Wa0009.
Wa0009.
Revisão: Rih
Leitura Final: Alexa
Formatação: Skye e Ari
Aviso
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Índice
Prólogo
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Trinta
Capítulo trinta e um
Capítulo Quarenta
Capítulo Quarenta e Um
Meu nome é Gretta Nelson e não sou ninguém especial; apenas uma garota que está
cansada de andar com medo.
Então, em minha fúria, me ofereci para rastejar pelas fendas escuras da sociedade secreta
da universidade para identificar o líder dos rituais de estupro no campus.
Não sou boba; não entrei sozinha. Os cúmplices, Ollie e Darryn, atletas juniores de futebol e
atuais membros do Snake & Chalice, prometeram me apoiar o tempo todo e me resgatar
quando eu demonstrasse meu sofrimento.
Com o passar do tempo, me vejo caindo em um círculo escuro de muitas camadas, com
muitos jogadores. Para minha própria sanidade e sobrevivência, preciso manter a cabeça
fora d'água e evitar ser consumida por este mundo sedutor.
Mas, à medida que a linha entre quem é bom e quem é mau se torna tênue, começo a
questionar quem está ajudando e quem está atrapalhando o processo.
A responsabilidade é minha.
—Oscar Wilde
Prólogo
Senti um gosto metálico na língua, o distinto sabor de sangue. Eu fugi quando
ele investiu como um maldito touro, taco de baseball na mão, acertando Cameron primeiro
— já que ele estava ajoelhado sobre a namorada, aplicando o castigo merecido. Era
impossível para um homem lutar contra quatro, mas ele estava tão enraivecido que eu
sabia: nenhum de nós sairia dali vivo, a menos que corrêssemos. Então, me escondi na
escuridão, atrás do prédio de matemática, e esperei até ele ir embora antes de reaparecer.
Estava escuro demais para avaliar os danos em Cameron e Shawn, mas qualquer
idiota perceberia, pelo cheiro de sangue e pela falta de movimento, que estavam mortos ou
inconscientes.
Vestido da cabeça aos pés como um membro comum, meus cúmplices não faziam
ideia de quem eu era. Vanderbilt os informou que eu era só mais um do “Nível Porão”, um
estudante que precisava de um serviço para limpar uma dívida. Essa era a história que
vendi.
Tenho que admitir: quando a adrenalina bateu, senti uma euforia viciante ao
sequestrarmos a garota. Ela era lutadora, mas Shawn acabou com seus esperneios
nocauteando-a. Foi quando a examinei de perto. Sem dúvida, era bonita — talvez não meu
tipo. Alta e atlética demais para meu gosto, mas ainda planejava ter a minha vez montando
nela. Infelizmente, Harrington estragou tudo ao chegar cedo demais. Os dois jogadores
agressivos foram primeiro, enquanto eu esperava pacientemente de vigia. Se ao menos
soubessem quem fazia parte do time. Nada como um disfarce para enganar os idiotas do
mundo.
Ainda com adrenalina correndo nas veias, corri — ou melhor, voei de volta para o
meu carro, meus pés mal tocando o chão. Havia vários estudantes vagando no escuro, a
maioria em grupos. Me surpreendeu quantos vi andando sozinhos em tempos tão
perigosos.
Piada pronta, considerando que eu sou a causa do medo e angústia deles. Oh, o
poder...
Quando me aproximei do carro, detectei uma figura parada perto dele. Arranquei a
balaclava, me recompus e caminhei casualmente até o lado do motorista.
“Achei que esse era seu carro”, ouvi ela dizer enquanto fechava a porta.
"Desculpe..." Tossi. "Estou com pressa de chegar em algum lugar." Quando virei para
falar com ela, a luz do poste iluminou meu rosto.
"Meu Deus, o que aconteceu com seu rosto?" Ela esticou a mão para tocar minha
face, mas só bateu no vidro. A idiota esqueceu que havia uma janela entre nós. Ela é o
exemplo perfeito de por que muita gente não deveria procriar. O cérebro dela é do tamanho
de uma ervilha, mas pelo menos é boa de cama.
Hmmm...
"Entra no carro", ordenei. Seu título é Quartus. Não é seu nome de nascença, claro
— é o título que dei a ela, e o nome que usa quando estamos juntos. Quartus, latim para
"quarto", mas ela acha que significa "bonita", porque não é exatamente inteligente. Ela e
todas as outras me chamam de Dominus, latim para "Senhor". É o meu jogo, e ela é só uma
jogadora burra.
Ela sorriu, e eu me contraí levemente quando ela entrou ao meu lado. Aquele
perfume intoxicante — que proibi ela de usar na minha presença — atacou minha garganta
e olhos. "Quartus, o que eu falei sobre esse fedor repugnante e vil que você usa?"
Abri todas as janelas para deixar o vento fresco diluir o cheiro. "Sério? Você cheira
a uma puta barata. O cara obviamente levou tantos golpes na cabeça que perdeu o olfato."
"Dom—"
"—Cala a boca. Não quero ouvir sua voz. Está arranhando meus nervos."
"Quartus, o que eu acabei de dizer? Boca. Calada." Ela colocou as mãos entre as
pernas e mordeu o lábio inferior enquanto eu puxava meu moletom para baixo. Não é meu
hábito usar moletom fora do apartamento ou da academia, mas nesta noite eu era um ator
no espetáculo do Westside. E, cara, como adorei aquele show. Será que algum estudante
bêbado já tropeçou nos corpos? A ideia me deixou duro.
Quartus sabia o que fazer e inclinou-se, colocando os lábios em volta do meu pau.
"Espera", disse, me esticando para abrir o porta-luvas. "Quero adicionar diversão."
Ela gemeu, desobedientemente, tirando a boca de mim. "É difícil de chupar assim."
“Não, vou ficar,” ela disse naquela voz fofa que às vezes me excitava, e outras era
como enfiar lâminas nos meus ouvidos.
“Ainda tá aqui?”
“Claro,” menti. Peguei a corda de seda no porta-luvas e a coloquei sobre sua cabeça
pálida, deslizando até seu pescoço longo e elegante. Imediatamente pensei no sacrifício,
Luca Hanna, e em como eu teria adorado apertar o laço no pescoço dela enquanto a
empalava. Ela teve sorte de os jogadores a pegarem primeiro. Teve ainda mais sorte de o
outro vigia estar ocupado incentivando os jogadores a não notarem o capanga dos
Harrington se aproximando de nós.
Enquanto Quartus fazia seu trabalho como a puta não remunerada que era, eu
apertava o laço devagar em seu pescoço. Quando ela soltou um leve engasgo e levantou a
mão para sinalizar que eu tinha chegado no limite dela, ignorei e apertei ainda mais. Ela
tirou a boca do meu pau novamente em protesto, e, irritado, puxei o laço com mais força.
Na luta para respirar, ela tentou afastar minha mão da seda em seu pescoço.
“Olha só, Quartus, é um caso simples de lugar errado, hora errada pra você. Eu não
devia estar aqui, e como você não só me viu como ainda se aproximou do meu carro, sinto
dizer que tenho que fazer o que é certo e…” Não dava pra ver a cor do seu rosto no escuro,
mas imaginei um tom azul-acinzentado. Puxei o laço com ainda mais força e ouvi a doce e
querida Quartus dar seu último suspiro, bem na hora que eu gozei na minha mão.
Depois de checar seu pulso e pressionar meu ouvido contra seu peito em busca de
sinais de respiração, coloquei o carro em marcha e saí para encontrar um lugar para
deixá-la descansar.
Afastei algumas pedras e fiz um buraco na areia com a pá. Fiz tudo rápido, como
um profissional, e de luvas — a ideia de tocar em micróbios desconhecidos me enojava.
Depois de colocar todos os pertences dela no buraco, ateio fogo e observei queimar.
Era uma parte tão isolada e selvagem do lago que eu sabia que as chances de ser visto eram
mínimas. Mesmo se me vissem e me prendessem, nunca pisaria numa prisão. Tinha a
proteção da Sociedade, que incluía membros Platinum com grande poder. Eu sempre ficaria
bem. Ao contrário de Quartus e Cody Harrington.
Com os pertences reduzidos a cinzas, cobri o buraco e dei um passo para trás, até
que algo estalou sob meu pé. Não dei muita atenção no início, até que o objeto chamou meu
olhar. Dei um passo para trás, horrorizado, quando percebi o que estava vendo — mas
minha curiosidade me obrigou a olhar mais de perto.
Era o que restava de um antebraço com a mão ainda presa. A carne, consumida,
deixara apenas os ossos. Fiquei tentado a levar o espécime para casa, mas me perguntei a
quem pertencera aquele antebraço. Sempre suspeitamos que Adam Sweeney tinha sido
descartado neste lago, o mesmo lugar onde seu carro foi encontrado.
Sendo o cidadão exemplar que sou, decidi ligar para a polícia anonimamente,
usando um celular descartável. Estava curioso para saber se era o braço dele e, se sim, se
alguém o tinha matado ou se ele mesmo tirara a própria vida.
Fiquei confusa. "Mas falei com você por telefone e você disse que talvez tivesse
algo."
Ainda sem desviar os olhos do laptop, ele balançou a cabeça. "Lamento, houve um
mal-entendido. Não arrumo empregos para estudantes. Talvez deva tentar no escritório de
Busca de Empregos para Alunos."
"Por favor, eu faria qualquer coisa. Qualquer coisa." Sim, essa era eu, interpretando
o papel da donzela desesperada.
"Você já não tem um emprego?" Dessa vez, ele ergueu o olhar para me encarar.
"Não é você a gerente daquele restaurante de hambúrgueres horroroso?"
"Sim, sou."
"Não, a tireoide dela é severamente hipoativa, o que torna a perda de peso muito
difícil."
Cansei de explicar isso às pessoas. Minha mãe não come mais nem menos que
ninguém. Na verdade, como mal conseguia se mover, ficava parada e não comia nada a
maior parte do dia, até eu chegar do trabalho ou da escola. Ela usava fraldas adultas e lutava
constantemente contra escaras, assaduras e outras condições que causavam grande
desconforto. Tinha um coração de ouro e uma positividade impressionante, considerando o
quão difícil a vida era para nós. Mas ninguém nunca via esse lado, porque estavam
ocupados demais julgando sua aparência.
"Preciso de dinheiro para pagar minhas mensalidades da faculdade. Tive que pegar
um empréstimo estudantil e quero quitá-lo. Estou com uma dívida de milhares de dólares e
ainda tenho meu último ano pela frente."
Ele franziu a testa. "Lamento, não posso ajudá-la", disse, sem sinceridade, erguendo
o telefone para tirar uma foto minha. "Por motivos de segurança."
"Por quê?"
"Sim, mas você é a Gretta Nelson que precisa pagar dívidas ou a Gretta Nelson
membro da Sociedade do Verme e do Cálice, que faria qualquer coisa para acabar de vez
com a Serpente e o Cálice? Na verdade, se degenerados como vocês conseguissem o que
querem, nos obrigariam a abrir nossa sociedade exclusiva para mulheres. E não podemos
ter isso, não é? Nós, homens, precisamos de um lugar para ir sem as resmungonas e bruxas
do sexo feminino."
Eu queria muito socar a cara desse cara. Sério, a arrogância inflada dele era
impressionante. Agora entendia por que Cody Harrington o chamava de doninha. Mas eu
estava em uma missão e precisava infiltrar-me nesse coven de imbecis privilegiados e
queimar tudo.
Alguém me dá um maldito fósforo.
Olhei para a direita quando uma porta com a placa "somente funcionários" se abriu
e fechou, chamando minha atenção. Todos sabíamos que a câmara da Serpente e do Cálice
ficava sob o Benedictine Athenaeum, com apenas duas entradas:
Uma era aquela porta "somente funcionários", e a outra era a saída de emergência
— impossível de acessar por fora. Acredite, eu tentei. Ollie também me contou que havia
um punhado de chaves para destrancar as portas da câmara, mas todas estavam nas mãos
de membros seniores, incluindo o atual presidente da Serpente e do Cálice, Thomas
Buchanan.
"Você está dispensada", Vanderbilt disse após alguns segundos de silêncio. "Esta
conversa acabou."
"Achei que tinha deixado claro que não sou uma agência de empregos."
"Poderia ter dito isso por telefone." Levantei-me para sair, perplexa e irritada, mas
com a pele arrepiada de desconfiança. O que diabos era isso realmente?
Ele baixou os olhos para a tela do laptop e continuou digitando. Examinei o ateneu:
vitrines exibindo textos antigos, mapas, fotografias e outros artefatos históricos associados
à faculdade. Havia várias mesas com alunos estudando e uma área administrativa, mas
suspeitava que a maior parte da ação acontecia atrás das portas "somente funcionários".
"Alô?"
"Gretta Nelson?"
"É o Benson?"
"Por aqui", ele insistiu, abrindo a porta "somente funcionários" para que eu
passasse primeiro. Assim que a fechou atrás de nós, ficamos completamente sozinhos em
um corredor bem iluminado, com uma dúzia de portas fechadas. Só então ele continuou:
"Mandei sua foto para nosso superior, e ele ficou muito satisfeito com você."
"Para quê?"
"Cala a boca, puta!" Benson rosnou para mim. "Ninguém te deu permissão para
falar."
Fiquei com medo de falar, caso mudassem de ideia. Estava perigosamente perto de
entrar no covil deles e quase podia sentir o cheiro das cinzas fumegantes depois que eu o
incendiasse. Minha única esperança era que esses bandidos de preto ficassem presos lá
dentro quando eu acendesse o fósforo.
Ele ficou ali, me encarando pelos buracos da balaclava. Sem parecer óbvia, olhei
para seus olhos, tentando memorizá-los para reconhecê-lo em circunstâncias normais.
"Provavelmente não."
Dom? Esse é o pseudônimo dele? Patético. Aposto que acham que sou burra demais
para notar. Posso bancar a tola e agir como uma idiota sem cérebro. Porra, se consegui
interpretar Lady Macbeth no teatro do colégio, posso fazer qualquer papel — incluindo
este.
"Já vi o suficiente", Dom informou, acenando com a mão para nos afastarmos.
"A mensagem dirá o pagamento, e você deve responder 'sim' ou 'não' se quiser o
trabalho." Ele agarrou meu braço por trás, segurando firme. "Antes de sair, você deve
assinar um contrato de confidencialidade."
"Um aviso", ele disse, chegando tão perto que senti seu hálito rancoroso, "é muita
burrice quebrar o contrato."
"Sem assinatura, sem trabalho. Sem trabalho, sem dinheiro. Simples assim."
Claro.
DOIS
Ollie
"Então, foi você?" perguntei a Cody Harrington.
Ele e a namorada haviam se mudado recentemente para uma casa a vinte minutos
do campus, no meio do nada. A mobília ainda não tinha chegado, então usavam caixas como
assentos e um tapete no chão como mesa de jantar.
"Os dois caras que tiveram os crânios esmagados. Foi você quem fez isso com eles?"
Naquela noite, corri feito louco tentando encontrar a namorada dele, porque
Harrington estava convencido de que os estupradores a tinham pego. Não consegui
contatá-lo porque seu celular tinha sumido ou sido roubado. Então voltei a pé para o Vault,
sem ideia do que tinha acontecido com eles. No dia seguinte, descobri que meu colega de
quarto, Cam, tinha sido espancado até a morte, junto com um ex-aluno que se formou no
ano passado, Shawn.
"Cadê a Luca?"
"Não."
"Aconteceu no mesmo lugar onde Lux foi espancado e deixado pra morrer. E as
vítimas estavam usando balaclavas."
"Sério?"
Fiquei encarando ele, esperando que ele cedesse. "Você é um péssimo ator, cara."
"Merda." Dei um gole longo na cerveja morna – a geladeira deles ainda não tinha
chegado. "Entendo por que você fez. Quer dizer, você os pegou no flagra?"
Ele não ia me dar nada. Cody e eu não éramos próximos, não como ele e Jace Luxon,
mas ainda éramos amigos, companheiros de time e ex-colegas de quarto. Certamente isso
significava alguma coisa.
"Como está a detetive Mathias?" ele perguntou, e de repente entendi por que ele
estava com a boca fechada.
Nós, Darryn e eu, tivemos que contar a ele que estávamos trabalhando com a
polícia para resolver o mistério de quem era o líder dos assassinatos e estupros no campus.
Não queríamos contar, mas ele não nos deixou escolha. Ele ficou bisbilhotando, tentando
descobrir quem feriu seu melhor amigo, atrapalhando tudo para nós.
"Tenho uma reunião com ela amanhã", eu disse. "Ei, você soube que acharam restos
de um corpo na margem do Lago Superior?"
"Talvez."
"Ela parece meio frígida pra mim, mas o Lux conseguiu esquentar a nerdola super
rápido, então talvez tudo seja possível, se você souber como guiar o cavalo direito."
Ponderei sobre as palavras dele por um momento. "Que porra você tá falando?"
Ele bufou. "Tô só dizendo que o Lux comeu uma mina intocável – a nerdola –, então
talvez você consiga uma espinhosa."
"Aposto que ela já teve namorados antes", afirmei, embora nunca a tivesse visto
com um cara. Talvez porque ela esteja sempre trabalhando. Se ela virasse minha namorada,
não precisaria trabalhar tanto, e eu cuidaria muito bem dela. Minha família tem uma
fortuna investida em prédios e terras – minha herança.
Meu tio, sem filhos, não era a faca mais afiada da gaveta, assim como eu. Na
verdade, ele nem passou do décimo ano, mas era esperto nas ruas e trabalhava pra
caramba. Assim que pôde comprar propriedades, comprou, e seu portfólio só cresceu.
Meu pai queria que minha vida fosse diferente, por isso fui mandado para morar
com minha tia e meu tio quando era criança. Voltei só para faculdade.
Não posso dizer que goste particularmente da faculdade, já que as únicas coisas
que curto são futebol e garotas de festa. No entanto, viro um idiota gago perto da Gretta,
então prefiro ficar quieto. Ela provavelmente acha que nasci sem língua.
"Talvez se organizassem uma suruba, você e a Gretta pudessem participar juntos",
ele sugeriu.
"Cara, eu vi com meus próprios olhos. Porra, queria ter tirado uma foto, mas não
deixaram." Ele tomou um gole longo da cerveja e arrotou. "Já pediu um emprego?"
"Ainda não."
"Não dá pra entrar no círculo da sujeira sem um emprego, a menos que algum cara
te escolha pra enfiar o piru no seu cu."
"Nah."
"Alguém me contou."
"Você tá cheio de segredos, Cody Harrington. Tipo como não sabe nada sobre a
cabeça do Cam ter sido esmagada, né?"
"Né."
"Então são três mortes e uma tentativa de assassinato... Duas, se contar você
jogando o taco de beisebol na cara do Josh. Parecia que queria matar ele."
"Queria mesmo, já que ele tentou matar meu melhor amigo. Enfim, qual é o seu
ponto?"
"Meu ponto é que logo vai ter mais quartos vazios do que ocupados no Vault.
Parece que alguém tá tentando acabar com a gente, um por um."
Esperava que ele risse, mas ele ficou pensativo, tomando um gole de cerveja. "Tive
a mesma impressão. Ainda bem que não durmo mais sob aquele teto. E eu ficaria esperto se
fosse você... E com a fiação. É uma casa velha, uma das originais, construída na mesma
época que a universidade."
Apontei pra ele. "Você não tá planejando fazer alguma merda?" Perguntei porque
acreditava que Cody Harrington era capaz de qualquer coisa.
"Nah, já enjoei daquele lugar. Além do mais, o problema não tá no Vault; tá debaixo
do Athenaeum... Ou talvez acima."
"Acima?"
Ele estalou a mandíbula com a mão. "Isso é porque ele tá protegido pelos membros
ou porque não tá envolvido?"
"É, bom, não posso muito bem chegar e perguntar pra ele, senão estraga tudo."
"É estranho ter toda aquela sujeira rolando debaixo do nariz dele sem ele saber."
"Quer outra?"
"Nenhuma."
Saindo pro carro, olhei pra trás e vi que a Luca tinha aparecido – aquele corpo alto
e curvilíneo era inconfundível enquanto ela abraçava o Cody.
Sem dúvida, eles estavam escondendo algo. E se foi ela quem o Cameron e o Shawn
estavam atacando do lado dos laboratórios de ciências, então boa viagem pra eles. Com
certeza não vou ser dedo-duro, e não sou a polícia. Só quero ver um fim pra toda essa
violência... e, quem sabe, quem sabe, me aproximar da Gretta Nelson no processo.
TRÊS
Gretta
Tomei meu lugar entre meus garotos, Ollie e Darryn, meus protetores quando
entro no calabouço. A detetive Mathias parecia exausta e pálida, e eu desconfiava que esse
caso tinha afetado sua saúde. O que começou como rituais de humilhação por um bando de
atletas cabeça-dura se transformou em assassinato, violência histórica e quem sabe o quê
mais.
"Não estou feliz com isso," a detetive me informou. "Recomendo fortemente que
você não faça isso."
"Você não tem escolha. Na verdade, a única razão pela qual estamos te contando é
porque prisões precisam ser feitas assim que eu descobrir quem é o líder e seus
comparsas."
"Detetive," Darryn começou, "com todo respeito, isso já dura muito tempo e você
não fez nenhuma prisão que a gente saiba, a menos que esteja mantendo em segredo."
"Amostras de DNA coletadas nas cenas dos estupros foram contaminadas logo após
a coleta. As fotos dos supostos rituais dos Bloodz fornecidas por Annalise Fontaine
sumiram—"
"Então," Darryn coçou o cabelo curto e ruivo com a mão, "a sociedade tem gente até
na polícia fazendo o trabalho sujo deles? Como diabos vamos vencer isso?" Dessa vez, ele
estava direcionando a pergunta para mim.
"Talvez você precise achar um lugar novo para guardar as provas," Ollie disse.
"Senão, tudo isso vai ser perda de tempo."
Ele estivera sentado em silêncio, apenas absorvendo tudo. Mas era assim que o
Ollie era—bonito e quieto, com um cabelo preto cacheado e bagunçado que precisava de
um corte. Era um cara grande, linebacker dos Hawks, com um temperamento adorável. E
quando sua mão se moveu em direção à minha coxa, me perguntei quais eram suas
intenções. Me sentia segura entrando nos portões do inferno com esses dois caras—desde
que seguissem as regras.
Assim que eu desse o sinal de perigo, eles teriam que me tirar de lá. Sem hesitação.
Sem enrolação.
"Não sou eu que estou sugerindo que você entre lá para espionar os membros da
sociedade," a detetive nos lembrou. "E as provas precisam ser coletadas pela nossa equipe
forense, não por jovens de vinte anos sem treinamento."
Darryn respondeu: "A Gretta só vai ser uma membro do Nível Porão, então ela pode
não testemunhar a administração do esquema."
"Aí todo mundo vai se fechar," eu disse. "Acho que o melhor procedimento é eu me
aproximar do Vanderbilt."
"O que for preciso," admiti. Eu estava preparada para qualquer coisa para acabar
com a violência.
"Falo sério," ela reafirmou. "Todos os dias, quero uma ligação de cada um de vocês."
Darryn deu uma risada. "Você sabe que o Harrington esbarrou em uma das surubas
deles, né?"
"Sei."
Olhei a hora no meu celular. Tinha um turno no Stads Burger daqui a 20 minutos.
Diferente dos dois homens ao meu lado, não entrei na KVU nas asas dos meus pais ricos.
Nasci e fui criada em Kingston Valley, e minha mãe sempre achou que uma garota local
como eu merecia um lugar de orgulho nos corredores da universidade mais do que os de
fora. Minha mãe é um pouco idealista e completamente fora da realidade. Ela passa os dias
assistindo novelas e lendo romances água-com-açúcar da cama, por causa da sua condição
debilitante.
Por ela não poder trabalhar, eu trabalho 40 horas por semana como gerente no
Stads Burger para pagar o aluguel e estudo Antropologia no tempo livre. Apesar da
condição da minha mãe e de todas as dificuldades que ela enfrenta diariamente, ela ainda é
um farol de positividade — mesmo que irrealista.
"E?"
"Adam Sweeney."
"Merda", Darryn respondeu. "Então ele foi assassinado, assim como Liam Greene e
Cameron?"
"Os restos que a perícia encontrou não mostram sinais de trauma, então ainda não
podemos afirmar como ele morreu."
"Não estou triste", eu falei. "Estou feliz que ele esteja morto depois do que fez com
Annalise Fontaine."
Mathias suspirou. "Então, quando vocês planejam abordar Vanderbilt para pedir
um emprego?"
"Tive uma reunião com ele ontem, e ainda não me deram nenhum trabalho." Evitei
dizer mais.
Mathias resmungou baixo. "Eu não me sinto nada bem com isso."
"Não tenho problema com isso, a menos que... me peçam para tirar a roupa."
"Como assim?"
Darryn interrompeu: "Acredita-se que alguns dos trabalhos envolvam atos sexuais."
"Gretta, não posso deixar você fazer isso", Mathias gemeu. "Isso é absurdo."
"Acho que, se eu levar meu celular, talvez consiga gravar algumas atividades."
"Por quê? Por quê? Porque isso tem que parar. Tudo isso. Nos dizem para andar em
pares até para a aula, mesmo de dia. Nos dizem para ficarmos vigilantes e termos olhos
atrás da cabeça, o que está deixando todo mundo com medo. Por que nós, mulheres, temos
que sacrificar nossa liberdade quando é uma sociedade machista que está causando a porra
do problema? Por que é tão difícil para os ex-alunos não intervirem na forma como a
sociedade tem se comportado há tanto tempo? Eu simplesmente não entendo o que os
membros da organização têm sobre as pessoas. Acho que é isso que quero descobrir."
"É pra isso que eles estão aqui", disse, apontando para os garotos com os polegares.
"Um policial aparecendo no trabalho só vai causar uma montanha de problemas."
"Gretta, isso não é negociável. Preciso estar lá para fazer uma prisão."
“Okay, tudo bem."
QUATRO
Ollie
Bati na porta dela armado com comida, na esperança de que me deixasse
entrar. Sabia algumas coisas sobre Gretta — onde trabalhava, o que estudava —, mas tive
que fuçar pra descobrir onde morava. Como sabia que era de Kingston Valley, assumi que
morava na cidade, fora do campus. No final, foi Lise Fontaine quem me deu o endereço da
Gretta depois de muita insistência, depois que a convenci de que queria surpreendê-la.
Gretta Nelson era um livro fechado — eu sinceramente não sabia se era solteira e
hétero, e só presumi que comia carne porque trabalhava no Stads.
Comprei tacos. Sério, eu não tinha ideia do que diabos estava fazendo.
"O que você está fazendo aqui?" Ela não parecia feliz em me ver, e eu ouvi alguém
gemendo ao fundo.
Levantei o saco de tacos. "Trouxe janta... precisa de ajuda com alguma coisa?",
apontei pra trás dela.
"Não. Você não pode estar aqui." A pessoa gemendo soava como um animal ferido,
chorando de dor.
"Quem é?"
Seus lábios tremeram. "Quem te disse onde eu moro?" Não era exatamente a
resposta que eu esperava, seguida por mais gemidos intensos ao fundo. Ela claramente
estava em desespero. "Desculpe, Ollie, preciso ir", e fechou a porta na minha cara. Pelo
menos eu amo tacos, porque agora tinha uma pilha pra comer sozinho.
Não estava preparado para o que vi quando entrei no apartamento minúsculo, mas
era porque Gretta nunca falava sobre sua vida pessoal. Se tivesse sido um pouco mais
aberta, eu não teria tropeçado em repulsa e xingado baixo.
Uma mulher muito grande, em um mar de própria carne flácida e nua, estava
deitada de forma desengonçada no chão e parecia envergonhada — ou constrangida — de
me ver ali.
"Esse é meu amigo Ollie", Gretta falou alto, por cima dos aplausos da plateia na TV
montada em uma mesa no pé da cama. Acho que era Jeopardy. Gretta baixou o volume para
conseguirmos ouvir sua mãe falar entre respirações ofegantes.
"Agora não é hora de interrogatório, mãe", Gretta rebateu. Virando-se pra mim: "O
guindaste quebrou, e ligamos pro serviço de ajuda em casa, mas disseram que só chegam
daqui a uma hora ou mais. Ela tentou se levantar sozinha, mas escorregou de novo."
"Sinto muito, filho, que você tenha que ver isso", a mãe de Gretta arfou, ainda
tentando recuperar o fôlego.
"O que você precisa que eu faça?" perguntei, embora fosse óbvio o que precisava
ser feito ali.
"Precisamos colocá-la de volta na cama", Gretta instruiu. "Ela está deitada em cima
da úlcera, e está doendo muito."
Gretta me explicou a melhor forma de levantar sua mãe, o que exigia vários
movimentos — e também significava que eu teria que colocar as mãos nas dobras de carne
expostas. Se fosse qualquer outra pessoa, teria fugido como uma lebre de volta pro carro.
"Sinto muito, filho", a mãe dela não parava de repetir, "não é uma visão agradável
para um jovem como você. Sinto muito..."
Com o risco de quebrar as costas e sufocar com o cheiro de carne necrosada,
consegui colocá-la de volta na cama enorme, que ficava na sala. Gretta rapidamente a cobriu
com os lençóis e sussurrou que ela teria que fazer xixi nas fraldas — eu fingi não ver.
"Antes que julgue, é uma deficiência", Gretta cuspiu, depois de acalmar a mãe.
"Não estava julgando. Trouxe tacos." Deixei o saco no balcão da cozinha. "Imaginei
que você já estivesse enjoada de hambúrgueres. Tem pra sua mãe também."
"Meu nome é Debra", a mãe dela chamou. "Deb, se eu gostar de você. E eu gosto,
então pode me chamar de Deb."
Sentamos nos bancos da cozinha, e eu tentei muito não perder o apetite por causa
do cheiro forte que vinha da mãe, Deb. Me perguntei se Gretta ainda percebia aquilo ou se
era igual ao barista do Mudhouse, que não sente mais cheiro de café depois de anos
trabalhando com aquilo.
"Você dorme ali?" Apontei com o queixo para a porta que levava ao outro cômodo.
O apartamento era minúsculo, e não tinha sofá — a cama de Deb ocupava todo o espaço,
deixando só um corredor estreito entre a TV e o balcão da cozinha.
Ela balançou a cabeça vermelha. Quanto mais olhava pra ela, mais detalhes
atraentes encontrava. Como o jeito que uma mecha do seu cabelo vinho se enrolava perto
da orelha direita, o narizinho arrebitado, umas cicatrizes de espinha no queixo, o pescoço
longo, as bochechas coradas — seja pelo peso do meu olhar, seja pela vergonha de eu ter
descoberto seu segredo.
Tirei os tacos do saco e espalhei queijo ralado sobre o balcão já engordurado. "Acho
que foi um caso de estar no lugar certo na hora certa."
Ela desceu do banquinho e entrou na pequena cozinha para pegar três pratos.
"Então, vai me dizer o que está fazendo aqui?"
"Por quê?"
"Sei lá, pensei que poderíamos nos conhecer melhor, já que estamos trabalhando
juntos nessa investi—" Ela colocou um dedo sobre os lábios para me silenciar e foi até a TV
para aumentar o volume novamente.
Ela se inclinou para perto de mim, e eu tive vontade de enterrar meu rosto em seu
cabelo, inalando o cheiro do shampoo para disfarçar o odor da mãe. Você pensaria que
cabelo vermelho cheiraria a morango ou cereja. "Não contei a ela o que estou fazendo."
Ela sorriu com aqueles lábios rosados e inchados, e nossos olhos se colidiram e
travaram, me despedaçando por dentro. "Então, talvez você queira sair algum dia... ver um
filme ou jantar ou algo assim?"
Quando ela baixou os olhos, esperei que um "não" viesse em seguida. "Eu gostaria."
"Sim", ela disse um pouco mais alto, já que o Jeopardy estava invadindo nosso
momento. "Eu gostaria de sair com você."
"Ótimo." Eu sorri de orelha a orelha, mas meu momento de glória foi interrompido
quando o celular dela apitou.
"Ah..." Ela deslizou o telefone para mim para que eu lesse a mensagem sobre uma
oportunidade de trabalho.
Eu não estava feliz com isso. O único cara com quem eu queria que ela transasse
era eu, e "limpeza" poderia significar qualquer coisa. "Vai avisar a Mathias?"
"Eu vou com você, tá bom?" Coloquei minha mão grande sobre sua mão pequena e
pálida, que estava gelada como gelo. Ela se afastou e olhou para trás para ver se a mãe
estava observando. Os olhos estreitos de Deb estavam fixos em nossa direção, mas era
difícil dizer se ela estava olhando para nós ou para a TV. Talvez ambos. "Prometo que não
vou deixar nada de ruim acontecer com você, ok?"
"Ok, mas você não pode entrar no quarto do hotel", ela disse, apontando para a
instrução "vir sozinha".
"Que tal eu esperar no corredor, do lado de fora do quarto? Se você sentir medo,
grita por mim ou usa o celular."
"Combinado."
"Eu sei, mas onde isso vai nos levar?" Ela digitou SIM no telefone.
CINCO
Gretta
Conheci o diabo quando tinha doze anos...
...e achei que ele era o menino mais bonito que já tinha visto. Ele me cumprimentou
com olhos estreitos e dedos que dançaram sobre sua coxa e depois sobre a minha.
A última vez que vi o diabo foi aos quatorze. Ele ficou de pé sobre o corpo do meu
pai e chutou suas costelas para ver se ele ainda respirava. Lembro como o corpo do meu pai
balançou com o impacto do chute.
Pensei que ele tivesse voltado à vida naquele momento, que estivesse fingindo
estar morto para que o diabo perdesse o interesse e fosse embora. Uma coisa morta só
entretém por um tempo, até o jogador se entediar e sair. Vi puro deleite em seu rosto
quando passou pela minha árvore — deleite e algo mais. Um fogo que se acendeu enquanto
a excitação queimava nele, despertando uma faceta adormecida nas pessoas comuns.
Foi seu primeiro assassinato, mas não seu primeiro gosto de morte.
Meu amor por aquele garoto nunca desapareceu, nem mesmo quando ele matou
meu pai. Mas chamá-lo de diabo lhe dava poder demais. Ele precisava ser despido de sua
arrogância e privilégios para revelar a pele trêmula por baixo.
Pelos seus olhos, percebi que ele não reconheceu Cattus, a garota que um dia
conheceu. Cattus era o nome que ele me deu, latim para gata — porque meu nome de
nascença, Lori, não servia para os jogos que brincávamos. Agora uso meu nome do meio,
Gretta, em homenagem à minha bisavó, mas mantive meu sobrenome. Nelson. Não que ele
soubesse qual era meu sobrenome. Ou talvez soubesse.
Duvido que as memórias de mim tenham sequer arranhado a superfície de sua
alma sombria, mas as dele estão gravadas em minha carne para sempre. Ainda sinto seu
hálito quente em minha pele enquanto inalava o aroma dos rolinhos de alcaçuz de
framboesa que caíam de seus lábios como doces cigarros. Ele gostava da marca cara,
aqueles macios e suculentos, vendidos em embalagens rústicas que diziam ser naturais e
artesanais. Sua língua ficava vermelha, e seus dedos eram travessos. Ele fazia um nó no
rolinho e me deixava morder, mas só se eu ficasse de joelhos primeiro. E eu sempre ficava
de joelhos para o diabo.
Me irrita ainda lembrar dessas coisas, me agarrando a elas com medo de nunca
mais capturá-las se escapassem. Ele não merecia meu amor. Eu deveria odiá-lo. Acredite,
tentei odiá-lo com cada fibra do meu ser. Mas naquele dia, quando ele não sabia que eu
observava atrás da minha árvore favorita, vi quem ele realmente era.
Isso é mentira.
Eu sempre soube quem ele era, mas estava cega por meu amor doentio por ele.
Doentio.
Darryn conversava baixo com Ollie sobre futebol, talvez para acalmar os nervos, e
Ollie mal respondia. Mas ele era assim — só falava quando absolutamente necessário, em
vez de poluir o silêncio com palavras vazias. Diferente de mim e de Ollie, Darryn
obviamente temia o silêncio.
Peguei Ollie me olhando pelo retrovisor algumas vezes e sorri sozinha, gostando da
atenção. Como um cadáver em decomposição atraindo moscas, Dom nunca estava longe dos
meus pensamentos. Ainda sentia seus dedos passando pelo meu cabelo vermelho, dizendo
que eu era bonita. Agindo como se nunca tivesse me visto antes. Cabelo da mesma cor dos
seus amados rolinhos de alcaçuz de framboesa. Você notou isso, Dom? Não, claro que não.
Meus dois garotos ficaram atrás de mim quando me aproximei do balcão no saguão
vazio. Molduras douradas brilhavam sob os lustres enquanto Edith Piaf assombrava
suavemente os espaços vazios, fazendo-me estremecer.
Por fim, um homem baixo apareceu, vestindo uma camisa branca e colete bordado,
e se desculpou por não nos ver. Falei a senha, e ele mal reagiu, como se já tivesse feito isso
inúmeras vezes. Aposto que esse homem já viu muitas amantes, putas, vadios e garotos de
programa passarem por essas portas a caminho da suíte presidencial.
"Aqui está a lista", ele disse, colocando uma folha datilografada com os deveres de
limpeza no balcão. "Marque cada um quando terminar. Tudo o que precisa já está no
quarto..." Verificou o registro. "Vinte e três." E colocou um cartão-chave no balcão.
Virei para meus garotos, que pareciam levemente divertidos. "Parece que não vou
precisar de vocês depois de tudo."
"Ah", o homenzinho interrompeu, "eles não podem entrar no quarto. Só você pode
fazer a limpeza."
Suas sobrancelhas subiram tão alto que quase saíram da cabeça. "Muito ruim."
"Ah."
Ainda com meus fieis garotos a tiracolo, chegamos ao quarto 23 e eu gemi ao abrir
a porta. Eles espiaram para dentro, sem cruzar a entrada, e fizeram barulhos de enjoo.
"Isso vai me levar uma eternidade", gritei, enquanto a porta se fechava lentamente
atrás de mim e a voz calma de Ollie ecoava na minha mente: "Estaremos bem aqui até você
terminar."
Ollie checou como eu estava batendo na porta. "Estou bem", respondi, "só agradeço
por não ter que trabalhar amanhã, porque vai levar um tempão pra me recuperar disso."
Uma hora e meia depois, espreitei pela porta e vi meus garotos sentados no
corredor, encostados na parede com os olhos fechados. Tão fofos, especialmente o Ollie com
a boca entreaberta e a barba por fazer. Exceto que já estava muito além das cinco da tarde
— quase duas da madrugada, na verdade.
Por algum milagre e produtos de limpeza super tóxicos, consegui deixar a área
social impecável e me dirigi ao banheiro.
"Oh, obrigada", disse graciosamente, pegando o presente, embora não seja muito fã
de joias. "Você vai verificar o quarto para ter certeza que limpei direito?"
Estranho.
"É algo que você pode vender?" Ollie perguntou, olhando pelo retrovisor.
Eles não leriam a mensagem por algumas horas, então eu tinha tempo para digerir
essa revelação. Uma coisa era certa: não haveria sono essa noite.
SEIS
Dominus
"Só o melhor para minha doce", anunciei, puxando a cadeira para minha
namorada se sentar na mesa do restaurante cinco estrelas Michelin, The Grove. É
importante cuidar bem da filha do senador, mesmo que aquela família viesse de uma longa
linhagem de idiotas e bêbados — e ela não fosse exceção. Casamento, procriação e poder:
era para isso que a usava.
Sentei-me à sua frente e percorri com os olhos aquele rosto elegante e aqueles
lábios carnudos e hidratados, já envoltos em uma taça de vinho. Nenhuma surpresa aí. Ela
deixou uma marca de batom vermelho no copo, e eu contive um calafrio.
"Como foi seu dia?" ela perguntou, limpando o batom do copo com os dedos.
"Bem", ela estalou os lábios, "eu tive um dia tão ocupado..." Concordei enquanto ela
despejava todas as coisas 'interessantes' que aconteceram em seu dia. Não me pergunte o
que foi, porque eu não estava ouvindo e... não me importo. "O que você acha?"
"Hã?"
"Sobre o contrato?"
"Ah..."
"Desculpe, querido. Vou ser super rápida, e depois não olho mais para o telefone o
resto da noite."
O telefone dela apitou novamente, e capturei uma expressão que não gostei. Foi um
lampejo de algo fora do personagem, e me perguntei se ela estava tendo um caso. Isso não
me agradou. Eu tinha quatro — não, três — garotas na lista de contatos rápidos que não
significavam nada para mim, mas se ela fosse vista com outro homem, me faria parecer um
idiota. Não me importava que ela estivesse transando com outro; só precisava que fosse
completamente discreta. Eu tinha uma reputação impecável para manter, e se corresse o
boato de que não conseguia satisfazer a filha do senador, envergonharia não só a mim, mas
minha família.
Puta egoísta.
"Sim", seus olhos se arregalaram, "eu soube", dando outro gole no Bordeaux. Ótimo.
Beba o suficiente para que eu possa te foder pelo cu.
Ela odiava quando eu fazia isso. Odiava meu pau entrando no buraco apertado dela,
porque dizia que isso trazia o pior de mim. Que porra é essa que ela tá inventando? É só
outro buraco. Por que tanto drama? Ou talvez tenha a ver com minha vontade de puxar seu
cabelo até sua cabeça estalar para trás – mas essa é minha parte favorita.
Sua boca bonita se abriu, e eu tive vontade de enfiar meu pau naquele buraco. A
putinha fresca também odeia me chupar, o que só me deixa com a opção de foder a buceta.
Me lembra por que eu tô com ela? Ah, sim, status. Meu pai rico e influente é amigo do seu
pai rico e influente. Pelo menos eu tinha Primis, Secundo e Tertius para foder como
quisesse. Pobrezinha da Quartus, que eu matei porque ela foi testemunha de mim estando
onde não deveria. Ainda não acharam os restos dela.
"O quê?"
"Claro que não, querida, você é minha número um... digo, minha única", corrijo-me.
"Mas se você estiver envolvida em algum casozinho nojento, mantenha isso longe dos meus
olhos e, mais importante, longe dos olhos dos nossos pais e da mídia sanguessuga."
Seu dedo apontou para mim. "Espera aí. Quer dizer que você não se importa se eu
der pra outros?"
Tomei meu primeiro gole do Bordeaux, deixando o sabor doce e ácido lavar minha
língua, demorando de propósito. Fazer ela esperar era algo pelo que eu vivia. "Você sabe
como é, Vic. Não vamos fingir que não."
"Hmm", ela brincou com a ponta do cardápio que nem havíamos aberto ainda, "que
bom saber onde eu... nós estamos nisso."
"Garanto que não. Apenas alegre e ansiosa para aproveitar o acordo não dito e não
escrito que temos aqui."
"À vontade."
"Eu te amo, profundamente, Vic. Você é tão preciosa para mim—" O telefone dela
apitou de novo, seus dedos se esticaram em direção a ele, até que eu o arranquei de suas
mãos. "Opa, opa, opa, o que diz essa mensagem aqui?"
"Me devolve", ela estava com a cara de raiva agora, e eu me banhei em sua fúria.
"Deixa eu ver quem está distraindo minha garota da refeição caríssima que ela
ainda nem pediu? Você sabe quanto tempo levei para conseguir uma mesa aqui?"
"Você disse que conseguiu na hora", ela esticou o braço para recuperar o aparelho,
mas eu o mantive fora de alcance.
"Consegui. Só disse meu nome e, olha só, uma mesa aparece magicamente. Só estou
sendo dramático, Vic. Agora, vamos ver essas mensagens?"
Ela se levantou e veio para o meu lado da mesa, segurando meu copo de Bordeaux
sobre minha cabeça.
"Bom, dificilmente vai me ameaçar com seu próprio copo, já que está vazio?" Dei
uma olhada rápida em uma mensagem antes de devolver o telefone. Não era hora nem lugar
para fazer escândalo. O nome do remetente era Bruno, e ele pedia para encontrá-la. Não
parecia romântico, mas o fato de ela estar tão secreta me deixou desconfiado.
O resto da noite foi uma delícia – ela mal falou uma palavra e me lançou olhares
furiosos e de nojo por cima da mesa. Depois do jantar, seguimos caminhos separados, e eu
chamei Primis, minha putinha favorita, para foder o cu em seu lugar.
Para um cara grande, Ollie era gentil e paciente — talvez paciente demais. Tive um
dia louco de trabalho e estava perigosamente perto de cancelar nosso encontro, até que
minha mãe me fez mudar de ideia. Nos olhos dela, Ollie preenchia todos os requisitos. Ele
preenchia os meus também, exceto que eu queria que ele me empurrasse contra a parede e
me dominasse, porque era disso que eu precisava.
Como o cavalheiro perfeito que era, ele abriu a porta do carro para mim e entrou.
Essa era a parte do encontro que ficava estranha. O final. Tivemos um jantar adorável com
conversa agradável, brincamos de esconde-esconde com os pés debaixo da mesa, e fiquei
decepcionada porque ele não deu em cima de mim. Nem uma vez. Cadê as safadezas? Eu
precisava de safadezas. Ele nem sequer sugeriu que eu passasse a noite na casa dele.
Meu corpo estava implorando por alguém para simplesmente se deitar em cima de
mim. Precisava daquele calor e toque que eu estava ocupada demais trabalhando,
estudando e cuidando da minha mãe para receber. Puta merda, tenho só vinte e um anos,
mas me sinto com cinquenta. E Ollie... no auge da vida, alfa supremo, lindo jogador de
futebol, devia estar me jogando no ombro.
"Você não está me levando para casa, está?" finalmente disse, já que parecia que ele
estava indo nessa direção.
Ele parou no sinal vermelho e virou para me olhar. A luz alaranjada dos postes
incendiou seu cabelo escuro. Eu queria tanto que ele me beijasse. "Para onde você quer ir?"
ele perguntou devagar.
"Estava pensando em... ir para a sua casa. Mas se você preferir não—"
"Ah, sim, podemos ir para a minha casa." O sinal ficou verde. "Então... o que...?"
"Eu quero que você me foda, Ollie." Pronto, falei. Tempo era precioso na minha vida.
Tenho trabalhos para terminar e plantões noturnos no Stads nos próximos dias, sem contar
as tarefas que preciso fazer para minha mãe. Se não estou trabalhando, estou dormindo.
Dificilmente terei uma oportunidade como essa de novo tão cedo.
"Tá... bom", ele riu. "Eu só estava tentando ser um cara legal e—"
"—Não seja um cara legal hoje à noite, Ollie. Te dou permissão para ser tão ruim
quanto quiser."
Ele grunhiu. "É só que você não parece do tipo, sabe, fácil—"
"Eu sou fácil hoje à noite, Ollie. Dê o seu melhor. Por favor." Por favor.
Ele resmungou algo, pisou fundo no freio e fez uma curva ilegal de 180 graus,
cortando vários carros no processo. Sob uma serenata de buzinas, acelerou de volta para o
campus enquanto eu caía no banco rindo. Nada como um pouco de emoção para animar
uma vida completamente monótona.
Minhas coxas se apertaram quando senti o calor do desejo emanando dele. Era a
primeira vez que eu pisava na infame Vault, que estava lentamente se corroendo diante dos
nossos olhos. As camadas de segredos imundos estavam sendo reveladas, mas ainda não se
comparavam às atividades que aconteciam debaixo do Athenaeum.
Ele pegou minha mão, e subimos dois andares até o último piso. Quando chegamos
à porta dele, minha calcinha estava encharcada e meus joelhos tão fracos que eu quase
desmaiei. Ollie revirou os bolsos da calça procurando a chave, se desculpando enquanto eu
ria baixinho, tentando conter o orgasmo iminente. Ele mal tinha me tocado, e eu já estava
em chamas.
Finalmente, ele abriu a maldita porta e rapidamente a trancou atrás de nós. Antes
que eu pudesse olhar ao redor do quarto, ele já me tinha em seus braços, beijando e
mordiscando meu pescoço, e eu pensei que ia despedaçar em um milhão de pedaços. Fazia
muito tempo que um homem não tinha esse efeito em mim, e eu lutava para conter a reação
do meu corpo ao toque dele.
Ele baixou a cabeça entre minhas pernas e começou a beijar meu clitóris por cima
da calcinha já encharcada. Não consegui segurar por mais tempo — arqueei as costas e
gozei.
"Espera."
Senti outro orgasmo vindo, graças a Deus, e tirei a calcinha. Eu tinha depilado a
buceta mais cedo, na esperança de alguma ação, e uma coceira irritante já tinha aparecido.
Por sorte, eu não me importava — e ele também não. Puxando suas calças para baixo, seu
pau latejante saltou para me cumprimentar, e fiquei agradavelmente surpresa com o
tamanho. Grossura e comprimento. Esperava que um homem do porte dele tivesse um pau
grande, mas isso estava em outra escala completamente diferente.
Ele cumpriu o trabalho, mas eu precisava de mais. Muito mais. Depois de uma hora
deitados na cama conversando sobre bobagens, partimos para outra — dessa vez, ele me
virou e me empurrou por trás, enfiando seu pau fundo. Eu gostei disso... muito.
Adormeci envolta em seus braços, minha face pressionada contra seu peito. Em
algum momento durante esse paraíso, fui arrancada do meu delírio quando meu celular
apitou. Mãe. Não podia deixá-la sozinha por muito tempo à noite. Durante o dia, enquanto
eu estava no trabalho, ela tinha cuidadores para verificá-la e um número de emergência
para ligar se algo desse errado. Mas, à noite, eu era seu único consolo.
Sem olhar a mensagem, deslizei para fora da cama e comecei a me vestir no escuro.
"É, desculpe, minha mãe—" Parei quando olhei para o celular e vi que a mensagem
não era dela. Eu só tinha assumido que fosse. "Ah. É o Vanderbilt."
"Dizendo o quê?"
"Vinte e cinco por cento das minhas mensalidades foram pagas. Nossa. Se eu quiser
prosseguir com o Trabalho Dois, responda com 'sim'."
"Três horas limpando e você ganha um quarto das suas mensalidades. Esse é um
puta negócio, Gretta", Ollie disse.
"Você sabe que tenho que continuar com isso", eu falei, "até chegarmos ao centro."
"E se você nunca encontrar o líder?" ele perguntou. "E se ficar andando em círculos,
sem nunca saber quem ou o que ele é?"
Oh, eu já sei quem é e o que ele é. "Só tem um jeito de descobrir, e se minhas
mensalidades forem pagas no processo, é um bônus."
Reli a mensagem e respondi com um "sim", antes de mandar uma mensagem para
minha mãe para ter certeza de que estava bem. Eram só 21h30; ela ainda estaria acordada
vendo TV.
Eu: Ok (:
Olhei para o Ollie, seu corpo grande esticado como um gigante adormecido. O
branco de seus olhos captou a luz do meu celular, dando a ele uma aparência levemente
sinistra que só me deixou com mais tesão.
Eu: Eu sei.
"Parece que minha mãe não precisa de mim afinal", sussurrei, rastejando pela cama
de quatro até ele e começando a beijar seu peito.
"Ótimo", ele murmurou, sua mão grande e quente encontrando minha nádega por
cima da calça. "Acho que precisamos tirar isso", despindo minhas roupas de novo para mais
uma rodada.
OITO
Gretta
Sentei na beirada da cama com a bala repousando na minha coxa, tão
pequena e aparentemente insignificante.
Ele cortou a bala do coração do meu pai e foi embora casualmente, como se o
assassinato não tivesse deixado marcas em sua alma. Ele já estava podre muito antes
daquele momento e agora caminhava feliz pelos corredores do purgatório. Mas isso não era
na morte, e sim na vida — sua vida, minha vida.
Não tinha como ter certeza de que era a mesma bala, e se ele estava tentando me
assustar, não estava funcionando. No entanto, estava curiosa para saber por que ele a
guardou todo esse tempo. Uma parte estúpida e teimosa de mim desejava ouvi-lo dizer que
eu significara algo para ele naquela época. Não agora. Agora, eu queria que ele morresse.
Um assassino sempre será um assassino, e mesmo que ele tivesse me amado, eu ainda
ansiava por colocar um fim no inferno que ele criou. E só há uma maneira de fazer isso.
Ouvi minha mãe me chamar da sala e coloquei a bala de volta na caixinha do anel,
escondendo-a na terceira gaveta — aquela difícil de abrir, por causa da madeira gasta. Um
dia, talvez eu conte a ela que sempre soube quem matou o pai. E um dia, talvez eu diga que
a pessoa que esmagou nossos corações não passava de um garoto ferido.
Sacudi a cabeça quando a água escorreu dos meus cabelos molhados para os olhos,
depois do banho que lavou o cheiro do Ollie da minha pele. Estremeci ao ainda senti-lo
entre minhas pernas, perfurando meu abdômen, e esperei que aquela sensação não
desaparecesse tão cedo.
Na sala, minha mãe tinha derrubado o controle remoto, que escorregou para
debaixo da cama. Depois de rastejar para pegá-lo, capturei uma expressão maliciosa no
rosto dela. Seus olhos azuis estavam tão cheios de vida, amor e, principalmente, travessura.
Uma pena enorme que ela quase nunca saía de casa.
"O quê?"
Engasguei, fingindo horror. "Não vou revelar essas coisas para a minha mãe."
"Você transou?"
"Mãe!"
Ela ergueu as mãos para o céu, encarando alguma imagem invisível no teto.
"Aleluia, existe um Deus afinal. As pernas da minha filha se abriram."
"Mãe", repreendi.
Ela acenou com a mão como se estivesse enxotando uma mosca. "Vamos, Gerty" —
o apelido que ela jurou nunca usar fora de casa (e, por sorte, ela nunca sai) —, "Você é linda,
ele é bonitão e..." Ela franziu os lábios. "Eu notei o quão duros são os músculos do braço
dele quando me levantou de volta pra cama. Ohhh, nossa. Ele é bem dotado?"
Ela lambeu os dedos e estalou os lábios. "Aposto que ele é lindo pelado."
"Mentira. Você não chegou em casa antes da meia-noite. O que estavam fazendo?"
"Conversando."
"Conversando."
"Você fala muito para uma garota que não gosta de falar."
"Ha, engraçada. Não." A enfermeira bateu na porta para dar o banho de esponja na
minha mãe e cuidar das úlceras e escaras, então fiquei aliviada por a conversa ter
terminado. Além disso, tinha aula e um turno no Stads.
"Me passaram o segundo trabalho", contei ao Ollie quando ele entrou no Stads com
Darryn. Mal conseguia disfarçar o sorriso depois de passar a maior parte da noite com ele.
Adoraria ter ficado a noite toda, mas minhas responsabilidades com minha mãe sempre
pesavam na minha mente.
"Tipo aquele 'serviço de limpeza' sinistro?" ele perguntou, me olhando por baixo
dos cachos escuros que caíam sobre sua testa. Minhas coxas se apertaram e... aff... arrepios
correram do meu centro até a parte de trás dos joelhos.
Ele acenou com a cabeça e olhou para a entrada quando um grupo de calouras
famintas entrou, conversando sobre o corpo de uma mulher encontrado sob um arbusto à
beira da estrada. Eu olhei ao redor do restaurante para ver onde Rhys e Lise estavam. Rhys
estava no balcão de sobremesas, enquanto Lise limpava as mesas. Como gerente, meu
trabalho é garantir que a equipe esteja onde deveria, mas essa não era a razão pela qual eu
as procurava.
Ollie deu um passo para trás para deixar as calouras se aproximarem do balcão.
"Ai, meu Deus, a internet está explodindo... porque ela estava nua e acreditam que
era uma estudante aqui da KVU."
"O artigo não disse", ela respondeu, olhando para o cardápio na parede atrás de
mim. "Eu quero um cheeseburger, sem picles. Ah, e uma porção pequena de fritas."
"Ai, meu Deus", a caloura morena suspirou, virando-se para as amigas. "Será que
tem a ver com o braço do Adam Sweeney encontrado nas margens do Lago Superior?" Sua
voz estridente ecoou mais do que ela provavelmente pretendia, e a cabeça de Rhys se
ergueu ao ouvir "Lago Superior", com as bochechas queimando de vermelho, como sempre.
"Eles não conseguem descobrir como ele morreu até encontrarem o resto dele." As garotas
riram, porque, de uma forma macabra e estranha, era engraçado — para todo mundo,
menos para a família de Sweeney e... para Rhys.
"Aposto que há centenas de pessoas no fundo daquele lago", Lise declarou. "É tão
profundo, frio e cheio de peixes que seria o lugar perfeito para desovar um corpo." Ela deu
de propósito um olhar afiado e assustador para a garota, que quase me fez tremer nas
bases. Lise também era caloura, embora você não dissesse. As provações da vida a
amadureceram. Por trás de todo aquele drama e dor, havia alguém com um coração de ouro,
ansiosa para ver um fim a toda essa violência. Eu me sentia próxima das minhas duas
garotas e tinha um forte instinto maternal para protegê-las.
Lise teve mais do que sua cota justa de violência cruel nas mãos de Sweeney e de
seu pai, e Rhys, bem... digamos que você não pode julgar um livro pela capa.
NOVE
Ollie
"Lembra o que tem que fazer?" Darryn me lembrou enquanto jogava um garfo no ar
e o pegava sem olhar. Cody e eu éramos os cozinheiros da casa, e agora que ele se foi, sou só
eu fritando praticamente um porco inteiro para os Hawks.
"Como posso esquecer com você enchendo meu saco o tempo todo?"
"É que você parece distraído, cara. Como se estivesse começando a ter sentimentos
por ela."
"Não tenho diploma de ator e com certeza não tenho o talento natural pra mentir
igual você, então não tá sendo fácil."
"Talvez devesse ter pensado nisso antes de se voluntariar", ele disse, usando agora
o garfo para coçar um ponto nas costas.
"Sim. E daí?"
O que ela não sabe é que tem esquema em cima de esquema, tudo tão podre que
seria preciso uma escavadeira pra desenterrar a verdade. Mesmo assim, provavelmente
ninguém saberá. Nem eu sei qual é a verdade. Porra, talvez alguém precise me explicar um
dia.
Os ovos estalaram e espirraram óleo quente na minha pele. Tudo bem, eu merecia o
castigo. Meu tio e minha tia não me criaram para ser um babaca, especialmente com gente
boa como a Gretta.
"Por trás de toda essa merda", Ridge disse. Não precisava explicar mais, a gente
sabia exatamente do que ele estava falando. "Porra, mal posso esperar pelas férias. Já cansei
dessa porra toda aqui."
"Como ele pode estar no comando da sociedade e não saber de nada?" Ridge
rebateu. "E por que caralhos aquele merdinha do Vanderbilt ainda não foi preso?"
"Tem prova suficiente pra afundar um maldito navio de guerra. Quer dizer", ele
virou para Josh, que estava estranhamente quieto, "foi o Vanderbilt que arrumou aquele
trabalho pra você."
Josh mal reconheceu o comentário, já que essa foi a razão pela qual ele levou uma
surra. Ele precisava que acusações de droga desaparecessem e, em troca, fez um serviço
sujo em Jace Luxon. Ordem vinda de cima. Obviamente subestimaram a força da amizade
entre Luxon e Harrington.
"Você está preparado para testemunhar se isso for para o tribunal?" Darryn
perguntou a Josh.
Alguém tinha algo sobre ele. Talvez fosse o Cody, talvez a Serpente e o Cálice — de
qualquer forma, ele estaria morto se dedurasse.
Ouvi meu telefone bipar sob o som dos ovos chiando e chequei a mensagem: Você
sabe o que precisa fazer.
Apaguei as mensagens imediatamente e voltei a focar nos ovos fritos. Sete pratos
estavam alinhados — dois ovos por prato e três tiras de bacon, mais tomate grelhado e
torradas, caso quisessem algo extra. Eles deveriam estar me pagando por isso.
"Você vem para o trabalho hoje à noite?" perguntei ao Darryn depois que Josh e
Ridge saíram com seus pratos para jogar Grand Theft na sala.
"Não é parte do plano?" ele respondeu com ironia. "Brincar de protetor", enquanto
batia no peito como um gorila.
"Não se preocupe, não vou invadir seu território", acrescentou, agora usando o
garfo para pentear seu cabelo ruivo. Ele tinha aquele tom de pele escocês sardento que
sempre parecia queimado de sol. Quando realmente pegava sol, sua pele empolava como
plástico bolha.
"É melhor não encostar, porra", murmurei. Nunca fui de xingar muito até chegar na
KVU como um ingênuo de dezoito anos. Caramba, no meu primeiro ano aqui perdi a
virgindade, experimentei neve entre outras substâncias ilegais, participei de mais de uma
orgia e comecei a xingar como um maldito pirata. Três anos depois, estou entediado com
toda essa cena de festa e mal posso esperar para me formar e deixar essa cidade maldita
para sempre.
Vim de uma família unida, onde raramente guardamos segredos uns dos outros. Só
quando cheguei aqui percebi que muitas famílias não são como a minha. Muitos jovens
sofrem em silêncio, sem ter para onde ir — ou, se forem como Cody Harrington, resolvem
seus problemas espancando a merda dos outros. Eu tinha que admirar o cara e,
honestamente, esperava com todo meu coração que a polícia não descobrisse o que ele fez.
Justiça poética em seu melhor.
Não foi porque estava preocupada com a catástrofe que poderia estar do outro
lado, mas sim por uma rápida troca de olhares entre Ollie e Darryn que me arrepiou. Durou
apenas um segundo, mas comecei a questionar tudo — inclusive as motivações deles.
Minha mão pairou sobre a maçaneta até que Ollie se aproximou e perguntou se eu estava
bem.
"Hmm, só estou um pouco nervosa", menti. Na verdade, não era mentira. Eu estava
nervosa.
"Eu entro com você", ele ofereceu. "Dessa vez não há regras dizendo que você não
pode levar alguém."
Ele era muito mais alto que eu, minha cabeça mal chegava ao seu ombro. Quando
ele enterrou o rosto em meus cabelos, me inclinei em seu abraço.
"Hã?"
"Vamos", ele respirou em meu ouvido, passando a mão pela minha e me levando
até a cama grande. "Relaxe."
O Ollie que eu via na minha frente era completamente diferente daquele que eu
conhecia há meses. Hormônios famintos e sexo podem fazer isso até com as criaturas mais
dóceis.
Ele se sentou na beirada da cama e segurou minhas nádegas, me puxando por cima
dele. Deitado, ele me segurou tão perto, seu aperto, inabalável. Mas minha paranoia estava
colocando uma barreira entre nós, e eu simplesmente não conseguia entrar no clima.
"Viva um pouco, gata", ele insistiu, quando me enrijeci em seus braços. "Ninguém
vai saber."
Deixei que ele me levasse, embora me sentisse estranha com tudo aquilo. Quando
tentei rolar para o lado, ele me segurou firme, beijando e mordiscando, sua boca
encontrando meus lábios.
"Quero você por cima", ele murmurou, seus dedos subindo por baixo da minha
blusa até meus seios novamente.
Foi um momento tão estranho, fora do personagem. Toda vez que eu tentava
manter o contato visual, ele desviava o olhar. Ele me deixou nua em segundos, segurando
meus quadris enquanto eu montava em seu pau. Só quando ele começou a brincar com meu
clitóris é que comecei a sentir algo.
"Eu não—"
Senti um calafrio e me virei, apenas para meu rosto ser agarrado no meio do
movimento por suas mãos grandes.
Eu poderia estar enganada, mas captei uma figura no meu campo de visão
periférico. Precisava olhar de novo para ter certeza de que não estava imaginando coisas.
Minha respiração travou na garganta e me esforcei para cobrir meu corpo nu.
Um homem vestido de preto, usando uma máscara branca macabra, estava lá,
descaradamente nos observando. Sua cabeça estava inclinada, com o dedo no queixo, em
uma pose estranha de curiosidade.
Vestindo minhas roupas às pressas, corri atrás dele. Darryn estava sentado no
chão, meio atordoado, do lado de fora do quarto. "Você viu o homem de máscara?"
perguntei.
Corri pelo corredor até o elevador. As portas estavam fechadas, e o elevador estava
descendo para o térreo. Girei nos calcanhares para descer as escadas e esbarrei em Ollie.
"O que você está fazendo?" ele perguntou, com a voz grossa, como se não fosse
óbvio.
"É, bem, essa coisa toda é meio que uma operação secreta para esconder quem está
por trás. Talvez isso inclua o entregador."
"Você sabia que ele estava lá nos observando", apontei para o rosto dele.
Mentiroso.
"Eu..."
"Não diga uma palavra", cortei. Eu estava confusa com a traição de Ollie. Pensei que
ele estava aqui para me proteger.
Conforme a lógica se instalou, comecei a me convencer de que não havia como Ollie
ter visto o homem ali. E se ele tivesse visto, com certeza teria se assustado e mandado o
cara parar de nos espiar. Mas ele não fez isso. Em vez disso, continuou, quase parecendo
que estava gostando. Quase.
"Desculpe", a desculpa de Ollie pareceu sincera quando ele se sentou ao meu lado.
"Por quê?"
"Por..." Ele esfregou a nuca com a mão, bagunçando ainda mais o cabelo já
despenteado. "Te chatear."
Lancei a ele um sorriso apertado para mostrar que estava bem, mesmo que meu
interior estivesse em colapso. Que porra eu me meti aqui?
"Oh?"
Ao passar pelo saguão, o mesmo homem de antes estava atrás do balcão, com seu
colete brilhante e camisa perfeitamente passada. "Me deram um trabalho", disse ao me
aproximar.
O calor subiu do meu pescoço para o rosto. "Sinto muito por isso", disse,
envergonhada. Obviamente, o homem mascarado contou o que Ollie e eu estávamos
fazendo na cama. "Vou ter outra chance?"
Seus olhos ainda não se desviaram da tela. "Isso não cabe a mim decidir."
ONZE
Dominus
Pesquisei o nome "Bruno" em Kingston Valley no Google e só apareceram
doze possibilidades.
Ampliei a busca para Detroit e até Chicago, o que desencadeou uma enxurrada de
Brunos – nomes e sobrenomes. Desisti depois disso. Se ela queria se divertir de forma
sórdida com algum gorila-sapiens, por que eu deveria impedi-la?
Exceto que…
Para tirar a vadia da cabeça, recostei-me na cadeira para assistir Cattus e seu
namorado desengonçado transando de forma constrangedora no quarto de hotel. Depois
dos primeiros cinco minutos, joguei o telefone longe, enojado.
Foi horrível.
Além de horrível.
No entanto... seu corpinho bem cuidado se movendo sobre o membro gigante dele
era incrivelmente tentador. Suas nádegas, pêssegos perfeitos; seus seios, pequenos e firmes.
Pele leitosa e suave.
Mesmo assim, não podia negar a atração que ela exercia sobre mim. Me perguntei
se ela estaria interessada em fazer parte do meu harém, já que há uma vaga. Ah, e ouvi
recentemente que o corpo de Quartus foi encontrado – pelada e escondida sob um arbusto
à beira de uma estrada rumo ao norte. Segundo o relatório da polícia, alguns pequenos
mamíferos deram uma bela mordida nela. Obviamente, o cheiro do seu perfume barato não
espantou os bichinhos.
Meu telefone tocou. Vanderbilt. Ejaculei na mão, limpei a porra com um lenço e
atendi.
"O cliente do Quarto 23 quer outro encontro", ele disse, solene. "Quer o mesmo
casal, só que mais... treinado."
"Por que ele quer o mesmo casal? Temos vários outros no arquivo."
"Nas palavras dele... o homem é" – ele pigarrou – "extremamente bem dotado, e a
mulher é pequena... bem, pequena perto dele."
Suspiro. Eu adoro o jogo, mas às vezes é tão cansativo tentar agradar a todos. No
entanto, fui eu quem escolheu assumir esse papel quando me foi oferecido. Ninguém
apontou uma arma para minha cabeça.
"Tá bom."
"Ah, e... você não ouviu falar de alguém chamado Bruno andando por aí como um
morcego meio morto?"
"Er... não. Acho que não temos nenhum Bruno nos registros. Por quê? Acha que é a
polícia?"
Soltei uma risada diante da preocupação genuína dele. A KVPD não pode nos tocar,
mesmo se tentar. "Você é hilário, Benson."
Ele hesitou na linha, então eu sabia que havia mais.
"Fale."
"Quem?"
"Veio de cima."
Hesitei. "Motivo?"
"Esse é o trabalho dela, e mal podemos culpá-la por isso. Crimes foram cometidos,
e ela está tentando caçar o responsável."
"Ele está preocupado que ela esteja escondendo informações do DP sobre os casos
recentes. Há rumores de que ela está recorrendo a instâncias superiores."
Gemí. Era a última coisa de que precisava. "Com os sistemas atuais, ela não pode
nos tocar. Vamos manter assim."
Hesitei, porque não parecia certo. "Sim, aceito a ordem. Mas não tenho certeza de
quem você encontrará para executá-la."
"Bem, como você pode imaginar, boa parte do meu tempo é gasta trabalhando para
você, então estou um pouco atrasado."
"É imprudente deixar atividades extracurriculares atrapalharem seus estudos",
provoquei, sentindo um olhar de desdém do outro lado da linha. Não qualquer olhar, mas
aquele olhar arrogante típico de Vanderbilt.
"E você é bem pago por isso. Imagino que esteja ansioso para se formar e voltar
para Boston?" Já sabia a resposta.
"Sim. Acho que, uma vez que eu pegar meu diploma, nunca mais volto para essa
universidade maldita. Sem ofensa."
"Nenhuma ofensa. Mas você continuará sendo membro, porque uma vez dentro,
nunca mais sai."
Senti um arrepio estranho na base da coluna quando ele enfatizou a palavra "você"
com um tom especialmente afiado. "Exatamente."
DOZE
Ollie
"Você deve ter pelo menos uma suspeita, não?" Michael Wheeler presumiu.
Darryn e eu fomos chamados pela detetive Mathias para uma reunião com o reitor
da Kingston Valley University. Ele está ansioso para ver um fim no banho de sangue — por
motivos óbvios — e está ficando irritado com a falta de progresso. Gretta não foi convidada
para essa reunião.
Wheeler coçou a testa, olhando pela janela do escritório que dava para a University
Square. O telhado do Benedictine Athenaeum estava no canto do seu campo de visão. "Você
acha que é o Thomas ou tem provas concretas contra ele?"
Mathias balançou a cabeça. "Apenas suposições. Estamos olhando para ele porque
ele é o presidente da sociedade C&C."
"Puta merda, se você apertar o Vanderbilt o suficiente, ele vai cantar. Então por que
não fazem isso?" eu resmunguei para Mathias.
Tudo que Cody Harrington precisou fazer foi apontar uma arma para as bolas do
cara, e ele cuspiu os nomes dos que machucaram o Lux. Não parece tão difícil, exceto pelo
fato de que a família Vanderbilt tem uma fortuna de influência. O que pode ser um
probleminha para alguns.
Alguém chamou a atenção de Wheeler, e eu segui seu olhar. Por uma estranha
coincidência, era o próprio Thomas Buchanan caminhando em direção ao Athenaeum,
provavelmente para preparar a câmara para a reunião da Serpente e do Cálice hoje à noite.
Enquanto passava pelos alunos, ele acenou cumprimentando como se fosse alguém
especial.
Todo mundo conhecia seu nome. Todo mundo sabia quem e o que ele era. Ele
sempre andava de cabeça erguida e régia, como um vencedor nato. Ninguém poderia
tocá-lo, e ele sabia disso. Mesmo agora, com o nome da universidade manchado, ele agia
como se não tivesse nada a ver com isso.
"Sim, mas esse tipo de coisa nunca é mencionada nas reuniões. Eles mantêm tudo
deliberadamente separado."
"Sangue nas mãos", Darryn acrescentou, tentando ser engraçado — só que não
tinha graça nenhuma.
"Vai na reunião hoje à noite?" Ridge perguntou. Jesus, nunca saía da mente. Não
consigo escapar dessa merda.
"Você sabe que uma vez dentro, não tem como sair, cara", Ridge nos lembrou,
coçando o cabelo raspado. "A menos que votem pra te expulsar."
"Que se fodam", Cody cuspiu, protegendo seu parceiro. "E eu também não vou, a
não ser que seja pra acender um fósforo."
"Conseguiu algo com seu trabalho disfarçado?" Harrington perguntou baixinho, pra
Ridge e Lux não ouvirem.
Eu grunhi um não.
Eu suspirei. "É."
"Não."
"Ele é um dos dois caras que surraram Sweeney e Greene uma noite no outono
passado."
"Que seja. Enfim, Lux me contou que ele e o amigo nerd de matemática invadiram a
câmara e instalaram câmeras."
"Porra. Quando?"
"Ano passado. Antes do Sweeney desaparecer. Ficaram só uma noite pra filmar as
reuniões da C&C." Ele estalou os lábios quase cômico. "Digamos que ficaram bem
decepcionados quando viram as imagens."
Eu grunhi. Perdi meu senso de humor há uma semana. Embora nunca tenha sido
tão vulgar quanto o de Harrington e Lux, que tinham seu estilo especial de humor de
Chicago.
"Limpo como a xoxota de uma freira", ele acrescentou, só pra provar meu ponto.
"Preciso soletrar? Faz esses dois pentelhos instalarem câmeras de novo. Se fizeram
uma vez, fazem outra."
"Qual?"
Ele bufou. "Quem caralhos falou em lei e tribunal? Porque eu não falei. Eu quero um
castigo que nenhum sistema de justiça pode dar."
Ele jogou a cabeça pra trás e riu, chamando a atenção de Lux e Ridge. "Não, cara.
Vazar as imagens no Tiktok, Youtube, Instagram, qualquer lugar. Assim eles não podem
esconder a verdade e fica registrado pra sempre. A porra da polícia não conseguiria
ignorar."
Deixei a ideia dele fermentar na minha mente. "Talvez funcione. O problema é que
eu não sei quando acontecem as orgias. Só marcam quando alguém com muita grana pede.
Vanderbilt tem todas essas informações no computador dele e organiza os alunos que se
encaixam."
"Então é quando alguém quer viver uma fantasia e está disposto a pagar por isso?"
Pela minha pequena aventura no quarto 23, não ganhei nada, porque o
"observador" ficou decepcionado com meu desempenho. Tenho quase certeza de que
minhas bolas encolheram um pouco quando o Vanderbilt me disse isso. Basicamente, ele
disse que eu era uma merda no sexo.
Ele cruzou os braços musculosos e refletiu. "Conheço alguém que talvez topasse
bisbilhotar."
"Quem?"
Ele se inclinou para frente quando Lux veio se sentar ao lado dele. "Becca Gobal."
"Quem?"
"Ex do Vanderbilt."
"A Rhys é amiga dela", Lux contribuiu. "Por que? Do que vocês tão falando?"
"De quê?"
"Digamos que ela deve uma pra ele. E não tô falando de doce."
"Entendi. Então precisamos saber quando será a próxima orgia", Cody explicou.
"Assim que soubermos, a Rhys pode convencer o Fisher e o nerd da matemática a invadirem
a câmara pra colocar câmeras ou celulares."
"Você já tem tudo planejado, hein?" Jace riu, enxugando o suor da testa.
"Sim." Ele riu com malícia. "Assim que eu colocar as mãos na filmagem da porra da
suruba, esse bebê vai viralizar. Vou ter um prazer enorme em ver todo esse estabelecimento
e seus capachos sem coluna se contorcerem."
TREZE
Ollie
O procedimento habitual era chegar às portas do Athenaeum antes das
19h15. A reunião começava às 19h30, mas as portas fechavam e eram trancadas às 19h20.
Mostrávamos ao porteiro nossos anéis e a mensagem de texto que todos os membros
recebiam quando eram avisados de uma reunião. Isso supostamente provava que éramos
membros legítimos. O sistema era completamente falho, mas ninguém se preocupava em
testá-lo ー principalmente porque os membros reconheceriam instantaneamente alguém
que não deveria estar lá.
É proibido entrar na câmara com armas e/ou celulares. Antes, éramos revistados,
mas isso consumia muito tempo. Agora, temos que passar por um detector de metais.
Para minha surpresa, Cody estava sentado no canto fundo da câmara, ao lado de
Ridge. Josh, que havia sofrido a fúria de Cody, estava sentado duas fileiras à frente, sozinho.
A câmara sempre era sombria, mesmo com as luzes acesas. Nenhuma quantidade
de iluminação poderia dissipar a escuridão.
As mesmas pessoas, linhagem diferente. Até tinham o mesmo penteado para trás e
rostos tão expressivos quanto um boneco Ken.
Sentindo o peso do cansaço por falta de sono, fechei os olhos ao som da voz de
Buchanan.
Meus olhos se abriram pouco depois, quando senti o chão tremer, apenas para
descobrir que era o joelho de Darryn balançando freneticamente ao meu lado. Ele estava
roendo as unhas e parecia nervoso. Mal podia culpá-lo.
"O que tão oferecendo?" Não adiantava perguntar detalhes — ele já devia ter
assinado aquele contrato de confidencialidade.
Ele balançou a cabeça ruiva, e eu não insisti. Seja lá o que fosse, tinha deixado ele
perturbado. Ou era uma oferta irrecusável, ou puro chantagismo. Vanderbilt era capaz dos
dois.
Fechei os olhos de novo e só os abri quando a reunião terminou e a sala foi aberta
para discussão. Quase todo tópico estava em pauta — afinal, a sociedade C&C controlava
praticamente tudo nessa universidade.
Os membros até escolhiam qual peça o grupo de teatro ia encenar (pra desespero
do grupo de teatro). Decidiam o cardápio do Kilbernie Hall, incluindo o jantar de Natal.
Quais professores seriam contratados. Até o cheiro do sabonete dos banheiros. Tudo
porque os ex-alunos ricos (que viraram adultos mega ricos) gostavam de controlar onde
seu dinheiro era investido.
Normalmente, nessa hora a galera do time já vazava — mas não sem antes roubar
uns sanduíches da cozinha. Dessa vez, porém, notei que Harrington ficou. Seu olhar era
quase violento, acompanhando Vanderbilt e Buchanan pela sala.
Estava indo embora com Darryn e Ridge quando Vanderbilt me parou, pedindo pra
conversar em particular depois. Se era pra ficar até o fim, pelo menos ia encher o bucho.
Peguei sanduíches e pastéis e voltei pra minha cadeira, ao lado de Cody, que mal reagiu
quando sentiu o cheiro de massa folhada.
Eu ri.
Balancei a cabeça.
"E não tá perto da cadeira dele. Então deixou provavelmente a sujeira em casa, e a
Gobal tá descobrindo quando será a próxima suruba."
"Sim."
"Ah, vai ter senha. Mas ela acha que sabe qual é."
"E?"
"Montblanc."
"Previsível."
Ele deu uma risada alta. "Né? Então tô só garantindo que ele fique aqui e não
resolva ir embora cedo."
Olhei pra Cody pra ver se ele dava algum sinal de nervosismo. Nada. Ele só
observava o debate, impávido. Cody era culpado pra caralho, mas você nunca diria.
A discussão se arrastou por uma hora, até Buchanan tocar o sino. Graças a Deus.
"O cliente quer você de novo", foi tudo que ele disse. E eu entendi. "Ele gostou do
seu... porte."
Me irritou ele basicamente dizer que eu era ruim de cama — e, ok, eu tinha sido
péssimo naquela noite. Em minha defesa, foi uma situação bizarra, e eu odiava enganar a
Gretta. "É, não tô a fim de mais trabalhos. Além disso, acho que ela não chega perto de mim
depois do que fiz no quarto 23."
Suspiro. Eu já não queria mais nada disso, mas tinha prometido protegê-la. Transar
com a Gretta não era incentivo suficiente, mesmo gostando dela. Mas eu era do tipo que
cumpria a palavra, mesmo que me fodesse.
"Ah... você será", ele disse, indo embora. "É preciso sempre alimentar o monstro."
Quem diabos era o monstro? O cliente? O líder dessa merda toda? Ou talvez ele
estivesse falando de mim.
CATORZE
Gretta
Fui conduzida à câmara mal iluminada por um cara vestido da cabeça aos pés
de preto. Não contei aos meus protetores, Ollie e Darryn, que fui convocada porque queria
encontrar Dom cara a cara. Ou cara a máscara, talvez. Me disseram para sentar na primeira
fileira e olhar para a frente.
Minha cabeça girava. Era a primeira vez que eu pisava naquela câmara e quase
podia sentir a imundície sórdida e sexista escorregando pelos meus ossos. Mesmo com a
decoração sendo decepcionante, senti um arrepio quando meus olhos passaram pelo
símbolo da Serpente e do Cálice na parede atrás do palco. É o mesmo símbolo que adorna a
fachada dos quatro prédios originais da Praça da Universidade – o Ateneu Beneditino, a
Biblioteca Edgar Allan Poe, a galeria de arte e o prédio principal da administração.
Engraçado como, quando se vê algo todo dia, ele perde o significado e o poder. Mas ali, o
símbolo era reverenciado como um crucifixo, subitamente recobrando força.
Passos suaves sangraram atrás de mim e olhei de relance para a direita, onde o
segurança estava parado. Seus olhos estavam colados no meu rosto, garantindo que eu não
me virasse. Acho que ele era um dos seguranças que ladeavam Dom quando ele estava me
considerando para um trabalho.
“Você recebeu o presente?” ele sussurrou contra a parte de trás do meu pescoço.
Fingindo ignorância: “Que presente seria esse?” Estou supondo que ele se referia à
bala, mas vai saber. Falar em enigmas dava prazer a ele.
Olhei para o segurança para ver se ele estava observando, e os olhos dele sorriam
com malícia. Quem eram esses homens que adoravam ser marionetes de Dom?
“Dom. Abreviação de Dominus, ouvi dizer,” continuei, mantendo a calma por fora.
Por dentro, eu estava morrendo.
“Você sempre foi uma boa menina.” A voz dele era sedosa e suave com aquela
pitada habitual de arrogância, que vinha de ser quem ele era. “Fazia tudo que eu mandava
sem reclamar.”
O dedo dele continuava a descer, até chegar ao topo da minha espinha. Imaginei ele
deixando sua marca, uma linha rosa de pele queimada. Ele puxou minha camiseta para
baixo, revelando meu ombro nu, e o beijou duas vezes. Fechei os olhos com força,
segurando um suspiro. Me irritava o fato de que, depois de tanto tempo, ele ainda causava
esse efeito em mim.
Jogue o jogo, Gretta. Lembra que você está só atuando numa peça fodida.
“Eu preciso de você, Cattus,” disse, beijando meu ombro de novo. “Você se curvaria
para mim mais uma vez?”
Não. “O que…” seus dedos subiram até minha garganta, arrancando meu ar, “é que
você precisa?”
Sob o olhar penetrante do segurança, Dom apertou ainda mais a minha garganta.
Sua respiração acelerou, excitado com aquilo. Meu coração disparou, martelando contra
minhas costelas rumo ao pânico.
Ele encostou o rosto no arco do meu pescoço, passando a língua quente pela curva.
“Venha pra mim. Eu preciso que você venha pra mim.”
Meu corpo estremeceu enquanto eu lutava para respirar, tentando manter a calma.
Abri a boca para falar, mas minha voz estava presa e só um grunhido rouco saiu.
“Você vai vir até mim?” ele perguntou de novo. “Como quando éramos crianças.”
Ele espalhou beijos pela nuca e pelo ombro nu. “Quero ouvir você dizer.”
Hesitei enquanto vários rostos passavam pela minha mente como um baralho
sendo embaralhado. Ele machucou tantas pessoas. O último rosto foi o da minha mãe. O
momento em que a polícia veio até nossa casa para nos informar que meu pai tinha sido
encontrado morto nos terrenos da universidade. Levou um tiro à queima-roupa no coração,
no campo de esportes do lado sul, o mesmo onde muitos rituais de trote aconteciam. Aquilo
não foi coincidência.
Coloquei uma pequena tesoura de unha no bolso do jeans para usar como arma.
Imaginei cravando as lâminas no globo ocular dele e dançando ao som dos gritos.
“Boa garota.”
Senti ele se afastando de mim, e meu corpo estremeceu, faminto pelo toque dele de
novo. O homem que roubou minha juventude era o mesmo que eu ainda desejava. Ele era só
dois anos mais velho, mal tinha saído da adolescência. E mesmo assim, aquele momento
parecia tão natural para a minha alma jovem. Olhando agora com uma mente racional, eu
sabia que não passava de uma fascinação idiota de infância.
Uma raiva crescente atravessou meu corpo como uma tempestade. Dom tinha tanta
certeza de que eu nunca contaria a ninguém. Eu tinha guardado o segredo dele por tanto
tempo, por que eu revelaria agora? Ele achava que tinha algum tipo de domínio sobre mim
— e de certa forma, tinha mesmo.
“Levante-se,” ordenou o segurança, alguns instantes depois que Dom saiu. “Vou te
escoltar para fora.”
“Três vezes mais do que pagam para seguranças de alguma loja de departamento
no centro.”
“Você é estudante aqui?” Eu só queria puxar papo, mas ele não era burro o
suficiente pra cair nessa.
Uma pena.
Mantive a compostura até sair dali, desesperada por um pouco de ar fresco e frio
que acalmasse a ardência na minha pele. Mas não foi ar fresco que encontrei — foram os
raios cortantes do sol de verão, que intensificaram o calor nas minhas bochechas. Verifiquei
a parte de trás do pescoço onde ele tinha traçado uma linha, esperando encontrar a pele
inchada.
Não estava.
Peguei o celular na bolsa e mandei uma mensagem: A isca foi lançada — e segui
meu caminho para o trabalho.
QUINZE
Gretta
“Você parece perdida,” disse o garoto bonito enquanto se aproximava de mim com
sua bicicleta.
A pele dele era impecável, ao contrário da minha. Minha mão foi automaticamente
até o lugar que eu mais odiava: meu queixo. Três espinhas vermelhas que se destacavam
como faróis à noite. Merda. Tentei espremê-las mais cedo, mas a mãe me pegou no flagra.
“Se você espremer, elas vão se espalhar.”
Se minha pele já estava assim com doze anos, imagina como vai estar em alguns
anos.
Ele passou a mão pelos cabelos loiro-escuros, jogando-os para trás, sem tirar os
olhos de mim nem por um segundo. Que sonho de garoto. Um sopro de ar frio desceu pela
minha garganta e percebi que minha boca estava aberta. Lambi os lábios na tentativa de
hidratá-los.
Bom, dã. “Meu pai é zelador,” disse, apontando com a cabeça para a sala de
manutenção onde ele estava mergulhado no trabalho.
“Gromit?”
Ele fez um som de rosnado no fundo da garganta enquanto revirava os olhos. “Você
não é muito esperta. Quantos anos você tem?”
“Doze.”
1
Vomit, vômito em inglês. Trocadilho com o nome do pai de Gretta.
“Jovem. Jovem e bonita.”
Ele levantou dois dedos. “Dois anos mais velho que você e… com uma porra de
experiência a mais.”
Franzi o nariz. “Você só tem catorze. Isso não é tão velho assim.”
Um som agudo de metal vindo da sala de manutenção cortou a conversa. Meu pai
saiu de lá carregando sua caixa de ferramentas.
Ele era um ninguém. Que se casou com outra ninguém e teve uma filha que também
era um ninguém.
Mas aquele garoto era um alguém. Isso eu sabia. Eu não sabia nada sobre ele, exceto
a idade. Mas dava pra perceber pelo jeito como ele se portava, pela segurança no tom
impecável da voz, que ele tinha nascido pra ser grande. Provavelmente morava numa
mansão no bairro Greenway em Kingston Valley, onde os mega ricos vivem. Fiquei
imaginando o que ele comia no café da manhã. Provavelmente coisas caras, tipo bacon com
ovos servidos numa bandeja de prata.
Todo dia depois da escola, eu ia de bicicleta até a KVU, onde meu pai trabalhava, e
esperava ele sair do turno às 17h30. Naquela época, minha mãe trabalhava como
enfermeira no hospital, então não dava pra ficar por lá.
Nas estações mais frias, eu ficava na biblioteca lendo ou desenhando. Nas estações
mais quentes, achava um canto no jardim da universidade ou no campo de esportes.
Meus pais não tinham grana pra pagar cuidadora. Nas férias escolares, eu passava o
dia inteiro, cinco dias por semana, na universidade. Eu odiava aquilo com todas as forças.
Dizer que era entediante era pouco.
Até o dia em que conheci o garoto da bicicleta. Depois disso, passei a procurá-lo,
torcendo pra gente se esbarrar de novo num daqueles momentos maravilhosos de pura
coincidência.
Demorou uma semana torturante até eu ver ele de novo. Infelizmente, ele não veio
sozinho.
"Você ainda sente falta do papai?" perguntei para a mamãe enquanto escovava seu
cabelo embaraçado. Eu a tinha negligenciado e me sentia mal por isso.
Ela, por outro lado, queria que eu vivesse minha vida, em vez de ser escrava das
necessidades dela. Mas não era bem assim que funcionava.
Tentei dissolver as imagens da minha mente com cada escovada no cabelo loiro
sujo e comprido dela, mas não funcionou.
"As pontas estão precisando de um corte", comentei, e estiquei o braço para pegar a
tesoura de cabelo que estava na mesa ao lado. Me dei conta de que tinha deixado a tesoura
de cortar unha no bolso da calça jeans, que estava em cima da cama, e que deveria tirá-la
antes de acabar me machucando sem querer.
"Me incomoda que ninguém tenha sido punido por assassinar ele." Ela já tinha dito
isso inúmeras vezes. Não havia testemunhas aparentes e ele foi encontrado deitado na
grama. A polícia assumiu que tinha sido apenas um ataque aleatório de carro em
movimento. Também foi convenientemente fora do alcance das câmeras de segurança.
"Não se preocupa, eu planejo punir ele", murmurei, mais alto do que pretendia.
"Hã?"
"Nada."
Alisei o cabelo dela com a mão até que brilhasse com um brilho acetinado e
comecei a cortar um centímetro das pontas duplas. Os fios caíam sobre a toalha que eu
tinha colocado na cama, atrás dela.
"Sim. Gosto de pensar que foi só um caso simples de pessoa errada no lugar
errado."
"Você já se perguntou..." Eu nunca tinha perguntado isso pra ela, mas esse
pensamento vinha martelando minha mente, "se foi uma armadilha?"
Era sexta-feira à noite, o sol estava se pondo, mas ainda não estava escuro. Durante
o jantar, o papai recebeu uma ligação no celular e disse que precisava ir ao trabalho
verificar uma coisa. Não deu muitos detalhes. Eu fui com ele porque a mamãe tinha plantão
no hospital. Ele me disse pra ficar no carro, que levaria vinte minutos, no máximo. Quando
demorou demais, saí do carro e fui procurar por ele.
"Uma armadilha?"
"—Pode parar por aí. Por que alguém faria isso com seu pai de propósito?"
Eu tinha meus motivos e guardei pra mim. "E como ninguém viu?" Tirando eu, é
claro.
"Muitos estudantes disseram que ouviram um barulho parecido com um tiro, mas
ninguém afirmou ter visto o assassinato acontecer."
"Não quero que você se torture com isso. Foi um ato aleatório infeliz. Só isso."
"Mas era sexta-feira à noite no campus. Você sabe quantos estudantes moram no
campus?"
Mamãe ligou o som de Criminal Minds de volta, sinalizando que a conversa tinha
acabado. Mas não na minha cabeça. O debate continuava, sem propósito.
Só duas pessoas podiam explicar o que aconteceu naquela noite. E uma delas
estava morta.
DEZESSEIS
Ollie
“O que é tudo isso?” perguntei ao Cody quando ele sentou na minha frente no
Stads, o restaurante de hambúrguer.
A Gretta estava de plantão e corria de um lado pro outro, uma gracinha com aquele
uniforme. Estava tudo ocupado demais pra eu puxar ela de lado e convidar pra sair de novo.
Ela pode esperar.
Lise Fontaine veio até nós com meu pedido – cheeseburger com batatas fritas e um
frappuccino de caramelo.
“Aqui está,” ela disse animada demais, colocando a comida na mesa. “Quer alguma
coisa, Cody?”
“Por favor,” Cody completou, com um sorrisinho. “Você falou com o Luca?”
“Não,” respondeu a Fontaine. Eu suspeitei que ela estava se fazendo de sonsa, mas
era difícil saber.
“O Luca vive no meu pé por causa dos meus modos,” acrescentou Cody.
“Eu não tenho nada a ver com o seu Luca,” retrucou Fontaine antes de sair.
Cody resmungou e deu uma olhada por cima do ombro pro balcão, onde a Gretta
estava anotando pedidos, e a garota do Jace cuidava das sobremesas. A chapa fervia com o
cozinheiro curvado sobre ela fritando hambúrgueres e cebolas pra colocar nos pães
tostados. Eles serviam hambúrgueres bons no Stads, embora não tão bons quanto os da
minha tia. Se eu casar com uma garota como minha tia, vou ser um homem bem feliz.
“Beleza. A Gobal invadiu o laptop do Vanderbilt,” Cody falou no tom mais baixo que
a voz grave dele permitia.
“Sério?” perguntei. Achei de verdade que não ia dar em nada. Achei que ela ia
amarelar ou não conseguir descobrir a senha.
“Eu já te falei que ela tava se esgueirando pro covilzinho dele enquanto ele tava na
reunião do C&C.”
“Próxima,” usando os dedos pra fazer aspas, “‘reunião do grupo’ é quarta à noite,”
ele murmurou. Tive que me inclinar pra ouvir por cima do barulho do restaurante e da
cozinha. “Tô achando que é uma putaria daquelas.”
Cody explicou: “Já combinei com o Fisher e o nerd de matemática pra instalarem
câmeras no salão.” Ele apontou com o polegar pra trás e presumi que fosse pra Lise
Fontaine, já que aquela baixinha careca era a namorada do Fisher.
Joguei a cabeça pra trás e dei risada. Putz, ainda bem que não fui convocado pra
participar da orgia.
Meus olhos foram direto pra Gretta, principalmente porque gosto de olhar pra ela,
e fiquei pensando se ela tinha sido ‘escolhida’ praquilo. Que merda a gente arranjou.
“Aposto que a Becca Gobal ficou feliz de ter largado o Vanderbilt depois de ver o
que tinha no laptop dele,” falei, empurrando batata frita pra dentro da boca.
“É…” ele travou no meio da frase e levantei os olhos do hambúrguer pra tentar ler
a expressão dele. “Ela disse que tinha muitos nomes lá, mas pareciam pseudônimos. Não
teve tempo de ver tudo.”
Limpei as mãos na calça jeans e digitei o nome ‘Izzard’ no celular. Apareceu um tal
de ‘Eddie Izzard’, comediante, ator e tal, nada a ver com essa escola.
“Já fiz isso,” disse Cody. “Você acha mesmo que o cabeça do esquema ia usar o nome
verdadeiro?”
“Não, mas vai saber. E esse tal ‘Izzard’ é mesmo o cabeça da coisa?”
“Como eu saberia? Enfim, ela disse que o Vanderbilt tem uma planilha com
entradas e saídas de pagamentos. Como você sabe, cada aluno é amarrado pra fazer certos
trabalhos em troca de algum pagamento. Pega aquele filho da puta do Josh, por exemplo, ele
teve as acusações por drogas retiradas em troca de espancar o Lux.”
“Eu sei como o nosso lado funciona. Tô curioso pra saber como o outro lado é
organizado.”
Cody esticou o braço sobre a mesa pra pegar umas das minhas batatas. “Como
assim?”
“Aí tem a parte de organizar o que quer que os alunos desejem. Tipo, não ia
precisar queimar um monte de burocracia e bagunçar papelada pra livrar o Josh das
acusações? Puta merda, obviamente o C&C tem membros em cada maldito buraco e canto
da sociedade, incluindo o sistema judiciário.”
“Isso significa…” Gretta chegou com a refeição do Cody, que era sempre tamanho
família. “Hum, Gretta…”
“Sim,” ela respondeu toda doce, me lançando um sorriso legal. Talvez ela já tenha
superado o que eu fiz com ela no quarto 23.
“Claro.”
“Alguém vai se dar bem hoje,” Cody riu depois que ela saiu.
“O quê?”
“Nada.”
Eu quase perguntei pra ele onde era um bom lugar pra aprender a foder melhor,
mas achei que ele ia rir da minha cara. Já vi o Cody em ação muitas vezes nas nossas festas
de fraternidade safadas, e não tinha nada de surpreendente na técnica dele. Ele nunca
ficava sem uma parceira. Na real, as garotas praticamente faziam fila como se ele fosse da
realeza ou algo assim.
Agora ele tava com a Luca e parecia feliz sendo um cara de uma mulher só. Até
comprou uma casa no campo pra ela. Mas eu não conseguia ignorar a inquietação que
atormentava ele. Normalmente, ele não dava a mínima pra ninguém além dele mesmo, mas
agora se recusava a parar até descobrir quem tava por trás de tudo.
Mentiroso. Dei uma mordida grande no meu cheeseburger, olhando pra bunda
bonitinha da Gretta balançando enquanto ela andava. Ela não é o tipo de garota pra
apresentar pro tio e pra tia, mas serve enquanto eu estiver aqui na faculdade.
“Eu sei que foi você,” falei pra ele, “e não tenho intenção nenhuma de contar pra
ninguém.”
Ele cerrou o punho, se segurando pra não agarrar minha gola e me dar um soco. “Já
te disse que encontrei a Luca viva e bem no Munro Hall.”
“Me avisa se o Fisher precisar de ajuda com alguma coisa,” ele disse pra ela.
Os olhos azuis enormes dela deram uma vasculhada ao redor antes de responder:
“Eles tão pegando a câmera noturna emprestada do supervisor deles, que é observador de
pássaros. Fizeram isso da outra vez.”
Gosto de pensar que sou um cara calmo, equilibrado, e que o ciúmes raramente faz
parte das minhas emoções. Alguns diriam que sou meio apático. Não sou de explodir em
raiva como muitos dos caras com quem divido o quarto, incluindo o Cody. E também não
tenho grandes paixões por nada. Acordo em linha reta e durmo em linha reta. O
temperamento do meu pai corre nas minhas veias.
“Quem é aquele babaca?” perguntei pra Lise, interrompendo a conversa deles sobre
quando invadir a câmara.
Lise seguiu meu olhar. “Um cliente. Nunca vi ele antes.” Ela voltou-se pra mim.
“Você devia se acostumar. Muitos caras dão em cima da Gretta.”
“Sei lá. Acho que ela é um sólido sete e meio. Não é super bonita.”
“Seis e meio?” Lise guinchou. “Ela é muito mais que sete e meio.” Pôs as mãos na
cintura, horrorizada. “Achei que você gostasse dela.”
“Eu gosto.”
“Perdi alguma coisa?” perguntei pro Cody, ainda observando aquele flerte
desgraçado rolando no balcão e ficando irritado com aquilo. “Vai embora logo,” eu queria
gritar. “Porra, o que tem de tão interessante que ele continua batendo papo com ela?”
Ouvi umas risadinhas e tirei os olhos da cena pra encarar a cara de deboche do
Cody.
“O que foi?”
“Comível.”
“Seja lá o que você fizer,” disse ele com a boca cheia de cheeseburger, “não fala na
cara dela que ela é um sete e meio.”
O cara passou pela nossa mesa e eu teria encarado ele se ele tivesse olhado na
minha direção.
De repente, a Gretta era mais bonita e mais sexy do que nunca. Tipo, ela sempre foi
bonita, num jeito simples, e tinha um corpo legal que ela nunca fazia questão de mostrar. O
penteado fofo definitivamente era um bônus e uma baita tentação, e o corpo dela era
definido com curvas nos lugares certos. Ela não era uma daquelas rainhas do baile, tipo
algumas garotas da minha cidade, com aquele cabelo comprido e brilhante, dentes perfeitos
e pele sem nenhum defeito.
“Suponho que ela seja mais tipo um oito,” pensei em voz alta, observando ela se
mover pelo meio da multidão com cestas de batata frita. “Talvez até um oito e meio.”
DEZESSETE
Dominus
Aquela bunda perfeita de pêssego estava curvada diante de mim, e eu senti
um prazer imenso ao enfiar o gargalo da garrafa de vinho dentro dela.
"Não posso mais te ver", ela gemeu enquanto eu empurrava a garrafa mais fundo.
"Meu namorado está desconfiando."
"Isso é problema seu. E se não quiser que eu quebre o vidro e rasgue suas
entranhas sedosas, é melhor obedecer."
Talvez você deva perguntar ao Quartus sobre isso. O nome verdadeiro dela não me
interessa.
Primis era minha favorita. Uma deusa de pele bronzeada, com cachos negros e
apertados que paravam logo acima dos ombros. Uma modelo, como todas dizem ser...
bocejo... e a número um da lista. Eu sentiria sua falta.
Puxei a garrafa de vinho para fora dela com a intenção de esmagá-la em sua cabeça,
mas meus dedos escorregaram no gargalo agora encharcado de seus fluidos. Respirei
fundo, ergui o braço e congelei no meio do movimento quando meu telefone tocou.
"Sorte sua", sussurrei no ouvido de Primis quando o nome de Vic apareceu na tela.
"Oi, querida."
Transando com o Bruno, é? "Que pena. Eu até fiz compras especialmente para
preparar o—"
Eu contratei um chef, mas quero que você se sinta culpada enquanto chupa as bolas
peludas do Bruno.
"Não se preocupe", disse com um charme tão forçado que quase vomitei na minha
camisa engomada. "Vou ocupar meu tempo com outra coisa." Minha mão deslizou pelas
nádegas macias de Prim enquanto Vic explicava o quão importante era a reunião. Quando
enfiei um dedo em seu ânus até o fim, ela soltou um gemido.
A idiota conhecia as regras. Quando eu estava ao telefone, ela não podia emitir um
único som. Nem respirar.
"Ah, só estou vendo um vídeo besta no Youtube." Dei outro tapa e notei um filete de
sangue escorrer de seu lábio inferior, onde ela mordeu para não gritar.
"Sete da noite."
Abri o zíper da minha calça e liberei meu pau meio ereto. Me incomodava não estar
completamente duro, mas eu sabia como resolver isso. "Espero que sirvam comida na
reunião."
"Você também."
Assim que a ligação terminou, encontrei o vídeo de Cattus e apertei play. Mesmo ela
sendo uma mulher adulta, exibida na cama com aquele idiota desajeitado, minha mente
voltou para quando éramos crianças. Era isso que me deixava duro. Como um relógio. Não
Cattus, a mulher, mas Cattus, a garota obediente, girando e dançando em minha mente.
Pensando na jovem Cattus, de saia levantada mostrando seu "taco rosa", espalhei
lubrificante no meu pau agora completamente rígido e enfiei no buraco apertado de Prim,
batendo com força. Quer dizer, eu a fodi tão forte que ela gritou. E o tempo todo, eu pensei
em Cattus rolando na grama e rindo.
Boa menina.
Tão boa menina.
Mesmo quando sangue e merda escorriam do seu cu, não foi suficiente para me
deter. Minha mente estava em outro lugar. Fechei os olhos e voltei no tempo. O cheiro de
algodão doce. A maciez de sua pele.
"Não quero você perto dela", ele disse, depois de mandar Cattus embora.
"Por favor, Dom." Ela estava chorando agora. Prim estava chorando. "Pare."
"Você não me diz o que posso ou não fazer", gritei para o intruso.
"Eu sei, mas isso está me matando", Prim choramingou, e eu ri ao perceber que
havia dito isso em voz alta.
Apertando minha mão na garrafa de vinho, ergui-a acima de sua cabeça. Assim que
as imagens horríveis de Cattus terminaram em minha mente, esmaguei a garrafa contra o
crânio bonito de Prim.
Gozei dentro de seu corpo morto e dei um passo atrás para admirar a obra de arte
abstrata que havia criado.
Em meu estado de loucura, parei de ouvir a lógica e me levantei para pegar meu
telefone. Escorreguei no sangue dela no piso de madeira, usei seu corpo para não cair e
deixei uma marca de mão ensanguentada. Melhor ainda.
"Tudo bem", respondi. "Foi um bom lembrete de que nada é o que parece. Que
estamos todos trabalhando sob disfarce." Meus olhos se voltaram para o celular, esperando
uma mensagem de Dom.
"É, mas eu queria te conhecer como mais que amigos e agentes secretos." Ele deu
uma risadinha ao dizer "agentes secretos", porque é exatamente o que não somos. Somos
apenas estudantes tentando acabar com a violência mergulhando no fundo do poço.
"Ok", respondi, tentando mostrar entusiasmo. Por esse encontro. Pela minha vida.
"Então, hm..." ele começou, "não sei como dizer isso... Vanderbilt... o cliente do
quarto 23 quer a gente de novo."
"Na cama?"
"É", ele baixou os olhos escuros, tímido, e eu me lembrei de porque gosto dele. Ele
não é como os outros atletas do Vault — é doce e gentil. Um cara grande e quieto que se
voluntariou para me proteger. "Pensei que talvez a gente pudesse..." O garçom chegou para
anotar os pedidos.
Pedi o peixe do dia, empanado, com salada. Eles descreviam como se tivessem uma
horta nos fundos e um oceano do outro lado da rua. Chequei duas vezes se o peixe era
mesmo do oceano e não do Lago Superior. A ideia de comer algo que se alimentou de carne
humana — especificamente da carne do Adam Sweeney — me enojou. Ollie pediu bife
grelhado e batata rústica.
"A gente não é tão rico— enfim. Talvez a gente possa enganá-lo para descobrir sua
identidade."
"Tipo esbarrar nele enquanto você está me comendo e arrancar a máscara dele?"
Eu estava brincando, mas o sorrisinho safado dele disse tudo. Até os caras bonzinhos só
pensam em sexo e quando vão transar de novo.
"É, talvez." Ele tomou um gole de cerveja — servida em copo de vidro, não em copo
descartável como nos restaurantes que eu conheço — e limpou a espuma dos lábios com o
dorso da mão.
Isso não ia funcionar. Enganar o observador e arrancar sua máscara poderia causar
vários problemas. Mesmo assim, eu queria ver o rosto de quem alimentava esse círculo
mortal. Se esses membros Platinum elitistas não estivessem segurando carne podre na
frente da fera, ela não existiria. Era simples assim.
"Vanderbilt disse que o cliente quer que a gente 'pratique nosso desempenho'", ele
falou depois de outro gole de cerveja.
Tive que rir, porque soava como uma técnica de coerção bem ruim para levar uma
garota para a cama. Só que eu sabia que ele estava certo. O cliente se recusou a pagar
porque foi tão ruim, e minhas mensalidades não foram quitadas.
O que levantava uma pergunta interessante: "O que você ganha com tudo isso?"
Olhei diretamente nos seus olhos. "Além de sexo, que você pode conseguir em qualquer
lugar." Tentei disfarçar a desconfiança na voz, mas ela vazou mesmo assim.
"Você deve estar recebendo algo da sociedade por me manipular a transar com
você no quarto 23."
"Não."
"Eu tinha a impressão que você estava comigo porque gostava de mim e queria me
proteger, mas vejo que estava errada."
"Sério?"
"Você está escondendo algo de mim. Como posso confiar em você para me proteger
quando você não está nisso pelo mesmo objetivo?"
"Ah não", ele arrastou as palavras. "Temos o mesmo objetivo. Eu não quero nada
além de ver toda aquela sociedade maldita acabar e essas pessoas que puxam os fios sendo
punidas."
Ele hesitou por tempo demais e minha paciência se esgotou. Joguei o guardanapo
na mesa e empurrei a cadeira para trás, pronta para sair.
"Você precisa ser aberto e honesto comigo, Ollie. Tem muita coisa em jogo."
Deixei ele mastigar algumas batatas antes de lançar um olhar impaciente através
da mesa. Ele largou a batata pela metade e suspirou. "Estou sendo chantageado", saiu de
sua boca.
"Várias coisas."
"Tipo?"
Havia lacunas em suas hesitações que indicavam que eu não estava ouvindo a
história completa. Talvez por vergonha. "Uau. Isso é muita informação. Então, eles têm algo
sobre você?"
"Sim."
"Parece que você admitiu que ele está na mesma situação ao não admitir", afirmei.
"Você está preocupado que possam te arrastar para o buraco junto quando a ferida
for exposta?"
"Não. Não é esse tipo de chantagem. Quero dizer, eu não fiz nada que possam usar
contra mim." Ele passou os dedos grandes pelo cabelo. "Você realmente acha que as
autoridades vão derrubar toda aquela porra de organização?"
"É que cada passo que a Mathias dá, aparece um obstáculo no caminho."
"Então..." Balancei a cabeça confusa. "Se você acha que a Mathias não vai chegar a
lugar nenhum, por que está se dando ao trabalho?"
"Para te proteger", ele repetiu, seus olhos se suavizaram e eu sabia que era a
verdade. Só que desta vez, quando ele disse, havia algo em seu tom de voz que me gelou.
"Ollie", falei devagar, "vou te fazer uma pergunta e gostaria muito que você dissesse
a verdade."
“Não estou.”
Seus olhos encontraram os meus, mas estavam cheios de angústia. “Você não tem
nada com que se preocupar se eu continuar cedendo às exigências deles.”
“Não foi isso que eu quis dizer. E não quero mais que você faça isso. Math—”
“—Porra, Mathias,” ele cortou. “Ela não tem nada. A sujeira é tão funda e forrada de
ouro, querida. É um mundo perigoso, do qual nem mesmo um detetive está protegido.”
Ele passou o polegar sobre meus dedos. Minha mão parecia tão pequena na dele.
“Como?”
Ele estreitou os olhos, inclinando a cabeça para mim, parecendo tão sexy. “O que
você está aprontando, Gretta Nelson?”
Ele entrelaçou os dedos nos meus. “Então agora é você quem tem segredos.”
“Apenas me prometa que não vai ceder às exigências deles para me proteger.”
Ele levou minha mão aos lábios e balançou a cabeça devagar. “Não posso, querida,”
soprou na minha pele. “Deixe-me ser o seu Hércules.”
Lá estava aquela covinha. Ele mordeu minha mão, e eu sabia que iríamos para a
casa dele depois disso para ‘praticar’ para os ricos e pervertidos de máscara. Quanto mais
prática, melhor, com aquele corpo dele.
O aperto no meu peito por esconder informações dele, depois que ele se confessou
para mim, me incomodou um pouco. Havia tantas coisas que eu queria contar naquele
momento, e me sentia tão próxima dele que poderia ter revelado tudo facilmente. Mordi o
lábio e me contive.
Cody.
Minha mente estava em Gretta e na incrível noite que tivemos depois do jantar, na
minha cama, naquela noite. Praticando como os bons alunos que éramos. Infelizmente, ela
teve que ir embora quatro horas depois de aterrissarmos para cuidar da mãe. Ela parecia
satisfeita. Eu definitivamente não estava. Poderia ter continuado a noite toda.
“Que porra você tá fazendo, cara?” Cody me empurrou contra a parede. Sou um
pouco mais alto e forte que Cody, mas ele é mais agressivo, sempre puto da vida.
“Você dedurou,” ele rosnou como o urso-preto que invadia nosso galpão de lenha lá
em casa. Ele me pegou pelo colo da camiseta e me jogou contra a parede externa de uma
sala de aula.
Ele tentou baixar a voz, mas o tom era tão rouco que tenho certeza de que um
monte de gente por perto ouviu.
“Você foi o único que eu contei sobre o Fisher colocando câmeras escondidas na
câmara.”
“Sim,” eu franzi a testa. “O que isso tem a ver?” Foi então que me lembrei que era
sexta-feira e a orgia estava marcada para quarta. “O que você descobriu?”
“Alguém sabia das câmeras e as removeu. E a única pessoa que sabia disso, além do
Fisher e do nerd da matemática, era você.”
Ignorando minha sugestão. “Quem foi a merda da pessoa que você contou?” Seu
hálito quente cheirava a café velho, daqueles ruins de diner barato.
“Não contei pra ninguém. Juro. Como você sabe que não foi o Fisher?”
Ele soltou minha camisa e limpou o nariz com as costas da mão. “É melhor você não
estar mentindo pra mim.”
“Cara, eu quero acabar com isso tanto quanto você. Por que caralhos eu deduraria
para uns merdas que estão ativamente fudendo com nossas vidas? Como você sabe que não
foi o Fisher? Talvez ele contou pra namorada—”
“Mesmo se ele contou, ela é a última pessoa no mundo que sabotaria essa porra.
Então, concluí que tinha que vir de você, já que você tá determinado a fazer tudo dentro da
lei.”
“Eu nunca disse isso. Eu disse que pegar provas com câmeras escondidas é ilegal e
provavelmente seria anulado no tribunal. Só tô repetindo o que o Mathias me disse, e não
contei pra ela sobre isso. Além do mais, até onde eu sei, orgias são legais se todos
consentiram, então seu argumento é uma merda.”
Ele estalou a mandíbula. “Agora eles sabem que estamos de olho. Lá se foi a porra
do plano pela janela. E eu nunca disse que queria a lei envolvida. Eu queria que o vídeo
vazasse, seu merda.”
Esperei alguns segundos por uma resposta enquanto observava uns caras jogando
basquete. Estava um calor do caralho, e as camisetas deles estavam encharcadas de suor—e
amanhã promete estar ainda mais quente. Vou arremessar umas bolas e depois nadar um
pouco na piscina externa pra me refrescar. Não tinha mais aulas hoje, mas tinha um
trabalho pra entregar amanhã que ainda nem comecei. Por ser um pouco disléxico, Darryn
geralmente me ajuda quando eu me enrosco, mas não tenho visto ele por aí ultimamente.
Nem mesmo no Vault.
Darryn: Em casa.
Sentei na beirada da cama com o telefone na mão, olhando para a vista do Vale
Kingston, o lugar onde vivi a vida toda. Na verdade, nunca nem pus os pés fora dessa cidade,
pelo que me lembro. Não há chance de sair, com a minha mãe dependendo tanto da minha
renda e ajuda. Dificilmente era o futuro que eu imaginava para a minha vida.
Uma batida suave na porta me tirou dos meus pensamentos, e minhas têmporas
começaram a pulsar nervosamente.
"Serviço de quarto," chamou uma voz masculina. Abri a porta um pouco para ver se
era verdade. Um homem alto e magro, com barba aparada e um pomo-de-adão
proeminente, estava parado ali, vestido com o uniforme impecável do hotel, ao lado de um
carrinho com duas bandejas de prata.
"Hum, eu não pedi nada."
Dei espaço para ele empurrar o carrinho para dentro, sentindo o cheiro de frango
assado salgado na parte de trás da língua. Antes que eu pudesse dar uma gorjeta, ele já
tinha ido embora.
Mesmo nervosa demais para comer, levantei a tampa de aço inoxidável da primeira
bandeja e descobri que meu olfato estava certo. Peito de frango assado com molho e
legumes. Tampei a bandeja novamente e levantei a segunda, por curiosidade, assumindo
que seria uma sobremesa ou a refeição dele.
Um único fio de cabelo loiro-escuro repousava sobre o prato. Passei o dedo perto
dele, quase tocando, mas recuei antes de fazer contato. Mantendo a calma, coloquei a tampa
de volta no lugar. Se ele estava tentando me provocar, não ia funcionar.
Voltei a sentar na beirada da cama e esperei que ele decidisse aparecer. Mas eu
sabia que ele já estava aqui. Podia senti-lo. Quase podia cheirá-lo. Suor e alcaçuz de
framboesa — era assim que ele costumava cheirar. Ele comia tanto daqueles negócios que
provavelmente cagava vermelho. Naquela época. Agora, tenho certeza de que seu cheiro é
mais sofisticado… e mortal.
Eles: E aí?
Eu: Tá bom.
Vinte segundos depois, ouvi o clique da porta. Em vez de virar a cabeça, usei o
reflexo na janela para me guiar. A maçaneta girou devagar, mas a porta continuou fechada.
Um barulho oco no corredor me fez pular em direção ao telefone.
"Oh, desculpe," ela se assustou, puxando o carrinho de limpeza atrás de si. "Achei
que este quarto estivesse vazio."
Era uma camareira. A desgraçada era uma camareira. O filho da puta estava
tentando me provocar.
"Acho que houve um mal-entendido," falei baixinho, passando por ela e saindo para
o corredor.
Entrei no elevador no final do corredor assim que o sino anunciou seu fechamento.
Um homem alto ocupava o canto, e eu engoli seco, virando as costas para ele.
“Gostou da sua refeição?” ele perguntou, e eu examinei seu rosto. Era o mesmo cara
que trouxe o serviço de quarto, mas agora sem o colete, apenas com calça preta e camisa
branca.
“Ele não apareceu,” disse para o concierge, que apenas deu de ombros, desviando a
atenção para o casal.
Eu: Tô fora.
Mandei a mensagem enquanto corria para o meu carro, estacionado do outro lado
da rua. Dentro dele, esperei uma resposta em segundos, mas só encontrei silêncio. A
mensagem anterior também não tinha sido respondida. Saí do carro novamente e procurei
pelo sedã prateado dela. Ela disse que estaria em frente ao hotel, mas não consegui avistar
o carro. O crepúsculo cobria o céu, um manto de tinta escura devorando o azul. Não estava
tão escuro a ponto de não enxergar a alguns metros, mas minha pele formigou com a queda
da temperatura.
Entrei no carro de novo e rodei por alguns minutos, procurando por ela. Quando
não encontrei o sedã prateado, decidi ir para casa.
Meu coração bateu forte contra as costelas quando abri a mensagem, esperando o
pior, mas torcendo pelo melhor.
Me sentindo completamente insatisfeita, mas aliviada por ele não ter aparecido,
abri a porta do nosso apartamento ansiosa para cair no sofá ao lado da minha mãe e me
afogar em algum programa de TV sem sentido.
Congelei quando ouvi a voz de um homem, seguida pelo riso da minha mãe. O
cuidador já tinha vindo mais cedo, então não podia ser ele.
Com cautela, empurrei a porta e vi seu vulto largo sentado na poltrona ao lado da
cama dela.
VINTE E UM
Gretta
"Você chegou cedo," minha mãe cantarolou.
Meus olhos pousaram no homem ao lado dela, cujo olhar normalmente suave e
castanho agora estava afiado e cheio de mágoa.
Ele manteve o olhar escuro fixo em mim. "Você disse que tinha coisas para fazer
com sua mãe, então pensei em vir ajudar."
"Parece que houve um mal-entendido," minha mãe tentou suavizar a situação. Não
importava como vissem, eu tinha traído os dois. Disse à minha mãe que estava com Ollie e
disse a Ollie que estava com minha mãe. E onde eu realmente estava? Encontrando um
maldito psicopata num quarto de hotel — que nem apareceu. Fui plantada por um
assassino, me sentindo a maior fracassada do mundo.
Senti seus olhos julgadores me seguirem enquanto entrava no meu quarto, anexo à
sala, para pegar meu pijama e uma toalha limpa. Ollie apareceu na porta, sua sombra se
estendendo pelo meu quarto.
Gaguejei, sem saber o que dizer. Eu tinha jurado segredo, com medo de que uma
única palavra pudesse arruinar tudo.
"Não," respondi com sinceridade. "Você acha que tenho tempo para dois homens?"
Ele entrou mais fundo no quarto, ocupando todo o espaço com seu tamanho. A
expressão no rosto dele me era estranha, antinatural para ele. Seu peito subia e descia em
respirações de raiva, e tudo que eu podia fazer era me desculpar.
"Você me fez de idiota agora há pouco," ele murmurou, sua voz grave carregada de
um desprezo que me deixou atordoada. Este não era o Ollie que eu conhecia — mas eu
tinha traído aquele homem gentil e grandalhão, e agora estava recebendo meu castigo
merecido.
"Me desculpe."
Eu devia uma explicação aos dois, mas não iam receber uma. "Não posso. Acho que
você devia ir."
Seus olhos se endureceram. Qualquer idiota saberia o que passava pela cabeça
dele. Ele se virou, e meu corpo relaxou. Ele ia embora. Ótimo.
Eu estava errada.
Em vez de sair, ele fechou a porta do meu quarto. Mandíbula tensionada, postura
ameaçadora. Eu não reconhecia aquele homem.
"Você é adulta."
"Eu disse que queria te proteger. Não posso fazer isso se você mente para mim." Ele
estava bem em cima de mim agora, e eu procurava aquele garoto tímido da cidade pequena,
mas só encontrava um babaca que agia como dono do meu corpo. Não era assim que as
coisas deveriam ser.
Minha mãe chamou da sala, e sua mandíbula estremeceu, perdendo a coragem. "Só
me diz onde você estava."
"Temos."
"É algo que não posso te contar, mas pode ter certeza que não estou com outro
cara."
Ele apontou o dedo grande para mim. "Foi um trabalho organizado pelo
Vanderbilt?"
"Veja, é aqui que acho que você está mentindo, Gretta. Porque você teria me
chamado como backup. Você não é burra o suficiente para ir sozinha."
"Ollie, não estou feliz com você invadindo meu espaço agora. Por favor, vá embora."
"Não."
"Não, não pode ser o Darryn, porque ele tá em Grand Rapids... Porra, a menos que
ele também tenha mentido pra mim. Vocês tão todos conspirando contra mim?"
Uma mão voou na minha direção, agarrando minha garganta. "Eu odeio
mentirosos, porra."
"Eu não sei o que tá acontecendo comigo," ele disse, esfregando a nuca, perturbado
por suas próprias ações. "Por favor, deixa eu me redimir. Gretta, por favor."
"Você tem que acreditar em mim, eu não quis fazer isso." Ele colocou as mãos na
cabeça, parecendo um gigante ao meu lado. "Gretta, por favor, me desculpa. Essa situação
toda tá me estressando e..." Ele baixou as mãos e as juntou em posição de prece. "Eu tô com
medo pela sua segurança. Acredita em mim, esses caras são perigosos. Você tem que tomar
muito cuidado."
"Eu tomo cuidado, Ollie." Olhei para a porta fechada atrás dele. "Preciso ver o que
minha mãe quer."
Ele hesitou antes de me deixar passar. "Gretta, eu realmente me arrependo, me
desculpa."
"Gertie, deixei o controle cair de novo," minha mãe disse. Encontrei debaixo da
cama, onde ele sempre parece ir parar. "Você tá bem?" ela sussurrou quando me aproximei.
Acenei com a cabeça, olhando para o corredor quando o ouvi dizer: "Tá falando
sério?"
"Por que você mentiu?" ela perguntou quando entreguei o controle. "Mentir não é
do seu feitio, especialmente pra mim."
Ollie apareceu na sala. "Era o Mathias. Ela levou um tiro e acha que foi um ataque
proposital."
"Quem é Mathias?" minha mãe perguntou, e a cor sumiu do rosto de Ollie. Ele sabia
que eu tinha mantido nossa investigação secreta longe dela.
"Mathias é mulher," corrigi, não que isso importasse. "É o sobrenome dela, o
apelido."
Ela franziu a testa, desviando o olhar para esconder a decepção. Ela não acreditou
em mim, e essa conversa não terminaria ali. Ela traria de novo no futuro, quando
estivéssemos sozinhas, e exigiria respostas.
Apontei para a porta, e saímos para o corredor, onde vozes abafadas de uma
discussão e um bebê chorando vinham do apartamento em frente.
Seus olhos se suavizaram. "A gente tá bem? Digo, você me perdoa pelo que fiz lá
dentro?"
"Sim," respondi, forçando um sorriso. Só queria que ele fosse embora, e faria o que
fosse preciso pra isso acontecer.
Ele se aproximou e me beijou nos lábios, e um calafrio desceu pelas minhas costas.
"Te vejo amanhã, tá?" ele sussurrou contra minha testa, pressionando os lábios na minha
pele.
"Tá," respondi. "Acho que agora tenho que lidar com a fúria da minha mãe."
Ele mordeu o lábio, fazendo uma covinha na bochecha. Mais um lembrete de por
que eu gostava dele. Talvez eu estivesse sendo dramática demais. Afinal, fui eu quem
mentiu. "Desculpa ter soltado sobre a Mathias," ele repetiu. "Não pensei."
"Tudo bem," disse, recuando em direção ao apartamento pra deixar claro que era
hora de ele ir.
Ele coçou a sobrancelha com um dedo, os pés presos no chão. "Posso te ver
amanhã?"
"Okay."
No fim das contas, sempre acabava na mesma coisa: sexo. Sim, eu gostava de
transar com ele, e estava ficando melhor cada vez que a gente se pegava, mas as coisas
tinham mudado. Eu vi um lado dele que não conhecia e não sabia como lidar. "Claro,"
respondi, tentando parecer animada.
"Lembra que a gente tem que treinar para o quarto 23," ele riu, fazendo uma piada,
enquanto se afastava.
"É," murmurei. O maldito quarto 23, o tormento da minha existência.
"Mathias é uma detetive," minha mãe reiterou, olhando para o celular. "A detetive
encarregada de investigar os estupros e assassinatos que estão acontecendo no campus da
KUV."
Eu estava prestes a inventar outra mentira, mas isso só ia me afundar mais, então
fiquei quieta.
"E por que você mentiu pro Ollie e pra sua própria mãe sobre onde estava hoje à
noite?"
"Eu sou adulta. Não tenho que dar satisfação das minhas ações."
"Bom, ele gosta muito de você, e você ainda não respondeu minha pergunta."
"Não, e nem dá pra chamar de traição, porque a gente nem tá num relacionamento
sério. A gente só sai às vezes."
Ela apoiou os dedos no queixo, naquela pose de 'reflexão' quando está pensando
profundamente ou tentando ler minha mente. "Por favor, tome cuidado," ela finalmente
disse. "O que quer que esteja acontecendo com você agora, por favor, tome cuidado. Eu
perdi seu pai e não quero perder você também."
Ela me lançou um olhar carregado, e eu sabia que tinha pisado na bola. "Uma
detetive acabou de ligar pro seu namorado pra dizer que levou um tiro e acredita que foi
um ataque direcionado. Seu pai morreu de um único tiro no coração. Não se atreva a
minimizar o que eu sinto."
"Me desculpa," falei, e dessa vez era sincera, subindo na cama para abraçá-la.
"Não afaste o Ollie," ela chorou no meu ombro. "Ele é um bom rapaz, se importa
muito com você."
"Tá bom."
"Eu só quero que você seja feliz, Gertie. Esse é o meu único desejo pra você."
A verdade era que eu não seria feliz até que o Dom estivesse atrás das grades ou
enterrado a sete palmos no chão. E onde diabos estava o tal do Dom, afinal? Dom, o babaca.
Dom, o esforçadinho. O último truque de intimidação: deixar um fio do meu cabelo de
quando eu tinha doze anos embaixo da tampa do prato pra me assustar. Não funcionou.
Mas confesso que fiquei surpresa que ele tinha guardado aquilo por tanto tempo.
VINTE E DOIS
Ollie
Ouvi barulhos no quarto ao lado e me levantei da escrivaninha para ver que
Darryn tinha voltado de Grand Rapids.
"Sério?"
Ele acenou com a cabeça, jogando a mochila na cama e coçando o cabelo ruivo.
Parecia que ele tinha pegado um sol — o nariz estava rosa algodão-doce e a pele
descascando. Mas, pra ser sincero, a pele dele já é vermelha mesmo sem sol.
"Então, ah... o Cody disse que alguém vazou sobre as câmeras escondidas na
câmara. Menti pra ele e disse que não contei pra ninguém, nem pra você. Aí tô pensando...
você falou alguma coisa pro Vanderbilt?"
"Eu disse que não. Não fui eu. Porra, provavelmente viram as câmeras e tiraram.
Quão bem escondidas elas estavam, pra começo de conversa?" ele cortou. Era raro ver
Darryn de mau humor assim, mas família tem esse poder de trazer o melhor e o pior da
gente.
"Você tá bem, cara?"
"Foram dias longos," ele respondeu, "e a última coisa que eu preciso agora é ouvir
sobre drama de campus."
Ele me lançou um olhar negro. Má ideia. O cara tava carregando uma nuvem
pesada. Melhor deixá-lo esfriar a cabeça e voltar pro meu trabalho.
Vanderbilt: O cliente quer você e a ruiva hoje. Quarto 23. Vou mandar o mesmo
pra ela.
Vanderbilt: 22h.
Mais sexo com a Gretta seria bom, mas com alguém assistindo — e esperando algo
melhor da última vez?
Tem algo errado com a Gretta. Ela mentiu pra mim e pra mãe sobre onde estava
ontem, e eu não gostei. Se ela recusou o trabalho pra me evitar, seria surpresa — mas, no
momento, eu sou a melhor chance dela de resolver esse mistério. Pelo menos era no que eu
acreditava.
Onde ela estava ontem pode provar que eu tô errado. A mãe dela disse que ela só
saiu por uma hora. Então, onde ela foi? E por que não pode me contar?
Voltei pro quarto do Darryn e o encontrei sentado na beirada da cama, encarando o
chão e flexionando a mão direita.
"Eu te falei que tô com problemas familiares." Ele mantinha o olhar baixo, e uma
sensação de frio na nuca me fez estremecer. Algo não estava certo. Meus aliados, Darryn e
Gretta, estavam agindo de forma estranha e se recusando a se abrir para me dizer por quê.
"Certo. Então, Gretta e eu temos um trabalho hoje à noite no quarto vinte e três" —
dessa vez, consegui prender a atenção dele — "e eu queria saber se você topa ficar de
guarda."
Ele não pareceu particularmente animado, e eu mal podia culpá-lo. "É, acho que
sim. Suponho que seja pra isso que me inscrevi. Então... a Mathias tá bem?"
"Sim."
"Ela me ligou."
Ele pegou o celular. "Não recebi mensagem dela." Seus movimentos eram
calculados e estranhos. Não conseguia entender direito.
"A Gretta também não, mas ela pediu pra eu avisar vocês, então é isso que tô
fazendo."
Ele deu uma risada seca. "Algumas coisas a gente simplesmente não pode falar,
cara." Ele hesitou e se corrigiu. "Digo... coisas de família devem ficar na família."
"Entendi."
Queria pedir pra ele me ajudar com o trabalho, como sempre fazia — porque tenho
um pouco de dislexia —, mas ele parecia sobrecarregado com outros problemas. Tudo bem,
meu tutor já sabe do meu transtorno de aprendizagem e faz concessões.
Meu celular vibrou, me distraindo do trabalho.
Gretta: Sim.
Eu: Ok. A gente vê como rola. Passamos lá pra te pegar mais tarde.
Gretta: A gente?
"Eu tenho dois irmãos," ele me informou. "Sou o do meio. Aquele é meu irmão mais
novo, Shitpan." Apontou para o garoto em seu próprio mundinho, pulando pequenas
elevações com a bicicleta. "É o nome verdadeiro dele, sabia? Normalmente mora com minha
tia, mas está aqui nas férias."
"Você tá mentindo."
"Ele sempre caga nas calças," ele disse, virando-se para o menino e gritando: "Não
é, Shitpan?" O garoto olhou para cima, e um lampejo de medo cruzou seus traços. Foi
quando soube que ele estava tão cauteloso quanto eu. "Tenho que tomar conta dele quando
meus pais estão trabalhando."
Shitpan era mais encorpado, com uma cabeça grande, como se fosse crescer muito,
enquanto o garoto bonito tinha traços mais refinados, rosto alongado, maçãs do rosto altas
e queixo pronunciado. Com apenas quatorze anos, ele já era bonito de um jeito que
chamava atenção. E ele sabia disso.
Seus olhos eram a única característica que eu considerava feia, só porque tinham o
hábito de me seguir por todo lugar. Até nos meus pesadelos. Eram de um verde
amarronzado turvo, mais verdes que marrons em dias ensolarados, com uma mancha preta
na íris esquerda. Eram o portal para um vazio escuro onde uma alma deveria existir. Ele não
era um monstro, porque até monstros precisam de necessidades básicas.
O quarto estava vazio, e eu sei muito bem que deve haver uma entrada alternativa,
possivelmente pelo banheiro. Da última vez que estive aqui com Ollie, o homem mascarado
simplesmente apareceu do nada. O que significava que o hotel fazia isso de propósito.
"Você acha que este lugar é um hotel de voyeurismo?" Ouvi dizer que esses lugares
existiam, mas imaginava decoração de boudoir, não quartos sem nenhuma personalidade.
Ele se sentou ao meu lado na cama, colocando a mão na minha coxa. "Talvez."
"O Darryn está bem?" perguntei, notando como ele estava quieto e distante no
caminho até aqui.
"Ele tem problemas familiares," respondeu, movendo a mão mais para perto do
meu centro. "Quer começar?"
Obviamente, ele não tinha interesse em falar sobre Darryn. Tudo o que Ollie queria
era ir direto ao ponto.
Fiz o que ele pediu, gostando um pouco da ideia de estarmos sendo observados por
um estranho. Pelo menos desta vez eu estava ciente, embora estivesse lutando para relaxar
completamente.
Ele prendeu meu mamilo esquerdo na boca, e eu arqueei as costas, alcançando seu
zíper enquanto soltava um gemido falso. Ainda não estava no nível de gemer de verdade,
mas estávamos no caminho certo. Meu sutiã voou para longe, junto com a camisa dele, e eu
passei as mãos por seu peitoral musculoso enquanto ele descia pelo meu corpo. Meus
dedos se enroscaram em seus cabelos escuros, bagunçando-os.
Arranquei meus jeans justos e seus dedos grandes acariciaram meus lábios
aveludados. Dessa vez meu gemido foi genuíno — meu slip ficando encharcado enquanto
ele o empurrava de lado e deslizava dois dedos dentro de mim.
"Você está tão gostosa, Gretta", ele sussurrou, abaixando a cabeça entre minhas
pernas e estimulando meu clitóris com a língua.
"Sim. Por favor", puxei o slip, mas ele resistiu, continuando a chupar através do
tecido. Estava tão encharcado de sua saliva e meus fluidos que agradeci por ter trazido uma
peça extra para a volta. Sempre prática, essa sou eu.
O orgasmo se aproximava quando Ollie arrancou meu slip e colocou minhas pernas
sobre seus ombros. Abrindo meus lábios, mergulhou a língua dentro de mim, batendo como
um tambor.
Quando abri os olhos, uma máscara branca me encarava. Ele estava perto,
demasiado perto. Suprimi um grito — a cena era macabra demais.
Enrijeci com seu toque. Não por ser um estranho, mas porque era idêntico ao toque
provocador de Dom.
Ollie parecia indiferente ao mascarado me observando. Ouvi um zíper — seu pau
ereto estava livre. Senti um novo desejo quando as mãos do mascarado desceram para
meus seios.
Ollie colocou uma camisinha, ergueu minha perna e penetrou apenas um pouco,
me provocando.
Havia uma comunicação não verbal entre eles, como se tudo fosse planejado. Ollie
não se importava com a participação do mascarado — e isso era estranho.
"Relaxe", ele repetiu. Meu corpo afundou na cama enquanto o segundo orgasmo se
aproximava.
"Fica assim, linda", ordenou. Entrou por trás, me possuindo com força.
Calças pretas bloquearam minha visão no espelho. Uma mão firme pegou meus
cabelos — meu corpo estremeceu de desejo com aquele toque.
Com sua virilha diante de mim, ele abriu o zíper lentamente. Enquanto meu corpo
respondia aos embates de Ollie, a ponta do pau do mascarado pressionou meus lábios —
até que eu os desejei.
Eu não queria nada mais do que chupá-lo e matá-lo de uma só vez. Um banho de
sangue com decapitação de pau cairia muito bem depois que Ollie terminasse seu serviço.
Nenhuma palavra foi dita, apenas gestos, e eu obedeci como a boa garota que sou.
Com seu pau ainda me cutucando, ele empurrou os dedos mais fundo na minha
boca, e eu os devorei como uma esfomeada. Momentos depois, seus dedos molhados
apertaram meu rosto, cavando minhas bochechas, e eu guinchei de dor, tentando me soltar.
Ele se inclinou e manteve aquele olhar lamacento fixo em mim, penetrando-me através dos
buracos da máscara.
Para minha surpresa, Dom soltou meu rosto. Esperei que ele enfiasse o pau na
minha boca, mas em vez disso, seus dedos voltaram, entrando e saindo como um cacete. Eu
estava sendo espetada pelas duas pontas e, para meu espanto, estava absurdamente
excitada.
Três dedos viraram quatro, e minha boca esticou até o limite. Comecei a engasgar,
minha mandíbula doía com a pressão batendo no fundo da garganta. Lágrimas escorreram
pelo meu rosto. Era óbvio que eu estava lutando para respirar.
Eu podia sentir Ollie observando de trás, mas ele não fez nada para me ajudar. Por
que ele não me ajudava?
Darryn estava logo do lado de fora da porta, e meu celular estava na bolsa no chão.
A ajuda estava tão perto, mas tão longe.
Percebendo que dependia apenas de mim sair daquela situação, bati na coxa dele
várias vezes até que ele desistiu e puxou os dedos para fora.
"Você está bem?" Ollie perguntou, cobrindo-me com um lençol e puxando meu
corpo para perto, como se quisesse me confortar.
"Do meu ângulo, parecia que você estava se divertindo," ele respondeu rápido.
"Quer dizer, eu odiei dividir você," apertou-me forte, "mas acho que posso fazer concessões
às vezes."
Mas a bagunça molhada entre minhas pernas ainda doía por Dom. Eu precisava
vê-lo de novo. Sozinha. E sem Ollie.
VINTE E QUATRO
Ollie
"Como está seu ombro?" perguntei a Mathias quando ela entrou na sala de
interrogatórios. Ela tinha ligado mais cedo pedindo para eu ir até a delegacia.
"Você me disse para não contar." Um pedido incomum que fez meus nervos ficarem
em alerta.
"Bom," ela disse, sentando-se na minha frente. "E sim, meu ombro está bem. Estaria
melhor sem um maldito buraco de bala." Seu braço esquerdo estava em uma tipoia, e ela fez
uma careta de dor ao se sentar. "É mais irritante do que qualquer outra coisa."
Ela olhou para o teto e fez uma cara de desgosto. "Seria melhor se vocês três não
estivessem me enrolando."
"Como assim?"
"Nós combinamos que vocês entrariam em contato comigo todos os dias para me
atualizar sobre o que estão fazendo. Nas últimas semanas, Gretta me contatou duas vezes
dizendo que não tinha novidades, e você e Darryn não me contataram nenhuma vez. Então,
quer me dizer o que está acontecendo? Estão tentando me deixar no escuro ou o quê?"
"Fazendo o quê?"
Claramente, ela não estava no clima para ouvir minha enrolação. "Vocês três
aceitaram algum trabalho designado pela Cobra & Cálice?"
Me mexi na cadeira, desconfortável. Não era inteligente mentir para uma policial,
especialmente uma que está do nosso lado, mas eu não queria meter ninguém em encrenca.
"Ah, sim."
A caneta dela bateu na mesa irritadamente, e minha temperatura começou a subir.
"Nada para relatar," acrescentei, como se isso fosse melhorar as coisas. Não tinha
certeza de quanto deveria contar, já que Gretta estava determinada a manter tudo em
segredo.
"E?"
Ela jogou a caneta na mesa com raiva. "Você disse que não tinha nada para relatar."
Ela se inclinou para frente, e senti um cheiro de seu perfume floral que fez minha
virilha se contrair. Ela era uma mulher bonita, cabelos escuros presos em um rabo de cavalo
apertado, olhos verdes bonitos. Sem aliança. No máximo, ela devia estar na casa dos trinta e
poucos, uns dez a quinze anos mais velha que eu.
"Até agora não foi tão ruim. Só um pouco pervertido," um sorriso escapou quando
pensei em Gretta de quatro. Eu não estava com pressa para acabar com o trabalho
disfarçado se era isso que íamos fazer toda vez que recebêssemos um convite para o quarto
23.
"Vejo que não estou conseguindo me fazer entender," ela declarou, pegando a
caneta e batendo na mesa novamente.
Ansioso para mudar de assunto, já que não ia mudar porra nenhuma. "Você
prendeu o cara que atirou em você?"
Sua mandíbula estremeceu, e seus olhos se desviaram para o lado, como se ela
precisasse de um momento para controlar a raiva.
"Ok."
Ela respirou fundo e suspirou. "Havia uma testemunha que anotou a placa do carro
do atirador."
"É?"
"Qual deles?"
"Darryn."
"O quê?" minha voz subiu alguns tons de horror. "De jeito nenhum. Não pode ter
sido ele porque ele estava em Grand Rapids visitando a família."
"E se ele tivesse dito que ia pra casa só pra ter um álibi?"
"Isso não é o estilo dele. Darryn não é um assassino. Por que ele atiraria em você?
Qual seria o motivo?"
"Você me diz. Você é amigo dele. O que ele tem contra mim?"
Fiquei parado, analisando o comportamento dele na minha cabeça. Ele tinha agido
tão estranho ultimamente. Normalmente um cara ponderado e moderado, mas desde que
voltou de Grand Rapids, estava distante e de mau humor.
"A menos que a Cobra & Cálice tenha ordenado o ataque, o que significa que veio de
um membro Platinum."
"Ele te disse que ia pra Grand Rapids pra cobrir as costas dele. Parece armação."
Balancei a cabeça. "O Vanderbilt tem todas essas informações no laptop dele."
"Por quê?"
"Você pode estragar tudo. Ainda não sabemos quem é o líder ou líderes."
"É, mas aposto que o Vanderbilt sabe." Ela suspirou. "Minha paciência está
acabando, Ollie."
"Estou preocupada que alguém vá se machucar. Na próxima vez que alguém atirar,
pode não errar o alvo."
"Hum... um aviso pra ficar longe. Digo, se foi um trabalho encomendado, talvez seja
algum dos seus colegas que não quer que você investigue a Cobra & Cálice. Você mesma
disse que provas foram contaminadas e algumas sumiram completamente." Encolhi os
ombros. "Pra mim, parece que os culpados estão bem debaixo do seu nariz."
"Você pode estar certo," ela disse, rangendo os dentes. "Os culpados provavelmente
estão debaixo do meu nariz. Mas, mesmo assim, quero que você observe o Darryn como um
falcão e me reporte todo santo dia." Ela apertou os olhos pra mim. "Todo. Santo. Dia.
Entendeu?"
"Entendi." Algo não estava certo. "Por que você não prende ele logo? Você disse que
uma testemunha anotou a placa do carro dele, então...?"
"Algo assim."
"Não posso dizer que vou dormir tranquilo com essa informação," falei,
honestamente. "Ele pode me mirar em seguida."
"Tranque sua porta e fique esperto," repeti baixo, descendo os degraus de pedra da
delegacia. "É o melhor que ela pode fazer? Tentativa de homicídio de uma policial e ela não
pode prender ele? Que merda. Normalmente, quando um policial é baleado, o
departamento cai em cima do culpado como formiga em mel. Enquanto isso, eu durmo a um
quarto de distância do cara, e ela tá pouco se fodendo."
VINTE E CINCO
Dominus
Ela se sentou ao meu lado no sofá com uma pilha de pastas nas mãos para
analisar, enquanto eu massageava seus ombros. Nos tornamos um casal velho e tedioso,
excessivamente familiarizado com os hábitos um do outro. Cada curva e vinco é um
caminho já muito desgastado, e no entanto só estamos juntos há três anos. Três malditos
anos.
Meus dedos traçam a linha de seus ombros, subindo até seu pescoço elegante. Seus
cabelos loiros estão presos naquele estilo profissional que aprendi a odiar.
Com a ruivinha Cattus em mente, envolvo minhas mãos em volta de seu pescoço e
aperto. Imediatamente, ela se afasta, girando para me encarar. Seus olhos, normalmente de
um azul celeste, naquele momento estavam escurecidos pelo medo.
"O que você está fazendo?" ela rosnou, esfregando o pescoço onde minhas mãos
estiveram.
"Acho que precisamos apimentar nossa vida sexual," eu disse. "Missionário está
ficando velho pra caralho."
"Ah, quer um ménage? Tudo bem, eu topo. Mas só se for com dois homens e você
não for um deles."
O comentário dela doeu. Se ela fosse uma garota diferente, com pais diferentes, eu
não teria soltado meu aperto em seu pescoço. E ela seria apenas mais um corpo sem vida
que eu precisaria descartar. "Você sabe que eu gosto de dominar no quarto e fora dele
também."
Ela suspirou. "Estou bem ciente de que seus gostos são mais..." Ela moveu a mão no
ar, procurando a palavra certa. "Exóticos que os meus, e sinto muito por não te satisfazer
sexualmente."
Ela é, sem dúvida, uma grande beleza, mas chata pra caralho em todos os outros
aspectos possíveis. Por mais que eu queira acabar com essa relação, não posso e não vou. O
casamento é o objetivo. Os pais dela querem, e os meus também. Eu poderia fazer um
casamento entre nós funcionar, desde que mantivesse minhas atividades extracurriculares.
A mensagem era da minha mãe, nos convidando para jantar no sábado à noite.
Respondi "sim" porque nunca digo "não" aos meus pais, mas, sob o olhar de Vic, fingi que
era uma mensagem secreta que eu não queria que ela visse. Idiota. Como se eu usasse o
mesmo telefone com que falo com meus pais para contatar minhas putas.
"Hã?"
"Que você ainda se sinta atraído por mim," ela disse, levantando-se e se
aproximando para dar um beijo na minha testa. "Sinto muito por ser tão recatada."
"Quer companhia?"
"Não, obrigada," respondeu naquele tom cortante e repreensivo que eu odeio.
Parecia uma mãe advertindo uma criança que se aproxima demais do fogo.
Piso de madeira escura, móveis de madeira escura, cortinas escuras para combinar
com meu funcionamento interno sombrio. As paredes são brancas — isso já é claridade
suficiente.
Ao contrário do mito popular criado por seriados de TV, este assassino em série
não é meticuloso com limpeza a ponto de ter TOC.
História errada.
Espiei pelo olho mágico e vi que quem estava lá já tinha ido embora. Abri a porta na
corrente e notei um pacote do tamanho de uma caixa de sapatos da FedEx deixado no chão.
Não estava esperando nada, mas fiquei curioso mesmo assim. Estava endereçado a mim,
então tinha que ser meu.
A caixa parecia vazia quando a peguei, mas algo chocalhou dentro. Coloquei-a no
balcão da cozinha e parei para verificar se Victoria ainda estava seguramente em outro
cômodo antes de rasgar a embalagem. Ouvi o som da água do chuveiro correndo, seguido
daquele suspiro característico que ela solta quando a água acaricia sua pele nua. Esse som
já me deixou de pau duro.
Sorri pela primeira vez em dias quando vi o que havia dentro: um pacote com três
barras de alcaçuz de framboesa, a marca que só ela sabia que eu gostava. Havia um grande
laço vermelho preso, com um bilhete manuscrito: "Adoraria te ver de novo em breve xx"
Não havia necessidade de ela assinar. Assim como não havia necessidade de eu
assinar meu nome na bala que matou o pai dela — ou no fio de cabelo que roubei de sua
cabeça quando criança.
A água ainda corria. Uma garrafa de shampoo caiu no chão do box, seguida por um
grunhido de Vic ao se abaixar para pegá-la. Bom, ela ainda está ocupada.
Voltando para meu esconderijo, digitei o código do cofre, que se abriu com um
click. Três itens moram neste cofre:
1. Meu telefone das amantes (também usado para negócios sujos de outros tipos).
2. Um pendrive com o registro dos membros Platinum que já usaram o serviço Cobra &
Cálice After Dark. A lista remonta a décadas e foi transferida de um livro físico para o
pendrive anos atrás, herdado por mim quando me tornei Rei do Castelo Sórdido.
Vanderbilt tem as agendas e pagamentos salvos no laptop dele, mas apenas
pseudônimos são usados, e os pagamentos estão em código — não em valores
explícitos. Se alguém invadisse o computador dele e descobrisse a agenda, precisaria
da minha cópia para decifrar. A minha tem os nomes reais correspondentes aos
pseudônimos.
3. Uma mecha de cabelo de cada uma das minhas obras-primas, guardadas em
pequenas caixas de anel, codificadas com o nome que lhes dei, a data, hora e local de
suas mortes. Esse passatempo não tem relação com o serviço After Dark, mas posso
aproveitar alguma amante ocasional para coçar uma coceira.
A água do chuveiro foi desligada, e calculei que tinha mais dez minutos antes que
ela saísse.
Há um ritual que ela sempre segue: primeiro se seca com a toalha, depois esfrega
óleo de gerânio na pele úmida e, por fim, escova os dentes e usa fio dental. Só então sai,
cheirando fresca e suculenta — e eu não desejaria nada além de encharcá-la com meu gozo.
Há uma mensagem no meu telefone recebida duas horas atrás, informando que
certo trabalho foi concluído. Eu respondi: Bom.
Contratei os serviços da Cobra & Cálice After Dark para essa tarefa, e algum
brutamonte com acusações pendentes se ofereceu. Tomara que ele tenha feito exatamente o
que pedi e não exagerado.
Encontrei o número da Cattus em meus contatos e enviei uma mensagem
combinando nosso encontro. Parei por um momento para decidir onde. Tinha várias opções
– meu apartamento, Quarto 23, outro hotel, a câmara da C&C, florestas, pastos, tanto faz.
Cattus era especial de uma forma completamente comum. Ela é a garota mais
ordinária com quem já me envolvi, e parte de mim ansiava por um pedaço do ordinário, por
ser invisível, um figurante, um plebeu. Uma pessoa envolta em bege poderia se safar de
tanto.
O som da escova de dentes elétrica da Vic zumbia, então sabia que tinha apenas
mais alguns minutos. Eu deveria dormir no apartamento dela amanhã à noite, mas acho que
vou acabar com uma "gripe intestinal".
Silêncio.
A escova de dentes foi desligada. Joguei o telefone das putas no cofre, tranquei,
deslizei a parede falsa no lugar—
"Querido, o que você está fazendo aí?" Ela estava de repente atrás de mim, e eu me
assustei. Nem ouvi a porta do banheiro abrir e fechar.
Saí do armário para encontrá-la, inalando o aroma floral que ela exalava. Meu pau
pulsou. "Só procurando um livro que meu pai me emprestou. Ele quer de volta."
"Qual o nome?"
"O Bebê de Rosemary", respondi, puxando-a para meus braços e enterrando meu
rosto no seu pescoço. De novo, ela ficou tensa ao meu toque.
Levantei seu roupão de cetim. Ela estava usando uma calcinha branca limpa. Ah,
como eu amava calcinhas brancas simples. "Sim, bem, temos gostos literários igualmente
estranhos."
Vic deu um passo em direção à porta, e eu entrei em pânico, agarrando seu braço
para impedi-la.
Ela gritou, mas foi inútil. A sombra me envolveu, me puxando para a zona. Puxei-a
de volta, a empurrei de bruços sobre minha mesa e rasguei sua calcinha. Seus gritos de
protesto eram ruído branco em minha mente, e seus braços se debatendo pareciam
borracha quando me atingiam.
Fodi ela com força, pensando na Cattus. Fodi ela até seu cetim ficar encharcado,
fazendo um som molhado a cada enfiada. Fodi ela até sua boceta apertar em volta do meu
pau e ela gritar de êxtase, tremendo toda.
Ejaculei dentro dela, e quando me afastei, ela se virou e me deu um tapa no rosto.
Ardeu tão bem.
"Foi por isso que você quis marcar essa reunião comigo?" ele perguntou, sentando
em uma das cadeiras da câmara da Cobra & Cálice.
"Sim, você está sendo vigiado pela polícia e pelos alunos, então talvez devesse
tomar cuidado."
Ele passou os dedos pelos cabelos loiros escuros, puxando-os para trás. "Já
imaginei isso."
"O Vanderbilt também está sendo observado de perto. Não vai demorar para que
toda essa rede de merda seja derrubada."
"Você é o presidente da C&C. Tenho certeza de que sabe de tudo o que está
acontecendo, já que é debaixo do seu nariz."
Percebi um lampejo de medo em seus olhos. Foi apenas um instante, até ele voltar a
ser o babaca autoconfiante de sempre. "Sei que parece óbvio que seria eu, mas não é."
Ele hesitou. "Por que você está fazendo todas essas perguntas? O que isso tem a ver
com você?"
"Quero ver um fim nisso tudo. Muita gente está se machucando."
Ele franziu a testa. "Minhas mãos estão limpas. Vanderbilt, por outro lado, é outra
história. Mas suspeito que ele não está envolvido por escolha."
Eu me inclinei para frente, encarando-o fixamente: "O líder tem alguma coisa
contra você?"
Eu me levantei para sair. "Aposto que é você," avisei, apontando para ele, "e você
criou um fantasma para tirar o foco de cima de você."
"Pode pensar o que quiser," sua voz me seguiu enquanto eu caminhava em direção
às portas duplas. "Há uma linha tênue entre verdade e mentira, realidade e fantasia."
"Tanto faz."
Assim que saí para o sol quente do verão, enviei uma mensagem para Mathias: Se
não é ele, ele sabe quem é.
Ergui a cabeça bruscamente quando tive a nítida impressão de que alguém estava
me observando. Era um dia calmo e quente, e a University Square estava banhada em luz
solar. Coloquei a mão sobre os olhos para protegê-los do sol e enxergar melhor. Um grupo
de estudantes passou conversando sobre as férias de verão que se aproximavam, e outros
estavam sentados em bancos do parque almoçando. O sol estava alto no céu, e a única
sombra vinha da biblioteca, cobrindo-a em um cinza frio.
Foi lá que avistei o observador, nos degraus da Biblioteca Edgar Allan Poe,
diretamente em frente à University Square. Assim que nossos olhos se encontraram, ele
desceu os degraus da biblioteca e virou à direita, desaparecendo de vista.
Pode não ter sido a decisão mais inteligente do mundo, mas decidi segui-lo. Por
quê? Nem eu sei. Eu tinha aula em dez minutos e deveria estar indo para lá. Minhas notas, já
medianas, estavam caindo por causa das distrações recentes, e eu não tinha o técnico em
cima de mim como durante a temporada de futebol. O técnico sempre falava sobre dar o
exemplo estudando muito e tirando boas notas. Hawks não podem se dar ao luxo de falhar.
Mas não conseguia esquecer a intensidade do olhar dele quando me viu sendo
observado. Será que achou que eu estava fazendo algo errado, já que tinha acabado de sair
do Athenaeum?
Recuei ao perceber que iria me atrasar para a aula. Não queria cutucar um urso já
irritado.
Uma mão pesada caiu no meu ombro, e eu me virei para me livrar do cara. Dois
homens me arrastaram para um espaço estreito entre dois prédios enquanto eu tentava me
soltar.
"Você deu uma de esperto com o Dom," um deles disse e me deu um soco forte no
rosto. Eram três caras grandes, usando balaclavas pretas, e cada um me acertou no
estômago.
Foi só um aviso — podiam ter feito coisa pior. Me levantei do chão duro, sem fôlego,
com as costelas doloridas e o nariz sangrando. Mas, acima de tudo, confuso.
"O Dom quer que eu aprenda uma lição?" murmurei pra mim mesmo. "Sobre o
quê?"
A única coisa que consegui pensar foi quando estava transando com a Gretta no
quarto 23. Eu avisei o homem mascarado, que estava dando uma dedada violenta nela, pra
'pegar leve'.
Eu cruzei a linha.
Assim que falei, o cara inclinou a cabeça e me encarou com um olhar assassino
pelos buracos da máscara. Sabia que haveria consequências por ter falado, e parece que
acabei de recebê-las. Um nariz quebrado e costelas roxas pelo meu esforço. Babaca.
"Tô ficando cansado dessa merda," respirei, limpando o sangue que escorria do
nariz com o dorso da mão. "Cansado pra caralho."
VINTE E SETE
Gretta
O que me consumia eram meus sentimentos pessoais por ele. Desde os doze anos,
quando o conheci, eu ansiava por seu toque e por sua aprovação — até agora. Mesmo aos
dezenove, sete anos depois, eu estava cravada entre ódio extremo e um amor tóxico por ele.
Ele demorou para abrir a porta, deliberadamente, para criar tensão. Funcionou.
"Você não precisa usar isso," disse quando ele abriu a porta só um pouco, uma
máscara branca de masquerade macabra me encarando.
Uma risada abafada escapou dele quando abriu a porta completamente. "Achei que
você estivesse se acostumando."
Ele usava uma camisa social preta enfiada em uma calça de alfaiataria, parecendo
incrivelmente atraente com zero esforço.
"Não, não, não. Sabendo que você viria, comprei um vestido decente. Não posso
deixar minha acompanhante usando—" apontou para meu vestido, "essa porcaria vulgar."
Ele voltou com um vestido longo azul-marinho elegante, que me deixou sem fôlego
assim que toquei no tecido.
"Achei que a cor combinaria com seu cabelo. Por que você pinta ele tão chamativo?"
"Mas isso esconde seu traço mais bonito," disse, enrolando uma mecha do meu
cabelo atrás da orelha. "Seus olhos." Passou o polegar gentilmente pelos meus cílios, desceu
pela bochecha até meu lábio inferior, percorrendo-o lentamente enquanto lambia os
próprios lábios, faminto.
"Você sempre dizia que meus olhos eram como os de um cervo," lembrei.
Ele deslizou as mãos pelos meus quadris, pegando um punhado do tecido. "Braços
pra cima."
Levantei os braços acima da cabeça enquanto ele puxava meu vestido lentamente,
me deixando só de lingerie e salto alto. Seus olhos gananciosos devoraram meu corpo, e eu
cruzei os braços sobre os seios, me sentindo vulnerável.
"Não posso deixar você vestida como uma puta barata para o jantar," ele disse,
abrindo o zíper do vestido azul-marinho e me fazendo entrar nele. O caimento era perfeito,
como se tivesse sido moldado no meu corpo, e me senti linda usando aquilo. Mas sabia que
não era tão bela quanto a namorada dele — a filha do senador, com traços de modelo, pele
impecável e cabelo dourado sempre no lugar. A esposa ideal para ele.
Cada gesto dele era calculado, desde a velocidade com que fechou o zíper até o
tempo que levou para abrir a porta. Sem dúvida, ele planejara meticulosamente cada
detalhe da noite a seu favor.
"Vai ser divertido reencontrar uma amiga de infância," ele disse, pegando minha
mão e me levando até a mesa de jantar. Puxou a cadeira e me convidou a sentar.
"Obrigado pelos alcaçuzes de framboesa," ele riu, indo para a cozinha. "Faz tempo
que não como. Espero que goste de cogumelos."
"Sim, obrigada." Meu corpo inteiro estava tenso, imaginando o que ele faria comigo.
Ao mesmo tempo, precisava arrancar a maldita confissão dele. Senti sua mão quente no
meu ombro nu e estremeci.
"Você está toda rija," ele murmurou, começando a massagear os meus ombros.
Não havia chance de eu relaxar, mesmo com seus dedos perfeitamente cuidados
trabalhando em volta da minha clavícula. Precisava me acalmar, ou estragaria tudo. Tinha
apenas uma chance. Uma chance.
"Você está tão tensa," ele pressionou os dedos mais fundo, fazendo eu cerrar os
dentes de dor. "Não quero machucar esses ombros lindos."
Quando ele soltou meu ombro para pegar o jantar, soltei um suspiro e senti
umidade crescer entre minhas pernas. Droga. Meu clitóris pulsava, implorando pelo toque
dele ali.
Ele colocou uma tigela branca de risoto na minha frente e sentou na cadeira oposta.
"Você não mudou muito," ele comentou. "Quantos anos a gente tinha quando
começamos a sair?"
Peguei meu garfo. "Eu tinha doze, você catorze," respondi como se fosse ontem.
Meus sentimentos ainda estavam vivos.
Lembrei do primeiro beijo, da primeira vez que ele me levou na garupa da bicicleta.
E do dia em que quis ver como eu era por baixo da calcinha. Seus dedos dançaram sobre
mim, e senti coisas que nunca havia experimentado antes.
Tomei um gole de vinho para engolir o veneno que subia da minha garganta. Diante
de mim estava o homem que matou meu pai e roubou minha inocência — embora ele
mesmo fosse só um garoto na época. Nem a palavra abuso se encaixava, porque nada
daquilo parecia ruim. Essa era a parte mais confusa.
"O mais novo. Não conheci o mais velho, acho." Continuei bebendo para acalmar os
nervos, mesmo com uma voz na minha cabeça gritando: 'Não beba nem coma nada!'
"Ele está bem. Não nos falamos muito. Foi mandado para morar com meus tios
quando éramos crianças."
Meu estômago embrulhou ao lembrar. Seu irmão tinha minha idade, e Dom o
tratava horrivelmente.
"Talvez devesse pegar leve no vinho," ele sugeriu, cobrindo minha mão com a dele.
Esperava que seu toque fosse gelado, já que ele não tinha coração para bombear sangue
quente.
"Acho que devo ir," falei, arrastando as palavras, forçando meus olhos a
permanecerem abertos.
Meu último pensamento foi que precisava pegar meu telefone e pedir ajuda.
Duvidava que conseguiria chegar ao elevador sem desmaiar.
VINTE E OITO
Gretta
"Ah, ótimo, você acordou," ouvi sua voz antes de vê-lo. Meus olhos estavam tão
pesados e secos que levei vários segundos para enxergar com clareza. "Você exagerou no
vinho."
"Sem pressa, Cattus. Não há necessidade de correr," ele cantarolou. Ele me olhou
com ar de superioridade por cima do copo enquanto bebia, mas eu estava grogue demais
para entender exatamente o que estava acontecendo.
"Ah, isso. Não quis amassar o vestido que comprei pra você, então te troquei antes
de você dormir."
"Há quanto tempo eu estava dormindo?" Minha voz saiu rouca, e precisei tossir
para limpá-la.
Passei a língua nos lábios ressecados enquanto ele me ajudava a vestir meu vestido
barato do Walmart. Pelo menos ainda estava usando minha calcinha.
Ele a trouxe, e um calafrio de pânico percorreu meu corpo. Estou ferrada se ele
revirou meus contatos e leu as mensagens do meu esquema de proteção. Ele não
conseguiria desbloquear minha senha, mas mesmo assim me senti desconfortável.
"Devíamos fazer isso de novo," ele disse, segurando meu rosto com as mãos. "Da
próxima, talvez você deva pegar leve no vinho." Ele pressionou os lábios na minha testa. Eu
me sentia tão entorpecida, confusa e enjoada que mal reagi ao toque.
"Ouvi ele tocar várias vezes," ele acenou com o queixo em direção ao meu telefone.
"Não achei que fosse minha obrigação atender."
"Precisa de carona?"
Ele me beijou novamente, desta vez nos lábios, longo e intenso, e meu corpo inteiro
formigou. Fui eu quem puxou para trás, porque não parecia certo. Nada parecia certo.
"Sabe, para uma garota tão comum, você estava bem sexy enquanto dormia."
Era um chute final nos meus sentimentos porque rejeitei seus avanços. Mesmo
grogue, o comentário ainda doeu.
Virei as costas, colocando a mão na maçaneta. "Tchau," disse, sem olhar para trás.
"Eu te ligo," ele respondeu, enquanto a porta se fechava atrás de mim.
"Que porra você estava pensando?" Lise Fontaine gritou assim que entrei no carro.
Luca Hanna estava ao volante, Lise no banco do passageiro e Rhys Gallagher atrás.
Minhas garotas. Meu esquadrão de proteção.
Elas ficaram em silêncio, trocando olhares de horror, até Lise quebrar o clima.
"Maldito filho da puta!"
Rhys colocou uma mão fria no meu ombro, tentando me confortar, mesmo sendo a
primeira a admitir que é péssima nisso.
"Por que a gente não acaba com isso agora?" Luca rosnou. "Sei atirar. Vamos lá no
apartamento dele e colocar uma bala entre os olhos desse merda."
"Porque precisamos derrubar todos eles, Luca," Lise lembrou. "Ele é só o líder."
"Não, porque ela estava drogada demais pra saber que porra ele estava fazendo,"
Lise explicou o óbvio.
"Meu Deus, ele não... você sabe... tocou em você enquanto você estava desmaiada?"
Rhys perguntou baixinho.
"Esse é o ponto, Rhys," Lise rosnou para ela. Rhys era uma alma tão doce e gentil
que vivia completamente fora da realidade. "É por isso que esses homens nojentos drogam
mulheres – pra poder transar com alguém que está praticamente morta," Lise esbravejou.
"Só se acalma, Lise," suspirei, esfregando as têmporas doloridas. "Você não está
ajudando, gritando e mordendo a cara de todo mundo."
"Desculpa," ela respondeu, se acalmando. "Todo mundo nesse carro já foi
machucado por esse clube de estupradores, e eu só quero ver isso acabar. É frustração, só
isso."
"Você acha que deveria fazer um exame de estupro?" Rhys perguntou quietinha.
"Não. Não acho... não sinto que ele me tocou dessa forma."
"Positiva. Além disso, ainda não consegui que ele confessasse nada. Se eu fizer o
exame, a polícia será envolvida, e sabemos como a KVPD é inútil. Enfim, ele disse que vai me
chamar de novo, então tentarei na próxima. Na próxima, não vou beber nem comer nada."
"Última chance," Luca anunciou, ligando o motor do carro do Cody. "Tem um rifle
no porta-malas. Quer que eu suba lá e atire nele? Porque eu atiro."
"Não, Luca," gritei, mais áspera do que pretendia. Ela não estava brincando.
Nenhuma de nós estava. "Vamos embora. Só quero ir pra casa."
Primeiro: meus sentimentos pelo homem que se chama Dominus. Ainda desejava
sua atenção e seu toque. Ele era excepcional em fazer uma garota comum como eu me
sentir especial. Não sou idiota – sei que não sou grande coisa comparada à beleza
deslumbrante de Luca, às curvas provocantes de Lise e à beleza discreta e graciosa de Rhys.
Meus traços são esquecíveis. Minha vida é medíocre. Ando por esse mundo com
peso, mas nunca deixo marca. Tenho quase certeza de que nenhum homem fantasia comigo
à noite, deitado na cama.
Pela primeira vez na vida, dois homens bonitos estão atrás de mim. Eu, a garota
eternamente em seca masculina, porque sempre sou preterida por garotas como Lise e
Luca. Sei que as intenções deles podem não ser genuínas, mas as minhas também não.
Segundo: minha conexão de infância com ele. Conheci o menino antes do homem.
"Tem certeza que está bem?" Lise perguntou suavemente, virando no banco da
frente para me encarar.
"Estou bem," menti, me sentindo exausta e enjoada. Enjoada por ele. Sou tão fodida
da cabeça. Acabei de sair do covil dele, e a vontade de voltar era enorme. Tinha tantas
perguntas pra fazer, tantos sentimentos indesejados que bagunçavam meu corpo quando
estava perto dele.
"Vocês acham que é possível amar alguém que você sabe que faz mal?" murmurei
em voz alta, sem esperar resposta.
Coloquei minha mão na coxa tonificada da Vic por baixo da mesa enquanto ela
falava com meus pais sobre seu trabalho. Pressão de tempo, clientes exigentes, horas extras,
a rotina cansativa.
O que ela faz mesmo? Ah, sim, design de interiores. Isso sequer é um trabalho de
verdade?
Meus pais amam a Vic — e deveriam mesmo, considerando que ela é filha do
senador. Nos conhecemos em um evento na casa dele e fomos encorajados a nos ver
novamente. No começo, o sexo era bom (embora eu já tivesse tido melhor), e éramos
afetuosos um com o outro. Agora, parecemos apenas nos tolerar.
Com todos os seus defeitos, ela era fantástica em interpretar o papel de minha
namorada em público. Assim como eu era razoavelmente convincente como o namorado
amoroso nos eventos chatos que frequentava por causa dela.
A porta da mansão dos meus pais se abriu e bateu com força, enquanto passos
pesados se aproximavam como a música tema de Tubarão. Recuei na cadeira e olhei para o
teto, contendo minha frustração. Meu irmão mais novo tinha o hábito de chegar atrasado e
roubar a atenção de todos com seu corpo atlético e desengonçado.
Meu irmão mais velho e eu trocamos olhares — nenhum de nós tinha paciência
para o palhaço desastrado. Ele era o pirralho que foi enviado para morar com meus tios (do
lado da minha mãe) em outro estado quando tinha oito anos, voltando apenas nas férias ou
quando meus pais queriam vê-lo. Morou com eles até o último ano do ensino médio e
decidiu fazer a família inteira sofrer por essa decisão agindo como um babaca mimado.
Meus pais estavam orgulhosíssimos do meu irmão criminoso por ser o primeiro da
família a jogar futebol americano universitário. Oba. Na verdade, ele é tão bom que está no
time principal — os Dodos ou algo assim — e espera se tornar profissional. Ele não é lá
muito inteligente, o que é sua maior falha (e a vergonha discreta dos meus pais), já que
todos os outros membros da nossa família têm QIs estratosféricos. Mas não meu
irmãozinho. Burro que nem uma porta.
Costumava lembrá-lo de sua burrice quando éramos crianças. Foi uma das razões
pelas quais ele foi enviado para receber atenção especial da minha tia sem filhos. Não acho
que funcionou, pois ele continua um aluno medíocre — para o desespero dos nossos pais.
Outra razão pela qual foi mandado embora: suas tendências violentas. Quebrou
meu braço uma vez quando chamei ele pelo apelido uma vez a mais do que devia. Admito
que era um apelido cruel, mas éramos crianças, e eu estava cansado dele me seguir por aí e
estragar meu estilo.
Para piorar a ferida infecciosa da família, ele abandonou nosso sobrenome famoso
e adotou legalmente o do nosso tio, além de usar seu nome do meio em vez do primeiro
nome — Arthur ou Art.
"Vejo que você se arrumou para a ocasião," eu ri. Enquanto meu irmão mais velho e
eu usávamos blazers, calças sociais e camisas abotoadas, o imbecil apareceu de moletom
marrom com o logo dos Hawks estampado como um maldito letreiro de neon, gritando
"Olhem para mim, sou um atleta gostoso, venham chupar meu pau".
"Desculpe, alguém acabou de falar?" ele revidou sem sequer olhar para mim,
dirigindo-se à minha namorada: "Oi, Vic. Quando cansar desse idiota, me procure."
Percebi um sorriso no rosto dela que não gostei. Vic sempre olhava para meu irmão
mais novo como se estivesse o despindo com os olhos. Será possível que minha namorada e
meu irmão estão se pegando, e o tal Bruno é ele?
"Calma, filho," meu pai advertiu. "Vamos deixar os conflitos fora da mesa de jantar."
"Não sou um marginal," ele argumentou, ignorando meu pai – algo que fazia com
frequência.
"Como mais você chama aquele jogo imbecil onde vocês se esbarram como
animais?"
"Eu não 'esbarro' em ninguém. Porra, você não sabe nada de futebol," ele
respondeu, recebendo olhares reprovadores dos nossos pais por xingar à mesa. "Desculpe."
Meu irmão mais velho, Henry, recostou-se na cadeira, curtindo a discussão alheia.
Nada nunca o envolvia. Ele é seis anos mais velho que eu e quase não o via na infância.
Entrou no internato aos doze, e eu fiquei encarregado de "entreter" meu irmão desastrado
de quatro anos.
"O que aconteceu com seu rosto?" minha mãe perguntou ao delinquente.
Ele tinha um olho roxo desbotado e o nariz claramente machucado. Segurei uma
risada.
Ele inclinou a cabeça e manteve o olhar assassino, com um sorriso torto, como se
gostasse daquela merda toda. "Você sabe exatamente o que aconteceu."
Um calor intenso subiu pelo meu pescoço, e Victoria olhou para mim, curiosa.
"Vocês não brigaram, né?"
Art soltou uma risada. "Claro que não. O filho do meio nunca suja as mãos. Além
disso, se a gente brigasse, ele estaria morto com um soco na lateral da cabeça."
"Vocês dois nunca vão superar essa rivalidade?" minha mãe acrescentou, jogando o
guardanapo na mesa com desgosto.
Meu coração pulou na garganta quando vi quem estava na porta. Não que eu
tivesse motivo para me preocupar.
"Posso ajudá-la?" perguntei, abrindo a porta e fingindo não reconhecê-la.
Ela fingiu um encolher de ombros, mas eu sabia que ela se abriria para mim em um
segundo. "Tem um momento para responder algumas perguntas?"
"Tudo bem, só levará alguns minutos." Ela não aceitaria um não como resposta.
"Certo. Pergunte."
"Tudo bem," ela respondeu com um sorriso irônico. "Você conhece uma Amber
Murphy?"
"Ah, não."
"Talvez uma foto ajude." Ela ergueu uma foto de uma morena de pele oliva linda –
minha Primis favorita.
"Interessante, porque temos testemunhas que afirmam tê-lo visto com ela várias
vezes."
Minhas costas travaram, e esfreguei a região com a mão. "Sinto muito pela família
dela."
"Nunca."
"Ok, obrigada."
Fechei a porta na cara dela e senti uma presença atrás de mim. Virei devagar e
encontrei meu irmão mais novo sentado nos degraus que levavam aos quartos, dedos
entrelaçados, cotovelos nos joelhos.
"Você sabe que mentir para a polícia é crime," ele falou em um tom calculado. Olhei
na direção da sala de jantar, onde ouvia os murmúrios da conversa.
Ignorando-o, comecei a voltar para a mesa. Não cheguei longe antes que a raiva
tomasse conta de mim. Investi contra Art, enlaçando minhas mãos em seu pescoço e
apertando com força, encarando-o com fúria.
"Que porra você fez?" Minha própria voz soou estranha – como um animal
rosnando.
Um sorriso nojento se espalhou pelo rosto dele enquanto sua tez avermelhada
começava a empalidecer. "Você me ensinou bem," ele sussurrou, lábios se curvando sem
medo.
"Siga a porra do roteiro," gritei baixo, no exato momento em que Vic apareceu em
seus saltos para ver o que estava acontecendo.
Soltei Art e envolvi meu braço na cintura de Vic, puxando-a de volta para a sala de
jantar. Ela olhou curiosamente para meu irmão por cima do meu ombro, e eu esperei que
não tivesse visto nada.
TRINTA
Ollie
A voz dele me fez pular. Eu tinha evitado Darryn desde que Mathias o acusou de
atirar nela. E depois, quando o vi me encarando do outro lado da University Square. Mesmo
agora, enquanto ele se apoiava no batente da minha porta tentando parecer descontraído,
eu detectei um traço de malícia em sua expressão. Eu queria falar com ele sobre isso.
Perguntar se Vanderbilt tinha dado algum trabalho a ele. E se esse trabalho era matar
Mathias. Ainda bem que ele é um péssimo atirador.
Ele era meu melhor amigo, mas parecia estar tão longe.
"Hã?"
Ele soltou uma risada baixa. "Sim. Você tá mais fundo nisso que eu."
"Tô mesmo?"
Mentiroso.
"Ele nega."
"Claro que negaria." Ele virou a cabeça ruiva quando ouviu alguém andando
lentamente pelo corredor. "Oi," ouvi ele dizer, e uma voz feminina respondeu.
"Gretta?"
Assim que ela entrou, a puxei para o meu colo, dominando sua boca. Ela se afastou
e riu, abaixando os olhos timidamente.
"Hum, é meu dia de folga e o tempo tá lindo," ela disse, olhando para a janela, onde
só se via céu azul. "Faz tempo que não te vejo." Ela acariciou meu cabelo e beijou minha
testa enquanto eu enterrava o rosto na curva de seu pescoço, respirando seu cheiro. "Que
tal um piquenique nos jardins?"
"Boa ideia. Ou quem sabe algo mais longe, como o lago," sugeri.
O corpo dela ficou tenso contra minhas coxas. "Não pro lago?" eu li seus
pensamentos.
"O Lago Superior perdeu o apelo desde que os restos do Adam Sweeny foram
encontrados."
"Espera," ela pausou, inclinando a cabeça enquanto examinava meu rosto com seus
olhos azuis brilhantes. "O que aconteceu com seu rosto?"
"Nada." O motivo de eu ter me afastado era não querer que ela me visse machucado
e se preocupasse. Os hematomas já estavam quase sumindo.
Parei quando uma ideia me ocorreu, e ela se virou para ver o motivo. Fingi um
sorriso, mas não pude evitar a desconfiança.
Quando levantei a cabeça depois de trancar a porta, vi uma troca de olhares entre
Gretta e Darryn. Foi um instante, mas suficiente para os pelos da minha nuca se arrepiarem.
Nunca fui do tipo ciumento ou possessivo – até a Gretta. E mesmo assim, ainda me
perguntava por que esses sentimentos surgiam quando ela estava por perto. Talvez fosse
um daqueles casos em que uma pessoa específica traz o pior de um homem. Tipo os Lonely
Heart Killers – Martha Beck tirou o pior de Raymond Fernandez. Ou será que foi o melhor?
Depende do ponto de vista.
Esperei até estarmos deitados na grama, sob o sol quente, para lançar a pergunta:
Ela quase engasgou com o refrigerante que estava bebendo e cuspiu. Tão graciosa.
"Por que você fica assim com ele, mas não com o cliente do quarto vinte e três?"
"Fiquei com ciúmes. Odeio ver ele enfiando os dedos na sua boca."
"Mas você disse que parecia que eu estava gostando do ménage e decidiu não
impedi-lo."
"Viu? Contradição."
"Deixei o ciúme de lado pra você sentir prazer dos dois lados."
"Não sei se ter dedos enfiados na garganta foi tão prazeroso assim."
"Talvez seja."
Virei de lado, puxei ela pra perto e capturei seus lábios com os meus. Ela gemeu e
apertou minhas nádegas como se quisesse extrair sangue delas. Em segundos, eu já estava
duro, esfregando minha excitação contra a calça jeans dela. Estávamos muito expostos –
com uma trilha movimentada por perto e risadas de estudantes – para ir além. Era verão, e
todo mundo decidiu vir pro maldito jardim hoje.
Senti sua mão sair da minha bunda e ir direto pro meu pau. Ajustei minha posição
pra ela pegar melhor. Ainda estávamos nos beijando, nos movendo no mesmo ritmo. Eu
estava perigosamente perto de puxar meu pau pra fora em público, só pra ela poder
esfregar direito, sem a barreira do moletom.
"Não."
"Jonathon Wheeler."
Ela encolheu os ombros estreitos, até que caiu a ficha e ela tampou a boca com a
mão, horrorizada.
"Isso mesmo."
"Até o ano passado, ele era presidente da Cobra & Cálice e... porra... todo mundo
conhece ele."
"Você sabia que a Lise Fontaine foi pega em uma posição comprometedora com ele
alguns anos atrás?"
"Imagino que muitas mulheres foram pegas de pernas abertas pra ele e... chega de
papo. Continua o que tava fazendo," eu disse, guiando sua mão de volta para onde ela
pertencia.
"O que será que ele está fazendo aqui?" ela resmungou.
"Sim."
"Ah, é."
Meu sorriso desapareceu quando cheguei ao topo das escadas e olhei para o
corredor. Minha porta estava entreaberta. Juro que tranquei. Eu sempre tranco essa porra.
Cautelosamente, empurrei a porta, que rangeu tão alto que me arrepiou. Com o
coração batendo forte contra as costelas, deixando-me sem fôlego, atravessei a soleira. À
primeira vista, nada parecia fora do lugar – mas isso, de alguma forma, era pior. Chegar em
casa e encontrar meu quarto revirado me assustaria menos. Alguém teve cuidado, pisou
suavemente, mas ainda assim quis que eu soubesse que invadiu minha privacidade
deixando a porta aberta. Isso era um jogo. Alguém estava tentando me provocar
psicologicamente.
A porta não tinha sido arrombada, e só havia duas chaves do meu quarto – ambas
comigo. A resposta estava na janela. Como morava no terceiro andar, costumava deixá-la
aberta alguns centímetros, confiante que ninguém escalaria a casa para entrar. Além do
mais, havia mil maneiras mais fáceis de invadir, incluindo simplesmente entrar pela porta
da frente.
Revisei meu armário e gavetas – nada faltava, mas sabia que algo estava errado.
Deslizei a mão para o fundo da segunda gaveta, onde escondia meu celular reserva dentro
de uma meia, e suspirei aliviado ao encontrá-lo lá. Eu quase nunca o usava e o mantinha
para um único propósito.
Percebi que a bateria estava descarregada, o que significava que quem invadiu meu
quarto teria que carregá-lo antes de bisbilhotar. Claramente, não foram tão longe. Não que
houvesse algo importante nele – eu sempre apagava mensagens depois de lê-las ou
enviá-las. Não sou idiota.
Ainda furioso, procurei pela casa sinais de vida e encontrei dois colegas de quarto,
Ridge e Josh, na cozinha preparando o jantar – o que consistia em despejar cereal em uma
tigela.
"Vocês notaram algo estranho no último andar?" Não que eu esperasse que
tivessem – seus quartos ficavam no segundo andar.
"Tipo alguém escalando a casa e invadindo meu quarto em plena luz do dia."
"Pergunta pro Darryn, ele ficou aqui a maior parte do dia," Josh disse.
"Hmm." Quase deixei por isso mesmo, até outra ideia me ocorrer. "Vocês notaram
algo diferente nele?"
"Tipo o quê?"
"Tipo se ele fez um transplante de cérebro quando foi pra Grand Rapids e voltou
taciturno e frio."
"Ainda parece o mesmo cara pra mim," Ridge falou. "Mas, sabe, família pode
bagunçar a cabeça da gente."
"Sim, se foi família que ele foi visitar," murmurei, plantando uma semente de
dúvida. "Alguém me disse que o viu no centro quando ele supostamente estava em Grand
Rapids."
"Talvez tenha sido um trabalho da C&C," adicionei mais água para fazer a semente
crescer.
"Não duvido nada," Josh falou baixinho, já que ele foi um dos quatro que
espancaram Jace Luxon até deixá-lo irreconhecível. O pagamento dele por esse serviço foi
ter acusações de drogas anuladas.
"O quê?" Ridge ergueu a cabeça da frigideira. "Você acha que foi o Darryn quem
atirou na Mathias?"
"Talvez."
Ouvimos a porta da frente bater, e eu saí da cozinha para ver Darryn parado na
entrada, carregando sacolas de compras.
"Você viu alguém invadindo meu quarto?" ataquei, sem nem um "oi".
"Claro que não," murmurei, só para ele ouvir. "E aposto que você vai fingir que não
estava espiando a Gretta e eu nos beijando nos jardins da universidade, igual um tarado."
"Culpado," gritei baixinho, e ele resmungou algo condescendente. "O que foi? Não
ouvi direito."
Quando ele entrou na cozinha, ouvi ele cantarolar uma versão da cantiga infantil:
"Você é o rei do castelo, eu sou o vagabundo sujo."
Quase perdi a cabeça e fui pra cima dele, mas parei quando o chão pareceu
balançar sob meus pés. Um fio de suor escorreu da minha testa para o olho, embaçando
minha visão. A casa velha era um forno no verão e um freezer no inverno. Mesmo com o
ar-condicionado caríssimo que os ex-alunos instalaram, mal fazia diferença. Ou talvez fosse
outra coisa me fazendo suar.
"Idiota!" gritei, e ele parou, virando devagar para me encarar. "Essa é a única prova
que temos para encontrar o líder do clube After Dark. Então cala a boca."
"Onde em Atlanta?"
"Não."
"Talvez a gente possa ir um dia. Te apresento meus pais e nosso cachorro, Max."
A mãe dela era minha saída. Nunca a levaria para Atlanta, porque não existe nada
lá. Estou tão acostumado a atuar nesse jogo que quase acredito na minha própria mentira.
Siga o roteiro. Siga a porra do roteiro que vai quebrar o coraçãozinho dela quando
tudo acabar.
Ela está infiltrada para caçar o vilão, mas aqui estou eu, bem debaixo do nariz
pontudo dela.
"Eu poderia contratar uma enfermeira para ficar com ela," Gretta pensou alto
depois de alguns segundos.
Ótimo. Passei os dedos pelos cabelos dela. Havia muitas coisas que gostava na
Gretta. Ela não era deslumbrante, além daquele cabelo vermelho-cereja, mas tinha um
sorriso que iluminava meu espírito e me fazia esquecer, por alguns segundos, quem eu
realmente era. Ela também era inteligente, mas não o suficiente para saber com quem
estava transando.
No entanto, sei que sempre há furos e fraquezas em qualquer enredo. Nesse caso, a
fraqueza é a mocinha que tenta enganar o rei e o príncipe.
Nem tinha percebido que meu abraço ficou mais forte quanto mais pensava em sua
traição. "Desculpa," afrouxei o aperto.
Esperava que ela fosse aberta comigo, já que estamos infiltrados juntos, mas ela
nunca mencionou essa panelinha de "vigias". Isso me incomodava, mas não o suficiente
para odiá-la. Além do mais, conhecíamos cada movimento dela.
Ela soltou risadinhas fofas quando esfreguei minha barba por fazer no pescoço
dela. Outra razão pela qual gostava tanto dela. Aquela risada. Quase deixaria qualquer coisa
passar só para ouvi-la rir.
Gemi, enterrando o rosto em sua pele macia. "Fica mais uma hora."
Ela pegou o celular para ver as horas, mas cheguei primeiro. "O que temos aqui?"
provoquei, tentando decifrar a senha. "Tem algum namoradinho secreto que eu deva
saber?"
"O quê?" ela riu. "Confia, não sou interessante o suficiente para ter segredos."
"Preciso saber que estou cobrindo suas costas totalmente," continuei. Meu tom era
brincalhão, mas a intenção por trás era mortalmente séria.
"Cumprirei. Prometo," pressionei meus lábios contra sua pele fresca. "Minha
ruivinha ardilosa."
TRINTA E DOIS
Gretta
Estou decepcionado com o abrupto fim do nosso encontro. Para provar que não
fiz nada errado, anexei imagens da minha câmera de segurança da nossa noite. Espero
que isso seja suficiente para convencê-la a me ver novamente.
Satisfeito de que eu estava bem, ele sentou no sofá oposto, apoiou os pés em uma
otomana de couro e assistiu TV por um tempo, tomando vinho e comendo amendoins.
Não sabia como me sentir com isso. Seria tão indesejável que ele nem tentou tocar
meus seios, minha barriga ou minha bunda?
1. Sua namorada sabe que você sai com outras mulheres?
Respirei fundo para me acalmar antes de escrever a segunda pergunta.
Isso era parte do jogo que eu estava jogando. Claro que o veria de novo — precisava
arrancar confissões dele. Precisava ouvir da própria boca que ele matou meu pai. E então
perguntaria:
As garotas do meu esquema de proteção não sabem nada sobre nosso passado nem
sobre minha verdadeira agenda. Guardei esse segredo a sete chaves. Deixei que
acreditassem que entrei nessa apenas para fazer Dominus confessar seu papel como líder
do Clube After Dark.
Vai demorar muitos encontros para ele admitir isso. Mas o assassinato do meu pai...
essa é outra história. Ele me enviou a bala como lembrança no quarto 23. Está mais do que
claro que ele sabe que eu o vi naquele dia.
Não seria insano se ele fosse uma pessoa normal. Mas ele é uma raça
completamente diferente.
Segurei uma resposta irritada, convicta de que a culpa não tinha sido do vinho.
"Babaca," murmurei.
Era pouco depois das 8h da manhã, e minha mãe assistia reprises de "Days of Our
Lives". De vez em quando, ela gritava algo para os personagens — "Cuidado! Ah, seu idiota!
Olha ele, não é o que parece, raposa esperta" etc.
Essa era a vida da minha mãe agora: presa na fantasia das novelas. Se o papai ainda
estivesse vivo, ele a motivaria a viver e amar. A sentir a brisa fresca na pele, observar os
gansos canadenses voando no outono, molhar os pés no Lago Superior.
O homem que se autointitula Dominus não só nos devia pelas duas vidas que
arruinou, mas também por uma explicação.
"Você vai ver o Ollie hoje à noite?" minha mãe perguntou, esperançosa.
Merda! Ollie. Eu tinha esquecido completamente dele. Ele queria fazer um jantar e
passar parte da noite juntos. Sexo com o Ollie era ótimo, mas sexo e uma confissão do Dom
valiam mais.
"Ah." Ela pareceu decepcionada. Minha mãe tinha grandes esperanças de que o Ollie
seria meu salvador.
Eu tinha visto um lado do Ollie que nunca mais queria ver se a gente quisesse levar
nosso relacionamento adiante. A verdade é que eu não conseguia ver nada além deste ano,
muito menos o último ano da faculdade. O que eu sabia era que Ollie e eu estávamos em um
caminho de destruição. Eu sabia. E me perguntava se ele também sabia.
Uma para Lise, avisando que eu tentaria outra vez com o Dom. A segunda para
Ollie, adiando nosso encontro. Devido aos plantões extras no Stads, talvez não pudesse
passar a noite com ele por mais uma semana ou duas.
Mas ainda teríamos muitos dias de verão juntos. Ollie poderia ser meus dias,
enquanto Dom seria minhas noites. Pelo menos até eu conseguir minha confissão.
Ele tem uma câmera de segurança na sala. Tem certeza que ele não te viu
instalando os microfones?
Eu vi a câmera e a cobri.
Isso não me deixou muito confiante — afinal, ele notaria. Ele era inteligente e um
mestre em disfarces, mas dificilmente relaxaria ou baixaria a guarda na própria casa.
Confiança sim, mas não a esse ponto. Pelo menos era assim que eu o via.
Como se lessem meus pensamentos, outra mensagem chegou:
Ou seja, ele não os descobriu. Ou talvez tenha descoberto e esteja nos enganando.
Se ele percebeu que a câmera foi adulterada, se perguntaria o que foi roubado do
apartamento. E quando descobrisse que nada sumiu, questionaria o motivo.
TRINTA E TRÊS
Dominus
Apaguei seus e-mails e depois os removi da lixeira. Deixei que ela acreditasse
que Vic e eu tínhamos um "acordo" — e, de certa forma, tínhamos. Um acordo não dito. Ela
está transando com o Bruno (e talvez com meu irmão), enquanto eu me divirto com a
Cattus.
Ela não é uma beleza como as que costumo admirar, mas há algo nela que acho
absolutamente tentador. Quando ela dormia no meu sofá, sua pele de porcelana e o cabelo
vermelho-vivo contra o tecido cinza-escuro eram um verdadeiro deleite.
Lutei contra o demônio que se agitava sob minha pele e a observei dormir, intocada
por mim.
Pacífica. Sedutora. Mas se a tocasse, estaria profanando uma forma de arte tão pura
e mal compreendida.
Ela era uma inocente que ainda guardava o coração do meu eu de quatorze anos.
Nossa ligação inquebrável vem de um vínculo criado na infância, e até hoje a vejo como
aquela menina — Cattus, não a mulher que ela diz ser hoje.
Enquanto tomava meu café com um fio de leite (sem açúcar) e checava as notícias,
a melodia ainda ecoava na minha mente como se tivéssemos rido e cantado como crianças
ontem.
Ele apareceu diante de mim — grande e imponente, meu irmão mais novo com
uma expressão assassina que não combinava com ele.
Ele deu um passo à frente, mãos cerradas em punhos. "Não enche o saco."
"Você sabe o que aconteceu naquela época. Seu merda—" Ele fez um som de ar
escapando, como um pneu furado, enquanto se controlava à força. "Você vai vê-la hoje à
noite?"
Ele avançou com raiva, mas se segurou. "Por quê? Por que ela? É porque ela é
minha?"
"Tá bom."
"História que poderia ter sido diferente — melhor — se você não tivesse estragado
tudo."
"Digamos que estamos nos usando mutuamente. Ela quer algo de mim, e eu quero
algo dela."
Ele se agitou nos tênis. "Imagino o que ela quer de você. Mas o que você quer dela?"
"Mentira."
"O único motivo de você estar saindo com ela é porque ela é minha. Você não
suporta me ver feliz, então arranca tudo que tem significado pra mim. É assim desde
criança, e você ainda não mudou."
"Dramático."
Ele apontou o dedo para meu rosto novamente: "Você só sabe tomar, sem motivo
algum, só pra me ver sofrer. E quando cansar dela, vai descartá-la, igual fez com a Amber e a
Kristie."
"Quem?"
"Suas putinhas. Lembra delas? Você nem sabe os nomes direito, seu merda. Amber
e Kristie. Tatua esses nomes no seu cérebro, imbecil."
"Ela só está com você pra arrancar sua confissão sobre ser o rei do clube After
Dark."
"Imagino que seja um dos motivos. E estou plenamente ciente do que ela espera
conseguir de mim. Obviamente, uma confissão nunca vai acontecer. Mas talvez eu me
divirta com outras coisas enquanto ela estiver aqui... como nos bons tempos."
"Não estou falando só emocionalmente," seu olhar quase sugou minha força vital.
"Não a machuque fisicamente."
Eu soltei um riso de desdém. "Como se eu faria isso. Olha, irmãozinho, isso pode
ser um choque pra você, mas eu realmente me importo com a Cattus—"
"Você nem a chama pelo nome verdadeiro!" ele berrou.
"—então por que não? Podemos nos divertir. Tipo uma troca. Ela pode caçar o tal
rei do clube After Dark," revirei os olhos, "que ela obviamente acha que sou eu, e em troca
eu talvez... lamba sua boceta."
Ele voou em minha direção e me pegou em um mata-leão. "Diga o nome dela," falou
com calma mortal.
Sorri, mal conseguindo respirar com o aperto no pescoço. "Ensinei você bem, Art."
Ele apertou mais forte. A expressão em seus olhos era magnífica. Queria estar em
posição de tirar uma foto e adicionar à minha coleção.
Um.
Sopro.
Minúsculo.
Na verdade, eu fazia esse tipo de coisa com as garotas do meu harém, quando ainda
gostava da companhia delas.
"Diga o nome dela!" sua voz soou rouca enquanto apertava, e eu comecei a ficar
tonto. "Diga!"
"G-Gret..."
"G-Gretta Nelson."
Ele me soltou, e eu desabei no chão, engolindo ar aos risos. "Isso foi incrível,
irmão," rolei no chão do banheiro, "vamos repetir outra hora."
"Estarei ansioso, irmão," gritei enquanto ele saía pelo corredor, batendo a porta
com força.
TRINTA E QUATRO
Gretta
Sempre que estou perto dele, minha pele parece ganhar vida com impulsos
elétricos. Arrepios percorrem meu corpo, e a adrenalina corre nas minhas veias, me
implorando para fugir.
"Não vou te dar álcool," ele disse, abrindo uma garrafa de água mineral e servindo
um copo.
Fiquei encostada no balcão da cozinha, observando para ver se ele colocava algo no
meu drink. Tenho certeza que fez isso da última vez. Mas não conseguia entender o porquê.
Por que drogar uma mulher só para ficar vendo ela dormir por uma hora? Quão bem eu
conhecia o psicopata à minha frente? Talvez assistir mulheres dormir fosse o fetiche dele.
Ele me chamou para sentar no sofá, e eu o segui enquanto ele carregava meu copo
de água. Meus olhos não saíam do copo.
"Como você está, Cattus?" ele perguntou, batendo no lugar ao lado dele.
Seu dedo deslizou levemente pela minha coxa, e eu me encolhi ao toque. "Você está
muito nervosa, Cattus. Talvez eu deva te dar vinho."
"Estou bem." Passei a língua no lábio inferior, sentindo o peso do olhar dele. "Na
verdade, não estou bem."
"Você quer reviver nossa infância, não é? Falar dos velhos tempos."
"Como é?"
"Fiz o quê?"
"Atirou no meu pai." As palavras rolaram da minha boca, e uma vez ditas, não havia
volta. Sabia muito bem que havia me colocado deliberadamente em uma situação perigosa
— minha única ajuda eram as meninas esperando no carro lá fora.
Ele quase não reagiu, tomando outro gole de vinho, ganhando tempo. "Sei que não
quer ouvir isso, mas seu pai era um homem muito ruim."
"Isso é mentira."
"Tenta."
Uma confissão era tudo que precisavam para prendê-lo. Mas não era a confissão
que eles queriam. Era a confissão que eu precisava. Eu o vi atirar no meu pai. Mas precisava
ouvir de seus lábios. Precisava que ele sentisse culpa — ou remorso. Duvidava que fosse
capaz de tais emoções.
Ele suspirou, e sua mão encontrou minha coxa novamente, pressionando com
firmeza — um aviso, ou talvez outra intenção.
Eu não tenho certeza. "Quão bem você conhece seu pai, Cattus?"
"Sei que ele era trabalhador, dedicado ao emprego e um pai e marido amoroso."
Sua mão subiu lentamente pela minha coxa, parando a um centímetro do meu
centro. Contive minha reação ao toque. Precisava me concentrar. "Então me conta. Sou uma
garota grande, aguento."
"Me dá um exemplo."
"Você não vai gostar do que eu disser. Talvez seja mais saudável manter sua visão
idealizada do seu pai zelador do que saber a verdade." Ele arrastou a palavra "zelador" de
propósito, o que me irritou profundamente.
Ele jogou a cabeça para trás e riu. "Cattus, você é hilária. Não preciso provar o valor
do meu pai pra você. Você já sabe que ele trabalhou duro para conquistar o que tem."
"Me diz o que meu pai supostamente fez de tão horrível que você precisou atirar
nele," falei com raiva.
"Você é linda quando está brava, Cattus," ele suspirou, e meu corpo inteiro tremeu.
"Se eu pudesse te tornar minha, eu faria."
Ele sorriu e passou a mão no queixo liso. Me odiei por sentir tanta atração por esse
homem. Me odiei por querer sua mão na minha coxa de novo, seus lábios nos meus. Queria
sentir o gosto dele até doer.
Decidi tentar outra abordagem: "Eu sabia que era você por trás da máscara no
quarto 23."
"Não estava tentando me esconder de você, só do atleta que você estava fodendo. A
propósito, como estava o pauzão dele?"
"Sim, 'bem dotado' é um eufemismo. Mas ele é inepto em usar o equipamento. Mais
interessado no próprio prazer que no seu."
"Mas com quem você tem para comparar?" Ele me encarou diretamente, esperando
minha resposta, enquanto o dedo mindinho dele roçou meu centro.
Mordi meu lábio e segurei um suspiro. "Muito," menti. "E como você saberia como o
Ollie é na cama, se só nos viu uma vez?" Parei ao ler algo em seus olhos. "Você já nos
observou antes?"
Ele aumentou a pressão com o dedo mínimo, e desta vez não consegui evitar um
suspiro de desejo. Ele mal estava me tocando, mas minha calcinha já estava encharcada.
"Digamos que assistir você sendo satisfeita poderia se tornar meu passatempo
favorito."
Eu soltei uma risada, sem conseguir evitar, e seus olhos brilharam ao ouvir.
Minha diversão foi interrompida quando ele segurou meu rosto com a outra mão e
passou o polegar no meu lábio inferior. "Você é tão tentadora, Cattus. Sempre foi."
"Você tem um coração?" sussurrei, enquanto seu polegar deslizava sobre meu lábio
e entrava em minha boca.
Seus olhos se endureceram ao me ver chupar seu dedo. Quase dava para ver as
engrenagens girando em sua mente, decidindo meu destino.
"Você acha possível amar alguém que sabe que faz mal?"
Ele se inclinou e beijou minha boca suavemente, antes de avançar com força,
enfiando a língua profundamente. Sua mão dominou meu centro, massageando por cima da
minha calça. Eu usava um conjunto social — calça, paletó e blusa branca — minha roupa de
entrevista de emprego, justamente para dificultar se ele planejasse me drogar de novo.
"Como assim?"
Provocador, ele desabotoou minha blusa e deslizou as mãos quentes sob meu sutiã,
levantando-o. Recuou por um momento, bebendo minha imagem, antes de levar o seio
direito à boca.
"Sangue..." ele respirou, pouco antes de morder meu mamilo com força. Um fio
escarlate escorreu, e ele lambeu avidamente, sedento.
Arqueei as costas, enrolando as pernas em sua cintura para deixar claro o que
queria. Me fode. É isso que eu quero. Me fode bem.
Mas eu não estava no comando, e sua resposta foi me provocar, afastando seu pau
da minha boceta.
Com a cabeça entre minhas pernas, ele mordiscou e chupou por cima do tecido,
enquanto eu tentava puxar a calça para baixo – só para ter minha mão afastada com um
tapa.
Com o orgasmo prestes a vir, ele abriu o zíper e puxou minha calça de uma vez,
passando a chupar meu clitóris por cima da calcinha encharcada.
Foi o suficiente ele puxar minha calcinha e lamber minha boceta por um segundo
antes que o orgasmo chegasse.
"E morte…" ele disse enquanto eu gritava, consumida pelas ondas de desejo que
percorriam meu corpo. Ele continuou chupando quando outra onda me atingiu, colocando
minha perna direita sobre seu ombro para enfiar a língua dentro de mim. Não parou até a
última onda passar, então baixou minha perna e limpou meu suco do queixo.
"Me chama pelo meu nome verdadeiro," ofeguei, meu peito nu subindo e descendo
enquanto seus olhos percorriam meu corpo.
Ele balançou a cabeça, enfiando a mão no bolso e tirando uma camisinha.
Sentei-me para abrir o zíper de sua calça, mas fui afastada de novo com um tapinha.
Obedeci enquanto ele libertava o pau ereto da prisão das roupas. Era uma fera
linda – não tão grosso quanto o do Ollie, mas parecia mais comprido. Tremer de desejo ao
imaginar ele entrando fundo em mim, mais fundo que Ollie jamais conseguiria.
Ele enfiou apenas uma polegada dentro de mim antes de me lançar um olhar
diabólico – eu estava tão perto do orgasmo que mal consegui interpretá-lo. Meu celular
tocou na bolsa, e notei seu olho esquerdo estremecer, virando levemente a cabeça naquela
direção.
"Ignore," ordenou. "Você é minha esta noite." Empurrou mais uma polegada. "Quero
te fazer gritar." Mais uma.
Levantou minha perna direita sobre seu quadril e entrou até o fim, ajustando meu
corpo para ir ainda mais fundo. "Você está uma delícia, Cattus." Puxou quase todo para fora
antes de enfiar com força de novo.
"Vida…" ele falou firme, recuando novamente. "Sopro," enfiando com tudo e
pressionando contra minhas paredes. "Sangue," puxando para fora e apontando o pau para
baixo. "Morte," socando forte, bifurcando para baixo onde atingiu meu ponto mais
profundo.
"Diga," exigiu.
"Vida," enquanto ele entrava com força. "Sopro," recuando quase por completo.
"Sangue," enfiando fundo. "Morte."
E o orgasmo veio. Ele jogou a cabeça para trás e me fodeu rápido e forte até
terminarmos.
TRINTA E CINCO
Dominus
Eu queria perguntar quanto tempo ela tinha comigo, sabendo que suas
amigas esperavam lá embaixo. Veja, eu não sou o tipo de homem com quem uma inocente
como Cattus deveria ficar a sós. Então elas estavam certas em pensar que eu poderia
machucá-la. Não era minha intenção machucá-la – a menos que fosse para explorar aquela
deliciosa linha entre prazer e dor. Mas às vezes o demônio em mim assumia o controle. E eu
era levado a fazer coisas ruins por curiosidade... ou diversão.
Eu dancei nessa linha tênue entre prazer e dor quando a comi. Aposto que meu
irmãozinho nunca a fodeu assim. Aposto que ela nunca gritou o nome dele enquanto ele se
debruçava desajeitado sobre ela.
"Eu te machuquei?"
"Quer atender?" Quase disse: "devem ser suas amigas lá embaixo, preocupadas que
o monstro te devorou inteira."
Ela lambeu os lábios úmidos, e eu percebi que queria avisá-las que estava bem.
"Melhor eu ir," sussurrou.
Relutantemente, soltei meu aperto, e ela se levantou, levando seu calor com ela.
Ajeitou a blusa e o sutiã desalinhados – que ainda estava usando – e encontrou a calcinha
no chão, onde eu a deixara.
Suas nádegas eram montes perfeitos de porcelana, com carne suficiente para
afundar meus dentes.
A vontade de mordê-las me excitou, mas me contive.
Acertei os olhos nela, adorando o jogo. "Gosto do seu jeito de pensar, Medusa,"
disse, deslizando as mãos por suas coxas nuas.
"Conte-me," ela rosnou, pressionando o pé com mais força contra minha excitação.
"O que meu pai fez para ser condenado à morte?" Sua voz estava rouca, sem
vestígios de medo.
"Quem?"
"Minha mãe," respondeu baixinho, virando o rosto para esconder a culpa. O motivo
da culpa? Não tinha certeza. Mulheres sentem culpa com facilidade demais – herança de
milênios de submissão tatuada em suas células.
Eu sabia tudo sobre Cattus. Sua mãe doente. Seu namorado — meu irmão mais
novo. Seu trabalho. Seus estudos. Seu grupinho de amigas lá embaixo, provavelmente a
ponto de quebrar as unhas tentando lutar contra um monstro como eu. Conhecia cada uma
daquelas garotas e seus namorados, e não tinha medo. Não eram ameaça. Eu era bom
demais em cobrir meus rastros para me preocupar com um bando de universitários irados
atrás de justiça.
"O que tem ela? Talvez eu queira você como minha garota."
"Quer dizer que largaria a filha do senador pra ficar com uma garçonete de
lanchonete?" Sua voz estava afiada. Ela não era boba. "Duvido."
Ponto pra ela. Largar Vic estava fora de questão — arruinaria tudo que nossas
famílias planejaram. Mas talvez fosse hora de conversarmos sobre nosso futuro. Sobre o
futuro de nossos filhos que ainda nem existiam.
"Você é tão frustrante," ela resmungou, vestindo a calça sob meu olhar ardente.
"Não é isso que me frustra. Nós não temos futuro. Nem penso além de amanhã.
Estou falando de você se recusar a responder minha pergunta." Ela bateu o pé com raiva,
mostrando um temperamento que combinava com sua cor de cabelo. Adorei seu pequeno
show.
"Eu penso além de amanhã. Penso em passar mais noites com você."
"O quê?"
"Por deixar o assassino do seu pai te comer." A frase cortante pareceu atingi-la
como um soco.
Recuou quando tentei confortá-la. "Me desculpe. Por favor, Cattus. Volte pra mim.
Amanhã. Eu te ligo." A porta se fechou lentamente, me deixando sozinho em um
apartamento vazio assombrado por fantasmas.
Fui até a janela que ia do chão ao teto, com vista para a cidade, o rio Leste
serpenteando até onde a vista alcançava. Era verão, os dias longos e as noites ainda não
completamente escuras. Vi a chama vermelha de seu cabelo correndo até um carro
prateado de Cody Harrington. Sim, eu não nasci ontem. Cody é tão assassino quanto eu —
só temos motivos diferentes.
A figura curvilínea de Annalise Fontaine saiu do carro para abraçar minha Cattus,
que logo desapareceu dentro do sedan. Não antes de olhar para a rua e então para meu
apartamento no nono andar. Segui seu olhar, mas só vi carros estacionados — muito
escuros para ver dentro.
Era uma sensação estranha, quase estranha à minha natureza, que só podia ter a
ver com o laço criado quando nos conhecemos. Eu tinha 14, ela 12. A única filha de um
zelador da KVU. Era tão bonita, com olhos grandes, expressivos e curiosos. Os mesmos
olhos que agora guardavam fragmentos de desprezo e amargura — causados por mim. E
ainda assim, ela me olhava como se eu fosse um rei, exatamente como naquela época.
Medusa.
Digitei a Górgona no buscador do meu celular, tentando entender por que Cattus
escolheu justo aquele personagem mitológico para me chamar.
Medusa foi estuprada por Poseidon no templo da deusa Atena. Como punição por
profanar o espaço sagrado, Atena a amaldiçoou com uma cabeça de cobras e um olhar...
Soltei uma risada alta. "Um olhar que transformava homens em pedra. Ela
representa uma ameaça perigosa para deter outras... hmm, interessante," parei para
absorver. "Uma ameaça perigosa para deter outras ameaças. Uma imagem do mal para
repelir o mal."
Algo se agitou no fundo do meu estômago. "Mal para repelir o mal."
Era a frase-código dele para indicar que queria falar sobre negócios do After Dark,
o que significava que eu precisava usar meu celular secreto escondido no cofre. Podíamos
conversar por voz, mas qualquer mensagem de texto poderia ser recuperada, mesmo após
apagada. Havia gente poderosa demais envolvida no clube para eu cometer erros.
Entrando no meu escritório, deslizei a parede falsa do closet e abri o cofre. "E aí?"
perguntei assim que ele atendeu.
"Benson, você precisa transar," falei grosseiramente, olhando para o meu Rolex.
"Entendo a dedicação ao trabalho, mas são quase 21h."
"Quantos?"
"Três. Não posso finalizar os negócios com os alunos até que eles paguem."
Ele citou três nomes, e eu os memorizei enquanto pegava o pendrive que continha
o registro completo.
Quando saí do closet, levei um susto ao ver alguém imponente encostado na porta
do meu escritório.
"Me arrependo do dia que te dei uma chave extra," disse, deslizando o pendrive na
manga enquanto fechava discretamente a parede falsa. Como um homem tão grande
conseguia se mover tão silenciosamente?
"Já achou Nárnia?" ele cutucou. O comentário me atingiu como uma facada. Era a
segunda vez em duas semanas que me pegavam no meu espaço secreto. Estou ficando
descuidado. Normalmente, eu colocava a corrente na porta antes de entrar no closet. Nem
ele, nem Vic conseguiriam entrar com a corrente trancada, mesmo com chave.
"Queria te pegar no flagra com a Gretta, mas em vez disso te pego no flagra de... o
que exatamente você estava fazendo aí?" Ele apontou para o closet.
"Procurando algo."
"Desculpe ter perdido a Cattus," menti, "mas sua chegada estragaria nosso
segredinho, não é? Ela ainda não sabe que você e eu somos irmãos."
"E a Mathias?"
"Ela sabe?"
"Não era pra ser assim," disse, desanimado. "Você não devia ter sentimentos por
ela. Seu trabalho era ser o espião e me reportar. Você falhou."
Soltei um sorriso provocador, só para irritá-lo. "Foder ela até não conseguir andar
por dois dias."
Seu corpo inteiro se tensionou em fúria contida. Ele estava perigosamente perto de
descarregar os punhos no meu rosto, mas, surpreendentemente, se controlou, enfiando as
mãos nos bolsos do moletom.
"Você sabe o motivo, e não tem nada a ver comigo ou com você."
"Quem?"
"Você não machucou ela, né?" ele perguntou, como um namorado superprotetor —
o que ele havia se tornado.
Seu olhar carregava dor, e ele se virou para que eu não visse. Tarde demais.
"Poético."
Ele deu mais uma olhada para a porta do closet fechada antes de sair. Esperei até a
porta da frente bater para colocar a corrente.
"Me diz esses nomes de novo. E, a propósito, vou te comprar uma acompanhante de
luxo no seu aniversário."
TRINTA E SEIS
Gretta
"Sim. A única confissão que ouvi foi ele admitindo ter matado seu pai." A linha ficou
em silêncio por alguns segundos. "Por que você não me contou?"
"Sim, mas não podemos agir até que ele confesse sobre o clube After Dark.
Suspeitamos..." ela respirou fundo, "que ele está envolvido em outros assassinatos, mas de
mulheres."
Tomei um gole de água antes de responder. "Sim. Quem são elas? Quem são as
mulheres?"
"Estudantes da KVU."
"Não é aquela garota encontrada nua nos arbustos à beira da estrada, meio comida
por roedores? Na estrada que leva ao Lago Superior?"
"Mathias tem fortes razões para acreditar que ele estava envolvido na morte dela."
"Isso é horrível."
Silêncio.
"Não, eu proíbo."
"Gretta, não entendo como você pode se sentir segura nos braços de um provável
assassino."
Eu não me sentia segura, mas me sentia desejada e ansiava por vê-lo novamente. O
que era realmente estúpido, considerando o que eu acabara de ouvir. "Eu tenho você e..."
"Suas amigas."
"Sim."
"Bom saber." Ela suspirou novamente. Isso não estava fácil para ela. "Estou
trabalhando incansavelmente há mais de dois anos para resolver este caso."
"Eu sei."
"Eu entendo."
"Eles serão ex-alunos da KVU e membros da Cobra & Cálice. Os membros Platinum
da Cobra & Cálice estão no topo da lista de suspeitos. Aposto que há centenas deles, desde
décadas atrás."
Eu ouvia atentamente, cobrindo o ouvido livre com a mão para ouvi-la sobre o som
da TV na sala.
"Eu quero todos eles, Gretta. Quero cada último canalha condenado e atrás das
grades para sempre."
"Eu sei."
"Isso é grande demais para errarmos, e sinto que a pressão é grande demais para
seus ombros."
"Você está errada. Você me treinou para isso, Delaney. Mantive isso em segredo até
dos meus amigos mais próximos e da minha mãe. Nem mesmo a Mathias sabe metade do
que fazemos."
"É para o bem do caso, por isso ela me trouxe. Há infiltrados até na KVPD. Se
errarmos, podemos perder tudo. Os criminosos vão desaparecer, e nunca os encontraremos.
É por isso que estou com medo."
"Por quê?"
"Eu o vi perambulando pelo prédio do Dom hoje à noite. Acho que ele te seguiu até
lá."
"Mas?"
"Verdade."
"Notei isso."
"Preciso saber."
"Psicopatas geralmente não precisam de motivos válidos para matar," ela disse sem
rodeios. "Você pode se decepcionar."
"Decepção é meu nome do meio. E ele tinha só dezesseis anos. Matou meu pai dois
anos depois que nos conhecemos nas férias de verão."
Esfreguei os olhos cansados com a palma da mão. "Eu consigo, Delaney. Por favor,
deixe-me continuar."
Ela hesitou.
"Sou uma boa atriz," menti. "Pareceu que ele gostava de mim?" Me arrependi de
perguntar assim que as palavras saíram da minha boca. Acho que queria uma confirmação
de que ele sentia algo por mim, porque certamente parecia quando estava com ele.
"Não vou responder isso," ela disse, e eu fiquei tanto decepcionada quanto aliviada.
Terminamos a ligação, e eu saí para a sala para pegar um copo d'água antes de ir
para a cama. Minha cabeça girava tanto que mal notei minha mãe, sempre no mesmo lugar,
na cama dela, na sala, assistindo TV.
O quarto ficou mortalmente silencioso, e ergui a cabeça para ver o motivo. Mamãe
tinha desligado a TV e estava me encarando, os dedos entrelaçados. Conhecia bem esse
olhar — ela estava pronta para uma conversa, querendo eu ou não.
"O quê?"
"Nada."
"Isso é mentira, e você sabe. Você está mentindo sobre onde está, não só para suas
amigas, mas para mim. E quando está em casa, está distante. Seu corpo está aqui, mas sua
mente está em outro lugar."
"Não." Tomei outro gole, evitando seu olhar. Ela precisava de uma explicação, mas
não à custa de colocar sua vida em risco. "Sabe todos aqueles estupros e assassinatos
horríveis que acontecem na escola?"
"Bem, eu faço parte de um grupo que está infiltrado para descobrir quem são os
responsáveis."
"Oh?"
"Tem muita gente envolvida nesse esquema, e isso vem de décadas atrás."
"E o Ollie?"
Pela expressão dela, vi que não estava convencida. "Por que você mentiu pra ele
naquela noite? Você me disse que estava com ele, e pra ele disse que estava em casa comigo.
Se ele é seu protetor, por que mentiu?"
"Precisei me encontrar com um suspeito, e não queríamos o Ollie lá por motivos
óbvios."
"Nós? A polícia?"
"FBI?"
"Sim."
"Mãe, é enorme. São muitas pessoas envolvidas. Gente que parece certinha,
cidadãos exemplares por fora, mas são sádicos que machucam pessoas por diversão
quando ninguém está vendo."
"Estou protegida."
"Pelo Ollie?"
"Pelo FBI." Suspirei. Não mencionei as garotas que esperam fielmente no carro por
mim. "O Ollie não está envolvido no lado do FBI. Ele não sabe de nada, então você não pode
contar pra ele. Tá bom?"
"Porque precisamos manter isso totalmente em sigilo até termos nomes e provas
suficientes para fazer prisões. Embora vários agentes estejam trabalhando nisso, só há
alguns civis envolvidos — por medo de alguém acidentalmente abrir o bico. É muito
arriscado."
Ela ficou em silêncio por um momento, encarando a tela preta da TV, mastigando as
informações. "Parece tão absurdo, mas você é minha filha, então vou ter que acreditar em
você."
"Não posso dizer porque ele está profundamente envolvido no esquema, mas... ele
era só um garoto quando fez isso."
"Um garoto?"
Tenho certeza que ela imaginou uma criança do ensino fundamental, então precisei
corrigir. "Quero dizer, ele tinha só dezesseis anos."
"Ah." Seus olhos voltaram para a TV desligada. Alguns segundos depois, ela ligou o
aparelho com o controle, e me confortei com o som alto enchendo o quarto. "Você vai ter
cuidado," ela disse, sem tirar os olhos do programa. "Já perdi um amor. Não quero perder
outro."
"Vou sim," respondi, sentando na cama dela para assistir The Walking Dead. "Mãe..."
"Hm?"
Tris e Lise planejavam passar as férias de verão em Cancun, até que estraguei os
planos deles pedindo para Lise trabalhar durante as férias. Acho que Tris não ligou muito,
já que disse que não era muito fã de praia mesmo, enquanto Lise estava ansiosa para dar
um tempo de KV.
Uma música do Coldplay começou a tocar, e eu cantarolei, sem saber muito a letra,
enquanto me concentrava novamente no meu trabalho. Minha vida era muito ocupada para
ficar ouvindo e decorando letras de música. Não importa o quanto eu gostasse daquela
música.
Alguém ficou na frente do sol, projetando uma sombra escura sobre mim. Levantei
a cabeça rapidamente, mas levei alguns segundos para meus olhos se ajustarem antes de
perceber quem era.
“Tá bom,” agarrei sua mão, já sentindo vergonha antes mesmo de começarmos. Ele
estava usando calças pretas e uma camisa social preta enfiada na cintura. Estava vestido
para o trabalho, então não entendia por que ele estava aqui no campus.
Suas mãos encontraram minha cintura, e ele me puxou para perto enquanto o calor
dos olhares de todos me queimava por dentro. “Isso não está certo,” sussurrei.
“Está muito certo,” ele retrucou, beijando meu nariz, o que só alimentou a fogueira
já ardente que me consumia.
Eu estava prestes a dizer seu nome verdadeiro em protesto, mas ele colocou um
dedo nos meus lábios para me calar. A música continuou tocando enquanto ele encostou o
rosto na curva do meu pescoço, envolvendo-me firmemente com os braços. Nos movemos
lentamente no ritmo da música, mas eu ainda não conseguia relaxar—não com todo mundo
olhando e julgando.
Ainda assim, enquanto seu hálito quente acariciava minha pele, eu relaxei contra
seu corpo, mergulhando no cheiro único dele.
“Eu faria qualquer coisa para te beijar agora, Cattus,” ele sussurrou contra minha
pele.
Ele deu um passo para trás, levantou minha mão e me girou devagar, até que eu
fiquei de frente para ele novamente. Naquele breve momento, percebi alunos por perto
observando e cochichando. Não conseguia ouvir o que diziam, mas imaginei-os
questionando por que ele estava com a garota da lanchonete de hambúrgueres.
Eu era uma ninguém, e ele era um alguém. Essa imagem não faria sentido para
muita gente.
De novo, ele pegou minha mão, deu um passo para trás e me girou. Quando me vi
de frente para ele novamente, ele me fez rodopiar mais uma vez, fazendo-me dar uma
risadinha quando quase perdi o equilíbrio. Ele sorria calorosamente, alheio à atenção que
estávamos atraindo—seus olhos brilhantes estavam fixos apenas em mim.
Eu estava tão atraída por esse homem que começava a questionar minha sanidade.
Claro, ele era bonito, mas se você olhasse além do maxilar quadrado e dos lábios rosados…
ele era, bem…
Ele me inclinou para trás, e eu dei um gritinho de medo brincalhão, temendo que
ele me deixasse cair. Me puxando de volta para cima, ele me lançou um olhar malicioso
antes de me fazer girar outra vez.
Dessa vez, ele me soltou, e quando me virei para encará-lo novamente, ele já tinha
virado as costas e começado a andar, me deixando sozinha e exposta, com centenas de olhos
me observando.
"Estou preocupada de que alguém conte para sua namorada," eu disse quando ele
pegou meu casaco, já dentro de seu território.
"Cattus," ele respondeu, passando um dedo pelo meu queixo, "não é sua função se
preocupar. Enquanto estamos juntos, não pensamos em mais ninguém. Entendido?"
Fiz uma continha de capitão, e ele sorriu. "Você vai responder minhas perguntas
hoje?" perguntei, afastando-me do seu toque.
Caminhei até o sofá e me joguei nele, esperando que ele me seguisse—mas, em vez
disso, ele foi até a cozinha e me observou por cima do balcão.
"Com queijo?"
"Sempre."
"Vinho favorito?"
Eu não sabia nada de vinho, então ele poderia dizer qualquer coisa, e eu
acreditaria. "Sua cor favorita é vermelho?"
Ele murmurou algo entre o tilintar dos pratos. "Digamos que vermelho é o meu
sabor favorito."
"Vem," ele me chamou para a mesa de jantar, puxando uma cadeira para que eu me
sentasse à cabeceira.
"Macarrão com molho pesto e queijo parmesão ralado. Verde é a cor desta
refeição."
Ele colocou o prato na minha frente, e senti seus lábios pressionarem o topo da
minha cabeça.
"Sério?"
Meu coração afundou, e eu baixei a cabeça, sabendo muito bem que uma viagem
internacional com Dom jamais aconteceria.
"Por que tão triste?" Ele ergueu meu queixo gentilmente com o dedo.
Ele sorriu. "Lembra daquela música que costumávamos cantar? Qual era o nome?
Você fazia estrelinhas na grama enquanto eu pedalava ao seu lado, e a gente cantava…"
Seus olhos se perderam, tentando recordar.
"Yellow Submarine?"
"Uptown Funk."
Fiz meu melhor para cantar o refrão, e foi o suficiente para ele saber que era a
música certa.
"Uma delas."
Me senti estranha com isso—éramos amigos, mas ele tinha cruzado uma linha que,
na cabeça dele, nem existia. Enrolei macarrão no garfo e enfiei na boca de um jeito nada
elegante.
"Hã?"
"Vêm em sequência."
"Até pode, mas pular também me diz mais sobre você do que responder."
"Certo. Vai."
"Anal."
"Livro favorito?"
"O dicionário."
"Sério?"
"Sim."
"Série favorita?"
"Vila Sésamo."
"Corda."
"Estrangular."
"Qual?"
"Game of Thrones."
"E Você."
"Eu?"
Quase engasguei com o macarrão. "Achei que você diria que uma arma é sua
favorita, já que foi o que usou pra matá-lo."
"Voltamos a isso."
"Sinto que estou traindo meus pais estando aqui com você. Pior ainda é que estou
me divertindo na sua companhia. Que tipo de pessoa faz isso?" Apontei para a têmpora.
"Devo ter um parafuso solto."
Seus olhos suavizaram, cheios de calor e empatia. A cor que eu descrevia como
"lama" agora se transformava num tom agradável de avelã, conforme meus sentimentos por
ele se aprofundavam. É engraçado como as percepções mudam. "Todos nós não temos um
parafuso solto?"
"Ah… mas ele estava me machucando. Só não do jeito que você pensa."
"Dom, por favor. Me dá algo. E por que temos que usar esses nomes idiotas? Por
que não posso te chamar pelo seu nome verdadeiro?"
"Sexy."
Um sorriso diabólico surgiu em seu rosto quando sua mão encontrou minha coxa.
"Não," eu disse, batendo nela para afastá-la. "Me conta. Ou eu vou embora agora
mesmo."
"Tem mais coisa por trás disso, mas sim, eu atirei. Não quis matá-lo, só estava com
raiva."
Ele acrescentou: "Ele foi até meu pai e disse que eu estava fazendo coisas
inapropriadas com sua filha."
"Não era assim que eu via. E você parecia gostar. Éramos só crianças brincando e...
experimentando."
Senti seus lábios pressionarem minha bochecha, mas não consegui reagir ao toque.
Estava presa no tempo. O relógio parou de tiquetaquear, e perdi o fôlego.
"Foi o fato dele ter ido ao meu pai que arruinou tudo para mim, Cattus," ele disse,
pegando minha mão e beijando a palma. "Eu não podia perder você."
Mais lágrimas escorreram, e soltei sua mão para enxugá-las. Precisava de espaço
para respirar, pensar e me acalmar, porra. Meu coração batia acelerado contra as costelas.
"Hmm, posso usar seu banheiro?"
Joguei água fria no rosto, tentando me recompor. Ainda tinha trabalho a fazer.
Ainda precisava arrancar outra confissão dele. Tentei não demorar muito e, ao voltar, o
encontrei ainda à mesa, com a cabeça baixa.
"Eu sei."
Ele se levantou e me envolveu nos braços. Eu estava tão confusa. Seu abraço quente
parecia tão certo, mas ele era tão errado. Lutava constantemente contra o que sentia por
ele. Nada daquilo fazia sentido.
"Fica."
Balancei a cabeça. "Preciso..." Meu peito arfava, entre pânico e desejo. "Não consigo
respirar."
Ele me soltou do aperto firme, e eu agarrei minha bolsa e corri para a porta, com
lágrimas escorrendo e turvando minha visão.
Eu: Sim.
Claro que respondi "sim". Ainda não tinha cumprido meu objetivo... e gostava de
estar com ele. Gostava do seu jeito, do seu cheiro, do seu sorriso, do modo como me tocava.
E ainda assim, também o odiava com vingança.
Ele era o garoto que arruinou nossas vidas e não sofreu punição por seu crime.
Também era o homem que admitiu ter atirado no meu pai porque ele o proibiu de
me ver. Havia algo tragicamente romântico nisso — mas eu não podia perder a cabeça por
causa disso.
TRINTA E OITO
Gretta
Saí para o dia que escurecia, sabendo que minhas amigas estavam logo
adiante e Delaney estava em sua van ouvindo minha conversa com Dom. Não
conseguia ver a van de onde estava, mas sabia que ela não estaria muito longe.
"Oi," ouvi uma voz grave atrás de mim e me virei para ver uma figura imponente
encostada na parede, envolta em sombras.
"Você continua mentindo para mim," o tom de sua voz fez os pelos da minha nuca
se arrepiarem.
"Ollie, eu deveria estar..." Pausei. Ollie não deveria saber de nada disso. Era
arriscado demais.
"Eu sei o que você deveria estar fazendo, mas você ainda está transando com ele,
não está?"
"Fala comigo," seu rosto a dois centímetros do meu, o cheiro de cerveja e maconha
envolvendo-me.
"Me desculpe. Você sabe como isso funciona." Meu celular tocou na bolsa, e minha
mão se contraiu para pegá-lo.
"Eu sei quem ele é," ele disse, arrastando-me pelo braço para um beco entre dois
prédios.
Fiquei quieta, planejando minha fuga, mas seu aperto era forte no meu braço.
"Eu sei quem e o que Dominus realmente é," ele me falou.
"Ele só está fazendo isso para me deixar com ciúmes. Ele não sente nada por você,"
sua voz rouca e cruel.
"Ollie, você sabe que não é por isso que estou fazendo isso," argumentei.
"Ollie, me solta," exigi, arrancando meu braço de seu aperto, apenas para ele me
prender contra a lixeira imunda que fedia a comida estragada e merda de cachorro. Ouvi
alguém chamar meu nome. As garotas. Elas obviamente me viram sair do prédio e
desaparecer.
Ollie tapou minha boca com a mão. "Você não vai a lugar nenhum até a gente
conversar."
"Para aí agora," ouvi Lise Fontaine advertir. Podia ouvi-las, mas minha cabeça
estava pressionada com tanta força contra a lixeira que não conseguia virar para vê-las.
"Parece pra mim que a Gretta não quer falar com você," Lise disse.
Ignorando-as, ele pressionou os lábios contra meu ouvido. "Eu sempre soube quem
ele é."
Ele esticou o pescoço para o lado até estalar. "Já se perguntou o que aconteceu com
o irmão mais novo dele? Ah, qual era o nome mesmo? Arthur, Arthur Wheeler. Filho do
presidente da Kingston Valley University. Alguém sequer se importou com o filho mais
novo? Quer dizer, alguém sequer notou que ele sumiu?"
Eu tinha encontrado Ollie algumas vezes quando tinha doze anos, antes dele ser
enviado para seus tios. Ele pouco se parecia com o homem que agora me encarava.
"Por que você não pergunta a ele, já que ficaram tão íntimos? Ah, mas é improvável
que ele conte a verdade, já que o mundo dele é todo baseado em mentiras. Aposto que você
até acredita que ele sente algo por você. Deixa eu te contar uma coisa: meu irmão é incapaz
de sentir emoções genuínas."
Seus olhos enlouquecidos voltaram para mim. "Me bateu. Me torturou. Tudo que
você imaginar, ele fez. E fui eu que mandaram embora. Eu! Ele caiu da bicicleta e quebrou o
braço, e contou aos nossos pais que fui eu quem machucou ele." Ele socou a lixeira com
fúria, ao lado da minha cabeça. "E eles acreditaram nele, não em mim. Eu jurei de pés juntos
que não fui eu."
"Sinto muito, Ollie. Sinto muito por ele ter feito isso com você."
Ouvi um baque sólido contra algo duro quando Ollie se sacudiu e virou a cabeça.
Com ele fora do caminho, pude ver Luca em pé, com um taco de beisebol nas mãos — e o
"algo duro" tinha sido as costas de Ollie. "Dá um passo pra trás ou eu te acerto de novo."
Ele riu com maldade, subestimando a ameaça. Obviamente não conhecia Luca
Hanna direito, porque ela partiu para cima dele com outro golpe. Mirando na cabeça. Ele
ergueu o braço para proteger o rosto, então arrancou o taco das mãos dela com facilidade.
"Corre!" Luca me gritou. E as três corremos o mais rápido que pudemos até o sedã
prateado estacionado na rua, onde Rhys esperava. Sabia que Ollie não nos perseguiria, mas
Luca pulou no banco do motorista e ligou o carro como se estivéssemos fugindo de um
assalto a banco.
"Você está bem, Gretta?" Rhys perguntou, ofegante, mesmo não tendo sido ela
quem correu.
"Estou bem."
"Mas que diabos?" Luca começou, "Eu achava que ele era um cara legal."
"Ele é. Só não está feliz comigo saindo com outro homem, o que é compreensível."
"Sim, mas ele deve saber que você não sente nada por Dom, você só está fingindo
para conseguir informação dele, né?"
Respondi à pergunta com silêncio. Sentada no banco de trás com Rhys, virei-me
para a janela para que ninguém lesse minha expressão.
"Ah não," Lise suspirou, simpática. "Você está a fim de um psicopata. Bem-vinda ao
clube. Pelo menos os meus psicopatas estão mortos. E digo mais: definitivamente não sinto
mais nada por aqueles Sweeneys. Na verdade, nunca senti. Foram sentimentos equivocados,
só isso. O que provavelmente é o seu caso também, Gretta, né?"
"É."
Senti Rhys tremer ao meu lado enquanto falava. Lise e eu sabíamos seu segredo.
Sabíamos que Adam Sweeney virou comida de peixe no fundo do Lago Superior por causa
dela e de seu primo Tris. Não tinha certeza se Luca já sabia disso. Mas sabia que Rhys se
sentia culpada toda vez que alguém mencionava o assunto — e que era por isso que ela e
Jace Luxon estavam se mudando para Maui no fim do semestre.
"Um dia espero que você conheça um homem realmente bom," Rhys sussurrou.
"Alguém que possa realizar seus sonhos. Você merece."
Sorri e apertei sua mão fria, sabendo no fundo que contos de fadas assim não
existem para garotas como eu. Garotas como eu se matam em empregos mal pagos a vida
toda, mal sobrevivendo. E morrem de exaustão ainda usando um avental.
Quando paramos no sinal vermelho, uma van branca com "Victor's Launderette"
escrito na lateral parou ao nosso lado. Olhei para a loira no banco da frente usando óculos
escuros mesmo ao anoitecer. Ela acenou com a cabeça quase imperceptivelmente, mas o
suficiente para eu notar.
"Por que não?" respondi. Ainda era cedo. Meu toque de autoimposto era às 21h30,
já que não gosto de deixar minha mãe sozinha por muito tempo. Ainda tinha tempo de
sobra para pizza e conversa de garotas.
As duas noites seguintes após minha doce Cattus ter saído chateada do meu
apartamento foram passadas sozinho ou com Vic — o que era a mesma coisa que
estar sozinho.
Cattus deveria ter vindo e ficado, mas adiou nosso encontro para outra noite,
infelizmente. Estou preocupado de tê-la assustado de vez, piorado pelo fato do meu irmão
tê-la confrontado lá embaixo. Ele veio ao meu apartamento logo depois, com um sorriso de
superioridade no rosto. Parece que Cattus já sabia quem Ollie realmente era.
Só podíamos deduzir que Mathias havia fuçado a vida do meu irmão e descoberto
seu pequeno segredo. Era por isso que ele tinha sido colocado em segundo plano naquela
operação secreta idiota envolvendo minha pessoa.
Não estou apaixonado pela mulher ao meu lado e tenho certeza que ela também
não me ama. Nosso relacionamento é meramente de conveniência e status, e estou
começando a questionar por que continuamos vivendo essa mentira.
Ela suspirou no sono. Costumava amar esse som, porque era o mesmo que ela fazia
quando transavamos. Enruguei o nariz e virei de lado, afastando-me dela.
Jonathon Wheeler: ex-presidente da Cobra & Cálice até se formar no ano passado.
Jonathon Wheeler: a mente por trás do clube After Dark. Não fui eu quem começou
o movimento — a ideia foi colocada em prática por ex-alunos vinte anos atrás. Mas fui eu
quem manteve o clube ativo e o expandi quando as rédeas foram passadas para mim.
Levantei cedo e fiz ovos no café da manhã, depois sentei na janela da sala
observando o nascer do sol. No ângulo certo, conseguia ver a KVU e me lembrava da
diversão que tive estudando lá.
Agora, estou preso num trabalho de merda das 9 às 5, com a intenção de seguir os
passos do meu pai. Era o que ele queria para mim, e eu não via problema nisso.
A vontade de matar novamente estava se arrastando sob minha pele. Suspeito que
o estresse das últimas semanas estava contribuindo para meu desejo por uma válvula de
escape. Assassinato era um ótimo liberador de adrenalina — uma onda de excitação
seguida por uma queda. A queda eu remediei com sucesso usando álcool e sexo. Porém, a
queda após minha última "escolhida" foi mais profunda e escura do que eu antecipara.
A necessidade pelo barato estava ficando mais frequente, as vítimas mais próximas
no tempo. Uma coisa é certa: Cattus nunca cairia nessa categoria. Ela é muito preciosa para
mim agora. Vic, por outro lado... Não quero nada mais do que cortar sua pele perfeita e ver o
sangue escorrer. Mas ela também não pode ser uma opção.
Seus passos rápidos ecoaram pelo chão e senti seu hálito na parte de trás da minha
cabeça, beijando meus cabelos. "Bom dia."
"Bom dia, querida," respondi sem tirar os olhos do nascer do sol flamejante.
Ouvi o som do café sendo servido numa caneca, seguido por um gole rápido e
então: "Vou só tomar um banho."
"Tá."
Fomos interrompidos. Tão perto. Tão perto, porra. Ela teve sorte de escapar só com
meu pau na sua buceta.
Deslizei a parede falsa e prestei atenção para ter certeza de que Vic ainda estava no
banheiro.
Porra.
Tropecei para trás enquanto meu coração batia forte no peito e as paredes
pareciam se fechar ao meu redor.
Abraçando meu próprio torso, dobrei-me para frente, lutando para recuperar o
fôlego. Meu peito subia e descia numa tentativa desesperada de encher os pulmões de ar. A
pressão no peito era insuportável. O suor escorria gelado pela minha nuca.
O som da porta do chuveiro se fechando me tirou daquele estado. Ela. Tinha que
ser ela.
Fui até a porta do banheiro e tentei a maçaneta. Trancada. Três chutes fortes, e a
porta se abriu com um estrondo.
"O que você está fazendo?" ela gritou, horrorizada, cobrindo o corpo nu com uma
toalha.
"O cofre." No momento em que disse isso, percebi que ela não fazia ideia do que eu
estava falando. Deixei-a lá e fui para a sala pegar meu celular, ligando para o número normal
do Ollie.
"O quê?"
"Não vem com essa. O cofre. Você abriu e esvaziou tudo."
Pausei ao ouvir uma voz feminina ao fundo e soube que não era Cattus — ela nunca
passava a noite toda. "O que você fez com as coisas?"
Ele gemeu no telefone. "Cara, eu não tenho ideia do que você está falando."
Desliguei na cara dele e olhei para Vic, que estava diante de mim, de braços
cruzados e uma expressão tempestuosa.
"Não."
"Tá bom."
Ela virou as costas para mim, irritada, mas hesitou antes de me encarar novamente.
"Acho que precisamos de um tempo."
"Concordo," respondi sem hesitar, captando um breve tremor de dor em seu rosto
antes que ele se transformasse novamente naquela máscara de elegância impassível que eu
conhecia.
"Tá." Minha mente estava acelerada, e eu não tinha paciência para lidar com ela
agora. Ela estaria melhor com o Bruno de qualquer maneira.
Fazia apenas duas noites desde a última vez que abri o cofre. Eu achava que
ninguém sabia dele. Eu me certifiquei de que ninguém soubesse. Mas mesmo que
soubessem, como conseguiram o código?
Até onde eu sabia, apenas três pessoas haviam entrado no apartamento nos
últimos três dias — Cattus, Vic e Ollie. Tinha que ser Ollie, e eu esperava, com o coração na
mão, que ele usasse isso como chantagem. Já podia vê-lo: se eu me afastasse de Cattus, ele
me devolveria o que era meu.
"Adeus, Jonathon," Vic disse, com sua voz fria e orgulhosa, enquanto caminhava até
a porta.
Meu celular tocou. O nome do meu irmão apareceu na tela. "O que tinha no cofre?"
ele perguntou.
"Vai se foder."
"Eu não sabia porra nenhuma desse cofre até você me ligar agora me acusando de
roubo."
"Você ficou um ótimo mentiroso, Art. Acho que posso levar o crédito por isso."
Eu estava perdendo a calma. "Vou perguntar mais uma vez. Que porra você fez com
o conteúdo do cofre?"
Ele hesitou. "Cancele os brutamontes, e eu te conto. Até lá, vou continuar fingindo
demência."
Havia algo em sua voz que me incomodava, mas eu não conseguia identificar o quê.
Sem dúvida, ele estava mentindo — só não sabia sobre o quê.
"Você tem que provar, mano. Eu seria um idiota de acreditar na sua palavra. Dois
dias. Se os brutamontes não vierem atrás de mim em dois dias, eu devolvo."
"Claro que tenho, porra. Com o homem que se autointitula Dominus," ele riu.
Um calafrio percorreu minha espinha. "Você não está pensando em fazer alguma
merda."
Ele riu. "Acho interessante que você esteja mais preocupado com nossos pais
descobrindo que o filho deles é um maldito serial killer sádico que comanda um esquema
ilegal de aluguel de estudantes para membros Platinum ricos, do que com a polícia
descobrir. Mas, bem, o KVPD está no bolso da Sociedade da Serpente e do Cálice, o que
significa que está no seu bolso. Então, acho que você não precisa se preocupar com isso."
Os pelos da minha nuca se arrepiaram. Algo não estava certo. Limpei a garganta.
"Art, quer me dizer o que tinha no cofre?"
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, depois começou a pigarrear, atrasando a
resposta.
Desliguei.
Se não era o Art, então só podia ser Cattus ou Vic — a menos que alguém tivesse
invadido. Verifiquei o aplicativo do meu celular conectado à câmera de segurança.
Às 10h16 da manhã anterior, alguém vestido de preto da cabeça aos pés entrou no
meu apartamento carregando uma bolsa. Desapareceu da visão da câmera e voltou quatro
minutos depois, saindo do apartamento.
Quatro minutos.
A rapidez deles indicava que sabiam a localização do cofre e o código para abri-lo.
Mas como diabos entraram no meu apartamento? Só Vic e Art tinham chaves... e o
segurança do prédio. Será que convenceram o segurança a abrir minha porta para eles
vestidos de ladrões?
Passei a mão pelos cabelos, adiando o inevitável. Respirando fundo, liguei para
Vanderbilt.
Assim que Darryn entrou na sala, dei-lhe um grande abraço. Ser colega de
quarto de Ollie tinha cobrado seu preço. Ele estava vigiando-o 24 horas por dia, sem
parecer óbvio. Além disso, ele teve que fingir ser quem atirou em Mathias no ombro. Tudo
isso era falso. Tudo.
Mathias nem sequer foi baleada. Armaram tudo para Ollie acreditar que sim.
Fizemos Darryn parecer o vilão, para que parecesse que ele estava se distanciando do caso,
quando na verdade estava vigiando Ollie mais de perto. Isso também deixou Ollie nervoso,
tornando-o mais suscetível a cometer erros. E funcionou.
"Ele quer me ver de novo," eu disse, "e acho que devo ir."
Ele suspirou, cruzando os braços sobre o peito largo. "Isso não foi fácil para mim,
Gretta. Te ver indo e voltando entre dois homens enquanto eu ficava de lado, fingindo ser só
o observador. Não podia me aproximar de você. Não podia entrar em contato. Você tem
ideia de como foi difícil?"
"Os dois?"
"Sim." Ela trocou olhares com um de seus agentes, Mike, que estava encostado na
mesa com computadores exibindo imagens de vigilância sem parar. "Nesta próxima fase,
vamos mandar você, Darryn e sua mãe para longe por um tempo."
"Agentes estão no seu apartamento agora mesmo ajudando sua mãe a se preparar.
É isso, Gretta. Acabou. Vocês vão voar para a Flórida hoje à noite—"
Eu queria ver Jonathon mais uma vez, mas duvidava que fosse possível com
Delaney e os federais respirando no meu pescoço. Era estranho o vazio e a insatisfação que
sentia por dentro. Jamais admitiria para ninguém, especialmente para Darryn, que estava
completamente apaixonada por Jonathon Wheeler.
O homem que se chamava Dom. O homem que atirou no meu pai porque foi
proibido de me ver.
Delaney temia que eu pudesse me tornar sua próxima vítima, mas eu sabia, no
fundo, que ele não faria isso comigo.
Talvez ele fosse apenas mais um ator nessa peça, assim como todos nós. E talvez eu
tivesse sorte de sair ilesa.
QUARENTA E UM
Jonathon
Fiquei o dia todo esperando que o castigo por meus crimes chegasse. Só não
sabia em que forma viria. Alguém tinha em suas mãos uma montanha de provas para me
chantagear, então esperei que se aproximassem para fazer um acordo.
Espiando pelo olho mágico, vi um rosto que menos esperava. Abri a porta na
corrente e balancei a cabeça. "Não é uma boa hora."
"Sobre o quê?"
Seus olhos gelados olharam em volta antes de responder: "Sobre o conteúdo do seu
cofre."
Sorri. Nunca estive tão orgulhoso de minha ex-namorada linda e sem coração.
"Claro."
Abri a porta para ela entrar. Seu perfume habitual de Jasmim-manga e couro nunca
pareceu tão atraente. Vestia um tailleur branco, blusa de renda branca por baixo e sapatos
bege. Tão limpa e perfeita.
Dei um passo em direção ao corredor para pegar o laço, até que ela disse o nome
"Bruno."
"Hã?" Estava muito barulhento dentro da minha cabeça naquele momento e não
entendi direito.
"Como assim?"
"Você sempre assumiu que Bruno era um homem com quem eu tinha um caso."
"Do FBI. O caso foi repassado para eles há um tempo, porque Mathias não
conseguia avançar com as restrições do KVPD. Enfim, ela descobriu que os federais já
monitoravam vários envolvidos no Clube After Dark, incluindo você, Jonathon. Ou prefere
ser chamado de Dominus? Passei informações sobre você há bastante tempo. Você também
vai se surpreender ao saber que seu pai e o meu também faziam parte da operação, assim
como Gretta Nelson."
Me senti estranhamente calmo, como se soubesse que esse dia chegaria. Só não
pensei que as balas viriam da arma de Victoria. Mesmo assim, não senti dor nem raiva pela
traição — porque eu merecia estar aqui.
"Art... Ollie e Benson Vanderbilt já foram presos e confessaram seus papéis nos seus
assassinatos e no Clube After Dark."
Ouvi enquanto observava o mundo passar pelas janelas altas. "Os federais em todos
os estados estão atrás de todos os nomes da lista no seu pendrive. Aparentemente, tem
alguns figurões lá."
Esvaziei meu copo de uísque e peguei a garrafa para servir mais. "Quanto tempo eu
tenho?"
Ela olhou para o relógio no pulso delicado. "No máximo dois minutos. Queria falar
com você primeiro porque senti que te devia uma explicação."
"Jon, você matou garotas inocentes, não pode esperar que isso fique impune."
Balancei a cabeça e bebi o uísque pela última vez. Sob seu olhar curioso, limpei o
copo por dentro e por fora com um guardanapo branco e o coloquei na bandeja de prata ao
lado da garrafa de cristal.
Fiquei de pé para falar com ela. "Confesso, Victoria, que nunca te amei. Sinto muito,
mas meu coração sempre pertenceu a outra."
Sua resposta me surpreendeu, mas estava anestesiado demais para reagir. "Diga a
ela que eu a amo."
Ela acenou com a cabeça quando alguém bateu na porta: "FBI, abra!"
UM MÊS DEPOIS
Enterrei os pés na areia branca de uma praia em Maui e pensei nas últimas vezes
que Jon e eu passamos juntos. Ele sempre terá um lugar no meu coração, escondido de
todos os outros que foram mais dignos.
Ouvi risadas ao longe e levantei o olhar para ver uma batalha entre os sexos.
Meninas contra meninos, num jogo descontraído de futebol na praia.
As meninas estavam com um jogador a menos — e essa jogadora era eu. Suspeitava
que os meninos estivessem ganhando fácil, o que só deixava Luca mais irritada.
Confiava em cada pessoa ali com a minha vida, especialmente nas garotas. Minhas
garotas. Minhas protetoras.
A bola quicou até Rhys, que ficou parada, sem saber o que fazer. Jace orientou-a
com paciência, dando um tapinha na sua bunda quando ela pegou a bola e passou para Luca
— só para Cody interceptar.
E Lise e Tristan.
Lise soltou o top do biquíni para distrair Tris, a bola acertou seu rosto e veio
quicando na minha direção, com Darryn perseguindo atrás.
Meu Darryn.
"Não poderia estar melhor," respondi, levantando e sacudindo a areia das minhas
costas. "Me dá isso aqui," disse, arrancando a bola dele. "As meninas precisam vencer, senão
nunca vou ouvir o fim disso."
"Ei," ele murmurou, aproximando-se para me beijar. "Estou tão orgulhoso de você."
"Eu sei," sorri. Seu rosto estava coberto de protetor solar e, ao contrário dos outros
caras, ele usava uma camiseta e um boné para proteger sua pele escocesa do sol do Pacífico.
"Nada disso foi fácil para você."
"A coisa mais difícil que já fiz," admitiu. "E estou planejando nosso último ano na
KVU para ser o melhor de todos. Sem mais mentiras. Sem mais esconderijos, amor."
"Concordo."
Ele se inclinou para me beijar de novo, mas era apenas um truque para roubar a
bola das minhas mãos.
Ele sorriu maliciosamente, chutando a bola para Jace. Num movimento rápido,
jogou-me sobre o ombro e correu de volta para o jogo enquanto eu dava um tapa em sua
bunda.
Fim