GUIA ALIMENTAR
PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA
Promovendo a Alimentação Saudável
MINISTÉRIO DA SAÚDE
            Secretaria de Atenção à Saúde
          Departamento de Atenção Básica
Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição




            GUIA ALIMENTAR
      PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA
      Promovendo a Alimentação Saudável




          Série A. Normas e Manuais Técnicos




                     Brasília DF
                        2006
© 2006 Ministério da Saúde.
Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não
seja para venda ou qualquer fim comercial.
A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada na íntegra na Biblioteca Virtual do Ministério da
Saúde: http://www.saude.gov.br/bvs


Série A. Normas e Manuais Técnicos


Tiragem: 1.ª edição 2006 45.000 exemplares
Elaboração, distribuição e informações:
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Atenção à Saúde
Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição
SEPN 511, bloco C, Edifício Bittar IV, 4.º andar
CEP: 70058-900, Brasília DF
Tels.:(61) 3448-8040          Fax: (61) 3448-8228
Homepage: www.saude.gov.br/nutricao


Elaboração da versão final:
Ana Beatriz Vasconcellos Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN/DAB/SAS/MS)
Anelise Rizzolo Oliveira Pinheiro - Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN/DAB/SAS/MS)
Elisabetta Recine Observatório de Política de Segurança Alimentar e Nutricional; Departamento de Nutrição da
Universidade de Brasília e consultora da CGPAN
Maria de Fátima C. C. de Carvalho Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN/DAB/SAS/MS)
Impresso no Brasil / Printed in Brazil




Ficha Catalográfica
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Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição.
   Guia alimentar para a população brasileira : promovendo a alimentação saudável / Ministério da Saúde, Secretaria
de Atenção à Saúde, Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
   210p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos)
   1. Alimentação. 2. Conduta na alimentação. 3. Métodos de alimentação. 4. Política de nutrição. I. Título. II. Série.
                                                                                                    NLM WB 400
________________________________________________________________________________________________________________
                                                                       Catalogação na fonte Editora MS OS 2005/0768




Títulos para indexação:
Em inglês: Dietary Guidelines for the Brazilian Population
Em espanhol: Guía de Alimentación para la Población Brasileña
LISTA DE TABELAS, GRÁFICOS E QUADROS                                                                         05




LISTA DE TABELAS, GRÁFICOS E QUADROS



TABELAS

TABELA 1 Mortalidade por diferentes tipos de doença no Brasil, 1979, 1998 e 2003                         130

TABELA 2 Percentual de mortalidade proporcional segundo causas e sexo. Brasil, 2001                      130

TABELA 3 Resultados da Campanha Nacional de Detecção de Hipertensão Arterial (CNDHA). Brasil,
2002                                                                                                     137

TABELA 4 Óbitos ocorridos por doenças crônicas não-transmissíveis e óbitos potencialmente
evitáveis com alimentação adequada (números relativo e absoluto). Brasil, 2003                           141

TABELA 5 Evolução da participação relativa de macronutrientes no total de calorias determinado pela
aquisição alimentar domiciliar nas regiões metropolitanas, Brasília e Município de Goiânia, por ano de
pesquisa. Brasil, 1974-2003                                                                              145

TABELA 6 Evolução da participação relativa de alimentos no total de calorias determinado pela
aquisição alimentar domiciliar nas regiões metropolitanas, Brasília e município de Goiânia, por ano de
pesquisa. Brasil, 1974-2003                                                                              146

TABELA 7 Participação relativa de macronutrientes no total de calorias determinado pela aquisição
alimentar domiciliar, por situação do domicílio. Brasil, 2002-2003                                       148

TABELA 8 Participação relativa de grupo de alimentos no total de calorias, segundo a aquisição
alimentar domiciliar, por classe de rendimento familiar mensal em salários mínimos per capita (SMPC).
Brasil, 2002-2003                                                                                        149

TABELA 9 Participação relativa de macronutrientes no total de calorias determinado pela aquisição
alimentar domiciliar, por classe de rendimento monetário mensal familiar per capita em salários mínimos.
Brasil, 2002-2003                                                                                      151

TABELA 10 Estimativa do consumo de sal per capita. Brasil, 1962-2000                                     152



GRÁFICOS


GRÁFICO 1 Tendência secular da desnutrição em adultos, segundo o sexo. Brasil, 1975-2003                 133

GRÁFICO 2 Prevalência da desnutrição em adultos, segundo regiões geográficas e sexo. Brasil, 2003        134

GRÁFICO 3 Tendência secular do excesso de peso no Brasil, segundo sexo. Brasil, 1975-2003                138

GRÁFICO 4 Tendência secular da obesidade no Brasil, segundo o sexo. Brasil, 1975-2003                    138

GRÁFICO 5 Tendência secular da obesidade masculina segundo região brasileira. Brasil, 1975-2003          139

GRÁFICO 6 Tendência secular da obesidade feminina, segundo região brasileira. Brasil, 1975-2003          139

GRÁFICO 7 Prevalência de obesidade, segundo a renda. Brasil, 2003                                        140
06                                                          GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     QUADROS

     QUADRO 1 Cálculo da dose-equivalente de álcool de uma bebida                                        26

     QUADRO 2 Informação nutricional dos leites desnatado e integral                                 121

     QUADRO 3 Porções segundo grupos de alimentos, para fins de rotulagem nutricional                122

     QUADRO 4 Declarações relacionadas ao conteúdo de nutrientes e energia no rótulo dos alimentos   123

     QUADRO 5 Principais características dos Edulcorantes                                            186
SUMÁRIO                                                                                            07



APRESENTAÇÃO                                                                                     09

PARTE 1
REFERENCIAL TEÓRICO

Introdução                                                                                       15
O Guia Alimentar e a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN)                          15
Estratégia Global para a Promoção da Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde              17
O Panorama Epidemiológico no Brasil: o Peso Multiplicado da Doença                               18
        - Deficiências nutricionais                                                              19
        - Doenças infecciosas                                                                    19
        - Doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT)                                             19
O Aspecto Ambiental Mais Geral                                                                   20
Modos de Vida Saudáveis                                                                          21
        - Aleitamento materno: um cuidado para toda a vida                                       21
        - Alimentação saudável: algumas considerações                                            22
        - Atividade física: elemento fundamental para a manutenção da saúde e do peso saudável   24
        - O consumo de bebidas alcoólicas                                                        24
        - O consumo de tabaco                                                                    26

PARTE 2
O GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA: SEUS PRINCÍPIOS E SUAS DIRETRIZES E OS
ATRIBUTOS DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL

Princípios                                                                                       29
         - O princípio da abordagem integrada                                                    31
         - O princípio do referencial científico e a cultura alimentar                           31
         - O princípio do referencial positivo                                                   32
         - O princípio da explicitação de quantidades                                            32
         - O princípio das variações das quantidades                                             32
         - O princípio do alimento como referência                                               33
         - O princípio da sustentabilidade ambiental                                             33
         - O princípio da originalidade um guia brasileiro                                       33
         - O princípio da abordagem multifocal                                                   34
Os Atributos da Alimentação Saudável                                                             35
As Diretrizes: Algumas Considerações                                                             36

As diretrizes
Diretriz 1 Os alimentos saudáveis e as refeições                                                 39
Diretriz 2 Cereais, tubérculos e raízes                                                          45
Diretriz 3 Frutas, legumes e verduras                                                            51
Diretriz 4 Feijões e outros alimentos vegetais ricos em proteínas                                59
Diretriz 5 Leite e derivados, carnes e ovos                                                      65
Diretriz 6 Gorduras, açúcares e sal                                                              73
Diretriz 7 Água                                                                                  85
08                                                           GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     Diretriz Especial 1 Atividade física                                                              89
     Diretriz Especial 2 Qualidade sanitária dos alimentos                                             97
     Colocando as diretrizes em prática                                                               105
     Utilizando o rótulo dos alimentos                                                                117

     PARTE 3
     AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS DAS DIRETRIZES NACIONAIS

     Introdução                                                                                       127
     Saúde e Nutrição no Brasil                                                                       127
     A transição epidemiológica brasileira                                                            128
              - Epidemiologia da atividade física                                                     129
              - Mortalidade                                                                           129
              - Novos padrões de morbidade                                                            131
     A transformação nos padrões alimentares nacionais                                                141
              - Consumo de alimentos no Brasil                                                        142
     As bases científicas das diretrizes alimentares nacionais                                        153
     O enfoque do curso da vida como estratégia para a abordagem integrada das doenças relacionadas
     à alimentação e nutrição                                                                         164

     REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS                                                                       165

     ANEXOS
     ANEXO A Processamento de alimentos                                                               183
     ANEXO B Recomendação calórica média, número de porções diárias e valor energético médio das
     porções, segundo os grupos de alimentos para fins de cálculo do VET                              189
     ANEXO C Porções de alimentos (em gramas) e medidas caseiras correspondentes                      191
     ANEXO D Síntese das Diretrizes                                                                   197

     COLABORADORES                                                                                    205
Apresentação
APRESENTAÇÃO                                                                                                 11




APRESENTAÇÃO

         O Guia Alimentar para a População              aplicação prática no contexto familiar, bem como
Brasileira contém as primeiras diretrizes               sobre o uso da rotulagem de alimentos como
alimentares oficiais para a nossa população. Hoje       ferramenta para a seleção de alimentos mais
existem evidências científicas que apontam de           saudáveis.
forma inequívoca o impacto da alimentação                        Finalmente, a terceira parte sistematiza o
saudável na prevenção das mortes prematuras,            panorama epidemiológico brasileiro e traz os dados
causadas por doenças cardíacas e câncer.                de consumo alimentar disponíveis no Brasil e as
         Além disso, as orientações do guia são         evidências científicas que fundamentaram as
adequadas para a prevenção de outras doenças            orientações do guia.
crônicas não-transmissíveis, tais como diabetes e                O documento é resultado de uma
hipertensão, e compõem, certamente, o elenco de         construção coletiva. Houve consulta pública por
ações para a prevenção da obesidade que, por si só,     meio da internet e recolhimento de contribuições
aumenta o risco dessas e de outras doenças graves.      de diversos participantes. Contamos, ainda, com a
         Por outro lado, a publicação também            colaboração da rede de alimentação e nutrição,
aborda questões relacionadas às deficiências            constituída pelas coordenações estaduais, centros
nutricionais e às doenças infecciosas, prioridades de   colaboradores e de referência na área, que foi
saúde pública no Brasil. Assim, contribui para a        estimulada diretamente a analisar a proposta.
prevenção das deficiências nutricionais, incluindo as            As contribuições dos usuários desta
de micronutrientes (fome oculta), e para aumentar       publicação, contudo, serão importantes e bem-
a resistência a muitas doenças infecciosas em           vindas para o aperfeiçoamento das edições
crianças e adultos.                                     subseqüentes. Acreditamos que as diretrizes aqui
         Consideramos, portanto, que este guia          estabelecidas serão úteis para os profissionais da
contém mensagens centrais para a promoção da            saúde, para os trabalhadores nas comunidades,
saúde e, em um único conjunto, para prevenção das       para as famílias do Brasil e para a nação como um
doenças crônicas não-transmissíveis, da má nutrição     todo.
em suas diferentes formas de manifestação e das                  O governo do Presidente Luiz Inácio Lula
doenças infecciosas.                                    da Silva, por meio do Programa Fome Zero e de
         Muitas das diretrizes deste guia rela-         outros programas que buscam criar uma rede de
cionam-se aos alimentos e às refeições                  proteção às camadas mais vulneráveis da
tradicionalmente consumidos pelas famílias              população, avança no sentido de prover
brasileiras de todos os níveis socioeconômicos,         alimentação e nutrição adequadas ao conjunto dos
evidenciando-se que, ao contrário do que indica o       brasileiros.
senso comum, uma alimentação saudável não é                      Este guia, que apresenta diretrizes acerca
necessariamente cara.                                   dos hábitos alimentares saudáveis, está inserido nas
         A primeira parte do guia traz o referencial    preocupações que têm inspirado as ações do
teórico que fundamentou a sua elaboração e o situa      governo, tanto na necessária política de segurança
em relação aos propósitos da Política Nacional de       alimentar e nutricional como na promoção da
Alimentação e Nutrição (PNAN) e aos objetivos           prevenção de agravos à saúde que advenham de
preconizados pela Organização Mundial da Saúde          uma alimentação insuficiente ou inadequada.
(OMS).
         A segunda parte aborda as diretrizes                                                 Saraiva Felipe
formuladas, agregando orientações para a sua                                              Ministro da Saúde
1
Parte   Referencial teórico
PARTE 1 - REFERENCIAL TEÓRICO                                                                                                                   15



REFERENCIAL TEÓRICO                                                                  questões relativas à alimentação e nutrição no
Introdução                                                                           Brasil. A promoção da alimentação saudável,
                                                                                     embora tenha o setor saúde como um dos
                                                                                     protagonistas, requer a integração de outros
 Deixe que a alimentação seja o seu remédio e o                                      setores e atores sociais, chaves na consecução da
remédio a sua alimentação (Hipócrates). O                                            segurança alimentar e nutricional.
destino das nações depende daquilo e de como as                                               Neste guia serão abordadas as questões
pessoas se alimentam (Brillat-Savarin, 1825).                                        necessárias, em termos de base conceitual, sobre o
                                                                                     que é uma alimentação saudável e como podemos
         Afirmações como estas que remontam a                                        alcançá-la no cotidiano de nossas vidas. Uma
centenas de anos já atestavam a relação vital entre a                                alimentação saudável não deve ser vista como uma
alimentação e a saúde.                                                                receita pré-concebida e universal, pois deve
         Este guia, como parte da responsabilidade                                   respeitar alguns atributos individuais e coletivos
governamental em promover a saúde, é concebido                                       específicos impossíveis de serem quantificados de
para contribuir para a prevenção das doenças                                         maneira prescritiva. Contudo identificam-se alguns
causadas por deficiências nutricionais, para reforçar                                princípios básicos que devem reger a relação entre
a resistência orgânica a doenças infecciosas e para                                  as práticas alimentares e a promoção da saúde e a
reduzir a incidência de doenças crônicas não-                                        prevenção de doenças.
transmissíveis (DCNT), por meio da alimentação                                                Uma vez que a alimentação se dá em
saudável. A abordagem conjunta desses três grupos                                    função do consumo de alimentos e não de
de doenças, tendo como instrumento a alimentação                                     nutrientes, uma alimentação saudável deve estar
saudável, é uma das estratégias de saúde pública                                     baseada em práticas alimentares que tenham
brasileira com vistas à melhoria dos perfis                                          significado social e cultural. Os alimentos têm gosto,
nutricional e epidemiológico atuais.                                                 cor, forma, aroma e textura e todos esses
         Especificamente, as diretrizes fornecem a                                   componentes precisam ser considerados na
base para a promoção de sistemas alimentares                                         abordagem nutricional. Os nutrientes são
saudáveis e do consumo de alimentos saudáveis,                                       importantes; contudo, os alimentos não podem ser
com o objetivo de reduzir a ocorrência dessas                                        resumidos a veículos deles, pois agregam
                                                    1
doenças na população brasileira maior de 2 anos                                      significações culturais, comportamentais e afetivas
(crianças, adolescentes, adultos e idosos).                                          singulares que jamais podem ser desprezadas.
         O guia é destinado a todas as pessoas                                       Portanto, o alimento como fonte de prazer e
envolvidas com a saúde pública e para as famílias.                                   identidade cultural e familiar também é uma
Dá-se destaque aos profissionais de saúde da                                         abordagem necessária para promoção da saúde.
atenção básica, incluindo os vinculados à Estratégia                                          Esta primeira edição das diretrizes oficiais
de Saúde da Família, que receberão informações                                       brasileiras é parte da estratégia de implementação
sobre alimentação saudável a fim de subsidiar                                        da Política Nacional de Alimentação e Nutrição,
abordagens específicas no contexto familiar; bem                                     integrante da Política Nacional de Saúde (BRASIL,
como se explicitam as atribuições esperadas do                                       2003f) e se consolida como elemento concreto da
setor produtivo de alimentos. Outro público-sujeito                                  identidade brasileira para implementação das
deste guia são os formuladores e implementadores                                     recomendações preconizadas pela Organização
de ações de governo em áreas correlacionadas; e,                                     Mundial da Saúde, no âmbito da Estratégia Global
finalmente, destacam-se as mensagens destinadas à                                    de Promoção da Alimentação Saudável, Atividade
família.                                                                             Física e Saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
         As mensagens principais das diretrizes,                                     2004).
apresentadas em destaque, visam a enfatizar os
principais aspectos a ser destacados na abordagem                                    O Guia Alimentar e a Política Nacional
do profissional de saúde junto aos usuários dos
                                                                                     de Alimentação e Nutrição (PNAN)
serviços de saúde, pela indústria alimentícia e pelos
governos e ainda pelas famílias. São informações                                             A Política Nacional de Alimentação e
importantes que estimulam o olhar intersetorial das                                  Nutrição (PNAN), homologada em 1999, integra a

1- As diretrízes alimentares específicas para crianças com até 2 anos de idades foram publicadas em documentos específicos (BRASIL,2002d, 2002e).
16                                                           GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     Política Nacional de Saúde (BRASIL, 2003f). Tem           Essas ações dão conseqüência prática ao direito
     como principal objetivo contribuir com o conjunto         humano à alimentação e nutrição adequadas
     de políticas de governo voltadas à concretização do       (DHAA), extrapolando, portanto, o setor Saúde e
     direito humano universal à alimentação e nutrição         alcançando um caráter intersetorial.
     adequadas e à garantia da Segurança Alimentar e                     Por outro lado, a adoção da promoção da
     Nutricional da população. Todas as ações de alimen-       SAN como tema central do atual governo brasileiro
     tação e nutrição, sob gestão e responsabilidade do        reforçou a compreensão do papel do setor saúde no
     Ministério da Saúde, derivam do princípio de que o        tocante à alimentação e nutrição, reconhecidas
     acesso à alimentação adequada, suficiente e segura,       como elementos essenciais para a promoção,
     é um direito humano inalienável. Esse princípio,          proteção e recuperação da saúde.
     norteador do desenvolvimento da própria PNAN e                      Os programas e ações em alimentação e
     suas implicações em termos de regulação,                  nutrição do Ministério da Saúde, dentre os quais
     planejamento e prática, é uma iniciativa pioneira do      este guia é um exemplo, são desenvolvidos tanto
     Brasil no cenário internacional.                          para contribuir para a prevenção e controle das
               A PNAN tem como diretrizes a promoção           doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT) como
     de práticas alimentares saudáveis e a prevenção e o       das deficiências nutricionais e doenças infecciosas,
     controle dos distúrbios nutricionais e das doenças        promovendo o consumo de uma alimentação
     associadas à alimentação e nutrição, o monito-            saudável e a adoção de modos de vida saudáveis. A
     ramento da situação alimentar e nutricional, a            estratégia que orienta essas ações deve combinar
     garantia da qualidade dos alimentos colocados para        iniciativas de articulação intersetorial, regula-
     consumo no País, o desenvolvimento de pesquisas e         mentação, informação, comunicação e capacitação
     recursos humanos, bem como o estímulo às ações            de profissionais.
     intersetoriais que propiciem o acesso universal aos                 Em um país como o Brasil, onde as
     alimentos. Muito embora, ao longo da história das         desigualdades regionais são expressivas, é
     políticas de alimentação e nutrição no Brasil, a área     importante destacar que a promoção da
     de Saúde tenha chamado para si tais respon-               alimentação saudável pressupõe a necessidade de
     sabilidades - mesmo porque é sobre esse setor que         definição de estratégias de saúde pública capazes
     recaem as conseqüências da insegurança alimentar          de dar conta de um modelo de atenção à saúde e de
     e nutricional -, assegurar o direito à alimentação        cuidado nutricional, direcionados para a prevenção
     adequada a toda a população é uma respon-                 da desnutrição, incluindo a fome oculta e outras
     sabilidade a ser compartilhada por outros setores         doenças relacionadas à fome e exclusão social,
     governamentais e pela sociedade como um todo.             como também do sobrepeso, da obesidade e das
     Esse entendimento fica explícito ao se avaliar o          demais DCNT resultantes da inadequação alimentar
     conceito de Segurança Alimentar e Nutricional             ou outra forma de manifestação da fome.
     (SAN), atualmente adotado pelo Brasil:                              A promoção de práticas alimentares
                                                               saudáveis, além de uma diretriz explícita da PNAN,
              SAN é a realização do direito de todos ao        conforma uma ação transversal incorporada em
     acesso regular e permanente a alimentos de                todas e quaisquer outras ações, programas e
     qualidade, em quantidade suficiente, sem                  projetos. A alimentação saudável tem início com o
     comprometer o acesso a outras necessidades                incentivo ao aleitamento materno - exclusivo até o
     essenciais, tendo como base práticas alimentares          sexto mês e complementado até, pelo menos, o
     promotoras de saúde, que respeitem a diversidade          segundo ano de vida - e está inserida no contexto da
     cultural e que sejam social, econômica e                  adoção de modos de vida saudáveis, sendo,
     ambientalmente sustentáveis. (BRASIL, 2004a)              portanto, componente importante da promoção da
                                                               saúde e da qualidade de vida. Nessa abordagem,
              Assim, entende-se que a garantia da SAN          tem enfoque prioritário o resgate de hábitos e
     requer a conjugação e priorização de esforços pelo        práticas alimentares regionais relacionadas ao
     Estado, conciliando ações públicas de diferentes          consumo de alimentos locais de elevado valor
     setores e esferas do governo e da sociedade civil.        nutritivo, bem como de padrões alimentares mais
PARTE 1 - REFERENCIAL TEÓRICO                                                                              17



variados, desde os primeiros anos de vida até a       Tecnologia/SCTIE/MS e com a rede de Centros
idade adulta e a velhice.                             Colaboradores e Centros de Referência em
          As diretrizes da PNAN vêm sendo imple-      Alimentação e Nutrição;
mentadas no âmbito do setor saúde, porém,             - Ações de apoio à institucionalização da área e das
extrapolando-o por meio de um conjunto de ações       ações de alimentação e nutrição nos estados e
em parceria com outros setores governamentais e       municípios por meio da parceria técnica e financeira
não-governamentais. São alguns exemplos:              com Coordenações Estaduais de Alimentação e
- Educação continuada dos profissionais de saúde      Nutrição/Secretarias Estaduais de Saúde.
com ênfase naqueles envolvidos na atenção básica;               Muitas outras ações são desenvolvidas em
- Desenvolvimento de instrumentos e estratégias       parcerias interinstitucionais, a exemplo da Agência
para a socialização da informação e do                Nacional de Vigilância Sanitária, Ministério do
conhecimento sobre alimentação e nutrição ao          Desenvolvimento Social e Combate à Fome,
público em geral (informativos, página eletrônica:    Programa de Alimentação do Trabalhador
www.saude.gov.br/nutricao, tele-atendimento por       (PAT)/Ministério do Trabalho, Programa Nacional
meio do Disque Saúde : 0800 61 1997 - ligação         de Alimentação Escolar (PNAE/FNDE/MEC), Conse-
gratuita);                                            lho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
- Inserção dos componentes de alimentação e nutri-    (CONSEA), Comissões Intersetoriais de Alimentação
ção na atenção à saúde de grupos populacionais        e Nutrição (CIAN) e da Saúde Indígena (CISI) do
específicos, como população do campo, indígenas e     Conselho Nacional de Saúde, Pastoral da Criança,
quilombolas;                                          Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/
- Programas de prevenção e controle de carências      Brasil), dentre outras.
nutricionais específicas: Programa Nacional de                  Na abordagem da prevenção integrada de
Controle e Prevenção das Deficiências de Vitamina     doenças fazem-se necessários o fortalecimento e a
A; Programa Nacional de Controle e Prevenção de       articulação de ações que visem à promoção de
Anemia Ferropriva; Programa Nacional de Controle      modos de vida mais saudáveis. Isso requer um
e Prevenção dos Distúrbios por Deficiência de Iodo;   esforço por parte do Ministério da Saúde, não
- Ações e projetos de abordagem da desnutrição        somente quanto aos seus objetivos setoriais
infantil no âmbito da rede de serviços do Sistema     estratégicos para o enfrentamento da situação, mas
Único de Saúde: protocolo de atendimento à            também para a identificação de parcerias que
criança com desnutrição grave (em âmbitos             possam efetivar ações com o mesmo objetivo, nos
hospitalar, ambulatorial e comunitário/ familiar);    diferentes setores governamentais, da sociedade
- Saúde do Escolar, em parceria com o                 civil organizada, do setor produtivo e nas três
Departamento de Gestão em Saúde, da Secretaria        esferas de governo.
de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde, do                   Assim, o Guia Alimentar para a População
Ministério da Saúde e com o Ministério da             Brasileira é mais um dos instrumentos construídos
Educação. A proposta é incentivar o espaço escolar    no âmbito das diretrizes da Política Nacional de
como ambiente para a educação nutricional e           Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde,
promoção da alimentação saudável de crianças e        com vistas à consolidação de seus propósitos e
jovens, contribuindo para a formação de hábitos       fundamentos.
alimentares saudáveis, bem como para a inserção da
alimentação e nutrição no conteúdo programático,      Estratégia Global para a Promoção da
nos diferentes níveis de ensino;                      Alimentação Saudável, Atividade Física e
- Vigilância Alimentar e Nutricional, por meio da     Saúde
coleta sistemática de informações antropométricas               A proposta de Estratégia Global para a
da população atendida no âmbito do Sistema Único      Promoção da Alimentação Saudável, Atividade
de Saúde. A proposta permite acompanhar os            Física e Saúde, da Organização Mundial da Saúde,
usuários do SUS em qualquer fase do curso da vida;    sugere a formulação e implementação de linhas de
- Promoção e financiamento de estudos e pesquisas,    ação efetivas para reduzir substancialmente as
em parceria com o Departamento de Ciência e           mortes e doenças em todo o mundo. Seus quatro
18                                                             GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     objetivos principais são: (1) reduzir os fatores de         diabetes e melhorar o estado funcional nas
     risco para DCNT por meio da ação em saúde pública           diferentes fases do curso da vida e especialmente na
     e promoção da saúde e medidas preventivas; (2)              fase adulta e idosa.
     aumentar a atenção e o conhecimento sobre                             Dentre outros aspectos, destacar a
     alimentação e atividade física; (3) encorajar o             relevância dessa proposição dentro do setor saúde
     desenvolvimento, o fortalecimento e a imple-                pode alavancar e alertar para a importância e
     mentação de políticas e planos de ação em nível             efetividade que as ações de promoção da
     global, regional, nacional e comunitário que sejam          alimentação saudável podem representar na
     sustentáveis, incluindo a sociedade civil, o setor          redução de gastos em saúde com ações curativas de
     privado e a mídia; (4) monitorar dados científicos e        tratamento e recuperação do grupo de doenças
     influências-chave na alimentação e atividade física         crônicas não-transmissíveis. Investimentos em
     e fortalecer os recursos humanos necessários para           saúde focalizados em ações de promoção e
     qualificar e manter a saúde nesse domínio                   prevenção podem ser muito eficazes, eficientes e
     (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2004).                       efetivos.
               Para a concretização da Estratégia Global,                  A Estratégia Global incentiva que os
     a OMS recomenda a elaboração de planos e                    estados-membros da OMS apliquem-na de acordo
     políticas nacionais e o apoio de legislações efetivas,      com suas realidades e de forma integrada às suas
     infra-estrutura administrativa e fundo orçamen-             políticas e aos programas para prevenção de DCNT e
     tário e financeiro adequado e investimentos em              de promoção da saúde; portanto, a proposta é
     vigilância, pesquisa e avaliação.                           sugestiva e não mandatária, flexível o suficiente
               Sugere, ainda, a construção de propostas          para ser adequada às diferentes realidades dos
     locais e a provisão de informação adequada aos              países.
     consumidores, por meio de iniciativas vinculadas à                    É importante enfatizar que a proposta da
     educação, à publicidade, à rotulagem, a legislações         Estratégia Global pressupõe que, para modificar os
     de saúde, e enfatiza a necessidade de garantia de           padrões de alimentação e de atividade física da
     articulação intersetorial e políticas nacionais de          população, são necessárias estratégias sólidas e
     saúde, educação, agricultura e alimentação que              eficazes acompanhadas de um processo de
     incorporem, em seus objetivos, a nutrição, a                permanente monitoramento e avaliação de
     segurança da qualidade dos alimentos e a                    impacto das ações planejadas. Para assegurar
     segurança alimentar sustentável, a promoção da              progressos sustentáveis, é imprescindível conjugar
     alimentação saudável e da atividade física, além de         esforços, recursos e atribuições de todos os atores
     políticas de preços e programas alimentares.                envolvidos no processo, tais como as diferentes
               As recomendações específicas sobre dieta,         áreas e esferas de governo, organismos multi-
     constantes do documento final da estratégia, são:           laterais, sociedades científicas, grupos de defesa do
     - Manter o equilíbrio energético e o peso saudável;         consumidor, movimentos populares, pesquisadores
     - Limitar a ingestão energética procedente de               e o setor privado.
     gorduras; substituir as gorduras saturadas por                        Assim sendo, a PNAN e a Estratégia Global
     insaturadas e eliminar as gorduras trans (hidro-            compartilham do mesmo propósito central:
     genadas);                                                   fomentar a responsabilidade associada entre
     - Aumentar o consumo de frutas, legumes e                   sociedade, setor produtivo e público para efetuar as
     verduras, cereais integrais e leguminosas (feijões);        mudanças necessárias no âmbito socioambiental,
     - Limitar a ingestão de açúcar livre;                       que favoreçam as escolhas saudáveis em níveis indi-
     - Limitar a ingestão de sal (sódio) de toda                 vidual e coletivo.
     procedência e consumir sal iodado.
               Com respeito à atividade física, a Estratégia     O Panorama Epidemiológico no Brasil:
     Global recomenda pelo menos 30 minutos de                   o Peso Multiplicado da Doença
     atividade física, regular ou intensa ou moderada, na                As deficiências nutricionais e as infecções
     maioria dos dias da semana, senão em todos, a fim           ainda são desafios fundamentais da saúde pública
     de prevenir as enfermidades cardiovasculares e
PARTE 1 - REFERENCIAL TEÓRICO                                                                                 19



no Brasil. Ao mesmo tempo, o perfil epidemiológico      prevenção de infecções graves na infância,
adquiriu uma maior complexidade, tendo os               incluindo infecções respiratórias e doenças
padrões de doenças mudado radicalmente. As              diarréicas, continua a ser realçado em inúmeros
doenças crônicas não-transmissíveis vêm assumindo       relatórios (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1986;
importante magnitude, estando associadas às             INSTITUTE OF MEDICINE, 1992; ORGANIZAÇÃO
causas mais comuns de morte registradas                 PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 1997). Contudo, as
atualmente.                                             recomendações dietéticas constantes dos
                                                        documentos elaborados para orientar a prevenção
Deficiências nutricionais                               das deficiências nutricionais ou doenças crônicas
                                                        não-transmissíveis fazem pouca ou nenhuma
         No Brasil, a desnutrição na infância, que se
                                                        menção às interações entre nutrição e infecção.
expressa no baixo peso, no atraso no crescimento e
                                                        Uma vez que também a vulnerabilidade a muitas
desenvolvimento e na maior vulnerabilidade às
                                                        doenças infecciosas é agravada pela deficiência
infecções e, como mostram alguns estudos recentes,
                                                        nutricional durante a vida (SCRIMSHAW et al., 1968;
no maior risco para ocorrência de futuras doenças
                                                        TOMKINS; WATSON, 1999), torna-se importante
crônicas não-transmissíveis, continua sendo
                                                        que as recomendações dietéticas sejam divulgadas e
importante problema de saúde pública,
                                                        entendidas como instrumento que também
principalmente nas regiões Norte e Nordeste e em
bolsões de pobreza em todas as demais regiões do        reforçam a resistência do organismo contra as
País (PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION,                 infecções, importante causa de morte e morbidade
1998c); portanto, as recomendações nutricionais         em várias regiões do mundo.
continuam a ser importantes instrumentos para as                 O número absoluto e relativo de mortes
ações com vistas a combater essa face da                por doenças infecciosas, por exemplo, vem
insegurança alimentar e nutricional no Brasil.          declinando no Brasil. Mas as doenças diarréicas e as
         O País não dispõe de informações recentes,     doenças respiratórias agudas - cuja melhor proteção
de representatividade nacional, sobre carências de      consiste no aleitamento materno exclusivo durante
micronutrientes; contudo, estudos disponíveis de        os primeiros seis meses da vida da criança
abrangência local, realizados por diferentes            (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE,
instituições em várias regiões geográficas,             1997; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001c),
permitem inferir que a carência de vitamina A           seguida por alimentação complementar oportuna e
(hipovitaminose A) e a anemia por carência de ferro     apropriada - permanecem como causas importantes
são as principais deficiências nutricionais que         de morte entre crianças no Brasil, principalmente
acometem a população brasileira. Os distúrbios por      nas regiões Norte e Nordeste e bolsões de pobreza
deficiência de iodo (DDI) parecem ser ainda um          nas demais regiões.
problema em regiões isoladas, provavelmente em
função do consumo de sal destinado à alimentação        Doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT)
animal pelas populações rurais, muito embora                    As DCNT variam quanto à gravidade:
tenha havido sucesso da intervenção por meio da         algumas são debilitantes, outras incapacitantes e
iodação do sal para consumo humano.                     algumas letais. Afetam muitos sistemas do corpo
Recentemente, a carência de ácido fólico tem sido       humano e incluem desde cárie dentária, obesidade,
evidenciada, o que fundamentou a decisão                diabetes, hipertensão arterial, acidentes cerebro-
governamental da fortificação universal das             vasculares, osteoporose e câncer de muitos órgãos,
farinhas de trigo e milho produzidas no País com        bem como doenças coronarianas.
ferro e ácido fólico. Mais detalhes sobre este tema
                                                                Relatórios internacionais recentes mos-
encontram-se disponíveis na Parte 3 deste guia.
                                                        tram que é possível, viável e necessária uma
                                                        abordagem dietética comum direcionada à
Doenças infecciosas                                     prevenção das DCNT mais importantes (NATIONAL
        As interações entre nutrição e infecção         RESEARCH COUNCIL, 1989a; WORLD HEALTH
estão bem documentadas (SCRIMSHAW et al., 1968;         ORGANIZATION, 1990b, 2003a; WORLD CANCER
TOMKINS; WATSON, 1999) e o papel da nutrição na         RESEARCH FUND, 1997; PAN AMERICAN HEALTH
20                                                           GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     ORGANIZATION, 1998b; UNITED NATIONS                       constituem a principal causa da morbidade. A
     ADMINISTRATIVE COORDINATING COMMITTEE,                    vulnerabilidade pode levar a doenças quando as
     2000; UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE                       condições ambientais são favoráveis ao seu
     COORDINATING COMMITTEE; INTERNATIONAL                     aparecimento. As causas subjacentes fundamentais
     FOOD POLICY RESEARCH INSTITUTE, 2000;                     de muitas doenças são: a pobreza, a migração, a
     EURODIET, 2001). O Brasil, ao lado da maioria dos         ausência de saneamento, a falta de informação, a
     países da América Latina, da África e da Ásia, depara     guerra e os conflitos sociais (DUBOS, 1959). Esses
     com as novas epidemias de obesidade, diabetes,            problemas são resultados de processos a longo
     osteoporose, doenças cardíacas e câncer do pulmão,        prazo, mas demandam ações imediatas para
     do cólon e do reto, da mama, da próstata e outros.        garantia de melhoria. Atualmente, há consenso
     Esse peso multiplicado das doenças, sujeito a se          sobre as principais causas das DCNT. Também é
     tornar ainda pior à medida que a população                consenso que muitas dessas doenças têm algumas
     brasileira aumenta e envelhece, não pode ser              causas comuns, dentre as quais, destacam-se o
     abordado apenas com tratamentos médicos e                 hábito de fumar, a inadequação alimentar e a falta
     cirúrgicos, apesar de serem de importância vital
                                                               de atividade física. Os relatórios internacionais
     (SEN, 1999). Mesmo em países de maior renda, o
                                                               sintetizam o estágio do conhecimento atual, que
     custo do tratamento das doenças crônicas não-
                                                               evidencia o efeito protetor da composição da dieta
     transmissíveis constitui um enorme encargo social e
                                                               sobre a maioria das doenças crônicas não
     econômico.
                                                               transmissíveis e na promoção da saúde. Essas
              Os modelos de cuidados de saúde
                                                               evidências científicas fundamentaram também a
     desenvolvidos principalmente pelos (e para os)
                                                               formulação das diretrizes elaboradas neste guia
     países de renda mais elevada referem-se quase que
                                                               (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989a; WORLD
     exclusivamente a intervenções profissionais, tais
     como: triagem em massa, tratamentos médicos e             HEALTH ORGANIZATION, 1990c, 2003b; WORLD
     cirúrgicos disponíveis e cuidados paliativos,             CANCER RESEARCH FUND, 1997; PAN AMERICAN
     associados à recomendação de mudanças                     HEALTH ORGANIZATION, 1998a; UNITED NATIONS
     comportamentais e nos modos de vida adotados              ADMINISTRATIVE COORDINATING COMMITTEE,
     pelos indivíduos (WORLD HEALTH ORGANIZATION,              2000).
     2000d).                                                             As condições ambientais, que são fatores
              No Brasil, quer pelas suas dimensões             de risco para muitas das DCNT, podem ser alteradas
     continentais, quer pela ampla diversidade social,         mais rapidamente por meio de uma abordagem
     econômica e cultural, a abordagem de tal                  prioritária para ação, incisiva e conjugada, tanto
     complexidade epidemiológica deve estar                    pelos gestores públicos, profissionais da saúde,
     fundamentada na promoção da saúde e na                    indústria, organizações sociais civis e mídia quanto
     constituição de ambientes e contextos promotores          pelas famílias e pela própria comunidade.
     de práticas saudáveis que possibilitem e garantam a                 A promoção da saúde e a prevenção das
     todo e qualquer cidadão a possibilidade e as              doenças são e permanecerão sendo centrais para os
     informações necessárias para a adoção de modos de         planos e programas de políticas de saúde pública do
     vida saudáveis.                                           Brasil. Isso significa não somente a oferta de
                                                               cuidados básicos de saúde na comunidade, parte da
     O Aspecto Ambiental Mais Geral                            Estratégia Saúde da Família, mas também o que é
                                                               algumas vezes denominado prevenção primor-
              A maioria das doenças é causada pela
                                                               dial - a proteção e a criação de fatores ambientais
     interação de fatores individuais e ambientais e, por
                                                               que previnam doenças, a transformação daqueles
     essa razão, pode ser evitada. Os indivíduos nascem
     com a carga genética que os predispõe ou os               fatores que aumentam o risco de doenças e a
     protege contra determinadas doenças, mas                  promoção da saúde em todas as esferas de governo
     comumente os fatores genéticos, por si só, não            e de ação das políticas públicas delineadas (WORLD
                                                               HEALTH ORGANIZATION, 1990b).
PARTE 1 - REFERENCIAL TEÓRICO                                                                                                                             21



 Modos de Vida Saudáveis                                                         vida saudáveis, identificam-se duas dimensões:
          Este guia constitui-se importante instru-                              aquela que se propõe a estimular e incentivar
 mento para promoção de modos de vida saudáveis.                                 práticas saudáveis, como o aleitamento materno, a
          A concepção de promoção da saúde, como                                 alimentação saudável e a atividade física regular, e
 uma perspectiva capaz de orientar as diferentes                                 outra que objetiva a inibição de hábitos e práticas
 práticas no campo da saúde, vem sendo                                           prejudiciais à saúde, como o consumo de tabaco e
 sistematizada e disseminada a partir da realização                              de álcool.
 da Primeira Conferência Mundial sobre Promoção
 da Saúde, ocorrida em Ottawa, no Canadá, em                                     Aleitamento materno:
 1986. Segundo a Carta de Ottawa:                                                um cuidado para toda vida
                                                                                          A amamentação é vital para a saúde da
           "Promoção da saúde é o nome dado ao                                   mãe e da criança durante toda a vida. A
 processo de capacitação da comunidade para atuar                                recomendação da Organização Mundial da Saúde e
 na melhoria de sua qualidade de vida e saúde,                                   do Ministério da Saúde é que as crianças sejam
 incluindo uma maior participação no controle desse                              amamentadas exclusivamente com leite materno
 processo. Para atingir um estado completo de bem-                               até os 6 meses de idade e, após essa idade, deverá
 estar físico e mental e social, os indivíduos e grupos                          ser dada alimentação complementar apropriada,
 devem saber identificar aspirações, satisfazer                                  continuando, entretanto, a amamentação até pelo
 necessidades e modificar favoravelmente o meio                                  menos a idade de 2 anos (BRASIL, 2002e; WORLD
 ambiente. A saúde deve ser vista como um recurso                                HEALTH ORGANIZATION, 2001a, 2001b). A exceção
 para a vida e não como objetivo de viver." (BRASIL,                             é para as mães portadoras de HIV/aids e outras
 2002c).                                                                         doenças transmitidas verticalmente, que devem ser
                                                                                 orientadas para as adaptações necessárias para a
           Nessa concepção, a saúde é tida como um                               correta alimentação de seus filhos2.
 conceito abrangente e positivo que se apóia nos                                          O enfoque da alimentação no curso da vida
 recursos sociais, pessoais e não somente na                                     é essencial para compreender como intervenções
 capacidade física ou nas condições biológicas dos                               nutricionais podem contribuir para a prevenção de
 sujeitos. O modo de viver de cada um, portanto, se                              doenças não-transmissíveis. O aleitamento materno
 apóia na cultura, nas crenças e nos valores que são                             é a primeira prática alimentar a ser estimulada para
 compartilhados coletivamente.                                                   promoção da saúde, formação de hábitos
           Evidências científicas mais recentes mos-                             alimentares saudáveis e prevenção de muitas
 tram que a saúde pode estar muito mais relacionada                              doenças.
 ao modo de viver das pessoas do que à idéia,                                             Esse enfoque, desenvolvido nas últimas
 anteriormente hegemônica, da sua determinação                                   duas décadas a partir de estudos de coortes em
 genética e biológica. O sedentarismo e a                                        diversos países, inclusive no Brasil, sugere que
 alimentação não-saudável, o consumo de álcool,                                  exposições nutricionais, ambientais e padrões de
 tabaco e outras drogas, o ritmo da vida cotidiana, a                            crescimento durante a vida intra-uterina e nos
 competitividade, o isolamento do homem nas                                      primeiros anos de vida podem ter efeitos
 cidades são condicionantes diretamente relacio-                                 importantes sobre as condições de saúde do adulto
 nados à produção das chamadas doenças modernas.                                 (BARKER et al., 2002; MONTEIRO et al.,1995a;
 Por isso, a resolução ou redução de riscos associados                           LUCAS et al., 1999). As evidências indicam que tanto
 aos problemas alimentares e nutricionais ampara-se                              o retardo de crescimento intrauterino como
 na promoção de modos de vida saudáveis e na                                     também o ganho de peso excessivo nos primeiros
 identificação de ações e estratégias que apóiem as                              anos de vida estão associados com obesidade,
 pessoas a ser capazes de cuidar de si, de sua família e                         hipertensão, síndrome metabólica, resistência
 de sua comunidade de forma consciente e                                         insulínica e morbimortalidade cardiovascular,
 participativa.                                                                  dentre outros desfechos desfavoráveis (ONG et al.,
           Na abordagem da promoção de modos de                                  2000; STETTLER et al., 2002, 2003; HORTA et al.,

2- Para maiores informações, consulte o Guia Prático de Preparo de Alimentos para Crianças Menores de 12 meses que não Podem Ser Amamentadas (BRASIL,2004d)
22                                                           GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     2003; VANHALA et al., 1999; SINGHAL et al., 2003;         Ministério da Saúde, o tempo mediano de AME,
     FORSEN et al., 1999; ERIKSSON et al., 1999).              considerando-se todas as localidades estudadas
               Assim, a nutrição adequada de gestantes e       (áreas urbana de 25 capitais e do Distrito Federal),
     crianças deve ser entendida e enfatizada como             foi de 23,4 dias (intervalo de variação de 22,1-24,7).
     elemento estratégico de ação com vistas à                 Considerando apenas as crianças de até 4 meses, a
     promoção da saúde também na vida adulta.                  prevalência de AME foi de 35,6 dias (34,9-36,4). No
               Pesquisas em diversos países, inclusive no      período decorrido entre 1996 (Bemfam) e 1999
     Brasil, confirmam que o aleitamento materno               (PAMCDF), houve um aumento importante nessa
     exclusivo é o modo ideal de alimentação do lactente       prática: a prevalência passou de 3,6% em 1996 para
     até os 6 meses de vida. A continuidade do                 35,6% em 1999, representando aumento de quase
     aleitamento materno até os 2 anos ou mais é               dez vezes no período.(BRASIL, 2001b)
     igualmente importante, pois objetiva ampliar a
     disponibilidade de energia e de micronutrientes da        Alimentação saudável
     alimentação, particularmente do ferro (WORLD
                                                               algumas considerações
     HEALTH ORGANIZATION, 2001a, 2000a).
                                                                         Aquilo que se come e bebe não é somente
               Dentre outras vantagens, o aleitamento
                                                               uma questão de escolha individual. A pobreza, a
     materno confere importante proteção contra a
                                                               exclusão social e a qualidade da informação
     morbimortalidade por doenças infecciosas nos
                                                               disponível frustram ou, pelo menos, restringem a
     primeiros anos de vida, sendo reconhecido como
                                                               escolha de uma alimentação mais adequada e
     potencial fator preventivo importante na redução
                                                               saudável. E o que se come e se bebe é ainda, em
     da mortalidade infantil no mundo (WORLD HEALTH
                                                               grande parte, uma questão familiar e social. Em
     ORGANIZATION, 2001a, 2000a). Outra questão
                                                               geral, contrariamente ao que se possa imaginar, as
     importante diz respeito aos efeitos a longo prazo
                                                               escolhas alimentares são determinadas não tanto
     do aleitamento materno. Estudos recentes mostram
                                                               pela preferência e pelos hábitos, mas muito mais
     que crianças amamentadas tendem a apresentar
                                                               pelo sistema de produção e de abastecimento de
     menor prevalência de obesidade na infância, com
                                                               alimentos.
     possíveis repercussões na adolescência (JONES et al.,
                                                                         O termo sistema alimentar refere-se ao
     2003; OWEN et al., 2005).
                                                               conjunto de processos que incluem agricultura,
               O Brasil vem, desde a década de 80,
                                                               pecuária, produção, processamento, distribuição,
     desenvolvendo estratégias para apoiar a promoção
                                                               importação e exportação, publicidade, abas-
     e proteção do aleitamento materno por meio de             tecimento, comercialização, preparação e consumo
     iniciativas de capacitação de recursos humanos,           de alimentos e bebidas (SOBAL et al., 1998). Os
     apoio aos Hospitais Amigos da Criança, produção e         sistemas alimentares são profundamente influen-
     vigilância das normas nacionais de comercialização        ciados pelas condições naturais do clima e solo, pela
     de alimentos infantis, campanhas nos meios de             história, pela cultura e pelas políticas e práticas
     comunicação e apoio à criação de bancos de leite          econômicas e comerciais. Esses são fatores
     humano, dentre outras. Os resultados desses               ambientais fundamentais que afetam a saúde de
     esforços podem ser observados em dados de                 todos. Se esses sistemas produzem alimentos que
     pesquisas nacionais realizadas entre 1975 e 1999. A       são inadequados ou inseguros e que aumentam os
     duração mediana do aleitamento materno vem                riscos de doenças, eles precisam ser mudados. É aqui
     aumentando: em 1975, era de 2,5 meses (Endef); de         que se manifesta, com maior propriedade, o papel
     5,5 meses em 1989 (PNSN); de 7,0 meses em 1996            do Estado no que se refere à proteção da saúde da
     (PNDS); e de 9,9 meses em 1999 (PAMCDF),                  população, que deve ser garantida por meio de suas
     representando um incremento de quase 300%                 funções regulatórias e mediadoras das políticas
     nesse período; no entanto muito ainda precisa ser         públicas setoriais. O Estado, por intermédio de suas
     feito em relação ao aleitamento materno exclusivo         políticas públicas, tem a responsabilidade de
     (AME), muito embora os resultados mostrem                 fomentar mudanças socioambientais, em nível
     expressões relevantes de aumento na sua                   coletivo, para favorecer as escolhas saudáveis em
     prevalência. Na pesquisa realizada em 1999, pelo          nível individual ou familiar. A responsabilidade
PARTE 1 - REFERENCIAL TEÓRICO                                                                                  23




compartilhada entre sociedade, setor produtivo           nutricional considerado adequado. Além disso,
privado e setor público é o caminho para a               deve ser uma oportunidade de aprender e exercitar
construção de modos de vida que tenham como              a reeducação alimentar, atendendo aos quesitos da
objetivo central a promoção da saúde e a prevenção       adequação em quantidade e qualidade, prazer e
das doenças. Assim, é pressuposto da promoção da         saciedade.
alimentação saudável ampliar e fomentar a                          A formação dos hábitos alimentares se
autonomia decisória dos indivíduos e grupos, por         processa de modo gradual, principalmente durante
meio do acesso à informação para a escolha e             a primeira infância; é necessário que as mudanças
adoção de práticas alimentares (e de vida)               de hábitos inadequados sejam alcançadas no tempo
saudáveis.                                               adequado, sob orientação correta. Não se deve
         Uma alternativa de ação para a alimen-          esquecer que, nesse processo, também estão
tação saudável deve favorecer, por exemplo, o            envolvidos valores culturais, sociais, afetivos/
deslocamento do consumo de alimentos pouco               emocionais e comportamentais, que precisam ser
saudáveis para alimentos mais saudáveis,                 cuidadosamente integrados às propostas de
respeitando a identidade cultural-alimentar das          mudanças.
populações ou comunidades. As proibições ou                        De acordo com os princípios de uma
limitações impostas devem ser evitadas, a não ser        alimentação saudável, todos os grupos de alimentos
que façam parte de orientações individualizadas e        devem compor a dieta diária. A alimentação
particularizadas do aconselhamento nutricional de        saudável deve fornecer água, carboidratos,
pessoas portadoras de doenças ou distúrbios              proteínas, lipídios, vitaminas, fibras e minerais, os
nutricionais específicos, devidamente funda-             quais são insubstituíveis e indispensáveis ao bom
mentadas e esclarecidas. Por outro lado,                 funcionamento do organismo. A diversidade
supervalorizar ou mistificar determinados alimen-        dietética que fundamenta o conceito de
tos em função de suas características nutricionais ou    alimentação saudável pressupõe que nenhum
funcionais também não deve constituir a prática da       alimento específico ou grupo deles isoladamente ,
promoção da alimentação saudável. Alimentos              é suficiente para fornecer todos os nutrientes
nutricionalmente ricos devem ser valorizados e           necessários a uma boa nutrição e conseqüente
entrarão naturalmente na dieta adotada, sem que          manutenção da saúde.
se precise mistificar uma ou mais de suas                          A ciência comprova aquilo que ao longo do
características, tendência esta muito explorada pela     tempo a sabedoria popular e alguns estudiosos, há
propaganda e publicidade de alimentos funcionais         séculos, apregoavam: a alimentação saudável é a
e complementos nutricionais.                             base para a saúde. A natureza e a qualidade daquilo
         Atualmente, em função das exigências do         que se come e se bebe é de importância funda-
padrão de estética em moda , muitas vezes                mental para a saúde e para as possibilidades de se
inapropriado para a grande maioria das pessoas,          desfrutar todas as fases da vida de forma produtiva
são muitas as opções de dietas milagrosas que            e ativa, longa e saudável.
prometem a perda de peso, de forma acentuada e                     Salienta-se ainda que a prática de ativi-
rápida. Não faltam exemplos, como a dieta da lua,        dade física é igualmente estratégica para redução
dieta das frutas, dietas da sopa, dieta das proteínas,   de peso. Não é possível dissociar o consumo
dietas dos shakes, dietas com restrição a carboi-        alimentar do gasto energético.
drato, entre tantas outras. São dietas que                         A perda de peso acelerada e instantânea
geralmente restringem o tipo de alimento a ser           impede a perda de gordura corporal. O que se
consumido (tipo e qualidade) e a quantidade diária       perde, nesses casos, é água corporal que pesa na
de ingestão. Em sua grande maioria causam efeitos        balança, mas não se emagrece de fato. Com a
negativos na saúde e não atendem aos requisitos          orientação de um nutricionista, os resultados de
exigidos de uma alimentação saudável para                perda e manutenção do peso saudável, estes os
manutenção da saúde.                                     aspectos mais difíceis e comprometidos pelas
         Mesmo as dietas para perda ou manu-              dietas da moda , podem ser excelentes e
tenção do peso corporal, que exigem redução              alcançados sem comprometimento da saúde e do
calórica, devem atender ao padrão alimentar e            estado nutricional.
24                                                          GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     Atividade física:                                        da saúde dos indivíduos, pode resultar em aumento
     elemento fundamental para manutenção                     de anos vividos com doenças crônicas não-
                                                              transmissíveis e incapacidades, comprometendo a
     da saúde e do peso saudável
                                                              qualidade de vida das pessoas. Estudos epidemio-
               O princípio fundamental para manter um         lógicos prospectivos demonstram que tanto um
     balanço energético é o equilíbrio entre ingestão e       estilo de vida ativo como um condicionamento
     gasto energéticos. Se a ingestão excede o gasto,         aeróbico moderado estão associados de forma
     ocorre um desequilíbrio positivo, com deposição de       independente à diminuição da incidência de DCNT e
     gorduras corporais e conseqüente ganho de peso;          da mortalidade geral e por doenças cardio-
     quando a ingestão é inferior ao gasto, ocorre            vasculares.
     depleção dos depósitos energéticos e tendência à
                                                                       Embora não seja uma recomendação
     perda de peso. Em circunstâncias normais, o balanço
                                                              específica de alimentação e nutrição, este guia
     energético oscila ao longo do dia e de um dia para o
                                                              insere uma diretriz para atividade física (Diretriz
     outro sem, contudo, levar a uma mudança
                                                              Especial 1), entendendo-a como elemento
     duradoura do balanço energético ou do peso corpo-
                                                              potencializador dos resultados esperados pela
     ral. Isso porque mecanismos fisiológicos múltiplos
                                                              adoção de práticas alimentares adequadas e,
     determinam mudanças coordenadas entre ingestão
                                                              portanto, modos de vida saudáveis.
     e gasto energético, regulando o peso corporal em
     torno de um ponto de ajuste que mantém o peso
     estável.                                                 O consumo de bebidas alcoólicas
               A Estratégia Global da OMS recomenda                    O consumo de álcool não é recomendado
     que os indivíduos adotem níveis adequados de             por motivos nutricionais e sociais. O álcool, droga
     atividade física durante toda a vida (ORGANIZAÇÃO        cuja ação é responsável pela depressão do sistema
     MUNDIAL DE SAÚDE, 2004). A atividade física pode         nervoso central, causa alterações comportamentais
     ser definida como qualquer movimento realizado           e psicológicas, além de importantes efeitos
     pelo sistema esquelético com gasto de energia. Esse      metabólicos. O seu consumo em excesso pode
     conceito não se confunde com o de exercício físico,      provocar problemas como violência, suicídio,
     que é uma categoria da atividade física definida         acidentes de trânsito, causar dependência química e
     como um conjunto de movimentos físicos                   outros problemas de saúde como desnutrição,
     repetitivos planejados e estruturados para               doenças hepáticas, gastrointestinais, cardio-
     melhorar o desempenho físico. Ambos são formas           vasculares, respiratórias, neurológicas e do sistema
     importantes de manter o balanço energético;              reprodutivo. Interfere também no desen-
     contudo, o primeiro implica adotar hábitos mais          volvimento fetal e ainda aumenta o risco de
     ativos em pequenas, mas importantes, modificações        desenvolvimento de vários tipos de câncer (INTER-
     no cotidiano, optando-se pela realização de tarefas      NATIONAL AGENCY FOR RESEARCH ON CANCER,
     no âmbito doméstico e no local de trabalho e por         1988; PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION,
     atividades de lazer e sociais mais ativas. O segundo     2005).
     geralmente requer locais próprios para sua                        Os efeitos prejudiciais do álcool são
     realização, sob a supervisão e orientação de um          independentes do tipo de bebida e são provocados
     profissional capacitado em academias de ginástica,       pelo volume de álcool (etanol) consumido.
     clubes e outros locais.                                           Além das conseqüências acima relatadas, o
               A atividade física adotada ao longo do         consumo de álcool, a longo prazo, dependendo do
     curso da vida contribui para a prevenção e para a        número de doses, freqüência e circunstâncias, pode
     reversão de limitações funcionais. Isso é                provocar um quadro de dependência conhecido
     particularmente importante ao considerar-se o            como alcoolismo. Dessa forma, o consumo
     aumento da expectativa de vida e, conseqüen-             inadequado do álcool, aliado a sua aceitação social,
     temente, o crescimento da população idosa no             é um importante problema de saúde pública,
     Brasil.                                                  acarretando altos custos para a sociedade e
               A maior expectativa de vida da população,      envolvendo questões médicas, psicológicas,
     se não acompanhada de investimento na promoção           profissionais e familiares (UNIVERSIDADE FEDERAL
                                                              DE SÃO PAULO, 2005).
PARTE 1 - REFERENCIAL TEÓRICO                                                                                  25



           As bebidas alcoólicas contêm pouco ou        conseqüência da cirrose hepática (JAMES, 1993;
nenhum nutriente. Incluem cervejas e vinhos,            INTERNATIONAL AGENCY FOR RESERACH ON
consideradas fermentadas, cujo volume de álcool         CANCER, 1988; WORLD CANCER RESEARCH FUND,
(etanol) varia de 4% a 7% e de 10% a 13%                1997). Esse risco aumenta se associado a outros
respectivamente, e as bebidas alcoólicas destiladas     hábitos não-saudáveis, como o tabagismo.
como a aguardente (cachaça), vodka e uísque, que                  O álcool pode causar dependência e afeta
contêm 30% a 50% de volume de álcool. Cada              as funções mental, neurológica e emocional. A
grama de etanol contém 7 quilocalorias (kcal)           ingestão regular de bebidas alcoólicas induz ao
(WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997).                     esquecimento e aumenta o risco de demência.
           O álcool exaure o corpo de vitaminas do                Uma grande proporção de acidentes,
complexo B e também de ácido ascórbico (vitamina        ferimentos e mortes em casa, no trabalho e nas
C), afetando dessa forma negativamente o estado         estradas envolve pessoas afetadas pelo álcool. No
nutricional das pessoas. Os indivíduos dependentes      Brasil, o álcool está associado à maioria dos casos de
de álcool, cuja alimentação é geralmente                violência doméstica e ao desemprego crônico
deficiente, podem sofrer de beribéri e escorbuto,       (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1999a). Dados
provocados respectivamente pela deficiência de          de São Paulo indicam que cerca de 50% dos
tiamina (vitamina B1) e ácido ascórbico, dentre         homicídios e também cerca de 50% das mortes
outras doenças carenciais (SIMONE, 1994).               causadas por acidentes de carro estão relacionados
           Por outro lado, consumidores de grandes      com o consumo de álcool (WORLD HEALTH
quantidades de álcool normalmente têm alterações        ORGANIZATION, 1999b). Esses valores são
no fígado e perdem a capacidade de utilizar o álcool    comparáveis com as estimativas da América do
como fornecedor de energia; adicionalmente,             Norte e na Europa, em que 30% dos homicídios,
muitos se alimentam inadequadamente, o que              45% de mortes por incêndios e 40% de acidentes
explica por que essas pessoas, cuja maior parte da      nas estradas são relacionados com o álcool (WORLD
ingestão de energia vem principalmente de bebidas       HEALTH ORGANIZATION, 1995a, 1995b, 2000c).
destiladas, são muitas vezes magras (JAMES, 1993;                 Outro estudo, em São Paulo, identificou as
WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000d).                       brigas de bar ou o álcool como as principais
           O álcool tem sido associado a vários tipos   razões para 12,6% dos homicídios (WORLD HEALTH
de câncer, embora os mecanismos dessa ação não          ORGANIZATION, 1999a). Outro estudo, em
estejam completamente esclarecidos. Em 1988, a          Salvador, Bahia, verificou que um em cada quatro
Agência Internacional para Pesquisa em Câncer           condutores de carros relatou ter sofrido acidente
(Iarc) classificou o álcool como um carcinógeno para    com carro, dos quais 38% admitiram que haviam
câncer de boca, faringe, laringe, esôfago e câncer      bebido antes do acidente (WORLD HEALTH
primário de fígado. O índice de câncer entre os         ORGANIZATION, 1999b).
bebedores é preocupante, quer por ação tópica do                  Os números atuais de morte por homicídio
próprio álcool sobre as mucosas, quer por conta dos     no Brasil são cerca de 40.000 por ano e 30.000 são
aditivos químicos de ação cancerígena que entram        mortes provocadas por acidentes de carro, taxa alta
no processo de fabricação das bebidas (WORLD            em comparação com outros países. Essa é a taxa
CANCER RESEARCH FUND, 1997; UNIVERSIDADE                mais alta do mundo (MURRAY; LOPEZ, 1996).
FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO, 2005).                           O consumo de álcool é medido por doses. A
Adicionalmente, os estudos evidenciam que o risco       quantidade de etanol contido em cada dose varia
do câncer de mama também está associado ao              entre os países: no Brasil, por exemplo, cada dose de
consumo de bebidas alcoólicas (LONGNECKER,              bebida alcoólica representa 14g de etanol,
1994; WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997).                enquanto que na Austrália esse valor é de 10g. Para
           O consumo regular de álcool na quan-         se calcular a quantidade de etanol consumida por
tidade de três a quatro doses por dia ou mais           um indivíduo, é necessário considerar outros
aumenta o risco de hipertensão e acidente vascular      aspectos, além do número de doses. O teor alcoólico
cerebral, de câncer da boca, garganta, esôfago e        das bebidas varia não somente entre os diferentes
cólon e também o risco de câncer no fígado como         tipos de bebidas, de acordo com seu processo de
26                                                               GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     fabricação, como também entre bebidas do mesmo                que incentivam o consumo de álcool; a proibição de
     tipo.                                                         venda de bebidas alcoólicas para menores de 18
              O quadro abaixo exemplifica o cálculo da             anos, prevista no Estatuto da Criança e do
     dose-equivalente de álcool para três tipos de                 Adolescente; a penalização de indivíduos que
     bebidas:                                                      conduzem veículo com níveis de etanol acima do
              Para os que fazem uso de bebidas alcoóli-            limite estipulado em lei, bem como ações educativas
     cas, o consumo deve ser limitado a duas doses                 que esclareçam a população e que protejam os
     diárias para homens e uma dose para mulheres. A               jovens do hábito de consumir bebidas alcoólicas são
     recomendação é diferente para homens e mulheres               medidas importantes de proteção à saúde que vêm
     em razão da estrutura física. As mulheres são                 sendo desenvolvidas pelo Estado brasileiro (BRASIL,
     normalmente menores e mais leves que os homens,               1990).
     o que torna o organismo feminino mais vulnerável
     ao álcool.                                                    O consumo de tabaco
              As pesquisas indicam que entre 3% e 9%                          A maioria das orientações sobre alimentos,
     dos adultos nas grandes cidades brasileiras são               nutrição e saúde aborda, concomitantemente, o
     dependentes do álcool. A dependência se                       uso do tabaco, uma vez que o consumo do cigarro
     caracteriza, para os homens, quando consomem 6                ou outros produtos derivados do tabaco é prejudi-
     ou mais doses e, para as mulheres, quando o                   cial à saúde e mata cerca de cinco milhões de
     consumo é de 4 ou mais doses por dia (WORLD                   pessoas por ano no mundo, 200 mil no Brasil (PAN
     HEALTH ORGANIZATION, 1999a).                                  AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 2002).
              Recente pesquisa realizada pelo Instituto                       Dessa forma, não há mais razão para
     Nacional de Câncer (INCA) indicou que a                       considerar o consumo de cigarros, charutos e outros
     prevalência de consumo médio diário de álcool                 derivados do tabaco uma mera opção com-
     considerado de risco (superior a duas doses por dia           portamental ou um estilo de vida. Hoje, o
     para os homens e superior a 1 dose por dia para as            tabagismo é amplamente reconhecido como uma
     mulheres) entre a população pesquisada (15 anos               doença crônica gerada pela dependência da
     ou mais residente em 15 capitais brasileiras e                nicotina, estando por isso inserido na Classificação
     Distrito Federal) variou de 4,6% a 12,4%. Entre os            Internacional de Doenças (CID-10) da Organização
     homens e as mulheres esta prevalência variou,                 Mundial da Saúde, que expõe continuamente os
     respectivamente, de 5,4% a 21,6% e de 1,7% a 8,1%             usuários dos produtos de tabaco a cerca de 4.700
     (BRASIL, 2004e).                                              substâncias tóxicas, sendo 60 delas cancerígenas
              Por essas evidências, as políticas referentes        para o ser humano (WORLD HEALTH ORGANIZA-
     ao combate ao consumo de álcool devem considerar              TION, 1999c).
     os seus efeitos sociais e também nutricionais                            Essa exposição faz do tabagismo o mais
     (EDWARDS et al., 1994).                                       importante fator de risco isolado de doenças graves
              O controle da propaganda e publicidade               e letais. São atribuíveis ao consumo de tabaco: 45%

           Quadro 1 - CÁLCULO DA DOSE EQUIVALENTE DE ÁLCOOL DE UMA BEBIDA

          BEBIDA                                           ml          TA(%)     VOLUME(ml)     ÁLCOOL        DOSE

          Vinho Tinto                                      150          12             18           14,4         1
          Cerveja (lata)                                   350           5             17,5         14           1
          Destilada                                         40          40             16           12,8         1

          FONTE: INCA.
          Legenda:
          TA = teor alcoólico;
          volume = (volume em ml x TA)/100;
          Álcool = volume x 0,8 ou a densidade do álcool
          Dose = 14 g
PARTE 1 - REFERENCIAL TEÓRICO                                                                             27



das mortes por doença coronariana (infarto do         ações para estimular os fumantes a deixar de fumar;
miocárdio), 85% das mortes por doença pulmonar        um terceiro grupo no qual se inserem medidas que
obstrutiva crônica (enfisema), 25% das mortes por     visam proteger a saúde dos não-fumantes da
acidente vascular cerebral e 30% das mortes por       exposição à fumaça do tabaco em ambientes
câncer. É importante enfatizar que 90% dos casos      fechados; e, por fim, medidas que regulam os
de câncer de pulmão ocorrem em fumantes               produtos de tabaco e sua comercialização (BRASIL,
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2005).                    2003g).
         O tabagismo também é hoje considerado                 Em 15 anos, as ações desenvolvidas
uma doença pediátrica, pois 90% dos fumantes          reduziram a proporção de fumantes na população
começam a fumar antes dos 19 anos e a média de        brasileira, de 32% em 1989, para 19% em 2003. Esta
idade da iniciação é 15 anos. A cada dia cerca de     taxa é similar às encontradas atualmente nos
100.000 jovens começam a fumar no mundo e 80%         Estados Unidos e Canadá, países líderes no controle
deles vivem em países em desenvolvimento              do tabagismo (BRASIL, 2003g).
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2005). A partir
da década de 70, começaram a ser divulgados
resultados de pesquisas que indicam que, além dos
riscos para os fumantes, as crianças expostas à
fumaça de tabaco ambiental apresentavam taxas de
doenças respiratórias mais elevadas do que as que
não se expunham (REPACE; ACTION ON SMOKING
AND HEALTH, 2003).
         Estudos mais recentes mostram que não-
fumantes cronicamente expostos à fumaça do
tabaco têm 30% de risco de desenvolver câncer de
pulmão e 24% de risco de desenvolver doenças
cardiovasculares mais que os não-fumantes não
expostos. Nos EUA, estima-se que a exposição à
fumaça do tabaco é responsável por cerca de 3 mil
mortes anuais devido ao câncer de pulmão entre
não-fumantes (REPACE; ACTION ON SMOKING AND
HEALTH, 2003).
         As mulheres e as crianças são os grupos de
maior risco, em função da exposição passiva no
ambiente doméstico. Além disso, os efeitos do
tabagismo passivo também decorrem da exposição
no ambiente de trabalho, onde a maioria dos
trabalhadores não é protegida da exposição
involuntária da fumaça do tabaco, pela ausência de
regulamentações de segurança e de saúde nos
ambientes de trabalho. Na atualidade a
Organização Mundial da Saúde considera a
exposição à fumaça do tabaco fator de risco
ocupacional (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
2005).
         O Programa Nacional de Controle do
Tabagismo sistematiza quatro grandes grupos de
estratégias: o primeiro voltado para a prevenção da
iniciação do tabagismo, tendo como público-alvo
crianças e adolescentes; o segundo, envolvendo
2
Parte
        Princípios e diretrizes do Guia
        e os atributos da alimentação saudável
DIRETRIZ- 6 - GORDURAS, AÇÚCARES E SAL e os atributos da alimentação saudável
  PARTE 2 Princípios e diretrizes do Guia                                                                        31




PRINCÍPIOS                                              instrumento para ambas as abordagens é único e
         As diretrizes deste guia seguem um             unificado e inclui a promoção da alimentação
conjunto de princípios. Alguns deles são comuns aos     saudável e a adoção de modos de vida saudáveis.
vários relatórios de recomendações dietéticas                    Essa abordagem integrada é também
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998). Outros               apoiada por provas convincentes de que as
são específicos para a realidade brasileira. Assim, a   deficiências nutricionais e as doenças crônicas não-
abordagem baseada na família reflete a cultura          transmissíveis estão biologicamente associadas e de
brasileira e a atual preocupação com a relação entre    que, especificamente, a desnutrição da criança no
doenças, alimentação e modos de vida.                   útero materno aumenta a suscetibilidade a um
         Este guia foi elaborado em uma linguagem       conjunto de DCNT na vida adulta (BARKER, 1998;
simples. Os profissionais de saúde que trabalham na     PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 2000;
comunidade são encorajados a utilizá-lo como base       UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE
para a elaboração de folhetos, cartazes e outros        COORDINATING COMMITTEE; INTERNATIONAL
instrumentos de apoio adaptados às condições            FOOD POLICY RESEARCH INSTITUTE, 2000);
locais.                                                 portanto, a promoção de modos de vida saudáveis -
                                                        em especial conjugando e articulando alimentação
                                                        saudável e atividade física - deve ser enfatizada ao
O princípio da abordagem integrada
                                                        longo do curso da vida: da infância à velhice,
         Considerando o perfil epidemiológico           permitindo uma vida longa, produtiva e saudável.
nacional, caracterizado pelo peso multiplicado das
doenças, as políticas e os programas brasileiros de
alimentação e nutrição não devem se restringir à        O princípio do referencial científico e a
prevenção e ao controle das DCNT, uma vez que as        cultura alimentar
deficiências nutricionais e as doenças infecciosas                As recomendações que buscam a
permanecem como aspectos fundamentais da                prevenção das doenças se baseiam em padrões
saúde pública no Brasil.                                alimentares semelhantes àqueles utilizados
         Assim, as diretrizes deste guia terão          tradicionalmente em muitas regiões do mundo que
também o efeito de apoiar a prevenção da                possuem uma cultura alimentar consolidada e onde
desnutrição e de deficiências nutricionais e o          as pessoas não convivem com situações de
aumento da resistência a muitas doenças infecci-        insegurança alimentar e nutricional.
osas.                                                             Tal como indicado nos relatórios que refe-
         Recomendações de natureza integrada            renciam este guia, essas dietas apresentam as
têm sido formuladas e sancionadas pelos governos        seguintes características:
de diferentes nações, desde o início do século XX       - São ricas em grãos, pães, massas, tubérculos, raízes
(DRUMMOND e WILBRAHAM, 1981). Tornou-se                 e outros alimentos com alto teor de amido,
evidente, nos últimos dez ou 15 anos, que uma           preferencialmente na sua forma integral.
abordagem nutricional abrangente, diretamente           - São ricas e variadas em frutas, legumes e verduras e
orientada para as deficiências nutricionais e DCNT, é   em leguminosas (feijões) e outros alimentos que
possível, necessária e viável (BENGOA et al., 1988,     fornecem proteínas de origem vegetal;
1989; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1990c;                 - Incluem pequenas quantidades de carnes,
WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997; UNITED                laticínios e outros produtos de origem animal;
NATIONS ADMINISTRATIVE COORDINATING                     - Em conseqüência, contêm fibras alimentares,
COMMITTEE, 2000; UNITED NATIONS                         gorduras insaturadas, vitaminas, minerais e outros
ADMINISTRATIVE COORDINATING COMMITTEE;                  componentes bioativos. Contêm também baixos
INTERNATIONAL FOOD POLICY RESEARCH                      teores de gorduras, açúcares e sal.
INSTITUTE, 2000; WORLD HEALTH ORGANIZATION,                       Esse consenso científico em relação aos
2003a). Não é mais apropriado delinear recomen-         princípios de uma alimentação adequada, que ficou
dações destinadas a prevenir um tipo ou grupo           evidente nos anos 80 e foi consolidado nos anos 90,
específico de doença relacionada à alimentação. O       é uma informação vital para os governos e para
32                                                            GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     outros agentes de transformação, porque implica            não devem ser realizadas. Salientando-se o que se
     uma reorientação de prioridades: incentivar o              tem de positivo na alimentação brasileira, pode-se
     delineamento de políticas para criar ou proteger           fomentar mudanças e auxiliar em escolhas mais
     sistemas alimentares baseados em uma grande                saudáveis, tanto para o consumo alimentar quanto
     variedade de alimentos de origem vegetal. Em nível         em relação ao estilo de vida. É importante preservar
     nacional, a recomendação para o consumo de                 a autonomia de escolha das pessoas em relação à
     maiores quantidades de frutas, legumes e verduras          seleção de alimentos, desde que o direito à
     e menor quantidade de gorduras, açúcares e sal tem         informação esteja garantido. O resgate das práticas
     implicações profundas nas políticas e práticas             e dos hábitos regionais brasileiros, apostando em
     agrícolas e industriais. Por exemplo, o consenso de        um movimento oposto à globalização das dietas
     que dietas baseadas em uma grande variedade de             e descaracterização das culturas alimentares
     alimentos de origem vegetal contribuem na                  mundiais, além de promover saúde, pode contribuir
     proteção contra as doenças implica desenvolver ou          para reforçar a soberania alimentar e auxiliar na
     identificar formas efetivas e atuais de apoio a            preservação da identidade alimentar-cultural do
     práticas sustentáveis de produção de alimentos. Isso       Brasil.
     porque, em muitas partes do mundo, incluindo o
     Brasil, a agricultura familiar, a produção e o             O princípio da explicitação de quantidades
     processamento tradicionais de alimentos criaram
                                                                         As diretrizes específicas para profissionais
     culturas alimentares baseadas em grãos, raízes,
                                                                de saúde e membros de famílias, sempre que
     leguminosas, frutas, legumes e verduras.
                                                                possível, são quantificadas e expressas como limites
                                                                de consumo ou por número de porções. Reco-
     O princípio do referencial positivo                        mendações qualitativas, tais como coma mais
               Sempre que possível, as diretrizes deste         frutas, legumes e verduras ou modere o seu
     guia foram desenvolvidas a partir de um referencial        consumo de açúcar , são úteis como orientações
     positivo. Elas enfatizam primeiramente as                  gerais, mas necessitam de recomendações
     vantagens dos alimentos e das refeições saudáveis,         quantificadas adicionais para tornarem-se con-
     estimulando o consumo de determinados alimentos            cretas e práticas, auxiliando os profissionais e as
     mais do que proibindo o de outros. A segunda,              famílias a estipular as metas a serem alcançadas
     terceira e quarta diretrizes, para alimentos que           para atendimento das diretrizes (SOUTHGATE et al.,
     contêm amidos (cereais, tubérculos e raízes), frutas,      1990).
     legumes e verduras e para feijões são exemplos de
     recomendações positivas. Mensagens com uma                 O princípio das variações das quantidades
     abordagem positiva são mais eficazes, porque as
                                                                          As diretrizes são geralmente expressas com
     pessoas são naturalmente mais atraídas por esse
                                                                uma margem de variação. Assim, cerca de 10% e
     tipo de contexto.
                                                                 três ou mais porções indicam variações.
               Algumas orientações com caráter restritivo
                                                                          O princípio da quantificação implica que as
     - por exemplo para que se consumam menos
                                                                diretrizes são expressas como porcentagens ou
     gorduras, gorduras saturadas e açúcar, menos sódio
                                                                proporções do consumo total de energia. O
     (sal) - são, contudo, inevitáveis frente às evidências
                                                                consumo de energia necessário para manutenção
     científicas que relacionam o consumo excessivo
                                                                da saúde e da boa nutrição varia com o sexo, a
     desses grupos de alimentos ao risco aumentado de
                                                                idade, o nível de atividade física, o estado
     desenvolvimento de DCNT, repercutindo nas
                                                                fisiológico, a presença ou ausência de doenças e
     estatísticas nacionais e internacionais de morbidade
                                                                mesmo do estado nutricional atual da pessoa;
     e mortalidade.
                                                                contudo, neste guia as informações são para a
               A intenção da abordagem deste guia é que         população como um todo. Assim, para essas
     ele seja mais propositivo e menos prescritivo, ou          quantificações, este guia adotou como parâmetro
     seja, que enfatize os atributos, as vantagens e as         um brasileiro saudável com uma ingestão média
     ações factíveis para adoção de uma alimentação             diária de 2.000 quilocalorias (kcal). As porções reco-
     saudável, ao invés de focalizar e explorar ações que       mendadas para grupos e pessoas com exigências
DIRETRIZ- 6 - GORDURAS, AÇÚCARES E SAL
  PARTE 2 PRINCÍPIOS E DIRETRIZES                                                                              33



expressivamente diferentes de 2.000kcal por dia        alimentos, tais como gorduras saturadas, fibras e
devem ser calculadas individualmente por um            ácido fólico, encerram mais complexidade e
nutricionista.                                         dificultam a compreensão, embora sejam
                                                       relevantes para profissionais de saúde, sendo úteis e
O princípio do alimento como referência                essenciais para o planejamento de serviços de
                                                       alimentação e de nutrição para a coletividade. São
         O ato de alimentar-se envolve diferentes
                                                       também úteis para orientação dos consumidores
aspectos que manifestam valores culturais, sociais,
                                                       para entendimento adequado dos rótulos dos
afetivos e sensoriais. Assim, as pessoas, dife-
                                                       alimentos.
rentemente dos demais seres vivos, ao alimenta-
rem-se não buscam apenas suprir as suas                         Destaca-se ainda que as diretrizes com base
necessidades orgânicas de nutrientes. Não se           nos alimentos encerram um sentido especial nos
 alimentam     de nutrientes, mas de alimentos         documentos nacionais, porque especificam o tipo
palpáveis, com cheiro, cor, textura e sabor;           dos alimentos e as refeições consumidos no País,
portanto, as diretrizes deste guia são baseadas em     enfatizando as práticas alimentares em nosso
alimentos e, consideradas no seu conjunto, abarcam     contexto cultural.
um plano alimentar completo. Isso significa que,
sempre que possível, são expressas em termos de        O princípio da sustentabilidade ambiental
alimentos e bebidas, mais do que em termos de                   O enfoque assumido neste guia, com o
componentes nutricionais, como ocorria com a           claro incentivo ao consumo de alimentos nas formas
maioria dos documentos com orientações dietéticas      mais naturais e produzidos localmente e à
produzidos até os anos 90.                             valorização dos alimentos regionais e da produção
         As diretrizes envolvem todos os grupos de     familiar e da cultura alimentar, além de estimular
alimentos que são importantes veículos de              mudanças de hábitos alimentares para a redução do
nutrientes essenciais e, portanto, visam à adoção de   risco de ocorrência de doenças, valoriza a produção
uma alimentação completa, adequada e saudável.         e o processamento de alimentos com o uso de
Algumas recomendam o aumento do consumo de             recursos e tecnologias ambientalmente susten-
determinados grupos de alimentos; outras               táveis. Atualmente se reconhece como prioritária a
objetivam assegurar a manutenção dos níveis de         produção de alimentos que fomente e garanta a
consumo pela nossa população porque estão              Segurança Alimentar e Nutricional nacional, mas se
adequadas às orientações para uma dieta saudável;      reconhece como igualmente prioritário o uso da
já outras orientam a redução ou a moderação no         terra e da água, de forma ecologicamente
consumo de alguns grupos de alimentos também           sustentável e com impactos sociais e ambientais
baseadas em evidências científicas que revelam uma     positivos.
associação destes grupos com maior risco de
doenças (açúcares, sal e gorduras, por exemplo).
                                                       O princípio da originalidade - um guia
         Os argumentos favoráveis às reco-
                                                       brasileiro
mendações dietéticas baseadas em alimentos estão
muito bem documentados na literatura científica. O              Este guia contém as primeiras diretrizes
aumento no leque de evidências científicas sobre a     alimentares oficiais para o Brasil e para os
relação de dietas com as doenças é expresso em         brasileiros. É um guia para a população brasileira,
termos de alimentos, mais do que em componentes        com base em alimentos do Brasil e fundamentado
dietéticos específicos (WORLD CANCER RESEARCH          em sua cultura alimentar. A ciência em que se
FUND, 1997; WORLD HEALTH ORGANIZATION,                 baseiam as diretrizes é, com certeza, universal e os
1998).                                                 objetivos e as orientações utilizam, como pilares, as
                                                       recomendações e os textos de apoio recentemente
         As diretrizes para a alimentação saudável,
                                                       publicados em documentos internacionais
baseadas em alimentos, quando devidamente
                                                       (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989a; WORLD
especificadas, são facilmente compreendidas por
                                                       HEALTH ORGANIZATION, 1990c; WORLD CANCER
todas as pessoas. Ao contrário, as recomendações
                                                       RESEARCH FUND, 1997; UNITED NATIONS
baseadas nos componentes nutricionais dos
                                                       ADMINISTRATIVE COORDINATING COMMITTEE,
34                                                        GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     2000; UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE                    alimentação.
     COORDINATING COMMITTEE, INTERNATIONAL                            Sugestões para os governos e para o setor
     FOOD POLICY RESEARCH INSTITUTE, 2000; WORLD            produtivo de alimentos (indústria e comércio): os
     HEALTH ORGANIZATION, 2003a). Este guia                 profissionais e gestores políticos que atuam em
     assemelha-se, no desenvolvimento de seus prin-         todas as esferas - federal, estadual e municipal -
     cípios, com outros recentemente produzidos em          necessitam ter acesso aos consensos científicos e
     muitos países da América Latina (PAN AMERICAN          técnicos sobre alimentação e saúde, de maneira
     HEALTH ORGANIZATION, 1998c) e em outras partes         que não sejam criadas situações de competição ou
     do mundo.                                              anulação entre programas e ações, mas que
              Muitas vezes supõe-se que a alimentação       auxiliem na formulação e implementação de
     saudável é muito diferente daquela que as pessoas      políticas saudáveis, sustentáveis e em consonância
     consomem habitualmente. É verdade que, nas             de objetivos e metas, em diferentes áreas. O mesmo
     últimas duas décadas, os brasileiros, tanto os que     se aplica a todos os ramos da indústria de alimentos,
     vivem nas cidades como aqueles de áreas rurais,        incluindo agricultores, produtores, distribuidores,
     mudaram o seu padrão alimentar, reduzindo o            fornecedores de alimentação, importadores e
     consumo de frutas, legumes e verduras e elevando o     exportadores. É do interesse de todos que o sistema
     de alimentos e bebidas com alto teor de gordura e      alimentar brasileiro promova a saúde. Na verdade,
     açúcares e/ou sal (MONTEIRO et al., 1995a, 2000a,      quanto mais valor se dá à alimentação, mais
     2000) e se distanciaram dos alimentos e refeições      prósperos todos os envolvidos tendem a ser. Por
     tradicionais brasileiros, reconhecidos como            exemplo, é provável que a recomendação dietética
     saudáveis e saborosos, devendo ser valorizados e       mais desafiadora deste guia seja a de que todas as
     difundidos. Um exemplo é o abandono do consumo         pessoas devam consumir mais frutas, legumes e
     de uma das preparações mais típicas e comuns a         verduras. Essa recomendação para os governos e
     todas as regiões brasileiras: arroz com feijão,        para o setor industrial é concretizada por meio da
     combinação nutricionalmente rica e adequada.           orientação para promover a produção, a
                                                            transformação e o consumo de todos os tipos de
     O princípio da abordagem multifocal                    frutas, legumes e verduras, principalmente aqueles
              Cada recomendação neste guia é expressa       disponíveis local e regionalmente. A iniciativa de
     de quatro maneiras. A primeira é uma recomen-          promover o resgate e valorizar o consumo de
     dação direcionada para todas as pessoas e é            alimentos regionais (BRASIL, 2002b) contribui para
     concebida para ser utilizada em diferentes             a concretização dessa recomendação, assim como a
     contextos informativos e educacionais. Posterior-      maior disponibilidade desses produtos no comércio
     mente, há recomendações para aqueles setores da        a preços acessíveis para toda a população.
     sociedade que estão intrinsecamente mais                         Para os profissionais de saúde, os objetivos
     preocupados com o tema: são as sugestões para os       das orientações destinam-se a capacitá-los para
     governos ou para as indústrias, objetivos para os      orientar adequadamente grupos populacionais
     profissionais de saúde e recomendações para            saudáveis a partir dos 2 anos de idade. Elas foram
     membros da família.                                    especificamente elaboradas para profissionais - em
              Existem vantagens nessa abordagem             âmbito nacional, regional, estadual, institucional,
     multifocal. Os governos e a indústria têm              municipal e da comunidade - cujas preocupações
     responsabilidades próprias, os profissionais de        incluem promover a saúde e prevenir doenças. Isso
     saúde precisam de objetivos com uma abordagem          significa que as orientações são destinadas a manter
     técnica e os membros das famílias precisam de          as pessoas saudáveis e, portanto, não estão
     diretrizes práticas, o que é complementado na          incluídas orientações para grupos de risco e
     seção Colocando as diretrizes em prática (p.106) .     pessoas já doentes, em situação clínica relacionada
     Desse tipo de abordagem poderão também fazer           a alguma alteração específica na alimentação. Essas
     uso outros profissionais, como os de educação e        pessoas devem ser atendidas, orientadas e
     comunicação, por exemplo, que necessitem fazer         acompanhadas individualmente por nutricionista.
     uso de orientação mais prática sobre os temas de                 As orientações para os membros da família
DIRETRIZ- 6 - GORDURAS, AÇÚCARES E SAL
  PARTE 2 PRINCÍPIOS E DIRETRIZES                                                                               35



têm como objetivo revalorizar a refeição em grupo.      ter como enfoque prioritário o resgate de hábitos
Compartilhar as refeições em família é, por si só, um   alimentares regionais inerentes ao consumo de
hábito saudável, tanto sociocultural como               alimentos in natura, produzidos em nível local,
nutricionalmente.                                       culturalmente referenciados e de elevado valor
         Nas sociedades modernas, as pessoas cada       nutritivo, como frutas, legumes e verduras, grãos
vez mais se isolam dos outros membros da família,       integrais, leguminosas, sementes e castanhas, que
mesmo quando estão sob o mesmo teto. É crescente        devem ser consumidos a partir dos 6 meses de vida
o número de refeições feitas pelo indivíduo de          até a fase adulta e a velhice, considerando sua
maneira solitária, fora de casa e mesmo em casa.        segurança sanitária. Não se pode esquecer de
Não é esta a proposta deste guia. Ao contrário,         sempre considerar os aspectos comportamentais e
valoriza-se o ato de alimentar-se no ambiente famil-    afetivos relacionados às práticas alimentares.
iar, permitindo a integração das pessoas por meio                 Uma alimentação saudável deve contem-
do compartilhar o momento da alimentação, como          plar alguns atributos básicos. São eles:
importante para o fortalecimento das relações           - Acessibilidade física e financeira: ao contrário do
afetivas e de integração familiar.                      que tem sido construído socialmente, por meio de
         As orientações para os membros da família      informação equivocada, veiculada principalmente
e as sintetizadas no capítulo Colocando as              pela mídia, uma alimentação saudável não é cara,
diretrizes em prática (p.106) , quando especificadas    pois se baseia em alimentos in natura e produzidos
em quantidades individuais, têm apenas o objetivo       regionalmente. O apoio e o fomento aos
de facilitar o cálculo para transformação das           agricultores familiares e às cooperativas para a
quantidades para o número de membros familiares.        produção e a comercialização de produtos
Tais como os objetivos para os profissionais de         saudáveis, como grãos, leguminosas, frutas,
saúde, as orientações para os membros da família        legumes e verduras, são importantes alternativas,
são para as pessoas saudáveis com idade igual ou        não somente para a melhoria da qualidade da
superior a 2 anos. Orientações especiais para           alimentação, mas também para estimular a geração
membros da família considerados de risco ou em          de renda em pequenas comunidades, além de
situação clínica relacionada a alguma doença que        sinalizar para a integração com as políticas públicas
necessite de uma alteração específica na                de produção de alimentos;
alimentação deverão ser elaboradas por                  - Sabor: o argumento da ausência de sabor da
nutricionistas nos serviços de saúde.                   alimentação saudável é outro tabu a ser desmis-
                                                        tificado, pois uma alimentação saudável é e precisa
Os Atributos da Alimentação Saudável                    ser pragmaticamente saborosa. O resgate do sabor
         O ato da alimentação deve estar inserido       como um atributo fundamental é um investimento
no cotidiano das pessoas, como um evento                necessário à promoção da alimentação saudável. As
agradável e de socialização. Por se tratar de um guia   práticas de marketing muitas vezes vinculam a
que deve atender a toda a população, com suas           alimentação saudável ao consumo de alimentos
diversas e variadas características demográficas,       industrializados especiais e não privilegiam os
sociais, econômicas, culturais, não é possível          alimentos naturais e menos refinados, como, por
estabelecer-se aqui prescrições dietéticas impor-       exemplo, tubérculos, frutas, legumes e verduras e
tantes e fundamentais sem dúvida para aten-             grãos variados - alimentos saudáveis, saborosos,
dimento individual, sob condições específicas feitas    culturalmente valiosos, nutritivos, típicos e de
por nutricionistas. Dessa forma, não constitui          produção factível em várias regiões brasileiras,
objetivo deste guia apresentar prescrições              inclusive e principalmente por pequenos agricul-
dietéticas , mas diretrizes que podem e devem ser       tores familiares;
seguidas por todos, possibilitando que as pessoas       - Variedade: o consumo de vários tipos de alimentos
dêem preferência aos alimentos mais nutritivos em       fornece os diferentes nutrientes, evitando a
quantidades suficientes de maneira a promover           monotonia alimentar, que limita a disponibilidade
saúde e prevenir doenças.                               de nutrientes necessários para atender às demandas
         As práticas alimentares saudáveis devem        fisiológicas e garantir uma alimentação adequada;
36                                                           GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     - Cor: a alimentação saudável contempla uma ampla         ponsabilidade sobre a alimentação da família. A
     variedade de grupos de alimentos com múltiplas            atribuição de atividades à mulher no ambiente do
     colorações. Sabe-se que quanto mais colorida é a          trabalho remunerado e no espaço doméstico se
     alimentação, mais rica é em termos de vitaminas e         coloca como um novo paradigma da sociedade
     minerais. Essa variedade de coloração torna a             moderna, que não tem criado mecanismos de
     refeição atrativa, o que agrada aos sentidos e            suporte social para a desconcentração dessa
     estimula o consumo de alimentos saudáveis, como           atribuição como exclusivamente feminina;
     frutas, legumes e verduras, grãos e tubérculos em         - A modificação dos espaços físicos para o com-
     geral;                                                    partilhamento das refeições e nas práticas
     - Harmonia: esta característica da alimentação se         cotidianas para a preparação dos alimentos;
     refere especificamente à garantia do equilíbrio em        - As mudanças ocorridas nas relações familiares e
     quantidade e em qualidade dos alimentos                   pessoais com a diminuição da freqüência de
     consumidos para o alcance de uma nutrição                 compartilhamento das refeições em família (ou
     adequada, considerando que tais fatores variam de         grupos de convívio);
     acordo com a fase do curso da vida e outros fatores,      - A perda da identidade cultural no ato das
     como estado nutricional, estado de saúde, idade,          preparações e receitas com a chegada do evento
     sexo, grau de atividade física, estado fisiológico.       social da urbanização/globalização;
     Vale ainda ressaltar que, entre os vários nutrientes,     - O crescente consumo de alimentos indus-
     ocorrem interações que podem ser benéficas, mas           trializados, pré-preparados ou prontos que respon-
     também prejudiciais ao estado nutricional, o que          dem a uma demanda de praticidade;
     implica a necessidade de harmonia e equilíbrio             - A desagregação de valores sociais e coletivos que
     entre os alimentos consumidos;                            vêm culturalmente sendo perdidos em função das
     - Segurança sanitária: os alimentos devem ser             modificações acima referidas.
     seguros para o consumo, ou seja, não devem                         O principal desafio na formulação e na
     apresentar contaminantes de natureza biológica,           implementação de estratégias para a promoção da
     física ou química ou outros perigos que                   alimentação saudável passa, portanto, necessa-
     comprometam a saúde do indivíduo ou da                    riamente, por torná-la viável em um contexto no
     população. Assim, com o objetivo de redução dos           qual os papéis, os valores e o sentido de tempo estão
     riscos à saúde, medidas preventivas e de controle,        em constante mudança.
     incluindo as boas práticas de higiene, devem ser
                                                                        Assim, a promoção de uma alimentação
     adotadas em toda a cadeia de alimentos, desde a
                                                               saudável, de modo geral, deve prever um escopo
     sua origem até o preparo para o consumo em
                                                               amplo de ações que contemplem a formação de
     domicílio, em restaurante e em outros locais que
                                                               hábitos alimentares saudáveis desde a primeira
     comercializam alimentos. A vigilância sanitária
                                                               infância, favorecendo o deslocamento do consumo
     deve executar ações de controle e fiscalização para
                                                               de alimentos pouco saudáveis para alimentos mais
     verificar a adoção dessas medidas por parte das
                                                               saudáveis e resgatando hábitos e fomentando
     indústrias de alimentos, dos serviços de alimentação
                                                               padrões alimentares mais saudáveis entre grupos
     e das unidades de comercialização de alimentos.
                                                               populacionais com o hábito alimentar já esta-
     Além disso, a orientação da população sobre
                                                               belecido, respeitando a identidade cultural e
     práticas adequadas de manipulação dos alimentos
                                                               alimentar de indivíduos e de populações.
     deve ser uma das ações contempladas nas políticas
     públicas de promoção da alimentação saudável.
                A estratégia para promoção da alimen-          As Diretrizes:
     tação saudável também deve levar em consideração          algumas considerações
     modificações históricas importantes que contri-                    A parte 2 do Guia Alimentar para a Popu-
     buíram para a transição nutricional, tais como:           lação Brasileira está organizada em três tópicos
     - O papel do gênero nesse processo, quando a              principais:
     mulher assume uma vida profissional extra-                - O primeiro tópico desenvolve o conjunto de
     domicílio, continua ainda acumulando a res-               diretrizes visando à alimentação saudável e à
DIRETRIZ- 6 - GORDURAS, AÇÚCARES E SAL
  PARTE 2 PRINCÍPIOS E DIRETRIZES                                                                               37




promoção da saúde;                                      regular e em grandes quantidades.
- O segundo tópico apresenta sugestões práticas,                  A Diretriz 7 tem como tema a água, cujo
sistematizadas no capítulo Colocando as diretrizes      consumo é vital para a saúde.
em prática (p.106), que, como o próprio título                    A Diretriz Especial 1 trata da atividade
sugere, são informações que dão aos membros da          física regular ao longo da vida, que, aliada à
família idéias e sugestões sobre como cumprir as        alimentação saudável, resulta em um impacto
diretrizes e como planejar refeições saborosas,         positivo e protetor à saúde. Embora este seja um
acessíveis e saudáveis;                                 guia alimentar, as evidências científicas mostram,
- O terceiro tópico aborda o tema da rotulagem de       inequivocamente, que a alimentação saudável e a
alimentos, valorizando as informações contidas nos      prática de atividade física são importantes e
rótulos dos alimentos como ferramenta essencial         indissociáveis para a promoção de modos de vida
para a seleção de alimentos mais saudáveis,             saudáveis e para a qualidade de vida, justificando-se
esclarecendo o seu conteúdo e orientando a sua          esta recomendação no guia alimentar.
adequada utilização para esse fim.                                A Diretriz Especial 2 diz respeito aos
          Todas as diretrizes do guia alimentar estão   cuidados para manter a qualidade sanitária dos
dispostas da mesma maneira: primeiro, as                alimentos desde o momento da compra à
orientações para todas as pessoas, expressas            conservação, à preparação e ao consumo dos
sumariamente numa linguagem clara que se dirige         alimentos.
indistintamente às pessoas saudáveis maiores de 2                 Embora não elaborado em forma de
anos de idade; depois, seguem-se os objetivos para      diretriz, reconhece-se que o conhecimento sobre
os profissionais de saúde, as sugestões específicas     métodos e técnicas de processamento de alimentos
para os governos e para o setor produtivo de            deve merecer a atenção, pois tem impacto na
alimentos, incluindo a indústria e o comércio, e as     seleção de alimentos mais (ou menos) saudáveis que
orientações para os membros da família. Cada            comporão as refeições diárias. A maior parte dos
diretriz apresentada está baseada em evidências         alimentos que compõem a alimentação diária é,
científicas que estão sintetizadas na parte 3 deste     obviamente, processada de alguma forma. Os
documento.                                              métodos de produção, processamento, preser-
          A Diretriz 1 refere-se aos alimentos          vação, incluindo a adição de sal e açúcar,
saudáveis e às refeições no seu conjunto,               preparação e cozimento dos alimentos afetam a sua
abordando inclusive alguns conceitos que serão          qualidade e sua composição nutricional. Essa
adotados no decorrer da apresentação das demais         abordagem está presente no Anexo A.
diretrizes.                                                       Espera-se que as diretrizes estejam ela-
          As Diretrizes 2, 3 e 4 especificam os         boradas de forma clara e que sejam úteis ao
componentes da alimentação que correspondem ao          trabalho dos profissionais de saúde, que sejam
grupo dos grãos (como arroz, milho e trigo) e outros    incorporadas por gestores de políticas públicas em
alimentos que são ricos em amido ou carboidratos        alimentação e nutrição e pelas indústrias de
complexos (pães, massas, mandioca e outros              alimentos e que efetivamente contribuam para
tubérculos e raízes); grupo das frutas, legumes e       melhorar a qualidade de vida e para a promoção da
verduras; e grupo das leguminosas (feijões) e outros    saúde das famílias brasileiras.
vegetais ricos em proteínas. Esses três grupos de
alimentos são os componentes principais de uma
alimentação saudável.
          A Diretriz 5 trata dos alimentos de origem
animal (leite e derivados, carnes e ovos), que são
nutritivos e integram, em quantidades moderadas,
dietas saudáveis.
          A Diretriz 6 trata de alimentos e bebidas
com altos teores de gorduras, açúcares e sal,
prejudiciais à saúde quando consumidos de maneira
1
Diretriz
           Os alimentos saudáveis
           e as refeições
DIRETRIZ 6 - GORDURAS, AÇÚCARES E e as refeições
           1 Os alimentos saudáveis SAL                                                                             41




Todos                                                   da população.
- Refeições são saudáveis quando prepa-radas com        - Implantar, fiscalizar e exigir a implantação das
alimentos variados, com tipos e quantidades             Boas Práticas de Manipulação de Alimentos em
adequadas às fases do curso da vida, compondo refe-     locais de processamento, manipulação, venda e
ições coloridas e saborosas que incluem alimentos       consumo de alimentos.
tanto de origem vegetal como animal.                    - Assegurar o cumprimento da legislação que
- Para garantir a saúde, faça pelo menos três refei-    promove o aleitamento materno enquanto direito
ções por dia (café da manhã, almoço e jantar), inter-   da criança à alimentação adequada.
caladas por pequenos lanches.                           - Garantir que programas públicos de alimentação
- A alimentação saudável tem início com a prática       e nutrição incorporem os princípios da alimentação
do aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de      saudável.
idade e complementar até pelo menos os 2 anos, e        - Regulamentar estratégias de marketing de alimen-
se prolonga pela vida com adoção de bons hábitos        tos, em todas as formas de mídia, principalmente
alimentares.                                            para aquelas direcionadas para crianças e adoles-
                                                        centes.
Profissionais de saúde
                                                        Família
                                                        - Consuma diariamente alimentos como cereais inte-
Orientar:
                                                        grais, feijões, frutas, legumes e verduras, leite e deri-
- Sobre a necessidade de se realizar pelo menos três
                                                        vados e carnes magras, aves ou peixes.
refeições diárias, intercaladas com lanches saudá-
                                                        - Diminua o consumo de frituras e alimentos que
veis;
                                                        contenham elevada quantidade de açúcares,
- Quanto à importância da consulta e interpretação
                                                        gorduras e sal.
da informação nutricional e da lista de ingredientes
                                                        - Valorize a sua cultura alimentar e mantenha seus
presentes nos rótulos dos alimentos, para a seleção
                                                        bons hábitos alimentares.
de alimentos mais saudáveis;
                                                        - Saboreie refeições variadas, ricas em alimentos
- As mulheres durante a gestação sobre a impor-
                                                        regionais saudáveis e disponíveis na sua comuni-
tância da prática do aleitamento materno exclusivo
                                                        dade.
até os 6 meses de idade da criança e sobre os passos
para a alimentação complementar após esse               - Escolha os alimentos mais saudáveis, lendo as
período.                                                informações nutricionais dos rótulos dos alimentos.
                                                        - Alimente a criança somente com leite materno até
                                                        a idade de 6 meses e depois complemente com
Saber que:                                              outros alimentos, mantendo o leite materno até os
- Os cereais, de preferência integrais, as legumi-      2 anos ou mais.
nosas e as frutas, legumes e verduras, no seu           - Procure nos serviços de saúde orientações a
conjunto, devem fornecer mais da metade (55% a          respeito da maneira correta de introduzir alimentos
75%) do total de energia diária da alimentação.         complementares e refeições quando a criança
                                                        completar 6 meses de vida.
Governo e setor produtivo de alimentos
- Aumentar e incentivar a produção, o processa-         Considerações e informações adicionais
mento, o abastecimento e a comercialização de
                                                                O que se denomina alimentação saudá-
todos os tipos de alimentos que compõem uma
                                                        vel pode adquirir muitos significados dependendo
alimentação saudável.
                                                        do país ou região de um mesmo país, cultura e
-   Implementar programas de orientação e               época. Porém, em geral, a alimentação saudável é
educação nutricional, de forma continuada, respei-      sempre constituída por três tipos de alimentos bási-
tando a identidade cultural das populações.             cos:
- Garantir a qualidade dos alimentos - in natura e              1) alimentos com alta concentração de
processados - colocados no mercado para consumo         carboidratos, como os grãos (incluindo arroz, milho
42                                                            GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     e trigo), pães, massas, tubérculos (como as batatas e      NATIONS ADMINISTRATIVE COORDINATING
     o inhame) e raízes (como a mandioca);                      COMMITTEE, 2000; SCRIMSHAW, 2000). Uma
               2) As frutas, legumes e verduras;                alimentação saudável contribui também para a
               3) Os alimentos vegetais ricos em proteínas      proteção contra as doenças crônicas não-
     (particularmente os cereais integrais, as legumi-          transmissíveis (DCNT) e potencialmente fatais,
     nosas e também as sementes e castanhas)                    como diabetes, hipertensão, acidente vascular cere-
     (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989a; WORLD                   bral, doenças cardíacas e alguns tipos de câncer,
     HEALTH ORGANIZATION, 1990b, 2003a; WORLD                   que, em conjunto, estão entre as principais causas
     CANCER RESEARCH FUND, 1997; PAN AMERICAN                   de incapacidade e morte no Brasil e em vários outros
     HEALTH ORGANIZATION, 1998b; UNITED NATIONS                 países. Essa proteção é devida a três fatores interre-
     ADMINISTRATIVE COORDINATING COMMITTEE,                     lacionados:
     2000).                                                              1) o consumo de uma diversidade de nutri-
               As leguminosas incluem o feijão-verde,           entes que protegem e mantêm o funcionamento
     feijão-de-corda, jalo, preto, largo, flageolé, cario-      adequado do organismo;
     quinha, azuqui, rim, mungo, pinto, fradinho,                        2) a reduzida quantidade de gorduras satu-
     macassar, guandu e branco e também as lentilhas,           radas, gorduras totais, açúcares, sal e álcool, compo-
     ervilhas secas, fava, soja e grão-de-bico. Neste guia,     nentes relacionados ao aumento de risco de DCNT;
     a palavra feijões será usada para se referir a todos                3) a baixa concentração energética que
     esses tipos de leguminosas.                                previne o excesso de peso e a obesidade, que, por
               Os alimentos de origem animal também             sua vez, aumentam o risco de outras doenças
     são parte de uma alimentação saudável, que inclui          crônicas não-transmissíveis (NATIONAL RESEARCH
     pequenas quantidades de carne de boi ou porco,             COUNCIL, 1989a; WORLD HEALTH ORGANIZATION,
     carneiro, coelho, jacaré e outras, aves, peixe, ovos e     1990b, 2000a, 2003a; WORLD CANCER RESEARCH
     também leite, queijo e iogurte, preferencialmente          FUND, 1997; UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE
     desnatados ou com baixos teores de gordura.                COORDINATING COMMITTEE, 2000).
               Os sistemas alimentares, compostos pela                   Em crianças, a ingestão inadequada de
     rede de produção, abastecimento e comer-                   energia por meio dos alimentos pode gerar uma
     cialização, que disponibilizam alimentos variados          deficiência nutricional séria que compromete a
     de origem vegetal, somados aos tipos mais saudá-           saúde, o crescimento e o desenvolvimento adequa-
     veis de alimentos de origem animal, e que têm como         dos, a resistência contra as doenças, podendo levá-
     base a cultura alimentar nacional e regional, são de       las à morte.
     importância fundamental para a saúde pública,                       Atualmente, os cientistas, profissionais de
     para a segurança alimentar e nutricional e para a          saúde pública e formuladores de políticas em
     soberania de um país.                                      alimentação e nutrição estimulam o desenvolvi-
               As diretrizes contidas neste guia contri-        mento de recomendações para uma alimentação
     buirão para a adoção de uma alimentação saudável,          saudável baseada em alimentos e não em nutrientes
     em todas as fases do curso da vida, exceto para            (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998), mesmo
     crianças menores de 2 anos de idade que têm orien-         porque os alimentos são compostos por nutrientes;
                                                                mas, para definir e recomendar uma alimentação
     tações específicas consolidadas no "Guia Alimentar
                                                                saudável, os parâmetros nutricionais são conside-
     para Crianças Menores de Dois Anos" e nos Dez Passos
                                                                rados e, com bases neles, são estabelecidas as orien-
     para a Alimentação Saudável da Criança Menor de Dois
                                                                tações para consumo dos alimentos organizados em
     Anos" (BRASIL, 2002d, 2002e).
                                                                grupos, de acordo com seus nutrientes principais.
               A alimentação, quando adequada e vari-
                                                                         Sempre que necessário, ao longo deste
     ada, previne as deficiências nutricionais e protege
                                                                guia foram incluídas informações adicionais a
     contra as doenças infecciosas, porque é rica em
                                                                respeito dos nutrientes: compostos bioativos,
     nutrientes que podem melhorar a função imunoló-
                                                                vitaminas e minerais, fibra alimentar, proteínas,
     gica. Pessoas bem alimentadas são mais resistentes
                                                                carboidratos e açúcar, gorduras e ácidos graxos.
     às infecções (SCRIMSHAW et al., 1968; UNITED
                                                                Todos esses nutrientes são encontrados nos
DIRETRIZ 6 - GORDURAS, AÇÚCARES E e as refeições
           1 Os alimentos saudáveis SAL                                                                         43




alimentos.                                               excessivo de gorduras saturadas está relacionado a
          As evidências científicas mais recentes        várias doenças crônicas não-transmissíveis (doenças
estabelecem as seguintes recomendações para a            cardiovasculares, diabetes, obesidade, acidentes
participação dos macronutrientes (carboidratos,          cerebrovasculares e câncer). Para mais informações,
gorduras e proteínas) no valor energético total          veja box Sabendo um pouco mais Os Diferentes
(VET) da alimentação, que são levadas em conta           Tipos de Gorduras (página 78).
neste guia para as diretrizes aqui estabelecidas.                  Proteínas: 10% a 15% do valor energético
          Carboidratos totais: 55% a 75% do valor        total (VET). São componentes dos alimentos de
energético total (VET). Desse total, 45% a 65%           origem vegetal e animal que fornecem os
devem ser provenientes de carboidratos complexos         aminoácidos, substâncias importantes e envolvidas
e fibras e menos de 10% de açúcares livres (ou           em praticamente todas as funções bioquímicas e
simples) como açúcar de mesa, refrigerantes e sucos      fisiológicas do organismo humano. As fontes
artificiais, doces e guloseimas em geral. Para mais      alimentares mais importantes são as carnes em
informações, veja box Sabendo um pouco mais              geral, os ovos e as leguminosas (feijões). Para mais
 Carboidratos , nesta seção.                             informações veja box Sabendo um pouco mais
          Gorduras: 15% a 30% do valor energético         Proteínas (página 63).
total (VET) da alimentação. As gorduras (ou lipídios)              De acordo com a Organização Mundial da
incluem uma mistura de substâncias com alta              Saúde (OMS), o presente guia também se propõe a
concentração de energia (óleos e gorduras), que          orientar e estimular a prática de uma alimentação
compõem, em diferentes concentrações e tipos,            saudável segundo as seguintes recomendações:
alimentos de origem vegetal e animal. São                - Manter o equilíbrio energético e o peso saudável;
componentes importantes da alimentação humana,           - Limitar a ingestão energética procedente de
pois são fontes de energia; contudo, o consumo           gorduras; substituir as gorduras saturadas por



      Sabendo um pouco mais

       Carboidratos
                Os carboidratos compõem a maior parte da matéria viva no planeta Terra, constituindo,
       portanto, a maior parte da alimentação humana: 55% a 75% do VET devem ser fornecidos pelo
       grupo dos carboidratos. Os carboidratos são subdivididos em carboidratos complexos (amidos),
       carboidratos simples (açúcares simples ou livres) e fibras alimentares. No Guia Alimentar para a
       População Brasileira chamaremos os carboidratos complexos (ricos em amidos) de carboidratos e
       os simples de açúcares.
                De forma geral, todos os grupos de alimentos, exceto as carnes, os óleos e as gorduras e o
       sal possuem carboidratos, diferindo na quantidade e no tipo de carboidrato que compõe o
       alimento. Quando essa quantidade é alta, considera-se o alimento como fonte de carboidratos:
       cereais, tubérculos e raízes. Os carboidratos complexos são fontes de energia e também de
       vitaminas do complexo B e de ácidos graxos essenciais que participam do metabolismo do sistema
       nervoso.
                A alimentação saudável deve incluir os carboidratos complexos em grande quantidade
       (45% a 65% do VET) e fibras alimentares. Para mais informações, veja box Sabendo um pouco mais
        Fibra Alimentar (página 61).
                Os carboidratos simples (açúcares simples), fontes apenas de energia, devem compor a
       alimentação em quantidades bem reduzidas (< 10% do VET), porque o seu consumo excessivo está
       relacionado com o aumento de risco de obesidade e outras doenças crônicas não-transmissíveis e
       cáries dentais.
44                                                        GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     insaturadas e eliminar as gorduras trans (gorduras      - Limitar a ingestão de sal (sódio) de toda pro-
     hidrogenadas);                                          cedência e consumir sal iodado.
     - Aumentar o consumo de frutas, legumes e ver-
     duras, cereais integrais e feijões;
      - Limitar a ingestão de açúcar livre;




         Sabendo um pouco mais

           Doenças Transmitidas por Alimentos e Água (DTA)
                   A qualidade sanitária dos alimentos é uma das condições essenciais para a promoção e
           manutenção da saúde e deve ser assegurada pelo controle eficiente da manipulação em todas as
           etapas da cadeia alimentar.
                    Procedimentos incorretos de manipulação dos alimentos podem causar as DTA, ou seja,
           doenças em que os alimentos ou a água atuam como veículo para transmissão de organismos
           prejudiciais à saúde ou de substâncias tóxicas. As DTA podem se manifestar das seguintes formas:
                     a) infecções transmitidas por alimentos: são doenças que resultam da ingestão de um
           alimento que contenha organismos prejudiciais à saúde. Exemplos: salmonelose, hepatite viral
           tipo A e toxoplasmose;
                    b) intoxicações alimentares: ocorre quando uma pessoa ingere alimentos com
           substâncias tóxicas, incluindo as toxinas produzidas por microrganismos, como bactérias e
           fungos. Exemplos: botulismo, intoxicação estafilocócica e toxinas produzidas por fungos;
                   c) toxinfecção causada por alimentos: são doenças que resultam da ingestão de
           alimentos que apresentam organismos prejudiciais à saúde, sendo que eles ainda liberam
           substâncias tóxicas. Exemplo: cólera.
                     Os sintomas das DTA variam de acordo com o organismo ou a toxina encontrados no
           alimento e a quantidade do alimento ingerido. Os sintomas mais comuns das DTA são vômitos e
           diarréias, podendo também apresentar dores abdominais, dor de cabeça, febre, alteração da
           visão, olhos inchados, dentre outros.
                   Para adultos sadios, a maioria das DTA dura alguns dias e não deixam seqüelas; para
           pessoas mais susceptíveis, como crianças, idosos, gestantes e pessoas doentes, as conseqüências
           podem ser mais graves, podendo inclusive levar à morte. Algumas DTA são mais severas,
           apresentando complicações mais graves até para as pessoas sadias.
                    Para evitar ou reduzir os riscos de DTA, medidas preventivas e de controle, incluindo as
           boas práticas de higiene, devem ser adotadas na cadeia produtiva, nos serviços de alimentação,
           nas unidades de comercialização de alimentos e nos domicílios, visando à melhoria das condições
           sanitárias dos alimentos.
                    Veja mais informações na Diretriz Especia 2 (página 97) .
2
Diretriz
           Cereais, tubérculos
           e raízes
DIRETRIZ 2 - Cereais, tubérculos e raízes                                                                       47



Todos                                                    pães, massas, tubérculos e raízes. Dê preferência
- Arroz, milho e trigo, alimentos como pães e massas,    aos grãos integrais.
preferencialmente na forma integral; tubérculos
como as batatas; raízes como a mandioca devem ser        Considerações e informações adicionais
a mais importante fonte de energia e o principal                  Desde os primórdios da agricultura, há
componente da maioria das refeições.                     cerca de 12.000 anos, até muito recentemente, a
                                                         maior parte da energia consumida por diferentes
Profissionais de saúde                                   populações tinha origem em alimentos à base de
                                                         carboidratos.
Orientar:
                                                                  Os carboidratos podem ser simples (que
- O consumo de alimentos ricos em carboidratos
                                                         são os açúcares) ou complexos (que são os amidos
complexos (amidos), como cereais, de preferência
                                                         presentes principalmente em cereais, tubérculos e
integrais, tubérculos e raízes, para garantir 45% a
                                                         raízes). Para efeito deste guia, chamaremos os
65% da energia total diária da alimentação;
                                                         carboidratos complexos (ricos em amidos) de
- O consumo diário de 6 porções de cereais,
                                                         carboidratos e os simples de açúcares. Para mais
tubérculos e raízes.
                                                         informações sobre carboidratos, consulte o box
                                                         Sabendo um pouco mais Carboidratos (página 43).
Saber que:                                                        As principais fontes de carboidrato na
- A presença diária desses alimentos na alimentação      alimentação do brasileiro são os grãos, como o
vem diminuindo (em 1974, correspondia a 42,1% e          arroz, o trigo e o milho; os tubérculos, como as
em 2003 era de 38,7%). Essa tendência deve ser           batatas; e as raízes, principalmente a mandioca.
revertida, por meio do incentivo ao consumo desses                Os grãos contêm na sua composição cerca
grupos de alimentos pela população, na forma in          de 70% de carboidrato. Além da presença de
natura. Para atender ao limite mínimo recomendado        carboidratos complexos, nutrientes importantes
(45%), o consumo atual deve ser aumentado em             para uma alimentação saudável são compostos por
aproximadamente em 20%;                                  proteínas e vitaminas do complexo B e outras
- No Brasil, é obrigatória a fortificação das farinhas   vitaminas, minerais, ácidos graxos essenciais e fibras
de trigo e milho com ferro e ácido fólico, estratégia    alimentares. Por exemplo, uma alimentação rica em
que objetiva a redução da anemia ferropriva e de         ácido fólico, ou vitamina B9, protege a integridade
problemas relacionados à má-formação do tubo             do tubo neural durante o seu desenvolvimento nos
neural. A orientação de consumo dessas farinhas é        primeiros meses de vida intra-uterina, evitando má-
particularmente importante para crianças, idosos,        formação da medula espinhal da criança e
gestantes e mulheres em idade fértil.                    anencefalia (WYNN e WYNN, 1979; GARZA, 1993).
                                                                  Tubérculos e raízes, tais como batata-
Governo e setor produtivo de alimentos                   inglesa, batata-doce, batata-baroa
- Promover a produção, a industrialização, a             (mandioquinha), mandioca, cará ou inhame, têm
comercialização e o consumo de todos os tipos de         alta porcentagem de água e, portanto, contêm
alimentos ricos em carboidratos, preferencialmente       relativamente menor quantidade de carboidrato
os integrais e os regionais produzidos em nível local.   que os grãos, mas a maior parte da energia que
                                                         proporcionam ainda é fornecida pelos carboidratos.
- Incentivar a pesquisa e incorporação de tecnologia
                                                         Contêm também vitaminas e minerais em
de processamento que preserve o valor nutritivo dos
                                                         quantidades variáveis. A batata-inglesa e batata-
alimentos.
                                                         doce são fontes de ácido ascórbico (vitamina C ) .
- Assegurar e fomentar a incorporação de cereais,
                                                                  A batata-doce é rica em carotenos,
tubérculos e raízes nos programas institucionais de
                                                         precursores vegetais da vitamina A (substâncias que
alimentação.
                                                         no organismo humano ajudam na formação desse
                                                         nutriente). Essa vitamina é essencial para a
Família                                                  atividade imunológica e para a visão.
- Coma diariamente 6 porções do grupo de arroz,
48                                                           GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




          Sabendo um pouco mais
            As Porções e Quantidades Recomendadas nas Diretrizes
                     O tamanho em que os alimentos são oferecidos aumentou, ou seja, as porções oferecidas
            ficaram maiores. Neste guia, para garantir que as pessoas saibam a quantidade correta de
            alimento a ser consumida, de acordo com o grupo do alimento, adotaremos o conceito de porção
            de alimento. Porção é aqui utilizado como a quantidade de alimento em sua forma usual de
            consumo expressa em medida caseira, unidade ou forma de consumo (fatia, xícara, unidade,
            colher de sopa, etc.)" (PHILIPPI, 2003), considerando também a quantidade média do alimento
            que deve ser usualmente consumida por pessoas sadias, para compor uma alimentação saudável
            (BRASIL, 2003b). Essas duas definições têm o objetivo de controlar os casos em que o padrão usual
            de consumo origina porções de alimentos que não permitem alcançar ou que extrapolem as
            quantidades que poderiam ser saudáveis no conjunto da alimentação. Porções de diferentes
            alimentos estão apresentadas no Anexo C deste guia.



               Na sua forma integral, todos os tubérculos               A recomendação de dar preferência às
     e raízes são ricos em fibras alimentares; grande          formas integrais dos alimentos é justificada pelo
     parte das fibras, juntamente com a vitamina B, é          fato de que a manutenção do teor de vitaminas e
     perdida quando esses alimentos são descascados.           minerais do produto original depende do grau de
     Por isso, recomenda-se que esses alimentos sejam          processamento a que o alimento é submetido. Uma
     cozidos com casca, previamente bem higienizada,           técnica comum de processamento de cereais é a
     que será retirada apenas antes do consumo. Podem          refinação. As vitaminas, minerais, ácidos graxos
     ser utilizados de diferentes formas: cozidos, assados     essenciais e fibras são preservados no arroz e na
     e fritos. A mandioca, alimento rico em carboidrato e      farinha de trigo integrais, mas o arroz branco, o pão
     originário do Brasil, pode ser consumida em sua           branco e a farinha e as massas comuns refinadas
     forma natural ou como farinha, e são inúmeros os          perdem a maior parte das vitaminas, os minerais, os
     exemplos da culinária nacional para seu uso em            ácidos graxos e as fibras. Já a técnica que processa o
     preparações salgadas e doces. Os tubérculos e as          arroz parboilizado permite reter mais vitaminas do
     raízes podem ser cozidos de diferentes maneiras e         complexo B e óleos, se comparado com o arroz
     combinados com outros alimentos. Quando fritos,           branco, mas em teores menores do que os existentes
     absorvem muita gordura, por isso preparações fritas       nos alimentos integrais.
     devem ser evitadas.                                                A fortificação de alimentos é a técnica
               Fibra alimentar é o termo técnico utilizado     industrial que pode recuperar, intensificar ou
     para denominar as partes dos vegetais que resistem        adicionar valor nutricional aos alimentos. A
     ao processo de digestão. A alimentação com                recuperação ocorre quando, durante o pro-
     quantidade adequada de alimentos com                      cessamento do alimento, determinado nutriente é
     carboidratos em sua forma integral, ou seja, que          perdido e, para correção, o nutriente é reposto no
     preservaram a fibra alimentar, auxilia a função           produto. A intensificação ocorre quando um
     intestinal, protegendo contra a constipação intes-        nutriente que é natural do alimento é adicionado
     tinal (prisão de ventre) e possivelmente contra a         em maiores quantidades e a adição quando um
     doença diverticular e o câncer do cólon (ROYAL            alimento, embora não seja fonte natural de um
     COLLEGE OF PHYSICIANS, 1980; WORLD CANCER                 determinado nutriente, do ponto de vista
     RESEARCH FUND, 1997). Para mais informações,              tecnológico pode ser um bom veículo desse
     veja os boxes Sabendo um pouco mais Constipação           nutriente. Atualmente, o mercado de alimentos
     Intestinal , (página 58) e Fibra Alimentar (página        dispõe de uma ampla variedade de alimentos
     61).                                                      fortificados. No caso do Brasil, visando à prevenção
DIRETRIZ 2 - Cereais, tubérculos e raízes                                                                      49



e ao controle das deficiências de ferro (anemia        micronutrientes e com baixo teor protéico
ferropriva) e de ácido fólico na população, a          (SOUTHGATE, 1993a). Essas crianças estão também
legislação nacional tornou obrigatória a               mais vulneráveis a doenças infecciosas (SCRIM-
fortificação das farinhas de trigo e milho com ferro   SHAW et al., 1968; SCRIMSHAW, 2000). Além da
e ácido fólico (RDC-Anvisa n° 344/2002). A             desnutrição e das deficiências específicas de
fortificação do alimento é descrita no rótulo dos      micronutrientes, como anemias, hipovitaminose A e
alimentos.                                             outras, estudos recentes sugerem que a
          Como uma das orientações para uma            alimentação pobre durante a fase de crescimento e
alimentação saudável, o grupo dos carboidratos         desenvolvimento da criança possivelmente
totais (complexos + açúcares livres ou simples) deve   aumenta o risco de alguns tipos de câncer na fase
fornecer de 55% a 75% do valor energético total        adulta (WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997).
(VET) da alimentação diária; destes, mais da metade             Os tipos de carboidratos que compõem a
da energia fornecida deverá ter origem em              alimentação também merecem atenção. Por
alimentos ricos em carboidratos complexos (grãos,      exemplo, uma alimentação baseada em alimentos
tubérculos e raízes), ou seja, 45% a 65% do VET.       não-refinados e que alcancem apenas o limite infe-
Uma alimentação que atenda a essa recomendação         rior recomendável (45%) é mais saudável que as
traz muitos benefícios, principalmente quando se       constituídas por alimentos refinados, mas que se
utilizam carboidratos em sua forma integral.           encontram no limite superior (65%) de energia
          Considerando uma mesma faixa de              oriunda desse grupo de alimentos.
ingestão de energia, por exemplo, 2.000kcal, uma                A tendência de consumo desses alimentos
alimentação rica em carboidratos possivelmente         no Brasil é de queda: enquanto em 1974 esses
terá menor quantidade de gordura, principalmente       alimentos forneciam 42,1% do valor energético da
as saturadas, e menos açúcar e pode proteger,          alimentação da população, em 2003 essa taxa caiu
portanto, as pessoas contra o excesso de peso,         para 38,6%. Isso significa que, para alcançar o limite
obesidade, alguns tipos de câncer e outras DCNT        mínimo de consumo recomendado (45%), é preciso
(NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989a; WORLD               aumentar em cerca de 20% o consumo atual desse
HEALTH ORGANIZATION, 1990b, 2000a;                     grupo de alimentos. A participação relativa desses
DEPARTMENT OF HEALTH AND SOCIAL SECURITY ,             alimentos nas famílias de menor renda é mais alta
1994; WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997;                do que nas de maior renda; entre os mais pobres o
UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE                          consumo atende ao recomendado. Outra
COORDINATING COMMITTEE, 2000). Em termos               característica do consumo nacional desses
técnicos, essa alimentação será concentrada em         alimentos é a queda de consumo de arroz e pão e
nutrientes (alta densidade de nutrientes), em vez de   aumento de biscoitos (bolachas salgadas, doces e as
concentrada em energia, característica que está        recheadas); estes são produtos, em geral, com
associada ao excesso de peso e obesidade e a outras    elevado teor de gorduras trans e sal ou açúcar,
DCNT.                                                  portanto prejudiciais à saúde quando consumidos
          Por outro lado, se o consumo de alimentos    em grandes quantidades (INSTITUTO BRASILEIRO
ricos em carboidratos é maior do que o                 DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2004a).
recomendado (acima de 75% do total energético da
alimentação diária) e há pouca variedade nos tipos
                                                       Orientações complementares
de alimentos consumidos, os nutrientes fornecidos
por essa alimentação não são suficientes para
garantir a nutrição e a saúde adequadas, podendo       Profissionais de Saúde
levar a algum tipo de deficiência nutricional. Por     - Dada a magnitude estimada da anemia por
isso, crianças de famílias de baixa renda estão mais   carência de ferro no Brasil, é fundamental que as
expostas ao risco de deficiência de proteínas e de     pessoas, independentemente da fase do curso da
micronutrientes, pois a alimentação disponível         vida, sejam orientadas a consumir farinhas
nessas famílias é baseada principalmente em            fortificadas com ferro e ácido fólico e os produtos
alimentos fontes de energia, mas pobres em             elaborados com elas. Essas farinhas estão
50                                                          GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     disponíveis no mercado, por obrigatoriedade de            saúde em todas as fases do curso da vida.
     Resolução da Anvisa (RDC n.° 344/2002), desde             - Garantir os procedimentos e as rotinas de inspeção
     junho de 2004. Essa orientação é particularmente          da qualidade e teor de fortificação das farinhas de
     importante para crianças, idosos, gestantes e             trigo e milho.
     mulheres em idade fértil.
                                                               Setor produtivo de alimentos
     Governo                                                   - É importante fomentar o desenvolvimento de
     - O incentivo à utilização de alimentos naturais, ou      produtos menos refinados e com baixo teor de
     com um mínimo de processamento, em programas              gorduras, sal e açúcar e sua comercialização a preços
     de alimentação em escolas, em creches ou em               acessíveis a toda a população.
     outros locais de atendimento a grupos específicos
     (população institucionalizada como idosos,
     população carcerária, centros de acolhimento de
     crianças e adolescentes) é exemplo de ação
     governamental que pode contribuir para o alcance
     desta diretriz e para o desenvolvimento e
     manutenção de hábitos alimentares saudáveis.
     - Ressalta-se ainda a importância de capacitação dos
     profissionais de saúde, em particular os que
     trabalham com alimentação e nutrição na atenção
     básica, de maneira a assegurar informação e
     orientação adequadas aos usuários dos serviços de




         Sabendo um pouco mais

           O Consumo Recomendado de Alimentos Vegetais
                    Recomenda-se o consumo diário de 6 porções do grupo do arroz, pães, massas, batata,
           mandioca, alimentos ricos em carboidratos. Nas próximas páginas, também se orienta o consumo
           de 3 porções de frutas, 3 porções de verduras e legumes e 1 porção de leguminosas (feijões) por dia.
           A recomendação é que 55% a 75% da energia diária provenham de frutas, legumes e verduras,
           cereais - de preferência integrais - e tubérculos e raízes. Essa recomendação geral a respeito dos
           vegetais acompanha os documentos oficiais e relatórios internacionais (WORLD HEALTH
           ORGANIZATION, 1990b, 2003a; WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997; UNITED NATIONS
           ADMINISTRATIVE COORDINATING COMMITTEE, 2000; EURODIET, 2001; NATIONAL RESEARCH
           COUNCIL, 1989b; PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 1998b).
                    Inicialmente pode parecer que esta orientação seja difícil de ser alcançada ao longo do
           dia, no entanto, os pesos dos alimentos preconizados para as porções são referentes aos alimentos
           preparados e prontos para consumo. No prato, o arroz e o feijão, por exemplo, pesam muito mais
           do que quando secos.
3
Diretriz
           Frutas, legumes
           e verduras
DIRETRIZ 6 - GORDURAS, AÇÚCARES E SAL
           3 Frutas, legumes e verduras                                                                       53




Todos                                                  à saúde.
- Frutas, legumes e verduras são ricos em vitaminas,   - Viabilizar campanhas e outras iniciativas de
minerais e fibras e devem estar presentes              comunicação social e de educação que valorizem e
diariamente nas refeições, pois contribuem para a      incentivem o consumo desses alimentos.
proteção à saúde e diminuição do risco de              - Assegurar a presença desses alimentos nos
ocorrência de várias doenças.                          programas públicos e/ou institucionais de
                                                       alimentação e nutrição (como o Programa de
                                                       Alimentação do Trabalhador, Programa de
Profissionais de saúde
                                                       Alimentação Escolar e outros) e nas refeições das
Orientar:                                              populações institucionalizadas.
- O consumo diário de 3 porções de frutas e 3
porções de legumes e verduras nas refeições
                                                       Família
diárias;
                                                       - Coma diariamente pelo menos 3 porções de
- Sobre a importância de variar o consumo desses
                                                       legumes e verduras como parte das refeições e 3
grupos de alimentos nas diferentes refeições e ao
                                                       porções ou mais de frutas nas sobremesas e
longo da semana;
                                                       lanches.
- E informar sobre a grande variedade desses
                                                       - Valorize os produtos da sua região e varie o tipo
alimentos disponíveis em todas as regiões do País e
                                                       de frutas, legumes e verduras consumidos na
incentivar diferentes modos de preparo desses
                                                       semana. Compre os alimentos da estação e esteja
alimentos para valorizar o sabor.
                                                       atento para sua qualidade e estado de conservação.

Saber que:
                                                       Considerações e informações adicionais
- A participação de frutas, legumes e verduras no
                                                                A trilogia frutas, legumes e verduras é
valor energético total fornecido pela alimentação
                                                       utilizada para enfatizar a importância da variedade
das famílias brasileiras, independentemente da
                                                       alimentar e também porque esses grupos de
faixa de renda, é baixa, variando de 3% a 4%, entre
                                                       alimentos devem ser parte importante das refeições
1974-2003;
                                                       e não somente lanches ocasionais (NATIONAL
- O consumo mínimo recomendado de frutas,
                                                       HEART FORUM, 1997a, 1997b; WORLD CANCER
legumes e verduras é de 400 gramas/dia para
                                                       RESEARCH FUND, 1997).
garantir 9% a 12% da energia diária consumida,
                                                                As frutas, os legumes e as verduras são
considerando uma dieta de 2.000kcal. Isso significa
                                                       considerados excelentes alimentos e são abun-
aumentar em pelo menos 3 vezes o consumo médio
                                                       dantes no Brasil. As regiões brasileiras têm uma
atual da população brasileira.
                                                       riqueza e variedades incalculáveis desses alimentos,
                                                       veja box Sabendo um pouco mais Alimentos
Governo e setor produtivo de alimentos                 Regionais , nesta seção.
- Valorizar e promover a produção e o proces-                   Dependendo da região do Brasil e da
samento, com preservação do valor nutritivo de         cultura alimentar, as pessoas podem denominar de
frutas, legumes e verduras, principalmente os de       maneiras distintas os alimentos vegetais. Assim
origem local, na perspectiva do desenvolvimento        pode-se encontrar sob a denominação verdura
sustentável.                                           todo o grupo de hortaliças e legumes. A depender
- Fomentar mecanismos de redução dos custos de         da situação específica, adaptações de linguagem
produção e comercialização desses alimentos.           deverão ser feitas para facilitar a compreensão e
- Criar estratégias que viabilizem a instalação de     adequada identificação do alimento a ser
rede local de comercialização, facilitando o acesso    incentivado, o grupo correto ao qual o alimento
regular da população a esses alimentos, a preços       pertence e o número de porções do referido
acessíveis.                                            alimento. Para mais informações, consulte o box
- Monitorar, segundo a legislação, o uso de agentes    Sabendo um pouco mais O Que São Frutas,
químicos (agrotóxicos) potencialmente prejudiciais     Legumes e Verduras Para os Fins de Orientação
54                                                          GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




          Sabendo um pouco mais
           O Que São Frutas, Legumes e Verduras para os Fins de Orientação Neste Guia?
                    Verduras e legumes são plantas ou partes de plantas que servem para consumo humano.
           As partes normalmente consumidas são as folhas, frutos, caules, sementes, tubérculos e raízes
           (PHILIPPI, 2003).
                   Denomina-se verdura quando a parte comestível do vegetal são as folhas, flores,
           botões ou hastes. Utiliza-se a denominação legume quando as partes comestíveis são os frutos,
           sementes ou as partes que se desenvolvem na terra. Fruta é a parte polposa que rodeia a semente
           de plantas que possui aroma característico, sendo rica em suco, e tem sabor adocicado (PHILIPPI,
           2003).
                   A variedade desse grupo de alimentos é imensa; alguns têm apenas ocorrência local ou
           regional. Os de cultivo e comercialização mais abrangente incluem, por exemplo:
                    Verduras: acelga, agrião, aipo, alface, almeirão, brócolis, chicória, couve, couve-flor,
           escarola, espinafre, mostarda, repolho, rúcula, salsa e salsão.
                    Legumes: cenoura, beterraba, abobrinha, abóbora, pepino, cebola.
                    Frutas: acerola, laranja, tangerina, banana, maçã, manga, limão, mamão e muitas outras.
                    No guia alimentar brasileiro, alimentos vegetais como os tubérculos e as raízes são
           considerados alimentos ricos em carboidratos (Diretriz 2) e os feijões e outros grãos de
           leguminosas são considerados vegetais ricos em proteínas (Diretriz 4), portanto não estão
           incluídos nesta diretriz.
                   O incentivo ao consumo desses grupos de alimentos concentra-se principalmente em suas
           formas naturais. Produtos com alta concentração de açúcar, como as geléias de fruta e as bebidas
           com sabor de fruta e os vegetais em conserva, com alto teor de sal, não fazem parte do conjunto de
           alimentos cujo consumo está sendo incentivado nesta diretriz.


     Neste Guia? , nesta seção.                               (vitamina C) aumenta a absorção orgânica do ferro
               O consumo regular de uma variedade de          de origem vegetal, ajudando a prevenir a anemia
     frutas, legumes e verduras, juntamente com               ferropriva. O estímulo ao consumo desses
     alimentos ricos em carboidratos pouco processados,       alimentos-fonte é muito importante
     oferece garantia contra a deficiência da maior parte     particularmente nas regiões onde as deficiências de
     de vitaminas e minerais, isoladamente ou em              vitamina A e de ferro são altas (MCLAREN et al.,
     conjunto, aumentando a resistência às infecções          1993; HALSTED, 1993; KLERK et al., 1998).
     (SCRIMSHAW et al., 1968; SCRIMSHAW, 2000).                         Por outro lado, é importante ressaltar que
               As frutas, legumes e verduras são ricos em     os vegetais não contêm vitamina B12, que, junto
     fibra alimentar e diferentes tipos de vitaminas como     com o folato (ácido fólico ou vitamina B9), participa
     os carotenóides (precursores vegetais da vitamina        da formação das hemácias - células vermelhas do
     A, que existem em grande quantidade nos vegetais         sangue - e do metabolismo de ácidos graxos e
     verde-escuros e frutas de coloração amarela ou           aminoácidos. As fontes principais da vitamina B12
     avermelhada), os folatos ou vitamina B9 (assim           são os alimentos de origem animal.
     chamados porque, em latim, o termo folium significa                Com referência aos minerais, todas as
      folhas ) e o ácido ascórbico (vitamina C) (U.S.         frutas, os legumes e as verduras são ricos em
     DEPARTMENT OF AGRICULTURE, 2005).                        potássio, cuja necessidade aumenta
               Alimentos ricos em carotenóides protegem       proporcionalmente em relação à quantidade de
     contra xeroftalmia, cataratas e outras doenças           sódio na alimentação. Alguns alimentos desses
     oculares, além de auxiliar na imunidade do               grupos contêm quantidades adequadas de
     organismo contra infecções. Já o ácido ascórbico         magnésio, cálcio e elementos-traço, que dependem
DIRETRIZ 6 - GORDURAS, AÇÚCARES E SAL
           3 Frutas, legumes e verduras                                                                          55




     Sabendo um pouco mais

       Vitaminas e Minerais
                 As vitaminas e os minerais são substâncias presentes nos alimentos de origem vegetal ou
       animal em quantidades muito pequenas quando comparadas aos carboidratos, proteínas e
       gorduras, mas que são essenciais à saúde e à nutrição adequadas. Embora muitos alimentos
       contenham essas substâncias, as frutas, os legumes e as verduras são especialmente ricos em várias
       vitaminas e minerais.
                 No Brasil e em muitos países, o controle das deficiências de vitaminas e minerais é
       prioridade em saúde pública. Por exemplo, a deficiência de vitamina A e de ferro são as principais
       deficiências no Brasil (WORLD BANK, 1994; BRASIL, 2003f). A deficiência de iodo, embora
       controlada, em zonas rurais de alguns estados do Centro-Oeste e Nordeste ainda merece atenção.
                 Por outro lado, as deficiências de vitaminas e minerais não se limitam àquelas
       consideradas problemas de saúde pública, como as deficiências de ferro, vitamina A e iodo. A
       fome oculta, definida como a carência não explícita de um ou mais nutrientes, é considerada
       problema nutricional importante no mundo e envolve o estágio anterior ao surgimento de sinais
       clínicos detectáveis. Comumente há deficiência combinada de vitaminas e minerais (RAMALHO,
       2004). As quantidades e proporções dos alimentos recomendados neste guia fornecem
       quantidades de vitaminas e minerais em níveis iguais e muitas vezes superiores aos necessários
       para a prevenção das deficiências (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989b; WORLD CANCER
       RESEARCH FUND, 1997). Portanto, se seguidas as orientações deste guia, o uso de suplementos
       alimentares de vitaminas e minerais não é necessário, a não ser quando indicados individualmente
       por médico ou nutricionista.



da qualidade do solo no qual são produzidos              bronquite. O mecanismo de ação parece ser a
(SOUTHGATE, 1993b).                                      melhoria do fluxo de ar provocada pelos
         O iodo faz parte da constituição dos            carotenóides e pelo ácido ascórbico, devido à ação
hormônios tiroidianos - tiroxina (T4) e triiodoti-       antioxidante desses nutrientes (KLERK et al., 1998).
ronina (T3) -, que regulam o metabolismo                          Os estudos científicos mais recentes têm
energético, e pode estar presente em alguns              relacionado o consumo regular de uma quantidade
alimentos vegetais. Porém, dependendo da                 mínima de 400g/dia desses grupos de alimentos ao
composição do solo para cultivo, pode ocorrer            menor risco de desenvolvimento de muitas doenças
insuficiência de iodo nos alimentos produzidos           crônicas não-transmissíveis e à manutenção do peso
nesses locais. Portanto, para garantir o consumo         adequado (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
adequado de iodo, a fonte mais segura é o sal            2003a). São elementos de proteção para hiper-
fortificado para consumo humano (sal iodado).            tensão arterial e para os acidentes cere-
         Outra vantagem nutricional das frutas, dos      brovasculares (acidente vascular cerebral),
legumes e das verduras e também dos grãos e das          provavelmente pelo seu alto teor de potássio.
leguminosas é que eles possuem compostos                 Devido ao seu alto teor de fibras e de compostos
bioativos, que exercem funções biológicas                antioxidantes, esses alimentos são protetores
benéficas distintas. Para mais informações, veja o       também para hiperlipidemia (excesso de gordura
box Sabendo um pouco mais Compostos                      no sangue) e doenças cardíacas. Por esses e outros
Bioativos , nesta seção.                                 motivos, essa alimentação auxilia na prevenção do
         As evidências científicas mostram ainda         câncer de vários órgãos (boca, esôfago, pulmão,
que uma alimentação rica em frutas, legumes e            estômago, cólon e reto e, provavelmente, pâncreas,
verduras protege contra as doenças pulmonares            mama e bexiga).
crônicas e obstrutivas, incluindo a asma e a                      As frutas, os legumes e as verduras, além de
56                                                          GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     ricos em nutrientes, possuem baixo teor energético,      o consumo chega a ser seis vezes maior do que entre
     portanto o consumo adequado desses alimentos             as famílias mais pobres (INSTITUTO BRASILEIRO DE
     auxilia na prevenção e no controle da obesidade e,       GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2004a).
     indiretamente, contra outras doenças crônicas não-                Para alcançar o consumo recomendado
     transmissíveis (diabetes, doenças cardíacas e alguns     como saudável para esses grupos de alimentos (9%
     tipos de câncer), cujo risco é aumentado pela            a 12% do VET, considerando uma dieta de
     obesidade (NATIONAL HEART FORUM, 1997a,                  2.000kcal), é preciso aumentar em quase três vezes
     1997b; WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997).                o consumo médio atual da população, tendo-se
              Por outro lado, uma alimentação baseada         como meta quantitativa mínima o valor de 400g/dia
     apenas em frutas, legumes e verduras não garante         per capita.
     proteção contra a deficiência de energia e                        Esses grupos de alimentos têm um custo
     proteínas, devido à baixa densidade energética           relativamente mais alto em relação a outros
     desses grupos de alimentos.                              alimentos vegetais, se considerado o índice
              O consumo desses alimentos no Brasil é          custo/caloria. Assim, diferentes áreas de governo
     tradicionalmente baixo. A participação desses            podem contribuir para o aumento da oferta e
     grupos de alimentos no valor energético da               redução de preços desses produtos, como
     alimentação das famílias brasileiras variou entre 3%     agricultura, desenvolvimento agrário, indústria e
     e 4% do VET, entre 1974 e 2003. Embora a tendência       comércio.
     de consumo esteja relativamente estável, é preciso                Uma linha de estratégia importante é a
     implementar esforços para aumentar                       continuidade e o fortalecimento do sistema
     substancialmente o consumo desses grupos de              orgânico de produção agropecuária e industrial de
     alimentos. Nem mesmo as famílias de maior renda          alimentos no País, com vistas à maior
     consomem atualmente o valor mínimo                       disponibilidade desses produtos a custos acessíveis à
     recomendado, mas entre famílias de mais alta renda       população. O sistema orgânico, também


         Sabendo um pouco mais
           Compostos Bioativos
                    Além das vitaminas e dos minerais, as verduras, os legumes e as ervas nativas do Brasil
           também contêm componentes bioativos, alguns dos quais especialmente importantes para a
           saúde humana (WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997; WATZL e LEITZMANN, 1999). Eles
           incluem: aliáceas, encontradas na cebola e no alho (que dão o sabor característico a essas
           hortaliças); fitoestrogêneos, encontrados nos grãos e leguminosas, principalmente os de soja;
           glucosinolatos, encontrados nos vegetais crucíferos (couve e repolho); inibidores de proteases,
           encontrados em grãos e feijões; flavonóides, encontrados nas frutas, legumes e verduras e
           também no café e chá; e cumarinas, encontradas principalmente na mandioca. Outros compostos
           bioativos encontrados nos alimentos são: carotenóides (em frutas amarelas e verduras e legumes
           verde-escuros) e fosfolipídios (lecitina de soja).
                    Os experimentos laboratoriais e a identificação dos mecanismos biológicos de ação
           dessas substâncias sugerem que alguns desses compostos podem reduzir o risco de doenças,
           incluindo as doenças cardíacas e o câncer.
                     Contudo, a ciência nessa área ainda está no seu estágio inicial. Somente alguns vegetais
           foram analisados em sua composição fitoquímica e o efeito protetor dessas substâncias, nas
           concentrações em que ocorrem nas plantas, ainda não foi completamente compreendido. Com o
           desenvolvimento do conhecimento, a orientação permanece a mesma: uma alimentação rica em
           frutas, legumes e verduras, fontes naturais de vitaminas, minerais e compostos bioativos, é funda-
           mental para a manutenção da saúde.
DIRETRIZ 6 - GORDURAS, AÇÚCARES E SAL
           3 Frutas, legumes e verduras                                                                        57




denominado ecológico, biodinâmico, biológico,            cooperativas e outras entidades que controlam a
natural, regenerativo, agroecológico e outros,           qualidade da produção segundo critérios
utiliza processos e controles culturais, biológicos e    estabelecidos em regulamento. O mercado para
mecânicos em qualquer fase do processo de                esse tipo de produto vem crescendo,
produção de alimentos ou da cadeia produtiva, em         principalmente nos grandes centros urbanos,
contraposição ao uso de organismos geneticamente         apesar dos preços relativos serem, em geral, mais
modificados, agrotóxicos, hormônios e                    altos. Contudo, ao tempo em que é incentivada a
anabolizantes promotores de crescimento,                 integração e regionalização dessa atividade, entre
radiações ionizantes e outros, com a finalidade de       os diferentes segmentos da cadeia produtiva, deve
ofertar produtos saudáveis e isentos de                  ser fomentada e fortalecida no âmbito das políticas
contaminantes intencionais, proteger o meio              públicas setoriais, para permitir maior escala na
ambiente, manter ou incrementar a atividade              produção desses alimentos e facilitar o acesso da
biológica e a fertilidade do solo, promovendo o uso      população a alimentos mais baratos e sob condições
saudável dos recursos naturais (do solo, da água e       sanitárias adequadas.
do ar).
         No Brasil, para sua comercialização, os         Orientações complementares
alimentos e outros produtos orgânicos, oriundos de
produção agropecuária ou de processo extrativista        Profissionais de Saúde
sustentável, devem ser certificados por organismo        - O aumento no consumo desses grupos de
reconhecido oficial-mente, como associações,             alimentos pode ser considerado o desafio mais
                                                         importante do Guia Alimentar para a População


     Sabendo um pouco mais
      Alimentos Regionais
               Alguns tipos de frutas, legumes e verduras são produzidos e/ou comercializados em
      diferentes países. Dentre estas, as frutas mais comuns incluem maçã, banana, mamão, uva, limão,
      manga, melão, laranja, pêra, abacaxi, morango e melancia. Entre as verduras e legumes, berinjela,
      feijão-verde, couve, cenoura, couve-flor, pimentão, abóbora, cebola, alho-poró, espinafre, dentre
      outros.
               Outras frutas, legumes e verduras, originários do Brasil, não são comercializados
      nacionalmente em supermercados e estão presentes, preponderantemente, em redes locais,
      muitas vezes apenas em sistemas informais de varejo. Esses frutos regionais são: açaí, araçá, ata,
      babaçu, bacuri, biribá, buriti, cajá, cajarana, caju, carambola, cupuaçu, dendê, fruta-do-conde,
      fruta-de-palmas, jenipapo, goiaba, graviola, jabuticaba, jaca, jambo, juá, mangaba, maracujá,
      murici, oiti, pequi, pitanga, pitomba, pupunha, sapoti, sirigüela, tamarindo, umbu, etc. As
      hortaliças regionais são: alfavaca, azedinha, caruru, espinafre-africano, jambu-vinagreira, feijão-
      de-asa, feijão-de-metro, palma, taioba, beldroega, azedinha, bertalha, ora-pro-nobis, pimenta-
      murupi.
              Muitas frutas regionais são ricas em micronutrientes e em várias substâncias bioativas. Por
      exemplo: buriti, dendê e pequi são fontes extremamente concentradas de carotenóides, bem
      como os seus óleos. Esses alimentos, abundantes nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste, são
      naturalmente protetores contra a deficiência de vitamina A, que é endêmica nessas regiões, sendo
      importantes fontes locais dessa vitamina para a população (BRASIL, 2002b).
               O Brasil precisa reconhecer a importância dessa incalculável riqueza para o alcance de
      uma situação estável de segurança alimentar e nutricional de sua população. Para conhecer parte
      da diversidade regional de frutas, legumes e verduras no Brasil, consulte a publicação Alimentos
      Regionais do Ministério da Saúde (www.saude.gov.br/nutricao).
58                                                          GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     Brasileira, tanto porque as provas científicas dos        transversal nos currículos do ensino fundamental e
     benefícios do consumo de frutas, legumes e                médio pode dar sustentabilidade às iniciativas de
     verduras para a saúde são irrefutáveis, quanto            educação em saúde. A formação de hortas escolares
     porque a média de consumo, tanto de legumes e             e/ou comunitárias é estratégia que facilita o acesso
     verduras quanto de frutas, é baixa, apesar da sua         a esses alimentos, além de ser um excelente
     abundância no Brasil. Os profissionais de saúde são       instrumento de atividades didáticas,
     elementos-chave para auxiliar no alcance da meta          complementação de renda, participação e
     de aumento do consumo desses grupos de alimentos          mobilização social, dentre outras vantagens.
     especialmente considerando a ampla variedade e            - O Programa Nacional de Agricultura Familiar
     disponibilidade deles nas diferentes regiões              (Pronaf), do Ministério do Desen-volvimento
     geográficas.                                              Agrário, pode ser uma janela de oportunidade para
     - Conhecer e valorizar os alimentos regio-nais e os       aumentar a produção desses alimentos,
     produtos produzidos localmente é um bom começo            disponibilizando-os a preços acessíveis à população
     para incentivar o consumo desses grupos de                local, bem como assegurando o abastecimento de
     alimentos.                                                alimentos frescos e nutritivos em programas
                                                               institucionais (escolas, creches, asilos e outros locais
     Governo e setor produtivo de alimentos                    de acolhimento de população específica),
                                                               conciliando produção e consumo saudável. Essa
     - A diretriz para o consumo de frutas, legumes e
                                                               estratégia redundaria ainda na geração de renda
     verduras é um grande desafio, uma vez que os níveis
                                                               para os agricultores familiares.
     atuais estão muito aquém do que é
     comprovadamente saudável e protetor. O                    - O setor produtivo necessita intensificar o
     Ministério da Saúde, em suas ações de promoção da         desenvolvimento e a oferta de produtos saudáveis,
     alimentação saudável, destaca a importância do            a preços acessíveis, que incorporem frutas, legumes
     aumento do consumo de frutas, legumes e verduras.         e verduras como matéria-prima principal e
                                                               nenhuma ou quase nenhuma adição de açúcares,
     - No âmbito da educação, a inserção de temas de
                                                               sal e gorduras, o que compromete o valor
     alimentação e nutrição como componente

          Sabendo um pouco mais
            Constipação Intestinal
                      A constipação intestinal ou prisão de ventre é uma doença provocada principalmente
            pelo consumo insuficiente de fibras, porém, outros aspectos também são importantes para
            manter um bom funcionamento intestinal, evitando essa e outras doenças de origem gastroin-
            testinal.
                      O bom funcionamento intestinal depende de três elementos inseparáveis. São eles: a
            ingestão de água, o consumo de fibras e a prática de atividade física. A regularidade da atividade
            intestinal só é adequada quando estes três fatores são atendidos. As fibras auxiliam na formação
            do bolo fecal e, em parceria com a quantidade de água ingerida e a atividade física, são
            responsáveis por estimular a atividade muscular intestinal.
                      A forte tendência de consumo de alimentos industrializados pode agravar ou prejudicar
            o consumo diário de fibras. Os alimentos industrializados são, em sua grande maioria,
            processados. O processamento acaba retirando alguns nutrientes do alimento, sendo as fibras
            um deles. Observe a rotulagem nutricional que especifica a quantidade de fibras disponível nos
            alimentos selecionados para o seu consumo.
                      As frutas, os legumes e as verduras (por exemplo, mamão, tamarindo, laranja, ameixa,
            manga, folhas em geral) são alimentos in natura e ótimas fontes de fibras e micronutrientes, além
            de ter baixa densidade energética. Os cereais integrais como arroz integral, pão integral, centeio,
            aveia, sementes de linhaça, farelo de aveia e trigo, dentre outros, também são ótimas
            alternativas para aumentar a quantidade de fibras ingeridas. Para mais informações veja box
            Sabendo um pouco mais " Fibra Alimentar" ( página 61).
4
Diretriz
           Feijões e outros alimentos
           vegetais ricos em proteína
DIRETRIZ 6 - GORDURAS, AÇÚCARES E SAL
           4 Feijões e outros alimentos vegetais ricos em proteína                                                  61




Todos                                                      proporção de 1 para 2 partes;
- As leguminosas como os feijões e as oleaginosas          - O consumo de modo a que as leguminosas como
como as castanhas e sementes são alimentos                 feijões, lentilhas, ervilha seca, grão-de-bico, soja e
fundamentais para a saúde.                                 outros garantam, no mínimo, 5% do total de
- A preparação típica brasileira feijão com arroz é        energia diária.;
uma combinação alimentar saudável e completa em            - O consumo de castanhas e sementes, inclusive
proteínas.                                                 como ingredientes de diferentes preparações.;
                                                           - O uso de diferentes modos de preparo para a
                                                           valorização do sabor de todos os tipos de
Profissionais de saúde
                                                           leguminosas.
Orientar e estimular:
- O consumo diário de 1 porção de leguminosas
                                                           Saber que:
(feijões);
                                                           - Embora a participação relativa de feijões na
- O consumo diário de feijão com arroz, na
                                                           alimentação brasileira (5,68%) ainda esteja dentro


      Sabendo um pouco mais
        Fibra Alimentar
                  O termo fibra alimentar refere-se às partes dos alimentos vegetais que resistem à
        digestão.
                  As principais fontes de fibras são os alimentos vegetais como grãos, tubérculos e raízes,
        as frutas, legumes e verduras, leguminosas e outros vegetais, ricos em proteínas. Nenhum
        alimento de origem animal contém fibra alimentar.
                  Os alimentos com alto teor de fibra são benéficos para a função intestinal. Elas reduzem
        o tempo que o alimento leva para ser digerido e eliminado e, por essa razão, previnem a
        constipação e possivelmente são fatores de proteção contra doenças diverticulares e contra o
        câncer do cólon (ROYAL COLLEGE OF PHYSICIANS, 1980; WORLD CANCER RESEARCH FUND,
        1997).
                  Os alimentos com alto teor de fibra podem também reduzir o risco de outras doenças.
        Existem algumas evidências de que os alimentos com alto teor de fibra, de uma forma geral, e em
        particular os que contêm fibras solúveis (aveia, feijão e inhame, por exemplo), protegem contra a
        hiperlipidemia (excesso de gordura no sangue) e também são benéficos para pessoas com
        diabetes (ENGLYSTH, 1993; TROWELL e BURKITT, 1981; TROWELL et al., 1985).
                  A quantidade de fibras na alimentação é um parâmetro de uma alimentação saudável,
        pois indica que a alimentação é rica em alimentos vegetais integrais e relativamente pouco
        refinados, e por isso rica em vitaminas, minerais e outros nutrientes (WORLD CANCER RESEARCH
        FUND, 1997; UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE COORDINATING COMMITTEE, 2000).
                  Recomenda-se um consumo diário de no mínimo 25g/dia de fibras. Se a alimentação
        adotar a quantidade de cereais, tubérculos e raízes (Diretriz 1); de frutas, legumes e verduras
        (Diretriz 2); e de feijões e outros alimentos vegetais ricos em proteínas (Diretriz 3), recomendados
        neste guia, essa quantidade de fibras é atendida.
                  Alguns exemplos de quantidade média de fibra nos alimentos: maçã com casca - 3g;
        banana - 2g; laranja média - 3g; 1/2 xícara de brócolis - 2g; cenoura média - 2g; tomate médio - 2g;
        1 xícara de alface - 1g; 1 fatia de pão integral - 2g; 1/2 xícara de arroz integral - 2g.
                  Os alimentos processados no Brasil especificam o conteúdo de fibras. Para mais
        informações sobre a rotulagem de alimentos, consulte a seção Utilizando o Rótulo dos
        Alimentos (página 117).
62                                                           GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     da faixa recomendada de consumo, há uma                   minerais, bem como em compostos bioativos.
     tendência de queda preocupante, necessitando ser          Contêm pequenas quantidades de gordura, quase
     revertida em curto tempo.                                 toda do tipo insaturada. São normalmente
                                                               preparados e cozidos a partir de sua forma seca,
     Governo e setor produtivo de alimentos                    retendo grande parte de seus nutrientes originais.
                                                                         Embora sejam ricos em ferro, esse
     - Promover a produção, processamento, comer-
                                                               nutriente é menos disponível que o fornecido por
     cialização e consumo de todos os tipos de
                                                               alimentos de origem animal, como as carnes, prin-
     leguminosas e oleaginosas, principalmente as
                                                               cipal fonte de ferro da alimentação, que contêm
     originárias do Brasil, valorizando os hábitos
                                                               ferro de maior biodisponibilidade (a utilização pelo
     alimentares regionais.
                                                               organismo do ferro nos alimentos de origem animal
     - Fomentar mecanismos de redução dos custos de
                                                               é muito maior do que o ferro contido nos alimentos
     produção e comercialização de leguminosas,
                                                               de origem vegetal).
     sementes e castanhas.
                                                                         Para aumentar a utilização biológica do
     - Assegurar a utilização de feijão e outras
                                                               ferro e de outros minerais de origem vegetal,
     leguminosas, de acordo com os hábitos alimentares
                                                               recomenda-se o consumo concomitante de
     locais, em programas de alimentação nas escolas,
                                                               alimentos ricos em vitamina C, provenientes das
     creches e outras instituições.
                                                               frutas, legumes e verduras (HALLBERG et al., 1993).
     - Desenvolver ações de valorização da culinária
                                                                         A soja é uma leguminosa que,
     nacional que promovam o consumo de preparações
                                                               diferentemente das demais, é composta por
     e alimentos saudáveis, inclusive por meio de
                                                               proteínas de alto valor biológico, ou seja, que se
     campanhas educativas e informativas nos meios de
                                                               assemelha às proteínas de origem animal.
     comunicação.
                                                                         As sementes (de girassol, gergelim,
                                                               abóbora e outras) e castanhas (do-brasil, de-caju,
     Família                                                   nozes, nozes-pecã, amêndoas, dentre outras) são
     - Coma 1 porção de feijão por dia. Varie os tipos de      também boas fontes de proteína e gordura, na sua
     feijões usados (preto, carioquinha, verde, de-corda,      maior parte insaturada, vitaminas (ácido fólico,
     branco e outros) e as formas de preparo. Use              niacina) e minerais (zinco, selênio, magnésio,
     também outros tipos de leguminosas (soja, grão-de-        potássio, dentre outros). Existem evidências de que
     bico, ervilha seca, lentilha, fava).                      as castanhas contribuem para reduzir o risco de
     - Coma feijão com arroz na proporção de uma parte         doenças cardíacas, diabetes e algumas formas de
     de feijão para duas partes de arroz, cozidos. Esse        câncer. Podem ser utilizadas como complemento de
     prato brasileiro é uma combinação completa de             pratos e em lanches. É recomendável que o
     proteínas e bom para a saúde.                             consumo seja nas formas assada e sem sal, uma vez
                                                               que muitas delas já contêm naturalmente grande
     Considerações e informações adicionais                    quantidade de gordura.
              Os alimentos vegetais mais ricos em                        A maior parte da proteína da alimentação
     proteínas são as leguminosas; quando cozidos,             típica brasileira era originariamente fornecida pela
     contêm 6% a 11% de proteína. As leguminosas               combinação de feijão e arroz. As proteínas dos
     incluem os feijões verde, branco, jalo, preto, largo,     feijões combinadas com a do arroz (cereais), cozidos
     flageolé, carioquinha, azuki, da-colônia, mantei-         na proporção de 1 parte de feijão para 2 partes de
     guinha, rim, mungo, pinto, fradinho, decorda ou           arroz, são uma fonte completa de proteína para os
     macassar, guandu ou andu, mangalô e também as             seres humanos (DE ANGELIS ET AL, 1982a; 1982b;
     lentilhas, ervilhas secas, fava, soja e grão-de-bico.     SOUZA, 1973). Já a alimentação constituída
     Para efeito deste guia, a palavra feijões abrange         basicamente por mandioca e feijão, tradicio-
     todos esses tipos de leguminosas.                         nalmente representada pela farinha com feijão, é
                                                               deficiente em proteínas, bem como em outros
              Os feijões contêm ainda carboidratos
                                                               nutrientes essenciais, se contiver pouco grão e
     complexos (amido) e são ricos em fibra alimentar,
                                                               pouca carne ou outro alimento de origem animal.
     vitaminas do complexo B, ferro, cálcio e outros
DIRETRIZ 6 - GORDURAS, AÇÚCARES E SAL
           4 Feijões e outros alimentos vegetais ricos em proteína                                               63




         Os dados nacionais disponíveis, que             (SMFPC), enquanto que na classe de maior
permitem estimar o consumo alimentar domiciliar,         rendimento (mais de 5 SMFPC) a contribuição
revelam uma tendência de queda no consumo de             relativa foi de 4,49%. A participação dos feijões no
feijões pela população, em prol de alimentos             valor energético da alimentação diminui com o
industrializados e menos saudáveis. Entre 1974 e         aumento da renda, de tal forma que nas classes de
2003, a participação relativa de feijão e outras         renda mais elevada o consumo é menos da metade
leguminosas no total energético da alimentação           que na classe de famílias mais pobres (INSTITUTO
caiu em 31% (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEO-                BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2004a).
GRAFIA E ESTATÍSTICA, 2004a).                                      A diminuição no consumo de feijões
         Esse grupo de alimentos, além de boa            resultou em uma redução importante na ingestão
fonte de proteínas, fibras, vitaminas e minerais, é      de fibra alimentar, que era de 20g na década de 70 e
uma fonte importante de energia para famílias de         de 12g na década de 90 (MENEZES et al., 2000).
mais baixa renda. Em 2003, os feijões contribuíram                 Considerando a importância nutricional da
com 5,68% do total de calorias, considerando toda a      combinação arroz e feijão, ela deve ser resgatada
população. Desagregados por classe de rendimento         ou mantida, valorizada e incentivada como
familiar per capita (SMFPC), os dados mostram que a      elemento central da alimentação da população
contribuição foi de 9,7% na classe de rendimento de      brasileira, pois há evidências de que este prato está
até 1/4 do salário mínimo familiar per capita            perdendo importância e valor no hábito alimentar.



     Sabendo um pouco mais
       Proteínas
                Alimentos de origem animal, tais como carne de todos os tipos, leite e derivados e ovos,
       são nutritivos e boas fontes de proteínas. Essas proteínas são completas, o que significa que elas
       contêm todos os aminoácidos essenciais de que os seres humanos necessitam para o crescimento e
       a manutenção do corpo, mas que o organismo não é capaz de produzir (GARLICK; REEDS, 1993). Já
       os alimentos de origem vegetal podem ser ricos em proteínas; mas, com exceção da soja, elas são
       incompletas, ou seja, não possuem todos os aminoácidos essenciais ou na quantidade adequada
       às necessidades do ser humano. No entanto há algumas combinações de alimentos que
       complementam entre si os aminoácidos ou suas quantidades, tornando a combinação de
       proteínas de alto valor biológico (completa). Por exemplo, as refeições que combinam grãos de
       cereais e leguminosas são fontes completas de proteínas. Essas combinações têm vantagens. Os
       cereais e leguminosas são relativamente mais baratos que a carne; são integrais e, em geral,
       altamente nutritivos e, ao contrário da carne, têm baixos teores de gorduras e teor muito baixo de
       gorduras saturadas. O equilíbrio e a harmonia na escolha das fontes protéicas animal e vegetal e a
       inclusão de grandes quantidades de frutas, legumes e verduras tornam a alimentação saudável
       em todos os aspectos.
                No passado, acreditava-se que as crianças e também os adultos fisicamente ativos
       precisavam consumir alimentação com alto teor de proteína de origem animal. Hoje, sabe-se que
       não é assim. Uma alimentação rica em proteínas animais contém altos teores de gorduras totais e
       de gorduras saturadas, portanto pode não ser saudável. A alimentação recomendada neste guia
       tem como base quantidades essenciais e adequadas de proteínas vegetais e de origem animal,
       tanto para o crescimento de crianças maiores de 2 anos quanto para saúde dos adolescentes,
       adultos jovens e idosos (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION, 1985).
64                                                          GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     Orientações complementares

     Profissionais de Saúde
     - Os níveis atuais do consumo médio nacional de
     feijão estão dentro do recomendado; no entanto, a
     ação dos profissionais de saúde deve promover a
     manutenção desses níveis ou mesmo o aumento dos
     níveis do consumo. Pelo menos metade da ingestão
     diária de proteínas deveria ser de origem vegetal,
     não havendo inconveniência para a saúde se essa
     quantidade for ultrapassada.
     - Para melhor aproveitar o ferro existente nesses
     alimentos (aumento da biodisponibilidade do
     ferro), é adequado orientar o consumo de verduras
     ricas em vitamina C, junto com os feijões, ou
     temperar saladas com limão. A presença de um
     pedaço de carne na refeição, mesmo que pequeno,
     também aumenta a absorção do ferro de origem
     vegetal, se esses alimentos forem consumidos
     juntos.
     - É recomendado que leite e derivados não sejam
     consumidos junto às refeições principais (almoço e
     jantar), pois o cálcio interfere negativamente na
     absorção do ferro de origem vegetal e vice-versa.
     - Para assegurar refeições saudáveis, é preferível
     que os feijões não sejam preparados com carnes
     gordas ou embutidos, pois isso eleva muito o teor de
     gorduras saturadas e de sal, minimizando o efeito
     positivo do consumo de leguminosas. Feijoada e
     feijões com carnes gordas devem ser eventual ou
     ocasionalmente consumidos.
5
Diretriz
           Leite e derivados,
           carnes e ovos
DIRETRIZ 5 - Leite e derivados, carnes e ovos                                                                67




Todos                                                   consumo por toda a população.
- Leite e derivados, principais fontes de cálcio na
alimentação, e carnes, aves, peixes e ovos fazem        Família
parte de uma alimentação nutritiva que contribui
                                                        Consuma diariamente:
para a saúde e para o crescimento saudável.
                                                        - 3 porções de leite e derivados. Os adultos, sempre
- Os tipos e as quantidades desses alimentos devem
                                                        que possível, devem escolher leite e derivados com
ser adequados às diferentes fases do curso da vida.
                                                        menores quantidades de gorduras. Crianças,
Leites e derivados devem ser preferen-cialmente
                                                        adolescentes e mulheres gestantes devem consumir
desnatados, para os adultos, e integrais para
                                                        a mesma quantidade de porções, porém usando
crianças, adolescentes e gestantes.
                                                        leite e derivados na forma integral;
                                                        - 1 porção de carnes, peixes ou ovos. Prefira as
Profissionais de saúde                                  carnes magras e retire toda a gordura aparente
Orientar:                                               antes da preparação;
- O consumo diário de 3 porções de leite e              - Coma mais frango e peixe e sempre prefira carne
derivados;                                              com baixo teor de gordura. Charque e derivados de
- O consumo diário de 1 porção de carnes, peixes ou     carne (salsicha, lingüiça, presuntos e outros
ovos.                                                   embutidos) contêm, em geral, excesso de gorduras
- Sobre o alto valor biológico das proteínas            e sal e somente devem ser consumidos ocasio-
presentes nos ovos, carnes, peixes, leite e             nalmente;
derivados.;                                             - Coma pelo menos uma vez por semana vísceras e
- Sobre a alta biodisponibilidade do ferro presente     miúdos, como o fígado bovino, coração de galinha,
nas carnes, principalmente nos miúdos e nas vísceras    entre outros. Esses alimentos são excelentes fontes
e peixes;                                               de ferro, nutriente essencial para evitar anemia, em
- E informar que leite e derivados são fontes de        especial em crianças, jovens, idosos e mulheres em
proteínas, vitaminas e a principal fonte de cálcio da   idade fértil.
alimentação, nutriente fundamental para a
formação e manutenção da massa óssea. O                 Considerações e informações adicionais
consumo desse grupo de alimentos é importante                    Os seres humanos são onívoros, isto é,
em todas as fases do curso da vida, particularmente     alimentam-se de uma enorme variedade de
na infância, na adolescência, na gestação e para        alimentos tanto de origem vegetal como animal.
adultos jovens;                                         Desde a pré-história, a carne e os outros alimentos
- A escolha de produtos que contenham menor teor        de origem animal fazem parte do consumo
de gordura. O leite e seus derivados, para adultos      alimentar humano.
que já completaram seu crescimento, deve ser                     Alimentos de origem animal incluem
preferencialmente desnatado. Crianças,                  carnes e miúdos, aves, peixe e ovos, bem como leite,
particularmente, adolescentes e gestantes devem         queijo e outros derivados do leite. No Brasil, as
consumir leite e derivados na forma integral, desde     carnes mais comuns são as carnes bovinas, suínas e
que não haja contra-indicação em seu uso, definida      de aves (frango principalmente). Peixes de água
por médico ou nutricionista.                            doce e de água salgada são abundantes no Brasil, o
                                                        que favorece o consumo de grande variedade de
Governo e setor produtivo de alimentos                  espécies.
- Promover a produção, o processamento, a                        Os alimentos de origem animal são
comercialização e o consumo de leite e laticínios e     nutritivos, desde que consumidos com moderação.
outros alimentos de origem animal com baixos            O consumo moderado é recomendado devido ao
teores de gordura, tornando-os mais acessíveis -        alto teor de gorduras saturadas nesses alimentos,
física e financeiramente - a toda a população.          que aumentam o risco de desenvolvimento da
- Aumentar a disponibilidade interna de peixes por      obesidade, de doenças cardíacas e outras doenças,
meio da produção sustentável e incentivar o seu         incluindo alguns tipos de câncer (WORLD HEALTH
68                                                    GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     Sabendo um pouco mais
      Alimentação Vegetariana
               Todos os tipos de carne e não somente a carne vermelha e o frango são fontes
      importantes de ferro de alta biodisponibilidade, nutriente importante para todas as pessoas, mas
      essencial para o crescimento das crianças e também para as mulheres em idade fértil,
      principalmente durante a gravidez. Os produtos de origem animal são fontes exclusivas de
      vitamina B12. Essa vitamina participa da formação das células vermelhas do sangue e no
      metabolismo de ácidos graxos. Sua deficiência leva, por exemplo, à anemia e a danos
      neurológicos.
               O leite, independentemente de seu conteúdo de gordura, é a principal fonte alimentar
      de cálcio, que juntamente com a vitamina D (sintetizada pelo organismo a partir da luz do sol), é
      necessário para o fortalecimento dos ossos durante a fase de crescimento (NATIONAL RESEARCH
      COUNCIL, 1989b). A atividade física regular ajuda na fixação do cálcio nos ossos. Por tudo isso,
      carnes vermelhas, aves, peixes, leite e derivados são nutritivos. O principal cuidado em relação ao
      consumo desses alimentos está relacionado ao conteúdo de colesterol, gordura total e gordura
      saturada que os compõem.
                Ao longo da história, na maioria das civilizações, os seres humanos consumiram carne e
      outros alimentos de origem animal. Por outro lado, algumas culturas e grupos não consomem
      carne, laticínios ou qualquer outro tipo de alimento de origem animal, seja por motivos religiosos,
      filosóficos ou por preferência e são populações saudáveis. Estudos nos EUA e na Inglaterra
      indicaram que os vegetarianos estão sujeitos a um menor risco de doenças cardíacas e de câncer,
      mas esses grupos têm também a tendência a não se expor a outros fatores de risco como o hábito
      de fumar, o que pode interferir nesse resultado (WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997). Outros
      estudos demonstram que indivíduos vegetarianos não apresentam risco maior de desenvolver
      osteoporose, quando comparados com não-vegetarianos (LEITZMANN, 2005; KOHLENBERG-
      MUELLER; RASCHKA, 2003; NEW, 2003; SELLMEYER et al., 2001; HEANEY, 2001; REED et al., 1994).
      A soja, que tem participação importante nas dietas vegetarianas, apresenta menor quantidade de
      aminoácidos sulfurados do que as carnes vermelhas. Esse tipo de aminoácido está relacionado ao
      aumento de excreção de cálcio e, conseqüentemente, ao aumento do risco de desenvolvimento
      de osteoporose (COELHO, 1995).
              Quando a alimentação fornece quantidade adequada de ácido ascórbico (vitamina C), a
      absorção do ferro oriundo dos alimentos vegetais é melhorada.
      Portanto, uma alimentação vegetariana nutricionalmente adequada pode ser capaz de atender
      às necessidades nutricionais. Ao optar por uma alimentação vegetariana, é importante a consulta
      a um nutricionista de maneira a garantir a adequada substituição e combinação dos alimentos e
      não aumentar o risco à saúde por inadequação alimentar. Quanto mais restrita a alimentação, isto
      é, se exclui, além das carnes, leite e derivados e/ou ovos, mais importante ainda é essa orientação,
      especialmente se adotada por crianças, adolescentes, mulheres em idade fértil, gestantes e
      idosos.
              A alimentação vegetariana de qualquer tipo pode ser saudável ou não, dependendo dos
      alimentos escolhidos. Conhecer os alimentos e suas características nutricionais e saber compor
      uma alimentação, com mistura e variedade adequadas de alimentos, é o que torna ou não a
      alimentação vegetariana saudável.
DIRETRIZ 6 - GORDURAS, AÇÚCARES E SALovos
         5 Leite e derivados, carnes e                                                                   69



  Sabendo um pouco mais
    Cálcio x Osteoporose
            O tecido ósseo é um tecido orgânico ativo: seu metabolismo envolve a fixação e a saída
    do
    cálcio dos ossos (reabsorção). Nas fases do curso de vida quando os ossos estão sendo formados -
    infância e adolescência -, a fixação do cálcio é maior do que a sua reabsorção.
             O ser humano atinge o pico de massa óssea por volta dos 25 anos de idade. A partir dessa
    idade, a velocidade de fixação do cálcio nos ossos diminui progressivamente. Uma das
    conseqüências do envelhecimento é a perda de massa óssea que torna os ossos mais frágeis e a
    pessoa, às vezes, reduz de tamanho.
             Se a quantidade de cálcio fixada é menor do que a reabsorvida, a massa óssea vai
    tornando-se menos densa, podendo ocasionar a osteoporose. A osteoporose vem despontando
    nas últimas décadas como um importante problema de saúde pública. É uma doença que diminui
    a quantidade de massa óssea, levando à fragilidade dos ossos e aumentando o risco e a incidência
    de fraturas, em particular as vertebrais e femurais. Estima-se que 1/3 das mulheres com mais de 50
    anos apresente risco de desenvolver osteoporose.
              O consumo excessivo de sódio é muito prejudicial, podendo levar ao aparecimento da
    osteoporose (MCBEAN et al., 1994). Este é mais um motivo para orientar o consumo moderado de
    sal e evitar alimentos processados com alto teor de sódio. Também o consumo elevado de carnes
    vermelhas, devido ao seu elevado teor de aminoácidos sulfurados, está relacionado ao maior risco
    de osteoporose, sendo este mais um motivo para a recomendação de consumo moderado desse
    grupo de alimentos (COELHO, 1995) .
             A osteoporose é uma doença que não tem cura, apenas controle, portanto medidas de
    prevenção e promoção devem ser feitas precocemente. A melhor prevenção é uma dieta
    adequada na infância e na adolescência, a fim de se garantir quantidade adequada de ingestão
    de cálcio, contribuindo para a boa formação do tecido ósseo. A manutenção da dieta saudável no
    decorrer da vida adulta, associada à prática de exercícios físicos e exposição solar também são
    ações importantes.
            O leite é a melhor fonte de cálcio na alimentação. No Brasil, há uma aparente tendência
    de redução no consumo de leite pela população. Isto é particularmente preocupante quando se
    observa que as crianças e jovens vêm substituindo o consumo de leite por refrigerantes. Essa
    tendência repercute negativamente sobre a saúde óssea por dois caminhos: primeiro, a
    disponibilidade adequada de cálcio nas fases de crescimento e desenvolvimento pode ser
    comprometida e, segundo, as substâncias contidas no refrigerante impedem a fixação do cálcio
    na matriz óssea. Nessas fases do curso da vida, ocorre um rápido crescimento dos tecidos muscular,
    esquelético e endócrino, aumentando a necessidade nutricional desse nutriente.
             O consumo regular de leite e derivados associado à recomendação de exposição ao sol,
    observando os horários adequados para evitar problemas de superexposição aos raios solares, e à
    prática de atividade física em quaisquer fases do curso da vida deve ser estimulado e incentivado
    pelos profissionais de saúde.
              Crianças de 3 e de 4 a 8 anos necessitam, respectivamente, de 500mg e 800mg de cálcio
    por dia (INSTITUTE OF MEDICINE, 2000). Considerando pré-escolares (1 a 6 anos) e os escolares (7 a
    14 anos), o atendimento das necessidades de cálcio requer o consumo de 3 copos (600ml) e de 2 a 3
    copos (400ml a 600ml) de leite por dia. A necessidade diária de cálcio dos adolescentes de ambos
    os sexos é de 1.300mg e, entre idosos, de 1.200mg. As necessidades de cálcio para gestantes
    também são maiores: adolescentes grávidas, 1.300mg/dia, e gestantes adultas, 1.000mg/dia.
70                                                            GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     ORGANIZATION, 1990b; DEPARTMENT OF HEALTH                  alto teor de sal, devendo ser evitados.
     AND SOCIAL SECURITY, 1994; WORLD CANCER                             Os ovos contêm proteínas de alto valor
     RESEARCH FUND, 1997; UNITED NATIONS                        biológico e gordura e têm grandes quantidades de
     ADMINISTRATIVE COORDINATING COMMITTEE,                     colesterol; entretanto, algumas evidências têm
     2000). Os alimentos de origem animal também                mostrado que o consumo de ovos, em uma
     contêm colesterol, um componente lipídico que              alimentação com níveis baixos de gorduras totais,
     pode se acumular nos vasos sangüíneos,                     parece não exercer efeitos negativos nos níveis
     constituindo risco para doenças cardíacas (DEPART-         plasmáticos de colesterol e, conseqüentemente, no
     MENT OF HEALTH AND SOCIAL SECURITY, 1994).                 aumento do risco de doenças cardiovasculares. Uma
               As carnes e os peixes, de modo geral, são        explicação para isso seria o fato de que 50% da
     boas fontes de todos os aminoácidos essenciais,            gordura presente nos ovos é do tipo insaturada.
     substâncias químicas que compõem as proteínas,             Além disso, é boa fonte de vitaminas do complexo B
     necessárias para o crescimento e a manutenção do           (colina e biotina) (KATZ et al., 2005; HERRON et al.,
     corpo humano, bem como são fontes importantes              2003; HERRON et al., 2004; SONG; KERVER, 2000;
     de ferro de alta biodisponibilidade e vitamina B12;        KRITCHEVSKY; KRITCHEVSKY, 2000; HU et al.,
     peixes são também boas fontes de cálcio.                   1999). Pelas suas características nutricionais, os ovos
               As carnes bovinas, de aves e de peixes           também são componentes de uma alimentação
     contêm cerca de 20% de proteína, variando de 4%            saudável, desde que consumidos com moderação,
     ou menos, para os animais selvagens e peixe de             de acordo com a orientação dada para todos os
     carne branca, a 30% a 40%, para as carnes dos              alimentos de origem animal.
     animais provenientes de produção pecuária. As                       O leite é uma fonte importante de
     carnes bovinas e de aves são fontes de vitaminas B6        riboflavina (vitamina B2) e principal fonte de cálcio
     e B12 e de zinco e selênio de fácil absorção.              na alimentação. Mesmo os leites com baixo teor de
               Particularmente, os miúdos (vísceras) são        gordura e os desnatados são ricos em cálcio. Os
     ricos em ferro e devem compor a alimentação de             derivados do leite, como o iogurte e o queijo
     crianças, adolescentes, gestantes e idosos, pelo           branco, têm o mesmo perfil nutricional do leite,
     menos, uma vez por semana. Mais que isso não é             exceto a manteiga e o creme de leite, que são
     recomendado, uma vez que também possuem alto               compostos praticamente de gordura. Atenção espe-
     teor de gorduras saturadas e de colesterol. A              cial deve ser dada ao consumo de iogurtes e bebidas
     alimentação monótona, com poucos alimentos de              lácteas industrializadas com sabores e outros
     origem animal, aumenta o risco de deficiência de           ingredientes, pois podem conter uma quantidade
     ferro (anemia ferropriva), que retarda o                   considerável de açúcar acrescentado durante a
     desenvolvimento físico e mental.                           fabricação do produto. Os iogurtes naturais são
               Os peixes contêm menor quantidade                mais recomendados.
     desses nutrientes, mas são ricos em ácidos graxos                   Alguns alimentos de origem vegetal, como
     essenciais. Já os mariscos contêm proteínas e              brócolis, repolho, couve e o tofu (queijo de soja),
     gordura e têm grandes quantidades de colesterol.           também são boas fontes de cálcio (LOPEZ et al.,
               Outro nutriente vital, o zinco, é necessário     2003). O cálcio é necessário para o crescimento e
     para o crescimento e desenvolvimento dos músculos          desenvolvimento dos ossos e dentes. A manutenção
     e está disponível nos alimentos de origem animal           da saúde óssea ao longo do curso da vida é
     (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989b; WORLD                   garantida pelo consumo adequado de cálcio e
     BANK, 1994; UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE                  outros nutrientes, associado à exposição das
     COORDINATING COMMITTEE,2000). Alguns                       pessoas aos raios solares, o que auxilia o organismo
     alimentos de origem vegetal também são boas                a produzir vitamina D e à prática regular de
     fontes de zinco: semente de abóbora, grãos de              atividade física. Esses dois últimos fatores são ainda
     feijão e soja cozidos, as castanhas, dentre outros.        mais importantes quando a alimentação tem um
               Os produtos derivados da carne,                  teor de cálcio abaixo do recomendado, pois
     embutidos, hambúrgueres, salsichas e outros têm,           auxiliam a sua fixação na matriz óssea. Para mais
     em geral, quantidades bem maiores de gordura e             informações, veja box Sabendo um pouco mais
DIRETRIZ 6 - GORDURAS, AÇÚCARES E SALovos
           5 Leite e derivados, carnes e                                                                         71




 Cálcio X Osteoporose , nesta seção.                    orientação de um nutricionista, especialmente se
          As tendências nacionais de consumo desses     forem crianças, adolescentes, gestantes e idosos.
grupos de alimentos, especialmente das carnes, são
crescentes: em 1974, o consumo de carnes e de leite     Governo e setor produtivo de alimentos
e derivados correspondia a 14,9% do consumo                      São medidas complementares importantes
energético diário das famílias brasileiras; em 2003,    para o alcance das metas dietéticas desta diretriz:
essa participação foi de 21,2%. Por essas tendências,   - Estimular o desenvolvimento de métodos de
é prudente a manutenção da média de consumo             produção/criação que resultem carnes com baixo
atual da população; contudo, as famílias de menor       teor de gordura;
poder aquisitivo, com alimentação monótona,
                                                        - Estimular a prática regular da atividade física para
podem necessitar de um aumento no consumo de
                                                        assegurar a saúde do sistema ósseo.
alimentos de origem animal. Entre as 184 famílias
mais pobres, o consumo de alimentos de origem
animal corresponde a 11,7% do valor energético
diário, comparado com uma participação de 24,1%
entre as famílias de mais alta renda.
          Uma boa alternativa que deve ser
incentivada é o consumo de peixes, pois contêm
proteínas de alto valor biológico e gorduras
insaturadas que não são prejudiciais à saúde.
          Embora o Brasil seja rico em produção de
pescados, o consumo é baixo e foi reduzido à
metade entre 1974 e 2003. Também os ovos
apresentam uma clara tendência de queda de
consumo (84%) nesse período.

Orientações complementares
Profissionais de Saúde
- As carnes selecionadas para o consumo devem ser
aquelas com menor quantidade de gordura. Uma
orientação prática e importante é a retirada de toda
a gordura aparente das carnes antes de sua
preparação para consumo da família.
- Os produtos derivados da carne, embu-tidos,
hambúrgueres, salsichas e outros, têm quantidades
bem maiores de gordura e alto teor de sal, devendo
ser consumidos apenas ocasio-nalmente.
- Para crianças, adolescentes e gestantes, é
recomendado o consumo de leite e derivados
integrais, porque nessas fases do curso da vida há
necessidade de ácidos graxos essenciais importantes
para a formação do tecido nervoso, que estão
contidos na gordura do leite e derivados. Se houver
justificativa clínica, o consumo de leite e derivados
com baixo teor de gordura poderá ser prescrito por
médico ou nutricionista individualmente.
- Caso existam pessoas que adotem uma
alimentação vegetariana, referencie-as para a
72                                                   GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     Sabendo um pouco mais

       Intolerância à Lactose e Alergia à Proteína do Leite
                A intolerância à lactose é caracterizada pela deficiência de uma enzima digestiva - a
      lactase -, que diminui a capacidade de digestão da lactose (açúcar presente no leite). A
      lactose não digerida presente no intestino sofre fermentação pelas bactérias intestinais,
      podendo causar sintomas como irritação intestinal, flatulência (gases intestinais), distensão
      abdominal, cólicas e diarréia.
               No Brasil, estima-se que cerca de 37 milhões de brasileiros maiores de 15 anos
      apresentem intolerância à lactose. Desse total, cerca de dez milhões têm intolerância grave
      (SEVÁ-PEREIRA, 1996). A alergia ao leite de vaca é a alergia alimentar mais comum na faixa
      etária pediátrica, com relatos da literatura indicando uma prevalência de até 7% em
      crianças menores de 3 anos de idade. As manifestações clínicas são muito variadas, sendo as
      mais comuns cutâneas, gastrointestinais e respiratórias (CASTRO et al., 2005).
               Para indivíduos portadores dessas patologias, o leite e alguns de seus derivados não
      são considerados fontes adequadas de proteínas e de cálcio; portanto, é importante que
      pessoas com hipersensibilidade alimentar recebam orientação alimentar de um
      nutricionista.
6
Diretriz
           Gorduras,
           acúcares e sal
DIRETRIZ 6 - -GORDURAS,açúcares e sal
   DIRETRIZ 6 Gorduras, AÇÚCARES E SAL                                                                         75




Todos                                                   Em relação ao consumo de AÇÚCARES
- As gorduras e os açúcares são fontes de energia.      Saber que:
- O consumo freqüente e em grande quantidade de         - O consumo de açúcares simples não deve
gorduras, açúcar e sal aumenta o risco de doenças       ultrapassar 10% da energia total diária. Isso
como obesidade, hipertensão arterial, diabetes e        significa redução de, pelo menos, 33% (um terço) na
doenças do coração.                                     média atual de consumo da população.
- Utilize sempre o sal fortificado com iodo (sal
iodado).                                                Orientar:
                                                        - O consumo máximo diário de 1 porção de
Profissionais de saúde                                  alimentos do grupo dos açúcares e doces;
Orientar:                                               - E informar que os açúcares são fonte de energia e
- A redução do consumo de alimentos com alta            podem ser encontrados naturalmente nos
concentração de sal, açúcar e gordura para diminuir     alimentos, como frutas e mel, ou ser adicionados em
                                                        preparações e alimentos processados;
o risco de ocorrência de obesidade, hipertensão arte-
                                                        - A redução do consumo de alimentos e bebidas
rial, diabetes, dislipidemias e doenças
                                                        processados com alta concentração de açúcar e das
cardiovasculares;
                                                        quantidades de açúcar adicionado nas preparações
- Sobre a importância da consulta e interpretação
                                                        caseiras e bebidas.
da informação nutricional e da lista de ingredientes
nos rótulos dos alimentos para seleção de alimentos
                                                        Em relação ao consumo de SÓDIO (sal)
mais saudáveis.
                                                        Saber que:
                                                        - O consumo de sal diário deve ser no máximo de
Em relação ao consumo de GORDURAS
                                                        5g/dia (1 colher rasa de chá por pessoa). Isso
Saber que:                                              significa que o consumo atual médio de sal pela
- A contribuição de gorduras e óleos, de todas as       população deve ser reduzido à metade. Essa
fontes, não deve ultrapassar os limites de 15% a        quantidade é suficiente para atender às neces-
30% da energia total da alimentação diária. Uma         sidades de iodo.
vez que os dados disponíveis de consumo alimentar
no Brasil são indiretos e baseados apenas na            Orientar:
disponibilidade domiciliar de alimentos, é              - E informar que o sal de cozinha possui sódio. Este
importante que o consumo de gorduras seja               mineral quando consumido em excesso é prejudicial
limitado para que não se ultrapasse a faixa de          à saúde.
consumo recomendada;                                    - Que todo o sal consumido deve ser iodado.
- O total de gordura saturada não deve ultrapassar      - Que o sal destinado ao consumo animal não deve
10% do total da energia diária;                         ser utilizado pelas famílias das zonas rurais, pois
- O total de gordura trans consumida deve ser           esse sal não contém a quantidade de iodo
menor que 1% do valor energético total diário (no       necessária para garantir a saúde de seres humanos.
máximo 2g/dia para uma dieta de 2.000 kcal).            - A redução do consumo de alimentos processados
                                                        com alta concentração de sal, como temperos
                                                        prontos, caldos concentrados, molhos prontos,
Orientar:
                                                        salgadinhos, sopas industrializadas e outros.
- O consumo máximo diário de 1 porção de
alimentos do grupo dos óleos e gorduras, dando
preferência aos óleos vegetais, azeite e margarinas
                                                        Governo e setor produtivo de alimentos
                                                        - Investir no desenvolvimento de tecnologia que
livres de ácidos graxos trans;
                                                        atenda aos princípios da alimentação saudável.
- Sobre os diferentes tipos de óleos e gorduras e
                                                        - A redução substancial no consumo do sal, açúcares
seus distintos impactos sobre a saúde.
76                                                         GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     e gorduras exige mudanças imediatas nas práticas        Considerações e informações adicionais
     de industrialização de alimentos.                                 As gorduras e os açúcares são fontes de
     - Desenvolver e adotar técnicas de produção de          energia para o organismo. Além disso, as gorduras
     alimentos, a custos acessíveis, que resultem em         são fontes de ácidos graxos essenciais e de vitaminas
     produtos com menores quantidades de açúcares,           lipossolúveis (A, D, E, K), que necessariamente
     gorduras e sal. Esse princípio deve nortear a           devem ser veiculados pelos alimentos, pois o
     produção industrial em geral e não ser restrito         organismo não pode produzí-los. Assim, todos os
     apenas para o grupo dos chamados alimentos para         seres humanos precisam de fonte de gordura. O
     fins especiais .                                        importante é saber distinguir aquelas que são mais
     - Garantir que todo o sal para consumo humano           saudáveis e essenciais ao bom funcionamento do
     seja iodado e atenda aos teores de iodação              organismo daquelas que devem ser evitadas por
     estabelecidos pela legislação nacional vigente.         prejudicar a saúde e consumi-las dentro das faixas
     - Regulamentar o comércio, a propaganda e as            recomendadas para a boa nutrição. No grupo de
     estratégias de marketing de alimentos densamente        alimentos denominado gorduras , estão incluídas
     energéticos (altos teores de gorduras e açúcar) e       as margarinas e todos os óleos vegetais, como o de
     com teor elevado de sal.                                soja, milho, girassol, canola, algodão, bem como as
                                                             gorduras de origem animal (banha, manteiga, leite
                                                             e laticínios e a própria gordura que compõem as
     Família
                                                             carnes). Para mais informações, veja box Sabendo
     - Reduza o consumo de alimentos e bebidas
                                                             um pouco mais Os Diferentes Tipos de Gorduras ,
     concentrados em gorduras, açúcar e sal. Consulte a      nesta seção.
     tabela de informação nutricional dos rótulos dos                  O açúcar é usado para adoçar e preservar
     alimentos e compare-os para ajudar na escolha de        alimentos e bebidas industrializados e os caseiros.
     alimentos mais saudáveis; escolha aqueles com           Ao contrário de alguns tipos de gorduras, o açúcar
     menores percentuais de gorduras, açúcar e sódio.        não é necessário ao organismo humano. Ele
     - Use pequenas quantidades de óleo vegetal              pertence ao grupo dos carboidratos, portanto, a
     quando cozinhar. Prefira formas de preparo que          energia requerida pelo nosso organismo pode ser
     utilizam pouca quantidade de óleo, como assados,        adquirida pelos grupos de alimentos-fonte de
     cozidos, ensopados, grelhados. Evite frituras.          carboidratos complexos (amidos) e não de açúcares
                                                             simples. Mas, o ser humano, desde que nasce, tem
     - Consuma não mais que 1 porção por dia de óleos
                                                             uma preferência por alimentos com sabor doce, o
     vegetais, azeite ou margarina sem ácidos graxos
                                                             que explica o grande consumo e preferência por
     trans.
                                                             esse tipo de alimento. O aumento da disponi-
     - Consuma não mais que 1 porção do grupo dos            bilidade e do consumo de açúcar - diretamente ou
     açúcares e doces por dia.                               incorporado aos alimentos industrializados - tem
     - Reduza a quantidade de sal nas prepa-rações e         efeitos prejudiciais à saúde. Para mais informações,
     evite o uso do saleiro à mesa.                          veja box - Sabendo um pouco mais Carboidratos
     - A quantidade de sal por dia deve ser, no máximo,      (página 43) .
     uma colher de chá rasa, por pessoa, distribuídas em               Os alimentos com alta concentração de
     todas as preparações consumidas durante o dia.          energia (gorduras e açúcares) estão relacionados ao
     - Utilize somente sal iodado. Não use sal destinado     aumento da incidência do excesso de peso e da
     ao consumo de animais. Ele é prejudicial à saúde        obesidade e de DCNT, cujo risco é aumentado pela
                                                             obesidade (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989a;
     humana.
                                                             WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1990b, 2000a,
     - Valorize o sabor natural dos alimentos, reduzindo
                                                             2003a; WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997;
     o açúcar ou o sal adicionado a eles.
                                                             UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE
     - Acentue o sabor de alimentos cozidos e crus
                                                             COORDINATING COMMITTEE, 2000).
     utilizando ervas frescas ou secas ou suco de frutas
                                                                       O sal de cozinha cloreto de sódio é usado
     como tempero.
                                                             como tempero para realçar o sabor dos alimentos
DIRETRIZ 6 - -GORDURAS,açúcares e sal
   DIRETRIZ 6 Gorduras, AÇÚCARES E SAL                                                                          77



nas preparações caseiras e também na conservação         Essas reservas corporais viabilizavam a sobrevi-
de alimentos. O cloreto de sódio e outros compostos      vência em períodos de migração ou escassez de
químicos que contêm sódio em sua composição por          alimentos. Os nossos ancestrais, inicialmente
exemplo, o glutamato de sódio são muito usados           agricultores e camponeses, tinham sua alimentação
também pela indústria de alimentos no                    composta, na sua maioria, por alimentos frescos e in
processamento de inúmeros produtos. O consumo            natura ou processados minimamente. Essa
de sal, de todas as fontes (adicionado às                alimentação continha cerca de 20% a 25% de
preparações caseiras ou o utilizado no                   gordura, medida como porcentagem de energia
processamento de alimentos e preparações                 total (TROWELL e BURKITT, 1981; EATON et al.,
industriais), deve ser limitado de maneira a reduzir     1988).
o risco de doenças coronarianas.                                  A maioria dos alimentos, mesmo os
                                                         vegetais, contém alguma gordura. Por exemplo, dos
Gorduras                                                 grãos como arroz e milho, de sementes como
        As gorduras e os óleos são muito                 girassol e de leguminosas como a soja são extraídos
concentrados em energia, fornecendo 900kcal/100g         óleos vegetais, largamente utilizados no preparo de
(comparativamente, proteínas e carboidratos              alimentos. Outros vegetais, como abacate, coco e
fornecem 400kcal/100g), mas todas as pessoas             azeitonas, têm alto teor de gordura. Os óleos de
precisam consumir alguma gordura.                        dendê, buriti e pequi, além de fornecer energia, são
                                                         muito ricos em carotenóides, os precursores da
        Pela sua alta concentração de energia,
                                                         vitamina A (BRASIL, 2002b). As carnes e os órgãos
facilmente armazenada no organismo, os seres
                                                         (miúdos) de muitos animais, bem como alguns tipos
humanos evoluíram com uma fome de gordura .


     Sabendo um pouco mais
       Colesterol
                 O colesterol é uma gordura que está presente apenas em alimentos de origem animal e
       também é produzida pelo fígado. É um componente das paredes celulares e precursor de muitos
       hormônios (estrógeno e testosterona) e de ácidos biliares. O colesterol participa ainda dos
       processos de absorção das gorduras e da síntese de vitamina D. O organismo é capaz de sintetizar
       o suficiente para cobrir as necessidades metabólicas; dessa maneira, não há necessidade de
       consumo externo desse composto, por meio da alimentação; no entanto, pode haver uma
       elevada ingestão de colesterol alimentar proveniente das carnes, vísceras, ovos e laticínios.
                 O colesterol sérico pode ser classificado em vários tipos, de acordo com suas funções e
       propriedades, destacando-se os dois mais importantes, que são o HDL e o LDL-colesterol. O HDL-
       colesterol, lipoproteína de alta densidade, é responsável pelo transporte do colesterol dos
       diferentes tecidos do corpo para o fígado, freqüentemente associado a um menor risco de
       doenças cardíacas. O LDL, colesterol ligado a lipoproteínas de baixa densidade, é responsável
       pelo transporte do colesterol nos diferentes tecidos orgânicos. O LDL-colesterol atua sobre as
       paredes internas dos vasos sangüíneos, favorecendo a formação de depósitos de gordura e
       células nas paredes das artérias, levando ao seu estreitamento, que prejudica o fluxo sangüíneo.
       Por isso, o LDL é considerado como o colesterol mal e está associado a maior risco de doenças
       cardíacas. Esses dois tipos de colesterol são encontrados apenas no sangue e não nos alimentos. A
       alimentação que contém baixos níveis de gordura saturada e colesterol favorece a redução no
       LDL circulante. Adicionalmente, a atividade física eleva a quantidade de HDL circulante. Essas
       evidências também fundamentam a diretriz deste guia que recomenda a moderação no
       consumo de alimentos de origem animal, dando preferência àqueles com menores teores de
       gorduras.
78                                                     GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     Sabendo um pouco mais
      Os Diferentes Tipos de Gorduras
                Do ponto de vista da saúde, há três aspectos que se deve saber sobre as gorduras e óleos
      de origem animal e vegetal. Primeiro, as gorduras e óleos são produtos de alta concentração
      energética: fornecem 900kcal/100g. Isso é mais do que o álcool e duas vezes mais do que os
      carboidratos e as proteínas. Segundo, existem tipos diferentes de gordura com impactos
      diferentes na saúde. Terceiro, o impacto das gorduras e dos óleos na saúde depende em grande
      parte do tipo de alimento consumido e do nível de atividade física.
                Os alimentos, tais como óleos vegetais, margarinas, banha de porco, gordura vegetal
      hidrogenada e manteiga, são constituídos por praticamente 100% de gordura; mas as gorduras
      também compõem muitos outros alimentos de origem animal ou vegetal, seja como componente
      natural ou como ingrediente adicionado aos produtos industrializados ou às preparações
      caseiras. Uma grande variedade de produtos industrializados e mesmo caseiros, como bolos,
      tortas, biscoitos e chocolates, é elaborada com uma combinação de gordura e açúcar que deve ter
      o consumo reduzido e controlado, pois aumenta o risco de ocorrência de DCNT.
                As gorduras são distintas em suas propriedades físicas e químicas. São essas
      características que podem ser mais ou menos benéficas para a saúde humana. É com base nessas
      características que se classificam as gorduras em saturadas e insaturadas; portanto, embora as
      gorduras componham uma alimentação saudável, a quantidade e o tipo de gordura devem ser
      observados.
                Gorduras saturadas: aumentam o risco de dislipidemias como também de doenças
      cardíacas. As principais fontes são alimentos de origem animal (manteiga, banha, toucinho e
      carnes e seus derivados, leite e laticínios integrais), embora alguns óleos vegetais sejam ricos nesse
      tipo de gordura (óleo de coco). Essas gorduras são prejudiciais à saúde. A alimentação composta
      por grandes quantidades de carnes, derivados de carne e de leite e laticínios integrais são, por
      essa razão, uma causa importante das doenças cardíacas (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1998a;
      WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1990a; DEPARTMENT OF HEALTH AND SOCIAL SECURITY,
      1994). É recomendável que o total de energia da alimentação fornecido pelas gorduras saturadas
      seja menor do que 10%.
                As gorduras insaturadas dividem-se em dois tipos: monoinsaturadas e poliinsaturadas.
      Ao contrário das gorduras saturadas, as insaturadas não causam problemas de saúde, exceto
      quando consumidas em grande quantidade.
                Ácidos graxos monoinsaturados: as principais fontes são azeite de oliva, óleos vegetais
      (girassol, canola e arroz), azeitona, abacate e oleaginosas (castanhas, nozes, amêndoas). A
      quantidade recomendada desse tipo de gordura é calculada pela diferença em relação à soma dos
      demais [gordura total - (gordura saturada + gordura poliinsaturada + gordura trans)], para
      completar o percentual total recomendado para gorduras totais.
                Ácidos graxos poliinsaturados: algumas gorduras poliinsaturadas são essenciais para
      manutenção da saúde e da própria vida. As principais fontes são os óleos vegetais (óleos de
      algodão, milho, soja, girassol e de linhaça) e óleo de peixe. Os peixes em geral são ricos em ácidos
      graxos poliinsaturados (DEPARTMENT OF HEALTH AND SOCIAL SECURITY, 1994). Por isso,
      recomenda-se incentivar o consumo de peixes no Brasil. O teor recomendado de consumo de
      gorduras desse tipo é de 6% a 10% do total de energia diária.
                Ácidos graxos trans: é um tipo de gordura obtido principalmente do processo de indu-
      stria-lização de alimentos, a partir da hidrogenação de óleos vegetais. Recomenda-se, no
      máximo, que 1% do valor energético da alimentação diária seja proveniente desse tipo de
      gordura. Esse tipo de gordura é tão ou mais prejudicial à saúde que as gorduras saturadas.
               Para mais informações, veja box Sabendo um pouco mais Hidrogenação , nesta seção.
DIRETRIZ 6 - -GORDURAS,açúcares e sal
   DIRETRIZ 6 Gorduras, AÇÚCARES E SAL                                                                          79




de peixes, contêm gordura.                              exceto os de coco, cacau e palma (dendê)
          As gorduras são de diferentes tipos e, de     (CONSENSO BRASILEIRO SOBRE DISLIPIDEMIAS,
acordo com isso, podem ser mais ou menos                1996).
prejudiciais à saúde. A gordura saturada está                    O consumo excessivo de alimentos com
presente em alimentos de origem animal, é sólida à      alto teor de gordura está associado ao crescimento
temperatura ambiente e seu consumo deve ser             e ao risco de incidência de várias doenças. Devido à
moderado. A OMS recomenda que não mais que              densidade energética da gordura, quando as dietas
10% do total de energia consumida seja fornecida        de populações sedentárias contêm mais de 25% de
por esse tipo de gordura. A gordura vegetal             gordura, as pessoas tendem a ter excesso de peso ou
hidrogenada também chamada gordura trans                obesidade (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
deve ser evitada, pois é prejudicial à saúde e está     2000d). A alimentação contendo muita gordura
presente em muitos alimentos processados.               saturada é a causa de dislipidemias e das doenças
          As gorduras insaturadas, naturalmente         cardíacas (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989a;
presentes nos óleos vegetais, são fontes de ácidos      WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1990b, 2000d,
graxos essenciais e devem compor a alimentação em       2003a; WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997;
todas as fases do curso da vida, em quantidades         UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE
moderadas. Os ácidos graxos essenciais e as             COORDINATING COMMITTEE, 2000).
vitaminas A, D, E e K não podem ser produzidos pelo              Esse risco é maior em populações
organismo humano, devendo ser fornecidos pela           sedentárias. Quando as populações são ativas, a
alimentação, mas também em pequenas                     quantidade de gordura naturalmente presente nos
quantIdades. Alguns óleos vegetais, como o de           alimentos de origem animal e vegetal e extraída de
coco, possuem gorduras saturadas, devendo ser           vegetais, como os óleos, provavelmente, não causa
utilizados com moderação e apenas                       muitos problemas de saúde (UNITED NATIONS
ocasionalmente na alimentação. O óleo de palma          ADMINISTRATIVE COORDINATING COMMITTEE,
(dendê) contém ácidos graxos saturados,                 2000; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000d,
insaturados e poliinsaturados                           2003a). Por isso, a alimentação com alto teor de
(SAMBANTHAMURTHI et al., 2000). O consumo               gorduras é mais prejudicial atualmente do que há
desse tipo de óleo foi associado à melhoria do perfil   duas gerações, quando as pessoas eram fisicamente
lipídico: redução e/ou produção de níveis normais       mais ativas. Mas também é verdade que, em geral, a
de colesterol total e elevação dos níveis do HDL-       alimentação atual contém mais gordura, tanto nos
colesterol (KESTELLOT et al., 1989; NG et al., 1991).   alimentos de origem animal quanto nos alimentos
Pelo seu elevado teor de carotenóide e de vitamina      processados, pois com a industrialização dos
E pode atuar como fator de proteção e inibidor da       alimentos o teor de gordura nos alimentos
carcinogênese (SYLVESTER et al., 1986; SUNDRAM          aumentou e a composição química da gordura
et al., 1989).                                          utilizada foi modificada.
          Estudos têm mostrado que alguns tipos de               Alguns alimentos merecem muita atenção,
ácidos graxos essenciais (ômega-3 e ômega-6),           pois a gordura presente neles não é visível: a
presentes nas gorduras insaturadas, são fatores de      maioria dos bolos, tortas, biscoitos, chocolates,
proteção à saúde. O ácido graxo ômega-3, por            salgadinhos, pastéis que levam muita gordura na
exemplo, está associado com a redução do risco de       preparação da massa, recheio e cobertura e ainda
doenças cardiovasculares, alguns tipos de câncer e      todos os alimentos fritos. A gordura usada nesses
no tratamento de doenças inflamatórias como             tipos de alimentos é do tipo vegetal hidrogenada
artrite reumatóide (OH, 2005); SEO et al., 2005;        (gordura trans). Essa gordura, embora seja feita a
CARRERO et al., 2005; NETTLETON; KATZ, 2005;            partir de óleos vegetais, é tão ou mais prejudicial à
SAHIDI; MIRALIAKBARI, 2004; HOLUB; HOLUB,               saúde que as gorduras saturadas. Para mais
2004; SALDEEN; SALDEEN, 2004; EILAT-ADAR et al.,        informações, veja box Sabendo um pouco mais
2004). Esse tipo de ácido graxo está presente            Hidrogenação , nesta seção.
principalmente na gordura dos peixes. Já o ácido                 Os dados da última pesquisa nacional que
graxo ômega-6 está presente nos óleos vegetais,         permitem estimar a participação relativa das
80                                                           GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




          Sabendo um pouco mais
            Hidrogenação
                      Grande parte dos alimentos processados contém muita gordura, principalmente a do
            tipo hidrogenado. A hidrogenação converte os óleos vegetais líquidos e insaturados em gorduras
            sólidas e mais estáveis à temperatura ambiente, produzindo um tipo de gordura conhecida como
             ácidos graxos trans ou gordura trans . A hidrogenação é utilizada com dois objetivos
            comerciais. Ela possibilita a conversão de todos os tipos de óleos vegetais e de origem animal em
            um único produto uniforme e esse tipo de gordura demora mais tempo para estragar e ficar
            rançosa. Aumenta, portanto, o tempo de conservação dos produtos, principalmente nos climas
            tropicais, como o do Brasil. Observe a lista de ingredientes dos alimentos processados. Você verá a
            palavra hidrogenada em muitos produtos e que esses produtos têm prazos de validade bem
            longos, alguns maiores que um ano.
                    Os biscoitos recheados ou não, bolos e pães industrializados em geral, outros tipos de
            massas, margarinas e gorduras vegetais utilizam a gordura trans (hidrogenada) como
            ingrediente.
            Quanto menos alimentos com esse tipo de ingrediente você consumir, melhor para a sua saúde. O
            corpo humano não evoluiu com a capacidade de consumir grandes quantidades de gordura
            saturada de origem animal e de gorduras elaboradas por processo de hidrogenação sem sofrer
            sérias conseqüências metabólicas. O consumo da gordura trans tem efeitos semelhantes aos que a
            gordura saturada causa na saúde humana; por isso, deve ser evitado.
                    Já nos anos 90 acumulavam-se evidências de que as gorduras trans acarretam maior risco
            do que as gorduras saturadas para o desenvolvimento de doenças cardíacas (DEPARTMENT OF
            HEALTH AND HUMAN SERVICES, 1994; WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997; EURODIET, 2001;
            WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003a).
                    Fique atento à rotulagem dos produtos e evite alimentos cujos rótulos mencionam
            gordura hidrogenada , gordura trans , óleo hidrogenado ou gordura vegetal na sua lista
            de ingredientes.




     gorduras na alimentação das famílias revelam que o        contexto da adoção de uma alimentação saudável.
     consumo de gorduras totais e de ácidos graxos             Açúcar
     saturados apresenta tendência crescente. Em 2003,                  O açúcar, assim como o amido, é um tipo de
     o consumo de gorduras totais extrapolou os limites        carboidrato. As frutas e alguns vegetais contêm
     recomendados nas regiões metropolitanas e em              naturalmente açúcar do tipo frutose. O açúcar, na
     Brasília e Goiânia, em áreas urbanas das regiões          sua forma de frutose, tal como as gorduras e os
     Centro-Oeste, Sudeste e Sul e em segmentos                óleos, apresentam-se como parte dos alimentos que
     populacionais de rendimentos mais altos (acima de         também contêm vitaminas, minerais e outros
     dois salários mínimos familiares per capita). Essas       nutrientes. Essa forma natural não é o tipo de
     evidências são ainda mais preocupantes, uma vez           açúcar cujo consumo deve ser reduzido. Esta diretriz
     que as informações não incluem o consumo de               está voltada para a diminuição do consumo do
     alimentos fora dos domicílios; portanto a                 açúcar tipo sacarose ou açúcar de mesa - que
     orientação sobre a moderação no consumo de                consumimos diariamente acrescentando-o às
     gorduras e alimentos com alta concentração desse          preparações diversas e é também amplamente
     nutriente, bem como sobre os tipos de gordura e           usado nos produtos industrializados. Nesses
     seus efeitos sobre a saúde, precisa ser priorizada no     produtos, o açúcar é utilizado para torná-los mais
DIRETRIZ 6 - -GORDURAS,acúcares e sal
   DIRETRIZ 6 Gorduras, AÇÚCARES E SAL                                                                           81




saborosos e é adicionado a muitos alimentos e           regiões geográficas, nas áreas rurais e urbanas e em
bebidas na forma concentrada de xarope.                 todas as classes de rendimentos. A situação mais
          Estudos apontam que os nossos ancestrais      preocupante refere-se às classes de rendimentos
consumiam dietas que continham cerca de 4% a 6%         entre 1/2 e 2 SMFPC, em que a contribuição
de açúcar, principalmente sob a forma de frutas e       energética chega próximo de 15%, ou seja, supera
mel. Os seres humanos evoluíram tendo uma               em 50% o recomendado. Da mesma forma que para
aceitação intensa ao sabor doce, provavelmente          as gorduras, o consumo desse grupo de alimentos
porque, na natureza, a doçura indica que as frutas      pode ser ainda maior, uma vez que os dados não
estão maduras e prontas para ser consumidas             incluem o consumo extradomiciliar. Como média
(TROWELL; BURKITT, 1981; MINTZ, 1985; EATON et          para a população brasileira e com base nos dados
al., 1988). Nos primeiros séculos do regime colonial,   disponíveis, a meta a ser alcançada pelas diretrizes
a indústria mais importante no Brasil e também no       deste guia é a redução em pelo menos 1/3 no
Caribe era a de produção de açúcar e, como              consumo atual desses alimentos para atendimento
resultado da industrialização, a quantidade de          das recomendações para uma alimentação
açúcar nos estoques de alimentos da Europa e            saudável.
América do Norte, vendido como tal ou como
componente de alimentos industrializados,               Sal
aumentou demasiadamente a partir do século XIX                   O sódio e o potássio são minerais essenciais
(MINTZ, 1985). Os alimentos das confeitarias são        para a regulação dos fluidos intra e extracelulares,
praticamente todos feitos com açúcar, as geléias na     atuando na manutenção da pressão sangüínea. O
sua maioria têm grande concentração de açúcar e os      sal de cozinha - cloreto de sódio - é composto por
refrigerantes são quase totalmente formados de          40% de sódio, sendo a principal fonte desse mineral
açúcar, além da água.                                   na alimentação.
          Uma alimentação com alto teor de açúcar                As evidências atuais sugerem que o
simples (sacarose), além de estar associada ao          consumo não maior que 1,7g de sódio (5g de cloreto
excesso de peso e obesidade, está também                de sódio por dia) pode contribuir para a redução da
relacionada às cáries dentárias entre crianças,         pressão arterial. A maior parte dos indivíduos,
especialmente as bebidas doces e guloseimas de          mesmo as crianças, consome níveis desse mineral
consistência pastosa (FREIRE, 2000). Outros fatores     além de suas necessidades. O consumo populacional
associados à gênese da cárie dental são: quando e       excessivo, maior que 6g diárias (2,4g de sódio), é
com que freqüência o açúcar é consumido durante o       uma causa importante da hipertensão arterial.
dia, a relativa viscosidade dos alimentos com açúcar,            Estima-se que essa doença atinja cerca de
a natureza do açúcar e os hábitos de higiene bucal.     20% da população adulta brasileira. Não existem
Embora a alimentação com alto teor de açúcar            dados nacionais sobre o consumo de sal na
simples aumente a quantidade de glicose                 população. Dados da POF 2002-2003 indicam, por
sangüínea, ela não é causa direta do diabetes ou das    meio das despesas com a aquisição de sal para
doenças do coração (DEPARTMENT OF HEALTH                consumo do domicílio, uma média estimada de
AND SOCIAL SECURITY, 1989), mas pode ser fator de       9,6g/pessoa/dia, mas aqui não está considerado o sal
risco para câncer do cólon (WORLD CANCER                consumido fora do domicílio.
RESEARCH FUND, 1997).
                                                                 Com base nessas informações, estima-se
          Os dados da Pesquisa de Orçamentos            que o consumo médio de sal pela população
Familiares 2002-2003 mostram uma tendência leve         brasileira deve ser reduzido, pelo menos, à metade
de queda no consumo de açúcar e, por outro lado,        para atender ao patamar máximo de consumo
um aumento considerável no consumo de                   recomendado, isto é, 5g de sal/per capita/dia.
refrigerantes (400%), se comparado ao consumo na
                                                                 Além de fonte de sódio, o sal é a fonte prin-
década de 70. Apesar da tendência de queda, o
                                                        cipal de iodo na alimentação brasileira. O iodo é
consumo do grupo de açúcares, que inclui os
                                                        essencial para o desenvolvimento e crescimento do
refrigerantes, extrapola os limites das recomen-
                                                        corpo humano. A deficiência desse mineral leva a
dações nas regiões metropolitanas, em todas as
                                                        várias doenças, denominadas distúrbios por
82                                                           GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     deficiência de iodo (DDI), sendo causa comum de           recomendado para prevenir os distúrbios por
     deficiências mentais. Embora a manifestação clínica       deficiência de iodo.
     mais evidente seja o bócio ( papo ), essa deficiência              É importante destacar que a redução do
     é também causa importante de abortos                      consumo de sal para os níveis recomendados
     espontâneos, nascimento de natimortos e baixo             (<5g/dia) não originará problemas, pois a
     peso ao nascer. Crianças geradas por mulheres com         quantidade recomendada garante a quantidade
     deficiência de iodo podem nascer com retar-               adequada de iodo para prevenir os DDI.
     damento mental e físico ou apresentar dificuldades
     de aprendizado. O Brasil, como muitos outros              Orientações complementares
     países, utiliza o sal como veículo para fornecer iodo
     em concentrações adequadas para a população. O
                                                               Profissionais de Saúde
     Programa Nacional para a Prevenção e Controle dos         - Em uma alimentação saudável, a ingestão de
     Distúrbios por Deficiência de Iodo, coordenado pelo       gordura não deve ser menor do que 15% do total de
     Ministério da Saúde, envolve ações diversas,              energia. Para as pessoas fisicamente ativas, uma
     incluindo a obrigatoriedade de fortificação do sal        quantidade de até 30% de gordura pode não ser
     para consumo humano com iodato de potássio,               prejudicial, desde que o consumo da gordura
     ação desenvolvida com sucesso no País, desde a            saturada e gorduras hidrogenadas permaneça
     década de 50. Merece atenção dos profissionais e a        baixo.
     adequada orientação da população, no entanto, o           - Para alcançar os objetivos dietéticos para as
     uso do sal destinado para consumo animal,                 gorduras, é preciso que se leve em consideração nas
     especialmente nas famílias de zonas rurais, pois o        orientações, além das gorduras utilizadas na
     teor de iodo nesse tipo de sal não atende ao              preparação dos alimentos, as gorduras que




          Sabendo um pouco mais

            O Consumo de Gorduras e as Pessoas Ativas e Crianças em Crescimento.
                     Atualmente, a maioria da nossa população tem empregos ou estilos de vida com baixa
            atividade física. Mesmo pessoas muito ativas (pessoas cujo trabalho envolve muita atividade
            física ou que praticam esportes de intenso gasto energético, como jogadores de futebol e
            atletas, e crianças ativas em idade de crescimento) não precisam consumir alimentos ou bebidas
            que contenham quantidades extras de gordura, açúcar, proteínas ou sal.
                     Essas pessoas têm maior necessidade de alimentos, porque são mais ativas fisicamente
            e têm, portanto, gasto energético diário mais elevado. O que elas precisam, no entanto, é de
            uma alimentação saudável, com nutrientes e conteúdo energético que atendam às suas
            necessidades nutricionais, seguindo as diretrizes deste guia (TUNSTALL, 1993). As necessidades
            individuais devem ser ajustadas na dieta, elaborada sob orientação de um nutricionista, para
            garantir a saúde e um bom estado nutricional.
                     Bebês e crianças pequenas, de até 2 anos de idade, são uma exceção porque eles estão
            em crescimento e têm relativamente pequena capacidade gástrica, recomendando-se para esse
            grupo etário 30% a 40% de energia sob a forma de gordura (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
            2000b). Para mais informações sobre as recomendações alimentares para crianças pequenas,
            consulte o Guia Alimentar para Crianças Menores de Dois Anos (BRASIL, 2002d).
DIRETRIZ 6 - -GORDURAS,açúcares e sal
   DIRETRIZ 6 Gorduras, AÇÚCARES E SAL                                                                          83




compõem os alimentos e as que são adicionadas no        outros alimentos.
processamento dos alimentos.                            - Para que a meta de redução de sal seja alcançada, é
- Em relação ao consumo do açúcar, a meta é a           preciso saber e informar que o sal está contido em
redução em pelo menos 1/3 no nível de consumo           muitos alimentos processados e, portanto, o
atual para alcançar a recomendação (máximo de           consumo desses alimentos deve ser desestimulado,
10% do valor energético total da dieta). Para           bem como o hábito de acrescentar sal aos alimentos
alcance desse objetivo, as orientações devem            já preparados. Para mais informações, veja box
aplicar-se aos açúcares refinados acrescentados aos     Sabendo um pouco mais Alimentos Salgados e
alimentos ou às preparações alimentares, sejam elas     Com Sal , nesta seção.
caseiras ou industrializadas; portanto, não incluem
o açúcar naturalmente presente nas frutas e em



     Sabendo um pouco mais
          Alimentos Salgados e com Sal
                   O nome químico do sal de cozinha é cloreto de sódio. O sal é composto por dois
          quintos (40%) de sódio, que é um nutriente essencial para o ser humano.
                  A necessidade humana de sódio varia entre 300 e 500 miligramas por dia, para
          pessoas acima de 2 anos de idade (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989b). Em excesso
          (consumo maior que 6 gramas por dia de sal ou 2,4 gramas de sódio), é uma causa
          importante da hipertensão arterial, de acidente vascular cerebral e de câncer de estômago
          (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989a, 1989b; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1982,
          1990b, 2003a; WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997; UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE
          COORDINATING COMMITTEE, 2000).
                  Grande parte da população brasileira consome sal em excesso: a média estimada de
          consumo é 9,6g/dia/per capita, não computado o sal consumido fora do domicílio
          (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2004a).
                   Isso se deve principalmente ao consumo de alimentos industrializados e também
          devido à adição de sal durante o cozimento ou à mesa. A dieta muito salgada dos brasileiros
          tem origem na tradição portuguesa de salgar os alimentos como meio de conservação.
          Muitos alimentos são conservados em salmoura, em vinagre ou sal (picles, vegetais, ervas e
          especiarias). Os alimentos em salmoura, tipo picles, podem aumentar o risco de câncer no
          estômago, quando esse tipo de alimento é consumido de maneira intensa e regular
          (WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997).
                  Ao tentar reduzir o consumo de sal, as pessoas que consomem habitualmente
          alimentos salgados geralmente consideram a comida não tão saborosa, já que o sal é usado
          como condimento. As células do paladar podem levar algum tempo para ajustar-se ao sabor
          menos intenso do sal (período médio de até três meses). É importante que as pessoas
          saibam disso para persistir no consumo de alimentos com menos sal.
                   Os rótulos dos alimentos processados apresentam o conteúdo de sódio. São
          exemplos de alimentos que possuem altos teores de sódio: sal de cozinha, embutidos,
          queijos, conservas, sopas e molhos e temperos prontos.
7
diretriz   água
DIRETRIZ 7 - Água                                                                                              87




Todos                                                     Considerações e informações adicionais
- A água é um alimento indispensável ao                             A água é um nutriente essencial à vida.
funcionamento adequado do organismo.                      Nenhum outro nutriente tem tantas funções no
- Toda água que você beber deve ser tratada,              organismo como a água, sendo a sua ingestão diária
filtrada ou fervida.                                      crucial para a saúde humana. Todos os sistemas e
                                                          órgãos do corpo utilizam água. Ela desempenha
Profissionais de saúde                                    papel fundamental na regulação de muitas funções
                                                          vitais do organismo, incluindo a regulação da
Ontar:rie                                                 temperatura, participa do transporte de nutrientes
- E incentivar o consumo de água independente de          e da eliminação de substâncias tóxicas ou não mais
outros líquidos;                                          utilizadas pelo organismo, dos processos digestivo,
- As pessoas a ingerir no mínimo dois litros de água      respiratório, cardiovascular e renal.
por dia (seis a oito copos), preferencialmente entre                O corpo humano é, na sua maior parte,
as refeições. Essa quantidade pode variar de acordo       formado por água. A proporção de água depende
com a atividade física e com a temperatura do             do volume de gordura orgânica (ASTRAND et al.,
ambiente;                                                 1970), variando entre 60% nos homens e 50% a
- A oferta ativa e regular de água às crianças e aos      55% nas mulheres. Sua deficiência se manifesta
idosos ao longo do dia;                                   rapidamente: uma variação de cerca de 1% no grau
- Sobre os cuidados domésticos que garantam a             de hidratação já leva ao aparecimento dos sintomas
qualidade e segurança da água a ser consumida             da desidratação. A privação completa de água leva
pela família.                                             à morte em poucos dias, enquanto que, na privação
                                                          de alimentos, o homem pode sobreviver semanas.
                                                          Apesar disso, a importância vital da água é muitas
Governo e setor produtivo de alimentos                    vezes subestimada, porque usualmente ela é
- Garantir o acesso e a qualidade da água tratada         abundante.
para toda a população brasileira.                                   Os alimentos também contêm água em sua
- Sistemas de abastecimento seguro de água são            composição, em proporções variadas. O peso das
requisito fundamental para a saúde pública.               frutas é de até 95% ou mais de água e da carne até
- Promover a expansão da rede pública de                  50% ou mais, enquanto que o açúcar e os óleos não
saneamento, permitindo a capilarização dos                contêm água. A densidade energética dos
equipamentos de fornecimento de água tratada em           alimentos é, em grande parte, uma função do seu
domicílios, espaços públicos, escolas, locais de          conteúdo de água: quanto maior o percentual de
trabalho e outras unidades coletivas de                   água no alimento, menor é a sua densidade
acolhimento de populações específicas (carcerárias,       energética. Portanto, alimentos cujo conteúdo de
idosos, crianças, entre outras).                          água é elevado, têm menor probabilidade de causar
- Garantir e preservar os mananciais de água em           excesso de peso e obesidade. Além disso, o volume
território nacional, como requisito para a saúde e        de água no sistema digestivo ajuda a provocar
                                                          sensação de saciedade (WORLD HEALTH
elemento de soberania nacional.
                                                          ORGANIZATION, 2000a), diminuindo a necessidade
                                                          de consumir mais alimentos.
Família                                                             Atenção especial deve ser dada ao
- Use água tratada ou fervida e filtrada, para beber e    abastecimento público de água tratada e à
para preparar refeições e sucos ou outras bebidas.        orientação para consumo de água tratada, fervida
- Beba pelo menos de dois litros (seis a oito copos) de   ou filtrada, de boa qualidade, uma vez que a água é
água por dia. Dê preferência ao consumo de água           um potencial veículo de doenças. Principalmente
nos intervalos das refeições.                             entre crianças, são comuns as diarréias causadas por
- Ofereça água para crianças e idosos ao longo de         agentes infecciosos transmitidos pelo consumo de
todo o dia. Eles precisam ser estimulados                 água de má qualidade e não tratada. A única
ativamente a ingerir água.                                exceção de não orientação de consumo de água é
88                                                           GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     para bebês amamentados exclusivamente ao peito,
     porque o leite materno contém a quantidade
     necessária de água de que o bebê, nessa fase da
     vida, necessita para a sua saúde e adequada
     hidratação.


     Orientações complementares
     Profissionais de saúde
     - Estabelecer a necessidade diária exata para
     consumo de água é difícil; essa necessidade
     depende dos processos metabólicos, do gasto
     energético do organismo e das condições
     ambientais. Um método prático é considerar o
     consumo de 1ml/kcal de energia gasta para adultos
     em condições moderadas de gasto energético e
     temperaturas ambientais não muito elevadas. Por
     exemplo, para um VET de 2.000kcal, seriam
     necessários dois litros de água. Para crianças, a
     estimativa pode ser calculada considerando
     1,5ml/kcal de energia gasta (NATIONAL RESEARCH
     COUNCIL, 1989b).
     - Além das crianças, especial atenção deve ser dada
     ao consumo de água por pessoas idosas, pois o
     mecanismo de controle de sede pode ser menos
     eficiente.
     - Suco de fruta fresca ou polpa congelada sem a
     adição de açúcar contam como uma porção de
     água. Incentive a substituição do refrigerante,
     bebidas alcoólicas e sucos industrializados por água.
Diretriz
           1
    especial   Atividade física
DIRETRIZ 6 - GORDURAS, AÇÚCARES E SAL
           ESPECIAL 1 - Atividade física                                                                          91




Todos                                                    Família
- A alimentação saudável e a atividade física regular    - Torne seu dia-a-dia e lazer mais ativos. Acumule
são aliadas fundamentais para a manutenção do            pelo menos 30 minutos de atividade física todos os
peso saudável, redução do risco de doenças e             dias. Movimente-se! Descubra um tipo de atividade
melhoria da qualidade de vida.                           física agradável! O prazer é também fundamental
                                                         para a saúde.
                                                         - Procure nos serviços de saúde orientações sobre
Profissionais de saúde                                   alimentação saudável e atividade física.
- Abordar de maneira integrada a promoção da             Caminhe, dance, ande de bicicleta, jogue bola,
alimentação saudável e o incentivo à prática regular     brinque com crianças. Escolha estas e outras
de atividade física.                                     atividades para movimentar-se.
- Orientar sobre a importância do equilíbrio entre o     - Aproveite o espaço doméstico e espaços públicos
consumo alimentar e o gasto energético para a            próximos a sua casa para movimentar-se. Convide os
manutenção do peso saudável, em todas as fases do        vizinhos e amigos para acompanhá-lo.
curso da vida.                                           - Incentive as crianças a realizar brincadeiras que
- Utilizar a avaliação antropométrica, nos serviços      fazem parte de nossa cultura popular e que sejam
de saúde (Sisvan), para acompanhamento do peso           ativas como aquelas que você fazia na sua infância e
saudável de pessoas em quaisquer fases do curso da       ao ar livre: pular corda, correr, amarelinha, esconde-
                                                         esconde, pega-pega, andar de bicicleta e outras.
vida.
                                                         Oriente-as a não ficar muito tempo em frente à
- Estimular a formação de grupos para prática de
                                                         televisão ou em jogos de computador. Estimule-as a
atividade física e orientação sobre alimentação
                                                         dividir o tempo de lazer entre essas duas opções.
saudável nos serviços de saúde, escolas e outros
espaços comunitários, sob supervisão de
                                                         Considerações e informações adicionais
profissionais capacitados.
                                                                   Os seres humanos são preparados para ser
                                                         fisicamente ativos. Todas as formas de atividade
Governo e setor produtivo de alimentos                   física são benéficas para a saúde. Há pouco tempo,
- Proteger, criar e manter ambientes urbanos e           pensava-se que somente o exercício físico vigoroso,
rurais, nos quais a prática de atividade física diária   como esportes com bola, corrida e ginástica, trazia
seja viável, adequada, agradável e segura.               benefícios para a saúde em geral e para o sistema
- Adequar espaços urbanos criando áreas para             cardiovascular. Hoje, as evidências mostram que
pedestres, pistas destinadas a ciclistas, espaços e      mesmo as atividades físicas moderadas e regulares,
quadras comunitários, parques e clubes                   que praticamente todas as pessoas estão aptas a
                                                         realizar, são boas para a saúde (ASTRAND et al.,
comunitários, mantendo-os bem conservados.
                                                         1970; DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN
- Criar oportunidades de tempo e espaço para
                                                         SERVICES, 1996).
prática de atividade física nas comunidades e nos
                                                                   Qualquer trabalho que envolva atividades
locais de trabalho.
                                                         que exijam movimento do corpo, como andar,
- Valorizar a atividade física regular nas escolas e     correr, jogar, limpar casa, lavar carro e praticar
práticas lúdicas ativas em creches e pré-escolas.        jardinagem ou cultivo de hortas, gasta energia
- Fortalecer políticas públicas de incentivo aos         física. Andar em ritmo acelerado, exercícios de
esportes.                                                alongamento, ciclismo, dança e todas as formas de
- Desenvolver formas de divulgação e comunicação         recreação e esporte que mantenham o corpo em
social que informem e valorizem a adoção de modos        forma, mais forte e jovial são atividades físicas.
de vida saudáveis, conjugando a promoção da                        A atividade física regular e freqüente, além
alimentação saudável e a prática de atividade física     de prevenir o sobrepeso e a obesidade, é também
regular                                                  benéfica para a saúde mental e emocional (DEPART-
                                                         MENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES, 1996;
92                                                  GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     Sabendo um pouco mais
       Balanço Energético
                O estado nutricional, no plano individual ou biológico, resulta do equilíbrio entre
       consumo alimentar e gasto energético do organismo. Esse gasto refere-se à utilização dos
       alimentos pelo organismo para suprir as suas necessidades nutricionais e está relacionado ao
       estado de saúde e à capacidade de utilização dos nutrientes fornecidos pela alimentação. As
       necessidades nutricionais de energia variam em função da idade, do sexo, do estado de
       saúde e do estado fisiológico e nível de atividade física dos indivíduos. Para um adequado
       estado nutricional, no que se refere à energia, o consumo alimentar deve estar em perfeito
       equilíbrio com o gasto da energia do organismo usada para manter as funções vitais e nas
       atividades físicas diárias.
                As pessoas em equilíbrio energético não ganham nem perdem peso; é o que se
       denomina balanço energético . Portanto, o balanço energético é o saldo       obtido a partir
       do total de energia ingerida e o total de energia gasta pelo organismo em suas atividades
       diárias. Caloria (kcal) é a unidade de medida da energia gasta pelo corpo humano em suas
       atividades metabólicas e físicas e do teor de energia encontrado nos alimentos (proteínas e
       carboidratos: 4kcal/g; gorduras: 9kcal/g). Vitaminas e minerais não fornecem energia.
                Se a alimentação fornece mais energia do que é requerida pelo organismo, a
       energia excedente é acumulada na forma de gordura corporal. Isso significa que, se a pessoa
       não ingerir menos alimentos ou aumentar a atividade física, irá ganhar peso, principalmente
       pelo acúmulo de gordura, o que poderá levar ao sobrepeso ou à obesidade, se esse
       desequilíbrio for mantido por longo tempo.
                As recomendações deste guia são baseadas em um consumo energético médio da
       população de 2.000 calorias diárias. Isso não é uma recomendação, mas uma estimativa da
       necessidade de energia média para uma população considerada sedentária. Em média, os
       homens brasileiros alcançam balanço energético com cerca de 2.400 calorias por dia; as
       mulheres, com cerca de 1.800 ou 2.200 calorias por dia. A média de 2.000 calorias atende
       também às necessidades de energia das pessoas mais jovens. Esses dados servem apenas para
       ilustrar e ajudar a entender o equilíbrio energético. Por exemplo, as mulheres pequenas e
       inativas que seguem as recomendações alimentares deste guia, para manter o balanço
       energético, devem consumir um número menor de porções entre as recomendadas para
       cada grupo de alimentos, se comparadas aos homens de mesma idade e nível de atividade
       física, e devem ser particularmente cuidadosas em consumir pequenas quantidades de
       alimentos com alta densidade energética (açúcar e gordura).
                O objetivo principal da recomendação nesta seção - aumentar a atividade física
       diária - é ajudar a alcançar o balanço energético, para que as pessoas possam alimentar-se
       adequadamente sem acumular gordura corporal.
DIRETRIZ 6 - GORDURAS, AÇÚCARES E SAL
           ESPECIAL 1 - Atividade física                                                                         93




CENTRO DE ESTUDOS DO LABORATÓRIO DE                      doentes ou enfermas, bem como pessoas idosas,
APTIDÃO FÍSICA DE SÃO CAETANO DO SUL, 1998).             contribuindo para uma maior capacidade de
Pessoas que são fisicamente ativas,                      mobilidade e melhor sentido de equilíbrio,
conseqüentemente, possuem um equilíbrio                  aumentando a sua autonomia e auto-estima
energético mais elevado, o que significa que são         (DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES,
capazes de aproveitar melhor os alimentos                1996; CENTRO DE ESTUDOS DO LABORATÓRIO DE
nutritivos, sem acumular gordura no corpo. À             APTIDÃO FÍSICA DE SÃO CAETANO DO SUL, 1998).
medida que a atividade física aumenta, o mesmo
acontece com a massa corporal magra (massa               Níveis de atividade
muscular) e o corpo gradualmente muda de forma,
                                                                   Estima-se que 70% da população brasileira
ocorrendo a substituição da gordura por massa
                                                         faça pouquíssima ou quase nenhuma atividade
muscular (ASTRAND et al., 1970).
                                                         física (CENTRO DE ESTUDOS DO LABORATÓRIO DE
          A atividade física regular mantém múscu-       APTIDÃO FÍSICA DE SÃO CAETANO DO SUL, 1998).
los, ossos e articulações fortes e os perfis hormonais
e sangüíneos e as funções imunológica e intestinal                Como na maioria dos países do mundo, no
equilibradas e dentro dos níveis de normalidade.         Brasil, há uma tendência crescente de que as
Também contribui para a prevenção das DCNT e             pessoas tornem-se cada vez mais inativas
doenças dos ossos e articulações. De modo inverso, a     fisicamente, especialmente porque os avanços
inatividade física aumenta o risco dessas doenças e      tecnológicos produzem ocupações, profissões e
incapacidades (BLIX; WRETLIND, 1965;                     modos de vida mais sedentários. Poucas pessoas
DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES,                 caminham ou pedalam habitualmente para se
1996; WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997;                  locomover; ao contrário, cada vez mais fazem uso
WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000a;                        de veículos automotores. As cidades e mesmo os
WRETLIND, 1967). As mulheres que estão                   ambientes rurais são projetados para carros e
fisicamente em forma têm maior probabilidade de          ônibus. Em grande parte dos ambientes de
ter gravidez e parto sem complicações.                   trabalho, as máquinas e equipamentos fazem a
          É muito importante manter a atividade          maior parte do trabalho que, tempos atrás, eram
física por toda a vida. Em geral, as pessoas que estão   executados manualmente.
fisicamente em forma desfrutam mais da vida, do                   Atividades de recreação ou lúdicas mais
trabalho, dormem melhor, ficam menos enfermas,           ativas vêm sendo substituídas por atividades de
têm menos incapacidades e muito provavelmente            lazer mais sedentárias: assistir TV ou usar
terão uma expectativa de vida maior, envelhecendo        computadores e jogos eletrônicos.
com saúde (DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN                         Adicionalmente, em muitas regiões e
SERVICES,1996; CENTRO DE ESTUDOS DO                      cidades, a falta de segurança pública e a violência
LABORATÓRIO DE APTIDÃO FÍSICA DE SÃO                     são impedimentos para a prática de atividade física,
CAETANO DO SUL, 1998).                                   o que leva crianças, jovens e adultos a passar mais
          Igualmente, as pessoas fisicamente em          tempo em casa ou em locais fechados, em
forma são profissionalmente mais produtivas,             detrimento de atividades de lazer ao ar livre e mais
faltam menos ao trabalho e desenvolvem maior             ativas. Em alguns locais, especialmente grandes
resistência a doenças.                                   centros urbanos, a atividade física tornou-se
          As crianças fisicamente ativas têm um          inviável, desagradável e até perigosa. Muitas
melhor desempenho escolar e relacionamento com           escolas não contam com um espaço físico adequado
os pais e amigos e, provavelmente, terão menos           para as aulas de educação física, prática de esportes
tendência a fumar ou utilizar drogas (CENTRO DE          e de recreação.
ESTUDOS DO LABORATÓRIO DE APTIDÃO FÍSICA DE
SÃO CAETANO DO SUL, 1998). A prática de
atividade física regular contribui para o desen-         A avaliação nutricional como instrumento
volvimento de hábitos de vida saudáveis, em              para o controle do peso saudável
qualquer fase do curso da vida.                                  A avaliação nutricional de rotina de
          A atividade física beneficia as pessoas        crianças, adolescentes, adultos, idosos e de
94                                                            GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




     gestantes por meio das medidas antropométricas -           meio de medidas antropométricas (peso, altura e
     medidas do corpo - é um importante instrumento             circunferência da cintura), denominado Sistema de
     para avaliação do estado nutricional e de saúde,           Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan). Com
     permitindo identificar precocemente pessoas e              essa ferramenta, é possível aos profissionais e
     grupos populacionais de risco. Para mais                   gestores locais utilizar a informação gerada, indi-
     informações, consulte o box Sabendo um pouco               vidual ou coletiva para estimular a adesão dos
     mais Massa Corporal , nesta seção.                         usuários do serviço e a comunidade em geral a
               Para a avaliação nutricional de crianças, o      avaliar sistematicamente o seu peso corporal e
     Ministério da Saúde recomenda a utilização da              participar de atividades de promoção da
     Caderneta da Criança, que apresenta a curva de             alimentação saudável e prática de atividade física
     referência do NCHS (1977) do peso em relação à             regular.
     idade (P/I), para acompanhamento sistemático do            - Grupos de pessoas por idade ou sexo, por exemplo,
     crescimento e desenvolvimento infantil.                    podem ser formados, sob orientação dos
               Os índices antropométricos também                profissionais das unidades de saúde, indepen-
     recomendados para a avaliação nutricional de               dentemente de serem portadores de algum tipo de
     crianças menores de 10 anos de idade são: o índice         patologia. Modos de vida saudáveis devem ser
     altura por idade (A/I), que expressa o crescimento         estimulados também entre pessoas sadias, para
     linear, indicando o efeito cumulativo de situações         prevenir doenças e promover a qualidade de vida e
     diversas sobre o crescimento; e o índice peso por          um envelhecimento saudável.
     altura (P/A), que reflete a harmonia entre as
     dimensões do corpo (massa corporal e altura),
     sendo mais preciso para o diagnóstico de excesso de
     peso.
               A avaliação nutricional de gestantes, tanto
     adultas quanto adolescentes, é feita utilizando o
     IMC segundo a semana gestacional. Para maiores
     informações, consulte a publicação Vigilância
     Alimentar e Nutricional (Sisvan). Orientações Básicas
     para a coleta, o processamento, a análise de dados e a
     informação em serviços de saúde, do Ministério da
     Saúde (BRASIL, 2004g).


     Orientações complementares
     Profissionais de saúde
     - O objetivo da prática de atividade física é manter o
     índice de massa corporal (IMC) entre 18,5 e
     24,9kg/m2 e manter o balanço energético nos níveis
     recomendados neste guia. Para mais informações
     sobre o IMC, veja box Sabendo um pouco mais
      Massa Corporal , nesta seção.
     - É recomendável submeter as pessoas com histórico
     de doença cardíaca ou que estão acima de 50 anos a
     um teste simples de esforço, para avaliar a sua
     condição para a prática de atividade física.
     - O Ministério da Saúde disponibilizou um sistema
     de informações, nas unidades básicas de atenção à
     saúde, que permite monitorar o estado nutricional
     das pessoas em quaisquer fases do curso da vida, por
DIRETRIZ 6 - GORDURAS, AÇÚCARES E SAL
         ESPECIAL 1 - Atividade física                                                                     95




  Sabendo um pouco mais
       Massa Corporal
                O índice de massa corporal (IMC) é uma medida recomendada
       internacionalmente para avaliação do estado nutricional de adolescentes, adultos e
       idosos e permite estimar a massa corporal e o risco progressivo de desenvolvimento de
       doenças crônicas não-transmissíveis associadas ao sobrepeso e à obesidade (WORLD
       HEALTH ORGANIZATION, 2003a).
               Quanto maior o IMC, maior é o risco de o indivíduo ser acometido por DCNT, tais
       como hipertensão, diabetes e dislipidemias (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000d,
       2003a).
               O IMC é calculado dividindo o peso em quilogramas pela altura ao quadrado em
       metros (kg/m2). Por exemplo, um adulto que pesa 70kg e cuja altura seja 1,75 metros terá
       um IMC de 22,9; portanto, esse índice sinaliza se há ou não uma relação de harmonia
       entre o peso e a altura, embora não permita a distinção entre massa gorda e magra.
       Existem pontos de corte específicos de IMC para cada uma das fases do curso da vida,
       visando atender às características fisiológicas de cada uma delas.
                Para a avaliação de adolescentes, além da altura e do peso, no cálculo do IMC são
       considerados também a idade e o sexo, sendo recomendado o critério de classificação
       percentilar do IMC. Após o cálculo do IMC, a classificação nutricional deve ser realizada de
       acordo com uma curva de distribuição em percentis (P) de IMC para cada sexo.
                ADOLESCENTES (idade >10 anos e <20 anos):
                          - IMC < p5: baixo peso
                          - IMC > p5 e < p85: peso adequado/eutrófico
                          - IMC > p85: sobrepeso
                ADULTOS (idade > 20 anos e < 60 anos):
                          - IMC < 18,5: baixo peso
                          - IMC > 18,5 e < 25,0: peso saudável (eutrofia)
                          - IMC > 25 e < 30,0: sobrepeso
                          - IMC > 27: obesidade
                IDOSOS (> 60 anos)
                          - IMC < 22: baixo peso
                          - IMC > 22 e < 27: peso adequado/eutrófico
                          - IMC > 27: sobrepeso
               Os profissionais de saúde devem usar o IMC nas avaliações de estado nutricional
       e do risco de DCNT para orientar as suas ações junto aos usuários dos serviços,
       individualmente ou de forma coletiva.
                 Para mais informações sobre uso e aplicação do IMC, consulte a publicação
       Vigilância Alimentar e Nutricional. Orientações Básicas para a coleta, o processamento, a análise
       de dados e a informação em serviços de saúde (BRASIL, 2004g).
Diretriz
    especial   2   Qualidade sanitária
                   dos alimentos
DIRETRIZ ESPECIAL 2 - Qualidade sanitária dos alimentos                                                     99




Todos                                                   se caracterizem como de riscos iminentes à saúde.
- A garantia da qualidade sanitária dos alimentos
implica a adoção de medidas preventivas e de
                                                        Setor produtivo de alimentos
controle em toda a cadeia produtiva, desde sua
                                                        - Adotar as medidas preventivas e de controle,
origem até o consumo do alimento no domicílio. A
                                                        incluindo as boas práticas de higiene, necessárias
manipulação dos alimentos segundo as boas
                                                        para que a população disponha de produtos
práticas de higiene é essencial para redução dos
                                                        seguros para o consumo.
riscos de doenças transmitidas pelos alimentos.
                                                        - Capacitar os manipuladores de alimentos nos
                                                        temas relacionados à prática de higiene e à correta
Profissionais de saúde                                  manipulação dos alimentos, conscien-tizando-os
- Orientar sobre as medidas preventivas e de            sobre sua responsabilidade na pre-venção das
controle, incluindo as práticas de higiene, que         doenças transmitidas por alimentos.
devem ser adotadas na cadeia produtiva, nos
serviços de alimentação, nas unidades de
                                                        Família
comercialização e nos domicílios, a fim de garantir a
qualidade sanitária dos alimentos.                      - Ao manipular os alimentos, siga as normas básicas
                                                        de higiene, na hora da compra, da preparação, da
- Informar que alimentos manipulados ou
                                                        conservação e do consumo de alimentos.
conservados inadequadamente são fatores de risco
importantes para muitas doenças.
                                                        Considerações e informações adicionais
                                                                 Uma característica fundamental para a
Governo e setor produtivo de alimentos                  alimentação saudável é que o alimento consumido
Governo                                                 seja seguro, ou melhor, não apresente perigos
                                                        intrínsecos ou contaminação de natureza biológica,
- Adotar medidas multissetoriais e                      física ou química em níveis que comprometam a
multidisciplinares que visem à promoção da              saúde do consumidor. Os riscos de contaminação do
qualidade sanitária dos alimentos nas esferas local,    alimento são inúmeros e o consumidor tem papel
nacional e internacional.                               importante para a prevenção desses riscos mediante
- Garantir uma legislação e um sistema de controle      a manipulação correta do alimento, seguindo as
                                                        normas básicas de higiene. Para conhecer as
e fiscalização eficiente para que em todas as etapas
                                                        principais fontes de contaminação de alimentos,
da cadeia produtiva de alimentos sejam adotadas
                                                        veja os boxes Sabendo um pouco mais As
medidas necessárias para que a população disponha
                                                        Principais Fontes de Contaminação dos Alimentos
de produtos seguros para o consumo.                     e Os Cinco Pontos-Chave da Organização Mundial
- Estabelecer parcerias com setores de apoio ao         da Saúde para a Inocuidade dos Alimentos , nesta
segmento produtivo e comercial de alimentos com         seção.
objetivo de disseminar e apoiar a imple-mentação                 A promoção da qualidade sanitária dos
da legislação por meio de capacitações, orientações     alimentos deve ser uma prioridade na agenda da
técnicas e assessorias aos estabelecimentos.            saúde pública, uma vez que a disponibilidade de
                                                        alimentos seguros, além de melhorar a saúde das
- Orientar a população sobre os riscos relacionados à   pessoas e a produtividade de um país, é um direito
incorreta manipulação e conser-vação dos                básico de cidadania. Segundo a Organização
alimentos e sobre as medidas e práticas de higiene      Mundial da Saúde (OMS), um terço da população de
que devem ser adotadas a fim de prevenir esses          países desenvolvidos é acometida a cada ano por
riscos.                                                 doenças transmitidas por alimentos e possivel-
                                                        mente esse quadro é mais dramático em países em
- Adotar medidas de intervenção em situações que
100                                                   GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      Sabendo um pouco mais
       As Principais Fontes de Contaminação dos Alimentos
       1) Pessoas
                Pessoas com sintomas de doenças transmitidas por alimentos (DTA) podem transportar
       microrganismos perigosos para um alimento durante sua manipulação. Até mesmo uma pessoa
       saudável pode transmitir esses microrganismos ou quando atuam como veículo, transportando
       esses agentes de um alimento contaminado para um alimento não contaminado ou quando são
       portadoras sem apresentar sintomas aparentes (os portadores assintomáticos). Nesses casos, os
       alimentos podem ser contaminados quando as pessoas os tocam sem lavar as mãos ou quando
       falam, tossem ou espirram sobre eles.
       2) Alimentos crus ou não lavados
                  Alguns alimentos crus podem apresentar organismos perigosos que são eliminados
       quando
       completamente cozidos. Da mesma forma, os alimentos não lavados podem apresentar esses
       organismos que são removidos após eficiente lavagem; entretanto esses alimentos, antes de
       passar pelo cozimento ou lavagem, podem contaminar direta ou indiretamente um alimento já
       preparado. Um exemplo de contaminação indireta é quando se corta um frango cru e, sem lavar a
       faca, utiliza-se a mesma faca para cortar salsinha lavada. Esse tipo de contaminação é
       denominado contaminação cruzada.
       3) Insetos, ratos e animais domésticos
                A área de preparo de alimentos é atrativa para os animais que, ao terem contato
       diretamente com os alimentos desprotegidos ou as superfícies com as quais o alimento entra em
       contato, podem transmitir organismos prejudiciais à saúde. Entre os insetos, deve-se ter especial
       cuidado com as formigas, moscas e baratas. Algumas vezes é difícil identificar a presença de ratos,
       devendo-se ficar atento aos sinais de sua presença, como alimentos ou embalagens roídos ou
       presença de fezes. Os animais domésticos, por transportar organismos prejudiciais à saúde em
       seu corpo, podem contaminar o alimento por meio do contato direto ou dos pêlos que soltam.
       4) Sujeira (pó, terra e outros resíduos)
                Há vários organismos perigosos dispersos na sujeira, portanto, é importante manter as
       áreas de preparo dos alimentos limpas. Quando se realiza a varredura da área de preparo do
       alimento, a poeira é levantada e se espalha no ar, aumentando o risco de contaminação dos
       alimentos. Por isso é importante manter os alimentos sempre protegidos em suas embalagens ou
       em recipientes fechados com tampas quando estiver varrendo ou limpando a casa,
       principalmente a cozinha e ambientes próximos a ela.
       5) Superfícies e utensílios
                  As superfícies que entram em contato direto com os alimentos, como a bancada da
       cozinha,
       e os utensílios utilizados no preparo dos alimentos, como facas, panelas, bacias e outros
       vasilhames, podem ser fonte de contaminação quando sujos. Outro risco de contaminação ocorre
       quando as superfícies e os utensílios que foram utilizados na manipulação de alimentos crus são
       utilizados em alimentos preparados sem ter sido previamente lavados. Uma fonte clássica de
       contaminação cruzada dos alimentos é o pano, comumente utilizado em cozinhas e
       estabelecimentos que preparam alimentos.
       6) Lixo e alimentos estragados
               Os alimentos estragados devem ser descartados e os locais onde estavam armazenados
       submetidos a uma boa lavagem. O lixo deve permanecer fechado com tampa e ser retirado
       freqüentemente da área de preparo dos alimentos. Após o manuseio do lixo, deve-se lavar as
       mãos.
DIRETRIZ 6 - GORDURAS, AÇÚCARES E SAL dos alimentos
          ESPECIAL 2 - Qualidade sanitária                                                                      101




desenvolvimento.                                        fora da zona de perigo, ou seja, sob refrigeração a
         A importância dos microrganismos está          temperaturas inferiores a 5ºC, congelados ou
vinculada ao fato de que eles estão amplamente          mantidos aquecidos em temperaturas superiores a
distribuídos no ambiente, podendo ser encontrados       60ºC. Como medida de segurança, são considerados
na água, no solo e no ar. O homem também                completamente cozidos os alimentos que são
desempenha papel importante na transmissão              submetidos a temperaturas superiores a 70ºC.
desses agentes, uma vez que podem apresentar                      Os alimentos que devem ser conservados
microrganismos distribuídos por todo o corpo,           sob temperaturas específicas são genericamente
incluindo pele, boca, nariz, ouvidos, garganta,         conhecidos como perecíveis. Da mesma forma, os
olhos, cabelos, mãos, unhas e tratos genital e intes-   alimentos que apresentam condições intrínsecas
tinal. Da mesma forma como ocorre no homem,             que não favorecem a multiplicação de micro orga-
outros animais, como os animais de estimação,           nismos e, portanto, não necessitam de conservação
roedores, pássaros e insetos, apresentam                em temperaturas específicas são denominados não-
esses microrganismos distribuídos pelo corpo.           perecíveis. Como exemplo de alimentos perecíveis
         Considerando a ampla distribuição dos          podem-se citar as carnes e os queijos; quanto aos
microrganismos, é importante que os alimentos           alimentos não perecíveis, são exemplos o arroz, o sal
sejam manipulados sob criteriosas condições de          e os biscoitos.
higiene, prevenindo assim que os agentes                          Dessa forma, embora haja a possibilidade
prejudiciais à saúde contaminem os alimentos. Pela      de que alimentos durante sua manipulação
sua própria condição, os alimentos crus podem           adquiram uma carga microbiana proveniente de
apresentar microrganismos prejudiciais à saúde,         fontes mais diversas, como solo, ar, água, animais e
sendo necessário redobrar o cuidado durante sua         outras, a adoção de práticas adequadas de higiene
manipulação. Antes do consumo, os alimentos crus        pode reduzir esse risco. Além disso, essa carga
devem ser completamente cozidos e adequa-               microbiana pode ser controlada, reduzida ou até
damente lavados. Veja o box Sabendo um pouco            mesmo eliminada quando se adotam medidas
mais Procedimentos para Seleção, Lavagem e              como eficiente lavagem, cozimento em tempe-
Desinfecção de Frutas, Legumes e Verduras , nesta       raturas suficientes ou conservação sob refrigeração,
seção.                                                  congelamento ou aquecimento.
         Após a contaminação dos alimentos, os                    Ainda em relação aos perigos biológicos,
microrganismos multiplicam-se rapidamente, desde        deve-se destacar que a emergência de novos
que sejam encontradas condições apropriadas. A          agentes, como os prions que estão relacionados à
temperatura dos alimentos é uma condição                doença da vaca louca, e a associação de
essencial para a multiplicação dos microrganismos,      microrganismos perigosos que antes não eram
sendo seu controle muito utilizado na prevenção         vinculados aos alimentos, como a ocorrência da
das doenças transmitidas por alimentos (DTA). A         doença de Chagas aguda pelo consumo de caldo-
maioria dos microrganismos se multiplica                de-cana, constituem os novos desafios na garantia
rapidamente em temperaturas próximas a 37ºC             da qualidade sanitária dos alimentos.
(temperatura do corpo humano). Entretanto,                        A contaminação dos alimentos por
alguns microrganismos prejudiciais à saúde são          substâncias químicas tóxicas, como agrotóxicos,
capazes de se multiplicar em temperaturas               toxinas de algas, metais pesados e drogas
superiores a 5ºC e inferiores a 60ºC, sendo esse        veterinárias, também representa um problema
intervalo considerado uma zona de perigo.               grave para a saúde pública. Essas substâncias podem
         Em temperaturas inferiores a 5ºC, os           causar dano à saúde após uma única exposição ou,
microrganismos cessam ou reduzem o processo de          mais freqüentemente, em decorrência de uma
multiplicação, assim como em temperaturas               exposição continuada. Em geral, os efeitos crônicos,
superiores a 60ºC. A maioria dos microrganismos é       ou seja, efeitos cumulativos provocados pela
eliminada em temperaturas superiores a 70ºC. Por        exposição continuada a pequenas doses dessas
isso, como medida preventiva e de controle das          substâncias, são difíceis de ser monitorados e seu
DTA, recomenda-se que o alimento seja conservado        impacto na saúde ainda é subestimado. A maioria
102                                                           GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      dos relatos de danos à saúde está relacionada aos         melhoria das condições sanitárias dos alimentos
      efeitos agudos decorrentes de uma única exposição         sejam adotadas em toda a cadeia produtiva,
      a altas doses dessas substâncias tóxicas.                 iniciando na produção primária - plantio e criação
                Há vários meios de um alimento ser              de animais - até o consumo dos alimentos. A correta
      contaminado e, em conseqüência, causar uma                manipulação dos alimentos, com adoção das
      doença transmitida por alimento. Alguns hábitos           medidas preventivas e de controle aliada às boas
      culturais, como o consumo de alimentos mal cozidos        práticas de higiene, promove a melhoria do estado
      ou crus e uso indiscriminado de agrotóxicos, aliados      de saúde e nutricional da população, contribuindo
      às condições inadequadas de higiene na                    para o aumento da produtividade e bem-estar das
      manipulação dos alimentos, procedimentos incor-           pessoas. Além do envolvimento de todos os
      retos de conservação e à falta de conhecimento das        segmentos associados com a produção e
      pessoas, têm papel significativo nesse processo.          comercialização dos alimentos, a garantia da
      Segundo a OMS, a utilização de algumas técnicas e         qualidade sanitária dos alimentos e a prevenção das
      cuidados simples pode reduzir substancialmente o          DTA requer a implementação de estratégias de
      número de pessoas acometidas com esse tipo de             educação da população, que adquirem especial
      doença. Veja box Sabendo um pouco mais Os cinco           importância no Brasil, considerando que a maioria
      pontos-chave da Organização Mundial da Saúde              das DTA notificadas ocorre nas residências.
      para a inocuidade dos alimentos , nesta seção.
                Para evitar ou reduzir os riscos desse tipo
      de agravo, é fundamental que as medidas visando à



           Sabendo um pouco mais
               Procedimentos para Seleção, Lavagem e Desinfecção de Frutas, Legumes e
               Verduras.
               Na hora da compra, observar as seguintes características para escolher as frutas, legumes e
               verduras. Se apresentarem essas condições, não são próprias para consumo:
                        - partes ou casca ou polpa amolecidas, manchadas, mofadas ou de cor alterada;
                        - folhas, talos ou raízes murchas, mofadas ou deterioradas;
                        - qualquer alteração na cor, na consistência ou no cheiro característico;
                        - excesso ou falta de umidade característica.
               Selecionar, retirando as folhas, partes e unidades deterioradas.
               Lavar em água corrente os vegetais folhosos (alface, escarola, rúcula, agrião, etc.), folha a
               folha, e as frutas e legumes, um a um.
               Colocar de molho, por dez minutos, em água clorada, utilizando produto
               adequado para esse fim (ler o rótulo da embalagem), na diluição de até 200ppm (uma
               colher de sopa para um litro).
               Fazer o corte dos alimentos para a montagem dos pratos com as mãos e utensílios bem
               lavados.
               Manter sob refrigeração até a hora de servir.
DIRETRIZ 6 - GORDURAS, AÇÚCARES E SAL dos alimentos
         ESPECIAL 2 - Qualidade sanitária                                                             103




  Sabendo um pouco mais

     Os Cinco Pontos-Chave da Organização Mundial da Saúde
     para a Inocuidade dos alimentos


     1. Mantenha a limpeza
             Por quê? Os microrganismos perigosos que causam doenças transmitidas por
     alimentos podem ser encontrados na terra, na água, nos animais e nas pessoas. Eles são
     transportados de uma parte a outra por meio das mãos e dos utensílios, das roupas, dos panos,
     das esponjas e quaisquer outros elementos que não tenham sido lavados de maneira adequada
     e um leve contato pode contaminar os alimentos.


     2. Separe alimentos crus e cozidos
              Por quê? Os alimentos crus, especialmente carne, frango e pescado, podem estar
     contaminados com microrganismos perigosos que podem transferir-se a outros alimentos,
     como comidas cozidas ou prontas para o consumo, durante o preparo dos alimentos ou durante
     a sua conservação.


     3. Cozinhe completamente os alimentos
             Por quê? A correta cocção mata quase todos os microrganismos perigosos. Estudos
     mostram que cozinhar os alimentos de forma a que todas as partes alcancem 70ºC garante a
     segurança desses alimentos para consumo. Existem alimentos, como pedaços grandes de carne,
     frangos inteiros ou carne moída, que requerem um especial controle da cocção. O
     reaquecimento adequado elimina microrganismos que possam ter se desenvolvido durante a
     conservação dos alimentos.


     4. Mantenha os alimentos a temperaturas seguras
             Por quê? Alguns microrganismos podem multiplicar-se muito rapidamente se o
     alimento é conservado à temperatura ambiente, pois eles necessitam de alimento, umidade,
     temperatura e tempo para se reproduzir. Abaixo de 5ºC e acima de 60°C o crescimento
     microbiano se faz lentamente ou pára. Alguns microrganismos patogênicos podem crescer
     ainda em temperaturas abaixo de 5ºC.


     5. Use água e matérias-primas seguras
            Por quê? As matérias-primas, incluindo a água, podem conter microrganismos e
     produtos químicos prejudiciais à saúde. É necessário ter cuidado na seleção de produtos crus e
     tomar medidas preventivas que reduzem o risco, como lavagem e descasque.
Colocando as diretrizes
                   em prática
Colocando as diretrizes em prática                                                                                107



Colocando as diretrizes em prática                       destinadas a facilitar que todos possam seguir as
          As orientações deste guia têm origem no        recomendações do guia alimentar e, ao mesmo
conhecimento científico atual, expresso em uma           tempo, desfrutar de refeições e lanches saborosos,
série de relatórios de especialistas, produzidos pelas   utilizar melhor o dinheiro gasto em alimentação,
Nações Unidas e por outras agências internacionais,      divertir-se socialmente e aumentar a oportunidade
bem como pelos Ministérios da Saúde de diferentes        para uma vida saudável, feliz e ativa.
países, nos últimos dez ou mais anos. Elas são,                    Essas informações são para toda a família e
portanto, cientificamente fundamentadas,                 principalmente para pessoas que planejam, fazem
confiáveis e atuais. Após olhar para todas as            as compras e preparam as refeições. Por isso, nas
diretrizes, pode-se questionar: Por onde e como          recomendações práticas a seguir, usam-se muitas
começar?                                                 vezes frases como sirva uma grande porção de
          Para alguns tipos e grupos de alimentos há     qualquer vegetal com folhas verdes a cada refeição
muita diferença entre o que os brasileiros               principal ou use óleos insaturados para
consomem atualmente e o que recomenda o guia. A          cozinhar . Essas informações são detalhamentos da
população está consumindo menos feijão                    orientação para os membros da família existente
(leguminosas); o consumo de frutas, legumes e            em cada diretriz que, para reforçar conceitos,
verduras é muito baixo; o consumo de alimentos           também são repetidos aqui.
gordurosos, muito açucarados, refrigerantes e sucos                As pessoas que moram sozinhas e os
industrializados aumentou; o consumo de sal é alto;      membros da família que comem fora, em cantinas
é comum o consumo de álcool; e também ocorreu            ou restaurantes, bem como as famílias que dividem
uma redução nos níveis de atividade física, o que        entre si as responsabilidades de planejar, comprar e
resultou em excesso de peso e obesidade no País.         cozinhar, podem traduzir essas informações de
          O objetivo do Guia Alimentar para a            forma a adaptá-las à sua própria situação.
População Brasileira é contribuir para que essas                   São sugestões que darão uma melhor idéia
tendências sejam revertidas. Os indivíduos e grupos      de como adotar as diretrizes. São também ponto de
que seguirem essas orientações estarão mais              partida para que profissionais de saúde que
protegidos contra todos os tipos de doenças              trabalham nas esferas estadual, municipal e local
relacionadas à alimentação e darão a si próprios         possam adaptar as recomendações e estendê-las
uma oportunidade de desfrutar uma vida longa e           para as diferentes realidades de nosso país, bem
ativa.                                                   como aos diferentes tipos de família com restrições
          Da mesma forma, os profissionais de saúde      econômicas ou não, pequenas e grandes, urbanas
que adotarem e aplicarem as diretrizes nas               ou rurais e também às pessoas com diferentes
orientações dadas às pessoas que atendem em seu          idades.
trabalho e incentivarem a população a selecionar
alimentos e preparar as refeições de maneira mais        Diretriz 1
saudável estarão dando uma contribuição valiosa
                                                         Os alimentos saudáveis e as refeições
para a saúde pública.
                                                         - Consuma diariamente alimentos como cereais
          Todas as diretrizes deste guia são
                                                         integrais, feijões, frutas, legumes e verduras, leite e
importantes, mas aquela relacionada às frutas, aos
                                                         derivados e carnes magras, aves ou peixes.
legumes e às verduras é possivelmente a mais
                                                         - Diminua o consumo de frituras e alimentos que
importante de todas; isto porque, além de
                                                         contenham elevada quantidade de açúcares,
contribuir para a variedade da alimentação e oferta
                                                         gorduras e sal.
mais adequada de micronutrientes, o aumento no
consumo desses alimentos pode colaborar para a           - Valorize a sua cultura alimentar e os alimentos
reorientação ou deslocamento no consumo,                 regionais.
promovendo a redução no consumo de alimentos             - Saboreie refeições variadas, ricas em alimentos
inadequados, aqueles com alto teor de gordura, sal       regionais saudáveis e disponíveis na sua
e açúcares. É uma substituição positiva e gradual.       comunidade.
          Neste capítulo, estão informações práticas     - Escolha os alimentos mais saudáveis, lendo as
108                                                           GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      informações nutricionais nos rótulos dos alimentos.       alimentos frescos da estação, que são mais baratos e
      - Alimente a criança somente com leite materno até        nutritivos.
      a idade de 6 meses e depois complemente com               - Alimentos ou bebidas coloridos ou aromatizados
      outros alimentos, mantendo o leite materno até os         artificialmente são normalmente más escolhas, por
      2 anos ou mais.                                           possuirem muito açúcar e, em geral, nenhum outro
      - Procure nos serviços de saúde orientações a             nutriente.
      respeito da maneira correta de introduzir alimentos       - Entre os alimentos processados, prefira aqueles
      complementares e refeições quando a criança               nos quais foi utilizado secagem, fermentação,
      completar 6 meses de vida.                                engarrafamento ou congelamento.
                                                                - Escolha formas de preparação de alimentos na sua
                                                                casa que preservem o valor nutricional dos
      E
                                                                alimentos. Cozinhar os alimentos no vapor ou em
      - Nas refeições, monte o seu prato com pelo menos
                                                                pouca água ou óleo são os melhores métodos.
      dois terços dos alimentos de origem vegetal.
                                                                - Mantenha os alimentos adequadamente
      - Faça as refeições em local apropriado e
                                                                conservados em refrigeração, quando for o caso, e
      confortável. Encontre oportunidades para que a
                                                                protegidos de insetos, poeira e animais caseiros.
      família se reúna na hora da refeição.
                                                                - Por segurança, lave, esfregue as frutas, os legumes
      - Aproveite o tempo e desfrute as refeições. Elas são
                                                                e às verduras. Higienize muito bem esses alimentos,
      o centro da convivência social e familiar.
                                                                mesmo aqueles que não são consumidos com casca.
      - Desligue a televisão na hora das refeições e coma
                                                                - Descarte alimentos mofados ou com bolor ou
      as refeições em volta da mesa - as crianças também.
                                                                alimentos que pareçam estragados ou que cheirem
      Quando você come assistindo televisão, perde a
                                                                mal ou estejam com sabor estranho.
      noção de quantidade, não mastiga suficientemente
                                                                - Grande parte dos cereais industrializados
      e, em geral, nem sabe o que está comendo.
                                                                destinados à refeição matinal são, quase sempre,
      - Faça ao menos três refeições principais por dia,
                                                                feitos com milho refinado, trigo ou arroz, com
      sempre que possível em casa.
                                                                quantidades variáveis de açúcar adicional, sal e
      - Evite que as crianças belisquem e substituam as         outros ingredientes e, muitas vezes, fortificados
      refeições por fast food, biscoitos ou salgadinhos,        com vitaminas e minerais. Leia a informação
      comam na rua ou decidam sozinhas sobre suas               nutricional no rótulo dos produtos e prefira aqueles
      refeições. A criança deve articipar, na medida de sua
                                                                integrais e com menor quantidade de açúcar e
      possibilidade e com segurança, da decisão e
                                                                gordura.
      elaboração das refeições junto com um adulto, para
                                                                - Evite usar margarina, manteiga ou maionese nos
      que vá construindo práticas alimentares saudáveis.
                                                                sanduíches. Para substituir, experimente um pouco
      - Comece a refeição com uma quantidade grande de
                                                                de óleo vegetal temperado com ervas, casca de
      salada, com folhas verdes e variedade de legumes,
                                                                limão ou alho. Você mesmo pode temperar o óleo,
      temperados com um molho de ervas frescas feito
                                                                em casa.
      em casa.
      - Beba muita água entre as refeições. Sempre tenha
      água em locais de fácil acesso, principalmente das        Diretriz 2
      crianças.                                                 Cereais, tubérculos e raízes
      - Os melhores lanches, entre as refeições, são frutas     - Coma diariamente 6 porções do grupo do arroz,
      frescas ou sucos de frutas frescas sem açúcar             pães, massas, tubérculos e raízes. Dê preferência
      adicionado.                                               aos grãos integrais.
      - Nos mercados e nos restaurantes por quilo, escolha
      muitas frutas, legumes e verduras e grãos em geral        E
      (cereais e feijões).                                      - Preencha mais da metade do seu prato com esses
      - Prefira os alimentos frescos. Se for possível, faça     alimentos, ricos em amido, nas refeições principais.
      compras pelo menos duas vezes por semana de               - Procure consumir alimentos na sua forma natural.
Colocando as diretrizes em prática                                                                               109



Quanto mais próximo o alimento ou bebida for da          Diretriz 3
sua forma original na natureza, melhor para a            Frutas, legumes e verduras
saúde.
                                                         - Coma diariamente pelo menos 3 porções de
- Produtos como sopas em pó, conservas de vegetais,      legumes e verduras como parte das refeições e 3
biscoitos, salgadinhos e refeições congeladas, em        porções ou mais de frutas nas sobremesas e lanches.
geral, contêm altas concentrações de sal, gorduras
                                                         - Valorize os produtos da sua região e varie o tipo de
ou açúcar, o que não é saudável para a sua família.
                                                         frutas, legumes e verduras consumidos na semana.
- Pão e arroz integrais são fontes de fibra, vitaminas   Compre os alimentos da estação e esteja atento
e minerais e substâncias bioativas que ajudam a          para sua qualidade e estado de conservação.
proteger a sua saúde.
- No Brasil, as farinhas de trigo e milho são
                                                         E
fortificadas com ferro e ácido fólico (veja no rótulo
do alimento); esses nutrientes ajudam a prevenir         - Para alcançar o número de porções recomendadas
anemia e outras doenças. Use-as para preparar            de frutas e de legumes e verduras é necessário que
pães, bolos ou outras receitas em sua casa.              esses alimentos estejam presentes em todas as
                                                         refeições e lanches realizados no decorrer do dia.
- Se preferir o arroz branco, escolha o parboilizado;
é mais nutritivo.                                        - Consuma saladas com variedade de tipos de
                                                         verduras no almoço e no jantar; outros vegetais em
- Consuma com maior freqüência as raízes e
                                                         preparações assadas ou cozidas durante as refeições
tubérculos tradicionais brasileiros, como a
                                                         principais; frutas como sobremesa e nos lanches e
mandioca, inhame, cará e a batata-doce.
                                                         sucos de fruta fresca sem açúcar.
- Alimentos com amido, quando preparados com
                                                         - Experimente colocar frutas em preparações
pouca ou nenhuma gordura ou açúcar, são mais
                                                         salgadas como carnes, peixes, molhos e saladas.
saudáveis e ajudam a manter o peso adequado.
                                                         - Use legumes e verduras todos os dias
- Para qualquer tipo de alimento, prefira as
                                                         acompanhando arroz ou cozidos no feijão.
preparações assadas e cozidas às fritas.
                                                         - Cuide da adequada higienização desses produtos
- O valor nutritivo de muitos alimentos, como as
                                                         em sua casa, bem como de sua conservação. Mesmo
batatas, inhame, mandioca e outros ricos em amido,
                                                         aqueles que são consumidos cozidos ou sem casca
pode ser preservado quando são cozidos com casca.
                                                         devem ser bem lavados antes da preparação.
Lave-os muito bem antes de colocá-los na panela
para cozimento.                                          - As refeições ficam mais bonitas, nutritivas e
                                                         atrativas quando são utilizados legumes e verduras
- Pães crocantes e biscoitos cracker são opções de
                                                         de diferentes cores, além de aumentar a
lanches, mas leia os rótulos para ver a quantidade
                                                         quantidade de diferentes vitaminas e minerais e de
de gordura total, gordura saturada, gordura trans e
                                                         fibras.
sódio. Escolha os tipos e as marcas com teores
menores desses componentes.                              - Sempre que possível, consuma frutas, legumes e
                                                         verduras com casca ou retire o mínimo possível; em
- Experimente todos os tipos de massa e prefira os
                                                         grande parte dos alimentos, a maior quantidade de
molhos de ervas e tomate, que são muito saborosos
                                                         vitaminas e minerais se encontra na casca.
e menos calóricos. Cuidado com a adição excessiva
de gordura aos molhos.                                   - Ao cozinhar frutas, legumes e verduras, faça-o no
                                                         menor tempo possível e use pouca quantidade de
- Prefira as pizzas elaboradas com legumes e
                                                         água. Algumas vitaminas se perdem com o calor e se
verduras ou frutas e pouco queijo.
                                                         diluem na água. O sabor e a textura também ficarão
- Pastéis, bolos e biscoitos são também considerados
                                                         melhores.
alimentos ricos em gorduras e açúcares. Evite
                                                         - Coloque esses alimentos na água já em fervura e
consumi-los diariamente. Quando fizer ou comprar
                                                         sempre utilize a panela tampada para o tempo de
bolos, prefira os mais simples, de frutas, sem
                                                         cozimento ser o menor possível.
cobertura ou recheio. Deixe os bolos mais
elaborados para comemorações eventuais e                 - A água do cozimento dos vegetais pode ser
especiais.                                               utilizada na preparação de outros alimentos, como
110                                                           GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      arroz, ensopados, molhos. As vitaminas e minerais         Diretriz 4
      diluídos são reaproveitados.                              Feijões e outros alimentos vegetais ricos em
      - Não utilize bicarbonato de sódio para deixar os         proteínas
      vegetais mais verdes. Esse composto destrói
                                                                - Coma 1 porção de feijão por dia. Varie os tipos de
      algumas vitaminas.
                                                                feijões usados (preto, carioquinha, verde, de-corda,
      - Use muito tomate, pimentão e cebola frescos,            branco e outros) e as formas de preparo. Use
      cozidos ou como molhos.                                   também outros tipos de leguminosas (soja, grão-de-
      - Redescubra o valor e o sabor das sopas. Um prato        bico, ervilha seca, lentilha, fava).
      grande de sopa de vegetais, com caldo bem grosso,         - Coma feijão com arroz na proporção de uma parte
      pode ser considerado uma refeição,                        de feijão para duas partes de arroz cozidos. Esse
      complementada por salada e fruta.                         prato brasileiro é uma combinação completa de
      - Conheça novos sabores; experimente frutas,              proteínas e bom para a saúde.
      legumes e verduras brasileiras de cada época do ano
      e experimente novas receitas com esses alimentos.
                                                                E...
      - Ao utilizar frutas, legumes e verduras
      industrializados, dê preferência àqueles                  - O prato favorito e típico do Brasil arroz e feijão é
      conservados no próprio suco, água ou vinagre.             uma excelente combinação e escolha. Adote-o
      Fique atento: leia no rótulo a quantidade de sal e        como base de sua alimentação.
      açúcar e escolha os que têm menor teor desses             - O feijão deve ser preparado com quantidades
      componentes.                                              pequenas de gordura, preferencialmente óleos
      - Coma frutas frescas no café da manhã, nas               vegetais.
      refeições principais, como sobremesa, ou nos              - Não use a água em que o feijão ficou de remolho
      lanches, entre as principais refeições.                   para cozinhá-lo.
      - Sempre que possível, dê frutas frescas às crianças      - Feijoada e outros pratos feitos com feijão e carnes
      todos os dias para levar para a escola. Para variar       gordas, embutidos, toucinho e outros tipos de
      também podem ser usadas frutas secas, como                carnes têm alto teor de gordura saturada e de sal, o
      banana, abacaxi e outras disponíveis. Prefira             que não é saudável; consuma esse tipo de
      aquelas que foram feitas sem açúcar adicionado.           preparação ocasionalmente.
      Procure essa informação na lista de ingredientes no       - Acrescente feijão, ervilha ou lentilha aos
      rótulo dos alimentos.                                     ensopados e cozidos.
      - Sucos de fruta feitos na hora são os melhores. A        - Acrescente feijões, oleaginosas (castanhas, nozes,
      polpa congelada perde alguns nutrientes, mas é            amendoim) e sementes às saladas para torná-las
      uma opção melhor do que sucos artificiais ou              mais nutritivas.
      refrigerantes.                                            - As sementes (de girassol, gergelim, abóbora e
      - Sempre que possível, ofereça suco natural de            outras) e castanhas (do-brasil, de-caju, nozes, nozes-
      frutas variadas todas as manhãs para todas as             pecã, amêndoas e outras) são fontes
      pessoas da família e não adicione açúcar. Se precisar     complementares de proteínas e gorduras de boa
      adicionar um líquido, prefira suco de laranja ou          qualidade. Se possível, consuma-as com mais
      água de coco.                                             freqüência. Utilize-as como ingrediente de saladas,
      - Se você tem um quintal ou qualquer lugar                sopas, no iogurte, salada de frutas, molhos, pães e
      adequado, faça uma horta, plante frutas, legumes,         bolos.
      verduras e ervas (manjericão, orégano, salsa,             - Tenha sempre em casa uma quantidade de feijões
      cebolinha, coentro) para a família e amigos. Além         e lentilhas secos e sementes (girassol, abóbora). Se
      dos benefícios alimentares, pode ser uma fonte de         for possível, tenha também castanhas e nozes.
      lazer e movimento.                                        - Nos restaurantes por quilo (self-service) e cantinas
      - Dê cestas de frutas e não bolos ou chocolates como      inicie a montagem do seu prato pelas saladas
      presentes. Esta é uma maneira simpática e diferente       (verduras e legumes) e feijões. Tempere a salada
      de contribuir para uma vida mais saudável de todas        com pequena quantidade de azeite ou limão. Evite
      as pessoas a quem você quer bem.
Colocando as diretrizes em prática                                                                          111



servir-se de frituras, salgadinhos, empanados,           gordura total).
molhos brancos e molhos à base de maionese ou de         - Não existem diferenças importantes no valor
queijo.                                                  nutritivo de carnes denominadas de primeira ou
- Para o lanche das crianças, nas viagens ou se sentir    de segunda . O que é importante é optar por
fome entre as refeições, uma boa alternativa é           aqueles cortes com menor teor de gordura.
comer um pouco de nozes, castanhas ou sementes           - Prefira carnes, peixes ou aves assados ou
(oleaginosas) sem sal, ou frutas secas sem açúcar        preparados com pouca gordura.
adicionado.                                              - Prepare as carnes com pouco sal e evite o uso de
                                                         temperos prontos que são ricos em sódio.
Diretriz 5                                               - Evite produtos com carne processada tipo
Leite e derivados, carnes e ovos                         hambúrgueres e salsichas, que geralmente têm alta
Consuma diariamente:                                     porcentagem de gordura e de sal. Consulte as
- 3 porções de leite e derivados. Os adultos, sempre     informações nutricionais dos rótulos de alimentos
que possível, devem escolher leite e derivados com       (gordura total, gordura saturada) para ajudá-lo a
menores quantidades de gorduras. Crianças,               selecionar alimentos com menores teores de
                                                         gorduras e sódio.
adolescentes e mulheres gestantes devem consumir
                                                         - Coma somente ocasionalmente alimentos de
leite e derivados na forma integral.
                                                         origem animal curados, defumados, grelhados ou
- 1 porção de carnes, peixes ou ovos. Prefira as
                                                         churrasco.
carnes magras e retire toda a gordura aparente
                                                         - Quando fizer um churrasco, ofereça frango, peixe
antes da preparação.
                                                         grelhado, acompanhados de saladas e frutas como
- Coma mais frango e peixe e sempre prefira carne
                                                         opção.
com baixo teor de gordura. Os derivados de carne
                                                         - Prefira iogurtes desnatados e queijos com pouca
(charque, salsicha, lingüiça, presuntos e outros
                                                         gordura. Em geral os queijos brancos, como a ricota
embutidos) contêm, em geral, excesso de gorduras
                                                         e o minas frescal, possuem menos gordura. Consulte
e sal e devem ser consumidos ocasionalmente.             os rótulos nutricionais e escolha os produtos com
- Coma pelo menos uma vez por semana vísceras e          menos gordura e sódio.
miúdos, como o fígado bovino, coração de galinha,        - Iogurte desnatado temperado com ervas, como
entre outros. Essas carnes são excelente fonte de        manjericão, salsa, tomilho e coentro frescos, é uma
ferro, nutriente essencial para evitar anemia, em        excelente opção para sanduíches e molho de
especial em crianças, jovens, idosos e mulheres em       saladas em substituição à maionese, manteiga ou
idade fértil.                                            margarina.
                                                         - Os ovos são nutritivos. Prefira-os cozidos,
E                                                        escaldados, mexidos ou como omelete, preparados
- Carne fresca de aves e peixes é sempre melhor.         com pouco ou nenhum óleo.
- Procure comer peixe fresco pelo menos duas vezes       - Dois a três copos de leite por dia contribuem para
por semana. Tanto os peixes de rio como de mar são       um adulto atingir suas recomendações de cálcio. O
saudáveis.                                               iogurte pode ser também uma opção para garantir
- Descarte, antes de preparar, toda a gordura            o fornecimento de cálcio. Prefira os caseiros.
aparente das carnes e a pele das aves.                   - Crianças, adolescentes, gestantes e idosos devem
- Cada tipo de corte de carne possui diferentes          consumir mais leite e derivados, para atender às
quantidades de energia e gordura. Prefira aqueles        suas necessidades de cálcio.
de menores valores. Por exemplo, a cada 100g: acém       - Caso você ou sua família adote uma alimentação
(121kcal, 4,3g de gordura total); contrafilé (192kcal,   que não contenha nenhum tipo de carne, ovos ou
12,8g de gordura total); patinho (118kcal, 4,02g de      leite e derivados, procure nos serviços de saúde a
gordura total); coxa de frango (161kcal, 9,32g de        orientação de nutricionista para assegurar-se de
gordura total); peito sem pele (110kcal, 1,84g de        que sua alimentação seja saudável.
112                                                          GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      Diretriz 6                                               ou soja.
      Gorduras, açúcares e sal                                 - Uma lata de 900ml é suficiente para o preparo de
      - Reduza o consumo de alimentos e bebidas                alimentos de uma família de quatro pessoas,
      concentrados em gorduras, açúcar e sal. Consulte a       durante um mês. Se você usa mais que essa
      tabela de informação nutricional dos rótulos dos         quantidade por mês, tente reduzir o óleo das
      alimentos e compare-os para ajudar na escolha de         preparações até que o consumo de óleo atinja essa
      alimentos mais saudáveis. Escolha aqueles com            quantidade.
      menores percentuais de gorduras, açúcar e sódio.         - O azeite de oliva é uma ótima opção,
      - Use pequenas quantidades de óleo vegetal               principalmente para temperar saladas. É saboroso e
      quando cozinhar. Prefira formas de preparo que           nutritivo. Observe no rótulo do produto se ele é
      utilizam pouca quantidade de óleo, como assados,         puro, pois muitos são adicionados de outros tipos de
      cozidos, ensopados, grelhados. Evite frituras.           óleo vegetal. Use-o com moderação, pois também
      - Consuma não mais que 1 porção por dia de óleos         tem alto teor de energia.
      vegetais, azeite ou margarina sem ácidos graxos          - Use ervas ou temperos e não sal, para tornar os
      trans.                                                   alimentos mais saborosos. Evite temperos prontos
      - Consuma não mais que 1 porção do grupo dos             que contêm alta concentração de sal.
      açúcares e doces por dia.                                - Mantenha os molhos de saladas e molhos de
      - Reduza a quantidade de sal nas preparações e           alimentos separados das preparações. Acrescente-
      evite o uso do saleiro na mesa. A quantidade de sal      os apenas quando montar o seu prato, em
      por dia deve ser, no máximo, uma colher de chá rasa      quantidade pequena, apenas para realçar o sabor.
      por pessoa, distribuída em todas as preparações          - Evite consumir alimentos industrializados que
      consumidas durante o dia.                                contêm altos teores de sal, como embutidos
      - Valorize o sabor natural dos alimentos, reduzindo      (salsichas, lingüiças, salames, presuntos,
      o açúcar ou o sal adicionado a eles. Acentue o sabor     mortadela), queijos, conservas de vegetais, sopas,
      de alimentos cozidos e crus utilizando ervas frescas     molhos e temperos prontos. Além disso, alguns
      ou secas ou suco de frutas como tempero.                 geralmente têm alto teor de gordura.
      - Utilize somente sal iodado. Não use sal destinado      - Cozinhar com muito óleo e fritar tornam qualquer
      ao consumo de animais. Ele é prejudicial à saúde         alimento rico em gorduras e, portanto, não-
      humana.                                                  saudável.
                                                               - Se for consumir, prefira os salgadinhos assados e
                                                               também aqueles que não são preparados com
      E...
                                                               gordura vegetal hidrogenada (veja na lista de
      - Quanto menos gordura, gordura saturada, sal e
                                                               ingredientes no rótulo). Somente os consuma
      açúcar você consumir, melhor para sua saúde.
                                                               ocasionalmente. Atenção com os folhados e
      - Leia os rótulos dos alimentos. Evite alimentos com
                                                               empadinhas de massa podre , que são assados,
      alto teor de gordura total, de gordura saturada,
                                                               mas também ricos em gorduras.
      gordura trans, de sódio (sal) ou de açúcar.
                                                               - Evite bolos, biscoitos doces, sobremesas e doces
      - Lembre-se: você pode estranhar o sabor inicial,
                                                               como regra da alimentação. Coma-os menos que
      mas depois de um tempo você irá preferir o sabor
                                                               três vezes por semana. Prefira aqueles preparados
      dos alimentos preparados com pouca gordura, sal e
                                                               em casa, com óleos vegetais.
      açúcar. Dê o tempo necessário para o seu paladar se
                                                               - Refrigerantes, bebidas industrializadas, doces e
      acostumar a isso. Seja persistente. Sua saúde
                                                               produtos de confeitaria contêm muito açúcar e
      agradece.
                                                               favorecem o aparecimento de cáries, além de
      - Os óleos vegetais são melhor escolha que a
                                                               sobrepeso e obesidade, e não são nutritivos. Evite o
      manteiga ou margarina. Use-os para cozinhar.
                                                               consumo diário desses produtos e explique às
      Escolha entre os de canola, milho, algodão, girassol
                                                               crianças e aos adolescentes que esses alimentos não
Colocando as diretrizes em prática                                                                           113



são saudáveis, podendo ser consumidos apenas            - Se não for possível ter um filtro de água em casa,
eventualmente, em ocasiões especiais.                   mantenha a água a ser utilizada na cozinha em
- Quando consumir qualquer tipo de alimento com         recipientes limpos, devidamente protegidos do ar e
açúcar, escove os dentes imediatamente depois.          do contato com insetos.
Essa prática é particularmente importante para as       - Mantenha sempre disponível uma garrafa de água
crianças, para a prevenção de ocorrência da cárie       no seu ambiente de trabalho.
dental.                                                 - Leve consigo água engarrafada nas viagens e beba
- Procure não adicionar açúcar ao café ou a outras      muita água.
bebidas. Em caso de dificuldade, faça uma redução       - Quando consumir bebidas alcoólicas, lembre-se de
progressiva. Após um tempo seu paladar se               que deve também beber muita água.
adaptará e as bebidas em geral terão um gosto           - Os refrigerantes e sucos industrializados não
melhor.                                                 devem ser considerados como água, pois esses tipos
- Diminua progressivamente o consumo de                 de bebidas contêm muita caloria.
refrigerantes; a maioria contém corantes,               - Não consuma mais do que duas a três xícaras de
aromatizantes, açúcar ou edulcorantes. Sucos            café por dia. Você pode substituí-lo por chás de
industrializados também são ricos em açúcar.            diferentes ervas frescas sem açúcar. O café deve ser
Consuma-os moderadamente, diluídos com água             evitado por crianças, adolescentes e idosos, além
ou escolha os diet ou light.                            das pessoas que têm dificuldade de dormir.
- Evite alimentos engarrafados, enlatados ou
empacotados com adição de açúcar ou sal ou que          Diretriz Especial 1
contêm muita gordura ou óleos hidrogenados              Atividade física
(gorduras trans).                                       - Torne o seu dia-a-dia e seu lazer mais ativos.
                                                        Acumule pelo menos 30 minutos de atividade física
Diretriz 7                                              todos os dias.
Água                                                    - Procure os serviços de saúde para ser orientado
- Use água tratada ou fervida e filtrada para beber e   sobre alimentação saudável e atividade física.
para preparar refeições e sucos ou outras bebidas.      - Movimente-se. Descubra um tipo de atividade
- Beba pelo menos dois litros (seis a oito copos) de    física agradável. O prazer é também fundamental
água por dia. Dê preferência ao consumo de água         para a saúde. Caminhe, dance, ande de bicicleta,
nos intervalos das refeições.                           jogue bola, brinque com as crianças.
- Ofereça água para as crianças e idosos ao longo de    - Aproveite o espaço doméstico e espaços públicos
todo o dia. Eles precisam ser estimulados               próximos a sua casa para se movimentar. Convide
ativamente a ingerir água.                              vizinhos e amigos para acompanhá-lo.

E...                                                    E
- Beba água de boa qualidade, tratada ou fervida e      - Movimente-se. Procure uma atividade física que
filtrada, entre as refeições, ou sucos naturais de      lhe dê prazer.
frutas sem adição de açúcar.                            - Caminhe em ritmo acelerado para o trabalho ou,
- A água usada para preparar os alimentos ou            pelo menos, caminhe durante parte do percurso.
higienizá-los deve merecer o mesmo cuidado da           - O trabalho de casa é fisicamente ativo. Faça a
água para beber.                                        família colaborar.
- Use sempre um filtro. Procure limpar                  - Faça intervalos durante o dia para uma rápida
freqüentemente o filtro, principalmente se for do       caminhada. Cada dez minutos contam.
tipo que usa vela que pode ser substituída. Fique       - Suba e desça escadas em casa e no trabalho.
atendo ao prazo de validade das velas.
114                                                           GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      - O ciclismo é tão bom quanto a caminhada. Pedale         - Os atendentes e manipuladores devem estar com
      nos finais de semana.                                     vestimenta adequada à atividade que exercem e,
      - Dance com o(a) seu(ua) companheiro(a) ou dance          quando necessário, de touca, luvas, máscara de
      sozinho(a) quando sentir vontade.                         proteção e botas. A vestimenta deve estar limpa e
      - Participe de um clube, academia ou aula de              conservada.
      ginástica em que você desfrute de companhia e de          - Os produtos devem estar acondicionados em
      lazer ativo.                                              prateleiras limpas, organizadas e nunca sobre o
      - Corrida, ciclismo, natação e academias são escolhas     piso. Os alimentos congelados e refrigerados devem
      para exercícios vigorosos; jogos de equipe como o         estar armazenados sob temperatura recomendada
      futebol, voleibol, basquetebol e tênis são também         pelo fabricante.
      excelentes formas de exercício físico.                    - Certifique-se da qualidade dos produtos.
      - Certifique-se de que as crianças na família têm         - Verifique os selos de inspeção, o prazo de validade,
      tempo para fazer esportes e jogos. Brinque com elas       a identificação do fabricante e as condições da
      e faça-as descobrir e adotar as brincadeiras de sua       embalagem.
      infância, feitas preferencialmente ao ar livre: pular     - Observe a embalagem do produto: ela não deve
      corda, esconde-esconde, subir em árvores, brincar         estar violada ou rasgada. No caso das latas, não
      em parquinhos não-eletrônicos, pega-pega, cabra-          compre nem utilize aquelas com ferrugem, que
      cega, jogar bola, queimada, amarelinha. Elas vão se       estiverem amassadas, estufadas ou com qualquer
      divertir e você também.                                   outra alteração.
      - Diminua o tempo em frente ao televisor e                - Nos produtos não embalados ou acondicionados
      computador nas suas horas de lazer.                       em embalagens transparentes que permitem
      - Se você tem algum histórico de doença cardíaca,         visualizar seu conteúdo, observe se os alimentos
      ou se você tem mais de 50 anos, é prudente                apresentam alteração na cor, na consistência, no
      submeter-se a um exame médico antes de iniciar            aspecto e se há presença de matérias estranhas.
      qualquer esporte ou atividade física.                     - Siga a ordem correta de compra dos alimentos:
      - Verifique, nos serviços de saúde, o seu peso e a        primeiro, os produtos não-comestíveis, como
      medida da cintura regularmente. Essas informações         utensílios e materiais de limpeza; segundo, os
      são importantes para a saúde.                             alimentos não-perecíveis e depois os perecíveis
                                                                (carnes e outros produtos conservados sob
      Diretriz Especial 2                                       refrigeração). Organize-se para que o tempo entre
      Qualidade sanitária dos alimentos                         a compra dos alimentos perecíveis e seu
      - Ao manipular os alimentos, siga as normas básicas       armazenamento no domicílio não ultrapasse duas
      de higiene na hora da compra, da preparação, da           horas.
      conservação e do consumo de alimentos.                    - Carnes pré-embaladas e congeladas, encontradas
                                                                normalmente em supermercados, devem ser
                                                                mantidas em balcão ou câmara frigorífica. Freezer
      E...
                                                                ou balcão frigorífico fora da temperatura correta,
      No momento da compra
                                                                ou quando desligados à noite, formam água no
      - Verifique se o supermercado ou estabelecimento
                                                                chão, o que indica que os produtos não foram
      comercial apresenta adequadas condições de
                                                                conservados em temperatura ideal.
      conservação dos alimentos oferecidos. Para
                                                                - Os alimentos congelados devem estar firmes e sem
      escolher esses estabelecimentos, não utilize apenas
                                                                sinais de descongelamento, como acúmulo de
      critérios como a proximidade do domicílio e o preço
                                                                líquido.
      dos produtos; verifique também a limpeza e
                                                                - No caso de carnes e aves, verifique se a embalagem
      organização do ambiente.
                                                                não está gotejando. No caso de ovos, confira se não
Colocando as diretrizes em prática                                                                              115



estão quebrados ou rachados.                             de utilizá-los em alimentos prontos.
- Produtos de origem animal embalados somente            - Os utensílios devem secar naturalmente. Se utilizar
devem ser comprados com o selo do Serviço de             panos de prato, eles devem estar limpos. Não utilize
Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura,     o mesmo pano de prato usado para secar utensílios
Pecuária e Abastecimento, ou do serviço de               para secar as mãos. Os panos de prato, panos de pia
inspeção estadual ou municipal.                          e esponjas devem ser trocados freqüentemente.
- Ao escolher peixes, observe se possuem pele firme,     - Caso retire pequenas porções para experimentar o
bem aderida, úmida e sem a presença de manchas.          alimento que está sendo preparado, lave a colher
Os olhos devem ser brilhantes e salientes. As            ou outro utensílio que usou antes de utilizá-lo
escamas devem estar unidas e fortemente aderidas         novamente.
à pele e brilhantes. As brânquias (guelras) devem        - Cozinhe bem os alimentos, especialmente carne,
possuir cor em tons que variam do rosa ao vermelho       aves, ovos e peixes. No caso de carnes e aves, para
intenso, ser brilhantes e sem viscosidade.               saber se o cozimento foi completo, o suco deve estar
- No transporte dos alimentos, evite colocá-los em       claro e não rosado e a parte interna também não
locais quentes, como, por exemplo, próximos ao           deve estar vermelha ou rosada. Os ovos devem ser
motor do carro ou expostos ao sol.                       cozidos até a clara e gema estarem firmes e os peixes
- Guarde os alimentos perecíveis na geladeira ou         devem ficar opacos (sem brilho) e se desmanchar
freezer o mais rápido possível, quando chegar ao         facilmente.
domicílio.                                               - A água utilizada no preparo dos alimentos deve ser
                                                         potável. Use a mesma água que é ingerida pela
No domicílio                                             família.
- As mãos devem sempre ser lavadas com água e            - Alimentos preparados que não serão
sabão antes do início da preparação dos alimentos.       imediatamente consumidos devem ser conservados
As unhas devem estar curtas e limpas.                    no refrigerador em vasilhas tampadas. Sempre que
- Lave as mãos antes de manipular os alimentos e         possível, prepare os alimentos em quantidade
após ir ao banheiro, limpar o nariz, fumar, mexer        suficiente para consumo imediato. Não deixe os
com dinheiro, atender ao telefone, carregar o lixo e     alimentos cozidos à temperatura ambiente por mais
outras atividades. Também se lembre de lavar as          de duas horas.
mãos após manipular alimentos crus,                      - Mantenha a geladeira, o congelador e o freezer
principalmente se for manusear alimentos já              nas temperaturas adequadas. A temperatura da
prontos.                                                 geladeira deve ser inferior a 5ºC. Limpe
- O local de preparo e armazenamento dos                 periodicamente e verifique a data de validade dos
alimentos (cozinha, despensa, bancadas e                 produtos armazenados.
equipamentos) devem ser mantidos sempre limpos           - A geladeira não deve ficar muito cheia de
e organizados.                                           alimentos e as prateleiras não devem ser cobertas
- As superfícies que entrem em contato com os            por panos ou toalhas, porque isso dificulta que o ar
alimentos, como bancadas de cozinhas, devem ser          frio circule. Verifique regularmente se a geladeira
mantidas em bom estado de conservação, sem               está funcionando de forma adequada e se as
rachaduras, trincas e outros defeitos que favoreçam      borrachas das portas estão em boas condições,
o acúmulo de líquido e sujidades.                        garantindo o isolamento térmico.
- Todos os utensílios, como facas e tábuas de corte, e   - Abra a geladeira somente quando necessário e
superfícies que entram em contato com os                 mantenha a porta aberta pelo menor espaço de
alimentos, como bancadas, devem estar limpos.            tempo para evitar flutuações de temperatura.
Lave os utensílios usados para manipular alimentos       - Armazene adequadamente os alimentos na
crus (carnes, pescados e vegetais não lavados) antes     geladeira: prateleiras superiores para alimentos
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      preparados e prontos para o consumo; prateleiras
      do meio para produtos pré-preparados e prateleiras
      inferiores para alimentos crus.
      - Não guarde alimentos por muito tempo, mesmo
      que seja na geladeira. O alimento preparado não
      deve ser conservado na geladeira por mais de cinco
      dias.
      - Não descongele os alimentos a temperatura
      ambiente. Use o forno microondas se for prepará-lo
      imediatamente ou deixe o alimento sob
      refrigeração em tempo suficiente para descongelá-
      lo. Alimentos fracionados em pequenas porções
      podem ser cozidos diretamente sem prévio
      descongelamento.
      - Nunca utilize alimentos após a data de validade.
      Para alimentos que necessitam de condições
      especiais de conservação depois de abertos, observe
      as recomendações do fabricante quanto ao prazo
      máximo para consumo.
      - Proteja os alimentos e as áreas da cozinha contra
      insetos, animais de estimação e outros animais.
      - Os alimentos devem ser mantidos em sua
      embalagem original, exceto os enlatados, ou em
      recipientes plásticos, de vidro ou de inox, limpos e
      fechados. Não devem ser utilizados recipientes de
      alumínio para armazenamento de alimentos.
      - Lave os vegetais, especialmente quando forem
      consumidos crus, e guarde-os em geladeira depois
      de limpos, de preferência em sacos plásticos secos e
      próprios para esta finalidade. Os vegetais folhosos
      devem ser lavados folha por folha, como por
      exemplo alface e espinafre. Não use detergente ou
      sabão.
      - O local de armazenagem de produtos secos deve
      ser sempre limpo e arejado (com ventilação
      apropriada).
      - Alimentos e produtos de limpeza devem ser
      armazenados separadamente.
      - Armazene corretamente o lixo em sacos, cestos ou
      latas com tampa, em local separado da área de
      preparo dos alimentos. Após o manuseio do lixo,
      lave as mãos.
Utilizando o rótulo
            dos alimentos
Utilizando o rótulo dos alimentos                                                                              119



Utilizando o rótulo dos alimentos                       vitaminas e minerais utilizaram na sua composição
         Informações como a lista de ingredientes,      original alimentos ou ingredientes com alto grau de
prazo de validade e modo de preparo, quando             refinamento dos quais as vitaminas e minerais
necessário, já são uma realidade nos rótulos dos        foram retiradas e, depois, no processamento foram
alimentos há muitos anos, no Brasil. Em geral, os       adicionadas ao alimento. Nessa situação, não seria
consumidores as utilizam cotidianamente para            mais saudável e econômico consumir um produto in
definir suas compras. Adicionalmente, muitos dos        natura?
alimentos industrializados já possuem em seus                    Cada vez mais, é importante que o
rótulos a informação da sua composição                  consumidor tenha acesso a informação,
nutricional. A partir de agosto de 2006, os produtos    fortalecendo-o na capacidade de análise e decisão
obrigatoriamente deverão conter essa informação.        para optar por um ou outro produto, frente à
A informação nutricional é um instrumento funda-        indiscriminada quantidade de informações
mental de apoio à escolha de produtos mais              disponíveis nos diferentes veículos da mídia e
saudáveis na hora da compra. Neste capítulo, serão      publicidade. O fortalecimento dessa capacidade de
apresentadas as características da informação           decidir pelo alimento mais adequado,
nutricional que estará presente nos rótulos. O uso      contrapondo-se às informações publicitárias e de
do rótulo e das informações nutricionais deve ser       marketing, é um desafio a conquistar, preservando o
incentivado pelos profissionais de saúde, entidades     nosso direito de consumidores.
de defesa do consumidor e pela comunidade                        No endereço http://www.anvisa.gov.br/
escolar, dentre outros, para transformar esse           alimentos/rotulos/index encontram-se disponíveis
instrumento em ferramenta efetiva para escolhas         nos seguintes materiais para informações
de alimentos mais saudáveis pela população.             adicionais: Manual de Orientação aos Consumidores - a
                                                        escolha adequada dos alimentos a partir dos rótulos
Informações que devem ser                               (BRASIL, 2002a); Guia de bolso do consumidor saudável
                                                        (BRASIL, 2003?)
declaradas no rótulo
          Os rótulos possuem denominação de
venda do produto e, em certos casos, algumas            Lista de ingredientes
informações a respeito de qualidades ou                          Todo alimento industrializado deve, por
classificações que o diferenciam de um similar. Por     lei, conter a lista de ingredientes, com exceção de
exemplo, para o consumidor é útil a informação de       alimentos com um único ingrediente (por exemplo:
que determinado arroz é parboilizado ou que um          açúcar, farinha, erva-mate, café, etc.). Como regra,
leite é semidesnatado. Essas informações                os ingredientes são colocados em ordem
normalmente estão em destaque na embalagem.             decrescente da respectiva proporção. O item que
Os rótulos possuem, ainda, uma grande quantidade        aparece primeiro é o que entra em maior
de informação imprescindível ao consumidor, como        quantidade na formulação do produto. De maneira
a lista de ingredientes, prazo de validade, conteúdo    geral, se os primeiros ingredientes são gordura ou
líquido, identificação da origem, lote e instruções     açúcar e derivados, o alimento terá alta
sobre o preparo e uso do alimento, quando               concentração dessas substâncias. Os aditivos
necessário.                                             alimentares devem ser declarados após os
          Naturalmente a indústria dará maior           ingredientes, constando sua função no alimento.
destaque às características positivas de seu produto.            Um produto relativamente simples como o
Dessa maneira, é importante analisar mais de uma        pão integral terá uma lista básica de ingredientes
informação. Por exemplo, um produto com alto            com farinha de trigo refinada, farinha de trigo inte-
teor de fibra, que é uma característica positiva,       gral, açúcar, fermento biológico, sal e ácido
poderá, em contrapartida, ter alto teor de gordura,     ascórbico (aditivo utilizado como melhorador de
açúcar ou sódio. Outro produto com alto teor de         farinha aumenta a expansibilidade da massa).
cálcio pode ter elevada concentração de gordura         Assim, mesmo um pão denominado integral tem
saturada. Muitas vezes os produtos com adição de        como primeiro ingrediente a farinha de trigo
120                                                          GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      refinada. O produto denominado pão integral pode         prontos para o consumo (sobremesas como pudins e
      ter diferentes teores de farinha de trigo integral,      musses); os produtos fracionados nos pontos de
      dependendo do fabricante.                                venda a varejo, comercializados como pré-medidos
               Analisando a lista de ingredientes, você        (como queijo, presunto); as frutas, vegetais e carnes
      poderá verificar com a alta freqüência em que a          in natura, refrigerados e congelados e os alimentos
      gordura, principalmente a vegetal hidrogenada (ou        com embalagens cuja superfície visível para
                                                                                                       2
      gordura trans), o açúcar ou o sal são utilizados em      rotulagem seja menor ou igual a 100cm (um pouco
      produtos industrializados. Atenção: algumas vezes        maior que uma caixa de fósforos), caso não sejam
      o nome do ingrediente pode estar incompleto como         para fins especiais ou utilizem informação
      no caso de gordura hidrogenada, que pode                 nutricional complementar (claim nutricional).
      aparecer como gordura vegetal. Gordura vegetal é
      diferente de óleo vegetal (aquela é hidrogenada e        Valores diários (VD)
      prejudicial à saúde, este é rico em ácidos graxos                  A informação nutricional obrigatória
      insaturados que não prejudicam a saúde desde que         contida nos rótulos de alimentos abrange ainda
      consumidos com moderação).                               uma outra informação. Para o consumidor poderia
                                                               ser de pouca valia saber que determinado produto
      Informação nutricional                                   tem tantos gramas de gordura ou tantas calorias. O
                A obrigatoriedade da rotulagem nutri-          passo seguinte seria saber se isto é suficiente ou
      cional em todos os rótulos de alimentos é recente        excessivo em relação a algum parâmetro de
                        os
      (Resolução RDC n. 359 e 360, de 23 de dezembro de        necessidades nutricionais. Assim, ao lado da
      2003 www.anvisa.gov.br).(BRASIL,2003b,2003c)             quantidade de calorias e gramas de nutrientes, há a
                Veja o exemplo a seguir de uma                 informação do percentual de VALOR DIÁRIO
      embalagem de leite desnatado. O primeiro aspecto         (%VD), que informa quanto aquela quantidade de
      a ser notado é que a informação é apresentada por        calorias ou nutriente representa, considerando uma
      uma porção de referência . No caso do leite, 200         dieta de 2.000kcal. Voltando ao nosso exemplo, um
      mililitros (ml) - um copo. O fabricante deve             copo de leite desnatado de 200ml contribui com 8%
      apresentar a informação por porção, em grama ou          do valor diário de proteína e 2% do valor diário de
      mililitro, incluindo a medida caseira corres-            gordura.
      pondente. A declaração por 100g ou 100ml é                         Fique atento! A informação de valor diário
      opcional. A medida caseira facilita a compreensão        é muito útil, mas é importante ter claro que não é
      do consumidor, uma vez que é mais fácil visualizar o     uma recomendação (DEPARTMENT OF HEALTH
      copo, xícara ou colher.                                  AND SOCIAL SECURITY, 1991). Por exemplo, no caso
                A informação nutricional deve conter a         das gorduras saturadas e do sódio quanto menores
      quantidade de energia que aquela porção contém e         forem os percentuais do VD, melhor, porque indica
      a quantidade em gramas ou miligramas dos                 que os teores desses nutrientes no alimento são
      seguintes nutrientes: carboidrato, proteína,             baixos. A declaração de gorduras trans em
      gordura total, gordura saturada, gorduras trans,         percentual de valor diário (%VD) não é obrigatória,
      fibra alimentar e sódio. Caso o fabricante decida, é     uma vez que não é recomendada a ingestão de
      permitido adicionar informações sobre outros             gorduras trans, mesmo em baixas quantidades.
      nutrientes.                                                        Analise as diferentes informações que
                Estão excluídos dessa obrigatoriedade os       estão no exemplo abaixo. Você deve controlar o
      seguintes alimentos: as bebidas alcoólicas; as           consumo de alguns dos componentes - gordura
      especiarias (como canela, orégano); as águas             total, gordura saturada, gordura trans e sódio. Já
      minerais naturais; os vinagres; o sal (cloreto de        para outros, você deve procurar garantir o consumo
      sódio); café, erva-mate, chá e outras ervas sem          diário segundo os parâmetros saudáveis já
      adição de outros ingredientes (como leite e açúcar);     apresentados neste guia.
      os alimentos preparados e embalados em                             Por exemplo: o leite desnatado, como todo
      restaurantes e estabelecimentos comerciais,              alimento de origem animal, não contém fibra. Por
Utilizando o rótulo dos alimentos                                                                                            121



outro lado, é uma boa opção, pois tem, em relação                  total e gordura saturada. Compare as informações
ao produto integral, menor quantidade de gordura                   dos dois produtos no quadro 2 a seguir:


      Quadro 2 - Informação nutricional dos leites desnatado e integral
                                                                                            Porção 200ml (1 copo)
    Leite integral               Quantidade         % VD    (1)
                                                                  Leite desnatado             Quantidade          % VD   (1)



                                 por porção                                                   por porção

    Valor energético                118 kcal            6         Valor energético               74 kcal            4
    Carboidratos                     9,0 g              3         Carboidratos                    9,8 g             3
    Proteínas                        6,3 g              8         Proteínas                       6,4 g             8
    Gorduras totais                  6,4 g             12         Gorduras totais                 1,0 g             2
    Gorduras saturadas               4,1 g             19         Gorduras saturadas              0 ,0g             0
    Gorduras trans                   ND                 -         Gorduras trans                  0 ,0g             -
    Fibra alimentar                  0g                 0         Fibra alimentar                 0 ,0g             0
    Sódio                           94 mg               4         Sódio                         100 mg              4



    FONTE: PHILIPPI, 2001.
    (1) % Valores Diários com base em uma dieta de 2.000kcal ou 8.400kj. Seus valores diários podem ser maiores ou menores
    dependendo de suas necessidades energéticas.




         Como já mencionado, o rótulo pode conter                  indivíduo a fazer as adaptações necessárias dentro
outras informações nutricionais. Se o rótulo                       das suas necessidades nutricionais específicas.
contiver qualquer atributo, por exemplo, que o                              Para cada grupo de alimentos foi definida
produto tem baixo teor de açúcar ou tem adição de                  qual a contribuição calórica para uma dieta
vitaminas e minerais, essas informações devem estar                adequada, considerando um consumo total diário
quantificadas, obrigatoriamente, na tabela                         de 2.000kcal.
nutricional, respeitando a Portaria SVS/MS n.°
                                                                            O quadro 3 apresenta os grupos de
27/98. (BRASIL,1998)
                                                                   alimentos, a recomendação calórica de cada grupo,
                                                                   o número de porções diárias de consumo para
Porções de alimentos                                               alcançar a recomendação total e, finalmente, o
         O tamanho das porções foi calculado com                   valor energético da porção. Esta referência é
base em uma dieta de 2.000kcal. Pessoas jovens e                   importante para estimar o tamanho da porção dos
ativas, especialmente em fase de crescimento,                      alimentos que não constam das tabelas.
poderão ter valores diferentes, assim como as
pessoas inativas e mulheres adultas.
                                                                   Declarações relacionadas ao conteúdo de
         A regulamentação sobre rotulagem
nutricional definiu o que seriam as porções de                     nutrientes e energia
referência para que a informação pudesse ser                                Muitas vezes encontramos produtos com
veiculada de maneira padronizada. Esses valores de                 alegações como alto teor em fibra , baixo em
referência foram elaborados em relação a uma                       sódio . Na rotulagem de alimentos, qual é o
dieta de 2.000kcal e prevendo a distribuição dessas                significado de alto teor e baixo ? Essas
calorias nos diferentes grupos de alimentos. É                     alegações estão regulamentadas pela Agência
necessário que o profissional de saúde apóie o                     Nacional de Vigilância Sanitária (BRASIL, 2001a) e
122                                                                    GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




          QUADRO 3 - Porções segundo grupos de alimentos, para fins de rotulagem
                      (*)
          nutricional.

                                                             Recomendação        Número de       Valor energético
                     Grupos de alimentos
                                                            calórica média do porções diárias do médio por porção

           I Produtos de panificação, cereais,
           leguminosas, raízes, tubérculos                            900                      6                       150
           e seus derivados
           II Verduras, hortaliças e conservas
                                                                                               3                        30
           vegetais
                                                                      300
           III Frutas, sucos, néctares e                                                       3                        70
           refrescos de frutas
           IV Leite e derivados                                                                2                       125
                                                                      500
           V Carnes e ovos                                                                     2                       125
           VI Óleos, gorduras e sementes
                                                                                               2                       100
           oleaginosas
                                                                      300
           VII Açúcares e produtos que
                                                                                               1                       100
           fornecem energia provenientes

           (*) A tabela de porções para cálculo do % do VET para a alimentação diária se encontra no ANEXO B.
           Para conhecer os Valores de Referência adotados para a informação nutricional de produtos industrializados, acesse
           http://www.anvisa.gov.br/alimentos/legis/especifica/rotuali.htm.




      seu significado depende do nutriente específico.                    proteínas, sódio e outros), alimentos sem adição de
      Essas alegações podem ser utilizadas para destacar                  açúcar/alimentos para dietas de ingestão
      o conteúdo de energia ou de nutrientes contidos no                  controlada de açúcares e alimentos para controle de
      alimento ou para comparar os níveis de nutrientes                   peso. Apresentam na sua composição quantidades
      ou valor energético de dois ou mais alimentos. Veja                 insignificantes, ou são totalmente isentos, de
      quadro 4 .                                                          nutriente específico. Como exemplo de alimento
                                                                          diet, podemos citar uma geléia para dieta com
                                                                          restrição de açúcar.
      Alimentos diet e light
                                                                                    Tanto alimentos diet quanto light não têm
               O termo light pode ser utilizado nos
                                                                          necessariamente o conteúdo de açúcares ou
      alimentos que apresentam baixo conteúdo de valor
                                                                          energia reduzidos, uma vez que podem ser
      energético ou de algum nutriente, ou valor                          alteradas as quantidades de gorduras, proteínas,
      energético ou de nutrientes reduzido, quando                        sódio, dentre outros; por isso a importância da
      comparado a um alimento convencional. Como                          leitura dos rótulos.
      exemplo de alimento light, podemos citar um
      iogurte com redução de 30% de gordura.
               O termo diet pode ser utilizado nos                        Alegação de propriedades funcional e/ou de
      alimentos especialmente formulados para grupos                      saúde
      da população que apresentam condições fisioló-                              Os rótulos dos alimentos podem trazer
      gicas específicas: alimentos para dietas com                        alegações de propriedades funcional e/ou de saúde,
      restrição de nutrientes (carboidratos, gorduras,                    desde que previamente avaliadas e aprovadas pela
Utilizando o rótulo dos alimentos                                                                                        123



      QUADRO 4 - Declarações relacionadas ao conteúdo de nutrientes e energia no rótulo
      dos alimentos

      ALEGAÇÃO/ATRIBUTO                                              CONDIÇÕES NECESSÁRIAS

                                                                     Máximo de 40 kcalpor 100g ou
      Valor calórico baixo (light)
                                                                     Máximo de 20 kcal por 100ml

      Não contém (zero) caloria                                       Máximo de 4 kcal por 100g ou 100ml

                                                                     Redução mínima de 25% em relação ao
      Reduzido (light) em caloria                                    produto convencional e diferença maior que
                                                                     40kcal por 100g ou 20 kcal por 100ml

                                                                     Máximo de 5g em 100g ou 100ml e mesmas
                                                                     condições exigidas para os atributos
                                                                     "REDUZIDO" ou "BAIXO VALOR
      Baixo teor de açúcar (light)
                                                                     ENERGÉTICO", ou frase "este não é um
                                                                     alimento com valor energético reduzido" ou
                                                                     frase equivalente

                                                                     Açúcares não foram adicionados durante a
                                                                     produção e embalagem do produto e
                                                                     também não contém ingredientes nos quais
                                                                     açúcares tenham sido adicionados e mesmas
      Sem adição de açúcar
                                                                     condições exigidas para os atributos
                                                                     REDUZIDO ou BAIXO VALOR ENERGÉTICO, ou
                                                                     frase "este não é um alimento com valor
                                                                     energético reduzido" ou frase equivalente

                                                                     Máximo de 3g de gordura em 100g de
      Baixo, em gordura (light)                                      alimento sólido ou 1,5g em 100ml de
                                                                     alimento líquido

                                                                     Máximo de 5mg de colesterol em 100g ou ml
                                                                     e máximo de 1,5 g de gordura saturada/100g
      Livre de colesterol                                            ou máximo de 0,75g de gordura
      (zero em colesterol)                                           saturada/100ml e energiafornecida por
                                                                     gorduras saturadas deve ser no máximo 10%
                                                                     do valor energético total.

                                                                      Mínimo de 15% da IDR de referência em 100g
      Fonte de vitamina ou mineral
                                                                      ou 7,5% da IDR em 100 ml de alimento.

      Para mais informações, consultar www.anvisa.gov.br - alimentos- rotulagem- manual do consumidor.



Anvisa. Uma alegação de propriedade funcional é                     e em outras funções normais do organismo
uma informação relativa ao papel metabólico ou                      humano. A alegação de propriedade de saúde é
fisiológico que o nutriente ou não-nutriente tem no                 aquela que afirma, sugere ou implica a existência de
crescimento, no desenvolvimento, na manutenção                      relação entre o alimento ou ingrediente com a
124                                                            GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      redução do risco da doença ou condição
      relacionada à saúde. Alguns exemplos de alegações
      que podem constar do rótulo dos produtos são:
      - Para fibras alimentares: As fibras alimentares
      auxiliam o funcionamento do intestino. Seu
      consumo deve estar associado a uma dieta
      equilibrada e hábitos de vida saudáveis .
      - Para proteína de soja: O consumo diário de no
      mínimo 25g de proteína de soja pode ajudar a
      reduzir o colesterol. Seu consumo deve estar
      associado a uma dieta equilibrada e hábitos de vida
      saudáveis .
               As informações contidas nos rótulos
      podem ser muito úteis na escolha de alimentos mais
      saudáveis; no entanto requerem um investimento
      em informação e educação de maneira que as
      informações sejam compreensíveis para os
      consumidores. Uma maneira de incentivar a
      consulta e promover a compreensão das
      informações é a utilização dos rótulos como mate-
      rial em atividades didáticas em salas de aula, centros
      de saúde, centros comunitários, centros de
      convivência. Os profissionais de saúde e da
      educação devem procurar oportunidades para
      promover grupos para essa discussão.
Parte   3   As bases epidemiológicas
            e científicas das diretrizes
PARTE 3 - AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS                                                                127



Introdução                                                71,3 anos (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
                                                          ESTATÍSTICA, 2005). Entre os anos de 1980 e 2000, o
         A terceira parte deste guia é dirigida aos       grupo de menores de 15 anos apresentou uma
profissionais de saúde que formulam, implantam e          redução de 22%, enquanto que a população com 65
avaliam as políticas públicas e a todos aqueles que       anos ou mais aumentou em 47% (BRASIL, 2004c).
buscam conhecer a situação epidemiológica,                Em 2000, o índice de envelhecimento da população
alimentar e nutricional da população brasileira e as      era de 20, ou seja, existiam 20 idosos para cada 100
evidências que embasam as diretrizes aqui                 pessoas menores de 15 anos (SIM - Ministério da
apresentadas.                                             Saúde - IDB, 2001).
                                                                   Segundo a Organização Mundial da Saúde
                                                          (OMS), uma população é considerada envelhecida
         Documentos como este, contendo
                                                          quando a proporção de pessoas com 60 anos ou
diretrizes sobre alimentos e práticas alimentares,
                                                          mais atinge 7% do total, com tendência a crescer.
são resultado de um processo intenso de pesquisa,
                                                          Em 2000, os brasileiros com 60 anos ou mais já
acúmulo de evidências e opiniões dos últimos 50 ou
                                                          representavam 8,6% da população total, mais de
mais anos. A primeira seção desta terceira parte do
                                                          14,5 milhões de pessoas (INSTITUTO BRASILEIRO DE
guia, Saúde e nutrição no Brasil , sumariza o
                                                          GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2002). A OMS estima
conjunto de informações disponíveis mais recentes
                                                          que essa população cresça, até 2025, 16 vezes, o que
a respeito da ocorrência de doenças e óbitos
                                                          colocará o Brasil entre as dez maiores populações de
relacionados à alimentação e nutrição e a situação
                                                          idosos do mundo (COSTA et al., 2003a; KELLER et al.,
do consumo de alimentos em nossa população.
                                                          2002).
         Por fim, no item Bases Científicas para as
                                                                   A universalização da educação é quase
Diretrizes Alimentares Nacionais , são apre-
                                                          uma realidade: 81,4% das crianças e adolescentes
sentadas informações sobre as evidências atuais,
                                                          com idade de 7 a 14 anos freqüentavam o ensino
que relacionam o maior ou menor risco de
                                                          fundamental em 1992, enquanto que, em 2002, essa
ocorrência das diferentes DCNT ao consumo de
                                                          taxa era de 93,8%. Em 2002, a proporção da
distintos alimentos e nutrientes. Também apresenta
                                                          população de 15 a 24 anos capaz de ler e escrever
a abordagem do curso da vida, que recentemente
                                                          um simples bilhete atingiu 96,3% no País; porém, o
tem mostrado a associação da desnutrição na
                                                          analfabetismo entre pessoas com 25 ou mais anos
infância e na vida uterina ao maior risco de doenças
                                                          ainda é um desafio a ser superado (INSTITUTO DE
crônicas nãotransmissíveis.
                                                          PESQUISA ECONÔMICA E APLICADA, 2004).
                                                                   Ocorreram reduções importantes na
Saúde e Nutrição no Brasil                                mortalidade infantil. Entre 1990 e 2003, a redução
          Nas últimas duas ou três gerações, a vida no    foi expressiva (44,1%). Em 2003, ocorreram 27
Brasil transformou-se em muitos aspectos. O Brasil        óbitos a cada mil crianças menores de 1 ano nascidas
tornou-se rapidamente uma sociedade                       vivas. Entre crianças menores de 5 anos, a tendência
predominantemente urbana. Os padrões de                   foi a mesma. Nesse grupo etário, as políticas
trabalho e lazer; alimentação e nutrição; e saúde e       públicas tiveram impacto positivo nas taxas de
doença aproximaram-se agora dos de países                 mortalidade por doença diarréica aguda e infecções
desenvolvidos. Em 1950, dos 50 milhões de                 respiratórias. Em algumas regiões, a mortalidade
brasileiros, a maioria vivia na zona rural; já em 2003,   proporcional por diarréia diminuiu 59,5% entre os
de uma população estimada em 176 milhões de               anos de 1990 a 2001, chegando a 70% em algumas
pessoas, mais de 82% residiam em áreas urbanas.           regiões (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA E
Essa urbanização muito rápida desestruturou as            APLICADA, 2004; BRASIL, 2004c).
formas tradicionais de vida e impôs um aumento de                  As famílias brasileiras estão menores,
demanda na estrutura e nos serviços das cidades.          resultado da queda significativa na fecundidade. A
          O Brasil já não é mais um país de jovens. Em    razão de fecundidade total caiu de 5,8 filhos por
1950, a esperança média de vida do brasileiro ao          mulher, em 1970, para 2,1 em 2003, refletindo uma
nascimento era de 45,7 anos e, em 2003, chegou aos        redução de 63,8% no período (BRASIL, 2004c).
128                                                           GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




               Quaisquer que sejam os indicadores para          1995b; OLIVEIRA et al., 1996; DREWNOWSKI e
      medir a pobreza, ela vem declinando signi-                POPKIN, 1997; PAN AMERICAN HEALTH
      ficativamente, mas ainda há um expressivo                 ORGANIZATION, 1998a, 1998c; MONTEIRO, 2000;
      contingente de população pobre e extremante               MONTEIRO et al., 2000a; SCHRAMM et al., 2004;
      pobre no País. Em 2002, considerando o indicador          LAURENTI, 1990; OMRAN, 1971).
      nacional de pobreza e extrema pobreza, com base                    A mudança da população do campo para a
      no valor do salário mínimo (1/2 SM e 1/4 SM per           cidade freqüentemente é acompanhada por
      capita, respectivamente), havia 53 milhões de             mudanças negativas nos padrões alimentares. A
      pobres e 20 milhões de pessoas em situação de             denominada transição nutricional implica
      indigência no País (INSTITUTO DE PESQUISA                 mudança no padrão alimentar tradicional , com
      ECONÔMICA E APLICADA, 2004), o que certamente             base no consumo de grãos e cereais, que aos poucos
      impacta negativamente no perfil de saúde e                está sendo substituído por um padrão alimentar
      nutrição de nossa população.                              com grandes quantidades de alimentos de origem
               Os avanços obtidos nos indicadores               animal, gorduras, açúcares, alimentos
      citados, bem como a expansão e cobertura dos              industrializados e relativamente pouca quantidade
      serviços de saúde, em especial da atenção básica e        de carboidratos complexos e fibras (COSTA E SILVA,
      do saneamento, a universalização da previdência           1998; POPKIN, 1994).
      social, a implementação de programas de                            Ao mesmo tempo, os padrões de trabalho e
      assistência alimentar e de transferência direta de        lazer mudaram. Há meio século, a maior parte do
      renda, sem dúvida alguma, foram importantes para          trabalho, nas cidades e no campo, exigia muito
      o País, repercutindo favoravelmente nos indica-           trabalho físico e conseqüente alto gasto energético.
      dores de saúde nacionais. Contudo, o Brasil tem o         Até há pouco tempo, a maioria das pessoas andava
      desafio de superação das grandes desigualdades            a pé ou de bicicleta para se locomover; porém, hoje
      sociais regionais, de raça/etnia e gênero. Essa           em dia carros e ônibus são usados. Nas indústrias e
      desigualdade se manifesta pelo comprometimento            nos escritórios e até mesmo nas zonas rurais, em
      do acesso ao alimento e não pela indisponibilidade,       grande parte dos domicílios, as máquinas e os
      pois os alimentos produzidos no País são suficientes      equipamentos substituem parte do trabalho físico
      para alimentar toda a população.                          anteriormente feito pelas pessoas.
               Os padrões de trabalho e lazer para a                     Por outro lado, o aumento no consumo de
      maioria das pessoas também sofreram mudanças,             alimentos processados, ricos em gordura, açúcar e
      assim como o perfil do consumo alimentar em               sal, associado ao menor gasto energético diário
      decorrência das modificações que vão desde a              devido à redução da atividade física, explicam as
      produção até a preparação e o consumo dos                 tendências crescentes de sobrepeso e obesidade na
      alimentos, impactando no modo de adoecer e                população e também das DCNT associadas no Brasil.
      morrer da população. Conseqüentemente, os                          A transição epidemiológica compreende,
      serviços e as políticas públicas precisam responder a     pois, a substituição progressiva de perfis de saúde
      essas transformações e à complexidade de suas             caracterizados por alta morbidade e mortalidade
      manifestações na saúde.                                   por doenças infecciosas por perfis de saúde
                                                                dominados pela presença de doenças crônicas não-
      A transição epidemiológica brasileira                     transmissíveis (DCNT). No Brasil, muitos estudiosos
               Os processos de transição demográfica,           consideram que a transição epidemiológica não
      epidemiológica e nutricional vêm ocorrendo desde          tem ocorrido exatamente como na maioria dos
      a década de 60, em vários países, incluindo o Brasil.     países industrializados e mesmo em alguns vizinhos
      Tais processos são decorrentes das modificações no        latino-americanos, como o Chile, Cuba e Costa Rica,
      padrão demográfico, no perfil de morbi-                   porque está ocorrendo uma superposição de
      mortalidade e no consumo alimentar e de gasto             etapas, onde convivem concomitantemente os
      energético (POPKIN, 1994; MONTEIRO et al., 1995a,         cenários das doenças transmissíveis e das crônicas
                                                                não-transmissíveis.
PARTE 3 - AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS                                                                129



Epidemiologia da atividade física                        doméstico. Os dados das informações auto-
          A Pesquisa sobre Padrões de Vida (PPV),        referidas do inquérito revelam que:
realizada pelo IBGE em 1996/1997, nas regiões            - Há uma variação de 28,2% a 54,5% de pessoas
Nordeste e Sudeste, é o único inquérito nacional         maiores de 15 anos de idade consideradas
disponível com dados sobre atividade física. Esta        insuficientemente ativas nas 16 localidades
pesquisa apontou que apenas uma minoria dos              pesquisadas;
indivíduos adultos (13%) praticava, no lazer,            - As mulheres, mais que os homens em todas as
atividade física regular (30 minutos diários pelo        capitais, exceto em Belém/PA, são insuficien-
menos uma vez por semana), sendo muito reduzida          temente ativas;
a proporção (3,3%) daqueles que seguiam a                - Em relação à idade, o grupo mais jovem (15 a 24
recomendação de acumular, no mínimo, 30 minutos          anos) sempre apresentou prevalências mais baixas
diários de atividade física, em cinco ou mais dias da    de indivíduos insuficientemente ativos, exceto em
semana (MONTEIRO, et al., 2003a). Esses resultados       Belém, em que essa prevalência entre os mais jovens
revelam que a freqüência de atividade física no          chegou a 30,5%, superando todas as demais faixas
lazer no Brasil é bastante inferior à observada em       de idade;
países desenvolvidos: a proporção de 87% de                       Considerando a escolaridade, os grupos de
adultos brasileiros inativos no lazer supera em duas     menor escolaridade apresentaram percentuais
a três vezes a encontrada nos Estados Unidos e na        menores de pessoas insuficientemente ativas,
média dos países europeus.                               embora essas diferenças não sejam estatisticamente
          A PPV mostrou também diferenças quanto         diferentes, exceto para o Distrito Federal. Apenas
à freqüência e aos padrões de atividade física no        no Rio de Janeiro e Porto Alegre essa tendência é
lazer entre homens e mulheres. Homens são mais           inversa, com maior percentual de indivíduos
ativos nas idades mais jovens, tendendo a declinar       insuficientemente ativos entre os de menor
entre os 20 e 40 anos. A freqüência da atividade         escolaridade, sendo as diferenças significativas
física no lazer é equivalente nos dois sexos, a partir   (BRASIL, 2004e).
dos 50 anos de idade.
          Outras evidências foram constatadas:           Mortalidade
- Homens preferem praticar esportes coletivos,                    A mortalidade no Brasil apresenta
enquanto mulheres, caminhadas. Homens praticam           mudanças importantes, nas últimas décadas, tanto
atividade física por diversão e as mulheres alegam       no que se refere à distribuição etária quanto aos
preocupação com a saúde e motivos estéticos. Com         grupos de causas. Houve uma queda na proporção
o avançar da idade, em ambos os sexos, aumenta a         de mortes em menores de 1 ano e aumento de
periodicidade da atividade física no lazer;              óbitos na faixa de idade de 50 anos e mais. Esse fato
- A associação da renda e da escolaridade com a          reflete, provavelmente, os efeitos da transição
freqüência da atividade física no lazer é positiva,      demográfica e epidemiológica que, hoje em dia, se
independentemente da idade, região e área de             manifestam.
residência e entre homens e mulheres. Quanto                      A mortalidade geral apresentou redução
maior a renda e a escolaridade, maior é a freqüência     de 11,1% entre os anos de 1980 e 2001, passando de
de atividade física (MONTEIRO et al., 2003a).            6,3 para 5,6 por mil habitantes no período,
          Em 2002/2003, o Ministério da Saúde, por       conservando, entretanto, diferenças regionais e
meio do Instituto Nacional do Câncer (INCA),             etárias importantes. Enquanto nas regiões Norte e
realizou um inquérito nacional, de base domiciliar,      Nordeste os óbitos por doenças infecciosas,
sobre comportamentos de risco e morbidade                perinatais e mal definidas tiveram uma represen-
referida de doenças e agravos não-transmissíveis         tatividade maior, nas regiões Sul e Sudeste são as
em 15 capitais e no Distrito Federal. Diferentemente     mortes decorrentes de doenças do aparelho
da PPV, o inquérito do INCA levou em consideração        circulatório, respiratório e neoplasias que apresen-
não somente a atividade física desenvolvida no           taram maior proporção (BRASIL, 2004c).
momento de lazer, mas também a relacionada com                    A tabela 1 demonstra que, no período
ocupação, meios de locomoção e no trabalho               decorrido entre o final dos anos 70 e 2003, as mortes
130                                                                                GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      por deficiência nutricional e por doenças infecciosas                            crescimento importante como causas de morte.
      no Brasil decresceram rapidamente, em relação a                                          A tabela 2 apresenta a mortalidade
      todas as mortes. Já as doenças crônicas não-                                     proporcional, segundo as causas e o sexo, no Brasil,
      transmissíveis e as causas externas tiveram um                                   no ano de 2001. Nesse ano a população estimada


            Tabela 1- Mortalidade por diferentes tipos de doença no Brasil, 1979, 1998 e 2003

             Causas de morte                                                      1979                         1998                          2003
                                                                                   %                            %                             %
             Doenças de Deficiência Nutricional(1)                               3,1                           1,2                           0,7
                                 (2)
             Doenças Infecciosas                                                17,4                           9,1                           4,6
             Doenças Crônicas(3)                                                34,4                          42,5                          48,3
             Causas Externas(4)                                                  9,2                          12,7                          12,6
                           (5)
             Outras Causas                                                      35,9                          34,5                          33,7
                   (1-5)
             Total                                                             100,0                         100,0                         100,0
             FONTE: Ministério da Saúde/SVS/DASIS. Sistema de informação sobre Mortalidade - SIM. (adaptada)

             (1) Especificamente definidas como tal: a deficiência contribui para a morte por outras causas.
             (2) Doenças infecciosas e parasitárias; também infecções perinatais.
             (3) Doença cardiovascular, câncer e diabetes.
             (4) Incluindo acidentes, homicídios, suicídios.
             (5) Das quais apenas mais da metade é de causas mal definidas; a maior parte das restantes são doenças dos vários sistemas do corpo que poderiam
             ser crônicas ou infecciosas.



      pelo IBGE era de 172.385.776 habitantes, sendo a                                 percentuais de mortes por causas não definidas,
      maioria (50,8%) do sexo feminino e o Sistema de                                  foram, nesta ordem: doenças do aparelho
      Informações sobre Mortalidade (SIM) registrou um                                 circulatório, neoplasias e causas externas, havendo
      total de 953.399 óbitos no Brasil, dos quais 58,3%                               para esta última uma expressiva diferença entre
      foram em indivíduos do sexo masculino. As                                        homens e mulheres.
      principais causas de morte, excetuando-se os

            Tabela 2 - Percentual de mortalidade proporcional segundo causas e sexo. Brasil, 2001

             Causas                                                             Sexo                          Sexo                          Brasil
                                                                              Masculino                     Feminino

             Doenças Infecciosas                                                    5,6                          5,2                          5,5
             Neoplasias                                                            14,0                         17,1                         15,3
             Aparelho Circulatório                                                 28,9                         36,7                         32,1
             Aparelho Respiratório                                                 10,4                         11,9                         11,0
             Afecções Perinatais                                                    3,7                          4,1                          3,9
             Causas Externas                                                       20,9                          5,4                         14,5
             Outras Causas Definidas                                               16,5                         19,6                         17,8
             Total                                                                100,0                        100,0                        100,0
PARTE 3 - AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS                                                             131



Novos padrões de morbidade                            podem ser superadas por meio de um
         No Brasil, há poucos anos, os principais     abastecimento alimentar seguro, adequado e
desafios em saúde pública relacionados à              variado e dietas nutritivas, conforme se recomenda
alimentação eram a desnutrição e as deficiências de   neste guia.
micronutrientes entre crianças, bem como as                     As pessoas em risco maior de desenvolver
doenças infecciosas, principalmente na infância e     essas carências são gestantes, especialmente as
adolescência.                                         adolescentes, nutrizes (mulheres que estão
         No entanto, recentemente, a evolução das     amamentando), crianças menores de 5 anos, com
doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT) coloca-    ênfase entre as de 6 meses e 2 anos de idade,
se como desafio adicional à segurança alimentar e     crianças que não são amamentadas adequa-
nutricional, o que deve ser conjugado com os          damente, idosos e doentes de modo geral.
esforços para a reversão da prevalência da                      Membros de famílias que vivem em
desnutrição infantil e o controle e a prevenção das   extrema pobreza, nas zonas rurais e nos bolsões de
deficiências de micronutrientes, que ainda            pobreza das cidades, independentemente da fase
acometem milhões de indivíduos de diferentes fases    do curso da vida, merecem atenção redobrada para
do curso da vida.                                     as doenças e agravos nutricionais.
                                                                A melhor proteção para crianças contra as
Desnutrição infantil e                                deficiências de micronutrientes, desnutrição
                                                      infantil e infecções é a amamentação exclusiva
deficiências de micronutrientes
                                                      durante os primeiros seis meses de vida e
          Entre os anos de 1975 e 1996, o Brasil
                                                      complementar até os 2 anos, com a introdução
reduziu em 70% a desnutrição infantil (de 18,4%
                                                      correta e oportuna dos alimentos variados e
para 5,7%), considerando o indicador peso por
                                                      saudáveis a partir do sexto mês de vida (DEPART-
idade. Embora sejam evidentes os avanços nas
                                                      MENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES,
condições de saúde e nutrição das crianças
                                                      2000; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001a).
brasileiras, em 1996, o Brasil ainda abrigava um
                                                                O Brasil não dispõe de inquéritos com
contingente de cerca de um milhão de crianças com
                                                      representatividade nacional sobre a prevalência de
déficit de peso para a idade.
                                                      deficiências de micronutrientes; mas, com base em
          Em relação ao déficit de estatura que
                                                      diversos estudos feitos em nível local (estadual ou
representa o efeito cumulativo de carências
                                                      municipal), pode-se afirmar que as deficiências de
nutricionais sobre o crescimento esquelético, tendo
                                                      micronutrientes mais relevantes são as de vitamina
como resultado estaturas mais baixas do que o
                                                      A, ferro e ácido fólico.
esperado para a idade, observou-se uma redução,
                                                                A deficiência de vitamina A, denominada
nesse mesmo período, de 72%; no entanto o déficit
                                                      hipovitaminose A, afeta a visão, podendo causar
de altura para a idade entre crianças menores de 5
                                                      cegueira irreversível, além de comprometer a
anos, em 1996, ainda era significativo: 10,5%
                                                      imunidade da criança, estando associada a taxas
correspondendo a quatro vezes mais a prevalência
                                                      elevadas de mortalidade infantil. A análise dos
esperada para populações saudáveis (2,5%),
                                                      inquéritos bioquímicos disponíveis, sobre
chegando a ser 11 vezes maior no Nordeste. Além
                                                      concentrações séricas de retinol, indica prevalências
disso, o declínio não foi homogêneo para todo o
                                                      que variam entre 14,6% e 33% em menores de 5
País, pois, na área rural, foi menor, aumentando
                                                      anos, manifestando-se particularmente nas regiões
assim a disparidade entre os meios urbano e rural
                                                      e segmentos mais pobres da população do Brasil. O
(BATISTA; RISSIN, 2003).
                                                      Programa Nacional de Suplementação de Vitamina
          As recomendações alimentares não
                                                      A ( Vitamina A Mais ), sob responsabilidade do
conseguem resolver, por si sós, a desnutrição
                                                      Ministério da Saúde, objetiva prevenir e controlar
infantil e as carências nutricionais, pois seus
                                                      essa deficiência nutricional mediante a
determinantes incluem também outras causas
                                                      suplementação com megadoses de vitamina A, em
relacionadas à pobreza e à desigualdade de acesso a
                                                      crianças de 6 a 59 meses de idade (100.000UI e
serviços, bens e oportunidades às quais estão ainda
                                                      200.000UI, respectivamente, com intervalo mínimo
submetidas parcelas da população brasileira; mas
132                                                          GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      de quatro meses) e puérperas no pós-parto                Neste último caso, a intervenção destina-se também
      imediato (200.000UI em dose única), residentes na        ao controle e a prevenção da deficiência de ácido
      Região Nordeste, no Vale do Jequitinhonha e              fólico.
      Mucurici em Minas Gerais. Nessas regiões, há dados                O Programa Nacional de Suplementação
      disponíveis que evidenciam a pertinência e               de Ferro, recentemente instituído por meio da
      segurança dessa intervenção (SANTOS, 2002b).             Portaria n.º 730, de 13 de maio de 2005, do
                A deficiência de ferro, denominada             Ministério da Saúde, destina-se a prevenir a anemia
      anemia ferropriva, é muito prevalente no Brasil,         ferropriva mediante a suplementação universal de
      principalmente entre as gestantes, mulheres em           crianças de 6 a 18 meses de idade, gestantes a partir
      idade fértil e crianças. Os estudos realizados no        da 20.ª semana e mulheres até o 3.º mês pós-parto
      Brasil apontam prevalências de 15% a 50% entre           em todo o território nacional. Os suplementos de
      crianças e, entre gestantes, de 30% a 40%                sulfato ferroso, em forma de xarope, deverão ser
      (OLIVEIRA et al., 1996; BATISTA FILHO, 1999). Essa       oferecidos rotineiramente nas unidades de atenção
      deficiência tem apresentado tendência secular            básica de saúde que conformam a rede do SUS em
      singular: no mesmo período em que ocorreu um             todos os municípios brasileiros.
      acentuado declínio nas prevalências da desnutrição                A publicação da Resolução Anvisa RDC n.º
      infantil e, entre adultos, a emergência epidêmica da     344, de 13 de dezembro de 2002, tornou-o
      obesidade, as taxas de anemia ferropriva                 brigatória a fortificação das farinhas de trigo e de
      continuaram aumentando. Em São Paulo, em                 milho com ferro e ácido fólico, pré-embaladas na
      1974/1975, a ocorrência era de 22%, elevando-se          ausência do cliente e prontas para oferta ao
      para 35% em 1984 e, finalmente, 46,9% em 1995            consumidor, e aquelas utilizadas como matéria-
      (BATISTA FILHO, 1999; SANTOS, 2002a), o que              prima na fabricação de produtos como pães,
      representa um incremento de 116% no período. No          biscoitos, macarrão, misturas para bolos,
      Estado da Paraíba, houve um aumento de                   salgadinhos, dentre outros. Essa resolução, em vigor
      aproximadamente 88% no intervalo de dez anos             desde junho de 2004, estabelece que:
      (19,3% em 1982 e 36,4% em 1992) (SANTOS, 2002a).
                                                               - Cada 100g do produto deve fornecer 4,2mg de
                A anemia representa, em termos de magni-
                                                               ferro, que representa 30% da ingestão diária
      tude, o principal problema carencial do País,
                                                               recomendada (IDR) de adulto (14mg) e 150mcg de
      aparen-temente sem grandes diferenciações
                                                               ácido fólico, o que representa 37% da IDR de adulto
      geográficas, afetando, em proporções semelhantes,
                                                               (400mcg).
      todas as macrorregiões. Em alguns dos estudos
                                                               - As farinhas de trigo e de milho devem ser
      disponíveis verificam-se as seguintes prevalências,
                                                               designadas usando o nome convencional do
      em crianças: 46,7% em Pernambuco; 46,4% em
      Salvador/BA; 41,6% em Porto Velho/RO; 46,9% em           produto de acordo com a legislação específica,
      São Paulo; e 47,8% em Porto Alegre/RS (SANTOS,           seguida de uma das seguintes expressões:
      2002a).                                                  fortificada com ferro e ácido fólico ou enriquecida
                                                               com ferro e ácido fólico ou rica em ferro e ácido
                A carência de ácido fólico, que também
                                                               fólico.
      provoca um tipo específico de anemia, está
      associada aos defeitos do tubo neural na fase do                  Quando as farinhas de milho e de trigo são
      crescimento intra-uterino, quando as crianças são        utilizadas como ingredientes em outros produtos,
      geradas por mulheres com aporte inadequado               elas devem ser fortificadas e declaradas na lista de
      desse nutriente.                                         ingredientes da rotulagem como farinha de trigo
                Considerando essas evidências, o               ou farinha de milho, seguida das mesmas
      Ministério da Saúde vem desenvolvendo estratégias        expressões acima especificadas.
      para o controle e a prevenção das deficiências de                 A deficiência de iodo causa uma série de
      ferro e da anemia ferropriva em três principais          problemas, denominados distúrbios por deficiência
      linhas de ação: a orientação nutricional na rede de      de iodo (DDI), tendo como manifestações clínicas
      saúde, a universalização da suplementação                mais evidentes o bócio ( papo ) ou aumento da
      medicamentosa com sulfato ferroso ao grupo               tireóide (uma glândula que fica localizada da base
      materno-infantil e a fortificação de alimentos.          frontal do pescoço) e o cretinismo (alterações
PARTE 3 - AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS                                                                                              133



neurológicas irreversíveis que acometem crianças                                         antropométrico de populações de adultos, o índice
geradas por mulheres com deficiência de iodo e que                                       de massa corporal (IMC), que relaciona o peso
incluem retardamento mental, surdo-mudez,                                                corporal pelo quadrado da altura do indivíduo
alterações motoras, dentre outras) (BRASIL, 1996;                                        (kg/m2), estabelecendo que uma prevalência de 5%
DUNN; VAN DER HARR, 1992).                                                               de IMC < 18,5kg/m2 na população não deve ser
          Segundo os dados nacionais mais recentes,                                      tomada como evidência de exposição à desnutrição,
o Brasil conseguiu obter sucesso no controle e na                                        uma vez que déficits de 3% a 5% são esperados nas
prevenção dos DDI. A taxa de prevalência está
                                                                                         diferentes populações, por incluir os indivíduos
abaixo dos níveis estabelecidos internacionalmente
                                                                                         constitucionalmente magros. Considerando a
como aceitáveis (5%). O Projeto Thyromobil indicou
                                                                                         população adulta brasileira (maior de 20 anos de
uma prevalência de 1,4% da deficiência entre
escolares, sugerindo que os DDI não são mais um                                          idade), os dados mais recentes com
problema em âmbito nacional, mas provavelmente                                           representatividade nacional resultantes da Pesquisa
se mantêm em alguns locais, especialmente zonas                                          de Orçamentos Familiares (POF) 2002-2003
rurais, onde o consumo de sal para animal ainda é                                        (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
prática comum entre as famílias residentes (PRETEL,                                      ESTATÍSTICA, 2004a) revelaram que 4% da
2000; SANTOS, 2002c).                                                                    população total apresentavam IMC < 18,5kg/m2,
          A erradicação da desnutrição infantil e das                                    dentro dos parâmetros normais esperados. Da
deficiências de micronutrientes no Brasil constitui-                                     mesma forma que houve uma redução na taxa de
se ainda desafio a longo prazo que exige uma ação                                        prevalência da desnutrição infantil, entre as
política articulada de programas econômicos e                                            décadas de 70 e 90, também se observa uma
sociais, dentre estes os de saúde e de alimentação                                       tendência de queda de exposição dos adultos à
ou transferência direta de renda, que ficam além do                                      desnutrição: enquanto que, em 1975, 9,5% estavam
alcance de um governo ou de um ministério. Espera-
                                                                                         expostos e, em 2003, essa taxa caiu para 4%.
se que este guia desempenhe um papel valioso na
                                                                                         Desagregados por sexo, essas taxas são de 2,8% e
redução da desnutrição e das deficiências por
                                                                                         5,2% entre homens e mulheres, respecti-vamente,
micronutrientes.
                                                                                         conforme mostra o gráfico 1.
                                                                                                  A análise, desagregada, segundo as
Desnutrição e deficiências                                                               regiões geográficas, mostra, contudo, diferenças,
de micronutrientes entre adultos                                                         conforme se pode verificar no gráfico 2 abaixo.
      A Organização Mundial da Saúde (OMS)                                                        Esses resultados mostram que as mulheres
recomenda para a avaliação do perfil                                                     das regiões Nordeste e Sudeste, exceto as residentes

                                         Gráfico 1 - Tendência secular da desnutrição em adultos, segundo sexo.
                                         Brasil, 1975-2003
     % de adultos com IMC < 18,5 Kg/m2




                                          14                                     13,8                                                1975
                                          12                                                                                         2003
                                          10            9,5

                                           8                                                                    7,2

                                           6                                            5,2
                                                              4
                                           4                                                                          2,8
                                           2
                                           0
                                                        Brasil                 Homens                         Mulheres
     FONTE: IBGE, 2004a.
134                                                                                    GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




                                       Gráfico 2 - Prevalência da desnutrição em adultos, segundo regiões
                                       geográficas e sexo. Brasil 2003

                                                                                                                                     homens
            % de adultos com IMC < 18,5 Kg/m2




                                                                                                                                     mulheres
                                                8           7,2
                                                                                                      6,2
                                                                               5,9
                                                6                                                                              4,9
                                                        4                                       4,2
                                                4                        3,3                                             2,7
                                                2
                                                0   Nordeste rural   Nordeste urbano          Sudeste rural          Sudeste urbano

            FONTE: IBGE, 2004a.



      na zona urbana desta última, estão expostas à                                     ilustradas pelas inegáveis disparidades regionais,
      desnutrição, embora com prevalências baixas,                                      etárias e de gênero, considerando a vulnerabilidade
      segundo a OMS (< 10%). Essa mesma análise,                                        de exposição dos adultos à desnutrição.
      desagregada por faixa etária, permite observar que,                                         Em relação às deficiências de micronu-
      entre os homens com idade de 75 ou mais anos, há                                  trientes entre adultos, não há dados com repre-
      taxas que superam os 5% (8,9%); entre as mulheres,                                sentatividade nacional no Brasil. O Estudo
      contudo, a desnutrição supera essa taxa nas faixas                                Multicêntrico sobre Consumo Alimentar, desen-
                                                                                        volvido em 1996 em cinco cidades brasileiras
      de 20 a 24 anos (12,2%) e de 25 a 29 anos (7,3%).
                                                                                        (NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM ALIMEN-
      Esses últimos dados merecem reflexão cuidadosa,
                                                                                        TAÇÃO, 1997), que trabalhou a família como
      uma vez que se trata de mulheres em idade fértil e
                                                                                        unidade amostral, o que significa a inclusão de
      que, por estarem desnutridas, além da repercussão                                 adultos e crianças, considerando, portanto, a
      sobre a sua própria saúde, poderão vir a gerar                                    composição intrafamiliar, a idade e o sexo, traz
      crianças desnutridas já na vida intra-uterina, de                                 informações sobre a disponibilidade domiciliar de
      baixo peso ao nascer e, portanto, com maior risco de                              cálcio, fósforo, ferro e vitaminas que podem
      morrer e com sérias deficiências nutricionais de                                  contribuir com informações sobre deficiências de
      micronutrientes, com repercussões muitas vezes                                    nutrientes na população.
      irreversíveis ao longo de sua vida.                                                         Considerando o consumo individual,
                Considerando as prevalências, segundo                                   segundo o sexo dos indivíduos com idade maior de
      sexo e classe de rendimentos, os dados revelam que                                18 anos, a pesquisa revelou que 48,9% dos homens
      a exposição à desnutrição acima do esperado para a                                e 61,3% das mulheres tinham consumo inadequado
      população ocorre entre homens de renda de até 1/2                                 de cálcio; 4,8 e 12,6% de ferro; 1,15% de mulheres,
      salário mínimo per capita (SMPC); já entre mulheres                               consumo inadequado de retinol.
      ocorre para todas as faixas de renda, exceto para                                           A pesquisa também avaliou o consumo indi-
      aquelas com mais de 5 SMPC. Para ambos os sexos, é                                vidual de gordura, mostrando inadequação de
      nítida a relação entre renda e exposição à                                        consumo para gorduras saturadas para 51,6% dos
      desnutrição: quanto mais baixa a classe de                                        homens e 58,4% das mulheres; e, para colesterol,
      rendimentos, mais alta é a taxa de vulnerabilidade à                              71% e 54,4% entre homens e mulheres, respecti-
      desnutrição.                                                                      vamente, considerando a amostra total dos
                Esses dados evidenciam que o Brasil,                                    indivíduos dos municípios estudados.
      embora tenha avançado nas condições de nutrição
      da população, ainda há de concentrar esforços para                                 Doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT)
      a redução das desigualdades existentes no País, aqui                                      As DCNT são influenciadas pelo ambiente e
PARTE 3 - AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS                                                             135



por isso passíveis de prevenção. Esse grupo de        este percentual de 13,4% para os homens e de
doenças é considerado uma manifestação da má-         22,1% para as mulheres. Estes padrões referentes à
nutrição, evidência comprovada por estudos            idade e ao sexo foram semelhantes aos observados
científicos (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989a;        em outros países (INSTITUTO BRASILEIRO DE
WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997; PAN                 GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2003).
AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 1998b;                           Um outro inquérito realizado, em 2002/
UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE                         2003, pelo INCA, instituto vinculado ao Ministério
COORDINATING COMMITTEE, 2000; EURODIET,               da Saúde, a partir de amostra de base domiciliar,
2001; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1990a,               investigou comportamentos de risco e de
1990b, 2003a). No último século, essas doenças têm    morbidade referida para doenças e agravos não-
sido a causa principal de incapacidade e de mortes    transmissíveis, em 15 capitais e no Distrito Federal.
prematuras na maioria dos países economicamente       Essa pesquisa teve como objetivos estimar a
desenvolvidos; contudo, conforme já mencionado,       prevalência de exposição a comportamentos e
os processos de transição demográfica, epide-         fatores de risco para as DCNT e a prevalência de
miológica e nutricional também começam a afetar       hipertensão e diabetes auto-referidos. Foram
os países em desenvolvimento, incluindo a América     entrevistados os indivíduos com idade igual ou supe-
Latina (SHETTY; MCPHERSON, 1997) e o Brasil.          rior a 15 anos no momento da pesquisa. Os dados
          A Pesquisa Nacional por Amostragem          referem-se a uma amostra de 23.457 pessoas
Domiciliar (Pnad), realizada pelo IBGE em 2003,       entrevistadas. Alguns resultados serão
incluiu um módulo destinado a aferir o acesso e a     apresentados nas páginas seguintes, pois também
utilização dos serviços de saúde pela população       contribuem para elucidar a gravidade da
brasileira que traz importantes informações sobre     prevalência de DCNT em nossa população (BRASIL,
as DCNT (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E          2004e).
ESTATÍSTICA, 2003).                                            Destacam-se a seguir algumas informações
          À época da pesquisa, a população            disponíveis sobre doenças cardiovasculares, câncer,
brasileira residente foi estimada em 176 milhões de   hipertensão arterial e diabetes que mostram a
habitantes. Por meio de informação relatada pelos     situação no Brasil, doenças estas que têm, entre seus
entrevistados, os resultados mostram que aproxi-      fatores de risco, a inadequação alimentar.
madamente 29,9% da população informaram ser
portadores de pelo menos uma doença crônica não-       Doenças cardiovasculares
transmissível. Essa proporção aumentava com a
                                                              Atualmente, as doenças cardiovasculares
idade e variava segundo os sexos, sendo maior para
                                                      são responsáveis por cerca de 18 milhões de mortes
as mulheres (33,9%) do que para os homens
                                                      anuais em todo o mundo. Dentre elas, a doença
(25,7%). Até a idade de 13 anos, a parcela de
                                                      isquêmica do coração e as doenças cerebro-
mulheres com doença crônica não-transmissível era
                                                      vasculares responsabilizam-se por 2/3 das mortes e
menor e, repetindo o padrão das demais variáveis
                                                      por mais de 20% dos óbitos por todas as causas
de estado de saúde avaliadas, superava a dos
                                                      (BEAGLEHOLE et al., 2001).
homens em todos os grupos etários a partir de 14
                                                              No Brasil, na década de 30, as doenças
anos.
                                                      infecciosas e parasitárias correspondiam,
          As informações revelam, ainda, que a
                                                      proporcionalmente, a 46% da mortalidade geral,
proporção de pessoas com doença crônica
                                                      enquanto que as cardiovasculares a 12%. Já os
nãotransmissível se eleva à medida que aumenta o
                                                      dados de 2001 mostram uma nítida reversão desses
rendimento mensal familiar: 26,7% entre aqueles
                                                      dados: enquanto as infecciosas e parasitárias
com rendimento de um salário mínimo ou menos,
                                                      respondem por 5,0% de todas as causas de morte, as
alcançando 33,6% entre aqueles de 10 e 20 salários.
                                                      doenças cardiovasculares ascenderam a 31%
Para a classe de rendimento acima de 20 salários, a
                                                      (BARBOSA, 2003).
freqüência foi de 32,4%. Entre as pessoas que
                                                              Segundo estimativas do Ministério da
informaram doenças crônicas não-transmissíveis,
                                                      Saúde, as doenças cardiovasculares (DCV) corres-
18,5% informaram ter três ou mais doenças, sendo
                                                      ponderam a 1/3 dos óbitos por causas conhecidas e
136                                                           GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      2/3 dos gastos com atenção à saúde em 2002               (SCHRAMM, 2003). Em 2001, dados do mesmo
      (BARBOSA, 2003). Elas tornaram-se uma das                sistema indicaram que as neoplasias foram causa de
      principais causas de morte, em conseqüência, entre       15,3% das mortes no Brasil (tabela 2, página 141) e
      outros fatores, das profundas transformações no          já são a segunda causa de morte entre homens e
      abastecimento de alimentos e padrão alimentar,           mulheres no Brasil.
      com o rápido aumento da produção e consumo das
      gorduras saturadas, que tornou as dietas mais             Hipertensão arterial
      calóricas, bem como a redução na atividade física                  A hipertensão arterial está associada à
      cotidiana (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1982).             origem de muitas DCNT e é, portanto, uma das
               O impacto econômico das doenças                 causas mais importantes de redução da qualidade
      cardiovasculares no Brasil pode ser avaliado por         de vida e da expectativa de vida. Ela é responsável
      meio das seguintes informações: esse grupo de            por complicações cardiovasculares, encefálicas, co-
      doenças é responsável por 65% dos óbitos de              ronarianas, renais e vasculares periféricas.
      adultos entre 30 e 69 anos de idade e causa de 14%                 O Brasil não dispõe de informações sobre a
      das internações nessa faixa etária (1.150.000            prevalência nacional de hipertensão arterial.
      internações/ano) e é também responsável por 40%          Estudos epidemiológicos locais, com base em
      das aposentadorias precoces (BRASIL, 2003d).             medidas casuais da pressão arterial, no entanto,
                                                               apontam prevalências de 40% e 50% na população
      Câncer                                                   adulta com mais de 40 anos de idade.
               A prevalência de vários tipos de câncer,                  No período decorrido entre 1996 e 1999, a
      incluindo o do cólon, mama e próstata, aumentou          hipertensão arterial foi causa de 17% das
      expressivamente após a segunda metade do século          internações de pessoas entre 40 e 59 anos e de 29%
      XX, possível conseqüência das mudanças nos               das pessoas com 60 anos ou mais, nos hospitais
      sistemas alimentares, padrões de trabalho e lazer        públicos do País (COSTA et al., 2000).
      (WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997).                                No ano de 2002, o Ministério da Saúde
               No Brasil, a incidência de câncer, que até a    realizou a Campanha Nacional para Detecção de
      década de 60 matava menos de 5% dos brasileiros,         Hipertensão Arterial (CNDHA), objetivando a
      aumentou e, no final dos anos 70, já era de cerca de     detecção de casos não diagnosticados e tendo como
      10%, quatro vezes maior do que a encontrada na           população-sujeito cerca de 31 milhões de pessoas
      década de 30 (OLIVEIRA et al., 1996). Conforme se        com 40 ou mais anos de idade. Nessa ocasião, foram
      pode observar na Tabela 1, ao final da década de         realizadas mais de 12,5 milhões de aferições da
      70, as doenças crônicas não-transmissíveis, que          pressão arterial, em 74% dos municípios brasileiros
      englobam doenças cardiovasculares, câncer e              (BRASIL, 2004f).
      diabetes, respondiam por 34,4% das mortes, sendo                   A tabela 3, a seguir, apresenta os resul-
      este valor de 48,3% em 2003.                             tados dos casos suspeitos de hipertensão arterial 14
               Dados do Sistema de Informação de               rastreados durante a CNDHA, definidos como os
      Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, relativos     indivíduos que apresentaram pressão arterial
      ao ano de 1998, indicaram que as neoplasias de           >140/90mmHg.
      traquéia, brônquios e pulmões e o câncer maligno                   Mais recentemente, em 2002/2003, o
      de estômago ocupavam, respectivamente, o 14.º e          estudo sobre a prevalência de hipertensão arterial
      17.º lugar, entre as 20 causas de morte na população     brasileiros. auto-referida, em 15 capitais e no
      masculina. Entre as mulheres, essas causas de morte      Distrito Federal, mostrou um nítido crescimento das
      ocupam, respectivamente, o 19.º e 20.º lugar,            prevalências com a idade: de 7,4% a 15,7% entre
      destacando-se ainda o câncer de colo de útero em         pessoas de 25 a 39 anos; de 26% a 36,4% entre 40 e
      11º lugar e o câncer de mama em 7º lugar                 59 anos e de 39% a 59% em pessoas com 60 ou mais
PARTE 3 - AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS                                                                            137



     Tabela 3 - Resultados da Campanha Nacional de Detecção de Hipertensão Arterial
     (CNDHA). BRASIL, 2002


                 Região                                                      Percentual de exames suspeitos (%) (*)
                 Norte                                                                            31,9
                 Nordeste                                                                         38,7
                 Centro-Oeste                                                                     37,3
                 Sudeste                                                                          35,2
                 Sul                                                                              34,5
                 Brasil                                                                           36,0

       FONTE: BRASIL, 2004f.
       (*) Refere-se aos indivíduos rastreados por ocasião da CNDHA que apresentaram pressão arterial >140/90mmHg, em 4.118
       municípios


anos. Segundo a escolaridade, os resultados                        que depende do SUS para atendimento clínico. Esse
evidenciam prevalência variando de 25% a 45,8%                     número foi estimado em aproximadamente 31
entre pessoas de menor escolaridade e de 16,5% a                   milhões de pessoas. Foram considerados casos
26,6% entre as de maior escolaridade (BRASIL,                      suspeitos indivíduos com glicemia de jejum
2004e).                                                            100mg/dl ou glicemia casual 140mg/dl. Por esses
                                                                   critérios, por ocasião da campanha, 16,4% foram
                                                                   considerados casos positivos. Em uma segunda
Diabetes
                                                                   etapa de investigação, que envolveu busca ativa de
         O diabetes apresenta alta morbimor-                       uma amostragem probabilística dos casos positivos,
talidade, sendo uma das principais causas de                       10,1% tiveram diagnóstico confirmado (BRASIL,
mortalidade, insuficiência renal, amputação de                     2004f).
membros inferiores, cegueira e doenças cardio-
                                                                             No inquérito nacional nas 15 capitais e no
vasculares (BRASIL, 2004f).
                                                                   Distrito Federal, realizado em 2003/2004 pelo Inca,
         A prevalência de diabetes no Brasil, entre                que investigou morbidade referida, mostrou que,
adultos de 30 a 69 anos residentes em nove capitais                entre os indivíduos que tiveram acesso ao exame
brasileiras, em 1988, foi estimada em 7,6%; e a de                 diagnóstico de diabetes, a prevalência variou de
tolerância diminuída à glicose, de 7,8%. A                         5,2% a 9,4% entre a população de 25 ou mais anos.
prevalência é mais alta com a evolução da idade:                   Entre os homens, a prevalência auto-referida variou
2,7% entre 30 e 39 anos, 5,5% entre 40 e 49 anos,                  de 4,9% a 11,7%; e, entre as mulheres, de 4,9% a
12,7% entre 50 e 59 anos e, finalmente, 17,4% entre                8,9%. Os resultados evidenciam um significativo
60 e 69 anos (BRASIL, 1988). Esse mesmo estudo                     aumento com a idade, variando de zero a 4,7% na
revelou que 46,5% das pessoas que tiveram o                        faixa de 25 a 39 anos e de 11,6% a 25,2% em pessoas
diagnóstico confirmado desconheciam ser porta-                     com 60 ou mais anos de idade (BRASIL, 2004e).
dores de diabetes.
         Dados mais recentes estimam em cerca de
                                                                    Excesso de peso e obesidade
4,9 milhões de adultos brasileiros diabéticos,
                                                                            O mais recente inquérito nacional que
prevendo-se, para 2025, que esse número será de
                                                                   permite estimar as prevalências do excesso de peso
11,6 milhões (KING, 1998).
                                                                   e da obesidade no Brasil é a Pesquisa de Orçamentos
         Em 2001, o Ministério da Saúde realizou a
                                                                   Familiares (POF), realizada em 2002-2003, pelo IBGE
Campanha Nacional para Detecção de Diabetes
                                                                   e Ministério da Saúde. As informações estão
Mellitus (CNDDM), envolvendo 95,3% dos
                                                                   disponíveis apenas para adultos (pessoas com 20 ou
municípios brasileiros. A campanha direcionou-se
                                                                   mais anos de idade), não se dispondo ainda das
para a população brasileira com 40 anos ou mais
                                                                   informações para as demais fases do curso da vida.
138                                                                    GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




               A prevalência do excesso de peso e da                     igual ou superior a 30kg/m2, afeta 8,9% dos
      obesidade na população adulta brasileira, apurada                  homens adultos e 13,1% das mulheres adultas do
      pela POF 2002-2003, revela que esses agravos                       País. Obesos representam cerca de 20% do total de
      alcançam grande expressão em todas as regiões do                   homens com excesso de peso e cerca de um terço do
      País, no meio urbano e rural e em todas as classes de              total de mulheres com excesso de peso.
      rendimentos. A obesidade, caracterizada por IMC                             Os gráficos 3 e 4 a seguir evidenciam a


                   Gráfico 3 - Tendência secular do excesso de peso no Brasil, segundo sexo.
                   Brasil, 1975-2003

                                                                                                                  1975
                                        50                                                                        1989
                                                             41,0               40,7
                                                                                       39,2
                                        40
                                                                                                                  2003
           %IMC > 25 Kg/m2




                                        30           29,5                28,6

                                        20   18,6
                                        10
                                         0
                                                    Homens                  Mulheres
           FONTES: ENDEF(1977); PNSN (1989); POF (2004)



      tendência secular do excesso de peso e da                          população adulta apresentavam excesso de peso
      obesidade, respectivamente, entre adultos                          (IMC igual ou superior a 25 kg/m2).
      brasileiros, a partir de três inquéritos nacionais: o                       Considerando a obesidade (IMC maior ou
      Endef, realizado em 1975; a PNSN em 1989; e a POF                  igual a 30 kg/m2), a prevalência na população
      em 2002-2003. (IBGE,1977, 2004a; INAN,1990,1989)                   adulta é de 11,1%, sendo de 8,9% entre homens e
               O excesso de peso teve uma nítida                         de 13,1% entre as mulheres.
      tendência de aumento no período compreendido                                O gráfico 4 indica comportamento similar
      entre meados da década de 70 e 2003 entre os                       da tendência de obesidade, se comparada à do
      homens; e, entre as mulheres, houve tendência de                   excesso de peso: crescimento contínuo da
      redução entre 1989 e 2003. Em 2003, 40% da                         prevalência de obesidade entre os homens, no


                        Gráfico 4 - Tendência secular da obesidade no Brasil, segundo sexo. Brasil, 1975-2003


                                        14                                      12,8                              1975
                                                                                       12,7
                                        12
                                                                                                                  1989
                                        10                   8,8
                                         8                                7,8                                     2003
                      %IMC > 30 Kg/m2




                                         6            5,1
                                         4
                                         2   2,8

                                         0
                                                    Homens                  Mulheres
                        FONTES: ENDEF(1977); PNSN (1989); POF (2004)
PARTE 3 - AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS                                                                                              139



período estudado; entre as mulheres, o crescimento                                    conforme se observa comparando-se os gráficos
ocorreu no período de 1975 a 1989, tendendo a                                         5 e 6.
estabilização até 2003.                                                                        Ao analisar os dois gráficos, observa-se que
          Ainda assim as mulheres apresentam                                          para os homens, em todas as regiões geográficas,
prevalência de obesidade superior aos homens. Os                                      houve um crescimento expressivo e continuado da
dados da POF-2002 indicam ainda a ocorrência de                                       prevalência de obesidade entre 1975 e 2003. Entre
obesidade, tanto em áreas urbanas quanto nas                                          as mulheres, o comportamento da obesidade
rurais, como também nas diferentes regiões do País.                                   tendeu a crescer, entre 1975 e 1989, em todas as
Entre homens e mulheres residentes em zonas                                           regiões, e a reduzir no período entre 1989 e 2003,
rurais, as prevalências encontradas são,                                              exceto na Região Nordeste.
respectivamente, de 9,7% e de 12,7%; já nas zonas                                              A prevalência da obesidade também
urbanas, as taxas são de 8,9 e 13,1%. A prevalência                                   ocorre em todas as classes de rendimento.
da obesidade, segundo as regiões geográficas,                                                  O gráfico 7 mostra que, entre os homens, a
revela que, mesmo nas regiões menos                                                   prevalência aumenta de acordo com o aumento da
desenvolvidas, como o Norte e o Nordeste, as                                          renda; porém, entre as mulheres, esse crescimento
prevalências são expressivas para ambos os sexos,


             Gráfico 5 - Tendência secular da obesidade masculina, segundo região brasileira.
             Brasil, 1975-2003

                                                                                                                                         1975

                             10                                                     9,8                      9,7                         1989
                                                                                                                                   8,4
                              8               7,8                                                      7,5                               2003
                                        6,6                      6,8
     %IMC > 30 Kg/m2




                              6                                               5,6
                                                                                                                             5,1

                                  3,8                                                            3,9
                              4                                         3,1
                                                           2,5                                                         2,8

                              2                      1,4


                              0
                                  Norte             Nordeste            Sudeste                     Sul             Centro-Oeste




              Gráfico 6 - Tendência secular da obesidade feminina, segundo região brasileira.
              Brasil, 1975-2003

                             18                                                                        16,8                              1975
                             16                                                                              14,5
                                                                                                                                         1989
                             14                                               13,613,3
                                                                                                                             12,1
                             12         11,8
                                            11,2                 11,5                            10,5                            10,9    2003
           %IMC > 30 Kg/m2




                             10                            9,0          8,7

                              8   7,3
                                                                                                                       7,6

                              6                      4,7
                              4
                              2
                              0
                                   Norte            Nordeste            Sudeste                        Sul          Centro-Oeste
140                                                                    GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




               Gráfico 7 - Prevalência de obesidade, segundo a renda. Brasil, 2003
                                                                                                                  Salário Mínimo Per Capita
                                                                                                                         < 1/4smpc

                                                                                                                         1/4 - 1/2 smpc
                             16                                                              14,4
                                                                                                    13,7
                             14                                 13,5
                                                                                 12,7
                                                                                        13                               1/2 - 1 smpc
                             12                            11
                                                                                                           11,7
                                                                                                                         1 - 2 smpc
                             10
           %IMC > 30 Kg/m2




                                                     8,8                   8,8
                              8                7,6                                                                       2 - 5 smpc
                              6
                                        4,1                                                                              > 5 smpc
                              4   2,7
                              2
                              0
                                              Homens                               Mulheres
           FONTE: IBGE, 2004a.



      ocorre somente na classe de menor rendimento.                      pelo IBGE em 1996/1997, apenas nas regiões
                O inquérito sobre fatores de risco para                  Sudeste e Nordeste, observa-se que a prevalência de
      DCNT fornece informações auto-referidas sobre                      obesidade triplicou entre crianças e adolescentes de
      peso e altura dos entrevistados (BRASIL, 2004e),                   6 a 18 anos: em 1975 era de 4,1% e aumentou para
      porém, alguns desses resultados são muito similares                13,9% em 1997 (WANG et al, 2002).
      aos encontrados pela POF 2002-2003.                                         Conforme se discutiu anteriormente,
                A prevalência de excesso de peso (que                    houve uma queda expressiva da prevalência de
      soma casos de sobrepeso e obesidade) em algumas                    desnutrição infantil, estimada em 70% para o
      capitais chegou a 40%. O sobrepeso (IMC entre 25,0                 período decorrido entre meados da década de 70 e
      e 29,9kg/m2) variou de 23% a 33,5% e a obesidade                   90; contudo, comparando-se as prevalências de
      (IMC 30kg/m2) entre 8,1% e 12,9%. A prevalência                    desnutrição e de obesidade entre crianças, observa-
      de sobrepeso foi sempre maior entre os homens que                  se que, em meados da década de 70, havia quatro
      entre as mulheres, em todas as capitais. De modo                   vezes mais crianças desnutridas do que obesas, e
      geral, as capitais do Sul e Sudeste apresentaram as                essa proporção, ao final da década de 80, diminuiu
      taxas mais elevadas de sobrepeso e de obesidade e                  para pouco menos de duas crianças desnutridas
      as prevalências de excesso de peso foram mais                      para uma obesa (MONTEIROet al., 2000).
      baixas para os grupos etários mais jovens (BRASIL,                          Dados mais recentes, oriundos de estudos
      2004e).                                                            localizados, também referem tendências de
                Essas tendências de excesso de peso e                    crescimento da obesidade e do sobrepeso na
      obesidade na população adulta brasileira vêm                       população mais jovem. Em estudo realizado na
      comprovar a gravidade e a magnitude que o                          Região Sudeste, em amostra de 10.822 escolares de
      problema assumiu no Brasil, fundamentando a                        7 a 10 anos, foram observadas taxas de sobrepeso de
      urgência de intervenções que façam retroceder o                    15,7% e de 18% de obesidade. Foram encontradas
      avanço do excesso de peso e, concomitantemente,                    prevalências de obesidade de 16,9% e de 14,3%
      das outras DCNT no Brasil.                                         entre meninos e meninas de escolas públicas,
                Em relação à obesidade entre crianças                    respectivamente. Em escolas particulares, as taxas
      menores de 5 anos, três inquéritos nacionais                       de obesidade foram, de 29,8% em meninos e 20,3%
      permitem identificar a prevalência: Endef (1974-                   em meninas (COSTA et al., 2003b).
      1975), PNSN (1989), PNDS (1996) (INSTITUTO                                  Finalmente, a tabela 4 mostra o percentual
      BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1977;                       de óbitos potencialmente evitáveis por meio de
      INSTITUTO NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO E                                uma alimentação adequada. Verifica-se que entre
      NUTRIÇÃO, 1990; INSTITUTO BRASILEIRO DE                            40% e 90% dos óbitos anuais por DCNT, de acordo
      GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1997). Os dados                           com o grupo de doenças, podem ser potencial-
      indicam uma tendência de manutenção das                            mente evitados se a população tiver garantido o
      prevalências (4,6%, 4,6% e 4,3%, respectivamente).                 acesso universal a uma alimentação adequada e
      Comparando-se os dados do ENDEF com os dados de
                                                                         saudável, como se preconiza neste guia.
      Pesquisa de Padrões de Vida, também realizada
PARTE 3 - AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS                                                                             141



       Tabela 4 - Óbitos ocorridos por doenças crônicas não-transmissíveis e óbitos
       potencialmente evitáveis com alimentação adequada (números relativo e absoluto).
       Brasil, 2003


       Doenças Crônicas(CID 10)*                                         N.º de         % de           N.º de mortes
                                                                         óbitos        mortes         anuais evitáveis
                                                                                      evitáveis           (atuais)

       Obesidade e outras formas de
       hiperalimentação (E65-E68)                                          1.018          90                        916

       Diabetes (E10-E14)                                                 37.451          90                     33.706

       Doenças cérebro-vascular (I60-I69)                                 88.923        50 - 75         44.462 - 66.692

       Doenças isquêmicas do coração (I60-I69)                            83.122        50 - 75          41.561 - 62342

       Outras doenças cardiovasculares                                   101.706        50 - 75         50.853 - 76.280

       Neoplasias (Cânceres) (C00-D48)                                   134.573        30 - 40         40.372 - 53.829

       Doenças relacionadas com o álcool                                     536

       Total                                                             447.329                      211.870 - 259.143
       FONTE: Ministério da Saúde/SVS/DASIS, 2004.
       * CID 10. Classificação Internacional de Doenças, 10.ª edição.



         Em conclusão, as informações sobre o perfil                    internacional de "mercado livre", um aspecto da
epidemiológico e nutricional no Brasil vêm reforçar                     globalização (LANG; MCMICHAEL, 1997).
a tese de que a insegurança alimentar e nutricional                              Nas duas últimas gerações, o sistema
no País deve, concomitantemente, prever ações de                        brasileiro de abastecimento de alimentos
promoção da saúde e prevenção da desnutrição                            transformou-se: antes predominantemente
infantil e das deficiências de micronutrientes em                       primário ou composto por produtos minimamente
vários grupos populacionais, bem como do excesso                        processados e comprados em pequenos comércios
de peso, obesidade e das DCNT a ela associadas,                         varejistas e atualmente produtos pré preparados e
formas emergentes de manifestação da má-                                embalados, comprados em grandes redes de
nutrição na população. A promoção da alimentação                        supermercados.
saudável, para a qual este guia é um instrumento,                                Essas mudanças no padrão alimentar são
deve ser consolidada na atenção à saúde de todas as                     comparáveis às que ocorreram décadas atrás, como
fases do curso da vida, bem como integrar, como                         resultado do processo de industrialização da Europa
eixo estruturante, as políticas de segurança                            Ocidental e da América do Norte. Em geral, o
alimentar e nutricional em delineamento do Brasil.                      consumo de alimentos de origem vegetal, incluindo
                                                                        cereais, raízes, tubérculos e leguminosas, frutas,
A transformação nos padrões                                             legumes e verduras, tende a decrescer e a produção
                                                                        e o consumo de alimentos de origem animal,
alimentares nacionais
                                                                        incluindo a carne e os laticínios fontes de proteína
         O sistema alimentar e a alimentação do                         animal e de gordura, tende a aumentar. Mais
brasileiro sofreram mudanças nos últimos 50 anos e                      recentemente, houve crescimento da produção e do
essas mudanças vêm se acelerando com a política                         consumo de óleos vegetais e margarina, açúcar e,
142                                                         GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      em geral, dos alimentos com alta densidade                        Tradicionalmente, para a maior parte da
      energética processados com gorduras                     população brasileira, a alimentação habitual era
      hidrogenadas, açúcar e sal e produtos refinados         composta basicamente por alimentos dos grupos
      (CANNON, 1992; MONTEIRO; et al., 1995a, 1995b,          dos cereais (arroz, milho e trigo), leguminosas
      2000; CANNON, 2001).                                    (feijões), tubérculos (batatas) e raízes
               A maior disponibilidade de alimentos, mais     (principalmente mandioca), alguma carne ou
      especificamente o consumo de alimentos                  pequena quantidade de outros alimentos de
      industrializados com alta densidade energética,         origem animal.
      aumenta o risco de doenças, especialmente das                     Os padrões alimentares variam entre as
                                                              diferentes regiões, dependendo do clima, das
      doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT). Por
                                                              condições de produção de alimentos, das condições
      outro lado, as evidências científicas também            socioeconômicas da população e suas características
      mostram que alimentos de origem vegetal,                culturais. Pode-se afirmar que o Brasil possui quatro
      principalmente frutas, legumes e verduras, se           culturas alimentares peculiares: do Sul, das regiões
      consumidos de forma regular e em quantidades            centrais, do Nordeste e da região da Amazônia.
      apropriadas, são fatores de proteção contra várias                De modo geral, a alimentação brasileira
      doenças relacionadas à alimentação, contribuindo        recebeu influências dos povos que a constituem:
      também para a manutenção de um peso saudável.           indígenas, afro-descendentes e os colonizadores de
      Essas evidências são comprovadas por inúmeros           origem européia, variando o padrão alimentar nas
      estudos, citados e referenciados ao longo deste         diferentes regiões de acordo com a maior ou menor
      documento, e realizados em diferentes épocas e          influência de um ou mais desses grupos étnicos. Por
      países.                                                 exemplo, na Bahia, a cultura alimentar é
                                                              fortemente influenciada por tradições africanas e
               O acúmulo de evidências que associam a         de povos indígenas. Já na Região Norte, a cultura
      dieta ao estado de saúde dos indivíduos levou a         alimentar indígena tem maior influência e, no Sul,
      Organização Mundial da Saúde (OMS) a estabelecer        os padrões europeus predominam.
      limites para o consumo de nutrientes: gorduras                    A produção de alimentos predominantes
      (10% a 30% do VET), ácidos graxos saturados (10%        nas diferentes regiões também influencia a cultura
      do VET), açúcar livre (10% do VET), colesterol          alimentar local. Por exemplo: Minas Gerais possui
      (300mg/dia) e sal ( 5g/dia) e a estimular o consumo     uma grande produção leiteira e, em Goiás e no Sul,
      de carboidratos complexos (45% a 65% do VET) e de       predominam a produção extensiva de carne bovina;
      frutas, legumes e verduras (400g/dia) (WORLD            na Região Norte, o consumo de pescados e farinhas
      HEALTH ORGANIZATION, 2003a).                            é expressivo e o açaí, pela abundância local, é
                                                              utilizado em misturas diversas: açaí com farinha de
               Com base nessas evidências é que este guia
                                                              mandioca, açaí com peixe, com farinha de tapioca,
      recomenda a restrição de consumo de alimentos           com carne seca.
      densamente energéticos, o resgate e a valorização                 Essas características não são imutáveis e
      da alimentação brasileira tradicional, baseada em       inflexíveis, sofrendo alterações ao longo da história
      preparações combinadas de cereais e leguminosas         e influenciando-se entre si. Contemporaneamente,
      (arroz e feijões), frutas, legumes e verduras. Este     as pessoas de classe média, nas grandes cidades,
      guia incentiva o consumo de uma alimentação             usufruem da gastronomia de quase todas as regiões
      variada, com base principalmente em alimentos de        do mundo (ROMIO, 2000).
      origem vegetal e in natura.                                       Mesmo assim, existem características
                                                              comuns na alimentação dos brasileiros, que se
                                                              consolidaram a partir do sistema de produção
      Consumo de alimentos no Brasil                          alimentar nacional, apesar das especificidades
              Esta seção apresenta as informações             regionais ou culturais.
      disponíveis sobre as tendências e mudanças no
      padrão de consumo de alimentos no Brasil e              As pesquisas: dados nacionais disponíveis
      compara esses padrões com as diretrizes deste guia,              No Brasil, o único estudo nacional sobre o
      que propõem os atributos para uma alimentação           consumo alimentar que utilizou metodologia direta
      saudável e as quantidades dos diferentes grupos de      de aferição (pesagem dos alimentos consumidos no
      alimentos que contribuem efetivamente para a            domicílio por indivíduo) é o Estudo Nacional de
      saúde.
PARTE 3 - AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS                                                          143



Despesa Familiar (Endef), realizado, na década de     3.010kcal por pessoa/dia. Considerando que a
70, pelo IBGE. Esse estudo ainda é utilizado como     necessidade média de consumo energético
referência, embora deva-se considerar que ele não     recomendada para a população brasileira pela
representa mais o padrão alimentar do brasileiro,     própria FAO é de 2.300 kcal/pessoa/dia (FOOD AND
uma vez que, em 30 anos, a alimentação sofreu         AGRICULTURE ORGANIZATION, 2000), observa-se
significativas modificações. No ano de 1996, foi
                                                      que, no Brasil, não há problemas de
realizado o Estudo Multicêntrico de Consumo
                                                      indisponibilidade de alimentos. A quantidade de
Alimentar, realizado em cinco cidades brasileiras,
que utilizou metodologia semiquantitativa de          alimentos é suficiente para atender às necessidades
freqüência de consumo alimentar individual            energéticas de toda a população brasileira.
(NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM                              Essa evidência vem corroborar a tese de
ALIMENTAÇÃO, 1997).                                   que os problemas relacionados à insegurança
         As fontes de dados mais atuais que           alimentar e nutricional, que atinge contingentes
permitem avaliar, indiretamente, a tendência do       importantes de nossa população, são devidos à
consumo alimentar são as Pesquisas de Orçamentos      desigualdade de acesso à alimentação adequada.
Familiares (POF), realizadas pelo IBGE. Essas         Essa desigualdade ocorre tanto em relação à
pesquisas possibilitam tais análises por meio da      quantidade de alimentos consumidos como em
estimativa de despesas efetuadas com a aquisição      termos de qualidade de alimentos. O Endef já
de alimentos para consumo no domicílio e os preços    evidenciava que não havia diferenças no padrão
praticados no mercado. Tais pesquisas têm algumas     alimentar entre pobres e ricos, mas que a
limitações, uma vez que não permitem informações      discrepância na quantidade de alimentos
sobre o consumo individual, a distribuição            consumidos era importante a ponto de manter
intrafamiliar dos alimentos e a quantidade de         taxas elevadas de desnutrição entre crianças e
alimentos consumidos fora do domicílio. As POF        adultos no Brasil, àquela época. A inadequação
foram realizadas nos seguintes períodos: 1961-        qualitativa da alimentação tanto se manifesta por
1963; 1987-1988; 1995-1996; e 2001-2003. As três      deficiências de micronutrientes que não podem ser
últimas POF e o Endef (1974-75) são aqui utilizadas   mensuradas por alterações no peso corporal como
para a avaliação da tendência secular do padrão       implica o desenvolvimento de excesso de peso,
alimentar da população brasileira.                    obesidade e de outras DCNT associadas.


Disponibilidade interna de alimentos                  Consumo referido em inquérito de
         Uma das informações necessárias para se      comportamentos de risco para DCNT
avaliar a situação de segurança alimentar e                   O inquérito realizado pelo INCA, em
nutricional de uma população é a quantidade de        2002/2003, incluiu um módulo sobre consumo
alimentos disponíveis para consumo no País. O         alimentar com o objetivo de avaliar a freqüência de
sistema de informações, mantido pela FAO,             consumo de frutas, legumes e verduras, bem como
denominado Faostat, possibilita estimativas para a    conhecer os hábitos usuais da população, como o
disponibilidade de alimentos para consumo             consumo de gorduras animais (BRASIL, 2004f).
humano no Brasil para o período 1965-1997. As                 Em relação ao consumo de frutas, na
informações consideram dados sobre a produção, a      freqüência de consumo de cinco ou mais vezes na
exportação e a importação de alimentos e              semana, o menor percentual encontrado foi de
descontam estimativas de desperdício e a              35,6% em Campo Grande-MS e o maior de 74,8%
quantidade de alimentos destinados à alimentação      em Natal-RN, dentre as capitais pesquisadas. De
animal, utilizados como sementes para plantio         modo geral, as capitais do Nordeste apresentaram
(FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION, 1999).            freqüências maiores comparadas às das cidades nas
         Segundo o Faostat, a disponibilidade total   demais regiões. Já o consumo de verduras e legumes
de alimentos no Brasil tem aumentado, conti-          cinco ou mais vezes por semana apresentou uma
nuamente, nas últimas décadas: em 1961, era de        variação de 20,6% em Belém-PA a 57,0% em Porto
2.216kcal por pessoa/dia e, em 2002, chegou a         Alegre-RS. Surpreendeu o fato de o consumo de
                                                      verduras e legumes nas capitais pesquisadas da
144                                                                         GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      Região Norte ser sempre inferior a 25%,                                  consumo no domicílio. Com base nesses dados é
      considerando a riqueza de produtos vegetais                              possível estimar indicadores nutricionais
      nativos disponíveis.                                                     aproximados do consumo alimentar, ressalvando
                Esse padrão de consumo, para o conjunto                        que não se trata de consumo efetivo de alimentos
      dos três grupos de alimentos, foi mais freqüente                         per capita, pois se desconhece a fração de alimentos
      entre as mulheres do que entre os homens; menor                          adquiridos mas não consumidos, não se consideram
      entre grupos mais jovens e entre as pessoas com                          as parcelas de desperdícios de alimentos e ainda não
      menor nível de escolaridade.                                             se consideram as refeições feitas fora do domicílio;
                A avaliação de consumo de gordura                              - Algumas das análises dos dados da POF somente
      baseou-se na informação para três tipos de                               são possíveis considerando as informações
      alimentos: leite, carne vermelha e frango. O                             disponíveis para as nove regiões metropolitanas
      consumo relatado de leite foi superior a 70% em                          (Belém, Fortaleza, Salvador, Recife, Belo Horizonte,
      todas as capitais, de 91% para carne vermelha e                          Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre) e
      96% para frango. Entre os que relataram o consumo                        para Brasília e Goiânia. Outras referem-se às
      desses alimentos, a pesquisa investigou o consumo                        informações para o Brasil, desagregando as
      de leite integral: a freqüência variou entre 61% e                       informações por situação de moradia (urbana e
      82%, sendo que o padrão de consumo de leite inte-                        rural) e/ou por grandes regiões;
      gral foi sempre mais freqüente entre os homens que                       - As comparações são feitas em relação às
      entre as mulheres em todas as capitais.                                  recomendações de macronutrientes estabelecidas
                                                                               pela OMS em termos de percentual de participação
                                                                                                                 3
      Estimativas da disponibilidade                                           no valor energético total (VET) como parâmetros
                                                                               para uma alimentação saudável: carboidratos totais
      domiciliar de alimentos                                                  (55-75%), carboidratos complexos (45-65%),
                As estimativas do consumo médio de                             açúcares simples (<10%), proteínas (10-15%),
      energia por pessoa no Brasil, segundo os resultados                      gorduras totais (15-30%), gorduras saturadas
      da POF (2002-2003), foi de 1.800kcal/dia. Para áreas                     (<10%) e ácidos graxos poliinsaturados (6-10%)
      rurais, foi de 2.400kcal/dia e, para áreas urbanas,                      (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003a).
      1.700kcal/dia. Embora essa pesquisa tenha                                          A tabela 5 mostra as tendências temporais
      investigado algumas variáveis sobre o consumo fora                       na composição de macronutrientes na alimentação
      do domicílio, elas não permitem avaliar a                                do brasileiro, nas regiões metropolitanas, segundo
      adequação da disponibilidade de energia per capita                       a participação percentual de calorias total da
      e, portanto, não se pode afirmar, apenas com os                          alimentação.
      dados disponíveis, que existe deficiência energética
                                                                                         As principais tendências na composição da
      no País; contudo, como se verá mais adiante, a
                                                                               alimentação, ocorridas nesses últimos 30 anos,
      situação de insegurança alimentar e nutricional
                                                                               dados das regiões metropolitanas, Brasília e
      existe e possui perfil diferenciado segundo os
                                                                               Goiânia, foram:
      estratos de renda, sendo, entretanto, mais grave
                                                                               - Manutenção da participação relativa de proteínas
      naquelas famílias de menor renda familiar e baixa
                                                                               na oferta de energia no período (em torno de 12% a
      escolaridade.
                                                                               13% do VET), não parecendo haver problemas com
                Para as análises subseqüentes, é preciso                       a disponibilidade de alimentos protéicos, uma vez
      considerar três aspectos:                                                que se tem mostrado dentro da faixa recomendada
      - Os dados da POF descrevem o tipo e a quantidade                        (10% a 15%). Tanto as proteínas de origem animal
      de alimentos que as unidades familiares adquirem                         como as vegetais mantiveram uma relativa
      em períodos determinados de tempo, refletindo                            estabilidade no período, porém, com tendências
      dessa forma a disponibilidade de alimentos para o                        diferentes (aumento nas proteínas animais e



      3 - Valor energético total (VET) é definido pela ingestão energética total diária fornecida por meio de metabolização dos em termos de
      participação energética relativa dos macronutrientes, considerando apenas os macronutrientes (carboidratos, gorduras, proteínas), do álcool
      e de fibras e é mensurada, neste guia, em quilocalorias (kcal).
PARTE 3 - AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS                                                                           145




      Tabela 5 - Evolução da participação relativa de macronutrientes no total de
      calorias determinado pela aquisição alimentar domiciliar nas regiões
      metropolitanas, Brasília e Município de Goiânia, por ano de pesquisa.
      Brasil, 1974-2003

                                                                     % da evolução da participação relativa de
                                                                      macronutrientes, por ano de pesquisa

       Macronutrientes                                           1974-1975      1987-1988   1995-1996     2002-2003
       Carboidratos                                                  61,66        57,96        57,73         55,90
           Açúcar (sacarose)                                         14,04        13,67        14,16         12,63
           Demais carboidratos                                       47,62        44,29        43,57         43,27
       Proteínas                                                     12,57        12,81        13,80         13,58
           Animais                                                    6,00         7,05         8,12          7,78
           Vegetais                                                   6,57         5,76         5,68          5,80
       Lipídios                                                      25,77        29,23        28,46         30,52
           Ácidos graxos monoinsaturados                              7,44         7,86         7,70          8,05
           Ácidos graxos poliinsaturados                              7,66         9,53         8,53          8,90
           Ácidos graxos saturados                                    7,47         8,54         8,79          9,62

       FONTE: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Índices de Preços,
       Pesquisa de Orçamentos Familiares, 2002-2003.


redução na participação das vegetais);                              2003, os valores (9,6%) aproximaram-se do limite
- Diminuição na participação relativa de                            máximo recomendado (< 10%). Por outro lado,
carboidratos totais e complexos. O total de                         verificou-se também tendência de aumento nos
carboidratos na última pesquisa (55,9%)                             ácidos graxos monoinsaturados e poliinsaturados,
aproximou-se do limite inferior do recomendado,                     possivelmente em decorrência da substituição das
enquanto que os carboidratos complexos (43,3%)                      gorduras animais pelos óleos vegetais.
não atingiram o limite mínimo. Historicamente,                                Excetuando-se as observadas em relação às
vem ocorrendo um deslocamento da                                    proteínas e aos ácidos graxos insaturados, as demais
disponibilidade de carboidratos por gorduras e                      tendências são preocupantes, uma vez que
açúcares, mudança desvantajosa em relação ao risco                  caracterizam padrões alimentares inadequados e
de ocorrência de DCNT, sobretudo se a redução de                    de risco à saúde, conforme mostram os estudos mais
carboidratos estiver ocorrendo entre os                             recentes. Vale ressaltar que, em relação aos ácidos
carboidratos complexos;                                             graxos insaturados, se, por um lado, o aumento na
- Tendência temporal de redução no consumo de                       sua participação na dieta é desejável, por outro,
açúcares, embora a participação deste grupo ainda                   esse aumento deve-se dar em substituição às
permaneça muito acima do recomendado para uma                       gorduras saturadas de tal forma que a participação
alimentação saudável (26% acima da faixa limite).                   das gorduras no VET não extrapole os limites
Além disso, há evidências de que o consumo de                       recomendados (15% a 30%).
açúcares tenha se deslocado para o consumo de                                 A tabela 6 a seguir mostra a participação de
refrigerantes, sucos e bebidas adoçadas cuja oferta                 grupos de alimentos no total de energia consumida.
no mercado aumentou consideravelmente nos                                     A análise das informações da tabela 6, que
últimos anos;                                                       compreende os períodos de 1974 a 2003, indica as
- Tendências de elevação das gorduras totais,                       seguintes tendências no padrão alimentar do Brasil,
extrapolando o limite recomendado na última                         considerando as informações disponíveis (regiões
pesquisa (30,5%). As gorduras saturadas tenderam                    metropolitanas, Brasília e Goiânia):
a aumentar contínua e expressivamente no período                    - Redução de 5% no consumo de cereais e
(30% entre o primeiro e o quarto inquérito) e, em                   derivados. Considerando os alimentos que
146                                                                    GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      compõem esse grupo de alimentos, destaca-se o                       desejada é a queda no consumo de feijão (31%) e
      contínuo decréscimo no consumo de arroz (23%) e                     tubérculos, raízes e derivados (32%). Dentre os
      pão francês (13%), sabidamente dois alimentos                       alimentos que compõem este último grupo, a
      tradicionais da alimentação do brasileiro.                          batata teve queda de 41% e a mandioca de 5%. O
      Inversamente, houve um aumento expressivo e                         feijão é uma fonte importante de ferro, fibras e,
      preocupante no consumo de biscoitos (400%), em                      associado ao arroz, de proteína vegetal de boa
      função de dois fatores: os biscoitos, mesmo os                      qualidade. É importante que se estabeleçam
      salgados e sem recheio, são ricos em gorduras trans                 estratégias para, minimamente, reverter a
      e alguns tipos em sal ou açúcar, condições estas de                 tendência de queda de consumo desses dois grupos
      risco para a saúde; por outro lado, pode estar                      de alimentos;
      havendo uma indesejável substituição de alimentos                   - A participação relativa ao grupo das carnes
      mais saudáveis, como o arroz e o pão, por biscoitos,                aumentou em cerca de 50%. As carnes bovinas
      já que o consumo de macarrão e farinha de trigo                     tiveram aumento de 23% e a carne de frango
      praticamente permaneceu o mesmo no período                          dobrou a participação (100%). Preocupante foi o
      estudado;                                                           acréscimo verificado na participação de embutidos,
      - Redução no consumo de feijões e de tubérculos e                   geralmente produtos com alto teor de gordura e
      raízes: outra tendência que revela uma mudança no                   sal, que aumentou em quase 300% a sua
      padrão alimentar brasileiro e, sem dúvida, não                      participação energética na alimentação. Por outro


             Tabela 6 - Evolução da participação relativa de alimentos no total de
             calorias determinado pela aquisição alimentar domiciliar nas regiões
             metropolitanas, Brasília e município de Goiânia, por ano de pesquisa.
             Brasil, 1974-2003.

                                                                                 Evolução da participação relativa,
                                                                                      por ano de pesquisa(%)
            Grupos de alimentos                                        1974-1975        1987-1988       1995-1996         2002-2003
             Cereais e derivados                                           37,26            34,72          35,04            35,34
             Feijão                                                         8,13             5,87           5,71             5,68
             Raízes e tubérculos                                            4,85             4,10           3,58             3,34
             Carnes                                                         8,96            10,46          12,98            13,14
             Ovos                                                           1,15             1,31           0,90             0,18
             Leite e derivados                                              5,93             7,95           8,20             8,09
             Frutas                                                         2,16             2,66           2,58             2,35
             Verduras e legumes                                             1,14             1,15           1,00             0,92
             Gordura animal (banha, toucinho e manteiga)                    3,04             0,95           0,77             1,08
             Óleos e gorduras vegetais                                     11,62            14,61          12,55            13,45
             Açúcar e refrigerantes                                        13,78            13,39          13,86            12,41
             Oleaginosas                                                    0,10             0,15           0,13             0,21
             Condimentos                                                    0,31             0,58           0,57             0,91
             Refeições prontas                                              1,26             1,59           1,50             2,29
             Bebidas alcoólicas                                             0,30             0,51           0,63             0,62

             Total de calorias (kcal/dia per capita)                    1.700,00        1.895,79        1.695,66          1.502,02

             FONTE: IBGE Diretoria de Pesquisas. Coordenação de índices de Preços. Estudo Nacional de Despesa Familiar,
             1974-1975 e Pesquisa de Orçamentos Familiares 1986-1988; 1995-1996 e 2002-2003 (adaptada).
PARTE 3 - AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS                                                          147



lado, houve uma acentuada redução na                 últimos inquéritos, ocorreu um incremento de 40%.
participação dos peixes: em 2003, a participação     Mesmo assim, considerando o período decorrido
representa cerca da metade do consumo estimado       entre 1974-2003, a redução na participação desse
em 1974. Esse resultado é particularmente            grupo de alimentos foi importante (65%);
importante, tanto porque os peixes são fontes de     - Houve crescimento de 16% na participação das
proteínas de boa qualidade e são mais saudáveis      gorduras vegetais. Tanto o óleo de soja como a
que os demais tipos de carnes em função de sua       margarina apresentaram crescimento. Se por um
composição em ácidos graxos insaturados, como        lado a substituição de gorduras animais por
pelo conhecido potencial da piscicultura nacional,   vegetais é mais saudável, é importante estabelecer
seja pelo manancial de rios, seja pela extensão      estratégias que mantenham o consumo de gorduras
marítima de que o Brasil dispõe;                     vegetais dentro das faixas de consumo recomen-
- Redução acentuada na participação de ovos (84%),   dadas e diminuir o consumo de gorduras
provavelmente em função de o consumo desse           hidrogenadas (trans), das quais alguns tipos de
alimento ter se deslocado para a aquisição de        margarinas e as gorduras vegetais hidrogenadas
alimentos prontos para o consumo e conseqüente       são representantes;
diminuição da utilização de ovos em preparações      - O grupo dos açúcares e refrigerantes reduziu a
caseiras (bolos e pães, por exemplo);                participação em 10% no período. Contudo, conside-
- Aumento de 36% na participação dos leites e        rados esses dois itens separadamente, observam-se
derivados, sendo expressivo o aumento dos queijos,   tendências distintas: enquanto os açúcares
que dobraram a sua participação no VET;              reduziram em 23%, houve um considerável
- A participação de frutas, legumes e verduras na    aumento na participação dos refrigerantes (400%).
dieta manteve-se relativamente estável durante o     Alguns estudos têm enfa-tizado a substituição de
período compreendido pelas quatro pesquisas,         leite por refrigerantes, especialmente entre
correspondendo a 3%-4% da energia total da           crianças e adolescentes, tendência esta claramente
alimentação, estando, porém, muito aquém da          indesejável. Essas tendências adquirem maior
recomendação. A OMS recomenda um consumo             relevância quando se considera que não incluem o
mínimo de 400 gramas per capita/dia desses grupos    consumo de açúcares e refrigerantes fora dos
de alimentos, em função do efeito protetor que       domicílios;
apresentam em relação às DCNT (WORLD HEALTH          - Refeições prontas e misturas industri-alizadas: a
ORGANIZATION, 2003a). Tendo por base um VET de       participação desse tipo de alimento na contribuição
2.000kcal, assumido como parâmetro de                energética aumentou 82% no período, indicador
exemplificação neste guia, o valor energético        importante de mudança no comportamento
fornecido por estes grupos de alimentos, segundo     alimentar da população. Os alimentos processados
se propõe para o Brasil, corresponde a               em geral possuem teores elevados de gorduras,
aproximadamente 12% do VET. Isso significa que o     açúcares e sal, cujo consumo deve ser restringido.
Brasil precisa aumentar a quantidade de frutas,      Essa mesma pesquisa mostra que o percentual de
legumes e verduras consumidos em três a quatro       despesas com alimentação fora do domicílio é de
vezes para alcançar a meta recomendada para uma      25,7% entre a população residente em áreas
alimentação saudável. Como diretriz deste guia       urbanas e, nas zonas rurais, de 13,1%. Os gastos com
propõe-se o consumo de três porções de verduras e    alimentação fora do domicílio, segundo a classe de
legumes (valor calórico médio da porção = 15kcal e   rendimento mensal da família, variaram entre
tamanho médio 60g) e três porções de frutas (valor   11,8% (rendimentos de até R$400,00) e 37% entre
calórico médio da porção de 70kcal e tamanho         famílias com rendimentos de R$4.000,00 ou mais
médio de 130g), superando, em gramas, o valor        (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
mínimo recomendado pela OMS;                         ESTATÍSTICA, 2004a). Com poucas exceções, é
- A tendência secular da participação das gorduras   provável que essas refeições sejam lanches rápidos
de origem animal apresenta dois momentos             ou fast-foods que também possuem altos teores
distintos: entre 1974 e 1996, houve uma acentuada    desses nutrientes, sugerindo consumos ainda mais
redução de 75%, enquanto que, entre os dois          elevados;
148                                                         GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




               Em relação ao consumo de bebidas               termos de macronutrientes, a alimentação para o
      alcoólicas, vale destacar que os dados referidos na     Brasil e para as zonas rurais e urbanas estão adequa-
      tabela 6 também merecem cautela na avaliação,           das, exceto para o consumo de açúcar que é 37%
      pois referem-se apenas e exclusivamente ao              maior do que o recomendado(10%), significando a
      consumo de álcool no âmbito dos domicílios das          necessidade de redução em, pelo menos, 1/3 desse
      regiões metropolitanas e de Brasília e Goiânia,         valor para adequação da alimentação. Embora aten-
      estimado a partir de despesas monetária com             dendo ao recomendado para uma dieta saudável,
      alimentos e bebidas adquiridos para consumo             para o conjunto das áreas estudadas, no que se
      domiciliar. O Brasil não dispõe de dados sobre          refere à distribuição percen-tual dos
      consumo de álcool; mas, conforme explicitado no         macronutrientes para o VET, pode-se afirmar que a
      referencial teórico deste guia, estudos disponíveis     alimentação na zona rural é mais adequada que a
      indicam que entre 3% e 9% dos adultos nas grandes       da zona urbana, uma vez que o consumo de
      cidades brasileiras são dependentes do álcool. Um       carboidratos complexos atinge a faixa mínima
      inquérito mais recente, desenvolvido pelo Instituto     recomendada (50,9%) e os carboidratos totais estão
      Nacional do Câncer (INCA), indicou que a                em uma proporção mais e elevada (64,6%); por
      prevalência de consumo médio diário de álcool           outro lado, a participação das gorduras nas áreas
      considerado de risco (superior a duas doses por dia     urbanas está apenas a 1% do limite máximo
      para os homens e superior a uma dose por dia para       recomendado. Tais considerações apenas objetivam
      as mulheres) entre a população pesquisada (15 anos      demonstrar que não somente atender às faixas
      ou mais e residentes em 15 capitais brasileiras e       recomendadas de macronutrientes é importante,
      Distrito Federal) variou de 4,6% a 12,4% (BRASIL,       mas também o tipo e a proporção com que eles se
      2004e).                                                 apresentam na alimentação é igualmente
               A tabela 7, seguinte, demonstra a partici-     importante. Por exemplo, em relação às gorduras, o
      pação relativa dos macronutrientes no total de          limite máximo recomendado é de 30%, porém, a
      energia consumida em áreas rurais e urbanas.            faixa mais saudável é de 20% a 25% para uma
               Os dados permitem afirmar que, em              população sedentária, como é o caso da brasileira.




           Tabela 7 - Participação relativa de macronutrientes no total de calorias determinado
           pela aquisição alimentar domiciliar, por situação do domicílio. Brasil, 2002-2003

                                                                  Participação relativa de macronutrientes(%)
                                                                                     Situação do domicílio
                                                                      Total
             Macronutrientes                                                        Urbana           Rural

             Carboidratos                                              59,56          58,08           64,61
                 Açúcar (sacarose)                                     13,70          13,71           13,67
                 Demais carboidratos                                   45,85          44,37           50,90
             Proteínas                                                 12,83          12,94           12,44
                 Animais                                                6,97           7,20            6,18
                 Vegetais                                               5,86           5,75            6,25
             Lipídios                                                  27,61          28,97           22,95
                 Ácidos graxos monoinsaturados                          7,25           7,60            6,04
                 Ácidos graxos poliinsaturados                          8,72           9,10            7,44
                 Ácidos graxos saturados                                8,64           8,92            7,68
             FONTE: IBGE, 2004a.
PARTE 3 - AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS                                                                         149



Considerando isso, o consumo de gordura total para                            Considerando a participação relativa dos
toda a população deve diminuir em 10% e, no caso                     grupos de alimentos, para alguns itens há uma
da população urbana, em 16% para atender à                           tendência de maior participação com a evolução da
recomendação.                                                        classe de renda: carnes, leite e derivados, frutas,
         Algumas considerações em relação aos                        legumes e verduras, condimentos, refeições prontas
dados mais recentes, desagregados por classes de                     e bebidas alcoólicas. Merece ser destacado que o
rendimentos, são importantes, uma vez que, ao se                     consumo de leite e derivados, na classe de maior
trabalhar com dados médios para a população,                         renda, supera em mais de três vezes a participação
muitas diferenças e evidências importantes podem                     desse grupo de alimentos na classe inferior de
ser encobertas. Os dados da POF 2002-2003                            rendimentos. O mesmo acontece com as carnes (1,5
confirmam que há um padrão diversificado de                          vezes), frutas (quase seis vezes mais elevado) e
consumo, não somente entre as regiões do País e                      verduras e legumes (três vezes mais alto). Entre as
nas zonas rurais e urbanas, mas também entre os                      carnes, o consumo de carne bovina, frango e
diferentes estratos socioeconômicos da população                     embutidos apresenta nitidamente tendência de
brasileira.                                                          aumento com a evolução da renda, enquanto que
         A tabela 8 apresenta a participação relativa                os peixes apresentam decréscimo na participação,
de grupos de alimentos no total de energia,                          sendo que a classe de menor rendimento consome
avaliado por meio de aquisição alimentar                             2,5 vezes mais peixe que a classe superior de
domiciliar, por classe de rendimento familiar                        rendimentos.
mensal per capita.                                                            Entre os grupos de alimentos que apre-

      Tabela 8 - Participação relativa de grupo de alimentos no total de calorias, segundo a aquisição
      alimentar domiciliar, por classe de rendimento familiar mensal em salário mínimo per capita
      (SMPC). Brasil, 2002-2003.

                                                                   Faixas de rendimento familiares em SMPC
       Grupos de alimentos                                   até 1/2 +1/4 a 1/2 +1/2 a 1   +1 a 2    +2 a 5    + de 5

       Cereais e derivados                                     38,10      37,90    38,00     32,20     35,10     31,50
       Feijão                                                  97,70       7,90     7,60      6,10      5,50      4,50
       Raízes e tubérculos                                     15,00      10,10     6,30      4,50      3,00      2,60
       Carnes                                                   8,40       9,80    11,20     12,30     13,30     13,20
       Ovos                                                     0,26       0,33     0,36      0,36      0,34      0,28
       Leite e derivados                                        3,30       4,10     4,90      6,00      7,80     10,90
       Frutas                                                   0,61       0,79     1,00      1,40      2,20      3,40
       Verduras e legumes                                       0,35       0,47     0,59      0,71      0,90      1,14
       Gordura animal (banha, toucinho e                        1,00       1,30     1,40      1,30      1,30      1,40
       manteiga)                                                9,60      12,00    12,30     13,40     13,70     13,60
       Óleos e gorduras vegetais                               12,50      13,70    14,40     14,20     13,00     10,90
       Açúcar e refrigerantes                                   0,39       0,35     0,24      0,12      0,09      0,14
       Oleaginosas                                              0,14       0,24     0,41      0,60      0,97      1,15
       Condimentos                                              0,64       0,92     1,01      1,48      2,26      3,97
       Refeições prontas                                        0,08       0,13     0,23      0,36      0,66      1,22
       Bebidas alcoólicas
                                                           1.485,75      1.651,3 1.724,4 1.877,05 1.929,45 2.075,16

       FONTE: IBGE, Pesquisa de Orçamento Familiar. Brasil, 2002-2003.
150                                                          GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      sentam diminuição na participação com a evolução         classe com renda maior que 5 SMPC (10,9%).
      dos rendimentos familiares, merecem ser ressal-          Também aqui vale lembrar que a POF não
      tados os feijões e os tubérculos e as raízes, que        considerou o consumo fora do domicílio e,
      apresentam um consumo, respectivamente, 2,2              portanto, essas tendências devem ser vistas com
      vezes e 5,6 vezes maior na classe de menor               cautela; mas, por meio do consumo de açúcar aqui
      rendimento comparado com a classe de cinco ou            mostrado, muito provavelmente o excesso de
      mais SMPC. Vale destacar que, na classe com              consumo desse grupo de alimentos deve ser bem
      rendimentos de até 1/2 SMPC, esses grupos de             maior na população como um todo, indepen-
      alimentos contribuem com 9,7% e 15%,                     dentemente da classe de rendimentos.
      respectivamente, do VET, destacando a importância                  Em relação ao total da energia disponível
      desses itens na alimentação da população mais            pela aquisição de alimentos para consumo domici-
      pobre.                                                   liar, verifica-se, ainda na tabela 8, que o consumo
               Entre os cereais e derivados há uma             energético da classe de maior rendimento (> 5
      participação relativamente similar entre as classes      SMPC) representa cerca de 1,5 vez o consumo da
      de rendimentos, variando em torno de 1/3 da              classe de menor rendimento (até 1/2 SMPC).
      contribuição energética. Dentre eles, o arroz            Evidencia-se ainda um aumento no VET com o incre-
      apresenta sugestivo declínio com o aumento da            mento da renda familiar.
      renda, enquanto que biscoitos, macarrão e pão                      Em função de os dados da POF não
      aumentam.                                                considerarem o consumo de alimentos extra-
               Também aqui se manifesta uma diferença          domiciliar, não se pode afirmar, apenas com os
      de consumo entre os mais pobres e os mais ricos, em      dados analisados, que haja insuficiência energética
      favor dos primeiros: a alimentação saudável              entre as famílias brasileiras de renda mais baixa;
      estabelece que, entre os carboidratos, aqueles que       contudo, as tendências dos dados revelam uma
      são fonte de complexos (amidos) deveriam compor          associação entre esse consumo e a renda familiar
      a dieta na faixa de 45% a 65%. Se comparadas as          per capita. Por outro lado, a mesma pesquisa
      duas faixas de rendimentos-limite e somados os           realizou uma avaliação subjetiva das condições de
      grupos de cereais e derivados e tubérculos e raízes      vida da população, investigando, entre outros, a sua
      principais fontes desses nutrientes , observa-se que     percepção sobre o tipo e a suficiência dos alimentos
      na faixa de rendimentos de até 1/2 SMPC a                consumidos pelas famílias. Os dados mostram que
      participação é de 53,0%, enquanto que na faixa de        47% das famílias destacaram que a quantidade de
      mais que 5 SMPC essa participação é de apenas            alimentos consumidos era habitualmente ou
      34,2%, não atingindo, nesta última, sequer o             eventualmente insuficiente. Essa informação,
      mínimo recomendado. O atendimento a essa                 desagregada segundo a situação de domicílio,
      recomendação somente é alcançado nas faixas de           corresponde a 56,9% entre as famílias residentes
      rendimentos inferiores a um SMPC. Isto justifica a       em áreas rurais e a 44% entre as que moram em
      recomendação de incentivar o consumo desses              áreas urbanas. Dentre aquelas, 13,9% afirmaram
      grupos de alimentos, de tal forma a se promover o        que o alimento era normalmente insuficiente
      crescimento da sua participação em pelo menos            (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍS-
      20%, para alcance da meta dietética mínima.              TICA, 2004b).
               Em relação às gorduras, tanto as vegetais                 Quanto ao tipo de alimentos consumidos,
      quanto as animais tenderam a aumentar com                73% das famílias declararam algum grau de
      evolução dos rendimentos. No caso dos óleos              insatisfação com o tipo de alimentos consumidos
      vegetais, o consumo na classe de renda mais alta é       (somadas as que afirmaram que os alimentos nem
      42% superior ao da classe de menor rendimento.           sempre eram do tipo preferido às que revelaram
               Açúcares e refrigerantes têm tendências         raramente consumir alimentos preferidos). Entre os
      contrárias: enquanto os açúcares diminuem com a          motivos alegados pelas famílias para não consumir
      evolução da renda, os refrigerantes aumentam. O          alimentos de acordo com sua preferência, em 93%
      consumo de energia vindo desse grupo de                  dos relatos estava a insuficiência de rendimentos
      alimentos supera as recomendações da OMS (< 10%          (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
      do VET), estando muito próximo do ideal apenas na        ESTATÍSTICA, 2004b).
PARTE 3 - AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS                                                                           151



     Tabela 9 -Participação relativa de macronutrientes no total de calorias
     determinado pela aquisição alimentar domiciliar, por classe de
     rendimento monetário mensal familiar per capita em salários mínimos.
     Brasil, 2002-2003

                                                                  Faixas de rendimento familiares em SMPC
       Grupo de Alimentos                                   até 1/2     +1/4 a 1/2   +1/2 a 1    +1 a 2   +2 a 5    + de 5

       Carboidratos                                           69,17        64,56         62,16    59,15     55,80    52,19
           Açúcar (sacarose)                                  12,91        14,09         14,82    14,51     13,22    11,06
           Demais carboidratos                                56,26        50,47         47,34    44,64     42,58    41,13
       Proteínas                                              11,72        11,98         12,54    12,80     13,41    13,86
           Animais                                             5,21         5,87          6,45     7,02      7,77     8,42
           Vegetais                                            6,51         6,11          6,09     5,78      5,64     5,43
       Lipídios                                               19,11        23,47         25,30    28,06     30,80    33,95
           Ácidos graxos monoinsaturados                       4,82         6,03          6,71     7,40      8,08     8,93
           Ácidos graxos poliinsaturados                       6,73         8,18          8,33     9,07      9,41     9,13
           Ácidos graxos saturados                             5,94         7,17          7,78     8,65      9,68    11,22

       FONTE: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Índices de Preços, Pesquisa
        de Orçamentos Familiares. Brasil, 2002-2003.



          Estes são mais dados que ilustram a imensa                  - As proteínas, em quaisquer faixas, encontram-se
desigualdade do País e, por outro lado, revelam que                   dentro dos limites recomendados (10% a 15%),
a insuficiência alimentar é ainda importante                          merecendo destaque apenas que a tendência de
problema no País, ao lado da inadequação da                           participação das proteínas animais e vegetais são
alimentação (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRA-                          diferenciadas: enquanto que as proteínas animais
FIA E ESTATÍSTICA, 2004b).                                            tendem a aumentar, há um decréscimo de
          A distribuição de participação energética                   participação das proteínas vegetais com a evolução
dos macronutrientes, segundo a classe de rendi-                       dos rendimentos familiares;
mentos per capita das famílias, é apresentada na                      - Em relação ao consumo de gorduras, há uma
tabela 9.                                                             nítida evolução da participação com aumento da
          Os dados dessa tabela permitem sugerir                      renda, evidenciando-se que nas duas classes de
que:                                                                  maiores rendimentos essa participação extrapola o
- O consumo de carboidratos total e de complexos                      limite máximo recomendado de 30%. As gorduras
diminui nitidamente com a evolução da renda. Em                       saturadas, que não devem ultrapassar 10% do VET,
relação aos carboidratos complexos, as classes de                     aumentam intensamente com os rendimentos,
rendimentos acima de um SMPC sequer atingem o                         sendo estes valores alcançados virtualmente na
limite mínimo recomendado de 45% e, na classe                         classe de dois a cinco SMPC e superados na classe de
acima de cinco SMPC, o mínimo recomendado para                        maior rendimento (11,2%). As gorduras mono e
carboidratos totais também não é atingido (55%);                      poliinsaturadas apresentam as mesmas tendências
- O consumo de açúcar supera as recomendações em                      de aumento com a classe de renda, embora menos
todas as classes de rendimentos, tendendo a                           intensamente, destacando-se que o consumo de
aumentar até a faixa de 1/2 a um SMPC, reduzindo                      poliinsaturados deve estar na faixa de 6% a 10%.
discretamente nas classes subseqüentes. A situação                    Embora em todas as faixas de rendimento os valores
mais preocupante refere-se às classes de                              estejam dentro da faixa recomendada, na faixa de
rendimentos entre 1/2 e um SMPC, em que a                             menor renda eles estão próximos do limite inferior
contribuição energética chega próximo de 15%, ou                      (6,7%).
seja, supera em 50% o recomendado;                                             Em resumo, a análise dos dados da mais
152                                                               GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      recente pesquisa nacional que possibilita estimar o              renda e da zona rural;
      consumo alimentar das famílias brasileiras, no                   - Assegurar a manutenção do consumo de
      âmbito exclusivo do domicílio, alguns dos quais aqui             leguminosas (feijões) e tubérculos e raízes, fontes
      demonstrados permitem concluir que há padrões                    importantes e fundamentais de carboidratos
      diversificados de consumo alimentar entre as                     particularmente em classes de rendimentos
      regiões do País, entre zonas rural e urbana e entre              superiores, onde se evidenciou a mais acentuada
      classes de rendimento.                                           queda de consumo temporal nesses grupos de
                As características da dieta que são positivas          alimentos;
      e confirmam as tendências temporais desde a                      - Leite e derivados, especialmente, devem ser mais
      década de 70 são a adequação do teor protéico da                 acessíveis à população com menor rendimento e o
      alimentação e a participação crescente das gorduras              fomento à produção desses alimentos com baixos
      vegetais.                                                        teores de gorduras é necessário e pertinente,
                Já as tendências inadequadas na dieta que              considerando que são boas fontes de cálcio na
      merecem destaque são:                                            alimentação humana, além de fonte de proteínas
      - O alto consumo de açúcar em todas as classes de                de alto valor biológico;
      renda: pelos dados apresentados há, necessa-                     - A queda importante no consumo de peixes requer
      riamente, de se estabelecer estratégias de edução                ações que revertam essa tendência, uma vez que o
      em seu consumo, em aproximadamente 1/3, para                     Brasil dispõe de grande potencial de produção e
      atender às recomendações de limite superior de                   esses alimentos são fontes importantes e saudáveis
      consumo.                                                         de proteínas, gorduras poliinsaturadas, dentre
      - Consumo muito baixo e insuficiente de frutas,                  outros nutrientes.
      legumes e verduras, reconhecidamente fatores de
      proteção para a saúde. Um esforço nacional deve                   Consumo de sal no Brasil
      ser implementado para se elevar o consumo desses                          A última estatística de consumo de sal pela
      alimentos em pelo menos três vezes o consumo                     população brasileira foi aferida pelo Estudo
      atual, tornando-os acessíveis - física e                         Nacional de Despesa Familiar (Endef) (INSTITUTO
      financeiramente - a todas as classes de rendimento e             BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1977).
      valorizando-os como componentes fundamentais                     Por ter sido realizado há cerca de 30 anos, não é
      de uma alimentação saudável;                                     apropriada a utilização dessa informação devido às
      - Há uma tendência de consumo exagerado de                       mudanças ocorridas no padrão de consumo
      gorduras totais e de gorduras saturadas entre as                 alimentar pela população nesse período.
      classes de rendimentos mais elevados,                                     A tabela 10 foi construída a partir de
      especialmente nas regiões de maior                               informações provenientes da indústria salineira
      desenvolvimento econômico (Centro-Oeste,                         nacional. O consumo estimado de sal em gramas por
      Sudeste e Sul), e entre famílias urbanas e de maior              dia foi calculado dividindo o volume de sal no
      rendimento. Há de se implementar ações para                      abastecimento alimentar pela população (SENAI,
      reverter essas tendências e assegurar que o                      2001). Desses dados são excluídas as quantidades
      consumo de gorduras totais, saturadas e                          estimadas para desperdício e sal destinado à
      insaturadas seja mantido nos níveis adequados                    alimentação de animais, mas não se referem à
      entre as famílias das demais regiões, classes de


            Tabela 10 - Estimativa do consumo de sal per capita. Brasil, 1962 - 2000

                                                                1962          1975       1988       1995       2000
             Consumo de sal per capita                          12,33         8,55       9,79       13,55      15,09

             FONTE: SENAI, 2001.
PARTE 3 - AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS                                                                                             153



exportação e importação, que se assumem                                   oportunidade e a possibilidade de acesso a
equilibradas em nosso país.                                               alimentos saudáveis, em quantidade e qualidade
         Esses números indícam que o consumo de                           adequadas para assegurar a saúde e o bom estado
sal no país é muito alto, colocando o Brasil entre os                     nutricional. Contudo, mesmo estratos de renda
países de consumo mais elevado do mundo                                   mais alta não condicionam a seleção de uma
(INTERSALT, 1998). Observa-se também uma nítida                           alimentação mais saudável; portanto, não há mais
tendência de aumento do consumo. Estes valores                            justificativa para ações governamentais voltadas
sugerem que o consumo de sal pela população deve                          para um ou outro segmento da população. O
diminuir em três vezes para se situar no limite                           desafio que se impõe atualmente é garantir a
máximo recomendado para uma alimentação                                   segurança alimentar e nutricional para toda a
saudável (5 gramas de sal/pessoa/dia).                                    população, fomentando a promoção da
         Já os dados da POF 2002-2003 mostram que                         alimentação saudável em todas as fases do curso da
a aquisição de sal para consumo domiciliar per                            vida e o acesso às informações cientificamente
capita anual corresponde a 2,986kg, sugerindo um                          evidenciadas para todos os estratos de renda,
consumo diário de 8,2 gramas per capita/dia (1,4 vez                      cumprindo o direito humano à alimentação
acima do limite recomendável). Agregando-se a                             adequada no Brasil. Certamente, políticas,
esse valor uma estimativa de 16,75% para o sal                            programas e ações emanadas pelos diferentes
indireto (consumido como componente de                                    setores governamentais devem ainda, por algum
produtos alimentares adquiridos para consumo no                           tempo, compor a política nacional de segurança
domicílio), obtém-se um consumo per capita/dia de                         alimentar e nutricional, atendendo às
9,6 gramas/dia, que corresponde a quase duas vezes                        especificidades de manifestação da fome, nas
o consumo recomendado. Essa situação é                                    diferentes regiões, entre os diversos grupos
preocupante, uma vez que o cálculo não inclui o                           socioeconômicos e nas diferentes fases do curso da
consumo de sal direto e indireto fornecido por meio                       vida, sempre tendo como objetivos a saúde e a
do consumo de alimentos fora do domicílio                                 adequada nutrição.
(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA, 2004a).                                                      As Bases Científicas das Diretrizes
         Entre as diretrizes deste guia, estabelece-se                    Alimentares Nacionais4
a meta de atingir um consumo de 5g de sal/dia                                      As diretrizes alimentares deste guia e
(menos de dois gramas de sódio/dia), por meio de                          outras similares, em diversos países, foram
atitudes adotadas pela população no que se refere                         elaboradas com o respaldo de evidências científicas
ao consumo alimentar intra e extradomiciliar, mas                         resultantes de estudos que buscavam relacionar o
também pela indústria de alimentos, em particular,                        impacto de distintos padrões alimentares na
desenvolvendo tecnologia para produtos com baixo                          redução ou no aumento do risco de ocorrência das
teor de sódio. A rotulagem nutricional obrigatória                        diferentes DCNT. O conjunto das diretrizes objetiva
(veja mais informação na página 117) obriga a                             contribuir para garantir o crescimento e
informação do teor de sódio nos alimentos                                 desenvolvimento adequado de crianças maiores de
processados. A utilização adequada desse                                  2 anos e de adolescentes, a promoção da saúde e a
instrumento deve ser fomentada junto à população                          prevenção das doenças relacionadas à alimentação
para contribuir para a sua decisão em adquirir                            e manter o balanço energético.
alimentos mais saudáveis.
                                                                                   Foi utilizado, como base na composição
         Finalmente, os dados e as informações                            desta parte do guia, o documento denominado
apresentados permitem afirmar que a insegurança                            Análise da Estratégia Global para Alimentação
alimentar e nutricional se manifesta, de maneira                          Saudável, Atividade Física e Saúde . Este documento
distinta, entre todos os estratos sociais e econô-                        foi elaborado por um grupo técnico assessor do
micos da população brasileira, segundo a                                  Ministério da Saúde, com o objetivo de subsidiar a

4 - Com base do documento Análise da Estratégia Global Para alimantação Saudável, Atividade física e Saúde (BRASIL,2004b), produzido pelo
Grupo Técnico Assessor, instituído por Portaria Ministerial da Saúde, nº 596, de 8 de abril de 2004. Disponível em www.saude.gov.br/nutricao.
154                                                          GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      posição do governo brasileiro, por ocasião da 57.ª       principalmente em resultados de estudos
      Assembléia Mundial de Saúde, ocorrida em                 casocontrole ou estudos transversais. Evidência
      Genebra em maio de 2004, quando foi discutida e          baseada em estudos não epidemiológicos, tais
      aprovada a Estratégia Global (BRASIL,2004b). Por         como investigações clínicas e laboratoriais. Pode
      sua vez, foi produto da análise do Relatório Técnico     servir de suporte, mas são mais estudos necessários
         o
      n. 916 da OMS e FAO (WORLD HEALTH                        ainda para confirmar as associações.
      ORGANIZATION, 2003a), documento este que                          Evidência insuficiente: baseada em
      orientou a oportunidade e pertinência da                 resultados de poucos estudos onde a associação
      proposição da EG, uma vez que traz uma extensa           entre exposição e doença é sugerida, mas
      compilação e análise das evidências científicas, em      insuficientemente estabelecida. São necessárias
      nível mundial, sobre a relação entre alimentação e       pesquisas com melhor delineamento para
      DCNT.                                                    confirmar as associações em estudo.
                As recomendações dietéticas para popu-                  Com base nesses critérios, as
      lação e indivíduos estabelecidas pela OMS e que          recomendações da EG relativas à alimentação e
      fundamentam as diretrizes deste guia são:                atividade física foram analisadas e são indicadas nos
      - Manter o equilíbrio energético e o peso saudável;      tópicos seguintes.
      - Limitar o consumo energético procedente das
      gorduras, substituir as gorduras saturadas por           Recomendação 1
      gorduras insaturadas e eliminar as gorduras trans:
                                                               Manutenção do Balanço Energético
      - Aumentar o consumo de frutas, legumes e
      verduras e de cereais integrais e frutas secas.          e do Peso Saudável
      - Limitar o consumo de açúcares livres;
      - Limitar o consumo de sal (sódio) de toda                         Esta recomendação fundamenta todas as
      procedência e consumir sal iodado.                       diretrizes estabelecidas neste Guia, mas, mais
                                                               especificamente, relaciona-se com as Diretrizes 1, 3,
                                                               4, 6 e a Diretriz Especial 1.
      A OMS ainda recomenda às pessoas:

                                                                        O crescimento da incidência das DCNT
      - Manter-se suficientemente ativas durante toda a
                                                               observado nas últimas décadas relaciona-se, em
      vida.
                                                               grande parte, com os hábitos de vida configurados
                Para fundamentar a análise das evidências
                                                               nesse período. Entre eles, destacam-se os
      científicas entre a relação alimentação e saúde, a
                                                               comportamentos que desequilibram o balanço
      OMS definiu alguns critérios para orientar as
                                                               energético, induzindo a ganho excessivo de peso.
      recomendações estabelecidas para a promoção da
                                                               Estima-se que, para cada 5% de aumento de peso
      alimentação saudável, atividade física e saúde
                                                               acima daquele apresentado aos 20 anos de idade,
      (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003a), que
                                                               ocorra um aumento de 200% no risco de
      serão citados a seguir.
                                                               desenvolver a síndrome metabólica na meia idade
                Evidência convincente: baseada em
                                                               (EVERSON et al., 1998). Essa síndrome, por sua vez,
      estudos epidemiológicos que demonstram
                                                               está associada ao desenvolvimento do diabetes, da
      associações convincentes entre exposição e doença,
                                                               doença cardiovascular e de outras doenças crônicas
      com nenhuma ou pouca evidência contrária.
                                                               não-transmissíveis (SCHMIDT; DUNCAN, 2003;
                Evidência provável: baseada em estudo          LAKKA et al., 2002; LORENZO et al., 2003).
      que demonstram associações razoavelmente
                                                                        O princípio fundamental para manter um
      consistentes entre exposição e doença, mas onde há
                                                               balanço energético é que as mudanças nos
      limitações (falhas) perceptíveis na valiação da
                                                               depósitos orgânicos de energia (tecido adiposo ou
      evidência, ou mesmo alguma evidência em
                                                               massa gorda) se equilibrem com a diferença entre
      contrário, que impeçam um julgamento mais
                                                               consumo e gasto energéticos. Se a ingestão excede
      definitivo.
                                                               o gasto, ocorre um desequilíbrio positivo, com
                Evidência possível: baseada                    deposição energética (tecido gorduroso) e
PARTE 3 - AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS                                                              155



tendência ao ganho de peso; quando a ingestão é          industrializados, normalmente ricos em gorduras
inferior ao gasto, ocorre um desequilíbrio negativo,     hidrogenadas e carboidratos simples e pobres em
com diminuição dos depósitos de gordura e                carboidratos complexos, e o declínio do gasto
conseqüente perda de peso. Em circunstâncias             energético associado à atividade física.
normais, o balanço energético oscila ao longo do                  As recomendações para mudanças de
dia e de um dia para o outro sem, contudo, levar a       comportamentos ligados a essa problemática na
uma mudança duradoura do balanço energético ou           prevenção da obesidade, apresentando as
do peso corporal, porque mecanismos fisiológicos         evidências que as apóiam, são as seguintes.
múltiplos determinam mudanças coordenadas
entre ingestão e gasto energético, regulando o
                                                         Redução de alimentos de alta densidade
peso corporal em torno de um ponto de ajuste que
mantém o peso estável.                                   calórica [evidência convincente]
          A ingestão energética total é proveniente
da metabolização dos macronutrientes (carboi-                    Esta orientação está explícita na Diretriz 6
dratos, gorduras, proteínas), do álcool e de fibras. A   deste guia.
ingestão diária é definida pelo valor energético
total (VET), expresso em quilojoule (kJ) ou em                     Alimentos de alta densidade energética
quilocalorias (kcal). Neste guia, optou-se por           promovem ganho de peso. Esses alimentos, ricos em
trabalhar o VET medido pela unidade kcal, uma vez        gorduras, carboidratos simples ou amido, são em
que essa medida é mais amplamente conhecida pela         geral altamente processados e pobres em
população.                                               micronutrientes. Já os alimentos de baixa densidade
          A gordura produz mais energia por grama        calórica são aqueles que possuem maior teor de
de peso (9kcal/g) que os carboidratos (4kcal/g), as      água em sua composição, como frutas, legumes e
proteínas (4kcal/g) e o álcool (7kcal/g). As fibras      verduras, que, em geral, são alimentos mais ricos em
contribuem com 1,5kcal/g, energia produzida no           micronutrientes.
cólon intestinal a partir da degradação bacteriana.                As teorias científicas consideram que
          A medida do gasto energético do indivíduo      alimentos com densidade energética muito elevada
é composta por três elementos: a taxa metabólica         promoveriam um superconsumo passivo de
basal (energia requerida para manutenção de todas        energia total. Estudos que manipularam de forma
as funções vitais do organismo), o gasto energético      mascarada (cega) o conteúdo de gordura e a
para metabolizar e armazenar o alimento, o gasto         densidade energética de alimentos apóiam essa
energético requerido para atividade física. Também       hipótese, mas é possível que outros efeitos não-
se considera que a termogênese adaptativa, que           fisiológicos tenham influenciado esses resultados
varia em resposta à ingestão energética crônica          (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003a).
(aumenta com o aumento da ingestão energética),                    Há também evidências de que humanos
determina o gasto energético de um indivíduo.            seriam capazes de reconhecer alimentos de alta
          Já o peso saudável é tema ainda contro-        densidade energética diminuindo sua ingestão para
verso, mas internacionalmente a tendência é              manter sua homeostase energética, no entanto, a
utilizar o índice de massa corporal (IMC), que           ingestão de alimentos de excepcional densidade
relaciona o peso ao quadrado da altura de um             energética, típicos de fast-foods, interfere nesse
indivíduo, para estabelecer a faixa de peso              controle do apetite, favorecendo a ingestão
saudável. A OMS recomenda para a população um            energética excessiva e o desenvolvimento de
IMC entre 21 e 23kg/m2. Para indivíduos, a faixa         obesidade (PRENTICE; JEBB, 2003).
recomendada é de 18,5 a 24,9kg/m2, evitando                        Não há evidência de que alimentos ricos
ganhos de peso maiores do que 5kg na vida adulta         em gordura mereçam maior atenção na prevenção
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003a).                      da obesidade do que outros alimentos com alta
          Para a manutenção do peso saudável e do        densidade energética, como aqueles ricos em amido
balanço energético, dois fatores precisam ser            ou carboidratos simples (ASTRUP et al., 2000b;
considerados: o aumento do consumo de alimentos          WILLETT ;LEIBEL,2002).
156                                                             GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      Aumento regular da atividade física                         energético que dão volume à alimentação
                                                                  consumida, podendo aumentar a sensação de
      [evidência convincente]
                                                                  saciedade após a refeição. Como as pessoas tendem
                                                                  a consumir quantidades mais ou menos fixas de
               Esta orientação está explícita na Diretriz         alimentos, uma quantidade grande de alimentos de
      Especial 1 deste guia.                                      baixo valor energético pode colaborar para evitar a
                                                                  ingestão energética excessiva.
                Há evidência convincente de que a                          Os estudos demonstram que dietas sem
      atividade física regular protege contra o ganho             restrição calórica, mas ricas em fibras, promovem
      excessivo de peso, enquanto que os hábitos                  perda de peso, mas não há evidências que permitam
      sedentários, especialmente as ocupações e                   estabelecer qual é o valor mínimo de fibras
      recreações sedentárias, o promovem. Revisão da              necessário para a prevenção de obesidade; no
      literatura científica demonstra que pessoas que             entanto as quantidades de consumo recomendadas
      exercem (atualmente) atividade física regular em            para frutas, grãos (cereais e leguminosas), verduras
                                                                  e legumes provavelmente garantem uma ingestão
      quantidades moderadas a intensas apresentam
                                                                  suficiente de fibras (POPPITT et al., 2002).
      menor ganho de peso e menor ocorrência de
      sobrepeso e obesidade (FOGELHOLM; KUKKONEN-
      HARJULA, 2000).                                             Aumento da ingestão de frutas
                Apesar de alguns resultados de ensaios            e vegetais [evidência provável]
      clínicos serem conflitantes, a recomendação geral
      para adultos de realizar atividades de moderada a                   Orientação expressa na Diretriz 4 deste
      grande intensidade por 30 minutos, de preferência           guia.
      todos os dias, é eficaz na prevenção do diabetes e da
      doença cardiovascular, mesmo parecendo ser                           O aumento na ingestão de frutas, legumes
      insuficiente para muitos indivíduos prevenirem              e verduras reduz a densidade energética da
      ganho de peso. Entre pessoas obesas, para prevenir          alimentação e aumenta a quantidade de alimento
      o ganho de peso perdido previamente, parecem ser            que pode ser consumida para um determinado nível
      requeridas atividades de intensidade moderada por           de calorias. A redução da densidade energética
      60 a 90 minutos diários ou atividades intensas, por         aumenta a saciedade, um efeito que se manifesta
      um menor tempo (SARIS et al., 2003).                        após o término da refeição. Esses efeitos podem
                                                                  ajudar no balanço energético e no controle do peso
                Mesmo na ausência de evidências
                                                                  (ROLLS et al., 2004b).
      conclusivas, estabeleceu-se que a transição de
      sobrepeso à obesidade pode ser prevenida com                         Outro aspecto potencialmente benéfico no
      atividades de moderada intensidade por 45 a 60              aumento da ingestão de frutas, legumes e verduras
                                                                  é que o seu consumo ad libitum (à vontade) pode
      minutos por dia.
                                                                  amenizar a sensação de fome, típica de dietas de
                A importância de manter o balanço                 emagrecimento e de manutenção de peso já
      energético e o peso adequado deve ser orientada             perdido.
      desde fases precoces do curso da vida, requerendo
                                                                           Uma outra teoria para o efeito do consumo
      decisões políticas sobre o ambiente social e físico
                                                                  desses grupos de alimentos na manutenção do peso
      que promovam essas mudanças, na infra-estrutura
                                                                  também decorre do fato de afetar a saciedade e a
      urbana, na escola ou no trabalho.                           ingestão alimentar: alimentos com baixo índice
                                                                  glicêmico aumentariam a saciedade (a resposta
      Aumento da ingestão de fibras                               glicêmica dos alimentos é medida pelo aumento na
      [evidência convincente]                                     taxa de glicose, após 2 horas da ingestão de 50g de
                                                                  carboidratos); porém, mesmo entre esses grupos de
                Esta orientação está explícita nas Diretrizes     alimentos e entre as leguminosas existem variações
      2, 3 e 4 deste guia.                                        no índice glicêmico (por exemplo, batata, mandioca
                                                                  e banana têm alto índice, enquanto que maçã,
               As fibras atuam na regulação do peso               cenoura e feijão têm baixo índice). Em função disso,
      corporal, porque apresentam menor palatabilidade            os efeitos de consumo desses tipos de alimentos, no
      e interferem na digestão de outros carboidratos e           que diz respeito à manutenção do peso adequado,
      também porque afetam a homeostase da glicose                ainda requerem mais estudos, mas há consenso
      hepática (PEREIRA; LUDWIG, 2001).                           sobre os benefícios dessa recomendação para a
               As fibras são alimentos de baixo valor             saúde, conforme se verá mais adiante.
PARTE 3 - AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS                                                              157




                                                         Restrição de alimentos com alto
Redução no consumo de bebidas                            índice glicêmico [evidência possível]
açucaradas [evidência provável]                                    O índice glicêmico é uma forma de
                                                         classificar alimentos de acordo com a resposta
          Orientação inserida na Diretriz 6 deste        glicêmica que produzem. Alimentos de alto índice
guia.                                                    glicêmico são rapidamente digeridos e absorvidos,
                                                         com maior efeito na glicemia. Esse índice depende
                                                         de inúmeros fatores, como o tipo de carboidrato
         O consumo freqüente de refrigerantes tem
                                                         presente, a presença ou não de lipídios, proteínas e
sido associado ao ganho de peso. Uma explicação
                                                         fibras e o modo de preparo. Certos tipos de amido,
para isso é que os efeitos fisiológicos da ingestão de
                                                         como os presentes na batata, no pão branco e em
energia sobre a saciedade são diferentes para
                                                         cereais matinais, tipo flocos de milho, geram
líquidos e para alimentos sólidos. Dessa forma, o
                                                         alterações glicêmicas maiores e mais rápidas do que
carboidrato, quando ingerido em líquidos,
                                                         até mesmo o açúcar. Alimentos com alto índice
promoveria um balanço energético positivo maior
                                                         glicêmico têm sido apontados como possível cofator
(LUDWIG et al., 2001; DIMEGLIO; MATTES, 2000).
                                                         da obesidade. Estudos preliminares sugerem que
         Estudos feitos em escolares mostraram que       esses alimentos provocam mais fome após as
um programa educativo para redução do consumo            refeições (ROLLS et al., 2004a).
de refrigerantes, mesmo alcançando apenas uma
                                                                   A hipótese é que níveis diferentes de
modesta redução de consumo em 12 meses,
                                                         glicemia provocariam diferentes respostas hormo-
mostrou uma diferença média de 8% na freqüência
                                                         nais na regulação do apetite.
de sobrepeso entre os grupos experimental e
controle (JAMES et al., 2004).
                                                         Outros Hábitos Alimentares
Ambientes domiciliares e escolares                       [evidência possível]
que promovam atividade física e                                   Há evidências de que o aumento do
                                                         tamanho das porções alimentares está relacionado
limentação saudável [evidência provável]
                                                         ao ganho de peso. A teoria que explica esta
                                                         evidência é que o organismo seria incapaz de
        Esta orientação insere-se na abordagem           estimar corretamente o tamanho da porção
conceitual que fundamentou a elaboração do guia.         ingerida, o que dificultaria a compensação
                                                         energética. Estudos que manipularam o tamanho
         Estudos preliminares experimentais e            da porção alimentar apóiam essa hipótese: o
observacionais sugerem que adolescentes obesos           aumento do prato principal (macarrão) de uma
tendem a ingerir maiores quantidades de fast-food        refeição servida em restaurante, sem aumento do
e a não compensar esse excesso energético do que         preço, aumentou a quantidade ingerida; o mesmo
adolescentes não obesos (EBBELING et al., 2004).         aconteceu com o aumento da merenda e de um
         Outro estudo mostrou que escolares com          sanduíche (DILIBERTI et al., 2004; ROLLS et al.,
hábitos de vida mais sedentários, por exemplo, os        2004a; ROLLS et al., 2004b).
que assistem mais televisão, também ingerem maior                 Outra evidência é que o hábito de fazer
quantidade de refrigerantes e são mais obesos            refeições fora de casa também contribui para o
(GIAMMATTEI et al., 2003).                               aumento da ingestão energética. Tradicionalmente
         O potencial educativo de papéis-modelo          essas refeições são maiores, com maior densidade
em casa e na escola, no desenvolvimento dos              calórica e maior conteúdo de gordura total,
hábitos de vida de crianças e adolescentes, é            gordura saturada, colesterol e sódio. Nos Estados
inquestionável, mas ainda são poucas as evidências       Unidos, por exemplo, indivíduos que costumam
que apóiam esse ponto de vista (WORLD HEALTH             comer em restaurantes têm maior IMC do que
ORGANIZATION, 2003a).                                    aqueles que comem em casa (WORLD HEALTH
         São necessários estudos mais bem                ORGANIZATION, 2003a).
desenhados sobre essa relação, muitos dos quais já                Outros fatores também têm sido
estão em desenvolvimento. Por outro lado,                associados ao ganho de peso, mas as evidências para
estratégias que investem na redução de comporta-         eles são poucas ou com resultados conflitantes. Por
mentos sedentários mostram resultados positivos
                                                         exemplo, o álcool não tem relação com o ganho de
no controle de obesidade entre crianças (CAMP-
BELL, 2002).                                             peso na maior parte dos estudos, apesar de sua alta
158                                                            GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      densidade calórica (7kcal/g); mesmo quando                 todas as variáveis que possam interferir no peso dos
      presente, essa associação pode apresentar muitos           indivíduos.
      fatores que podem interferir nos resultados.                         Do ponto de vista de macronutrientes
               Omitir refeições tem sido apontado como           (carboidratos, proteínas e lipídios), não há
      fator de risco para obesidade, uma vez que certos          evidências que confirmem que a energia
      estudos mostram que a maior freqüência das                 proveniente das gorduras cause mais obesidade que
      refeições relaciona-se à tendência de menor ganho          as provenientes dos carboidratos ou proteínas;
      de peso; entretanto, aumentar a freqüência das             entretanto, os resultados dos estudos
      refeições, por si só, não é suficiente para redução do     metodologicamente mais adequados, que mostram
      ganho de peso, já que os lanches introduzidos              que uma maior ingestão de alimentos de alta
      podem ter alta densidade calórica (bolachas e              densidade energética promove ganho de peso
      salgadinhos) (WORLD HEALTH ORGANIZATION,                   inadequado, são considerados convincentes.
      2003a).                                                              Estudos bem conduzidos sugerem que uma
                                                                 dieta pobre em gordura, rica em proteína e em
      Recomendação 2                                             carboidratos com alto conteúdo de fibras (de
                                                                 diferentes frutas, legumes e verduras e grãos)
      Limitar consumo total de gorduras,
                                                                 promove mais saciedade, com menor taxa calórica,
      substituir o consumo de gorduras saturadas                 que alimentos gordurosos, produzindo, ainda,
      por insaturadas e eliminar o consumo                       benefícios para os níveis de gorduras no sangue e
      de gorduras hidrogenadas (trans)                           depressão arterial. Mostram ainda que uma
      [evidência convincente]                                    redução na gordura da dieta, sem restrição do total
                                                                 de energia, previne ganho de peso em indivíduos
                                                                 eutróficos e gera perda de peso naqueles com
                Esta orientação está contemplada na
                                                                 sobrepeso e obesos (ASTRUP et al., 2000a).
      Diretriz 6 deste guia.
                                                                           Uma revisão de 27 estudos (30.902
                                                                 indivíduos) mostrou que ensaios com pelo menos
               A sugestão das proporções adequadas dos           dois anos de duração evidenciaram que a redução
      macro e micronutrientes na alimentação de uma              ou alteração na proporção de energia da dieta
      pessoa saudável tem-se baseado nas                         proveniente das gorduras protege contra eventos
      recomendações redigidas pelo Conselho Nacional             cardiovasculares (HOOPER et al., 2001).
      de Pesquisa dos Estados Unidos (NATIONAL
                                                                           A quantidade e a natureza da gordura da
      RESEARCH COUNCIL, 1989b).
                                                                 dieta interferem nos níveis de colesterol plasmático
               Baseadas no conhecimento científico, as           e altas taxas de colesterol no sangue estão
      RDA estabelecem as necessidades nutricionais para          fortemente relacionadas à doença vascular
      a manutenção da saúde da população e sugerem               aterosclerótica, principalmente à doença
      que o conteúdo de gordura na alimentação das               coronariana. Várias evidências (como estudos
      pessoas saudáveis não exceda 30% da ingestão               clínicos, nutricionais e com drogas) mostraram que
      calórica, que menos de 10% da energia seja                 o colesterol presente nas lipoproteínas de baixa
      proveniente de ácidos graxos saturados e que a             densidade (LDL) é o principal componente nocivo,
      quantidade de colesterol na alimentação seja               enquanto que altos níveis da lipoproteína de alta
      menor que 300mg/dia.                                       densidade (HDL) estão associados a menores riscos
               Resultados de estudos epidemiológicos são         de desenvolvimento de doença coronariana.
      ainda inconsistentes quanto à relação causal entre o                 As gorduras trans, formadas pela
      percentual de gorduras na dieta, sobrepeso                 hidrogenação parcial das gorduras vegetais,
      /obesidade e morbimortalidade cardiovascular.              encontradas na margarina, biscoitos, bolos e pão
      Para estabelecer esse tipo de relação de forma mais        branco, aumentam a relação LDL/HDL plasmática,
      consistente, mais estudos são necessários, mas são         sendo fator de risco para doença coronariana
      difíceis de ser realizados - necessitam uma                (OOMEN et al., 2001).
      amostragem muito grande, um longo período de
                                                                           Estudos clínicos prospectivos sugerem que
      acompanhamento (anos) e controle rigoroso de
                                                                 dietas com alta densidade de gordura saturada,
PARTE 3 - AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS                                                              159



gordura trans e colesterol estão associadas a um        2, doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer,
risco aumentado de desenvolver doença                   como discutido a seguir.
coronariana (OOMEN et al., 2001; WILLETT et al.,
1993; ASCHERIO et al., 1996).                           Efeitos na prevenção da obesidade
         Outra evidência trazida por esses estudos é             A obesidade, na infância e na idade adulta,
que, nas populações estudadas, quanto mais ricas        associa-se a uma incidência maior de doença
em gorduras, menor o conteúdo de fibras ingerido        coronariana, diabetes tipo 2 e câncer (WORLD
diariamente nas dietas. Os autores sugerem que          HEALTH ORGANIZATION, 2003b).
esse fato possa estar associado a uma maior                      Hábitos alimentares saudáveis, como a
                                                        ingestão aumentada de frutas, legumes e verduras,
predisposição às doenças coronarianas. Esse mesmo
                                                        têm sido apontados como fatores protetores no
trabalho mostra que os benefícios da redução da
                                                        desenvolvimento da obesidade. Esse efeito se deve
ingestão de ácidos graxos saturados e colesterol são    a menor densidade energética desses alimentos e à
maiores se acompanhados de aumento na ingestão          capacidade que esses alimentos têm de gerar
de alimentos ricos em fibras e que dietas ricas em      sensação de saciedade, conforme se abordou no
ácido linolênico (3-N - ácido graxo das plantas) - um   item Aumento da ingestão de fibras [evidência
tipo de gordura poliinsaturada - estão associadas a     convincente].
um risco reduzido de doença coronariana,                         O aumento do consumo de nozes ou
independentemente dos outros fatores de risco.          assemelhados deve ser feito com cautela, pelo seu
                                                        alto conteúdo de gordura e tendência ao consumo
                                                        com adição de sal. Estudos recentes sugerem que
Recomendação 3                                          seu uso continuado de forma moderada não parece
Aumentar o consumo de frutas,                           aumentar o peso corporal [evidência possível].
legumes e verduras e de
                                                        Efeitos na prevenção do diabetes tipo 2
cereais integrais [evidência convincente]
                                                                 A prevenção do diabetes tipo 2 e suas
                                                        complicações por meio do consumo de frutas,
         Esta recomendação está incluída nas            legumes e verduras ocorre por meio de seus efeitos
Diretrizes 2, 3 e 4 do guia.                            no controle da obesidade, mas também pela ação
                                                        dos fitonutrientes contidos nesses alimentos.
         A OMS recomenda consumo mínimo diário                   Vários estudos de coorte demonstraram
de 400g de frutas, legumes e verduras, aumentando       proteção contra o diabetes, conferida pelo
do consumo de alimentos ricos em fibras, e de nozes     consumo de alimentos de base vegetal não-
                                                        processados, como cereais integrais, e pela maior
e sementes. Não há, em princípio, limite máximo de
                                                        ingestão de fibras. Recomendações semelhantes
consumo para esses grupos de alimentos. Não há
                                                        foram parte dos ensaios clínicos sobre dieta e
recomendações específicas para o consumo desses         redução da incidência de diabetes tipo 2 [evidência
alimentos na infância (WORLD HEALTH                     provável].
ORGANIZATION,2003a).                                             A ingestão de nozes associou-se a menor
         A base principal para recomendar o             risco de diabetes, independentemente de seu
aumento do consumo de frutas, legumes e                 conteúdo de ácidos graxos insaturados (JIANG et al.,
verduras, cereais integrais e de nozes ou               2002) [evidência possível].
assemelhados está no fato desses alimentos
poderem substituir outros de alto valor energético e    Efeitos na prevenção das doenças
baixo valor nutritivo, como cereais e grãos
processados e açúcar refinado, básicos na               cardiovasculares [evidência convincente]
preparação de alimentos industrializados e fast-                 A OMS recomenda um consumo mínimo
foods. Além de sua                                      diário de 400g de frutas, legumes e verduras frescos.
possível contribuição no balanço energético, eles       Em geral, nessas quantidades é possível alcançar um
podem introduzir nutrientes com efeitos                 grau de proteção cardiovascular.
significativos na saúde geral dos indivíduos e, mais             Estudos demonstram que algumas dietas
especificamente, na prevenção de doenças crônicas       tradicionais em algumas regiões do mundo têm
não-transmissíveis, como obesidade, diabetes tipo       efeito protetor para doenças cardíacas. Elas são
160                                                          GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      baseadas em alimentos vegetais pouco processados         Recomendação 4
      - pão integral, frutas, legumes e verduras, nozes ou     Limitar o consumo de açúcares livres
      assemelhados e óleos ricos em ácidos graxos poli e       [evidência convincente]
      monoinsaturados - e conferem proteção contra
      eventos isquêmicos cardíacos em indivíduos de alto
                                                                          Recomendação contemplada na Diretriz 6
      risco (SINGH et al., 2002; LORGERIL et al., 1994).
                                                               do guia.

      Efeitos na prevenção do câncer                                     A recomendação de limitar o consumo de
      [evidência provável/possível]                            açúcares livres tem como princípio o reconhe-
                O sobrepeso e a obesidade têm sido             cimento de que existem interações complexas entre
      associados a certos tipos de câncer, especialmente       escolhas pessoais, normas sociais e fatores
      cólon, mama, endométrio e esôfago. Depois da             ambientais e econômicos que determinam o padrão
      eliminação do tabaco, modificação na dieta é a           alimentar. Sem desconsiderar a importância funda-
      segunda maneira mais eficiente de prevenir o             mental de capacitar os indivíduos para fazer
      câncer. Segundo o World Cancer Research Fund e           escolhas saudáveis quanto a sua alimentação e
      The American Institute of Cancer Research, dietas        padrões de atividade física, dando ênfase na
                                                               educação de crianças e jovens, a Estratégia Global
      contendo uma quantidade substancial e variada de
                                                               prevê ações de caráter regulatório, fiscal e
      frutas, legumes e verduras podem prevenir até 20%
                                                               legislativo sobre o ambiente que visam tornar
      dos casos de câncer.
                                                               factíveis essas escolhas saudáveis.
                O mecanismo preciso pelo qual dietas ou
                                                                         O consumo de açúcares livres dentro do
      substâncias em particular são capazes de prevenir o
                                                               limite recomendado pode contribuir para o
      câncer ainda não foi completamente elucidado e           controle de peso e prevenção das doenças crônicas
      muitas das recomendações dietéticas são emba-            não-transmissíveis, pelos seguintes mecanismos:
      sadas em estudos observacionais.                         - Os açúcares livres contribuem para o aumento da
                Estudos prospectivos encontraram uma           densidade energética da dieta e o controle de seu
      relação inversa entre consumo de fibras e câncer de      consumo é importante para o balanço energético
      cólon, não encontrando diferenças quanto ao tipo         total.
      de fibra ingerido, mas o mecanismo pelo qual isso        - As bebidas que são ricas em açúcares livres,
      ocorre ainda é desconhecido (BINGHAM et al.,             principalmente os xaropes de milho ricos em
      2003).                                                   frutose, promovem o aumento de ingestão
                Frutas, legumes e verduras também têm          energética. Fornecem uma grande quantidade de
      sido apontados como fatores protetores em vários         calorias, mas não levam à redução do consumo de
      outros tipos de câncer, como bexiga, pulmão, boca,       energia proveniente de alimentos sólidos, em
      laringe, faringe, esôfago e estômago e mama. Em          quantidade semelhante ao que aportam. Desta
      geral, esses estudos apontam menor risco de câncer,      forma, promovem um balanço positivo de energia
      mas os dados são conflitantes quanto ao tipo de          na dieta e também parecem reduzir o controle do
      câncer e ao tipo de planta (fruta ou vegetal) que        apetite.
      apresenta esse efeito.                                   - A limitação do consumo de açúcares livres para no
                Menor risco de câncer de mama está             máximo 10% do VET contribui para a melhor saúde
      associado com o consumo maior de verduras e              bucal e prevenção da cárie dentária.
      legumes (RIBOLI; NORAT, 2003).                                     O grupo de especialistas nacionais consi-
                Sendo o câncer uma doença de desen-            dera que recomendar a redução do consumo dos
                                                               carboidratos totais (todos os açúcares) talvez não
      volvimento prolongado e estando intimamente
                                                               seja apropriado para o Brasil; no entanto, reco-
      relacionado a uma alimentação inadequada,
                                                               mendar a limitação do consumo de açúcares livres é
      estabelecer hábitos alimentares saudáveis na
                                                               uma medida de saúde pública importante e
      infância é de suma importância para o
                                                               adequada para o nosso país.
      desenvolvimento de uma vida adulta livre de
                                                                         Para limitar o consumo de açúcares livres,
      doença.
                                                               em nosso contexto, parece mais adequado
PARTE 3 - AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS                                                             161



concentrar as estratégias de redução do açúcar          anos), tanto em indivíduos com pressão arterial
adicionado aos produtos industrializados.               normal quanto entre os hipertensos, bem como à
          Os estudos têm evidenciado que o              redução no número de indivíduos com necessidade
consumo de refrigerantes tem sido um fator              de tratamento anti-hipertensivo, no número de
associado ao ganho de peso, bem como um dos             mortes por acidente vascular encefálico (AVE) e por
poucos estudos de prevenção populacional com            doenças coronarianas (LAW et al., 1991; CUTLER et
resultados positivos quanto à redução de ganho de       al., 1997).
peso foi realizado em escolares e baseou-se,                      Ensaios clínicos também originaram
exclusivamente, na redução de refrigerantes             informações a respeito do efeito redutor do
(LUDWIG et al., 2001; JAMES et al., 2004).              controle no consumo de sódio em crianças e idosos
          Outra evidência refere-se à tendência de      (GELEIJNSE et al., 1997; HOFMAN et al., 1983).
substituição de bebidas mais nutritivas e                         A maior parte dos indivíduos, mesmo
importantes na constituição de uma alimentação          crianças, consome níveis além de suas necessidades
saudável por refrigerantes. Uma análise do              desse mineral. O consumo populacional excessivo,
consumo de adolescentes americanos mostrou              maior que 6 gramas diárias (2,4 gramas de sódio), é
claramente uma primeira substituição de leite por       uma causa importante da hipertensão arterial (HA).
refrigerantes e, posteriormente, a parcial              A hipertensão arterial explica 40% das mortes por
substituição dos refrigerantes por sucos, com           acidente vascular encefálico (AVE) e 25% daquelas
grande adição de xarope de frutose (CAVADINI et         por doença arterial coronariana.
al., 2002).                                                       A recomendação de redução de sal deve
          Por outro lado, um estudo mostrou que a       objetivar redução de sódio de todas as fontes - sal
densidade energética de líquidos é menos                como tempero e o sal adicionado no processamento
reconhecida como fonte de energia, pelo menos           de alimentos industrializados. As evidências atuais
entre adultos (VAN WYMELBEKE et al., 2004).             sugerem que o consumo não maior que 5g de
                                                        cloreto de sódio por dia contribui para a redução da
                                                        pressão arterial. Em metanálise realizada, concluiu-
Recomendação 5                                          se que a recomendação em torno de 5 a 6g/dia de
Limitar o consumo de sódio e                            cloreto de sódio baseia-se mais no que é possível do
garantir a iodação [evidência convincente]              que o nível cujo efeito positivo máximo pudesse ser
                                                        alcançado. A análise do efeito dose-resposta de
        Recomendação incluída na Diretriz 6 do          ensaios clínicos de longa duração indicou que a
guia.                                                   redução de 3g/dia leva a uma queda na pressão de
                                                        3,6 a 5,6/1,9 a 3,2mmHg (sistólica/diastólica) em
                                                        indivíduos hipertensos e 1,8 a 3,5/0,8 a 1,8mmHg em
         O consumo de sódio, de todas as fontes,
                                                        indivíduos normais. Segundo os autores desse
deve ser limitado de maneira a reduzir o risco de
                                                        estudo, isto significaria, em uma estimativa
doenças coronarianas e acidente vascular encefálico
                                                        conservadora, que a redução de 3g do consumo
(AVE). As evidências atuais sugerem que o consumo
                                                        diário de cloreto de sódio levaria a uma redução de
não maior que 70mmol ou 1,7g de sódio (5g de
                                                        13% nos casos de AVE e 10% nas doenças
cloreto de sódio) por dia é benéfico para a redução
                                                        isquêmicas do coração. O efeito dobraria com a
da pressão arterial. Todo o sal para o consumo
                                                        redução de 6g e triplicaria com a redução de 9g/dia.
humano deverá ser iodado.
                                                        A recomendação de 6g/dia teria efeito positivo na
         O sódio e o potássio são minerais essenciais   redução da HA, mas não pode ser considerada ideal
para a regulação dos fluidos intra e extracelulares,    a longo prazo (FENG et al., 2003).
atuando na manutenção da pressão sangüínea. O
                                                                  Neste guia, trabalha-se com a meta de 5g
sal de cozinha cloreto de sódio é a principal fonte
                                                        de sal por dia, o que implica uma redução no
de sódio, sendo composto por 40% de sódio. A
                                                        consumo atual pelo menos à metade, uma vez que o
necessidade humana diária de sódio é cerca de 300-
                                                        consumo atual estimado, por meio das despesas
500 miligramas (NATIONAL RESEARCH COUNCIL,
                                                        familiares com aquisição de alimentos para
1989b).
                                                        consumo no domicílio, é de 9,6 gramas de sal per
         O consumo de sódio está relacionado            capita/dia (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
diretamente com a pressão arterial. Dados               ESTATÍSTICA, 2004a). Esse valor provavelmente está
populacionais sugerem que a redução de sódio está       subestimado, uma vez que não foi mensurado o
associada com diferenças na pressão sistólica de        consumo de sal oriundo o consumo extradomiciliar
pessoas jovens (15 a 19 anos) e de idosos (60 a 69
162                                                          GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      de alimentos.                                            cardiovasculares.
                Dado que a maioria do sal está contida nos
      alimentos industrializados, a conquista de uma           Efeitos na prevenção das doenças
      redução substancial no consumo do sal exigirá
      mudanças nas práticas de industrialização de
                                                               cardiovasculares [evidência convincente]
      alimentos.                                                        O risco relativo para doenças cardio-
                                                               vasculares devido ao sedentarismo é estimado em
                O sal destinado ao consumo humano deve
                                                               1,9; para hipertensão arterial é igual a 2,1 .
      ser iodado com a finalidade de prevenir os
      distúrbios por deficiência de iodo. No Brasil, pode-              Os estudos têm demonstrado relação
      se afirmar com certa segurança que a deficiência de      inversa entre pressão arterial e prática de exercícios
      iodo foi controlada, tendo sido recentemente             aeróbicos, com diminuição da pressão arterial
      recomendada a redução na faixa de iodo no sal de         sistólica e diastólica, tanto em indivíduos
      40 a 100mg/kg para 20 a 60mg/kg (BRASIL, 2003a).         normotensos como em hipertensos, mesmo após
                                                               ajuste por peso e gordura corporal. O aumento na
                As necessidades médias de iodo estão entre
                                                               tolerância ao exercício, após três semanas de
      90mcg (crianças de 2 a 6 anos) a 150mcg (crianças a
                                                               programa de treinamento, com manutenção desse
      partir de 12 anos, adolescentes e adultos) de iodo.
                                                               benefício por pelo menos dois anos, foi verificado
      Entre gestantes, estão as mais altas necessidades
                                                               entre pessoas com insuficiência cardíaca
      (200mcg/dia) (NATIONAL RESEARCH COUNCIL,
                                                               (JITRAMONTREE, 2001; WHELTON et al., 2002;
      1989b). A redução do consumo de sal para 5g de
                                                               GIELEN et al., 2001).
      sal/dia, ainda assim, permitirá o aporte adequado
      de iodo para a população (100 a 300mcg de iodo),
      não esquecendo que, embora o sal seja a principal        Efeitos na prevenção do diabetes tipo 2
      fonte deste mineral, o iodo também pode ser              [evidência convincente]
      aportado pelo consumo de outros alimentos.                       Estudos longitudinais mostram que o
                                                               aumento da atividade física reduz risco de desenvol-
      Recomendação 6                                           vimento de diabetes tipo 2, independentemente do
      Manter-se suficientemente ativo                          grau de adiposidade, e diminui em 50% o risco de
                                                               indivíduos com intolerância à glicose evoluírem
      durante toda a vida                                      para diabetes, quando associada a perda de peso e
                                                               dieta saudável (HELMRICH, 1991; MANSON et al.,
               Recomendação contemplada na Diretriz            1992; KNOWLER et al., 2002).
      Especial 1 do guia.
                                                               Efeitos na prevenção da obesidade
               A Estratégia Global recomenda que os
      indivíduos adotem níveis adequados de atividade
                                                               [evidência provável]
      física durante toda a vida. Diferentes tipos e                     O aumento do nível de atividade física por
      quantidades de atividade física são necessários para     si só é insuficiente para perda ou manutenção do
      se obter diferentes resultados na saúde: a prática       peso de pessoas obesas. Quando associado à dieta,
      regular de 30 minutos de atividade física de             já foi demonstrado que a atividade física e o
      moderada intensidade, na maior parte dos dias,           exercício contribuem para a perda de peso mais
      reduz o risco de doenças cardiovasculares e diabe-       rápida, sem redução concomitante de massa magra
      tes, câncer de cólon e de mama. O treinamento de         e com menor índice de recidiva do aumento de peso
      resistência muscular e equilíbrio podem reduzir          (ANDERSEN, 1999).
      quedas e aumentar a capacidade funcional nos
      idosos. Maiores níveis de atividade física podem ser     Efeitos na melhoria do perfil lipídico
      necessários para o controle de peso
                                                               [evidência convincente]
      (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2004).
               Há mais de dez anos, análise de estudos                   O exercício aeróbico de moderada
      epidemiológicos prospectivos já demonstrou que           intensidade pode elevar o HDL-colesterol, reduzir o
      tanto um estilo mais ativo de vida como um               colesterol total e os triglicérides (STEIN; RIBEIRO,
      condicionamento aeróbico moderado estão                  2004).
      associados, de forma independente, à diminuição                    Após a menopausa, mulheres têm um
      do risco de incidência de DCNT, da mortalidade           perfil lipídico menos favorável, com aumento do
      geral e da mortalidade por doenças                       colesterol total, LDL-C e triglicerídeos e redução do
PARTE 3 - AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS                                                                163



HDL-C. Uma revisão de estudos transversais e             aumento da densidade óssea em todo o esqueleto,
longitudinais sugere que exercícios aeróbicos            estejam os ossos envolvidos com sustentação do
regulares no período pós-menopausa aumentam os           peso ou não (STEIN; RIBEIRO, 2004).
níveis de HDL-C, diminuem os níveis de LDL-C, do                  Além disso, estudo controlado envolvendo
colesterol total e da gordura corporal. Ainda            idosas com osteoporose revelou aumento de perda
existem controvérsias sobre os benefícios do             óssea, em seis meses, no grupo-controle, enquanto
exercício sobre os níveis de HDLC, que não se            que as idosas envolvidas em programas de
alteraram em dois estudos longitudinais que              exercícios com peso apresentaram manutenção da
comparam mulheres na pós-menopausa,                      densidade mineral (HARTARD et al., 1996).
sedentárias ou ativas, controlando pelo índice de                 A redução da massa muscular (sarcopenia)
massa corpórea, entretanto mesmo esses estudos           está associada à maior instabilidade postural, risco
mostraram redução da gordura corporal total e            de quedas e imobilidade. O exercício de resistência
redução da gordura abdominal (DOWLING, 2001).            pode resultar em ganhos de força de 25% a 100%
                                                         em idosos por hipertrofia muscular e presumi-
Efeitos na prevenção da síndrome metabólica              velmente por aumento da atividade neural motora,
                                                         resultando diminuição do risco de quedas
[evidência possível]
                                                         (FRAMINGHAM STUDY, 1994).
          Essa síndrome, caracterizada basicamente
por obesidade central, dislipidemia (HDL-C baixo e
TG elevado), hiperglicemia e diminuição da               Efeitos na prevenção do câncer de cólon
fibrinólise, associadas à resistência à insulina e à     [evidência provável]
inflamação crônica e branda, pode potencialmente                  A análise da relação entre atividade física e
ser prevenida pela prática regular de atividade física   câncer de cólon a partir de dados de estudos
de moderada intensidade.                                 longitudinais e estudos caso-controle multi-
          Estudos que testam diretamente esses           cêntricos mostrou que a atividade física, além de ser
efeitos na síndrome metabólica não estão                 um componente importante do estilo de vida mais
disponíveis, mas dois ensaios clínicos randomizados      saudável, tem também um efeito protetor
sobre mudanças de estilo de vida em pessoa com           independente para o câncer de cólon. Um estudo de
tolerância diminuída à glicose na progressão para o      seguimento de profissionais de saúde revelou que
diabetes fundamentam essa evidência (BLAIR,              os homens com atividade física de moderada a
1993).                                                   intensa são também os que ingerem menos
                                                         gorduras saturadas, comem mais frutas, tomam
                                                         mais polivitamínicos e fumam menos; entretanto,
Efeitos na prevenção de doenças do aparelho
                                                         mesmo após o controle de todos esses fatores na
musculoesquelético [evidência convincente]
                                                         análise, foi mantida a relação inversa entre a
         O envelhecimento está associado a               atividade física e o risco de câncer de cólon
mudanças na composição corporal, com redução no          (HARDMAN, 2001).
conteúdo de água (desidratação crônica), ósseo
(osteopenia) e muscular (sarcopenia) e aumento da
gordura corporal. A inatividade física está              Efeitos na prevenção do câncer de mama
relacionada a todos esses fatores.                       [evidência provável]
         A osteoporose é caracterizada pela perda                 A maioria dos estudos de revisão observa
de massa e desorganização da estrutura óssea,            um menor risco de câncer de mama em mulheres
sendo a principal causa de fraturas em idosos,           ativas. Há evidências convincentes do decréscimo de
principalmente mulheres. O exercício de resistência      risco de câncer de mama com a prática de, pelo
muscular com carga está associado à menor perda          menos, quatro horas semanais de atividade física de
óssea ao longo da vida e ao aumento da densidade         intensidade moderada; entretanto, as evidências
óssea no período pós-menopausa. Caminhar com             ainda são insuficientes no que se refere à relação
passos rápidos parece ser o exercício de escolha na      dose-resposta entre atividade física e risco de câncer
prevenção da osteoporose, pois contribui para o          de mama (BLAIR, 1993).
164                                                           GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      O Enfoque do Curso da Vida como Estratégia                crianças amamentadas tendem a apresentar menor
      para a Abordagem Integrada das Doenças                    prevalência de obesidade na infância e possivel-
      Relacionadas à Alimentação e Nutrição                     mente na adolescência, embora não esteja claro se
                                                                esse efeito se prolonga até a idade adulta (WORLD
                Como afirmado na primeira parte deste
                                                                HEALTH ORGANIZATION, 2001a; WORLD HEALTH
      guia, as diretrizes aqui incorporadas visam à
                                                                ORGANIZATION, 2000a; JONES et al., 2003;
      promoção da alimentação saudável em todo o curso
                                                                VONKRIES, s.d.; VICTORA et al., 2003; LI et al., 2003;
      da vida e não apenas a prevenção de doenças que
                                                                BERGMANN et al., 2003; PARSONS et al., 2003;
      afetam mais visivelmente a população adulta e
                                                                ERIKSSON et al., 2003).
      idosa, uma vez que há evidências recentes que
      correlacionam a desnutrição na primeira infância e                  Os estudos nesse aspecto ainda são
      a desnutrição materna à susceptibilidade para             incipientes, mas não devem ser considerados
      desenvolver doenças crônicas não-transmissíveis na        indicadores de ausência de efeitos. Dessa forma,
      vida adulta, como obesidade, diabetes, cardiopatias       entende-se que a alimentação saudável começa
      e hipertensão. Esse enfoque, desenvolvido nas             com o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses
      últimas duas décadas a partir de estudos de coortes       de idade e complementado até os 2 anos de idade
      em diversos países, inclusive no Brasil, sugere que       da criança. A abordagem da alimentação saudável
      exposições nutricionais, ambientais e padrões de          para crianças brasileiras menores de 2 anos é
      crescimento durante a vida intra-uterina e nos            enfocada em publicações próprias, considerando a
      primeiros anos de vida podem ter efeitos                  especificidade desse grupo populacional no que diz
      importantes sobre as condições de saúde do adulto         respeito ao cuidado alimentar e nutricional a ser
      (BARKER et al., 2002; MONTEIRO, et al., 2003b;            adotado (BRASIL, 2002d, 2002e; ORGANIZAÇÃO
      LUCAS et al., 1999).                                      PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 1997). Merece ser
                                                                destacado que, considerando a rápida transição
                O retardo de crescimento intra-uterino e o
                                                                nutricional que afeta grande parte da população
      ganho de peso excessivo nos primeiros anos de vida
                                                                brasileira e latino-americana, não é razoável
      têm sido associados com obesidade, hipertensão,
                                                                recomendar indiscriminadamente que as dietas
      síndrome metabólica, resistência insulínica e
                                                                infantis sejam acrescidas de quantidades adicionais
      morbimortalidade cardiovascular, entre outros
                                                                de óleos ou açúcar, como era e é ainda prática
      (ONG et al., 2000; STETTLER et al., 2002; STETTLER et
                                                                comum em nosso meio. Essa estratégia alimentar
      al., 2003; HORTA et al., 2003; VANHALA et al., 1999;
                                                                para aumentar a densidade energética da
      SINGHAL et al., 2003; FORSEN et al., 1999; ERIKSSON
                                                                alimentação de crianças em risco nutricional ou
      et al., 1999).
                                                                desnutridas deve ser criteriosamente prescrita,
                Alguns estudos têm levantado a hipótese
                                                                adotando-a no âmbito dos princípios que regem a
      de que a desnutrição na infância e fase fetal pode
                                                                alimentação saudável.
      levar a alterações na composição corporal, com
      posterior desenvolvimento de obesidade na vida
      adulta. Os efeitos da desnutrição também são
      visíveis ao longo das gerações, pois uma mãe
      desnutrida gera filhos com baixo peso, que, por sua
      vez, se sobreviverem, carregarão as deficiências
      nutricionais e suas conseqüências para seus filhos.
                Assim, a nutrição adequada de gestantes e
      lactentes precisa ser parte integral das estratégias
      nutricionais para adultos. O aleitamento materno
      exclusivo até o 6.º mês de vida e complementar até
      os 2 anos de vida confere não somente proteção
      contra a morbimortalidade por doenças infecciosas
      nos primeiros anos de vida, mas também tem efeitos
      muito importantes sobre a saúde, a longo prazo:
Referências
       Bibliográficas
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS                                                                                         167




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180                                                            GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




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Anexos
ANEXO A                                                                                                       183




comestíveis ou para assegurar a sua inocuidade à       do Ministério da Agricultura, Pecuária e
saúde humana. Cozinhar arroz ou ferver o leite, por    Abastecimento (www.agricultura.gov.br).
exemplo, são processamentos feitos em nível
domiciliar; já refinar o arroz ou submeter o leite à
                                                       Fertilizantes e agrotóxicos
pasteurização são processamentos realizados em
                                                                 Os fertilizantes ou adubos, orgânicos e
nível industrial. Estamos muito distantes do tempo
                                                       químicos, são freqüentemente utilizados com a
em que as pessoas plantavam os seus próprios
                                                       finalidade de manter e/ou melhorar a fertilidade do
alimentos ou compravam diretamente do produtor
                                                       solo e de nutrir as plantas cultivadas, visando a
e os guardavam em casa. Agora, 80% dos brasileiros
                                                       melhorar a produção agrícola. Já os agrotóxicos de
moram nas cidades e a maioria das pessoas que
                                                       uso agrícola, também chamados de pesticidas, são
mora em pequenas cidades também compra grande
                                                       em geral produtos químicos tóxicos ao homem e aos
parte dos seus alimentos no comércio local. A
                                                       animais utilizados na produção, armazenamento e
maioria dos alimentos e das bebidas consumidos no
                                                       beneficiamento de produtos alimentícios, aplicados
Brasil tem, pelo menos, um grau mínimo de
                                                       diretamente no solo, nas sementes ou em
processamento.
                                                       pulverizações, com a finalidade principal de
         A maneira como os alimentos são               controlar as pragas e doenças das plantações. São
produzidos, conservados, processados e preparados      agrupados em várias classes de uso: acaricidas,
em nível doméstico ou industrial pode alterar de       inseticidas, fungicidas, herbicidas, dentre outras. Os
maneira significativa seu valor nutricional e ter      resíduos desses produtos, em níveis acima dos
impacto positivo ou negativo na saúde. Por             limites máximos permitidos pela legislação
exemplo, os alimentos perecíveis         guardados     brasileira, podem aumentar o risco de ocorrência de
inadequadamente à temperatura ambiente                 alguns tipos de câncer, bem como de outras doenças
perdem nutrientes, deterioram e se tornam              e agravos à saúde. Para prevenir riscos à saúde
inadequados para consumo humano.                       humana, é necessário que os produtores rurais
         A produção refere-se a métodos utilizados     adotem boas práticas agrícolas em relação ao uso de
pela agricultura e na criação de animais para          agrotóxicos, especialmente em culturas alimen-
comercialização. O processamento refere-se a           tares, cabendo ao governo incrementar a
métodos utilizados pelos fabricantes para              fiscalização para evitar a prática abusiva e indevida
transformar a matéria-prima ou os produtos             do comércio e uso desses produtos tóxicos.
primários em alimentos e bebidas para venda no
comércio. A preservação ou conservação refere-se
                                                       Medicamentos veterinários, antimicrobianos
às formas de modificação dos alimentos e das
bebidas a fim de que eles se mantenham adequados       e hormônios, promotores de crescimento
para consumo humano por mais tempo, tanto pelos                 O uso de medicamentos veterinários em
fabricantes quanto no ambiente familiar. Um dos        animais de produção, especialmente os
atributos da alimentação saudável é que ela seja       antimicrobianos, antiparasitários, hormônios e
segura do ponto de vista sanitário e genético. A       anabolizantes, vêm preocupando a população
preparação refere-se à elaboração de refeições em      brasileira e mundial por duas razões principais:
nível industrial, comercial e doméstico.               - Resíduos de medicamentos veterinários presentes
                                                       em alimentos de origem animal podem ser
Produção                                               prejudiciais à saúde do consumidor.
         Na produção de alimentos, a regula-           - O uso de antimicrobianos em medicina veterinária
mentação existe para assegurar que os insumos          pode contribuir para o aumento da incidência ou
utilizados pelos produtores de alimentos sejam         prevalência de resistência microbiana (resistência
seguros para o consumo humano e para reduzir as        bacteriana), reduzindo a eficácia de medicamentos
probabilidades de danos aos seres humanos, vindos      utilizados na medicina humana.
dos resíduos deixados nos alimentos (WORLD                      Da mesma forma que os agrotóxicos, esses
CANCER RESEARCH FUND CRF, 1997). No Brasil, essa       produtos são tóxicos quando utilizados
regulamentação e fiscalização é responsabilidade       inadequadamente e seu uso deve ocorrer somente
184                                                           GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      quando autorizado pela legislação brasileira,                      O sistema de produção orgânica
      seguindo-se rigorosamente as boas práticas e              compreende alguns conceitos de produtos, como:
      prescrições veterinárias, obedecendo às dosagens,         ecológico, biodinâmico, biológico, natural,
      forma de aplicação, restrições de uso e períodos de       regenerativo, agroecológico e outros. A
      retirada, de modo a se prevenir riscos à saúde            agroecologia é uma nova abordagem da
      humana.                                                   agricultura orgânica que integra diversos aspectos
                                                                agro-nômicos, ecológicos e socioeconômicos, na
      Modificação genética                                      avaliação dos efeitos das técnicas agrícolas sobre a
                                                                produção de alimentos, no meio ambiente e na
               Algumas culturas são submetidas à
                                                                sociedade como um todo. Nessa abordagem, a
      modificação genética e alguns alimentos contêm
                                                                agricultura orgânica compõe um ramo da
      ingredientes geneticamente modificados
                                                                agroecologia, que adota um sistema de produção
      (transgênicos ou obtidos por engenharia genética),
                                                                que exclui o uso de fertilizantes químicos e
      que podem ou não estar rotulados como tal.
                                                                agrotóxicos e busca manter a estrutura e
               A Organização Mundial da Saúde (OMS)
                                                                produtividade do solo, em harmonia com a
      considera os alimentos geneticamente modificados
                                                                natureza.
      como seguros; no entanto, ressalta-se que a
      avaliação de risco deve ser feita caso a caso.
               Um alimento pode ser um organismo                Processamento
      geneticamente modificado (OGM), ou pode conter                     Na manufatura de alimentos e bebidas,
      um ou mais ingredientes geneticamente                     vários processos são utilizados. Alguns, com
      modificados. A rotulagem é regulamentada pelo             possíveis impactos sobre a saúde humana, são
      Decreto n.º 4.680/03 da Presidência da República,         mencionados aqui. Não existe nada de negativo
      pela Portaria n.º 2.658/03 do Ministério da Justiça e     com o processamento dos alimentos como tal, mas
      pela Instrução Normativa Interministerial n.º 1/04.       conhecer os diferentes métodos de processamento
      Essas legislações regulamentam a rotulagem e              de alimentos é importante para selecionar entre
      estabelecem a concentração de 1% de OGM                   aqueles que preservam ou aumentam a qualidade
      (proteína ou ácido desoxirribonucléico) no                dos alimentos e os que degradam ou introduzem
      alimento, a partir da qual a rotulagem é                  elementos prejudiciais à saúde. O objetivo desse
      obrigatória. A portaria citada estabelece o               conhecimento é reduzir o consumo de gordura
      emprego, no rótulo, do símbolo que indica que o           total, gordura saturada, gordura trans, açúcar e sal
      alimento contém ou consiste de OGM.                       direto e indireto adicionados aos alimentos e
                                                                bebidas consumidos, permitindo a seleção de
                                                                alimentos mais saudáveis.
      Agricultura orgânica
               A agricultura orgânica, também chamada
      de sistema de produção orgânica, utiliza processos e      Refinação
      controles biológicos para a manutenção da                          A qualidade dos grãos e outros alimentos
      qualidade da terra, plantio e controle de pragas. Na      com amido é profundamente afetada pela
      criação de animais não utiliza hormônios ou               refinação. Grande parte dos micronutrientes
      promotores de crescimento. No Brasil, parte dos           contidos na casca e camadas mais superficiais dos
      alimentos orgânicos é produzida de acordo com             grãos é perdida neste processo.
      padrões certificados por associações, cooperativas e
      outras entidades que controlam a qualidade da             Fortificação
      produção segundo critérios estabelecidos em                       A fortificação pode recuperar, intensificar
      regulamento. O mercado para esse tipo de produto          ou adicionar valor nutricional aos alimentos. A
      vem crescendo, principalmente nos grandes centros         recuperação ocorre quando, durante o pro-
      urbanos. Sempre que possível, alimentos orgânicos         cessamento do alimento, determinado nutriente é
      devem ser preferidos não somente pelo provável            perdido; a intensificação, quando um nutriente que
      menor risco à saúde humana, mas também pelo               é natural do alimento é adicionado em maiores
      menor impacto ao meio ambiente.                           quantidades; e a adição, quando um alimento,
ANEXO A                                                                                                      185




apesar de não ser fonte natural é bom veículo para      não possuem calorias.
um nutriente. Atualmente, o mercado varejista de                Apesar de algumas controvérsias sobre a
alimentos tem uma enorme quantidade de                  sacarina e também sobre o aspartame, os
alimentos fortificados (para mais informações, ver      edulcorantes são presumivelmente de uso seguro,
item sobre rotulagem de alimentos, página 129).         desde que consumidos dentro de um limite de
Por legislação nacional é obrigatória a fortificação    segurança. Veja no quadro 5 abaixo o consumo
do sal de cozinha com iodato de potássio e das          seguro por kg de peso corporal dos edulcorantes.
farinhas de trigo e milho com ferro e ácido fólico.
         Para mais informações sobre a fortificação     Conservação
de alimentos, veja Diretriz 2.                                   Diferentes métodos de conservação de
                                                        alimentos serão apresentados a seguir observando,
Hidrogenação                                            sempre que pertinente, o grau de proteção do valor
        A hidrogenação dos óleos vegetais origina       nutricional do alimento; a ocorrência de perda de
gorduras chamadas gorduras trans. Para mais             nutrientes; a capacidade direta ou indireta de
informações, veja o box Sabendo um pouco mais           tornar o alimento mais saudável; e a utilização de
 Hidrogenação na Diretriz 6 (página 80)                 produtos e conservantes prejudiciais à saúde
                                                        humana.

Aditivos
                                                        Ação do calor:
         Vários tipos de substâncias são adicionados
aos alimentos com o objetivo de modificar suas                   Fervura: elimina grande parte dos
características físicas, químicas, biológicas ou        microrganismos patogênicos. Exemplo: cozimento
sensoriais. Essas substâncias, denominadas aditivos     do alimento à temperatura superior a 100ºC.
alimentares, são regulamentadas, no Brasil, pelo                 Desidratação: pode ser feita em fornos ou
órgão competente do Ministério da Saúde -               ao sol, usando telas protetoras contra insetos.
ANVISA, que estabelece quais são os aditivos            Exemplo: carne seca.
permitidos e seus limites máximos de uso, visando a              Defumação: é um dos processos utilizados
alcançar o efeito desejado e não trazer risco à saúde   para conservação de carne. A defumação de
humana. São 23 as funções dos aditivos, sendo que       alimentos de origem animal origina substâncias
a preservação dos alimentos é apenas uma delas.         químicas carcinogênicas; envolve o uso de nitritos e
Esses aditivos e suas funções são obrigatoriamente      nitratos, que podem se transformar em N-nitroso,
mencionados nos rótulos dos alimentos.                  um composto carcinogênico para o estômago. O
         Uma grande quantidade de alimentos             consumo de alimentos defumados, como bacon,
industrializados recebe adição de corantes de           aves, peixes e outras carnes, deve ser ocasional
maneira a aumentar o apelo visual e gustativo do        porque o consumo de grandes quantidades pode
produto.                                                aumentar o risco de câncer de estômago. (NRC,
                                                        1982; WCRF,1997).
Edulcorantes
         Os alimentos e bebidas industrializadas        Pasteurização,
para dietas com restrição de carboidratos (diet) e      tratamento a altas temperaturas (UHT)
aqueles com redução desse nutriente (light)                     O leite é pasteurizado, por meio da
normalmente contêm edulcorantes, como manitol,          elevação de sua temperatura por alguns segundos,
isomalte, maltitol, lactitol, xilitol, ciclamato,       seguida de rápido resfriamento, para a eliminação
sucralose, sacarina, aspartame, sorbitol, acesul-       das bactérias patogênicas, como as que causam
fame, xilitol e stévia.                                 doenças nos animais e que poderiam ser
         Os aditivos com função edulcorante são         transmitidas aos seres humanos. A ultra-
substâncias que conferem sabor doce ao alimento;        pasteurização, conhecida como processo UHT, é o
mas, diferentemente dos açúcares, em sua maioria        tratamento térmico a temperaturas mais elevadas e
186                                                                      GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




            QUADRO 5 - Principais Características dos Edulcorantes

             Edulcorantes                          sacarina              ciclamato         aspartame         steviosídeo

             Natureza                              artificial             artificial        artificial         natural
             IDA mg/Kg*                               5,0                   11,0              40,0         2 (temporária)
             Poder adoçante**                        500x                    40x              200x              300x
             Metabolização                           não                    não                sim              não
             Sensibilidade ao calor                  não                    não                sim              não
             pH                                     estável                estável           estável           estável
             Calorias                                  0                      0                 4                 0


             FONTE: ANVISA
             *IDA = Ingestão Diária Aceitável (mg/kg de peso corporal)
             ** relativo à sacarose




      menor tempo, resultando em um produto                                do uso de sal. Pode também proteger contra essas e
      conhecido como longa vida , devido ao seu maior                      outras doenças crônicas, como a obesidade, porque
      prazo de validade. O leite deve ser tratado                          ela possibilita a disponibilidade regular de frutas,
      termicamente, a fim de evitar intoxicações ou                        legumes e verduras frescas, bem como de outros
      toxinfeções alimentares. A conservação do leite                      alimentos perecíveis (WORLD CANCER RESEARCH
      pasteurizado deve ser sempre na geladeira; o                         FUND CRF, 1997).
      mesmo cuidado é necessário com o leite longa vida                             Congelamento: requer uma temperatura
      após aberto. Quando não houver disponibilidade                             o
                                                                           de -18 C para eliminar ou inibir o crescimento das
      de leite pasteurizado ou UHT é imprescindível que o                  bactérias. Portanto, o congelamento preserva os
      produto seja fervido antes de ser consumido.                         alimentos, mas alguma perda de vitaminas pode
                                                                           ocorrer.
      Cozimento a vapor, escaldamento,
      fervura e cozimento                                                  Secagem
               Esses métodos suaves de cozinhar utilizam                             Os alimentos são conservados por secagem
                        0
      o calor de até 100 C, o ponto de fervura da água.                    desde os tempos pré-históricos. Grande parte dos
      São as melhores formas de preservar as vitaminas                     alimentos frescos pode ser armazenada em sua
      nos alimentos.                                                       forma seca. Os cereais e feijões são normalmente
                                                                           comprados secos. Alguns vegetais, como os
                                                                           tomates, e muitas frutas, como as uvas e ameixas e
      Ação do frio
                                                                           também as bananas, maçãs, pêras e ervilhas, são
               Refrigeração: a refrigeração dos alimentos                  comercializadas em sua forma desidratada. No
      perecíveis é indispensável; as temperaturas ideais                   Brasil, em algumas regiões a carne é preservada por
                      o     o
      variam entre 0 C e 5 C, de acordo com o tipo de                      meio da secagem, bem como o bacalhau e outros
      alimentos. Essa faixa de temperatura não destrói os                  peixes. A secagem é uma forma benigna de
      microrganismos patogênicos, mas inibe sua                            conservação, que retém e concentra os nutrientes
      proliferação. O uso da refrigeração, industrial e                    nos alimentos.
      doméstica, protege indiretamente contra a
                                                                           Uso do Açúcar
      hipertensão, acidentes vasculares e câncer do
      estômago, porque a refrigeração torna                                        O açúcar pode ser utilizado como
      desnecessária a preservação dos alimentos por meio                   conservante em razão de não ser um meio de
ANEXO A                                                                                                       187




cultura propício para a proliferação de bactérias,       hidrogenação de gordura e acréscimo de aditivos.
pois, por suas características de produção, resulta      Sempre que possível, compre alimentos
um produto com apenas 0,3% de umidade. Agindo            engarrafados ou enlatados em vinagre, água, suco
por osmose também desidrata as células do meio.          de frutas ou vegetais. Verifique os rótulos.
Quando o processo é bem feito, permite a
conservação do alimento por tempo                        Métodos de preparação
indeterminado. Exemplo: frutas cristalizadas.
                                                                  Os principais cuidados a serem observados
         O açúcar é o conservante usado na               nas técnicas de preparação dos alimentos adotadas
confecção de diferentes tipos de conservas de frutas     e que podem ter impacto no valor nutricional são a
como geléias e outros produtos. Para mais                temperatura utilizada no cozimento, o uso de óleos
informações sobre o risco do consumo de açúcar           ou gorduras adicionados e os métodos de
para a saúde, veja a Diretriz 6 (página 73).             cozimento, que incluem o fogo direto nos
.                                                        alimentos.
Uso do sal
         O sal age por osmose, desidratando as           Assados, torrefação, fritura e microondas
células. A salga de alimentos como meio de                        Por meio desses métodos, os alimentos são
conservação é feita a seco ou em salmoura. A salga é                                           o
                                                         cozidos a temperaturas de até 200 C. O único
muito usada na conservação de carnes. Alimentos          inconveniente com os assados ou com a torrefação é
conservados por meio de salmoura, em vinagre ou          a gordura ou óleo, que eventualmente podem ser
sal, são os picles, vegetais, ervas e especiarias. A     adicionados ao preparo dos alimentos. A fritura
alimentação com alto teor de sal e alimentos             expõe os alimentos não diretamente ao fogo, mas a
salgados, como muitas das preparações típicas da         altas temperaturas, e utiliza grandes quantidades
culinária brasileira, aumentam o risco de                de gorduras ou óleos. É sensato consumir esse tipo
hipertensão arterial, acidentes vasculares e câncer      de preparação somente ocasionalmente, devido ao
de estômago. Devido a todos esses fatos, quanto          seu alto conteúdo de gordura (WORLD CANCER
menos sal se consumir, melhor. Para mais                 RESEARCH FUND, 1997). O forno microondas utiliza
informações sobre o risco do consumo de sal para a       temperaturas elevadas, requerendo, portanto,
saúde, veja a Diretriz 6 e box Sabendo um pouco          menor tempo de cocção, o que seria um fator de
mais Alimentos salgados e com sal (página 83).           preservação de algumas vitaminas, exceto em
                                                         relação à vitamina E (SILVA et al., 1993). Outro
                                                         aspecto é que muitas preparações não requerem a
Fermentação                                              utilização de óleo. As possíveis conseqüências
         O processo de fermentação consiste na           negativas à saúde do uso deste recurso ainda não
proliferação de certos organismos não prejudiciais à     foram comprovadas.
saúde, modificadores do pH do meio. A alteração do
meio impede o crescimento de microrganismos de           Grelhados e churrascos
decomposição. A fermentação é um método de                        Alimentos de origem animal, quando
preservação, pelo qual o queijo, o iogurte e o           queimados, contêm altas concentrações de
chucrute são produzidos. É uma forma benigna de          componentes químicos, chamados policíclicos
preservação exceto quando produz álcool.                 hidrocarbonatos aromáticos (PAHs) e aminas
                                                         heterocíclicas (HCAs). Nos padrões dos laboratórios,
Engarrafamento, enlatamento                              essas substâncias são carcinogênicas. A preparação
         O engarrafamento e enlatamento são              de churrascos e grelhados, ou qualquer outro
formas úteis de se preservar os alimentos. Mas, em       método que expõe os alimentos de origem animal à
alguns alimentos enlatados e engarrafados são            chama direta, produz esse tipo de produto químico,
utilizados óleo, açúcar ou sal. Nesses casos, a melhor   tal como a defumação. Descarte sempre alimentos
opção é descartar o caldo. Muitos alimentos              de origem animal queimados ou chamuscados.
acondicionados são preservados por meio de
188                                                          GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      Alimentos prontos para consumo
      Fast-food
              Esse termo refere-se aos alimentos pré-
      cozidos oferecidos em lanchonetes, bares e
      restaurantes. A maior parte desses alimentos é
      derivada de carne, alimentos com alto teor de
      gorduras e sal e bebidas concentradas em açúcar.


      Refeições embaladas
               O comércio está atualmente repleto de
      todos os tipos de refeições e pratos pré-preparados.
               Verifique os rótulos e observe o conteúdo
      de gordura total, gordura saturada, gordura trans e
      sódio.

      Cuidados com as refeições fora do domicílio
               Geralmente os alimentos oferecidos em
      bares, cantinas, restaurantes por quilo e outros
      restaurantes tendem a ser mais ricos em gorduras e
      açúcares do que os alimentos consumidos
      diariamente em casa. Um problema específico é que
      não se sabe que tipo de óleo é utilizado - ou
      reutilizado - nas preparações. As refeições fora de
      casa deveriam ser realizadas apenas em ocasiões
      especiais, comemoração com a família ou amigos ou
      ocasionalmente. Caso você seja freqüentador
      assíduo em alguns restaurantes, procure conhecer a
      forma de preparo dos alimentos, dê sugestões de
      cardápios e preparações mais saudáveis, observe a
      higiene do local, dos funcionários e tente conhecer
      a cozinha ou local onde são preparados e
      armazenados os alimentos. Ao selecionar os pratos
      ou preparações, siga os princípios da alimentação
      saudável.

      Recomendação Calórica Média,
ANEXO B
 DIRETRIZ 6 - GORDURAS, AÇÚCARES E SAL                                                                          189
                                                                                                                 91



Número de Porções Diárias e                               exemplificador de 2.000kcal. Ressalta-se, contudo,
alor Energético Médio das Porções,                        que o número de porções variará de acordo com as
Segundo os Grupos de Alimentos                            necessidades nutricionais de cada indivíduo,
                                                          devendo, portanto, uma dieta que utilize as
para Fins de Cálculo do % VET
                                                          proposições de número de porções aqui
        O quadro abaixo mostra o número de
                                                          estabelecidas ser corrigida, quando necessário.
porções, valor calórico médio por porção e a
                                                                   Os cálculos relativos ao número de porções
recomendação calórica média do grupo de
                                                          e valor energético médio das porções foram
alimentos considerando as diretrizes e objetivos                               a
                                                          elaborados pela Dr. Sonia Tucunduva Philippi do
estabelecidos neste guia alimentar. Os alimentos
                                                          Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde
que foram utilizados em cada um dos grupos
                                                          Pública da Universidade de São Paulo.
compõem um elenco de produtos e preparações
mais comuns no Brasil, mas obviamente não
esgotam todos os alimentos. A lista de alimentos
consta no ANEXO C.
        Conforme se observou na primeira parte
deste guia, foi aqui adotado o parâmetro



                                                 VET = 2.000 kcal

                                                    Recomendação       Número de     Valor energético
       Grupos de Alimentos                         calórica média do porções diárias médio por porção
                                                     grupo (kcal)*      do grupo          (kcal)

       Cereais, tubérculos, raízes e derivados            900                6                150
       Feijões                                            55                 1                 55
       Frutas e sucos de frutas naturais                  210                3                 70
       Legumes e Verduras                                 45                 3                 15
       Leite e Derivados                                  360                3                120
       Carnes e ovos                                      190                1                190
       Óleos, gorduras e sementes oleaginosas             73                 1                 73
       Açúcares e doces                                   110                1                110


       (*) Esta atribuição atingiu 1.943 kcal.
ANEXO C                                                                                   191




Porções de Alimentos (em Gramas) e Medidas Usuais de Consumo Correspondentes(*)

                           Arroz, Pães, Massas, Batata e Mandioca
                                     1 porção = 150kcal
Alimentos                                            Peso (g)   Medidas usuais de consumo
amido de milho                                           40,0     2 ½ colheres de sopa
angu                                                   105,0      3 colheres de sopa
arroz branco cozido                                    125,0      4 colheres de sopa
arroz integral cozido                                  198,0      6 colheres de sopa
batata cozida                                          202,5      1 ½ unidade
batata inglesa corada picada                             90,0     3 colheres de sopa
batata doce cozida                                     150,0      1 ½ colheres de servir
batata frita (palito)                                  110,0      2 ½ colheres de servir
batata sauteé                                          125,0      2 ½ colheres de servir
biscoito tipo cookies com gotas de chocolate/ coco      30,0      6 unidades
biscoito tipo cream cracker                             32,5      5 unidades
biscoito de leite                                       30,0      6 unidades
biscoito tipo maisena                                   35,0      7 unidades
biscoito tipo maria                                     35,0      7 unidades
biscoito recheado chocolate/doce de leite/ morango      34,0      2 unidades
biscoito tipo waffer chocolate/morango/baunilha         30,0      4 unidades
                  1
bolo de banana                                          50,0      1 fatia pequena
                   1
bolo de cenoura                                         30,0      1 fatia pequena
bolo de chocolate                                       35,0      1 fatia
                1
bolo de milho                                           50,0      1 fatia
cará cozido/ amassado                                  126,0      3 ½ colher de sopa
cereal matinal                                          43,0      1 xícara de chá
farinha de aveia                                        37,5      2 ½ colheres de sopa
farinha de mandioca                                     40,0      2 ½ colheres de sopa
farinha de milho                                        42,0      3 ½ colheres de sopa
farofa de farinha de mandioca                           37,0      ½ colher de servir
inhame cozido/ amassado                                126,0      3 ½ colheres de sopa
macarrão cozido                                        105,0      3 ½ colheres de sopa
mandioca cozida                                        128,0      4 colheres de sopa
                       1
milho verde em espiga                                  100,0      1 espiga grande
milho verde em conserva (enlatado)                     142,0      7 colheres de sopa
           1
pamonha                                                100,0      1 unidade
pãozinho caseiro                                        55,0      ½ unidade
                1
pão de batata                                           50,0      1 unidade média
pão de centeio                                          60,0      2 fatias
pão de forma tradicional                                43,0      2 fatias
              1
pão de milho                                            70,0      1 unidade média
pão de queijo                                           58,0      1 unidade
pão francês                                             50,0      1 unidade
pão hot dog                                             50,0      1 unidade
pipoca com sal                                          31,5      3 xícaras de chá
polenta frita                                          121,0      3 fatias
192                                                GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      Alimentos                                            Peso (g)       Medidas usuais de
      consumo
      polenta sem molho                                    190,0          2 fatias
      purê de batata                                       130,0          2 colheres de servir
                      1
      purê de inhame                                       135,0          3 colheres de servir
      torrada salgada tipo                                  40,0          4 unidades
      torrada fibras                                        40,0          4 unidades
      torrada glúten                                        40,0          4 unidades
      torrada (pão francês)                                 33,0          6 fatias


                                          Verduras e Legumes
                                           1 porção = 15kcal

      Alimentos                                          Peso (g)      Medidas usuais de consumo
      abóbora cozida (menina, japonesa, moranga)            70,0         2 colheres de sopa
      abobrinha cozida                                      81,0         3 colheres de sopa
      acelga cozida                                         85,0         2 1/2 colheres de sopa
      acelga crua (picada)                                  90,0         9 colheres de sopa
      agrião                                               132,0         22 ramos
      aipo cru                                              80,0         2 unidades
      alcachofra cozida                                     35,0         1/4 unidade
      alface                                               120,0         15 folhas
      almeirão                                              60,0         5 folhas
      aspargo em conserva                                   80,0         8 unidades
      berinjela cozida                                      60,0         2 colheres de sopa
                         1
      bertalha refogada                                     25,0         1 colher de sopa
      beterraba cozida                                      43,0         3 fatias
      beterraba crua ralada                                 42,0         2 colheres de sopa
      brócolis cozido                                       60,0         4 1/2 colheres de sopa
      broto de alfafa cru                                   50,0         1 1/2 xícara de chá
      broto de feijão cozido                                81,0         1 1/2 colher de servir
      cenoura cozida (fatias)                               35,0         7 fatias
      cenoura cozida (picada)                               34,0         1 1/2 colher de sopa
      cenoura crua (picada)                                 38,0         1 colher de servir
      chuchu cozido                                         57,0         2 1/2 colheres de sopa
      couve-flor cozida                                     69,0         3 ramos
      couve-manteiga cozida                                 42,0         1 colher de servir
      ervilha em conserva                                   13,0         1 colher de sopa
      ervilha fresca                                        19,5         1 1/2 colher de sopa
      ervilha torta (vagem)                                 11,0         2 unidades
      escarola                                              84,0         15 folhas
      espinafre cozido                                      67,0         2 1/2 colheres de sopa
      jiló cozido                                           37,5         1 1/2 colher de sopa
                      1
      maxixe cozido                                        120,0         3 colheres de sopa
       mostarda                                             60,0         6 folhas
      palmito em conserva                                  100,0         2 unidades
      pepino japonês                                       130,0         1 unidade
      pepino picado                                        116,0         4 colheres de sopa
      picles em conserva                                   108,0         5 colheres de sopa
ANEXO C                                                                                     193



pimentão cru fatiado (vermelho/verde)                    56,0      8 fatias
Alimentos                                             Peso (g)   Medidas usuais de consumo
pimentão cru picado (vermelho/verde)                    60,0       2 1/2 colheres de sopa
quiabo cozido                                            52,0      2 colheres de sopa
rabanete                                                 90,0       3 unidades
repolho branco cru (picado)                              72,0       6 colheres de sopa
repolho cozido                                           75,0       5 colheres de sopa
repolho roxo cru (picado)                                60,0       5 colheres de sopa
rúcula                                                   90,0       15 ramos
salsão cru                                               95,0       5 colheres de sopa
tomate caqui                                             75,0       2 1/2 fatias
tomate cereja                                            70,0       7 unidades
tomate comum                                             80,0       4 fatias
vagem cozida                                             44,0       2 colheres de sopa



                                             Frutas
                                        1 porção = 70kcal

Alimentos                                            Peso (g)    Medidas usuais de consumo
abacate (amassado)                                      45,0       11/2 colher de sopa
abacaxi                                                130,0       1 fatia
acerola                                                224,0       32 unidades
ameixa-preta                                            30,0       3 unidades
ameixa-vermelha                                        140,0       4 unidades
banana                                                  86,0       1 unidade
caju fresco                                            147,0       2 1/2 unidades
caqui                                                  113,0       1 unidade
carambola                                              220,0       2 unidades
cereja fresca                                           96,0       24 unidades
damasco seco                                            30,0       4 unidades
fruta-do-conde                                          75,0       1/2 unidade
goiaba                                                  95,0       1/2 unidade
jabuticaba                                             140,0       20 unidades
jaca                                                   132,0       4 bagos
kiwi                                                   154,0       2 unidades
laranja-bahía/seleta                                   144,0       8 gomos
laranja-pêra/lima                                      137,0       1 unidade
limão                                                  252,0       4 unidades
maçã                                                   130,0       1 unidade
mamão-formosa                                          160,0       1 fatia
mamão-papaia                                           141,5       1/2 unidade
manga bordon                                           110,0       1 unidade
manga haden                                            110,0       5 fatias
manga polpa batida                                      94,5       1/2 xícara de chá
maracujá (suco puro)                                    94,0       1/2 xícara de chá
melancia                                               296,0       2 fatias
melão                                                  230,0       2 fatias
morango                                                240,0       10 unidades
194                                                     GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      nectarina                                                184,0          2 unidades
      Alimentos                                              Peso (g)       Medidas usuais de consumo
      pêra                                                    133,0           1 unidade
      pêssego                                                 226,0           2 unidades
      salada de frutas (banana, maçã, laranja, mamão)         125,0           1/2 xícara de chá
      suco de abacaxi                                         125,0           1/2 copo de requeijão
      suco de laranja (puro)                                  187,0           3/4 copo requeijão
      suco de melão                                           170,0           3/4 copo de requeijão
      suco de tangerina                                       164,0           3/4 copo requeijão
      tangerina/mexerica                                      148,0           1 unidade
      uva comum                                                99,2           22 uvas
      uva-itália                                               99,2           8 uvas
      uva-rubi                                                103,0           8 uvas

      Copo de requeijão = 250 mL


                                                    Feijões
                                               1 porção = 55kcal

      Alimentos                                               Peso (g)      Medidas usuais de consumo
      ervilha seca cozida                                        72,5         2 1/2 colheres de sopa
      feijão branco cozido                                       48,0         1 1/2 colher de sopa
      feijão cozido (50% de caldo)                               86,0         1 concha
      feijão cozido (somente grãos)                              50,0         2 colheres de sopa
                          1
      feijão preto cozido                                        80,0         1 concha média rasa
      grão-de-bico cozido                                        36,0         1 1/2 colher de sopa
      lentilha cozida                                            48,0         2 colheres de sopa
      soja cozida (somente grãos)                                43,0         11/2 colher de servir arroz


                                                Carnes e Ovos
                                              1 porção = 190kcal

      Alimentos                                               Peso (g)      Medidas usuais de consumo
      atum em lata                                              112,5         2 1/2 colheres de sopa
      bacalhoada                                                 75,0         1/2 porção
                       1
      bacalhau cozido                                           135,0         1 pedaço médio
                                                                                                1
      bife de fígado frito                                      100,0         1 unidade média
      bife enrolado                                             110,0         1 unidade
      bife grelhado                                              64,0         1 unidade
      camarão frito                                             104,0         13 unidades
      carne assada (patinho)                                     75,0         1 fatia pequena
                   1
      carne cozida                                               80,0         4 pedaços pequenos
      carne cozida de peru tipo "blanquet"                      150,0         10 fatias
      carne moída refogada                                       63,0         3 1/2 colheres de sopa
                 1
      carne seca                                                 40,0         2 pedaços pequenos
            1
      carré                                                      90,0         1 unidade média
ANEXO C                                                                                      195



                        1
costela bovina assada                                   40,0     1 pedaço pequeno
Alimentos                                            Peso (g)   Medidas usuais           de
consumo
espetinho de carne                                      92,0      2 unidades
                                                                  1 pedaço de peito ou
frango assado inteiro                                  100,0      1 coxa grande ou
                                                                  1 sobrecoxa
frango filé à milanesa                                  80,0      1 unidade
frango filé grelhado                                   100,0      1 unidade
frango sobrecoxa cozida sem pele com molho             100,0      1 sobrecoxa grande
hambúrguer grelhado                                     90,0      1 unidade
lingüiça de porco cozida                                50,0      1 gomo
manjuba frita                                          106,0      10 unidades
merluza cozida                                         200,0      2 filés
mortadela                                               62,0      2 fatias médias
omelete simples                                        110,0      1 1/2 unidade
            1
ovo cozido                                              90,0      2 unidades
ovo frito                                               50,0      2 unidade
peixe espada cozido                                    100,0      1 filé
                                                                                  1
peru assado sem pele                                    96,0      2 fatias grandes
porco lombo assado                                      93,5      1/2 fatia
salame                                                  75,0      11 fatias
salsicha                                                60,0      1 1/2 unidade
sardinha escabeche                                      50,0      1 unidade
                      1
sardinha em conserva                                    41,5      1 unidade média




                                   Leites, Queijos, Iogurtes
                                      1 porção = 120kcal

Alimentos                                            Peso (g)   Medidas usuais de consumo
coalhada                                                77,5      2 1/2 colheres de sopa
iogurte desnatado de frutas                            300,0      1 1/2 copo de requeijão
iogurte desnatado natural                              330,0      1 1/2 copo de requeijão
iogurte integral natural                               165,0      1 copo de requeijão
iogurte integral de frutas                             120,0      1/2 copo de requeijão
                       1
leite de cabra integral                                182,0      1 copo de requeijão
leite em pó integral                                    26,0      2 colheres de sopa
leite em pó desnatado                                   34,5      3 colheres de sopa
leite integral longa vida 3,5% gordura - padrão        182,0      1 xícara de chá
leite semidesnatado longa vida 2% gordura - padrão     270,0      1 copo requeijão
leite tipo B 3,5% gordura - padrão                     182,0      1 xícara de chá
leite tipo C 3,0% gordura - padrão                     182,0      1 xícara de chá
                          1
queijo tipo minas frescal                               40,0      1 fatia grande
queijo tipo minas                                       50,0      1 1/2 fatia
queijo tipo mussarela                                   45,0      3 fatias
196                                                                                     GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      Queijo tipo parmesão ralado                                                                      30,0                     3 colheres de sopa
      queijo pasteurizado                                                                              40,0                     2 unidade
      Alimentos                                                                                      Peso (g)                  Medidas usuais                        de
      consumo
      queijo prato                                                                                      30,0                        1 1/2 fatias
      queijo provolone                                                                                  35,0                        1 fatia
      requeijão cremoso                                                                                 45,0                        1 1/2 colher de sopa
      ricota                                                                                           100,0                        2 fatias
      vitamina de leite com frutas                                                                     171,0                        1 copo de requeijão


                                                                     Óleos e Gorduras
                                                                     1 porção = 73kcal
      Alimentos                                                                                    Peso (g)                   Medidas usuais de consumo
      azeite de dendê                                                                                 9,2                       3/4 colher de sopa
      azeite de oliva                                                                                 7,6                       1 colher de sopa
      bacon (gordura)                                                                                 7,5                       1/2 fatia
      banha de porco                                                                                  7,0                       1/2 colher de sopa
      creme vegetal                                                                                  10,0                       1/2 colher de sopa
      halvarina                                                                                      19,7                       1 colher de sopa
      manteiga                                                                                        9,8                       1/2 colher de sopa
      margarina culinária                                                                            10,0                       1/10 colher de sopa
      margarina líquida                                                                               8,9                       1 colheres de sopa
      margarina vegetal                                                                               9,8                       1/2 colher de sopa
      óleo vegetal composto de soja e oliva                                                          10,0                       1 colher de sopa
      óleo vegetal de canola                                                                          8,0                       1 colher de sopa
      óleo vegetal de girassol                                                                        8,0                       1 colher de sopa
      óleo vegetal de milho                                                                           8,0                       1 colher de sopa
      óleo vegetal de soja                                                                            8,0                       1 colher de sopa


                                                                     Açúcares e Doces
                                                                    1 porção = 110kcal
      Alimentos                                                                                    Peso (g)                   Medidas usuais de consumo
      açúcar cristal                                                                                 28,0                       1 colher de sopa
      açúcar mascavo fino                                                                            25,0                       1 colher de sopa
      açúcar mascavo grosso                                                                          27,0                       1 1/2 colher de sopa
      açúcar refinado                                                                                28,0                       1 colher de sopa
                 1
      bananada                                                                                       40,0                       1 unidade média
                           1
      doce de leite cremoso                                                                          40,0                       1 colher de sopa
                            1
      doce de mamão verde                                                                            80,0                       2 colheres de sopa
                       1
      geléia de frutas                                                                               34,0                       1 colher de sopa
      goiabada em pasta                                                                              45,0                       1/2 fatia
      melado1                                                                                        32,0                       2 colheres de sopa
      mel                                                                                            37,5                       2 1/2 colheres de sopa
                                     a
      (*) A tabela é de autoria da Dr. Sonia Tucunduva Philippi - Departamento de Nutrição/FSP/USP. Os cálculos do valor calórico dos alimentos foram realizados com
      base na "Tabela de Composição de Alimentos: suporte para a decisão nutricional" (PHILIPPI, 2001).
       (1) FONTE: "Tabela para Avaliação de Consumo Alimentar em Medidas Caseiras" (PINHEIRO et al., 2005). Esta tabela foi utilizada pela Coordenação Geral da
      Política Nacional de Alimentação e Nutrição (CGPAN) para incorporação de alimentos ou preparações não disponíveis na publicação de PHILIPPI (2001) ou para
      estabelecimento de porções dos alimentos ou refeições não constantes nas tabelas elaboradas por PHILIPPI, ST et al. Virtual Nutri (software) versão 1.0 for Windows.
      Departamento de Nutrição / Faculdade de Saúde Pública / USP. São Paulo; 1996.
DIRETRIZ 6 - GORDURAS, AÇÚCARES E SAL
  ANEXO D                                                                                                      197




                                                       Diretriz 5
Síntese das Diretrizes                                 Leite e derivados, carnes e ovos
                                                       - Leite e derivados, principais fontes de cálcio na
TODOS                                                  alimentação, e carnes, aves, peixes e ovos fazem
                                                       parte de uma alimentação nutritiva que contribui
Diretriz 1                                             para a saúde e para o crescimento saudável.
Os alimentos saudáveis e as refeições                  - Os tipos e as quantidades desses alimentos devem
- Refeições são saudáveis quando preparadas com        ser adequados às diferentes fases do curso da vida.
alimentos variados, com tipos e quantidades            Leites e derivados devem ser preferencialmente
adequadas às fases do curso da vida, compondo          desnatados, para os adultos, e integrais para
refeições coloridas e saborosas que incluem            crianças, adolescentes e gestantes.
alimentos tanto de origem vegetal como animal.
- Para garantir a saúde, faça, pelo menos, três
refeições por dia (café da manhã, almoço e jantar),
                                                       Diretriz 6
intercaladas por pequenos lanches.                     Gorduras, açúcares e sal
- A alimentação saudável tem início com a prática do   - As gorduras e os açúcares são fontes de energia.
aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de        - O consumo freqüente e em grande quantidade de
idade e complementar até pelo menos os 2 anos e se     gorduras, açúcar e sal aumenta o risco de doenças
prolonga pela vida com adoção de bons hábitos          como obesidade, hipertensão arterial, diabetes e
alimentares.
                                                       doenças do coração.
                                                       - Utilize sempre o sal fortificado com iodo (sal
Diretriz 2                                             iodado).
Cereais, tubérculos e raízes
- Arroz, milho e trigo, alimentos como pães e          Diretriz 7
massas, preferencialmente na forma integral;
                                                       Água
tubérculos como as batatas; raízes como a mandioca
                                                       - A água é um alimento indispensável ao
devem ser a mais importante fonte de energia e o
                                                       funcionamento adequado do organismo.
principal componente da maioria das refeições.
                                                       - Toda água que você beber deve ser tratada,
                                                       filtrada ou fervida.
Diretriz 3
Frutas, legumes e verduras                             Diretriz Especial 1
- Frutas, legumes e verduras são ricos em vitaminas,
                                                       Atividade física
minerais e fibras e devem estar presentes
                                                       - A alimentação saudável e a atividade física regular
diariamente nas refeições, pois contribuem para a
                                                       são aliadas fundamentais para a manutenção do
proteção à saúde e diminuição do risco de
                                                       peso saudável, redução do risco de doenças e
ocorrência de várias doenças.
                                                       melhoria da qualidade de vida.

Diretriz 4
                                                       Diretriz Especial 2
Feijões e outros alimentos vegetais ricos em
                                                       Qualidade sanitária dos alimentos
proteínas
                                                       - A garantia da qualidade sanitária dos alimentos
- As leguminosas, como os feijões, e as oleaginosas,
                                                       implica a adoção de medidas preventivas e de
como as castanhas e sementes, são alimentos
                                                       controle em toda a cadeia produtiva, desde sua
fundamentais para a saúde.
                                                       origem até o consumo do alimento no domicílio. A
- A preparação típica brasileira feijão com arroz é
                                                       manipulação dos alimentos segundo as boas
uma combinação alimentar saudável e completa em
                                                       práticas de higiene é essencial para redução dos
proteínas.
                                                       riscos de doenças transmitidas pelos alimentos.
198                                                            GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      PROFISSIONAIS DE SAÚDE                                     problemas relacionados à má-formação do tubo
                                                                 neural. A orientação de consumo dessas farinhas é
                                                                 particularmente importante para crianças, idosos,
      Diretriz 1                                                 gestantes e mulheres em idade fértil.
      Os alimentos saudáveis e as refeições
                                                                 Diretriz 3
      Orientar:
                                                                 Frutas, legumes e verduras
      - Sobre a necessidade de se realizar pelo menos três
      refeições diárias, intercaladas com lanches
      saudáveis.                                                 Orientar:
      - Quanto à importância da consulta e interpretação         - O consumo diário de 3 porções de frutas e 3
      da informação nutricional e da lista de ingredientes       porções de legumes e verduras nas refeições
      presentes nos rótulos dos alimentos, para a seleção        diárias.
      de alimentos mais saudáveis.                               - Sobre a importância de variar o consumo desses
      - As mulheres durante a gestação sobre a                   grupos de alimentos nas diferentes refeições e ao
      importância da prática do aleitamento materno              longo da semana.
      exclusivo até os 6 meses de idade da criança e sobre       - E informar sobre a grande variedade desses
      os passos para a alimentação complementar após             alimentos disponíveis em todas as regiões do País e
      esse período.                                              incentivar diferentes modos de preparo desses
                                                                 alimentos para valorizar o sabor.
      Saber que:
      - Os cereais, de preferência integrais, frutas,            Saber que:
      legumes e verduras e leguminosas (feijões), no seu         - A participação de frutas, legumes e verduras no
      conjunto, devem fornecer mais da metade (55% a             valor energético total fornecido pela alimentação
      75%) do total de energia diária da alimentação.            das famílias brasileiras, independentemente da
                                                                 faixa de renda, é baixa, variando de 3% a 4%, entre
                                                                 1974-2003;
      Diretriz 2
                                                                 - O consumo mínimo recomendado de frutas,
      Cereais, tubérculos e raízes                               legumes e verduras é de 400 gramas/dia para
                                                                 garantir 9% a 12% da energia diária consumida,
      Orientar:                                                  considerando uma dieta de 2.000 kcal. Isso significa
      - O consumo de alimentos ricos em carboidratos             aumentar em, pelo menos, 3 vezes o consumo
      complexos (amidos), como cereais, de preferência           médio atual da população brasileira.
      integrais, tubérculos e raízes, para garantir 45% a
      65% da energia total diária da alimentação.                Diretriz 4
      - O consumo diário de 6 porções de cereais,                Feijões e outros alimentos vegetais ricos em
      tubérculos e raízes.
                                                                 proteínas

      Saber que:
                                                                 Orientar e estimular:
      - A presença diária desses alimentos na alimentação
                                                                 - O consumo diário de 1 porção de leguminosas
      vem diminuindo (em 1974, correspondia a 42,1% e,
                                                                 (feijões);
      em 2003, era de 38,7%). Essa tendência deve ser
      revertida, por meio do incentivo ao consumo desses         - O consumo diário de feijão com arroz, na
      grupos de alimentos pela população, na forma in            proporção de 1 para 2 partes;
      natura. Para atender ao limite mínimo recomendado          - O consumo de modo que as leguminosas como
      (45%), o consumo atual deve ser aumentado, em              feijões, lentilhas, ervilha seca, grão-de-bico, soja e
      aproximadamente, 20%.                                      outros garantam, no mínimo, 5% do total de
      - No Brasil, é obrigatória a fortificação das farinhas     energia diária.
      de trigo e milho com ferro e ácido fólico, estratégia      - O consumo de castanhas e sementes, inclusive
      que objetiva a redução da anemia ferropriva e de           como ingredientes de diferentes preparações.
ANEXO D                                                                                                         199



- O uso de diferentes modos de preparo para a            o risco de ocorrência de obesidade, hipertensão arte-
valorização do sabor de todos os tipos de                rial, diabetes, dislipidemias e doenças
leguminosas.                                             cardiovasculares.
                                                         - Sobre a importância da consulta e interpretação da
Saber que:                                               informação nutricional e da lista de ingredientes
- Embora a participação relativa de feijões na           nos rótulos dos alimentos para seleção de alimentos
alimentação brasileira (5,68%) ainda esteja dentro       mais saudáveis.
da faixa recomendada de consumo, há uma
tendência de queda preocupante, necessitando ser
                                                         Em relação ao consumo de GORDURAS
revertida em curto tempo.

                                                         Saber que:
Diretriz 5
                                                         - A contribuição de gorduras e óleos, de todas as
Leite e derivados, carnes e ovos                         fontes, não deve ultrapassar os limites de 15% a
                                                         30% da energia total da alimentação diária. Uma
Orientar:                                                vez que os dados disponíveis de consumo alimentar
- O consumo diário de 3 porções de leite e               no Brasil são indiretos e baseados apenas na
derivados;                                               disponibilidade domiciliar de alimentos, é
- O consumo diário de 1 porção de carnes, peixes ou      importante que o consumo de gorduras seja
ovos;                                                    limitado para que não se ultrapasse a faixa de
- Sobre o alto valor biológico das proteínas             consumo recomendada.
presentes nos ovos, nas carnes, nos peixes, no leite e   - O total de gordura saturada não deve ultrapassar
derivados.                                               10% do total da energia diária.
- Sobre a alta biodisponibilidade do ferro presente      - O total de gordura trans consumida deve ser
nas carnes, principalmente nos miúdos e nas vísceras     menor que 1% do valor energético total diário (no
e peixes.                                                máximo 2g/dia para uma dieta de 2.000kcal).
- E informar que leite e derivados são fontes de
proteínas, vitaminas e a principal fonte de cálcio da    Orientar:
alimentação, nutriente fundamental para a
                                                         - O consumo máximo diário de uma porção de
formação e manutenção da massa óssea. O
                                                         alimentos do grupo dos óleos e gorduras, dando
consumo desse grupo de alimentos é importante
                                                         preferência aos óleos vegetais, azeite e margarinas
em todas as fases do curso da vida, particularmente
na infância, na adolescência, na gestação e para         livres de ácido graxos trans.
adultos jovens.                                          - Sobre os diferentes tipos de óleos e gorduras e seus
- A escolha de produtos que contenham menor teor         distintos impactos sobre a saúde.
de gordura. O leite e seus derivados, para adultos
que já completaram seu crescimento, deve ser             Em relação ao consumo de AÇÚCARES
preferencialmente desnatado. Crianças,
particularmente, e adolescentes devem consumir
                                                         Saber que:
leite e derivados na forma integral, desde que não
haja contra-indicação em seu uso, definida por           - O consumo de açúcares simples não deve
médico ou nutricionista.                                 ultrapassar 10% da energia total diária. Isso
                                                         significa redução de, pelo menos, 33% (um terço) na
                                                         média atual de consumo da população.
Diretriz 6
Gorduras, açúcares e sal.                                Orientar:
                                                         - O consumo máximo diário de 1 porção de
Orientar:                                                alimentos do grupo dos açúcares e doces.
- A redução do consumo de alimentos com alta             - E informar que os açúcares são fonte de energia e
concentração de sal, açúcar e gordura para diminuir      podem ser encontrados naturalmente nos
200                                                          GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      alimentos, como frutas e mel, ou ser adicionados em      Diretriz Especial 1
      preparações e alimentos processados.                     Atividade física
               A redução do consumo de alimentos e             - Abordar de maneira integrada a promoção da
      bebidas processados com alta concentração de             alimentação saudável e o incentivo à prática regular
      açúcar e das quantidades de açúcar adicionado nas        de atividade física.
      preparações caseiras e bebidas.
                                                               - Orientar sobre a importância do equilíbrio entre o
                                                               consumo alimentar e o gasto energético para a
      Em relação ao consumo de SÓDIO (sal)                     manutenção do peso saudável, em todas as fases do
                                                               curso da vida.
      Saber que:                                               - Utilizar a avaliação antropométrica, nos serviços
      - O consumo de sal diário deve ser no máximo de          de saúde (SISVAN), para acompanhamento do peso
      5g/dia (uma colher rasa de chá por pessoa). Isso         saudável de pessoas em quaisquer fases do curso da
      significa que o consumo atual médio de sal pela          vida.
      população deve ser reduzido à metade. Essa               - Estimular a formação de grupos para prática de
      quantidade é suficiente para atender às necessi-         atividade física e orientação sobre alimentação
      dades de iodo.                                           saudável nos serviços de saúde, nas escolas e em
                                                               outros espaços comunitários, sob supervisão de
      Orientar:                                                profissional capacitado.
      - E informar que o sal de cozinha possui sódio. Esse
      mineral quando consumido em excesso é prejudicial        Diretriz Especial 2
      à saúde;                                                 Qualidade sanitária dos alimentos
      - Que todo o sal consumido deve ser iodado;              - Orientar sobre as medidas preventivas e de
      - Que o sal destinado ao consumo animal não deve         controle, incluindo as práticas de higiene, que
      ser utilizado pelas famílias das zonas rurais, pois      devem ser adotadas na cadeia produtiva, nos
      esse sal não contém a quantidade de iodo                 serviços de alimentação, nas unidades de
      necessária para garantir a saúde de seres humanos;       comercialização e nos domicílios, a fim de garantir a
      - A redução do consumo de alimentos processados          qualidade sanitária dos alimentos.
      com alta concentração de sal, como temperos              - Informar que alimentos manipulados ou
      prontos, caldos concentrados, molhos prontos,            conservados inadequadamente são fatores de risco
      salgadinhos, sopas industrializadas e outros.            importantes para muitas doenças.

      Diretriz 7                                               GOVERNO E SETOR PRODUTIVO
      Água                                                     DE ALIMENTOS

      Orientar:
                                                               Diretriz 1
      - E incentivar o consumo de água,
      independentemente de outros líquidos;                    Os alimentos saudáveis e as refeições
      - As pessoas a ingerir no mínimo dois litros de água     - Aumentar e incentivar a produção, o
      por dia (6 a 8 copos), preferen-cialmente entre as       processamento, o abastecimento e comercialização
      refeições. Essa quantidade pode variar de acordo         de todos os tipos de alimentos que compõem uma
      com a atividade física e com a temperatura do            alimentação saudável.
      ambiente;                                                - Implementar programas de orientação e educação
      - A oferta ativa e regular de água às crianças e aos     nutricional, de forma continuada, respeitando a
      idosos ao longo do dia;                                  identidade cultural das populações.
      - Sobre os cuidados domésticos que garantam a            - Garantir a qualidade dos alimentos in natura e
      qualidade e segurança da água a ser consumida            processados colocados no mercado para consumo
      pela família.                                            da população.
ANEXO D                                                                                                      201



- Implantar, fiscalizar e exigir a implantação das       - Assegurar a presença desses alimentos nos
boas práticas de manipulação de alimentos em             programas públicos e/ou institucionais de alimen-
locais de processamento, manipulação, venda e            tação e nutrição (como o Programa de Alimentação
consumo de alimentos.                                    do Trabalhador, Programa de Alimentação Escolar e
- Assegurar o cumprimento da legislação que              outros) e nas refeições das populações institu-
promove o aleitamento materno como direito da            cionalizadas.
criança à alimentação adequada.
- Garantir que programas públicos de alimentação e       Diretriz 4
nutrição incorporem os princípios da alimentação         Feijões e outros alimentos vegetais ricos em
saudável.
                                                         proteínas
- Regulamentar estratégias de marketing de
                                                         - Promover a produção, o processamento, a
alimentos, em todas as formas de mídia, principal-
                                                         comercialização e o consumo de todos os tipos de
mente para aquelas direcionadas para crianças e
                                                         leguminosas e oleaginosas, principalmente as
adolescentes.
                                                         originárias do Brasil, valorizando os hábitos
                                                         alimentares regionais.
Diretriz 2                                               - Fomentar mecanismos de redução dos custos de
Cereais, tubérculos e raízes                             produção e comercialização de leguminosas,
- Promover a produção, a industrialização, a             sementes e castanhas.
comercialização e o consumo de todos os tipos de         - Assegurar a utilização de feijão e outras
alimentos ricos em carboidratos, preferencialmente       leguminosas, de acordo com os hábitos alimentares
os integrais e os regionais produzidos em nível local.   locais, em programas de alimentação nas escolas,
- Incentivar a pesquisa e incorporação de tecnologia     creches e outras instituições.
de processamento que preserve o valor nutritivo          - Desenvolver ações de valorização da culinária
dos alimentos.                                           nacional que promovam o consumo de preparações
- Assegurar e fomentar a incorporação de cereais,        e alimentos saudáveis, inclusive por meio de
tubérculos e raízes nos programas institucionais de      campanhas educativas e informativas nos meios de
alimentação.                                             comunicação.


Diretriz 3                                               Diretriz 5
Frutas, legumes e verduras                               Leite e derivados, carnes e ovos
- Valorizar e promover a produção e o                    - Promover a produção, o processamento, a
processamento, com preservação do valor nutritivo        comercialização e o consumo de leite e laticínios e
de frutas, legumes e verduras, principalmente os de      outros alimentos de origem animal com baixos
origem local, na perspectiva do desenvolvimento          teores de gordura, tornando-os mais acessíveis
sustentável.                                             física e financeiramente a toda a população.
- Fomentar mecanismos de redução dos custos de           - Aumentar a disponibilidade interna de peixes por
produção e comercialização desses alimentos.             meio da produção sustentável e incentivar o seu
- Criar estratégias que viabilizem a instalação de       consumo por toda a população.
rede local de comercialização, facilitando o acesso
regular da população a esses alimentos, a preços         Diretriz 6
acessíveis.                                              Gorduras, açúcares e sal
- Monitorar segundo a legislação o uso de agentes        - Investir no desenvolvimento de tecnologia que
químicos (agrotóxicos) potencialmente prejudiciais       atenda aos princípios da alimentação saudável. A
à saúde.                                                 redução substancial no consumo do sal, açúcares e
- Viabilizar campanhas e outras iniciativas de           gorduras exige mudanças imediatas nas práticas de
comunicação social e de educação que valorizem e         industrialização de alimentos.
incentivem o consumo desses alimentos.                   - Desenvolver e adotar técnicas de produção de
202                                                            GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      alimentos, a custos acessíveis, que resultem em            - Fortalecer políticas públicas de incentivo aos
      produtos com menores quantidades de açúcares,              esportes.
      gorduras e sal. Esse princípio deve nortear a              - Desenvolver formas de divulgação e comunicação
      produção industrial em geral e não ser restrito            social que informem e valorizem a adoção de modos
      apenas para o grupo dos chamados alimentos para
                                                                 de vida saudáveis, conjugando a promoção da
      fins especiais .
                                                                 alimentação saudável e a prática de atividade física
      - Garantir que todo o sal para consumo humano seja
                                                                 regular.
      iodado e atenda aos teores de iodação
      estabelecidos pela legislação nacional vigente.
      - Regulamentar o comércio, a propaganda e as               Diretriz Especial 2
      estratégias de marketing de alimentos densamente           Qualidade sanitária dos alimentos
      energéticos (altos teores de gorduras e açúcar) e
      com teor elevado de sal.
                                                                 Governo
                                                                 - Adotar medidas multissetoriais e
      Diretriz 7
                                                                 multidisciplinares que visem à promoção da
      Água
                                                                 qualidade sanitária dos alimentos nos níveis local,
      - Garantir o acesso e a qualidade da água tratada
                                                                 nacional e internacional.
      para toda a população brasileira. Sistemas de
                                                                 - Garantir uma legislação e um sistema de controle e
      abastecimento seguro de água são requisito funda-
                                                                 fiscalização eficiente para que em todas as etapas
      mental para a saúde pública.
                                                                 da cadeia de alimentos sejam adotadas medidas
      - Promover a expansão da rede pública de
                                                                 necessárias para que a população disponha de
      saneamento, permitindo a capilarização dos
                                                                 produtos seguros para o consumo.
      equipamentos de fornecimento de água tratada em
                                                                 - Estabelecer parcerias com setores de apoio ao
      domicílios, espaços públicos, escolas, locais de
                                                                 segmento produtivo e comercial de alimentos com
      trabalho e outras unidades coletivas de
                                                                 objetivo de disseminar e apoiar a implementação da
      acolhimento de populações específicas (carcerárias,
                                                                 legislação por meio de capacitações, orientações
      idosos, crianças, dentre outras).
                                                                 técnicas e assessorias aos estabelecimentos.
      - Garantir e preservar os mananciais de água em
      território nacional, como requisito para a saúde e         - Orientar a população sobre os riscos relacionados à
      elemento de soberania nacional.                            incorreta manipulação e conservação dos alimentos
                                                                 e sobre as medidas e práticas de higiene que devem
                                                                 ser adotadas a fim de prevenir esses riscos.
      Diretriz Especial 1                                        - Adotar medidas de intervenção em situações que
      Atividade física                                           se caracterizem como de riscos iminentes à saúde.
      - Proteger, criar e manter ambientes urbanos e
      rurais, nos quais a prática de atividade física diária     Setor podutivo de alimentos
      seja viável, adequada, agradável e segura.                 - Adotar as medidas preventivas e de controle,
      - Adequar espaços urbanos criando áreas para               incluindo as boas práticas de higiene, necessárias
      pedestres, pistas destinadas a ciclistas, espaços e        para que a população disponha de produtos
      quadras comunitários, parques e clubes                     seguros para o consumo.
      comunitários, mantendo-os bem conservados.                 - Capacitar os manipuladores de alimentos nos
      - Criar oportunidades de tempo e espaço para               temas relacionados à prática de higiene e à correta
      prática de atividade física nas comunidades e nos          manipulação dos alimentos, conscientizando-os
      locais de trabalho.                                        sobre sua responsabilidade na prevenção das
      - Valorizar a atividade física regular nas escolas e       doenças transmitidas por alimentos.
      práticas lúdicas ativas em creches e pré-escolas.
ANEXO D                                                                                                        203



FAMÍLIAS                                                  branco e outros) e as formas de preparo. Use
                                                          também outros tipos de leguminosas (soja, grão-de-
                                                          bico, ervilha seca, lentilha, fava).
Diretriz 1                                                - Coma feijão com arroz na proporção de 1 parte de
Os alimentos saudáveis e as refeições                     feijão para 2 partes de arroz, cozidos. Esse prato
- Consuma diariamente alimentos como cereais              brasileiro é uma combinação completa de proteínas
integrais, feijões, frutas, legumes e verduras, leite e   e bom para a saúde.
derivados e carnes magras, aves ou peixes.
- Diminua o consumo de frituras e alimentos que           Diretriz 5
contenham elevada quantidade de açúcares,
gorduras e sal.                                           Leite e derivados, carnes e ovos
- Valorize a sua cultura alimentar e mantenha seus
bons hábitos alimentares.                                  Consuma diariamente:
- Saboreie refeições variadas, ricas em alimentos         - 3 porções de leite e derivados. Os adultos, sempre
regionais saudáveis e disponíveis na sua                  que possível, devem escolher leite e derivados com
comunidade.                                               menores quantidades de gorduras. Crianças,
- Escolha os alimentos mais saudáveis, lendo as           adolescentes e mulheres gestantes devem consumir
informações nutricionais dos rótulos dos alimentos.       a mesma quantidade de porções, porém usando
- Alimente a criança somente com leite materno até        leite e derivados na forma integral.
à idade de 6 meses e depois complemente com               - 1 porção de carnes, peixes ou ovos. Prefira as
outros alimentos, mantendo o leite materno até os         carnes magras e retire toda a gordura aparente
2 anos ou mais.                                           antes da preparação.
- Procure nos serviços de saúde orientações a             - Coma mais frango e peixe e sempre prefira carne
respeito da maneira correta de introduzir                 com baixo teor de gordura. Charque e derivados de
alimentos complementares e refeições quando a             carne (salsicha, lingüiça, presuntos e outros
criança completar 6 meses de vida.                        embutidos) contêm, em geral, excesso de gorduras
                                                          e sal e somente devem ser consumidos
                                                          ocasionalmente.
Diretriz 2                                                - Coma pelo menos uma vez por semana vísceras e
Cereais, tubérculos e raízes                              miúdos, como o fígado bovino, coração de galinha,
- Coma diariamente 6 porções do grupo do arroz,           dentre outros. Esses alimentos são excelentes fontes
pães, massas, tubérculos e raízes. Dê preferência         de ferro, nutriente essencial para evitar anemia, em
aos grãos integrais ou minimamente processados.           especial em crianças, jovens, idosos e mulheres em
                                                          idade fértil.
Diretriz 3
Frutas, legumes e verduras                                Diretriz 6
- Coma diariamente pelo menos 3 porções de                Gorduras, açúcares e sal
legumes e verduras como parte das refeições e 3           - Reduza o consumo de alimentos e bebidas
porções ou mais de frutas nas sobremesas e lanches.       concentrados em gorduras, açúcar e sal. Consulte a
- Valorize os produtos da sua região e varie o tipo de    tabela de informação nutricional dos rótulos dos
frutas, legumes e verduras consumidos na semana.          alimentos e compare-os para ajudar na escolha de
Compre os alimentos da estação e esteja atento            alimentos mais saudáveis; escolha aqueles com
para a qualidade e o estado de conservação.               menores percentuais de gorduras, açúcar e sódio.
                                                          - Use pequenas quantidades de óleo vegetal
                                                          quando cozinhar. Prefira formas de preparo que
Diretriz 4
                                                          utilizam pouca quantidade de óleo, como assados,
Feijões e outros alimentos vegetais ricos em              cozidos, ensopados, grelhados. Evite frituras.
proteínas                                                 - Consuma não mais que 1 porção por dia de óleos
- oma 1 porção de feijão por dia. Varie os tipos de       vegetais, azeite ou margarina sem ácidos graxos
feijões usados (preto, carioquinha, verde, de-corda,      trans.
204                                                            GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      - Consuma não mais que 1 porção do grupo dos               Oriente-as a não ficar muito tempo na frente da
      açúcares e doces por dia.                                  televisão ou em jogos de computador. Estimule-as a
      - Reduza a quantidade de sal nas preparações e             dividir o tempo de lazer entre essas duas opções.
      evite o uso do saleiro à mesa. A quantidade de sal
      por dia deve ser, no máximo, uma colher de chá             Diretriz Especial 2
      rasa, por pessoa, distribuídas em todas as
                                                                 Qualidade sanitária dos alimentos
      preparações consumidas durante o dia.
                                                                 - Ao manipular os alimentos, siga as normas básicas
      - Utilize somente sal iodado. Não use sal destinado
                                                                 de higiene, na hora da compra, da preparação, da
      ao consumo de animais. Ele é prejudicial à saúde
                                                                 conservação e do consumo de alimentos.
      humana.
      - Valorize o sabor natural dos alimentos, reduzindo
      o açúcar ou o sal adicionado a eles.
      - Acentue o sabor de alimentos cozidos e crus
      utilizando ervas frescas ou secas ou suco e frutas
      como tempero.


      Diretriz 7
      Água
      - Use água tratada ou fervida e filtrada, para beber e
      para preparar refeições e sucos ou outras bebidas.
      - Beba pelo menos 2 litros (6 a 8 copos) de água por
      dia. Dê preferência ao consumo de água nos
      intervalos das refeições.
      - Ofereça água para crianças e idosos ao longo de
      todo o dia. Eles precisam ser estimulados
      ativamente a ingerir água.


      Diretriz Especial 1
      Atividade física
      - Torne seu dia-a-dia e lazer mais ativos. Acumule
      pelo menos 30 minutos de atividade física todos os
      dias. Movimente-se! Descubra um tipo de atividade
      física agradável! O prazer é também fundamental
      para a saúde.
      - Procure nos serviços de saúde orientações sobre
      alimentação saudável e atividade física.
      - Caminhe, dance, ande de bicicleta, jogue bola,
      brinque com crianças. Escolha estas e outras
      atividades para movimentar-se.
      - Aproveite o espaço doméstico e os espaços
      públicos próximos a sua casa para movimentar-se.
      Convide os vizinhos e amigos para acompanhá-lo.
      - Incentive as crianças a realizar brincadeiras que
      fazem parte de nossa cultura popular e que sejam
      ativas como aquelas que você fazia na sua infância e
      ao ar livre: pular corda, correr, amarelinha, esconde-
      esconde, pega-pega, andar de bicicleta e outras.
Colaboradores
COLABORADORES                                                                                              207



Participantes do processo de elaboração                 FANUT/UFG
                                                        Estelamaris Tronco Monego
Versão Preliminar                                       Lucilene Maria de Souza
Elisabetta Recine - Coordenação-Geral da Política       Maria do Rosário Gondim Peixoto
de Alimentação e Nutrição (CGPAN/DAB/SAS/MS)            Veruska Prado Alexandre
Geoffrey Cannon - consultor da CGPAN
                                                        CECAN Norte - Centro Colaborador de Alimentação
                                                        e Nutrição da Região Norte - Universidade Federal
Colaboração na versão preliminar
                                                        do Pará
Elaine Pasquim - Coordenação-Geral da Política de
                                                        Ana Lúcia Rezende
Alimentação e Nutrição (CGPAN/DAB/SAS/MS)
                                                        Ioná Leda Vieira Figueira
Gracy Heijblom - Coordenação-Geral da Política de
                                                        Rosa Maria Dias
Alimentação e Nutrição(CGPAN/DAB/SAS/MS)
Janine Coutinho - Observatório de Políticas de
Segurança Alimentar e Nutricional (OPSAN/UnB)           CECAN Sudeste - Centro Colaborador em Alimen-
                                                        tação e Nutrição da Região Sudeste/Escola Nacional
Patrícia Radaelli - Universidade de Brasília/UnB
                                                        de Saúde Pública/Fundação Oswaldo Cruz
                                                        Denise Cavalcante de Barros
Revisão da versão para consulta pública
Anelise Rizzolo Oliveira Pinheiro - Coordenação-        CECAN Sul - Centro Colaborador de Alimentação e
Geral da Política de Alimentação e Nutrição             Nutrição da Região Sul - Fundação Universidade
(CGPAN/DAB/SAS/MS)                                      Federal do Paraná
Elisabetta Recine - Observatório de Política de         Cláudia Choma Bettega Almeida
Segurança Alimentar e Nutricional; Departamento
                                                        Maria Thereza J Campos
de Nutrição da Universidade de Brasília - (UnB) e
                                                        Regina Maria Ferreira Lang
consultora da CGPAN
Maria de Fátima C. C. de Carvalho - Coordenação
                                                        Conselho Federal de Nutrição
Geral da Política de Alimentação e Nutrição
(CGPAN/DAB/SAS/MS)                                      Conselho Regional de Nutrição 3.ª região
                                                        Conselho Regional de Nutrição 4.ª região
                                                        Prefeitura Municipal de SP       Fundação Rubem
Participantes da consulta pública
                                                        Berta/GENUTI - Grupo de Estudos de Nutrição na
ABIA - Associação Brasileira das Indústrias da          Terceira Idade
Alimentação
                                                        Maura Márcia Boccato Cora Gomes
ABIMA - Associação Brasileira das Indústrias de
                                                        Secretaria de Vigilância em Saúde SVS/MS Coor-
Massas Alimentícias
                                                        denação de Doenças e Agravos Não-Transmissíveis
ANVISA - Gerência - Geral de Alimentos - Ggali/
                                                        Beatriz Meireles Fortaleza
Anvisa
                                                        Unisinos
ASBRAN - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NUTRIÇÃO
                                                        Márcia Regina Vitolo
ABIR - Associação Brasileira das Indústrias de Refri-
                                                        Universidade Federal de Pelotas
gerantes e de Bebidas Não Alcoólicas
                                                        Denise Petrucci Gigante
ABRABE - Associação Brasileira de Bebidas
                                                        USP- Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Associação Brasileira de Leite Longa Vida
                                                        Prof.ª Terezinha de Jesus Andreoli Pinto
Associação Brasileira dos Produtores de Leite - Leite
Brasil
                                                        Grupo de Trabalho para análise das sugestões
CECAN Centro-Oeste - Centro Colaborador em              da consulta pública
Alimentação e Nutrição da Região Centro-Oeste -         Adelaide B. C. Oliveira - Coordenação Nacional de
208                                                         GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      Hipertensão e Diabetes - (CNDH/DAB/SAS/MS)              FSP/USP)
      Ana Lúcia da Silva Rezende - Coordenação Estadual       Zuleica Portela de Albuquerque - Organização Pan-
      de Alimentação e Nutrição da Secretaria de Estado       Americana da Saúde (OPAS/OMS) Brasil
      da Saúde do Pará ATAN/SES/PA
      Andréa Leitão Ribeiro - Coordenação-Geral de            Consolidação das sugestões e reelaboração da
      Gestão da Atenção Básica (CGAB/DAB/SAS/MS)              versão final
      Anelise Rizzolo Oliveira Pinheiro - Coordenação-        Anelise Rizzolo Oliveira Pinheiro - Coordenação-
      Geral da Política de Alimentação e Nutrição             Geral da Política de Alimentação e Nutrição
      CGPAN/DAB/SAS/MS                                        (CGPAN/DAB/SAS/MS)
      Antônia Maria de Aquino - Agência Nacional de           Elisabetta Recine - Observatório de Política de
      Vigilância Sanitária                                    Segurança Alimentar e Nutricional; Departamento
      Antônio Cezário - Coordenação Geral de Doenças e        de Nutrição da Universidade de Brasília (UnB) e
      Agravos Não-Transmissíveis CGDANT/SVS                   consultora da CGPAN
      Denise Petrucci Gigante - Universidade Federal de       Maria de Fátima C. C. de Carvalho - Coordenação-
      Pelotas - (UFPel)                                       Geral da Política de Alimentação e Nutrição
      Elisabetta Recine - Observatório de Política de         (CGPAN/DAB/SAS/MS)
      Segurança Alimentar e Nutricional; Departamento
      de Nutrição da Universidade de Brasília UnB e
                                                              Contribuições à versão final
      consultora da CGPAN
                                                              Ana Beatriz Baptistella Leme da Fonseca - Conselho
      Inês Rugani R. de Castro - Secretaria Municipal de
                                                              Regional de Nutrição (CRN-3)
      Saúde do Rio de Janeiro - (SMS/RJ)
                                                              Ana Beatriz Vasconcellos - Coordenação Geral da
      Karla Lisboa Ramos - Agência Nacional de Vigilância
                                                              Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN/
      Sanitária
                                                              DAB/SAS/MS)
      Kelva Karina Nogueira de Aquino de Carvalho -
                                                              Ana Cláudia Marquim Firmo de Araújo - Gerência de
      Coordenação-Geral da Política de Alimentação e
                                                              Produtos Especiais Gpesp/Ggali/Anvisa
      Nutrição (CGPAN/DAB/SAS/MS)
                                                              Ana Maria Cavalcante - Coordenação-Geral da
      Liliane Paula G. Oliveira - Coordenação-Geral da
                                                              Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN/
      Política de Alimentação e Nutrição CGPAN/
                                                              DAB/SAS/MS)
      DAB/SAS/MS
                                                              Ana Marlúcia Oliveira Assis - Centro Colaborador
      Márcia Costa Pinheiro Reduzino Coordenação-
                                                              em Alimentação e Nutrição Região Nordeste II
      Geral da Política de Alimentação e Nutrição
                                                              Ana Virgínia de Almeida Figueiredo - Gerência de
      CGPAN/DAB/SAS/MS ( estagiária)
                                                              Inspeção e Controle de Riscos de Alimentos Gicra/
      Maria de Fátima C. C. de Carvalho - Coordenação-
                                                              Ggali/Anvisa
      Geral da Política de Alimentação e Nutrição -
                                                              Andhressa Fagundes Romeiro - Coordenação-Geral
      (CGPAN/DAB/SAS/MS)
                                                              da Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN/
      Mariana Martins Pereira - Coordenação-Geral da
                                                              DAB/SAS/MS)
      Política de Alimentação e Nutrição CGPAN/
                                                              Andréa Regina de Oliveira Silva - Gerência de
      DAB/SAS/MS (estagiária)
                                                              Inspeção e Controle de Riscos em Alimentos Gicra/
      Muriel B. Gubert - Observatório de Políticas de
                                                              Ggali/Anvisa
      Segurança Alimentar e Nutricional (OPSAN/UnB)
                                                              Andréia Galante - Associação Brasileira de Nutrição
      Rita Araújo Barbalho - Conselho Federal de Nutrição
                                                              Asbran
      (CFN)
                                                              Andréia Leitão - Coordenação de Gestão da
      Sérgio Ricardo Ischiara Coordenação-Geral da
                                                              Atenção Básica CGAB/DAB/SAS/ Ministério da Saúde
      Política de Alimentação e Nutrição CGPAN/DAB/
                                                              Anelise Rizzolo Oliveira Pinheiro - Coordenação-
      SAS/MS
                                                              Geral da Política de Alimentação e Nutrição
      Sônia Tucunduva Philippi - Departamento de
                                                              (CGPAN/DAB/SAS/ MS)
      Nutrição da Faculdade da Saúde Pública (NUT/
                                                              Ângela Karinne Fagundes de Castro - Gerência de
COLABORADORES                                                                                             209



Inspeção e Controle de Riscos em Alimentos Gicra/      Controle de Riscos em Alimentos Gicra/Ggali/Anvisa
Ggali/Anvisa                                           Kênia M. Baiocchi de Carvalho - NUT/ FS/ UnB e
Antônia Maria de Aquino - Gerência de Produtos         Centro de Alimentação Saudável/UnB
Especiais (Gpesp/Ggali/Anvisa)                         Laura Misk de Faria Brant - Gerência de Inspeção e
Bethsáida de Abreu Soares Schmitz - NUT/FS/UnB e       Controle de Riscos em Alimentos - Gicra/Ggali/
Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e     Anvisa
Nutricional/UnB                                        Lígia Teixeira Mendes de Azevedo - Gerência de
Carlos Monteiro - Núcleo de Estudos e Pesquisa em      Nutrição Secretaria de Saúde do DF
Nutrição e Saúde NUPENS/USP                            Lucas Medeiros Dantas - Gerência de Produtos
Cíntia Ayako Nagano - Gerência de Produtos             Especiais GPESP/GGALI/ANVISA
Especiais (Gpesp/Ggali/Anvisa)                         Luciana Sardinha - Coordenação-Geral da Política
Daniela Aparecida dos Reis Arquete - Gerência de       de Alimentação e Nutrição (GPAN/DAB/SAS/MS)
Produtos Especiais (Gpesp/Ggali/Anvisa)                Márcia Regina Vitolo - Departamento de Nutrição
Dayse Montenegro - Gerência de Nutrição Secre-         Unisinos
taria de Saúde do DF                                   Marcus Valério Frohe de Oliveira - Divisão de
Denise Cavalcante de Barros - Centro Colaborador       Controle do Tabagismo e Outros Fatores de
em Alimentação e Nutrição da Região Sudeste/           Risco/Inca
Ensp/Ficruz                                            Maria de Fátima C. C. de Carvalho - Coordenação-
Denise Gigante - Universidade Federal de Pelotas       Geral da Política de Alimentação e Nutrição
(UFPel)                                                (CGPAN/DAB/SAS)
Dillian Adelaine da Silva Goulart - Coordenação        Maria Queiroz Maia - Coordenação-Geral da
Geral da Política de Alimentação e Nutrição            Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN /DAB/
(CGPAN/DAB/SAS/MS)                                     SAS/ MS)
Eliane Said Dutra - NUT/FS/UnB e Centro de             Mariana Martins Pereira - Estagiária em
Alimentação Saudável/UnB                               Nutrição/CGPAN
Elisabete Gonçalves Dutra - Gerência de Produtos       Marília Mendonça Leão - Coordenação-Geral da
Especiais (Gpesp/Ggali/Anvisa)                         Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN/DAB/
Estelamaris Tronco Monego - Centro Colaborador         SAS/MS)
em Alimentação e Nutrição Região Centro-Oeste          Marina Kyomi Ito - Centro de Alimentação
UFG                                                    Saudável/UnB
Geila Cerqueira Felipe - Centro Colaborador em         Muriel Bauerman Gubert - Observatório de Políticas
Alimentação e Nutrição da Região Sudeste/              de Segurança Alimentar e Nutricional/NP3/UnB
Ensp/FICruz                                            Oníria Arruda Figueiredo - Conselho Regional de
Helen Altoé Duar - Coordenação-Geral da Política       Nutrição CRN-3
de Alimentação e Nutrição (CGPAN/DAB/SAS/ MS)          Patrícia Gentil - Coordenação-Geral da Política de
Hoeck Aureo Souza Miranda - Gerência de Produtos       Alimentação e Nutrição 100 (CGPAN/DAB/SAS/MS)
Especiais (Gpesp/Ggali/Anvisa)                         Raquel Assunção Botelho Departamento de
Isabella Maria Araújo Costa - estagiária de nutri-     Nutrição /UnB
ção/CGPAN                                              Reginalice Maria da Graça Bueno Saab - Gerência de
Janine Giuberti Coutinho - Observatório de Políticas   Inspeção e Controle de Riscos em Alimentos Gicra/
de Segurança Alimentar e Nutricional/NP3/UnB           Ggali/Anvisa
João Tavares Neto - Gerência de Produtos Especiais     Rodrigo Martins de Vargas - Gerência de Produtos
(Gpesp/Ggali/Anvisa)                                   Especiais Gpesp/Ggali/Anvisa)
Juliana Amorim Ubarana -Coordenação-Geral da           Rosane Maria Franklin Pinto - Gerência de Inspeção
Politica de Alimentação e Nutrição (CGPAN/DAB/         e Controle de Riscos em Alimentos Gicra/ Ggali/
SAS/MS)                                                Anvisa
Karem Gomes Mordenell - Gerência de Inspeção e         Rosângela Maciel - Coordenação-Geral da Politica
210                                                          GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA




      de Alimentação e Nutrição (CGPAN/DAB/SAS/MS)
      Sonia Tucunduva Philippi - Departamento de
      Nutrição da Faculdade de Saúde Pública (NUT/FSP/
      USP)
      Sueli Gonçalves Couto - Divisão de Controle do
      Tabagismo e Outros Fatores de Risco/INCA
      Valéria Paschoal Conselho Regional de Nutrição
      CRN-3
      Zuleica Portela de Albuquerque - Organização Pan-
      Americana de Saúde OPAS-Brasil



      Elaboração das tabelas de porções de alimentos e
                   o
      revisão do n de porções de alimentos para as
      diretrizes
      Sonia Tucunduva Philippi - Departamento de
      Nutrição da Faculdade de Saúde Pública (NUT/FSP/
      USP)


      Versão final
      Ana Beatriz Vasconcellos - Coordenação-Geral da
      Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN/DAB/
      SAS/MS)
      Anelise Rizzolo Oliveira Pinheiro. Coordenação-
      Geral da Política de Alimentação e Nutrição -
      CGPAN/DAB/SAS/MS
      Elisabetta Recine - Observatório de Política de
      Segurança Alimentar e Nutricional; Departamento
      de Nutrição da Universidade de Brasília e consultora
      da CGPAN
      Maria de Fátima C. C. de Carvalho - Coordenação-
      Geral da Política de Alimentação e Nutrição
      (CGPAN/DAB/SAS/MS)

Guia alimentar conteúdo

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    GUIA ALIMENTAR PARA APOPULAÇÃO BRASILEIRA Promovendo a Alimentação Saudável
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    MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Atenção Básica Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Promovendo a Alimentação Saudável Série A. Normas e Manuais Técnicos Brasília DF 2006
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    © 2006 Ministérioda Saúde. Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial. A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada na íntegra na Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde: http://www.saude.gov.br/bvs Série A. Normas e Manuais Técnicos Tiragem: 1.ª edição 2006 45.000 exemplares Elaboração, distribuição e informações: MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Atenção à Saúde Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição SEPN 511, bloco C, Edifício Bittar IV, 4.º andar CEP: 70058-900, Brasília DF Tels.:(61) 3448-8040 Fax: (61) 3448-8228 Homepage: www.saude.gov.br/nutricao Elaboração da versão final: Ana Beatriz Vasconcellos Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN/DAB/SAS/MS) Anelise Rizzolo Oliveira Pinheiro - Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN/DAB/SAS/MS) Elisabetta Recine Observatório de Política de Segurança Alimentar e Nutricional; Departamento de Nutrição da Universidade de Brasília e consultora da CGPAN Maria de Fátima C. C. de Carvalho Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN/DAB/SAS/MS) Impresso no Brasil / Printed in Brazil Ficha Catalográfica ________________________________________________________________________________________________________________ Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira : promovendo a alimentação saudável / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 210p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos) 1. Alimentação. 2. Conduta na alimentação. 3. Métodos de alimentação. 4. Política de nutrição. I. Título. II. Série. NLM WB 400 ________________________________________________________________________________________________________________ Catalogação na fonte Editora MS OS 2005/0768 Títulos para indexação: Em inglês: Dietary Guidelines for the Brazilian Population Em espanhol: Guía de Alimentación para la Población Brasileña
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    LISTA DE TABELAS,GRÁFICOS E QUADROS 05 LISTA DE TABELAS, GRÁFICOS E QUADROS TABELAS TABELA 1 Mortalidade por diferentes tipos de doença no Brasil, 1979, 1998 e 2003 130 TABELA 2 Percentual de mortalidade proporcional segundo causas e sexo. Brasil, 2001 130 TABELA 3 Resultados da Campanha Nacional de Detecção de Hipertensão Arterial (CNDHA). Brasil, 2002 137 TABELA 4 Óbitos ocorridos por doenças crônicas não-transmissíveis e óbitos potencialmente evitáveis com alimentação adequada (números relativo e absoluto). Brasil, 2003 141 TABELA 5 Evolução da participação relativa de macronutrientes no total de calorias determinado pela aquisição alimentar domiciliar nas regiões metropolitanas, Brasília e Município de Goiânia, por ano de pesquisa. Brasil, 1974-2003 145 TABELA 6 Evolução da participação relativa de alimentos no total de calorias determinado pela aquisição alimentar domiciliar nas regiões metropolitanas, Brasília e município de Goiânia, por ano de pesquisa. Brasil, 1974-2003 146 TABELA 7 Participação relativa de macronutrientes no total de calorias determinado pela aquisição alimentar domiciliar, por situação do domicílio. Brasil, 2002-2003 148 TABELA 8 Participação relativa de grupo de alimentos no total de calorias, segundo a aquisição alimentar domiciliar, por classe de rendimento familiar mensal em salários mínimos per capita (SMPC). Brasil, 2002-2003 149 TABELA 9 Participação relativa de macronutrientes no total de calorias determinado pela aquisição alimentar domiciliar, por classe de rendimento monetário mensal familiar per capita em salários mínimos. Brasil, 2002-2003 151 TABELA 10 Estimativa do consumo de sal per capita. Brasil, 1962-2000 152 GRÁFICOS GRÁFICO 1 Tendência secular da desnutrição em adultos, segundo o sexo. Brasil, 1975-2003 133 GRÁFICO 2 Prevalência da desnutrição em adultos, segundo regiões geográficas e sexo. Brasil, 2003 134 GRÁFICO 3 Tendência secular do excesso de peso no Brasil, segundo sexo. Brasil, 1975-2003 138 GRÁFICO 4 Tendência secular da obesidade no Brasil, segundo o sexo. Brasil, 1975-2003 138 GRÁFICO 5 Tendência secular da obesidade masculina segundo região brasileira. Brasil, 1975-2003 139 GRÁFICO 6 Tendência secular da obesidade feminina, segundo região brasileira. Brasil, 1975-2003 139 GRÁFICO 7 Prevalência de obesidade, segundo a renda. Brasil, 2003 140
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    06 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA QUADROS QUADRO 1 Cálculo da dose-equivalente de álcool de uma bebida 26 QUADRO 2 Informação nutricional dos leites desnatado e integral 121 QUADRO 3 Porções segundo grupos de alimentos, para fins de rotulagem nutricional 122 QUADRO 4 Declarações relacionadas ao conteúdo de nutrientes e energia no rótulo dos alimentos 123 QUADRO 5 Principais características dos Edulcorantes 186
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    SUMÁRIO 07 APRESENTAÇÃO 09 PARTE 1 REFERENCIAL TEÓRICO Introdução 15 O Guia Alimentar e a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) 15 Estratégia Global para a Promoção da Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde 17 O Panorama Epidemiológico no Brasil: o Peso Multiplicado da Doença 18 - Deficiências nutricionais 19 - Doenças infecciosas 19 - Doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT) 19 O Aspecto Ambiental Mais Geral 20 Modos de Vida Saudáveis 21 - Aleitamento materno: um cuidado para toda a vida 21 - Alimentação saudável: algumas considerações 22 - Atividade física: elemento fundamental para a manutenção da saúde e do peso saudável 24 - O consumo de bebidas alcoólicas 24 - O consumo de tabaco 26 PARTE 2 O GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA: SEUS PRINCÍPIOS E SUAS DIRETRIZES E OS ATRIBUTOS DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL Princípios 29 - O princípio da abordagem integrada 31 - O princípio do referencial científico e a cultura alimentar 31 - O princípio do referencial positivo 32 - O princípio da explicitação de quantidades 32 - O princípio das variações das quantidades 32 - O princípio do alimento como referência 33 - O princípio da sustentabilidade ambiental 33 - O princípio da originalidade um guia brasileiro 33 - O princípio da abordagem multifocal 34 Os Atributos da Alimentação Saudável 35 As Diretrizes: Algumas Considerações 36 As diretrizes Diretriz 1 Os alimentos saudáveis e as refeições 39 Diretriz 2 Cereais, tubérculos e raízes 45 Diretriz 3 Frutas, legumes e verduras 51 Diretriz 4 Feijões e outros alimentos vegetais ricos em proteínas 59 Diretriz 5 Leite e derivados, carnes e ovos 65 Diretriz 6 Gorduras, açúcares e sal 73 Diretriz 7 Água 85
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    08 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Diretriz Especial 1 Atividade física 89 Diretriz Especial 2 Qualidade sanitária dos alimentos 97 Colocando as diretrizes em prática 105 Utilizando o rótulo dos alimentos 117 PARTE 3 AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS DAS DIRETRIZES NACIONAIS Introdução 127 Saúde e Nutrição no Brasil 127 A transição epidemiológica brasileira 128 - Epidemiologia da atividade física 129 - Mortalidade 129 - Novos padrões de morbidade 131 A transformação nos padrões alimentares nacionais 141 - Consumo de alimentos no Brasil 142 As bases científicas das diretrizes alimentares nacionais 153 O enfoque do curso da vida como estratégia para a abordagem integrada das doenças relacionadas à alimentação e nutrição 164 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 165 ANEXOS ANEXO A Processamento de alimentos 183 ANEXO B Recomendação calórica média, número de porções diárias e valor energético médio das porções, segundo os grupos de alimentos para fins de cálculo do VET 189 ANEXO C Porções de alimentos (em gramas) e medidas caseiras correspondentes 191 ANEXO D Síntese das Diretrizes 197 COLABORADORES 205
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    APRESENTAÇÃO 11 APRESENTAÇÃO O Guia Alimentar para a População aplicação prática no contexto familiar, bem como Brasileira contém as primeiras diretrizes sobre o uso da rotulagem de alimentos como alimentares oficiais para a nossa população. Hoje ferramenta para a seleção de alimentos mais existem evidências científicas que apontam de saudáveis. forma inequívoca o impacto da alimentação Finalmente, a terceira parte sistematiza o saudável na prevenção das mortes prematuras, panorama epidemiológico brasileiro e traz os dados causadas por doenças cardíacas e câncer. de consumo alimentar disponíveis no Brasil e as Além disso, as orientações do guia são evidências científicas que fundamentaram as adequadas para a prevenção de outras doenças orientações do guia. crônicas não-transmissíveis, tais como diabetes e O documento é resultado de uma hipertensão, e compõem, certamente, o elenco de construção coletiva. Houve consulta pública por ações para a prevenção da obesidade que, por si só, meio da internet e recolhimento de contribuições aumenta o risco dessas e de outras doenças graves. de diversos participantes. Contamos, ainda, com a Por outro lado, a publicação também colaboração da rede de alimentação e nutrição, aborda questões relacionadas às deficiências constituída pelas coordenações estaduais, centros nutricionais e às doenças infecciosas, prioridades de colaboradores e de referência na área, que foi saúde pública no Brasil. Assim, contribui para a estimulada diretamente a analisar a proposta. prevenção das deficiências nutricionais, incluindo as As contribuições dos usuários desta de micronutrientes (fome oculta), e para aumentar publicação, contudo, serão importantes e bem- a resistência a muitas doenças infecciosas em vindas para o aperfeiçoamento das edições crianças e adultos. subseqüentes. Acreditamos que as diretrizes aqui Consideramos, portanto, que este guia estabelecidas serão úteis para os profissionais da contém mensagens centrais para a promoção da saúde, para os trabalhadores nas comunidades, saúde e, em um único conjunto, para prevenção das para as famílias do Brasil e para a nação como um doenças crônicas não-transmissíveis, da má nutrição todo. em suas diferentes formas de manifestação e das O governo do Presidente Luiz Inácio Lula doenças infecciosas. da Silva, por meio do Programa Fome Zero e de Muitas das diretrizes deste guia rela- outros programas que buscam criar uma rede de cionam-se aos alimentos e às refeições proteção às camadas mais vulneráveis da tradicionalmente consumidos pelas famílias população, avança no sentido de prover brasileiras de todos os níveis socioeconômicos, alimentação e nutrição adequadas ao conjunto dos evidenciando-se que, ao contrário do que indica o brasileiros. senso comum, uma alimentação saudável não é Este guia, que apresenta diretrizes acerca necessariamente cara. dos hábitos alimentares saudáveis, está inserido nas A primeira parte do guia traz o referencial preocupações que têm inspirado as ações do teórico que fundamentou a sua elaboração e o situa governo, tanto na necessária política de segurança em relação aos propósitos da Política Nacional de alimentar e nutricional como na promoção da Alimentação e Nutrição (PNAN) e aos objetivos prevenção de agravos à saúde que advenham de preconizados pela Organização Mundial da Saúde uma alimentação insuficiente ou inadequada. (OMS). A segunda parte aborda as diretrizes Saraiva Felipe formuladas, agregando orientações para a sua Ministro da Saúde
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    1 Parte Referencial teórico
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    PARTE 1 -REFERENCIAL TEÓRICO 15 REFERENCIAL TEÓRICO questões relativas à alimentação e nutrição no Introdução Brasil. A promoção da alimentação saudável, embora tenha o setor saúde como um dos protagonistas, requer a integração de outros Deixe que a alimentação seja o seu remédio e o setores e atores sociais, chaves na consecução da remédio a sua alimentação (Hipócrates). O segurança alimentar e nutricional. destino das nações depende daquilo e de como as Neste guia serão abordadas as questões pessoas se alimentam (Brillat-Savarin, 1825). necessárias, em termos de base conceitual, sobre o que é uma alimentação saudável e como podemos Afirmações como estas que remontam a alcançá-la no cotidiano de nossas vidas. Uma centenas de anos já atestavam a relação vital entre a alimentação saudável não deve ser vista como uma alimentação e a saúde. receita pré-concebida e universal, pois deve Este guia, como parte da responsabilidade respeitar alguns atributos individuais e coletivos governamental em promover a saúde, é concebido específicos impossíveis de serem quantificados de para contribuir para a prevenção das doenças maneira prescritiva. Contudo identificam-se alguns causadas por deficiências nutricionais, para reforçar princípios básicos que devem reger a relação entre a resistência orgânica a doenças infecciosas e para as práticas alimentares e a promoção da saúde e a reduzir a incidência de doenças crônicas não- prevenção de doenças. transmissíveis (DCNT), por meio da alimentação Uma vez que a alimentação se dá em saudável. A abordagem conjunta desses três grupos função do consumo de alimentos e não de de doenças, tendo como instrumento a alimentação nutrientes, uma alimentação saudável deve estar saudável, é uma das estratégias de saúde pública baseada em práticas alimentares que tenham brasileira com vistas à melhoria dos perfis significado social e cultural. Os alimentos têm gosto, nutricional e epidemiológico atuais. cor, forma, aroma e textura e todos esses Especificamente, as diretrizes fornecem a componentes precisam ser considerados na base para a promoção de sistemas alimentares abordagem nutricional. Os nutrientes são saudáveis e do consumo de alimentos saudáveis, importantes; contudo, os alimentos não podem ser com o objetivo de reduzir a ocorrência dessas resumidos a veículos deles, pois agregam 1 doenças na população brasileira maior de 2 anos significações culturais, comportamentais e afetivas (crianças, adolescentes, adultos e idosos). singulares que jamais podem ser desprezadas. O guia é destinado a todas as pessoas Portanto, o alimento como fonte de prazer e envolvidas com a saúde pública e para as famílias. identidade cultural e familiar também é uma Dá-se destaque aos profissionais de saúde da abordagem necessária para promoção da saúde. atenção básica, incluindo os vinculados à Estratégia Esta primeira edição das diretrizes oficiais de Saúde da Família, que receberão informações brasileiras é parte da estratégia de implementação sobre alimentação saudável a fim de subsidiar da Política Nacional de Alimentação e Nutrição, abordagens específicas no contexto familiar; bem integrante da Política Nacional de Saúde (BRASIL, como se explicitam as atribuições esperadas do 2003f) e se consolida como elemento concreto da setor produtivo de alimentos. Outro público-sujeito identidade brasileira para implementação das deste guia são os formuladores e implementadores recomendações preconizadas pela Organização de ações de governo em áreas correlacionadas; e, Mundial da Saúde, no âmbito da Estratégia Global finalmente, destacam-se as mensagens destinadas à de Promoção da Alimentação Saudável, Atividade família. Física e Saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, As mensagens principais das diretrizes, 2004). apresentadas em destaque, visam a enfatizar os principais aspectos a ser destacados na abordagem O Guia Alimentar e a Política Nacional do profissional de saúde junto aos usuários dos de Alimentação e Nutrição (PNAN) serviços de saúde, pela indústria alimentícia e pelos governos e ainda pelas famílias. São informações A Política Nacional de Alimentação e importantes que estimulam o olhar intersetorial das Nutrição (PNAN), homologada em 1999, integra a 1- As diretrízes alimentares específicas para crianças com até 2 anos de idades foram publicadas em documentos específicos (BRASIL,2002d, 2002e).
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    16 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Política Nacional de Saúde (BRASIL, 2003f). Tem Essas ações dão conseqüência prática ao direito como principal objetivo contribuir com o conjunto humano à alimentação e nutrição adequadas de políticas de governo voltadas à concretização do (DHAA), extrapolando, portanto, o setor Saúde e direito humano universal à alimentação e nutrição alcançando um caráter intersetorial. adequadas e à garantia da Segurança Alimentar e Por outro lado, a adoção da promoção da Nutricional da população. Todas as ações de alimen- SAN como tema central do atual governo brasileiro tação e nutrição, sob gestão e responsabilidade do reforçou a compreensão do papel do setor saúde no Ministério da Saúde, derivam do princípio de que o tocante à alimentação e nutrição, reconhecidas acesso à alimentação adequada, suficiente e segura, como elementos essenciais para a promoção, é um direito humano inalienável. Esse princípio, proteção e recuperação da saúde. norteador do desenvolvimento da própria PNAN e Os programas e ações em alimentação e suas implicações em termos de regulação, nutrição do Ministério da Saúde, dentre os quais planejamento e prática, é uma iniciativa pioneira do este guia é um exemplo, são desenvolvidos tanto Brasil no cenário internacional. para contribuir para a prevenção e controle das A PNAN tem como diretrizes a promoção doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT) como de práticas alimentares saudáveis e a prevenção e o das deficiências nutricionais e doenças infecciosas, controle dos distúrbios nutricionais e das doenças promovendo o consumo de uma alimentação associadas à alimentação e nutrição, o monito- saudável e a adoção de modos de vida saudáveis. A ramento da situação alimentar e nutricional, a estratégia que orienta essas ações deve combinar garantia da qualidade dos alimentos colocados para iniciativas de articulação intersetorial, regula- consumo no País, o desenvolvimento de pesquisas e mentação, informação, comunicação e capacitação recursos humanos, bem como o estímulo às ações de profissionais. intersetoriais que propiciem o acesso universal aos Em um país como o Brasil, onde as alimentos. Muito embora, ao longo da história das desigualdades regionais são expressivas, é políticas de alimentação e nutrição no Brasil, a área importante destacar que a promoção da de Saúde tenha chamado para si tais respon- alimentação saudável pressupõe a necessidade de sabilidades - mesmo porque é sobre esse setor que definição de estratégias de saúde pública capazes recaem as conseqüências da insegurança alimentar de dar conta de um modelo de atenção à saúde e de e nutricional -, assegurar o direito à alimentação cuidado nutricional, direcionados para a prevenção adequada a toda a população é uma respon- da desnutrição, incluindo a fome oculta e outras sabilidade a ser compartilhada por outros setores doenças relacionadas à fome e exclusão social, governamentais e pela sociedade como um todo. como também do sobrepeso, da obesidade e das Esse entendimento fica explícito ao se avaliar o demais DCNT resultantes da inadequação alimentar conceito de Segurança Alimentar e Nutricional ou outra forma de manifestação da fome. (SAN), atualmente adotado pelo Brasil: A promoção de práticas alimentares saudáveis, além de uma diretriz explícita da PNAN, SAN é a realização do direito de todos ao conforma uma ação transversal incorporada em acesso regular e permanente a alimentos de todas e quaisquer outras ações, programas e qualidade, em quantidade suficiente, sem projetos. A alimentação saudável tem início com o comprometer o acesso a outras necessidades incentivo ao aleitamento materno - exclusivo até o essenciais, tendo como base práticas alimentares sexto mês e complementado até, pelo menos, o promotoras de saúde, que respeitem a diversidade segundo ano de vida - e está inserida no contexto da cultural e que sejam social, econômica e adoção de modos de vida saudáveis, sendo, ambientalmente sustentáveis. (BRASIL, 2004a) portanto, componente importante da promoção da saúde e da qualidade de vida. Nessa abordagem, Assim, entende-se que a garantia da SAN tem enfoque prioritário o resgate de hábitos e requer a conjugação e priorização de esforços pelo práticas alimentares regionais relacionadas ao Estado, conciliando ações públicas de diferentes consumo de alimentos locais de elevado valor setores e esferas do governo e da sociedade civil. nutritivo, bem como de padrões alimentares mais
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    PARTE 1 -REFERENCIAL TEÓRICO 17 variados, desde os primeiros anos de vida até a Tecnologia/SCTIE/MS e com a rede de Centros idade adulta e a velhice. Colaboradores e Centros de Referência em As diretrizes da PNAN vêm sendo imple- Alimentação e Nutrição; mentadas no âmbito do setor saúde, porém, - Ações de apoio à institucionalização da área e das extrapolando-o por meio de um conjunto de ações ações de alimentação e nutrição nos estados e em parceria com outros setores governamentais e municípios por meio da parceria técnica e financeira não-governamentais. São alguns exemplos: com Coordenações Estaduais de Alimentação e - Educação continuada dos profissionais de saúde Nutrição/Secretarias Estaduais de Saúde. com ênfase naqueles envolvidos na atenção básica; Muitas outras ações são desenvolvidas em - Desenvolvimento de instrumentos e estratégias parcerias interinstitucionais, a exemplo da Agência para a socialização da informação e do Nacional de Vigilância Sanitária, Ministério do conhecimento sobre alimentação e nutrição ao Desenvolvimento Social e Combate à Fome, público em geral (informativos, página eletrônica: Programa de Alimentação do Trabalhador www.saude.gov.br/nutricao, tele-atendimento por (PAT)/Ministério do Trabalho, Programa Nacional meio do Disque Saúde : 0800 61 1997 - ligação de Alimentação Escolar (PNAE/FNDE/MEC), Conse- gratuita); lho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - Inserção dos componentes de alimentação e nutri- (CONSEA), Comissões Intersetoriais de Alimentação ção na atenção à saúde de grupos populacionais e Nutrição (CIAN) e da Saúde Indígena (CISI) do específicos, como população do campo, indígenas e Conselho Nacional de Saúde, Pastoral da Criança, quilombolas; Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/ - Programas de prevenção e controle de carências Brasil), dentre outras. nutricionais específicas: Programa Nacional de Na abordagem da prevenção integrada de Controle e Prevenção das Deficiências de Vitamina doenças fazem-se necessários o fortalecimento e a A; Programa Nacional de Controle e Prevenção de articulação de ações que visem à promoção de Anemia Ferropriva; Programa Nacional de Controle modos de vida mais saudáveis. Isso requer um e Prevenção dos Distúrbios por Deficiência de Iodo; esforço por parte do Ministério da Saúde, não - Ações e projetos de abordagem da desnutrição somente quanto aos seus objetivos setoriais infantil no âmbito da rede de serviços do Sistema estratégicos para o enfrentamento da situação, mas Único de Saúde: protocolo de atendimento à também para a identificação de parcerias que criança com desnutrição grave (em âmbitos possam efetivar ações com o mesmo objetivo, nos hospitalar, ambulatorial e comunitário/ familiar); diferentes setores governamentais, da sociedade - Saúde do Escolar, em parceria com o civil organizada, do setor produtivo e nas três Departamento de Gestão em Saúde, da Secretaria esferas de governo. de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde, do Assim, o Guia Alimentar para a População Ministério da Saúde e com o Ministério da Brasileira é mais um dos instrumentos construídos Educação. A proposta é incentivar o espaço escolar no âmbito das diretrizes da Política Nacional de como ambiente para a educação nutricional e Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, promoção da alimentação saudável de crianças e com vistas à consolidação de seus propósitos e jovens, contribuindo para a formação de hábitos fundamentos. alimentares saudáveis, bem como para a inserção da alimentação e nutrição no conteúdo programático, Estratégia Global para a Promoção da nos diferentes níveis de ensino; Alimentação Saudável, Atividade Física e - Vigilância Alimentar e Nutricional, por meio da Saúde coleta sistemática de informações antropométricas A proposta de Estratégia Global para a da população atendida no âmbito do Sistema Único Promoção da Alimentação Saudável, Atividade de Saúde. A proposta permite acompanhar os Física e Saúde, da Organização Mundial da Saúde, usuários do SUS em qualquer fase do curso da vida; sugere a formulação e implementação de linhas de - Promoção e financiamento de estudos e pesquisas, ação efetivas para reduzir substancialmente as em parceria com o Departamento de Ciência e mortes e doenças em todo o mundo. Seus quatro
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    18 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA objetivos principais são: (1) reduzir os fatores de diabetes e melhorar o estado funcional nas risco para DCNT por meio da ação em saúde pública diferentes fases do curso da vida e especialmente na e promoção da saúde e medidas preventivas; (2) fase adulta e idosa. aumentar a atenção e o conhecimento sobre Dentre outros aspectos, destacar a alimentação e atividade física; (3) encorajar o relevância dessa proposição dentro do setor saúde desenvolvimento, o fortalecimento e a imple- pode alavancar e alertar para a importância e mentação de políticas e planos de ação em nível efetividade que as ações de promoção da global, regional, nacional e comunitário que sejam alimentação saudável podem representar na sustentáveis, incluindo a sociedade civil, o setor redução de gastos em saúde com ações curativas de privado e a mídia; (4) monitorar dados científicos e tratamento e recuperação do grupo de doenças influências-chave na alimentação e atividade física crônicas não-transmissíveis. Investimentos em e fortalecer os recursos humanos necessários para saúde focalizados em ações de promoção e qualificar e manter a saúde nesse domínio prevenção podem ser muito eficazes, eficientes e (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2004). efetivos. Para a concretização da Estratégia Global, A Estratégia Global incentiva que os a OMS recomenda a elaboração de planos e estados-membros da OMS apliquem-na de acordo políticas nacionais e o apoio de legislações efetivas, com suas realidades e de forma integrada às suas infra-estrutura administrativa e fundo orçamen- políticas e aos programas para prevenção de DCNT e tário e financeiro adequado e investimentos em de promoção da saúde; portanto, a proposta é vigilância, pesquisa e avaliação. sugestiva e não mandatária, flexível o suficiente Sugere, ainda, a construção de propostas para ser adequada às diferentes realidades dos locais e a provisão de informação adequada aos países. consumidores, por meio de iniciativas vinculadas à É importante enfatizar que a proposta da educação, à publicidade, à rotulagem, a legislações Estratégia Global pressupõe que, para modificar os de saúde, e enfatiza a necessidade de garantia de padrões de alimentação e de atividade física da articulação intersetorial e políticas nacionais de população, são necessárias estratégias sólidas e saúde, educação, agricultura e alimentação que eficazes acompanhadas de um processo de incorporem, em seus objetivos, a nutrição, a permanente monitoramento e avaliação de segurança da qualidade dos alimentos e a impacto das ações planejadas. Para assegurar segurança alimentar sustentável, a promoção da progressos sustentáveis, é imprescindível conjugar alimentação saudável e da atividade física, além de esforços, recursos e atribuições de todos os atores políticas de preços e programas alimentares. envolvidos no processo, tais como as diferentes As recomendações específicas sobre dieta, áreas e esferas de governo, organismos multi- constantes do documento final da estratégia, são: laterais, sociedades científicas, grupos de defesa do - Manter o equilíbrio energético e o peso saudável; consumidor, movimentos populares, pesquisadores - Limitar a ingestão energética procedente de e o setor privado. gorduras; substituir as gorduras saturadas por Assim sendo, a PNAN e a Estratégia Global insaturadas e eliminar as gorduras trans (hidro- compartilham do mesmo propósito central: genadas); fomentar a responsabilidade associada entre - Aumentar o consumo de frutas, legumes e sociedade, setor produtivo e público para efetuar as verduras, cereais integrais e leguminosas (feijões); mudanças necessárias no âmbito socioambiental, - Limitar a ingestão de açúcar livre; que favoreçam as escolhas saudáveis em níveis indi- - Limitar a ingestão de sal (sódio) de toda vidual e coletivo. procedência e consumir sal iodado. Com respeito à atividade física, a Estratégia O Panorama Epidemiológico no Brasil: Global recomenda pelo menos 30 minutos de o Peso Multiplicado da Doença atividade física, regular ou intensa ou moderada, na As deficiências nutricionais e as infecções maioria dos dias da semana, senão em todos, a fim ainda são desafios fundamentais da saúde pública de prevenir as enfermidades cardiovasculares e
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    PARTE 1 -REFERENCIAL TEÓRICO 19 no Brasil. Ao mesmo tempo, o perfil epidemiológico prevenção de infecções graves na infância, adquiriu uma maior complexidade, tendo os incluindo infecções respiratórias e doenças padrões de doenças mudado radicalmente. As diarréicas, continua a ser realçado em inúmeros doenças crônicas não-transmissíveis vêm assumindo relatórios (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1986; importante magnitude, estando associadas às INSTITUTE OF MEDICINE, 1992; ORGANIZAÇÃO causas mais comuns de morte registradas PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 1997). Contudo, as atualmente. recomendações dietéticas constantes dos documentos elaborados para orientar a prevenção Deficiências nutricionais das deficiências nutricionais ou doenças crônicas não-transmissíveis fazem pouca ou nenhuma No Brasil, a desnutrição na infância, que se menção às interações entre nutrição e infecção. expressa no baixo peso, no atraso no crescimento e Uma vez que também a vulnerabilidade a muitas desenvolvimento e na maior vulnerabilidade às doenças infecciosas é agravada pela deficiência infecções e, como mostram alguns estudos recentes, nutricional durante a vida (SCRIMSHAW et al., 1968; no maior risco para ocorrência de futuras doenças TOMKINS; WATSON, 1999), torna-se importante crônicas não-transmissíveis, continua sendo que as recomendações dietéticas sejam divulgadas e importante problema de saúde pública, entendidas como instrumento que também principalmente nas regiões Norte e Nordeste e em bolsões de pobreza em todas as demais regiões do reforçam a resistência do organismo contra as País (PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, infecções, importante causa de morte e morbidade 1998c); portanto, as recomendações nutricionais em várias regiões do mundo. continuam a ser importantes instrumentos para as O número absoluto e relativo de mortes ações com vistas a combater essa face da por doenças infecciosas, por exemplo, vem insegurança alimentar e nutricional no Brasil. declinando no Brasil. Mas as doenças diarréicas e as O País não dispõe de informações recentes, doenças respiratórias agudas - cuja melhor proteção de representatividade nacional, sobre carências de consiste no aleitamento materno exclusivo durante micronutrientes; contudo, estudos disponíveis de os primeiros seis meses da vida da criança abrangência local, realizados por diferentes (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, instituições em várias regiões geográficas, 1997; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001c), permitem inferir que a carência de vitamina A seguida por alimentação complementar oportuna e (hipovitaminose A) e a anemia por carência de ferro apropriada - permanecem como causas importantes são as principais deficiências nutricionais que de morte entre crianças no Brasil, principalmente acometem a população brasileira. Os distúrbios por nas regiões Norte e Nordeste e bolsões de pobreza deficiência de iodo (DDI) parecem ser ainda um nas demais regiões. problema em regiões isoladas, provavelmente em função do consumo de sal destinado à alimentação Doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT) animal pelas populações rurais, muito embora As DCNT variam quanto à gravidade: tenha havido sucesso da intervenção por meio da algumas são debilitantes, outras incapacitantes e iodação do sal para consumo humano. algumas letais. Afetam muitos sistemas do corpo Recentemente, a carência de ácido fólico tem sido humano e incluem desde cárie dentária, obesidade, evidenciada, o que fundamentou a decisão diabetes, hipertensão arterial, acidentes cerebro- governamental da fortificação universal das vasculares, osteoporose e câncer de muitos órgãos, farinhas de trigo e milho produzidas no País com bem como doenças coronarianas. ferro e ácido fólico. Mais detalhes sobre este tema Relatórios internacionais recentes mos- encontram-se disponíveis na Parte 3 deste guia. tram que é possível, viável e necessária uma abordagem dietética comum direcionada à Doenças infecciosas prevenção das DCNT mais importantes (NATIONAL As interações entre nutrição e infecção RESEARCH COUNCIL, 1989a; WORLD HEALTH estão bem documentadas (SCRIMSHAW et al., 1968; ORGANIZATION, 1990b, 2003a; WORLD CANCER TOMKINS; WATSON, 1999) e o papel da nutrição na RESEARCH FUND, 1997; PAN AMERICAN HEALTH
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    20 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA ORGANIZATION, 1998b; UNITED NATIONS constituem a principal causa da morbidade. A ADMINISTRATIVE COORDINATING COMMITTEE, vulnerabilidade pode levar a doenças quando as 2000; UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE condições ambientais são favoráveis ao seu COORDINATING COMMITTEE; INTERNATIONAL aparecimento. As causas subjacentes fundamentais FOOD POLICY RESEARCH INSTITUTE, 2000; de muitas doenças são: a pobreza, a migração, a EURODIET, 2001). O Brasil, ao lado da maioria dos ausência de saneamento, a falta de informação, a países da América Latina, da África e da Ásia, depara guerra e os conflitos sociais (DUBOS, 1959). Esses com as novas epidemias de obesidade, diabetes, problemas são resultados de processos a longo osteoporose, doenças cardíacas e câncer do pulmão, prazo, mas demandam ações imediatas para do cólon e do reto, da mama, da próstata e outros. garantia de melhoria. Atualmente, há consenso Esse peso multiplicado das doenças, sujeito a se sobre as principais causas das DCNT. Também é tornar ainda pior à medida que a população consenso que muitas dessas doenças têm algumas brasileira aumenta e envelhece, não pode ser causas comuns, dentre as quais, destacam-se o abordado apenas com tratamentos médicos e hábito de fumar, a inadequação alimentar e a falta cirúrgicos, apesar de serem de importância vital de atividade física. Os relatórios internacionais (SEN, 1999). Mesmo em países de maior renda, o sintetizam o estágio do conhecimento atual, que custo do tratamento das doenças crônicas não- evidencia o efeito protetor da composição da dieta transmissíveis constitui um enorme encargo social e sobre a maioria das doenças crônicas não econômico. transmissíveis e na promoção da saúde. Essas Os modelos de cuidados de saúde evidências científicas fundamentaram também a desenvolvidos principalmente pelos (e para os) formulação das diretrizes elaboradas neste guia países de renda mais elevada referem-se quase que (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989a; WORLD exclusivamente a intervenções profissionais, tais como: triagem em massa, tratamentos médicos e HEALTH ORGANIZATION, 1990c, 2003b; WORLD cirúrgicos disponíveis e cuidados paliativos, CANCER RESEARCH FUND, 1997; PAN AMERICAN associados à recomendação de mudanças HEALTH ORGANIZATION, 1998a; UNITED NATIONS comportamentais e nos modos de vida adotados ADMINISTRATIVE COORDINATING COMMITTEE, pelos indivíduos (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000). 2000d). As condições ambientais, que são fatores No Brasil, quer pelas suas dimensões de risco para muitas das DCNT, podem ser alteradas continentais, quer pela ampla diversidade social, mais rapidamente por meio de uma abordagem econômica e cultural, a abordagem de tal prioritária para ação, incisiva e conjugada, tanto complexidade epidemiológica deve estar pelos gestores públicos, profissionais da saúde, fundamentada na promoção da saúde e na indústria, organizações sociais civis e mídia quanto constituição de ambientes e contextos promotores pelas famílias e pela própria comunidade. de práticas saudáveis que possibilitem e garantam a A promoção da saúde e a prevenção das todo e qualquer cidadão a possibilidade e as doenças são e permanecerão sendo centrais para os informações necessárias para a adoção de modos de planos e programas de políticas de saúde pública do vida saudáveis. Brasil. Isso significa não somente a oferta de cuidados básicos de saúde na comunidade, parte da O Aspecto Ambiental Mais Geral Estratégia Saúde da Família, mas também o que é algumas vezes denominado prevenção primor- A maioria das doenças é causada pela dial - a proteção e a criação de fatores ambientais interação de fatores individuais e ambientais e, por que previnam doenças, a transformação daqueles essa razão, pode ser evitada. Os indivíduos nascem com a carga genética que os predispõe ou os fatores que aumentam o risco de doenças e a protege contra determinadas doenças, mas promoção da saúde em todas as esferas de governo comumente os fatores genéticos, por si só, não e de ação das políticas públicas delineadas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1990b).
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    PARTE 1 -REFERENCIAL TEÓRICO 21 Modos de Vida Saudáveis vida saudáveis, identificam-se duas dimensões: Este guia constitui-se importante instru- aquela que se propõe a estimular e incentivar mento para promoção de modos de vida saudáveis. práticas saudáveis, como o aleitamento materno, a A concepção de promoção da saúde, como alimentação saudável e a atividade física regular, e uma perspectiva capaz de orientar as diferentes outra que objetiva a inibição de hábitos e práticas práticas no campo da saúde, vem sendo prejudiciais à saúde, como o consumo de tabaco e sistematizada e disseminada a partir da realização de álcool. da Primeira Conferência Mundial sobre Promoção da Saúde, ocorrida em Ottawa, no Canadá, em Aleitamento materno: 1986. Segundo a Carta de Ottawa: um cuidado para toda vida A amamentação é vital para a saúde da "Promoção da saúde é o nome dado ao mãe e da criança durante toda a vida. A processo de capacitação da comunidade para atuar recomendação da Organização Mundial da Saúde e na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, do Ministério da Saúde é que as crianças sejam incluindo uma maior participação no controle desse amamentadas exclusivamente com leite materno processo. Para atingir um estado completo de bem- até os 6 meses de idade e, após essa idade, deverá estar físico e mental e social, os indivíduos e grupos ser dada alimentação complementar apropriada, devem saber identificar aspirações, satisfazer continuando, entretanto, a amamentação até pelo necessidades e modificar favoravelmente o meio menos a idade de 2 anos (BRASIL, 2002e; WORLD ambiente. A saúde deve ser vista como um recurso HEALTH ORGANIZATION, 2001a, 2001b). A exceção para a vida e não como objetivo de viver." (BRASIL, é para as mães portadoras de HIV/aids e outras 2002c). doenças transmitidas verticalmente, que devem ser orientadas para as adaptações necessárias para a Nessa concepção, a saúde é tida como um correta alimentação de seus filhos2. conceito abrangente e positivo que se apóia nos O enfoque da alimentação no curso da vida recursos sociais, pessoais e não somente na é essencial para compreender como intervenções capacidade física ou nas condições biológicas dos nutricionais podem contribuir para a prevenção de sujeitos. O modo de viver de cada um, portanto, se doenças não-transmissíveis. O aleitamento materno apóia na cultura, nas crenças e nos valores que são é a primeira prática alimentar a ser estimulada para compartilhados coletivamente. promoção da saúde, formação de hábitos Evidências científicas mais recentes mos- alimentares saudáveis e prevenção de muitas tram que a saúde pode estar muito mais relacionada doenças. ao modo de viver das pessoas do que à idéia, Esse enfoque, desenvolvido nas últimas anteriormente hegemônica, da sua determinação duas décadas a partir de estudos de coortes em genética e biológica. O sedentarismo e a diversos países, inclusive no Brasil, sugere que alimentação não-saudável, o consumo de álcool, exposições nutricionais, ambientais e padrões de tabaco e outras drogas, o ritmo da vida cotidiana, a crescimento durante a vida intra-uterina e nos competitividade, o isolamento do homem nas primeiros anos de vida podem ter efeitos cidades são condicionantes diretamente relacio- importantes sobre as condições de saúde do adulto nados à produção das chamadas doenças modernas. (BARKER et al., 2002; MONTEIRO et al.,1995a; Por isso, a resolução ou redução de riscos associados LUCAS et al., 1999). As evidências indicam que tanto aos problemas alimentares e nutricionais ampara-se o retardo de crescimento intrauterino como na promoção de modos de vida saudáveis e na também o ganho de peso excessivo nos primeiros identificação de ações e estratégias que apóiem as anos de vida estão associados com obesidade, pessoas a ser capazes de cuidar de si, de sua família e hipertensão, síndrome metabólica, resistência de sua comunidade de forma consciente e insulínica e morbimortalidade cardiovascular, participativa. dentre outros desfechos desfavoráveis (ONG et al., Na abordagem da promoção de modos de 2000; STETTLER et al., 2002, 2003; HORTA et al., 2- Para maiores informações, consulte o Guia Prático de Preparo de Alimentos para Crianças Menores de 12 meses que não Podem Ser Amamentadas (BRASIL,2004d)
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    22 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA 2003; VANHALA et al., 1999; SINGHAL et al., 2003; Ministério da Saúde, o tempo mediano de AME, FORSEN et al., 1999; ERIKSSON et al., 1999). considerando-se todas as localidades estudadas Assim, a nutrição adequada de gestantes e (áreas urbana de 25 capitais e do Distrito Federal), crianças deve ser entendida e enfatizada como foi de 23,4 dias (intervalo de variação de 22,1-24,7). elemento estratégico de ação com vistas à Considerando apenas as crianças de até 4 meses, a promoção da saúde também na vida adulta. prevalência de AME foi de 35,6 dias (34,9-36,4). No Pesquisas em diversos países, inclusive no período decorrido entre 1996 (Bemfam) e 1999 Brasil, confirmam que o aleitamento materno (PAMCDF), houve um aumento importante nessa exclusivo é o modo ideal de alimentação do lactente prática: a prevalência passou de 3,6% em 1996 para até os 6 meses de vida. A continuidade do 35,6% em 1999, representando aumento de quase aleitamento materno até os 2 anos ou mais é dez vezes no período.(BRASIL, 2001b) igualmente importante, pois objetiva ampliar a disponibilidade de energia e de micronutrientes da Alimentação saudável alimentação, particularmente do ferro (WORLD algumas considerações HEALTH ORGANIZATION, 2001a, 2000a). Aquilo que se come e bebe não é somente Dentre outras vantagens, o aleitamento uma questão de escolha individual. A pobreza, a materno confere importante proteção contra a exclusão social e a qualidade da informação morbimortalidade por doenças infecciosas nos disponível frustram ou, pelo menos, restringem a primeiros anos de vida, sendo reconhecido como escolha de uma alimentação mais adequada e potencial fator preventivo importante na redução saudável. E o que se come e se bebe é ainda, em da mortalidade infantil no mundo (WORLD HEALTH grande parte, uma questão familiar e social. Em ORGANIZATION, 2001a, 2000a). Outra questão geral, contrariamente ao que se possa imaginar, as importante diz respeito aos efeitos a longo prazo escolhas alimentares são determinadas não tanto do aleitamento materno. Estudos recentes mostram pela preferência e pelos hábitos, mas muito mais que crianças amamentadas tendem a apresentar pelo sistema de produção e de abastecimento de menor prevalência de obesidade na infância, com alimentos. possíveis repercussões na adolescência (JONES et al., O termo sistema alimentar refere-se ao 2003; OWEN et al., 2005). conjunto de processos que incluem agricultura, O Brasil vem, desde a década de 80, pecuária, produção, processamento, distribuição, desenvolvendo estratégias para apoiar a promoção importação e exportação, publicidade, abas- e proteção do aleitamento materno por meio de tecimento, comercialização, preparação e consumo iniciativas de capacitação de recursos humanos, de alimentos e bebidas (SOBAL et al., 1998). Os apoio aos Hospitais Amigos da Criança, produção e sistemas alimentares são profundamente influen- vigilância das normas nacionais de comercialização ciados pelas condições naturais do clima e solo, pela de alimentos infantis, campanhas nos meios de história, pela cultura e pelas políticas e práticas comunicação e apoio à criação de bancos de leite econômicas e comerciais. Esses são fatores humano, dentre outras. Os resultados desses ambientais fundamentais que afetam a saúde de esforços podem ser observados em dados de todos. Se esses sistemas produzem alimentos que pesquisas nacionais realizadas entre 1975 e 1999. A são inadequados ou inseguros e que aumentam os duração mediana do aleitamento materno vem riscos de doenças, eles precisam ser mudados. É aqui aumentando: em 1975, era de 2,5 meses (Endef); de que se manifesta, com maior propriedade, o papel 5,5 meses em 1989 (PNSN); de 7,0 meses em 1996 do Estado no que se refere à proteção da saúde da (PNDS); e de 9,9 meses em 1999 (PAMCDF), população, que deve ser garantida por meio de suas representando um incremento de quase 300% funções regulatórias e mediadoras das políticas nesse período; no entanto muito ainda precisa ser públicas setoriais. O Estado, por intermédio de suas feito em relação ao aleitamento materno exclusivo políticas públicas, tem a responsabilidade de (AME), muito embora os resultados mostrem fomentar mudanças socioambientais, em nível expressões relevantes de aumento na sua coletivo, para favorecer as escolhas saudáveis em prevalência. Na pesquisa realizada em 1999, pelo nível individual ou familiar. A responsabilidade
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    PARTE 1 -REFERENCIAL TEÓRICO 23 compartilhada entre sociedade, setor produtivo nutricional considerado adequado. Além disso, privado e setor público é o caminho para a deve ser uma oportunidade de aprender e exercitar construção de modos de vida que tenham como a reeducação alimentar, atendendo aos quesitos da objetivo central a promoção da saúde e a prevenção adequação em quantidade e qualidade, prazer e das doenças. Assim, é pressuposto da promoção da saciedade. alimentação saudável ampliar e fomentar a A formação dos hábitos alimentares se autonomia decisória dos indivíduos e grupos, por processa de modo gradual, principalmente durante meio do acesso à informação para a escolha e a primeira infância; é necessário que as mudanças adoção de práticas alimentares (e de vida) de hábitos inadequados sejam alcançadas no tempo saudáveis. adequado, sob orientação correta. Não se deve Uma alternativa de ação para a alimen- esquecer que, nesse processo, também estão tação saudável deve favorecer, por exemplo, o envolvidos valores culturais, sociais, afetivos/ deslocamento do consumo de alimentos pouco emocionais e comportamentais, que precisam ser saudáveis para alimentos mais saudáveis, cuidadosamente integrados às propostas de respeitando a identidade cultural-alimentar das mudanças. populações ou comunidades. As proibições ou De acordo com os princípios de uma limitações impostas devem ser evitadas, a não ser alimentação saudável, todos os grupos de alimentos que façam parte de orientações individualizadas e devem compor a dieta diária. A alimentação particularizadas do aconselhamento nutricional de saudável deve fornecer água, carboidratos, pessoas portadoras de doenças ou distúrbios proteínas, lipídios, vitaminas, fibras e minerais, os nutricionais específicos, devidamente funda- quais são insubstituíveis e indispensáveis ao bom mentadas e esclarecidas. Por outro lado, funcionamento do organismo. A diversidade supervalorizar ou mistificar determinados alimen- dietética que fundamenta o conceito de tos em função de suas características nutricionais ou alimentação saudável pressupõe que nenhum funcionais também não deve constituir a prática da alimento específico ou grupo deles isoladamente , promoção da alimentação saudável. Alimentos é suficiente para fornecer todos os nutrientes nutricionalmente ricos devem ser valorizados e necessários a uma boa nutrição e conseqüente entrarão naturalmente na dieta adotada, sem que manutenção da saúde. se precise mistificar uma ou mais de suas A ciência comprova aquilo que ao longo do características, tendência esta muito explorada pela tempo a sabedoria popular e alguns estudiosos, há propaganda e publicidade de alimentos funcionais séculos, apregoavam: a alimentação saudável é a e complementos nutricionais. base para a saúde. A natureza e a qualidade daquilo Atualmente, em função das exigências do que se come e se bebe é de importância funda- padrão de estética em moda , muitas vezes mental para a saúde e para as possibilidades de se inapropriado para a grande maioria das pessoas, desfrutar todas as fases da vida de forma produtiva são muitas as opções de dietas milagrosas que e ativa, longa e saudável. prometem a perda de peso, de forma acentuada e Salienta-se ainda que a prática de ativi- rápida. Não faltam exemplos, como a dieta da lua, dade física é igualmente estratégica para redução dieta das frutas, dietas da sopa, dieta das proteínas, de peso. Não é possível dissociar o consumo dietas dos shakes, dietas com restrição a carboi- alimentar do gasto energético. drato, entre tantas outras. São dietas que A perda de peso acelerada e instantânea geralmente restringem o tipo de alimento a ser impede a perda de gordura corporal. O que se consumido (tipo e qualidade) e a quantidade diária perde, nesses casos, é água corporal que pesa na de ingestão. Em sua grande maioria causam efeitos balança, mas não se emagrece de fato. Com a negativos na saúde e não atendem aos requisitos orientação de um nutricionista, os resultados de exigidos de uma alimentação saudável para perda e manutenção do peso saudável, estes os manutenção da saúde. aspectos mais difíceis e comprometidos pelas Mesmo as dietas para perda ou manu- dietas da moda , podem ser excelentes e tenção do peso corporal, que exigem redução alcançados sem comprometimento da saúde e do calórica, devem atender ao padrão alimentar e estado nutricional.
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    24 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Atividade física: da saúde dos indivíduos, pode resultar em aumento elemento fundamental para manutenção de anos vividos com doenças crônicas não- transmissíveis e incapacidades, comprometendo a da saúde e do peso saudável qualidade de vida das pessoas. Estudos epidemio- O princípio fundamental para manter um lógicos prospectivos demonstram que tanto um balanço energético é o equilíbrio entre ingestão e estilo de vida ativo como um condicionamento gasto energéticos. Se a ingestão excede o gasto, aeróbico moderado estão associados de forma ocorre um desequilíbrio positivo, com deposição de independente à diminuição da incidência de DCNT e gorduras corporais e conseqüente ganho de peso; da mortalidade geral e por doenças cardio- quando a ingestão é inferior ao gasto, ocorre vasculares. depleção dos depósitos energéticos e tendência à Embora não seja uma recomendação perda de peso. Em circunstâncias normais, o balanço específica de alimentação e nutrição, este guia energético oscila ao longo do dia e de um dia para o insere uma diretriz para atividade física (Diretriz outro sem, contudo, levar a uma mudança Especial 1), entendendo-a como elemento duradoura do balanço energético ou do peso corpo- potencializador dos resultados esperados pela ral. Isso porque mecanismos fisiológicos múltiplos adoção de práticas alimentares adequadas e, determinam mudanças coordenadas entre ingestão portanto, modos de vida saudáveis. e gasto energético, regulando o peso corporal em torno de um ponto de ajuste que mantém o peso estável. O consumo de bebidas alcoólicas A Estratégia Global da OMS recomenda O consumo de álcool não é recomendado que os indivíduos adotem níveis adequados de por motivos nutricionais e sociais. O álcool, droga atividade física durante toda a vida (ORGANIZAÇÃO cuja ação é responsável pela depressão do sistema MUNDIAL DE SAÚDE, 2004). A atividade física pode nervoso central, causa alterações comportamentais ser definida como qualquer movimento realizado e psicológicas, além de importantes efeitos pelo sistema esquelético com gasto de energia. Esse metabólicos. O seu consumo em excesso pode conceito não se confunde com o de exercício físico, provocar problemas como violência, suicídio, que é uma categoria da atividade física definida acidentes de trânsito, causar dependência química e como um conjunto de movimentos físicos outros problemas de saúde como desnutrição, repetitivos planejados e estruturados para doenças hepáticas, gastrointestinais, cardio- melhorar o desempenho físico. Ambos são formas vasculares, respiratórias, neurológicas e do sistema importantes de manter o balanço energético; reprodutivo. Interfere também no desen- contudo, o primeiro implica adotar hábitos mais volvimento fetal e ainda aumenta o risco de ativos em pequenas, mas importantes, modificações desenvolvimento de vários tipos de câncer (INTER- no cotidiano, optando-se pela realização de tarefas NATIONAL AGENCY FOR RESEARCH ON CANCER, no âmbito doméstico e no local de trabalho e por 1988; PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, atividades de lazer e sociais mais ativas. O segundo 2005). geralmente requer locais próprios para sua Os efeitos prejudiciais do álcool são realização, sob a supervisão e orientação de um independentes do tipo de bebida e são provocados profissional capacitado em academias de ginástica, pelo volume de álcool (etanol) consumido. clubes e outros locais. Além das conseqüências acima relatadas, o A atividade física adotada ao longo do consumo de álcool, a longo prazo, dependendo do curso da vida contribui para a prevenção e para a número de doses, freqüência e circunstâncias, pode reversão de limitações funcionais. Isso é provocar um quadro de dependência conhecido particularmente importante ao considerar-se o como alcoolismo. Dessa forma, o consumo aumento da expectativa de vida e, conseqüen- inadequado do álcool, aliado a sua aceitação social, temente, o crescimento da população idosa no é um importante problema de saúde pública, Brasil. acarretando altos custos para a sociedade e A maior expectativa de vida da população, envolvendo questões médicas, psicológicas, se não acompanhada de investimento na promoção profissionais e familiares (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO, 2005).
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    PARTE 1 -REFERENCIAL TEÓRICO 25 As bebidas alcoólicas contêm pouco ou conseqüência da cirrose hepática (JAMES, 1993; nenhum nutriente. Incluem cervejas e vinhos, INTERNATIONAL AGENCY FOR RESERACH ON consideradas fermentadas, cujo volume de álcool CANCER, 1988; WORLD CANCER RESEARCH FUND, (etanol) varia de 4% a 7% e de 10% a 13% 1997). Esse risco aumenta se associado a outros respectivamente, e as bebidas alcoólicas destiladas hábitos não-saudáveis, como o tabagismo. como a aguardente (cachaça), vodka e uísque, que O álcool pode causar dependência e afeta contêm 30% a 50% de volume de álcool. Cada as funções mental, neurológica e emocional. A grama de etanol contém 7 quilocalorias (kcal) ingestão regular de bebidas alcoólicas induz ao (WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997). esquecimento e aumenta o risco de demência. O álcool exaure o corpo de vitaminas do Uma grande proporção de acidentes, complexo B e também de ácido ascórbico (vitamina ferimentos e mortes em casa, no trabalho e nas C), afetando dessa forma negativamente o estado estradas envolve pessoas afetadas pelo álcool. No nutricional das pessoas. Os indivíduos dependentes Brasil, o álcool está associado à maioria dos casos de de álcool, cuja alimentação é geralmente violência doméstica e ao desemprego crônico deficiente, podem sofrer de beribéri e escorbuto, (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1999a). Dados provocados respectivamente pela deficiência de de São Paulo indicam que cerca de 50% dos tiamina (vitamina B1) e ácido ascórbico, dentre homicídios e também cerca de 50% das mortes outras doenças carenciais (SIMONE, 1994). causadas por acidentes de carro estão relacionados Por outro lado, consumidores de grandes com o consumo de álcool (WORLD HEALTH quantidades de álcool normalmente têm alterações ORGANIZATION, 1999b). Esses valores são no fígado e perdem a capacidade de utilizar o álcool comparáveis com as estimativas da América do como fornecedor de energia; adicionalmente, Norte e na Europa, em que 30% dos homicídios, muitos se alimentam inadequadamente, o que 45% de mortes por incêndios e 40% de acidentes explica por que essas pessoas, cuja maior parte da nas estradas são relacionados com o álcool (WORLD ingestão de energia vem principalmente de bebidas HEALTH ORGANIZATION, 1995a, 1995b, 2000c). destiladas, são muitas vezes magras (JAMES, 1993; Outro estudo, em São Paulo, identificou as WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000d). brigas de bar ou o álcool como as principais O álcool tem sido associado a vários tipos razões para 12,6% dos homicídios (WORLD HEALTH de câncer, embora os mecanismos dessa ação não ORGANIZATION, 1999a). Outro estudo, em estejam completamente esclarecidos. Em 1988, a Salvador, Bahia, verificou que um em cada quatro Agência Internacional para Pesquisa em Câncer condutores de carros relatou ter sofrido acidente (Iarc) classificou o álcool como um carcinógeno para com carro, dos quais 38% admitiram que haviam câncer de boca, faringe, laringe, esôfago e câncer bebido antes do acidente (WORLD HEALTH primário de fígado. O índice de câncer entre os ORGANIZATION, 1999b). bebedores é preocupante, quer por ação tópica do Os números atuais de morte por homicídio próprio álcool sobre as mucosas, quer por conta dos no Brasil são cerca de 40.000 por ano e 30.000 são aditivos químicos de ação cancerígena que entram mortes provocadas por acidentes de carro, taxa alta no processo de fabricação das bebidas (WORLD em comparação com outros países. Essa é a taxa CANCER RESEARCH FUND, 1997; UNIVERSIDADE mais alta do mundo (MURRAY; LOPEZ, 1996). FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO, 2005). O consumo de álcool é medido por doses. A Adicionalmente, os estudos evidenciam que o risco quantidade de etanol contido em cada dose varia do câncer de mama também está associado ao entre os países: no Brasil, por exemplo, cada dose de consumo de bebidas alcoólicas (LONGNECKER, bebida alcoólica representa 14g de etanol, 1994; WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997). enquanto que na Austrália esse valor é de 10g. Para O consumo regular de álcool na quan- se calcular a quantidade de etanol consumida por tidade de três a quatro doses por dia ou mais um indivíduo, é necessário considerar outros aumenta o risco de hipertensão e acidente vascular aspectos, além do número de doses. O teor alcoólico cerebral, de câncer da boca, garganta, esôfago e das bebidas varia não somente entre os diferentes cólon e também o risco de câncer no fígado como tipos de bebidas, de acordo com seu processo de
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    26 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA fabricação, como também entre bebidas do mesmo que incentivam o consumo de álcool; a proibição de tipo. venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 O quadro abaixo exemplifica o cálculo da anos, prevista no Estatuto da Criança e do dose-equivalente de álcool para três tipos de Adolescente; a penalização de indivíduos que bebidas: conduzem veículo com níveis de etanol acima do Para os que fazem uso de bebidas alcoóli- limite estipulado em lei, bem como ações educativas cas, o consumo deve ser limitado a duas doses que esclareçam a população e que protejam os diárias para homens e uma dose para mulheres. A jovens do hábito de consumir bebidas alcoólicas são recomendação é diferente para homens e mulheres medidas importantes de proteção à saúde que vêm em razão da estrutura física. As mulheres são sendo desenvolvidas pelo Estado brasileiro (BRASIL, normalmente menores e mais leves que os homens, 1990). o que torna o organismo feminino mais vulnerável ao álcool. O consumo de tabaco As pesquisas indicam que entre 3% e 9% A maioria das orientações sobre alimentos, dos adultos nas grandes cidades brasileiras são nutrição e saúde aborda, concomitantemente, o dependentes do álcool. A dependência se uso do tabaco, uma vez que o consumo do cigarro caracteriza, para os homens, quando consomem 6 ou outros produtos derivados do tabaco é prejudi- ou mais doses e, para as mulheres, quando o cial à saúde e mata cerca de cinco milhões de consumo é de 4 ou mais doses por dia (WORLD pessoas por ano no mundo, 200 mil no Brasil (PAN HEALTH ORGANIZATION, 1999a). AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 2002). Recente pesquisa realizada pelo Instituto Dessa forma, não há mais razão para Nacional de Câncer (INCA) indicou que a considerar o consumo de cigarros, charutos e outros prevalência de consumo médio diário de álcool derivados do tabaco uma mera opção com- considerado de risco (superior a duas doses por dia portamental ou um estilo de vida. Hoje, o para os homens e superior a 1 dose por dia para as tabagismo é amplamente reconhecido como uma mulheres) entre a população pesquisada (15 anos doença crônica gerada pela dependência da ou mais residente em 15 capitais brasileiras e nicotina, estando por isso inserido na Classificação Distrito Federal) variou de 4,6% a 12,4%. Entre os Internacional de Doenças (CID-10) da Organização homens e as mulheres esta prevalência variou, Mundial da Saúde, que expõe continuamente os respectivamente, de 5,4% a 21,6% e de 1,7% a 8,1% usuários dos produtos de tabaco a cerca de 4.700 (BRASIL, 2004e). substâncias tóxicas, sendo 60 delas cancerígenas Por essas evidências, as políticas referentes para o ser humano (WORLD HEALTH ORGANIZA- ao combate ao consumo de álcool devem considerar TION, 1999c). os seus efeitos sociais e também nutricionais Essa exposição faz do tabagismo o mais (EDWARDS et al., 1994). importante fator de risco isolado de doenças graves O controle da propaganda e publicidade e letais. São atribuíveis ao consumo de tabaco: 45% Quadro 1 - CÁLCULO DA DOSE EQUIVALENTE DE ÁLCOOL DE UMA BEBIDA BEBIDA ml TA(%) VOLUME(ml) ÁLCOOL DOSE Vinho Tinto 150 12 18 14,4 1 Cerveja (lata) 350 5 17,5 14 1 Destilada 40 40 16 12,8 1 FONTE: INCA. Legenda: TA = teor alcoólico; volume = (volume em ml x TA)/100; Álcool = volume x 0,8 ou a densidade do álcool Dose = 14 g
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    PARTE 1 -REFERENCIAL TEÓRICO 27 das mortes por doença coronariana (infarto do ações para estimular os fumantes a deixar de fumar; miocárdio), 85% das mortes por doença pulmonar um terceiro grupo no qual se inserem medidas que obstrutiva crônica (enfisema), 25% das mortes por visam proteger a saúde dos não-fumantes da acidente vascular cerebral e 30% das mortes por exposição à fumaça do tabaco em ambientes câncer. É importante enfatizar que 90% dos casos fechados; e, por fim, medidas que regulam os de câncer de pulmão ocorrem em fumantes produtos de tabaco e sua comercialização (BRASIL, (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2005). 2003g). O tabagismo também é hoje considerado Em 15 anos, as ações desenvolvidas uma doença pediátrica, pois 90% dos fumantes reduziram a proporção de fumantes na população começam a fumar antes dos 19 anos e a média de brasileira, de 32% em 1989, para 19% em 2003. Esta idade da iniciação é 15 anos. A cada dia cerca de taxa é similar às encontradas atualmente nos 100.000 jovens começam a fumar no mundo e 80% Estados Unidos e Canadá, países líderes no controle deles vivem em países em desenvolvimento do tabagismo (BRASIL, 2003g). (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2005). A partir da década de 70, começaram a ser divulgados resultados de pesquisas que indicam que, além dos riscos para os fumantes, as crianças expostas à fumaça de tabaco ambiental apresentavam taxas de doenças respiratórias mais elevadas do que as que não se expunham (REPACE; ACTION ON SMOKING AND HEALTH, 2003). Estudos mais recentes mostram que não- fumantes cronicamente expostos à fumaça do tabaco têm 30% de risco de desenvolver câncer de pulmão e 24% de risco de desenvolver doenças cardiovasculares mais que os não-fumantes não expostos. Nos EUA, estima-se que a exposição à fumaça do tabaco é responsável por cerca de 3 mil mortes anuais devido ao câncer de pulmão entre não-fumantes (REPACE; ACTION ON SMOKING AND HEALTH, 2003). As mulheres e as crianças são os grupos de maior risco, em função da exposição passiva no ambiente doméstico. Além disso, os efeitos do tabagismo passivo também decorrem da exposição no ambiente de trabalho, onde a maioria dos trabalhadores não é protegida da exposição involuntária da fumaça do tabaco, pela ausência de regulamentações de segurança e de saúde nos ambientes de trabalho. Na atualidade a Organização Mundial da Saúde considera a exposição à fumaça do tabaco fator de risco ocupacional (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2005). O Programa Nacional de Controle do Tabagismo sistematiza quatro grandes grupos de estratégias: o primeiro voltado para a prevenção da iniciação do tabagismo, tendo como público-alvo crianças e adolescentes; o segundo, envolvendo
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    2 Parte Princípios e diretrizes do Guia e os atributos da alimentação saudável
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    DIRETRIZ- 6 -GORDURAS, AÇÚCARES E SAL e os atributos da alimentação saudável PARTE 2 Princípios e diretrizes do Guia 31 PRINCÍPIOS instrumento para ambas as abordagens é único e As diretrizes deste guia seguem um unificado e inclui a promoção da alimentação conjunto de princípios. Alguns deles são comuns aos saudável e a adoção de modos de vida saudáveis. vários relatórios de recomendações dietéticas Essa abordagem integrada é também (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998). Outros apoiada por provas convincentes de que as são específicos para a realidade brasileira. Assim, a deficiências nutricionais e as doenças crônicas não- abordagem baseada na família reflete a cultura transmissíveis estão biologicamente associadas e de brasileira e a atual preocupação com a relação entre que, especificamente, a desnutrição da criança no doenças, alimentação e modos de vida. útero materno aumenta a suscetibilidade a um Este guia foi elaborado em uma linguagem conjunto de DCNT na vida adulta (BARKER, 1998; simples. Os profissionais de saúde que trabalham na PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 2000; comunidade são encorajados a utilizá-lo como base UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE para a elaboração de folhetos, cartazes e outros COORDINATING COMMITTEE; INTERNATIONAL instrumentos de apoio adaptados às condições FOOD POLICY RESEARCH INSTITUTE, 2000); locais. portanto, a promoção de modos de vida saudáveis - em especial conjugando e articulando alimentação saudável e atividade física - deve ser enfatizada ao O princípio da abordagem integrada longo do curso da vida: da infância à velhice, Considerando o perfil epidemiológico permitindo uma vida longa, produtiva e saudável. nacional, caracterizado pelo peso multiplicado das doenças, as políticas e os programas brasileiros de alimentação e nutrição não devem se restringir à O princípio do referencial científico e a prevenção e ao controle das DCNT, uma vez que as cultura alimentar deficiências nutricionais e as doenças infecciosas As recomendações que buscam a permanecem como aspectos fundamentais da prevenção das doenças se baseiam em padrões saúde pública no Brasil. alimentares semelhantes àqueles utilizados Assim, as diretrizes deste guia terão tradicionalmente em muitas regiões do mundo que também o efeito de apoiar a prevenção da possuem uma cultura alimentar consolidada e onde desnutrição e de deficiências nutricionais e o as pessoas não convivem com situações de aumento da resistência a muitas doenças infecci- insegurança alimentar e nutricional. osas. Tal como indicado nos relatórios que refe- Recomendações de natureza integrada renciam este guia, essas dietas apresentam as têm sido formuladas e sancionadas pelos governos seguintes características: de diferentes nações, desde o início do século XX - São ricas em grãos, pães, massas, tubérculos, raízes (DRUMMOND e WILBRAHAM, 1981). Tornou-se e outros alimentos com alto teor de amido, evidente, nos últimos dez ou 15 anos, que uma preferencialmente na sua forma integral. abordagem nutricional abrangente, diretamente - São ricas e variadas em frutas, legumes e verduras e orientada para as deficiências nutricionais e DCNT, é em leguminosas (feijões) e outros alimentos que possível, necessária e viável (BENGOA et al., 1988, fornecem proteínas de origem vegetal; 1989; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1990c; - Incluem pequenas quantidades de carnes, WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997; UNITED laticínios e outros produtos de origem animal; NATIONS ADMINISTRATIVE COORDINATING - Em conseqüência, contêm fibras alimentares, COMMITTEE, 2000; UNITED NATIONS gorduras insaturadas, vitaminas, minerais e outros ADMINISTRATIVE COORDINATING COMMITTEE; componentes bioativos. Contêm também baixos INTERNATIONAL FOOD POLICY RESEARCH teores de gorduras, açúcares e sal. INSTITUTE, 2000; WORLD HEALTH ORGANIZATION, Esse consenso científico em relação aos 2003a). Não é mais apropriado delinear recomen- princípios de uma alimentação adequada, que ficou dações destinadas a prevenir um tipo ou grupo evidente nos anos 80 e foi consolidado nos anos 90, específico de doença relacionada à alimentação. O é uma informação vital para os governos e para
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    32 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA outros agentes de transformação, porque implica não devem ser realizadas. Salientando-se o que se uma reorientação de prioridades: incentivar o tem de positivo na alimentação brasileira, pode-se delineamento de políticas para criar ou proteger fomentar mudanças e auxiliar em escolhas mais sistemas alimentares baseados em uma grande saudáveis, tanto para o consumo alimentar quanto variedade de alimentos de origem vegetal. Em nível em relação ao estilo de vida. É importante preservar nacional, a recomendação para o consumo de a autonomia de escolha das pessoas em relação à maiores quantidades de frutas, legumes e verduras seleção de alimentos, desde que o direito à e menor quantidade de gorduras, açúcares e sal tem informação esteja garantido. O resgate das práticas implicações profundas nas políticas e práticas e dos hábitos regionais brasileiros, apostando em agrícolas e industriais. Por exemplo, o consenso de um movimento oposto à globalização das dietas que dietas baseadas em uma grande variedade de e descaracterização das culturas alimentares alimentos de origem vegetal contribuem na mundiais, além de promover saúde, pode contribuir proteção contra as doenças implica desenvolver ou para reforçar a soberania alimentar e auxiliar na identificar formas efetivas e atuais de apoio a preservação da identidade alimentar-cultural do práticas sustentáveis de produção de alimentos. Isso Brasil. porque, em muitas partes do mundo, incluindo o Brasil, a agricultura familiar, a produção e o O princípio da explicitação de quantidades processamento tradicionais de alimentos criaram As diretrizes específicas para profissionais culturas alimentares baseadas em grãos, raízes, de saúde e membros de famílias, sempre que leguminosas, frutas, legumes e verduras. possível, são quantificadas e expressas como limites de consumo ou por número de porções. Reco- O princípio do referencial positivo mendações qualitativas, tais como coma mais Sempre que possível, as diretrizes deste frutas, legumes e verduras ou modere o seu guia foram desenvolvidas a partir de um referencial consumo de açúcar , são úteis como orientações positivo. Elas enfatizam primeiramente as gerais, mas necessitam de recomendações vantagens dos alimentos e das refeições saudáveis, quantificadas adicionais para tornarem-se con- estimulando o consumo de determinados alimentos cretas e práticas, auxiliando os profissionais e as mais do que proibindo o de outros. A segunda, famílias a estipular as metas a serem alcançadas terceira e quarta diretrizes, para alimentos que para atendimento das diretrizes (SOUTHGATE et al., contêm amidos (cereais, tubérculos e raízes), frutas, 1990). legumes e verduras e para feijões são exemplos de recomendações positivas. Mensagens com uma O princípio das variações das quantidades abordagem positiva são mais eficazes, porque as As diretrizes são geralmente expressas com pessoas são naturalmente mais atraídas por esse uma margem de variação. Assim, cerca de 10% e tipo de contexto. três ou mais porções indicam variações. Algumas orientações com caráter restritivo O princípio da quantificação implica que as - por exemplo para que se consumam menos diretrizes são expressas como porcentagens ou gorduras, gorduras saturadas e açúcar, menos sódio proporções do consumo total de energia. O (sal) - são, contudo, inevitáveis frente às evidências consumo de energia necessário para manutenção científicas que relacionam o consumo excessivo da saúde e da boa nutrição varia com o sexo, a desses grupos de alimentos ao risco aumentado de idade, o nível de atividade física, o estado desenvolvimento de DCNT, repercutindo nas fisiológico, a presença ou ausência de doenças e estatísticas nacionais e internacionais de morbidade mesmo do estado nutricional atual da pessoa; e mortalidade. contudo, neste guia as informações são para a A intenção da abordagem deste guia é que população como um todo. Assim, para essas ele seja mais propositivo e menos prescritivo, ou quantificações, este guia adotou como parâmetro seja, que enfatize os atributos, as vantagens e as um brasileiro saudável com uma ingestão média ações factíveis para adoção de uma alimentação diária de 2.000 quilocalorias (kcal). As porções reco- saudável, ao invés de focalizar e explorar ações que mendadas para grupos e pessoas com exigências
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    DIRETRIZ- 6 -GORDURAS, AÇÚCARES E SAL PARTE 2 PRINCÍPIOS E DIRETRIZES 33 expressivamente diferentes de 2.000kcal por dia alimentos, tais como gorduras saturadas, fibras e devem ser calculadas individualmente por um ácido fólico, encerram mais complexidade e nutricionista. dificultam a compreensão, embora sejam relevantes para profissionais de saúde, sendo úteis e O princípio do alimento como referência essenciais para o planejamento de serviços de alimentação e de nutrição para a coletividade. São O ato de alimentar-se envolve diferentes também úteis para orientação dos consumidores aspectos que manifestam valores culturais, sociais, para entendimento adequado dos rótulos dos afetivos e sensoriais. Assim, as pessoas, dife- alimentos. rentemente dos demais seres vivos, ao alimenta- rem-se não buscam apenas suprir as suas Destaca-se ainda que as diretrizes com base necessidades orgânicas de nutrientes. Não se nos alimentos encerram um sentido especial nos alimentam de nutrientes, mas de alimentos documentos nacionais, porque especificam o tipo palpáveis, com cheiro, cor, textura e sabor; dos alimentos e as refeições consumidos no País, portanto, as diretrizes deste guia são baseadas em enfatizando as práticas alimentares em nosso alimentos e, consideradas no seu conjunto, abarcam contexto cultural. um plano alimentar completo. Isso significa que, sempre que possível, são expressas em termos de O princípio da sustentabilidade ambiental alimentos e bebidas, mais do que em termos de O enfoque assumido neste guia, com o componentes nutricionais, como ocorria com a claro incentivo ao consumo de alimentos nas formas maioria dos documentos com orientações dietéticas mais naturais e produzidos localmente e à produzidos até os anos 90. valorização dos alimentos regionais e da produção As diretrizes envolvem todos os grupos de familiar e da cultura alimentar, além de estimular alimentos que são importantes veículos de mudanças de hábitos alimentares para a redução do nutrientes essenciais e, portanto, visam à adoção de risco de ocorrência de doenças, valoriza a produção uma alimentação completa, adequada e saudável. e o processamento de alimentos com o uso de Algumas recomendam o aumento do consumo de recursos e tecnologias ambientalmente susten- determinados grupos de alimentos; outras táveis. Atualmente se reconhece como prioritária a objetivam assegurar a manutenção dos níveis de produção de alimentos que fomente e garanta a consumo pela nossa população porque estão Segurança Alimentar e Nutricional nacional, mas se adequadas às orientações para uma dieta saudável; reconhece como igualmente prioritário o uso da já outras orientam a redução ou a moderação no terra e da água, de forma ecologicamente consumo de alguns grupos de alimentos também sustentável e com impactos sociais e ambientais baseadas em evidências científicas que revelam uma positivos. associação destes grupos com maior risco de doenças (açúcares, sal e gorduras, por exemplo). O princípio da originalidade - um guia Os argumentos favoráveis às reco- brasileiro mendações dietéticas baseadas em alimentos estão muito bem documentados na literatura científica. O Este guia contém as primeiras diretrizes aumento no leque de evidências científicas sobre a alimentares oficiais para o Brasil e para os relação de dietas com as doenças é expresso em brasileiros. É um guia para a população brasileira, termos de alimentos, mais do que em componentes com base em alimentos do Brasil e fundamentado dietéticos específicos (WORLD CANCER RESEARCH em sua cultura alimentar. A ciência em que se FUND, 1997; WORLD HEALTH ORGANIZATION, baseiam as diretrizes é, com certeza, universal e os 1998). objetivos e as orientações utilizam, como pilares, as recomendações e os textos de apoio recentemente As diretrizes para a alimentação saudável, publicados em documentos internacionais baseadas em alimentos, quando devidamente (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989a; WORLD especificadas, são facilmente compreendidas por HEALTH ORGANIZATION, 1990c; WORLD CANCER todas as pessoas. Ao contrário, as recomendações RESEARCH FUND, 1997; UNITED NATIONS baseadas nos componentes nutricionais dos ADMINISTRATIVE COORDINATING COMMITTEE,
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    34 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA 2000; UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE alimentação. COORDINATING COMMITTEE, INTERNATIONAL Sugestões para os governos e para o setor FOOD POLICY RESEARCH INSTITUTE, 2000; WORLD produtivo de alimentos (indústria e comércio): os HEALTH ORGANIZATION, 2003a). Este guia profissionais e gestores políticos que atuam em assemelha-se, no desenvolvimento de seus prin- todas as esferas - federal, estadual e municipal - cípios, com outros recentemente produzidos em necessitam ter acesso aos consensos científicos e muitos países da América Latina (PAN AMERICAN técnicos sobre alimentação e saúde, de maneira HEALTH ORGANIZATION, 1998c) e em outras partes que não sejam criadas situações de competição ou do mundo. anulação entre programas e ações, mas que Muitas vezes supõe-se que a alimentação auxiliem na formulação e implementação de saudável é muito diferente daquela que as pessoas políticas saudáveis, sustentáveis e em consonância consomem habitualmente. É verdade que, nas de objetivos e metas, em diferentes áreas. O mesmo últimas duas décadas, os brasileiros, tanto os que se aplica a todos os ramos da indústria de alimentos, vivem nas cidades como aqueles de áreas rurais, incluindo agricultores, produtores, distribuidores, mudaram o seu padrão alimentar, reduzindo o fornecedores de alimentação, importadores e consumo de frutas, legumes e verduras e elevando o exportadores. É do interesse de todos que o sistema de alimentos e bebidas com alto teor de gordura e alimentar brasileiro promova a saúde. Na verdade, açúcares e/ou sal (MONTEIRO et al., 1995a, 2000a, quanto mais valor se dá à alimentação, mais 2000) e se distanciaram dos alimentos e refeições prósperos todos os envolvidos tendem a ser. Por tradicionais brasileiros, reconhecidos como exemplo, é provável que a recomendação dietética saudáveis e saborosos, devendo ser valorizados e mais desafiadora deste guia seja a de que todas as difundidos. Um exemplo é o abandono do consumo pessoas devam consumir mais frutas, legumes e de uma das preparações mais típicas e comuns a verduras. Essa recomendação para os governos e todas as regiões brasileiras: arroz com feijão, para o setor industrial é concretizada por meio da combinação nutricionalmente rica e adequada. orientação para promover a produção, a transformação e o consumo de todos os tipos de O princípio da abordagem multifocal frutas, legumes e verduras, principalmente aqueles Cada recomendação neste guia é expressa disponíveis local e regionalmente. A iniciativa de de quatro maneiras. A primeira é uma recomen- promover o resgate e valorizar o consumo de dação direcionada para todas as pessoas e é alimentos regionais (BRASIL, 2002b) contribui para concebida para ser utilizada em diferentes a concretização dessa recomendação, assim como a contextos informativos e educacionais. Posterior- maior disponibilidade desses produtos no comércio mente, há recomendações para aqueles setores da a preços acessíveis para toda a população. sociedade que estão intrinsecamente mais Para os profissionais de saúde, os objetivos preocupados com o tema: são as sugestões para os das orientações destinam-se a capacitá-los para governos ou para as indústrias, objetivos para os orientar adequadamente grupos populacionais profissionais de saúde e recomendações para saudáveis a partir dos 2 anos de idade. Elas foram membros da família. especificamente elaboradas para profissionais - em Existem vantagens nessa abordagem âmbito nacional, regional, estadual, institucional, multifocal. Os governos e a indústria têm municipal e da comunidade - cujas preocupações responsabilidades próprias, os profissionais de incluem promover a saúde e prevenir doenças. Isso saúde precisam de objetivos com uma abordagem significa que as orientações são destinadas a manter técnica e os membros das famílias precisam de as pessoas saudáveis e, portanto, não estão diretrizes práticas, o que é complementado na incluídas orientações para grupos de risco e seção Colocando as diretrizes em prática (p.106) . pessoas já doentes, em situação clínica relacionada Desse tipo de abordagem poderão também fazer a alguma alteração específica na alimentação. Essas uso outros profissionais, como os de educação e pessoas devem ser atendidas, orientadas e comunicação, por exemplo, que necessitem fazer acompanhadas individualmente por nutricionista. uso de orientação mais prática sobre os temas de As orientações para os membros da família
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    DIRETRIZ- 6 -GORDURAS, AÇÚCARES E SAL PARTE 2 PRINCÍPIOS E DIRETRIZES 35 têm como objetivo revalorizar a refeição em grupo. ter como enfoque prioritário o resgate de hábitos Compartilhar as refeições em família é, por si só, um alimentares regionais inerentes ao consumo de hábito saudável, tanto sociocultural como alimentos in natura, produzidos em nível local, nutricionalmente. culturalmente referenciados e de elevado valor Nas sociedades modernas, as pessoas cada nutritivo, como frutas, legumes e verduras, grãos vez mais se isolam dos outros membros da família, integrais, leguminosas, sementes e castanhas, que mesmo quando estão sob o mesmo teto. É crescente devem ser consumidos a partir dos 6 meses de vida o número de refeições feitas pelo indivíduo de até a fase adulta e a velhice, considerando sua maneira solitária, fora de casa e mesmo em casa. segurança sanitária. Não se pode esquecer de Não é esta a proposta deste guia. Ao contrário, sempre considerar os aspectos comportamentais e valoriza-se o ato de alimentar-se no ambiente famil- afetivos relacionados às práticas alimentares. iar, permitindo a integração das pessoas por meio Uma alimentação saudável deve contem- do compartilhar o momento da alimentação, como plar alguns atributos básicos. São eles: importante para o fortalecimento das relações - Acessibilidade física e financeira: ao contrário do afetivas e de integração familiar. que tem sido construído socialmente, por meio de As orientações para os membros da família informação equivocada, veiculada principalmente e as sintetizadas no capítulo Colocando as pela mídia, uma alimentação saudável não é cara, diretrizes em prática (p.106) , quando especificadas pois se baseia em alimentos in natura e produzidos em quantidades individuais, têm apenas o objetivo regionalmente. O apoio e o fomento aos de facilitar o cálculo para transformação das agricultores familiares e às cooperativas para a quantidades para o número de membros familiares. produção e a comercialização de produtos Tais como os objetivos para os profissionais de saudáveis, como grãos, leguminosas, frutas, saúde, as orientações para os membros da família legumes e verduras, são importantes alternativas, são para as pessoas saudáveis com idade igual ou não somente para a melhoria da qualidade da superior a 2 anos. Orientações especiais para alimentação, mas também para estimular a geração membros da família considerados de risco ou em de renda em pequenas comunidades, além de situação clínica relacionada a alguma doença que sinalizar para a integração com as políticas públicas necessite de uma alteração específica na de produção de alimentos; alimentação deverão ser elaboradas por - Sabor: o argumento da ausência de sabor da nutricionistas nos serviços de saúde. alimentação saudável é outro tabu a ser desmis- tificado, pois uma alimentação saudável é e precisa Os Atributos da Alimentação Saudável ser pragmaticamente saborosa. O resgate do sabor O ato da alimentação deve estar inserido como um atributo fundamental é um investimento no cotidiano das pessoas, como um evento necessário à promoção da alimentação saudável. As agradável e de socialização. Por se tratar de um guia práticas de marketing muitas vezes vinculam a que deve atender a toda a população, com suas alimentação saudável ao consumo de alimentos diversas e variadas características demográficas, industrializados especiais e não privilegiam os sociais, econômicas, culturais, não é possível alimentos naturais e menos refinados, como, por estabelecer-se aqui prescrições dietéticas impor- exemplo, tubérculos, frutas, legumes e verduras e tantes e fundamentais sem dúvida para aten- grãos variados - alimentos saudáveis, saborosos, dimento individual, sob condições específicas feitas culturalmente valiosos, nutritivos, típicos e de por nutricionistas. Dessa forma, não constitui produção factível em várias regiões brasileiras, objetivo deste guia apresentar prescrições inclusive e principalmente por pequenos agricul- dietéticas , mas diretrizes que podem e devem ser tores familiares; seguidas por todos, possibilitando que as pessoas - Variedade: o consumo de vários tipos de alimentos dêem preferência aos alimentos mais nutritivos em fornece os diferentes nutrientes, evitando a quantidades suficientes de maneira a promover monotonia alimentar, que limita a disponibilidade saúde e prevenir doenças. de nutrientes necessários para atender às demandas As práticas alimentares saudáveis devem fisiológicas e garantir uma alimentação adequada;
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    36 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA - Cor: a alimentação saudável contempla uma ampla ponsabilidade sobre a alimentação da família. A variedade de grupos de alimentos com múltiplas atribuição de atividades à mulher no ambiente do colorações. Sabe-se que quanto mais colorida é a trabalho remunerado e no espaço doméstico se alimentação, mais rica é em termos de vitaminas e coloca como um novo paradigma da sociedade minerais. Essa variedade de coloração torna a moderna, que não tem criado mecanismos de refeição atrativa, o que agrada aos sentidos e suporte social para a desconcentração dessa estimula o consumo de alimentos saudáveis, como atribuição como exclusivamente feminina; frutas, legumes e verduras, grãos e tubérculos em - A modificação dos espaços físicos para o com- geral; partilhamento das refeições e nas práticas - Harmonia: esta característica da alimentação se cotidianas para a preparação dos alimentos; refere especificamente à garantia do equilíbrio em - As mudanças ocorridas nas relações familiares e quantidade e em qualidade dos alimentos pessoais com a diminuição da freqüência de consumidos para o alcance de uma nutrição compartilhamento das refeições em família (ou adequada, considerando que tais fatores variam de grupos de convívio); acordo com a fase do curso da vida e outros fatores, - A perda da identidade cultural no ato das como estado nutricional, estado de saúde, idade, preparações e receitas com a chegada do evento sexo, grau de atividade física, estado fisiológico. social da urbanização/globalização; Vale ainda ressaltar que, entre os vários nutrientes, - O crescente consumo de alimentos indus- ocorrem interações que podem ser benéficas, mas trializados, pré-preparados ou prontos que respon- também prejudiciais ao estado nutricional, o que dem a uma demanda de praticidade; implica a necessidade de harmonia e equilíbrio - A desagregação de valores sociais e coletivos que entre os alimentos consumidos; vêm culturalmente sendo perdidos em função das - Segurança sanitária: os alimentos devem ser modificações acima referidas. seguros para o consumo, ou seja, não devem O principal desafio na formulação e na apresentar contaminantes de natureza biológica, implementação de estratégias para a promoção da física ou química ou outros perigos que alimentação saudável passa, portanto, necessa- comprometam a saúde do indivíduo ou da riamente, por torná-la viável em um contexto no população. Assim, com o objetivo de redução dos qual os papéis, os valores e o sentido de tempo estão riscos à saúde, medidas preventivas e de controle, em constante mudança. incluindo as boas práticas de higiene, devem ser Assim, a promoção de uma alimentação adotadas em toda a cadeia de alimentos, desde a saudável, de modo geral, deve prever um escopo sua origem até o preparo para o consumo em amplo de ações que contemplem a formação de domicílio, em restaurante e em outros locais que hábitos alimentares saudáveis desde a primeira comercializam alimentos. A vigilância sanitária infância, favorecendo o deslocamento do consumo deve executar ações de controle e fiscalização para de alimentos pouco saudáveis para alimentos mais verificar a adoção dessas medidas por parte das saudáveis e resgatando hábitos e fomentando indústrias de alimentos, dos serviços de alimentação padrões alimentares mais saudáveis entre grupos e das unidades de comercialização de alimentos. populacionais com o hábito alimentar já esta- Além disso, a orientação da população sobre belecido, respeitando a identidade cultural e práticas adequadas de manipulação dos alimentos alimentar de indivíduos e de populações. deve ser uma das ações contempladas nas políticas públicas de promoção da alimentação saudável. A estratégia para promoção da alimen- As Diretrizes: tação saudável também deve levar em consideração algumas considerações modificações históricas importantes que contri- A parte 2 do Guia Alimentar para a Popu- buíram para a transição nutricional, tais como: lação Brasileira está organizada em três tópicos - O papel do gênero nesse processo, quando a principais: mulher assume uma vida profissional extra- - O primeiro tópico desenvolve o conjunto de domicílio, continua ainda acumulando a res- diretrizes visando à alimentação saudável e à
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    DIRETRIZ- 6 -GORDURAS, AÇÚCARES E SAL PARTE 2 PRINCÍPIOS E DIRETRIZES 37 promoção da saúde; regular e em grandes quantidades. - O segundo tópico apresenta sugestões práticas, A Diretriz 7 tem como tema a água, cujo sistematizadas no capítulo Colocando as diretrizes consumo é vital para a saúde. em prática (p.106), que, como o próprio título A Diretriz Especial 1 trata da atividade sugere, são informações que dão aos membros da física regular ao longo da vida, que, aliada à família idéias e sugestões sobre como cumprir as alimentação saudável, resulta em um impacto diretrizes e como planejar refeições saborosas, positivo e protetor à saúde. Embora este seja um acessíveis e saudáveis; guia alimentar, as evidências científicas mostram, - O terceiro tópico aborda o tema da rotulagem de inequivocamente, que a alimentação saudável e a alimentos, valorizando as informações contidas nos prática de atividade física são importantes e rótulos dos alimentos como ferramenta essencial indissociáveis para a promoção de modos de vida para a seleção de alimentos mais saudáveis, saudáveis e para a qualidade de vida, justificando-se esclarecendo o seu conteúdo e orientando a sua esta recomendação no guia alimentar. adequada utilização para esse fim. A Diretriz Especial 2 diz respeito aos Todas as diretrizes do guia alimentar estão cuidados para manter a qualidade sanitária dos dispostas da mesma maneira: primeiro, as alimentos desde o momento da compra à orientações para todas as pessoas, expressas conservação, à preparação e ao consumo dos sumariamente numa linguagem clara que se dirige alimentos. indistintamente às pessoas saudáveis maiores de 2 Embora não elaborado em forma de anos de idade; depois, seguem-se os objetivos para diretriz, reconhece-se que o conhecimento sobre os profissionais de saúde, as sugestões específicas métodos e técnicas de processamento de alimentos para os governos e para o setor produtivo de deve merecer a atenção, pois tem impacto na alimentos, incluindo a indústria e o comércio, e as seleção de alimentos mais (ou menos) saudáveis que orientações para os membros da família. Cada comporão as refeições diárias. A maior parte dos diretriz apresentada está baseada em evidências alimentos que compõem a alimentação diária é, científicas que estão sintetizadas na parte 3 deste obviamente, processada de alguma forma. Os documento. métodos de produção, processamento, preser- A Diretriz 1 refere-se aos alimentos vação, incluindo a adição de sal e açúcar, saudáveis e às refeições no seu conjunto, preparação e cozimento dos alimentos afetam a sua abordando inclusive alguns conceitos que serão qualidade e sua composição nutricional. Essa adotados no decorrer da apresentação das demais abordagem está presente no Anexo A. diretrizes. Espera-se que as diretrizes estejam ela- As Diretrizes 2, 3 e 4 especificam os boradas de forma clara e que sejam úteis ao componentes da alimentação que correspondem ao trabalho dos profissionais de saúde, que sejam grupo dos grãos (como arroz, milho e trigo) e outros incorporadas por gestores de políticas públicas em alimentos que são ricos em amido ou carboidratos alimentação e nutrição e pelas indústrias de complexos (pães, massas, mandioca e outros alimentos e que efetivamente contribuam para tubérculos e raízes); grupo das frutas, legumes e melhorar a qualidade de vida e para a promoção da verduras; e grupo das leguminosas (feijões) e outros saúde das famílias brasileiras. vegetais ricos em proteínas. Esses três grupos de alimentos são os componentes principais de uma alimentação saudável. A Diretriz 5 trata dos alimentos de origem animal (leite e derivados, carnes e ovos), que são nutritivos e integram, em quantidades moderadas, dietas saudáveis. A Diretriz 6 trata de alimentos e bebidas com altos teores de gorduras, açúcares e sal, prejudiciais à saúde quando consumidos de maneira
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    1 Diretriz Os alimentos saudáveis e as refeições
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    DIRETRIZ 6 -GORDURAS, AÇÚCARES E e as refeições 1 Os alimentos saudáveis SAL 41 Todos da população. - Refeições são saudáveis quando prepa-radas com - Implantar, fiscalizar e exigir a implantação das alimentos variados, com tipos e quantidades Boas Práticas de Manipulação de Alimentos em adequadas às fases do curso da vida, compondo refe- locais de processamento, manipulação, venda e ições coloridas e saborosas que incluem alimentos consumo de alimentos. tanto de origem vegetal como animal. - Assegurar o cumprimento da legislação que - Para garantir a saúde, faça pelo menos três refei- promove o aleitamento materno enquanto direito ções por dia (café da manhã, almoço e jantar), inter- da criança à alimentação adequada. caladas por pequenos lanches. - Garantir que programas públicos de alimentação - A alimentação saudável tem início com a prática e nutrição incorporem os princípios da alimentação do aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de saudável. idade e complementar até pelo menos os 2 anos, e - Regulamentar estratégias de marketing de alimen- se prolonga pela vida com adoção de bons hábitos tos, em todas as formas de mídia, principalmente alimentares. para aquelas direcionadas para crianças e adoles- centes. Profissionais de saúde Família - Consuma diariamente alimentos como cereais inte- Orientar: grais, feijões, frutas, legumes e verduras, leite e deri- - Sobre a necessidade de se realizar pelo menos três vados e carnes magras, aves ou peixes. refeições diárias, intercaladas com lanches saudá- - Diminua o consumo de frituras e alimentos que veis; contenham elevada quantidade de açúcares, - Quanto à importância da consulta e interpretação gorduras e sal. da informação nutricional e da lista de ingredientes - Valorize a sua cultura alimentar e mantenha seus presentes nos rótulos dos alimentos, para a seleção bons hábitos alimentares. de alimentos mais saudáveis; - Saboreie refeições variadas, ricas em alimentos - As mulheres durante a gestação sobre a impor- regionais saudáveis e disponíveis na sua comuni- tância da prática do aleitamento materno exclusivo dade. até os 6 meses de idade da criança e sobre os passos para a alimentação complementar após esse - Escolha os alimentos mais saudáveis, lendo as período. informações nutricionais dos rótulos dos alimentos. - Alimente a criança somente com leite materno até a idade de 6 meses e depois complemente com Saber que: outros alimentos, mantendo o leite materno até os - Os cereais, de preferência integrais, as legumi- 2 anos ou mais. nosas e as frutas, legumes e verduras, no seu - Procure nos serviços de saúde orientações a conjunto, devem fornecer mais da metade (55% a respeito da maneira correta de introduzir alimentos 75%) do total de energia diária da alimentação. complementares e refeições quando a criança completar 6 meses de vida. Governo e setor produtivo de alimentos - Aumentar e incentivar a produção, o processa- Considerações e informações adicionais mento, o abastecimento e a comercialização de O que se denomina alimentação saudá- todos os tipos de alimentos que compõem uma vel pode adquirir muitos significados dependendo alimentação saudável. do país ou região de um mesmo país, cultura e - Implementar programas de orientação e época. Porém, em geral, a alimentação saudável é educação nutricional, de forma continuada, respei- sempre constituída por três tipos de alimentos bási- tando a identidade cultural das populações. cos: - Garantir a qualidade dos alimentos - in natura e 1) alimentos com alta concentração de processados - colocados no mercado para consumo carboidratos, como os grãos (incluindo arroz, milho
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    42 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA e trigo), pães, massas, tubérculos (como as batatas e NATIONS ADMINISTRATIVE COORDINATING o inhame) e raízes (como a mandioca); COMMITTEE, 2000; SCRIMSHAW, 2000). Uma 2) As frutas, legumes e verduras; alimentação saudável contribui também para a 3) Os alimentos vegetais ricos em proteínas proteção contra as doenças crônicas não- (particularmente os cereais integrais, as legumi- transmissíveis (DCNT) e potencialmente fatais, nosas e também as sementes e castanhas) como diabetes, hipertensão, acidente vascular cere- (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989a; WORLD bral, doenças cardíacas e alguns tipos de câncer, HEALTH ORGANIZATION, 1990b, 2003a; WORLD que, em conjunto, estão entre as principais causas CANCER RESEARCH FUND, 1997; PAN AMERICAN de incapacidade e morte no Brasil e em vários outros HEALTH ORGANIZATION, 1998b; UNITED NATIONS países. Essa proteção é devida a três fatores interre- ADMINISTRATIVE COORDINATING COMMITTEE, lacionados: 2000). 1) o consumo de uma diversidade de nutri- As leguminosas incluem o feijão-verde, entes que protegem e mantêm o funcionamento feijão-de-corda, jalo, preto, largo, flageolé, cario- adequado do organismo; quinha, azuqui, rim, mungo, pinto, fradinho, 2) a reduzida quantidade de gorduras satu- macassar, guandu e branco e também as lentilhas, radas, gorduras totais, açúcares, sal e álcool, compo- ervilhas secas, fava, soja e grão-de-bico. Neste guia, nentes relacionados ao aumento de risco de DCNT; a palavra feijões será usada para se referir a todos 3) a baixa concentração energética que esses tipos de leguminosas. previne o excesso de peso e a obesidade, que, por Os alimentos de origem animal também sua vez, aumentam o risco de outras doenças são parte de uma alimentação saudável, que inclui crônicas não-transmissíveis (NATIONAL RESEARCH pequenas quantidades de carne de boi ou porco, COUNCIL, 1989a; WORLD HEALTH ORGANIZATION, carneiro, coelho, jacaré e outras, aves, peixe, ovos e 1990b, 2000a, 2003a; WORLD CANCER RESEARCH também leite, queijo e iogurte, preferencialmente FUND, 1997; UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE desnatados ou com baixos teores de gordura. COORDINATING COMMITTEE, 2000). Os sistemas alimentares, compostos pela Em crianças, a ingestão inadequada de rede de produção, abastecimento e comer- energia por meio dos alimentos pode gerar uma cialização, que disponibilizam alimentos variados deficiência nutricional séria que compromete a de origem vegetal, somados aos tipos mais saudá- saúde, o crescimento e o desenvolvimento adequa- veis de alimentos de origem animal, e que têm como dos, a resistência contra as doenças, podendo levá- base a cultura alimentar nacional e regional, são de las à morte. importância fundamental para a saúde pública, Atualmente, os cientistas, profissionais de para a segurança alimentar e nutricional e para a saúde pública e formuladores de políticas em soberania de um país. alimentação e nutrição estimulam o desenvolvi- As diretrizes contidas neste guia contri- mento de recomendações para uma alimentação buirão para a adoção de uma alimentação saudável, saudável baseada em alimentos e não em nutrientes em todas as fases do curso da vida, exceto para (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998), mesmo crianças menores de 2 anos de idade que têm orien- porque os alimentos são compostos por nutrientes; mas, para definir e recomendar uma alimentação tações específicas consolidadas no "Guia Alimentar saudável, os parâmetros nutricionais são conside- para Crianças Menores de Dois Anos" e nos Dez Passos rados e, com bases neles, são estabelecidas as orien- para a Alimentação Saudável da Criança Menor de Dois tações para consumo dos alimentos organizados em Anos" (BRASIL, 2002d, 2002e). grupos, de acordo com seus nutrientes principais. A alimentação, quando adequada e vari- Sempre que necessário, ao longo deste ada, previne as deficiências nutricionais e protege guia foram incluídas informações adicionais a contra as doenças infecciosas, porque é rica em respeito dos nutrientes: compostos bioativos, nutrientes que podem melhorar a função imunoló- vitaminas e minerais, fibra alimentar, proteínas, gica. Pessoas bem alimentadas são mais resistentes carboidratos e açúcar, gorduras e ácidos graxos. às infecções (SCRIMSHAW et al., 1968; UNITED Todos esses nutrientes são encontrados nos
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    DIRETRIZ 6 -GORDURAS, AÇÚCARES E e as refeições 1 Os alimentos saudáveis SAL 43 alimentos. excessivo de gorduras saturadas está relacionado a As evidências científicas mais recentes várias doenças crônicas não-transmissíveis (doenças estabelecem as seguintes recomendações para a cardiovasculares, diabetes, obesidade, acidentes participação dos macronutrientes (carboidratos, cerebrovasculares e câncer). Para mais informações, gorduras e proteínas) no valor energético total veja box Sabendo um pouco mais Os Diferentes (VET) da alimentação, que são levadas em conta Tipos de Gorduras (página 78). neste guia para as diretrizes aqui estabelecidas. Proteínas: 10% a 15% do valor energético Carboidratos totais: 55% a 75% do valor total (VET). São componentes dos alimentos de energético total (VET). Desse total, 45% a 65% origem vegetal e animal que fornecem os devem ser provenientes de carboidratos complexos aminoácidos, substâncias importantes e envolvidas e fibras e menos de 10% de açúcares livres (ou em praticamente todas as funções bioquímicas e simples) como açúcar de mesa, refrigerantes e sucos fisiológicas do organismo humano. As fontes artificiais, doces e guloseimas em geral. Para mais alimentares mais importantes são as carnes em informações, veja box Sabendo um pouco mais geral, os ovos e as leguminosas (feijões). Para mais Carboidratos , nesta seção. informações veja box Sabendo um pouco mais Gorduras: 15% a 30% do valor energético Proteínas (página 63). total (VET) da alimentação. As gorduras (ou lipídios) De acordo com a Organização Mundial da incluem uma mistura de substâncias com alta Saúde (OMS), o presente guia também se propõe a concentração de energia (óleos e gorduras), que orientar e estimular a prática de uma alimentação compõem, em diferentes concentrações e tipos, saudável segundo as seguintes recomendações: alimentos de origem vegetal e animal. São - Manter o equilíbrio energético e o peso saudável; componentes importantes da alimentação humana, - Limitar a ingestão energética procedente de pois são fontes de energia; contudo, o consumo gorduras; substituir as gorduras saturadas por Sabendo um pouco mais Carboidratos Os carboidratos compõem a maior parte da matéria viva no planeta Terra, constituindo, portanto, a maior parte da alimentação humana: 55% a 75% do VET devem ser fornecidos pelo grupo dos carboidratos. Os carboidratos são subdivididos em carboidratos complexos (amidos), carboidratos simples (açúcares simples ou livres) e fibras alimentares. No Guia Alimentar para a População Brasileira chamaremos os carboidratos complexos (ricos em amidos) de carboidratos e os simples de açúcares. De forma geral, todos os grupos de alimentos, exceto as carnes, os óleos e as gorduras e o sal possuem carboidratos, diferindo na quantidade e no tipo de carboidrato que compõe o alimento. Quando essa quantidade é alta, considera-se o alimento como fonte de carboidratos: cereais, tubérculos e raízes. Os carboidratos complexos são fontes de energia e também de vitaminas do complexo B e de ácidos graxos essenciais que participam do metabolismo do sistema nervoso. A alimentação saudável deve incluir os carboidratos complexos em grande quantidade (45% a 65% do VET) e fibras alimentares. Para mais informações, veja box Sabendo um pouco mais Fibra Alimentar (página 61). Os carboidratos simples (açúcares simples), fontes apenas de energia, devem compor a alimentação em quantidades bem reduzidas (< 10% do VET), porque o seu consumo excessivo está relacionado com o aumento de risco de obesidade e outras doenças crônicas não-transmissíveis e cáries dentais.
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    44 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA insaturadas e eliminar as gorduras trans (gorduras - Limitar a ingestão de sal (sódio) de toda pro- hidrogenadas); cedência e consumir sal iodado. - Aumentar o consumo de frutas, legumes e ver- duras, cereais integrais e feijões; - Limitar a ingestão de açúcar livre; Sabendo um pouco mais Doenças Transmitidas por Alimentos e Água (DTA) A qualidade sanitária dos alimentos é uma das condições essenciais para a promoção e manutenção da saúde e deve ser assegurada pelo controle eficiente da manipulação em todas as etapas da cadeia alimentar. Procedimentos incorretos de manipulação dos alimentos podem causar as DTA, ou seja, doenças em que os alimentos ou a água atuam como veículo para transmissão de organismos prejudiciais à saúde ou de substâncias tóxicas. As DTA podem se manifestar das seguintes formas: a) infecções transmitidas por alimentos: são doenças que resultam da ingestão de um alimento que contenha organismos prejudiciais à saúde. Exemplos: salmonelose, hepatite viral tipo A e toxoplasmose; b) intoxicações alimentares: ocorre quando uma pessoa ingere alimentos com substâncias tóxicas, incluindo as toxinas produzidas por microrganismos, como bactérias e fungos. Exemplos: botulismo, intoxicação estafilocócica e toxinas produzidas por fungos; c) toxinfecção causada por alimentos: são doenças que resultam da ingestão de alimentos que apresentam organismos prejudiciais à saúde, sendo que eles ainda liberam substâncias tóxicas. Exemplo: cólera. Os sintomas das DTA variam de acordo com o organismo ou a toxina encontrados no alimento e a quantidade do alimento ingerido. Os sintomas mais comuns das DTA são vômitos e diarréias, podendo também apresentar dores abdominais, dor de cabeça, febre, alteração da visão, olhos inchados, dentre outros. Para adultos sadios, a maioria das DTA dura alguns dias e não deixam seqüelas; para pessoas mais susceptíveis, como crianças, idosos, gestantes e pessoas doentes, as conseqüências podem ser mais graves, podendo inclusive levar à morte. Algumas DTA são mais severas, apresentando complicações mais graves até para as pessoas sadias. Para evitar ou reduzir os riscos de DTA, medidas preventivas e de controle, incluindo as boas práticas de higiene, devem ser adotadas na cadeia produtiva, nos serviços de alimentação, nas unidades de comercialização de alimentos e nos domicílios, visando à melhoria das condições sanitárias dos alimentos. Veja mais informações na Diretriz Especia 2 (página 97) .
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    2 Diretriz Cereais, tubérculos e raízes
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    DIRETRIZ 2 -Cereais, tubérculos e raízes 47 Todos pães, massas, tubérculos e raízes. Dê preferência - Arroz, milho e trigo, alimentos como pães e massas, aos grãos integrais. preferencialmente na forma integral; tubérculos como as batatas; raízes como a mandioca devem ser Considerações e informações adicionais a mais importante fonte de energia e o principal Desde os primórdios da agricultura, há componente da maioria das refeições. cerca de 12.000 anos, até muito recentemente, a maior parte da energia consumida por diferentes Profissionais de saúde populações tinha origem em alimentos à base de carboidratos. Orientar: Os carboidratos podem ser simples (que - O consumo de alimentos ricos em carboidratos são os açúcares) ou complexos (que são os amidos complexos (amidos), como cereais, de preferência presentes principalmente em cereais, tubérculos e integrais, tubérculos e raízes, para garantir 45% a raízes). Para efeito deste guia, chamaremos os 65% da energia total diária da alimentação; carboidratos complexos (ricos em amidos) de - O consumo diário de 6 porções de cereais, carboidratos e os simples de açúcares. Para mais tubérculos e raízes. informações sobre carboidratos, consulte o box Sabendo um pouco mais Carboidratos (página 43). Saber que: As principais fontes de carboidrato na - A presença diária desses alimentos na alimentação alimentação do brasileiro são os grãos, como o vem diminuindo (em 1974, correspondia a 42,1% e arroz, o trigo e o milho; os tubérculos, como as em 2003 era de 38,7%). Essa tendência deve ser batatas; e as raízes, principalmente a mandioca. revertida, por meio do incentivo ao consumo desses Os grãos contêm na sua composição cerca grupos de alimentos pela população, na forma in de 70% de carboidrato. Além da presença de natura. Para atender ao limite mínimo recomendado carboidratos complexos, nutrientes importantes (45%), o consumo atual deve ser aumentado em para uma alimentação saudável são compostos por aproximadamente em 20%; proteínas e vitaminas do complexo B e outras - No Brasil, é obrigatória a fortificação das farinhas vitaminas, minerais, ácidos graxos essenciais e fibras de trigo e milho com ferro e ácido fólico, estratégia alimentares. Por exemplo, uma alimentação rica em que objetiva a redução da anemia ferropriva e de ácido fólico, ou vitamina B9, protege a integridade problemas relacionados à má-formação do tubo do tubo neural durante o seu desenvolvimento nos neural. A orientação de consumo dessas farinhas é primeiros meses de vida intra-uterina, evitando má- particularmente importante para crianças, idosos, formação da medula espinhal da criança e gestantes e mulheres em idade fértil. anencefalia (WYNN e WYNN, 1979; GARZA, 1993). Tubérculos e raízes, tais como batata- Governo e setor produtivo de alimentos inglesa, batata-doce, batata-baroa - Promover a produção, a industrialização, a (mandioquinha), mandioca, cará ou inhame, têm comercialização e o consumo de todos os tipos de alta porcentagem de água e, portanto, contêm alimentos ricos em carboidratos, preferencialmente relativamente menor quantidade de carboidrato os integrais e os regionais produzidos em nível local. que os grãos, mas a maior parte da energia que proporcionam ainda é fornecida pelos carboidratos. - Incentivar a pesquisa e incorporação de tecnologia Contêm também vitaminas e minerais em de processamento que preserve o valor nutritivo dos quantidades variáveis. A batata-inglesa e batata- alimentos. doce são fontes de ácido ascórbico (vitamina C ) . - Assegurar e fomentar a incorporação de cereais, A batata-doce é rica em carotenos, tubérculos e raízes nos programas institucionais de precursores vegetais da vitamina A (substâncias que alimentação. no organismo humano ajudam na formação desse nutriente). Essa vitamina é essencial para a Família atividade imunológica e para a visão. - Coma diariamente 6 porções do grupo de arroz,
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    48 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Sabendo um pouco mais As Porções e Quantidades Recomendadas nas Diretrizes O tamanho em que os alimentos são oferecidos aumentou, ou seja, as porções oferecidas ficaram maiores. Neste guia, para garantir que as pessoas saibam a quantidade correta de alimento a ser consumida, de acordo com o grupo do alimento, adotaremos o conceito de porção de alimento. Porção é aqui utilizado como a quantidade de alimento em sua forma usual de consumo expressa em medida caseira, unidade ou forma de consumo (fatia, xícara, unidade, colher de sopa, etc.)" (PHILIPPI, 2003), considerando também a quantidade média do alimento que deve ser usualmente consumida por pessoas sadias, para compor uma alimentação saudável (BRASIL, 2003b). Essas duas definições têm o objetivo de controlar os casos em que o padrão usual de consumo origina porções de alimentos que não permitem alcançar ou que extrapolem as quantidades que poderiam ser saudáveis no conjunto da alimentação. Porções de diferentes alimentos estão apresentadas no Anexo C deste guia. Na sua forma integral, todos os tubérculos A recomendação de dar preferência às e raízes são ricos em fibras alimentares; grande formas integrais dos alimentos é justificada pelo parte das fibras, juntamente com a vitamina B, é fato de que a manutenção do teor de vitaminas e perdida quando esses alimentos são descascados. minerais do produto original depende do grau de Por isso, recomenda-se que esses alimentos sejam processamento a que o alimento é submetido. Uma cozidos com casca, previamente bem higienizada, técnica comum de processamento de cereais é a que será retirada apenas antes do consumo. Podem refinação. As vitaminas, minerais, ácidos graxos ser utilizados de diferentes formas: cozidos, assados essenciais e fibras são preservados no arroz e na e fritos. A mandioca, alimento rico em carboidrato e farinha de trigo integrais, mas o arroz branco, o pão originário do Brasil, pode ser consumida em sua branco e a farinha e as massas comuns refinadas forma natural ou como farinha, e são inúmeros os perdem a maior parte das vitaminas, os minerais, os exemplos da culinária nacional para seu uso em ácidos graxos e as fibras. Já a técnica que processa o preparações salgadas e doces. Os tubérculos e as arroz parboilizado permite reter mais vitaminas do raízes podem ser cozidos de diferentes maneiras e complexo B e óleos, se comparado com o arroz combinados com outros alimentos. Quando fritos, branco, mas em teores menores do que os existentes absorvem muita gordura, por isso preparações fritas nos alimentos integrais. devem ser evitadas. A fortificação de alimentos é a técnica Fibra alimentar é o termo técnico utilizado industrial que pode recuperar, intensificar ou para denominar as partes dos vegetais que resistem adicionar valor nutricional aos alimentos. A ao processo de digestão. A alimentação com recuperação ocorre quando, durante o pro- quantidade adequada de alimentos com cessamento do alimento, determinado nutriente é carboidratos em sua forma integral, ou seja, que perdido e, para correção, o nutriente é reposto no preservaram a fibra alimentar, auxilia a função produto. A intensificação ocorre quando um intestinal, protegendo contra a constipação intes- nutriente que é natural do alimento é adicionado tinal (prisão de ventre) e possivelmente contra a em maiores quantidades e a adição quando um doença diverticular e o câncer do cólon (ROYAL alimento, embora não seja fonte natural de um COLLEGE OF PHYSICIANS, 1980; WORLD CANCER determinado nutriente, do ponto de vista RESEARCH FUND, 1997). Para mais informações, tecnológico pode ser um bom veículo desse veja os boxes Sabendo um pouco mais Constipação nutriente. Atualmente, o mercado de alimentos Intestinal , (página 58) e Fibra Alimentar (página dispõe de uma ampla variedade de alimentos 61). fortificados. No caso do Brasil, visando à prevenção
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    DIRETRIZ 2 -Cereais, tubérculos e raízes 49 e ao controle das deficiências de ferro (anemia micronutrientes e com baixo teor protéico ferropriva) e de ácido fólico na população, a (SOUTHGATE, 1993a). Essas crianças estão também legislação nacional tornou obrigatória a mais vulneráveis a doenças infecciosas (SCRIM- fortificação das farinhas de trigo e milho com ferro SHAW et al., 1968; SCRIMSHAW, 2000). Além da e ácido fólico (RDC-Anvisa n° 344/2002). A desnutrição e das deficiências específicas de fortificação do alimento é descrita no rótulo dos micronutrientes, como anemias, hipovitaminose A e alimentos. outras, estudos recentes sugerem que a Como uma das orientações para uma alimentação pobre durante a fase de crescimento e alimentação saudável, o grupo dos carboidratos desenvolvimento da criança possivelmente totais (complexos + açúcares livres ou simples) deve aumenta o risco de alguns tipos de câncer na fase fornecer de 55% a 75% do valor energético total adulta (WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997). (VET) da alimentação diária; destes, mais da metade Os tipos de carboidratos que compõem a da energia fornecida deverá ter origem em alimentação também merecem atenção. Por alimentos ricos em carboidratos complexos (grãos, exemplo, uma alimentação baseada em alimentos tubérculos e raízes), ou seja, 45% a 65% do VET. não-refinados e que alcancem apenas o limite infe- Uma alimentação que atenda a essa recomendação rior recomendável (45%) é mais saudável que as traz muitos benefícios, principalmente quando se constituídas por alimentos refinados, mas que se utilizam carboidratos em sua forma integral. encontram no limite superior (65%) de energia Considerando uma mesma faixa de oriunda desse grupo de alimentos. ingestão de energia, por exemplo, 2.000kcal, uma A tendência de consumo desses alimentos alimentação rica em carboidratos possivelmente no Brasil é de queda: enquanto em 1974 esses terá menor quantidade de gordura, principalmente alimentos forneciam 42,1% do valor energético da as saturadas, e menos açúcar e pode proteger, alimentação da população, em 2003 essa taxa caiu portanto, as pessoas contra o excesso de peso, para 38,6%. Isso significa que, para alcançar o limite obesidade, alguns tipos de câncer e outras DCNT mínimo de consumo recomendado (45%), é preciso (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989a; WORLD aumentar em cerca de 20% o consumo atual desse HEALTH ORGANIZATION, 1990b, 2000a; grupo de alimentos. A participação relativa desses DEPARTMENT OF HEALTH AND SOCIAL SECURITY , alimentos nas famílias de menor renda é mais alta 1994; WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997; do que nas de maior renda; entre os mais pobres o UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE consumo atende ao recomendado. Outra COORDINATING COMMITTEE, 2000). Em termos característica do consumo nacional desses técnicos, essa alimentação será concentrada em alimentos é a queda de consumo de arroz e pão e nutrientes (alta densidade de nutrientes), em vez de aumento de biscoitos (bolachas salgadas, doces e as concentrada em energia, característica que está recheadas); estes são produtos, em geral, com associada ao excesso de peso e obesidade e a outras elevado teor de gorduras trans e sal ou açúcar, DCNT. portanto prejudiciais à saúde quando consumidos Por outro lado, se o consumo de alimentos em grandes quantidades (INSTITUTO BRASILEIRO ricos em carboidratos é maior do que o DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2004a). recomendado (acima de 75% do total energético da alimentação diária) e há pouca variedade nos tipos Orientações complementares de alimentos consumidos, os nutrientes fornecidos por essa alimentação não são suficientes para garantir a nutrição e a saúde adequadas, podendo Profissionais de Saúde levar a algum tipo de deficiência nutricional. Por - Dada a magnitude estimada da anemia por isso, crianças de famílias de baixa renda estão mais carência de ferro no Brasil, é fundamental que as expostas ao risco de deficiência de proteínas e de pessoas, independentemente da fase do curso da micronutrientes, pois a alimentação disponível vida, sejam orientadas a consumir farinhas nessas famílias é baseada principalmente em fortificadas com ferro e ácido fólico e os produtos alimentos fontes de energia, mas pobres em elaborados com elas. Essas farinhas estão
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    50 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA disponíveis no mercado, por obrigatoriedade de saúde em todas as fases do curso da vida. Resolução da Anvisa (RDC n.° 344/2002), desde - Garantir os procedimentos e as rotinas de inspeção junho de 2004. Essa orientação é particularmente da qualidade e teor de fortificação das farinhas de importante para crianças, idosos, gestantes e trigo e milho. mulheres em idade fértil. Setor produtivo de alimentos Governo - É importante fomentar o desenvolvimento de - O incentivo à utilização de alimentos naturais, ou produtos menos refinados e com baixo teor de com um mínimo de processamento, em programas gorduras, sal e açúcar e sua comercialização a preços de alimentação em escolas, em creches ou em acessíveis a toda a população. outros locais de atendimento a grupos específicos (população institucionalizada como idosos, população carcerária, centros de acolhimento de crianças e adolescentes) é exemplo de ação governamental que pode contribuir para o alcance desta diretriz e para o desenvolvimento e manutenção de hábitos alimentares saudáveis. - Ressalta-se ainda a importância de capacitação dos profissionais de saúde, em particular os que trabalham com alimentação e nutrição na atenção básica, de maneira a assegurar informação e orientação adequadas aos usuários dos serviços de Sabendo um pouco mais O Consumo Recomendado de Alimentos Vegetais Recomenda-se o consumo diário de 6 porções do grupo do arroz, pães, massas, batata, mandioca, alimentos ricos em carboidratos. Nas próximas páginas, também se orienta o consumo de 3 porções de frutas, 3 porções de verduras e legumes e 1 porção de leguminosas (feijões) por dia. A recomendação é que 55% a 75% da energia diária provenham de frutas, legumes e verduras, cereais - de preferência integrais - e tubérculos e raízes. Essa recomendação geral a respeito dos vegetais acompanha os documentos oficiais e relatórios internacionais (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1990b, 2003a; WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997; UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE COORDINATING COMMITTEE, 2000; EURODIET, 2001; NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989b; PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 1998b). Inicialmente pode parecer que esta orientação seja difícil de ser alcançada ao longo do dia, no entanto, os pesos dos alimentos preconizados para as porções são referentes aos alimentos preparados e prontos para consumo. No prato, o arroz e o feijão, por exemplo, pesam muito mais do que quando secos.
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    DIRETRIZ 6 -GORDURAS, AÇÚCARES E SAL 3 Frutas, legumes e verduras 53 Todos à saúde. - Frutas, legumes e verduras são ricos em vitaminas, - Viabilizar campanhas e outras iniciativas de minerais e fibras e devem estar presentes comunicação social e de educação que valorizem e diariamente nas refeições, pois contribuem para a incentivem o consumo desses alimentos. proteção à saúde e diminuição do risco de - Assegurar a presença desses alimentos nos ocorrência de várias doenças. programas públicos e/ou institucionais de alimentação e nutrição (como o Programa de Alimentação do Trabalhador, Programa de Profissionais de saúde Alimentação Escolar e outros) e nas refeições das Orientar: populações institucionalizadas. - O consumo diário de 3 porções de frutas e 3 porções de legumes e verduras nas refeições Família diárias; - Coma diariamente pelo menos 3 porções de - Sobre a importância de variar o consumo desses legumes e verduras como parte das refeições e 3 grupos de alimentos nas diferentes refeições e ao porções ou mais de frutas nas sobremesas e longo da semana; lanches. - E informar sobre a grande variedade desses - Valorize os produtos da sua região e varie o tipo alimentos disponíveis em todas as regiões do País e de frutas, legumes e verduras consumidos na incentivar diferentes modos de preparo desses semana. Compre os alimentos da estação e esteja alimentos para valorizar o sabor. atento para sua qualidade e estado de conservação. Saber que: Considerações e informações adicionais - A participação de frutas, legumes e verduras no A trilogia frutas, legumes e verduras é valor energético total fornecido pela alimentação utilizada para enfatizar a importância da variedade das famílias brasileiras, independentemente da alimentar e também porque esses grupos de faixa de renda, é baixa, variando de 3% a 4%, entre alimentos devem ser parte importante das refeições 1974-2003; e não somente lanches ocasionais (NATIONAL - O consumo mínimo recomendado de frutas, HEART FORUM, 1997a, 1997b; WORLD CANCER legumes e verduras é de 400 gramas/dia para RESEARCH FUND, 1997). garantir 9% a 12% da energia diária consumida, As frutas, os legumes e as verduras são considerando uma dieta de 2.000kcal. Isso significa considerados excelentes alimentos e são abun- aumentar em pelo menos 3 vezes o consumo médio dantes no Brasil. As regiões brasileiras têm uma atual da população brasileira. riqueza e variedades incalculáveis desses alimentos, veja box Sabendo um pouco mais Alimentos Governo e setor produtivo de alimentos Regionais , nesta seção. - Valorizar e promover a produção e o proces- Dependendo da região do Brasil e da samento, com preservação do valor nutritivo de cultura alimentar, as pessoas podem denominar de frutas, legumes e verduras, principalmente os de maneiras distintas os alimentos vegetais. Assim origem local, na perspectiva do desenvolvimento pode-se encontrar sob a denominação verdura sustentável. todo o grupo de hortaliças e legumes. A depender - Fomentar mecanismos de redução dos custos de da situação específica, adaptações de linguagem produção e comercialização desses alimentos. deverão ser feitas para facilitar a compreensão e - Criar estratégias que viabilizem a instalação de adequada identificação do alimento a ser rede local de comercialização, facilitando o acesso incentivado, o grupo correto ao qual o alimento regular da população a esses alimentos, a preços pertence e o número de porções do referido acessíveis. alimento. Para mais informações, consulte o box - Monitorar, segundo a legislação, o uso de agentes Sabendo um pouco mais O Que São Frutas, químicos (agrotóxicos) potencialmente prejudiciais Legumes e Verduras Para os Fins de Orientação
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    54 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Sabendo um pouco mais O Que São Frutas, Legumes e Verduras para os Fins de Orientação Neste Guia? Verduras e legumes são plantas ou partes de plantas que servem para consumo humano. As partes normalmente consumidas são as folhas, frutos, caules, sementes, tubérculos e raízes (PHILIPPI, 2003). Denomina-se verdura quando a parte comestível do vegetal são as folhas, flores, botões ou hastes. Utiliza-se a denominação legume quando as partes comestíveis são os frutos, sementes ou as partes que se desenvolvem na terra. Fruta é a parte polposa que rodeia a semente de plantas que possui aroma característico, sendo rica em suco, e tem sabor adocicado (PHILIPPI, 2003). A variedade desse grupo de alimentos é imensa; alguns têm apenas ocorrência local ou regional. Os de cultivo e comercialização mais abrangente incluem, por exemplo: Verduras: acelga, agrião, aipo, alface, almeirão, brócolis, chicória, couve, couve-flor, escarola, espinafre, mostarda, repolho, rúcula, salsa e salsão. Legumes: cenoura, beterraba, abobrinha, abóbora, pepino, cebola. Frutas: acerola, laranja, tangerina, banana, maçã, manga, limão, mamão e muitas outras. No guia alimentar brasileiro, alimentos vegetais como os tubérculos e as raízes são considerados alimentos ricos em carboidratos (Diretriz 2) e os feijões e outros grãos de leguminosas são considerados vegetais ricos em proteínas (Diretriz 4), portanto não estão incluídos nesta diretriz. O incentivo ao consumo desses grupos de alimentos concentra-se principalmente em suas formas naturais. Produtos com alta concentração de açúcar, como as geléias de fruta e as bebidas com sabor de fruta e os vegetais em conserva, com alto teor de sal, não fazem parte do conjunto de alimentos cujo consumo está sendo incentivado nesta diretriz. Neste Guia? , nesta seção. (vitamina C) aumenta a absorção orgânica do ferro O consumo regular de uma variedade de de origem vegetal, ajudando a prevenir a anemia frutas, legumes e verduras, juntamente com ferropriva. O estímulo ao consumo desses alimentos ricos em carboidratos pouco processados, alimentos-fonte é muito importante oferece garantia contra a deficiência da maior parte particularmente nas regiões onde as deficiências de de vitaminas e minerais, isoladamente ou em vitamina A e de ferro são altas (MCLAREN et al., conjunto, aumentando a resistência às infecções 1993; HALSTED, 1993; KLERK et al., 1998). (SCRIMSHAW et al., 1968; SCRIMSHAW, 2000). Por outro lado, é importante ressaltar que As frutas, legumes e verduras são ricos em os vegetais não contêm vitamina B12, que, junto fibra alimentar e diferentes tipos de vitaminas como com o folato (ácido fólico ou vitamina B9), participa os carotenóides (precursores vegetais da vitamina da formação das hemácias - células vermelhas do A, que existem em grande quantidade nos vegetais sangue - e do metabolismo de ácidos graxos e verde-escuros e frutas de coloração amarela ou aminoácidos. As fontes principais da vitamina B12 avermelhada), os folatos ou vitamina B9 (assim são os alimentos de origem animal. chamados porque, em latim, o termo folium significa Com referência aos minerais, todas as folhas ) e o ácido ascórbico (vitamina C) (U.S. frutas, os legumes e as verduras são ricos em DEPARTMENT OF AGRICULTURE, 2005). potássio, cuja necessidade aumenta Alimentos ricos em carotenóides protegem proporcionalmente em relação à quantidade de contra xeroftalmia, cataratas e outras doenças sódio na alimentação. Alguns alimentos desses oculares, além de auxiliar na imunidade do grupos contêm quantidades adequadas de organismo contra infecções. Já o ácido ascórbico magnésio, cálcio e elementos-traço, que dependem
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    DIRETRIZ 6 -GORDURAS, AÇÚCARES E SAL 3 Frutas, legumes e verduras 55 Sabendo um pouco mais Vitaminas e Minerais As vitaminas e os minerais são substâncias presentes nos alimentos de origem vegetal ou animal em quantidades muito pequenas quando comparadas aos carboidratos, proteínas e gorduras, mas que são essenciais à saúde e à nutrição adequadas. Embora muitos alimentos contenham essas substâncias, as frutas, os legumes e as verduras são especialmente ricos em várias vitaminas e minerais. No Brasil e em muitos países, o controle das deficiências de vitaminas e minerais é prioridade em saúde pública. Por exemplo, a deficiência de vitamina A e de ferro são as principais deficiências no Brasil (WORLD BANK, 1994; BRASIL, 2003f). A deficiência de iodo, embora controlada, em zonas rurais de alguns estados do Centro-Oeste e Nordeste ainda merece atenção. Por outro lado, as deficiências de vitaminas e minerais não se limitam àquelas consideradas problemas de saúde pública, como as deficiências de ferro, vitamina A e iodo. A fome oculta, definida como a carência não explícita de um ou mais nutrientes, é considerada problema nutricional importante no mundo e envolve o estágio anterior ao surgimento de sinais clínicos detectáveis. Comumente há deficiência combinada de vitaminas e minerais (RAMALHO, 2004). As quantidades e proporções dos alimentos recomendados neste guia fornecem quantidades de vitaminas e minerais em níveis iguais e muitas vezes superiores aos necessários para a prevenção das deficiências (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989b; WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997). Portanto, se seguidas as orientações deste guia, o uso de suplementos alimentares de vitaminas e minerais não é necessário, a não ser quando indicados individualmente por médico ou nutricionista. da qualidade do solo no qual são produzidos bronquite. O mecanismo de ação parece ser a (SOUTHGATE, 1993b). melhoria do fluxo de ar provocada pelos O iodo faz parte da constituição dos carotenóides e pelo ácido ascórbico, devido à ação hormônios tiroidianos - tiroxina (T4) e triiodoti- antioxidante desses nutrientes (KLERK et al., 1998). ronina (T3) -, que regulam o metabolismo Os estudos científicos mais recentes têm energético, e pode estar presente em alguns relacionado o consumo regular de uma quantidade alimentos vegetais. Porém, dependendo da mínima de 400g/dia desses grupos de alimentos ao composição do solo para cultivo, pode ocorrer menor risco de desenvolvimento de muitas doenças insuficiência de iodo nos alimentos produzidos crônicas não-transmissíveis e à manutenção do peso nesses locais. Portanto, para garantir o consumo adequado (WORLD HEALTH ORGANIZATION, adequado de iodo, a fonte mais segura é o sal 2003a). São elementos de proteção para hiper- fortificado para consumo humano (sal iodado). tensão arterial e para os acidentes cere- Outra vantagem nutricional das frutas, dos brovasculares (acidente vascular cerebral), legumes e das verduras e também dos grãos e das provavelmente pelo seu alto teor de potássio. leguminosas é que eles possuem compostos Devido ao seu alto teor de fibras e de compostos bioativos, que exercem funções biológicas antioxidantes, esses alimentos são protetores benéficas distintas. Para mais informações, veja o também para hiperlipidemia (excesso de gordura box Sabendo um pouco mais Compostos no sangue) e doenças cardíacas. Por esses e outros Bioativos , nesta seção. motivos, essa alimentação auxilia na prevenção do As evidências científicas mostram ainda câncer de vários órgãos (boca, esôfago, pulmão, que uma alimentação rica em frutas, legumes e estômago, cólon e reto e, provavelmente, pâncreas, verduras protege contra as doenças pulmonares mama e bexiga). crônicas e obstrutivas, incluindo a asma e a As frutas, os legumes e as verduras, além de
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    56 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA ricos em nutrientes, possuem baixo teor energético, o consumo chega a ser seis vezes maior do que entre portanto o consumo adequado desses alimentos as famílias mais pobres (INSTITUTO BRASILEIRO DE auxilia na prevenção e no controle da obesidade e, GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2004a). indiretamente, contra outras doenças crônicas não- Para alcançar o consumo recomendado transmissíveis (diabetes, doenças cardíacas e alguns como saudável para esses grupos de alimentos (9% tipos de câncer), cujo risco é aumentado pela a 12% do VET, considerando uma dieta de obesidade (NATIONAL HEART FORUM, 1997a, 2.000kcal), é preciso aumentar em quase três vezes 1997b; WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997). o consumo médio atual da população, tendo-se Por outro lado, uma alimentação baseada como meta quantitativa mínima o valor de 400g/dia apenas em frutas, legumes e verduras não garante per capita. proteção contra a deficiência de energia e Esses grupos de alimentos têm um custo proteínas, devido à baixa densidade energética relativamente mais alto em relação a outros desses grupos de alimentos. alimentos vegetais, se considerado o índice O consumo desses alimentos no Brasil é custo/caloria. Assim, diferentes áreas de governo tradicionalmente baixo. A participação desses podem contribuir para o aumento da oferta e grupos de alimentos no valor energético da redução de preços desses produtos, como alimentação das famílias brasileiras variou entre 3% agricultura, desenvolvimento agrário, indústria e e 4% do VET, entre 1974 e 2003. Embora a tendência comércio. de consumo esteja relativamente estável, é preciso Uma linha de estratégia importante é a implementar esforços para aumentar continuidade e o fortalecimento do sistema substancialmente o consumo desses grupos de orgânico de produção agropecuária e industrial de alimentos. Nem mesmo as famílias de maior renda alimentos no País, com vistas à maior consomem atualmente o valor mínimo disponibilidade desses produtos a custos acessíveis à recomendado, mas entre famílias de mais alta renda população. O sistema orgânico, também Sabendo um pouco mais Compostos Bioativos Além das vitaminas e dos minerais, as verduras, os legumes e as ervas nativas do Brasil também contêm componentes bioativos, alguns dos quais especialmente importantes para a saúde humana (WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997; WATZL e LEITZMANN, 1999). Eles incluem: aliáceas, encontradas na cebola e no alho (que dão o sabor característico a essas hortaliças); fitoestrogêneos, encontrados nos grãos e leguminosas, principalmente os de soja; glucosinolatos, encontrados nos vegetais crucíferos (couve e repolho); inibidores de proteases, encontrados em grãos e feijões; flavonóides, encontrados nas frutas, legumes e verduras e também no café e chá; e cumarinas, encontradas principalmente na mandioca. Outros compostos bioativos encontrados nos alimentos são: carotenóides (em frutas amarelas e verduras e legumes verde-escuros) e fosfolipídios (lecitina de soja). Os experimentos laboratoriais e a identificação dos mecanismos biológicos de ação dessas substâncias sugerem que alguns desses compostos podem reduzir o risco de doenças, incluindo as doenças cardíacas e o câncer. Contudo, a ciência nessa área ainda está no seu estágio inicial. Somente alguns vegetais foram analisados em sua composição fitoquímica e o efeito protetor dessas substâncias, nas concentrações em que ocorrem nas plantas, ainda não foi completamente compreendido. Com o desenvolvimento do conhecimento, a orientação permanece a mesma: uma alimentação rica em frutas, legumes e verduras, fontes naturais de vitaminas, minerais e compostos bioativos, é funda- mental para a manutenção da saúde.
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    DIRETRIZ 6 -GORDURAS, AÇÚCARES E SAL 3 Frutas, legumes e verduras 57 denominado ecológico, biodinâmico, biológico, cooperativas e outras entidades que controlam a natural, regenerativo, agroecológico e outros, qualidade da produção segundo critérios utiliza processos e controles culturais, biológicos e estabelecidos em regulamento. O mercado para mecânicos em qualquer fase do processo de esse tipo de produto vem crescendo, produção de alimentos ou da cadeia produtiva, em principalmente nos grandes centros urbanos, contraposição ao uso de organismos geneticamente apesar dos preços relativos serem, em geral, mais modificados, agrotóxicos, hormônios e altos. Contudo, ao tempo em que é incentivada a anabolizantes promotores de crescimento, integração e regionalização dessa atividade, entre radiações ionizantes e outros, com a finalidade de os diferentes segmentos da cadeia produtiva, deve ofertar produtos saudáveis e isentos de ser fomentada e fortalecida no âmbito das políticas contaminantes intencionais, proteger o meio públicas setoriais, para permitir maior escala na ambiente, manter ou incrementar a atividade produção desses alimentos e facilitar o acesso da biológica e a fertilidade do solo, promovendo o uso população a alimentos mais baratos e sob condições saudável dos recursos naturais (do solo, da água e sanitárias adequadas. do ar). No Brasil, para sua comercialização, os Orientações complementares alimentos e outros produtos orgânicos, oriundos de produção agropecuária ou de processo extrativista Profissionais de Saúde sustentável, devem ser certificados por organismo - O aumento no consumo desses grupos de reconhecido oficial-mente, como associações, alimentos pode ser considerado o desafio mais importante do Guia Alimentar para a População Sabendo um pouco mais Alimentos Regionais Alguns tipos de frutas, legumes e verduras são produzidos e/ou comercializados em diferentes países. Dentre estas, as frutas mais comuns incluem maçã, banana, mamão, uva, limão, manga, melão, laranja, pêra, abacaxi, morango e melancia. Entre as verduras e legumes, berinjela, feijão-verde, couve, cenoura, couve-flor, pimentão, abóbora, cebola, alho-poró, espinafre, dentre outros. Outras frutas, legumes e verduras, originários do Brasil, não são comercializados nacionalmente em supermercados e estão presentes, preponderantemente, em redes locais, muitas vezes apenas em sistemas informais de varejo. Esses frutos regionais são: açaí, araçá, ata, babaçu, bacuri, biribá, buriti, cajá, cajarana, caju, carambola, cupuaçu, dendê, fruta-do-conde, fruta-de-palmas, jenipapo, goiaba, graviola, jabuticaba, jaca, jambo, juá, mangaba, maracujá, murici, oiti, pequi, pitanga, pitomba, pupunha, sapoti, sirigüela, tamarindo, umbu, etc. As hortaliças regionais são: alfavaca, azedinha, caruru, espinafre-africano, jambu-vinagreira, feijão- de-asa, feijão-de-metro, palma, taioba, beldroega, azedinha, bertalha, ora-pro-nobis, pimenta- murupi. Muitas frutas regionais são ricas em micronutrientes e em várias substâncias bioativas. Por exemplo: buriti, dendê e pequi são fontes extremamente concentradas de carotenóides, bem como os seus óleos. Esses alimentos, abundantes nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste, são naturalmente protetores contra a deficiência de vitamina A, que é endêmica nessas regiões, sendo importantes fontes locais dessa vitamina para a população (BRASIL, 2002b). O Brasil precisa reconhecer a importância dessa incalculável riqueza para o alcance de uma situação estável de segurança alimentar e nutricional de sua população. Para conhecer parte da diversidade regional de frutas, legumes e verduras no Brasil, consulte a publicação Alimentos Regionais do Ministério da Saúde (www.saude.gov.br/nutricao).
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    58 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Brasileira, tanto porque as provas científicas dos transversal nos currículos do ensino fundamental e benefícios do consumo de frutas, legumes e médio pode dar sustentabilidade às iniciativas de verduras para a saúde são irrefutáveis, quanto educação em saúde. A formação de hortas escolares porque a média de consumo, tanto de legumes e e/ou comunitárias é estratégia que facilita o acesso verduras quanto de frutas, é baixa, apesar da sua a esses alimentos, além de ser um excelente abundância no Brasil. Os profissionais de saúde são instrumento de atividades didáticas, elementos-chave para auxiliar no alcance da meta complementação de renda, participação e de aumento do consumo desses grupos de alimentos mobilização social, dentre outras vantagens. especialmente considerando a ampla variedade e - O Programa Nacional de Agricultura Familiar disponibilidade deles nas diferentes regiões (Pronaf), do Ministério do Desen-volvimento geográficas. Agrário, pode ser uma janela de oportunidade para - Conhecer e valorizar os alimentos regio-nais e os aumentar a produção desses alimentos, produtos produzidos localmente é um bom começo disponibilizando-os a preços acessíveis à população para incentivar o consumo desses grupos de local, bem como assegurando o abastecimento de alimentos. alimentos frescos e nutritivos em programas institucionais (escolas, creches, asilos e outros locais Governo e setor produtivo de alimentos de acolhimento de população específica), conciliando produção e consumo saudável. Essa - A diretriz para o consumo de frutas, legumes e estratégia redundaria ainda na geração de renda verduras é um grande desafio, uma vez que os níveis para os agricultores familiares. atuais estão muito aquém do que é comprovadamente saudável e protetor. O - O setor produtivo necessita intensificar o Ministério da Saúde, em suas ações de promoção da desenvolvimento e a oferta de produtos saudáveis, alimentação saudável, destaca a importância do a preços acessíveis, que incorporem frutas, legumes aumento do consumo de frutas, legumes e verduras. e verduras como matéria-prima principal e nenhuma ou quase nenhuma adição de açúcares, - No âmbito da educação, a inserção de temas de sal e gorduras, o que compromete o valor alimentação e nutrição como componente Sabendo um pouco mais Constipação Intestinal A constipação intestinal ou prisão de ventre é uma doença provocada principalmente pelo consumo insuficiente de fibras, porém, outros aspectos também são importantes para manter um bom funcionamento intestinal, evitando essa e outras doenças de origem gastroin- testinal. O bom funcionamento intestinal depende de três elementos inseparáveis. São eles: a ingestão de água, o consumo de fibras e a prática de atividade física. A regularidade da atividade intestinal só é adequada quando estes três fatores são atendidos. As fibras auxiliam na formação do bolo fecal e, em parceria com a quantidade de água ingerida e a atividade física, são responsáveis por estimular a atividade muscular intestinal. A forte tendência de consumo de alimentos industrializados pode agravar ou prejudicar o consumo diário de fibras. Os alimentos industrializados são, em sua grande maioria, processados. O processamento acaba retirando alguns nutrientes do alimento, sendo as fibras um deles. Observe a rotulagem nutricional que especifica a quantidade de fibras disponível nos alimentos selecionados para o seu consumo. As frutas, os legumes e as verduras (por exemplo, mamão, tamarindo, laranja, ameixa, manga, folhas em geral) são alimentos in natura e ótimas fontes de fibras e micronutrientes, além de ter baixa densidade energética. Os cereais integrais como arroz integral, pão integral, centeio, aveia, sementes de linhaça, farelo de aveia e trigo, dentre outros, também são ótimas alternativas para aumentar a quantidade de fibras ingeridas. Para mais informações veja box Sabendo um pouco mais " Fibra Alimentar" ( página 61).
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    DIRETRIZ 6 -GORDURAS, AÇÚCARES E SAL 4 Feijões e outros alimentos vegetais ricos em proteína 61 Todos proporção de 1 para 2 partes; - As leguminosas como os feijões e as oleaginosas - O consumo de modo a que as leguminosas como como as castanhas e sementes são alimentos feijões, lentilhas, ervilha seca, grão-de-bico, soja e fundamentais para a saúde. outros garantam, no mínimo, 5% do total de - A preparação típica brasileira feijão com arroz é energia diária.; uma combinação alimentar saudável e completa em - O consumo de castanhas e sementes, inclusive proteínas. como ingredientes de diferentes preparações.; - O uso de diferentes modos de preparo para a valorização do sabor de todos os tipos de Profissionais de saúde leguminosas. Orientar e estimular: - O consumo diário de 1 porção de leguminosas Saber que: (feijões); - Embora a participação relativa de feijões na - O consumo diário de feijão com arroz, na alimentação brasileira (5,68%) ainda esteja dentro Sabendo um pouco mais Fibra Alimentar O termo fibra alimentar refere-se às partes dos alimentos vegetais que resistem à digestão. As principais fontes de fibras são os alimentos vegetais como grãos, tubérculos e raízes, as frutas, legumes e verduras, leguminosas e outros vegetais, ricos em proteínas. Nenhum alimento de origem animal contém fibra alimentar. Os alimentos com alto teor de fibra são benéficos para a função intestinal. Elas reduzem o tempo que o alimento leva para ser digerido e eliminado e, por essa razão, previnem a constipação e possivelmente são fatores de proteção contra doenças diverticulares e contra o câncer do cólon (ROYAL COLLEGE OF PHYSICIANS, 1980; WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997). Os alimentos com alto teor de fibra podem também reduzir o risco de outras doenças. Existem algumas evidências de que os alimentos com alto teor de fibra, de uma forma geral, e em particular os que contêm fibras solúveis (aveia, feijão e inhame, por exemplo), protegem contra a hiperlipidemia (excesso de gordura no sangue) e também são benéficos para pessoas com diabetes (ENGLYSTH, 1993; TROWELL e BURKITT, 1981; TROWELL et al., 1985). A quantidade de fibras na alimentação é um parâmetro de uma alimentação saudável, pois indica que a alimentação é rica em alimentos vegetais integrais e relativamente pouco refinados, e por isso rica em vitaminas, minerais e outros nutrientes (WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997; UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE COORDINATING COMMITTEE, 2000). Recomenda-se um consumo diário de no mínimo 25g/dia de fibras. Se a alimentação adotar a quantidade de cereais, tubérculos e raízes (Diretriz 1); de frutas, legumes e verduras (Diretriz 2); e de feijões e outros alimentos vegetais ricos em proteínas (Diretriz 3), recomendados neste guia, essa quantidade de fibras é atendida. Alguns exemplos de quantidade média de fibra nos alimentos: maçã com casca - 3g; banana - 2g; laranja média - 3g; 1/2 xícara de brócolis - 2g; cenoura média - 2g; tomate médio - 2g; 1 xícara de alface - 1g; 1 fatia de pão integral - 2g; 1/2 xícara de arroz integral - 2g. Os alimentos processados no Brasil especificam o conteúdo de fibras. Para mais informações sobre a rotulagem de alimentos, consulte a seção Utilizando o Rótulo dos Alimentos (página 117).
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    62 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA da faixa recomendada de consumo, há uma minerais, bem como em compostos bioativos. tendência de queda preocupante, necessitando ser Contêm pequenas quantidades de gordura, quase revertida em curto tempo. toda do tipo insaturada. São normalmente preparados e cozidos a partir de sua forma seca, Governo e setor produtivo de alimentos retendo grande parte de seus nutrientes originais. Embora sejam ricos em ferro, esse - Promover a produção, processamento, comer- nutriente é menos disponível que o fornecido por cialização e consumo de todos os tipos de alimentos de origem animal, como as carnes, prin- leguminosas e oleaginosas, principalmente as cipal fonte de ferro da alimentação, que contêm originárias do Brasil, valorizando os hábitos ferro de maior biodisponibilidade (a utilização pelo alimentares regionais. organismo do ferro nos alimentos de origem animal - Fomentar mecanismos de redução dos custos de é muito maior do que o ferro contido nos alimentos produção e comercialização de leguminosas, de origem vegetal). sementes e castanhas. Para aumentar a utilização biológica do - Assegurar a utilização de feijão e outras ferro e de outros minerais de origem vegetal, leguminosas, de acordo com os hábitos alimentares recomenda-se o consumo concomitante de locais, em programas de alimentação nas escolas, alimentos ricos em vitamina C, provenientes das creches e outras instituições. frutas, legumes e verduras (HALLBERG et al., 1993). - Desenvolver ações de valorização da culinária A soja é uma leguminosa que, nacional que promovam o consumo de preparações diferentemente das demais, é composta por e alimentos saudáveis, inclusive por meio de proteínas de alto valor biológico, ou seja, que se campanhas educativas e informativas nos meios de assemelha às proteínas de origem animal. comunicação. As sementes (de girassol, gergelim, abóbora e outras) e castanhas (do-brasil, de-caju, Família nozes, nozes-pecã, amêndoas, dentre outras) são - Coma 1 porção de feijão por dia. Varie os tipos de também boas fontes de proteína e gordura, na sua feijões usados (preto, carioquinha, verde, de-corda, maior parte insaturada, vitaminas (ácido fólico, branco e outros) e as formas de preparo. Use niacina) e minerais (zinco, selênio, magnésio, também outros tipos de leguminosas (soja, grão-de- potássio, dentre outros). Existem evidências de que bico, ervilha seca, lentilha, fava). as castanhas contribuem para reduzir o risco de - Coma feijão com arroz na proporção de uma parte doenças cardíacas, diabetes e algumas formas de de feijão para duas partes de arroz, cozidos. Esse câncer. Podem ser utilizadas como complemento de prato brasileiro é uma combinação completa de pratos e em lanches. É recomendável que o proteínas e bom para a saúde. consumo seja nas formas assada e sem sal, uma vez que muitas delas já contêm naturalmente grande Considerações e informações adicionais quantidade de gordura. Os alimentos vegetais mais ricos em A maior parte da proteína da alimentação proteínas são as leguminosas; quando cozidos, típica brasileira era originariamente fornecida pela contêm 6% a 11% de proteína. As leguminosas combinação de feijão e arroz. As proteínas dos incluem os feijões verde, branco, jalo, preto, largo, feijões combinadas com a do arroz (cereais), cozidos flageolé, carioquinha, azuki, da-colônia, mantei- na proporção de 1 parte de feijão para 2 partes de guinha, rim, mungo, pinto, fradinho, decorda ou arroz, são uma fonte completa de proteína para os macassar, guandu ou andu, mangalô e também as seres humanos (DE ANGELIS ET AL, 1982a; 1982b; lentilhas, ervilhas secas, fava, soja e grão-de-bico. SOUZA, 1973). Já a alimentação constituída Para efeito deste guia, a palavra feijões abrange basicamente por mandioca e feijão, tradicio- todos esses tipos de leguminosas. nalmente representada pela farinha com feijão, é deficiente em proteínas, bem como em outros Os feijões contêm ainda carboidratos nutrientes essenciais, se contiver pouco grão e complexos (amido) e são ricos em fibra alimentar, pouca carne ou outro alimento de origem animal. vitaminas do complexo B, ferro, cálcio e outros
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    DIRETRIZ 6 -GORDURAS, AÇÚCARES E SAL 4 Feijões e outros alimentos vegetais ricos em proteína 63 Os dados nacionais disponíveis, que (SMFPC), enquanto que na classe de maior permitem estimar o consumo alimentar domiciliar, rendimento (mais de 5 SMFPC) a contribuição revelam uma tendência de queda no consumo de relativa foi de 4,49%. A participação dos feijões no feijões pela população, em prol de alimentos valor energético da alimentação diminui com o industrializados e menos saudáveis. Entre 1974 e aumento da renda, de tal forma que nas classes de 2003, a participação relativa de feijão e outras renda mais elevada o consumo é menos da metade leguminosas no total energético da alimentação que na classe de famílias mais pobres (INSTITUTO caiu em 31% (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEO- BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2004a). GRAFIA E ESTATÍSTICA, 2004a). A diminuição no consumo de feijões Esse grupo de alimentos, além de boa resultou em uma redução importante na ingestão fonte de proteínas, fibras, vitaminas e minerais, é de fibra alimentar, que era de 20g na década de 70 e uma fonte importante de energia para famílias de de 12g na década de 90 (MENEZES et al., 2000). mais baixa renda. Em 2003, os feijões contribuíram Considerando a importância nutricional da com 5,68% do total de calorias, considerando toda a combinação arroz e feijão, ela deve ser resgatada população. Desagregados por classe de rendimento ou mantida, valorizada e incentivada como familiar per capita (SMFPC), os dados mostram que a elemento central da alimentação da população contribuição foi de 9,7% na classe de rendimento de brasileira, pois há evidências de que este prato está até 1/4 do salário mínimo familiar per capita perdendo importância e valor no hábito alimentar. Sabendo um pouco mais Proteínas Alimentos de origem animal, tais como carne de todos os tipos, leite e derivados e ovos, são nutritivos e boas fontes de proteínas. Essas proteínas são completas, o que significa que elas contêm todos os aminoácidos essenciais de que os seres humanos necessitam para o crescimento e a manutenção do corpo, mas que o organismo não é capaz de produzir (GARLICK; REEDS, 1993). Já os alimentos de origem vegetal podem ser ricos em proteínas; mas, com exceção da soja, elas são incompletas, ou seja, não possuem todos os aminoácidos essenciais ou na quantidade adequada às necessidades do ser humano. No entanto há algumas combinações de alimentos que complementam entre si os aminoácidos ou suas quantidades, tornando a combinação de proteínas de alto valor biológico (completa). Por exemplo, as refeições que combinam grãos de cereais e leguminosas são fontes completas de proteínas. Essas combinações têm vantagens. Os cereais e leguminosas são relativamente mais baratos que a carne; são integrais e, em geral, altamente nutritivos e, ao contrário da carne, têm baixos teores de gorduras e teor muito baixo de gorduras saturadas. O equilíbrio e a harmonia na escolha das fontes protéicas animal e vegetal e a inclusão de grandes quantidades de frutas, legumes e verduras tornam a alimentação saudável em todos os aspectos. No passado, acreditava-se que as crianças e também os adultos fisicamente ativos precisavam consumir alimentação com alto teor de proteína de origem animal. Hoje, sabe-se que não é assim. Uma alimentação rica em proteínas animais contém altos teores de gorduras totais e de gorduras saturadas, portanto pode não ser saudável. A alimentação recomendada neste guia tem como base quantidades essenciais e adequadas de proteínas vegetais e de origem animal, tanto para o crescimento de crianças maiores de 2 anos quanto para saúde dos adolescentes, adultos jovens e idosos (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION, 1985).
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    64 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Orientações complementares Profissionais de Saúde - Os níveis atuais do consumo médio nacional de feijão estão dentro do recomendado; no entanto, a ação dos profissionais de saúde deve promover a manutenção desses níveis ou mesmo o aumento dos níveis do consumo. Pelo menos metade da ingestão diária de proteínas deveria ser de origem vegetal, não havendo inconveniência para a saúde se essa quantidade for ultrapassada. - Para melhor aproveitar o ferro existente nesses alimentos (aumento da biodisponibilidade do ferro), é adequado orientar o consumo de verduras ricas em vitamina C, junto com os feijões, ou temperar saladas com limão. A presença de um pedaço de carne na refeição, mesmo que pequeno, também aumenta a absorção do ferro de origem vegetal, se esses alimentos forem consumidos juntos. - É recomendado que leite e derivados não sejam consumidos junto às refeições principais (almoço e jantar), pois o cálcio interfere negativamente na absorção do ferro de origem vegetal e vice-versa. - Para assegurar refeições saudáveis, é preferível que os feijões não sejam preparados com carnes gordas ou embutidos, pois isso eleva muito o teor de gorduras saturadas e de sal, minimizando o efeito positivo do consumo de leguminosas. Feijoada e feijões com carnes gordas devem ser eventual ou ocasionalmente consumidos.
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    5 Diretriz Leite e derivados, carnes e ovos
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    DIRETRIZ 5 -Leite e derivados, carnes e ovos 67 Todos consumo por toda a população. - Leite e derivados, principais fontes de cálcio na alimentação, e carnes, aves, peixes e ovos fazem Família parte de uma alimentação nutritiva que contribui Consuma diariamente: para a saúde e para o crescimento saudável. - 3 porções de leite e derivados. Os adultos, sempre - Os tipos e as quantidades desses alimentos devem que possível, devem escolher leite e derivados com ser adequados às diferentes fases do curso da vida. menores quantidades de gorduras. Crianças, Leites e derivados devem ser preferen-cialmente adolescentes e mulheres gestantes devem consumir desnatados, para os adultos, e integrais para a mesma quantidade de porções, porém usando crianças, adolescentes e gestantes. leite e derivados na forma integral; - 1 porção de carnes, peixes ou ovos. Prefira as Profissionais de saúde carnes magras e retire toda a gordura aparente Orientar: antes da preparação; - O consumo diário de 3 porções de leite e - Coma mais frango e peixe e sempre prefira carne derivados; com baixo teor de gordura. Charque e derivados de - O consumo diário de 1 porção de carnes, peixes ou carne (salsicha, lingüiça, presuntos e outros ovos. embutidos) contêm, em geral, excesso de gorduras - Sobre o alto valor biológico das proteínas e sal e somente devem ser consumidos ocasio- presentes nos ovos, carnes, peixes, leite e nalmente; derivados.; - Coma pelo menos uma vez por semana vísceras e - Sobre a alta biodisponibilidade do ferro presente miúdos, como o fígado bovino, coração de galinha, nas carnes, principalmente nos miúdos e nas vísceras entre outros. Esses alimentos são excelentes fontes e peixes; de ferro, nutriente essencial para evitar anemia, em - E informar que leite e derivados são fontes de especial em crianças, jovens, idosos e mulheres em proteínas, vitaminas e a principal fonte de cálcio da idade fértil. alimentação, nutriente fundamental para a formação e manutenção da massa óssea. O Considerações e informações adicionais consumo desse grupo de alimentos é importante Os seres humanos são onívoros, isto é, em todas as fases do curso da vida, particularmente alimentam-se de uma enorme variedade de na infância, na adolescência, na gestação e para alimentos tanto de origem vegetal como animal. adultos jovens; Desde a pré-história, a carne e os outros alimentos - A escolha de produtos que contenham menor teor de origem animal fazem parte do consumo de gordura. O leite e seus derivados, para adultos alimentar humano. que já completaram seu crescimento, deve ser Alimentos de origem animal incluem preferencialmente desnatado. Crianças, carnes e miúdos, aves, peixe e ovos, bem como leite, particularmente, adolescentes e gestantes devem queijo e outros derivados do leite. No Brasil, as consumir leite e derivados na forma integral, desde carnes mais comuns são as carnes bovinas, suínas e que não haja contra-indicação em seu uso, definida de aves (frango principalmente). Peixes de água por médico ou nutricionista. doce e de água salgada são abundantes no Brasil, o que favorece o consumo de grande variedade de Governo e setor produtivo de alimentos espécies. - Promover a produção, o processamento, a Os alimentos de origem animal são comercialização e o consumo de leite e laticínios e nutritivos, desde que consumidos com moderação. outros alimentos de origem animal com baixos O consumo moderado é recomendado devido ao teores de gordura, tornando-os mais acessíveis - alto teor de gorduras saturadas nesses alimentos, física e financeiramente - a toda a população. que aumentam o risco de desenvolvimento da - Aumentar a disponibilidade interna de peixes por obesidade, de doenças cardíacas e outras doenças, meio da produção sustentável e incentivar o seu incluindo alguns tipos de câncer (WORLD HEALTH
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    68 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Sabendo um pouco mais Alimentação Vegetariana Todos os tipos de carne e não somente a carne vermelha e o frango são fontes importantes de ferro de alta biodisponibilidade, nutriente importante para todas as pessoas, mas essencial para o crescimento das crianças e também para as mulheres em idade fértil, principalmente durante a gravidez. Os produtos de origem animal são fontes exclusivas de vitamina B12. Essa vitamina participa da formação das células vermelhas do sangue e no metabolismo de ácidos graxos. Sua deficiência leva, por exemplo, à anemia e a danos neurológicos. O leite, independentemente de seu conteúdo de gordura, é a principal fonte alimentar de cálcio, que juntamente com a vitamina D (sintetizada pelo organismo a partir da luz do sol), é necessário para o fortalecimento dos ossos durante a fase de crescimento (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989b). A atividade física regular ajuda na fixação do cálcio nos ossos. Por tudo isso, carnes vermelhas, aves, peixes, leite e derivados são nutritivos. O principal cuidado em relação ao consumo desses alimentos está relacionado ao conteúdo de colesterol, gordura total e gordura saturada que os compõem. Ao longo da história, na maioria das civilizações, os seres humanos consumiram carne e outros alimentos de origem animal. Por outro lado, algumas culturas e grupos não consomem carne, laticínios ou qualquer outro tipo de alimento de origem animal, seja por motivos religiosos, filosóficos ou por preferência e são populações saudáveis. Estudos nos EUA e na Inglaterra indicaram que os vegetarianos estão sujeitos a um menor risco de doenças cardíacas e de câncer, mas esses grupos têm também a tendência a não se expor a outros fatores de risco como o hábito de fumar, o que pode interferir nesse resultado (WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997). Outros estudos demonstram que indivíduos vegetarianos não apresentam risco maior de desenvolver osteoporose, quando comparados com não-vegetarianos (LEITZMANN, 2005; KOHLENBERG- MUELLER; RASCHKA, 2003; NEW, 2003; SELLMEYER et al., 2001; HEANEY, 2001; REED et al., 1994). A soja, que tem participação importante nas dietas vegetarianas, apresenta menor quantidade de aminoácidos sulfurados do que as carnes vermelhas. Esse tipo de aminoácido está relacionado ao aumento de excreção de cálcio e, conseqüentemente, ao aumento do risco de desenvolvimento de osteoporose (COELHO, 1995). Quando a alimentação fornece quantidade adequada de ácido ascórbico (vitamina C), a absorção do ferro oriundo dos alimentos vegetais é melhorada. Portanto, uma alimentação vegetariana nutricionalmente adequada pode ser capaz de atender às necessidades nutricionais. Ao optar por uma alimentação vegetariana, é importante a consulta a um nutricionista de maneira a garantir a adequada substituição e combinação dos alimentos e não aumentar o risco à saúde por inadequação alimentar. Quanto mais restrita a alimentação, isto é, se exclui, além das carnes, leite e derivados e/ou ovos, mais importante ainda é essa orientação, especialmente se adotada por crianças, adolescentes, mulheres em idade fértil, gestantes e idosos. A alimentação vegetariana de qualquer tipo pode ser saudável ou não, dependendo dos alimentos escolhidos. Conhecer os alimentos e suas características nutricionais e saber compor uma alimentação, com mistura e variedade adequadas de alimentos, é o que torna ou não a alimentação vegetariana saudável.
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    DIRETRIZ 6 -GORDURAS, AÇÚCARES E SALovos 5 Leite e derivados, carnes e 69 Sabendo um pouco mais Cálcio x Osteoporose O tecido ósseo é um tecido orgânico ativo: seu metabolismo envolve a fixação e a saída do cálcio dos ossos (reabsorção). Nas fases do curso de vida quando os ossos estão sendo formados - infância e adolescência -, a fixação do cálcio é maior do que a sua reabsorção. O ser humano atinge o pico de massa óssea por volta dos 25 anos de idade. A partir dessa idade, a velocidade de fixação do cálcio nos ossos diminui progressivamente. Uma das conseqüências do envelhecimento é a perda de massa óssea que torna os ossos mais frágeis e a pessoa, às vezes, reduz de tamanho. Se a quantidade de cálcio fixada é menor do que a reabsorvida, a massa óssea vai tornando-se menos densa, podendo ocasionar a osteoporose. A osteoporose vem despontando nas últimas décadas como um importante problema de saúde pública. É uma doença que diminui a quantidade de massa óssea, levando à fragilidade dos ossos e aumentando o risco e a incidência de fraturas, em particular as vertebrais e femurais. Estima-se que 1/3 das mulheres com mais de 50 anos apresente risco de desenvolver osteoporose. O consumo excessivo de sódio é muito prejudicial, podendo levar ao aparecimento da osteoporose (MCBEAN et al., 1994). Este é mais um motivo para orientar o consumo moderado de sal e evitar alimentos processados com alto teor de sódio. Também o consumo elevado de carnes vermelhas, devido ao seu elevado teor de aminoácidos sulfurados, está relacionado ao maior risco de osteoporose, sendo este mais um motivo para a recomendação de consumo moderado desse grupo de alimentos (COELHO, 1995) . A osteoporose é uma doença que não tem cura, apenas controle, portanto medidas de prevenção e promoção devem ser feitas precocemente. A melhor prevenção é uma dieta adequada na infância e na adolescência, a fim de se garantir quantidade adequada de ingestão de cálcio, contribuindo para a boa formação do tecido ósseo. A manutenção da dieta saudável no decorrer da vida adulta, associada à prática de exercícios físicos e exposição solar também são ações importantes. O leite é a melhor fonte de cálcio na alimentação. No Brasil, há uma aparente tendência de redução no consumo de leite pela população. Isto é particularmente preocupante quando se observa que as crianças e jovens vêm substituindo o consumo de leite por refrigerantes. Essa tendência repercute negativamente sobre a saúde óssea por dois caminhos: primeiro, a disponibilidade adequada de cálcio nas fases de crescimento e desenvolvimento pode ser comprometida e, segundo, as substâncias contidas no refrigerante impedem a fixação do cálcio na matriz óssea. Nessas fases do curso da vida, ocorre um rápido crescimento dos tecidos muscular, esquelético e endócrino, aumentando a necessidade nutricional desse nutriente. O consumo regular de leite e derivados associado à recomendação de exposição ao sol, observando os horários adequados para evitar problemas de superexposição aos raios solares, e à prática de atividade física em quaisquer fases do curso da vida deve ser estimulado e incentivado pelos profissionais de saúde. Crianças de 3 e de 4 a 8 anos necessitam, respectivamente, de 500mg e 800mg de cálcio por dia (INSTITUTE OF MEDICINE, 2000). Considerando pré-escolares (1 a 6 anos) e os escolares (7 a 14 anos), o atendimento das necessidades de cálcio requer o consumo de 3 copos (600ml) e de 2 a 3 copos (400ml a 600ml) de leite por dia. A necessidade diária de cálcio dos adolescentes de ambos os sexos é de 1.300mg e, entre idosos, de 1.200mg. As necessidades de cálcio para gestantes também são maiores: adolescentes grávidas, 1.300mg/dia, e gestantes adultas, 1.000mg/dia.
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    70 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA ORGANIZATION, 1990b; DEPARTMENT OF HEALTH alto teor de sal, devendo ser evitados. AND SOCIAL SECURITY, 1994; WORLD CANCER Os ovos contêm proteínas de alto valor RESEARCH FUND, 1997; UNITED NATIONS biológico e gordura e têm grandes quantidades de ADMINISTRATIVE COORDINATING COMMITTEE, colesterol; entretanto, algumas evidências têm 2000). Os alimentos de origem animal também mostrado que o consumo de ovos, em uma contêm colesterol, um componente lipídico que alimentação com níveis baixos de gorduras totais, pode se acumular nos vasos sangüíneos, parece não exercer efeitos negativos nos níveis constituindo risco para doenças cardíacas (DEPART- plasmáticos de colesterol e, conseqüentemente, no MENT OF HEALTH AND SOCIAL SECURITY, 1994). aumento do risco de doenças cardiovasculares. Uma As carnes e os peixes, de modo geral, são explicação para isso seria o fato de que 50% da boas fontes de todos os aminoácidos essenciais, gordura presente nos ovos é do tipo insaturada. substâncias químicas que compõem as proteínas, Além disso, é boa fonte de vitaminas do complexo B necessárias para o crescimento e a manutenção do (colina e biotina) (KATZ et al., 2005; HERRON et al., corpo humano, bem como são fontes importantes 2003; HERRON et al., 2004; SONG; KERVER, 2000; de ferro de alta biodisponibilidade e vitamina B12; KRITCHEVSKY; KRITCHEVSKY, 2000; HU et al., peixes são também boas fontes de cálcio. 1999). Pelas suas características nutricionais, os ovos As carnes bovinas, de aves e de peixes também são componentes de uma alimentação contêm cerca de 20% de proteína, variando de 4% saudável, desde que consumidos com moderação, ou menos, para os animais selvagens e peixe de de acordo com a orientação dada para todos os carne branca, a 30% a 40%, para as carnes dos alimentos de origem animal. animais provenientes de produção pecuária. As O leite é uma fonte importante de carnes bovinas e de aves são fontes de vitaminas B6 riboflavina (vitamina B2) e principal fonte de cálcio e B12 e de zinco e selênio de fácil absorção. na alimentação. Mesmo os leites com baixo teor de Particularmente, os miúdos (vísceras) são gordura e os desnatados são ricos em cálcio. Os ricos em ferro e devem compor a alimentação de derivados do leite, como o iogurte e o queijo crianças, adolescentes, gestantes e idosos, pelo branco, têm o mesmo perfil nutricional do leite, menos, uma vez por semana. Mais que isso não é exceto a manteiga e o creme de leite, que são recomendado, uma vez que também possuem alto compostos praticamente de gordura. Atenção espe- teor de gorduras saturadas e de colesterol. A cial deve ser dada ao consumo de iogurtes e bebidas alimentação monótona, com poucos alimentos de lácteas industrializadas com sabores e outros origem animal, aumenta o risco de deficiência de ingredientes, pois podem conter uma quantidade ferro (anemia ferropriva), que retarda o considerável de açúcar acrescentado durante a desenvolvimento físico e mental. fabricação do produto. Os iogurtes naturais são Os peixes contêm menor quantidade mais recomendados. desses nutrientes, mas são ricos em ácidos graxos Alguns alimentos de origem vegetal, como essenciais. Já os mariscos contêm proteínas e brócolis, repolho, couve e o tofu (queijo de soja), gordura e têm grandes quantidades de colesterol. também são boas fontes de cálcio (LOPEZ et al., Outro nutriente vital, o zinco, é necessário 2003). O cálcio é necessário para o crescimento e para o crescimento e desenvolvimento dos músculos desenvolvimento dos ossos e dentes. A manutenção e está disponível nos alimentos de origem animal da saúde óssea ao longo do curso da vida é (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989b; WORLD garantida pelo consumo adequado de cálcio e BANK, 1994; UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE outros nutrientes, associado à exposição das COORDINATING COMMITTEE,2000). Alguns pessoas aos raios solares, o que auxilia o organismo alimentos de origem vegetal também são boas a produzir vitamina D e à prática regular de fontes de zinco: semente de abóbora, grãos de atividade física. Esses dois últimos fatores são ainda feijão e soja cozidos, as castanhas, dentre outros. mais importantes quando a alimentação tem um Os produtos derivados da carne, teor de cálcio abaixo do recomendado, pois embutidos, hambúrgueres, salsichas e outros têm, auxiliam a sua fixação na matriz óssea. Para mais em geral, quantidades bem maiores de gordura e informações, veja box Sabendo um pouco mais
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    DIRETRIZ 6 -GORDURAS, AÇÚCARES E SALovos 5 Leite e derivados, carnes e 71 Cálcio X Osteoporose , nesta seção. orientação de um nutricionista, especialmente se As tendências nacionais de consumo desses forem crianças, adolescentes, gestantes e idosos. grupos de alimentos, especialmente das carnes, são crescentes: em 1974, o consumo de carnes e de leite Governo e setor produtivo de alimentos e derivados correspondia a 14,9% do consumo São medidas complementares importantes energético diário das famílias brasileiras; em 2003, para o alcance das metas dietéticas desta diretriz: essa participação foi de 21,2%. Por essas tendências, - Estimular o desenvolvimento de métodos de é prudente a manutenção da média de consumo produção/criação que resultem carnes com baixo atual da população; contudo, as famílias de menor teor de gordura; poder aquisitivo, com alimentação monótona, - Estimular a prática regular da atividade física para podem necessitar de um aumento no consumo de assegurar a saúde do sistema ósseo. alimentos de origem animal. Entre as 184 famílias mais pobres, o consumo de alimentos de origem animal corresponde a 11,7% do valor energético diário, comparado com uma participação de 24,1% entre as famílias de mais alta renda. Uma boa alternativa que deve ser incentivada é o consumo de peixes, pois contêm proteínas de alto valor biológico e gorduras insaturadas que não são prejudiciais à saúde. Embora o Brasil seja rico em produção de pescados, o consumo é baixo e foi reduzido à metade entre 1974 e 2003. Também os ovos apresentam uma clara tendência de queda de consumo (84%) nesse período. Orientações complementares Profissionais de Saúde - As carnes selecionadas para o consumo devem ser aquelas com menor quantidade de gordura. Uma orientação prática e importante é a retirada de toda a gordura aparente das carnes antes de sua preparação para consumo da família. - Os produtos derivados da carne, embu-tidos, hambúrgueres, salsichas e outros, têm quantidades bem maiores de gordura e alto teor de sal, devendo ser consumidos apenas ocasio-nalmente. - Para crianças, adolescentes e gestantes, é recomendado o consumo de leite e derivados integrais, porque nessas fases do curso da vida há necessidade de ácidos graxos essenciais importantes para a formação do tecido nervoso, que estão contidos na gordura do leite e derivados. Se houver justificativa clínica, o consumo de leite e derivados com baixo teor de gordura poderá ser prescrito por médico ou nutricionista individualmente. - Caso existam pessoas que adotem uma alimentação vegetariana, referencie-as para a
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    72 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Sabendo um pouco mais Intolerância à Lactose e Alergia à Proteína do Leite A intolerância à lactose é caracterizada pela deficiência de uma enzima digestiva - a lactase -, que diminui a capacidade de digestão da lactose (açúcar presente no leite). A lactose não digerida presente no intestino sofre fermentação pelas bactérias intestinais, podendo causar sintomas como irritação intestinal, flatulência (gases intestinais), distensão abdominal, cólicas e diarréia. No Brasil, estima-se que cerca de 37 milhões de brasileiros maiores de 15 anos apresentem intolerância à lactose. Desse total, cerca de dez milhões têm intolerância grave (SEVÁ-PEREIRA, 1996). A alergia ao leite de vaca é a alergia alimentar mais comum na faixa etária pediátrica, com relatos da literatura indicando uma prevalência de até 7% em crianças menores de 3 anos de idade. As manifestações clínicas são muito variadas, sendo as mais comuns cutâneas, gastrointestinais e respiratórias (CASTRO et al., 2005). Para indivíduos portadores dessas patologias, o leite e alguns de seus derivados não são considerados fontes adequadas de proteínas e de cálcio; portanto, é importante que pessoas com hipersensibilidade alimentar recebam orientação alimentar de um nutricionista.
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    DIRETRIZ 6 --GORDURAS,açúcares e sal DIRETRIZ 6 Gorduras, AÇÚCARES E SAL 75 Todos Em relação ao consumo de AÇÚCARES - As gorduras e os açúcares são fontes de energia. Saber que: - O consumo freqüente e em grande quantidade de - O consumo de açúcares simples não deve gorduras, açúcar e sal aumenta o risco de doenças ultrapassar 10% da energia total diária. Isso como obesidade, hipertensão arterial, diabetes e significa redução de, pelo menos, 33% (um terço) na doenças do coração. média atual de consumo da população. - Utilize sempre o sal fortificado com iodo (sal iodado). Orientar: - O consumo máximo diário de 1 porção de Profissionais de saúde alimentos do grupo dos açúcares e doces; Orientar: - E informar que os açúcares são fonte de energia e - A redução do consumo de alimentos com alta podem ser encontrados naturalmente nos concentração de sal, açúcar e gordura para diminuir alimentos, como frutas e mel, ou ser adicionados em preparações e alimentos processados; o risco de ocorrência de obesidade, hipertensão arte- - A redução do consumo de alimentos e bebidas rial, diabetes, dislipidemias e doenças processados com alta concentração de açúcar e das cardiovasculares; quantidades de açúcar adicionado nas preparações - Sobre a importância da consulta e interpretação caseiras e bebidas. da informação nutricional e da lista de ingredientes nos rótulos dos alimentos para seleção de alimentos Em relação ao consumo de SÓDIO (sal) mais saudáveis. Saber que: - O consumo de sal diário deve ser no máximo de Em relação ao consumo de GORDURAS 5g/dia (1 colher rasa de chá por pessoa). Isso Saber que: significa que o consumo atual médio de sal pela - A contribuição de gorduras e óleos, de todas as população deve ser reduzido à metade. Essa fontes, não deve ultrapassar os limites de 15% a quantidade é suficiente para atender às neces- 30% da energia total da alimentação diária. Uma sidades de iodo. vez que os dados disponíveis de consumo alimentar no Brasil são indiretos e baseados apenas na Orientar: disponibilidade domiciliar de alimentos, é - E informar que o sal de cozinha possui sódio. Este importante que o consumo de gorduras seja mineral quando consumido em excesso é prejudicial limitado para que não se ultrapasse a faixa de à saúde. consumo recomendada; - Que todo o sal consumido deve ser iodado. - O total de gordura saturada não deve ultrapassar - Que o sal destinado ao consumo animal não deve 10% do total da energia diária; ser utilizado pelas famílias das zonas rurais, pois - O total de gordura trans consumida deve ser esse sal não contém a quantidade de iodo menor que 1% do valor energético total diário (no necessária para garantir a saúde de seres humanos. máximo 2g/dia para uma dieta de 2.000 kcal). - A redução do consumo de alimentos processados com alta concentração de sal, como temperos prontos, caldos concentrados, molhos prontos, Orientar: salgadinhos, sopas industrializadas e outros. - O consumo máximo diário de 1 porção de alimentos do grupo dos óleos e gorduras, dando preferência aos óleos vegetais, azeite e margarinas Governo e setor produtivo de alimentos - Investir no desenvolvimento de tecnologia que livres de ácidos graxos trans; atenda aos princípios da alimentação saudável. - Sobre os diferentes tipos de óleos e gorduras e - A redução substancial no consumo do sal, açúcares seus distintos impactos sobre a saúde.
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    76 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA e gorduras exige mudanças imediatas nas práticas Considerações e informações adicionais de industrialização de alimentos. As gorduras e os açúcares são fontes de - Desenvolver e adotar técnicas de produção de energia para o organismo. Além disso, as gorduras alimentos, a custos acessíveis, que resultem em são fontes de ácidos graxos essenciais e de vitaminas produtos com menores quantidades de açúcares, lipossolúveis (A, D, E, K), que necessariamente gorduras e sal. Esse princípio deve nortear a devem ser veiculados pelos alimentos, pois o produção industrial em geral e não ser restrito organismo não pode produzí-los. Assim, todos os apenas para o grupo dos chamados alimentos para seres humanos precisam de fonte de gordura. O fins especiais . importante é saber distinguir aquelas que são mais - Garantir que todo o sal para consumo humano saudáveis e essenciais ao bom funcionamento do seja iodado e atenda aos teores de iodação organismo daquelas que devem ser evitadas por estabelecidos pela legislação nacional vigente. prejudicar a saúde e consumi-las dentro das faixas - Regulamentar o comércio, a propaganda e as recomendadas para a boa nutrição. No grupo de estratégias de marketing de alimentos densamente alimentos denominado gorduras , estão incluídas energéticos (altos teores de gorduras e açúcar) e as margarinas e todos os óleos vegetais, como o de com teor elevado de sal. soja, milho, girassol, canola, algodão, bem como as gorduras de origem animal (banha, manteiga, leite e laticínios e a própria gordura que compõem as Família carnes). Para mais informações, veja box Sabendo - Reduza o consumo de alimentos e bebidas um pouco mais Os Diferentes Tipos de Gorduras , concentrados em gorduras, açúcar e sal. Consulte a nesta seção. tabela de informação nutricional dos rótulos dos O açúcar é usado para adoçar e preservar alimentos e compare-os para ajudar na escolha de alimentos e bebidas industrializados e os caseiros. alimentos mais saudáveis; escolha aqueles com Ao contrário de alguns tipos de gorduras, o açúcar menores percentuais de gorduras, açúcar e sódio. não é necessário ao organismo humano. Ele - Use pequenas quantidades de óleo vegetal pertence ao grupo dos carboidratos, portanto, a quando cozinhar. Prefira formas de preparo que energia requerida pelo nosso organismo pode ser utilizam pouca quantidade de óleo, como assados, adquirida pelos grupos de alimentos-fonte de cozidos, ensopados, grelhados. Evite frituras. carboidratos complexos (amidos) e não de açúcares simples. Mas, o ser humano, desde que nasce, tem - Consuma não mais que 1 porção por dia de óleos uma preferência por alimentos com sabor doce, o vegetais, azeite ou margarina sem ácidos graxos que explica o grande consumo e preferência por trans. esse tipo de alimento. O aumento da disponi- - Consuma não mais que 1 porção do grupo dos bilidade e do consumo de açúcar - diretamente ou açúcares e doces por dia. incorporado aos alimentos industrializados - tem - Reduza a quantidade de sal nas prepa-rações e efeitos prejudiciais à saúde. Para mais informações, evite o uso do saleiro à mesa. veja box - Sabendo um pouco mais Carboidratos - A quantidade de sal por dia deve ser, no máximo, (página 43) . uma colher de chá rasa, por pessoa, distribuídas em Os alimentos com alta concentração de todas as preparações consumidas durante o dia. energia (gorduras e açúcares) estão relacionados ao - Utilize somente sal iodado. Não use sal destinado aumento da incidência do excesso de peso e da ao consumo de animais. Ele é prejudicial à saúde obesidade e de DCNT, cujo risco é aumentado pela obesidade (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989a; humana. WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1990b, 2000a, - Valorize o sabor natural dos alimentos, reduzindo 2003a; WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997; o açúcar ou o sal adicionado a eles. UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE - Acentue o sabor de alimentos cozidos e crus COORDINATING COMMITTEE, 2000). utilizando ervas frescas ou secas ou suco de frutas O sal de cozinha cloreto de sódio é usado como tempero. como tempero para realçar o sabor dos alimentos
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    DIRETRIZ 6 --GORDURAS,açúcares e sal DIRETRIZ 6 Gorduras, AÇÚCARES E SAL 77 nas preparações caseiras e também na conservação Essas reservas corporais viabilizavam a sobrevi- de alimentos. O cloreto de sódio e outros compostos vência em períodos de migração ou escassez de químicos que contêm sódio em sua composição por alimentos. Os nossos ancestrais, inicialmente exemplo, o glutamato de sódio são muito usados agricultores e camponeses, tinham sua alimentação também pela indústria de alimentos no composta, na sua maioria, por alimentos frescos e in processamento de inúmeros produtos. O consumo natura ou processados minimamente. Essa de sal, de todas as fontes (adicionado às alimentação continha cerca de 20% a 25% de preparações caseiras ou o utilizado no gordura, medida como porcentagem de energia processamento de alimentos e preparações total (TROWELL e BURKITT, 1981; EATON et al., industriais), deve ser limitado de maneira a reduzir 1988). o risco de doenças coronarianas. A maioria dos alimentos, mesmo os vegetais, contém alguma gordura. Por exemplo, dos Gorduras grãos como arroz e milho, de sementes como As gorduras e os óleos são muito girassol e de leguminosas como a soja são extraídos concentrados em energia, fornecendo 900kcal/100g óleos vegetais, largamente utilizados no preparo de (comparativamente, proteínas e carboidratos alimentos. Outros vegetais, como abacate, coco e fornecem 400kcal/100g), mas todas as pessoas azeitonas, têm alto teor de gordura. Os óleos de precisam consumir alguma gordura. dendê, buriti e pequi, além de fornecer energia, são muito ricos em carotenóides, os precursores da Pela sua alta concentração de energia, vitamina A (BRASIL, 2002b). As carnes e os órgãos facilmente armazenada no organismo, os seres (miúdos) de muitos animais, bem como alguns tipos humanos evoluíram com uma fome de gordura . Sabendo um pouco mais Colesterol O colesterol é uma gordura que está presente apenas em alimentos de origem animal e também é produzida pelo fígado. É um componente das paredes celulares e precursor de muitos hormônios (estrógeno e testosterona) e de ácidos biliares. O colesterol participa ainda dos processos de absorção das gorduras e da síntese de vitamina D. O organismo é capaz de sintetizar o suficiente para cobrir as necessidades metabólicas; dessa maneira, não há necessidade de consumo externo desse composto, por meio da alimentação; no entanto, pode haver uma elevada ingestão de colesterol alimentar proveniente das carnes, vísceras, ovos e laticínios. O colesterol sérico pode ser classificado em vários tipos, de acordo com suas funções e propriedades, destacando-se os dois mais importantes, que são o HDL e o LDL-colesterol. O HDL- colesterol, lipoproteína de alta densidade, é responsável pelo transporte do colesterol dos diferentes tecidos do corpo para o fígado, freqüentemente associado a um menor risco de doenças cardíacas. O LDL, colesterol ligado a lipoproteínas de baixa densidade, é responsável pelo transporte do colesterol nos diferentes tecidos orgânicos. O LDL-colesterol atua sobre as paredes internas dos vasos sangüíneos, favorecendo a formação de depósitos de gordura e células nas paredes das artérias, levando ao seu estreitamento, que prejudica o fluxo sangüíneo. Por isso, o LDL é considerado como o colesterol mal e está associado a maior risco de doenças cardíacas. Esses dois tipos de colesterol são encontrados apenas no sangue e não nos alimentos. A alimentação que contém baixos níveis de gordura saturada e colesterol favorece a redução no LDL circulante. Adicionalmente, a atividade física eleva a quantidade de HDL circulante. Essas evidências também fundamentam a diretriz deste guia que recomenda a moderação no consumo de alimentos de origem animal, dando preferência àqueles com menores teores de gorduras.
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    78 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Sabendo um pouco mais Os Diferentes Tipos de Gorduras Do ponto de vista da saúde, há três aspectos que se deve saber sobre as gorduras e óleos de origem animal e vegetal. Primeiro, as gorduras e óleos são produtos de alta concentração energética: fornecem 900kcal/100g. Isso é mais do que o álcool e duas vezes mais do que os carboidratos e as proteínas. Segundo, existem tipos diferentes de gordura com impactos diferentes na saúde. Terceiro, o impacto das gorduras e dos óleos na saúde depende em grande parte do tipo de alimento consumido e do nível de atividade física. Os alimentos, tais como óleos vegetais, margarinas, banha de porco, gordura vegetal hidrogenada e manteiga, são constituídos por praticamente 100% de gordura; mas as gorduras também compõem muitos outros alimentos de origem animal ou vegetal, seja como componente natural ou como ingrediente adicionado aos produtos industrializados ou às preparações caseiras. Uma grande variedade de produtos industrializados e mesmo caseiros, como bolos, tortas, biscoitos e chocolates, é elaborada com uma combinação de gordura e açúcar que deve ter o consumo reduzido e controlado, pois aumenta o risco de ocorrência de DCNT. As gorduras são distintas em suas propriedades físicas e químicas. São essas características que podem ser mais ou menos benéficas para a saúde humana. É com base nessas características que se classificam as gorduras em saturadas e insaturadas; portanto, embora as gorduras componham uma alimentação saudável, a quantidade e o tipo de gordura devem ser observados. Gorduras saturadas: aumentam o risco de dislipidemias como também de doenças cardíacas. As principais fontes são alimentos de origem animal (manteiga, banha, toucinho e carnes e seus derivados, leite e laticínios integrais), embora alguns óleos vegetais sejam ricos nesse tipo de gordura (óleo de coco). Essas gorduras são prejudiciais à saúde. A alimentação composta por grandes quantidades de carnes, derivados de carne e de leite e laticínios integrais são, por essa razão, uma causa importante das doenças cardíacas (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1998a; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1990a; DEPARTMENT OF HEALTH AND SOCIAL SECURITY, 1994). É recomendável que o total de energia da alimentação fornecido pelas gorduras saturadas seja menor do que 10%. As gorduras insaturadas dividem-se em dois tipos: monoinsaturadas e poliinsaturadas. Ao contrário das gorduras saturadas, as insaturadas não causam problemas de saúde, exceto quando consumidas em grande quantidade. Ácidos graxos monoinsaturados: as principais fontes são azeite de oliva, óleos vegetais (girassol, canola e arroz), azeitona, abacate e oleaginosas (castanhas, nozes, amêndoas). A quantidade recomendada desse tipo de gordura é calculada pela diferença em relação à soma dos demais [gordura total - (gordura saturada + gordura poliinsaturada + gordura trans)], para completar o percentual total recomendado para gorduras totais. Ácidos graxos poliinsaturados: algumas gorduras poliinsaturadas são essenciais para manutenção da saúde e da própria vida. As principais fontes são os óleos vegetais (óleos de algodão, milho, soja, girassol e de linhaça) e óleo de peixe. Os peixes em geral são ricos em ácidos graxos poliinsaturados (DEPARTMENT OF HEALTH AND SOCIAL SECURITY, 1994). Por isso, recomenda-se incentivar o consumo de peixes no Brasil. O teor recomendado de consumo de gorduras desse tipo é de 6% a 10% do total de energia diária. Ácidos graxos trans: é um tipo de gordura obtido principalmente do processo de indu- stria-lização de alimentos, a partir da hidrogenação de óleos vegetais. Recomenda-se, no máximo, que 1% do valor energético da alimentação diária seja proveniente desse tipo de gordura. Esse tipo de gordura é tão ou mais prejudicial à saúde que as gorduras saturadas. Para mais informações, veja box Sabendo um pouco mais Hidrogenação , nesta seção.
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    DIRETRIZ 6 --GORDURAS,açúcares e sal DIRETRIZ 6 Gorduras, AÇÚCARES E SAL 79 de peixes, contêm gordura. exceto os de coco, cacau e palma (dendê) As gorduras são de diferentes tipos e, de (CONSENSO BRASILEIRO SOBRE DISLIPIDEMIAS, acordo com isso, podem ser mais ou menos 1996). prejudiciais à saúde. A gordura saturada está O consumo excessivo de alimentos com presente em alimentos de origem animal, é sólida à alto teor de gordura está associado ao crescimento temperatura ambiente e seu consumo deve ser e ao risco de incidência de várias doenças. Devido à moderado. A OMS recomenda que não mais que densidade energética da gordura, quando as dietas 10% do total de energia consumida seja fornecida de populações sedentárias contêm mais de 25% de por esse tipo de gordura. A gordura vegetal gordura, as pessoas tendem a ter excesso de peso ou hidrogenada também chamada gordura trans obesidade (WORLD HEALTH ORGANIZATION, deve ser evitada, pois é prejudicial à saúde e está 2000d). A alimentação contendo muita gordura presente em muitos alimentos processados. saturada é a causa de dislipidemias e das doenças As gorduras insaturadas, naturalmente cardíacas (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989a; presentes nos óleos vegetais, são fontes de ácidos WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1990b, 2000d, graxos essenciais e devem compor a alimentação em 2003a; WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997; todas as fases do curso da vida, em quantidades UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE moderadas. Os ácidos graxos essenciais e as COORDINATING COMMITTEE, 2000). vitaminas A, D, E e K não podem ser produzidos pelo Esse risco é maior em populações organismo humano, devendo ser fornecidos pela sedentárias. Quando as populações são ativas, a alimentação, mas também em pequenas quantidade de gordura naturalmente presente nos quantIdades. Alguns óleos vegetais, como o de alimentos de origem animal e vegetal e extraída de coco, possuem gorduras saturadas, devendo ser vegetais, como os óleos, provavelmente, não causa utilizados com moderação e apenas muitos problemas de saúde (UNITED NATIONS ocasionalmente na alimentação. O óleo de palma ADMINISTRATIVE COORDINATING COMMITTEE, (dendê) contém ácidos graxos saturados, 2000; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000d, insaturados e poliinsaturados 2003a). Por isso, a alimentação com alto teor de (SAMBANTHAMURTHI et al., 2000). O consumo gorduras é mais prejudicial atualmente do que há desse tipo de óleo foi associado à melhoria do perfil duas gerações, quando as pessoas eram fisicamente lipídico: redução e/ou produção de níveis normais mais ativas. Mas também é verdade que, em geral, a de colesterol total e elevação dos níveis do HDL- alimentação atual contém mais gordura, tanto nos colesterol (KESTELLOT et al., 1989; NG et al., 1991). alimentos de origem animal quanto nos alimentos Pelo seu elevado teor de carotenóide e de vitamina processados, pois com a industrialização dos E pode atuar como fator de proteção e inibidor da alimentos o teor de gordura nos alimentos carcinogênese (SYLVESTER et al., 1986; SUNDRAM aumentou e a composição química da gordura et al., 1989). utilizada foi modificada. Estudos têm mostrado que alguns tipos de Alguns alimentos merecem muita atenção, ácidos graxos essenciais (ômega-3 e ômega-6), pois a gordura presente neles não é visível: a presentes nas gorduras insaturadas, são fatores de maioria dos bolos, tortas, biscoitos, chocolates, proteção à saúde. O ácido graxo ômega-3, por salgadinhos, pastéis que levam muita gordura na exemplo, está associado com a redução do risco de preparação da massa, recheio e cobertura e ainda doenças cardiovasculares, alguns tipos de câncer e todos os alimentos fritos. A gordura usada nesses no tratamento de doenças inflamatórias como tipos de alimentos é do tipo vegetal hidrogenada artrite reumatóide (OH, 2005); SEO et al., 2005; (gordura trans). Essa gordura, embora seja feita a CARRERO et al., 2005; NETTLETON; KATZ, 2005; partir de óleos vegetais, é tão ou mais prejudicial à SAHIDI; MIRALIAKBARI, 2004; HOLUB; HOLUB, saúde que as gorduras saturadas. Para mais 2004; SALDEEN; SALDEEN, 2004; EILAT-ADAR et al., informações, veja box Sabendo um pouco mais 2004). Esse tipo de ácido graxo está presente Hidrogenação , nesta seção. principalmente na gordura dos peixes. Já o ácido Os dados da última pesquisa nacional que graxo ômega-6 está presente nos óleos vegetais, permitem estimar a participação relativa das
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    80 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Sabendo um pouco mais Hidrogenação Grande parte dos alimentos processados contém muita gordura, principalmente a do tipo hidrogenado. A hidrogenação converte os óleos vegetais líquidos e insaturados em gorduras sólidas e mais estáveis à temperatura ambiente, produzindo um tipo de gordura conhecida como ácidos graxos trans ou gordura trans . A hidrogenação é utilizada com dois objetivos comerciais. Ela possibilita a conversão de todos os tipos de óleos vegetais e de origem animal em um único produto uniforme e esse tipo de gordura demora mais tempo para estragar e ficar rançosa. Aumenta, portanto, o tempo de conservação dos produtos, principalmente nos climas tropicais, como o do Brasil. Observe a lista de ingredientes dos alimentos processados. Você verá a palavra hidrogenada em muitos produtos e que esses produtos têm prazos de validade bem longos, alguns maiores que um ano. Os biscoitos recheados ou não, bolos e pães industrializados em geral, outros tipos de massas, margarinas e gorduras vegetais utilizam a gordura trans (hidrogenada) como ingrediente. Quanto menos alimentos com esse tipo de ingrediente você consumir, melhor para a sua saúde. O corpo humano não evoluiu com a capacidade de consumir grandes quantidades de gordura saturada de origem animal e de gorduras elaboradas por processo de hidrogenação sem sofrer sérias conseqüências metabólicas. O consumo da gordura trans tem efeitos semelhantes aos que a gordura saturada causa na saúde humana; por isso, deve ser evitado. Já nos anos 90 acumulavam-se evidências de que as gorduras trans acarretam maior risco do que as gorduras saturadas para o desenvolvimento de doenças cardíacas (DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES, 1994; WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997; EURODIET, 2001; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003a). Fique atento à rotulagem dos produtos e evite alimentos cujos rótulos mencionam gordura hidrogenada , gordura trans , óleo hidrogenado ou gordura vegetal na sua lista de ingredientes. gorduras na alimentação das famílias revelam que o contexto da adoção de uma alimentação saudável. consumo de gorduras totais e de ácidos graxos Açúcar saturados apresenta tendência crescente. Em 2003, O açúcar, assim como o amido, é um tipo de o consumo de gorduras totais extrapolou os limites carboidrato. As frutas e alguns vegetais contêm recomendados nas regiões metropolitanas e em naturalmente açúcar do tipo frutose. O açúcar, na Brasília e Goiânia, em áreas urbanas das regiões sua forma de frutose, tal como as gorduras e os Centro-Oeste, Sudeste e Sul e em segmentos óleos, apresentam-se como parte dos alimentos que populacionais de rendimentos mais altos (acima de também contêm vitaminas, minerais e outros dois salários mínimos familiares per capita). Essas nutrientes. Essa forma natural não é o tipo de evidências são ainda mais preocupantes, uma vez açúcar cujo consumo deve ser reduzido. Esta diretriz que as informações não incluem o consumo de está voltada para a diminuição do consumo do alimentos fora dos domicílios; portanto a açúcar tipo sacarose ou açúcar de mesa - que orientação sobre a moderação no consumo de consumimos diariamente acrescentando-o às gorduras e alimentos com alta concentração desse preparações diversas e é também amplamente nutriente, bem como sobre os tipos de gordura e usado nos produtos industrializados. Nesses seus efeitos sobre a saúde, precisa ser priorizada no produtos, o açúcar é utilizado para torná-los mais
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    DIRETRIZ 6 --GORDURAS,acúcares e sal DIRETRIZ 6 Gorduras, AÇÚCARES E SAL 81 saborosos e é adicionado a muitos alimentos e regiões geográficas, nas áreas rurais e urbanas e em bebidas na forma concentrada de xarope. todas as classes de rendimentos. A situação mais Estudos apontam que os nossos ancestrais preocupante refere-se às classes de rendimentos consumiam dietas que continham cerca de 4% a 6% entre 1/2 e 2 SMFPC, em que a contribuição de açúcar, principalmente sob a forma de frutas e energética chega próximo de 15%, ou seja, supera mel. Os seres humanos evoluíram tendo uma em 50% o recomendado. Da mesma forma que para aceitação intensa ao sabor doce, provavelmente as gorduras, o consumo desse grupo de alimentos porque, na natureza, a doçura indica que as frutas pode ser ainda maior, uma vez que os dados não estão maduras e prontas para ser consumidas incluem o consumo extradomiciliar. Como média (TROWELL; BURKITT, 1981; MINTZ, 1985; EATON et para a população brasileira e com base nos dados al., 1988). Nos primeiros séculos do regime colonial, disponíveis, a meta a ser alcançada pelas diretrizes a indústria mais importante no Brasil e também no deste guia é a redução em pelo menos 1/3 no Caribe era a de produção de açúcar e, como consumo atual desses alimentos para atendimento resultado da industrialização, a quantidade de das recomendações para uma alimentação açúcar nos estoques de alimentos da Europa e saudável. América do Norte, vendido como tal ou como componente de alimentos industrializados, Sal aumentou demasiadamente a partir do século XIX O sódio e o potássio são minerais essenciais (MINTZ, 1985). Os alimentos das confeitarias são para a regulação dos fluidos intra e extracelulares, praticamente todos feitos com açúcar, as geléias na atuando na manutenção da pressão sangüínea. O sua maioria têm grande concentração de açúcar e os sal de cozinha - cloreto de sódio - é composto por refrigerantes são quase totalmente formados de 40% de sódio, sendo a principal fonte desse mineral açúcar, além da água. na alimentação. Uma alimentação com alto teor de açúcar As evidências atuais sugerem que o simples (sacarose), além de estar associada ao consumo não maior que 1,7g de sódio (5g de cloreto excesso de peso e obesidade, está também de sódio por dia) pode contribuir para a redução da relacionada às cáries dentárias entre crianças, pressão arterial. A maior parte dos indivíduos, especialmente as bebidas doces e guloseimas de mesmo as crianças, consome níveis desse mineral consistência pastosa (FREIRE, 2000). Outros fatores além de suas necessidades. O consumo populacional associados à gênese da cárie dental são: quando e excessivo, maior que 6g diárias (2,4g de sódio), é com que freqüência o açúcar é consumido durante o uma causa importante da hipertensão arterial. dia, a relativa viscosidade dos alimentos com açúcar, Estima-se que essa doença atinja cerca de a natureza do açúcar e os hábitos de higiene bucal. 20% da população adulta brasileira. Não existem Embora a alimentação com alto teor de açúcar dados nacionais sobre o consumo de sal na simples aumente a quantidade de glicose população. Dados da POF 2002-2003 indicam, por sangüínea, ela não é causa direta do diabetes ou das meio das despesas com a aquisição de sal para doenças do coração (DEPARTMENT OF HEALTH consumo do domicílio, uma média estimada de AND SOCIAL SECURITY, 1989), mas pode ser fator de 9,6g/pessoa/dia, mas aqui não está considerado o sal risco para câncer do cólon (WORLD CANCER consumido fora do domicílio. RESEARCH FUND, 1997). Com base nessas informações, estima-se Os dados da Pesquisa de Orçamentos que o consumo médio de sal pela população Familiares 2002-2003 mostram uma tendência leve brasileira deve ser reduzido, pelo menos, à metade de queda no consumo de açúcar e, por outro lado, para atender ao patamar máximo de consumo um aumento considerável no consumo de recomendado, isto é, 5g de sal/per capita/dia. refrigerantes (400%), se comparado ao consumo na Além de fonte de sódio, o sal é a fonte prin- década de 70. Apesar da tendência de queda, o cipal de iodo na alimentação brasileira. O iodo é consumo do grupo de açúcares, que inclui os essencial para o desenvolvimento e crescimento do refrigerantes, extrapola os limites das recomen- corpo humano. A deficiência desse mineral leva a dações nas regiões metropolitanas, em todas as várias doenças, denominadas distúrbios por
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    82 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA deficiência de iodo (DDI), sendo causa comum de recomendado para prevenir os distúrbios por deficiências mentais. Embora a manifestação clínica deficiência de iodo. mais evidente seja o bócio ( papo ), essa deficiência É importante destacar que a redução do é também causa importante de abortos consumo de sal para os níveis recomendados espontâneos, nascimento de natimortos e baixo (<5g/dia) não originará problemas, pois a peso ao nascer. Crianças geradas por mulheres com quantidade recomendada garante a quantidade deficiência de iodo podem nascer com retar- adequada de iodo para prevenir os DDI. damento mental e físico ou apresentar dificuldades de aprendizado. O Brasil, como muitos outros Orientações complementares países, utiliza o sal como veículo para fornecer iodo em concentrações adequadas para a população. O Profissionais de Saúde Programa Nacional para a Prevenção e Controle dos - Em uma alimentação saudável, a ingestão de Distúrbios por Deficiência de Iodo, coordenado pelo gordura não deve ser menor do que 15% do total de Ministério da Saúde, envolve ações diversas, energia. Para as pessoas fisicamente ativas, uma incluindo a obrigatoriedade de fortificação do sal quantidade de até 30% de gordura pode não ser para consumo humano com iodato de potássio, prejudicial, desde que o consumo da gordura ação desenvolvida com sucesso no País, desde a saturada e gorduras hidrogenadas permaneça década de 50. Merece atenção dos profissionais e a baixo. adequada orientação da população, no entanto, o - Para alcançar os objetivos dietéticos para as uso do sal destinado para consumo animal, gorduras, é preciso que se leve em consideração nas especialmente nas famílias de zonas rurais, pois o orientações, além das gorduras utilizadas na teor de iodo nesse tipo de sal não atende ao preparação dos alimentos, as gorduras que Sabendo um pouco mais O Consumo de Gorduras e as Pessoas Ativas e Crianças em Crescimento. Atualmente, a maioria da nossa população tem empregos ou estilos de vida com baixa atividade física. Mesmo pessoas muito ativas (pessoas cujo trabalho envolve muita atividade física ou que praticam esportes de intenso gasto energético, como jogadores de futebol e atletas, e crianças ativas em idade de crescimento) não precisam consumir alimentos ou bebidas que contenham quantidades extras de gordura, açúcar, proteínas ou sal. Essas pessoas têm maior necessidade de alimentos, porque são mais ativas fisicamente e têm, portanto, gasto energético diário mais elevado. O que elas precisam, no entanto, é de uma alimentação saudável, com nutrientes e conteúdo energético que atendam às suas necessidades nutricionais, seguindo as diretrizes deste guia (TUNSTALL, 1993). As necessidades individuais devem ser ajustadas na dieta, elaborada sob orientação de um nutricionista, para garantir a saúde e um bom estado nutricional. Bebês e crianças pequenas, de até 2 anos de idade, são uma exceção porque eles estão em crescimento e têm relativamente pequena capacidade gástrica, recomendando-se para esse grupo etário 30% a 40% de energia sob a forma de gordura (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000b). Para mais informações sobre as recomendações alimentares para crianças pequenas, consulte o Guia Alimentar para Crianças Menores de Dois Anos (BRASIL, 2002d).
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    DIRETRIZ 6 --GORDURAS,açúcares e sal DIRETRIZ 6 Gorduras, AÇÚCARES E SAL 83 compõem os alimentos e as que são adicionadas no outros alimentos. processamento dos alimentos. - Para que a meta de redução de sal seja alcançada, é - Em relação ao consumo do açúcar, a meta é a preciso saber e informar que o sal está contido em redução em pelo menos 1/3 no nível de consumo muitos alimentos processados e, portanto, o atual para alcançar a recomendação (máximo de consumo desses alimentos deve ser desestimulado, 10% do valor energético total da dieta). Para bem como o hábito de acrescentar sal aos alimentos alcance desse objetivo, as orientações devem já preparados. Para mais informações, veja box aplicar-se aos açúcares refinados acrescentados aos Sabendo um pouco mais Alimentos Salgados e alimentos ou às preparações alimentares, sejam elas Com Sal , nesta seção. caseiras ou industrializadas; portanto, não incluem o açúcar naturalmente presente nas frutas e em Sabendo um pouco mais Alimentos Salgados e com Sal O nome químico do sal de cozinha é cloreto de sódio. O sal é composto por dois quintos (40%) de sódio, que é um nutriente essencial para o ser humano. A necessidade humana de sódio varia entre 300 e 500 miligramas por dia, para pessoas acima de 2 anos de idade (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989b). Em excesso (consumo maior que 6 gramas por dia de sal ou 2,4 gramas de sódio), é uma causa importante da hipertensão arterial, de acidente vascular cerebral e de câncer de estômago (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989a, 1989b; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1982, 1990b, 2003a; WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997; UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE COORDINATING COMMITTEE, 2000). Grande parte da população brasileira consome sal em excesso: a média estimada de consumo é 9,6g/dia/per capita, não computado o sal consumido fora do domicílio (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2004a). Isso se deve principalmente ao consumo de alimentos industrializados e também devido à adição de sal durante o cozimento ou à mesa. A dieta muito salgada dos brasileiros tem origem na tradição portuguesa de salgar os alimentos como meio de conservação. Muitos alimentos são conservados em salmoura, em vinagre ou sal (picles, vegetais, ervas e especiarias). Os alimentos em salmoura, tipo picles, podem aumentar o risco de câncer no estômago, quando esse tipo de alimento é consumido de maneira intensa e regular (WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997). Ao tentar reduzir o consumo de sal, as pessoas que consomem habitualmente alimentos salgados geralmente consideram a comida não tão saborosa, já que o sal é usado como condimento. As células do paladar podem levar algum tempo para ajustar-se ao sabor menos intenso do sal (período médio de até três meses). É importante que as pessoas saibam disso para persistir no consumo de alimentos com menos sal. Os rótulos dos alimentos processados apresentam o conteúdo de sódio. São exemplos de alimentos que possuem altos teores de sódio: sal de cozinha, embutidos, queijos, conservas, sopas e molhos e temperos prontos.
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    DIRETRIZ 7 -Água 87 Todos Considerações e informações adicionais - A água é um alimento indispensável ao A água é um nutriente essencial à vida. funcionamento adequado do organismo. Nenhum outro nutriente tem tantas funções no - Toda água que você beber deve ser tratada, organismo como a água, sendo a sua ingestão diária filtrada ou fervida. crucial para a saúde humana. Todos os sistemas e órgãos do corpo utilizam água. Ela desempenha Profissionais de saúde papel fundamental na regulação de muitas funções vitais do organismo, incluindo a regulação da Ontar:rie temperatura, participa do transporte de nutrientes - E incentivar o consumo de água independente de e da eliminação de substâncias tóxicas ou não mais outros líquidos; utilizadas pelo organismo, dos processos digestivo, - As pessoas a ingerir no mínimo dois litros de água respiratório, cardiovascular e renal. por dia (seis a oito copos), preferencialmente entre O corpo humano é, na sua maior parte, as refeições. Essa quantidade pode variar de acordo formado por água. A proporção de água depende com a atividade física e com a temperatura do do volume de gordura orgânica (ASTRAND et al., ambiente; 1970), variando entre 60% nos homens e 50% a - A oferta ativa e regular de água às crianças e aos 55% nas mulheres. Sua deficiência se manifesta idosos ao longo do dia; rapidamente: uma variação de cerca de 1% no grau - Sobre os cuidados domésticos que garantam a de hidratação já leva ao aparecimento dos sintomas qualidade e segurança da água a ser consumida da desidratação. A privação completa de água leva pela família. à morte em poucos dias, enquanto que, na privação de alimentos, o homem pode sobreviver semanas. Apesar disso, a importância vital da água é muitas Governo e setor produtivo de alimentos vezes subestimada, porque usualmente ela é - Garantir o acesso e a qualidade da água tratada abundante. para toda a população brasileira. Os alimentos também contêm água em sua - Sistemas de abastecimento seguro de água são composição, em proporções variadas. O peso das requisito fundamental para a saúde pública. frutas é de até 95% ou mais de água e da carne até - Promover a expansão da rede pública de 50% ou mais, enquanto que o açúcar e os óleos não saneamento, permitindo a capilarização dos contêm água. A densidade energética dos equipamentos de fornecimento de água tratada em alimentos é, em grande parte, uma função do seu domicílios, espaços públicos, escolas, locais de conteúdo de água: quanto maior o percentual de trabalho e outras unidades coletivas de água no alimento, menor é a sua densidade acolhimento de populações específicas (carcerárias, energética. Portanto, alimentos cujo conteúdo de idosos, crianças, entre outras). água é elevado, têm menor probabilidade de causar - Garantir e preservar os mananciais de água em excesso de peso e obesidade. Além disso, o volume território nacional, como requisito para a saúde e de água no sistema digestivo ajuda a provocar sensação de saciedade (WORLD HEALTH elemento de soberania nacional. ORGANIZATION, 2000a), diminuindo a necessidade de consumir mais alimentos. Família Atenção especial deve ser dada ao - Use água tratada ou fervida e filtrada, para beber e abastecimento público de água tratada e à para preparar refeições e sucos ou outras bebidas. orientação para consumo de água tratada, fervida - Beba pelo menos de dois litros (seis a oito copos) de ou filtrada, de boa qualidade, uma vez que a água é água por dia. Dê preferência ao consumo de água um potencial veículo de doenças. Principalmente nos intervalos das refeições. entre crianças, são comuns as diarréias causadas por - Ofereça água para crianças e idosos ao longo de agentes infecciosos transmitidos pelo consumo de todo o dia. Eles precisam ser estimulados água de má qualidade e não tratada. A única ativamente a ingerir água. exceção de não orientação de consumo de água é
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    88 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA para bebês amamentados exclusivamente ao peito, porque o leite materno contém a quantidade necessária de água de que o bebê, nessa fase da vida, necessita para a sua saúde e adequada hidratação. Orientações complementares Profissionais de saúde - Estabelecer a necessidade diária exata para consumo de água é difícil; essa necessidade depende dos processos metabólicos, do gasto energético do organismo e das condições ambientais. Um método prático é considerar o consumo de 1ml/kcal de energia gasta para adultos em condições moderadas de gasto energético e temperaturas ambientais não muito elevadas. Por exemplo, para um VET de 2.000kcal, seriam necessários dois litros de água. Para crianças, a estimativa pode ser calculada considerando 1,5ml/kcal de energia gasta (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989b). - Além das crianças, especial atenção deve ser dada ao consumo de água por pessoas idosas, pois o mecanismo de controle de sede pode ser menos eficiente. - Suco de fruta fresca ou polpa congelada sem a adição de açúcar contam como uma porção de água. Incentive a substituição do refrigerante, bebidas alcoólicas e sucos industrializados por água.
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    Diretriz 1 especial Atividade física
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    DIRETRIZ 6 -GORDURAS, AÇÚCARES E SAL ESPECIAL 1 - Atividade física 91 Todos Família - A alimentação saudável e a atividade física regular - Torne seu dia-a-dia e lazer mais ativos. Acumule são aliadas fundamentais para a manutenção do pelo menos 30 minutos de atividade física todos os peso saudável, redução do risco de doenças e dias. Movimente-se! Descubra um tipo de atividade melhoria da qualidade de vida. física agradável! O prazer é também fundamental para a saúde. - Procure nos serviços de saúde orientações sobre Profissionais de saúde alimentação saudável e atividade física. - Abordar de maneira integrada a promoção da Caminhe, dance, ande de bicicleta, jogue bola, alimentação saudável e o incentivo à prática regular brinque com crianças. Escolha estas e outras de atividade física. atividades para movimentar-se. - Orientar sobre a importância do equilíbrio entre o - Aproveite o espaço doméstico e espaços públicos consumo alimentar e o gasto energético para a próximos a sua casa para movimentar-se. Convide os manutenção do peso saudável, em todas as fases do vizinhos e amigos para acompanhá-lo. curso da vida. - Incentive as crianças a realizar brincadeiras que - Utilizar a avaliação antropométrica, nos serviços fazem parte de nossa cultura popular e que sejam de saúde (Sisvan), para acompanhamento do peso ativas como aquelas que você fazia na sua infância e saudável de pessoas em quaisquer fases do curso da ao ar livre: pular corda, correr, amarelinha, esconde- esconde, pega-pega, andar de bicicleta e outras. vida. Oriente-as a não ficar muito tempo em frente à - Estimular a formação de grupos para prática de televisão ou em jogos de computador. Estimule-as a atividade física e orientação sobre alimentação dividir o tempo de lazer entre essas duas opções. saudável nos serviços de saúde, escolas e outros espaços comunitários, sob supervisão de Considerações e informações adicionais profissionais capacitados. Os seres humanos são preparados para ser fisicamente ativos. Todas as formas de atividade Governo e setor produtivo de alimentos física são benéficas para a saúde. Há pouco tempo, - Proteger, criar e manter ambientes urbanos e pensava-se que somente o exercício físico vigoroso, rurais, nos quais a prática de atividade física diária como esportes com bola, corrida e ginástica, trazia seja viável, adequada, agradável e segura. benefícios para a saúde em geral e para o sistema - Adequar espaços urbanos criando áreas para cardiovascular. Hoje, as evidências mostram que pedestres, pistas destinadas a ciclistas, espaços e mesmo as atividades físicas moderadas e regulares, quadras comunitários, parques e clubes que praticamente todas as pessoas estão aptas a realizar, são boas para a saúde (ASTRAND et al., comunitários, mantendo-os bem conservados. 1970; DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN - Criar oportunidades de tempo e espaço para SERVICES, 1996). prática de atividade física nas comunidades e nos Qualquer trabalho que envolva atividades locais de trabalho. que exijam movimento do corpo, como andar, - Valorizar a atividade física regular nas escolas e correr, jogar, limpar casa, lavar carro e praticar práticas lúdicas ativas em creches e pré-escolas. jardinagem ou cultivo de hortas, gasta energia - Fortalecer políticas públicas de incentivo aos física. Andar em ritmo acelerado, exercícios de esportes. alongamento, ciclismo, dança e todas as formas de - Desenvolver formas de divulgação e comunicação recreação e esporte que mantenham o corpo em social que informem e valorizem a adoção de modos forma, mais forte e jovial são atividades físicas. de vida saudáveis, conjugando a promoção da A atividade física regular e freqüente, além alimentação saudável e a prática de atividade física de prevenir o sobrepeso e a obesidade, é também regular benéfica para a saúde mental e emocional (DEPART- MENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES, 1996;
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    92 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Sabendo um pouco mais Balanço Energético O estado nutricional, no plano individual ou biológico, resulta do equilíbrio entre consumo alimentar e gasto energético do organismo. Esse gasto refere-se à utilização dos alimentos pelo organismo para suprir as suas necessidades nutricionais e está relacionado ao estado de saúde e à capacidade de utilização dos nutrientes fornecidos pela alimentação. As necessidades nutricionais de energia variam em função da idade, do sexo, do estado de saúde e do estado fisiológico e nível de atividade física dos indivíduos. Para um adequado estado nutricional, no que se refere à energia, o consumo alimentar deve estar em perfeito equilíbrio com o gasto da energia do organismo usada para manter as funções vitais e nas atividades físicas diárias. As pessoas em equilíbrio energético não ganham nem perdem peso; é o que se denomina balanço energético . Portanto, o balanço energético é o saldo obtido a partir do total de energia ingerida e o total de energia gasta pelo organismo em suas atividades diárias. Caloria (kcal) é a unidade de medida da energia gasta pelo corpo humano em suas atividades metabólicas e físicas e do teor de energia encontrado nos alimentos (proteínas e carboidratos: 4kcal/g; gorduras: 9kcal/g). Vitaminas e minerais não fornecem energia. Se a alimentação fornece mais energia do que é requerida pelo organismo, a energia excedente é acumulada na forma de gordura corporal. Isso significa que, se a pessoa não ingerir menos alimentos ou aumentar a atividade física, irá ganhar peso, principalmente pelo acúmulo de gordura, o que poderá levar ao sobrepeso ou à obesidade, se esse desequilíbrio for mantido por longo tempo. As recomendações deste guia são baseadas em um consumo energético médio da população de 2.000 calorias diárias. Isso não é uma recomendação, mas uma estimativa da necessidade de energia média para uma população considerada sedentária. Em média, os homens brasileiros alcançam balanço energético com cerca de 2.400 calorias por dia; as mulheres, com cerca de 1.800 ou 2.200 calorias por dia. A média de 2.000 calorias atende também às necessidades de energia das pessoas mais jovens. Esses dados servem apenas para ilustrar e ajudar a entender o equilíbrio energético. Por exemplo, as mulheres pequenas e inativas que seguem as recomendações alimentares deste guia, para manter o balanço energético, devem consumir um número menor de porções entre as recomendadas para cada grupo de alimentos, se comparadas aos homens de mesma idade e nível de atividade física, e devem ser particularmente cuidadosas em consumir pequenas quantidades de alimentos com alta densidade energética (açúcar e gordura). O objetivo principal da recomendação nesta seção - aumentar a atividade física diária - é ajudar a alcançar o balanço energético, para que as pessoas possam alimentar-se adequadamente sem acumular gordura corporal.
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    DIRETRIZ 6 -GORDURAS, AÇÚCARES E SAL ESPECIAL 1 - Atividade física 93 CENTRO DE ESTUDOS DO LABORATÓRIO DE doentes ou enfermas, bem como pessoas idosas, APTIDÃO FÍSICA DE SÃO CAETANO DO SUL, 1998). contribuindo para uma maior capacidade de Pessoas que são fisicamente ativas, mobilidade e melhor sentido de equilíbrio, conseqüentemente, possuem um equilíbrio aumentando a sua autonomia e auto-estima energético mais elevado, o que significa que são (DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES, capazes de aproveitar melhor os alimentos 1996; CENTRO DE ESTUDOS DO LABORATÓRIO DE nutritivos, sem acumular gordura no corpo. À APTIDÃO FÍSICA DE SÃO CAETANO DO SUL, 1998). medida que a atividade física aumenta, o mesmo acontece com a massa corporal magra (massa Níveis de atividade muscular) e o corpo gradualmente muda de forma, Estima-se que 70% da população brasileira ocorrendo a substituição da gordura por massa faça pouquíssima ou quase nenhuma atividade muscular (ASTRAND et al., 1970). física (CENTRO DE ESTUDOS DO LABORATÓRIO DE A atividade física regular mantém múscu- APTIDÃO FÍSICA DE SÃO CAETANO DO SUL, 1998). los, ossos e articulações fortes e os perfis hormonais e sangüíneos e as funções imunológica e intestinal Como na maioria dos países do mundo, no equilibradas e dentro dos níveis de normalidade. Brasil, há uma tendência crescente de que as Também contribui para a prevenção das DCNT e pessoas tornem-se cada vez mais inativas doenças dos ossos e articulações. De modo inverso, a fisicamente, especialmente porque os avanços inatividade física aumenta o risco dessas doenças e tecnológicos produzem ocupações, profissões e incapacidades (BLIX; WRETLIND, 1965; modos de vida mais sedentários. Poucas pessoas DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES, caminham ou pedalam habitualmente para se 1996; WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997; locomover; ao contrário, cada vez mais fazem uso WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000a; de veículos automotores. As cidades e mesmo os WRETLIND, 1967). As mulheres que estão ambientes rurais são projetados para carros e fisicamente em forma têm maior probabilidade de ônibus. Em grande parte dos ambientes de ter gravidez e parto sem complicações. trabalho, as máquinas e equipamentos fazem a É muito importante manter a atividade maior parte do trabalho que, tempos atrás, eram física por toda a vida. Em geral, as pessoas que estão executados manualmente. fisicamente em forma desfrutam mais da vida, do Atividades de recreação ou lúdicas mais trabalho, dormem melhor, ficam menos enfermas, ativas vêm sendo substituídas por atividades de têm menos incapacidades e muito provavelmente lazer mais sedentárias: assistir TV ou usar terão uma expectativa de vida maior, envelhecendo computadores e jogos eletrônicos. com saúde (DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN Adicionalmente, em muitas regiões e SERVICES,1996; CENTRO DE ESTUDOS DO cidades, a falta de segurança pública e a violência LABORATÓRIO DE APTIDÃO FÍSICA DE SÃO são impedimentos para a prática de atividade física, CAETANO DO SUL, 1998). o que leva crianças, jovens e adultos a passar mais Igualmente, as pessoas fisicamente em tempo em casa ou em locais fechados, em forma são profissionalmente mais produtivas, detrimento de atividades de lazer ao ar livre e mais faltam menos ao trabalho e desenvolvem maior ativas. Em alguns locais, especialmente grandes resistência a doenças. centros urbanos, a atividade física tornou-se As crianças fisicamente ativas têm um inviável, desagradável e até perigosa. Muitas melhor desempenho escolar e relacionamento com escolas não contam com um espaço físico adequado os pais e amigos e, provavelmente, terão menos para as aulas de educação física, prática de esportes tendência a fumar ou utilizar drogas (CENTRO DE e de recreação. ESTUDOS DO LABORATÓRIO DE APTIDÃO FÍSICA DE SÃO CAETANO DO SUL, 1998). A prática de atividade física regular contribui para o desen- A avaliação nutricional como instrumento volvimento de hábitos de vida saudáveis, em para o controle do peso saudável qualquer fase do curso da vida. A avaliação nutricional de rotina de A atividade física beneficia as pessoas crianças, adolescentes, adultos, idosos e de
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    94 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA gestantes por meio das medidas antropométricas - meio de medidas antropométricas (peso, altura e medidas do corpo - é um importante instrumento circunferência da cintura), denominado Sistema de para avaliação do estado nutricional e de saúde, Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan). Com permitindo identificar precocemente pessoas e essa ferramenta, é possível aos profissionais e grupos populacionais de risco. Para mais gestores locais utilizar a informação gerada, indi- informações, consulte o box Sabendo um pouco vidual ou coletiva para estimular a adesão dos mais Massa Corporal , nesta seção. usuários do serviço e a comunidade em geral a Para a avaliação nutricional de crianças, o avaliar sistematicamente o seu peso corporal e Ministério da Saúde recomenda a utilização da participar de atividades de promoção da Caderneta da Criança, que apresenta a curva de alimentação saudável e prática de atividade física referência do NCHS (1977) do peso em relação à regular. idade (P/I), para acompanhamento sistemático do - Grupos de pessoas por idade ou sexo, por exemplo, crescimento e desenvolvimento infantil. podem ser formados, sob orientação dos Os índices antropométricos também profissionais das unidades de saúde, indepen- recomendados para a avaliação nutricional de dentemente de serem portadores de algum tipo de crianças menores de 10 anos de idade são: o índice patologia. Modos de vida saudáveis devem ser altura por idade (A/I), que expressa o crescimento estimulados também entre pessoas sadias, para linear, indicando o efeito cumulativo de situações prevenir doenças e promover a qualidade de vida e diversas sobre o crescimento; e o índice peso por um envelhecimento saudável. altura (P/A), que reflete a harmonia entre as dimensões do corpo (massa corporal e altura), sendo mais preciso para o diagnóstico de excesso de peso. A avaliação nutricional de gestantes, tanto adultas quanto adolescentes, é feita utilizando o IMC segundo a semana gestacional. Para maiores informações, consulte a publicação Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan). Orientações Básicas para a coleta, o processamento, a análise de dados e a informação em serviços de saúde, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2004g). Orientações complementares Profissionais de saúde - O objetivo da prática de atividade física é manter o índice de massa corporal (IMC) entre 18,5 e 24,9kg/m2 e manter o balanço energético nos níveis recomendados neste guia. Para mais informações sobre o IMC, veja box Sabendo um pouco mais Massa Corporal , nesta seção. - É recomendável submeter as pessoas com histórico de doença cardíaca ou que estão acima de 50 anos a um teste simples de esforço, para avaliar a sua condição para a prática de atividade física. - O Ministério da Saúde disponibilizou um sistema de informações, nas unidades básicas de atenção à saúde, que permite monitorar o estado nutricional das pessoas em quaisquer fases do curso da vida, por
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    DIRETRIZ 6 -GORDURAS, AÇÚCARES E SAL ESPECIAL 1 - Atividade física 95 Sabendo um pouco mais Massa Corporal O índice de massa corporal (IMC) é uma medida recomendada internacionalmente para avaliação do estado nutricional de adolescentes, adultos e idosos e permite estimar a massa corporal e o risco progressivo de desenvolvimento de doenças crônicas não-transmissíveis associadas ao sobrepeso e à obesidade (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003a). Quanto maior o IMC, maior é o risco de o indivíduo ser acometido por DCNT, tais como hipertensão, diabetes e dislipidemias (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000d, 2003a). O IMC é calculado dividindo o peso em quilogramas pela altura ao quadrado em metros (kg/m2). Por exemplo, um adulto que pesa 70kg e cuja altura seja 1,75 metros terá um IMC de 22,9; portanto, esse índice sinaliza se há ou não uma relação de harmonia entre o peso e a altura, embora não permita a distinção entre massa gorda e magra. Existem pontos de corte específicos de IMC para cada uma das fases do curso da vida, visando atender às características fisiológicas de cada uma delas. Para a avaliação de adolescentes, além da altura e do peso, no cálculo do IMC são considerados também a idade e o sexo, sendo recomendado o critério de classificação percentilar do IMC. Após o cálculo do IMC, a classificação nutricional deve ser realizada de acordo com uma curva de distribuição em percentis (P) de IMC para cada sexo. ADOLESCENTES (idade >10 anos e <20 anos): - IMC < p5: baixo peso - IMC > p5 e < p85: peso adequado/eutrófico - IMC > p85: sobrepeso ADULTOS (idade > 20 anos e < 60 anos): - IMC < 18,5: baixo peso - IMC > 18,5 e < 25,0: peso saudável (eutrofia) - IMC > 25 e < 30,0: sobrepeso - IMC > 27: obesidade IDOSOS (> 60 anos) - IMC < 22: baixo peso - IMC > 22 e < 27: peso adequado/eutrófico - IMC > 27: sobrepeso Os profissionais de saúde devem usar o IMC nas avaliações de estado nutricional e do risco de DCNT para orientar as suas ações junto aos usuários dos serviços, individualmente ou de forma coletiva. Para mais informações sobre uso e aplicação do IMC, consulte a publicação Vigilância Alimentar e Nutricional. Orientações Básicas para a coleta, o processamento, a análise de dados e a informação em serviços de saúde (BRASIL, 2004g).
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    Diretriz especial 2 Qualidade sanitária dos alimentos
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    DIRETRIZ ESPECIAL 2- Qualidade sanitária dos alimentos 99 Todos se caracterizem como de riscos iminentes à saúde. - A garantia da qualidade sanitária dos alimentos implica a adoção de medidas preventivas e de Setor produtivo de alimentos controle em toda a cadeia produtiva, desde sua - Adotar as medidas preventivas e de controle, origem até o consumo do alimento no domicílio. A incluindo as boas práticas de higiene, necessárias manipulação dos alimentos segundo as boas para que a população disponha de produtos práticas de higiene é essencial para redução dos seguros para o consumo. riscos de doenças transmitidas pelos alimentos. - Capacitar os manipuladores de alimentos nos temas relacionados à prática de higiene e à correta Profissionais de saúde manipulação dos alimentos, conscien-tizando-os - Orientar sobre as medidas preventivas e de sobre sua responsabilidade na pre-venção das controle, incluindo as práticas de higiene, que doenças transmitidas por alimentos. devem ser adotadas na cadeia produtiva, nos serviços de alimentação, nas unidades de Família comercialização e nos domicílios, a fim de garantir a qualidade sanitária dos alimentos. - Ao manipular os alimentos, siga as normas básicas de higiene, na hora da compra, da preparação, da - Informar que alimentos manipulados ou conservação e do consumo de alimentos. conservados inadequadamente são fatores de risco importantes para muitas doenças. Considerações e informações adicionais Uma característica fundamental para a Governo e setor produtivo de alimentos alimentação saudável é que o alimento consumido Governo seja seguro, ou melhor, não apresente perigos intrínsecos ou contaminação de natureza biológica, - Adotar medidas multissetoriais e física ou química em níveis que comprometam a multidisciplinares que visem à promoção da saúde do consumidor. Os riscos de contaminação do qualidade sanitária dos alimentos nas esferas local, alimento são inúmeros e o consumidor tem papel nacional e internacional. importante para a prevenção desses riscos mediante - Garantir uma legislação e um sistema de controle a manipulação correta do alimento, seguindo as normas básicas de higiene. Para conhecer as e fiscalização eficiente para que em todas as etapas principais fontes de contaminação de alimentos, da cadeia produtiva de alimentos sejam adotadas veja os boxes Sabendo um pouco mais As medidas necessárias para que a população disponha Principais Fontes de Contaminação dos Alimentos de produtos seguros para o consumo. e Os Cinco Pontos-Chave da Organização Mundial - Estabelecer parcerias com setores de apoio ao da Saúde para a Inocuidade dos Alimentos , nesta segmento produtivo e comercial de alimentos com seção. objetivo de disseminar e apoiar a imple-mentação A promoção da qualidade sanitária dos da legislação por meio de capacitações, orientações alimentos deve ser uma prioridade na agenda da técnicas e assessorias aos estabelecimentos. saúde pública, uma vez que a disponibilidade de alimentos seguros, além de melhorar a saúde das - Orientar a população sobre os riscos relacionados à pessoas e a produtividade de um país, é um direito incorreta manipulação e conser-vação dos básico de cidadania. Segundo a Organização alimentos e sobre as medidas e práticas de higiene Mundial da Saúde (OMS), um terço da população de que devem ser adotadas a fim de prevenir esses países desenvolvidos é acometida a cada ano por riscos. doenças transmitidas por alimentos e possivel- mente esse quadro é mais dramático em países em - Adotar medidas de intervenção em situações que
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    100 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Sabendo um pouco mais As Principais Fontes de Contaminação dos Alimentos 1) Pessoas Pessoas com sintomas de doenças transmitidas por alimentos (DTA) podem transportar microrganismos perigosos para um alimento durante sua manipulação. Até mesmo uma pessoa saudável pode transmitir esses microrganismos ou quando atuam como veículo, transportando esses agentes de um alimento contaminado para um alimento não contaminado ou quando são portadoras sem apresentar sintomas aparentes (os portadores assintomáticos). Nesses casos, os alimentos podem ser contaminados quando as pessoas os tocam sem lavar as mãos ou quando falam, tossem ou espirram sobre eles. 2) Alimentos crus ou não lavados Alguns alimentos crus podem apresentar organismos perigosos que são eliminados quando completamente cozidos. Da mesma forma, os alimentos não lavados podem apresentar esses organismos que são removidos após eficiente lavagem; entretanto esses alimentos, antes de passar pelo cozimento ou lavagem, podem contaminar direta ou indiretamente um alimento já preparado. Um exemplo de contaminação indireta é quando se corta um frango cru e, sem lavar a faca, utiliza-se a mesma faca para cortar salsinha lavada. Esse tipo de contaminação é denominado contaminação cruzada. 3) Insetos, ratos e animais domésticos A área de preparo de alimentos é atrativa para os animais que, ao terem contato diretamente com os alimentos desprotegidos ou as superfícies com as quais o alimento entra em contato, podem transmitir organismos prejudiciais à saúde. Entre os insetos, deve-se ter especial cuidado com as formigas, moscas e baratas. Algumas vezes é difícil identificar a presença de ratos, devendo-se ficar atento aos sinais de sua presença, como alimentos ou embalagens roídos ou presença de fezes. Os animais domésticos, por transportar organismos prejudiciais à saúde em seu corpo, podem contaminar o alimento por meio do contato direto ou dos pêlos que soltam. 4) Sujeira (pó, terra e outros resíduos) Há vários organismos perigosos dispersos na sujeira, portanto, é importante manter as áreas de preparo dos alimentos limpas. Quando se realiza a varredura da área de preparo do alimento, a poeira é levantada e se espalha no ar, aumentando o risco de contaminação dos alimentos. Por isso é importante manter os alimentos sempre protegidos em suas embalagens ou em recipientes fechados com tampas quando estiver varrendo ou limpando a casa, principalmente a cozinha e ambientes próximos a ela. 5) Superfícies e utensílios As superfícies que entram em contato direto com os alimentos, como a bancada da cozinha, e os utensílios utilizados no preparo dos alimentos, como facas, panelas, bacias e outros vasilhames, podem ser fonte de contaminação quando sujos. Outro risco de contaminação ocorre quando as superfícies e os utensílios que foram utilizados na manipulação de alimentos crus são utilizados em alimentos preparados sem ter sido previamente lavados. Uma fonte clássica de contaminação cruzada dos alimentos é o pano, comumente utilizado em cozinhas e estabelecimentos que preparam alimentos. 6) Lixo e alimentos estragados Os alimentos estragados devem ser descartados e os locais onde estavam armazenados submetidos a uma boa lavagem. O lixo deve permanecer fechado com tampa e ser retirado freqüentemente da área de preparo dos alimentos. Após o manuseio do lixo, deve-se lavar as mãos.
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    DIRETRIZ 6 -GORDURAS, AÇÚCARES E SAL dos alimentos ESPECIAL 2 - Qualidade sanitária 101 desenvolvimento. fora da zona de perigo, ou seja, sob refrigeração a A importância dos microrganismos está temperaturas inferiores a 5ºC, congelados ou vinculada ao fato de que eles estão amplamente mantidos aquecidos em temperaturas superiores a distribuídos no ambiente, podendo ser encontrados 60ºC. Como medida de segurança, são considerados na água, no solo e no ar. O homem também completamente cozidos os alimentos que são desempenha papel importante na transmissão submetidos a temperaturas superiores a 70ºC. desses agentes, uma vez que podem apresentar Os alimentos que devem ser conservados microrganismos distribuídos por todo o corpo, sob temperaturas específicas são genericamente incluindo pele, boca, nariz, ouvidos, garganta, conhecidos como perecíveis. Da mesma forma, os olhos, cabelos, mãos, unhas e tratos genital e intes- alimentos que apresentam condições intrínsecas tinal. Da mesma forma como ocorre no homem, que não favorecem a multiplicação de micro orga- outros animais, como os animais de estimação, nismos e, portanto, não necessitam de conservação roedores, pássaros e insetos, apresentam em temperaturas específicas são denominados não- esses microrganismos distribuídos pelo corpo. perecíveis. Como exemplo de alimentos perecíveis Considerando a ampla distribuição dos podem-se citar as carnes e os queijos; quanto aos microrganismos, é importante que os alimentos alimentos não perecíveis, são exemplos o arroz, o sal sejam manipulados sob criteriosas condições de e os biscoitos. higiene, prevenindo assim que os agentes Dessa forma, embora haja a possibilidade prejudiciais à saúde contaminem os alimentos. Pela de que alimentos durante sua manipulação sua própria condição, os alimentos crus podem adquiram uma carga microbiana proveniente de apresentar microrganismos prejudiciais à saúde, fontes mais diversas, como solo, ar, água, animais e sendo necessário redobrar o cuidado durante sua outras, a adoção de práticas adequadas de higiene manipulação. Antes do consumo, os alimentos crus pode reduzir esse risco. Além disso, essa carga devem ser completamente cozidos e adequa- microbiana pode ser controlada, reduzida ou até damente lavados. Veja o box Sabendo um pouco mesmo eliminada quando se adotam medidas mais Procedimentos para Seleção, Lavagem e como eficiente lavagem, cozimento em tempe- Desinfecção de Frutas, Legumes e Verduras , nesta raturas suficientes ou conservação sob refrigeração, seção. congelamento ou aquecimento. Após a contaminação dos alimentos, os Ainda em relação aos perigos biológicos, microrganismos multiplicam-se rapidamente, desde deve-se destacar que a emergência de novos que sejam encontradas condições apropriadas. A agentes, como os prions que estão relacionados à temperatura dos alimentos é uma condição doença da vaca louca, e a associação de essencial para a multiplicação dos microrganismos, microrganismos perigosos que antes não eram sendo seu controle muito utilizado na prevenção vinculados aos alimentos, como a ocorrência da das doenças transmitidas por alimentos (DTA). A doença de Chagas aguda pelo consumo de caldo- maioria dos microrganismos se multiplica de-cana, constituem os novos desafios na garantia rapidamente em temperaturas próximas a 37ºC da qualidade sanitária dos alimentos. (temperatura do corpo humano). Entretanto, A contaminação dos alimentos por alguns microrganismos prejudiciais à saúde são substâncias químicas tóxicas, como agrotóxicos, capazes de se multiplicar em temperaturas toxinas de algas, metais pesados e drogas superiores a 5ºC e inferiores a 60ºC, sendo esse veterinárias, também representa um problema intervalo considerado uma zona de perigo. grave para a saúde pública. Essas substâncias podem Em temperaturas inferiores a 5ºC, os causar dano à saúde após uma única exposição ou, microrganismos cessam ou reduzem o processo de mais freqüentemente, em decorrência de uma multiplicação, assim como em temperaturas exposição continuada. Em geral, os efeitos crônicos, superiores a 60ºC. A maioria dos microrganismos é ou seja, efeitos cumulativos provocados pela eliminada em temperaturas superiores a 70ºC. Por exposição continuada a pequenas doses dessas isso, como medida preventiva e de controle das substâncias, são difíceis de ser monitorados e seu DTA, recomenda-se que o alimento seja conservado impacto na saúde ainda é subestimado. A maioria
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    102 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA dos relatos de danos à saúde está relacionada aos melhoria das condições sanitárias dos alimentos efeitos agudos decorrentes de uma única exposição sejam adotadas em toda a cadeia produtiva, a altas doses dessas substâncias tóxicas. iniciando na produção primária - plantio e criação Há vários meios de um alimento ser de animais - até o consumo dos alimentos. A correta contaminado e, em conseqüência, causar uma manipulação dos alimentos, com adoção das doença transmitida por alimento. Alguns hábitos medidas preventivas e de controle aliada às boas culturais, como o consumo de alimentos mal cozidos práticas de higiene, promove a melhoria do estado ou crus e uso indiscriminado de agrotóxicos, aliados de saúde e nutricional da população, contribuindo às condições inadequadas de higiene na para o aumento da produtividade e bem-estar das manipulação dos alimentos, procedimentos incor- pessoas. Além do envolvimento de todos os retos de conservação e à falta de conhecimento das segmentos associados com a produção e pessoas, têm papel significativo nesse processo. comercialização dos alimentos, a garantia da Segundo a OMS, a utilização de algumas técnicas e qualidade sanitária dos alimentos e a prevenção das cuidados simples pode reduzir substancialmente o DTA requer a implementação de estratégias de número de pessoas acometidas com esse tipo de educação da população, que adquirem especial doença. Veja box Sabendo um pouco mais Os cinco importância no Brasil, considerando que a maioria pontos-chave da Organização Mundial da Saúde das DTA notificadas ocorre nas residências. para a inocuidade dos alimentos , nesta seção. Para evitar ou reduzir os riscos desse tipo de agravo, é fundamental que as medidas visando à Sabendo um pouco mais Procedimentos para Seleção, Lavagem e Desinfecção de Frutas, Legumes e Verduras. Na hora da compra, observar as seguintes características para escolher as frutas, legumes e verduras. Se apresentarem essas condições, não são próprias para consumo: - partes ou casca ou polpa amolecidas, manchadas, mofadas ou de cor alterada; - folhas, talos ou raízes murchas, mofadas ou deterioradas; - qualquer alteração na cor, na consistência ou no cheiro característico; - excesso ou falta de umidade característica. Selecionar, retirando as folhas, partes e unidades deterioradas. Lavar em água corrente os vegetais folhosos (alface, escarola, rúcula, agrião, etc.), folha a folha, e as frutas e legumes, um a um. Colocar de molho, por dez minutos, em água clorada, utilizando produto adequado para esse fim (ler o rótulo da embalagem), na diluição de até 200ppm (uma colher de sopa para um litro). Fazer o corte dos alimentos para a montagem dos pratos com as mãos e utensílios bem lavados. Manter sob refrigeração até a hora de servir.
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    DIRETRIZ 6 -GORDURAS, AÇÚCARES E SAL dos alimentos ESPECIAL 2 - Qualidade sanitária 103 Sabendo um pouco mais Os Cinco Pontos-Chave da Organização Mundial da Saúde para a Inocuidade dos alimentos 1. Mantenha a limpeza Por quê? Os microrganismos perigosos que causam doenças transmitidas por alimentos podem ser encontrados na terra, na água, nos animais e nas pessoas. Eles são transportados de uma parte a outra por meio das mãos e dos utensílios, das roupas, dos panos, das esponjas e quaisquer outros elementos que não tenham sido lavados de maneira adequada e um leve contato pode contaminar os alimentos. 2. Separe alimentos crus e cozidos Por quê? Os alimentos crus, especialmente carne, frango e pescado, podem estar contaminados com microrganismos perigosos que podem transferir-se a outros alimentos, como comidas cozidas ou prontas para o consumo, durante o preparo dos alimentos ou durante a sua conservação. 3. Cozinhe completamente os alimentos Por quê? A correta cocção mata quase todos os microrganismos perigosos. Estudos mostram que cozinhar os alimentos de forma a que todas as partes alcancem 70ºC garante a segurança desses alimentos para consumo. Existem alimentos, como pedaços grandes de carne, frangos inteiros ou carne moída, que requerem um especial controle da cocção. O reaquecimento adequado elimina microrganismos que possam ter se desenvolvido durante a conservação dos alimentos. 4. Mantenha os alimentos a temperaturas seguras Por quê? Alguns microrganismos podem multiplicar-se muito rapidamente se o alimento é conservado à temperatura ambiente, pois eles necessitam de alimento, umidade, temperatura e tempo para se reproduzir. Abaixo de 5ºC e acima de 60°C o crescimento microbiano se faz lentamente ou pára. Alguns microrganismos patogênicos podem crescer ainda em temperaturas abaixo de 5ºC. 5. Use água e matérias-primas seguras Por quê? As matérias-primas, incluindo a água, podem conter microrganismos e produtos químicos prejudiciais à saúde. É necessário ter cuidado na seleção de produtos crus e tomar medidas preventivas que reduzem o risco, como lavagem e descasque.
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    Colocando as diretrizesem prática 107 Colocando as diretrizes em prática destinadas a facilitar que todos possam seguir as As orientações deste guia têm origem no recomendações do guia alimentar e, ao mesmo conhecimento científico atual, expresso em uma tempo, desfrutar de refeições e lanches saborosos, série de relatórios de especialistas, produzidos pelas utilizar melhor o dinheiro gasto em alimentação, Nações Unidas e por outras agências internacionais, divertir-se socialmente e aumentar a oportunidade bem como pelos Ministérios da Saúde de diferentes para uma vida saudável, feliz e ativa. países, nos últimos dez ou mais anos. Elas são, Essas informações são para toda a família e portanto, cientificamente fundamentadas, principalmente para pessoas que planejam, fazem confiáveis e atuais. Após olhar para todas as as compras e preparam as refeições. Por isso, nas diretrizes, pode-se questionar: Por onde e como recomendações práticas a seguir, usam-se muitas começar? vezes frases como sirva uma grande porção de Para alguns tipos e grupos de alimentos há qualquer vegetal com folhas verdes a cada refeição muita diferença entre o que os brasileiros principal ou use óleos insaturados para consomem atualmente e o que recomenda o guia. A cozinhar . Essas informações são detalhamentos da população está consumindo menos feijão orientação para os membros da família existente (leguminosas); o consumo de frutas, legumes e em cada diretriz que, para reforçar conceitos, verduras é muito baixo; o consumo de alimentos também são repetidos aqui. gordurosos, muito açucarados, refrigerantes e sucos As pessoas que moram sozinhas e os industrializados aumentou; o consumo de sal é alto; membros da família que comem fora, em cantinas é comum o consumo de álcool; e também ocorreu ou restaurantes, bem como as famílias que dividem uma redução nos níveis de atividade física, o que entre si as responsabilidades de planejar, comprar e resultou em excesso de peso e obesidade no País. cozinhar, podem traduzir essas informações de O objetivo do Guia Alimentar para a forma a adaptá-las à sua própria situação. População Brasileira é contribuir para que essas São sugestões que darão uma melhor idéia tendências sejam revertidas. Os indivíduos e grupos de como adotar as diretrizes. São também ponto de que seguirem essas orientações estarão mais partida para que profissionais de saúde que protegidos contra todos os tipos de doenças trabalham nas esferas estadual, municipal e local relacionadas à alimentação e darão a si próprios possam adaptar as recomendações e estendê-las uma oportunidade de desfrutar uma vida longa e para as diferentes realidades de nosso país, bem ativa. como aos diferentes tipos de família com restrições Da mesma forma, os profissionais de saúde econômicas ou não, pequenas e grandes, urbanas que adotarem e aplicarem as diretrizes nas ou rurais e também às pessoas com diferentes orientações dadas às pessoas que atendem em seu idades. trabalho e incentivarem a população a selecionar alimentos e preparar as refeições de maneira mais Diretriz 1 saudável estarão dando uma contribuição valiosa Os alimentos saudáveis e as refeições para a saúde pública. - Consuma diariamente alimentos como cereais Todas as diretrizes deste guia são integrais, feijões, frutas, legumes e verduras, leite e importantes, mas aquela relacionada às frutas, aos derivados e carnes magras, aves ou peixes. legumes e às verduras é possivelmente a mais - Diminua o consumo de frituras e alimentos que importante de todas; isto porque, além de contenham elevada quantidade de açúcares, contribuir para a variedade da alimentação e oferta gorduras e sal. mais adequada de micronutrientes, o aumento no consumo desses alimentos pode colaborar para a - Valorize a sua cultura alimentar e os alimentos reorientação ou deslocamento no consumo, regionais. promovendo a redução no consumo de alimentos - Saboreie refeições variadas, ricas em alimentos inadequados, aqueles com alto teor de gordura, sal regionais saudáveis e disponíveis na sua e açúcares. É uma substituição positiva e gradual. comunidade. Neste capítulo, estão informações práticas - Escolha os alimentos mais saudáveis, lendo as
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    108 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA informações nutricionais nos rótulos dos alimentos. alimentos frescos da estação, que são mais baratos e - Alimente a criança somente com leite materno até nutritivos. a idade de 6 meses e depois complemente com - Alimentos ou bebidas coloridos ou aromatizados outros alimentos, mantendo o leite materno até os artificialmente são normalmente más escolhas, por 2 anos ou mais. possuirem muito açúcar e, em geral, nenhum outro - Procure nos serviços de saúde orientações a nutriente. respeito da maneira correta de introduzir alimentos - Entre os alimentos processados, prefira aqueles complementares e refeições quando a criança nos quais foi utilizado secagem, fermentação, completar 6 meses de vida. engarrafamento ou congelamento. - Escolha formas de preparação de alimentos na sua casa que preservem o valor nutricional dos E alimentos. Cozinhar os alimentos no vapor ou em - Nas refeições, monte o seu prato com pelo menos pouca água ou óleo são os melhores métodos. dois terços dos alimentos de origem vegetal. - Mantenha os alimentos adequadamente - Faça as refeições em local apropriado e conservados em refrigeração, quando for o caso, e confortável. Encontre oportunidades para que a protegidos de insetos, poeira e animais caseiros. família se reúna na hora da refeição. - Por segurança, lave, esfregue as frutas, os legumes - Aproveite o tempo e desfrute as refeições. Elas são e às verduras. Higienize muito bem esses alimentos, o centro da convivência social e familiar. mesmo aqueles que não são consumidos com casca. - Desligue a televisão na hora das refeições e coma - Descarte alimentos mofados ou com bolor ou as refeições em volta da mesa - as crianças também. alimentos que pareçam estragados ou que cheirem Quando você come assistindo televisão, perde a mal ou estejam com sabor estranho. noção de quantidade, não mastiga suficientemente - Grande parte dos cereais industrializados e, em geral, nem sabe o que está comendo. destinados à refeição matinal são, quase sempre, - Faça ao menos três refeições principais por dia, feitos com milho refinado, trigo ou arroz, com sempre que possível em casa. quantidades variáveis de açúcar adicional, sal e - Evite que as crianças belisquem e substituam as outros ingredientes e, muitas vezes, fortificados refeições por fast food, biscoitos ou salgadinhos, com vitaminas e minerais. Leia a informação comam na rua ou decidam sozinhas sobre suas nutricional no rótulo dos produtos e prefira aqueles refeições. A criança deve articipar, na medida de sua integrais e com menor quantidade de açúcar e possibilidade e com segurança, da decisão e gordura. elaboração das refeições junto com um adulto, para - Evite usar margarina, manteiga ou maionese nos que vá construindo práticas alimentares saudáveis. sanduíches. Para substituir, experimente um pouco - Comece a refeição com uma quantidade grande de de óleo vegetal temperado com ervas, casca de salada, com folhas verdes e variedade de legumes, limão ou alho. Você mesmo pode temperar o óleo, temperados com um molho de ervas frescas feito em casa. em casa. - Beba muita água entre as refeições. Sempre tenha água em locais de fácil acesso, principalmente das Diretriz 2 crianças. Cereais, tubérculos e raízes - Os melhores lanches, entre as refeições, são frutas - Coma diariamente 6 porções do grupo do arroz, frescas ou sucos de frutas frescas sem açúcar pães, massas, tubérculos e raízes. Dê preferência adicionado. aos grãos integrais. - Nos mercados e nos restaurantes por quilo, escolha muitas frutas, legumes e verduras e grãos em geral E (cereais e feijões). - Preencha mais da metade do seu prato com esses - Prefira os alimentos frescos. Se for possível, faça alimentos, ricos em amido, nas refeições principais. compras pelo menos duas vezes por semana de - Procure consumir alimentos na sua forma natural.
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    Colocando as diretrizesem prática 109 Quanto mais próximo o alimento ou bebida for da Diretriz 3 sua forma original na natureza, melhor para a Frutas, legumes e verduras saúde. - Coma diariamente pelo menos 3 porções de - Produtos como sopas em pó, conservas de vegetais, legumes e verduras como parte das refeições e 3 biscoitos, salgadinhos e refeições congeladas, em porções ou mais de frutas nas sobremesas e lanches. geral, contêm altas concentrações de sal, gorduras - Valorize os produtos da sua região e varie o tipo de ou açúcar, o que não é saudável para a sua família. frutas, legumes e verduras consumidos na semana. - Pão e arroz integrais são fontes de fibra, vitaminas Compre os alimentos da estação e esteja atento e minerais e substâncias bioativas que ajudam a para sua qualidade e estado de conservação. proteger a sua saúde. - No Brasil, as farinhas de trigo e milho são E fortificadas com ferro e ácido fólico (veja no rótulo do alimento); esses nutrientes ajudam a prevenir - Para alcançar o número de porções recomendadas anemia e outras doenças. Use-as para preparar de frutas e de legumes e verduras é necessário que pães, bolos ou outras receitas em sua casa. esses alimentos estejam presentes em todas as refeições e lanches realizados no decorrer do dia. - Se preferir o arroz branco, escolha o parboilizado; é mais nutritivo. - Consuma saladas com variedade de tipos de verduras no almoço e no jantar; outros vegetais em - Consuma com maior freqüência as raízes e preparações assadas ou cozidas durante as refeições tubérculos tradicionais brasileiros, como a principais; frutas como sobremesa e nos lanches e mandioca, inhame, cará e a batata-doce. sucos de fruta fresca sem açúcar. - Alimentos com amido, quando preparados com - Experimente colocar frutas em preparações pouca ou nenhuma gordura ou açúcar, são mais salgadas como carnes, peixes, molhos e saladas. saudáveis e ajudam a manter o peso adequado. - Use legumes e verduras todos os dias - Para qualquer tipo de alimento, prefira as acompanhando arroz ou cozidos no feijão. preparações assadas e cozidas às fritas. - Cuide da adequada higienização desses produtos - O valor nutritivo de muitos alimentos, como as em sua casa, bem como de sua conservação. Mesmo batatas, inhame, mandioca e outros ricos em amido, aqueles que são consumidos cozidos ou sem casca pode ser preservado quando são cozidos com casca. devem ser bem lavados antes da preparação. Lave-os muito bem antes de colocá-los na panela para cozimento. - As refeições ficam mais bonitas, nutritivas e atrativas quando são utilizados legumes e verduras - Pães crocantes e biscoitos cracker são opções de de diferentes cores, além de aumentar a lanches, mas leia os rótulos para ver a quantidade quantidade de diferentes vitaminas e minerais e de de gordura total, gordura saturada, gordura trans e fibras. sódio. Escolha os tipos e as marcas com teores menores desses componentes. - Sempre que possível, consuma frutas, legumes e verduras com casca ou retire o mínimo possível; em - Experimente todos os tipos de massa e prefira os grande parte dos alimentos, a maior quantidade de molhos de ervas e tomate, que são muito saborosos vitaminas e minerais se encontra na casca. e menos calóricos. Cuidado com a adição excessiva de gordura aos molhos. - Ao cozinhar frutas, legumes e verduras, faça-o no menor tempo possível e use pouca quantidade de - Prefira as pizzas elaboradas com legumes e água. Algumas vitaminas se perdem com o calor e se verduras ou frutas e pouco queijo. diluem na água. O sabor e a textura também ficarão - Pastéis, bolos e biscoitos são também considerados melhores. alimentos ricos em gorduras e açúcares. Evite - Coloque esses alimentos na água já em fervura e consumi-los diariamente. Quando fizer ou comprar sempre utilize a panela tampada para o tempo de bolos, prefira os mais simples, de frutas, sem cozimento ser o menor possível. cobertura ou recheio. Deixe os bolos mais elaborados para comemorações eventuais e - A água do cozimento dos vegetais pode ser especiais. utilizada na preparação de outros alimentos, como
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    110 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA arroz, ensopados, molhos. As vitaminas e minerais Diretriz 4 diluídos são reaproveitados. Feijões e outros alimentos vegetais ricos em - Não utilize bicarbonato de sódio para deixar os proteínas vegetais mais verdes. Esse composto destrói - Coma 1 porção de feijão por dia. Varie os tipos de algumas vitaminas. feijões usados (preto, carioquinha, verde, de-corda, - Use muito tomate, pimentão e cebola frescos, branco e outros) e as formas de preparo. Use cozidos ou como molhos. também outros tipos de leguminosas (soja, grão-de- - Redescubra o valor e o sabor das sopas. Um prato bico, ervilha seca, lentilha, fava). grande de sopa de vegetais, com caldo bem grosso, - Coma feijão com arroz na proporção de uma parte pode ser considerado uma refeição, de feijão para duas partes de arroz cozidos. Esse complementada por salada e fruta. prato brasileiro é uma combinação completa de - Conheça novos sabores; experimente frutas, proteínas e bom para a saúde. legumes e verduras brasileiras de cada época do ano e experimente novas receitas com esses alimentos. E... - Ao utilizar frutas, legumes e verduras industrializados, dê preferência àqueles - O prato favorito e típico do Brasil arroz e feijão é conservados no próprio suco, água ou vinagre. uma excelente combinação e escolha. Adote-o Fique atento: leia no rótulo a quantidade de sal e como base de sua alimentação. açúcar e escolha os que têm menor teor desses - O feijão deve ser preparado com quantidades componentes. pequenas de gordura, preferencialmente óleos - Coma frutas frescas no café da manhã, nas vegetais. refeições principais, como sobremesa, ou nos - Não use a água em que o feijão ficou de remolho lanches, entre as principais refeições. para cozinhá-lo. - Sempre que possível, dê frutas frescas às crianças - Feijoada e outros pratos feitos com feijão e carnes todos os dias para levar para a escola. Para variar gordas, embutidos, toucinho e outros tipos de também podem ser usadas frutas secas, como carnes têm alto teor de gordura saturada e de sal, o banana, abacaxi e outras disponíveis. Prefira que não é saudável; consuma esse tipo de aquelas que foram feitas sem açúcar adicionado. preparação ocasionalmente. Procure essa informação na lista de ingredientes no - Acrescente feijão, ervilha ou lentilha aos rótulo dos alimentos. ensopados e cozidos. - Sucos de fruta feitos na hora são os melhores. A - Acrescente feijões, oleaginosas (castanhas, nozes, polpa congelada perde alguns nutrientes, mas é amendoim) e sementes às saladas para torná-las uma opção melhor do que sucos artificiais ou mais nutritivas. refrigerantes. - As sementes (de girassol, gergelim, abóbora e - Sempre que possível, ofereça suco natural de outras) e castanhas (do-brasil, de-caju, nozes, nozes- frutas variadas todas as manhãs para todas as pecã, amêndoas e outras) são fontes pessoas da família e não adicione açúcar. Se precisar complementares de proteínas e gorduras de boa adicionar um líquido, prefira suco de laranja ou qualidade. Se possível, consuma-as com mais água de coco. freqüência. Utilize-as como ingrediente de saladas, - Se você tem um quintal ou qualquer lugar sopas, no iogurte, salada de frutas, molhos, pães e adequado, faça uma horta, plante frutas, legumes, bolos. verduras e ervas (manjericão, orégano, salsa, - Tenha sempre em casa uma quantidade de feijões cebolinha, coentro) para a família e amigos. Além e lentilhas secos e sementes (girassol, abóbora). Se dos benefícios alimentares, pode ser uma fonte de for possível, tenha também castanhas e nozes. lazer e movimento. - Nos restaurantes por quilo (self-service) e cantinas - Dê cestas de frutas e não bolos ou chocolates como inicie a montagem do seu prato pelas saladas presentes. Esta é uma maneira simpática e diferente (verduras e legumes) e feijões. Tempere a salada de contribuir para uma vida mais saudável de todas com pequena quantidade de azeite ou limão. Evite as pessoas a quem você quer bem.
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    Colocando as diretrizesem prática 111 servir-se de frituras, salgadinhos, empanados, gordura total). molhos brancos e molhos à base de maionese ou de - Não existem diferenças importantes no valor queijo. nutritivo de carnes denominadas de primeira ou - Para o lanche das crianças, nas viagens ou se sentir de segunda . O que é importante é optar por fome entre as refeições, uma boa alternativa é aqueles cortes com menor teor de gordura. comer um pouco de nozes, castanhas ou sementes - Prefira carnes, peixes ou aves assados ou (oleaginosas) sem sal, ou frutas secas sem açúcar preparados com pouca gordura. adicionado. - Prepare as carnes com pouco sal e evite o uso de temperos prontos que são ricos em sódio. Diretriz 5 - Evite produtos com carne processada tipo Leite e derivados, carnes e ovos hambúrgueres e salsichas, que geralmente têm alta Consuma diariamente: porcentagem de gordura e de sal. Consulte as - 3 porções de leite e derivados. Os adultos, sempre informações nutricionais dos rótulos de alimentos que possível, devem escolher leite e derivados com (gordura total, gordura saturada) para ajudá-lo a menores quantidades de gorduras. Crianças, selecionar alimentos com menores teores de gorduras e sódio. adolescentes e mulheres gestantes devem consumir - Coma somente ocasionalmente alimentos de leite e derivados na forma integral. origem animal curados, defumados, grelhados ou - 1 porção de carnes, peixes ou ovos. Prefira as churrasco. carnes magras e retire toda a gordura aparente - Quando fizer um churrasco, ofereça frango, peixe antes da preparação. grelhado, acompanhados de saladas e frutas como - Coma mais frango e peixe e sempre prefira carne opção. com baixo teor de gordura. Os derivados de carne - Prefira iogurtes desnatados e queijos com pouca (charque, salsicha, lingüiça, presuntos e outros gordura. Em geral os queijos brancos, como a ricota embutidos) contêm, em geral, excesso de gorduras e o minas frescal, possuem menos gordura. Consulte e sal e devem ser consumidos ocasionalmente. os rótulos nutricionais e escolha os produtos com - Coma pelo menos uma vez por semana vísceras e menos gordura e sódio. miúdos, como o fígado bovino, coração de galinha, - Iogurte desnatado temperado com ervas, como entre outros. Essas carnes são excelente fonte de manjericão, salsa, tomilho e coentro frescos, é uma ferro, nutriente essencial para evitar anemia, em excelente opção para sanduíches e molho de especial em crianças, jovens, idosos e mulheres em saladas em substituição à maionese, manteiga ou idade fértil. margarina. - Os ovos são nutritivos. Prefira-os cozidos, E escaldados, mexidos ou como omelete, preparados - Carne fresca de aves e peixes é sempre melhor. com pouco ou nenhum óleo. - Procure comer peixe fresco pelo menos duas vezes - Dois a três copos de leite por dia contribuem para por semana. Tanto os peixes de rio como de mar são um adulto atingir suas recomendações de cálcio. O saudáveis. iogurte pode ser também uma opção para garantir - Descarte, antes de preparar, toda a gordura o fornecimento de cálcio. Prefira os caseiros. aparente das carnes e a pele das aves. - Crianças, adolescentes, gestantes e idosos devem - Cada tipo de corte de carne possui diferentes consumir mais leite e derivados, para atender às quantidades de energia e gordura. Prefira aqueles suas necessidades de cálcio. de menores valores. Por exemplo, a cada 100g: acém - Caso você ou sua família adote uma alimentação (121kcal, 4,3g de gordura total); contrafilé (192kcal, que não contenha nenhum tipo de carne, ovos ou 12,8g de gordura total); patinho (118kcal, 4,02g de leite e derivados, procure nos serviços de saúde a gordura total); coxa de frango (161kcal, 9,32g de orientação de nutricionista para assegurar-se de gordura total); peito sem pele (110kcal, 1,84g de que sua alimentação seja saudável.
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    112 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Diretriz 6 ou soja. Gorduras, açúcares e sal - Uma lata de 900ml é suficiente para o preparo de - Reduza o consumo de alimentos e bebidas alimentos de uma família de quatro pessoas, concentrados em gorduras, açúcar e sal. Consulte a durante um mês. Se você usa mais que essa tabela de informação nutricional dos rótulos dos quantidade por mês, tente reduzir o óleo das alimentos e compare-os para ajudar na escolha de preparações até que o consumo de óleo atinja essa alimentos mais saudáveis. Escolha aqueles com quantidade. menores percentuais de gorduras, açúcar e sódio. - O azeite de oliva é uma ótima opção, - Use pequenas quantidades de óleo vegetal principalmente para temperar saladas. É saboroso e quando cozinhar. Prefira formas de preparo que nutritivo. Observe no rótulo do produto se ele é utilizam pouca quantidade de óleo, como assados, puro, pois muitos são adicionados de outros tipos de cozidos, ensopados, grelhados. Evite frituras. óleo vegetal. Use-o com moderação, pois também - Consuma não mais que 1 porção por dia de óleos tem alto teor de energia. vegetais, azeite ou margarina sem ácidos graxos - Use ervas ou temperos e não sal, para tornar os trans. alimentos mais saborosos. Evite temperos prontos - Consuma não mais que 1 porção do grupo dos que contêm alta concentração de sal. açúcares e doces por dia. - Mantenha os molhos de saladas e molhos de - Reduza a quantidade de sal nas preparações e alimentos separados das preparações. Acrescente- evite o uso do saleiro na mesa. A quantidade de sal os apenas quando montar o seu prato, em por dia deve ser, no máximo, uma colher de chá rasa quantidade pequena, apenas para realçar o sabor. por pessoa, distribuída em todas as preparações - Evite consumir alimentos industrializados que consumidas durante o dia. contêm altos teores de sal, como embutidos - Valorize o sabor natural dos alimentos, reduzindo (salsichas, lingüiças, salames, presuntos, o açúcar ou o sal adicionado a eles. Acentue o sabor mortadela), queijos, conservas de vegetais, sopas, de alimentos cozidos e crus utilizando ervas frescas molhos e temperos prontos. Além disso, alguns ou secas ou suco de frutas como tempero. geralmente têm alto teor de gordura. - Utilize somente sal iodado. Não use sal destinado - Cozinhar com muito óleo e fritar tornam qualquer ao consumo de animais. Ele é prejudicial à saúde alimento rico em gorduras e, portanto, não- humana. saudável. - Se for consumir, prefira os salgadinhos assados e também aqueles que não são preparados com E... gordura vegetal hidrogenada (veja na lista de - Quanto menos gordura, gordura saturada, sal e ingredientes no rótulo). Somente os consuma açúcar você consumir, melhor para sua saúde. ocasionalmente. Atenção com os folhados e - Leia os rótulos dos alimentos. Evite alimentos com empadinhas de massa podre , que são assados, alto teor de gordura total, de gordura saturada, mas também ricos em gorduras. gordura trans, de sódio (sal) ou de açúcar. - Evite bolos, biscoitos doces, sobremesas e doces - Lembre-se: você pode estranhar o sabor inicial, como regra da alimentação. Coma-os menos que mas depois de um tempo você irá preferir o sabor três vezes por semana. Prefira aqueles preparados dos alimentos preparados com pouca gordura, sal e em casa, com óleos vegetais. açúcar. Dê o tempo necessário para o seu paladar se - Refrigerantes, bebidas industrializadas, doces e acostumar a isso. Seja persistente. Sua saúde produtos de confeitaria contêm muito açúcar e agradece. favorecem o aparecimento de cáries, além de - Os óleos vegetais são melhor escolha que a sobrepeso e obesidade, e não são nutritivos. Evite o manteiga ou margarina. Use-os para cozinhar. consumo diário desses produtos e explique às Escolha entre os de canola, milho, algodão, girassol crianças e aos adolescentes que esses alimentos não
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    Colocando as diretrizesem prática 113 são saudáveis, podendo ser consumidos apenas - Se não for possível ter um filtro de água em casa, eventualmente, em ocasiões especiais. mantenha a água a ser utilizada na cozinha em - Quando consumir qualquer tipo de alimento com recipientes limpos, devidamente protegidos do ar e açúcar, escove os dentes imediatamente depois. do contato com insetos. Essa prática é particularmente importante para as - Mantenha sempre disponível uma garrafa de água crianças, para a prevenção de ocorrência da cárie no seu ambiente de trabalho. dental. - Leve consigo água engarrafada nas viagens e beba - Procure não adicionar açúcar ao café ou a outras muita água. bebidas. Em caso de dificuldade, faça uma redução - Quando consumir bebidas alcoólicas, lembre-se de progressiva. Após um tempo seu paladar se que deve também beber muita água. adaptará e as bebidas em geral terão um gosto - Os refrigerantes e sucos industrializados não melhor. devem ser considerados como água, pois esses tipos - Diminua progressivamente o consumo de de bebidas contêm muita caloria. refrigerantes; a maioria contém corantes, - Não consuma mais do que duas a três xícaras de aromatizantes, açúcar ou edulcorantes. Sucos café por dia. Você pode substituí-lo por chás de industrializados também são ricos em açúcar. diferentes ervas frescas sem açúcar. O café deve ser Consuma-os moderadamente, diluídos com água evitado por crianças, adolescentes e idosos, além ou escolha os diet ou light. das pessoas que têm dificuldade de dormir. - Evite alimentos engarrafados, enlatados ou empacotados com adição de açúcar ou sal ou que Diretriz Especial 1 contêm muita gordura ou óleos hidrogenados Atividade física (gorduras trans). - Torne o seu dia-a-dia e seu lazer mais ativos. Acumule pelo menos 30 minutos de atividade física Diretriz 7 todos os dias. Água - Procure os serviços de saúde para ser orientado - Use água tratada ou fervida e filtrada para beber e sobre alimentação saudável e atividade física. para preparar refeições e sucos ou outras bebidas. - Movimente-se. Descubra um tipo de atividade - Beba pelo menos dois litros (seis a oito copos) de física agradável. O prazer é também fundamental água por dia. Dê preferência ao consumo de água para a saúde. Caminhe, dance, ande de bicicleta, nos intervalos das refeições. jogue bola, brinque com as crianças. - Ofereça água para as crianças e idosos ao longo de - Aproveite o espaço doméstico e espaços públicos todo o dia. Eles precisam ser estimulados próximos a sua casa para se movimentar. Convide ativamente a ingerir água. vizinhos e amigos para acompanhá-lo. E... E - Beba água de boa qualidade, tratada ou fervida e - Movimente-se. Procure uma atividade física que filtrada, entre as refeições, ou sucos naturais de lhe dê prazer. frutas sem adição de açúcar. - Caminhe em ritmo acelerado para o trabalho ou, - A água usada para preparar os alimentos ou pelo menos, caminhe durante parte do percurso. higienizá-los deve merecer o mesmo cuidado da - O trabalho de casa é fisicamente ativo. Faça a água para beber. família colaborar. - Use sempre um filtro. Procure limpar - Faça intervalos durante o dia para uma rápida freqüentemente o filtro, principalmente se for do caminhada. Cada dez minutos contam. tipo que usa vela que pode ser substituída. Fique - Suba e desça escadas em casa e no trabalho. atendo ao prazo de validade das velas.
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    114 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA - O ciclismo é tão bom quanto a caminhada. Pedale - Os atendentes e manipuladores devem estar com nos finais de semana. vestimenta adequada à atividade que exercem e, - Dance com o(a) seu(ua) companheiro(a) ou dance quando necessário, de touca, luvas, máscara de sozinho(a) quando sentir vontade. proteção e botas. A vestimenta deve estar limpa e - Participe de um clube, academia ou aula de conservada. ginástica em que você desfrute de companhia e de - Os produtos devem estar acondicionados em lazer ativo. prateleiras limpas, organizadas e nunca sobre o - Corrida, ciclismo, natação e academias são escolhas piso. Os alimentos congelados e refrigerados devem para exercícios vigorosos; jogos de equipe como o estar armazenados sob temperatura recomendada futebol, voleibol, basquetebol e tênis são também pelo fabricante. excelentes formas de exercício físico. - Certifique-se da qualidade dos produtos. - Certifique-se de que as crianças na família têm - Verifique os selos de inspeção, o prazo de validade, tempo para fazer esportes e jogos. Brinque com elas a identificação do fabricante e as condições da e faça-as descobrir e adotar as brincadeiras de sua embalagem. infância, feitas preferencialmente ao ar livre: pular - Observe a embalagem do produto: ela não deve corda, esconde-esconde, subir em árvores, brincar estar violada ou rasgada. No caso das latas, não em parquinhos não-eletrônicos, pega-pega, cabra- compre nem utilize aquelas com ferrugem, que cega, jogar bola, queimada, amarelinha. Elas vão se estiverem amassadas, estufadas ou com qualquer divertir e você também. outra alteração. - Diminua o tempo em frente ao televisor e - Nos produtos não embalados ou acondicionados computador nas suas horas de lazer. em embalagens transparentes que permitem - Se você tem algum histórico de doença cardíaca, visualizar seu conteúdo, observe se os alimentos ou se você tem mais de 50 anos, é prudente apresentam alteração na cor, na consistência, no submeter-se a um exame médico antes de iniciar aspecto e se há presença de matérias estranhas. qualquer esporte ou atividade física. - Siga a ordem correta de compra dos alimentos: - Verifique, nos serviços de saúde, o seu peso e a primeiro, os produtos não-comestíveis, como medida da cintura regularmente. Essas informações utensílios e materiais de limpeza; segundo, os são importantes para a saúde. alimentos não-perecíveis e depois os perecíveis (carnes e outros produtos conservados sob Diretriz Especial 2 refrigeração). Organize-se para que o tempo entre Qualidade sanitária dos alimentos a compra dos alimentos perecíveis e seu - Ao manipular os alimentos, siga as normas básicas armazenamento no domicílio não ultrapasse duas de higiene na hora da compra, da preparação, da horas. conservação e do consumo de alimentos. - Carnes pré-embaladas e congeladas, encontradas normalmente em supermercados, devem ser mantidas em balcão ou câmara frigorífica. Freezer E... ou balcão frigorífico fora da temperatura correta, No momento da compra ou quando desligados à noite, formam água no - Verifique se o supermercado ou estabelecimento chão, o que indica que os produtos não foram comercial apresenta adequadas condições de conservados em temperatura ideal. conservação dos alimentos oferecidos. Para - Os alimentos congelados devem estar firmes e sem escolher esses estabelecimentos, não utilize apenas sinais de descongelamento, como acúmulo de critérios como a proximidade do domicílio e o preço líquido. dos produtos; verifique também a limpeza e - No caso de carnes e aves, verifique se a embalagem organização do ambiente. não está gotejando. No caso de ovos, confira se não
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    Colocando as diretrizesem prática 115 estão quebrados ou rachados. de utilizá-los em alimentos prontos. - Produtos de origem animal embalados somente - Os utensílios devem secar naturalmente. Se utilizar devem ser comprados com o selo do Serviço de panos de prato, eles devem estar limpos. Não utilize Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura, o mesmo pano de prato usado para secar utensílios Pecuária e Abastecimento, ou do serviço de para secar as mãos. Os panos de prato, panos de pia inspeção estadual ou municipal. e esponjas devem ser trocados freqüentemente. - Ao escolher peixes, observe se possuem pele firme, - Caso retire pequenas porções para experimentar o bem aderida, úmida e sem a presença de manchas. alimento que está sendo preparado, lave a colher Os olhos devem ser brilhantes e salientes. As ou outro utensílio que usou antes de utilizá-lo escamas devem estar unidas e fortemente aderidas novamente. à pele e brilhantes. As brânquias (guelras) devem - Cozinhe bem os alimentos, especialmente carne, possuir cor em tons que variam do rosa ao vermelho aves, ovos e peixes. No caso de carnes e aves, para intenso, ser brilhantes e sem viscosidade. saber se o cozimento foi completo, o suco deve estar - No transporte dos alimentos, evite colocá-los em claro e não rosado e a parte interna também não locais quentes, como, por exemplo, próximos ao deve estar vermelha ou rosada. Os ovos devem ser motor do carro ou expostos ao sol. cozidos até a clara e gema estarem firmes e os peixes - Guarde os alimentos perecíveis na geladeira ou devem ficar opacos (sem brilho) e se desmanchar freezer o mais rápido possível, quando chegar ao facilmente. domicílio. - A água utilizada no preparo dos alimentos deve ser potável. Use a mesma água que é ingerida pela No domicílio família. - As mãos devem sempre ser lavadas com água e - Alimentos preparados que não serão sabão antes do início da preparação dos alimentos. imediatamente consumidos devem ser conservados As unhas devem estar curtas e limpas. no refrigerador em vasilhas tampadas. Sempre que - Lave as mãos antes de manipular os alimentos e possível, prepare os alimentos em quantidade após ir ao banheiro, limpar o nariz, fumar, mexer suficiente para consumo imediato. Não deixe os com dinheiro, atender ao telefone, carregar o lixo e alimentos cozidos à temperatura ambiente por mais outras atividades. Também se lembre de lavar as de duas horas. mãos após manipular alimentos crus, - Mantenha a geladeira, o congelador e o freezer principalmente se for manusear alimentos já nas temperaturas adequadas. A temperatura da prontos. geladeira deve ser inferior a 5ºC. Limpe - O local de preparo e armazenamento dos periodicamente e verifique a data de validade dos alimentos (cozinha, despensa, bancadas e produtos armazenados. equipamentos) devem ser mantidos sempre limpos - A geladeira não deve ficar muito cheia de e organizados. alimentos e as prateleiras não devem ser cobertas - As superfícies que entrem em contato com os por panos ou toalhas, porque isso dificulta que o ar alimentos, como bancadas de cozinhas, devem ser frio circule. Verifique regularmente se a geladeira mantidas em bom estado de conservação, sem está funcionando de forma adequada e se as rachaduras, trincas e outros defeitos que favoreçam borrachas das portas estão em boas condições, o acúmulo de líquido e sujidades. garantindo o isolamento térmico. - Todos os utensílios, como facas e tábuas de corte, e - Abra a geladeira somente quando necessário e superfícies que entram em contato com os mantenha a porta aberta pelo menor espaço de alimentos, como bancadas, devem estar limpos. tempo para evitar flutuações de temperatura. Lave os utensílios usados para manipular alimentos - Armazene adequadamente os alimentos na crus (carnes, pescados e vegetais não lavados) antes geladeira: prateleiras superiores para alimentos
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    116 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA preparados e prontos para o consumo; prateleiras do meio para produtos pré-preparados e prateleiras inferiores para alimentos crus. - Não guarde alimentos por muito tempo, mesmo que seja na geladeira. O alimento preparado não deve ser conservado na geladeira por mais de cinco dias. - Não descongele os alimentos a temperatura ambiente. Use o forno microondas se for prepará-lo imediatamente ou deixe o alimento sob refrigeração em tempo suficiente para descongelá- lo. Alimentos fracionados em pequenas porções podem ser cozidos diretamente sem prévio descongelamento. - Nunca utilize alimentos após a data de validade. Para alimentos que necessitam de condições especiais de conservação depois de abertos, observe as recomendações do fabricante quanto ao prazo máximo para consumo. - Proteja os alimentos e as áreas da cozinha contra insetos, animais de estimação e outros animais. - Os alimentos devem ser mantidos em sua embalagem original, exceto os enlatados, ou em recipientes plásticos, de vidro ou de inox, limpos e fechados. Não devem ser utilizados recipientes de alumínio para armazenamento de alimentos. - Lave os vegetais, especialmente quando forem consumidos crus, e guarde-os em geladeira depois de limpos, de preferência em sacos plásticos secos e próprios para esta finalidade. Os vegetais folhosos devem ser lavados folha por folha, como por exemplo alface e espinafre. Não use detergente ou sabão. - O local de armazenagem de produtos secos deve ser sempre limpo e arejado (com ventilação apropriada). - Alimentos e produtos de limpeza devem ser armazenados separadamente. - Armazene corretamente o lixo em sacos, cestos ou latas com tampa, em local separado da área de preparo dos alimentos. Após o manuseio do lixo, lave as mãos.
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    Utilizando o rótulo dos alimentos
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    Utilizando o rótulodos alimentos 119 Utilizando o rótulo dos alimentos vitaminas e minerais utilizaram na sua composição Informações como a lista de ingredientes, original alimentos ou ingredientes com alto grau de prazo de validade e modo de preparo, quando refinamento dos quais as vitaminas e minerais necessário, já são uma realidade nos rótulos dos foram retiradas e, depois, no processamento foram alimentos há muitos anos, no Brasil. Em geral, os adicionadas ao alimento. Nessa situação, não seria consumidores as utilizam cotidianamente para mais saudável e econômico consumir um produto in definir suas compras. Adicionalmente, muitos dos natura? alimentos industrializados já possuem em seus Cada vez mais, é importante que o rótulos a informação da sua composição consumidor tenha acesso a informação, nutricional. A partir de agosto de 2006, os produtos fortalecendo-o na capacidade de análise e decisão obrigatoriamente deverão conter essa informação. para optar por um ou outro produto, frente à A informação nutricional é um instrumento funda- indiscriminada quantidade de informações mental de apoio à escolha de produtos mais disponíveis nos diferentes veículos da mídia e saudáveis na hora da compra. Neste capítulo, serão publicidade. O fortalecimento dessa capacidade de apresentadas as características da informação decidir pelo alimento mais adequado, nutricional que estará presente nos rótulos. O uso contrapondo-se às informações publicitárias e de do rótulo e das informações nutricionais deve ser marketing, é um desafio a conquistar, preservando o incentivado pelos profissionais de saúde, entidades nosso direito de consumidores. de defesa do consumidor e pela comunidade No endereço http://www.anvisa.gov.br/ escolar, dentre outros, para transformar esse alimentos/rotulos/index encontram-se disponíveis instrumento em ferramenta efetiva para escolhas nos seguintes materiais para informações de alimentos mais saudáveis pela população. adicionais: Manual de Orientação aos Consumidores - a escolha adequada dos alimentos a partir dos rótulos Informações que devem ser (BRASIL, 2002a); Guia de bolso do consumidor saudável (BRASIL, 2003?) declaradas no rótulo Os rótulos possuem denominação de venda do produto e, em certos casos, algumas Lista de ingredientes informações a respeito de qualidades ou Todo alimento industrializado deve, por classificações que o diferenciam de um similar. Por lei, conter a lista de ingredientes, com exceção de exemplo, para o consumidor é útil a informação de alimentos com um único ingrediente (por exemplo: que determinado arroz é parboilizado ou que um açúcar, farinha, erva-mate, café, etc.). Como regra, leite é semidesnatado. Essas informações os ingredientes são colocados em ordem normalmente estão em destaque na embalagem. decrescente da respectiva proporção. O item que Os rótulos possuem, ainda, uma grande quantidade aparece primeiro é o que entra em maior de informação imprescindível ao consumidor, como quantidade na formulação do produto. De maneira a lista de ingredientes, prazo de validade, conteúdo geral, se os primeiros ingredientes são gordura ou líquido, identificação da origem, lote e instruções açúcar e derivados, o alimento terá alta sobre o preparo e uso do alimento, quando concentração dessas substâncias. Os aditivos necessário. alimentares devem ser declarados após os Naturalmente a indústria dará maior ingredientes, constando sua função no alimento. destaque às características positivas de seu produto. Um produto relativamente simples como o Dessa maneira, é importante analisar mais de uma pão integral terá uma lista básica de ingredientes informação. Por exemplo, um produto com alto com farinha de trigo refinada, farinha de trigo inte- teor de fibra, que é uma característica positiva, gral, açúcar, fermento biológico, sal e ácido poderá, em contrapartida, ter alto teor de gordura, ascórbico (aditivo utilizado como melhorador de açúcar ou sódio. Outro produto com alto teor de farinha aumenta a expansibilidade da massa). cálcio pode ter elevada concentração de gordura Assim, mesmo um pão denominado integral tem saturada. Muitas vezes os produtos com adição de como primeiro ingrediente a farinha de trigo
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    120 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA refinada. O produto denominado pão integral pode prontos para o consumo (sobremesas como pudins e ter diferentes teores de farinha de trigo integral, musses); os produtos fracionados nos pontos de dependendo do fabricante. venda a varejo, comercializados como pré-medidos Analisando a lista de ingredientes, você (como queijo, presunto); as frutas, vegetais e carnes poderá verificar com a alta freqüência em que a in natura, refrigerados e congelados e os alimentos gordura, principalmente a vegetal hidrogenada (ou com embalagens cuja superfície visível para 2 gordura trans), o açúcar ou o sal são utilizados em rotulagem seja menor ou igual a 100cm (um pouco produtos industrializados. Atenção: algumas vezes maior que uma caixa de fósforos), caso não sejam o nome do ingrediente pode estar incompleto como para fins especiais ou utilizem informação no caso de gordura hidrogenada, que pode nutricional complementar (claim nutricional). aparecer como gordura vegetal. Gordura vegetal é diferente de óleo vegetal (aquela é hidrogenada e Valores diários (VD) prejudicial à saúde, este é rico em ácidos graxos A informação nutricional obrigatória insaturados que não prejudicam a saúde desde que contida nos rótulos de alimentos abrange ainda consumidos com moderação). uma outra informação. Para o consumidor poderia ser de pouca valia saber que determinado produto Informação nutricional tem tantos gramas de gordura ou tantas calorias. O A obrigatoriedade da rotulagem nutri- passo seguinte seria saber se isto é suficiente ou cional em todos os rótulos de alimentos é recente excessivo em relação a algum parâmetro de os (Resolução RDC n. 359 e 360, de 23 de dezembro de necessidades nutricionais. Assim, ao lado da 2003 www.anvisa.gov.br).(BRASIL,2003b,2003c) quantidade de calorias e gramas de nutrientes, há a Veja o exemplo a seguir de uma informação do percentual de VALOR DIÁRIO embalagem de leite desnatado. O primeiro aspecto (%VD), que informa quanto aquela quantidade de a ser notado é que a informação é apresentada por calorias ou nutriente representa, considerando uma uma porção de referência . No caso do leite, 200 dieta de 2.000kcal. Voltando ao nosso exemplo, um mililitros (ml) - um copo. O fabricante deve copo de leite desnatado de 200ml contribui com 8% apresentar a informação por porção, em grama ou do valor diário de proteína e 2% do valor diário de mililitro, incluindo a medida caseira corres- gordura. pondente. A declaração por 100g ou 100ml é Fique atento! A informação de valor diário opcional. A medida caseira facilita a compreensão é muito útil, mas é importante ter claro que não é do consumidor, uma vez que é mais fácil visualizar o uma recomendação (DEPARTMENT OF HEALTH copo, xícara ou colher. AND SOCIAL SECURITY, 1991). Por exemplo, no caso A informação nutricional deve conter a das gorduras saturadas e do sódio quanto menores quantidade de energia que aquela porção contém e forem os percentuais do VD, melhor, porque indica a quantidade em gramas ou miligramas dos que os teores desses nutrientes no alimento são seguintes nutrientes: carboidrato, proteína, baixos. A declaração de gorduras trans em gordura total, gordura saturada, gorduras trans, percentual de valor diário (%VD) não é obrigatória, fibra alimentar e sódio. Caso o fabricante decida, é uma vez que não é recomendada a ingestão de permitido adicionar informações sobre outros gorduras trans, mesmo em baixas quantidades. nutrientes. Analise as diferentes informações que Estão excluídos dessa obrigatoriedade os estão no exemplo abaixo. Você deve controlar o seguintes alimentos: as bebidas alcoólicas; as consumo de alguns dos componentes - gordura especiarias (como canela, orégano); as águas total, gordura saturada, gordura trans e sódio. Já minerais naturais; os vinagres; o sal (cloreto de para outros, você deve procurar garantir o consumo sódio); café, erva-mate, chá e outras ervas sem diário segundo os parâmetros saudáveis já adição de outros ingredientes (como leite e açúcar); apresentados neste guia. os alimentos preparados e embalados em Por exemplo: o leite desnatado, como todo restaurantes e estabelecimentos comerciais, alimento de origem animal, não contém fibra. Por
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    Utilizando o rótulodos alimentos 121 outro lado, é uma boa opção, pois tem, em relação total e gordura saturada. Compare as informações ao produto integral, menor quantidade de gordura dos dois produtos no quadro 2 a seguir: Quadro 2 - Informação nutricional dos leites desnatado e integral Porção 200ml (1 copo) Leite integral Quantidade % VD (1) Leite desnatado Quantidade % VD (1) por porção por porção Valor energético 118 kcal 6 Valor energético 74 kcal 4 Carboidratos 9,0 g 3 Carboidratos 9,8 g 3 Proteínas 6,3 g 8 Proteínas 6,4 g 8 Gorduras totais 6,4 g 12 Gorduras totais 1,0 g 2 Gorduras saturadas 4,1 g 19 Gorduras saturadas 0 ,0g 0 Gorduras trans ND - Gorduras trans 0 ,0g - Fibra alimentar 0g 0 Fibra alimentar 0 ,0g 0 Sódio 94 mg 4 Sódio 100 mg 4 FONTE: PHILIPPI, 2001. (1) % Valores Diários com base em uma dieta de 2.000kcal ou 8.400kj. Seus valores diários podem ser maiores ou menores dependendo de suas necessidades energéticas. Como já mencionado, o rótulo pode conter indivíduo a fazer as adaptações necessárias dentro outras informações nutricionais. Se o rótulo das suas necessidades nutricionais específicas. contiver qualquer atributo, por exemplo, que o Para cada grupo de alimentos foi definida produto tem baixo teor de açúcar ou tem adição de qual a contribuição calórica para uma dieta vitaminas e minerais, essas informações devem estar adequada, considerando um consumo total diário quantificadas, obrigatoriamente, na tabela de 2.000kcal. nutricional, respeitando a Portaria SVS/MS n.° O quadro 3 apresenta os grupos de 27/98. (BRASIL,1998) alimentos, a recomendação calórica de cada grupo, o número de porções diárias de consumo para Porções de alimentos alcançar a recomendação total e, finalmente, o O tamanho das porções foi calculado com valor energético da porção. Esta referência é base em uma dieta de 2.000kcal. Pessoas jovens e importante para estimar o tamanho da porção dos ativas, especialmente em fase de crescimento, alimentos que não constam das tabelas. poderão ter valores diferentes, assim como as pessoas inativas e mulheres adultas. Declarações relacionadas ao conteúdo de A regulamentação sobre rotulagem nutricional definiu o que seriam as porções de nutrientes e energia referência para que a informação pudesse ser Muitas vezes encontramos produtos com veiculada de maneira padronizada. Esses valores de alegações como alto teor em fibra , baixo em referência foram elaborados em relação a uma sódio . Na rotulagem de alimentos, qual é o dieta de 2.000kcal e prevendo a distribuição dessas significado de alto teor e baixo ? Essas calorias nos diferentes grupos de alimentos. É alegações estão regulamentadas pela Agência necessário que o profissional de saúde apóie o Nacional de Vigilância Sanitária (BRASIL, 2001a) e
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    122 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA QUADRO 3 - Porções segundo grupos de alimentos, para fins de rotulagem (*) nutricional. Recomendação Número de Valor energético Grupos de alimentos calórica média do porções diárias do médio por porção I Produtos de panificação, cereais, leguminosas, raízes, tubérculos 900 6 150 e seus derivados II Verduras, hortaliças e conservas 3 30 vegetais 300 III Frutas, sucos, néctares e 3 70 refrescos de frutas IV Leite e derivados 2 125 500 V Carnes e ovos 2 125 VI Óleos, gorduras e sementes 2 100 oleaginosas 300 VII Açúcares e produtos que 1 100 fornecem energia provenientes (*) A tabela de porções para cálculo do % do VET para a alimentação diária se encontra no ANEXO B. Para conhecer os Valores de Referência adotados para a informação nutricional de produtos industrializados, acesse http://www.anvisa.gov.br/alimentos/legis/especifica/rotuali.htm. seu significado depende do nutriente específico. proteínas, sódio e outros), alimentos sem adição de Essas alegações podem ser utilizadas para destacar açúcar/alimentos para dietas de ingestão o conteúdo de energia ou de nutrientes contidos no controlada de açúcares e alimentos para controle de alimento ou para comparar os níveis de nutrientes peso. Apresentam na sua composição quantidades ou valor energético de dois ou mais alimentos. Veja insignificantes, ou são totalmente isentos, de quadro 4 . nutriente específico. Como exemplo de alimento diet, podemos citar uma geléia para dieta com restrição de açúcar. Alimentos diet e light Tanto alimentos diet quanto light não têm O termo light pode ser utilizado nos necessariamente o conteúdo de açúcares ou alimentos que apresentam baixo conteúdo de valor energia reduzidos, uma vez que podem ser energético ou de algum nutriente, ou valor alteradas as quantidades de gorduras, proteínas, energético ou de nutrientes reduzido, quando sódio, dentre outros; por isso a importância da comparado a um alimento convencional. Como leitura dos rótulos. exemplo de alimento light, podemos citar um iogurte com redução de 30% de gordura. O termo diet pode ser utilizado nos Alegação de propriedades funcional e/ou de alimentos especialmente formulados para grupos saúde da população que apresentam condições fisioló- Os rótulos dos alimentos podem trazer gicas específicas: alimentos para dietas com alegações de propriedades funcional e/ou de saúde, restrição de nutrientes (carboidratos, gorduras, desde que previamente avaliadas e aprovadas pela
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    Utilizando o rótulodos alimentos 123 QUADRO 4 - Declarações relacionadas ao conteúdo de nutrientes e energia no rótulo dos alimentos ALEGAÇÃO/ATRIBUTO CONDIÇÕES NECESSÁRIAS Máximo de 40 kcalpor 100g ou Valor calórico baixo (light) Máximo de 20 kcal por 100ml Não contém (zero) caloria Máximo de 4 kcal por 100g ou 100ml Redução mínima de 25% em relação ao Reduzido (light) em caloria produto convencional e diferença maior que 40kcal por 100g ou 20 kcal por 100ml Máximo de 5g em 100g ou 100ml e mesmas condições exigidas para os atributos "REDUZIDO" ou "BAIXO VALOR Baixo teor de açúcar (light) ENERGÉTICO", ou frase "este não é um alimento com valor energético reduzido" ou frase equivalente Açúcares não foram adicionados durante a produção e embalagem do produto e também não contém ingredientes nos quais açúcares tenham sido adicionados e mesmas Sem adição de açúcar condições exigidas para os atributos REDUZIDO ou BAIXO VALOR ENERGÉTICO, ou frase "este não é um alimento com valor energético reduzido" ou frase equivalente Máximo de 3g de gordura em 100g de Baixo, em gordura (light) alimento sólido ou 1,5g em 100ml de alimento líquido Máximo de 5mg de colesterol em 100g ou ml e máximo de 1,5 g de gordura saturada/100g Livre de colesterol ou máximo de 0,75g de gordura (zero em colesterol) saturada/100ml e energiafornecida por gorduras saturadas deve ser no máximo 10% do valor energético total. Mínimo de 15% da IDR de referência em 100g Fonte de vitamina ou mineral ou 7,5% da IDR em 100 ml de alimento. Para mais informações, consultar www.anvisa.gov.br - alimentos- rotulagem- manual do consumidor. Anvisa. Uma alegação de propriedade funcional é e em outras funções normais do organismo uma informação relativa ao papel metabólico ou humano. A alegação de propriedade de saúde é fisiológico que o nutriente ou não-nutriente tem no aquela que afirma, sugere ou implica a existência de crescimento, no desenvolvimento, na manutenção relação entre o alimento ou ingrediente com a
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    124 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA redução do risco da doença ou condição relacionada à saúde. Alguns exemplos de alegações que podem constar do rótulo dos produtos são: - Para fibras alimentares: As fibras alimentares auxiliam o funcionamento do intestino. Seu consumo deve estar associado a uma dieta equilibrada e hábitos de vida saudáveis . - Para proteína de soja: O consumo diário de no mínimo 25g de proteína de soja pode ajudar a reduzir o colesterol. Seu consumo deve estar associado a uma dieta equilibrada e hábitos de vida saudáveis . As informações contidas nos rótulos podem ser muito úteis na escolha de alimentos mais saudáveis; no entanto requerem um investimento em informação e educação de maneira que as informações sejam compreensíveis para os consumidores. Uma maneira de incentivar a consulta e promover a compreensão das informações é a utilização dos rótulos como mate- rial em atividades didáticas em salas de aula, centros de saúde, centros comunitários, centros de convivência. Os profissionais de saúde e da educação devem procurar oportunidades para promover grupos para essa discussão.
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    Parte 3 As bases epidemiológicas e científicas das diretrizes
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    PARTE 3 -AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS 127 Introdução 71,3 anos (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2005). Entre os anos de 1980 e 2000, o A terceira parte deste guia é dirigida aos grupo de menores de 15 anos apresentou uma profissionais de saúde que formulam, implantam e redução de 22%, enquanto que a população com 65 avaliam as políticas públicas e a todos aqueles que anos ou mais aumentou em 47% (BRASIL, 2004c). buscam conhecer a situação epidemiológica, Em 2000, o índice de envelhecimento da população alimentar e nutricional da população brasileira e as era de 20, ou seja, existiam 20 idosos para cada 100 evidências que embasam as diretrizes aqui pessoas menores de 15 anos (SIM - Ministério da apresentadas. Saúde - IDB, 2001). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma população é considerada envelhecida Documentos como este, contendo quando a proporção de pessoas com 60 anos ou diretrizes sobre alimentos e práticas alimentares, mais atinge 7% do total, com tendência a crescer. são resultado de um processo intenso de pesquisa, Em 2000, os brasileiros com 60 anos ou mais já acúmulo de evidências e opiniões dos últimos 50 ou representavam 8,6% da população total, mais de mais anos. A primeira seção desta terceira parte do 14,5 milhões de pessoas (INSTITUTO BRASILEIRO DE guia, Saúde e nutrição no Brasil , sumariza o GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2002). A OMS estima conjunto de informações disponíveis mais recentes que essa população cresça, até 2025, 16 vezes, o que a respeito da ocorrência de doenças e óbitos colocará o Brasil entre as dez maiores populações de relacionados à alimentação e nutrição e a situação idosos do mundo (COSTA et al., 2003a; KELLER et al., do consumo de alimentos em nossa população. 2002). Por fim, no item Bases Científicas para as A universalização da educação é quase Diretrizes Alimentares Nacionais , são apre- uma realidade: 81,4% das crianças e adolescentes sentadas informações sobre as evidências atuais, com idade de 7 a 14 anos freqüentavam o ensino que relacionam o maior ou menor risco de fundamental em 1992, enquanto que, em 2002, essa ocorrência das diferentes DCNT ao consumo de taxa era de 93,8%. Em 2002, a proporção da distintos alimentos e nutrientes. Também apresenta população de 15 a 24 anos capaz de ler e escrever a abordagem do curso da vida, que recentemente um simples bilhete atingiu 96,3% no País; porém, o tem mostrado a associação da desnutrição na analfabetismo entre pessoas com 25 ou mais anos infância e na vida uterina ao maior risco de doenças ainda é um desafio a ser superado (INSTITUTO DE crônicas nãotransmissíveis. PESQUISA ECONÔMICA E APLICADA, 2004). Ocorreram reduções importantes na Saúde e Nutrição no Brasil mortalidade infantil. Entre 1990 e 2003, a redução Nas últimas duas ou três gerações, a vida no foi expressiva (44,1%). Em 2003, ocorreram 27 Brasil transformou-se em muitos aspectos. O Brasil óbitos a cada mil crianças menores de 1 ano nascidas tornou-se rapidamente uma sociedade vivas. Entre crianças menores de 5 anos, a tendência predominantemente urbana. Os padrões de foi a mesma. Nesse grupo etário, as políticas trabalho e lazer; alimentação e nutrição; e saúde e públicas tiveram impacto positivo nas taxas de doença aproximaram-se agora dos de países mortalidade por doença diarréica aguda e infecções desenvolvidos. Em 1950, dos 50 milhões de respiratórias. Em algumas regiões, a mortalidade brasileiros, a maioria vivia na zona rural; já em 2003, proporcional por diarréia diminuiu 59,5% entre os de uma população estimada em 176 milhões de anos de 1990 a 2001, chegando a 70% em algumas pessoas, mais de 82% residiam em áreas urbanas. regiões (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA E Essa urbanização muito rápida desestruturou as APLICADA, 2004; BRASIL, 2004c). formas tradicionais de vida e impôs um aumento de As famílias brasileiras estão menores, demanda na estrutura e nos serviços das cidades. resultado da queda significativa na fecundidade. A O Brasil já não é mais um país de jovens. Em razão de fecundidade total caiu de 5,8 filhos por 1950, a esperança média de vida do brasileiro ao mulher, em 1970, para 2,1 em 2003, refletindo uma nascimento era de 45,7 anos e, em 2003, chegou aos redução de 63,8% no período (BRASIL, 2004c).
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    128 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Quaisquer que sejam os indicadores para 1995b; OLIVEIRA et al., 1996; DREWNOWSKI e medir a pobreza, ela vem declinando signi- POPKIN, 1997; PAN AMERICAN HEALTH ficativamente, mas ainda há um expressivo ORGANIZATION, 1998a, 1998c; MONTEIRO, 2000; contingente de população pobre e extremante MONTEIRO et al., 2000a; SCHRAMM et al., 2004; pobre no País. Em 2002, considerando o indicador LAURENTI, 1990; OMRAN, 1971). nacional de pobreza e extrema pobreza, com base A mudança da população do campo para a no valor do salário mínimo (1/2 SM e 1/4 SM per cidade freqüentemente é acompanhada por capita, respectivamente), havia 53 milhões de mudanças negativas nos padrões alimentares. A pobres e 20 milhões de pessoas em situação de denominada transição nutricional implica indigência no País (INSTITUTO DE PESQUISA mudança no padrão alimentar tradicional , com ECONÔMICA E APLICADA, 2004), o que certamente base no consumo de grãos e cereais, que aos poucos impacta negativamente no perfil de saúde e está sendo substituído por um padrão alimentar nutrição de nossa população. com grandes quantidades de alimentos de origem Os avanços obtidos nos indicadores animal, gorduras, açúcares, alimentos citados, bem como a expansão e cobertura dos industrializados e relativamente pouca quantidade serviços de saúde, em especial da atenção básica e de carboidratos complexos e fibras (COSTA E SILVA, do saneamento, a universalização da previdência 1998; POPKIN, 1994). social, a implementação de programas de Ao mesmo tempo, os padrões de trabalho e assistência alimentar e de transferência direta de lazer mudaram. Há meio século, a maior parte do renda, sem dúvida alguma, foram importantes para trabalho, nas cidades e no campo, exigia muito o País, repercutindo favoravelmente nos indica- trabalho físico e conseqüente alto gasto energético. dores de saúde nacionais. Contudo, o Brasil tem o Até há pouco tempo, a maioria das pessoas andava desafio de superação das grandes desigualdades a pé ou de bicicleta para se locomover; porém, hoje sociais regionais, de raça/etnia e gênero. Essa em dia carros e ônibus são usados. Nas indústrias e desigualdade se manifesta pelo comprometimento nos escritórios e até mesmo nas zonas rurais, em do acesso ao alimento e não pela indisponibilidade, grande parte dos domicílios, as máquinas e os pois os alimentos produzidos no País são suficientes equipamentos substituem parte do trabalho físico para alimentar toda a população. anteriormente feito pelas pessoas. Os padrões de trabalho e lazer para a Por outro lado, o aumento no consumo de maioria das pessoas também sofreram mudanças, alimentos processados, ricos em gordura, açúcar e assim como o perfil do consumo alimentar em sal, associado ao menor gasto energético diário decorrência das modificações que vão desde a devido à redução da atividade física, explicam as produção até a preparação e o consumo dos tendências crescentes de sobrepeso e obesidade na alimentos, impactando no modo de adoecer e população e também das DCNT associadas no Brasil. morrer da população. Conseqüentemente, os A transição epidemiológica compreende, serviços e as políticas públicas precisam responder a pois, a substituição progressiva de perfis de saúde essas transformações e à complexidade de suas caracterizados por alta morbidade e mortalidade manifestações na saúde. por doenças infecciosas por perfis de saúde dominados pela presença de doenças crônicas não- A transição epidemiológica brasileira transmissíveis (DCNT). No Brasil, muitos estudiosos Os processos de transição demográfica, consideram que a transição epidemiológica não epidemiológica e nutricional vêm ocorrendo desde tem ocorrido exatamente como na maioria dos a década de 60, em vários países, incluindo o Brasil. países industrializados e mesmo em alguns vizinhos Tais processos são decorrentes das modificações no latino-americanos, como o Chile, Cuba e Costa Rica, padrão demográfico, no perfil de morbi- porque está ocorrendo uma superposição de mortalidade e no consumo alimentar e de gasto etapas, onde convivem concomitantemente os energético (POPKIN, 1994; MONTEIRO et al., 1995a, cenários das doenças transmissíveis e das crônicas não-transmissíveis.
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    PARTE 3 -AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS 129 Epidemiologia da atividade física doméstico. Os dados das informações auto- A Pesquisa sobre Padrões de Vida (PPV), referidas do inquérito revelam que: realizada pelo IBGE em 1996/1997, nas regiões - Há uma variação de 28,2% a 54,5% de pessoas Nordeste e Sudeste, é o único inquérito nacional maiores de 15 anos de idade consideradas disponível com dados sobre atividade física. Esta insuficientemente ativas nas 16 localidades pesquisa apontou que apenas uma minoria dos pesquisadas; indivíduos adultos (13%) praticava, no lazer, - As mulheres, mais que os homens em todas as atividade física regular (30 minutos diários pelo capitais, exceto em Belém/PA, são insuficien- menos uma vez por semana), sendo muito reduzida temente ativas; a proporção (3,3%) daqueles que seguiam a - Em relação à idade, o grupo mais jovem (15 a 24 recomendação de acumular, no mínimo, 30 minutos anos) sempre apresentou prevalências mais baixas diários de atividade física, em cinco ou mais dias da de indivíduos insuficientemente ativos, exceto em semana (MONTEIRO, et al., 2003a). Esses resultados Belém, em que essa prevalência entre os mais jovens revelam que a freqüência de atividade física no chegou a 30,5%, superando todas as demais faixas lazer no Brasil é bastante inferior à observada em de idade; países desenvolvidos: a proporção de 87% de Considerando a escolaridade, os grupos de adultos brasileiros inativos no lazer supera em duas menor escolaridade apresentaram percentuais a três vezes a encontrada nos Estados Unidos e na menores de pessoas insuficientemente ativas, média dos países europeus. embora essas diferenças não sejam estatisticamente A PPV mostrou também diferenças quanto diferentes, exceto para o Distrito Federal. Apenas à freqüência e aos padrões de atividade física no no Rio de Janeiro e Porto Alegre essa tendência é lazer entre homens e mulheres. Homens são mais inversa, com maior percentual de indivíduos ativos nas idades mais jovens, tendendo a declinar insuficientemente ativos entre os de menor entre os 20 e 40 anos. A freqüência da atividade escolaridade, sendo as diferenças significativas física no lazer é equivalente nos dois sexos, a partir (BRASIL, 2004e). dos 50 anos de idade. Outras evidências foram constatadas: Mortalidade - Homens preferem praticar esportes coletivos, A mortalidade no Brasil apresenta enquanto mulheres, caminhadas. Homens praticam mudanças importantes, nas últimas décadas, tanto atividade física por diversão e as mulheres alegam no que se refere à distribuição etária quanto aos preocupação com a saúde e motivos estéticos. Com grupos de causas. Houve uma queda na proporção o avançar da idade, em ambos os sexos, aumenta a de mortes em menores de 1 ano e aumento de periodicidade da atividade física no lazer; óbitos na faixa de idade de 50 anos e mais. Esse fato - A associação da renda e da escolaridade com a reflete, provavelmente, os efeitos da transição freqüência da atividade física no lazer é positiva, demográfica e epidemiológica que, hoje em dia, se independentemente da idade, região e área de manifestam. residência e entre homens e mulheres. Quanto A mortalidade geral apresentou redução maior a renda e a escolaridade, maior é a freqüência de 11,1% entre os anos de 1980 e 2001, passando de de atividade física (MONTEIRO et al., 2003a). 6,3 para 5,6 por mil habitantes no período, Em 2002/2003, o Ministério da Saúde, por conservando, entretanto, diferenças regionais e meio do Instituto Nacional do Câncer (INCA), etárias importantes. Enquanto nas regiões Norte e realizou um inquérito nacional, de base domiciliar, Nordeste os óbitos por doenças infecciosas, sobre comportamentos de risco e morbidade perinatais e mal definidas tiveram uma represen- referida de doenças e agravos não-transmissíveis tatividade maior, nas regiões Sul e Sudeste são as em 15 capitais e no Distrito Federal. Diferentemente mortes decorrentes de doenças do aparelho da PPV, o inquérito do INCA levou em consideração circulatório, respiratório e neoplasias que apresen- não somente a atividade física desenvolvida no taram maior proporção (BRASIL, 2004c). momento de lazer, mas também a relacionada com A tabela 1 demonstra que, no período ocupação, meios de locomoção e no trabalho decorrido entre o final dos anos 70 e 2003, as mortes
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    130 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA por deficiência nutricional e por doenças infecciosas crescimento importante como causas de morte. no Brasil decresceram rapidamente, em relação a A tabela 2 apresenta a mortalidade todas as mortes. Já as doenças crônicas não- proporcional, segundo as causas e o sexo, no Brasil, transmissíveis e as causas externas tiveram um no ano de 2001. Nesse ano a população estimada Tabela 1- Mortalidade por diferentes tipos de doença no Brasil, 1979, 1998 e 2003 Causas de morte 1979 1998 2003 % % % Doenças de Deficiência Nutricional(1) 3,1 1,2 0,7 (2) Doenças Infecciosas 17,4 9,1 4,6 Doenças Crônicas(3) 34,4 42,5 48,3 Causas Externas(4) 9,2 12,7 12,6 (5) Outras Causas 35,9 34,5 33,7 (1-5) Total 100,0 100,0 100,0 FONTE: Ministério da Saúde/SVS/DASIS. Sistema de informação sobre Mortalidade - SIM. (adaptada) (1) Especificamente definidas como tal: a deficiência contribui para a morte por outras causas. (2) Doenças infecciosas e parasitárias; também infecções perinatais. (3) Doença cardiovascular, câncer e diabetes. (4) Incluindo acidentes, homicídios, suicídios. (5) Das quais apenas mais da metade é de causas mal definidas; a maior parte das restantes são doenças dos vários sistemas do corpo que poderiam ser crônicas ou infecciosas. pelo IBGE era de 172.385.776 habitantes, sendo a percentuais de mortes por causas não definidas, maioria (50,8%) do sexo feminino e o Sistema de foram, nesta ordem: doenças do aparelho Informações sobre Mortalidade (SIM) registrou um circulatório, neoplasias e causas externas, havendo total de 953.399 óbitos no Brasil, dos quais 58,3% para esta última uma expressiva diferença entre foram em indivíduos do sexo masculino. As homens e mulheres. principais causas de morte, excetuando-se os Tabela 2 - Percentual de mortalidade proporcional segundo causas e sexo. Brasil, 2001 Causas Sexo Sexo Brasil Masculino Feminino Doenças Infecciosas 5,6 5,2 5,5 Neoplasias 14,0 17,1 15,3 Aparelho Circulatório 28,9 36,7 32,1 Aparelho Respiratório 10,4 11,9 11,0 Afecções Perinatais 3,7 4,1 3,9 Causas Externas 20,9 5,4 14,5 Outras Causas Definidas 16,5 19,6 17,8 Total 100,0 100,0 100,0
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    PARTE 3 -AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS 131 Novos padrões de morbidade podem ser superadas por meio de um No Brasil, há poucos anos, os principais abastecimento alimentar seguro, adequado e desafios em saúde pública relacionados à variado e dietas nutritivas, conforme se recomenda alimentação eram a desnutrição e as deficiências de neste guia. micronutrientes entre crianças, bem como as As pessoas em risco maior de desenvolver doenças infecciosas, principalmente na infância e essas carências são gestantes, especialmente as adolescência. adolescentes, nutrizes (mulheres que estão No entanto, recentemente, a evolução das amamentando), crianças menores de 5 anos, com doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT) coloca- ênfase entre as de 6 meses e 2 anos de idade, se como desafio adicional à segurança alimentar e crianças que não são amamentadas adequa- nutricional, o que deve ser conjugado com os damente, idosos e doentes de modo geral. esforços para a reversão da prevalência da Membros de famílias que vivem em desnutrição infantil e o controle e a prevenção das extrema pobreza, nas zonas rurais e nos bolsões de deficiências de micronutrientes, que ainda pobreza das cidades, independentemente da fase acometem milhões de indivíduos de diferentes fases do curso da vida, merecem atenção redobrada para do curso da vida. as doenças e agravos nutricionais. A melhor proteção para crianças contra as Desnutrição infantil e deficiências de micronutrientes, desnutrição infantil e infecções é a amamentação exclusiva deficiências de micronutrientes durante os primeiros seis meses de vida e Entre os anos de 1975 e 1996, o Brasil complementar até os 2 anos, com a introdução reduziu em 70% a desnutrição infantil (de 18,4% correta e oportuna dos alimentos variados e para 5,7%), considerando o indicador peso por saudáveis a partir do sexto mês de vida (DEPART- idade. Embora sejam evidentes os avanços nas MENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES, condições de saúde e nutrição das crianças 2000; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001a). brasileiras, em 1996, o Brasil ainda abrigava um O Brasil não dispõe de inquéritos com contingente de cerca de um milhão de crianças com representatividade nacional sobre a prevalência de déficit de peso para a idade. deficiências de micronutrientes; mas, com base em Em relação ao déficit de estatura que diversos estudos feitos em nível local (estadual ou representa o efeito cumulativo de carências municipal), pode-se afirmar que as deficiências de nutricionais sobre o crescimento esquelético, tendo micronutrientes mais relevantes são as de vitamina como resultado estaturas mais baixas do que o A, ferro e ácido fólico. esperado para a idade, observou-se uma redução, A deficiência de vitamina A, denominada nesse mesmo período, de 72%; no entanto o déficit hipovitaminose A, afeta a visão, podendo causar de altura para a idade entre crianças menores de 5 cegueira irreversível, além de comprometer a anos, em 1996, ainda era significativo: 10,5% imunidade da criança, estando associada a taxas correspondendo a quatro vezes mais a prevalência elevadas de mortalidade infantil. A análise dos esperada para populações saudáveis (2,5%), inquéritos bioquímicos disponíveis, sobre chegando a ser 11 vezes maior no Nordeste. Além concentrações séricas de retinol, indica prevalências disso, o declínio não foi homogêneo para todo o que variam entre 14,6% e 33% em menores de 5 País, pois, na área rural, foi menor, aumentando anos, manifestando-se particularmente nas regiões assim a disparidade entre os meios urbano e rural e segmentos mais pobres da população do Brasil. O (BATISTA; RISSIN, 2003). Programa Nacional de Suplementação de Vitamina As recomendações alimentares não A ( Vitamina A Mais ), sob responsabilidade do conseguem resolver, por si sós, a desnutrição Ministério da Saúde, objetiva prevenir e controlar infantil e as carências nutricionais, pois seus essa deficiência nutricional mediante a determinantes incluem também outras causas suplementação com megadoses de vitamina A, em relacionadas à pobreza e à desigualdade de acesso a crianças de 6 a 59 meses de idade (100.000UI e serviços, bens e oportunidades às quais estão ainda 200.000UI, respectivamente, com intervalo mínimo submetidas parcelas da população brasileira; mas
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    132 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA de quatro meses) e puérperas no pós-parto Neste último caso, a intervenção destina-se também imediato (200.000UI em dose única), residentes na ao controle e a prevenção da deficiência de ácido Região Nordeste, no Vale do Jequitinhonha e fólico. Mucurici em Minas Gerais. Nessas regiões, há dados O Programa Nacional de Suplementação disponíveis que evidenciam a pertinência e de Ferro, recentemente instituído por meio da segurança dessa intervenção (SANTOS, 2002b). Portaria n.º 730, de 13 de maio de 2005, do A deficiência de ferro, denominada Ministério da Saúde, destina-se a prevenir a anemia anemia ferropriva, é muito prevalente no Brasil, ferropriva mediante a suplementação universal de principalmente entre as gestantes, mulheres em crianças de 6 a 18 meses de idade, gestantes a partir idade fértil e crianças. Os estudos realizados no da 20.ª semana e mulheres até o 3.º mês pós-parto Brasil apontam prevalências de 15% a 50% entre em todo o território nacional. Os suplementos de crianças e, entre gestantes, de 30% a 40% sulfato ferroso, em forma de xarope, deverão ser (OLIVEIRA et al., 1996; BATISTA FILHO, 1999). Essa oferecidos rotineiramente nas unidades de atenção deficiência tem apresentado tendência secular básica de saúde que conformam a rede do SUS em singular: no mesmo período em que ocorreu um todos os municípios brasileiros. acentuado declínio nas prevalências da desnutrição A publicação da Resolução Anvisa RDC n.º infantil e, entre adultos, a emergência epidêmica da 344, de 13 de dezembro de 2002, tornou-o obesidade, as taxas de anemia ferropriva brigatória a fortificação das farinhas de trigo e de continuaram aumentando. Em São Paulo, em milho com ferro e ácido fólico, pré-embaladas na 1974/1975, a ocorrência era de 22%, elevando-se ausência do cliente e prontas para oferta ao para 35% em 1984 e, finalmente, 46,9% em 1995 consumidor, e aquelas utilizadas como matéria- (BATISTA FILHO, 1999; SANTOS, 2002a), o que prima na fabricação de produtos como pães, representa um incremento de 116% no período. No biscoitos, macarrão, misturas para bolos, Estado da Paraíba, houve um aumento de salgadinhos, dentre outros. Essa resolução, em vigor aproximadamente 88% no intervalo de dez anos desde junho de 2004, estabelece que: (19,3% em 1982 e 36,4% em 1992) (SANTOS, 2002a). - Cada 100g do produto deve fornecer 4,2mg de A anemia representa, em termos de magni- ferro, que representa 30% da ingestão diária tude, o principal problema carencial do País, recomendada (IDR) de adulto (14mg) e 150mcg de aparen-temente sem grandes diferenciações ácido fólico, o que representa 37% da IDR de adulto geográficas, afetando, em proporções semelhantes, (400mcg). todas as macrorregiões. Em alguns dos estudos - As farinhas de trigo e de milho devem ser disponíveis verificam-se as seguintes prevalências, designadas usando o nome convencional do em crianças: 46,7% em Pernambuco; 46,4% em Salvador/BA; 41,6% em Porto Velho/RO; 46,9% em produto de acordo com a legislação específica, São Paulo; e 47,8% em Porto Alegre/RS (SANTOS, seguida de uma das seguintes expressões: 2002a). fortificada com ferro e ácido fólico ou enriquecida com ferro e ácido fólico ou rica em ferro e ácido A carência de ácido fólico, que também fólico. provoca um tipo específico de anemia, está associada aos defeitos do tubo neural na fase do Quando as farinhas de milho e de trigo são crescimento intra-uterino, quando as crianças são utilizadas como ingredientes em outros produtos, geradas por mulheres com aporte inadequado elas devem ser fortificadas e declaradas na lista de desse nutriente. ingredientes da rotulagem como farinha de trigo Considerando essas evidências, o ou farinha de milho, seguida das mesmas Ministério da Saúde vem desenvolvendo estratégias expressões acima especificadas. para o controle e a prevenção das deficiências de A deficiência de iodo causa uma série de ferro e da anemia ferropriva em três principais problemas, denominados distúrbios por deficiência linhas de ação: a orientação nutricional na rede de de iodo (DDI), tendo como manifestações clínicas saúde, a universalização da suplementação mais evidentes o bócio ( papo ) ou aumento da medicamentosa com sulfato ferroso ao grupo tireóide (uma glândula que fica localizada da base materno-infantil e a fortificação de alimentos. frontal do pescoço) e o cretinismo (alterações
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    PARTE 3 -AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS 133 neurológicas irreversíveis que acometem crianças antropométrico de populações de adultos, o índice geradas por mulheres com deficiência de iodo e que de massa corporal (IMC), que relaciona o peso incluem retardamento mental, surdo-mudez, corporal pelo quadrado da altura do indivíduo alterações motoras, dentre outras) (BRASIL, 1996; (kg/m2), estabelecendo que uma prevalência de 5% DUNN; VAN DER HARR, 1992). de IMC < 18,5kg/m2 na população não deve ser Segundo os dados nacionais mais recentes, tomada como evidência de exposição à desnutrição, o Brasil conseguiu obter sucesso no controle e na uma vez que déficits de 3% a 5% são esperados nas prevenção dos DDI. A taxa de prevalência está diferentes populações, por incluir os indivíduos abaixo dos níveis estabelecidos internacionalmente constitucionalmente magros. Considerando a como aceitáveis (5%). O Projeto Thyromobil indicou população adulta brasileira (maior de 20 anos de uma prevalência de 1,4% da deficiência entre escolares, sugerindo que os DDI não são mais um idade), os dados mais recentes com problema em âmbito nacional, mas provavelmente representatividade nacional resultantes da Pesquisa se mantêm em alguns locais, especialmente zonas de Orçamentos Familiares (POF) 2002-2003 rurais, onde o consumo de sal para animal ainda é (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E prática comum entre as famílias residentes (PRETEL, ESTATÍSTICA, 2004a) revelaram que 4% da 2000; SANTOS, 2002c). população total apresentavam IMC < 18,5kg/m2, A erradicação da desnutrição infantil e das dentro dos parâmetros normais esperados. Da deficiências de micronutrientes no Brasil constitui- mesma forma que houve uma redução na taxa de se ainda desafio a longo prazo que exige uma ação prevalência da desnutrição infantil, entre as política articulada de programas econômicos e décadas de 70 e 90, também se observa uma sociais, dentre estes os de saúde e de alimentação tendência de queda de exposição dos adultos à ou transferência direta de renda, que ficam além do desnutrição: enquanto que, em 1975, 9,5% estavam alcance de um governo ou de um ministério. Espera- expostos e, em 2003, essa taxa caiu para 4%. se que este guia desempenhe um papel valioso na Desagregados por sexo, essas taxas são de 2,8% e redução da desnutrição e das deficiências por 5,2% entre homens e mulheres, respecti-vamente, micronutrientes. conforme mostra o gráfico 1. A análise, desagregada, segundo as Desnutrição e deficiências regiões geográficas, mostra, contudo, diferenças, de micronutrientes entre adultos conforme se pode verificar no gráfico 2 abaixo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) Esses resultados mostram que as mulheres recomenda para a avaliação do perfil das regiões Nordeste e Sudeste, exceto as residentes Gráfico 1 - Tendência secular da desnutrição em adultos, segundo sexo. Brasil, 1975-2003 % de adultos com IMC < 18,5 Kg/m2 14 13,8 1975 12 2003 10 9,5 8 7,2 6 5,2 4 4 2,8 2 0 Brasil Homens Mulheres FONTE: IBGE, 2004a.
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    134 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Gráfico 2 - Prevalência da desnutrição em adultos, segundo regiões geográficas e sexo. Brasil 2003 homens % de adultos com IMC < 18,5 Kg/m2 mulheres 8 7,2 6,2 5,9 6 4,9 4 4,2 4 3,3 2,7 2 0 Nordeste rural Nordeste urbano Sudeste rural Sudeste urbano FONTE: IBGE, 2004a. na zona urbana desta última, estão expostas à ilustradas pelas inegáveis disparidades regionais, desnutrição, embora com prevalências baixas, etárias e de gênero, considerando a vulnerabilidade segundo a OMS (< 10%). Essa mesma análise, de exposição dos adultos à desnutrição. desagregada por faixa etária, permite observar que, Em relação às deficiências de micronu- entre os homens com idade de 75 ou mais anos, há trientes entre adultos, não há dados com repre- taxas que superam os 5% (8,9%); entre as mulheres, sentatividade nacional no Brasil. O Estudo contudo, a desnutrição supera essa taxa nas faixas Multicêntrico sobre Consumo Alimentar, desen- volvido em 1996 em cinco cidades brasileiras de 20 a 24 anos (12,2%) e de 25 a 29 anos (7,3%). (NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM ALIMEN- Esses últimos dados merecem reflexão cuidadosa, TAÇÃO, 1997), que trabalhou a família como uma vez que se trata de mulheres em idade fértil e unidade amostral, o que significa a inclusão de que, por estarem desnutridas, além da repercussão adultos e crianças, considerando, portanto, a sobre a sua própria saúde, poderão vir a gerar composição intrafamiliar, a idade e o sexo, traz crianças desnutridas já na vida intra-uterina, de informações sobre a disponibilidade domiciliar de baixo peso ao nascer e, portanto, com maior risco de cálcio, fósforo, ferro e vitaminas que podem morrer e com sérias deficiências nutricionais de contribuir com informações sobre deficiências de micronutrientes, com repercussões muitas vezes nutrientes na população. irreversíveis ao longo de sua vida. Considerando o consumo individual, Considerando as prevalências, segundo segundo o sexo dos indivíduos com idade maior de sexo e classe de rendimentos, os dados revelam que 18 anos, a pesquisa revelou que 48,9% dos homens a exposição à desnutrição acima do esperado para a e 61,3% das mulheres tinham consumo inadequado população ocorre entre homens de renda de até 1/2 de cálcio; 4,8 e 12,6% de ferro; 1,15% de mulheres, salário mínimo per capita (SMPC); já entre mulheres consumo inadequado de retinol. ocorre para todas as faixas de renda, exceto para A pesquisa também avaliou o consumo indi- aquelas com mais de 5 SMPC. Para ambos os sexos, é vidual de gordura, mostrando inadequação de nítida a relação entre renda e exposição à consumo para gorduras saturadas para 51,6% dos desnutrição: quanto mais baixa a classe de homens e 58,4% das mulheres; e, para colesterol, rendimentos, mais alta é a taxa de vulnerabilidade à 71% e 54,4% entre homens e mulheres, respecti- desnutrição. vamente, considerando a amostra total dos Esses dados evidenciam que o Brasil, indivíduos dos municípios estudados. embora tenha avançado nas condições de nutrição da população, ainda há de concentrar esforços para Doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT) a redução das desigualdades existentes no País, aqui As DCNT são influenciadas pelo ambiente e
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    PARTE 3 -AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS 135 por isso passíveis de prevenção. Esse grupo de este percentual de 13,4% para os homens e de doenças é considerado uma manifestação da má- 22,1% para as mulheres. Estes padrões referentes à nutrição, evidência comprovada por estudos idade e ao sexo foram semelhantes aos observados científicos (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989a; em outros países (INSTITUTO BRASILEIRO DE WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997; PAN GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2003). AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 1998b; Um outro inquérito realizado, em 2002/ UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE 2003, pelo INCA, instituto vinculado ao Ministério COORDINATING COMMITTEE, 2000; EURODIET, da Saúde, a partir de amostra de base domiciliar, 2001; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1990a, investigou comportamentos de risco e de 1990b, 2003a). No último século, essas doenças têm morbidade referida para doenças e agravos não- sido a causa principal de incapacidade e de mortes transmissíveis, em 15 capitais e no Distrito Federal. prematuras na maioria dos países economicamente Essa pesquisa teve como objetivos estimar a desenvolvidos; contudo, conforme já mencionado, prevalência de exposição a comportamentos e os processos de transição demográfica, epide- fatores de risco para as DCNT e a prevalência de miológica e nutricional também começam a afetar hipertensão e diabetes auto-referidos. Foram os países em desenvolvimento, incluindo a América entrevistados os indivíduos com idade igual ou supe- Latina (SHETTY; MCPHERSON, 1997) e o Brasil. rior a 15 anos no momento da pesquisa. Os dados A Pesquisa Nacional por Amostragem referem-se a uma amostra de 23.457 pessoas Domiciliar (Pnad), realizada pelo IBGE em 2003, entrevistadas. Alguns resultados serão incluiu um módulo destinado a aferir o acesso e a apresentados nas páginas seguintes, pois também utilização dos serviços de saúde pela população contribuem para elucidar a gravidade da brasileira que traz importantes informações sobre prevalência de DCNT em nossa população (BRASIL, as DCNT (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E 2004e). ESTATÍSTICA, 2003). Destacam-se a seguir algumas informações À época da pesquisa, a população disponíveis sobre doenças cardiovasculares, câncer, brasileira residente foi estimada em 176 milhões de hipertensão arterial e diabetes que mostram a habitantes. Por meio de informação relatada pelos situação no Brasil, doenças estas que têm, entre seus entrevistados, os resultados mostram que aproxi- fatores de risco, a inadequação alimentar. madamente 29,9% da população informaram ser portadores de pelo menos uma doença crônica não- Doenças cardiovasculares transmissível. Essa proporção aumentava com a Atualmente, as doenças cardiovasculares idade e variava segundo os sexos, sendo maior para são responsáveis por cerca de 18 milhões de mortes as mulheres (33,9%) do que para os homens anuais em todo o mundo. Dentre elas, a doença (25,7%). Até a idade de 13 anos, a parcela de isquêmica do coração e as doenças cerebro- mulheres com doença crônica não-transmissível era vasculares responsabilizam-se por 2/3 das mortes e menor e, repetindo o padrão das demais variáveis por mais de 20% dos óbitos por todas as causas de estado de saúde avaliadas, superava a dos (BEAGLEHOLE et al., 2001). homens em todos os grupos etários a partir de 14 No Brasil, na década de 30, as doenças anos. infecciosas e parasitárias correspondiam, As informações revelam, ainda, que a proporcionalmente, a 46% da mortalidade geral, proporção de pessoas com doença crônica enquanto que as cardiovasculares a 12%. Já os nãotransmissível se eleva à medida que aumenta o dados de 2001 mostram uma nítida reversão desses rendimento mensal familiar: 26,7% entre aqueles dados: enquanto as infecciosas e parasitárias com rendimento de um salário mínimo ou menos, respondem por 5,0% de todas as causas de morte, as alcançando 33,6% entre aqueles de 10 e 20 salários. doenças cardiovasculares ascenderam a 31% Para a classe de rendimento acima de 20 salários, a (BARBOSA, 2003). freqüência foi de 32,4%. Entre as pessoas que Segundo estimativas do Ministério da informaram doenças crônicas não-transmissíveis, Saúde, as doenças cardiovasculares (DCV) corres- 18,5% informaram ter três ou mais doenças, sendo ponderam a 1/3 dos óbitos por causas conhecidas e
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    136 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA 2/3 dos gastos com atenção à saúde em 2002 (SCHRAMM, 2003). Em 2001, dados do mesmo (BARBOSA, 2003). Elas tornaram-se uma das sistema indicaram que as neoplasias foram causa de principais causas de morte, em conseqüência, entre 15,3% das mortes no Brasil (tabela 2, página 141) e outros fatores, das profundas transformações no já são a segunda causa de morte entre homens e abastecimento de alimentos e padrão alimentar, mulheres no Brasil. com o rápido aumento da produção e consumo das gorduras saturadas, que tornou as dietas mais Hipertensão arterial calóricas, bem como a redução na atividade física A hipertensão arterial está associada à cotidiana (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1982). origem de muitas DCNT e é, portanto, uma das O impacto econômico das doenças causas mais importantes de redução da qualidade cardiovasculares no Brasil pode ser avaliado por de vida e da expectativa de vida. Ela é responsável meio das seguintes informações: esse grupo de por complicações cardiovasculares, encefálicas, co- doenças é responsável por 65% dos óbitos de ronarianas, renais e vasculares periféricas. adultos entre 30 e 69 anos de idade e causa de 14% O Brasil não dispõe de informações sobre a das internações nessa faixa etária (1.150.000 prevalência nacional de hipertensão arterial. internações/ano) e é também responsável por 40% Estudos epidemiológicos locais, com base em das aposentadorias precoces (BRASIL, 2003d). medidas casuais da pressão arterial, no entanto, apontam prevalências de 40% e 50% na população Câncer adulta com mais de 40 anos de idade. A prevalência de vários tipos de câncer, No período decorrido entre 1996 e 1999, a incluindo o do cólon, mama e próstata, aumentou hipertensão arterial foi causa de 17% das expressivamente após a segunda metade do século internações de pessoas entre 40 e 59 anos e de 29% XX, possível conseqüência das mudanças nos das pessoas com 60 anos ou mais, nos hospitais sistemas alimentares, padrões de trabalho e lazer públicos do País (COSTA et al., 2000). (WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997). No ano de 2002, o Ministério da Saúde No Brasil, a incidência de câncer, que até a realizou a Campanha Nacional para Detecção de década de 60 matava menos de 5% dos brasileiros, Hipertensão Arterial (CNDHA), objetivando a aumentou e, no final dos anos 70, já era de cerca de detecção de casos não diagnosticados e tendo como 10%, quatro vezes maior do que a encontrada na população-sujeito cerca de 31 milhões de pessoas década de 30 (OLIVEIRA et al., 1996). Conforme se com 40 ou mais anos de idade. Nessa ocasião, foram pode observar na Tabela 1, ao final da década de realizadas mais de 12,5 milhões de aferições da 70, as doenças crônicas não-transmissíveis, que pressão arterial, em 74% dos municípios brasileiros englobam doenças cardiovasculares, câncer e (BRASIL, 2004f). diabetes, respondiam por 34,4% das mortes, sendo A tabela 3, a seguir, apresenta os resul- este valor de 48,3% em 2003. tados dos casos suspeitos de hipertensão arterial 14 Dados do Sistema de Informação de rastreados durante a CNDHA, definidos como os Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, relativos indivíduos que apresentaram pressão arterial ao ano de 1998, indicaram que as neoplasias de >140/90mmHg. traquéia, brônquios e pulmões e o câncer maligno Mais recentemente, em 2002/2003, o de estômago ocupavam, respectivamente, o 14.º e estudo sobre a prevalência de hipertensão arterial 17.º lugar, entre as 20 causas de morte na população brasileiros. auto-referida, em 15 capitais e no masculina. Entre as mulheres, essas causas de morte Distrito Federal, mostrou um nítido crescimento das ocupam, respectivamente, o 19.º e 20.º lugar, prevalências com a idade: de 7,4% a 15,7% entre destacando-se ainda o câncer de colo de útero em pessoas de 25 a 39 anos; de 26% a 36,4% entre 40 e 11º lugar e o câncer de mama em 7º lugar 59 anos e de 39% a 59% em pessoas com 60 ou mais
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    PARTE 3 -AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS 137 Tabela 3 - Resultados da Campanha Nacional de Detecção de Hipertensão Arterial (CNDHA). BRASIL, 2002 Região Percentual de exames suspeitos (%) (*) Norte 31,9 Nordeste 38,7 Centro-Oeste 37,3 Sudeste 35,2 Sul 34,5 Brasil 36,0 FONTE: BRASIL, 2004f. (*) Refere-se aos indivíduos rastreados por ocasião da CNDHA que apresentaram pressão arterial >140/90mmHg, em 4.118 municípios anos. Segundo a escolaridade, os resultados que depende do SUS para atendimento clínico. Esse evidenciam prevalência variando de 25% a 45,8% número foi estimado em aproximadamente 31 entre pessoas de menor escolaridade e de 16,5% a milhões de pessoas. Foram considerados casos 26,6% entre as de maior escolaridade (BRASIL, suspeitos indivíduos com glicemia de jejum 2004e). 100mg/dl ou glicemia casual 140mg/dl. Por esses critérios, por ocasião da campanha, 16,4% foram considerados casos positivos. Em uma segunda Diabetes etapa de investigação, que envolveu busca ativa de O diabetes apresenta alta morbimor- uma amostragem probabilística dos casos positivos, talidade, sendo uma das principais causas de 10,1% tiveram diagnóstico confirmado (BRASIL, mortalidade, insuficiência renal, amputação de 2004f). membros inferiores, cegueira e doenças cardio- No inquérito nacional nas 15 capitais e no vasculares (BRASIL, 2004f). Distrito Federal, realizado em 2003/2004 pelo Inca, A prevalência de diabetes no Brasil, entre que investigou morbidade referida, mostrou que, adultos de 30 a 69 anos residentes em nove capitais entre os indivíduos que tiveram acesso ao exame brasileiras, em 1988, foi estimada em 7,6%; e a de diagnóstico de diabetes, a prevalência variou de tolerância diminuída à glicose, de 7,8%. A 5,2% a 9,4% entre a população de 25 ou mais anos. prevalência é mais alta com a evolução da idade: Entre os homens, a prevalência auto-referida variou 2,7% entre 30 e 39 anos, 5,5% entre 40 e 49 anos, de 4,9% a 11,7%; e, entre as mulheres, de 4,9% a 12,7% entre 50 e 59 anos e, finalmente, 17,4% entre 8,9%. Os resultados evidenciam um significativo 60 e 69 anos (BRASIL, 1988). Esse mesmo estudo aumento com a idade, variando de zero a 4,7% na revelou que 46,5% das pessoas que tiveram o faixa de 25 a 39 anos e de 11,6% a 25,2% em pessoas diagnóstico confirmado desconheciam ser porta- com 60 ou mais anos de idade (BRASIL, 2004e). dores de diabetes. Dados mais recentes estimam em cerca de Excesso de peso e obesidade 4,9 milhões de adultos brasileiros diabéticos, O mais recente inquérito nacional que prevendo-se, para 2025, que esse número será de permite estimar as prevalências do excesso de peso 11,6 milhões (KING, 1998). e da obesidade no Brasil é a Pesquisa de Orçamentos Em 2001, o Ministério da Saúde realizou a Familiares (POF), realizada em 2002-2003, pelo IBGE Campanha Nacional para Detecção de Diabetes e Ministério da Saúde. As informações estão Mellitus (CNDDM), envolvendo 95,3% dos disponíveis apenas para adultos (pessoas com 20 ou municípios brasileiros. A campanha direcionou-se mais anos de idade), não se dispondo ainda das para a população brasileira com 40 anos ou mais informações para as demais fases do curso da vida.
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    138 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA A prevalência do excesso de peso e da igual ou superior a 30kg/m2, afeta 8,9% dos obesidade na população adulta brasileira, apurada homens adultos e 13,1% das mulheres adultas do pela POF 2002-2003, revela que esses agravos País. Obesos representam cerca de 20% do total de alcançam grande expressão em todas as regiões do homens com excesso de peso e cerca de um terço do País, no meio urbano e rural e em todas as classes de total de mulheres com excesso de peso. rendimentos. A obesidade, caracterizada por IMC Os gráficos 3 e 4 a seguir evidenciam a Gráfico 3 - Tendência secular do excesso de peso no Brasil, segundo sexo. Brasil, 1975-2003 1975 50 1989 41,0 40,7 39,2 40 2003 %IMC > 25 Kg/m2 30 29,5 28,6 20 18,6 10 0 Homens Mulheres FONTES: ENDEF(1977); PNSN (1989); POF (2004) tendência secular do excesso de peso e da população adulta apresentavam excesso de peso obesidade, respectivamente, entre adultos (IMC igual ou superior a 25 kg/m2). brasileiros, a partir de três inquéritos nacionais: o Considerando a obesidade (IMC maior ou Endef, realizado em 1975; a PNSN em 1989; e a POF igual a 30 kg/m2), a prevalência na população em 2002-2003. (IBGE,1977, 2004a; INAN,1990,1989) adulta é de 11,1%, sendo de 8,9% entre homens e O excesso de peso teve uma nítida de 13,1% entre as mulheres. tendência de aumento no período compreendido O gráfico 4 indica comportamento similar entre meados da década de 70 e 2003 entre os da tendência de obesidade, se comparada à do homens; e, entre as mulheres, houve tendência de excesso de peso: crescimento contínuo da redução entre 1989 e 2003. Em 2003, 40% da prevalência de obesidade entre os homens, no Gráfico 4 - Tendência secular da obesidade no Brasil, segundo sexo. Brasil, 1975-2003 14 12,8 1975 12,7 12 1989 10 8,8 8 7,8 2003 %IMC > 30 Kg/m2 6 5,1 4 2 2,8 0 Homens Mulheres FONTES: ENDEF(1977); PNSN (1989); POF (2004)
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    PARTE 3 -AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS 139 período estudado; entre as mulheres, o crescimento conforme se observa comparando-se os gráficos ocorreu no período de 1975 a 1989, tendendo a 5 e 6. estabilização até 2003. Ao analisar os dois gráficos, observa-se que Ainda assim as mulheres apresentam para os homens, em todas as regiões geográficas, prevalência de obesidade superior aos homens. Os houve um crescimento expressivo e continuado da dados da POF-2002 indicam ainda a ocorrência de prevalência de obesidade entre 1975 e 2003. Entre obesidade, tanto em áreas urbanas quanto nas as mulheres, o comportamento da obesidade rurais, como também nas diferentes regiões do País. tendeu a crescer, entre 1975 e 1989, em todas as Entre homens e mulheres residentes em zonas regiões, e a reduzir no período entre 1989 e 2003, rurais, as prevalências encontradas são, exceto na Região Nordeste. respectivamente, de 9,7% e de 12,7%; já nas zonas A prevalência da obesidade também urbanas, as taxas são de 8,9 e 13,1%. A prevalência ocorre em todas as classes de rendimento. da obesidade, segundo as regiões geográficas, O gráfico 7 mostra que, entre os homens, a revela que, mesmo nas regiões menos prevalência aumenta de acordo com o aumento da desenvolvidas, como o Norte e o Nordeste, as renda; porém, entre as mulheres, esse crescimento prevalências são expressivas para ambos os sexos, Gráfico 5 - Tendência secular da obesidade masculina, segundo região brasileira. Brasil, 1975-2003 1975 10 9,8 9,7 1989 8,4 8 7,8 7,5 2003 6,6 6,8 %IMC > 30 Kg/m2 6 5,6 5,1 3,8 3,9 4 3,1 2,5 2,8 2 1,4 0 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Gráfico 6 - Tendência secular da obesidade feminina, segundo região brasileira. Brasil, 1975-2003 18 16,8 1975 16 14,5 1989 14 13,613,3 12,1 12 11,8 11,2 11,5 10,5 10,9 2003 %IMC > 30 Kg/m2 10 9,0 8,7 8 7,3 7,6 6 4,7 4 2 0 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
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    140 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Gráfico 7 - Prevalência de obesidade, segundo a renda. Brasil, 2003 Salário Mínimo Per Capita < 1/4smpc 1/4 - 1/2 smpc 16 14,4 13,7 14 13,5 12,7 13 1/2 - 1 smpc 12 11 11,7 1 - 2 smpc 10 %IMC > 30 Kg/m2 8,8 8,8 8 7,6 2 - 5 smpc 6 4,1 > 5 smpc 4 2,7 2 0 Homens Mulheres FONTE: IBGE, 2004a. ocorre somente na classe de menor rendimento. pelo IBGE em 1996/1997, apenas nas regiões O inquérito sobre fatores de risco para Sudeste e Nordeste, observa-se que a prevalência de DCNT fornece informações auto-referidas sobre obesidade triplicou entre crianças e adolescentes de peso e altura dos entrevistados (BRASIL, 2004e), 6 a 18 anos: em 1975 era de 4,1% e aumentou para porém, alguns desses resultados são muito similares 13,9% em 1997 (WANG et al, 2002). aos encontrados pela POF 2002-2003. Conforme se discutiu anteriormente, A prevalência de excesso de peso (que houve uma queda expressiva da prevalência de soma casos de sobrepeso e obesidade) em algumas desnutrição infantil, estimada em 70% para o capitais chegou a 40%. O sobrepeso (IMC entre 25,0 período decorrido entre meados da década de 70 e e 29,9kg/m2) variou de 23% a 33,5% e a obesidade 90; contudo, comparando-se as prevalências de (IMC 30kg/m2) entre 8,1% e 12,9%. A prevalência desnutrição e de obesidade entre crianças, observa- de sobrepeso foi sempre maior entre os homens que se que, em meados da década de 70, havia quatro entre as mulheres, em todas as capitais. De modo vezes mais crianças desnutridas do que obesas, e geral, as capitais do Sul e Sudeste apresentaram as essa proporção, ao final da década de 80, diminuiu taxas mais elevadas de sobrepeso e de obesidade e para pouco menos de duas crianças desnutridas as prevalências de excesso de peso foram mais para uma obesa (MONTEIROet al., 2000). baixas para os grupos etários mais jovens (BRASIL, Dados mais recentes, oriundos de estudos 2004e). localizados, também referem tendências de Essas tendências de excesso de peso e crescimento da obesidade e do sobrepeso na obesidade na população adulta brasileira vêm população mais jovem. Em estudo realizado na comprovar a gravidade e a magnitude que o Região Sudeste, em amostra de 10.822 escolares de problema assumiu no Brasil, fundamentando a 7 a 10 anos, foram observadas taxas de sobrepeso de urgência de intervenções que façam retroceder o 15,7% e de 18% de obesidade. Foram encontradas avanço do excesso de peso e, concomitantemente, prevalências de obesidade de 16,9% e de 14,3% das outras DCNT no Brasil. entre meninos e meninas de escolas públicas, Em relação à obesidade entre crianças respectivamente. Em escolas particulares, as taxas menores de 5 anos, três inquéritos nacionais de obesidade foram, de 29,8% em meninos e 20,3% permitem identificar a prevalência: Endef (1974- em meninas (COSTA et al., 2003b). 1975), PNSN (1989), PNDS (1996) (INSTITUTO Finalmente, a tabela 4 mostra o percentual BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1977; de óbitos potencialmente evitáveis por meio de INSTITUTO NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO E uma alimentação adequada. Verifica-se que entre NUTRIÇÃO, 1990; INSTITUTO BRASILEIRO DE 40% e 90% dos óbitos anuais por DCNT, de acordo GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1997). Os dados com o grupo de doenças, podem ser potencial- indicam uma tendência de manutenção das mente evitados se a população tiver garantido o prevalências (4,6%, 4,6% e 4,3%, respectivamente). acesso universal a uma alimentação adequada e Comparando-se os dados do ENDEF com os dados de saudável, como se preconiza neste guia. Pesquisa de Padrões de Vida, também realizada
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    PARTE 3 -AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS 141 Tabela 4 - Óbitos ocorridos por doenças crônicas não-transmissíveis e óbitos potencialmente evitáveis com alimentação adequada (números relativo e absoluto). Brasil, 2003 Doenças Crônicas(CID 10)* N.º de % de N.º de mortes óbitos mortes anuais evitáveis evitáveis (atuais) Obesidade e outras formas de hiperalimentação (E65-E68) 1.018 90 916 Diabetes (E10-E14) 37.451 90 33.706 Doenças cérebro-vascular (I60-I69) 88.923 50 - 75 44.462 - 66.692 Doenças isquêmicas do coração (I60-I69) 83.122 50 - 75 41.561 - 62342 Outras doenças cardiovasculares 101.706 50 - 75 50.853 - 76.280 Neoplasias (Cânceres) (C00-D48) 134.573 30 - 40 40.372 - 53.829 Doenças relacionadas com o álcool 536 Total 447.329 211.870 - 259.143 FONTE: Ministério da Saúde/SVS/DASIS, 2004. * CID 10. Classificação Internacional de Doenças, 10.ª edição. Em conclusão, as informações sobre o perfil internacional de "mercado livre", um aspecto da epidemiológico e nutricional no Brasil vêm reforçar globalização (LANG; MCMICHAEL, 1997). a tese de que a insegurança alimentar e nutricional Nas duas últimas gerações, o sistema no País deve, concomitantemente, prever ações de brasileiro de abastecimento de alimentos promoção da saúde e prevenção da desnutrição transformou-se: antes predominantemente infantil e das deficiências de micronutrientes em primário ou composto por produtos minimamente vários grupos populacionais, bem como do excesso processados e comprados em pequenos comércios de peso, obesidade e das DCNT a ela associadas, varejistas e atualmente produtos pré preparados e formas emergentes de manifestação da má- embalados, comprados em grandes redes de nutrição na população. A promoção da alimentação supermercados. saudável, para a qual este guia é um instrumento, Essas mudanças no padrão alimentar são deve ser consolidada na atenção à saúde de todas as comparáveis às que ocorreram décadas atrás, como fases do curso da vida, bem como integrar, como resultado do processo de industrialização da Europa eixo estruturante, as políticas de segurança Ocidental e da América do Norte. Em geral, o alimentar e nutricional em delineamento do Brasil. consumo de alimentos de origem vegetal, incluindo cereais, raízes, tubérculos e leguminosas, frutas, A transformação nos padrões legumes e verduras, tende a decrescer e a produção e o consumo de alimentos de origem animal, alimentares nacionais incluindo a carne e os laticínios fontes de proteína O sistema alimentar e a alimentação do animal e de gordura, tende a aumentar. Mais brasileiro sofreram mudanças nos últimos 50 anos e recentemente, houve crescimento da produção e do essas mudanças vêm se acelerando com a política consumo de óleos vegetais e margarina, açúcar e,
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    142 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA em geral, dos alimentos com alta densidade Tradicionalmente, para a maior parte da energética processados com gorduras população brasileira, a alimentação habitual era hidrogenadas, açúcar e sal e produtos refinados composta basicamente por alimentos dos grupos (CANNON, 1992; MONTEIRO; et al., 1995a, 1995b, dos cereais (arroz, milho e trigo), leguminosas 2000; CANNON, 2001). (feijões), tubérculos (batatas) e raízes A maior disponibilidade de alimentos, mais (principalmente mandioca), alguma carne ou especificamente o consumo de alimentos pequena quantidade de outros alimentos de industrializados com alta densidade energética, origem animal. aumenta o risco de doenças, especialmente das Os padrões alimentares variam entre as diferentes regiões, dependendo do clima, das doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT). Por condições de produção de alimentos, das condições outro lado, as evidências científicas também socioeconômicas da população e suas características mostram que alimentos de origem vegetal, culturais. Pode-se afirmar que o Brasil possui quatro principalmente frutas, legumes e verduras, se culturas alimentares peculiares: do Sul, das regiões consumidos de forma regular e em quantidades centrais, do Nordeste e da região da Amazônia. apropriadas, são fatores de proteção contra várias De modo geral, a alimentação brasileira doenças relacionadas à alimentação, contribuindo recebeu influências dos povos que a constituem: também para a manutenção de um peso saudável. indígenas, afro-descendentes e os colonizadores de Essas evidências são comprovadas por inúmeros origem européia, variando o padrão alimentar nas estudos, citados e referenciados ao longo deste diferentes regiões de acordo com a maior ou menor documento, e realizados em diferentes épocas e influência de um ou mais desses grupos étnicos. Por países. exemplo, na Bahia, a cultura alimentar é fortemente influenciada por tradições africanas e O acúmulo de evidências que associam a de povos indígenas. Já na Região Norte, a cultura dieta ao estado de saúde dos indivíduos levou a alimentar indígena tem maior influência e, no Sul, Organização Mundial da Saúde (OMS) a estabelecer os padrões europeus predominam. limites para o consumo de nutrientes: gorduras A produção de alimentos predominantes (10% a 30% do VET), ácidos graxos saturados (10% nas diferentes regiões também influencia a cultura do VET), açúcar livre (10% do VET), colesterol alimentar local. Por exemplo: Minas Gerais possui (300mg/dia) e sal ( 5g/dia) e a estimular o consumo uma grande produção leiteira e, em Goiás e no Sul, de carboidratos complexos (45% a 65% do VET) e de predominam a produção extensiva de carne bovina; frutas, legumes e verduras (400g/dia) (WORLD na Região Norte, o consumo de pescados e farinhas HEALTH ORGANIZATION, 2003a). é expressivo e o açaí, pela abundância local, é utilizado em misturas diversas: açaí com farinha de Com base nessas evidências é que este guia mandioca, açaí com peixe, com farinha de tapioca, recomenda a restrição de consumo de alimentos com carne seca. densamente energéticos, o resgate e a valorização Essas características não são imutáveis e da alimentação brasileira tradicional, baseada em inflexíveis, sofrendo alterações ao longo da história preparações combinadas de cereais e leguminosas e influenciando-se entre si. Contemporaneamente, (arroz e feijões), frutas, legumes e verduras. Este as pessoas de classe média, nas grandes cidades, guia incentiva o consumo de uma alimentação usufruem da gastronomia de quase todas as regiões variada, com base principalmente em alimentos de do mundo (ROMIO, 2000). origem vegetal e in natura. Mesmo assim, existem características comuns na alimentação dos brasileiros, que se consolidaram a partir do sistema de produção Consumo de alimentos no Brasil alimentar nacional, apesar das especificidades Esta seção apresenta as informações regionais ou culturais. disponíveis sobre as tendências e mudanças no padrão de consumo de alimentos no Brasil e As pesquisas: dados nacionais disponíveis compara esses padrões com as diretrizes deste guia, No Brasil, o único estudo nacional sobre o que propõem os atributos para uma alimentação consumo alimentar que utilizou metodologia direta saudável e as quantidades dos diferentes grupos de de aferição (pesagem dos alimentos consumidos no alimentos que contribuem efetivamente para a domicílio por indivíduo) é o Estudo Nacional de saúde.
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    PARTE 3 -AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS 143 Despesa Familiar (Endef), realizado, na década de 3.010kcal por pessoa/dia. Considerando que a 70, pelo IBGE. Esse estudo ainda é utilizado como necessidade média de consumo energético referência, embora deva-se considerar que ele não recomendada para a população brasileira pela representa mais o padrão alimentar do brasileiro, própria FAO é de 2.300 kcal/pessoa/dia (FOOD AND uma vez que, em 30 anos, a alimentação sofreu AGRICULTURE ORGANIZATION, 2000), observa-se significativas modificações. No ano de 1996, foi que, no Brasil, não há problemas de realizado o Estudo Multicêntrico de Consumo indisponibilidade de alimentos. A quantidade de Alimentar, realizado em cinco cidades brasileiras, que utilizou metodologia semiquantitativa de alimentos é suficiente para atender às necessidades freqüência de consumo alimentar individual energéticas de toda a população brasileira. (NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM Essa evidência vem corroborar a tese de ALIMENTAÇÃO, 1997). que os problemas relacionados à insegurança As fontes de dados mais atuais que alimentar e nutricional, que atinge contingentes permitem avaliar, indiretamente, a tendência do importantes de nossa população, são devidos à consumo alimentar são as Pesquisas de Orçamentos desigualdade de acesso à alimentação adequada. Familiares (POF), realizadas pelo IBGE. Essas Essa desigualdade ocorre tanto em relação à pesquisas possibilitam tais análises por meio da quantidade de alimentos consumidos como em estimativa de despesas efetuadas com a aquisição termos de qualidade de alimentos. O Endef já de alimentos para consumo no domicílio e os preços evidenciava que não havia diferenças no padrão praticados no mercado. Tais pesquisas têm algumas alimentar entre pobres e ricos, mas que a limitações, uma vez que não permitem informações discrepância na quantidade de alimentos sobre o consumo individual, a distribuição consumidos era importante a ponto de manter intrafamiliar dos alimentos e a quantidade de taxas elevadas de desnutrição entre crianças e alimentos consumidos fora do domicílio. As POF adultos no Brasil, àquela época. A inadequação foram realizadas nos seguintes períodos: 1961- qualitativa da alimentação tanto se manifesta por 1963; 1987-1988; 1995-1996; e 2001-2003. As três deficiências de micronutrientes que não podem ser últimas POF e o Endef (1974-75) são aqui utilizadas mensuradas por alterações no peso corporal como para a avaliação da tendência secular do padrão implica o desenvolvimento de excesso de peso, alimentar da população brasileira. obesidade e de outras DCNT associadas. Disponibilidade interna de alimentos Consumo referido em inquérito de Uma das informações necessárias para se comportamentos de risco para DCNT avaliar a situação de segurança alimentar e O inquérito realizado pelo INCA, em nutricional de uma população é a quantidade de 2002/2003, incluiu um módulo sobre consumo alimentos disponíveis para consumo no País. O alimentar com o objetivo de avaliar a freqüência de sistema de informações, mantido pela FAO, consumo de frutas, legumes e verduras, bem como denominado Faostat, possibilita estimativas para a conhecer os hábitos usuais da população, como o disponibilidade de alimentos para consumo consumo de gorduras animais (BRASIL, 2004f). humano no Brasil para o período 1965-1997. As Em relação ao consumo de frutas, na informações consideram dados sobre a produção, a freqüência de consumo de cinco ou mais vezes na exportação e a importação de alimentos e semana, o menor percentual encontrado foi de descontam estimativas de desperdício e a 35,6% em Campo Grande-MS e o maior de 74,8% quantidade de alimentos destinados à alimentação em Natal-RN, dentre as capitais pesquisadas. De animal, utilizados como sementes para plantio modo geral, as capitais do Nordeste apresentaram (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION, 1999). freqüências maiores comparadas às das cidades nas Segundo o Faostat, a disponibilidade total demais regiões. Já o consumo de verduras e legumes de alimentos no Brasil tem aumentado, conti- cinco ou mais vezes por semana apresentou uma nuamente, nas últimas décadas: em 1961, era de variação de 20,6% em Belém-PA a 57,0% em Porto 2.216kcal por pessoa/dia e, em 2002, chegou a Alegre-RS. Surpreendeu o fato de o consumo de verduras e legumes nas capitais pesquisadas da
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    144 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Região Norte ser sempre inferior a 25%, consumo no domicílio. Com base nesses dados é considerando a riqueza de produtos vegetais possível estimar indicadores nutricionais nativos disponíveis. aproximados do consumo alimentar, ressalvando Esse padrão de consumo, para o conjunto que não se trata de consumo efetivo de alimentos dos três grupos de alimentos, foi mais freqüente per capita, pois se desconhece a fração de alimentos entre as mulheres do que entre os homens; menor adquiridos mas não consumidos, não se consideram entre grupos mais jovens e entre as pessoas com as parcelas de desperdícios de alimentos e ainda não menor nível de escolaridade. se consideram as refeições feitas fora do domicílio; A avaliação de consumo de gordura - Algumas das análises dos dados da POF somente baseou-se na informação para três tipos de são possíveis considerando as informações alimentos: leite, carne vermelha e frango. O disponíveis para as nove regiões metropolitanas consumo relatado de leite foi superior a 70% em (Belém, Fortaleza, Salvador, Recife, Belo Horizonte, todas as capitais, de 91% para carne vermelha e Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre) e 96% para frango. Entre os que relataram o consumo para Brasília e Goiânia. Outras referem-se às desses alimentos, a pesquisa investigou o consumo informações para o Brasil, desagregando as de leite integral: a freqüência variou entre 61% e informações por situação de moradia (urbana e 82%, sendo que o padrão de consumo de leite inte- rural) e/ou por grandes regiões; gral foi sempre mais freqüente entre os homens que - As comparações são feitas em relação às entre as mulheres em todas as capitais. recomendações de macronutrientes estabelecidas pela OMS em termos de percentual de participação 3 Estimativas da disponibilidade no valor energético total (VET) como parâmetros para uma alimentação saudável: carboidratos totais domiciliar de alimentos (55-75%), carboidratos complexos (45-65%), As estimativas do consumo médio de açúcares simples (<10%), proteínas (10-15%), energia por pessoa no Brasil, segundo os resultados gorduras totais (15-30%), gorduras saturadas da POF (2002-2003), foi de 1.800kcal/dia. Para áreas (<10%) e ácidos graxos poliinsaturados (6-10%) rurais, foi de 2.400kcal/dia e, para áreas urbanas, (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003a). 1.700kcal/dia. Embora essa pesquisa tenha A tabela 5 mostra as tendências temporais investigado algumas variáveis sobre o consumo fora na composição de macronutrientes na alimentação do domicílio, elas não permitem avaliar a do brasileiro, nas regiões metropolitanas, segundo adequação da disponibilidade de energia per capita a participação percentual de calorias total da e, portanto, não se pode afirmar, apenas com os alimentação. dados disponíveis, que existe deficiência energética As principais tendências na composição da no País; contudo, como se verá mais adiante, a alimentação, ocorridas nesses últimos 30 anos, situação de insegurança alimentar e nutricional dados das regiões metropolitanas, Brasília e existe e possui perfil diferenciado segundo os Goiânia, foram: estratos de renda, sendo, entretanto, mais grave - Manutenção da participação relativa de proteínas naquelas famílias de menor renda familiar e baixa na oferta de energia no período (em torno de 12% a escolaridade. 13% do VET), não parecendo haver problemas com Para as análises subseqüentes, é preciso a disponibilidade de alimentos protéicos, uma vez considerar três aspectos: que se tem mostrado dentro da faixa recomendada - Os dados da POF descrevem o tipo e a quantidade (10% a 15%). Tanto as proteínas de origem animal de alimentos que as unidades familiares adquirem como as vegetais mantiveram uma relativa em períodos determinados de tempo, refletindo estabilidade no período, porém, com tendências dessa forma a disponibilidade de alimentos para o diferentes (aumento nas proteínas animais e 3 - Valor energético total (VET) é definido pela ingestão energética total diária fornecida por meio de metabolização dos em termos de participação energética relativa dos macronutrientes, considerando apenas os macronutrientes (carboidratos, gorduras, proteínas), do álcool e de fibras e é mensurada, neste guia, em quilocalorias (kcal).
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    PARTE 3 -AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS 145 Tabela 5 - Evolução da participação relativa de macronutrientes no total de calorias determinado pela aquisição alimentar domiciliar nas regiões metropolitanas, Brasília e Município de Goiânia, por ano de pesquisa. Brasil, 1974-2003 % da evolução da participação relativa de macronutrientes, por ano de pesquisa Macronutrientes 1974-1975 1987-1988 1995-1996 2002-2003 Carboidratos 61,66 57,96 57,73 55,90 Açúcar (sacarose) 14,04 13,67 14,16 12,63 Demais carboidratos 47,62 44,29 43,57 43,27 Proteínas 12,57 12,81 13,80 13,58 Animais 6,00 7,05 8,12 7,78 Vegetais 6,57 5,76 5,68 5,80 Lipídios 25,77 29,23 28,46 30,52 Ácidos graxos monoinsaturados 7,44 7,86 7,70 8,05 Ácidos graxos poliinsaturados 7,66 9,53 8,53 8,90 Ácidos graxos saturados 7,47 8,54 8,79 9,62 FONTE: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Índices de Preços, Pesquisa de Orçamentos Familiares, 2002-2003. redução na participação das vegetais); 2003, os valores (9,6%) aproximaram-se do limite - Diminuição na participação relativa de máximo recomendado (< 10%). Por outro lado, carboidratos totais e complexos. O total de verificou-se também tendência de aumento nos carboidratos na última pesquisa (55,9%) ácidos graxos monoinsaturados e poliinsaturados, aproximou-se do limite inferior do recomendado, possivelmente em decorrência da substituição das enquanto que os carboidratos complexos (43,3%) gorduras animais pelos óleos vegetais. não atingiram o limite mínimo. Historicamente, Excetuando-se as observadas em relação às vem ocorrendo um deslocamento da proteínas e aos ácidos graxos insaturados, as demais disponibilidade de carboidratos por gorduras e tendências são preocupantes, uma vez que açúcares, mudança desvantajosa em relação ao risco caracterizam padrões alimentares inadequados e de ocorrência de DCNT, sobretudo se a redução de de risco à saúde, conforme mostram os estudos mais carboidratos estiver ocorrendo entre os recentes. Vale ressaltar que, em relação aos ácidos carboidratos complexos; graxos insaturados, se, por um lado, o aumento na - Tendência temporal de redução no consumo de sua participação na dieta é desejável, por outro, açúcares, embora a participação deste grupo ainda esse aumento deve-se dar em substituição às permaneça muito acima do recomendado para uma gorduras saturadas de tal forma que a participação alimentação saudável (26% acima da faixa limite). das gorduras no VET não extrapole os limites Além disso, há evidências de que o consumo de recomendados (15% a 30%). açúcares tenha se deslocado para o consumo de A tabela 6 a seguir mostra a participação de refrigerantes, sucos e bebidas adoçadas cuja oferta grupos de alimentos no total de energia consumida. no mercado aumentou consideravelmente nos A análise das informações da tabela 6, que últimos anos; compreende os períodos de 1974 a 2003, indica as - Tendências de elevação das gorduras totais, seguintes tendências no padrão alimentar do Brasil, extrapolando o limite recomendado na última considerando as informações disponíveis (regiões pesquisa (30,5%). As gorduras saturadas tenderam metropolitanas, Brasília e Goiânia): a aumentar contínua e expressivamente no período - Redução de 5% no consumo de cereais e (30% entre o primeiro e o quarto inquérito) e, em derivados. Considerando os alimentos que
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    146 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA compõem esse grupo de alimentos, destaca-se o desejada é a queda no consumo de feijão (31%) e contínuo decréscimo no consumo de arroz (23%) e tubérculos, raízes e derivados (32%). Dentre os pão francês (13%), sabidamente dois alimentos alimentos que compõem este último grupo, a tradicionais da alimentação do brasileiro. batata teve queda de 41% e a mandioca de 5%. O Inversamente, houve um aumento expressivo e feijão é uma fonte importante de ferro, fibras e, preocupante no consumo de biscoitos (400%), em associado ao arroz, de proteína vegetal de boa função de dois fatores: os biscoitos, mesmo os qualidade. É importante que se estabeleçam salgados e sem recheio, são ricos em gorduras trans estratégias para, minimamente, reverter a e alguns tipos em sal ou açúcar, condições estas de tendência de queda de consumo desses dois grupos risco para a saúde; por outro lado, pode estar de alimentos; havendo uma indesejável substituição de alimentos - A participação relativa ao grupo das carnes mais saudáveis, como o arroz e o pão, por biscoitos, aumentou em cerca de 50%. As carnes bovinas já que o consumo de macarrão e farinha de trigo tiveram aumento de 23% e a carne de frango praticamente permaneceu o mesmo no período dobrou a participação (100%). Preocupante foi o estudado; acréscimo verificado na participação de embutidos, - Redução no consumo de feijões e de tubérculos e geralmente produtos com alto teor de gordura e raízes: outra tendência que revela uma mudança no sal, que aumentou em quase 300% a sua padrão alimentar brasileiro e, sem dúvida, não participação energética na alimentação. Por outro Tabela 6 - Evolução da participação relativa de alimentos no total de calorias determinado pela aquisição alimentar domiciliar nas regiões metropolitanas, Brasília e município de Goiânia, por ano de pesquisa. Brasil, 1974-2003. Evolução da participação relativa, por ano de pesquisa(%) Grupos de alimentos 1974-1975 1987-1988 1995-1996 2002-2003 Cereais e derivados 37,26 34,72 35,04 35,34 Feijão 8,13 5,87 5,71 5,68 Raízes e tubérculos 4,85 4,10 3,58 3,34 Carnes 8,96 10,46 12,98 13,14 Ovos 1,15 1,31 0,90 0,18 Leite e derivados 5,93 7,95 8,20 8,09 Frutas 2,16 2,66 2,58 2,35 Verduras e legumes 1,14 1,15 1,00 0,92 Gordura animal (banha, toucinho e manteiga) 3,04 0,95 0,77 1,08 Óleos e gorduras vegetais 11,62 14,61 12,55 13,45 Açúcar e refrigerantes 13,78 13,39 13,86 12,41 Oleaginosas 0,10 0,15 0,13 0,21 Condimentos 0,31 0,58 0,57 0,91 Refeições prontas 1,26 1,59 1,50 2,29 Bebidas alcoólicas 0,30 0,51 0,63 0,62 Total de calorias (kcal/dia per capita) 1.700,00 1.895,79 1.695,66 1.502,02 FONTE: IBGE Diretoria de Pesquisas. Coordenação de índices de Preços. Estudo Nacional de Despesa Familiar, 1974-1975 e Pesquisa de Orçamentos Familiares 1986-1988; 1995-1996 e 2002-2003 (adaptada).
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    PARTE 3 -AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS 147 lado, houve uma acentuada redução na últimos inquéritos, ocorreu um incremento de 40%. participação dos peixes: em 2003, a participação Mesmo assim, considerando o período decorrido representa cerca da metade do consumo estimado entre 1974-2003, a redução na participação desse em 1974. Esse resultado é particularmente grupo de alimentos foi importante (65%); importante, tanto porque os peixes são fontes de - Houve crescimento de 16% na participação das proteínas de boa qualidade e são mais saudáveis gorduras vegetais. Tanto o óleo de soja como a que os demais tipos de carnes em função de sua margarina apresentaram crescimento. Se por um composição em ácidos graxos insaturados, como lado a substituição de gorduras animais por pelo conhecido potencial da piscicultura nacional, vegetais é mais saudável, é importante estabelecer seja pelo manancial de rios, seja pela extensão estratégias que mantenham o consumo de gorduras marítima de que o Brasil dispõe; vegetais dentro das faixas de consumo recomen- - Redução acentuada na participação de ovos (84%), dadas e diminuir o consumo de gorduras provavelmente em função de o consumo desse hidrogenadas (trans), das quais alguns tipos de alimento ter se deslocado para a aquisição de margarinas e as gorduras vegetais hidrogenadas alimentos prontos para o consumo e conseqüente são representantes; diminuição da utilização de ovos em preparações - O grupo dos açúcares e refrigerantes reduziu a caseiras (bolos e pães, por exemplo); participação em 10% no período. Contudo, conside- - Aumento de 36% na participação dos leites e rados esses dois itens separadamente, observam-se derivados, sendo expressivo o aumento dos queijos, tendências distintas: enquanto os açúcares que dobraram a sua participação no VET; reduziram em 23%, houve um considerável - A participação de frutas, legumes e verduras na aumento na participação dos refrigerantes (400%). dieta manteve-se relativamente estável durante o Alguns estudos têm enfa-tizado a substituição de período compreendido pelas quatro pesquisas, leite por refrigerantes, especialmente entre correspondendo a 3%-4% da energia total da crianças e adolescentes, tendência esta claramente alimentação, estando, porém, muito aquém da indesejável. Essas tendências adquirem maior recomendação. A OMS recomenda um consumo relevância quando se considera que não incluem o mínimo de 400 gramas per capita/dia desses grupos consumo de açúcares e refrigerantes fora dos de alimentos, em função do efeito protetor que domicílios; apresentam em relação às DCNT (WORLD HEALTH - Refeições prontas e misturas industri-alizadas: a ORGANIZATION, 2003a). Tendo por base um VET de participação desse tipo de alimento na contribuição 2.000kcal, assumido como parâmetro de energética aumentou 82% no período, indicador exemplificação neste guia, o valor energético importante de mudança no comportamento fornecido por estes grupos de alimentos, segundo alimentar da população. Os alimentos processados se propõe para o Brasil, corresponde a em geral possuem teores elevados de gorduras, aproximadamente 12% do VET. Isso significa que o açúcares e sal, cujo consumo deve ser restringido. Brasil precisa aumentar a quantidade de frutas, Essa mesma pesquisa mostra que o percentual de legumes e verduras consumidos em três a quatro despesas com alimentação fora do domicílio é de vezes para alcançar a meta recomendada para uma 25,7% entre a população residente em áreas alimentação saudável. Como diretriz deste guia urbanas e, nas zonas rurais, de 13,1%. Os gastos com propõe-se o consumo de três porções de verduras e alimentação fora do domicílio, segundo a classe de legumes (valor calórico médio da porção = 15kcal e rendimento mensal da família, variaram entre tamanho médio 60g) e três porções de frutas (valor 11,8% (rendimentos de até R$400,00) e 37% entre calórico médio da porção de 70kcal e tamanho famílias com rendimentos de R$4.000,00 ou mais médio de 130g), superando, em gramas, o valor (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E mínimo recomendado pela OMS; ESTATÍSTICA, 2004a). Com poucas exceções, é - A tendência secular da participação das gorduras provável que essas refeições sejam lanches rápidos de origem animal apresenta dois momentos ou fast-foods que também possuem altos teores distintos: entre 1974 e 1996, houve uma acentuada desses nutrientes, sugerindo consumos ainda mais redução de 75%, enquanto que, entre os dois elevados;
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    148 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Em relação ao consumo de bebidas termos de macronutrientes, a alimentação para o alcoólicas, vale destacar que os dados referidos na Brasil e para as zonas rurais e urbanas estão adequa- tabela 6 também merecem cautela na avaliação, das, exceto para o consumo de açúcar que é 37% pois referem-se apenas e exclusivamente ao maior do que o recomendado(10%), significando a consumo de álcool no âmbito dos domicílios das necessidade de redução em, pelo menos, 1/3 desse regiões metropolitanas e de Brasília e Goiânia, valor para adequação da alimentação. Embora aten- estimado a partir de despesas monetária com dendo ao recomendado para uma dieta saudável, alimentos e bebidas adquiridos para consumo para o conjunto das áreas estudadas, no que se domiciliar. O Brasil não dispõe de dados sobre refere à distribuição percen-tual dos consumo de álcool; mas, conforme explicitado no macronutrientes para o VET, pode-se afirmar que a referencial teórico deste guia, estudos disponíveis alimentação na zona rural é mais adequada que a indicam que entre 3% e 9% dos adultos nas grandes da zona urbana, uma vez que o consumo de cidades brasileiras são dependentes do álcool. Um carboidratos complexos atinge a faixa mínima inquérito mais recente, desenvolvido pelo Instituto recomendada (50,9%) e os carboidratos totais estão Nacional do Câncer (INCA), indicou que a em uma proporção mais e elevada (64,6%); por prevalência de consumo médio diário de álcool outro lado, a participação das gorduras nas áreas considerado de risco (superior a duas doses por dia urbanas está apenas a 1% do limite máximo para os homens e superior a uma dose por dia para recomendado. Tais considerações apenas objetivam as mulheres) entre a população pesquisada (15 anos demonstrar que não somente atender às faixas ou mais e residentes em 15 capitais brasileiras e recomendadas de macronutrientes é importante, Distrito Federal) variou de 4,6% a 12,4% (BRASIL, mas também o tipo e a proporção com que eles se 2004e). apresentam na alimentação é igualmente A tabela 7, seguinte, demonstra a partici- importante. Por exemplo, em relação às gorduras, o pação relativa dos macronutrientes no total de limite máximo recomendado é de 30%, porém, a energia consumida em áreas rurais e urbanas. faixa mais saudável é de 20% a 25% para uma Os dados permitem afirmar que, em população sedentária, como é o caso da brasileira. Tabela 7 - Participação relativa de macronutrientes no total de calorias determinado pela aquisição alimentar domiciliar, por situação do domicílio. Brasil, 2002-2003 Participação relativa de macronutrientes(%) Situação do domicílio Total Macronutrientes Urbana Rural Carboidratos 59,56 58,08 64,61 Açúcar (sacarose) 13,70 13,71 13,67 Demais carboidratos 45,85 44,37 50,90 Proteínas 12,83 12,94 12,44 Animais 6,97 7,20 6,18 Vegetais 5,86 5,75 6,25 Lipídios 27,61 28,97 22,95 Ácidos graxos monoinsaturados 7,25 7,60 6,04 Ácidos graxos poliinsaturados 8,72 9,10 7,44 Ácidos graxos saturados 8,64 8,92 7,68 FONTE: IBGE, 2004a.
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    PARTE 3 -AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS 149 Considerando isso, o consumo de gordura total para Considerando a participação relativa dos toda a população deve diminuir em 10% e, no caso grupos de alimentos, para alguns itens há uma da população urbana, em 16% para atender à tendência de maior participação com a evolução da recomendação. classe de renda: carnes, leite e derivados, frutas, Algumas considerações em relação aos legumes e verduras, condimentos, refeições prontas dados mais recentes, desagregados por classes de e bebidas alcoólicas. Merece ser destacado que o rendimentos, são importantes, uma vez que, ao se consumo de leite e derivados, na classe de maior trabalhar com dados médios para a população, renda, supera em mais de três vezes a participação muitas diferenças e evidências importantes podem desse grupo de alimentos na classe inferior de ser encobertas. Os dados da POF 2002-2003 rendimentos. O mesmo acontece com as carnes (1,5 confirmam que há um padrão diversificado de vezes), frutas (quase seis vezes mais elevado) e consumo, não somente entre as regiões do País e verduras e legumes (três vezes mais alto). Entre as nas zonas rurais e urbanas, mas também entre os carnes, o consumo de carne bovina, frango e diferentes estratos socioeconômicos da população embutidos apresenta nitidamente tendência de brasileira. aumento com a evolução da renda, enquanto que A tabela 8 apresenta a participação relativa os peixes apresentam decréscimo na participação, de grupos de alimentos no total de energia, sendo que a classe de menor rendimento consome avaliado por meio de aquisição alimentar 2,5 vezes mais peixe que a classe superior de domiciliar, por classe de rendimento familiar rendimentos. mensal per capita. Entre os grupos de alimentos que apre- Tabela 8 - Participação relativa de grupo de alimentos no total de calorias, segundo a aquisição alimentar domiciliar, por classe de rendimento familiar mensal em salário mínimo per capita (SMPC). Brasil, 2002-2003. Faixas de rendimento familiares em SMPC Grupos de alimentos até 1/2 +1/4 a 1/2 +1/2 a 1 +1 a 2 +2 a 5 + de 5 Cereais e derivados 38,10 37,90 38,00 32,20 35,10 31,50 Feijão 97,70 7,90 7,60 6,10 5,50 4,50 Raízes e tubérculos 15,00 10,10 6,30 4,50 3,00 2,60 Carnes 8,40 9,80 11,20 12,30 13,30 13,20 Ovos 0,26 0,33 0,36 0,36 0,34 0,28 Leite e derivados 3,30 4,10 4,90 6,00 7,80 10,90 Frutas 0,61 0,79 1,00 1,40 2,20 3,40 Verduras e legumes 0,35 0,47 0,59 0,71 0,90 1,14 Gordura animal (banha, toucinho e 1,00 1,30 1,40 1,30 1,30 1,40 manteiga) 9,60 12,00 12,30 13,40 13,70 13,60 Óleos e gorduras vegetais 12,50 13,70 14,40 14,20 13,00 10,90 Açúcar e refrigerantes 0,39 0,35 0,24 0,12 0,09 0,14 Oleaginosas 0,14 0,24 0,41 0,60 0,97 1,15 Condimentos 0,64 0,92 1,01 1,48 2,26 3,97 Refeições prontas 0,08 0,13 0,23 0,36 0,66 1,22 Bebidas alcoólicas 1.485,75 1.651,3 1.724,4 1.877,05 1.929,45 2.075,16 FONTE: IBGE, Pesquisa de Orçamento Familiar. Brasil, 2002-2003.
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    150 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA sentam diminuição na participação com a evolução classe com renda maior que 5 SMPC (10,9%). dos rendimentos familiares, merecem ser ressal- Também aqui vale lembrar que a POF não tados os feijões e os tubérculos e as raízes, que considerou o consumo fora do domicílio e, apresentam um consumo, respectivamente, 2,2 portanto, essas tendências devem ser vistas com vezes e 5,6 vezes maior na classe de menor cautela; mas, por meio do consumo de açúcar aqui rendimento comparado com a classe de cinco ou mostrado, muito provavelmente o excesso de mais SMPC. Vale destacar que, na classe com consumo desse grupo de alimentos deve ser bem rendimentos de até 1/2 SMPC, esses grupos de maior na população como um todo, indepen- alimentos contribuem com 9,7% e 15%, dentemente da classe de rendimentos. respectivamente, do VET, destacando a importância Em relação ao total da energia disponível desses itens na alimentação da população mais pela aquisição de alimentos para consumo domici- pobre. liar, verifica-se, ainda na tabela 8, que o consumo Entre os cereais e derivados há uma energético da classe de maior rendimento (> 5 participação relativamente similar entre as classes SMPC) representa cerca de 1,5 vez o consumo da de rendimentos, variando em torno de 1/3 da classe de menor rendimento (até 1/2 SMPC). contribuição energética. Dentre eles, o arroz Evidencia-se ainda um aumento no VET com o incre- apresenta sugestivo declínio com o aumento da mento da renda familiar. renda, enquanto que biscoitos, macarrão e pão Em função de os dados da POF não aumentam. considerarem o consumo de alimentos extra- Também aqui se manifesta uma diferença domiciliar, não se pode afirmar, apenas com os de consumo entre os mais pobres e os mais ricos, em dados analisados, que haja insuficiência energética favor dos primeiros: a alimentação saudável entre as famílias brasileiras de renda mais baixa; estabelece que, entre os carboidratos, aqueles que contudo, as tendências dos dados revelam uma são fonte de complexos (amidos) deveriam compor associação entre esse consumo e a renda familiar a dieta na faixa de 45% a 65%. Se comparadas as per capita. Por outro lado, a mesma pesquisa duas faixas de rendimentos-limite e somados os realizou uma avaliação subjetiva das condições de grupos de cereais e derivados e tubérculos e raízes vida da população, investigando, entre outros, a sua principais fontes desses nutrientes , observa-se que percepção sobre o tipo e a suficiência dos alimentos na faixa de rendimentos de até 1/2 SMPC a consumidos pelas famílias. Os dados mostram que participação é de 53,0%, enquanto que na faixa de 47% das famílias destacaram que a quantidade de mais que 5 SMPC essa participação é de apenas alimentos consumidos era habitualmente ou 34,2%, não atingindo, nesta última, sequer o eventualmente insuficiente. Essa informação, mínimo recomendado. O atendimento a essa desagregada segundo a situação de domicílio, recomendação somente é alcançado nas faixas de corresponde a 56,9% entre as famílias residentes rendimentos inferiores a um SMPC. Isto justifica a em áreas rurais e a 44% entre as que moram em recomendação de incentivar o consumo desses áreas urbanas. Dentre aquelas, 13,9% afirmaram grupos de alimentos, de tal forma a se promover o que o alimento era normalmente insuficiente crescimento da sua participação em pelo menos (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍS- 20%, para alcance da meta dietética mínima. TICA, 2004b). Em relação às gorduras, tanto as vegetais Quanto ao tipo de alimentos consumidos, quanto as animais tenderam a aumentar com 73% das famílias declararam algum grau de evolução dos rendimentos. No caso dos óleos insatisfação com o tipo de alimentos consumidos vegetais, o consumo na classe de renda mais alta é (somadas as que afirmaram que os alimentos nem 42% superior ao da classe de menor rendimento. sempre eram do tipo preferido às que revelaram Açúcares e refrigerantes têm tendências raramente consumir alimentos preferidos). Entre os contrárias: enquanto os açúcares diminuem com a motivos alegados pelas famílias para não consumir evolução da renda, os refrigerantes aumentam. O alimentos de acordo com sua preferência, em 93% consumo de energia vindo desse grupo de dos relatos estava a insuficiência de rendimentos alimentos supera as recomendações da OMS (< 10% (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E do VET), estando muito próximo do ideal apenas na ESTATÍSTICA, 2004b).
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    PARTE 3 -AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS 151 Tabela 9 -Participação relativa de macronutrientes no total de calorias determinado pela aquisição alimentar domiciliar, por classe de rendimento monetário mensal familiar per capita em salários mínimos. Brasil, 2002-2003 Faixas de rendimento familiares em SMPC Grupo de Alimentos até 1/2 +1/4 a 1/2 +1/2 a 1 +1 a 2 +2 a 5 + de 5 Carboidratos 69,17 64,56 62,16 59,15 55,80 52,19 Açúcar (sacarose) 12,91 14,09 14,82 14,51 13,22 11,06 Demais carboidratos 56,26 50,47 47,34 44,64 42,58 41,13 Proteínas 11,72 11,98 12,54 12,80 13,41 13,86 Animais 5,21 5,87 6,45 7,02 7,77 8,42 Vegetais 6,51 6,11 6,09 5,78 5,64 5,43 Lipídios 19,11 23,47 25,30 28,06 30,80 33,95 Ácidos graxos monoinsaturados 4,82 6,03 6,71 7,40 8,08 8,93 Ácidos graxos poliinsaturados 6,73 8,18 8,33 9,07 9,41 9,13 Ácidos graxos saturados 5,94 7,17 7,78 8,65 9,68 11,22 FONTE: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Índices de Preços, Pesquisa de Orçamentos Familiares. Brasil, 2002-2003. Estes são mais dados que ilustram a imensa - As proteínas, em quaisquer faixas, encontram-se desigualdade do País e, por outro lado, revelam que dentro dos limites recomendados (10% a 15%), a insuficiência alimentar é ainda importante merecendo destaque apenas que a tendência de problema no País, ao lado da inadequação da participação das proteínas animais e vegetais são alimentação (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRA- diferenciadas: enquanto que as proteínas animais FIA E ESTATÍSTICA, 2004b). tendem a aumentar, há um decréscimo de A distribuição de participação energética participação das proteínas vegetais com a evolução dos macronutrientes, segundo a classe de rendi- dos rendimentos familiares; mentos per capita das famílias, é apresentada na - Em relação ao consumo de gorduras, há uma tabela 9. nítida evolução da participação com aumento da Os dados dessa tabela permitem sugerir renda, evidenciando-se que nas duas classes de que: maiores rendimentos essa participação extrapola o - O consumo de carboidratos total e de complexos limite máximo recomendado de 30%. As gorduras diminui nitidamente com a evolução da renda. Em saturadas, que não devem ultrapassar 10% do VET, relação aos carboidratos complexos, as classes de aumentam intensamente com os rendimentos, rendimentos acima de um SMPC sequer atingem o sendo estes valores alcançados virtualmente na limite mínimo recomendado de 45% e, na classe classe de dois a cinco SMPC e superados na classe de acima de cinco SMPC, o mínimo recomendado para maior rendimento (11,2%). As gorduras mono e carboidratos totais também não é atingido (55%); poliinsaturadas apresentam as mesmas tendências - O consumo de açúcar supera as recomendações em de aumento com a classe de renda, embora menos todas as classes de rendimentos, tendendo a intensamente, destacando-se que o consumo de aumentar até a faixa de 1/2 a um SMPC, reduzindo poliinsaturados deve estar na faixa de 6% a 10%. discretamente nas classes subseqüentes. A situação Embora em todas as faixas de rendimento os valores mais preocupante refere-se às classes de estejam dentro da faixa recomendada, na faixa de rendimentos entre 1/2 e um SMPC, em que a menor renda eles estão próximos do limite inferior contribuição energética chega próximo de 15%, ou (6,7%). seja, supera em 50% o recomendado; Em resumo, a análise dos dados da mais
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    152 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA recente pesquisa nacional que possibilita estimar o renda e da zona rural; consumo alimentar das famílias brasileiras, no - Assegurar a manutenção do consumo de âmbito exclusivo do domicílio, alguns dos quais aqui leguminosas (feijões) e tubérculos e raízes, fontes demonstrados permitem concluir que há padrões importantes e fundamentais de carboidratos diversificados de consumo alimentar entre as particularmente em classes de rendimentos regiões do País, entre zonas rural e urbana e entre superiores, onde se evidenciou a mais acentuada classes de rendimento. queda de consumo temporal nesses grupos de As características da dieta que são positivas alimentos; e confirmam as tendências temporais desde a - Leite e derivados, especialmente, devem ser mais década de 70 são a adequação do teor protéico da acessíveis à população com menor rendimento e o alimentação e a participação crescente das gorduras fomento à produção desses alimentos com baixos vegetais. teores de gorduras é necessário e pertinente, Já as tendências inadequadas na dieta que considerando que são boas fontes de cálcio na merecem destaque são: alimentação humana, além de fonte de proteínas - O alto consumo de açúcar em todas as classes de de alto valor biológico; renda: pelos dados apresentados há, necessa- - A queda importante no consumo de peixes requer riamente, de se estabelecer estratégias de edução ações que revertam essa tendência, uma vez que o em seu consumo, em aproximadamente 1/3, para Brasil dispõe de grande potencial de produção e atender às recomendações de limite superior de esses alimentos são fontes importantes e saudáveis consumo. de proteínas, gorduras poliinsaturadas, dentre - Consumo muito baixo e insuficiente de frutas, outros nutrientes. legumes e verduras, reconhecidamente fatores de proteção para a saúde. Um esforço nacional deve Consumo de sal no Brasil ser implementado para se elevar o consumo desses A última estatística de consumo de sal pela alimentos em pelo menos três vezes o consumo população brasileira foi aferida pelo Estudo atual, tornando-os acessíveis - física e Nacional de Despesa Familiar (Endef) (INSTITUTO financeiramente - a todas as classes de rendimento e BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1977). valorizando-os como componentes fundamentais Por ter sido realizado há cerca de 30 anos, não é de uma alimentação saudável; apropriada a utilização dessa informação devido às - Há uma tendência de consumo exagerado de mudanças ocorridas no padrão de consumo gorduras totais e de gorduras saturadas entre as alimentar pela população nesse período. classes de rendimentos mais elevados, A tabela 10 foi construída a partir de especialmente nas regiões de maior informações provenientes da indústria salineira desenvolvimento econômico (Centro-Oeste, nacional. O consumo estimado de sal em gramas por Sudeste e Sul), e entre famílias urbanas e de maior dia foi calculado dividindo o volume de sal no rendimento. Há de se implementar ações para abastecimento alimentar pela população (SENAI, reverter essas tendências e assegurar que o 2001). Desses dados são excluídas as quantidades consumo de gorduras totais, saturadas e estimadas para desperdício e sal destinado à insaturadas seja mantido nos níveis adequados alimentação de animais, mas não se referem à entre as famílias das demais regiões, classes de Tabela 10 - Estimativa do consumo de sal per capita. Brasil, 1962 - 2000 1962 1975 1988 1995 2000 Consumo de sal per capita 12,33 8,55 9,79 13,55 15,09 FONTE: SENAI, 2001.
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    PARTE 3 -AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS 153 exportação e importação, que se assumem oportunidade e a possibilidade de acesso a equilibradas em nosso país. alimentos saudáveis, em quantidade e qualidade Esses números indícam que o consumo de adequadas para assegurar a saúde e o bom estado sal no país é muito alto, colocando o Brasil entre os nutricional. Contudo, mesmo estratos de renda países de consumo mais elevado do mundo mais alta não condicionam a seleção de uma (INTERSALT, 1998). Observa-se também uma nítida alimentação mais saudável; portanto, não há mais tendência de aumento do consumo. Estes valores justificativa para ações governamentais voltadas sugerem que o consumo de sal pela população deve para um ou outro segmento da população. O diminuir em três vezes para se situar no limite desafio que se impõe atualmente é garantir a máximo recomendado para uma alimentação segurança alimentar e nutricional para toda a saudável (5 gramas de sal/pessoa/dia). população, fomentando a promoção da Já os dados da POF 2002-2003 mostram que alimentação saudável em todas as fases do curso da a aquisição de sal para consumo domiciliar per vida e o acesso às informações cientificamente capita anual corresponde a 2,986kg, sugerindo um evidenciadas para todos os estratos de renda, consumo diário de 8,2 gramas per capita/dia (1,4 vez cumprindo o direito humano à alimentação acima do limite recomendável). Agregando-se a adequada no Brasil. Certamente, políticas, esse valor uma estimativa de 16,75% para o sal programas e ações emanadas pelos diferentes indireto (consumido como componente de setores governamentais devem ainda, por algum produtos alimentares adquiridos para consumo no tempo, compor a política nacional de segurança domicílio), obtém-se um consumo per capita/dia de alimentar e nutricional, atendendo às 9,6 gramas/dia, que corresponde a quase duas vezes especificidades de manifestação da fome, nas o consumo recomendado. Essa situação é diferentes regiões, entre os diversos grupos preocupante, uma vez que o cálculo não inclui o socioeconômicos e nas diferentes fases do curso da consumo de sal direto e indireto fornecido por meio vida, sempre tendo como objetivos a saúde e a do consumo de alimentos fora do domicílio adequada nutrição. (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2004a). As Bases Científicas das Diretrizes Entre as diretrizes deste guia, estabelece-se Alimentares Nacionais4 a meta de atingir um consumo de 5g de sal/dia As diretrizes alimentares deste guia e (menos de dois gramas de sódio/dia), por meio de outras similares, em diversos países, foram atitudes adotadas pela população no que se refere elaboradas com o respaldo de evidências científicas ao consumo alimentar intra e extradomiciliar, mas resultantes de estudos que buscavam relacionar o também pela indústria de alimentos, em particular, impacto de distintos padrões alimentares na desenvolvendo tecnologia para produtos com baixo redução ou no aumento do risco de ocorrência das teor de sódio. A rotulagem nutricional obrigatória diferentes DCNT. O conjunto das diretrizes objetiva (veja mais informação na página 117) obriga a contribuir para garantir o crescimento e informação do teor de sódio nos alimentos desenvolvimento adequado de crianças maiores de processados. A utilização adequada desse 2 anos e de adolescentes, a promoção da saúde e a instrumento deve ser fomentada junto à população prevenção das doenças relacionadas à alimentação para contribuir para a sua decisão em adquirir e manter o balanço energético. alimentos mais saudáveis. Foi utilizado, como base na composição Finalmente, os dados e as informações desta parte do guia, o documento denominado apresentados permitem afirmar que a insegurança Análise da Estratégia Global para Alimentação alimentar e nutricional se manifesta, de maneira Saudável, Atividade Física e Saúde . Este documento distinta, entre todos os estratos sociais e econô- foi elaborado por um grupo técnico assessor do micos da população brasileira, segundo a Ministério da Saúde, com o objetivo de subsidiar a 4 - Com base do documento Análise da Estratégia Global Para alimantação Saudável, Atividade física e Saúde (BRASIL,2004b), produzido pelo Grupo Técnico Assessor, instituído por Portaria Ministerial da Saúde, nº 596, de 8 de abril de 2004. Disponível em www.saude.gov.br/nutricao.
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    154 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA posição do governo brasileiro, por ocasião da 57.ª principalmente em resultados de estudos Assembléia Mundial de Saúde, ocorrida em casocontrole ou estudos transversais. Evidência Genebra em maio de 2004, quando foi discutida e baseada em estudos não epidemiológicos, tais aprovada a Estratégia Global (BRASIL,2004b). Por como investigações clínicas e laboratoriais. Pode sua vez, foi produto da análise do Relatório Técnico servir de suporte, mas são mais estudos necessários o n. 916 da OMS e FAO (WORLD HEALTH ainda para confirmar as associações. ORGANIZATION, 2003a), documento este que Evidência insuficiente: baseada em orientou a oportunidade e pertinência da resultados de poucos estudos onde a associação proposição da EG, uma vez que traz uma extensa entre exposição e doença é sugerida, mas compilação e análise das evidências científicas, em insuficientemente estabelecida. São necessárias nível mundial, sobre a relação entre alimentação e pesquisas com melhor delineamento para DCNT. confirmar as associações em estudo. As recomendações dietéticas para popu- Com base nesses critérios, as lação e indivíduos estabelecidas pela OMS e que recomendações da EG relativas à alimentação e fundamentam as diretrizes deste guia são: atividade física foram analisadas e são indicadas nos - Manter o equilíbrio energético e o peso saudável; tópicos seguintes. - Limitar o consumo energético procedente das gorduras, substituir as gorduras saturadas por Recomendação 1 gorduras insaturadas e eliminar as gorduras trans: Manutenção do Balanço Energético - Aumentar o consumo de frutas, legumes e verduras e de cereais integrais e frutas secas. e do Peso Saudável - Limitar o consumo de açúcares livres; - Limitar o consumo de sal (sódio) de toda Esta recomendação fundamenta todas as procedência e consumir sal iodado. diretrizes estabelecidas neste Guia, mas, mais especificamente, relaciona-se com as Diretrizes 1, 3, 4, 6 e a Diretriz Especial 1. A OMS ainda recomenda às pessoas: O crescimento da incidência das DCNT - Manter-se suficientemente ativas durante toda a observado nas últimas décadas relaciona-se, em vida. grande parte, com os hábitos de vida configurados Para fundamentar a análise das evidências nesse período. Entre eles, destacam-se os científicas entre a relação alimentação e saúde, a comportamentos que desequilibram o balanço OMS definiu alguns critérios para orientar as energético, induzindo a ganho excessivo de peso. recomendações estabelecidas para a promoção da Estima-se que, para cada 5% de aumento de peso alimentação saudável, atividade física e saúde acima daquele apresentado aos 20 anos de idade, (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003a), que ocorra um aumento de 200% no risco de serão citados a seguir. desenvolver a síndrome metabólica na meia idade Evidência convincente: baseada em (EVERSON et al., 1998). Essa síndrome, por sua vez, estudos epidemiológicos que demonstram está associada ao desenvolvimento do diabetes, da associações convincentes entre exposição e doença, doença cardiovascular e de outras doenças crônicas com nenhuma ou pouca evidência contrária. não-transmissíveis (SCHMIDT; DUNCAN, 2003; Evidência provável: baseada em estudo LAKKA et al., 2002; LORENZO et al., 2003). que demonstram associações razoavelmente O princípio fundamental para manter um consistentes entre exposição e doença, mas onde há balanço energético é que as mudanças nos limitações (falhas) perceptíveis na valiação da depósitos orgânicos de energia (tecido adiposo ou evidência, ou mesmo alguma evidência em massa gorda) se equilibrem com a diferença entre contrário, que impeçam um julgamento mais consumo e gasto energéticos. Se a ingestão excede definitivo. o gasto, ocorre um desequilíbrio positivo, com Evidência possível: baseada deposição energética (tecido gorduroso) e
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    PARTE 3 -AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS 155 tendência ao ganho de peso; quando a ingestão é industrializados, normalmente ricos em gorduras inferior ao gasto, ocorre um desequilíbrio negativo, hidrogenadas e carboidratos simples e pobres em com diminuição dos depósitos de gordura e carboidratos complexos, e o declínio do gasto conseqüente perda de peso. Em circunstâncias energético associado à atividade física. normais, o balanço energético oscila ao longo do As recomendações para mudanças de dia e de um dia para o outro sem, contudo, levar a comportamentos ligados a essa problemática na uma mudança duradoura do balanço energético ou prevenção da obesidade, apresentando as do peso corporal, porque mecanismos fisiológicos evidências que as apóiam, são as seguintes. múltiplos determinam mudanças coordenadas entre ingestão e gasto energético, regulando o Redução de alimentos de alta densidade peso corporal em torno de um ponto de ajuste que mantém o peso estável. calórica [evidência convincente] A ingestão energética total é proveniente da metabolização dos macronutrientes (carboi- Esta orientação está explícita na Diretriz 6 dratos, gorduras, proteínas), do álcool e de fibras. A deste guia. ingestão diária é definida pelo valor energético total (VET), expresso em quilojoule (kJ) ou em Alimentos de alta densidade energética quilocalorias (kcal). Neste guia, optou-se por promovem ganho de peso. Esses alimentos, ricos em trabalhar o VET medido pela unidade kcal, uma vez gorduras, carboidratos simples ou amido, são em que essa medida é mais amplamente conhecida pela geral altamente processados e pobres em população. micronutrientes. Já os alimentos de baixa densidade A gordura produz mais energia por grama calórica são aqueles que possuem maior teor de de peso (9kcal/g) que os carboidratos (4kcal/g), as água em sua composição, como frutas, legumes e proteínas (4kcal/g) e o álcool (7kcal/g). As fibras verduras, que, em geral, são alimentos mais ricos em contribuem com 1,5kcal/g, energia produzida no micronutrientes. cólon intestinal a partir da degradação bacteriana. As teorias científicas consideram que A medida do gasto energético do indivíduo alimentos com densidade energética muito elevada é composta por três elementos: a taxa metabólica promoveriam um superconsumo passivo de basal (energia requerida para manutenção de todas energia total. Estudos que manipularam de forma as funções vitais do organismo), o gasto energético mascarada (cega) o conteúdo de gordura e a para metabolizar e armazenar o alimento, o gasto densidade energética de alimentos apóiam essa energético requerido para atividade física. Também hipótese, mas é possível que outros efeitos não- se considera que a termogênese adaptativa, que fisiológicos tenham influenciado esses resultados varia em resposta à ingestão energética crônica (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003a). (aumenta com o aumento da ingestão energética), Há também evidências de que humanos determina o gasto energético de um indivíduo. seriam capazes de reconhecer alimentos de alta Já o peso saudável é tema ainda contro- densidade energética diminuindo sua ingestão para verso, mas internacionalmente a tendência é manter sua homeostase energética, no entanto, a utilizar o índice de massa corporal (IMC), que ingestão de alimentos de excepcional densidade relaciona o peso ao quadrado da altura de um energética, típicos de fast-foods, interfere nesse indivíduo, para estabelecer a faixa de peso controle do apetite, favorecendo a ingestão saudável. A OMS recomenda para a população um energética excessiva e o desenvolvimento de IMC entre 21 e 23kg/m2. Para indivíduos, a faixa obesidade (PRENTICE; JEBB, 2003). recomendada é de 18,5 a 24,9kg/m2, evitando Não há evidência de que alimentos ricos ganhos de peso maiores do que 5kg na vida adulta em gordura mereçam maior atenção na prevenção (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003a). da obesidade do que outros alimentos com alta Para a manutenção do peso saudável e do densidade energética, como aqueles ricos em amido balanço energético, dois fatores precisam ser ou carboidratos simples (ASTRUP et al., 2000b; considerados: o aumento do consumo de alimentos WILLETT ;LEIBEL,2002).
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    156 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Aumento regular da atividade física energético que dão volume à alimentação consumida, podendo aumentar a sensação de [evidência convincente] saciedade após a refeição. Como as pessoas tendem a consumir quantidades mais ou menos fixas de Esta orientação está explícita na Diretriz alimentos, uma quantidade grande de alimentos de Especial 1 deste guia. baixo valor energético pode colaborar para evitar a ingestão energética excessiva. Há evidência convincente de que a Os estudos demonstram que dietas sem atividade física regular protege contra o ganho restrição calórica, mas ricas em fibras, promovem excessivo de peso, enquanto que os hábitos perda de peso, mas não há evidências que permitam sedentários, especialmente as ocupações e estabelecer qual é o valor mínimo de fibras recreações sedentárias, o promovem. Revisão da necessário para a prevenção de obesidade; no literatura científica demonstra que pessoas que entanto as quantidades de consumo recomendadas exercem (atualmente) atividade física regular em para frutas, grãos (cereais e leguminosas), verduras e legumes provavelmente garantem uma ingestão quantidades moderadas a intensas apresentam suficiente de fibras (POPPITT et al., 2002). menor ganho de peso e menor ocorrência de sobrepeso e obesidade (FOGELHOLM; KUKKONEN- HARJULA, 2000). Aumento da ingestão de frutas Apesar de alguns resultados de ensaios e vegetais [evidência provável] clínicos serem conflitantes, a recomendação geral para adultos de realizar atividades de moderada a Orientação expressa na Diretriz 4 deste grande intensidade por 30 minutos, de preferência guia. todos os dias, é eficaz na prevenção do diabetes e da doença cardiovascular, mesmo parecendo ser O aumento na ingestão de frutas, legumes insuficiente para muitos indivíduos prevenirem e verduras reduz a densidade energética da ganho de peso. Entre pessoas obesas, para prevenir alimentação e aumenta a quantidade de alimento o ganho de peso perdido previamente, parecem ser que pode ser consumida para um determinado nível requeridas atividades de intensidade moderada por de calorias. A redução da densidade energética 60 a 90 minutos diários ou atividades intensas, por aumenta a saciedade, um efeito que se manifesta um menor tempo (SARIS et al., 2003). após o término da refeição. Esses efeitos podem ajudar no balanço energético e no controle do peso Mesmo na ausência de evidências (ROLLS et al., 2004b). conclusivas, estabeleceu-se que a transição de sobrepeso à obesidade pode ser prevenida com Outro aspecto potencialmente benéfico no atividades de moderada intensidade por 45 a 60 aumento da ingestão de frutas, legumes e verduras é que o seu consumo ad libitum (à vontade) pode minutos por dia. amenizar a sensação de fome, típica de dietas de A importância de manter o balanço emagrecimento e de manutenção de peso já energético e o peso adequado deve ser orientada perdido. desde fases precoces do curso da vida, requerendo Uma outra teoria para o efeito do consumo decisões políticas sobre o ambiente social e físico desses grupos de alimentos na manutenção do peso que promovam essas mudanças, na infra-estrutura também decorre do fato de afetar a saciedade e a urbana, na escola ou no trabalho. ingestão alimentar: alimentos com baixo índice glicêmico aumentariam a saciedade (a resposta Aumento da ingestão de fibras glicêmica dos alimentos é medida pelo aumento na [evidência convincente] taxa de glicose, após 2 horas da ingestão de 50g de carboidratos); porém, mesmo entre esses grupos de Esta orientação está explícita nas Diretrizes alimentos e entre as leguminosas existem variações 2, 3 e 4 deste guia. no índice glicêmico (por exemplo, batata, mandioca e banana têm alto índice, enquanto que maçã, As fibras atuam na regulação do peso cenoura e feijão têm baixo índice). Em função disso, corporal, porque apresentam menor palatabilidade os efeitos de consumo desses tipos de alimentos, no e interferem na digestão de outros carboidratos e que diz respeito à manutenção do peso adequado, também porque afetam a homeostase da glicose ainda requerem mais estudos, mas há consenso hepática (PEREIRA; LUDWIG, 2001). sobre os benefícios dessa recomendação para a As fibras são alimentos de baixo valor saúde, conforme se verá mais adiante.
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    PARTE 3 -AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS 157 Restrição de alimentos com alto Redução no consumo de bebidas índice glicêmico [evidência possível] açucaradas [evidência provável] O índice glicêmico é uma forma de classificar alimentos de acordo com a resposta Orientação inserida na Diretriz 6 deste glicêmica que produzem. Alimentos de alto índice guia. glicêmico são rapidamente digeridos e absorvidos, com maior efeito na glicemia. Esse índice depende de inúmeros fatores, como o tipo de carboidrato O consumo freqüente de refrigerantes tem presente, a presença ou não de lipídios, proteínas e sido associado ao ganho de peso. Uma explicação fibras e o modo de preparo. Certos tipos de amido, para isso é que os efeitos fisiológicos da ingestão de como os presentes na batata, no pão branco e em energia sobre a saciedade são diferentes para cereais matinais, tipo flocos de milho, geram líquidos e para alimentos sólidos. Dessa forma, o alterações glicêmicas maiores e mais rápidas do que carboidrato, quando ingerido em líquidos, até mesmo o açúcar. Alimentos com alto índice promoveria um balanço energético positivo maior glicêmico têm sido apontados como possível cofator (LUDWIG et al., 2001; DIMEGLIO; MATTES, 2000). da obesidade. Estudos preliminares sugerem que Estudos feitos em escolares mostraram que esses alimentos provocam mais fome após as um programa educativo para redução do consumo refeições (ROLLS et al., 2004a). de refrigerantes, mesmo alcançando apenas uma A hipótese é que níveis diferentes de modesta redução de consumo em 12 meses, glicemia provocariam diferentes respostas hormo- mostrou uma diferença média de 8% na freqüência nais na regulação do apetite. de sobrepeso entre os grupos experimental e controle (JAMES et al., 2004). Outros Hábitos Alimentares Ambientes domiciliares e escolares [evidência possível] que promovam atividade física e Há evidências de que o aumento do tamanho das porções alimentares está relacionado limentação saudável [evidência provável] ao ganho de peso. A teoria que explica esta evidência é que o organismo seria incapaz de Esta orientação insere-se na abordagem estimar corretamente o tamanho da porção conceitual que fundamentou a elaboração do guia. ingerida, o que dificultaria a compensação energética. Estudos que manipularam o tamanho Estudos preliminares experimentais e da porção alimentar apóiam essa hipótese: o observacionais sugerem que adolescentes obesos aumento do prato principal (macarrão) de uma tendem a ingerir maiores quantidades de fast-food refeição servida em restaurante, sem aumento do e a não compensar esse excesso energético do que preço, aumentou a quantidade ingerida; o mesmo adolescentes não obesos (EBBELING et al., 2004). aconteceu com o aumento da merenda e de um Outro estudo mostrou que escolares com sanduíche (DILIBERTI et al., 2004; ROLLS et al., hábitos de vida mais sedentários, por exemplo, os 2004a; ROLLS et al., 2004b). que assistem mais televisão, também ingerem maior Outra evidência é que o hábito de fazer quantidade de refrigerantes e são mais obesos refeições fora de casa também contribui para o (GIAMMATTEI et al., 2003). aumento da ingestão energética. Tradicionalmente O potencial educativo de papéis-modelo essas refeições são maiores, com maior densidade em casa e na escola, no desenvolvimento dos calórica e maior conteúdo de gordura total, hábitos de vida de crianças e adolescentes, é gordura saturada, colesterol e sódio. Nos Estados inquestionável, mas ainda são poucas as evidências Unidos, por exemplo, indivíduos que costumam que apóiam esse ponto de vista (WORLD HEALTH comer em restaurantes têm maior IMC do que ORGANIZATION, 2003a). aqueles que comem em casa (WORLD HEALTH São necessários estudos mais bem ORGANIZATION, 2003a). desenhados sobre essa relação, muitos dos quais já Outros fatores também têm sido estão em desenvolvimento. Por outro lado, associados ao ganho de peso, mas as evidências para estratégias que investem na redução de comporta- eles são poucas ou com resultados conflitantes. Por mentos sedentários mostram resultados positivos exemplo, o álcool não tem relação com o ganho de no controle de obesidade entre crianças (CAMP- BELL, 2002). peso na maior parte dos estudos, apesar de sua alta
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    158 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA densidade calórica (7kcal/g); mesmo quando todas as variáveis que possam interferir no peso dos presente, essa associação pode apresentar muitos indivíduos. fatores que podem interferir nos resultados. Do ponto de vista de macronutrientes Omitir refeições tem sido apontado como (carboidratos, proteínas e lipídios), não há fator de risco para obesidade, uma vez que certos evidências que confirmem que a energia estudos mostram que a maior freqüência das proveniente das gorduras cause mais obesidade que refeições relaciona-se à tendência de menor ganho as provenientes dos carboidratos ou proteínas; de peso; entretanto, aumentar a freqüência das entretanto, os resultados dos estudos refeições, por si só, não é suficiente para redução do metodologicamente mais adequados, que mostram ganho de peso, já que os lanches introduzidos que uma maior ingestão de alimentos de alta podem ter alta densidade calórica (bolachas e densidade energética promove ganho de peso salgadinhos) (WORLD HEALTH ORGANIZATION, inadequado, são considerados convincentes. 2003a). Estudos bem conduzidos sugerem que uma dieta pobre em gordura, rica em proteína e em Recomendação 2 carboidratos com alto conteúdo de fibras (de diferentes frutas, legumes e verduras e grãos) Limitar consumo total de gorduras, promove mais saciedade, com menor taxa calórica, substituir o consumo de gorduras saturadas que alimentos gordurosos, produzindo, ainda, por insaturadas e eliminar o consumo benefícios para os níveis de gorduras no sangue e de gorduras hidrogenadas (trans) depressão arterial. Mostram ainda que uma [evidência convincente] redução na gordura da dieta, sem restrição do total de energia, previne ganho de peso em indivíduos eutróficos e gera perda de peso naqueles com Esta orientação está contemplada na sobrepeso e obesos (ASTRUP et al., 2000a). Diretriz 6 deste guia. Uma revisão de 27 estudos (30.902 indivíduos) mostrou que ensaios com pelo menos A sugestão das proporções adequadas dos dois anos de duração evidenciaram que a redução macro e micronutrientes na alimentação de uma ou alteração na proporção de energia da dieta pessoa saudável tem-se baseado nas proveniente das gorduras protege contra eventos recomendações redigidas pelo Conselho Nacional cardiovasculares (HOOPER et al., 2001). de Pesquisa dos Estados Unidos (NATIONAL A quantidade e a natureza da gordura da RESEARCH COUNCIL, 1989b). dieta interferem nos níveis de colesterol plasmático Baseadas no conhecimento científico, as e altas taxas de colesterol no sangue estão RDA estabelecem as necessidades nutricionais para fortemente relacionadas à doença vascular a manutenção da saúde da população e sugerem aterosclerótica, principalmente à doença que o conteúdo de gordura na alimentação das coronariana. Várias evidências (como estudos pessoas saudáveis não exceda 30% da ingestão clínicos, nutricionais e com drogas) mostraram que calórica, que menos de 10% da energia seja o colesterol presente nas lipoproteínas de baixa proveniente de ácidos graxos saturados e que a densidade (LDL) é o principal componente nocivo, quantidade de colesterol na alimentação seja enquanto que altos níveis da lipoproteína de alta menor que 300mg/dia. densidade (HDL) estão associados a menores riscos Resultados de estudos epidemiológicos são de desenvolvimento de doença coronariana. ainda inconsistentes quanto à relação causal entre o As gorduras trans, formadas pela percentual de gorduras na dieta, sobrepeso hidrogenação parcial das gorduras vegetais, /obesidade e morbimortalidade cardiovascular. encontradas na margarina, biscoitos, bolos e pão Para estabelecer esse tipo de relação de forma mais branco, aumentam a relação LDL/HDL plasmática, consistente, mais estudos são necessários, mas são sendo fator de risco para doença coronariana difíceis de ser realizados - necessitam uma (OOMEN et al., 2001). amostragem muito grande, um longo período de Estudos clínicos prospectivos sugerem que acompanhamento (anos) e controle rigoroso de dietas com alta densidade de gordura saturada,
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    PARTE 3 -AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS 159 gordura trans e colesterol estão associadas a um 2, doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer, risco aumentado de desenvolver doença como discutido a seguir. coronariana (OOMEN et al., 2001; WILLETT et al., 1993; ASCHERIO et al., 1996). Efeitos na prevenção da obesidade Outra evidência trazida por esses estudos é A obesidade, na infância e na idade adulta, que, nas populações estudadas, quanto mais ricas associa-se a uma incidência maior de doença em gorduras, menor o conteúdo de fibras ingerido coronariana, diabetes tipo 2 e câncer (WORLD diariamente nas dietas. Os autores sugerem que HEALTH ORGANIZATION, 2003b). esse fato possa estar associado a uma maior Hábitos alimentares saudáveis, como a ingestão aumentada de frutas, legumes e verduras, predisposição às doenças coronarianas. Esse mesmo têm sido apontados como fatores protetores no trabalho mostra que os benefícios da redução da desenvolvimento da obesidade. Esse efeito se deve ingestão de ácidos graxos saturados e colesterol são a menor densidade energética desses alimentos e à maiores se acompanhados de aumento na ingestão capacidade que esses alimentos têm de gerar de alimentos ricos em fibras e que dietas ricas em sensação de saciedade, conforme se abordou no ácido linolênico (3-N - ácido graxo das plantas) - um item Aumento da ingestão de fibras [evidência tipo de gordura poliinsaturada - estão associadas a convincente]. um risco reduzido de doença coronariana, O aumento do consumo de nozes ou independentemente dos outros fatores de risco. assemelhados deve ser feito com cautela, pelo seu alto conteúdo de gordura e tendência ao consumo com adição de sal. Estudos recentes sugerem que Recomendação 3 seu uso continuado de forma moderada não parece Aumentar o consumo de frutas, aumentar o peso corporal [evidência possível]. legumes e verduras e de Efeitos na prevenção do diabetes tipo 2 cereais integrais [evidência convincente] A prevenção do diabetes tipo 2 e suas complicações por meio do consumo de frutas, Esta recomendação está incluída nas legumes e verduras ocorre por meio de seus efeitos Diretrizes 2, 3 e 4 do guia. no controle da obesidade, mas também pela ação dos fitonutrientes contidos nesses alimentos. A OMS recomenda consumo mínimo diário Vários estudos de coorte demonstraram de 400g de frutas, legumes e verduras, aumentando proteção contra o diabetes, conferida pelo do consumo de alimentos ricos em fibras, e de nozes consumo de alimentos de base vegetal não- processados, como cereais integrais, e pela maior e sementes. Não há, em princípio, limite máximo de ingestão de fibras. Recomendações semelhantes consumo para esses grupos de alimentos. Não há foram parte dos ensaios clínicos sobre dieta e recomendações específicas para o consumo desses redução da incidência de diabetes tipo 2 [evidência alimentos na infância (WORLD HEALTH provável]. ORGANIZATION,2003a). A ingestão de nozes associou-se a menor A base principal para recomendar o risco de diabetes, independentemente de seu aumento do consumo de frutas, legumes e conteúdo de ácidos graxos insaturados (JIANG et al., verduras, cereais integrais e de nozes ou 2002) [evidência possível]. assemelhados está no fato desses alimentos poderem substituir outros de alto valor energético e Efeitos na prevenção das doenças baixo valor nutritivo, como cereais e grãos processados e açúcar refinado, básicos na cardiovasculares [evidência convincente] preparação de alimentos industrializados e fast- A OMS recomenda um consumo mínimo foods. Além de sua diário de 400g de frutas, legumes e verduras frescos. possível contribuição no balanço energético, eles Em geral, nessas quantidades é possível alcançar um podem introduzir nutrientes com efeitos grau de proteção cardiovascular. significativos na saúde geral dos indivíduos e, mais Estudos demonstram que algumas dietas especificamente, na prevenção de doenças crônicas tradicionais em algumas regiões do mundo têm não-transmissíveis, como obesidade, diabetes tipo efeito protetor para doenças cardíacas. Elas são
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    160 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA baseadas em alimentos vegetais pouco processados Recomendação 4 - pão integral, frutas, legumes e verduras, nozes ou Limitar o consumo de açúcares livres assemelhados e óleos ricos em ácidos graxos poli e [evidência convincente] monoinsaturados - e conferem proteção contra eventos isquêmicos cardíacos em indivíduos de alto Recomendação contemplada na Diretriz 6 risco (SINGH et al., 2002; LORGERIL et al., 1994). do guia. Efeitos na prevenção do câncer A recomendação de limitar o consumo de [evidência provável/possível] açúcares livres tem como princípio o reconhe- O sobrepeso e a obesidade têm sido cimento de que existem interações complexas entre associados a certos tipos de câncer, especialmente escolhas pessoais, normas sociais e fatores cólon, mama, endométrio e esôfago. Depois da ambientais e econômicos que determinam o padrão eliminação do tabaco, modificação na dieta é a alimentar. Sem desconsiderar a importância funda- segunda maneira mais eficiente de prevenir o mental de capacitar os indivíduos para fazer câncer. Segundo o World Cancer Research Fund e escolhas saudáveis quanto a sua alimentação e The American Institute of Cancer Research, dietas padrões de atividade física, dando ênfase na educação de crianças e jovens, a Estratégia Global contendo uma quantidade substancial e variada de prevê ações de caráter regulatório, fiscal e frutas, legumes e verduras podem prevenir até 20% legislativo sobre o ambiente que visam tornar dos casos de câncer. factíveis essas escolhas saudáveis. O mecanismo preciso pelo qual dietas ou O consumo de açúcares livres dentro do substâncias em particular são capazes de prevenir o limite recomendado pode contribuir para o câncer ainda não foi completamente elucidado e controle de peso e prevenção das doenças crônicas muitas das recomendações dietéticas são emba- não-transmissíveis, pelos seguintes mecanismos: sadas em estudos observacionais. - Os açúcares livres contribuem para o aumento da Estudos prospectivos encontraram uma densidade energética da dieta e o controle de seu relação inversa entre consumo de fibras e câncer de consumo é importante para o balanço energético cólon, não encontrando diferenças quanto ao tipo total. de fibra ingerido, mas o mecanismo pelo qual isso - As bebidas que são ricas em açúcares livres, ocorre ainda é desconhecido (BINGHAM et al., principalmente os xaropes de milho ricos em 2003). frutose, promovem o aumento de ingestão Frutas, legumes e verduras também têm energética. Fornecem uma grande quantidade de sido apontados como fatores protetores em vários calorias, mas não levam à redução do consumo de outros tipos de câncer, como bexiga, pulmão, boca, energia proveniente de alimentos sólidos, em laringe, faringe, esôfago e estômago e mama. Em quantidade semelhante ao que aportam. Desta geral, esses estudos apontam menor risco de câncer, forma, promovem um balanço positivo de energia mas os dados são conflitantes quanto ao tipo de na dieta e também parecem reduzir o controle do câncer e ao tipo de planta (fruta ou vegetal) que apetite. apresenta esse efeito. - A limitação do consumo de açúcares livres para no Menor risco de câncer de mama está máximo 10% do VET contribui para a melhor saúde associado com o consumo maior de verduras e bucal e prevenção da cárie dentária. legumes (RIBOLI; NORAT, 2003). O grupo de especialistas nacionais consi- Sendo o câncer uma doença de desen- dera que recomendar a redução do consumo dos carboidratos totais (todos os açúcares) talvez não volvimento prolongado e estando intimamente seja apropriado para o Brasil; no entanto, reco- relacionado a uma alimentação inadequada, mendar a limitação do consumo de açúcares livres é estabelecer hábitos alimentares saudáveis na uma medida de saúde pública importante e infância é de suma importância para o adequada para o nosso país. desenvolvimento de uma vida adulta livre de Para limitar o consumo de açúcares livres, doença. em nosso contexto, parece mais adequado
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    PARTE 3 -AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS 161 concentrar as estratégias de redução do açúcar anos), tanto em indivíduos com pressão arterial adicionado aos produtos industrializados. normal quanto entre os hipertensos, bem como à Os estudos têm evidenciado que o redução no número de indivíduos com necessidade consumo de refrigerantes tem sido um fator de tratamento anti-hipertensivo, no número de associado ao ganho de peso, bem como um dos mortes por acidente vascular encefálico (AVE) e por poucos estudos de prevenção populacional com doenças coronarianas (LAW et al., 1991; CUTLER et resultados positivos quanto à redução de ganho de al., 1997). peso foi realizado em escolares e baseou-se, Ensaios clínicos também originaram exclusivamente, na redução de refrigerantes informações a respeito do efeito redutor do (LUDWIG et al., 2001; JAMES et al., 2004). controle no consumo de sódio em crianças e idosos Outra evidência refere-se à tendência de (GELEIJNSE et al., 1997; HOFMAN et al., 1983). substituição de bebidas mais nutritivas e A maior parte dos indivíduos, mesmo importantes na constituição de uma alimentação crianças, consome níveis além de suas necessidades saudável por refrigerantes. Uma análise do desse mineral. O consumo populacional excessivo, consumo de adolescentes americanos mostrou maior que 6 gramas diárias (2,4 gramas de sódio), é claramente uma primeira substituição de leite por uma causa importante da hipertensão arterial (HA). refrigerantes e, posteriormente, a parcial A hipertensão arterial explica 40% das mortes por substituição dos refrigerantes por sucos, com acidente vascular encefálico (AVE) e 25% daquelas grande adição de xarope de frutose (CAVADINI et por doença arterial coronariana. al., 2002). A recomendação de redução de sal deve Por outro lado, um estudo mostrou que a objetivar redução de sódio de todas as fontes - sal densidade energética de líquidos é menos como tempero e o sal adicionado no processamento reconhecida como fonte de energia, pelo menos de alimentos industrializados. As evidências atuais entre adultos (VAN WYMELBEKE et al., 2004). sugerem que o consumo não maior que 5g de cloreto de sódio por dia contribui para a redução da pressão arterial. Em metanálise realizada, concluiu- Recomendação 5 se que a recomendação em torno de 5 a 6g/dia de Limitar o consumo de sódio e cloreto de sódio baseia-se mais no que é possível do garantir a iodação [evidência convincente] que o nível cujo efeito positivo máximo pudesse ser alcançado. A análise do efeito dose-resposta de Recomendação incluída na Diretriz 6 do ensaios clínicos de longa duração indicou que a guia. redução de 3g/dia leva a uma queda na pressão de 3,6 a 5,6/1,9 a 3,2mmHg (sistólica/diastólica) em indivíduos hipertensos e 1,8 a 3,5/0,8 a 1,8mmHg em O consumo de sódio, de todas as fontes, indivíduos normais. Segundo os autores desse deve ser limitado de maneira a reduzir o risco de estudo, isto significaria, em uma estimativa doenças coronarianas e acidente vascular encefálico conservadora, que a redução de 3g do consumo (AVE). As evidências atuais sugerem que o consumo diário de cloreto de sódio levaria a uma redução de não maior que 70mmol ou 1,7g de sódio (5g de 13% nos casos de AVE e 10% nas doenças cloreto de sódio) por dia é benéfico para a redução isquêmicas do coração. O efeito dobraria com a da pressão arterial. Todo o sal para o consumo redução de 6g e triplicaria com a redução de 9g/dia. humano deverá ser iodado. A recomendação de 6g/dia teria efeito positivo na O sódio e o potássio são minerais essenciais redução da HA, mas não pode ser considerada ideal para a regulação dos fluidos intra e extracelulares, a longo prazo (FENG et al., 2003). atuando na manutenção da pressão sangüínea. O Neste guia, trabalha-se com a meta de 5g sal de cozinha cloreto de sódio é a principal fonte de sal por dia, o que implica uma redução no de sódio, sendo composto por 40% de sódio. A consumo atual pelo menos à metade, uma vez que o necessidade humana diária de sódio é cerca de 300- consumo atual estimado, por meio das despesas 500 miligramas (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, familiares com aquisição de alimentos para 1989b). consumo no domicílio, é de 9,6 gramas de sal per O consumo de sódio está relacionado capita/dia (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E diretamente com a pressão arterial. Dados ESTATÍSTICA, 2004a). Esse valor provavelmente está populacionais sugerem que a redução de sódio está subestimado, uma vez que não foi mensurado o associada com diferenças na pressão sistólica de consumo de sal oriundo o consumo extradomiciliar pessoas jovens (15 a 19 anos) e de idosos (60 a 69
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    162 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA de alimentos. cardiovasculares. Dado que a maioria do sal está contida nos alimentos industrializados, a conquista de uma Efeitos na prevenção das doenças redução substancial no consumo do sal exigirá mudanças nas práticas de industrialização de cardiovasculares [evidência convincente] alimentos. O risco relativo para doenças cardio- vasculares devido ao sedentarismo é estimado em O sal destinado ao consumo humano deve 1,9; para hipertensão arterial é igual a 2,1 . ser iodado com a finalidade de prevenir os distúrbios por deficiência de iodo. No Brasil, pode- Os estudos têm demonstrado relação se afirmar com certa segurança que a deficiência de inversa entre pressão arterial e prática de exercícios iodo foi controlada, tendo sido recentemente aeróbicos, com diminuição da pressão arterial recomendada a redução na faixa de iodo no sal de sistólica e diastólica, tanto em indivíduos 40 a 100mg/kg para 20 a 60mg/kg (BRASIL, 2003a). normotensos como em hipertensos, mesmo após ajuste por peso e gordura corporal. O aumento na As necessidades médias de iodo estão entre tolerância ao exercício, após três semanas de 90mcg (crianças de 2 a 6 anos) a 150mcg (crianças a programa de treinamento, com manutenção desse partir de 12 anos, adolescentes e adultos) de iodo. benefício por pelo menos dois anos, foi verificado Entre gestantes, estão as mais altas necessidades entre pessoas com insuficiência cardíaca (200mcg/dia) (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, (JITRAMONTREE, 2001; WHELTON et al., 2002; 1989b). A redução do consumo de sal para 5g de GIELEN et al., 2001). sal/dia, ainda assim, permitirá o aporte adequado de iodo para a população (100 a 300mcg de iodo), não esquecendo que, embora o sal seja a principal Efeitos na prevenção do diabetes tipo 2 fonte deste mineral, o iodo também pode ser [evidência convincente] aportado pelo consumo de outros alimentos. Estudos longitudinais mostram que o aumento da atividade física reduz risco de desenvol- Recomendação 6 vimento de diabetes tipo 2, independentemente do Manter-se suficientemente ativo grau de adiposidade, e diminui em 50% o risco de indivíduos com intolerância à glicose evoluírem durante toda a vida para diabetes, quando associada a perda de peso e dieta saudável (HELMRICH, 1991; MANSON et al., Recomendação contemplada na Diretriz 1992; KNOWLER et al., 2002). Especial 1 do guia. Efeitos na prevenção da obesidade A Estratégia Global recomenda que os indivíduos adotem níveis adequados de atividade [evidência provável] física durante toda a vida. Diferentes tipos e O aumento do nível de atividade física por quantidades de atividade física são necessários para si só é insuficiente para perda ou manutenção do se obter diferentes resultados na saúde: a prática peso de pessoas obesas. Quando associado à dieta, regular de 30 minutos de atividade física de já foi demonstrado que a atividade física e o moderada intensidade, na maior parte dos dias, exercício contribuem para a perda de peso mais reduz o risco de doenças cardiovasculares e diabe- rápida, sem redução concomitante de massa magra tes, câncer de cólon e de mama. O treinamento de e com menor índice de recidiva do aumento de peso resistência muscular e equilíbrio podem reduzir (ANDERSEN, 1999). quedas e aumentar a capacidade funcional nos idosos. Maiores níveis de atividade física podem ser Efeitos na melhoria do perfil lipídico necessários para o controle de peso [evidência convincente] (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2004). Há mais de dez anos, análise de estudos O exercício aeróbico de moderada epidemiológicos prospectivos já demonstrou que intensidade pode elevar o HDL-colesterol, reduzir o tanto um estilo mais ativo de vida como um colesterol total e os triglicérides (STEIN; RIBEIRO, condicionamento aeróbico moderado estão 2004). associados, de forma independente, à diminuição Após a menopausa, mulheres têm um do risco de incidência de DCNT, da mortalidade perfil lipídico menos favorável, com aumento do geral e da mortalidade por doenças colesterol total, LDL-C e triglicerídeos e redução do
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    PARTE 3 -AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS 163 HDL-C. Uma revisão de estudos transversais e aumento da densidade óssea em todo o esqueleto, longitudinais sugere que exercícios aeróbicos estejam os ossos envolvidos com sustentação do regulares no período pós-menopausa aumentam os peso ou não (STEIN; RIBEIRO, 2004). níveis de HDL-C, diminuem os níveis de LDL-C, do Além disso, estudo controlado envolvendo colesterol total e da gordura corporal. Ainda idosas com osteoporose revelou aumento de perda existem controvérsias sobre os benefícios do óssea, em seis meses, no grupo-controle, enquanto exercício sobre os níveis de HDLC, que não se que as idosas envolvidas em programas de alteraram em dois estudos longitudinais que exercícios com peso apresentaram manutenção da comparam mulheres na pós-menopausa, densidade mineral (HARTARD et al., 1996). sedentárias ou ativas, controlando pelo índice de A redução da massa muscular (sarcopenia) massa corpórea, entretanto mesmo esses estudos está associada à maior instabilidade postural, risco mostraram redução da gordura corporal total e de quedas e imobilidade. O exercício de resistência redução da gordura abdominal (DOWLING, 2001). pode resultar em ganhos de força de 25% a 100% em idosos por hipertrofia muscular e presumi- Efeitos na prevenção da síndrome metabólica velmente por aumento da atividade neural motora, resultando diminuição do risco de quedas [evidência possível] (FRAMINGHAM STUDY, 1994). Essa síndrome, caracterizada basicamente por obesidade central, dislipidemia (HDL-C baixo e TG elevado), hiperglicemia e diminuição da Efeitos na prevenção do câncer de cólon fibrinólise, associadas à resistência à insulina e à [evidência provável] inflamação crônica e branda, pode potencialmente A análise da relação entre atividade física e ser prevenida pela prática regular de atividade física câncer de cólon a partir de dados de estudos de moderada intensidade. longitudinais e estudos caso-controle multi- Estudos que testam diretamente esses cêntricos mostrou que a atividade física, além de ser efeitos na síndrome metabólica não estão um componente importante do estilo de vida mais disponíveis, mas dois ensaios clínicos randomizados saudável, tem também um efeito protetor sobre mudanças de estilo de vida em pessoa com independente para o câncer de cólon. Um estudo de tolerância diminuída à glicose na progressão para o seguimento de profissionais de saúde revelou que diabetes fundamentam essa evidência (BLAIR, os homens com atividade física de moderada a 1993). intensa são também os que ingerem menos gorduras saturadas, comem mais frutas, tomam mais polivitamínicos e fumam menos; entretanto, Efeitos na prevenção de doenças do aparelho mesmo após o controle de todos esses fatores na musculoesquelético [evidência convincente] análise, foi mantida a relação inversa entre a O envelhecimento está associado a atividade física e o risco de câncer de cólon mudanças na composição corporal, com redução no (HARDMAN, 2001). conteúdo de água (desidratação crônica), ósseo (osteopenia) e muscular (sarcopenia) e aumento da gordura corporal. A inatividade física está Efeitos na prevenção do câncer de mama relacionada a todos esses fatores. [evidência provável] A osteoporose é caracterizada pela perda A maioria dos estudos de revisão observa de massa e desorganização da estrutura óssea, um menor risco de câncer de mama em mulheres sendo a principal causa de fraturas em idosos, ativas. Há evidências convincentes do decréscimo de principalmente mulheres. O exercício de resistência risco de câncer de mama com a prática de, pelo muscular com carga está associado à menor perda menos, quatro horas semanais de atividade física de óssea ao longo da vida e ao aumento da densidade intensidade moderada; entretanto, as evidências óssea no período pós-menopausa. Caminhar com ainda são insuficientes no que se refere à relação passos rápidos parece ser o exercício de escolha na dose-resposta entre atividade física e risco de câncer prevenção da osteoporose, pois contribui para o de mama (BLAIR, 1993).
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    164 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA O Enfoque do Curso da Vida como Estratégia crianças amamentadas tendem a apresentar menor para a Abordagem Integrada das Doenças prevalência de obesidade na infância e possivel- Relacionadas à Alimentação e Nutrição mente na adolescência, embora não esteja claro se esse efeito se prolonga até a idade adulta (WORLD Como afirmado na primeira parte deste HEALTH ORGANIZATION, 2001a; WORLD HEALTH guia, as diretrizes aqui incorporadas visam à ORGANIZATION, 2000a; JONES et al., 2003; promoção da alimentação saudável em todo o curso VONKRIES, s.d.; VICTORA et al., 2003; LI et al., 2003; da vida e não apenas a prevenção de doenças que BERGMANN et al., 2003; PARSONS et al., 2003; afetam mais visivelmente a população adulta e ERIKSSON et al., 2003). idosa, uma vez que há evidências recentes que correlacionam a desnutrição na primeira infância e Os estudos nesse aspecto ainda são a desnutrição materna à susceptibilidade para incipientes, mas não devem ser considerados desenvolver doenças crônicas não-transmissíveis na indicadores de ausência de efeitos. Dessa forma, vida adulta, como obesidade, diabetes, cardiopatias entende-se que a alimentação saudável começa e hipertensão. Esse enfoque, desenvolvido nas com o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses últimas duas décadas a partir de estudos de coortes de idade e complementado até os 2 anos de idade em diversos países, inclusive no Brasil, sugere que da criança. A abordagem da alimentação saudável exposições nutricionais, ambientais e padrões de para crianças brasileiras menores de 2 anos é crescimento durante a vida intra-uterina e nos enfocada em publicações próprias, considerando a primeiros anos de vida podem ter efeitos especificidade desse grupo populacional no que diz importantes sobre as condições de saúde do adulto respeito ao cuidado alimentar e nutricional a ser (BARKER et al., 2002; MONTEIRO, et al., 2003b; adotado (BRASIL, 2002d, 2002e; ORGANIZAÇÃO LUCAS et al., 1999). PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 1997). Merece ser destacado que, considerando a rápida transição O retardo de crescimento intra-uterino e o nutricional que afeta grande parte da população ganho de peso excessivo nos primeiros anos de vida brasileira e latino-americana, não é razoável têm sido associados com obesidade, hipertensão, recomendar indiscriminadamente que as dietas síndrome metabólica, resistência insulínica e infantis sejam acrescidas de quantidades adicionais morbimortalidade cardiovascular, entre outros de óleos ou açúcar, como era e é ainda prática (ONG et al., 2000; STETTLER et al., 2002; STETTLER et comum em nosso meio. Essa estratégia alimentar al., 2003; HORTA et al., 2003; VANHALA et al., 1999; para aumentar a densidade energética da SINGHAL et al., 2003; FORSEN et al., 1999; ERIKSSON alimentação de crianças em risco nutricional ou et al., 1999). desnutridas deve ser criteriosamente prescrita, Alguns estudos têm levantado a hipótese adotando-a no âmbito dos princípios que regem a de que a desnutrição na infância e fase fetal pode alimentação saudável. levar a alterações na composição corporal, com posterior desenvolvimento de obesidade na vida adulta. Os efeitos da desnutrição também são visíveis ao longo das gerações, pois uma mãe desnutrida gera filhos com baixo peso, que, por sua vez, se sobreviverem, carregarão as deficiências nutricionais e suas conseqüências para seus filhos. Assim, a nutrição adequada de gestantes e lactentes precisa ser parte integral das estratégias nutricionais para adultos. O aleitamento materno exclusivo até o 6.º mês de vida e complementar até os 2 anos de vida confere não somente proteção contra a morbimortalidade por doenças infecciosas nos primeiros anos de vida, mas também tem efeitos muito importantes sobre a saúde, a longo prazo:
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    Referências Bibliográficas
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    ANEXO A 183 comestíveis ou para assegurar a sua inocuidade à do Ministério da Agricultura, Pecuária e saúde humana. Cozinhar arroz ou ferver o leite, por Abastecimento (www.agricultura.gov.br). exemplo, são processamentos feitos em nível domiciliar; já refinar o arroz ou submeter o leite à Fertilizantes e agrotóxicos pasteurização são processamentos realizados em Os fertilizantes ou adubos, orgânicos e nível industrial. Estamos muito distantes do tempo químicos, são freqüentemente utilizados com a em que as pessoas plantavam os seus próprios finalidade de manter e/ou melhorar a fertilidade do alimentos ou compravam diretamente do produtor solo e de nutrir as plantas cultivadas, visando a e os guardavam em casa. Agora, 80% dos brasileiros melhorar a produção agrícola. Já os agrotóxicos de moram nas cidades e a maioria das pessoas que uso agrícola, também chamados de pesticidas, são mora em pequenas cidades também compra grande em geral produtos químicos tóxicos ao homem e aos parte dos seus alimentos no comércio local. A animais utilizados na produção, armazenamento e maioria dos alimentos e das bebidas consumidos no beneficiamento de produtos alimentícios, aplicados Brasil tem, pelo menos, um grau mínimo de diretamente no solo, nas sementes ou em processamento. pulverizações, com a finalidade principal de A maneira como os alimentos são controlar as pragas e doenças das plantações. São produzidos, conservados, processados e preparados agrupados em várias classes de uso: acaricidas, em nível doméstico ou industrial pode alterar de inseticidas, fungicidas, herbicidas, dentre outras. Os maneira significativa seu valor nutricional e ter resíduos desses produtos, em níveis acima dos impacto positivo ou negativo na saúde. Por limites máximos permitidos pela legislação exemplo, os alimentos perecíveis guardados brasileira, podem aumentar o risco de ocorrência de inadequadamente à temperatura ambiente alguns tipos de câncer, bem como de outras doenças perdem nutrientes, deterioram e se tornam e agravos à saúde. Para prevenir riscos à saúde inadequados para consumo humano. humana, é necessário que os produtores rurais A produção refere-se a métodos utilizados adotem boas práticas agrícolas em relação ao uso de pela agricultura e na criação de animais para agrotóxicos, especialmente em culturas alimen- comercialização. O processamento refere-se a tares, cabendo ao governo incrementar a métodos utilizados pelos fabricantes para fiscalização para evitar a prática abusiva e indevida transformar a matéria-prima ou os produtos do comércio e uso desses produtos tóxicos. primários em alimentos e bebidas para venda no comércio. A preservação ou conservação refere-se Medicamentos veterinários, antimicrobianos às formas de modificação dos alimentos e das bebidas a fim de que eles se mantenham adequados e hormônios, promotores de crescimento para consumo humano por mais tempo, tanto pelos O uso de medicamentos veterinários em fabricantes quanto no ambiente familiar. Um dos animais de produção, especialmente os atributos da alimentação saudável é que ela seja antimicrobianos, antiparasitários, hormônios e segura do ponto de vista sanitário e genético. A anabolizantes, vêm preocupando a população preparação refere-se à elaboração de refeições em brasileira e mundial por duas razões principais: nível industrial, comercial e doméstico. - Resíduos de medicamentos veterinários presentes em alimentos de origem animal podem ser Produção prejudiciais à saúde do consumidor. Na produção de alimentos, a regula- - O uso de antimicrobianos em medicina veterinária mentação existe para assegurar que os insumos pode contribuir para o aumento da incidência ou utilizados pelos produtores de alimentos sejam prevalência de resistência microbiana (resistência seguros para o consumo humano e para reduzir as bacteriana), reduzindo a eficácia de medicamentos probabilidades de danos aos seres humanos, vindos utilizados na medicina humana. dos resíduos deixados nos alimentos (WORLD Da mesma forma que os agrotóxicos, esses CANCER RESEARCH FUND CRF, 1997). No Brasil, essa produtos são tóxicos quando utilizados regulamentação e fiscalização é responsabilidade inadequadamente e seu uso deve ocorrer somente
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    184 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA quando autorizado pela legislação brasileira, O sistema de produção orgânica seguindo-se rigorosamente as boas práticas e compreende alguns conceitos de produtos, como: prescrições veterinárias, obedecendo às dosagens, ecológico, biodinâmico, biológico, natural, forma de aplicação, restrições de uso e períodos de regenerativo, agroecológico e outros. A retirada, de modo a se prevenir riscos à saúde agroecologia é uma nova abordagem da humana. agricultura orgânica que integra diversos aspectos agro-nômicos, ecológicos e socioeconômicos, na Modificação genética avaliação dos efeitos das técnicas agrícolas sobre a produção de alimentos, no meio ambiente e na Algumas culturas são submetidas à sociedade como um todo. Nessa abordagem, a modificação genética e alguns alimentos contêm agricultura orgânica compõe um ramo da ingredientes geneticamente modificados agroecologia, que adota um sistema de produção (transgênicos ou obtidos por engenharia genética), que exclui o uso de fertilizantes químicos e que podem ou não estar rotulados como tal. agrotóxicos e busca manter a estrutura e A Organização Mundial da Saúde (OMS) produtividade do solo, em harmonia com a considera os alimentos geneticamente modificados natureza. como seguros; no entanto, ressalta-se que a avaliação de risco deve ser feita caso a caso. Um alimento pode ser um organismo Processamento geneticamente modificado (OGM), ou pode conter Na manufatura de alimentos e bebidas, um ou mais ingredientes geneticamente vários processos são utilizados. Alguns, com modificados. A rotulagem é regulamentada pelo possíveis impactos sobre a saúde humana, são Decreto n.º 4.680/03 da Presidência da República, mencionados aqui. Não existe nada de negativo pela Portaria n.º 2.658/03 do Ministério da Justiça e com o processamento dos alimentos como tal, mas pela Instrução Normativa Interministerial n.º 1/04. conhecer os diferentes métodos de processamento Essas legislações regulamentam a rotulagem e de alimentos é importante para selecionar entre estabelecem a concentração de 1% de OGM aqueles que preservam ou aumentam a qualidade (proteína ou ácido desoxirribonucléico) no dos alimentos e os que degradam ou introduzem alimento, a partir da qual a rotulagem é elementos prejudiciais à saúde. O objetivo desse obrigatória. A portaria citada estabelece o conhecimento é reduzir o consumo de gordura emprego, no rótulo, do símbolo que indica que o total, gordura saturada, gordura trans, açúcar e sal alimento contém ou consiste de OGM. direto e indireto adicionados aos alimentos e bebidas consumidos, permitindo a seleção de alimentos mais saudáveis. Agricultura orgânica A agricultura orgânica, também chamada de sistema de produção orgânica, utiliza processos e Refinação controles biológicos para a manutenção da A qualidade dos grãos e outros alimentos qualidade da terra, plantio e controle de pragas. Na com amido é profundamente afetada pela criação de animais não utiliza hormônios ou refinação. Grande parte dos micronutrientes promotores de crescimento. No Brasil, parte dos contidos na casca e camadas mais superficiais dos alimentos orgânicos é produzida de acordo com grãos é perdida neste processo. padrões certificados por associações, cooperativas e outras entidades que controlam a qualidade da Fortificação produção segundo critérios estabelecidos em A fortificação pode recuperar, intensificar regulamento. O mercado para esse tipo de produto ou adicionar valor nutricional aos alimentos. A vem crescendo, principalmente nos grandes centros recuperação ocorre quando, durante o pro- urbanos. Sempre que possível, alimentos orgânicos cessamento do alimento, determinado nutriente é devem ser preferidos não somente pelo provável perdido; a intensificação, quando um nutriente que menor risco à saúde humana, mas também pelo é natural do alimento é adicionado em maiores menor impacto ao meio ambiente. quantidades; e a adição, quando um alimento,
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    ANEXO A 185 apesar de não ser fonte natural é bom veículo para não possuem calorias. um nutriente. Atualmente, o mercado varejista de Apesar de algumas controvérsias sobre a alimentos tem uma enorme quantidade de sacarina e também sobre o aspartame, os alimentos fortificados (para mais informações, ver edulcorantes são presumivelmente de uso seguro, item sobre rotulagem de alimentos, página 129). desde que consumidos dentro de um limite de Por legislação nacional é obrigatória a fortificação segurança. Veja no quadro 5 abaixo o consumo do sal de cozinha com iodato de potássio e das seguro por kg de peso corporal dos edulcorantes. farinhas de trigo e milho com ferro e ácido fólico. Para mais informações sobre a fortificação Conservação de alimentos, veja Diretriz 2. Diferentes métodos de conservação de alimentos serão apresentados a seguir observando, Hidrogenação sempre que pertinente, o grau de proteção do valor A hidrogenação dos óleos vegetais origina nutricional do alimento; a ocorrência de perda de gorduras chamadas gorduras trans. Para mais nutrientes; a capacidade direta ou indireta de informações, veja o box Sabendo um pouco mais tornar o alimento mais saudável; e a utilização de Hidrogenação na Diretriz 6 (página 80) produtos e conservantes prejudiciais à saúde humana. Aditivos Ação do calor: Vários tipos de substâncias são adicionados aos alimentos com o objetivo de modificar suas Fervura: elimina grande parte dos características físicas, químicas, biológicas ou microrganismos patogênicos. Exemplo: cozimento sensoriais. Essas substâncias, denominadas aditivos do alimento à temperatura superior a 100ºC. alimentares, são regulamentadas, no Brasil, pelo Desidratação: pode ser feita em fornos ou órgão competente do Ministério da Saúde - ao sol, usando telas protetoras contra insetos. ANVISA, que estabelece quais são os aditivos Exemplo: carne seca. permitidos e seus limites máximos de uso, visando a Defumação: é um dos processos utilizados alcançar o efeito desejado e não trazer risco à saúde para conservação de carne. A defumação de humana. São 23 as funções dos aditivos, sendo que alimentos de origem animal origina substâncias a preservação dos alimentos é apenas uma delas. químicas carcinogênicas; envolve o uso de nitritos e Esses aditivos e suas funções são obrigatoriamente nitratos, que podem se transformar em N-nitroso, mencionados nos rótulos dos alimentos. um composto carcinogênico para o estômago. O Uma grande quantidade de alimentos consumo de alimentos defumados, como bacon, industrializados recebe adição de corantes de aves, peixes e outras carnes, deve ser ocasional maneira a aumentar o apelo visual e gustativo do porque o consumo de grandes quantidades pode produto. aumentar o risco de câncer de estômago. (NRC, 1982; WCRF,1997). Edulcorantes Os alimentos e bebidas industrializadas Pasteurização, para dietas com restrição de carboidratos (diet) e tratamento a altas temperaturas (UHT) aqueles com redução desse nutriente (light) O leite é pasteurizado, por meio da normalmente contêm edulcorantes, como manitol, elevação de sua temperatura por alguns segundos, isomalte, maltitol, lactitol, xilitol, ciclamato, seguida de rápido resfriamento, para a eliminação sucralose, sacarina, aspartame, sorbitol, acesul- das bactérias patogênicas, como as que causam fame, xilitol e stévia. doenças nos animais e que poderiam ser Os aditivos com função edulcorante são transmitidas aos seres humanos. A ultra- substâncias que conferem sabor doce ao alimento; pasteurização, conhecida como processo UHT, é o mas, diferentemente dos açúcares, em sua maioria tratamento térmico a temperaturas mais elevadas e
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    186 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA QUADRO 5 - Principais Características dos Edulcorantes Edulcorantes sacarina ciclamato aspartame steviosídeo Natureza artificial artificial artificial natural IDA mg/Kg* 5,0 11,0 40,0 2 (temporária) Poder adoçante** 500x 40x 200x 300x Metabolização não não sim não Sensibilidade ao calor não não sim não pH estável estável estável estável Calorias 0 0 4 0 FONTE: ANVISA *IDA = Ingestão Diária Aceitável (mg/kg de peso corporal) ** relativo à sacarose menor tempo, resultando em um produto do uso de sal. Pode também proteger contra essas e conhecido como longa vida , devido ao seu maior outras doenças crônicas, como a obesidade, porque prazo de validade. O leite deve ser tratado ela possibilita a disponibilidade regular de frutas, termicamente, a fim de evitar intoxicações ou legumes e verduras frescas, bem como de outros toxinfeções alimentares. A conservação do leite alimentos perecíveis (WORLD CANCER RESEARCH pasteurizado deve ser sempre na geladeira; o FUND CRF, 1997). mesmo cuidado é necessário com o leite longa vida Congelamento: requer uma temperatura após aberto. Quando não houver disponibilidade o de -18 C para eliminar ou inibir o crescimento das de leite pasteurizado ou UHT é imprescindível que o bactérias. Portanto, o congelamento preserva os produto seja fervido antes de ser consumido. alimentos, mas alguma perda de vitaminas pode ocorrer. Cozimento a vapor, escaldamento, fervura e cozimento Secagem Esses métodos suaves de cozinhar utilizam Os alimentos são conservados por secagem 0 o calor de até 100 C, o ponto de fervura da água. desde os tempos pré-históricos. Grande parte dos São as melhores formas de preservar as vitaminas alimentos frescos pode ser armazenada em sua nos alimentos. forma seca. Os cereais e feijões são normalmente comprados secos. Alguns vegetais, como os tomates, e muitas frutas, como as uvas e ameixas e Ação do frio também as bananas, maçãs, pêras e ervilhas, são Refrigeração: a refrigeração dos alimentos comercializadas em sua forma desidratada. No perecíveis é indispensável; as temperaturas ideais Brasil, em algumas regiões a carne é preservada por o o variam entre 0 C e 5 C, de acordo com o tipo de meio da secagem, bem como o bacalhau e outros alimentos. Essa faixa de temperatura não destrói os peixes. A secagem é uma forma benigna de microrganismos patogênicos, mas inibe sua conservação, que retém e concentra os nutrientes proliferação. O uso da refrigeração, industrial e nos alimentos. doméstica, protege indiretamente contra a Uso do Açúcar hipertensão, acidentes vasculares e câncer do estômago, porque a refrigeração torna O açúcar pode ser utilizado como desnecessária a preservação dos alimentos por meio conservante em razão de não ser um meio de
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    ANEXO A 187 cultura propício para a proliferação de bactérias, hidrogenação de gordura e acréscimo de aditivos. pois, por suas características de produção, resulta Sempre que possível, compre alimentos um produto com apenas 0,3% de umidade. Agindo engarrafados ou enlatados em vinagre, água, suco por osmose também desidrata as células do meio. de frutas ou vegetais. Verifique os rótulos. Quando o processo é bem feito, permite a conservação do alimento por tempo Métodos de preparação indeterminado. Exemplo: frutas cristalizadas. Os principais cuidados a serem observados O açúcar é o conservante usado na nas técnicas de preparação dos alimentos adotadas confecção de diferentes tipos de conservas de frutas e que podem ter impacto no valor nutricional são a como geléias e outros produtos. Para mais temperatura utilizada no cozimento, o uso de óleos informações sobre o risco do consumo de açúcar ou gorduras adicionados e os métodos de para a saúde, veja a Diretriz 6 (página 73). cozimento, que incluem o fogo direto nos . alimentos. Uso do sal O sal age por osmose, desidratando as Assados, torrefação, fritura e microondas células. A salga de alimentos como meio de Por meio desses métodos, os alimentos são conservação é feita a seco ou em salmoura. A salga é o cozidos a temperaturas de até 200 C. O único muito usada na conservação de carnes. Alimentos inconveniente com os assados ou com a torrefação é conservados por meio de salmoura, em vinagre ou a gordura ou óleo, que eventualmente podem ser sal, são os picles, vegetais, ervas e especiarias. A adicionados ao preparo dos alimentos. A fritura alimentação com alto teor de sal e alimentos expõe os alimentos não diretamente ao fogo, mas a salgados, como muitas das preparações típicas da altas temperaturas, e utiliza grandes quantidades culinária brasileira, aumentam o risco de de gorduras ou óleos. É sensato consumir esse tipo hipertensão arterial, acidentes vasculares e câncer de preparação somente ocasionalmente, devido ao de estômago. Devido a todos esses fatos, quanto seu alto conteúdo de gordura (WORLD CANCER menos sal se consumir, melhor. Para mais RESEARCH FUND, 1997). O forno microondas utiliza informações sobre o risco do consumo de sal para a temperaturas elevadas, requerendo, portanto, saúde, veja a Diretriz 6 e box Sabendo um pouco menor tempo de cocção, o que seria um fator de mais Alimentos salgados e com sal (página 83). preservação de algumas vitaminas, exceto em relação à vitamina E (SILVA et al., 1993). Outro aspecto é que muitas preparações não requerem a Fermentação utilização de óleo. As possíveis conseqüências O processo de fermentação consiste na negativas à saúde do uso deste recurso ainda não proliferação de certos organismos não prejudiciais à foram comprovadas. saúde, modificadores do pH do meio. A alteração do meio impede o crescimento de microrganismos de Grelhados e churrascos decomposição. A fermentação é um método de Alimentos de origem animal, quando preservação, pelo qual o queijo, o iogurte e o queimados, contêm altas concentrações de chucrute são produzidos. É uma forma benigna de componentes químicos, chamados policíclicos preservação exceto quando produz álcool. hidrocarbonatos aromáticos (PAHs) e aminas heterocíclicas (HCAs). Nos padrões dos laboratórios, Engarrafamento, enlatamento essas substâncias são carcinogênicas. A preparação O engarrafamento e enlatamento são de churrascos e grelhados, ou qualquer outro formas úteis de se preservar os alimentos. Mas, em método que expõe os alimentos de origem animal à alguns alimentos enlatados e engarrafados são chama direta, produz esse tipo de produto químico, utilizados óleo, açúcar ou sal. Nesses casos, a melhor tal como a defumação. Descarte sempre alimentos opção é descartar o caldo. Muitos alimentos de origem animal queimados ou chamuscados. acondicionados são preservados por meio de
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    188 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Alimentos prontos para consumo Fast-food Esse termo refere-se aos alimentos pré- cozidos oferecidos em lanchonetes, bares e restaurantes. A maior parte desses alimentos é derivada de carne, alimentos com alto teor de gorduras e sal e bebidas concentradas em açúcar. Refeições embaladas O comércio está atualmente repleto de todos os tipos de refeições e pratos pré-preparados. Verifique os rótulos e observe o conteúdo de gordura total, gordura saturada, gordura trans e sódio. Cuidados com as refeições fora do domicílio Geralmente os alimentos oferecidos em bares, cantinas, restaurantes por quilo e outros restaurantes tendem a ser mais ricos em gorduras e açúcares do que os alimentos consumidos diariamente em casa. Um problema específico é que não se sabe que tipo de óleo é utilizado - ou reutilizado - nas preparações. As refeições fora de casa deveriam ser realizadas apenas em ocasiões especiais, comemoração com a família ou amigos ou ocasionalmente. Caso você seja freqüentador assíduo em alguns restaurantes, procure conhecer a forma de preparo dos alimentos, dê sugestões de cardápios e preparações mais saudáveis, observe a higiene do local, dos funcionários e tente conhecer a cozinha ou local onde são preparados e armazenados os alimentos. Ao selecionar os pratos ou preparações, siga os princípios da alimentação saudável. Recomendação Calórica Média,
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    ANEXO B DIRETRIZ6 - GORDURAS, AÇÚCARES E SAL 189 91 Número de Porções Diárias e exemplificador de 2.000kcal. Ressalta-se, contudo, alor Energético Médio das Porções, que o número de porções variará de acordo com as Segundo os Grupos de Alimentos necessidades nutricionais de cada indivíduo, devendo, portanto, uma dieta que utilize as para Fins de Cálculo do % VET proposições de número de porções aqui O quadro abaixo mostra o número de estabelecidas ser corrigida, quando necessário. porções, valor calórico médio por porção e a Os cálculos relativos ao número de porções recomendação calórica média do grupo de e valor energético médio das porções foram alimentos considerando as diretrizes e objetivos a elaborados pela Dr. Sonia Tucunduva Philippi do estabelecidos neste guia alimentar. Os alimentos Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde que foram utilizados em cada um dos grupos Pública da Universidade de São Paulo. compõem um elenco de produtos e preparações mais comuns no Brasil, mas obviamente não esgotam todos os alimentos. A lista de alimentos consta no ANEXO C. Conforme se observou na primeira parte deste guia, foi aqui adotado o parâmetro VET = 2.000 kcal Recomendação Número de Valor energético Grupos de Alimentos calórica média do porções diárias médio por porção grupo (kcal)* do grupo (kcal) Cereais, tubérculos, raízes e derivados 900 6 150 Feijões 55 1 55 Frutas e sucos de frutas naturais 210 3 70 Legumes e Verduras 45 3 15 Leite e Derivados 360 3 120 Carnes e ovos 190 1 190 Óleos, gorduras e sementes oleaginosas 73 1 73 Açúcares e doces 110 1 110 (*) Esta atribuição atingiu 1.943 kcal.
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    ANEXO C 191 Porções de Alimentos (em Gramas) e Medidas Usuais de Consumo Correspondentes(*) Arroz, Pães, Massas, Batata e Mandioca 1 porção = 150kcal Alimentos Peso (g) Medidas usuais de consumo amido de milho 40,0 2 ½ colheres de sopa angu 105,0 3 colheres de sopa arroz branco cozido 125,0 4 colheres de sopa arroz integral cozido 198,0 6 colheres de sopa batata cozida 202,5 1 ½ unidade batata inglesa corada picada 90,0 3 colheres de sopa batata doce cozida 150,0 1 ½ colheres de servir batata frita (palito) 110,0 2 ½ colheres de servir batata sauteé 125,0 2 ½ colheres de servir biscoito tipo cookies com gotas de chocolate/ coco 30,0 6 unidades biscoito tipo cream cracker 32,5 5 unidades biscoito de leite 30,0 6 unidades biscoito tipo maisena 35,0 7 unidades biscoito tipo maria 35,0 7 unidades biscoito recheado chocolate/doce de leite/ morango 34,0 2 unidades biscoito tipo waffer chocolate/morango/baunilha 30,0 4 unidades 1 bolo de banana 50,0 1 fatia pequena 1 bolo de cenoura 30,0 1 fatia pequena bolo de chocolate 35,0 1 fatia 1 bolo de milho 50,0 1 fatia cará cozido/ amassado 126,0 3 ½ colher de sopa cereal matinal 43,0 1 xícara de chá farinha de aveia 37,5 2 ½ colheres de sopa farinha de mandioca 40,0 2 ½ colheres de sopa farinha de milho 42,0 3 ½ colheres de sopa farofa de farinha de mandioca 37,0 ½ colher de servir inhame cozido/ amassado 126,0 3 ½ colheres de sopa macarrão cozido 105,0 3 ½ colheres de sopa mandioca cozida 128,0 4 colheres de sopa 1 milho verde em espiga 100,0 1 espiga grande milho verde em conserva (enlatado) 142,0 7 colheres de sopa 1 pamonha 100,0 1 unidade pãozinho caseiro 55,0 ½ unidade 1 pão de batata 50,0 1 unidade média pão de centeio 60,0 2 fatias pão de forma tradicional 43,0 2 fatias 1 pão de milho 70,0 1 unidade média pão de queijo 58,0 1 unidade pão francês 50,0 1 unidade pão hot dog 50,0 1 unidade pipoca com sal 31,5 3 xícaras de chá polenta frita 121,0 3 fatias
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    192 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Alimentos Peso (g) Medidas usuais de consumo polenta sem molho 190,0 2 fatias purê de batata 130,0 2 colheres de servir 1 purê de inhame 135,0 3 colheres de servir torrada salgada tipo 40,0 4 unidades torrada fibras 40,0 4 unidades torrada glúten 40,0 4 unidades torrada (pão francês) 33,0 6 fatias Verduras e Legumes 1 porção = 15kcal Alimentos Peso (g) Medidas usuais de consumo abóbora cozida (menina, japonesa, moranga) 70,0 2 colheres de sopa abobrinha cozida 81,0 3 colheres de sopa acelga cozida 85,0 2 1/2 colheres de sopa acelga crua (picada) 90,0 9 colheres de sopa agrião 132,0 22 ramos aipo cru 80,0 2 unidades alcachofra cozida 35,0 1/4 unidade alface 120,0 15 folhas almeirão 60,0 5 folhas aspargo em conserva 80,0 8 unidades berinjela cozida 60,0 2 colheres de sopa 1 bertalha refogada 25,0 1 colher de sopa beterraba cozida 43,0 3 fatias beterraba crua ralada 42,0 2 colheres de sopa brócolis cozido 60,0 4 1/2 colheres de sopa broto de alfafa cru 50,0 1 1/2 xícara de chá broto de feijão cozido 81,0 1 1/2 colher de servir cenoura cozida (fatias) 35,0 7 fatias cenoura cozida (picada) 34,0 1 1/2 colher de sopa cenoura crua (picada) 38,0 1 colher de servir chuchu cozido 57,0 2 1/2 colheres de sopa couve-flor cozida 69,0 3 ramos couve-manteiga cozida 42,0 1 colher de servir ervilha em conserva 13,0 1 colher de sopa ervilha fresca 19,5 1 1/2 colher de sopa ervilha torta (vagem) 11,0 2 unidades escarola 84,0 15 folhas espinafre cozido 67,0 2 1/2 colheres de sopa jiló cozido 37,5 1 1/2 colher de sopa 1 maxixe cozido 120,0 3 colheres de sopa mostarda 60,0 6 folhas palmito em conserva 100,0 2 unidades pepino japonês 130,0 1 unidade pepino picado 116,0 4 colheres de sopa picles em conserva 108,0 5 colheres de sopa
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    ANEXO C 193 pimentão cru fatiado (vermelho/verde) 56,0 8 fatias Alimentos Peso (g) Medidas usuais de consumo pimentão cru picado (vermelho/verde) 60,0 2 1/2 colheres de sopa quiabo cozido 52,0 2 colheres de sopa rabanete 90,0 3 unidades repolho branco cru (picado) 72,0 6 colheres de sopa repolho cozido 75,0 5 colheres de sopa repolho roxo cru (picado) 60,0 5 colheres de sopa rúcula 90,0 15 ramos salsão cru 95,0 5 colheres de sopa tomate caqui 75,0 2 1/2 fatias tomate cereja 70,0 7 unidades tomate comum 80,0 4 fatias vagem cozida 44,0 2 colheres de sopa Frutas 1 porção = 70kcal Alimentos Peso (g) Medidas usuais de consumo abacate (amassado) 45,0 11/2 colher de sopa abacaxi 130,0 1 fatia acerola 224,0 32 unidades ameixa-preta 30,0 3 unidades ameixa-vermelha 140,0 4 unidades banana 86,0 1 unidade caju fresco 147,0 2 1/2 unidades caqui 113,0 1 unidade carambola 220,0 2 unidades cereja fresca 96,0 24 unidades damasco seco 30,0 4 unidades fruta-do-conde 75,0 1/2 unidade goiaba 95,0 1/2 unidade jabuticaba 140,0 20 unidades jaca 132,0 4 bagos kiwi 154,0 2 unidades laranja-bahía/seleta 144,0 8 gomos laranja-pêra/lima 137,0 1 unidade limão 252,0 4 unidades maçã 130,0 1 unidade mamão-formosa 160,0 1 fatia mamão-papaia 141,5 1/2 unidade manga bordon 110,0 1 unidade manga haden 110,0 5 fatias manga polpa batida 94,5 1/2 xícara de chá maracujá (suco puro) 94,0 1/2 xícara de chá melancia 296,0 2 fatias melão 230,0 2 fatias morango 240,0 10 unidades
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    194 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA nectarina 184,0 2 unidades Alimentos Peso (g) Medidas usuais de consumo pêra 133,0 1 unidade pêssego 226,0 2 unidades salada de frutas (banana, maçã, laranja, mamão) 125,0 1/2 xícara de chá suco de abacaxi 125,0 1/2 copo de requeijão suco de laranja (puro) 187,0 3/4 copo requeijão suco de melão 170,0 3/4 copo de requeijão suco de tangerina 164,0 3/4 copo requeijão tangerina/mexerica 148,0 1 unidade uva comum 99,2 22 uvas uva-itália 99,2 8 uvas uva-rubi 103,0 8 uvas Copo de requeijão = 250 mL Feijões 1 porção = 55kcal Alimentos Peso (g) Medidas usuais de consumo ervilha seca cozida 72,5 2 1/2 colheres de sopa feijão branco cozido 48,0 1 1/2 colher de sopa feijão cozido (50% de caldo) 86,0 1 concha feijão cozido (somente grãos) 50,0 2 colheres de sopa 1 feijão preto cozido 80,0 1 concha média rasa grão-de-bico cozido 36,0 1 1/2 colher de sopa lentilha cozida 48,0 2 colheres de sopa soja cozida (somente grãos) 43,0 11/2 colher de servir arroz Carnes e Ovos 1 porção = 190kcal Alimentos Peso (g) Medidas usuais de consumo atum em lata 112,5 2 1/2 colheres de sopa bacalhoada 75,0 1/2 porção 1 bacalhau cozido 135,0 1 pedaço médio 1 bife de fígado frito 100,0 1 unidade média bife enrolado 110,0 1 unidade bife grelhado 64,0 1 unidade camarão frito 104,0 13 unidades carne assada (patinho) 75,0 1 fatia pequena 1 carne cozida 80,0 4 pedaços pequenos carne cozida de peru tipo "blanquet" 150,0 10 fatias carne moída refogada 63,0 3 1/2 colheres de sopa 1 carne seca 40,0 2 pedaços pequenos 1 carré 90,0 1 unidade média
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    ANEXO C 195 1 costela bovina assada 40,0 1 pedaço pequeno Alimentos Peso (g) Medidas usuais de consumo espetinho de carne 92,0 2 unidades 1 pedaço de peito ou frango assado inteiro 100,0 1 coxa grande ou 1 sobrecoxa frango filé à milanesa 80,0 1 unidade frango filé grelhado 100,0 1 unidade frango sobrecoxa cozida sem pele com molho 100,0 1 sobrecoxa grande hambúrguer grelhado 90,0 1 unidade lingüiça de porco cozida 50,0 1 gomo manjuba frita 106,0 10 unidades merluza cozida 200,0 2 filés mortadela 62,0 2 fatias médias omelete simples 110,0 1 1/2 unidade 1 ovo cozido 90,0 2 unidades ovo frito 50,0 2 unidade peixe espada cozido 100,0 1 filé 1 peru assado sem pele 96,0 2 fatias grandes porco lombo assado 93,5 1/2 fatia salame 75,0 11 fatias salsicha 60,0 1 1/2 unidade sardinha escabeche 50,0 1 unidade 1 sardinha em conserva 41,5 1 unidade média Leites, Queijos, Iogurtes 1 porção = 120kcal Alimentos Peso (g) Medidas usuais de consumo coalhada 77,5 2 1/2 colheres de sopa iogurte desnatado de frutas 300,0 1 1/2 copo de requeijão iogurte desnatado natural 330,0 1 1/2 copo de requeijão iogurte integral natural 165,0 1 copo de requeijão iogurte integral de frutas 120,0 1/2 copo de requeijão 1 leite de cabra integral 182,0 1 copo de requeijão leite em pó integral 26,0 2 colheres de sopa leite em pó desnatado 34,5 3 colheres de sopa leite integral longa vida 3,5% gordura - padrão 182,0 1 xícara de chá leite semidesnatado longa vida 2% gordura - padrão 270,0 1 copo requeijão leite tipo B 3,5% gordura - padrão 182,0 1 xícara de chá leite tipo C 3,0% gordura - padrão 182,0 1 xícara de chá 1 queijo tipo minas frescal 40,0 1 fatia grande queijo tipo minas 50,0 1 1/2 fatia queijo tipo mussarela 45,0 3 fatias
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    196 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Queijo tipo parmesão ralado 30,0 3 colheres de sopa queijo pasteurizado 40,0 2 unidade Alimentos Peso (g) Medidas usuais de consumo queijo prato 30,0 1 1/2 fatias queijo provolone 35,0 1 fatia requeijão cremoso 45,0 1 1/2 colher de sopa ricota 100,0 2 fatias vitamina de leite com frutas 171,0 1 copo de requeijão Óleos e Gorduras 1 porção = 73kcal Alimentos Peso (g) Medidas usuais de consumo azeite de dendê 9,2 3/4 colher de sopa azeite de oliva 7,6 1 colher de sopa bacon (gordura) 7,5 1/2 fatia banha de porco 7,0 1/2 colher de sopa creme vegetal 10,0 1/2 colher de sopa halvarina 19,7 1 colher de sopa manteiga 9,8 1/2 colher de sopa margarina culinária 10,0 1/10 colher de sopa margarina líquida 8,9 1 colheres de sopa margarina vegetal 9,8 1/2 colher de sopa óleo vegetal composto de soja e oliva 10,0 1 colher de sopa óleo vegetal de canola 8,0 1 colher de sopa óleo vegetal de girassol 8,0 1 colher de sopa óleo vegetal de milho 8,0 1 colher de sopa óleo vegetal de soja 8,0 1 colher de sopa Açúcares e Doces 1 porção = 110kcal Alimentos Peso (g) Medidas usuais de consumo açúcar cristal 28,0 1 colher de sopa açúcar mascavo fino 25,0 1 colher de sopa açúcar mascavo grosso 27,0 1 1/2 colher de sopa açúcar refinado 28,0 1 colher de sopa 1 bananada 40,0 1 unidade média 1 doce de leite cremoso 40,0 1 colher de sopa 1 doce de mamão verde 80,0 2 colheres de sopa 1 geléia de frutas 34,0 1 colher de sopa goiabada em pasta 45,0 1/2 fatia melado1 32,0 2 colheres de sopa mel 37,5 2 1/2 colheres de sopa a (*) A tabela é de autoria da Dr. Sonia Tucunduva Philippi - Departamento de Nutrição/FSP/USP. Os cálculos do valor calórico dos alimentos foram realizados com base na "Tabela de Composição de Alimentos: suporte para a decisão nutricional" (PHILIPPI, 2001). (1) FONTE: "Tabela para Avaliação de Consumo Alimentar em Medidas Caseiras" (PINHEIRO et al., 2005). Esta tabela foi utilizada pela Coordenação Geral da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (CGPAN) para incorporação de alimentos ou preparações não disponíveis na publicação de PHILIPPI (2001) ou para estabelecimento de porções dos alimentos ou refeições não constantes nas tabelas elaboradas por PHILIPPI, ST et al. Virtual Nutri (software) versão 1.0 for Windows. Departamento de Nutrição / Faculdade de Saúde Pública / USP. São Paulo; 1996.
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    DIRETRIZ 6 -GORDURAS, AÇÚCARES E SAL ANEXO D 197 Diretriz 5 Síntese das Diretrizes Leite e derivados, carnes e ovos - Leite e derivados, principais fontes de cálcio na TODOS alimentação, e carnes, aves, peixes e ovos fazem parte de uma alimentação nutritiva que contribui Diretriz 1 para a saúde e para o crescimento saudável. Os alimentos saudáveis e as refeições - Os tipos e as quantidades desses alimentos devem - Refeições são saudáveis quando preparadas com ser adequados às diferentes fases do curso da vida. alimentos variados, com tipos e quantidades Leites e derivados devem ser preferencialmente adequadas às fases do curso da vida, compondo desnatados, para os adultos, e integrais para refeições coloridas e saborosas que incluem crianças, adolescentes e gestantes. alimentos tanto de origem vegetal como animal. - Para garantir a saúde, faça, pelo menos, três refeições por dia (café da manhã, almoço e jantar), Diretriz 6 intercaladas por pequenos lanches. Gorduras, açúcares e sal - A alimentação saudável tem início com a prática do - As gorduras e os açúcares são fontes de energia. aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de - O consumo freqüente e em grande quantidade de idade e complementar até pelo menos os 2 anos e se gorduras, açúcar e sal aumenta o risco de doenças prolonga pela vida com adoção de bons hábitos como obesidade, hipertensão arterial, diabetes e alimentares. doenças do coração. - Utilize sempre o sal fortificado com iodo (sal Diretriz 2 iodado). Cereais, tubérculos e raízes - Arroz, milho e trigo, alimentos como pães e Diretriz 7 massas, preferencialmente na forma integral; Água tubérculos como as batatas; raízes como a mandioca - A água é um alimento indispensável ao devem ser a mais importante fonte de energia e o funcionamento adequado do organismo. principal componente da maioria das refeições. - Toda água que você beber deve ser tratada, filtrada ou fervida. Diretriz 3 Frutas, legumes e verduras Diretriz Especial 1 - Frutas, legumes e verduras são ricos em vitaminas, Atividade física minerais e fibras e devem estar presentes - A alimentação saudável e a atividade física regular diariamente nas refeições, pois contribuem para a são aliadas fundamentais para a manutenção do proteção à saúde e diminuição do risco de peso saudável, redução do risco de doenças e ocorrência de várias doenças. melhoria da qualidade de vida. Diretriz 4 Diretriz Especial 2 Feijões e outros alimentos vegetais ricos em Qualidade sanitária dos alimentos proteínas - A garantia da qualidade sanitária dos alimentos - As leguminosas, como os feijões, e as oleaginosas, implica a adoção de medidas preventivas e de como as castanhas e sementes, são alimentos controle em toda a cadeia produtiva, desde sua fundamentais para a saúde. origem até o consumo do alimento no domicílio. A - A preparação típica brasileira feijão com arroz é manipulação dos alimentos segundo as boas uma combinação alimentar saudável e completa em práticas de higiene é essencial para redução dos proteínas. riscos de doenças transmitidas pelos alimentos.
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    198 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA PROFISSIONAIS DE SAÚDE problemas relacionados à má-formação do tubo neural. A orientação de consumo dessas farinhas é particularmente importante para crianças, idosos, Diretriz 1 gestantes e mulheres em idade fértil. Os alimentos saudáveis e as refeições Diretriz 3 Orientar: Frutas, legumes e verduras - Sobre a necessidade de se realizar pelo menos três refeições diárias, intercaladas com lanches saudáveis. Orientar: - Quanto à importância da consulta e interpretação - O consumo diário de 3 porções de frutas e 3 da informação nutricional e da lista de ingredientes porções de legumes e verduras nas refeições presentes nos rótulos dos alimentos, para a seleção diárias. de alimentos mais saudáveis. - Sobre a importância de variar o consumo desses - As mulheres durante a gestação sobre a grupos de alimentos nas diferentes refeições e ao importância da prática do aleitamento materno longo da semana. exclusivo até os 6 meses de idade da criança e sobre - E informar sobre a grande variedade desses os passos para a alimentação complementar após alimentos disponíveis em todas as regiões do País e esse período. incentivar diferentes modos de preparo desses alimentos para valorizar o sabor. Saber que: - Os cereais, de preferência integrais, frutas, Saber que: legumes e verduras e leguminosas (feijões), no seu - A participação de frutas, legumes e verduras no conjunto, devem fornecer mais da metade (55% a valor energético total fornecido pela alimentação 75%) do total de energia diária da alimentação. das famílias brasileiras, independentemente da faixa de renda, é baixa, variando de 3% a 4%, entre 1974-2003; Diretriz 2 - O consumo mínimo recomendado de frutas, Cereais, tubérculos e raízes legumes e verduras é de 400 gramas/dia para garantir 9% a 12% da energia diária consumida, Orientar: considerando uma dieta de 2.000 kcal. Isso significa - O consumo de alimentos ricos em carboidratos aumentar em, pelo menos, 3 vezes o consumo complexos (amidos), como cereais, de preferência médio atual da população brasileira. integrais, tubérculos e raízes, para garantir 45% a 65% da energia total diária da alimentação. Diretriz 4 - O consumo diário de 6 porções de cereais, Feijões e outros alimentos vegetais ricos em tubérculos e raízes. proteínas Saber que: Orientar e estimular: - A presença diária desses alimentos na alimentação - O consumo diário de 1 porção de leguminosas vem diminuindo (em 1974, correspondia a 42,1% e, (feijões); em 2003, era de 38,7%). Essa tendência deve ser revertida, por meio do incentivo ao consumo desses - O consumo diário de feijão com arroz, na grupos de alimentos pela população, na forma in proporção de 1 para 2 partes; natura. Para atender ao limite mínimo recomendado - O consumo de modo que as leguminosas como (45%), o consumo atual deve ser aumentado, em feijões, lentilhas, ervilha seca, grão-de-bico, soja e aproximadamente, 20%. outros garantam, no mínimo, 5% do total de - No Brasil, é obrigatória a fortificação das farinhas energia diária. de trigo e milho com ferro e ácido fólico, estratégia - O consumo de castanhas e sementes, inclusive que objetiva a redução da anemia ferropriva e de como ingredientes de diferentes preparações.
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    ANEXO D 199 - O uso de diferentes modos de preparo para a o risco de ocorrência de obesidade, hipertensão arte- valorização do sabor de todos os tipos de rial, diabetes, dislipidemias e doenças leguminosas. cardiovasculares. - Sobre a importância da consulta e interpretação da Saber que: informação nutricional e da lista de ingredientes - Embora a participação relativa de feijões na nos rótulos dos alimentos para seleção de alimentos alimentação brasileira (5,68%) ainda esteja dentro mais saudáveis. da faixa recomendada de consumo, há uma tendência de queda preocupante, necessitando ser Em relação ao consumo de GORDURAS revertida em curto tempo. Saber que: Diretriz 5 - A contribuição de gorduras e óleos, de todas as Leite e derivados, carnes e ovos fontes, não deve ultrapassar os limites de 15% a 30% da energia total da alimentação diária. Uma Orientar: vez que os dados disponíveis de consumo alimentar - O consumo diário de 3 porções de leite e no Brasil são indiretos e baseados apenas na derivados; disponibilidade domiciliar de alimentos, é - O consumo diário de 1 porção de carnes, peixes ou importante que o consumo de gorduras seja ovos; limitado para que não se ultrapasse a faixa de - Sobre o alto valor biológico das proteínas consumo recomendada. presentes nos ovos, nas carnes, nos peixes, no leite e - O total de gordura saturada não deve ultrapassar derivados. 10% do total da energia diária. - Sobre a alta biodisponibilidade do ferro presente - O total de gordura trans consumida deve ser nas carnes, principalmente nos miúdos e nas vísceras menor que 1% do valor energético total diário (no e peixes. máximo 2g/dia para uma dieta de 2.000kcal). - E informar que leite e derivados são fontes de proteínas, vitaminas e a principal fonte de cálcio da Orientar: alimentação, nutriente fundamental para a - O consumo máximo diário de uma porção de formação e manutenção da massa óssea. O alimentos do grupo dos óleos e gorduras, dando consumo desse grupo de alimentos é importante preferência aos óleos vegetais, azeite e margarinas em todas as fases do curso da vida, particularmente na infância, na adolescência, na gestação e para livres de ácido graxos trans. adultos jovens. - Sobre os diferentes tipos de óleos e gorduras e seus - A escolha de produtos que contenham menor teor distintos impactos sobre a saúde. de gordura. O leite e seus derivados, para adultos que já completaram seu crescimento, deve ser Em relação ao consumo de AÇÚCARES preferencialmente desnatado. Crianças, particularmente, e adolescentes devem consumir Saber que: leite e derivados na forma integral, desde que não haja contra-indicação em seu uso, definida por - O consumo de açúcares simples não deve médico ou nutricionista. ultrapassar 10% da energia total diária. Isso significa redução de, pelo menos, 33% (um terço) na média atual de consumo da população. Diretriz 6 Gorduras, açúcares e sal. Orientar: - O consumo máximo diário de 1 porção de Orientar: alimentos do grupo dos açúcares e doces. - A redução do consumo de alimentos com alta - E informar que os açúcares são fonte de energia e concentração de sal, açúcar e gordura para diminuir podem ser encontrados naturalmente nos
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    200 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA alimentos, como frutas e mel, ou ser adicionados em Diretriz Especial 1 preparações e alimentos processados. Atividade física A redução do consumo de alimentos e - Abordar de maneira integrada a promoção da bebidas processados com alta concentração de alimentação saudável e o incentivo à prática regular açúcar e das quantidades de açúcar adicionado nas de atividade física. preparações caseiras e bebidas. - Orientar sobre a importância do equilíbrio entre o consumo alimentar e o gasto energético para a Em relação ao consumo de SÓDIO (sal) manutenção do peso saudável, em todas as fases do curso da vida. Saber que: - Utilizar a avaliação antropométrica, nos serviços - O consumo de sal diário deve ser no máximo de de saúde (SISVAN), para acompanhamento do peso 5g/dia (uma colher rasa de chá por pessoa). Isso saudável de pessoas em quaisquer fases do curso da significa que o consumo atual médio de sal pela vida. população deve ser reduzido à metade. Essa - Estimular a formação de grupos para prática de quantidade é suficiente para atender às necessi- atividade física e orientação sobre alimentação dades de iodo. saudável nos serviços de saúde, nas escolas e em outros espaços comunitários, sob supervisão de Orientar: profissional capacitado. - E informar que o sal de cozinha possui sódio. Esse mineral quando consumido em excesso é prejudicial Diretriz Especial 2 à saúde; Qualidade sanitária dos alimentos - Que todo o sal consumido deve ser iodado; - Orientar sobre as medidas preventivas e de - Que o sal destinado ao consumo animal não deve controle, incluindo as práticas de higiene, que ser utilizado pelas famílias das zonas rurais, pois devem ser adotadas na cadeia produtiva, nos esse sal não contém a quantidade de iodo serviços de alimentação, nas unidades de necessária para garantir a saúde de seres humanos; comercialização e nos domicílios, a fim de garantir a - A redução do consumo de alimentos processados qualidade sanitária dos alimentos. com alta concentração de sal, como temperos - Informar que alimentos manipulados ou prontos, caldos concentrados, molhos prontos, conservados inadequadamente são fatores de risco salgadinhos, sopas industrializadas e outros. importantes para muitas doenças. Diretriz 7 GOVERNO E SETOR PRODUTIVO Água DE ALIMENTOS Orientar: Diretriz 1 - E incentivar o consumo de água, independentemente de outros líquidos; Os alimentos saudáveis e as refeições - As pessoas a ingerir no mínimo dois litros de água - Aumentar e incentivar a produção, o por dia (6 a 8 copos), preferen-cialmente entre as processamento, o abastecimento e comercialização refeições. Essa quantidade pode variar de acordo de todos os tipos de alimentos que compõem uma com a atividade física e com a temperatura do alimentação saudável. ambiente; - Implementar programas de orientação e educação - A oferta ativa e regular de água às crianças e aos nutricional, de forma continuada, respeitando a idosos ao longo do dia; identidade cultural das populações. - Sobre os cuidados domésticos que garantam a - Garantir a qualidade dos alimentos in natura e qualidade e segurança da água a ser consumida processados colocados no mercado para consumo pela família. da população.
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    ANEXO D 201 - Implantar, fiscalizar e exigir a implantação das - Assegurar a presença desses alimentos nos boas práticas de manipulação de alimentos em programas públicos e/ou institucionais de alimen- locais de processamento, manipulação, venda e tação e nutrição (como o Programa de Alimentação consumo de alimentos. do Trabalhador, Programa de Alimentação Escolar e - Assegurar o cumprimento da legislação que outros) e nas refeições das populações institu- promove o aleitamento materno como direito da cionalizadas. criança à alimentação adequada. - Garantir que programas públicos de alimentação e Diretriz 4 nutrição incorporem os princípios da alimentação Feijões e outros alimentos vegetais ricos em saudável. proteínas - Regulamentar estratégias de marketing de - Promover a produção, o processamento, a alimentos, em todas as formas de mídia, principal- comercialização e o consumo de todos os tipos de mente para aquelas direcionadas para crianças e leguminosas e oleaginosas, principalmente as adolescentes. originárias do Brasil, valorizando os hábitos alimentares regionais. Diretriz 2 - Fomentar mecanismos de redução dos custos de Cereais, tubérculos e raízes produção e comercialização de leguminosas, - Promover a produção, a industrialização, a sementes e castanhas. comercialização e o consumo de todos os tipos de - Assegurar a utilização de feijão e outras alimentos ricos em carboidratos, preferencialmente leguminosas, de acordo com os hábitos alimentares os integrais e os regionais produzidos em nível local. locais, em programas de alimentação nas escolas, - Incentivar a pesquisa e incorporação de tecnologia creches e outras instituições. de processamento que preserve o valor nutritivo - Desenvolver ações de valorização da culinária dos alimentos. nacional que promovam o consumo de preparações - Assegurar e fomentar a incorporação de cereais, e alimentos saudáveis, inclusive por meio de tubérculos e raízes nos programas institucionais de campanhas educativas e informativas nos meios de alimentação. comunicação. Diretriz 3 Diretriz 5 Frutas, legumes e verduras Leite e derivados, carnes e ovos - Valorizar e promover a produção e o - Promover a produção, o processamento, a processamento, com preservação do valor nutritivo comercialização e o consumo de leite e laticínios e de frutas, legumes e verduras, principalmente os de outros alimentos de origem animal com baixos origem local, na perspectiva do desenvolvimento teores de gordura, tornando-os mais acessíveis sustentável. física e financeiramente a toda a população. - Fomentar mecanismos de redução dos custos de - Aumentar a disponibilidade interna de peixes por produção e comercialização desses alimentos. meio da produção sustentável e incentivar o seu - Criar estratégias que viabilizem a instalação de consumo por toda a população. rede local de comercialização, facilitando o acesso regular da população a esses alimentos, a preços Diretriz 6 acessíveis. Gorduras, açúcares e sal - Monitorar segundo a legislação o uso de agentes - Investir no desenvolvimento de tecnologia que químicos (agrotóxicos) potencialmente prejudiciais atenda aos princípios da alimentação saudável. A à saúde. redução substancial no consumo do sal, açúcares e - Viabilizar campanhas e outras iniciativas de gorduras exige mudanças imediatas nas práticas de comunicação social e de educação que valorizem e industrialização de alimentos. incentivem o consumo desses alimentos. - Desenvolver e adotar técnicas de produção de
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    202 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA alimentos, a custos acessíveis, que resultem em - Fortalecer políticas públicas de incentivo aos produtos com menores quantidades de açúcares, esportes. gorduras e sal. Esse princípio deve nortear a - Desenvolver formas de divulgação e comunicação produção industrial em geral e não ser restrito social que informem e valorizem a adoção de modos apenas para o grupo dos chamados alimentos para de vida saudáveis, conjugando a promoção da fins especiais . alimentação saudável e a prática de atividade física - Garantir que todo o sal para consumo humano seja regular. iodado e atenda aos teores de iodação estabelecidos pela legislação nacional vigente. - Regulamentar o comércio, a propaganda e as Diretriz Especial 2 estratégias de marketing de alimentos densamente Qualidade sanitária dos alimentos energéticos (altos teores de gorduras e açúcar) e com teor elevado de sal. Governo - Adotar medidas multissetoriais e Diretriz 7 multidisciplinares que visem à promoção da Água qualidade sanitária dos alimentos nos níveis local, - Garantir o acesso e a qualidade da água tratada nacional e internacional. para toda a população brasileira. Sistemas de - Garantir uma legislação e um sistema de controle e abastecimento seguro de água são requisito funda- fiscalização eficiente para que em todas as etapas mental para a saúde pública. da cadeia de alimentos sejam adotadas medidas - Promover a expansão da rede pública de necessárias para que a população disponha de saneamento, permitindo a capilarização dos produtos seguros para o consumo. equipamentos de fornecimento de água tratada em - Estabelecer parcerias com setores de apoio ao domicílios, espaços públicos, escolas, locais de segmento produtivo e comercial de alimentos com trabalho e outras unidades coletivas de objetivo de disseminar e apoiar a implementação da acolhimento de populações específicas (carcerárias, legislação por meio de capacitações, orientações idosos, crianças, dentre outras). técnicas e assessorias aos estabelecimentos. - Garantir e preservar os mananciais de água em território nacional, como requisito para a saúde e - Orientar a população sobre os riscos relacionados à elemento de soberania nacional. incorreta manipulação e conservação dos alimentos e sobre as medidas e práticas de higiene que devem ser adotadas a fim de prevenir esses riscos. Diretriz Especial 1 - Adotar medidas de intervenção em situações que Atividade física se caracterizem como de riscos iminentes à saúde. - Proteger, criar e manter ambientes urbanos e rurais, nos quais a prática de atividade física diária Setor podutivo de alimentos seja viável, adequada, agradável e segura. - Adotar as medidas preventivas e de controle, - Adequar espaços urbanos criando áreas para incluindo as boas práticas de higiene, necessárias pedestres, pistas destinadas a ciclistas, espaços e para que a população disponha de produtos quadras comunitários, parques e clubes seguros para o consumo. comunitários, mantendo-os bem conservados. - Capacitar os manipuladores de alimentos nos - Criar oportunidades de tempo e espaço para temas relacionados à prática de higiene e à correta prática de atividade física nas comunidades e nos manipulação dos alimentos, conscientizando-os locais de trabalho. sobre sua responsabilidade na prevenção das - Valorizar a atividade física regular nas escolas e doenças transmitidas por alimentos. práticas lúdicas ativas em creches e pré-escolas.
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    ANEXO D 203 FAMÍLIAS branco e outros) e as formas de preparo. Use também outros tipos de leguminosas (soja, grão-de- bico, ervilha seca, lentilha, fava). Diretriz 1 - Coma feijão com arroz na proporção de 1 parte de Os alimentos saudáveis e as refeições feijão para 2 partes de arroz, cozidos. Esse prato - Consuma diariamente alimentos como cereais brasileiro é uma combinação completa de proteínas integrais, feijões, frutas, legumes e verduras, leite e e bom para a saúde. derivados e carnes magras, aves ou peixes. - Diminua o consumo de frituras e alimentos que Diretriz 5 contenham elevada quantidade de açúcares, gorduras e sal. Leite e derivados, carnes e ovos - Valorize a sua cultura alimentar e mantenha seus bons hábitos alimentares. Consuma diariamente: - Saboreie refeições variadas, ricas em alimentos - 3 porções de leite e derivados. Os adultos, sempre regionais saudáveis e disponíveis na sua que possível, devem escolher leite e derivados com comunidade. menores quantidades de gorduras. Crianças, - Escolha os alimentos mais saudáveis, lendo as adolescentes e mulheres gestantes devem consumir informações nutricionais dos rótulos dos alimentos. a mesma quantidade de porções, porém usando - Alimente a criança somente com leite materno até leite e derivados na forma integral. à idade de 6 meses e depois complemente com - 1 porção de carnes, peixes ou ovos. Prefira as outros alimentos, mantendo o leite materno até os carnes magras e retire toda a gordura aparente 2 anos ou mais. antes da preparação. - Procure nos serviços de saúde orientações a - Coma mais frango e peixe e sempre prefira carne respeito da maneira correta de introduzir com baixo teor de gordura. Charque e derivados de alimentos complementares e refeições quando a carne (salsicha, lingüiça, presuntos e outros criança completar 6 meses de vida. embutidos) contêm, em geral, excesso de gorduras e sal e somente devem ser consumidos ocasionalmente. Diretriz 2 - Coma pelo menos uma vez por semana vísceras e Cereais, tubérculos e raízes miúdos, como o fígado bovino, coração de galinha, - Coma diariamente 6 porções do grupo do arroz, dentre outros. Esses alimentos são excelentes fontes pães, massas, tubérculos e raízes. Dê preferência de ferro, nutriente essencial para evitar anemia, em aos grãos integrais ou minimamente processados. especial em crianças, jovens, idosos e mulheres em idade fértil. Diretriz 3 Frutas, legumes e verduras Diretriz 6 - Coma diariamente pelo menos 3 porções de Gorduras, açúcares e sal legumes e verduras como parte das refeições e 3 - Reduza o consumo de alimentos e bebidas porções ou mais de frutas nas sobremesas e lanches. concentrados em gorduras, açúcar e sal. Consulte a - Valorize os produtos da sua região e varie o tipo de tabela de informação nutricional dos rótulos dos frutas, legumes e verduras consumidos na semana. alimentos e compare-os para ajudar na escolha de Compre os alimentos da estação e esteja atento alimentos mais saudáveis; escolha aqueles com para a qualidade e o estado de conservação. menores percentuais de gorduras, açúcar e sódio. - Use pequenas quantidades de óleo vegetal quando cozinhar. Prefira formas de preparo que Diretriz 4 utilizam pouca quantidade de óleo, como assados, Feijões e outros alimentos vegetais ricos em cozidos, ensopados, grelhados. Evite frituras. proteínas - Consuma não mais que 1 porção por dia de óleos - oma 1 porção de feijão por dia. Varie os tipos de vegetais, azeite ou margarina sem ácidos graxos feijões usados (preto, carioquinha, verde, de-corda, trans.
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    204 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA - Consuma não mais que 1 porção do grupo dos Oriente-as a não ficar muito tempo na frente da açúcares e doces por dia. televisão ou em jogos de computador. Estimule-as a - Reduza a quantidade de sal nas preparações e dividir o tempo de lazer entre essas duas opções. evite o uso do saleiro à mesa. A quantidade de sal por dia deve ser, no máximo, uma colher de chá Diretriz Especial 2 rasa, por pessoa, distribuídas em todas as Qualidade sanitária dos alimentos preparações consumidas durante o dia. - Ao manipular os alimentos, siga as normas básicas - Utilize somente sal iodado. Não use sal destinado de higiene, na hora da compra, da preparação, da ao consumo de animais. Ele é prejudicial à saúde conservação e do consumo de alimentos. humana. - Valorize o sabor natural dos alimentos, reduzindo o açúcar ou o sal adicionado a eles. - Acentue o sabor de alimentos cozidos e crus utilizando ervas frescas ou secas ou suco e frutas como tempero. Diretriz 7 Água - Use água tratada ou fervida e filtrada, para beber e para preparar refeições e sucos ou outras bebidas. - Beba pelo menos 2 litros (6 a 8 copos) de água por dia. Dê preferência ao consumo de água nos intervalos das refeições. - Ofereça água para crianças e idosos ao longo de todo o dia. Eles precisam ser estimulados ativamente a ingerir água. Diretriz Especial 1 Atividade física - Torne seu dia-a-dia e lazer mais ativos. Acumule pelo menos 30 minutos de atividade física todos os dias. Movimente-se! Descubra um tipo de atividade física agradável! O prazer é também fundamental para a saúde. - Procure nos serviços de saúde orientações sobre alimentação saudável e atividade física. - Caminhe, dance, ande de bicicleta, jogue bola, brinque com crianças. Escolha estas e outras atividades para movimentar-se. - Aproveite o espaço doméstico e os espaços públicos próximos a sua casa para movimentar-se. Convide os vizinhos e amigos para acompanhá-lo. - Incentive as crianças a realizar brincadeiras que fazem parte de nossa cultura popular e que sejam ativas como aquelas que você fazia na sua infância e ao ar livre: pular corda, correr, amarelinha, esconde- esconde, pega-pega, andar de bicicleta e outras.
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    COLABORADORES 207 Participantes do processo de elaboração FANUT/UFG Estelamaris Tronco Monego Versão Preliminar Lucilene Maria de Souza Elisabetta Recine - Coordenação-Geral da Política Maria do Rosário Gondim Peixoto de Alimentação e Nutrição (CGPAN/DAB/SAS/MS) Veruska Prado Alexandre Geoffrey Cannon - consultor da CGPAN CECAN Norte - Centro Colaborador de Alimentação e Nutrição da Região Norte - Universidade Federal Colaboração na versão preliminar do Pará Elaine Pasquim - Coordenação-Geral da Política de Ana Lúcia Rezende Alimentação e Nutrição (CGPAN/DAB/SAS/MS) Ioná Leda Vieira Figueira Gracy Heijblom - Coordenação-Geral da Política de Rosa Maria Dias Alimentação e Nutrição(CGPAN/DAB/SAS/MS) Janine Coutinho - Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutricional (OPSAN/UnB) CECAN Sudeste - Centro Colaborador em Alimen- tação e Nutrição da Região Sudeste/Escola Nacional Patrícia Radaelli - Universidade de Brasília/UnB de Saúde Pública/Fundação Oswaldo Cruz Denise Cavalcante de Barros Revisão da versão para consulta pública Anelise Rizzolo Oliveira Pinheiro - Coordenação- CECAN Sul - Centro Colaborador de Alimentação e Geral da Política de Alimentação e Nutrição Nutrição da Região Sul - Fundação Universidade (CGPAN/DAB/SAS/MS) Federal do Paraná Elisabetta Recine - Observatório de Política de Cláudia Choma Bettega Almeida Segurança Alimentar e Nutricional; Departamento Maria Thereza J Campos de Nutrição da Universidade de Brasília - (UnB) e Regina Maria Ferreira Lang consultora da CGPAN Maria de Fátima C. C. de Carvalho - Coordenação Conselho Federal de Nutrição Geral da Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN/DAB/SAS/MS) Conselho Regional de Nutrição 3.ª região Conselho Regional de Nutrição 4.ª região Prefeitura Municipal de SP Fundação Rubem Participantes da consulta pública Berta/GENUTI - Grupo de Estudos de Nutrição na ABIA - Associação Brasileira das Indústrias da Terceira Idade Alimentação Maura Márcia Boccato Cora Gomes ABIMA - Associação Brasileira das Indústrias de Secretaria de Vigilância em Saúde SVS/MS Coor- Massas Alimentícias denação de Doenças e Agravos Não-Transmissíveis ANVISA - Gerência - Geral de Alimentos - Ggali/ Beatriz Meireles Fortaleza Anvisa Unisinos ASBRAN - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NUTRIÇÃO Márcia Regina Vitolo ABIR - Associação Brasileira das Indústrias de Refri- Universidade Federal de Pelotas gerantes e de Bebidas Não Alcoólicas Denise Petrucci Gigante ABRABE - Associação Brasileira de Bebidas USP- Faculdade de Ciências Farmacêuticas Associação Brasileira de Leite Longa Vida Prof.ª Terezinha de Jesus Andreoli Pinto Associação Brasileira dos Produtores de Leite - Leite Brasil Grupo de Trabalho para análise das sugestões CECAN Centro-Oeste - Centro Colaborador em da consulta pública Alimentação e Nutrição da Região Centro-Oeste - Adelaide B. C. Oliveira - Coordenação Nacional de
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    208 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Hipertensão e Diabetes - (CNDH/DAB/SAS/MS) FSP/USP) Ana Lúcia da Silva Rezende - Coordenação Estadual Zuleica Portela de Albuquerque - Organização Pan- de Alimentação e Nutrição da Secretaria de Estado Americana da Saúde (OPAS/OMS) Brasil da Saúde do Pará ATAN/SES/PA Andréa Leitão Ribeiro - Coordenação-Geral de Consolidação das sugestões e reelaboração da Gestão da Atenção Básica (CGAB/DAB/SAS/MS) versão final Anelise Rizzolo Oliveira Pinheiro - Coordenação- Anelise Rizzolo Oliveira Pinheiro - Coordenação- Geral da Política de Alimentação e Nutrição Geral da Política de Alimentação e Nutrição CGPAN/DAB/SAS/MS (CGPAN/DAB/SAS/MS) Antônia Maria de Aquino - Agência Nacional de Elisabetta Recine - Observatório de Política de Vigilância Sanitária Segurança Alimentar e Nutricional; Departamento Antônio Cezário - Coordenação Geral de Doenças e de Nutrição da Universidade de Brasília (UnB) e Agravos Não-Transmissíveis CGDANT/SVS consultora da CGPAN Denise Petrucci Gigante - Universidade Federal de Maria de Fátima C. C. de Carvalho - Coordenação- Pelotas - (UFPel) Geral da Política de Alimentação e Nutrição Elisabetta Recine - Observatório de Política de (CGPAN/DAB/SAS/MS) Segurança Alimentar e Nutricional; Departamento de Nutrição da Universidade de Brasília UnB e Contribuições à versão final consultora da CGPAN Ana Beatriz Baptistella Leme da Fonseca - Conselho Inês Rugani R. de Castro - Secretaria Municipal de Regional de Nutrição (CRN-3) Saúde do Rio de Janeiro - (SMS/RJ) Ana Beatriz Vasconcellos - Coordenação Geral da Karla Lisboa Ramos - Agência Nacional de Vigilância Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN/ Sanitária DAB/SAS/MS) Kelva Karina Nogueira de Aquino de Carvalho - Ana Cláudia Marquim Firmo de Araújo - Gerência de Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Produtos Especiais Gpesp/Ggali/Anvisa Nutrição (CGPAN/DAB/SAS/MS) Ana Maria Cavalcante - Coordenação-Geral da Liliane Paula G. Oliveira - Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN/ Política de Alimentação e Nutrição CGPAN/ DAB/SAS/MS) DAB/SAS/MS Ana Marlúcia Oliveira Assis - Centro Colaborador Márcia Costa Pinheiro Reduzino Coordenação- em Alimentação e Nutrição Região Nordeste II Geral da Política de Alimentação e Nutrição Ana Virgínia de Almeida Figueiredo - Gerência de CGPAN/DAB/SAS/MS ( estagiária) Inspeção e Controle de Riscos de Alimentos Gicra/ Maria de Fátima C. C. de Carvalho - Coordenação- Ggali/Anvisa Geral da Política de Alimentação e Nutrição - Andhressa Fagundes Romeiro - Coordenação-Geral (CGPAN/DAB/SAS/MS) da Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN/ Mariana Martins Pereira - Coordenação-Geral da DAB/SAS/MS) Política de Alimentação e Nutrição CGPAN/ Andréa Regina de Oliveira Silva - Gerência de DAB/SAS/MS (estagiária) Inspeção e Controle de Riscos em Alimentos Gicra/ Muriel B. Gubert - Observatório de Políticas de Ggali/Anvisa Segurança Alimentar e Nutricional (OPSAN/UnB) Andréia Galante - Associação Brasileira de Nutrição Rita Araújo Barbalho - Conselho Federal de Nutrição Asbran (CFN) Andréia Leitão - Coordenação de Gestão da Sérgio Ricardo Ischiara Coordenação-Geral da Atenção Básica CGAB/DAB/SAS/ Ministério da Saúde Política de Alimentação e Nutrição CGPAN/DAB/ Anelise Rizzolo Oliveira Pinheiro - Coordenação- SAS/MS Geral da Política de Alimentação e Nutrição Sônia Tucunduva Philippi - Departamento de (CGPAN/DAB/SAS/ MS) Nutrição da Faculdade da Saúde Pública (NUT/ Ângela Karinne Fagundes de Castro - Gerência de
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    COLABORADORES 209 Inspeção e Controle de Riscos em Alimentos Gicra/ Controle de Riscos em Alimentos Gicra/Ggali/Anvisa Ggali/Anvisa Kênia M. Baiocchi de Carvalho - NUT/ FS/ UnB e Antônia Maria de Aquino - Gerência de Produtos Centro de Alimentação Saudável/UnB Especiais (Gpesp/Ggali/Anvisa) Laura Misk de Faria Brant - Gerência de Inspeção e Bethsáida de Abreu Soares Schmitz - NUT/FS/UnB e Controle de Riscos em Alimentos - Gicra/Ggali/ Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Anvisa Nutricional/UnB Lígia Teixeira Mendes de Azevedo - Gerência de Carlos Monteiro - Núcleo de Estudos e Pesquisa em Nutrição Secretaria de Saúde do DF Nutrição e Saúde NUPENS/USP Lucas Medeiros Dantas - Gerência de Produtos Cíntia Ayako Nagano - Gerência de Produtos Especiais GPESP/GGALI/ANVISA Especiais (Gpesp/Ggali/Anvisa) Luciana Sardinha - Coordenação-Geral da Política Daniela Aparecida dos Reis Arquete - Gerência de de Alimentação e Nutrição (GPAN/DAB/SAS/MS) Produtos Especiais (Gpesp/Ggali/Anvisa) Márcia Regina Vitolo - Departamento de Nutrição Dayse Montenegro - Gerência de Nutrição Secre- Unisinos taria de Saúde do DF Marcus Valério Frohe de Oliveira - Divisão de Denise Cavalcante de Barros - Centro Colaborador Controle do Tabagismo e Outros Fatores de em Alimentação e Nutrição da Região Sudeste/ Risco/Inca Ensp/Ficruz Maria de Fátima C. C. de Carvalho - Coordenação- Denise Gigante - Universidade Federal de Pelotas Geral da Política de Alimentação e Nutrição (UFPel) (CGPAN/DAB/SAS) Dillian Adelaine da Silva Goulart - Coordenação Maria Queiroz Maia - Coordenação-Geral da Geral da Política de Alimentação e Nutrição Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN /DAB/ (CGPAN/DAB/SAS/MS) SAS/ MS) Eliane Said Dutra - NUT/FS/UnB e Centro de Mariana Martins Pereira - Estagiária em Alimentação Saudável/UnB Nutrição/CGPAN Elisabete Gonçalves Dutra - Gerência de Produtos Marília Mendonça Leão - Coordenação-Geral da Especiais (Gpesp/Ggali/Anvisa) Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN/DAB/ Estelamaris Tronco Monego - Centro Colaborador SAS/MS) em Alimentação e Nutrição Região Centro-Oeste Marina Kyomi Ito - Centro de Alimentação UFG Saudável/UnB Geila Cerqueira Felipe - Centro Colaborador em Muriel Bauerman Gubert - Observatório de Políticas Alimentação e Nutrição da Região Sudeste/ de Segurança Alimentar e Nutricional/NP3/UnB Ensp/FICruz Oníria Arruda Figueiredo - Conselho Regional de Helen Altoé Duar - Coordenação-Geral da Política Nutrição CRN-3 de Alimentação e Nutrição (CGPAN/DAB/SAS/ MS) Patrícia Gentil - Coordenação-Geral da Política de Hoeck Aureo Souza Miranda - Gerência de Produtos Alimentação e Nutrição 100 (CGPAN/DAB/SAS/MS) Especiais (Gpesp/Ggali/Anvisa) Raquel Assunção Botelho Departamento de Isabella Maria Araújo Costa - estagiária de nutri- Nutrição /UnB ção/CGPAN Reginalice Maria da Graça Bueno Saab - Gerência de Janine Giuberti Coutinho - Observatório de Políticas Inspeção e Controle de Riscos em Alimentos Gicra/ de Segurança Alimentar e Nutricional/NP3/UnB Ggali/Anvisa João Tavares Neto - Gerência de Produtos Especiais Rodrigo Martins de Vargas - Gerência de Produtos (Gpesp/Ggali/Anvisa) Especiais Gpesp/Ggali/Anvisa) Juliana Amorim Ubarana -Coordenação-Geral da Rosane Maria Franklin Pinto - Gerência de Inspeção Politica de Alimentação e Nutrição (CGPAN/DAB/ e Controle de Riscos em Alimentos Gicra/ Ggali/ SAS/MS) Anvisa Karem Gomes Mordenell - Gerência de Inspeção e Rosângela Maciel - Coordenação-Geral da Politica
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    210 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA de Alimentação e Nutrição (CGPAN/DAB/SAS/MS) Sonia Tucunduva Philippi - Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública (NUT/FSP/ USP) Sueli Gonçalves Couto - Divisão de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco/INCA Valéria Paschoal Conselho Regional de Nutrição CRN-3 Zuleica Portela de Albuquerque - Organização Pan- Americana de Saúde OPAS-Brasil Elaboração das tabelas de porções de alimentos e o revisão do n de porções de alimentos para as diretrizes Sonia Tucunduva Philippi - Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública (NUT/FSP/ USP) Versão final Ana Beatriz Vasconcellos - Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN/DAB/ SAS/MS) Anelise Rizzolo Oliveira Pinheiro. Coordenação- Geral da Política de Alimentação e Nutrição - CGPAN/DAB/SAS/MS Elisabetta Recine - Observatório de Política de Segurança Alimentar e Nutricional; Departamento de Nutrição da Universidade de Brasília e consultora da CGPAN Maria de Fátima C. C. de Carvalho - Coordenação- Geral da Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN/DAB/SAS/MS)