingston Valley, assumi que
morava na cidade, fora do campus. No final, foi Lise Fontaine quem me deu o endereço da
Gretta depois de muita insistência, depois que a convenci de que queria surpreendê-la.

O prédio do apartamento era daqueles caixotes decadentes, iguais a todos os


outros da região, ocupados por gente sem grana. Ao som de bebês chorando, adultos
discutindo e música alta, subi as escadas de metal e esperei alguém abrir a porta.

Gretta Nelson era um livro fechado — eu sinceramente não sabia se era solteira e
hétero, e só presumi que comia carne porque trabalhava no Stads.

Comprei tacos. Sério, eu não tinha ideia do que diabos estava fazendo.

Avistei aquele cabelo vermelho-vivo antes de notar suas bochechas pálidas


marcadas por lágrimas, aqueles olhos grandes, marejados e tensos.

"O que você está fazendo aqui?" Ela não parecia feliz em me ver, e eu ouvi alguém
gemendo ao fundo.

Levantei o saco de tacos. "Trouxe janta... precisa de ajuda com alguma coisa?",
apontei pra trás dela.

"Não. Você não pode estar aqui." A pessoa gemendo soava como um animal ferido,
chorando de dor.

"Quem é?"

Seus lábios tremeram. "Quem te disse onde eu moro?" Não era exatamente a
resposta que eu esperava, seguida por mais gemidos intensos ao fundo. Ela claramente
estava em desespero. "Desculpe, Ollie, preciso ir", e fechou a porta na minha cara. Pelo
menos eu amo tacos, porque agora tinha uma pilha pra comer sozinho.

Me sentindo derrotado, dei meia-volta — só para parar quando um baque enorme


sacudiu o chão. A porta se abriu de repente, e eu me virei pra ela.
"Ollie", ela gritou, "preciso da sua ajuda."

Não estava preparado para o que vi quando entrei no apartamento minúsculo, mas
era porque Gretta nunca falava sobre sua vida pessoal. Se tivesse sido um pouco mais
aberta, eu não teria tropeçado em repulsa e xingado baixo.

Uma mulher muito grande, em um mar de própria carne flácida e nua, estava
deitada de forma desengonçada no chão e parecia envergonhada — ou constrangida — de
me ver ali.

"Moço", ela chorou.

"Esse é meu amigo Ollie", Gretta falou alto, por cima dos aplausos da plateia na TV
montada em uma mesa no pé da cama. Acho que era Jeopardy. Gretta baixou o volume para
conseguirmos ouvir sua mãe falar entre respirações ofegantes.

"Como é que eu nunca..." — gemeu de dor — "...conheci o Ollie antes?"

"Agora não é hora de interrogatório, mãe", Gretta rebateu. Virando-se pra mim: "O
guindaste quebrou, e ligamos pro serviço de ajuda em casa, mas disseram que só chegam
daqui a uma hora ou mais. Ela tentou se levantar sozinha, mas escorregou de novo."

"Sinto muito, filho, que você tenha que ver isso", a mãe de Gretta arfou, ainda
tentando recuperar o fôlego.

"O que você precisa que eu faça?" perguntei, embora fosse óbvio o que precisava
ser feito ali.

"Precisamos colocá-la de volta na cama", Gretta instruiu. "Ela está deitada em cima
da úlcera, e está doendo muito."

Hesitei, porque, mesmo malhando pesado na academia, seriam necessários três de


mim para erguer aquela mulher do chão. Deixando claro: eu estava fazendo isso por Gretta
Nelson.

Gretta me explicou a melhor forma de levantar sua mãe, o que exigia vários
movimentos — e também significava que eu teria que colocar as mãos nas dobras de carne
expostas. Se fosse qualquer outra pessoa, teria fugido como uma lebre de volta pro carro.

"Sinto muito, filho", a mãe dela não parava de repetir, "não é uma visão agradável
para um jovem como você. Sinto muito..."
Com o risco de quebrar as costas e sufocar com o cheiro de carne necrosada,
consegui colocá-la de volta na cama enorme, que ficava na sala. Gretta rapidamente a cobriu
com os lençóis e sussurrou que ela teria que fazer xixi nas fraldas — eu fingi não ver.

"Antes que julgue, é uma deficiência", Gretta cuspiu, depois de acalmar a mãe.

"Não estava julgando", respondi, movendo o ombro direito em círculos depois do


esforço.

"Vejo no seu olhar que você estava julgando ela."

"Não estava julgando. Trouxe tacos." Deixei o saco no balcão da cozinha. "Imaginei
que você já estivesse enjoada de hambúrgueres. Tem pra sua mãe também."

"Meu nome é Debra", a mãe dela chamou. "Deb, se eu gostar de você. E eu gosto,
então pode me chamar de Deb."

Sentamos nos bancos da cozinha, e eu tentei muito não perder o apetite por causa
do cheiro forte que vinha da mãe, Deb. Me perguntei se Gretta ainda percebia aquilo ou se
era igual ao barista do Mudhouse, que não sente mais cheiro de café depois de anos
trabalhando com aquilo.

"Você dorme ali?" Apontei com o queixo para a porta que levava ao outro cômodo.
O apartamento era minúsculo, e não tinha sofá — a cama de Deb ocupava todo o espaço,
deixando só um corredor estreito entre a TV e o balcão da cozinha.

Ela balançou a cabeça vermelha. Quanto mais olhava pra ela, mais detalhes
atraentes encontrava. Como o jeito que uma mecha do seu cabelo vinho se enrolava perto
da orelha direita, o narizinho arrebitado, umas cicatrizes de espinha no queixo, o pescoço
longo, as bochechas coradas — seja pelo peso do meu olhar, seja pela vergonha de eu ter
descoberto seu segredo.

"Obrigada por fazer isso", ela suspirou.

Tirei os tacos do saco e espalhei queijo ralado sobre o balcão já engordurado. "Acho
que foi um caso de estar no lugar certo na hora certa."

Ela desceu do banquinho e entrou na pequena cozinha para pegar três pratos.
"Então, vai me dizer o que está fazendo aqui?"

"Vim te ver", respondi.

"Por quê?"
"Sei lá, pensei que poderíamos nos conhecer melhor, já que estamos trabalhando
juntos nessa investi—" Ela colocou um dedo sobre os lábios para me silenciar e foi até a TV
para aumentar o volume novamente.

Sua mãe ainda se debatia com os lençóis, parecendo desconfortável e fazendo


caretas de dor. Aquelas úlceras deviam doer pra caralho.

Ela se inclinou para perto de mim, e eu tive vontade de enterrar meu rosto em seu
cabelo, inalando o cheiro do shampoo para disfarçar o odor da mãe. Você pensaria que
cabelo vermelho cheiraria a morango ou cereja. "Não contei a ela o que estou fazendo."

"Segredo de mãe", brinquei.

Ela sorriu com aqueles lábios rosados e inchados, e nossos olhos se colidiram e
travaram, me despedaçando por dentro. "Então, talvez você queira sair algum dia... ver um
filme ou jantar ou algo assim?"

Quando ela baixou os olhos, esperei que um "não" viesse em seguida. "Eu gostaria."

"Como é?" Perguntei, levando a mão à orelha. "Não ouvi direito."

"Sim", ela disse um pouco mais alto, já que o Jeopardy estava invadindo nosso
momento. "Eu gostaria de sair com você."

"Ótimo." Eu sorri de orelha a orelha, mas meu momento de glória foi interrompido
quando o celular dela apitou.

"Ah..." Ela deslizou o telefone para mim para que eu lesse a mensagem sobre uma
oportunidade de trabalho.

Tipo de trabalho: Limpeza.

Pagamento: Um quarto das suas mensalidades.

Local: Grand’Mere Hotel.

Hora: Meia-noite de amanhã.

Status: Vir sozinha.

Senha: G1078 para informar na recepção.


"Limpeza?"

"Que tipo de limpeza, exatamente?" Ela falou com sarcasmo.

Eu não estava feliz com isso. O único cara com quem eu queria que ela transasse
era eu, e "limpeza" poderia significar qualquer coisa. "Vai avisar a Mathias?"

"Acho que devo." Ela parecia desapontada.

"Eu vou com você, tá bom?" Coloquei minha mão grande sobre sua mão pequena e
pálida, que estava gelada como gelo. Ela se afastou e olhou para trás para ver se a mãe
estava observando. Os olhos estreitos de Deb estavam fixos em nossa direção, mas era
difícil dizer se ela estava olhando para nós ou para a TV. Talvez ambos. "Prometo que não
vou deixar nada de ruim acontecer com você, ok?"

"Ok, mas você não pode entrar no quarto do hotel", ela disse, apontando para a
instrução "vir sozinha".

"Que tal eu esperar no corredor, do lado de fora do quarto? Se você sentir medo,
grita por mim ou usa o celular."

"Combinado."

"Você sempre pode dizer não", lembrei-a, "para o trabalho."

"Eu sei, mas onde isso vai nos levar?" Ela digitou SIM no telefone.
CINCO
Gretta
Conheci o diabo quando tinha doze anos...

...e achei que ele era o menino mais bonito que já tinha visto. Ele me cumprimentou
com olhos estreitos e dedos que dançaram sobre sua coxa e depois sobre a minha.

A última vez que vi o diabo foi aos quatorze. Ele ficou de pé sobre o corpo do meu
pai e chutou suas costelas para ver se ele ainda respirava. Lembro como o corpo do meu pai
balançou com o impacto do chute.

"Levanta", lembro de suplicar, enquanto uma brisa brincava com um cachinho de


seu cabelo escuro.

Pensei que ele tivesse voltado à vida naquele momento, que estivesse fingindo
estar morto para que o diabo perdesse o interesse e fosse embora. Uma coisa morta só
entretém por um tempo, até o jogador se entediar e sair. Vi puro deleite em seu rosto
quando passou pela minha árvore — deleite e algo mais. Um fogo que se acendeu enquanto
a excitação queimava nele, despertando uma faceta adormecida nas pessoas comuns.

Foi seu primeiro assassinato, mas não seu primeiro gosto de morte.

Meu amor por aquele garoto nunca desapareceu, nem mesmo quando ele matou
meu pai. Mas chamá-lo de diabo lhe dava poder demais. Ele precisava ser despido de sua
arrogância e privilégios para revelar a pele trêmula por baixo.

Acompanhei seus movimentos de longe, vi ele subir no púlpito como se tivesse


nascido para isso. Observei com inveja quem ele namorou, quem sacrificou, quem
descartou. Por todo o rastro de destruição que deixou, nunca uma marca ficou em sua pele.
Nada grudava. Ele era imaculado, girando em sua própria sujeira e saindo do outro lado
completamente intocado.

Pelos seus olhos, percebi que ele não reconheceu Cattus, a garota que um dia
conheceu. Cattus era o nome que ele me deu, latim para gata — porque meu nome de
nascença, Lori, não servia para os jogos que brincávamos. Agora uso meu nome do meio,
Gretta, em homenagem à minha bisavó, mas mantive meu sobrenome. Nelson. Não que ele
soubesse qual era meu sobrenome. Ou talvez soubesse.
Duvido que as memórias de mim tenham sequer arranhado a superfície de sua
alma sombria, mas as dele estão gravadas em minha carne para sempre. Ainda sinto seu
hálito quente em minha pele enquanto inalava o aroma dos rolinhos de alcaçuz de
framboesa que caíam de seus lábios como doces cigarros. Ele gostava da marca cara,
aqueles macios e suculentos, vendidos em embalagens rústicas que diziam ser naturais e
artesanais. Sua língua ficava vermelha, e seus dedos eram travessos. Ele fazia um nó no
rolinho e me deixava morder, mas só se eu ficasse de joelhos primeiro. E eu sempre ficava
de joelhos para o diabo.

Me irrita ainda lembrar dessas coisas, me agarrando a elas com medo de nunca
mais capturá-las se escapassem. Ele não merecia meu amor. Eu deveria odiá-lo. Acredite,
tentei odiá-lo com cada fibra do meu ser. Mas naquele dia, quando ele não sabia que eu
observava atrás da minha árvore favorita, vi quem ele realmente era.

Isso é mentira.

Eu sempre soube quem ele era, mas estava cega por meu amor doentio por ele.
Doentio.

Cinco anos depois, nos encontramos pessoalmente aqui no campus, em seu


esconderijo sórdido, enquanto seus idiotas capangas bajulavam o autoproclamado deus.
Dom. Poupe-me. Eu sei quem você é. Sei onde te encontrar. E farei você pagar.

Um nó de ácido se contorcia no meu estômago enquanto Ollie dirigia até o


Grand’Mere Hotel. Faltavam dez minutos para a meia-noite, e as luzes da cidade brilhavam
em tons de laranja, amarelo e, com sorte, rosa.

Darryn conversava baixo com Ollie sobre futebol, talvez para acalmar os nervos, e
Ollie mal respondia. Mas ele era assim — só falava quando absolutamente necessário, em
vez de poluir o silêncio com palavras vazias. Diferente de mim e de Ollie, Darryn
obviamente temia o silêncio.

Peguei Ollie me olhando pelo retrovisor algumas vezes e sorri sozinha, gostando da
atenção. Como um cadáver em decomposição atraindo moscas, Dom nunca estava longe dos
meus pensamentos. Ainda sentia seus dedos passando pelo meu cabelo vermelho, dizendo
que eu era bonita. Agindo como se nunca tivesse me visto antes. Cabelo da mesma cor dos
seus amados rolinhos de alcaçuz de framboesa. Você notou isso, Dom? Não, claro que não.

Meus dois garotos ficaram atrás de mim quando me aproximei do balcão no saguão
vazio. Molduras douradas brilhavam sob os lustres enquanto Edith Piaf assombrava
suavemente os espaços vazios, fazendo-me estremecer.

Por fim, um homem baixo apareceu, vestindo uma camisa branca e colete bordado,
e se desculpou por não nos ver. Falei a senha, e ele mal reagiu, como se já tivesse feito isso
inúmeras vezes. Aposto que esse homem já viu muitas amantes, putas, vadios e garotos de
programa passarem por essas portas a caminho da suíte presidencial.

"Aqui está a lista", ele disse, colocando uma folha datilografada com os deveres de
limpeza no balcão. "Marque cada um quando terminar. Tudo o que precisa já está no
quarto..." Verificou o registro. "Vinte e três." E colocou um cartão-chave no balcão.

"Então... isso é um trabalho de limpeza de verdade?" perguntei, irritada.

Ele fez uma cara engraçada, como se eu fosse burra. "Sim."

Virei para meus garotos, que pareciam levemente divertidos. "Parece que não vou
precisar de vocês depois de tudo."

"Ah", o homenzinho interrompeu, "eles não podem entrar no quarto. Só você pode
fazer a limpeza."

"O quão ruim está o quarto?" perguntei.

Suas sobrancelhas subiram tão alto que quase saíram da cabeça. "Muito ruim."

"Ah."

Ainda com meus fieis garotos a tiracolo, chegamos ao quarto 23 e eu gemi ao abrir
a porta. Eles espiaram para dentro, sem cruzar a entrada, e fizeram barulhos de enjoo.

"Melhor você do que eu", Darryn gracejou.

"Isso vai me levar uma eternidade", gritei, enquanto a porta se fechava lentamente
atrás de mim e a voz calma de Ollie ecoava na minha mente: "Estaremos bem aqui até você
terminar."

"Por onde começar?"


O quarto inteiro estava um chiqueiro, e eu nem tinha coragem de olhar o banheiro.
O cheiro de sexo e porra era evidente — sem surpresa, já que a cama king-size estava
coberta de camisinhas usadas e os lençóis brancos manchados de sêmen. O chão estava
decorado com vinho tinto derramado e marrons esfumaçados que eu realmente esperava
que fossem chocolate (embora não cheirasse como tal) e vômito. Vômito também
respingado nas paredes, como se eu tivesse interrompido uma competição de quem
vomitava mais longe. Em uma mesinha redonda, havia agulhas, pó branco espalhado, um
cinzeiro transbordando e garrafas de álcool.

Encostado na janela de piso a teto, havia um carrinho com produtos de limpeza,


toalhas e lençois limpos dobrados com cuidado, e aqueles sabonetes e shampoos
minúsculos de hotel. Ao lado, um aspirador de pó. Eles pensaram em tudo — até em luvas
de borracha, graças a Deus.

Comecei a trabalhar, limpando o carpete manchado de quatro, com a sensação


estranha de estar sendo observada. Era uma inquietação que me deixava alerta, procurando
por câmeras ou olhos mágicos e não encontrando nenhum. Talvez fosse só minha paranoia
de quem assiste a muitos filmes de terror, porque também meio que esperava um psicopata
empunhando uma faca sair do armário a qualquer momento.

Ollie checou como eu estava batendo na porta. "Estou bem", respondi, "só agradeço
por não ter que trabalhar amanhã, porque vai levar um tempão pra me recuperar disso."

Uma hora e meia depois, espreitei pela porta e vi meus garotos sentados no
corredor, encostados na parede com os olhos fechados. Tão fofos, especialmente o Ollie com
a boca entreaberta e a barba por fazer. Exceto que já estava muito além das cinco da tarde
— quase duas da madrugada, na verdade.

Por algum milagre e produtos de limpeza super tóxicos, consegui deixar a área
social impecável e me dirigi ao banheiro.

Esperando o pior, fiquei agradavelmente surpresa ao encontrar o banheiro livre de


dejetos humanos nojentos. O espelho, a privada e o armário do banheiro brilhavam de tão
limpos, o que só fez meus pelos se arrepiarem. Toda a cena parecia encenada.

Novamente, aquela sensação assustadora de estar sendo observada me envolveu e,


naturalmente, procurei por câmeras, rindo da minha própria ridicularice quando não
encontrei nenhuma.
Me sentindo triunfante — porque vamos combinar, arrasei nesse serviço de
limpeza — saí do quarto do hotel e cutuquei meus garotos para acordá-los. "Nada de merda
estranha?" Darryn perguntou, meio dormindo.

"Não. A menos que você conte as seringas e fezes."

O homem na recepção olhou para o relógio de forma deliberada. "Você obviamente


foi minuciosa", e colocou uma pequena caixa de anel no balcão. "Um presente pelo seu
esforço."

"Oh, obrigada", disse graciosamente, pegando o presente, embora não seja muito fã
de joias. "Você vai verificar o quarto para ter certeza que limpei direito?"

Ele balançou a cabeça. "Não é necessário."

Estranho.

Já no banco de trás do carro, abri a caixa do anel. Um pequeno cilindro de metal


repousava sobre o forro branco imaculado. Curiosa, peguei-o entre os dedos, virando-o para
captar as luzes noturnas enquanto dirigiamos. Quando percebi o que era, senti as garras
geladas do pânico cavando na minha nuca.

"É algo que você pode vender?" Ollie perguntou, olhando pelo retrovisor.

Balancei a cabeça, pegando meu telefone para percorrer os contatos.

Eu: Ele me descobriu.

Eles não leriam a mensagem por algumas horas, então eu tinha tempo para digerir
essa revelação. Uma coisa era certa: não haveria sono essa noite.
SEIS
Dominus
"Só o melhor para minha doce", anunciei, puxando a cadeira para minha
namorada se sentar na mesa do restaurante cinco estrelas Michelin, The Grove. É
importante cuidar bem da filha do senador, mesmo que aquela família viesse de uma longa
linhagem de idiotas e bêbados — e ela não fosse exceção. Casamento, procriação e poder:
era para isso que a usava.

Sentei-me à sua frente e percorri com os olhos aquele rosto elegante e aqueles
lábios carnudos e hidratados, já envoltos em uma taça de vinho. Nenhuma surpresa aí. Ela
deixou uma marca de batom vermelho no copo, e eu contive um calafrio.

"Como foi seu dia?" ela perguntou, limpando o batom do copo com os dedos.

Meus olhos se recusaram a desviar do vermelho borrado no copo, a cor me


lembrando de certa garota de cabelo curto que estava procurando um emprego. Eu te
arrumo um emprego, sim. "O de sempre."

"Bem", ela estalou os lábios, "eu tive um dia tão ocupado..." Concordei enquanto ela
despejava todas as coisas 'interessantes' que aconteceram em seu dia. Não me pergunte o
que foi, porque eu não estava ouvindo e... não me importo. "O que você acha?"

"Hã?"

"Sobre o contrato?"

"Ah..."

Uma expressão de desaprovação varreu seu rosto bonito. Sim, ela é


convencionalmente bonita, com pele impecável, maçãs do rosto altas, cabelo loiro liso como
uma tábua e sempre arrumado. E aquelas clavículas maravilhosas que eu já fantasiei
arrancar da pele dela para usar como garfo mais de uma vez — ou, se não como garfo, como
ferramenta para arrancar seus olhos. Qualquer um dos dois satisfaria meus desejos.

"Eu sou tão chata assim?" ela perguntou.

SIM. "Não, amor, claro que não. Só estou um pouco cansado."


O garçom apareceu com a carta de vinhos, graças a Deus, e escolhi o vinho tinto
mais caro — mais uma vez, minha mente vagando para a garota de cabelo vermelho. Minha
mão tremeu em direção ao telefone, numa necessidade desesperada de ver as imagens que
me enviaram da ruiva limpando o Quarto 23. Me informaram que ela deixou o quarto mais
limpo do que antes de eu mandar a equipe sujá-lo. Não diz muito sobre os faxineiros
contratados por aquele hotel.

O telefone da Vic apitou, e ela olhou para a tela, respondendo imediatamente à


mensagem.

"Achei que tínhamos uma regra", lembrei-a, acenando para o celular.

"Desculpe, querido. Vou ser super rápida, e depois não olho mais para o telefone o
resto da noite."

Aproveitei a oportunidade para ver um vídeo da ruiva e imediatamente senti meu


sangue ferver só de vê-la se curvando sobre a cama, removendo os lençois horrorosamente
manchados.

"Pronto", ela anunciou, colocando o telefone de volta na mesa, bem a tempo de o


garçom servir o Bordeaux.

Relutantemente, coloquei meu telefone de volta no bolso, mesmo querendo ver


mais. Muito mais. Uma mensagem de Vanderbilt chegou, e meus dedos se contraíram. "Só
um segundo", disse à Vic — abreviação de Victoria, caso alguém se importasse em saber,
como a rainha baixinha e gorda da Inglaterra.

Benson: Tarefa concluída. Fundos em processo de transferência.

Eu: Bom. Prepare o próximo trabalho.

Os fundos para esses trabalhos vinham de membros Platinum da sociedade, que


pagam taxas anuais para permanecerem membros. Ou, às vezes, pagam para que um
trabalho seja feito — então sempre há um oceano de dinheiro para brincarmos.

"Pronto", disse à minha rainha, guardando o telefone.

"Está com fome?" ela perguntou.


"Faminto."

O telefone dela apitou novamente, e capturei uma expressão que não gostei. Foi um
lampejo de algo fora do personagem, e me perguntei se ela estava tendo um caso. Isso não
me agradou. Eu tinha quatro — não, três — garotas na lista de contatos rápidos que não
significavam nada para mim, mas se ela fosse vista com outro homem, me faria parecer um
idiota. Não me importava que ela estivesse transando com outro; só precisava que fosse
completamente discreta. Eu tinha uma reputação impecável para manter, e se corresse o
boato de que não conseguia satisfazer a filha do senador, envergonharia não só a mim, mas
minha família.

Puta egoísta.

Seus olhos se voltaram para os meus, e ela me lançou um daqueles sorrisos


forçados a que eu já me acostumara. Se ela fosse feita de outro material, estaria no fundo do
Lago Superior junto com o resto do Adam Sweeney.

Ah, e por falar nisso...

"Então, a perícia identificou o Adam Sweeney", comecei, só para puxar assunto.

"Sim", seus olhos se arregalaram, "eu soube", dando outro gole no Bordeaux. Ótimo.
Beba o suficiente para que eu possa te foder pelo cu.

Ela odiava quando eu fazia isso. Odiava meu pau entrando no buraco apertado dela,
porque dizia que isso trazia o pior de mim. Que porra é essa que ela tá inventando? É só
outro buraco. Por que tanto drama? Ou talvez tenha a ver com minha vontade de puxar seu
cabelo até sua cabeça estalar para trás – mas essa é minha parte favorita.

"Você tá transando com alguém?" Vamos colocar as cartas na mesa.

Sua boca bonita se abriu, e eu tive vontade de enfiar meu pau naquele buraco. A
putinha fresca também odeia me chupar, o que só me deixa com a opção de foder a buceta.
Me lembra por que eu tô com ela? Ah, sim, status. Meu pai rico e influente é amigo do seu
pai rico e influente. Pelo menos eu tinha Primis, Secundo e Tertius para foder como
quisesse. Pobrezinha da Quartus, que eu matei porque ela foi testemunha de mim estando
onde não deveria. Ainda não acharam os restos dela.

"E então...?" pressionei.


"Claro que não", ela suspirou, os olhos voltando para o telefone. A expressão de
culpa durou apenas um nanossegundo, mas foi o suficiente para eu saber a verdade. Suas
sobrancelhas perfeitamente feitas se franziram. "Você está?"

"O quê?"

"Transando com outra pessoa?"

"Claro que não, querida, você é minha número um... digo, minha única", corrijo-me.
"Mas se você estiver envolvida em algum casozinho nojento, mantenha isso longe dos meus
olhos e, mais importante, longe dos olhos dos nossos pais e da mídia sanguessuga."

Seu dedo apontou para mim. "Espera aí. Quer dizer que você não se importa se eu
der pra outros?"

Tomei meu primeiro gole do Bordeaux, deixando o sabor doce e ácido lavar minha
língua, demorando de propósito. Fazer ela esperar era algo pelo que eu vivia. "Você sabe
como é, Vic. Não vamos fingir que não."

"Hmm", ela brincou com a ponta do cardápio que nem havíamos aberto ainda, "que
bom saber onde eu... nós estamos nisso."

"Você já está bêbada."

"Garanto que não. Apenas alegre e ansiosa para aproveitar o acordo não dito e não
escrito que temos aqui."

"À vontade."

"Você obviamente não me ama."

"Eu te amo, profundamente, Vic. Você é tão preciosa para mim—" O telefone dela
apitou de novo, seus dedos se esticaram em direção a ele, até que eu o arranquei de suas
mãos. "Opa, opa, opa, o que diz essa mensagem aqui?"

"Me devolve", ela estava com a cara de raiva agora, e eu me banhei em sua fúria.

"Deixa eu ver quem está distraindo minha garota da refeição caríssima que ela
ainda nem pediu? Você sabe quanto tempo levei para conseguir uma mesa aqui?"

"Você disse que conseguiu na hora", ela esticou o braço para recuperar o aparelho,
mas eu o mantive fora de alcance.
"Consegui. Só disse meu nome e, olha só, uma mesa aparece magicamente. Só estou
sendo dramático, Vic. Agora, vamos ver essas mensagens?"

Ela se levantou e veio para o meu lado da mesa, segurando meu copo de Bordeaux
sobre minha cabeça.

"Me tente", ameaçou.

"Bom, dificilmente vai me ameaçar com seu próprio copo, já que está vazio?" Dei
uma olhada rápida em uma mensagem antes de devolver o telefone. Não era hora nem lugar
para fazer escândalo. O nome do remetente era Bruno, e ele pedia para encontrá-la. Não
parecia romântico, mas o fato de ela estar tão secreta me deixou desconfiado.

"Então, Bruno?" comecei. "Parece ser um cara grande. Peludo, é?"

Ela revirou os olhos. "Acho que preciso de outro drink."

O resto da noite foi uma delícia – ela mal falou uma palavra e me lançou olhares
furiosos e de nojo por cima da mesa. Depois do jantar, seguimos caminhos separados, e eu
chamei Primis, minha putinha favorita, para foder o cu em seu lugar.

No final, eu consegui o que queria. E isso é o que mais importa.


SETE
Gretta
A mão dele roçou na minha enquanto caminhávamos de volta para o carro
depois do restaurante.

Para um cara grande, Ollie era gentil e paciente — talvez paciente demais. Tive um
dia louco de trabalho e estava perigosamente perto de cancelar nosso encontro, até que
minha mãe me fez mudar de ideia. Nos olhos dela, Ollie preenchia todos os requisitos. Ele
preenchia os meus também, exceto que eu queria que ele me empurrasse contra a parede e
me dominasse, porque era disso que eu precisava.

Como o cavalheiro perfeito que era, ele abriu a porta do carro para mim e entrou.
Essa era a parte do encontro que ficava estranha. O final. Tivemos um jantar adorável com
conversa agradável, brincamos de esconde-esconde com os pés debaixo da mesa, e fiquei
decepcionada porque ele não deu em cima de mim. Nem uma vez. Cadê as safadezas? Eu
precisava de safadezas. Ele nem sequer sugeriu que eu passasse a noite na casa dele.

Meu corpo estava implorando por alguém para simplesmente se deitar em cima de
mim. Precisava daquele calor e toque que eu estava ocupada demais trabalhando,
estudando e cuidando da minha mãe para receber. Puta merda, tenho só vinte e um anos,
mas me sinto com cinquenta. E Ollie... no auge da vida, alfa supremo, lindo jogador de
futebol, devia estar me jogando no ombro.

"Você não está me levando para casa, está?" finalmente disse, já que parecia que ele
estava indo nessa direção.

Ele parou no sinal vermelho e virou para me olhar. A luz alaranjada dos postes
incendiou seu cabelo escuro. Eu queria tanto que ele me beijasse. "Para onde você quer ir?"
ele perguntou devagar.

"Estava pensando em... ir para a sua casa. Mas se você preferir não—"

"Ah, sim, podemos ir para a minha casa." O sinal ficou verde. "Então... o que...?"

"Eu quero que você me foda, Ollie." Pronto, falei. Tempo era precioso na minha vida.
Tenho trabalhos para terminar e plantões noturnos no Stads nos próximos dias, sem contar
as tarefas que preciso fazer para minha mãe. Se não estou trabalhando, estou dormindo.
Dificilmente terei uma oportunidade como essa de novo tão cedo.

"Tá... bom", ele riu. "Eu só estava tentando ser um cara legal e—"

"—Não seja um cara legal hoje à noite, Ollie. Te dou permissão para ser tão ruim
quanto quiser."

Ele grunhiu. "É só que você não parece do tipo, sabe, fácil—"

"Eu sou fácil hoje à noite, Ollie. Dê o seu melhor. Por favor." Por favor.

Ele resmungou algo, pisou fundo no freio e fez uma curva ilegal de 180 graus,
cortando vários carros no processo. Sob uma serenata de buzinas, acelerou de volta para o
campus enquanto eu caía no banco rindo. Nada como um pouco de emoção para animar
uma vida completamente monótona.

Minhas coxas se apertaram quando senti o calor do desejo emanando dele. Era a
primeira vez que eu pisava na infame Vault, que estava lentamente se corroendo diante dos
nossos olhos. As camadas de segredos imundos estavam sendo reveladas, mas ainda não se
comparavam às atividades que aconteciam debaixo do Athenaeum.

Ele pegou minha mão, e subimos dois andares até o último piso. Quando chegamos
à porta dele, minha calcinha estava encharcada e meus joelhos tão fracos que eu quase
desmaiei. Ollie revirou os bolsos da calça procurando a chave, se desculpando enquanto eu
ria baixinho, tentando conter o orgasmo iminente. Ele mal tinha me tocado, e eu já estava
em chamas.

Finalmente, ele abriu a maldita porta e rapidamente a trancou atrás de nós. Antes
que eu pudesse olhar ao redor do quarto, ele já me tinha em seus braços, beijando e
mordiscando meu pescoço, e eu pensei que ia despedaçar em um milhão de pedaços. Fazia
muito tempo que um homem não tinha esse efeito em mim, e eu lutava para conter a reação
do meu corpo ao toque dele.

Gemidos e suspiros escaparam da minha boca enquanto minhas roupas eram


arrancadas do meu corpo cansado. Ele me jogou na cama e começou a desabotoar a camisa,
devagar. Não porque estava me provocando, mas porque seus dedos grandes travavam nos
botões idiotas. Em um estado de agonia desejosa, eu arranquei a camisa dele, e os botões
voaram para todos os lados.

"Mulher!" ele gargalhou, ajoelhando-se entre minhas pernas.


"Anda logo e me fode, Ollie", eu supliquei. O orgasmo estava tão perto que pensei
que ia explodir. "Por favor, acaba com meu sofrimento."

Ele baixou a cabeça entre minhas pernas e começou a beijar meu clitóris por cima
da calcinha já encharcada. Não consegui segurar por mais tempo — arqueei as costas e
gozei.

"Sério?" Ele parecia estupefato. "Eu nem sequer..."

"Espera."

Senti outro orgasmo vindo, graças a Deus, e tirei a calcinha. Eu tinha depilado a
buceta mais cedo, na esperança de alguma ação, e uma coceira irritante já tinha aparecido.
Por sorte, eu não me importava — e ele também não. Puxando suas calças para baixo, seu
pau latejante saltou para me cumprimentar, e fiquei agradavelmente surpresa com o
tamanho. Grossura e comprimento. Esperava que um homem do porte dele tivesse um pau
grande, mas isso estava em outra escala completamente diferente.

Seu cheiro de colônia e sexo era irresistível e excitante, e eu já estava à beira do


segundo orgasmo. Ele rapidamente colocou uma camisinha no monstro e me empalou de
uma vez. Soltei um gemido quando ele me preencheu completamente, e então me entreguei
ao seu ritmo. Foi na posição missionária — não esperava muito mais do Ollie —, e ele me
fodeu com força até eu gozar.

Ele cumpriu o trabalho, mas eu precisava de mais. Muito mais. Depois de uma hora
deitados na cama conversando sobre bobagens, partimos para outra — dessa vez, ele me
virou e me empurrou por trás, enfiando seu pau fundo. Eu gostei disso... muito.

Adormeci envolta em seus braços, minha face pressionada contra seu peito. Em
algum momento durante esse paraíso, fui arrancada do meu delírio quando meu celular
apitou. Mãe. Não podia deixá-la sozinha por muito tempo à noite. Durante o dia, enquanto
eu estava no trabalho, ela tinha cuidadores para verificá-la e um número de emergência
para ligar se algo desse errado. Mas, à noite, eu era seu único consolo.

Sem olhar a mensagem, deslizei para fora da cama e comecei a me vestir no escuro.

"Já vai?" A voz profunda do Ollie cortou a escuridão.

"É, desculpe, minha mãe—" Parei quando olhei para o celular e vi que a mensagem
não era dela. Eu só tinha assumido que fosse. "Ah. É o Vanderbilt."

"Dizendo o quê?"
"Vinte e cinco por cento das minhas mensalidades foram pagas. Nossa. Se eu quiser
prosseguir com o Trabalho Dois, responda com 'sim'."

"Três horas limpando e você ganha um quarto das suas mensalidades. Esse é um
puta negócio, Gretta", Ollie disse.

"Você sabe que tenho que continuar com isso", eu falei, "até chegarmos ao centro."

"E se você nunca encontrar o líder?" ele perguntou. "E se ficar andando em círculos,
sem nunca saber quem ou o que ele é?"

Oh, eu já sei quem é e o que ele é. "Só tem um jeito de descobrir, e se minhas
mensalidades forem pagas no processo, é um bônus."

"Acho que sim", ele bocejou.

Reli a mensagem e respondi com um "sim", antes de mandar uma mensagem para
minha mãe para ter certeza de que estava bem. Eram só 21h30; ela ainda estaria acordada
vendo TV.

Mãe: Estou bem, amor. Divirta-se. Não se preocupe comigo.

Eu: Ok (:

Mãe: Você fisgou um bom partido, querida.

Olhei para o Ollie, seu corpo grande esticado como um gigante adormecido. O
branco de seus olhos captou a luz do meu celular, dando a ele uma aparência levemente
sinistra que só me deixou com mais tesão.

Eu: Eu sei.

"Parece que minha mãe não precisa de mim afinal", sussurrei, rastejando pela cama
de quatro até ele e começando a beijar seu peito.
"Ótimo", ele murmurou, sua mão grande e quente encontrando minha nádega por
cima da calça. "Acho que precisamos tirar isso", despindo minhas roupas de novo para mais
uma rodada.
OITO
Gretta
Sentei na beirada da cama com a bala repousando na minha coxa, tão
pequena e aparentemente insignificante.

Ele cortou a bala do coração do meu pai e foi embora casualmente, como se o
assassinato não tivesse deixado marcas em sua alma. Ele já estava podre muito antes
daquele momento e agora caminhava feliz pelos corredores do purgatório. Mas isso não era
na morte, e sim na vida — sua vida, minha vida.

Não tinha como ter certeza de que era a mesma bala, e se ele estava tentando me
assustar, não estava funcionando. No entanto, estava curiosa para saber por que ele a
guardou todo esse tempo. Uma parte estúpida e teimosa de mim desejava ouvi-lo dizer que
eu significara algo para ele naquela época. Não agora. Agora, eu queria que ele morresse.
Um assassino sempre será um assassino, e mesmo que ele tivesse me amado, eu ainda
ansiava por colocar um fim no inferno que ele criou. E só há uma maneira de fazer isso.

Ouvi minha mãe me chamar da sala e coloquei a bala de volta na caixinha do anel,
escondendo-a na terceira gaveta — aquela difícil de abrir, por causa da madeira gasta. Um
dia, talvez eu conte a ela que sempre soube quem matou o pai. E um dia, talvez eu diga que
a pessoa que esmagou nossos corações não passava de um garoto ferido.

Sacudi a cabeça quando a água escorreu dos meus cabelos molhados para os olhos,
depois do banho que lavou o cheiro do Ollie da minha pele. Estremeci ao ainda senti-lo
entre minhas pernas, perfurando meu abdômen, e esperei que aquela sensação não
desaparecesse tão cedo.

Na sala, minha mãe tinha derrubado o controle remoto, que escorregou para
debaixo da cama. Depois de rastejar para pegá-lo, capturei uma expressão maliciosa no
rosto dela. Seus olhos azuis estavam tão cheios de vida, amor e, principalmente, travessura.
Uma pena enorme que ela quase nunca saía de casa.

"O quê?"

"Você vai me contar sobre seu encontro com o efervescente Ollie?"

"Não sei se chamaria ele de efervescente."


"Quero detalhes, por favor", ela exigiu, entrelaçando os dedos e apoiando-os no
peito enorme — grande demais para um sutiã.

Engasguei, fingindo horror. "Não vou revelar essas coisas para a minha mãe."

"Você transou?"

"Não vou dizer nada!" gritei.

"Você transou, não foi?"

"Mãe!"

Ela ergueu as mãos para o céu, encarando alguma imagem invisível no teto.
"Aleluia, existe um Deus afinal. As pernas da minha filha se abriram."

"Mãe", repreendi.

Ela acenou com a mão como se estivesse enxotando uma mosca. "Vamos, Gerty" —
o apelido que ela jurou nunca usar fora de casa (e, por sorte, ela nunca sai) —, "Você é linda,
ele é bonitão e..." Ela franziu os lábios. "Eu notei o quão duros são os músculos do braço
dele quando me levantou de volta pra cama. Ohhh, nossa. Ele é bem dotado?"

Gemi. "Não vou dizer nada."

Ela lambeu os dedos e estalou os lábios. "Aposto que ele é lindo pelado."

"Eu não sei."

"Mentira. Você não chegou em casa antes da meia-noite. O que estavam fazendo?"

"Conversando."

"E na outra noite, quando só voltou de madrugada?"

"Conversando."

"Você fala muito para uma garota que não gosta de falar."

"Ha, engraçada. Não." A enfermeira bateu na porta para dar o banho de esponja na
minha mãe e cuidar das úlceras e escaras, então fiquei aliviada por a conversa ter
terminado. Além disso, tinha aula e um turno no Stads.
"Me passaram o segundo trabalho", contei ao Ollie quando ele entrou no Stads com
Darryn. Mal conseguia disfarçar o sorriso depois de passar a maior parte da noite com ele.
Adoraria ter ficado a noite toda, mas minhas responsabilidades com minha mãe sempre
pesavam na minha mente.

"Tipo aquele 'serviço de limpeza' sinistro?" ele perguntou, me olhando por baixo
dos cachos escuros que caíam sobre sua testa. Minhas coxas se apertaram e... aff... arrepios
correram do meu centro até a parte de trás dos joelhos.

"Não deram detalhes. Só o endereço, horário, data, etc."

"Certifique-se de me enviar os detalhes, para que eu possa ficar de olho em você",


ele exigiu, com o sorriso desaparecendo do rosto.

"É no mesmo lugar. Grand’Mere Hotel."

Ele acenou com a cabeça e olhou para a entrada quando um grupo de calouras
famintas entrou, conversando sobre o corpo de uma mulher encontrado sob um arbusto à
beira da estrada. Eu olhei ao redor do restaurante para ver onde Rhys e Lise estavam. Rhys
estava no balcão de sobremesas, enquanto Lise limpava as mesas. Como gerente, meu
trabalho é garantir que a equipe esteja onde deveria, mas essa não era a razão pela qual eu
as procurava.

Ollie deu um passo para trás para deixar as calouras se aproximarem do balcão.

"Desculpe, posso perguntar... onde vocês ouviram falar do corpo?" perguntei à


morena de olhos arregalados bem à minha frente.

"Ai, meu Deus, a internet está explodindo... porque ela estava nua e acreditam que
era uma estudante aqui da KVU."

"Eles normalmente não matam as garotas", uma segunda garota acrescentou,


inutilmente.

Eu vi a cabeça raspada de Lise se erguer quando ela ouviu as palavras "matam as


garotas", e ela se aproximou para ouvir. Rhys estava muito ocupada polvilhando pedaços de
Oreo e flocos de chocolate em bolas de sorvete para perceber o que estava acontecendo.
Isso é bom. Eu não queria minha garota doce preocupada. Lise, por outro lado, aguentava
um pouco mais de pressão que Rhys.
"Ela foi agredida sexualmente?" perguntei às calouras.

"O artigo não disse", ela respondeu, olhando para o cardápio na parede atrás de
mim. "Eu quero um cheeseburger, sem picles. Ah, e uma porção pequena de fritas."

"Onde ela foi encontrada?" Lise perguntou.

"Aparentemente, só a uma milha ou menos da KVU, rumo ao norte."

"Em direção ao Lago Superior", Lise murmurou e depois resmungou de desgosto.

"Ai, meu Deus", a caloura morena suspirou, virando-se para as amigas. "Será que
tem a ver com o braço do Adam Sweeney encontrado nas margens do Lago Superior?" Sua
voz estridente ecoou mais do que ela provavelmente pretendia, e a cabeça de Rhys se
ergueu ao ouvir "Lago Superior", com as bochechas queimando de vermelho, como sempre.
"Eles não conseguem descobrir como ele morreu até encontrarem o resto dele." As garotas
riram, porque, de uma forma macabra e estranha, era engraçado — para todo mundo,
menos para a família de Sweeney e... para Rhys.

"Como eles poderiam estar conectados?" eu argumentei. "Sweeney desapareceu no


outono passado."

"Aposto que há centenas de pessoas no fundo daquele lago", Lise declarou. "É tão
profundo, frio e cheio de peixes que seria o lugar perfeito para desovar um corpo." Ela deu
de propósito um olhar afiado e assustador para a garota, que quase me fez tremer nas
bases. Lise também era caloura, embora você não dissesse. As provações da vida a
amadureceram. Por trás de todo aquele drama e dor, havia alguém com um coração de ouro,
ansiosa para ver um fim a toda essa violência. Eu me sentia próxima das minhas duas
garotas e tinha um forte instinto maternal para protegê-las.

Lise teve mais do que sua cota justa de violência cruel nas mãos de Sweeney e de
seu pai, e Rhys, bem... digamos que você não pode julgar um livro pela capa.
NOVE
Ollie
"Lembra o que tem que fazer?" Darryn me lembrou enquanto jogava um garfo no ar
e o pegava sem olhar. Cody e eu éramos os cozinheiros da casa, e agora que ele se foi, sou só
eu fritando praticamente um porco inteiro para os Hawks.

"Como posso esquecer com você enchendo meu saco o tempo todo?"

"É que você parece distraído, cara. Como se estivesse começando a ter sentimentos
por ela."

"Não tenho diploma de ator e com certeza não tenho o talento natural pra mentir
igual você, então não tá sendo fácil."

"Talvez devesse ter pensado nisso antes de se voluntariar", ele disse, usando agora
o garfo para coçar um ponto nas costas.

Coloquei o bacon cozido em um prato e comecei a quebrar ovos na frigideira


quente, cheia de gordura. Ridge e Josh ficaram por perto esperando sua dose, junto com
mais alguns caras. Agora só restam sete de nós dos doze originais. Adam Sweeney: morto.
Liam Greene: morto. Jace Luxon: vazou. Cody Harrington: vazou. Cam Foreman: morto.

Os rumores espalhavam que a casa era amaldiçoada, mas eu discordo totalmente.


Não há nada de errado com a casa, só um problema sério com quem mora dentro dessas
paredes.

O técnico está pirando porque continua perdendo bons jogadores, e os ex-alunos


estão pressionando a KVPD para encontrar o culpado rápido. Tentaram manter tudo em
segredo para não assustar novos calouros, mas a mídia rapidamente pegou o
desaparecimento de Sweeney e só piorou desde então. É um problema enorme para a
faculdade, porque sem financiamento dos ricos, esse lugar vai pro buraco.

"Você comeu ela naquela noite?" ele perguntou.

"Sim. E daí?"

"Só praticando pro negócio real, né?"


"Pode-se dizer isso." Filho da puta. Estou lutando para esconder que eu
genuinamente gosto da Gretta. Não fazia parte do plano, e ela não faz ideia de qual é o
plano. Ela só acredita que Darryn e eu somos caras legais ajudando ela a caçar o líder.

Ela não poderia estar mais errada.

O que ela não sabe é que tem esquema em cima de esquema, tudo tão podre que
seria preciso uma escavadeira pra desenterrar a verdade. Mesmo assim, provavelmente
ninguém saberá. Nem eu sei qual é a verdade. Porra, talvez alguém precise me explicar um
dia.

Os ovos estalaram e espirraram óleo quente na minha pele. Tudo bem, eu merecia o
castigo. Meu tio e minha tia não me criaram para ser um babaca, especialmente com gente
boa como a Gretta.

"Acho que é o Buchanan", Ridge murmurou, entrando na cozinha segurando sua


caneca vazia com os dizeres "Hot Daddy". Josh rastejou atrás dele, o rosto ainda deformado
depois que Harrington fez uma "reconstrução facial" nele com um taco de beisebol. Ele
mereceu. Todos eles mereceram, porra.

"Buchanan?" Darryn perguntou.

"Por trás de toda essa merda", Ridge disse. Não precisava explicar mais, a gente
sabia exatamente do que ele estava falando. "Porra, mal posso esperar pelas férias. Já cansei
dessa porra toda aqui."

Todos grunhimos em concordância.

"Você só acha que é o Buchanan porque ele é o presidente da Serpente e do Cálice",


Darryn argumentou. "Ele pode não ter nada a ver com os negócios nojentos do Vanderbilt."

Darryn e eu sabíamos que a detetive Mathias conversou com Buchanan quando


Liam foi sufocado no leito do hospital, e ela achou que ele estava limpo. Mas ela mudou de
ideia e agora ele está no topo da lista de suspeitos.

"Como ele pode estar no comando da sociedade e não saber de nada?" Ridge
rebateu. "E por que caralhos aquele merdinha do Vanderbilt ainda não foi preso?"

"Provas insuficientes", eu disse.

"Tem prova suficiente pra afundar um maldito navio de guerra. Quer dizer", ele
virou para Josh, que estava estranhamente quieto, "foi o Vanderbilt que arrumou aquele
trabalho pra você."
Josh mal reconheceu o comentário, já que essa foi a razão pela qual ele levou uma
surra. Ele precisava que acusações de droga desaparecessem e, em troca, fez um serviço
sujo em Jace Luxon. Ordem vinda de cima. Obviamente subestimaram a força da amizade
entre Luxon e Harrington.

"Você está preparado para testemunhar se isso for para o tribunal?" Darryn
perguntou a Josh.

Josh hesitou antes de responder: "Sei lá."

Alguém tinha algo sobre ele. Talvez fosse o Cody, talvez a Serpente e o Cálice — de
qualquer forma, ele estaria morto se dedurasse.

Ouvi meu telefone bipar sob o som dos ovos chiando e chequei a mensagem: Você
sabe o que precisa fazer.

Eu: Está cristalino.

Apaguei as mensagens imediatamente e voltei a focar nos ovos fritos. Sete pratos
estavam alinhados — dois ovos por prato e três tiras de bacon, mais tomate grelhado e
torradas, caso quisessem algo extra. Eles deveriam estar me pagando por isso.

"Você vem para o trabalho hoje à noite?" perguntei ao Darryn depois que Josh e
Ridge saíram com seus pratos para jogar Grand Theft na sala.

"Não é parte do plano?" ele respondeu com ironia. "Brincar de protetor", enquanto
batia no peito como um gorila.

Ele leu minha expressão de preocupação.

"Não se preocupe, não vou invadir seu território", acrescentou, agora usando o
garfo para pentear seu cabelo ruivo. Ele tinha aquele tom de pele escocês sardento que
sempre parecia queimado de sol. Quando realmente pegava sol, sua pele empolava como
plástico bolha.

"É melhor não encostar, porra", murmurei. Nunca fui de xingar muito até chegar na
KVU como um ingênuo de dezoito anos. Caramba, no meu primeiro ano aqui perdi a
virgindade, experimentei neve entre outras substâncias ilegais, participei de mais de uma
orgia e comecei a xingar como um maldito pirata. Três anos depois, estou entediado com
toda essa cena de festa e mal posso esperar para me formar e deixar essa cidade maldita
para sempre.
Vim de uma família unida, onde raramente guardamos segredos uns dos outros. Só
quando cheguei aqui percebi que muitas famílias não são como a minha. Muitos jovens
sofrem em silêncio, sem ter para onde ir — ou, se forem como Cody Harrington, resolvem
seus problemas espancando a merda dos outros. Eu tinha que admirar o cara e,
honestamente, esperava com todo meu coração que a polícia não descobrisse o que ele fez.
Justiça poética em seu melhor.

No entanto, meu histórico é bem diferente do Cody e de muitos outros aqui. Se eu


me metesse em uma enrascada séria, meus pais moveriam montanhas para me ajudar.
Mesmo assim, estava guardando segredos horríveis deles, e meus pais, tia e tio estavam
começando a fazer perguntas. Eles notaram uma mudança em mim, especialmente desde o
desaparecimento de Sweeney no outono passado. Tudo começou antes disso, mas o sumiço
de Sweeney, seguido pelo assassinato de Liam Greene, só trouxe tudo à tona. E agora
descobriram que Sweeney estava morto o tempo todo. Nenhuma surpresa ali.

Finalmente pude sentar e comer minha comida, depois de alimentar a aldeia


inteira. Havia uma mensagem da Gretta que eu não havia respondido, perguntando quando
a buscaríamos hoje à noite. O destino era o mesmo — Grand'Mere Hotel —, mas eu sabia
muito bem que a tarefa dada a ela seria bem diferente de limpar vômito de lençois e
descartar seringas.
DEZ
Gretta
Hesitei antes de abrir a porta do Quarto 23 no Grand'Mere Hotel.

Não foi porque estava preocupada com a catástrofe que poderia estar do outro
lado, mas sim por uma rápida troca de olhares entre Ollie e Darryn que me arrepiou. Durou
apenas um segundo, mas comecei a questionar tudo — inclusive as motivações deles.
Minha mão pairou sobre a maçaneta até que Ollie se aproximou e perguntou se eu estava
bem.

"Hmm, só estou um pouco nervosa", menti. Na verdade, não era mentira. Eu estava
nervosa.

"Eu entro com você", ele ofereceu. "Dessa vez não há regras dizendo que você não
pode levar alguém."

"Verdade." As instruções eram simplesmente ir ao Quarto 23 e esperar que um


entregador deixasse um pacote.

O quarto estava completamente vazio e limpo, exatamente como eu o deixara. Ao


me aproximar da porta de correr, senti o hálito de Ollie na nuca, e um desejo percorreu meu
corpo. As cortinas estavam abertas, as luzes acesas, e nossos reflexos dançavam sobre o
oceano de luzes da cidade.

Ele era muito mais alto que eu, minha cabeça mal chegava ao seu ombro. Quando
ele enterrou o rosto em meus cabelos, me inclinei em seu abraço.

"O que você acha?" ele sussurrou.

"Hã?"

Ele inclinou a cabeça em direção à cama. "O que você diz?"

"E se o entregador aparecer?"

"Eu atendo a porta, pego o pacote e fecho a porta na cara dele."

"Sim, mas eu devia estar fazendo algum tipo de trabalho."


"E daí? Não vou demorar, e arrumamos a cama depois. Eles não vão notar nada."

Meus olhos naturalmente vagaram para os cantos do quarto, enquanto a sensação


de estar sendo observada pesava sobre mim. Seus lábios encontraram meu pescoço, e suas
mãos desceram até meus seios, apertando meus mamilos. Acho que era isso que eu sempre
quis do Ollie, mas suas ações pareciam um pouco forçadas, até mesmo encenadas.

"Vamos", ele respirou em meu ouvido, passando a mão pela minha e me levando
até a cama grande. "Relaxe."

O Ollie que eu via na minha frente era completamente diferente daquele que eu
conhecia há meses. Hormônios famintos e sexo podem fazer isso até com as criaturas mais
dóceis.

Ele se sentou na beirada da cama e segurou minhas nádegas, me puxando por cima
dele. Deitado, ele me segurou tão perto, seu aperto, inabalável. Mas minha paranoia estava
colocando uma barreira entre nós, e eu simplesmente não conseguia entrar no clima.

Isso não impediu o Ollie. Nada poderia impedi-lo naquele momento.

"Viva um pouco, gata", ele insistiu, quando me enrijeci em seus braços. "Ninguém
vai saber."

Deixei que ele me levasse, embora me sentisse estranha com tudo aquilo. Quando
tentei rolar para o lado, ele me segurou firme, beijando e mordiscando, sua boca
encontrando meus lábios.

"Quero você por cima", ele murmurou, seus dedos subindo por baixo da minha
blusa até meus seios novamente.

Foi um momento tão estranho, fora do personagem. Toda vez que eu tentava
manter o contato visual, ele desviava o olhar. Ele me deixou nua em segundos, segurando
meus quadris enquanto eu montava em seu pau. Só quando ele começou a brincar com meu
clitóris é que comecei a sentir algo.

"Vamos", ele murmurou, empurrando-se para dentro de mim. "Anda logo."

"Cala a boca", eu retruquei. "A ideia foi sua."

"Eu não—"

"Você não o quê?"


Seus olhos passaram por mim por apenas um instante, mas foi o suficiente para me
preocupar. Pupilas dilatadas e uma distração repentina eram uma bandeira vermelha.

Senti um calafrio e me virei, apenas para meu rosto ser agarrado no meio do
movimento por suas mãos grandes.

"Olhe para mim, linda", ele murmurou.

Eu poderia estar enganada, mas captei uma figura no meu campo de visão
periférico. Precisava olhar de novo para ter certeza de que não estava imaginando coisas.

"Não pare", Ollie gemeu.

Eu não conseguia me concentrar e definitivamente não estava a fim do que


estávamos fazendo. Inclinei-me para frente, dando a impressão de que estava chegando lá, e
trabalhei nele com mais força. Ainda sentia uma presença no quarto e, assim que Ollie
gemeu e gozou, virei a cabeça novamente.

Minha respiração travou na garganta e me esforcei para cobrir meu corpo nu.

Um homem vestido de preto, usando uma máscara branca macabra, estava lá,
descaradamente nos observando. Sua cabeça estava inclinada, com o dedo no queixo, em
uma pose estranha de curiosidade.

"Desculpe", eu gaguejei, em pânico.

Sem dizer uma palavra, o homem mascarado saiu em direção à porta e


desapareceu.

Vestindo minhas roupas às pressas, corri atrás dele. Darryn estava sentado no
chão, meio atordoado, do lado de fora do quarto. "Você viu o homem de máscara?"
perguntei.

"Não", ele balançou a cabeça, parecendo confuso.

Corri pelo corredor até o elevador. As portas estavam fechadas, e o elevador estava
descendo para o térreo. Girei nos calcanhares para descer as escadas e esbarrei em Ollie.

"O que você está fazendo?" ele perguntou, com a voz grossa, como se não fosse
óbvio.

"Aquele homem. Quem era ele?"


"Achei que fosse o entregador."

Não comprei sua resposta, e minhas suspeitas só aumentaram. "Usando uma


máscara."

"É, bem, essa coisa toda é meio que uma operação secreta para esconder quem está
por trás. Talvez isso inclua o entregador."

"O que ele entregou?"

"Não sei. Saí correndo atrás de você."

"Você sabia que ele estava lá nos observando", apontei para o rosto dele.

"Juro que não sabia."

Mentiroso.

Darryn parecia perplexo, tentando entender o que estava acontecendo. Como o


homem mascarado passou por Darryn sem ele perceber? Entrei de volta no quarto do hotel
e revirei o lugar procurando por um pacote, instruções ou qualquer coisa. O quarto estava
vazio, então comecei a arrumar a cama enquanto Ollie ficava parado na porta, hesitante.

"Eu..."

"Não diga uma palavra", cortei. Eu estava confusa com a traição de Ollie. Pensei que
ele estava aqui para me proteger.

Conforme a lógica se instalou, comecei a me convencer de que não havia como Ollie
ter visto o homem ali. E se ele tivesse visto, com certeza teria se assustado e mandado o
cara parar de nos espiar. Mas ele não fez isso. Em vez disso, continuou, quase parecendo
que estava gostando. Quase.

Suas ações pareciam calculadas, deliberadas. Não necessariamente estimuladas,


mas forçadas a continuar, fingindo que estava gostando.

"Ugh!" Minha cabeça estava girando.

Depois de arrumar a cama, sentei na beirada, esperando meu "trabalho" ser


entregue.

"Desculpe", a desculpa de Ollie pareceu sincera quando ele se sentou ao meu lado.

"Por quê?"
"Por..." Ele esfregou a nuca com a mão, bagunçando ainda mais o cabelo já
despenteado. "Te chatear."

Lancei a ele um sorriso apertado para mostrar que estava bem, mesmo que meu
interior estivesse em colapso. Que porra eu me meti aqui?

O telefone no criado-mudo tocou, e eu pulei de susto. Ollie se levantou para


atendê-lo. "Sim", ele resmungou e desligou. "Disseram para a gente ir embora."

"Oh?"

Ao passar pelo saguão, o mesmo homem de antes estava atrás do balcão, com seu
colete brilhante e camisa perfeitamente passada. "Me deram um trabalho", disse ao me
aproximar.

"Sim, deram", ele respondeu prontamente, sem tirar os olhos da tela do


computador. "Você acabou de falhar."

O calor subiu do meu pescoço para o rosto. "Sinto muito por isso", disse,
envergonhada. Obviamente, o homem mascarado contou o que Ollie e eu estávamos
fazendo na cama. "Vou ter outra chance?"

Seus olhos ainda não se desviaram da tela. "Isso não cabe a mim decidir."
ONZE
Dominus
Pesquisei o nome "Bruno" em Kingston Valley no Google e só apareceram
doze possibilidades.

Seis foram eliminados imediatamente: um era um cachorro Terranova branco com


páginas próprias nas redes sociais (e uma legião de fãs), três eram crianças e dois, idosos.
Restaram seis possíveis Brunos, e mesmo assim, nenhum era do tipo que Vic costumava
curtir.

Ampliei a busca para Detroit e até Chicago, o que desencadeou uma enxurrada de
Brunos – nomes e sobrenomes. Desisti depois disso. Se ela queria se divertir de forma
sórdida com algum gorila-sapiens, por que eu deveria impedi-la?

Exceto que…

Isso me irritou pra caralho.

Para tirar a vadia da cabeça, recostei-me na cadeira para assistir Cattus e seu
namorado desengonçado transando de forma constrangedora no quarto de hotel. Depois
dos primeiros cinco minutos, joguei o telefone longe, enojado.

Foi horrível.

Além de horrível.

No entanto... seu corpinho bem cuidado se movendo sobre o membro gigante dele
era incrivelmente tentador. Suas nádegas, pêssegos perfeitos; seus seios, pequenos e firmes.
Pele leitosa e suave.

Minha rola latejou contra o zíper, então a libertei e comecei a me masturbar


enquanto assistia à cena patética repetidamente. A pequena Cattus cresceu e, bom, além do
cabelo curto e doce, ela era tão sem graça quanto seu pai degenerado.

Mesmo assim, não podia negar a atração que ela exercia sobre mim. Me perguntei
se ela estaria interessada em fazer parte do meu harém, já que há uma vaga. Ah, e ouvi
recentemente que o corpo de Quartus foi encontrado – pelada e escondida sob um arbusto
à beira de uma estrada rumo ao norte. Segundo o relatório da polícia, alguns pequenos
mamíferos deram uma bela mordida nela. Obviamente, o cheiro do seu perfume barato não
espantou os bichinhos.

Meu telefone tocou. Vanderbilt. Ejaculei na mão, limpei a porra com um lenço e
atendi.

"O cliente do Quarto 23 quer outro encontro", ele disse, solene. "Quer o mesmo
casal, só que mais... treinado."

Isso me surpreendeu. Ele se recusou a pagar depois de testemunhar a performance


desastrosa. E eu nem o culpo. Como ele não pagou, cancelamos o trabalho, e Cattus não
recebeu nada.

"Por que ele quer o mesmo casal? Temos vários outros no arquivo."

"Nas palavras dele... o homem é" – ele pigarrou – "extremamente bem dotado, e a
mulher é pequena... bem, pequena perto dele."

Suspiro. Eu adoro o jogo, mas às vezes é tão cansativo tentar agradar a todos. No
entanto, fui eu quem escolheu assumir esse papel quando me foi oferecido. Ninguém
apontou uma arma para minha cabeça.

"Marque uma reunião com a mulher", ordenei.

"Com quem será a reunião?"

"Comigo." Fiz uma pausa, considerando minhas motivações. "Sozinha. Sem


segurança."

"Tem certeza de que é sábio?"

"Só faça o que eu disse, Benson."

"Tá bom."

"Ah, e... você não ouviu falar de alguém chamado Bruno andando por aí como um
morcego meio morto?"

"Er... não. Acho que não temos nenhum Bruno nos registros. Por quê? Acha que é a
polícia?"

Soltei uma risada diante da preocupação genuína dele. A KVPD não pode nos tocar,
mesmo se tentar. "Você é hilário, Benson."
Ele hesitou na linha, então eu sabia que havia mais.

"Fale."

"Acabou de chegar uma encomenda."

"E? Encomendas chegam toda semana, por que o suspense?"

"É para liquidar alguém."

"Quem?"

"A detetive Mathias."

Inclinei a cabeça para trás e ri. "Quem fez o pedido?"

"Veio de cima."

Hesitei. "Motivo?"

"Metendo o nariz onde não é chamada."

"Esse é o trabalho dela, e mal podemos culpá-la por isso. Crimes foram cometidos,
e ela está tentando caçar o responsável."

"Ele está preocupado que ela esteja escondendo informações do DP sobre os casos
recentes. Há rumores de que ela está recorrendo a instâncias superiores."

Gemí. Era a última coisa de que precisava. "Com os sistemas atuais, ela não pode
nos tocar. Vamos manter assim."

"Você aceita a ordem?" Vanderbilt perguntou.

Hesitei, porque não parecia certo. "Sim, aceito a ordem. Mas não tenho certeza de
quem você encontrará para executá-la."

"Deixe isso comigo", Vanderbilt respondeu.

"Mudando de assunto, como está indo sua tese?"

"Bem, como você pode imaginar, boa parte do meu tempo é gasta trabalhando para
você, então estou um pouco atrasado."
"É imprudente deixar atividades extracurriculares atrapalharem seus estudos",
provoquei, sentindo um olhar de desdém do outro lado da linha. Não qualquer olhar, mas
aquele olhar arrogante típico de Vanderbilt.

"Acabei me envolvendo mais do que esperava. Digamos só isso."

"E você é bem pago por isso. Imagino que esteja ansioso para se formar e voltar
para Boston?" Já sabia a resposta.

"Sim. Acho que, uma vez que eu pegar meu diploma, nunca mais volto para essa
universidade maldita. Sem ofensa."

"Nenhuma ofensa. Mas você continuará sendo membro, porque uma vez dentro,
nunca mais sai."

"A menos que alguém mate você", ele acrescentou.

Senti um arrepio estranho na base da coluna quando ele enfatizou a palavra "você"
com um tom especialmente afiado. "Exatamente."
DOZE
Ollie
"Você deve ter pelo menos uma suspeita, não?" Michael Wheeler presumiu.

Darryn e eu fomos chamados pela detetive Mathias para uma reunião com o reitor
da Kingston Valley University. Ele está ansioso para ver um fim no banho de sangue — por
motivos óbvios — e está ficando irritado com a falta de progresso. Gretta não foi convidada
para essa reunião.

"Acho que é o Thomas Buchanan", Darryn deu sua opinião.

Wheeler coçou a testa, olhando pela janela do escritório que dava para a University
Square. O telhado do Benedictine Athenaeum estava no canto do seu campo de visão. "Você
acha que é o Thomas ou tem provas concretas contra ele?"

Mathias balançou a cabeça. "Apenas suposições. Estamos olhando para ele porque
ele é o presidente da sociedade C&C."

"Mas vocês têm provas suficientes para prender Benson Vanderbilt?"

"Quase." Mathias pareceu evasiva, segurando informações. Era de se esperar, já que


cada pingo de evidência que ela coletou desapareceu ou foi contaminada.

"Puta merda, se você apertar o Vanderbilt o suficiente, ele vai cantar. Então por que
não fazem isso?" eu resmunguei para Mathias.

Tudo que Cody Harrington precisou fazer foi apontar uma arma para as bolas do
cara, e ele cuspiu os nomes dos que machucaram o Lux. Não parece tão difícil, exceto pelo
fato de que a família Vanderbilt tem uma fortuna de influência. O que pode ser um
probleminha para alguns.

"Temos que ser muito cuidadosos", Mathias afirmou.

Eu estava pensando na Gretta enquanto todos falavam em círculos. Me sentia mal


pelo jeito que a tratei no Quarto 23. O problema era que não podia explicar que não tive
escolha.
Dizer que me arrependi de ter me voluntariado para esse trabalho é pouco. Agora
estou até o pescoço.

Alguém chamou a atenção de Wheeler, e eu segui seu olhar. Por uma estranha
coincidência, era o próprio Thomas Buchanan caminhando em direção ao Athenaeum,
provavelmente para preparar a câmara para a reunião da Serpente e do Cálice hoje à noite.

Enquanto passava pelos alunos, ele acenou cumprimentando como se fosse alguém
especial.

Todo mundo conhecia seu nome. Todo mundo sabia quem e o que ele era. Ele
sempre andava de cabeça erguida e régia, como um vencedor nato. Ninguém poderia
tocá-lo, e ele sabia disso. Mesmo agora, com o nome da universidade manchado, ele agia
como se não tivesse nada a ver com isso.

"Ollie", Mathias chamou meu nome.

Eu nem estava ouvindo. "Hã?"

"Você vai ficar bem atento na reunião hoje à noite?"

"Sim, mas esse tipo de coisa nunca é mencionada nas reuniões. Eles mantêm tudo
deliberadamente separado."

"Mesmo assim, preste atenção em novos membros, linguagem corporal..."

"Sangue nas mãos", Darryn acrescentou, tentando ser engraçado — só que não
tinha graça nenhuma.

Depois da reunião, vi Lux, Harrington e Ridge jogando basquete e fui me juntar a


eles. Estava quente, o sol queimando minha nuca, mas eu precisava de uma descarga física.
Tudo estava me deixando pra baixo. Minha família não parava de perguntar se eu estava
bem, e Darryn ficava me enchendo sobre "manter o plano". Tudo que eu queria era uma
porra de uma vida universitária normal.
Só que nada ao meu redor era normal, e eu não parava de ser lembrado disso. Lux
mancava e fazia caretas a cada arremesso. Graças a muita fisioterapia, ele já consegue se
mover sem a bengala. Mas ele prefere tê-la à mão — como arma.

Esse é o problema. Estamos todos cagados de medo. Até o Harrington estava


mostrando sinais de desconforto. Ele sempre teve uma postura confiante, dominadora,
como se ninguém ousasse tocá-lo. E ele estava certo: ninguém tocou nele. Em vez disso,
foram atrás do coração e machucaram seu melhor amigo — e tenho quase certeza que a
namorada dele também foi atacada. Não que eu tivesse coragem de perguntar.

A gente não fala sobre isso.

"Vai na reunião hoje à noite?" Ridge perguntou. Jesus, nunca saía da mente. Não
consigo escapar dessa merda.

"Nem fodendo", Lux respondeu rápido.

"Você sabe que uma vez dentro, não tem como sair, cara", Ridge nos lembrou,
coçando o cabelo raspado. "A menos que votem pra te expulsar."

Ou te matem, eu pensei, mas mantive a boca fechada.

"Que se fodam", Cody cuspiu, protegendo seu parceiro. "E eu também não vou, a
não ser que seja pra acender um fósforo."

Há consequências por faltar às reuniões. Buchanan vai anotar e repassar pros


membros Platinum que controlam os fantoches.

Depois de uma hora, fizemos uma pausa na sombra do prédio de Ciências


Aplicadas. Nossos corpos pingavam de suor sob o sol escaldante.

"Conseguiu algo com seu trabalho disfarçado?" Harrington perguntou baixinho, pra
Ridge e Lux não ouvirem.

Eu grunhi um não.

"Inútil pra caralho."

"É muito mais complicado do que você imagina."

"É? Me dá uma amostra."


Hesitei. Eu tinha jurado segredo, mas esse cara era bom em guardar segredos.
Aposto que tem centenas debaixo dessa camisa suada. E eu tô começando a cagar pra isso.

"Policiais sujos destruindo provas."

"Isso explica porque não fizeram nenhuma prisão."

"Tem ideia de quem deveria ser pego?"

"Vanderbilt e Buchanan. Talvez mais."

Eu suspirei. "É."

"É tão óbvio quem são os culpados..." ele resmungou.

"Dentro da escola. Mas fora, quem diabos sabe?"

Ele se inclinou, esfregando os lábios com os dedos, os olhos fixos em Ridge.


"Conhece Tristan Fisher?"

"Não."

"Primo da namorada do Lux. Lutador de kickboxing."

Eu encolhi os ombros, ainda sem entender.

"Ele é um dos dois caras que surraram Sweeney e Greene uma noite no outono
passado."

"Ah sim, o calouro. Ex da Luca?"

"Que seja. Enfim, Lux me contou que ele e o amigo nerd de matemática invadiram a
câmara e instalaram câmeras."

"Porra. Quando?"

"Ano passado. Antes do Sweeney desaparecer. Ficaram só uma noite pra filmar as
reuniões da C&C." Ele estalou os lábios quase cômico. "Digamos que ficaram bem
decepcionados quando viram as imagens."

Eu grunhi. Perdi meu senso de humor há uma semana. Embora nunca tenha sido
tão vulgar quanto o de Harrington e Lux, que tinham seu estilo especial de humor de
Chicago.
"Limpo como a xoxota de uma freira", ele acrescentou, só pra provar meu ponto.

"O que você tá pensando?" perguntei.

"Preciso soletrar? Faz esses dois pentelhos instalarem câmeras de novo. Se fizeram
uma vez, fazem outra."

"Você tá esquecendo um detalhe."

"Qual?"

"Provas obtidas ilegalmente são inadmissíveis no tribunal", eu informei.

Ele bufou. "Quem caralhos falou em lei e tribunal? Porque eu não falei. Eu quero um
castigo que nenhum sistema de justiça pode dar."

"Tipo o quê? Assassinato?"

Ele jogou a cabeça pra trás e riu, chamando a atenção de Lux e Ridge. "Não, cara.
Vazar as imagens no Tiktok, Youtube, Instagram, qualquer lugar. Assim eles não podem
esconder a verdade e fica registrado pra sempre. A porra da polícia não conseguiria
ignorar."

Deixei a ideia dele fermentar na minha mente. "Talvez funcione. O problema é que
eu não sei quando acontecem as orgias. Só marcam quando alguém com muita grana pede.
Vanderbilt tem todas essas informações no computador dele e organiza os alunos que se
encaixam."

"Então é quando alguém quer viver uma fantasia e está disposto a pagar por isso?"

"Acho que sim." A imagem do homem mascarado no canto do quarto 23 ecoou na


minha mente. Fiquei um pouco assustado com aquilo, mas também um pouco excitado. Só
um pouco. Como chamam isso? Perturbado. "Há uma troca que acontece. O aluno ganha
algo em retorno."

Pela minha pequena aventura no quarto 23, não ganhei nada, porque o
"observador" ficou decepcionado com meu desempenho. Tenho quase certeza de que
minhas bolas encolheram um pouco quando o Vanderbilt me disse isso. Basicamente, ele
disse que eu era uma merda no sexo.

Harrington se recostou no banco até os ombros baterem na parede do prédio. "É,


eu conheço bem o apego do Vanderbilt ao laptop dele. Alguém precisa roubar essa porra
pra dar uma olhada."
Eu ri. "Aquela coisa nunca sai do lado dele. Como caralhos você vai tirá-lo dele?"

Ele cruzou os braços musculosos e refletiu. "Conheço alguém que talvez topasse
bisbilhotar."

"Quem?"

Ele se inclinou para frente quando Lux veio se sentar ao lado dele. "Becca Gobal."

"Quem?"

"Ex do Vanderbilt."

"A Rhys é amiga dela", Lux contribuiu. "Por que? Do que vocês tão falando?"

"Você acha que a Gobal toparia um pequeno arrombamento?"

"De quê?"

"Do laptop do Vanderbilt."

Aquele sorriso de menino que já enlouqueceu tantas garotas bêbadas apareceu no


rosto dele. "Eu diria que sim."

"Como pode ter tanta certeza?" perguntei, confuso.

"Digamos que ela deve uma pra ele. E não tô falando de doce."

"Entendi. Então precisamos saber quando será a próxima orgia", Cody explicou.
"Assim que soubermos, a Rhys pode convencer o Fisher e o nerd da matemática a invadirem
a câmara pra colocar câmeras ou celulares."

"Você já tem tudo planejado, hein?" Jace riu, enxugando o suor da testa.

"Sim." Ele riu com malícia. "Assim que eu colocar as mãos na filmagem da porra da
suruba, esse bebê vai viralizar. Vou ter um prazer enorme em ver todo esse estabelecimento
e seus capachos sem coluna se contorcerem."
TREZE
Ollie
O procedimento habitual era chegar às portas do Athenaeum antes das
19h15. A reunião começava às 19h30, mas as portas fechavam e eram trancadas às 19h20.
Mostrávamos ao porteiro nossos anéis e a mensagem de texto que todos os membros
recebiam quando eram avisados de uma reunião. Isso supostamente provava que éramos
membros legítimos. O sistema era completamente falho, mas ninguém se preocupava em
testá-lo ー principalmente porque os membros reconheceriam instantaneamente alguém
que não deveria estar lá.

É proibido entrar na câmara com armas e/ou celulares. Antes, éramos revistados,
mas isso consumia muito tempo. Agora, temos que passar por um detector de metais.

Para minha surpresa, Cody estava sentado no canto fundo da câmara, ao lado de
Ridge. Josh, que havia sofrido a fúria de Cody, estava sentado duas fileiras à frente, sozinho.

No início do ano letivo, os Bloodz do Vault ficavam no fundo, zoando os membros


pretensiosos em voz baixa. Os atletas só estavam lá porque nossos pais eram ricos e/ou
influentes. E ser membro vitalício trazia grandes benefícios, como oportunidades raras que
você nunca teria no mundo exterior.

Tudo havia mudado. E ainda assim, nada havia mudado.

Levantei a sobrancelha em cumprimento a Ridge e Harrington e sentei ao lado de


Darryn. Quando ouvi Harrington tossir deliberadamente alto, virei para olhá-lo. Seus olhos
estavam fixos em Vanderbilt, que se agitava pelo lugar, organizando o palco para Buchanan.

Eu sabia que Vanderbilt queria o cargo de presidente da sociedade C&C, mas


Buchanan foi eleito à sua frente pelos membros sênior e Platinum. Você pensaria que isso
deixaria um gosto amargo em sua boca. Mesmo assim, ele parecia feliz sendo o "resolvedor"
de porcarias. Em termos de personalidade, ele era mais adequado como um pau-mandado
do que como líder.

Quando Buchanan subiu ao palco vestindo o traje tradicional da sociedade, olhei ao


redor da câmara em busca de lugares para câmeras. Eu me perguntava onde Fisher as
instalou da última vez, porque não havia muitos lugares onde uma câmera não fosse óbvia.
Havia algumas vigas estruturais grossas bem acima de nossas cabeças que poderiam
funcionar.

As paredes eram cobertas por grandes tapeçarias que representavam os dias


antigos, e o símbolo da Serpente e do Cálice estava gravado na parede atrás do palco. A
maior parte da câmara era subterrânea, então as únicas janelas eram fendas estreitas perto
do teto que pouco contribuíam para a iluminação.

A câmara sempre era sombria, mesmo com as luzes acesas. Nenhuma quantidade
de iluminação poderia dissipar a escuridão.

Começamos a noite com o habitual juramento cantado, então Buchanan abriu um


livro de limeriques e começou uma série de retóricas humorísticas. Nenhum de nós no
fundo achou graça.

Em seguida, Buchanan nos atualizou sobre o que alguns dos membros


recém-formados estavam fazendo, incluindo o ex-presidente da sociedade, Jonathon
Wheeler, filho de Michael Wheeler. Como você pode imaginar, Wheeler aterrissou
suavemente fora da escola, assim como dentro. Wheeler era apenas outro Buchanan.

As mesmas pessoas, linhagem diferente. Até tinham o mesmo penteado para trás e
rostos tão expressivos quanto um boneco Ken.

Sentindo o peso do cansaço por falta de sono, fechei os olhos ao som da voz de
Buchanan.

Meus olhos se abriram pouco depois, quando senti o chão tremer, apenas para
descobrir que era o joelho de Darryn balançando freneticamente ao meu lado. Ele estava
roendo as unhas e parecia nervoso. Mal podia culpá-lo.

"Me deram um trabalho", ele sussurrou.

"Sortudo. É parecido com o que eu fiz?"

"Não. Tô em dúvida se vou aceitar."

"O que tão oferecendo?" Não adiantava perguntar detalhes — ele já devia ter
assinado aquele contrato de confidencialidade.

Ele balançou a cabeça ruiva, e eu não insisti. Seja lá o que fosse, tinha deixado ele
perturbado. Ou era uma oferta irrecusável, ou puro chantagismo. Vanderbilt era capaz dos
dois.
Fechei os olhos de novo e só os abri quando a reunião terminou e a sala foi aberta
para discussão. Quase todo tópico estava em pauta — afinal, a sociedade C&C controlava
praticamente tudo nessa universidade.

Os membros até escolhiam qual peça o grupo de teatro ia encenar (pra desespero
do grupo de teatro). Decidiam o cardápio do Kilbernie Hall, incluindo o jantar de Natal.
Quais professores seriam contratados. Até o cheiro do sabonete dos banheiros. Tudo
porque os ex-alunos ricos (que viraram adultos mega ricos) gostavam de controlar onde
seu dinheiro era investido.

Era esse o problema, e sempre gerava debates acalorados no salão da C&C.

Normalmente, nessa hora a galera do time já vazava — mas não sem antes roubar
uns sanduíches da cozinha. Dessa vez, porém, notei que Harrington ficou. Seu olhar era
quase violento, acompanhando Vanderbilt e Buchanan pela sala.

Estava indo embora com Darryn e Ridge quando Vanderbilt me parou, pedindo pra
conversar em particular depois. Se era pra ficar até o fim, pelo menos ia encher o bucho.
Peguei sanduíches e pastéis e voltei pra minha cadeira, ao lado de Cody, que mal reagiu
quando sentiu o cheiro de massa folhada.

"Técnicas de intimidação?" perguntei, entregando-lhe um pastel e dois sanduíches


de atum.

Ele enfiou tudo na boca. "Só estudando o comportamento da presa antes do


ataque."

Eu ri.

"Aliás, a Becca Gobal tá no apartamento dele agora, vasculhando o laptop."

"Porra, rápido hein."

"Sem tempo a perder."

"Pensei que ele traria o laptop."

"É. Não tínhamos certeza. Mas não vi ele. E você?"

Balancei a cabeça.

"Se tivesse trazido, estaria na cozinha."


"Não vi."

"E não tá perto da cadeira dele. Então deixou provavelmente a sujeira em casa, e a
Gobal tá descobrindo quando será a próxima suruba."

"Você é um filho da puta esperto, hein."

"Sim."

"Tomara que a senha não seja difícil."

"Ah, vai ter senha. Mas ela acha que sabe qual é."

"E?"

"Montblanc."

"Previsível."

Ele deu uma risada alta. "Né? Então tô só garantindo que ele fique aqui e não
resolva ir embora cedo."

"Ele não vai. Quer falar comigo depois."

Ficamos em silêncio ouvindo o tópico da discussão: os dois homens espancados até


a morte perto dos laboratórios e as partes do Sweeney encontradas no Lago Superior.

Olhei pra Cody pra ver se ele dava algum sinal de nervosismo. Nada. Ele só
observava o debate, impávido. Cody era culpado pra caralho, mas você nunca diria.

A discussão se arrastou por uma hora, até Buchanan tocar o sino. Graças a Deus.

Enquanto todos saíam — inclusive Cody —, Vanderbilt me chamou.

"O cliente quer você de novo", foi tudo que ele disse. E eu entendi. "Ele gostou do
seu... porte."

"Ótimo. Não. Quem vai ser a garota?"

"A mesma. Ele só quer que vocês pratiquem mais."

"O que significa?"


"O que você acha? Continue transando com ela até seu desempenho merecer uma
medalha."

Me irritou ele basicamente dizer que eu era ruim de cama — e, ok, eu tinha sido
péssimo naquela noite. Em minha defesa, foi uma situação bizarra, e eu odiava enganar a
Gretta. "É, não tô a fim de mais trabalhos. Além disso, acho que ela não chega perto de mim
depois do que fiz no quarto 23."

"Se ela topar, você aceita?"

Suspiro. Eu já não queria mais nada disso, mas tinha prometido protegê-la. Transar
com a Gretta não era incentivo suficiente, mesmo gostando dela. Mas eu era do tipo que
cumpria a palavra, mesmo que me fodesse.

"Tá", respondi sem entusiasmo. "Mas quero ser bem pago."

"Ah... você será", ele disse, indo embora. "É preciso sempre alimentar o monstro."

Quem diabos era o monstro? O cliente? O líder dessa merda toda? Ou talvez ele
estivesse falando de mim.
CATORZE
Gretta
Fui conduzida à câmara mal iluminada por um cara vestido da cabeça aos pés
de preto. Não contei aos meus protetores, Ollie e Darryn, que fui convocada porque queria
encontrar Dom cara a cara. Ou cara a máscara, talvez. Me disseram para sentar na primeira
fileira e olhar para a frente.

Minha cabeça girava. Era a primeira vez que eu pisava naquela câmara e quase
podia sentir a imundície sórdida e sexista escorregando pelos meus ossos. Mesmo com a
decoração sendo decepcionante, senti um arrepio quando meus olhos passaram pelo
símbolo da Serpente e do Cálice na parede atrás do palco. É o mesmo símbolo que adorna a
fachada dos quatro prédios originais da Praça da Universidade – o Ateneu Beneditino, a
Biblioteca Edgar Allan Poe, a galeria de arte e o prédio principal da administração.
Engraçado como, quando se vê algo todo dia, ele perde o significado e o poder. Mas ali, o
símbolo era reverenciado como um crucifixo, subitamente recobrando força.

Passos suaves sangraram atrás de mim e olhei de relance para a direita, onde o
segurança estava parado. Seus olhos estavam colados no meu rosto, garantindo que eu não
me virasse. Acho que ele era um dos seguranças que ladeavam Dom quando ele estava me
considerando para um trabalho.

Os passos pararam atrás de mim e eu estremeci de antecipação. Ele se sentou


diretamente atrás de mim e eu reprimi um revirar de olhos. Qual era o ponto de tanto
segredo? Eu já sabia quem ele era.

“Você recebeu o presente?” ele sussurrou contra a parte de trás do meu pescoço.

Fingindo ignorância: “Que presente seria esse?” Estou supondo que ele se referia à
bala, mas vai saber. Falar em enigmas dava prazer a ele.

“Você sempre teve um pescoço lindo, Cattus,” ele murmurou.

Respirei fundo, tentando dissolver o tijolo de irritação que se formava no meu


estômago. “Por que você me trouxe aqui?”

“Por nenhum motivo.”


Senti o dedo dele pressionar o ponto logo abaixo da minha nuca e minha pele se
arrepiou de calor.

Olhei para o segurança para ver se ele estava observando, e os olhos dele sorriam
com malícia. Quem eram esses homens que adoravam ser marionetes de Dom?

“Ouvi dizer que você tem um novo nome?”

Ele grunhiu, movendo o dedo para baixo, devagar e torturante.

“Dom. Abreviação de Dominus, ouvi dizer,” continuei, mantendo a calma por fora.
Por dentro, eu estava morrendo.

“Você sempre foi uma boa menina.” A voz dele era sedosa e suave com aquela
pitada habitual de arrogância, que vinha de ser quem ele era. “Fazia tudo que eu mandava
sem reclamar.”

“Eu era uma criança…” apaixonada por você.

O dedo dele continuava a descer, até chegar ao topo da minha espinha. Imaginei ele
deixando sua marca, uma linha rosa de pele queimada. Ele puxou minha camiseta para
baixo, revelando meu ombro nu, e o beijou duas vezes. Fechei os olhos com força,
segurando um suspiro. Me irritava o fato de que, depois de tanto tempo, ele ainda causava
esse efeito em mim.

Jogue o jogo, Gretta. Lembra que você está só atuando numa peça fodida.

“Eu preciso de você, Cattus,” disse, beijando meu ombro de novo. “Você se curvaria
para mim mais uma vez?”

Não. “O que…” seus dedos subiram até minha garganta, arrancando meu ar, “é que
você precisa?”

Sob o olhar penetrante do segurança, Dom apertou ainda mais a minha garganta.
Sua respiração acelerou, excitado com aquilo. Meu coração disparou, martelando contra
minhas costelas rumo ao pânico.

“Você,” ele finalmente respondeu.

“Pra…” eu arfava por ar, enquanto o aperto se intensificava, “fazer o quê?”

Ele encostou o rosto no arco do meu pescoço, passando a língua quente pela curva.
“Venha pra mim. Eu preciso que você venha pra mim.”
Meu corpo estremeceu enquanto eu lutava para respirar, tentando manter a calma.
Abri a boca para falar, mas minha voz estava presa e só um grunhido rouco saiu.

Na minha visão periférica, o segurança ergueu o dedo e Dom afrouxou


imediatamente o aperto.

“Você vai vir até mim?” ele perguntou de novo. “Como quando éramos crianças.”

Antes de você matar meu pai, quer dizer. Babaca.

Não me restava mais nada, então respondi com um aceno de cabeça.

Ele espalhou beijos pela nuca e pelo ombro nu. “Quero ouvir você dizer.”

Hesitei enquanto vários rostos passavam pela minha mente como um baralho
sendo embaralhado. Ele machucou tantas pessoas. O último rosto foi o da minha mãe. O
momento em que a polícia veio até nossa casa para nos informar que meu pai tinha sido
encontrado morto nos terrenos da universidade. Levou um tiro à queima-roupa no coração,
no campo de esportes do lado sul, o mesmo onde muitos rituais de trote aconteciam. Aquilo
não foi coincidência.

Coloquei uma pequena tesoura de unha no bolso do jeans para usar como arma.
Imaginei cravando as lâminas no globo ocular dele e dançando ao som dos gritos.

Jogue o jogo, Gretta. Jogue essa porra de jogo.

“Eu vou até você.”

“Boa garota.”

Senti ele se afastando de mim, e meu corpo estremeceu, faminto pelo toque dele de
novo. O homem que roubou minha juventude era o mesmo que eu ainda desejava. Ele era só
dois anos mais velho, mal tinha saído da adolescência. E mesmo assim, aquele momento
parecia tão natural para a minha alma jovem. Olhando agora com uma mente racional, eu
sabia que não passava de uma fascinação idiota de infância.

Eu era jovem demais.

E ele sempre pega o que quer. Hoje não foi diferente.

Ouvi os passos dele se afastando, até que um baque seco e um sopro de ar


indicaram que ele tinha saído pela porta. Olhei para o segurança, que ainda estava ao meu
lado, certificando-se de que eu não virasse para trás. Estava prestes a dizer “Ele sabe que eu
sei quem ele é”, mas me contive.

Uma raiva crescente atravessou meu corpo como uma tempestade. Dom tinha tanta
certeza de que eu nunca contaria a ninguém. Eu tinha guardado o segredo dele por tanto
tempo, por que eu revelaria agora? Ele achava que tinha algum tipo de domínio sobre mim
— e de certa forma, tinha mesmo.

“Levante-se,” ordenou o segurança, alguns instantes depois que Dom saiu. “Vou te
escoltar para fora.”

“E quanto você recebe pra fazer esse trabalho?”

“Três vezes mais do que pagam para seguranças de alguma loja de departamento
no centro.”

“Você é estudante aqui?” Eu só queria puxar papo, mas ele não era burro o
suficiente pra cair nessa.

Uma pena.

Mantive a compostura até sair dali, desesperada por um pouco de ar fresco e frio
que acalmasse a ardência na minha pele. Mas não foi ar fresco que encontrei — foram os
raios cortantes do sol de verão, que intensificaram o calor nas minhas bochechas. Verifiquei
a parte de trás do pescoço onde ele tinha traçado uma linha, esperando encontrar a pele
inchada.

Não estava.

Peguei o celular na bolsa e mandei uma mensagem: A isca foi lançada — e segui
meu caminho para o trabalho.
QUINZE
Gretta
“Você parece perdida,” disse o garoto bonito enquanto se aproximava de mim com
sua bicicleta.

A pele dele era impecável, ao contrário da minha. Minha mão foi automaticamente
até o lugar que eu mais odiava: meu queixo. Três espinhas vermelhas que se destacavam
como faróis à noite. Merda. Tentei espremê-las mais cedo, mas a mãe me pegou no flagra.
“Se você espremer, elas vão se espalhar.”

Se minha pele já estava assim com doze anos, imagina como vai estar em alguns
anos.

Ele passou a mão pelos cabelos loiro-escuros, jogando-os para trás, sem tirar os
olhos de mim nem por um segundo. Que sonho de garoto. Um sopro de ar frio desceu pela
minha garganta e percebi que minha boca estava aberta. Lambi os lábios na tentativa de
hidratá-los.

“Não,” respondi finalmente.

“Você parece jovem demais pra ser estudante aqui.”

Bom, dã. “Meu pai é zelador,” disse, apontando com a cabeça para a sala de
manutenção onde ele estava mergulhado no trabalho.

“Gromit é seu pai?”

“Gromit?”

“Rima com vômito1.”

“Meu pai não se chama Gromit.”

Ele fez um som de rosnado no fundo da garganta enquanto revirava os olhos. “Você
não é muito esperta. Quantos anos você tem?”

“Doze.”

1
Vomit, vômito em inglês. Trocadilho com o nome do pai de Gretta.
“Jovem. Jovem e bonita.”

“Eu não sou bonita. Quantos anos você tem?”

Ele levantou dois dedos. “Dois anos mais velho que você e… com uma porra de
experiência a mais.”

Franzi o nariz. “Você só tem catorze. Isso não é tão velho assim.”

Um som agudo de metal vindo da sala de manutenção cortou a conversa. Meu pai
saiu de lá carregando sua caixa de ferramentas.

“Grom-it,” zombou o garoto, empurrando o pedal e deslizando para longe.

Fiquei olhando ele ir embora, completamente fascinada e, ao mesmo tempo, com


uma raiva enorme por ele ter chamado meu pai de Gromit. Olhei de volta para meu pai, e de
repente o vi com outros olhos. Ele usava seu macacão azul de zelador, coberto de graxa,
curvado como sempre. Me ocorreu que ele era alguém que passou a vida inteira sendo
invisível, seja por escolha ou por circunstância.

Ele era um ninguém. Que se casou com outra ninguém e teve uma filha que também
era um ninguém.

Mas aquele garoto era um alguém. Isso eu sabia. Eu não sabia nada sobre ele, exceto
a idade. Mas dava pra perceber pelo jeito como ele se portava, pela segurança no tom
impecável da voz, que ele tinha nascido pra ser grande. Provavelmente morava numa
mansão no bairro Greenway em Kingston Valley, onde os mega ricos vivem. Fiquei
imaginando o que ele comia no café da manhã. Provavelmente coisas caras, tipo bacon com
ovos servidos numa bandeja de prata.

Todo dia depois da escola, eu ia de bicicleta até a KVU, onde meu pai trabalhava, e
esperava ele sair do turno às 17h30. Naquela época, minha mãe trabalhava como
enfermeira no hospital, então não dava pra ficar por lá.

Nas estações mais frias, eu ficava na biblioteca lendo ou desenhando. Nas estações
mais quentes, achava um canto no jardim da universidade ou no campo de esportes.

Meus pais não tinham grana pra pagar cuidadora. Nas férias escolares, eu passava o
dia inteiro, cinco dias por semana, na universidade. Eu odiava aquilo com todas as forças.
Dizer que era entediante era pouco.
Até o dia em que conheci o garoto da bicicleta. Depois disso, passei a procurá-lo,
torcendo pra gente se esbarrar de novo num daqueles momentos maravilhosos de pura
coincidência.

Demorou uma semana torturante até eu ver ele de novo. Infelizmente, ele não veio
sozinho.

"Você ainda sente falta do papai?" perguntei para a mamãe enquanto escovava seu
cabelo embaraçado. Eu a tinha negligenciado e me sentia mal por isso.

Ela, por outro lado, queria que eu vivesse minha vida, em vez de ser escrava das
necessidades dela. Mas não era bem assim que funcionava.

Ela soltou o ar dos pulmões como se estivesse prendendo a respiração há dias.


"Sim. Todos os dias."

"Você já pensou em como seria a vida se ele ainda estivesse vivo?"

"Não é sábio viver no mundo dos 'e se?'"

Caímos no silêncio ao som de um tiroteio em Criminal Minds. Um dos programas


favoritos da mamãe. O som seco dos disparos me levou de volta àquele momento no campo
esportivo do Southside.

Tentei dissolver as imagens da minha mente com cada escovada no cabelo loiro
sujo e comprido dela, mas não funcionou.

"As pontas estão precisando de um corte", comentei, e estiquei o braço para pegar a
tesoura de cabelo que estava na mesa ao lado. Me dei conta de que tinha deixado a tesoura
de cortar unha no bolso da calça jeans, que estava em cima da cama, e que deveria tirá-la
antes de acabar me machucando sem querer.

"Me incomoda que ninguém tenha sido punido por assassinar ele." Ela já tinha dito
isso inúmeras vezes. Não havia testemunhas aparentes e ele foi encontrado deitado na
grama. A polícia assumiu que tinha sido apenas um ataque aleatório de carro em
movimento. Também foi convenientemente fora do alcance das câmeras de segurança.

Naquela época não havia tantas câmeras como hoje.

"Não se preocupa, eu planejo punir ele", murmurei, mais alto do que pretendia.

"Hã?"
"Nada."

Alisei o cabelo dela com a mão até que brilhasse com um brilho acetinado e
comecei a cortar um centímetro das pontas duplas. Os fios caíam sobre a toalha que eu
tinha colocado na cama, atrás dela.

Os comerciais começaram e a mamãe desligou o som.

"Você gostaria de saber o porquê?" perguntei. A pergunta que queimava na minha


cabeça. A única pergunta que eu ainda não tinha feito para ele. Se ele queria que eu fosse
até ele — o que quer que isso signifique — então eu queria respostas. Eu merecia respostas.

"Sim. Gosto de pensar que foi só um caso simples de pessoa errada no lugar
errado."

"Você já se perguntou..." Eu nunca tinha perguntado isso pra ela, mas esse
pensamento vinha martelando minha mente, "se foi uma armadilha?"

Era sexta-feira à noite, o sol estava se pondo, mas ainda não estava escuro. Durante
o jantar, o papai recebeu uma ligação no celular e disse que precisava ir ao trabalho
verificar uma coisa. Não deu muitos detalhes. Eu fui com ele porque a mamãe tinha plantão
no hospital. Ele me disse pra ficar no carro, que levaria vinte minutos, no máximo. Quando
demorou demais, saí do carro e fui procurar por ele.

"Uma armadilha?"

"Alguém ligou pra ele pra atrair ele até lá e aí—"

"—Pode parar por aí. Por que alguém faria isso com seu pai de propósito?"

Eu tinha meus motivos e guardei pra mim. "E como ninguém viu?" Tirando eu, é
claro.

"Muitos estudantes disseram que ouviram um barulho parecido com um tiro, mas
ninguém afirmou ter visto o assassinato acontecer."

"Não quero que você se torture com isso. Foi um ato aleatório infeliz. Só isso."

"Mas era sexta-feira à noite no campus. Você sabe quantos estudantes moram no
campus?"

"Se não me engano, tinha um jogo importante de beisebol da faculdade. Os Pumas


da KVU não estavam na final ou algo assim?"
"Nem todo estudante gosta de esportes."

Mamãe ligou o som de Criminal Minds de volta, sinalizando que a conversa tinha
acabado. Mas não na minha cabeça. O debate continuava, sem propósito.

Só duas pessoas podiam explicar o que aconteceu naquela noite. E uma delas
estava morta.
DEZESSEIS
Ollie
“O que é tudo isso?” perguntei ao Cody quando ele sentou na minha frente no
Stads, o restaurante de hambúrguer.

A Gretta estava de plantão e corria de um lado pro outro, uma gracinha com aquele
uniforme. Estava tudo ocupado demais pra eu puxar ela de lado e convidar pra sair de novo.
Ela pode esperar.

“Tenho um podre,” ele sussurrou, colocando o celular sobre a mesa.

Lise Fontaine veio até nós com meu pedido – cheeseburger com batatas fritas e um
frappuccino de caramelo.

“Aqui está,” ela disse animada demais, colocando a comida na mesa. “Quer alguma
coisa, Cody?”

“Me vê um cheeseburger,” ele disse, seco.

“Ainda não achou os modos, hein?” ela provocou.

“Por favor,” Cody completou, com um sorrisinho. “Você falou com o Luca?”

“Não,” respondeu a Fontaine. Eu suspeitei que ela estava se fazendo de sonsa, mas
era difícil saber.

“O Luca vive no meu pé por causa dos meus modos,” acrescentou Cody.

“Eu não tenho nada a ver com o seu Luca,” retrucou Fontaine antes de sair.

Cody resmungou e deu uma olhada por cima do ombro pro balcão, onde a Gretta
estava anotando pedidos, e a garota do Jace cuidava das sobremesas. A chapa fervia com o
cozinheiro curvado sobre ela fritando hambúrgueres e cebolas pra colocar nos pães
tostados. Eles serviam hambúrgueres bons no Stads, embora não tão bons quanto os da
minha tia. Se eu casar com uma garota como minha tia, vou ser um homem bem feliz.

“Onde tá o Darryn?” Cody perguntou.

“Faz tempo que não vejo ele.”


“Você chamou ele pra vir aqui?”

“Mandei mensagem e…” chequei meu celular, “ainda nada.”

“Beleza. A Gobal invadiu o laptop do Vanderbilt,” Cody falou no tom mais baixo que
a voz grave dele permitia.

“Sério?” perguntei. Achei de verdade que não ia dar em nada. Achei que ela ia
amarelar ou não conseguir descobrir a senha.

“Eu já te falei que ela tava se esgueirando pro covilzinho dele enquanto ele tava na
reunião do C&C.”

“Então você tem o babado?” falei do jeito que o Cody gostava.

“Próxima,” usando os dedos pra fazer aspas, “‘reunião do grupo’ é quarta à noite,”
ele murmurou. Tive que me inclinar pra ouvir por cima do barulho do restaurante e da
cozinha. “Tô achando que é uma putaria daquelas.”

“Sem dúvida, mano.”

Cody explicou: “Já combinei com o Fisher e o nerd de matemática pra instalarem
câmeras no salão.” Ele apontou com o polegar pra trás e presumi que fosse pra Lise
Fontaine, já que aquela baixinha careca era a namorada do Fisher.

Joguei a cabeça pra trás e dei risada. Putz, ainda bem que não fui convocado pra
participar da orgia.

Meus olhos foram direto pra Gretta, principalmente porque gosto de olhar pra ela,
e fiquei pensando se ela tinha sido ‘escolhida’ praquilo. Que merda a gente arranjou.

“Aposto que a Becca Gobal ficou feliz de ter largado o Vanderbilt depois de ver o
que tinha no laptop dele,” falei, empurrando batata frita pra dentro da boca.

“É…” ele travou no meio da frase e levantei os olhos do hambúrguer pra tentar ler
a expressão dele. “Ela disse que tinha muitos nomes lá, mas pareciam pseudônimos. Não
teve tempo de ver tudo.”

“Ela viu o nome de algum estudante envolvido na orgia?”

“Não, mas disse que o nome Izzard aparecia várias vezes.”

“Em que contexto?”


Ele balançou a cabeça loira. “Sei lá.”

Limpei as mãos na calça jeans e digitei o nome ‘Izzard’ no celular. Apareceu um tal
de ‘Eddie Izzard’, comediante, ator e tal, nada a ver com essa escola.

“Já fiz isso,” disse Cody. “Você acha mesmo que o cabeça do esquema ia usar o nome
verdadeiro?”

“Não, mas vai saber. E esse tal ‘Izzard’ é mesmo o cabeça da coisa?”

“Como eu saberia? Enfim, ela disse que o Vanderbilt tem uma planilha com
entradas e saídas de pagamentos. Como você sabe, cada aluno é amarrado pra fazer certos
trabalhos em troca de algum pagamento. Pega aquele filho da puta do Josh, por exemplo, ele
teve as acusações por drogas retiradas em troca de espancar o Lux.”

“Eu sei como o nosso lado funciona. Tô curioso pra saber como o outro lado é
organizado.”

Cody esticou o braço sobre a mesa pra pegar umas das minhas batatas. “Como
assim?”

“Tipo, um membro rico da Platinum simplesmente entra em contato com o


Vanderbilt com um maço de grana e pede pra realizar sua fantasia?”

“Imagino que sim.”

“Aí tem a parte de organizar o que quer que os alunos desejem. Tipo, não ia
precisar queimar um monte de burocracia e bagunçar papelada pra livrar o Josh das
acusações? Puta merda, obviamente o C&C tem membros em cada maldito buraco e canto
da sociedade, incluindo o sistema judiciário.”

Cody se recostou na cadeira e soltou um monte de ar quente pela boca. “Porra,


nunca parei pra olhar tão de perto assim.”

“Isso significa…” Gretta chegou com a refeição do Cody, que era sempre tamanho
família. “Hum, Gretta…”

“Sim,” ela respondeu toda doce, me lançando um sorriso legal. Talvez ela já tenha
superado o que eu fiz com ela no quarto 23.

“Então, quer sair hoje à noite?” perguntei baixinho.

“Claro.”
“Alguém vai se dar bem hoje,” Cody riu depois que ela saiu.

“É, espero que sem plateia.”

“O quê?”

“Nada.”

Eu quase perguntei pra ele onde era um bom lugar pra aprender a foder melhor,
mas achei que ele ia rir da minha cara. Já vi o Cody em ação muitas vezes nas nossas festas
de fraternidade safadas, e não tinha nada de surpreendente na técnica dele. Ele nunca
ficava sem uma parceira. Na real, as garotas praticamente faziam fila como se ele fosse da
realeza ou algo assim.

Agora ele tava com a Luca e parecia feliz sendo um cara de uma mulher só. Até
comprou uma casa no campo pra ela. Mas eu não conseguia ignorar a inquietação que
atormentava ele. Normalmente, ele não dava a mínima pra ninguém além dele mesmo, mas
agora se recusava a parar até descobrir quem tava por trás de tudo.

“Então, naquela noite…” comecei, “quando você perdeu a Luca.”

“O que tem?” o tom dele ficou de repente sinistro e ameaçador.

“Ela foi atingida?”

“Não, ela tava no quarto dela no Munro Hall.”

Mentiroso. Dei uma mordida grande no meu cheeseburger, olhando pra bunda
bonitinha da Gretta balançando enquanto ela andava. Ela não é o tipo de garota pra
apresentar pro tio e pra tia, mas serve enquanto eu estiver aqui na faculdade.

“Eu sei que foi você,” falei pra ele, “e não tenho intenção nenhuma de contar pra
ninguém.”

“Contar o quê?” num tom ameaçador.

“Que foi você quem matou o Cam.”

Ele cerrou o punho, se segurando pra não agarrar minha gola e me dar um soco. “Já
te disse que encontrei a Luca viva e bem no Munro Hall.”

“Não vou contar pra ninguém.”


“Não tem nada pra contar, e para de me encher o saco com essa merda.” Ele virou a
cabeça e fez sinal pra Lise Fontaine vir até a mesa.

“Tá tudo bem com vocês, meninos?” ela perguntou.

“Me avisa se o Fisher precisar de ajuda com alguma coisa,” ele disse pra ela.

Os olhos azuis enormes dela deram uma vasculhada ao redor antes de responder:
“Eles tão pegando a câmera noturna emprestada do supervisor deles, que é observador de
pássaros. Fizeram isso da outra vez.”

Enquanto eles conversavam, uma movimentação perto do balcão chamou minha


atenção. Um cara tava flertando claramente com a Gretta, e uma sensação estranha de
ciúmes revirou meu estômago.

Gosto de pensar que sou um cara calmo, equilibrado, e que o ciúmes raramente faz
parte das minhas emoções. Alguns diriam que sou meio apático. Não sou de explodir em
raiva como muitos dos caras com quem divido o quarto, incluindo o Cody. E também não
tenho grandes paixões por nada. Acordo em linha reta e durmo em linha reta. O
temperamento do meu pai corre nas minhas veias.

“Quem é aquele babaca?” perguntei pra Lise, interrompendo a conversa deles sobre
quando invadir a câmara.

Lise seguiu meu olhar. “Um cliente. Nunca vi ele antes.” Ela voltou-se pra mim.
“Você devia se acostumar. Muitos caras dão em cima da Gretta.”

Fiz uma careta. “Dão?”

“Por que essa surpresa?”

“Sei lá. Acho que ela é um sólido sete e meio. Não é super bonita.”

Cody deu uma risada.

“Seis e meio?” Lise guinchou. “Ela é muito mais que sete e meio.” Pôs as mãos na
cintura, horrorizada. “Achei que você gostasse dela.”

“Eu gosto.”

“E você dá um sete e meio pra ela? Puta merda, que perdedor.”


“Sete e meio ainda é… bom,” gritei atrás dela enquanto ela se afastava bufando de
desgosto. Meus olhos ainda estavam grudados no cara do balcão. Ele era mais velho, não tão
grande quanto eu, mas tinha uma sofisticação que eu suspeitava que faltava em mim.

“Perdi alguma coisa?” perguntei pro Cody, ainda observando aquele flerte
desgraçado rolando no balcão e ficando irritado com aquilo. “Vai embora logo,” eu queria
gritar. “Porra, o que tem de tão interessante que ele continua batendo papo com ela?”

Ouvi umas risadinhas e tirei os olhos da cena pra encarar a cara de deboche do
Cody.

“O que foi?”

“Você não faz ideia de porra nenhuma sobre garotas, né?”

“Como eu disse, sete e meio ainda é bom.”

“Comível.”

“É, viu, você sabe do que eu tô falando.”

“Seja lá o que você fizer,” disse ele com a boca cheia de cheeseburger, “não fala na
cara dela que ela é um sete e meio.”

O cara passou pela nossa mesa e eu teria encarado ele se ele tivesse olhado na
minha direção.

De repente, a Gretta era mais bonita e mais sexy do que nunca. Tipo, ela sempre foi
bonita, num jeito simples, e tinha um corpo legal que ela nunca fazia questão de mostrar. O
penteado fofo definitivamente era um bônus e uma baita tentação, e o corpo dela era
definido com curvas nos lugares certos. Ela não era uma daquelas rainhas do baile, tipo
algumas garotas da minha cidade, com aquele cabelo comprido e brilhante, dentes perfeitos
e pele sem nenhum defeito.

“Suponho que ela seja mais tipo um oito,” pensei em voz alta, observando ela se
mover pelo meio da multidão com cestas de batata frita. “Talvez até um oito e meio.”
DEZESSETE
Dominus
Aquela bunda perfeita de pêssego estava curvada diante de mim, e eu senti
um prazer imenso ao enfiar o gargalo da garrafa de vinho dentro dela.

"Não posso mais te ver", ela gemeu enquanto eu empurrava a garrafa mais fundo.
"Meu namorado está desconfiando."

"Isso é problema seu. E se não quiser que eu quebre o vidro e rasgue suas
entranhas sedosas, é melhor obedecer."

"Dom, você sempre faz ameaças, mas nunca cumpre."

Talvez você deva perguntar ao Quartus sobre isso. O nome verdadeiro dela não me
interessa.

Primis era minha favorita. Uma deusa de pele bronzeada, com cachos negros e
apertados que paravam logo acima dos ombros. Uma modelo, como todas dizem ser...
bocejo... e a número um da lista. Eu sentiria sua falta.

Puxei a garrafa de vinho para fora dela com a intenção de esmagá-la em sua cabeça,
mas meus dedos escorregaram no gargalo agora encharcado de seus fluidos. Respirei
fundo, ergui o braço e congelei no meio do movimento quando meu telefone tocou.

"Sorte sua", sussurrei no ouvido de Primis quando o nome de Vic apareceu na tela.

"Sorte?" Primis perguntou, olhando para mim enquanto eu atendia.

"Oi, querida."

"Amor, não vou conseguir jantar hoje. Tenho uma reunião."

Transando com o Bruno, é? "Que pena. Eu até fiz compras especialmente para
preparar o—"

"—Amor, por que você faria isso se normalmente contrata um chef?"

Eu contratei um chef, mas quero que você se sinta culpada enquanto chupa as bolas
peludas do Bruno.
"Não se preocupe", disse com um charme tão forçado que quase vomitei na minha
camisa engomada. "Vou ocupar meu tempo com outra coisa." Minha mão deslizou pelas
nádegas macias de Prim enquanto Vic explicava o quão importante era a reunião. Quando
enfiei um dedo em seu ânus até o fim, ela soltou um gemido.

A idiota conhecia as regras. Quando eu estava ao telefone, ela não podia emitir um
único som. Nem respirar.

A ideia de puni-la me excitou, e dei um tapa forte em sua nádega.

"Que barulho foi esse?" Vic perguntou.

"Ah, só estou vendo um vídeo besta no Youtube." Dei outro tapa e notei um filete de
sangue escorrer de seu lábio inferior, onde ela mordeu para não gritar.

"Que horas é sua reunião?"

"Sete da noite."

Abri o zíper da minha calça e liberei meu pau meio ereto. Me incomodava não estar
completamente duro, mas eu sabia como resolver isso. "Espero que sirvam comida na
reunião."

"Claro." Esfreguei meu membro flácido contra as costas de Prim.

"Tenha uma boa noite, então, Vic."

"Você também."

Assim que a ligação terminou, encontrei o vídeo de Cattus e apertei play. Mesmo ela
sendo uma mulher adulta, exibida na cama com aquele idiota desajeitado, minha mente
voltou para quando éramos crianças. Era isso que me deixava duro. Como um relógio. Não
Cattus, a mulher, mas Cattus, a garota obediente, girando e dançando em minha mente.

Ah, as brincadeiras que Cattus e eu tivemos juntos.

Pensando na jovem Cattus, de saia levantada mostrando seu "taco rosa", espalhei
lubrificante no meu pau agora completamente rígido e enfiei no buraco apertado de Prim,
batendo com força. Quer dizer, eu a fodi tão forte que ela gritou. E o tempo todo, eu pensei
em Cattus rolando na grama e rindo.

Boa menina.
Tão boa menina.

"Dom, você está me machucando." Mal ouvi a vadia reclamar.

Mesmo quando sangue e merda escorriam do seu cu, não foi suficiente para me
deter. Minha mente estava em outro lugar. Fechei os olhos e voltei no tempo. O cheiro de
algodão doce. A maciez de sua pele.

"Dom!" Prim gritou. "Pare."

Ainda de olhos fechados, respirei fundo o aroma de grama recém-cortada, ouvindo


ao longe o som do cortador do outro lado do campo esportivo. Era um dia quente de verão,
como hoje. O sol escaldante em nossas costas, picolés de framboesa em nossas bocas.

Uma figura imponente se aproximou e interrompeu deliberadamente nosso


momento. Uma visita indesejada.

"Não quero você perto dela", ele disse, depois de mandar Cattus embora.

A irritação queimou em mim, e eu enfiei mais forte em Prim, minha mão se


esticando em direção à garrafa de vinho.

"Por favor, Dom." Ela estava chorando agora. Prim estava chorando. "Pare."

"Você não me diz o que posso ou não fazer", gritei para o intruso.

"Eu sei, mas isso está me matando", Prim choramingou, e eu ri ao perceber que
havia dito isso em voz alta.

O presente e o passado se fundiram.

Apertando minha mão na garrafa de vinho, ergui-a acima de sua cabeça. Assim que
as imagens horríveis de Cattus terminaram em minha mente, esmaguei a garrafa contra o
crânio bonito de Prim.

Freneticamente, continuei batendo nela enquanto a fodia, e gostei imensamente


disso.

Gozei dentro de seu corpo morto e dei um passo atrás para admirar a obra de arte
abstrata que havia criado.

Me sentindo completamente dominado pela beleza espantosa que havia criado,


minhas pernas fraquejaram, e desabei no chão. Meio rindo, meio chorando.
Era um espetáculo magnífico. Um mundo maravilhoso de vermelho-sangue
adornando a pele nua e morena. Tirei uma foto mental para lembrar desse momento para
sempre.

Não foi o suficiente.

Em meu estado de loucura, parei de ouvir a lógica e me levantei para pegar meu
telefone. Escorreguei no sangue dela no piso de madeira, usei seu corpo para não cair e
deixei uma marca de mão ensanguentada. Melhor ainda.

Imprudentemente, tirei várias fotos de diferentes ângulos, dizendo a mim mesmo


que as apagaria depois de alguns dias revivendo a memória. Sabia que era estúpido, mas
não consegui me controlar.

Quando a euforia passou, comecei o árduo trabalho de limpar e me livrar do corpo.


DEZOITO
Gretta
"Sobre o quarto vinte e três... eu sinto muito", Ollie disse assim que me sentei
à mesa. Ele tinha escolhido um restaurante chique, com toalhas brancas impecavelmente
passadas e cardápios que não eram laminados em plástico.

"Tudo bem", respondi. "Foi um bom lembrete de que nada é o que parece. Que
estamos todos trabalhando sob disfarce." Meus olhos se voltaram para o celular, esperando
uma mensagem de Dom.

"É, mas eu queria te conhecer como mais que amigos e agentes secretos." Ele deu
uma risadinha ao dizer "agentes secretos", porque é exatamente o que não somos. Somos
apenas estudantes tentando acabar com a violência mergulhando no fundo do poço.

"Ok", respondi, tentando mostrar entusiasmo. Por esse encontro. Pela minha vida.

"Então, hm..." ele começou, "não sei como dizer isso... Vanderbilt... o cliente do
quarto 23 quer a gente de novo."

"Ah?" Isso era novidade para mim.

"Você e eu. Juntos."

"Na cama?"

"É", ele baixou os olhos escuros, tímido, e eu me lembrei de porque gosto dele. Ele
não é como os outros atletas do Vault — é doce e gentil. Um cara grande e quieto que se
voluntariou para me proteger. "Pensei que talvez a gente pudesse..." O garçom chegou para
anotar os pedidos.

Pedi o peixe do dia, empanado, com salada. Eles descreviam como se tivessem uma
horta nos fundos e um oceano do outro lado da rua. Chequei duas vezes se o peixe era
mesmo do oceano e não do Lago Superior. A ideia de comer algo que se alimentou de carne
humana — especificamente da carne do Adam Sweeney — me enojou. Ollie pediu bife
grelhado e batata rústica.

"Você estava dizendo?" encorajei.


"É, então... esse cliente parece influente e provavelmente riquíssimo—"

"Que nem sua família?"

"A gente não é tão rico— enfim. Talvez a gente possa enganá-lo para descobrir sua
identidade."

"Isso não arruinaria nosso disfarce?"

"E se fizéssemos de um jeito 'acidental'?"

"Tipo esbarrar nele enquanto você está me comendo e arrancar a máscara dele?"
Eu estava brincando, mas o sorrisinho safado dele disse tudo. Até os caras bonzinhos só
pensam em sexo e quando vão transar de novo.

"É, talvez." Ele tomou um gole de cerveja — servida em copo de vidro, não em copo
descartável como nos restaurantes que eu conheço — e limpou a espuma dos lábios com o
dorso da mão.

Isso não ia funcionar. Enganar o observador e arrancar sua máscara poderia causar
vários problemas. Mesmo assim, eu queria ver o rosto de quem alimentava esse círculo
mortal. Se esses membros Platinum elitistas não estivessem segurando carne podre na
frente da fera, ela não existiria. Era simples assim.

"Vanderbilt disse que o cliente quer que a gente 'pratique nosso desempenho'", ele
falou depois de outro gole de cerveja.

Tive que rir, porque soava como uma técnica de coerção bem ruim para levar uma
garota para a cama. Só que eu sabia que ele estava certo. O cliente se recusou a pagar
porque foi tão ruim, e minhas mensalidades não foram quitadas.

O que levantava uma pergunta interessante: "O que você ganha com tudo isso?"
Olhei diretamente nos seus olhos. "Além de sexo, que você pode conseguir em qualquer
lugar." Tentei disfarçar a desconfiança na voz, mas ela vazou mesmo assim.

Ele ficou desconfortável com a pergunta por alguns segundos, se mexendo na


cadeira e tomando goles de cerveja. "Te proteger." A resposta ensaiada.

"Você deve estar recebendo algo da sociedade por me manipular a transar com
você no quarto 23."

Ele passou o polegar na borda do copo, evitando meu olhar.


"E então?" pressionei.

"Não posso falar sobre isso", ele finalmente respondeu.

"O que quer dizer?"

"Quero dizer que não posso falar sobre isso."

"Então você está recebendo."

"Não."

"Eu tinha a impressão que você estava comigo porque gostava de mim e queria me
proteger, mas vejo que estava errada."

"Eu gosto de você. Muito. E protegê-la deles é minha prioridade."

"Sério?"

Ele me encarou fixamente. "Sim, sério. Essa é a verdade."

"Você está escondendo algo de mim. Como posso confiar em você para me proteger
quando você não está nisso pelo mesmo objetivo?"

"Ah não", ele arrastou as palavras. "Temos o mesmo objetivo. Eu não quero nada
além de ver toda aquela sociedade maldita acabar e essas pessoas que puxam os fios sendo
punidas."

"Então por que o segredo?"

Ele hesitou por tempo demais e minha paciência se esgotou. Joguei o guardanapo
na mesa e empurrei a cadeira para trás, pronta para sair.

"Não vá", ele implorou. "Sua comida está chegando."

"Você precisa ser aberto e honesto comigo, Ollie. Tem muita coisa em jogo."

"Tá bom", ele disse quando me levantei. "Você venceu. Sente-se."

"Vai me contar a verdade?"

Ele fez uma careta. "Sim."


Voltei a me sentar justo quando o garçom chegou com nossas refeições. O cheiro do
peixe empanado provocou minha fome. Não comia desde o meio da manhã e estava me
sentindo um pouco tonta, alimentando meu estado já irritado.

Deixei ele mastigar algumas batatas antes de lançar um olhar impaciente através
da mesa. Ele largou a batata pela metade e suspirou. "Estou sendo chantageado", saiu de
sua boca.

"Para fazer o quê?"

"Várias coisas."

"Tipo?"

"Como o que aconteceu no quarto vinte e três."

"Estão te forçando a fazer coisas com outras garotas?"

"Não... ainda não."

Havia lacunas em suas hesitações que indicavam que eu não estava ouvindo a
história completa. Talvez por vergonha. "Uau. Isso é muita informação. Então, eles têm algo
sobre você?"

"Sim."

"O que exatamente você fez?"

Ele balançou a cabeça. "Não vou entrar nisso."

Molhei um pedaço de peixe no molho tártaro que serviram. "Onde o Darryn se


encaixa nisso?"

"Não posso falar pelo Darryn."

"Parece que você admitiu que ele está na mesma situação ao não admitir", afirmei.

"É, bem, ninguém é perfeito."

"Você está preocupado que possam te arrastar para o buraco junto quando a ferida
for exposta?"
"Não. Não é esse tipo de chantagem. Quero dizer, eu não fiz nada que possam usar
contra mim." Ele passou os dedos grandes pelo cabelo. "Você realmente acha que as
autoridades vão derrubar toda aquela porra de organização?"

Hesitei. "Sim, e estou um pouco assustada que você não ache."

"É que cada passo que a Mathias dá, aparece um obstáculo no caminho."

"Então..." Balancei a cabeça confusa. "Se você acha que a Mathias não vai chegar a
lugar nenhum, por que está se dando ao trabalho?"

"Para te proteger", ele repetiu, seus olhos se suavizaram e eu sabia que era a
verdade. Só que desta vez, quando ele disse, havia algo em seu tom de voz que me gelou.

"Ollie", falei devagar, "vou te fazer uma pergunta e gostaria muito que você dissesse
a verdade."

Ele coçou a nuca em antecipação ao que viria. "Farei o possível."

Respirei fundo antes de perguntar: "Alguém ameaçou me machucar, se você não


fizesse o que eles mandam?"

Havia uma fotografia em preto e branco emoldurada na parede acima da nossa


mesa, mostrando a KVU nos primeiros tempos, e foi ali que ele decidiu focar sua atenção.
Em vez de olhar para mim. Isso me disse tudo.

“Não estou surpresa, Ollie,” disse, alcançando sua mão.

Seu maxilar estremeceu. “Você não parece muito preocupada.”

“Não estou.”

Seus olhos encontraram os meus, mas estavam cheios de angústia. “Você não tem
nada com que se preocupar se eu continuar cedendo às exigências deles.”

“Não foi isso que eu quis dizer. E não quero mais que você faça isso. Math—”

“—Porra, Mathias,” ele cortou. “Ela não tem nada. A sujeira é tão funda e forrada de
ouro, querida. É um mundo perigoso, do qual nem mesmo um detetive está protegido.”

“Eu sei,” tentei tranquilizá-lo.

“Você não sabe. Você não sabe de nada.”


Apertei sua mão. “Sim, eu sei.”

Ele passou o polegar sobre meus dedos. Minha mão parecia tão pequena na dele.
“Como?”

“Digamos que eu tenho informações privilegiadas.” Um babaca que se chama Dom.

Ele estreitou os olhos, inclinando a cabeça para mim, parecendo tão sexy. “O que
você está aprontando, Gretta Nelson?”

“Não posso dizer.”

Ele entrelaçou os dedos nos meus. “Então agora é você quem tem segredos.”

“Apenas me prometa que não vai ceder às exigências deles para me proteger.”

Ele levou minha mão aos lábios e balançou a cabeça devagar. “Não posso, querida,”
soprou na minha pele. “Deixe-me ser o seu Hércules.”

Eu sorri e balancei os cílios. “Meu herói,” usando um sotaque sulista horrível.

Lá estava aquela covinha. Ele mordeu minha mão, e eu sabia que iríamos para a
casa dele depois disso para ‘praticar’ para os ricos e pervertidos de máscara. Quanto mais
prática, melhor, com aquele corpo dele.

O aperto no meu peito por esconder informações dele, depois que ele se confessou
para mim, me incomodou um pouco. Havia tantas coisas que eu queria contar naquele
momento, e me sentia tão próxima dele que poderia ter revelado tudo facilmente. Mordi o
lábio e me contive.

Havia um plano, e eu tinha que segui-lo. Não importa quem eu enganasse no


processo.
DEZENOVE
Ollie
Eu tinha acabado de sair da aula e estava atravessando o boulevard em
direção à quadra de basquete quando fui abordado por trás.

Cody.

Minha mente estava em Gretta e na incrível noite que tivemos depois do jantar, na
minha cama, naquela noite. Praticando como os bons alunos que éramos. Infelizmente, ela
teve que ir embora quatro horas depois de aterrissarmos para cuidar da mãe. Ela parecia
satisfeita. Eu definitivamente não estava. Poderia ter continuado a noite toda.

“Que porra você tá fazendo, cara?” Cody me empurrou contra a parede. Sou um
pouco mais alto e forte que Cody, mas ele é mais agressivo, sempre puto da vida.

“Você dedurou,” ele rosnou como o urso-preto que invadia nosso galpão de lenha lá
em casa. Ele me pegou pelo colo da camiseta e me jogou contra a parede externa de uma
sala de aula.

“Que caralhos você tá falando?”

Ele tentou baixar a voz, mas o tom era tão rouco que tenho certeza de que um
monte de gente por perto ouviu.

“Você foi o único que eu contei sobre o Fisher colocando câmeras escondidas na
câmara.”

“Sim,” eu franzi a testa. “O que isso tem a ver?” Foi então que me lembrei que era
sexta-feira e a orgia estava marcada para quarta. “O que você descobriu?”

“Alguém sabia das câmeras e as removeu. E a única pessoa que sabia disso, além do
Fisher e do nerd da matemática, era você.”

“Talvez tenham visto elas. Quão bem escondidas estavam?”

Ignorando minha sugestão. “Quem foi a merda da pessoa que você contou?” Seu
hálito quente cheirava a café velho, daqueles ruins de diner barato.
“Não contei pra ninguém. Juro. Como você sabe que não foi o Fisher?”

Ele soltou minha camisa e limpou o nariz com as costas da mão. “É melhor você não
estar mentindo pra mim.”

“Cara, eu quero acabar com isso tanto quanto você. Por que caralhos eu deduraria
para uns merdas que estão ativamente fudendo com nossas vidas? Como você sabe que não
foi o Fisher? Talvez ele contou pra namorada—”

“Mesmo se ele contou, ela é a última pessoa no mundo que sabotaria essa porra.
Então, concluí que tinha que vir de você, já que você tá determinado a fazer tudo dentro da
lei.”

“Eu nunca disse isso. Eu disse que pegar provas com câmeras escondidas é ilegal e
provavelmente seria anulado no tribunal. Só tô repetindo o que o Mathias me disse, e não
contei pra ela sobre isso. Além do mais, até onde eu sei, orgias são legais se todos
consentiram, então seu argumento é uma merda.”

Ele estalou a mandíbula. “Agora eles sabem que estamos de olho. Lá se foi a porra
do plano pela janela. E eu nunca disse que queria a lei envolvida. Eu queria que o vídeo
vazasse, seu merda.”

Cody saiu bufando, e eu peguei meu telefone no bolso.

Eu: Bora praticar hoje à noite?

Esperei alguns segundos por uma resposta enquanto observava uns caras jogando
basquete. Estava um calor do caralho, e as camisetas deles estavam encharcadas de suor—e
amanhã promete estar ainda mais quente. Vou arremessar umas bolas e depois nadar um
pouco na piscina externa pra me refrescar. Não tinha mais aulas hoje, mas tinha um
trabalho pra entregar amanhã que ainda nem comecei. Por ser um pouco disléxico, Darryn
geralmente me ajuda quando eu me enrosco, mas não tenho visto ele por aí ultimamente.
Nem mesmo no Vault.

Eu: Cadê você?


Gretta respondeu primeiro. Desculpa, tô ocupada hoje. Tenho coisas pra fazer
com a minha mãe. E amanhã à noite? (:

Eu: Amanhã então, bjs

Darryn: Em casa.

Eu: Espera aí. Tô indo praí.

Darryn: Não no Vault. Na minha casa mesmo, em Grand Rapids. Assuntos de


família pra resolver.

“Parece que vou ficar sozinho hoje à noite.”


VINTE
Gretta
Me disseram para esperar dentro do quarto 23.

A porta estava destrancada quando cheguei e completamente vazia quando entrei.


Não tinha certeza do que esperar, mas entrei preparada para o pior. Minha mão passou
sobre o telefone no bolso de trás do meu jeans. Ajuda estava a apenas uma ligação de
distância. Eu não sou idiota. Sei muito bem que não sou páreo para um psicopata. Por isso,
tenho mantido eles informados a cada passo. E, no momento, são os únicos que sabem a
verdade. Nem mesmo o Ollie sabe o que eles sabem.

De novo, aquela sensação de estar sendo observada me consumiu, e fiquei


hesitante em mandar mensagem para alguém. No entanto, a vibração contra minha pele me
fez agir.

Eles: Você entrou?

Eu: Sim. Ele ainda não chegou.

Sentei na beirada da cama com o telefone na mão, olhando para a vista do Vale
Kingston, o lugar onde vivi a vida toda. Na verdade, nunca nem pus os pés fora dessa cidade,
pelo que me lembro. Não há chance de sair, com a minha mãe dependendo tanto da minha
renda e ajuda. Dificilmente era o futuro que eu imaginava para a minha vida.

Uma batida suave na porta me tirou dos meus pensamentos, e minhas têmporas
começaram a pulsar nervosamente.

"Serviço de quarto," chamou uma voz masculina. Abri a porta um pouco para ver se
era verdade. Um homem alto e magro, com barba aparada e um pomo-de-adão
proeminente, estava parado ali, vestido com o uniforme impecável do hotel, ao lado de um
carrinho com duas bandejas de prata.
"Hum, eu não pedi nada."

"Alguém pediu," ele respondeu. "Talvez seja um presente."

Dei espaço para ele empurrar o carrinho para dentro, sentindo o cheiro de frango
assado salgado na parte de trás da língua. Antes que eu pudesse dar uma gorjeta, ele já
tinha ido embora.

Mesmo nervosa demais para comer, levantei a tampa de aço inoxidável da primeira
bandeja e descobri que meu olfato estava certo. Peito de frango assado com molho e
legumes. Tampei a bandeja novamente e levantei a segunda, por curiosidade, assumindo
que seria uma sobremesa ou a refeição dele.

Errei nos dois casos.

Um único fio de cabelo loiro-escuro repousava sobre o prato. Passei o dedo perto
dele, quase tocando, mas recuei antes de fazer contato. Mantendo a calma, coloquei a tampa
de volta no lugar. Se ele estava tentando me provocar, não ia funcionar.

Voltei a sentar na beirada da cama e esperei que ele decidisse aparecer. Mas eu
sabia que ele já estava aqui. Podia senti-lo. Quase podia cheirá-lo. Suor e alcaçuz de
framboesa — era assim que ele costumava cheirar. Ele comia tanto daqueles negócios que
provavelmente cagava vermelho. Naquela época. Agora, tenho certeza de que seu cheiro é
mais sofisticado… e mortal.

Meu telefone apitou de novo.

Eles: E aí?

Eu: Ainda não chegou. Dou mais 2 minutos e vou embora.

Eles: Dá 1 minuto e some.

Eu: Tá bom.
Vinte segundos depois, ouvi o clique da porta. Em vez de virar a cabeça, usei o
reflexo na janela para me guiar. A maçaneta girou devagar, mas a porta continuou fechada.
Um barulho oco no corredor me fez pular em direção ao telefone.

A porta se abriu de repente, e eu me levantei de um salto, pronta para encará-lo


nos olhos. Calor tomou meu corpo inteiro, minhas palmas ficaram úmidas, e uma gota de
suor escorreu pela minha nuca.

"Oh, desculpe," ela se assustou, puxando o carrinho de limpeza atrás de si. "Achei
que este quarto estivesse vazio."

Era uma camareira. A desgraçada era uma camareira. O filho da puta estava
tentando me provocar.

"Acho que houve um mal-entendido," falei baixinho, passando por ela e saindo para
o corredor.

Eu: Ele não apareceu. Sinto que fui feita de trouxa.

Entrei no elevador no final do corredor assim que o sino anunciou seu fechamento.
Um homem alto ocupava o canto, e eu engoli seco, virando as costas para ele.

“Gostou da sua refeição?” ele perguntou, e eu examinei seu rosto. Era o mesmo cara
que trouxe o serviço de quarto, mas agora sem o colete, apenas com calça preta e camisa
branca.

“Eu… não estou me sentindo bem, então…”

“Que pena. A equipe vai aproveitar por você.”

“Você viu o homem que deveria vir ao meu encontro?” perguntei.

O elevador apitou, as portas se abriram, e eu saí no térreo. “Não,” ele respondeu,


passando por mim com suas pernas compridas, direto para a entrada principal, onde um
casal de idosos entrava, arrastando suas malas.

“Ele não apareceu,” disse para o concierge, que apenas deu de ombros, desviando a
atenção para o casal.
Eu: Tô fora.

Mandei a mensagem enquanto corria para o meu carro, estacionado do outro lado
da rua. Dentro dele, esperei uma resposta em segundos, mas só encontrei silêncio. A
mensagem anterior também não tinha sido respondida. Saí do carro novamente e procurei
pelo sedã prateado dela. Ela disse que estaria em frente ao hotel, mas não consegui avistar
o carro. O crepúsculo cobria o céu, um manto de tinta escura devorando o azul. Não estava
tão escuro a ponto de não enxergar a alguns metros, mas minha pele formigou com a queda
da temperatura.

Eu: Cadê você?

Entrei no carro de novo e rodei por alguns minutos, procurando por ela. Quando
não encontrei o sedã prateado, decidi ir para casa.

A pressão nas têmporas anunciava uma enxaqueca, e eu peguei meus analgésicos


no porta-luvas. Engoli dois sem água enquanto um milhão de cenários rodava na minha
cabeça. O fato de eles terem sumido e ele não ter aparecido me deixou em alerta.

Quando parei no sinal vermelho no centro do distrito comercial, cercada por


prédios altos, uma notificação chegou no meu telefone.

Meu coração bateu forte contra as costelas quando abri a mensagem, esperando o
pior, mas torcendo pelo melhor.

Eles: Estamos bem.

Respirei fundo, tentando controlar a ansiedade e os batimentos acelerados, antes


de ler o resto.
Eles: Tivemos problemas com um guarda por estacionamento irregular. Que
bom que você está ok. Vá para casa e descanse. Deixamos para outro dia.

Eu: Ufa! Graças a Deus.

Me sentindo completamente insatisfeita, mas aliviada por ele não ter aparecido,
abri a porta do nosso apartamento ansiosa para cair no sofá ao lado da minha mãe e me
afogar em algum programa de TV sem sentido.

Congelei quando ouvi a voz de um homem, seguida pelo riso da minha mãe. O
cuidador já tinha vindo mais cedo, então não podia ser ele.

Com cautela, empurrei a porta e vi seu vulto largo sentado na poltrona ao lado da
cama dela.
VINTE E UM
Gretta
"Você chegou cedo," minha mãe cantarolou.

Meus olhos pousaram no homem ao lado dela, cujo olhar normalmente suave e
castanho agora estava afiado e cheio de mágoa.

"Ollie?" perguntei, surpresa. "O que você está fazendo aqui?"

Ele manteve o olhar escuro fixo em mim. "Você disse que tinha coisas para fazer
com sua mãe, então pensei em vir ajudar."

"Parece que houve um mal-entendido," minha mãe tentou suavizar a situação. Não
importava como vissem, eu tinha traído os dois. Disse à minha mãe que estava com Ollie e
disse a Ollie que estava com minha mãe. E onde eu realmente estava? Encontrando um
maldito psicopata num quarto de hotel — que nem apareceu. Fui plantada por um
assassino, me sentindo a maior fracassada do mundo.

"Hum..." Eles esperavam uma explicação, e eu não conseguia pensar rápido o


suficiente. "Hum... Vou tomar um banho."

Senti seus olhos julgadores me seguirem enquanto entrava no meu quarto, anexo à
sala, para pegar meu pijama e uma toalha limpa. Ollie apareceu na porta, sua sombra se
estendendo pelo meu quarto.

"Tem mais alguém?" ele perguntou.

Gaguejei, sem saber o que dizer. Eu tinha jurado segredo, com medo de que uma
única palavra pudesse arruinar tudo.

"Não," respondi com sinceridade. "Você acha que tenho tempo para dois homens?"

Ele entrou mais fundo no quarto, ocupando todo o espaço com seu tamanho. A
expressão no rosto dele me era estranha, antinatural para ele. Seu peito subia e descia em
respirações de raiva, e tudo que eu podia fazer era me desculpar.

"Você me fez de idiota agora há pouco," ele murmurou, sua voz grave carregada de
um desprezo que me deixou atordoada. Este não era o Ollie que eu conhecia — mas eu
tinha traído aquele homem gentil e grandalhão, e agora estava recebendo meu castigo
merecido.

"Me desculpe."

"Vai me dizer onde estava?"

Eu devia uma explicação aos dois, mas não iam receber uma. "Não posso. Acho que
você devia ir."

Seus olhos se endureceram. Qualquer idiota saberia o que passava pela cabeça
dele. Ele se virou, e meu corpo relaxou. Ele ia embora. Ótimo.

Eu estava errada.

Em vez de sair, ele fechou a porta do meu quarto. Mandíbula tensionada, postura
ameaçadora. Eu não reconhecia aquele homem.

"Não posso," sussurrei. "Minha mãe está na sala ao lado."

"Você é adulta."

"O que deu em você?"

"Eu disse que queria te proteger. Não posso fazer isso se você mente para mim." Ele
estava bem em cima de mim agora, e eu procurava aquele garoto tímido da cidade pequena,
mas só encontrava um babaca que agia como dono do meu corpo. Não era assim que as
coisas deveriam ser.

Minha mãe chamou da sala, e sua mandíbula estremeceu, perdendo a coragem. "Só
me diz onde você estava."

"Não posso, Ollie."

"Achei que a gente tinha algo, um entendimento."

"Temos."

"Então por que mentir?"

"É algo que não posso te contar, mas pode ter certeza que não estou com outro
cara."

"Tem a ver com o caso?"


Eu balancei a cabeça. "Não posso dizer mais nada."

Ele apontou o dedo grande para mim. "Foi um trabalho organizado pelo
Vanderbilt?"

Antes que eu pudesse responder:

"Veja, é aqui que acho que você está mentindo, Gretta. Porque você teria me
chamado como backup. Você não é burra o suficiente para ir sozinha."

"Ollie, não estou feliz com você invadindo meu espaço agora. Por favor, vá embora."

"Você tá transando com o Darryn?"

"Não."

"Não, não pode ser o Darryn, porque ele tá em Grand Rapids... Porra, a menos que
ele também tenha mentido pra mim. Vocês tão todos conspirando contra mim?"

"Não," cuspi. "Ollie, o que deu em você?"

Uma mão voou na minha direção, agarrando minha garganta. "Eu odeio
mentirosos, porra."

Seu aperto forte me sufocou. "Ollie, você tá me machucando."

Minha mãe chamou novamente da sala, e ele soltou, baixando a cabeça


envergonhado. "Desculpa, Gretta. Eu não quis fazer isso."

"Só vai, Ollie."

"Eu não sei o que tá acontecendo comigo," ele disse, esfregando a nuca, perturbado
por suas próprias ações. "Por favor, deixa eu me redimir. Gretta, por favor."

"Eu quero que você vá embora."

"Você tem que acreditar em mim, eu não quis fazer isso." Ele colocou as mãos na
cabeça, parecendo um gigante ao meu lado. "Gretta, por favor, me desculpa. Essa situação
toda tá me estressando e..." Ele baixou as mãos e as juntou em posição de prece. "Eu tô com
medo pela sua segurança. Acredita em mim, esses caras são perigosos. Você tem que tomar
muito cuidado."

"Eu tomo cuidado, Ollie." Olhei para a porta fechada atrás dele. "Preciso ver o que
minha mãe quer."
Ele hesitou antes de me deixar passar. "Gretta, eu realmente me arrependo, me
desculpa."

"Aceito suas desculpas."

Ele saiu do caminho, e eu abri a porta, ofegante com minha recém-conquistada


liberdade. Esperei que ele me seguisse, mas o som do celular dele o deteve.

"Gertie, deixei o controle cair de novo," minha mãe disse. Encontrei debaixo da
cama, onde ele sempre parece ir parar. "Você tá bem?" ela sussurrou quando me aproximei.

Acenei com a cabeça, olhando para o corredor quando o ouvi dizer: "Tá falando
sério?"

"Por que você mentiu?" ela perguntou quando entreguei o controle. "Mentir não é
do seu feitio, especialmente pra mim."

"É algo que não posso falar sobre."

Ela assentiu e voltou a atenção para a TV.

Ollie apareceu na sala. "Era o Mathias. Ela levou um tiro e acha que foi um ataque
proposital."

Levei a mão à boca, chocada.

"Quem é Mathias?" minha mãe perguntou, e a cor sumiu do rosto de Ollie. Ele sabia
que eu tinha mantido nossa investigação secreta longe dela.

"Ah," ele gaguejou, "só uma amiga nossa."

"E ela levou um tiro?"

"Mathias é mulher," corrigi, não que isso importasse. "É o sobrenome dela, o
apelido."

Ela franziu a testa, desviando o olhar para esconder a decepção. Ela não acreditou
em mim, e essa conversa não terminaria ali. Ela traria de novo no futuro, quando
estivéssemos sozinhas, e exigiria respostas.

Apontei para a porta, e saímos para o corredor, onde vozes abafadas de uma
discussão e um bebê chorando vinham do apartamento em frente.

"Desculpa," ele disse, agitado.


"Ela tá bem?" perguntei, evitando seu olhar. Não sabia o que pensar dele depois
daquela performance no meu quarto.

"Foi no ombro. Ela tá no hospital agora, esperando um cirurgião pra remover a


bala. Ela ligou pra avisar a gente pra ficar esperto." Ele suspirou profundamente, parecendo
genuinamente angustiado. "Gretta, eu tô falando sério. Você tem que tomar cuidado."

"Entendi seu aviso. Obrigada."

Seus olhos se suavizaram. "A gente tá bem? Digo, você me perdoa pelo que fiz lá
dentro?"

"Sim," respondi, forçando um sorriso. Só queria que ele fosse embora, e faria o que
fosse preciso pra isso acontecer.

Ele se aproximou e me beijou nos lábios, e um calafrio desceu pelas minhas costas.
"Te vejo amanhã, tá?" ele sussurrou contra minha testa, pressionando os lábios na minha
pele.

"Tá," respondi. "Acho que agora tenho que lidar com a fúria da minha mãe."

Ele mordeu o lábio, fazendo uma covinha na bochecha. Mais um lembrete de por
que eu gostava dele. Talvez eu estivesse sendo dramática demais. Afinal, fui eu quem
mentiu. "Desculpa ter soltado sobre a Mathias," ele repetiu. "Não pensei."

"Tudo bem," disse, recuando em direção ao apartamento pra deixar claro que era
hora de ele ir.

Ele coçou a sobrancelha com um dedo, os pés presos no chão. "Posso te ver
amanhã?"

"Okay."

"Talvez você possa dormir lá amanhã?"

No fim das contas, sempre acabava na mesma coisa: sexo. Sim, eu gostava de
transar com ele, e estava ficando melhor cada vez que a gente se pegava, mas as coisas
tinham mudado. Eu vi um lado dele que não conhecia e não sabia como lidar. "Claro,"
respondi, tentando parecer animada.

"Lembra que a gente tem que treinar para o quarto 23," ele riu, fazendo uma piada,
enquanto se afastava.
"É," murmurei. O maldito quarto 23, o tormento da minha existência.

"Mathias é uma detetive," minha mãe reiterou, olhando para o celular. "A detetive
encarregada de investigar os estupros e assassinatos que estão acontecendo no campus da
KUV."

Eu estava prestes a inventar outra mentira, mas isso só ia me afundar mais, então
fiquei quieta.

"Por que você e o Ollie a conhecem pessoalmente?"

"O Ollie conhece ela melhor do que eu."

"Ela ligou pra ele no celular."

"Eu sei, eu tava aqui também."

"E por que você mentiu pro Ollie e pra sua própria mãe sobre onde estava hoje à
noite?"

"Eu sou adulta. Não tenho que dar satisfação das minhas ações."

"Uma adulta que traiu duas pessoas que a amam."

"Isso é exagero no caso do Ollie."

"Bom, ele gosta muito de você, e você ainda não respondeu minha pergunta."

"É melhor você não saber."

"Você tá traindo o Ollie?"

"Não, e nem dá pra chamar de traição, porque a gente nem tá num relacionamento
sério. A gente só sai às vezes."

Ela apoiou os dedos no queixo, naquela pose de 'reflexão' quando está pensando
profundamente ou tentando ler minha mente. "Por favor, tome cuidado," ela finalmente
disse. "O que quer que esteja acontecendo com você agora, por favor, tome cuidado. Eu
perdi seu pai e não quero perder você também."

"Você não vai, e você tá exagerando, mãe."

Ela me lançou um olhar carregado, e eu sabia que tinha pisado na bola. "Uma
detetive acabou de ligar pro seu namorado pra dizer que levou um tiro e acredita que foi
um ataque direcionado. Seu pai morreu de um único tiro no coração. Não se atreva a
minimizar o que eu sinto."

"Me desculpa," falei, e dessa vez era sincera, subindo na cama para abraçá-la.

"Não afaste o Ollie," ela chorou no meu ombro. "Ele é um bom rapaz, se importa
muito com você."

"Tá bom."

"Eu só quero que você seja feliz, Gertie. Esse é o meu único desejo pra você."

"Eu sou, mãe," minha terceira mentira da noite.

A verdade era que eu não seria feliz até que o Dom estivesse atrás das grades ou
enterrado a sete palmos no chão. E onde diabos estava o tal do Dom, afinal? Dom, o babaca.
Dom, o esforçadinho. O último truque de intimidação: deixar um fio do meu cabelo de
quando eu tinha doze anos embaixo da tampa do prato pra me assustar. Não funcionou.

Mas confesso que fiquei surpresa que ele tinha guardado aquilo por tanto tempo.
VINTE E DOIS
Ollie
Ouvi barulhos no quarto ao lado e me levantei da escrivaninha para ver que
Darryn tinha voltado de Grand Rapids.

"E aí?" enfiei a cabeça no quarto dele.

"E aí," ele respondeu.

"Resolveu tudo em casa?"

Ele ergueu as sobrancelhas. "Quase."

"Então, ah... você soube da Mathias?"

Ele franziu a testa. "Não."

"Levaram um tiro no ombro. Acha que foi um ataque direcionado."

"Sério?"

"Enfim, é bom a gente ficar esperto, caso estejam de olho na gente."

Ele acenou com a cabeça, jogando a mochila na cama e coçando o cabelo ruivo.
Parecia que ele tinha pegado um sol — o nariz estava rosa algodão-doce e a pele
descascando. Mas, pra ser sincero, a pele dele já é vermelha mesmo sem sol.

"Então, ah... o Cody disse que alguém vazou sobre as câmeras escondidas na
câmara. Menti pra ele e disse que não contei pra ninguém, nem pra você. Aí tô pensando...
você falou alguma coisa pro Vanderbilt?"

Ele torceu o rosto. "Não. Nem tava aqui."

"Mas você podia ter mandado mensagem de longe—" falei o óbvio.

"Eu disse que não. Não fui eu. Porra, provavelmente viram as câmeras e tiraram.
Quão bem escondidas elas estavam, pra começo de conversa?" ele cortou. Era raro ver
Darryn de mau humor assim, mas família tem esse poder de trazer o melhor e o pior da
gente.
"Você tá bem, cara?"

"Foram dias longos," ele respondeu, "e a última coisa que eu preciso agora é ouvir
sobre drama de campus."

"Você chama estupro e assassinato de drama?"

Ele me lançou um olhar negro. Má ideia. O cara tava carregando uma nuvem
pesada. Melhor deixá-lo esfriar a cabeça e voltar pro meu trabalho.

Quando voltei pra escrivaninha, tinha uma mensagem do Vanderbilt. Só de ver o


nome dele, minha espinha travou.

Vanderbilt: O cliente quer você e a ruiva hoje. Quarto 23. Vou mandar o mesmo
pra ela.

Eu: Tô dentro. Que horas?

Vanderbilt: 22h.

Mais sexo com a Gretta seria bom, mas com alguém assistindo — e esperando algo
melhor da última vez?

É, sei lá. Eu dou conta no Hawks, mas quando é só eu interpretando um fodido


Casanova, a pressão é alta. Posso fazer feio e parecer um idiota. Tudo pra proteger a Gretta
e tentar descobrir quem é o líder dessa merda toda.

Tem algo errado com a Gretta. Ela mentiu pra mim e pra mãe sobre onde estava
ontem, e eu não gostei. Se ela recusou o trabalho pra me evitar, seria surpresa — mas, no
momento, eu sou a melhor chance dela de resolver esse mistério. Pelo menos era no que eu
acreditava.

Onde ela estava ontem pode provar que eu tô errado. A mãe dela disse que ela só
saiu por uma hora. Então, onde ela foi? E por que não pode me contar?
Voltei pro quarto do Darryn e o encontrei sentado na beirada da cama, encarando o
chão e flexionando a mão direita.

"Você tá bem, cara?" perguntei.

Ele ergueu a cabeça de repente, surpreso. "Hã?"

"Você parece... pra baixo."

"Eu te falei que tô com problemas familiares." Ele mantinha o olhar baixo, e uma
sensação de frio na nuca me fez estremecer. Algo não estava certo. Meus aliados, Darryn e
Gretta, estavam agindo de forma estranha e se recusando a se abrir para me dizer por quê.

"Certo. Então, Gretta e eu temos um trabalho hoje à noite no quarto vinte e três" —
dessa vez, consegui prender a atenção dele — "e eu queria saber se você topa ficar de
guarda."

Ele não pareceu particularmente animado, e eu mal podia culpá-lo. "É, acho que
sim. Suponho que seja pra isso que me inscrevi. Então... a Mathias tá bem?"

"Sim."

"Como você ficou sabendo?"

"Ela me ligou."

Ele pegou o celular. "Não recebi mensagem dela." Seus movimentos eram
calculados e estranhos. Não conseguia entender direito.

"A Gretta também não, mas ela pediu pra eu avisar vocês, então é isso que tô
fazendo."

Ele acenou com a cabeça, distante de novo.

"Cara, se você precisar conversar, eu tô a alguns metros de distância," ofereci.

Ele deu uma risada seca. "Algumas coisas a gente simplesmente não pode falar,
cara." Ele hesitou e se corrigiu. "Digo... coisas de família devem ficar na família."

"Entendi."

Queria pedir pra ele me ajudar com o trabalho, como sempre fazia — porque tenho
um pouco de dislexia —, mas ele parecia sobrecarregado com outros problemas. Tudo bem,
meu tutor já sabe do meu transtorno de aprendizagem e faz concessões.
Meu celular vibrou, me distraindo do trabalho.

Gretta: O Vanderbilt entrou em contato com você sobre hoje à noite?

Eu: Sim (: Você topa?

Gretta: Sim.

Eu: Afinada pra desmascarar o voyeur?

Gretta: Vale a pena tentar, mas só se parecer acidental.

Eu: Ok. A gente vê como rola. Passamos lá pra te pegar mais tarde.

Gretta: A gente?

Eu: O Darryn vem como segurança.

Gretta: Ok. Bom.


VINTE E TRÊS
Gretta
"Você é filha única?" ele perguntou, circulando ao meu redor em sua bicicleta.

"Sim," respondi, ficando tonta de tanto acompanhá-lo com os olhos.

"Eu tenho dois irmãos," ele me informou. "Sou o do meio. Aquele é meu irmão mais
novo, Shitpan." Apontou para o garoto em seu próprio mundinho, pulando pequenas
elevações com a bicicleta. "É o nome verdadeiro dele, sabia? Normalmente mora com minha
tia, mas está aqui nas férias."

"Você tá mentindo."

Sua risada foi afiada e arrepiante. O garoto bonito me assustava e intrigava ao


mesmo tempo, e eu não gostava de ficar sozinha com ele.

"Ele sempre caga nas calças," ele disse, virando-se para o menino e gritando: "Não
é, Shitpan?" O garoto olhou para cima, e um lampejo de medo cruzou seus traços. Foi
quando soube que ele estava tão cauteloso quanto eu. "Tenho que tomar conta dele quando
meus pais estão trabalhando."

Shitpan era mais encorpado, com uma cabeça grande, como se fosse crescer muito,
enquanto o garoto bonito tinha traços mais refinados, rosto alongado, maçãs do rosto altas
e queixo pronunciado. Com apenas quatorze anos, ele já era bonito de um jeito que
chamava atenção. E ele sabia disso.

Seus olhos eram a única característica que eu considerava feia, só porque tinham o
hábito de me seguir por todo lugar. Até nos meus pesadelos. Eram de um verde
amarronzado turvo, mais verdes que marrons em dias ensolarados, com uma mancha preta
na íris esquerda. Eram o portal para um vazio escuro onde uma alma deveria existir. Ele não
era um monstro, porque até monstros precisam de necessidades básicas.

A curiosidade foi minha maior ruína, e eu não conseguia evitar acompanhá-lo,


simplesmente porque tinha dificuldade em dizer não.

Tive a nítida impressão de que ninguém dizia "não" ao meu pesadelo.

Uma vez que você entra, nunca mais encontra a saída.


Me vi novamente no quarto 23, desta vez com Ollie ao meu lado e Darryn sentado
no chão do lado de fora. Não estou feliz por estar aqui, mas é preciso manter as aparências.
Desta vez, disse a verdade à minha mãe — que estava com Ollie —, e ela sorriu de orelha a
orelha.

O quarto estava vazio, e eu sei muito bem que deve haver uma entrada alternativa,
possivelmente pelo banheiro. Da última vez que estive aqui com Ollie, o homem mascarado
simplesmente apareceu do nada. O que significava que o hotel fazia isso de propósito.

"Você acha que este lugar é um hotel de voyeurismo?" Ouvi dizer que esses lugares
existiam, mas imaginava decoração de boudoir, não quartos sem nenhuma personalidade.

Ele se sentou ao meu lado na cama, colocando a mão na minha coxa. "Talvez."

"O Darryn está bem?" perguntei, notando como ele estava quieto e distante no
caminho até aqui.

"Ele tem problemas familiares," respondeu, movendo a mão mais para perto do
meu centro. "Quer começar?"

Obviamente, ele não tinha interesse em falar sobre Darryn. Tudo o que Ollie queria
era ir direto ao ponto.

"Você acha que já estão nos observando?"

Ele se inclinou e começou a morder meu pescoço. "Ahã," murmurou, deslizando a


mão por baixo da minha blusa para apertar meu mamilo. "Tira a blusa e deita na cama,"
sussurrou.

Fiz o que ele pediu, gostando um pouco da ideia de estarmos sendo observados por
um estranho. Pelo menos desta vez eu estava ciente, embora estivesse lutando para relaxar
completamente.

Ele prendeu meu mamilo esquerdo na boca, e eu arqueei as costas, alcançando seu
zíper enquanto soltava um gemido falso. Ainda não estava no nível de gemer de verdade,
mas estávamos no caminho certo. Meu sutiã voou para longe, junto com a camisa dele, e eu
passei as mãos por seu peitoral musculoso enquanto ele descia pelo meu corpo. Meus
dedos se enroscaram em seus cabelos escuros, bagunçando-os.

Nesse ponto, eu estava realmente começando a entrar no clima, empurrando para o


fundo da mente o fato de estarmos em exibição.

Arranquei meus jeans justos e seus dedos grandes acariciaram meus lábios
aveludados. Dessa vez meu gemido foi genuíno — meu slip ficando encharcado enquanto
ele o empurrava de lado e deslizava dois dedos dentro de mim.

"Você está tão gostosa, Gretta", ele sussurrou, abaixando a cabeça entre minhas
pernas e estimulando meu clitóris com a língua.

Arqueei as costas, tentando me livrar do slip.

"Qual a pressa?" ele provocou.

"Ollie, por favor."

"Tá implorando agora?"

"Sim. Por favor", puxei o slip, mas ele resistiu, continuando a chupar através do
tecido. Estava tão encharcado de sua saliva e meus fluidos que agradeci por ter trazido uma
peça extra para a volta. Sempre prática, essa sou eu.

O orgasmo se aproximava quando Ollie arrancou meu slip e colocou minhas pernas
sobre seus ombros. Abrindo meus lábios, mergulhou a língua dentro de mim, batendo como
um tambor.

Arquejei, fechando os olhos enquanto o orgasmo inundava meu corpo,


revitalizando cada célula.

Quando abri os olhos, uma máscara branca me encarava. Ele estava perto,
demasiado perto. Suprimi um grito — a cena era macabra demais.

Me cobri com um travesseiro, mas o mascarado balançou a cabeça em repreensão.


Joguei o travesseiro de lado enquanto seu dedo traçava uma linha da minha clavícula até a
garganta.

Enrijeci com seu toque. Não por ser um estranho, mas porque era idêntico ao toque
provocador de Dom.
Ollie parecia indiferente ao mascarado me observando. Ouvi um zíper — seu pau
ereto estava livre. Senti um novo desejo quando as mãos do mascarado desceram para
meus seios.

Ollie colocou uma camisinha, ergueu minha perna e penetrou apenas um pouco,
me provocando.

Havia uma comunicação não verbal entre eles, como se tudo fosse planejado. Ollie
não se importava com a participação do mascarado — e isso era estranho.

"Relaxe", Ollie encorajou, dando um tapinha em minha coxa.

"Vou tentar." Mas aquela máscara era assustadora demais.

Como se entendesse, o mascarado saiu do meu campo de visão. Ollie então me


penetrou completamente, fundo, muito fundo.

Seus movimentos eram lentos no início, cada embate me fazendo suspirar.

"Relaxe", ele repetiu. Meu corpo afundou na cama enquanto o segundo orgasmo se
aproximava.

Quando entrei no ritmo, Ollie acelerou. De repente, virou minha cabeça e me


colocou de quatro.

"Fica assim, linda", ordenou. Entrou por trás, me possuindo com força.

Calças pretas bloquearam minha visão no espelho. Uma mão firme pegou meus
cabelos — meu corpo estremeceu de desejo com aquele toque.

Eu reconheceria aquele toque em qualquer lugar.

Eles me achavam tão idiota?

Com sua virilha diante de mim, ele abriu o zíper lentamente. Enquanto meu corpo
respondia aos embates de Ollie, a ponta do pau do mascarado pressionou meus lábios —
até que eu os desejei.

Eu não queria nada mais do que chupá-lo e matá-lo de uma só vez. Um banho de
sangue com decapitação de pau cairia muito bem depois que Ollie terminasse seu serviço.

Ou talvez enquanto Ollie ainda estivesse ocupado.


Agora que eu sabia quem estava diante de mim, coloquei minha máscara de
coragem e vingança e lambi a ponta do seu pau como se fosse um pirulito. Um grunhido
escapou dele, e ele inclinou a cabeça para trás, enfiando três dedos na minha boca.

Nenhuma palavra foi dita, apenas gestos, e eu obedeci como a boa garota que sou.

Com seu pau ainda me cutucando, ele empurrou os dedos mais fundo na minha
boca, e eu os devorei como uma esfomeada. Momentos depois, seus dedos molhados
apertaram meu rosto, cavando minhas bochechas, e eu guinchei de dor, tentando me soltar.
Ele se inclinou e manteve aquele olhar lamacento fixo em mim, penetrando-me através dos
buracos da máscara.

"Vá com calma," Ollie advertiu, continuando a meter em mim.

Para minha surpresa, Dom soltou meu rosto. Esperei que ele enfiasse o pau na
minha boca, mas em vez disso, seus dedos voltaram, entrando e saindo como um cacete. Eu
estava sendo espetada pelas duas pontas e, para meu espanto, estava absurdamente
excitada.

O orgasmo sacudiu meu corpo enquanto eu me contraía em Ollie e Dom,


fazendo-os grunhir e rosnar. Enquanto Ollie continuou me comendo até o orgasmo passar e
então saiu de mim, Dom agarrou meu cabelo e começou a enfiar os dedos com mais força na
minha boca.

Morra, seu merda, gritei na minha mente.

Três dedos viraram quatro, e minha boca esticou até o limite. Comecei a engasgar,
minha mandíbula doía com a pressão batendo no fundo da garganta. Lágrimas escorreram
pelo meu rosto. Era óbvio que eu estava lutando para respirar.

"Ollie!" meu grito abafado por seus dedos.

Eu podia sentir Ollie observando de trás, mas ele não fez nada para me ajudar. Por
que ele não me ajudava?

Darryn estava logo do lado de fora da porta, e meu celular estava na bolsa no chão.
A ajuda estava tão perto, mas tão longe.

Percebendo que dependia apenas de mim sair daquela situação, bati na coxa dele
várias vezes até que ele desistiu e puxou os dedos para fora.

"Seu filho da puta!" gritei para ele.


Uma risada abafada e profunda foi sua resposta enquanto ele se afastava, fechando
o zíper. Ele saiu em silêncio pela porta principal, passando por Darryn.

"Você está bem?" Ollie perguntou, cobrindo-me com um lençol e puxando meu
corpo para perto, como se quisesse me confortar.

"Por que você não me ajudou?"

"Hã?" ele acariciou meu cabelo curto com os dedos.

"Eu estava sufocando."

"Do meu ângulo, parecia que você estava se divertindo," ele respondeu rápido.
"Quer dizer, eu odiei dividir você," apertou-me forte, "mas acho que posso fazer concessões
às vezes."

O comentário dele me deixou gelada.

Mas a bagunça molhada entre minhas pernas ainda doía por Dom. Eu precisava
vê-lo de novo. Sozinha. E sem Ollie.
VINTE E QUATRO
Ollie
"Como está seu ombro?" perguntei a Mathias quando ela entrou na sala de
interrogatórios. Ela tinha ligado mais cedo pedindo para eu ir até a delegacia.

"Você contou para Darryn e Gretta que eu te chamei aqui?"

"Você me disse para não contar." Um pedido incomum que fez meus nervos ficarem
em alerta.

"Bom," ela disse, sentando-se na minha frente. "E sim, meu ombro está bem. Estaria
melhor sem um maldito buraco de bala." Seu braço esquerdo estava em uma tipoia, e ela fez
uma careta de dor ao se sentar. "É mais irritante do que qualquer outra coisa."

"Como está o caso?"

Ela olhou para o teto e fez uma cara de desgosto. "Seria melhor se vocês três não
estivessem me enrolando."

"Como assim?"

"Nós combinamos que vocês entrariam em contato comigo todos os dias para me
atualizar sobre o que estão fazendo. Nas últimas semanas, Gretta me contatou duas vezes
dizendo que não tinha novidades, e você e Darryn não me contataram nenhuma vez. Então,
quer me dizer o que está acontecendo? Estão tentando me deixar no escuro ou o quê?"

"Ah, é, a gente meio que esteve ocupado."

"Fazendo o quê?"

"Aula e essas coisas."

Claramente, ela não estava no clima para ouvir minha enrolação. "Vocês três
aceitaram algum trabalho designado pela Cobra & Cálice?"

Me mexi na cadeira, desconfortável. Não era inteligente mentir para uma policial,
especialmente uma que está do nosso lado, mas eu não queria meter ninguém em encrenca.
"Ah, sim."
A caneta dela bateu na mesa irritadamente, e minha temperatura começou a subir.

"Nada para relatar," acrescentei, como se isso fosse melhorar as coisas. Não tinha
certeza de quanto deveria contar, já que Gretta estava determinada a manter tudo em
segredo.

Um rosnado saiu de sua garganta. "Qual era o trabalho?"

"Hum, a gente teve que se encontrar em um hotel."

"E?"

"E um homem mascarado assistiu enquanto Gretta e eu transamos."

Ela jogou a caneta na mesa com raiva. "Você disse que não tinha nada para relatar."

"Ele estava mascarado, então não conseguimos identificá-lo."

Ela se inclinou para frente, e senti um cheiro de seu perfume floral que fez minha
virilha se contrair. Ela era uma mulher bonita, cabelos escuros presos em um rabo de cavalo
apertado, olhos verdes bonitos. Sem aliança. No máximo, ela devia estar na casa dos trinta e
poucos, uns dez a quinze anos mais velha que eu.

"Você tem noção do quão perigoso isso é?"

"Até agora não foi tão ruim. Só um pouco pervertido," um sorriso escapou quando
pensei em Gretta de quatro. Eu não estava com pressa para acabar com o trabalho
disfarçado se era isso que íamos fazer toda vez que recebêssemos um convite para o quarto
23.

"Vejo que não estou conseguindo me fazer entender," ela declarou, pegando a
caneta e batendo na mesa novamente.

Ansioso para mudar de assunto, já que não ia mudar porra nenhuma. "Você
prendeu o cara que atirou em você?"

Sua mandíbula estremeceu, e seus olhos se desviaram para o lado, como se ela
precisasse de um momento para controlar a raiva.

"Esse é o outro motivo pelo qual te chamei aqui."

"Ok."

"Eu te disse no telefone que acredito que foi um ataque direcionado..."


"Sim."

Ela respirou fundo e suspirou. "Havia uma testemunha que anotou a placa do carro
do atirador."

"É?"

"Seu colega de quarto."

"Qual deles?"

"Darryn."

"O quê?" minha voz subiu alguns tons de horror. "De jeito nenhum. Não pode ter
sido ele porque ele estava em Grand Rapids visitando a família."

"Tem certeza? Que prova você tem?"

"A palavra dele. O cara não é mentiroso."

"E se ele tivesse dito que ia pra casa só pra ter um álibi?"

"Isso não é o estilo dele. Darryn não é um assassino. Por que ele atiraria em você?
Qual seria o motivo?"

"Você me diz. Você é amigo dele. O que ele tem contra mim?"

"Nada. Ele não tem nada contra você, a menos que..."

"A menos que o quê?"

Fiquei parado, analisando o comportamento dele na minha cabeça. Ele tinha agido
tão estranho ultimamente. Normalmente um cara ponderado e moderado, mas desde que
voltou de Grand Rapids, estava distante e de mau humor.

"A menos que..." ela cutucou, tirando meus pensamentos do ar.

"A menos que a Cobra & Cálice tenha ordenado o ataque, o que significa que veio de
um membro Platinum."

"Ele te disse que ia pra Grand Rapids pra cobrir as costas dele. Parece armação."

"É, acho." Não importava como eu olhasse, Darryn parecia culpado.


"Consegue me dar os nomes de todos os membros Platinum?"

Balancei a cabeça. "O Vanderbilt tem todas essas informações no laptop dele."

"Certo. Talvez seja hora de eu pagar uma visita ao senhor Vanderbilt."

"Não seja muito precipitada," avisei.

"Por quê?"

"Você pode estragar tudo. Ainda não sabemos quem é o líder ou líderes."

"É, mas aposto que o Vanderbilt sabe." Ela suspirou. "Minha paciência está
acabando, Ollie."

"Só nos dê um pouco mais de tempo," implorei.

"Estou preocupada que alguém vá se machucar. Na próxima vez que alguém atirar,
pode não errar o alvo."

Engasguei. "Você acha que o Darryn estava realmente tentando te matar."

"Foi o que pareceu. Como você chamaria isso?"

"Hum... um aviso pra ficar longe. Digo, se foi um trabalho encomendado, talvez seja
algum dos seus colegas que não quer que você investigue a Cobra & Cálice. Você mesma
disse que provas foram contaminadas e algumas sumiram completamente." Encolhi os
ombros. "Pra mim, parece que os culpados estão bem debaixo do seu nariz."

"Você pode estar certo," ela disse, rangendo os dentes. "Os culpados provavelmente
estão debaixo do meu nariz. Mas, mesmo assim, quero que você observe o Darryn como um
falcão e me reporte todo santo dia." Ela apertou os olhos pra mim. "Todo. Santo. Dia.
Entendeu?"

"Entendi." Algo não estava certo. "Por que você não prende ele logo? Você disse que
uma testemunha anotou a placa do carro dele, então...?"

"Tem um problema com a testemunha. Não posso entrar em detalhes, mas


complica as coisas."

"Ah. Certo. Quem é? Tipo, um criminoso ou algo assim?"

"Algo assim."
"Não posso dizer que vou dormir tranquilo com essa informação," falei,
honestamente. "Ele pode me mirar em seguida."

"Tranque sua porta à noite e fique esperto."

"Tranque sua porta e fique esperto," repeti baixo, descendo os degraus de pedra da
delegacia. "É o melhor que ela pode fazer? Tentativa de homicídio de uma policial e ela não
pode prender ele? Que merda. Normalmente, quando um policial é baleado, o
departamento cai em cima do culpado como formiga em mel. Enquanto isso, eu durmo a um
quarto de distância do cara, e ela tá pouco se fodendo."
VINTE E CINCO
Dominus
Ela se sentou ao meu lado no sofá com uma pilha de pastas nas mãos para
analisar, enquanto eu massageava seus ombros. Nos tornamos um casal velho e tedioso,
excessivamente familiarizado com os hábitos um do outro. Cada curva e vinco é um
caminho já muito desgastado, e no entanto só estamos juntos há três anos. Três malditos
anos.

Ultimamente, ela frequentemente rejeita minhas investidas e fica tensa ao meu


toque. Mais uma prova de que está transando com outro. Bruno. Ainda não descobri quem é
esse indivíduo e, de certa forma, não me importo.

Exceto que, no fundo, eu me importo.

Meus dedos traçam a linha de seus ombros, subindo até seu pescoço elegante. Seus
cabelos loiros estão presos naquele estilo profissional que aprendi a odiar.

Com a ruivinha Cattus em mente, envolvo minhas mãos em volta de seu pescoço e
aperto. Imediatamente, ela se afasta, girando para me encarar. Seus olhos, normalmente de
um azul celeste, naquele momento estavam escurecidos pelo medo.

"O que você está fazendo?" ela rosnou, esfregando o pescoço onde minhas mãos
estiveram.

"Qual é, não apertei tão forte assim."

Completamente repelida por mim, ela se levantou do sofá e se instalou na poltrona,


acomodando seu bumbum impecável.

"Acho que precisamos apimentar nossa vida sexual," eu disse. "Missionário está
ficando velho pra caralho."

"E como você sugere que façamos isso?"

"Brinquedos, talvez outra garota. Bondage."

"Ah, quer um ménage? Tudo bem, eu topo. Mas só se for com dois homens e você
não for um deles."
O comentário dela doeu. Se ela fosse uma garota diferente, com pais diferentes, eu
não teria soltado meu aperto em seu pescoço. E ela seria apenas mais um corpo sem vida
que eu precisaria descartar. "Você sabe que eu gosto de dominar no quarto e fora dele
também."

Ela suspirou. "Estou bem ciente de que seus gostos são mais..." Ela moveu a mão no
ar, procurando a palavra certa. "Exóticos que os meus, e sinto muito por não te satisfazer
sexualmente."

"Vic, eu ainda me sinto ferozmente atraído por você," menti.

Ela é, sem dúvida, uma grande beleza, mas chata pra caralho em todos os outros
aspectos possíveis. Por mais que eu queira acabar com essa relação, não posso e não vou. O
casamento é o objetivo. Os pais dela querem, e os meus também. Eu poderia fazer um
casamento entre nós funcionar, desde que mantivesse minhas atividades extracurriculares.

Uma mensagem chegou no meu celular, e percebi um traço de desconfiança em seu


olhar glacial enquanto eu lia. Vic acha que estou tendo um caso. Talvez eu devesse
simplesmente brincar com essa paranoia.

A mensagem era da minha mãe, nos convidando para jantar no sábado à noite.
Respondi "sim" porque nunca digo "não" aos meus pais, mas, sob o olhar de Vic, fingi que
era uma mensagem secreta que eu não queria que ela visse. Idiota. Como se eu usasse o
mesmo telefone com que falo com meus pais para contatar minhas putas.

"Fico feliz," ela respondeu.

"Hã?"

"Que você ainda se sinta atraído por mim," ela disse, levantando-se e se
aproximando para dar um beijo na minha testa. "Sinto muito por ser tão recatada."

Obviamente, o medo de que eu esteja traindo ela mudou seu discurso.

Ela soltou os prendedores do cabelo, que se desenrolou espetacularmente sobre


seus ombros. Meu pau reagiu instantaneamente, e minha mão deslizou sobre suas nádegas
perfeitas sob o lápis-creme justo.

"Vou tomar um banho," ela me disse, se afastando.

"Quer companhia?"
"Não, obrigada," respondeu naquele tom cortante e repreensivo que eu odeio.
Parecia uma mãe advertindo uma criança que se aproxima demais do fogo.

Ela deixou o celular no sofá, e eu tentei desbloquear o código de segurança pela


terceira vez. Uma tentativa desesperada de descobrir quem era o tal Bruno. Não,
desesperada não é a palavra certa. Uma necessidade curiosa de descobrir quem era Bruno.

A campainha tocou pelo apartamento, e me levantei para atender. Nós revezávamos


em qual apartamento ficávamos. Victoria não tinha pressa para se mudar completamente
para a minha casa, o que, por mim, tudo bem. Era minha vez de hospedar a Rainha do Ártico
no meu solteirão, cuja decoração ela reclama que é escura demais.

Piso de madeira escura, móveis de madeira escura, cortinas escuras para combinar
com meu funcionamento interno sombrio. As paredes são brancas — isso já é claridade
suficiente.

Ao contrário do mito popular criado por seriados de TV, este assassino em série
não é meticuloso com limpeza a ponto de ter TOC.

História errada.

Nesta história, o assassino se banharia em sangue, cuspe e porra se tivesse a


chance. No entanto, estou ciente de que nunca devo deixar rastros, então me tornei um
especialista em limpar fluidos corporais de carpetes, assoalhos e outras superfícies.

Espiei pelo olho mágico e vi que quem estava lá já tinha ido embora. Abri a porta na
corrente e notei um pacote do tamanho de uma caixa de sapatos da FedEx deixado no chão.
Não estava esperando nada, mas fiquei curioso mesmo assim. Estava endereçado a mim,
então tinha que ser meu.

A caixa parecia vazia quando a peguei, mas algo chocalhou dentro. Coloquei-a no
balcão da cozinha e parei para verificar se Victoria ainda estava seguramente em outro
cômodo antes de rasgar a embalagem. Ouvi o som da água do chuveiro correndo, seguido
daquele suspiro característico que ela solta quando a água acaricia sua pele nua. Esse som
já me deixou de pau duro.

Sorri pela primeira vez em dias quando vi o que havia dentro: um pacote com três
barras de alcaçuz de framboesa, a marca que só ela sabia que eu gostava. Havia um grande
laço vermelho preso, com um bilhete manuscrito: "Adoraria te ver de novo em breve xx"
Não havia necessidade de ela assinar. Assim como não havia necessidade de eu
assinar meu nome na bala que matou o pai dela — ou no fio de cabelo que roubei de sua
cabeça quando criança.

Entrei sorrateiramente no escritório do meu apartamento e entrei no armário para


deslizar a parede falsa. Nem a Vic sabia que isso existia, e eu pretendia manter assim.

A água ainda corria. Uma garrafa de shampoo caiu no chão do box, seguida por um
grunhido de Vic ao se abaixar para pegá-la. Bom, ela ainda está ocupada.

Voltando para meu esconderijo, digitei o código do cofre, que se abriu com um
click. Três itens moram neste cofre:

1.​ Meu telefone das amantes (também usado para negócios sujos de outros tipos).
2.​ Um pendrive com o registro dos membros Platinum que já usaram o serviço Cobra &
Cálice After Dark. A lista remonta a décadas e foi transferida de um livro físico para o
pendrive anos atrás, herdado por mim quando me tornei Rei do Castelo Sórdido.
Vanderbilt tem as agendas e pagamentos salvos no laptop dele, mas apenas
pseudônimos são usados, e os pagamentos estão em código — não em valores
explícitos. Se alguém invadisse o computador dele e descobrisse a agenda, precisaria
da minha cópia para decifrar. A minha tem os nomes reais correspondentes aos
pseudônimos.
3.​ Uma mecha de cabelo de cada uma das minhas obras-primas, guardadas em
pequenas caixas de anel, codificadas com o nome que lhes dei, a data, hora e local de
suas mortes. Esse passatempo não tem relação com o serviço After Dark, mas posso
aproveitar alguma amante ocasional para coçar uma coceira.

A água do chuveiro foi desligada, e calculei que tinha mais dez minutos antes que
ela saísse.

Há um ritual que ela sempre segue: primeiro se seca com a toalha, depois esfrega
óleo de gerânio na pele úmida e, por fim, escova os dentes e usa fio dental. Só então sai,
cheirando fresca e suculenta — e eu não desejaria nada além de encharcá-la com meu gozo.

Há uma mensagem no meu telefone recebida duas horas atrás, informando que
certo trabalho foi concluído. Eu respondi: Bom.

Contratei os serviços da Cobra & Cálice After Dark para essa tarefa, e algum
brutamonte com acusações pendentes se ofereceu. Tomara que ele tenha feito exatamente o
que pedi e não exagerado.
Encontrei o número da Cattus em meus contatos e enviei uma mensagem
combinando nosso encontro. Parei por um momento para decidir onde. Tinha várias opções
– meu apartamento, Quarto 23, outro hotel, a câmara da C&C, florestas, pastos, tanto faz.

Cattus era especial de uma forma completamente comum. Ela é a garota mais
ordinária com quem já me envolvi, e parte de mim ansiava por um pedaço do ordinário, por
ser invisível, um figurante, um plebeu. Uma pessoa envolta em bege poderia se safar de
tanto.

Mas, infelizmente, esse não era meu destino.

O som da escova de dentes elétrica da Vic zumbia, então sabia que tinha apenas
mais alguns minutos. Eu deveria dormir no apartamento dela amanhã à noite, mas acho que
vou acabar com uma "gripe intestinal".

Mandei para a Cattus o endereço do meu apartamento. Vou enchê-la de vinho e


comida, e depois vou partir ela em duas com meu pau quando foder ela tão forte que...

Silêncio.

A escova de dentes foi desligada. Joguei o telefone das putas no cofre, tranquei,
deslizei a parede falsa no lugar—

"Querido, o que você está fazendo aí?" Ela estava de repente atrás de mim, e eu me
assustei. Nem ouvi a porta do banheiro abrir e fechar.

Saí do armário para encontrá-la, inalando o aroma floral que ela exalava. Meu pau
pulsou. "Só procurando um livro que meu pai me emprestou. Ele quer de volta."

"Qual o nome?"

"O Bebê de Rosemary", respondi, puxando-a para meus braços e enterrando meu
rosto no seu pescoço. De novo, ela ficou tensa ao meu toque.

"Livro estranho para um pai e um filho estarem lendo."

Levantei seu roupão de cetim. Ela estava usando uma calcinha branca limpa. Ah,
como eu amava calcinhas brancas simples. "Sim, bem, temos gostos literários igualmente
estranhos."

"Não estou muito no clima, querido", ela disse, se afastando.


"Bom, eu estou no clima", respondi, ainda empolgado por ter visto minha coleção e
o presentinho da Cattus. Merda, o presente. Deixei na cozinha. Como pude ser tão
descuidado?

Vic deu um passo em direção à porta, e eu entrei em pânico, agarrando seu braço
para impedi-la.

Ela gritou, mas foi inútil. A sombra me envolveu, me puxando para a zona. Puxei-a
de volta, a empurrei de bruços sobre minha mesa e rasguei sua calcinha. Seus gritos de
protesto eram ruído branco em minha mente, e seus braços se debatendo pareciam
borracha quando me atingiam.

Não ouvi nem senti nada.

Minha fome era forte demais.

Fodi ela com força, pensando na Cattus. Fodi ela até seu cetim ficar encharcado,
fazendo um som molhado a cada enfiada. Fodi ela até sua boceta apertar em volta do meu
pau e ela gritar de êxtase, tremendo toda.

Ela gozou. Um orgasmo genuíno – fazia tempo.

Toda aquela luta, me empurrando, e ela quis tanto quanto eu.

Ejaculei dentro dela, e quando me afastei, ela se virou e me deu um tapa no rosto.
Ardeu tão bem.

"Nunca mais faça isso comigo", ela rosnou.

Agarrei seu rosto e a beijei profundamente até a resistência acabar e ela


desmoronar em meus braços. Sua mão encontrou minhas bolas e as massageou enquanto
eu gemia seu nome. Ela se ajoelhou, levou minha bola esquerda à boca e eu senti o calor de
seus lábios perfeitos de rainha do baile.
VINTE E SEIS
Ollie
"Você sabe que todo mundo suspeita que é você," eu disse para Thomas
Buchanan, presidente da Cobra & Cálice. Ele tinha aquele ar confiante de Ivy League,
como se nada pudesse atingi-lo. Eu odiava caras assim.

"Foi por isso que você quis marcar essa reunião comigo?" ele perguntou, sentando
em uma das cadeiras da câmara da Cobra & Cálice.

"Sim, você está sendo vigiado pela polícia e pelos alunos, então talvez devesse
tomar cuidado."

Ele passou os dedos pelos cabelos loiros escuros, puxando-os para trás. "Já
imaginei isso."

"O Vanderbilt também está sendo observado de perto. Não vai demorar para que
toda essa rede de merda seja derrubada."

"Isso não tem nada a ver comigo."

"Tem certeza disso?"

"Sou apenas um espectador inocente."

"Você é o presidente da C&C. Tenho certeza de que sabe de tudo o que está
acontecendo, já que é debaixo do seu nariz."

"Isso não significa que eu esteja envolvido."

"Até o Michael Wheeler acha que é você."

Percebi um lampejo de medo em seus olhos. Foi apenas um instante, até ele voltar a
ser o babaca autoconfiante de sempre. "Sei que parece óbvio que seria eu, mas não é."

"E você sabe quem é?"

Ele hesitou. "Por que você está fazendo todas essas perguntas? O que isso tem a ver
com você?"
"Quero ver um fim nisso tudo. Muita gente está se machucando."

Ele franziu a testa. "Minhas mãos estão limpas. Vanderbilt, por outro lado, é outra
história. Mas suspeito que ele não está envolvido por escolha."

"Mais chantagem? Então, quem está por trás de tudo?"

"Há mais de um jogador, e eles são praticamente intocáveis."

"São mesmo? Só me diz o nome do líder."

"Não sou eu."

"Resposta errada. Você sabe quem é?"

Ele hesitou novamente.

Eu me inclinei para frente, encarando-o fixamente: "O líder tem alguma coisa
contra você?"

"Não exatamente, ele só é... poderosamente influente e tem muitos apoiadores."

"Então você está mantendo a boca fechada."

"Receio que seria imprudente da minha parte revelar."

Eu me levantei para sair. "Aposto que é você," avisei, apontando para ele, "e você
criou um fantasma para tirar o foco de cima de você."

"Pode pensar o que quiser," sua voz me seguiu enquanto eu caminhava em direção
às portas duplas. "Há uma linha tênue entre verdade e mentira, realidade e fantasia."

"Tanto faz."

Assim que saí para o sol quente do verão, enviei uma mensagem para Mathias: Se
não é ele, ele sabe quem é.

Ergui a cabeça bruscamente quando tive a nítida impressão de que alguém estava
me observando. Era um dia calmo e quente, e a University Square estava banhada em luz
solar. Coloquei a mão sobre os olhos para protegê-los do sol e enxergar melhor. Um grupo
de estudantes passou conversando sobre as férias de verão que se aproximavam, e outros
estavam sentados em bancos do parque almoçando. O sol estava alto no céu, e a única
sombra vinha da biblioteca, cobrindo-a em um cinza frio.
Foi lá que avistei o observador, nos degraus da Biblioteca Edgar Allan Poe,
diretamente em frente à University Square. Assim que nossos olhos se encontraram, ele
desceu os degraus da biblioteca e virou à direita, desaparecendo de vista.

Pode não ter sido a decisão mais inteligente do mundo, mas decidi segui-lo. Por
quê? Nem eu sei. Eu tinha aula em dez minutos e deveria estar indo para lá. Minhas notas, já
medianas, estavam caindo por causa das distrações recentes, e eu não tinha o técnico em
cima de mim como durante a temporada de futebol. O técnico sempre falava sobre dar o
exemplo estudando muito e tirando boas notas. Hawks não podem se dar ao luxo de falhar.

Saí correndo pela praça e cortei entre a biblioteca e o prédio principal da


administração, seguindo o rastro do observador. Ele caminhava sem pressa, com as mãos
nos bolsos do moletom e a mochila jogada no ombro, pesada de livros. Parecia que estava
indo para a próxima aula, nada suspeito. Ou assim parecia.

Mas não conseguia esquecer a intensidade do olhar dele quando me viu sendo
observado. Será que achou que eu estava fazendo algo errado, já que tinha acabado de sair
do Athenaeum?

Recuei ao perceber que iria me atrasar para a aula. Não queria cutucar um urso já
irritado.

Uma mão pesada caiu no meu ombro, e eu me virei para me livrar do cara. Dois
homens me arrastaram para um espaço estreito entre dois prédios enquanto eu tentava me
soltar.

"Você deu uma de esperto com o Dom," um deles disse e me deu um soco forte no
rosto. Eram três caras grandes, usando balaclavas pretas, e cada um me acertou no
estômago.

"Aprende a lição," o mesmo cara rosnou, enquanto se afastavam. "Fica de boca


fechada."

Foi só um aviso — podiam ter feito coisa pior. Me levantei do chão duro, sem fôlego,
com as costelas doloridas e o nariz sangrando. Mas, acima de tudo, confuso.

"O Dom quer que eu aprenda uma lição?" murmurei pra mim mesmo. "Sobre o
quê?"

A única coisa que consegui pensar foi quando estava transando com a Gretta no
quarto 23. Eu avisei o homem mascarado, que estava dando uma dedada violenta nela, pra
'pegar leve'.
Eu cruzei a linha.

Assim que falei, o cara inclinou a cabeça e me encarou com um olhar assassino
pelos buracos da máscara. Sabia que haveria consequências por ter falado, e parece que
acabei de recebê-las. Um nariz quebrado e costelas roxas pelo meu esforço. Babaca.

"Tô ficando cansado dessa merda," respirei, limpando o sangue que escorria do
nariz com o dorso da mão. "Cansado pra caralho."
VINTE E SETE
Gretta

"Tome cuidado. Você sabe o procedimento. Estarei esperando no carro, a apenas


uma ligação de distância."

Eu: Obrigada. Eu sei como lidar com ele.

Respirei fundo, bati na porta do apartamento dele e recuei. Precisava de espaço e


ar fresco antes de entrar naquela fornalha. O que eu estava prestes a fazer era
completamente idiota, mas acreditava ser nosso único caminho.

Os microfones já estavam plantados no apartamento dele dois dias antes. Tudo o


que precisávamos agora era uma confissão. Um homem como Dom era arrogante e seguro
demais para acreditar que alguém poderia desmascará-lo. Pior ainda: se descobrissem seus
segredos podres, ele tinha certeza de que o papai ou algum outro membro da C&C o
livrariam de qualquer problema.

O que me consumia eram meus sentimentos pessoais por ele. Desde os doze anos,
quando o conheci, eu ansiava por seu toque e por sua aprovação — até agora. Mesmo aos
dezenove, sete anos depois, eu estava cravada entre ódio extremo e um amor tóxico por ele.

Isso não seria fácil, mas era necessário.

Ele demorou para abrir a porta, deliberadamente, para criar tensão. Funcionou.

"Você não precisa usar isso," disse quando ele abriu a porta só um pouco, uma
máscara branca de masquerade macabra me encarando.

Uma risada abafada escapou dele quando abriu a porta completamente. "Achei que
você estivesse se acostumando."

"Nunca vou me acostumar."


"Tá bom." Ele tirou a máscara lentamente, provocante, e meu coração parou. Um
sorriso diabólico naquele rosto lindo, e meu corpo inteiro tremeu. Pensei que conseguiria
disfarçar minha atração, mas não conseguia parar de olhar. Me senti completamente
comum perto dele. Eu era comum comparada a ele.

Ele me olhou de cima a baixo e balançou a cabeça, reprovador. "Acho que


precisamos de algo mais apropriado do que isso que você está vestindo."

Minhas bochechas queimaram de vergonha. Eu usava um vestido comprado no


Walmart, um modelo "chique" que marcava minhas curvas com um decote ousado. Meus
saltos pretos também eram do Walmart.

Ele usava uma camisa social preta enfiada em uma calça de alfaiataria, parecendo
incrivelmente atraente com zero esforço.

"É o melhor que tenho," respondi.

"Não, não, não. Sabendo que você viria, comprei um vestido decente. Não posso
deixar minha acompanhante usando—" apontou para meu vestido, "essa porcaria vulgar."

Assim que ele desapareceu no corredor, olhei ao redor do apartamento, tentando


adivinhar onde os microfones estavam. Era um espaço aberto, um pouco escuro demais
para meu gosto, com uma cozinha moderna mais brilhante que um níquel polido. A sala era
enorme, com sofás que pareciam engolir quem se sentasse. Meu apartamento de dois
quartos era do tamanho daquela sala.

Ele voltou com um vestido longo azul-marinho elegante, que me deixou sem fôlego
assim que toquei no tecido.

"Achei que a cor combinaria com seu cabelo. Por que você pinta ele tão chamativo?"

"Eu só... gosto."

"Mas isso esconde seu traço mais bonito," disse, enrolando uma mecha do meu
cabelo atrás da orelha. "Seus olhos." Passou o polegar gentilmente pelos meus cílios, desceu
pela bochecha até meu lábio inferior, percorrendo-o lentamente enquanto lambia os
próprios lábios, faminto.

"Você sempre dizia que meus olhos eram como os de um cervo," lembrei.

"Eu disse isso? Acho que não."


Ele disse. Disse que era o olhar de um cervo momentos antes de ser atingido por
um caçador — expectante, temeroso, desconfiado. Mas curioso. Sempre curioso.

Ele deslizou as mãos pelos meus quadris, pegando um punhado do tecido. "Braços
pra cima."

Levantei os braços acima da cabeça enquanto ele puxava meu vestido lentamente,
me deixando só de lingerie e salto alto. Seus olhos gananciosos devoraram meu corpo, e eu
cruzei os braços sobre os seios, me sentindo vulnerável.

"Não posso deixar você vestida como uma puta barata para o jantar," ele disse,
abrindo o zíper do vestido azul-marinho e me fazendo entrar nele. O caimento era perfeito,
como se tivesse sido moldado no meu corpo, e me senti linda usando aquilo. Mas sabia que
não era tão bela quanto a namorada dele — a filha do senador, com traços de modelo, pele
impecável e cabelo dourado sempre no lugar. A esposa ideal para ele.

Cada gesto dele era calculado, desde a velocidade com que fechou o zíper até o
tempo que levou para abrir a porta. Sem dúvida, ele planejara meticulosamente cada
detalhe da noite a seu favor.

"Vai ser divertido reencontrar uma amiga de infância," ele disse, pegando minha
mão e me levando até a mesa de jantar. Puxou a cadeira e me convidou a sentar.

"Éramos amigos?" perguntei, decepcionada com o termo. Eu o amava antes mesmo


de entender o que era amor.

"Obrigado pelos alcaçuzes de framboesa," ele riu, indo para a cozinha. "Faz tempo
que não como. Espero que goste de cogumelos."

"Sim, obrigada." Meu corpo inteiro estava tenso, imaginando o que ele faria comigo.
Ao mesmo tempo, precisava arrancar a maldita confissão dele. Senti sua mão quente no
meu ombro nu e estremeci.

"Você está toda rija," ele murmurou, começando a massagear os meus ombros.

Não havia chance de eu relaxar, mesmo com seus dedos perfeitamente cuidados
trabalhando em volta da minha clavícula. Precisava me acalmar, ou estragaria tudo. Tinha
apenas uma chance. Uma chance.

"Desculpa, me sinto traindo alguém por estar aqui."

"Por que se sentir assim? Não vamos fazer nada... impróprio."


"Ah?" perguntei, surpresa, enquanto a decepção invadia meu peito. Eu deveria ficar
aliviada que um assassino psicopata não quisesse me tocar, mas ele era um homem atraente
que um dia me colocou num pedestal. Pode ter sido um pedestal de dois centímetros, mas
por alguns instantes, me senti especial. Seus gestos ainda eram os mesmos. Ele sabia
exatamente como me fazer desejada.

"Você está tão tensa," ele pressionou os dedos mais fundo, fazendo eu cerrar os
dentes de dor. "Não quero machucar esses ombros lindos."

Quando ele soltou meu ombro para pegar o jantar, soltei um suspiro e senti
umidade crescer entre minhas pernas. Droga. Meu clitóris pulsava, implorando pelo toque
dele ali.

Ele colocou uma tigela branca de risoto na minha frente e sentou na cadeira oposta.

"Você não mudou muito," ele comentou. "Quantos anos a gente tinha quando
começamos a sair?"

Peguei meu garfo. "Eu tinha doze, você catorze," respondi como se fosse ontem.
Meus sentimentos ainda estavam vivos.

Lembrei do primeiro beijo, da primeira vez que ele me levou na garupa da bicicleta.
E do dia em que quis ver como eu era por baixo da calcinha. Seus dedos dançaram sobre
mim, e senti coisas que nunca havia experimentado antes.

"Nos divertimos muito juntos," ele disse, sorrindo.

Tomei um gole de vinho para engolir o veneno que subia da minha garganta. Diante
de mim estava o homem que matou meu pai e roubou minha inocência — embora ele
mesmo fosse só um garoto na época. Nem a palavra abuso se encaixava, porque nada
daquilo parecia ruim. Essa era a parte mais confusa.

"Como está seu irmão?"

Ele travou, quase engasgando com o vinho. "Qual deles?"

"O mais novo. Não conheci o mais velho, acho." Continuei bebendo para acalmar os
nervos, mesmo com uma voz na minha cabeça gritando: 'Não beba nem coma nada!'

"Ele está bem. Não nos falamos muito. Foi mandado para morar com meus tios
quando éramos crianças."
Meu estômago embrulhou ao lembrar. Seu irmão tinha minha idade, e Dom o
tratava horrivelmente.

As paredes começaram a girar, enjoadas. "Desculpa," coloquei a mão na boca para


segurar o vômito, "não estou me sentindo bem."

"Talvez devesse pegar leve no vinho," ele sugeriu, cobrindo minha mão com a dele.
Esperava que seu toque fosse gelado, já que ele não tinha coração para bombear sangue
quente.

"Acho que devo ir," falei, arrastando as palavras, forçando meus olhos a
permanecerem abertos.

Meu último pensamento foi que precisava pegar meu telefone e pedir ajuda.
Duvidava que conseguiria chegar ao elevador sem desmaiar.
VINTE E OITO
Gretta

"Ah, ótimo, você acordou," ouvi sua voz antes de vê-lo. Meus olhos estavam tão
pesados e secos que levei vários segundos para enxergar com clareza. "Você exagerou no
vinho."

Eu estava deitada no sofá, com um travesseiro sob a cabeça e um cobertor cobrindo


meu corpo, enquanto ele estava sentado na minha frente com um copo de uísque na mão.

"Melhor eu ir," gaguejei, me sentindo fraca e tonta.

Quando me sentei, o cobertor escorregou do meu peito e descobri que estava


usando um babydoll de seda preta.

"Sem pressa, Cattus. Não há necessidade de correr," ele cantarolou. Ele me olhou
com ar de superioridade por cima do copo enquanto bebia, mas eu estava grogue demais
para entender exatamente o que estava acontecendo.

"O que você fez comigo?"

Ele franziu a testa. "Nada."

"Onde estão minhas roupas?"

"Ah, isso. Não quis amassar o vestido que comprei pra você, então te troquei antes
de você dormir."

"Há quanto tempo eu estava dormindo?" Minha voz saiu rouca, e precisei tossir
para limpá-la.

Ele olhou para o relógio Rolex. "Aproximadamente oitenta minutos."

Quando me levantei, uma dor aguda nas costas me fez cambalear.

"Vá com calma, Cattus," ele disse, se apressando para me ajudar.

"O que você fez enquanto eu dormia?" perguntei.


"Assisti um pouco de TV, li alguns artigos do Huffington Post, observei você dormir.
Bebi. Comi."

Passei a língua nos lábios ressecados enquanto ele me ajudava a vestir meu vestido
barato do Walmart. Pelo menos ainda estava usando minha calcinha.

"Onde está minha bolsa?"

Ele a trouxe, e um calafrio de pânico percorreu meu corpo. Estou ferrada se ele
revirou meus contatos e leu as mensagens do meu esquema de proteção. Ele não
conseguiria desbloquear minha senha, mas mesmo assim me senti desconfortável.

"Devíamos fazer isso de novo," ele disse, segurando meu rosto com as mãos. "Da
próxima, talvez você deva pegar leve no vinho." Ele pressionou os lábios na minha testa. Eu
me sentia tão entorpecida, confusa e enjoada que mal reagi ao toque.

"Ok," respondi, revirando minha bolsa em busca do celular e suspirando de alívio


ao encontrá-lo. Não lembrava de quase nada do nosso encontro, mas tinha certeza de que
não conseguira o que vim fazer.

"Ouvi ele tocar várias vezes," ele acenou com o queixo em direção ao meu telefone.
"Não achei que fosse minha obrigação atender."

"Ah." Olhei rapidamente para as chamadas perdidas — o mesmo número, várias


vezes.

"Precisa de carona?"

Balancei a cabeça. "Trouxe meu carro."

"Sério, Cattus, não acho que você deva dirigir."

Calcei meus saltos e balancei até a porta. "Vou ficar bem."

Ele me beijou novamente, desta vez nos lábios, longo e intenso, e meu corpo inteiro
formigou. Fui eu quem puxou para trás, porque não parecia certo. Nada parecia certo.
"Sabe, para uma garota tão comum, você estava bem sexy enquanto dormia."

Era um chute final nos meus sentimentos porque rejeitei seus avanços. Mesmo
grogue, o comentário ainda doeu.

Virei as costas, colocando a mão na maçaneta. "Tchau," disse, sem olhar para trás.
"Eu te ligo," ele respondeu, enquanto a porta se fechava atrás de mim.

"Que porra você estava pensando?" Lise Fontaine gritou assim que entrei no carro.

Luca Hanna estava ao volante, Lise no banco do passageiro e Rhys Gallagher atrás.
Minhas garotas. Meu esquadrão de proteção.

"Por que não atendeu minhas ligações?"

Enterrei o rosto nas mãos e tremi enquanto as lágrimas transbordavam. Me sentia


tão suja por dentro e por fora que nem um banho quente com sabão resolveria.

"Acho que ele me drogou," finalmente admiti.

"Você acha?" Luca perguntou.

"Fiquei inconsciente por um tempo... e acordei no sofá usando lingerie cara."

Elas ficaram em silêncio, trocando olhares de horror, até Lise quebrar o clima.
"Maldito filho da puta!"

Rhys colocou uma mão fria no meu ombro, tentando me confortar, mesmo sendo a
primeira a admitir que é péssima nisso.

"Por que a gente não acaba com isso agora?" Luca rosnou. "Sei atirar. Vamos lá no
apartamento dele e colocar uma bala entre os olhos desse merda."

"Porque precisamos derrubar todos eles, Luca," Lise lembrou. "Ele é só o líder."

"Imagino que você não conseguiu uma confissão," Luca presumiu.

"Não, porque ela estava drogada demais pra saber que porra ele estava fazendo,"
Lise explicou o óbvio.

"Meu Deus, ele não... você sabe... tocou em você enquanto você estava desmaiada?"
Rhys perguntou baixinho.

"Esse é o ponto, Rhys," Lise rosnou para ela. Rhys era uma alma tão doce e gentil
que vivia completamente fora da realidade. "É por isso que esses homens nojentos drogam
mulheres – pra poder transar com alguém que está praticamente morta," Lise esbravejou.

"Só se acalma, Lise," suspirei, esfregando as têmporas doloridas. "Você não está
ajudando, gritando e mordendo a cara de todo mundo."
"Desculpa," ela respondeu, se acalmando. "Todo mundo nesse carro já foi
machucado por esse clube de estupradores, e eu só quero ver isso acabar. É frustração, só
isso."

"Você acha que deveria fazer um exame de estupro?" Rhys perguntou quietinha.

"Não. Não acho... não sinto que ele me tocou dessa forma."

"Tem certeza?" Luca exclamou.

"Positiva. Além disso, ainda não consegui que ele confessasse nada. Se eu fizer o
exame, a polícia será envolvida, e sabemos como a KVPD é inútil. Enfim, ele disse que vai me
chamar de novo, então tentarei na próxima. Na próxima, não vou beber nem comer nada."

"Última chance," Luca anunciou, ligando o motor do carro do Cody. "Tem um rifle
no porta-malas. Quer que eu suba lá e atire nele? Porque eu atiro."

"Não, Luca," gritei, mais áspera do que pretendia. Ela não estava brincando.
Nenhuma de nós estava. "Vamos embora. Só quero ir pra casa."

Havia dois segredos que escondi das minhas garotas.

Primeiro: meus sentimentos pelo homem que se chama Dominus. Ainda desejava
sua atenção e seu toque. Ele era excepcional em fazer uma garota comum como eu me
sentir especial. Não sou idiota – sei que não sou grande coisa comparada à beleza
deslumbrante de Luca, às curvas provocantes de Lise e à beleza discreta e graciosa de Rhys.

Meus traços são esquecíveis. Minha vida é medíocre. Ando por esse mundo com
peso, mas nunca deixo marca. Tenho quase certeza de que nenhum homem fantasia comigo
à noite, deitado na cama.

Pela primeira vez na vida, dois homens bonitos estão atrás de mim. Eu, a garota
eternamente em seca masculina, porque sempre sou preterida por garotas como Lise e
Luca. Sei que as intenções deles podem não ser genuínas, mas as minhas também não.

Segundo: minha conexão de infância com ele. Conheci o menino antes do homem.

"Tem certeza que está bem?" Lise perguntou suavemente, virando no banco da
frente para me encarar.

"Estou bem," menti, me sentindo exausta e enjoada. Enjoada por ele. Sou tão fodida
da cabeça. Acabei de sair do covil dele, e a vontade de voltar era enorme. Tinha tantas
perguntas pra fazer, tantos sentimentos indesejados que bagunçavam meu corpo quando
estava perto dele.

"Vocês acham que é possível amar alguém que você sabe que faz mal?" murmurei
em voz alta, sem esperar resposta.

"Sim," Lise respondeu. "Acontece o tempo todo... e nunca termina bem."


VINTE E NOVE
Dominus

Nos serviram cordeiro primaveril — porque, aparentemente, o cordeiro de


outono não é tão doce. E quem somos nós para deixar uma criatura crescer até o tamanho
adulto antes de comê-la ou esfolá-la? Leitões no espeto, pele de bezerro estendida no chão.
Meus gostos estavam, sem dúvida, mudando. Enquanto minha fome por outros prazeres
crescia, a carne animal se tornava cada vez menos apetitosa em minha boca.

Coloquei minha mão na coxa tonificada da Vic por baixo da mesa enquanto ela
falava com meus pais sobre seu trabalho. Pressão de tempo, clientes exigentes, horas extras,
a rotina cansativa.

O que ela faz mesmo? Ah, sim, design de interiores. Isso sequer é um trabalho de
verdade?

Meus pais amam a Vic — e deveriam mesmo, considerando que ela é filha do
senador. Nos conhecemos em um evento na casa dele e fomos encorajados a nos ver
novamente. No começo, o sexo era bom (embora eu já tivesse tido melhor), e éramos
afetuosos um com o outro. Agora, parecemos apenas nos tolerar.

Com todos os seus defeitos, ela era fantástica em interpretar o papel de minha
namorada em público. Assim como eu era razoavelmente convincente como o namorado
amoroso nos eventos chatos que frequentava por causa dela.

O mais importante: fazíamos um belo casal, e as chances de termos um bebê feio


eram incrivelmente baixas.

A porta da mansão dos meus pais se abriu e bateu com força, enquanto passos
pesados se aproximavam como a música tema de Tubarão. Recuei na cadeira e olhei para o
teto, contendo minha frustração. Meu irmão mais novo tinha o hábito de chegar atrasado e
roubar a atenção de todos com seu corpo atlético e desengonçado.

Meu irmão mais velho e eu trocamos olhares — nenhum de nós tinha paciência
para o palhaço desastrado. Ele era o pirralho que foi enviado para morar com meus tios (do
lado da minha mãe) em outro estado quando tinha oito anos, voltando apenas nas férias ou
quando meus pais queriam vê-lo. Morou com eles até o último ano do ensino médio e
decidiu fazer a família inteira sofrer por essa decisão agindo como um babaca mimado.

Ele me lançou um olhar sombrio ao se inclinar para beijar a bochecha da minha


mãe e apertar a mão do meu pai.

Meus pais estavam orgulhosíssimos do meu irmão criminoso por ser o primeiro da
família a jogar futebol americano universitário. Oba. Na verdade, ele é tão bom que está no
time principal — os Dodos ou algo assim — e espera se tornar profissional. Ele não é lá
muito inteligente, o que é sua maior falha (e a vergonha discreta dos meus pais), já que
todos os outros membros da nossa família têm QIs estratosféricos. Mas não meu
irmãozinho. Burro que nem uma porta.

Costumava lembrá-lo de sua burrice quando éramos crianças. Foi uma das razões
pelas quais ele foi enviado para receber atenção especial da minha tia sem filhos. Não acho
que funcionou, pois ele continua um aluno medíocre — para o desespero dos nossos pais.

Outra razão pela qual foi mandado embora: suas tendências violentas. Quebrou
meu braço uma vez quando chamei ele pelo apelido uma vez a mais do que devia. Admito
que era um apelido cruel, mas éramos crianças, e eu estava cansado dele me seguir por aí e
estragar meu estilo.

Para piorar a ferida infecciosa da família, ele abandonou nosso sobrenome famoso
e adotou legalmente o do nosso tio, além de usar seu nome do meio em vez do primeiro
nome — Arthur ou Art.

"Vejo que você se arrumou para a ocasião," eu ri. Enquanto meu irmão mais velho e
eu usávamos blazers, calças sociais e camisas abotoadas, o imbecil apareceu de moletom
marrom com o logo dos Hawks estampado como um maldito letreiro de neon, gritando
"Olhem para mim, sou um atleta gostoso, venham chupar meu pau".

"Desculpe, alguém acabou de falar?" ele revidou sem sequer olhar para mim,
dirigindo-se à minha namorada: "Oi, Vic. Quando cansar desse idiota, me procure."

Percebi um sorriso no rosto dela que não gostei. Vic sempre olhava para meu irmão
mais novo como se estivesse o despindo com os olhos. Será possível que minha namorada e
meu irmão estão se pegando, e o tal Bruno é ele?

"Vic não tem interesse em comportamento de marginal," rebati.

"Calma, filho," meu pai advertiu. "Vamos deixar os conflitos fora da mesa de jantar."
"Não sou um marginal," ele argumentou, ignorando meu pai – algo que fazia com
frequência.

"Como mais você chama aquele jogo imbecil onde vocês se esbarram como
animais?"

"Eu não 'esbarro' em ninguém. Porra, você não sabe nada de futebol," ele
respondeu, recebendo olhares reprovadores dos nossos pais por xingar à mesa. "Desculpe."

Meu irmão mais velho, Henry, recostou-se na cadeira, curtindo a discussão alheia.
Nada nunca o envolvia. Ele é seis anos mais velho que eu e quase não o via na infância.
Entrou no internato aos doze, e eu fiquei encarregado de "entreter" meu irmão desastrado
de quatro anos.

Henry teve sorte.

"O que aconteceu com seu rosto?" minha mãe perguntou ao delinquente.

Ele tinha um olho roxo desbotado e o nariz claramente machucado. Segurei uma
risada.

"Brincando de violento de novo?" provoquei.

Ele inclinou a cabeça e manteve o olhar assassino, com um sorriso torto, como se
gostasse daquela merda toda. "Você sabe exatamente o que aconteceu."

Um calor intenso subiu pelo meu pescoço, e Victoria olhou para mim, curiosa.
"Vocês não brigaram, né?"

Art soltou uma risada. "Claro que não. O filho do meio nunca suja as mãos. Além
disso, se a gente brigasse, ele estaria morto com um soco na lateral da cabeça."

"Arthur!" meu pai rugiu. "Pare com isso."

"Vocês dois nunca vão superar essa rivalidade?" minha mãe acrescentou, jogando o
guardanapo na mesa com desgosto.

A campainha tocou, e me ofereci para atender, querendo me afastar da situação


tensa. A empregada estava jantando na cozinha, então resolvi fazer o favor.

Meu coração pulou na garganta quando vi quem estava na porta. Não que eu
tivesse motivo para me preocupar.
"Posso ajudá-la?" perguntei, abrindo a porta e fingindo não reconhecê-la.

"Detetive Mathias," ela mostrou o distintivo. "E você é exatamente quem eu


procurava."

"Não se iluda, detetive."

Ela fingiu um encolher de ombros, mas eu sabia que ela se abriria para mim em um
segundo. "Tem um momento para responder algumas perguntas?"

"Na verdade não, estou no meio de um jantar em família."

"Tudo bem, só levará alguns minutos." Ela não aceitaria um não como resposta.

"Certo. Pergunte."

"Se importa se eu entrar?"

"Prefiro que não."

"Tudo bem," ela respondeu com um sorriso irônico. "Você conhece uma Amber
Murphy?"

"Ah, não."

"Talvez uma foto ajude." Ela ergueu uma foto de uma morena de pele oliva linda –
minha Primis favorita.

"Não, não conheço."

"Interessante, porque temos testemunhas que afirmam tê-lo visto com ela várias
vezes."

"Elas estão enganadas. Nunca a vi na vida. Por que está perguntando?"

"Ela desapareceu há duas semanas."

Minhas costas travaram, e esfreguei a região com a mão. "Sinto muito pela família
dela."

"É especialmente perturbador porque o namorado dela recebeu parte de seus


restos pelo correio."

"O q-quê?" gaguejei, chocado, lutando para formar uma frase.


"Então, obviamente, estamos seguindo todas as pistas possíveis."

Balancei a cabeça. "Não sei quem ela é."

"Nunca a viu antes?"

"Nunca."

"Ok, obrigada."

Fechei a porta na cara dela e senti uma presença atrás de mim. Virei devagar e
encontrei meu irmão mais novo sentado nos degraus que levavam aos quartos, dedos
entrelaçados, cotovelos nos joelhos.

Descontraído pra caralho.

"Você sabe que mentir para a polícia é crime," ele falou em um tom calculado. Olhei
na direção da sala de jantar, onde ouvia os murmúrios da conversa.

Ignorando-o, comecei a voltar para a mesa. Não cheguei longe antes que a raiva
tomasse conta de mim. Investi contra Art, enlaçando minhas mãos em seu pescoço e
apertando com força, encarando-o com fúria.

"Que porra você fez?" Minha própria voz soou estranha – como um animal
rosnando.

Um sorriso nojento se espalhou pelo rosto dele enquanto sua tez avermelhada
começava a empalidecer. "Você me ensinou bem," ele sussurrou, lábios se curvando sem
medo.

"Siga a porra do roteiro," gritei baixo, no exato momento em que Vic apareceu em
seus saltos para ver o que estava acontecendo.

Soltei Art e envolvi meu braço na cintura de Vic, puxando-a de volta para a sala de
jantar. Ela olhou curiosamente para meu irmão por cima do meu ombro, e eu esperei que
não tivesse visto nada.
TRINTA
Ollie

"Precisa de ajuda com seu trabalho?"

A voz dele me fez pular. Eu tinha evitado Darryn desde que Mathias o acusou de
atirar nela. E depois, quando o vi me encarando do outro lado da University Square. Mesmo
agora, enquanto ele se apoiava no batente da minha porta tentando parecer descontraído,
eu detectei um traço de malícia em sua expressão. Eu queria falar com ele sobre isso.
Perguntar se Vanderbilt tinha dado algum trabalho a ele. E se esse trabalho era matar
Mathias. Ainda bem que ele é um péssimo atirador.

Ele era meu melhor amigo, mas parecia estar tão longe.

"Não, tô de boa," respondi. Quando ele começou a se afastar, chamei: "Você se


arrepende?"

"Hã?"

"De ter se envolvido nessa porra de missão disfarçada com a Mathias?"

Ele soltou uma risada baixa. "Sim. Você tá mais fundo nisso que eu."

"Tô mesmo?"

"Bom, você foi recrutado pra... performar e compartilhar, enquanto eu me recuso a


aceitar trabalhos."

Mentiroso.

"Já descobriu quem é o líder?" ele perguntou, curioso.

"Tô achando que é o Thomas Buchanan."

"Parece óbvio, já que ele é o presidente da C&C."

"Ele nega."
"Claro que negaria." Ele virou a cabeça ruiva quando ouviu alguém andando
lentamente pelo corredor. "Oi," ouvi ele dizer, e uma voz feminina respondeu.

"Gretta?"

Ela apareceu na minha porta como um sopro de ar fresco. Aquele cabelo


vermelho-cereja cortado em pixie era um tesão, assim como seu corpo tonificado. Minha
cueca ficou apertada. Ainda bem que escolhi uma mais justa hoje.

Assim que ela entrou, a puxei para o meu colo, dominando sua boca. Ela se afastou
e riu, abaixando os olhos timidamente.

"Então, a que devo a honra?"

"Hum, é meu dia de folga e o tempo tá lindo," ela disse, olhando para a janela, onde
só se via céu azul. "Faz tempo que não te vejo." Ela acariciou meu cabelo e beijou minha
testa enquanto eu enterrava o rosto na curva de seu pescoço, respirando seu cheiro. "Que
tal um piquenique nos jardins?"

"Boa ideia. Ou quem sabe algo mais longe, como o lago," sugeri.

O corpo dela ficou tenso contra minhas coxas. "Não pro lago?" eu li seus
pensamentos.

"O Lago Superior perdeu o apelo desde que os restos do Adam Sweeny foram
encontrados."

Como eu pude esquecer? "Ok, jardins então."

"Espera," ela pausou, inclinando a cabeça enquanto examinava meu rosto com seus
olhos azuis brilhantes. "O que aconteceu com seu rosto?"

"Nada." O motivo de eu ter me afastado era não querer que ela me visse machucado
e se preocupasse. Os hematomas já estavam quase sumindo.

"Como assim nada?"

"Bati a cabeça no poste da cesta de basquete," menti.

"Ah? Achei que eles fossem acolchoados."

Esperta. "Esse não era."


Ela pulou do meu colo e pegou minha mão, me puxando para a porta. "Vamos,
trouxe sanduíches e bebidas no carro."

"Beleza," eu sorri de orelha a orelha, absorvendo sua atenção como um cachorro


faminto. Normalmente, ela era cautelosa e um pouco reservada, então essa nova "Gretta"
era uma surpresa agradável.

Parei quando uma ideia me ocorreu, e ela se virou para ver o motivo. Fingi um
sorriso, mas não pude evitar a desconfiança.

"Qual é o problema?" ela franziu a testa.

Procurei mentira em seus olhos e só encontrei doçura e sorrisos. Talvez ela só


queira um tempo a sós com o Ollie. Não podia culpá-la por isso.

Porra, essa missão disfarçada tá me deixando louco.

Peguei meu celular, carteira e chave do quarto. No corredor, tranquei a porta – um


hábito desde os tempos em que Liam Greene e Adam Sweeney moravam aqui e você voltava
pra casa só pra encontrar os dois fuçando suas coisas. Babacas. Com certeza não perdi uma
noite de sono quando esses dois foram mortos.

Quando levantei a cabeça depois de trancar a porta, vi uma troca de olhares entre
Gretta e Darryn. Foi um instante, mas suficiente para os pelos da minha nuca se arrepiarem.

Nunca fui do tipo ciumento ou possessivo – até a Gretta. E mesmo assim, ainda me
perguntava por que esses sentimentos surgiam quando ela estava por perto. Talvez fosse
um daqueles casos em que uma pessoa específica traz o pior de um homem. Tipo os Lonely
Heart Killers – Martha Beck tirou o pior de Raymond Fernandez. Ou será que foi o melhor?
Depende do ponto de vista.

Uma simples questão de química.

Esperei até estarmos deitados na grama, sob o sol quente, para lançar a pergunta:

"Então... você tá transando com o Darryn?"

Ela quase engasgou com o refrigerante que estava bebendo e cuspiu. Tão graciosa.

"Desculpa, só notei vocês dois se encarando."

"Ah, acho que não. Você viu errado."


"Ótimo."

Alguns segundos de silêncio constrangedor até ela dizer:

"Por que você fica assim com ele, mas não com o cliente do quarto vinte e três?"

"Fiquei com ciúmes. Odeio ver ele enfiando os dedos na sua boca."

"Mas você disse que parecia que eu estava gostando do ménage e decidiu não
impedi-lo."

"Parecia mesmo que você estava gostando."

"Viu? Contradição."

"Deixei o ciúme de lado pra você sentir prazer dos dois lados."

"Não sei se ter dedos enfiados na garganta foi tão prazeroso assim."

"Da próxima, eu dou um soco na cara dele."

Isso a fez sorrir. Mas eu entendia o ponto dela.

"Talvez eu seja só um cara confuso."

"Talvez seja."

Virei de lado, puxei ela pra perto e capturei seus lábios com os meus. Ela gemeu e
apertou minhas nádegas como se quisesse extrair sangue delas. Em segundos, eu já estava
duro, esfregando minha excitação contra a calça jeans dela. Estávamos muito expostos –
com uma trilha movimentada por perto e risadas de estudantes – para ir além. Era verão, e
todo mundo decidiu vir pro maldito jardim hoje.

Senti sua mão sair da minha bunda e ir direto pro meu pau. Ajustei minha posição
pra ela pegar melhor. Ainda estávamos nos beijando, nos movendo no mesmo ritmo. Eu
estava perigosamente perto de puxar meu pau pra fora em público, só pra ela poder
esfregar direito, sem a barreira do moletom.

"Acho isso inadequado," alguém falou com firmeza.

Gretta congelou debaixo de mim, olhando na direção da voz e se contorcendo


quando viu quem era. Virei a cabeça e só vi uma silhueta escura contra a luz do sol. Protegi
os olhos com a mão para enxergar melhor.
"Certamente vocês podem encontrar um lugar mais privado pra isso."

"Meu Deus," Gretta suspirou, envergonhada. "Quem era aquele?"

"Você não conhece?"

"Não."

"Jonathon Wheeler."

Ela encolheu os ombros estreitos, até que caiu a ficha e ela tampou a boca com a
mão, horrorizada.

"O filho do presidente da KVU?"

"Isso mesmo."

"Como você o conhece?" ela perguntou, curiosa.

"Até o ano passado, ele era presidente da Cobra & Cálice e... porra... todo mundo
conhece ele."

"Verdade," ela murmurou, pressionando os lábios na minha bochecha, trazendo


meu foco de volta ao que importava.

"Agora, onde estávamos?" eu cantarolei, puxando devagar o zíper da calça jeans


dela.

"Você sabia que a Lise Fontaine foi pega em uma posição comprometedora com ele
alguns anos atrás?"

"Imagino que muitas mulheres foram pegas de pernas abertas pra ele e... chega de
papo. Continua o que tava fazendo," eu disse, guiando sua mão de volta para onde ela
pertencia.

"O que será que ele está fazendo aqui?" ela resmungou.

"Você ainda está falando daquele perdedor?"

"Ele não se formou ano passado?"

"Sim."

"Então por que voltou?"


"Pra visitar o pai, talvez."

"Ah, é."

Apesar do fluxo intenso de pessoas passando pelo jardim, conseguimos nos


satisfazer. Eu gozei na mão dela depois que ela me masturbou com a força que eu gosto. E
eu deslizei minha mão por dentro do jeans dela e massageei seu clitóris inchado até ela
gozar.

Quando nos arrumamos e ajustamos as roupas, notei uma figura parada em um


arbusto próximo, virada em nossa direção. Era como se ele tivesse assistido tudo. Sentindo
seu olhar em mim, segurei o rosto de Gretta e a beijei de propósito, longo e
apaixonadamente. Quando finalmente nos separamos, ele tinha ido embora — exatamente
como eu sabia que aconteceria.
TRINTA E UM
Ollie

Depois de um dia ao sol comendo, bebendo e trocando beijos, Gretta voltou


para casa para cuidar da mãe, prometendo voltar mais tarde para passar parte da
noite comigo. Ela nunca ficava a noite toda porque a mãe era doente. Eu adorava tê-la na
minha cama, a curva do seu corpo quente e tonificado pressionada contra o meu. Amava o
cheiro do xampu dela no meu travesseiro e os fios curtos de cabelo vermelho que
encontrava nas minhas roupas. Sorrindo, subi os dois lances de escada até o último andar,
onde ficavam os quartos dos calouros.

Meu sorriso desapareceu quando cheguei ao topo das escadas e olhei para o
corredor. Minha porta estava entreaberta. Juro que tranquei. Eu sempre tranco essa porra.

Cautelosamente, empurrei a porta, que rangeu tão alto que me arrepiou. Com o
coração batendo forte contra as costelas, deixando-me sem fôlego, atravessei a soleira. À
primeira vista, nada parecia fora do lugar – mas isso, de alguma forma, era pior. Chegar em
casa e encontrar meu quarto revirado me assustaria menos. Alguém teve cuidado, pisou
suavemente, mas ainda assim quis que eu soubesse que invadiu minha privacidade
deixando a porta aberta. Isso era um jogo. Alguém estava tentando me provocar
psicologicamente.

A porta não tinha sido arrombada, e só havia duas chaves do meu quarto – ambas
comigo. A resposta estava na janela. Como morava no terceiro andar, costumava deixá-la
aberta alguns centímetros, confiante que ninguém escalaria a casa para entrar. Além do
mais, havia mil maneiras mais fáceis de invadir, incluindo simplesmente entrar pela porta
da frente.

Revisei meu armário e gavetas – nada faltava, mas sabia que algo estava errado.
Deslizei a mão para o fundo da segunda gaveta, onde escondia meu celular reserva dentro
de uma meia, e suspirei aliviado ao encontrá-lo lá. Eu quase nunca o usava e o mantinha
para um único propósito.

Percebi que a bateria estava descarregada, o que significava que quem invadiu meu
quarto teria que carregá-lo antes de bisbilhotar. Claramente, não foram tão longe. Não que
houvesse algo importante nele – eu sempre apagava mensagens depois de lê-las ou
enviá-las. Não sou idiota.

Ainda furioso, procurei pela casa sinais de vida e encontrei dois colegas de quarto,
Ridge e Josh, na cozinha preparando o jantar – o que consistia em despejar cereal em uma
tigela.

"Vocês notaram algo estranho no último andar?" Não que eu esperasse que
tivessem – seus quartos ficavam no segundo andar.

Eles encolheram os ombros musculosos. "Tipo o quê?" Ridge perguntou, passando


manteiga em uma torrada.

"Tipo alguém escalando a casa e invadindo meu quarto em plena luz do dia."

"Pergunta pro Darryn, ele ficou aqui a maior parte do dia," Josh disse.

Um calafrio desceu minha espinha. "Onde ele está agora?"

"Foi fazer compras," Ridge respondeu. "Uma hora atrás."

"Hmm." Quase deixei por isso mesmo, até outra ideia me ocorrer. "Vocês notaram
algo diferente nele?"

"Tipo o quê?"

"Tipo se ele fez um transplante de cérebro quando foi pra Grand Rapids e voltou
taciturno e frio."

"Ainda parece o mesmo cara pra mim," Ridge falou. "Mas, sabe, família pode
bagunçar a cabeça da gente."

"Sim, se foi família que ele foi visitar," murmurei, plantando uma semente de
dúvida. "Alguém me disse que o viu no centro quando ele supostamente estava em Grand
Rapids."

"Talvez ele esteja em uma missão secreta," Ridge brincou.

"Vocês souberam que a Mathias levou um tiro no ombro?" perguntei.

"Sim," responderam juntos.

"Talvez tenha sido um trabalho da C&C," adicionei mais água para fazer a semente
crescer.
"Não duvido nada," Josh falou baixinho, já que ele foi um dos quatro que
espancaram Jace Luxon até deixá-lo irreconhecível. O pagamento dele por esse serviço foi
ter acusações de drogas anuladas.

"O quê?" Ridge ergueu a cabeça da frigideira. "Você acha que foi o Darryn quem
atirou na Mathias?"

"Talvez."

Ouvimos a porta da frente bater, e eu saí da cozinha para ver Darryn parado na
entrada, carregando sacolas de compras.

"Você viu alguém invadindo meu quarto?" ataquei, sem nem um "oi".

Ele franziu a testa. "Não."

"Claro que não," murmurei, só para ele ouvir. "E aposto que você vai fingir que não
estava espiando a Gretta e eu nos beijando nos jardins da universidade, igual um tarado."

Seu rosto já bronzeado pelo verão ficou vermelho vivo.

"Culpado," gritei baixinho, e ele resmungou algo condescendente. "O que foi? Não
ouvi direito."

"Nada," ele disparou, virando as costas. "Você é um santo, porra."

Quando ele entrou na cozinha, ouvi ele cantarolar uma versão da cantiga infantil:
"Você é o rei do castelo, eu sou o vagabundo sujo."

Quase perdi a cabeça e fui pra cima dele, mas parei quando o chão pareceu
balançar sob meus pés. Um fio de suor escorreu da minha testa para o olho, embaçando
minha visão. A casa velha era um forno no verão e um freezer no inverno. Mesmo com o
ar-condicionado caríssimo que os ex-alunos instalaram, mal fazia diferença. Ou talvez fosse
outra coisa me fazendo suar.

"Idiota!" gritei, e ele parou, virando devagar para me encarar. "Essa é a única prova
que temos para encontrar o líder do clube After Dark. Então cala a boca."

"Ah. Certo," ele piscou. "Entendi."


"Me fala da sua família," Gretta perguntou, aconchegando-se a mim na cama depois
que a comi com força por trás.

"Nada demais. Dois irmãos. Cidade pequena perto de Atlanta."

"Onde em Atlanta?"

"Um lugar chamado Redwood. Já foi?"

"Não."

"Talvez a gente possa ir um dia. Te apresento meus pais e nosso cachorro, Max."

"Eu adoraria. Faz séculos que não saio do estado."

"Quanto tempo você consegue ficar longe da sua mãe?"

"Meio dia," ela respondeu, desanimada.

A mãe dela era minha saída. Nunca a levaria para Atlanta, porque não existe nada
lá. Estou tão acostumado a atuar nesse jogo que quase acredito na minha própria mentira.

Siga o roteiro. Siga a porra do roteiro que vai quebrar o coraçãozinho dela quando
tudo acabar.

Ela está infiltrada para caçar o vilão, mas aqui estou eu, bem debaixo do nariz
pontudo dela.

"Eu poderia contratar uma enfermeira para ficar com ela," Gretta pensou alto
depois de alguns segundos.

"Posso ajudar a pagar," ofereci. Nunca que vai rolar.

"Ah não, não posso pedir isso," ela suspirou.

Ótimo. Passei os dedos pelos cabelos dela. Havia muitas coisas que gostava na
Gretta. Ela não era deslumbrante, além daquele cabelo vermelho-cereja, mas tinha um
sorriso que iluminava meu espírito e me fazia esquecer, por alguns segundos, quem eu
realmente era. Ela também era inteligente, mas não o suficiente para saber com quem
estava transando.

Ollie Allot gosta muito dela.


Arthur, o príncipe da enganação, também gosta muito dela.

Sou a mesma pessoa interpretando personagens diferentes na mesma história.


Pateticamente genial.

No entanto, sei que sempre há furos e fraquezas em qualquer enredo. Nesse caso, a
fraqueza é a mocinha que tenta enganar o rei e o príncipe.

Por sorte, os vilões a têm cercada e vigiada 24 horas por dia.

Sabíamos sobre seu grupinho de "protetoras" – as namoradas de Tristan Fisher,


Jace Luxon e Cody Harrington – a gangue de garotas que Mathias nem conhecia. Elas não
fariam nem sombra.

"Ollie," ela gritou debaixo de mim. "Você está me apertando demais."

Nem tinha percebido que meu abraço ficou mais forte quanto mais pensava em sua
traição. "Desculpa," afrouxei o aperto.

Esperava que ela fosse aberta comigo, já que estamos infiltrados juntos, mas ela
nunca mencionou essa panelinha de "vigias". Isso me incomodava, mas não o suficiente
para odiá-la. Além do mais, conhecíamos cada movimento dela.

Ela soltou risadinhas fofas quando esfreguei minha barba por fazer no pescoço
dela. Outra razão pela qual gostava tanto dela. Aquela risada. Quase deixaria qualquer coisa
passar só para ouvi-la rir.

"Melhor eu ir," sussurrou. "Tenho aula cedo e depois turno no Stads."

Gemi, enterrando o rosto em sua pele macia. "Fica mais uma hora."

Ela pegou o celular para ver as horas, mas cheguei primeiro. "O que temos aqui?"
provoquei, tentando decifrar a senha. "Tem algum namoradinho secreto que eu deva
saber?"

"Não," respondeu, tentando pegar o celular de volta.

"Lenta demais," segurei o telefone fora do alcance.

"Ollie, que horas são?"

"Qual é sua senha?"

"Não vou te contar."


"Não devíamos ter segredos," brinquei pela metade, "considerando que somos
cúmplices numa operação secreta."

"O quê?" ela riu. "Confia, não sou interessante o suficiente para ter segredos."

"Preciso saber que estou cobrindo suas costas totalmente," continuei. Meu tom era
brincalhão, mas a intenção por trás era mortalmente séria.

"Você cobre," ela jurou. "E eu cubro as suas?"

"Desde o começo, prometi te proteger e mantenho minha palavra."

Ela hesitou, e pude sentir ela se afastando emocionalmente. "Bom," finalmente


disse. "Certifique-se de cumprir isso."

"Cumprirei. Prometo," pressionei meus lábios contra sua pele fresca. "Minha
ruivinha ardilosa."
TRINTA E DOIS
Gretta

Estou decepcionado com o abrupto fim do nosso encontro. Para provar que não
fiz nada errado, anexei imagens da minha câmera de segurança da nossa noite. Espero
que isso seja suficiente para convencê-la a me ver novamente.

Hesitei antes de clicar no link do e-mail. Era do homem que se autointitula


Dominus. O mesmo homem que descaradamente sai com outras mulheres, mesmo que todo
o estado saiba que namora a filha do senador. Sou apenas mais um caso passageiro para ele
esquecer quando se cansar?

Clico no anexo e assisto ao fiasco tedioso se desenrolar. Ele me ajudou a vestir o


babydoll, percorrendo meu corpo nu com os olhos. Esperava que ele apalpasse minha
buceta ou algo totalmente inapropriado — em vez disso, me deitou no sofá e cobriu meu
corpo com um cobertor.

Me emocionei um pouco ao vê-lo acariciar meu queixo gentilmente com as costas


da mão, alisando meus cabelos. Era um toque íntimo. Suave. Carinhoso. Repasso seus gestos
com meus próprios dedos, desejando ter estado acordada na hora. Ou talvez estivesse, mas
bêbada demais para lembrar.

Satisfeito de que eu estava bem, ele sentou no sofá oposto, apoiou os pés em uma
otomana de couro e assistiu TV por um tempo, tomando vinho e comendo amendoins.

Ele não me tocou sexualmente uma única vez.

Não sabia como me sentir com isso. Seria tão indesejável que ele nem tentou tocar
meus seios, minha barriga ou minha bunda?

Duas perguntas antes que eu decida se vou vê-lo novamente:

1.​ Sua namorada sabe que você sai com outras mulheres?
Respirei fundo para me acalmar antes de escrever a segunda pergunta.

2.​ Por que eu?

Isso era parte do jogo que eu estava jogando. Claro que o veria de novo — precisava
arrancar confissões dele. Precisava ouvir da própria boca que ele matou meu pai. E então
perguntaria:

Por. Que. Você. Matou. Meu. Pai?

As garotas do meu esquema de proteção não sabem nada sobre nosso passado nem
sobre minha verdadeira agenda. Guardei esse segredo a sete chaves. Deixei que
acreditassem que entrei nessa apenas para fazer Dominus confessar seu papel como líder
do Clube After Dark.

Vai demorar muitos encontros para ele admitir isso. Mas o assassinato do meu pai...
essa é outra história. Ele me enviou a bala como lembrança no quarto 23. Está mais do que
claro que ele sabe que eu o vi naquele dia.

Ainda estava encarando a tela quando sua resposta chegou:

1.​ Temos um acordo.


2.​ Você me irrita e me excita na mesma medida.
3.​ Vem hoje à noite?

Me peguei sorrindo e imediatamente dei um tapa na própria bochecha por trair


minha própria causa. O garoto que amei obsessivamente na infância agora é um homem —
e ele quer passar tempo comigo.

Nada insano nisso.

Não seria insano se ele fosse uma pessoa normal. Mas ele é uma raça
completamente diferente.

"Ok," respondi. "Devo ir ao seu apartamento de novo?"


"Sim. 19h. Dessa vez, não te darei vinho."

Segurei uma resposta irritada, convicta de que a culpa não tinha sido do vinho.
"Babaca," murmurei.

Era pouco depois das 8h da manhã, e minha mãe assistia reprises de "Days of Our
Lives". De vez em quando, ela gritava algo para os personagens — "Cuidado! Ah, seu idiota!
Olha ele, não é o que parece, raposa esperta" etc.

Essa era a vida da minha mãe agora: presa na fantasia das novelas. Se o papai ainda
estivesse vivo, ele a motivaria a viver e amar. A sentir a brisa fresca na pele, observar os
gansos canadenses voando no outono, molhar os pés no Lago Superior.

A perda do grande amor da vida a mergulhou em uma depressão profunda — nem


mesmo a própria filha conseguia motivá-la a fazer café da manhã, ir a um piquenique ou
visitar o shopping. Ela só queria ficar na cama, assistindo novelas e programas de auditório.

O homem que se autointitula Dominus não só nos devia pelas duas vidas que
arruinou, mas também por uma explicação.

"Você vai ver o Ollie hoje à noite?" minha mãe perguntou, esperançosa.

Merda! Ollie. Eu tinha esquecido completamente dele. Ele queria fazer um jantar e
passar parte da noite juntos. Sexo com o Ollie era ótimo, mas sexo e uma confissão do Dom
valiam mais.

"Não," respondi. "Vou ficar com as meninas hoje."

"Ah." Ela pareceu decepcionada. Minha mãe tinha grandes esperanças de que o Ollie
seria meu salvador.

"Não queremos nos cansar um do outro," disse, entrando na sala.

"Bobagem. Como um homem bom como ele se cansaria da minha filha?"

"Eu estava pensando no contrário. Talvez eu me canse dele."

Ela ficou horrorizada. "Daquele garoto desejável, bonito, de boa família em


Atlanta?"
"Como você sabe que ele é de Atlanta?" Peguei uma caixa de flocos de farelo e
despejei um pouco em uma tigela. Não era exatamente meu cereal favorito, mas minha mãe
acreditava que era saudável e ajudava no intestino. Pelo menos é o que diz a propaganda.

"Ele me contou quando veio aqui te procurar."

"Aquela noite que eu quero esquecer," murmurei.

Eu tinha visto um lado do Ollie que nunca mais queria ver se a gente quisesse levar
nosso relacionamento adiante. A verdade é que eu não conseguia ver nada além deste ano,
muito menos o último ano da faculdade. O que eu sabia era que Ollie e eu estávamos em um
caminho de destruição. Eu sabia. E me perguntava se ele também sabia.

Mastigando o que parecia papelão em forma de cereal, enviei três mensagens:

Uma para Lise, avisando que eu tentaria outra vez com o Dom. A segunda para
Ollie, adiando nosso encontro. Devido aos plantões extras no Stads, talvez não pudesse
passar a noite com ele por mais uma semana ou duas.

Mas ainda teríamos muitos dias de verão juntos. Ollie poderia ser meus dias,
enquanto Dom seria minhas noites. Pelo menos até eu conseguir minha confissão.

A terceira mensagem para outra pessoa completamente diferente:

Ele tem uma câmera de segurança na sala. Tem certeza que ele não te viu
instalando os microfones?

Assim que enviei, apaguei a mensagem.

A resposta veio vinte minutos depois, enquanto eu caminhava para o carro:

Eu vi a câmera e a cobri.

Isso não me deixou muito confiante — afinal, ele notaria. Ele era inteligente e um
mestre em disfarces, mas dificilmente relaxaria ou baixaria a guarda na própria casa.
Confiança sim, mas não a esse ponto. Pelo menos era assim que eu o via.
Como se lessem meus pensamentos, outra mensagem chegou:

Os microfones ainda estão ativos.

Ou seja, ele não os descobriu. Ou talvez tenha descoberto e esteja nos enganando.
Se ele percebeu que a câmera foi adulterada, se perguntaria o que foi roubado do
apartamento. E quando descobrisse que nada sumiu, questionaria o motivo.
TRINTA E TRÊS
Dominus

Apaguei seus e-mails e depois os removi da lixeira. Deixei que ela acreditasse
que Vic e eu tínhamos um "acordo" — e, de certa forma, tínhamos. Um acordo não dito. Ela
está transando com o Bruno (e talvez com meu irmão), enquanto eu me divirto com a
Cattus.

Ela não é uma beleza como as que costumo admirar, mas há algo nela que acho
absolutamente tentador. Quando ela dormia no meu sofá, sua pele de porcelana e o cabelo
vermelho-vivo contra o tecido cinza-escuro eram um verdadeiro deleite.

Lutei contra o demônio que se agitava sob minha pele e a observei dormir, intocada
por mim.

Pacífica. Sedutora. Mas se a tocasse, estaria profanando uma forma de arte tão pura
e mal compreendida.

Ela era uma inocente que ainda guardava o coração do meu eu de quatorze anos.
Nossa ligação inquebrável vem de um vínculo criado na infância, e até hoje a vejo como
aquela menina — Cattus, não a mulher que ela diz ser hoje.

Sentindo um frio na barriga pela expectativa do nosso encontro, assobiei uma


música antiga que dançamos juntos no campo, sob o sol do verão. Éramos filhos de
funcionários da universidade, deixados à própria sorte nas férias enquanto eles
trabalhavam.

Enquanto tomava meu café com um fio de leite (sem açúcar) e checava as notícias,
a melodia ainda ecoava na minha mente como se tivéssemos rido e cantado como crianças
ontem.

"Qual era o nome daquela música mesmo?"

Ainda a cantarolava ao escovar os dentes, me preparando para o fardo diário de


fingir que me importo com algo. Ao cuspir a pasta no lavatório, notei um movimento no
corredor pelo canto do olho.
"Alguém do seu tamanho é péssimo em se esconder," chamei, enxugando a boca
com uma toalha.

Ele apareceu diante de mim — grande e imponente, meu irmão mais novo com
uma expressão assassina que não combinava com ele.

"Estamos irritados, irmãozinho?" provoquei.

"Você vai vê-la hoje à noite?"

Soltei uma risada. "Alguém foi trocado?"

Ele deu um passo à frente, mãos cerradas em punhos. "Não enche o saco."

"Sua atitude ultimamente tem me preocupado."

"Responde a porra da minha pergunta," ele ameaçou com o dedo.

"Você era tão dócil quando criança."

"Você sabe o que aconteceu naquela época. Seu merda—" Ele fez um som de ar
escapando, como um pneu furado, enquanto se controlava à força. "Você vai vê-la hoje à
noite?"

"Convidei-a, e ela aceitou."

Ele avançou com raiva, mas se segurou. "Por quê? Por que ela? É porque ela é
minha?"

"Você está perdendo o foco, Arthur."

"Não me chame por esse nome."

"Tá bom."

"Você tem um harém à disposição. Por que ela?"

"Nós temos história."

"História que poderia ter sido diferente — melhor — se você não tivesse estragado
tudo."

"Digamos que estamos nos usando mutuamente. Ela quer algo de mim, e eu quero
algo dela."
Ele se agitou nos tênis. "Imagino o que ela quer de você. Mas o que você quer dela?"

"Recuperar minha infância."

"Mentira."

"Acha que estou mentindo?"

"O único motivo de você estar saindo com ela é porque ela é minha. Você não
suporta me ver feliz, então arranca tudo que tem significado pra mim. É assim desde
criança, e você ainda não mudou."

"Dramático."

Ele apontou o dedo para meu rosto novamente: "Você só sabe tomar, sem motivo
algum, só pra me ver sofrer. E quando cansar dela, vai descartá-la, igual fez com a Amber e a
Kristie."

"Quem?"

"Suas putinhas. Lembra delas? Você nem sabe os nomes direito, seu merda. Amber
e Kristie. Tatua esses nomes no seu cérebro, imbecil."

"Cattus é diferente," respondi suavemente. "E meu interesse pelas garotas do


harém esfriou."

"Ela só está com você pra arrancar sua confissão sobre ser o rei do clube After
Dark."

"Imagino que seja um dos motivos. E estou plenamente ciente do que ela espera
conseguir de mim. Obviamente, uma confissão nunca vai acontecer. Mas talvez eu me
divirta com outras coisas enquanto ela estiver aqui... como nos bons tempos."

Suas narinas se dilataram como as de um burro enfurecido, e precisei conter o riso.


"Não machuque ela," ele advertiu devagar.

"Não controlo como ela reage às minhas escolhas."

"Não estou falando só emocionalmente," seu olhar quase sugou minha força vital.
"Não a machuque fisicamente."

Eu soltei um riso de desdém. "Como se eu faria isso. Olha, irmãozinho, isso pode
ser um choque pra você, mas eu realmente me importo com a Cattus—"
"Você nem a chama pelo nome verdadeiro!" ele berrou.

"—e não quero nada além da felicidade dela."

"Diga o nome dela," ele rosnou.

"Se ser feliz significa ficar comigo às vezes—"

"Diga a porra do nome dela!"

"—então por que não? Podemos nos divertir. Tipo uma troca. Ela pode caçar o tal
rei do clube After Dark," revirei os olhos, "que ela obviamente acha que sou eu, e em troca
eu talvez... lamba sua boceta."

Ele voou em minha direção e me pegou em um mata-leão. "Diga o nome dela," falou
com calma mortal.

Sorri, mal conseguindo respirar com o aperto no pescoço. "Ensinei você bem, Art."

Ele apertou mais forte. A expressão em seus olhos era magnífica. Queria estar em
posição de tirar uma foto e adicionar à minha coleção.

Minha cabeça latejava enquanto o ar e a circulação sumiam. Eu não me importava.


Me deleitava nesse tipo de atividade – a um sopro de distância da morte.

Um.

Sopro.

Minúsculo.

Na verdade, eu fazia esse tipo de coisa com as garotas do meu harém, quando ainda
gostava da companhia delas.

"Diga o nome dela!" sua voz soou rouca enquanto apertava, e eu comecei a ficar
tonto. "Diga!"

"G-Gret..."

"O nome completo."

"G-Gretta Nelson."
Ele me soltou, e eu desabei no chão, engolindo ar aos risos. "Isso foi incrível,
irmão," rolei no chão do banheiro, "vamos repetir outra hora."

Inclinando-se sobre mim: "Lembre-se do nome dela, seu merda. Porque se


machucar um fio de cabelo sequer, eu venho atrás de você. E da próxima vez não serei tão
gentil."

"Estarei ansioso, irmão," gritei enquanto ele saía pelo corredor, batendo a porta
com força.
TRINTA E QUATRO
Gretta

Sempre que estou perto dele, minha pele parece ganhar vida com impulsos
elétricos. Arrepios percorrem meu corpo, e a adrenalina corre nas minhas veias, me
implorando para fugir.

Obviamente, aprendi a ignorar meus instintos.

"Não vou te dar álcool," ele disse, abrindo uma garrafa de água mineral e servindo
um copo.

Fiquei encostada no balcão da cozinha, observando para ver se ele colocava algo no
meu drink. Tenho certeza que fez isso da última vez. Mas não conseguia entender o porquê.
Por que drogar uma mulher só para ficar vendo ela dormir por uma hora? Quão bem eu
conhecia o psicopata à minha frente? Talvez assistir mulheres dormir fosse o fetiche dele.

Dessa vez, me senti mais corajosa. Acordei com determinação no estômago e um


objetivo a cumprir. Queria respostas.

Ele me chamou para sentar no sofá, e eu o segui enquanto ele carregava meu copo
de água. Meus olhos não saíam do copo.

"Como você está, Cattus?" ele perguntou, batendo no lugar ao lado dele.

"Ocupada," respondi. Em vez do jantar, ele preparou pratos de petiscos. Nada me


parecia tentador naquele momento.

"Você se cobra demais," disse suavemente.

"Não tenho escolha."

Seus olhos percorreram meu corpo enquanto eu me sentava. Hoje, estavam de um


marrom barrento. Não gostava dos olhos dele.

Seu dedo deslizou levemente pela minha coxa, e eu me encolhi ao toque. "Você está
muito nervosa, Cattus. Talvez eu deva te dar vinho."
"Estou bem." Passei a língua no lábio inferior, sentindo o peso do olhar dele. "Na
verdade, não estou bem."

"Eu sei por que você está aqui."

Isso me pegou de surpresa. "Sabe?"

"Você quer reviver nossa infância, não é? Falar dos velhos tempos."

Minha garganta estava seca, precisando desesperadamente de água. Tomei um gole


mínimo. Pode ser um erro. "Por que você fez isso?" Minhas palavras saíram em um sussurro
quase inaudível.

"Como é?"

Pigarreei. "Por que você fez isso?"

"Fiz o quê?"

"Atirou no meu pai." As palavras rolaram da minha boca, e uma vez ditas, não havia
volta. Sabia muito bem que havia me colocado deliberadamente em uma situação perigosa
— minha única ajuda eram as meninas esperando no carro lá fora.

Ele quase não reagiu, tomando outro gole de vinho, ganhando tempo. "Sei que não
quer ouvir isso, mas seu pai era um homem muito ruim."

"Isso é mentira."

Ele riu, relaxando no sofá. "Você joga xadrez?"

"Não. E por que está mudando de assunto?"

"Porque não importa o que eu diga, você não vai acreditar."

"Tenta."

Uma confissão era tudo que precisavam para prendê-lo. Mas não era a confissão
que eles queriam. Era a confissão que eu precisava. Eu o vi atirar no meu pai. Mas precisava
ouvir de seus lábios. Precisava que ele sentisse culpa — ou remorso. Duvidava que fosse
capaz de tais emoções.

Ele suspirou, e sua mão encontrou minha coxa novamente, pressionando com
firmeza — um aviso, ou talvez outra intenção.
Eu não tenho certeza. "Quão bem você conhece seu pai, Cattus?"

"Sei que ele era trabalhador, dedicado ao emprego e um pai e marido amoroso."

Ele bufou. "Parece ensaiado. Ou seja, você não o conhecia de verdade."

"E você conhecia?"

Sua mão subiu lentamente pela minha coxa, parando a um centímetro do meu
centro. Contive minha reação ao toque. Precisava me concentrar. "Então me conta. Sou uma
garota grande, aguento."

"Digamos que ele fazia coisas que não deveria."

"Me dá um exemplo."

Ele sorriu com escuridão, e eu quase estremeci. Mas me orgulho de manter a


compostura. Cabeça erguida, costas retas e evite comer ou beber qualquer coisa. Droga, já
quebrei essa regra.

"Você não vai gostar do que eu disser. Talvez seja mais saudável manter sua visão
idealizada do seu pai zelador do que saber a verdade." Ele arrastou a palavra "zelador" de
propósito, o que me irritou profundamente.

"Zelador é uma profissão perfeitamente respeitável," retruquei, tirando a mão dele


da minha coxa. "Só porque ele não fez faculdade, não o torna menos importante que seu pai
pomposo."

Ele jogou a cabeça para trás e riu. "Cattus, você é hilária. Não preciso provar o valor
do meu pai pra você. Você já sabe que ele trabalhou duro para conquistar o que tem."

"Me diz o que meu pai supostamente fez de tão horrível que você precisou atirar
nele," falei com raiva.

"Você é linda quando está brava, Cattus," ele suspirou, e meu corpo inteiro tremeu.
"Se eu pudesse te tornar minha, eu faria."

"Você está fugindo da pergunta... de novo."

Ele sorriu e passou a mão no queixo liso. Me odiei por sentir tanta atração por esse
homem. Me odiei por querer sua mão na minha coxa de novo, seus lábios nos meus. Queria
sentir o gosto dele até doer.
Decidi tentar outra abordagem: "Eu sabia que era você por trás da máscara no
quarto 23."

"Não estava tentando me esconder de você, só do atleta que você estava fodendo. A
propósito, como estava o pauzão dele?"

"Percebeu isso, né?"

"Sim, 'bem dotado' é um eufemismo. Mas ele é inepto em usar o equipamento. Mais
interessado no próprio prazer que no seu."

"Não é verdade. Ele sempre faz coisas para me satisfazer no quarto."

"Mas com quem você tem para comparar?" Ele me encarou diretamente, esperando
minha resposta, enquanto o dedo mindinho dele roçou meu centro.

Mordi meu lábio e segurei um suspiro. "Muito," menti. "E como você saberia como o
Ollie é na cama, se só nos viu uma vez?" Parei ao ler algo em seus olhos. "Você já nos
observou antes?"

Ele aumentou a pressão com o dedo mínimo, e desta vez não consegui evitar um
suspiro de desejo. Ele mal estava me tocando, mas minha calcinha já estava encharcada.

"Digamos que assistir você sendo satisfeita poderia se tornar meu passatempo
favorito."

"Então você gravou nossos encontros no quarto vinte e três?"

Ele acenou lentamente.

"Gozou vendo, foi? Se masturbou babando com nossa performance?"

"Já vi acasalamento de morsas mais ágil."

Eu soltei uma risada, sem conseguir evitar, e seus olhos brilharam ao ouvir.

Minha diversão foi interrompida quando ele segurou meu rosto com a outra mão e
passou o polegar no meu lábio inferior. "Você é tão tentadora, Cattus. Sempre foi."

"Você me notou na KVU? Eu te vi várias vezes."

"Não no começo. Nós circulávamos em grupos diferentes e em anos diferentes."


Sua resposta foi vaga, e entendi que não tinha chamado sua atenção. Sutilmente, eu
tentava atraí-lo nas raras ocasiões em que nos cruzávamos. Mas ele sempre estava com
alguém, e quando olhava para mim, era óbvio que não me reconhecia ou se interessava. Isso
foi antes de eu pintar meu cabelo de vermelho-sangue. Se não me destacava de outra forma,
talvez um farol na cabeça ajudasse.

"Você tem um coração?" sussurrei, enquanto seu polegar deslizava sobre meu lábio
e entrava em minha boca.

Seus olhos se endureceram ao me ver chupar seu dedo. Quase dava para ver as
engrenagens girando em sua mente, decidindo meu destino.

"Você acha possível amar alguém que sabe que faz mal?"

"Acontece o tempo todo... e nunca termina bem."

Ele se inclinou e beijou minha boca suavemente, antes de avançar com força,
enfiando a língua profundamente. Sua mão dominou meu centro, massageando por cima da
minha calça. Eu usava um conjunto social — calça, paletó e blusa branca — minha roupa de
entrevista de emprego, justamente para dificultar se ele planejasse me drogar de novo.

Aparentemente, nem precisava me drogar para eu derreter em suas mãos.

"Você não respondeu minha pergunta," susurrei contra seus lábios.

Ignorando-me, ele se ajustou no sofá, posicionando-se entre minhas pernas e


esfregando sua ereção contra meu centro.

"Você me faz questionar tudo," respondeu, afastando-se da minha boca para


mordiscar meu pescoço.

"Como assim?"

"Vida..." ele disse, recapturando meus lábios enquanto movia os quadris,


pressionando sua dureza contra meu corpo macio.

"Respiração..." acrescentou, descendo para meu peito, abrindo meu paletó e


sugando meu seio esquerdo com tanta força que eu gritei de dor. Agarrei seus cabelos loiros
escuros enquanto ele sugava minha alma pelos seios, deixando-me faminta por seu pau.

Provocador, ele desabotoou minha blusa e deslizou as mãos quentes sob meu sutiã,
levantando-o. Recuou por um momento, bebendo minha imagem, antes de levar o seio
direito à boca.
"Sangue..." ele respirou, pouco antes de morder meu mamilo com força. Um fio
escarlate escorreu, e ele lambeu avidamente, sedento.

Arqueei as costas, enrolando as pernas em sua cintura para deixar claro o que
queria. Me fode. É isso que eu quero. Me fode bem.

Mas eu não estava no comando, e sua resposta foi me provocar, afastando seu pau
da minha boceta.

"Por favor," supliquei, e ele balançou a cabeça.

Enquanto sua boca provocante avançava em ritmo de lesma em direção à minha


calça, eu já estava à beira de um orgasmo. Não acreditava – ele mal tinha dado atenção à
minha boceta e eu já estava prestes a explodir.

"Por favor," supliquei novamente.

Com a cabeça entre minhas pernas, ele mordiscou e chupou por cima do tecido,
enquanto eu tentava puxar a calça para baixo – só para ter minha mão afastada com um
tapa.

Com o orgasmo prestes a vir, ele abriu o zíper e puxou minha calça de uma vez,
passando a chupar meu clitóris por cima da calcinha encharcada.

"Tira isso, por favor," gemi em agonia.

"O que você quer?" ele cantarolou, malicioso.

"Seu pau dentro de mim. Por favor."

Foi o suficiente ele puxar minha calcinha e lamber minha boceta por um segundo
antes que o orgasmo chegasse.

"E morte…" ele disse enquanto eu gritava, consumida pelas ondas de desejo que
percorriam meu corpo. Ele continuou chupando quando outra onda me atingiu, colocando
minha perna direita sobre seu ombro para enfiar a língua dentro de mim. Não parou até a
última onda passar, então baixou minha perna e limpou meu suco do queixo.

"Você tem um gosto delicioso, Cattus."

"Me chama pelo meu nome verdadeiro," ofeguei, meu peito nu subindo e descendo
enquanto seus olhos percorriam meu corpo.
Ele balançou a cabeça, enfiando a mão no bolso e tirando uma camisinha.
Sentei-me para abrir o zíper de sua calça, mas fui afastada de novo com um tapinha.

"Deita, Cattus," ordenou.

Obedeci enquanto ele libertava o pau ereto da prisão das roupas. Era uma fera
linda – não tão grosso quanto o do Ollie, mas parecia mais comprido. Tremer de desejo ao
imaginar ele entrando fundo em mim, mais fundo que Ollie jamais conseguiria.

Ele enfiou apenas uma polegada dentro de mim antes de me lançar um olhar
diabólico – eu estava tão perto do orgasmo que mal consegui interpretá-lo. Meu celular
tocou na bolsa, e notei seu olho esquerdo estremecer, virando levemente a cabeça naquela
direção.

"Ignore," ordenou. "Você é minha esta noite." Empurrou mais uma polegada. "Quero
te fazer gritar." Mais uma.

Levantou minha perna direita sobre seu quadril e entrou até o fim, ajustando meu
corpo para ir ainda mais fundo. "Você está uma delícia, Cattus." Puxou quase todo para fora
antes de enfiar com força de novo.

"Vida…" ele falou firme, recuando novamente. "Sopro," enfiando com tudo e
pressionando contra minhas paredes. "Sangue," puxando para fora e apontando o pau para
baixo. "Morte," socando forte, bifurcando para baixo onde atingiu meu ponto mais
profundo.

Gritei de desconforto quando outro orgasmo surgiu, tão perto.

"Diga," exigiu.

"Vida," enquanto ele entrava com força. "Sopro," recuando quase por completo.
"Sangue," enfiando fundo. "Morte."

E o orgasmo veio. Ele jogou a cabeça para trás e me fodeu rápido e forte até
terminarmos.
TRINTA E CINCO
Dominus

Eu queria perguntar quanto tempo ela tinha comigo, sabendo que suas
amigas esperavam lá embaixo. Veja, eu não sou o tipo de homem com quem uma inocente
como Cattus deveria ficar a sós. Então elas estavam certas em pensar que eu poderia
machucá-la. Não era minha intenção machucá-la – a menos que fosse para explorar aquela
deliciosa linha entre prazer e dor. Mas às vezes o demônio em mim assumia o controle. E eu
era levado a fazer coisas ruins por curiosidade... ou diversão.

Digamos que eu me entedio facilmente.

Eu dancei nessa linha tênue entre prazer e dor quando a comi. Aposto que meu
irmãozinho nunca a fodeu assim. Aposto que ela nunca gritou o nome dele enquanto ele se
debruçava desajeitado sobre ela.

Enrolei-a em um cobertor e a segurei no sofá, conversando sobre nossa infância.


Bem, eu conversava – ela ficou lá, semiconsciente, absorvendo o calor do meu abraço.

"Eu te machuquei?"

Ela balançou a cabeça suavemente. "Você ainda se recusa a responder minha


pergunta," disse, exatamente quando seu telefone tocou de novo.

"Quer atender?" Quase disse: "devem ser suas amigas lá embaixo, preocupadas que
o monstro te devorou inteira."

Ela lambeu os lábios úmidos, e eu percebi que queria avisá-las que estava bem.
"Melhor eu ir," sussurrou.

Relutantemente, soltei meu aperto, e ela se levantou, levando seu calor com ela.
Ajeitou a blusa e o sutiã desalinhados – que ainda estava usando – e encontrou a calcinha
no chão, onde eu a deixara.

Suas nádegas eram montes perfeitos de porcelana, com carne suficiente para
afundar meus dentes.
A vontade de mordê-las me excitou, mas me contive.

Ela pegou o telefone na bolsa e rapidamente mandou uma mensagem. Não


conseguia parar de olhar para ela. Aquela boca que queria beber de novo. Aquele corpo que
desejava possuir mais uma vez antes que fosse embora.

Me sentei e estiquei os braços no sofá quando ela voltou.

"Você vai me contar?" ela perguntou novamente, parada na minha frente.

"Não sei do que você está falando," menti, rindo.

Ela sorriu e piscou os olhos de modo provocante, enquanto o pé direito encontrava


minha virilha e pressionava.

"Está brincando com o diabo?" perguntei.

Ela nem pestanejou, enterrando os dedos do pé na carne protegida apenas por um


pedaço de tecido. "Você está tentando enganar Medusa?" Inclinou-se sobre mim até nossos
rostos ficarem perigosamente próximos. "Má ideia."

Acertei os olhos nela, adorando o jogo. "Gosto do seu jeito de pensar, Medusa,"
disse, deslizando as mãos por suas coxas nuas.

"Conte-me," ela rosnou, pressionando o pé com mais força contra minha excitação.

Grunhi entre dor e desejo.

"O que meu pai fez para ser condenado à morte?" Sua voz estava rouca, sem
vestígios de medo.

Puxei-a para cima de mim, dominando sua boca.

"Tenho que ir," ela suspirou.

"Não, Cattus. Fique mais um pouco," gemeu.

"Não posso. Está ficando tarde, e preciso ver como está..."

"Quem?"

"Minha mãe," respondeu baixinho, virando o rosto para esconder a culpa. O motivo
da culpa? Não tinha certeza. Mulheres sentem culpa com facilidade demais – herança de
milênios de submissão tatuada em suas células.
Eu sabia tudo sobre Cattus. Sua mãe doente. Seu namorado — meu irmão mais
novo. Seu trabalho. Seus estudos. Seu grupinho de amigas lá embaixo, provavelmente a
ponto de quebrar as unhas tentando lutar contra um monstro como eu. Conhecia cada uma
daquelas garotas e seus namorados, e não tinha medo. Não eram ameaça. Eu era bom
demais em cobrir meus rastros para me preocupar com um bando de universitários irados
atrás de justiça.

"Venha me ver amanhã à noite," exigi, "e depois de amanhã também."

Ela franziu a testa. "E sua namorada?"

"O que tem ela? Talvez eu queira você como minha garota."

"Quer dizer que largaria a filha do senador pra ficar com uma garçonete de
lanchonete?" Sua voz estava afiada. Ela não era boba. "Duvido."

Ponto pra ela. Largar Vic estava fora de questão — arruinaria tudo que nossas
famílias planejaram. Mas talvez fosse hora de conversarmos sobre nosso futuro. Sobre o
futuro de nossos filhos que ainda nem existiam.

"Você é tão frustrante," ela resmungou, vestindo a calça sob meu olhar ardente.

"Tenho obrigações com Vic e sua família," expliquei.

"Não é isso que me frustra. Nós não temos futuro. Nem penso além de amanhã.
Estou falando de você se recusar a responder minha pergunta." Ela bateu o pé com raiva,
mostrando um temperamento que combinava com sua cor de cabelo. Adorei seu pequeno
show.

"Eu penso além de amanhã. Penso em passar mais noites com você."

"Lá vem você de novo," ela rosnou. "Fugindo da maldita pergunta."

"Você sente culpa?"

"O quê?"

"Por deixar o assassino do seu pai te comer." A frase cortante pareceu atingi-la
como um soco.

Ela virou as costas e foi até a porta. "Preciso ir."

"Cattus, me desculpe. Não quis dizer isso."


Ela parou quando minhas palavras saíram da minha boca encharcada. Me
aproximei, faminto por mais uma vez. "Não precisa se desculpar. Você está certo. Sou
horrível. Não acredito que eu..." Ela enxugou as lágrimas.

Recuou quando tentei confortá-la. "Me desculpe. Por favor, Cattus. Volte pra mim.
Amanhã. Eu te ligo." A porta se fechou lentamente, me deixando sozinho em um
apartamento vazio assombrado por fantasmas.

Fui até a janela que ia do chão ao teto, com vista para a cidade, o rio Leste
serpenteando até onde a vista alcançava. Era verão, os dias longos e as noites ainda não
completamente escuras. Vi a chama vermelha de seu cabelo correndo até um carro
prateado de Cody Harrington. Sim, eu não nasci ontem. Cody é tão assassino quanto eu —
só temos motivos diferentes.

A figura curvilínea de Annalise Fontaine saiu do carro para abraçar minha Cattus,
que logo desapareceu dentro do sedan. Não antes de olhar para a rua e então para meu
apartamento no nono andar. Segui seu olhar, mas só vi carros estacionados — muito
escuros para ver dentro.

Senti um aperto no peito quando o sedan prateado desapareceu. Eu fui o primeiro


a corromper minha pequena Cattus, e agora daria meu braço esquerdo para tê-la. Ela não
era uma beleza como as garotas do meu harém, mas tinha uma tristeza e vulnerabilidade
que me faziam querer protegê-la — e talvez, se possível, fazê-la feliz.

Era uma sensação estranha, quase estranha à minha natureza, que só podia ter a
ver com o laço criado quando nos conhecemos. Eu tinha 14, ela 12. A única filha de um
zelador da KVU. Era tão bonita, com olhos grandes, expressivos e curiosos. Os mesmos
olhos que agora guardavam fragmentos de desprezo e amargura — causados por mim. E
ainda assim, ela me olhava como se eu fosse um rei, exatamente como naquela época.

Medusa.

Digitei a Górgona no buscador do meu celular, tentando entender por que Cattus
escolheu justo aquele personagem mitológico para me chamar.

Medusa foi estuprada por Poseidon no templo da deusa Atena. Como punição por
profanar o espaço sagrado, Atena a amaldiçoou com uma cabeça de cobras e um olhar...

Soltei uma risada alta. "Um olhar que transformava homens em pedra. Ela
representa uma ameaça perigosa para deter outras... hmm, interessante," parei para
absorver. "Uma ameaça perigosa para deter outras ameaças. Uma imagem do mal para
repelir o mal."
Algo se agitou no fundo do meu estômago. "Mal para repelir o mal."

Meu celular vibrou, tirando-me do transe. O nome de Vanderbilt piscou na tela:

Você assistiu o jogo de beisebol?

Era a frase-código dele para indicar que queria falar sobre negócios do After Dark,
o que significava que eu precisava usar meu celular secreto escondido no cofre. Podíamos
conversar por voz, mas qualquer mensagem de texto poderia ser recuperada, mesmo após
apagada. Havia gente poderosa demais envolvida no clube para eu cometer erros.

Entrando no meu escritório, deslizei a parede falsa do closet e abri o cofre. "E aí?"
perguntei assim que ele atendeu.

"Estou cobrando algumas dívidas," ele informou.

"Benson, você precisa transar," falei grosseiramente, olhando para o meu Rolex.
"Entendo a dedicação ao trabalho, mas são quase 21h."

"Estou quase terminando. E estou em casa."

"Dívidas de quem? Nossas ou de clientes?"

"Clientes demorando para pagar."

"Quantos?"

"Três. Não posso finalizar os negócios com os alunos até que eles paguem."

"Certo, me diz os pseudônimos." Toda a operação do After Dark Club girava em


torno de codinomes. Vanderbilt trabalhava apenas com os pseudônimos, sem saber quem
eram as pessoas por trás deles, enquanto eu tinha a lista dos nomes reais. Os clientes
muitas vezes mudavam de nome, mas sempre precisávamos confirmar que eram membros
da Sociedade Cobra & Cálice. Ninguém conseguia nem colocar o pé na porta, muito menos
fechar um negócio, sem ser membro da C&C.

Ele citou três nomes, e eu os memorizei enquanto pegava o pendrive que continha
o registro completo.
Quando saí do closet, levei um susto ao ver alguém imponente encostado na porta
do meu escritório.

"Me arrependo do dia que te dei uma chave extra," disse, deslizando o pendrive na
manga enquanto fechava discretamente a parede falsa. Como um homem tão grande
conseguia se mover tão silenciosamente?

"Já achou Nárnia?" ele cutucou. O comentário me atingiu como uma facada. Era a
segunda vez em duas semanas que me pegavam no meu espaço secreto. Estou ficando
descuidado. Normalmente, eu colocava a corrente na porta antes de entrar no closet. Nem
ele, nem Vic conseguiriam entrar com a corrente trancada, mesmo com chave.

"O que você quer?"

"Queria te pegar no flagra com a Gretta, mas em vez disso te pego no flagra de... o
que exatamente você estava fazendo aí?" Ele apontou para o closet.

"Procurando algo."

"Hmm," ele grunhiu, incrédulo.

"Desculpe ter perdido a Cattus," menti, "mas sua chegada estragaria nosso
segredinho, não é? Ela ainda não sabe que você e eu somos irmãos."

"É só questão de tempo. Ela definitivamente não se lembra de mim da infância."

"E a Mathias?"

"O que tem ela?"

"Ela sabe?"

"Se sabe, não falou na minha cara."

"Não era pra ser assim," disse, desanimado. "Você não devia ter sentimentos por
ela. Seu trabalho era ser o espião e me reportar. Você falhou."

"Então me lembre qual era o seu papel mesmo?"

Soltei um sorriso provocador, só para irritá-lo. "Foder ela até não conseguir andar
por dois dias."
Seu corpo inteiro se tensionou em fúria contida. Ele estava perigosamente perto de
descarregar os punhos no meu rosto, mas, surpreendentemente, se controlou, enfiando as
mãos nos bolsos do moletom.

"Ela não ficou aqui por muito tempo."

"Você sabe o motivo, e não tem nada a ver comigo ou com você."

"Já conheci a mãe dela algumas vezes, sabia."

"Quem?"

"A mãe da Gretta. Ela gosta muito de mim."

Encolhi os ombros, mostrando indiferença. Não poderia me importar menos com a


mãe da Cattus.

"Você não machucou ela, né?" ele perguntou, como um namorado superprotetor —
o que ele havia se tornado.

"Não. Dei prazer a ela."

Seu olhar carregava dor, e ele se virou para que eu não visse. Tarde demais.

"Eu a vi primeiro," disse baixinho. "Fui o primeiro a tê-la."

"Existem outras cem," ele lembrou.

"Nenhuma como ela."

"Você mesmo disse que ela não é nada especial."

"Menti. Ela é especial para mim."

"Você fala palavras sem significado."

"Poético."

Ele deu mais uma olhada para a porta do closet fechada antes de sair. Esperei até a
porta da frente bater para colocar a corrente.

"Agora, onde eu estava?" murmurei, pegando o pendrive na manga e inserindo no


laptop. "Benson precisa mesmo transar."
Depois que meu irmão interrompeu meu fluxo, tinha esquecido os pseudônimos
que Vanderbilt me passou. Liguei para ele no celular secreto, e ele atendeu em segundos.

"Me diz esses nomes de novo. E, a propósito, vou te comprar uma acompanhante de
luxo no seu aniversário."
TRINTA E SEIS
Gretta

"Você ouviu?" perguntei à Agente Delaney pelo telefone. "Você ouviu a


confissão? Os microfones estavam funcionando?"

"Sim. A única confissão que ouvi foi ele admitindo ter matado seu pai." A linha ficou
em silêncio por alguns segundos. "Por que você não me contou?"

"Isso é suficiente para uma prisão?"

"Sim, mas não podemos agir até que ele confesse sobre o clube After Dark.
Suspeitamos..." ela respirou fundo, "que ele está envolvido em outros assassinatos, mas de
mulheres."

Meu ar foi cortado e comecei a tossir com a aspereza na garganta.

"Você está bem?"

Tomei um gole de água antes de responder. "Sim. Quem são elas? Quem são as
mulheres?"

"Estudantes da KVU."

"Não é aquela garota encontrada nua nos arbustos à beira da estrada, meio comida
por roedores? Na estrada que leva ao Lago Superior?"

"Mathias tem fortes razões para acreditar que ele estava envolvido na morte dela."

"Que evidências ela tem?"

"Partículas encontradas sob as unhas e no cabelo dela. Os restos da segunda vítima


foram cruelmente enviados pelo correio para o namorado."

"Isso é horrível."

"É por isso que decidi retirá-lo do caso."


"Não. Por favor. Deixe-me conseguir a confissão que você quer. Por favor."

"É perigoso demais."

"Ele não vai me matar."

"Como pode ter tanta certeza?"

"Eu só sei. Eu sou sua única chance."

Silêncio.

"Olha, eu vou voltar amanhã à noite—"

"Não, eu proíbo."

"Vou conseguir a confissão."

"Gretta, não entendo como você pode se sentir segura nos braços de um provável
assassino."

Eu não me sentia segura, mas me sentia desejada e ansiava por vê-lo novamente. O
que era realmente estúpido, considerando o que eu acabara de ouvir. "Eu tenho você e..."

"Suas amigas."

"Sim."

"Que provavelmente são tão úteis quanto tetas em um touro."

"Luca é uma ótima atiradora."

"Bom saber." Ela suspirou novamente. Isso não estava fácil para ela. "Estou
trabalhando incansavelmente há mais de dois anos para resolver este caso."

"Eu sei."

"Muito antes de Mathias me contatar sobre as fotos antigas descobertas no quintal


de Fontaine."

"Você já me contou isso."

"Estou com medo de que alguém estrague tudo."

"Não serei eu."


"Precisamos de nomes, Gretta. Não só dele confessando ser o instigador do clube
sujo, mas precisamos dos nomes de todos os homens que pagam para ter alguém morto,
espancado ou estuprado. Precisamos dos nomes de todas as pessoas que trabalham em
organizações por todo os EUA que estão aceitando subornos para destruir documentos
legais, derrubar acusações, destruir provas, fechar os olhos para o crime."

"Eu entendo."

"Eles serão ex-alunos da KVU e membros da Cobra & Cálice. Os membros Platinum
da Cobra & Cálice estão no topo da lista de suspeitos. Aposto que há centenas deles, desde
décadas atrás."

Eu ouvia atentamente, cobrindo o ouvido livre com a mão para ouvi-la sobre o som
da TV na sala.

"Eu quero todos eles, Gretta. Quero cada último canalha condenado e atrás das
grades para sempre."

"Eu sei."

"Isso é grande demais para errarmos, e sinto que a pressão é grande demais para
seus ombros."

"Você está errada. Você me treinou para isso, Delaney. Mantive isso em segredo até
dos meus amigos mais próximos e da minha mãe. Nem mesmo a Mathias sabe metade do
que fazemos."

"É para o bem do caso, por isso ela me trouxe. Há infiltrados até na KVPD. Se
errarmos, podemos perder tudo. Os criminosos vão desaparecer, e nunca os encontraremos.
É por isso que estou com medo."

"Juro que não vou estragar tudo."

Ela suspirou novamente. "Fique de olho no Ollie também."

"Por quê?"

"Eu o vi perambulando pelo prédio do Dom hoje à noite. Acho que ele te seguiu até
lá."

Meu coração afundou. "Merda. Não esperava por isso."


"Você se envolver com ele complicou as coisas, especialmente porque ele parece ter
sentimentos por você."

"Devo terminar com ele?"

Ela gemeu, pensativa. "Seria mais limpo."

"Mas?"

"Mas ele tem seus usos."

"Verdade."

Outra pausa. "Sinto muito pelo seu pai."

"Ele não me diz por que o matou."

"Notei isso."

"Preciso saber."

"Psicopatas geralmente não precisam de motivos válidos para matar," ela disse sem
rodeios. "Você pode se decepcionar."

"Decepção é meu nome do meio. E ele tinha só dezesseis anos. Matou meu pai dois
anos depois que nos conhecemos nas férias de verão."

"Comportamento psicopata pode aparecer em crianças de até seis anos."

Esfreguei os olhos cansados com a palma da mão. "Eu consigo, Delaney. Por favor,
deixe-me continuar."

Ela hesitou.

"Eu vou vê-lo, quer você concorde ou não."

"Esperava isso depois de tudo que vocês disseram um ao outro... e, honestamente,


parecia que você gostava genuinamente dele."

"Sou uma boa atriz," menti. "Pareceu que ele gostava de mim?" Me arrependi de
perguntar assim que as palavras saíram da minha boca. Acho que queria uma confirmação
de que ele sentia algo por mim, porque certamente parecia quando estava com ele.

"Não vou responder isso," ela disse, e eu fiquei tanto decepcionada quanto aliviada.
Terminamos a ligação, e eu saí para a sala para pegar um copo d'água antes de ir
para a cama. Minha cabeça girava tanto que mal notei minha mãe, sempre no mesmo lugar,
na cama dela, na sala, assistindo TV.

O quarto ficou mortalmente silencioso, e ergui a cabeça para ver o motivo. Mamãe
tinha desligado a TV e estava me encarando, os dedos entrelaçados. Conhecia bem esse
olhar — ela estava pronta para uma conversa, querendo eu ou não.

"O quê?"

"Gertie, o que está acontecendo?"

"Nada."

"Isso é mentira, e você sabe. Você está mentindo sobre onde está, não só para suas
amigas, mas para mim. E quando está em casa, está distante. Seu corpo está aqui, mas sua
mente está em outro lugar."

Tomei um gole d'água enquanto uma discussão acontecia na minha cabeça.

"Gertie, você está encrencada?"

"Não." Tomei outro gole, evitando seu olhar. Ela precisava de uma explicação, mas
não à custa de colocar sua vida em risco. "Sabe todos aqueles estupros e assassinatos
horríveis que acontecem na escola?"

Ela estreitou os olhos, inclinando a cabeça. "Sim," arrastou a palavra.

"Bem, eu faço parte de um grupo que está infiltrado para descobrir quem são os
responsáveis."

"Oh?"

"Tem muita gente envolvida nesse esquema, e isso vem de décadas atrás."

"E o Ollie?"

"Ollie faz parte da operação secreta. Ele é meu protetor."

Pela expressão dela, vi que não estava convencida. "Por que você mentiu pra ele
naquela noite? Você me disse que estava com ele, e pra ele disse que estava em casa comigo.
Se ele é seu protetor, por que mentiu?"
"Precisei me encontrar com um suspeito, e não queríamos o Ollie lá por motivos
óbvios."

"Nós? A polícia?"

"Isso já vai além da polícia. Estou trabalhando com o governo federal."

"FBI?"

"Sim."

"Uau. Isso é grande."

"Mãe, é enorme. São muitas pessoas envolvidas. Gente que parece certinha,
cidadãos exemplares por fora, mas são sádicos que machucam pessoas por diversão
quando ninguém está vendo."

"Parece perigoso, querida. Não estou feliz com isso."

"Estou protegida."

"Pelo Ollie?"

"Pelo FBI." Suspirei. Não mencionei as garotas que esperam fielmente no carro por
mim. "O Ollie não está envolvido no lado do FBI. Ele não sabe de nada, então você não pode
contar pra ele. Tá bom?"

"Por que ele não está envolvido também?"

"Porque precisamos manter isso totalmente em sigilo até termos nomes e provas
suficientes para fazer prisões. Embora vários agentes estejam trabalhando nisso, só há
alguns civis envolvidos — por medo de alguém acidentalmente abrir o bico. É muito
arriscado."

Ela ficou em silêncio por um momento, encarando a tela preta da TV, mastigando as
informações. "Parece tão absurdo, mas você é minha filha, então vou ter que acreditar em
você."

"Obrigada." Um nó ácido se formou no meu estômago, me deixando enjoada.


Precisava contar sobre o Dom. Tinha que contar sobre o Dom. "Mãe," minha voz saiu tão
baixa que me surpreendi por ela ter ouvido. Ela ergueu uma sobrancelha, reconhecendo o
tom desesperado na minha voz. "Um dos homens..." respirei fundo, "é o cara que atirou no..."
Não precisei terminar a frase. Seu maxilar ficou tenso. "Tem certeza?"

"Sim. Ele confessou. Temos imagens dele confessando."

Ela lutava para acreditar. "Quem é ele?"

"Não posso dizer porque ele está profundamente envolvido no esquema, mas... ele
era só um garoto quando fez isso."

"Um garoto?"

Tenho certeza que ela imaginou uma criança do ensino fundamental, então precisei
corrigir. "Quero dizer, ele tinha só dezesseis anos."

"Ah." Seus olhos voltaram para a TV desligada. Alguns segundos depois, ela ligou o
aparelho com o controle, e me confortei com o som alto enchendo o quarto. "Você vai ter
cuidado," ela disse, sem tirar os olhos do programa. "Já perdi um amor. Não quero perder
outro."

"Vou sim," respondi, sentando na cama dela para assistir The Walking Dead. "Mãe..."

"Hm?"

"Seu gosto pra programas de TV é horrível."

Ela riu. "Eu sei."


TRINTA E SETE
Gretta

O sol batia forte na minha nuca enquanto eu estava sentada de pernas


cruzadas na grama do campo esportivo do Southside. As férias de verão estavam
chegando, e eu tinha pego turnos extras no Stads para que meu chefe pudesse tirar férias.
Tudo bem por mim, já que eu não tinha para onde ir mesmo.

Avistei as silhuetas imponentes de Luca e Cody à distância, caminhando devagar


pela grama, de mãos dadas. Observei enquanto paravam para se beijar e se abraçar, os
braços de Cody envolvendo-a com força enquanto ela se derretia nele. Eles estavam
completamente imersos um no outro, totalmente apaixonados. O mesmo podia ser dito de
Rhys e Jace, que estavam se preparando para se mudar para Maui depois desse semestre.
Fiquei triste com isso, pois gostava de trabalhar com Rhys—ela tinha se tornado uma
grande amiga e aliada.

Tris e Lise planejavam passar as férias de verão em Cancun, até que estraguei os
planos deles pedindo para Lise trabalhar durante as férias. Acho que Tris não ligou muito,
já que disse que não era muito fã de praia mesmo, enquanto Lise estava ansiosa para dar
um tempo de KV.

Baixei a cabeça e comecei a digitar as anotações da aula da manhã no meu laptop.


Por perto, um grupo de alunos se espalhava ao sol, rindo e conversando enquanto uma
música tocava no iPhone de alguém. Parei para observá-los por um momento—felizes e
alheios à corrente sombria que permeava as profundezas desta universidade.

Uma música do Coldplay começou a tocar, e eu cantarolei, sem saber muito a letra,
enquanto me concentrava novamente no meu trabalho. Minha vida era muito ocupada para
ficar ouvindo e decorando letras de música. Não importa o quanto eu gostasse daquela
música.

Alguém ficou na frente do sol, projetando uma sombra escura sobre mim. Levantei
a cabeça rapidamente, mas levei alguns segundos para meus olhos se ajustarem antes de
perceber quem era.

“Vai uma dança?”, ele perguntou.


Eu sorri, de repente, consciente da quantidade de alunos por perto, alguns olhando
em nossa direção. “Hmm, é meio… em público.”

“E daí?” Ele estendeu a mão para mim.

“Tá bom,” agarrei sua mão, já sentindo vergonha antes mesmo de começarmos. Ele
estava usando calças pretas e uma camisa social preta enfiada na cintura. Estava vestido
para o trabalho, então não entendia por que ele estava aqui no campus.

Suas mãos encontraram minha cintura, e ele me puxou para perto enquanto o calor
dos olhares de todos me queimava por dentro. “Isso não está certo,” sussurrei.

“Está muito certo,” ele retrucou, beijando meu nariz, o que só alimentou a fogueira
já ardente que me consumia.

“E se alguém contar para sua namorada?”

“Aí eu digo que tive vontade de dançar.”

Eu estava prestes a dizer seu nome verdadeiro em protesto, mas ele colocou um
dedo nos meus lábios para me calar. A música continuou tocando enquanto ele encostou o
rosto na curva do meu pescoço, envolvendo-me firmemente com os braços. Nos movemos
lentamente no ritmo da música, mas eu ainda não conseguia relaxar—não com todo mundo
olhando e julgando.

O verdadeiro Dom era uma figura renomada na história da universidade, alguém


que deixou sua marca mesmo depois de se formar. Havia muito em jogo para ficar dançando
em público com ele. Esse momento podia arruinar tudo.

Ainda assim, enquanto seu hálito quente acariciava minha pele, eu relaxei contra
seu corpo, mergulhando no cheiro único dele.

“Eu faria qualquer coisa para te beijar agora, Cattus,” ele sussurrou contra minha
pele.

“Por favor, não.” Por favor, sim.

Ele deu um passo para trás, levantou minha mão e me girou devagar, até que eu
fiquei de frente para ele novamente. Naquele breve momento, percebi alunos por perto
observando e cochichando. Não conseguia ouvir o que diziam, mas imaginei-os
questionando por que ele estava com a garota da lanchonete de hambúrgueres.
Eu era uma ninguém, e ele era um alguém. Essa imagem não faria sentido para
muita gente.

Ele me puxou novamente, fazendo nossos quadris balançarem lentamente no ritmo


de uma música acelerada. Coldplay tinha acabado, e Lizzo agora dominava os alto-falantes.
Eu não fazia ideia do que ela estava cantando, mas a amava do mesmo jeito.

De novo, ele pegou minha mão, deu um passo para trás e me girou. Quando me vi
de frente para ele novamente, ele me fez rodopiar mais uma vez, fazendo-me dar uma
risadinha quando quase perdi o equilíbrio. Ele sorria calorosamente, alheio à atenção que
estávamos atraindo—seus olhos brilhantes estavam fixos apenas em mim.

Eu estava tão atraída por esse homem que começava a questionar minha sanidade.
Claro, ele era bonito, mas se você olhasse além do maxilar quadrado e dos lábios rosados…
ele era, bem…

Ele me inclinou para trás, e eu dei um gritinho de medo brincalhão, temendo que
ele me deixasse cair. Me puxando de volta para cima, ele me lançou um olhar malicioso
antes de me fazer girar outra vez.

Dessa vez, ele me soltou, e quando me virei para encará-lo novamente, ele já tinha
virado as costas e começado a andar, me deixando sozinha e exposta, com centenas de olhos
me observando.

"Estou preocupada de que alguém conte para sua namorada," eu disse quando ele
pegou meu casaco, já dentro de seu território.

"Cattus," ele respondeu, passando um dedo pelo meu queixo, "não é sua função se
preocupar. Enquanto estamos juntos, não pensamos em mais ninguém. Entendido?"

Fiz uma continha de capitão, e ele sorriu. "Você vai responder minhas perguntas
hoje?" perguntei, afastando-me do seu toque.

"Depende das perguntas."

"Você gosta de hambúrgueres?" comecei, com uma fácil.


"Sim."

Caminhei até o sofá e me joguei nele, esperando que ele me seguisse—mas, em vez
disso, ele foi até a cozinha e me observou por cima do balcão.

"Com queijo?"

"Sempre."

"Vinho favorito?"

"Tinto. Pinot Noir. Mas nunca bebi vinho com hambúrguer."

Eu não sabia nada de vinho, então ele poderia dizer qualquer coisa, e eu
acreditaria. "Sua cor favorita é vermelho?"

Ele murmurou algo entre o tilintar dos pratos. "Digamos que vermelho é o meu
sabor favorito."

Eu ri nervosamente, minha mão indo inconscientemente ao meu cabelo. Vinho


tinto. Tubos de alcaçuz de framboesa. Eu.

"Vem," ele me chamou para a mesa de jantar, puxando uma cadeira para que eu me
sentasse à cabeceira.

"O que está no menu hoje?"

"Macarrão com molho pesto e queijo parmesão ralado. Verde é a cor desta
refeição."

Ele colocou o prato na minha frente, e senti seus lábios pressionarem o topo da
minha cabeça.

"Lugar favorito para viajar?"

Ele fez uma pausa para pensar. "Veneza."

"Sério?"

"Sim. E o seu?" Ele se sentou ao meu lado.

"Eu não… viajo."


"Deveríamos planejar uma viagem juntos," ele disse, cobrindo minha mão com a
dele.

Meu coração afundou, e eu baixei a cabeça, sabendo muito bem que uma viagem
internacional com Dom jamais aconteceria.

"Por que tão triste?" Ele ergueu meu queixo gentilmente com o dedo.

"É… nada. Qual é sua música favorita?"

Ele sorriu. "Lembra daquela música que costumávamos cantar? Qual era o nome?
Você fazia estrelinhas na grama enquanto eu pedalava ao seu lado, e a gente cantava…"
Seus olhos se perderam, tentando recordar.

"Yellow Submarine?"

Ele bufou. "Essa não. A do Bruno Mars."

"Uptown Funk."

Ele franziu os olhos. "Como era mesmo?"

Fiz meu melhor para cantar o refrão, e foi o suficiente para ele saber que era a
música certa.

"Essa é sua música favorita?"

"Uma delas."

Me senti estranha com isso—éramos amigos, mas ele tinha cruzado uma linha que,
na cabeça dele, nem existia. Enrolei macarrão no garfo e enfiei na boca de um jeito nada
elegante.

"Sexy," ele resmungou, limpando pesto do meu queixo com o polegar.

"Perguntas rápidas," avisei.

"Hã?"

"Vêm em sequência."

"Tá, posso pular alguma?"

"Até pode, mas pular também me diz mais sobre você do que responder."
"Certo. Vai."

"Posição sexual favorita?"

"Anal."

"Isso é uma posição diferente ou uma totalmente nova?"

"Tá bom, cachorrinho por trás."

"Livro favorito?"

"O dicionário."

"Ha. Engraçado. Experiência mais marcante da infância?"

"Foi com você."

"Sério?"

"Sim."

"E antes disso?"

"Ah… férias em Veneza com a família."

"Você não tá se esforçando muito. Café?"

"Com um toque de creme."

"Série favorita?"

"Vila Sésamo."

"Arma de assassinato preferida?"

"Corda."

Pausei. "Para fazer o quê?"

"Estrangular."

"Já fez isso antes?"

"Estrangular alguém até a morte com uma corda?"


"Sim."

"Não. Vou te contar outro segredinho."

"Qual?"

"Vila Sésamo também não é minha série favorita."

"Imaginei que fosse piada. Qual é, então?"

"Game of Thrones."

Revirei os olhos. "Previsível."

"E Você."

"Eu?"

"Não, a série da Netflix."

"Sobre o que é?"

"Um serial killer."

Quase engasguei com o macarrão. "Achei que você diria que uma arma é sua
favorita, já que foi o que usou pra matá-lo."

"Voltamos a isso."

"Vai me dizer por que atirou nele?"

Ele recostou-se na cadeira e limpou o queixo com o guardanapo.

"Sinto que estou traindo meus pais estando aqui com você. Pior ainda é que estou
me divertindo na sua companhia. Que tipo de pessoa faz isso?" Apontei para a têmpora.
"Devo ter um parafuso solto."

Seus olhos suavizaram, cheios de calor e empatia. A cor que eu descrevia como
"lama" agora se transformava num tom agradável de avelã, conforme meus sentimentos por
ele se aprofundavam. É engraçado como as percepções mudam. "Todos nós não temos um
parafuso solto?"

"Você tá evitando responder de novo."


"Tá bom," ele suspirou. "Ele me ameaçou."

"Então você atirou."

"Foi legítima defesa, de certa forma."

"Dom, eu estava lá. Não vi discussão nem ele te agredindo."

"Ah… mas ele estava me machucando. Só não do jeito que você pensa."

"Dom, por favor. Me dá algo. E por que temos que usar esses nomes idiotas? Por
que não posso te chamar pelo seu nome verdadeiro?"

"Cattus não é um nome idiota."

"Você não é fã do nome Gretta?"

"Não particularmente. Me faz pensar numa leiteira que canta jodel."

"Sexy."

Um sorriso diabólico surgiu em seu rosto quando sua mão encontrou minha coxa.

"Não," eu disse, batendo nela para afastá-la. "Me conta. Ou eu vou embora agora
mesmo."

"Tá bem. Ele estava me ameaçando para eu ficar longe de você."

"Então... você atirou nele?"

"Tem mais coisa por trás disso, mas sim, eu atirei. Não quis matá-lo, só estava com
raiva."

Fiquei em silêncio, encarando o prato enquanto uma onda de emoções indesejadas


invadia meu corpo. Uma lágrima escapou, e ele a enxugou com o polegar.

Ele acrescentou: "Ele foi até meu pai e disse que eu estava fazendo coisas
inapropriadas com sua filha."

"Você estava fazendo coisas inapropriadas comigo."

"Não era assim que eu via. E você parecia gostar. Éramos só crianças brincando e...
experimentando."
Senti seus lábios pressionarem minha bochecha, mas não consegui reagir ao toque.
Estava presa no tempo. O relógio parou de tiquetaquear, e perdi o fôlego.

"Foi o fato dele ter ido ao meu pai que arruinou tudo para mim, Cattus," ele disse,
pegando minha mão e beijando a palma. "Eu não podia perder você."

Mais lágrimas escorreram, e soltei sua mão para enxugá-las. Precisava de espaço
para respirar, pensar e me acalmar, porra. Meu coração batia acelerado contra as costelas.
"Hmm, posso usar seu banheiro?"

"Claro, é à esquerda no corredor. Você está bem?" ele perguntou enquanto eu me


afastava. Meus pés queriam correr — mas não em direção ao banheiro.

Joguei água fria no rosto, tentando me recompor. Ainda tinha trabalho a fazer.
Ainda precisava arrancar outra confissão dele. Tentei não demorar muito e, ao voltar, o
encontrei ainda à mesa, com a cabeça baixa.

"Me desculpe," ele disse, erguendo os olhos.

"É difícil de aceitar."

"Eu sei."

Ele se levantou e me envolveu nos braços. Eu estava tão confusa. Seu abraço quente
parecia tão certo, mas ele era tão errado. Lutava constantemente contra o que sentia por
ele. Nada daquilo fazia sentido.

"Eu devo ir," falei, com o rosto enterrado em sua camisa.

"Fica."

Balancei a cabeça. "Preciso..." Meu peito arfava, entre pânico e desejo. "Não consigo
respirar."

Ele me soltou do aperto firme, e eu agarrei minha bolsa e corri para a porta, com
lágrimas escorrendo e turvando minha visão.

Dentro do elevador, me recompus e chequei as mensagens:

Ollie: Quando posso te ver de novo?​


Prima Jo (codinome para Delaney): Tá tudo bem? Vaza se precisar.

Estava prestes a responder quando uma mensagem de Dom chegou:

"Me perdoa. Não consigo seguir em frente sem seu perdão."

Eu: Preciso saber mais. Mas não agora.

Dom: Amanhã à noite, então?

Eu: Você não tem uma namorada pra cuidar?

Dom: Você volta amanhã à noite?

Eu: Sim.

Claro que respondi "sim". Ainda não tinha cumprido meu objetivo... e gostava de
estar com ele. Gostava do seu jeito, do seu cheiro, do seu sorriso, do modo como me tocava.
E ainda assim, também o odiava com vingança.

Ele era o garoto que arruinou nossas vidas e não sofreu punição por seu crime.

Também era o homem que admitiu ter atirado no meu pai porque ele o proibiu de
me ver. Havia algo tragicamente romântico nisso — mas eu não podia perder a cabeça por
causa disso.
TRINTA E OITO
Gretta

Saí para o dia que escurecia, sabendo que minhas amigas estavam logo
adiante e Delaney estava em sua van ouvindo minha conversa com Dom. Não
conseguia ver a van de onde estava, mas sabia que ela não estaria muito longe.

"Oi," ouvi uma voz grave atrás de mim e me virei para ver uma figura imponente
encostada na parede, envolta em sombras.

"Oi," respondi. "Você me seguiu até aqui?"

"Você continua mentindo para mim," o tom de sua voz fez os pelos da minha nuca
se arrepiarem.

"Ollie, eu deveria estar..." Pausei. Ollie não deveria saber de nada disso. Era
arriscado demais.

"Eu sei o que você deveria estar fazendo, mas você ainda está transando com ele,
não está?"

"Isso não é da sua conta." Virei as costas para atravessar a rua.

"Não consegue uma confissão sem dar pra ele?"

Senti um puxão no meu braço, me jogando para trás. "Ollie, para."

"Fala comigo," seu rosto a dois centímetros do meu, o cheiro de cerveja e maconha
envolvendo-me.

"Me desculpe. Você sabe como isso funciona." Meu celular tocou na bolsa, e minha
mão se contraiu para pegá-lo.

"Eu sei quem ele é," ele disse, arrastando-me pelo braço para um beco entre dois
prédios.

Fiquei quieta, planejando minha fuga, mas seu aperto era forte no meu braço.
"Eu sei quem e o que Dominus realmente é," ele me falou.

"Tá. Ollie, você está me machucando."

"Ele só está fazendo isso para me deixar com ciúmes. Ele não sente nada por você,"
sua voz rouca e cruel.

"Ollie, você sabe que não é por isso que estou fazendo isso," argumentei.

"Não acredito em você. Acho que você está gostando."

"Ollie, me solta," exigi, arrancando meu braço de seu aperto, apenas para ele me
prender contra a lixeira imunda que fedia a comida estragada e merda de cachorro. Ouvi
alguém chamar meu nome. As garotas. Elas obviamente me viram sair do prédio e
desaparecer.

"Estou aqui embaixo!" gritei.

Ollie tapou minha boca com a mão. "Você não vai a lugar nenhum até a gente
conversar."

"Para aí agora," ouvi Lise Fontaine advertir. Podia ouvi-las, mas minha cabeça
estava pressionada com tanta força contra a lixeira que não conseguia virar para vê-las.

"Estamos tendo uma conversa privada," ele rosnou.

"Parece pra mim que a Gretta não quer falar com você," Lise disse.

Ignorando-as, ele pressionou os lábios contra meu ouvido. "Eu sempre soube quem
ele é."

"Se você não a soltar, vou chamar a polícia," Lise avisou.

Ele esticou o pescoço para o lado até estalar. "Já se perguntou o que aconteceu com
o irmão mais novo dele? Ah, qual era o nome mesmo? Arthur, Arthur Wheeler. Filho do
presidente da Kingston Valley University. Alguém sequer se importou com o filho mais
novo? Quer dizer, alguém sequer notou que ele sumiu?"

"Eu notei," disse contra sua mão úmida e quente.

Ele inclinou a cabeça. "Então você sabia?"

Acenei que sim.


Quando Delaney descobriu que Ollie Allot havia nascido Arthur Oliver Wheeler,
soubemos que tínhamos um problema. O FBI estava um passo à frente de todos o tempo
todo. Era por isso que tínhamos que mantê-lo fora disso. Era por isso que ele não sabia
nada sobre o envolvimento do FBI e ainda não podia saber nada sobre os federais. Mesmo
agora, com sua mão sobre minha boca e punhos cerrados de raiva, eu ainda não podia
chamar Delaney. Tinha que mantê-lo pensando que estávamos sob o comando de Mathias e
alheias à verdade.

"Eu perguntei por você constantemente," eu lhe disse.

Eu tinha encontrado Ollie algumas vezes quando tinha doze anos, antes dele ser
enviado para seus tios. Ele pouco se parecia com o homem que agora me encarava.

"Por que você foi mandado embora?"

"Porque meu irmão me fodeu," ele rosnou.

"Como? O que ele fez?"

"Por que você não pergunta a ele, já que ficaram tão íntimos? Ah, mas é improvável
que ele conte a verdade, já que o mundo dele é todo baseado em mentiras. Aposto que você
até acredita que ele sente algo por você. Deixa eu te contar uma coisa: meu irmão é incapaz
de sentir emoções genuínas."

"O que ele fez?"

Ele hesitou, olhando para minhas amigas que se aproximavam.

"Ollie, o que ele fez?"

Seus olhos enlouquecidos voltaram para mim. "Me bateu. Me torturou. Tudo que
você imaginar, ele fez. E fui eu que mandaram embora. Eu! Ele caiu da bicicleta e quebrou o
braço, e contou aos nossos pais que fui eu quem machucou ele." Ele socou a lixeira com
fúria, ao lado da minha cabeça. "E eles acreditaram nele, não em mim. Eu jurei de pés juntos
que não fui eu."

"Sinto muito, Ollie. Sinto muito por ele ter feito isso com você."

Ouvi um baque sólido contra algo duro quando Ollie se sacudiu e virou a cabeça.
Com ele fora do caminho, pude ver Luca em pé, com um taco de beisebol nas mãos — e o
"algo duro" tinha sido as costas de Ollie. "Dá um passo pra trás ou eu te acerto de novo."
Ele riu com maldade, subestimando a ameaça. Obviamente não conhecia Luca
Hanna direito, porque ela partiu para cima dele com outro golpe. Mirando na cabeça. Ele
ergueu o braço para proteger o rosto, então arrancou o taco das mãos dela com facilidade.

"Corre!" Luca me gritou. E as três corremos o mais rápido que pudemos até o sedã
prateado estacionado na rua, onde Rhys esperava. Sabia que Ollie não nos perseguiria, mas
Luca pulou no banco do motorista e ligou o carro como se estivéssemos fugindo de um
assalto a banco.

"Você está bem, Gretta?" Rhys perguntou, ofegante, mesmo não tendo sido ela
quem correu.

"Estou bem."

"Mas que diabos?" Luca começou, "Eu achava que ele era um cara legal."

"Ele é. Só não está feliz comigo saindo com outro homem, o que é compreensível."

"Sim, mas ele deve saber que você não sente nada por Dom, você só está fingindo
para conseguir informação dele, né?"

Respondi à pergunta com silêncio. Sentada no banco de trás com Rhys, virei-me
para a janela para que ninguém lesse minha expressão.

"Ah não," Lise suspirou, simpática. "Você está a fim de um psicopata. Bem-vinda ao
clube. Pelo menos os meus psicopatas estão mortos. E digo mais: definitivamente não sinto
mais nada por aqueles Sweeneys. Na verdade, nunca senti. Foram sentimentos equivocados,
só isso. O que provavelmente é o seu caso também, Gretta, né?"

"É."

Senti Rhys tremer ao meu lado enquanto falava. Lise e eu sabíamos seu segredo.
Sabíamos que Adam Sweeney virou comida de peixe no fundo do Lago Superior por causa
dela e de seu primo Tris. Não tinha certeza se Luca já sabia disso. Mas sabia que Rhys se
sentia culpada toda vez que alguém mencionava o assunto — e que era por isso que ela e
Jace Luxon estavam se mudando para Maui no fim do semestre.

"Um dia espero que você conheça um homem realmente bom," Rhys sussurrou.
"Alguém que possa realizar seus sonhos. Você merece."

Sorri e apertei sua mão fria, sabendo no fundo que contos de fadas assim não
existem para garotas como eu. Garotas como eu se matam em empregos mal pagos a vida
toda, mal sobrevivendo. E morrem de exaustão ainda usando um avental.
Quando paramos no sinal vermelho, uma van branca com "Victor's Launderette"
escrito na lateral parou ao nosso lado. Olhei para a loira no banco da frente usando óculos
escuros mesmo ao anoitecer. Ela acenou com a cabeça quase imperceptivelmente, mas o
suficiente para eu notar.

Minutos de silêncio tenso se passaram enquanto Luca navegava no trânsito em


direção ao meu prédio.

"Alguém aí com vontade de pizza?" Lise perguntou.

"Por que não?" respondi. Ainda era cedo. Meu toque de autoimposto era às 21h30,
já que não gosto de deixar minha mãe sozinha por muito tempo. Ainda tinha tempo de
sobra para pizza e conversa de garotas.

Peguei meu celular na bolsa e mandei uma mensagem para Darryn:

Ollie sabe que nós sabemos. Tome cuidado.


TRINTA E NOVE
Dominus

As duas noites seguintes após minha doce Cattus ter saído chateada do meu
apartamento foram passadas sozinho ou com Vic — o que era a mesma coisa que
estar sozinho.

Cattus deveria ter vindo e ficado, mas adiou nosso encontro para outra noite,
infelizmente. Estou preocupado de tê-la assustado de vez, piorado pelo fato do meu irmão
tê-la confrontado lá embaixo. Ele veio ao meu apartamento logo depois, com um sorriso de
superioridade no rosto. Parece que Cattus já sabia quem Ollie realmente era.

Só podíamos deduzir que Mathias havia fuçado a vida do meu irmão e descoberto
seu pequeno segredo. Era por isso que ele tinha sido colocado em segundo plano naquela
operação secreta idiota envolvendo minha pessoa.

Deitado ao lado da elegante Victoria no meio da noite, só consigo pensar em Cattus.


Visualizo seu corpo nu diante de mim e tenho vontade de me masturbar até gozar na minha
própria mão.

Não estou apaixonado pela mulher ao meu lado e tenho certeza que ela também
não me ama. Nosso relacionamento é meramente de conveniência e status, e estou
começando a questionar por que continuamos vivendo essa mentira.

Ela suspirou no sono. Costumava amar esse som, porque era o mesmo que ela fazia
quando transavamos. Enruguei o nariz e virei de lado, afastando-me dela.

Se ao menos Vic soubesse com quem está realmente deitada.

Jonathon Wheeler: filho do meio de Michael Wheeler, presidente da KVU, amigo do


prefeito, senadores e outros figurões que pagam propinas para colocar seus filhos
medíocres na prestigiada universidade.

Jonathon Wheeler: ex-presidente da Cobra & Cálice até se formar no ano passado.
Jonathon Wheeler: a mente por trás do clube After Dark. Não fui eu quem começou
o movimento — a ideia foi colocada em prática por ex-alunos vinte anos atrás. Mas fui eu
quem manteve o clube ativo e o expandi quando as rédeas foram passadas para mim.

Jonathon Wheeler, também conhecido como Dominus: quem esmagou o crânio de


uma amante com uma garrafa de vinho enquanto a fodia pelo cu. Depois chamei meu irmão
mais novo para me ajudar a limpar a bagunça. Com todos os seus defeitos, ele era
perigosamente leal.

Vou sentir falta dele.

Levantei cedo e fiz ovos no café da manhã, depois sentei na janela da sala
observando o nascer do sol. No ângulo certo, conseguia ver a KVU e me lembrava da
diversão que tive estudando lá.

Agora, estou preso num trabalho de merda das 9 às 5, com a intenção de seguir os
passos do meu pai. Era o que ele queria para mim, e eu não via problema nisso.

A vontade de matar novamente estava se arrastando sob minha pele. Suspeito que
o estresse das últimas semanas estava contribuindo para meu desejo por uma válvula de
escape. Assassinato era um ótimo liberador de adrenalina — uma onda de excitação
seguida por uma queda. A queda eu remediei com sucesso usando álcool e sexo. Porém, a
queda após minha última "escolhida" foi mais profunda e escura do que eu antecipara.

A necessidade pelo barato estava ficando mais frequente, as vítimas mais próximas
no tempo. Uma coisa é certa: Cattus nunca cairia nessa categoria. Ela é muito preciosa para
mim agora. Vic, por outro lado... Não quero nada mais do que cortar sua pele perfeita e ver o
sangue escorrer. Mas ela também não pode ser uma opção.

Seus passos rápidos ecoaram pelo chão e senti seu hálito na parte de trás da minha
cabeça, beijando meus cabelos. "Bom dia."

"Bom dia, querida," respondi sem tirar os olhos do nascer do sol flamejante.

Ouvi o som do café sendo servido numa caneca, seguido por um gole rápido e
então: "Vou só tomar um banho."
"Tá."

Com ela seguramente trancada no chuveiro, pensei em aproveitar a oportunidade


para admirar minha coleção de mechas de cabelo. Eu estava me sentindo pra baixo, e
normalmente o cabelo das minhas vítimas me animava. O fato de sentir essa vontade era
um sinal de que estava na hora de encontrar minha próxima "escolhida".

Annalise Fontaine era uma opção que eu considerava há algum tempo. Eu a


conhecia superficialmente há anos, já que seu pai circulava nos mesmos ambientes que o
meu. Sem contar que eu a comi numa festa alguns anos atrás, fingindo estar bêbado. Eu não
estava. Tão sóbrio quanto o papa num domingo. Mas estava no processo de conquistá-la; o
laço estrangulador estava a poucos metros de distância, no meu carro.

Fomos interrompidos. Tão perto. Tão perto, porra. Ela teve sorte de escapar só com
meu pau na sua buceta.

Parando na porta do banheiro, encostei o ouvido para ouvi-la suspirar e gemer


enquanto a água quente escorria pelo seu corpo. Ela ficaria ali por um tempo, eu sabia
disso.

Entrando no meu escritório, congelei quando algo pareceu fora do lugar no


armário. Eu tinha uma pilha de caixas de arquivo com trabalhos e anotações da KVU.
Raramente as abria, então me surpreendi ao ver a tampa da caixa de cima levemente
deslocada. Rapidamente atribuí isso à minha pressa para sair quando Ollie apareceu
furioso.

Deslizei a parede falsa e prestei atenção para ter certeza de que Vic ainda estava no
banheiro.

Ela estava, então prossegui, digitando o código no cofre.

Assim que a porta se abriu, engasguei com o que vi diante de mim.

O cofre estava completamente vazio.

Em estado de choque, passei a mão pelas superfícies, procurando qualquer


vestígio. Qualquer coisa.

As mechas de cabelo em caixinhas individuais. Sumiram.

Meu celular dos negócios do After Dark. Sumiu.


O pendrive com a lista de todos os clientes do After Dark, seus pseudônimos e os
serviços solicitados. Sumiu.

Porra.

Tropecei para trás enquanto meu coração batia forte no peito e as paredes
pareciam se fechar ao meu redor.

Desabando na cadeira mais próxima, passei os dedos pelos cabelos, tentando


entender o que havia acontecido.

Ninguém sabia o código do cofre.

Ninguém, além de mim.

Eu tinha sido descuidado.

Abraçando meu próprio torso, dobrei-me para frente, lutando para recuperar o
fôlego. Meu peito subia e descia numa tentativa desesperada de encher os pulmões de ar. A
pressão no peito era insuportável. O suor escorria gelado pela minha nuca.

O som da porta do chuveiro se fechando me tirou daquele estado. Ela. Tinha que
ser ela.

Fui até a porta do banheiro e tentei a maçaneta. Trancada. Três chutes fortes, e a
porta se abriu com um estrondo.

"O que você está fazendo?" ela gritou, horrorizada, cobrindo o corpo nu com uma
toalha.

"O que você fez com elas?"

"O quê? Do que você está falando?"

"O cofre." No momento em que disse isso, percebi que ela não fazia ideia do que eu
estava falando. Deixei-a lá e fui para a sala pegar meu celular, ligando para o número normal
do Ollie.

"Cedo demais para me ligar," sua voz rouca de sono.

"O que você fez com ele?"

"O quê?"
"Não vem com essa. O cofre. Você abriu e esvaziou tudo."

"Que porra é essa?"

Pausei ao ouvir uma voz feminina ao fundo e soube que não era Cattus — ela nunca
passava a noite toda. "O que você fez com as coisas?"

Ele gemeu no telefone. "Cara, eu não tenho ideia do que você está falando."

"Você vai se arrepender disso," eu rosnou, justamente quando Victoria apareceu,


envolta em seu roupão rosa claro. "Se isso é alguma tentativa patética de vingança, você não
vai ganhar."

Desliguei na cara dele e olhei para Vic, que estava diante de mim, de braços
cruzados e uma expressão tempestuosa.

"Você vai me explicar o que foi isso?" ela exigiu.

"Não."

"Tá bom."

Ela virou as costas para mim, irritada, mas hesitou antes de me encarar novamente.
"Acho que precisamos de um tempo."

"Concordo," respondi sem hesitar, captando um breve tremor de dor em seu rosto
antes que ele se transformasse novamente naquela máscara de elegância impassível que eu
conhecia.

"Nossas famílias não vão gostar."

"Não é meu problema."

"Vou levar minhas coisas comigo."

"Tá." Minha mente estava acelerada, e eu não tinha paciência para lidar com ela
agora. Ela estaria melhor com o Bruno de qualquer maneira.

Fazia apenas duas noites desde a última vez que abri o cofre. Eu achava que
ninguém sabia dele. Eu me certifiquei de que ninguém soubesse. Mas mesmo que
soubessem, como conseguiram o código?

Até onde eu sabia, apenas três pessoas haviam entrado no apartamento nos
últimos três dias — Cattus, Vic e Ollie. Tinha que ser Ollie, e eu esperava, com o coração na
mão, que ele usasse isso como chantagem. Já podia vê-lo: se eu me afastasse de Cattus, ele
me devolveria o que era meu.

"Adeus, Jonathon," Vic disse, com sua voz fria e orgulhosa, enquanto caminhava até
a porta.

"Tchau, Vic. Dá um boquete no Bruno por mim," murmurei baixo.

Olhei para ela no momento em que a porta se fechou e vi um pequeno sorriso em


seu rosto. Não gostei do que vi, mas pelo menos ela não precisaria mais esconder o amante.

Meu celular tocou. O nome do meu irmão apareceu na tela. "O que tinha no cofre?"
ele perguntou.

"Como se você não soubesse."

"Não tinha nada lá que me ligasse ao seu esquema ilegal, tinha?"

Fiquei em silêncio por alguns segundos. "Você é um mentiroso de merda, Art.


Desde aquela noite em que você decidiu confrontar a Cattus lá embaixo e depois aparecer
na minha frente, contratei uns brutamontes para cuidar de você."

"Vai se foder."

"O que você fez com o conteúdo do cofre, Arthur?"

"Eu não sabia porra nenhuma desse cofre até você me ligar agora me acusando de
roubo."

"Você ficou um ótimo mentiroso, Art. Acho que posso levar o crédito por isso."

"Não estou mentindo, então cancele seus capangas."

Eu estava perdendo a calma. "Vou perguntar mais uma vez. Que porra você fez com
o conteúdo do cofre?"

Ele hesitou. "Cancele os brutamontes, e eu te conto. Até lá, vou continuar fingindo
demência."

Havia algo em sua voz que me incomodava, mas eu não conseguia identificar o quê.
Sem dúvida, ele estava mentindo — só não sabia sobre o quê.

"Ouviu?" ele atirou no telefone.


"Tá. Eu os cancelo. Agora me devolve minhas coisas, e rápido."

"Você tem que provar, mano. Eu seria um idiota de acreditar na sua palavra. Dois
dias. Se os brutamontes não vierem atrás de mim em dois dias, eu devolvo."

"Você tem ideia de com quem está mexendo?"

"Claro que tenho, porra. Com o homem que se autointitula Dominus," ele riu.

Um calafrio percorreu minha espinha. "Você não está pensando em fazer alguma
merda."

"E o que seria considerado 'merda' no seu mundo, Jon?"

"Ir até o nosso pai com o conteúdo."

Ele riu. "Acho interessante que você esteja mais preocupado com nossos pais
descobrindo que o filho deles é um maldito serial killer sádico que comanda um esquema
ilegal de aluguel de estudantes para membros Platinum ricos, do que com a polícia
descobrir. Mas, bem, o KVPD está no bolso da Sociedade da Serpente e do Cálice, o que
significa que está no seu bolso. Então, acho que você não precisa se preocupar com isso."

Os pelos da minha nuca se arrepiaram. Algo não estava certo. Limpei a garganta.
"Art, quer me dizer o que tinha no cofre?"

Ele ficou em silêncio por alguns segundos, depois começou a pigarrear, atrasando a
resposta.

"Foi o que pensei."

Desliguei.

Se não era o Art, então só podia ser Cattus ou Vic — a menos que alguém tivesse
invadido. Verifiquei o aplicativo do meu celular conectado à câmera de segurança.

Às 10h16 da manhã anterior, alguém vestido de preto da cabeça aos pés entrou no
meu apartamento carregando uma bolsa. Desapareceu da visão da câmera e voltou quatro
minutos depois, saindo do apartamento.

Quatro minutos.

A rapidez deles indicava que sabiam a localização do cofre e o código para abri-lo.
Mas como diabos entraram no meu apartamento? Só Vic e Art tinham chaves... e o
segurança do prédio. Será que convenceram o segurança a abrir minha porta para eles
vestidos de ladrões?

Isso não fazia sentido. Nada fazia sentido.

Passei a mão pelos cabelos, adiando o inevitável. Respirando fundo, liguei para
Vanderbilt.

Assim que ele atendeu, fui direto: "Temos um problema."


QUARENTA
Gretta

Assim que Darryn entrou na sala, dei-lhe um grande abraço. Ser colega de
quarto de Ollie tinha cobrado seu preço. Ele estava vigiando-o 24 horas por dia, sem
parecer óbvio. Além disso, ele teve que fingir ser quem atirou em Mathias no ombro. Tudo
isso era falso. Tudo.

Mathias nem sequer foi baleada. Armaram tudo para Ollie acreditar que sim.
Fizemos Darryn parecer o vilão, para que parecesse que ele estava se distanciando do caso,
quando na verdade estava vigiando Ollie mais de perto. Isso também deixou Ollie nervoso,
tornando-o mais suscetível a cometer erros. E funcionou.

Estávamos todos exaustos, mas podíamos ver o fim chegando.

"Ainda não conseguimos uma confissão," Delaney declarou quando Darryn se


sentou no escritório abandonado que foi destruído por um incêndio há um ano e ainda não
havia sido restaurado. Ficava no terceiro andar de um prédio comercial a poucos
quarteirões do apartamento de Jonathon Wheeler. "Mas podemos arrancar isso dele e do
irmão quando os prendermos."

"Ele quer me ver de novo," eu disse, "e acho que devo ir."

"Não," Darryn respondeu, balançando a cabeça ruiva. "Estou botando o pé no chão."

Eu soltei uma risada. "Você está botando o pé no chão?"

Ele suspirou, cruzando os braços sobre o peito largo. "Isso não foi fácil para mim,
Gretta. Te ver indo e voltando entre dois homens enquanto eu ficava de lado, fingindo ser só
o observador. Não podia me aproximar de você. Não podia entrar em contato. Você tem
ideia de como foi difícil?"

"Sinto muito," eu disse, estendendo a mão para a dele.

"Ele está certo," Delaney afirmou. "Você está livre deles."

"Os dois?"
"Sim." Ela trocou olhares com um de seus agentes, Mike, que estava encostado na
mesa com computadores exibindo imagens de vigilância sem parar. "Nesta próxima fase,
vamos mandar você, Darryn e sua mãe para longe por um tempo."

"Minha mãe não pode ir a lugar nenhum."

"Agentes estão no seu apartamento agora mesmo ajudando sua mãe a se preparar.
É isso, Gretta. Acabou. Vocês vão voar para a Flórida hoje à noite—"

"Mamãe não pode voar porque os assentos—"

"Reservamos um avião particular e fizemos os ajustes necessários. Não se


preocupe, cuidamos de tudo."

Eu queria ver Jonathon mais uma vez, mas duvidava que fosse possível com
Delaney e os federais respirando no meu pescoço. Era estranho o vazio e a insatisfação que
sentia por dentro. Jamais admitiria para ninguém, especialmente para Darryn, que estava
completamente apaixonada por Jonathon Wheeler.

O homem que se chamava Dom. O homem que atirou no meu pai porque foi
proibido de me ver.

O homem que supostamente espancou várias mulheres, dissecou seus corpos e


guardou uma mecha de cabelo de cada uma como lembrança. O homem que comandava o
clube ilegal e macabro After Dark com a arrogância de que, se fosse pego, ninguém ousaria
prendê-lo. Por quê? Porque ele tinha um monte de sujeira sobre centenas de pessoas
importantes. Essa ilusão de impunidade estava prestes a acabar.

Delaney temia que eu pudesse me tornar sua próxima vítima, mas eu sabia, no
fundo, que ele não faria isso comigo.

Ou talvez eu estivesse apenas me enganando.

Talvez ele fosse apenas mais um ator nessa peça, assim como todos nós. E talvez eu
tivesse sorte de sair ilesa.
QUARENTA E UM
Jonathon

Fiquei o dia todo esperando que o castigo por meus crimes chegasse. Só não
sabia em que forma viria. Alguém tinha em suas mãos uma montanha de provas para me
chantagear, então esperei que se aproximassem para fazer um acordo.

Liguei dizendo que estava doente no trabalho — preferia ser humilhado em


privado, se esse fosse o plano do chantagista ou quem quer que fosse o ladrão. Visti meu
melhor terno, sentei no sofá com vista para Kingston Valley e observei o pôr do sol com um
copo do melhor uísque que dinheiro pode comprar.

Às 19h21, a campainha tocou. "Então começa..."

Espiando pelo olho mágico, vi um rosto que menos esperava. Abri a porta na
corrente e balancei a cabeça. "Não é uma boa hora."

"Podemos conversar?" ela perguntou.

"Sobre o quê?"

Seus olhos gelados olharam em volta antes de responder: "Sobre o conteúdo do seu
cofre."

Sorri. Nunca estive tão orgulhoso de minha ex-namorada linda e sem coração.
"Claro."

Abri a porta para ela entrar. Seu perfume habitual de Jasmim-manga e couro nunca
pareceu tão atraente. Vestia um tailleur branco, blusa de renda branca por baixo e sapatos
bege. Tão limpa e perfeita.

A ideia de respingos escarlates manchando a pureza de suas roupas me deixou


duro. A ideia de pegar o laço estrangulador, enrolá-lo em seu pescoço e puxar até que seu
último suspiro escapasse de sua boca perfeita me deu vontade de fodê-la.

Dei um passo em direção ao corredor para pegar o laço, até que ela disse o nome
"Bruno."
"Hã?" Estava muito barulhento dentro da minha cabeça naquele momento e não
entendi direito.

"Quero falar sobre Bruno."

Tudo começou a fazer sentido. "Deixa eu adivinhar, você e Bruno estavam


trabalhando juntos para me enganar. O que exatamente você quer em troca do conteúdo do
cofre?"

"Quase, mas não acertou."

"Como assim?"

"Você sempre assumiu que Bruno era um homem com quem eu tinha um caso."

"E o que ele é, então?"

"O nome Bruno é meu codinome para a Agente Delaney."

Franzi a testa. "Não estou te acompanhando."

"Do FBI. O caso foi repassado para eles há um tempo, porque Mathias não
conseguia avançar com as restrições do KVPD. Enfim, ela descobriu que os federais já
monitoravam vários envolvidos no Clube After Dark, incluindo você, Jonathon. Ou prefere
ser chamado de Dominus? Passei informações sobre você há bastante tempo. Você também
vai se surpreender ao saber que seu pai e o meu também faziam parte da operação, assim
como Gretta Nelson."

Me senti estranhamente calmo, como se soubesse que esse dia chegaria. Só não
pensei que as balas viriam da arma de Victoria. Mesmo assim, não senti dor nem raiva pela
traição — porque eu merecia estar aqui.

"Art... Ollie e Benson Vanderbilt já foram presos e confessaram seus papéis nos seus
assassinatos e no Clube After Dark."

Ouvi enquanto observava o mundo passar pelas janelas altas. "Os federais em todos
os estados estão atrás de todos os nomes da lista no seu pendrive. Aparentemente, tem
alguns figurões lá."

Esvaziei meu copo de uísque e peguei a garrafa para servir mais. "Quanto tempo eu
tenho?"
Ela olhou para o relógio no pulso delicado. "No máximo dois minutos. Queria falar
com você primeiro porque senti que te devia uma explicação."

"Não posso ir para a prisão."

"Jon, você matou garotas inocentes, não pode esperar que isso fique impune."

Balancei a cabeça e bebi o uísque pela última vez. Sob seu olhar curioso, limpei o
copo por dentro e por fora com um guardanapo branco e o coloquei na bandeja de prata ao
lado da garrafa de cristal.

Um baque pesado na minha porta ecoou pelas paredes do apartamento. Não me


encolhi nem me preocupei.

"Eles chegaram," ela suspirou.

Fiquei de pé para falar com ela. "Confesso, Victoria, que nunca te amei. Sinto muito,
mas meu coração sempre pertenceu a outra."

"Eu sei," ela disse.

Sua resposta me surpreendeu, mas estava anestesiado demais para reagir. "Diga a
ela que eu a amo."

Ela balançou a cabeça linda. "Não posso. Seria inapropriado."

"Me conceda isso, Vic," implorei.

Ela acenou com a cabeça quando alguém bateu na porta: "FBI, abra!"

Virei-me para contemplar o mar de laranja incendiando o céu como um milhão de


fogos. Dei um salto em direção à janela no momento em que Vic gritou meu nome, e pensei
em Cattus enquanto atravessava o vidro e caía.
QUARENTA E DOIS
Gretta

UM MÊS DEPOIS

Nunca admitiria abertamente o quanto amei Jonathon. Não fazia sentido —


quem entenderia como uma garota sã poderia amar um monstro? Lamentei em silêncio e
solidão quando soube de sua morte. A morte era a única opção que realmente se encaixava,
e fico feliz que ele tenha escolhido isso. Pelos pais e amigos das vítimas que ele matou ou
cujas mortes arranjou através do clube After Dark, a morte parecia a saída mais adequada.

Enterrei os pés na areia branca de uma praia em Maui e pensei nas últimas vezes
que Jon e eu passamos juntos. Ele sempre terá um lugar no meu coração, escondido de
todos os outros que foram mais dignos.

Ouvi risadas ao longe e levantei o olhar para ver uma batalha entre os sexos.
Meninas contra meninos, num jogo descontraído de futebol na praia.

As meninas estavam com um jogador a menos — e essa jogadora era eu. Suspeitava
que os meninos estivessem ganhando fácil, o que só deixava Luca mais irritada.

Ri alto, observando os casais apaixonados interagindo entre si e com os amigos.


Éramos um círculo de amigos unidos por segredos sombrios. Segredos que juramos levar
para o túmulo.

Confiava em cada pessoa ali com a minha vida, especialmente nas garotas. Minhas
garotas. Minhas protetoras.

Continuei assistindo, divertindo-me com suas travessuras. A dupla ferozmente


competitiva, Luca e Cody, eram os únicos levando o jogo a sério, provocando um ao outro.

A bola quicou até Rhys, que ficou parada, sem saber o que fazer. Jace orientou-a
com paciência, dando um tapinha na sua bunda quando ela pegou a bola e passou para Luca
— só para Cody interceptar.
E Lise e Tristan.

Onde tudo começou.

Lise soltou o top do biquíni para distrair Tris, a bola acertou seu rosto e veio
quicando na minha direção, com Darryn perseguindo atrás.

Meu Darryn.

"Tudo bem, amor?" ele perguntou, pegando a bola desgarrada.

"Não poderia estar melhor," respondi, levantando e sacudindo a areia das minhas
costas. "Me dá isso aqui," disse, arrancando a bola dele. "As meninas precisam vencer, senão
nunca vou ouvir o fim disso."

"Ei," ele murmurou, aproximando-se para me beijar. "Estou tão orgulhoso de você."

"Eu sei," sorri. Seu rosto estava coberto de protetor solar e, ao contrário dos outros
caras, ele usava uma camiseta e um boné para proteger sua pele escocesa do sol do Pacífico.
"Nada disso foi fácil para você."

"A coisa mais difícil que já fiz," admitiu. "E estou planejando nosso último ano na
KVU para ser o melhor de todos. Sem mais mentiras. Sem mais esconderijos, amor."

"Concordo."

Ele se inclinou para me beijar de novo, mas era apenas um truque para roubar a
bola das minhas mãos.

"Ei! Traiçoeiro!" gritei, fingindo raiva.

Ele sorriu maliciosamente, chutando a bola para Jace. Num movimento rápido,
jogou-me sobre o ombro e correu de volta para o jogo enquanto eu dava um tapa em sua
bunda.

Fim

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