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brasil | cidades
Experiências no Brasil
e no mundo mostram como
lideranças empresariais são
fundamentais para melhorar
a gestão das cidades — e
resolver os desafios urbanos
leo branco
N
os últimos dois anos, a prefeitura de santos, no litoral pau-
lista, tem passado por um choque de eficiência que tirou um
bocado de seu ranço de repartição pública e a tornou, em alguns
aspectos, parecida com uma empresa. Um exemplo: os 12 000
servidores municipais agora passam por avaliações de desempe-
nho periódicas, uma prática comum na iniciativa privada. Caso
atinjam os objetivos, que incluem redução de despesas e metas
de produtividade, recebem um salário extra. Neste mês de outu-
bro, cerca de 7 000 estão recebendo um total de 5 milhões de reais
em bônus. A medida teve uma lógica capitalista: desde o ano pas-
sado, quando o sistema entrou em vigor, a prefeitura de Santos
conseguiu juntar 125 milhões de reais em economias e aumento
na arrecadação. A gestão enxuta permitiu melhorar os serviços
públicos. Neste ano, das 19 000 crianças atendidas nas escolas
municipais, perto de 7 000 estão estudando em período integral,
um acréscimo de 20% sobre 2014. Pais de alunos estão sendo con-
tratados para fazer uma espécie de ouvidoria escolar. “Recebo
1 200 reais por mês para tirar dúvidas de outros pais e fazer su-
gestões à direção”, diz a santista Ingrid Scanferla, de 33 anos, que
era dona de casa até ser chamada, em maio, para atuar na escola
em que estuda seu filho Victor, de 12 anos.
Os mentores de prefeitos: em pé, a
partir da esquerda, Ricardo Villela Marino, do
banco Itaú, Wilson Ferreira Júnior, da CPFL,
Carlos Jereissati Filho, do grupo Iguatemi;
sentados, José Ermírio de Moraes Neto, do
grupo Votorantim, Pedro Paulo Diniz, do fundo
Península, Rubens Ometto, da Cosan, e José
Roberto Marinho, das Organizações Globo
Ouça a reportagem na versão digital de EXAME
capitalista
tambEm
E cidadAo
GermanoLüders
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brasil | cidades
comumumempresárioapadrinharum
prefeito—emSantos,Omettoéopadri-
nho. Suas tarefas: definir metas para a
cidadeemconjuntocomosdemaisem-
presários, reunir fundos para executá-
-las e medir resultados. “Compartilho
meu tempo e minha experiência para
ajudar o município a se organizar”, diz
Ometto. “É um dever de cidadão.” Ao
colaborar para resolver os problemas
urbanos, essas iniciativas também tor-
nam as cidades ambientes mais fecun-
dosparaaatividadeempresarial—nes-
taedição, apartirdapágina38,EXAME
traz o ranking 2015 das melhores cida-
des do Brasil para fazer negócios.
ligação estreita
A Cosan tem uma ligação com Santos:
um terminal no porto. Normalmente,
os padrinhos no projeto têm alguma
relação com as 12 cidades participan-
tes,eporissoconseguemenxergarseus
problemas. Em Campinas, no interior
paulista,WilsonFerreiraJúnior,presi-
dente da companhia de energia CPFL,
lá sediada, ficou intrigado com um da-
do. “Campinas é a economia mais rica
da nossa área de cobertura, mas não
estava em primeiro lugar em novas li-
gaçõesdeenergia”,dizFerreiraJúnior.
“Descobrimos que a paralisia da pre-
feitura colaborava para o descompas-
Santos não está conseguindo esses
avanços sozinha. Para definir onde a
prefeitura pode ganhar eficiência, o
prefeito Paulo Alexandre Barbosa
­(PSDB) e seus secretários passam por
uma sabatina a cada três meses com
algunsempresáriosdeporte,comoRu-
bens Ometto, sócio da Cosan, uma das
maiores produtoras de açúcar e etanol
doBrasil,eJoséErmíriodeMoraesNe-
to,conselheirodogrupoVotorantim,de
setores como os de cimento e celulose.
Barbosa faz parte do Juntos pelo De-
senvolvimento Sustentável, projeto
criado em 2012 pela organização social
Comunitas, criada pela ex-primeira-
-dama Ruth Cardoso. O objetivo é reu-
nir empresários e poder público para
melhorar a gestão das cidades. Os en-
contros parecem reuniões de conselho
de empresa. “Ouço críticas, elogios e
recomendações”, diz Barbosa. Um dos
princípios que ajudam o Juntos pelo
Desenvolvimento Sustentável a obter
resultados é a seleção rigorosa das ci-
dades. A escolha começa por submeter
o prefeito a extensas entrevistas sobre
sua trajetória política. “Buscamos lide-
ranças promissoras de diversos parti-
dos”, diz Regina Célia Esteves de Si-
queira, presidente da Comunitas. “O
importante é o prefeito estar aberto a
trabalhar em conjunto.” No projeto, é
so.” Até abril deste ano, os alvarás de
construção só eram liberados após a
vistoria de um dos 40 fiscais munici-
pais. Devido ao grande volume de pe-
didos, a espera chegava a cinco meses.
ComoapoiodaFalconi,consultoriaem
gestão contratada pelos empresários, a
prefeitura de Campinas criou uma via
rápida para os alvarás de imóveis com
até 500 metros quadrados. “O interes-
sado entrega a papelada e recebe a li-
cença em três dias, sem passar por um
fiscal”, afirma o prefeito Jonas Doni-
zette (PSB). “A prefeitura só fiscaliza
projetos com problemas de documen-
tação.” Em Paraty, no litoral fluminen-
se, apadrinhada por José Roberto Ma-
rinho, sócio das Organizações Globo
que tem uma pousada na cidade, um
recadastramento imobiliário feito com
o apoio da Falconi, em 2013, descobriu
que cerca de 5 000 unidades nunca ha-
viamrecolhidooimposto predial e ter-
ritorial urbano. “É um terço de nossos
contribuintes”, diz o prefeito Carlos
José Gama Miranda (PT). “Com a in-
clusão desses imóveis, a arrecadação
cresceu50%semo aumento de impos-
tos.”Osrecursospermitiramqueapre-
feitura investisse em saneamento bási-
co — até o ano passado, os 35 000 mo-
radoresdeParatytomavamáguadeum
poço sem tratamento. Agora, 70% re-
cebem água tratada, e isso colaborou
Escola EM Santos:
o prefeito Barbosa está
melhorando a educação com
o apoio de empresários
Padrinhos endinheirados
Quem são os envolvidos no projeto Juntos pelo Desenvolvimento Sustentável, criado pela organização social Comunitas e presente em 12 cidades brasileiras — e alguns dos resultados já obtidos
O que foi feito: em 2013, num esforço para
equilibrar as contas, os gastos da prefeitura foram
comparados aos de outras cidades e os desperdí-
cios mapeados. As medidas garantiram o primeiro
superávit em 20 anos. Um novo processo para a
concessão de licenças de construção de imóveis
com até 500 metros quadrados reduziu a média
de espera por alvará de cinco meses para três dias
O que foi feito: um recadastramento de casas
e imóveis do comércio descobriu 5 000 unidades
que nunca haviam recolhido imposto predial. O
trabalho ampliou a arrecadação em 50% e permi-
tiu investir em saneamento básico. Até 2014, os
35 000 moradores bebiam água sem tratamento.
Atualmente, 70% dos domicílios estão conecta-
dos a uma rede de distribuição recém-instalada
O que foi feito: os empresários colabora-
ram para a prefeitura montar um software que
acompanha o andamento de 255 metas do
plano de governo do prefeito Eduardo Leite.
O sistema ajudou a definir prioridades. No
começo do ano, ficou pronta a reforma do posto
de saúde na região mais populosa da cidade,
aumentando 50% o atendimento no local
O que foi feito: um sistema de avaliação de
desempenho dos 12 000 servidores municipais
que inclui metas de corte de despesas e produ-
tividade. Quem as atinge ganha um bônus. Os
esforços geraram economia de 125 milhões de
reais e permitiram ampliar os serviços. Neste
ano, 7 000 alunos da rede municipal estudam
emperíodointegral—20%maisdoqueem2014
padrinho: Wilson Ferreira
Júnior (CPFL)
padrinho: José Roberto
Marinho (Organizações Globo)
padrinho: Carlos
Jereissati Filho (Iguatemi)
padrinho: Rubens
Ometto (Cosan)
campinas (sp) Paraty (RJ) Pelotas (RS) Santos (SP)
Cidades participantes: Brotas (SP), Campinas (SP), Corumbataí (SP),
Curitiba (PR), Itirapina (SP), Juiz de Fora (MG), Limeira (SP), Paraty (RJ),
Pelotas (RS), Santos (SP), São Carlos (SP), Teresina (PI)
Lideranças empresariais: Rubens Ometto (Cosan), Wilson Ferreira Júnior
(CPFL), Elie Horn (Cyrela), Jorge Gerdau e Beatriz Gerdau (Gerdau), Carlos
Jereissati Filho (Iguatemi), Ricardo Villela Marino (banco Itaú), José Roberto
Marinho (Organizações Globo), Pedro Paulo Diniz (Península), Ana Helena Vicintin,
Antônio Ermírio de Moraes Neto e José Ermírio de Moraes Neto (Votorantim)
Criado em 2012 pela Comunitas, organização fundada pela ex-primeira-dama Ruth
Cardoso, o projeto reúne recursos e experiência de líderes empresariais para ajudar
os prefeitos de 12 cidades a melhorar a gestão e a qualidade dos serviços públicos
O que é o projeto os resultados
GermanoLüders
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brasil | cidades
para a redução de 60% dos casos de
diarreia detectados no hospital local.
A colaboração de empresários na
gestãodascidadeséumatendênciaque
vem ganhando espaço com o cresci-
mentodoscentrosurbanos.“Avidaem
uma coletividade é cada dia mais com-
plexa”, diz o americano Ben Hecht,
presidente da Living Cities, uma orga-
nização pioneira nesse tipo de arranjo,
fundada em 1991, e que já fez projetos
em 40 municípios americanos. “Ficou
gaúcho Jorge Gerdau para fomentar
boas práticas de gestão pública, os em-
presários redigiram uma carta de in-
tenções ao prefeito Rodrigo Neves
(PT) com 32 metas para ser cumpridas
até 2016, elaboradas por meio de con-
sultas a 5 000 moradores. “Foi um bom
plano para o governo”, diz Neves.
“Criei um gabinete só para cuidar da
execução das medidas.” Uma delas era
oequilíbriodascontasmunicipais.Dos
61 órgãos públicos, 20 foram extintos.
A prefeitura cortou 1 000 dos 3 000
cargos comissionados. Os esforços ge-
raramumaeconomiade40milhõesde
reais,valorquepermitiuquitardívidas
atrasadas e retirar a restrição ao crédi-
to.Desdeentão,aprefeituraconseguiu
775 milhões de reais dos governos es-
tadual e federal e de bancos estrangei-
ros para executar outras metas. Algu-
mas já foram cumpridas: em agosto,
Niterói ganhou uma central de segu-
rança para monitorar imagens de 400
câmeras instaladas em áreas violentas.
O papel da iniciativa privada vai
além da consultoria. Em muitos casos,
os empresários botam a mão no bolso.
No Juntos pelo Desenvolvimento Sus-
tentável,ogrupodeempresáriosinves-
tiu 35 milhões de reais em consultorias
e bolsas de estudo para servidores das
cidadesselecionadasestudaremgestão
pública em universidades como Co-
lúmbia, em Nova York. Em Niterói,
foram 2 milhões de reais para a con-
Exemplos de problemas urbanos pelo mundo resolvidos com a participação da iniciativa privada
O DESAFIO
O DESAFIO
O DESAFIO
O DESAFIO
A SOLUÇÃO
A SOLUÇÃO
A SOLUÇÃO
A SOLUÇÃO
O RESULTADO
O RESULTADO
O RESULTADO
O RESULTADO
A crise econômica grega reduziu os recursos
disponíveis no governo municipal para
oferecer serviços como a conservação
de parques e imóveis públicos
Em 2013, a prefeitura operava no vermelho e
tinha dívidas atrasadas com a União, o que a
impedia de tomar empréstimos para resolver
problemas locais, como segurança pública
A cidade entrou em declínio na década de
80 com o fechamento de metalúrgicas que
eram o motor da economia local. Em 2000, a
renda per capita era a metade da nacional
A área central perdeu 15% dos 40 000
habitantes no período entre 2003 e 2013
devido à falta de empregos e de opções de
transporte público na região
Com 1 milhão de euros do bilionário
americano Michael Bloomberg, a prefeitura
criou um site para encontrar voluntários
e obter recursos para melhorias urbanas
Empresários locais investiram 2 milhões de
reais numa consultoria para ajudar o governo
municipal a sanear as contas e a definir metas
com base nas sugestões de 5 000 moradores
Empresários locais investiram 120
milhões de dólares para atrair empresas
de tecnologia e treinar moradores para as
necessidades dos novos empregadores
Consórcios empresariais doaram 150 milhões de
dólares, que estão sendo investidos em créditos
para habitação e para empresas e em uma linha
de trem entre o centro e subúrbios industriais
Em dois anos, 770 projetos foram
executados, como mutirões para transformar
prédios abandonados em incubadoras
de negócios e centros de convivência
Economia de 40 milhões de reais nas
despesas permitiram à prefeitura quitar
dívidas atrasadas e obter 775 milhões de
reais em linhas de financiamento para obras
Desde 2004, os recursos financiaram a
abertura de 450 empresas e 17 000 postos
de trabalho, cuja média salarial é 30%
superior à americana
Em dois anos, a área central ganhou 1 000
moradores. A taxa de ocupação dos imóveis
atualmente é de 97%. Em obras, o trem
deverá entrar em operação em 2017
aTENAS (GRÉCIA)
niterói (brasil)
CLEVELaND (ESTADOS UNIDOS)
DETROIT (ESTADOS UNIDOS)
Com a ajuda dos capitalistas
difícil para o Estado resolver, sozinho,
todos os desafios urbanos.”
A iniciativa privada costuma ser útil
pararesolverumproblemacrônicodas
administrações municipais brasileiras:
a falta de planejamento. O caso de Ni-
terói,noRiodeJaneiro,éexemplar.Há
três anos, um grupo de 20 empresários
criou o movimento Niterói Que Que-
remos. O objetivo: tirar a cidade de
uma situação difícil. Na época, as con-
tas da prefeitura estavam no vermelho.
Dívidas atrasadas com a União impe-
diam a tomada de recursos para resol-
ver problemas locais, como os índices
alarmantes de criminalidade. “Estáva-
mos deixando de ser uma cidade atra-
ente para os investimentos”, diz o ni-
teroiense Robson Rodrigues Gouvêa,
conselheiro da Leader, rede de lojas
sediada na capital fluminense e parti-
cipante do Niterói Que Queremos. Em
parceria com o Movimento Brasil
Competitivo,fundadopeloempresário
RicardoFunari/BrazilPhotos/GettyImages
RebeccaCook/Reuters
LOUISAGOULIAMAKI/AFPPHOTO
KenRedding/Corbis/latinstock
44 | www.exame.com
brasil | cidades
para Ben Hecht, da ONG americana Living Cities,
a ajuda privada dá eficácia ao poder público
“Falta inovação NA
GESTão das cidades”
O
trabalho do americano Ben
Hecht é convencer bilioná-
rios como Bill Gates e a fa-
mília Rockefeller a contribuir com
recursos e ideias para resolver de-
safios urbanos. Hecht é presidente
da Living Cities, organização fun-
dada em 1991 e que investiu 2 bi-
lhões de dólares em cidades com
passadodemágestão,comoDetroit
e Nova Orleans. Em parceria com a
Universidade Harvard, a Living
Cities ensinou práticas da iniciativa
privada a líderes de 40 municípios.
De seu escritório, em Nova York,
Hecht explica por que os empresá-
riosdãoeficiênciaaopoderpúblico.
Por que essas parcerias são
importantes para a gestão
municipal?
É comum ver prefeitos e servidores
focados em questões locais e dei-
xando de buscar inspiração fora de
casa. Faltam estímulos para a ino-
vação. Isso ocorre por falta de gen-
te capacitada e por haver líderes
avessos a riscos. O resultado é que
as mudanças demoram a aconte-
cer. No setor privado, é o contrário:
as empresas estão sempre olhando
ao redor para copiar o que deu cer-
to. Esse espírito pode tornar o po-
der público mais rápido e inovador
na solução de problemas.
O que os empresários ganham
ao ajudar as cidades?
Uma empresa necessita de mão de
obra qualificada e de um mercado
consumidor pujante, o que de­
pende de um governo capaz de
oferecer serviços públicos de qua-
lidade. Como as cidades são a in-
terface mais próxima dos cida-
dãos, ajudar na melhoria urbana é
uma maneira eficaz de criar opor-
tunidades para os negócios.
Como construir uma
cooperação bem-sucedida?
Omaiordesafioéconquistarrespei-
tomútuo.Hádesconfiançanosetor
público sobre os interesses da ini-
ciativa privada em ajudar. Do lado
dosempresários,omedoéqueseus
recursos sejam mal empregados.
Metasdefinidasemcomumacordo
e passos claros evitam esses ruídos.
O que deve ser evitado?
A palavra final sobre a adoção de
umapolíticapúblicaparaascidades
nãopodeserdosempresários.Éum
desrespeito com os cidadãos que
escolheram um líder para tomar
esse tipo de decisão. O papel do se-
tor privado é ajudar os prefeitos a
encontrar saídas para os desafios.
ben hecht: resolver
os problemas urbanos
é uma maneira eficaz
de criar oportunidades
para os negócios
sultoria Macroplan ajudar a prefeitura
a colocar as metas em prática. No lon-
go prazo, esses recursos podem ter
efeitos multiplicadores. Foi o que
aconteceu em Cleveland, no nordeste
dos Estados Unidos. Um dos berços da
industrialização americana, a cidade
entrou em declínio nos anos 80 com o
fechamento de metalúrgicas que mo-
vimentavam a economia local. Os mo-
radores sofreram com a perda de em-
pregoemmassaeaquedadarendaper
capita — em 2000, ela era metade da
média americana. Em 2004, empresá-
rios locais criaram o Fundo pelo Nosso
Desenvolvimento Econômico para
atrair empresas de tecnologia. Em par-
ceria com escolas da região, o grupo
paga treinamentos para a mão de obra
se qualificar. Em dez anos, foram in-
vestidos 120 milhões de dólares, o su-
ficiente para gerar 17 000 empregos
em 450 novos negócios. “No período,
esses negócios desembolsaram outros
700 milhões de dólares em salários”,
diz Brad Whitehead, economista que
fundou o projeto depois de atuar du-
rante 20 anos como profissional da
consultoria McKinsey.
Com a visão que tem dos dois lados,
o bilionário da mídia Michael Bloom-
berg, ex-prefeito de Nova York, criou
em 2013 um prêmio para prefeituras
com boas ideias de colaboração com o
empresariado. Em dois anos, dez cida-
desforamcontempladasentre460con-
correntes. O governo de Atenas, na
Grécia, recebeu 1 milhão de euros para
montaroSynAthina,siteemqueosate-
nienses podem propor melhorias em
estruturaspúblicasabandonadas,como
prédios e parques, e encontrar gente
disposta a rachar os custos. Desde que
entrounoar,em2013,ositeajudou770
projetosasairdopapel.“Acriseeconô-
mica grega reduziu a capacidade de
investimento estatal”, diz Amalia Ze-
pou, vice-prefeita de Atenas e criadora
do SynAthina. “O capital privado é um
aliado para contornar o problema.” Os
bons exemplos de muitas cidades —
tambémretratadosnaspáginasaseguir,
nareportagemdosmelhoresambientes
para fazer negócios — mostram que
essa união pode render muito. n

Juntos Pelo Desenvolvimento Sustentável | Revista Exame

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    38 | www.exame.com28 de outubro de 2015 | 39 brasil | cidades Experiências no Brasil e no mundo mostram como lideranças empresariais são fundamentais para melhorar a gestão das cidades — e resolver os desafios urbanos leo branco N os últimos dois anos, a prefeitura de santos, no litoral pau- lista, tem passado por um choque de eficiência que tirou um bocado de seu ranço de repartição pública e a tornou, em alguns aspectos, parecida com uma empresa. Um exemplo: os 12 000 servidores municipais agora passam por avaliações de desempe- nho periódicas, uma prática comum na iniciativa privada. Caso atinjam os objetivos, que incluem redução de despesas e metas de produtividade, recebem um salário extra. Neste mês de outu- bro, cerca de 7 000 estão recebendo um total de 5 milhões de reais em bônus. A medida teve uma lógica capitalista: desde o ano pas- sado, quando o sistema entrou em vigor, a prefeitura de Santos conseguiu juntar 125 milhões de reais em economias e aumento na arrecadação. A gestão enxuta permitiu melhorar os serviços públicos. Neste ano, das 19 000 crianças atendidas nas escolas municipais, perto de 7 000 estão estudando em período integral, um acréscimo de 20% sobre 2014. Pais de alunos estão sendo con- tratados para fazer uma espécie de ouvidoria escolar. “Recebo 1 200 reais por mês para tirar dúvidas de outros pais e fazer su- gestões à direção”, diz a santista Ingrid Scanferla, de 33 anos, que era dona de casa até ser chamada, em maio, para atuar na escola em que estuda seu filho Victor, de 12 anos. Os mentores de prefeitos: em pé, a partir da esquerda, Ricardo Villela Marino, do banco Itaú, Wilson Ferreira Júnior, da CPFL, Carlos Jereissati Filho, do grupo Iguatemi; sentados, José Ermírio de Moraes Neto, do grupo Votorantim, Pedro Paulo Diniz, do fundo Península, Rubens Ometto, da Cosan, e José Roberto Marinho, das Organizações Globo Ouça a reportagem na versão digital de EXAME capitalista tambEm E cidadAo GermanoLüders
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    40 | www.exame.com28 de outubro de 2015 | 41 brasil | cidades comumumempresárioapadrinharum prefeito—emSantos,Omettoéopadri- nho. Suas tarefas: definir metas para a cidadeemconjuntocomosdemaisem- presários, reunir fundos para executá- -las e medir resultados. “Compartilho meu tempo e minha experiência para ajudar o município a se organizar”, diz Ometto. “É um dever de cidadão.” Ao colaborar para resolver os problemas urbanos, essas iniciativas também tor- nam as cidades ambientes mais fecun- dosparaaatividadeempresarial—nes- taedição, apartirdapágina38,EXAME traz o ranking 2015 das melhores cida- des do Brasil para fazer negócios. ligação estreita A Cosan tem uma ligação com Santos: um terminal no porto. Normalmente, os padrinhos no projeto têm alguma relação com as 12 cidades participan- tes,eporissoconseguemenxergarseus problemas. Em Campinas, no interior paulista,WilsonFerreiraJúnior,presi- dente da companhia de energia CPFL, lá sediada, ficou intrigado com um da- do. “Campinas é a economia mais rica da nossa área de cobertura, mas não estava em primeiro lugar em novas li- gaçõesdeenergia”,dizFerreiraJúnior. “Descobrimos que a paralisia da pre- feitura colaborava para o descompas- Santos não está conseguindo esses avanços sozinha. Para definir onde a prefeitura pode ganhar eficiência, o prefeito Paulo Alexandre Barbosa ­(PSDB) e seus secretários passam por uma sabatina a cada três meses com algunsempresáriosdeporte,comoRu- bens Ometto, sócio da Cosan, uma das maiores produtoras de açúcar e etanol doBrasil,eJoséErmíriodeMoraesNe- to,conselheirodogrupoVotorantim,de setores como os de cimento e celulose. Barbosa faz parte do Juntos pelo De- senvolvimento Sustentável, projeto criado em 2012 pela organização social Comunitas, criada pela ex-primeira- -dama Ruth Cardoso. O objetivo é reu- nir empresários e poder público para melhorar a gestão das cidades. Os en- contros parecem reuniões de conselho de empresa. “Ouço críticas, elogios e recomendações”, diz Barbosa. Um dos princípios que ajudam o Juntos pelo Desenvolvimento Sustentável a obter resultados é a seleção rigorosa das ci- dades. A escolha começa por submeter o prefeito a extensas entrevistas sobre sua trajetória política. “Buscamos lide- ranças promissoras de diversos parti- dos”, diz Regina Célia Esteves de Si- queira, presidente da Comunitas. “O importante é o prefeito estar aberto a trabalhar em conjunto.” No projeto, é so.” Até abril deste ano, os alvarás de construção só eram liberados após a vistoria de um dos 40 fiscais munici- pais. Devido ao grande volume de pe- didos, a espera chegava a cinco meses. ComoapoiodaFalconi,consultoriaem gestão contratada pelos empresários, a prefeitura de Campinas criou uma via rápida para os alvarás de imóveis com até 500 metros quadrados. “O interes- sado entrega a papelada e recebe a li- cença em três dias, sem passar por um fiscal”, afirma o prefeito Jonas Doni- zette (PSB). “A prefeitura só fiscaliza projetos com problemas de documen- tação.” Em Paraty, no litoral fluminen- se, apadrinhada por José Roberto Ma- rinho, sócio das Organizações Globo que tem uma pousada na cidade, um recadastramento imobiliário feito com o apoio da Falconi, em 2013, descobriu que cerca de 5 000 unidades nunca ha- viamrecolhidooimposto predial e ter- ritorial urbano. “É um terço de nossos contribuintes”, diz o prefeito Carlos José Gama Miranda (PT). “Com a in- clusão desses imóveis, a arrecadação cresceu50%semo aumento de impos- tos.”Osrecursospermitiramqueapre- feitura investisse em saneamento bási- co — até o ano passado, os 35 000 mo- radoresdeParatytomavamáguadeum poço sem tratamento. Agora, 70% re- cebem água tratada, e isso colaborou Escola EM Santos: o prefeito Barbosa está melhorando a educação com o apoio de empresários Padrinhos endinheirados Quem são os envolvidos no projeto Juntos pelo Desenvolvimento Sustentável, criado pela organização social Comunitas e presente em 12 cidades brasileiras — e alguns dos resultados já obtidos O que foi feito: em 2013, num esforço para equilibrar as contas, os gastos da prefeitura foram comparados aos de outras cidades e os desperdí- cios mapeados. As medidas garantiram o primeiro superávit em 20 anos. Um novo processo para a concessão de licenças de construção de imóveis com até 500 metros quadrados reduziu a média de espera por alvará de cinco meses para três dias O que foi feito: um recadastramento de casas e imóveis do comércio descobriu 5 000 unidades que nunca haviam recolhido imposto predial. O trabalho ampliou a arrecadação em 50% e permi- tiu investir em saneamento básico. Até 2014, os 35 000 moradores bebiam água sem tratamento. Atualmente, 70% dos domicílios estão conecta- dos a uma rede de distribuição recém-instalada O que foi feito: os empresários colabora- ram para a prefeitura montar um software que acompanha o andamento de 255 metas do plano de governo do prefeito Eduardo Leite. O sistema ajudou a definir prioridades. No começo do ano, ficou pronta a reforma do posto de saúde na região mais populosa da cidade, aumentando 50% o atendimento no local O que foi feito: um sistema de avaliação de desempenho dos 12 000 servidores municipais que inclui metas de corte de despesas e produ- tividade. Quem as atinge ganha um bônus. Os esforços geraram economia de 125 milhões de reais e permitiram ampliar os serviços. Neste ano, 7 000 alunos da rede municipal estudam emperíodointegral—20%maisdoqueem2014 padrinho: Wilson Ferreira Júnior (CPFL) padrinho: José Roberto Marinho (Organizações Globo) padrinho: Carlos Jereissati Filho (Iguatemi) padrinho: Rubens Ometto (Cosan) campinas (sp) Paraty (RJ) Pelotas (RS) Santos (SP) Cidades participantes: Brotas (SP), Campinas (SP), Corumbataí (SP), Curitiba (PR), Itirapina (SP), Juiz de Fora (MG), Limeira (SP), Paraty (RJ), Pelotas (RS), Santos (SP), São Carlos (SP), Teresina (PI) Lideranças empresariais: Rubens Ometto (Cosan), Wilson Ferreira Júnior (CPFL), Elie Horn (Cyrela), Jorge Gerdau e Beatriz Gerdau (Gerdau), Carlos Jereissati Filho (Iguatemi), Ricardo Villela Marino (banco Itaú), José Roberto Marinho (Organizações Globo), Pedro Paulo Diniz (Península), Ana Helena Vicintin, Antônio Ermírio de Moraes Neto e José Ermírio de Moraes Neto (Votorantim) Criado em 2012 pela Comunitas, organização fundada pela ex-primeira-dama Ruth Cardoso, o projeto reúne recursos e experiência de líderes empresariais para ajudar os prefeitos de 12 cidades a melhorar a gestão e a qualidade dos serviços públicos O que é o projeto os resultados GermanoLüders
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    42 | www.exame.com28 de outubro de 2015 | 43 brasil | cidades para a redução de 60% dos casos de diarreia detectados no hospital local. A colaboração de empresários na gestãodascidadeséumatendênciaque vem ganhando espaço com o cresci- mentodoscentrosurbanos.“Avidaem uma coletividade é cada dia mais com- plexa”, diz o americano Ben Hecht, presidente da Living Cities, uma orga- nização pioneira nesse tipo de arranjo, fundada em 1991, e que já fez projetos em 40 municípios americanos. “Ficou gaúcho Jorge Gerdau para fomentar boas práticas de gestão pública, os em- presários redigiram uma carta de in- tenções ao prefeito Rodrigo Neves (PT) com 32 metas para ser cumpridas até 2016, elaboradas por meio de con- sultas a 5 000 moradores. “Foi um bom plano para o governo”, diz Neves. “Criei um gabinete só para cuidar da execução das medidas.” Uma delas era oequilíbriodascontasmunicipais.Dos 61 órgãos públicos, 20 foram extintos. A prefeitura cortou 1 000 dos 3 000 cargos comissionados. Os esforços ge- raramumaeconomiade40milhõesde reais,valorquepermitiuquitardívidas atrasadas e retirar a restrição ao crédi- to.Desdeentão,aprefeituraconseguiu 775 milhões de reais dos governos es- tadual e federal e de bancos estrangei- ros para executar outras metas. Algu- mas já foram cumpridas: em agosto, Niterói ganhou uma central de segu- rança para monitorar imagens de 400 câmeras instaladas em áreas violentas. O papel da iniciativa privada vai além da consultoria. Em muitos casos, os empresários botam a mão no bolso. No Juntos pelo Desenvolvimento Sus- tentável,ogrupodeempresáriosinves- tiu 35 milhões de reais em consultorias e bolsas de estudo para servidores das cidadesselecionadasestudaremgestão pública em universidades como Co- lúmbia, em Nova York. Em Niterói, foram 2 milhões de reais para a con- Exemplos de problemas urbanos pelo mundo resolvidos com a participação da iniciativa privada O DESAFIO O DESAFIO O DESAFIO O DESAFIO A SOLUÇÃO A SOLUÇÃO A SOLUÇÃO A SOLUÇÃO O RESULTADO O RESULTADO O RESULTADO O RESULTADO A crise econômica grega reduziu os recursos disponíveis no governo municipal para oferecer serviços como a conservação de parques e imóveis públicos Em 2013, a prefeitura operava no vermelho e tinha dívidas atrasadas com a União, o que a impedia de tomar empréstimos para resolver problemas locais, como segurança pública A cidade entrou em declínio na década de 80 com o fechamento de metalúrgicas que eram o motor da economia local. Em 2000, a renda per capita era a metade da nacional A área central perdeu 15% dos 40 000 habitantes no período entre 2003 e 2013 devido à falta de empregos e de opções de transporte público na região Com 1 milhão de euros do bilionário americano Michael Bloomberg, a prefeitura criou um site para encontrar voluntários e obter recursos para melhorias urbanas Empresários locais investiram 2 milhões de reais numa consultoria para ajudar o governo municipal a sanear as contas e a definir metas com base nas sugestões de 5 000 moradores Empresários locais investiram 120 milhões de dólares para atrair empresas de tecnologia e treinar moradores para as necessidades dos novos empregadores Consórcios empresariais doaram 150 milhões de dólares, que estão sendo investidos em créditos para habitação e para empresas e em uma linha de trem entre o centro e subúrbios industriais Em dois anos, 770 projetos foram executados, como mutirões para transformar prédios abandonados em incubadoras de negócios e centros de convivência Economia de 40 milhões de reais nas despesas permitiram à prefeitura quitar dívidas atrasadas e obter 775 milhões de reais em linhas de financiamento para obras Desde 2004, os recursos financiaram a abertura de 450 empresas e 17 000 postos de trabalho, cuja média salarial é 30% superior à americana Em dois anos, a área central ganhou 1 000 moradores. A taxa de ocupação dos imóveis atualmente é de 97%. Em obras, o trem deverá entrar em operação em 2017 aTENAS (GRÉCIA) niterói (brasil) CLEVELaND (ESTADOS UNIDOS) DETROIT (ESTADOS UNIDOS) Com a ajuda dos capitalistas difícil para o Estado resolver, sozinho, todos os desafios urbanos.” A iniciativa privada costuma ser útil pararesolverumproblemacrônicodas administrações municipais brasileiras: a falta de planejamento. O caso de Ni- terói,noRiodeJaneiro,éexemplar.Há três anos, um grupo de 20 empresários criou o movimento Niterói Que Que- remos. O objetivo: tirar a cidade de uma situação difícil. Na época, as con- tas da prefeitura estavam no vermelho. Dívidas atrasadas com a União impe- diam a tomada de recursos para resol- ver problemas locais, como os índices alarmantes de criminalidade. “Estáva- mos deixando de ser uma cidade atra- ente para os investimentos”, diz o ni- teroiense Robson Rodrigues Gouvêa, conselheiro da Leader, rede de lojas sediada na capital fluminense e parti- cipante do Niterói Que Queremos. Em parceria com o Movimento Brasil Competitivo,fundadopeloempresário RicardoFunari/BrazilPhotos/GettyImages RebeccaCook/Reuters LOUISAGOULIAMAKI/AFPPHOTO KenRedding/Corbis/latinstock
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    44 | www.exame.com brasil| cidades para Ben Hecht, da ONG americana Living Cities, a ajuda privada dá eficácia ao poder público “Falta inovação NA GESTão das cidades” O trabalho do americano Ben Hecht é convencer bilioná- rios como Bill Gates e a fa- mília Rockefeller a contribuir com recursos e ideias para resolver de- safios urbanos. Hecht é presidente da Living Cities, organização fun- dada em 1991 e que investiu 2 bi- lhões de dólares em cidades com passadodemágestão,comoDetroit e Nova Orleans. Em parceria com a Universidade Harvard, a Living Cities ensinou práticas da iniciativa privada a líderes de 40 municípios. De seu escritório, em Nova York, Hecht explica por que os empresá- riosdãoeficiênciaaopoderpúblico. Por que essas parcerias são importantes para a gestão municipal? É comum ver prefeitos e servidores focados em questões locais e dei- xando de buscar inspiração fora de casa. Faltam estímulos para a ino- vação. Isso ocorre por falta de gen- te capacitada e por haver líderes avessos a riscos. O resultado é que as mudanças demoram a aconte- cer. No setor privado, é o contrário: as empresas estão sempre olhando ao redor para copiar o que deu cer- to. Esse espírito pode tornar o po- der público mais rápido e inovador na solução de problemas. O que os empresários ganham ao ajudar as cidades? Uma empresa necessita de mão de obra qualificada e de um mercado consumidor pujante, o que de­ pende de um governo capaz de oferecer serviços públicos de qua- lidade. Como as cidades são a in- terface mais próxima dos cida- dãos, ajudar na melhoria urbana é uma maneira eficaz de criar opor- tunidades para os negócios. Como construir uma cooperação bem-sucedida? Omaiordesafioéconquistarrespei- tomútuo.Hádesconfiançanosetor público sobre os interesses da ini- ciativa privada em ajudar. Do lado dosempresários,omedoéqueseus recursos sejam mal empregados. Metasdefinidasemcomumacordo e passos claros evitam esses ruídos. O que deve ser evitado? A palavra final sobre a adoção de umapolíticapúblicaparaascidades nãopodeserdosempresários.Éum desrespeito com os cidadãos que escolheram um líder para tomar esse tipo de decisão. O papel do se- tor privado é ajudar os prefeitos a encontrar saídas para os desafios. ben hecht: resolver os problemas urbanos é uma maneira eficaz de criar oportunidades para os negócios sultoria Macroplan ajudar a prefeitura a colocar as metas em prática. No lon- go prazo, esses recursos podem ter efeitos multiplicadores. Foi o que aconteceu em Cleveland, no nordeste dos Estados Unidos. Um dos berços da industrialização americana, a cidade entrou em declínio nos anos 80 com o fechamento de metalúrgicas que mo- vimentavam a economia local. Os mo- radores sofreram com a perda de em- pregoemmassaeaquedadarendaper capita — em 2000, ela era metade da média americana. Em 2004, empresá- rios locais criaram o Fundo pelo Nosso Desenvolvimento Econômico para atrair empresas de tecnologia. Em par- ceria com escolas da região, o grupo paga treinamentos para a mão de obra se qualificar. Em dez anos, foram in- vestidos 120 milhões de dólares, o su- ficiente para gerar 17 000 empregos em 450 novos negócios. “No período, esses negócios desembolsaram outros 700 milhões de dólares em salários”, diz Brad Whitehead, economista que fundou o projeto depois de atuar du- rante 20 anos como profissional da consultoria McKinsey. Com a visão que tem dos dois lados, o bilionário da mídia Michael Bloom- berg, ex-prefeito de Nova York, criou em 2013 um prêmio para prefeituras com boas ideias de colaboração com o empresariado. Em dois anos, dez cida- desforamcontempladasentre460con- correntes. O governo de Atenas, na Grécia, recebeu 1 milhão de euros para montaroSynAthina,siteemqueosate- nienses podem propor melhorias em estruturaspúblicasabandonadas,como prédios e parques, e encontrar gente disposta a rachar os custos. Desde que entrounoar,em2013,ositeajudou770 projetosasairdopapel.“Acriseeconô- mica grega reduziu a capacidade de investimento estatal”, diz Amalia Ze- pou, vice-prefeita de Atenas e criadora do SynAthina. “O capital privado é um aliado para contornar o problema.” Os bons exemplos de muitas cidades — tambémretratadosnaspáginasaseguir, nareportagemdosmelhoresambientes para fazer negócios — mostram que essa união pode render muito. n