URY RANGEL
Olá, queridos, graça e paz a todos!
Embora já tenha postado um artigo acima, gostaria de agora dar uma
breve exposição bíblica sobre o assunto. Em resumo, creio que a Bíblia
desaprova a ingestão de bebidas alcoólicas, mesmo que seja de forma
moderada, como também condena a embriaguez.
Em Provérbios 23.31, o sábio declara: “Não olhes para o vinho, quando
se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa
suavemente”. O sábio recomenda que as pessoas nem cheguem perto
da bebida fermentada, ou alcoólica. Observem que o sábio não está
falando de embriaguez, mas sim do simples fato de ingerir, mesmo que
moderadamente, a bebida alcoólica. É uma incoerência muito grande
dizer que Deus condena a embriaguez, mas não condena o beber
moderadamente. Uma coisa leva à outra! Por que Jesus, ao invés de
condenar somente o adultério, fez questão de dizer que o simples ato de
cobiçar a mulher do próximo já é errado??? Porque Ele sabia muito bem
que o ato de adultério começa pela cobiça (Mateus 5.27,28). Uma coisa
leva à outra! Assim, Ele queria acabar com o mal pela raiz…
Alguns tentam insinuar que Jesus bebeu vinho alcoólico ou que, pelo
menos, incentivou o consumo quando transformou água em vinho. Isto é
um insulto contra o nosso Salvador! No primeiro milagre que Jesus
realizou, a Bíblia relata que o mestre-sala pensou que o esposo havia
guardado o “bom vinho” para o final da festa (João 2.8-10). O vinho
considerado melhor era sempre o não-fermentado, pois preservava o
doçura do vinho, enquanto que a fermentação tornava o vinho menos
doce. Através disso, podemos entender que Jesus certamente
transformou água em vinho doce, ou seja, vinho não-fermentado…
Na Santa Ceia, fica mais claro que Jesus não ingeriu bebida alcoólica. O
vinho usado na Santa Ceia não podia ser fermentado, pois naquela
ocasião não era permitido nenhum produto fermentado na casa dos
judeus por tratar-se da Páscoa (Êxodo 12.15).
Como já disse, “álcool” é uma palavra árabe que significa SUTIL. O diabo
é sutil em suas armadilhas e quem consome bebida alcoólica está caindo
nas astutas ciladas do diabo. A Bíblia recomenda que não ignoremos os
ardis de Satanás (2Coríntios 2.11).
Já disseram que beber é uma questão cultural e apontaram como
exemplo alguns países onde o crente pode beber, como se tais países
nos servissem de exemplo. Vejam o estado espiritual de países
libertinos, como a Alemanha, a Holanda, a Itália, etc. São países
espiritualmente mortos, cujas igrejas vivem vazias e há anos não
experimentam um genuíno avivamento!!!
Há quem diga que podemos beber se a nossa consciência não nos acusa.
Desde quando que a nossa consciência é perfeitamente justa e íntegra
para julgar algo como certo ou errado. A Bíblia diz que o nosso coração é
enganoso e perverso (Jeremias 17.9). A Palavra de Deus está muito
acima da nossa contaminada consciência (1João 3.20)!!!
Primeiramente, gostaria de esclarecer ao irmão que não julguei milhões
de cristãos como frios e sem fé. O irmão torceu completamente o que
escrevi! O que disse é que muitos países da Europa vivem uma crise
espiritual que não é de hoje. É evidente que por lá existem muitos
cristãos sérios e compromissados com Deus, porém a ampla maioria das
igrejas vive sob a mais absoluta mornidão espiritual. Basta que o irmão
leia as declarações de missionários brasileiros que atuam por lá. Tais
missionários apontam como fatores desta crise espiritual o seguinte:
ambição por riquezas, motivada pela Teologia da Prosperidade, e
libertinagem, motivada pela cauterização da consciência de muitos
pastores que permitem aquilo que a Bíblia proíbe, como bebidas
alcoólicas, fumo, bigamia, etc. É evidente que as igrejas que não
compactuam com tais desvaneios permanecem avivadas, como é o caso
de muitas igrejas aqui no Brasil.
O irmão também equivocou-se ao dizer que “alguns aqui estão
inventando vinho sem ser alcoólico”. Devo informá-lo que no Novo
Testamento a palavra vinho traduz o vocábulo grego “oinos”, que tanto
pode indicar o suco da uva fermentado, como o não-fermentado, como
comprovam inúmeros textos bíblicos e seculares da época. Assim, em
cada versículo bíblico que contém a palavra “vinho”, deve ser feito um
exame criterioso do contexto para saber se está se referindo ao vinho
alcoólico ou ao suco da uva não-fermentado, pois do contrário o
intérprete pode cometer uma terrível heresia.
O irmão também equivocou-se ao afirmar que Jesus forneceu bebida
alcoólica para o povo. Os maiores médicos especialistas atuais em
defeitos congênitos citam evidências comprovadas de que o consumo
moderado de álcool danifica o sistema reprodutivo das mulheres jovens,
provocando abortos e nascimentos de bebês com defeitos mentais e
físicos incuráveis. Autoridades mundialmente conhecidas em embriologia
precoce afirmam que as mulheres que bebem até mesmo quantidades
moderadas de álcool, próximo ao tempo da concepção (c. 48 horas),
podem lesar os cromossomos de um óvulo em fase de liberação, e daí
causarem sérios distúrbios no desenvolvimento mental e físico do bebê.
Seria teologicamente absurdo afirmar que Jesus haja servido bebidas
alcoólicas, contribuindo para o seu uso. Afirmar que Ele não sabia dos
terríveis efeitos em potencial que as bebidas inebriantes têm sobre os
nascituros é questionar sua divindade, sabedoria e discernimento entre o
bem e o mal. Afirmar que Ele sabia dos danos em potencial e dos
resultados deformadores do álcool, e que, mesmo assim, promoveu e
fomentou seu uso, é lançar dúvidas sobre a sua bondade, compaixão e
seu amor. A única conclusão racional, bíblica e teológica acertada é que
o vinho que Cristo fez nas bodas, a fim de manifestar a sua glória, foi o
suco puro e doce de uva, e não fermentado.
Quanto a Santa Ceia, é indiscutível que o vinho usado foi o suco da uva
sem fermento, tanto que os Escritores usam a expressão “fruto da vide”.
O vinho não fermentado é o único “fruto da vide” verdadeiramente
natural, contendo aproximadamente 20% de açúcar e nenhum álcool. A
fermentação destrói boa parte do açúcar e altera aquilo que a videira
produz.
O irmão mesmo com suas palavras confirmou o que eu disse. Como você
mesmo escreveu, “o vinho era aferventado apenas o suficiente para
CORTAR A FERMENTAÇÃO”. Veja a expressa ordem divina para a
celebração da Páscoa: “NENHUMA COISA LEVEDADA COMEREIS;…” (Êx
12.20). Então o vinho que Jesus bebeu na Santa Ceia não era
“levedado”!
O irmão também me orientou a perguntar a um judeu ortodoxo que tipo
de vinho era servido na Páscoa. A probabilidade de um judeu ortodoxo
concordar que o vinho na Páscoa era fermentado é muito pequena, pois
esse debate que estamos tendo também é comum entre rabinos e
estudiosos judeus há séculos, sendo que os que sustentam uma
interpretação mais rigorosa e literal das Escrituras hebraicas,
especialmente Êxodo 13.7, declaram que nenhum vinho fermentado
devia ser usado nessa ocasião. Além disso, devo informá-lo que
inúmeras escrituras judaicas, como o Talmude, Shabbath e Pesahim não
permitiam o uso de vinho puro, fermentado ou não, nos costumes sociais
e religiosos. Eles ensinavam que se o vinho fermentado não fosse
misturado com três partes de água não podia ser “abençoado” e
contaminaria quem o bebesse. Se o vinho fermentado fosse servido não
diluído, isso era considerado indelicadeza, contaminação e não podia ser
abençoado pelos rabinos.
O irmão também me convidou a examinar Deuteronômio 14.22-26.
Vamos analisá-lo de acordo com o contexto. O povo israelita era o povo
escolhido por Deus, porém entre os israelitas os que tinham uma
responsabilidade civil (reis, juízes, etc.) ou religiosa (sacerdotes,
profetas, levitas, etc.) eram tratados de forma diferenciada. Tais pessoas
deviam obedecer a regras específicas, conforme os cargos concedidos
por Deus lhes exigiam. O texto de Deuteronômio 14.26 orienta o povo
comum a beber vinho em busca de alegria. Mas, veja agora o que Deus
fala para os sacerdotes, para os reis e para as demais pessoas
escolhidas por Deus para desempenhar alguma função em sua obra:
Sacerdotes – “Vinho ou bebida forte tu e teus filhos contigo não
bebereis, quando entrardes na tenda da congregação, para que não
morrais” (Lv 10.9).
Reis – “Não é próprio dos reis, ó Lemuel, não é próprio dos reis beber
vinho, nem dos príncipes desejar bebida forte” (Pv 31.4).
Nazireus (consagrado, separado) – “De vinho e de bebida forte se
apartará;” (Nm 6.3).
Observe que toda pessoa eleita por Deus para realizar a sua obra era
instruída a se afastar do vinho. Sendo assim, se é para equiparar nossos
hábitos aos dos israelitas do Antigo Testamento, haveremos de ter os
mesmos hábitos dos reis, sacerdotes e nazireus, pois a Bíblia diz que
Cristo nos fez “reis e sacerdotes” (Ap 1.6; 5.10) e como os nazireus,
devemos consagrar todo nosso corpo, alma e espírito para Deus (1Ts
5.23). Como tais pessoas, nós temos a presença do Espírito Santo em
nossa vida e dessa forma não precisamos procurar alegria no vinho (Ef
5.18).
Dois grandes motivos que devem motivar o verdadeiro cristão a não
ingerir bebida alcoólica:
1º Salomão disse: “NÃO OLHES PARA O VINHO, quando se mostra
vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente. No seu
fim, morderá como a cobra e, como o basilisco, picará” (Pv 23.31,32).
Nesse texto, Salomão orienta que não somente evitemos a embriaguez,
mas que também não desejemos ingerir bebida alcoólica. Ele diz que no
fim a bebida morderá como a cobra. A cobra é traiçoeira e ataca quando
você menos espera. Assim é a bebida. Quem pensa poder beber
moderadamente, quando menos esperar estará tão envolvido pela
bebida que não conseguirá parar e evitar a embriaguez.
2º “Bom é não comer carne, NEM BEBER VINHO, nem fazer outras coisas
em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça” (Rm
14.21). Todos concordam que, pelo menos aqui no Brasil, cristão ingerir
bebida alcoólica é escandaloso, então mesmo que Deus não proibisse o
beber moderadamente, deveríamos evitar para não causar escândalos
ao Evangelho.
Àqueles que se dizem pastores e se ufanam em dizer que bebem vinho
lembrem-se da recomendação bíblica: “Convém, pois, que o bispo seja
irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto,
hospitaleiro, apto para ensinar; NÃO DADO AO VINHO” (1Tm 3.2,3).
Um exame de trechos do NT também revela que “OINOS” pode significar
vinho fermentado, ou não fermentado. Em Ef 5.18, o mandamento: “não
vos embriagueis com vinho [oinos]” refere-se ao vinho alcoólico. Por
outro lado, em Ap 19.15, Cristo é descrito pisando o lagar. O texto grego
diz: “Ele pisa o lagar do vinho [oinos]”; o “OINOS” que sai do lagar é
suco de uva (ver Is 16.10 nota; Jr 48.32,33 nota). Em Ap 6.6, “OINOS”
refere-se as uvas da videira como uma safra que não deve ser destruída.
Logo, para os crentes dos tempos do NT, “vinho” (oinos) era uma palavra
genérica que podia ser usada para duas bebidas distintivamente
diferentes, extraídas da uva: o vinho fermentado e o não fermentado.
Não vejo necessidade de continuarmos discutindo se Jesus bebeu vinho
alcoólico ou não durante a Santa Ceia. A Lei era muito clara a esse
respeito e se dissermos que Jesus bebeu vinho com o menor teor de
álcool que seja, concluiremos que Ele cumpriu a Lei pela metade. Se
fermento é símbolo de corrupção, haveremos de concluir que o sangue
de Jesus não é “100%” puro, assim como o vinho que Ele bebera
supostamente não seria 100% livre de teor alcoólico. A Bíblia diz que Ele
tomou do fruto da vide, uma clara expressão que indica o suco da uva. O
valor de um símbolo se determina pela sua capacidade de conceituar a
realidade espiritual. Logo, assim como o pão representava o corpo puro
de Cristo e tinha que ser pão asmo (i.e., sem a corrupção da
fermentação), o fruto da vide, representando o sangue incorruptível de
Cristo, seria mais bem representado por suco de uva não fermentado (cf.
1 Pe 1.18,19). Uma vez que as Escrituras declaram explicitamente que o
corpo e sangue de Cristo não experimentaram corrupção (Sl 16.10; At
2.27; 13.37), esses dois elementos são corretamente simbolizados por
aquilo que não é corrompido nem fermentado.
Se beber vinho não é errado, também não o é a cerveja. Seja honesto!
Você realmente acha que num calor como o do nosso país alguém
consegue tomar apenas um copo de cerveja? É claro que não! Não
podemos chamar de forte aquilo que Jesus disser ser fraca, a nossa
carne.
Como você mesmo disse, os sacerdotes não podiam ingerir bebida
alcoólica quando exerciam os serviços religiosos. Nosso serviço é muito
mais abrangente do que o deles. Nosso sacerdócio não se limita a
algumas horas no tabernáculo, mas a todo o momento devemos estar
preparados para exercer nosso ofício. A todo o momento estamos
sujeitos a encontrar alguém necessitado de ouvir falar do Evangelho,
mesmo em uma festa familiar, carente de nossa intercessão. Também
não deveríamos evitar o vinho para exercer todo este serviço? Como vê,
esta sua colocação corrobora ainda mais o fato de que devemos eliminar
a bebida alcoólica de nossa vida, pois a todo momento devemos estar
aptos a prestar serviços ao Reino de Deus.
O irmão disse que os líderes religiosos do Antigo Testamento eram
instruídos a não fazerem uso de vinho porque eram pessoas envolvidas
com atividades constantes. Ora, em que momento devemos estar
prontos para exercermos nosso sacerdócio real??? Lembrando que nossa
missão como sacerdotes reais é “anunciar as virtudes daquele que nos
chamou das trevas” (1Pe 2.9), isto é, pregarmos a Palavra de Deus ao
mundo. Não creio que seja presunção afirmar que devemos estar
preparados para pregar, aconselhar, interceder, evangelizar, etc. a todo
o momento. Vejamos o que alerta a Palavra de Deus:
“Que pregues a palavra, INSTES A TEMPO E FORA DE TEMPO” (2Timóteo
4.2).
“Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e ESTAI SEMPRE
PREPARADOS PARA RESPONDER COM MANSIDÃO E TEMOR a qualquer
que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1Pedro 3.13).
“Admoesta-os a que se sujeitem aos principados e potestades, que lhes
obedeçam, e estejam PREPARADOS PARA TODA A BOA OBRA” (Tito 3.1).
O irmão também disse que o sacerdócio e o reinar exigem constante
sobriedade. Ora, em nosso sacerdócio real não precisamos da mesma
sobriedade? Vejamos o que diz a Palavra:
“Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos, e SEJAMOS
SÓBRIOS. Mas nós, que somos do dia, SEJAMOS SÓBRIOS…”
(1Tessalonicenses 5.6,8).
“Mas tu, SÊ SÓBRIO EM TUDO, sofre as aflições, faze a obra de um
evangelista, cumpre o teu ministério” (2Timóteo 4.5).
“E já está próximo o fim de todas as coisas; portanto SEDE SÓBRIOS e
vigiai em oração” (1Pedro 4.7)
“SEDE SÓBRIOS; VIGIAI; porque o diabo, vosso adversário, anda em
derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar;” (1Pedro
5.8).
Quanto à recomendação de não beber vinho, não existe apenas para não
causar escândalos. Este é o conselho de Salomão:
“NÃO OLHES PARA O VINHO, quando se mostra vermelho, quando
resplandece no copo e se escoa suavemente. No seu fim, morderá como
a cobra e, como o basilisco, picará” (Provérbios 23.31,32). Neste
versículo não é citada a embriaguez, mas o simples desejar a bebida
fermentada. Para quem pensava que Deus só proibia o adultério, Jesus
disse que o simples olhar de cobiça para a mulher do próximo já é
adultério. Da mesma forma, para quem pensa que Deus só desaprova a
embriaguez, o sábio ensina que até o desejar beber moderadamente já é
pecaminoso.
Em primeiro lugar, quero parabenizá-lo pela tentativa de interpretar
Provérbios 23.31,32. Até o momento, foi o único que se aventurou a
interpretar o texto de forma honesta. Todavia, a citação do contexto só
reforça o que tenho dito. O texto de Provérbios 23.29-35 cita 11
consequências de um ato e apenas 1 mandamento para evitá-las. As 11
consequências apontadas pelo sábio, de fato, são claramente
consequências da embriaguez, porém o único mandamento que consta
no texto é enfático, PREVENTIVO e confortador: “NÃO OLHES PARA O
VINHO”.
Sabemos que “olhar” na Bíblia muitas vezes é associado ao ato da
cobiça. Salomão não está dizendo: “Não vos embriagueis” ou “Não
bebam muito”. Ele está dizendo “NÃO OLHES PARA O VINHO”! Em outras
palavras, NÃO DESEJEM BEBER VINHO. Ora, eu só posso desejar algo se
ainda não o possuo! Então, ele não está recomendando aos que já
bebem que simplesmente não se embriaguem, mas está orientando uma
abstinência total. Salomão, em sua sabedoria, tinha a convicção que a
única forma de evitar todos os males da embriaguez era a abstinência
total de bebida alcoólica. Ele sabia o quanto que a bebida é capaz de
dominar o homem. Ele sabia que o álcool é SUTIL. Ele sabia que o álcool
afeta primeiramente a capacidade crítica do ser humano, fazendo-o
perder o controle da sua própria vontade e bom senso. Ele sabia que
depois que começa é difícil parar e, por isso, sabendo que uma coisa
levará à outra, recomendou a abstinência de bebida alcoólica alertando
para as consequências da embriaguez…
Brincadeira, meu caro, mas sua interpretação de alguns textos bíblicos é
no mínimo sofrível!!! Dizer que todas as passagens do tema álcool falam
de “se dar”, no sentido de “se dedicar a algo de corpo e alma em
detrimentos de coisas importantes da vida terrestre e espiritual” foi
realmente equivocada. Primeiramente, o vernáculo usado no texto daria
margem para uma série de interpretações, pois na língua portuguesa “se
dar” pode significar “se doar”, “ter atração”, “habituar-se”, etc. Além
disso, quando se interpreta um texto que tenha uma expressão
portuguesa com um amplo sentido como a do texto de 1Timóteo 3.3, o
mínimo que se espera é uma explicação fundamentada no original
grego. Pois bem, a expressão “não dado ao vinho” traduz a expressão
grega “me paroinon”, formada de “me”, que significa “não”, e
“paroinon”, palavra composta que significa literalmente “ao lado do
vinho”, “perto do vinho” ou “com vinho”. Aqui a Bíblia requer que
nenhum pastor ou presbítero fique “sentado ao lado do vinho” ou “esteja
com vinho”. Noutras palavras, não deve beber vinho embriagante, nem
ser tentado ou atraído por ele, nem comer e beber com os ébrios (Mt
24.49). Como a Bíblia iria advertir os reis, mais alto cargo civil, de
beberem vinho (Pv 31.4) e, ao mesmo tempo, iria permitir os bispos, um
dos mais altos cargos eclesiásticos, a beberem?!
É brincadeira também, meu caro, a incoerência e contradição dos
argumentos usados para defender o uso de vinho alcoólico. Você, por
exemplo, defende o uso moderado do vinho alcoólico, mas ao mesmo
tempo afirma que o vinho transformado por Jesus em Caná da Galiléia
era alcoólico. Ora, mesmo que Jesus permitisse o uso moderado de
bebida fermentada, a última coisa que Ele faria naquela ocasião era dar
mais vinho alcoólico para o povo. A Bíblia diz que àquela altura da festa
todos já haviam “bebido bem” e você acha que Jesus sabendo disso iria
dar mais vinho para o povo? Ué, cadê a moderação?! Se Jesus desse
vinho alcoólico àquelas pessoas, mesmo depois de já terem “bebido
bem”, estaria compactuando com a embriaguez, coisa totalmente
impossível de acontecer, pois nosso Salvador conhecia a admoestação
do profeta Habacuque: “Ai daquele que dá de beber ao seu
companheiro! Tu, que lhe chegas o teu odre e o embebedas, para ver a
sua nudez” (Hc 2.15).
Outra brincadeira é ignorar a recomendação do sábio: “Não é próprio dos
reis, ó Lemuel, não é próprio dos reis beber vinho, nem dos príncipes
desejar bebida forte” (Pv 31.4). Ora, se a Bíblia diz que os reis e os
príncipes não deveriam ingerir bebida alcoólica, como nós vamos afirmar
que o REIS DOS REIS e PRÍNCIPE DA PAZ colocou algum pingo de álcool
em sua boca?!
Outra brincadeira sua é citar textos do Antigo Testamento que
aparentemente permitem o uso de bebida alcoólica e ignorar as claras
recomendações de abstinência para as pessoas envolvidas na obra de
Deus, como os sacerdotes, nazireus, reis, etc. (Lv 10.9; Nm 6.3; Pv 31.4).
E o nosso voto de consagração total a Deus (Rm 12.1; 1Ts 5.23)?! E o
nosso sacerdócio real (1Pe 2.9,10)?! Fica clara e atual a recomendação
do sábio: “NÃO OLHES PARA O VINHO” (Pv 23.31).
Outra brincadeira sua é afirmar que o vinho da Santa Ceia era alcoólico.
A Lei proibia comer qualquer coisa fermentada na Páscoa (Ex 12.20).
Dizer que o vinho da Santa Ceia era fermentado é a mesma coisa que
dizer que o sangue de Jesus possuía algum teor de corrupção!…
Outra brincadeira de alguns é afirmar que os que dizem que Jesus nunca
bebeu vinho alcoólico são fariseus, sendo que a Bíblia fala justamente o
contrário. Foram os fariseus, tentando debochar de Jesus, que disseram
que Ele era “comilão e bebedor de vinho” (Lc 7.34). Jesus não afirmou
que bebia vinho alcoólico, Ele disse que tinha hábitos alimentares
comuns, ao contrário de João Batista. Mas como os fariseus gostavam de
aumentar as coisas, como fizeram no Sinédrio (Mt 26.59,60), disseram
que até em um “goró” Jesus era chegado, uma óbvia tentativa de
desmoralizá-lo diante das pessoas que nele criam.
É brincadeira também, meu caro, afirmar que os crentes do Novo
Testamento bebiam vinho alcoólico. Alguns judeus no dia de Pentecostes
até zombaram dos discípulos dizendo: “Estão cheios de mosto” (At 2.13).
Ora, “mosto” (gr. gleukos) é indubitavelmente suco de uva, pois mosto
denomina a extração recente do suco da uva. Os judeus sabiam que os
seguidores de Cristo não tinham o costume de ingerir vinho alcoólico e,
por isso, ironizaram o comportamento deles supondo que estivessem
bêbados com suco não fermentado… Paulo ainda disse para Timóteo:
“Não bebas mais água só, mas usa um pouco de vinho, por causa do teu
estômago, e das tuas frequentes enfermidades” (1Tm 5.23). Este texto
deixa claro que Timóteo não bebia vinho, pois se ele tivesse o costume
de beber vinho, não teria sido necessário Paulo aconselhá-lo a tomar um
pouco de vinho com propósitos medicinais. Toda regra tem a sua
exceção e mesmo assim é perfeitamente possível que o “oinos” citado
por Paulo seja o suco da uva não fermentado, pois Ateneu e Plínio já
recomendavam o uso de suco da uva não fermentado para problemas
estomacais (Ateneu – “Banquete” 2.24; Plínio – “História Natural” 14.18).
Também é incoerente, meu caro, pensar que Deus não se deixa
escarnecer (Gl 6.7) e, ao mesmo tempo, afirmar que Deus incentiva o
uso de uma bebida que Ele mesmo classifica como escarnecedora (Pv
20.1).
Algumas coisas nesta discussão são realmente uma brincadeira! Não
parece um debate teológico, mas sim um discipulado para novos
convertidos. Estamos falando dos rudimentos do Evangelho. Já disseram
que Jesus casou com Maria Madalena; também já disseram que Ele
mantinha um relacionamento homossexual com João; e, agora, querem
dizer que Ele ingeria bebida alcoólica.
Os tempos e as culturas mudam, porém a Palavra de Deus permanece:
“Não olhes para o vinho, quando se mostra vermelho, quando
resplandece no copo e se escoa suavemente” (Pv 23.31).
De qualquer forma, foi um prazer discutir um assunto tão polêmico com
você. Que Deus o abençoe!
Maranata! Ora vem, Senhor Jesus!!!
Sua observação de que o pão servido na Santa Ceia atualmente deveria
ser sem fermento é correta. Não pense que discordo de você! É
absolutamente coerente defender o uso do pão asmo na Ceia junto com
o suco de uva não-fermentado. Isto concorda com a ortodoxia cristã.
Contudo, o uso de pão fermentado não oferece riscos a ninguém, já o
vinho alcoólico pode servir como uma grande pedra de tropeço àquelas
pessoas recém-convertidas e que tenham um passado problemático pelo
uso de bebida alcoólica. Talvez por isso, é que muitos pastores fazem
questão de usar suco de uva, mas não têm o mesmo cuidado em usar o
pão sem fermento. Entretanto, o ideal é realmente usar pães asmos e
suco de uva não-fermentado.
Quanto a sua colocação de que devemos ter uma visão hebraica do Novo
Testamento, mais uma vez discordo. O próprio Paulo disse que se “fazia
de judeu para ganhar os judeus”, mas também se fazia de “sem Lei para
ganhar os que estão sem Lei” (1Co 9.20,21). Além disso, sua afirmação
de que os primeiros cristãos eram judeus é incompleta. O NT cobre um
período que vai até por volta do ano 90 d.C (ano em que foi escrito o
Apocalipse). Neste período, o Evangelho já havia se expandido por boa
parte do mundo conhecido. A Palavra já havia chegado a gentios de toda
parte (romanos, gregos, etíopes, etc.). Sendo assim, para interpretar
corretamente qualquer texto do Novo Testamento, é preciso entender o
contexto histórico e cultural de cada região mencionada. Para uma
exegese e hermenêutica segura é indispensável o correto entendimento
dos originais gregos.
O irmão novamente me convidou a interpretar Deuteronômio 14. Antes
de tecer qualquer comentário, gostaria de fazer uma observação: é
interessante como as pessoas adoram fazer um uso totalmente incorreto
da Lei de Moisés. Quando querem permitir algo que a Lei Mosaica proíbe,
dizem que a Lei passou. Mas quando querem encontrar base para uma
prática reprovada pelo contexto geral das Escrituras, recorrem à Lei.
Quanta incoerência!
Pois bem, amado henrjk, a mesma Lei que permitia o uso de vinho
alcoólico nas festas, era a mesma que permitia a bigamia (um homem
casar com duas mulheres), a vingança (Lei de Talião: “olho por olho,
dente por dente”), a escravidão, o ódio aos inimigos, a pouca valorização
das mulheres, etc. E por que permitia? Por causa da pobreza espiritual
do povo judeu. Os judeus comuns não tinham um profundo
relacionamento com Deus, pouco conheciam a graça de Deus, não
tinham uma vida plena da presença do Espírito Santo, etc. Pedir para um
povo nessas condições perdoar seus inimigos, era exigir demais, pois é o
Espírito Santo quem opera isto em nossos corações, ação esta que só
pode ser plenamente realizada no Novo Testamento, após a glorificação
de Jesus. Desta forma, Deus sabia que nessas condições o povo comum
não conseguiria atender aos altos padrões morais da vontade de Deus.
Porém, aos sacerdotes, levitas, reis, nazireus, etc. as exigências eram
maiores. Como tais pessoas tinham condição de manter um
relacionamento mais profundo com Deus e Seu Santo Espírito, Deus lhes
impunha mandamentos e ordenanças que somente eles, no grau de
espiritualidade que detinham, poderiam obedecer, dentre eles está a
abstenção de vinho.
Vinho era símbolo de alegria e como a maioria dos judeus não tinha
dentro de si a permanente presença do Espírito Santo, cujo fruto é
alegria (Gl 5.22), a bebida era uma das únicas formas de eles se
alegrarem nas festas religiosas. Da mesma forma, como conseguiriam,
sem ter o Espírito Santo, dar a outra face quando atacado por um
inimigo (Mt 5.38,39)? Provérbios, que é um livro de sabedoria divina e
que não estava preso à Lei de Moisés, começou a falar de perdão (Pv
24.17) e benignidade (Pv 25,21) porque este era o padrão moral
estabelecido por Deus, mas que infelizmente os judeus ainda não tinham
plena condição de cumprir. Com este mesmo pensamento é que o sábio
escritor de Provérbios também começou a falar de abstenção de bebida
alcoólica (Pv 20.1; 23.31). Esse era o padrão moral determinado por
Deus!
Porém, os tempos mudaram. Hoje vivemos na dispensação do Espírito
Santo. Nós hoje podemos desfrutar de uma espiritualidade jamais
experimentada no Antigo Testamento. E, por isso, hoje, Deus pode exigir
que nós perdoemos nossos inimigos, não nos vinguemos daqueles que
nos causam danos, não submetamos nenhum semelhante à condição de
escravo, nos abstenhamos de bebida alcoólica, etc. Em nosso coração
temos uma fonte inesgotável de amor para perdoar, de benignidade
para fazer o bem àqueles que nos fazem mal e de alegria para nos
regozijarmos com nossa família, amigos e irmãos sem precisar de uma
gota de álcool.
Despeço-me dizendo: “NÃO OLHES PARA O VINHO…” (Pv 23.31).
Muito obrigado pelo link que me enviaste! Embora não concorde com a
afirmação de que “a bebida não está proibida na Bíblia em termos
absolutos”, tendo em vista a clara declaração do sábio em Provérbios
23.31, o conteúdo do artigo é, até certo ponto, proveitoso. Devemos, no
entanto, ter um conceito mais claro a respeito do que é pecado. No
original grego, a palavra pecado traduz o termo “hamartia”, que significa
literalmente “errar o alvo”. Nosso “alvo” na vida terrena é fazer tudo o
que agrada a Deus e que siga o padrão moral por ele estabelecido (1Co
6.20; Cl 3.17; Gl 2.20). Qualquer coisa que fuja deste objetivo pode ser
classificado como pecado. Assim sendo, passamos a entender que
pecado não é apenas uma simples desobediência a um mandamento
bíblico, mas sim qualquer atitude que nos induza a errar nosso alvo, ou
seja, que nos leve a desagradar a Deus.
Percebemos ao longo de toda a Bíblia que a abstinência de bebida
alcoólica é a vontade de Deus. Como já expliquei, em algumas ocasiões,
Deus permitiu o uso de vinho alcoólico por vários motivos que já citei.
Mas, como demonstram as recomendações aos sacerdotes, nazireus,
reis, bispos e aos sábios, o padrão de Deus era que todos se abstivessem
de qualquer bebida alcoólica. Segundo a Bíblia, a bebida (não a
embriaguez) é escarnecedora e traiçoeira (Pv 20.1; 23.32). O álcool é
“sutil” (árabe) e engana. A bebida tira a sobriedade (mesmo em poucas
quantidades) e causa escândalo. Com todas essas declarações bíblicas e
científicas só podemos chegar à conclusão de que a ingestão de bebida
alcoólica não agrada a Deus. Não é o seu padrão. Induz-nos a “errar o
alvo”. Então, é pecado!
Tomo a liberdade também de recomendar o link abaixo para sua
pesquisa. Esse artigo também reflete boa parte do que penso a respeito
de ingestão de bebida alcoólica na Bíblia.
Que Deus o abençoe poderosamente!