Fatec Osasco Pref Hirant Sanazar
Máquina Elétricas
Perdas em Transformadores
Ederson Damião Torres Manfrim
Introdução
Atualmente, a maioria dos transformadores instalados nos sistemas de distribuição de energia
elétrica, urbanos e rurais, são fabricados com núcleos de ferro-silício (FeSi) de Grãos
Orientados (GO) e enrolamentos de cobre. Isto representa uma tecnologia consolidada,
restando como alternativa para a melhoria da eficiência energética destes equipamentos a
substituição dos materiais convencionais por outros que apresentem perdas específicas
menores, além de beneficiar o meio ambiente pela redução da necessidade de construção de
novas usinas geradoras de eletricidade. Os sistemas de distribuição de energia elétrica nas
zonas urbanas funcionam na maior parte do dia e da noite em plena carga. Nessas condições,
as perdas nos enrolamentos (circuito elétrico) se superpõem às perdas no núcleo (circuito
magnético). Os sistemas de distribuição de energia elétrica localizados nas áreas rurais
apresentam, em geral, alto custo de operação para as companhias concessionárias, devido à
sazonalidade de suas cargas. Nessas condições, as perdas nos núcleos dos transformadores
fabricados com aço ao silício convencional de GO tornam-se significativas pelo fato desses
transformadores operarem na maior parte do tempo em condições de carga leve ou mesmo a
vazio. Em tais circunstâncias, a corrente total solicitada pelo sistema tem uma parcela
preponderantemente oriunda da corrente de excitação dos transformadores que, para efeito
analítico, pode ser decomposta em duas componentes: uma magnetizante, de caráter não-
linear, relacionada com as perdas histeréticas; e outra, em fase com a tensão, relacionada com
as perdas ativas, provocada, sobretudo, pelas correntes parasitas. Dentre os transformadores
monofásicos utilizados nos sistemas de distribuição de energia elétrica rurais destacam-se os
transformadores monobuchas, caracterizados como monofilar com retorno por terra – MRT,
que são transformadores com somente uma bucha no lado de alta tensão e uma, duas ou mais
buchas no lado de baixa tensão. Geralmente, esses transformadores são de 14 baixo custo de
aquisição e têm potências nominais de 5, 10 e 15 kVA. No Brasil, transformadores dessa
natureza são fabricados de acordo com a NBR 5440.
Perdas em materiais ferromagnéticos:
As perdas nos materiais ferromagnéticos são divididas em três componentes: perdas por
histerese, perdas por correntes parasitas e, do ponto de vista da física do ferromagnetismo, as
perdas anômalas, que somadas constituem as perdas totais (LUCIANO, 2010a). a) Perdas por
histerese O processo de magnetização e desmagnetização de um material ferromagnético
numa condição cíclica e simétrica envolve um armazenamento e uma liberação de energia que
não é totalmente reversível. Quando o material é magnetizado durante cada meio ciclo, tem-se
que a quantidade de energia armazenada no campo magnético excede a que é liberada na
desmagnetização (DEL TORO, 1994). A variação da densidade do fluxo (B) em função da
intensidade do campo magnético (H) para um material ferromagnético numa condição cíclica
gera o ciclo de histerese. Um ciclo de histerese isolado é visto na Figura 33. A direção das setas
nessa curva indica o modo pelo qual B varia quando H varia de zero a um valor positivo
máximo, passando por zero, a um valor negativo máximo e, de volta, a zero, completando um
ciclo (DEL TORO, 1994).
A energia absorvida pelo campo quando H está aumentando no sentido positivo pode ser
representada pela área abdca. Do mesmo modo, a energia liberada pelo campo quando H varia
de Hmax a zero pode ser representada pela área bdcb. A diferença entre essas duas
densidades de energia representa a quantidade de energia que não é devolvida à fonte e que é
dissipada como calor quando os domínios são reorganizados em resposta à intensidade do
campo magnético variável. Essa dissipação de energia é denominada de perdas por histerese,
como visto na Figura 33, para uma variação de meio ciclo de H. Da simetria, após a conclusão
da variação de H no meio ciclo negativo, uma perda de energia igual ocorrerá e a área do ciclo
completo de histerese representará a perda de energia total por metro cúbico (DEL TORO,
1994). A perda de energia, por ciclo, é expressa matematicamente por:
Wh= (área do ciclo de histerese) (J/m³)/ciclo.
Pode-se exprimir a perda por histerese dos materiais ferromagnéticos em watts da seguinte
forma:
Essas correntes circulantes são geradas pelas diferenças de potencial magnético
existente por todo o corpo do material devido à ação do fluxo variável. Se o circuito
magnético for composto de material ferromagnético sólido, a perda de potência resultante é
significativa porque as correntes circulantes encontram relativamente pouca resistência. Na
aplicação em núcleos de transformadores, para aumentar de forma significativa à resistência
encontrada por essas correntes parasitas, o circuito magnético é invariavelmente composto
de lâminas finas ou fitas delgadas (como as ligas amorfas). Estas lâminas, isoladas
eletricamente entre elas, impedem a formação de anéis de correntes induzidas, que se
estabeleceriam no plano transversal do núcleo, conforme a Figura 36 (DEL TORO, 1994),
(LUCIANO, 2010a).
Uma expressão empírica para as perdas de potência por correntes parasitas é:
na qual:
= constante que depende do material;
= densidade de fluxo máxima, em T;
= espessura de laminação, em m; f =
frequência da variação de B, em Hz; v =
volume total do material, em m³.
Uma comparação entre as expressões (33) e (34) mostra que as perdas por correntes
parasitas variam com o quadrado da frequência, ao passo que as perdas por histerese variam
diretamente com a frequência.
c) Perdas anômalas
As perdas anômalas são atribuídas às correntes parasitas causadas pelos movimentos
das paredes dos domínios magnéticos, também denominada paredes de Bloch, durante a
magnetização. As paredes de Bloch são estruturas de spins situados na região de transição
entre dois domínios diferentes. A velocidade da parede será proporcional à frequência do
sinal aplicado, da indução magnética aplicada e da largura do domínio (d) no estado
desmagnetizado, sob a condição que todas as respectivas paredes sejam móveis e que seu
número seja constante durante o processo dinâmico de magnetização (LUCIANO, 2010a).
Com estas precondições, as perdas anômalas são proporcionais à frequência, ao
quadrado da indução magnética e à largura da parede do domínio:
As perdas anômalas não são mensuráveis fisicamente, sendo que para obtêlas,
subtraímos das perdas totais as perdas por histerese e por correntes parasitas, conforme a
representação gráfica da Figura 37.
Conclusão:
Neste trabalho são apresentados dois estudos de casos nos quais são abordadas as
perdas em transformadores monofásicos e trifásicos em redes de distribuição.
No primeiro é apresentada uma análise da viabilidade técnica/econômica da
utilização de transformadores com núcleo de liga amorfa, à base de ferro-borosilício, em
redes rurais de distribuição de energia, classe 15 kV, em substituição aos transformadores
monofásicos com núcleo de chapas convencionais de aço ao silício, com objetivo de obter a
eficiência energética no uso de transformadores de distribuição monofásicos.
No segundo é analisado o desempenho comparativo de transformadores monofásicos
e trifásicos com núcleo de liga amorfa e transformadores com núcleo de aço ao silício de grãos
orientados (GO) na presença de cargas causadoras de harmônicos.
Estudo de viabilidade técnica
As perdas de energia elétrica no sistema elétrico em todo o mundo são estimados em
1229 TWh/ano, ou cerca de 9,2% do total de energia elétrica produzida em todo mundo. Do
total de perdas, os transformadores de distribuição de energia elétrica instalados em seis
grandes economias do mundo (EUA, União Européia, Austrália, Japão, Índia e China),
correspondem a cerca de 290 TWh/ano. No Brasil, as perdas dos transformadores de
distribuição de energia elétrica podem ser estimadas em 4,7 TWh/ano, para um total de
2.950.000 transformadores instalados em 2007. Apenas as perdas em vazio podem ser
estimadas em 3,6 TWh/ano (COUTO et al., 2010).
Estudo caso 2:
Os sistemas urbanos atuais de distribuição de energia elétrica são afetados pelo uso crescente
de cargas não-lineares que introduzem componentes harmônicos, tais como: inversores de
frequência, acionamentos tiristorizados, conversores eletrônicos de potência, acionadores de
máquinas elétricas, microcomputadores, condicionadores de sinais, máquinas de solda, no-
breaks, etc.
A taxa de distorção harmônica total (TDH) nos sistemas de distribuição de energia
elétrica localizados nas zonas rurais é menor do que a TDH dos sistemas localizados na zona
urbana devido às características de suas respectivas cargas, não-lineares em grande parte das
instalações dos sistemas urbanos.
Referências Bibliográficas:
(LUCIANO; FREIRE; INÁCIO; BATISTA; CAMACHO, 2009), publicado no
Congresso Brasileiro de Eficiência Energética (CBEE).
Universidade Federal de Campina Grande. Centro de Engenharia Elétrica
e Informática .Departamento de Engenharia Elétrica .