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Paulo - Introdução III

O documento aborda a vida e ministério de Paulo Apóstolo, destacando sua conversão na estrada de Damasco e seu papel como pregador do Evangelho. A análise inclui a recepção de Paulo no cristianismo primitivo, suas cartas e a diferença entre sua autoapresentação e a narrativa dos Atos dos Apóstolos. Além disso, discute a relação entre sua experiência de conversão e o conteúdo do evangelho que ele pregou.

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Paulo - Introdução III

O documento aborda a vida e ministério de Paulo Apóstolo, destacando sua conversão na estrada de Damasco e seu papel como pregador do Evangelho. A análise inclui a recepção de Paulo no cristianismo primitivo, suas cartas e a diferença entre sua autoapresentação e a narrativa dos Atos dos Apóstolos. Além disso, discute a relação entre sua experiência de conversão e o conteúdo do evangelho que ele pregou.

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Paulo

Apóstolo

Elementos
biográficos
25 de janeiro: Conversão
Festa da conversão de São Paulo Apostolo, a
quem, enquanto percorria a via de Damasco,
inspirando ainda ameaças e massacres contra
os discípulos do Senhor, Jesus em pessoa se
revelou glorioso na estrada, para que, cheio do
Espírito Santo, anunciasse o Evangelho da
Salvação aos povos, sofrendo muito pelo nome
de Cristo.

29 de junho: Martírio
[Pedro...] Paolo, Apostólo das gentes, pregou
aos judeus e aos gregos Cristo Crucifixo.
[Pedro...] o segundo foi degolado com a
espada e sepultado na via Ostiense.

(cf. Martirológio Romano)


PAULO
É um dos primeiros autores cristãos*
que se vê obrigado
a confrontar
suas antigas convicções de fé
[ essencialmente judaica ]
com a novidade de Deus
realizada em Jesus Cristo,
crucificado e ressuscitado,
por meio do Espírito.
FONTES E DOCUMENTOS PARA ELABORAÇÃO DA BIOGRAFIA PAULINA

Atos dos Apóstolos e Cartas Paulinas


1. As informações oferecidas nem sempre são compatíveis
1.1 Nível informativo
a. Cartas - Orador sem muitas qualidades: 1Cor 2,4; 2Cor 10,10.
b. Atos - Orador brilhante: At 13; 14; 17; 20; 22; 26.
c. Cartas – Gl 2,5-10: única exigência da Assembléia é a coleta para Jerusalém.
d. Atos – At 15,20.29: imposição de quatro abistinências aos pagãos.
e. Cartas – Gl 5,1-12: Paulo se opõe à imposição da circuncisão para cristãos.
f. Atos - At 16,3: Paulo circuncida Timóteo.
1.2 Nível teologico
a. Cartas – Lei: problema enfatizado em 2Cor, Gl, Rm.
b. Atos – o conflito com a Lei não tem ressonância.
– At 28,17b Paulo se afirma em continuidade com judaismo dos pais.
c. Cartas – pessimismo antropológico: Rm 7,14-25.
d. Atos – ausência do pes.simismo antropológico
FONTES DOCUMENTAIS PARA ELABORAÇÃO DA BIOGRAFIA PAULINA

2. Atos não apresentam Paulo de forma neutral


a. Toda reconstrução histórica acontece de forma mediada, a partir de um ponto
de vista histórico: o passado é lido a partir do presente.
b. A seleção e apresentação dos fatos é feita de acordo com um sistema conceitual
[modelo explicativo] elaborado ou assumido pelo historiador.
c. Toda proposta historiográfica tem uma finalidade identitária:
• At – delinear e fixar a identidade do cristianismo nascente.
• At – reconstrói a história usando o procedimento narrativo paralelístico e
comparativo (synkresis), ao apresentar o comportamento, as atitudes, as ações
e o discurso dos vários personagens (sobretudo Pedro, Paulo, Estevão) em
sintonia com Jesus.
• At – todos os personagens representam o cristianismo, diferenciando-o do
judaísmo.
At ajudam a coordenar
as informações fragmentadas presentes nas cartas
FONTES DOCUMENTAIS PARA ELABORAÇÃO DA BIOGRAFIA PAULINA

3. Cartas
a. As cartas paulinas também respondem a objetivos
precisos (retóricos e pastorais) e não intencionam
apresentar uma autobiografia exaustiva.
b. Tudo o que Paulo narra de si mesmo, o faz em
função daquilo que está comunicando na(s)
carta(s).
c. Porém, diferente dos At, as cartas falam de
situações relacionadas diretamente com os
destinatários das cartas dos Apóstolo.
CÂNON
4 Evangelhos – Atos dos Apóstolos – Cartas Paulinas
...

ATOS DOS APÓSTOLOS


foco no movimento ad extra

CARTAS
foco no movimento ad intra
RECEPÇÃO DO APÓSTOLO PAULO NO CRISTIANISMO PRIMITIVO

Recepção
• É um processo histórico, mediado pelas
circunstâncias e interesses.
• Acontece como prática sociocomunitária, em
consonância ao contexto de ação (social, cultural,
religioso, circunstâncial ....).
• Evidenciam o impacto que a figura (real e fictícia)
de Paulo no cristianismo.
• Atividade hermenêutica: fusão de horizontes.
 Fator pragmático e paradigmático.
RECEPÇÃO DO APÓSTOLO PAULO NO CRISTIANISMO PRIMITIVO

Recepção paulina
1. Polo biográfico: Paulo, herói, paradigma – Atos dos
Apóstolos
• Continuidade com Pedro e Estevão.
2. Polo canônico: autor/escritor;
 cartas – núcleo duro
• Protopaulinas: aspectos circunstanciais/retóricos.
3. Polo doutoral: mestre/doutor – cartas deutero e
tritopalinas
• Pastorais: Paulo é o princípio, o pai que gerou na fé.
 MARGUERAT, Daniel. Paolo negli Atti e Paolo nelle Lettere. Torino: Claudiana, 2016, p. 70-106.
Caravaggio: conversão de Paulo
Qual a relação entre
a experiência de Damasco,
o ministério de Paulo
e conteúdo do evangelho que ele pregou?

A respeito do Evangelho - duas linhas básicas


Damasco
concedeu a Paulo o essencial do conteúdo do evangelho
• Evangelho = cristologia e soteriologia.
• Seyoon Kim, The Origin Of Paul’s Gospel; M. Hengel, “The stance of the Apostle toward the Law in
the Unknown Years between Damascus and Antioch”.

foi uma cristofania, mas o conteúdo do evangelho e sua forma, o


Apóstolo desenvolveu durante seu ministério.
• J.G. Dunn, “A Light to the Gentiles or the End of the Law”; Heikki Räisänen, “Paul’s Conversion and
the Development of His View of the Law”; Udo Schnelle, Apostolo Paulo, sua vida e teologia.
DAMASCO: conversão ou chamado?
O que dizem as cartas paulinas?
O conteúdo do evangelho
conhecido por Paulo
provém da experiência
vivida na estrada de Damasco
e das informações que a(s) comunidade(s)
comunicaram ao Apóstolo, como as tradições
sobre a vida e as logia de Jesus de Nazaré.
DAMASCO: conversão
O que dizem as ou chamado?
cartas paulinas?
O que dizem as cartas paulinas?
Há muitas referências diretas e indiretas à experiência
de Damasco nas cartas:
– Abertura das cartas:
• Rm 1.1.5; 1Cor 1,1; 2Cor 1,1; Gl 1,1;
• Ef 1,1; Col 1,1; 1Tm 1,1; 2Tm 1,1.
– Referência à graça, misericórdia:
• Rm 1,5; 12,3a; 15,15-16 ; 1Cor 3,10; 7,25; 15,10; Gl 2,9; 1Ts 2,4;
• Ef 3,2; 7,8; Col 1,25; 1Ts 2,4.

• 1Ts 2,4; 1Cor 15,10 (8); Rm 15,15-16 (= 1,5 [Ef 3,2.7-8])


– Defesa do apostolado e do evangelho:
• 1Cor 9,1-2; 15,8-10; Gl 1,15-17.
– A respeito do ministério de Paulo:
• 2Cor 3,1-18; 4,1-6; Ef 3,1-13; Col 1,23-29.
Conversão?
DAMASCO: conversão ou chamado?
Para falar de si mesmo,
Paulo não usa a terminologia
do campo semântico da conversão
stre,fw [stréphō, mudar a direção]
metanoe,w [metanéō – mudar mentalidade]

NEM PARA FALAR DA PASSAGEM


DO JUDAISMO AO CRISTIANISMO
exceção: Gl 1,13 – avnastrofh, (= conduta)

Esta terminologia é usada para a conversão dos pagãos


1Ts 1,9
ou mudança de comportamento
Rm 2,4; 2Cor 7,9.10; 12,21
judaismo X “cristianismo”
PERSEGUIDOR APÓSTOLO
1Cor 15,9-9.10; Gl 1,12-14; Fl 3,4-11 [; 1Tm 1,12-17]

ESSA MUDANÇA NOS PERMITE


FALAR DE CONVERSÃO
=
MUDANÇA DE ATITUDE
diante da nova comunidade
dos crentes em Cristo = Cristo.
Perseguição – questões abertas
Motivação?
Alcance?
• Os judeus palestinos da época exerciam uma influência de caráter religioso (moral),
mas não tinham autoridade social/política/jurídica sobre os judeus da diáspora.

Extensão da autoridade?
• At atribui a Paulo poderes não muito claros (At 9,2; 22,5), incluindo a autoridade de
condenação, apesar de não ser membro do Sinédrio (At 26,10).
• O modo como se fala dessa autoridade deve ser uma hipérbole.

Quando fala da perseguição, Paulo é mais ameno (Gl 1,13-14).


– Enfatiza o ideal da fidelidade à Lei.
 Provavelmente essa fidelidade o levará a perseguir os
cristãos.
Composição do judaísmo na época de Paulo
José Flávio (Antichità giudaiche, 13,289) apresenta um judaísmo dividido em
três grupos: fariseus, saduceus e essênios.
O judaísmo (III séc. a.C. – II d.C.) é muito mais variado:
• Escribas, sacerdotes, fariseus, saduceus, essênios, zelotas, Qunram,
apocalípticos, helenistas, movimentos na linha do Batista.
• A variedade cria um ambiente polêmico, mas não totalmente separado.

Problema: qual o critério para discernir o “verdadeiro Israel”.


– Posição sectária: Qunram se considerava única expressão autêntica do
judaísmo; os demais eram apostatas.
– Uma alternativa em meio a outras: com elementos e tradições especificas
• Torah, no séc. I, não é referente a um corpo preciso de doutrina universalmente
aceito, apesar de ser uma “bandeira identitária”.
• Sanders, Giudaismo fede e prassi, p. 470-471.

OS NÃO SECTÁRIOS
MOSTRAVAM PREOCUPAÇÃO PELO ‘OLAM (TODO).
• P. Stefani, Lo sfondo hebraico della vita e dell’opera di Paolo, p. 11-25.
• Giuseppe Ghiberti, La vicenda di Paolo: fariseo, Cristiano e apostolo.
Perseguição: Uma proposta especulativa!!
Paul Fredriksen,
- From Jesus to Christ: The Origins of the New Testament Images
of Jesus (New Haven City: Yale University, 1988 (p. 153-154).

A perseguição não é motivada pela Halaká (caminho = lei),


mas sim pela situação política precária
da minoria judaica na Palestina e Síria.

A crucificação de um judeu (Jesus) como revolucionário político,


declarado por muitos como Messias,
combinada com as “visões” do fim do mundo (apocalíptica)
poderiam ser perigosas e ter consequências negativas
para a inteira comunidade judaica.
Como entender a experiência de Damasco?

O Apóstolo prefere usar a terminologia do


chamado:
Pau/loj dou/loj Cristou/ VIhsou/( klhto.j [klētós] avpo,stoloj
avfwrisme,noj eivj euvagge,lion qeou/ (Rm 1,1 [1Cor 1,1])

Gl 1,11-17: perspectiva profética do chamado


– Jr 1,5; Is 49,1
• A diferença está no foco: não a Lei, mas o Filho.
• O foco levará Paulo a afirmar “para mim viver é Cristo” Fl 1,21.
A novidade prática (ministerial):

chamado a pregar para os gentios


(Gl 2,8; Rm 11,13)

– 1Cor 9,16: anankê (obrigação de pregar)


– 1Cor 9,19-21: com judeus, sobre a lei, com
gentios, como “fora” da lei
– 2Cor 2,14-17: conquistado por Cristo
– 2Cor 5,11-21: muitas alusões sobre Damasco
• Kim, Paul and the New Perspective, p. 214-238.
Vocabulário da graça
Junto ao vocabulário do chamado,
Paulo usa também aquele da graça
que lhe foi concedida em função da missão.

Nem sempre tem uma alusão direta,


mas a sua chamada ao ministério é sempre
relacionada à consciência da graça recebida:
1Ts 2,4; 1Cor 15,10 (8); Rm 15,15-16 [Ef 3,2.7-8]
Vocabulário de revelação/iluminação
REVELAÇÃO do Filho
- Iluminação -
centro da experiência do Apóstolo
(Gl 1,15-6)

[=] VISÃO
(1Cor 9,1)
• 1Cor 15,8 (aor ind pass w;fqh) indica continuidade com a
experiência do ressuscitado (Lc 24,34)

Descobriu em Jesus Cristo o reflexo visível e humano de


Deus.
Vocabulário de revelação/iluminação
Em Damasco, Paulo viu [experimentou]
uma modalidade de conhecimento [revelação]
muito intensa, que lhe permitiu (re)conhecer o
Cristo na sua relação particular com o Pai:
de Filho.
– MUDANÇA DO PARADIGMA COGNITIVO –
nova visão de mundo:
cristologia, soteriologia, cosmologia,
escatologia, eclesiologia.
Fontes não paulinas
Como 1Tm 1,15-16, Atos é uma tradição
posterior ao Apóstolo

perspectivas diferentes:
Cartas aludem ao chamada como
expressão da misericórdia de Deus
para com os pecadores.

Atos narra a experiência de Damasco


como expressão do poder de Cristo e da continuidade
da mensagem cristã com a Lei e os Profetas.
Atos dos Apóstolos 9 = mediação eclesial
At 9,1-9
Cristo transformou um grande opositor da
Igreja num instrumento de evangelização

• De perseguidor a apóstolo⁄anunciador
• Protótipo do convertido
• Exemplo da eficácia da graça
At 9, 10-19 – segunda parte da narração
A COLABORAÇÃO DA COMUNIDADE NA FORMAÇÃO DO
APÓSTOLO
A narração seguinte ao evento de Damasco (vv. 10-19.20-22) é mais instrutiva
– Paulo, pregador para judeus e gentios = mediação de Ananias
• Gl não menciona Ananias = afirma ter recebido o evangelho
diretamente de Cristo

At 13 (Antioquia) – prega aos judeus, diante da rejeição deles se dirige aos


gentios.
– Antioquia, exemplo da pregação aos judeus: relaciona o evento Cristo com
a história da salvação, que Israel conhece e é sujeito.
– Conteúdo: Jesus é o Messias, a realização das promessas de Deus a Israel.

At 17,22b-31
– Atenas, exemplo da pregação aos gentios: adapta ao contexto novo.
– Conteúdo: necessidade de conversão, porque Deus está pronto para julgar
o mundo, por meio de Jesus Cristo, quem Ele ressuscitou dos mortos
Outras narrações da experiência de Damasco
Discursos realizados pelo Apóstolo.
Defende-se da acusação de falar
contra o povo de Israel, a Lei e o Templo

At 22,1-21
Paulo, verdadeiro judeu
(fala hebraico, conhece as Escrituras)

At 26,1-23
Legitimação da evangelização dos gentios
(prometida por Deus desde sempre).
Paulo: modelo de conversão para os gentios!
Conversão?
MUDANÇA RADICAL
DE PERSPECTIVA RELIGIOSA

A centralidade de Jesus Cristo


como messias escatológico.
Judaísmo:
a mediação (elemento fundante)
era determinada pela Torah
e pelas tradições dos pais.

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