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O Anjo e A Princesa-4

O documento narra a origem do universo e a luta entre forças do bem e do mal, centrando-se na figura do Anjo e da Princesa em um mundo chamado Primordium, que foi corrompido pelo Vazio. A história descreve batalhas épicas, profecias e a esperança de um retorno à harmonia, enquanto os Primordiais despertam e a luz enfrenta as trevas. O Anjo e a Princesa se tornam símbolos de resistência contra a escuridão, lutando para proteger seu reino e desvendar mistérios que cercam seu destino.
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O Anjo e A Princesa-4

O documento narra a origem do universo e a luta entre forças do bem e do mal, centrando-se na figura do Anjo e da Princesa em um mundo chamado Primordium, que foi corrompido pelo Vazio. A história descreve batalhas épicas, profecias e a esperança de um retorno à harmonia, enquanto os Primordiais despertam e a luz enfrenta as trevas. O Anjo e a Princesa se tornam símbolos de resistência contra a escuridão, lutando para proteger seu reino e desvendar mistérios que cercam seu destino.
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O Anjo e a Princesa

Capitulo 1

Can we still be saved

No princípio, não havia luz, nem sombras, nem tempo. Apenas o Vazio. Infinito, silencioso,
intocado.

Mas o Vazio nunca esteve sozinho. Havia algo ali desde o começo, algo que não podia ser visto
ou tocado. Não uma entidade, não um ser consciente, mas uma força que existia sem precisar
de um nome. Um ciclo inevitável, como o vento que sopra sem que ninguém o ordene.

E então, algo aconteceu.

Não foi um evento repentino, nem uma vontade imposta. Foi simplesmente... inevitável. Como
uma folha que cai da árvore quando chega o momento certo. O Destino se manifestou, não
como uma voz, não como uma mente, mas como aquilo que sempre esteve ali. Seu avanço
trouxe equilíbrio ao caos, e na colisão entre os dois, a existência surgiu.

As estrelas brilharam pela primeira vez, os mundos tomaram forma e as primeiras melodias
ecoaram pelo cosmos. Cada nota da criação, cada suspiro da realidade, cada vida que veio
depois... tudo fazia parte do fluxo que se desenhava.

Mas nem mesmo esse fluxo era absoluto.

Por eras incontáveis, as forças que moldaram o universo permaneceram ocultas, incontestadas.
Mas então, algo que não estava escrito emergiu.

Algo que nem o Destino previu.

O Primordium surgiu, um universo unico vibrante e repleto de harmonia. Nele, estrelas


cintilavam em esplendor, galáxias dançavam ao som do cântico da criação, e incontáveis raças
floresciam sob a melodia da existência. No centro desse grandioso cosmos, Neo, a Primordial da
Música, ergueu-se como guia e inspiração. De seu violino ecoaram as primeiras notas, dando
forma à realidade e encantando toda a criação.

Entre os Primordiais que moldavam o universo estava Lytharion, guardião das estrelas e
admirador de sua luz. Porém, algo inominável sussurrou aos seus ouvidos. O Vazio, que jamais
deveria existir dentro do Primordium, chamou por ele. E, ao escutá-lo, Lytharion foi tocado pela
ambição. Em sua mente, uma nova ideia germinou: o domínio. O poder absoluto. A supremacia
sobre todas as raças.
Algo aconteceu. Um evento que ainda permanece oculto nas teias do tempo. E então, a ruína se
abateu sobre o Primordium. Aquelas terras corrompidas, onde Lytharion e seus seguidores
semearam o Vazio, foram banidas, rasgadas da criação e lançadas ao esquecimento. Assim
nasceu o Shatterrealm—fragmentos despedaçados daquilo que um dia fora parte do
Primordium. Um universo sombrio, cujos estilhaços ligavam-se a dimensões e universos
desconhecidos, tornando-se um campo de caos, onde incontáveis histórias se desenrolariam.

Mas as eras passaram, e os Primordiais adormecidos começaram a despertar. As sombras do


Shatterrealm se agitaram, pois a profecia já circulava entre aqueles que ansiavam pelo retorno
do domínio perdido:

"Há quem diga que, quando os Primordiais despertarem, uma luz surgirá... Mas ninguém sabe
de onde ela vem."

A profecia ecoava entre as raças corrompidas, mas ninguém conhecia suas palavras por inteiro.
Sua verdade estava fragmentada, oculta em sussurros e lendas antigas.

Então, algo inesperado aconteceu. Em um momento intemporal no Shatterrealm, Uma luz


atravessou. Alguns dizem que era a própria criação, outros acreditam que foi apenas um reflexo
passageiro. Os olhos dos habitantes de incontáveis mundos se voltaram para ela. O prenúncio
da profecia. A esperança não escrita. O que nem mesmo o Destino havia previsto.

As forças do mal se uniram em um ímpeto voraz, tentando reivindicar a luz para si. No espaço
negro e retorcido do Shatterrealm, incontáveis legiões de sombras se ergueram, avançando
como uma tempestade de escuridão para tomá-la.

Mas então, uma voz majestosa ressoou por toda a extensão do Shatterrealm. Forte e
imponente, mas ao mesmo tempo suave e bela, sua canção varreu as sombras como um
vendaval de luz, dissipando a legião de monstros em um único instante. Logo após, um brilho
intenso tomou o espaço, e seres de poder inigualável surgiram—raças antigas e Primordiais do
Primordium, aqueles que ainda guardavam a essência da criação.

Os Primordiais empunharam seus instrumentos, e suas melodias ecoaram pelo cosmos. Ao som
de suas notas sagradas, o mal recuou, enquanto a luz avançava, traçando um novo caminho
através do Shatterrealm e desaparecendo em um espaço-tempo desconhecido.

Milênios se passaram. O tempo esculpiu novas eras sobre as ruínas do passado. Mas a profecia
não havia sido esquecida.
E então, no coração do Shatterrealm, a batalha recomeçou.

O vento soprava suavemente entre as árvores da floresta, suas folhas sussurrando segredos
antigos. Um grupo de jovens caminhava entre as sombras, suas vozes carregadas de dúvida e
curiosidade.
— Você já ouviu falar do Anjo? — perguntou Thomas, com um brilho de excitação nos olhos. —
Dizem que ele protege o mundo dos demônios, os seres nascidos da essência do Vazio e da
corrupção.

— São apenas lendas — respondeu Elias, descrente. — Histórias antigas para assustar crianças.
Nada disso é real.

Os outros trocaram olhares hesitantes, mas continuaram caminhando. O ar ao redor parecia


mais denso, carregado de uma tensão que não estava ali antes. De repente, algo os fez parar. À
frente, entre as árvores, guerreiros lutavam ferozmente contra monstruosas criaturas das
sombras.

Sem perceberem, um demônio movia-se sorrateiramente atrás do grupo. Suas garras afiadas
cortavam o ar silenciosamente até que, num salto feroz, lançou-se sobre eles. O grupo se virou
a tempo de ver sua atrocidade de perto, mas, antes que pudessem reagir, uma flecha de fogo
rasgou o céu e atingiu a criatura, derrubando-a sobre um dos adolescentes.

O pânico tomou conta. Alguns tentaram correr, enquanto outros lutavam para ajudar o amigo
caído. Uma figura emergiu da escuridão: Zyfa, arqueira habilidosa e protetora da região.

— Vocês não deveriam estar aqui! — disse ela, correndo para ajudar.

Os guerreiros que estavam lutando logo chegaram, afastando os monstros. Josef, um dos líderes
do grupo, analisou a situação com preocupação.

— São muitos... — murmurou Zyfa. — Como vamos passar?

— Vamos lutar — respondeu Josef, firme. — Você protege as crianças.

Antes que pudessem se preparar, os demônios avançaram. Os guerreiros enfrentaram a horda


ferozmente, mas foram superados. Josef foi ferido e alguns combatentes foram arrastados para
a escuridão da floresta, seus gritos se apagando no vazio. O horror tomou conta quando
algumas crianças e adolescentes foram capturados e devorados vivos.

Zyfa tentou fugir com os sobreviventes, mas foi cercada. Josef, ferido, olhou para ela e
murmurou:

— Corra o máximo que puder. Eu os segurarei.

Os olhos de Zyfa encontraram os dele. Havia lágrimas em seu rosto, mas também determinação.

— Eu te amo, Zyfa. Sobreviva.


A escuridão começou a se dissipar. Os demônios gritaram em agonia enquanto seus corpos se
desintegravam em sombras. Zyfa ergueu os olhos e viu uma luz descendo dos céus. Asas
imensas brilharam na noite. O Anjo havia chegado.

Os demônios recuaram, temendo sua presença. Feridas começaram a se curar


instantaneamente. Josef, ajoelhado, ergueu os olhos, sentindo a gratidão preencher seu
coração. O destino havia enviado um salvador.

Uma criança correu até o Anjo, chorando.

— Por que não pôde salvar a todos? — soluçou ela.

O Anjo acariciou sua cabeça e respondeu, com voz forte e suave:

— Nem todos posso salvar... mas um dia, espero poder.

Uma explosão distante interrompeu a cena. O Anjo olhou para o horizonte, onde uma intensa
batalha acontecia no Reino Eldorath. Com um único bater de asas, ergueu-se no céu e voou
para o campo de guerra

Zyfa retornou com as crianças e adolescentes sobreviventes, acompanhada de Josef, em busca


de um refúgio seguro. Enquanto isso, do outro lado das montanhas, os guerreiros de Eldorath se
preparavam para a batalha. O Limiar do Destino, a última defesa contra as forças do mal, estava
prestes a ser atacado. Legiões demoníacas avançavam com fúria para derrubar a esperança dos
que lutavam pelo bem.

No entanto, antes que pudessem alcançar o limiar, uma luz pura e imponente rasgou os céus. O
Anjo surgiu em meio às sombras, sua presença fazendo os demônios hesitarem e recuarem com
temor. Mas então, um guerreiro demoníaco, resistindo à luz mesmo enquanto seu corpo
queimava, adentrou o brilho sagrado e proclamou em uma língua antiga: "Tha'valos eldorith
shavarak!"—que, traduzido, significava: "Que o vazio apague o destino!"

O Anjo se surpreendeu ao ouvir aquelas palavras. Os demônios, mesmo sofrendo, investiram


contra ele em um frenesi insano. Com um golpe de sua espada radiante, o Anjo desmantelou as
criaturas que avançavam contra o limiar. O guerreiro demoníaco investiu contra ele, mas sem
esforço, o Anjo o deteve, cravando sua lâmina em seu peito. Enquanto a luz consumia seu
corpo, o guerreiro sussurrou suas últimas palavras: "Por Valarionya...". Ao ouvirem esse nome,
os demônios restantes urraram de desespero, e os céus se tornaram sombrios.

Então, as sombras se fundiram, e um ser colossal emergiu. Sua forma era caótica, um reflexo do
vazio. O Anjo o observou atentamente, mas antes que pudesse reagir, um golpe invisível o
atingiu com uma força esmagadora, lançando-o contra as muralhas de Eldorath. Mas logo em
seguida o Anjo foi-se voando e pegando o demonio levando a luta para longe.
Porem. Do centro da escuridão, um novo demônio, maior e mais terrível, ergueu-se, fitando o
reino com um olhar faminto. Ele ergueu uma rocha colossal e a lançou contra o limiar.

No instante seguinte, uma figura ágil se lançou contra o projétil, cortando-o ao meio com uma
lança que brilhava como a luz do destino. As metades da pedra caíram ao rio abaixo. A princesa
de Eldorath havia chegado. O demônio a encarou e sorriu, reunindo uma energia aterradora
que se espalhou pelo campo de batalha como uma tempestade iminente.

"Você não pertence a este mundo. Sua existência é um erro, uma aberração do destino. Eu o
corrigirei agora mesmo", proclamou a princesa, sua voz ressoando com determinação.

A lança em sua mão reluziu com a mesma luz pura do Anjo. O demônio do vazio riu, inclinando-
se para frente e liberando um poder destrutivo inimaginável. "Vocês são tolos se acreditam que
podem deter os Primordiais! Morram agora para o vazio!" Com um grito terrível, ele
desencadeou um ataque devastador: "Abyss Strike!"

A energia do vazio avançou como uma maré imparável, desintegrando tudo em seu caminho. A
princesa, no entanto, fincou sua lança no solo e sussurrou: "Brilhe para sempre, Destiny Light."

Uma luz resplandecente emergiu, colidindo com o ataque do demônio. O choque entre as
energias opostas fez o ar vibrar com uma força quase insuportável. O poder do vazio passou
pelos lados, devastando tudo ao redor, mas Eldorath permaneceu intacta. O demônio observou,
incrédulo.

Num ato de desespero, ele decidiu se autodestruir, desencadeando uma explosão de pura
aniquilação. A princesa encarou sua lança, agora reduzida a pó, e olhou para os guerreiros ao
seu lado e para as pessoas dentro do limiar. O desespero crescia, mas antes que o caos se
consumasse, o Anjo retornou.

Num voo veloz, ele atingiu o demônio com um golpe colossal, lançando-o aos céus. O monstro
explodiu no alto, reduzindo a destruição em terra. Fragmentos de rocha e energia escura caíram
como chuva. A princesa ergueu os braços para se proteger da onda de choque, e quando
finalmente abaixou a guarda, viu o Anjo diante dela.

Ele a encarou, seus olhos brilhavam. A princesa, por sua vez, sentia seu coração acelerar mesmo
sem conhecer a figura por traz do capacete. O silêncio entre eles dizia mais do que qualquer
palavra. Mas então, ambos notaram algo acima de Eldorath.

Outro ser como o Anjo pairava sobre o reino. O Anjo ergueu o olhar, e a princesa seguiu seu
gesto. Sem hesitar, ele alçou voo para encontrar a nova presença, enquanto ela permanecia ali,
imóvel, seu coração tomado por uma inquietação que não conseguia compreender.

O outro ser, ao perceber a aproximação do anjo, bateu suas asas e disparou para longe em uma
velocidade avassaladora. Sem hesitar, o anjo seguiu-o, cortando os céus com igual destreza,
determinado a desvendar aquele mistério.

Sobrevoaram vastas extensões do mundo, até que, em um súbito movimento, a desconhecida


mergulhou nas águas profundas do oceano. O anjo desceu rapidamente, mas ao invés de
mergulhar, pairou sobre a superfície, batendo as asas com vigor. O impacto da força gerada
criou um vórtice, afastando as águas abaixo dele e revelando o vazio momentâneo entre as
ondas revoltas. Contudo, o ser havia desaparecido sem deixar vestígios.

O anjo permaneceu ali, em silêncio, o olhar perdido no abismo azul. Quem era aquela entidade?
Por que fugira? E, acima de tudo, o que isso significava para o destino que se desenhava à sua
frente?

No Limiar de Eldorath, todos observavam a princesa com espanto, maravilhados pelo poder que
emanava dela—tão semelhante ao do anjo. Os guardas e guerreiros dedicavam-se a acalmar as
pessoas, ainda abaladas pelo terror e medo da batalha, mas a presença da princesa irradiava
uma aura de paz indescritível. Seu caminhar sereno e sua postura firme traziam conforto aos
corações aflitos.

O sol começou a repousar no horizonte, tingindo os céus com tons dourados e púrpura. A noite
caía lentamente sobre Eldorath, e, em meio ao crepúsculo, anciãos de um reino distante,
situado além dos desertos, reuniram-se em murmúrios preocupados. Seus olhares
denunciavam a inquietação que sentiam diante do que haviam testemunhado

— Com licença, ancião Bryndor de Eldorath — disse um dos visitantes, inclinando levemente a
cabeça em sinal de respeito. — Viemos do Reino de Zareth, além das dunas escaldantes.
Queremos compreender as profecias e como a princesa se encaixa nelas, pois o poder que ela
demonstrou não é algo comum entre os reinos que conhecemos.

Bryndor, o sábio ancião de Eldorath, concordou com gravidade. Seu olhar era profundo, como
se já previsse aquela indagação há muito tempo. Sem demora, fez um gesto para que o
acompanhassem até sua morada, situada um pouco além das muralhas do limiar.

Os anciãos de Zareth seguiram-no respeitosamente, e, ao adentrarem a casa de Bryndor,


encontraram um ambiente simples, mas repleto de conhecimento—estantes cobertas por
pergaminhos antigos, mapas e artefatos esquecidos pelo tempo.

Sentaram-se à mesa de madeira envelhecida pelo passar dos séculos, enquanto Eryndor se
afastava por um momento. Quando retornou, trazia consigo um pergaminho selado com um
lacre ancestral. Seus dedos deslizaram sobre o selo enquanto ele o depositava diante dos
visitantes.

— Aqui está — murmurou o ancião, sua voz carregada de um peso que apenas aqueles que
conhecem o passado conseguem transmitir. — A Profecia do Destino.
Os anciãos de Zareth observavam atentamente o pergaminho aberto sobre a mesa, mas as
imagens e a escrita antiga eram de difícil compreensão. Suas expressões refletiam a
perplexidade diante dos símbolos desconhecidos. Foi então que Bryndor, com a voz calma e
experiente, iniciou sua explicação.

— Essas imagens retratam o passado distante — disse ele, passando os dedos enrugados sobre
os traços marcados no pergaminho. — Como podem ver, muitos desses deuses e primordiais
foram banidos do Primordium. Mas eles não foram destruídos, apenas lançados para além do
próprio vazio, e agora buscam vingança. No entanto, há algo além disso — Bryndor apontou
para um símbolo central, uma luz resplandecente distinta dos demais. —Essa luz nunca foi vista
antes... Alguns dizem que ela sempre esteve ali, outros afirmam que é uma ilusão.

Os anciãos de Zareth trocaram olhares, absorvendo a magnitude da revelação. Bryndor


prosseguiu:

— No geral, a profecia fala sobre os primordiais e o vazio, mas há um trecho que desafia
qualquer predição. Algo que está fora do Destino, algo que jamais foi escrito ou previsto... e
ainda assim aconteceu. Uma estrela, pura e resplandecente, ultrapassou o Shatterrealm,
atravessando sua essência fragmentada sem ser corrompida. Desde então, as forças do mal se
agitam em busca de libertação, pois essa foi a fagulha de esperança que nunca foi registrada
nos desígnios do Destino.

Ele fez uma breve pausa, permitindo que as palavras se assentassem na mente de seus
ouvintes, antes de continuar

— E é aqui que entra o que desejam saber sobre a princesa. Não há relatos que mencionem
diretamente sua existência, mas o Limiar de EldorathDestino foi construído para aguardar aquele
que traria equilíbrio. Mas ninguém sabe ao certo quem ou o que seja. Uma fortaleza majestosa,
erguida não para abrigar reis ou rainhas, mas para aguardar um chamado que ecoaria através
das eras. Durante gerações, os guerreiros deste lugar o protegeram, sem nunca compreender
plenamente sua verdadeira função. Eldorath permaneceu adormecido, oculto por névoas e
silêncios, até que um dia... uma jovem de manto branco surgiu.

Os anciãos inclinaram-se levemente para frente, atentos ao desdobramento da história.

— Os guardas a avistaram e, por instinto, tentaram impedi-la. Mas, ao olharem para ela,
sentiram uma paz tão profunda que seus corações hesitaram. Nenhum deles ousou intervir. E
então, diante de todos, os portões de Eldorath se abriram sozinhos. As flores que há muito
haviam murchado renasceram ao toque sutil do vento, carregando consigo o frescor da
renovação. O silêncio opressor foi dissipado pelo primeiro som audível em eras. A névoa que
ocultava a grandiosidade do Limiar desfez-se como se jamais tivesse existido. A jovem, cujo
rosto permanecia oculto sob o capuz, caminhou sem temor, e a luz do Destino brilhou sobre
Eldorath mais uma vez
Bryndor ergueu o olhar, encarando os anciãos de Zareth.

— Desde esse dia, a princesa, conhecida como Lyara, tem guardado Eldorath e revelado a todos
a verdadeira essência do Destino. Assim como o anjo protege os inocentes e enfrenta as forças
das trevas, Lyara se tornou o coração vivo de Eldorath. Seu propósito e sua origem, no entanto,
continuam envoltos em mistério, assim como o próprio Destino que a trouxe até nós."

—Não sabemos ao certo como ela possui a mesma essência do anjo, mas aquela mulher
semelhante a ele, que vimos acima de Eldorath, certamente tem alguma conexão com sua
existência.

Os anciões de Zareth ficam surpresos com a grandiosidade da história e continuam debatendo


com Bryndor, que compartilha mais relatos e segredos ancestrais. No entanto, distante dali, em
um outro universo, uma prisão mergulhada nas trevas se torna palco de um evento sombrio.

Mas universos distantes dali..

Sombras sinuosas invadem um local, massacrando os guerreiros que protegiam seus portões.
Uma delas, mais imponente, investe contra a grande entrada da prisão, quebrando-a com força
descomunal. Os guerreiros feridos, incapazes de resistir, observam com horror os próprios
algozes ajoelhando-se diante da escuridão interior.

Do negrume, uma voz doce e sedutora se eleva. Uma mulher emerge da penumbra,
caminhando com graça profana, entoando uma canção maldita. Os feridos, ao ouvi-la, começam
a sangrar pelos olhos, caindo um a um, até que seus corpos se contorcem em grotescas formas
de sombras. Ela se deleita com a cena, sua presença corrompendo tudo ao redor.

Outra sombra surge à sua frente e profere com reverência:

— Você está livre, Nythera. Vamos comandar este universo e localizar nossos aliados.

Nythera sorri, seus olhos brilhando com uma malícia insaciável.

— Hm... Vou adorar matar... já sinto a energia de Vaeloria. E quanto a você, Malakar?

Malakar, a entidade sombria, inclina-se levemente.

— Estou trabalhando para libertar Vyrethis. Precisamos de sua força para encontrar todos os
Primordiais.

Nythera ri suavemente, seu olhar transbordando excitação.

— Hm... Mal posso esperar...


Ela avança entre os corpos dos que ousaram lutar pela última vez, cada passo selando o destino
daquele universo.

A noite em Eldorath parecia mais densa, como se algo invisível pairasse sobre os céus.
No silêncio de seus aposentos, a princesa desperta bruscamente de um pesadelo. Seu peito
sobe e desce em respirações profundas enquanto se senta à beira da cama. O vento frio entra
pela janela entreaberta, e ela se levanta, movida por uma inquietação inexplicável.

O pensamento surge sem explicação, e ela sente uma conexão inexplicável com sua presença.
Um vínculo que não compreende, mas que arde dentro dela. Seu olhar vagueia pela cidade,
pelas casas além das muralhas. Ela sente o pulsar das emoções das pessoas, o medo, a
esperança, a vida.

Ali, diante da noite, a princesa permanece em silêncio, sentindo o peso do destino sobre seus
ombros.

A princesa subiu até o topo do castelo, onde o vento soprava suavemente, trazendo consigo o
cheiro das árvores e o silêncio profundo da noite. Dali, podia ver toda Eldorath, suas luzes
espalhadas como estrelas presas à terra. Sentou-se na beirada, seu olhar perdido no horizonte,
enquanto passava as mãos nas costas. Ao trazê-las de volta à frente, viu o brilho escarlate em
seus dedos. Sangue. Por um instante, ficou imóvel, observando-o à luz da lua.

A dor era insignificante comparada ao peso do segredo que carregava.

A princesa sentou-se na beirada da muralha do castelo, sentindo o vento frio envolver sua pele.
A brisa carregava o cheiro úmido da terra e o aroma distante das chamas ainda apagadas da
batalha. Seu olhar se perdeu no horizonte, onde as estrelas piscavam como ecos silenciosos do
Destino.
Um arrepio percorreu sua espinha. Seu corpo ficou tenso.

Algo estava errado.

Uma pressão invisível envolveu sua cabeça, como se mãos invisíveis estivessem tentando puxá-
la para um abismo que não podia ver. Seu peito apertou, a respiração ficou rasa. O som ao seu
redor sumiu por um instante. Então, veio a dor—uma fisgada na mente, um estalo profundo em
sua alma.

A realidade se rasgou ao meio.

Ela não estava mais em Eldorath.


O cheiro doce do orvalho foi substituído pelo fedor acre de carne queimada. O calor sufocante a
fez engasgar, e quando abriu os olhos, viu o chão manchado de vermelho. Corpos jaziam sem
vida ao seu redor, seus olhos vazios refletindo uma luz alaranjada vinda do céu.
O vento agora uivava, carregando consigo sussurros. Eles vinham de todos os lados, num idioma
esquecido, num tom amaldiçoado.

Então, ela ouviu os gritos.

Olhou para frente e viu a cidade em chamas, sua estrutura sagrada desmoronando. Guerreiros
corriam, suas espadas quebradas, seus rostos cobertos de terror. No centro do caos, uma
sombra colossall erguia-se, seus olhos como buracos negros devorando tudo ao redor.

Ela sentiu o desespero das almas sendo arrancadas de seus corpos. Sentiu a esperança
morrendo como uma chama sufocada pela escuridão.

A sombra virou-se para ela. Ela não deveria estar ali.

Seus olhos se encontraram. Um rugido ecoou pelos céus, e num piscar de olhos, a visão se
desfez.
A princesa abriu os olhos ofegante. Seu corpo tremia, a pele fria como gelo. O céu de Eldorath
ainda estava ali, intacto. As estrelas continuavam brilhando. Mas algo dentro dela dizia que o
que viu não era um mero pesadelo.

A escuridão estava vindo.

Seu pensamento se desviou para o Anjo. Ele sentia o mesmo? Compartilhavam a mesma dor?

Como se respondesse à sua dúvida, o colar em seu pescoço brilhou suavemente.

Longe dali, na mesma noite fria, o Anjo pairava sobre um penhasco desolado, onde a lua
iluminava apenas a névoa rastejante. Seus olhos percorriam as sombras, buscando qualquer
vestígio da mulher que encontrara, mas era como se ela nunca tivesse existido. Nenhuma
presença, nenhum eco de pensamento ou sentimento o guiava a ela. Apenas o vazio. Isso o
incomodava.

Porém, naquele instante, uma onda avassaladora de emoção o atingiu. Um sentimento vindo de
Eldorath, forte e inconfundível. Era como se o destino o chamasse—não em palavras, mas na
linguagem silenciosa da alma. E, nesse momento, ele soube que não estava sozinho em sua
inquietação.

Ao amanhecer, os anciãos de Zareth adentraram o castelo de , suas vestes esvoaçando


levemente com a brisa matinal. Ao cruzarem os corredores, seus olhos pousaram nas paredes,
repletas de desenhos e escrituras antigas. Mas, à frente, algo lhes roubou o fôlego: um trono
dourado, resplandecente, e logo ao lado, outro trono puramente de ouro, vazio, como se
esperasse por alguém.
Antes que pudessem analisar mais, uma voz firme cortou o silêncio.

— Visitantes de Zareth, a princesa os aguarda.

A mulher que se aproximava tinha cabelos vermelhos como chamas ardentes, seu rosto
delicado carregando uma expressão séria e disciplinada. Era Thys, uma das guerreiras de elite
de Eldorath. Com um gesto preciso, indicou que a seguissem. Os anciãos caminharam em
reverência até o salão real.

Ao chegarem mais perto, os anciãos de Zareth ajoelharam-se instintivamente diante de Thys.


Ela, no entanto, franziu o cenho e os levantou rapidamente.

— Não se reverenciem a qualquer pessoa. — Sua voz era firme, mas sem dureza.

Os anciãos trocaram olhares embaraçados, murmurando desculpas. E foi então que a princesa
apareceu.

Ela não precisou anunciar sua chegada. Sua presença foi sentida antes mesmo de ser vista. O
silêncio tomou conta do salão, e um dos anciãos sentiu um peso avassalador em seu peito e
mente. Sua visão embaçou e, sem compreender totalmente o porquê, ele caiu de joelhos. Ele
sentia, em cada fibra de seu ser, que estava diante de algo muito além da compreensão mortal.

Seus companheiros o olharam, confusos. Thys estreitou os olhos, surpresa.

A princesa deteve seu olhar sobre ele por um instante antes de falar.

— Pode se levantar, Zack. — Sua voz era serena.

O ancião ficou imóvel. Como ela sabia seu nome? Hesitante, levantou-se, impressionado,
enquanto seus companheiros trocavam murmúrios surpresos.

A princesa sorriu levemente e prosseguiu:


— Sinto que alguns de vocês estão nervosos. Não precisam temer. Perguntem o que desejam
saber.

Os anciãos se entreolharam, alguns cochichando entre si. Então, um deles tomou coragem e
perguntou:
— Princesa, você é confiável? Muitos questionam seu poder semelhante ao do Anjo… mas e se
vocês se rebelarem?

Ela permaneceu em silêncio por um instante, como se refletisse sobre cada palavra antes de
responder.

— Confiável? Isso não cabe a mim dizer. Confiança não é uma promessa feita com palavras, mas
um laço forjado por ações e tempo. Eu não sei quem sou completamente, nem sei do que sou
capaz… mas sei que o caminho que escolhi é o de proteger, não destruir. O Destino é um rio em
constante movimento—mas ele não precisa ser manchado por sangue.

Os anciãos murmuraravam entre si, absorvendo suas palavras. Até que um guerreiro
aproximou-se apressadamente, ajoelhando-se diante dela.

— Princesa, perdoe-me por interromper, mas um ser dominou o Reino de Zareth. Devemos
evacuar?

O salão ficou em silêncio. O rosto dos anciãos empalideceu. Suas casas, suas famílias…

A princesa manteve-se inabalável.

— Não tenham medo. O destino deste reino não será selado hoje. Mas quanto a Zareth… — Seu
olhar se tornou afiado. — Preparem os guerreiros. Eu irei com vocês.

O ancião mais exaltado começou a ofegar. Sua respiração ficou pesada, e seus olhos se
arregalaram como se enxergasse algo invisível aos demais. Seus companheiros recuaram ao ver
sua pele escurecer, como se sombras líquidas fluíssem por suas veias. Então, como se uma força
externa tomasse conta deles, um a um os anciãos começaram a murmurar palavras sem
sentido, suas vozes unindo-se em um sussurro dissonante. O vazio os consumia. Eles já não
eram mais homens... eram apenas cascas vazias, sombras corrompidas pelo destino de Zareth.

A corrupção os tomava.

— Não… — murmurou a princesa, com tristeza no olhar. — Eles nunca vieram por respostas.
Vieram já marcados pelo Vazio.

Os anciãos gritaram, suas formas se desfazendo em sombras grotescas. O salão foi tomado pela
escuridão pulsante.

A princesa fechou os olhos, seu peito pesado. E então, com uma única palavra, sua voz ecoou
como uma sentença inabalável:

— Sumam.

A escuridão foi arrancada da existência. Em um instante, tudo se dissipou. Não restou nada.

Apenas Zack, ajoelhado e em prantos.

Ele ergueu os olhos para a princesa, aterrorizado, mas ao mesmo tempo tomado por uma
profunda reverência.
Ela se aproximou, sua voz tão suave quanto firme:
— Seu destino não termina hoje. Você viu a luz.

Lágrimas escorreram pelo rosto do ancião.

Enquanto isso, em Zareth, monstros do Vazio assolavam a cidade. As pessoas eram


transformadas, consumidas pelo horror. Entre as criaturas, uma figura distinta caminhava. Seus
pés não tocavam o solo—em vez disso, sombras o sustentavam como uma maré negra viva. Seu
olhar ardia como buracos abertos no tecido da realidade. As criaturas ao redor se curvaram, e
ele abriu um sorriso cruel. Quando ergueu a mão, o próprio dia pareceu estremecer. E então,
ele falou, sua voz soando como um trovão abafado:
'Finalmente… algo digno de ser destruído.

No céu, asas brilhavam.

O Anjo havia chegado.

Ele olhou para o caos abaixo e então fixou os olhos na figura imponente no meio dos monstros.

Um inimigo como nunca antes vira.

O Anjo observa o ser envolto em uma armadura negra como o próprio vazio, seus olhos
faiscando como raios. Sem hesitar, o Anjo avança, sua lâmina brilhando enquanto ataca com
velocidade avassaladora. O inimigo se defende com igual destreza, e os dois guerreiros
atravessam as casas vazias ao redor, suas espadas trocando golpes que faziam o ar vibrar com
pura força. Cada choque de lâmina ressoava como um trovão, rachando o solo abaixo deles. O
impacto enviava ondas de choque pelo ar, dissipando poeira e cinzas ao redor.

Ao longe, na segurança de Eldorath, a princesa sente algo incomum. Como se, através do Anjo,
pudesse ver o que estava acontecendo. Um calafrio percorre seu corpo, e quando a lâmina
negra de Malzareth encontrou um ponto entre as placas da armadura do Anjo, rasgando a carne
e espalhando um brilho escarlate, ela sentiu uma dor intensa, um choque que percorreu seus
ossos como eletricidade. Mas, antes que pudesse se recuperar, outro golpe veio. Os guardas ao
seu redor perceberam sua inquietação e perguntaram se estava bem. Sem responder, com o
coração apertado, ela acelerou seu cavalo rumo ao combate. Os guerreiros que a
acompanhavam perceberam sua determinação e seguiram-na, prontos para lutar ao seu lado.

Enquanto isso, o Anjo continua seu confronto feroz. O inimigo, com golpes precisos e brutais,
força o Anjo a recuar por breves instantes. Criaturas das sombras surgem ao lado do adversário,
atacando sem piedade. Durante a luta, o inimigo finalmente fala, sua voz ecoando como um
trovão:

"Que tipo de primordial é você? Responda!"


Sem esperar resposta, ele dispara um golpe de raios. O Anjo o bloqueia com dificuldade, mas
um ataque surpresa o atinge pelo flanco—a força de uma pedra colossal o lança ao chão. Ele se
levanta rapidamente, mas então percebe uma nova presença.

Um riso suave ecoou pela névoa negra. Não era um som humano, mas algo torcido, feito para
provocar calafrios. Do nada, uma figura feminina deslizou para fora da escuridão, seus olhos
brilhando como luas púrpuras. Seu sorriso era afiado como uma lâmina.

"Então, Malzareth," ela diz com um sorriso cruel, "quem é esse primordial?"

Malzareth, o guerreiro do vazio, estreita os olhos. "Ainda não sei, Veyra. Que tal matarmos ele e
descobrirmos depois?"

Os dois atacam juntos. O Anjo se defende com maestria, mas a pressão é imensa. Malzareth
desfere golpes tão poderosos que cada impacto deixava fissuras no chão. Seu movimento era
direto, brutal, esmagador. Já Veyra, por outro lado, era um sussurro na escuridão—um vulto
veloz que desaparecia antes que qualquer golpe pudesse encontrá-la, reaparecendo sempre
onde menos se esperava. Ela se movia como uma sombra viva, cortando com lâminas finas que
brilhavam com uma energia corrompida.

O Anjo tenta compreender por que sua luz não os afeta como os outros servos do vazio, mas
antes que encontre uma resposta, é atingido por uma sequência de golpes impiedosos. A
batalha se intensifica, e a escuridão parece se fechar ao seu redor...

Enquanto isso, a princesa cavalgava com fúria. Seu peito se apertou quando sentiu a dor. Mas
não era apenas dor—era um chamado. Um chamado que ela não podia ignorar. O vento soprou
contra seu rosto, frio como um aviso.

— Preparem os cavalos. — Sua voz soou firme, inquestionável.

Os guerreiros hesitaram.

— Princesa, é perigoso…

— Então fiquem aqui e assistam. Eu irei.

Ninguém ousou contestá-la. Num instante, ela já cavalgava, o destino ardendo em seu peito
como uma chama impossível de apagar.

Os guerreiros de Eldorath estavam paralisados, hesitantes. A escuridão diante deles era como
uma muralha viva, pulsando, ameaçadora. Eles sabiam que a batalha à frente não era apenas
contra monstros—mas contra algo muito maior. Contra o próprio Destino.

A princesa parou por um instante, seu olhar percorrendo cada um deles. Sua voz foi serena, mas
carregada de força.

— O medo é o que nos separa da vitória.

O silêncio caiu sobre o grupo. Ninguém ousou responder. Até que um dos guerreiros, os olhos
presos à tempestade de sombras que avançava, murmurou quase sem perceber:

Can we still be saved

— Ainda podemos ser salvos...?

O vento soprou forte, e, sem hesitar, a princesa puxou as rédeas de seu cavalo e ergueu sua
lança.

— Lutemos para descobrir.

E então, eles avançaram.

Capitulo 2

We March as One.

Nas montanhas gélidas, o Anjo ergueu os olhos para o céu noturno, onde as estrelas brilhavam
como faróis no vazio infinito. Ele as observava em silêncio, mas sua mente estava distante. Havia
algo em seu peito, uma inquietação que não conseguia nomear. Era um sentimento profundo,
quase ancestral, como se sua própria essência estivesse conectada a algo muito além de sua
compreensão.

E então, em meio à quietude das montanhas, sentiu.

Uma emoção intensa, distante, atravessando os universos. Temor.

Ele fechou os olhos, e sua mente o levou de volta a dias antes da batalha, para um momento
que ainda não entendia completamente.

───
O Anjo a observava de longe.

A luz suave das velas iluminava o quarto da Princesa, refletindo-se nos vidros das janelas. Ela
estava sentada diante de uma tela, sua mão deslizando delicadamente sobre a pintura, como se
cada pincelada carregasse um pedaço de sua alma.

Ele não entendia.


Por que sempre sabia quando ela estava perto?

Por que, quando ela sonhava, sentia sua esperança e sua dor?

Seus olhos vaguearam distraídos até a janela. Foi então que a viu.

A Princesa o observava à distância.

Seu olhar encontrou o dele por um instante que pareceu eterno. Seu coração acelerou. Havia
algo na forma como ela o fitava—como se já soubesse que ele estaria ali.

Um calor desconhecido percorreu seu corpo. Nervoso, ele bateu as asas e se afastou
rapidamente, sumindo na vastidão do céu noturno.

Do quarto, a Princesa permaneceu olhando para onde ele estivera. Lentamente, um sorriso se
formou em seus lábios, e um rubor leve tingiu seu rosto.
───
No presente, o Anjo lutava tanto para sobreviver quanto para salvar as pessoas que ainda
estavam ali.
Malzareth e Veyra preparam um golpe devastador. A escuridão em névoas se junta a eles,
formando uma lâmina sombria. O Anjo vê uma criança correndo pelo campo de batalha e, sem
hesitar, parte para salvá-la. No mesmo instante, Malzareth e Veyra disparam seu golpe mortal.

— Tolo! Você realmente se preocupa com seres tão frágeis? — zombou Veyra, com um sorriso
cruel.

Uma lança corta o ar, dissipando a energia do ataque. A lâmina sombria de Malzareth se parte
ao meio. Surpresos, os dois olham para a origem do ataque—era a Princesa. Ela avança,
pegando a lança que se transforma em uma espada, e golpeia Malzareth.

— Então existe mais um ser que quer lutar contra nos... — Malzareth sorriu sombriamente. —
Você vai morrer aqui mesmo!

A Princesa e Malzareth trocam golpes intensos. Veyra, percebendo uma brecha, dispara uma
grande quantidade de energia contra o Anjo, que ainda protegia a criança. Ele bloqueia o golpe,
permitindo que a criança fugisse. No entanto, ao ver a Princesa em meio à batalha, algo dentro
dele se agita.

A Princesa desfere um golpe certeiro em Malzareth, lançando-o contra as criaturas das sombras.
Com um salto, ela se prepara para cravar sua lâmina em Veyra, mas, antes que pudesse concluir
o ataque, uma força colossal do Vazio a atinge, jogando-a violentamente ao chão.

O impacto foi brutal. Seu corpo foi lançado pelo campo de batalha como uma folha ao vento. A
poeira subiu, ocultando-a por um instante. O Anjo congelou. Ele ouviu o som abafado da
respiração dela… sentiu o coração dela diminuindo. Então, algo dentro dele se partiu.

O Anjo, ao vê-la caída, para imediatamente sua defesa contra Veyra. Porém, algo estranho
acontece—o Vazio evita tocá-lo. Veyra se espanta com a reação.

Ele se aproxima da Princesa e a segura em seus braços. Seus fios de cabelo branco caem sobre o
rosto dela, que lentamente abre os olhos e o encara.

— O meu observador... — sussurrou a Princesa, como se apenas agora compreendesse algo.

O Anjo não responde, mas sua expressão demonstra um profundo alívio.

Veyra observa a cena e, por um instante, relembra seu passado com Malzareth. No entanto, a
sombra do Vazio volta a consumir seu coração. Uma presença aterradora surge.

Veyra se ajoelha: "Senhor Thalor, Senhor da Natureza Eterna, obrigado por me salvar. Mas
quero permissão para matá-los."

O ser colossal que atacara a Princesa observa os dois guerreiros e, ao ver a Luz Branca, se
recorda da mesma luz que um dia serviu. Seus olhos ardem por olhá-la por tempo demais. Algo
dentro dele se contorce ao perceber que, apesar de Veyra e Malzareth não sentirem os efeitos
diretos, a luz os estava desintegrando pouco a pouco—algo que eles ainda não haviam notado.

— Não. Não percam tempo com guerreiros do Destino. — declarou Thalor.

Uma colossal energia verde atinge o chão com um impacto devastador. A terra treme. Thalor se
vira e sobe por escadas de raízes e plantas retorcidas. Acima dele, um imenso objeto coberto de
runas aponta para um ponto do espaço.

Enquanto Thalor trabalha, uma voz ecoa na escuridão: "Vocês nunca apagarão o Destino."

Thalor pega uma mulher presa diante dele.

— Você aceitou o Vazio, mas ainda resiste, Ash? — Thalor estreitou os olhos. — Poderíamos
dominar tudo juntos. Todos nós poderíamos…

Ash manteve a expressão firme.

— Eu aceitei, mas não quero fazer parte disso. Nós, Primordiais, entendemos esse Vazio.

A fúria brilhou nos olhos de Thalor. Com um movimento brutal, ele a arremessou contra os
espinhos retorcidos de suas plantas.

— O Destino já se foi. A Luz se foi.


Com os últimos suspiros, Ash começa a recitar uma canção:
"Em tempos de problemas, em dias de tristezas, Quando todas as peças se desfizeram, Há um
novo Destino pelo qual seremos guiados... Caminhamos pelas trevas do Vazio, Mas surgirá algo
sem sombras, algo sem palavras..."

A mulher tosse sangue e, com suas últimas forças, murmura:


"Não se esqueça, caro amigo... há heróis do Destino. Algumas profecias antigas dizem que são
deuses. A Luz voltará mais brilhante, à medida que o Vazio crescer. O fim está próximo..."

Ela fecha os olhos. Seu corpo se dissolve em sombra, mas uma luz branca sutil escapa de seu
coração, sendo levada pelo vento.

Thalor ignora a visão, mas o eco de suas palavras ressoa em sua mente. Ele continua os
preparativos com as runas.

Veyra e Malzareth observam Thalor realizar o ritual de libertação. No entanto, os monstros ao


redor começam a se agitar, atormentados por algo.

O campo de batalha estremeceu. O ar vibrou com uma ressonância impossível de ignorar. Uma
voz—poderosa, avassaladora, ecoou pelo vazio como se o próprio Destino falasse. Os guerreiros
e vilões sentiram seus corpos congelarem por um instante, como se uma força além da
compreensão os atravessasse. E então, no horizonte, surgiram. Um brilho branco cortou o céu
como um farol eterno.

"Agora, na névoa do amanhecer, vemos os caídos pelo mal... No campo de batalha, um mar
carmesim se espalha. Mas o Destino está em solo, e os sentimentos daqueles que se foram
ressoam para o alto, Marchando com seu sangue... E nós respondemos bem alto...
We march as one
Marchando como um."

Uma luz intensa atravessou os céus, refletindo como um espelho contra o próprio sol. Foi o
suficiente para dissipar o Vazio, mas... teria sido realmente deles?. A luz se ergue até os céus,
dominando tudo com um brilho puro e intenso, mais radiante que o próprio sol.

O Anjo e a Princesa estavam ali, lado a lado, a luz os envolvendo como uma promessa antiga
finalmente cumprida.

Thalor, surpreso, usa o próprio Vazio para esconder-se da luz. Agora, ele e os outros Primordiais
sentem o temor de uma força que antes não os afetava.

Veyra e Malzareth avançam. O Anjo olha para a Princesa, e, sem palavras, os dois se entendem.
Em um movimento único e sincronizado, eles atacam. Veyra e Malzareth tentam se defender,
mas são sobrecarregados tanto pelos golpes quanto pela Luz.
Veyra olhou para suas mãos. Sua pele se dissolvia em pó brilhante, como cinzas ao vento. Seus
olhos se arregalaram, cheios de incredulidade. 'Não… isso é impossível.' Ela tentou correr, mas a
Luz já a consumia

O Anjo volta seu olhar para a Princesa. Malzareth, atormentado pelo Vazio, jaz no chão. No
entanto, antes que ele possa ser eliminado, Thalor o destrói com um único golpe, impedindo
sua derrota humilhante.

—Isso... não pode ser. Esse poder não deveria existir. — Thalor sorriu com desdém. — Mas não
sabem quem eu sou.

Ele fez uma pausa antes de continuar, sua voz carregada de arrogância:

— Não importa. Dominaremos tudo e, em breve, o Destino não passará de uma luz esquecida.

Thalor ergueu os olhos para o céu banhado em luz. Por um breve instante, sua expressão
vacilou. Ele reconhecia aquele brilho. Já o havia visto antes. Mas sua hesitação durou apenas
um segundo. Com um rugido que fez a terra tremer, ele canalizou o Vazio puro em suas mãos e
atacou.

Thalor ataca com tudo. O Anjo agarra a Princesa e voa para cima. Raízes colossais tentam
prendê-los no ar, mas a luz os reduz a pó.

O Anjo solta a Princesa. Ela avança correndo pelo ar, enquanto ele voa diretamente para Thalor.
O Primordial hesita por um instante e lança um ataque do Vazio. Eles respondem juntos—e a
Luz quebra o poder das trevas, atingindo Thalor e destruindo os objetos do ritual.

Thalor foi derrotado e sua alma foi enviada para o Vazio Eterno. O ar se acalmou, e a escuridão
começou a se dissipar. A terra, como se despertasse de um longo pesadelo, parecia se alegrar.
No campo de batalha, o Anjo e a Princesa se encararam frente a frente. Nenhuma palavra foi
dita entre eles.

O Anjo se aproximou, e seu capacete automaticamente se abriu, como se reconhecesse a


presença dela. Em silêncio, ele passou a mão sobre o rosto da Princesa. Naquele instante, o
Shatterrealm pareceu estremecer. Algo havia mudado. Uma luz branca atravessou as nuvens
sombrias e iluminou os dois, enquanto seus olhares se fixavam intensamente um no outro.
Todos no Shatterrealm sentiram, naquele momento, a última esperança.

Ainda sem palavras, o Anjo deslizou sua mão pelo braço da Princesa e, com uma voz grossa, mas
mansa e suave, disse:

"Obrigado."
O coração da Princesa disparou. Seu colar vibrou, emanando uma luz branca. Um sorriso brotou
em seus lábios. O Anjo deu um passo para trás, preparando-se para alçar voo, mas antes que
pudesse partir, a Princesa falou:
"O ser que você procura... não existe. Por isso, você não a viu quando entrou na água. A magia
se desfez."

O Anjo refletiu sobre aquelas palavras e, em silêncio, voou novamente, desaparecendo nos
céus. A Princesa permaneceu olhando para o ponto onde ele sumira, levando a mão ao rosto,
no mesmo lugar onde ele a havia tocado.

Entre seus pensamentos, refletiu:


"Dentre milênios o observando, o evitando e guardando um segredo..."

Com a batalha vencida, a Princesa voltou sua atenção aos seus guerreiros. Alguns estavam
feridos, outros, infelizmente, caíram em combate. Montando seu cavalo, ela liderou seus
soldados de volta para Eldorath.

Enquanto isso, em um universo distante, outro evento sinistro se desenrolava.

Nythera e Malakar estavam diante de uma antiga prisão, matando todos os guerreiros que a
protegiam. Após massacrarem mundos, agora lançavam um banho de sangue sobre as
correntes que selavam a estrutura. Eles aguardaram. O silêncio se fez presente. E então, uma
presença esmagadora surgiu por trás deles.

Uma voz ecoou:


"Nythera, a Rainha dos Mortos. Malakar, o Soberano Sombrio. Quanto tempo se passou?"

Eles se viraram para encarar a figura que emergia das sombras.

Nythera sorriu friamente. "Milênios... tivemos que esperar, minha amiga."

Malakar inclinou a cabeça levemente. "Vyrethis, a Soberana Carmesin... Quanto tempo."

Vyrethis caminhou até eles com um olhar afiado. "Atualizem-me. Onde estão nossos outros
companheiros?"

Malakar fitou as estrelas distantes e respondeu: "Alguns estão presos, aguardando o chamado
de nosso líder. Outros vagam, espalhando sua escuridão por universos distantes."

Nythera completou: "Ou os destruindo. Como Isvalir, que transformou mundos em um inverno
eterno. Ou Thalor, que tentou despertar a Natureza Eterna, mas encontrou algo interessante
antes de morrer."

Vyrethis estreitou os olhos. "Como alguém como Thalor pode ter caído?"
Malakar cruzou os braços. "Ele era esperto, mas encontrou aquilo que mais procurávamos.
Aquilo que nem o Destino conhece."

Nythera sorriu sombriamente. "A Última Esperança. Sentimos a mesma força naquele dia,
quando fomos banidos..."

Pensativa, Vyrethis caminhou até sua antiga prisão e ergueu suas mãos. Um brilho carmesim
pulsou ao seu redor. Com um gesto, a prisão afundou no solo, absorvendo o sangue derramado
dos guerreiros derrotados. Rios escarlates serpentearam pelas rachaduras do chão, formando
antigas runas de comunicação. O ritual estava iniciado.

A luz do ritual negro cresceu. As sombras se dobraram, como se a própria escuridão temesse o
que estava despertando. Nythera e Malakar recuaram, não por medo… mas por reverência. Eles
libertaram Vyrethis primeiro porque precisavam dela. E agora, o universo saberia o porquê.

Envolta em sombras e sangue, a lua escarlate brilha acima. Vyrethis, de pé no centro do ritual,
com um olhar frio e impenetrável, ergue sua lâmina ensanguentada. O ar vibra com poder e
destruição. Ela sussurra, sua voz carregada de um magnetismo hipnótico:

"Olhe em meus olhos... o que você vê? A morte... ou o vazio?"

Uma rajada de vento gélido varre o local. As sombras tremulam, o solo treme com a presença
dos condenados. Sua voz ecoa, mais fria que a própria noite.

"Na guerra... eu serei a purificação. E trarei o caos."

De repente, um mar de sangue despenca ao redor de Vyrethis, envolvendo-a como um cálice


profano. Ela ergue a lâmina e arrasta lentamente sobre a palma da mão, deixando que seu
sangue goteje sobre o altar do ritual. O solo absorve cada gota com um brilho púrpura e
sombrio.

"Minha vida será a destruição."

As sombras se expandem, sussurrando promessas de carnificina. Deuses e guerreiros emergem,


tentando impedir o ritual. Mas a aura da progenitora vampira os paralisa... o medo os consome.
Ela sorri, triunfante.
"Agarrem suas armas... abracem suas esperanças... pois o destino não vai salvá-los. Por favor,
peguem minha mão e fiquem ao nosso lado nesta guerra, pois ela já tem um final."

Ela estende a mão manchada de sangue para as sombras, conectando-se aos primordiais
corrompidos que a cercam. As sombras se dobram ao redor deles, fundindo-se em um elo
inquebrável de destruição. A escuridão sussurra entre os gritos do universo.
E então, o solo treme. O céu se parte. O ritual brilha intensamente, anunciando a ruína.
Todos os primordiais, em uníssono, fazem suas vozes ecoarem como trovões que destroem
realidades:

"NÓS VAMOS DESTRUIR SEU DESTINO!"

O solo se ergue, a base do ritual se levanta. As sombras dos primordiais se dissipam, revelando
as localizações de suas prisões e reinos ocultos. Os corpos mortos se levantam sob o comando
de Nythera. Malakar invoca suas sombras, e uma aniquilação de deuses e guerreiros se inicia
sob o olhar impassível de Vyrethis, que observa o massacre com satisfação sombria.
─────
40 dias haviam se passado após a grande batalha no reino Zareth. O reino agora estava em
completo caos devido à destruição, mas as pessoas começavam a partir para Eldorath, em busca
de novas vidas e moradias. No entanto, à medida que os moradores de Zareth chegavam,
notavam a população de Eldorath discutindo sobre um acontecimento de cinco dias atrás.

"A princesa não tem poderes iguais aos do Anjo e agora essas pessoas estão aqui a admirando?
Ela é uma farsa!" — dizia um grupo entre cochichos e olhares desconfiados.

"E se a profecia estiver errada? Se tudo ocorre de acordo com o destino, então por que ela é
adorada?" — murmurava outro.

"Ainda mais agora que o Anjo desapareceu e, aparentemente, o ser que ele procurava está
protegendo o reino."

Outro sussurrou com receio: "Sem contar que nenhuma profecia menciona o Anjo. Seriam os
dois uma mentira? Consideramos deuses como qualquer outro reino tem os seus..."

O dia era cheio de incertezas. No limiar de Eldorath, guerreiros protegiam a entrada do castelo,
pois dentro e fora das muralhas, havia tumulto e tentativa de invasão. Mas então, todos
levantaram seus olhares: acima do reino, o ser misterioso estava lá, observando.

Com uma descida elegante, pousou à frente dos guerreiros, que se afastaram instintivamente. A
mulher fechou suas asas e todos a encararam em silêncio. Murmúrios se espalharam pela
multidão. "Seria um outro Anjo protegendo o castelo e a princesa?"

Mas quando as pessoas tentaram avançar, o ser abriu suas asas novamente. Suas penas voaram
como lâminas, matando vários na multidão. O medo se instalou. Aqueles que restaram
repensaram suas intenções e recuaram.

Na parte de trás do castelo, no topo, a princesa estava sentada, seu olhar baixo e perdido. Seu
grande vestido balançava ao vento, acompanhando os fios brancos de seu cabelo. Um turbilhão
de pensamentos inundava sua mente. Durante aqueles quarenta dias, seus sentimentos eram
intensos, mas um pensamento persistia acima de todos:
"Por que não consigo lembrar seu rosto?"

Ela apertou os olhos, forçando-se a recordar. Sabia que o havia visto. Mas quanto mais tentava,
mais aquela imagem parecia escorregar por entre seus pensamentos, como um sonho que se
desfaz ao acordar. Era como se algo—ou alguém—não quisesse que ela se lembrasse.

A breve lembrança do Anjo naquele dia parecia se apagar como um mero detalhe. Ela
permaneceu ali até o anoitecer, vendo a lua surgir no horizonte. Então, levantou-se e seguiu
para seu quarto. Ao chegar, encontrou Thys à porta.

"Boa noite, Princesa. Estarei de vigia hoje. Os guerreiros não são mais confiáveis, mas não
acredito em profecias ou destino. Protegerei você porque está há milênios cuidando dessas
pessoas."

A princesa sorriu e, antes de entrar, respondeu com uma voz serena e mansa:

"Thys, a fênix vermelha... Você pode não acreditar nos Destino, mas seus sentimentos dizem
tudo por você."

Thys ficou pensativa. Como se a princesa soubesse que, no fundo, ela desejava explorar mais
sobre as histórias.

No quarto, a princesa se deitou, segurando seu colar. "Onde estaria o Anjo? Por que não consigo
mais ver através dele? Teria ele partido... ou algo pior?" Eram essas perguntas que a levaram ao
sono.

E então, em seu sonho, a princesa se viu em um lago. Ela caminhava lentamente sobre a água,
observando seu próprio reflexo. Mas, de repente, diante do reflexo, o castelo apareceu. A água
se quebrou como vidro e, assustada, a princesa caiu.

O vento da queda a envolveu. Seu coração disparou. Ela fechou os olhos por reflexo.Quando os
abriu novamente, estava em um lugar escuro. Não via nada ao redor. As sombras ao redor
pareciam ganhar vida. A escuridão não era apenas ausência de luz—ela pulsava, como se algo
estivesse esperando.

E então, a temperatura caiu.

O ar ficou denso, pesado, carregado com algo que fazia sua pele arrepiar. Um som surgiu… não
exatamente uma voz, mas um eco distante, como se o próprio Vazio estivesse rindo dela.

Uma voz sarcástica e aterrorizante se fez presente:

— Ora, ora... O que temos aqui? Alguém ousa sonhar em minha presença?
A princesa estremeceu.

— Então... Você matou Thalor. Eu estive lá antes de sua morte. Eu vi aquele brilho branco e
puro... O mesmo que nos baniu. Mas onde está essa luz agora?

A princesa procurava pela voz, mas só havia trevas.

— Nada do que vi foi uma ameaça... Se você realmente tivesse esses poderes, não estaria presa
em meu domínio.

As risadas voltaram, e então, chamas roxas se acenderam no vazio.

— Os sonhos podem ser maravilhosos... Ou podem consumir sua alma.

A tensão no peito da princesa crescia. Ela tentou correr, mas correntes invisíveis a seguraram no
lugar.
— Diga-me... Qual será o seu destino? Um doce descanso... ou um pesadelo eterno?

Mais chamas roxas surgiram, iluminando o local. A voz ressoava em meio ao fogo crepitante:

— Não há mais esperança.

As labaredas intensificaram-se, revelando uma mulher de cabelos negros, olhos vazios e uma
armadura sombria. Ela ergueu sua espada e apontou para a princesa.

Antes que algo acontecesse, a princesa acordou com um sobressalto. Seu peito subia e descia
rapidamente, o coração acelerado. Thys e o chefe da elite estavam ao seu lado.

Thys a observava preocupada, enquanto o guerreiro, percebendo seu pânico, passou a mão
suavemente sobre seus cabelos e disse, com voz calma:

— Está tudo bem...

Aos poucos, o coração da princesa se acalmou, sua respiração desacelerou. Ela segurou a mão
do guerreiro com força, como se confiasse nele instintivamente. Ele sentiu o mesmo impulso de
protegê-la e se sentou em um banco ao lado da cama. Thys ajeitou uma cama no chão e
permaneceu ali.

A princesa demorou alguns minutos para dormir novamente, mas, antes que seus olhos se
fechassem, notou o guerreiro lendo um livro. Essa visão trouxe um estranho conforto e,
finalmente, ela adormeceu.

A noite passou mais calma, com um clima relativamente fresco. Algumas horas se passam e a
manhã surge, o sol aparecendo aos poucos no horizonte, limpando os resquícios da noite e
aquecendo o solo. No quarto, a Princesa abre lentamente seus olhos, observando o guerreiro
ainda lendo seu livro e fazendo anotações.

Curiosa, ela se levanta e se aproxima para ver o que ele estudava. Seus olhos recaem sobre uma
frase interessante:
"O Destino sempre existiu junto com o Vazio, mas assim que sua prisão foi quebrada, o Destino
realmente se ergueu. Assim, os Primordiais temem invadir o Primordium após ver algo além do
infinito."

A Princesa se surpreende, refletindo sobre aquelas palavras. Quando retorna sua atenção ao
presente, percebe o quão confortável estava, recostada no ombro do guerreiro, que segurava
sua espada mesmo adormecido. Lentamente, ela se afasta e se levanta da cama.

Ao se erguer, observa o guerreiro atentamente. Seus cabelos negros e o rosto sereno


transmitiam uma estranha sensação de calma. Ela se aproxima um pouco mais, estudando-o em
silêncio, até que seus olhos recaem sobre um mapa ao lado dele. Pegando-o, percebe que há
uma marca em um local distante com a inscrição: "Local: Runas Antigas".

Intrigada, ela se pergunta sobre aquele lugar, mas seus pensamentos são interrompidos ao ver o
guerreiro de pé diante dela.

A Princesa olhou para o Guerreiro, hesitante.


— Desculpe se lhe acordei.

Ele fechou o livro calmamente antes de responder:


— Eu não estava dormindo. De qualquer modo, não se preocupe, Princesa.

Ela não responde de imediato, apenas o observa profundamente. O guerreiro guarda o mapa e
o livro e se prepara para sair.

O Guerreiro se reverenciou antes de se virar para ir embora.


— Com licença, Princesa.

— Espere... — disse ela.

Ele para imediatamente.

— Qual é o seu nome? — perguntou a Princesa.

O guerreiro se virou para encará-la. Ela o observou ainda mais atentamente, como se tentasse
enxergar algo além de sua aparência.

— Meu nome é Eryon, Princesa.


Ao ouvir o nome dele, o coração da Princesa pulsou diferente. Seus olhos brilharam levemente,
e seu rosto refletindo como rubi.

— Eryon... — disse ela em um tom suave. — Meu nome é Lyara. Obrigada por você e Thys
ficarem ao meu lado.

Eryon manteve a postura firme, seu tom sério, mas confiante.

— Lyara, eu confio em você. E vou protegê-la do que for, custe o que custar.

A Princesa se surpreende com a firmeza das palavras dele. Seus olhos brilham e seu colar
parece reagir ao momento. Antes de sair, Eryon se reverencia novamente e deixa o quarto,
deixando Lyara pensativa, sentindo algo que não compreendia completamente.

Ao descer as escadas, Eryon encontra Thys, que o observa saindo. No caminho, ele nota os
moradores de Zareth aprendendo sobre a profecia, enquanto os habitantes locais sussurram
entre si:

"Não pode ser verdade. Se ela fosse realmente ligada ao Destino, não estaria tão... comum
agora."

"Foi apenas um reflexo do poder do Anjo. Ele deve ter concedido aquilo a ela, como fez com
as armas dos guerreiros no passado."

Mais adiante, guerreiros conversam entre si:

"Lutamos ao lado dela, mas agora... ela não parece diferente de antes. Como alguém assim
pode guiar o reino?"

"Talvez a profecia tenha sido interpretada errada. Talvez o verdadeiro escolhido ainda não
tenha aparecido."

Entre as vozes, algumas discutiam com os nobres que desprezavam a Princesa:

"Eu vi a luz! Não foi apenas o Anjo. Ela estava lá também!"

"Se o Destino escolheu a Princesa, então por que os deuses ainda nos testam? Por que ainda
sentimos o Vazio se aproximando?"

"Eles dizem que ela não tem os poderes do Anjo. Então o que ela é?"

"Uma farsa, talvez. Um erro da profecia, assim como o Anjo. Ninguém nunca ouviu falar sobre
esse tipo de raça."
"As palavras são claras: ‘Aquele que brilhará como a luz pura será a chave do Destino.’"

"Mas nenhum texto diz que será uma princesa ou um anjo. Diz apenas... ‘a chave’."

"Se for verdade, então por que a dúvida? O Destino não deveria deixar espaço para
questionamentos."

Eryon se sente incomodado com as discussões. Ele percebe como as pessoas mudam de opinião
tão rápido, como se tudo o que estudaram e testemunharam não tivesse acontecido. O vazio
continuava consumindo o Destino, mas uma questão ressoava em sua mente:

"Por que eu sinto algo diferente nela?"

Com esse pensamento, ele segue para o salão real, onde organiza a patrulha. Diante do trono
da Princesa, reflete sobre o Destino e as profecias, perguntando-se se realmente tudo estava
escrito e predestinado... ou se existia algo fora do controle do Destino.

Capitulo 3

Life is a Dream

O som das espadas se chocando preenchia o ar. Guerreiros treinavam sem descanso, mas as
palavras ditas entre cada golpe pesavam mais do que o aço.

"Ela nunca teve esse poder." "Foi só o reflexo do Anjo." "Se ela não é a escolhida... então quem
é?"

O guerreiro passou por eles em silêncio, mas cada frase ecoava em sua mente.

Foi então que uma voz firme ecoou pelo pátio.

"Vocês ainda estão cochichando na frente do nosso comandante?"

Thys olhava diretamente para os guerreiros, sua expressão severa. O grupo ficou tenso e se
dispersou rapidamente, envergonhados e com medo da presença dela. Atrás da general, Zyfa,
Josef e outros membros das forças especiais do Limiar de Eldorath se aproximavam de Eryon.

Thys se colocou ao lado dele e falou com firmeza:


— Bom, guerreiros, este é Eryon, comandante das forças especiais. A partir de hoje, sob minha
autoridade como General Thys, ele também será o guarda-costas pessoal da Princesa, a pedido
dela.
Eryon arregalou os olhos, surpreso com a revelação.

Josef se adiantou, estendendo a mão com um sorriso amigável.

— Prazer, comandante. Me chamo Josef, estrategista do grupo.

Eryon observou a mão estendida por um instante antes de apertá-la, sem entender
completamente o gesto. Josef sorriu ao cumprimentá-lo.

— Ah, e esta é minha esposa, Zyfa.

A mulher de cabelos curtos e postura firme sorriu.

— Olá, prazer. Sou arqueira e também faço reconhecimento.

Atrás dela, um homem alto, carregando uma enorme espada nas costas, observava Eryon
atentamente. Sentiu um peso em sua presença, uma pressão quase instintiva. Respirando
fundo, se aproximou e disse, com um tom carregado de tensão:

— Você é digno de ser comandante?

Eryon o encarou em silêncio, e o guerreiro abaixou ligeiramente a cabeça, como se sentisse o


peso daquele olhar.

— Me chamo Rafael — completou.

Thys olhou para Eryon e acrescentou:

— Ele é o mestre das espadas pesadas.

Outro guerreiro se aproximou, vindo logo atrás.

— Olá, me chamo Nylon. Sou o mago do grupo.

Thys sorriu levemente antes de concluir:

— E eu sou Thys, General das Forças Especiais.

Eryon a observou por um momento e então murmurou, quase como um pensamento em voz
alta:

— A Fênix Vermelha...

Os guerreiros se surpreenderam com suas palavras, como se não esperassem que ele a
conhecesse. Mas antes que pudessem continuar a conversa, os olhares se voltaram para o céu.

No alto, o Anjo observava o pátio. Sua atenção, no entanto, estava voltada para a mulher
misteriosa que permanecia lá embaixo, olhando diretamente para ele. O pensamento inicial do
Anjo foi atacá-la, mas ele permaneceu imóvel. Para sua surpresa, em vez de fugir, ela voou até o
topo do castelo, encontrando-o sentado como se a esperasse.

Ele a observou por um instante antes de perguntar:


"Quem é você?"

Nenhuma resposta veio. Apenas o silêncio, e juntos eles olharam para o horizonte nublado,
sentindo a chuva se aproximar. Minutos se passaram, até que o Anjo finalmente se levantou
para partir. Foi então que ela murmurou:

"Sinto que está chegando a hora..."

Em um instante, a mulher desapareceu, e o Anjo sentiu dentro de si um peso desconhecido.


Agora ele entendia o que a Princesa quis dizer.

Ele voou, pensativo, mas foi interrompido por um olhar profundo. Na sacada do castelo, a
Princesa o observava após dias sem se verem. O vento mudou de direção entre eles, como se
conduzisse algo invisível. Seus olhares se conectaram, e dentro de si, ambos se perguntavam a
mesma coisa:

"O que é isto...?"

O Anjo então virou-se e voou para longe. Ao vê-lo partir, o peito da Princesa se apertou. Algo
dentro dela dizia que esse momento era mais do que apenas um olhar. Mas o quê?

Apos alguns minutos, a chuva do horizonte chega no Limiar de Eldorath. Os nobres habitantes
correm para suas casas, fechando os portões do reino. Dentro do castelo, as forças especiais
aproveitam o clima e a ocasião para realizar uma reunião.

Os mapas estavam abertos sobre a mesa. Cada guerreiro carregava o peso de sua terra natal
nos olhos. A reunião não era apenas sobre Eldorath, mas sobre o futuro de todos os reinos.

Thys cruzou os braços e olhou para o grupo.


— Certo, guerreiros, vamos discutir como estão suas terras natais e os reinos. Começando por
você, Rafael, conte-nos.

Rafael suspirou, seu olhar carregado de preocupação.


— Minha terra natal ainda está devastada pela natureza e sofrendo as consequências do
ocorrido em Zareth.
Thys concordou, pensativa.

— Entendi... Pelo visto, aquele ser esteve lá por um tempo. Isso explica por que sua terra natal
está infestada de vegetação.

Ela varreu o grupo com os olhos.


— Mais algum relato?

Rafael suspirou, cruzando os braços.


— Tentamos remover parte da vegetação e conseguimos um pouco de espaço, mas parece que
a natureza está se ajustando ao clima do deserto. Não está mais tão quente durante o dia, e as
noites ficaram mais frescas. Uma grande floresta surgiu e já está dando frutos. Acreditamos que
podemos melhorar a situação, mas quanto a Zareth... tornou-se um grande túmulo.

Os guerreiros abaixam a cabeça em respeito às vidas perdidas.

Thys quebrou o silêncio e voltou-se para o mago.

— Nylon, como está sua terra natal e o reino de Hutingly?

Nylon franziu o cenho, seu tom refletindo preocupação.


— Minha terra natal está bem, exceto por algo preocupante. Durante a noite, há muitos relatos
de pesadelos. Tentei usar magia para aliviar os sonhos, mas parece haver algo mais forte que
qualquer feitiço que conjurei. No reino, está acontecendo o mesmo. Houve até relatos de
mortes relacionadas a esses pesadelos, e agora as pessoas evitam dormir.

Thys estreitou os olhos.


— Isso é alarmante. Informarei a Princesa sobre isso.

Ela se virou para Josef e Zyfa.


— E quanto a vocês? Como está sua terra natal?

Josef respirou fundo antes de responder.


— Nossa terra natal continua mergulhada em um inverno eterno. A comida está escassa, pois o
sol não atinge a região. O frio está piorando, e as pessoas estão morrendo.

Zyfa completou, a voz carregada de pesar:


— Muitos tentaram fugir, mas não sobreviveram. Encontramos corpos congelados nos campos e
florestas... famílias inteiras que tentaram escapar. Fizemos um enterro para todos eles.

Josef inclinou a cabeça em concordância, o olhar distante.


— Além disso, não há monstros lá. Os que tentaram entrar foram congelados
instantaneamente. Parece que há algo mais do que apenas frio dominando a região.
Thys suspirou.
— O reino perdido para o inverno eterno... Acho que a única coisa que podemos fazer é enviar
alimentos e suporte.

Rafael então olhou diretamente para Eryon.


— E você? Onde é sua terra natal?

Eryon manteve o semblante sério.


— Eu não sei de onde venho.

Rafael arqueou uma sobrancelha.


— Hmm... E a Princesa confia em você para ser o protetor dela? Você realmente acredita nela e
em tudo sso de Destino?

Os guerreiros se entreolham em silêncio.

Thys revirou os olhos.


— Rafael, de novo essa discussão? Estamos em uma reunião.

— Quero saber o que vocês pensam. — Ele cruzou os braços e então apontou para Eryon. —
Principalmente você, Eryon.

Eryon manteve-se impassível, mas sua postura ficou ainda mais formal antes de responder.

— A Princesa é misteriosa, mas, mesmo não sendo o que vocês esperavam, ela protege este
reino há milênios. Vocês esperaram tanto pelo Destino escrever a história de vocês, mas agora
questionam as profecias apenas porque nelas não está escrito o nome exato de cada um.

Seu olhar percorreu o grupo antes de continuar:


— O sofrimento que vivem todos os dias é a prova de que ninguém deveria apenas esperar. E
por essa razão, o mal está quase atravessando as muralhas que nos protegem.

O silêncio que se seguiu foi denso, carregado pelo peso das palavras de Eryon.

Thys respirou fundo antes de concluir:


— Vamos encerrar por hoje. Todos estão liberados para seus treinamentos diários.

Os guerreiros se dispersam, retornando às suas rotinas. Thys, porém, permanece na sala,


observando Eryon, que continua analisando o mapa sobre a mesa.

Ela cruzou os braços e disse:


— Pode ir, Eryon. A Princesa provavelmente já está no trono.

Eryon se levanta sem dizer nada e caminha pelo castelo. Thys observa enquanto ele desaparece
pelo corredor.
Ao chegar ao salão real, Eryon encontra a princesa. Ela está sentada no trono, de cabeça baixa,
pensativa. Sem dizer nada, ele assume sua posição de guarda ao lado dela.

Havia um silêncio profundo no salão real. O vento sussurrava pelos corredores, carregando
consigo o som suave da chuva que escorria pela entrada. Eryon sentia cada detalhe daquele
momento — o frio da pedra sob seus pés, o eco distante dos trovões, a respiração calma da
Princesa.

Então, quebrando o silêncio, ela perguntou:


— Você acredita que o Destino possa ser mudado?

Eryon se surpreendeu com a pergunta repentina.


— O Destino não é uma corrente nem um caminho reto. — Ele refletiu por um instante antes de
continuar. — Ele se molda a cada passo dado, mas jamais deixa de existir. Mesmo aqueles que
tentam escapar dele acabam apenas traçando outra rota dentro do mesmo ciclo. Mas… se o
Destino pode ou não ser mudado… então todas as profecias estariam certas, não?

Eryon questionava a si mesmo, pensativo, enquanto a princesa o observava. Pensativa, ela


olhou para seu colar, relembrando o momento horas atrás em que viu o Anjo, e logo disse:

— Você já sentiu que conhecia alguém antes mesmo de encontrá-lo?

Eryon ponderou a pergunta como se já tivesse pensado naquilo antes.

— Algumas conexões existem antes mesmo de serem compreendidas.

A Princesa arregalou levemente os olhos.


— Essa frase… o Anjo disse isso uma vez, há muito tempo. — Ela estreitou o olhar. — Você o
conhece?

Eryon manteve-se inexpressivo.


— Não o conheço, mas histórias viajam rápido. Algumas verdades, no entanto, não são
contadas nos livros.

A Princesa abaixou a cabeça, mergulhada em pensamentos.

— Sabe… há milênios, eu estava a caminho do reino de Ryth, onde, pela primeira vez, o
encontrei… Não soube reagir quando o vi. Fiquei apenas atrás dos guerreiros que me protegiam
dos monstros. Mas eu pude senti-lo desde antes mesmo de vê-lo… Você já viu algo que parecia
impossível?

Eryon se surpreendeu com a confissão.


— Já vi algo que desafia o tempo e as leis do mundo… — sua voz soou baixa, quase um sussurro
— mas não sei dizer se foi um milagre ou uma maldição.

O salão voltou a ser tomado pelo silêncio. Lá fora, os trovões rugiam e a chuva se intensificava,
como se o próprio mundo ecoasse a incerteza deles.

No trono, a Princesa se virou para Eryon, que notou seu olhar e desviou discretamente. Logo
depois, voltou-se para o salão, observando a silhueta de Thys surgindo à entrada.

Thys adentrou o salão e fez uma breve reverência antes de falar:


— Vossa Alteza, trago informações do reino de Hutingly. Há muitos relatos de pessoas tendo
pesadelos ao dormirem, e houve casos de morte. Agora, todo o reino teme adormecer. O rei
deseja firmar uma aliança com vossa pessoa, porém, a rainha se opõe, pois acredita que
Eldorath seja a maldição sobre o reino perdido para o inverno eterno.

Ela fez uma pausa, seu tom mais grave ao prosseguir:

— As notícias são tristes… as pessoas estão morrendo congeladas e não podem sair por conta
do frio intenso ao qual foram acostumadas. Muitos corpos foram encontrados tentando migrar,
e a população está em declínio. Restam apenas quinhentas pessoas, e esse número continua
diminuindo.

A Princesa, que até então ouvia atentamente, abaixou levemente o olhar. Sua expressão agora
carregava o peso daquelas palavras.

— Obrigada, Thys.

Thys fez um leve aceno, fez uma reverência e se retirou.

Eryon permaneceu em silêncio, observando a Princesa. Mesmo sem dizer nada, ele percebia a
tensão em seu semblante.

Na mente dela, as palavras de Thys ecoavam. Fechou os olhos por um instante… e sentiu. O
sofrimento do povo. O desespero. A dor de cada um. Seu peito apertou, e sua respiração ficou
mais pesada. Quando voltou à realidade, abriu os olhos rapidamente, encontrando apenas o
silêncio do salão, interrompido pelo som distante dos trovões e da chuva lá fora.

A dúvida voltou a corroê-la. Qual era, afinal, seu verdadeiro papel?

O dia logo se despediu, e a noite chegou, trazendo consigo a chuva contínua e o frio cortante.
Nos quartos do castelo, os guerreiros refletiam sobre os acontecimentos recentes. Alguns
enxergavam as alianças com otimismo, enquanto outros desconfiavam delas.

A pergunta que pairava sobre todos era a mesma: Eldorath deveria se preparar para uma guerra
ou fortalecer suas alianças?

No silêncio da noite, Nylon escrevia uma carta para sua família. Em outro canto do castelo,
Rafael treinava sozinho, sua expressão carregada de frustração e dúvidas.

Nos aposentos do casal, Josef encarava a lareira, pensativo, até ser interrompido pela voz suave
de Zyfa.

— Amor…

Ela se sentou em seu colo, seus olhos brilhando de maneira diferente.

— Sabe, faz um tempo que guardei um segredo de você e… bem…

Josef arqueou a sobrancelha, um sorriso brincando em seus lábios.

— Que segredo, meu bem? Que você caçou nosso jantar hoje?

Zyfa riu suavemente.

— Não, bobinho… eu estou grávida.

Josef arregalou os olhos. Por um instante, sua mente se esvaziou dos problemas que discutia
com Zyfa. Seu coração disparou, e sua respiração ficou irregular. Um novo destino o aguardava.

No entanto, um arrepio percorreu o castelo.

Uma perturbação sutil na energia do ar trouxe consigo uma sensação inquietante.

Nos corredores, Eryon observava a paisagem noturna, a chuva caindo sob o céu escuro. Um
vento frio soprou contra seu rosto. Ele se virou, sentindo algo diferente…

Ali, em silêncio, a Princesa o observava.

— Você sempre observa o reino assim? — perguntou a Princesa, quebrando o silêncio.

Eryon hesitou, desviando o olhar para o horizonte.

— A noite guarda segredos que o dia não ousa revelar.

Ela franziu a testa. Havia algo naquela resposta que lhe parecia familiar.

— Você acredita que alguém pode carregar o Destino sem saber? — perguntou a Princesa.
— Talvez carregar o Destino seja o mesmo que nunca entendê-lo completamente.

A Princesa se surpreendeu com mais uma resposta e se aproximou de Eryon, que a encarou por
um breve instante. Havia algo diferente no olhar dela, algo que o fez desviar os olhos para seus
brincos e colar. As joias começavam a pulsar com um brilho branco, suave, porém intenso.

Virando-se para a janela, a Princesa observou o horizonte enevoado sob a chuva.

— Ele deve estar me observando agora... — murmurou. — E sentindo alguma coisa, assim como
eu... Por isso pulsa.

Eryon acompanhou seu olhar, tentando enxergar além da escuridão.

— Tantas pessoas... inseguras, cheias de dúvidas, assombradas por sonhos aterrorizantes. — A


voz da Princesa saiu carregada de preocupação. — Como isso pode estar acontecendo?

Eryon respirou fundo antes de responder:

— Isso também tem me preocupado. Ouvi relatos de algumas pessoas em Eldorath que
também entraram nesse estado de sonhos relacionados a Hutingly.

A Princesa virou-se para ele, surpresa.

— Sinto que isso não é algo comum... Mas... quais são os relatos?

Eryon manteve a postura firme ao responder:

— Dizem ter visto mortes, monstros terríveis, o reino envolto em sombras e… suas próprias
mortes. Os que conseguiram se lembrar de mais detalhes contaram que viram uma mulher de
cabelos pretos e olhar intenso, diante do que parecia ser várias pessoas sonhando ao mesmo
tempo.

O olhar da Princesa se tornou apreensivo.

— Esses sonhos... eles não são apenas sonhos. Outros também sentem. Como se algo estivesse
se aproximando, algo que nos observa enquanto dormimos. Como se a vida fosse um sonho
dentro de outro sonho...

Eryon concordou com um breve aceno,mantendo o olhar fixo no vazio da noite

— Sinto o mesmo... mas também percebo outra coisa. Algo diferente nos observa... como se
estivesse aqui, mesmo não estando.

— Também sinto isso... — A Princesa tocou levemente seu colar, que pulsava como um segundo
coração. — E mais uma coisa. Eu tive um desses sonhos.

Eryon manteve-se atento enquanto ela continuava:

— Nele, eu estava diante de um lago. Quando olhei meu reflexo, o chão se partiu como vidro, e
eu caí no limiar. Fechei os olhos... e então vi o Vazio. Mas não era uma escuridão comum. Algo
ali era diferente da noite. No meio dela, ouvi uma risada. Depois, uma voz...

Ela apertou o colar entre os dedos.

— Ela questionou se eu e o Anjo realmente matamos o ser chamado Thalor e disse que nossa
preocupação foi em vão... porque, se eu tivesse todo aquele poder, não estaria presa sob sua
influência. E então, ela se apresentou. Todas as características que descreveram batem com
essa mulher dos sonhos.

Eryon manteve a calma, mas dentro de si, sentia-se inquieto.

— Então... algo realmente está vindo. Mas o que, e por quê? — Ele cruzou os braços, pensativo.
— Se ela disse "a preocupação que tiveram"... não se referia apenas a ela.

A Princesa concordou lentamente.

— Sim... e isso me assusta. E se existirem outros além desses seres poderosos? E se...?

Ela pensou no Anjo. Seu colar, antes pulsante, agora mantinha um brilho estático, iluminando
suavemente o corredor ao redor.

Eryon a observou e tentou tranquilizá-la:

— Princesa, vai ficar tudo bem. Tenho certeza de que o Anjo nos ajudará.

A Princesa manteve o olhar perdido na luz do colar.

— Eu sei... só que... os sonhos não deveriam ser tão reais assim. Mas são. O que isso significa?

Eryon respirou fundo antes de responder:

— Os sonhos são ecos daquilo que tentamos esquecer. Mas talvez alguns segredos não possam
ser apagados.

A Princesa ergueu os olhos para ele. Dessa vez, foi Eryon quem sustentou o olhar. O silêncio se
alongou entre os dois até que um vento frio atravessou o corredor.

A Princesa desviou o olhar, seus ombros relaxando levemente.


— Vou tentar descansar... — disse, em um tom mais tímido.

Eryon inclinou a cabeça em um gesto discreto

— Tudo bem. Boa noite, Princesa. Estarei à sua porta se precisar.

Ela sorriu com a resposta, fez uma leve reverência, e ele retribuiu o gesto. Então, virou-se e
caminhou até seu quarto.

Assim que a porta se fechou, Eryon voltou-se para a noite lá fora. No mesmo instante, algo
estranho aconteceu. As gotas da chuva, antes em queda constante, estavam agora suspensas no
ar, congeladas no tempo.

Seus olhos se arregalaram. Deu um passo para trás, sentindo um arrepio percorrer-lhe a
espinha.

Então, como se o mundo tivesse retomado seu curso normal, a chuva voltou a cair com
intensidade.

Naquela noite, o vento soprou mais frio do que antes. As estrelas pareciam pálidas, como se
algo estivesse roubando sua luz.

E na escuridão, algo observava... esperando.

Capitulo 4

Redemption

A manhã em Eldorath amanhecia envolta em um frio cortante, com névoa rastejando pelas ruas
como sombras vivas. O solo ainda estava úmido da chuva do dia anterior, e poças escuras
refletiam o céu encoberto, onde as nuvens se moviam pesadas, como se sussurrassem um aviso
mudo.

Dentro do quarto, Rafael ainda dormia. A escuridão do ambiente era cortada apenas pelo brilho
fraco de uma vela prestes a se apagar. Então, o frio começou. Primeiro sutil, como um sussurro
de vento sob a porta. Depois, intenso, gelando cada canto do aposento. O vidro da janela
embaçou, e então… algo riscou a superfície pelo lado de fora.

E em seu sonho, Rafael andava por Eldorath destruída.

Um sino distante tocava em um ritmo irregular, como um coração falhando. A medida que
avançava pelas ruínas, sentia olhos sobre ele, mas, ao olhar ao redor, não via ninguém.
Sombras se moviam pelas paredes, dançando nas superfícies de pedra e madeira queimadas,
mas não havia corpos, não havia rostos. Apenas uma sensação crescente de algo espreitando.

O frio na espinha se tornou insuportável.

Rafael começou a correr, atravessando a saída destruída do Limiar. Mas, antes que pudesse se
afastar, vozes familiares surgiram ao seu redor—distorcidas, sussurrando numa linguagem
irreconhecível.

Ele parou.

As pessoas ao redor olhavam para cima e reverenciavam algo.

Confuso, Rafael seguiu o olhar delas. E então viu uma mulher.

Ela o encarava.

Seu olhar perfurava sua alma.

O ar ficou pesado. Rafael sentiu seu corpo paralisar.

E então, ele acordou.

Seu corpo tremia, banhado em suor frio. Sentiu a respiração acelerada e, ao rolar para o lado,
caiu no chão. Tentando se recompor, apoiou-se na cama e caminhou até o espelho.
O que viu fez seu estômago revirar.

Seus olhos... fragmentos do sonho ainda estavam neles.

A visão de Eldorath destruída parecia refletida em sua própria íris. Num ímpeto, jogou água no
rosto, mas, ao invés de refrescá-lo, sentiu um calor anormal subir por sua pele, como se algo
queimasse de dentro para fora.

Minutos se passaram.

Uma batida soou na porta.

— Ei, Rafael, já acordou? Vamos, temos um dia cheio.

Ele respirou fundo antes de abrir. Do outro lado, Nylon o esperava, mas, ao vê-lo, franziu o
cenho.

— Amigo, você está bem?


Rafael estreitou os olhos.

— O que foi?

Nylon não respondeu de imediato. Observou-o com atenção, seu rosto ficando pálido.

— Precisamos ir investigar o reino.

— Entendi. Vamos logo.

— Mas você não..—

— Já disse que estou bem. Vamos logo. — cortou Rafael, sua voz mais seca do que pretendia.

Ele saiu primeiro, e Nylon hesitou por um instante antes de segui-lo.

Caminhando pelo pátio do Limiar, Rafael piscou, e, por um instante, o sonho voltou.

As ruínas, o sino irregular, os olhos invisíveis sobre ele.

Seu corpo se retesou.

Virou-se bruscamente, esperando ver a destruição ao seu redor.

Mas tudo estava normal. Ele estava no mundo real.

Respirou fundo, tentando afastar as imagens de sua mente.

De longe, seus olhos pousaram na Princesa, que subia as escadas do castelo. Por um instante, o
sonho e a realidade se fundiram.

Sem perceber, murmurou palavras numa língua que não reconhecia, como se viessem de algum
lugar distante:

— "As'ka vel thunara... somnara."

Rafael puxou a espada das costas e disparou em direção à Princesa.

Nylon arregalou os olhos, sem entender a atitude repentina do companheiro, mas logo sentiu
algo errado—uma energia negativa exalava de Rafael, densa e sufocante.

Ele se preparou para lançar um feitiço, mas hesitou. Havia muitas pessoas por perto. Um feitiço
poderia atingir inocentes.
A Princesa, que subia as escadas, sentiu um rugido vibrar pelo ar. Virou-se a tempo de ver
Rafael vindo em sua direção, a lâmina pronta para cortá-la.

Os guerreiros ergueram suas lanças, mas antes que pudessem reagir, o ser misterioso surgiu.

Em um instante, Rafael foi arremessado para longe, atingindo o chão com força.

Nylon correu até ele, mas ao se aproximar, sentiu o sangue gelar. Algo estava errado.

O corpo de Rafael estava mudando.

Nylon abriu seu grimório, recitando feitiços rapidamente.

— O Vazio lhe pegou… Não se preocupe, meu amigo… vou fazer o que posso!

Símbolos mágicos brilharam ao redor de Rafael, mas as magias foram em vão.

O silêncio pesado foi interrompido pelo murmúrio de vozes assustadas. A multidão observava,
atônita.

A Princesa, cercada pelos guerreiros, mantinha o olhar fixo na cena.

Thys e Eryon chegaram às pressas, e o que viram os fez parar no mesmo instante.

Ali, no chão, Rafael ouvia sussurros.

Sussurros que não pertenciam àquele mundo.

"Mate-a... mate-a..."

"As'ka vel thunara... somnara."

Ele abriu os olhos de repente. Negros. Vazios.

Num movimento brusco, agarrou Nylon pelo pescoço.

— Rafael! Solte-o! — gritou Thys, avançando.

Nylon lutava para se libertar, puxando ar desesperadamente, suas mãos tentando soltar o
aperto esmagador no pescoço.

Sem hesitar, Thys puxou sua lâmina.


O braço de Rafael foi decepado, e Nylon caiu ao chão, tossindo e puxando o ar com dificuldade.
Thys olhou para Rafael, ofegante.

— O que deu em você...?

Então, seus olhos encontraram os dele.

E ela não viu compaixão.

O Vazio pulsava dentro de Rafael, refletido em seu olhar vazio.


E então, diante de todos, seu braço se regenerou.

As sombras o cobriram, como se o próprio Vazio o envolvesse, reconstruindo a carne perdida.

As pessoas assistiam, horrorizadas.

E então, o pânico tomou conta.

A multidão correu, fugindo do local, enquanto algo além da compreensão acontecia diante
deles.

Rafael rugiu e avançou com sua espada.

Thys esquivou no último instante e contra-atacou, mas Rafael agarrou a lâmina com as próprias
mãos.

Com um movimento brutal, lançou a espada de Thys contra o muro, abrindo um buraco nas
pedras. Antes que pudesse atacar novamente, o ser misterioso surgiu, iniciando um confronto
direto contra ele.

Ao fundo, a Princesa observava a verdade por trás daqueles pesadelos.


Os sonhos não apenas afetavam a mente, mas atiçavam os sentimentos mais sombrios dentro
das pessoas, alimentando-os... até que restasse apenas o Vazio.

E ali, diante deles, Rafael estava mudando.

Seu corpo tremia, pulsava com uma energia que não era dele. Seus músculos se expandiram,
sua pele começou a rachar, e então novos braços surgiram.

Nylon se juntou a Thys, que já havia se levantado.

— O corpo dele... se adaptou aos golpes. — Thys estreitou os olhos, sentindo o peso da
situação.
— Como isso é possível? Ele está com quatro braços... e essa energia... — Nylon sentiu um
arrepio percorrer-lhe.

— Não vem dele. — Thys apontou para Rafael. — Veja, mesmo com o corpo mudando, ele não
está aguentando. Isso não é dele...

Nylon concordou com um aceno.

Mas antes que pudessem reagir, Rafael rugiu e saltou em direção à Princesa, agora na entrada
do castelo.

Um borrão passou na frente dele.

Eryon.

Em um instante, o guerreiro bloqueou o ataque, defendendo-a com um movimento preciso


antes de forçar Rafael para longe.

Mesmo com quatro braços atacando simultaneamente, Eryon se esquivava e rebatia cada
golpe. Ele não recuou—forçou Rafael para trás, afastando-o da Princesa.

Nos olhos de Rafael, por um momento, houve surpresa.

Mas algo dentro dele também parecia surpreso.

Antes que pudesse recuperar sua postura de luta, flechas mágicas cortaram o ar, atingindo-o
diretamente.
Zyfa, de uma posição elevada, disparava com precisão.

A magia fez Rafael cambalear.

Nylon aproveitou a abertura e conjurou um feitiço, prendendo seus pés e braços.

Rafael rugiu, tentando se soltar, mas Thys e Josef já se moviam.

Josef a impulsionou com um salto, e Thys ergueu sua espada, sua lâmina envolta em chamas
vermelhas.
Ela pousou acima dele, seus olhos carregados de pesar.

— Me desculpe, amigo...

O golpe desceu.

A lâmina atravessou Rafael.


As chamas se espalharam, consumindo seu corpo enquanto ele soltava um último rugido, um
som que ressoou por todo o Limiar.

— "As'ka vel thunara... somnara."

— "As'ka vel thunara... Lytharion."

Então, seu corpo explodiu.

Mas a explosão não foi normal.

Ela girou em si mesma, comprimindo a energia ao ponto de se transformar em um círculo


negro.
O chão sob seus pés começou a rachar.

Pequenas pedras e escombros foram sugados.

A Princesa arregalou os olhos.

— É um buraco negro... EVACUEM AGORA! — sua voz carregava urgência.


O caos se instaurou.

Guerreiros correram para longe, mas o buraco negro crescia.

A força gravitacional aumentava a cada segundo.

Pilares começaram a ruir, e aqueles que não conseguiram se segurar foram sugados para o
vazio. Seus corpos foram estilhaçados pela pressão.

O ser misterioso usou suas asas para segurar Thys e outros guerreiros.
Mas a força do buraco negro só aumentava.

E então... a Princesa se soltou.

Eryon viu.

Seu corpo se moveu antes que sua mente pudesse processar.

Ele saltou.

Seu braço se estendeu, os dedos quase tocando a mão dela.

Mas não a alcançou.


A Princesa desapareceu dentro do buraco negro.

O vórtice começou a encolher, sua energia se condensando, prestes a desaparecer para sempre.
E então, o céu se rompeu.

Uma luz rasgou as nuvens.

O Anjo desceu.

A velocidade era avassaladora.

Os guerreiros não podiam fazer nada além de assistir enquanto ele mergulhava diretamente no
buraco negro.

E então... ele se fechou.

Deixando apenas o vazio.

E os rastros de algo que não seria fácil superar.

O silêncio foi absoluto. O vento cessou. O buraco negro, que devorava tudo ao seu redor,
desapareceu como se nunca tivesse existido. Mas o vazio que ele deixou para trás era mais
profundo do que qualquer escuridão. Nenhum grito ecoou, nenhuma ordem foi dada. Por um
instante, Eldorath parou. A poeira baixava lentamente, e os guerreiros apenas observavam o
céu, tentando compreender o que haviam acabado de testemunhar. A Princesa se fora. O Anjo
se fora. E o destino do reino parecia ter sido arrancado junto com eles.

Thys olhou ao redor, avaliando a condição dos guerreiros caídos.

— Estão bem? — perguntou, ajudando um a se levantar.

Eryon se aproximou do local onde o buraco negro havia surgido. Seu olhar atento analisava o
chão destruído, mas não havia nenhum sinal de energia ou matéria. Era como se tudo tivesse
simplesmente desaparecido.
Nylon caminhou até ele, observando o vazio com os olhos cheios de lagrimas.

— Ele era um grande amigo... — murmurou, enquanto lágrimas deslizavam por seu rosto.

Josef e Zyfa também se aproximaram, carregando o mesmo peso em seus olhares.

— Rafael se foi... e agora a Princesa e o Anjo. O que vamos fazer? — perguntou Zyfa, apreensiva.

Josef suspirou.
— Temos que nos unir e organizar tudo aqui antes de pensarmos no que fazer.

Eryon os observou, vendo a tristeza e as dúvidas estampadas em seus rostos.

O céu se fechou e a manhã ensolarada se transformava em uma tarde nublada. O cheiro de


chuva tomava o ar.

Os guerreiros, mesmo abalados, começaram a organizar o pátio destruído, recebendo a ajuda


silenciosa da população. Algumas pessoas ainda choravam por aqueles que haviam sido
devorados pelo buraco negro.

Mas no meio do trabalho, questionamentos começaram a surgir.

Na cidade, entre os nobres e habitantes de Eldorath:

— Eu não sei… mas já não acredito mais nessas profecias. — Um homem observava os símbolos
entalhados nas pedras antigas. — O que significa tudo isso, se a Princesa, a quem as lendas se
referiam, agora está morta? E levou o Anjo com ela?

Outro ponderou, tocando uma velha tábua de pedra.

— Vi um texto semelhante a esse uma vez... Ele dizia que a luz brilharia mais forte.

— A luz que o Vazio teme? — alguém questionou. — Mas que luz seria essa?

Outro homem franziu o cenho.

— Isso é fácil dizer… Mas já notaram que o Anjo, apesar de ter uma luz branca às vezes,
geralmente brilha em tons dourados? Quando está ao sol, parece branco… mas na verdade, é
um reflexo.

— Isso explicaria por que os demônios estão resistindo mais a ele ultimamente… — uma mulher
murmurou. — Talvez ele seja o último das raças que foram dizimadas neste mundo.

— Assim como o reino de Hutingly. — Um homem concordou. — O rei, a rainha e sua filha são
os últimos da linhagem dos dragões vivos. O massacre foi real.

Por fim, um mais velho refletiu:

— Se for assim… a Princesa também poderia ser a última de sua raça. Isso explicaria por que ela
governa Eldorath sem nunca ter havido um rei ou uma rainha antes dela.

No Limiar de Eldorath a tarde avançava, trazendo consigo o frio e uma garoa leve. Mas dentro
do castelo, o peso da ausência da Princesa se tornava insuportável.
Os guerreiros se reuniram na grande sala, tentando organizar seus pensamentos. O silêncio era
opressor.
Thys suspirou e quebrou a quietude:

— Vão descansar. O dia está chegando ao fim e a chuva parece que vai se intensificar.
Precisamos descansar… ou ao menos tentar.

Josef e Zyfa balançaram suas cabeças, retirando-se de cabeça baixa. Nylon os seguiu sem dizer
uma palavra.
Apenas Eryon e Thys permaneceram.

Trocaram olhares por um momento, antes de Thys quebrar o silêncio:

— Você… — hesitou, escolhendo as palavras com cuidado. — Acha que eles realmente se
foram?
Eryon permaneceu confuso. Algo dentro dele lhe dizia outra coisa.

Ele respirou fundo antes de responder:

— Eu não sei… — sua voz saiu baixa, pensativa. — Mas agora que tudo está mais calmo, eu
repensei o que aconteceu.

Fez uma pausa, buscando as palavras certas.

— Aquele buraco negro... Ele ficou forte, mas… não foi para matar todos ou aniquilar tudo.

Thys franziu a testa.

— O que quer dizer?

Eryon olhou para o chão, revivendo mentalmente cada detalhe do que aconteceu.

— Parecia que o buraco negro queria puxar a Princesa mais do que a nós. Mas acabou se
expandindo e sugou tudo ao redor.

Ele fechou os olhos por um instante.

— Todos os que foram devorados tiveram seus corpos completamente destroçados. Mas no
momento em que eu… — hesitou, engolindo em seco. — No momento em que não consegui
alcançar sua mão…
Respirou fundo antes de continuar:

— Ela caiu direto.


E então, um detalhe novo surgiu em sua mente.

— E naquele momento… o buraco negro começou a diminuir.

Thys arregalou os olhos.

— Você quer dizer que…?

Eryon balançou sua cabeça levente.

— Foi só depois disso que o Anjo rompeu o céu e entrou nele.

Thys apertou os punhos.

— Então… era uma espécie de portal? Mas só para a Princesa?

Eryon a olhou diretamente.

— É nisso que eu estou pensando.

Thys sentiu um calafrio.

— Isso explica por que o Anjo desceu tão rápido. Ele sabia para onde ela estava sendo levada…

O peso da revelação pairou entre eles.

Eryon olhou para fora da janela, onde a garoa havia se intensificado.

— Se isso for verdade… então eles podem estar vivos. Só não sabemos onde.

Thys ficou em silêncio por um momento.

— E como os traremos de volta?

Eryon não respondeu. Porque essa era a única pergunta para a qual ele ainda não tinha
resposta.

A tarde desapareceu lentamente, dando lugar à noite.


E com ela, veio a chuva forte, como se o próprio mundo lamentasse a ausência da Princesa e do
Anjo.

140 dias se passaram desde o grande ocorrido. No reino de Eldorath, a crise, antes pequena,
agora se espalhava como uma sombra crescente, alcançando reinos distantes. O mundo sentia o
peso de um dos reinos mais protegidos ter caído de forma tão abrupta. Com ele, desapareciam
a última esperança de uma raça extinta e a única herdeira real.

Nos corredores da fortaleza, os murmúrios eram carregados de incerteza. No início, a dúvida era
pequena, mas conforme os dias se arrastavam, a descrença só crescia.

Seria possível que não existissem profecias ou lendas verdadeiras? E se tudo não passasse de
ilusões criadas pelos antigos para justificar o que nunca compreenderam?

Na sala de reuniões, o clima era pesado. Os guerreiros das forças especiais estavam reunidos, os
rostos marcados pelo cansaço. Pilhas de pergaminhos, anotações e livros estavam espalhados
pela grande mesa de madeira escura. A pesquisa sobre o Destino e sua relação com os eventos
recentes não parava.

Josef passou a mão pelo rosto antes de falar: — General Thys, eu e Nylon estudamos todas as
profecias, lendas e teorias... mas nenhuma se encaixa completamente. Parecem apenas
histórias criadas pelos antigos para dar esperança a um futuro incerto. E no meio disso tudo,
acabaram criando algo chamado Destino.

Ele suspirou e continuou: — Aquilo que os primeiros deuses temem... e o que o próprio Vazio
teme.

Nylon, que estava folheando um dos pergaminhos mais antigos, levantou o olhar. — Indo mais a
fundo nas cavernas abaixo do castelo, encontramos apenas uma lenda. Algo sobre a Luz do
Destino. A descrição diz que ela é totalmente branca, pura e tão reluzente que tudo o que a vê
reconhece-a como o próprio Destino.

Ele ergueu um papel, colocando-o sobre a mesa. — Talvez alguns de vocês pensem que já viram
essa luz no Anjo... ou naquele ser misterioso... ou até na Princesa. Mas quem pode dizer com
certeza? A luz do sol, quando reflete no metal ou atravessa as nuvens, pode criar ilusões
impressionantes. O que realmente vimos naquela batalha? Foi a verdadeira luz descrita nas
lendas... ou apenas um truque dos céus?

O grupo inclinou-se sobre o papel, mas o que encontraram foram apenas notas musicais.

Thys franziu o cenho. — Nylon... isso são apenas notas de uma música.

O estrategista concordou, apontando para o título da partitura. — O nome está em uma forma
antiga da língua. Tentei traduzir, mas é complexo demais.

Eryon, que estava em silêncio até então, aproximou-se e observou atentamente os símbolos.
Depois de um momento, murmurou: — Significa... A Sinfonia do Fim.

O silêncio tomou a sala. Thys olhou para ele, intrigada. — Isso é um nome ou um aviso?
Eryon correu os olhos pelas notas e, lentamente, passou os dedos sobre elas. — Não são apenas
símbolos musicais. Cada nota equivale a uma letra.

Ele pegou um pedaço de papel e começou a anotar as correspondências, organizando os


símbolos em torno de um círculo. Quando terminou, virou o pergaminho para o grupo.

A mensagem oculta foi revelada.

Quando o Vazio tomar todas as vidas e dominar o Destino, algo acontecerá. Morte ao Destino...
ou Vazio ao Destino.

Os olhares se cruzaram em confusão. O que isso significava?

Thys massageou a lateral da cabeça. — Nada disso faz sentido. Nenhuma profecia se encaixa. Os
primeiros deuses, os Primordiais, os progenitores das raças... todos foram banidos do universo
que criaram, mudando o destino de tudo. Mas então... o que é o Destino, exatamente?

Zyfa, que estava encostada na parede, falou baixinho: — Uma das lendas diz que o Destino não
é um deus ou uma entidade... mas uma força invisível. Algo que sempre existiu, ao lado do
Vazio, sem rosto, sem corpo. Apenas... existia. Mas foi alterado pelos progenitores quando
tentaram moldar o mundo.

Ela cruzou os braços. — Mas o problema é que cada raça conta a história de um jeito diferente.
E sabemos que muitas raças se refugiaram aqui antes do Grande Massacre.

Eryon levantou o olhar. — Falem-me mais sobre esse massacre.

Thys apoiou-se na mesa e suspirou. — Milênios atrás, houve um massacre entre as raças. Dizem
que os progenitores estavam por trás disso. Eles queriam unir as raças, mas não por um motivo
nobre. Seu plano era criar um único exército para tomar de volta o lugar de onde foram
banidos.

Os olhos de Eryon se estreitaram. Thys continuou: — Mas, mesmo em meio à destruição, as


pessoas se agarraram a uma única coisa: esperança. E desde então, surgiu um ditado que ecoa
até hoje...

Ela olhou para os outros antes de murmurar: — Destino.

O grupo permaneceu em silêncio, refletindo sobre aquelas palavras. O Destino não era um deus
vivente. Não tinha forma, vontade ou consciência. Era inevitável. Sempre esteve ali. Mas, e se...
os progenitores tivessem conseguido destruí-lo?

Eryon quebrou o silêncio. — Se o Destino é tudo o que escreveram... então, ele não deveria
existir.

Todos olharam para ele.

Ele inclinou a cabeça, pensativo. — O Destino é como uma folha que cai de uma árvore no
tempo certo. Mesmo sem uma entidade para guiá-lo, ele acontece. Mas... e se os Primordiais
conseguiram destruí-lo? E se, mesmo destruído, ele continuasse existindo... e algo surgisse de
fora dele?

O silêncio na sala ficou pesado. Pela primeira vez, uma pergunta verdadeiramente assustadora
surgiu em suas mentes.

E se algo além do Destino estivesse se aproximando?

Os reinos seguiam tentando se recuperar da perda do Anjo e da Princesa. Em Eldorath, as


pessoas sentiam algo diferente, mas não conseguiam explicar o que era. O céu permanecia
fechado, o vento frio soprava por todos os cantos e a população relatava continuamente
reflexos estranhos na água. Sombras pareciam se mover sozinhas.

Thys acordava durante a noite, assombrada por sonhos estranhos. Nos seus sonhos, ouvia um
cântico distante. Levantou-se, caminhando pelos corredores frios e escuros do castelo. Foi até a
cozinha para tomar um copo d'água, mas ao chegar, notou uma luz sob a porta. Entrou
silenciosamente e encontrou Nylon sentado.

— O que faz acordado, Nylon? — perguntou, pegando um copo d’água.

Nylon levantou o olhar. — Ah... boa noite, general. Não consegui dormir. Tem acontecido tantas
coisas estranhas... Quando fecho os olhos, vejo aquele dia novamente. Isso me atormenta.

Ele suspirou antes de continuar: — Agora, esses sussurros no vento... Descobrimos mais
palavras antigas, mas todas estão incompletas. Eu não entendo essa língua, então deixarei para
Eryon analisá-las pela manhã. Depois disso, partirei em viagem. E você, general? Está tudo
bem?

Thys encostou-se à bancada. — Não sei... Queria dizer que sim, mas está tudo tão complicado.
Os dias são todos nublados ou chuvosos. Coisas que nunca existiram antes começaram a surgir...
Esses Primordiais, esse Vazio, esse mal repentino... É como se algo os tivesse despertado,
mesmo que já estivessem ali o tempo todo.

Nylon concordou com um aceno silencioso. Os dois conversaram um pouco mais antes de Thys
retornar ao seu quarto para descansar.

Enquanto isso, distante de Eldorath e de seu mundo, o Anjo despertava. Seus olhos se abriram
para um vazio jamais visto. Planetas envoltos por uma essência que não era apenas morte, mas
também sentimentos—emoções que nunca puderam ver a luz, pois as estrelas estavam sendo
devoradas por um buraco negro. Ele olhou o espaço ao seu redor, sentindo um chamado
distante, uma presença que ecoava em sua alma, mas sem saber de onde vinha.

Voou até um planeta próximo e, ao se aproximar, viu estruturas colossais destruídas. O céu não
tinha estrelas visíveis. O vento soprava, mas não o tocava. Pousou entre os destroços de um
mundo esquecido, caminhando entre ruínas que carregavam ecos de lendas distorcidas.
Gravuras mostravam uma estrela e palavras em uma língua que ele não reconhecia.

Então, percebeu algo estranho: o tempo não fazia sentido ali. Ele deu um passo e, quando se
deu conta, já estava em outro lugar. Outro mundo. Outra realidade.

Enquanto percorria os escombros, avistou casas destruídas, restos de esqueletos espalhados


entre os destroços. Ergueu os olhos para o céu e compreendeu—a paisagem havia mudado,
mas a realidade era a mesma. Onde estava realmente?

Seguiu sua jornada até que notou um reflexo distante. Entre as distorções do espaço, algo se
movia. Parecia alguém o observando, mas sempre fora de alcance. Uma melodia começou a
crescer em sua mente, incompleta, fragmentada.

Por um momento, ele viu fios de cabelo dourado flutuando ao vento... Mas, quando tentou se
aproximar, a visão desapareceu, levada pelo mesmo vento que soprava através das terras
vazias.
Então, o ambiente começou a mudar.

O ar ficou pesado. O vento tornou-se mais forte. Tornados surgiram ao longe e o próprio espaço
pareceu distorcer-se de maneira violenta. Um vazio escuro começou a se expandir ao redor,
sugando tudo.

O Anjo voou até uma caverna próxima para se proteger dos destroços e da fúria dos ventos.
Mas algo estava errado. Sentia um peso no peito, uma presença oculta. Como se algo estivesse
observando-o de um lugar que nem mesmo os deuses podiam alcançar.

Foi então que o som do canto ressoou pela primeira vez.

Era distante, mas real. Sua vibração começou a rachar a prisão invisível que o mantinha nesse
estado de sonolência. Mas, mesmo enquanto o canto ecoava, os ventos e a tempestade
continuavam a rugir ao seu redor. Ele estranhou aquilo. Com um bater de asas, elevou-se
novamente ao céu, saindo daquele planeta em busca da origem daquela voz.

Enquanto em algum lugar... a Princesa acordava. Ao abrir os olhos, notou o ambiente estranho,
vasto e sem cor, como se estivesse fora do próprio tempo. Ela se levantou e viu outras raças
presas em jaulas próximas. Suas expressões eram vazias, como se já tivessem perdido a
esperança e a vontade de continuar.
A energia do local era sufocante. Símbolos primordiais estavam gravados nas paredes e nas
armaduras dos guardas, pulsando como se tivessem vida própria. O silêncio era opressor.

Então, três figuras surgiram. Um homem acompanhado de duas mulheres atravessou o local.
Os prisioneiros se encolheram no fundo das celas ao notá-los. A Princesa permaneceu imóvel
quando eles se aproximaram de sua cela.

— Então, esta é a tal criatura que matou nosso companheiro? — disse uma das mulheres,
analisando-a com um olhar afiado. — Não me parece nada do que imaginei.

O homem cruzou os braços. — De fato. Alguém que reina sobre o último altar que mantém
nosso líder preso deveria ser mais do que uma simples garota como você.

A segunda mulher sorriu com desprezo. — Achou mesmo que aquela barreira invisível nos
manteria afastados? As runas que você ativou não impediram nossa entrada.

Os olhos da Princesa se arregalaram levemente. Eles sabiam.

— Estivemos observando você por muito tempo — continuou a primeira mulher. — Você... e
aquele outro ser.

O homem se aproximou ainda mais. Seu olhar era frio e inexpressivo quando murmurou: —
Vocês dois não deveriam existir.

A segunda mulher riu baixinho. — Não conseguimos capturar o outro... ele fugiu voando. Mas
você? Aqui está. Um erro que precisa ser corrigido.

As vozes deles se alteraram, tornando-se ecos em um idioma antigo. O som reverberava como
trovões distantes. A Princesa sentiu seu corpo flutuar por um instante. De seu peito, uma luz
emergiu, brilhando em um tom ciano.

O homem observou intrigado e estendeu a mão, arrancando a luz de dentro dela.

— Hm... então você pertence à família das fadas. Interessante... Syltheria vai gostar de saber
disso.

A luz tremulou e desapareceu dentro da mão do Primordial. A Princesa sentiu um peso


esmagador tomar seu corpo. Sua força foi drenada.

Então, uma lâmina negra cortou seu braço. O sangue dela caiu no chão. As marcas primordiais
pulsaram e brilharam por um instante, antes de se apagarem.

— Seu sangue... não pertence a este lugar — murmurou uma das mulheres.
— Logo, nossa companheira Somnara virá e ela mesma a matará — disse a outra, sorrindo
cruelmente.

Eles riram enquanto se afastavam, deixando-a ali, sangrando e sozinha.

O silêncio tomou conta da cela. A Princesa pressionou o ferimento, sentindo a dor latejar. O frio
do lugar parecia ainda mais intenso.

Então, ela respirou fundo. E começou a cantar.

A melodia era fraca no início, um sussurro no meio da escuridão.

— Eu estou com tanto frio... eu estou com tanto medo... e eu não me encontro sozinha aqui...
não, não estou sozinha... há um mal nesta prisão comigo, este vazio comigo, eu não estou
sozinha... — sua voz ecoou baixinho. Os prisioneiros começaram a erguer a cabeça, como se
algo os chamasse.

Seu colar começou a pulsar em resposta à sua voz.

— Se o vento pode tocar as estrelas, então que leve meu nome até onde ninguém pode ouvir...
eu espero que ele possa sentir meus medos e tocar minhas lágrimas... eu canto e o chamo... — o
vento mudou de direção.

A Princesa respirou fundo e soltou sua voz de verdade.

— Pois eu quero que eles vejam o céu novamente! Quero que vejam o sol... — as prisões
estalaram. O chão tremeu.

— Eu preciso que sintam vivos novamente... livres novamente... eu canto e o chamo... — as


correntes se desfizeram, os símbolos primordiais ruiam.

Ela deu um passo à frente, caminhando até o centro do pátio, onde as prisões estavam.

— Isto não é o fim... Eu canto para que eles sobrevivam. Eu canto para que você me escute para
que voce me resgate.... Resgate-me... — o universo parecia sentir cada palavra.

Os primordiais que estavam nos escombros da fortaleza emergiram e observaram, perplexos, os


prisioneiros agora livres. O choque durou apenas um instante antes de partirem para o ataque.

A Princesa, enfraquecida, respirou fundo e soltou suas últimas forças na voz.

— Pois eu preciso ver o céu novamente... — uma grande explosão aconteceu, abrindo os céus e
dissipando as nuvens de escuridão. O chão se rompeu completamente.
— E eu quero ver o sol novamente... — uma estrela amarela gigantesca surgiu no firmamento,
consumindo o buraco negro que ali existia.

Todos assistiam, impressionados, ao fenômeno impossível causado pela voz da Princesa.


Ela deu seu último canto.

— Eu quero me sentir viva novamente... livre novamente... eu canto para que você me ouça... —
o universo ao redor se rachou.

Os Primordiais cambalearam, atordoados com a força do que testemunhavam. Seus corpos


tremulavam com a distorção da realidade ao redor.

A Princesa caiu de joelhos, exausta, o sangue escorrendo do corte em seu braço. Antes que seu
corpo tocasse o chão, braços fortes a envolveram, impedindo sua queda.

O Anjo esta ali.

A Princesa sorriu, sabendo que ele a ouviu, e acabou desmaiando. Os Primordiais ali se
surpreenderam ao ver o Anjo e, logo, se recuperaram, cercando-o. Ele os encarou, sentindo não
apenas sua força vital ou emoções, mas algo muito mais profundo—eles eram parte da própria
estrutura daquele planeta.

Ele sabia que não podia enfrentá-los. E eles sabiam disso. Mas então... tudo ao redor do Anjo
pareceu mudar.

Uma risada profunda ecoou pelo campo destruído.

Era Somnara A artesã dos Pesadelos

Somnara caminhou lentamente, um sorriso distorcido nos lábios.

— No fim, vingamos Thalor matando ela. E agora, você está aqui... aquele que tentamos
capturar. Veyra estava certa... você é um tolo.

Antes que o Anjo pudesse reagir, Somnara puxou algo de dentro do peito dele—uma luz
amarela.

— Hm... raça das Deusas e a princesinha morta das fadas. Interessante. Então essa... essa é a
energia pela qual Thalor morreu? Que patético.

Ela girou a luz em seus dedos por um instante antes de dissipá-la no ar. Então, puxou uma
espada surpreendente e avançou contra o Anjo. Ele, ainda segurando a Princesa, se preparou
para o impacto.
Mas então...

Os prisioneiros libertos se ergueram.

A luz da estrela havia os purificado uma ultima vez.

Eram guerreiros agora. Cada um deles, purificado pela luz da estrela, havia recuperado a força
de sua própria raça.

Eles se entreolharam. Então, olharam para os Primordiais.

— Desta vez, não vamos fugir.

Somnara riu, um riso tenebroso que fez a terra tremer.

— Vocês são patéticos.

De repente, todos sentiram uma mudança.

Um pesadelo tomou forma ao redor deles.

— Estamos em um sonho? — um dos guerreiros murmurou, sua voz trêmula.

Somnara sussurrava encantamentos enquanto sua risada ecoava no vazio. Os guerreiros caíam,
atormentados por ilusões horríveis.

Mas então... algo inesperado aconteceu.

A magia dela falhou.

Somnara franziu a testa. O que estava acontecendo?

Um dos Primordiais ao lado dela murmurou: — Vossa Somnara... o universo está um caos desde
que aquela criatura cantou. Tudo virou uma bagunça. Nossos poderes... foram afetados.

Outro Primordial se virou para ela, sua voz carregada de urgência. — Precisamos de reforços.
Um exército de Deusas, Deuses e guerreiros deste universo está vindo. Não podemos lidar com
isso sozinhos! Não agora.

Somnara apertou os punhos, sua paciência se esgotando.

— Então chamem! Mas eu ainda consigo matar todos aqui.


Ela recitou mais magias, preparando-se para atacar. Os guerreiros libertos se recuperaram do
estado de pesadelo e se prepararam para contra-atacar.

A batalha começou.

Mas em questão de minutos O exército havia chegado.

Eles vieram como uma tempestade, avassaladores. O campo se tornou um verdadeiro campo de
guerra. O exército de Deuses e guerreiros enfrentou Somnara e os Primordiais, empurrando-
os para trás.

O Anjo, segurando a Princesa, protegia-a dos estilhaços da batalha que ocorria ao seu redor.

Somnara e os Primordiais estavam sendo vencidos.

Eles usaram monstros para se defender, recuando enquanto tentavam se recuperar do impacto
do combate.

Um dos guerreiros olhou ao redor, confuso. — Onde está o reforço deles? Eles disseram que
teriam quatro aqui...

Antes que alguém pudesse responder, os monstros que lutavam pelos Primordiais pararam.

Então, eles fugiram.

Algo estava errado.

Todos observaram o horizonte do espaço... o brilho das estrelas começou a desaparecer. Era
como se a noite estivesse chegando.

O reforço havia chegado.

Os guerreiros e deuses se prepararam.

Arqueiros alinharam suas flechas de luz. Magos conjuraram feitiços poderosos. Todos atacaram
ao mesmo tempo.

Um clarão cortou o vazio.

As Trevas foram dispersadas.

Então, eles a viram.

Uma mulher esbelta e imponente os observava silenciosamente.


O silêncio tomou conta do campo de batalha.

Somnara tremeu. Sua voz falhou. — É ela...

Um dos generais dos guerreiros deu um passo à frente, segurando sua espada com firmeza.

O ser ergueu o olhar. Sua voz soou profunda, aterrorizante, mas bela.

— Eu vejo você. Eu conheço você. E eu sei por que veio.

A mulher inclinou levemente a cabeça.

— Você veio para matar nossas almas. Mas isso... não acontecerá hoje. Nem em qualquer
outro dia.

Ela ergueu a mão.

— Saia agora, e eu lhes darei passagem livre. Ou eu mandarei suas almas para o Vazio eterno.

O general hesitou. Então, cerrou os dentes.

— Nós temos a vontade do Destino. A esperança vive em nós. Seres como você... não podem
nos deter!

O ser simplesmente não demonstro reação nenhuma.

Então, eles preparam suas armas e assumem posição de batalha. Com gritos de guerra,
avançam contra o ser, desferindo ataques rápidos e certeiros. No entanto, ela os bloqueia com
precisão absoluta. Cada olhar seu matava um guerreiro, desviando de cada golpe com uma
facilidade desconcertante. Seus movimentos são mínimos, mas impenetráveis, como se previsse
cada ação antes mesmo de acontecer.

Por um instante, ele simplesmente para, encarando-os sem pressa. Os guerreiros veem nisso
uma abertura e, sem hesitação, combinam suas forças em um golpe unificado e devastador. O
impacto ressoa pelo campo de batalha, o chão estremece, e pela primeira vez, a entidade recua,
forçada a dar um passo para trás.

E oque eles pensaram..

O ser ergueu o olhar, fixando-se no Anjo e na Princesa ao centro do campo devastado. Somnara
e os outros Primordiais hesitaram, o medo estampado em seus semblantes. O silêncio se
prolongou até que, com uma voz profunda e estérea, o ser falou:
— Eu ouço os sussurros... das profundezas. O Vazio desperta, e vocês o verão com seus próprios
olhos.

Somnara e os outros Primordiais estremeceram. Algo na presença daquela entidade os fazia


recuar instintivamente. Sem hesitar, abandonaram o campo de batalha e fugiram para longe.

O ser então avançou um passo. Sua presença parecia dobrar o espaço ao redor, como se a
própria realidade tremesse diante dela.

— Pois eu... sou... Velarionya.

Ela ergueu os braços, e no eco de sua voz, o Vazio se abriu como uma ferida no universo. Das
sombras, criaturas colossais emergiram, demônios do mais puro Vazio, seus corpos distorcidos
como fragmentos de um pesadelo sem fim. A legião crescia, expandindo-se como uma galáxia
devoradora.

Velarionya apontou sua espada para os guerreiros e, com uma calma aterrorizante, deu sua
ordem:

— Aniquilem.

O General, sujo de sangue e poeira, correu até o Anjo, que ainda segurava a Princesa
inconsciente em seus braços. Seu olhar era determinado, sem hesitação.

— Fujam! Eu não sei quem são, mas sinto que são mais importantes do que qualquer um de
nós. Vamos segurá-los para que possam escapar!

O Anjo o encarou por um breve momento. Então, balançou sua cabeça silenciosamente,
apertou a Princesa contra si e alçou voo, afastando-se daquele inferno.

A grande legião avançou como uma onda furiosa contra um castelo de areia. Mas os guerreiros
e os prisioneiros libertos não recuaram. Eles ergueram suas armas, doando-se completamente
à batalha para proteger o Anjo e a Princesa.

O Anjo, ainda recuperando forças, voava devagar. Demônios do Vazio partiram em sua direção,
prontos para dilacerá-lo, mas antes que pudessem alcançar, os guerreiros saltaram em seu
caminho, formando uma barreira viva.

Mesmo em meio à guerra e à destruição, eles carregavam um único sentimento—esperança.

O Anjo olhou para o campo devastado, para aqueles que deram tudo para que ele e a Princesa
sobrevivessem. Lágrimas caíram de seus olhos.

Então, com um bater de asas, ele voou mais rápido do que jamais havia voado.
Velarionya permaneceu imóvel, observando o massacre. Seus olhos se fixaram no Anjo que
fugia, sua expressão inalterada.

Ela ergueu a mão, preparando-se para atacá-lo com um só golpe, mas os guerreiros que ainda
restavam se lançaram sobre ela em um último esforço desesperado para impedir sua investida.

Ela parou. Não por respeito. Mas porque nada disso importava para ela.

Seu olhar seguiu o Anjo até que ele desaparecesse nas profundezas do espaço. Então,
murmurou, com um sorriso frio nos lábios:

— Eu vou achá-los...

Os guerreiros e o General, exaustos, tentaram um último ataque contra Velarionya. Suas


espadas, imbuídas com tudo que restava de sua força, se partiram ao primeiro contato com sua
pele.

Ela não precisou erguer a mão.

Os demônios do Vazio avançaram sobre eles, devorando suas almas.

O campo de batalha se tornou um oceano de escuridão e gritos.

Distante daquele universo...

O Anjo caminhava lentamente até uma caverna. Com cuidado, deitou a Princesa no chão e
começou a cuidar de seu ferimento.

Fora da caverna, o vento e as tempestades rugiam.

Os tornados que ele vira antes agora estavam ainda maiores.

Com suas últimas forças, ele arrastou uma pedra para bloquear a entrada da caverna,
protegendo-os do caos lá fora.

Então, ele se ajoelhou ao lado dela a observando. Por um momento, o silêncio reinou.

Mas no fundo de sua mente, ele sabia.

Eles ainda não estavam seguros.


Capitulo 5

Ties of darkness

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