40 anos do IEL
na trajetória da
indústria no Brasil
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNI                  Coordenação Editorial                      Acervos
                                                          Maylena Clécia – Link Design               Agência JB
Presidente
                                                          Neusa Cavalcante                           Arquivo Nacional
Armando de Queiroz Monteiro Neto
                                                                                                     Banco de Mídia do Sistema Indústria
                                                          Pesquisa Histórica e Texto                 Biblioteca da Câmara dos Deputados
                                                          Neusa Cavalcante                           Biblioteca da CNI
INSTITUTO EUVALDO LODI – IEL / NÚCLEO CENTRAL
                                                                                                     Biblioteca da Firjan
                                                          Assistente de Pesquisa                     Biblioteca do INEP/MEC
Conselho Superior do IEL
                                                          Viviane Aronowicz                          Biblioteca Nacional
Armando de Queiroz Monteiro Neto
                                                          Helena Moreira Schiel                      Correio Braziliense
                                                                                                     Embraer
Diretor-Geral
                                                          Projeto Gráfico e Diagramação              Fundação Getúlio Vargas
Paulo Afonso Ferreira
                                                          Leticia Brasileiro                         Furnas Centrais Elétricas S. A.
                                                                                                     Link Design
Superintendente
                                                          Copidesque e Revisão                       Museu Histórico da USP
Carlos Roberto Rocha Cavalcante
                                                          Irene Ernest Dias                          Petrobrás
                                                                                                     Universidade de Brasília
                                                          Pesquisa Iconográfica                      Universidade de Campinas
                                                          Inaê Quirino Santos
                                                          Maylena Clécia
Coordenação Institucional
                                                          Viviane Aronowicz
Júlio Cezar de Andrade Miranda
                                                                                                     Instituto Euvaldo Lodi
                                                          Legendas                                   IEL/Núcleo Central
Revisão Técnica
                                                          Inaê Quirino Santos                        Setor Bancário Norte, Quadra 1, Bloco B
Oto Morato Álvares
                                                                                                     Edifício CNC CEP 70041-902-Brasília
Maria José M. Souza
                                                          Editoração Eletrônica                      Tel (61) 3317-9080
                                                          Didier Max Nogueira                        Fax (61) 3317-9360
Apoio Técnico
                                                          Leticia Brasileiro                         www.iel.org.br
Ana Amélia Ribeiro Barbosa
Thiago Endres da Silva Gomes
                                                          Tratamento de Imagens                      © 2009. IEL – Instituto Euvaldo Lodi
Vítor de Lara Medina Boaventura
                                                          Didier Max Nogueira                        Todos os direitos reservados. Nenhuma
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Gabriela Leitão
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                                                          Gráfica Brasil                             o posicionamento das Entidades do
Apoio Técnico
                                                                                                     Sistema Indústria.
Ana Suely Pinho Lopes
Gabriela Leitão
Mércia Alencar Almeida
                                                             C376q
Suzana Curi Guerra
Vitor Emanuel Ramos                                               Cavalcante, Neusa.

                                                                       40 anos do IEL na trajetória da indústria no Brasil / Neusa Cavalcante.

                                                                  – Brasília: IEL, 2009.

Selo comemorativo aos 40 anos do IEL                                   177 p. : il.
Página 1
                                                                       ISBN 978-85-87257-42-0

                                                                       1. Indústria – Brasil 2. História da Indústria – Brasil I. Título

                                                                                                                                   CDU: 338.1(81)
40 anos do IEL
na trajetória da
indústria no Brasil

               Neusa Cavalcante




        Brasília
         2009
Os primórdios da   indústria no Brasil
                         airtsúdni
                            11

A   ‘revolução industrial’ brasileira
    ’lairtsudni oãculover‘
                            31

  Internacionalização da   produção industrial
                           oãcudorp
                            67

                 A   criação do IEL
                     oãcairc
                            85

A revolução técnico-científica da   informação
                                    oãçamrofni
                           113

              Avanços e    desafios
                           sofiased
                           145
Apresentação
                                                                                                 oãçatneserpA
O Instituto Euvaldo Lodi – IEL completa 40 anos no momento em que o Brasil discute a retomada do crescimento eco-
nômico. O país quer uma indústria forte e preparada para se inserir no cenário internacional. Para isso, os dirigentes das
empresas devem ser qualificados e orientados em relação aos riscos e oportunidades do mundo globalizado. Ao longo
das últimas quatro décadas, o IEL tem dado a sua contribuição para o país ao formar profissionais capazes de inovar na
gestão de seus negócios.
Euvaldo Lodi é a inspiração para o trabalho da entidade que leva seu nome. O líder industrial que ajudou a fundar a
Confederação Nacional da Indústria – CNI tinha uma clara visão sobre a função social da indústria e a sua importância na
formação dos recursos humanos. Identificou a vinculação entre a educação e a indústria como base para o desenvolvi-
mento da nação e tornou-se um defensor do processo de formação profissional.
A proposta inicial da entidade era aproximar os alunos universitários do ambiente profissional ao coordenar programas
de estágios nas fábricas. Era uma forma de levar o conhecimento acadêmico para dentro das empresas e atualizar o pen-
samento da universidade em relação aos desafios enfrentados pelo setor produtivo, o que levava à criação de soluções
inovadoras para os problemas da indústria.
A interação entre empresas e centros de conhecimento continua sendo um dos principais instrumentos do IEL para in-
centivar a inovação no setor produtivo, considerada estratégica para o crescimento sustentável do país. No entanto, sem
perder os rumos traçados por seus fundadores, a atuação desse instituto foi diversificada nos últimos anos e suas linhas
de ação voltadas para o desenvolvimento empresarial foram ampliadas. A nova missão institucional da entidade inclui o
aperfeiçoamento da gestão e a capacitação de empresários.
O contato freqüente com experiências internacionais levou o IEL a ser procurado por empresários que buscam melho-
rar a gestão de seus negócios, inovar em processos e produtos, e modernizar as práticas empresariais. Para suprir essa
demanda, além de incrementar os produtos tradicionais de estágio e bolsas educacionais, o instituto passou a oferecer
programas destinados a capacitar empresários de micro e pequenas empresas e também altos executivos. Parcerias
inovadoras com universidades brasileiras e os mais avançados centros de estudos internacionais permitem a oferta de
produtos e serviços de qualidade e adequados à realidade do país.
O diálogo permanente com as empresas torna o Instituto Euvaldo Lodi uma das principais entidades de promoção do
desenvolvimento e do aumento da competitividade da indústria nacional. Ao interpretar a dinâmica das mudanças dian-
te dos avanços tecnológicos, o IEL consolida-se como uma instituição moderna e capaz de oferecer as condições funda-
mentais para fortalecer o setor industrial. A capacitação empresarial, o aperfeiçoamento da gestão e o suporte à inovação
são o caminho para o país criar mais emprego e renda para o trabalhador brasileiro.


Armando Monteiro Neto
Presidente da Confederação Nacional da Indústria – CNI
O IEL – Instituto Euvaldo Lodi chega à maioridade dos 40 anos sendo o elo do Sistema CNI – Confederação
Nacional da Indústria, que está com um grande desafio atual da indústria brasileira em suas mãos. Hoje, en-
quanto algumas empresas nacionais apresentam excelência internacional, muitas não estão sequer inseridas
no processo para atingi-la, não inovam nem desenvolvem ações na área de tecnologia, não estudam o mer-
cado nem praticam a administração estratégica. Mas não se pode ancorar a economia de um país apenas na
eficiência das grandes corporações. Se as pequenas e micro empresas que giram em torno das grandes não se
modernizarem, a geração de emprego e de benefícios para o entorno será limitada.
    O país só poderá se desenvolver e ganhar competitividade neste mundo globalizado se a maioria de suas
empresas, inclusive as médias e pequenas, conseguirem avançar na capacidade de gestão, de agregação de
valor e no desenvolvimento tecnológico. Para desenvolver o Brasil, é preciso capacitar o trabalhador empre-
sário de todos os portes, de todas as áreas e regiões do país, para levar a inovação para dentro das empresas.
Esta foi a conclusão do Encontro Nacional da Indústria (Enai), promovido pela CNI em 2008: temos de priorizar
fortemente a gestão e a inovação nas empresas.
    O IEL é a instituição que tem a missão, a competência e a capilaridade para empreender essa tarefa. É o
instrumento de modernização da gestão empresarial brasileira; suas quatro décadas de trajetória o lapidaram
para isso.
    Muitas pequenas e médias empresas ainda norteiam suas decisões pelo que as outras do setor estão fazen-
do. Modernizar a gestão significa nortear-se por elementos objetivos, informações, prospecções de mercado,
diagnóstico de fragilidades e potenciais, estudos de região, de cadeias produtivas, trabalhos que favorecem
uma visão mais ampla do negócio e do setor. O IEL tem capacitação para coordenar esses estudos e habilitar
empresas e sindicatos para a prática da administração estratégica. Não basta mais capacitar o trabalhador ope-
rário “ensinando-o a pescar”, é preciso capacitar o trabalhador empresário para que “planeje a pesca”, perceba
as melhores oportunidades e trace estratégias de mercado. A China percebeu isso e está investindo pesado no
aprimoramento da gestão dos negócios. Isso vai nos afetar, se não conseguirmos dar saltos nessa área.
    Aprimorar a gestão contribui também para elevar o desenvolvimento sindical, que é hoje imprescindível
para a competitividade. Antes, muitas questões podiam ser resolvidas pela negociação direta entre grandes
empresas e governo. Hoje, a economia e suas cadeias produtivas são muito mais complexas, exigindo solu-
ções que passam pela coletividade, pela negociação, pelo associativismo de visão ampla, não corporativa. É a
orientação estratégica que os gestores capacitados aprendem a ter.
    Esse grande desafio que se coloca hoje se articula perfeitamente com as atividades tradicionais do IEL na
área de estágios e de outras ações de promoção da interação universidade-indústria, uma vez que essas ações
estimulam a inovação nas empresas. Com mais de 100 mil estágios desenvolvidos a cada ano em parceria com
mais de 50 mil empresas e 11 mil instituições de ensino, logramos transformar essa prática numa forma efetiva
de aperfeiçoar a formação profissional e oxigenar as empresas com o espírito inovador dos estudantes. O mes-
mo ocorre com os programas de bolsas, nos quais os estudantes vão para dentro das empresas desenvolver
projetos específicos para solucionar gargalos do negócio. Aprimorar a gestão é hoje prioridade, por estimular
a capacidade empresarial de inovar, com foco naquilo que efetivamente amplia a competitividade. Nesse pro-
cesso a interação da indústria com os centros de conhecimento, reconhecida vocação do IEL, é essencial.

Paulo Afonso Ferreira
Diretor-Geral do Instituto Euvaldo Lodi – IEL
10
Os primórdios da   indústria no Brasil
                   airtsúdni




                                         11
12
Os primeiros anos da vida brasileira foram marca-           Essa prosperidade deveu-se também aos progres-      1. Liceu de Artes e Ofícios
                                                                                                                    Desenho, 1916
dos pelas atividades de extração dos produtos natu-         sos técnicos que foram sendo introduzidos no pro-       Detalhe
rais da terra à custa do trabalho indígena em regime        cesso produtivo. Depois da construção da casa da        Página 10

de escambo. Tratava-se então de tirar proveito dos          moenda, que reunia as diversas fases do processo de     2. Chegada da família real
                                                            moagem da cana, introduziu-se a moenda de três ci-      portuguesa ao Rio de Janeiro
gêneros disponíveis que constituíssem valor no mer-
                                                                                                                    em 7 de março de 1808
cado europeu.                                               lindros e, em seguida, o uso da água como força mo-     Geoff Hunt
                                                                                                                    Óleo sobre tela, 1999
    Somente mais de três décadas depois, devido à           triz, em substituição às juntas de bois. A metalurgia   Detalhe
necessidade de defesa do imenso território, vieram a        para a produção da maquinaria desenvolveu-se prin-
partilha das terras e o verdadeiro início do processo       cipalmente com base nas técnicas que, aprendidas
de colonização. A partir daí, impôs-se a ocupação e         dos árabes na África, foram trazidas pelos escravos
cultivo nas faixas litorâneas, cujas paisagens naturais     (AMARAL, 1958).
seriam substituídas paulatinamente pelas plantações             A colaboração holandesa na adoção de moendas
de cana-de-açúcar.                                          metálicas e tachos de ferro fundido veio contribuir
    Com o estabelecimento do tráfico de escravos            para a inauguração, no país, das primeiras unida-
africanos, a cultura canavieira, iniciada no final do sé-   des industriais, as quais passavam a requerer uma
culo XVI, assistiu a um desenvolvimento vertiginoso.        forma de organização do trabalho sem parâmetros
Em meados do século seguinte, incentivos ao culti-          na Europa. Enquanto no canavial o processo de tra-
vo e isenção de impostos contribuíram para tornar           balho era determinado pelas condições do clima e
o Brasil o maior produtor de açúcar do mundo, num           das estações, no engenho “o ritmo não era o da na-
empreendimento tão rentável que o produto passou            tureza, mas um ritmo de um processamento regulado,
a ser chamado de ouro branco.                               elaborado. O trabalho não era regulado por relógios



                                                                                                              13
3. Dança dos Índios Tapuias   (...) mas pela capacidade da tecnologia” (SCHWARTZ,        Methuen – conhecido popularmente como Tratado
Albert Eckhout
Óleo sobre tela, século 17    2001, p. 95).                                              de Panos e Vinhos –, pelo qual Portugal compro-
Detalhe                            Mais que uma unidade fabril, o engenho do Brasil      metia-se a comprar os produtos manufaturados da
                              Colônia era um conjunto completo e auto-suficiente.        Inglaterra, que, por sua vez, deveria adquirir a pro-
                              Em torno do canavial, desenvolviam-se uma agricul-         dução de vinhos portugueses. Outro empecilho era
                              tura e uma pecuária destinadas a suprir as demandas        resultante da baixa qualificação da mão-de-obra,
                              da casa-grande, da senzala e da pequena parcela de         pois, em geral, “a aprendizagem dos ofícios, tanto de
                              trabalhadores livres. Ao lado da mandioca, do milho,       escravos quanto de homens livres, era desenvolvida no
                              do feijão e do gado, responsáveis pela dieta de sub-       próprio ambiente de trabalho, sem padrões ou regu-
                              sistência, o algodão despontava como matéria-prima         lamentações, sem atribuição de tarefas próprias para
                              fundamental para a fabricação dos panos grosseiros         aprendizes” (CUNHA, 2000, p. 32).
                              destinados a cobrir a nudez dos escravos.                      Enquanto isso, na Europa do século XVIII, onde o
                                   Na época, a fiação e a tecelagem eram feitas com      sistema familiar de produção havia sido superado há
                              auxílio de instrumentos rústicos, como as rocas e os       tempos pelas corporações de ofício, eram reunidos,
                              primitivos fusos, sendo o trabalho executado no am-        sob o mesmo teto, os tarefeiros assalariados. Grada-
                              biente doméstico pelas senhoras e escravas. Devido         tivamente, a independência e o controle individual
                              à demanda resultante da Revolução Industrial inicia-
                                 dem                                                     sobre a produção cediam lugar ao parcelamento dos
                              da na Inglaterra e à prosperidade alcançada pelo cul-      processos de trabalho, que visava suprir as exigên-
                              tivo do algodão, este viria a se transformar, no século
                                    d                                                    cias de um mercado cada vez mais amplo e estável.
                              XVIII, no terceiro produto brasileiro de exportação,           No Brasil, as poucas corporações de ofício exis-
                              ficando atrás apenas do açúcar e do tabaco.
                                cand                                                     tentes decaíram, a partir de 1759, em decorrência
                                   Embora os vice-reis e fidalgos se apresentassem
                                   Em                                                    da Reforma Pombalina que expulsou os jesuítas
                              quase sempre vestidos de “seda de Gênova e de linho        do país. Até essa época, os lucros da Coroa portu-
                              e algodão vindos da Holanda e da Inglaterra”, a dificul-
                                 algo                                                    guesa advinham do comércio de especiarias com a
                              dade de acesso a esses sofisticados artigos na colônia
                                     d                                                   Ásia. O Brasil era visto então apenas como um forne-
                              estimulou uma produção de fios e tecidos de algodão
                              estimu                                                     cedor de produtos que não podiam ser encontrados
                              voltados também para as necessidades da casa-gran-
                              voltad                                                     na Europa, ou seja, um grande território aberto às
                              de (FREYRE, 2002, p. 112). A abundância da matéria-
                                    FR                                                   atividades extrativistas de pau-brasil, ouro e diaman-
                              prima e a introdução da mecanização no processo de         te, e à produção do açúcar. Essa condição explica o
                              produção levaram a uma rudimentar indústria têxtil
                              produ                                                      desinteresse da metrópole pela produção industrial
                              que, forçando o preço para baixo, contribuiu para
                                     f                                                   brasileira, oficialmente explicitado no final do sécu-
                              ampli o mercado consumidor do produto.
                              ampliar                                                    lo XVIII, mais especificamente no dia 5 de janeiro de
                                   Um dos obstáculos à prosperidade da atividade         1785, com o alvará de d. Maria I que proibia o estabe-
                              industrial brasileira na época decorria do Tratado de
                              indust                                                     lecimento de fábricas e manufaturas no Brasil:

                              14
Eu a rainha. Faço saber aos que este alvará virem que        Dos Autos de Devassa da Inconfidência Mineira1          4. Dom João com a carta de
                                                                                                                        abertura dos portos às nações
   (...) excetuando tão somente aqueles ditos teares e ma-   constam passagens que demonstram o inconformis-            amigas, 1808, de Antônio
   nufaturas, em que se tecem ou manufaturam fazendas        mo dos inconfidentes com a falta de liberdade e de         Baeta; Negra Monjolo e Negro
                                                                                                                        Quilga, de Johann Moritz
   grossas de algodão, que servem para o uso e vestuá-       indústrias no país. Segundo as palavras da testemu-        Rugendas, 1835
   rio dos negros, para enfardar e empacotar fazendas,                                                                  Computação gráfica
                                                             nha capitão Vicente Vieira da Mota, o alferes Joaquim
   e para outros ministérios semelhantes; todas as mais      José da Silva Xavier, Tiradentes,
   sejam extintas, e abolidas em qualquer parte onde se
   acharem nos meus domínios do Brasil... (ARQUIVO NA-          começou a exagerar a beleza, formosura deste país,
   CIONAL).                                                     asseverando que era o maior do mundo, porque tinha
                                                                em si ouro e diamantes acrescentando que bem podia
    Além da extinção de muitos teares pelo Brasil afo-          ser uma república livre e florente (...) que no mesmo
ra, a Carta Régia de 5 de julho de 1802 proibia que             podiam levantar grandes utilíssimas fábricas, escusa-
os governadores recebessem em audiência pessoas                 dos na maior parte os gêneros de fora (CÂMARA DOS
vestindo roupas feitas com tecidos não fabricados na            DEPUTADOS, 1976, p. 156-157).
metrópole. Antes disso, a Carta Régia de 20 de feve-
reiro de 1690 já havia determinado que os sapateiros             Ironicamente, em 1807, a exportação do algodão,
não trabalhassem em couro que não viesse de Por-             superando a do açúcar, atingiu o auge em Pernam-
tugal (JOFFILLY, 1999). Para Roberto Simonsen, o ato         buco, e a guerra anglo-americana contribuiu para
da rainha teve dois objetivos: “não distrair os braços       quintuplicar o valor da fibra brasileira. As vozes que
da lavoura e assegurar uma diferenciação na produção         se erguiam a favor da atividade industrial no país
entre a Metrópole e a Colônia, que permitisse o fomen-       continuariam a se fazer ouvir por muito tempo: “Era
to do comércio e o aumento do consumo dos produtos           para lamentar que sendo o Brasil tão abundante de
industriais da Metrópole” (1969, p. 375).                    metais em toda espécie, carecesse de pedir aos confins
    Além da proibição real, que obrigava o Brasil a im-      do Norte da Europa o ferro que deve rasgar as veias do
portar os gêneros de que necessitava, a Coroa portu-         seu terreno, e que deve firmar a sua segurança” (IDADE
guesa intensificou a taxação dos produtos vindos da          DO OURO, 1819 apud RENAULT, 1939, p. 15).
metrópole. E, a despeito do anunciado esgotamento                Somente com a chegada da família real a vida na
progressivo das jazidas de ouro e metais preciosos,          colônia sofreria transformações importantes, que
instituiu a derrama, um imposto compulsório que              prenunciavam esperanças para a produção indus-
obrigava a população da região das Minas Gerais a            trial. A Carta Régia de 28 de janeiro de 1808 abria os
completar a cota anual de ouro quando esta não era           portos do Brasil para o comércio exterior com as na-
atingida. Esses fatos culminaram com a conspiração de        ções amigas, com exceção dos gêneros estancados:2
1789, que pretendia eliminar a dominação portugue-           “Que sejam admissíveis nas Alfândegas do Brasil todos
sa das Minas Gerais, estabelecendo ali um país livre.        e quaisquer gêneros, fazendas e mercadorias transpor-

                                                                                                                  15
5. Banco do Brasil e Paço      tados, ou em navios estrangeiros das Potências, que se            Entretanto, o Tratado de Aliança e Comércio,
Imperial, de Pedro Godofredo
Bertichem, 1856; Teatro São    conservam em paz e harmonia com a minha Real Co-              firmado em 1810, prejudicaria mais uma vez a pro-
João, de Thomas Ender, 1856    roa” (ARQUIVO NACIONAL).                                      dução brasileira, e também a lusitana. Enquanto os
Computação gráfica
                                   No mesmo ano, o alvará de 1º de abril permitia o          demais países estavam submetidos à taxação de
                               livre estabelecimento de fábricas e manufaturas no            24% em nossas alfândegas, a Inglaterra havia as-
                               país:                                                         segurado o direito de colocar suas mercadorias no
                                                                                             Brasil mediante a taxa de 15% ad valorem, enquan-
                                    Eu o Príncipe Regente faço saber aos que o presente      to os produtos portugueses pagavam 16%. Os jor-
                                    Alvará virem que desejando promover e adiantar a         nais da época davam conta dos novos tecidos que
                                    riqueza nacional, e sendo um dos mananciais dela as      passaram a circular no Rio de Janeiro, como linhos
                                    manufaturas e a indústria que multiplicam e melhoram     de todas as qualidades, cambraias, tafetás, sedas, lã
                                    e dão mais valor aos gêneros e produtos da agricultura   etc., sendo que “eram enviadas anualmente ao Brasil
                                    e das artes e aumentam a população (...) sou servido     cerca de ₤ 3.000.00 de produtos das manufaturas ingle-
                                    abolir e revogar toda e qualquer proibição que haja a    sas” (apud SIMONSEN, 1969, p. 397). Para neutralizar
                                    este respeito no Estado do Brasil e nos meus Domínios    essa invasão de produtos importados, sobretudo da
                                    Ultramarinos...                                          Inglaterra, sobrevieram medidas que visavam impul-
                                                                                             sionar a produção manufatureira no Brasil e nos do-
                                  Essas medidas, que marcaram uma nova fase da               mínios ultramarinos portugueses. Foram concedidos
                               economia colonial, faziam parte de uma política de            privilégios aos inventores de máquinas e prêmios às
                               cunho liberal defendida por intelectuais como José            manufaturas de lã, algodão, seda, ferro e aço.
                               da Silva Lisboa, o visconde de Cairu. Dois anos depois            A transferência da Corte para o Rio de Janeiro,
                               da abertura comercial, a cidade do Rio de Janeiro             em 1808, levou à constituição de uma série de ins-
                               contava com mais de cem manufaturas, e recebia um             tituições: a Imprensa Régia, um passo decisivo para
                               número cinco vezes maior de navios estrangeiros,              a difusão de idéias, informação e cultura, o Banco do
                               quase todos ingleses.                                         Brasil, que inaugurou o sistema financeiro, e a Escola




                               16
No ano seguinte, um edital da Real Junta da Fa-      6. Diploma da Sociedade
                                                                                                                Auxiliadora da Indústria
                                                        zenda estimulava a vinda de trabalhadores estran-       Nacional (SAIN)
                                                        geiros, para suprir a falta de mão-de-obra qualifica-   Jean Baptiste Debret, meados
                                                                                                                do século XIX
                                                        da. Enquanto os novos trabalhadores não chegavam,       Litografia
                                                        as manufaturas valiam-se da força de trabalho livre
                                                        existente no país, potencialmente mobilizável mas
                                                        sem qualquer formação técnica.
                                                           Como parte da política de valorização do ensino
                                                        das ciências, da economia e da técnica, enfatizada
                                                        após a elevação do Brasil à categoria de Reino Unido
                                                        de Portugal e Algarves em 1815, foi fundada, no ano
                                                        seguinte, a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios.
                                                        Destinava-se ao ensino das belas-artes e das artes
                                                        mecânicas, sendo que os filhos dos pobres deveriam
Cirúrgica de Salvador (1808). Nos anos seguintes se-    ser encaminhados para este último a fim de se tor-
riam criados a Academia Militar (1810), a Biblioteca    narem artífices. Embora as aulas tivessem iniciado
Nacional (1810), o Real Teatro de São João4 (1810), a   somente em 1820, e com um único foco voltado para
Academia Médico-Cirúrgica do Rio de Janeiro (1813),     as belas-artes, as idéias sobre o papel da educação
o Jardim Botânico (1818) e o Museu Imperial (1818).     na formação social e no trabalho sensibilizaram Ig-
    Uma importante iniciativa foi a criação, em 23 de   nácio Álvares Pinto de Almeida, que em 1816 come-
agosto de 1808, da Real Junta do Comércio, Agricul-     çou a coletar assinaturas para a constituição de uma
tura, Fábricas e Navegação, que deveria funcionar       entidade voltada para a produção de “conhecimentos
como órgão regulador da implementação das fábri-        úteis” ao desenvolvimento do país.
cas e manufaturas no Brasil.                               No entanto, a Proclamação da Independência
    E foi nesse contexto que surgiu a Real Fábrica de   em 1822 não produziu alterações significativas nas
Ferro São João do Ipanema, numa localidade antiga-      práticas de aprendizagem dos ofícios vigentes no
mente chamada Campo Largo, próximo a Sorocaba,          Brasil, pois “não era aspiração da liderança que fez
em São Paulo. Mais tarde, a cidade viria a ter o nome   a Independência qualquer reforma econômica ou
de Araçoiaba, em tupi esconderijo do sol. A empresa     social” (XAVIER, 1992, p. 82). Somente quando os
pioneira foi criada por meio de Carta Régia de 4 de     investimentos industriais passaram a se sobrepor
dezembro de 1810, como uma sociedade acionista          àqueles voltados para as atividades comerciais,
de capital misto, com 13 ações pertencentes à Coroa     foram lançadas as bases para uma lenta transfor-
portuguesa e 47 a acionistas particulares de São Pau-   mação em direção à modernização das estruturas
lo, do Rio de Janeiro e da Bahia.                       produtivas brasileiras. A Constituição de 1824 de-

                                                                                                          17
terminou a extinção das corporações até então res-         ininterrupta d’O Auxiliar da Indústria Nacional, cujo
ponsáveis pela prática e aprendizagem de alguns            objetivo era
ofícios manufatureiros (Constituição Política do Im-
pério do Brasil, 1824, § XXV, art. 179). As limitações        convencer os sócios a tomarem o caminho da civiliza-
da economia colonial, o diminuto mercado interno              ção segundo os modelos europeus, especialmente no
e a falta de incentivos decorrentes da existência             que se referia à substituição do trabalho escravo pelo
do trabalho escravo foram considerados fatores                livre (...) os números iniciais da revista já indicam que a
responsáveis pela decadência das corporações, re-             Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional utilizou o
duzidas então a irmandades de caráter religioso e             Auxiliador para difundir os conhecimentos que consi-
assistencial (CUNHA, 2000).                                   derava úteis e introduzir novos costumes preparando,
    Por não permitirem a livre negociação entre em-           deste modo, a população para instaurar a moderniza-
pregadores e trabalhadores, as corporações cons-              ção do Estado brasileiro (MURASSE, p. 3; 6).
tituíam empecilhos à plena vigência das relações
de trabalho próprias da sociedade capitalista: “As            Na época, o mundo ocidental inspirava-se nas
corporações fixavam os padrões de produção, o preço        idéias de Adam Smith, que, em sua importante obra
dos produtos e os salários dos oficiais. Por essa razão,   A Riqueza das Nações, publicada em 1776, sistemati-
a doutrina econômica liberal (...) pregava a sua extin-    zava o conhecimento da época sobre economia e de-
ção...” (CUNHA, 2000, p. 54).                              senvolvimento. Para ele, a riqueza das nações resul-
    Finalmente, em 19 de outubro de 1827, foi fun-         tava da necessidade de uma transformação contínua
dada a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional         e o progresso técnico era um elemento intrínseco do
(Sain), que, pelos seus estatutos, aprovados em 1831,      modo de produção capitalista:
tinha como meta “promover, por todos os meios que
estiverem ao seu alcance, o melhoramento e a prospe-          o aumento de produção (...) é resultante de três circuns-
ridade da indústria no Império do Brasil” (MURASSE,           tâncias diferentes: primeiro, do aumento da destreza
2006). Em respeito à produção brasileira do período,          de cada trabalhador; segundo, da economia de tempo,
as primeiras ações da Sain voltaram-se para a me-             que antes era perdido ao passar de uma operação para
canização das atividades agrícolas, como forma de,            outra; terceiro, da invenção de um grande número de
aumentando a produtividade no campo, criar estí-              máquinas que facilitam o trabalho e reduzem o tempo
mulos para a aquisição das máquinas necessárias a             indispensável para o realizar, permitindo a um só ho-
impulsionar as atividades industriais.                        mem fazer o trabalho de muitos (SMITH, 1976, p. 11).
    Tendo como filiados os políticos mais importan-
tes da época, a Sain, que tinha uma preocupação               Mas essas idéias de progresso chegaram ao Brasil
explícita com a educação e a formação profissional,        com certo atraso, e num momento em que as finan-
seria responsável, entre 1833 e 1892, pela edição          ças do Império não iam bem: o valor das importações

18
superava em muito o das exportações. Em 1828 a si-         em Minas Gerais e na Bahia, e estimulou o setor de           7. Etiqueta para tecidos
                                                                                                                        registrada pela Companhia
tuação agravou-se com a lei que estendia a todas as        metalurgia em Pernambuco. Com isso, fez diminuir o           Petropolitana, Rio de Janeiro
importações brasileiras a tarifa de 15%, diminuindo        déficit público e aliviar as finanças do Brasil.             Litografia, 10 de setembro
                                                                                                                        de 1888
ainda mais a arrecadação e contribuindo para o de-            Mas os novos ventos sopravam em cenários mar-             Detalhe
sequilíbrio da balança comercial. Visando solucionar       cadamente antagônicos: enquanto no Nordeste
o grave déficit, o governo imperial adotou algumas         desenvolvia-se uma indústria movida pelo trabalho
medidas alfandegárias que não surtiram o efeito de-        escravo, no Sul várias tentativas de industrialização
sejado.                                                    eram beneficiadas pelo favorecimento à entrada
    Nesse meio-tempo, por proposta apresentada             de colonos estrangeiros, com doação de sesmarias
por Januário da Cunha Barbosa e Raimundo José da           aos que nelas quisessem trabalhar e a isenção, em
Cunha Mattos aos 27 sócios fundadores da Sain, foi         1846, de taxas alfandegárias para as matérias-pri-
criado em 21 de outubro de 1838 – tendo como pa-           mas aproveitáveis nas manufaturas, sobretudo na
trono D. Pedro II – o Instituto Histórico e Geográfico     indústria têxtil. Essa disparidade entre o trabalho es-
Brasileiro (IHGB) com o propósito de “coligir, metodi-     cravo e o trabalho livre, que dividia o país em dois,
zar, publicar ou arquivar os documentos necessários        passou a aquecer as discussões entre os intelectuais
para a História e a Geografia o Brasil...” (artigo 1º do   abolicionistas da época, para os quais a escravidão
Estatuto do IHGB, www.ihgb.org.br/ihgb.php). Mar-          contribuía para retardar o desenvolvimento técnico
cado pela tradição iluminista, o IHGB deveria “levar       do país.
a cabo um projeto dos novos tempos, cuja marca é a
soberania do princípio nacional enquanto critério fun-        Para provar (...) que a escravatura deve obstar a nossa
damental definidor de uma identidade social” (GUIMA-          indústria, basta lembrar que os senhores que possuem
RÃES, 1988).                                                  escravos vivem, em grandíssima parte, na inércia, pois
    A partir de 1844, em conseqüência da Tarifa Alves         não se vêem precisados pela fome ou pobreza a aper-
Branco, que conferia certa proteção à produção bra-           feiçoar sua indústria (...) as máquinas que poupam bra-
sileira, o desenvolvimento do país teve um impulso.           ços pela abundância extrema de escravos nas povoa-
Com o término da validade do tratado assinado com             ções grandes são desprezadas. Causa raiva ou riso ver
a Inglaterra em 1810, e renovado em 1827 por mais             vinte escravos ocupados em transportar vinte sacos
15 anos, cerca de três mil artigos importados passa-          de açúcar que podiam conduzir uma ou duas carretas
riam a pagar taxas que variavam de 20 a 60%, sendo            bem construídas com dois bois ou duas bestas mua-
que as tarifas mais altas referiam-se às mercadorias          res. (JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA, 1822 apud
estrangeiras com similares no Brasil. Apesar de de-           DOLHNIKOFF, 2000, p. 29)
safiar a Inglaterra, violando o acordo vigente entre
os dois países, a medida promoveu o surgimento de            O discurso de José Bonifácio encontrava eco no
uma série de fábricas de tecidos no Rio de Janeiro,        pensamento de Joaquim Nabuco (1999, p. 77), para
8. Embarque de café no     quem a escravidão, “espalhando-se por um país, mata           pregavam mais de mil operários e produziam navios,
Porto de Santos antes da
construção do cais, SP     cada uma das faculdades humanas, de que provém a              caldeiras para máquinas a vapor, engenhos de açú-
Marc Ferrez                indústria: a iniciativa, a invenção, a energia individual”.   car, guindastes, prensas, além de artilharia etc. Des-
Fotografia, 1880
Detalhe                        O tema não passou despercebido pela Sain. Em              se complexo saíram mais de 72 navios em 11 anos,
                           1848, o conselho da entidade, na época presidido              entre os quais as embarcações brasileiras utilizadas
                           por Miguel Calmon du Pin de Almeida, visconde de              nas intervenções platinas e as embarcações para o
                           Abrantes, instituiu, com apoio da recém-criada So-            tráfego no Rio Amazonas.
                           ciedade Contra o Tráfico de Africanos e Promotora da
                           Colonização e Civilização dos Indígenas, um prêmio               Era já então, como é hoje ainda, minha opinião que o
                           para quem apresentasse, até 1850, a melhor propos-               Brasil precisava de alguma indústria dessas que me-
                           ta sobre a forma de substituir o trabalho escravo pelo           dram sem grandes auxílios, para que o mecanismo de
                           trabalho livre.                                                  sua vida econômica possa funcionar com vantagem
                               Daí em diante, empurrado pelo progresso da pro-              (...) e a indústria de ferro, sendo a mãe das outras, me
                           dução cafeeira, o Brasil iria mudar. Ao mesmo tempo              parecia o alicerce dessa aspiração. (MAUÁ, 1996, p. 8)
                           que se consolidava como principal produto brasi-
                           leiro de exportação, o café provocava uma onda de                  A fundição dedicava-se também ao fabrico de pe-
                           crescimento econômico nunca antes visto no Brasil,            ças úteis ao abastecimento de água, como se depre-
                           e, cada vez mais, a mão-de-obra escrava cedia espa-           ende do aviso do ministro do Império, publicado no
                           ço para o trabalhor assalariado imigrante. Cinco anos         Correio Mercantil de 15 de dezembro de 1854: “ontem
                           depois do ato inglês conhecido como Bill Aberdeen,            o Imperador correu água pela primeira vez em um cha-
                           a Lei Eusébio de Queirós, de 1850, proibia o tráfico          fariz que acaba de ser construído na praia de Botafogo
                           negreiro no Brasil. Com isso, parte do capital despen-        (...) segundo o desenho e risco que enviei à fabrica da
                           dido na compra de escravos passou a ser investida             Ponta da Areia” (apud RENAULT, 1939, p. 34). E logo
                           na indústria.                                                 surgia também a motivação para transformação do
                               Irineu Evangelista de Souza, mais tarde intitulado        sistema brasileiro de transporte: como se tornava
                           barão de Mauá, deu os primeiros passos em direção             impraticável carregar a produção cafeeira em lom-
                           à modernização da economia brasileira. Uma viagem             bo de burro, o Brasil ingressava na era da ferrovia.
                           à Inglaterra em 1840, onde conheceu fábricas, fun-                 Em 1852, o governo imperial promulgou a lei que
                           dições de ferro e o mundo dos empreendimentos,                concedia isenções e garantias de juros sobre o capi-
                           impulsionou-o em direção à industrialização.                  tal investido às empresas, nacionais ou estrangeiras,
                               Poucos anos depois, Mauá tomava para si a incum-          que se interessassem em construir e explorar estra-
                           bência de colocar em funcionamento a Fundição e a             das de ferro no país. Dois anos depois, graças aos
                           Companhia Estaleiro da Ponta da Areia, que, forman-           esforços do visionário Irineu Evangelista de Souza,
                           do o maior empreendimento industrial do país, em-             que subscreveu a quase totalidade do capital neces-

                           20
se juntar aos italianos. Graças ao café, a capital do     9. Construção de ferrovia
                                                                                                                    Fotografia, 1870
                                                          país civilizou-se, ganhou iluminação a gás e bonde,
                                                          e experimentou o luxo. E se não foi o Rio de Janei-
                                                          ro a pátria brasileira mais próspera do café, foi de lá
                                                          que partiram as sementes que, disseminadas pelos
                                                          estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná e São
                                                          Paulo, viriam gerar as riquezas e garantir o progresso
                                                          e a modernização do país.
                                                              No Brasil, a transição da escravidão para o traba-
                                                          lho livre, o deslocamento das plantações do Rio de
                                                          Janeiro para São Paulo, a construção de uma infra-
                                                          estrutura para o escoamento da produção e a recu-
sário à construção, foi inaugurada a Estrada de Ferro     peração da crise inflacionária e especulativa deman-
Mauá, primeira linha ferroviária do Brasil, que esta-     daram tempo. Somente em 1870, quando a ferrovia
beleceu a ligação entre o Porto da Estrela (interior da   cruzou o planalto paulista e se iniciou a maciça imi-
baía da Guanabara) e a raiz da Serra (Petrópolis). Dez    gração européia, uma nova expansão da cafeicultura
ferrovias seriam construídas nos vinte anos seguin-       brasileira se tornou possível.
tes, tendo sido o desenvolvimento dessa rede uma               A fase do capitalismo que se iniciou no último
das conseqüências do crescimento e da diversifica-        quartel do século XIX no Brasil encontrou setores da
ção das atividades econômicas.                            economia cafeeira capazes de promover uma inten-
    Em 1874, a antiga Escola Central do Rio de Janeiro,   sa incorporação do trabalho assalariado, em diversos
antes voltada para as atividades militares, passou à      âmbitos do sistema produtivo. Entretanto, a luta pela
alçada do ministro do Império. Com o nome de Esco-        industrialização dividia mais uma vez o país: de um
la Politécnica, voltava-se para o ensino da engenha-      lado estavam os grandes proprietários de terra e es-
ria civil. Um ano depois, foi criada a Escola de Minas    cravos; de outro, os que sonhavam com a máquina.
de Ouro Preto, na província de Minas Gerais. Desde        O primeiro grupo repelia a idéia da industrialização,
então, o ensino superior no Brasil iria se desenvolver    sob a alegação de que o Brasil era incapaz de concor-
com a multiplicação de faculdades isoladas criadas        rer com a indústria estrangeira. Os progressistas, por
por iniciativa estatal.                                   sua vez, combatiam a escravidão e exigiam a defesa
    Nessa época, os imigrantes europeus sentiam-se        de nossos interesses comerciais.
atraídos pela prosperidade do café. As convulsões             Conspiravam contra os defensores do surto desen-
políticas e sociais que despontaram na Itália fize-       volvimentista a ausência de capitais e investimentos
ram com que milhares de colonos desembarcassem            em infra-estrutura, além da concorrência com a in-
no país em 1876. E outros contingentes logo viriam        dústria européia. Juntavam-se a esses fatores a preca-

                                                                                                              21
10. Liceu de Artes e Ofícios        riedade dos transportes e a interrupção do trabalho
do Rio de Janeiro
Marc Ferrez                         em virtude das epidemias intermitentes. Além disso,
Fotografia, 1890
                                    a Reforma Sousa Franco (1857), pela qual as moedas
11. Oficina de sapataria            inglesas passaram a ser recebidas nas repartições pú-
da Escola de Artífices do
Espírito Santo                      blicas, e a Reforma Silva Ferraz (1860), que reduziu as
Fotografia, 22 de dezembro          taxas de importação sobre máquinas, ferramentas e
de 1910
                                    ferragens, alterando os direitos e o protecionismo da
                                    Tarifa Alves Branco,6 favoreceram novamente a con-
                                    corrência estrangeira e deixaram a indústria nacional
                                    mais uma vez desprotegida.




                               22
Imensas eram também as dificuldades com a mão-          acompanhar o programa de ensino. O idealizador da          12. Escola de Aprendizes
                                                                                                                      Artífices de Natal, RN
de-obra, agravadas pelo fato de o Brasil não contar        Escola de Adultos, Antônio de Almeida Oliveira, lan-       Fotografia, 1913
com escolas práticas de ensino industrial. O ensino        çou, nesse mesmo ano, a obra O Ensino Público, onde
e a educação, calcados no conteúdo humanístico e           se lê: “a instrução dos povos governa-se por certas leis
eclesiástico, não supriam as demandas apresentadas         em grande número fixas e invariáveis, e que não podem
pela produção.                                             sem dano ser quebrantadas, por terem caráter de leis
   Apesar disso tudo, vivia-se um tempo de prospe-         naturais” (apud OLIVEIRA, 2003, p. 60).
ridade, pois o café continuava a equilibrar a balança          Nessa época, as mudanças sociais avançavam,
de pagamentos. Entre 1850 e 1860, o país viveu uma         tendo como importante suporte os correligionários
transformação política e econômica importante. Fo-         do movimento pela abolição da escravatura, que iria
ram instaladas empresas industriais e companhias           ocorrer de forma lenta e gradual. Em 1871, a Lei do
de navegação, seguro, mineração; transporte urba-          Ventre Livre tornava libertos os filhos de escravos
no, sistema de distribuição de gás, além de ferrovias,     que nascessem a partir de sua promulgação.8 Mais
bancos e caixas econômicas; Mauá estava à frente de        tarde, a Lei Saraiva-Cotegipe, ou dos Sexagenários,
quase todas essas iniciativas.                             passou a beneficiar os negros de mais de 65 anos.9
   Data dessa época a criação dos liceus de ofícios,       Mas somente em 13 de maio de 1888 seria concedi-
destinados principalmente a amparar e treinar os           da a liberdade para os negros. Assinada pela princesa
órfãos para o trabalho. Os recursos para manter es-        Isabel, a Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil,
sas entidades provinham dos membros de socieda-            decorreu de pressões internas e externas.10
des civis organizadas ou de doações de benfeitores,            Com a força do movimento abolicionista, torna-
geralmente membros da burocracia do Estado, no-            va-se cada vez mais difícil conter a fuga de escravos,
bres, fazendeiros e comerciantes. Nos liceus, os cur-      principalmente considerando que o Exército se re-
sos eram gratuitos, porém, em geral, vedados aos           cusava a participar da captura e devolução dos cati-
escravos.                                                  vos. Também era economicamente inviável manter
   O Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, pre-      o trabalho escravo diante da concorrência com a
cursor do ensino profissionalizante do Brasil, foi cria-   mão-de-obra imigrante, barata, abundante e edu-
do em 9 de janeiro de 1858 pela Sociedade Propaga-         cada. Além disso, a Inglaterra forçava a abolição na
dora das Belas Artes, como uma instituição de ensino       tentativa de abrir mercado para os seus produtos in-
voltada para uma população economicamente des-             dustrializados.
favorecida. Em 1873, por iniciativa da Sain, que já            Entre as circunstâncias favoráveis ao desenvolvi-
mantinha uma Escola Noturna de Adultos,7 começou           mento industrial havia as dificuldades para pagar os
a funcionar a Escola Industrial, destinada a jovens        manufaturados produzidos no exterior, o aumento
maiores de 14 anos que, selecionados por meio de           progressivo das tarifas alfandegárias, a significativa
exame de admissão, apresentassem condições de              produção nacional de algodão e a disponibilidade

                                                                                                                23
13. Alunos no pátio da Escola
Profissional Masculina,
São Paulo
Fotografia, década de 1910




                                de mão-de-obra, cuja precariedade era compensada               trial não se sustentaria. Na época, as instituições de
                                pelo baixo preço (PRADO JÚNIOR, 1976). À medida que            pesquisas científicas não tinham propostas objetivas
                                crescia o número de estabelecimentos industriais,              e as universidades encontravam-se muito distantes
                                consolidavam-se as relações capitalistas de produ-             dos requerimentos da indústria.
                                ção. O aspecto filantrópico presente nas iniciativas               Mas a resposta à necessidade de gerar conheci-
                                associadas ao ensino dos ofícios foi sendo parcial-            mentos úteis ao setor produtivo não foi a mesma para
                                mente substituído por um discurso baseado na ra-               todas as nações que se industrializavam. Na Inglater-
                                cionalidade da produção, ou seja, no cálculo dos cus-          ra, a Royal Society of Arts priorizou o intercâmbio
                                tos e benefícios do ensino para a formação da força            de conhecimentos produzidos em escolas técnicas
                                de trabalho. Ao mesmo tempo, o ensino dos ofícios,             e laboratórios particulares, muitos dos quais sedia-
                                antes destinado aos menores menos favorecidos, foi             dos em fábricas. Na França, tentou-se desenvolver a
                                sendo transferido para os filhos dos trabalhadores,            pesquisa em escolas técnicas e universidades, com a
                                sem que, no entanto, ocorressem mudanças signifi-              mediação do Instituto da França, o que levou a uma
                                cativas no sistema educacional vigente:                        burocratização dos meios de informação e impediu o
                                                                                               seu êxito. A Alemanha optou por vincular a pesquisa
                                     A proposta de um ensino profissional para as massas, de   ao ensino, construindo um modelo posteriormente
                                     modo a moralizá-las e a desenvolver a produção para       adotado por muitos países. A pesquisa científica sis-
                                     transformar a sociedade sem ‘quebrar suas molas’ foi,     tematizada e a oferta satisfatória de pesquisadores
                                     talvez, o núcleo de todo o pensamento elaborado no        foi um dos fatores que levaram a indústria alemã a
                                     Brasil Imperial sobre o assunto (CUNHA, 2000, p. 157).    passar ao primeiro plano na escala mundial.
                                                                                                   Nos Estados Unidos, país em franco processo de
                                    Desde o final do século XVIII, havia entre os cien-        industrialização, o governo empenhava-se na cons-
                                tistas e empresários dos países mais desenvolvidos a           trução de “uma nova civilização que dependia basica-
                                idéia de que se a indústria e o Estado não voltassem           mente da escola na preparação dos americanos para
                                suas atenções para a ciência, o crescimento indus-             as muitas ocupações” (BOMENY, 2001, p. 79). Em 1862

                                24
o então presidente Abraham Lincoln promulgou o                     A Proclamação da República em 1889 não provo-        14. Capa da primeira
                                                                                                                        Constituição da República,
Morrill Act, que criou os Land-Grant Colleges, com o           cou mudanças imediatas na conjuntura econômico-          promulgada no Rio de
propósito de                                                   social brasileira. Sob forte ideologia positivista, os   Janeiro em 24 de fevereiro
                                                                                                                        de 1891
                                                               governos republicanos continuaram opondo resis-
   não excluindo outros estudos clássicos e científicos,       tência à criação de universidades. No entanto, as        15. Escola de Aprendizes
                                                                                                                        Artífices de Sergipe
   incluindo tática militar, ensinar os ramos do conheci-      reformas de 1891 equipararam os estabelecimentos         Fotografia
   mento relacionados à agricultura e às artes mecânicas       de ensino secundário e superior ao Ginásio Nacional
   (...) a fim de promover a educação liberal e prática, das   e às faculdades mantidas pelo governo federal. Em
   classes industriais nas diversas atividades e profissões    1901, além de a equiparação ter se estendido ao en-
   da vida (TEIXEIRA, 1969, cap. 12).                          sino particular, as escolas poderiam outorgar diplo-
                                                               mas que autorizavam o exercício de certas profissões
    Com a intenção de disseminar faculdades indus-             regulamentadas em lei. O resultado dessas medidas
triais e/ou agrícolas por todo o território, o governo,        foi a grande expansão do ensino superior no país: de
além de transferir imensos terrenos federais para os           1891 até 1910, foram criadas 27 escolas superiores.
estados, permitia que estes vendessem terras devo-                 Além disso, o complexo montado em torno da
lutas, desde que aplicassem os recursos assim obti-            produção cafeeira, que incluía ferrovias, bancos, em-
dos na educação superior.                                      presas exportadoras e uma mecanização crescente,
    Pouco depois, o mundo encontraria nas teorias              contribuiria para fomentar a base de um crescimen-
de Karl Marx uma explicação para o necessário de-              to industrial, sugerindo uma ruptura com as formas
senvolvimento das forças produtivas. Publicado em
1867, O Capital alertava para o fato de que a indústria
capitalista somente poderia subsistir com a condição
de revolucionar incessantemente os instrumentos e
os modos de produção e, com isso, todas as relações
sociais.
    No Brasil, a educação para o trabalho não acom-
panhou as propostas adotadas na Europa e nos Es-
tados Unidos da América. Oriundo de uma matriz
sociocultural diferenciada, o país carregava as con-
seqüências de ter sido uma colônia de exploração,
e não de ocupação, como os EUA. O único referen-
cial de universidade, instituição proibida no país nos
tempos coloniais, vinha do ensino medieval e esco-
lástico de Coimbra.

                                                                                                                  25
16. Abaporu, tela que                                                                   época, escolas comerciais em São Paulo, no Rio de
inspirou Oswald de Andrade
a escrever o Manifesto                                                                  Janeiro e na Bahia etc., tendo sido reorganizado tam-
Antropófago e criar o
                                                                                        bém o ensino agrícola.
Movimento Antropofágico,
com a intenção de “deglutir”                                                                Com a morte do presidente Affonso Pena, o proje-
a cultura européia e
transformá-la em algo bem                                                               to não foi mais adiante. Somente no governo de Nilo
brasileiro                                                                              Peçanha seriam criadas 19 escolas de aprendizes e
Tarsila do Amaral
Óleo sobre tela, 1928                                                                   artífices, que tinham como objetivos “habilitar os fi-
                                                                                        lhos dos desfavorecidos da fortuna com o indispensável
                                                                                        preparo técnico e intelectual, e fazê-los adquirir hábitos
                                                                                        de trabalho profícuo, que os afastará da ociosidade, es-
                                                                                        cola do vício e do crime...”.12
                                                                                            Apesar de seu caráter predominantemente assis-
                               tradicionais de produção no país. Um marco da cons-      tencialista, essas escolas determinaram o início de
                               trução dessa nova ordem econômico-social republi-        uma presença mais explícita, embora moralizadora,
                               cana, estabelecida com base no setor cafeeiro, foi a     do governo com relação ao ensino profissional no
                               fundação, em 1904, do Centro Industrial do Brasil        país, até então sustentado por iniciativas privadas. A
                               (CIB).11                                                 Reforma Rivadávia Corrêa e a Reforma Carlos Maximi-
                                  Da mesma forma que a alta dos preços do café          liano, respectivamente de 1911 e 1915, buscaram re-
                               ensejou o desenvolvimento de plantações da Ve-           gulamentar o ensino secundário e superior no país.13
                               nezuela, Haiti e Costa Rica e o surgimento de novas          Mas essa prosperidade econômica, dependente
                               áreas produtoras na Guatemala, El Salvador, México       da produção cafeeira, iria mudar de rumo. A ativida-
                               e Colômbia, o aumento da oferta mundial do pro-          de industrial, que, a despeito dos esforços dos pio-
                               duto fez despencar os preços no mercado interna-         neiros, não havia conseguido sobrepujar as barreiras
                               cional. A crise de superprodução levou os cafeicul-      ao seu crescimento, iria galgar novos patamares a
                               tores a forçarem a assinatura, em 1906, do Convênio      partir de 1914.
                               de Taubaté, pelo qual o governo se comprometia a             Com a eclosão da I Guerra Mundial, o comércio in-
                               comprar o excedente da produção e esperar melho-         ternacional sofreu um drástico desaquecimento, im-
                               res condições de mercado. Com isso, o preço voltou       pondo dificuldades à exportação do café brasileiro.
                               a subir e os altos lucros estimularam os cafeicultores   Os fazendeiros e comerciantes, impossibilitados de
                               a continuar produzindo café.                             aplicar seus capitais na expansão da lavoura cafeeira,
                                  O ensino profissional, que passou a ser respon-       sentiam-se atraídos a investir na indústria, favorecida
                               sabilidade do Ministério da Agricultura, Indústria e     também pelo crescimento do mercado interno de
                               Comércio, buscava incentivar o desenvolvimento           bens de consumo duráveis – têxteis, vestuário, mó-
                               industrial, comercial e agrícola. Foram fundadas, à      veis etc. – e não duráveis – bebidas, alimentos etc.

                               26
Os sinais de progresso, extravasando as fronteiras       e elaborá-la. Até então, as várias iniciativas no cam-
de uma promissora atividade industrial, traduziam-           po da educação profissional no Brasil haviam sido
se, então, em mudanças na vida brasileira. A aurora          esporádicas, descontínuas, e sem um planejamento
do novo século coincidia com as ações do movimen-            nacional efetivo. Com isso, no final do século XIX a
to sanitarista voltadas para o controle das endemias,        formação do trabalhador brasileiro ainda lembrava o
que punham em risco o desenvolvimento nacional.              processo de aprendizagem das antigas corporações
Mas se deparava também com as manifestações de               medievais:
trabalhadores que, inspirados nos operários norte-
americanos e europeus, lutavam por melhores con-                O aluno era admitido na oficina como aprendiz, pas-
dições de vida e trabalho.                                      sando a receber as noções gerais sobre o ofício esco-
    Em 1917, ao mesmo tempo que um grande mo-                   lhido, no próprio trabalho. O aprendiz era colocado
vimento grevista praticamente paralisou a cidade                ao lado de um operário adulto a quem começava por
de São Paulo, uma orgulhosa e ascendente elite em-              auxiliar, terminando por se tornar um ‘operário efetivo’
presarial inaugurava a Primeira Exposição Industrial            como ele (CUNHA, 2000, p. 124).
no suntuoso Palácio das Indústrias, edifício especial-
mente construído para este fim:                                  Para permitir a pesquisa referente à disponibili-
                                                             dade de matéria-prima no território brasileiro, foram
   No pátio da Exposição Industrial de Água Branca, foi      fundadas a Estação Experimental de Combustíveis e
   exposto o primeiro automóvel brasileiro, o PINAR – si-    Minérios (1921) e a Comissão Nacional de Siderurgia
   gla de Pioneiro da Indústria Nacional de Automóveis       (1923), esta última integrada pelos engenheiros Er-
   Reunida – todo construído à mão, com materiais e pe-      nesto Lopes da Fonseca Costa e Euvaldo Lodi. Além
   ças nacionais, inclusive o motor (GATTÁS, 1981, p. 65).   disso, o Brasil abria-se para as novidades que, trazi-
                                                             das da Europa, adaptavam-se às expectativas da re-
    Além de principal centro econômico do país, São          finada elite cosmopolita, desejosa de se diferenciar
Paulo tornava-se também o maior pólo de organiza-            culturalmente dos segmentos sociais locais tidos
ção de trabalhadores brasileiros. E a sociedade brasi-       como incultos.
leira entrava efetivamente no século XX.                         Promovida pelos cafeicultores e novos indus-
    Somente em 1920 a República reuniu as escolas            triais paulistas, a Semana de Arte Moderna de 1922,
profissionais existentes em sua capital sob o nome           reunindo muitos intelectuais da época, foi um refle-
de Universidade do Rio de Janeiro. Com isso, o país          xo dos desejos de modernização e transformação
passaria a contar com uma educação superior volta-           cultural do país. Todavia, se algumas manifestações,
da para a formação para o exercício das profissões.          como as artes plásticas, a literatura e o teatro, repro-
Até então, segundo Anísio Teixeira (1989), julgava-se        duziam os ideais modernistas europeus, o Brasil ain-
que o Brasil poderia importar cultura, mas não criá-la       da não apresentava um desenvolvimento industrial
maduro, capaz de absorver os princípios defendidos      ção Profissional (CFESPs), criados por diversas com-
pelas vanguardas reunidas em torno de centros de        panhias férreas do estado de São Paulo. Esses cursos
ensino como a Bauhaus. Herdeira, ao mesmo tempo,        nasceram ligados aos projetos de uma geração de
do movimento inglês Arts and Crafts e da Deutscher      engenheiros da Escola Politécnica que, influenciados
Werkbund, a escola, fundada em 1919 na Alemanha,        pelos princípios tayloristas introduzidos no país por
pretendia, pela valorização da produção industrial      Roberto Simonsen em 1919, apostavam na prepara-
e do desenho de produtos, estabelecer uma asso-         ção racional e metódica da mão-de-obra.
ciação definitiva entre a arte e a tecnologia da má-       A fundação da Escola Profissional de Mecânica no
quina.                                                  Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, em 1924, re-
    O Brasil estava ainda começando a assimilar as      presentou a oportunidade para que Roberto Mange,
idéias desenvolvidas pelo engenheiro norte-ameri-       uma das figuras mais relevantes na aplicação da psi-
cano Frederick Winslow Taylor. Sua obra Princípios da   cologia às questões do trabalho, colocasse em práti-
Administração Científica, publicada em 1911, referia-   ca seus princípios de “aprendizagem racional”, que se
se às novas formas de gerenciar e organizar as in-      caracterizava pela rapidez, economia e eficiência.
dústrias. Convencido da ineficiência do trabalho dos
operários fabris, Taylor empenhou-se em identificar        Desde então, mediante a utilização da psicotécnica, o
os eventuais problemas que atrasavam os tempos             ensino de ofícios não se destinava apenas a dar instru-
de produção. Inventou aparelhos e criou uma série          ção aos pobres, mas cuidava de aproveitar os mais ap-
de implementos para aperfeiçoar as formas de tra-          tos, deixando em segundo plano sua antiga dimensão
balho da maquinaria e agilizar as operações huma-          assistencial (CUNHA, 2000, p. 133).
nas. Ele instituiu também a remuneração por produ-
ção, princípio baseado na idéia de que a atividade          Em 1925, a Reforma Rocha Vaz buscava dar maior
humana é influenciada pelas recompensas salariais       eficiência ao ensino superior pela diminuição do nú-
ou materiais.                                           mero de estudantes em certos cursos e sua recon-
    Nessa mesma época, uma série de debates na Câ-      dução para os cursos menos procurados, nos quais
mara dos Deputados propunha a expansão do ensi-         havia vagas disponíveis.14 No ano seguinte, um in-
no profissional, estendendo-o a pobres e ricos, e não   quérito foi elaborado por Fernando de Azevedo com
apenas aos desafortunados. Como conseqüência das        o objetivo de conhecer a situação educacional do an-
discussões foi criada uma comissão especial que, co-    tigo Distrito Federal. Com base nesse levantamento,
nhecida como Serviço de Remodelagem do Ensino           seria feito o primeiro projeto educacional no Brasil
Profissional Técnico, daria origem aos ministérios da   que, além de abranger o ensino primário, o secun-
Educação e Saúde Pública e do Trabalho, Indústria e     dário, o normal e o superior, dava ênfase ao ensino
Comércio. As primeiras escolas profissionais corpora-   técnico-profissional e ao papel da administração pú-
tivas foram os Centros Ferroviários de Ensino e Sele-   blica nesse campo.

28
O amadurecimento da indústria paulista ficou        to Simonsen, demonstrava uma mentalidade nova,           17. Primeira diretoria do
                                                                                                                 Ciesp marca a presença de
demonstrado com a criação, em 1928, do Centro das       que iria se refletir nas várias ações em direção a uma   importantes industriais do
Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp),15 que, sob   modernização das condições fabris e educacionais.        país à época. Da esquerda
                                                                                                                 para a direita, sentados:
a presidência de Francisco Matarazzo, originou-se de       Assim, a segunda década do século XX encer-           Horácio Lafer, Jorge Street,
                                                                                                                 Francisco Matarazzo,
uma mobilização histórica que constituiria um passo     rava-se deixando as bases para o desenvolvimen-
                                                                                                                 Roberto Simonsen e Plácido
importante em direção à primeira “revolução indus-      to econômico que seria experimentado nos anos            Meirelles. Em pé: Antônio
                                                                                                                 Devisate, José Ermínio de
trial” brasileira.                                      seguintes. O trabalho passava a ser depositário da       Moraes, Carlos von Bulow e
    O período, marcado pela ascensão de grandes in-     educação e da pesquisa científica, que, por sua vez,     Alfredo Weisflog
                                                                                                                 Fotografia, 1928
dustriais, tais como Francisco Matarazzo, José Ermí-    adaptavam-se às necessidades da produção, pro-
rio de Moraes, Carlos von Bulow, Plácido Meirelles,     movendo um encontro que favorecia a racionalida-
Manuel Guilherme da Silveira, Horácio Lafer, Pandiá     de necessária à construção de uma moderna socie-
Calógeras, Jorge Street, Antônio Devisate e Rober-      dade industrial.




                                                                                                           29
30
A   ’revolução industrial’ brasileira
    ’lairtsudnI oãculover‘




                                   31
32
O período que se convencionou chamar aqui de              Um dos setores menos afetados pela conjuntura         18. Desfile de operários
                                                                                                                    da Companhia Siderúrgica
“revolução industrial” brasileira representou a tran-     mundial foi a indústria. A emissão de moedas para         Nacional, 1º de maio de 1942
sição definitiva da manufatura para uma economia          atenuar as dificuldades da agricultura fez com que o      Computação gráfica
                                                                                                                    Página 30
predominantemente industrial. A consolidação do           mercado interno, destino de quase toda a produção
                                                                                                                    19. Propaganda do Simca
processo produtivo no Brasil adveio das significativas    fabril da época, se tornasse o fator mais dinâmico da
                                                                                                                    Chambord publicada na
transformações que marcaram os cenários nacional e        economia. Com isso, houve uma progressiva substi-         revista O Cruzeiro, dezembro
                                                                                                                    de 1960
internacional nos anos 30 do século XX.                   tuição das atividades agroexportadoras pelas indus-       Detalhe
    O mundo vivia então sob o efeito da crise defla-      triais, que prosperavam impulsionadas pelas pos-
grada com a quebra da Bolsa de Nova York em 1929.         sibilidades de lucro e pela atração de capitais antes
Entre outras coisas, o desequilíbrio econômico pro-       dirigidos à exportação.
vocava a ausência de um mercado para a produção               O movimento revolucionário de 1930, deflagrado
agrícola, a ruína dos produtores rurais e o desempre-     depois de uma série de levantes militares, represen-
go urbano.                                                tou uma reação contra o predomínio político do setor
    A conjuntura internacional, que se refletia no Bra-   cafeeiro. E, muito embora depois da Revolução Cons-
sil impondo obstáculos às exportações brasileiras e       titucionalista de 1932 o governo provisório tivesse
provocando um aumento significativo dos preços            concedido benefícios para os produtores de café, os
dos produtos importados, obrigou o governo a to-          quadros oligárquicos tradicionais seriam substituí-
mar medidas efetivas. E embora o controle cambial,        dos no poder pelos militares, pelos jovens políticos e,
os empréstimos especiais, a moratória e a queima          mais adiante, pelos novos industriais.
dos estoques de café tenham conseguido minimizar              Num primeiro momento, a expansão do setor in-
os efeitos da crise, não foram suficientes para evitar    dustrial valeu-se da capacidade já instalada no país:
uma onda de falências.                                    a produção da indústria têxtil, por exemplo, aumen-

                                                                                                              33
tou substancialmente nos anos que se seguiram à                 leo por indústrias nacionais passou a ser bandeira de
Depressão. Outro fator determinante do crescimen-               luta dos grupos que rechaçavam a participação es-
to industrial à época foi a possibilidade de adquirir           trangeira na gerência das indústrias de base.
equipamentos de segunda mão dos países mais                         A visão da formação profissional para o exercício
fortemente atingidos pela crise. Mais adiante, a ele-           de funções nos postos de trabalho, segundo os pa-
vação dos preços dos produtos importados e o cres-              drões do regime industrial e do trabalho assalariado
cimento da demanda criaram as condições para a                  capitalista, tornava-se hegemônica, em função da
instalação de indústrias de bens de capital:                    crescente demanda por mão-de-obra qualificada e
                                                                da apropriação das novas teorias relativas à eficiên-
     a economia não somente havia encontrado estímulo den-      cia e à produtividade do trabalho.
     tro dela mesma para anular os efeitos depressivos vindos       Duas medidas importantes vieram efetivar, em
     de fora, mas também havia conseguido fabricar parte        1930, a política voltada para o fortalecimento do se-
     dos materiais necessários à manutenção e expansão de       tor industrial. Em 14 de novembro, o governo insti-
     sua capacidade produtiva (FURTADO, 1977, p. 199).          tuiu o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde
                                                                Pública (Mesp), que além de representar uma res-
    O governo provisório de Getulio Vargas deu início           posta tardia aos anseios do movimento sanitarista
a um período marcado pelo aumento gradual da cen-               da Primeira República, prenunciava uma reformula-
tralização do poder e pela intervenção estatal na eco-          ção do ensino destinado à promoção da educação
nomia e na organização da sociedade. O Estado que               sobre novas bases.1 Poucos dias depois, foi criado o
surgia após 1930 distinguia-se também dos demais                Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (MTIC),
governos republicanos pela prioridade conferida                 marcando o início de uma efetiva atuação estatal no
à industrialização. Entre as estratégias de governo,            processo produtivo.2
constava o estabelecimento de uma nova relação                      Constituíram marcas desse período as iniciativas
com os trabalhadores urbanos, que deveriam inte-                de estatização das reservas minerais do país e o pa-
grar uma aliança de classes promovida pelo poder                pel das Forças Armadas como fator de garantia da
estatal.                                                        ordem e de suporte para a criação das indústrias de
    À medida que avançava a industrialização, au-               bens de produção.
mentava a polêmica sobre a participação do inves-                   Nos Estados Unidos, o desenvolvimento industrial
timento estrangeiro na economia. Se, por um lado,               ganhou importante impulso a partir das propostas e
esses capitais poderiam contribuir para impulsionar             ações de Henry Ford, o primeiro empresário a aplicar
o crescimento, por outro o discurso nacionalista en-            a montagem em série e a produzir automóveis em
carava as empresas estrangeiras como exploradoras               massa, em menos tempo e com menor custo. Inven-
e não como parceiras do Brasil. Com a ascensão de               tor da linha de montagem, Ford foi um pioneiro do
Vargas ao poder, a exploração do ferro e do petró-              capitalismo do bem-estar social, concebido para me-

34
lhorar a situação dos seus trabalhadores e reduzir a              O sistema de proteção ao trabalho foi aprimora-       20. Presidente Getulio Vargas
                                                                                                                        Fotografia, 1937
alta rotatividade de mão-de-obra.                             do com o advento dos Institutos de Aposentadoria          Detalhe
    Reunidas sob a denominação de modelo fordis-              e Pensões (IAPs),6 que tratavam da assistência previ-
ta, as idéias desse empreendedor norte-americano,             denciária aos trabalhadores. Depois dos ferroviários,
além de revolucionarem o pensamento da época,                 outras categorias seriam beneficiadas, inclusive a dos
contribuíram para desenvolver a mecanização do                industriários, com a criação do Instituto de Pensão e
trabalho, a produção em série, a padronização do              Aposentadoria dos Industriários, o IAPI. 7
maquinário e do equipamento e, por conseqüência,                  Além dessas iniciativas estatais foi fundado, em
o design dos novos produtos. Com a separação entre            23 de julho de 1931, em São Paulo, o Instituto de Or-
o trabalho intelectual e o trabalho manual, o operá-          ganização Racional do Trabalho (Idort), que, estrutu-
rio não era estimulado a pensar, e sim a realizar a sua       rado nos moldes da Taylor Society8 norte-americana,
tarefa de forma a garantir maior produtividade. E o           passou a divulgar no Brasil o processo racionalista
Brasil de 1930 não estava alheio a essa nova ordem:           de trabalho. Liderada pelo engenheiro Armando de
“O Taylorismo[-fordismo] foi introduzido em nossas fá-        Salles Oliveira e pelo professor Roberto Mange, a
bricas, sem o alarde e a propaganda das décadas an-           instituição resultou da junção de dois grupos: de um
teriores: a prática industrial substituiu o discurso” (VAR-   lado, havia os empresários paulistas interessados na
GAS, 1985, p. 182)                                            administração científica do trabalho, de outro, os es-
    Não tardou para que a educação, que adquiria uma          tudiosos da psicofísica, que buscavam estabelecer a
dimensão efetiva no novo contexto histórico, fosse            interação entre homens e máquinas.
objeto dos vários instrumentos legais instituídos em              No Brasil de então, o processo de inovação deve-
1931. Primeiramente foi criado o Conselho Nacional            ria estar a cargo de instituições formadas por técnicos
de Educação (CNE),3 e três dias depois, o documento           capacitados a desenvolver atividades que pudessem
conhecido como Estatuto das Universidades Brasilei-           combinar o aperfeiçoamento e racionalização das
ras dispunha sobre o ensino superior, determinan-             técnicas de produção com a distribuição eficiente
do a investigação científica em todos os domínios             dos produtos no mercado interno.
do conhecimento humano.4 Em seguida a Reforma                     À medida que as relações capitalistas de produ-
Francisco Campos passou a regulamentar o ensino               ção iam se consolidando, foram sendo implementa-
secundário.5                                                  dos também os meios de conjugar os interesses dos
    No âmbito do ensino profissional, surgiu a Inspe-         trabalhadores com as exigências da produção. As
toria do Ensino Profissional e Técnico, que, destinada        antigas associações, criadas nas primeiras duas déca-
a exercer um controle sobre as escolas de aprendi-            das do século XX, davam lugar às organizações sindi-
zes-artífices, seria transformada, em 1934, na Supe-          cais controladas pelo Ministério do Trabalho. Coube
rintendência do Ensino Profissional, vinculada ao Mi-         ao então ministro Lindolfo Collor dar andamento a
nistério da Educação.                                         um conjunto de medidas que visavam alterar as re-

                                                                                                                  35
21. Segunda sessão do     lações de trabalho. Essa política teve início com a Lei
Conselho Universitário
da USP, posse do reitor   de Sindicalização, que fazia com que as organizações
Reynaldo Porchat          sindicais de empresários e trabalhadores desempe-
Fotografia, 1934
                          nhassem a função de órgãos de colaboração com o
                          Estado.9 Após instituída a carteira profissional como
                          documento obrigatório para registro dos contratos
                          de trabalho, foram constituídas as Juntas de Conci-
                          liação e Julgamento para arbitrar os conflitos traba-
                          lhistas.
                              Nessa época, inspirados pelas teorias de John
                          Dewey10 e Émile Durkheim,11 26 intelectuais brasilei-
                          ros, sob a liderança de Fernando de Azevedo, apre-
                          sentaram, na IV Conferência Nacional de Educação
                          (1932), o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova,       somar às três universidades federais existentes até
                          que tinha como principais metas a laicização, gra-        então: a do Rio de Janeiro (1920), a de Minas Gerais
                          tuidade, obrigatoriedade e co-educação do ensino.         (1927) e a do Rio Grande do Sul (1934).
                          Esse documento acabou se tornando a base para os              Um marco importante no processo da construção
                          decretos que, promulgados entre 1932 e 1934, mini-        público-institucional seria a Constituição de 1934.
                          mizavam as distinções curriculares entres as escolas      Pela primeira vez na história do país, a educação
                          pós-primárias, dirigidas aos futuros operários, e as      mereceu destaque: o governo tomou para si a res-
                          escolas secundárias, destinadas aos futuros adminis-      ponsabilidade pelo estabelecimento das diretrizes e
                          tradores e profissionais liberais.12 Além disso, foram    pela fixação do Plano Nacional de Educação (artigo
                          instituídas escolas técnicas, que ofereciam cursos in-    1º da Constituição promulgada em 16 de julho de
                          dustriais e comerciais.                                   1934). No mesmo ano, surgiu o Conselho Federal de
                               Por iniciativa das federações das indústrias de      Comércio Exterior (CFCE), um organismo pioneiro de
                          São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de       planejamento econômico, ao qual cabia decidir so-
                          Janeiro, foi criada, em 25 de janeiro de 1933, a Confe-   bre o dispêndio dos recursos internos. Euvaldo Lodi
                          deração Industrial do Brasil (CIB), com o objetivo de     foi escolhido por Vargas para integrar o recém-criado
                          congregar os sindicatos e as associações industriais      conselho, órgão diretamente ligado ao presidente,
                          existentes. Esses estados, que apresentavam então         que tinha como missão colaborar na definição da
                          um maior desenvolvimento econômico e social, se-          política econômica do governo.
                          diaram também as primeiras instituições universitá-           A teoria desenvolvimentista defendia a priorida-
                          rias do país. Em 1934, foi fundada, em âmbito esta-       de dos financiamentos e subsídios para a indústria, a
                          dual, a Universidade de São Paulo, USP,13 que veio se     garantia de infra-estrutura básica (energia, transpor-

                          36
tes) e a proteção aos produtos nacionais diante da      mesmo ano foi fundada a Aliança Nacional Liberta-            22. O presidente Getulio
                                                                                                                     Vargas recebeu a primeira
concorrência externa. E não tardou para que as pro-     dora (ANL), que, integrada por correligionários como         carteira de trabalho da
vidências estatais se voltassem para o setor siderúr-   Luís Carlos Prestes e Carlos Lacerda, promoveu a in-         história do Brasil, 1931

gico. O Departamento Nacional da Produção Mineral       surreição de 1935. Embora o movimento tenha sido             23. Presidente Getulio Vargas
                                                                                                                     com Euvaldo Lodi
(DNPM) foi criado em 1934 para coordenar todo o         sufocado, os conflitos políticos que se sucederam ge-        Fotografia, 1940
sistema de extração de minérios do país.14              raram um clima de insegurança. Temerosas de uma
    Mas o governo enfrentava oposições de direita       contra-revolução, as elites e a classe média apoiaram
e de esquerda. Diversos acontecimentos políticos,       Getulio Vargas no golpe que implantou o Estado
tais como movimentos grevistas, choques entre in-       Novo em 1937.
tegralistas e antifascistas ocorridos no Brasil entre        Contando com o respaldo político para desen-
1934 e 1937, culminaram na promulgação, em abril        volver os programas de governo, Vargas fortaleceu o
de 1935, da Lei de Segurança Nacional (LSN). Nesse      processo de substituição das importações, por meio
                                                        de investimentos na indústria local e do controle do
                                                        Estado sobre as indústrias de base e os setores res-
                                                        ponsáveis pela infra-estrutura. Depois do fechamen-
                                                        to do Congresso e do cancelamento das eleições
                                                        presidenciais previstas para 1938, Getulio Vargas ou-
                                                        torgou, em 10 de novembro de 1937, a quarta Cons-
                                                        tituição do país, que, conhecida como “Polaca” por ter
                                                        sido baseada na Constituição autoritária da Polônia,
                                                        tinha como característica principal a concentração
                                                        de poderes nas mãos do chefe do Executivo.
                                                            Embora desconsiderasse as matérias sobre edu-
                                                        cação constantes da Carta Magna anterior, a Cons-
                                                        tituição de 1937, em seu artigo 129, dava ênfase às
                                                        escolas pré-vocacionais:

                                                           O ensino pré-vocacional profissional destinado às clas-
                                                           ses menos favorecidas é em matéria de educação o
                                                           primeiro dever de Estado. Cumpre-lhe dar execução a
                                                           esse dever, fundando institutos de ensino profissional
                                                           e subsidiando os de iniciativa dos Estados, dos Muni-
                                                           cípios e dos indivíduos ou associações particulares e
                                                           profissionais.15

                                                                                                               37
24. Escritor José Bento       Tratava-se de fazer frente à demanda do processo       negro, merecendo por isso o reconhecimento entre
Monteiro Lobato
Fotografia, 1940          de industrialização desencadeado no início da déca-        os campeões da grande causa. Um dos primeiros ci-
Detalhe                   da, que, cada vez mais, exigia profissionais especiali-    dadãos a ver o petróleo jorrar em território brasileiro,
                          zados para os setores primário, secundário e terciário     Lobato apresentou, em sua obra O Poço do Visconde
                          da economia. O documento comprometia também                (1937), um relato bem-humorado e profético das
                          o setor empresarial: “É dever das indústrias e dos sin-    características e da importância do recurso mineral
                          dicatos econômicos criar, na esfera da sua especialida-    para o desenvolvimento do Brasil e do mundo.
                          de, escolas de aprendizes, destinadas aos filhos de seus       Com a Constituição de 1937, o aproveitamento
                          operários ou de seus associados”.16                        de jazidas minerais passou a ser restrito a brasileiros
                              No novo regime, os militares tinham um impor-          ou empresas constituídas por brasileiros. No ano se-
                          tante papel na definição de prioridades e formula-         guinte, além de criar o Conselho Nacional do Petró-
                          ção políticas de governo, sobretudo no que se refe-        leo (CNP),17 o governo, substituindo a livre iniciativa
                          ria aos setores estratégicos, como o siderúrgico e o       nas atividades de pesquisa e prospecção de petróleo
                          petrolífero. A intenção de Getulio Vargas era cons-        e gás natural, determinou o monopólio estatal do se-
                          truir uma nação forte e independente. E, para isso         tor. O produto passou, assim, a figurar como recurso
                          era mister ter o controle sobre os recursos minerais       de utilidade pública, tendo sido regulados todo os
                          e hidrelétricos, bem como sobre a produção de aço,         passos do seu processo de produção e venda.
                          máquinas e equipamentos, insumos importantes                   Ao mesmo tempo que atuava junto com os or-
                          para o desenvolvimento econômico, industrial e so-         ganismos governamentais emitindo pareceres e fa-
                          cial brasileiro.                                           zendo propostas concretas sobre os diversos temas,
                              As primeiras propostas para a criação de um or-        Euvaldo Lodi trabalhava para consolidar as entidades
                          ganismo que estudasse as questões referentes ao            representativas das classes industriais. E, em 1937,
                          petróleo, carvão mineral, minas e metalurgia parti-        durante a gestão de Roberto Simonsen, ele defendeu
                          ram do Conselho Federal de Comércio e Exportação           a sindicalização da Confederação Industrial do Brasil
                          (CFCE). O conselho, que contava com a participação         (CIB). Contrários às práticas destruidoras da ordem
                          ativa de Euvaldo Lodi, insistia também na necessida-       social como o lucro fácil, a competição desenfreada
                          de de uma grande siderúrgica, que seria construída         e a ausência de espírito de serviço, os engenheiros
                          por meio de acordos comerciais com os países es-           e empresários Euvaldo Lodi e Roberto Simonsen –
                          trangeiros.                                                pioneiros da representatividade industrial no Brasil
                              Um personagem dedicado às causas nacionalistas         – eram favoráveis à construção social em bases mais
                          foi o escritor José Bento Monteiro Lobato. Conhecido       justas. Além disso, os empresários compartilhavam
                          como autor de histórias infantis, ele, além de contri-     da visão de que a educação era uma das chaves para
                          buir para o progresso da indústria editorial brasileira,   o desenvolvimento do país, devendo, portanto, estar
                          engajou-se na luta em favor da exploração do ouro          no centro da agenda da indústria brasileira.

                          38
Euvaldo Lodi



    Euvaldo Lodi nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais,       pelo CIB, que atuou intensamente na organização de
em 9 de março de 1896, filho dos imigrantes italianos      sindicatos patronais e na mobilização da indústria em
Luís Lodi e Anunciata Lodi. Formou-se engenheiro, em       todo o país.
1920, pela Escola de Minas e Metalurgia, e já nessa            Em 25 de janeiro de 1933, representando o Centro
época começou a se destacar como líder empresarial         Industrial de Juiz de Fora, foi designado para incentivar
em seu estado.                                             a fundação de sindicatos patronais junto à Federação
    Trabalhou na construção de rodovias e ferrovias, na    das Indústrias de Minas Gerais. Essa missão estava re-
exploração de minas de ferro e carvão e na instalação      lacionada com a convocação, pelo governo provisório,
de fomos metalúrgicos em Minas Gerais, até ser convi-      da Assembléia Nacional Constituinte, que incluiria em
dado, em 1923, para participar da Comissão Nacional        sua composição, além dos eleitos pelo sufrágio univer-
de Siderurgia, dirigida por Luís Gonzaga de Campos.        sal, representantes classistas indicados pelos sindicatos
    Engajando-se na Revolução de 1930, colaborou no        legalmente reconhecidos. Como delegado do Sindicato
planejamento da movimentação de contingentes. De-          das Indústrias de Ferro de Minas Gerais na Convenção
pois da vitória, ingressou no Clube 3 de Outubro, orga-    dos Sindicatos Patronais, Lodi foi eleito como um dos
nização nacional que se propunha a defender os ideais      representantes dos empregadores na Assembléia Cons-
tenentistas de aprofundamento das reformas iniciadas       tituinte.
pela revolução vitoriosa.                                      Líder da bancada dos empregadores na Assembléia
    Em 1931 Lodi integrou, juntamente com Roberto          e membro da chamada Comissão dos 26, encarregada
Simonsen e Vicente de Paulo Galiez, uma comissão,          de elaborar o anteprojeto da Constituição, Euvaldo Lodi
formada no âmbito do Centro Industrial do Brasil (CIB),    foi relator dos capítulos intitulados “Ordem econômica
encarregada de formular uma síntese das opiniões do        e social”, “Família” e “Educação e cultura”; angariou
setor sobre as propostas da Comissão Revisora das Ta-      fama de hábil negociador, apesar de sempre ter man-
rifas Aduaneiras, instituída pelo Ministério do Traba-     tido uma posição autônoma em relação às propostas
lho, Indústria e Comércio (MTIC). Durante os trabalhos,    do governo.
o grupo de industriais manteve contato permanente              Com a promulgação da nova Constituição em 16 de
com Getulio Vargas e com José Maria Whitaker, minis-       julho de 1934 e a eleição de Getulio Vargas para a Pre-
tro da Fazenda.                                            sidência da República, os mandatos dos congressistas
    Transferindo-se para o Rio de Janeiro, entre 1931 e    foram prorrogados até a expedição dos diplomas dos
1936 Lodi tornou-se membro do Conselho Diretor da          novos deputados, que seriam eleitos ainda naquele
Federação Industrial do Rio de Janeiro (Firj), entidade    ano. Na mesma época, Lodi foi escolhido por Vargas
recém-fundada, criada por exigência da legislação sin-     para integrar o recém-criado Conselho Federal de Co-
dical em vigor. Considerado elemento representativo        mércio Exterior (CFCE), órgão diretamente ligado ao
da indústria, integrou, junto com Horácio Lafer e Vicen-   presidente, cuja missão era colaborar na definição da
te Galiez, uma comissão de coordenação, designada          política econômica do governo.
Euvaldo Lodi



    Eleito em 1935 para a Câmara Federal, Lodi foi um     Firj, e da Confederação Nacional de Indústria (CNI), en-
dos sete deputados classistas, representantes da indús-   tidade recém-criada com a participação das federações
tria. Sua afinidade com o governo fez com que partici-    industriais de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e
passe, junto com Roberto Simonsen, Valentim Bouças e      Rio Grande do Sul. Embora possuindo a mesma direto-
outros, de um círculo de representantes da indústria e    ria, o Cirj e a Firj tinham estatuto jurídico diferenciado,
do comércio ligado ao presidente.                         sendo o primeiro registrado como instituição privada
    Com a implantação do Estado Novo em 10 de no-         para que os representantes patronais pudessem esca-
vembro de 1937 e a conseqüente dissolução do Legis-       par às limitações da legislação sindical, que proibia ati-
lativo, Lodi perdeu seu mandato parlamentar, assu-        vidades e pronunciamentos não vinculados a assuntos
mindo, pouco depois, o cargo de vice-presidente da        profissionais.
Confederação Industrial do Brasil (CIB) durante a ges-        Em 1941, os industriais propuseram ao governo fe-
tão de Roberto Simonsen. Na época, iniciou-se o en-       deral a criação de um serviço de ensino profissional na
quadramento da entidade na lei sobre sindicalização,      forma de uma organização autônoma, dirigida pelas
que, apesar de apoiada por Lodi, encontrou resistências   federações industriais sob controle da CNI. Em resposta,
entre os empregadores. Em 12 de agosto de 1938, a CIB     o ministro da Educação, Gustavo Capanema, instituiu
se transformaria na Confederação Nacional da Indús-       uma comissão integrada por Lodi, Valentim Bouças e
tria (CNI), órgão máximo de representação do setor in-    outros, que veio a criar, em 1942, o Serviço Nacional de
dustrial brasileiro, que teve como primeiro presidente    Aprendizagem Industrial (Senai), do qual Lodi se tornou
Euvaldo Lodi.                                             presidente.
    Durante esse mesmo ano, o CFCE desenvolveu in-            Nessa época, passou a integrar, junto com Roberto
tensa atividade, elaborando pareceres sobre a criação     Simonsen e outros, o Conselho Consultivo da Coorde-
de uma grande indústria siderúrgica e a exportação        nação de Mobilização Econômica, que, criado depois
de minérios, sugerindo acordos comerciais com países      do ingresso do Brasil na II Guerra, visava estabelecer
estrangeiros e apresentando propostas de criação de       uma mobilização completa dos recursos econômicos
organismos especializados nas questões de petróleo,       existentes no território nacional.
carvão mineral, siderurgia, minas e metalurgia. Além          Membro fundador e vice-presidente da Legião
de participar nesses trabalhos, Lodi colaborou no pro-    Brasileira de Assistência (LBA), em julho de 1943, na
jeto de nacionalização dos bancos de depósito, concre-    qualidade de presidente da CNI, Lodi escreveu um ma-
tizado em 1941.                                           nifesto aos industriais brasileiros apoiando o esforço
    Entre 1938 e 1940, Lodi acumulou as presidências      desenvolvido pelo governo para que todas as classes
da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, que mais   se organizassem em sindicatos, pedindo aos empre-
tarde receberia o nome de Centro Industrial do Rio de     sários que se sindicalizassem sem demora e dessem
Janeiro (Cirj); da Federação dos Sindicatos Industriais   preferência ao trabalhador sindicalizado nos serviços
do então Distrito Federal, que tomou o nome da antiga     de sua empresa.
Em fins de 1943, participou do I Congresso Brasileiro   depois para Washington, na qualidade de delegado da
de Economia, realizado no Rio de Janeiro, sob o patro-      IV Reunião de Consulta dos Chanceleres Americanos.
cínio do governo federal. No ano seguinte, Lodi presidiu        Deputado federal por Minas Gerais, pela legenda do
o Congresso Brasileiro da Indústria promovido pela CNI      Partido Social Democrático (PSD), exerceu o mandato
e organizado pela Federação das Indústrias do Estado        de 1947 até 1951. Em 1948 foi presidente da Comis-
de São Paulo (Fiesp), que, além da presença de Vargas       são de Desenvolvimento Industrial da Comissão Mista
e outras autoridades governamentais, contou com re-         Brasileiro-Americana de Estudos Econômicos, chamada
presentantes do comércio.                                   Missão Abbink. Integrou ainda a delegação brasileira à
    Nesse mesmo ano, junto com João Daudt d’Oliveira,       Conferência Pan-Americana de Chanceleres, realizada
Heitor Grilo e Francisco Clementino de San Tiago Dan-       em Washington em 1951, onde combateu a posição
tas, Lodi integrou a comissão do Conselho Nacional de       norte-americana de conferir prioridade à defesa do con-
Política Industrial e Comercial (CNPIC), órgão do Minis-    tinente em detrimento do desenvolvimento econômico.
tério do Trabalho, que apresentou um projeto de plani-      Partidário da criação de um mercado interno capaz de
ficação da economia brasileira. A proposta foi rejeitada    garantir a expansão da indústria, Lodi defendia a subor-
pela Comissão de Planejamento Econômico, cujo rela-         dinação do capital estrangeiro aos interesses das nações
tor era o economista Eugênio Gudin, partidário do libe-     que o recebiam e a apropriação estatal das riquezas do
ralismo econômico.                                          subsolo. Cumpriu um novo mandato legislativo entre
    Euvaldo Lodi e João Daudt d’Oliveira chefiaram, em      1951 e 1955, tendo sido membro, em 1953, da Comissão
novembro de 1944, a delegação brasileira à Conferên-        de Bem-Estar Social, presidida por Josué de Castro.
cia de Bretton Woods, nos Estados Unidos, que reuniu            Na iniciativa privada, foi fundador e proprietário
representantes de 44 países aliados para tratar da re-      da usina siderúrgica Gorceix, em Caeté, Minas Gerais.
organização econômica e financeira depois da vitória        E presidente das seguintes empresas: Companhia Ferro
sobre os países do Eixo. A conferência deu os primeiros     Brasileiro; Companhia Industrial de Ferro S.A., Compa-
passos para a formação do Fundo Monetário Interna-          nhia Carbonífera Metropolitana, Eletrometal S.A., Fá-
cional (FMI) e do Banco Internacional de Reconstrução       brica de Tecidos de Seda Santa Helena e Fábrica Rehem
e Desenvolvimento (Bird).                                   Metalúrgica S.A. Foi ainda vice-presidente da Elevado-
    Em agosto de 1945, Lodi foi um dos signatários de       res Swiss do Brasil S.A. e diretor da Sociedade Siderúrgi-
um memorial dirigido ao chefe do governo, que protes-       ca Limitada, no Rio de Janeiro.
tava contra o Decreto-Lei nº. 7.666, conhecido como Lei         Publicou A Indústria e a Economia Nacional, em
Malaia, voltado para coibir a ação de trustes, e consi-     1949, e Discursos e Conferências, em 1954.
derado antidemocrático pelos empresários. Como re-              Reeleito deputado federal por Minas Gerais em 1954,
presentante dos empregadores na Comissão de Enqua-          Euvaldo Lodi faleceu em acidente automobilístico entre
dramento Sindical em 1946, Lodi representou o Brasil        Jundiaí e São Paulo, no dia 19 de janeiro de 1956, em
na Conferência de Paz, realizada em Paris, seguindo         pleno exercício do mandato.
Roberto Simonsen



    Roberto Cochrane Simonsen nasceu no dia 18 de                 Em 1938, participou com Euvaldo Lodi e outros da
fevereiro de 1889, em Santos, São Paulo, filho dos esco-      criação da Confederação Nacional da Indústria, tendo
ceses Sidney Martins Simonsen e Robertina da Gama             sido seu primeiro vice-presidente. Foi um dos idealiza-
Cochrane Simonsen. Ingressou na Escola Politécnica de         dores do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
São Paulo, formando-se em engenharia. Logo depois             (Senai), do Serviço Social da Indústria (Sesi) e do Institu-
de formado trabalhou na Companhia Ferroviária Sou-            to de Organização Racional do Trabalho (Idort).
thern Brazil Railway, da qual saiu para ocupar o cargo            Após a II Guerra Mundial, elegeu-se senador, tendo
de diretor-geral de obras na Prefeitura de Santos.            sido ainda presidente da Fiesp e integrante do Conselho
    Fundou a Companhia Construtora de Santos, dan-            Superior da Escola de Sociologia e Política de São Pau-
do início à sua carreira de empresário. Assumiu posi-         lo. Como atividade empresarial presidia a Companhia
ção de líder empresarial aos 33 anos, como presidente         Construtora de São Paulo e da Cerâmica São Caetano.
do Sindicato Nacional dos Combustíveis Líquidos. Em               Foi membro de várias entidades: Academia Paulista
1928, ao lado de Francisco Matarazzo e José Ermírio de        de Letras (ABL), Instituto Histórico e Geográfico de São
Moraes, criou o Centro das Indústrias do Estado de São        Paulo (IHGSP), Instituto Histórico e Geográfico de San-
Paulo (Ciesp), o embrião da Federação das Indústrias          tos (IHGS) e Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
do Estado de São Paulo (Fiesp).                               (IHGB), National Geographic Society (NGS), nos Estados
    Em 1919 ingressou na carreira diplomática, tendo          Unidos, Royal Geographic Society (RGS), em Londres, e
integrado várias missões comerciais. No governo de            Academia Portuguesa de História (APH).
Epitácio Pessoa, sua companhia executou a constru-                Simonsen publicou numerosos estudos sobre as
ção de quartéis para o Exército em diversos estados do        questões econômicas e educacionais, entre os quais
país.                                                         os livros A Orientação Industrial Brasileira; As Crises no
    Participou ativamente do Movimento Constitucio-           Brasil; As Finanças e a Indústria; Aspectos da Economia
nalista paulista, em 1932, em resistência ao golpe de Es-     Nacional; História Econômica do Brasil; A Indústria em
tado articulado por Getulio Vargas em 1930. Integrou o        face da Economia Nacional; A Evolução Industrial do
movimento pela fundação da primeira escola superior           Brasil; As Indústrias e as Pesquisas Tecnológicas; As Clas-
que ofereceria cursos de sociologia e política no Brasil, a   ses Produtoras de São Paulo e o Momento Nacional; En-
atual Escola de Sociologia e Política de São Paulo, onde      saios Sociais Políticos e Econômicos; As Indústrias e as
lecionou história econômica do Brasil.                        Pesquisas Tecnológicas; O Plano Marshall e a América
    Em 1933 ingressou na política. Eleito pelo estado de      Latina.
São Paulo, exerceu o mandato de deputado federal en-              Faleceu no dia 25 de maio de 1948, no Rio de Janeiro,
tre 1933 e 1937. Nesse período, Simonsen aproximou-           de ataque cardíaco, durante o pronunciamento de um
se de Getulio Vargas e, juntamente com Euvaldo Lodi,          discurso para o ministro da Bélgica na Academia Brasi-
conseguiu sensibilizar o governo para as questões da          leira de Letras. Em sua homenagem, a data do aniversá-
indústria brasileira.                                         rio de sua morte foi escolhida como o Dia da Indústria.
Para a concretização da confederação industrial,                                                               25. Primeira logomarca
                                                                                                                   da CNI
tornava-se necessário seguir alguns trâmites esta-                                                                 Desenho
belecidos no decreto-lei que regulamentou a cons-
                                                                                                                   26. Euvaldo Lodi e Roberto
tituição de sindicatos.18 Embora os estatutos tives-                                                               Simonsen recebem o
                                                                                                                   presidente Getulio Vargas
sem sido aprovados em 1933, a entidade dependia                                                                    em escola do Senai
do reconhecimento, pelo Ministério do Trabalho, de                                                                 Fotografia, 1943

pelo menos três federações. Cumpridas as exigências
legais, a CIB transformar-se-ia, em 12 de agosto de
1938, na Confederação Nacional da Indústria (CNI),
órgão máximo de representação do setor industrial
brasileiro, que teve como primeiro presidente Eu-
valdo Lodi. A entidade passou, então, a integrar o
sistema corporativo estabelecido pela Constituição,
embora só tenha sido reconhecida oficialmente em
30 de abril de 1943.19

   Com a Confederação Nacional da Indústria aglutinam-      de escolas pré-vocacionais, que visavam a uma for-
   se as vontades industriais dispersas, ganham consci-     mação genérica em ciências aplicadas à produção.
   ência de sua própria força, da sua origem comum e           Sem esperar o pronunciamento das entidades
   encontram um instrumento através do qual formulam        patronais, o governo emitiu, em 2 de maio de 1939,
   e exprimem à comunidade e ao poder público uma in-       o Decreto-lei nº. 1.238, determinando que as empre-
   terpretação autêntica do processo de industrialização.   sas com mais de quinhentos operários mantivessem
   (LODI, 1954, p. 10)                                      um refeitório para atender o seu pessoal e cursos de
                                                            aperfeiçoamento para jovens e adultos. O texto legal
   Em 1938, a recém-fundada CNI recebeu, junta-             motivou o envio, à Comissão Ministerial, de um do-
mente com a Federação das Indústrias do Estado de           cumento redigido por Roberto Simonsen, cujo me-
São Paulo (Fiesp), então sob a presidência de Rober-        morial criticava o ônus que o governo tentava impor
to Simonsen, um documento do Ministério de Edu-             à indústria. No entanto, a conjuntura internacional
cação relativo à aprendizagem industrial de adoles-         apresentava forte tendência ao comprometimento
centes trabalhadores. O governo havia elaborado             direto das indústrias na formação da mão-de-obra.
dois anteprojetos: um estipulava a criação de escolas          Em junho de 1939, a XXV Conferência Geral da Or-
de aprendizes, que deveriam ser mantidas e dirigidas        ganização Internacional do Trabalho (OIT), realizada
pelos sindicatos dos empregadores e pelos estabele-         na Suíça, tinha a aprendizagem como principal pon-
cimentos industriais. O outro versava sobre a criação       to de pauta. Integraram a Comissão do Ensino Téc-

                                                                                                             43
nico Francisco Montojos, como delegado do gover-                     teresses nacionais, como é o caso do aperfeiçoamento
no Vargas, e Oscar Saraiva, como representante dos                   da mão-de-obra entre nós (SIMONSEN, 1940).
empregadores brasileiros. Durante o evento, foram
recomendadas diretrizes que, logo absorvidas pela                     Outra comissão interministerial foi formada para
legislação brasileira, previam a coordenação das ati-             realizar uma pesquisa de opiniões, por meio da apli-
vidades num programa nacional, conduzido median-                  cação de questionários. Os industriais reivindicavam
te a colaboração entre o governo e as entidades de                a participação dos empregados e do Estado no cus-
classe de empregados e empregadores.                              teio dos cursos profissionais; os operários defendiam
    Embora determinasse que os Estados nacionais                  a extensão dos cursos aos trabalhadores de empresas
devessem prover escolas em número suficiente e lo-                pequenas e médias, que empregavam a maior parte
calização adequada para satisfazer às necessidades                da força de trabalho. Paralelamente, essa comissão
econômicas, a Recomendação 57 da referida confe-                  buscou conhecer a experiência dos cursos ferroviá-
rência fazia uma ressalva:                                        rios. Na ocasião, o Instituto de Organização Racional
                                                                  do Trabalho apresentou o projeto Cursos de Aperfei-
     nos países que não dispõem de um número suficiente           çoamento para as Indústrias, elaborado por Roberto
     de escolas profissionais e técnicas seria conveniente        Mange.
     que as empresas, cuja importância o permita, assumam             Com base na conclusão dos trabalhos das comis-
     os gastos de formação de um certo número de traba-           sões, Getulio Vargas promulgou, em 1940, o decreto
     lhadores jovens, em relação ao total de trabalhadores        que regulamentava a instalação e o funcionamento
     empregados na empresa (apud PRONKO, 2003, p. 48).            de cursos profissionais em empresas com mais de
                                                                  quinhentos trabalhadores.20 Embora mantivesse o
    No ano seguinte, a despeito das críticas feitas an-           mesmo modelo de cursos proposto pela Comissão
teriormente ao teor do Decreto-lei nº. 1.238, Roberto             Interministerial de 1939, havia inovações: enquanto
Simonsen, em documento encaminhado à comissão                     os jovens aprendizes deveriam receber salários, os
interministerial formada para regulamentar o referi-              empregadores teriam que arcar com o ônus da for-
do instrumento legal, afirmava:                                   mação profissional.
                                                                      Com o objetivo de promover a infra-estrutura ne-
     nenhuma objeção maior apresenta a indústria de São           cessária à ampliação do parque industrial brasileiro,
     Paulo que tem plena consciência do novo e pesado             foi criado, em março de 1939, o Conselho Nacional
     ônus com que virá a ser sobrecarregada. Isto ela salien-     de Águas e Energia Elétrica (CNAEE), que tinha a fi-
     ta, não para mostrar os sacrifícios que faz e esperar van-   nalidade de estudar o problema da exploração e uti-
     tagens compensatórias, mas para que o lúcido espírito        lização da energia elétrica no país, em especial a de
     de V. Exa. possa aquilatar de quanto é capaz a indústria     origem hidráulica. No mesmo ano, como parte das
     de São Paulo sempre que se trate dos verdadeiros in-         estratégias políticas de proteção e valorização do

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trabalhador, foi instituído o salário mínimo, como                                                                  27. Euvaldo Lodi, presidente
                                                                                                                    da CNI no período de 1938
a remuneração capaz de satisfazer às necessidades                                                                   a 1954
                                                                                                                    Fotografia
normais de alimentação, habitação, vestuário, higie-
ne e transporte do trabalhador.21 Grande parte das                                                                  28. Roberto Simonsen,
                                                                                                                    presidente da Fiesp no
conquistas trabalhistas, que envolvem a regulamen-                                                                  período de 1938 a 1946
tação de horários, férias, trabalho feminino e infantil,                                                            Fotografia

advém desse período.                                                                                                29. Gustavo Capanema,
                                                                                                                    ministro da Educação no
    Como já havia ocorrido durante o conflito de                                                                    período de 1934 a 1945
1914 a 1918, com o início da II Guerra Mundial as                                                                   Fotografia

restrições impostas ao comércio internacional pro-
vocaram uma profunda retração nas importações
de artigos industrializados, favorecendo a expansão
da indústria nacional. Dessa vez, porém, os efeitos           Tendo como meta prioritária a industrialização, o
da conjuntura externa sobre a economia brasileira          presidente Vargas decidiu fazer acordos econômicos
eram particularmente mais significativos, já que a         com os norte-americanos, com vista ao fornecimen-
Alemanha havia se convertido no segundo maior              to de armamentos e, principalmente, a concessão
parceiro comercial do país, atrás apenas dos Esta-         de créditos e assistência técnica para implantar as
dos Unidos.                                                indústrias siderúrgica e bélica no Brasil. Com a apro-
    No início do conflito, o governo brasileiro estava     vação bilateral do pacto, o governo brasileiro rompia
dividido: de um lado, o grupo liderado pelo chefe do       relações diplomáticas com os países do Eixo – Ale-
Estado-Maior da Forças Armadas, general Góis Mon-          manha, Japão e Itália. E, ainda em 1941, o ministro da
teiro, era favorável ao alinhamento do Brasil com os       Fazenda seria enviado a Washington, com o objetivo
países aliados; de outro, o grupo encabeçado pelo          de detalhar as bases das trocas comerciais entre os
ministro das Relações Exteriores, Osvaldo Aranha,          dois países.
defendia uma posição de neutralidade.                         Internamente, seguindo as recomendações da
    Os Estados Unidos, por sua vez, queriam ter o Bra-     XXV Conferência da OIT, em 1941, Getulio Vargas
sil como parceiro político e militar, pois pretendiam      convidou Euvaldo Lodi, presidente da CNI, Roberto
instalar bases militares no Nordeste brasileiro, com       Simonsen, presidente da Fiesp, e o empresário paulista
o objetivo de garantir a defesa do continente. Ade-        Valentim Fernandes Bouças para, em conjunto
mais, por sua extensão territorial e suas riquezas, o      com o ministro da Educação Gustavo Capanema,
país ocupava uma posição privilegiada em relação           apresentarem proposta para criação de um
ao restante da América Latina. Em tempos de guerra,        organismo coordenador do ensino industrial no país.
as jazidas brasileiras de minérios constituíam um im-      A Comissão de Empresários, como ficou conhecida,
portante item da pauta de negociações.                     solicitou o assessoramento de três especialistas com

                                                                                                              45
30. Guilherme Guinle,          experiência na matéria: João Luderitz, do Instituto         Com a alta do preço dos produtos primários, o
presidente da Companhia
Siderúrgica Nacional, acende
                               Parobé, Roberto Mange, do CFESP, e Joaquim Faria        Brasil pôde acumular reservas suficientes e negociar
alto-forno                     Góes Filho, superintendente de Educação Geral e         melhores termos para o pagamento de sua dívida
Fotografia, 1946
                               Técnica do Distrito Federal. Ao mesmo tempo, no         externa. Estabilizada a situação da balança de paga-
                               Ministério da Educação, outra comissão, integrada       mentos, o governo brasileiro passou a incentivar ain-
                               pelos educadores Horácio da Silveira, Lourenço Filho,   da mais a indústria. E, a partir de 1941, o crescimento
                               Leon Renault, Francisco Montojos e Rodolfo Fuchs,       industrial adquiriu um novo ritmo, amparado pela
                               deveria padronizar o ensino de ofícios nas escolas      expansão de crédito do Banco do Brasil.
                               públicas e privadas.                                        Depois da criação da Comissão Executiva do Plano
                                  Nesse novo contexto, os industriais, cuja partici-   Siderúrgico,22 em 9 de abril do mesmo ano deu-se iní-
                               pação até então era restrita a uma função consultiva,   cio à instalação da Companhia Siderúrgica Nacional
                               passaram a ter autonomia, delegada pelo governo,        (CSN), em Volta Redonda, Rio de Janeiro. Financiada
                               para sugerir uma política educacional voltada para      pelos norte-americanos, como parte dos Acordos de
                               a formação da força de trabalho de modo a atender       Washington firmados em 3 de março de 1942, que
                               aos interesses do sistema produtivo.                    levaram o Brasil a se aliar aos Estados Unidos, a CSN
                                                                                       viria a se tornar a maior indústria siderúrgica da Amé-
                                                                                       rica Latina e uma das maiores do mundo. No discurso
                                                                                       de inauguração da usina, Getulio Vargas reafirmou o
                                                                                       caráter irrevogável da indústria brasileira, ao mesmo
                                                                                       tempo que enfatizava a soberania nacional.

                                                                                          Aí está, solidamente construída, em ferro e cimento, a
                                                                                          Usina de Volta Redonda, desafiando os céticos de todas
                                                                                          as partes, a mentalidade de um setor da opinião públi-
                                                                                          ca que persiste em se mostrar favorável a uma solução
                                                                                          semi-colonial, subordinada aos países industriais, in-
                                                                                          teressados em reter-nos ao nível de consumidores de
                                                                                          artigos manufaturados (apud GATTÁS, 1981, p. 31).


                                                                                          O advento da siderúrgica veio atender a uma rei-
                                                                                       vindicação antiga do empresariado brasileiro pre-
                                                                                       ocupado com a escassa produção do aço no Brasil,
                                                                                       que antepunha sérios obstáculos ao crescimento do
                                                                                       parque industrial.
dutividade no trabalho, as leis orgânicas, da lavra dos   31. Primeira logomarca
                                                                                                                  do Senai
                                                        educadores, pretendia a habilitação profissional, físi-   Desenho
                                                        ca e cívica do trabalhador, visando integrá-lo a um
                                                        projeto corporativista de nação.
                                                            Em 1942, foram promulgados dois decretos que
                                                        tratavam da organização do ensino industrial e do
                                                        ensino secundário.27 O ensino secundário tinha o ob-
                                                        jetivo de formar “individualidades condutoras”, pelo
                                                        próprio ensino nele ministrado e pela preparação
    Sobre a questão do ensino profissional, o relató-   para o ensino superior. Os demais ramos tinham a
rio preliminar dos industriais, apresentado em 1941     finalidade de formar força de trabalho para os prin-
ao ministro Capanema, indicava o Centro Ferroviá-       cipais setores da produção: o ensino industrial, o en-
rio de Ensino e Seleção Profissional (Cfesp) como um    sino comercial, o ensino agrícola e o ensino normal,
modelo administrativo e pedagógico a ser seguido.       voltado para a formação de professores para o en-
O documento propunha a criação do Serviço Nacio-        sino primário. Embora a Lei Orgânica do Ensino, co-
nal de Seleção, Aperfeiçoamento e Formação de In-       nhecida como Reforma Capanema, não tivesse con-
dustriários (Senafi), como uma entidade autônoma        tribuído para aprimorar o ensino secundário, houve
coordenada pela CNI. Sugeria-se ainda que a mesma       mudanças no campo do ensino profissional, então
estrutura de ensino fosse estendida aos demais se-      dividido em dois tipos: um, oficial, e outro, mantido e
tores da economia, como comércio23 e agricultura.       dirigido pelas empresas.
    Os trabalhos de ambas as equipes, de industriais        Tomando a experiência do Ciesp como modelo,
e de educadores, resultaram em instrumentos legais      o presidente da CNI, Euvaldo Lodi, convidou Rober-
de suma importância. Em 22 de janeiro de 1942, foi      to Mange e Joaquim Faria Góes Filho para elaborar
criado o Serviço Nacional de Aprendizagem Indus-        o regimento do Senai, que foi aprovado por decreto
trial (Senai);24 em 30 de janeiro do mesmo ano, foi     ainda em 1942.28 O Senai, cuja base conceitual foi a
formulada a Lei Orgânica do Ensino Industrial, que      Escola Profissional de Mecânica no Liceu de Artes e
dispunha sobre a Organização da Rede Federal de         Ofícios de São Paulo, tinha como objetivo principal
Estabelecimentos de Ensino Industrial;25 e, em 28       organizar e administrar as escolas de aprendizagem.
de dezembro de 1943, estabelecia-se a Lei Orgânica      A entidade seria custeada pela arrecadação de uma
do Ensino Comercial.26 Enquanto o documento de          taxa mensal calculada em função do número de ope-
criação do Senai, calcado no ideário dos industriais,   rários de cada fábrica, que seria paga pelos emprega-
enfatizava a qualificação da mão-de-obra para as        dores da indústria e arrecadada pelo IAPI. A criação
atividades demandadas pela indústria e defendia a       de instituições como o Senai e o Senac impôs uma
educação profissional como meio de ampliar a pro-       verdadeira revolução no sistema educacional brasi-

                                                                                                            47
32. Presidente Getulio Vargas   leiro, abrindo as portas do ensino profissional para     decidido que as tropas brasileiras lutariam na Itália.
em visita à Fábrica Nacional
de Motores, São Paulo           milhões de jovens que dariam suporte às novas in-        Assim, no dia 1º de junho de 1944 embarcava para
Fotografia, 1945                dústrias e às cadeias comerciais que se multiplica-      a Itália, a bordo do navio norte-americano General
                                vam.                                                     Mann, o primeiro contingente militar brasileiro, sob
                                    No dia 1º de junho de 1942 nascia em Itabira, Mi-    o comando do general Euclides Zenóbio da Costa.
                                nas Gerais, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD),             A presença brasileira no front não significou, to-
                                que tinha por missão explorar as riquezas minerais       davia, um déficit financeiro para o Brasil. Enquanto
                                da região.29 Durante os primeiros tempos, a principal    grande parte dos recursos de muitos países era des-
                                atividade da CVRD foi o fornecimento de matéria-         viada para as atividades bélicas, aqui os esforços
                                prima para as siderúrgicas nacionais, principalmente     voltavam-se para as atividades de paz e crescimento
                                a CSN.                                                   econômico.
                                    No mesmo ano, foi criada em Duque de Caxias, Rio         Data de 1944 a assinatura do Acordo Internacional
                                de Janeiro, a Fábrica Nacional de Motores (FNM),30       de Bretton Woods, que, contando com a participação
                                cuja atividade inicial destinava-se à produção de        de Euvaldo Lodi, criou o Fundo Monetário Interna-
                                aviões militares. A implantação desses dois empre-       cional (FMI) e o Banco Internacional de Reconstrução
                                endimentos foi possível graças ao Lend & Lease Act       e Desenvolvimento (Bird), conhecido como Banco
                                (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), que oferecia       Mundial.
                                excepcionais condições de financiamento providas             Durante a guerra, o país avançou firmemente em
                                pelos esforços de guerra. A fábrica viria a produzir,    direção à construção de sua estrutura produtiva, for-
                                em 1949, seu primeiro modelo de caminhão, que            talecida pelo pacto desenvolvimentista firmado en-
                                não tardaria a ser chamado carinhosamente de Fe-         tre o governo e o empresariado. Em 20 de julho de
                                nemê. Na mesma época, começaram a circular pelas         1943, foi criada a Companhia Nacional de Álcalis, pro-
                                ruas do país as primeiras Caloi,31 palavra que logo se
                                transformaria em sinônimo de bicicleta.
                                    Apesar das muitas conquistas, o clima no Brasil à
                                época era de intranqüilidade. A opinião pública, ao
                                mesmo tempo indignada com a destruição causada
                                pela guerra e comovida com as tragédias de tantas
                                vidas perdidas, colocava-se contra a Alemanha, e exi-
                                gia do governo um posicionamento mais firme em
                                relação ao conflito. O recrudescimento do clamor po-
                                pular fez com que, em 31 de agosto de 1942, o Bra-
                                sil declarasse guerra aos países do Eixo. Em 1943, foi
                                constituída a Força Expedicionária Brasileira (FEB) e

                                48
dutora de barrilha e soda cáustica, matérias-primas       forças democráticas, enquanto no país prevalecia         33. Discurso de Euvaldo Lodi
                                                                                                                   na presença do presidente
fundamentais para as indústrias química e farmacêu-       um regime autoritário (CALDEIRA et al., 1997). A pres-   da República, Eurico Gaspar
tica.32 Instalada em Arraial do Cabo, Rio de Janeiro, a   são social fez com que o presidente Getulio Vargas       Dutra
                                                                                                                   Fotografia, 1950
empresa só iniciaria suas operações nos anos 50.          iniciasse os procedimentos para a recomposição do        Detalhe
    Juntamente com a regulamentação da Justiça            quadro institucional brasileiro, inclusive com a con-
do Trabalho,33 foi instituída em 1º de maio de 1943 a     vocação de eleições.36
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que passou           No entanto, a divisão das Forças Armadas fez cres-
a regular as relações entre empregadores e empre-         cer as tensões internas. E, a despeito das manobras
gados.34 Ao mesmo tempo, órgãos técnicos, conse-          para se manter no poder, Getulio Vargas foi levado
lhos e comissões abriam espaços na estrutura estatal      a renunciar em outubro de 1945. Com o apoio de
para a representação dos interesses empresariais.         Getulio Vargas, do Partido Trabalhista Brasileiro e de
Com caráter consultivo, funcionavam como fóruns           líderes do Queremismo, movimento a favor da per-
de debates entre elites técnicas e empresariais, e        manência de Getulio no poder, Eurico Gaspar Dutra
como arenas de negociação entre os setores público        saiu vitorioso nas urnas, deixando clara a força da
e privado. Entre os mais importantes criados na épo-      máquina política montada pelo Estado Novo para
ca, estão o Conselho Nacional de Política Industrial e    eleger candidatos dentro do regime democrático.
Comercial (CNPIC), de 1943, e a Comissão de Planeja-      Dutra tomou posse como presidente da República,
mento Econômico (CPE), de 1944.                           mantendo o controle sobre o câmbio e as importa-
    Dando seqüência às obras de infra-estrutura, em       ções. Ao invés de mudanças radicais, pretendia am-
3 de outubro de 1945 foi criada a Companhia Hidre-        pliar e aperfeiçoar a estrutura montada no governo
létrica do São Francisco (Chesf ), a fim de promover      Vargas.
o aproveitamento da cachoeira de Paulo Afonso e               À medida que se expandiam as indústrias nacio-
fornecer energia para o esforço emergente de indus-       nais, a importância da formação e do treinamento
trialização do Nordeste.35 O embrião do complexo hi-      profissional tornava-se mais evidente. Destacados
drelétrico de Paulo Afonso foi a Usina de Angiquinho,     líderes empresariais, como Euvaldo Lodi, Roberto
construída por Delmiro Gouveia em 1913. A energia         Simonsen, João Daudt de Oliveira e outros levaram
ali produzida destinava-se a abastecer a indústria        a cabo a iniciativa de consolidar a Confederação da
têxtil instalada na região, em uma cidade que hoje        Indústria e a do Comércio, como entidades de cúpula
leva o seu nome.                                          do setor sindical empresarial.
    Com o fim da guerra, que garantiu a vitória dos           Se por um lado as perspectivas de liberdade e
aliados sobre as forças do Eixo, ampliaram-se os mo-      democracia eram animadoras, por outro as tensões
vimentos que objetivavam a redemocratização do            sociais aumentavam em função dos vários tipos de
Brasil. O retorno dos soldados brasileiros em 1945 evi-   carência. À precariedade da alimentação dos traba-
denciou uma contradição: o Brasil lutara ao lado das      lhadores somavam-se as deficiências no campo da

                                                                                                             49
34. Primeira logomarca   saúde, a falta de transportes, de moradia, de opções              contingentes da população, precisamente os que mais
do Sesi
Desenho                  de lazer etc. A despeito das conquistas voltadas es-              diretamente interessam à economia social (LODI apud
                         pecificamente para o setor produtivo, impunha-se a                IEL, 1969, p. 10)
                         necessidade de um plano de ação social para o Brasil.
                         Na época a preocupação já era manifestada, de for-                 Esse pensamento ganhou mais força após uma
                         ma explícita, por alguns industriais:                          reunião de sindicatos patronais e de trabalhadores
                                                                                        de Minas Gerais, onde foi elaborada, em 1946, a Car-
                              Não basta qualificar tecnicamente o trabalhador, pois     ta da Paz Social, amparada nos princípios de solida-
                              sua produtividade depende também da assistência           riedade.
                              que lhe seja dedicada para melhorar-lhe, de maneira           Tanto a Carta de Teresópolis quanto a Carta da
                              indireta, as condições de vida (LODI, 1952, p. 15).       Paz Social serviram de subsídio para a Assembléia
                                                                                        Constituinte que, instalada no governo do presi-
                            Mal acabara a guerra e já um grupo de empresá-              dente Dutra, elaborou a Constituição Brasileira de
                         rios brasileiros, de vários setores, reunia-se em Tere-        1946,37 considerada bastante avançada para a épo-
                         sópolis para a 1ª Conferência das Classes Produtoras,          ca. Além disso, os dois documentos constituíram o
                         em maio de 1945: Euvaldo Lodi, Roberto Simonsen,               alicerce do Serviço Social da Indústria (Sesi), criado
                         João Daudt D’Oliveira, Íris Meinberg, Brasílio Macha-          em 25 de junho de 1946.38 O apoio de Euvaldo Lodi
                         do Neto, entre muitos outros, faziam parte de uma              e Roberto Simonsen foi decisivo para o surgimento
                         corrente de cidadãos “identificados com valores éticos         da entidade que, de acordo com o decreto assinado
                         e contrários às práticas destruidoras da ordem social          pelo presidente Dutra, deveria ser organizada e diri-
                         como o lucro fácil, a competição desenfreada e a au-           gida pela CNI.
                         sência de espírito de serviço” (apud PERES, 2008). Suas            O Sesi nasceu efetivamente em 1º de julho de
                         preocupações, expostas na Carta Econômica de Te-               1946, com o objetivo de melhorar a qualidade de
                         resópolis, referiam-se ao combate ao pauperismo,               vida dos industriários e de seus dependentes.39 Entre
                         ao aumento da renda nacional, ao desenvolvimento               suas atividades incluía-se a prestação de serviços de
                         das forças econômicas, à democracia econômica e à              saúde, educação, lazer, cultura, nutrição e promoção
                         justiça social:                                                da cidadania. Por meio do que viria a ser posterior-
                                                                                        mente chamado de Sistema S,40 os empresários assu-
                              Nas novas condições de vida geradas pela revolução        miam o compromisso de realizar uma tarefa que, do
                              industrial, surgiram problemas sociais até então desco-   campo da educação, estendeu-se à saúde, ao espor-
                              nhecidos: o desemprego e os salários de baixo nível, os   te e ao lazer.
                              acidentes de trabalho, o esgotamento, a desnutrição,          Em fevereiro de 1947, Dutra criou uma comissão
                              as habitações impróprias e congestionadas tornaram-       para, sob a direção do Conselho Nacional de Petróleo,
                              se riscos sociais, aos quais ficaram sujeitos grandes     elaborar as diretrizes referentes à exploração, produ-

                         50
problemas brasileiros só foi aplicado de forma muito        35. João Daudt d’Oliveira
                                                                                                                      discursa na II Conferência
                                                          limitada.                                                   Nacional das Classes
                                                             No ano seguinte, começavam as obras da usina de          Produtoras, ao lado de
                                                                                                                      Euvaldo Lodi
                                                          Paulo Afonso I, que passaria a operar em 1954, com          Fotografia, maio de 1945
                                                          180 mil kW de potência instalada. Sobre esse empre-
                                                          endimento, assim se manifestou Euvaldo Lodi:

                                                             Podemos esperar copiosos benefícios que o proje-
                                                             to de Paulo Afonso trará ao sertão nordestino. Mas é
                                                             preciso intensificar e dar crescente organicidade e
                                                             sentido econômico à rede de empreendimentos proje-
                                                             tada pelo Departamento Nacional de Obras Contra as
ção, refino e comercialização do petróleo. O antepro-        Secas,41 bem como pelos departamentos responsáveis
jeto elaborado pela referida comissão, que facilitava        pelas estradas de ferro, pelas rodovias e pelos portos
as concessões para o capital estrangeiro nos assun-          (IEL, 1948, p. 37).
tos relativos ao petróleo, iria acirrar os ânimos nas
Forças Armadas. Enquanto o general Horta Barbosa             Em 1950 Vargas voltou ao poder pelo voto. E, con-
defendia o monopólio estatal baseado na convicção         tando com apoio político, deu seguimento à criação
de que o país estava em condições de assumir a ex-        de empresas estatais e monopolistas, reforçando a
ploração e a prospecção petrolíferas, o general Jua-      presença do Estado na economia.
rez Távora buscava uma posição de conciliação com            Uma das primeiras medidas do novo período
os capitais estrangeiros, sob o argumento de que o        de Vargas no governo foi a criação da Comissão de
Brasil não dispunha de recursos e de quadros para os      Desenvolvimento Industrial (CDI) que, ligada à Pre-
afazeres do petróleo.                                     sidência da República, seria responsável pelo plane-
    Ao atingir as ruas, o assunto sensibilizou estudan-   jamento industrial. A CDI devia coordenar o trabalho
tes, trabalhadores sindicalizados e as camadas popu-      de oito subcomissões, entre as quais a Subcomissão
lares. A campanha O Petróleo é Nosso, que duraria de      de Jipes, Tratores, Caminhões e Automóveis, presidi-
1947 até 1953, foi uma das mais polêmicas da histó-       da pelo comandante Lúcio Martins Meira.
ria do país.
    Em 1948, o governo Dutra apresentava ao Con-             Nesta [comissão], a preocupação dominante é a de
gresso o Plano Salte, sigla resultante das iniciais de       dispor condições que permitam o desenvolvimento
saúde, alimentação, transporte e energia. Apesar de          harmonioso da indústria, com a observância dos pos-
ter sido aprovado pelo Congresso e se transformado           tulados de promoção da iniciativa privada e do bem-
em lei, o primeiro projeto que enfocava os principais        estar social, com base no encaminhamento racional

                                                                                                                51
dos recursos e na criação recíproca de mercados pelas   em 1951, o Conselho Nacional de Pesquisa, CNPq,43
   diversas unidades produtivas. (Discurso proferido por   mais tarde denominado Centro Nacional de Desen-
   Lodi na instalação da CDI, IEL 1948, p. 17)             volvimento Científico e Tecnológico, mantendo-se a
                                                           mesma sigla.
    Nesse mesmo ano, o governo promulgou a lei                 As primeiras ações do CNPq estavam ligadas à
que dispunha sobre a federalização das universida-         concessão de bolsas de estudo e auxílio para a pes-
des brasileiras.42 Esse mecanismo foi responsável          quisa. Posteriormente foram criados programas de
pelo aumento gradativo da oferta pública de ensino         iniciação científica, aperfeiçoamento, especialização
superior gratuito, assim como pela fundação de no-         e estágio para o desenvolvimento técnico, e bolsas
vas universidades.                                         de pesquisador assistente e associado.
    No ano seguinte, seria criado o Banco Nacional             Iniciativa semelhante veio com a institucionali-
de Desenvolvimento Econômico (BNDE), destinado             zação, em 1951, da Campanha Nacional de Aper-
a mobilizar recursos para incentivar as atividades de      feiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes),44
infra-estrutura: transportes, energia elétrica e indús-    destinada a assegurar a existência de pessoal es-
trias de base.                                             pecializado para atender às necessidades dos em-
    A idéia de criar uma entidade governamental es-        preendimentos públicos e privados que visavam
pecífica para fomentar o desenvolvimento científico        ao desenvolvimento do país. Idealizado por Anísio
no país era antiga. As primeiras manifestações nes-        Teixeira, o projeto contou com o assessoramento do
sa direção surgiram, ainda na década de 1920, na           norte-americano Rudolph Atcon, técnico que traba-
Academia Brasileira de Ciências (ABC). Uma década          lhou também como subdiretor do Programa Univer-
depois, a entidade sugeriu ao governo a criação de         sitário entre 1953 e 1956.
um conselho de pesquisas, mas a proposta não sen-              Nessa ocasião, o Poder Executivo enviou ao Con-
sibilizou o Congresso da época. Em maio de 1946, a         gresso um projeto de lei que criava a Petrobras. Devido
idéia seria retomada pelo almirante Álvaro Alberto         às críticas e aos ataques vindos de todos os lados, foi
da Motta e Silva, representante brasileiro na Comis-       aprovado um decreto cujo teor era diferente daquele
são de Energia Atômica do Conselho de Segurança            da proposta original. Após apreciação deste pelo Se-
da recém-criada Organização das Nações Unidas              nado, no dia 3 de outubro de 1953 foi finalmente cria-
(ONU). Porém, a iniciativa só tomaria corpo a partir       da a Petrobras, que estabelecia o monopólio estatal
de 1950, quando o Brasil, entre outros países, decidiu     sobre a pesquisa e a exploração do petróleo.45
contestar a supremacia tecnológico-industrial dos              Ainda nesse mesmo ano, houve no Aeroporto
Estados Unidos no campo da energia nuclear. Com o          Santos Dumont, Rio de Janeiro, a Primeira Mostra da
objetivo de apoiar a formação de recursos humanos          Indústria Nacional de Autopeças.
para enfrentar o desafio, a lei – chamada por Álva-            Em 1954 foi fundado o Instituto Tecnológico de
ro Alberto de Lei Áurea da Pesquisa no Brasil – criou,     Aeronáutica (ITA).46 A criação dessa instituição, locali-
zada em São José dos Campos, estado de São Paulo,         tuação difícil. Finalmente, um atentado contra Car-         36. Presidente Juscelino
                                                                                                                      Kubitschek em convenção
representou um grande avanço no ensino superior           los Lacerda, oposicionista do governo, fez acirrar os       do PSD, que homologou sua
e na inovação tecnológica. A idéia de construção de       ânimos. Aconselhado a renunciar, Getulio Vargas se          candidatura à presidência da
                                                                                                                      República para as eleições
um centro técnico nessa região já havia sido apresen-     suicidou na madrugada de 25 de agosto de 1954.              de 1955.
                                                                                                                      Fotografia
tada, em 1945, pelo general Casimiro Montenegro ao        O ato extremado do presidente comoveu as mul-               Detalhe
professor norte-americano Richard Smith, do Massa-        tidões, que ocuparam as ruas e choravam a perda
chussets Institute of Technology (MIT).                   do “pai dos pobres”. As manifestações populares
    Mais tarde, o complexo seria ampliado com a ins-      refletiram-se no cenário político nacional, acuando
talação do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), mate-       a oposição a Vargas.
rializando o sonho de Alberto Santos Dumont de que            Imediatamente assumiu o governo, como presi-
houvesse, no Brasil, uma escola técnica voltada para      dente interino, João Café Filho, que manteve as datas
a aviação:                                                das eleições seguintes. Durante o curto período de
                                                          seu governo, a Superintendência da Moeda e do Cré-
   Eu, que tenho algo de sonhador, nunca imaginei o que   dito (Sumoc)48 baixou a Instrução nº. 113, de janeiro
   tive ocasião de observar, quando visitei uma enorme    de 1955, que permitia às empresas importarem má-
   fábrica nos EUA. Vi milhares de hábeis mecânicos       quinas e equipamentos obsoletos, valorizados como
   ocupados na construção de aeroplanos, produzindo       se fossem novos, sem cobertura cambial ou restrição
   diariamente de 12 a 18. Quando o Congresso Ameri-      de qualquer espécie. Na concepção de alguns seto-
   cano acaba de ordenar a construção de 22.000 dessas    res da indústria, a medida não somente prejudicaria
   máquinas, nós, aqui, não encaramos ainda esse pro-     o crescimento da indústria nacional de bens de pro-
   blema com a atenção que merece (SANTOS DUMONT,         dução como incentivaria a transferência do controle
   1918, p. 70).                                          acionário de empresas brasileiras para as corpora-
                                                          ções internacionais.
    Ainda em 1954 seria fundado, no âmbito do CNPq,           Em clima de tensões políticas e econômicas, Jus-
o Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação     celino Kubitschek de Oliveira, eleito democratica-
(IBBD),47 que posteriormente se transformaria no Ins-     mente, chegou ao poder, em janeiro 1956, com um
tituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnolo-     ambicioso plano de governo, que não apenas procu-
gia (Ibict).                                              rava identificar os obstáculos a superar, como prome-
    Apesar do clima promissor e das muitas realiza-       tia transferir a capital do país para o Planalto Central.
ções, o governo estava com seus dias contados. O ex-      E, a despeito das adversidades políticas, JK consegui-
cessivo controle sobre a economia provocava fortes        ria não somente “implantar as empresas criadas por
reações dos setores contrários ao governo, inclusive      Vargas, mas também implementar um novo modelo de
de alguns grupos militares. As investigações feitas       desenvolvimento sobre a base industrial estatal insta-
pelo Congresso colocavam o presidente em uma si-          lada” (CALDEIRA, 1997, p. 200).

                                                                                                                53
37. Presidente Juscelino           O Plano de Metas de JK teve como base uma
Kubitschek, Euvaldo Lodi e
empresários no Palácio do       série de estudos iniciados ainda no governo de
Catete: convergência de inte-
                                Getulio Vargas. Os diagnósticos, feitos pela Co-
resses foi o grande segredo
para o desenvolvimento          missão Mista Brasil-Estados Unidos, pelo Banco
industrial brasileiro, Rio de
Janeiro, RJ                     Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE)
Fotografia, 1956                e pela Comissão Econômica para a América Lati-
                                na e Caribe (Cepal), indicavam a necessidade de
                                eliminar os pontos de estrangulamento da econo-
                                mia brasileira. Para os analistas da época, o Brasil
                                vinha passando por um processo de substituição
                                de importações não planejado, sendo esta a causa
                                dos constantes desequilíbrios no balanço de paga-
                                mentos.
                                   Com o slogan “50 Anos de Progresso em 5 Anos de            a fabricação de caminhões, jipes, camionetas, cami-
                                Governo”, cunhado por Augusto Frederico Schmidt,              nhões leves e furgões.
                                JK propunha-se a impulsionar o desenvolvimento do
                                país mediante o incremento de cinco áreas – energia,             Com a eclosão do Geia, iniciou-se a grande arranca-
                                transporte, alimentação, indústria de base e educa-              da. As indústrias de veículos e autopeças, conjugan-
                                ção – e a construção de Brasília. Em mensagem en-                do os seus melhores esforços, trabalhando em ritmo
                                viada ao Congresso em 15 de março de 1956, o chefe               avassalador, lançaram-se numa das mais gigantescas
                                da nação declarou:                                               realizações do industrialismo moderno, queimando
                                                                                                 etapas e estágios tecnológicos rumo à meta final.
                                     A importância que passou a adquirir, no país, o trans-      (GATTÁS, 1981, p. 200)
                                     porte rodoviário, a curta e longa distância, vem criar
                                     a necessidade de ser instituída, entre nós a indústria       Em setembro do mesmo ano, foi inaugurada,
                                     automobilística, em bases amplas e definitivas (apud     em São Bernardo do Campo, a primeira fábrica de
                                     GATTÁS, 1981, p. 189)                                    caminhões com motor nacional da Mercedes-Benz.
                                                                                              No mesmo mês, foi lançado pela Máquinas Agríco-
                                   Depois de constituído o Conselho do Desenvolvi-            las Romi, instalada em Santa Barbado do Oeste, São
                                mento, veio a criação, em 16 de junho de 1956,49 do           Paulo, o primeiro veículo produzido no Brasil: o Ro-
                                Grupo Executivo da Indústria Automobilística (Geia),          mi-Isetta, um minicarro popular.
                                que tinha como objetivo implantar a indústria auto-               A indústria automobilística desempenhava um
                                mobilística no Brasil. O grupo tinha poder para exa-          papel central nas políticas do governo. Além de res-
                                minar, aprovar ou rejeitar projetos industriais para          ponsável pela expansão da infra-estrutura rodoviária

                                54
do país, ela “acudiu a economia brasileira, estendeu       se esforço, a implantação da indústria automobilística   38. Linha de montagem
                                                                                                                    do primeiro automóvel
seus efeitos a outros setores de atividades e continuou    nacional somente se deu, em 1956, com a criação do       de fabricação nacional, o
a imprimir dinamismo até por quatro décadas após seu       Grupo Executivo da Indústria Automobilística (Geia).     Romi-Isetta, Santa Bárbara
                                                                                                                    d’Oeste, SP
início” (LATINI, 2007, p. 107). A demanda oriunda das         Primeiramente foram produzidos caminhões, ca-         Fotografia, 1956
montadoras estrangeiras provocou o crescimento e a         mionetas, jipes e furgões. Logo depois, carros de pas-
modernização de pequenas e médias empresas, vin-           seio e camionetas começaram a ser fabricados pela
culadas ao setor de autopeças: “as medidas há tanto        Volkswagem, Vemag, Willys-Overland, Simca, Ford,
esperadas pelo setor de autopeças causaram fortes im-      Chevrolet, Chrysler. A princípio, esses veículos eram
pactos, desencadeando uma revolução industrial, com        projetados nas matrizes européias e norte-america-
grandes reflexos na vida econômica, política e social do   nas, utilizando a maioria de peças e equipamentos
País” (GATTÁS, 1981, p. 180)                               importados.50
    Embora as primeiras empresas estrangeiras a se            Criada em 1945, com capitais brasileiros, a Vemag,
instalar no Brasil tenham sido a Ford (1919) e a Ge-       que surgiu para montar e distribuir veículos, lançou,
neral Motors (1925), suas unidades de produção res-        em 19 de novembro de 1956, o primeiro veículo de
tringiam-se então a montadoras de peças vindas do          fabricação nacional, a perua DKW. O Sedan DKW-
exterior. Com a eclosão da II Guerra, e a conseqüente      Vemag, com 50% das peças de fabricação nacional,
dificuldade de importação, surgiu a necessidade de         seria apresentado, no dia 28 de abril de 1958, durante
improvisar peças de reposição, o que fez surgir peque-     o desfile da Bandeira Automobilística Brasileira.
nas oficinas, cuja incipiente produção contribuía para        Por volta de 1956, esquentava o debate em torno
manter a frota brasileira em circulação. A despeito des-   da energia nuclear. Em primeiro lugar, devido às re-




                                                                                                              55
39. Presidente Juscelino         servas brasileiras de minérios como o urânio e o tó-        Com o intuito de estabelecer uma adequação en-
Kubitschek na Usina
Hidrelétrica de Furnas
                                 rio. Em segundo, porque havia fracassado a tentativa    tre o sistema educacional e as transformações que
Fotografia, 3 de março de 1960   de compra, pelo Brasil, de ultracentrífugas de origem   vinham ocorrendo no país, o Ministério da Educação
                                 alemã, equipamentos destinados ao enriquecimento        criou o programa Educação para o Desenvolvimento,
                                 de urânio.                                              que continha 12 diretrizes destinadas a reformular os
                                     O tema causava polêmica: havia os que defen-        ensinos secundário e superior. Em 16 de março de
                                 diam a exportação dos minérios e aqueles que acre-      1957, foi formada a Comissão de Educação e Cultura
                                 ditavam na capacidade do Brasil de produzir energia     do Conselho do Desenvolvimento, que deveria defi-
                                 nuclear de forma autônoma. Com isso, em outubro         nir o esforço educacional a ser realizado em respos-
                                 de 1956 foi criada a Comissão Nacional de Energia       ta às exigências do desenvolvimento nacional. Essa
                                 Nuclear (CNEN),51 que tinha como objetivo propor as     meta foi explicitada em mensagem presidencial en-
                                 medidas julgadas necessárias à orientação da política   viada ao Congresso:
                                 geral da energia atômica mais adequada ao interesse
                                 e à segurança nacionais. Data dessa época a parceria       Na era tecnológica em que ingressa a sociedade bra-
                                 entre o CNPq e a CNEN. Enquanto ao primeiro cabia          sileira, o progresso se avalia em termos de evolução
                                 financiar pesquisas e a formação de pesquisadores, a       científica e da rápida utilização dos resultados obtidos.
                                 segunda tinha como tarefa desenvolver a utilização         (...) Precisamos diplomar maior número de técnicos,
                                 da energia nuclear em todas as formas de aplicação         ano após ano. Além disso, necessitamos de maior va-
                                 pacífica, com crescente autonomia tecnológica.             riedade deles nos diferentes níveis de formação. Será
                                                                                            também imprescindível cercar as profissões técnicas
                                                                                            (JUSCELINO KUBITSCHEK, 1957, p. 2).52


                                                                                             Encaminhada ao Legislativo em 1957, a proposta
                                                                                         de reforma do ensino,53 embora tão esperada pelos
                                                                                         setores industriais progressistas, encontrou resistên-
                                                                                         cia dos proprietários de escolas. Submetido a longas
                                                                                         discussões, o projeto somente seria transformado
                                                                                         em lei no governo João Goulart.
                                                                                             Enquanto isso o presidente JK enfrentava outros
                                                                                         desafios. Com a missão de construir uma usina que
                                                                                         evitasse o colapso energético da região Centro-Sul,
                                                                                         ainda em 1957 criou a Central Elétrica de Furnas
                                                                                         (CEF), em Minas Gerais.54 Como na época o Brasil não
                                                                                         possuía tecnologia capaz de levar avante uma obra

                                 56
de tal porte, foi preciso contratar profissionais estran-
geiros, principalmente ingleses, e importar equipa-
mentos da Itália, Suécia, Estados Unidos, Suíça, Ca-
nadá e Japão. Instalada em Passos, Minas Gerais, a
hidrelétrica começaria a funcionar em 1963.
    Pouco depois, foi a vez da Usina de Três Marias,
também no estado de Minas Gerais. Iniciada em
maio de 1957, a hidrelétrica, concluída em janeiro de
1961, representou um verdadeiro recorde mundial
em construções dessa natureza. Além de um reser-
vatório de uso múltiplo e da geração de energia, Três       da vida urbana, os novos produtos da indústria, as di-   40. Cesar Lattes, importante
                                                                                                                     físico brasileiro, que
Marias passou a viabilizar a navegação no rio São           ferenças da vida social, o maior acesso à educação e à   juntamente com Cecil
Francisco nos períodos de estiagem, o abastecimen-          cultura de massa” (CALDEIRA, 1997, p. 297).              Powell e Giuseppe Occhialini
                                                                                                                     identificou e isolou, nos
to urbano e a irrigação na região.                              O ensino tecnológico mereceu uma atenção do          Estados Unidos, o méson-π,
   Em 1958, com a criação do Fundo de Marinha                                                                        tornando-se uma celebridade
                                                            governo, com a lei que instituiu as escolas técnicas
                                                                                                                     nacional
Mercante e a organização do Grupo Executivo da              federais e autarquias educacionais, vinculadas ao        Fotografia, 1947
Indústria de Construção Naval (Geicon), que faziam          MEC.55 Quatro anos depois, a matéria ganharia refor-
parte do Plano de Metas do governo, deu-se o renas-         ço com o Programa de Expansão do Ensino Tecnoló-
cimento da construção naval.                                gico, Protec.56
   Indiferente às críticas, o presidente Juscelino Ku-          Entre o nacional-desenvolvimentismo e a abertu-
bitschek dava seqüência às inúmeras realizações que         ra ao capital estrangeiro, JK escolheu os dois: man-
contribuíam para promover um crescimento econô-             teve o Estado forte, mas, ao mesmo tempo, abriu as
mico sem precedentes na história do país:                   portas do país para o investimento externo, tripli-
                                                            cando a entrada de capitais em relação ao período
   Entre 1955 e 1961, a produção de aço cresceu 100%;       anterior. Como o projeto do governo facilitava as
   a das indústrias mecânicas, 125%; a das elétricas e de   relações com os Estados Unidos, Juscelino sugeriu
   comunicações, 380%; e a das indústrias de equipa-        ao presidente norte-americano, Dwight Eisenhower,
   mentos de transportes, 600%. A produção industrial       a retomada do ideal pan-americano de fortalecer a
   como um todo cresceu 100%, a taxa de crescimento         América Latina. Um dos resultados dessa aproxima-
   real foi de 7% ao ano, e a renda per capita aumentou     ção foi a criação, em 1959, do Banco Interamericano
   4% ao ano (CALDEIRA, 1997, p. 295).                      de Desenvolvimento (BID), uma instituição regional
                                                            de financiamento.
   Esse progresso mudava a imagem externa e a                   O exercício democrático e a abertura econômi-
vida cotidiana do país. “Valorizavam-se as conquistas       ca para o mundo iriam contribuir para a transfor-

                                                                                                               57
41. Cidade Livre, núcleo      mação da cultura nacional. Impulsionado por mais         mostravam sua cara nos festivais internacionais. Em
urbano que deu suporte aos
trabalhadores da construção   uma revolução industrial, o Brasil entrava na era da     1959, o filme Orfeu do Carnaval, dirigido por Marcel
de Brasília, hoje, Núcleo     novidade. A música era então a bossa nova, uma           Camus, ganhou a Palma de Ouro em Cannes.
Bandeirante, DF
Mário Fontenelle              reinvenção do samba tradicional com influência dos           E no esporte não foi diferente: o Brasil conquista-
Fotografia, 1956                                                                       va alhures a Copa do Mundo de 1958, mostrando a
                              acordes jazzísticos. E não tardaria para que o país se
Detalhe
                              orgulhasse de seus grandes embaixadores culturais:       habilidade dos seus craques. A partir de então, Pelé,
                              canções de Tom Jobim, João Gilberto e de tantos ou-      antecipando seus longos tempos de glória, tornar-se-
                              tros passavam a ser produtos de exportação.              ia um cartão postal do país. O futebol também havia
                                 Inspirado no Neo-realismo italiano e na Nouvelle      se modernizado: pela primeira vez, o time brasileiro
                              Vague, o Cinema Novo ensaiava uma nova lingua-           havia sido devidamente preparado por uma comis-
                              gem que, representada em Rio 40 Graus (1955), ade-       são técnica de reconhecido gabarito. O otimismo era
                              quava-se à situação social da época. Com “uma idéia      contagiante: a nação passava a acreditar em si mes-
                              na cabeça e uma câmera na mão”, diretores brasileiros    ma e no seu futuro!




                              58
                               8
Mas, com todos os esforços e glórias, o Brasil era                                                                   42. Da esquerda para a
                                                                                                                        direita: Oscar Niemeyer,
ainda uma nação dividida: enquanto o progresso se                                                                       Israel Pinheiro, Lucio Costa
                                                                                                                        e presidente Juscelino
alastrava pelo Sudeste, as outras regiões permane-
                                                                                                                        Kubitschek, entre maquete e
ciam com suas atividades econômicas tradicionais.                                                                       projetos da nova capital
                                                                                                                        Fotografia, 29 de janeiro de
Com isso, aumentava a migração, do campo para a                                                                         1958
cidade, principalmente do Nordeste, cuja “renda per
                                                                                                                        43. Construção do Congresso
capita não chegava a US$ 100, um terço da renda dos                                                                     Nacional
                                                                                                                        Mário Fontenelle
habitantes do centro-sul do país” (Folha Online, 13
                                                                                                                        Fotografia, 1959
ago. 2008). A região já havia sido objeto da preocu-
pação manifesta dos industriais desde a década de
1940:

   A valorização do Nordeste e a difusão industrial é uma
   preocupação dos líderes da indústria nacional (...) pre-
   cisamos desenvolver as atividades internas, estimular
   as iniciativas, atrair os capitais estrangeiros a investir
   aqui, possibilitando o trabalho aos nossos trabalha-
   dores (...) tudo isso para que desenvolvamos nossa
   capacidade financeira e técnica de dinamizar o vasto
   território nacional (LODI, 1984, p. 32).                        Em 1960, o ensino tecnológico foi contemplado
                                                                pela criação da Comissão Supervisora do Plano dos
   O governo não ficou alheio a essa situação de                Institutos (Cosupi). Com a finalidade de elaborar e
segregação, que configurava a existência de dois                executar, sob a coordenação do Ministério da Edu-
Brasis. Em 1959, surgia a Superintendência de De-               cação e Cultura, os planos de aplicação das verbas
senvolvimento do Nordeste (Sudene),57 idealizada                concedidas para a instalação de institutos de tecno-
pelo economista Celso Furtado. Com sede em Recife,              logia e ciências básicas, a Cosupi deveria contribuir
Pernambuco, a instituição destinava-se a promover o             para aumentar a eficiência do ensino nas escolas de
desenvolvimento da região, por meio da mecaniza-                nível superior.59
ção agrícola e da industrialização.                                Em fevereiro do último ano do governo, 1960,
   Com a intenção de promover a expansão da in-                 chegava ao Planalto Central a Caravana da Integra-
dústria do aço e da rede hidrelétrica, foi criado em            ção Nacional, que, além de exibir quatro colunas de
julho de 1960 o Ministério de Minas e Energia (MME),            veículos de fabricação nacional, comprovava a exten-
que passou a assumir as atribuições de sua área, an-            são da malha rodoviária brasileira. O governo JK ha-
tes vinculadas ao Ministério da Agricultura.58                  via construído 20 mil quilômetros de estradas e pavi-

                                                                                                                  59
44. Presidente Jânio Quadros   mentado outros milhares nas rodovias já existentes.
entrega a Che Guevara a
Ordem do Cruzeiro do Sul,      Vindos de todos os cantos, os brasileiros chegaram a
1959. Matéria da publicação    Brasília, metassíntese do governo e símbolo do novo
Nosso Século
                               Brasil que se pretendia criar.
                                   A cidade moderna, que começara a ser construída
                               em 1957, representava então não apenas um mode-
                               lo de civilização a ser seguido, mas caracterizava o
                               centro da integração nacional. Repetindo o dizer de
                               Darcy Ribeiro em relação ao papel de Minas Gerais
                               no século XVIII, Brasília foi “o nó que atou o Brasil e fez
                               dele uma coisa só” (1995, p. 153).
                                   A partir de então, o país seria respeitado também
                               pela epopéia da construção, em tempo recorde, da
                               cidade que harmonizava uma arrojada arquitetura
                               com um urbanismo revolucionário. Quando da inau-
                               guração, no dia 21 de abril de 1960, André Malraux,
                               ministro da Cultura da França, além de chamar Brasília
                               de “capital da esperança”, estabeleceu uma significativa
                               comparação: “as colunas do Palácio da Alvorada consti-
                               tuem o elemento arquitetural mais importante depois das
                               colunas gregas” (apud ROLLEMBERG, 2000, p. 17).               conseguir instalar a indústria de bens duráveis e pro-
                                   Além da beleza, a cidade surpreendeu o país e o           mover a diversificação do parque industrial, valeu-se
                               mundo pelo novo modus vivendi que ajudava a criar.            de empréstimos externos e, sobretudo, da emissão
                               O bucólico, o monumental, o gregário e o residencial          de moeda além do que o mercado podia suportar, o
                               misturavam-se para dar à cidade o caráter urbano e            que gerou inflação e um descontrole da economia.
                               cívico que o programa exigiu. Era também o espaço             A dívida externa e o déficit da balança comercial
                               resultante da técnica rodoviária imposta pela nova e          inquietavam os credores internacionais. A saída foi
                               promissora indústria automobilística ou, no dizer de          apelar para o Fundo Monetário Internacional (FMI),
                               Lucio Costa, “Brasília, capital aérea e rodoviária; cidade    que passou a fazer ingerências na política econômica
                               parque. Sonho arqui-secular do Patriarca” (CODEPLAN/          brasileira e exigências para o saneamento das finan-
                               DEPHA, 1991, p. 32)                                           ças. Apesar do crescimento econômico, os emprés-
                                   Sem recursos internos para o seu acelerado proje-         timos externos ajudaram a aumentar a inflação e o
                               to de crescimento, Juscelino ofereceu atrativos para          arrocho salarial. Com isso, ao assumir o governo em
                               a vinda de empresas multinacionais no país. Para              1961, Jânio Quadros tinha muitas dívidas para pagar

                               60
e poucas fontes de recursos. Assim, a estratégia foi         serviu como uma espécie de aval para grande par-
pagar as contas e reduzir drasticamente os investi-          te dos empréstimos contraídos pelos países latino-
mentos.                                                      americanos com o Banco Mundial e o Fundo Mone-
    Nesse período foi finalmente aprovada a criação          tário Internacional.
das Centrais Elétricas Brasileiras S.A.60 A proposta,            No curto período de seu mandato, Jânio criou a
formulada e enviada ao Congresso por Getulio Var-            Política Externa Independente (PEI), que visava ao
gas em 1951, propunha também o Plano Nacional de             estabelecimento de relações com todos os povos,
Eletrificação Rural. Embora o projeto tivesse sofrido        sobretudo com os do mundo socialista e do conti-
várias emendas, foi mantida a sigla original Eletro-         nente africano. Nesse sentido, restabeleceu relações
brás.                                                        diplomáticas e comerciais com a URSS e a China; con-
    Nessa época, o presidente dos Estados Unidos,            denou o episódio da Baía do Porcos e a interferên-
John Kennedy, apresentou para o corpo diplomático            cia norte-americana que provocou o isolamento de
latino-americano o novo padrão de relacionamen-              Cuba; e concedeu a Che Guevara a Ordem do Cruzei-
to internacional baseado na cooperação dos povos             ro do Sul.
latinos. A iniciativa fazia parte da Lei de Assistência          Por meio da Resolução nº. 204/1961, da Superin-
ao Exterior aprovada pelo Congresso americano em             tendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), acabou
1961:                                                        com subsídios ao câmbio que beneficiavam importa-
                                                             dores, inclusive os grandes jornais, que importavam
   Conclamei todos os povos do hemisfério a participarem     grandes quantidades de papel. Além disso, esbele-
   de uma nova Aliança para o Progresso, um enorme es-       ceu uma severa contenção dos gastos públicos, por
   forço cooperativo, sem paralelos em sua magnitude e       meio do enxugamento da máquina governamental e
   nobreza de propósitos, para satisfazer às necessidades    da abertura de centenas de inquéritos e sindicâncias,
   básicas do povo americano, de lares, trabalho e terra,    que visavam ao combate à corrupção e ao desregra-
   saúde e escolas [...] a liberdade política deve acompa-   mento na administração pública.
   nhar o progresso material (...) onde dentro da rica di-       Além disso, o presidente enviou ao Poder Legis-
   versidade de suas próprias tradições, cada nação seja     lativo os projetos de lei antitruste, de limitação e re-
   livre para seguir seu próprio caminho para o progresso    gulamentação da remessa de lucros e royalties, e de
   (JOHN KENNEDY apud SCHLESINGER, 1966, p. 207)             reforma agrária. Hostil ao governo, o Congresso en-
                                                             gavetaria os referidos projetos de lei. Ao mesmo tem-
    No mesmo ano, uma reunião extraordinária do              po, durante esse período, foram criadas as primeiras
Conselho Interamericano Econômico e Social (CIES)            reservas indígenas, entre as quais a do Parque do
foi formalizada com a Declaração aos Povos da Amé-           Xingu61 e seis parques ecológicos nacionais – Capa-
rica e a Carta de Punta del Este, uma parceria entre os      raó, Sete Cidades, Tijuca, São Joaquim, Brasília, Mon-
EUA e a América Latina. A Aliança para o Progresso           te Pascoal, além da Floresta Nacional de Cuxianã.
45. Presidente João Goulart      Ao lado de ações concretas importantes, o pre-       pos econômicos. A impopularidade das medidas de
assina decreto que aprova
o Programa Intensivo de       sidente introduziu medidas inusitadas como a proi-      contenção de gastos públicos e o confronto com os
Preparação de Mão-de-Obra
                              bição do biquíni nas transmissões dos concursos de      interesses dos proprietários de jornais contribuíram
Industrial (Pipmo)
Fotografia, 1963              miss, das rinhas de galo, do lança-perfume nos bailes   para configurar uma crise política, cujo agravamento
46. Construção do Instituto   de carnaval e dos carteados.                            levou o presidente a renunciar, ficando o governo a
Central de Ciências,             A política externa desagradou seus correligioná-     cargo do vice João Goulart.
Universidade de Brasília
(Unb)                         rios da União Democrata Nacional (UDN), e o fim dos         Pouco depois de assumir o poder, o novo presi-
Fotografia, 1960
                              subsídios retirou os privilégios de importantes gru-    dente assinou, em dezembro de 1961, a Lei de Dire-
                                                                                      trizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que, infe-
                                                                                      lizmente, não agradou a todos.62 “Essa lei, que deveria
                                                                                      ser o sólido alicerce da reconstrução do ensino não al-
                                                                                      cançou, pois, o seu objetivo” (O Estado de S. Paulo, 27
                                                                                      dez. 1962 apud Gattás, 1981: 256). Resultado de um
                                                                                      pacto entre os diversos interesses em jogo, o projeto
                                                                                      previa que, embora devesse ser garantido pelo poder
                                                                                      público, o ensino estava aberto à iniciativa privada, e
                                                                                      caberia à família a escolha sobre o tipo de educação
                                                                                      que queria para seus filhos. Mas a grande inovação
                                                                                      da lei foi estender ao Senai a possibilidade de insti-
                                                                                      tuir a mesma organização que estava prevista no sis-
                                                                                      tema público de ensino. Assim, a entidade poderia
                                                                                      oferecer o curso ginasial em quatro anos e o curso
                                                                                      técnico industrial em três anos equivalente ao curso
                                                                                      secundário, o que facultava aos alunos concluintes
                                                                                      ingressarem em qualquer curso de nível superior.
                                                                                          Em conseqüência da LDB, foi criado o Conselho
                                                                                      Federal de Educação (CFE), cuja composição teve um
                                                                                      mínimo de ingerência política. A indicação dos con-
                                                                                      selheiros, feita em parte por Anísio Teixeira, recaiu so-
                                                                                      bre Alceu Amoroso Lima, Maurício Rocha e Silva, Al-
                                                                                      meida Júnior, Newton Sucupira, dom Helder Câmara
                                                                                      e outros expoentes das letras e da educação.
                                                                                          Foi também de Anísio Teixeira, juntamente com
                                                                                      Darcy Ribeiro, a iniciativa de criar, em 1961, a primei-

                              62
47. Presidente João Goulart
                                                                                                                       sanciona a primeira Lei
                                                                                                                       de Diretrizes e Bases da
                                                                                                                       Educação Nacional (LDB)
                                                                                                                       Fotografia, dezembro de 1961




ra instituição de ensino superior do país totalmente            Ainda em 1961, foram publicadas, em The Latin
inspirada no modelo moderno, a Universidade de              American University, as idéias e princípios defendidos
Brasília (UnB).63 Baseada na concepção norte-ameri-         por Rudolph Atcon, que ficaram conhecidas como
cana concernente aos princípios de produtividade,           El Informe Atcon. Em 1963, o relatório foi assumido
eficiência e eficácia, a instituição representava o ideal   pela United States Agency for International Develo-
nacional de produzir ciência e tecnologia necessárias       pment (Usaid) como parte do projeto educacional
ao desenvolvimento econômico do país. Além de es-           para a América Latina.
tabelecer um paradigma para o ensino superior, a                A portaria de 7 de março de 1962, do Ministério
UnB foi criada com o intuito de atender à necessida-        da Educação, além de fixar as disciplinas obrigatórias
de de formar uma elite governamental composta por           para o curso técnico, tornou obrigatório o estágio
especialistas bem qualificados.                             que até então era só recomendado, textualmente, na
    Três presidentes da República participaram da           forma de ”exercício satisfatório da profissão por perío-
criação da UnB: Juscelino Kubitschek elaborou o             do não inferior a um ano, com assistência e orientação
projeto e o encaminhou ao Congresso Nacional, Jâ-           da escola”. Dando seqüência à educação para o traba-
nio Quadros confirmou a comissão encarregada de             lho, seria instituído, em 1963, o Programa Intensivo
projetar a universidade e João Goulart promulgou a          de Preparação de Mão-de-Obra Industrial (Pipmo),
lei de criação e nomeou o seu primeiro reitor, Darcy        destinado a treinar os operários novos e os já em-
Ribeiro.                                                    pregados para que pudessem se adequar às novas

                                                                                                                 63
48. Mulheres paulistas na      tecnologias importadas e, com isso, aumentar o nú-             Nesse período, buscou-se rever o conceito de de-
Marcha da Família com Deus
pela Liberdade                 mero de trabalhadores qualificados à disposição do         senvolvimento proposto por JK. A política econômi-
Fotografia, 1964               mercado.64                                                 ca de então incluía, entre as prioridades, a melhoria
49. Comício pelas reformas        Um ano antes, o Brasil aparecia nas manchetes in-       das condições sociais do país. E, com isso, abria-se es-
de base na Central do Brasil
Fotografia, 1964
                               ternacionais: o filme O Pagador de Promessas, escrito      paço para as manifestações em defesa das reformas
                               por Dias Gomes e dirigido por Anselmo Duarte, além         agrária, tributária e educacional. Ao mesmo tempo,
                               de indicado para concorrer ao Oscar, ganhara a Pal-        com a entrada maciça de indústrias multinacionais
                               ma de Ouro como o melhor longa-metragem. Além              no país, os norte-americanos e europeus passaram a
                               disso, repetindo o feito de 1958, o Brasil se tornou bi-   ter liderança nos setores de maior investimento tec-
                               campeão mundial de futebol na Copa marcada pela            nológico.
                               atuação sensacional de Garrincha.                              O Poder Executivo, na gestão de João Goulart,
                                                                                          apresentou, com insucesso, o Plano Trienal de De-
                                                                                          senvolvimento Econômico-Social para o período
                                                                                          de 1963-1965 como forma de superar a estagnação
                                                                                          econômica e amenizar a insatisfação das camadas
                                                                                          sociais. Com o fracasso do plano, o governo passou
                                                                                          a defender enfaticamente as propostas de reforma
                                                                                          de base que deveriam ser aprovadas pelo Congresso
                                                                                          Nacional.
                                                                                              De um lado, os empresários estrangeiros, preo-
                                                                                          cupados com a possibilidade de verem reduzidos
                                                                                          seus movimentos financeiros, faziam pressão sobre
                                                                                          o governo; de outro, os fazendeiros, assustados com
                                                                                          a possibilidade de uma reforma agrária, colocavam-
                                                                                          se na oposição. E, embora a industrialização, voltada
                                                                                          sobretudo para a produção de bens duráveis, tivesse
                                                                                          adquirido um ritmo próprio, os industriais, que de-
                                                                                          pendiam das divisas para importar máquinas e pro-
                                                                                          dutos, passaram a ficar cada vez mais descontentes.
                                                                                          Como a agricultura não se modernizava e os preços
                                                                                          de seus produtos eram baixos, o valor das exporta-
                                                                                          ções crescia pouco.
                                                                                              E foi nesse contexto que surgiu, em 1962, o Insti-
                                                                                          tuto de Pesquisas e Estudos Socais (Ipês), uma orga-

                               64
nização de empresários do Rio de Janeiro e de São                                                                        50. Matéria da revista
                                                                                                                         Manchete sobre o
Paulo, cujo objetivo era “defender a liberdade pessoal                                                                   afastamento de João Goulart
                                                                                                                         da Presidência da República,
e da empresa, ameaçada pelo plano de socialização
                                                                                                                         11 de abril de 1964
dormente no seio do governo João Goulart”, por meio
de um “aperfeiçoamento da consciência cívica e demo-
crática do povo” (ABREU, 2001 p. 2.790).

   A filosofia política do Ipês via a reforma moderada         meiramente frear o crescimento, pagar as dívidas
   do sistema econômico e político do Brasil como uma          e sanear as finanças públicas, para depois voltar a
   necessidade imperiosa, através da qual seria possível       investir no crescimento.
   neutralizar o avanço comunista no país. Baseada na              O processo de democratização, que fez eclodir as
   encíclica Mater et magistra, do papa João XXIII, e no       manifestações pelas ruas das principais cidades bra-
   programa da Aliança para o Progresso, de iniciativa do      sileiras, demonstrava o fortalecimento dos organis-
   governo norte-americano no começo da década de              mos de representação dos trabalhadores urbanos
   1960, a orientação seguida pelo instituto também re-        e das centrais que congregavam os trabalhadores
   fletia a visão da Escola Superior de Guerra (ESG) sobre a   rurais, cuja sindicalização havia sido regulamenta-
   realidade brasileira da época. (ABREU, 2001, P. 2790)       da em junho de 1963. A agitação popular, encara-
                                                               da como sinônimo de perigo e subversão, levou os
   Outra organização que fazia oposição ao governo             conservadores a se articularem em torno da Socie-
era o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad),         dade em Defesa da Tradição, Família e Propriedade
fundada em maio de 1959 por Ivan Hasslocher. Finan-            (TFP) e da Frente Patriótica Civil-Militar, articulação
ciado por contribuições de empresários brasileiros e           que teve como ápice a Marcha da Família com Deus
estrangeiros, o Ibad intensificou suas atividades em           pela Liberdade.
1962 por intermédio da Ação Democrática Popular                    As inúmeras greves motivadas não apenas por
(Adep), sua subsidiária, que interveio ativamente na           reivindicações salariais, mas pela aprovação das
campanha eleitoral daquele ano.                                reformas de base, contribuíram para desestabilizar
   João Goulart, que se negava a abandonar a estru-            ainda mais o governo. O quadro de instabilidade
tura sindical que havia ajudado a construir, era visto         política precipitou a ação das Forças Armadas, que,
como um aliado dos trabalhadores contra a classe               apoiadas no pressuposto de garantia da segurança
patronal. A polarização de classes fez com que o go-           nacional, desencadearam o golpe de 1964. Na noite
verno fosse marcado por conflitos de várias ordens:            de 1º de abril, o Congresso aprovou uma resolução
enquanto os aliados defendiam reformas econômi-                que declarava vago o cargo de presidente, e que
cas de longo prazo, as chamadas reformas de base,              este seria ocupado interinamente pelo presidente
os opositores acreditavam que a única saída era pri-           da Câmara, Ranieri Mazzilli.

                                                                                                                    65
66
Internacionalização da   produção industrial
                         oãcudorp




                                          67
68
Enquanto soldados, tanques, caminhões e jipes          Informações (SNI), e em outubro do mesmo ano o              51. Bandeirante, primeiro
                                                                                                                      avião construído no Brasil,
ocupavam as ruas das principais cidades brasileiras,      Congresso aprovou uma lei que extinguia a Central           sobrevoa a Baía de
o presidente provisório Ranieri Mazzilli dava pos-        Geral dos Trabalhadores (CGT), a União Nacional dos         Guanabara, RJ
                                                                                                                      Fotografia, 1968
se a uma junta militar formada pelos comandantes          Estudantes (UNE) e as Uniões Estaduais de Estudan-          Página 66
do Exército, Artur da Costa e Silva, da Aeronáutica,      tes (UEEs).
                                                                                                                      52. Trabalho de análise em
Francisco Correia e Melo, e da Marinha, Augusto Ra-           Nessa época o Brasil vivia talvez a primeira crise de   laboratório químico
                                                                                                                      Peter Lang
demaker. Em 9 de abril de 1964 foi assinado o Ato         sua fase industrial. Uma explicação para essa situação      Fotografia
Institucional nº. 1, que suspendia imunidades parla-      era a insuficiência de mercado para a indústria, setor
mentares, autorizava o Executivo a cassar mandatos        mais dinâmico da economia. As exportações haviam
legislativos, cancelar a vitaliciedade de magistrados     sido reduzidas a produtos cuja disponibilidade de
e a estabilidade de servidores. Seis dias depois, assu-   matérias-primas era pequena e a setores em relação
miam o poder o general Humberto de Alencar Cas-           aos quais o mercado nacional era insuficiente para
telo Branco, como presidente, e José Maria Alkmin,        justificar a produção local, como bens de capital e
como vice.                                                outros. O desenvolvimento do Brasil passava, assim,
   O país passaria, então, a adotar uma nova estru-       a depender quase que exclusivamente do mercado
tura de poder e um novo estilo de liderança. Con-         interno, muito pequeno se comparado às grandes
cretizava-se também o processo de redefinição das         demandas impostas pelos avanços tecnológicos às
Forças Armadas, substituindo-se o anterior princípio      unidades produtivas.
da defesa nacional, elaborado pela Escola Superior            Para dar continuidade ao crescimento econômi-
de Guerra (ESG), pela doutrina de segurança, en-          co, era necessário desenvolver o setor de bens de ca-
tendida nos aspectos internos e externos. No dia 13       pital e ampliar o de bens intermediários. Entretanto,
de junho de 1964 foi criado o Serviço Nacional de         vários obstáculos interpunham-se a essas metas, em

                                                                                                                69
53. O Presidente Marechal        especial a ausência de mecanismos de financiamen-         1964, foi criado o Escritório de Pesquisa Econômica
Castelo Branco inaugura
oficialmente a Usina de          to. O setor público encontrava-se com elevado déficit     Aplicada (Epea), que logo depois se converteria em
Furnas e as obras da Usina       devido aos gastos realizados no governo JK, e o setor     instituto.1
de Estreito em Minas Gerais
Fotografia, 12 de maio de 1965   privado não possuía recursos financeiros disponíveis          Muitos economistas aliados do governo, entre os
                                 para garantir os investimentos.                           quais o próprio Roberto Campos, identificavam-se
                                     Com o objetivo de enfrentar a crítica situação eco-   com a teoria proposta por Whitman Rostow que, co-
                                 nômico-financeira que se arrastava desde o governo        nhecida como Estágios do Desenvolvimento Econô-
                                 anterior e controlar os trabalhadores do campo e da       mico, propunha a busca da industrialização como um
                                 cidade, o governo decidiu promover uma reforma do         caminho a ser seguido para se atingir o crescimento
                                 Estado. Inspirado nas idéias de Roberto de Oliveira       econômico. Por esse processo histórico linear, os pa-
                                 Campos e Otávio Gouveia de Bulhões, representan-          íses deveriam transpor etapas: a primeira correspon-
                                 tes respectivamente do Planejamento e da Fazenda,         deria a um estado natural de subdesenvolvimento; a
                                 foi instituído o Plano de Ação Econômica do Gover-        segunda, ao surgimento das condições para a passa-
                                 no (Paeg), que visava, ao mesmo tempo, equilibrar o       gem da tradição à modernidade; a terceira represen-
                                 balanço de pagamentos e estimular o crescimento.          taria o período em que os obstáculos ao crescimen-
                                 Tratava-se de promover o saneamento das finanças          to seriam vencidos; a quarta fase aconteceria com a
                                 por meio do corte de gastos e do aumento de impos-        adaptação definitiva da sociedade às necessidades
                                 tos sobre serviços públicos (PAEG, 1964).                 da produção; e na última etapa, denominada de con-
                                     O Paeg tinha como metas de médio prazo acelerar       sumo de massas, ocorreria a distribuição dos ganhos
                                 o ritmo de desenvolvimento, conter o processo infla-
                                 cionário, atenuar os desequilíbrios setoriais e regio-
                                 nais, aumentar o investimento e com isso o emprego,
                                 e corrigir a tendência ao desequilíbrio interno. Com
                                 esse programa pretendia-se ainda dinamizar a políti-
                                 ca educacional, visando à ampliação das oportunida-
                                 des de acesso à educação, à racionalização dos recur-
                                 sos disponíveis e ao ajuste do ensino às necessidades
                                 técnicas e culturais da sociedade moderna.
                                     A questão educacional mereceu uma parte pe-
                                 quena no Paeg, na qual se discutiam os dispêndios
                                 em educação com base em estimativas de recursos
                                 a serem empregados no setor. Admitia-se então a
                                 necessidade de um aumento de 180 mil matrículas
                                 no ensino superior até 1970. Em 10 de setembro de

                                 70
de produtividade aos trabalhadores (ROSTOW, 1964).        mundo de Macedo Soares e Silva, que se manteria no        54. Grupo de professores,
                                                                                                                    técnicos e diretores de
Por essa teoria, no caso dos países com insuficiente      cargo até 1968.                                           ensino industrial, cumpre
capacidade de investimento privado, seria inevitá-             Como forma de neutralizar esses efeitos foi cria-    nos Estados Unidos estágio
                                                                                                                    de aperfeiçoamento
vel que o Estado assumisse o papel de condutor dos        do, em 1964, o Banco Nacional de Habitação (BNH),2        didático, como bolsistas do
                                                                                                                    governo americano, Rio de
primeiros estágios de desenvolvimento, por meio do        que, destinado ao financiamento de casas populares,
                                                                                                                    Janeiro, RJ
financiamento de educação, transporte e demais ele-       contribuía para dinamizar os setores voltados para a      Fotografia, 1963

mentos de infra-estrutura.                                construção civil, para gerar empregos e aumentar a
   As condições econômicas e políticas, facilitando       receita federal.
o funcionamento e a expansão das grandes empre-               Como as estratégias adotadas não se mostravam
sas, geralmente ligadas ao capital estrangeiro, orien-    eficazes para garantir a implementação dos planos
tavam-se no sentido da interdependência, doutrina         do governo, foi necessário apelar para o corte de
que culminaria em 1965 com o Acordo de Garantia           subsídios ao trigo e ao petróleo. O conseqüente au-
de Investimentos, que, firmado entre o Brasil e os        mento dos preços gerou manifestações de oposição
Estados Unidos, dava segurança aos investidores es-       ao governo, levando o general Castelo Branco a bai-
trangeiros interessados na economia brasileira.           xar, em outubro de 1965, o Ato Institucional nº. 2,3
   O governo militar pretendia transformar o país         que estabelecia eleições indiretas para a Presidência
numa potência econômica. Para isso, de um lado,           da República e o governo dos estados. No mês se-
buscava atrair capitais externos, de outro, defendia      guinte, foi implantado, pelo Ato Institucional nº. 4, o
os investimentos estatais na indústria pesada, como       bipartidarismo no país, criando-se a Aliança Renova-
a siderúrgica e a de bens de capital. Com o objeti-       dora Nacional (Arena), de apoio ao governo, e o Mo-
vo de obter os recursos necessários, foram instituí-      vimento Democrático Brasileiro (MDB), que reunia os
dos mecanismos financeiros, e a correção monetária        oposicionistas.
surgiu como alternativa para tentar driblar a inflação.       E o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
Mas enquanto a estratégia favorecia os investidores,      (FGTS), embora tenha sido instituído em 19664 com
penalizava os trabalhadores, pois a desvalorização da     o objetivo de formar uma reserva para cobrir as des-
moeda era sempre superior às taxas de juros. Outro        pesas com aposentadorias, demissões, invalidez e
problema que se colocava para o pleno desenvolvi-         desemprego, passava a funcionar também como
mento é que tanto o setor de bens de capital como o       fonte de recursos para financiar os projetos do go-
setor de bens intermediários dependiam da deman-          verno.
da pelos produtos, que, com a concentração de ren-            Além disso, o sistema educacional encontrava-
da e a ausência de mecanismos de financiamento ao         se defasado. A implantação das indústrias de base
consumidor, era bastante limitada.                        e o crescimento acelerado dos anos 1950 haviam
   Nessa época assumia a presidência da Confede-          contribuído para ampliar e diversificar o mercado
ração Nacional da Indústria o engenheiro militar Ed-      de trabalho; além disso, houve uma mudança no

                                                                                                              71
55. Fábrica metalúrgica   modelo de ascensão social. Se a abertura de um pe-        A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, aprovada
Fotografia
                          queno negócio ou o exercício de profissões liberais    em 1961, além de responder a interesses conflitan-
                          garantiam certa prosperidade e estabilidade para a     tes, estava obsoleta e inadequada para satisfazer às
                          classe média, com a concentração de renda e mer-       demandas desse novo estágio do desenvolvimento
                          cado essas expectativas foram transferidas para “as    capitalista. Segundo Romanelli (1984, p. 206), a lei
                          hierarquias ocupacionais, que se ampliam e multipli-
                          cam, tanto no setor privado quanto no setor público       não havia criado a estrutura aberta de que carecia o
                          da economia” (ROMANELLI, 1984, p. 205). Os novos          desenvolvimento da nação e a inelasticidade da ofer-
                          postos de trabalho exigiam qualificação. E, assim, a      ta era acompanhada de uma estrutura escolar que
                          educação passava a ser vista como o único caminho         não respondia, nem de longe, à demanda de recursos
                          possível para a conquista de empregos e para o pre-       humanos criada pela expansão econômica.
                          enchimento das vagas disponíveis no mercado.
                              Esboçava-se uma nova fase do desenvolvimento           Tanto entre os correligionários do governo como
                          capitalista em que os países voltavam-se para a ar-    entre facções da oposição, era consenso que o Brasil
                          ticulação de mecanismos implícitos de suporte às       precisava fazer uma reforma na estrutura educacio-
                          atividades tecnológicas de suas empresas, além de      nal e estimular a produção de ciência e tecnologia.
                          outros apoios situados no âmbito das políticas co-     Embora o país possuísse um sistema industrial di-
                          mercial e industrial propriamente ditas. Além disso,   versificado, equiparável às economias centrais, ain-
                          era necessária a instituição de um sistema público     da apresentava ineficiência na utilização dos recur-
                          que, ao mesmo tempo, pudesse servir tanto de su-       sos disponíveis, além de enfrentar obstáculos para
                          porte à inovação das empresas como de apoio ao         a adoção de inovações tecnológicas e formação de
                          avanço do conhecimento.                                mão-de-obra.
                              Se no modelo que perdurava até então, e que            Quanto ao ensino superior, a meta principal con-
                          resultou na formação do parque industrial brasilei-    sistia na ampliação das oportunidades educacio-
                          ro, as empresas nacionais eram incentivadas a ter      nais traduzida na construção de novas instituições
                          um envolvimento internacional pela via comercial,      e na reestruturação das existentes. A modernização
                          pelo incentivo à exportação, a maciça entrada de       administrativa deveria concentrar esforços na oti-
                          capitais estrangeiros no Brasil e a configuração de    mização dos recursos por meio do planejamento
                          um espaço internacionalizado de produção esta-         sistemático e da aplicação de métodos que garan-
                          beleceram novas exigências ao sistema produtivo.       tissem resultados eficientes. Finalmente, a expan-
                          Tratava-se de promover uma articulação funcional       são da oferta acarretaria a democratização no aces-
                          entre a educação, a formação de mão-de-obra es-        so à escolarização, a mobilidade da estrutura social
                          pecializada e um sistema produtivo apto a enfren-      e, em última instância, a redução das desigualdades
                          tar a concorrência internacional.                      sociais.
Ao assumir a função de supervisor das relações             mais estreita entre educação e trabalho. O governo       56. Folha de rosto do
                                                                                                                       Relatório da Equipe de
econômicas, o governo militar introduziu mudanças             tentou dividir o ônus da educação com o setor em-        Assessoria ao Planejamento
consideradas importantes para o desenvolvimento.              presarial. E, em 1964, foi instituído o salário-educa-   do Ensino Superior (Eapes),
                                                                                                                       Acordo MEC-Usaid, 1968
Criou, no âmbito do Banco Nacional de Desenvol-               ção, que representava uma fonte de recursos para a
                                                              educação primária, proveniente da contribuição das       57. Capa do Relatório da
vimento Econômico (BNDE), o Fundo de Desenvol-                                                                         Equipe de Assessoria ao
vimento Técnico-Científico (Funtec),5 destinado a             empresas, as quais passaram a recolher aos institu-      Planejamento do Ensino
                                                                                                                       Superior (Eapes), Acordo
apoiar financeiramente os projetos que objetivavam            tos de previdência social correspondentes uma cota       MEC-Usaid, 1969
o desenvolvimento tecnológico e a inovação de inte-           para cada um de seus empregados.7 Esses insumos
resse estratégico para o país.                                destinavam-se a completar os recursos públicos nas
                                                              esferas estadual e federal. No ano seguinte, o gover-
   Pela primeira vez na história do Brasil ocorreu uma ten-   no estendeu a obrigação dessa contribuição a todos
   tativa organizada de colocar a ciência e a tecnologia      os empregadores públicos e privados, aumentando,
   a serviço do desenvolvimento econômico, através da         com isso, essa fonte de recursos. Além disso, o go-
   mobilização de um substancial volume de recursos           verno apelou para a cooperação financeira e a assis-
   (SCHWARTZMAN, 1979, p. 299).                               tência técnica norte-americana, que resultou na série
                                                              de acordos MEC-Usaid firmados entre 1964 e 1968.8
    Nessa mesma época, a Câmara dos Deputados                 Como forma de contribuir para o desenvolvimento,
aprovou um substitutivo que extinguia o CNPq. A               a educação passou a ser vinculada ao planejamento
existência do Conselho já vinha sendo ameaçada                econômico e político global.
tanto pela perda da responsabilidade sobre a ener-
gia nuclear como pela crise financeira que vinha en-
frentando. Entretanto, devido aos protestos de vá-
rios cientistas, vindos dos quatro cantos do país, a
lei de criação do órgão foi alterada em 8 dezembro
de 1964.6 Com isso, o CNPq passou a abranger a for-
mulação da política científico-tecnológica nacional
e a resolução de questões atinentes à ciência e suas
aplicações.
    Caracterizada pela predominância do modelo for-
dista baseado na produção e no consumo de mas-
sa, na especialização do trabalho, na padronização
da produção e nas linhas de montagem, a produ-
ção industrial estava sujeita a constantes processos
de modernização, impondo-se uma relação ainda

                                                                                                                 73
58. Ministro da Educação          Uma das primeiras iniciativas oficiais com relação     des empresariais, permitiria o planejamento sério e
Pedro Aleixo, no Fórum
Extraordinário dos Reitores   à qualificação de quadros foi expressa no Parecer          racional do ensino universitário. Com base nessa re-
com a finalidade de estudar                                                              comendação foi fundado, em 29 de abril de 1966, o
a regulamentação do
                              977, de 3 de dezembro de 1965, do Conselho Federal
Estatuto do Magistério        de Educação, que implantou formalmente os cursos           Conselho dos Reitores das Universidades Brasileiras
Superior
Fotografia, 1966              de pós-graduação no Brasil. Segundo o conselheiro          (Crub), que pouco depois seria reconhecido como
                              Newton Sucupira, o modelo, oriundo dos países mais         entidade de utilidade pública.9
                              desenvolvidos, era adequado à nova concepção de               Em 18 de novembro de 1966, foi promulgado o
                              universidade. A pós-graduação stricto sensu se daria       Decreto-lei nº. 53, que dispunha sobre as mudanças
                              em dois níveis independentes – mestrado e doutora-         na organização das universidades:
                              do –, sem relação de pré-requisitos entre o primeiro
                              e o segundo. Os currículos seriam compostos confor-           Artigo 1º – As Universidades federais organizar-se-ão
                              me o modelo norte-americano, que compreendia o                com estruturas e métodos de funcionamento que pre-
                              major (área de concentração) e o minor (matérias co-          servem a unidade de suas funções de ensino e pesqui-
                              nexas). Infelizmente, tal proposta só viria a ser devi-       sa e assegurem a plena utilização dos seus recursos
                              damente implementada com a Reforma Universitária              materiais e humanos, vedada a duplicação de meios
                              de 1968.                                                      para fins idênticos ou equivalentes.10
                                  A convite do Ministério da Educação e Cultura, o
                              norte-americano Rudolph Atcon realizou, entre ju-
                              nho e setembro de 1965, estudos sobre a reformula-
                              ção estrutural do ensino superior no país. Depois de
                              visitar 12 universidades brasileiras, o consultor consi-
                              derou “urgente a tarefa de transformar a universidade
                              brasileira numa instituição que se sintonize com os pro-
                              pósitos da Nação” (ATCON, 1966, p. 120). Afirmou tam-
                              bém que “o desenvolvimento sócio-econômico de uma
                              comunidade é função direta de seu desenvolvimento
                              educativo” e que “para o desenvolvimento da América
                              Latina, a educação superior constitui o verdadeiro pon-
                              to de partida” (ATCON apud FÁVERO, 1991, p. 20)
                                  Entre as propostas feitas por Atcon, muitas das
                              quais foram incorporadas ao Relatório da Equipe de
                              Assessoria ao Planejamento do Ensino Superior (Ea-
                              pes), estava a criação de um conselho de reitores das
                              universidades brasileiras, que, constituído em mol-

                              74
Por esse instrumento, começava o desmonte da                                                                         59. Miguel Calmon du Pin
                                                                                                                        e Almeida Sobrinho, reitor
antiga estrutura universitária calcada na aglutinação                                                                   da Universidade Federal da
                                                                                                                        Bahia (UFBa), 1º presidente
de escolas independentes e autônomas.                                                                                   do Crub, no período de julho
   No início do ano seguinte, teve início a moderniza-                                                                  de 1966 a julho de 1967
                                                                                                                        Fotografia
ção do ensino superior, que estabeleceu as bases da
departamentalização.11 Essa reformulação, apoiada                                                                       60. Presidente Castello
                                                                                                                        Branco, ao lado de
parcialmente na proposta de Rudolph Atcon, resul-                                                                       Zeferino Vaz, assina ata
                                                                                                                        no lançamento da pedra
tante do Acordo MEC-Usaid de 30 de dezembro de                                                                          fundamental da Unicamp, SP
1966, foi explicitada no livro Rumos à Reformulação                                                                     em 5 de outubro de 1966
                                                                                                                        Fotografia
Estrutural da Universidade Brasileira, publicado pelo
Ministério da Educação. Para Atcon,

   a universidade deveria contar com direção recrutada
   no meio empresarial, a qual atuaria nos moldes de ad-
   ministração gerencial (...) ela deveria constituir uma
   grande empresa privada, fugindo do modelo de repar-
   tição pública (apud FÁVERO, 1991, p. 29).                   to econômico que o Brasil atravessa, é reestruturar
                                                               o ensino superior, no sentido de atualizá-lo, seja nos
   Entretanto, se por um lado convinha ao governo              métodos, seja nos objetivos práticos (...) Sendo noto-
a desobrigação de financiar a educação superior, por           riamente escassos os recursos da sociedade brasileira
outro não era de seu interesse a descentralização do           para realizar uma obra educativa integral, o bom senso
controle político e jurídico-administrativo da univer-         indica que se deva adotar, no seu emprego, um plano
sidade.                                                        de prioridade. No momento, a preferência parece ser a
   Em uma retrospectiva histórica, cabe lembrar que o          formação de uma elite de técnicos e de cientistas ca-
descompasso entre a educação e o sistema produtivo             pazes de tirar proveito da moderna tecnologia. Desse
brasileiros já era percebido desde a década de 1950. A         modo, seria possível acelerar o progresso econômico
reestruturação do ensino superior já havia sido defen-         do país, criando as riquezas com que dar educação,
dida pela Comissão de Educação e Cultura do Conse-             segurança e conforto a todos os brasileiros (SALGADO,
lho do Desenvolvimento, constituída em 1957, con-              1957, p. 32).12
forme demonstra o parecer do ministro da Educação
no governo Juscelino Kubitschek, Clóvis Salgado:               Se as mudanças no ensino superior atendiam a
                                                            reivindicações antigas, sendo que algumas já haviam
   Pensa a Comissão que o mais importante, na era tec-      sido incorporadas ao projeto pioneiro da Universi-
   nológica em que vivemos e na fase de desenvolvimen-      dade de Brasília (1961), a reestruturação dos órgãos

                                                                                                                  75
61. General Costa e Silva e    de representação estudantil e as sanções previstas               formalização legislativa preteridas pelo regime mili-
presidente marechal Castello
Branco                         em caso de desobediência às novas regras, impostas               tar. Para efeito dessa lei,
Fotografia, 1964               desde 1964, iriam provocar muitas manifestações es-
                               tudantis de protesto. Pela Lei Suplicy,                             a educação é direito de todos e será dada no lar e na
                                                                                                   escola; assegurada a igualdade de oportunidade, deve
                                    É vedada aos órgãos de representação estudantil qual-          inspirar-se no princípio da unidade nacional e nos
                                    quer ação, manifestação ou propaganda de caráter po-           ideais de liberdade e de solidariedade humana.
                                    lítico-partidário, racial ou religioso, bem como incitar,
                                    promover ou apoiar ausências coletivas aos trabalhos           Além disso,
                                              13
                                    escolares.
                                                                                                   As empresas comerciais, industriais e agrícolas são
                                  Enquanto os seminários da UNE no início dos                      obrigadas a manter, pela forma que a lei estabelecer,
                               anos 60 buscavam articular a universidade com as                    o ensino primário gratuito de seus empregados e dos
                               políticas globais, a partir de 1964 as discussões cen-              filhos destes (...) e são ainda obrigadas a ministrar, em
                               travam-se, sobretudo, em questões internas à pro-                   cooperação, aprendizagem aos seus trabalhadores
                               pria instituição, tais como autonomia universitária,                menores.14
                               forma de participação dos corpos docente e discente
                               na administração universitária, regime de trabalho                   Convidado a ocupar o cargo de ministro da Fazen-
                               docente e ampliação da oferta de vagas. Consistiam               da, Delfim Neto inverteu a ordem das preocupações
                               também em reivindicações dos estudantes a revoga-                em relação ao programa defendido pelo governo an-
                               ção dos acordos MEC-Usaid e da Lei Suplicy (Lei nº.              terior. Colocou, em primeiro lugar, o desenvolvimen-
                               4.464, de 9 de novembro de 1964, pela qual a UNE foi             to econômico e, em segundo plano, a contenção in-
                               substituída pelo Diretório Nacional de Estudantes).              flacionária. Tais medidas implicaram o financiamento
                               Segundo Fávero (2006), nessa época a participação                do déficit público, pela expansão real da oferta mo-
                               do movimento estudantil era tão intensa que se tor-              netária, o crescimento do crédito bancário direto ao
                               na difícil contar a história da Reforma Universitária            consumidor, o estímulo às exportações e o regime de
                               no Brasil sem levá-la em conta.                                  minidesvalorizações cambiais.
                                  Com a morte de Castelo Branco, o general Artur                    Os responsáveis pelo Plano Econômico de De-
                               da Costa e Silva foi eleito presidente da República              senvolvimento (PED), formulado então, culpavam o
                               pelo Colégio Eleitoral, tendo sido conduzido ao po-              Paeg pelo crescimento da inflação e pela conseqüen-
                               der em 15 de março de 1967. No mesmo dia da posse                te desaceleração das atividades econômicas (PED,
                               do novo presidente, entrava em vigor a sexta Consti-             1969). Atribuíram a inflação à pressão de custos, e
                               tuição brasileira, aprovada em 24 de janeiro de 1967.            não à demanda de produto, como se fizera no Paeg,
                               A nova Carta permitia a reforma administrativa e a               já que os setores de infra-estrutura encontravam-se

                               76
sem investimentos que pudessem reduzir os custos
a longo prazo.
    Segundo o PED, o gerenciamento de recursos
humanos constituía o instrumento principal para a
capacitação de mão-de-obra especializada para o
mercado de trabalho industrial. O ensino superior,
direcionado para ampliação das carreiras técnicas e
tecnológicas, consistia no principal fator de desen-
volvimento. Ele deveria se voltar para o estímulo da
capacidade tecnológica de um país, por meio da cria-
ção de novas tecnologias ou da reprodução de pa-
drões tecnológicos já existentes:

   Assim, embora de difícil precisão, é certo que o pro-
   cesso de industrialização, na forma em que se deu,
   desempenhou papel fundamental no enriquecimento                 O Brasil passava então por um momento de in-        62. Revista Ensino Industrial,
                                                                                                                       editada pelo Ministério da
   tecnológico do país, não só através da incorporação e       tranqüilidade devido às reivindicações estudantis       Educação (MEC) na década
   difusão de novas técnicas, como principalmente, pela        por mais vagas no ensino superior e melhores condi-     de 1960

   criação de novos requisitos educacionais e institucio-      ções de ensino. Apesar do crescimento acelerado no
   nais, que irão pautar os futuros esforços nacionais no      número de matrículas e do aumento no grau de aber-
   campo da pesquisa e aprimoramento tecnológicos              tura do sistema, a oferta de vagas não acompanhou a
   (PED, 1969, p. 26).                                         explosão da demanda efetiva. A crescente assimetria
                                                               manifestava-se pelo alargamento da relação entre os
   Os objetivos básicos do PED para a reforma do sis-          excedentes e o número de candidatos inscritos.
tema educacional brasileiro eram:                                  Por um lado, o governo induzia as universidades
                                                               federais a aumentarem as vagas, principalmente nos
   Proporcionar as lideranças de que o país precisa, para      cursos de maior procura. Por outro, a legislação dos
   alcançar os objetivos nacionais maiores de conciliar o      vestibulares, que dava margem a interpretar a apro-
   progresso tecnológico do nosso tempo, às aspirações         vação como direito à matrícula, fazia com que os juí-
   de desenvolvimento econômico, o progresso social e          zes deferissem mandados de segurança impetrados
   espiritual; transmitir o gênio criador e a cultura brasi-   por candidatos aprovados e não matriculados por
   leira; preparar recursos humanos para o desenvolvi-         falta de vagas. Tendo que receber um grande núme-
   mento, no sentido de construção da nova sociedade           ro de estudantes e sem recursos para arcar com os
   (PED, 1969, p. 9).                                          dispêndios decorrentes, as universidades ministra-

                                                                                                                 77
63. Projeto Rondon –           vam um ensino cuja qualidade gradativamente de-        pelo coronel Waldir de Vasconcelos, do Conselho de
estudantes de sociologia
fazem trabalho com             caía. E, a despeito das diversas medidas paliativas,   Segurança Nacional.15 Esta deveria
comunidades                    havia cada vez mais pretendentes recusados do que
Fotografia, 1973
                               admitidos nas instituições de ensino superior.            emitir parecer conclusivo sobre as reivindicações, teses
64. Folha de rosto do
                                   Os protestos dos estudantes eram seguidos pelo        e sugestões referentes às atividades estudantis; plane-
relatório do grupo de
trabalho criado pelo decreto   corpo docente, que, em face da superlotação das           jar e propor medidas que possibilitem melhor aplica-
nº. 62.937/68, da Reforma
Universitária, 1968            classes e da falta de verbas, exigia melhores condi-      ção das diretrizes governamentais no setor estudantil;
                               ções de trabalho. Diante desse impasse político, in-      supervisionar e coordenar a execução dessas diretri-
                               clusive com o questionamento em torno da legiti-          zes, mediante delegação do ministro de Estado (apud
                               midade do regime militar, o governo decidiu tomar         ROMANELLI, 1984, p. 219).
                               medidas concretas para enfrentar os problemas liga-
                               dos ao ensino superior do país.                           Depois de três meses de trabalho da comissão, o
                                   Em dezembro de 1967, foi criada uma comissão       Relatório Meira Mattos expunha os pontos críticos
                               especial que, sob a presidência do general Carlos de   do ensino superior brasileiro: falta de liderança estu-
                               Meira Mattos, era formada pelos professores Hélio      dantil democrática, consciente de seu papel e pronta
                               de Souza Gomes e Jorge Boaventura de Souza e Sil-      a defendê-lo; ausência de fiscalização do emprego
                               va, pelo promotor Affonso Carlos Agapito da Veiga e    das verbas e de esforços para a obtenção de novas




                               78
65.




      fontes de financiamento; má remuneração dos pro-       também a capacitação de educadores do ensino fun-        65. Projeto Rondon –
                                                                                                                      partida de estudantes de
      fessores; ausência de orientação para atender à de-    damental.                                                Roraima
      manda anual de vagas; implantação desordenada              Para o governo ficou claro que a mudança do          Fotografia, 1973

      da reforma universitária, sem objetividade e clareza   modelo universitário vigente dependia de uma le-
      quanto aos objetivos dos currículos.                   gislação pertinente. Assim, em 2 de julho de 1968
          A comissão deixou ainda algumas sugestões: os      um decreto instituía, no MEC, um Grupo de Traba-
      reitores e os diretores das universidades e faculda-   lho da Reforma Universitária (GTRU), estabelecendo
      des federais, responsáveis pela manutenção da dis-     um prazo de trinta dias para que este apresentasse
      ciplina nesses estabelecimentos, seriam escolhidos     um projeto conclusivo.16 Baseando-se nos estudos
      pelo presidente da República; os professores deve-     produzidos pelo convênio MEC-Usaid e pelo Relató-
      riam ser contratados nos termos previstos na legis-    rio Meira Mattos, o GT tinha como objetivo “estudar
      lação trabalhista; deveria ser implantado o sistema    a reforma da Universidade brasileira, visando à sua
      de créditos.                                           eficiência, modernização, flexibilidade administrativa
          Enquanto isso, ainda no campo da educação era      e formação de recursos humanos de alto nível para o
      instituído, em junho de 1968, o Projeto Rondon.        desenvolvimento do país” (MEC, 1968, p. 15).
      Fruto da colaboração entre o Ministério da Defesa
      e o MEC, o projeto previa atividades voluntárias de       Segundo diagnóstico contido no relatório apre-
      universitários, buscando, ao mesmo tempo, aproxi-      sentado pelo GT,17
      mar os estudantes da realidade do país e contribuir
      para o desenvolvimento de comunidades carentes.           se a Universidade demonstrou alguma capacidade
      O projeto empenhava-se em desenvolver a organiza-         criadora em determinados ramos da tecnologia, po-
      ção da sociedade civil em defesa da cidadania, como       demos dizer que o sistema, como um todo, não está
66. Jovens fazem prova de        aparelhado para cultivar a investigação científica e tec-      contém, de longe, o melhor diagnóstico que o gover-
vestibular em estádio de
futebol, Recife, PE              nológica (...) faltou-lhe a flexibilidade necessária para   no já tentou, tanto dos problemas estruturais com que se
                                 oferecer produto universitário amplamente diversifica-      defronta o ensino superior, quanto das soluções que eles
                                 do e capaz de satisfazer às solicitações de um mercado      exigem. Se a questão fosse de avanço ‘abstrato’ e ‘teórico’
                                 de trabalho cada vez mais diferenciado. A Universida-       ou verbal, os que participaram dos movimentos pela re-
                                 de revelou-se despreparada para acompanhar o extra-         forma universitária poderiam estar contentes e ensarilhar
                                 ordinário progresso da ciência moderna, inadequada          suas armas.
                                 para criar o know-how indispensável à expansão da in-
                                 dústria nacional e, enfim, defasada sócio-culturalmen-          Enquanto isso, o movimento estudantil ganhava
                                 te, porque não se identificou com o tempo social da         força. Com o argumento da demanda reprimida e
                                 mudança que caracteriza a realidade brasileira (MEC/        das insatisfatórias condições de ensino, pressionava
                                 MPCG, 1968, p. 21).                                         o governo por uma ampla reforma da educação su-
                                                                                             perior.
                                Os membros do grupo de trabalho consideraram                     Com base nos relatórios da Equipe de Assessoria ao
                            ainda que o movimento estudantil “teve o mérito de               Planejamento do Ensino Superior (Eapes), da Comis-
                            propiciar uma tomada de consciência nacional do pro-             são Meira Mattos e do grupo de trabalho, o Congresso
                            blema e o despertar enérgico do senso de responsabili-           Nacional aprovou a Lei nº. 5.540, de 28 de novembro
                            dade coletiva”.                                                  de 1968, que dispunha sobre a Reforma Universitária.
                                Apesar de a pressão estudantil ter desempenhado              Apesar de terem sido incorporados à lei, entre outros
                            um papel desencadeador, a execução do projeto de                 determinantes, a unificação do vestibular, o sistema
                            modernização da universidade ocorreu pela possibi-               de departamentos e a pós-graduação, a Reforma de
                            lidade de a inovação ser introduzida sem ameaça à                1968 não conduziu a uma verdadeira modernização
                            estrutura de poder, pelo necessário ajuste da política           da estrutura universitária no que diz respeito à prepa-
                            educacional ao modelo econômico e pelo padrão de                 ração de quadros qualificados para enfrentar os de-
                            desenvolvimento almejado pelas forças interessadas               safios profissionais impostos pela globalização que já
                            nessa modernização.                                              se prenunciava. O texto do documento tentava conci-
                                Depois das considerações preliminares, o docu-               liar dois padrões de ensino superior: um, identificado
                            mento conclusivo, que se estendeu por várias pá-                 com o sistema norte-americano, admitia como cate-
                            ginas, propôs algumas medidas, tais como a imple-                gorias a competição, a flexibilidade, a diversificação e
                            mentação do sistema departamental, do vestibular                 a descentralização; o outro, mais próximo do mode-
                            unificado, do ciclo básico, do sistema de créditos, da           lo francês, e inspirado em normas e padrões sociais
                            matrícula por disciplina, da carreira do magistério e            previamente estabelecidos, tinha como referência os
                            da pós-graduação. Sobre o relatório, assim se mani-              procedimentos e os padrões normativos igualitários e
                            festou Florestan Fernandes (1974, p. 4)                          universalistas (BOMENY, 1994).

                            80
Cada país e cada época histórica podem produzir um        67. Alunos em laboratório
                                                                                                                      Fotografia
                                                            tipo de educação, tipo de educação que é moldado
                                                            pelas exigências da Sociedade, mas também pelos li-       68. Folha de rosto do
                                                                                                                      relatório do Fórum
                                                            mites de seus recursos: recursos materiais que delimi-    A Educação que Nos Convém,
                                                                                                                      organizado pelo Instituto de
                                                            tam o capital social disponível para o processo educa-
                                                                                                                      Pesquisas e Estudos Sociais
                                                            cional e que condicionam os meios financeiros e suas      (Ipês/GB), Rio de Janeiro,
                                                                                                                      abril de 1969
                                                            aplicações; recursos humanos que não permitem um
                                                            desdobramento ilimitado do quadro de professores e
                                                            de pesquisadores (...) Assim uma sociedade industriali-
                                                            zada, pode fornecer à educação recursos gerais, sejam
                                                            financeiros, humanos ou propriamente sociais, muito
                                                            mais extensos do que os de uma sociedade agrária
                                                            (IPÊS, 1968, p. 160).


                                                             O conferencista argumentou na ocasião que era
                                                         “preciso educar as massas”, mas também “dar atenção
                                                         a um tipo de educação que mantenha a preparação
                                                         das elites dirigentes, dos empresários, dos técnicos de
                                                         nível superior”. Sobre a adequação da educação ao
                                                         mercado de trabalho, ele considerou: “À medida que
    Ao mesmo tempo que a Reforma Universitária           a sociedade se industrializa (...) a educação deve servir
era discutida e aprovada pelo Congresso, os deter-       às necessidades da sociedade, dentre as quais se des-
minantes políticos e estratégicos para a iniciativa de   tacam as da indústria, e esta deve absorver os homens
articulação do ensino com o mercado de trabalho          preparados por aquela” (IPÊS, 1968, p. 162).
estavam sendo estabelecidos por empresários brasi-           Entre outras considerações, o fórum propunha:
leiros, reunidos no fórum A Educação que nos Con-        planejar a educação de forma a refletir o programa
vém, realizado em outubro e novembro de 1968 no          econômico-social e a entrosá-la no quadro de ne-
Rio de Janeiro. Além de um diagnóstico da situação,      cessidade de recursos humanos do país; alocar os
a conferência-síntese do evento estabeleceu uma sé-      recursos possíveis para a educação pública ou pri-
rie de recomendações. Segundo o conferencista Luiz       vada; adotar o sistema de auxílios e bolsas para as-
Gonzaga do Nascimento Silva, ministro do Trabalho        segurar o nível secundário e superior; dar ao nível
no governo Castelo Branco, a educação deveria se         médio a característica de escola de formação, habi-
subordinar às reais possibilidades do país e de sua      litando o aluno para uma atuação mais qualificada
época:                                                   no trabalho; atender às necessidades atuais do país,

                                                                                                                81
69. Manisfestação estudantil   tendo em vista a industrialização crescente, de for-
em Paris
Fotografia, março de 1968      mar o pessoal técnico e de nível operacional neces-
                               sário a movimentar a estrutura econômica; realizar
                               cursos de formação menos exigentes e mais ligados
                               ao exercício de determinadas atividades.
                                   De forma bastante explícita, o documento se refe-
                               ria ao papel desempenhado pela indústria na forma-
                               ção de mão-de-obra:

                                    O programa de bolsas de estudos para filhos de ope-
                                    rários (PEBE), que se desenvolve através do Ministério
                                    do Trabalho, é um embrião do esforço que pode ser
                                    feito nessa faixa populacional. Mas, sem a conjugação
                                    da indústria não será possível traçar-se um programa
                                    amplo e válido. Ela será beneficiária imediata do esfor-
                                    ço de qualificação profissional. Deverá, pois, concorrer      Mas não foi somente no Brasil que os estudantes
                                    para ajudar sua realização. Essa conjugação Educação       invadiram as ruas. Por toda a parte os alunos contes-
                                    + Indústria merece uma ampla atenção em qualquer           tavam os méritos da universidade, considerando-a
                                    planejamento educacional (IPÊS, 1968, p. 164).             inadequada e obsoleta. E, embora os jovens não ti-
                                                                                               vessem certeza sobre o que pretendiam construir,
                                  Mas não havia clima para que esses esforços fos-             a denúncia foi um serviço importante, e um desafio
                               sem levados adiante. No apagar das luzes do ano de              para educadores, governos, empresários e todos
                               1968, foi decretado o Ato Institucional nº. 5, que au-          aqueles que tinham uma parcela de responsabilida-
                               torizava o presidente da República a impor o recesso            de na construção do futuro.
                               do Congresso Nacional; intervir nos estados e muni-                Os protestos estudantis encontraram eco em di-
                               cípios; cassar mandatos parlamentares; suspender                ferentes países nos vários cantos do planeta. E 1968
                               direitos políticos; decretar o confisco de bens con-            passaria para a história como o ano da juventude,
                               siderados ilícitos e suspender a garantia do habeas             ou como o ano em que os jovens quiseram mudar
                               corpus.                                                         o mundo.
                                  Calava-se o movimento estudantil, celebrizado
                               como protesto dos jovens contra a política tradicio-               Em um planeta iniciando um irreversível e acelerado
                               nal, mas principalmente como demanda por novas                     processo de globalização, com as primeiras transmis-
                               liberdades. O radicalismo jovem pode ser expresso                  sões ao vivo pela televisão, via satélite, encurtando
                               no lema “É proibido proibir”.                                      extraordinariamente as distâncias entre tempo e espa-


                               82
ço, não era nada espantoso que jovens de formação,             70. Capa da revista Veja,
                                                               16 de outubro de 1968
tradição e história tão diferentes como franceses, ale-
mães, italianos, americanos, escandinavos, brasileiros,        71. Passeata dos 100 mil na
                                                               Cinelândia, Rio de Janeiro, RJ
tchecos, eslovacos, mexicanos, chineses e japoneses se         Evandro Teixeira
                                                               Fotografia, 1968
rebelassem e encontrassem em seus protestos – que
curiosamente tinham algo em comum como o auto-
ritarismo – inspiração para criar novas formas de luta
(ZAPPA; SOTTO, 2008, p. 12).




                                                          83
84
A   criação do IEL
    oãcairc




                     85
86
O objetivo prioritário do governo Costa e Silva era      e redução das taxas de juros. Mas o elemento mais          72. Desenho da capa da
                                                                                                                       publicação Estatutos do
conciliar uma desinflação progressiva com a retoma-         significativo da política de combate à inflação foi o      IEL, 1969
da do desenvolvimento econômico, como pode ser              acompanhamento dos preços industriais pelo então           Detalhe
                                                                                                                       Página 84
demonstrado pelas palavras do próprio ministro da           recém-criado Conselho Interministerial de Preços
                                                                                                                       73. Da direita para a
Fazenda Antônio Delfim Neto (1968, p.15):                   (CIP), que, de certa maneira, serviu para controlar a
                                                                                                                       esquerda: Jorge Bhering de
                                                            alta dos preços ao consumidor.                             Mattos, Gilberto Mendes
                                                                                                                       de Azevedo, Tomás Pompeu
   Tanto o combate à inflação quanto a estabilização da        Com isso, em 1969 o setor industrial exibia uma         de Sousa Brasil Neto e José
   produção industrial em torno de seu padrão normal        taxa de crescimento em torno de 14%, enquanto os           Aquino Porto, durante a
                                                                                                                       solenidade de criação do IEL
   de longo prazo apresentam-se, portanto, como pré-        empregos industriais revelavam um quadro promis-           Fotografia, 29 de janeiro
                                                                                                                       de 1969
   condições à retomada do desenvolvimento econô-           sor. O bom desempenho do setor devia-se à indústria
   mico. A política econômica executada em 1967 e a         automobilística, que iniciava, então, um ciclo de recor-
   delineada para 1968 são calcadas nos objetivos de re-    des sucessivos de produção; e à construção civil, que
   dução das taxas de inflação, estabilização do nível de   se beneficiava do aumento da demanda habitacional,
   atividade em torno de sua tendência de longo prazo       incentivado pela construção de casas para as classes
   e retomada do desenvolvimento acelerado.                 populares. Crescia também o setor de bens interme-
                                                            diários e a indústria têxtil, que, bastante atingida nos
   Para tanto, algumas medidas foram implementa-            anos anteriores, conseguia compensar as dificuldades.
das, tais como: elevação do teto de isenção sobre o            Enquanto as exportações devido à isenção de
imposto de renda das pessoas físicas; alongamento           impostos e às minidesvalorizações cambiais exibiam
dos prazos para o recolhimento do Imposto sobre             francos sinais de progresso, as reservas internacio-
Produto Industrializado (IPI); expansão do crédito          nais logravam atingir um modesto incremento.



                                                                                                                 87
Na mesma época em que o Congresso Nacional                   minante no problema educacional e cultural, se revela
finalizava as discussões sobre a Reforma Universitá-             no terceiro estágio, que se poderia chamar a idade da
ria, o fórum A Educação que nos Convém, realizado                organização (SIMONSEN apud IPÊS, 1968, p. 75-76).
entre outubro e novembro de 1968, reunia parte do
empresariado, no Rio de Janeiro. Talvez o encontro                Criticando o conhecimento puramente acadêmi-
pudesse ter resultado em uma efetiva contribuição             co, Simonsen defendia que o universitário, “um privi-
para a matéria. No entanto, as constantes manifes-            legiado na esfera social”, deveria ser equipado para o
tações estudantis e o conseqüente clima de desor-             trabalho, evitando-se, dessa forma, o “fenômeno do
dem civil fizeram com que o governo acelerasse a              letrado ou do universitário desocupado” (apud IPÊS,
aprovação da referida reforma. Com isso, se a Lei nº.         1968, p. 77).
5.540 significou mudanças na estrutura universitária,             A inclusão do tema no referido fórum teria ocor-
atendendo sobretudo ao princípio de eficiência ad-            rido por influência da tese, aceita na época, que
ministrativa das próprias instituições de ensino, não         colocava a educação como fator principal de de-
conseguiu satisfazer às expectativas no que se referia        senvolvimento econômico. Por volta de 1960, de-
tanto à preparação de profissionais capazes de em-            pois de realizar com apoio da Organização das Na-
preender o desenvolvimento e alavancar a produção             ções Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
industrial como à formação de cidadãos aptos a res-           (Unesco) uma pesquisa acerca do ensino em países
ponder às demandas sociais. E, embora tivesse ins-            pobres e ricos de todos os continentes do planeta,
titucionalizado a pós-graduação, o texto da reforma           Theodore William Schultz desenvolveu a teoria do
não promoveu transformações suficientes no âmbito             capital humano, que ganhou força em virtude de
da universidade para atender às expectativas do de-           uma preocupação, cada vez maior, com os proble-
senvolvimento industrial, extensamente contempla-             mas do crescimento econômico e da distribuição de
das no fórum realizado no Rio de Janeiro.                     renda.
    Durante os debates do tema “Educação e desen-                 Segundo o economista norte-americano, o pro-
volvimento econômico”,1 afirmava-se que:                      gresso de um país era decorrência direta do inves-
                                                              timento feito na educação e qualificação dos indiví-
     uma sociedade realmente científica e tecnificada pres-   duos. Schultz receberia, juntamente com sir Arthur
     supõe três estágios. O estágio da invenção, que tem      Lewis, o Prêmio Nobel de Economia, em 1979, “pela
     mais sentido propriamente científico do que econô-       pesquisa pioneira sobre o desenvolvimento econômico
     mico; o estágio da inovação, que não é mais do que       com considerações importantes sobre os problemas
     a tradução econômica da invenção; e, finalmente, o       dos países em desenvolvimento”.2
     da transformação, que é a contínua capacidade de             Quanto ao tema “Estrutura da universidade”, no
     substituição de invenções por outras invenções ou de     fórum de 1968 defendia-se que a pesquisa e o en-
     inovações por outras inovações (...) o peso maior, do-   sino, vistos como uma unidade, deveriam produzir

88
quadros conscientes de suas atribuições e compe-
tências:

   O ensino ilustrativo e meramente erudito tem que ser
   superado, para que se possa relegar a formação literá-
   ria e ‘bacharalesca’, que impede o pensamento reflexi-
   vo e o exercício da função universitária, centrada so-
   bre o método científico, como instrumento básico de
   preparação de quadros conscientes (GONÇALVES apud
   IPÊS, 1968, p. 91).


   Demonstrava-se ainda a necessidade de um vín-
culo funcional entre a universidade e a empresa,
colocando-se a primeira como instância depositária
e processadora dos dados colhidos pela segunda, no
âmbito do processo de produção:

   Cada empresa, ou cada instituição especializada, pro-       do Funtec, considerava-se que o Brasil apresentava             74. Theodore Wiliam
                                                                                                                              Schultz, Prêmio Nobel de
   cura manter-se a par dos progressos de seu setor mas,       características de uma etapa primitiva nesse campo,            Economia em 1979 pelo
   creio, deve a universidade participar da tarefa de arqui-   fruto da falta de coordenação institucional e de inde-         desenvolvimento da teoria
                                                                                                                              do capital humano
   var, classificar e ter à mão a parte mais essencial dos     finições políticas.                                            Fotografia
   dados que vêm sendo divulgados (LOPES apud IPÊS,                Com relação ao papel das empresas no desempe-
                                                                                                                              75. Professores e alunos do
   1968, p. 126).                                              nho das universidades, pronunciamentos feitos nas              Instituto de Física de São
                                                                                                                              Carlos, SP
                                                               discussões sobre o tema “Universidade, tecnologia,             Francisco Nelson
    E chamava-se a atenção para a tendência mundial            empresa” demonstravam a intenção da indústria em               Fotografia, 1968

de as pesquisas científicas e tecnológicas se desloca-         colaborar com a universidade:
rem para empresas e instituições especializadas. Nos
Estados Unidos, em 1968 as universidades responde-                as indústrias sabem que devem colaborar, e sabem que
ram por 47% da pesquisa básica, seguidas das indús-               devem oferecer bolsas de estudo, adiantar recursos
trias, responsáveis por 33%, do governo federal, com              como estímulos à tecnologia avançada. São necessários
13%, e de outras instituições, com 7%. A despeito                 incentivos para que a indústria seja levada a participar
do reconhecimento dos avanços nas políticas esta-                 da vida universitária. Mas, falta um programa, uma for-
tais no campo da pesquisa científica e tecnológica,               mulação. Poucas universidades têm possibilidades de
protagonizados pela atuação da Capes, do CNPq e                   elaborar tal programa (apud IPÊS, 1968, p. 127-128).


                                                                                                                         89
76. Jovem aluno de ciência         Reivindicavam-se tanto estímulos a essa parti-
vencedor do concurso
Cientistas do Amanhã,          cipação como também programas voltados para a
promovido pelo Instituto       geração de tecnologia, a serem desenvolvidos nas
Brasileiro de Educação,
Ciência e Cultura, São Paulo   próprias empresas. Embora tivesse sido descartada
Fotografia, 1969
                               a possibilidade de contribuição financeira direta das
                               empresas para as universidades, sem uma contrapar-
                               tida de prestação de serviços, ficava a ressalva: “As
                               universidades que tiverem um programa de objetivos
                               em mão encontrarão empresas dispostas a financiá-lo”
                               (IPÊS, 1968, p. 129).
                                   Quanto à “Vinculação universidade e empresa”,
                               acreditava-se que esta

                                    traria para dentro da empresa pessoas que poderiam
                                    corresponder ao movimento de idéias em favor da li-
                                    vre empresa, da empresa legítima, aquela que abre        constavam: o planejamento da educação de forma
                                    novas fontes de riqueza, que alarga o mercado de tra-    a entrosá-la no quadro de necessidade de recursos
                                    balho, que dá ao Estado a capacidade de realizar obras   humanos do país; a alocação dos recursos possíveis,
                                    públicas (SANTOS apud IPÊS, 1968, p. 154).               de origem estatal ou privada, para o campo educa-
                                                                                             cional; a adoção de auxílios e bolsas, inclusive reem-
                                  Apesar de admitir que os industriais, às voltas com        bolsáveis, para os que não dispusessem de recursos
                               uma carga tributária excessiva e dificuldades de aces-        financeiros; a revisão dos currículos para ajustá-los às
                               so ao crédito para manutenção de suas atividades, ti-         necessidades do país; a transformação do nível mé-
                               nham dificuldades para estabelecer um vínculo mais            dio, de mera preparação para o curso superior, em
                               estreito com a universidade, concluía-se que, com a           uma escola de formação profissional qualificada; a
                               colaboração do governo e das próprias instituições            realização de um ensino de menor duração e o maior
                               de ensino, essa parceria tendia a ser promissora e a          aproveitamento do corpo docente.
                               contribuir para o desenvolvimento do sistema pro-                Segundo o pensamento dominante no encontro,
                               dutivo brasileiro.                                            à medida que a sociedade brasileira se industriali-
                                   Depois de proceder à elaboração de um diag-               zava, não era mais possível manter a sociedade e a
                               nóstico da situação brasileira, o grupo encarregado           educação em campos distintos quanto aos objetivos
                               do tema “Fundamentos para uma política educa-                 finais: a educação devia servir às necessidades da so-
                               cional brasileira” fez diversas recomendações para a          ciedade, sobretudo as da indústria, a esta cabia ab-
                               reforma do ensino superior. Entre essas proposições,          sorver os homens preparados por aquela. A reestru-

                               90
turação da universidade deveria ser um instrumento            da decadência das instituições brasileiras de nível       77. Refinaria Alberto
                                                                                                                        Pascualini, Rio Grande do Sul
de modernização do pensamento, das instituições e             superior estava a falta de gerenciamento científico.      Fotografia, 1969
das estruturas sociais:                                       Além de um mecanismo prospectivo capaz de son-
                                                              dar o mercado para orientar sua atuação, o conjunto
   Cabe-lhe exercer um papel de racionalidade crítica e       das universidades deveria ser preparado, em função
   criadora, constituir-se num momento de reflexão sobre      de suas atividades de pesquisa e inovação científica
   a direção e o sentido do processo de desenvolvimento.      e tecnológica, para oferecer ao mercado algo novo
   Para tanto deve ensinar e pesquisar, vale dizer submeter   e diferente. Sugeria-se, inclusive, que as empresas
   as verdades ao processo de sua revisão. O pensamento       financiassem a instalação de centros regionais de
   baseado na experimentação é um traço inelutável de         pesquisa de análise do mercado, publicando perio-
   nossa época (SILVA apud IPÊS, 1968, p. 247).               dicamente suas estimativas de oferta e demanda de
                                                              profissionais.
    A formação de nível superior, embora vista como              Para o empresariado nacional, tornava-se funda-
condição necessária ao processo de desenvolvimen-             mental a conquista dos mercados externos, desafio
to, não seria suficiente sem a introdução de uma              que somente poderia ser enfrentado com a utiliza-
moderna concepção de administração científica e               ção de tecnologia de ponta e uma moderna estrutu-
de racionalização no âmbito do governo, das esco-             ra gerencial. Os exemplos dos pós-guerra – Japão na
las e das empresas. Postulava-se que entre as causas          siderurgia, na construção naval e na eletrônica; Suíça,




                                                                                                                  91
                                                                                                                   1
78. Trabalho de análise em   na indústria farmacêutica; Alemanha Ocidental, Ho-       mentalidade universitária; temos que ir um pouco mais
laboratório químico
Peter Lang                   landa e Áustria, na metalurgia e indústria química –     adiante” (SANTOS apud IPÊS, 1968, p. 159). E, embora
Fotografia                   mostravam ser possível enfrentar a concorrência in-      o Grupo de Trabalho (GTRU) tivesse sido integrado
                             ternacional mediante investimentos na formação de        também por industriais, não houve uma consulta for-
                             pessoal de nível superior e políticas de pesquisas e     mal aos órgãos representativos dos setores produti-
                             desenvolvimento. Muitos industriais brasileiros inspi-   vos sobre os currículos adequados à preparação de
                             ravam-se no exemplo da economia norte-americana,         profissionais para satisfazer às demandas do merca-
                             baseado no educational gap e no managerial gap.          do. Durante o mencionado fórum, quando indagado
                                 O empresariado e o governo brasileiro estiveram,     especificamente sobre o assunto, o professor Theó-
                             em geral, pari passu. Mas, se na Era Vargas os indus-    philo de Azevedo Santos afirmou:
                             triais, liderados por Euvaldo Lodi e Roberto Simon-
                             sen, exerciam uma influência sobre as ações estatais,       esta consulta (...) seria um pouco difícil. Mas, aqueles
                             ora como consultores, ora como responsáveis pela            que compuseram a comissão, encarregada de elaborar
                             formulação de políticas, em 1969 o setor produtivo          os currículos, devem promover este contato, pois não
                             apresentava uma estrutura bastante mais complexa            representa nenhuma diminuição de sua responsabi-
                             e menos coesa, cujas exigências não foram totalmen-         lidade o fato de serem ouvidas outras pessoas (apud
                             te absorvidas pelo governo. Se até então líderes do         IPÊS, 1968, p. 160).
                             governo e representantes da indústria estavam reu-
                             nidos em torno da meta do desenvolvimento nacio-            Cabe enfatizar que a Reforma Universitária foi
                             nal, agora estavam divididos em facções que iam do       promulgada pelo presidente da República no dia 28
                             liberalismo não desenvolvimentista, representado         de novembro de 1968, juntamente com o encerra-
                             por Eugênio Gudin e Otávio Bulhões, até o desen-         mento do referido fórum.
                             volvimentismo nacionalista, expresso pelas idéias de        Por sua vez, a Confederação Nacional da Indústria
                             Celso Furtado, Ignácio Rangel e outros. Entre essas,     havia encaminhado uma série de sugestões ao GTRU,
                             havia o liberalismo desenvolvimentista, representa-      que demonstravam sua intenção de atuar de forma
                             do por Roberto Campos e Lucas Lopes, e o desenvol-       mais efetiva em favor da integração universidade-in-
                             vimentismo privatista, liderado pelos herdeiros de       dústria. Entre essas, destacavam-se: cooperar em pro-
                             Roberto Simonsen: Hélio Jaguaribe, João Paulo de         gramas de pesquisas científicas e tecnológicas das
                             Almeida Magalhães, e outros (TOLEDO, 2004).              universidades; promover estágio de estudantes em
                                 Acreditava-se que o sistema industrial não tinha     empresas; colaborar em pesquisa de mão-de-obra,
                             poder suficiente para intervir de forma direta e efe-    tanto com o objetivo de acompanhar a demanda de
                             tiva nas decisões: “no próprio meio do governo, a em-    pessoal de nível superior como de informar às univer-
                             presa é olhada com um pouco de receio e temor, sob       sidades sobre as tendências a curto e longo prazos;
                             um ângulo errado. Portanto, temos que mudar não só a     servir de elo entre a demanda (das indústrias) e a

                             92
oferta (das universidades); apoiar financeiramente a       pesquisa gerasse centros de excelência no campo da
manutenção e ampliação de cursos universitários de         ciência e da tecnologia.
interesses das empresas; realizar cursos em forma co-          Mesmo assim, continuava frágil o vínculo univer-
operativa entre empresas e universidades (IEL, 1984).      sidade-empresa: “no Brasil dever-se-ia orientar a cria-
   Do relatório do Grupo de Trabalho da Reforma            ção e expansão de centros de informação em articu-
Universitária, constou a seguinte recomendação:            lação com as universidades, úteis tanto às empresas e
                                                           aos governos quanto aos pesquisadores e educadores”
   Tendo em vista a necessidade de maior integração en-    (LOPES apud IPÊS, 1968, p. 126). Até então a produção
   tre a universidade e os programas de desenvolvimen-     de ciência e tecnologia no Brasil havia partido de ini-
   to, recomenda-se a aprovação das sugestões formula-     ciativas do governo, com uma tímida participação do
   das através da CNI, para efeito das principais formas   setor privado. Como resultado dessa política e da es-
   de cooperação a serem prestadas pelo empresariado       tratégia de importação de tecnologia, esse desenvol-
   nacional (apud IEL, 1984, p. 12).                       vimento ficava a cargo das universidades e centros
                                                           de pesquisa que priorizaram a pesquisa básica. Com
    A demanda pela reforma do sistema de ensino            isso, o debate em torno da importância das ativida-
superior brasileiro permeou toda a década de 1960          des de pesquisa ficou, por muito tempo, circunscrito
e, transcendendo o espaço estudantil e acadêmico,          aos muros da academia, deixando-se de lado o setor
respondia às transformações socioeconômicas ocor-          empresarial, componente capaz de transformar ciên-
ridas no Brasil nos períodos anteriores. Havia, no en-     cia e técnica em riqueza.
tanto, duas compreensões diferentes da reforma de              O próprio governo reconhecia que, apesar dos
ensino e do papel das instituições universitárias. En-     grandes progressos no tocante à substituição de
quanto para os estudantes era necessário democra-          importações, o país não havia reunido condições
tizar o acesso ao ensino e colocar a universidade di-      necessárias para garantir um desenvolvimento auto-
retamente a serviço das comunidades, para a classe         sustentável. O Programa Estratégico de Desenvol-
produtora era necessário modernizar a universidade         vimento indicava a necessidade de complementar
a fim de torná-la um fator de desenvolvimento eco-         essa fase: primeiramente pela adaptação de tecno-
nômico.                                                    logia importada, e depois por meio de um gradual
    No entanto, a despeito do caráter autoritário do       processo de avanço tecnológico autônomo.
processo que precedeu a reforma de 1968, as mu-                Enquanto isso o Brasil, embora contasse com um
danças instituídas na universidade logo começaram          próspero parque industrial, continuava dependente
a apresentar resultados: a implementação de políti-        do know-how desenvolvido por empresas estrangei-
cas que combinavam financiamento de infra-estru-           ras. Conscientes disso, os industriais, apostando no
tura e formação de pesquisadores permitia que, cada        futuro, decidiram promover a aproximação do saber
vez mais, o paradigma da indissociabilidade ensino-        e do fazer.

                                                                                                               93
79. Primeira logomarca              E foi assim que, em 29 de janeiro de 1969, surgia,
do IEL
Desenho                         por iniciativa da Confederação Nacional da Indústria,
                                o Instituto Euvaldo Lodi (IEL). Idealizadora do Senai
80. Nota no Correio da Manhã
sobre a criação do IEL e        e do Sesi, voltados respectivamente para o aperfei-
instrumento (Ata) de criação
do IEL em janeiro de 1969,
                                çoamento da mão-de-obra e a melhoria das condi-
Rio de Janeiro, RJ              ções de vida dos trabalhadores da indústria, a CNI
81. Da direita para a           enfrentava um desafio a mais: promover a interação
esquerda: Antônio Horácio       universidade-empresa. Dessa vez o empreendimen-
Pereira, Jorge Bhering de
Mattos, Gilberto Mendes         to pioneiro da CNI, diferentemente do que havia
de Azevedo, Tomás Pompeu
de Sousa Brasil Neto, José
                                acontecido na década de 1940 com suas entidades
Aquino Porto e Ítalo Bologna,   irmãs, não estava vinculado a nenhuma meta espe-
durante a solenidade de
criação do IEL                  cífica de governo. Com isso, o IEL, sem o respaldo de
Fotografia, 29 de janeiro de    uma legislação federal, nascia independente e liber-
1969
                                to do poder estatal.
                                    O estrondoso crescimento da indústria nacional,
                                durante os trinta anos que precederam a criação do
                                IEL, havia permitido à CNI lançar-se, de forma autô-
                                noma, em mais um arrojado projeto. Eram tempos




                                94
marcados por novas tendências, entre as quais a ên-           A defesa da indústria brasileira a que você, Euvaldo
fase na livre iniciativa e no progressivo afastamento         Lodi, vem dispensando um esforço indormido, é a pró-
do controle do Estado sobre os setores produtivos.            pria defesa do Brasil. Não voltaremos a uma economia
   Empenhados em aliar a eficiência empresarial ao            agropastoril, sem nos termos conformado com a con-
conhecimento acadêmico, os industriais brasileiros,           cepção de ‘país pequeno’, de terra de plantação, que
reunidos em torno de sua confederação, buscavam               nos querem impor teoristas nacionais e interesses es-
aproximar os estudantes das unidades produtivas, na           trangeiros, ambos sonhando para a nossa pátria uma
tentativa de promover o aprimoramento da indústria            função de fornecedora de matérias-primas, função
e a formação da futura elite dirigente do país.               essa mesma provisória, e que durará enquanto não se
   Se a iniciativa de criação do instituto foi inova-         desenvolvem os nossos concorrentes coloniais (DIÁRIO
dora para a época, a marca IEL, recuando no tempo,            DO POVO, 1949).
promoveu o resgate histórico de um dos motores da
construção da indústria moderna no Brasil: o enge-             A solenidade de criação do Instituto Euvaldo Lodi,
nheiro Euvaldo Lodi, que sempre soube defender in-         que aconteceu na antiga sede da Confederação Na-
transigentemente suas idéias. Não somente pela pre-        cional da Indústria no Rio de Janeiro, contou com a
sença ativa nas questões ligadas à produção como           presença de Thomás Pompeu de Souza Brasil Netto,3
também por sua contribuição teórica no campo da            presidente da CNI; Ítalo Bologna, diretor do Depar-
educação, Euvaldo Lodi foi depositário da justa ho-        tamento Nacional do Senai; Gilberto Mendes de
menagem que lhe foi feita por seus pares.                  Azevedo, presidente do Conselho Nacional do Sesi;
   Colocando-se ao lado de figuras emblemáticas            Antônio Horácio Pereira, diretor jurídico da CNI; José
como José Bonifácio, Mauá e Delmiro Gouveia, Lodi          Aquino Porto, diretor-secretário da CNI; Mário Leão
manteve-se incansável na defesa da indústria nacio-        Ludolf, representante da CNI no Conselho Superior
nal. E antecipando as tendências recentes, percebeu        do IEL, e Jorge Bhering de Mattos, primeiro superin-
que                                                        tendente do IEL.
                                                               Com a nova entidade, a CNI ganhava um espaço
   não há mais lugar no mundo para as nações que ficam     voltado para a formação dos novos perfis profissio-
   estagnadas. A evolução econômica é um imperativo        nais requeridos pela indústria e pelo mercado. Entre
   para sobreviver. E somente a inteligência aplicada ao   os empresários tradicionais e os trabalhadores que
   trabalho oferece a segurança de que necessitam os po-   operavam as máquinas, surgia a demanda por téc-
   vos” (LODI apud IEL, 1984, p. 3).                       nicos treinados para pensar o funcionamento das
                                                           empresas e aptos para as funções de direção e ge-
   Sobre o “líder da vida industrial brasileira”, assim    renciamento.
se manifestou o poeta e jornalista Augusto Frederico           Na época havia os que acreditavam ser impossível
Schmidt:                                                   a integração universidade-indústria, pois essas insti-
82. Aula de projetos do    tuições viviam e respiravam ares díspares, e turvados   Além de ações estatais voltadas para a implantação
Instituto Tecnológico de
Aeronáutica (ITA)          por preconceitos tidos como irremovíveis. Outros        de infra-estrutura de pesquisa, surgiam fundações
Fotografia                 instigavam os debates, propondo a subordinação de       criadas por diversas universidades para, atuando
                           um domínio pelo outro. Na verdade, se o academicis-     como interface com o meio externo, prestar serviços
                           mo exacerbado e o sectarismo de alguns grupos na        técnico-científicos e promover a interação com as
                           universidade contribuíam para dificultar o diálogo, a   empresas.
                           indústria também teria que abrir mão de resquícios          Em 31 de julho de 1969, o governo instituiu o
                           conservadores para poder transformar as descober-       Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e
                           tas científicas em inovações tecnológicas.              Tecnológico (FNDCT), que, destinado a financiar a
                              Em âmbito mundial, a ciência e a tecnologia con-     expansão do sistema de ciência e tecnologia, pas-
                           quistavam novos mundos: a missão Apollo 11 pou-         saria a contar, em 1971, com a Financiadora de Es-
                           sou na Lua em 20 de julho de 1969, transformando        tudos e Projetos (Finep). Criado em substituição ao
                           os astronautas norte-americanos Neil Armstrong e        Funtec (1964), o novo órgão tinha como objetivo
                           Edwin Aldrin nos primeiros homens a caminhar em         financiar os novos grupos de pesquisa, expandir a
                           solo lunar.                                             infra-estrutura, garantindo a consolidação institu-
                              Enquanto isso, no Brasil, a política de ciência e    cional da pesquisa e pós-graduação no país. Baseada
                           tecnologia entrava na pauta do planejamento global      em uma intensa mobilização na comunidade cien-
                           do país, e o sistema universitário passava a ser vis-   tífica, a Finep deveria estimular a articulação entre
                           to como uma mola propulsora do desenvolvimento.         universidades, centros de pesquisa, empresas de




                           96
consultoria e contratantes de serviços, produtos e       gramas de pesquisas científicas e tecnológicas das        83. Jorge Bhering de Mattos,
                                                                                                                   primeiro superintendente do
processos.                                               universidades; promoção de estágio em empresas;           IEL, de 1969 a 1974
    O Brasil vivia momentos promissores: a economia      colaboração em pesquisa de mão-de-obra, para o            Fotografia

crescia a passos largos, enquanto a política cambial     acompanhamento da evolução da demanda de pes-             84. Capa da publicação
                                                                                                                   Estatutos do IEL, 1969
e de incentivos fiscais contribuía para impulsionar as   soal de nível superior.
exportações. Medidas como a correção monetária e             Durante a gestão de Jorge Bhering, que se esten-
a criação do FGTS e do Banco Central conseguiam,         deu de 18 de março de 1969 até 10 de dezembro de
aos poucos, neutralizar os efeitos da inflação, permi-   1974, os esforços concentraram-se na construção e
tindo a retomada do crescimento. Estimulado pela         articulação de canais de comunicação entre as uni-
privilegiada situação econômica, o governo passou        versidades e as empresas. Além disso, buscava-se
a investir na criação de empresas estatais.              uma integração com as demais entidades do sistema
    Em 19 de agosto de 1969 foi fundada, ainda pelo      – CNI, Senai e Sesi – e aproximação com órgãos esta-
presidente Costa e Silva, a Empresa Brasileira de Ae-    tais e outras instituições, nacionais e internacionais,
ronáutica (Embraer), que, no âmbito de um projeto        vinculadas ao ensino profissional.
estratégico do governo, nasceu no interior do Cen-           Para o cumprimento de sua missão, o IEL deu
tro Técnico Aeroespacial (CTA), sendo seu pessoal        início à implantação dos núcleos regionais que,
formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica        juntamente com o Núcleo Central sediado no Rio
(ITA). Durante as duas décadas seguintes, a Embraer
conquistaria importante projeção nacional e interna-
cional com os aviões Bandeirante, Xingu e Brasília. A
empresa, uma das maiores do mundo no setor ae-
roespacial, produziria milhares de aviões que passa-
riam a operar em dezenas de países nos cinco conti-
nentes.
    Os primeiros anos do IEL coincidiram com a diver-
sificação da produção brasileira e a presença do Es-
tado na provisão dos insumos para o setor industrial.
O desenvolvimento dos setores de energia elétrica e
de aço, a indústria petroquímica etc. garantiam para
a iniciativa privada as condições para expansão de
seus empreendimentos.
    Alguns objetivos do IEL, explicitados em seus es-
tatutos, coincidiam com as proposições defendidas
pelo GTRU em 1968, tais como: cooperação em pro-

                                                                                                             97
85. Matéria da publicação          de Janeiro, passavam a integrar a estrutura orga-
Nosso Século, referente a
educação, tema da capa da          nizacional descentralizada da entidade. Em pouco
revista Veja de 30 de junho
                                   mais de um ano, havia 17 núcleos regionais4 dis-
de 1971
                                   seminados por todas as regiões do Brasil, que fun-
                                   cionavam vinculados às respectivas federações das
                                   indústrias.
                                      O Núcleo Central tinha como responsabilida-
                                   de específica empreender atividades de interesse
                                   nacional, acumulando funções de organismo nor-
                                   mativo e de apoio às unidades regionais, como
                                   orientação e avaliação de programas e assistência
                                   técnica e financeira para projetos específicos. Aos
                                   núcleos regionais competia executar a integração
                                   universidade-indústria, desenvolvendo projetos
                                   de pesquisa, apoio tecnológico e estágio supervi-
                                   sionado, reduzindo distâncias entre empresários e
                                   universitários.
                                      O primeiro período, compreendido entre 1969 e
                                   1986, entendido pelo próprio instituto como “perío-
                                   do pioneiro”, ficou, na prática, mais restrito às ativi-
                                   dades de estágio. Inicialmente o IEL empreendeu
                                   dois programas de ação: Treinamento Profissional e
                                   Promoção de Pesquisa e Intercâmbio, sendo o pri-
                                   meiro composto por dois subprojetos, Estágio Fun-
                                   damental, Estágio Supervisionado e Cursos Integra-
                                   dos. Com esses subprojetos, pretendia-se atingir os
                                   estudantes universitários em duas fases: no ciclo
                                   básico, por meio de pré-estágios com finalidade de
                                   estimular vocações para determinadas especialida-
                                   des da graduação; e ao longo do curso, por meio do
                                   estágio supervisionado.
                                      Em 1971, foi aprovada a nova Lei de Diretrizes e
                                   Bases da Educação, que, chamada pelo então minis-
                                   tro da Educação, Jarbas Passarinho, de “A revolução

                              98
pela educação”, reformulava os ensinos de 1º e 2º               O estágio, como complementação do ensino e            86. Ministro Jarbas
                                                                                                                      Passarinho e o cientista
graus e representava uma esperança para a solução            preparação profissional, era visto pelo IEL como for-    Albert Sabin assinam acordo
do problema do ensino profissionalizante.5 Por meio          ma de atualizar e aprimorar os currículos, adequan-      Estágio Brasil-Alemanha
                                                                                                                      Fotografia, 1971
de seus dispositivos, essa lei tornava obrigatória a         do-os às necessidades do mercado. Rapidamente,
                                                                                                                      87. Matéria da revista
oferta de habilitação profissional no 2º grau, de acor-      com esse foco inicial, o IEL passou a promover fóruns,   Educação, do MEC, sobre
do com as necessidades do mercado local e regional.          seminários e pesquisas para debater questões rela-       cursos resultantes do acordo
                                                                                                                      de cooperação técnico-
A determinação visava absorver a força de trabalho           cionadas ao desenvolvimento científico e tecnológi-      científica Brasil e Alemanha
ociosa, contribuindo tanto para regular o mercado            co do país. Visitas de estudantes às empresas e estí-    Ocidental, 1971

de trabalho como para conter a demandas pelo aces-           mulos para a produção de monografias contribuíram
so à educação de nível superior.                             para garantir maior visibilidade à entidade.
                                                                Uma conseqüência dessa nova LDB foi a desati-
   As habilitações profissionais poderão ser realizadas em   vação dos ginásios industriais, que deram lugar às
   regime de cooperação com as empresas. (...) O estágio     Escolas Técnicas Federais, em algumas das quais fo-
   não acarreta para as empresas nenhum vínculo de em-       ram implantados cursos superiores de engenharia,
   prego, mesmo que se remunere o aluno estagiário, e        convertendo-as nos Centros Federais de Educação
   suas obrigações serão apenas as especificadas no con-     Tecnológica (Cefets). Grande parcela dos técnicos for-
   vênio feito com o estabelecimento. (artigo 6º da Lei      mados pelas escolas técnicas eram recrutados, quase
   5.692)                                                    que sem restrições, pelas grandes empresas priva-
                                                             das ou estatais. E, em decorrência do alto padrão de
   Apesar disso, somente após o I Encontro Nacional          ensino oferecido por essas instituições, deu-se um
de Professores de Didática, realizado em 1972, o Mi-
nistério do Trabalho estabeleceria o marco da inte-
gralização do estágio supervisionado nos currículos
escolares,6 matéria regulamentada posteriormente
por lei federal:

   Os estágios devem propiciar a complementação do
   ensino e da aprendizagem a serem planejados, execu-
   tados, acompanhados e avaliados em conformidade
   com os currículos, programas e calendários escolares, a
   fim de se constituírem em instrumentos de integração,
   em termos de treinamento prático, aperfeiçoamento
   técnico, cultural, científico e relacionamento humano
   (artigo 1º da Lei 6.494, de 7 de dezembro de 1977).

                                                                                                                99
O sucesso da parceria entre as empresas do Vale
                                                                                            do Silício e a Universidade de Stanford deveu-se
                                                                                            a um processo que, iniciado nos anos 1950, tinha
                                                                                            como objetivo central gerar inovações científicas e
                                                                                            tecnológicas. Além disso, o Estado norte-americano,
88. Capas do I, II e III Planos   crescimento acelerado das matrículas nos diversos         funcionando como um importante agente interme-
Básicos de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico          cursos, o que fez com que fossem colocados anual-         diário, atuava nas duas pontas: apoiava a pesquisa
(PBCDT)                           mente milhares de técnicos à disposição do mercado        na universidade e deixava à indústria a contribuição
89. Matéria da revista Fatos      de trabalho.                                              financeira para o desenvolvimento de tecnologias
e Fotos sobre a Base Espacial
                                      Por sua vez, o IEL visava estimular a produção de     específicas. Embora a esfera estatal promovesse a
da Barreira do Inferno, Natal,
RN. Programa de pesquisas         conhecimento tecnológico e científico mediante o          articulação entre a escola e o mundo do trabalho,
metereológicas da Comissão
Nacional de Atividades            financiamento direto das pesquisas e dos pesquisa-        grande parte do investimento ficava a cargo das in-
Espaciais (CNAE), 14 de maio      dores, e a co-utilização de instalações físicas e equi-   dústrias, diretamente interessadas na qualificação
de 1966
                                  pamentos. Nesse contexto, surgiram os cursos inte-        originada dos estágios e treinamentos.
                                  grados que, realizados em parceria com o Ministério           Além de um desenvolvimento industrial mais tar-
                                  da Educação, tinham como objetivo o treinamento           dio, outros fatores contribuíram para dificultar essa
                                  de estudantes dos últimos períodos letivos. Os cur-       relação no Brasil: o modelo de industrialização bra-
                                  sos das universidades que participaram do programa
                                  – Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Uni-
                                  versidade Federal da Paraíba (UFPb) e Universidade
                                  Federal de Santa Catarina (UFSC) – se tornariam, pos-
                                  teriormente, referências nacionais e internacionais
                                  nos respectivos campos de pesquisa.7
                                      Alternando suas atividades escolares com perío-
                                  dos de trabalho, os universitários vivenciavam a ro-
                                  tina das empresas, as quais, por sua vez, utilizavam-
                                  se dos laboratórios das universidades para análises,
                                  pesquisas e ensaios. Ainda nessa época, teve início
                                  a elaboração de uma base de dados sobre a parce-
                                  ria universidade-indústria, com a realização de pes-
                                  quisas e publicações. Apesar desses esforços e dos
                                  exemplos bem-sucedidos de outros países, a integra-
                                  ção universidade-indústria no Brasil ainda tardaria a
                                  se consolidar.

                                  100
sileiro, baseado na importação de know-how, havia                                                                       90. Pesquisadora da Empresa
                                                                                                                        Brasileira de Pesquisa
deixado como herança a falta de tradição das empre-                                                                     Agropecuária (Embrapa)
                                                                                                                        Fotografia, 1974
sas no desenvolvimento de novas tecnologias; além
disso, a instabilidade política somava-se à inadequa-
ção dos mecanismos institucionais capazes de pro-
mover o estímulo e a mediação das relações entre               sando o crescimento econômico a ser cada vez mais
universidades e empresas. A despeito disso, o Brasil           determinado pelo progresso tecnológico. Isso altera as
orgulhava-se na época de sua condição de potência.             vantagens comparativas entre os países, em diferentes
E, após a conquista da Copa do Mundo do México                 setores, pelas reduções drásticas em custos de trans-
de 1970, esse sentimento, disseminando-se pelas                portes, pelo uso de sucedâneos sintéticos e outras
camadas populares, tomaria ares verdadeiramente                alterações na estrutura de custos. (I PND apud SALLES
ufanistas.                                                     FILHO, 2002, p. 400).
    Também no campo da astronáutica, o Brasil da
época tinha o que comemorar: a criação, em 1971,                Uma conseqüência do I PBDCT foi a criação, em
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe),        1972, da Secretaria de Tecnologia Industrial (STI),8 no
em São José dos Campos, SP, com o propósito de              Ministério da Indústria e Comércio (MIC), que tinha
formar recursos humanos altamente qualificados              entre suas atribuições financiar o desenvolvimento
nas áreas de sua atuação. No mesmo ano, foi criado          tecnológico de empresas públicas e privadas e o de-
o Centro de Lançamento de Foguetes da Barreira do           senvolvimento de tecnologias específicas. Logo de-
Inferno (CLBI), em Natal, RN, resultado da expansão         pois foi fundado o Instituto Nacional de Propriedade
do Centro Técnico Aeroespacial (CTA).                       Industrial (INPI), que pretendia regular a transferên-
    O I Plano Básico de Desenvolvimento Científico          cia de tecnologia.
e Tecnológico (I PBDCT), 1972-1974, desenvolvido                Essas ações governamentais, que serviam de es-
com base em uma ação conjunta entre o Ministério            tímulos ao desenvolvimento, funcionavam como
do Planejamento e o CNPq, previa um reforço da área         mecanismos multiplicadores de iniciativas em prol
tecnológica, por meio de uma estratégia de descen-          da interação entre o saber e o fazer. Depois de insti-
tralização. A criação de sistemas setoriais e estaduais     tucionalizado o referido plano, o presidente Médici
e o maior entrosamento com o sistema produtivo              ampliou o processo de estatização, acrescentando às
privado demonstravam o primado do racionalismo              46 empresas instituídas desde 1964 mais 74, entre as
administrativo na área de ciência e tecnologia.             quais a Telecomunicações Brasileiras S.A. (Telebrás),
                                                            em 1972. Em seguida, veio mais um empreendimen-
   A revolução tecnológica, principalmente nas últimas      to estatal de sucesso, a Empresa Brasileira de Pesqui-
   décadas, repercute profundamente sobre o desen-          sa Agropecuária (Embrapa),9 vinculada ao Ministério
   volvimento industrial e o comércio internacional, pas-   da Agricultura.

                                                                                                                101
91. Matéria da revista            Dando seqüência ao cumprimento da meta de in-          estendendo o processo de modernização a vários se-
Manchete sobre a construção
da rodovia Transamazônica,    tegração do território nacional dos anos 1950, cres-       tores da produção.
15 de abril de 1972           cia a malha viária brasileira, permitindo incluir as po-       Com o emprego em alta, os operários mais espe-
                              pulações de rincões distantes na moderna economia          cializados conseguiam obter ganhos diferenciados e
                              de mercado. Obras de porte, como a Transamazôni-           se beneficiar com o crescimento econômico, embo-
                              ca, somavam-se à construção de várias usinas hidre-        ra o salário mínimo em baixa caracterizasse um pe-
                              létricas, entre as quais as de Boa Esperança (1970),       ríodo de arrocho salarial para muitas categorias de
                              de Urubupungá e, mais tarde, de Itaipu (1975). Além        trabalhadores. O aquecimento da produção atraía as
                              disso, houve a modernização do sistema de crédito e        populações para as regiões mais industrializadas do
                              grandes investimentos na áreas da siderurgia, petro-       país, sendo que parte desses contingentes migrató-
                              química e construção naval.                                rios era absorvida pela construção civil, pela indús-
                                  No campo educacional, o período assistiu à mul-        tria pesada e pelo comércio, fazendo aumentar o nú-
                              tiplicação do número de vagas no ensino superior,          mero de trabalhadores com carteira assinada. Eram
                              distribuídas entre as instituições públicas e as facul-    os anos do chamado “milagre econômico” brasileiro,
                              dades privadas recém-criadas.                              que perduraria até 1973.
                                  O sucesso da política econômica chamava a aten-            A partir de então, o mundo viveria uma séria cri-
                              ção. E, impulsionados pelas condições favoráveis da        se do petróleo, que, desencadeada num contexto de
                              economia, os capitais estrangeiros entravam no país,       déficit de oferta, devia-se a nacionalizações e confli-
                                                                                         tos envolvendo os países integrantes da Organização
                                                                                         dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). O em-
                                                                                         bargo ao fornecimento de petróleo provocou reces-
                                                                                         são nos EUA e na Europa, concorrendo para desesta-
                                                                                         bilizar a economia mundial.
                                                                                             Enquanto os países desenvolvidos optavam por
                                                                                         uma estratégia de rápida adaptação à crise, com
                                                                                         drásticos cortes de gastos do setor público, redução
                                                                                         do consumo de petróleo e liberação das taxas de
                                                                                         câmbio, o governo brasileiro promovia uma desa-
                                                                                         celeração progressiva. Temendo gerar desemprego
                                                                                         em massa e provocar uma desorganização do setor
                                                                                         produtivo, o governo manteve elevadas as taxas e as
                                                                                         importações de petróleo.
                                                                                             A manutenção da atividade econômica e do em-
                                                                                         prego em alta, quando os países desenvolvidos se

                              102
defrontavam com um processo recessivo, implicava
um aumento da dívida externa brasileira. E, apesar
das restrições destinadas a proteger o parque in-
dustrial brasileiro, importavam-se equipamentos e
know-how estrangeiros, o que desestimulava os in-
vestimentos das indústrias em inovações e constituía
entraves à integração universidade-empresa. A difi-
culdade de diálogo entre os parceiros, o preconcei-
to das empresas contra o idealismo reinante na aca-
demia, a desconfiança dos universitários diante do
pragmatismo das empresas, a falta de pessoal para
orientar os estágios e a utilização indevida dos esta-
giários também se traduziam em obstáculos a essa
intenção (PALADINO, 2002).
    Em março de 1974, o general Ernesto Geisel as-
sumiu a Presidência, tendo que enfrentar dificulda-
des econômicas e políticas que anunciavam o fim do
“milagre econômico” e ameaçavam o regime militar.
Além da dívida externa herdada do período anterior,      de um acordo com a Alemanha que previa a instala-       92. Matéria da revista
                                                                                                                 Manchete sobre a assinatura
a inflação chegava a 34,5%, o que dificultava a cor-     ção de uma usina de enriquecimento de urânio e de       do Acordo Nuclear Brasil-
reção dos salários. Apesar disso, o governo decidiu      centrais termonucleares.                                Alemanha, Bonn, 12 de julho
                                                                                                                 de 1975
investir no desenvolvimento econômico. E, com a              Entre as medidas administrativas que atestam a
                                                         importância que a ciência e a tecnologia assumiam       93. Capas do projeto
meta de alcançar um crescimento industrial de 12%
                                                                                                                 do II Plano Nacional de
ao ano até 1979, desenvolveu, no final de 1974, o        no período, destacou-se a criação do Plano Nacional     Desenvolvimento para o
                                                                                                                 período 1975-1979 e do
II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), que       de Pós-Graduação (PNPG), em 1974.                       Programa Nacional do Álcool
visava criar bases para a indústria, procurando redu-        No entanto, a conjuntura brasileira não inspira-    (Proálcool), 1983

zir a dependência em relação às fontes externas.         va tranqüilidade. Enquanto a crise internacional do
    Paralelamente, com o objetivo de ampliar as fon-     petróleo havia afetado o desenvolvimento indus-
tes alternativas de energia, iniciou-se um programa      trial e aumentado o desemprego, a vitória da oposi-
visando à implantação de combustíveis alternativos:      ção nas eleições parlamentares fragilizava o regime
surgiam assim o Programa Nacional do Álcool (Proál-      militar. Essas condições fizeram com que o governo
cool) e, em seguida, o Programa Nacional de Carvão       Geisel, apostando na flexibilização política, acenas-
(Procarvão). Ainda na área de energia, seria aprova-     se com um projeto de abertura política “lenta, gra-
do, em 1975, o Programa Nuclear Brasileiro, por meio     dual e segura”.

                                                                                                          103
94. Presidentes general             Em dezembro de 1974, quando Jacy Montenegro         fronteiras do IEL, esquentava os debates no Congres-
Ernesto Geisel e general João
Batista Fiqueiredo              Magalhães10 assumiu a superintendência, o IEL pas-      so Nacional, que resultaram, em 1977, na aprovação
                                sava por dificuldades financeiras, o que levou a ins-   da lei que tratava especificamente dos estágios de
95. Coleção Universidade
& Indústria – Monografias,      tituição a uma revisão de sua própria estrutura, de     estudantes de ensinos superior, profissionalizante e
editadas pelo IEL                                                                       supletivo.11
                                seus projetos e, por fim, a uma reflexão sobre o seu
                                papel. Para sanar os problemas referentes à receita,        Com isso, o estágio supervisionado curricular ad-
                                o IEL empenhou-se na constituição de parcerias, na      quiria maior relevância, uma vez que o estudante-
                                obtenção de recursos financeiros de órgãos públicos     estagiário teria melhores chances de adquirir uma
                                e privados, na oferta de cursos e prestação de servi-   formação teórica e prática mais sólida. No entanto,
                                ços de pesquisa e na realização de atividades conjun-   a regulamentação dessa lei só viria a acontecer cinco
                                tas com Senai, Sesi, federações de Indústria etc.       anos mais tarde, com o Decreto nº. 87.497, de 18 de
                                    Os estágios continuavam dando excelentes re-        agosto de 1982:
                                sultados: com eles, abriam-se perspectivas para os
                                estudantes adquirirem especialização e contatos de         Considera-se estágio curricular, as atividades de apren-
                                trabalho e renovavam-se os quadros técnicos das            dizagem social, profissional e cultural, proporcionadas
                                empresas. Nessa época, o tema, extrapolando as             ao estudante pela participação em situações reais de
                                                                                           vida e trabalho (...) sendo realizada na comunidade em
                                                                                           geral ou junto a pessoas jurídicas de direito público ou
                                                                                           privado, sob a responsabilidade e coordenação da ins-
                                                                                           tituição de ensino.


                                                                                            Os anos de prosperidade do país haviam con-
                                                                                        tribuído para fomentar o surgimento de livros e re-
                                                                                        vistas sobre temas candentes, criando-se um clima
                                                                                        de euforia editorial. Seguindo essa tendência, o IEL,
                                                                                        além de promover seminários e estudos, iniciou a
                                                                                        elaboração de uma série de publicações. E, por meio
                                                                                        de parcerias com instituições de ensino superior, rea-
                                                                                        lizaram-se estudos sobre características e tendências
                                                                                        da conjuntura econômica e social que implicavam,
                                                                                        ou poderiam implicar, entraves ao desenvolvimento
                                                                                        industrial do país. Nessa época, o presidente da CNI
                                                                                        era Domício Veloso da Silveira, que permaneceu no
                                                                                        cargo de 1977 até 1980.

                                104
Em 1979 o mundo foi surpreendido por um novo
choque no setor petroleiro. A paralisação da produ-
ção iraniana, o segundo maior exportador da Opep,
em conseqüência da revolução liderada pelo aiatolá
Khomeini, fez com que o preço do barril atingisse
níveis recordes, agravando a recessão econômica
mundial.
   No Brasil a crise resultou em maior endividamento
externo, elevadas taxas de inflação, juros altos e uma
recessão industrial. O setor produtivo, carente de tec-
nologia e impossibilitado de desenvolvê-la, perdia
capacidade de concorrer no mercado internacional,
abastecido, cada vez mais, pela produção de Hong          pelo retorno dos movimentos sociais nas grandes ci-      96. Jacy Montenegro
                                                                                                                   Magalhães, superintendente
Kong, Cingapura, Coréia do Sul e Taiwan, países que,      dades.                                                   do IEL de 1974 a 1980
conhecidos como os Tigres Asiáticos,12 passaram a             Indicado por Albano de Prado Pimentel Franco,14      Fotografia

apresentar uma rápida industrialização e altas taxas      então presidente da CNI, Tarcísio Meirelles Padilha15    97. Tarcísio Meireles Padilha,
                                                                                                                   superintendente do IEL de
de crescimento.                                           assumiu a superintendência do IEL em dezembro            1980 a 1986
   Politicamente, o país entrava em um clima de           de 1980, com a missão de facilitar sua aproximação       Fotografia

abertura. Em 1978, antes de passar o governo para         com a universidade. Durante essa gestão, a entida-
o general João Batista Figueiredo, o presidente Gei-      de teve sua atuação ampliada, transformando-se
sel extinguiu o Ato Institucional nº. 5, restaurou o      em um centro de altos estudos, responsável por
habeas corpus e abriu caminho para a retomada da          produzir análises e políticas de ação para o empre-
democracia. No ano seguinte, foi aprovada a lei que       sariado. A intenção coincidia com o contexto de
restabelecia o pluripartidarismo,13 sinalizando o iní-    apoio estatal às iniciativas voltadas para a produção
cio da abertura política.                                 e aplicação do conhecimento.
   Em 1980, os metalúrgicos do ABC realizaram a               Além de diversos seminários e estudos, deu-se
maior greve operária da história do país, paralisando     continuidade à edição de publicações acerca dos
as principais montadoras e ampliando a liderança de       chamados “efeitos perversos” sobre a economia (dei-
Luiz Inácio da Silva, ou simplesmente Lula. No rastro     xava-se de investir na produção devido ao alto preço
dessa greve, surgiriam os primeiros sindicatos inde-      do petróleo) e das alternativas para superação da cri-
pendentes da tutela do Estado.                            se. Entre os temas abordados estavam as pequenas
   Nessa época, o objetivo principal do IEL era a         e médias empresas, a política de salário e emprego,
compreensão da conjuntura nacional, marcada pela          o modelo sindical brasileiro e a intervensão estatal,
recessão, pelo enfraquecimento do regime militar e        a produção e incorporação de novas tecnologias, a

                                                                                                            105
98. 34ª Reunião Anual da       formação de recursos humanos e as relações da in-
Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência. Debate   dústria com outros setores econômicos. Antecipan-
sobre Cubatão                  do uma tendência que se acentuaria a partir de 1990,
Fotografia, 1984
                               durante essa gestão alguns núcleos regionais come-
                               çaram a desenvolver ações de estímulo ao empreen-
                               dedorismo.
                                   Dois eventos marcaram também esse momento
                               do IEL: o Seminário Internacional sobre Negociação
                               e Relações de Trabalho, em 1981, e o Seminário In-
                               ternacional de Educação e Trabalho, em 1982, ambos
                               realizados no Rio de Janeiro. Os eventos, que con-
                               taram com a participação de especialistas e pensa-          Os tempos de recessão abalaram os financiamen-
                               dores do Japão e de vários países da Europa, contri-    tos destinados às pesquisas, provocando manifesta-
                               buíram para a discussão de temas importantes que        ções de protesto da Associação Brasileira de Ciências
                               ainda não haviam sido suficientemente debatidos no      (ABC) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da
                               âmbito do setor produtivo brasileiro.                   Ciência (SBPC). O movimento tomou corpo e acabou
                                   Durante as gestões de Jacy Montenegro Maga-         por influir no lançamento, em 1984, do Programa de
                               lhães e Tarcísio Meirelles Padilha, que se entenderam   Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico
                               de 1974 até 1986, o instituto priorizou a avaliação     (PADCT), cujo objetivo era consolidar a competência
                               das atividades desenvolvidas, com o conseqüente         técnico-científica nas universidades, centros e ins-
                               estabelecimento de novas rotas para sua consoli-        titutos de pesquisa, mediante o financiamento de
                               dação como membro do nascente Sistema CNI e a           projetos que produzissem impactos no desenvolvi-
                               necessária ampliação do escopo de seu funciona-         mento.
                               mento.                                                      No campo da inovação tecnológica, surgem as
                                   Ao contrário do que ocorria no Japão, nos Esta-     primeiras iniciativas brasileiras em torno do apoio à
                               dos Unidos e em países da Europa, que adotaram          incubação de empresas, aos parques tecnológicos.
                               estratégias recessivas para se proteger da crise do     Incubadora pode ser definida como
                               petróleo, o governo brasileiro manteve a política
                               de gastos. A alta da inflação e o aumento do de-           um mecanismo de estímulo à criação e ao desenvol-
                               semprego decorrentes de tal opção beneficiavam a           vimento de micro e pequenas empresas industriais
                               oposição, obrigando o governo a alterar sua política       ou de prestação de serviços de base tecnológica ou
                               econômica: reduziram-se os empréstimos externos            de manufaturas leves por meio da formação comple-
                               a níveis muito baixos e deu-se início a um processo        mentar do empreendedor em seus aspectos técnicos
                               sistemático de pagamento das contas.                       e gerenciais (...) para tanto conta com um espaço físi-

                               106
co especialmente construído ou adaptado para alojar,   Essa situação acabou por provocar uma grande ma-         99. Logomarca do Sistema
                                                                                                                   Indústria, julho de 1991
   temporariamente, as empresas...” (MCT/PNI).            nifestação popular. No dia 25 de janeiro de 1984, 300    Desenho
                                                          mil pessoas reuniram-se Praça da Sé, em São Pau-
                                                                                                                   100. Campanha pelas Diretas
    Um importante passo nesse campo seria dado,           lo, para exigir eleições diretas para a Presidência da   Já, Brasília, DF
em 1987, com a criação da Associação Nacional de          República, o marco inicial da campanha Diretas Já.       Maylena Clécia
                                                                                                                   Fotografia, 1985
Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos            Outra manifestação reuniu na Candelária, no Rio de
(Anprotec). A partir dessa iniciativa surgiriam as pri-   Janeiro, cerca de 500 mil pessoas no dia 10 de abril
meiras incubadoras do Brasil, localizadas em São Car-     do mesmo ano.
los, Campina Grande, Florianópolis e Rio de Janeiro.          A intensa campanha popular não atingiu seu ob-
     A despeito do aumento das exportações, o saldo       jetivo: o Congresso derrubou a Emenda Dante de Oli-
da balança era insuficiente para pagar as dívidas ex-     veira, que previa eleições diretas para presidente. No
ternas, o que levou o governo brasileiro a firmar acor-   entanto, o Colégio Eleitoral indicou Tancredo Neves e
dos de refinanciamento, os quais contribuíam para         José Sarney, respectivamente, para os cargos de pre-
agravar as condições das classes menos favorecidas.       sidente e vice-presidente da República. Como Tan-




                                                                                                            107
101. Oswaldo Vieira Marques,   credo Neves faleceu antes de tomar posse, assumiu        ação conjunta, seria facilitado. Várias reuniões entre
superintendente do IEL de
1986 a 1996                    o governo José Sarney, que iniciou a transição para a    professores, dirigentes de universidades e membros
Fotografia                     democracia: começava a Nova República.                   do IEL foram realizadas, e grande parte das propostas
                                   Para a superação do regime autoritário inaugura-     surgidas nesses encontros foi incorporada aos pro-
                               do em 1964, a transição democrática caminhou no          gramas do IEL, passando a direcionar as suas ações
                               sentido de um nova ordem institucional, instaurada       nos anos seguintes.
                               a partir da redação de uma nova Carta Constitucio-           A conseqüência mais imediata desse acordo foi
                               nal. E foi no contexto da disputa política em torno do   a ampliação das oportunidades de estágio supervi-
                               papel do Estado e do caráter reformador da ordem         sionado, cujo projeto inicial foi reestruturado, com
                               institucional do Congresso Constituinte que ocorreu      a intenção de estimular os estudantes a adotarem
                               um grande avanço na estrutura da CNI. Durante a          uma mentalidade empreendedora. A metodologia
                               gestão de Albano Franco, foi instituído o Sistema CNI,   de supervisão foi readequada e os padrões de qua-
                               que, sob o comando dessa confederação, é formado         lidade foram incluídos. Esse esforço foi recompen-
                               pela íntima articulação da tríade educacional – Senai,   sado pelo aumento das oportunidades de realiza-
                               Sesi e IEL. Entendido como um organismo complexo         ção de estágio, sobretudo nas pequenas e médias
                               e articulado, o Sistema CNI, que teria como objetivo     empresas.
                               “atuar na modernização institucional do país e lide-         Além da ênfase no relacionamento com os nú-
                               rar os empresários como agentes da transformação”        cleos regionais, as federações estaduais e os depar-
                               (CNI, 1994), formava-se na hora certa.                   tamentos regionais do Senai e Sesi, o instituto pas-
                                   Apesar da recessão, o clima de otimismo fazia        sou a ser um articulador nacional dos projetos da
                               com que as empresas começassem a planejar a reto-        indústria. Integrando em seus quadros professores
                               mada do crescimento e a absorção de trabalhadores,       e profissionais experientes, o IEL tornou-se uma ver-
                               incluindo os desempregados em função da crise.           dadeira usina de idéias, que serviam para subsidiar
                                   Assumia a superintendência do IEL, em maio de        as negociações com vários órgãos, tais como a Supe-
                               1986, Oswaldo Vieira Marques,16 cuja escolha, que        rintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Su-
                               significou uma nova etapa na estratégia de ação e        dene) e a Superintendência do Desenvolvimento da
                               inserção do IEL no Sistema CNI, representou a vitória    Amazônia (Sudam).
                               dos empresários que defendiam maior aproximação              Durante essa gestão foi criado, no âmbito do IEL,
                               com os interesses imediatos da indústria.                um fórum nacional para discussão de temas de inte-
                                   Para estimular a articulação entre as universida-    resse nacional, entre os quais o ensino a distância, de
                               des e as empresas, foi firmado entre o IEL e o Conse-    iniciativa dos ministérios da Educação e do Exército,
                               lho de Reitores das Universidades Brasileiras (Crub)     a modernização da pesca, que contava com o apoio
                               um protocolo de intenções, mediante o qual o aces-       da Marinha, e o empreendedorismo, vinculado ao
                               so da entidade às universidades, assim como sua          Ministério da Indústria e Comércio (MIC).

                               108
Já nessa época, o IEL tratava de estimular o surgi-    da referida comissão, o IEL tornou-se representante      102 e 103. Inventos
                                                                                                                    contemplados com o Prêmio
mento de empreendedores que, segundo o econo-              da CNI, ou seja, da indústria nacional.                  Talento Brasileiro
mista austríaco Joseph Alois Schumpeter, eram “os             Em 1988 foi implantado o Programa Oficinas de         Fotografia, 1985

heróis da modernidade”, ou os agentes fundamentais         Produção (POP), cujo objetivo era, associando a pes-     104. José Antônio
                                                                                                                    Nascimento Brito, vice-
do progresso. Autor de várias obras, entre as quais        quisa feita na universidade à experimentação tecno-
                                                                                                                    presidente do Jornal do
a Teoria do Desenvolvimento Econômico, Schumpeter          lógica da empresa, atingir o aprimoramento de pro-       Brasil, Albano Franco,
                                                                                                                    presidente da CNI, e Gabriel
entendia que empreender era produzir inovações,            dutos e processos. No âmbito do POP, foram obtidos       Hermes, vice-presidente da
por meio de avanços tecnológicos ou de combina-            vários resultados concretos, entre os quais o Projeto    CNI, no lançamento do II
                                                                                                                    Prêmio Talento Brasileiro, em
ções. O empreendedorismo consistia em introduzir           Hovercraft, que, visando ao desenvolvimento de tec-      20 de dezembro de 1984, Rio
                                                                                                                    de Janeiro
um novo produto, abrir um novo mercado, conquis-           nologia própria para veículos sobre colchão de ar, foi
                                                                                                                    Fotografia
tar novas matérias-primas ou estabelecer uma nova          realizado pelo Departamento de Engenharia Mecâ-
organização produtiva.                                     nica da Universidade de Brasília (UnB); uma nova tec-
    Com a constituição de uma comissão interministe-       nologia para filmes finos usados em metalurgia, in-
rial, a articulação universidade-indústria foi ampliada,   formática e mecânica de precisão, desenvolvida pela
passando a integrar o trinômio universidade-indús-         Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS);
tria-governo. Responsável pela secretaria executiva        um estudo sobre a viabilidade técnica e econômica

                                                                                                             109
105. Capa da Constituição     para aproveitamento de resíduos de madeira, feito       órgãos empenhados na interação universidade-in-
Federal da República
Federativa do Brasil, 1988    pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT)         dústria: o Instituto Nacional de Metrologia, Norma-
                              em parceria com o Sindicado das Indústrias Madei-       lização e Qualidade Industrial (Inmetro) e o Instituto
106. Plenário da Assembléia
Nacional Constituinte         reiras; um estudo sobre o uso do bagaço de cana-de-     Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
durante a promulgação                                                                     Formadas por industriais, docentes e integrantes
                              açúcar como fonte alternativa de energia, feito pela
da nova constituição, 5 de
outubro de 1988               Universidade Federal da Paraíba (UFPb), em parceria     de outras entidades interessadas, essas comissões,
Júlio Bernardes
Fotografia                    com o Sindicado das Indústrias de Açúcar; e um me-      constituídas para propor ou avaliar modalidades do
                              didor eletrônico de pressão arterial, produzido pela    processo de interação, tinham caráter consultivo
                              Universidade Estadual de Londrina (UEL).                e eram responsáveis pelo estabelecimento da sua
                                  Nessa época o IEL ampliava as parcerias. A Finep,   própria pauta de discussões. Implantado em 1987,
                              incorporada ao processo com a assinatura de um          o Programa de Recursos Humanos para o Desen-
                              termo de ajuste em 1989, foi sucedida por outros        volvimento Tecnológico (RHAE) tinha por objetivo




                              110
Brasil moderno. No dia 5 de outubro, o presidente          107. Primeira edição do
                                                                                                                   informativo Interação,
                                                        da Assembléia Nacional Constituinte, Ulysses Gui-          publicado pelo IEL,
                                                        marães, entregava à nação brasileira a sétima Carta        setembro de 1988

                                                        Magna, que, conhecida como Constituição Cidadã,
                                                        restauraria a democracia no país.
                                                           No fim desse mesmo ano, como resultado da in-
                                                        tensificação dos debates em torno das mudanças de
                                                        rumos que deveriam ocorrer no ensino de 2º grau e
                                                        na educação profissional no Brasil, era apresentado
                                                        ao Congresso Nacional um novo projeto de Lei de
                                                        Diretrizes e Bases da Educação, que teria como base
                                                        o artigo 205 da Constituição Federal:

                                                           A educação, direito de todos e dever do Estado e da
                                                           família, será promovida e incentivada com a colabora-
                                                           ção da sociedade, visando o pleno desenvolvimento
                                                           da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania
                                                           e sua qualificação para o trabalho.
melhorar a competitividade do setor produtivo me-
diante a capacitação de recursos humanos.                  No plano internacional, a década de 80 termina-
   Outra estratégia do IEL foi a implantação, em        va com intensas mudanças que prenunciavam uma
1986, da atuação por projetos, em torno de temas        nova era. A crise do socialismo do Leste Europeu fez
sobre necessidades de gêneros industriais, indica-      ruir o muro de Berlim e conduziu ao fim da Guerra
dores de produção, matérias-primas, mercados, me-       Fria. Sopravam mais fortes os ventos da globaliza-
lhoria de processos, aproveitamento de insumos ou       ção que, diluindo ideologias e fronteiras, desenha-
resíduos etc. A iniciativa foi aperfeiçoada por meio    vam, sobre um oceano de águas aparentemente
da simplificação do roteiro básico de apresentação      mais tranqüilas, um panorama de novidades e in-
de propostas.                                           certezas.
   Dois anos depois, foi instituído o informativo          O século XX, que viveu a segunda Revolução
mensal Interação, destinado prioritariamente à divul-   Industrial, e que havia passado pela produção em
gação das experiências, resultados e produtos dos       série e pelo contínuo aperfeiçoamento dos proces-
projetos e trabalhos das comissões de interação.        sos produtivos, ia deixando para trás a “revolução da
   Mas o ano de 1988 ficaria marcado definitiva-        produtividade” para caminhar em direção à “revolu-
mente no calendário dos eventos importantes do          ção gerencial” (DRUCKER, 1999).

                                                                                                            111
112
A revolução técnico-científica da   informacão
                                    oãçamrofni




                                            113
Depois das intensas transformações do final dos      quais a elevação de impostos e um processo de pri-      108. Mapa da América do Sul
                                                                                                                Computação gráfica
anos 80, a geopolítica mundial nunca mais seria a       vatização de empresas estatais. Além disso, visando     Página 112
mesma. De um lado, a União Soviética desintegrava-      modernizar a indústria nacional, o governo promo-
                                                                                                                109. Linha de produção de
se em meio a reivindicações por abertura política e     via uma repentina abertura do país para o mercado       fábrica de motocicletas em
                                                                                                                Manaus: inovação dá vida a
maior eficiência produtiva; de outro, desenvolvia-se    internacional.                                          novos produtos e conceito no
o embrião de um processo de unificação, cujo resul-         Entrava em pauta a modernização por meio de         mercado
                                                                                                                Miguel Ângelo
tado seria a formação do grande bloco econômico         reformas centradas na abertura comercial, na refor-     Fotografia, 2006
representado pela União Européia.1 Os novos tem-        mulação do Estado e na estabilidade monetária. Uma
pos impunham uma rápida e efetiva reordenação do        das aspirações dos partidários dessa orientação era a
espaço econômico. “existe um mundo novo. E as pes-      de que o Brasil passasse a absorver um novo paradig-
soas nascidas nele não conseguem imaginar o mundo       ma técnico-produtivo. Colocava-se de forma explícita
em que viviam seus avós e no qual nasceram seus pais”   a necessidade de submeter a indústria brasileira a um
(DRUCKER, 1999, p. XI).                                 modelo mais sensível às exigências do mercado mun-
   No Brasil, depois da chamada “década perdida”,       dial, que combinasse produtividade, capacidade de
em que a indústria havia apresentado um fraco de-       inovação e competitividade. O cenário globalizado
sempenho, chegava ao poder, em 1990, Fernando           impunha padrões de desempenho produtivo, tecno-
Collor de Mello, primeiro presidente eleito pelo voto   lógico e mercadológico diferenciados dos anteriores.
direto após quase trinta anos. Recém-empossado,         Submetidas à concorrência internacional e à exigên-
Collor criou um plano de recuperação econômica          cia de uma restruturação produtiva, as empresas bra-
que, arquitetado pela ministra da Fazenda Zélia Car-    sileiras viram-se forçadas a buscar soluções para me-
doso de Mello, previa uma série de medidas, entre as    lhorar o seu desempenho e sua competitividade.



                                                                                                         115
110. Assinatura do Tratado        Nessa fase as empresas passaram a concentrar seus es-      produtividade pela absorção de progresso técnico.
de Assunção, em 26 de
março de 1991, entre Brasil,
                                  forços nas estratégias organizacionais e na adoção de      Essa política desdobrava-se em uma série de ações
Paraguai, Argentina e             novas formas de gestão do trabalho mais compatíveis        específicas, entre as quais o Programa de Apoio à Ca-
Uruguai, com o objetivo de
criar o Mercado Comum do          com as necessidades de flexibilização da produção e        pacitação Tecnológica da Indústria (Pacti) e o Progra-
Sul (Mercosul). Da equerda        com o envolvimento dos trabalhadores com a qualida-        ma Brasileiro da Qualidade e Produtividade (PBQP).2
para a direita: Fernando
Collor, Andrés Perez              de e a produtividade (...) características de uma verda-   Novas perspectivas para o mercado inter-regional se
Rodrigues, Carlos Menem
e Alberto Lacalle
                                  deira reestruturação produtiva (LEITE, 1994, p. 79).       abririam, em 1991, com a assinatura do Tratado de
Fotografia                                                                                   Assunção, que, criando o Mercado Comum do Sul
                                   Na tentativa de neutralizar os desdobramentos             (Mercosul), implantava uma tarifa externa comum e
                               do novo contexto econômico, o governo implantou               liberava o comércio entre Brasil, Argentina, Paraguai
                               instrumentos que, proporcionando acesso a financia-           e Uruguai.
                               mentos para pesquisa e desenvolvimento, visavam                   No entanto, além de confiscar poupanças e invia-
                               estimular a inovação tecnológica, ampliar a compe-            bilizar pagamentos, tumultuando a vida de cidadãos
                               titividade dos bens e serviços produzidos no país             comuns, Collor instituiu medidas que afetaram dire-
                               e incentivar o intercâmbio comercial. Em 1990, no             tamente os setores produtivos. A queda de tarifas e
                               âmbito do Ministério da Economia, Fazenda e Plane-            barreiras comerciais estimulou as importações, im-
                               jamento foram instituídas as diretrizes gerais para a         pondo às indústrias um esforço de competir, com os
                               política industrial e de comércio exterior, que propu-        produtos estrangeiros, nos mercados externo e inter-
                               nha a abertura da economia brasileira como forma de           no. A abertura à concorrência internacional revelou-
                               induzir a indústria nacional à obtenção de ganhos de          se desfavorável à indústria brasileira, pois boa parte

                               116
A educação despontava então como fator primor-       111. Capas da série Cadernos
                                                                                                                   IEL: volume 2 – Programa IEL
                                                          dial para o desenvolvimento econômico. O conheci-        de Competitividade Industrial
                                                          mento passava a ser visto como instância complexa,       e volume 3 – Realizações da
                                                                                                                   Política Nacional de Interação
                                                          cujos elementos, implícitos nas práticas de pesquisa     Indústria Universidade
                                                                                                                   (1969-1990)
                                                          e produção, e enraizados em pessoas, organizações e
                                                          locais específicos, não eram facilmente transferíveis.
                                                          Portanto, as possibilidades de adaptação às mudan-
das empresas operava com instalações e equipamen-         ças do mercado e da tecnologia tornavam-se função
tos defasados e tecnologias deficientes em termos         direta da detenção dos saberes.
de processos e produtos. O baixo investimento em              Esse modelo de desenvolvimento, com ênfase na
atividades de pesquisa dificultava ainda mais a inser-    inovação, implicava a produção de um novo tipo de
ção destas no processo de modernização. Vencendo          conhecimento – o “conhecimento útil” –, que condu-
os obstáculos, poucas empresas conseguiam desen-          zisse a resultados concretos e que, uma vez aplicado
volver uma capacidade tecnológica própria e operar        aos setores produtivos, gerasse riquezas para o país.
com padrões de qualidade e produtividade compatí-         Com isso, em vez de privilegiar a autonomia, que até
veis com as exigências do mercado internacional.          então lhe havia permitido uma produção mais dire-
    Além de aprofundar a eficiência dos processos, as     cionada para o seu próprio consumo, a universidade,
mudanças implicavam redução do tempo entre as             numa demonstração explícita de contribuição para a
descontinuidades tecnológicas, progressiva diminui-       sociedade, deveria assumir um vínculo estreito com
ção do ciclo de vida dos produtos, assim como a sua       a indústria. Essa nova condição impunha grandes de-
diversificação. Com isso, se antes era possível crescer   safios para a articulação entre o saber e o fazer, ou
sem contar com um sistema de geração e incorpora-         entre a academia e a indústria.
ção de tecnologia, por meio de contratos de know-             Na esfera estatal, a falta de instrumentos adequa-
how e licença de patentes, agora a situação havia         dos e de estrutura organizacional, agravada pelas
mudado.                                                   conseqüências da recessão e da instabilidade econô-
    E, como a simples transferência de tecnologia         mica, fazia com que as políticas do governo se mos-
entre países concorrentes tornava-se cada vez mais        trassem pouco efetivas nas áreas de capacitação tec-
difícil, era mister desenvolver uma capacitação tec-      nológica e garantia de qualidade e produtividade.
nológica endógena, que assegurasse o desenvol-                Com experiência acumulada nesse campo, o IEL
vimento sustentável e a inserção do país no novo          buscou adaptar-se às novas exigências, com a for-
cenário mundial. Outro fator que contribuiu para di-      mulação de projetos de apoio às pequenas e médias
ferenciar a nova conjuntura econômica das anterio-        empresas e de capacitação de recursos humanos ne-
res foi o advento da automação, que se refletia, nos      cessários à gerência. Lançou nessa época o Progra-
países desenvolvidos, nas taxas de emprego.               ma de Competitividade Industrial (IEL-CI), com duas

                                                                                                            117
112. Alunos da                linhas de ação convergentes. A primeira, referente       buscavam a criação de ambientes propícios que, vol-
Universidade de Brasília
(UnB) participantes do        aos produtos tecnológicos de base física, abrangia       tados para a constante melhoria da qualidade indus-
Projeto Bolsas de Iniciação
                              técnicas relativas à utilização de máquinas, instala-    trial, disseminassem informações sobre o acesso à
Tecnológica (Bitec)
Fotografia                    ções e equipamentos progressivamente mais avan-          tecnologia e à capacitação gerencial. O IEL pretendia
                              çados. Enquadravam-se nesse grupo: Normalização;         induzir as empresas a buscar lucros mediante novas
                              Informação Tecnológica Industrial; Incubadoras e         formas de gestão. No concernente às Relações de
                              Condomínios Tecnológicos.                                Trabalho, passou a promover cursos voltados para
                                  A Normalização referia-se à informação, habili-      a formação de negociadores e de administração de
                              tação e aplicação das normas técnicas, sobretudo a       greves, beneficiando os representantes das indús-
                              ISO-9000, a processos, produtos e serviços. A Infor-     trias com a aquisição da habilidade para negociar.
                              mação Tecnológica dizia respeito ao acesso a bases           Ainda, como parte do Programa de Competitivi-
                              de dados, nacionais e internacionais, sobre proces-      dade Industrial, o instituto, juntamente com o Senai,
                              sos, produtos, patentes e tecnologias. A Informática     Sebrae e CNPq, deu início ao projeto Bolsa de Inicia-
                              Industrial tratava da criação de condições favoráveis    ção Tecnológica (Bitec), objetivando a transferência
                              à implantação, operação e manutenção de sistemas         de conhecimentos da universidade para a indústria,
                              flexíveis de produção. E as Incubadoras e os Condo-      com aplicação direta no setor produtivo. Voltado prio-
                              mínios Tecnológicos consistiam em estratégias de         ritariamente para as indústrias de pequeno e médio
                              apoio às empresas de base tecnológica, por meio da
                              interação com as universidades.
                                  A segunda linha era voltada para as técnicas de
                              aprimoramento da organização e gestão do proces-
                              so industrial. Integravam esse grupo: Estágios e Vi-
                              sitas Técnicas à Indústria; Administração Industrial;
                              Cursos e Ações em Relações de Trabalho. Com isso,
                              pretendia-se também neutralizar a indiferença, ou
                              mesmo a resistência, daqueles que deveriam ser be-
                              neficiados pelo acesso a novas tecnologias.
                                  O Estágio Supervisionado,3 a mais antiga ativida-
                              de regular do IEL, deixou de constituir um programa
                              isolado, e integrou-se ao IEL-CI. A pesquisa realizada
                              junto às indústrias, em 1989, pela Coordenação de Es-
                              tudos e Pesquisas do Núcleo Central, contribuiu para
                              promover uma evolução nas habituais atividades de
                              estágio. As ações na área de Administração Industrial

                              118
portes, o Bitec estimula a participação de estudantes,      e qualidade; reciclagem de matéria-prima; controle          113. Aluna do último ano
                                                                                                                        do curso de química, em
com bom desempenho acadêmico, no aperfeiçoa-                de qualidade; recursos humanos; racionalização de           estágio na fábrica de latas,
mento tecnológico da indústria; o engajamento de            energia; normalização e administração de materiais;         Brasília, DF
                                                                                                                        Miguel Ângelo
professores e pesquisadores interessados na atuali-         prevenção de acidentes de trabalho e sistemas de            Fotografia
zação tecnológica; a formulação e o desenvolvimen-          informação gerencial. Formalizado por meio de um
to de projetos de interesse da indústria cuja meta era      Protocolo de Ação Institucional, foi criado, em 1992,
a melhoria da qualidade e da produtividade.                 o Programa Educação pela Qualidade (PEQ), resulta-
    No âmbito do Ministério de Ciência e Tecnolo-           do da parceria do IEL com cerca de quarenta institui-
gia (MCT), o governo lançou, em 1991, o Programa            ções públicas e privadas.
de Apoio à Competitividade e Difusão Tecnológica                Ao mesmo tempo, realizava-se no Rio de Janeiro
(PCDT), cujas linhas de apoio a incubadoras e par-          a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Am-
ques tecnológicos deveriam contribuir para ampliar          biente e o Desenvolvimento – a Eco 92, que, abrindo
a capacidade nacional no domínio de tecnologias             espaços para a discussão de uma série de temas vin-
voltadas para a produção.                                   culados direta ou indiretamente à produção indus-
    Nesse mesmo ano, o IEL instituiu o Plano Nacio-         trial, contou com a participação do Sistema Indústria
nal de Interação Indústria-Universidade, que enfa-          – CNI, federações, Senai, Sesi e IEL.
tizava o significado prioritário do apoio a projetos            Em convênio com o Serviço Brasileiro de Apoio
que visassem ao desenvolvimento tecnológico da              às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e com as
indústria, respeitadas as peculiaridades regionais. Na      secretarias estaduais de Indústria e Comércio, o IEL
época, o advento das Comissões Setoriais represen-          iniciou, em 1992, a elaboração do Diagnóstico do
tou um avanço em relação às ações das Comissões             Setor Industrial, que, reunindo dados sobre diversos
Paritárias, ficando as recém-criadas Comissões Regio-       aspectos relativos à atividade industrial, tinha como
nais responsáveis pela adequação destas últimas às          objetivo otimizar os serviços prestados aos industriais.
realidades geográficas específicas. O Programa Ofi-         O resultado do trabalho foi submetido à avaliação de
cinas de Produção (POP), que abrigava projetos com          uma Comissão de Integração, coordenada pelo então
ênfase nos aspectos vinculados à tecnologia, passou,        superintendente do IEL, Oswaldo Vieira Marques.4
em 1991, a prestar apoio às articulações entre os seg-          Fruto de um acordo de cooperação entre a Secre-
mentos industrial e universitário mantidas pelos nú-        taria de Desenvolvimento Regional da Presidência
cleos regionais.                                            da República (SDR/PR) e a CNI, foi criada, ainda nesse
    A iniciativa logo sensibilizou indústrias – nos ramos   mesmo ano, a Comissão Mista Permanente,5 cuja fi-
da construção civil, de confecções, da metal-mecâni-        nalidade era minimizar a sobreposição de ações do
ca, de material elétrico etc. – e várias universidades      governo e da iniciativa privada. Com o Núcleo Cen-
federais. Entre os temas considerados prioritários pe-      tral do IEL à frente de sua secretaria executiva, a refe-
las indústrias e sindicatos, constavam: produtividade       rida comissão elaborou um documento para o biênio

                                                                                                                 119
114. Movimento “Caras-        1993-1994, que tratava da realização dos projetos de    o país e deixavam os brasileiros descrentes e com a
pintadas”, pelo impeachment
de Fernando Collor            Interiorização da Formação Profissional e Educação      auto-estima combalida.
Fotografia, 1992
                              pela Qualidade.                                            A primeira fase do novo governo foi pontuada
                                  Todo esse esforço desenvolvido pelo IEL aconte-     por escândalos no Poder Legislativo, provocados por
                              cia em um momento de desestabilização do país.          atos de corrupção cometidos por membros da co-
                              A reação negativa às medidas impostas aos peque-        missão responsável pelas aplicações dos recursos da
                              nos e médios investidores seria apenas o prenúncio      União. Como resultado do trabalho de CPI instaura-
                              de polêmicas que contribuiriam para desgastar o         da no Congresso Nacional, foram indiciados diversos
                              governo. Além de não alcançar as metas previstas        parlamentares que, devido à baixa estatura, ficaram
                              no plano econômico, o presidente da República           conhecidos como “os anões do Orçamento”. Apesar
                              envolveu-se em um enorme escândalo de corrup-           disso, o presidente procurou realizar um governo
                              ção. O Esquema PC – assim chamado em alusão ao          transparente e tranqüilo, tão almejado pela socieda-
                              coordenador da campanha presidencial Paulo Cé-          de brasileira.
                              sar Faria – seria manchete em todos os órgãos da           No âmbito do IEL, foi firmado, em janeiro de
                              imprensa, inclusive naqueles que haviam apoiado a       1993, o acordo CNI-MEC-Crub – Confederação Na-
                              candidatura Collor.                                     cional da Indústria, Ministério da Educação e Conse-
                                  Depois de a Comissão Parlamentar de Inquérito       lho de Reitores das Universidades Brasileiras –, que
                              (CPI) ter conseguido provar irregularidades a ele       previa a realização de ações com vista à definição
                              atribuídas, Collor, seriamente ameaçado, incitou a      dos formatos dos cursos acadêmicos e à redução dos
                              população a se mobilizar em apoio ao seu manda-         desperdícios e da distância entre os sistemas edu-
                              to. Contrariamente, em manifestação de repúdio ao       cacionais e a produção. Em julho do mesmo ano, foi
                              governo, milhares de jovens invadiram as ruas das       assinado o Protocolo de Ação Interinstitucional para
                              cidades brasileiras com os rostos pintados de verde,    a execução do Programa Educação pela Qualidade
                              amarelo e preto, no movimento que ficou conheci-        (PEQ). Com isso tiveram início muitos projetos volta-
                              do como “caras-pintadas”. Logo em seguida, o Con-       dos para o ensino fundamental, a formação profissio-
                              gresso Nacional aprovou o impeachment, que auto-        nal, a pesquisa e o desenvolvimento, o meio ambien-
                              rizava a deposição do presidente e sua substituição     te e o combate ao analfabetismo.
                              pelo vice. Em 22 de dezembro de 1992, o manda-             Marcada pelo fortalecimento de parcerias como
                              to presidencial foi suspenso, e Fernando Collor de      forma privilegiada de atuação, a visão de que a edu-
                              Mello teve os direitos políticos cassados por oito      cação constitui insumo básico para o desenvolvi-
                              anos. O então vice-presidente Itamar Franco assu-       mento levou a que o PEQ fosse tratado como o gran-
                              miu a Presidência em um momento difícil da histó-       de programa do IEL à época. Como exemplo de ação
                              ria do Brasil: recessão, inflação em alta e desempre-   bem-sucedida nesse campo, destaca-se o Ensino a
                              go eram alguns dos problemas que prejudicavam           Distância, que, promovido em convênio com a Supe-

                              120
rintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa),
contribuiu para melhorar a qualidade de vida de co-
munidades da região amazônica.
     Outra iniciativa importante do período foi o Pro-
grama de Apoio à Inovação e ao Empreendedorismo
– Programa IEL Empreendedor, que, contando com
parceiros como Ministério da Indústria, Comércio e
Turismo (MICT), Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE), Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-
tífico e Tecnológico (CNPq) e Financiadora de Estu-
dos e Projetos (Finep), buscava disseminar a cultura
empreendedora nos municípios.
    Em abril de 1993, cumprindo o previsto na Consti-
tuição, o governo fez um plebiscito para a escolha da
forma e do sistema de governo a serem instituídos
no Brasil. O povo decidiu manter tudo como estava:
entre monarquia e república, a última recebeu 66%
dos votos; o presidencialismo ficou com 55% dos vo-       globalização da economia, passavam a conviver com       115. Capa do Programa
                                                                                                                  Nacional de Estímulo
tos, contra 25% para o parlamentarismo.                   sintomas de retrocesso, como a multiplicação de na-     à Formação de
    Em 1994, o IEL implantou o Projeto Pégasus, como      cionalismos xenófobos e crises socioeconômicas que      Empreendedores – Escola
                                                                                                                  de Empreendedores Pégaso,
um mecanismo efetivo de articulação entre as ativi-       adquiriam contornos diferenciados em cada país.         1994
dades de ensino, pesquisa e produção. A convicção            No Brasil, as perspectivas do momento eram alvis-
                                                                                                                  116. Cartaz em
era de que o jovem, ao sair da universidade, deveria      sareiras. Criada pelo economista Edmar Bacha e ad-      comemoração aos 25 anos do
                                                                                                                  IEL, 1994
ter capacidade de implementar seu próprio negócio,        ministrada pelo então ministro da Fazenda Fernando
cabendo à sociedade não somente tornar essa esco-         Henrique Cardoso, entrava em vigor a mais bem-su-
lha possível como oferecer-lhe as condições para a        cedida estratégia de controle inflacionário da Nova
ampliação de suas chances de sucesso.                     República – o Plano Real, cuja unidade referencial de
    Na esfera internacional, a reorganização do capi-     valor (URV), equivalente a US$ 1, era desvinculada
talismo na era da globalização, aliada à crise política   da moeda vigente, o cruzeiro real. Posteriormente, a
desencadeada com a decadência do bloco socialista,        URV, com o nome de “real”, se tornaria a nova moeda
impôs a “implementação de inúmeros elementos que          brasileira. O plano proporcionou o aumento do po-
reproduzem, nos seus traços essenciais, o receituário     der de compra dos brasileiros, o controle da inflação
neoliberal” (ANTUNES, 2001: 236). Tendências pro-         e contribuiu para elevar o índice de popularidade de
gressistas, decorrentes dos avanços tecnológicos e da     Itamar Franco, que conseguiu fazer o seu sucessor.

                                                                                                           121
Beneficiado pelo êxito do plano econômico, Fer-          sequilíbrios salariais fruto da alta inflação que domina o
nando Henrique Cardoso, eleito presidente com uma           país e da crise fiscal” (BRESSER PEREIRA, 1998, p. 183).
expressiva vitória, assumiu o cargo em 1º de janeiro
de 1995. Na época, os debates no país concentra-                Faziam-se críticas inclusive à Constituição de 1988,
vam-se principalmente na necessidade de moderni-            focalizadas no que se qualificou de “mitos burocráti-
zação do aparelho estatal, para enfrentar os desafios       cos”, tais como estabilidade, plano de carreira e iso-
impostos pela economia globalizada, e na reformula-         nomia, que, além de funcionarem como desestímulo
ção do sistema educacional brasileiro, que, além das        à construção de hierarquias baseadas no mérito, im-
deficiências históricas, tornava-se incapaz de prover       pediam a flexibilidade da máquina administrativa e
a formação de recursos humanos qualificados para            reduziam as possibilidades de que esta se adequasse
atender às demandas dos setores produtivos.                 à dinâmica da economia.
   As justificativas para o ajuste do aparelho estatal          Essas considerações subsidiaram o Plano Diretor
desenvolviam-se em dois níveis: o teórico, apoiado          da Reforma do Aparelho do Estado, que, datado de
nas teses vigentes sobre o novo estágio do desen-           novembro de 1995, estabeleceu as diretrizes para a
volvimento capitalista e nas reformas em curso em           implantação de uma administração pública geren-
outros países; e o conjuntural, que funcionava como         cial. Inspirada nos ideais da racionalidade iluminis-
resposta às freqüentes crises de governabilidade            ta, nas reformas levadas a cabo na Grã-Bretanha6 na
agravadas, no país, no início dos anos 1990. Preten-        década de 70 e na experiência da administração de
dia-se                                                      empresas privadas, a reforma foi intitulada social-
                                                            liberal:
   fortalecer estrategicamente o Estado colocando-o no
   controle das políticas públicas, exercendo funções re-      social porque continuará a proteger os direitos sociais
   gulatórias onde o mercado não o faz e respondendo           e a promover o desenvolvimento econômico; liberal
   com agilidade às demandas sociais (BRESSER PEREIRA,         porque o fará usando mais os controles do mercado e
   1997, p. 24).                                               menos os controles administrativos, porque realizará os
                                                               seus serviços sociais e científicos principalmente atra-
   As análises sobre a realidade político-institucional        vés de organizações públicas não-estatais competitivas,
brasileira à época chamavam a atenção para o patri-            porque tornará os mercados de trabalho mais flexíveis,
monialismo e para a corrupção que, no governo Collor,          porque promoverá a capacitação dos seus recursos hu-
havia atingido um patamar extremo. Considerava-se              manos e de suas empresas para a inovação e a competi-
também a ineficiência do aparelho estatal, que deri-           ção internacional (BRESSER PEREIRA, 1997, p. 18).
vava “diretamente do burocratismo combinado, ainda
que de maneira decrescente, com o clientelismo”. A situ-       Além da delimitação do tamanho e do papel do
ação do Estado brasileiro agravava-se devido aos “de-       Estado, buscava-se a recuperação de sua capacidade
financeira e administrativa. Apesar dos projetos                A estrutura da educação profissional passava en-            117. Itamar Franco,
                                                                                                                            presidente da República,
realizados pelo Ministério da Administração Federal e       tão a ser constituída pelos níveis básico, destinado à          passa a faixa a Fernando
Reforma do Estado (Mare), a redefinição institucional       qualificação e reprofissionalização de trabalhadores;           Henrique Cardoso em 1º de
                                                                                                                            janeiro de 1995
somente seria contemplada pela Emenda da Reforma            técnico, voltado para a habilitação profissional de             Eraldo Peres
                                                                                                                            Fotografia
Administrativa de 1998.7                                    alunos do ensino médio; e tecnológico, correspon-
    Quanto à questão educacional, em Mensagem ao            dente a cursos superiores na área tecnológica para
Congresso, o chefe do Executivo apresentou dados            alunos oriundos do ensino médio e técnico.
dramáticos sobre a situação brasileira. Por esse diag-          Seguindo as recomendações da Comissão Econô-
nóstico, concluía-se que a baixa qualidade do ensino        mica para a América Latina (Cepal), o Ministério do
era conseqüência da falta de condições materiais,           Trabalho, em articulação com diversas instâncias da
de capacitação para as atividades docentes e de co-         sociedade, criou o Plano Nacional de Educação Pro-
nhecimentos atualizados sobre o processo ensino-            fissional (Planfor), dirigido a grupos que apresenta-
aprendizagem. Além disso, a formação deficiente             vam dificuldades para ingressar no mercado de tra-
e má remuneração dos professores, a precariedade            balho ou manter um vínculo empregatício.
dos prédios escolares, a insuficiência de material de           Nesse estágio do desenvolvimento mundial, cha-
apoio dificultavam, ou mesmo impediam, a concreti-          mado por alguns autores de pós-capitalista, o conhe-
zação de políticas estáveis de educação.                    cimento acumulado e a gestão estratégica tornavam-
    Essas constatações contribuíram para acelerar a         se mais importantes para o crescimento econômico
aprovação, em dezembro de 1996, da nova Lei de              do que o simples treinamento da mão-de-obra e o
Diretrizes e Bases da Educação.8 Com relação à for-         investimento em fábricas e máquinas. Nesse contex-
mação profissional, a lei estabelecia que “o ensino         to, a inovação, assumindo um papel preponderante,
médio, atendida a formação geral do educando, pode-         passava a depender da chamada tríplice hélice, ou
ria prepará-lo para o exercício de profissões técnicas”.9   seja, da relação universidade-empresa-governo.
A regulamentação10 dos dispositivos da LDB definiu
que a educação profissional de nível tecnológico se-           É praticamente certo que a nova sociedade será não-
ria “correspondente a cursos de nível superior na área         socialista e pós-capitalista (...) e que seu principal re-
tecnológica, destinados a egressos do ensino médio e           curso será o conhecimento. Isso também significa que
técnico”, e que                                                ela deverá ser uma sociedade de organizações. Em po-
                                                               lítica, já deixamos os quatrocentos anos de soberania
   os cursos de nível superior, correspondentes à edu-         do Estado-nação para um pluralismo em que ele não
   cação profissional de nível tecnológico, deveriam ser       mais será a única unidade de integração política. Será
   estruturados para atender aos diversos setores da eco-      um componente – embora ainda importante – daqui-
   nomia, abrangendo áreas especializadas, e conferindo        lo que chamo de ‘forma de governo pós-capitalista’,
                          11
   Diploma de Tecnólogo.                                       um sistema no qual competem e coexistem estrutu-

                                                                                                                    123
118. Carlos Sérgio Asinelli,      ras transnacionais, regionais, de Estados-nações e até   promover uma revisão da atuação das entidades do
superintendente do IEL de
1996 a 2003                       mesmo tribais (DRUCKER, 1999, p. XIII).                  Sistema Indústria de forma a adaptá-las aos requisi-
Fotografia, 1997
                                                                                           tos da nova era.
                                  No Brasil, a tese de redefinição do Estado havia             O IEL já vinha ganhando terreno no cotidiano uni-
                               produzido os primeiros frutos: no campo político, a         versitário por meio da oferta de bolsas de iniciação
                               ampla reforma e enxugamento do aparelho estatal             tecnológica, do engajamento de pesquisadores em
                               e, no plano social, a redefinição da sociedade civil,       projetos de desenvolvimento tecnológico e também
                               com o fortalecimento do chamado Terceiro Setor,12           da participação na criação de incubadoras de empre-
                               que, constituído por organizações sem fins lucrativos       sas. Em ações conjuntas com o Senai e as federações
                               e não governamentais, deveria gerar serviços de ca-         estaduais, o instituto, reafirmando seu papel no Sis-
                               ráter público. Essas estratégias levaram à fixação de       tema Indústria, passou a divulgar os benefícios da
                               um novo paradigma político-social, orientado pela           Pedagogia da Qualidade Total (PQT).
                               instrumentalidade, adaptabilidade e busca de con-               Para os industriais, o desenvolvimento econômi-
                               senso.                                                      co do país dependia de um conjunto de reformas e
                                  Eram novos tempos: com a implantação do Pla-             de políticas públicas que possibilitasse a diminuição
                               no Real, havia-se conseguido controlar a inflação,          do custo Brasil, tornasse o crédito mais barato e ge-
                               melhorar o poder aquisitivo da população e, conse-          rasse condições para o aumento da escolaridade do
                               qüentemente, ampliar o mercado interno. O clima             trabalhador. Competitividade era então a palavra de
                               de tranqüilidade política e econômica abria novas           ordem e a condição necessária para se disputar espa-
                               perspectivas para o setor produtivo, que se prepara-        ços no mundo globalizado, que exigia uma diminui-
                               va para retomar o crescimento. Medidas de apoio à           ção dos custos operacionais por meio da utilização
                               micro e pequena empresa, bem como à entrada de              de novos processos tecnológicos e de trabalhadores
                               capital estrangeiro, atraído pelas privatizações de         qualificados.
                               empresas estatais nos setores industrial, de infra-es-          Ao mesmo tempo que apoiava a reforma do Esta-
                               trutura e de serviços, constituíam indicadores positi-      do e do ensino superior, o IEL incorporava o discurso
                               vos para o setor industrial.                                da qualidade, da competitividade e da empregabili-
                                  Nessa época, coincidindo com a gestão de Fer-            dade, entendidas como parte das demandas nacio-
                               nando Luiz Gonçalves Bezerra,13 que substituiu Mário        nais, sendo que as idéias centradas na tecnologia e
                               Amato na presidência da CNI,14 a tríade educacional         formação iriam determinar as ações da entidade ao
                               do Sistema Indústria sofreria profundas transforma-         longo da década de 90. De acordo com o pensamen-
                               ções. O novo presidente da confederação trouxe              to então vigente no instituto, não bastava simples-
                               para o IEL uma proposta inovadora que, baseada              mente exercer influência nas ações das universidades
                               no desenvolvimento tecnológico e no aumento da              e dos centros de pesquisa, era preciso direcionar a
                               competitividade do produto brasileiro, tratava de           produção de conhecimento, gerado principalmente

                               124
com recursos públicos, para o atendimento dos inte-      Conselho Superior do instituto foi aberto à parti-       119. Inauguração da nova
                                                                                                                  sede do Núcleo Central do
resses estratégicos da indústria brasileira.             cipação de representantes de entidades parceiras,        IEL, Brasília, DF. Da esquerda
   Um esforço nesse sentido, envolvendo diversas         externas ao Sistema Indústria, tais como o Conselho      para a direita: Tom Rabello,
                                                                                                                  Carlos Sérgio Asinelli, Carlos
instituições empresariais, acabou por influir nas uni-   de Reitores das Universidades Brasileiras, o Serviço     Eduardo Moreira Ferreira,
versidades e por consolidar parcerias com agências       Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, o      Fernando Bezerra
                                                                                                                  Miguel Ângelo
governamentais. Como conseqüência do trabalho            Ministério da Educação, o Ministério do Desenvolvi-      Fotografia, 1997
desenvolvido em defesa de universidades prestado-        mento, Indústria e Comércio e o Ministério de Ciên-
ras de serviços, conceitos como empreendedorismo,        cia e Tecnologia.
incubadoras de empresas e empresas juniores pas-             O instituto ocupava espaços e articulava ações no
saram a fazer parte do jargão e do currículo das uni-    contexto das universidades públicas como jamais ha-
versidades.                                              via conseguido. Ao mesmo tempo que o discurso do
     Essas idéias modernizadoras, que redefiniam         empreendedorismo ganhava corpo, os programas
papéis e práticas de atuação, iriam produzir mudan-      de qualidade e competitividade passavam a orientar
ças no IEL, sobretudo a partir da posse do novo su-      ações, pesquisas e planos de ensino. A partir de 1997,
perintendente da entidade, Carlos Sérgio Asinelli,15     a transferência do Núcleo Central do IEL para Brasília
em 1996. Os primeiros tempos da nova gestão fo-          imprimiria modificações também em relação aos nú-
ram dedicados ao planejamento estratégico. Assu-         cleos regionais.
mindo a função de articulador e de prestador de              Com o intuito de estreitar os laços entre a produ-
serviços para todo o Sistema Indústria, o instituto      ção e a academia e disseminar na segunda os valo-
passou a oferecer consultorias e a buscar novas par-     res da livre empresa, o instituto editou, em conjunto
cerias, e seus núcleos regionais adquiriram maior        com várias instituições de ensino, uma série de publi-
autonomia no desenvolvimento e execução de pro-          cações sobre o tema universidade-empresa. O apoio
jetos específicos.                                       das empresas para a produção e edição permitiu ao
   Além de estabelecer maior aproximação com             IEL a distribuição gratuita de obras que contempla-
o Senai, o Sesi e entidades mantenedoras do IEL, o       vam seus objetos de ação. Além disso, visando obter

                                                                                                           125
120. O IEL ingressa           maior agilidade na circulação da informação, o IEL
efetivamente na era virtual
Fotografia                    ingressou efetivamente na era virtual. A Internet tor-
                              nava-se importante veículo de suporte para compras
121. Capa do Programa
Informação Mercadológica e    e vendas, e também um fator de visibilidade no mer-
Comércio Eletrônico
                              cado. Para isso, o IEL lançou o Programa Informação
122. Capa do Plano            Mercadológica e Comércio Eletrônico, cuja finalida-
Estratégico 1999 – 2010
                              de era repassar para os industriais informações sobre
                              como utilizar essa ferramenta.                           de Estudantes em Ciências Econômicas e Sociais
                                 Nessa mesma época, com base na experiência            (Aiesec) e com o Sebrae, que visava ao intercâmbio
                              do trabalho realizado até então pelos núcleos regio-     entre estudantes brasileiros e estrangeiros.
                              nais, o IEL estabeleceu padrões e normas de recru-           Na esfera federal, foi criado, em novembro de
                              tamento, acompanhamento, supervisão e avaliação          1997, pelo Ministério da Educação (MEC) em parce-
                              de estagiários, procedimentos que passaram a inte-       ria com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE),
                              grar o Modelo de Estágio Supervisionado. Um passo        o Programa de Expansão da Educação Profissional
                              adiante nesse rumo foi dado quando da assinatura         (Proep), com o objetivo de desenvolver ações inte-
                              de um convênio com a Associação Internacional            gradoras entre ensino e trabalho, e entre ciência e
                                                                                       tecnologia. Tratava-se da implantação de um novo
                                                                                       modelo de educação profissional que proporcionas-
                                                                                       se ampliação de vagas, diversidade de oferta e defini-
                                                                                       ção de cursos adequados às exigências da moderna
                                                                                       tecnologia e do mundo do trabalho. O marco inicial
                                                                                       do Proep16 foi o acordo de financiamento assinado
                                                                                       entre o governo brasileiro e o Banco Interamericano
                                                                                       de Desenvolvimento (BID).
                                                                                           Em 1999, o governo criou o Fórum Permanente
                                                                                       das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte,17
                                                                                       o qual, regulamentado no ano seguinte,18 deveria
                                                                                       funcionar como um espaço de debates e conjugação
                                                                                       de esforços entre o governo e o setor privado para a
                                                                                       consecução de ações e políticas orientadas para as
                                                                                       pequenas e médias empresas.
                                                                                           Com base nos cenários previstos para o país, o IEL
                                                                                       concebeu o Plano Estratégico 1999-2010, que traça-
                                                                                       va um novo perfil para a entidade.

                              126
Resultado da parceria entre a CNI e o Sebrae, o         Integravam esse conjunto o Estágio Supervisiona-
Programa de Apoio à Competitividade das Micro e         do, voltado para o aprimoramento da formação do
Pequenas Indústrias (Procompi) passou, em 1999,         futuro profissional; as Bolsas de Iniciação Tecnológi-
a apoiar projetos que, concebidos pelas federações      ca, coordenadas em parceria com o CNPq e o Sebrae;
estaduais e pelos núcleos regionais do IEL, visavam     e as Bolsas de Apoio ao Comércio Exterior, que conta-
capacitar as indústrias brasileiras para enfrentar as   vam com o apoio da Agência Brasileira de Promoção
exigências dos mercados nacional e internacional.       de Exportação e Investimentos (Apex).
Mais de mil pequenas e microempresas seriam bene-           À medida que a qualidade ia sendo cada vez mais
ficiadas, com resultados relevantes, principalmente     incorporada como item imprescindível ao processo
na redução das disparidades regionais.                  produtivo e gerencial das empresas, o IEL ampliava
    Em relação ao tema Desenvolvimento Integrado,       suas ações no sentido de despertar nos empresários
estimava-se que o Brasil alcançaria altos níveis de     uma visão estratégica dos empreendimentos, capaz
desenvolvimento econômico e maior integração à          de antecipar vantagens competitivas e oportunida-
economia internacional, combinada com uma me-           des de mercado. Consolidando-se como entidade
lhor qualidade de vida, expressa em índices mode-       voltada para empresas e empresários, o instituto pas-
rados de pobreza e satisfatórios indicadores sociais,   sou a priorizar a gestão da inovação e o empreende-
em desconcentração regional e em baixo impacto          dorismo em prol da competitividade.
ambiental. Enquanto o Estado assumiria o papel de           As linhas de atuação do instituto desdobravam-
indutor e regulador ativo, as universidades e insti-    se então em projetos estratégicos, entre os quais o
tuições tecnológicas deveriam adotar uma postura        Projeto de Inovação em Desenvolvimento Tecnoló-
mais dinâmica e propícia à interação. As empresas,      gico Regional, que tinha como objetivo monitorar
por sua vez, teriam que aumentar sua participação       e difundir as experiências inovadoras de desenvol-
na geração e difusão do conhecimento. Haveria um        vimento e estimular a implantação e consolidação
fortalecimento da articulação entre indústrias e        dessas iniciativas nas diversas regiões do país. De-
universidades, com presença crescente de institui-      senvolvido em parceria com a Associação Nacional
ções estaduais mediadoras. A idéia-força era “Edu-      de Entidades Promotoras de Empreendimentos Ino-
cação e conhecimento para a competitividade” (IEL,      vadores (Anprotec),19 o projeto consistia no apoio a
1999, p. 14).                                           incubadoras, parques tecnológicos e Arranjos Pro-
    No que tange ao Crescimento Endógeno, a eco-        dutivos Locais (APLs), por meio da cooperação com
nomia do Brasil seria articulada, de forma moderada,    centros de excelência setoriais e de missões técnicas
à economia internacional, garantindo-se a dinamiza-     especializadas.
ção do mercado interno. Nesse caso, a idéia-força era        Embora antiga em termos de atividade produ-
“Educação e conhecimento para o desenvolvimento         tiva, a estratégia dos novos APLs foi inspirada nos
social” (IEL, 1999, p. 15).                             conglomerados e distritos industriais europeus da

                                                                                                          127
123. Marcas do International    década de 1970, principalmente da região Nordeste           lho: estágios, pesquisas, programas de capacitação,
Institute for Management
(IMD), Insead e Wharton         da Itália, onde se concentravam pequenas e médias           encontros de negócios, além de estímulo à inovação
School, centros internacio-
                                empresas. Os APLs                                           e transferência de tecnologia.
nais de excelência, parceiros
do IEL em processos de ges-                                                                     A par disso, o IEL promoveu uma ampla abertura,
tão da inovação e estratégias
para o desenvolvimento             são aglomerações de empresas localizadas em um           estruturando e consolidando laços de cooperação
                                   mesmo território, que apresentam especialização pro-     com centros internacionais de excelência, voltados
                                   dutiva e mantêm vínculos de articulação, interação       para os processos de gestão da inovação e estratégias
                                   e cooperação entre si e com outros atores locais, tais   para o desenvolvimento. Essa colaboração permitiu a
                                   como governo, associações empresariais, instituições     realização de estágios, com a vinda de estudantes do
                                   de crédito e de ensino e pesquisa (HANSEN, 2005).        exterior para empresas brasileiras, e vice-versa. Entre
                                                                                            esses centros, destacam-se a Université de Technolo-
                                   Data dessa época o início do esforço de promover         gie de Compiègne (UTC), o Conservatoire National des
                                maior intercâmbio entre os núcleos regionais e traçar       Arts et Métiers (CNAM) e os Centres Régionaux pour
                                diretrizes gerais comuns para todos. Com o objetivo         l’Innovation et le Transfert de Technologie (CRITTs), na
                                de transferir para o conjunto das unidades do IEL as        França; o Instituto Catalão de Tecnologia (ICT), na Es-
                                experiências regionais bem-sucedidas, foram estru-          panha; o International Institut for Management (IMD),
                                turadas as macrolinhas de ação estratégica, entre as        na Suíça, e a Organização das Nações Unidas para o
                                quais a referente aos Novos Talentos para a Indústria.      Desenvolvimento Industrial (Onudi), em Viena.
                                Diante da impossibilidade de oferecer boas condi-               Outra ação, esta em conjunto com o Ministério
                                ções para todos, tratava-se de criar oportunidades          da Educação (MEC) e a Coordenação de Aperfeiço-
                                para os talentos que, capazes de multiplicar resul-         amento de Pessoal de Nível Superior (Capes), foi a
                                tados, pudessem gerar condições favoráveis para o           Graduação Sanduíche, em que, após um amplo pro-
                                crescimento de outros.                                      cesso de seleção, os melhores alunos de engenharia
                                   Durante esse período, o instituto incorporou, de         eram escalados para cursar o quarto ano no exterior.
                                forma mais efetiva, os conceitos da globalização a          Esse programa contribuiu para desenvolver parâme-
                                suas atividades, intensificando a constituição de par-      tros de comparação entre os cursos brasileiros e os
                                cerias nacionais e internacionais nas frentes de traba-     oferecidos no exterior.




                                128
O IEL integrou-se ainda ao Programa de Estímulo         No campo do empreendedorismo, as ações do            124. Empresas beneficiadas
                                                                                                                 pelo Programa Incubadora
ao Retorno de Talentos (Pert), que, lançado pelo MEC     IEL seguiram duas direções: a promoção de uma cul-      de Empresas
em 1995, destinava-se a doutorandos brasileiros no       tura empreendedora e a capacitação empresarial.         Fotografia, 1996

exterior que, tendo concluído os créditos, ainda não     No primeiro caso, foram contemplados o Projeto de
haviam iniciado a tese. O Sistema Indústria passou a     Empreendedorismo nas Instituições de Ensino, cuja
financiar a vinda desses estudantes para um mês de       meta era difundir essa cultura nos cursos de gradua-
imersão em setores industriais, com a perspectiva de     ção das universidades brasileiras, e o Projeto de Mo-
oferta de emprego caso o foco do trabalho fosse de       dernização das Universidades, que visava ao aperfei-
interesse daqueles segmentos específicos.                çoamento dos currículos universitários de forma a
    No âmbito da macrolinha Inovação e Transfe-          adequá-los às necessidades da indústria. Buscava-se
rência de Tecnologia, foi desenvolvida uma série de      ainda premiar as instituições que apresentassem os
ações, que tiveram como parceiros estratégicos a As-     melhores programas de empreendedorismo, apoiar
sociação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e         a estruturação de empresas juniores junto às uni-
Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei) e a As-       versidades e divulgar, por meio de programas de
sociação Brasileira dos Institutos de Pesquisas Tecno-   educação a distância, experiências mundiais bem-
lógicas (Abipt). E foi instituído o Programa de Capa-    sucedidas.
citação e Intercâmbio de Experiências Internacionais          No segundo, foram desenvolvidas várias ações,
de Sucesso em Interação Universidade-Indústria,          entre as quais o Programa Conselheiros Master, ado-
que posteriormente daria origem à Rede de Tecno-         tado em núcleos regionais a partir de 1996. Com o
logia (Retec), plataforma informatizada de gestão da     apoio do Sebrae, procurava-se estimular os empre-
oferta e demanda por informações e serviços.             sários de sucesso a disponibilizarem algumas ho-

                                                                                                          129
125. Armando Monteiro,         ras semanais de consultoria às pequenas e médias           financiar a realização de encontros empresariais de
presidente da CNI,
Luíz Inácio Lula da Silva,     empresas.20 Cursos, palestras, seminários e missões        negócios, notadamente vinculados a setores estraté-
presidente da República e      técnicas, no Brasil e no exterior, em parceria com as      gicos para o desenvolvimento industrial brasileiro.
Eduardo Campos,
governador do Estado de        melhores escolas de negócio do mundo – o Interna-              Em âmbito federal, foi aprovado, em dezembro de
Pernambuco, em visita
a uma escola do Senai,
                               tional Institute for Management Development (IMD),         2000, o Programa de Estímulo à Interação Universida-
Petrolina, PE                  na Suíça, e o Institut Européen d’Administration des       de-Empresa para Apoio à Inovação,21 que tinha como
Miguel Ângelo
Fotografia, 4 de setembro de   Affaires (Insead), na França –, serviam para elevar a      objetivo estimular o desenvolvimento tecnológico
2007                           competitividade das empresas brasileiras.                  brasileiro mediante programas de pesquisa científica
                                   A capacitação empresarial era buscada ainda por        e tecnológica. Os recursos para os projetos decorren-
                               meio de alianças com os principais mestrados bra-          tes desse programa seriam geridos pelo Fundo Verde
                               sileiros em Administração de Negócios – Master in          Amarelo (FVA).22 Por outro lado, a desvalorização do
                               Business Administration (MBAs). Essas ações tinham         real, as crises internacionais, as deficiências adminis-
                               como principais projetos estruturais: Capacitação          trativas como a que levou à crise de abastecimento
                               Empresarial para Micro e Pequenas Empresas, que,           de energia elétrica – o “apagão” de 2001 – e princi-
                               em parceria com o Sebrae, era desenvolvido pelos           palmente o fraco crescimento econômico durante o
                               núcleos regionais do IEL; Globalizing the Brazilian        segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso
                               Corporation in the 21st Century, programa de educa-        concorreram para fortalecer a oposição ao governo.
                               ção executiva realizado no IMD; e Gestão Estratégica           Depois de derrotado nas três eleições anteriores,
                               para Dirigentes Empresariais, no Insead.                   Luiz Inácio Lula da Silva candidatou-se à Presidência
                                   O IEL veio intensificando a interação entre a indús-   da República, em 2002, com um discurso moderado.
                               tria e os centros de conhecimento, de modo a cons-         E, fazendo novos acordos políticos e prometendo
                               cientizar o empresariado brasileiro para o empreen-        ortodoxia econômica, respeito aos contratos e o re-
                               dedorismo e a inovação nas empresas. Os cursos de          conhecimento da dívida externa do país, acabou por
                               Capacitação Empresarial oferecidos pelo instituto,         conquistar a confiança de parte do empresariado e
                               que desempenham papel estratégico no aumento               de camadas de renda média. Seu modo simples e di-
                               da competitividade industrial e no desenvolvimen-          reto de se dirigir ao eleitorado ajudou-o a angariar
                               to sustentável do Brasil, têm sido imprescindíveis         votos entre as classes populares. Eleito com uma
                               no combate às principais causas da mortalidade de          significativa vitória, Lula assumiu a Presidência em
                               empresas, tais como a falta de conhecimentos sobre         janeiro de 2003, tendo como vice o senador mineiro
                               gestão de negócios e de informações estratégicas           e empresário do setor têxtil José Alencar Gomes da
                               para tomada de decisões.                                   Costa, do Partido Liberal, com o qual o Partido dos
                                   No âmbito do Programa AL-Invest, criado pela Co-       Trabalhadores havia feito aliança.
                               missão Européia em 1993, foi instituído o Eurocentro           A primeira mensagem presidencial enviada ao
                               de Cooperação Empresarial IEL Brasil, que passou a         Congresso enfatizava o compromisso do governo
com o desenvolvimento por meio da inovação, ex-                     126. Cartaz do projeto IEL-
                                                                    Apex, 2002
presso no capítulo Ciência e Tecnologia para o De-
senvolvimento Nacional.                                             127. Logomarca de
                                                                    promoção da Cooperação
                                                                    Empresarial entre Europa e
                                                                    América Latina, 2001
   Os gastos em C&T serão tratados não como custos
   correntes, mas como investimento num futuro melhor
   para o país. A grande meta instrumental dessa política
   será aumentar progressivamente o porcentual do PIB
   aplicado em P&D, saltando de 1% para algo próximo
   de 2% ao final do mandato do atual governo.23


    Como medida concreta, foi criada a Rede Brasil de
Tecnologia (RBT),24 que, propiciando uma interação
eficiente entre governo, empresas, agentes financei-
ros, universidades e centros de pesquisa, destinava-
se a promover a tecnologia nacional e executar uma
política ativa de substituição seletiva de importações.
De acordo com o ministro de Ciência e Tecnologia da
época, Roberto Amaral,

   a política de substituição seletiva de importações sig-
   nifica introduzir valor e inovação à produção industrial
   brasileira para que ela se torne mais competitiva no
   mercado internacional e possa produzir peças e equi-
   pamentos que hoje são importados.25


   Na época, a expectativa da CNI era de que a ex-
pansão do projeto Rede Brasil de Tecnologia, con-
templando os principais arranjos produtivos, preen-
chesse adequadamente o nicho da substituição de
importações. Em 2003, pretendendo atuar na formu-
lação de estratégias sobre matérias de interesse da
indústria e da economia brasileira, a CNI criou o Fó-
rum Nacional da Indústria, “que mobilizou dezenas de

                                                              131
128. Carlos Roberto Rocha     organizações empresariais e centenas de empresários         Finalmente, depois da elaboração dos manuais, foi
Cavalcante, superintendente
do IEL a partir de dezembro   para uma reflexão conjunta sobre o futuro da indústria      possível dar início à capacitação de equipes para a
de 2003                       e do país” (CNI, 2005, p. 9). Tratava-se, então, de apro-   implementação desses programas.
Miguel Ângelo
Fotografia                    fundar as questões sobre os                                     Em dezembro de 2004, o governo federal criou
                                                                                          a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial
129. Reunião de estagiários
Fotografia, 2006                 objetivos, metas e programas capazes de consolidar       (ABDI),26 com a missão de promover a execução da
                                 o Brasil como uma economia competitiva, inserida na      Política Industrial do Brasil, em consonância com as
                                 sociedade do conhecimento e base de uma das princi-      diretrizes para as áreas de comércio exterior e de ci-
                                 pais plataformas da indústria mundial: inovadora, com    ência e tecnologia. Nesse mesmo ano, a convite do
                                 capacidade de crescer de forma sustentável, com mais     ministro da Educação, Tarso Genro, o Sistema Indús-
                                 e melhores empregos (CNI, 2005, p. 9).                   tria – CNI, federações de indústria, IEL, Senai e Sesi
                                                                                          – participou dos debates sobre a reforma da edu-
                                  Em dezembro de 2003, assumiu a superintendên-           cação superior, em que apresentou o documento
                              cia do IEL o engenheiro Carlos Roberto Rocha Caval-         Contribuição da Indústria para a Reforma da Educação
                              cante. Por orientação do presidente da CNI, Armando         Superior: “A contribuição da indústria está acima de
                              de Queiroz Monteiro Neto, os primeiros anos da nova
                              gestão seriam dedicados à consolidação institucio-
                              nal, por meio da transformação da rede de núcleos
                              regionais em um sistema presente e bem articulado
                              nas 27 unidades da federação. Como conseqüência
                              dessa política foi criada a unidade do IEL em São Pau-
                              lo, reestruturado o escritório do Rio Grande do Sul e
                              promovida a constituição formal do núcleo do Rio de
                              Janeiro.
                                  Respaldada por uma reflexão sobre a missão e
                              a estratégia institucional e pela análise crítica dos
                              programas realizados pelos diversos núcleos, a nova
                              gestão empreendeu os primeiros passos em dire-
                              ção à construção do planejamento sistêmico do IEL.
                              Primeiramente foram selecionados os programas e
                              ações regionais que poderiam ser replicados. Deco-
                              dificadas as respectivas metodologias geradoras, fo-
                              ram discutidos os aperfeiçoamentos e as adequações
                              necessárias para sua aplicação em âmbito nacional.

                              132
preconceitos e de interesses particulares. O Sistema CNI                                                             130. Presidente Armando
                                                                                                                     Monteiro Neto entrega ao
espera ser esse locus de construção do futuro do Brasil,                                                             ministro da Educação, Tarso
                                                                                                                     Genro, propostas do setor
cujo pilar é a Educação” (CNI, 2004, p. 7).
                                                                                                                     produtivo para a reforma do
                                                                                                                     ensino superior
                                                                                                                     Fotografia, novembro de 2004
    A proposta esboçava seis grandes desafios: insti-
tuir novo marco regulatório para avaliar o desempe-
nho das Instituições de Ensino Superior (IESs); imple-
mentar um processo de autonomia no conjunto das
universidades; desenvolver pesquisa básica e aplica-
da, cuja utilidade social e econômica estivesse vin-
culada ao ”projeto de nação”; aperfeiçoar os critérios
de credenciamento e de avaliação praticados pelo
sistema de educação superior; estabelecer padrões
educacionais compatíveis com a sociedade da infor-
mação e do conhecimento; ampliar a oferta de edu-
cação superior na área tecnológica. No documento
sublinhava-se a necessidade de que se estabelecesse        gionais”. E enfatizava-se a “adequação dos conteúdos
uma relação estreita entre conhecimento, educação          programáticos da educação superior aos requisitos da
e desenvolvimento.                                         sociedade do conhecimento e a disseminação de uma
                                                           cultura empreendedora em todos os níveis educacio-
   A informação e o conhecimento passaram a ser as ba-     nais” (CNI, 2004, p. 26; 35).
   ses fundamentais para o desenvolvimento. A indústria       No que concerne à implementação de padrões
   vive um processo de transformação no qual os seus       educacionais compatíveis com a sociedade da infor-
   principais ativos deixaram de ser máquinas e prédios    mação e do conhecimento, a CNI reafirmou a neces-
   e passaram a se concentrar em ativos intangíveis como   sidade da interação empresa-universidade, por meio
   capital humano, capacidade de executar processos e      da implantação de incubadoras nas universidades,
   de inovar (CNI, 2004, p. 9).                            da oferta de estágio e da geração de conhecimento
                                                           voltado para a inovação tecnológica e para a gestão
    Além disso, em virtude da necessidade de melhor        empresarial. Para a ampliação da oferta de educação
adequar o ensino superior às realidades regionais, no      superior a distância, os industriais prontificaram-se a
documento defendia-se “a flexibilização da obrigato-       apoiar o MEC na construção da Universidade Aberta
riedade da Universidade aplicar-se a Ensino, Pesquisa e    do Brasil.
Extensão, permitindo que se dedique àquelas funções            Em 2005, a CNI publicou o Mapa Estratégico da
mais ligadas à sua vocação, recursos e necessidades re-    Indústria: 2007-2015,27 no qual era proposto um sis-

                                                                                                              133
131. Paulo Afonso Ferreira,     tema de gestão que pudesse garantir o acompanha-        mico. A única opção para a indústria brasileira era tor-
diretor-geral do IEL a partir
de 2008                         mento periódico da evolução dos indicadores dos         nar-se de classe mundial. No rastro dessas convicções,
Fotografia                      objetivos estratégicos definidos pelo Fórum Nacional    o governo promulgou, em dezembro desse mesmo
132. Apresentação dos           da Indústria. Além disso, resultado de um cuidadoso     ano, a chamada Lei de Inovação,28 que dispunha sobre
mapas estratégicos do
Sistema Indústria. Da direita
                                processo de elaboração da comunidade industrial,        incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnoló-
para a esquerda: Alexandre      no documento destaca-se a educação e o conheci-         gica no ambiente produtivo. Buscava-se, assim,
Furlan, Carlos Cavalcante,
Antônio Carlos Brito Maciel,    mento como os pilares críticos e determinantes para
Regina Torres e Carlos          o aumento da competitividade e da capacidade de            estimular e apoiar a constituição de alianças estraté-
Aragão
Fotografia, 1º de agosto de     inovação das empresas.                                     gicas e o desenvolvimento de projetos de cooperação
2006
                                    As convergentes opiniões entre os industriais e o      envolvendo empresas nacionais, centros de ciência e
                                governo apoiavam-se no pressuposto de que tanto o          tecnologia e organizações de direito privado sem fins
                                conhecimento deveria servir como instrumento para          lucrativos voltadas para atividades de pesquisa e de-
                                a competitividade como era necessária uma estreita         senvolvimento, que objetivassem a geração de produ-
                                articulação entre educação e desenvolvimento econô-        tos e processos inovadores.




                                134
133. Capas do Mapa
                                                                                                                       Estratégico da Indústria
                                                                                                                       2007-2015 e do novo
                                                                                                                       Estatuto do IEL, 2006

                                                                                                                       134. Coleção O Futuro da
                                                                                                                       Indústria, da série Política
                                                                                                                       Industrial, Tecnológica e de
                                                                                                                       Comércio Exterior, lançada
                                                                                                                       em 2004




   E concediam-se                                            a direção-geral passou a ter seu titular escolhido por
                                                             eleição pela Assembléia Geral da entidade.31 Com
   recursos financeiros, humanos, materiais ou de infra-     isso, Armando de Queiroz Monteiro Neto, presidente
   estrutura, a serem ajustados em convênios ou contra-      da CNI, foi sucedido, em 2008, por Paulo Afonso Fer-
   tos específicos, destinados a apoiar atividades de pes-   reira na direção-geral do IEL.
   quisa e desenvolvimento, para atender às prioridades          Em consonância com o Mapa Estratégico da In-
   da política industrial e tecnológica nacional.29          dústria, uma nova visão do planejamento estratégico
                                                             do IEL promoveu o alinhamento das estratégias da
   Para que o potencial econômico da produção                entidade com as metas do Sistema Indústria. Com
científica brasileira fosse inteiramente desenvolvi-         o foco no aperfeiçoamento da gestão e capacitação
do e aproveitado pela sociedade, eram necessárias            dos empresários e gestores, o IEL passou a consoli-
ações que fortalecessem o ciclo de inovação e o am-          dar linhas de atuação dirigidas ao desenvolvimento
biente atual, com a criação dos Fundos Setoriais e o         empresarial, à inovação e ao empreendedorismo, va-
debate em torno da Lei de Inovação. Com esse obje-           lorizando a autonomia de gestão de suas unidades
tivo, a CNI instituiu, em 2005, o Fórum Brasil de Ino-       regionais, com diretrizes sistêmicas, mas respeitando
vação, que, mobilizando dezenas de organizações e            as peculiaridades de cada região.
empresários, abriu espaços para uma reflexão sobre               Por meio da metodologia do Balanced Scored Card
o futuro da indústria no Brasil.                             (BSC), foi elaborado, em 2006, o Mapa Estratégico do
   Em 2006, o IEL ganhou um novo estatuto que,               IEL: 2007-2010, destacando como missão do instituto
além de oficializar e regulamentar a participação de         “promover o aperfeiçoamento da gestão e a interação
representantes de entidades externas ao Sistema              entre as empresas e os centros do conhecimento, contri-
Indústria no Conselho Superior, alterou a forma de           buindo para a competitividade da indústria brasileira”,
preenchimento do cargo de diretor-geral. Até então           dentro da visão prospectiva de “ser referência nacio-
exercida automaticamente pelo presidente da CNI,30           nal no aperfeiçoamento da gestão, na capacitação em-

                                                                                                                135
135. Promoção da            presarial e na interação entre as empresas e os centros
Plataforma Brasil-Europa,
2005                        de conhecimento”. Esse instrumento deu respaldo à
                            atuação sistêmica, fazendo com que a entidade fosse
                            adquirindo uma nova dinâmica e, portanto, condi-
                            ções de atingir patamares mais ousados no cumpri-
                            mento de sua missão.
                                Em 2006 começaram a ser operacionalizadas as co-
                            missões de planejamento do Sistema IEL, em versões        criar funções voltadas para o mercado, que possibili-
                            regionais e nacional, que passariam a acompanhar a        tassem a capacitação da equipe técnica, a dissemina-
                            gestão estratégica da instituição, com indicadores e      ção de boas práticas e maior integração dos núcleos
                            objetivos comuns. Na dinâmica de funcionamento,           regionais. A ênfase em resultado e sustentabilidade
                            os líderes escolhidos pelas Comissões Regionais de        levou, em 2007, ao estabelecimento da Rede IEL de
                            Planejamento (CRPs) apresentam à Comissão Nacio-          Mercado, cuja idéia-força, voltada para as ações de-
                            nal de Planejamento (CNP) propostas e prioridades         mandadas pelo mercado, visa à maior competitivida-
                            estabelecidas nas reuniões de acompanhamento es-          de empresarial.
                            tratégico das cinco regiões, com o objetivo de definir        Destacou-se no período o esforço de construção
                            e construir programas sistêmicos. A criação dessas        de um sistema baseado na adesão voluntária, no res-
                            comissões foi um passo importante na consolidação         peito às singularidades regionais, na valorização do
                            e fortalecimento do Sistema IEL. Ao mesmo tempo           coletivo sobre o individual, na complementaridade
                            que se constroem programas nacionais, preservam-          às ações do Sesi, Senai, de federações, sindicatos e da
                            se ações específicas para atender às necessidades e       CNI. Era o início de um processo sistêmico de gestão
                            vocações de cada estado e região.                         fortemente focada em sustentabilidade institucional
                                Com essa transformação, os núcleos regionais          e financeira.
                            passaram a monitorar seus objetivos com o BSC, fer-           O instituto empreendeu programas de educa-
                            ramenta empregada na gestão de indicadores estra-         ção a distância que, voltados para a capacitação de
                            tégicos sistêmicos. Com isso, cada regional passou a      colaboradores do Sesi, Senai, CNI, federações e do
                            introduzir os resultados dos indicadores no sistema,      próprio IEL, tenderiam a maximizar a integração do
                            comparando sua performance com a do conjunto              trabalho das várias entidades do Sistema Indústria.
                            dos núcleos regionais. O modelo de gestão estabe-         Foram também envidados esforços para a capaci-
                            leceu o comprometimento de cada regional com o            tação de equipes na gestão de projetos, conferindo
                            resultado global do sistema.                              prioridade à qualidade da prestação de serviços.
                                Após a realização de workshops para a definição           Em 2007, o presidente da República reeleito, Luiz
                            de objetivos, produtos, serviços e processos, foi ob-     Inácio Lula da Silva, iniciou seu segundo mandato.
                            servada a necessidade, em todo o Sistema IEL, de          O significativo apoio popular, aliado a uma política

                            136
externa de vocação humanista, fez com que o go-         tituições que têm interesse em promover parcerias          136. Maria do Carmo Ferreira
                                                                                                                   da Silva, a Kaká, presidenta
verno brasileiro se fizesse mais respeitado no cená-    industriais com o Brasil.                                  da Mesorregião dos Vales do
rio internacional.                                          Com o intuito de reduzir desigualdades, o gover-       Jequitinhonha e do Mucuri
                                                                                                                   (Mesovales), uma das
     Inserido no contexto da globalização, o Brasil     no federal deu ênfase também a planos e programas          idealizadoras da Unidade
                                                                                                                   de Comercialização de
partiu para a recuperação política e comercial do       regionais de desenvolvimento. Com o Ministério da
                                                                                                                   Artesanato, Minas Gerais
Mercosul, reforçando e ampliando as relações com        Integração Nacional (MI), o IEL implementou na me-         Nélio Rodrigues
                                                                                                                   Fotografia, 2007
os vizinhos, visando a uma efetiva integração da re-    sorregião dos vales do Jequitinhonha e do Mucuri32
gião, inclusive por meio de obras de infra-estrutura.   – considerada uma das mais carentes do país – proje-
Além disso, os interesses do país passaram a ser de-    tos nas áreas de apicultura; aqüicultura e piscicultura;
fendidos em todas as instâncias de negociação, des-     fruticultura; cachaça artesanal; madeira e confecção
de a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) até a   de móveis; além de gemas e artesanatos de pedra.33
Organização Mundial do Comércio (OMC).                  A iniciativa, em fase de conclusão, visa estimular em-
    Na interação do Brasil com o mundo, o IEL criou     preendimentos produtivos capazes de dinamizar a
e operou a Plataforma Brasil-Europa, que nasceu de      atividade econômica na região, com foco nos micro
um convênio firmado com CNI, Sesi e Senai. Orienta-     e pequenos empreendedores. Respeitando-se a cul-
da para a formação de pontos de apoio, chamados         tura e a vocação regionais, foram planejadas ações
de “antenas”, a plataforma aproxima pessoas e ins-      capazes de organizar pessoas e instituições locais e




                                                                                                            137
137. APL de confecção em   criar uma ambiência cooperativa, dotando os pro-           fortalecimento da imagem e da identidade cultural
São João Nepomuceno, MG
Fotografia, 2007           dutores de instrumentos adequados de gestão dos            da região.
                           negócios.                                                       A crise energética de 2001 veio reforçar a preo-
                               Outra ação com foco no empreendedorismo so-            cupação governamental, que se traduziu na Lei de
                           cial e aumento da competitividade de micro e pe-           Eficiência Energética,34 cuja regulamentação foi ini-
                           quenos negócios, o projeto piloto Empreende Cul-           ciada com os motores elétricos. Antecipando-se às
                           tura, desenvolvido pelo IEL em parceria com o Sesi,        novas diretrizes legais referentes a transformadores
                           estimula a aproximação da indústria com agentes            de distribuição, a CNI, o IEL e a Eletrobrás desenvol-
                           culturais de diferentes regiões e sua capacitação para     veram, mediante convênio, o Projeto Qualidade e Efi-
                           gerar diferenciais competitivos na produção artesa-        ciência Energética dos Transformadores de Distribui-
                           nal e industrial local. Essa estratégia inovadora para o   ção, com o objetivo de modernizar e aprimorar esses
                           desenvolvimento regional busca aproximar, das em-          equipamentos, muitos dos quais com acentuados
                           presas integrantes de APLs, ações desenvolvidas nos        níveis de perda de energia. Além de garantir padrões
                           pontos de cultura, usando como elemento indutor o          mínimos de segurança, qualidade e eficiência dos




                           138
138. Inauguração do IEL-SP,
                                                                                                                  em 24 de abril de 2007.
                                                                                                                  Da esquerda para direita:
                                                                                                                  Paulo Afonso Ferreira,
                                                                                                                  Armando Monteiro, Paulo
                                                                                                                  Skaf e Carlos Cavalcante,
                                                                                                                  São Paulo.
                                                                                                                  Miguel Ângelo
transformadores, o projeto incluiu a regulamentação                                                               Fotografia

e etiquetagem,35 o que contribuiu para aumentar a                                                                 139. Capa da revista
                                                                                                                  Interação, julho 2007
competitividade da produção nacional desses equi-
pamentos e a qualidade dos serviços de distribuição
de energia, benefícios que são estendidos às cadeias
produtivas demandantes de energia elétrica.
    Também em parceria com a Eletrobrás, o IEL pas-
sou a contribuir com a capacitação de agentes indus-
triais de nível médio em otimização energética de
sistemas motrizes. Apoiado em consultoria do Senai,
tornou acessível para os trabalhadores mais simples
publicações técnicas sobre esses sistemas. Para tan-
to, foram elaborados, em linguagem fácil e objetiva,
11 guias técnicos.                                            Cerca de 1 milhão e 200 mil alunos já passaram
    O Projeto Eficiência Energética na Indústria foi ao   pelos programas de estágio do IEL. Com 50.952 em-
encontro das iniciativas governamentais sistemati-        presas parceiras e 11.714 instituições de ensino con-
zadas pelo Programa Nacional de Conservação de            veniadas, o programa é atualmente oferecido nos
Energia Elétrica (Procel) e pelo Programa de Desen-       escritórios regionais do IEL, entre os quais o de São
volvimento Tecnológico e Industrial (PDTI).               Paulo que, inaugurado em abril de 2007, marca a pre-
    Nesta nova fase da instituição, o tradicional pro-    sença do IEL em todo o Brasil.
grama de estágio passa por mudanças demanda-                  Como forma de difundir experiências vencedoras,
das pelo mercado. Com o objetivo de construir uma         foi lançado em 2007, com base em experiências bem-
identidade nacional e fortalecer sua imagem, o IEL        sucedidas realizadas em alguns núcleos regionais, a
conclui, em 2008, o Sistema de Gestão de Estágio          versão nacional do Prêmio IEL Melhores Práticas de
(SGE), uma ferramenta que sistematiza os proces-          Estágio, que ocorre anualmente em duas etapas: es-
sos e procedimentos do programa, proporcionando           taduais e nacional. Na primeira e segunda edições,
mais controle e agilidade das ações e aprimorando a       do conjunto de empresas inscritas em cada estado
interação entre as escolas, os estagiários, as empre-     participante foram escolhidos três finalistas nas ca-
sas e o instituto.                                        tegorias micro e pequena empresa, média empresa

                                                                                                           139
140. Ganhadores do Prêmio      e grande empresa. Os vencedores estaduais concor-       o programa, que em sua primeira edição capacitou
IEL Melhores Práticas de
Estágio, área de alimentação   rem na etapa nacional.                                  mais de 2.200 empresários, entra em sua segunda
Miguel Ângelo                      O Prêmio IEL Melhores Práticas de Estágio, que      edição, com apoio das melhores instituições de en-
Fotografia, dezembro de 2007
                               surgiu da preocupação com a qualidade das experi-       sino superior do país, oferecendo cursos técnicos ou
                               ências realizadas pelos alunos, prioriza práticas que   de pós-graduação nas áreas de gestão de projetos,
                               apresentam resultados consistentes para as empre-       produção, finanças, administração, marketing e re-
                               sas. A premiação tornou-se, assim, um instrumento       cursos humanos, incluindo conteúdos adequados às
                               para a modernização dos programas, indo ao encon-       necessidades das cadeias produtivas e ao desenvol-
                               tro das mudanças constantes da lei de estágio apro-     vimento de uma visão empresarial sistêmica. Progra-
                               vada em 2008.36                                         ma similar, em parceria com o Ministério da Ciência e
                                   Além da tradicional e cada vez mais intensa inte-   Tecnologia (MCT) e Sebrae, foi concebido pelo IEL e
                               ração com os centros de conhecimento por meio de        inicia sua primeira versão, desta feita com ênfase em
                               programas de bolsas e estágios, o IEL amplia e aper-    gestão da inovação. Serão capacitados 3.900 micro e
                               feiçoa significativamente sua atuação no desenvolvi-    pequenos empresários.
                               mento empresarial, promovendo a articulação insti-          A Educação Executiva ampliou seus programas,
                               tucional e a capacitação empresarial como condições     firmando parcerias com centros internacionais de re-
                               fundamentais para a competitividade das indústrias.     ferência na educação para os negócios. Funcionando
                               Assim, o IEL Nacional e seus núcleos regionais têm      em sintonia com as demandas empresariais, o pro-
                               ocupado cada vez mais espaço no cenário brasileiro      grama, destinado a altos executivos responsáveis por
                               relacionado à melhoria da gestão empresarial e da       decisões estratégicas no exercício de suas funções,
                               inovação. As oportunidades de mercado nesse cam-        tem facilitado a ida de gestores à Wharton School, da
                               po e a experiência acumulada pelo Sistema IEL, alia-    Universidade da Pensilvânia, e ao Insead, localizado
                               das à sua capilaridade, ensejam uma atuação mais        em Fontainebleau, França, e em Cingapura, institui-
                               consistente, sistêmica e integrada, no sentido de       ções que estão entre as melhores escolas de negócios
                               consolidar sua posição competitiva nesse mercado.       do mundo. O conteúdo dos programas centra-se em
                                   Na Educação Empresarial, o IEL ampliou, em          temas variados, como gestão empresarial, estratégia,
                               parceria com o Sebrae, o Programa de Capacitação        liderança e inovação, incluindo o debate de casos de
                               para Micro e Pequenas Empresas, que, voltado so-        sucesso no contexto específico dos negócios.
                               bretudo para aquelas localizadas no interior do país        Para complementar o atendimento na Educação
                               e vinculadas aos APLs, visa neutralizar a tendência     Empresarial, o IEL utiliza o suporte da educação a dis-
                               de as pequenas empresas brasileiras morrerem nos        tância, uma forma de ensino-aprendizagem que faz
                               primeiros anos de vida, por insuficiência de recursos   uso da educação on-line e do treinamento baseado
                               ou de qualificação dos empreendedores. Com base         em Web, para auxiliar empresários e gestores de mi-
                               em propostas elaboradas pelos núcleos regionais,        cro e pequenas empresas.

                               140
Aliado à Educação Empresarial, o IEL vem de-
senvolvendo também programas de consultorias a
indústrias no sentido de garantir a competitividade
dos negócios, seja de empresas isoladas ou inseridas
em arranjos produtivos locais ou em cadeias produ-
tivas. Dentre as iniciativas para vencer esses desafios,
está o lançamento, em 2007, do Programa IEL Desen-         grama Integrado de Desenvolvimento e Qualificação      141. Wharton School,
                                                                                                                  campus da Universidade da
volvimento e Qualificação de Fornecedores (PQF),           de Fornecedores (Planfor) do IEL/ES e no Programa      Pensilvânia, Estados Unidos
em âmbito nacional. Baseado em experiências bem-           de Qualificação de Fornecedores (PQF) do IEL/GO,       e sala de aula do Insead,
                                                                                                                  Fontainebleau, França
sucedidas nos núcleos regionais, sobretudo o Pro-          foi adotada uma metodologia flexível capaz de se       Fotografia
                                                           adaptar às especificidades de cada estado e região
                                                                                                                  142. Material de divulgação
                                                           do país. O programa visa a qualificar as micro e pe-   do Programa de Qualificação
                                                                                                                  de Fornecedores (PQF)
                                                           quenas empresas fornecedoras para atenderem a
                                                           demandas das grandes indústrias, aumentando a
                                                           competitividade das principais cadeias produtivas
                                                           mediante a qualificação da rede de fornecedores.
                                                           Busca ainda a melhoria da interação entre a empre-
                                                           sa compradora-âncora e sua cadeia de suprimentos,
                                                           elevando o grau de conectividade empresarial e de-
                                                           senvolvendo competências em pontos considerados
                                                           críticos para o sucesso da cadeia produtiva.
                                                               Cada dia mais, a inovação tecnológica vem sendo
                                                           fator de sobrevivência e elemento-chave para o su-
                                                           cesso das empresas brasileiras diante da concorrên-
                                                           cia internacional. Acreditando que inovação se faz
                                                           com informação, articulação e conhecimento, o IEL
                                                           ampliou seu apoio à indústria brasileira com progra-
                                                           mas especialmente concebidos para o seu desenvol-
                                                           vimento e competitividade.
                                                               A inovação é entendida pelo IEL em seu aspecto
                                                           tecnológico, mas também como apropriação e utili-
                                                           zação do conhecimento sobre novas formas de pro-
                                                           dução e comercialização de bens e serviços, e sobre
                                                           novos modelos de organização, gestão e negócio.

                                                                                                           141
143. Apresentação do Mapa
Estratégico da Indústria:
documento que norteam os
objetivos do IEL
José Paulo Lacerda
Fotografia, 2007




                               A inovação é o instrumento específico dos empreen-     elas próprias possam empreender, de forma direta,
                               dedores, o meio pelo qual eles exploram a mudança      esse diálogo.
                               como uma oportunidade para um negócio diferente            Outra importante iniciativa de incentivo à ino-
                               ou um serviço diferente (...) Os empreendedores pre-   vação nos negócios foi o lançamento do Programa
                               cisam buscar, com propósito deliberado, as fontes de   IEL Gestão da Inovação, integrado por três objetivos
                               inovação, as mudanças e seus sintomas que indicam      principais: estímulo ao protagonismo empresarial;
                               oportunidades para que uma inovação tenha êxito.       capacitação interna, voltada para os técnicos do
                               E os empreendedores precisam conhecer e pôr em         próprio IEL, e externa, por meio de cursos e eventos
                               prática os princípios da inovação bem-sucedida (DRU-   destinados aos empresários, inclusive com a produ-
                               CKER, 2008, p. 25).                                    ção de um guia de gestão da inovação; e prestação
                                                                                      de serviços em gestão da inovação, com o desenvol-
                               Assim, o IEL passou a estimular os núcleos regio-      vimento e a otimização de metodologias.
                            nais a sensibilizarem as empresas e a desenvolverem           Com base em levantamentos da Pesquisa Indus-
                            um trabalho para que estas pudessem compreender           trial de Inovação Tecnológica (Pintec) e do Instituto
                            o processo da inovação e seu caráter estratégico.         Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que de-
                            Essa forma de atuação visa capacitar as empresas          monstraram a modesta participação brasileira no
                            para desenvolverem seus próprios caminhos e me-           depósito de patentes, o IEL lançou, em 2006, o Pro-
                            canismos de relacionamento com áreas de fomento           grama de Propriedade Intelectual para a Indústria.
                            do governo, universidades e outras empresas com           Em convênio com Instituto Nacional de Propriedade
                            as quais possam desenvolver parcerias em inova-           Industrial (INPI) e o Senai, o instituto deu início à im-
                            ções. Com isso, na sua missão de interação entre as       plantação de núcleos de atendimento às indústrias
                            universidades e as empresas, o IEL tem desenvolvido       com o objetivo de disseminar nacionalmente o zelo
                            um processo de capacitação das empresas, para que         pela propriedade intelectual, o que contribui para

                            142
resguardar o direito de criação, combater a pirataria    e analisar tendências, cenários, políticas e ações ins-
e incentivar o registro de marcas e patentes. Ilustra    titucionais que causam impacto na indústria, além
os frutos colhidos dessa iniciativa a obtenção de re-    de desenvolver prospecções que contribuam para o
gistro de indicação geográfica para produtos dos         desenvolvimento industrial sustentável; Rede de Es-
arranjos produtivos de madeira e móveis, no Acre, e      tudos para o Desenvolvimento Industrial (Redi), res-
cachaça, na Paraíba.                                     ponsável por produzir informações que subsidiem a
    Ainda com foco em inovação, o IEL deu início à       formulação de projetos, programas e políticas para
construção da Rede de Articulação de Competências        promoção do desenvolvimento industrial brasileiro
para o Desenvolvimento Industrial e Tecnológico, ou      por meio de estudos sobre a política industrial, tec-
simplesmente Rede de Competências (Redecomp).            nológica e de comércio exterior; e a Rede Integrada
O projeto, de abrangência nacional, coordenado           de Serviços para a Indústria (Risi), plataforma capaz
pelo núcleo central do IEL e realizado em parceria       de gerenciar uma base estruturada de serviços e
com a Finep, a CNI, o Senai, federações de indústrias    conhecimento para o setor industrial, contribuindo
e núcleos regionais, foi criado para potencializar o     para reduzir barreiras ao compartilhamento de in-
desenvolvimento da indústria brasileira, por meio        formações e promover o aumento da competitivida-
da inteligência competitiva, da partilha de informa-     de das empresas.
ções, da leitura ambiental e de tendências, da cons-         A interação entre indústrias e instituições ligadas
trução de cenários futuros e da gestão da oferta e       à ciência, tecnologia e inovação – motivo pelo qual
demanda de serviços para a indústria.                    o IEL foi criado em 1969 – está fortemente presen-
     A Redecomp veio para subsidiar tanto o plane-       te na razão de existir da instituição até a atualidade.
jamento de empresas e setores produtivos como a          Por meio dessa interação é ampliada a capacidade
formulação de ações, programas e políticas focados       das empresas para inovar, e aberto o caminho para
no desenvolvimento industrial. Criando um ambien-        o aumento da produtividade e modernização dos
te inovador de aprendizagem e cooperação entre o         negócios.
meio empresarial, o governamental e os centros de            A promoção dessa interação, missão institucional
conhecimento, a rede tem o compromisso de con-           do IEL, prepara os empresários para vencer os desa-
tribuir ainda para a superação de desafios estratégi-    fios presentes e futuros. Somente por meio do diá-
cos da indústria. Foi, assim, concebida para articular   logo aberto e trabalho conjunto das indústrias com
competências existentes dentro e fora do Sistema In-     outras instituições, poder-se-á elevar a competitivi-
dústria, além de organizar e produzir informação es-     dade da indústria brasileira, melhorar a qualidade de
tratégica que possibilite a gestão do conhecimento.      vida da população e preparar o Brasil para responder
    A Rede de Competências foi estruturada em três       às exigências do mercado global, contribuindo assim
linhas de ação: Rede de Observatórios para o Desen-      para o projeto de país sonhado pelo Sistema Indús-
volvimento Industrial (Rodi),38 destinada a monitorar    tria e expresso no Mapa Estratégico da Indústria.

                                                                                                            143
144
Avanços e   desafios
            sofiased




                       145
146
Nos últimos tempos o Brasil conseguiu estabilizar    que o país está atualmente mais preparado para en-          144. Feixe de fibra ótica
                                                                                                                     Fotografia
a economia, manter o princípio da responsabilidade       frentar as adversidades.                                    Página 144
fiscal, reduzir a dependência de financiamento ex-          Para o economista André Biancareli,2 “o Brasil está
                                                                                                                     145. A ferramenta
terno, ampliar substancialmente sua participação no      menos vulnerável do que na segunda metade dos anos          estratégica da Vallée,
                                                                                                                     inteligência competitiva, foi
comércio internacional, obter superávits recordes da     90, por exemplo (...) mas a aversão ao risco dos investi-
                                                                                                                     o diferencial para a expansão
balança comercial e criar um ambiente favorável para     dores internacionais”3 deve fazer com que haja menos        Luciano Leal, fevereiro de 2008
                                                                                                                     Fotografia
investimentos. O desafio agora seria, aproveitando o     financiamento externo ao país nos próximos meses,
momento favorável do país, estimular o crescimento       o que significa certa dificuldade para dar andamento
do Produto Interno Bruto (PIB) e do emprego, inten-      aos grandes programas de infra-estrutura.
sificando a inclusão social e a melhoria na distribui-      O ex-ministro da Fazenda, Antônio Delfim Netto,
ção de renda.                                            assim se manifestou sobre a crise: “Vamos pagar o pre-
    Mas, no final de 2008, o mundo se viu envolto        ço da retração do mundo, mas estamos em condições
em uma grande turbulência econômica que che-             um pouquinho melhores que os outros e infinitamente
gou a ser comparada à quebra das bolsas de Nova          melhor do que estivemos no passado”.4 De acordo com
York em 1929. Trata-se de uma crise estrutural que       Ricardo Araújo,
despertou reflexões sobre o capitalismo e o papel
do Estado.                                                  para o Brasil as conseqüências de uma recessão nos
    Diferentemente de outras épocas, o Brasil apre-         Estados Unidos são pontuais, como o aumento do dó-
senta melhores condições de lidar com as adversida-         lar e o encarecimento do crédito no exterior. Quando
des impostas pela economia internacional. Embora            tudo se acalmar, os investidores vão procurar países
alerte para os fatores domésticos com potencial de          em crescimento para investir, como é o caso do Brasil
criar problemas no futuro, o Financial Times1 afirma        e da China.5

                                                                                                              147
Considerando essa perspectiva mais otimista,                   Por sua vez, a Petrobras é respeitada mundial-
como se daria o crescimento daqui para frente? Se-            mente pelo desenvolvimento e a inovação tecnoló-
gundo a visão de especialistas, a única forma de cres-        gica, sobretudo na exploração de petróleo em águas
cer neste mundo complexo passa por uma releitura              profundas e na produção de combustíveis alterna-
do cenário econômico e pelo desafio de as empresas            tivos. Em 2006, com o início da produção da plata-
adotarem uma prática de gestão que leve em conta o            forma P-50, na bacia de Campos, o Brasil atingiu a
indivíduo, seu senso crítico e sua criatividade.              auto-suficiência em petróleo. No ano seguinte, a
                                                              petroleira foi classificada como o sétimo maior pro-
   A atual crise do sistema financeiro internacional é a      dutor de petróleo do mundo, e em 2008 conquistou
   fase mais crítica do processo de transição da socieda-     o primeiro lugar, no ranking elaborado pela Mana-
   de industrial para a sociedade do conhecimento (...) Vi-   gement & Excellence, como referência mundial em
   vemos uma realidade complexa, para o qual os instru-       ética e sustentabilidade, considerando vários indi-
   mentos em vigor não servem. Temos que reconhecer a         cadores internacionais, entre os quais emissão de
   interdependência do mundo atual. Todas as soluções         poluentes, vazamento de óleo, baixo consumo de
   para a crise passam por interação (GUIMARÃES, 2008).       energia etc.
                                                                  Como mais um exemplo do sucesso nacional em
   Novas formas de gestão, empreendedorismo e                 inovação iniciado a partir do investimento público,
inovação destacam-se ainda mais como conceitos                tem-se a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer),
válidos não somente para resistir à desaceleração             com quase 40 anos de experiência em projeto, fabri-
mundial como para enfrentar a nova fase do desen-             cação, comercialização e pós-venda de aviões, e ex-
volvimento capitalista que se anuncia.                        pressiva presença no mercado internacional.
   Nos setores da economia brasileira em que a ino-               E o Brasil continua investindo no campo da inves-
vação é amplamente reconhecida, o investimento                tigação científica e tecnológica. Depois de instituir a
público esteve na gênese desse avanço. Com respeito           Rede de Apoio a Planos de Reestruturação e Expan-
às telecomunicações, os serviços e pesquisas come-            são das Universidades Federais (Reuni),6 o governo
çaram a ser realizados por empresas públicas, esta-           criou, no âmbito do Programa Expandir, novas uni-
duais e federais, posteriormente reunidas no chama-           versidades federais em várias cidades-pólo no interior
do Sistema Telebrás, empresa gestora dos recursos do          do país, das quais quatro estão sendo construídas:
Fundo para Universalização do Sistema de Telecomu-            Universidade Federal do ABC (UFABC), Universida-
nicações (Fust). Administrando uma extensa malha              de Federal do Pampa (UFP), Universidade Federal da
de fibras óticas, implantadas nas torres da Eletronet         Grande Dourados (UFGD), Universidade Federal do
e redes da Petrobras, a Telebrás viabiliza uma grande         Recôncavo Baiano (UFRB). E outras seis, resultado da
infovia que permitirá a inclusão digital de populações        transformação de faculdades isoladas preexistentes,
assentadas em localidades remotas do país.                    estão sendo implantadas no Triângulo Mineiro, no

148
Paraná, no Semi-Árido, nos vales do Jequitinhonha e        Postula-se que o Estado brasileiro precisa não        146. Plataforma 51,
                                                                                                                 Petrobrás
Mucuri, em Alfenas e em Porto Alegre. A meta é que      apenas injetar dinheiro, mas sobretudo criar políticas   Felipe Dana
a reforma universitária possibilite a abertura de 125   de estímulo à inovação. E que o avanço nesse campo       Fotografia, 9 de dezembro
                                                                                                                 de 2008
mil novas vagas, nos próximos cinco anos.               deveria se dar em três frentes: alocação de recursos
   Apesar disso, o país ainda tem um longo percur-      nas empresas, permitida por lei desde 2001;7 cons-
so a trilhar no campo da inovação. Segundo a edição     cientização das universidades e centros de pesquisa
mais recente do Global lnformation Technology, um       sobre o seu papel na produção de inovação; e de-
estudo do Fórum Econômico Mundial, o Brasil per-        senvolvimento de políticas de incentivo, como enco-
deu posições no ranking da tecnologia, ficando atrás    mendas tecnológicas, isenções fiscais etc.
de países como Jordânia, Malásia, Chile e Arábia Sau-      Mesmo os Fundos Setoriais não estão conseguin-
dita. O documento compara o impacto da tecnologia       do incentivar a geração de processos e produtos ino-
da informação e das comunicações no processo de         vadores nas empresas, pois grande parte dos recursos
desenvolvimento e de competitividade de países.         disponíveis nesses fundos é apropriada pelas univer-




                                                                                                          149
150
sidades e instituições de pesquisas, mais preparadas            da evolução dos indicadores dos objetivos traçados,            147. Aviões Embraer 170
                                                                                                                               e 190
para atender às exigências dos editais públicos.                que possibilitou corrigir ações e alterar rotas, alme-
                                                                jando superar os desafios propostos para 2015.
   O país precisa encontrar o ‘caminho das pedras’ e isto
   demanda um conjunto de investimentos para reforçar              O ambiente industrial vem apresentando crescentes
   a estrutura institucional e científica construídas ao lon-      níveis de exigência e de complexidade no trabalho, em
   go dos anos, e mais ainda, para integrá-las ao aparato          função da velocidade e profundidade com que vêm
   produtivo – seja por meio da interação com as empre-            sendo incorporadas inovações tecnológicas e novas
   sas, seja pelos spin-offs, seja pela absorção dos profis-       formas de organização da produção. As competên-
   sionais acadêmicos no quadro de recursos humanos                cias dos trabalhadores geradas e mobilizadas nesse
   das empresas – visando reforçar a infra-estrutura de            contexto tendem a se modificar constantemente. São
   P&D e a própria inovação gerando não só um ambien-              valorizadas competências (...) específicas e de gestão,
   te para que sejam formados novos empreendedores,                atitudes relacionadas à iniciativa, criatividade, solução
   mas também para atrair empreendedores inovadores                de problemas e autonomia e valores relacionados à
   (CORDER, 2004, p. 188).                                         ética e responsabilidade (CNI, 2005, p. 33).


    Como forma de participação ativa nos debates e                 No que concerne especificamente à questão edu-
ações em torno do tema, o Fórum Brasil de Inovação              cacional, no documento afirma-se:
da Confederação Nacional da Indústria (CNI) definiu
metas e programas capazes de consolidar o Brasil                   elevar a qualidade da educação básica permitirá ao
como uma economia competitiva, inserida na socie-                  país aumentar o estoque de capital humano com efei-
dade do conhecimento e, principalmente, dotada de                  tos diretos nas estratégias da indústria para melhorar a
um sistema de gestão para o acompanhamento de                      produtividade e a qualidade e estimular a atividade de
sua implementação. Segundo diagnóstico do fórum,                   inovação nas empresas.
de um lado, o setor produtivo precisa enfrentar um
sistema tributário obsoleto, um déficit de infra-estru-            Quanto ao ensino superior, “os conteúdos acadê-
tura básica e tecnológica, um financiamento caro e              micos devem ser reformados para incluir habilidades e
inadequado e, principalmente, uma educação defa-                novas competências (...) orientados à utilização prática
sada e ineficiente; de outro, precisa se qualificar para        dos conhecimentos teóricos” (CNI, 2005, p. 32). Além
a economia do conhecimento e investir nas fontes                disso, foi recomendada a promoção do empreende-
que favoreçam a capacidade de inovação das em-                  dorismo na educação, o que implica
presas. Uma das principais contribuições do evento,
cujos resultados foram resumidos no Mapa Estraté-                  desenvolver valores para criar a prática de comporta-
gico da Indústria 2007-2015, foi o acompanhamento                  mentos individuais na busca de soluções e iniciativas

                                                                                                                       151
148. Coopnatural,                na gestão do próprio negócio, na participação e orga-   ção dos empreendimentos que as cercam. Trata-se
cooperativa de confecção de
roupas feitas com algodão        nização das formas de geração de renda e emprego e      de criar condições para que empresas, de todos os
colorido, Paraíba                na condição de cidadão ativo, como empreendedor         portes, setores e regiões do país, modernizem seus
Fotografia
                                 social (CNI, 2005, p. 34).                              sistemas de gestão e capacitem os trabalhadores
                                                                                         empresários.
                                  O país só poderá crescer no mundo globalizado              Com isso, a atuação do IEL tem sua importância
                              se a maioria de suas empresas conseguir avançar em         ampliada pois, além de estimular a cultura empreen-
                              termos de capacidade de gestão e agregação de tec-         dedora, a entidade estimula ambientes propícios a
                              nologia. Mas o Brasil apresenta contrastes: empresas       inovações nas empresas.
                              de excelência internacional convivem lado a lado               O IEL, por meio do núcleo regional do Paraná,
                              com outras que sequer estão inseridas no processo          participa anualmente do Global Entrepreneurship
                              para atingi-la. Não inovam, não desenvolvem ações          Monitor (GEM-Brasil), que faz o mapeamento nacio-
                              na área de tecnologia, não estudam o mercado, nem          nal do setor e fornece informações para o GEM-Inter-
                              fazem planejamento estratégico.                            national, documento que consolida os dados de 33
                                  Os industriais participantes do fórum entende-         países.
                              ram que, embora a competitividade da indústria bra-            Segundo avaliação feita pela GEM, em 2004 o Bra-
                              sileira dependa de questões macroeconômicas, esta          sil constituía o segundo maior país empreendedor
                              resulta principalmente dos sistemas de gestão e ino-       entre todas as nações pesquisadas, perdendo apenas
                              vação. Enquanto as pequenas e micro empresas que           para os Estados Unidos. E, a cada ano, contabilizam-
                              investiram em inovação e tiveram como foco a mo-           se novos empresários, com diferentes perfis e carac-
                              dernização da gestão estão conseguindo se manter           terísticas peculiares, que apresentam negócios pró-
                              competitivas, a despeito da existência de entraves         prios. No entanto, a falta de condições como logística
                              econômicos, as que têm negócios lucrativos mas não         de transporte, rede de comunicações, um sistema tri-
                              investiram em inovação estão sendo compradas por           butário estimulante e apoio financeiro, além da baixa
                              grandes multinacionais.                                    capacitação dos recursos humanos, contribuem para
                                  Diante desse quadro, é preciso enfrentar o desafio     inibir as iniciativas ou para encurtar a existência de
                              de fazer com que as empresas dêem um salto no que          grande parte dos empreendimentos.
                              diz respeito ao aprimoramento da gestão, o que po-             De acordo com pesquisa recente da GEM, hou-
                              derá garantir uma adequada contribuição ao pleno           ve maior abertura de novos negócios no Brasil. Em
                              desenvolvimento do país. Para isso, torna-se neces-        2007, aproximando-se mais das nações mais empre-
                              sário não somente aumentar os investimentos nas            endedoras do mundo, o país passou do 10º para o 9º
                              empresas menores, como também fazer com que                lugar. São cerca de 15 milhões de empreendedores
                              as grandes companhias venham a colaborar para              iniciais,8 ou seja, 12,72% dos 118 milhões de brasi-
                              beneficiar o seu entorno, favorecendo a moderniza-         leiros com idades entre 18 e 64 anos. Na categoria

                              152
de empresas estabelecidas, o Brasil conquistou o 6º
lugar (9,94%), ficando atrás de países como Tailândia,
Peru, Colômbia, Venezuela e Argentina.
    Embora a maioria dos empreendedores brasi-
leiros atue em segmentos de grande concorrência,
verifica-se uma tímida participação na produção de
inovação, sendo que os esforços feitos até aqui não
tiveram o impacto desejado nesse campo. Isso pode
ser explicado pelo fato de a maioria dos pesquisado-
res brasileiros trabalhar em instituições de pesquisa,
e não diretamente no setor produtivo, o que não in-
duz a uma correspondência direta entre os indicado-
res de ciência e os de inovação.

   Há razões históricas para esse descompasso. De um
   lado, a indústria brasileira cresceu nas décadas de
   1960 e 1970 num ambiente de proteção do mercado
   contra a concorrência externa e sem necessidade de
   atualização tecnológica (...) a inovação só começou a
   entrar na agenda das empresas na década de 1990,
   com a abertura da economia. De outro lado, pesqui-
   sadores ligados a universidades e institutos públicos
   de pesquisa sempre estiveram no comando de órgãos
   públicos encarregados de fomentar as atividades de
   ciência e tecnologia do país. Era natural que se mobi-
   lizassem mais em atender as necessidades das insti-
   tuições acadêmicas do que em investir nas empresas
   (BRANDÃO et al., 2006, p. 30).


   Pode-se considerar inovador desde aquele
trabalhador que consegue agregar valor ao produto
por meio de melhorias simples até o empreendedor
de sucesso capaz de fazer uma síntese entre os
conhecimentos produzidos pela ciência, as demandas
154
do mercado, os princípios econômicos e os do direito,         to é o grande desafio. Máquinas, computadores e pré-      149. Pesquisa para produção
                                                                                                                        de fármacos
transformando a inovação e a propriedade intelectual          dios são meios de produção, porém a riqueza é gerada      Maylena Clécia
em riqueza. A exemplo do que já ocorre nos países             pelo conhecimento aplicado para melhorar a produti-       Fotografia, 2008

desenvolvidos, a adequada formação e utilização do            vidade e a gestão, assim como para promover a ino-
acervo intelectual existente em nossas organizações           vação. E finalmente o Brasil está acordando para essa
– desde instituições de pesquisa e desenvolvimento,           nova era. E esta é a agenda do IEL: Gestão x Inovação
empresas nascentes nas incubadoras, até aquelas de            x Conhecimento. De certa forma, também é a agenda
porte consolidadas em seus mercados – é de suma               das demais entidades do Sistema Indústria, cada uma
importância para garantir competitividade.                    no seu foco específico (CAVALCANTE, 2007, p. 43).
    Ciente dessa realidade, o IEL tem somado esfor-
ços no sentido de agir incisivamente no apoio ao               Com o Benchmarking Industrial, um proces-
fortalecimento das ações, seja por meio da qualifica-      so contínuo de avaliação de produtos, serviços e
ção dos empresários que estão em atividade ou pela         práticas gerenciais, tem sido possível comparar as
formação de novos empreendedores. As atividades            empresas com suas concorrentes, por meio de um
no campo do empreendorismo, que se somam às de-            banco onde são armazenados os dados de diversos
mais desenvolvidas pelo instituto, visam sensibilizar      países.9 O projeto, que teve como ponto de partida
os representantes do setor empresarial e de pesqui-        um convênio firmado em 1997 com o Internacional
sa e desenvolvimento brasileiros, para que possam          Institute for Management Development (IMD), per-
identificar e comercializar os bens derivados do co-       mitiu ao núcleo de Santa Catarina (IEL/SC) transferir
nhecimento e da informação, como fatores-chave             a tecnologia, adaptando-a à realidade das empresas
na criação de valor e diferencial competitivo para os      brasileiras. Ao possibilitar o direcionamento dos in-
negócios e para o país.                                    vestimentos de acordo com os critérios de sucesso,
    A tendência atual, que está perfeitamente alinha-      o Benchmarking constitui uma excelente ferramenta
da com a proposta do Sistema Indústria, é baseada          na definição de necessidades particulares e conjun-
no contínuo aperfeiçoamento dos processos de ges-          tas das empresas, com o objetivo de gerar competi-
tão, com o objetivo de adquirir eficiência e aumen-        tividade, já que identifica pontos fortes e fracos em
tar a produtividade da indústria, além de conquistar       comparação com empresas de classe mundial. Poste-
maior legitimidade na representação do setor pro-          riormente, foi implementado o Benchstar, uma adap-
dutivo nacional e contribuir para a consolidação da        tação do Benchmarking Industrial que, voltado para
produção brasileira no mercado global.                     as micro e pequenas empresas, serve para a análise
                                                           de gestão e competitividade, pela comparação com
   O principal ativo das empresas hoje é o conhecimen-     outras do mesmo setor e/ou região. Com essas ferra-
   to, ou seja, o conjunto de pessoas que fazem parte da   mentas tem sido possível criar nas empresas condi-
   sua equipe. Reter talentos e gerenciar o conhecimen-    ções para medição e comparação do seu desempe-

                                                                                                                  155
nho em relação às líderes do mercado. Os resultados          (IGTI), em parceria com a Financiadora de Estudos e
servem como parâmetros seguros para as organiza-             Projetos (Finep) e o IEL.
ções implantarem medidas adequadas à melhoria de                 O Projeto Nugin, como ficou conhecido, surgiu
processos e, conseqüentemente, otimizarem a per-             no final de 2004, com o objetivo de desenvolver e
formance nos mercados nacional e internacional.              validar uma metodologia de planejamento e gestão
    Pequenos empreendimentos, localizados em Ar-             da inovação empresarial e tecnológica que possibi-
ranjos Produtivos Locais (APLs), também ganham               litasse identificar gargalos, criar núcleos integrados
impulso com as novas técnicas de gestão. Coope-              de pesquisa e desenvolvimento, implantar e utilizar
rativas e associações, localizadas em algumas das            ferramentas de gestão da inovação nas empresas.
regiões mais carentes do país, organizam-se para             Atualmente, mediante um convênio entre o IEL, a
conquistar mercados e promover o desenvolvimen-              Finep e o Ministério de Ciência e Tecnologia, o proje-
to local. Programas especialmente dirigidos para             to vem ganhando dimensão nacional. A Associação
abertura de novas fronteiras empresariais, além de           Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) pa-
capacitar os pequenos empreendedores, têm con-               trocina a extensão do projeto para empresas de três
tribuído para promover o produto nacional no exte-           estados brasileiros.
rior, abrindo perspectivas para centenas de empre-               Com atuação consolidada em todo o país e recor-
sas brasileiras.                                             des sucessivos em seus principais programas, o IEL
                                                             apresenta importantes conquistas, cujos resultados
   Todas essas iniciativas vão ao encontro do Mapa Estra-    podem ser creditados a uma filosofia de atuação for-
   tégico da Indústria, que tem na promoção da cultura       temente ligada à realidade do país. Com isso, o ins-
   empreendedora uma das bases mais importantes para         tituto tem ampliado significativamente seu alcance,
   o desenvolvimento (...) Nessa nova era, o empreende-      levando questões tradicionalmente restritas ao eixo
   dorismo precisa ser encarado como estratégia para a       Sul-Sudeste – como inovação e internacionalização –
   geração de riqueza e para a inserção do País na rota do   para todos os pontos do país.
   desenvolvimento sustentável (CAVALCANTE, 2007, p. 2).         Em decorrência de seu planejamento e gestão es-
                                                             tratégica, que confere unidade e coerência ao Siste-
   Um novo método de gestão da inovação foi cria-            ma IEL, é garantida aos núcleos regionais liberdade
do pelo IEL em Santa Catarina (IEL/SC). Trata-se do          para trabalharem de acordo com suas características
Núcleo de Gestão da Inovação (Nugin), desenvolvido           e desafios específicos. Em outras palavras, todos fa-
pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),          lando a mesma língua, e cada um fazendo e contan-
nos departamentos de Engenharia de Produção e                do sua própria história.
Engenharia Mecânica, com os núcleos de Desenvol-                 Mais que isso, o IEL valoriza e contribui para po-
vimento Integrado de Produtos (Nedip) e de Estudos           tencializar e disseminar as melhores práticas geradas
em Inovação, Gestão e Tecnologia de Informação               nos núcleos regionais. Como exemplos, merecem

156
destaque: o curso Gestão Empresarial,10 oferecido             O projeto Sapiens Circus, idealizado pelo IEL/AM,     150. Universidade de Brasília
                                                                                                                    (UnB)
por vários núcleos regionais, que tem como objetivo       é uma estação educacional que, combinando recur-          Cláudio Reis
promover o conhecimento de modelos e ferramen-            sos tecnológicos, efeitos visuais e métodos lúdicos de    Fotografia, 2007

tas gerenciais, discutir sua aplicação para o desenvol-   ensino-aprendizagem, chama a atenção de jovens e
vimento de negócios e estimular o uso em situações        crianças para a biodiversidade amazônica.
reais, além de valorizar o trabalho em equipe, a visão          Já o IEL/MG vem desenvolvendo com sucesso
de negócios e o espírito empreendedor; o Programa         Estudos Setoriais, que consistem em pesquisas qua-
ESempreendedor, que, executado pelo IEL/ES com            litativas e quantitativas para a identificação e mensu-
apoio da Federação das Indústrias do Estado do Es-        ração das diferentes estruturas produtivas locais e de
pírito Santo (Findes), já apresenta resultados signifi-   suas potencialidades e entraves. Com isso, tem sido
cativos no que diz respeito às ações de estímulo ao       possível traçar linhas de ação para o desenvolvimen-
empreendedorismo e à conseqüente melhoria da              to dos segmentos mais dinâmicos da indústria local.
qualidade de vida da população do estado.                 O primeiro estudo setorial, iniciado em 2002 pelo




                                                                                                             157
158
grupo responsável pelo projeto Cresce Minas, indi-        ra temas de interesse de vários setores da indústria       151. 8ª Convenção Nacional
                                                                                                                     do IEL, a mesa, Paulo Afonso
cou o incentivo aos clusters como forma de estimular      brasileira. Além disso, criou a Série Indústria em Pers-   Ferreira e Carlos Cavalcante
a produção local. A articulação entre empresas, en-       pectiva e a coleção que aborda a Capacitação Empre-        em 8 de abril de 2008,
                                                                                                                     Brasília, DF
tidades e órgãos governamentais facilitou a implan-       sarial.                                                    Miguel Ângelo
                                                                                                                     Fotografia
tação dessa metodologia que tem resultado no for-             Por seu compromisso historiográfico, merecem
talecimento das empresas. Entre os muitos estudos         reconhecimento o livro Instituto Euvaldo Lodi: 30
setoriais realizados, cabe ressaltar a importância es-    anos de parceria universidade-indústria, que resgata
pecífica de dois APLs: o calçadista de Nova Serrana e     a trajetória institucional da entidade, e Cronologia
o eletroeletrônico do Vale da Eletrônica, que apresen-    de Desenvolvimento Científico, Tecnológico e Indus-
tam concentração produtiva em determinado setor,          trial Brasileiro: 1938-2003, que, num grande esforço
com integração entre os agentes. Merece destaque          de pesquisa, sistematiza informações valiosas sobre
ainda o caso de Santa Rita do Sapucaí, uma experi-        a trajetória do saber e do fazer industrial. O IEL, jun-
ência bem-sucedida de investimento em tecnologia          tamente com o Sesi e o Senai, participou da iniciati-
de ponta. Essa localidade no sul de Minas Gerais, que     va da CNI de edição do livro Produto Nacional: uma
possui uma infra-estrutura educacional integrada ao       história da indústria no Brasil, de autoria de Eduardo
setor produtivo, apresenta mão-de-obra muito qua-         Bueno, publicado em 2008. Nesse mesmo ano, foi
lificada que não somente realiza projetos pioneiros       editado, por meio de parceria entre IEL, CNI e Insead
no âmbito da universidade como também aplica as           (Institut Européen d’Administration des Affaires), o
novas tecnologias, criando empresas altamente com-        livro Serviços em Cena: o diferencial que agrega valor
petitivas, capazes de atender ao mercado externo e        ao seu negócio, escrito pelo professor especialista do
contribuir para o desenvolvimento local.                  instituto europeu, James Teboul.
     Paralelamente à ampliação de seus horizontes             Outros temas como educação superior, desen-
territoriais, o IEL tem contribuído também para ex-       volvimento tecnológico, empreendedorismo, capa-
pandir idéias, cuja necessidade de divulgação levou       citação, gestão, inovação etc. tornaram-se objeto de
ao aumento e à diversificação de eventos e publi-         várias publicações avulsas do IEL.12
cações. Assim, a entidade não somente mantém os               Se crescimento econômico é uma necessidade
registros de seus programas, ações e idéias como          nacional e se capacitação empresarial e promoção de
confere transparência e visibilidade à sua missão ins-    cultura empreendedora são condições fundamentais
titucional.                                               para o desenvolvimento, o IEL, alinhando-se às ne-
     Além da revista mensal Interação, que vem sendo      cessidades da indústria e do país, vem enfrentando
editada desde 1988, o instituto publicou, dentro da       desafios e acumulando avanços no desempenho de
série Política Industrial, Tecnológica e de Comércio      sua missão, os quais se materializam em uma história
Exterior, a coleção O Futuro da Indústria,11 que explo-   que ora completa quatro décadas.



                                                                                                              159
NOTAS                                                                Luiz Tavares Alves Pereira. Durante o governo Vargas, o centro
                                                                     e a federação permaneceram separados, mas após a II Guerra
Os primórdios da indústria no Brasil                                 voltaram a atuar juntos.

1 Os Autos da Devassa foram compilados e publicados pela             A ‘revolução industrial’ brasileira
primeira vez em 1936, por decisão do presidente Getulio Vargas.
Em suas mais de três mil páginas, estão os depoimentos de to-        1 Decreto n°. 19.402, de 14 de novembro de 1930.
dos os participantes do movimento, inclusive os nove interroga-
tórios a que Tiradentes foi submetido durante os três anos em        2 Decreto nº. 19.433, de 26 de novembro de 1930.
que esteve preso no Rio.
                                                                     3 Decreto nº. 19.850, de 11 de abril de 1931. O CNE substituiu o
2 O estanco constituiu um monopólio real de venda de                 Conselho Nacional de Ensino, criado em 13 de janeiro de 1925.
certos produtos. Para esses gêneros havia restrições e regras
para exportação, quantidade máxima, preço estabelecido e             4 Decreto nº. 19.851, de 14 de abril de 1931.
necessidade de autorização régia para o comércio, quando não
realizado diretamente pela própria Coroa.                            5 Decreto nº. 19.890, de 18 de abril de 1931.

3 www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_22/alvara_2.4.htm        6 Os IAPs substituíram as antigas Caixas de Aposentadoria e
                                                                     Pensão (CAPs), instituídas pela Lei Eloy Chaves, Decreto-lei nº.
4 Hoje Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro.                       4.682, de 24 de janeiro de 1923.

5 Lei nº. 641, de 28 de julho de 1852.                               7 Lei nº. 367 de 31 de dezembro de 1936.

6 As moedas inglesas passaram a ser recebidas nas repartições        8 Fundada com o objetivo primeiro de divulgar as teorias
públicas, já que se acreditava que a expansão das emissões           de Frederick Taylor, essa organização de pesquisa industrial
fomentava a indústria e o comércio.                                  tornou-se responsável pelo planejamento econômico durante
                                                                     o New Deal, uma política implementada, entre 1933 e 1937, sob
7 A Escola de Adultos foi criada por Antonio de Almeida Oliveira     o governo do presidente Franklin Roosevelt, com o objetivo de
em 1870.                                                             recuperar e reformar a economia norte-americana atingida pela
                                                                     Depressão de 1929.
8 Lei nº. 2.040, de 28 de setembro de 1871.
                                                                     9 Decreto nº. 19.770, de 19 de março de 1931.
9 Lei nº. 3.270 de 28 de setembro de 1885.
                                                                     10 Entre suas obras destacam-se A Escola e a Sociedade (1899) e
10 Lei nº. 3353, de 13 de maio de 1888.                              Experiência e Educação (1938).

11 Mantendo-se a mesma sigla, o centro seria transformado, em        11 Entre suas obras consta A Divisão Social do Trabalho, publica-
1933, em Confederação Industrial do Brasil (CIB), em 1933. Em-       da em 1893.
bora instituída com aspirações de representatividade nacional,
a CIB representava apenas os empresários sediados no estado          12 Decretos nº. 3.763, de 1º de fevereiro de 1932, nº. 3.863, de
do Rio de Janeiro e no então Distrito Federal, refletindo de certa   30 de abril de 1932, e nº. 4.779, de 16 de maio de 1934.
forma o caráter ainda embrionário do parque industrial.
                                                                     13 Decreto nº. 6.283, de 25 de janeiro de 1934.
12 Decreto nº. 7.566, de 23 de setembro de 1909.
                                                                     14 Decreto nº. 23.979, de 8 de março de 1934.
13 Decretos nº. 8.659, de 5 de abril de 1911, e nº. 11. 530, de 18
de março de 1915.                                                    15 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/
                                                                     Constitui%C3%A7ao37.htm
14 Decreto nº. 16.782-A, de 13 de janeiro de 1925.
                                                                     16 Idem.
15 Até essa época, os industriais e os comerciantes tinham
como entidade representativa a Associação Comercial de São           17 Decreto-lei n°. 395, de 29 de abril de 1938.
Paulo, fundada em 1894. Em 1931, seria criada a Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), tendo à frente        18 Decreto-lei nº. 24.694, de 12 de junho de 1934.


                                                                                                                                   161
19 Decreto nº. 12.321, de 30 de abril de 1943.                         Filho, Aliomar Baleeiro, Clodomir Cardoso, Gilberto Freyre, Bar-
                                                                       bosa Lima Sobrinho, entre outros.
20 Decreto nº. 6.029, de 26 de julho de 1940.
                                                                       38 Decreto-lei nº. 9.403, de 25 de junho de 1946.
21 Decreto-lei nº. 2.162, de 1º de maio de 1940.
                                                                       39 Atualmente o Sesi possui departamentos regionais nos 26
22 Decreto nº. 3.002, de 30 de janeiro de 1941.                        estados da federação e no Distrito Federal.

23 O Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) foi            40 O Sistema S corresponde hoje ao conjunto de entidades:
criado, em 10 de janeiro de 1946, pelo Decreto-lei 8.621.              Senai, Senac, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar)
                                                                       e Serviço Nacional de Aprendizagem em Transportes (Senat),
24 Decreto-lei nº. 4.048, de 22 de janeiro de 1942. O Decreto-lei      articuladas ao Serviço Social da Indústria (Sesi), Serviço Social
nº. 8.621 de 10 de janeiro de 1946 criou o Serviço Nacional de         do Comércio (Sesc), Serviço Social de Transportes (Sest), Serviço
Aprendizagem Comercial (Senac).                                        Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e
                                                                       o Serviço Social das Cooperativas de Prestação de Serviços
25 Decreto-lei nº. 4.073, de 30 de janeiro de 1942.                    (Sescoop).

26 Decreto-lei nº. 6.141, de 28 de dezembro de 1943.                   41 O DNOCS foi criado pelo Decreto-lei nº. 8.846, de 28 de
                                                                       dezembro de 1945.
27 Decreto-lei nº. 4.073, de 30 de janeiro, e Decreto-lei nº. 4.244,
de 9 de abril de 1942.                                                 42 Lei nº. 1.254, de 4 de dezembro de 1950.

28 Decreto nº. 10.009, em 16 de julho de 1942.                         43 Lei nº. 1.310, de 15 de janeiro de 1951.

29 Decreto-lei nº. 4.352, de 1 de junho de 1942.                       44 Decreto nº. 29.741, de 11 de julho de 1951.

30 Em 1946, a FNM seria transformada em sociedade anônima,             45 Decreto nº. 2.004, de 3 de outubro de 1953.
pelo Decreto-lei nº. 8.699, de 16 de janeiro. O fim da II Guerra e a
compra, pela Força Aérea Brasileira (FAB), de centenas de aviões       46 Decreto nº. 27.695, de 16 de janeiro de 1950, definido pela
americanos iguais aos produzidos em Xerém determinaram o               Lei nº. 2.165, de 5 de janeiro de 1954.
fim do período militar da FNM.
                                                                       47 Decreto nº. 35.124, de 27 de fevereiro de 1954, nos termos da
31 O imigrante italiano Luigi Caloi chegou ao Brasil em 1898, e        Lei n.º 1.310, de 15 de janeiro de 1951.
nesse mesmo ano fundou a Casa Luiz Caloi, em sociedade com
seu cunhado Agenor Poletti. Devido às dificuldades em impor-           48 A Sumoc, criada em 1945, seria transformada no Banco
tar componentes durante a II Guerra Mundial, a importadora             Central.
passou a produzir peças e alguns componentes em 1945, e sua
produção de bicicletas começou em 1948.                                49 Decreto nº. 39.412, de 16 de junho de 1956.

32 Decreto-lei nº. 5.684, de 20 de julho de 1943.                      50 A Ford iniciou suas atividades de montagem de carros e
                                                                       caminhões no Brasil em 1919; a General Motors, em 1925; a
33 Embora a Justiça do Trabalho já tivesse sido contemplada            Mercedes Benz, em 1955; a Willys Overland do Brasil, em 1952; a
pelo artigo 122 da Constituição de 1934, carecia até então de          Volkswagen do Brasil, em 1954; a Simca do Brasil e a Toyota, em
regulamentação.                                                        1958.

34 Decreto-lei nº. 5.452, de 1 de maio de 1943.                        51 Em 27 de agosto de 1962, a Lei n°. 4.118 definiu que Política
                                                                       Nacional e Energia Nuclear era assunto de Estado.
35 Decreto-lei nº. 8.031, de 3 de outubro de 1945.
                                                                       52 Relatório final da Comissão de Educação e Cultura do Conse-
36 Lei Constitucional nº. 9, de 28 de fevereiro de 1945.               lho do Desenvolvimento. DOC nº. 20, Rio de Janeiro: Biblioteca
                                                                       da Câmara, 1957.
37 A Constituição foi promulgada em 18 de setembro de 1946.
Participaram da Assembléia Constituinte que elaborou essa
Constituição intelectuais como Gustavo Capanema, Luís Vianna


162
53 A primeira proposta sobre o tema foi concebida ainda na Era     10 www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.
Vargas, tendo sido encaminhada à Câmara Federal em 29 de           action?id=117229 - 12k. Consulta em 18 ago. 2008.
outubro de 1948.
                                                                   11 Decreto-lei nº. 252, de 28 de fevereiro de 1967.
54 Decreto Federal nº. 41.066, de 28 de fevereiro de 1957.
                                                                   12 Clóvis Salgado foi membro do Conselho Federal de Educação
55 Lei nº. 3.552, de 16 de fevereiro de 1959.                      de 1964 a 1968.

56 Decreto 53.325, de 18 de dezembro de 1963.                      13 Lei nº. 4.464, de 9 de novembro de 1964.

57 Inspirado na Sudene, o governo militar criaria, em 1966, a      14 www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituiçao67.
Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).           htm - 294k -

58 Lei n° 3.782, de 22 de julho de 1960.                           15 Decreto nº. 62.024, de 29 de dezembro de 1967.

59 Decreto nº. 49.355, de 28 de novembro de 1960.                  16 Decreto nº. 62.937, de 2 de julho de 1968.

60 Lei nº. 3.890-A de 25 de abril de 1961.                         17 Além do ministro da Educação Tarso Dutra, assinaram o
                                                                   relatório: Antônio Moreira Couceiro, Fernando Bastos de Ávila,
61 Decreto nº. 50.455, de 14 de abril de 1.961.                    Fernando Ribeiro do Val, Haroldo Leon Pérez João Lyra Filho,
                                                                   João Paulo dos Reis Velloso, Newton Sucupira, Roque Spencer
62 Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961.                        Maciel de Barros, Valnir Chagas.

63 Lei nº. 3.998, de 15 de dezembro de 1961.
                                                                   A criação e os primórdios do IEL
64 Decreto nº. 53.324, de 18 de dezembro de 1963.
                                                                   1 Participaram desse grupo de trabalho: Mário Henrique Simon-
                                                                   sen, Laércio Dias de Moura, Oscar de Oliveira, Cândido Paula
A internacionalização da produção industrial                       Machado.

1 Posteriormente, o Decreto 60.457, de 13 de março de 1967,        2 www.nobelpreis.org/nobel-preis/PT/Economia/schultz.htm
criou o Instituto de Pesquisa Econômico-Social Aplicada (Ipea).
O Ipea elaboraria o Plano Decenal de Desenvolvimento Econô-        3 Thomás Pompeu de Souza Brasil Netto manteve-se na presi-
mico e Social para o período 1967-1976.                            dência da CNI de 1968 até 1977.

2 Lei nº. 4.380 de 21 de agosto de 1964.                           4 IEL/BA, IEL/ES, IEL/MG, IEL/PA, IEL/PB, IEL/PE, IEL/PR, IEL/RS,
                                                                   IEL/SC fundados em 1969; nos anos 1970 foram fundados os
3 Lei nº. 5.107, de 13 de setembro de 1965.                        Núcleos Regionais de IEL/AL, IEL/AM, IEL/CE, IEL/DF, IEL/GO,
                                                                   IEL/MA, IEL/MT, IEL/PI, IEL/RN e IEL/SE. Entre os anos 1980 e
4 Lei nº. 5.107, de 13 de setembro de 1966.                        1990 foram fundados IEL/AC, IEL/AP, IEL/MS, IEL/RO, IEL/RR.
                                                                   Após o ano 2000 foram criados o IEL/RJ, IEL/SP, IEL/TO.
5 Atual Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), criada em 24
de julho de 1967.                                                  5 Lei nº. 5.692, de 11 de agosto de 1971.

6 Lei nº. 4.533, de 8 de dezembro de 1964.                         6 Portaria nº. 1.002, de 29 de setembro de 1972, Departamento
                                                                   Nacional de Mão-de-Obra/MT.
7 Lei nº. 4.440, de 27 de outubro de 1964.
                                                                   7 Engenharia de Materiais, da UFSCar; Engenharia Elétrica, da
8 Foram firmados 12 acordos, o primeiro em 26 de junho de          (UFPb), campus de Campina Grande; Engenharia Mecânica, da
1964, e o último em 17 de janeiro de 1968.                         UFSC.

9 Decreto nº. 70.904, de 31 de julho de 1972.                      8 Posteriormente transformada em uma Secretaria da Indústria
                                                                   e Comércio e, mais tarde, em Secretaria de Ciência e Tecnologia.



                                                                                                                                   163
9 Lei nº 5.881, de 7 de dezembro de 1972. Os estatutos da Em-       6. Margaret Thatcher elaborou um programa rigoroso para
brapa foram aprovados pelo Decreto nº 72.020, de 28 de março        reverter a crise da economia britânica mediante a redução da
de 1973.                                                            intervenção estatal e a implementação de um programa de
                                                                    privatização. Os principais postulados foram o liberalismo e o
10 A gestão de Jacy Montenegro Magalhães foi de 11 de de-           monetarismo estritos.
zembro de 1974 até 31 de dezembro de 1975 (interinamente), e
de 31 de dezembro de 1975 até 10 de dezembro de 1980.               7. Emenda constitucional nº. 19 de 1998.

11 Lei nº. 6.494, de 7 de dezembro de 1977.                         8. Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

12 Com o tempo, o termo “tigre” tornou-se sinônimo de nação         9. Idem: www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm
que alcançou o crescimento com um modelo econômico volta-
do para a exportação.                                               10. Decreto nº. 2.208, de 17 de abril de 1997.

13 A Lei nº. 6.767, de 20 de dezembro de 1979, extinguiu a          11. Decreto nº. 2.208, de 17 de abril de 1997, inciso III do Artigo
Arena e o MDB e restabeleceu o pluripartidarismo.                   3º.

14 Albano de Prado Pimentel Franco esteve na presidência da         12. Entre as organizações do Terceiro Setor, estão as Organiza-
CNI de 1980 até 1994.                                               ções Não Governamentais (ONGs), as entidades filantrópicas, as
                                                                    Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips),
15 A gestão de Tarcísio Meirelles Padilha foi de 11 de dezembro     os partidos políticos, as organizações sindicais, e outras formas
de 1980 até 6 de maio de 1986.                                      de associações civis sem fins lucrativos.

16 A gestão de Oswaldo Vieira Marques foi de 7 de maio de           13. Fernando Luiz Gonçalves Bezerra esteve à frente da presi-
1986 até 3 de janeiro de 1996.                                      dência da CNI de 1995 a 2002.

                                                                    14. Mario Amato esteve à frente da CNI entre 1994 e 1995.
O IEL e a revolução técnico-científica da informação
                                                                    15. A gestão de Carlos Sérgio Asinelli estendeu-se de 4 de janei-
1. O Tratado de Maastricht, um marco significativo no processo      ro de 1996 a 30 de novembro de 2003.
de construção da União Européia, foi assinado na Holanda, em
1992.                                                               16. Acordo de Empréstimo e o Contrato nº. 1052 - OC/BR, de 24
                                                                    de novembro de 1997.
2. O PBQP foi lançado em 1990 pela Secretaria de Tecnologia In-
dustrial do antigo Ministério da Indústria e Comércio (STI/MIC),    17. Lei nº. 9.841, de 5 de outubro de 1999.
atual Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). O programa teve
como objetivo estimular, articular, orientar e apoiar os esforços   18. Decreto nº. 3.474, de 19 de maio de 2000.
da sociedade brasileira na busca da competitividade, por meio
da promoção de ações de melhoria da qualidade dos produtos          19. Anprotec é uma entidade sem fins lucrativos, fundada em
e serviços no país. No final de 2001, quando o PBQP estava con-     30 de outubro de 1987, com o objetivo de criar mecanismos de
solidado, sua liderança foi transferida para o setor privado, com   apoio às incubadoras de empresas, parques tecnológicos, pólos,
a criação da Organização da Sociedade Civil de Interesse Públi-     tecnópoles e outras instâncias promotoras de empreendimen-
co (Oscip) denominada Movimento Brasil Competitivo (MBC).           tos inovadores.

3. O Programa de Estágio foi lançado pelo IEL em 1969.              20. Esses empresários deveriam funcionar como “padrinhos”
                                                                    de novos empreendedores, e/ou “adotar” novas empresas para
4. Oswaldo Vieira Marques permaneceu à frente da superinten-        aconselhamento.
dência do IEL de 7 de maio de 1986 a 3 de janeiro de 1996.
                                                                    21. Lei nº. 10.168, de 29 de dezembro de 2000.
5. Composta por representantes da Secretaria de Desenvol-
vimento Regional da Presidência da República (SDR/PR), da           22. Lei nº. 10.332, de 19 de dezembro de 2001 e Lei nº. 10.176,
Sudene, da Sudam, do Sesi, do Senai e da Finep.                     de 11 de janeiro de 2001.




164
23. www.inovacao.unicamp.br/report/news-indicadores050615.           38. Constituída por uma unidade nacional e sete estaduais
shtml                                                                localizadas na Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Paraná,
                                                                     Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
24. Decreto nº. 4.776, de 10 de julho de 2003.

25. www.inovacao.unicamp.br/report/news-indicadores050615.           Avanços e desafios
shtml
                                                                     1 http://ultimosegundo.ig.com.br/bbc/2008/09/25/crise_mun-
26. Lei nº. 11.080, de 30 de dezembro de 2004, regulamentada         dial_pode_beneficiar_brasil_diz_financial_times_1937127.html
pelo Decreto nº. 5.352, de 24 de janeiro de 2005.
                                                                     2 André Martins Biancareli é professor do Centro de Estudos de
27. O Mapa Estratégico da Indústria: 2007-2015 foi construído        Conjuntura e Política Econômica do Instituto de Economia da
com base na metodologia do Balanced Score Card (BSC), um             Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
modelo de gestão que auxilia as organizações a traduzir a estra-
tégia em objetivos, facilitando sua compreensão e implementa-        3 http://ultimosegundo.ig.com.br/economia/2008/09/29/
ção (CNI, 2005).                                                     crise_pode_afetar_projetos_de_infra_estrutura_e_exportaco-
                                                                     es_diz_especialista_1944551.html
28. Essa lei foi regulamentada pelo Decreto nº. 5.563, de 11 de
outubro de 2005.                                                     4 Estado de São Paulo, 15 de outubro de 2008. www.estadao.
                                                                     com.br/estadaodehoje/20081015/not_imp260022,0.php
29. Lei nº. 10.973, de 2 de dezembro de 2004. www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/Lei/L10.973.htm                  5 Ricardo Araújo Barbosa é economista da Fundação Getulio
                                                                     Vargas (FGV).
30. Estatuto, 1969, artigo 7º, § 2º - O Presidente do Conselho Su-
perior será o Presidente da Confederação Nacional da Indústria       6 Decreto nº. 6.096, de 24 de abril de 2007.
(...); Artigo 9º - O Presidente do Conselho Superior exercerá as
funções de Diretor-Geral do Instituto.                               7 Lei nº 10.332, de 19 de dezembro de 2001.

31. Novo Estatuto, 2006. Artigo 19º. O Diretor-Geral, eleito pela    8 Países que estão em fase de implantação do negócio ou que
Assembléia Geral, exercerá suas funções sem prazo determina-         já o mantêm por até 42 meses.
do de gestão...
                                                                     9 O banco internacional de dados conta atualmente com cerca
32. Estende-se pelos estados de Minas Gerais, Bahia e Espírito       de mil empresas, dos mais diversos setores, em 33 países.
Santo.
                                                                     10 Master in Business Administration (MBA).
33. Os projetos tiveram início em 2004 e são operacionalizados
pelos núcleos regionais do IEL/BA, IEL/MG e IEL/ES.                  11 A Importância da Metrologia para o Desenvolvimento
                                                                     Industrial; Biodiesel; Cadeias Produtivas; Construção Civil:
34. Lei nº. 10.295, de 17 de outubro de 2001.                        construção habitacional; Fármacos: a perspectiva do Brasil;
                                                                     Software: a perspectiva do Brasil; Educação Corporativa:
35. Uma etiqueta passará a conter todas as informações sobre         reflexões e práticas; Empreendedorismo; Produtividade de
o aparelho e um selo de qualidade premiará os melhores               Capital; Tendências Tecnológicas; Indústria Brasileira; Têxtil e de
fabricantes. Isso representará um diferencial de mercado e um        Confecções: vestuário de malha.
estímulo a investimentos na modernização do parque industrial
brasileiro.                                                          12 Brasil Inovador: o desafio empreendedor; Contribuição da
                                                                     Indústria para a Reforma da Educação Superior; Desenvolvi-
36. Lei nº. 11.788, de 26 de setembro de 2008.                       mento Tecnológico Regional: três experiências de sucesso para
                                                                     o fortalecimento de arranjos produtivos; Educação Corporativa:
37. Resultados excelentes foram atingidos nos núcleos regio-         contribuição para a competitividade; Empreendedorismo além
nais de Goiás, Espírito Santo, Bahia, Maranhão e Pará, onde o        do Plano de Negócio; Empreendimentos Inovadores: relatos de
PQF qualificou fornecedores e fortaleceu as cadeias produtivas       uma jornada na Europa; Ensino de Empreendedorismo nas IES
locais.                                                              Brasileiras; Inova Engenharia; Inovação Tecnológica no Brasil:
                                                                     a indústria em busca da competitividade global; Manual dos



                                                                                                                                     165
Derivados da Cana-de-Açúcar; Manual de Operações Bitec;                 10. FERREZ, G. O Rio Antigo do fotógrafo Marc Ferrez: paisagens
Nota à Contribuição da Indústria para a Reforma da Educação             e tipos humanos do Rio de Janeiro (1865 – 1918) São Paulo: Ex
Superior; O Novo Ciclo da Cana; Capacitação em Inteligên-               Libris, 1984. Acervo Link.
cia Competitiva; A Institucionalidade da Política Industrial
e Tecnológica: problemas, desafios, propostas; Articulação              11. Arquivo Nacional 150 anos: visão histórica. Rio de Janeiro:
Institucional e Territorial da Regionalização da Política Industrial;   Índex, 1988. Acervo Link.
Negociações Comerciais Internacionais e Autonomia da Política
Industrial; Programa de Modernização das Engenharias; Futuro            12. Acervo Ministério da Educação, Brasília.
da Indústria: tendências tecnológicas por e-mail; Tecnologia
Industrial Básica: trajetória, tendências e desafios no Brasil; Rede    13. MORAES, C.; ALVES, J. (orgs.). Escolas Profissionais Públicas do
de Competências: síntese dos estudos temáticos sobre política           Estado de São Paulo: uma história em imagens – álbum fotográ-
industrial; Rede de Competências: capacitação em inteligência           fico. São Paulo: Centro Paula Souza, 2002. Acervo Ministério da
competitiva; Tecnologia Industrial Básica: trajetória, tendências       Educação.
e desafios no Brasil; TV Digital: qualidade e interatividade; Inser-
ção internacional da indústria brasileira: avaliação a partir dos       14. Arquivo Nacional 150 anos: visão histórica. Rio de Janeiro:
fluxos de comércio; Estratégia de Desenvolvimento Industrial;           Index,1988. Acervo Link.
Análise Econômica de Investimentos; Development Strategies
of China and India Lessons for Brazil; Innovating Proposals for         15. Acervo Ministério da Educação, Brasília.
Modernizing Education in Engineering in Brazil.
                                                                        16. Saga: a grande história do Brasil. São Paulo: Abril Cultural,
                                                                        1981. v. 5. Acervo Link.
FONTES DAS IMAGENS
                                                                        17. Acervo Projeto Memória – Senai, São Paulo.
1. BARROS, A. O Liceu de Artes e Ofícios e seu Fundador. Rio de
Janeiro, 1956. Acervo Câmara dos Deputados.                             18. Saga: a grande história do Brasil. São Paulo: Abril Cultural,
                                                                        1981. v. 6. Acervo Link.
2. COUTO, J.; VIANA, F.; FILHO, L. A Abertura dos Portos – 200
anos. Salvador: Associação de Usuários dos Portos da Bahia,             19. GOMES, Â.; PANDOLFI, D.; ALBERTI, V. (orgs.). A República no
2008. Acervo Câmara dos Deputados.                                      Brasil. Rio de Janeiro: FGV / CPDOC, 2002.

3. HERKENHOFF P. (Org.). O Brasil e os Holandeses (1630 – 1654).        20. Saga: a grande história do Brasil. São Paulo: Abril Cultural,
Rio de Janeiro: Sextante Artes, 1999. Acervo Link.                      1981. v. 6. Acervo Link.

4. CALDEIRA, J. et al. Viagem pela História do Brasil. São Paulo:       21. Museu Histórico da Faculdade de Medicina da USP, São
Companhia das Letras, 2000. Acervo da Câmara dos Deputados.             Paulo.
RUGENDAS, J. Viagem Pitoresca através do Brasil. São Paulo:
Martins, 1954. Acervo Link.                                             22. Acervo Museu da República, Rio de Janeiro.

5. FERREZ, G. (Org.). O Rio de Janeiro e seus Arrabaldes. Rio de        23. Acervo CNI, Brasília.
Janeiro: Kosmos, 1976. Acervo Fundação Biblioteca Nacional.
Saga: a grande história do Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1981.     24. MOURA, M. Petrobras 50 Anos: uma construção da inteligência
v. 3. Acervo Link.                                                      brasileira. Rio de Janeiro: Petrobras, 2003. Acervo Link.

6. Debret e o Brasil: obra completa. Rio de Janeiro: Capivara, 2007.    25. Acervo CNI, Brasília.
Acervo Link.
                                                                        26. Acervo CNI, Brasília.
7. Arquivo Nacional 150 Anos: visão histórica. Rio de Janeiro:
Índex, 1988. Acervo Link.                                               27. Acervo CNI, Brasília.

8. VASQUEZ, P. O Brasil na Fotografia Oitocentista. São Paulo:          28. Acervo CNI, Brasília.
Meta Livros, 2003. Acervo Link.
                                                                        29. Acervo CPDOC – Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro.
9. Acervo CPDOC - Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro.
                                                                        30. Acervo CNI, Brasília.


166
31. Acervo CNI, Brasília.                                                  50. Revista Manchete, 11 de abril de 1964. Acervo Câmara dos
                                                                           Deputados, Brasília.
32. MENDONÇA, S. A Industrialização Brasileira. São Paulo: Mo-
derna, 2004. Acervo Câmara dos Deputados.                                  51. Acervo Embraer, São José dos Campos.

33. MOURÃO, E. Fragmentos de Memória. Belo Horizonte: Senai/               52. Acervo CPDOC – Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro.
MG, 1992.
                                                                           53. Acervo Furnas, Minas Gerais
34. Acervo CNI, Brasília.
                                                                           54. Revista Ensino Industrial n. 6, ano II. Brasília: Diretoria do
35. Acervo CNI, Brasília.                                                  Ensino Industrial, 1963. Acervo Ministério da Educação.

36. WERNECK, H. Juscelino Kubitschek: o tocador de sonhos.                 55. Acervo CPDOC – Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro.
Brasília: Fundação Banco do Brasil, 2002. Acervo Câmara dos
Deputados.                                                                 56. Relatório da Equipe de Assessoria ao Planejamento do Ensino
                                                                           Superior – EAPES, Acordo MEC-USAID. Rio de Janeiro: Ministério
37. Acervo Museu de Astronomia e Ciências Afins, Rio de Janeiro.           da Educação e Cultura, 1968. Acervo Ministério da Educação.

38. WERNECK, H. Juscelino Kubitschek: o tocador de sonhos.                 57. Relatório da Equipe de Assessoria ao Planejamento do Ensino
Brasília: Fundação Banco do Brasil, 2002. Acervo Câmara dos                Superior – EAPES, Acordo MEC-USAID. Rio de Janeiro: Ministério
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em 4 jul. 2008.


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AGRADECIMENTOS                                                   IEL – Núcleo Central
                                                                 Cristiana Gonçalves Araújo de Almeida
Entrevistados                                                    Diana de Mello Jungmann
Antônio Carlos Brito Maciel, Diretor-superintendente do Sesi e   Oto Morato Álvares
Superintendente corporativo da CNI                               Ricardo de Paula Romeiro
Antonio Fábio Ribeiro, membro do Conselho Nacional do IEL        Tatiana Farah de Mello
Carlos Roberto Rocha Cavalcante, superintendente do IEL          Vera de Fátima Brito Ruthofer
Carlos Sérgio Asinelli, superintendente do IEL de 1996 a 2003
Jarbas Passarinho, ministro da Educação (1967–1969) e Promo-     Sistema Indústria
tor de relações entre as universidades e o IEL                   Ana Cláudia de Almeida Figueiredo
José Manuel Aguiar Martins, diretor–geral do SENAI               Denise Távora B. Araújo
Oswaldo Vieira Marques, superintendente do IEL de 1986 a 1996    Eliane Menezes dos Santos
Paulo Afonso Ferreira, Diretor–geral do IEL                      Elisa Coral
Tarcísio Meirelles Padilha, superintendente do IEL de 1980 a     Gustavo Campos Barbosa
1986                                                             José Carlos de Almeida
                                                                 José Paulo Lacerda
Biblioteca da Câmara dos Deputados                               Luci Ledra
Guilherme Curi                                                   Maria José Rodrigues de Souza
Maria Aparecida de Lima                                          Maria Regina Ferreira de Freitas
Matiê Nogi                                                       Miguel Ângelo
Neide Maria Rossi Ramirez                                        Mirela das Neves
                                                                 Olavo da Silva Virgiliis
Universidade de Brasília (UnB)                                   Renata Lima Guedes Peixoto
Cleofas Minari Righetti                                          Rodrigo Fabiano Leite Weber
Jeanina Daher                                                    Rosângela Rodrigues Faria
                                                                 Soraya Alves Lacerda
Universidade de Campinas (Unicamp)                               Suely Lima Pereira
Telma Murari                                                     Wladimir Bezerra Luz

Museu Histórico Universidade de São Paulo (USP)
Maria Gabriela Marinho

Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica – MEC
Iaçonara Miranda de Albuquerque
Sandra Maria Branchine
Francesca Vilardo Loés

Coordenação de Comunicação Social – Furnas
Paulo da Costa Martins

Embraer

Agência Petrobras de Notícias

Natural Fashion / Coopnatural
Maysa Motta Gadelha




                                                                                                         177
Não há lugar no mundo para as nações que ficam
   estagnadas. A evolução econômica é um imperativo para
sobreviver. E somente a inteligência aplicada ao trabalho oferece
           a segurança de que necessitam os povos.

                     Euvaldo Lodi (1896-1956)
Livro 40 anos do iel

Livro 40 anos do iel

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    40 anos doIEL na trajetória da indústria no Brasil
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    CONFEDERAÇÃO NACIONAL DAINDÚSTRIA – CNI Coordenação Editorial Acervos Maylena Clécia – Link Design Agência JB Presidente Neusa Cavalcante Arquivo Nacional Armando de Queiroz Monteiro Neto Banco de Mídia do Sistema Indústria Pesquisa Histórica e Texto Biblioteca da Câmara dos Deputados Neusa Cavalcante Biblioteca da CNI INSTITUTO EUVALDO LODI – IEL / NÚCLEO CENTRAL Biblioteca da Firjan Assistente de Pesquisa Biblioteca do INEP/MEC Conselho Superior do IEL Viviane Aronowicz Biblioteca Nacional Armando de Queiroz Monteiro Neto Helena Moreira Schiel Correio Braziliense Embraer Diretor-Geral Projeto Gráfico e Diagramação Fundação Getúlio Vargas Paulo Afonso Ferreira Leticia Brasileiro Furnas Centrais Elétricas S. A. Link Design Superintendente Copidesque e Revisão Museu Histórico da USP Carlos Roberto Rocha Cavalcante Irene Ernest Dias Petrobrás Universidade de Brasília Pesquisa Iconográfica Universidade de Campinas Inaê Quirino Santos Maylena Clécia Coordenação Institucional Viviane Aronowicz Júlio Cezar de Andrade Miranda Instituto Euvaldo Lodi Legendas IEL/Núcleo Central Revisão Técnica Inaê Quirino Santos Setor Bancário Norte, Quadra 1, Bloco B Oto Morato Álvares Edifício CNC CEP 70041-902-Brasília Maria José M. Souza Editoração Eletrônica Tel (61) 3317-9080 Didier Max Nogueira Fax (61) 3317-9360 Apoio Técnico Leticia Brasileiro www.iel.org.br Ana Amélia Ribeiro Barbosa Thiago Endres da Silva Gomes Tratamento de Imagens © 2009. IEL – Instituto Euvaldo Lodi Vítor de Lara Medina Boaventura Didier Max Nogueira Todos os direitos reservados. Nenhuma Maylena Clécia parte deste livro poderá ser reproduzida, SUPERINTENDÊNCIA DE SERVIÇOS COMPARTILHADOS – SSC de qualquer forma ou por qualquer meio, Área Compartilhada de Informação e Documentação – ACIND Produção Gráfica sem autorização expressa do IEL. Maylena Clécia As idéias e opiniões contidas na Normalização publicação são de responsabilidade do Gabriela Leitão Impressão autor, não refletindo necessariamente Gráfica Brasil o posicionamento das Entidades do Apoio Técnico Sistema Indústria. Ana Suely Pinho Lopes Gabriela Leitão Mércia Alencar Almeida C376q Suzana Curi Guerra Vitor Emanuel Ramos Cavalcante, Neusa. 40 anos do IEL na trajetória da indústria no Brasil / Neusa Cavalcante. – Brasília: IEL, 2009. Selo comemorativo aos 40 anos do IEL 177 p. : il. Página 1 ISBN 978-85-87257-42-0 1. Indústria – Brasil 2. História da Indústria – Brasil I. Título CDU: 338.1(81)
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    40 anos doIEL na trajetória da indústria no Brasil Neusa Cavalcante Brasília 2009
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    Os primórdios da indústria no Brasil airtsúdni 11 A ‘revolução industrial’ brasileira ’lairtsudni oãculover‘ 31 Internacionalização da produção industrial oãcudorp 67 A criação do IEL oãcairc 85 A revolução técnico-científica da informação oãçamrofni 113 Avanços e desafios sofiased 145
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    Apresentação oãçatneserpA O Instituto Euvaldo Lodi – IEL completa 40 anos no momento em que o Brasil discute a retomada do crescimento eco- nômico. O país quer uma indústria forte e preparada para se inserir no cenário internacional. Para isso, os dirigentes das empresas devem ser qualificados e orientados em relação aos riscos e oportunidades do mundo globalizado. Ao longo das últimas quatro décadas, o IEL tem dado a sua contribuição para o país ao formar profissionais capazes de inovar na gestão de seus negócios. Euvaldo Lodi é a inspiração para o trabalho da entidade que leva seu nome. O líder industrial que ajudou a fundar a Confederação Nacional da Indústria – CNI tinha uma clara visão sobre a função social da indústria e a sua importância na formação dos recursos humanos. Identificou a vinculação entre a educação e a indústria como base para o desenvolvi- mento da nação e tornou-se um defensor do processo de formação profissional. A proposta inicial da entidade era aproximar os alunos universitários do ambiente profissional ao coordenar programas de estágios nas fábricas. Era uma forma de levar o conhecimento acadêmico para dentro das empresas e atualizar o pen- samento da universidade em relação aos desafios enfrentados pelo setor produtivo, o que levava à criação de soluções inovadoras para os problemas da indústria. A interação entre empresas e centros de conhecimento continua sendo um dos principais instrumentos do IEL para in- centivar a inovação no setor produtivo, considerada estratégica para o crescimento sustentável do país. No entanto, sem perder os rumos traçados por seus fundadores, a atuação desse instituto foi diversificada nos últimos anos e suas linhas de ação voltadas para o desenvolvimento empresarial foram ampliadas. A nova missão institucional da entidade inclui o aperfeiçoamento da gestão e a capacitação de empresários. O contato freqüente com experiências internacionais levou o IEL a ser procurado por empresários que buscam melho- rar a gestão de seus negócios, inovar em processos e produtos, e modernizar as práticas empresariais. Para suprir essa demanda, além de incrementar os produtos tradicionais de estágio e bolsas educacionais, o instituto passou a oferecer programas destinados a capacitar empresários de micro e pequenas empresas e também altos executivos. Parcerias inovadoras com universidades brasileiras e os mais avançados centros de estudos internacionais permitem a oferta de produtos e serviços de qualidade e adequados à realidade do país. O diálogo permanente com as empresas torna o Instituto Euvaldo Lodi uma das principais entidades de promoção do desenvolvimento e do aumento da competitividade da indústria nacional. Ao interpretar a dinâmica das mudanças dian- te dos avanços tecnológicos, o IEL consolida-se como uma instituição moderna e capaz de oferecer as condições funda- mentais para fortalecer o setor industrial. A capacitação empresarial, o aperfeiçoamento da gestão e o suporte à inovação são o caminho para o país criar mais emprego e renda para o trabalhador brasileiro. Armando Monteiro Neto Presidente da Confederação Nacional da Indústria – CNI
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    O IEL –Instituto Euvaldo Lodi chega à maioridade dos 40 anos sendo o elo do Sistema CNI – Confederação Nacional da Indústria, que está com um grande desafio atual da indústria brasileira em suas mãos. Hoje, en- quanto algumas empresas nacionais apresentam excelência internacional, muitas não estão sequer inseridas no processo para atingi-la, não inovam nem desenvolvem ações na área de tecnologia, não estudam o mer- cado nem praticam a administração estratégica. Mas não se pode ancorar a economia de um país apenas na eficiência das grandes corporações. Se as pequenas e micro empresas que giram em torno das grandes não se modernizarem, a geração de emprego e de benefícios para o entorno será limitada. O país só poderá se desenvolver e ganhar competitividade neste mundo globalizado se a maioria de suas empresas, inclusive as médias e pequenas, conseguirem avançar na capacidade de gestão, de agregação de valor e no desenvolvimento tecnológico. Para desenvolver o Brasil, é preciso capacitar o trabalhador empre- sário de todos os portes, de todas as áreas e regiões do país, para levar a inovação para dentro das empresas. Esta foi a conclusão do Encontro Nacional da Indústria (Enai), promovido pela CNI em 2008: temos de priorizar fortemente a gestão e a inovação nas empresas. O IEL é a instituição que tem a missão, a competência e a capilaridade para empreender essa tarefa. É o instrumento de modernização da gestão empresarial brasileira; suas quatro décadas de trajetória o lapidaram para isso. Muitas pequenas e médias empresas ainda norteiam suas decisões pelo que as outras do setor estão fazen- do. Modernizar a gestão significa nortear-se por elementos objetivos, informações, prospecções de mercado, diagnóstico de fragilidades e potenciais, estudos de região, de cadeias produtivas, trabalhos que favorecem uma visão mais ampla do negócio e do setor. O IEL tem capacitação para coordenar esses estudos e habilitar empresas e sindicatos para a prática da administração estratégica. Não basta mais capacitar o trabalhador ope- rário “ensinando-o a pescar”, é preciso capacitar o trabalhador empresário para que “planeje a pesca”, perceba as melhores oportunidades e trace estratégias de mercado. A China percebeu isso e está investindo pesado no aprimoramento da gestão dos negócios. Isso vai nos afetar, se não conseguirmos dar saltos nessa área. Aprimorar a gestão contribui também para elevar o desenvolvimento sindical, que é hoje imprescindível para a competitividade. Antes, muitas questões podiam ser resolvidas pela negociação direta entre grandes empresas e governo. Hoje, a economia e suas cadeias produtivas são muito mais complexas, exigindo solu- ções que passam pela coletividade, pela negociação, pelo associativismo de visão ampla, não corporativa. É a orientação estratégica que os gestores capacitados aprendem a ter. Esse grande desafio que se coloca hoje se articula perfeitamente com as atividades tradicionais do IEL na área de estágios e de outras ações de promoção da interação universidade-indústria, uma vez que essas ações estimulam a inovação nas empresas. Com mais de 100 mil estágios desenvolvidos a cada ano em parceria com mais de 50 mil empresas e 11 mil instituições de ensino, logramos transformar essa prática numa forma efetiva de aperfeiçoar a formação profissional e oxigenar as empresas com o espírito inovador dos estudantes. O mes-
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    mo ocorre comos programas de bolsas, nos quais os estudantes vão para dentro das empresas desenvolver projetos específicos para solucionar gargalos do negócio. Aprimorar a gestão é hoje prioridade, por estimular a capacidade empresarial de inovar, com foco naquilo que efetivamente amplia a competitividade. Nesse pro- cesso a interação da indústria com os centros de conhecimento, reconhecida vocação do IEL, é essencial. Paulo Afonso Ferreira Diretor-Geral do Instituto Euvaldo Lodi – IEL
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    Os primórdios da indústria no Brasil airtsúdni 11
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    Os primeiros anosda vida brasileira foram marca- Essa prosperidade deveu-se também aos progres- 1. Liceu de Artes e Ofícios Desenho, 1916 dos pelas atividades de extração dos produtos natu- sos técnicos que foram sendo introduzidos no pro- Detalhe rais da terra à custa do trabalho indígena em regime cesso produtivo. Depois da construção da casa da Página 10 de escambo. Tratava-se então de tirar proveito dos moenda, que reunia as diversas fases do processo de 2. Chegada da família real moagem da cana, introduziu-se a moenda de três ci- portuguesa ao Rio de Janeiro gêneros disponíveis que constituíssem valor no mer- em 7 de março de 1808 cado europeu. lindros e, em seguida, o uso da água como força mo- Geoff Hunt Óleo sobre tela, 1999 Somente mais de três décadas depois, devido à triz, em substituição às juntas de bois. A metalurgia Detalhe necessidade de defesa do imenso território, vieram a para a produção da maquinaria desenvolveu-se prin- partilha das terras e o verdadeiro início do processo cipalmente com base nas técnicas que, aprendidas de colonização. A partir daí, impôs-se a ocupação e dos árabes na África, foram trazidas pelos escravos cultivo nas faixas litorâneas, cujas paisagens naturais (AMARAL, 1958). seriam substituídas paulatinamente pelas plantações A colaboração holandesa na adoção de moendas de cana-de-açúcar. metálicas e tachos de ferro fundido veio contribuir Com o estabelecimento do tráfico de escravos para a inauguração, no país, das primeiras unida- africanos, a cultura canavieira, iniciada no final do sé- des industriais, as quais passavam a requerer uma culo XVI, assistiu a um desenvolvimento vertiginoso. forma de organização do trabalho sem parâmetros Em meados do século seguinte, incentivos ao culti- na Europa. Enquanto no canavial o processo de tra- vo e isenção de impostos contribuíram para tornar balho era determinado pelas condições do clima e o Brasil o maior produtor de açúcar do mundo, num das estações, no engenho “o ritmo não era o da na- empreendimento tão rentável que o produto passou tureza, mas um ritmo de um processamento regulado, a ser chamado de ouro branco. elaborado. O trabalho não era regulado por relógios 13
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    3. Dança dosÍndios Tapuias (...) mas pela capacidade da tecnologia” (SCHWARTZ, Methuen – conhecido popularmente como Tratado Albert Eckhout Óleo sobre tela, século 17 2001, p. 95). de Panos e Vinhos –, pelo qual Portugal compro- Detalhe Mais que uma unidade fabril, o engenho do Brasil metia-se a comprar os produtos manufaturados da Colônia era um conjunto completo e auto-suficiente. Inglaterra, que, por sua vez, deveria adquirir a pro- Em torno do canavial, desenvolviam-se uma agricul- dução de vinhos portugueses. Outro empecilho era tura e uma pecuária destinadas a suprir as demandas resultante da baixa qualificação da mão-de-obra, da casa-grande, da senzala e da pequena parcela de pois, em geral, “a aprendizagem dos ofícios, tanto de trabalhadores livres. Ao lado da mandioca, do milho, escravos quanto de homens livres, era desenvolvida no do feijão e do gado, responsáveis pela dieta de sub- próprio ambiente de trabalho, sem padrões ou regu- sistência, o algodão despontava como matéria-prima lamentações, sem atribuição de tarefas próprias para fundamental para a fabricação dos panos grosseiros aprendizes” (CUNHA, 2000, p. 32). destinados a cobrir a nudez dos escravos. Enquanto isso, na Europa do século XVIII, onde o Na época, a fiação e a tecelagem eram feitas com sistema familiar de produção havia sido superado há auxílio de instrumentos rústicos, como as rocas e os tempos pelas corporações de ofício, eram reunidos, primitivos fusos, sendo o trabalho executado no am- sob o mesmo teto, os tarefeiros assalariados. Grada- biente doméstico pelas senhoras e escravas. Devido tivamente, a independência e o controle individual à demanda resultante da Revolução Industrial inicia- dem sobre a produção cediam lugar ao parcelamento dos da na Inglaterra e à prosperidade alcançada pelo cul- processos de trabalho, que visava suprir as exigên- tivo do algodão, este viria a se transformar, no século d cias de um mercado cada vez mais amplo e estável. XVIII, no terceiro produto brasileiro de exportação, No Brasil, as poucas corporações de ofício exis- ficando atrás apenas do açúcar e do tabaco. cand tentes decaíram, a partir de 1759, em decorrência Embora os vice-reis e fidalgos se apresentassem Em da Reforma Pombalina que expulsou os jesuítas quase sempre vestidos de “seda de Gênova e de linho do país. Até essa época, os lucros da Coroa portu- e algodão vindos da Holanda e da Inglaterra”, a dificul- algo guesa advinham do comércio de especiarias com a dade de acesso a esses sofisticados artigos na colônia d Ásia. O Brasil era visto então apenas como um forne- estimulou uma produção de fios e tecidos de algodão estimu cedor de produtos que não podiam ser encontrados voltados também para as necessidades da casa-gran- voltad na Europa, ou seja, um grande território aberto às de (FREYRE, 2002, p. 112). A abundância da matéria- FR atividades extrativistas de pau-brasil, ouro e diaman- prima e a introdução da mecanização no processo de te, e à produção do açúcar. Essa condição explica o produção levaram a uma rudimentar indústria têxtil produ desinteresse da metrópole pela produção industrial que, forçando o preço para baixo, contribuiu para f brasileira, oficialmente explicitado no final do sécu- ampli o mercado consumidor do produto. ampliar lo XVIII, mais especificamente no dia 5 de janeiro de Um dos obstáculos à prosperidade da atividade 1785, com o alvará de d. Maria I que proibia o estabe- industrial brasileira na época decorria do Tratado de indust lecimento de fábricas e manufaturas no Brasil: 14
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    Eu a rainha.Faço saber aos que este alvará virem que Dos Autos de Devassa da Inconfidência Mineira1 4. Dom João com a carta de abertura dos portos às nações (...) excetuando tão somente aqueles ditos teares e ma- constam passagens que demonstram o inconformis- amigas, 1808, de Antônio nufaturas, em que se tecem ou manufaturam fazendas mo dos inconfidentes com a falta de liberdade e de Baeta; Negra Monjolo e Negro Quilga, de Johann Moritz grossas de algodão, que servem para o uso e vestuá- indústrias no país. Segundo as palavras da testemu- Rugendas, 1835 rio dos negros, para enfardar e empacotar fazendas, Computação gráfica nha capitão Vicente Vieira da Mota, o alferes Joaquim e para outros ministérios semelhantes; todas as mais José da Silva Xavier, Tiradentes, sejam extintas, e abolidas em qualquer parte onde se acharem nos meus domínios do Brasil... (ARQUIVO NA- começou a exagerar a beleza, formosura deste país, CIONAL). asseverando que era o maior do mundo, porque tinha em si ouro e diamantes acrescentando que bem podia Além da extinção de muitos teares pelo Brasil afo- ser uma república livre e florente (...) que no mesmo ra, a Carta Régia de 5 de julho de 1802 proibia que podiam levantar grandes utilíssimas fábricas, escusa- os governadores recebessem em audiência pessoas dos na maior parte os gêneros de fora (CÂMARA DOS vestindo roupas feitas com tecidos não fabricados na DEPUTADOS, 1976, p. 156-157). metrópole. Antes disso, a Carta Régia de 20 de feve- reiro de 1690 já havia determinado que os sapateiros Ironicamente, em 1807, a exportação do algodão, não trabalhassem em couro que não viesse de Por- superando a do açúcar, atingiu o auge em Pernam- tugal (JOFFILLY, 1999). Para Roberto Simonsen, o ato buco, e a guerra anglo-americana contribuiu para da rainha teve dois objetivos: “não distrair os braços quintuplicar o valor da fibra brasileira. As vozes que da lavoura e assegurar uma diferenciação na produção se erguiam a favor da atividade industrial no país entre a Metrópole e a Colônia, que permitisse o fomen- continuariam a se fazer ouvir por muito tempo: “Era to do comércio e o aumento do consumo dos produtos para lamentar que sendo o Brasil tão abundante de industriais da Metrópole” (1969, p. 375). metais em toda espécie, carecesse de pedir aos confins Além da proibição real, que obrigava o Brasil a im- do Norte da Europa o ferro que deve rasgar as veias do portar os gêneros de que necessitava, a Coroa portu- seu terreno, e que deve firmar a sua segurança” (IDADE guesa intensificou a taxação dos produtos vindos da DO OURO, 1819 apud RENAULT, 1939, p. 15). metrópole. E, a despeito do anunciado esgotamento Somente com a chegada da família real a vida na progressivo das jazidas de ouro e metais preciosos, colônia sofreria transformações importantes, que instituiu a derrama, um imposto compulsório que prenunciavam esperanças para a produção indus- obrigava a população da região das Minas Gerais a trial. A Carta Régia de 28 de janeiro de 1808 abria os completar a cota anual de ouro quando esta não era portos do Brasil para o comércio exterior com as na- atingida. Esses fatos culminaram com a conspiração de ções amigas, com exceção dos gêneros estancados:2 1789, que pretendia eliminar a dominação portugue- “Que sejam admissíveis nas Alfândegas do Brasil todos sa das Minas Gerais, estabelecendo ali um país livre. e quaisquer gêneros, fazendas e mercadorias transpor- 15
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    5. Banco doBrasil e Paço tados, ou em navios estrangeiros das Potências, que se Entretanto, o Tratado de Aliança e Comércio, Imperial, de Pedro Godofredo Bertichem, 1856; Teatro São conservam em paz e harmonia com a minha Real Co- firmado em 1810, prejudicaria mais uma vez a pro- João, de Thomas Ender, 1856 roa” (ARQUIVO NACIONAL). dução brasileira, e também a lusitana. Enquanto os Computação gráfica No mesmo ano, o alvará de 1º de abril permitia o demais países estavam submetidos à taxação de livre estabelecimento de fábricas e manufaturas no 24% em nossas alfândegas, a Inglaterra havia as- país: segurado o direito de colocar suas mercadorias no Brasil mediante a taxa de 15% ad valorem, enquan- Eu o Príncipe Regente faço saber aos que o presente to os produtos portugueses pagavam 16%. Os jor- Alvará virem que desejando promover e adiantar a nais da época davam conta dos novos tecidos que riqueza nacional, e sendo um dos mananciais dela as passaram a circular no Rio de Janeiro, como linhos manufaturas e a indústria que multiplicam e melhoram de todas as qualidades, cambraias, tafetás, sedas, lã e dão mais valor aos gêneros e produtos da agricultura etc., sendo que “eram enviadas anualmente ao Brasil e das artes e aumentam a população (...) sou servido cerca de ₤ 3.000.00 de produtos das manufaturas ingle- abolir e revogar toda e qualquer proibição que haja a sas” (apud SIMONSEN, 1969, p. 397). Para neutralizar este respeito no Estado do Brasil e nos meus Domínios essa invasão de produtos importados, sobretudo da Ultramarinos... Inglaterra, sobrevieram medidas que visavam impul- sionar a produção manufatureira no Brasil e nos do- Essas medidas, que marcaram uma nova fase da mínios ultramarinos portugueses. Foram concedidos economia colonial, faziam parte de uma política de privilégios aos inventores de máquinas e prêmios às cunho liberal defendida por intelectuais como José manufaturas de lã, algodão, seda, ferro e aço. da Silva Lisboa, o visconde de Cairu. Dois anos depois A transferência da Corte para o Rio de Janeiro, da abertura comercial, a cidade do Rio de Janeiro em 1808, levou à constituição de uma série de ins- contava com mais de cem manufaturas, e recebia um tituições: a Imprensa Régia, um passo decisivo para número cinco vezes maior de navios estrangeiros, a difusão de idéias, informação e cultura, o Banco do quase todos ingleses. Brasil, que inaugurou o sistema financeiro, e a Escola 16
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    No ano seguinte,um edital da Real Junta da Fa- 6. Diploma da Sociedade Auxiliadora da Indústria zenda estimulava a vinda de trabalhadores estran- Nacional (SAIN) geiros, para suprir a falta de mão-de-obra qualifica- Jean Baptiste Debret, meados do século XIX da. Enquanto os novos trabalhadores não chegavam, Litografia as manufaturas valiam-se da força de trabalho livre existente no país, potencialmente mobilizável mas sem qualquer formação técnica. Como parte da política de valorização do ensino das ciências, da economia e da técnica, enfatizada após a elevação do Brasil à categoria de Reino Unido de Portugal e Algarves em 1815, foi fundada, no ano seguinte, a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios. Destinava-se ao ensino das belas-artes e das artes mecânicas, sendo que os filhos dos pobres deveriam Cirúrgica de Salvador (1808). Nos anos seguintes se- ser encaminhados para este último a fim de se tor- riam criados a Academia Militar (1810), a Biblioteca narem artífices. Embora as aulas tivessem iniciado Nacional (1810), o Real Teatro de São João4 (1810), a somente em 1820, e com um único foco voltado para Academia Médico-Cirúrgica do Rio de Janeiro (1813), as belas-artes, as idéias sobre o papel da educação o Jardim Botânico (1818) e o Museu Imperial (1818). na formação social e no trabalho sensibilizaram Ig- Uma importante iniciativa foi a criação, em 23 de nácio Álvares Pinto de Almeida, que em 1816 come- agosto de 1808, da Real Junta do Comércio, Agricul- çou a coletar assinaturas para a constituição de uma tura, Fábricas e Navegação, que deveria funcionar entidade voltada para a produção de “conhecimentos como órgão regulador da implementação das fábri- úteis” ao desenvolvimento do país. cas e manufaturas no Brasil. No entanto, a Proclamação da Independência E foi nesse contexto que surgiu a Real Fábrica de em 1822 não produziu alterações significativas nas Ferro São João do Ipanema, numa localidade antiga- práticas de aprendizagem dos ofícios vigentes no mente chamada Campo Largo, próximo a Sorocaba, Brasil, pois “não era aspiração da liderança que fez em São Paulo. Mais tarde, a cidade viria a ter o nome a Independência qualquer reforma econômica ou de Araçoiaba, em tupi esconderijo do sol. A empresa social” (XAVIER, 1992, p. 82). Somente quando os pioneira foi criada por meio de Carta Régia de 4 de investimentos industriais passaram a se sobrepor dezembro de 1810, como uma sociedade acionista àqueles voltados para as atividades comerciais, de capital misto, com 13 ações pertencentes à Coroa foram lançadas as bases para uma lenta transfor- portuguesa e 47 a acionistas particulares de São Pau- mação em direção à modernização das estruturas lo, do Rio de Janeiro e da Bahia. produtivas brasileiras. A Constituição de 1824 de- 17
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    terminou a extinçãodas corporações até então res- ininterrupta d’O Auxiliar da Indústria Nacional, cujo ponsáveis pela prática e aprendizagem de alguns objetivo era ofícios manufatureiros (Constituição Política do Im- pério do Brasil, 1824, § XXV, art. 179). As limitações convencer os sócios a tomarem o caminho da civiliza- da economia colonial, o diminuto mercado interno ção segundo os modelos europeus, especialmente no e a falta de incentivos decorrentes da existência que se referia à substituição do trabalho escravo pelo do trabalho escravo foram considerados fatores livre (...) os números iniciais da revista já indicam que a responsáveis pela decadência das corporações, re- Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional utilizou o duzidas então a irmandades de caráter religioso e Auxiliador para difundir os conhecimentos que consi- assistencial (CUNHA, 2000). derava úteis e introduzir novos costumes preparando, Por não permitirem a livre negociação entre em- deste modo, a população para instaurar a moderniza- pregadores e trabalhadores, as corporações cons- ção do Estado brasileiro (MURASSE, p. 3; 6). tituíam empecilhos à plena vigência das relações de trabalho próprias da sociedade capitalista: “As Na época, o mundo ocidental inspirava-se nas corporações fixavam os padrões de produção, o preço idéias de Adam Smith, que, em sua importante obra dos produtos e os salários dos oficiais. Por essa razão, A Riqueza das Nações, publicada em 1776, sistemati- a doutrina econômica liberal (...) pregava a sua extin- zava o conhecimento da época sobre economia e de- ção...” (CUNHA, 2000, p. 54). senvolvimento. Para ele, a riqueza das nações resul- Finalmente, em 19 de outubro de 1827, foi fun- tava da necessidade de uma transformação contínua dada a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional e o progresso técnico era um elemento intrínseco do (Sain), que, pelos seus estatutos, aprovados em 1831, modo de produção capitalista: tinha como meta “promover, por todos os meios que estiverem ao seu alcance, o melhoramento e a prospe- o aumento de produção (...) é resultante de três circuns- ridade da indústria no Império do Brasil” (MURASSE, tâncias diferentes: primeiro, do aumento da destreza 2006). Em respeito à produção brasileira do período, de cada trabalhador; segundo, da economia de tempo, as primeiras ações da Sain voltaram-se para a me- que antes era perdido ao passar de uma operação para canização das atividades agrícolas, como forma de, outra; terceiro, da invenção de um grande número de aumentando a produtividade no campo, criar estí- máquinas que facilitam o trabalho e reduzem o tempo mulos para a aquisição das máquinas necessárias a indispensável para o realizar, permitindo a um só ho- impulsionar as atividades industriais. mem fazer o trabalho de muitos (SMITH, 1976, p. 11). Tendo como filiados os políticos mais importan- tes da época, a Sain, que tinha uma preocupação Mas essas idéias de progresso chegaram ao Brasil explícita com a educação e a formação profissional, com certo atraso, e num momento em que as finan- seria responsável, entre 1833 e 1892, pela edição ças do Império não iam bem: o valor das importações 18
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    superava em muitoo das exportações. Em 1828 a si- em Minas Gerais e na Bahia, e estimulou o setor de 7. Etiqueta para tecidos registrada pela Companhia tuação agravou-se com a lei que estendia a todas as metalurgia em Pernambuco. Com isso, fez diminuir o Petropolitana, Rio de Janeiro importações brasileiras a tarifa de 15%, diminuindo déficit público e aliviar as finanças do Brasil. Litografia, 10 de setembro de 1888 ainda mais a arrecadação e contribuindo para o de- Mas os novos ventos sopravam em cenários mar- Detalhe sequilíbrio da balança comercial. Visando solucionar cadamente antagônicos: enquanto no Nordeste o grave déficit, o governo imperial adotou algumas desenvolvia-se uma indústria movida pelo trabalho medidas alfandegárias que não surtiram o efeito de- escravo, no Sul várias tentativas de industrialização sejado. eram beneficiadas pelo favorecimento à entrada Nesse meio-tempo, por proposta apresentada de colonos estrangeiros, com doação de sesmarias por Januário da Cunha Barbosa e Raimundo José da aos que nelas quisessem trabalhar e a isenção, em Cunha Mattos aos 27 sócios fundadores da Sain, foi 1846, de taxas alfandegárias para as matérias-pri- criado em 21 de outubro de 1838 – tendo como pa- mas aproveitáveis nas manufaturas, sobretudo na trono D. Pedro II – o Instituto Histórico e Geográfico indústria têxtil. Essa disparidade entre o trabalho es- Brasileiro (IHGB) com o propósito de “coligir, metodi- cravo e o trabalho livre, que dividia o país em dois, zar, publicar ou arquivar os documentos necessários passou a aquecer as discussões entre os intelectuais para a História e a Geografia o Brasil...” (artigo 1º do abolicionistas da época, para os quais a escravidão Estatuto do IHGB, www.ihgb.org.br/ihgb.php). Mar- contribuía para retardar o desenvolvimento técnico cado pela tradição iluminista, o IHGB deveria “levar do país. a cabo um projeto dos novos tempos, cuja marca é a soberania do princípio nacional enquanto critério fun- Para provar (...) que a escravatura deve obstar a nossa damental definidor de uma identidade social” (GUIMA- indústria, basta lembrar que os senhores que possuem RÃES, 1988). escravos vivem, em grandíssima parte, na inércia, pois A partir de 1844, em conseqüência da Tarifa Alves não se vêem precisados pela fome ou pobreza a aper- Branco, que conferia certa proteção à produção bra- feiçoar sua indústria (...) as máquinas que poupam bra- sileira, o desenvolvimento do país teve um impulso. ços pela abundância extrema de escravos nas povoa- Com o término da validade do tratado assinado com ções grandes são desprezadas. Causa raiva ou riso ver a Inglaterra em 1810, e renovado em 1827 por mais vinte escravos ocupados em transportar vinte sacos 15 anos, cerca de três mil artigos importados passa- de açúcar que podiam conduzir uma ou duas carretas riam a pagar taxas que variavam de 20 a 60%, sendo bem construídas com dois bois ou duas bestas mua- que as tarifas mais altas referiam-se às mercadorias res. (JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA, 1822 apud estrangeiras com similares no Brasil. Apesar de de- DOLHNIKOFF, 2000, p. 29) safiar a Inglaterra, violando o acordo vigente entre os dois países, a medida promoveu o surgimento de O discurso de José Bonifácio encontrava eco no uma série de fábricas de tecidos no Rio de Janeiro, pensamento de Joaquim Nabuco (1999, p. 77), para
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    8. Embarque decafé no quem a escravidão, “espalhando-se por um país, mata pregavam mais de mil operários e produziam navios, Porto de Santos antes da construção do cais, SP cada uma das faculdades humanas, de que provém a caldeiras para máquinas a vapor, engenhos de açú- Marc Ferrez indústria: a iniciativa, a invenção, a energia individual”. car, guindastes, prensas, além de artilharia etc. Des- Fotografia, 1880 Detalhe O tema não passou despercebido pela Sain. Em se complexo saíram mais de 72 navios em 11 anos, 1848, o conselho da entidade, na época presidido entre os quais as embarcações brasileiras utilizadas por Miguel Calmon du Pin de Almeida, visconde de nas intervenções platinas e as embarcações para o Abrantes, instituiu, com apoio da recém-criada So- tráfego no Rio Amazonas. ciedade Contra o Tráfico de Africanos e Promotora da Colonização e Civilização dos Indígenas, um prêmio Era já então, como é hoje ainda, minha opinião que o para quem apresentasse, até 1850, a melhor propos- Brasil precisava de alguma indústria dessas que me- ta sobre a forma de substituir o trabalho escravo pelo dram sem grandes auxílios, para que o mecanismo de trabalho livre. sua vida econômica possa funcionar com vantagem Daí em diante, empurrado pelo progresso da pro- (...) e a indústria de ferro, sendo a mãe das outras, me dução cafeeira, o Brasil iria mudar. Ao mesmo tempo parecia o alicerce dessa aspiração. (MAUÁ, 1996, p. 8) que se consolidava como principal produto brasi- leiro de exportação, o café provocava uma onda de A fundição dedicava-se também ao fabrico de pe- crescimento econômico nunca antes visto no Brasil, ças úteis ao abastecimento de água, como se depre- e, cada vez mais, a mão-de-obra escrava cedia espa- ende do aviso do ministro do Império, publicado no ço para o trabalhor assalariado imigrante. Cinco anos Correio Mercantil de 15 de dezembro de 1854: “ontem depois do ato inglês conhecido como Bill Aberdeen, o Imperador correu água pela primeira vez em um cha- a Lei Eusébio de Queirós, de 1850, proibia o tráfico fariz que acaba de ser construído na praia de Botafogo negreiro no Brasil. Com isso, parte do capital despen- (...) segundo o desenho e risco que enviei à fabrica da dido na compra de escravos passou a ser investida Ponta da Areia” (apud RENAULT, 1939, p. 34). E logo na indústria. surgia também a motivação para transformação do Irineu Evangelista de Souza, mais tarde intitulado sistema brasileiro de transporte: como se tornava barão de Mauá, deu os primeiros passos em direção impraticável carregar a produção cafeeira em lom- à modernização da economia brasileira. Uma viagem bo de burro, o Brasil ingressava na era da ferrovia. à Inglaterra em 1840, onde conheceu fábricas, fun- Em 1852, o governo imperial promulgou a lei que dições de ferro e o mundo dos empreendimentos, concedia isenções e garantias de juros sobre o capi- impulsionou-o em direção à industrialização. tal investido às empresas, nacionais ou estrangeiras, Poucos anos depois, Mauá tomava para si a incum- que se interessassem em construir e explorar estra- bência de colocar em funcionamento a Fundição e a das de ferro no país. Dois anos depois, graças aos Companhia Estaleiro da Ponta da Areia, que, forman- esforços do visionário Irineu Evangelista de Souza, do o maior empreendimento industrial do país, em- que subscreveu a quase totalidade do capital neces- 20
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    se juntar aositalianos. Graças ao café, a capital do 9. Construção de ferrovia Fotografia, 1870 país civilizou-se, ganhou iluminação a gás e bonde, e experimentou o luxo. E se não foi o Rio de Janei- ro a pátria brasileira mais próspera do café, foi de lá que partiram as sementes que, disseminadas pelos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná e São Paulo, viriam gerar as riquezas e garantir o progresso e a modernização do país. No Brasil, a transição da escravidão para o traba- lho livre, o deslocamento das plantações do Rio de Janeiro para São Paulo, a construção de uma infra- estrutura para o escoamento da produção e a recu- sário à construção, foi inaugurada a Estrada de Ferro peração da crise inflacionária e especulativa deman- Mauá, primeira linha ferroviária do Brasil, que esta- daram tempo. Somente em 1870, quando a ferrovia beleceu a ligação entre o Porto da Estrela (interior da cruzou o planalto paulista e se iniciou a maciça imi- baía da Guanabara) e a raiz da Serra (Petrópolis). Dez gração européia, uma nova expansão da cafeicultura ferrovias seriam construídas nos vinte anos seguin- brasileira se tornou possível. tes, tendo sido o desenvolvimento dessa rede uma A fase do capitalismo que se iniciou no último das conseqüências do crescimento e da diversifica- quartel do século XIX no Brasil encontrou setores da ção das atividades econômicas. economia cafeeira capazes de promover uma inten- Em 1874, a antiga Escola Central do Rio de Janeiro, sa incorporação do trabalho assalariado, em diversos antes voltada para as atividades militares, passou à âmbitos do sistema produtivo. Entretanto, a luta pela alçada do ministro do Império. Com o nome de Esco- industrialização dividia mais uma vez o país: de um la Politécnica, voltava-se para o ensino da engenha- lado estavam os grandes proprietários de terra e es- ria civil. Um ano depois, foi criada a Escola de Minas cravos; de outro, os que sonhavam com a máquina. de Ouro Preto, na província de Minas Gerais. Desde O primeiro grupo repelia a idéia da industrialização, então, o ensino superior no Brasil iria se desenvolver sob a alegação de que o Brasil era incapaz de concor- com a multiplicação de faculdades isoladas criadas rer com a indústria estrangeira. Os progressistas, por por iniciativa estatal. sua vez, combatiam a escravidão e exigiam a defesa Nessa época, os imigrantes europeus sentiam-se de nossos interesses comerciais. atraídos pela prosperidade do café. As convulsões Conspiravam contra os defensores do surto desen- políticas e sociais que despontaram na Itália fize- volvimentista a ausência de capitais e investimentos ram com que milhares de colonos desembarcassem em infra-estrutura, além da concorrência com a in- no país em 1876. E outros contingentes logo viriam dústria européia. Juntavam-se a esses fatores a preca- 21
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    10. Liceu deArtes e Ofícios riedade dos transportes e a interrupção do trabalho do Rio de Janeiro Marc Ferrez em virtude das epidemias intermitentes. Além disso, Fotografia, 1890 a Reforma Sousa Franco (1857), pela qual as moedas 11. Oficina de sapataria inglesas passaram a ser recebidas nas repartições pú- da Escola de Artífices do Espírito Santo blicas, e a Reforma Silva Ferraz (1860), que reduziu as Fotografia, 22 de dezembro taxas de importação sobre máquinas, ferramentas e de 1910 ferragens, alterando os direitos e o protecionismo da Tarifa Alves Branco,6 favoreceram novamente a con- corrência estrangeira e deixaram a indústria nacional mais uma vez desprotegida. 22
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    Imensas eram tambémas dificuldades com a mão- acompanhar o programa de ensino. O idealizador da 12. Escola de Aprendizes Artífices de Natal, RN de-obra, agravadas pelo fato de o Brasil não contar Escola de Adultos, Antônio de Almeida Oliveira, lan- Fotografia, 1913 com escolas práticas de ensino industrial. O ensino çou, nesse mesmo ano, a obra O Ensino Público, onde e a educação, calcados no conteúdo humanístico e se lê: “a instrução dos povos governa-se por certas leis eclesiástico, não supriam as demandas apresentadas em grande número fixas e invariáveis, e que não podem pela produção. sem dano ser quebrantadas, por terem caráter de leis Apesar disso tudo, vivia-se um tempo de prospe- naturais” (apud OLIVEIRA, 2003, p. 60). ridade, pois o café continuava a equilibrar a balança Nessa época, as mudanças sociais avançavam, de pagamentos. Entre 1850 e 1860, o país viveu uma tendo como importante suporte os correligionários transformação política e econômica importante. Fo- do movimento pela abolição da escravatura, que iria ram instaladas empresas industriais e companhias ocorrer de forma lenta e gradual. Em 1871, a Lei do de navegação, seguro, mineração; transporte urba- Ventre Livre tornava libertos os filhos de escravos no, sistema de distribuição de gás, além de ferrovias, que nascessem a partir de sua promulgação.8 Mais bancos e caixas econômicas; Mauá estava à frente de tarde, a Lei Saraiva-Cotegipe, ou dos Sexagenários, quase todas essas iniciativas. passou a beneficiar os negros de mais de 65 anos.9 Data dessa época a criação dos liceus de ofícios, Mas somente em 13 de maio de 1888 seria concedi- destinados principalmente a amparar e treinar os da a liberdade para os negros. Assinada pela princesa órfãos para o trabalho. Os recursos para manter es- Isabel, a Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil, sas entidades provinham dos membros de socieda- decorreu de pressões internas e externas.10 des civis organizadas ou de doações de benfeitores, Com a força do movimento abolicionista, torna- geralmente membros da burocracia do Estado, no- va-se cada vez mais difícil conter a fuga de escravos, bres, fazendeiros e comerciantes. Nos liceus, os cur- principalmente considerando que o Exército se re- sos eram gratuitos, porém, em geral, vedados aos cusava a participar da captura e devolução dos cati- escravos. vos. Também era economicamente inviável manter O Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, pre- o trabalho escravo diante da concorrência com a cursor do ensino profissionalizante do Brasil, foi cria- mão-de-obra imigrante, barata, abundante e edu- do em 9 de janeiro de 1858 pela Sociedade Propaga- cada. Além disso, a Inglaterra forçava a abolição na dora das Belas Artes, como uma instituição de ensino tentativa de abrir mercado para os seus produtos in- voltada para uma população economicamente des- dustrializados. favorecida. Em 1873, por iniciativa da Sain, que já Entre as circunstâncias favoráveis ao desenvolvi- mantinha uma Escola Noturna de Adultos,7 começou mento industrial havia as dificuldades para pagar os a funcionar a Escola Industrial, destinada a jovens manufaturados produzidos no exterior, o aumento maiores de 14 anos que, selecionados por meio de progressivo das tarifas alfandegárias, a significativa exame de admissão, apresentassem condições de produção nacional de algodão e a disponibilidade 23
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    13. Alunos nopátio da Escola Profissional Masculina, São Paulo Fotografia, década de 1910 de mão-de-obra, cuja precariedade era compensada trial não se sustentaria. Na época, as instituições de pelo baixo preço (PRADO JÚNIOR, 1976). À medida que pesquisas científicas não tinham propostas objetivas crescia o número de estabelecimentos industriais, e as universidades encontravam-se muito distantes consolidavam-se as relações capitalistas de produ- dos requerimentos da indústria. ção. O aspecto filantrópico presente nas iniciativas Mas a resposta à necessidade de gerar conheci- associadas ao ensino dos ofícios foi sendo parcial- mentos úteis ao setor produtivo não foi a mesma para mente substituído por um discurso baseado na ra- todas as nações que se industrializavam. Na Inglater- cionalidade da produção, ou seja, no cálculo dos cus- ra, a Royal Society of Arts priorizou o intercâmbio tos e benefícios do ensino para a formação da força de conhecimentos produzidos em escolas técnicas de trabalho. Ao mesmo tempo, o ensino dos ofícios, e laboratórios particulares, muitos dos quais sedia- antes destinado aos menores menos favorecidos, foi dos em fábricas. Na França, tentou-se desenvolver a sendo transferido para os filhos dos trabalhadores, pesquisa em escolas técnicas e universidades, com a sem que, no entanto, ocorressem mudanças signifi- mediação do Instituto da França, o que levou a uma cativas no sistema educacional vigente: burocratização dos meios de informação e impediu o seu êxito. A Alemanha optou por vincular a pesquisa A proposta de um ensino profissional para as massas, de ao ensino, construindo um modelo posteriormente modo a moralizá-las e a desenvolver a produção para adotado por muitos países. A pesquisa científica sis- transformar a sociedade sem ‘quebrar suas molas’ foi, tematizada e a oferta satisfatória de pesquisadores talvez, o núcleo de todo o pensamento elaborado no foi um dos fatores que levaram a indústria alemã a Brasil Imperial sobre o assunto (CUNHA, 2000, p. 157). passar ao primeiro plano na escala mundial. Nos Estados Unidos, país em franco processo de Desde o final do século XVIII, havia entre os cien- industrialização, o governo empenhava-se na cons- tistas e empresários dos países mais desenvolvidos a trução de “uma nova civilização que dependia basica- idéia de que se a indústria e o Estado não voltassem mente da escola na preparação dos americanos para suas atenções para a ciência, o crescimento indus- as muitas ocupações” (BOMENY, 2001, p. 79). Em 1862 24
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    o então presidenteAbraham Lincoln promulgou o A Proclamação da República em 1889 não provo- 14. Capa da primeira Constituição da República, Morrill Act, que criou os Land-Grant Colleges, com o cou mudanças imediatas na conjuntura econômico- promulgada no Rio de propósito de social brasileira. Sob forte ideologia positivista, os Janeiro em 24 de fevereiro de 1891 governos republicanos continuaram opondo resis- não excluindo outros estudos clássicos e científicos, tência à criação de universidades. No entanto, as 15. Escola de Aprendizes Artífices de Sergipe incluindo tática militar, ensinar os ramos do conheci- reformas de 1891 equipararam os estabelecimentos Fotografia mento relacionados à agricultura e às artes mecânicas de ensino secundário e superior ao Ginásio Nacional (...) a fim de promover a educação liberal e prática, das e às faculdades mantidas pelo governo federal. Em classes industriais nas diversas atividades e profissões 1901, além de a equiparação ter se estendido ao en- da vida (TEIXEIRA, 1969, cap. 12). sino particular, as escolas poderiam outorgar diplo- mas que autorizavam o exercício de certas profissões Com a intenção de disseminar faculdades indus- regulamentadas em lei. O resultado dessas medidas triais e/ou agrícolas por todo o território, o governo, foi a grande expansão do ensino superior no país: de além de transferir imensos terrenos federais para os 1891 até 1910, foram criadas 27 escolas superiores. estados, permitia que estes vendessem terras devo- Além disso, o complexo montado em torno da lutas, desde que aplicassem os recursos assim obti- produção cafeeira, que incluía ferrovias, bancos, em- dos na educação superior. presas exportadoras e uma mecanização crescente, Pouco depois, o mundo encontraria nas teorias contribuiria para fomentar a base de um crescimen- de Karl Marx uma explicação para o necessário de- to industrial, sugerindo uma ruptura com as formas senvolvimento das forças produtivas. Publicado em 1867, O Capital alertava para o fato de que a indústria capitalista somente poderia subsistir com a condição de revolucionar incessantemente os instrumentos e os modos de produção e, com isso, todas as relações sociais. No Brasil, a educação para o trabalho não acom- panhou as propostas adotadas na Europa e nos Es- tados Unidos da América. Oriundo de uma matriz sociocultural diferenciada, o país carregava as con- seqüências de ter sido uma colônia de exploração, e não de ocupação, como os EUA. O único referen- cial de universidade, instituição proibida no país nos tempos coloniais, vinha do ensino medieval e esco- lástico de Coimbra. 25
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    16. Abaporu, telaque época, escolas comerciais em São Paulo, no Rio de inspirou Oswald de Andrade a escrever o Manifesto Janeiro e na Bahia etc., tendo sido reorganizado tam- Antropófago e criar o bém o ensino agrícola. Movimento Antropofágico, com a intenção de “deglutir” Com a morte do presidente Affonso Pena, o proje- a cultura européia e transformá-la em algo bem to não foi mais adiante. Somente no governo de Nilo brasileiro Peçanha seriam criadas 19 escolas de aprendizes e Tarsila do Amaral Óleo sobre tela, 1928 artífices, que tinham como objetivos “habilitar os fi- lhos dos desfavorecidos da fortuna com o indispensável preparo técnico e intelectual, e fazê-los adquirir hábitos de trabalho profícuo, que os afastará da ociosidade, es- cola do vício e do crime...”.12 Apesar de seu caráter predominantemente assis- tradicionais de produção no país. Um marco da cons- tencialista, essas escolas determinaram o início de trução dessa nova ordem econômico-social republi- uma presença mais explícita, embora moralizadora, cana, estabelecida com base no setor cafeeiro, foi a do governo com relação ao ensino profissional no fundação, em 1904, do Centro Industrial do Brasil país, até então sustentado por iniciativas privadas. A (CIB).11 Reforma Rivadávia Corrêa e a Reforma Carlos Maximi- Da mesma forma que a alta dos preços do café liano, respectivamente de 1911 e 1915, buscaram re- ensejou o desenvolvimento de plantações da Ve- gulamentar o ensino secundário e superior no país.13 nezuela, Haiti e Costa Rica e o surgimento de novas Mas essa prosperidade econômica, dependente áreas produtoras na Guatemala, El Salvador, México da produção cafeeira, iria mudar de rumo. A ativida- e Colômbia, o aumento da oferta mundial do pro- de industrial, que, a despeito dos esforços dos pio- duto fez despencar os preços no mercado interna- neiros, não havia conseguido sobrepujar as barreiras cional. A crise de superprodução levou os cafeicul- ao seu crescimento, iria galgar novos patamares a tores a forçarem a assinatura, em 1906, do Convênio partir de 1914. de Taubaté, pelo qual o governo se comprometia a Com a eclosão da I Guerra Mundial, o comércio in- comprar o excedente da produção e esperar melho- ternacional sofreu um drástico desaquecimento, im- res condições de mercado. Com isso, o preço voltou pondo dificuldades à exportação do café brasileiro. a subir e os altos lucros estimularam os cafeicultores Os fazendeiros e comerciantes, impossibilitados de a continuar produzindo café. aplicar seus capitais na expansão da lavoura cafeeira, O ensino profissional, que passou a ser respon- sentiam-se atraídos a investir na indústria, favorecida sabilidade do Ministério da Agricultura, Indústria e também pelo crescimento do mercado interno de Comércio, buscava incentivar o desenvolvimento bens de consumo duráveis – têxteis, vestuário, mó- industrial, comercial e agrícola. Foram fundadas, à veis etc. – e não duráveis – bebidas, alimentos etc. 26
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    Os sinais deprogresso, extravasando as fronteiras e elaborá-la. Até então, as várias iniciativas no cam- de uma promissora atividade industrial, traduziam- po da educação profissional no Brasil haviam sido se, então, em mudanças na vida brasileira. A aurora esporádicas, descontínuas, e sem um planejamento do novo século coincidia com as ações do movimen- nacional efetivo. Com isso, no final do século XIX a to sanitarista voltadas para o controle das endemias, formação do trabalhador brasileiro ainda lembrava o que punham em risco o desenvolvimento nacional. processo de aprendizagem das antigas corporações Mas se deparava também com as manifestações de medievais: trabalhadores que, inspirados nos operários norte- americanos e europeus, lutavam por melhores con- O aluno era admitido na oficina como aprendiz, pas- dições de vida e trabalho. sando a receber as noções gerais sobre o ofício esco- Em 1917, ao mesmo tempo que um grande mo- lhido, no próprio trabalho. O aprendiz era colocado vimento grevista praticamente paralisou a cidade ao lado de um operário adulto a quem começava por de São Paulo, uma orgulhosa e ascendente elite em- auxiliar, terminando por se tornar um ‘operário efetivo’ presarial inaugurava a Primeira Exposição Industrial como ele (CUNHA, 2000, p. 124). no suntuoso Palácio das Indústrias, edifício especial- mente construído para este fim: Para permitir a pesquisa referente à disponibili- dade de matéria-prima no território brasileiro, foram No pátio da Exposição Industrial de Água Branca, foi fundadas a Estação Experimental de Combustíveis e exposto o primeiro automóvel brasileiro, o PINAR – si- Minérios (1921) e a Comissão Nacional de Siderurgia gla de Pioneiro da Indústria Nacional de Automóveis (1923), esta última integrada pelos engenheiros Er- Reunida – todo construído à mão, com materiais e pe- nesto Lopes da Fonseca Costa e Euvaldo Lodi. Além ças nacionais, inclusive o motor (GATTÁS, 1981, p. 65). disso, o Brasil abria-se para as novidades que, trazi- das da Europa, adaptavam-se às expectativas da re- Além de principal centro econômico do país, São finada elite cosmopolita, desejosa de se diferenciar Paulo tornava-se também o maior pólo de organiza- culturalmente dos segmentos sociais locais tidos ção de trabalhadores brasileiros. E a sociedade brasi- como incultos. leira entrava efetivamente no século XX. Promovida pelos cafeicultores e novos indus- Somente em 1920 a República reuniu as escolas triais paulistas, a Semana de Arte Moderna de 1922, profissionais existentes em sua capital sob o nome reunindo muitos intelectuais da época, foi um refle- de Universidade do Rio de Janeiro. Com isso, o país xo dos desejos de modernização e transformação passaria a contar com uma educação superior volta- cultural do país. Todavia, se algumas manifestações, da para a formação para o exercício das profissões. como as artes plásticas, a literatura e o teatro, repro- Até então, segundo Anísio Teixeira (1989), julgava-se duziam os ideais modernistas europeus, o Brasil ain- que o Brasil poderia importar cultura, mas não criá-la da não apresentava um desenvolvimento industrial
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    maduro, capaz deabsorver os princípios defendidos ção Profissional (CFESPs), criados por diversas com- pelas vanguardas reunidas em torno de centros de panhias férreas do estado de São Paulo. Esses cursos ensino como a Bauhaus. Herdeira, ao mesmo tempo, nasceram ligados aos projetos de uma geração de do movimento inglês Arts and Crafts e da Deutscher engenheiros da Escola Politécnica que, influenciados Werkbund, a escola, fundada em 1919 na Alemanha, pelos princípios tayloristas introduzidos no país por pretendia, pela valorização da produção industrial Roberto Simonsen em 1919, apostavam na prepara- e do desenho de produtos, estabelecer uma asso- ção racional e metódica da mão-de-obra. ciação definitiva entre a arte e a tecnologia da má- A fundação da Escola Profissional de Mecânica no quina. Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, em 1924, re- O Brasil estava ainda começando a assimilar as presentou a oportunidade para que Roberto Mange, idéias desenvolvidas pelo engenheiro norte-ameri- uma das figuras mais relevantes na aplicação da psi- cano Frederick Winslow Taylor. Sua obra Princípios da cologia às questões do trabalho, colocasse em práti- Administração Científica, publicada em 1911, referia- ca seus princípios de “aprendizagem racional”, que se se às novas formas de gerenciar e organizar as in- caracterizava pela rapidez, economia e eficiência. dústrias. Convencido da ineficiência do trabalho dos operários fabris, Taylor empenhou-se em identificar Desde então, mediante a utilização da psicotécnica, o os eventuais problemas que atrasavam os tempos ensino de ofícios não se destinava apenas a dar instru- de produção. Inventou aparelhos e criou uma série ção aos pobres, mas cuidava de aproveitar os mais ap- de implementos para aperfeiçoar as formas de tra- tos, deixando em segundo plano sua antiga dimensão balho da maquinaria e agilizar as operações huma- assistencial (CUNHA, 2000, p. 133). nas. Ele instituiu também a remuneração por produ- ção, princípio baseado na idéia de que a atividade Em 1925, a Reforma Rocha Vaz buscava dar maior humana é influenciada pelas recompensas salariais eficiência ao ensino superior pela diminuição do nú- ou materiais. mero de estudantes em certos cursos e sua recon- Nessa mesma época, uma série de debates na Câ- dução para os cursos menos procurados, nos quais mara dos Deputados propunha a expansão do ensi- havia vagas disponíveis.14 No ano seguinte, um in- no profissional, estendendo-o a pobres e ricos, e não quérito foi elaborado por Fernando de Azevedo com apenas aos desafortunados. Como conseqüência das o objetivo de conhecer a situação educacional do an- discussões foi criada uma comissão especial que, co- tigo Distrito Federal. Com base nesse levantamento, nhecida como Serviço de Remodelagem do Ensino seria feito o primeiro projeto educacional no Brasil Profissional Técnico, daria origem aos ministérios da que, além de abranger o ensino primário, o secun- Educação e Saúde Pública e do Trabalho, Indústria e dário, o normal e o superior, dava ênfase ao ensino Comércio. As primeiras escolas profissionais corpora- técnico-profissional e ao papel da administração pú- tivas foram os Centros Ferroviários de Ensino e Sele- blica nesse campo. 28
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    O amadurecimento daindústria paulista ficou to Simonsen, demonstrava uma mentalidade nova, 17. Primeira diretoria do Ciesp marca a presença de demonstrado com a criação, em 1928, do Centro das que iria se refletir nas várias ações em direção a uma importantes industriais do Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp),15 que, sob modernização das condições fabris e educacionais. país à época. Da esquerda para a direita, sentados: a presidência de Francisco Matarazzo, originou-se de Assim, a segunda década do século XX encer- Horácio Lafer, Jorge Street, Francisco Matarazzo, uma mobilização histórica que constituiria um passo rava-se deixando as bases para o desenvolvimen- Roberto Simonsen e Plácido importante em direção à primeira “revolução indus- to econômico que seria experimentado nos anos Meirelles. Em pé: Antônio Devisate, José Ermínio de trial” brasileira. seguintes. O trabalho passava a ser depositário da Moraes, Carlos von Bulow e O período, marcado pela ascensão de grandes in- educação e da pesquisa científica, que, por sua vez, Alfredo Weisflog Fotografia, 1928 dustriais, tais como Francisco Matarazzo, José Ermí- adaptavam-se às necessidades da produção, pro- rio de Moraes, Carlos von Bulow, Plácido Meirelles, movendo um encontro que favorecia a racionalida- Manuel Guilherme da Silveira, Horácio Lafer, Pandiá de necessária à construção de uma moderna socie- Calógeras, Jorge Street, Antônio Devisate e Rober- dade industrial. 29
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    A ’revolução industrial’ brasileira ’lairtsudnI oãculover‘ 31
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    O período quese convencionou chamar aqui de Um dos setores menos afetados pela conjuntura 18. Desfile de operários da Companhia Siderúrgica “revolução industrial” brasileira representou a tran- mundial foi a indústria. A emissão de moedas para Nacional, 1º de maio de 1942 sição definitiva da manufatura para uma economia atenuar as dificuldades da agricultura fez com que o Computação gráfica Página 30 predominantemente industrial. A consolidação do mercado interno, destino de quase toda a produção 19. Propaganda do Simca processo produtivo no Brasil adveio das significativas fabril da época, se tornasse o fator mais dinâmico da Chambord publicada na transformações que marcaram os cenários nacional e economia. Com isso, houve uma progressiva substi- revista O Cruzeiro, dezembro de 1960 internacional nos anos 30 do século XX. tuição das atividades agroexportadoras pelas indus- Detalhe O mundo vivia então sob o efeito da crise defla- triais, que prosperavam impulsionadas pelas pos- grada com a quebra da Bolsa de Nova York em 1929. sibilidades de lucro e pela atração de capitais antes Entre outras coisas, o desequilíbrio econômico pro- dirigidos à exportação. vocava a ausência de um mercado para a produção O movimento revolucionário de 1930, deflagrado agrícola, a ruína dos produtores rurais e o desempre- depois de uma série de levantes militares, represen- go urbano. tou uma reação contra o predomínio político do setor A conjuntura internacional, que se refletia no Bra- cafeeiro. E, muito embora depois da Revolução Cons- sil impondo obstáculos às exportações brasileiras e titucionalista de 1932 o governo provisório tivesse provocando um aumento significativo dos preços concedido benefícios para os produtores de café, os dos produtos importados, obrigou o governo a to- quadros oligárquicos tradicionais seriam substituí- mar medidas efetivas. E embora o controle cambial, dos no poder pelos militares, pelos jovens políticos e, os empréstimos especiais, a moratória e a queima mais adiante, pelos novos industriais. dos estoques de café tenham conseguido minimizar Num primeiro momento, a expansão do setor in- os efeitos da crise, não foram suficientes para evitar dustrial valeu-se da capacidade já instalada no país: uma onda de falências. a produção da indústria têxtil, por exemplo, aumen- 33
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    tou substancialmente nosanos que se seguiram à leo por indústrias nacionais passou a ser bandeira de Depressão. Outro fator determinante do crescimen- luta dos grupos que rechaçavam a participação es- to industrial à época foi a possibilidade de adquirir trangeira na gerência das indústrias de base. equipamentos de segunda mão dos países mais A visão da formação profissional para o exercício fortemente atingidos pela crise. Mais adiante, a ele- de funções nos postos de trabalho, segundo os pa- vação dos preços dos produtos importados e o cres- drões do regime industrial e do trabalho assalariado cimento da demanda criaram as condições para a capitalista, tornava-se hegemônica, em função da instalação de indústrias de bens de capital: crescente demanda por mão-de-obra qualificada e da apropriação das novas teorias relativas à eficiên- a economia não somente havia encontrado estímulo den- cia e à produtividade do trabalho. tro dela mesma para anular os efeitos depressivos vindos Duas medidas importantes vieram efetivar, em de fora, mas também havia conseguido fabricar parte 1930, a política voltada para o fortalecimento do se- dos materiais necessários à manutenção e expansão de tor industrial. Em 14 de novembro, o governo insti- sua capacidade produtiva (FURTADO, 1977, p. 199). tuiu o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública (Mesp), que além de representar uma res- O governo provisório de Getulio Vargas deu início posta tardia aos anseios do movimento sanitarista a um período marcado pelo aumento gradual da cen- da Primeira República, prenunciava uma reformula- tralização do poder e pela intervenção estatal na eco- ção do ensino destinado à promoção da educação nomia e na organização da sociedade. O Estado que sobre novas bases.1 Poucos dias depois, foi criado o surgia após 1930 distinguia-se também dos demais Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (MTIC), governos republicanos pela prioridade conferida marcando o início de uma efetiva atuação estatal no à industrialização. Entre as estratégias de governo, processo produtivo.2 constava o estabelecimento de uma nova relação Constituíram marcas desse período as iniciativas com os trabalhadores urbanos, que deveriam inte- de estatização das reservas minerais do país e o pa- grar uma aliança de classes promovida pelo poder pel das Forças Armadas como fator de garantia da estatal. ordem e de suporte para a criação das indústrias de À medida que avançava a industrialização, au- bens de produção. mentava a polêmica sobre a participação do inves- Nos Estados Unidos, o desenvolvimento industrial timento estrangeiro na economia. Se, por um lado, ganhou importante impulso a partir das propostas e esses capitais poderiam contribuir para impulsionar ações de Henry Ford, o primeiro empresário a aplicar o crescimento, por outro o discurso nacionalista en- a montagem em série e a produzir automóveis em carava as empresas estrangeiras como exploradoras massa, em menos tempo e com menor custo. Inven- e não como parceiras do Brasil. Com a ascensão de tor da linha de montagem, Ford foi um pioneiro do Vargas ao poder, a exploração do ferro e do petró- capitalismo do bem-estar social, concebido para me- 34
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    lhorar a situaçãodos seus trabalhadores e reduzir a O sistema de proteção ao trabalho foi aprimora- 20. Presidente Getulio Vargas Fotografia, 1937 alta rotatividade de mão-de-obra. do com o advento dos Institutos de Aposentadoria Detalhe Reunidas sob a denominação de modelo fordis- e Pensões (IAPs),6 que tratavam da assistência previ- ta, as idéias desse empreendedor norte-americano, denciária aos trabalhadores. Depois dos ferroviários, além de revolucionarem o pensamento da época, outras categorias seriam beneficiadas, inclusive a dos contribuíram para desenvolver a mecanização do industriários, com a criação do Instituto de Pensão e trabalho, a produção em série, a padronização do Aposentadoria dos Industriários, o IAPI. 7 maquinário e do equipamento e, por conseqüência, Além dessas iniciativas estatais foi fundado, em o design dos novos produtos. Com a separação entre 23 de julho de 1931, em São Paulo, o Instituto de Or- o trabalho intelectual e o trabalho manual, o operá- ganização Racional do Trabalho (Idort), que, estrutu- rio não era estimulado a pensar, e sim a realizar a sua rado nos moldes da Taylor Society8 norte-americana, tarefa de forma a garantir maior produtividade. E o passou a divulgar no Brasil o processo racionalista Brasil de 1930 não estava alheio a essa nova ordem: de trabalho. Liderada pelo engenheiro Armando de “O Taylorismo[-fordismo] foi introduzido em nossas fá- Salles Oliveira e pelo professor Roberto Mange, a bricas, sem o alarde e a propaganda das décadas an- instituição resultou da junção de dois grupos: de um teriores: a prática industrial substituiu o discurso” (VAR- lado, havia os empresários paulistas interessados na GAS, 1985, p. 182) administração científica do trabalho, de outro, os es- Não tardou para que a educação, que adquiria uma tudiosos da psicofísica, que buscavam estabelecer a dimensão efetiva no novo contexto histórico, fosse interação entre homens e máquinas. objeto dos vários instrumentos legais instituídos em No Brasil de então, o processo de inovação deve- 1931. Primeiramente foi criado o Conselho Nacional ria estar a cargo de instituições formadas por técnicos de Educação (CNE),3 e três dias depois, o documento capacitados a desenvolver atividades que pudessem conhecido como Estatuto das Universidades Brasilei- combinar o aperfeiçoamento e racionalização das ras dispunha sobre o ensino superior, determinan- técnicas de produção com a distribuição eficiente do a investigação científica em todos os domínios dos produtos no mercado interno. do conhecimento humano.4 Em seguida a Reforma À medida que as relações capitalistas de produ- Francisco Campos passou a regulamentar o ensino ção iam se consolidando, foram sendo implementa- secundário.5 dos também os meios de conjugar os interesses dos No âmbito do ensino profissional, surgiu a Inspe- trabalhadores com as exigências da produção. As toria do Ensino Profissional e Técnico, que, destinada antigas associações, criadas nas primeiras duas déca- a exercer um controle sobre as escolas de aprendi- das do século XX, davam lugar às organizações sindi- zes-artífices, seria transformada, em 1934, na Supe- cais controladas pelo Ministério do Trabalho. Coube rintendência do Ensino Profissional, vinculada ao Mi- ao então ministro Lindolfo Collor dar andamento a nistério da Educação. um conjunto de medidas que visavam alterar as re- 35
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    21. Segunda sessãodo lações de trabalho. Essa política teve início com a Lei Conselho Universitário da USP, posse do reitor de Sindicalização, que fazia com que as organizações Reynaldo Porchat sindicais de empresários e trabalhadores desempe- Fotografia, 1934 nhassem a função de órgãos de colaboração com o Estado.9 Após instituída a carteira profissional como documento obrigatório para registro dos contratos de trabalho, foram constituídas as Juntas de Conci- liação e Julgamento para arbitrar os conflitos traba- lhistas. Nessa época, inspirados pelas teorias de John Dewey10 e Émile Durkheim,11 26 intelectuais brasilei- ros, sob a liderança de Fernando de Azevedo, apre- sentaram, na IV Conferência Nacional de Educação (1932), o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, somar às três universidades federais existentes até que tinha como principais metas a laicização, gra- então: a do Rio de Janeiro (1920), a de Minas Gerais tuidade, obrigatoriedade e co-educação do ensino. (1927) e a do Rio Grande do Sul (1934). Esse documento acabou se tornando a base para os Um marco importante no processo da construção decretos que, promulgados entre 1932 e 1934, mini- público-institucional seria a Constituição de 1934. mizavam as distinções curriculares entres as escolas Pela primeira vez na história do país, a educação pós-primárias, dirigidas aos futuros operários, e as mereceu destaque: o governo tomou para si a res- escolas secundárias, destinadas aos futuros adminis- ponsabilidade pelo estabelecimento das diretrizes e tradores e profissionais liberais.12 Além disso, foram pela fixação do Plano Nacional de Educação (artigo instituídas escolas técnicas, que ofereciam cursos in- 1º da Constituição promulgada em 16 de julho de dustriais e comerciais. 1934). No mesmo ano, surgiu o Conselho Federal de Por iniciativa das federações das indústrias de Comércio Exterior (CFCE), um organismo pioneiro de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de planejamento econômico, ao qual cabia decidir so- Janeiro, foi criada, em 25 de janeiro de 1933, a Confe- bre o dispêndio dos recursos internos. Euvaldo Lodi deração Industrial do Brasil (CIB), com o objetivo de foi escolhido por Vargas para integrar o recém-criado congregar os sindicatos e as associações industriais conselho, órgão diretamente ligado ao presidente, existentes. Esses estados, que apresentavam então que tinha como missão colaborar na definição da um maior desenvolvimento econômico e social, se- política econômica do governo. diaram também as primeiras instituições universitá- A teoria desenvolvimentista defendia a priorida- rias do país. Em 1934, foi fundada, em âmbito esta- de dos financiamentos e subsídios para a indústria, a dual, a Universidade de São Paulo, USP,13 que veio se garantia de infra-estrutura básica (energia, transpor- 36
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    tes) e aproteção aos produtos nacionais diante da mesmo ano foi fundada a Aliança Nacional Liberta- 22. O presidente Getulio Vargas recebeu a primeira concorrência externa. E não tardou para que as pro- dora (ANL), que, integrada por correligionários como carteira de trabalho da vidências estatais se voltassem para o setor siderúr- Luís Carlos Prestes e Carlos Lacerda, promoveu a in- história do Brasil, 1931 gico. O Departamento Nacional da Produção Mineral surreição de 1935. Embora o movimento tenha sido 23. Presidente Getulio Vargas com Euvaldo Lodi (DNPM) foi criado em 1934 para coordenar todo o sufocado, os conflitos políticos que se sucederam ge- Fotografia, 1940 sistema de extração de minérios do país.14 raram um clima de insegurança. Temerosas de uma Mas o governo enfrentava oposições de direita contra-revolução, as elites e a classe média apoiaram e de esquerda. Diversos acontecimentos políticos, Getulio Vargas no golpe que implantou o Estado tais como movimentos grevistas, choques entre in- Novo em 1937. tegralistas e antifascistas ocorridos no Brasil entre Contando com o respaldo político para desen- 1934 e 1937, culminaram na promulgação, em abril volver os programas de governo, Vargas fortaleceu o de 1935, da Lei de Segurança Nacional (LSN). Nesse processo de substituição das importações, por meio de investimentos na indústria local e do controle do Estado sobre as indústrias de base e os setores res- ponsáveis pela infra-estrutura. Depois do fechamen- to do Congresso e do cancelamento das eleições presidenciais previstas para 1938, Getulio Vargas ou- torgou, em 10 de novembro de 1937, a quarta Cons- tituição do país, que, conhecida como “Polaca” por ter sido baseada na Constituição autoritária da Polônia, tinha como característica principal a concentração de poderes nas mãos do chefe do Executivo. Embora desconsiderasse as matérias sobre edu- cação constantes da Carta Magna anterior, a Cons- tituição de 1937, em seu artigo 129, dava ênfase às escolas pré-vocacionais: O ensino pré-vocacional profissional destinado às clas- ses menos favorecidas é em matéria de educação o primeiro dever de Estado. Cumpre-lhe dar execução a esse dever, fundando institutos de ensino profissional e subsidiando os de iniciativa dos Estados, dos Muni- cípios e dos indivíduos ou associações particulares e profissionais.15 37
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    24. Escritor JoséBento Tratava-se de fazer frente à demanda do processo negro, merecendo por isso o reconhecimento entre Monteiro Lobato Fotografia, 1940 de industrialização desencadeado no início da déca- os campeões da grande causa. Um dos primeiros ci- Detalhe da, que, cada vez mais, exigia profissionais especiali- dadãos a ver o petróleo jorrar em território brasileiro, zados para os setores primário, secundário e terciário Lobato apresentou, em sua obra O Poço do Visconde da economia. O documento comprometia também (1937), um relato bem-humorado e profético das o setor empresarial: “É dever das indústrias e dos sin- características e da importância do recurso mineral dicatos econômicos criar, na esfera da sua especialida- para o desenvolvimento do Brasil e do mundo. de, escolas de aprendizes, destinadas aos filhos de seus Com a Constituição de 1937, o aproveitamento operários ou de seus associados”.16 de jazidas minerais passou a ser restrito a brasileiros No novo regime, os militares tinham um impor- ou empresas constituídas por brasileiros. No ano se- tante papel na definição de prioridades e formula- guinte, além de criar o Conselho Nacional do Petró- ção políticas de governo, sobretudo no que se refe- leo (CNP),17 o governo, substituindo a livre iniciativa ria aos setores estratégicos, como o siderúrgico e o nas atividades de pesquisa e prospecção de petróleo petrolífero. A intenção de Getulio Vargas era cons- e gás natural, determinou o monopólio estatal do se- truir uma nação forte e independente. E, para isso tor. O produto passou, assim, a figurar como recurso era mister ter o controle sobre os recursos minerais de utilidade pública, tendo sido regulados todo os e hidrelétricos, bem como sobre a produção de aço, passos do seu processo de produção e venda. máquinas e equipamentos, insumos importantes Ao mesmo tempo que atuava junto com os or- para o desenvolvimento econômico, industrial e so- ganismos governamentais emitindo pareceres e fa- cial brasileiro. zendo propostas concretas sobre os diversos temas, As primeiras propostas para a criação de um or- Euvaldo Lodi trabalhava para consolidar as entidades ganismo que estudasse as questões referentes ao representativas das classes industriais. E, em 1937, petróleo, carvão mineral, minas e metalurgia parti- durante a gestão de Roberto Simonsen, ele defendeu ram do Conselho Federal de Comércio e Exportação a sindicalização da Confederação Industrial do Brasil (CFCE). O conselho, que contava com a participação (CIB). Contrários às práticas destruidoras da ordem ativa de Euvaldo Lodi, insistia também na necessida- social como o lucro fácil, a competição desenfreada de de uma grande siderúrgica, que seria construída e a ausência de espírito de serviço, os engenheiros por meio de acordos comerciais com os países es- e empresários Euvaldo Lodi e Roberto Simonsen – trangeiros. pioneiros da representatividade industrial no Brasil Um personagem dedicado às causas nacionalistas – eram favoráveis à construção social em bases mais foi o escritor José Bento Monteiro Lobato. Conhecido justas. Além disso, os empresários compartilhavam como autor de histórias infantis, ele, além de contri- da visão de que a educação era uma das chaves para buir para o progresso da indústria editorial brasileira, o desenvolvimento do país, devendo, portanto, estar engajou-se na luta em favor da exploração do ouro no centro da agenda da indústria brasileira. 38
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    Euvaldo Lodi Euvaldo Lodi nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais, pelo CIB, que atuou intensamente na organização de em 9 de março de 1896, filho dos imigrantes italianos sindicatos patronais e na mobilização da indústria em Luís Lodi e Anunciata Lodi. Formou-se engenheiro, em todo o país. 1920, pela Escola de Minas e Metalurgia, e já nessa Em 25 de janeiro de 1933, representando o Centro época começou a se destacar como líder empresarial Industrial de Juiz de Fora, foi designado para incentivar em seu estado. a fundação de sindicatos patronais junto à Federação Trabalhou na construção de rodovias e ferrovias, na das Indústrias de Minas Gerais. Essa missão estava re- exploração de minas de ferro e carvão e na instalação lacionada com a convocação, pelo governo provisório, de fomos metalúrgicos em Minas Gerais, até ser convi- da Assembléia Nacional Constituinte, que incluiria em dado, em 1923, para participar da Comissão Nacional sua composição, além dos eleitos pelo sufrágio univer- de Siderurgia, dirigida por Luís Gonzaga de Campos. sal, representantes classistas indicados pelos sindicatos Engajando-se na Revolução de 1930, colaborou no legalmente reconhecidos. Como delegado do Sindicato planejamento da movimentação de contingentes. De- das Indústrias de Ferro de Minas Gerais na Convenção pois da vitória, ingressou no Clube 3 de Outubro, orga- dos Sindicatos Patronais, Lodi foi eleito como um dos nização nacional que se propunha a defender os ideais representantes dos empregadores na Assembléia Cons- tenentistas de aprofundamento das reformas iniciadas tituinte. pela revolução vitoriosa. Líder da bancada dos empregadores na Assembléia Em 1931 Lodi integrou, juntamente com Roberto e membro da chamada Comissão dos 26, encarregada Simonsen e Vicente de Paulo Galiez, uma comissão, de elaborar o anteprojeto da Constituição, Euvaldo Lodi formada no âmbito do Centro Industrial do Brasil (CIB), foi relator dos capítulos intitulados “Ordem econômica encarregada de formular uma síntese das opiniões do e social”, “Família” e “Educação e cultura”; angariou setor sobre as propostas da Comissão Revisora das Ta- fama de hábil negociador, apesar de sempre ter man- rifas Aduaneiras, instituída pelo Ministério do Traba- tido uma posição autônoma em relação às propostas lho, Indústria e Comércio (MTIC). Durante os trabalhos, do governo. o grupo de industriais manteve contato permanente Com a promulgação da nova Constituição em 16 de com Getulio Vargas e com José Maria Whitaker, minis- julho de 1934 e a eleição de Getulio Vargas para a Pre- tro da Fazenda. sidência da República, os mandatos dos congressistas Transferindo-se para o Rio de Janeiro, entre 1931 e foram prorrogados até a expedição dos diplomas dos 1936 Lodi tornou-se membro do Conselho Diretor da novos deputados, que seriam eleitos ainda naquele Federação Industrial do Rio de Janeiro (Firj), entidade ano. Na mesma época, Lodi foi escolhido por Vargas recém-fundada, criada por exigência da legislação sin- para integrar o recém-criado Conselho Federal de Co- dical em vigor. Considerado elemento representativo mércio Exterior (CFCE), órgão diretamente ligado ao da indústria, integrou, junto com Horácio Lafer e Vicen- presidente, cuja missão era colaborar na definição da te Galiez, uma comissão de coordenação, designada política econômica do governo.
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    Euvaldo Lodi Eleito em 1935 para a Câmara Federal, Lodi foi um Firj, e da Confederação Nacional de Indústria (CNI), en- dos sete deputados classistas, representantes da indús- tidade recém-criada com a participação das federações tria. Sua afinidade com o governo fez com que partici- industriais de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e passe, junto com Roberto Simonsen, Valentim Bouças e Rio Grande do Sul. Embora possuindo a mesma direto- outros, de um círculo de representantes da indústria e ria, o Cirj e a Firj tinham estatuto jurídico diferenciado, do comércio ligado ao presidente. sendo o primeiro registrado como instituição privada Com a implantação do Estado Novo em 10 de no- para que os representantes patronais pudessem esca- vembro de 1937 e a conseqüente dissolução do Legis- par às limitações da legislação sindical, que proibia ati- lativo, Lodi perdeu seu mandato parlamentar, assu- vidades e pronunciamentos não vinculados a assuntos mindo, pouco depois, o cargo de vice-presidente da profissionais. Confederação Industrial do Brasil (CIB) durante a ges- Em 1941, os industriais propuseram ao governo fe- tão de Roberto Simonsen. Na época, iniciou-se o en- deral a criação de um serviço de ensino profissional na quadramento da entidade na lei sobre sindicalização, forma de uma organização autônoma, dirigida pelas que, apesar de apoiada por Lodi, encontrou resistências federações industriais sob controle da CNI. Em resposta, entre os empregadores. Em 12 de agosto de 1938, a CIB o ministro da Educação, Gustavo Capanema, instituiu se transformaria na Confederação Nacional da Indús- uma comissão integrada por Lodi, Valentim Bouças e tria (CNI), órgão máximo de representação do setor in- outros, que veio a criar, em 1942, o Serviço Nacional de dustrial brasileiro, que teve como primeiro presidente Aprendizagem Industrial (Senai), do qual Lodi se tornou Euvaldo Lodi. presidente. Durante esse mesmo ano, o CFCE desenvolveu in- Nessa época, passou a integrar, junto com Roberto tensa atividade, elaborando pareceres sobre a criação Simonsen e outros, o Conselho Consultivo da Coorde- de uma grande indústria siderúrgica e a exportação nação de Mobilização Econômica, que, criado depois de minérios, sugerindo acordos comerciais com países do ingresso do Brasil na II Guerra, visava estabelecer estrangeiros e apresentando propostas de criação de uma mobilização completa dos recursos econômicos organismos especializados nas questões de petróleo, existentes no território nacional. carvão mineral, siderurgia, minas e metalurgia. Além Membro fundador e vice-presidente da Legião de participar nesses trabalhos, Lodi colaborou no pro- Brasileira de Assistência (LBA), em julho de 1943, na jeto de nacionalização dos bancos de depósito, concre- qualidade de presidente da CNI, Lodi escreveu um ma- tizado em 1941. nifesto aos industriais brasileiros apoiando o esforço Entre 1938 e 1940, Lodi acumulou as presidências desenvolvido pelo governo para que todas as classes da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, que mais se organizassem em sindicatos, pedindo aos empre- tarde receberia o nome de Centro Industrial do Rio de sários que se sindicalizassem sem demora e dessem Janeiro (Cirj); da Federação dos Sindicatos Industriais preferência ao trabalhador sindicalizado nos serviços do então Distrito Federal, que tomou o nome da antiga de sua empresa.
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    Em fins de1943, participou do I Congresso Brasileiro depois para Washington, na qualidade de delegado da de Economia, realizado no Rio de Janeiro, sob o patro- IV Reunião de Consulta dos Chanceleres Americanos. cínio do governo federal. No ano seguinte, Lodi presidiu Deputado federal por Minas Gerais, pela legenda do o Congresso Brasileiro da Indústria promovido pela CNI Partido Social Democrático (PSD), exerceu o mandato e organizado pela Federação das Indústrias do Estado de 1947 até 1951. Em 1948 foi presidente da Comis- de São Paulo (Fiesp), que, além da presença de Vargas são de Desenvolvimento Industrial da Comissão Mista e outras autoridades governamentais, contou com re- Brasileiro-Americana de Estudos Econômicos, chamada presentantes do comércio. Missão Abbink. Integrou ainda a delegação brasileira à Nesse mesmo ano, junto com João Daudt d’Oliveira, Conferência Pan-Americana de Chanceleres, realizada Heitor Grilo e Francisco Clementino de San Tiago Dan- em Washington em 1951, onde combateu a posição tas, Lodi integrou a comissão do Conselho Nacional de norte-americana de conferir prioridade à defesa do con- Política Industrial e Comercial (CNPIC), órgão do Minis- tinente em detrimento do desenvolvimento econômico. tério do Trabalho, que apresentou um projeto de plani- Partidário da criação de um mercado interno capaz de ficação da economia brasileira. A proposta foi rejeitada garantir a expansão da indústria, Lodi defendia a subor- pela Comissão de Planejamento Econômico, cujo rela- dinação do capital estrangeiro aos interesses das nações tor era o economista Eugênio Gudin, partidário do libe- que o recebiam e a apropriação estatal das riquezas do ralismo econômico. subsolo. Cumpriu um novo mandato legislativo entre Euvaldo Lodi e João Daudt d’Oliveira chefiaram, em 1951 e 1955, tendo sido membro, em 1953, da Comissão novembro de 1944, a delegação brasileira à Conferên- de Bem-Estar Social, presidida por Josué de Castro. cia de Bretton Woods, nos Estados Unidos, que reuniu Na iniciativa privada, foi fundador e proprietário representantes de 44 países aliados para tratar da re- da usina siderúrgica Gorceix, em Caeté, Minas Gerais. organização econômica e financeira depois da vitória E presidente das seguintes empresas: Companhia Ferro sobre os países do Eixo. A conferência deu os primeiros Brasileiro; Companhia Industrial de Ferro S.A., Compa- passos para a formação do Fundo Monetário Interna- nhia Carbonífera Metropolitana, Eletrometal S.A., Fá- cional (FMI) e do Banco Internacional de Reconstrução brica de Tecidos de Seda Santa Helena e Fábrica Rehem e Desenvolvimento (Bird). Metalúrgica S.A. Foi ainda vice-presidente da Elevado- Em agosto de 1945, Lodi foi um dos signatários de res Swiss do Brasil S.A. e diretor da Sociedade Siderúrgi- um memorial dirigido ao chefe do governo, que protes- ca Limitada, no Rio de Janeiro. tava contra o Decreto-Lei nº. 7.666, conhecido como Lei Publicou A Indústria e a Economia Nacional, em Malaia, voltado para coibir a ação de trustes, e consi- 1949, e Discursos e Conferências, em 1954. derado antidemocrático pelos empresários. Como re- Reeleito deputado federal por Minas Gerais em 1954, presentante dos empregadores na Comissão de Enqua- Euvaldo Lodi faleceu em acidente automobilístico entre dramento Sindical em 1946, Lodi representou o Brasil Jundiaí e São Paulo, no dia 19 de janeiro de 1956, em na Conferência de Paz, realizada em Paris, seguindo pleno exercício do mandato.
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    Roberto Simonsen Roberto Cochrane Simonsen nasceu no dia 18 de Em 1938, participou com Euvaldo Lodi e outros da fevereiro de 1889, em Santos, São Paulo, filho dos esco- criação da Confederação Nacional da Indústria, tendo ceses Sidney Martins Simonsen e Robertina da Gama sido seu primeiro vice-presidente. Foi um dos idealiza- Cochrane Simonsen. Ingressou na Escola Politécnica de dores do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial São Paulo, formando-se em engenharia. Logo depois (Senai), do Serviço Social da Indústria (Sesi) e do Institu- de formado trabalhou na Companhia Ferroviária Sou- to de Organização Racional do Trabalho (Idort). thern Brazil Railway, da qual saiu para ocupar o cargo Após a II Guerra Mundial, elegeu-se senador, tendo de diretor-geral de obras na Prefeitura de Santos. sido ainda presidente da Fiesp e integrante do Conselho Fundou a Companhia Construtora de Santos, dan- Superior da Escola de Sociologia e Política de São Pau- do início à sua carreira de empresário. Assumiu posi- lo. Como atividade empresarial presidia a Companhia ção de líder empresarial aos 33 anos, como presidente Construtora de São Paulo e da Cerâmica São Caetano. do Sindicato Nacional dos Combustíveis Líquidos. Em Foi membro de várias entidades: Academia Paulista 1928, ao lado de Francisco Matarazzo e José Ermírio de de Letras (ABL), Instituto Histórico e Geográfico de São Moraes, criou o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (IHGSP), Instituto Histórico e Geográfico de San- Paulo (Ciesp), o embrião da Federação das Indústrias tos (IHGS) e Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro do Estado de São Paulo (Fiesp). (IHGB), National Geographic Society (NGS), nos Estados Em 1919 ingressou na carreira diplomática, tendo Unidos, Royal Geographic Society (RGS), em Londres, e integrado várias missões comerciais. No governo de Academia Portuguesa de História (APH). Epitácio Pessoa, sua companhia executou a constru- Simonsen publicou numerosos estudos sobre as ção de quartéis para o Exército em diversos estados do questões econômicas e educacionais, entre os quais país. os livros A Orientação Industrial Brasileira; As Crises no Participou ativamente do Movimento Constitucio- Brasil; As Finanças e a Indústria; Aspectos da Economia nalista paulista, em 1932, em resistência ao golpe de Es- Nacional; História Econômica do Brasil; A Indústria em tado articulado por Getulio Vargas em 1930. Integrou o face da Economia Nacional; A Evolução Industrial do movimento pela fundação da primeira escola superior Brasil; As Indústrias e as Pesquisas Tecnológicas; As Clas- que ofereceria cursos de sociologia e política no Brasil, a ses Produtoras de São Paulo e o Momento Nacional; En- atual Escola de Sociologia e Política de São Paulo, onde saios Sociais Políticos e Econômicos; As Indústrias e as lecionou história econômica do Brasil. Pesquisas Tecnológicas; O Plano Marshall e a América Em 1933 ingressou na política. Eleito pelo estado de Latina. São Paulo, exerceu o mandato de deputado federal en- Faleceu no dia 25 de maio de 1948, no Rio de Janeiro, tre 1933 e 1937. Nesse período, Simonsen aproximou- de ataque cardíaco, durante o pronunciamento de um se de Getulio Vargas e, juntamente com Euvaldo Lodi, discurso para o ministro da Bélgica na Academia Brasi- conseguiu sensibilizar o governo para as questões da leira de Letras. Em sua homenagem, a data do aniversá- indústria brasileira. rio de sua morte foi escolhida como o Dia da Indústria.
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    Para a concretizaçãoda confederação industrial, 25. Primeira logomarca da CNI tornava-se necessário seguir alguns trâmites esta- Desenho belecidos no decreto-lei que regulamentou a cons- 26. Euvaldo Lodi e Roberto tituição de sindicatos.18 Embora os estatutos tives- Simonsen recebem o presidente Getulio Vargas sem sido aprovados em 1933, a entidade dependia em escola do Senai do reconhecimento, pelo Ministério do Trabalho, de Fotografia, 1943 pelo menos três federações. Cumpridas as exigências legais, a CIB transformar-se-ia, em 12 de agosto de 1938, na Confederação Nacional da Indústria (CNI), órgão máximo de representação do setor industrial brasileiro, que teve como primeiro presidente Eu- valdo Lodi. A entidade passou, então, a integrar o sistema corporativo estabelecido pela Constituição, embora só tenha sido reconhecida oficialmente em 30 de abril de 1943.19 Com a Confederação Nacional da Indústria aglutinam- de escolas pré-vocacionais, que visavam a uma for- se as vontades industriais dispersas, ganham consci- mação genérica em ciências aplicadas à produção. ência de sua própria força, da sua origem comum e Sem esperar o pronunciamento das entidades encontram um instrumento através do qual formulam patronais, o governo emitiu, em 2 de maio de 1939, e exprimem à comunidade e ao poder público uma in- o Decreto-lei nº. 1.238, determinando que as empre- terpretação autêntica do processo de industrialização. sas com mais de quinhentos operários mantivessem (LODI, 1954, p. 10) um refeitório para atender o seu pessoal e cursos de aperfeiçoamento para jovens e adultos. O texto legal Em 1938, a recém-fundada CNI recebeu, junta- motivou o envio, à Comissão Ministerial, de um do- mente com a Federação das Indústrias do Estado de cumento redigido por Roberto Simonsen, cujo me- São Paulo (Fiesp), então sob a presidência de Rober- morial criticava o ônus que o governo tentava impor to Simonsen, um documento do Ministério de Edu- à indústria. No entanto, a conjuntura internacional cação relativo à aprendizagem industrial de adoles- apresentava forte tendência ao comprometimento centes trabalhadores. O governo havia elaborado direto das indústrias na formação da mão-de-obra. dois anteprojetos: um estipulava a criação de escolas Em junho de 1939, a XXV Conferência Geral da Or- de aprendizes, que deveriam ser mantidas e dirigidas ganização Internacional do Trabalho (OIT), realizada pelos sindicatos dos empregadores e pelos estabele- na Suíça, tinha a aprendizagem como principal pon- cimentos industriais. O outro versava sobre a criação to de pauta. Integraram a Comissão do Ensino Téc- 43
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    nico Francisco Montojos,como delegado do gover- teresses nacionais, como é o caso do aperfeiçoamento no Vargas, e Oscar Saraiva, como representante dos da mão-de-obra entre nós (SIMONSEN, 1940). empregadores brasileiros. Durante o evento, foram recomendadas diretrizes que, logo absorvidas pela Outra comissão interministerial foi formada para legislação brasileira, previam a coordenação das ati- realizar uma pesquisa de opiniões, por meio da apli- vidades num programa nacional, conduzido median- cação de questionários. Os industriais reivindicavam te a colaboração entre o governo e as entidades de a participação dos empregados e do Estado no cus- classe de empregados e empregadores. teio dos cursos profissionais; os operários defendiam Embora determinasse que os Estados nacionais a extensão dos cursos aos trabalhadores de empresas devessem prover escolas em número suficiente e lo- pequenas e médias, que empregavam a maior parte calização adequada para satisfazer às necessidades da força de trabalho. Paralelamente, essa comissão econômicas, a Recomendação 57 da referida confe- buscou conhecer a experiência dos cursos ferroviá- rência fazia uma ressalva: rios. Na ocasião, o Instituto de Organização Racional do Trabalho apresentou o projeto Cursos de Aperfei- nos países que não dispõem de um número suficiente çoamento para as Indústrias, elaborado por Roberto de escolas profissionais e técnicas seria conveniente Mange. que as empresas, cuja importância o permita, assumam Com base na conclusão dos trabalhos das comis- os gastos de formação de um certo número de traba- sões, Getulio Vargas promulgou, em 1940, o decreto lhadores jovens, em relação ao total de trabalhadores que regulamentava a instalação e o funcionamento empregados na empresa (apud PRONKO, 2003, p. 48). de cursos profissionais em empresas com mais de quinhentos trabalhadores.20 Embora mantivesse o No ano seguinte, a despeito das críticas feitas an- mesmo modelo de cursos proposto pela Comissão teriormente ao teor do Decreto-lei nº. 1.238, Roberto Interministerial de 1939, havia inovações: enquanto Simonsen, em documento encaminhado à comissão os jovens aprendizes deveriam receber salários, os interministerial formada para regulamentar o referi- empregadores teriam que arcar com o ônus da for- do instrumento legal, afirmava: mação profissional. Com o objetivo de promover a infra-estrutura ne- nenhuma objeção maior apresenta a indústria de São cessária à ampliação do parque industrial brasileiro, Paulo que tem plena consciência do novo e pesado foi criado, em março de 1939, o Conselho Nacional ônus com que virá a ser sobrecarregada. Isto ela salien- de Águas e Energia Elétrica (CNAEE), que tinha a fi- ta, não para mostrar os sacrifícios que faz e esperar van- nalidade de estudar o problema da exploração e uti- tagens compensatórias, mas para que o lúcido espírito lização da energia elétrica no país, em especial a de de V. Exa. possa aquilatar de quanto é capaz a indústria origem hidráulica. No mesmo ano, como parte das de São Paulo sempre que se trate dos verdadeiros in- estratégias políticas de proteção e valorização do 44
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    trabalhador, foi instituídoo salário mínimo, como 27. Euvaldo Lodi, presidente da CNI no período de 1938 a remuneração capaz de satisfazer às necessidades a 1954 Fotografia normais de alimentação, habitação, vestuário, higie- ne e transporte do trabalhador.21 Grande parte das 28. Roberto Simonsen, presidente da Fiesp no conquistas trabalhistas, que envolvem a regulamen- período de 1938 a 1946 tação de horários, férias, trabalho feminino e infantil, Fotografia advém desse período. 29. Gustavo Capanema, ministro da Educação no Como já havia ocorrido durante o conflito de período de 1934 a 1945 1914 a 1918, com o início da II Guerra Mundial as Fotografia restrições impostas ao comércio internacional pro- vocaram uma profunda retração nas importações de artigos industrializados, favorecendo a expansão da indústria nacional. Dessa vez, porém, os efeitos Tendo como meta prioritária a industrialização, o da conjuntura externa sobre a economia brasileira presidente Vargas decidiu fazer acordos econômicos eram particularmente mais significativos, já que a com os norte-americanos, com vista ao fornecimen- Alemanha havia se convertido no segundo maior to de armamentos e, principalmente, a concessão parceiro comercial do país, atrás apenas dos Esta- de créditos e assistência técnica para implantar as dos Unidos. indústrias siderúrgica e bélica no Brasil. Com a apro- No início do conflito, o governo brasileiro estava vação bilateral do pacto, o governo brasileiro rompia dividido: de um lado, o grupo liderado pelo chefe do relações diplomáticas com os países do Eixo – Ale- Estado-Maior da Forças Armadas, general Góis Mon- manha, Japão e Itália. E, ainda em 1941, o ministro da teiro, era favorável ao alinhamento do Brasil com os Fazenda seria enviado a Washington, com o objetivo países aliados; de outro, o grupo encabeçado pelo de detalhar as bases das trocas comerciais entre os ministro das Relações Exteriores, Osvaldo Aranha, dois países. defendia uma posição de neutralidade. Internamente, seguindo as recomendações da Os Estados Unidos, por sua vez, queriam ter o Bra- XXV Conferência da OIT, em 1941, Getulio Vargas sil como parceiro político e militar, pois pretendiam convidou Euvaldo Lodi, presidente da CNI, Roberto instalar bases militares no Nordeste brasileiro, com Simonsen, presidente da Fiesp, e o empresário paulista o objetivo de garantir a defesa do continente. Ade- Valentim Fernandes Bouças para, em conjunto mais, por sua extensão territorial e suas riquezas, o com o ministro da Educação Gustavo Capanema, país ocupava uma posição privilegiada em relação apresentarem proposta para criação de um ao restante da América Latina. Em tempos de guerra, organismo coordenador do ensino industrial no país. as jazidas brasileiras de minérios constituíam um im- A Comissão de Empresários, como ficou conhecida, portante item da pauta de negociações. solicitou o assessoramento de três especialistas com 45
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    30. Guilherme Guinle, experiência na matéria: João Luderitz, do Instituto Com a alta do preço dos produtos primários, o presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, acende Parobé, Roberto Mange, do CFESP, e Joaquim Faria Brasil pôde acumular reservas suficientes e negociar alto-forno Góes Filho, superintendente de Educação Geral e melhores termos para o pagamento de sua dívida Fotografia, 1946 Técnica do Distrito Federal. Ao mesmo tempo, no externa. Estabilizada a situação da balança de paga- Ministério da Educação, outra comissão, integrada mentos, o governo brasileiro passou a incentivar ain- pelos educadores Horácio da Silveira, Lourenço Filho, da mais a indústria. E, a partir de 1941, o crescimento Leon Renault, Francisco Montojos e Rodolfo Fuchs, industrial adquiriu um novo ritmo, amparado pela deveria padronizar o ensino de ofícios nas escolas expansão de crédito do Banco do Brasil. públicas e privadas. Depois da criação da Comissão Executiva do Plano Nesse novo contexto, os industriais, cuja partici- Siderúrgico,22 em 9 de abril do mesmo ano deu-se iní- pação até então era restrita a uma função consultiva, cio à instalação da Companhia Siderúrgica Nacional passaram a ter autonomia, delegada pelo governo, (CSN), em Volta Redonda, Rio de Janeiro. Financiada para sugerir uma política educacional voltada para pelos norte-americanos, como parte dos Acordos de a formação da força de trabalho de modo a atender Washington firmados em 3 de março de 1942, que aos interesses do sistema produtivo. levaram o Brasil a se aliar aos Estados Unidos, a CSN viria a se tornar a maior indústria siderúrgica da Amé- rica Latina e uma das maiores do mundo. No discurso de inauguração da usina, Getulio Vargas reafirmou o caráter irrevogável da indústria brasileira, ao mesmo tempo que enfatizava a soberania nacional. Aí está, solidamente construída, em ferro e cimento, a Usina de Volta Redonda, desafiando os céticos de todas as partes, a mentalidade de um setor da opinião públi- ca que persiste em se mostrar favorável a uma solução semi-colonial, subordinada aos países industriais, in- teressados em reter-nos ao nível de consumidores de artigos manufaturados (apud GATTÁS, 1981, p. 31). O advento da siderúrgica veio atender a uma rei- vindicação antiga do empresariado brasileiro pre- ocupado com a escassa produção do aço no Brasil, que antepunha sérios obstáculos ao crescimento do parque industrial.
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    dutividade no trabalho,as leis orgânicas, da lavra dos 31. Primeira logomarca do Senai educadores, pretendia a habilitação profissional, físi- Desenho ca e cívica do trabalhador, visando integrá-lo a um projeto corporativista de nação. Em 1942, foram promulgados dois decretos que tratavam da organização do ensino industrial e do ensino secundário.27 O ensino secundário tinha o ob- jetivo de formar “individualidades condutoras”, pelo próprio ensino nele ministrado e pela preparação Sobre a questão do ensino profissional, o relató- para o ensino superior. Os demais ramos tinham a rio preliminar dos industriais, apresentado em 1941 finalidade de formar força de trabalho para os prin- ao ministro Capanema, indicava o Centro Ferroviá- cipais setores da produção: o ensino industrial, o en- rio de Ensino e Seleção Profissional (Cfesp) como um sino comercial, o ensino agrícola e o ensino normal, modelo administrativo e pedagógico a ser seguido. voltado para a formação de professores para o en- O documento propunha a criação do Serviço Nacio- sino primário. Embora a Lei Orgânica do Ensino, co- nal de Seleção, Aperfeiçoamento e Formação de In- nhecida como Reforma Capanema, não tivesse con- dustriários (Senafi), como uma entidade autônoma tribuído para aprimorar o ensino secundário, houve coordenada pela CNI. Sugeria-se ainda que a mesma mudanças no campo do ensino profissional, então estrutura de ensino fosse estendida aos demais se- dividido em dois tipos: um, oficial, e outro, mantido e tores da economia, como comércio23 e agricultura. dirigido pelas empresas. Os trabalhos de ambas as equipes, de industriais Tomando a experiência do Ciesp como modelo, e de educadores, resultaram em instrumentos legais o presidente da CNI, Euvaldo Lodi, convidou Rober- de suma importância. Em 22 de janeiro de 1942, foi to Mange e Joaquim Faria Góes Filho para elaborar criado o Serviço Nacional de Aprendizagem Indus- o regimento do Senai, que foi aprovado por decreto trial (Senai);24 em 30 de janeiro do mesmo ano, foi ainda em 1942.28 O Senai, cuja base conceitual foi a formulada a Lei Orgânica do Ensino Industrial, que Escola Profissional de Mecânica no Liceu de Artes e dispunha sobre a Organização da Rede Federal de Ofícios de São Paulo, tinha como objetivo principal Estabelecimentos de Ensino Industrial;25 e, em 28 organizar e administrar as escolas de aprendizagem. de dezembro de 1943, estabelecia-se a Lei Orgânica A entidade seria custeada pela arrecadação de uma do Ensino Comercial.26 Enquanto o documento de taxa mensal calculada em função do número de ope- criação do Senai, calcado no ideário dos industriais, rários de cada fábrica, que seria paga pelos emprega- enfatizava a qualificação da mão-de-obra para as dores da indústria e arrecadada pelo IAPI. A criação atividades demandadas pela indústria e defendia a de instituições como o Senai e o Senac impôs uma educação profissional como meio de ampliar a pro- verdadeira revolução no sistema educacional brasi- 47
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    32. Presidente GetulioVargas leiro, abrindo as portas do ensino profissional para decidido que as tropas brasileiras lutariam na Itália. em visita à Fábrica Nacional de Motores, São Paulo milhões de jovens que dariam suporte às novas in- Assim, no dia 1º de junho de 1944 embarcava para Fotografia, 1945 dústrias e às cadeias comerciais que se multiplica- a Itália, a bordo do navio norte-americano General vam. Mann, o primeiro contingente militar brasileiro, sob No dia 1º de junho de 1942 nascia em Itabira, Mi- o comando do general Euclides Zenóbio da Costa. nas Gerais, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), A presença brasileira no front não significou, to- que tinha por missão explorar as riquezas minerais davia, um déficit financeiro para o Brasil. Enquanto da região.29 Durante os primeiros tempos, a principal grande parte dos recursos de muitos países era des- atividade da CVRD foi o fornecimento de matéria- viada para as atividades bélicas, aqui os esforços prima para as siderúrgicas nacionais, principalmente voltavam-se para as atividades de paz e crescimento a CSN. econômico. No mesmo ano, foi criada em Duque de Caxias, Rio Data de 1944 a assinatura do Acordo Internacional de Janeiro, a Fábrica Nacional de Motores (FNM),30 de Bretton Woods, que, contando com a participação cuja atividade inicial destinava-se à produção de de Euvaldo Lodi, criou o Fundo Monetário Interna- aviões militares. A implantação desses dois empre- cional (FMI) e o Banco Internacional de Reconstrução endimentos foi possível graças ao Lend & Lease Act e Desenvolvimento (Bird), conhecido como Banco (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), que oferecia Mundial. excepcionais condições de financiamento providas Durante a guerra, o país avançou firmemente em pelos esforços de guerra. A fábrica viria a produzir, direção à construção de sua estrutura produtiva, for- em 1949, seu primeiro modelo de caminhão, que talecida pelo pacto desenvolvimentista firmado en- não tardaria a ser chamado carinhosamente de Fe- tre o governo e o empresariado. Em 20 de julho de nemê. Na mesma época, começaram a circular pelas 1943, foi criada a Companhia Nacional de Álcalis, pro- ruas do país as primeiras Caloi,31 palavra que logo se transformaria em sinônimo de bicicleta. Apesar das muitas conquistas, o clima no Brasil à época era de intranqüilidade. A opinião pública, ao mesmo tempo indignada com a destruição causada pela guerra e comovida com as tragédias de tantas vidas perdidas, colocava-se contra a Alemanha, e exi- gia do governo um posicionamento mais firme em relação ao conflito. O recrudescimento do clamor po- pular fez com que, em 31 de agosto de 1942, o Bra- sil declarasse guerra aos países do Eixo. Em 1943, foi constituída a Força Expedicionária Brasileira (FEB) e 48
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    dutora de barrilhae soda cáustica, matérias-primas forças democráticas, enquanto no país prevalecia 33. Discurso de Euvaldo Lodi na presença do presidente fundamentais para as indústrias química e farmacêu- um regime autoritário (CALDEIRA et al., 1997). A pres- da República, Eurico Gaspar tica.32 Instalada em Arraial do Cabo, Rio de Janeiro, a são social fez com que o presidente Getulio Vargas Dutra Fotografia, 1950 empresa só iniciaria suas operações nos anos 50. iniciasse os procedimentos para a recomposição do Detalhe Juntamente com a regulamentação da Justiça quadro institucional brasileiro, inclusive com a con- do Trabalho,33 foi instituída em 1º de maio de 1943 a vocação de eleições.36 Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que passou No entanto, a divisão das Forças Armadas fez cres- a regular as relações entre empregadores e empre- cer as tensões internas. E, a despeito das manobras gados.34 Ao mesmo tempo, órgãos técnicos, conse- para se manter no poder, Getulio Vargas foi levado lhos e comissões abriam espaços na estrutura estatal a renunciar em outubro de 1945. Com o apoio de para a representação dos interesses empresariais. Getulio Vargas, do Partido Trabalhista Brasileiro e de Com caráter consultivo, funcionavam como fóruns líderes do Queremismo, movimento a favor da per- de debates entre elites técnicas e empresariais, e manência de Getulio no poder, Eurico Gaspar Dutra como arenas de negociação entre os setores público saiu vitorioso nas urnas, deixando clara a força da e privado. Entre os mais importantes criados na épo- máquina política montada pelo Estado Novo para ca, estão o Conselho Nacional de Política Industrial e eleger candidatos dentro do regime democrático. Comercial (CNPIC), de 1943, e a Comissão de Planeja- Dutra tomou posse como presidente da República, mento Econômico (CPE), de 1944. mantendo o controle sobre o câmbio e as importa- Dando seqüência às obras de infra-estrutura, em ções. Ao invés de mudanças radicais, pretendia am- 3 de outubro de 1945 foi criada a Companhia Hidre- pliar e aperfeiçoar a estrutura montada no governo létrica do São Francisco (Chesf ), a fim de promover Vargas. o aproveitamento da cachoeira de Paulo Afonso e À medida que se expandiam as indústrias nacio- fornecer energia para o esforço emergente de indus- nais, a importância da formação e do treinamento trialização do Nordeste.35 O embrião do complexo hi- profissional tornava-se mais evidente. Destacados drelétrico de Paulo Afonso foi a Usina de Angiquinho, líderes empresariais, como Euvaldo Lodi, Roberto construída por Delmiro Gouveia em 1913. A energia Simonsen, João Daudt de Oliveira e outros levaram ali produzida destinava-se a abastecer a indústria a cabo a iniciativa de consolidar a Confederação da têxtil instalada na região, em uma cidade que hoje Indústria e a do Comércio, como entidades de cúpula leva o seu nome. do setor sindical empresarial. Com o fim da guerra, que garantiu a vitória dos Se por um lado as perspectivas de liberdade e aliados sobre as forças do Eixo, ampliaram-se os mo- democracia eram animadoras, por outro as tensões vimentos que objetivavam a redemocratização do sociais aumentavam em função dos vários tipos de Brasil. O retorno dos soldados brasileiros em 1945 evi- carência. À precariedade da alimentação dos traba- denciou uma contradição: o Brasil lutara ao lado das lhadores somavam-se as deficiências no campo da 49
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    34. Primeira logomarca saúde, a falta de transportes, de moradia, de opções contingentes da população, precisamente os que mais do Sesi Desenho de lazer etc. A despeito das conquistas voltadas es- diretamente interessam à economia social (LODI apud pecificamente para o setor produtivo, impunha-se a IEL, 1969, p. 10) necessidade de um plano de ação social para o Brasil. Na época a preocupação já era manifestada, de for- Esse pensamento ganhou mais força após uma ma explícita, por alguns industriais: reunião de sindicatos patronais e de trabalhadores de Minas Gerais, onde foi elaborada, em 1946, a Car- Não basta qualificar tecnicamente o trabalhador, pois ta da Paz Social, amparada nos princípios de solida- sua produtividade depende também da assistência riedade. que lhe seja dedicada para melhorar-lhe, de maneira Tanto a Carta de Teresópolis quanto a Carta da indireta, as condições de vida (LODI, 1952, p. 15). Paz Social serviram de subsídio para a Assembléia Constituinte que, instalada no governo do presi- Mal acabara a guerra e já um grupo de empresá- dente Dutra, elaborou a Constituição Brasileira de rios brasileiros, de vários setores, reunia-se em Tere- 1946,37 considerada bastante avançada para a épo- sópolis para a 1ª Conferência das Classes Produtoras, ca. Além disso, os dois documentos constituíram o em maio de 1945: Euvaldo Lodi, Roberto Simonsen, alicerce do Serviço Social da Indústria (Sesi), criado João Daudt D’Oliveira, Íris Meinberg, Brasílio Macha- em 25 de junho de 1946.38 O apoio de Euvaldo Lodi do Neto, entre muitos outros, faziam parte de uma e Roberto Simonsen foi decisivo para o surgimento corrente de cidadãos “identificados com valores éticos da entidade que, de acordo com o decreto assinado e contrários às práticas destruidoras da ordem social pelo presidente Dutra, deveria ser organizada e diri- como o lucro fácil, a competição desenfreada e a au- gida pela CNI. sência de espírito de serviço” (apud PERES, 2008). Suas O Sesi nasceu efetivamente em 1º de julho de preocupações, expostas na Carta Econômica de Te- 1946, com o objetivo de melhorar a qualidade de resópolis, referiam-se ao combate ao pauperismo, vida dos industriários e de seus dependentes.39 Entre ao aumento da renda nacional, ao desenvolvimento suas atividades incluía-se a prestação de serviços de das forças econômicas, à democracia econômica e à saúde, educação, lazer, cultura, nutrição e promoção justiça social: da cidadania. Por meio do que viria a ser posterior- mente chamado de Sistema S,40 os empresários assu- Nas novas condições de vida geradas pela revolução miam o compromisso de realizar uma tarefa que, do industrial, surgiram problemas sociais até então desco- campo da educação, estendeu-se à saúde, ao espor- nhecidos: o desemprego e os salários de baixo nível, os te e ao lazer. acidentes de trabalho, o esgotamento, a desnutrição, Em fevereiro de 1947, Dutra criou uma comissão as habitações impróprias e congestionadas tornaram- para, sob a direção do Conselho Nacional de Petróleo, se riscos sociais, aos quais ficaram sujeitos grandes elaborar as diretrizes referentes à exploração, produ- 50
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    problemas brasileiros sófoi aplicado de forma muito 35. João Daudt d’Oliveira discursa na II Conferência limitada. Nacional das Classes No ano seguinte, começavam as obras da usina de Produtoras, ao lado de Euvaldo Lodi Paulo Afonso I, que passaria a operar em 1954, com Fotografia, maio de 1945 180 mil kW de potência instalada. Sobre esse empre- endimento, assim se manifestou Euvaldo Lodi: Podemos esperar copiosos benefícios que o proje- to de Paulo Afonso trará ao sertão nordestino. Mas é preciso intensificar e dar crescente organicidade e sentido econômico à rede de empreendimentos proje- tada pelo Departamento Nacional de Obras Contra as ção, refino e comercialização do petróleo. O antepro- Secas,41 bem como pelos departamentos responsáveis jeto elaborado pela referida comissão, que facilitava pelas estradas de ferro, pelas rodovias e pelos portos as concessões para o capital estrangeiro nos assun- (IEL, 1948, p. 37). tos relativos ao petróleo, iria acirrar os ânimos nas Forças Armadas. Enquanto o general Horta Barbosa Em 1950 Vargas voltou ao poder pelo voto. E, con- defendia o monopólio estatal baseado na convicção tando com apoio político, deu seguimento à criação de que o país estava em condições de assumir a ex- de empresas estatais e monopolistas, reforçando a ploração e a prospecção petrolíferas, o general Jua- presença do Estado na economia. rez Távora buscava uma posição de conciliação com Uma das primeiras medidas do novo período os capitais estrangeiros, sob o argumento de que o de Vargas no governo foi a criação da Comissão de Brasil não dispunha de recursos e de quadros para os Desenvolvimento Industrial (CDI) que, ligada à Pre- afazeres do petróleo. sidência da República, seria responsável pelo plane- Ao atingir as ruas, o assunto sensibilizou estudan- jamento industrial. A CDI devia coordenar o trabalho tes, trabalhadores sindicalizados e as camadas popu- de oito subcomissões, entre as quais a Subcomissão lares. A campanha O Petróleo é Nosso, que duraria de de Jipes, Tratores, Caminhões e Automóveis, presidi- 1947 até 1953, foi uma das mais polêmicas da histó- da pelo comandante Lúcio Martins Meira. ria do país. Em 1948, o governo Dutra apresentava ao Con- Nesta [comissão], a preocupação dominante é a de gresso o Plano Salte, sigla resultante das iniciais de dispor condições que permitam o desenvolvimento saúde, alimentação, transporte e energia. Apesar de harmonioso da indústria, com a observância dos pos- ter sido aprovado pelo Congresso e se transformado tulados de promoção da iniciativa privada e do bem- em lei, o primeiro projeto que enfocava os principais estar social, com base no encaminhamento racional 51
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    dos recursos ena criação recíproca de mercados pelas em 1951, o Conselho Nacional de Pesquisa, CNPq,43 diversas unidades produtivas. (Discurso proferido por mais tarde denominado Centro Nacional de Desen- Lodi na instalação da CDI, IEL 1948, p. 17) volvimento Científico e Tecnológico, mantendo-se a mesma sigla. Nesse mesmo ano, o governo promulgou a lei As primeiras ações do CNPq estavam ligadas à que dispunha sobre a federalização das universida- concessão de bolsas de estudo e auxílio para a pes- des brasileiras.42 Esse mecanismo foi responsável quisa. Posteriormente foram criados programas de pelo aumento gradativo da oferta pública de ensino iniciação científica, aperfeiçoamento, especialização superior gratuito, assim como pela fundação de no- e estágio para o desenvolvimento técnico, e bolsas vas universidades. de pesquisador assistente e associado. No ano seguinte, seria criado o Banco Nacional Iniciativa semelhante veio com a institucionali- de Desenvolvimento Econômico (BNDE), destinado zação, em 1951, da Campanha Nacional de Aper- a mobilizar recursos para incentivar as atividades de feiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes),44 infra-estrutura: transportes, energia elétrica e indús- destinada a assegurar a existência de pessoal es- trias de base. pecializado para atender às necessidades dos em- A idéia de criar uma entidade governamental es- preendimentos públicos e privados que visavam pecífica para fomentar o desenvolvimento científico ao desenvolvimento do país. Idealizado por Anísio no país era antiga. As primeiras manifestações nes- Teixeira, o projeto contou com o assessoramento do sa direção surgiram, ainda na década de 1920, na norte-americano Rudolph Atcon, técnico que traba- Academia Brasileira de Ciências (ABC). Uma década lhou também como subdiretor do Programa Univer- depois, a entidade sugeriu ao governo a criação de sitário entre 1953 e 1956. um conselho de pesquisas, mas a proposta não sen- Nessa ocasião, o Poder Executivo enviou ao Con- sibilizou o Congresso da época. Em maio de 1946, a gresso um projeto de lei que criava a Petrobras. Devido idéia seria retomada pelo almirante Álvaro Alberto às críticas e aos ataques vindos de todos os lados, foi da Motta e Silva, representante brasileiro na Comis- aprovado um decreto cujo teor era diferente daquele são de Energia Atômica do Conselho de Segurança da proposta original. Após apreciação deste pelo Se- da recém-criada Organização das Nações Unidas nado, no dia 3 de outubro de 1953 foi finalmente cria- (ONU). Porém, a iniciativa só tomaria corpo a partir da a Petrobras, que estabelecia o monopólio estatal de 1950, quando o Brasil, entre outros países, decidiu sobre a pesquisa e a exploração do petróleo.45 contestar a supremacia tecnológico-industrial dos Ainda nesse mesmo ano, houve no Aeroporto Estados Unidos no campo da energia nuclear. Com o Santos Dumont, Rio de Janeiro, a Primeira Mostra da objetivo de apoiar a formação de recursos humanos Indústria Nacional de Autopeças. para enfrentar o desafio, a lei – chamada por Álva- Em 1954 foi fundado o Instituto Tecnológico de ro Alberto de Lei Áurea da Pesquisa no Brasil – criou, Aeronáutica (ITA).46 A criação dessa instituição, locali-
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    zada em SãoJosé dos Campos, estado de São Paulo, tuação difícil. Finalmente, um atentado contra Car- 36. Presidente Juscelino Kubitschek em convenção representou um grande avanço no ensino superior los Lacerda, oposicionista do governo, fez acirrar os do PSD, que homologou sua e na inovação tecnológica. A idéia de construção de ânimos. Aconselhado a renunciar, Getulio Vargas se candidatura à presidência da República para as eleições um centro técnico nessa região já havia sido apresen- suicidou na madrugada de 25 de agosto de 1954. de 1955. Fotografia tada, em 1945, pelo general Casimiro Montenegro ao O ato extremado do presidente comoveu as mul- Detalhe professor norte-americano Richard Smith, do Massa- tidões, que ocuparam as ruas e choravam a perda chussets Institute of Technology (MIT). do “pai dos pobres”. As manifestações populares Mais tarde, o complexo seria ampliado com a ins- refletiram-se no cenário político nacional, acuando talação do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), mate- a oposição a Vargas. rializando o sonho de Alberto Santos Dumont de que Imediatamente assumiu o governo, como presi- houvesse, no Brasil, uma escola técnica voltada para dente interino, João Café Filho, que manteve as datas a aviação: das eleições seguintes. Durante o curto período de seu governo, a Superintendência da Moeda e do Cré- Eu, que tenho algo de sonhador, nunca imaginei o que dito (Sumoc)48 baixou a Instrução nº. 113, de janeiro tive ocasião de observar, quando visitei uma enorme de 1955, que permitia às empresas importarem má- fábrica nos EUA. Vi milhares de hábeis mecânicos quinas e equipamentos obsoletos, valorizados como ocupados na construção de aeroplanos, produzindo se fossem novos, sem cobertura cambial ou restrição diariamente de 12 a 18. Quando o Congresso Ameri- de qualquer espécie. Na concepção de alguns seto- cano acaba de ordenar a construção de 22.000 dessas res da indústria, a medida não somente prejudicaria máquinas, nós, aqui, não encaramos ainda esse pro- o crescimento da indústria nacional de bens de pro- blema com a atenção que merece (SANTOS DUMONT, dução como incentivaria a transferência do controle 1918, p. 70). acionário de empresas brasileiras para as corpora- ções internacionais. Ainda em 1954 seria fundado, no âmbito do CNPq, Em clima de tensões políticas e econômicas, Jus- o Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação celino Kubitschek de Oliveira, eleito democratica- (IBBD),47 que posteriormente se transformaria no Ins- mente, chegou ao poder, em janeiro 1956, com um tituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnolo- ambicioso plano de governo, que não apenas procu- gia (Ibict). rava identificar os obstáculos a superar, como prome- Apesar do clima promissor e das muitas realiza- tia transferir a capital do país para o Planalto Central. ções, o governo estava com seus dias contados. O ex- E, a despeito das adversidades políticas, JK consegui- cessivo controle sobre a economia provocava fortes ria não somente “implantar as empresas criadas por reações dos setores contrários ao governo, inclusive Vargas, mas também implementar um novo modelo de de alguns grupos militares. As investigações feitas desenvolvimento sobre a base industrial estatal insta- pelo Congresso colocavam o presidente em uma si- lada” (CALDEIRA, 1997, p. 200). 53
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    37. Presidente Juscelino O Plano de Metas de JK teve como base uma Kubitschek, Euvaldo Lodi e empresários no Palácio do série de estudos iniciados ainda no governo de Catete: convergência de inte- Getulio Vargas. Os diagnósticos, feitos pela Co- resses foi o grande segredo para o desenvolvimento missão Mista Brasil-Estados Unidos, pelo Banco industrial brasileiro, Rio de Janeiro, RJ Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) Fotografia, 1956 e pela Comissão Econômica para a América Lati- na e Caribe (Cepal), indicavam a necessidade de eliminar os pontos de estrangulamento da econo- mia brasileira. Para os analistas da época, o Brasil vinha passando por um processo de substituição de importações não planejado, sendo esta a causa dos constantes desequilíbrios no balanço de paga- mentos. Com o slogan “50 Anos de Progresso em 5 Anos de a fabricação de caminhões, jipes, camionetas, cami- Governo”, cunhado por Augusto Frederico Schmidt, nhões leves e furgões. JK propunha-se a impulsionar o desenvolvimento do país mediante o incremento de cinco áreas – energia, Com a eclosão do Geia, iniciou-se a grande arranca- transporte, alimentação, indústria de base e educa- da. As indústrias de veículos e autopeças, conjugan- ção – e a construção de Brasília. Em mensagem en- do os seus melhores esforços, trabalhando em ritmo viada ao Congresso em 15 de março de 1956, o chefe avassalador, lançaram-se numa das mais gigantescas da nação declarou: realizações do industrialismo moderno, queimando etapas e estágios tecnológicos rumo à meta final. A importância que passou a adquirir, no país, o trans- (GATTÁS, 1981, p. 200) porte rodoviário, a curta e longa distância, vem criar a necessidade de ser instituída, entre nós a indústria Em setembro do mesmo ano, foi inaugurada, automobilística, em bases amplas e definitivas (apud em São Bernardo do Campo, a primeira fábrica de GATTÁS, 1981, p. 189) caminhões com motor nacional da Mercedes-Benz. No mesmo mês, foi lançado pela Máquinas Agríco- Depois de constituído o Conselho do Desenvolvi- las Romi, instalada em Santa Barbado do Oeste, São mento, veio a criação, em 16 de junho de 1956,49 do Paulo, o primeiro veículo produzido no Brasil: o Ro- Grupo Executivo da Indústria Automobilística (Geia), mi-Isetta, um minicarro popular. que tinha como objetivo implantar a indústria auto- A indústria automobilística desempenhava um mobilística no Brasil. O grupo tinha poder para exa- papel central nas políticas do governo. Além de res- minar, aprovar ou rejeitar projetos industriais para ponsável pela expansão da infra-estrutura rodoviária 54
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    do país, ela“acudiu a economia brasileira, estendeu se esforço, a implantação da indústria automobilística 38. Linha de montagem do primeiro automóvel seus efeitos a outros setores de atividades e continuou nacional somente se deu, em 1956, com a criação do de fabricação nacional, o a imprimir dinamismo até por quatro décadas após seu Grupo Executivo da Indústria Automobilística (Geia). Romi-Isetta, Santa Bárbara d’Oeste, SP início” (LATINI, 2007, p. 107). A demanda oriunda das Primeiramente foram produzidos caminhões, ca- Fotografia, 1956 montadoras estrangeiras provocou o crescimento e a mionetas, jipes e furgões. Logo depois, carros de pas- modernização de pequenas e médias empresas, vin- seio e camionetas começaram a ser fabricados pela culadas ao setor de autopeças: “as medidas há tanto Volkswagem, Vemag, Willys-Overland, Simca, Ford, esperadas pelo setor de autopeças causaram fortes im- Chevrolet, Chrysler. A princípio, esses veículos eram pactos, desencadeando uma revolução industrial, com projetados nas matrizes européias e norte-america- grandes reflexos na vida econômica, política e social do nas, utilizando a maioria de peças e equipamentos País” (GATTÁS, 1981, p. 180) importados.50 Embora as primeiras empresas estrangeiras a se Criada em 1945, com capitais brasileiros, a Vemag, instalar no Brasil tenham sido a Ford (1919) e a Ge- que surgiu para montar e distribuir veículos, lançou, neral Motors (1925), suas unidades de produção res- em 19 de novembro de 1956, o primeiro veículo de tringiam-se então a montadoras de peças vindas do fabricação nacional, a perua DKW. O Sedan DKW- exterior. Com a eclosão da II Guerra, e a conseqüente Vemag, com 50% das peças de fabricação nacional, dificuldade de importação, surgiu a necessidade de seria apresentado, no dia 28 de abril de 1958, durante improvisar peças de reposição, o que fez surgir peque- o desfile da Bandeira Automobilística Brasileira. nas oficinas, cuja incipiente produção contribuía para Por volta de 1956, esquentava o debate em torno manter a frota brasileira em circulação. A despeito des- da energia nuclear. Em primeiro lugar, devido às re- 55
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    39. Presidente Juscelino servas brasileiras de minérios como o urânio e o tó- Com o intuito de estabelecer uma adequação en- Kubitschek na Usina Hidrelétrica de Furnas rio. Em segundo, porque havia fracassado a tentativa tre o sistema educacional e as transformações que Fotografia, 3 de março de 1960 de compra, pelo Brasil, de ultracentrífugas de origem vinham ocorrendo no país, o Ministério da Educação alemã, equipamentos destinados ao enriquecimento criou o programa Educação para o Desenvolvimento, de urânio. que continha 12 diretrizes destinadas a reformular os O tema causava polêmica: havia os que defen- ensinos secundário e superior. Em 16 de março de diam a exportação dos minérios e aqueles que acre- 1957, foi formada a Comissão de Educação e Cultura ditavam na capacidade do Brasil de produzir energia do Conselho do Desenvolvimento, que deveria defi- nuclear de forma autônoma. Com isso, em outubro nir o esforço educacional a ser realizado em respos- de 1956 foi criada a Comissão Nacional de Energia ta às exigências do desenvolvimento nacional. Essa Nuclear (CNEN),51 que tinha como objetivo propor as meta foi explicitada em mensagem presidencial en- medidas julgadas necessárias à orientação da política viada ao Congresso: geral da energia atômica mais adequada ao interesse e à segurança nacionais. Data dessa época a parceria Na era tecnológica em que ingressa a sociedade bra- entre o CNPq e a CNEN. Enquanto ao primeiro cabia sileira, o progresso se avalia em termos de evolução financiar pesquisas e a formação de pesquisadores, a científica e da rápida utilização dos resultados obtidos. segunda tinha como tarefa desenvolver a utilização (...) Precisamos diplomar maior número de técnicos, da energia nuclear em todas as formas de aplicação ano após ano. Além disso, necessitamos de maior va- pacífica, com crescente autonomia tecnológica. riedade deles nos diferentes níveis de formação. Será também imprescindível cercar as profissões técnicas (JUSCELINO KUBITSCHEK, 1957, p. 2).52 Encaminhada ao Legislativo em 1957, a proposta de reforma do ensino,53 embora tão esperada pelos setores industriais progressistas, encontrou resistên- cia dos proprietários de escolas. Submetido a longas discussões, o projeto somente seria transformado em lei no governo João Goulart. Enquanto isso o presidente JK enfrentava outros desafios. Com a missão de construir uma usina que evitasse o colapso energético da região Centro-Sul, ainda em 1957 criou a Central Elétrica de Furnas (CEF), em Minas Gerais.54 Como na época o Brasil não possuía tecnologia capaz de levar avante uma obra 56
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    de tal porte,foi preciso contratar profissionais estran- geiros, principalmente ingleses, e importar equipa- mentos da Itália, Suécia, Estados Unidos, Suíça, Ca- nadá e Japão. Instalada em Passos, Minas Gerais, a hidrelétrica começaria a funcionar em 1963. Pouco depois, foi a vez da Usina de Três Marias, também no estado de Minas Gerais. Iniciada em maio de 1957, a hidrelétrica, concluída em janeiro de 1961, representou um verdadeiro recorde mundial em construções dessa natureza. Além de um reser- vatório de uso múltiplo e da geração de energia, Três da vida urbana, os novos produtos da indústria, as di- 40. Cesar Lattes, importante físico brasileiro, que Marias passou a viabilizar a navegação no rio São ferenças da vida social, o maior acesso à educação e à juntamente com Cecil Francisco nos períodos de estiagem, o abastecimen- cultura de massa” (CALDEIRA, 1997, p. 297). Powell e Giuseppe Occhialini identificou e isolou, nos to urbano e a irrigação na região. O ensino tecnológico mereceu uma atenção do Estados Unidos, o méson-π, Em 1958, com a criação do Fundo de Marinha tornando-se uma celebridade governo, com a lei que instituiu as escolas técnicas nacional Mercante e a organização do Grupo Executivo da federais e autarquias educacionais, vinculadas ao Fotografia, 1947 Indústria de Construção Naval (Geicon), que faziam MEC.55 Quatro anos depois, a matéria ganharia refor- parte do Plano de Metas do governo, deu-se o renas- ço com o Programa de Expansão do Ensino Tecnoló- cimento da construção naval. gico, Protec.56 Indiferente às críticas, o presidente Juscelino Ku- Entre o nacional-desenvolvimentismo e a abertu- bitschek dava seqüência às inúmeras realizações que ra ao capital estrangeiro, JK escolheu os dois: man- contribuíam para promover um crescimento econô- teve o Estado forte, mas, ao mesmo tempo, abriu as mico sem precedentes na história do país: portas do país para o investimento externo, tripli- cando a entrada de capitais em relação ao período Entre 1955 e 1961, a produção de aço cresceu 100%; anterior. Como o projeto do governo facilitava as a das indústrias mecânicas, 125%; a das elétricas e de relações com os Estados Unidos, Juscelino sugeriu comunicações, 380%; e a das indústrias de equipa- ao presidente norte-americano, Dwight Eisenhower, mentos de transportes, 600%. A produção industrial a retomada do ideal pan-americano de fortalecer a como um todo cresceu 100%, a taxa de crescimento América Latina. Um dos resultados dessa aproxima- real foi de 7% ao ano, e a renda per capita aumentou ção foi a criação, em 1959, do Banco Interamericano 4% ao ano (CALDEIRA, 1997, p. 295). de Desenvolvimento (BID), uma instituição regional de financiamento. Esse progresso mudava a imagem externa e a O exercício democrático e a abertura econômi- vida cotidiana do país. “Valorizavam-se as conquistas ca para o mundo iriam contribuir para a transfor- 57
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    41. Cidade Livre,núcleo mação da cultura nacional. Impulsionado por mais mostravam sua cara nos festivais internacionais. Em urbano que deu suporte aos trabalhadores da construção uma revolução industrial, o Brasil entrava na era da 1959, o filme Orfeu do Carnaval, dirigido por Marcel de Brasília, hoje, Núcleo novidade. A música era então a bossa nova, uma Camus, ganhou a Palma de Ouro em Cannes. Bandeirante, DF Mário Fontenelle reinvenção do samba tradicional com influência dos E no esporte não foi diferente: o Brasil conquista- Fotografia, 1956 va alhures a Copa do Mundo de 1958, mostrando a acordes jazzísticos. E não tardaria para que o país se Detalhe orgulhasse de seus grandes embaixadores culturais: habilidade dos seus craques. A partir de então, Pelé, canções de Tom Jobim, João Gilberto e de tantos ou- antecipando seus longos tempos de glória, tornar-se- tros passavam a ser produtos de exportação. ia um cartão postal do país. O futebol também havia Inspirado no Neo-realismo italiano e na Nouvelle se modernizado: pela primeira vez, o time brasileiro Vague, o Cinema Novo ensaiava uma nova lingua- havia sido devidamente preparado por uma comis- gem que, representada em Rio 40 Graus (1955), ade- são técnica de reconhecido gabarito. O otimismo era quava-se à situação social da época. Com “uma idéia contagiante: a nação passava a acreditar em si mes- na cabeça e uma câmera na mão”, diretores brasileiros ma e no seu futuro! 58 8
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    Mas, com todosos esforços e glórias, o Brasil era 42. Da esquerda para a direita: Oscar Niemeyer, ainda uma nação dividida: enquanto o progresso se Israel Pinheiro, Lucio Costa e presidente Juscelino alastrava pelo Sudeste, as outras regiões permane- Kubitschek, entre maquete e ciam com suas atividades econômicas tradicionais. projetos da nova capital Fotografia, 29 de janeiro de Com isso, aumentava a migração, do campo para a 1958 cidade, principalmente do Nordeste, cuja “renda per 43. Construção do Congresso capita não chegava a US$ 100, um terço da renda dos Nacional Mário Fontenelle habitantes do centro-sul do país” (Folha Online, 13 Fotografia, 1959 ago. 2008). A região já havia sido objeto da preocu- pação manifesta dos industriais desde a década de 1940: A valorização do Nordeste e a difusão industrial é uma preocupação dos líderes da indústria nacional (...) pre- cisamos desenvolver as atividades internas, estimular as iniciativas, atrair os capitais estrangeiros a investir aqui, possibilitando o trabalho aos nossos trabalha- dores (...) tudo isso para que desenvolvamos nossa capacidade financeira e técnica de dinamizar o vasto território nacional (LODI, 1984, p. 32). Em 1960, o ensino tecnológico foi contemplado pela criação da Comissão Supervisora do Plano dos O governo não ficou alheio a essa situação de Institutos (Cosupi). Com a finalidade de elaborar e segregação, que configurava a existência de dois executar, sob a coordenação do Ministério da Edu- Brasis. Em 1959, surgia a Superintendência de De- cação e Cultura, os planos de aplicação das verbas senvolvimento do Nordeste (Sudene),57 idealizada concedidas para a instalação de institutos de tecno- pelo economista Celso Furtado. Com sede em Recife, logia e ciências básicas, a Cosupi deveria contribuir Pernambuco, a instituição destinava-se a promover o para aumentar a eficiência do ensino nas escolas de desenvolvimento da região, por meio da mecaniza- nível superior.59 ção agrícola e da industrialização. Em fevereiro do último ano do governo, 1960, Com a intenção de promover a expansão da in- chegava ao Planalto Central a Caravana da Integra- dústria do aço e da rede hidrelétrica, foi criado em ção Nacional, que, além de exibir quatro colunas de julho de 1960 o Ministério de Minas e Energia (MME), veículos de fabricação nacional, comprovava a exten- que passou a assumir as atribuições de sua área, an- são da malha rodoviária brasileira. O governo JK ha- tes vinculadas ao Ministério da Agricultura.58 via construído 20 mil quilômetros de estradas e pavi- 59
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    44. Presidente JânioQuadros mentado outros milhares nas rodovias já existentes. entrega a Che Guevara a Ordem do Cruzeiro do Sul, Vindos de todos os cantos, os brasileiros chegaram a 1959. Matéria da publicação Brasília, metassíntese do governo e símbolo do novo Nosso Século Brasil que se pretendia criar. A cidade moderna, que começara a ser construída em 1957, representava então não apenas um mode- lo de civilização a ser seguido, mas caracterizava o centro da integração nacional. Repetindo o dizer de Darcy Ribeiro em relação ao papel de Minas Gerais no século XVIII, Brasília foi “o nó que atou o Brasil e fez dele uma coisa só” (1995, p. 153). A partir de então, o país seria respeitado também pela epopéia da construção, em tempo recorde, da cidade que harmonizava uma arrojada arquitetura com um urbanismo revolucionário. Quando da inau- guração, no dia 21 de abril de 1960, André Malraux, ministro da Cultura da França, além de chamar Brasília de “capital da esperança”, estabeleceu uma significativa comparação: “as colunas do Palácio da Alvorada consti- tuem o elemento arquitetural mais importante depois das colunas gregas” (apud ROLLEMBERG, 2000, p. 17). conseguir instalar a indústria de bens duráveis e pro- Além da beleza, a cidade surpreendeu o país e o mover a diversificação do parque industrial, valeu-se mundo pelo novo modus vivendi que ajudava a criar. de empréstimos externos e, sobretudo, da emissão O bucólico, o monumental, o gregário e o residencial de moeda além do que o mercado podia suportar, o misturavam-se para dar à cidade o caráter urbano e que gerou inflação e um descontrole da economia. cívico que o programa exigiu. Era também o espaço A dívida externa e o déficit da balança comercial resultante da técnica rodoviária imposta pela nova e inquietavam os credores internacionais. A saída foi promissora indústria automobilística ou, no dizer de apelar para o Fundo Monetário Internacional (FMI), Lucio Costa, “Brasília, capital aérea e rodoviária; cidade que passou a fazer ingerências na política econômica parque. Sonho arqui-secular do Patriarca” (CODEPLAN/ brasileira e exigências para o saneamento das finan- DEPHA, 1991, p. 32) ças. Apesar do crescimento econômico, os emprés- Sem recursos internos para o seu acelerado proje- timos externos ajudaram a aumentar a inflação e o to de crescimento, Juscelino ofereceu atrativos para arrocho salarial. Com isso, ao assumir o governo em a vinda de empresas multinacionais no país. Para 1961, Jânio Quadros tinha muitas dívidas para pagar 60
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    e poucas fontesde recursos. Assim, a estratégia foi serviu como uma espécie de aval para grande par- pagar as contas e reduzir drasticamente os investi- te dos empréstimos contraídos pelos países latino- mentos. americanos com o Banco Mundial e o Fundo Mone- Nesse período foi finalmente aprovada a criação tário Internacional. das Centrais Elétricas Brasileiras S.A.60 A proposta, No curto período de seu mandato, Jânio criou a formulada e enviada ao Congresso por Getulio Var- Política Externa Independente (PEI), que visava ao gas em 1951, propunha também o Plano Nacional de estabelecimento de relações com todos os povos, Eletrificação Rural. Embora o projeto tivesse sofrido sobretudo com os do mundo socialista e do conti- várias emendas, foi mantida a sigla original Eletro- nente africano. Nesse sentido, restabeleceu relações brás. diplomáticas e comerciais com a URSS e a China; con- Nessa época, o presidente dos Estados Unidos, denou o episódio da Baía do Porcos e a interferên- John Kennedy, apresentou para o corpo diplomático cia norte-americana que provocou o isolamento de latino-americano o novo padrão de relacionamen- Cuba; e concedeu a Che Guevara a Ordem do Cruzei- to internacional baseado na cooperação dos povos ro do Sul. latinos. A iniciativa fazia parte da Lei de Assistência Por meio da Resolução nº. 204/1961, da Superin- ao Exterior aprovada pelo Congresso americano em tendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), acabou 1961: com subsídios ao câmbio que beneficiavam importa- dores, inclusive os grandes jornais, que importavam Conclamei todos os povos do hemisfério a participarem grandes quantidades de papel. Além disso, esbele- de uma nova Aliança para o Progresso, um enorme es- ceu uma severa contenção dos gastos públicos, por forço cooperativo, sem paralelos em sua magnitude e meio do enxugamento da máquina governamental e nobreza de propósitos, para satisfazer às necessidades da abertura de centenas de inquéritos e sindicâncias, básicas do povo americano, de lares, trabalho e terra, que visavam ao combate à corrupção e ao desregra- saúde e escolas [...] a liberdade política deve acompa- mento na administração pública. nhar o progresso material (...) onde dentro da rica di- Além disso, o presidente enviou ao Poder Legis- versidade de suas próprias tradições, cada nação seja lativo os projetos de lei antitruste, de limitação e re- livre para seguir seu próprio caminho para o progresso gulamentação da remessa de lucros e royalties, e de (JOHN KENNEDY apud SCHLESINGER, 1966, p. 207) reforma agrária. Hostil ao governo, o Congresso en- gavetaria os referidos projetos de lei. Ao mesmo tem- No mesmo ano, uma reunião extraordinária do po, durante esse período, foram criadas as primeiras Conselho Interamericano Econômico e Social (CIES) reservas indígenas, entre as quais a do Parque do foi formalizada com a Declaração aos Povos da Amé- Xingu61 e seis parques ecológicos nacionais – Capa- rica e a Carta de Punta del Este, uma parceria entre os raó, Sete Cidades, Tijuca, São Joaquim, Brasília, Mon- EUA e a América Latina. A Aliança para o Progresso te Pascoal, além da Floresta Nacional de Cuxianã.
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    45. Presidente JoãoGoulart Ao lado de ações concretas importantes, o pre- pos econômicos. A impopularidade das medidas de assina decreto que aprova o Programa Intensivo de sidente introduziu medidas inusitadas como a proi- contenção de gastos públicos e o confronto com os Preparação de Mão-de-Obra bição do biquíni nas transmissões dos concursos de interesses dos proprietários de jornais contribuíram Industrial (Pipmo) Fotografia, 1963 miss, das rinhas de galo, do lança-perfume nos bailes para configurar uma crise política, cujo agravamento 46. Construção do Instituto de carnaval e dos carteados. levou o presidente a renunciar, ficando o governo a Central de Ciências, A política externa desagradou seus correligioná- cargo do vice João Goulart. Universidade de Brasília (Unb) rios da União Democrata Nacional (UDN), e o fim dos Pouco depois de assumir o poder, o novo presi- Fotografia, 1960 subsídios retirou os privilégios de importantes gru- dente assinou, em dezembro de 1961, a Lei de Dire- trizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que, infe- lizmente, não agradou a todos.62 “Essa lei, que deveria ser o sólido alicerce da reconstrução do ensino não al- cançou, pois, o seu objetivo” (O Estado de S. Paulo, 27 dez. 1962 apud Gattás, 1981: 256). Resultado de um pacto entre os diversos interesses em jogo, o projeto previa que, embora devesse ser garantido pelo poder público, o ensino estava aberto à iniciativa privada, e caberia à família a escolha sobre o tipo de educação que queria para seus filhos. Mas a grande inovação da lei foi estender ao Senai a possibilidade de insti- tuir a mesma organização que estava prevista no sis- tema público de ensino. Assim, a entidade poderia oferecer o curso ginasial em quatro anos e o curso técnico industrial em três anos equivalente ao curso secundário, o que facultava aos alunos concluintes ingressarem em qualquer curso de nível superior. Em conseqüência da LDB, foi criado o Conselho Federal de Educação (CFE), cuja composição teve um mínimo de ingerência política. A indicação dos con- selheiros, feita em parte por Anísio Teixeira, recaiu so- bre Alceu Amoroso Lima, Maurício Rocha e Silva, Al- meida Júnior, Newton Sucupira, dom Helder Câmara e outros expoentes das letras e da educação. Foi também de Anísio Teixeira, juntamente com Darcy Ribeiro, a iniciativa de criar, em 1961, a primei- 62
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    47. Presidente JoãoGoulart sanciona a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) Fotografia, dezembro de 1961 ra instituição de ensino superior do país totalmente Ainda em 1961, foram publicadas, em The Latin inspirada no modelo moderno, a Universidade de American University, as idéias e princípios defendidos Brasília (UnB).63 Baseada na concepção norte-ameri- por Rudolph Atcon, que ficaram conhecidas como cana concernente aos princípios de produtividade, El Informe Atcon. Em 1963, o relatório foi assumido eficiência e eficácia, a instituição representava o ideal pela United States Agency for International Develo- nacional de produzir ciência e tecnologia necessárias pment (Usaid) como parte do projeto educacional ao desenvolvimento econômico do país. Além de es- para a América Latina. tabelecer um paradigma para o ensino superior, a A portaria de 7 de março de 1962, do Ministério UnB foi criada com o intuito de atender à necessida- da Educação, além de fixar as disciplinas obrigatórias de de formar uma elite governamental composta por para o curso técnico, tornou obrigatório o estágio especialistas bem qualificados. que até então era só recomendado, textualmente, na Três presidentes da República participaram da forma de ”exercício satisfatório da profissão por perío- criação da UnB: Juscelino Kubitschek elaborou o do não inferior a um ano, com assistência e orientação projeto e o encaminhou ao Congresso Nacional, Jâ- da escola”. Dando seqüência à educação para o traba- nio Quadros confirmou a comissão encarregada de lho, seria instituído, em 1963, o Programa Intensivo projetar a universidade e João Goulart promulgou a de Preparação de Mão-de-Obra Industrial (Pipmo), lei de criação e nomeou o seu primeiro reitor, Darcy destinado a treinar os operários novos e os já em- Ribeiro. pregados para que pudessem se adequar às novas 63
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    48. Mulheres paulistasna tecnologias importadas e, com isso, aumentar o nú- Nesse período, buscou-se rever o conceito de de- Marcha da Família com Deus pela Liberdade mero de trabalhadores qualificados à disposição do senvolvimento proposto por JK. A política econômi- Fotografia, 1964 mercado.64 ca de então incluía, entre as prioridades, a melhoria 49. Comício pelas reformas Um ano antes, o Brasil aparecia nas manchetes in- das condições sociais do país. E, com isso, abria-se es- de base na Central do Brasil Fotografia, 1964 ternacionais: o filme O Pagador de Promessas, escrito paço para as manifestações em defesa das reformas por Dias Gomes e dirigido por Anselmo Duarte, além agrária, tributária e educacional. Ao mesmo tempo, de indicado para concorrer ao Oscar, ganhara a Pal- com a entrada maciça de indústrias multinacionais ma de Ouro como o melhor longa-metragem. Além no país, os norte-americanos e europeus passaram a disso, repetindo o feito de 1958, o Brasil se tornou bi- ter liderança nos setores de maior investimento tec- campeão mundial de futebol na Copa marcada pela nológico. atuação sensacional de Garrincha. O Poder Executivo, na gestão de João Goulart, apresentou, com insucesso, o Plano Trienal de De- senvolvimento Econômico-Social para o período de 1963-1965 como forma de superar a estagnação econômica e amenizar a insatisfação das camadas sociais. Com o fracasso do plano, o governo passou a defender enfaticamente as propostas de reforma de base que deveriam ser aprovadas pelo Congresso Nacional. De um lado, os empresários estrangeiros, preo- cupados com a possibilidade de verem reduzidos seus movimentos financeiros, faziam pressão sobre o governo; de outro, os fazendeiros, assustados com a possibilidade de uma reforma agrária, colocavam- se na oposição. E, embora a industrialização, voltada sobretudo para a produção de bens duráveis, tivesse adquirido um ritmo próprio, os industriais, que de- pendiam das divisas para importar máquinas e pro- dutos, passaram a ficar cada vez mais descontentes. Como a agricultura não se modernizava e os preços de seus produtos eram baixos, o valor das exporta- ções crescia pouco. E foi nesse contexto que surgiu, em 1962, o Insti- tuto de Pesquisas e Estudos Socais (Ipês), uma orga- 64
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    nização de empresáriosdo Rio de Janeiro e de São 50. Matéria da revista Manchete sobre o Paulo, cujo objetivo era “defender a liberdade pessoal afastamento de João Goulart da Presidência da República, e da empresa, ameaçada pelo plano de socialização 11 de abril de 1964 dormente no seio do governo João Goulart”, por meio de um “aperfeiçoamento da consciência cívica e demo- crática do povo” (ABREU, 2001 p. 2.790). A filosofia política do Ipês via a reforma moderada meiramente frear o crescimento, pagar as dívidas do sistema econômico e político do Brasil como uma e sanear as finanças públicas, para depois voltar a necessidade imperiosa, através da qual seria possível investir no crescimento. neutralizar o avanço comunista no país. Baseada na O processo de democratização, que fez eclodir as encíclica Mater et magistra, do papa João XXIII, e no manifestações pelas ruas das principais cidades bra- programa da Aliança para o Progresso, de iniciativa do sileiras, demonstrava o fortalecimento dos organis- governo norte-americano no começo da década de mos de representação dos trabalhadores urbanos 1960, a orientação seguida pelo instituto também re- e das centrais que congregavam os trabalhadores fletia a visão da Escola Superior de Guerra (ESG) sobre a rurais, cuja sindicalização havia sido regulamenta- realidade brasileira da época. (ABREU, 2001, P. 2790) da em junho de 1963. A agitação popular, encara- da como sinônimo de perigo e subversão, levou os Outra organização que fazia oposição ao governo conservadores a se articularem em torno da Socie- era o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad), dade em Defesa da Tradição, Família e Propriedade fundada em maio de 1959 por Ivan Hasslocher. Finan- (TFP) e da Frente Patriótica Civil-Militar, articulação ciado por contribuições de empresários brasileiros e que teve como ápice a Marcha da Família com Deus estrangeiros, o Ibad intensificou suas atividades em pela Liberdade. 1962 por intermédio da Ação Democrática Popular As inúmeras greves motivadas não apenas por (Adep), sua subsidiária, que interveio ativamente na reivindicações salariais, mas pela aprovação das campanha eleitoral daquele ano. reformas de base, contribuíram para desestabilizar João Goulart, que se negava a abandonar a estru- ainda mais o governo. O quadro de instabilidade tura sindical que havia ajudado a construir, era visto política precipitou a ação das Forças Armadas, que, como um aliado dos trabalhadores contra a classe apoiadas no pressuposto de garantia da segurança patronal. A polarização de classes fez com que o go- nacional, desencadearam o golpe de 1964. Na noite verno fosse marcado por conflitos de várias ordens: de 1º de abril, o Congresso aprovou uma resolução enquanto os aliados defendiam reformas econômi- que declarava vago o cargo de presidente, e que cas de longo prazo, as chamadas reformas de base, este seria ocupado interinamente pelo presidente os opositores acreditavam que a única saída era pri- da Câmara, Ranieri Mazzilli. 65
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    Internacionalização da produção industrial oãcudorp 67
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    Enquanto soldados, tanques,caminhões e jipes Informações (SNI), e em outubro do mesmo ano o 51. Bandeirante, primeiro avião construído no Brasil, ocupavam as ruas das principais cidades brasileiras, Congresso aprovou uma lei que extinguia a Central sobrevoa a Baía de o presidente provisório Ranieri Mazzilli dava pos- Geral dos Trabalhadores (CGT), a União Nacional dos Guanabara, RJ Fotografia, 1968 se a uma junta militar formada pelos comandantes Estudantes (UNE) e as Uniões Estaduais de Estudan- Página 66 do Exército, Artur da Costa e Silva, da Aeronáutica, tes (UEEs). 52. Trabalho de análise em Francisco Correia e Melo, e da Marinha, Augusto Ra- Nessa época o Brasil vivia talvez a primeira crise de laboratório químico Peter Lang demaker. Em 9 de abril de 1964 foi assinado o Ato sua fase industrial. Uma explicação para essa situação Fotografia Institucional nº. 1, que suspendia imunidades parla- era a insuficiência de mercado para a indústria, setor mentares, autorizava o Executivo a cassar mandatos mais dinâmico da economia. As exportações haviam legislativos, cancelar a vitaliciedade de magistrados sido reduzidas a produtos cuja disponibilidade de e a estabilidade de servidores. Seis dias depois, assu- matérias-primas era pequena e a setores em relação miam o poder o general Humberto de Alencar Cas- aos quais o mercado nacional era insuficiente para telo Branco, como presidente, e José Maria Alkmin, justificar a produção local, como bens de capital e como vice. outros. O desenvolvimento do Brasil passava, assim, O país passaria, então, a adotar uma nova estru- a depender quase que exclusivamente do mercado tura de poder e um novo estilo de liderança. Con- interno, muito pequeno se comparado às grandes cretizava-se também o processo de redefinição das demandas impostas pelos avanços tecnológicos às Forças Armadas, substituindo-se o anterior princípio unidades produtivas. da defesa nacional, elaborado pela Escola Superior Para dar continuidade ao crescimento econômi- de Guerra (ESG), pela doutrina de segurança, en- co, era necessário desenvolver o setor de bens de ca- tendida nos aspectos internos e externos. No dia 13 pital e ampliar o de bens intermediários. Entretanto, de junho de 1964 foi criado o Serviço Nacional de vários obstáculos interpunham-se a essas metas, em 69
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    53. O PresidenteMarechal especial a ausência de mecanismos de financiamen- 1964, foi criado o Escritório de Pesquisa Econômica Castelo Branco inaugura oficialmente a Usina de to. O setor público encontrava-se com elevado déficit Aplicada (Epea), que logo depois se converteria em Furnas e as obras da Usina devido aos gastos realizados no governo JK, e o setor instituto.1 de Estreito em Minas Gerais Fotografia, 12 de maio de 1965 privado não possuía recursos financeiros disponíveis Muitos economistas aliados do governo, entre os para garantir os investimentos. quais o próprio Roberto Campos, identificavam-se Com o objetivo de enfrentar a crítica situação eco- com a teoria proposta por Whitman Rostow que, co- nômico-financeira que se arrastava desde o governo nhecida como Estágios do Desenvolvimento Econô- anterior e controlar os trabalhadores do campo e da mico, propunha a busca da industrialização como um cidade, o governo decidiu promover uma reforma do caminho a ser seguido para se atingir o crescimento Estado. Inspirado nas idéias de Roberto de Oliveira econômico. Por esse processo histórico linear, os pa- Campos e Otávio Gouveia de Bulhões, representan- íses deveriam transpor etapas: a primeira correspon- tes respectivamente do Planejamento e da Fazenda, deria a um estado natural de subdesenvolvimento; a foi instituído o Plano de Ação Econômica do Gover- segunda, ao surgimento das condições para a passa- no (Paeg), que visava, ao mesmo tempo, equilibrar o gem da tradição à modernidade; a terceira represen- balanço de pagamentos e estimular o crescimento. taria o período em que os obstáculos ao crescimen- Tratava-se de promover o saneamento das finanças to seriam vencidos; a quarta fase aconteceria com a por meio do corte de gastos e do aumento de impos- adaptação definitiva da sociedade às necessidades tos sobre serviços públicos (PAEG, 1964). da produção; e na última etapa, denominada de con- O Paeg tinha como metas de médio prazo acelerar sumo de massas, ocorreria a distribuição dos ganhos o ritmo de desenvolvimento, conter o processo infla- cionário, atenuar os desequilíbrios setoriais e regio- nais, aumentar o investimento e com isso o emprego, e corrigir a tendência ao desequilíbrio interno. Com esse programa pretendia-se ainda dinamizar a políti- ca educacional, visando à ampliação das oportunida- des de acesso à educação, à racionalização dos recur- sos disponíveis e ao ajuste do ensino às necessidades técnicas e culturais da sociedade moderna. A questão educacional mereceu uma parte pe- quena no Paeg, na qual se discutiam os dispêndios em educação com base em estimativas de recursos a serem empregados no setor. Admitia-se então a necessidade de um aumento de 180 mil matrículas no ensino superior até 1970. Em 10 de setembro de 70
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    de produtividade aostrabalhadores (ROSTOW, 1964). mundo de Macedo Soares e Silva, que se manteria no 54. Grupo de professores, técnicos e diretores de Por essa teoria, no caso dos países com insuficiente cargo até 1968. ensino industrial, cumpre capacidade de investimento privado, seria inevitá- Como forma de neutralizar esses efeitos foi cria- nos Estados Unidos estágio de aperfeiçoamento vel que o Estado assumisse o papel de condutor dos do, em 1964, o Banco Nacional de Habitação (BNH),2 didático, como bolsistas do governo americano, Rio de primeiros estágios de desenvolvimento, por meio do que, destinado ao financiamento de casas populares, Janeiro, RJ financiamento de educação, transporte e demais ele- contribuía para dinamizar os setores voltados para a Fotografia, 1963 mentos de infra-estrutura. construção civil, para gerar empregos e aumentar a As condições econômicas e políticas, facilitando receita federal. o funcionamento e a expansão das grandes empre- Como as estratégias adotadas não se mostravam sas, geralmente ligadas ao capital estrangeiro, orien- eficazes para garantir a implementação dos planos tavam-se no sentido da interdependência, doutrina do governo, foi necessário apelar para o corte de que culminaria em 1965 com o Acordo de Garantia subsídios ao trigo e ao petróleo. O conseqüente au- de Investimentos, que, firmado entre o Brasil e os mento dos preços gerou manifestações de oposição Estados Unidos, dava segurança aos investidores es- ao governo, levando o general Castelo Branco a bai- trangeiros interessados na economia brasileira. xar, em outubro de 1965, o Ato Institucional nº. 2,3 O governo militar pretendia transformar o país que estabelecia eleições indiretas para a Presidência numa potência econômica. Para isso, de um lado, da República e o governo dos estados. No mês se- buscava atrair capitais externos, de outro, defendia guinte, foi implantado, pelo Ato Institucional nº. 4, o os investimentos estatais na indústria pesada, como bipartidarismo no país, criando-se a Aliança Renova- a siderúrgica e a de bens de capital. Com o objeti- dora Nacional (Arena), de apoio ao governo, e o Mo- vo de obter os recursos necessários, foram instituí- vimento Democrático Brasileiro (MDB), que reunia os dos mecanismos financeiros, e a correção monetária oposicionistas. surgiu como alternativa para tentar driblar a inflação. E o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço Mas enquanto a estratégia favorecia os investidores, (FGTS), embora tenha sido instituído em 19664 com penalizava os trabalhadores, pois a desvalorização da o objetivo de formar uma reserva para cobrir as des- moeda era sempre superior às taxas de juros. Outro pesas com aposentadorias, demissões, invalidez e problema que se colocava para o pleno desenvolvi- desemprego, passava a funcionar também como mento é que tanto o setor de bens de capital como o fonte de recursos para financiar os projetos do go- setor de bens intermediários dependiam da deman- verno. da pelos produtos, que, com a concentração de ren- Além disso, o sistema educacional encontrava- da e a ausência de mecanismos de financiamento ao se defasado. A implantação das indústrias de base consumidor, era bastante limitada. e o crescimento acelerado dos anos 1950 haviam Nessa época assumia a presidência da Confede- contribuído para ampliar e diversificar o mercado ração Nacional da Indústria o engenheiro militar Ed- de trabalho; além disso, houve uma mudança no 71
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    55. Fábrica metalúrgica modelo de ascensão social. Se a abertura de um pe- A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, aprovada Fotografia queno negócio ou o exercício de profissões liberais em 1961, além de responder a interesses conflitan- garantiam certa prosperidade e estabilidade para a tes, estava obsoleta e inadequada para satisfazer às classe média, com a concentração de renda e mer- demandas desse novo estágio do desenvolvimento cado essas expectativas foram transferidas para “as capitalista. Segundo Romanelli (1984, p. 206), a lei hierarquias ocupacionais, que se ampliam e multipli- cam, tanto no setor privado quanto no setor público não havia criado a estrutura aberta de que carecia o da economia” (ROMANELLI, 1984, p. 205). Os novos desenvolvimento da nação e a inelasticidade da ofer- postos de trabalho exigiam qualificação. E, assim, a ta era acompanhada de uma estrutura escolar que educação passava a ser vista como o único caminho não respondia, nem de longe, à demanda de recursos possível para a conquista de empregos e para o pre- humanos criada pela expansão econômica. enchimento das vagas disponíveis no mercado. Esboçava-se uma nova fase do desenvolvimento Tanto entre os correligionários do governo como capitalista em que os países voltavam-se para a ar- entre facções da oposição, era consenso que o Brasil ticulação de mecanismos implícitos de suporte às precisava fazer uma reforma na estrutura educacio- atividades tecnológicas de suas empresas, além de nal e estimular a produção de ciência e tecnologia. outros apoios situados no âmbito das políticas co- Embora o país possuísse um sistema industrial di- mercial e industrial propriamente ditas. Além disso, versificado, equiparável às economias centrais, ain- era necessária a instituição de um sistema público da apresentava ineficiência na utilização dos recur- que, ao mesmo tempo, pudesse servir tanto de su- sos disponíveis, além de enfrentar obstáculos para porte à inovação das empresas como de apoio ao a adoção de inovações tecnológicas e formação de avanço do conhecimento. mão-de-obra. Se no modelo que perdurava até então, e que Quanto ao ensino superior, a meta principal con- resultou na formação do parque industrial brasilei- sistia na ampliação das oportunidades educacio- ro, as empresas nacionais eram incentivadas a ter nais traduzida na construção de novas instituições um envolvimento internacional pela via comercial, e na reestruturação das existentes. A modernização pelo incentivo à exportação, a maciça entrada de administrativa deveria concentrar esforços na oti- capitais estrangeiros no Brasil e a configuração de mização dos recursos por meio do planejamento um espaço internacionalizado de produção esta- sistemático e da aplicação de métodos que garan- beleceram novas exigências ao sistema produtivo. tissem resultados eficientes. Finalmente, a expan- Tratava-se de promover uma articulação funcional são da oferta acarretaria a democratização no aces- entre a educação, a formação de mão-de-obra es- so à escolarização, a mobilidade da estrutura social pecializada e um sistema produtivo apto a enfren- e, em última instância, a redução das desigualdades tar a concorrência internacional. sociais.
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    Ao assumir afunção de supervisor das relações mais estreita entre educação e trabalho. O governo 56. Folha de rosto do Relatório da Equipe de econômicas, o governo militar introduziu mudanças tentou dividir o ônus da educação com o setor em- Assessoria ao Planejamento consideradas importantes para o desenvolvimento. presarial. E, em 1964, foi instituído o salário-educa- do Ensino Superior (Eapes), Acordo MEC-Usaid, 1968 Criou, no âmbito do Banco Nacional de Desenvol- ção, que representava uma fonte de recursos para a educação primária, proveniente da contribuição das 57. Capa do Relatório da vimento Econômico (BNDE), o Fundo de Desenvol- Equipe de Assessoria ao vimento Técnico-Científico (Funtec),5 destinado a empresas, as quais passaram a recolher aos institu- Planejamento do Ensino Superior (Eapes), Acordo apoiar financeiramente os projetos que objetivavam tos de previdência social correspondentes uma cota MEC-Usaid, 1969 o desenvolvimento tecnológico e a inovação de inte- para cada um de seus empregados.7 Esses insumos resse estratégico para o país. destinavam-se a completar os recursos públicos nas esferas estadual e federal. No ano seguinte, o gover- Pela primeira vez na história do Brasil ocorreu uma ten- no estendeu a obrigação dessa contribuição a todos tativa organizada de colocar a ciência e a tecnologia os empregadores públicos e privados, aumentando, a serviço do desenvolvimento econômico, através da com isso, essa fonte de recursos. Além disso, o go- mobilização de um substancial volume de recursos verno apelou para a cooperação financeira e a assis- (SCHWARTZMAN, 1979, p. 299). tência técnica norte-americana, que resultou na série de acordos MEC-Usaid firmados entre 1964 e 1968.8 Nessa mesma época, a Câmara dos Deputados Como forma de contribuir para o desenvolvimento, aprovou um substitutivo que extinguia o CNPq. A a educação passou a ser vinculada ao planejamento existência do Conselho já vinha sendo ameaçada econômico e político global. tanto pela perda da responsabilidade sobre a ener- gia nuclear como pela crise financeira que vinha en- frentando. Entretanto, devido aos protestos de vá- rios cientistas, vindos dos quatro cantos do país, a lei de criação do órgão foi alterada em 8 dezembro de 1964.6 Com isso, o CNPq passou a abranger a for- mulação da política científico-tecnológica nacional e a resolução de questões atinentes à ciência e suas aplicações. Caracterizada pela predominância do modelo for- dista baseado na produção e no consumo de mas- sa, na especialização do trabalho, na padronização da produção e nas linhas de montagem, a produ- ção industrial estava sujeita a constantes processos de modernização, impondo-se uma relação ainda 73
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    58. Ministro daEducação Uma das primeiras iniciativas oficiais com relação des empresariais, permitiria o planejamento sério e Pedro Aleixo, no Fórum Extraordinário dos Reitores à qualificação de quadros foi expressa no Parecer racional do ensino universitário. Com base nessa re- com a finalidade de estudar comendação foi fundado, em 29 de abril de 1966, o a regulamentação do 977, de 3 de dezembro de 1965, do Conselho Federal Estatuto do Magistério de Educação, que implantou formalmente os cursos Conselho dos Reitores das Universidades Brasileiras Superior Fotografia, 1966 de pós-graduação no Brasil. Segundo o conselheiro (Crub), que pouco depois seria reconhecido como Newton Sucupira, o modelo, oriundo dos países mais entidade de utilidade pública.9 desenvolvidos, era adequado à nova concepção de Em 18 de novembro de 1966, foi promulgado o universidade. A pós-graduação stricto sensu se daria Decreto-lei nº. 53, que dispunha sobre as mudanças em dois níveis independentes – mestrado e doutora- na organização das universidades: do –, sem relação de pré-requisitos entre o primeiro e o segundo. Os currículos seriam compostos confor- Artigo 1º – As Universidades federais organizar-se-ão me o modelo norte-americano, que compreendia o com estruturas e métodos de funcionamento que pre- major (área de concentração) e o minor (matérias co- servem a unidade de suas funções de ensino e pesqui- nexas). Infelizmente, tal proposta só viria a ser devi- sa e assegurem a plena utilização dos seus recursos damente implementada com a Reforma Universitária materiais e humanos, vedada a duplicação de meios de 1968. para fins idênticos ou equivalentes.10 A convite do Ministério da Educação e Cultura, o norte-americano Rudolph Atcon realizou, entre ju- nho e setembro de 1965, estudos sobre a reformula- ção estrutural do ensino superior no país. Depois de visitar 12 universidades brasileiras, o consultor consi- derou “urgente a tarefa de transformar a universidade brasileira numa instituição que se sintonize com os pro- pósitos da Nação” (ATCON, 1966, p. 120). Afirmou tam- bém que “o desenvolvimento sócio-econômico de uma comunidade é função direta de seu desenvolvimento educativo” e que “para o desenvolvimento da América Latina, a educação superior constitui o verdadeiro pon- to de partida” (ATCON apud FÁVERO, 1991, p. 20) Entre as propostas feitas por Atcon, muitas das quais foram incorporadas ao Relatório da Equipe de Assessoria ao Planejamento do Ensino Superior (Ea- pes), estava a criação de um conselho de reitores das universidades brasileiras, que, constituído em mol- 74
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    Por esse instrumento,começava o desmonte da 59. Miguel Calmon du Pin e Almeida Sobrinho, reitor antiga estrutura universitária calcada na aglutinação da Universidade Federal da Bahia (UFBa), 1º presidente de escolas independentes e autônomas. do Crub, no período de julho No início do ano seguinte, teve início a moderniza- de 1966 a julho de 1967 Fotografia ção do ensino superior, que estabeleceu as bases da departamentalização.11 Essa reformulação, apoiada 60. Presidente Castello Branco, ao lado de parcialmente na proposta de Rudolph Atcon, resul- Zeferino Vaz, assina ata no lançamento da pedra tante do Acordo MEC-Usaid de 30 de dezembro de fundamental da Unicamp, SP 1966, foi explicitada no livro Rumos à Reformulação em 5 de outubro de 1966 Fotografia Estrutural da Universidade Brasileira, publicado pelo Ministério da Educação. Para Atcon, a universidade deveria contar com direção recrutada no meio empresarial, a qual atuaria nos moldes de ad- ministração gerencial (...) ela deveria constituir uma grande empresa privada, fugindo do modelo de repar- tição pública (apud FÁVERO, 1991, p. 29). to econômico que o Brasil atravessa, é reestruturar o ensino superior, no sentido de atualizá-lo, seja nos Entretanto, se por um lado convinha ao governo métodos, seja nos objetivos práticos (...) Sendo noto- a desobrigação de financiar a educação superior, por riamente escassos os recursos da sociedade brasileira outro não era de seu interesse a descentralização do para realizar uma obra educativa integral, o bom senso controle político e jurídico-administrativo da univer- indica que se deva adotar, no seu emprego, um plano sidade. de prioridade. No momento, a preferência parece ser a Em uma retrospectiva histórica, cabe lembrar que o formação de uma elite de técnicos e de cientistas ca- descompasso entre a educação e o sistema produtivo pazes de tirar proveito da moderna tecnologia. Desse brasileiros já era percebido desde a década de 1950. A modo, seria possível acelerar o progresso econômico reestruturação do ensino superior já havia sido defen- do país, criando as riquezas com que dar educação, dida pela Comissão de Educação e Cultura do Conse- segurança e conforto a todos os brasileiros (SALGADO, lho do Desenvolvimento, constituída em 1957, con- 1957, p. 32).12 forme demonstra o parecer do ministro da Educação no governo Juscelino Kubitschek, Clóvis Salgado: Se as mudanças no ensino superior atendiam a reivindicações antigas, sendo que algumas já haviam Pensa a Comissão que o mais importante, na era tec- sido incorporadas ao projeto pioneiro da Universi- nológica em que vivemos e na fase de desenvolvimen- dade de Brasília (1961), a reestruturação dos órgãos 75
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    61. General Costae Silva e de representação estudantil e as sanções previstas formalização legislativa preteridas pelo regime mili- presidente marechal Castello Branco em caso de desobediência às novas regras, impostas tar. Para efeito dessa lei, Fotografia, 1964 desde 1964, iriam provocar muitas manifestações es- tudantis de protesto. Pela Lei Suplicy, a educação é direito de todos e será dada no lar e na escola; assegurada a igualdade de oportunidade, deve É vedada aos órgãos de representação estudantil qual- inspirar-se no princípio da unidade nacional e nos quer ação, manifestação ou propaganda de caráter po- ideais de liberdade e de solidariedade humana. lítico-partidário, racial ou religioso, bem como incitar, promover ou apoiar ausências coletivas aos trabalhos Além disso, 13 escolares. As empresas comerciais, industriais e agrícolas são Enquanto os seminários da UNE no início dos obrigadas a manter, pela forma que a lei estabelecer, anos 60 buscavam articular a universidade com as o ensino primário gratuito de seus empregados e dos políticas globais, a partir de 1964 as discussões cen- filhos destes (...) e são ainda obrigadas a ministrar, em travam-se, sobretudo, em questões internas à pro- cooperação, aprendizagem aos seus trabalhadores pria instituição, tais como autonomia universitária, menores.14 forma de participação dos corpos docente e discente na administração universitária, regime de trabalho Convidado a ocupar o cargo de ministro da Fazen- docente e ampliação da oferta de vagas. Consistiam da, Delfim Neto inverteu a ordem das preocupações também em reivindicações dos estudantes a revoga- em relação ao programa defendido pelo governo an- ção dos acordos MEC-Usaid e da Lei Suplicy (Lei nº. terior. Colocou, em primeiro lugar, o desenvolvimen- 4.464, de 9 de novembro de 1964, pela qual a UNE foi to econômico e, em segundo plano, a contenção in- substituída pelo Diretório Nacional de Estudantes). flacionária. Tais medidas implicaram o financiamento Segundo Fávero (2006), nessa época a participação do déficit público, pela expansão real da oferta mo- do movimento estudantil era tão intensa que se tor- netária, o crescimento do crédito bancário direto ao na difícil contar a história da Reforma Universitária consumidor, o estímulo às exportações e o regime de no Brasil sem levá-la em conta. minidesvalorizações cambiais. Com a morte de Castelo Branco, o general Artur Os responsáveis pelo Plano Econômico de De- da Costa e Silva foi eleito presidente da República senvolvimento (PED), formulado então, culpavam o pelo Colégio Eleitoral, tendo sido conduzido ao po- Paeg pelo crescimento da inflação e pela conseqüen- der em 15 de março de 1967. No mesmo dia da posse te desaceleração das atividades econômicas (PED, do novo presidente, entrava em vigor a sexta Consti- 1969). Atribuíram a inflação à pressão de custos, e tuição brasileira, aprovada em 24 de janeiro de 1967. não à demanda de produto, como se fizera no Paeg, A nova Carta permitia a reforma administrativa e a já que os setores de infra-estrutura encontravam-se 76
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    sem investimentos quepudessem reduzir os custos a longo prazo. Segundo o PED, o gerenciamento de recursos humanos constituía o instrumento principal para a capacitação de mão-de-obra especializada para o mercado de trabalho industrial. O ensino superior, direcionado para ampliação das carreiras técnicas e tecnológicas, consistia no principal fator de desen- volvimento. Ele deveria se voltar para o estímulo da capacidade tecnológica de um país, por meio da cria- ção de novas tecnologias ou da reprodução de pa- drões tecnológicos já existentes: Assim, embora de difícil precisão, é certo que o pro- cesso de industrialização, na forma em que se deu, desempenhou papel fundamental no enriquecimento O Brasil passava então por um momento de in- 62. Revista Ensino Industrial, editada pelo Ministério da tecnológico do país, não só através da incorporação e tranqüilidade devido às reivindicações estudantis Educação (MEC) na década difusão de novas técnicas, como principalmente, pela por mais vagas no ensino superior e melhores condi- de 1960 criação de novos requisitos educacionais e institucio- ções de ensino. Apesar do crescimento acelerado no nais, que irão pautar os futuros esforços nacionais no número de matrículas e do aumento no grau de aber- campo da pesquisa e aprimoramento tecnológicos tura do sistema, a oferta de vagas não acompanhou a (PED, 1969, p. 26). explosão da demanda efetiva. A crescente assimetria manifestava-se pelo alargamento da relação entre os Os objetivos básicos do PED para a reforma do sis- excedentes e o número de candidatos inscritos. tema educacional brasileiro eram: Por um lado, o governo induzia as universidades federais a aumentarem as vagas, principalmente nos Proporcionar as lideranças de que o país precisa, para cursos de maior procura. Por outro, a legislação dos alcançar os objetivos nacionais maiores de conciliar o vestibulares, que dava margem a interpretar a apro- progresso tecnológico do nosso tempo, às aspirações vação como direito à matrícula, fazia com que os juí- de desenvolvimento econômico, o progresso social e zes deferissem mandados de segurança impetrados espiritual; transmitir o gênio criador e a cultura brasi- por candidatos aprovados e não matriculados por leira; preparar recursos humanos para o desenvolvi- falta de vagas. Tendo que receber um grande núme- mento, no sentido de construção da nova sociedade ro de estudantes e sem recursos para arcar com os (PED, 1969, p. 9). dispêndios decorrentes, as universidades ministra- 77
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    63. Projeto Rondon– vam um ensino cuja qualidade gradativamente de- pelo coronel Waldir de Vasconcelos, do Conselho de estudantes de sociologia fazem trabalho com caía. E, a despeito das diversas medidas paliativas, Segurança Nacional.15 Esta deveria comunidades havia cada vez mais pretendentes recusados do que Fotografia, 1973 admitidos nas instituições de ensino superior. emitir parecer conclusivo sobre as reivindicações, teses 64. Folha de rosto do Os protestos dos estudantes eram seguidos pelo e sugestões referentes às atividades estudantis; plane- relatório do grupo de trabalho criado pelo decreto corpo docente, que, em face da superlotação das jar e propor medidas que possibilitem melhor aplica- nº. 62.937/68, da Reforma Universitária, 1968 classes e da falta de verbas, exigia melhores condi- ção das diretrizes governamentais no setor estudantil; ções de trabalho. Diante desse impasse político, in- supervisionar e coordenar a execução dessas diretri- clusive com o questionamento em torno da legiti- zes, mediante delegação do ministro de Estado (apud midade do regime militar, o governo decidiu tomar ROMANELLI, 1984, p. 219). medidas concretas para enfrentar os problemas liga- dos ao ensino superior do país. Depois de três meses de trabalho da comissão, o Em dezembro de 1967, foi criada uma comissão Relatório Meira Mattos expunha os pontos críticos especial que, sob a presidência do general Carlos de do ensino superior brasileiro: falta de liderança estu- Meira Mattos, era formada pelos professores Hélio dantil democrática, consciente de seu papel e pronta de Souza Gomes e Jorge Boaventura de Souza e Sil- a defendê-lo; ausência de fiscalização do emprego va, pelo promotor Affonso Carlos Agapito da Veiga e das verbas e de esforços para a obtenção de novas 78
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    65. fontes de financiamento; má remuneração dos pro- também a capacitação de educadores do ensino fun- 65. Projeto Rondon – partida de estudantes de fessores; ausência de orientação para atender à de- damental. Roraima manda anual de vagas; implantação desordenada Para o governo ficou claro que a mudança do Fotografia, 1973 da reforma universitária, sem objetividade e clareza modelo universitário vigente dependia de uma le- quanto aos objetivos dos currículos. gislação pertinente. Assim, em 2 de julho de 1968 A comissão deixou ainda algumas sugestões: os um decreto instituía, no MEC, um Grupo de Traba- reitores e os diretores das universidades e faculda- lho da Reforma Universitária (GTRU), estabelecendo des federais, responsáveis pela manutenção da dis- um prazo de trinta dias para que este apresentasse ciplina nesses estabelecimentos, seriam escolhidos um projeto conclusivo.16 Baseando-se nos estudos pelo presidente da República; os professores deve- produzidos pelo convênio MEC-Usaid e pelo Relató- riam ser contratados nos termos previstos na legis- rio Meira Mattos, o GT tinha como objetivo “estudar lação trabalhista; deveria ser implantado o sistema a reforma da Universidade brasileira, visando à sua de créditos. eficiência, modernização, flexibilidade administrativa Enquanto isso, ainda no campo da educação era e formação de recursos humanos de alto nível para o instituído, em junho de 1968, o Projeto Rondon. desenvolvimento do país” (MEC, 1968, p. 15). Fruto da colaboração entre o Ministério da Defesa e o MEC, o projeto previa atividades voluntárias de Segundo diagnóstico contido no relatório apre- universitários, buscando, ao mesmo tempo, aproxi- sentado pelo GT,17 mar os estudantes da realidade do país e contribuir para o desenvolvimento de comunidades carentes. se a Universidade demonstrou alguma capacidade O projeto empenhava-se em desenvolver a organiza- criadora em determinados ramos da tecnologia, po- ção da sociedade civil em defesa da cidadania, como demos dizer que o sistema, como um todo, não está
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    66. Jovens fazemprova de aparelhado para cultivar a investigação científica e tec- contém, de longe, o melhor diagnóstico que o gover- vestibular em estádio de futebol, Recife, PE nológica (...) faltou-lhe a flexibilidade necessária para no já tentou, tanto dos problemas estruturais com que se oferecer produto universitário amplamente diversifica- defronta o ensino superior, quanto das soluções que eles do e capaz de satisfazer às solicitações de um mercado exigem. Se a questão fosse de avanço ‘abstrato’ e ‘teórico’ de trabalho cada vez mais diferenciado. A Universida- ou verbal, os que participaram dos movimentos pela re- de revelou-se despreparada para acompanhar o extra- forma universitária poderiam estar contentes e ensarilhar ordinário progresso da ciência moderna, inadequada suas armas. para criar o know-how indispensável à expansão da in- dústria nacional e, enfim, defasada sócio-culturalmen- Enquanto isso, o movimento estudantil ganhava te, porque não se identificou com o tempo social da força. Com o argumento da demanda reprimida e mudança que caracteriza a realidade brasileira (MEC/ das insatisfatórias condições de ensino, pressionava MPCG, 1968, p. 21). o governo por uma ampla reforma da educação su- perior. Os membros do grupo de trabalho consideraram Com base nos relatórios da Equipe de Assessoria ao ainda que o movimento estudantil “teve o mérito de Planejamento do Ensino Superior (Eapes), da Comis- propiciar uma tomada de consciência nacional do pro- são Meira Mattos e do grupo de trabalho, o Congresso blema e o despertar enérgico do senso de responsabili- Nacional aprovou a Lei nº. 5.540, de 28 de novembro dade coletiva”. de 1968, que dispunha sobre a Reforma Universitária. Apesar de a pressão estudantil ter desempenhado Apesar de terem sido incorporados à lei, entre outros um papel desencadeador, a execução do projeto de determinantes, a unificação do vestibular, o sistema modernização da universidade ocorreu pela possibi- de departamentos e a pós-graduação, a Reforma de lidade de a inovação ser introduzida sem ameaça à 1968 não conduziu a uma verdadeira modernização estrutura de poder, pelo necessário ajuste da política da estrutura universitária no que diz respeito à prepa- educacional ao modelo econômico e pelo padrão de ração de quadros qualificados para enfrentar os de- desenvolvimento almejado pelas forças interessadas safios profissionais impostos pela globalização que já nessa modernização. se prenunciava. O texto do documento tentava conci- Depois das considerações preliminares, o docu- liar dois padrões de ensino superior: um, identificado mento conclusivo, que se estendeu por várias pá- com o sistema norte-americano, admitia como cate- ginas, propôs algumas medidas, tais como a imple- gorias a competição, a flexibilidade, a diversificação e mentação do sistema departamental, do vestibular a descentralização; o outro, mais próximo do mode- unificado, do ciclo básico, do sistema de créditos, da lo francês, e inspirado em normas e padrões sociais matrícula por disciplina, da carreira do magistério e previamente estabelecidos, tinha como referência os da pós-graduação. Sobre o relatório, assim se mani- procedimentos e os padrões normativos igualitários e festou Florestan Fernandes (1974, p. 4) universalistas (BOMENY, 1994). 80
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    Cada país ecada época histórica podem produzir um 67. Alunos em laboratório Fotografia tipo de educação, tipo de educação que é moldado pelas exigências da Sociedade, mas também pelos li- 68. Folha de rosto do relatório do Fórum mites de seus recursos: recursos materiais que delimi- A Educação que Nos Convém, organizado pelo Instituto de tam o capital social disponível para o processo educa- Pesquisas e Estudos Sociais cional e que condicionam os meios financeiros e suas (Ipês/GB), Rio de Janeiro, abril de 1969 aplicações; recursos humanos que não permitem um desdobramento ilimitado do quadro de professores e de pesquisadores (...) Assim uma sociedade industriali- zada, pode fornecer à educação recursos gerais, sejam financeiros, humanos ou propriamente sociais, muito mais extensos do que os de uma sociedade agrária (IPÊS, 1968, p. 160). O conferencista argumentou na ocasião que era “preciso educar as massas”, mas também “dar atenção a um tipo de educação que mantenha a preparação das elites dirigentes, dos empresários, dos técnicos de nível superior”. Sobre a adequação da educação ao mercado de trabalho, ele considerou: “À medida que Ao mesmo tempo que a Reforma Universitária a sociedade se industrializa (...) a educação deve servir era discutida e aprovada pelo Congresso, os deter- às necessidades da sociedade, dentre as quais se des- minantes políticos e estratégicos para a iniciativa de tacam as da indústria, e esta deve absorver os homens articulação do ensino com o mercado de trabalho preparados por aquela” (IPÊS, 1968, p. 162). estavam sendo estabelecidos por empresários brasi- Entre outras considerações, o fórum propunha: leiros, reunidos no fórum A Educação que nos Con- planejar a educação de forma a refletir o programa vém, realizado em outubro e novembro de 1968 no econômico-social e a entrosá-la no quadro de ne- Rio de Janeiro. Além de um diagnóstico da situação, cessidade de recursos humanos do país; alocar os a conferência-síntese do evento estabeleceu uma sé- recursos possíveis para a educação pública ou pri- rie de recomendações. Segundo o conferencista Luiz vada; adotar o sistema de auxílios e bolsas para as- Gonzaga do Nascimento Silva, ministro do Trabalho segurar o nível secundário e superior; dar ao nível no governo Castelo Branco, a educação deveria se médio a característica de escola de formação, habi- subordinar às reais possibilidades do país e de sua litando o aluno para uma atuação mais qualificada época: no trabalho; atender às necessidades atuais do país, 81
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    69. Manisfestação estudantil tendo em vista a industrialização crescente, de for- em Paris Fotografia, março de 1968 mar o pessoal técnico e de nível operacional neces- sário a movimentar a estrutura econômica; realizar cursos de formação menos exigentes e mais ligados ao exercício de determinadas atividades. De forma bastante explícita, o documento se refe- ria ao papel desempenhado pela indústria na forma- ção de mão-de-obra: O programa de bolsas de estudos para filhos de ope- rários (PEBE), que se desenvolve através do Ministério do Trabalho, é um embrião do esforço que pode ser feito nessa faixa populacional. Mas, sem a conjugação da indústria não será possível traçar-se um programa amplo e válido. Ela será beneficiária imediata do esfor- ço de qualificação profissional. Deverá, pois, concorrer Mas não foi somente no Brasil que os estudantes para ajudar sua realização. Essa conjugação Educação invadiram as ruas. Por toda a parte os alunos contes- + Indústria merece uma ampla atenção em qualquer tavam os méritos da universidade, considerando-a planejamento educacional (IPÊS, 1968, p. 164). inadequada e obsoleta. E, embora os jovens não ti- vessem certeza sobre o que pretendiam construir, Mas não havia clima para que esses esforços fos- a denúncia foi um serviço importante, e um desafio sem levados adiante. No apagar das luzes do ano de para educadores, governos, empresários e todos 1968, foi decretado o Ato Institucional nº. 5, que au- aqueles que tinham uma parcela de responsabilida- torizava o presidente da República a impor o recesso de na construção do futuro. do Congresso Nacional; intervir nos estados e muni- Os protestos estudantis encontraram eco em di- cípios; cassar mandatos parlamentares; suspender ferentes países nos vários cantos do planeta. E 1968 direitos políticos; decretar o confisco de bens con- passaria para a história como o ano da juventude, siderados ilícitos e suspender a garantia do habeas ou como o ano em que os jovens quiseram mudar corpus. o mundo. Calava-se o movimento estudantil, celebrizado como protesto dos jovens contra a política tradicio- Em um planeta iniciando um irreversível e acelerado nal, mas principalmente como demanda por novas processo de globalização, com as primeiras transmis- liberdades. O radicalismo jovem pode ser expresso sões ao vivo pela televisão, via satélite, encurtando no lema “É proibido proibir”. extraordinariamente as distâncias entre tempo e espa- 82
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    ço, não eranada espantoso que jovens de formação, 70. Capa da revista Veja, 16 de outubro de 1968 tradição e história tão diferentes como franceses, ale- mães, italianos, americanos, escandinavos, brasileiros, 71. Passeata dos 100 mil na Cinelândia, Rio de Janeiro, RJ tchecos, eslovacos, mexicanos, chineses e japoneses se Evandro Teixeira Fotografia, 1968 rebelassem e encontrassem em seus protestos – que curiosamente tinham algo em comum como o auto- ritarismo – inspiração para criar novas formas de luta (ZAPPA; SOTTO, 2008, p. 12). 83
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    A criação do IEL oãcairc 85
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    O objetivo prioritáriodo governo Costa e Silva era e redução das taxas de juros. Mas o elemento mais 72. Desenho da capa da publicação Estatutos do conciliar uma desinflação progressiva com a retoma- significativo da política de combate à inflação foi o IEL, 1969 da do desenvolvimento econômico, como pode ser acompanhamento dos preços industriais pelo então Detalhe Página 84 demonstrado pelas palavras do próprio ministro da recém-criado Conselho Interministerial de Preços 73. Da direita para a Fazenda Antônio Delfim Neto (1968, p.15): (CIP), que, de certa maneira, serviu para controlar a esquerda: Jorge Bhering de alta dos preços ao consumidor. Mattos, Gilberto Mendes de Azevedo, Tomás Pompeu Tanto o combate à inflação quanto a estabilização da Com isso, em 1969 o setor industrial exibia uma de Sousa Brasil Neto e José produção industrial em torno de seu padrão normal taxa de crescimento em torno de 14%, enquanto os Aquino Porto, durante a solenidade de criação do IEL de longo prazo apresentam-se, portanto, como pré- empregos industriais revelavam um quadro promis- Fotografia, 29 de janeiro de 1969 condições à retomada do desenvolvimento econô- sor. O bom desempenho do setor devia-se à indústria mico. A política econômica executada em 1967 e a automobilística, que iniciava, então, um ciclo de recor- delineada para 1968 são calcadas nos objetivos de re- des sucessivos de produção; e à construção civil, que dução das taxas de inflação, estabilização do nível de se beneficiava do aumento da demanda habitacional, atividade em torno de sua tendência de longo prazo incentivado pela construção de casas para as classes e retomada do desenvolvimento acelerado. populares. Crescia também o setor de bens interme- diários e a indústria têxtil, que, bastante atingida nos Para tanto, algumas medidas foram implementa- anos anteriores, conseguia compensar as dificuldades. das, tais como: elevação do teto de isenção sobre o Enquanto as exportações devido à isenção de imposto de renda das pessoas físicas; alongamento impostos e às minidesvalorizações cambiais exibiam dos prazos para o recolhimento do Imposto sobre francos sinais de progresso, as reservas internacio- Produto Industrializado (IPI); expansão do crédito nais logravam atingir um modesto incremento. 87
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    Na mesma épocaem que o Congresso Nacional minante no problema educacional e cultural, se revela finalizava as discussões sobre a Reforma Universitá- no terceiro estágio, que se poderia chamar a idade da ria, o fórum A Educação que nos Convém, realizado organização (SIMONSEN apud IPÊS, 1968, p. 75-76). entre outubro e novembro de 1968, reunia parte do empresariado, no Rio de Janeiro. Talvez o encontro Criticando o conhecimento puramente acadêmi- pudesse ter resultado em uma efetiva contribuição co, Simonsen defendia que o universitário, “um privi- para a matéria. No entanto, as constantes manifes- legiado na esfera social”, deveria ser equipado para o tações estudantis e o conseqüente clima de desor- trabalho, evitando-se, dessa forma, o “fenômeno do dem civil fizeram com que o governo acelerasse a letrado ou do universitário desocupado” (apud IPÊS, aprovação da referida reforma. Com isso, se a Lei nº. 1968, p. 77). 5.540 significou mudanças na estrutura universitária, A inclusão do tema no referido fórum teria ocor- atendendo sobretudo ao princípio de eficiência ad- rido por influência da tese, aceita na época, que ministrativa das próprias instituições de ensino, não colocava a educação como fator principal de de- conseguiu satisfazer às expectativas no que se referia senvolvimento econômico. Por volta de 1960, de- tanto à preparação de profissionais capazes de em- pois de realizar com apoio da Organização das Na- preender o desenvolvimento e alavancar a produção ções Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura industrial como à formação de cidadãos aptos a res- (Unesco) uma pesquisa acerca do ensino em países ponder às demandas sociais. E, embora tivesse ins- pobres e ricos de todos os continentes do planeta, titucionalizado a pós-graduação, o texto da reforma Theodore William Schultz desenvolveu a teoria do não promoveu transformações suficientes no âmbito capital humano, que ganhou força em virtude de da universidade para atender às expectativas do de- uma preocupação, cada vez maior, com os proble- senvolvimento industrial, extensamente contempla- mas do crescimento econômico e da distribuição de das no fórum realizado no Rio de Janeiro. renda. Durante os debates do tema “Educação e desen- Segundo o economista norte-americano, o pro- volvimento econômico”,1 afirmava-se que: gresso de um país era decorrência direta do inves- timento feito na educação e qualificação dos indiví- uma sociedade realmente científica e tecnificada pres- duos. Schultz receberia, juntamente com sir Arthur supõe três estágios. O estágio da invenção, que tem Lewis, o Prêmio Nobel de Economia, em 1979, “pela mais sentido propriamente científico do que econô- pesquisa pioneira sobre o desenvolvimento econômico mico; o estágio da inovação, que não é mais do que com considerações importantes sobre os problemas a tradução econômica da invenção; e, finalmente, o dos países em desenvolvimento”.2 da transformação, que é a contínua capacidade de Quanto ao tema “Estrutura da universidade”, no substituição de invenções por outras invenções ou de fórum de 1968 defendia-se que a pesquisa e o en- inovações por outras inovações (...) o peso maior, do- sino, vistos como uma unidade, deveriam produzir 88
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    quadros conscientes desuas atribuições e compe- tências: O ensino ilustrativo e meramente erudito tem que ser superado, para que se possa relegar a formação literá- ria e ‘bacharalesca’, que impede o pensamento reflexi- vo e o exercício da função universitária, centrada so- bre o método científico, como instrumento básico de preparação de quadros conscientes (GONÇALVES apud IPÊS, 1968, p. 91). Demonstrava-se ainda a necessidade de um vín- culo funcional entre a universidade e a empresa, colocando-se a primeira como instância depositária e processadora dos dados colhidos pela segunda, no âmbito do processo de produção: Cada empresa, ou cada instituição especializada, pro- do Funtec, considerava-se que o Brasil apresentava 74. Theodore Wiliam Schultz, Prêmio Nobel de cura manter-se a par dos progressos de seu setor mas, características de uma etapa primitiva nesse campo, Economia em 1979 pelo creio, deve a universidade participar da tarefa de arqui- fruto da falta de coordenação institucional e de inde- desenvolvimento da teoria do capital humano var, classificar e ter à mão a parte mais essencial dos finições políticas. Fotografia dados que vêm sendo divulgados (LOPES apud IPÊS, Com relação ao papel das empresas no desempe- 75. Professores e alunos do 1968, p. 126). nho das universidades, pronunciamentos feitos nas Instituto de Física de São Carlos, SP discussões sobre o tema “Universidade, tecnologia, Francisco Nelson E chamava-se a atenção para a tendência mundial empresa” demonstravam a intenção da indústria em Fotografia, 1968 de as pesquisas científicas e tecnológicas se desloca- colaborar com a universidade: rem para empresas e instituições especializadas. Nos Estados Unidos, em 1968 as universidades responde- as indústrias sabem que devem colaborar, e sabem que ram por 47% da pesquisa básica, seguidas das indús- devem oferecer bolsas de estudo, adiantar recursos trias, responsáveis por 33%, do governo federal, com como estímulos à tecnologia avançada. São necessários 13%, e de outras instituições, com 7%. A despeito incentivos para que a indústria seja levada a participar do reconhecimento dos avanços nas políticas esta- da vida universitária. Mas, falta um programa, uma for- tais no campo da pesquisa científica e tecnológica, mulação. Poucas universidades têm possibilidades de protagonizados pela atuação da Capes, do CNPq e elaborar tal programa (apud IPÊS, 1968, p. 127-128). 89
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    76. Jovem alunode ciência Reivindicavam-se tanto estímulos a essa parti- vencedor do concurso Cientistas do Amanhã, cipação como também programas voltados para a promovido pelo Instituto geração de tecnologia, a serem desenvolvidos nas Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura, São Paulo próprias empresas. Embora tivesse sido descartada Fotografia, 1969 a possibilidade de contribuição financeira direta das empresas para as universidades, sem uma contrapar- tida de prestação de serviços, ficava a ressalva: “As universidades que tiverem um programa de objetivos em mão encontrarão empresas dispostas a financiá-lo” (IPÊS, 1968, p. 129). Quanto à “Vinculação universidade e empresa”, acreditava-se que esta traria para dentro da empresa pessoas que poderiam corresponder ao movimento de idéias em favor da li- vre empresa, da empresa legítima, aquela que abre constavam: o planejamento da educação de forma novas fontes de riqueza, que alarga o mercado de tra- a entrosá-la no quadro de necessidade de recursos balho, que dá ao Estado a capacidade de realizar obras humanos do país; a alocação dos recursos possíveis, públicas (SANTOS apud IPÊS, 1968, p. 154). de origem estatal ou privada, para o campo educa- cional; a adoção de auxílios e bolsas, inclusive reem- Apesar de admitir que os industriais, às voltas com bolsáveis, para os que não dispusessem de recursos uma carga tributária excessiva e dificuldades de aces- financeiros; a revisão dos currículos para ajustá-los às so ao crédito para manutenção de suas atividades, ti- necessidades do país; a transformação do nível mé- nham dificuldades para estabelecer um vínculo mais dio, de mera preparação para o curso superior, em estreito com a universidade, concluía-se que, com a uma escola de formação profissional qualificada; a colaboração do governo e das próprias instituições realização de um ensino de menor duração e o maior de ensino, essa parceria tendia a ser promissora e a aproveitamento do corpo docente. contribuir para o desenvolvimento do sistema pro- Segundo o pensamento dominante no encontro, dutivo brasileiro. à medida que a sociedade brasileira se industriali- Depois de proceder à elaboração de um diag- zava, não era mais possível manter a sociedade e a nóstico da situação brasileira, o grupo encarregado educação em campos distintos quanto aos objetivos do tema “Fundamentos para uma política educa- finais: a educação devia servir às necessidades da so- cional brasileira” fez diversas recomendações para a ciedade, sobretudo as da indústria, a esta cabia ab- reforma do ensino superior. Entre essas proposições, sorver os homens preparados por aquela. A reestru- 90
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    turação da universidadedeveria ser um instrumento da decadência das instituições brasileiras de nível 77. Refinaria Alberto Pascualini, Rio Grande do Sul de modernização do pensamento, das instituições e superior estava a falta de gerenciamento científico. Fotografia, 1969 das estruturas sociais: Além de um mecanismo prospectivo capaz de son- dar o mercado para orientar sua atuação, o conjunto Cabe-lhe exercer um papel de racionalidade crítica e das universidades deveria ser preparado, em função criadora, constituir-se num momento de reflexão sobre de suas atividades de pesquisa e inovação científica a direção e o sentido do processo de desenvolvimento. e tecnológica, para oferecer ao mercado algo novo Para tanto deve ensinar e pesquisar, vale dizer submeter e diferente. Sugeria-se, inclusive, que as empresas as verdades ao processo de sua revisão. O pensamento financiassem a instalação de centros regionais de baseado na experimentação é um traço inelutável de pesquisa de análise do mercado, publicando perio- nossa época (SILVA apud IPÊS, 1968, p. 247). dicamente suas estimativas de oferta e demanda de profissionais. A formação de nível superior, embora vista como Para o empresariado nacional, tornava-se funda- condição necessária ao processo de desenvolvimen- mental a conquista dos mercados externos, desafio to, não seria suficiente sem a introdução de uma que somente poderia ser enfrentado com a utiliza- moderna concepção de administração científica e ção de tecnologia de ponta e uma moderna estrutu- de racionalização no âmbito do governo, das esco- ra gerencial. Os exemplos dos pós-guerra – Japão na las e das empresas. Postulava-se que entre as causas siderurgia, na construção naval e na eletrônica; Suíça, 91 1
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    78. Trabalho deanálise em na indústria farmacêutica; Alemanha Ocidental, Ho- mentalidade universitária; temos que ir um pouco mais laboratório químico Peter Lang landa e Áustria, na metalurgia e indústria química – adiante” (SANTOS apud IPÊS, 1968, p. 159). E, embora Fotografia mostravam ser possível enfrentar a concorrência in- o Grupo de Trabalho (GTRU) tivesse sido integrado ternacional mediante investimentos na formação de também por industriais, não houve uma consulta for- pessoal de nível superior e políticas de pesquisas e mal aos órgãos representativos dos setores produti- desenvolvimento. Muitos industriais brasileiros inspi- vos sobre os currículos adequados à preparação de ravam-se no exemplo da economia norte-americana, profissionais para satisfazer às demandas do merca- baseado no educational gap e no managerial gap. do. Durante o mencionado fórum, quando indagado O empresariado e o governo brasileiro estiveram, especificamente sobre o assunto, o professor Theó- em geral, pari passu. Mas, se na Era Vargas os indus- philo de Azevedo Santos afirmou: triais, liderados por Euvaldo Lodi e Roberto Simon- sen, exerciam uma influência sobre as ações estatais, esta consulta (...) seria um pouco difícil. Mas, aqueles ora como consultores, ora como responsáveis pela que compuseram a comissão, encarregada de elaborar formulação de políticas, em 1969 o setor produtivo os currículos, devem promover este contato, pois não apresentava uma estrutura bastante mais complexa representa nenhuma diminuição de sua responsabi- e menos coesa, cujas exigências não foram totalmen- lidade o fato de serem ouvidas outras pessoas (apud te absorvidas pelo governo. Se até então líderes do IPÊS, 1968, p. 160). governo e representantes da indústria estavam reu- nidos em torno da meta do desenvolvimento nacio- Cabe enfatizar que a Reforma Universitária foi nal, agora estavam divididos em facções que iam do promulgada pelo presidente da República no dia 28 liberalismo não desenvolvimentista, representado de novembro de 1968, juntamente com o encerra- por Eugênio Gudin e Otávio Bulhões, até o desen- mento do referido fórum. volvimentismo nacionalista, expresso pelas idéias de Por sua vez, a Confederação Nacional da Indústria Celso Furtado, Ignácio Rangel e outros. Entre essas, havia encaminhado uma série de sugestões ao GTRU, havia o liberalismo desenvolvimentista, representa- que demonstravam sua intenção de atuar de forma do por Roberto Campos e Lucas Lopes, e o desenvol- mais efetiva em favor da integração universidade-in- vimentismo privatista, liderado pelos herdeiros de dústria. Entre essas, destacavam-se: cooperar em pro- Roberto Simonsen: Hélio Jaguaribe, João Paulo de gramas de pesquisas científicas e tecnológicas das Almeida Magalhães, e outros (TOLEDO, 2004). universidades; promover estágio de estudantes em Acreditava-se que o sistema industrial não tinha empresas; colaborar em pesquisa de mão-de-obra, poder suficiente para intervir de forma direta e efe- tanto com o objetivo de acompanhar a demanda de tiva nas decisões: “no próprio meio do governo, a em- pessoal de nível superior como de informar às univer- presa é olhada com um pouco de receio e temor, sob sidades sobre as tendências a curto e longo prazos; um ângulo errado. Portanto, temos que mudar não só a servir de elo entre a demanda (das indústrias) e a 92
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    oferta (das universidades);apoiar financeiramente a pesquisa gerasse centros de excelência no campo da manutenção e ampliação de cursos universitários de ciência e da tecnologia. interesses das empresas; realizar cursos em forma co- Mesmo assim, continuava frágil o vínculo univer- operativa entre empresas e universidades (IEL, 1984). sidade-empresa: “no Brasil dever-se-ia orientar a cria- Do relatório do Grupo de Trabalho da Reforma ção e expansão de centros de informação em articu- Universitária, constou a seguinte recomendação: lação com as universidades, úteis tanto às empresas e aos governos quanto aos pesquisadores e educadores” Tendo em vista a necessidade de maior integração en- (LOPES apud IPÊS, 1968, p. 126). Até então a produção tre a universidade e os programas de desenvolvimen- de ciência e tecnologia no Brasil havia partido de ini- to, recomenda-se a aprovação das sugestões formula- ciativas do governo, com uma tímida participação do das através da CNI, para efeito das principais formas setor privado. Como resultado dessa política e da es- de cooperação a serem prestadas pelo empresariado tratégia de importação de tecnologia, esse desenvol- nacional (apud IEL, 1984, p. 12). vimento ficava a cargo das universidades e centros de pesquisa que priorizaram a pesquisa básica. Com A demanda pela reforma do sistema de ensino isso, o debate em torno da importância das ativida- superior brasileiro permeou toda a década de 1960 des de pesquisa ficou, por muito tempo, circunscrito e, transcendendo o espaço estudantil e acadêmico, aos muros da academia, deixando-se de lado o setor respondia às transformações socioeconômicas ocor- empresarial, componente capaz de transformar ciên- ridas no Brasil nos períodos anteriores. Havia, no en- cia e técnica em riqueza. tanto, duas compreensões diferentes da reforma de O próprio governo reconhecia que, apesar dos ensino e do papel das instituições universitárias. En- grandes progressos no tocante à substituição de quanto para os estudantes era necessário democra- importações, o país não havia reunido condições tizar o acesso ao ensino e colocar a universidade di- necessárias para garantir um desenvolvimento auto- retamente a serviço das comunidades, para a classe sustentável. O Programa Estratégico de Desenvol- produtora era necessário modernizar a universidade vimento indicava a necessidade de complementar a fim de torná-la um fator de desenvolvimento eco- essa fase: primeiramente pela adaptação de tecno- nômico. logia importada, e depois por meio de um gradual No entanto, a despeito do caráter autoritário do processo de avanço tecnológico autônomo. processo que precedeu a reforma de 1968, as mu- Enquanto isso o Brasil, embora contasse com um danças instituídas na universidade logo começaram próspero parque industrial, continuava dependente a apresentar resultados: a implementação de políti- do know-how desenvolvido por empresas estrangei- cas que combinavam financiamento de infra-estru- ras. Conscientes disso, os industriais, apostando no tura e formação de pesquisadores permitia que, cada futuro, decidiram promover a aproximação do saber vez mais, o paradigma da indissociabilidade ensino- e do fazer. 93
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    79. Primeira logomarca E foi assim que, em 29 de janeiro de 1969, surgia, do IEL Desenho por iniciativa da Confederação Nacional da Indústria, o Instituto Euvaldo Lodi (IEL). Idealizadora do Senai 80. Nota no Correio da Manhã sobre a criação do IEL e e do Sesi, voltados respectivamente para o aperfei- instrumento (Ata) de criação do IEL em janeiro de 1969, çoamento da mão-de-obra e a melhoria das condi- Rio de Janeiro, RJ ções de vida dos trabalhadores da indústria, a CNI 81. Da direita para a enfrentava um desafio a mais: promover a interação esquerda: Antônio Horácio universidade-empresa. Dessa vez o empreendimen- Pereira, Jorge Bhering de Mattos, Gilberto Mendes to pioneiro da CNI, diferentemente do que havia de Azevedo, Tomás Pompeu de Sousa Brasil Neto, José acontecido na década de 1940 com suas entidades Aquino Porto e Ítalo Bologna, irmãs, não estava vinculado a nenhuma meta espe- durante a solenidade de criação do IEL cífica de governo. Com isso, o IEL, sem o respaldo de Fotografia, 29 de janeiro de uma legislação federal, nascia independente e liber- 1969 to do poder estatal. O estrondoso crescimento da indústria nacional, durante os trinta anos que precederam a criação do IEL, havia permitido à CNI lançar-se, de forma autô- noma, em mais um arrojado projeto. Eram tempos 94
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    marcados por novastendências, entre as quais a ên- A defesa da indústria brasileira a que você, Euvaldo fase na livre iniciativa e no progressivo afastamento Lodi, vem dispensando um esforço indormido, é a pró- do controle do Estado sobre os setores produtivos. pria defesa do Brasil. Não voltaremos a uma economia Empenhados em aliar a eficiência empresarial ao agropastoril, sem nos termos conformado com a con- conhecimento acadêmico, os industriais brasileiros, cepção de ‘país pequeno’, de terra de plantação, que reunidos em torno de sua confederação, buscavam nos querem impor teoristas nacionais e interesses es- aproximar os estudantes das unidades produtivas, na trangeiros, ambos sonhando para a nossa pátria uma tentativa de promover o aprimoramento da indústria função de fornecedora de matérias-primas, função e a formação da futura elite dirigente do país. essa mesma provisória, e que durará enquanto não se Se a iniciativa de criação do instituto foi inova- desenvolvem os nossos concorrentes coloniais (DIÁRIO dora para a época, a marca IEL, recuando no tempo, DO POVO, 1949). promoveu o resgate histórico de um dos motores da construção da indústria moderna no Brasil: o enge- A solenidade de criação do Instituto Euvaldo Lodi, nheiro Euvaldo Lodi, que sempre soube defender in- que aconteceu na antiga sede da Confederação Na- transigentemente suas idéias. Não somente pela pre- cional da Indústria no Rio de Janeiro, contou com a sença ativa nas questões ligadas à produção como presença de Thomás Pompeu de Souza Brasil Netto,3 também por sua contribuição teórica no campo da presidente da CNI; Ítalo Bologna, diretor do Depar- educação, Euvaldo Lodi foi depositário da justa ho- tamento Nacional do Senai; Gilberto Mendes de menagem que lhe foi feita por seus pares. Azevedo, presidente do Conselho Nacional do Sesi; Colocando-se ao lado de figuras emblemáticas Antônio Horácio Pereira, diretor jurídico da CNI; José como José Bonifácio, Mauá e Delmiro Gouveia, Lodi Aquino Porto, diretor-secretário da CNI; Mário Leão manteve-se incansável na defesa da indústria nacio- Ludolf, representante da CNI no Conselho Superior nal. E antecipando as tendências recentes, percebeu do IEL, e Jorge Bhering de Mattos, primeiro superin- que tendente do IEL. Com a nova entidade, a CNI ganhava um espaço não há mais lugar no mundo para as nações que ficam voltado para a formação dos novos perfis profissio- estagnadas. A evolução econômica é um imperativo nais requeridos pela indústria e pelo mercado. Entre para sobreviver. E somente a inteligência aplicada ao os empresários tradicionais e os trabalhadores que trabalho oferece a segurança de que necessitam os po- operavam as máquinas, surgia a demanda por téc- vos” (LODI apud IEL, 1984, p. 3). nicos treinados para pensar o funcionamento das empresas e aptos para as funções de direção e ge- Sobre o “líder da vida industrial brasileira”, assim renciamento. se manifestou o poeta e jornalista Augusto Frederico Na época havia os que acreditavam ser impossível Schmidt: a integração universidade-indústria, pois essas insti-
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    82. Aula deprojetos do tuições viviam e respiravam ares díspares, e turvados Além de ações estatais voltadas para a implantação Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) por preconceitos tidos como irremovíveis. Outros de infra-estrutura de pesquisa, surgiam fundações Fotografia instigavam os debates, propondo a subordinação de criadas por diversas universidades para, atuando um domínio pelo outro. Na verdade, se o academicis- como interface com o meio externo, prestar serviços mo exacerbado e o sectarismo de alguns grupos na técnico-científicos e promover a interação com as universidade contribuíam para dificultar o diálogo, a empresas. indústria também teria que abrir mão de resquícios Em 31 de julho de 1969, o governo instituiu o conservadores para poder transformar as descober- Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e tas científicas em inovações tecnológicas. Tecnológico (FNDCT), que, destinado a financiar a Em âmbito mundial, a ciência e a tecnologia con- expansão do sistema de ciência e tecnologia, pas- quistavam novos mundos: a missão Apollo 11 pou- saria a contar, em 1971, com a Financiadora de Es- sou na Lua em 20 de julho de 1969, transformando tudos e Projetos (Finep). Criado em substituição ao os astronautas norte-americanos Neil Armstrong e Funtec (1964), o novo órgão tinha como objetivo Edwin Aldrin nos primeiros homens a caminhar em financiar os novos grupos de pesquisa, expandir a solo lunar. infra-estrutura, garantindo a consolidação institu- Enquanto isso, no Brasil, a política de ciência e cional da pesquisa e pós-graduação no país. Baseada tecnologia entrava na pauta do planejamento global em uma intensa mobilização na comunidade cien- do país, e o sistema universitário passava a ser vis- tífica, a Finep deveria estimular a articulação entre to como uma mola propulsora do desenvolvimento. universidades, centros de pesquisa, empresas de 96
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    consultoria e contratantesde serviços, produtos e gramas de pesquisas científicas e tecnológicas das 83. Jorge Bhering de Mattos, primeiro superintendente do processos. universidades; promoção de estágio em empresas; IEL, de 1969 a 1974 O Brasil vivia momentos promissores: a economia colaboração em pesquisa de mão-de-obra, para o Fotografia crescia a passos largos, enquanto a política cambial acompanhamento da evolução da demanda de pes- 84. Capa da publicação Estatutos do IEL, 1969 e de incentivos fiscais contribuía para impulsionar as soal de nível superior. exportações. Medidas como a correção monetária e Durante a gestão de Jorge Bhering, que se esten- a criação do FGTS e do Banco Central conseguiam, deu de 18 de março de 1969 até 10 de dezembro de aos poucos, neutralizar os efeitos da inflação, permi- 1974, os esforços concentraram-se na construção e tindo a retomada do crescimento. Estimulado pela articulação de canais de comunicação entre as uni- privilegiada situação econômica, o governo passou versidades e as empresas. Além disso, buscava-se a investir na criação de empresas estatais. uma integração com as demais entidades do sistema Em 19 de agosto de 1969 foi fundada, ainda pelo – CNI, Senai e Sesi – e aproximação com órgãos esta- presidente Costa e Silva, a Empresa Brasileira de Ae- tais e outras instituições, nacionais e internacionais, ronáutica (Embraer), que, no âmbito de um projeto vinculadas ao ensino profissional. estratégico do governo, nasceu no interior do Cen- Para o cumprimento de sua missão, o IEL deu tro Técnico Aeroespacial (CTA), sendo seu pessoal início à implantação dos núcleos regionais que, formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica juntamente com o Núcleo Central sediado no Rio (ITA). Durante as duas décadas seguintes, a Embraer conquistaria importante projeção nacional e interna- cional com os aviões Bandeirante, Xingu e Brasília. A empresa, uma das maiores do mundo no setor ae- roespacial, produziria milhares de aviões que passa- riam a operar em dezenas de países nos cinco conti- nentes. Os primeiros anos do IEL coincidiram com a diver- sificação da produção brasileira e a presença do Es- tado na provisão dos insumos para o setor industrial. O desenvolvimento dos setores de energia elétrica e de aço, a indústria petroquímica etc. garantiam para a iniciativa privada as condições para expansão de seus empreendimentos. Alguns objetivos do IEL, explicitados em seus es- tatutos, coincidiam com as proposições defendidas pelo GTRU em 1968, tais como: cooperação em pro- 97
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    85. Matéria dapublicação de Janeiro, passavam a integrar a estrutura orga- Nosso Século, referente a educação, tema da capa da nizacional descentralizada da entidade. Em pouco revista Veja de 30 de junho mais de um ano, havia 17 núcleos regionais4 dis- de 1971 seminados por todas as regiões do Brasil, que fun- cionavam vinculados às respectivas federações das indústrias. O Núcleo Central tinha como responsabilida- de específica empreender atividades de interesse nacional, acumulando funções de organismo nor- mativo e de apoio às unidades regionais, como orientação e avaliação de programas e assistência técnica e financeira para projetos específicos. Aos núcleos regionais competia executar a integração universidade-indústria, desenvolvendo projetos de pesquisa, apoio tecnológico e estágio supervi- sionado, reduzindo distâncias entre empresários e universitários. O primeiro período, compreendido entre 1969 e 1986, entendido pelo próprio instituto como “perío- do pioneiro”, ficou, na prática, mais restrito às ativi- dades de estágio. Inicialmente o IEL empreendeu dois programas de ação: Treinamento Profissional e Promoção de Pesquisa e Intercâmbio, sendo o pri- meiro composto por dois subprojetos, Estágio Fun- damental, Estágio Supervisionado e Cursos Integra- dos. Com esses subprojetos, pretendia-se atingir os estudantes universitários em duas fases: no ciclo básico, por meio de pré-estágios com finalidade de estimular vocações para determinadas especialida- des da graduação; e ao longo do curso, por meio do estágio supervisionado. Em 1971, foi aprovada a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que, chamada pelo então minis- tro da Educação, Jarbas Passarinho, de “A revolução 98
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    pela educação”, reformulavaos ensinos de 1º e 2º O estágio, como complementação do ensino e 86. Ministro Jarbas Passarinho e o cientista graus e representava uma esperança para a solução preparação profissional, era visto pelo IEL como for- Albert Sabin assinam acordo do problema do ensino profissionalizante.5 Por meio ma de atualizar e aprimorar os currículos, adequan- Estágio Brasil-Alemanha Fotografia, 1971 de seus dispositivos, essa lei tornava obrigatória a do-os às necessidades do mercado. Rapidamente, 87. Matéria da revista oferta de habilitação profissional no 2º grau, de acor- com esse foco inicial, o IEL passou a promover fóruns, Educação, do MEC, sobre do com as necessidades do mercado local e regional. seminários e pesquisas para debater questões rela- cursos resultantes do acordo de cooperação técnico- A determinação visava absorver a força de trabalho cionadas ao desenvolvimento científico e tecnológi- científica Brasil e Alemanha ociosa, contribuindo tanto para regular o mercado co do país. Visitas de estudantes às empresas e estí- Ocidental, 1971 de trabalho como para conter a demandas pelo aces- mulos para a produção de monografias contribuíram so à educação de nível superior. para garantir maior visibilidade à entidade. Uma conseqüência dessa nova LDB foi a desati- As habilitações profissionais poderão ser realizadas em vação dos ginásios industriais, que deram lugar às regime de cooperação com as empresas. (...) O estágio Escolas Técnicas Federais, em algumas das quais fo- não acarreta para as empresas nenhum vínculo de em- ram implantados cursos superiores de engenharia, prego, mesmo que se remunere o aluno estagiário, e convertendo-as nos Centros Federais de Educação suas obrigações serão apenas as especificadas no con- Tecnológica (Cefets). Grande parcela dos técnicos for- vênio feito com o estabelecimento. (artigo 6º da Lei mados pelas escolas técnicas eram recrutados, quase 5.692) que sem restrições, pelas grandes empresas priva- das ou estatais. E, em decorrência do alto padrão de Apesar disso, somente após o I Encontro Nacional ensino oferecido por essas instituições, deu-se um de Professores de Didática, realizado em 1972, o Mi- nistério do Trabalho estabeleceria o marco da inte- gralização do estágio supervisionado nos currículos escolares,6 matéria regulamentada posteriormente por lei federal: Os estágios devem propiciar a complementação do ensino e da aprendizagem a serem planejados, execu- tados, acompanhados e avaliados em conformidade com os currículos, programas e calendários escolares, a fim de se constituírem em instrumentos de integração, em termos de treinamento prático, aperfeiçoamento técnico, cultural, científico e relacionamento humano (artigo 1º da Lei 6.494, de 7 de dezembro de 1977). 99
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    O sucesso daparceria entre as empresas do Vale do Silício e a Universidade de Stanford deveu-se a um processo que, iniciado nos anos 1950, tinha como objetivo central gerar inovações científicas e tecnológicas. Além disso, o Estado norte-americano, 88. Capas do I, II e III Planos crescimento acelerado das matrículas nos diversos funcionando como um importante agente interme- Básicos de Desenvolvimento Científico e Tecnológico cursos, o que fez com que fossem colocados anual- diário, atuava nas duas pontas: apoiava a pesquisa (PBCDT) mente milhares de técnicos à disposição do mercado na universidade e deixava à indústria a contribuição 89. Matéria da revista Fatos de trabalho. financeira para o desenvolvimento de tecnologias e Fotos sobre a Base Espacial Por sua vez, o IEL visava estimular a produção de específicas. Embora a esfera estatal promovesse a da Barreira do Inferno, Natal, RN. Programa de pesquisas conhecimento tecnológico e científico mediante o articulação entre a escola e o mundo do trabalho, metereológicas da Comissão Nacional de Atividades financiamento direto das pesquisas e dos pesquisa- grande parte do investimento ficava a cargo das in- Espaciais (CNAE), 14 de maio dores, e a co-utilização de instalações físicas e equi- dústrias, diretamente interessadas na qualificação de 1966 pamentos. Nesse contexto, surgiram os cursos inte- originada dos estágios e treinamentos. grados que, realizados em parceria com o Ministério Além de um desenvolvimento industrial mais tar- da Educação, tinham como objetivo o treinamento dio, outros fatores contribuíram para dificultar essa de estudantes dos últimos períodos letivos. Os cur- relação no Brasil: o modelo de industrialização bra- sos das universidades que participaram do programa – Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Uni- versidade Federal da Paraíba (UFPb) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – se tornariam, pos- teriormente, referências nacionais e internacionais nos respectivos campos de pesquisa.7 Alternando suas atividades escolares com perío- dos de trabalho, os universitários vivenciavam a ro- tina das empresas, as quais, por sua vez, utilizavam- se dos laboratórios das universidades para análises, pesquisas e ensaios. Ainda nessa época, teve início a elaboração de uma base de dados sobre a parce- ria universidade-indústria, com a realização de pes- quisas e publicações. Apesar desses esforços e dos exemplos bem-sucedidos de outros países, a integra- ção universidade-indústria no Brasil ainda tardaria a se consolidar. 100
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    sileiro, baseado naimportação de know-how, havia 90. Pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa deixado como herança a falta de tradição das empre- Agropecuária (Embrapa) Fotografia, 1974 sas no desenvolvimento de novas tecnologias; além disso, a instabilidade política somava-se à inadequa- ção dos mecanismos institucionais capazes de pro- mover o estímulo e a mediação das relações entre sando o crescimento econômico a ser cada vez mais universidades e empresas. A despeito disso, o Brasil determinado pelo progresso tecnológico. Isso altera as orgulhava-se na época de sua condição de potência. vantagens comparativas entre os países, em diferentes E, após a conquista da Copa do Mundo do México setores, pelas reduções drásticas em custos de trans- de 1970, esse sentimento, disseminando-se pelas portes, pelo uso de sucedâneos sintéticos e outras camadas populares, tomaria ares verdadeiramente alterações na estrutura de custos. (I PND apud SALLES ufanistas. FILHO, 2002, p. 400). Também no campo da astronáutica, o Brasil da época tinha o que comemorar: a criação, em 1971, Uma conseqüência do I PBDCT foi a criação, em do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 1972, da Secretaria de Tecnologia Industrial (STI),8 no em São José dos Campos, SP, com o propósito de Ministério da Indústria e Comércio (MIC), que tinha formar recursos humanos altamente qualificados entre suas atribuições financiar o desenvolvimento nas áreas de sua atuação. No mesmo ano, foi criado tecnológico de empresas públicas e privadas e o de- o Centro de Lançamento de Foguetes da Barreira do senvolvimento de tecnologias específicas. Logo de- Inferno (CLBI), em Natal, RN, resultado da expansão pois foi fundado o Instituto Nacional de Propriedade do Centro Técnico Aeroespacial (CTA). Industrial (INPI), que pretendia regular a transferên- O I Plano Básico de Desenvolvimento Científico cia de tecnologia. e Tecnológico (I PBDCT), 1972-1974, desenvolvido Essas ações governamentais, que serviam de es- com base em uma ação conjunta entre o Ministério tímulos ao desenvolvimento, funcionavam como do Planejamento e o CNPq, previa um reforço da área mecanismos multiplicadores de iniciativas em prol tecnológica, por meio de uma estratégia de descen- da interação entre o saber e o fazer. Depois de insti- tralização. A criação de sistemas setoriais e estaduais tucionalizado o referido plano, o presidente Médici e o maior entrosamento com o sistema produtivo ampliou o processo de estatização, acrescentando às privado demonstravam o primado do racionalismo 46 empresas instituídas desde 1964 mais 74, entre as administrativo na área de ciência e tecnologia. quais a Telecomunicações Brasileiras S.A. (Telebrás), em 1972. Em seguida, veio mais um empreendimen- A revolução tecnológica, principalmente nas últimas to estatal de sucesso, a Empresa Brasileira de Pesqui- décadas, repercute profundamente sobre o desen- sa Agropecuária (Embrapa),9 vinculada ao Ministério volvimento industrial e o comércio internacional, pas- da Agricultura. 101
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    91. Matéria darevista Dando seqüência ao cumprimento da meta de in- estendendo o processo de modernização a vários se- Manchete sobre a construção da rodovia Transamazônica, tegração do território nacional dos anos 1950, cres- tores da produção. 15 de abril de 1972 cia a malha viária brasileira, permitindo incluir as po- Com o emprego em alta, os operários mais espe- pulações de rincões distantes na moderna economia cializados conseguiam obter ganhos diferenciados e de mercado. Obras de porte, como a Transamazôni- se beneficiar com o crescimento econômico, embo- ca, somavam-se à construção de várias usinas hidre- ra o salário mínimo em baixa caracterizasse um pe- létricas, entre as quais as de Boa Esperança (1970), ríodo de arrocho salarial para muitas categorias de de Urubupungá e, mais tarde, de Itaipu (1975). Além trabalhadores. O aquecimento da produção atraía as disso, houve a modernização do sistema de crédito e populações para as regiões mais industrializadas do grandes investimentos na áreas da siderurgia, petro- país, sendo que parte desses contingentes migrató- química e construção naval. rios era absorvida pela construção civil, pela indús- No campo educacional, o período assistiu à mul- tria pesada e pelo comércio, fazendo aumentar o nú- tiplicação do número de vagas no ensino superior, mero de trabalhadores com carteira assinada. Eram distribuídas entre as instituições públicas e as facul- os anos do chamado “milagre econômico” brasileiro, dades privadas recém-criadas. que perduraria até 1973. O sucesso da política econômica chamava a aten- A partir de então, o mundo viveria uma séria cri- ção. E, impulsionados pelas condições favoráveis da se do petróleo, que, desencadeada num contexto de economia, os capitais estrangeiros entravam no país, déficit de oferta, devia-se a nacionalizações e confli- tos envolvendo os países integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). O em- bargo ao fornecimento de petróleo provocou reces- são nos EUA e na Europa, concorrendo para desesta- bilizar a economia mundial. Enquanto os países desenvolvidos optavam por uma estratégia de rápida adaptação à crise, com drásticos cortes de gastos do setor público, redução do consumo de petróleo e liberação das taxas de câmbio, o governo brasileiro promovia uma desa- celeração progressiva. Temendo gerar desemprego em massa e provocar uma desorganização do setor produtivo, o governo manteve elevadas as taxas e as importações de petróleo. A manutenção da atividade econômica e do em- prego em alta, quando os países desenvolvidos se 102
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    defrontavam com umprocesso recessivo, implicava um aumento da dívida externa brasileira. E, apesar das restrições destinadas a proteger o parque in- dustrial brasileiro, importavam-se equipamentos e know-how estrangeiros, o que desestimulava os in- vestimentos das indústrias em inovações e constituía entraves à integração universidade-empresa. A difi- culdade de diálogo entre os parceiros, o preconcei- to das empresas contra o idealismo reinante na aca- demia, a desconfiança dos universitários diante do pragmatismo das empresas, a falta de pessoal para orientar os estágios e a utilização indevida dos esta- giários também se traduziam em obstáculos a essa intenção (PALADINO, 2002). Em março de 1974, o general Ernesto Geisel as- sumiu a Presidência, tendo que enfrentar dificulda- des econômicas e políticas que anunciavam o fim do “milagre econômico” e ameaçavam o regime militar. Além da dívida externa herdada do período anterior, de um acordo com a Alemanha que previa a instala- 92. Matéria da revista Manchete sobre a assinatura a inflação chegava a 34,5%, o que dificultava a cor- ção de uma usina de enriquecimento de urânio e de do Acordo Nuclear Brasil- reção dos salários. Apesar disso, o governo decidiu centrais termonucleares. Alemanha, Bonn, 12 de julho de 1975 investir no desenvolvimento econômico. E, com a Entre as medidas administrativas que atestam a importância que a ciência e a tecnologia assumiam 93. Capas do projeto meta de alcançar um crescimento industrial de 12% do II Plano Nacional de ao ano até 1979, desenvolveu, no final de 1974, o no período, destacou-se a criação do Plano Nacional Desenvolvimento para o período 1975-1979 e do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), que de Pós-Graduação (PNPG), em 1974. Programa Nacional do Álcool visava criar bases para a indústria, procurando redu- No entanto, a conjuntura brasileira não inspira- (Proálcool), 1983 zir a dependência em relação às fontes externas. va tranqüilidade. Enquanto a crise internacional do Paralelamente, com o objetivo de ampliar as fon- petróleo havia afetado o desenvolvimento indus- tes alternativas de energia, iniciou-se um programa trial e aumentado o desemprego, a vitória da oposi- visando à implantação de combustíveis alternativos: ção nas eleições parlamentares fragilizava o regime surgiam assim o Programa Nacional do Álcool (Proál- militar. Essas condições fizeram com que o governo cool) e, em seguida, o Programa Nacional de Carvão Geisel, apostando na flexibilização política, acenas- (Procarvão). Ainda na área de energia, seria aprova- se com um projeto de abertura política “lenta, gra- do, em 1975, o Programa Nuclear Brasileiro, por meio dual e segura”. 103
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    94. Presidentes general Em dezembro de 1974, quando Jacy Montenegro fronteiras do IEL, esquentava os debates no Congres- Ernesto Geisel e general João Batista Fiqueiredo Magalhães10 assumiu a superintendência, o IEL pas- so Nacional, que resultaram, em 1977, na aprovação sava por dificuldades financeiras, o que levou a ins- da lei que tratava especificamente dos estágios de 95. Coleção Universidade & Indústria – Monografias, tituição a uma revisão de sua própria estrutura, de estudantes de ensinos superior, profissionalizante e editadas pelo IEL supletivo.11 seus projetos e, por fim, a uma reflexão sobre o seu papel. Para sanar os problemas referentes à receita, Com isso, o estágio supervisionado curricular ad- o IEL empenhou-se na constituição de parcerias, na quiria maior relevância, uma vez que o estudante- obtenção de recursos financeiros de órgãos públicos estagiário teria melhores chances de adquirir uma e privados, na oferta de cursos e prestação de servi- formação teórica e prática mais sólida. No entanto, ços de pesquisa e na realização de atividades conjun- a regulamentação dessa lei só viria a acontecer cinco tas com Senai, Sesi, federações de Indústria etc. anos mais tarde, com o Decreto nº. 87.497, de 18 de Os estágios continuavam dando excelentes re- agosto de 1982: sultados: com eles, abriam-se perspectivas para os estudantes adquirirem especialização e contatos de Considera-se estágio curricular, as atividades de apren- trabalho e renovavam-se os quadros técnicos das dizagem social, profissional e cultural, proporcionadas empresas. Nessa época, o tema, extrapolando as ao estudante pela participação em situações reais de vida e trabalho (...) sendo realizada na comunidade em geral ou junto a pessoas jurídicas de direito público ou privado, sob a responsabilidade e coordenação da ins- tituição de ensino. Os anos de prosperidade do país haviam con- tribuído para fomentar o surgimento de livros e re- vistas sobre temas candentes, criando-se um clima de euforia editorial. Seguindo essa tendência, o IEL, além de promover seminários e estudos, iniciou a elaboração de uma série de publicações. E, por meio de parcerias com instituições de ensino superior, rea- lizaram-se estudos sobre características e tendências da conjuntura econômica e social que implicavam, ou poderiam implicar, entraves ao desenvolvimento industrial do país. Nessa época, o presidente da CNI era Domício Veloso da Silveira, que permaneceu no cargo de 1977 até 1980. 104
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    Em 1979 omundo foi surpreendido por um novo choque no setor petroleiro. A paralisação da produ- ção iraniana, o segundo maior exportador da Opep, em conseqüência da revolução liderada pelo aiatolá Khomeini, fez com que o preço do barril atingisse níveis recordes, agravando a recessão econômica mundial. No Brasil a crise resultou em maior endividamento externo, elevadas taxas de inflação, juros altos e uma recessão industrial. O setor produtivo, carente de tec- nologia e impossibilitado de desenvolvê-la, perdia capacidade de concorrer no mercado internacional, abastecido, cada vez mais, pela produção de Hong pelo retorno dos movimentos sociais nas grandes ci- 96. Jacy Montenegro Magalhães, superintendente Kong, Cingapura, Coréia do Sul e Taiwan, países que, dades. do IEL de 1974 a 1980 conhecidos como os Tigres Asiáticos,12 passaram a Indicado por Albano de Prado Pimentel Franco,14 Fotografia apresentar uma rápida industrialização e altas taxas então presidente da CNI, Tarcísio Meirelles Padilha15 97. Tarcísio Meireles Padilha, superintendente do IEL de de crescimento. assumiu a superintendência do IEL em dezembro 1980 a 1986 Politicamente, o país entrava em um clima de de 1980, com a missão de facilitar sua aproximação Fotografia abertura. Em 1978, antes de passar o governo para com a universidade. Durante essa gestão, a entida- o general João Batista Figueiredo, o presidente Gei- de teve sua atuação ampliada, transformando-se sel extinguiu o Ato Institucional nº. 5, restaurou o em um centro de altos estudos, responsável por habeas corpus e abriu caminho para a retomada da produzir análises e políticas de ação para o empre- democracia. No ano seguinte, foi aprovada a lei que sariado. A intenção coincidia com o contexto de restabelecia o pluripartidarismo,13 sinalizando o iní- apoio estatal às iniciativas voltadas para a produção cio da abertura política. e aplicação do conhecimento. Em 1980, os metalúrgicos do ABC realizaram a Além de diversos seminários e estudos, deu-se maior greve operária da história do país, paralisando continuidade à edição de publicações acerca dos as principais montadoras e ampliando a liderança de chamados “efeitos perversos” sobre a economia (dei- Luiz Inácio da Silva, ou simplesmente Lula. No rastro xava-se de investir na produção devido ao alto preço dessa greve, surgiriam os primeiros sindicatos inde- do petróleo) e das alternativas para superação da cri- pendentes da tutela do Estado. se. Entre os temas abordados estavam as pequenas Nessa época, o objetivo principal do IEL era a e médias empresas, a política de salário e emprego, compreensão da conjuntura nacional, marcada pela o modelo sindical brasileiro e a intervensão estatal, recessão, pelo enfraquecimento do regime militar e a produção e incorporação de novas tecnologias, a 105
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    98. 34ª ReuniãoAnual da formação de recursos humanos e as relações da in- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Debate dústria com outros setores econômicos. Antecipan- sobre Cubatão do uma tendência que se acentuaria a partir de 1990, Fotografia, 1984 durante essa gestão alguns núcleos regionais come- çaram a desenvolver ações de estímulo ao empreen- dedorismo. Dois eventos marcaram também esse momento do IEL: o Seminário Internacional sobre Negociação e Relações de Trabalho, em 1981, e o Seminário In- ternacional de Educação e Trabalho, em 1982, ambos realizados no Rio de Janeiro. Os eventos, que con- taram com a participação de especialistas e pensa- Os tempos de recessão abalaram os financiamen- dores do Japão e de vários países da Europa, contri- tos destinados às pesquisas, provocando manifesta- buíram para a discussão de temas importantes que ções de protesto da Associação Brasileira de Ciências ainda não haviam sido suficientemente debatidos no (ABC) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da âmbito do setor produtivo brasileiro. Ciência (SBPC). O movimento tomou corpo e acabou Durante as gestões de Jacy Montenegro Maga- por influir no lançamento, em 1984, do Programa de lhães e Tarcísio Meirelles Padilha, que se entenderam Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico de 1974 até 1986, o instituto priorizou a avaliação (PADCT), cujo objetivo era consolidar a competência das atividades desenvolvidas, com o conseqüente técnico-científica nas universidades, centros e ins- estabelecimento de novas rotas para sua consoli- titutos de pesquisa, mediante o financiamento de dação como membro do nascente Sistema CNI e a projetos que produzissem impactos no desenvolvi- necessária ampliação do escopo de seu funciona- mento. mento. No campo da inovação tecnológica, surgem as Ao contrário do que ocorria no Japão, nos Esta- primeiras iniciativas brasileiras em torno do apoio à dos Unidos e em países da Europa, que adotaram incubação de empresas, aos parques tecnológicos. estratégias recessivas para se proteger da crise do Incubadora pode ser definida como petróleo, o governo brasileiro manteve a política de gastos. A alta da inflação e o aumento do de- um mecanismo de estímulo à criação e ao desenvol- semprego decorrentes de tal opção beneficiavam a vimento de micro e pequenas empresas industriais oposição, obrigando o governo a alterar sua política ou de prestação de serviços de base tecnológica ou econômica: reduziram-se os empréstimos externos de manufaturas leves por meio da formação comple- a níveis muito baixos e deu-se início a um processo mentar do empreendedor em seus aspectos técnicos sistemático de pagamento das contas. e gerenciais (...) para tanto conta com um espaço físi- 106
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    co especialmente construídoou adaptado para alojar, Essa situação acabou por provocar uma grande ma- 99. Logomarca do Sistema Indústria, julho de 1991 temporariamente, as empresas...” (MCT/PNI). nifestação popular. No dia 25 de janeiro de 1984, 300 Desenho mil pessoas reuniram-se Praça da Sé, em São Pau- 100. Campanha pelas Diretas Um importante passo nesse campo seria dado, lo, para exigir eleições diretas para a Presidência da Já, Brasília, DF em 1987, com a criação da Associação Nacional de República, o marco inicial da campanha Diretas Já. Maylena Clécia Fotografia, 1985 Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos Outra manifestação reuniu na Candelária, no Rio de (Anprotec). A partir dessa iniciativa surgiriam as pri- Janeiro, cerca de 500 mil pessoas no dia 10 de abril meiras incubadoras do Brasil, localizadas em São Car- do mesmo ano. los, Campina Grande, Florianópolis e Rio de Janeiro. A intensa campanha popular não atingiu seu ob- A despeito do aumento das exportações, o saldo jetivo: o Congresso derrubou a Emenda Dante de Oli- da balança era insuficiente para pagar as dívidas ex- veira, que previa eleições diretas para presidente. No ternas, o que levou o governo brasileiro a firmar acor- entanto, o Colégio Eleitoral indicou Tancredo Neves e dos de refinanciamento, os quais contribuíam para José Sarney, respectivamente, para os cargos de pre- agravar as condições das classes menos favorecidas. sidente e vice-presidente da República. Como Tan- 107
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    101. Oswaldo VieiraMarques, credo Neves faleceu antes de tomar posse, assumiu ação conjunta, seria facilitado. Várias reuniões entre superintendente do IEL de 1986 a 1996 o governo José Sarney, que iniciou a transição para a professores, dirigentes de universidades e membros Fotografia democracia: começava a Nova República. do IEL foram realizadas, e grande parte das propostas Para a superação do regime autoritário inaugura- surgidas nesses encontros foi incorporada aos pro- do em 1964, a transição democrática caminhou no gramas do IEL, passando a direcionar as suas ações sentido de um nova ordem institucional, instaurada nos anos seguintes. a partir da redação de uma nova Carta Constitucio- A conseqüência mais imediata desse acordo foi nal. E foi no contexto da disputa política em torno do a ampliação das oportunidades de estágio supervi- papel do Estado e do caráter reformador da ordem sionado, cujo projeto inicial foi reestruturado, com institucional do Congresso Constituinte que ocorreu a intenção de estimular os estudantes a adotarem um grande avanço na estrutura da CNI. Durante a uma mentalidade empreendedora. A metodologia gestão de Albano Franco, foi instituído o Sistema CNI, de supervisão foi readequada e os padrões de qua- que, sob o comando dessa confederação, é formado lidade foram incluídos. Esse esforço foi recompen- pela íntima articulação da tríade educacional – Senai, sado pelo aumento das oportunidades de realiza- Sesi e IEL. Entendido como um organismo complexo ção de estágio, sobretudo nas pequenas e médias e articulado, o Sistema CNI, que teria como objetivo empresas. “atuar na modernização institucional do país e lide- Além da ênfase no relacionamento com os nú- rar os empresários como agentes da transformação” cleos regionais, as federações estaduais e os depar- (CNI, 1994), formava-se na hora certa. tamentos regionais do Senai e Sesi, o instituto pas- Apesar da recessão, o clima de otimismo fazia sou a ser um articulador nacional dos projetos da com que as empresas começassem a planejar a reto- indústria. Integrando em seus quadros professores mada do crescimento e a absorção de trabalhadores, e profissionais experientes, o IEL tornou-se uma ver- incluindo os desempregados em função da crise. dadeira usina de idéias, que serviam para subsidiar Assumia a superintendência do IEL, em maio de as negociações com vários órgãos, tais como a Supe- 1986, Oswaldo Vieira Marques,16 cuja escolha, que rintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Su- significou uma nova etapa na estratégia de ação e dene) e a Superintendência do Desenvolvimento da inserção do IEL no Sistema CNI, representou a vitória Amazônia (Sudam). dos empresários que defendiam maior aproximação Durante essa gestão foi criado, no âmbito do IEL, com os interesses imediatos da indústria. um fórum nacional para discussão de temas de inte- Para estimular a articulação entre as universida- resse nacional, entre os quais o ensino a distância, de des e as empresas, foi firmado entre o IEL e o Conse- iniciativa dos ministérios da Educação e do Exército, lho de Reitores das Universidades Brasileiras (Crub) a modernização da pesca, que contava com o apoio um protocolo de intenções, mediante o qual o aces- da Marinha, e o empreendedorismo, vinculado ao so da entidade às universidades, assim como sua Ministério da Indústria e Comércio (MIC). 108
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    Já nessa época,o IEL tratava de estimular o surgi- da referida comissão, o IEL tornou-se representante 102 e 103. Inventos contemplados com o Prêmio mento de empreendedores que, segundo o econo- da CNI, ou seja, da indústria nacional. Talento Brasileiro mista austríaco Joseph Alois Schumpeter, eram “os Em 1988 foi implantado o Programa Oficinas de Fotografia, 1985 heróis da modernidade”, ou os agentes fundamentais Produção (POP), cujo objetivo era, associando a pes- 104. José Antônio Nascimento Brito, vice- do progresso. Autor de várias obras, entre as quais quisa feita na universidade à experimentação tecno- presidente do Jornal do a Teoria do Desenvolvimento Econômico, Schumpeter lógica da empresa, atingir o aprimoramento de pro- Brasil, Albano Franco, presidente da CNI, e Gabriel entendia que empreender era produzir inovações, dutos e processos. No âmbito do POP, foram obtidos Hermes, vice-presidente da por meio de avanços tecnológicos ou de combina- vários resultados concretos, entre os quais o Projeto CNI, no lançamento do II Prêmio Talento Brasileiro, em ções. O empreendedorismo consistia em introduzir Hovercraft, que, visando ao desenvolvimento de tec- 20 de dezembro de 1984, Rio de Janeiro um novo produto, abrir um novo mercado, conquis- nologia própria para veículos sobre colchão de ar, foi Fotografia tar novas matérias-primas ou estabelecer uma nova realizado pelo Departamento de Engenharia Mecâ- organização produtiva. nica da Universidade de Brasília (UnB); uma nova tec- Com a constituição de uma comissão interministe- nologia para filmes finos usados em metalurgia, in- rial, a articulação universidade-indústria foi ampliada, formática e mecânica de precisão, desenvolvida pela passando a integrar o trinômio universidade-indús- Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); tria-governo. Responsável pela secretaria executiva um estudo sobre a viabilidade técnica e econômica 109
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    105. Capa daConstituição para aproveitamento de resíduos de madeira, feito órgãos empenhados na interação universidade-in- Federal da República Federativa do Brasil, 1988 pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) dústria: o Instituto Nacional de Metrologia, Norma- em parceria com o Sindicado das Indústrias Madei- lização e Qualidade Industrial (Inmetro) e o Instituto 106. Plenário da Assembléia Nacional Constituinte reiras; um estudo sobre o uso do bagaço de cana-de- Nacional da Propriedade Industrial (INPI). durante a promulgação Formadas por industriais, docentes e integrantes açúcar como fonte alternativa de energia, feito pela da nova constituição, 5 de outubro de 1988 Universidade Federal da Paraíba (UFPb), em parceria de outras entidades interessadas, essas comissões, Júlio Bernardes Fotografia com o Sindicado das Indústrias de Açúcar; e um me- constituídas para propor ou avaliar modalidades do didor eletrônico de pressão arterial, produzido pela processo de interação, tinham caráter consultivo Universidade Estadual de Londrina (UEL). e eram responsáveis pelo estabelecimento da sua Nessa época o IEL ampliava as parcerias. A Finep, própria pauta de discussões. Implantado em 1987, incorporada ao processo com a assinatura de um o Programa de Recursos Humanos para o Desen- termo de ajuste em 1989, foi sucedida por outros volvimento Tecnológico (RHAE) tinha por objetivo 110
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    Brasil moderno. Nodia 5 de outubro, o presidente 107. Primeira edição do informativo Interação, da Assembléia Nacional Constituinte, Ulysses Gui- publicado pelo IEL, marães, entregava à nação brasileira a sétima Carta setembro de 1988 Magna, que, conhecida como Constituição Cidadã, restauraria a democracia no país. No fim desse mesmo ano, como resultado da in- tensificação dos debates em torno das mudanças de rumos que deveriam ocorrer no ensino de 2º grau e na educação profissional no Brasil, era apresentado ao Congresso Nacional um novo projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que teria como base o artigo 205 da Constituição Federal: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colabora- ção da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. melhorar a competitividade do setor produtivo me- diante a capacitação de recursos humanos. No plano internacional, a década de 80 termina- Outra estratégia do IEL foi a implantação, em va com intensas mudanças que prenunciavam uma 1986, da atuação por projetos, em torno de temas nova era. A crise do socialismo do Leste Europeu fez sobre necessidades de gêneros industriais, indica- ruir o muro de Berlim e conduziu ao fim da Guerra dores de produção, matérias-primas, mercados, me- Fria. Sopravam mais fortes os ventos da globaliza- lhoria de processos, aproveitamento de insumos ou ção que, diluindo ideologias e fronteiras, desenha- resíduos etc. A iniciativa foi aperfeiçoada por meio vam, sobre um oceano de águas aparentemente da simplificação do roteiro básico de apresentação mais tranqüilas, um panorama de novidades e in- de propostas. certezas. Dois anos depois, foi instituído o informativo O século XX, que viveu a segunda Revolução mensal Interação, destinado prioritariamente à divul- Industrial, e que havia passado pela produção em gação das experiências, resultados e produtos dos série e pelo contínuo aperfeiçoamento dos proces- projetos e trabalhos das comissões de interação. sos produtivos, ia deixando para trás a “revolução da Mas o ano de 1988 ficaria marcado definitiva- produtividade” para caminhar em direção à “revolu- mente no calendário dos eventos importantes do ção gerencial” (DRUCKER, 1999). 111
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    A revolução técnico-científicada informacão oãçamrofni 113
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    Depois das intensastransformações do final dos quais a elevação de impostos e um processo de pri- 108. Mapa da América do Sul Computação gráfica anos 80, a geopolítica mundial nunca mais seria a vatização de empresas estatais. Além disso, visando Página 112 mesma. De um lado, a União Soviética desintegrava- modernizar a indústria nacional, o governo promo- 109. Linha de produção de se em meio a reivindicações por abertura política e via uma repentina abertura do país para o mercado fábrica de motocicletas em Manaus: inovação dá vida a maior eficiência produtiva; de outro, desenvolvia-se internacional. novos produtos e conceito no o embrião de um processo de unificação, cujo resul- Entrava em pauta a modernização por meio de mercado Miguel Ângelo tado seria a formação do grande bloco econômico reformas centradas na abertura comercial, na refor- Fotografia, 2006 representado pela União Européia.1 Os novos tem- mulação do Estado e na estabilidade monetária. Uma pos impunham uma rápida e efetiva reordenação do das aspirações dos partidários dessa orientação era a espaço econômico. “existe um mundo novo. E as pes- de que o Brasil passasse a absorver um novo paradig- soas nascidas nele não conseguem imaginar o mundo ma técnico-produtivo. Colocava-se de forma explícita em que viviam seus avós e no qual nasceram seus pais” a necessidade de submeter a indústria brasileira a um (DRUCKER, 1999, p. XI). modelo mais sensível às exigências do mercado mun- No Brasil, depois da chamada “década perdida”, dial, que combinasse produtividade, capacidade de em que a indústria havia apresentado um fraco de- inovação e competitividade. O cenário globalizado sempenho, chegava ao poder, em 1990, Fernando impunha padrões de desempenho produtivo, tecno- Collor de Mello, primeiro presidente eleito pelo voto lógico e mercadológico diferenciados dos anteriores. direto após quase trinta anos. Recém-empossado, Submetidas à concorrência internacional e à exigên- Collor criou um plano de recuperação econômica cia de uma restruturação produtiva, as empresas bra- que, arquitetado pela ministra da Fazenda Zélia Car- sileiras viram-se forçadas a buscar soluções para me- doso de Mello, previa uma série de medidas, entre as lhorar o seu desempenho e sua competitividade. 115
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    110. Assinatura doTratado Nessa fase as empresas passaram a concentrar seus es- produtividade pela absorção de progresso técnico. de Assunção, em 26 de março de 1991, entre Brasil, forços nas estratégias organizacionais e na adoção de Essa política desdobrava-se em uma série de ações Paraguai, Argentina e novas formas de gestão do trabalho mais compatíveis específicas, entre as quais o Programa de Apoio à Ca- Uruguai, com o objetivo de criar o Mercado Comum do com as necessidades de flexibilização da produção e pacitação Tecnológica da Indústria (Pacti) e o Progra- Sul (Mercosul). Da equerda com o envolvimento dos trabalhadores com a qualida- ma Brasileiro da Qualidade e Produtividade (PBQP).2 para a direita: Fernando Collor, Andrés Perez de e a produtividade (...) características de uma verda- Novas perspectivas para o mercado inter-regional se Rodrigues, Carlos Menem e Alberto Lacalle deira reestruturação produtiva (LEITE, 1994, p. 79). abririam, em 1991, com a assinatura do Tratado de Fotografia Assunção, que, criando o Mercado Comum do Sul Na tentativa de neutralizar os desdobramentos (Mercosul), implantava uma tarifa externa comum e do novo contexto econômico, o governo implantou liberava o comércio entre Brasil, Argentina, Paraguai instrumentos que, proporcionando acesso a financia- e Uruguai. mentos para pesquisa e desenvolvimento, visavam No entanto, além de confiscar poupanças e invia- estimular a inovação tecnológica, ampliar a compe- bilizar pagamentos, tumultuando a vida de cidadãos titividade dos bens e serviços produzidos no país comuns, Collor instituiu medidas que afetaram dire- e incentivar o intercâmbio comercial. Em 1990, no tamente os setores produtivos. A queda de tarifas e âmbito do Ministério da Economia, Fazenda e Plane- barreiras comerciais estimulou as importações, im- jamento foram instituídas as diretrizes gerais para a pondo às indústrias um esforço de competir, com os política industrial e de comércio exterior, que propu- produtos estrangeiros, nos mercados externo e inter- nha a abertura da economia brasileira como forma de no. A abertura à concorrência internacional revelou- induzir a indústria nacional à obtenção de ganhos de se desfavorável à indústria brasileira, pois boa parte 116
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    A educação despontavaentão como fator primor- 111. Capas da série Cadernos IEL: volume 2 – Programa IEL dial para o desenvolvimento econômico. O conheci- de Competitividade Industrial mento passava a ser visto como instância complexa, e volume 3 – Realizações da Política Nacional de Interação cujos elementos, implícitos nas práticas de pesquisa Indústria Universidade (1969-1990) e produção, e enraizados em pessoas, organizações e locais específicos, não eram facilmente transferíveis. Portanto, as possibilidades de adaptação às mudan- das empresas operava com instalações e equipamen- ças do mercado e da tecnologia tornavam-se função tos defasados e tecnologias deficientes em termos direta da detenção dos saberes. de processos e produtos. O baixo investimento em Esse modelo de desenvolvimento, com ênfase na atividades de pesquisa dificultava ainda mais a inser- inovação, implicava a produção de um novo tipo de ção destas no processo de modernização. Vencendo conhecimento – o “conhecimento útil” –, que condu- os obstáculos, poucas empresas conseguiam desen- zisse a resultados concretos e que, uma vez aplicado volver uma capacidade tecnológica própria e operar aos setores produtivos, gerasse riquezas para o país. com padrões de qualidade e produtividade compatí- Com isso, em vez de privilegiar a autonomia, que até veis com as exigências do mercado internacional. então lhe havia permitido uma produção mais dire- Além de aprofundar a eficiência dos processos, as cionada para o seu próprio consumo, a universidade, mudanças implicavam redução do tempo entre as numa demonstração explícita de contribuição para a descontinuidades tecnológicas, progressiva diminui- sociedade, deveria assumir um vínculo estreito com ção do ciclo de vida dos produtos, assim como a sua a indústria. Essa nova condição impunha grandes de- diversificação. Com isso, se antes era possível crescer safios para a articulação entre o saber e o fazer, ou sem contar com um sistema de geração e incorpora- entre a academia e a indústria. ção de tecnologia, por meio de contratos de know- Na esfera estatal, a falta de instrumentos adequa- how e licença de patentes, agora a situação havia dos e de estrutura organizacional, agravada pelas mudado. conseqüências da recessão e da instabilidade econô- E, como a simples transferência de tecnologia mica, fazia com que as políticas do governo se mos- entre países concorrentes tornava-se cada vez mais trassem pouco efetivas nas áreas de capacitação tec- difícil, era mister desenvolver uma capacitação tec- nológica e garantia de qualidade e produtividade. nológica endógena, que assegurasse o desenvol- Com experiência acumulada nesse campo, o IEL vimento sustentável e a inserção do país no novo buscou adaptar-se às novas exigências, com a for- cenário mundial. Outro fator que contribuiu para di- mulação de projetos de apoio às pequenas e médias ferenciar a nova conjuntura econômica das anterio- empresas e de capacitação de recursos humanos ne- res foi o advento da automação, que se refletia, nos cessários à gerência. Lançou nessa época o Progra- países desenvolvidos, nas taxas de emprego. ma de Competitividade Industrial (IEL-CI), com duas 117
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    112. Alunos da linhas de ação convergentes. A primeira, referente buscavam a criação de ambientes propícios que, vol- Universidade de Brasília (UnB) participantes do aos produtos tecnológicos de base física, abrangia tados para a constante melhoria da qualidade indus- Projeto Bolsas de Iniciação técnicas relativas à utilização de máquinas, instala- trial, disseminassem informações sobre o acesso à Tecnológica (Bitec) Fotografia ções e equipamentos progressivamente mais avan- tecnologia e à capacitação gerencial. O IEL pretendia çados. Enquadravam-se nesse grupo: Normalização; induzir as empresas a buscar lucros mediante novas Informação Tecnológica Industrial; Incubadoras e formas de gestão. No concernente às Relações de Condomínios Tecnológicos. Trabalho, passou a promover cursos voltados para A Normalização referia-se à informação, habili- a formação de negociadores e de administração de tação e aplicação das normas técnicas, sobretudo a greves, beneficiando os representantes das indús- ISO-9000, a processos, produtos e serviços. A Infor- trias com a aquisição da habilidade para negociar. mação Tecnológica dizia respeito ao acesso a bases Ainda, como parte do Programa de Competitivi- de dados, nacionais e internacionais, sobre proces- dade Industrial, o instituto, juntamente com o Senai, sos, produtos, patentes e tecnologias. A Informática Sebrae e CNPq, deu início ao projeto Bolsa de Inicia- Industrial tratava da criação de condições favoráveis ção Tecnológica (Bitec), objetivando a transferência à implantação, operação e manutenção de sistemas de conhecimentos da universidade para a indústria, flexíveis de produção. E as Incubadoras e os Condo- com aplicação direta no setor produtivo. Voltado prio- mínios Tecnológicos consistiam em estratégias de ritariamente para as indústrias de pequeno e médio apoio às empresas de base tecnológica, por meio da interação com as universidades. A segunda linha era voltada para as técnicas de aprimoramento da organização e gestão do proces- so industrial. Integravam esse grupo: Estágios e Vi- sitas Técnicas à Indústria; Administração Industrial; Cursos e Ações em Relações de Trabalho. Com isso, pretendia-se também neutralizar a indiferença, ou mesmo a resistência, daqueles que deveriam ser be- neficiados pelo acesso a novas tecnologias. O Estágio Supervisionado,3 a mais antiga ativida- de regular do IEL, deixou de constituir um programa isolado, e integrou-se ao IEL-CI. A pesquisa realizada junto às indústrias, em 1989, pela Coordenação de Es- tudos e Pesquisas do Núcleo Central, contribuiu para promover uma evolução nas habituais atividades de estágio. As ações na área de Administração Industrial 118
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    portes, o Bitecestimula a participação de estudantes, e qualidade; reciclagem de matéria-prima; controle 113. Aluna do último ano do curso de química, em com bom desempenho acadêmico, no aperfeiçoa- de qualidade; recursos humanos; racionalização de estágio na fábrica de latas, mento tecnológico da indústria; o engajamento de energia; normalização e administração de materiais; Brasília, DF Miguel Ângelo professores e pesquisadores interessados na atuali- prevenção de acidentes de trabalho e sistemas de Fotografia zação tecnológica; a formulação e o desenvolvimen- informação gerencial. Formalizado por meio de um to de projetos de interesse da indústria cuja meta era Protocolo de Ação Institucional, foi criado, em 1992, a melhoria da qualidade e da produtividade. o Programa Educação pela Qualidade (PEQ), resulta- No âmbito do Ministério de Ciência e Tecnolo- do da parceria do IEL com cerca de quarenta institui- gia (MCT), o governo lançou, em 1991, o Programa ções públicas e privadas. de Apoio à Competitividade e Difusão Tecnológica Ao mesmo tempo, realizava-se no Rio de Janeiro (PCDT), cujas linhas de apoio a incubadoras e par- a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Am- ques tecnológicos deveriam contribuir para ampliar biente e o Desenvolvimento – a Eco 92, que, abrindo a capacidade nacional no domínio de tecnologias espaços para a discussão de uma série de temas vin- voltadas para a produção. culados direta ou indiretamente à produção indus- Nesse mesmo ano, o IEL instituiu o Plano Nacio- trial, contou com a participação do Sistema Indústria nal de Interação Indústria-Universidade, que enfa- – CNI, federações, Senai, Sesi e IEL. tizava o significado prioritário do apoio a projetos Em convênio com o Serviço Brasileiro de Apoio que visassem ao desenvolvimento tecnológico da às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e com as indústria, respeitadas as peculiaridades regionais. Na secretarias estaduais de Indústria e Comércio, o IEL época, o advento das Comissões Setoriais represen- iniciou, em 1992, a elaboração do Diagnóstico do tou um avanço em relação às ações das Comissões Setor Industrial, que, reunindo dados sobre diversos Paritárias, ficando as recém-criadas Comissões Regio- aspectos relativos à atividade industrial, tinha como nais responsáveis pela adequação destas últimas às objetivo otimizar os serviços prestados aos industriais. realidades geográficas específicas. O Programa Ofi- O resultado do trabalho foi submetido à avaliação de cinas de Produção (POP), que abrigava projetos com uma Comissão de Integração, coordenada pelo então ênfase nos aspectos vinculados à tecnologia, passou, superintendente do IEL, Oswaldo Vieira Marques.4 em 1991, a prestar apoio às articulações entre os seg- Fruto de um acordo de cooperação entre a Secre- mentos industrial e universitário mantidas pelos nú- taria de Desenvolvimento Regional da Presidência cleos regionais. da República (SDR/PR) e a CNI, foi criada, ainda nesse A iniciativa logo sensibilizou indústrias – nos ramos mesmo ano, a Comissão Mista Permanente,5 cuja fi- da construção civil, de confecções, da metal-mecâni- nalidade era minimizar a sobreposição de ações do ca, de material elétrico etc. – e várias universidades governo e da iniciativa privada. Com o Núcleo Cen- federais. Entre os temas considerados prioritários pe- tral do IEL à frente de sua secretaria executiva, a refe- las indústrias e sindicatos, constavam: produtividade rida comissão elaborou um documento para o biênio 119
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    114. Movimento “Caras- 1993-1994, que tratava da realização dos projetos de o país e deixavam os brasileiros descrentes e com a pintadas”, pelo impeachment de Fernando Collor Interiorização da Formação Profissional e Educação auto-estima combalida. Fotografia, 1992 pela Qualidade. A primeira fase do novo governo foi pontuada Todo esse esforço desenvolvido pelo IEL aconte- por escândalos no Poder Legislativo, provocados por cia em um momento de desestabilização do país. atos de corrupção cometidos por membros da co- A reação negativa às medidas impostas aos peque- missão responsável pelas aplicações dos recursos da nos e médios investidores seria apenas o prenúncio União. Como resultado do trabalho de CPI instaura- de polêmicas que contribuiriam para desgastar o da no Congresso Nacional, foram indiciados diversos governo. Além de não alcançar as metas previstas parlamentares que, devido à baixa estatura, ficaram no plano econômico, o presidente da República conhecidos como “os anões do Orçamento”. Apesar envolveu-se em um enorme escândalo de corrup- disso, o presidente procurou realizar um governo ção. O Esquema PC – assim chamado em alusão ao transparente e tranqüilo, tão almejado pela socieda- coordenador da campanha presidencial Paulo Cé- de brasileira. sar Faria – seria manchete em todos os órgãos da No âmbito do IEL, foi firmado, em janeiro de imprensa, inclusive naqueles que haviam apoiado a 1993, o acordo CNI-MEC-Crub – Confederação Na- candidatura Collor. cional da Indústria, Ministério da Educação e Conse- Depois de a Comissão Parlamentar de Inquérito lho de Reitores das Universidades Brasileiras –, que (CPI) ter conseguido provar irregularidades a ele previa a realização de ações com vista à definição atribuídas, Collor, seriamente ameaçado, incitou a dos formatos dos cursos acadêmicos e à redução dos população a se mobilizar em apoio ao seu manda- desperdícios e da distância entre os sistemas edu- to. Contrariamente, em manifestação de repúdio ao cacionais e a produção. Em julho do mesmo ano, foi governo, milhares de jovens invadiram as ruas das assinado o Protocolo de Ação Interinstitucional para cidades brasileiras com os rostos pintados de verde, a execução do Programa Educação pela Qualidade amarelo e preto, no movimento que ficou conheci- (PEQ). Com isso tiveram início muitos projetos volta- do como “caras-pintadas”. Logo em seguida, o Con- dos para o ensino fundamental, a formação profissio- gresso Nacional aprovou o impeachment, que auto- nal, a pesquisa e o desenvolvimento, o meio ambien- rizava a deposição do presidente e sua substituição te e o combate ao analfabetismo. pelo vice. Em 22 de dezembro de 1992, o manda- Marcada pelo fortalecimento de parcerias como to presidencial foi suspenso, e Fernando Collor de forma privilegiada de atuação, a visão de que a edu- Mello teve os direitos políticos cassados por oito cação constitui insumo básico para o desenvolvi- anos. O então vice-presidente Itamar Franco assu- mento levou a que o PEQ fosse tratado como o gran- miu a Presidência em um momento difícil da histó- de programa do IEL à época. Como exemplo de ação ria do Brasil: recessão, inflação em alta e desempre- bem-sucedida nesse campo, destaca-se o Ensino a go eram alguns dos problemas que prejudicavam Distância, que, promovido em convênio com a Supe- 120
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    rintendência da ZonaFranca de Manaus (Suframa), contribuiu para melhorar a qualidade de vida de co- munidades da região amazônica. Outra iniciativa importante do período foi o Pro- grama de Apoio à Inovação e ao Empreendedorismo – Programa IEL Empreendedor, que, contando com parceiros como Ministério da Indústria, Comércio e Turismo (MICT), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien- tífico e Tecnológico (CNPq) e Financiadora de Estu- dos e Projetos (Finep), buscava disseminar a cultura empreendedora nos municípios. Em abril de 1993, cumprindo o previsto na Consti- tuição, o governo fez um plebiscito para a escolha da forma e do sistema de governo a serem instituídos no Brasil. O povo decidiu manter tudo como estava: entre monarquia e república, a última recebeu 66% dos votos; o presidencialismo ficou com 55% dos vo- globalização da economia, passavam a conviver com 115. Capa do Programa Nacional de Estímulo tos, contra 25% para o parlamentarismo. sintomas de retrocesso, como a multiplicação de na- à Formação de Em 1994, o IEL implantou o Projeto Pégasus, como cionalismos xenófobos e crises socioeconômicas que Empreendedores – Escola de Empreendedores Pégaso, um mecanismo efetivo de articulação entre as ativi- adquiriam contornos diferenciados em cada país. 1994 dades de ensino, pesquisa e produção. A convicção No Brasil, as perspectivas do momento eram alvis- 116. Cartaz em era de que o jovem, ao sair da universidade, deveria sareiras. Criada pelo economista Edmar Bacha e ad- comemoração aos 25 anos do IEL, 1994 ter capacidade de implementar seu próprio negócio, ministrada pelo então ministro da Fazenda Fernando cabendo à sociedade não somente tornar essa esco- Henrique Cardoso, entrava em vigor a mais bem-su- lha possível como oferecer-lhe as condições para a cedida estratégia de controle inflacionário da Nova ampliação de suas chances de sucesso. República – o Plano Real, cuja unidade referencial de Na esfera internacional, a reorganização do capi- valor (URV), equivalente a US$ 1, era desvinculada talismo na era da globalização, aliada à crise política da moeda vigente, o cruzeiro real. Posteriormente, a desencadeada com a decadência do bloco socialista, URV, com o nome de “real”, se tornaria a nova moeda impôs a “implementação de inúmeros elementos que brasileira. O plano proporcionou o aumento do po- reproduzem, nos seus traços essenciais, o receituário der de compra dos brasileiros, o controle da inflação neoliberal” (ANTUNES, 2001: 236). Tendências pro- e contribuiu para elevar o índice de popularidade de gressistas, decorrentes dos avanços tecnológicos e da Itamar Franco, que conseguiu fazer o seu sucessor. 121
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    Beneficiado pelo êxitodo plano econômico, Fer- sequilíbrios salariais fruto da alta inflação que domina o nando Henrique Cardoso, eleito presidente com uma país e da crise fiscal” (BRESSER PEREIRA, 1998, p. 183). expressiva vitória, assumiu o cargo em 1º de janeiro de 1995. Na época, os debates no país concentra- Faziam-se críticas inclusive à Constituição de 1988, vam-se principalmente na necessidade de moderni- focalizadas no que se qualificou de “mitos burocráti- zação do aparelho estatal, para enfrentar os desafios cos”, tais como estabilidade, plano de carreira e iso- impostos pela economia globalizada, e na reformula- nomia, que, além de funcionarem como desestímulo ção do sistema educacional brasileiro, que, além das à construção de hierarquias baseadas no mérito, im- deficiências históricas, tornava-se incapaz de prover pediam a flexibilidade da máquina administrativa e a formação de recursos humanos qualificados para reduziam as possibilidades de que esta se adequasse atender às demandas dos setores produtivos. à dinâmica da economia. As justificativas para o ajuste do aparelho estatal Essas considerações subsidiaram o Plano Diretor desenvolviam-se em dois níveis: o teórico, apoiado da Reforma do Aparelho do Estado, que, datado de nas teses vigentes sobre o novo estágio do desen- novembro de 1995, estabeleceu as diretrizes para a volvimento capitalista e nas reformas em curso em implantação de uma administração pública geren- outros países; e o conjuntural, que funcionava como cial. Inspirada nos ideais da racionalidade iluminis- resposta às freqüentes crises de governabilidade ta, nas reformas levadas a cabo na Grã-Bretanha6 na agravadas, no país, no início dos anos 1990. Preten- década de 70 e na experiência da administração de dia-se empresas privadas, a reforma foi intitulada social- liberal: fortalecer estrategicamente o Estado colocando-o no controle das políticas públicas, exercendo funções re- social porque continuará a proteger os direitos sociais gulatórias onde o mercado não o faz e respondendo e a promover o desenvolvimento econômico; liberal com agilidade às demandas sociais (BRESSER PEREIRA, porque o fará usando mais os controles do mercado e 1997, p. 24). menos os controles administrativos, porque realizará os seus serviços sociais e científicos principalmente atra- As análises sobre a realidade político-institucional vés de organizações públicas não-estatais competitivas, brasileira à época chamavam a atenção para o patri- porque tornará os mercados de trabalho mais flexíveis, monialismo e para a corrupção que, no governo Collor, porque promoverá a capacitação dos seus recursos hu- havia atingido um patamar extremo. Considerava-se manos e de suas empresas para a inovação e a competi- também a ineficiência do aparelho estatal, que deri- ção internacional (BRESSER PEREIRA, 1997, p. 18). vava “diretamente do burocratismo combinado, ainda que de maneira decrescente, com o clientelismo”. A situ- Além da delimitação do tamanho e do papel do ação do Estado brasileiro agravava-se devido aos “de- Estado, buscava-se a recuperação de sua capacidade
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    financeira e administrativa.Apesar dos projetos A estrutura da educação profissional passava en- 117. Itamar Franco, presidente da República, realizados pelo Ministério da Administração Federal e tão a ser constituída pelos níveis básico, destinado à passa a faixa a Fernando Reforma do Estado (Mare), a redefinição institucional qualificação e reprofissionalização de trabalhadores; Henrique Cardoso em 1º de janeiro de 1995 somente seria contemplada pela Emenda da Reforma técnico, voltado para a habilitação profissional de Eraldo Peres Fotografia Administrativa de 1998.7 alunos do ensino médio; e tecnológico, correspon- Quanto à questão educacional, em Mensagem ao dente a cursos superiores na área tecnológica para Congresso, o chefe do Executivo apresentou dados alunos oriundos do ensino médio e técnico. dramáticos sobre a situação brasileira. Por esse diag- Seguindo as recomendações da Comissão Econô- nóstico, concluía-se que a baixa qualidade do ensino mica para a América Latina (Cepal), o Ministério do era conseqüência da falta de condições materiais, Trabalho, em articulação com diversas instâncias da de capacitação para as atividades docentes e de co- sociedade, criou o Plano Nacional de Educação Pro- nhecimentos atualizados sobre o processo ensino- fissional (Planfor), dirigido a grupos que apresenta- aprendizagem. Além disso, a formação deficiente vam dificuldades para ingressar no mercado de tra- e má remuneração dos professores, a precariedade balho ou manter um vínculo empregatício. dos prédios escolares, a insuficiência de material de Nesse estágio do desenvolvimento mundial, cha- apoio dificultavam, ou mesmo impediam, a concreti- mado por alguns autores de pós-capitalista, o conhe- zação de políticas estáveis de educação. cimento acumulado e a gestão estratégica tornavam- Essas constatações contribuíram para acelerar a se mais importantes para o crescimento econômico aprovação, em dezembro de 1996, da nova Lei de do que o simples treinamento da mão-de-obra e o Diretrizes e Bases da Educação.8 Com relação à for- investimento em fábricas e máquinas. Nesse contex- mação profissional, a lei estabelecia que “o ensino to, a inovação, assumindo um papel preponderante, médio, atendida a formação geral do educando, pode- passava a depender da chamada tríplice hélice, ou ria prepará-lo para o exercício de profissões técnicas”.9 seja, da relação universidade-empresa-governo. A regulamentação10 dos dispositivos da LDB definiu que a educação profissional de nível tecnológico se- É praticamente certo que a nova sociedade será não- ria “correspondente a cursos de nível superior na área socialista e pós-capitalista (...) e que seu principal re- tecnológica, destinados a egressos do ensino médio e curso será o conhecimento. Isso também significa que técnico”, e que ela deverá ser uma sociedade de organizações. Em po- lítica, já deixamos os quatrocentos anos de soberania os cursos de nível superior, correspondentes à edu- do Estado-nação para um pluralismo em que ele não cação profissional de nível tecnológico, deveriam ser mais será a única unidade de integração política. Será estruturados para atender aos diversos setores da eco- um componente – embora ainda importante – daqui- nomia, abrangendo áreas especializadas, e conferindo lo que chamo de ‘forma de governo pós-capitalista’, 11 Diploma de Tecnólogo. um sistema no qual competem e coexistem estrutu- 123
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    118. Carlos SérgioAsinelli, ras transnacionais, regionais, de Estados-nações e até promover uma revisão da atuação das entidades do superintendente do IEL de 1996 a 2003 mesmo tribais (DRUCKER, 1999, p. XIII). Sistema Indústria de forma a adaptá-las aos requisi- Fotografia, 1997 tos da nova era. No Brasil, a tese de redefinição do Estado havia O IEL já vinha ganhando terreno no cotidiano uni- produzido os primeiros frutos: no campo político, a versitário por meio da oferta de bolsas de iniciação ampla reforma e enxugamento do aparelho estatal tecnológica, do engajamento de pesquisadores em e, no plano social, a redefinição da sociedade civil, projetos de desenvolvimento tecnológico e também com o fortalecimento do chamado Terceiro Setor,12 da participação na criação de incubadoras de empre- que, constituído por organizações sem fins lucrativos sas. Em ações conjuntas com o Senai e as federações e não governamentais, deveria gerar serviços de ca- estaduais, o instituto, reafirmando seu papel no Sis- ráter público. Essas estratégias levaram à fixação de tema Indústria, passou a divulgar os benefícios da um novo paradigma político-social, orientado pela Pedagogia da Qualidade Total (PQT). instrumentalidade, adaptabilidade e busca de con- Para os industriais, o desenvolvimento econômi- senso. co do país dependia de um conjunto de reformas e Eram novos tempos: com a implantação do Pla- de políticas públicas que possibilitasse a diminuição no Real, havia-se conseguido controlar a inflação, do custo Brasil, tornasse o crédito mais barato e ge- melhorar o poder aquisitivo da população e, conse- rasse condições para o aumento da escolaridade do qüentemente, ampliar o mercado interno. O clima trabalhador. Competitividade era então a palavra de de tranqüilidade política e econômica abria novas ordem e a condição necessária para se disputar espa- perspectivas para o setor produtivo, que se prepara- ços no mundo globalizado, que exigia uma diminui- va para retomar o crescimento. Medidas de apoio à ção dos custos operacionais por meio da utilização micro e pequena empresa, bem como à entrada de de novos processos tecnológicos e de trabalhadores capital estrangeiro, atraído pelas privatizações de qualificados. empresas estatais nos setores industrial, de infra-es- Ao mesmo tempo que apoiava a reforma do Esta- trutura e de serviços, constituíam indicadores positi- do e do ensino superior, o IEL incorporava o discurso vos para o setor industrial. da qualidade, da competitividade e da empregabili- Nessa época, coincidindo com a gestão de Fer- dade, entendidas como parte das demandas nacio- nando Luiz Gonçalves Bezerra,13 que substituiu Mário nais, sendo que as idéias centradas na tecnologia e Amato na presidência da CNI,14 a tríade educacional formação iriam determinar as ações da entidade ao do Sistema Indústria sofreria profundas transforma- longo da década de 90. De acordo com o pensamen- ções. O novo presidente da confederação trouxe to então vigente no instituto, não bastava simples- para o IEL uma proposta inovadora que, baseada mente exercer influência nas ações das universidades no desenvolvimento tecnológico e no aumento da e dos centros de pesquisa, era preciso direcionar a competitividade do produto brasileiro, tratava de produção de conhecimento, gerado principalmente 124
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    com recursos públicos,para o atendimento dos inte- Conselho Superior do instituto foi aberto à parti- 119. Inauguração da nova sede do Núcleo Central do resses estratégicos da indústria brasileira. cipação de representantes de entidades parceiras, IEL, Brasília, DF. Da esquerda Um esforço nesse sentido, envolvendo diversas externas ao Sistema Indústria, tais como o Conselho para a direita: Tom Rabello, Carlos Sérgio Asinelli, Carlos instituições empresariais, acabou por influir nas uni- de Reitores das Universidades Brasileiras, o Serviço Eduardo Moreira Ferreira, versidades e por consolidar parcerias com agências Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, o Fernando Bezerra Miguel Ângelo governamentais. Como conseqüência do trabalho Ministério da Educação, o Ministério do Desenvolvi- Fotografia, 1997 desenvolvido em defesa de universidades prestado- mento, Indústria e Comércio e o Ministério de Ciên- ras de serviços, conceitos como empreendedorismo, cia e Tecnologia. incubadoras de empresas e empresas juniores pas- O instituto ocupava espaços e articulava ações no saram a fazer parte do jargão e do currículo das uni- contexto das universidades públicas como jamais ha- versidades. via conseguido. Ao mesmo tempo que o discurso do Essas idéias modernizadoras, que redefiniam empreendedorismo ganhava corpo, os programas papéis e práticas de atuação, iriam produzir mudan- de qualidade e competitividade passavam a orientar ças no IEL, sobretudo a partir da posse do novo su- ações, pesquisas e planos de ensino. A partir de 1997, perintendente da entidade, Carlos Sérgio Asinelli,15 a transferência do Núcleo Central do IEL para Brasília em 1996. Os primeiros tempos da nova gestão fo- imprimiria modificações também em relação aos nú- ram dedicados ao planejamento estratégico. Assu- cleos regionais. mindo a função de articulador e de prestador de Com o intuito de estreitar os laços entre a produ- serviços para todo o Sistema Indústria, o instituto ção e a academia e disseminar na segunda os valo- passou a oferecer consultorias e a buscar novas par- res da livre empresa, o instituto editou, em conjunto cerias, e seus núcleos regionais adquiriram maior com várias instituições de ensino, uma série de publi- autonomia no desenvolvimento e execução de pro- cações sobre o tema universidade-empresa. O apoio jetos específicos. das empresas para a produção e edição permitiu ao Além de estabelecer maior aproximação com IEL a distribuição gratuita de obras que contempla- o Senai, o Sesi e entidades mantenedoras do IEL, o vam seus objetos de ação. Além disso, visando obter 125
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    120. O IELingressa maior agilidade na circulação da informação, o IEL efetivamente na era virtual Fotografia ingressou efetivamente na era virtual. A Internet tor- nava-se importante veículo de suporte para compras 121. Capa do Programa Informação Mercadológica e e vendas, e também um fator de visibilidade no mer- Comércio Eletrônico cado. Para isso, o IEL lançou o Programa Informação 122. Capa do Plano Mercadológica e Comércio Eletrônico, cuja finalida- Estratégico 1999 – 2010 de era repassar para os industriais informações sobre como utilizar essa ferramenta. de Estudantes em Ciências Econômicas e Sociais Nessa mesma época, com base na experiência (Aiesec) e com o Sebrae, que visava ao intercâmbio do trabalho realizado até então pelos núcleos regio- entre estudantes brasileiros e estrangeiros. nais, o IEL estabeleceu padrões e normas de recru- Na esfera federal, foi criado, em novembro de tamento, acompanhamento, supervisão e avaliação 1997, pelo Ministério da Educação (MEC) em parce- de estagiários, procedimentos que passaram a inte- ria com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), grar o Modelo de Estágio Supervisionado. Um passo o Programa de Expansão da Educação Profissional adiante nesse rumo foi dado quando da assinatura (Proep), com o objetivo de desenvolver ações inte- de um convênio com a Associação Internacional gradoras entre ensino e trabalho, e entre ciência e tecnologia. Tratava-se da implantação de um novo modelo de educação profissional que proporcionas- se ampliação de vagas, diversidade de oferta e defini- ção de cursos adequados às exigências da moderna tecnologia e do mundo do trabalho. O marco inicial do Proep16 foi o acordo de financiamento assinado entre o governo brasileiro e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Em 1999, o governo criou o Fórum Permanente das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte,17 o qual, regulamentado no ano seguinte,18 deveria funcionar como um espaço de debates e conjugação de esforços entre o governo e o setor privado para a consecução de ações e políticas orientadas para as pequenas e médias empresas. Com base nos cenários previstos para o país, o IEL concebeu o Plano Estratégico 1999-2010, que traça- va um novo perfil para a entidade. 126
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    Resultado da parceriaentre a CNI e o Sebrae, o Integravam esse conjunto o Estágio Supervisiona- Programa de Apoio à Competitividade das Micro e do, voltado para o aprimoramento da formação do Pequenas Indústrias (Procompi) passou, em 1999, futuro profissional; as Bolsas de Iniciação Tecnológi- a apoiar projetos que, concebidos pelas federações ca, coordenadas em parceria com o CNPq e o Sebrae; estaduais e pelos núcleos regionais do IEL, visavam e as Bolsas de Apoio ao Comércio Exterior, que conta- capacitar as indústrias brasileiras para enfrentar as vam com o apoio da Agência Brasileira de Promoção exigências dos mercados nacional e internacional. de Exportação e Investimentos (Apex). Mais de mil pequenas e microempresas seriam bene- À medida que a qualidade ia sendo cada vez mais ficiadas, com resultados relevantes, principalmente incorporada como item imprescindível ao processo na redução das disparidades regionais. produtivo e gerencial das empresas, o IEL ampliava Em relação ao tema Desenvolvimento Integrado, suas ações no sentido de despertar nos empresários estimava-se que o Brasil alcançaria altos níveis de uma visão estratégica dos empreendimentos, capaz desenvolvimento econômico e maior integração à de antecipar vantagens competitivas e oportunida- economia internacional, combinada com uma me- des de mercado. Consolidando-se como entidade lhor qualidade de vida, expressa em índices mode- voltada para empresas e empresários, o instituto pas- rados de pobreza e satisfatórios indicadores sociais, sou a priorizar a gestão da inovação e o empreende- em desconcentração regional e em baixo impacto dorismo em prol da competitividade. ambiental. Enquanto o Estado assumiria o papel de As linhas de atuação do instituto desdobravam- indutor e regulador ativo, as universidades e insti- se então em projetos estratégicos, entre os quais o tuições tecnológicas deveriam adotar uma postura Projeto de Inovação em Desenvolvimento Tecnoló- mais dinâmica e propícia à interação. As empresas, gico Regional, que tinha como objetivo monitorar por sua vez, teriam que aumentar sua participação e difundir as experiências inovadoras de desenvol- na geração e difusão do conhecimento. Haveria um vimento e estimular a implantação e consolidação fortalecimento da articulação entre indústrias e dessas iniciativas nas diversas regiões do país. De- universidades, com presença crescente de institui- senvolvido em parceria com a Associação Nacional ções estaduais mediadoras. A idéia-força era “Edu- de Entidades Promotoras de Empreendimentos Ino- cação e conhecimento para a competitividade” (IEL, vadores (Anprotec),19 o projeto consistia no apoio a 1999, p. 14). incubadoras, parques tecnológicos e Arranjos Pro- No que tange ao Crescimento Endógeno, a eco- dutivos Locais (APLs), por meio da cooperação com nomia do Brasil seria articulada, de forma moderada, centros de excelência setoriais e de missões técnicas à economia internacional, garantindo-se a dinamiza- especializadas. ção do mercado interno. Nesse caso, a idéia-força era Embora antiga em termos de atividade produ- “Educação e conhecimento para o desenvolvimento tiva, a estratégia dos novos APLs foi inspirada nos social” (IEL, 1999, p. 15). conglomerados e distritos industriais europeus da 127
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    123. Marcas doInternational década de 1970, principalmente da região Nordeste lho: estágios, pesquisas, programas de capacitação, Institute for Management (IMD), Insead e Wharton da Itália, onde se concentravam pequenas e médias encontros de negócios, além de estímulo à inovação School, centros internacio- empresas. Os APLs e transferência de tecnologia. nais de excelência, parceiros do IEL em processos de ges- A par disso, o IEL promoveu uma ampla abertura, tão da inovação e estratégias para o desenvolvimento são aglomerações de empresas localizadas em um estruturando e consolidando laços de cooperação mesmo território, que apresentam especialização pro- com centros internacionais de excelência, voltados dutiva e mantêm vínculos de articulação, interação para os processos de gestão da inovação e estratégias e cooperação entre si e com outros atores locais, tais para o desenvolvimento. Essa colaboração permitiu a como governo, associações empresariais, instituições realização de estágios, com a vinda de estudantes do de crédito e de ensino e pesquisa (HANSEN, 2005). exterior para empresas brasileiras, e vice-versa. Entre esses centros, destacam-se a Université de Technolo- Data dessa época o início do esforço de promover gie de Compiègne (UTC), o Conservatoire National des maior intercâmbio entre os núcleos regionais e traçar Arts et Métiers (CNAM) e os Centres Régionaux pour diretrizes gerais comuns para todos. Com o objetivo l’Innovation et le Transfert de Technologie (CRITTs), na de transferir para o conjunto das unidades do IEL as França; o Instituto Catalão de Tecnologia (ICT), na Es- experiências regionais bem-sucedidas, foram estru- panha; o International Institut for Management (IMD), turadas as macrolinhas de ação estratégica, entre as na Suíça, e a Organização das Nações Unidas para o quais a referente aos Novos Talentos para a Indústria. Desenvolvimento Industrial (Onudi), em Viena. Diante da impossibilidade de oferecer boas condi- Outra ação, esta em conjunto com o Ministério ções para todos, tratava-se de criar oportunidades da Educação (MEC) e a Coordenação de Aperfeiço- para os talentos que, capazes de multiplicar resul- amento de Pessoal de Nível Superior (Capes), foi a tados, pudessem gerar condições favoráveis para o Graduação Sanduíche, em que, após um amplo pro- crescimento de outros. cesso de seleção, os melhores alunos de engenharia Durante esse período, o instituto incorporou, de eram escalados para cursar o quarto ano no exterior. forma mais efetiva, os conceitos da globalização a Esse programa contribuiu para desenvolver parâme- suas atividades, intensificando a constituição de par- tros de comparação entre os cursos brasileiros e os cerias nacionais e internacionais nas frentes de traba- oferecidos no exterior. 128
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    O IEL integrou-seainda ao Programa de Estímulo No campo do empreendedorismo, as ações do 124. Empresas beneficiadas pelo Programa Incubadora ao Retorno de Talentos (Pert), que, lançado pelo MEC IEL seguiram duas direções: a promoção de uma cul- de Empresas em 1995, destinava-se a doutorandos brasileiros no tura empreendedora e a capacitação empresarial. Fotografia, 1996 exterior que, tendo concluído os créditos, ainda não No primeiro caso, foram contemplados o Projeto de haviam iniciado a tese. O Sistema Indústria passou a Empreendedorismo nas Instituições de Ensino, cuja financiar a vinda desses estudantes para um mês de meta era difundir essa cultura nos cursos de gradua- imersão em setores industriais, com a perspectiva de ção das universidades brasileiras, e o Projeto de Mo- oferta de emprego caso o foco do trabalho fosse de dernização das Universidades, que visava ao aperfei- interesse daqueles segmentos específicos. çoamento dos currículos universitários de forma a No âmbito da macrolinha Inovação e Transfe- adequá-los às necessidades da indústria. Buscava-se rência de Tecnologia, foi desenvolvida uma série de ainda premiar as instituições que apresentassem os ações, que tiveram como parceiros estratégicos a As- melhores programas de empreendedorismo, apoiar sociação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e a estruturação de empresas juniores junto às uni- Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei) e a As- versidades e divulgar, por meio de programas de sociação Brasileira dos Institutos de Pesquisas Tecno- educação a distância, experiências mundiais bem- lógicas (Abipt). E foi instituído o Programa de Capa- sucedidas. citação e Intercâmbio de Experiências Internacionais No segundo, foram desenvolvidas várias ações, de Sucesso em Interação Universidade-Indústria, entre as quais o Programa Conselheiros Master, ado- que posteriormente daria origem à Rede de Tecno- tado em núcleos regionais a partir de 1996. Com o logia (Retec), plataforma informatizada de gestão da apoio do Sebrae, procurava-se estimular os empre- oferta e demanda por informações e serviços. sários de sucesso a disponibilizarem algumas ho- 129
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    125. Armando Monteiro, ras semanais de consultoria às pequenas e médias financiar a realização de encontros empresariais de presidente da CNI, Luíz Inácio Lula da Silva, empresas.20 Cursos, palestras, seminários e missões negócios, notadamente vinculados a setores estraté- presidente da República e técnicas, no Brasil e no exterior, em parceria com as gicos para o desenvolvimento industrial brasileiro. Eduardo Campos, governador do Estado de melhores escolas de negócio do mundo – o Interna- Em âmbito federal, foi aprovado, em dezembro de Pernambuco, em visita a uma escola do Senai, tional Institute for Management Development (IMD), 2000, o Programa de Estímulo à Interação Universida- Petrolina, PE na Suíça, e o Institut Européen d’Administration des de-Empresa para Apoio à Inovação,21 que tinha como Miguel Ângelo Fotografia, 4 de setembro de Affaires (Insead), na França –, serviam para elevar a objetivo estimular o desenvolvimento tecnológico 2007 competitividade das empresas brasileiras. brasileiro mediante programas de pesquisa científica A capacitação empresarial era buscada ainda por e tecnológica. Os recursos para os projetos decorren- meio de alianças com os principais mestrados bra- tes desse programa seriam geridos pelo Fundo Verde sileiros em Administração de Negócios – Master in Amarelo (FVA).22 Por outro lado, a desvalorização do Business Administration (MBAs). Essas ações tinham real, as crises internacionais, as deficiências adminis- como principais projetos estruturais: Capacitação trativas como a que levou à crise de abastecimento Empresarial para Micro e Pequenas Empresas, que, de energia elétrica – o “apagão” de 2001 – e princi- em parceria com o Sebrae, era desenvolvido pelos palmente o fraco crescimento econômico durante o núcleos regionais do IEL; Globalizing the Brazilian segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso Corporation in the 21st Century, programa de educa- concorreram para fortalecer a oposição ao governo. ção executiva realizado no IMD; e Gestão Estratégica Depois de derrotado nas três eleições anteriores, para Dirigentes Empresariais, no Insead. Luiz Inácio Lula da Silva candidatou-se à Presidência O IEL veio intensificando a interação entre a indús- da República, em 2002, com um discurso moderado. tria e os centros de conhecimento, de modo a cons- E, fazendo novos acordos políticos e prometendo cientizar o empresariado brasileiro para o empreen- ortodoxia econômica, respeito aos contratos e o re- dedorismo e a inovação nas empresas. Os cursos de conhecimento da dívida externa do país, acabou por Capacitação Empresarial oferecidos pelo instituto, conquistar a confiança de parte do empresariado e que desempenham papel estratégico no aumento de camadas de renda média. Seu modo simples e di- da competitividade industrial e no desenvolvimen- reto de se dirigir ao eleitorado ajudou-o a angariar to sustentável do Brasil, têm sido imprescindíveis votos entre as classes populares. Eleito com uma no combate às principais causas da mortalidade de significativa vitória, Lula assumiu a Presidência em empresas, tais como a falta de conhecimentos sobre janeiro de 2003, tendo como vice o senador mineiro gestão de negócios e de informações estratégicas e empresário do setor têxtil José Alencar Gomes da para tomada de decisões. Costa, do Partido Liberal, com o qual o Partido dos No âmbito do Programa AL-Invest, criado pela Co- Trabalhadores havia feito aliança. missão Européia em 1993, foi instituído o Eurocentro A primeira mensagem presidencial enviada ao de Cooperação Empresarial IEL Brasil, que passou a Congresso enfatizava o compromisso do governo
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    com o desenvolvimentopor meio da inovação, ex- 126. Cartaz do projeto IEL- Apex, 2002 presso no capítulo Ciência e Tecnologia para o De- senvolvimento Nacional. 127. Logomarca de promoção da Cooperação Empresarial entre Europa e América Latina, 2001 Os gastos em C&T serão tratados não como custos correntes, mas como investimento num futuro melhor para o país. A grande meta instrumental dessa política será aumentar progressivamente o porcentual do PIB aplicado em P&D, saltando de 1% para algo próximo de 2% ao final do mandato do atual governo.23 Como medida concreta, foi criada a Rede Brasil de Tecnologia (RBT),24 que, propiciando uma interação eficiente entre governo, empresas, agentes financei- ros, universidades e centros de pesquisa, destinava- se a promover a tecnologia nacional e executar uma política ativa de substituição seletiva de importações. De acordo com o ministro de Ciência e Tecnologia da época, Roberto Amaral, a política de substituição seletiva de importações sig- nifica introduzir valor e inovação à produção industrial brasileira para que ela se torne mais competitiva no mercado internacional e possa produzir peças e equi- pamentos que hoje são importados.25 Na época, a expectativa da CNI era de que a ex- pansão do projeto Rede Brasil de Tecnologia, con- templando os principais arranjos produtivos, preen- chesse adequadamente o nicho da substituição de importações. Em 2003, pretendendo atuar na formu- lação de estratégias sobre matérias de interesse da indústria e da economia brasileira, a CNI criou o Fó- rum Nacional da Indústria, “que mobilizou dezenas de 131
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    128. Carlos RobertoRocha organizações empresariais e centenas de empresários Finalmente, depois da elaboração dos manuais, foi Cavalcante, superintendente do IEL a partir de dezembro para uma reflexão conjunta sobre o futuro da indústria possível dar início à capacitação de equipes para a de 2003 e do país” (CNI, 2005, p. 9). Tratava-se, então, de apro- implementação desses programas. Miguel Ângelo Fotografia fundar as questões sobre os Em dezembro de 2004, o governo federal criou a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial 129. Reunião de estagiários Fotografia, 2006 objetivos, metas e programas capazes de consolidar (ABDI),26 com a missão de promover a execução da o Brasil como uma economia competitiva, inserida na Política Industrial do Brasil, em consonância com as sociedade do conhecimento e base de uma das princi- diretrizes para as áreas de comércio exterior e de ci- pais plataformas da indústria mundial: inovadora, com ência e tecnologia. Nesse mesmo ano, a convite do capacidade de crescer de forma sustentável, com mais ministro da Educação, Tarso Genro, o Sistema Indús- e melhores empregos (CNI, 2005, p. 9). tria – CNI, federações de indústria, IEL, Senai e Sesi – participou dos debates sobre a reforma da edu- Em dezembro de 2003, assumiu a superintendên- cação superior, em que apresentou o documento cia do IEL o engenheiro Carlos Roberto Rocha Caval- Contribuição da Indústria para a Reforma da Educação cante. Por orientação do presidente da CNI, Armando Superior: “A contribuição da indústria está acima de de Queiroz Monteiro Neto, os primeiros anos da nova gestão seriam dedicados à consolidação institucio- nal, por meio da transformação da rede de núcleos regionais em um sistema presente e bem articulado nas 27 unidades da federação. Como conseqüência dessa política foi criada a unidade do IEL em São Pau- lo, reestruturado o escritório do Rio Grande do Sul e promovida a constituição formal do núcleo do Rio de Janeiro. Respaldada por uma reflexão sobre a missão e a estratégia institucional e pela análise crítica dos programas realizados pelos diversos núcleos, a nova gestão empreendeu os primeiros passos em dire- ção à construção do planejamento sistêmico do IEL. Primeiramente foram selecionados os programas e ações regionais que poderiam ser replicados. Deco- dificadas as respectivas metodologias geradoras, fo- ram discutidos os aperfeiçoamentos e as adequações necessárias para sua aplicação em âmbito nacional. 132
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    preconceitos e deinteresses particulares. O Sistema CNI 130. Presidente Armando Monteiro Neto entrega ao espera ser esse locus de construção do futuro do Brasil, ministro da Educação, Tarso Genro, propostas do setor cujo pilar é a Educação” (CNI, 2004, p. 7). produtivo para a reforma do ensino superior Fotografia, novembro de 2004 A proposta esboçava seis grandes desafios: insti- tuir novo marco regulatório para avaliar o desempe- nho das Instituições de Ensino Superior (IESs); imple- mentar um processo de autonomia no conjunto das universidades; desenvolver pesquisa básica e aplica- da, cuja utilidade social e econômica estivesse vin- culada ao ”projeto de nação”; aperfeiçoar os critérios de credenciamento e de avaliação praticados pelo sistema de educação superior; estabelecer padrões educacionais compatíveis com a sociedade da infor- mação e do conhecimento; ampliar a oferta de edu- cação superior na área tecnológica. No documento sublinhava-se a necessidade de que se estabelecesse gionais”. E enfatizava-se a “adequação dos conteúdos uma relação estreita entre conhecimento, educação programáticos da educação superior aos requisitos da e desenvolvimento. sociedade do conhecimento e a disseminação de uma cultura empreendedora em todos os níveis educacio- A informação e o conhecimento passaram a ser as ba- nais” (CNI, 2004, p. 26; 35). ses fundamentais para o desenvolvimento. A indústria No que concerne à implementação de padrões vive um processo de transformação no qual os seus educacionais compatíveis com a sociedade da infor- principais ativos deixaram de ser máquinas e prédios mação e do conhecimento, a CNI reafirmou a neces- e passaram a se concentrar em ativos intangíveis como sidade da interação empresa-universidade, por meio capital humano, capacidade de executar processos e da implantação de incubadoras nas universidades, de inovar (CNI, 2004, p. 9). da oferta de estágio e da geração de conhecimento voltado para a inovação tecnológica e para a gestão Além disso, em virtude da necessidade de melhor empresarial. Para a ampliação da oferta de educação adequar o ensino superior às realidades regionais, no superior a distância, os industriais prontificaram-se a documento defendia-se “a flexibilização da obrigato- apoiar o MEC na construção da Universidade Aberta riedade da Universidade aplicar-se a Ensino, Pesquisa e do Brasil. Extensão, permitindo que se dedique àquelas funções Em 2005, a CNI publicou o Mapa Estratégico da mais ligadas à sua vocação, recursos e necessidades re- Indústria: 2007-2015,27 no qual era proposto um sis- 133
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    131. Paulo AfonsoFerreira, tema de gestão que pudesse garantir o acompanha- mico. A única opção para a indústria brasileira era tor- diretor-geral do IEL a partir de 2008 mento periódico da evolução dos indicadores dos nar-se de classe mundial. No rastro dessas convicções, Fotografia objetivos estratégicos definidos pelo Fórum Nacional o governo promulgou, em dezembro desse mesmo 132. Apresentação dos da Indústria. Além disso, resultado de um cuidadoso ano, a chamada Lei de Inovação,28 que dispunha sobre mapas estratégicos do Sistema Indústria. Da direita processo de elaboração da comunidade industrial, incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnoló- para a esquerda: Alexandre no documento destaca-se a educação e o conheci- gica no ambiente produtivo. Buscava-se, assim, Furlan, Carlos Cavalcante, Antônio Carlos Brito Maciel, mento como os pilares críticos e determinantes para Regina Torres e Carlos o aumento da competitividade e da capacidade de estimular e apoiar a constituição de alianças estraté- Aragão Fotografia, 1º de agosto de inovação das empresas. gicas e o desenvolvimento de projetos de cooperação 2006 As convergentes opiniões entre os industriais e o envolvendo empresas nacionais, centros de ciência e governo apoiavam-se no pressuposto de que tanto o tecnologia e organizações de direito privado sem fins conhecimento deveria servir como instrumento para lucrativos voltadas para atividades de pesquisa e de- a competitividade como era necessária uma estreita senvolvimento, que objetivassem a geração de produ- articulação entre educação e desenvolvimento econô- tos e processos inovadores. 134
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    133. Capas doMapa Estratégico da Indústria 2007-2015 e do novo Estatuto do IEL, 2006 134. Coleção O Futuro da Indústria, da série Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior, lançada em 2004 E concediam-se a direção-geral passou a ter seu titular escolhido por eleição pela Assembléia Geral da entidade.31 Com recursos financeiros, humanos, materiais ou de infra- isso, Armando de Queiroz Monteiro Neto, presidente estrutura, a serem ajustados em convênios ou contra- da CNI, foi sucedido, em 2008, por Paulo Afonso Fer- tos específicos, destinados a apoiar atividades de pes- reira na direção-geral do IEL. quisa e desenvolvimento, para atender às prioridades Em consonância com o Mapa Estratégico da In- da política industrial e tecnológica nacional.29 dústria, uma nova visão do planejamento estratégico do IEL promoveu o alinhamento das estratégias da Para que o potencial econômico da produção entidade com as metas do Sistema Indústria. Com científica brasileira fosse inteiramente desenvolvi- o foco no aperfeiçoamento da gestão e capacitação do e aproveitado pela sociedade, eram necessárias dos empresários e gestores, o IEL passou a consoli- ações que fortalecessem o ciclo de inovação e o am- dar linhas de atuação dirigidas ao desenvolvimento biente atual, com a criação dos Fundos Setoriais e o empresarial, à inovação e ao empreendedorismo, va- debate em torno da Lei de Inovação. Com esse obje- lorizando a autonomia de gestão de suas unidades tivo, a CNI instituiu, em 2005, o Fórum Brasil de Ino- regionais, com diretrizes sistêmicas, mas respeitando vação, que, mobilizando dezenas de organizações e as peculiaridades de cada região. empresários, abriu espaços para uma reflexão sobre Por meio da metodologia do Balanced Scored Card o futuro da indústria no Brasil. (BSC), foi elaborado, em 2006, o Mapa Estratégico do Em 2006, o IEL ganhou um novo estatuto que, IEL: 2007-2010, destacando como missão do instituto além de oficializar e regulamentar a participação de “promover o aperfeiçoamento da gestão e a interação representantes de entidades externas ao Sistema entre as empresas e os centros do conhecimento, contri- Indústria no Conselho Superior, alterou a forma de buindo para a competitividade da indústria brasileira”, preenchimento do cargo de diretor-geral. Até então dentro da visão prospectiva de “ser referência nacio- exercida automaticamente pelo presidente da CNI,30 nal no aperfeiçoamento da gestão, na capacitação em- 135
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    135. Promoção da presarial e na interação entre as empresas e os centros Plataforma Brasil-Europa, 2005 de conhecimento”. Esse instrumento deu respaldo à atuação sistêmica, fazendo com que a entidade fosse adquirindo uma nova dinâmica e, portanto, condi- ções de atingir patamares mais ousados no cumpri- mento de sua missão. Em 2006 começaram a ser operacionalizadas as co- missões de planejamento do Sistema IEL, em versões criar funções voltadas para o mercado, que possibili- regionais e nacional, que passariam a acompanhar a tassem a capacitação da equipe técnica, a dissemina- gestão estratégica da instituição, com indicadores e ção de boas práticas e maior integração dos núcleos objetivos comuns. Na dinâmica de funcionamento, regionais. A ênfase em resultado e sustentabilidade os líderes escolhidos pelas Comissões Regionais de levou, em 2007, ao estabelecimento da Rede IEL de Planejamento (CRPs) apresentam à Comissão Nacio- Mercado, cuja idéia-força, voltada para as ações de- nal de Planejamento (CNP) propostas e prioridades mandadas pelo mercado, visa à maior competitivida- estabelecidas nas reuniões de acompanhamento es- de empresarial. tratégico das cinco regiões, com o objetivo de definir Destacou-se no período o esforço de construção e construir programas sistêmicos. A criação dessas de um sistema baseado na adesão voluntária, no res- comissões foi um passo importante na consolidação peito às singularidades regionais, na valorização do e fortalecimento do Sistema IEL. Ao mesmo tempo coletivo sobre o individual, na complementaridade que se constroem programas nacionais, preservam- às ações do Sesi, Senai, de federações, sindicatos e da se ações específicas para atender às necessidades e CNI. Era o início de um processo sistêmico de gestão vocações de cada estado e região. fortemente focada em sustentabilidade institucional Com essa transformação, os núcleos regionais e financeira. passaram a monitorar seus objetivos com o BSC, fer- O instituto empreendeu programas de educa- ramenta empregada na gestão de indicadores estra- ção a distância que, voltados para a capacitação de tégicos sistêmicos. Com isso, cada regional passou a colaboradores do Sesi, Senai, CNI, federações e do introduzir os resultados dos indicadores no sistema, próprio IEL, tenderiam a maximizar a integração do comparando sua performance com a do conjunto trabalho das várias entidades do Sistema Indústria. dos núcleos regionais. O modelo de gestão estabe- Foram também envidados esforços para a capaci- leceu o comprometimento de cada regional com o tação de equipes na gestão de projetos, conferindo resultado global do sistema. prioridade à qualidade da prestação de serviços. Após a realização de workshops para a definição Em 2007, o presidente da República reeleito, Luiz de objetivos, produtos, serviços e processos, foi ob- Inácio Lula da Silva, iniciou seu segundo mandato. servada a necessidade, em todo o Sistema IEL, de O significativo apoio popular, aliado a uma política 136
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    externa de vocaçãohumanista, fez com que o go- tituições que têm interesse em promover parcerias 136. Maria do Carmo Ferreira da Silva, a Kaká, presidenta verno brasileiro se fizesse mais respeitado no cená- industriais com o Brasil. da Mesorregião dos Vales do rio internacional. Com o intuito de reduzir desigualdades, o gover- Jequitinhonha e do Mucuri (Mesovales), uma das Inserido no contexto da globalização, o Brasil no federal deu ênfase também a planos e programas idealizadoras da Unidade de Comercialização de partiu para a recuperação política e comercial do regionais de desenvolvimento. Com o Ministério da Artesanato, Minas Gerais Mercosul, reforçando e ampliando as relações com Integração Nacional (MI), o IEL implementou na me- Nélio Rodrigues Fotografia, 2007 os vizinhos, visando a uma efetiva integração da re- sorregião dos vales do Jequitinhonha e do Mucuri32 gião, inclusive por meio de obras de infra-estrutura. – considerada uma das mais carentes do país – proje- Além disso, os interesses do país passaram a ser de- tos nas áreas de apicultura; aqüicultura e piscicultura; fendidos em todas as instâncias de negociação, des- fruticultura; cachaça artesanal; madeira e confecção de a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) até a de móveis; além de gemas e artesanatos de pedra.33 Organização Mundial do Comércio (OMC). A iniciativa, em fase de conclusão, visa estimular em- Na interação do Brasil com o mundo, o IEL criou preendimentos produtivos capazes de dinamizar a e operou a Plataforma Brasil-Europa, que nasceu de atividade econômica na região, com foco nos micro um convênio firmado com CNI, Sesi e Senai. Orienta- e pequenos empreendedores. Respeitando-se a cul- da para a formação de pontos de apoio, chamados tura e a vocação regionais, foram planejadas ações de “antenas”, a plataforma aproxima pessoas e ins- capazes de organizar pessoas e instituições locais e 137
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    137. APL deconfecção em criar uma ambiência cooperativa, dotando os pro- fortalecimento da imagem e da identidade cultural São João Nepomuceno, MG Fotografia, 2007 dutores de instrumentos adequados de gestão dos da região. negócios. A crise energética de 2001 veio reforçar a preo- Outra ação com foco no empreendedorismo so- cupação governamental, que se traduziu na Lei de cial e aumento da competitividade de micro e pe- Eficiência Energética,34 cuja regulamentação foi ini- quenos negócios, o projeto piloto Empreende Cul- ciada com os motores elétricos. Antecipando-se às tura, desenvolvido pelo IEL em parceria com o Sesi, novas diretrizes legais referentes a transformadores estimula a aproximação da indústria com agentes de distribuição, a CNI, o IEL e a Eletrobrás desenvol- culturais de diferentes regiões e sua capacitação para veram, mediante convênio, o Projeto Qualidade e Efi- gerar diferenciais competitivos na produção artesa- ciência Energética dos Transformadores de Distribui- nal e industrial local. Essa estratégia inovadora para o ção, com o objetivo de modernizar e aprimorar esses desenvolvimento regional busca aproximar, das em- equipamentos, muitos dos quais com acentuados presas integrantes de APLs, ações desenvolvidas nos níveis de perda de energia. Além de garantir padrões pontos de cultura, usando como elemento indutor o mínimos de segurança, qualidade e eficiência dos 138
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    138. Inauguração doIEL-SP, em 24 de abril de 2007. Da esquerda para direita: Paulo Afonso Ferreira, Armando Monteiro, Paulo Skaf e Carlos Cavalcante, São Paulo. Miguel Ângelo transformadores, o projeto incluiu a regulamentação Fotografia e etiquetagem,35 o que contribuiu para aumentar a 139. Capa da revista Interação, julho 2007 competitividade da produção nacional desses equi- pamentos e a qualidade dos serviços de distribuição de energia, benefícios que são estendidos às cadeias produtivas demandantes de energia elétrica. Também em parceria com a Eletrobrás, o IEL pas- sou a contribuir com a capacitação de agentes indus- triais de nível médio em otimização energética de sistemas motrizes. Apoiado em consultoria do Senai, tornou acessível para os trabalhadores mais simples publicações técnicas sobre esses sistemas. Para tan- to, foram elaborados, em linguagem fácil e objetiva, 11 guias técnicos. Cerca de 1 milhão e 200 mil alunos já passaram O Projeto Eficiência Energética na Indústria foi ao pelos programas de estágio do IEL. Com 50.952 em- encontro das iniciativas governamentais sistemati- presas parceiras e 11.714 instituições de ensino con- zadas pelo Programa Nacional de Conservação de veniadas, o programa é atualmente oferecido nos Energia Elétrica (Procel) e pelo Programa de Desen- escritórios regionais do IEL, entre os quais o de São volvimento Tecnológico e Industrial (PDTI). Paulo que, inaugurado em abril de 2007, marca a pre- Nesta nova fase da instituição, o tradicional pro- sença do IEL em todo o Brasil. grama de estágio passa por mudanças demanda- Como forma de difundir experiências vencedoras, das pelo mercado. Com o objetivo de construir uma foi lançado em 2007, com base em experiências bem- identidade nacional e fortalecer sua imagem, o IEL sucedidas realizadas em alguns núcleos regionais, a conclui, em 2008, o Sistema de Gestão de Estágio versão nacional do Prêmio IEL Melhores Práticas de (SGE), uma ferramenta que sistematiza os proces- Estágio, que ocorre anualmente em duas etapas: es- sos e procedimentos do programa, proporcionando taduais e nacional. Na primeira e segunda edições, mais controle e agilidade das ações e aprimorando a do conjunto de empresas inscritas em cada estado interação entre as escolas, os estagiários, as empre- participante foram escolhidos três finalistas nas ca- sas e o instituto. tegorias micro e pequena empresa, média empresa 139
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    140. Ganhadores doPrêmio e grande empresa. Os vencedores estaduais concor- o programa, que em sua primeira edição capacitou IEL Melhores Práticas de Estágio, área de alimentação rem na etapa nacional. mais de 2.200 empresários, entra em sua segunda Miguel Ângelo O Prêmio IEL Melhores Práticas de Estágio, que edição, com apoio das melhores instituições de en- Fotografia, dezembro de 2007 surgiu da preocupação com a qualidade das experi- sino superior do país, oferecendo cursos técnicos ou ências realizadas pelos alunos, prioriza práticas que de pós-graduação nas áreas de gestão de projetos, apresentam resultados consistentes para as empre- produção, finanças, administração, marketing e re- sas. A premiação tornou-se, assim, um instrumento cursos humanos, incluindo conteúdos adequados às para a modernização dos programas, indo ao encon- necessidades das cadeias produtivas e ao desenvol- tro das mudanças constantes da lei de estágio apro- vimento de uma visão empresarial sistêmica. Progra- vada em 2008.36 ma similar, em parceria com o Ministério da Ciência e Além da tradicional e cada vez mais intensa inte- Tecnologia (MCT) e Sebrae, foi concebido pelo IEL e ração com os centros de conhecimento por meio de inicia sua primeira versão, desta feita com ênfase em programas de bolsas e estágios, o IEL amplia e aper- gestão da inovação. Serão capacitados 3.900 micro e feiçoa significativamente sua atuação no desenvolvi- pequenos empresários. mento empresarial, promovendo a articulação insti- A Educação Executiva ampliou seus programas, tucional e a capacitação empresarial como condições firmando parcerias com centros internacionais de re- fundamentais para a competitividade das indústrias. ferência na educação para os negócios. Funcionando Assim, o IEL Nacional e seus núcleos regionais têm em sintonia com as demandas empresariais, o pro- ocupado cada vez mais espaço no cenário brasileiro grama, destinado a altos executivos responsáveis por relacionado à melhoria da gestão empresarial e da decisões estratégicas no exercício de suas funções, inovação. As oportunidades de mercado nesse cam- tem facilitado a ida de gestores à Wharton School, da po e a experiência acumulada pelo Sistema IEL, alia- Universidade da Pensilvânia, e ao Insead, localizado das à sua capilaridade, ensejam uma atuação mais em Fontainebleau, França, e em Cingapura, institui- consistente, sistêmica e integrada, no sentido de ções que estão entre as melhores escolas de negócios consolidar sua posição competitiva nesse mercado. do mundo. O conteúdo dos programas centra-se em Na Educação Empresarial, o IEL ampliou, em temas variados, como gestão empresarial, estratégia, parceria com o Sebrae, o Programa de Capacitação liderança e inovação, incluindo o debate de casos de para Micro e Pequenas Empresas, que, voltado so- sucesso no contexto específico dos negócios. bretudo para aquelas localizadas no interior do país Para complementar o atendimento na Educação e vinculadas aos APLs, visa neutralizar a tendência Empresarial, o IEL utiliza o suporte da educação a dis- de as pequenas empresas brasileiras morrerem nos tância, uma forma de ensino-aprendizagem que faz primeiros anos de vida, por insuficiência de recursos uso da educação on-line e do treinamento baseado ou de qualificação dos empreendedores. Com base em Web, para auxiliar empresários e gestores de mi- em propostas elaboradas pelos núcleos regionais, cro e pequenas empresas. 140
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    Aliado à EducaçãoEmpresarial, o IEL vem de- senvolvendo também programas de consultorias a indústrias no sentido de garantir a competitividade dos negócios, seja de empresas isoladas ou inseridas em arranjos produtivos locais ou em cadeias produ- tivas. Dentre as iniciativas para vencer esses desafios, está o lançamento, em 2007, do Programa IEL Desen- grama Integrado de Desenvolvimento e Qualificação 141. Wharton School, campus da Universidade da volvimento e Qualificação de Fornecedores (PQF), de Fornecedores (Planfor) do IEL/ES e no Programa Pensilvânia, Estados Unidos em âmbito nacional. Baseado em experiências bem- de Qualificação de Fornecedores (PQF) do IEL/GO, e sala de aula do Insead, Fontainebleau, França sucedidas nos núcleos regionais, sobretudo o Pro- foi adotada uma metodologia flexível capaz de se Fotografia adaptar às especificidades de cada estado e região 142. Material de divulgação do país. O programa visa a qualificar as micro e pe- do Programa de Qualificação de Fornecedores (PQF) quenas empresas fornecedoras para atenderem a demandas das grandes indústrias, aumentando a competitividade das principais cadeias produtivas mediante a qualificação da rede de fornecedores. Busca ainda a melhoria da interação entre a empre- sa compradora-âncora e sua cadeia de suprimentos, elevando o grau de conectividade empresarial e de- senvolvendo competências em pontos considerados críticos para o sucesso da cadeia produtiva. Cada dia mais, a inovação tecnológica vem sendo fator de sobrevivência e elemento-chave para o su- cesso das empresas brasileiras diante da concorrên- cia internacional. Acreditando que inovação se faz com informação, articulação e conhecimento, o IEL ampliou seu apoio à indústria brasileira com progra- mas especialmente concebidos para o seu desenvol- vimento e competitividade. A inovação é entendida pelo IEL em seu aspecto tecnológico, mas também como apropriação e utili- zação do conhecimento sobre novas formas de pro- dução e comercialização de bens e serviços, e sobre novos modelos de organização, gestão e negócio. 141
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    143. Apresentação doMapa Estratégico da Indústria: documento que norteam os objetivos do IEL José Paulo Lacerda Fotografia, 2007 A inovação é o instrumento específico dos empreen- elas próprias possam empreender, de forma direta, dedores, o meio pelo qual eles exploram a mudança esse diálogo. como uma oportunidade para um negócio diferente Outra importante iniciativa de incentivo à ino- ou um serviço diferente (...) Os empreendedores pre- vação nos negócios foi o lançamento do Programa cisam buscar, com propósito deliberado, as fontes de IEL Gestão da Inovação, integrado por três objetivos inovação, as mudanças e seus sintomas que indicam principais: estímulo ao protagonismo empresarial; oportunidades para que uma inovação tenha êxito. capacitação interna, voltada para os técnicos do E os empreendedores precisam conhecer e pôr em próprio IEL, e externa, por meio de cursos e eventos prática os princípios da inovação bem-sucedida (DRU- destinados aos empresários, inclusive com a produ- CKER, 2008, p. 25). ção de um guia de gestão da inovação; e prestação de serviços em gestão da inovação, com o desenvol- Assim, o IEL passou a estimular os núcleos regio- vimento e a otimização de metodologias. nais a sensibilizarem as empresas e a desenvolverem Com base em levantamentos da Pesquisa Indus- um trabalho para que estas pudessem compreender trial de Inovação Tecnológica (Pintec) e do Instituto o processo da inovação e seu caráter estratégico. Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que de- Essa forma de atuação visa capacitar as empresas monstraram a modesta participação brasileira no para desenvolverem seus próprios caminhos e me- depósito de patentes, o IEL lançou, em 2006, o Pro- canismos de relacionamento com áreas de fomento grama de Propriedade Intelectual para a Indústria. do governo, universidades e outras empresas com Em convênio com Instituto Nacional de Propriedade as quais possam desenvolver parcerias em inova- Industrial (INPI) e o Senai, o instituto deu início à im- ções. Com isso, na sua missão de interação entre as plantação de núcleos de atendimento às indústrias universidades e as empresas, o IEL tem desenvolvido com o objetivo de disseminar nacionalmente o zelo um processo de capacitação das empresas, para que pela propriedade intelectual, o que contribui para 142
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    resguardar o direitode criação, combater a pirataria e analisar tendências, cenários, políticas e ações ins- e incentivar o registro de marcas e patentes. Ilustra titucionais que causam impacto na indústria, além os frutos colhidos dessa iniciativa a obtenção de re- de desenvolver prospecções que contribuam para o gistro de indicação geográfica para produtos dos desenvolvimento industrial sustentável; Rede de Es- arranjos produtivos de madeira e móveis, no Acre, e tudos para o Desenvolvimento Industrial (Redi), res- cachaça, na Paraíba. ponsável por produzir informações que subsidiem a Ainda com foco em inovação, o IEL deu início à formulação de projetos, programas e políticas para construção da Rede de Articulação de Competências promoção do desenvolvimento industrial brasileiro para o Desenvolvimento Industrial e Tecnológico, ou por meio de estudos sobre a política industrial, tec- simplesmente Rede de Competências (Redecomp). nológica e de comércio exterior; e a Rede Integrada O projeto, de abrangência nacional, coordenado de Serviços para a Indústria (Risi), plataforma capaz pelo núcleo central do IEL e realizado em parceria de gerenciar uma base estruturada de serviços e com a Finep, a CNI, o Senai, federações de indústrias conhecimento para o setor industrial, contribuindo e núcleos regionais, foi criado para potencializar o para reduzir barreiras ao compartilhamento de in- desenvolvimento da indústria brasileira, por meio formações e promover o aumento da competitivida- da inteligência competitiva, da partilha de informa- de das empresas. ções, da leitura ambiental e de tendências, da cons- A interação entre indústrias e instituições ligadas trução de cenários futuros e da gestão da oferta e à ciência, tecnologia e inovação – motivo pelo qual demanda de serviços para a indústria. o IEL foi criado em 1969 – está fortemente presen- A Redecomp veio para subsidiar tanto o plane- te na razão de existir da instituição até a atualidade. jamento de empresas e setores produtivos como a Por meio dessa interação é ampliada a capacidade formulação de ações, programas e políticas focados das empresas para inovar, e aberto o caminho para no desenvolvimento industrial. Criando um ambien- o aumento da produtividade e modernização dos te inovador de aprendizagem e cooperação entre o negócios. meio empresarial, o governamental e os centros de A promoção dessa interação, missão institucional conhecimento, a rede tem o compromisso de con- do IEL, prepara os empresários para vencer os desa- tribuir ainda para a superação de desafios estratégi- fios presentes e futuros. Somente por meio do diá- cos da indústria. Foi, assim, concebida para articular logo aberto e trabalho conjunto das indústrias com competências existentes dentro e fora do Sistema In- outras instituições, poder-se-á elevar a competitivi- dústria, além de organizar e produzir informação es- dade da indústria brasileira, melhorar a qualidade de tratégica que possibilite a gestão do conhecimento. vida da população e preparar o Brasil para responder A Rede de Competências foi estruturada em três às exigências do mercado global, contribuindo assim linhas de ação: Rede de Observatórios para o Desen- para o projeto de país sonhado pelo Sistema Indús- volvimento Industrial (Rodi),38 destinada a monitorar tria e expresso no Mapa Estratégico da Indústria. 143
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    Avanços e desafios sofiased 145
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    Nos últimos temposo Brasil conseguiu estabilizar que o país está atualmente mais preparado para en- 144. Feixe de fibra ótica Fotografia a economia, manter o princípio da responsabilidade frentar as adversidades. Página 144 fiscal, reduzir a dependência de financiamento ex- Para o economista André Biancareli,2 “o Brasil está 145. A ferramenta terno, ampliar substancialmente sua participação no menos vulnerável do que na segunda metade dos anos estratégica da Vallée, inteligência competitiva, foi comércio internacional, obter superávits recordes da 90, por exemplo (...) mas a aversão ao risco dos investi- o diferencial para a expansão balança comercial e criar um ambiente favorável para dores internacionais”3 deve fazer com que haja menos Luciano Leal, fevereiro de 2008 Fotografia investimentos. O desafio agora seria, aproveitando o financiamento externo ao país nos próximos meses, momento favorável do país, estimular o crescimento o que significa certa dificuldade para dar andamento do Produto Interno Bruto (PIB) e do emprego, inten- aos grandes programas de infra-estrutura. sificando a inclusão social e a melhoria na distribui- O ex-ministro da Fazenda, Antônio Delfim Netto, ção de renda. assim se manifestou sobre a crise: “Vamos pagar o pre- Mas, no final de 2008, o mundo se viu envolto ço da retração do mundo, mas estamos em condições em uma grande turbulência econômica que che- um pouquinho melhores que os outros e infinitamente gou a ser comparada à quebra das bolsas de Nova melhor do que estivemos no passado”.4 De acordo com York em 1929. Trata-se de uma crise estrutural que Ricardo Araújo, despertou reflexões sobre o capitalismo e o papel do Estado. para o Brasil as conseqüências de uma recessão nos Diferentemente de outras épocas, o Brasil apre- Estados Unidos são pontuais, como o aumento do dó- senta melhores condições de lidar com as adversida- lar e o encarecimento do crédito no exterior. Quando des impostas pela economia internacional. Embora tudo se acalmar, os investidores vão procurar países alerte para os fatores domésticos com potencial de em crescimento para investir, como é o caso do Brasil criar problemas no futuro, o Financial Times1 afirma e da China.5 147
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    Considerando essa perspectivamais otimista, Por sua vez, a Petrobras é respeitada mundial- como se daria o crescimento daqui para frente? Se- mente pelo desenvolvimento e a inovação tecnoló- gundo a visão de especialistas, a única forma de cres- gica, sobretudo na exploração de petróleo em águas cer neste mundo complexo passa por uma releitura profundas e na produção de combustíveis alterna- do cenário econômico e pelo desafio de as empresas tivos. Em 2006, com o início da produção da plata- adotarem uma prática de gestão que leve em conta o forma P-50, na bacia de Campos, o Brasil atingiu a indivíduo, seu senso crítico e sua criatividade. auto-suficiência em petróleo. No ano seguinte, a petroleira foi classificada como o sétimo maior pro- A atual crise do sistema financeiro internacional é a dutor de petróleo do mundo, e em 2008 conquistou fase mais crítica do processo de transição da socieda- o primeiro lugar, no ranking elaborado pela Mana- de industrial para a sociedade do conhecimento (...) Vi- gement & Excellence, como referência mundial em vemos uma realidade complexa, para o qual os instru- ética e sustentabilidade, considerando vários indi- mentos em vigor não servem. Temos que reconhecer a cadores internacionais, entre os quais emissão de interdependência do mundo atual. Todas as soluções poluentes, vazamento de óleo, baixo consumo de para a crise passam por interação (GUIMARÃES, 2008). energia etc. Como mais um exemplo do sucesso nacional em Novas formas de gestão, empreendedorismo e inovação iniciado a partir do investimento público, inovação destacam-se ainda mais como conceitos tem-se a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), válidos não somente para resistir à desaceleração com quase 40 anos de experiência em projeto, fabri- mundial como para enfrentar a nova fase do desen- cação, comercialização e pós-venda de aviões, e ex- volvimento capitalista que se anuncia. pressiva presença no mercado internacional. Nos setores da economia brasileira em que a ino- E o Brasil continua investindo no campo da inves- vação é amplamente reconhecida, o investimento tigação científica e tecnológica. Depois de instituir a público esteve na gênese desse avanço. Com respeito Rede de Apoio a Planos de Reestruturação e Expan- às telecomunicações, os serviços e pesquisas come- são das Universidades Federais (Reuni),6 o governo çaram a ser realizados por empresas públicas, esta- criou, no âmbito do Programa Expandir, novas uni- duais e federais, posteriormente reunidas no chama- versidades federais em várias cidades-pólo no interior do Sistema Telebrás, empresa gestora dos recursos do do país, das quais quatro estão sendo construídas: Fundo para Universalização do Sistema de Telecomu- Universidade Federal do ABC (UFABC), Universida- nicações (Fust). Administrando uma extensa malha de Federal do Pampa (UFP), Universidade Federal da de fibras óticas, implantadas nas torres da Eletronet Grande Dourados (UFGD), Universidade Federal do e redes da Petrobras, a Telebrás viabiliza uma grande Recôncavo Baiano (UFRB). E outras seis, resultado da infovia que permitirá a inclusão digital de populações transformação de faculdades isoladas preexistentes, assentadas em localidades remotas do país. estão sendo implantadas no Triângulo Mineiro, no 148
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    Paraná, no Semi-Árido,nos vales do Jequitinhonha e Postula-se que o Estado brasileiro precisa não 146. Plataforma 51, Petrobrás Mucuri, em Alfenas e em Porto Alegre. A meta é que apenas injetar dinheiro, mas sobretudo criar políticas Felipe Dana a reforma universitária possibilite a abertura de 125 de estímulo à inovação. E que o avanço nesse campo Fotografia, 9 de dezembro de 2008 mil novas vagas, nos próximos cinco anos. deveria se dar em três frentes: alocação de recursos Apesar disso, o país ainda tem um longo percur- nas empresas, permitida por lei desde 2001;7 cons- so a trilhar no campo da inovação. Segundo a edição cientização das universidades e centros de pesquisa mais recente do Global lnformation Technology, um sobre o seu papel na produção de inovação; e de- estudo do Fórum Econômico Mundial, o Brasil per- senvolvimento de políticas de incentivo, como enco- deu posições no ranking da tecnologia, ficando atrás mendas tecnológicas, isenções fiscais etc. de países como Jordânia, Malásia, Chile e Arábia Sau- Mesmo os Fundos Setoriais não estão conseguin- dita. O documento compara o impacto da tecnologia do incentivar a geração de processos e produtos ino- da informação e das comunicações no processo de vadores nas empresas, pois grande parte dos recursos desenvolvimento e de competitividade de países. disponíveis nesses fundos é apropriada pelas univer- 149
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    sidades e instituiçõesde pesquisas, mais preparadas da evolução dos indicadores dos objetivos traçados, 147. Aviões Embraer 170 e 190 para atender às exigências dos editais públicos. que possibilitou corrigir ações e alterar rotas, alme- jando superar os desafios propostos para 2015. O país precisa encontrar o ‘caminho das pedras’ e isto demanda um conjunto de investimentos para reforçar O ambiente industrial vem apresentando crescentes a estrutura institucional e científica construídas ao lon- níveis de exigência e de complexidade no trabalho, em go dos anos, e mais ainda, para integrá-las ao aparato função da velocidade e profundidade com que vêm produtivo – seja por meio da interação com as empre- sendo incorporadas inovações tecnológicas e novas sas, seja pelos spin-offs, seja pela absorção dos profis- formas de organização da produção. As competên- sionais acadêmicos no quadro de recursos humanos cias dos trabalhadores geradas e mobilizadas nesse das empresas – visando reforçar a infra-estrutura de contexto tendem a se modificar constantemente. São P&D e a própria inovação gerando não só um ambien- valorizadas competências (...) específicas e de gestão, te para que sejam formados novos empreendedores, atitudes relacionadas à iniciativa, criatividade, solução mas também para atrair empreendedores inovadores de problemas e autonomia e valores relacionados à (CORDER, 2004, p. 188). ética e responsabilidade (CNI, 2005, p. 33). Como forma de participação ativa nos debates e No que concerne especificamente à questão edu- ações em torno do tema, o Fórum Brasil de Inovação cacional, no documento afirma-se: da Confederação Nacional da Indústria (CNI) definiu metas e programas capazes de consolidar o Brasil elevar a qualidade da educação básica permitirá ao como uma economia competitiva, inserida na socie- país aumentar o estoque de capital humano com efei- dade do conhecimento e, principalmente, dotada de tos diretos nas estratégias da indústria para melhorar a um sistema de gestão para o acompanhamento de produtividade e a qualidade e estimular a atividade de sua implementação. Segundo diagnóstico do fórum, inovação nas empresas. de um lado, o setor produtivo precisa enfrentar um sistema tributário obsoleto, um déficit de infra-estru- Quanto ao ensino superior, “os conteúdos acadê- tura básica e tecnológica, um financiamento caro e micos devem ser reformados para incluir habilidades e inadequado e, principalmente, uma educação defa- novas competências (...) orientados à utilização prática sada e ineficiente; de outro, precisa se qualificar para dos conhecimentos teóricos” (CNI, 2005, p. 32). Além a economia do conhecimento e investir nas fontes disso, foi recomendada a promoção do empreende- que favoreçam a capacidade de inovação das em- dorismo na educação, o que implica presas. Uma das principais contribuições do evento, cujos resultados foram resumidos no Mapa Estraté- desenvolver valores para criar a prática de comporta- gico da Indústria 2007-2015, foi o acompanhamento mentos individuais na busca de soluções e iniciativas 151
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    148. Coopnatural, na gestão do próprio negócio, na participação e orga- ção dos empreendimentos que as cercam. Trata-se cooperativa de confecção de roupas feitas com algodão nização das formas de geração de renda e emprego e de criar condições para que empresas, de todos os colorido, Paraíba na condição de cidadão ativo, como empreendedor portes, setores e regiões do país, modernizem seus Fotografia social (CNI, 2005, p. 34). sistemas de gestão e capacitem os trabalhadores empresários. O país só poderá crescer no mundo globalizado Com isso, a atuação do IEL tem sua importância se a maioria de suas empresas conseguir avançar em ampliada pois, além de estimular a cultura empreen- termos de capacidade de gestão e agregação de tec- dedora, a entidade estimula ambientes propícios a nologia. Mas o Brasil apresenta contrastes: empresas inovações nas empresas. de excelência internacional convivem lado a lado O IEL, por meio do núcleo regional do Paraná, com outras que sequer estão inseridas no processo participa anualmente do Global Entrepreneurship para atingi-la. Não inovam, não desenvolvem ações Monitor (GEM-Brasil), que faz o mapeamento nacio- na área de tecnologia, não estudam o mercado, nem nal do setor e fornece informações para o GEM-Inter- fazem planejamento estratégico. national, documento que consolida os dados de 33 Os industriais participantes do fórum entende- países. ram que, embora a competitividade da indústria bra- Segundo avaliação feita pela GEM, em 2004 o Bra- sileira dependa de questões macroeconômicas, esta sil constituía o segundo maior país empreendedor resulta principalmente dos sistemas de gestão e ino- entre todas as nações pesquisadas, perdendo apenas vação. Enquanto as pequenas e micro empresas que para os Estados Unidos. E, a cada ano, contabilizam- investiram em inovação e tiveram como foco a mo- se novos empresários, com diferentes perfis e carac- dernização da gestão estão conseguindo se manter terísticas peculiares, que apresentam negócios pró- competitivas, a despeito da existência de entraves prios. No entanto, a falta de condições como logística econômicos, as que têm negócios lucrativos mas não de transporte, rede de comunicações, um sistema tri- investiram em inovação estão sendo compradas por butário estimulante e apoio financeiro, além da baixa grandes multinacionais. capacitação dos recursos humanos, contribuem para Diante desse quadro, é preciso enfrentar o desafio inibir as iniciativas ou para encurtar a existência de de fazer com que as empresas dêem um salto no que grande parte dos empreendimentos. diz respeito ao aprimoramento da gestão, o que po- De acordo com pesquisa recente da GEM, hou- derá garantir uma adequada contribuição ao pleno ve maior abertura de novos negócios no Brasil. Em desenvolvimento do país. Para isso, torna-se neces- 2007, aproximando-se mais das nações mais empre- sário não somente aumentar os investimentos nas endedoras do mundo, o país passou do 10º para o 9º empresas menores, como também fazer com que lugar. São cerca de 15 milhões de empreendedores as grandes companhias venham a colaborar para iniciais,8 ou seja, 12,72% dos 118 milhões de brasi- beneficiar o seu entorno, favorecendo a moderniza- leiros com idades entre 18 e 64 anos. Na categoria 152
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    de empresas estabelecidas,o Brasil conquistou o 6º lugar (9,94%), ficando atrás de países como Tailândia, Peru, Colômbia, Venezuela e Argentina. Embora a maioria dos empreendedores brasi- leiros atue em segmentos de grande concorrência, verifica-se uma tímida participação na produção de inovação, sendo que os esforços feitos até aqui não tiveram o impacto desejado nesse campo. Isso pode ser explicado pelo fato de a maioria dos pesquisado- res brasileiros trabalhar em instituições de pesquisa, e não diretamente no setor produtivo, o que não in- duz a uma correspondência direta entre os indicado- res de ciência e os de inovação. Há razões históricas para esse descompasso. De um lado, a indústria brasileira cresceu nas décadas de 1960 e 1970 num ambiente de proteção do mercado contra a concorrência externa e sem necessidade de atualização tecnológica (...) a inovação só começou a entrar na agenda das empresas na década de 1990, com a abertura da economia. De outro lado, pesqui- sadores ligados a universidades e institutos públicos de pesquisa sempre estiveram no comando de órgãos públicos encarregados de fomentar as atividades de ciência e tecnologia do país. Era natural que se mobi- lizassem mais em atender as necessidades das insti- tuições acadêmicas do que em investir nas empresas (BRANDÃO et al., 2006, p. 30). Pode-se considerar inovador desde aquele trabalhador que consegue agregar valor ao produto por meio de melhorias simples até o empreendedor de sucesso capaz de fazer uma síntese entre os conhecimentos produzidos pela ciência, as demandas
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    do mercado, osprincípios econômicos e os do direito, to é o grande desafio. Máquinas, computadores e pré- 149. Pesquisa para produção de fármacos transformando a inovação e a propriedade intelectual dios são meios de produção, porém a riqueza é gerada Maylena Clécia em riqueza. A exemplo do que já ocorre nos países pelo conhecimento aplicado para melhorar a produti- Fotografia, 2008 desenvolvidos, a adequada formação e utilização do vidade e a gestão, assim como para promover a ino- acervo intelectual existente em nossas organizações vação. E finalmente o Brasil está acordando para essa – desde instituições de pesquisa e desenvolvimento, nova era. E esta é a agenda do IEL: Gestão x Inovação empresas nascentes nas incubadoras, até aquelas de x Conhecimento. De certa forma, também é a agenda porte consolidadas em seus mercados – é de suma das demais entidades do Sistema Indústria, cada uma importância para garantir competitividade. no seu foco específico (CAVALCANTE, 2007, p. 43). Ciente dessa realidade, o IEL tem somado esfor- ços no sentido de agir incisivamente no apoio ao Com o Benchmarking Industrial, um proces- fortalecimento das ações, seja por meio da qualifica- so contínuo de avaliação de produtos, serviços e ção dos empresários que estão em atividade ou pela práticas gerenciais, tem sido possível comparar as formação de novos empreendedores. As atividades empresas com suas concorrentes, por meio de um no campo do empreendorismo, que se somam às de- banco onde são armazenados os dados de diversos mais desenvolvidas pelo instituto, visam sensibilizar países.9 O projeto, que teve como ponto de partida os representantes do setor empresarial e de pesqui- um convênio firmado em 1997 com o Internacional sa e desenvolvimento brasileiros, para que possam Institute for Management Development (IMD), per- identificar e comercializar os bens derivados do co- mitiu ao núcleo de Santa Catarina (IEL/SC) transferir nhecimento e da informação, como fatores-chave a tecnologia, adaptando-a à realidade das empresas na criação de valor e diferencial competitivo para os brasileiras. Ao possibilitar o direcionamento dos in- negócios e para o país. vestimentos de acordo com os critérios de sucesso, A tendência atual, que está perfeitamente alinha- o Benchmarking constitui uma excelente ferramenta da com a proposta do Sistema Indústria, é baseada na definição de necessidades particulares e conjun- no contínuo aperfeiçoamento dos processos de ges- tas das empresas, com o objetivo de gerar competi- tão, com o objetivo de adquirir eficiência e aumen- tividade, já que identifica pontos fortes e fracos em tar a produtividade da indústria, além de conquistar comparação com empresas de classe mundial. Poste- maior legitimidade na representação do setor pro- riormente, foi implementado o Benchstar, uma adap- dutivo nacional e contribuir para a consolidação da tação do Benchmarking Industrial que, voltado para produção brasileira no mercado global. as micro e pequenas empresas, serve para a análise de gestão e competitividade, pela comparação com O principal ativo das empresas hoje é o conhecimen- outras do mesmo setor e/ou região. Com essas ferra- to, ou seja, o conjunto de pessoas que fazem parte da mentas tem sido possível criar nas empresas condi- sua equipe. Reter talentos e gerenciar o conhecimen- ções para medição e comparação do seu desempe- 155
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    nho em relaçãoàs líderes do mercado. Os resultados (IGTI), em parceria com a Financiadora de Estudos e servem como parâmetros seguros para as organiza- Projetos (Finep) e o IEL. ções implantarem medidas adequadas à melhoria de O Projeto Nugin, como ficou conhecido, surgiu processos e, conseqüentemente, otimizarem a per- no final de 2004, com o objetivo de desenvolver e formance nos mercados nacional e internacional. validar uma metodologia de planejamento e gestão Pequenos empreendimentos, localizados em Ar- da inovação empresarial e tecnológica que possibi- ranjos Produtivos Locais (APLs), também ganham litasse identificar gargalos, criar núcleos integrados impulso com as novas técnicas de gestão. Coope- de pesquisa e desenvolvimento, implantar e utilizar rativas e associações, localizadas em algumas das ferramentas de gestão da inovação nas empresas. regiões mais carentes do país, organizam-se para Atualmente, mediante um convênio entre o IEL, a conquistar mercados e promover o desenvolvimen- Finep e o Ministério de Ciência e Tecnologia, o proje- to local. Programas especialmente dirigidos para to vem ganhando dimensão nacional. A Associação abertura de novas fronteiras empresariais, além de Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) pa- capacitar os pequenos empreendedores, têm con- trocina a extensão do projeto para empresas de três tribuído para promover o produto nacional no exte- estados brasileiros. rior, abrindo perspectivas para centenas de empre- Com atuação consolidada em todo o país e recor- sas brasileiras. des sucessivos em seus principais programas, o IEL apresenta importantes conquistas, cujos resultados Todas essas iniciativas vão ao encontro do Mapa Estra- podem ser creditados a uma filosofia de atuação for- tégico da Indústria, que tem na promoção da cultura temente ligada à realidade do país. Com isso, o ins- empreendedora uma das bases mais importantes para tituto tem ampliado significativamente seu alcance, o desenvolvimento (...) Nessa nova era, o empreende- levando questões tradicionalmente restritas ao eixo dorismo precisa ser encarado como estratégia para a Sul-Sudeste – como inovação e internacionalização – geração de riqueza e para a inserção do País na rota do para todos os pontos do país. desenvolvimento sustentável (CAVALCANTE, 2007, p. 2). Em decorrência de seu planejamento e gestão es- tratégica, que confere unidade e coerência ao Siste- Um novo método de gestão da inovação foi cria- ma IEL, é garantida aos núcleos regionais liberdade do pelo IEL em Santa Catarina (IEL/SC). Trata-se do para trabalharem de acordo com suas características Núcleo de Gestão da Inovação (Nugin), desenvolvido e desafios específicos. Em outras palavras, todos fa- pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), lando a mesma língua, e cada um fazendo e contan- nos departamentos de Engenharia de Produção e do sua própria história. Engenharia Mecânica, com os núcleos de Desenvol- Mais que isso, o IEL valoriza e contribui para po- vimento Integrado de Produtos (Nedip) e de Estudos tencializar e disseminar as melhores práticas geradas em Inovação, Gestão e Tecnologia de Informação nos núcleos regionais. Como exemplos, merecem 156
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    destaque: o cursoGestão Empresarial,10 oferecido O projeto Sapiens Circus, idealizado pelo IEL/AM, 150. Universidade de Brasília (UnB) por vários núcleos regionais, que tem como objetivo é uma estação educacional que, combinando recur- Cláudio Reis promover o conhecimento de modelos e ferramen- sos tecnológicos, efeitos visuais e métodos lúdicos de Fotografia, 2007 tas gerenciais, discutir sua aplicação para o desenvol- ensino-aprendizagem, chama a atenção de jovens e vimento de negócios e estimular o uso em situações crianças para a biodiversidade amazônica. reais, além de valorizar o trabalho em equipe, a visão Já o IEL/MG vem desenvolvendo com sucesso de negócios e o espírito empreendedor; o Programa Estudos Setoriais, que consistem em pesquisas qua- ESempreendedor, que, executado pelo IEL/ES com litativas e quantitativas para a identificação e mensu- apoio da Federação das Indústrias do Estado do Es- ração das diferentes estruturas produtivas locais e de pírito Santo (Findes), já apresenta resultados signifi- suas potencialidades e entraves. Com isso, tem sido cativos no que diz respeito às ações de estímulo ao possível traçar linhas de ação para o desenvolvimen- empreendedorismo e à conseqüente melhoria da to dos segmentos mais dinâmicos da indústria local. qualidade de vida da população do estado. O primeiro estudo setorial, iniciado em 2002 pelo 157
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    grupo responsável peloprojeto Cresce Minas, indi- ra temas de interesse de vários setores da indústria 151. 8ª Convenção Nacional do IEL, a mesa, Paulo Afonso cou o incentivo aos clusters como forma de estimular brasileira. Além disso, criou a Série Indústria em Pers- Ferreira e Carlos Cavalcante a produção local. A articulação entre empresas, en- pectiva e a coleção que aborda a Capacitação Empre- em 8 de abril de 2008, Brasília, DF tidades e órgãos governamentais facilitou a implan- sarial. Miguel Ângelo Fotografia tação dessa metodologia que tem resultado no for- Por seu compromisso historiográfico, merecem talecimento das empresas. Entre os muitos estudos reconhecimento o livro Instituto Euvaldo Lodi: 30 setoriais realizados, cabe ressaltar a importância es- anos de parceria universidade-indústria, que resgata pecífica de dois APLs: o calçadista de Nova Serrana e a trajetória institucional da entidade, e Cronologia o eletroeletrônico do Vale da Eletrônica, que apresen- de Desenvolvimento Científico, Tecnológico e Indus- tam concentração produtiva em determinado setor, trial Brasileiro: 1938-2003, que, num grande esforço com integração entre os agentes. Merece destaque de pesquisa, sistematiza informações valiosas sobre ainda o caso de Santa Rita do Sapucaí, uma experi- a trajetória do saber e do fazer industrial. O IEL, jun- ência bem-sucedida de investimento em tecnologia tamente com o Sesi e o Senai, participou da iniciati- de ponta. Essa localidade no sul de Minas Gerais, que va da CNI de edição do livro Produto Nacional: uma possui uma infra-estrutura educacional integrada ao história da indústria no Brasil, de autoria de Eduardo setor produtivo, apresenta mão-de-obra muito qua- Bueno, publicado em 2008. Nesse mesmo ano, foi lificada que não somente realiza projetos pioneiros editado, por meio de parceria entre IEL, CNI e Insead no âmbito da universidade como também aplica as (Institut Européen d’Administration des Affaires), o novas tecnologias, criando empresas altamente com- livro Serviços em Cena: o diferencial que agrega valor petitivas, capazes de atender ao mercado externo e ao seu negócio, escrito pelo professor especialista do contribuir para o desenvolvimento local. instituto europeu, James Teboul. Paralelamente à ampliação de seus horizontes Outros temas como educação superior, desen- territoriais, o IEL tem contribuído também para ex- volvimento tecnológico, empreendedorismo, capa- pandir idéias, cuja necessidade de divulgação levou citação, gestão, inovação etc. tornaram-se objeto de ao aumento e à diversificação de eventos e publi- várias publicações avulsas do IEL.12 cações. Assim, a entidade não somente mantém os Se crescimento econômico é uma necessidade registros de seus programas, ações e idéias como nacional e se capacitação empresarial e promoção de confere transparência e visibilidade à sua missão ins- cultura empreendedora são condições fundamentais titucional. para o desenvolvimento, o IEL, alinhando-se às ne- Além da revista mensal Interação, que vem sendo cessidades da indústria e do país, vem enfrentando editada desde 1988, o instituto publicou, dentro da desafios e acumulando avanços no desempenho de série Política Industrial, Tecnológica e de Comércio sua missão, os quais se materializam em uma história Exterior, a coleção O Futuro da Indústria,11 que explo- que ora completa quatro décadas. 159
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    NOTAS Luiz Tavares Alves Pereira. Durante o governo Vargas, o centro e a federação permaneceram separados, mas após a II Guerra Os primórdios da indústria no Brasil voltaram a atuar juntos. 1 Os Autos da Devassa foram compilados e publicados pela A ‘revolução industrial’ brasileira primeira vez em 1936, por decisão do presidente Getulio Vargas. Em suas mais de três mil páginas, estão os depoimentos de to- 1 Decreto n°. 19.402, de 14 de novembro de 1930. dos os participantes do movimento, inclusive os nove interroga- tórios a que Tiradentes foi submetido durante os três anos em 2 Decreto nº. 19.433, de 26 de novembro de 1930. que esteve preso no Rio. 3 Decreto nº. 19.850, de 11 de abril de 1931. O CNE substituiu o 2 O estanco constituiu um monopólio real de venda de Conselho Nacional de Ensino, criado em 13 de janeiro de 1925. certos produtos. Para esses gêneros havia restrições e regras para exportação, quantidade máxima, preço estabelecido e 4 Decreto nº. 19.851, de 14 de abril de 1931. necessidade de autorização régia para o comércio, quando não realizado diretamente pela própria Coroa. 5 Decreto nº. 19.890, de 18 de abril de 1931. 3 www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_22/alvara_2.4.htm 6 Os IAPs substituíram as antigas Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAPs), instituídas pela Lei Eloy Chaves, Decreto-lei nº. 4 Hoje Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro. 4.682, de 24 de janeiro de 1923. 5 Lei nº. 641, de 28 de julho de 1852. 7 Lei nº. 367 de 31 de dezembro de 1936. 6 As moedas inglesas passaram a ser recebidas nas repartições 8 Fundada com o objetivo primeiro de divulgar as teorias públicas, já que se acreditava que a expansão das emissões de Frederick Taylor, essa organização de pesquisa industrial fomentava a indústria e o comércio. tornou-se responsável pelo planejamento econômico durante o New Deal, uma política implementada, entre 1933 e 1937, sob 7 A Escola de Adultos foi criada por Antonio de Almeida Oliveira o governo do presidente Franklin Roosevelt, com o objetivo de em 1870. recuperar e reformar a economia norte-americana atingida pela Depressão de 1929. 8 Lei nº. 2.040, de 28 de setembro de 1871. 9 Decreto nº. 19.770, de 19 de março de 1931. 9 Lei nº. 3.270 de 28 de setembro de 1885. 10 Entre suas obras destacam-se A Escola e a Sociedade (1899) e 10 Lei nº. 3353, de 13 de maio de 1888. Experiência e Educação (1938). 11 Mantendo-se a mesma sigla, o centro seria transformado, em 11 Entre suas obras consta A Divisão Social do Trabalho, publica- 1933, em Confederação Industrial do Brasil (CIB), em 1933. Em- da em 1893. bora instituída com aspirações de representatividade nacional, a CIB representava apenas os empresários sediados no estado 12 Decretos nº. 3.763, de 1º de fevereiro de 1932, nº. 3.863, de do Rio de Janeiro e no então Distrito Federal, refletindo de certa 30 de abril de 1932, e nº. 4.779, de 16 de maio de 1934. forma o caráter ainda embrionário do parque industrial. 13 Decreto nº. 6.283, de 25 de janeiro de 1934. 12 Decreto nº. 7.566, de 23 de setembro de 1909. 14 Decreto nº. 23.979, de 8 de março de 1934. 13 Decretos nº. 8.659, de 5 de abril de 1911, e nº. 11. 530, de 18 de março de 1915. 15 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constitui%C3%A7ao37.htm 14 Decreto nº. 16.782-A, de 13 de janeiro de 1925. 16 Idem. 15 Até essa época, os industriais e os comerciantes tinham como entidade representativa a Associação Comercial de São 17 Decreto-lei n°. 395, de 29 de abril de 1938. Paulo, fundada em 1894. Em 1931, seria criada a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), tendo à frente 18 Decreto-lei nº. 24.694, de 12 de junho de 1934. 161
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    19 Decreto nº.12.321, de 30 de abril de 1943. Filho, Aliomar Baleeiro, Clodomir Cardoso, Gilberto Freyre, Bar- bosa Lima Sobrinho, entre outros. 20 Decreto nº. 6.029, de 26 de julho de 1940. 38 Decreto-lei nº. 9.403, de 25 de junho de 1946. 21 Decreto-lei nº. 2.162, de 1º de maio de 1940. 39 Atualmente o Sesi possui departamentos regionais nos 26 22 Decreto nº. 3.002, de 30 de janeiro de 1941. estados da federação e no Distrito Federal. 23 O Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) foi 40 O Sistema S corresponde hoje ao conjunto de entidades: criado, em 10 de janeiro de 1946, pelo Decreto-lei 8.621. Senai, Senac, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e Serviço Nacional de Aprendizagem em Transportes (Senat), 24 Decreto-lei nº. 4.048, de 22 de janeiro de 1942. O Decreto-lei articuladas ao Serviço Social da Indústria (Sesi), Serviço Social nº. 8.621 de 10 de janeiro de 1946 criou o Serviço Nacional de do Comércio (Sesc), Serviço Social de Transportes (Sest), Serviço Aprendizagem Comercial (Senac). Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Serviço Social das Cooperativas de Prestação de Serviços 25 Decreto-lei nº. 4.073, de 30 de janeiro de 1942. (Sescoop). 26 Decreto-lei nº. 6.141, de 28 de dezembro de 1943. 41 O DNOCS foi criado pelo Decreto-lei nº. 8.846, de 28 de dezembro de 1945. 27 Decreto-lei nº. 4.073, de 30 de janeiro, e Decreto-lei nº. 4.244, de 9 de abril de 1942. 42 Lei nº. 1.254, de 4 de dezembro de 1950. 28 Decreto nº. 10.009, em 16 de julho de 1942. 43 Lei nº. 1.310, de 15 de janeiro de 1951. 29 Decreto-lei nº. 4.352, de 1 de junho de 1942. 44 Decreto nº. 29.741, de 11 de julho de 1951. 30 Em 1946, a FNM seria transformada em sociedade anônima, 45 Decreto nº. 2.004, de 3 de outubro de 1953. pelo Decreto-lei nº. 8.699, de 16 de janeiro. O fim da II Guerra e a compra, pela Força Aérea Brasileira (FAB), de centenas de aviões 46 Decreto nº. 27.695, de 16 de janeiro de 1950, definido pela americanos iguais aos produzidos em Xerém determinaram o Lei nº. 2.165, de 5 de janeiro de 1954. fim do período militar da FNM. 47 Decreto nº. 35.124, de 27 de fevereiro de 1954, nos termos da 31 O imigrante italiano Luigi Caloi chegou ao Brasil em 1898, e Lei n.º 1.310, de 15 de janeiro de 1951. nesse mesmo ano fundou a Casa Luiz Caloi, em sociedade com seu cunhado Agenor Poletti. Devido às dificuldades em impor- 48 A Sumoc, criada em 1945, seria transformada no Banco tar componentes durante a II Guerra Mundial, a importadora Central. passou a produzir peças e alguns componentes em 1945, e sua produção de bicicletas começou em 1948. 49 Decreto nº. 39.412, de 16 de junho de 1956. 32 Decreto-lei nº. 5.684, de 20 de julho de 1943. 50 A Ford iniciou suas atividades de montagem de carros e caminhões no Brasil em 1919; a General Motors, em 1925; a 33 Embora a Justiça do Trabalho já tivesse sido contemplada Mercedes Benz, em 1955; a Willys Overland do Brasil, em 1952; a pelo artigo 122 da Constituição de 1934, carecia até então de Volkswagen do Brasil, em 1954; a Simca do Brasil e a Toyota, em regulamentação. 1958. 34 Decreto-lei nº. 5.452, de 1 de maio de 1943. 51 Em 27 de agosto de 1962, a Lei n°. 4.118 definiu que Política Nacional e Energia Nuclear era assunto de Estado. 35 Decreto-lei nº. 8.031, de 3 de outubro de 1945. 52 Relatório final da Comissão de Educação e Cultura do Conse- 36 Lei Constitucional nº. 9, de 28 de fevereiro de 1945. lho do Desenvolvimento. DOC nº. 20, Rio de Janeiro: Biblioteca da Câmara, 1957. 37 A Constituição foi promulgada em 18 de setembro de 1946. Participaram da Assembléia Constituinte que elaborou essa Constituição intelectuais como Gustavo Capanema, Luís Vianna 162
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    53 A primeiraproposta sobre o tema foi concebida ainda na Era 10 www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes. Vargas, tendo sido encaminhada à Câmara Federal em 29 de action?id=117229 - 12k. Consulta em 18 ago. 2008. outubro de 1948. 11 Decreto-lei nº. 252, de 28 de fevereiro de 1967. 54 Decreto Federal nº. 41.066, de 28 de fevereiro de 1957. 12 Clóvis Salgado foi membro do Conselho Federal de Educação 55 Lei nº. 3.552, de 16 de fevereiro de 1959. de 1964 a 1968. 56 Decreto 53.325, de 18 de dezembro de 1963. 13 Lei nº. 4.464, de 9 de novembro de 1964. 57 Inspirado na Sudene, o governo militar criaria, em 1966, a 14 www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituiçao67. Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). htm - 294k - 58 Lei n° 3.782, de 22 de julho de 1960. 15 Decreto nº. 62.024, de 29 de dezembro de 1967. 59 Decreto nº. 49.355, de 28 de novembro de 1960. 16 Decreto nº. 62.937, de 2 de julho de 1968. 60 Lei nº. 3.890-A de 25 de abril de 1961. 17 Além do ministro da Educação Tarso Dutra, assinaram o relatório: Antônio Moreira Couceiro, Fernando Bastos de Ávila, 61 Decreto nº. 50.455, de 14 de abril de 1.961. Fernando Ribeiro do Val, Haroldo Leon Pérez João Lyra Filho, João Paulo dos Reis Velloso, Newton Sucupira, Roque Spencer 62 Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Maciel de Barros, Valnir Chagas. 63 Lei nº. 3.998, de 15 de dezembro de 1961. A criação e os primórdios do IEL 64 Decreto nº. 53.324, de 18 de dezembro de 1963. 1 Participaram desse grupo de trabalho: Mário Henrique Simon- sen, Laércio Dias de Moura, Oscar de Oliveira, Cândido Paula A internacionalização da produção industrial Machado. 1 Posteriormente, o Decreto 60.457, de 13 de março de 1967, 2 www.nobelpreis.org/nobel-preis/PT/Economia/schultz.htm criou o Instituto de Pesquisa Econômico-Social Aplicada (Ipea). O Ipea elaboraria o Plano Decenal de Desenvolvimento Econô- 3 Thomás Pompeu de Souza Brasil Netto manteve-se na presi- mico e Social para o período 1967-1976. dência da CNI de 1968 até 1977. 2 Lei nº. 4.380 de 21 de agosto de 1964. 4 IEL/BA, IEL/ES, IEL/MG, IEL/PA, IEL/PB, IEL/PE, IEL/PR, IEL/RS, IEL/SC fundados em 1969; nos anos 1970 foram fundados os 3 Lei nº. 5.107, de 13 de setembro de 1965. Núcleos Regionais de IEL/AL, IEL/AM, IEL/CE, IEL/DF, IEL/GO, IEL/MA, IEL/MT, IEL/PI, IEL/RN e IEL/SE. Entre os anos 1980 e 4 Lei nº. 5.107, de 13 de setembro de 1966. 1990 foram fundados IEL/AC, IEL/AP, IEL/MS, IEL/RO, IEL/RR. Após o ano 2000 foram criados o IEL/RJ, IEL/SP, IEL/TO. 5 Atual Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), criada em 24 de julho de 1967. 5 Lei nº. 5.692, de 11 de agosto de 1971. 6 Lei nº. 4.533, de 8 de dezembro de 1964. 6 Portaria nº. 1.002, de 29 de setembro de 1972, Departamento Nacional de Mão-de-Obra/MT. 7 Lei nº. 4.440, de 27 de outubro de 1964. 7 Engenharia de Materiais, da UFSCar; Engenharia Elétrica, da 8 Foram firmados 12 acordos, o primeiro em 26 de junho de (UFPb), campus de Campina Grande; Engenharia Mecânica, da 1964, e o último em 17 de janeiro de 1968. UFSC. 9 Decreto nº. 70.904, de 31 de julho de 1972. 8 Posteriormente transformada em uma Secretaria da Indústria e Comércio e, mais tarde, em Secretaria de Ciência e Tecnologia. 163
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    9 Lei nº5.881, de 7 de dezembro de 1972. Os estatutos da Em- 6. Margaret Thatcher elaborou um programa rigoroso para brapa foram aprovados pelo Decreto nº 72.020, de 28 de março reverter a crise da economia britânica mediante a redução da de 1973. intervenção estatal e a implementação de um programa de privatização. Os principais postulados foram o liberalismo e o 10 A gestão de Jacy Montenegro Magalhães foi de 11 de de- monetarismo estritos. zembro de 1974 até 31 de dezembro de 1975 (interinamente), e de 31 de dezembro de 1975 até 10 de dezembro de 1980. 7. Emenda constitucional nº. 19 de 1998. 11 Lei nº. 6.494, de 7 de dezembro de 1977. 8. Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. 12 Com o tempo, o termo “tigre” tornou-se sinônimo de nação 9. Idem: www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm que alcançou o crescimento com um modelo econômico volta- do para a exportação. 10. Decreto nº. 2.208, de 17 de abril de 1997. 13 A Lei nº. 6.767, de 20 de dezembro de 1979, extinguiu a 11. Decreto nº. 2.208, de 17 de abril de 1997, inciso III do Artigo Arena e o MDB e restabeleceu o pluripartidarismo. 3º. 14 Albano de Prado Pimentel Franco esteve na presidência da 12. Entre as organizações do Terceiro Setor, estão as Organiza- CNI de 1980 até 1994. ções Não Governamentais (ONGs), as entidades filantrópicas, as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips), 15 A gestão de Tarcísio Meirelles Padilha foi de 11 de dezembro os partidos políticos, as organizações sindicais, e outras formas de 1980 até 6 de maio de 1986. de associações civis sem fins lucrativos. 16 A gestão de Oswaldo Vieira Marques foi de 7 de maio de 13. Fernando Luiz Gonçalves Bezerra esteve à frente da presi- 1986 até 3 de janeiro de 1996. dência da CNI de 1995 a 2002. 14. Mario Amato esteve à frente da CNI entre 1994 e 1995. O IEL e a revolução técnico-científica da informação 15. A gestão de Carlos Sérgio Asinelli estendeu-se de 4 de janei- 1. O Tratado de Maastricht, um marco significativo no processo ro de 1996 a 30 de novembro de 2003. de construção da União Européia, foi assinado na Holanda, em 1992. 16. Acordo de Empréstimo e o Contrato nº. 1052 - OC/BR, de 24 de novembro de 1997. 2. O PBQP foi lançado em 1990 pela Secretaria de Tecnologia In- dustrial do antigo Ministério da Indústria e Comércio (STI/MIC), 17. Lei nº. 9.841, de 5 de outubro de 1999. atual Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). O programa teve como objetivo estimular, articular, orientar e apoiar os esforços 18. Decreto nº. 3.474, de 19 de maio de 2000. da sociedade brasileira na busca da competitividade, por meio da promoção de ações de melhoria da qualidade dos produtos 19. Anprotec é uma entidade sem fins lucrativos, fundada em e serviços no país. No final de 2001, quando o PBQP estava con- 30 de outubro de 1987, com o objetivo de criar mecanismos de solidado, sua liderança foi transferida para o setor privado, com apoio às incubadoras de empresas, parques tecnológicos, pólos, a criação da Organização da Sociedade Civil de Interesse Públi- tecnópoles e outras instâncias promotoras de empreendimen- co (Oscip) denominada Movimento Brasil Competitivo (MBC). tos inovadores. 3. O Programa de Estágio foi lançado pelo IEL em 1969. 20. Esses empresários deveriam funcionar como “padrinhos” de novos empreendedores, e/ou “adotar” novas empresas para 4. Oswaldo Vieira Marques permaneceu à frente da superinten- aconselhamento. dência do IEL de 7 de maio de 1986 a 3 de janeiro de 1996. 21. Lei nº. 10.168, de 29 de dezembro de 2000. 5. Composta por representantes da Secretaria de Desenvol- vimento Regional da Presidência da República (SDR/PR), da 22. Lei nº. 10.332, de 19 de dezembro de 2001 e Lei nº. 10.176, Sudene, da Sudam, do Sesi, do Senai e da Finep. de 11 de janeiro de 2001. 164
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    23. www.inovacao.unicamp.br/report/news-indicadores050615. 38. Constituída por uma unidade nacional e sete estaduais shtml localizadas na Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. 24. Decreto nº. 4.776, de 10 de julho de 2003. 25. www.inovacao.unicamp.br/report/news-indicadores050615. Avanços e desafios shtml 1 http://ultimosegundo.ig.com.br/bbc/2008/09/25/crise_mun- 26. Lei nº. 11.080, de 30 de dezembro de 2004, regulamentada dial_pode_beneficiar_brasil_diz_financial_times_1937127.html pelo Decreto nº. 5.352, de 24 de janeiro de 2005. 2 André Martins Biancareli é professor do Centro de Estudos de 27. O Mapa Estratégico da Indústria: 2007-2015 foi construído Conjuntura e Política Econômica do Instituto de Economia da com base na metodologia do Balanced Score Card (BSC), um Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). modelo de gestão que auxilia as organizações a traduzir a estra- tégia em objetivos, facilitando sua compreensão e implementa- 3 http://ultimosegundo.ig.com.br/economia/2008/09/29/ ção (CNI, 2005). crise_pode_afetar_projetos_de_infra_estrutura_e_exportaco- es_diz_especialista_1944551.html 28. Essa lei foi regulamentada pelo Decreto nº. 5.563, de 11 de outubro de 2005. 4 Estado de São Paulo, 15 de outubro de 2008. www.estadao. com.br/estadaodehoje/20081015/not_imp260022,0.php 29. Lei nº. 10.973, de 2 de dezembro de 2004. www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/Lei/L10.973.htm 5 Ricardo Araújo Barbosa é economista da Fundação Getulio Vargas (FGV). 30. Estatuto, 1969, artigo 7º, § 2º - O Presidente do Conselho Su- perior será o Presidente da Confederação Nacional da Indústria 6 Decreto nº. 6.096, de 24 de abril de 2007. (...); Artigo 9º - O Presidente do Conselho Superior exercerá as funções de Diretor-Geral do Instituto. 7 Lei nº 10.332, de 19 de dezembro de 2001. 31. Novo Estatuto, 2006. Artigo 19º. O Diretor-Geral, eleito pela 8 Países que estão em fase de implantação do negócio ou que Assembléia Geral, exercerá suas funções sem prazo determina- já o mantêm por até 42 meses. do de gestão... 9 O banco internacional de dados conta atualmente com cerca 32. Estende-se pelos estados de Minas Gerais, Bahia e Espírito de mil empresas, dos mais diversos setores, em 33 países. Santo. 10 Master in Business Administration (MBA). 33. Os projetos tiveram início em 2004 e são operacionalizados pelos núcleos regionais do IEL/BA, IEL/MG e IEL/ES. 11 A Importância da Metrologia para o Desenvolvimento Industrial; Biodiesel; Cadeias Produtivas; Construção Civil: 34. Lei nº. 10.295, de 17 de outubro de 2001. construção habitacional; Fármacos: a perspectiva do Brasil; Software: a perspectiva do Brasil; Educação Corporativa: 35. Uma etiqueta passará a conter todas as informações sobre reflexões e práticas; Empreendedorismo; Produtividade de o aparelho e um selo de qualidade premiará os melhores Capital; Tendências Tecnológicas; Indústria Brasileira; Têxtil e de fabricantes. Isso representará um diferencial de mercado e um Confecções: vestuário de malha. estímulo a investimentos na modernização do parque industrial brasileiro. 12 Brasil Inovador: o desafio empreendedor; Contribuição da Indústria para a Reforma da Educação Superior; Desenvolvi- 36. Lei nº. 11.788, de 26 de setembro de 2008. mento Tecnológico Regional: três experiências de sucesso para o fortalecimento de arranjos produtivos; Educação Corporativa: 37. Resultados excelentes foram atingidos nos núcleos regio- contribuição para a competitividade; Empreendedorismo além nais de Goiás, Espírito Santo, Bahia, Maranhão e Pará, onde o do Plano de Negócio; Empreendimentos Inovadores: relatos de PQF qualificou fornecedores e fortaleceu as cadeias produtivas uma jornada na Europa; Ensino de Empreendedorismo nas IES locais. Brasileiras; Inova Engenharia; Inovação Tecnológica no Brasil: a indústria em busca da competitividade global; Manual dos 165
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    Derivados da Cana-de-Açúcar;Manual de Operações Bitec; 10. FERREZ, G. O Rio Antigo do fotógrafo Marc Ferrez: paisagens Nota à Contribuição da Indústria para a Reforma da Educação e tipos humanos do Rio de Janeiro (1865 – 1918) São Paulo: Ex Superior; O Novo Ciclo da Cana; Capacitação em Inteligên- Libris, 1984. Acervo Link. cia Competitiva; A Institucionalidade da Política Industrial e Tecnológica: problemas, desafios, propostas; Articulação 11. Arquivo Nacional 150 anos: visão histórica. Rio de Janeiro: Institucional e Territorial da Regionalização da Política Industrial; Índex, 1988. Acervo Link. Negociações Comerciais Internacionais e Autonomia da Política Industrial; Programa de Modernização das Engenharias; Futuro 12. Acervo Ministério da Educação, Brasília. da Indústria: tendências tecnológicas por e-mail; Tecnologia Industrial Básica: trajetória, tendências e desafios no Brasil; Rede 13. MORAES, C.; ALVES, J. (orgs.). Escolas Profissionais Públicas do de Competências: síntese dos estudos temáticos sobre política Estado de São Paulo: uma história em imagens – álbum fotográ- industrial; Rede de Competências: capacitação em inteligência fico. São Paulo: Centro Paula Souza, 2002. Acervo Ministério da competitiva; Tecnologia Industrial Básica: trajetória, tendências Educação. e desafios no Brasil; TV Digital: qualidade e interatividade; Inser- ção internacional da indústria brasileira: avaliação a partir dos 14. Arquivo Nacional 150 anos: visão histórica. Rio de Janeiro: fluxos de comércio; Estratégia de Desenvolvimento Industrial; Index,1988. Acervo Link. Análise Econômica de Investimentos; Development Strategies of China and India Lessons for Brazil; Innovating Proposals for 15. Acervo Ministério da Educação, Brasília. Modernizing Education in Engineering in Brazil. 16. Saga: a grande história do Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1981. v. 5. Acervo Link. FONTES DAS IMAGENS 17. Acervo Projeto Memória – Senai, São Paulo. 1. BARROS, A. O Liceu de Artes e Ofícios e seu Fundador. Rio de Janeiro, 1956. Acervo Câmara dos Deputados. 18. Saga: a grande história do Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1981. v. 6. Acervo Link. 2. COUTO, J.; VIANA, F.; FILHO, L. A Abertura dos Portos – 200 anos. Salvador: Associação de Usuários dos Portos da Bahia, 19. GOMES, Â.; PANDOLFI, D.; ALBERTI, V. (orgs.). A República no 2008. Acervo Câmara dos Deputados. Brasil. Rio de Janeiro: FGV / CPDOC, 2002. 3. HERKENHOFF P. (Org.). O Brasil e os Holandeses (1630 – 1654). 20. Saga: a grande história do Brasil. São Paulo: Abril Cultural, Rio de Janeiro: Sextante Artes, 1999. Acervo Link. 1981. v. 6. Acervo Link. 4. CALDEIRA, J. et al. Viagem pela História do Brasil. São Paulo: 21. Museu Histórico da Faculdade de Medicina da USP, São Companhia das Letras, 2000. Acervo da Câmara dos Deputados. Paulo. RUGENDAS, J. Viagem Pitoresca através do Brasil. São Paulo: Martins, 1954. Acervo Link. 22. Acervo Museu da República, Rio de Janeiro. 5. FERREZ, G. (Org.). O Rio de Janeiro e seus Arrabaldes. Rio de 23. Acervo CNI, Brasília. Janeiro: Kosmos, 1976. Acervo Fundação Biblioteca Nacional. Saga: a grande história do Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1981. 24. MOURA, M. Petrobras 50 Anos: uma construção da inteligência v. 3. Acervo Link. brasileira. Rio de Janeiro: Petrobras, 2003. Acervo Link. 6. Debret e o Brasil: obra completa. Rio de Janeiro: Capivara, 2007. 25. Acervo CNI, Brasília. Acervo Link. 26. Acervo CNI, Brasília. 7. Arquivo Nacional 150 Anos: visão histórica. Rio de Janeiro: Índex, 1988. Acervo Link. 27. Acervo CNI, Brasília. 8. VASQUEZ, P. O Brasil na Fotografia Oitocentista. São Paulo: 28. Acervo CNI, Brasília. Meta Livros, 2003. Acervo Link. 29. Acervo CPDOC – Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro. 9. Acervo CPDOC - Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro. 30. Acervo CNI, Brasília. 166
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    31. Acervo CNI,Brasília. 50. Revista Manchete, 11 de abril de 1964. Acervo Câmara dos Deputados, Brasília. 32. MENDONÇA, S. A Industrialização Brasileira. São Paulo: Mo- derna, 2004. Acervo Câmara dos Deputados. 51. Acervo Embraer, São José dos Campos. 33. MOURÃO, E. Fragmentos de Memória. Belo Horizonte: Senai/ 52. Acervo CPDOC – Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro. MG, 1992. 53. Acervo Furnas, Minas Gerais 34. Acervo CNI, Brasília. 54. Revista Ensino Industrial n. 6, ano II. Brasília: Diretoria do 35. Acervo CNI, Brasília. Ensino Industrial, 1963. Acervo Ministério da Educação. 36. WERNECK, H. Juscelino Kubitschek: o tocador de sonhos. 55. Acervo CPDOC – Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro. Brasília: Fundação Banco do Brasil, 2002. Acervo Câmara dos Deputados. 56. Relatório da Equipe de Assessoria ao Planejamento do Ensino Superior – EAPES, Acordo MEC-USAID. Rio de Janeiro: Ministério 37. Acervo Museu de Astronomia e Ciências Afins, Rio de Janeiro. da Educação e Cultura, 1968. Acervo Ministério da Educação. 38. WERNECK, H. Juscelino Kubitschek: o tocador de sonhos. 57. Relatório da Equipe de Assessoria ao Planejamento do Ensino Brasília: Fundação Banco do Brasil, 2002. Acervo Câmara dos Superior – EAPES, Acordo MEC-USAID. Rio de Janeiro: Ministério Deputados. da Educação e Cultura, 1968. Acervo Ministério da Educação. 39. WERNECK, H. Juscelino Kubitschek: o tocador de sonhos. 58. Revista MEC, n. 33. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Brasília: Fundação Banco do Brasil, 2002. Acervo Câmara dos Cultura, 1966. Acervo Ministério da Educação. Deputados. 59. http://www.x3desenvolvimento.com.br/crub/condeli1. 40. Acervo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), Rio de php?id=67. Acervo Conselho de Reitores das Universidades Janeiro. Brasileiras - Crub. 41. Arquivo Público do Distrito Federal. 60. Acervo Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, São Paulo. 42. Arquivo Público do Distrito Federal. 61. JK – O Presidente Bossa Nova. Editora O Globo. 2005. 43. BELOCH, I.; FAGUNDES, L. (coords.) Brasil: Brasília e os brasi- leiros. Brasília; Rio de Janeiro: Memória Brasil; Fundação Israel 62. Acervo Ministério da Educação, Brasília. Pinheiro, 2002. 63. Revista Educação, n. 9. Brasília: Ministério da Educação e 44. SCHMIDT, M. Nova História Crítica. São Paulo: Nova Geração, Cultura, 1973. Acervo Ministério da Educação. 1999. 64. Reforma Universitária – Relatório do Grupo de Trabalho Criado 45. Revista Ensino Industrial n. 6, ano II. Brasília: Diretoria do Ensi- Pelo Decreto no 62.937/68. Ministério da Educação e Cultura. no Industrial, 1963. Acervo Ministério da Educação. 1968. Acervo Ministério da Educação. 46. Acervo Link, Brasília. 65. Revista Educação, n. 9. Brasília: Ministério da Educação e Cultura, 1973. Acervo Ministério da Educação. 47. Revista Ensino Industrial n. 1, ano I. Brasília: Diretoria do Ensi- no Industrial, 1962. Acervo Ministério da Educação. 66. Revista Educação, n. 3. Brasília: Ministério da Educação e Cultura, 1971. Acervo Ministério da Educação. 48. Revista Manchete, 4 de abril de 1964. Acervo Câmara dos Deputados, Brasília. 67. Revista Educação, n. 16. Brasília: Ministério da Educação e Cultura, 1975. Acervo Ministério da Educação. 49. FREIRE, A. (Org.). Grandes Manifestações Políticas no Rio de Ja- neiro. Rio de Janeiro: Alerj, 2002. Acervo Câmara dos Deputados. 68. A Educação que nos Convém. Rio de Janeiro: Instituto de Pes- quisas e Estudos Sociais, 1969. Acervo Ministério da Educação. 167
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    69. Revista NossoSéculo: 1960/1980. São Paulo: Editora Abril S.A. 90. Acervo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Cultural, 1986. Acervo Link. (Embrapa), Brasília. 70. Revista Nosso Século: 1960/1980. São Paulo: Editora Abril S.A. 91. Revista Manchete, 15 de abril de 1972. Acervo Câmara dos Cultural, 1986. Acervo Link. Deputados, Brasília. 71. FREIRE, A. (Org.). Grandes Manifestações Políticas no Rio de 92. Revista Manchete, 12 de julho de 1975. Acervo Câmara dos Janeiro. Rio de Janeiro: Alerj, 2002. Deputados, Brasília. 72. Estatuto do IEL. Biblioteca da Firjan, Rio de Janeiro. Acervo 93. Acervo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tec- CNI. nologia (Ibict) e acervo Ministério dos Transportes. 73. Acervo CNI, Brasília. 94. Acervo Cpdoc– Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro. 74. www.nobelpreis.org/portugues/wirtschaft/schultz.htm. 95. Acervo CNI, Brasília. 75. Revista Realidade, dezembro de 1968. Acervo Câmara dos 96. Acervo CNI, Brasília. Deputados, Brasília. 97. Acervo CNI, Brasília. 76. Revista Manchete, 6 de setembro de 1969. Acervo Câmara dos Deputados, Brasília. 98. Cientistas do Brasil: depoimentos. Apresentação Ennio Can- dotti. São Paulo: SBPC, 1998. 77. Revista Manchete, janeiro de 1969. Acervo Câmara dos Deputados, Brasília. 99. Acervo CNI, Brasília. 78. Acervo Cpdoc – Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro. 100. Acervo Linkimagem, Brasília. 79. Acervo CNI, Brasília. 101. Acervo CNI, Brasília. 80. Correio da Manhã, 29 de janeiro de 1969. Acervo Biblioteca 102. Acervo CNI, Brasília. Nacional. Rio de Janeiro. Acervo CNI, Brasília. 103. Acervo CNI, Brasília. 81. Acervo CNI, Brasília. 104. Acervo CNI, Brasília. 82. Instituto Tecnológico de Aeronáutica, 50 anos (1950-2000). São José dos Campos: ITA, 2000. Acervo Link. 105. Acervo Linkimagem, Brasília. 83. Acervo CNI, Brasília. 106. GURAN, M. (Coord.). O Processo Constituinte 1987 – 1988. Brasília: Ágil, 1988. Acervo Link, Brasília. 84. Estatuto do IEL. Biblioteca da Firjan, Rio de Janeiro. Acervo CNI. 107. Acervo CNI, Brasília. 85. Revista Nosso Século: 1960/1980. São Paulo: Editora Abril S.A. 108. Grupo Keystone. Cultural Ltda, 1986. Vol. 10. Acervo Link. 109. Acervo CNI, Brasília. 86. Revista Educação, n. 3, 1971. Acervo Ministério da Educação. 110. Revista Indústria Brasileira n. 41. Brasília, 2004. Acervo CNI. 87. Revista Educação, n. 2, 1971. Acervo Ministério da Educação. 111. Acervo CNI, Brasília. 88. Acervo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tec- nologia (Ibict), Brasília. 112. Revista CNI – Indústria e Produtividade n. 304. Brasília: Con- federação Nacional da Indústria, 1997. Acervo CNI. 89. Revista Fatos e Fotos, 14 de maio de 1966. Acervo Câmara dos Deputados, Brasília. 168
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    AGRADECIMENTOS IEL – Núcleo Central Cristiana Gonçalves Araújo de Almeida Entrevistados Diana de Mello Jungmann Antônio Carlos Brito Maciel, Diretor-superintendente do Sesi e Oto Morato Álvares Superintendente corporativo da CNI Ricardo de Paula Romeiro Antonio Fábio Ribeiro, membro do Conselho Nacional do IEL Tatiana Farah de Mello Carlos Roberto Rocha Cavalcante, superintendente do IEL Vera de Fátima Brito Ruthofer Carlos Sérgio Asinelli, superintendente do IEL de 1996 a 2003 Jarbas Passarinho, ministro da Educação (1967–1969) e Promo- Sistema Indústria tor de relações entre as universidades e o IEL Ana Cláudia de Almeida Figueiredo José Manuel Aguiar Martins, diretor–geral do SENAI Denise Távora B. Araújo Oswaldo Vieira Marques, superintendente do IEL de 1986 a 1996 Eliane Menezes dos Santos Paulo Afonso Ferreira, Diretor–geral do IEL Elisa Coral Tarcísio Meirelles Padilha, superintendente do IEL de 1980 a Gustavo Campos Barbosa 1986 José Carlos de Almeida José Paulo Lacerda Biblioteca da Câmara dos Deputados Luci Ledra Guilherme Curi Maria José Rodrigues de Souza Maria Aparecida de Lima Maria Regina Ferreira de Freitas Matiê Nogi Miguel Ângelo Neide Maria Rossi Ramirez Mirela das Neves Olavo da Silva Virgiliis Universidade de Brasília (UnB) Renata Lima Guedes Peixoto Cleofas Minari Righetti Rodrigo Fabiano Leite Weber Jeanina Daher Rosângela Rodrigues Faria Soraya Alves Lacerda Universidade de Campinas (Unicamp) Suely Lima Pereira Telma Murari Wladimir Bezerra Luz Museu Histórico Universidade de São Paulo (USP) Maria Gabriela Marinho Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica – MEC Iaçonara Miranda de Albuquerque Sandra Maria Branchine Francesca Vilardo Loés Coordenação de Comunicação Social – Furnas Paulo da Costa Martins Embraer Agência Petrobras de Notícias Natural Fashion / Coopnatural Maysa Motta Gadelha 177
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    Não há lugarno mundo para as nações que ficam estagnadas. A evolução econômica é um imperativo para sobreviver. E somente a inteligência aplicada ao trabalho oferece a segurança de que necessitam os povos. Euvaldo Lodi (1896-1956)